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PC-SP
Polícia Civil do Estado de São Paulo
Investigador de Polícia
A Apostila Preparatória é elaborada antes da publicação do Edital Oficial, com base no último concurso
para este cargo, elaboramos essa apostila a fim que o aluno antecipe seus estudos.
Quando o novo concurso for divulgado aconselhamos a compra de uma nova apostila elaborada de acordo
com o novo Edital.
A antecipação dos estudos é muito importante, porém essa apostila não lhe dá o direito de troca, atualizações
ou quaisquer alterações sofridas no Novo Edital.
LÍNGUA PORTUGUESA
NOÇÕES DE DIREITO
Didatismo e Conhecimento
Índice
2.2.5 A Polícia Civil e a defesa das instituições democráticas: a polícia judiciária e a promoção dos direitos
fundamentais................................................................................................................................................................................44
2.2.5 O direito de receber serviços públicos adequados.....................................................................................................48
2.2.6 Os sistemas global e americano de proteção dos direitos humanos fundamentais: a Declaração Universal dos
Direitos Humanos e a Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica)............................49
2.3 Direito Penal....................................................................................................................................................................83
2.3.1 Crime: conceitos...........................................................................................................................................................83
2.3.2 Crime e contravenção..................................................................................................................................................83
2.3.3 Crime doloso e crime culposo.....................................................................................................................................84
2.3.4 Crime consumado e crime tentado.............................................................................................................................87
2.3.5 Estado de necessidade. Legítima defesa. Estrito cumprimento do dever legal. Exercício regular do direito.....89
2.3.6 Dos Crimes Contra a Pessoa.......................................................................................................................................91
2.3.7 Dos Crimes Contra o Patrimônio.............................................................................................................................121
2.3.8 Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual...................................................................................................................137
2.3.9 Dos Crimes Contra a Incolumidade Pública...........................................................................................................148
2.3.10 Dos Crimes Contra a Paz Pública..........................................................................................................................151
2.3.11 Dos Crimes Contra a Fé Pública.............................................................................................................................154
2.3.12 Dos Crimes Contra a Administração Pública........................................................................................................159
2.4 Direito Processual Penal:..............................................................................................................................................175
2.4.1 Do Inquérito Policial..................................................................................................................................................175
2.4.2 Da Prova......................................................................................................................................................................180
2.4.3 Da Prisão em Flagrante.............................................................................................................................................193
2.4.4 Da Prisão Preventiva..................................................................................................................................................193
2.5 Legislação Especial:......................................................................................................................................................200
2.5.1 Lei de Abuso de Autoridade - Lei n.º 4.898/65.........................................................................................................200
2.5.2 Estatuto da Criança e do Adolescente - Lei n.º 8.069/90 - artigos 225 ao 244-B..................................................203
2.5.3 Lei de Crimes Hediondos - Lei n.º 8.072/90.............................................................................................................204
2.5.4 Código de Defesa do Consumidor - Lei n.º 8.078/90 - artigos. 61 ao 80................................................................206
2.5.5 Lei de Improbidade Administrativa - Lei n.º 8.429/92...........................................................................................207
2.5.6 Lei de Tortura - Lei n.º 9.455/97............................................................................................................................... 211
2.5.7 Código de Trânsito Brasileiro - Lei n.º 9.503/97 - artigos 302 ao 312.................................................................... 211
2.5.8 Lei Maria da Penha - Lei n.º 11.340/06....................................................................................................................212
2.5.9 Lei sobre Drogas - Lei n.º 11.343/06 - artigos 27 ao 53...........................................................................................217
2.5.10 Lei do Crime Organizado - Lei nº 12850/13..........................................................................................................220
2.5.11 Lei da Prisão Temporária - Lei nº 7.960/89...........................................................................................................223
2.5.12 Lei dos Juizados Especiais - Lei nº 9.099/95 - artigos 60 ao 97............................................................................224
2.5.13 Lei das Contravenções Penais - Decreto-lei nº 3.688/41.......................................................................................227
2.5.14 Estatuto do Desarmamento - Lei nº 10.826/2003 - artigos 12 ao 21....................................................................232
2.5.15 Lei dos Crimes Ambientais - Lei nº 9.605/98.........................................................................................................233
2.5.16 Lei de Interceptação Telefônica - nº Lei 9.296/96..................................................................................................240
2.5.17 Lei dos Crimes Resultantes de Preconceito de Raça e Cor - Lei nº 7.716/89......................................................241
2.5.18 Estatuto do Idoso - Lei nº 10.741/2003 - artigos 93 ao 108...................................................................................243
2.5.19 Estatuto dos Funcionários Públicos Civis do Estado - Lei nº 10.261/68.............................................................244
2.5.20 Lei Orgânica da Polícia do Estado de São Paulo (Lei Complementar n.º 207 de 05/01/1979 e Lei Complementar
n.º 922/02 e Lei Complementar n.º 1.151/11)...........................................................................................................................267
2.5.21 Lei Federal n.º 12.527, de 18/11/2011 (Lei de Acesso à Informação) e seu decreto regulamentador no âmbito do
Estado de São Paulo (Decreto n.º 58.052, de 16/05/2012).......................................................................................................289
CRIMINOLOGIA
Didatismo e Conhecimento
Índice
LÓGICA
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
5.1 MS-Windows 7: conceito de pastas, diretórios, arquivos e atalhos, área de trabalho, área de transferência,
manipulação de arquivos e pastas, uso dos menus, programas e aplicativos, interação com o conjunto de aplicativos do
MS-Office 2010.............................................................................................................................................................................01
5.2 MS-Word 2010: estrutura básica dos documentos, edição e formatação de textos, cabeçalhos, parágrafos, fontes,
colunas, marcadores simbólicos e numéricos, tabelas, impressão, controle de quebras e numeração de páginas, legendas,
índices, inserção de objetos, campos predefinidos, caixas de texto.........................................................................................13
5.3 MS-Excel 2010: estrutura básica das planilhas, conceitos de células, linhas, colunas, pastas e gráficos, elaboração
de tabelas e gráficos, uso de fórmulas, funções e macros, impressão, inserção de objetos, campos predefinidos, controle
de quebras e numeração de páginas, obtenção de dados externos, classificação de dados...................................................39
5.4 MS-PowerPoint 2010: estrutura básica das apresentações, conceitos de slides, anotações, régua, guias, cabeçalhos
e rodapés, noções de edição e formatação de apresentações, inserção de objetos, numeração de páginas, botões de ação,
animação e transição entre slides...............................................................................................................................................63
5.5 Correio Eletrônico: uso de correio eletrônico, preparo e envio de mensagens, anexação de arquivos...................79
5.6 Internet: Navegação Internet, conceitos de URL, links, sites, busca e impressão de páginas.................................87
5.7 Computadores pessoais (desktops, tablets, notebooks e noções gerais e operações)................................................94
Didatismo e Conhecimento
SAC
Atenção
SAC
Dúvidas de Matéria
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Didatismo e Conhecimento
Artigo
O conteúdo do artigo abaixo é de responsabilidade do autor William Douglas, autorizado gentilmente e sem cláusula
de exclusividade, para uso do Grupo Nova.
O conteúdo das demais informações desta apostila é de total responsabilidade da equipe do Grupo Nova.
ELA, A DEPRESSÃO.
Creio que para falar sobre como passar em concursos a pessoa já deve ter sido reprovada e aprovada várias vezes.
Tem, necessariamente de ter sentido cada uma das dores e alegrias dessa jornada longa, trabalhosa e gratificante.
Apenas tem.
Feliz ou infelizmente, esse é um planeta onde antes de se falar deve se fazer. É assim que funciona.
E é por isso mesmo que vou me arvorar a falar sobre ela, a depressão. Porque eu já a tive. Diante da depressão, o
mundo não faz sentido, nem nós, nem nossa vida, nem nada, mesmo as coisas boas. Um sono infinito, uma vontade
de tudo acabar mesmo que precisemos, nós mesmos, dar um fim a isto. Dores loucas pelo corpo, fisgadas, uma afasia
enorme, uma incessante sensação de que nada vale a pena. E remédios. Rivotril, Lexotan, Frontal... vários, os laboratórios
estão aí para isso mesmo. E, claro, consultas e, mais que tudo, culpa. Culpa por estar triste, culpa por estar assim, culpa
por culpa. O mundo todo desabando, exigindo você... e tudo o que você quer é o direito de não querer mais coisa alguma.
Apenas passar, ir, dormir.
É assim que funciona. Quem já viveu, sabe. E, em um mundo louco como esse nosso, parece que quem ainda não
viveu pode esperar: cedo ou tarde passa por ela, a depressão.
Claro, há graus e níveis. Não há quem não tenha tido um mal dia. O problema é que os jornais são depressivos, a
miséria desse país e desse mundo também é e, somadas as frustrações cotidianas, são um grande incentivo ao desânimo
total e irrestrito. E, claro, estudar para concursos também é depressivo.
Sim, das carteiras às apostilas, dos professores ruins ou arrogantes aos examinadores, passando por programas de
concurso, rotinas, reveses, custos, insucessos, anulações, cansaço, inquietações e, óbvio, prazos longos. Tudo isso tem
um extraordinário potencial depressivo.
Então, por isso, cedo ou tarde, esse depressivo em recuperação teria que tocar no assunto. Já estive deprimido e sem
ânimo algum e, se não tomar cuidado, tenho de novo.
E você, já a experimentou?
Até Elias, um grande profeta da Bíblia, passou pelo atual mal do século (I Reis 19), desejando morrer e indo para
uma caverna.
No livro Não sou a mulher maravilha (Ed. Thomas Nelson Brasil), Sheila Walsh aborda o tema num interessante
capítulo chamado “Máscaras”. Acho que o primeiro problema da vida social é termos que usar máscaras de invencibilidade
e força. E isto é depressivo.
Ela cita o Mágico de Oz, em especial Dorothy e seus amigos por buscarem a solução para seus problemas no Mágico
que estava na cidade Esmeralda. E lá foram eles pela estrada amarela em busca da solução mágica para suas angústias.
E, quando finalmente chegam à Cidade Esmeralda, descobrem que o Grande Oz usava uma máscara, que era um engodo.
Diz a autora: “À primeira vista, a imagem do Mágico projetada na tela diante de Dorothy é impressionante e irresistível,
mas quando Totó puxa a cortina, ela vê que o Grande Oz é só um velho falando em um microfone. Dorothy fica muito
decepcionada, mas quando diz ao Mágico que ele é um homem ruim, a resposta é maravilhosa.” O mágico diz:
— Não, querida, sou um homem bom. Sou apenas um péssimo mágico.
Didatismo e Conhecimento
Artigo
O livro traz boas lições. A primeira é que o que muda Dorothy, o Espantalho, o Homem de Lata e o Leão não são o
mágico, mas a viagem. Outra, que ao reconhecerem suas limitações e abandonarem as máscaras tiveram força força e
alento para, juntos, prosseguirem. Mas isso eu já comentei no artigo da semana passada.
Quero, agora, ir mais longe.
E, para isso, vou citar a fantástica experiência de Sheila Walsh:
“Já experimentei meus próprios momentos de péssimo mágico. Não conheço sua história ou quais eventos a levaram
à situação em que você se encontra agora, mas será que já não se sentiu assim também? Será que você deu tanto duro
para manter funcionando toda a fumaça e os espelhos, todos os pratos girando no ar, tentando ser mais do que consegue
e, então, de repente, tudo caiu no chão à sua frente? Acredito que esses momentos são dádivas de Deus se estivermos
dispostos a ver a mão dele.
Eles podem ser o começo de uma nova maneira de viver se deixarmos as máscaras caírem. Já escrevi extensivamente
sobre minha experiência com depressão clínica em meu livro Honestly [Honestamente] e também abordei isso em The
Heartache No One Sees [A dor que ninguém vê], então não vou me alongar aqui. Mas, se somos novas amigas, deixe-me
dar uma breve noção de como Deus me transformou de uma péssima mágica, uma Mulher-Maravilha exausta, em uma
mulher muito grata que finalmente entendeu que foi feita maravilhosamente.
Estava morando em Virginia Beach há cinco anos e estava feliz por morar perto do oceano novamente. Tinha crescido
perto da praia e acho que ela pode ser pacífica e confortante até mesmo quando não estou em paz por dentro. Tinha
aprendido a evitar a praia principal, mais popular, e encontrei meu cantinho sossegado longe da multidão. Sentei-me na
praia uma noite e olhei para as ondas quebrando na areia. Elas pareciam simbolizar o que estava acontecendo na minha
vida. Tudo com que já tinha contado para construir minha identidade estava acabando.
Amanhã de manhã seria a co-anfitriã de minha última edição do The 700 Club [O Clube dos 700], e então dirigiria
até Washington, D.C., e me internaria em um hospital psiquiátrico. Era o meu maior medo se concretizando. Se fosse
diagnosticada com alguma coisa física, poderia facilmente compartilhar isso com os outros, receber apoio e perseverado.
Um diagnóstico de depressão clínica aguda, entretanto, não era algo para se compartilhar. Estava muito envergonhada.
Por anos havia baseado minha identidade na tentativa de ser a mulher cristã perfeita. Dava duro, tentava ajudar todas
as pessoas que pudesse, nunca me atrasava para nada e nem reclamava de excesso de trabalho. Até tinha ajuda com minha
máscara. Todas as manhãs eu me sentava na sala de maquiagem e Debbie fazia o melhor que podia para disfarçar minhas
olheiras. Quando terminava, ela fazia meu cabelo. Aileen trazia meu terno passado, pendurando-o ao lado dos sapatos e
jóias certos.
Dei uma última olhada no espelho e caminhei pelo corredor até o camarim de Pat Robinson, onde orávamos com os
produtores antes do show a cada manhã. Desempenhava meu papel por fora, mas por dentro estava me enfiando mais e
mais em um buraco negro.
Tinha tentado me salvar, mas não pude. Tinha jejuado e orado, me energizado, e tomado vitaminas suficientes para
uma horda de búfalos doentes.
Desesperada, falei com meu amigo, Dr. Henry Cloud, e Henry disse que eu precisava conseguir ajuda, e bem rápido.
Ele me pôs em contato com o médico e o hospital certos, conseguindo que fosse admitida na noite seguinte.
Não me lembro muito daquele último programa, mas me lembro de uma conversa final. Uma de minhas amigas que
fazia parte do programa há muitos anos e era uma pessoas respeitada e querida da equipe me pediu para reconsiderar:
— Se você fizer isso, Sheila, ninguém vai confiar em você novamente.
Vai vazar a informação de que esteve em uma ala psiquiátrica e isso vai persegui-la pelo resto da vida.
Sabia que ela estava certa, mas não tinha escolha. Estava sentindo tanta dor e incômodo que decidi que o que quer que
acontecesse não podia ser pior que viver assim. Depois do programa, vesti uma calça jeans, um suéter e saí pelos portões
da Christian Brodcasting Network [rede de televisão cristã] em meu carro.
Estava dando adeus a tudo que considerava importante. Tinha um emprego que adorava e no qual era muito boa.
Meus colegas confiavam em mim e me respeitavam. Não fazia idéia do que o futuro reservaria para mim ou se ao menos
teria um.
Didatismo e Conhecimento
Artigo
Para aquelas de vocês que não estão familiarizadas com esta doença, a depressão não é ter pena de si mesma ou ter
uns poucos dias ruins.
É uma doença muito real que ocorre no cérebro quando algumas substâncias necessárias ao bom funcionamento dele
estão faltando. É uma doença totalmente tratável, mas, infelizmente, muitas pessoas não procuram ajuda porque, como
eu, têm vergonha de admitir que precisam de ajuda. É uma doença que afeta a família inteira — o que sofre e aqueles ao
redor, pois freqüentemente não entendem ou não sabem o que fazer para ajudar.
Tenho muitas memórias do mês que passei no hospital, mas há duas que se destacam para mim em especial.
Não dormi bem naquela primeira noite. Eu me sentia doente, com medo e sozinha. Mais ou menos às sete da manhã,
vesti o roupão de banho por cima do pijama e vaguei pelo corredor até o hall dos pacientes. Havia seis ou sete pacientes
lá, conversando e bebendo café descafeinado.
Quando entrei, eles ficaram em silêncio. Cada um parou o que estava fazendo e me olhou fixamente. A princípio, não
fazia idéia por que estavam me encarando, então, de repente, dei conta que, estando em uma unidade administrada por
médicos cristãos, era bem provável que eles assistissem The 700 Club. Não tinha pensado nessa possibilidade até invadir
o espaço deles, e a dinâmica da sala mudou. Não sabia o que dizer, então não disse nada.
Finalmente um homem quebrou o silêncio.
— Você é Sheila Walsh?
— Sim.
— A da televisão?
— Sim.
— Nós assistimos a você aqui. Você deveria estar nos ajudando.
Nunca me esquecerei daquele momento. Naquele milésimo de segundo em que minha máscara caiu, o fracasso era
um convite de Deus para começar uma vida nova, e eu o aceitei. Tudo o que eu consegui dizer foi:
— Sinto muito, eu também preciso de ajuda.
Eu também preciso de ajuda — cinco palavras, apenas cinco palavrinhas que pareciam ter o poder de cortar o fardo
que vinha carregando por tanto tempo e deixei espatifar no chão. Naquele momento em que reconheci publicamente que
não era a Mulher-Maravilha ou o Grande Oz, descobri que é o suficiente ser humana. Deus não se sente diminuído por
nossa humanidade e ninguém ganha nada fingindo ser uma deidade também.
Houve outro momento que me impactou profundamente e me mostrou o que Deus fará se tirarmos nossas máscaras.
Eu estava no hospital havia quase duas semanas, progredindo bastante na busca dentro do meu armário interno por
tudo que tinha escondido lá por anos. Eu me sentia como uma criança levando suas bonecas àquele que podia consertálas.
Uma noite, depois do jantar, fui à sala das enfermeiras para pegar meu secador de cabelo. Qualquer coisa que seja
potencialmente perigosa aos pacientes é mantida trancada na caixa dos “pontiagudos”, mas pode ser retirada por um
breve período de tempo.
Quando me aproximava da mesa, vi que eles estavam recebendo uma nova paciente que estava muito nervosa, então
decidi voltar mais tarde. Quando saía, as duas filhas da nova paciente me reconheceram e começaram a chorar.
Instintivamente, me aproximei delas. Quando a mãe delas levantou os olhos e me viu, jogou os braços em volta do
meu pescoço e me abraçou forte. Ela era uma espectadora fiel de The 700 Club que precisava de ajuda desesperadamente,
mas estava com muita vergonha de sua necessidade. Deus a pôs ali na mesma hora que eu para que soubesse que não
estava sozinha e que não há problema algum em buscar ajuda.
Aprendi aquela noite que, quando tiramos as máscaras, podemos reconhecer a dor uns dos outros. Quando estamos
dispostos a mostrar nossa fragilidade e deixar a luz de Cristo entrar em nós, a boa nova é pregada aos pobres de espírito,
os cegos podem ver a verdade, e os aleijados e feridos podem andar de novo.
Não sei que máscaras você está usando. Não sei por que você acha que precisa delas. O que sei é que, se pela graça
de Deus conseguir tirá-las, nunca as usará novamente. Pode ser que lhe seja custoso; foi para mim, mas valeu a pena.
Didatismo e Conhecimento
Artigo
Houve alguns momentos em que as pessoas me disseram que estavam desapontadas comigo, particularmente porque
ainda tomo medicação para depressão. Mas entendo isso e está tudo bem. Não preciso da aprovação de todo mundo que
conheço. Tenho o amor poderoso do meu Pai e a companhia de outros que estão tendo o tecido de sua vida restaurado
com amor pelo Mestre dos Alfaiates.
Mas se você já realizou mudanças significativas em sua vida, entende que quando mudamos, tudo à nossa volta muda
também e, o mais significativo de tudo, nossos relacionamentos.”
Não sei se você está passando pelo problema, se já passou ou vai passar.
Espero que não passe. Mas sei que se tentar manter máscaras de que é perfeito ou superior, ou imune à dor, ou que não
tem medo, isso pode ter um alto custo. Máscaras são sempre pesadas, tiram o ar de quem as usa, atrapalham a visão. Sei
que é preciso ter coragem para se assumir como concurseiro e ir em busca de uma vaga, quando a multidão se omite, ou
ri, ou critica sua busca por uma melhoria de condição de vida. Sei que sempre vai aparecer alguém, de perto ou de longe,
com soluções melhores e com críticas ácidas ou, pior, com aquele risinho ou carinha de deboche ou falta de confiança
diante de você ou do que você está fazendo.
Sei que existe uma hora em que somos fracos e precisamos de ajuda.
Não existem mágicos, nem super-heróis. E quis começar essa conversa de hoje dizendo que o primeiro colocado
de vários concursos, o “guru”, também passou por isso. Quis tirar a minha máscara e dizer que tenho medo, que sofro,
que foi uma lenha conseguir passar, enfrentar as cobranças, a insegurança, tudo. Mas, ao mesmo tempo, dizer que tudo
isso passa. Nós permanecemos. Você permanece e estará aqui no futuro. Portanto, espero que jogue fora as máscaras da
perfeição, que aceite ajuda, que se permita mudar.
Como disse Sheila, “quando mudamos, tudo à nossa volta muda também e, o mais significativo de tudo, nossos
relacionamentos.” Estou certo que existem vitórias, alegrias e relacionamentos à sua espera, logo depois da esquina. E
desejo boa sorte a você, e coragem de ir até lá. É Importante você saber ou, se for o caso, dizer para alguém com esse
problema, que a depressão é só mais uma doença. Não é nenhuma vergonha têla. É só uma «gripe da alma». Ela tem
cura. Você passa por ela e, cedo ou tarde, reencontra a alegria de viver, compreende que estar vivo é, apesar de tudo, uma
dádiva. Que as coisas valem a pena.
Você passa por ela e se reconstrói, se redescobre, e ainda termina mais sábio, forte e maduro do que era. Como já foi
dito, tudo o que não me destrói, me fortalece. E quem diz isso já passou pelo desânimo, pela idéia de suicídio e outras
dores, umas bem grandes. No final, tudo se ajeita, a vida segue e a paisagem, com suas flores e pedras, volta a ficar
colorida.
Vamos manter a estrada colorida, e seguir nela, então.
Com abraço fraterno,
William Douglas
Didatismo e Conhecimento
LÍNGUA PORTUGUESA
LÍNGUA PORTUGUESA
- A linguagem não literária é objetiva, denotativa, preocupa-se
Prof Especialista Zenaide Auxiliadora Pachegas Branco em transmitir o conteúdo, utiliza a palavra em seu sentido próprio,
utilitário, sem preocupação artística. Geralmente, recorre à ordem
Graduada pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de direta (sujeito, verbo, complementos).
Adamantina Especialista pela Universidade Estadual Paulista –
Unesp Leia com atenção os textos a seguir e compare as linguagens
utilizadas neles.
Texto A
1.1 - LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE
Amor (ô). [Do lat. amore.] S. m. 1. Sentimento que predispõe
DIVERSOS TIPOS DE TEXTOS
alguém a desejar o bem de outrem, ou de alguma coisa: amor ao
(LITERÁRIOS E NÃO LITERÁRIOS).
próximo; amor ao patrimônio artístico de sua terra. 2. Sentimento
de dedicação absoluta de um ser a outro ser ou a uma coisa;
devoção, culto; adoração: amor à Pátria; amor a uma causa. 3.
Sabemos que a “matéria-prima” da literatura são as palavras. Inclinação ditada por laços de família: amor filial; amor conjugal.
No entanto, é necessário fazer uma distinção entre a linguagem 4. Inclinação forte por pessoa de outro sexo, geralmente de caráter
literária e a linguagem não literária, isto é, aquela que não carac- sexual, mas que apresenta grande variedade
teriza a literatura. e comportamentos e reações.
Embora um médico faça suas prescrições em determinado Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. Novo Dicionário da
idioma, as palavras utilizadas por ele não podem ser consideradas Língua Portuguesa, Nova Fronteira.
literárias porque se tratam de um vocabulário especializado e de
um contexto de uso específico. Agora, quando analisamos a lite- Texto B
ratura, vemos que o escritor dispensa um cuidado diferente com a Amor é fogo que arde sem se ver;
linguagem escrita, e que os leitores dispensam uma atenção dife- É ferida que dói e não se sente;
renciada ao que foi produzido. É um contentamento descontente;
Outra diferença importante é com relação ao tratamento do é dor que desatina sem doer.
conteúdo: ao passo que, nos textos não literários (jornalísticos, Luís de Camões. Lírica, Cultrix.
científicos, históricos, etc.) as palavras servem para veicular uma
série de informações, o texto literário funciona de maneira a cha- Você deve ter notado que os textos tratam do mesmo assunto,
mar a atenção para a própria língua (FARACO & MOURA, 1999) porém os autores utilizam linguagens diferentes.
no sentido de explorar vários aspectos como a sonoridade, a estru- No texto A, o autor preocupou-se em definir “amor”, usando
tura sintática e o sentido das palavras. uma linguagem objetiva, científica, sem preocupação artística.
Veja abaixo alguns exemplos de expressões na linguagem não No texto B, o autor trata do mesmo assunto, mas com
literária ou “corriqueira” e um exemplo de uso da mesma expres- preocupação literária, artística. De fato, o poeta entra no campo
são, porém, de acordo com alguns escritores, na linguagem lite- subjetivo, com sua maneira própria de se expressar, utiliza
rária: comparações (compara amor com fogo, ferida, contentamento e
dor) e serve-se ainda de contrastes que acabam dando graça e força
Linguagem não Linguagem literária: expressiva ao poema (contentamento descontente, dor sem doer,
literária: ferida que não se sente, fogo que não se vê).
Anoitece. A mão da noite embrulha os horizontes.
Questões
(Alvarenga Peixoto)
Teus cabelos loiros Os clarins de ouro dos teus cabelos can- 1-) Leia o trecho do poema abaixo.
brilham. tam na luz! (Mário Quintana)
Uma nuvem cobriu ... um sujo de nuvem emporcalhou o luar O Poeta da Roça
parte do céu. em sua nascença. (José Cândido de Car- Sou fio das mata, cantô da mão grosa
valho) Trabaio na roça, de inverno e de estio
A minha chupana é tapada de barro
Como distinguir, na prática, a linguagem literária da não Só fumo cigarro de paia de mio.
literária? Patativa do Assaré
- A linguagem literária é conotativa, utiliza figuras (palavras A respeito dele, é possível afirmar que
de sentido figurado), em que as palavras adquirem sentidos mais (A) não pode ser considerado literário, visto que a linguagem
amplos do que geralmente possuem. aí utilizada não está adequada à norma culta formal.
- Na linguagem literária há uma preocupação com a escolha (B) não pode ser considerado literário, pois nele não se perce-
e a disposição das palavras, que acabam dando vida e beleza a um be a preservação do patrimônio cultural brasileiro.
texto. (C) não é um texto consagrado pela crítica literária.
- Na linguagem literária é muito importante a maneira original
de apresentar o tema escolhido.
Didatismo e Conhecimento 1
LÍNGUA PORTUGUESA
(D) trata-se de um texto literário, porque, no processo criativo 3-) Ainda com relação ao textos I e II, assinale a opção incor-
da Literatura, o trabalho com a linguagem pode aparecer de várias reta
formas: cômica, lúdica, erótica, popular etc a) No texto I, em lugar de apenas informar sobre o real, ou de
(E) a pobreza vocabular – palavras erradas – não permite que produzi-lo, a expressão literária é utilizada principalmente como
o consideremos um texto literário. um meio de refletir e recriar a realidade.
b) No texto II, de expressão não literária, o autor informa o lei-
Leia os fragmentos abaixo para responder às questões que se- tor sobre a origem da cana-de-açúcar, os lugares onde é produzida,
guem: como teve início seu cultivo no Brasil, etc.
c) O texto I parte de uma palavra do domínio comum – açúcar
TEXTO I – e vai ampliando seu potencial significativo, explorando recursos
formais para estabelecer um paralelo entre o açúcar – branco, doce,
O açúcar puro – e a vida do trabalhador que o produz – dura, amarga, triste.
O branco açúcar que adoçará meu café nesta manhã de Ipa- d) No texto I, a expressão literária desconstrói hábitos de lin-
nema não foi produzido por mim nem surgiu dentro do açucareiro guagem, baseando sua recriação no aproveitamento de novas for-
por milagre. mas de dizer.
Vejo-o puro e afável ao paladar como beijo de moça, água na e) O texto II não é literário porque, diferentemente do literá-
pele, flor que se dissolve na boca. Mas este açúcar não foi feito rio, parte de um aspecto da realidade, e não da imaginação.
por mim.
Este açúcar veio da mercearia da esquina e tampouco o fez o Gabarito
Oliveira, dono da mercearia.
Este açúcar veio de uma usina de açúcar em Pernambuco ou 1-) D
no Estado do Rio e tampouco o fez o dono da usina.
Este açúcar era cana e veio dos canaviais extensos que não 2-) D – Esta alternativa está correta, pois ela remete ao caráter
nascem por acaso no regaço do vale. reflexivo do autor de um texto literário, ao passo em que ele revela
Em lugares distantes, onde não há hospital nem escola, ho- às pessoas o “seu mundo” de maneira peculiar.
mens que não sabem ler e morrem de fome aos 27 anos plantaram
e colheram a cana que viraria açúcar.
3-) E – o texto I também fala da realidade, mas com um cunho
Em usinas escuras, homens de vida amarga e dura produzi-
diferente do texto II. No primeiro há uma colocação diferencia-
ram este açúcar branco e puro com que adoço meu café esta ma-
da por parte do autor em que o objetivo não é unicamente passar
nhã em Ipanema.
informação, existem outros “motivadores” por trás desta escrita.
fonte: “O açúcar” (Ferreira Gullar. Toda poesia. Rio de Janei-
ro, Civilização Brasileira, 1980, pp.227-228)
Fontes:
TEXTO II http://robertoavila.com.br/arquivos/literatura_aula01.htm
http://www.soliteratura.com.br/texto_literario/
A cana-de-açúcar https://www.unifonte.com.br/wp-content/uploads/2012/02/
Originária da Ásia, a cana-de-açúcar foi introduzida no Brasil Exerc%C3%ADcios-Complementares.pdf
pelos colonizadores portugueses no século XVI. A região que du- http://blogdoenem.com.br/enem-2013-literatura-texto-nao-litera-
rante séculos foi a grande produtora de cana-de-açúcar no Brasil é rio/
a Zona da Mata nordestina, onde os férteis solos de massapé, além
da menor distância em relação ao mercado europeu, propiciaram
condições favoráveis a esse cultivo. Atualmente, o maior produtor
nacional de cana-de-açúcar é São Paulo, seguido de Pernambuco,
Alagoas, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Além de produzir o açú-
car, que em parte é exportado e em parte abastece o mercado inter-
no, a cana serve também para a produção de álcool, importante nos
dias atuais como fonte de energia e de bebidas. A imensa expansão
dos canaviais no Brasil, especialmente em São Paulo, está ligada
ao uso do álcool como combustível.
Didatismo e Conhecimento 2
LÍNGUA PORTUGUESA
QUESTÕES SOBRE SIGNIFICAÇÃO DAS PALAVRAS
Didatismo e Conhecimento 3
LÍNGUA PORTUGUESA
04. (Agente de Escolta e Vigilância Penitenciária – VUNESP d) deferir = diferenciar; diferir = conceder
– 2013). Analise as afirmações a seguir. e) dispensa = cômodo; despensa = desobrigação
I. Em – Há sete anos, Fransley Lapavani Silva está preso por
homicídio. – o termo em destaque pode ser substituído, sem altera- 09. (Agente de Apoio Operacional – VUNESP – 2013). Leia
ção do sentido do texto, por “faz”. o texto a seguir.
II. A frase – Todo preso deseja a libertação. – pode ser reescrita Temos o poder da escolha
da seguinte forma – Todo preso aspira à libertação. Os consumidores são assediados pelo marketing a todo mo-
III. No trecho – ... estou sendo olhado de forma diferente aqui mento para comprarem além do que necessitam, mas somente eles
no presídio devido ao bom comportamento. – pode-se substituir a podem decidir o que vão ou não comprar. É como se abrissem em
expressão em destaque por “em razão do”, sem alterar o sentido nós uma “caixa de necessidades”, mas só nós temos o poder da es-
do texto. colha.
De acordo com a norma-padrão da língua portuguesa, está cor- Cada vez mais precisamos do consumo consciente. Será que
reto o que se afirma em paramos para pensar de onde vem o produto que estamos consumin-
A) I, II e III. do e se os valores da empresa são os mesmos em que acreditamos? A
B) III, apenas. competitividade entre as empresas exige que elas evoluam para se-
C) I e III, apenas. rem opções para o consumidor. Nos anos 60, saber fabricar qualquer
D) I, apenas. coisa era o suficiente para ter uma empresa. Nos anos 70, era preciso
E) I e II, apenas. saber fazer com qualidade e altos índices de produção. Já no ano
2000, a preocupação era fazer melhor ou diferente da concorrência e
05. Leia as frases abaixo: as empresas passaram a atuar com responsabilidade socioambiental.
1 - Assisti ao ________ do balé Bolshoi; O consumidor tem de aprender a dizer não quando a sua relação
2 - Daqui ______ pouco vão dizer que ______ vida em Marte. com a empresa não for boa. Se não for boa, deve comprar o produto
3 - As _________ da câmara são verdadeiros programas de hu- em outro lugar. Os cidadãos não têm ideia do poder que possuem.
mor.
É importante, ainda, entender nossa relação com a empresa ou
4 - ___________ dias que não falo com Alfredo.
produto que vamos eleger. Temos uma expectativa, um envolvimen-
Escolha a alternativa que oferece a seqüência correta de vocá-
to e aceitação e a preferência dependerá das ações que aprovamos ou
bulos para as lacunas existentes:
não nas empresas, pois podemos mudar de ideia.
a) concerto – há – a – cessões – há;
Há muito a ser feito. Uma pesquisa mostrou que 55,4% das pes-
b) conserto – a – há – sessões – há;
c) concerto – a – há – seções – a; soas acreditam no consumo consciente, mas essas mesmas pessoas
d) concerto – a – há – sessões – há; admitem que já compraram produto pirata. Temos de refletir sobre
e) conserto – há – a – sessões – a . isso para mudar nossas atitudes.
(Jornal da Tarde 24.04.2007. Adaptado)
06. (Agente de Escolta e Vigilância Penitenciária – VUNESP No trecho – Temos uma expectativa, um envolvimento e aceita-
– 2013-adap.). Considere o seguinte trecho para responder à ques- ção... –, a palavra destacada apresenta sentido contrário de
tão.Adolescentes vivendo em famílias que não lhes transmitiram A) vontade.
valores sociais altruísticos, formação moral e não lhes impuseram B) apreciação.
limites de disciplina. C) avaliação.
O sentido contrário (antônimo) de altruísticos, nesse trecho, é: D) rejeição.
A) de desprendimento. E) indiferença.
B) de responsabilidade.
C) de abnegação. 10. (Agente de Apoio Operacional – VUNESP – 2013). Na
D) de amor. frase – Os consumidores são assediados pelo marketing... –, a pa-
E) de egoísmo. lavra destacada pode ser substituída, sem alteração de sentido, por:
A) perseguidos.
07. Assinale o único exemplo cuja lacuna deve ser preenchida B) ameaçados.
com a primeira alternativa da série dada nos parênteses: C) acompanhados.
A) Estou aqui _______ de ajudar os flagelados das enchentes. D) gerados.
(afim- a fim). E) preparados.
B) A bandeira está ________. (arreada - arriada).
C) Serão punidos os que ________ o regulamento. (inflingirem GABARITO
- infringirem).
D) São sempre valiosos os ________ dos mais velhos. (conce- 01. A
lhos - conselhos). 02. D
E) Moro ________ cem metros da praça principal. (a cerca de 03. A
- acerca de). 04. A
05. D
08. Assinale a alternativa correta, considerando que à direita de 06. E
cada palavra há um sinônimo. 07. E
a) emergir = vir à tona; imergir = mergulhar 08. A
b) emigrar = entrar (no país); imigrar = sair (do país) 09. D
c) delatar = expandir; dilatar = denunciar 10. A
Didatismo e Conhecimento 4
LÍNGUA PORTUGUESA
COMENTÁRIOS 8-)
b) emigrar = entrar (no país); imigrar = sair (do país) = signifi-
1-) Da mesma forma que os italianos e japoneses imigraram cados invertidos
para o Brasil no século passado, hoje os brasileirosemigram para c) delatar = expandir; dilatar = denunciar = significados inver-
a Europa e para o Japão, à busca de uma vida melhor; internamen- tidos
te, migrampara o Sul, pelo mesmo motivo. d) deferir = diferenciar; diferir = conceder= significados inver-
2-) “Com exceção de alguns sensores, que precisamos com- tidos
prar, é tudo reciclagem”... e) dispensa = cômodo; despensa = desobrigação= significados
invertidos
3-) antônimo para o termo destacado : “No início das aulas, eu
achava meio chato, mas depois fui me interessando”
9-) Temos uma expectativa, um envolvimento e aceitação... –, a
“No início das aulas, eu achava meio estimulante, mas depois
palavra destacada apresenta sentido contrário de rejeição.
fui me interessando”
10-) Os consumidores são assediados pelo marketing... –, a pa-
4-) lavra destacada pode ser substituída, sem alteração de sentido, por
I. Em – Há sete anos, Fransley Lapavani Silva está preso por perseguidos.
homicídio. – o termo em destaque pode ser substituído, sem altera-
ção do sentido do texto, por “faz”.= correta
II. A frase – Todo preso deseja a libertação. – pode ser reescrita
da seguinte forma – Todo preso aspira à libertação.= correta SENTIDO PRÓPRIO E FIGURADO
III. No trecho – ... estou sendo olhado de forma diferente aqui DAS PALAVRAS
no presídio devido ao bom comportamento. – pode-se substituir a
expressão em destaque por “em razão do”, sem alterar o sentido do
texto.=correta
Na língua portuguesa, uma PALAVRA (do latim parabola, que
5-) por sua vez deriva do grego parabolé) pode ser definida como sen-
1 - Assisti aoconcertodo balé Bolshoi; do um conjunto de letras ou sons de uma língua, juntamente com a
ideia associada a este conjunto.
2 - Daqui a pouco vão dizer que há (=existe) vida em Marte.
3 – As sessões da câmara são verdadeiros programas de humor.
Sentido Próprio e Figurado das Palavras
4 - Há dias que não falo com Alfredo. (=tempo passado)
Pela própria definição acima destacada podemos perceber que
a palavra é composta por duas partes, uma delas relacionada a sua
6-) Adolescentes vivendo em famílias que não lhes transmiti- forma escrita e os seus sons (denominada significante) e a outra re-
ram valores sociais altruísticos, formação moral e não lhes impuse- lacionada ao que ela (palavra) expressa, ao conceito que ela traz
ram limites de disciplina. (denominada significado).
Em relação ao seu SIGNIFICADO as palavras subdividem-se
O sentido contrário (antônimo) de altruísticos, nesse trecho, é assim:
de egoísmo - Sentido Próprio - é o sentido literal, ou seja, o sentido comum
que costumamos dar a uma palavra.
Altruísmo é um tipo de comportamento encontrado nos seres - Sentido Figurado - é o sentido “simbólico”, “figurado”, que
humanos e outros seres vivos, em que as ações de um indivíduo podemos dar a uma palavra.
beneficiam outros. É sinônimo de filantropia. No sentido comum Vamos analisar a palavra cobra utilizada em diferentes con-
do termo, é muitas vezes percebida, também, como sinônimo de so- textos:
lidariedade. Esse conceito opõe-se, portanto, ao egoísmo, que são
as inclinações específica e exclusivamente individuais (pessoais ou 1. A cobra picou o menino. (cobra = tipo de réptil peçonhento)
coletivas). 2. A sogra dele é uma cobra. (cobra = pessoa desagradável, que
adota condutas pouco apreciáveis)
3. O cara é cobra em Física! (cobra = pessoa que conhece muito
7-)
sobre alguma coisa, “expert”)
A) Estou aquia fim de de ajudar os flagelados das enchentes.
(afim = O adjetivo “afim” é empregado para indicar que uma coi- No item 1 aplica-se o termo cobra em seu sentido comum (ou
sa tem afinidade com a outra. Há pessoas que têm temperamentos literal); nos itens 2 e 3 o termo cobra é aplicado em sentido figurado.
afins, ou seja, parecidos) Podemos então concluir que um mesmo significante (parte
B) A bandeira estáarriada . (arrear = colocar arreio no cavalo) concreta) pode ter vários significados (conceitos).
C) Serão punidos os que infringiremo regulamento. (inflingi-
rem = aplicarem a pena) Denotação e Conotação
D) São sempre valiosos osconselhos dos mais velhos; (conce- - Denotação: verifica-se quando utilizamos a palavra com
lhos= Porção territorial ou parte administrativa de um distrito). o seu significado primitivo e original, com o sentido do dicioná-
E) Moro a cerca de cem metros da praça principal. (acerca de rio; usada de modo automatizado; linguagem comum. Veja este
= Acerca de é sinônimo de “a respeito de”.). exemplo:Cortaram as asas da ave para que não voasse mais.
Didatismo e Conhecimento 5
LÍNGUA PORTUGUESA
Aqui a palavra em destaque é utilizada em seu sentido próprio, posso perder uma peça muito importante na minha vida, como eu
comum, usual, literal. perdi três anos na cadeia. Mas, na rua, o problema maior é tomar o
- DICA - Procure associar Denotação com Dicionário: trata- xeque-mate”, afirma João Carlos.
-se de definição literal, quando o termo é utilizado em seu sentido O xadrez faz parte da rotina de cerca de dois mil internos em
dicionarístico. 22 unidades prisionais do Espírito Santo. É o projeto “Xadrez que
- Conotação: verifica-se quando utilizamos a palavra com o seu liberta”. Duas vezes por semana, os presos podem praticar a ativida-
significado secundário, com o sentido amplo (ou simbólico); usada de sob a orientação de servidores da Secretaria de Estado da Justiça
de modo criativo, figurado, numa linguagem rica e expressiva. Veja (Sejus). Na próxima sexta-feira, será realizado o primeiro torneio
este exemplo: fora dos presídios desde que o projeto foi implantado. Vinte e oito
Seria aconselhável cortar as asas deste menino, antes que seja internos de 14 unidades participam da disputa, inclusive João Carlos
tarde mais. e Fransley, que diz que a vitória não é o mais importante.
Já neste caso o termo (asas) é empregado de forma figurada, “Só de chegar até aqui já estou muito feliz, porque eu não espe-
fazendo alusão à ideia de restrição e/ou controle de ações; disciplina, rava. A vitória não é tudo. Eu espero alcançar outras coisas devido
limitação de conduta e comportamento. ao xadrez, como ser olhado com outros olhos, como estou sendo
olhado de forma diferente aqui no presídio devido ao bom compor-
tamento”.
Fonte:
Segundo a coordenadora do projeto, Francyany Cândido Ventu-
http://www.tecnolegis.com/estudo-dirigido/oficial-de-justica-
rin, o “Xadrez que liberta” tem provocado boas mudanças no com-
-tjm-sp/lingua-portuguesa-sentido-proprio-e-figurado-das-palavras. portamento dos presos. “Tem surtido um efeito positivo por eles se
html tornarem uma referência positiva dentro da unidade, já que cum-
prem melhor as regras, respeitam o próximo e pensam melhor nas
QUESTÕES SOBRE DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO suas ações, refletem antes de tomar uma atitude”.
Embora a Sejus não monitore os egressos que ganham a liber-
01. (Agente de Apoio – Microinformática – VUNESP – dade, para saber se mantêm o hábito do xadrez, João Carlos já faz
2013). Uma frase empregada – exclusivamente – com sentido fi- planos. “Eu incentivo não só os colegas, mas também minha famí-
gurado é: lia. Sou casado e tenho três filhos. Já passei para a minha família:
A) Não é o tipo de companhia que se quer para tomar um vinho xadrez, quando eu sair para a rua, todo mundo vai ter que aprender
ou ir ao cinema. porque vai rolar até o torneio familiar”.
B) No início de maio, Buffett convidou um sujeito chamado “Medidas de promoção de educação e que possibilitem que o
Doug Kass para participar de um dos painéis que compuseram a reu- egresso saia melhor do que entrou são muito importantes. Nós não
nião anual de investidores de sua empresa, a Berkshire Hathaway. temos pena de morte ou prisão perpétua no Brasil. O preso tem data
C) Buffett queria entender o porquê. para entrar e data para sair, então ele tem que sair sem retornar para
D) Questiona. o crime”, analisa o presidente do Conselho Estadual de Direitos Hu-
E) Coloca o dedo na ferida. manos, Bruno Alves de Souza Toledo.
(Disponível em: www.inapbrasil.com.br/en/noticias/xadrez-
02. (Agente de Apoio Operacional – VUNESP – 2013). As- -que-liberta-estrategia-concentracao-e-reeducacao/6/noticias. Aces-
sinale a alternativa que apresenta palavra empregada no sentido fi- so em: 18.08.2012. Adaptado)
gurado.
A)...somente eles podem decidir o que vão ou não comprar. Considerando o contexto em que as seguintes frases foram
B) Há consumidores que gastam rios de dinheiro com supér- produzidas, assinale a alternativa em que há emprego figurado das
fluos. palavras.
A) O xadrez faz parte da rotina de cerca de dois mil internos em
C)… deve comprar o produto em outro lugar.
22 unidades prisionais do Espírito Santo.
D)… de onde vem o produto que estamos consumindo…
B) Além dos muros, grades, cadeados e detectores de metal,
E) Temos de refletir sobre isso para mudar nossas atitudes.
eles têm outros pontos em comum...
C) Nós não temos pena de morte ou prisão perpétua no Brasil.
03. (Agente de Escolta e Vigilância Penitenciária – VUNESP D) “Mas, na rua, o problema maior é tomar o xeque-mate”, afir-
– 2013). Leia o texto a seguir. ma João Carlos.
“Xadrez que liberta”: estratégia, concentração e reeducação E) Já passei para a minha família: xadrez, quando eu sair para a
João Carlos de Souza Luiz cumpre pena há três anos e dois me- rua, todo mundo vai ter que aprender...
ses por assalto. Fransley Lapavani Silva está há sete anos preso por
homicídio. Os dois têm 30 anos. Além dos muros, grades, cadeados 04. (Agente de Promotoria – Assessoria – VUNESP – 2013).
e detectores de metal, eles têm outros pontos em comum: tabuleiros Leia o texto a seguir.
e peças de xadrez. Na FLIP, como na Copa
O jogo, que eles aprenderam na cadeia, além de uma válvula RIO DE JANEIRO – Durante entrevista na Festa Literária In-
de escape para as horas de tédio, tornou-se uma metáfora para o que ternacional de Paraty deste ano, o cantor Gilberto Gil criticou as
pretendem fazer quando estiverem em liberdade. arquibancadas dos estádios brasileiros em jogos da Copa das Con-
“Quando você vai jogar uma partida de xadrez, tem que pensar federações.
duas, três vezes antes. Se você movimenta uma peça errada, pode Poderia ter dito o mesmo sobre a plateia da Tenda dos Autores,
perder uma peça de muito valor ou tomar um xeque- -mate, ins- para a qual ele e mais de 40 outros se apresentaram. A audiência do
tantaneamente. Se eu for para a rua e movimentar a peça errada, eu evento literário lembra muito a dos eventos Fifa: classe média alta.
Didatismo e Conhecimento 6
LÍNGUA PORTUGUESA
Na Flip, como nas Copas por aqui, pobre só aparece “como Construir cadeias custa caro; administrá-las, mais ainda. Obri-
prestador de serviço”, para citar uma participante de um protesto em gados a optar por uma repressão policial mais ativa, aumentaremos
Paraty, anteontem. o número de prisioneiros. As cadeias continuarão superlotadas.
Como lembrou outro dos convidados da festa literária, o mexi- Seria mais sensato investir em educação, para prevenir a crimi-
cano Juan Pablo Villalobos, esse cenário é “um espelho do que é o nalidade e tratar os que ingressaram nela.
Brasil”. Na verdade, não existe solução mágica a curto prazo. Precisa-
(Marco Aurélio Canônico, Na Flip, como na Copa. Folha de mos de uma divisão de renda menos brutal, motivar os policiais a
S.Paulo, 08.07.2013. Adaptado) executar sua função com dignidade, criar leis que acabem com a im-
O termo espelho está empregado em sentido punidade dos criminosos bem-sucedidos e construir cadeias novas
A) figurado, significando qualidade. para substituir as velhas.
B) próprio, significando modelo. Enquanto não aprendermos a educar e oferecer medidas pre-
C) figurado, significando advertência. ventivas para que os pais evitem ter filhos que não serão capazes de
D) próprio, significando símbolo. criar, cabe a nós a responsabilidade de integrá-los na sociedade por
meio da educação formal de bom nível, das práticas esportivas e da
E) figurado, significando reflexo.
oportunidade de desenvolvimento artístico.
(Drauzio Varella. In Folha de S.Paulo, 9 mar.2002. Adaptado)
05. (Agente de Escolta e Vigilância Penitenciária – VUNESP
– 2013). Leia o texto a seguir.
Assinale a alternativa em cuja frase foi empregada palavra ou
Violência epidêmica expressão com sentido figurado.
A violência urbana é uma enfermidade contagiosa. Embora A) Tendências agressivas surgem em indivíduos com dificulda-
possa acometer indivíduos vulneráveis em todas as classes sociais, é des adaptativas ...(4.º parágrafo)
nos bairros pobres que ela adquire características epidêmicas. B) A revisão de estudos científicos permite identificar três fato-
A prevalência varia de um país para outro e entre as cidades res principais na formação das personalidades com maior inclinação
de um mesmo país, mas, como regra, começa nos grandes centros ao comportamento violento... (6.º parágrafo)
urbanos e se dissemina pelo interior. C) As estratégias que as sociedades adotam para combater a
As estratégias que as sociedades adotam para combater a vio- violência variam... (3.º parágrafo)
lência variam muito e a prevenção das causas evoluiu muito pou- D) ...esses fatores de risco criam o caldo de cultura que alimenta
co no decorrer do século 20, ao contrário dos avanços ocorridos no a violência crescente nas cidades. (10.º parágrafo)
campo das infecções, câncer, diabetes e outras enfermidades. E) Os mais vulneráveis são os que tiveram a personalidade for-
A agressividade impulsiva é consequência de perturbações nos mada num ambiente desfavorável ao desenvolvimento psicológico
mecanismos biológicos de controle emocional. Tendências agressi- pleno. (5.º parágrafo)
vas surgem em indivíduos com dificuldades adaptativas que os tor-
nam despreparados para lidar com as frustrações de seus desejos. 06. (Agente de Vigilância e Recepção – VUNESP – 2013).
A violência é uma doença. Os mais vulneráveis são os que tive- Considere a tirinha para responder à questão.
ram a personalidade formada num ambiente desfavorável ao desen-
volvimento psicológico pleno.
A revisão de estudos científicos permite identificar três fatores
principais na formação das personalidades com maior inclinação ao
comportamento violento:
1) Crianças que apanharam, foram vítimas de abusos, humilha-
das ou desprezadas nos primeiros anos de vida.
2) Adolescentes vivendo em famílias que não lhes transmitiram
valores sociais altruísticos, formação moral e não lhes impuseram
limites de disciplina.
3) Associação com grupos de jovens portadores de comporta-
mento antissocial.
Na periferia das cidades brasileiras vivem milhões de crianças
que se enquadram nessas três condições de risco. Associados à falta
de acesso aos recursos materiais, à desigualdade social, esses fatores
de risco criam o caldo de cultura que alimenta a violência crescente
nas cidades.
Na falta de outra alternativa, damos à criminalidade a resposta
do aprisionamento. Porém, seu efeito é passageiro: o criminoso fica (Adão, Folha de S. Paulo, 19.06.2011)
impedido de delinquir apenas enquanto estiver preso. Ao sair, estará
mais pobre, terá rompido laços familiares e sociais e dificilmente Observando a tirinha, pode-se afirmar que o termo atropelada
encontrará quem lhe dê emprego. Ao mesmo tempo, na prisão, terá foi empregado em sentido
criado novas amizades e conexões mais sólidas com o mundo do A) próprio, indicando que o marido não é uma pessoa sensível
crime. e compreensiva com a esposa.
Didatismo e Conhecimento 7
LÍNGUA PORTUGUESA
B) próprio, indicando que a esposa é vaidosa e sente-se frustra- C) Manoel de Araújo Porto-Alegre foi o primeiro profissional
da com a perda da beleza. dessa arte e o primeiro a produzir caricaturas no Brasil.
C) figurado, indicando que as crianças são tranqüilas, mas exi- D) O jornal alternativo em 1834 zunia às orelhas de todos e
gem total disponibilidade da mãe. atacava esta ou aquela personagem da Corte.
D) figurado, indicando que o marido recusa-se a realizar as ta- E) O livro sobre a arte caricatural respeita cronologicamente
refas domésticas. os acontecimentos da história brasileira, suas temáticas políticas e
E) figurado, indicando que as responsabilidades familiares sociais.
comprometeram a juventude da esposa.
09. (Analista em Planejamento, Orçamento e Finanças Pú-
07. O item em que o termo sublinhado está empregado no blicas – VUNESP – 2013). Leia o texto a seguir.
sentido denotativo é: Tomadas e oboés
A) “Além dos ganhos econômicos, a nova realidade rendeu fru- “O do meio, com heliponto, tá vendo?”, diz o taxista, apontando
tos políticos.” o enorme prédio espelhado, do outro lado da marginal: “A parte elé-
B) “...com percentuais capazes de causar inveja ao presidente.” trica, inteirinha, meu cunhado que fez”. Ficamos admirando o edifí-
C) “Os genéricos estão abrindo as portas do mercado...” cio parcialmente iluminado ao cair da tarde e penso menos no tama-
D) “...a indústria disparou gordos investimentos.” nho da empreitada do que em nossa variegada humanidade: uns se
E) “Colheu uma revelação surpreendente:...” dedicam à escrita, outros a instalações elétricas,lembro- -me do meu
tio Augusto, que vive de tocar oboé.“Fio, disjuntor, tomada, tudo!”,
08. (Analista em C&T Júnior – Administração – VUNESP – insiste o motorista, com tanto orgulho que chega a contaminar-me.
2013). Leia o texto a seguir. Pergunto quantas tomadas ele acha que tem, no prédio todo. Há
O humor deve visar à crítica, não à graça, ensinou Chico Any- quem ria desse tipo de indagação. Meu taxista, não. É um homem
sio, o humorista popular. E disse isso quando lhe solicitaram consi- sério, eu também, fazemos as contas: uns dez escritórios por andar,
derar o estado atual do riso brasileiro. Nos últimos anos de vida, o cada um com umas seis salas, vezes 30 andares. “Cada sala tem o
escritor contribuía para o cômico apenas em sua porção de ator, im- quê? Duas tomadas?”
pedido pela televisão brasileira de produzir textos. E o que ele dizia “Cê tá louco! Muito mais! Hoje em dia, com computador, essas
sobre a risada ajuda a entender a acomodação de muitos humoristas coisas? Depois eu pergunto pro meu cunhado, mas pode botar aí pra
contemporâneos. Porque, quando eles humilham aqueles julgados uma média de seis tomadas/sala.”
inferiores, os pobres, os analfabetos, os negros, os nordestinos, to- Ok: 10 x 6 x 6 x 30 = 10.800. Dez mil e oitocentas tomadas!
dos os oprimidos que parece fácil espezinhar, não funcionam bem Há 30, 40 anos, uma hora dessas, a maior parte das tomadas
como humoristas. O humor deve ser o oposto disto, uma restauração já estaria dormindo o sono dos justos, mas a julgar pelo número de
do que é justo, para a qual desancar aqueles em condições piores janelas acesas, enquanto volto para casa, lentamente, pela marginal,
do que as suas não vale. Rimos, isso sim, do superior, do arrogante, centenas de trabalhadores suam a camisa, ali no prédio: criam logo-
daquele que rouba nosso lugar social. tipos, calculam custos para o escoamento da soja, negociam minério
O curioso é perceber como o Brasil de muito tempo atrás sabia de ferro. Talvez até, quem sabe, deitado num sofá, um homem escu-
disso, e o ensinava por meio de uma imprensa ocupada em ferir a te em seu iPod as notas de um oboé.
brutal desigualdade entre os seres e as classes. Ao percorrer o ex- Alegra-me pensar nesse sujeito de olhos fechados, ouvindo
tenso volume da História da Caricatura Brasileira (Gala Edições), música. Bom saber que, na correria geral, em meio a tantos profis-
compreendemos que tal humor primitivo não praticava um rosário sionais que acreditam estar diretamente envolvidos no movimento
de ofensas pessoais. Naqueles dias, humor parecia ser apenas, e de rotação da Terra, esse aí reservou-se cinco minutos de contem-
necessariamente, a virulência em relação aos modos opressivos do plação.
poder. Está tarde, contudo. Algo não fecha: por que segue no escritó-
A amplitude dessa obra é inédita. Saem da obscuridade os no- rio, esse homem? Por que não voltou para a mulher e os filhos, não
mes que sucederam ao mais aclamado dos artistas a produzir arte foi para o chope ou o cinema? O homem no sofá, entendo agora, está
naquele Brasil, Ângelo Agostini. Corcundas magros, corcundas gor- ainda mais afundado do que os outros. O momento oboé era apenas
dos, corcovas com cabeça de burro, todos esses seres compostos em uma pausa para repor as energias, logo mais voltará à sua mesa e a
aspecto polimórfico, com expressivo valor gráfico, eram os respon- seus logotipos, à soja ou ao minério de ferro.
sáveis por ilustrar a subserviência a estender-se pela Corte Imperial. “Onze mil, cento e cinquenta”, diz o taxista, me mostrando o
Contra a escravidão, o comodismo dos bem-postos e dos covardes celular. Não entendo. “É o SMS do meu cunhado: 11.150 tomadas.”
imperialistas, esses artistas operavam seu espírito crítico em jornais Olho o prédio mais uma vez, admirado com a instalação elétrica
de todos os cantos do País. e nossa heteróclita humanidade, enquanto seguimos, feito cágados,
(Carta Capital.13.02.2013. Adaptado) pela marginal.
(Antonio Prata, Folha de S.Paulo, 06.03.2013. Adaptado)
Na frase –… compreendemos que tal humor primitivo não pra-
ticava um rosário de ofensas pessoais. –, observa-se emprego de No trecho do sexto parágrafo – Bom saber que, na correria ge-
expressão com sentido figurado, o que ocorre também em: ral, em meio a tantos profissionais que acreditam estar diretamente
A) O livro sobre a história da caricatura estabelece marcos inau- envolvidos no movimento de rotação da Terra, esse aí reservou-se
gurais em relação a essa arte. cinco minutos de contemplação. –, o segmento em destaque expres-
B) O trabalho do caricaturista pareceu tão importante a seus sa, de modo figurado, um sentido equivalente ao da expressão: pro-
contemporâneos que recebeu o nome de “nova invenção artística.” fissionais que acreditam ser
Didatismo e Conhecimento 8
LÍNGUA PORTUGUESA
A) incompreendidos, que são obrigados a trabalhar além do ex- 9-) indispensáveis, que consideram realizar um trabalho de
pediente. grande importância.
B) desvalorizados, que não são devidamente reconhecidos. Comparando-se ao movimento de rotação, que acontece sem a
C) indispensáveis, que consideram realizar um trabalho de intervenção de quaisquer trabalhadores, “importantes” ou não.
grande importância.
D) metódicos, que gerenciam com rigidez a vida corporativa. 10-) A dureza dos corações.
E) flexíveis, que sabem valorizar os momentos de ócio. Corações de pessoas que parecem não ter sentimento.
10.Assinale a alternativa usada em sentido figurado:
A)A dureza das pedras.
B)O perfume das flores. CLASSES DE PALAVRAS: SUBSTANTIVO,
C)O verde das matas. ADJETIVO, NUMERAL, PRONOME, VERBO,
D)A dureza dos corações. ADVÉRBIO, PREPOSIÇÃO E CONJUNÇÃO
E)Nenhuma das alternativas anteriores. (EMPREGO E SENTIDO QUE IMPRIMEM ÀS
RELAÇÕES QUE ESTABELECEM).
GABARITO
01. E
02. B SUBSTANTIVO
03. D
04. E Tudo o que existe é ser e cada ser tem um nome. Substantivo é
05. D a classe gramatical de palavras variáveis, as quais denominam os
06. E seres. Além de objetos, pessoas e fenômenos, os substantivos tam-
07. B bém nomeiam:
08. D -lugares: Alemanha, Porto Alegre...
09. C -sentimentos: raiva, amor...
10. D -estados: alegria, tristeza...
-qualidades: honestidade, sinceridade...
COMENTÁRIOS -ações: corrida, pescaria...
8-) O jornal alternativo em 1834 zunia às orelhas de todos e O substantivo Barcelona designa apenas um ser da espécie
atacava esta ou aquela personagem da Corte. cidade. Esse substantivo é próprio.Substantivo Próprio: é aquele
Zunir: Produzir som forte e áspero. Empregado no sentido de que designa os seres de uma mesma espécie de forma particular.
“gritar” aos leitores as notícias. Londres, Paulinho, Pedro, Tietê, Brasil.
Didatismo e Conhecimento 9
LÍNGUA PORTUGUESA
2 - Substantivos Concretos e Abstratos O substantivo chuva é formado por um único elemento ou ra-
dical. É um substantivo simples.
Substantivo Simples: é aquele formado por um único elemento.
Outros substantivos simples: tempo, sol, sofá, etc. Veja agora:
LÂMPADA MALA O substantivo guarda-chuva é formado por dois elementos
(guarda + chuva). Esse substantivo é composto.
Os substantivos lâmpada e mala designam seres com exis- Substantivo Composto: é aquele formado por dois ou mais
tência própria, que são independentes de outros seres. São assim, elementos.
substantivos concretos.
Outros exemplos: beija-flor, passatempo.
Substantivo Concreto: é aquele que designa o ser que existe,
independentemente de outros seres.
Substantivos Primitivos e Derivados
Obs.: os substantivos concretos designam seres do mundo
real e do mundo imaginário. Meu limão meu limoeiro,
meu pé de jacarandá...
Seres do mundo real: homem, mulher, cadeira, cobra, Brasí-
lia, etc. O substantivo limão é primitivo, pois não se originou de ne-
Seres do mundo imaginário: saci, mãe-d’água, fantasma, etc. nhum outro dentro de língua portuguesa.
Substantivo Primitivo: é aquele que não deriva de nenhuma
Observe agora: outra palavra da própria língua portuguesa. O substantivo limoei-
ro é derivado, pois se originou a partir da palavra limão. Substanti-
Beleza exposta vo Derivado: é aquele que se origina de outra palavra.
Jovens atrizes veteranas destacam-se pelo visual.
Flexão dos substantivos
O substantivo beleza designa uma qualidade. O substantivo é uma classe variável. A palavra é variável
Substantivo Abstrato: é aquele que designa seres que depen- quando sofre flexão (variação). A palavra menino, por exemplo,
dem de outros para se manifestar ou existir. pode sofrer variações para indicar:
Pense bem: a beleza não existe por si só, não pode ser obser- Plural: meninos
vada. Só podemos observar a beleza numa pessoa ou coisa que seja Feminino: menina
bela. A beleza depende de outro ser para se manifestar. Portanto, a Aumentativo: meninão
palavra beleza é um substantivo abstrato. Diminutivo: menininho
Os substantivos abstratos designam estados, qualidades, ações Flexão de Gênero
e sentimentos dos seres, dos quais podem ser abstraídos, e sem os
quais não podem existir. Gênero é a propriedade que as palavras têm de indicar sexo
vida (estado), rapidez (qualidade), viagem (ação), saudade real ou fictício dos seres. Na língua portuguesa, há dois gêne-
(sentimento). ros: masculino e feminino. Pertencem ao gênero masculino os
substantivos que podem vir precedidos dos artigos o, os, um, uns.
3 - Substantivos Coletivos Veja estes títulos de filmes:
Ele vinha pela estrada e foi picado por uma abelha, outra abe- - O velho e o mar
lha, mais outra abelha. - Um Natal inesquecível
- Os reis da praia
Ele vinha pela estrada e foi picado por várias abelhas.
Pertencem ao gênero feminino os substantivos que podem vir
Ele vinha pela estrada e foi picado por um enxame. precedidos dos artigos a, as, uma, umas:
Note que, no primeiro caso, para indicar plural, foi necessário A história sem fim
repetir o substantivo: uma abelha, outra abelha, mais outra abe- Uma cidade sem passado
lha... As tartarugas ninjas
No segundo caso, utilizaram-se duas palavras no plural.
No terceiro caso, empregou-se um substantivo no singular Substantivos Biformes e Substantivos Uniformes
(enxame) para designar um conjunto de seres da mesma espécie
(abelhas). Substantivos Biformes (= duas formas): ao indicar nomes
O substantivo enxame é um substantivo coletivo. de seres vivos, geralmente o gênero da palavra está relacionado ao
Substantivo Coletivo: é o substantivo comum que, mesmo es- sexo do ser, havendo, portanto, duas formas, uma para o masculino
tando no singular, designa um conjunto de seres da mesma espécie. e outra para o feminino. Observe:
gato - gata
Formação dos Substantivos homem - mulher
Substantivos Simples e Compostos poeta - poetisa
Chuva - subst. Fem. 1 - água caindo em gotas sobre a terra. prefeito - prefeita
Didatismo e Conhecimento 10
LÍNGUA PORTUGUESA
Substantivos Uniformes: são aqueles que apresentam uma Formação do Feminino dos Substantivos Uniformes
única forma, que serve tanto para o masculino quanto para o femi- Epicenos:
nino. Classificam-se em: Novo jacaré escapa de policiais no rio Pinheiros.
Epicenos: têm um só gênero e nomeiam bichos. Não é possível saber o sexo do jacaré em questão. Isso ocorre
a cobra macho e a cobra fêmea, o jacaré macho e o jacaré porque o substantivo jacaré tem apenas uma forma para indicar o
fêmea. masculino e o feminino.
Sobrecomuns: têm um só gênero e nomeiam pessoas. Alguns nomes de animais apresentam uma só forma para de-
a criança, a testemunha, a vítima, o cônjuge, o gênio, o ídolo, signar os dois sexos. Esses substantivos são chamados de epice-
o indivíduo. nos. No caso dos epicenos, quando houver a necessidade de espe-
Comuns de Dois Gêneros: indicam o sexo das pessoas por cificar o sexo, utilizam-se palavras macho e fêmea.
meio do artigo. A cobra macho picou o marinheiro.
o colega e a colega, o doente e a doente, o artista e a artista. A cobra fêmea escondeu-se na bananeira.
Didatismo e Conhecimento 11
LÍNGUA PORTUGUESA
o sanduíche A acolhedora Porto Alegre.
o clarinete Uma Londres imensa e triste.
o champanha Exceções: o Rio de Janeiro, o Cairo, o Porto, o Havre.
o sósia
o maracajá Gênero e Significação:
o clã Muitos substantivos têm uma significação no masculino e ou-
o hosana tra no feminino. Observe:
o herpes
o pijama
o suéter o baliza (soldado que, que à a baliza (marco, estaca; sinal
o soprano frente da tropa, indica os mo- que marca um limite ou proibi-
o proclama vimentos que se deve realizar ção de trânsito)
o pernoite em conjunto; o que vai à frente
o púbis de um bloco carnavalesco, ma-
nejando um bastão)
Femininos
a dinamite o cabeça (chefe) a cabeça (parte do corpo)
a áspide o cisma (separação religiosa, a cisma (ato de cismar, descon-
a derme dissidência) fiança)
a hélice o cinza (a cor cinzenta) a cinza (resíduos de combus-
a alcíone tão)
a filoxera
o capital (dinheiro) a capital (cidade)
a clâmide
a omoplata o coma (perda dos sentidos) a coma (cabeleira)
a cataplasma a pane o coral (pólipo, a cor verme- a coral (cobra venenosa)
a mascote lha, canto em coro)
a gênese
o crisma (óleo sagrado, usado a crisma (sacramento da con-
a entorse
na administração da crisma e firmação)
a libido
de outros sacramentos)
a cal
a faringe o cura (pároco) a cura (ato de curar)
a cólera (doença) o estepe (pneu sobressalente) a estepe (vasta planície de ve-
a ubá (canoa) getação)
o guia (pessoa que guia outras) a guia (documento, pena gran-
São geralmente masculinos os substantivos de origem grega
de das asas das aves)
terminados em -ma:
o grama (peso) o grama (unidade de peso) a grama (relva)
o quilograma o caixa (funcionário da caixa) a caixa (recipiente, setor de pa-
o plasma gamentos)
o apostema
o lente (professor) a lente (vidro de aumento)
o diagrama
o epigrama o moral (ânimo) a moral (honestidade, bons
o telefonema costumes, ética)
o estratagema o nascente (lado onde nasce o a nascente (a fonte)
o dilema Sol)
o teorema
o maria-fumaça (trem como a maria-fumaça (locomotiva
o apotegma
locomotiva a vapor) movida a vapor)
o trema
o eczema o pala (poncho) a pala (parte anterior do boné
o edema ou quepe, anteparo)
o magma o rádio (aparelho receptor) a rádio (estação emissora)
o anátema
o voga (remador) a voga (moda, popularidade)
o estigma
Flexão de Número do Substantivo
Exceções: a cataplasma, a celeuma, a fleuma, etc.
Em português, há dois números gramaticais: o singular, que
Gênero dos Nomes de Cidades:
indica um ser ou um grupo de seres, e o plural, que indica mais de
Com raras exceções, nomes de cidades são femininos.
um ser ou grupo de seres. A característica do plural é o “s” final.
A histórica Ouro Preto.
A dinâmica São Paulo.
Didatismo e Conhecimento 12
LÍNGUA PORTUGUESA
Plural dos Substantivos Simples substantivo + preposição clara + substantivo = água-de-colô-
a) Os substantivos terminados em vogal, ditongo oral e “n” nia e águas-de-colônia
fazem o plural pelo acréscimo de “s”. substantivo + preposição oculta + substantivo = cavalo-vapor
pai – paisímã - ímãs hífen - hifens (sem acento, no plural). e cavalos-vapor
Exceção: cânon - cânones. substantivo + substantivo que funciona como determinante do
b) Os substantivos terminados em “m” fazem o plural em primeiro, ou seja, especifica a função ou o tipo do termo anterior.
“ns”. palavra-chave - palavras-chave
homem - homens. bomba-relógio - bombas-relógio
c) Os substantivos terminados em “r” e “z” fazem o plural notícia-bomba - notícias-bomba
pelo acréscimo de “es”. homem-rã - homens-rã
revólver – revólveresraiz - raízes peixe-espada - peixes-espada
Atenção: O plural de caráter é caracteres. d) Permanecem invariáveis, quando formados de:
d) Os substantivos terminados em al, el, ol, ul flexionam-se no verbo + advérbio = o bota-fora e os bota-fora
plural, trocando o “l” por “is”. verbo + substantivo no plural = o saca-rolhas e os saca-rolhas
quintal - quintais caracol – caracóis hotel - hotéis e) Casos Especiais
Exceções: mal e males, cônsul e cônsules. o louva-a-deus e os louva-a-deus
e) Os substantivos terminados em “il” fazem o plural de duas o bem-te-vi e os bem-te-vis
maneiras: o bem-me-quer e os bem-me-queres
- Quando oxítonos, em “is”: canil - canis o joão-ninguém e os joões-ninguém.
- Quando paroxítonos, em “eis”: míssil - mísseis.
Obs.: a palavra réptil pode formar seu plural de duas manei- Plural das Palavras Substantivadas
ras: répteis ou reptis (pouco usada).
f) Os substantivos terminados em “s” fazem o plural de duas As palavras substantivadas, isto é, palavras de outras classes
maneiras: gramaticais usadas como substantivo, apresentam, no plural, as
- Quando monossilábicos ou oxítonos, mediante o acréscimo flexões próprias dos substantivos.
de “es”: ás – ases / retrós - retroses Pese bem os prós e os contras.
- Quando paroxítonos ou proparoxítonos, ficam invariáveis: o O aluno errou na prova dos noves.
lápis - os lápis / o ônibus - os ônibus. Ouça com a mesma serenidade os sins e os nãos.
g) Os substantivos terminados em “ao” fazem o plural de três Obs.: numerais substantivados terminados em “s” ou “z” não
maneiras. variam no plural.
- substituindo o -ão por -ões: ação - ações Nas provas mensais consegui muitos seis e alguns dez.
- substituindo o -ão por -ães: cão - cães
- substituindo o -ão por -ãos: grão - grãos Plural dos Diminutivos
h) Os substantivos terminados em “x” ficam invariáveis: o lá-
tex - os látex. Flexiona-se o substantivo no plural, retira-se o “s” final e
acrescenta-se o sufixo diminutivo.
Plural dos Substantivos Compostos pãe(s) + zinhos = pãezinhos
A formação do plural dos substantivos compostos depende animai(s) + zinhos= animaizinhos
da forma como são grafados, do tipo de palavras que formam o botõe(s) + zinhos = botõezinhos
composto e da relação que estabelecem entre si. Aqueles que são chapéu(s) + zinhos= chapeuzinhos
grafados sem hífen comportam-se como os substantivos simples: farói(s) + zinhos = faroizinhos
aguardente e aguardentes girassol e girassóis tren(s) + zinhos= trenzinhos
pontapé e pontapés malmequer e malmequeres colhere(s) + zinhas= colherezinhas
O plural dos substantivos compostos cujos elementos são li- flore(s) + zinhas = florezinhas
gados por hífen costuma provocar muitas dúvidas e discussões. mão(s) + zinhas = mãozinhas
Algumas orientações são dadas a seguir: papéi(s) + zinhos = papeizinhos
a) Flexionam-se os dois elementos, quando formados de: nuven(s) + zinhas = nuvenzinhas
substantivo + substantivo = couve-flor e couves-flores funi(s) + zinhos = funizinhos
substantivo + adjetivo = amor-perfeito e amores-perfeitos túnei(s) + zinhos = tuneizinhos
adjetivo + substantivo = gentil-homem e gentis-homens pai(s) + zinhos = paizinhos
numeral + substantivo = quinta-feira e quintas-feiras pé(s) + zinhos = pezinhos
b) Flexiona-se somente o segundo elemento, quando forma- pé(s) + zitos = pezitos
dos de:
verbo + substantivo = guarda-roupa e guarda-roupas Plural dos Nomes Próprios Personativos
palavra invariável + palavra variável = alto-falante e alto-
-falantes Devem-se pluralizar os nomes próprios de pessoas sempre
palavras repetidas ou imitativas = reco-reco e reco-recos que a terminação preste-se à flexão.
c) Flexiona-se somente o primeiro elemento, quando forma- Os Napoleões também são derrotados.
dos de: As Raquéis e Esteres.
Didatismo e Conhecimento 13
LÍNGUA PORTUGUESA
Plural dos Substantivos Estrangeiros Grau Normal - Indica um ser de tamanho considerado normal.
Por exemplo: casa
Substantivos ainda não aportuguesados devem ser escritos Grau Aumentativo - Indica o aumento do tamanho do ser.
como na língua original, acrescentando-se “s” (exceto quando ter- Classifica-se em:
minam em “s” ou “z”). Analítico = o substantivo é acompanhado de um adjetivo que
os showsos shorts os jazz indica grandeza. Por exemplo: casa grande.
Sintético = é acrescido ao substantivo um sufixo indicador de
Substantivos já aportuguesados flexionam-se de acordo com aumento. Por exemplo: casarão.
as regras de nossa língua:
os clubes os chopes Grau Diminutivo - Indica a diminuição do tamanho do ser.
os jipes os esportes Pode ser:
as toaletes os bibelôs Analítico = substantivo acompanhado de um adjetivo que in-
os garçons os réquiens dica pequenez. Por exemplo: casa pequena.
Sintético = é acrescido ao substantivo um sufixo indicador de
diminuição. Por exemplo: casinha.
Observe o exemplo:
Este jogador faz gols toda vez que joga.
Fonte: http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf12.php
O plural correto seria gois (ô), mas não se usa.
Questões sobre Substantivo
Plural com Mudança de Timbre
01. (Escrevente TJ SP Vunesp/2012) A flexão de número do
Certos substantivos formam o plural com mudança de timbre termo “preços-sombra” também ocorre com o plural de
da vogal tônica (o fechado / o aberto). É um fato fonético chamado (A) reco-reco.
metafonia (plural metafônico). (B) guarda-costa.
(C) guarda-noturno.
Singular Plural Singular Plural (D) célula-tronco.
(E) sem-vergonha.
corpo (ô) corpos (ó) osso (ô) ossos (ó)
esforço esforços ovo ovos 02. (Escrevente TJ SP Vunesp/2013) Assinale a alternativa
fogo fogos poço poços cujas palavras se apresentam flexionadas de acordo com a norma-
forno fornos porto portos -padrão.
fosso fossos posto postos (A) Os tabeliãos devem preparar o documento.
imposto impostos rogo rogos (B) Esses cidadões tinham autorização para portar fuzis.
olho olhos tijolo tijolos (C) Para autenticar as certidãos, procure o cartório local.
(D) Ao descer e subir escadas, segure-se nos corrimãos.
Têm a vogal tônica fechada (ô): adornos, almoços, bolsos, es- (E) Cuidado com os degrais, que são perigosos!
posos, estojos, globos, gostos, polvos, rolos, soros, etc.
Obs.: distinga-se molho (ô) = caldo (molho de carne), de mo- 03. Indique a alternativa em que a flexão do substantivo está
lho (ó) = feixe (molho de lenha). errada:
A) Catalães.
Particularidades sobre o Número dos Substantivos B) Cidadãos.
C) Vulcães.
a) Há substantivos que só se usam no singular: D) Corrimões.
o sul, o norte, o leste, o oeste, a fé, etc.
04. Assinale o par de vocábulos que fazem o plural da mesma
b) Outros só no plural:
forma que “balão” e “caneta--tinteiro”:
as núpcias, os víveres, os pêsames, as espadas/os paus (nai-
a) vulcão, abaixo-assinado;
pes de baralho), as fezes.
b) irmão, salário-família;
c) Outros, enfim, têm, no plural, sentido diferente do singular:
c) questão, manga-rosa;
bem (virtude) e bens (riquezas)
d) bênção, papel-moeda;
honra (probidade, bom nome) e honras (homenagem, títulos)
e) razão, guarda-chuva.
d) Usamos às vezes, os substantivos no singular, mas com
sentido de plural:
05. Sabendo-se que há substantivos que no masculino têm
Aqui morreu muito negro.
um significado; e no feminino têm outro, diferente. Marque a al-
Celebraram o sacrifício divino muitas vezes em capelas im-
ternativa em que há um substantivo que não corresponde ao seu
provisadas. significado:
a) O capital = dinheiro;
Flexão de Grau do Substantivo A capital = cidade principal;
b) O grama = unidade de medida;
Grau é a propriedade que as palavras têm de exprimir as varia- A grama = vegetação rasteira;
ções de tamanho dos seres. Classifica-se em:
Didatismo e Conhecimento 14
LÍNGUA PORTUGUESA
c) O rádio = aparelho transmissor; GABARITO
A rádio = estação geradora;
d) O cabeça = o chefe;
01. D 02. D 03. C 04. C 05. E
A cabeça = parte do corpo;
e) A cura = o médico. 06. A 07. D 08. A 09. D 10. E
O cura = ato de curar.
COMENTÁRIOS
06. Correlacione os substantivos com os respectivos coleti-
vos, e indique a alternativa correta:
I - Bispos. 1-) Flexiona-se somente o primeiro elemento, quando forma-
II - Cães de caça. do de substantivo + substantivo que funciona como determinante
III -Vadios. do primeiro, ou seja, especifica a função ou o tipo do termo ante-
IV -Papéis. rior. = células-tronco
( ) Resma.
( ) Concílio. 2-)
( ) Corja. A) Os tabeliãos devem preparar o documento.= tabeliãesB)
( ) Matilha. Esses cidadões tinham autorização para portar fuzis.= cidadãos
A) IV, I, III, II. C) Para autenticar as certidãos, procure o cartório local.= cer-
B) III, I, II, IV. tidões
C) I, III, II, IV. E) Cuidado com os degrais, que são perigosos!=degraus
D) III, I, IV, II.
3-) Vulcões
07. Indique a alternativa que apresenta erro na formação do
plural: 4-) Assinale o par de vocábulos que fazem o plural da mesma
A) Os boias-frias participaram da manifestação na estrada. forma que “balão” e “caneta-tinteiro”:
B) Colocaram tanto alpiste, que o quintal ficou cheio de beija-
-flores. Balões /canetas-tinteiro
C) Aqueles pães de ló estavam deliciosos.
D) Os abaixos-assinados foram entregues ao diretor. a) vulcões, abaixo-assinados;
b) irmãos, salários-família;
08. Das palavras abaixo, faz plural como “assombrações” d) bênçãos, papéis-moeda;
a) perdão. e) razões, guarda-chuvas.
b) bênção. 5-)o cura: sacerdote a cura: ato ou efeito de curar
c) alemão.
d) cristão. 6-)
e) capitão. I - Bispos.
II - Cães de caça.
09. Entre os substantivos selecionados nas alternativas a se-
III -Vadios.
guir, há apenas um que pertence ao gênero masculino. Indique-o:
IV -Papéis.
A) alface
B) omoplata
C) comichão ( ) Resma= papéis IV
D) lança-perfume ( ) Concílio.= bisposI
( ) Corja. = vadiosIII
10. Assinale a frase correta quanto ao emprego do gênero dos ( ) Matilha.= cães de caça II
substantivos.
A) A perda das esperanças provocou uma profunda dó na per- 7-) Os abaixo-assinados foram entregues ao diretor.
sonagem.
B) O advogado não deu o ênfase necessário às milhares de 8-)
solicitações. b) bênçãos.
C) Ele vestiu o pijama e sentou-se para beber uma champanha c) alemães.
gelada. d) cristãos.
D) O omelete e o couve foram acompanhados por doses do e) capitães.
melhor aguardente.
E) O beliche não coube na quitinete recém-comprada pelos 9-)
estudantes. A) a alface
B) a omoplata
C) a comichão
D) o lança-perfume
Didatismo e Conhecimento 15
LÍNGUA PORTUGUESA
10-) belgo- / Por exemplo: Acampamentos belgo-
A) A perda das esperanças provocou um profundo dó na per- Bélgica
franceses
sonagem.
B) O advogado não deu a ênfase necessário às milhares de China sino- / Por exemplo: Acordos sino-japoneses
solicitações. hispano- / Por exemplo: Mercado hispano-
Espanha
C) Ele vestiu o pijama e sentou-se para beber um champanha português
gelado. euro- / Por exemplo: Negociações euro-
D) A omelete e a couve foram acompanhadas por doses da Europa
americanas
melhor aguardente. franco- ou galo- / Por exemplo: Reuniões franco-
França
italianas
Adjetivo
Adjetivo é a palavra que expressa uma qualidade ou caracte- Grécia greco- / Por exemplo: Filmes greco-romanos
rística do ser e se relaciona com o substantivo.
Ao analisarmos a palavra bondoso, por exemplo, percebemos Inglaterra anglo- / Por exemplo: Letras anglo-portuguesas
que, além de expressar uma qualidade, ela pode ser colocada ao
Itália ítalo- / Por exemplo: Sociedade ítalo-portuguesa
lado de um substantivo: homem bondoso, moça bondosa, pessoa
bondosa. Japão nipo- / Por exemplo: Associações nipo-brasileiras
Já com a palavra bondade, embora expresse uma qualidade, Portugal luso- / Por exemplo: Acordos luso-brasileiros
não acontece o mesmo; não faz sentido dizer: homem bondade,
moça bondade, pessoa bondade. FLEXÃO DOS ADJETIVOS
Bondade, portanto, não é adjetivo, mas substantivo. O adjetivo varia em gênero, número e grau.
Didatismo e Conhecimento 16
LÍNGUA PORTUGUESA
Veja outros exemplos: b) Bom, mau, grande e pequeno têm formas sintéticas
Motos vinho (mas: motos verdes) (melhor, pior, maior e menor), porém, em comparações feitas entre
Paredes musgo (mas: paredes brancas). duas qualidades de um mesmo elemento, deve-se usar as formas
Comícios monstro (mas: comícios grandiosos). analíticas mais bom, mais mau,mais grande e mais pequeno.
Por exemplo: Pedro é maior do que Paulo - Comparação de
Adjetivo Composto dois elementos.
É aquele formado por dois ou mais elementos. Normalmente, Pedro é mais grande que pequeno - comparação de duas
esses elementos são ligados por hífen. Apenas o último elemento qualidades de um mesmo elemento.
concorda com o substantivo a que se refere; os demais ficam na 4) Sou menos alto (do) que você. = Comparativo de
forma masculina, singular. Caso um dos elementos que formam Inferioridade
o adjetivo composto seja um substantivo adjetivado, todo o ad- Sou menos passivo (do) que tolerante.
jetivo composto ficará invariável. Por exemplo: a palavra rosa é
originalmente um substantivo, porém, se estiver qualificando um Superlativo
elemento, funcionará como adjetivo. Caso se ligue a outra palavra O superlativo expressa qualidades num grau muito elevado ou
por hífen, formará um adjetivo composto; como é um substantivo em grau máximo. O grau superlativo pode ser absoluto ou relativo e
adjetivado, o adjetivo composto inteiro ficará invariável. apresenta as seguintes modalidades:
Didatismo e Conhecimento 17
LÍNGUA PORTUGUESA
A forma popular é constituída do radical do adjetivo portu- a executar sua função com dignidade, criar leis que acabem com
guês + o sufixo -íssimo: pobríssimo, agilíssimo. a impunidade dos criminosos bem-sucedidos e construir cadeias
3) Em vez dos superlativos normais seriíssimo, precariíssimo, novas para substituir as velhas.
necessariíssimo, preferem-se, na linguagem atual, as formas serís- Enquanto não aprendermos a educar e oferecer medidas pre-
simo, precaríssimo, necessaríssimo, sem o desagradável hiato i-í. ventivas para que os pais evitem ter filhos que não serão capazes
de criar, cabe a nós a responsabilidade de integrá-los na sociedade
Questões sobre Adjetivo por meio da educação formal de bom nível, das práticas esportivas
e da oportunidade de desenvolvimento artístico.
01. (Agente de Escolta e Vigilância Penitenciária – VU- (Drauzio Varella. In Folha de S.Paulo, 9 mar.2002. Adaptado)
NESP – 2013). Leia o texto a seguir.
Em – características epidêmicas –, o adjetivo epidêmicas
Violência epidêmica corresponde a – características de epidemias.
Assinale a alternativa em que, da mesma forma, o adjetivo em
A violência urbana é uma enfermidade contagiosa. Embora destaque corresponde, corretamente, à expressão indicada.
possa acometer indivíduos vulneráveis em todas as classes sociais, A) água fluvial – água da chuva.
é nos bairros pobres que ela adquire características epidêmicas. B) produção aurífera – produção de ouro.
A prevalência varia de um país para outro e entre as cidades C) vida rupestre – vida do campo.
de um mesmo país, mas, como regra, começa nos grandes centros D) notícias brasileiras – notícias de Brasília.
E) costela bovina – costela de porco.
urbanos e se dissemina pelo interior.
As estratégias que as sociedades adotam para combater a vio-
02.Não se pluraliza os adjetivos compostos abaixo, exceto:
lência variam muito e a prevenção das causas evoluiu muito pouco
A)azul-celeste
no decorrer do século 20, ao contrário dos avanços ocorridos no
B)azul-pavão
campo das infecções, câncer, diabetes e outras enfermidades.
C)surda-muda
A agressividade impulsiva é consequência de perturbações
D)branco-gelo
nos mecanismos biológicos de controle emocional. Tendências
agressivas surgem em indivíduos com dificuldades adaptativas
03.Assinale a única alternativa em que os adjetivos não estão
que os tornam despreparados para lidar com as frustrações de seus no grau superlativo absoluto sintético:
desejos. A)Arquimilionário/ ultraconservador;
A violência é uma doença. Os mais vulneráveis são os que B)Supremo/ ínfimo;
tiveram a personalidade formada num ambiente desfavorável ao C)Superamigo/ paupérrimo;
desenvolvimento psicológico pleno. D)Muito amigo/ Bastante pobre
A revisão de estudos científicos permite identificar três fatores
principais na formação das personalidades com maior inclinação
04.Na frase: “Trata-se de um artista originalíssimo”, o adjeti-
ao comportamento violento:
1) Crianças que apanharam, foram vítimas de abusos, humi- vo grifado encontra-se no grau:
lhadas ou desprezadas nos primeiros anos de vida. A)comparativo de superioridade.
2) Adolescentes vivendo em famílias que não lhes transmiti- B)superlativo absoluto sintético.
ram valores sociais altruísticos, formação moral e não lhes impu- C)superlativo relativo de superioridade.
seram limites de disciplina. D)comparativo de igualdade.
3) Associação com grupos de jovens portadores de comporta- E)superlativo absoluto analítico.
mento antissocial.
Na periferia das cidades brasileiras vivem milhões de crian- 05.Aponte a alternativa em que o superlativo do adjetivo está
ças que se enquadram nessas três condições de risco. Associados à incorreto:
falta de acesso aos recursos materiais, à desigualdade social, esses A)Meu tio está elegantíssimo.
fatores de risco criam o caldo de cultura que alimenta a violência B)Joana, ela é minha amicíssima.
crescente nas cidades. C)Esta panela está cheissíssima de água.
Na falta de outra alternativa, damos à criminalidade a resposta D)A prova foi facílima.
do aprisionamento. Porém, seu efeito é passageiro: o criminoso
fica impedido de delinquir apenas enquanto estiver preso. Ao sair, 06. Indique nas alternativas a seguir o adjetivo incorreto da
estará mais pobre, terá rompido laços familiares e sociais e difi- locução adjetiva em negrito:
cilmente encontrará quem lhe dê emprego. Ao mesmo tempo, na
A)mulher muito magra = macérrima
prisão, terá criado novas amizades e conexões mais sólidas com o
B)pessoa muito amiga = amicíssima
mundo do crime.
Construir cadeias custa caro; administrá-las, mais ainda. Obri- C)pessoa muito inimiga = inimicíssimo
gados a optar por uma repressão policial mais ativa, aumentaremos D)atitude muito benéfica = beneficientíssima
o número de prisioneiros. As cadeias continuarão superlotadas.
Seria mais sensato investir em educação, para prevenir a cri- 07. “Ele era tão pequeno que recebeu o apelido de miúdo”. A
minalidade e tratar os que ingressaram nela. palavra miúdo possui, no grau superlativo absoluto sintético, duas
Na verdade, não existe solução mágica a curto prazo. Preci- formas. Uma delas é miudíssimo (regular) e a outra, irregular, é:
samos de uma divisão de renda menos brutal, motivar os policiais
Didatismo e Conhecimento 18
LÍNGUA PORTUGUESA
A)minutíssimo Famosa – adjetivo
B)miudinitíssimo na – preposição
C)midunitíssimo cidade – substantivo
D)miduníssimo
9-) De lua – lunar
08. Quantos adjetivos existem na frase “Essa lanchonete é fa-
mosa na cidade?” 10-) Alemães capazes
A)1.
B)2. NUMERAL
C)3.
D)4. Numeral é a palavra que indica os seres em termos numéricos,
E)5. isto é, que atribui quantidade aos seres ou os situa em determinada
sequência.
09.Indique a alternativa incorreta quanto à correspondência Os quatro últimos ingressos foram vendidos há pouco.
entre a locução adjetiva e o adjetivo equivalente: [quatro: numeral = atributo numérico de “ingresso”]
A)de pele = cutâneo Eu quero café duplo, e você?
B)de professor = docente ...[duplo: numeral = atributo numérico de “café”]
C)de face = facial A primeira pessoa da fila pode entrar, por favor!
D)de lua = lunático ...[primeira: numeral = situa o ser “pessoa” na sequência de
“fila”]
10.O plural correto da expressão: “alemão capaz” é:
A)alemãos capazes Note bem: os numerais traduzem, em palavras, o que os nú-
B)alemões capazes meros indicam em relação aos seres. Assim, quando a expressão
C)alemães capazes é colocada em números (1, 1°, 1/3, etc.) não se trata de numerais,
D)os alemão capaz mas sim de algarismos.
Além dos numerais mais conhecidos, já que refletem a ideia
GABARITO expressa pelos números, existem mais algumas palavras conside-
radas numerais porque denotam quantidade, proporção ou ordena-
01. B 02. C 03. D 04. B 05. C ção. São alguns exemplos: década, dúzia, par, ambos(as), novena.
Didatismo e Conhecimento 19
LÍNGUA PORTUGUESA
Os numerais ordinais variam em gênero e número:
primeiro segundo milésimo
primeira segunda milésima
primeiros segundos milésimos
primeiras segundas milésimas
- Para designar leis, decretos e portarias, utiliza-se o ordinal até nono e o cardinal de dez em diante:
Artigo 1.° (primeiro)Artigo 10 (dez)
Artigo 9.° (nono) Artigo 21 (vinte e um)
- Ambos/ambas são considerados numerais. Significam “um e outro”, “os dois” (ou “uma e outra”, “as duas”) e são largamente em-
pregados para retomar pares de seres aos quais já se fez referência.
Pedro e João parecem ter finalmente percebido a importância da solidariedade. Ambos agora participam das atividades comunitárias
de seu bairro.
Obs.: a forma “ambos os dois” é considerada enfática. Atualmente, seu uso indica afetação, artificialismo.
Fonte: http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf40.php
Didatismo e Conhecimento 20
LÍNGUA PORTUGUESA
01.Na frase “Nessa carteira só há duas notas de cinco reais” temos exemplos de numerais:
A)ordinais;
B)cardinais;
C)fracionários;
D)romanos;
E)Nenhuma das alternativas.
03. Os ordinais referentes aos números 80, 300, 700 e 90 são, respectivamente
A) octagésimo, trecentésimo, septingentésirno, nongentésimo
B) octogésimo, trecentésimo, septingentésimo, nonagésimo
C) octingentésimo, tricentésimo, septuagésimo, nonagésimo
D) octogésimo, tricentésimo, septuagésimo, nongentésimo
Didatismo e Conhecimento 21
LÍNGUA PORTUGUESA
04. (Contador – IESES – 2012).“Em maio, um abaixo-as- COMENTÁRIOS
sinado, para que o parlamento extinga a lei ortográfica, tomou a
82ª Feira do Livro de Lisboa.” O numeral ordinal destacado está 1-) Nessa carteira só há duas notas de cinco reais = numerais
corretamente escrito na alternativa: cardinais
a) Oitogésima segunda.
b) Octogésima segunda. 2-)
c) Oitagésima segunda. A) Ao papa Paulo Sexto sucedeu João Paulo Primeiro.
d) Octagésima segunda. B) Após o parágrafo nono virá o parágrafo dez.
C) Depois do capítulo sexto, li o capítulo onze.
05.Marque o emprego incorreto do numeral: D) Antes do artigo dez vem o artigo nono. = correta
A) século III (três) E) O artigo vinte e dois foi revogado.
B) página 102 (cento e dois)
C) 80º (octogésimo) 3-) 80 (octogésimo), 300 (trecentésimo ou tricentésimo) , 700
D) capítulo XI (onze) (septingentésimo) 90 (nonagésimo)
E) X tomo (décimo)
4-) 82ª Feira = Octogésima segunda.
06.Triplo e tríplice são numerais:
A) multiplicativo o primeiro e ordinal o segundo 5-)
B) ambos ordinais A) século III (terceiro)
B) página 102 (cento e dois)
C) ambos cardinais
C) 80º (octogésimo)
D) ambos multiplicativos.
D) capítulo XI (onze)
E) X tomo (décimo)
07. Indique a grafia e leitura corretas do seguinte numeral car-
dinal: 3.726. 6-) triplo e tríplice = ambos são numerais multiplicativos
A) Três mil, setecentos e vinte e seis.
B) Três mil, e setecentos e vinte e seis. 7-)
C) Três mil e setecentos e vinte e seis. B) Três mil, e setecentos e vinte e seis. = retirar o “e”
D) Três mil, setecentos, vinte, seis. C) Três mil e setecentos e vinte e seis. = faltou a vírgula;
retirar o “e”
08.Em todas as frases abaixo,os numerais foram corretamente D) Três mil, setecentos, vinte, seis. = substituir as duas últi-
empregados, exceto em: mas vírgulas pela conjunção “e”
A) O artigo vinte e cinco deste código foi revogado.
B) Seu depoimento foi transcrito na página duzentos e vinte 8-) Este terremoto ocorreu no século décimo antes de Cristo.
e dois.
C) Ainda o capítulo sétimo desta obra. 9-) Ontem à tarde, um rapaz procurou por você? = artigo
D) Este terremoto ocorreu no século dez antes de Cristo. indefinido
09. Em todas as frases abaixo, a palavra grifada é um numeral,
exceto em: 10-) Ele é o duodécimo colocado. = (posição 12)
A) Ele só leu um livro este semestre.
B) Não é preciso mais que uma pessoa para fazer este serviço. PRONOME
C) Ontem à tarde, um rapaz procurou por você?
D) Você quer uma ou mais caixas deste produto? Pronome é a palavra que se usa em lugar do nome, ou a ele se
refere, ou ainda, que acompanha o nome qualificando-o de alguma
10.Assinale o caso em que não haja expressão numérica de forma.
sentido indefinido: A moça era mesmo bonita. Ela morava nos meus sonhos!
A) Ele é o duodécimo colocado. [substituição do nome]
B) Quer que veja este filme pela milésima vez? A moça que morava nos meus sonhos era mesmo bonita!
C) “Na guerra os meus dedos dispararam mil mortes”. [referência ao nome]
D) “A vida tem uma só entrada; a saída é por cem portas”. Essa moça morava nos meus sonhos!
E) N.D.A. [qualificação do nome]
Grande parte dos pronomes não possuem significados fixos,
GABARITO isto é, essas palavras só adquirem significação dentro de um con-
texto, o qual nos permite recuperar a referência exata daquilo que
01. B 02. D 03. B 04. B 05. A está sendo colocado por meio dos pronomes no ato da comunica-
ção. Com exceção dos pronomes interrogativos e indefinidos, os
06. A 07. A 08. D 09. C 10. A demais pronomes têm por função principal apontar para as pessoas
do discurso ou a elas se relacionar, indicando-lhes sua situação no
tempo ou no espaço. Em virtude dessa característica, os pronomes
apresentam uma forma específica para cada pessoa do discurso.
Didatismo e Conhecimento 22
LÍNGUA PORTUGUESA
Minha carteira estava vazia quando eu fui assaltada. Pronome Oblíquo
[minha/eu: pronomes de 1ª pessoa = aquele que fala] Pronome pessoal do caso oblíquo é aquele que, na sentença,
Tua carteira estava vazia quando tu foste assaltada? exerce a função de complemento verbal (objeto direto ou indireto)
[tua/tu: pronomes de 2ª pessoa = aquele a quem se fala] ou complemento nominal.
A carteira dela estava vazia quando ela foi assaltada. Ofertaram-nos flores. (objeto indireto)
[dela/ela: pronomes de 3ª pessoa = aquele de quem se fala] Obs.: em verdade, o pronome oblíquo é uma forma variante
Em termos morfológicos, os pronomes são palavras variá- do pronome pessoal do caso reto. Essa variação indica a função di-
veis em gênero (masculino ou feminino) e em número (singular ou versa que eles desempenham na oração: pronome reto marca o su-
plural). Assim, espera-se que a referência através do pronome seja jeito da oração; pronome oblíquo marca o complemento da oração.
coerente em termos de gênero e número (fenômeno da concordân- Os pronomes oblíquos sofrem variação de acordo com a acen-
cia) com o seu objeto, mesmo quando este se apresenta ausente no tuação tônica que possuem, podendo ser átonos ou tônicos.
enunciado.
Fala-se de Roberta. Ele quer participar do desfile da nos- Pronome Oblíquo Átono
sa escola neste ano. São chamados átonos os pronomes oblíquos que não são pre-
[nossa: pronome que qualifica “escola” = concordância ade- cedidos de preposição. Possuem acentuação tônica fraca.
quada] Ele me deu um presente.
[neste: pronome que determina “ano” = concordância adequada]
[ele: pronome que faz referência à “Roberta” = concordância O quadro dos pronomes oblíquos átonos é assim configurado:
inadequada] - 1ª pessoa do singular (eu): me
Existem seis tipos de pronomes: pessoais, possessivos, de- - 2ª pessoa do singular (tu): te
monstrativos, indefinidos, relativos e interrogativos. - 3ª pessoa do singular (ele, ela): o, a, lhe
- 1ª pessoa do plural (nós): nos
Pronomes Pessoais - 2ª pessoa do plural (vós): vos
São aqueles que substituem os substantivos, indicando di- - 3ª pessoa do plural (eles, elas): os, as, lhes
retamente as pessoas do discurso. Quem fala ou escreve assu-
me os pronomes “eu” ou “nós”, usa os pronomes “tu”, “vós”, Observações:
“você” ou “vocês” para designar a quem se dirige e “ele”, “ela”, O “lhe” é o único pronome oblíquo átono que já se apresenta
“eles” ou “elas” para fazer referência à pessoa ou às pessoas de na forma contraída, ou seja, houve a união entre o pronome “o” ou
quem fala. “a” e preposição “a” ou “para”. Por acompanhar diretamente uma
Os pronomes pessoais variam de acordo com as funções que preposição, o pronome “lhe” exerce sempre a função de objeto
exercem nas orações, podendo ser do caso reto ou do caso oblíquo. indireto na oração.
Os pronomes me, te, nos e vos podem tanto ser objetos diretos
Pronome Reto como objetos indiretos.
Pronome pessoal do caso reto é aquele que, na sentença, exer- Os pronomes o, a, os e as atuam exclusivamente como objetos
ce a função de sujeito ou predicativo do sujeito. diretos.
Nós lhe ofertamos flores.
Os pronomes retos apresentam flexão de número, gênero (ape- Saiba que:
nas na 3ª pessoa) e pessoa, sendo essa última a principal flexão, Os pronomes me, te, lhe, nos, vos e lhes podem combinar-se
uma vez que marca a pessoa do discurso. Dessa forma, o quadro com os pronomes o, os, a, as, dando origem a formas como mo,
dos pronomes retos é assim configurado: mos, ma, mas; to, tos, ta, tas; lho, lhos, lha, lhas; no-lo, no-los,
- 1ª pessoa do singular: eu no-la, no--las, vo-lo, vo-los, vo-la, vo-las. Observe o uso dessas
- 2ª pessoa do singular: tu formas nos exemplos que seguem:
- 3ª pessoa do singular: ele, ela
- 1ª pessoa do plural: nós
- Não contaram a novidade a
- 2ª pessoa do plural: vós - Trouxeste o pacote?
vocês?
- 3ª pessoa do plural: eles, elas
- Sim, entreguei-to ainda há
- Não, no-la contaram.
Atenção: esses pronomes não costumam ser usados como pouco.
complementos verbais na língua-padrão. Frases como “Vi ele na
rua”, “Encontrei ela na praça”, “Trouxeram eu até aqui”, comuns No português do Brasil, essas combinações não são usadas;
na língua oral cotidiana, devem ser evitadas na língua formal es- até mesmo na língua literária atual, seu emprego é muito raro.
crita ou falada. Na língua formal, devem ser usados os pronomes
oblíquos correspondentes: “Vi-o na rua”, “Encontrei-a na praça”, Atenção:
“Trouxeram--me até aqui”. Os pronomes o, os, a, as assumem formas especiais depois de
Obs.: frequentemente observamos a omissão do pronome reto certas terminações verbais. Quando o verbo termina em -z, -s ou -r,
em Língua Portuguesa. Isso se dá porque as próprias formas ver- o pronome assume a forma lo, los, la ou las, ao mesmo tempo que
bais marcam, através de suas desinências, as pessoas do verbo in- a terminação verbal é suprimida.
dicadas pelo pronome reto.
Fizemos boa viagem. (Nós)
Didatismo e Conhecimento 23
LÍNGUA PORTUGUESA
Por exemplo: Pronome Reflexivo
fiz + o = fi-lo São pronomes pessoais oblíquos que, embora funcionem
fazeis + o = fazei-lo como objetos direto ou indireto, referem--se ao sujeito da oração.
dizer + a = dizê-la Indicam que o sujeito pratica e recebe a ação expressa pelo verbo.
O quadro dos pronomes reflexivos é assim configurado:
Quando o verbo termina em som nasal, o pronome assume as - 1ª pessoa do singular (eu): me, mim.
formas no, nos, na, nas.
Eu não me vanglorio disso.
Por exemplo: Olhei para mim no espelho e não gostei do que vi.
viram + o: viram-no
repõe + os = repõe-nos - 2ª pessoa do singular (tu): te, ti.
retém + a: retém-na
tem + as = tem-nas Assim tu te prejudicas.
Conhece a ti mesmo.
Pronome Oblíquo Tônico
Os pronomes oblíquos tônicos são sempre precedidos por pre- - 3ª pessoa do singular (ele, ela): se, si, consigo.
posições, em geral as preposições a, para, de e com. Por esse mo- Guilherme já se preparou.
tivo, os pronomes tônicos exercem a função de objeto indireto da Ela deu a si um presente.
oração. Possuem acentuação tônica forte. Antônio conversou consigo mesmo.
O quadro dos pronomes oblíquos tônicos é assim configurado:
- 1ª pessoa do singular (eu): mim, comigo - 1ª pessoa do plural (nós): nos.
- 2ª pessoa do singular (tu): ti, contigo
- 3ª pessoa do singular (ele, ela): ele, ela
Lavamo-nos no rio.
- 1ª pessoa do plural (nós): nós, conosco
- 2ª pessoa do plural (vós): vós, convosco
- 2ª pessoa do plural (vós): vos.
- 3ª pessoa do plural (eles, elas): eles, elas
Vós vos beneficiastes com a esta conquista.
Observe que as únicas formas próprias do pronome tônico são
a primeira pessoa (mim) e segunda pessoa (ti). As demais repetem - 3ª pessoa do plural (eles, elas): se, si, consigo.
a forma do pronome pessoal do caso reto.
- As preposições essenciais introduzem sempre pronomes pes- Eles se conheceram.
soais do caso oblíquo e nunca pronome do caso reto. Nos contex- Elas deram a si um dia de folga.
tos interlocutivos que exigem o uso da língua formal, os pronomes
costumam ser usados desta forma: A Segunda Pessoa Indireta
Não há mais nada entre mim e ti. A chamada segunda pessoa indireta manifesta-se quando uti-
Não se comprovou qualquer ligação entre ti e ela. lizamos pronomes que, apesar de indicarem nosso interlocutor (
Não há nenhuma acusação contra mim. portanto, a segunda pessoa), utilizam o verbo na terceira pessoa.
Não vá sem mim. É o caso dos chamados pronomes de tratamento, que podem ser
observados no quadro seguinte:
Atenção:
Há construções em que a preposição, apesar de surgir antepos- Pronomes de Tratamento
ta a um pronome, serve para introduzir uma oração cujo verbo está
no infinitivo. Nesses casos, o verbo pode ter sujeito expresso; se
esse sujeito for um pronome, deverá ser do caso reto. Vossa Alteza V. A. príncipes, duques
Vossa Eminência V. Ema.(s) cardeais
Trouxeram vários vestidos para eu experimentar. Vossa
Não vá sem eu mandar. V. Revma.(s) sacerdotes e bispos
Reverendíssima
- A combinação da preposição “com” e alguns pronomes origi- altas autoridades e
Vossa Excelência V. Ex.ª (s)
nou as formas especiais comigo, contigo, consigo, conosco e con- oficiais-generais
vosco. Tais pronomes oblíquos tônicos frequentemente exercem a reitores de
função de adjunto adverbial de companhia. Vossa Magnificência V. Mag.ª (s)
universidades
Ele carregava o documento consigo.
- As formas “conosco” e “convosco” são substituídas por “com Vossa Majestade V. M. reis e rainhas
nós” e “com vós” quando os pronomes pessoais são reforçados por Vossa Majestade
V. M. I. Imperadores
palavras como outros, mesmos, próprios, todos, ambos ou algum Imperial
numeral. Vossa Santidade V. S. Papa
Você terá de viajar com nós todos. Vossa Senhoria V. S.ª (s) tratamento cerimonioso
Estávamos com vós outros quando chegaram as más notícias. Vossa Onipotência V. O. Deus
Ele disse que iria com nós três.
Didatismo e Conhecimento 24
LÍNGUA PORTUGUESA
Também são pronomes de tratamento o senhor, a senho- Note que:
ra e você, vocês. “O senhor” e “a senhora” são empregados no A forma do possessivo depende da pessoa gramatical a que
tratamento cerimonioso; “você” e “vocês”, no tratamento fami- se refere; o gênero e o número concordam com o objeto possuído.
liar. Você e vocês são largamente empregados no português do Ele trouxe seu apoio e sua contribuição naquele momento di-
Brasil; em algumas regiões, a forma tu é de uso frequente; em ou- fícil.
tras, pouco empregada. Já a forma vós tem uso restrito à linguagem Observações:
litúrgica, ultraformal ou literária. 1 - A forma “seu” não é um possessivo quando resultar da
Observações: alteração fonética da palavra senhor.
a) Vossa Excelência X Sua Excelência : os pronomes de tra- - Muito obrigado, seu José.
tamento que possuem “Vossa (s)” são empregados em relação à 2 - Os pronomes possessivos nem sempre indicam posse. Po-
pessoa com quem falamos. dem ter outros empregos, como:
a) indicar afetividade.
Espero que V. Ex.ª, Senhor Ministro, compareça a este - Não faça isso, minha filha.
encontro. b) indicar cálculo aproximado.
*Emprega-se “Sua (s)” quando se fala a respeito da pessoa. Ele já deve ter seus 40 anos.
Todos os membros da C.P.I. afirmaram que Sua Excelência, o c) atribuir valor indefinido ao substantivo.
Senhor Presidente da República, agiu com propriedade. Marisa tem lá seus defeitos, mas eu gosto muito dela.
3- Em frases onde se usam pronomes de tratamento, o prono-
- Os pronomes de tratamento representam uma forma indi- me possessivo fica na 3ª pessoa.
reta de nos dirigirmos aos nossos interlocutores. Ao tratarmos um Vossa Excelência trouxe sua mensagem?
deputado por Vossa Excelência, por exemplo, estamos nos ende- 4- Referindo-se a mais de um substantivo, o possessivo con-
reçando à excelência que esse deputado supostamente tem para corda com o mais próximo.
poder ocupar o cargo que ocupa. Trouxe-me seus livros e anotações.
b) 3ª pessoa: embora os pronomes de tratamento dirijam-se 5- Em algumas construções, os pronomes pessoais oblíquos
à 2ª pessoa, toda a concordância deve ser feita com a 3ª pessoa. átonos assumem valor de possessivo.
Assim, os verbos, os pronomes possessivos e os pronomes oblí- Vou seguir-lhe os passos. (= Vou seguir seus passos.)
quos empregados em relação a eles devem ficar na 3ª pessoa.
Basta que V. Ex.ª cumpra a terça parte das suas promessas, Pronomes Demonstrativos
para que seus eleitores lhe fiquem reconhecidos. Os pronomes demonstrativos são utilizados para explicitar a
c) Uniformidade de Tratamento: quando escrevemos ou nos posição de uma certa palavra em relação a outras ou ao contexto.
dirigimos a alguém, não é permitido mudar, ao longo do texto, a Essa relação pode ocorrer em termos de espaço, no tempo ou dis-
pessoa do tratamento escolhida inicialmente. Assim, por exemplo, curso.
se começamos a chamar alguém de “você”, não poderemos usar No espaço:
“te” ou “teu”. O uso correto exigirá, ainda, verbo na terceira pes- Compro este carro (aqui). O pronome este indica que o carro
soa. está perto da pessoa que fala.
Compro esse carro (aí). O pronome esse indica que o carro
Quando você vier, eu te abraçarei e enrolar-me-ei está perto da pessoa com quem falo, ou afastado da pessoa que
nos teus cabelos. (errado) fala.
Quando você vier, eu a abraçarei e enrolar-me-ei Compro aquele carro (lá). O pronome aquele diz que o carro
nos seus cabelos. (correto) está afastado da pessoa que fala e daquela com quem falo.
Quando tu vieres, eu te abraçarei e enrolar-me-ei Atenção: em situações de fala direta (tanto ao vivo quan-
nos teus cabelos. (correto) to por meio de correspondência, que é uma modalidade escri-
ta de fala), são particularmente importantes o este e o esse - o
Pronomes Possessivos primeiro localiza os seres em relação ao emissor; o segundo,
São palavras que, ao indicarem a pessoa gramatical (possui- em relação ao destinatário. Trocá-los pode causar ambiguidade.
dor), acrescentam a ela a ideia de posse de algo (coisa possuída). Dirijo-me a essa universidade com o objetivo de solicitar informações
Este caderno é meu. (meu = possuidor: 1ª pessoa do singular) sobre o concurso vestibular. (trata-se da universidade destinatária).
Observe o quadro: Reafirmamos a disposição desta universidade em participar no
próximo Encontro de Jovens. (trata- -se da universidade que envia
NÚMERO PESSOA PRONOME a mensagem).
Didatismo e Conhecimento 25
LÍNGUA PORTUGUESA
- Os pronomes demonstrativos podem ser variáveis ou inva- Algo o incomoda?
riáveis, observe: Quem avisa amigo é.
Variáveis: este(s), esta(s), esse(s), essa(s), aquele(s),
aquela(s). - Pronomes Indefinidos Adjetivos: qualificam um ser expresso
Invariáveis: isto, isso, aquilo. na frase, conferindo-lhe a noção de quantidade aproximada. São
- Também aparecem como pronomes demonstrativos: eles: cada, certo(s), certa(s).
- o(s), a(s): quando estiverem antecedendo o “que” e puderem
ser substituídos por aquele(s), aquela(s), aquilo. Cada povo tem seus costumes.
Não ouvi o que disseste. (Não ouvi aquilo que disseste.)
Certas pessoas exercem várias profissões.
Essa rua não é a que te indiquei. (Esta rua não é aquela que
te indiquei.)
- mesmo(s), mesma(s): Note que:
Estas são as mesmas pessoas que o procuraram ontem. Ora são pronomes indefinidos substantivos, ora pronomes in-
- próprio(s), própria(s): definidos adjetivos:
Os próprios alunos resolveram o problema.
- semelhante(s): algum, alguns, alguma(s), bastante(s) (= muito, muitos),
Não compre semelhante livro. demais, mais, menos, muito(s), muita(s), nenhum, nenhuns,
- tal, tais: nenhuma(s), outro(s), outra(s), pouco(s), pouca(s), qualquer,
Tal era a solução para o problema. quaisquer, qual, que, quanto(s), quanta(s), tal, tais, tanto(s),
Note que: tanta(s), todo(s), toda(s), um, uns, uma(s), vários, várias.
a) Não raro os demonstrativos aparecem na frase, em constru-
ções redundantes, com finalidade expressiva, para salientar algum Menos palavras e mais ações.
termo anterior. Por exemplo: Alguns se contentam pouco.
Manuela, essa é que dera em cheio casando com o José Afon-
so. Desfrutar das belezas brasileiras, isso é que é sorte! Os pronomes indefinidos podem ser divididos em variá-
b) O pronome demonstrativo neutro ou pode representar um
veis e invariáveis. Observe o quadro:
termo ou o conteúdo de uma oração inteira, caso em que aparece,
geralmente, como objeto direto, predicativo ou aposto.
O casamento seria um desastre. Todos o pressentiam. Variáveis
c) Para evitar a repetição de um verbo anteriormente expres- Singular Plural Invariá-
so, é comum empregar-se, em tais casos, o verbo fazer, chamado, veis
então, verbo vicário (= que substitui, que faz as vezes de). Mascu- Mascu-
Feminino Feminino
Ninguém teve coragem de falar antes que ela o fizesse. lino lino
d) Em frases como a seguinte, este se refere à pessoa mencio- algum alguma alguns algumas
nada em último lugar; aquele, à mencionada em primeiro lugar. nenhum nenhuma nenhuns nenhumas alguém
O referido deputado e o Dr. Alcides eram amigos ínti- todo toda todos todas ninguém
mos; aquele casado, solteiro este. [ou então: este solteiro, aque- muito muita muitos muitas outrem
le casado] pouco pouca poucos poucas tudo
e) O pronome demonstrativo tal pode ter conotação irônica.
vário vária vários várias nada
A menina foi a tal que ameaçou o professor?
f) Pode ocorrer a contração das preposições a, de, em com tanto tanta tantos tantas algo
pronome demonstrativo: àquele, àquela, deste, desta, disso, nisso, outro outra outros outras cada
no, etc. quanto quanta quantos quantas
Não acreditei no que estava vendo. (no = naquilo) qualquer quaisquer
Pronomes Indefinidos São locuções pronominais indefinidas: cada qual, cada um,
São palavras que se referem à terceira pessoa do discurso, qualquer um, quantos quer (que), quem quer (que), seja quem for,
dando-lhe sentido vago (impreciso) ou expressando quantidade seja qual for, todo aquele (que), tal qual (= certo), tal e qual, tal
indeterminada. ou qual, um ou outro, uma ou outra, etc.
Alguém entrou no jardim e destruiu as mudas recém-planta-
das.
Cada um escolheu o vinho desejado.
Não é difícil perceber que “alguém” indica uma pessoa de
quem se fala (uma terceira pessoa, portanto) de forma imprecisa,
vaga. É uma palavra capaz de indicar um ser humano que segura- Indefinidos Sistemáticos
mente existe, mas cuja identidade é desconhecida ou não se quer Ao observar atentamente os pronomes indefinidos, percebe-
revelar. mos que existem alguns grupos que criam oposição de sentido. É
Classificam-se em: o caso de: algum/alguém/algo, que têm sentido afirmativo, e ne-
- Pronomes Indefinidos Substantivos: assumem o lugar do nhum/ninguém/nada, que têm sentido negativo; todo/tudo, que
ser ou da quantidade aproximada de seres na frase. São eles: algo, indicam uma totalidade afirmativa, e nenhum/nada, que indicam
alguém, fulano, sicrano, beltrano, nada, ninguém, outrem, quem, uma totalidade negativa; alguém/ninguém, que se referem à pes-
tudo. soa, e algo/nada, que se referem à coisa; certo, que particulariza,
e qualquer, que generaliza.
Didatismo e Conhecimento 26
LÍNGUA PORTUGUESA
Essas oposições de sentido são muito importantes na constru- Essas são as conclusões sobre as quais pairam muitas
ção de frases e textos coerentes, pois delas muitas vezes dependem dúvidas? (Não se poderia usar “que” depois de sobre.)
a solidez e a consistência dos argumentos expostos. Observe nas
frases seguintes a força que os pronomes indefinidos destacados c) O relativo “que” às vezes equivale a o que, coisa que, e se
imprimem às afirmações de que fazem parte: refere a uma oração.
Nada do que tem sido feito produziu qualquer resultado
prático. Não chegou a ser padre, mas deixou de ser poeta, que era a
Certas pessoas conseguem perceber sutilezas: não são pes- sua vocação natural.
soas quaisquer.
d) O pronome “cujo” não concorda com o seu antecedente,
Pronomes Relativos mas com o consequente. Equivale a do qual, da qual, dos quais,
São aqueles que representam nomes já mencionados anterior- das quais.
mente e com os quais se relacionam. Introduzem as orações subor-
dinadas adjetivas.
Este é o caderno cujas folhas estão rasgadas.
O racismo é um sistema que afirma a superioridade de um
grupo racial sobre outros.
↑ ↑
(antecedente) (consequente)
(afirma a superioridade de um grupo racial sobre outros = ora-
ção subordinada adjetiva).
O pronome relativo “que” refere-se à palavra “sistema” e in- e) “Quanto” é pronome relativo quando tem por antecedente
troduz uma oração subordinada. Diz-se que a palavra “sistema” um pronome indefinido: tanto (ou variações) e tudo:
é antecedente do pronome relativo que. O antecedente do pronome
relativo pode ser o pronome demonstrativo o, a, os, as. Emprestei tantos quantos foram necessários.
Não sei o que você está querendo dizer. ↑
Às vezes, o antecedente do pronome relativo não vem (antecedente)
expresso.
Quem casa, quer casa. Ele fez tudo quanto havia falado.
↑
Observe o quadro abaixo: (antecedente)
Quadro dos Pronomes Relativos f) O pronome “quem” se refere a pessoas e vem sempre pre-
cedido de preposição.
Variáveis
Invariáveis
Masculino Feminino É um professor a quem muito devemos.
o qual os quais a qual as quais quem ↑
cujo cujos cuja cujas que (preposição)
quanto quantos quanta quantas onde
g) “Onde”, como pronome relativo, sempre possui anteceden-
Note que: te e só pode ser utilizado na indicação de lugar.
a) O pronome “que” é o relativo de mais largo emprego, sendo A casa onde morava foi assaltada.
por isso chamado relativo universal. Pode ser substituído por o h) Na indicação de tempo, deve-se empregar quando ou em
qual, a qual, os quais, as quais, quando seu antecedente for um que.
substantivo. Sinto saudades da época em que (quando) morávamos no ex-
terior.
O trabalho que eu fiz refere-se à corrupção. (= o qual) i) Podem ser utilizadas como pronomes relativos as palavras:
A cantora que acabou de se apresentar é péssima. (= a qual) - como (= pelo qual)
Os trabalhos que eu fiz referem-se à corrupção. (= os quais) Não me parece correto o modo como você agiu semana pas-
As cantoras que se apresentaram eram péssimas. (= as quais) sada.
- quando (= em que)
b) O qual, os quais, a qual e as quais são exclusivamente Bons eram os tempos quando podíamos jogar videogame.
pronomes relativos: por isso, são utilizados didaticamente para j) Os pronomes relativos permitem reunir duas orações numa
verificar se palavras como “que”, “quem”, “onde” (que podem
só frase.
ter várias classificações) são pronomes relativos. Todos eles são
O futebol é um esporte.
usados com referência à pessoa ou coisa por motivo de clareza ou
O povo gosta muito deste esporte.
depois de determinadas preposições:
O futebol é um esporte de que o povo gosta muito.
Regressando de São Paulo, visitei o sítio de minha tia, o k) Numa série de orações adjetivas coordenadas, pode ocorrer
qual me deixou encantado. (O uso de “que”, neste caso, geraria a elipse do relativo “que”.
ambiguidade.) A sala estava cheia de gente que conversava, (que) ria,
(que) fumava.
Didatismo e Conhecimento 27
LÍNGUA PORTUGUESA
Pronomes Interrogativos O que caracteriza o verbo são as suas flexões, e não os seus
São usados na formulação de perguntas, sejam elas diretas ou possíveis significados. Observe que palavras como corrida,
indiretas. Assim como os pronomes indefinidos, referem-se à 3ª chuva e nascimento têm conteúdo muito próximo ao de alguns
pessoa do discurso de modo impreciso. São pronomes interrogati- verbos mencionados acima; não apresentam, porém, todas as
vos: que, quem, qual (e variações), quanto (e variações). possibilidades de flexão que esses verbos possuem.
Quem fez o almoço?/ Diga-me quem fez o almoço. Estrutura das Formas Verbais
Do ponto de vista estrutural, uma forma verbal pode apresen-
Qual das bonecas preferes? / Não sei qual das bonecas pre-
tar os seguintes elementos:
feres. a) Radical: é a parte invariável, que expressa o significado
Quantos passageiros desembarcaram? / Pergunte quan- essencial do verbo. Por exemplo:
tos passageiros desembarcaram. fal-ei; fal-ava; fal-am. (radical fal-)
b) Tema: é o radical seguido da vogal temática que indica a
Sobre os pronomes: conjugação a que pertence o verbo. Por exemplo: fala-r
O pronome pessoal é do caso reto quando tem função de sujei- São três as conjugações:
to na frase. O pronome pessoal é do caso oblíquo quando desem- 1ª - Vogal Temática - A - (falar)
penha função de complemento. Vamos entender, primeiramente, 2ª - Vogal Temática - E - (vender)
como o pronome pessoal surge na frase e que função exerce. Ob- 3ª - Vogal Temática - I - (partir)
serve as orações:
c) Desinência modo-temporal: é o elemento que designa o
1. Eu não sei essa matéria, mas ele irá me ajudar. tempo e o modo do verbo. Por exemplo:
2. Maria foi embora para casa, pois não sabia se devia ajudá-lo. falávamos ( indica o pretérito imperfeito do indicativo.)
falasse ( indica o pretérito imperfeito do subjuntivo.)
Na primeira oração os pronomes pessoais “eu” e “ele” exer-
cem função de sujeito, logo, são pertencentes ao caso reto. Já na d) Desinência número-pessoal: é o elemento que designa a
segunda oração, observamos o pronome “lhe” exercendo função pessoa do discurso ( 1ª, 2ª ou 3ª) e o número (singular ou plural).
de complemento, e, consequentemente, é do caso oblíquo. Os falamos (indica a 1ª pessoa do plural.)
pronomes pessoais indicam as pessoas do discurso, o pronome falavam (indica a 3ª pessoa do plural.)
oblíquo “lhe”, da segunda oração, aponta para a segunda pessoa
do singular (tu/você): Maria não sabia se devia ajudar.... Ajudar Observação: o verbo pôr, assim como seus derivados (com-
por, repor, depor, etc.), pertencem à 2ª conjugação, pois a forma
quem? Você (lhe).
arcaica do verbo pôr era poer. A vogal “e”, apesar de haver desapa-
Importante: Em observação à segunda oração, o emprego do recido do infinitivo, revela-se em algumas formas do verbo: põe,
pronome oblíquo “lhe” é justificado antes do verbo intransitivo pões, põem, etc.
“ajudar” porque o pronome oblíquo pode estar antes, depois ou
entre locução verbal, caso o verbo principal (no caso “ajudar”) es- Formas Rizotônicas e Arrizotônicas
tiver no infinitivo ou gerúndio. Ao combinarmos os conhecimentos sobre a estrutura dos ver-
Eu desejo lhe perguntar algo. bos com o conceito de acentuação tônica, percebemos com facili-
Eu estou perguntando-lhe algo. dade que nas formas rizotônicas, o acento tônico cai no radical do
verbo: opino, aprendam, nutro, por exemplo. Nas formas arrizotô-
Os pronomes pessoais oblíquos podem ser átonos ou tônicos: nicas, o acento tônico não cai no radical, mas sim na terminação
verbal: opinei, aprenderão, nutriríamos.
os primeiros não são precedidos de preposição, diferentemente dos
segundos que são sempre precedidos de preposição.
Classificação dos Verbos
Pronome oblíquo átono: Joana me perguntou o que eu estava Classificam-se em:
fazendo. a) Regulares: são aqueles que possuem as desinências nor-
Pronome oblíquo tônico: Joana perguntou para mim o que eu mais de sua conjugação e cuja flexão não provoca alterações no ra-
estava fazendo. dical. Por exemplo: canto cantei cantarei cantava cantasse
b) Irregulares: são aqueles cuja flexão provoca alterações no
Fontes: radical ou nas desinências. Por exemplo: faço fiz farei fi-
zesse
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf42.php c) Defectivos: são aqueles que não apresentam conjugação
http://www.brasilescola.com/gramatica/colocacao-pronominal. completa. Classificam-se em impessoais, unipessoais e pessoais.
htm - Impessoais: são os verbos que não têm sujeito. Normalmen-
te, são usados na terceira pessoa do singular. Os principais verbos
VERBO impessoais são:
a) haver, quando sinônimo de existir, acontecer, realizar-se ou
É a classe de palavras que se flexiona em pessoa, número, fazer (em orações temporais).
tempo, modo e voz. Pode indicar, entre outros processos: ação Havia poucos ingressos à venda. (Havia = Existiam)
(correr); estado (ficar); fenômeno (chover); ocorrência (nascer); Houve duas guerras mundiais. (Houve = Aconteceram)
desejo (querer). Haverá reuniões aqui. (Haverá = Realizar-se-ão)
Didatismo e Conhecimento 28
LÍNGUA PORTUGUESA
Deixei de fumar há muitos anos. (há = faz) - Pessoais: não apresentam algumas flexões por motivos mor-
b) fazer, ser e estar (quando indicam tempo) fológicos ou eufônicos. Por exemplo:
Faz invernos rigorosos no Sul do Brasil. verbo falir. Este verbo teria como formas do presente do in-
Era primavera quando a conheci. dicativo falo, fales, fale, idênticas às do verbo falar - o que prova-
Estava frio naquele dia. velmente causaria problemas de interpretação em certos contextos.
c) Todos os verbos que indicam fenômenos da natureza são verbo computar. Este verbo teria como formas do presente do
indicativo computo, computas, computa - formas de sonoridade
impessoais: chover, ventar, nevar, gear, trovejar, amanhecer, es-
considerada ofensiva por alguns ouvidos gramaticais. Essas razões
curecer, etc. Quando, porém, se constrói, “Amanheci mal-humo- muitas vezes não impedem o uso efetivo de formas verbais re-
rado”, usa-se o verbo “amanhecer” em sentido figurado. Qualquer pudiadas por alguns gramáticos: exemplo disso é o próprio ver-
verbo impessoal, empregado em sentido figurado, deixa de ser im- bo computar, que, com o desenvolvimento e a popularização da
pessoal para ser pessoal. informática, tem sido conjugado em todos os tempos, modos e
Amanheci mal-humorado. (Sujeito desinencial: eu) pessoas.
Choveram candidatos ao cargo. (Sujeito: candidatos)
Fiz quinze anos ontem. (Sujeito desinencial: eu) d) Abundantes: são aqueles que possuem mais de uma forma
d) São impessoais, ainda: com o mesmo valor. Geralmente, esse fenômeno costuma ocor-
1. o verbo passar (seguido de preposição), indicando tempo. rer no particípio, em que, além das formas regulares terminadas
Ex.: Já passa das seis. em -ado ou -ido, surgem as chamadas formas curtas (particípio
2. os verbos bastar e chegar, seguidos da preposição de, indi- irregular).
cando suficiência. Ex.: Observe:
Basta de tolices. Chega de blasfêmias.
3. os verbos estar e ficar em orações tais como Está bem, Está PARTICÍPIO PARTICÍPIO
INFINITIVO
muito bem assim, Não fica bem, Fica mal, sem referência a sujeito REGULAR IRREGULAR
expresso anteriormente. Podemos, ainda, nesse caso, classificar o Anexar Anexado Anexo
sujeito como hipotético, tornando-se, tais verbos, então, pessoais.
4. o verbo deu + para da língua popular, equivalente de “ser Dispersar Dispersado Disperso
possível”. Por exemplo: Eleger Elegido Eleito
Não deu para chegar mais cedo. Envolver Envolvido Envolto
Dá para me arrumar uns trocados?
Imprimir Imprimido Impresso
- Unipessoais: são aqueles que, tendo sujeito, conjugam-se Matar Matado Morto
apenas nas terceiras pessoas, do singular e do plural. Morrer Morrido Morto
A fruta amadureceu.
As frutas amadureceram. Pegar Pegado Pego
Soltar Soltado Solto
Obs.: os verbos unipessoais podem ser usados como verbos
pessoais na linguagem figurada: e) Anômalos: são aqueles que incluem mais de um radical em
Teu irmão amadureceu bastante. sua conjugação.
Entre os unipessoais estão os verbos que significam vozes de Por exemplo:
animais; eis alguns:
bramar: tigre Ir Pôr Ser Saber
bramir: crocodilo
vou sou
cacarejar: galinha ponho sei
vais és
coaxar: sapo pus sabes
ides fui
cricrilar: grilo pôs soube
fui foste
punha saiba
Os principais verbos unipessoais são: foste seja
1. cumprir, importar, convir, doer, aprazer, parecer, ser (preci-
f) Auxiliares
so, necessário, etc.). São aqueles que entram na formação dos tempos compostos e
Cumpre trabalharmos bastante. (Sujeito: trabalharmos bastante.) das locuções verbais. O verbo principal, quando acompanhado de
Parece que vai chover. (Sujeito: que vai chover.) verbo auxiliar, é expresso numa das formas nominais: infinitivo,
É preciso que chova. (Sujeito: que chova.) gerúndio ou particípio.
2. fazer e ir, em orações que dão ideia de tempo, seguidos da Vou espantar as moscas.
conjunção que. (verbo auxiliar) (verbo principal no infinitivo)
Faz dez anos que deixei de fumar. (Sujeito: que deixei de fu-
mar.) Está chegando a hora do debate.
Vai para (ou Vai em ou Vai por) dez anos que não vejo Cláu- (verbo auxiliar) (verbo principal no gerúndio)
dia. (Sujeito: que não vejo Cláudia) Os noivos foram cumprimentados por todos os presentes.
Obs.: todos os sujeitos apontados são oracionais. (verbo auxiliar) (verbo principal no particípio)
Obs.: os verbos auxiliares mais usados são: ser, estar, ter e
haver.
Didatismo e Conhecimento 29
LÍNGUA PORTUGUESA
Conjugação dos Verbos Auxiliares
Didatismo e Conhecimento 30
LÍNGUA PORTUGUESA
ESTAR - Modo Subjuntivo e Imperativo
Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo
esteja estivesse estiver
estejas estivesses estiveres está estejas
esteja estivesse estiver esteja esteja
estejamos estivéssemos estivermos estejamos estejamos
estejais estivésseis estiverdes estai estejais
estejam estivessem estiverem estejam estejam
Didatismo e Conhecimento 31
LÍNGUA PORTUGUESA
TER - Modo Indicativo
g) Pronominais: São aqueles verbos que se conjugam com os pronomes oblíquos átonos me, te, se, nos, vos, se, na mesma pessoa do
sujeito, expressando reflexibilidade (pronominais acidentais) ou apenas reforçando a ideia já implícita no próprio sentido do verbo (reflexi-
vos essenciais). Veja:
- 1. Essenciais: são aqueles que sempre se conjugam com os pronomes oblíquos me, te, se, nos, vos, se. São poucos: abster-se, ater-se,
apiedar-se, atrever-se, dignar-se, arrepender-se, etc. Nos verbos pronominais essenciais a reflexibilidade já está implícita no radical do
verbo. Por exemplo:
Arrependi-me de ter estado lá.
A ideia é de que a pessoa representada pelo sujeito (eu) tem um sentimento (arrependimento) que recai sobre ela mesma, pois não recebe
ação transitiva nenhuma vinda do verbo; o pronome oblíquo átono é apenas uma partícula integrante do verbo, já que, pelo uso, sempre é
conjugada com o verbo. Diz-se que o pronome apenas serve de reforço da ideia reflexiva expressa pelo radical do próprio verbo.
Veja uma conjugação pronominal essencial (verbo e respectivos pronomes):
Eu me arrependo
Tu te arrependes
Ele se arrepende
Nós nos arrependemos
Vós vos arrependeis
Eles se arrependem
- 2. Acidentais: são aqueles verbos transitivos diretos em que a ação exercida pelo sujeito recai sobre o objeto representado por pronome
oblíquo da mesma pessoa do sujeito; assim, o sujeito faz uma ação que recai sobre ele mesmo. Em geral, os verbos transitivos diretos ou
transitivos diretos e indiretos podem ser conjugados com os pronomes mencionados, formando o que se chama voz reflexiva. Por exem-
plo: Maria se penteava.
A reflexibilidade é acidental, pois a ação reflexiva pode ser exercida também sobre outra pessoa. Por exemplo: Maria penteou-me.
Observações:
1- Por fazerem parte integrante do verbo, os pronomes oblíquos átonos dos verbos pronominais não possuem função sintática.
2- Há verbos que também são acompanhados de pronomes oblíquos átonos, mas que não são essencialmente pronominais, são os verbos
reflexivos. Nos verbos reflexivos, os pronomes, apesar de se encontrarem na pessoa idêntica à do sujeito, exercem funções sintáticas.
Por exemplo:
Eu me feri. = Eu(sujeito) - 1ª pessoa do singular me (objeto direto) - 1ª pessoa do singular
Didatismo e Conhecimento 32
LÍNGUA PORTUGUESA
Modos Verbais - Pretérito Perfeito (simples) - Expressa um fato ocorrido num
Dá-se o nome de modo às várias formas assumidas pelo verbo momento anterior ao atual e que foi totalmente terminado. Por
na expressão de um fato. Em Português, existem três modos: exemplo: Ele estudou as lições ontem à noite.
Indicativo - indica uma certeza, uma realidade. Por exemplo: - Pretérito Perfeito (composto) - Expressa um fato que teve
Eu sempre estudo. início no passado e que pode se prolongar até o momento atual.
Subjuntivo - indica uma dúvida, uma possibilidade. Por exem- Por exemplo: Tenho estudado muito para os exames.
plo: Talvez eu estude amanhã. - Pretérito-Mais-Que-Perfeito - Expressa um fato ocorrido
Imperativo - indica uma ordem, um pedido. Por exemplo: Es- antes de outro fato já terminado. Por exemplo: Ele já tinha estu-
tuda agora, menino. dado as lições quando os amigos chegaram. (forma composta) Ele
já estudara as lições quando os amigos chegaram. (forma simples)
Formas Nominais - Futuro do Presente (simples) - Enuncia um fato que deve
Além desses três modos, o verbo apresenta ainda formas que ocorrer num tempo vindouro com relação ao momento atual. Por
podem exercer funções de nomes (substantivo, adjetivo, advér- exemplo: Ele estudará as lições amanhã.
bio), sendo por isso denominadas formas nominais. Observe:
- a) Infinitivo Impessoal: exprime a significação do verbo de - Futuro do Presente (composto) - Enuncia um fato que deve
modo vago e indefinido, podendo ter valor e função de substanti- ocorrer posteriormente a um momento atual, mas já terminado an-
vo. Por exemplo: Viver é lutar. (= vida é luta) tes de outro fato futuro. Por exemplo: Antes de bater o sinal, os
É indispensável combater a corrupção. (= combate à) alunos já terão terminado o teste.
- Futuro do Pretérito (simples) - Enuncia um fato que pode
O infinitivo impessoal pode apresentar-se no presente (forma ocorrer posteriormente a um determinado fato passado. Por exem-
simples) ou no passado (forma composta). Por exemplo: plo: Se eu tivesse dinheiro, viajaria nas férias.
É preciso ler este livro. - Futuro do Pretérito (composto) - Enuncia um fato que po-
Era preciso ter lido este livro. deria ter ocorrido posteriormente a um determinado fato passado.
- b) Infinitivo Pessoal: é o infinitivo relacionado às três pes- Por exemplo: Se eu tivesse ganho esse dinheiro, teria viajado nas
soas do discurso. Na 1ª e 3ª pessoas do singular, não apresenta férias.
desinências, assumindo a mesma forma do impessoal; nas demais,
flexiona--se da seguinte maneira: 2. Tempos do Subjuntivo
- Presente - Enuncia um fato que pode ocorrer no momento
2ª pessoa do singular: Radical + ES Ex.: teres(tu) atual. Por exemplo: É conveniente que estudes para o exame.
1ª pessoa do plural: Radical + MOS Ex.: termos (nós) - Pretérito Imperfeito - Expressa um fato passado, mas pos-
terior a outro já ocorrido. Por exemplo: Eu esperava que ele ven-
2ª pessoa do plural: Radical + DES Ex.: terdes (vós) cesse o jogo.
3ª pessoa do plural: Radical + EM Ex.: terem (eles) Obs.: o pretérito imperfeito é também usado nas construções
em que se expressa a ideia de condição ou desejo. Por exemplo: Se
Por exemplo: ele viesse ao clube, participaria do campeonato.
Foste elogiado por teres alcançado uma boa colocação. - Pretérito Perfeito (composto) - Expressa um fato totalmente
- c) Gerúndio: o gerúndio pode funcionar como adjetivo ou terminado num momento passado. Por exemplo:Embora tenha es-
advérbio. Por exemplo: tudado bastante, não passou no teste.
Saindo de casa, encontrei alguns amigos. (função de advérbio) - Futuro do Presente (simples) - Enuncia um fato que pode
Nas ruas, havia crianças vendendo doces. (função adjetivo) ocorrer num momento futuro em relação ao atual. Por exemplo:
Na forma simples, o gerúndio expressa uma ação em curso; na Quando ele vier à loja, levará as encomendas.
forma composta, uma ação concluída. Por exemplo: Obs.: o futuro do presente é também usado em frases que in-
Trabalhando, aprenderás o valor do dinheiro. dicam possibilidade ou desejo. Por exemplo: Se ele vier à loja,
Tendo trabalhado, aprendeu o valor do dinheiro. levará as encomendas.
- d) Particípio: quando não é empregado na formação dos - Futuro do Presente (composto) - Enuncia um fato posterior
tempos compostos, o particípio indica geralmente o resultado de ao momento atual mas já terminado antes de outro fato futuro. Por
uma ação terminada, flexionando-se em gênero, número e grau. exemplo: Quando ele tiver saído do hospital, nós o visitaremos.
Por exemplo:
Terminados os exames, os candidatos saíram. Presente do Indicativo
Quando o particípio exprime somente estado, sem nenhuma
relação temporal, assume verdadeiramente a função de adjetivo Desinência
(adjetivo verbal). Por exemplo: 1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação
pessoal
Ela foi a aluna escolhida para representar a escola.
CANTAR VENDER PARTIR
Tempos Verbais
Tomando-se como referência o momento em que se fala, a cantO vendO partO O
ação expressa pelo verbo pode ocorrer em diversos tempos. Veja: cantaS vendeS parteS S
1. Tempos do Indicativo
canta vende parte -
- Presente - Expressa um fato atual. Por exemplo: Eu estu-
do neste colégio. cantaMOS vendeMOS partiMOS MOS
- Pretérito Imperfeito - Expressa um fato ocorrido num mo- cantaIS vendeIS partIS IS
mento anterior ao atual, mas que não foi completamente termina-
do. Por exemplo: Ele estudava as lições quando foi interrompido. cantaM vendeM parteM M
Didatismo e Conhecimento 33
LÍNGUA PORTUGUESA
Pretérito Perfeito do Indicativo cantar eis vender eis partir eis
cantar ão vender ão partir ão
Desinência
1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação
pessoal Futuro do Pretérito do Indicativo
CANTAR VENDER PARTIR
canteI vendI partI I 1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação
cantaSTE vendeSTE partISTE STE CANTAR VENDER PARTIR
cantoU vendeU partiU U cantarIA venderIA partirIA
cantaMOS vendeMOS partiMOS MOS
cantarIAS venderIAS partirIAS
cantaSTES vendeSTES partISTES STES
cantarIA venderIA partirIA
cantaRAM vendeRAM partiRAM RAM
cantarÍAMOS venderÍAMOS partirÍAMOS
Pretérito mais-que-perfeito do Indicativo cantarÍEIS venderÍEIS partirÍEIS
cantarIAM venderIAM partirIAM
Desinên-
1ª conjuga- 2ª conjuga- 3ª conju- Des. tem- Presente do Subjuntivo
cia pes-
ção ção gação poral Para se formar o presente do subjuntivo, substitui-se a desi-
soal
nência -o da primeira pessoa do singular do presente do indicativo
1ª/2ª e 3ª pela desinência -E (nos verbos de 1ª conjugação) ou pela desinên-
conj. cia -A (nos verbos de 2ª e 3ª conjugação).
CANTAR VENDER PARTIR
cantaRA vendeRA partiRA RA Ø Des. Desi-
Des.
cantaRAS vendeRAS partiRAS RA S 1ª conjuga- 2ª conjuga- 3ª conju- tem- nência
tem-
ção ção gação po- pes-
cantaRA vendeRA partiRA RA Ø poral
ral soal
c a n t á R A - vendêRA- partíRA- 1ª 2ª/3ª
RA MOS
MOS MOS MOS conj. conj.
cantáREIS vendêREIS partíREIS RE IS CANTAR VENDER PARTIR
cantaRAM vendeRAM partiRAM RA M cantE vendA partA E A Ø
Didatismo e Conhecimento 34
LÍNGUA PORTUGUESA
Imperativo Negativo
Para se formar o imperativo negativo, basta antecipar a negação às formas do presente do subjuntivo.
Didatismo e Conhecimento 35
LÍNGUA PORTUGUESA
Observações: Nesse contexto, o verbo estereotipar tem sentido de
- No modo imperativo não faz sentido usar na 3ª pessoa (A) considerar ao acaso, sem premeditação.
(singular e plural) as formas ele/eles, pois uma ordem, pedido ou (B) aceitar uma ideia mesmo sem estar convencido dela.
conselho só se aplicam diretamente à pessoa com quem se fala. Por (C) adotar como referência de qualidade.
essa razão, utiliza-se você/vocês. (D) julgar de acordo com normas legais.
- O verbo SER, no imperativo, faz excepcionalmente: sê (tu), (E) classificar segundo ideias preconcebidas.
sede (vós).
04. (Escrevente TJ SP Vunesp 2013 Assinale a alternativa
Infinitivo Impessoal contendo a frase do texto na qual a expressão verbal destacada ex-
prime possibilidade.
(A) ... o cientista Theodor Nelson sonhava com um sistema ca-
1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação
paz de disponibilizar um grande número de obras literárias...
CANTAR VENDER PARTIR (B) Funcionando como um imenso sistema de informação e
arquivamento, o hipertexto deveria ser um enorme arquivo virtual.
Infinitivo Pessoal (C) Isso acarreta uma textualidade que funciona por associa-
ção, e não mais por sequências fixas previamente estabelecidas.
(D) Desde o surgimento da ideia de hipertexto, esse conceito
1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação está ligado a uma nova concepção de textualidade...
CANTAR VENDER PARTIR (E) Criou, então, o “Xanadu”, um projeto para disponibilizar
toda a literatura do mundo...
cantar vender partir
cantarES venderES partirES 05.(Analista – Arquitetura – FCC – 2013-adap.). Está ade-
cantar vender partir quada a correlação entre tempos e modos verbais na frase:
A) Os que levariam a vida pensando apenas nos valores abso-
cantarMOS venderMOS partirMOS
lutos talvez façam melhor se pensassem no encanto dos pequenos
cantarDES venderDES partirDES bons momentos.
cantarEM venderEM partirEM B) Há até quem queira saber quem fosse o maior bandido entre
os que recebessem destaque nos popularescos programas da TV.
Fonte: http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf54. C) Não admira que os leitores de Manuel Bandeira gostam tan-
php to de sua poesia, sobretudo porque ela não tenha aspirações a ser
metafísica.
Questões sobre Verbo D) Se os adeptos da fama a qualquer custo levarem em conta
nossa condição de mortais, não precisariam preocupar-se com os
01. (Agente Policia Vunesp 2013) Considere o trecho a seguir. degraus da notoriedade.
É comum que objetos ___________ esquecidos em locais pú- E) Quanto mais aproveitássemos o que houvesse de grande nos
blicos. Mas muitos transtornos poderiam ser evitados se as pessoas momentos felizes, menos precisaríamos nos preocupar com con-
quistas superlativas.
_____________ a atenção voltada para seus pertences, conservan-
do-os junto ao corpo.
06. (Escrevente TJ SP Vunesp 2013) Assinale a alternativa
Assinale a alternativa que preenche, correta e respectivamente,
em que todos os verbos estão empregados de acordo com a norma-
as lacunas do texto.
-padrão.
(A) sejam … mantesse
(A) Enviaram o texto, para que o revíssemos antes da impressão
(B) sejam … mantivessem
definitiva.
(C) sejam … mantém
(B) Não haverá prova do crime se o réu se manter em silêncio.
(D) seja … mantivessem (C) Vão pagar horas-extras aos que se disporem a trabalhar no
(E) seja … mantêm feriado.
(D) Ficarão surpresos quando o verem com a toga...
02. (Escrevente TJ SP Vunesp 2012-adap.) Na frase –… os (E) Se você quer a promoção, é necessário que a requera a seu
níveis de pessoas sem emprego estão apresentando quedas sucessi- superior.
vas de 2005 para cá. –, a locução verbal em destaque expressa ação
(A) concluída. 07. (Papiloscopista Policial Vunesp 2013-adap.) Assinale a
(B) atemporal. alternativa que substitui, corretamente e sem alterar o sentido da
(C) contínua. frase, a expressão destacada em – Se a criança se perder, quem
(D) hipotética. encontrá-la verá na pulseira instruções para que envie uma mensa-
(E) futura. gem eletrônica ao grupo ou acione o código na internet.
(A) Caso a criança se havia perdido…
03. (Escrevente TJ SP Vunesp 2013-adap.) Sem querer este- (B) Caso a criança perdeu…
reotipar, mas já estereotipando: trata-se de um ser cujas interações (C) Caso a criança se perca…
sociais terminam, 99% das vezes, diante da pergunta “débito ou (D) Caso a criança estivera perdida…
crédito?”. (E) Caso a criança se perda…
Didatismo e Conhecimento 36
LÍNGUA PORTUGUESA
08. (Agente de Apoio Operacional – VUNESP – 2013-adap.). 4-)
Assinale a alternativa em que o verbo destacado está no tempo fu- (B) Funcionando como um imenso sistema de informação e ar-
turo. quivamento, o hipertexto deveria ser um enorme arquivo virtual. =
A) Os consumidores são assediados pelo marketing … verbo no futuro do pretérito
B) … somente eles podem decidir se irão ou não comprar.
C) É como se abrissem em nós uma “caixa de necessidades”… 5-)
D) … de onde vem o produto…? A) Os que levam a vida pensando apenas nos valores absolutos
E) Uma pesquisa mostrou que 55,4% das pessoas… talvez fariam melhor se pensassem no encanto dos pequenos bons
momentos.
09. (Papiloscopista Policial – VUNESP – 2013). Assinale a B) Há até quem queira saber quem é o maior bandido entre os
alternativa em que a concordância das formas verbais destacadas se que recebem destaque nos popularescos programas da TV.
dá em conformidade com a norma-padrão da língua. C) Não admira que os leitores de Manuel Bandeira gostem
(A) Chegou, para ajudar a família, vários amigos e vizinhos. tanto de sua poesia, sobretudo porque ela não tem aspirações a ser
(B) Haviam várias hipóteses acerca do que poderia ter aconte- metafísica.
cido com a criança. D) Se os adeptos da fama a qualquer custo levassem em conta
(C) Fazia horas que a criança tinha saído e os pais já estavam nossa condição de mortais, não precisariam preocupar-se com os
preocupados. degraus da notoriedade.
(D) Era duas horas da tarde, quando a criança foi encontrada.
(E) Existia várias maneiras de voltar para casa, mas a criança 6-)
se perdeu mesmo assim. (B) Não haverá prova do crime se o réu se mantiver em silêncio.
(C) Vão pagar horas-extras aos que se dispuserem a trabalhar
10. (Agente de Escolta e Vigilância Penitenciária – VUNESP no feriado.
– 2013-adap.). (D) Ficarão surpresos quando o virem com a toga...
Leia as frases a seguir. (E) Se você quiser a promoção, é necessário que a requeira a
I. Havia onze pessoas jogando pedras e pedaços de madeira no seu superior.
animal.
II. Existiam muitos ferimentos no boi. 7-)Caso a criança se perca… (perda = substantivo: Houve uma
III. Havia muita gente assustando o boi numa avenida movi- grande perda salarial...)
mentada.
Substituindo-se o verbo Haver pelo verbo Existir e este pelo 8-)
A) Os consumidores são assediados pelo marketing …= pre-
verbo Haver, nas frases, têm- -se, respectivamente:
sente
A) Existia – Haviam – Existiam
C) É como se abrissem em nós uma “caixa de necessida-
B) Existiam – Havia – Existiam
des”…= pretérito do Subjuntivo
C) Existiam – Haviam – Existiam
D) … de onde vem o produto…? = presente
D) Existiam – Havia – Existia E) Uma pesquisa mostrou que 55,4% das pessoas… = preté-
E) Existia – Havia – Existia rito perfeito
GABARITO 9-)
(A) Chegaram, para ajudar a família, vários amigos e vizinhos.
01. B 02. C 03. E 04. B 05. E (B) Havia várias hipóteses acerca do que poderia ter acontecido
com a criança.
06. A 07. C 08. B 09. C 10. D (D) Eram duas horas da tarde, quando a criança foi encontrada.
(E) Existiam várias maneiras de voltar para casa, mas a criança
COMENTÁRIOS se perdeu mesmo assim.
1-) É comum que objetos sejam esquecidos em locais públicos.
Mas muitos transtornos poderiam ser evitados se as pessoasmanti- 10-)
vessema atenção voltada para seus pertences, conservando-os jun- I. Havia onze pessoas jogando pedras e pedaços de madeira no
to ao corpo. animal.
II. Existiam muitos ferimentos no boi.
2-) os níveis de pessoas sem emprego estão apresentando que- III. Havia muita gente assustando o boi numa avenida movi-
das sucessivas de 2005 para cá. –, a locução verbal em destaque mentada.
expressa ação contínua (=não concluída)
Haver – sentido de existir= invariável, impessoal; existir = va-
3-) Sem querer estereotipar, mas já estereotipando: trata-se de riável. Portanto, temos:
um ser cujas interações sociais terminam, 99% das vezes, diante da I – Existiam onze pessoas...
pergunta “débito ou crédito?”. II – Havia muitos ferimentos...
Nesse contexto, o verbo estereotipar tem sentido de classificar III – Existia muita gente...
segundo ideias preconcebidas.
Didatismo e Conhecimento 37
LÍNGUA PORTUGUESA
ADVÉRBIO de exclusão: Apenas, exclusivamente, salvo, senão, somente,
simplesmente, só, unicamente
O advérbio, assim como muitas outras palavras existentes na de inclusão: Ainda, até, mesmo, inclusivamente, também
Língua Portuguesa, advém de outras línguas. Assim sendo, tal qual o de ordem: Depois, primeiramente, ultimamente
adjetivo, o prefixo “ad-” indica a ideia de proximidade, contiguida- de designação: Eis
de. Essa proximidade faz referência ao processo verbal, no sentido de interrogação: onde?(lugar), como?(modo), quando?(tempo),
de caracterizá-lo, ou seja, indicando as circunstâncias em que esse por quê?(causa), quanto?(preço e intensidade), para quê?(finalidade)
processo se desenvolve. Locução adverbial
O advérbio relaciona-se aos verbos da língua, no sentido de É reunião de duas ou mais palavras com valor de advérbio.
caracterizar os processos expressos por ele. Contudo, ele não é mo- Exemplo:
dificador exclusivo desta classe (verbos), pois também modifica o
• Carlos saiu às pressas. (indicando modo)
adjetivo e até outro advérbio. Seguem alguns exemplos:
• Maria saiu à tarde. (indicando tempo)
Para quem se diz distantemente alheio a esse assunto, você está
Há locuções adverbiais que possuem advérbios corresponden-
até bem informado.
tes.
Temos o advérbio “distantemente” que modifica o adjetivo
Exemplo:
alheio, representando uma qualidade, característica.
Carlos saiu às pressas. = Carlos saiu apressadamente.
O artista canta muito mal.
Nesse caso, o advérbio de intensidade “muito” modifica outro Apenas os advérbios de intensidade, de lugar e de modo são fle-
advérbio de modo – “mal”. xionados, sendo que os demais são todos invariáveis. A única flexão
Em ambos os exemplos pudemos verificar que se tratava de propriamente dita que existe na categoria dos advérbios é a de grau:
somente uma palavra funcionando como advérbio. No entanto, ele • Superlativo: aumenta a intensidade.
pode estar demarcado por mais de uma palavra, que mesmo assim Exemplos: longe - longíssimo, pouco - pouquíssimo, inconsti-
não deixará de ocupar tal função. Temos aí o que chamamos de locu- tucionalmente - inconstitucionalissimamente, etc;
ção adverbial, representada por algumas expressões, tais como: às • Diminutivo: diminui a intensidade.
vezes, sem dúvida, frente a frente, de modo algum, entre outras. Exemplos: perto - pertinho, pouco - pouquinho, devagar - de-
Mediante tais postulados, afirma-se que, dependendo das cir- vagarinho,
cunstâncias expressas pelos advérbios, eles se classificam em distin-
tas categorias, uma vez expressas por: Questões sobre Advérbio
de modo: Bem, mal, assim, depressa, devagar, às pressas, às
claras, às cegas, à toa, à vontade, às escondidas, aos poucos, desse 01. (Agente de Escolta e Vigilância Penitenciária – VUNESP
jeito, desse modo, dessa maneira, em geral, frente a frente, lado a – 2013). Leia os quadrinhos para responder a questão.
lado, a pé, de cor, em vão, e a maior parte dos que terminam em
-mente:calmamente, tristemente, propositadamente, pacientemente,
amorosamente, docemente, escandalosamente, bondosamente, ge-
nerosamente
de intensidade: Muito, demais, pouco, tão, menos, em exces-
so, bastante, pouco, mais, menos, demasiado, quanto, quão, tanto,
que(equivale a quão), tudo, nada, todo, quase, de todo, de muito,
por completo.
de tempo: Hoje, logo, primeiro, ontem, tarde outrora, amanhã,
cedo, dantes, depois, ainda, antigamente, antes, doravante, nunca,
então, ora, jamais, agora, sempre, já, enfim, afinal, breve, constante-
mente, entrementes, imediatamente, primeiramente, provisoriamen-
te, sucessivamente, às vezes, à tarde, à noite, de manhã, de repente,
de vez em quando, de quando em quando, a qualquer momento, de
tempos em tempos, em breve, hoje em dia
de lugar: Aqui, antes, dentro, ali, adiante, fora, acolá, atrás,
além, lá, detrás, aquém, cá, acima, onde, perto, aí, abaixo, aonde,
longe, debaixo, algures, defronte, nenhures, adentro, afora, alhures,
nenhures, aquém, embaixo, externamente, a distância, à distancia
de, de longe, de perto, em cima, à direita, à esquerda, ao lado, em
volta
de negação: Não, nem, nunca, jamais, de modo algum, de for-
ma nenhuma, tampouco, de jeito nenhum
de dúvida: Acaso, porventura, possivelmente, provavelmente,
quiçá, talvez, casualmente, por certo, quem sabe
de afirmação: Sim, certamente, realmente, decerto, efetiva- (Leila Lauar Sarmento e Douglas Tufano. Português. Volume
mente, certo, decididamente, realmente, deveras, indubitavelmente Único)
Didatismo e Conhecimento 38
LÍNGUA PORTUGUESA
No primeiro e segundo quadrinhos, estão em destaque dois ad- E) O fato é que é difícil acreditar que tanta gente ande se que-
vérbios: AÍ e ainda. brando por aí…
Considerando que advérbio é a palavra que modifica um verbo,
um outro advérbio ou um adjetivo, expressando a circunstância em 03. (Agente Educacional – VUNESP – 2013). Leia o texto a
que determinado fato ocorre, assinale a alternativa que classifica, seguir.
correta e respectivamente, as circunstâncias expressas por eles. Cultura matemática
A) Lugar e negação. Hélio Schwartsman
B) Lugar e tempo.
C) Modo e afirmação. SÃO PAULO – Saiu mais um estudo mostrando que o ensino
D) Tempo e tempo. de matemática no Brasil não anda bem. A pergunta é: podemos viver
E) Intensidade e dúvida. sem dominar o básico da matemática? Durante muito tempo, a res-
posta foi sim. Aqueles que não simpatizavam muito com Pitágoras
02. (Agente de Vigilância e Recepção – VUNESP – 2013). podiam simplesmente escolher carreiras nas quais os números não
Leia o texto a seguir. encontravam muito espaço, como direito, jornalismo,as humanida-
Impunidade é motor de nova onda de agressões
des e até a medicina de antigamente.
Repetidos episódios de violência têm sido noticiados nas últi-
Como observa Steven Pinker, ainda hoje, nos meios universitá-
mas semanas. Dois que chamam a atenção, pela banalidade com que
rios, é considerado aceitável que um intelectual se vanglorie de ter
foram cometidos, estão gerando ainda uma série de repercussões.
Em Natal, um garoto de 19 anos quebrou o braço da estudante passado raspando em física e de ignorar o beabá da estatística. Mas
de direito R.D., 19, em plena balada, porque ela teria recusado um ai de quem admitir nunca ter lido Joyce ou dizer que não gosta de
beijo. O suposto agressor já responde a uma ação penal, por agres- Mozart. Sobre ele recairão olhares tão recriminadores quanto sobre
são, movida por sua ex-mulher. o sujeito que assoa o nariz na manga da camisa.
No mesmo final de semana, dois amigos que saíam de uma bo- Joyce e Mozart são ótimos, mas eles, como quase toda a cultura
ate em São Paulo também foram atacados por dois jovens que esta- humanística, têm pouca relevância para nossa vida prática. Já a cul-
vam na mesma balada, e um dos agredidos teve a perna fraturada. tura científica, que muitos ainda tratam com uma ponta de desprezo,
Esses dois jovens teriam tentado se aproximar, sem sucesso, de duas torna-se cada vez mais fundamental, mesmo para quem não preten-
garotas que eram amigas dos rapazes que saíam da boate. Um dos de ser engenheiro ou seguir carreiras técnicas.
suspeitos do ataque alega que tudo não passou de um engano e que Como sobreviver à era do crédito farto sem saber calcular as
o rapaz teria fraturado a perna ao cair no chão. armadilhas que uma taxa de juros pode esconder? Hoje, é difícil até
Curiosamente, também é possível achar um blog que diz que posicionar-se de forma racional sobre políticas públicas sem assi-
R.D., em Natal, foi quem atacou o jovem e que seu braço se quebrou milar toda a numeralha que idealmente as informa. Conhecimentos
ao cair no chão. rudimentares de estatística são pré-requisito para compreender as
Em ambos os casos, as câmeras dos estabelecimentos felizmen- novas pesquisas que trazem informações relevantes para nossa saú-
te comprovam os acontecimentos, e testemunhas vão ajudar a polí- de e bem-estar.
cia na investigação. A matemática está no centro de algumas das mais intrigantes es-
O fato é que é difícil acreditar que tanta gente ande se que- peculações cosmológicas da atualidade. Se as equações da mecânica
brando por aí ao cair no chão, não é mesmo? As agressões devem quântica indicam que existem universos paralelos, isso basta para
ser rigorosamente apuradas e, se houver culpados, que eles sejam que acreditemos neles? Ou, no rastro de Eugene Wigner, podemos
julgados e condenados. nos perguntar por que a matemática é tão eficaz para exprimir as leis
A impunidade é um dos motores da onda de violência que te- da física.
mos visto. O machismo e o preconceito são outros. O perfil impul- (Folha de S.Paulo. 06.04.2013. Adaptado)
sivo de alguns jovens (amplificado pela bebida e por outras substân- Releia os trechos apresentados a seguir.
cias) completa o mecanismo que gera agressões.
- Aqueles que não simpatizavam muito com Pitágoras podiam
Sem interferir nesses elementos, a situação não vai mudar.
simplesmente escolher carreiras nas quais os números não encon-
Maior rigor da justiça, educação para a convivência com o outro,
travam muito espaço... (1.º parágrafo)
aumento da tolerância à própria frustração e melhor controle sobre
os impulsos (é normal levar um “não”, gente!) são alguns dos ca- - Já a cultura científica, que muitos ainda tratam com uma pon-
minhos. ta de desprezo, torna-se cada vez mais fundamental...(3.º parágrafo)
(Jairo Bouer, Folha de S.Paulo, 24.10.2011. Adaptado) Os advérbios em destaque nos trechos expressam, correta e res-
pectivamente, circunstâncias de
Assinale a alternativa cuja expressão em destaque apresenta cir- A) afirmação e de intensidade.
cunstância adverbial de modo. B) modo e de tempo.
A) Repetidos episódios de violência (...) estão gerando ainda C) modo e de lugar.
uma série de repercussões. D) lugar e de tempo.
B) ...quebrou o braço da estudante de direito R. D., 19, em ple- E) intensidade e de negação.
na balada…
C) Esses dois jovens teriam tentado se aproximar, sem sucesso, 04. (Analista Administrativo – VUNESP – 2013). Leia o tex-
de duas amigas… to para responder às questões
D) Um dos suspeitos do ataque alega que tudo não passou de Mais denso, menos trânsito
um engano... Henrique Meirelles
Didatismo e Conhecimento 39
LÍNGUA PORTUGUESA
As grandes cidades brasileiras estão congestionadas e em pro- D)apressadamente com o caminhão.
cesso de deterioração agudizado pelo crescimento econômico da E)agora calmamente.
última década. Existem deficiências evidentes em infraestrutura,
mas é importante também considerar e estudar em profundidade o 07. Em qual das alternativas abaixo o adjunto adverbial expres-
planejamento urbano. sa o sentido de instrumento:
Muitas grandes cidades adotaram uma abordagem de descon- A)Viajou de trem.
centração, incentivando a criação de diversos centros urbanos, na B)Tânia foi almoçar com seus primos.
visão de que isso levaria a uma maior facilidade de deslocamento. C)Cortou-se com o alicate.
Mas o efeito tem sido o inverso. A criação de diversos centros e D)Chorou de dor.
o aumento das distâncias multiplicam o número de viagens, dificul-
tando o escasso investimento em transporte coletivo e aumentando a
necessidade do transporte individual. 08. Assinale a alternativa em que o elemento destacado NÃO é
Se olharmos Los Angeles como a região que levou a descon- um adjunto adverbial.
centração ao extremo, ficam claras as consequências. Numa região A)“...ameaçou até se acorrentar à porta da embaixada brasileira
rica como a Califórnia, com enorme investimento viário, temos en- em Roma.”
garrafamentos gigantescos que viraram característica da cidade. B)“...decidida na semana passada por Tarso Genro...”.
Os modelos urbanos bem-sucedidos são aqueles com elevado C)“Hoje Mutti vive com identidade trocada e em lugar não sa-
adensamento e predominância do transporte coletivo, como mos- bido.”
tram Manhattan, Tóquio e algumas novas áreas urbanas chinesas. D)“A concessão de refúgio político ao italiano Cesare Battisti,
Apesar da desconcentração e do aumento da extensão urbana decidida...”.
verificados no Brasil, é importante desenvolver e adensar ainda mais
os diversos centros já existentes com investimentos no transporte E)“...decida se é o caso de reabrir o processo e julgá-lo nova-
coletivo. mente?”
O centro histórico de São Paulo é demonstração inequívoca do
que não deve ser feito. É a região da cidade mais bem servida de 09. Em todas as alternativas há dois advérbios, exceto em:
transporte coletivo, com infraestrutura de telecomunicação, água, A) Ele permaneceu muito calado.
eletricidade etc. Conta ainda com equipamentos de importância cul- B) Amanhã, não iremos ao cinema.
tural e histórica que dão identidade aos aglomerados urbanos. Seria C) O menino, ontem, cantou desafinadamente.
natural que, como em outras grandes cidades, o centro de São Paulo D) Tranquilamente, realizou-se, hoje, o jogo.
fosse a região mais adensada da metrópole. Mas não é o caso. Te- E) Ela falou calma e sabiamente.
mos, hoje, um esvaziamento gradual do centro, com deslocamento
das atividades para diversas regiões da cidade.
É fundamental que essa visão de adensamento com uso abun- 10. Assinale a frase em que meio funciona como advérbio:
dante de transporte coletivo seja recuperada para que possamos A) Só quero meio quilo.
reverter esse processo de uso cada vez mais intenso do transporte B) Achei-o meio triste.
individual devorando espaços viários que não têm a capacidade de C) Descobri o meio de acertar.
absorver a crescente frota de automóveis, fruto não só do novo aces- D) Parou no meio da rua.
so da população ao automóvel mas também da necessidade de maior E) Comprou um metro e meio de tecido.
número de viagens em função da distância cada vez maior entre os
destinos da população. GABARITO
(Folha de S.Paulo, 13.01.2013. Adaptado)
Em – … mas é importante também considerar e estudar em 01. B 02. C 03. B 04. D 05. C
profundidade o planejamento urbano. –, a expressão em destaque é
empregada na oração para indicar circunstância de 06. C 07. C 08. D 09. A 10. B
A) lugar.
B) causa. COMENTÁRIOS
C) origem.
D) modo. 1-) AÍ = LUGAR AINDA = TEMPO
E) finalidade.
2-) a-) ainda = tempo
05. (UFC) A opção em que há um advérbio exprimindo cir-
cunstância de tempo é: B) em plena balada = lugar
A) Possivelmente viajarei para São Paulo. C) sem sucesso = modo
B) Maria tinha aproximadamente 15 anos. D) não = negação .
C) As tarefas foram executadas concomitantemente. E) por aí = lugar
D) Os resultados chegaram demasiadamente atrasados.
3-) Simplesmente = modo / ainda = tempo
06. Indique a alternativa que completa a frase a seguir, respec-
tivamente, com as circunstâncias de intensidade e de modo. Após o 4-) em profundidade = profundamente = advérbio de modo
telefonema, o motorista partiu...
A)às 18 h com o veículo. 5-) concomitantemente = Diz-se do que acontece, desenvolve-
B)rapidamente ao meio-dia. -se ou é expresso ao mesmo tempo com outra(s) coisa(s); simultâ-
C)bastante alerta. neo.
Didatismo e Conhecimento 40
LÍNGUA PORTUGUESA
6-) A alternativa deve começar com advérbio que expresse IN- Vale ressaltar que essa concordância não é característica da pre-
TENSIDADE. Vá por eliminação: posição, mas das palavras às quais ela se une.
a-) às 18h = tempo Esse processo de junção de uma preposição com outra palavra
b-) rapidamente = modo pode se dar a partir de dois processos:
c-) bastante= intensidade 1. Combinação: A preposição não sofre alteração.
d-) apressadamente = modo preposição a + artigos definidos o, os
e-) agora = tempo a + o = ao
preposição a + advérbio onde
7-) a + onde = aonde
A-) Viajou de trem. = meio 2. Contração: Quando a preposição sofre alteração.
B)Tânia foi almoçar com seus primos. = companhia Preposição + Artigos
C)Cortou-se com o alicate. = instrumento De + o(s) = do(s)
D)Chorou de dor. = causa De + a(s) = da(s)
De + um = dum
8-) “A concessão de refúgio político ao italiano Cesare Battisti, De + uns = duns
decidida...”. = complemento nominal
De + uma = duma
De + umas = dumas
9-):
Em + o(s) = no(s)
A) Ele permaneceu muito calado.
Em + a(s) = na(s)
B) Amanhã, não iremos ao cinema.
Em + um = num
C) O menino, ontem, cantou desafinadamente.
Em + uma = numa
D) Tranquilamente, realizou-se, hoje, o jogo.
Em + uns = nuns
E) Ela falou calma e sabiamente. ( Nesse caso, subentende-se
calmamente. È a maneira correta de se escrever quando utilizarmos Em + umas = numas
dois advérbios de modo: o primeiro é escrito sem o sufixo “mente”, A + à(s) = à(s)
deixando este apenas no segundo elemento. Por exemplo: “Apresen- Por + o = pelo(s)
tou-se breve e pausadamente.”) Por + a = pela(s)
Preposição + Pronomes
10-) De + ele(s) = dele(s)
a) Só quero meio quilo. = numeral De + ela(s) = dela(s)
b) Achei-o meio triste. = um pouco (advérbio) De + este(s) = deste(s)
c) Descobri o meio de acertar. = substantivo De + esta(s) = desta(s)
d) Parou no meio da rua. = numeral De + esse(s) = desse(s)
e) Comprou um metro e meio de tecido. = numeral De + essa(s) = dessa(s)
De + aquele(s) = daquele(s)
PREPOSIÇÃO De + aquela(s) = daquela(s)
Preposição é uma palavra invariável que serve para ligar termos De + isto = disto
ou orações. Quando esta ligação acontece, normalmente há uma su- De + isso = disso
bordinação do segundo termo em relação ao primeiro. As preposi- De + aquilo = daquilo
ções são muito importantes na estrutura da língua, pois estabelecem De + aqui = daqui
a coesão textual e possuem valores semânticos indispensáveis para De + aí = daí
a compreensão do texto. De + ali = dali
De + outro = doutro(s)
Tipos de Preposição De + outra = doutra(s)
1. Preposições essenciais: palavras que atuam exclusivamente Em + este(s) = neste(s)
como preposições. Em + esta(s) = nesta(s)
A, ante, perante, após, até, com, contra, de, desde, em, entre, Em + esse(s) = nesse(s)
para, por, sem, sob, sobre, trás, atrás de, dentro de, para com. Em + aquele(s) = naquele(s)
2. Preposições acidentais: palavras de outras classes gramati- Em + aquela(s) = naquela(s)
cais que podem atuar como preposições. Em + isto = nisto
Como, durante, exceto, fora, mediante, salvo, segundo, senão, Em + isso = nisso
visto. Em + aquilo = naquilo
3. Locuções prepositivas: duas ou mais palavras valendo como A + aquele(s) = àquele(s)
uma preposição, sendo que a última palavra é uma delas. A + aquela(s) = àquela(s)
Abaixo de, acerca de, acima de, ao lado de, a respeito de, de A + aquilo = àquilo
acordo com, em cima de, embaixo de, em frente a, ao redor de, gra-
ças a, junto a, com, perto de, por causa de, por cima de, por trás de. Dicas sobre preposição
A preposição, como já foi dito, é invariável. No entanto pode 1. O “a” pode funcionar como preposição, pronome pessoal
unir-se a outras palavras e assim estabelecer concordância em gêne- oblíquo e artigo. Como distingui-los?
ro ou em número. Ex: por + o = pelo por + a = pela
Didatismo e Conhecimento 41
LÍNGUA PORTUGUESA
- Caso o “a” seja um artigo, virá precedendo a um substanti- O xadrez faz parte da rotina de cerca de dois mil internos em
vo. Ele servirá para determiná-lo como um substantivo singular e 22 unidades prisionais do Espírito Santo. É o projeto “Xadrez que
feminino. liberta”. Duas vezes por semana, os presos podem praticar a ativida-
A dona da casa não quis nos atender. de sob a orientação de servidores da Secretaria de Estado da Justiça
Como posso fazer a Joana concordar comigo? (Sejus). Na próxima sexta-feira, será realizado o primeiro torneio
- Quando é preposição, além de ser invariável, liga dois termos fora dos presídios desde que o projeto foi implantado.Vinte e oito
e estabelece relação de subordinação entre eles. internos de 14 unidades participam da disputa, inclusive João Carlos
Cheguei a sua casa ontem pela manhã. e Fransley, que diz que a vitória não é o mais importante.
Não queria, mas vou ter que ir à outra cidade para procurar um “Só de chegar até aqui já estou muito feliz, porque eu não espe-
rava. A vitória não é tudo. Eu espero alcançar outras coisas devido
tratamento adequado. ao xadrez, como ser olhado com outros olhos, como estou sendo
- Se for pronome pessoal oblíquo estará ocupando o lugar e/ou olhado de forma diferente aqui no presídio devido ao bom compor-
a função de um substantivo. tamento”.
Temos Maria como parte da família. /Atemos como parte da família Segundo a coordenadora do projeto, Francyany Cândido Ventu-
Creio que conhecemos nossa mãe melhor que ninguém. / Creio que rin, o “Xadrez que liberta” tem provocado boas mudanças no com-
a conhecemos melhor que ninguém. portamento dos presos. “Tem surtido um efeito positivo por eles se
tornarem uma referência positiva dentro da unidade, já que cum-
2. Algumas relações semânticas estabelecidas por meio das pre- prem melhor as regras, respeitam o próximo e pensam melhor nas
posições: suas ações, refletem antes de tomar uma atitude”.
Destino = Irei para casa. Embora a Sejus não monitore os egressos que ganham a liber-
dade, para saber se mantêm o hábito do xadrez, João Carlos já faz
Modo = Chegou em casa aos gritos.
planos. “Eu incentivo não só os colegas, mas também minha famí-
Lugar = Vou ficar em casa; lia. Sou casado e tenho três filhos. Já passei para a minha família:
Assunto = Escrevi um artigo sobre adolescência. xadrez, quando eu sair para a rua, todo mundo vai ter que aprender
Tempo = A prova vai começar em dois minutos. porque vai rolar até o torneio familiar”.
Causa = Ela faleceu de derrame cerebral. “Medidas de promoção de educação e que possibilitem que o
Fim ou finalidade = Vou ao médico para começar o tratamento. egresso saia melhor do que entrou são muito importantes. Nós não
Instrumento = Escreveu a lápis. temos pena de morte ou prisão perpétua no Brasil. O preso tem data
Posse = Não posso doar as roupas da mamãe. para entrar e data para sair, então ele tem que sair sem retornar para
Autoria = Esse livro de Machado de Assis é muito bom. o crime”, analisa o presidente do Conselho Estadual de Direitos Hu-
Companhia = Estarei com ele amanhã. manos, Bruno Alves de Souza Toledo.
(Disponível em: www.inapbrasil.com.br/en/noticias/xadrez-
Matéria = Farei um cartão de papel reciclado.
-que-liberta-estrategia-concentracao-e-reeducacao/6/noticias. Aces-
Meio = Nós vamos fazer um passeio de barco. so em: 18.08.2012. Adaptado)
Origem = Nós somos do Nordeste, e você?
Conteúdo = Quebrei dois frascos de perfume. No trecho – ...xadrez, quando eu sair para a rua, todo mundo vai
Oposição = Esse movimento é contra o que eu penso. ter que aprender porque vai rolar até o torneio familiar.– o termo em
Preço = Essa roupa sai por R$ 50 à vista. destaque expressa relação de
A) espaço, como em – Nosso diretor foi até Brasília para falar
Fonte: http://www.infoescola.com/portugues/preposicao/ do projeto “Xadrez que liberta”.
B) inclusão, como em – O xadrez mudou até o nosso modo de
Questões sobre Preposição falar.
C) finalidade, como em – Precisamos treinar até junho para ter-
mos mais chances de vencer o torneio de xadrez.
01. (Agente de Escolta e Vigilância Penitenciária – VUNESP D) movimento, como em – Só de chegar até aqui já estou muito
– 2013). Leia o texto a seguir. feliz, porque eu não esperava.
“Xadrez que liberta”: estratégia, concentração e reeducação E) tempo, como em – Até o ano que vem, pretendo conseguir a
João Carlos de Souza Luiz cumpre pena há três anos e dois me- revisão da minha pena.
ses por assalto. Fransley Lapavani Silva está há sete anos preso por
homicídio. Os dois têm 30 anos. Além dos muros, grades, cadeados 02. (Agente de Vigilância e Recepção – VUNESP – 2013 –
e detectores de metal, eles têm outros pontos em comum: tabuleiros adap.) Considere o trecho a seguir.
e peças de xadrez. O metrô paulistano, ________quem a banda recebe apoio, ga-
O jogo, que eles aprenderam na cadeia, além de uma válvula rante o espaço para ensaios e os equipamentos; e a estabilidade no
emprego, vantagem________ que muitos trabalhadores sonham, é
de escape para as horas de tédio, tornou-se uma metáfora para o que
o que leva os integrantes do grupo a permanecerem na instituição.
pretendem fazer quando estiverem em liberdade. As preposições que preenchem o trecho, correta, respectiva-
“Quando você vai jogar uma partida de xadrez, tem que pensar mente e de acordo com a norma-padrão, são:
duas, três vezes antes. Se você movimenta uma peça errada, pode A) a ...com
perder uma peça de muito valor ou tomar um xeque-mate, instanta- B) de ...com
neamente. Se eu for para a rua e movimentar a peça errada, eu posso C) de ...a
perder uma peça muito importante na minha vida, como eu perdi D) com ...a
três anos na cadeia. Mas, na rua, o problema maior é tomar o xeque- E) para ...de
-mate”, afirma João Carlos.
Didatismo e Conhecimento 42
LÍNGUA PORTUGUESA
03. (Agente Policial – Vunesp/2013). Assinale a alternativa 09. (Papiloscopista Policial – Vunesp/2013) Considerando as
cuja preposição em destaque expressa ideia de finalidade. regras de regência verbal, assinale a alternativa que completa, corre-
(A) Além disso, aumenta a punição administrativa, de R$ ta e respectivamente, as lacunas da frase.
957,70 para R$ 1.915,40. A ONG Anjos do Verão colabora _______ trabalho do Corpo
(B) ... o STJ (Superior Tribunal de Justiça) decidiu que o ba- de Bombeiros, empenhando-se ____________ encontrar crianças
fômetro e o exame de sangue eram obrigatórios para comprovar o perdidas.
crime. (A) do ... sobre
(C) “... Ele é encaminhado para a delegacia para o perito fazer (B) com o ... para
o exame clínico”... (C) no ... ante
(D) Já para o juiz criminal de São Paulo, Fábio Munhoz Soa- (D) o ... entre
res, um dos que devem julgar casos envolvendo pessoas embriaga- (E) pelo ... de
das ao volante, a mudança “é um avanço”.
(E) Para advogados, a lei aumenta o poder da autoridade poli- 10. Assinale a alternativa em que a norma culta não aceita a
cial de dizer quem está embriagado... contração da preposição de:
A) Aos prantos, despedi-me dela.
04. (Agente Policial - VUNESP – 2013). Em – Jamais em B) Está na hora da criança dormir.
minha vida achei na rua ou em qualquer parte do globo um objeto C) Falava das colegas em público.
qualquer. –, o termo em destaque introduz ideia de D) Retirei os livros das prateleiras para limpá-los.
(A) tempo. E) O local da chacina estava interditado.
(B) lugar.
(C) modo. GABARITO
(D) posse.
(E) direção. 01. B 02. B 03. B 04. B 05. A
05. Na frase - As duas sobrinhas quase desmaiam de enjoo... - a 06. E 07. C 08. B 09. B 10. B
preposição de, destacada, tem sentido de
A)causa. COMENTÁRIOS
B)tempo.
C)assunto. 1-) xadrez, quando eu sair para a rua, todo mundo vai ter que
D)lugar. aprender porque vai rolar até o torneio familiar.– o termo em des-
E)posse. taque expressa relação de inclusão: rolará, inclusive, o torneio fa-
miliar.
06. No trecho: “(O Rio) não se industrializou, deixou explodir
a questão social, fermentada por mais de dois milhões de favelados, 2-) O metrô paulistano,dequem a banda recebe apoio, garante
e inchou, à exaustão, uma máquina administrativa que não funcio- o espaço para ensaios e os equipamentos; e a estabilidade no em-
na...”, a preposição a (que está contraída com o artigo a) traduz uma prego, vantagemcomque muitos trabalhadores sonham, é o que leva
relação de: os integrantes do grupo a permanecerem na instituição.
A) fim As preposições que preenchem o trecho, correta, respectiva-
B) causa mente e de acordo com a norma-padrão, são:
C) concessão
D) limite 3-)
E) modo (A) Além disso, aumenta a punição administrativa, de R$
957,70 para R$ 1.915,40. = preço
07. (Agente Policial – Vunesp/2013) Assinale a alternativa em (C) “... Ele é encaminhado para a delegacia para o perito fazer
que o termo em destaque expressa circunstância de posse. o exame clínico”...= lugar
(A) Por isso, grande foi a minha emoção ao deparar, no assento (D) Já para o juiz criminal de São Paulo, Fábio Munhoz Soa-
do ônibus, com uma bolsa preta de senhora. res, um dos que devem julgar casos envolvendo pessoas embriaga-
(B) Era razoável, e diante da testemunha abri a bolsa, não sem das ao volante, a mudança “é um avanço”. = posse
experimentar a sensação de violar uma intimidade. (E) Para advogados, a lei aumenta o poder da autoridade poli-
(C) Hesitei: constrangia-me abrir a bolsa de uma desconhecida cial de dizer quem está embriagado= posse
ausente; nada haveria nela que me dissesse respeito.
(D) ...e sei de um polonês que achou um piano na praia do 4-) Jamais em minha vida achei na rua ou em qualquer parte
Leblon. do globo um objeto qualquer. –, o termo em destaque introduz ideia
(E) Mas eu não estava preparado para achar uma bolsa, e co- de lugar.
muniquei a descoberta ao passageiro mais próximo 5-) As duas sobrinhas quase desmaiam de enjoo... - a preposi-
ção de, destacada, tem sentido de causa (do desmaio).
08. Assinale a alternativa em que ocorre combinação de uma
preposição com um pronome demonstrativo: 6-) “(O Rio) não se industrializou, deixou explodir a questão
A) Estou na mesma situação. social, fermentada por mais de dois milhões de favelados, e inchou,
B) Neste momento, encerramos nossas transmissões. à exaustão, uma máquina administrativa que não funciona...”, a
C) Daqui não saio. preposição a (que está contraída com o artigo a) traduz uma relação
D) Ando só pela vida.
de modo (=exaustivamente).
E) Acordei num lugar estranho.
Didatismo e Conhecimento 43
LÍNGUA PORTUGUESA
7-) Conjunções coordenativas
(A) Por isso, grande foi a minha emoção ao deparar, no assento Dividem-se em:
do ônibus, com uma bolsa preta de senhora.= lugar - ADITIVAS: expressam a ideia de adição, soma. Ex. Gosto de
(B) Era razoável, e diante da testemunha abri a bolsa, não sem cantar e de dançar.
experimentar a sensação de violar uma intimidade.= lugar Principais conjunções aditivas: e, nem, não só...mas também,
(D) ... e sei de um polonês que achou um piano na praia do não só...como também.
Leblon.=assunto - ADVERSATIVAS: Expressam ideias contrárias, de oposição,
(E) Mas eu não estava preparado para achar uma bolsa, e co- de compensação. Ex. Estudei, mas não entendi nada.
muniquei a descoberta ao passageiro mais próximo.= finalidade Principais conjunções adversativas: mas, porém, contudo, toda-
via, no entanto, entretanto.
8-) - ALTERNATIVAS: Expressam ideia de alternância.
A) Estou na mesma situação. (+ artigo) - Ou você sai do telefone ou eu vendo o aparelho.
C) Daqui não saio. (+advérbio) Principais conjunções alternativas: Ou...ou, ora...ora, quer...
D) Ando só pela vida. (+advérbio) quer, já...já.
E) Acordei num lugar estranho (+artigo) - CONCLUSIVAS: Servem para dar conclusões às orações. Ex.
Estudei muito, por isso mereço passar.
9-) A ONG Anjos do Verão colabora com o trabalho do Corpo Principais conjunções conclusivas: logo, por isso, pois (depois
de Bombeiros, empenhando-se para encontrar crianças perdidas. do verbo), portanto, por conseguinte, assim.
- EXPLICATIVAS: Explicam, dão um motivo ou razão. Ex. É
melhor colocar o casaco porque está fazendo muito frio lá fora.
10-)
Principais conjunções explicativas: que, porque, pois (antes do
A) Aos prantos, despedi-me dela. (ela = objeto)
verbo), porquanto.
C) Falava das colegas em público. (elas = objeto)
D) Retirei os livros das prateleiras para limpá-los. (=artigo)
Conjunções subordinativas
E) O local da chacina estava interditado. (=artigo)
- CAUSAIS
Principais conjunções causais: porque, visto que, já que, uma
É incorreto contrair a preposição de com o artigo que inicia
vez que, como (= porque).
o sujeito de um verbo, bem como com o pronome ele(s), ela(s), Ele não fez o trabalho porque não tem livro.
quando estes funcionarem como sujeito de uma oração. - COMPARATIVAS
Principais conjunções comparativas: que, do que, tão...como,
CONJUNÇÃO mais...do que, menos...do que.
Ela fala mais que um papagaio.
Conjunção é a palavra invariável que liga duas orações ou dois - CONCESSIVAS
termos semelhantes de uma mesma oração. Por exemplo: Principais conjunções concessivas: embora, ainda que, mesmo
A menina segurou a boneca e mostrou quando viu as amigui- que, apesar de, se bem que.
nhas. Indicam uma concessão, admitem uma contradição, um fato
Deste exemplo podem ser retiradas três informações: inesperado.Traz em si uma ideia de “apesar de”.
1-) segurou a boneca2-) a menina mostrou3-) viu as amiguinhas Embora estivesse cansada, fui ao shopping. (= apesar de estar
Cada informação está estruturada em torno de um verbo: segu- cansada)
rou, mostrou, viu. Assim, há nessa frase três orações: Apesar de ter chovido fui ao cinema.
1ª oração: A menina segurou a boneca - CONFORMATIVAS
2ª oração: e mostrou Principais conjunções conformativas: como, segundo, confor-
3ª oração: quando viu as amiguinhas. me, consoante
A segunda oração liga-se à primeira por meio do “e”, e a tercei- Cada um colhe conforme semeia.
ra oração liga-se à segunda por meio do “quando”. As palavras “e” Expressam uma ideia de acordo, concordância, conformidade.
e “quando” ligam, portanto, orações. Observe: - CONSECUTIVAS
Gosto de natação e de futebol. Expressam uma ideia de consequência.
Nessa frase as expressões de natação, de futebol são partes ou Principais conjunções consecutivas: que (após “tal”, “tanto”,
termos de uma mesma oração. “tão”, “tamanho”).
Conjunção é a palavra invariável que liga duas orações ou Falou tanto que ficou rouco.
dois termos semelhantes de uma mesma oração. - FINAIS
Logo, a palavra “e” está ligando termos de uma mesma oração. Expressam ideia de finalidade, objetivo.
Morfossintaxe da Conjunção Todos trabalham para que possam sobreviver.
As conjunções, a exemplo das preposições, não exercem pro- Principais conjunções finais: para que, a fim de que, porque
priamente uma função sintática: são conectivos. (=para que),
- PROPORCIONAIS
CLASSIFICAÇÃO Principais conjunções proporcionais: à medida que, quanto
- Conjunções Coordenativas mais, ao passo que, à proporção que.
- Conjunções Subordinativas À medida que as horas passavam, mais sono ele tinha.
Didatismo e Conhecimento 44
LÍNGUA PORTUGUESA
- TEMPORAIS da elite às massas. Antes de Edison, diziam os utópicos, as sinfonias
Principais conjunções temporais: quando, enquanto, logo que. de Beethoven só podiam ser ouvidas em salas de concerto selecio-
Quando eu sair, vou passar na locadora. nadas. Agora, as gravações levam a mensagem de Beethoven aos
Importante: confins do planeta, convocando a multidão saudada na “Ode à ale-
gria”: “Abracem--se, milhões!”. Glenn Gould, depois de afastar-se
Diferença entre orações causais e explicativas das apresentações ao vivo em 1964, previu que dentro de um século
Quando estudamos Orações Subordinadas Adverbiais (OSA) o concerto público desapareceria no éter eletrônico, com grande
e Coordenadas Sindéticas (CS), geralmente nos deparamos com a efeito benéfico sobre a cultura musical.
dúvida de como distinguir uma oração causal de uma explicativa. (Adaptado de Alex Ross. Escuta só. Tradução Pedro Maia So-
Veja os exemplos: ares. São Paulo, Cia. das Letras, 2010, p. 76-77)
1º) Na frase “Não atravesse a rua, porque você pode ser atro-
pelado”: No entanto, a música não é mais algo que fazemos nós mesmos,
a) Temos uma CS Explicativa, que indica uma justificativa ou ou até que observamos outras pessoas fazerem diante de nós.
uma explicação do fato expresso na oração anterior. Considerando-se o contexto, é INCORRETO afirmar que o ele-
b) As orações são coordenadas e, por isso, independentes uma mento grifado pode ser substituído por:
A) Porém.
da outra. Neste caso, há uma pausa entre as orações que vêm mar-
B) Contudo.
cadas por vírgula.
C) Todavia.
Não atravesse a rua. Você pode ser atropelado.
D) Entretanto.
b) Outra dica é, quando a oração que antecede a OC (Oração
E) Conquanto.
Coordenada) vier com verbo no modo imperativo, ela será explica-
tiva. 02.( Escrevente TJ SP – Vunesp/2012) Observando as ocor-
Façam silêncio, que estou falando. (façam= verbo imperativo) rências da palavra “como” em – Como fomos programados para
ver o mundo como um lugar ameaçador… – é correto afirmar que
2º) Na frase “Precisavam enterrar os mortos em outra cidade se trata de conjunção
porque não havia cemitério no local.” (A) comparativa nas duas ocorrências.
a) Temos uma OSA Causal, já que a oração subordinada (parte (B) conformativa nas duas ocorrências.
destacada) mostra a causa da ação expressa pelo verbo da oração (C) comparativa na primeira ocorrência.
principal. Outra forma de reconhecê-la é colocá-la no início do pe- (D) causal na segunda ocorrência.
ríodo, introduzida pela conjunção como - o que não ocorre com a (E) causal na primeira ocorrência.
CS Explicativa.
Como não havia cemitério no local, precisavam enterrar os 03.(Analista de Procuradoria – FCC – 2013). Leia o texto a
mortos em outra cidade. seguir.
b) As orações são subordinadas e, por isso, totalmente depen- Participação
dentes uma da outra. Num belo poema, intitulado “Traduzir-se”, Ferreira Gullar
aborda o tema de uma divisão muito presente em cada um de nós:
Questões sobre Conjunção a que ocorre entre o nosso mundo interior e a nossa atuação junto
aos outros, nosso papel na ordem coletiva. A divisão não é simples:
01.(Administrador – FCC – 2013). Leia o texto a seguir. costuma-se ver como antagônicas essas duas “partes” de nós, nas
A música alcançou uma onipresença avassaladora em nosso quais nos dividimos. De fato, em quantos momentos da nossa vida
mundo: milhões de horas de sua história estão disponíveis em dis- precisamos escolher entre o atendimento de um interesse pessoal e
co; rios de melodia digital correm na internet; aparelhos de mp3 o cumprimento de um dever ético? Como poeta e militante político,
com 40 mil canções podem ser colocados no bolso. No entanto, a Ferreira Gullar deixou-se atrair tanto pela expressão das paixões
música não é mais algo que fazemos nós mesmos, ou até que obser- mais íntimas quanto pela atuação de um convicto socialista. Em seu
poema, o diálogo entre as duas partes é desenvolvido de modo a nos
vamos outras pessoas fazerem diante de nós. Ela se tornou um meio
fazer pensar que são incompatíveis.
radicalmente virtual, uma arte sem rosto. Quando caminhamos pela
Mas no último momento do poema deparamo-nos com esta es-
cidade num dia comum, nossos ouvidos registram música em quase
trofe:
todos os momentos − pedaços de hip-hop vazando dos fones de ou-
“Traduzir uma parte
vido de adolescentes no metrô, o sinal do celular de um advogado na outra parte
tocando a “Ode à alegria”, de Beethoven −, mas quase nada disso − que é uma questão
será resultado imediato de um trabalho físico de mãos ou vozes hu- de vida ou morte −
manas, como se dava no passado. será arte?”
Desde que Edison inventou o cilindro fonográfico, em1877, O poeta levanta a possibilidade da “tradução” de uma parte
existe gente que avalia o que a gravação fez em favor e desfavor na outra, ou seja, da interação de ambas, numa espécie de espe-
da arte da música. Inevitavelmente, a conversa descambou para os lhamento. Isso ocorreria quando o indivíduo conciliasse verdadei-
extremos retóricos. No campo oposto ao dos que diziam que a tec- ramente a instância pessoal e os interesses de uma comunidade;
nologia acabaria com a música estão os utópicos, que alegam que a quando deixasse de haver contradição entre a razão particular e
tecnologia não aprisionou a música, mas libertou-a, levando a arte a coletiva. Pergunta-se o poeta se não seria arte esse tipo de inte-
Didatismo e Conhecimento 45
LÍNGUA PORTUGUESA
gração. Realmente, com muita frequência a arte se mostra capaz de (A) alternância.
expressar tanto nossa subjetividade como nossa identidade social. (B) oposição.
Nesse sentido, traduzir uma parte na outra parte significaria vencer (C) causa.
a parcialidade e chegar a uma autêntica participação, de sentido (D) adição.
altamente político. O poema de Gullar deixa-nos essa hipótese pro- (E) explicação.
vocadora, formulada com um ar de convicção.
(Belarmino Tavares, inédito) 06. (Agente Policial – Vunesp/2013) Considerando que o ter-
Os seguintes fatos, referidos no texto, travam entre si uma rela- mo em destaque em – Segundo especialistas, recusar o bafômetro
ção de causa e efeito: não vai mais impedir o processo criminal... – introduz ideia de con-
A) ser poeta e militante político / confronto entre subjetividade formidade, assinale a alternativa que apresenta a frase corretamente
e atuação social reescrita, e com seu sentido inalterado.
B) ser poeta e militante político / divisão permanente em cada (A) A fim de que para especialistas, recusar o bafômetro não
um de nós vai mais impedir o processo criminal...
C) ser movido pelas paixões / esposar teses socialistas (B) A menos que para especialistas, recusar o bafômetro não
D) fazer arte / obliterar uma questão de vida ou morte vai mais impedir o processo criminal...
E) participar ativamente da política / formular hipóteses com ar (C) De acordo com especialistas, recusar o bafômetro não vai
de convicção mais impedir o processo criminal...
(D) Apesar de que para especialistas, recusar o bafômetro não
04. (Agente de Apoio Operacional – VUNESP – 2013). Leia vai mais impedir o processo criminal...
o texto a seguir. (E) Desde que para especialistas, recusar o bafômetro não vai
Temos o poder da escolha mais impedir o processo criminal...
Os consumidores são assediados pelo marketing a todo mo-
mento para comprarem além do que necessitam, mas somente eles 07. (Agente Policial – Vunesp/2013) Considerando que o ter-
podem decidir o que vão ou não comprar. É como se abrissem em mo em destaque em – Esse valor é dobrado caso o motorista seja
nós uma “caixa de necessidades”, mas só nós temos o poder da es- reincidente em um ano. – estabelece relação de condição entre as
colha. orações, assinale a alternativa que apresenta o trecho corretamente
Cada vez mais precisamos do consumo consciente. Será que reescrito, e com seu sentido inalterado.
paramos para pensar de onde vem o produto que estamos consumin-
(A) Porque o motorista é reincidente em um ano, esse valor é
do e se os valores da empresa são os mesmos em que acreditamos? A
dobrado.
competitividade entre as empresas exige que elas evoluam para se-
(B) Como o motorista é reincidente em um ano, esse valor é
rem opções para o consumidor. Nos anos 60, saber fabricar qualquer
dobrado.
coisa era o suficiente para ter uma empresa. Nos anos 70, era preciso
(C) Conforme o motorista for reincidente em um ano, esse va-
saber fazer com qualidade e altos índices de produção. Já no ano
lor é dobrado.
2000, a preocupação era fazer melhor ou diferente da concorrência e
as empresas passaram a atuar com responsabilidade socioambiental. (D) Se o motorista for reincidente em um ano, esse valor é do-
O consumidor tem de aprender a dizer não quando a sua relação brado.
com a empresa não for boa. Se não for boa, deve comprar o produto (E) À medida que o motorista é reincidente em um ano, esse
em outro lugar. Os cidadãos não têm ideia do poder que possuem. valor é dobrado.
É importante, ainda, entender nossa relação com a empresa ou
produto que vamos eleger. Temos uma expectativa, um envolvimen- 08. Em – O projeto “Começar de Novo” busca sensibilizar en-
to e aceitação e a preferência dependerá das ações que aprovamos ou tidades públicas e privadas para promover a ressocialização dos
não nas empresas, pois podemos mudar de ideia. presos... – o termo em destaque estabelece uma relação de
Há muito a ser feito. Uma pesquisa mostrou que 55,4% das pes- A) causa.
soas acreditam no consumo consciente, mas essas mesmas pessoas B) tempo.
admitem que já compraram produto pirata. Temos de refletir sobre C) lugar.
isso para mudar nossas atitudes. D) finalidade.
(Jornal da Tarde 24.04.2007. Adaptado) E) modo.
No trecho – Temos de refletir sobre isso para mudar nossas
atitudes. –, a palavra destacada apresenta sentido de 09. (Agente de Promotoria – Assessoria – VUNESP – 2013).
A) tempo. Leia o texto a seguir.
B) modo. Barreira da língua
C) origem. A barreira da língua e dos regionalismos parece um mero deta-
D) assunto. lhe em meio a tantas outras questões mais sérias já levantadas, como
E) finalidade. a falta de remédios, de equipes e de infraestrutura, mas não é.
Como é possível estabelecer uma relação médico-paciente, um
05. (Escrevente TJ SP –Vunesp/2012) No período – A pes- diagnóstico correto, se o médico não compreende o paciente e vice-
quisa do Dieese é um medidor importante, pois sua metodologia -versa?
leva em conta não só o desemprego aberto (quem está procuran- Sim, essa dificuldade já existe no Brasil mesmo com médicos e
do trabalho), como também o oculto (pessoas que desistiram de pacientes falando português, mas ela só tende a piorar com o “portu-
procurar ou estão em postos precários). –, os termos em destaque nhol” que se vislumbra pela frente.
estabelecem entre as orações relação de
Didatismo e Conhecimento 46
LÍNGUA PORTUGUESA
O ministro da Saúde já disse que isso não será problema, que é COMENTÁRIOS
mais fácil treinar um médico em português do que ficar esperando
sete ou oito anos até um médico brasileiro ser formado. 1-) Conquanto é uma conjunção concessiva – abre uma exceção
Experiências internacionais, porém, mostram que não é tão fá- à regra. Portanto, a troca correta é por uma outra conjunção adver-
cil assim. Na Alemanha, mesmo com a exigência da proficiência na sativa.
língua, um estudo constatou atraso de diagnósticos pelo fato de o
médico estrangeiro não conseguir entender direito os sintomas de 2-) Como fomos programados para ver o mundo como um lu-
pacientes. gar ameaçador…
Além disso, há queixa dos profissionais alemães, que se sentem Causal na primeira ocorrência e comparativa na segunda.
sobrecarregados por terem de atuar como intérpretes dos colegas 3-) ser poeta e militante político / confronto entre subjetividade
de fora. e atuação social.
Nada contra a vinda dos estrangeiros, desde que estejam aptos O fato de ser poeta e militante político gera confronto entre seu
para o trabalho. Tenho dúvidas, porém, se três semanas de treina- lado subjetivo e racional.
mento, como aventou o ministro, é tempo suficiente para isso.
(Cláudia Collucci, Barreira da língua. Folha de S.Paulo, 4-) Temos de refletir sobre isso para mudar nossas atitudes.
03.07.2013. Adaptado) Apresenta a finalidade da reflexão. Devemos refletir para quê?
Considere o parágrafo final do texto: 5-) Uma junção, soma de ideias. Há a presença de conjunções
Nada contra a vinda dos estrangeiros, desde que estejam aptos aditivas.
para o trabalho. Tenho dúvidas, porém, se três semanas de treina-
mento, como aventou o ministro, é tempo suficiente para isso. 6-) De acordo com especialistas, recusar o bafômetro não vai
Mantendo-se os sentidos originais, ele está corretamente rees- mais impedir o processo criminal...
crito de acordo com a norma-padrão em: Apresenta a mesma ideia que a do enunciado – além de ser a
A) Nada contra a vinda dos estrangeiros, se estiverem aptos mais coerente.
para o trabalho. Tenho dúvidas, no entanto: três semanas de treina-
mento, como aventou o ministro, é suficiente para isso? 7-) Esse valor é dobrado caso o motorista seja reincidente em
B) Nada contra a vinda dos estrangeiros, caso estão aptos para um ano. – estabelece relação de condição, portanto devemos utilizar
o trabalho. Tenho dúvidas, todavia: três semanas de treinamento, uma conjunção condicional: SE.
como aventou o ministro, são suficiente para isso? Se o motorista for reincidente em um ano, esse valor é dobrado.
C) Nada contra a vinda dos estrangeiros, quando estarão aptos
para o trabalho. Tenho dúvidas, portanto: três semanas de treina- 8-) A finalidade da sensibilização.
mento, como aventou o ministro, são suficientes para isso?
D) Nada contra a vinda dos estrangeiros, mas estariam aptos 9-) A) Nada contra a vinda dos estrangeiros, se estiverem aptos
para o trabalho. Tenho dúvidas, apesar disso: três semanas de treina- para o trabalho. Tenho dúvidas, no entanto: três semanas de treina-
mento, como aventou o ministro, é suficiente para isso. mento, como aventou o ministro, é suficiente para isso? = correta
E) Nada contra a vinda dos estrangeiros, pois estarão aptos para O único item que não altere o que foi dito no enunciado.
o trabalho. Tenho dúvidas, por conseguinte: três semanas de treina-
mento, como aventou o ministro, são suficiente para isso. 10-) Porém = conjunção adversativa.
06. C 07. D 08. D 09. A 10. E - b) Passiva: quando o sujeito é paciente, recebendo a ação
expressa pelo verbo. Por exemplo:
Didatismo e Conhecimento 47
LÍNGUA PORTUGUESA
sofrimento, padecimento. Daí vem o significado de voz passiva
O trabalho foi feito por ele.
como sendo a voz que expressa a ação sofrida pelo sujeito. Na voz
sujeito paciente ação agente da passiva passiva temos dois elementos que nem sempre aparecem: SUJEI-
TO PACIENTE e AGENTE DA PASSIVA.
- c) Reflexiva: quando o sujeito é ao mesmo tempo agente e
paciente, isto é, pratica e recebe a ação. Por exemplo: Conversão da Voz Ativa na Voz Passiva
O menino feriu-se. Pode-se mudar a voz ativa na passiva sem alterar substancial-
Obs.: não confundir o emprego reflexivo do verbo com a no- mente o sentido da frase.
ção de reciprocidade. Por exemplo:
Os lutadores feriram-se. (um ao outro)
Gutenberg inventou a imprensa (Voz Ativa)
Formação da Voz Passiva Sujeito da
Objeto Direto
A voz passiva pode ser formada por dois processos: analíti- Ativa
co e sintético.
1- Voz Passiva Analítica
Constrói-se da seguinte maneira: Verbo SER + particípio do (Voz
A imprensa foi inventada por Gutenberg
verbo principal. Por exemplo: Passiva)
A escola será pintada. Sujeito da
O trabalho é feito por ele. Agente da Passiva
Passiva
Obs.: o agente da passiva geralmente é acompanhado da pre-
posição por, mas pode ocorrer a construção com a preposição de. Observe que o objeto direto será o sujeito da passiva, o su-
Por exemplo: jeito da ativa passará a agente da passiva e o verbo ativo assumi-
A casa ficou cercada de soldados. rá a forma passiva, conservando o mesmo tempo. Observe mais
- Pode acontecer ainda que o agente da passiva não esteja ex- exemplos:
plícito na frase. Por exemplo: - Os mestres têm constantemente aconselhado os alunos.
A exposição será aberta amanhã. Os alunos têm sido constantemente aconselhados pelos mes-
- A variação temporal é indicada pelo verbo auxiliar (SER), tres.
pois o particípio é invariável. Observe a transformação das frases
- Eu o acompanharei.
seguintes:
Ele será acompanhado por mim.
Obs.: quando o sujeito da voz ativa for indeterminado, não
a) Ele fez o trabalho. (pretérito perfeito do indicativo) haverá complemento agente na passiva.
O trabalho foi feito por ele. (pretérito perfeito do indicativo) Por exemplo:
- Prejudicaram-me.
b) Ele faz o trabalho. (presente do indicativo)
Fui prejudicado.
O trabalho é feito por ele. (presente do indicativo) Saiba que:
c) Ele fará o trabalho. (futuro do presente) 1) Aos verbos que não são ativos nem passivos ou reflexivos,
são chamados neutros.
O trabalho será feito por ele. (futuro do presente)
O vinho é bom.
Aqui chove muito.
- Nas frases com locuções verbais, o verbo SER assume o
mesmo tempo e modo do verbo principal da voz ativa. Observe a 2) Há formas passivas com sentido ativo:
transformação da frase seguinte: É chegada a hora. (= Chegou a hora.)
O vento ia levando as folhas. (gerúndio) Eu ainda não era nascido. (= Eu ainda não tinha nascido.)
As folhas iam sendo levadas pelo vento. (gerúndio) És um homem lido e viajado. (= que leu e viajou)
Obs.: é menos frequente a construção da voz passiva analítica 3) Inversamente, usamos formas ativas com sentido passivo:
com outros verbos que podem eventualmente funcionar como au- Há coisas difíceis de entender. (= serem entendidas)
xiliares. Por exemplo: Mandou-o lançar na prisão. (= ser lançado)
A moça ficou marcada pela doença.
Didatismo e Conhecimento 48
LÍNGUA PORTUGUESA
Questões sobre Vozes dos Verbos 08. Indique a única alternativa em que a oração não está na
voz passiva:
01. Transitando para a voz passiva a oração “O tropel dos cava- A) Entreolharam-se apaixonadamente os dois pombinhos.
los avisava os cangaceiros.”, a forma verbal será: B) O cantor romântico foi demoradamente aplaudido.
A) ia avisando C) Elegeu-se, infelizmente, o deputado errado.
B) avisavam D) Fizeram-se apenas os exercícios mais fáceis.
C) avisava-se
D) foram avisados 09. Em “O presidente americano Barack Obama cancelou pro-
E) eram avisados grama”, a forma verbal “cancelou” está na voz ativa. A forma cor-
respondente, na voz passiva analítica, é
02. (FCC-COPERGÁS – Auxiliar Técnico Administrativo A) era cancelado.
- 2011) Um dia um tufão furibundo abateu-o pela raiz. Transpondo- B) foi cancelado.
-se a frase acima para a voz passiva, a forma verbal resultante será: C) tinha sido cancelado.
(A) era abatido. D) cancelava-se
(B) fora abatido. E) estava sendo cancelado.
(C) abatera-se.
(D) foi abatido. 10. A oração “o engenheiro podia controlar todos os empre-
gados da estação ferroviária” está na voz ativa. Assinale a forma
(E) tinha abatido
verbal passiva correspondente.
A) podiam ser controlados
03. (FCC-TRE-Analista Judiciário – 2011) Transpondo-se
B) seriam controlados
para a voz passiva a frase Hoje a autoria institucional enfrenta sé- C) podia ser controlado
ria concorrência dos autores anônimos, obter-se-á a seguinte forma D) controlavam-se
verbal:
(A) são enfrentados. GABARITO
(B) tem enfrentado.
(C) tem sido enfrentada.
(D) têm sido enfrentados. 01. E 02. D 03. E 04. D 05. C
(E) é enfrentada. 06. C 07. D 08. A 09. B 10. A
04. (Fundação Carlos Chagas) Transpondo para a voz passiva
a oração “O faro dos cães guiava os caçadores”, obtém-se a forma COMENTÁRIOS
verbal:
A) guiava-se 1-) Transitando para a voz passiva a oração “O tropel dos cava-
B) ia guiando los avisava os cangaceiros.”, a forma verbal será
C) guiavam Os cangaceiros eram avisados...
D) eram guiados
E) foram guiados 2-) Um dia um tufão furibundo abateu-o pela raiz.
06. A frase que não está na voz passiva é: 5-) O poeta teria aberto um diálogo entre as duas partes
A) O filme foi estrondosamente aclamado pelo público.
B) Fizeram-se apenas os consertos mais urgentes nas ruas. Um diálogo teria sido aberto...
C) Cruzaram-se rapidamente na rua as duas rivais.
6-) Cruzaram-se rapidamente na rua as duas rivais. = voz re-
D) Escolheu-se a pessoa errada para o cargo.
flexiva (recíproca)
07. Assinale a alternativa que apresenta a frase na voz passiva: 7-)
A) Os turcos vendem maçã. A) Os turcos vendem maçã.= ativa
B) As pessoas refugiam-se no vão da porta. B) As pessoas refugiam-se no vão da porta. = reflexiva
C) Os cães arranhavam o portão. C) Os cães arranhavam o portão. = ativa
D) O sorvete é feito pelo sorveteiro.
Didatismo e Conhecimento 49
LÍNGUA PORTUGUESA
8-) Entreolharam-se apaixonadamente os dois pombinhos. = 4- Em frases de estilo direto
reflexiva Maria perguntou:
- Por que você não toma uma decisão?
9-) O presidente americano Barack Obama cancelou programa
Ponto de Exclamação
1- Usa-se para indicar entonação de surpresa, cólera, susto,
Programa foi cancelado pelo presidente...
súplica, etc.
- Sim! Claro que eu quero me casar com você!
10-) o engenheiro podia controlar todos os empregados da es-
tação 2- Depois de interjeições ou vocativos
Todos os empregados da estação podiam ser controlados... - Ai! Que susto!
- João! Há quanto tempo!
Ponto de Interrogação
PONTUAÇÃO
Usa-se nas interrogações diretas e indiretas livres.
“- Então? Que é isso? Desertaram ambos?” (Artur Azevedo)
Reticências
Os sinais de pontuação são marcações gráficas que servem 1- Indica que palavras foram suprimidas.
para compor a coesão e a coerência textual além de ressaltar es- - Comprei lápis, canetas, cadernos...
pecificidades semânticas e pragmáticas. Vejamos as principais
funções dos sinais de pontuação conhecidos pelo uso da língua 2- Indica interrupção violenta da frase.
portuguesa.
“- Não... quero dizer... é verdad... Ah!”
Ponto
1- Indica o término do discurso ou de parte dele. 3- Indica interrupções de hesitação ou dúvida
- Façamos o que for preciso para tirá-la da situação em que - Este mal... pega doutor?
se encontra.
- Gostaria de comprar pão, queijo, manteiga e leite. 4- Indica que o sentido vai além do que foi dito
- Acordei. Olhei em volta. Não reconheci onde estava. - Deixa, depois, o coração falar...
Didatismo e Conhecimento 50
LÍNGUA PORTUGUESA
b) dos objetos pleonásticos antepostos ao verbo: Aos pesqui- 03. (Agente de Apoio Administrativo – FCC – 2013). Os
sadores, não lhes destinaram verba alguma. sinais de pontuação estão empregados corretamente em:
c) do nome de lugar anteposto às datas: Recife, 15 de maio A) Duas explicações, do treinamento para consultores ini-
de 1982. ciantes receberam destaque, o conceito de PPD e a construção de
tabelas Price; mas por outro lado, faltou falar das metas de vendas
- Para separar entre si elementos coordenados (dispostos em associadas aos dois temas.
enumeração): B) Duas explicações do treinamento para consultores inician-
Era um garoto de 15 anos, alto, magro. tes receberam destaque: o conceito de PPD e a construção de ta-
A ventania levou árvores, e telhados, e pontes, e animais. belas Price; mas, por outro lado, faltou falar das metas de vendas
associadas aos dois temas.
- Para marcar elipse (omissão) do verbo: C) Duas explicações do treinamento para consultores inician-
Nós queremos comer pizza; e vocês, churrasco. tes receberam destaque; o conceito de PPD e a construção de ta-
belas Price, mas por outro lado, faltou falar das metas de vendas
- Para isolar: associadas aos dois temas.
- o aposto: São Paulo, considerada a metrópole brasileira, D) Duas explicações do treinamento para consultores inician-
possui um trânsito caótico. tes, receberam destaque: o conceito de PPD e a construção de ta-
- o vocativo: Ora, Thiago, não diga bobagem. belas Price, mas, por outro lado, faltou falar das metas de vendas
associadas aos dois temas.
Fontes: E) Duas explicações, do treinamento para consultores inician-
http://www.infoescola.com/portugues/pontuacao/ tes, receberam destaque; o conceito de PPD e a construção de ta-
http://www.brasilescola.com/gramatica/uso-da-virgula.htm belas Price, mas por outro lado, faltou falar das metas, de vendas
associadas aos dois temas.
Questões sobre Pontuação
04.(Escrevente TJ SP – Vunesp 2012). Assinale a alternativa
01. (Agente Policial – Vunesp – 2013). Assinale a alternativa em que o período, adaptado da revista Pesquisa Fapesp de junho
em que a pontuação está corretamente empregada, de acordo com de 2012, está correto quanto à regência nominal e à pontuação.
a norma-padrão da língua portuguesa. (A) Não há dúvida que as mulheres ampliam, rapidamente,
(A) Diante da testemunha, o homem abriu a bolsa e, embora, seu espaço na carreira científica ainda que o avanço seja mais no-
experimentasse, a sensação de violar uma intimidade, procurou a tável em alguns países, o Brasil é um exemplo, do que em outros.
esmo entre as coisinhas, tentando encontrar algo que pudesse aju- (B) Não há dúvida de que, as mulheres, ampliam rapidamente
dar a revelar quem era a sua dona. seu espaço na carreira científica; ainda que o avanço seja mais no-
(B) Diante, da testemunha o homem abriu a bolsa e, embora tável, em alguns países, o Brasil é um exemplo!, do que em outros.
experimentasse a sensação, de violar uma intimidade, procurou a (C) Não há dúvida de que as mulheres, ampliam rapidamente
esmo entre as coisinhas, tentando encontrar algo que pudesse aju- seu espaço, na carreira científica, ainda que o avanço seja mais no-
dar a revelar quem era a sua dona. tável, em alguns países: o Brasil é um exemplo, do que em outros.
(C) Diante da testemunha, o homem abriu a bolsa e, embora (D) Não há dúvida de que as mulheres ampliam rapidamen-
experimentasse a sensação de violar uma intimidade, procurou a te seu espaço na carreira científica, ainda que o avanço seja mais
esmo entre as coisinhas, tentando encontrar algo que pudesse aju- notável em alguns países – o Brasil é um exemplo – do que em
dar a revelar quem era a sua dona. outros.
(D) Diante da testemunha, o homem, abriu a bolsa e, embora (E) Não há dúvida que as mulheres ampliam rapidamente, seu
experimentasse a sensação de violar uma intimidade, procurou a espaço na carreira científica, ainda que, o avanço seja mais notável
esmo entre as coisinhas, tentando, encontrar algo que pudesse aju- em alguns países (o Brasil é um exemplo) do que em outros.
dar a revelar quem era a sua dona.
(E) Diante da testemunha, o homem abriu a bolsa e, embora, 05. (Papiloscopista Policial – Vunesp – 2013 – adap.). Assi-
experimentasse a sensação de violar uma intimidade, procurou a
nale a alternativa em que a frase mantém-se correta após o acrés-
esmo entre as coisinhas, tentando, encontrar algo que pudesse aju-
cimo das vírgulas.
dar a revelar quem era a sua dona.
(A) Se a criança se perder, quem encontrá-la, verá na pulseira
instruções para que envie, uma mensagem eletrônica ao grupo ou
02. Assinale a opção em que está corretamente indicada a or-
acione o código na internet.
dem dos sinais de pontuação que devem preencher as lacunas da
(B) Um geolocalizador também, avisará, os pais de onde o
frase abaixo:
código foi acionado.
“Quando se trata de trabalho científico ___ duas coisas de-
vem ser consideradas ____ uma é a contribuição teórica que o (C) Assim que o código é digitado, familiares cadastrados,
trabalho oferece ___ a outra é o valor prático que possa ter. recebem automaticamente, uma mensagem dizendo que a criança
A) dois pontos, ponto e vírgula, ponto e vírgula foi encontrada.
B) dois pontos, vírgula, ponto e vírgula; (D) De fabricação chinesa, a nova pulseirinha, chega primeiro
C) vírgula, dois pontos, ponto e vírgula; às, areias do Guarujá.
D) pontos vírgula, dois pontos, ponto e vírgula; (E) O sistema permite, ainda, cadastrar o nome e o telefone de
E) ponto e vírgula, vírgula, vírgula. quem a encontrou e informar um ponto de referência
Didatismo e Conhecimento 51
LÍNGUA PORTUGUESA
06. Assinale a série de sinais cujo emprego corresponde, na COMENTÁRIOS
mesma ordem, aos parênteses indicados no texto: “Pergunta-se ()
qual é a ideia principal desse parágrafo () A chegada de reforços 1- Assinalei com um (X) as pontuações inadequadas
() a condecoração () o escândalo da opinião pública ou a renúncia (A) Diante da testemunha, o homem abriu a bolsa e, embora
do presidente () Se é a chegada de reforços () que relação há () ou , (X) experimentasse , (X) a sensação de violar uma intimidade,
mostrou seu autor haver () entre esse fato e os restantes ()”. procurou a esmo entre as coisinhas, tentando encontrar algo que
A) vírgula, vírgula, interrogação, interrogação, interrogação, pudesse ajudar a revelar quem era a sua dona.
vírgula, vírgula, vírgula, ponto final (B) Diante , (X) da testemunha o homem abriu a bolsa e, em-
B) dois pontos, interrogação, vírgula, vírgula, interrogação, bora experimentasse a sensação , (X) de violar uma intimidade,
vírgula, travessão, travessão, interrogação procurou a esmo entre as coisinhas, tentando encontrar algo que
C) travessão, interrogação, vírgula, vírgula, ponto final, tra- pudesse ajudar a revelar quem era a sua dona.
vessão, travessão, ponto final, ponto final
(D) Diante da testemunha, o homem , (X) abriu a bolsa e,
D) dois pontos, interrogação, vírgula, ponto final, travessão,
embora experimentasse a sensação de violar uma intimidade, pro-
vírgula, vírgula, vírgula, interrogação
E)dois pontos, ponto final, vírgula, vírgula, interrogação, vír- curou a esmo entre as coisinhas, tentando , (X) encontrar algo que
gula, vírgula, travessão, interogação pudesse ajudar a revelar quem era a sua dona.
(E) Diante da testemunha, o homem abriu a bolsa e, embora ,
07. (SRF) Das redações abaixo, assinale a que não está pon- (X) experimentasse a sensação de violar uma intimidade, procu-
tuada corretamente: A) Os candidatos, em fila, aguardavam ansio- rou a esmo entre as coisinhas, tentando , (X) encontrar algo que
sos o resultado do concurso. pudesse ajudar a revelar quem era a sua dona.
B) Em fila, os candidatos, aguardavam, ansiosos, o resultado 2-) Quando se trata de trabalho científico , duas coisas devem
do concurso. ser consideradas : uma é a contribuição teórica que o trabalho
C) Ansiosos, os candidatos aguardavam, em fila, o resultado oferece ; a outra é o valor prático que possa ter.
do concurso.
D) Os candidatos ansiosos aguardavam o resultado do con- vírgula, dois pontos, ponto e vírgula
curso, em fila.
E) Os candidatos aguardavam ansiosos, em fila, o resultado 3-) Assinalei com (X) onde estão as pontuações inadequadas
do concurso. A) Duas explicações , (X) do treinamento para consultores
iniciantes receberam destaque , (X) o conceito de PPD e a cons-
08. A frase em que deveria haver uma vírgula é:
trução de tabelas Price; mas por outro lado, faltou falar das metas
A) Comi uma fruta pela manhã e outra à tarde.
de vendas associadas aos dois temas.
B) Eu usei um vestido vermelho na festa e minha irmã usou
um vestido azul. C) Duas explicações do treinamento para consultores inician-
C) Ela tem lábios e nariz vermelhos. tes receberam destaque ; (X) o conceito de PPD e a construção de
D) Não limparam a sala nem a cozinha. tabelas Price , (X) mas por outro lado, faltou falar das metas de
vendas associadas aos dois temas.
09. (Cefet-PR) Assinale o item em que o texto está correta- D) Duas explicações do treinamento para consultores inician-
mente pontuado: tes , (X) receberam destaque: o conceito de PPD e a construção de
A) Não nego, que ao avistar a cidade natal tive uma sensação tabelas Price , (X) mas, por outro lado, faltou falar das metas de
nova. B) Não nego que ao avistar, a cidade natal, tive uma sen- vendas associadas aos dois temas.
sação nova. C) Não nego que, ao avistar, a cidade natal, tive uma E) Duas explicações , (X) do treinamento para consultores
sensação nova.D) Não nego que ao avistar a cidade natal tive uma iniciantes , (X) receberam destaque ; (X) o conceito de PPD e a
sensação nova. E)Não nego que, ao avistar a cidade natal, tive construção de tabelas Price , (X) mas por outro lado, faltou falar
uma sensação nova. das metas , (X) de vendas associadas aos dois temas.
10. (Agente de Apoio Operacional – VUNESP – 2013). As- 4-)
sinale a alternativa em que a pontuação está de acordo com a nor- (A) Não há dúvida de que as mulheres ampliam , (X) rapi-
ma culta da língua.
damente , (X) seu espaço na carreira científica (, ) ainda que o
A) Atualmente, não se pode, fabricar apenas um produto.
avanço seja mais notável em alguns países, o Brasil é um exemplo,
B) Os índices de produção devem, acompanhar, o mercado.
C) A responsabilidade, socioambiental, é de extrema impor- do que em outros.
tância. (B) Não há dúvida de que , (X) as mulheres , (X) ampliam
D) Acreditar, no consumo, consciente é necessário. rapidamente seu espaço na carreira científica ; (X) ainda que o
E) O marketing, como se sabe, induz ao consumo desneces- avanço seja mais notável , (X) em alguns países, o Brasil é um
sário. exemplo ! (X) , do que em outros.
(C) Não há dúvida de que as mulheres , (X) ampliam rapi-
GABARITO damente seu espaço , (X) na carreira científica , (X) ainda que
o avanço seja mais notável, em alguns países : (X) o Brasil é um
exemplo, do que em outros.
01. C 02. C 03. B 04. D 05. E
(E) Não há dúvida de que as mulheres ampliam rapidamente
06. B 07. E 08. B 09. E 10. E , (X) seu espaço na carreira científica, ainda que , (X) o avanço
seja mais notável em alguns países (o Brasil é um exemplo) do que
em outros.
Didatismo e Conhecimento 52
LÍNGUA PORTUGUESA
5-) Próclise
(A) Se a criança se perder, quem encontrá-la , (X)verá na pul- A próclise é aplicada antes do verbo quando temos:
seira instruções para que envie , (X) uma mensagem eletrônica ao - Palavras com sentido negativo:
grupo ou acione o código na internet. Nada me faz querer sair dessa cama.
(B) Um geolocalizador também , (X) avisará , (X) os pais de Não se trata de nenhuma novidade.
onde o código foi acionado.
(C) Assim que o código é digitado, familiares cadastrados , - Advérbios:
(X) recebem ( , ) automaticamente, uma mensagem dizendo que a Nesta casa se fala alemão.
criança foi encontrada. Naquele dia me falaram que a professora não veio.
(D) De fabricação chinesa, a nova pulseirinha , (X) chega
primeiro às , (X) areias do Guarujá. - Pronomes relativos:
A aluna que me mostrou a tarefa não veio hoje.
6-) Pergunta-se ( :) qual é a ideia principal desse parágrafo ( Não vou deixar de estudar os conteúdos que me falaram.
? ) A chegada de reforços ( , ) a condecoração ( , ) o escândalo da
opinião pública ou a renúncia do presidente (?) Se é a chegada de - Pronomes indefinidos:
reforços ( , ) que relação há ( - ) ou mostrou seu autor haver ( -) Quem me disse isso?
entre esse fato e os restantes ( ? ) Todos se comoveram durante o discurso de despedida.
7-) Em fila, os candidatos , (X) aguardavam, ansiosos, o re-
sultado do concurso. - Pronomes demonstrativos:
Isso me deixa muito feliz!
8-) Eu usei um vestido vermelho na festa, e minha irmã usou Aquilo me incentivou a mudar de atitude!
um vestido azul.
Há situações em que é possível usar a vírgula antes do “e”. - Preposição seguida de gerúndio:
Isso ocorre quando a conjunção aditiva coordena orações de sujei- Em se tratando de qualidade, o Brasil Escola é o site mais in-
tos diferentes nas quais a leitura fluente pode ser prejudicada pela dicado à pesquisa escolar.
ausência da pontuação.
- Conjunção subordinativa:
9-) A) Não nego , (X) que ao avistar a cidade natal tive uma Vamos estabelecer critérios, conforme lhe avisaram.
sensação nova. B) Não nego que ao avistar , (X) a cidade natal,
tive uma sensação nova.C) Não nego que, ao avistar , (X) a cidade Ênclise
natal, tive uma sensação nova.D)Não nego que ( , ) ao avistar a A ênclise é empregada depois do verbo. A norma culta não acei-
cidade natal ( , ) tive uma sensação nova. ta orações iniciadas com pronomes oblíquos átonos. A ênclise vai
acontecer quando:
10-) - O verbo estiver no imperativo afirmativo:
A) Atualmente, não se pode , (X) fabricar apenas um produto. Amem-se uns aos outros.
B) Os índices de produção devem , (X) acompanhar , (X) o Sigam-me e não terão derrotas.
mercado.
C) A responsabilidade , (X) socioambiental , (X) é de extre- - O verbo iniciar a oração:
ma importância. Diga-lhe que está tudo bem.
D) Acreditar , (X) no consumo , (X) consciente é necessário. Chamaram-me para ser sócio.
Didatismo e Conhecimento 53
LÍNGUA PORTUGUESA
A prova realizar-se-á neste domingo pela manhã. (= ela se (A) Ela não lembrava-se do caminho de volta.
realizará) (B) A menina tinha distanciado-se muito da família.
Far-lhe-ei uma proposta irrecusável. (= eu farei uma proposta (C) A garota disse que perdeu-se dos pais.
a você) (D) O pai alegrou-se ao encontrar a filha.
(E) Ninguém comprometeu-se a ajudar a criança.
Fontes:
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf42.php 05. (Escrevente TJ SP – Vunesp 2011). Assinale a alternativa
http://www.brasilescola.com/gramatica/colocacao-pronominal. cujo emprego do pronome está em conformidade com a norma pa-
htm drão da língua.
(A) Não autorizam-nos a ler os comentários sigilosos.
Questões sobre Pronome (B) Nos falaram que a diplomacia americana está abalada.
(C) Ninguém o informou sobre o caso WikiLeaks.
01. (Escrevente TJ SP – Vunesp/2012). (D) Conformado, se rendeu às punições.
Restam dúvidas sobre o crescimento verde. Primeiro, não está (E) Todos querem que combata-se a corrupção.
claro até onde pode realmente chegar uma política baseada em me-
lhorar a eficiência sem preços adequados para o carbono, a água e 06. (Papiloscopista Policial = Vunesp - 2013). Assinale a al-
(na maioria dos países pobres) a terra. É verdade que mesmo que ternativa correta quanto à colocação pronominal, de acordo com a
a ameaça dos preços do carbono e da água faça em si diferença, as norma-padrão da língua portuguesa.
companhias não podem suportar ter de pagar, de repente, digamos, (A) Para que se evite perder objetos, recomenda-se que eles se-
40 dólares por tonelada de carbono, sem qualquer preparação. Por- jam sempre trazidos junto ao corpo.
tanto, elas começam a usar preços-sombra. Ainda assim, ninguém (B) O passageiro ao lado jamais imaginou-se na situação de ter
encontrou até agora uma maneira de quantificar adequadamente os de procurar a dona de uma bolsa perdida.
insumos básicos. E sem eles a maioria das políticas de crescimento (C) Nos sentimos impotentes quando não conseguimos restituir
verde sempre será a segunda opção. um objeto à pessoa que o perdeu.
(CartaCapital, 27.06.2012. Adaptado) (D) O homem se indignou quando propuseram-lhe que abrisse
Os pronomes “elas” e “eles”, em destaque no texto, referem-se, a bolsa que encontrara.
respectivamente, a (E) Em tratando-se de objetos encontrados, há uma tendência
(A) dúvidas e preços. natural das pessoas em devolvê-los a seus donos.
(B) dúvidas e insumos básicos.
(C) companhias e insumos básicos. 07. (Agente de Apoio Operacional – VUNESP – 2013). Há
(D) companhias e preços do carbono e da água. pessoas que, mesmo sem condições, compram produtos______não
(E) políticas de crescimento e preços adequados. necessitam e______ tendo de pagar tudo______ prazo.
Assinale a alternativa que preenche as lacunas, correta e respec-
02. (Agente de Apoio Administrativo – FCC – 2013-adap.). tivamente, considerando a norma culta da língua.
Leia o texto a seguir. A) a que … acaba … à
Fazendo-se as alterações necessárias, o trecho grifado está cor- B) com que … acabam … à
retamente substituído por um pronome em: C) de que … acabam … a
A) ...sei tratar tipos como o senhor. − sei tratá-lo D) em que … acaba … a
B) ...erguendo os braços desalentado... − erguendo-lhes desa- E) dos quais … acaba … à
lentado
C) ...que tem de conhecer as leis do país? − que tem de conhe- 08. (Agente de Apoio Socioeducativo – VUNESP – 2013-
cê-lo? adap.). Assinale a alternativa que substitui, correta e respectivamen-
D) ...não parecia ser um importante industrial... − não parecia te, as lacunas do trecho.
ser-lhe ______alguns anos, num programa de televisão, uma jovem
E) incomodaram o general... − incomodaram-no fazia referência______ violência______ o brasileiro estava sujeito
de forma cômica.
03.(Agente de Defensoria Pública – FCC – 2013-adap.). A A) Fazem... a ... de que
substituição do elemento grifado pelo pronome correspondente, com B) Faz ...a ... que
os necessários ajustes, foi realizada de modo INCORRETO em: C) Fazem ...à ... com que
A) mostrando o rio= mostrando-o. D) Faz ...à ... que
B) como escolher sítio= como escolhê-lo. E) Faz ...à ... a que
C) transpor [...] as matas espessas= transpor-lhes.
D) Às estreitas veredas[...] nada acrescentariam = nada lhes 09. (Agente de Escolta e Vigilância Penitenciária – VUNESP
acrescentariam. – 2013). Leia o texto a seguir:
E) viu uma dessas marcas= viu uma delas. Violência epidêmica
A violência urbana é uma enfermidade contagiosa. Embora
04. (Papiloscopista Policial – Vunesp – 2013). Assinale a al- possa acometer indivíduos vulneráveis em todas as classes sociais, é
ternativa em que o pronome destacado está posicionado de acordo nos bairros pobres que ela adquire características epidêmicas.
com a norma-padrão da língua.
Didatismo e Conhecimento 54
LÍNGUA PORTUGUESA
A prevalência varia de um país para outro e entre as cidades 10. (Agente de Vigilância e Recepção – VUNESP – 2013-
de um mesmo país, mas, como regra, começa nos grandes centros adap.). No trecho, – Em ambos os casos, as câmeras dos estabele-
urbanos e se dissemina pelo interior. cimentos felizmente comprovam os acontecimentos, e testemunhas
As estratégias que as sociedades adotam para combater a vio- vão ajudar a polícia na investigação., – de acordo com a norma-
lência variam muito e a prevenção das causas evoluiu muito pou- -padrão, os pronomes que substituem, corretamente, os termos em
co no decorrer do século 20, ao contrário dos avanços ocorridos no destaque são:
campo das infecções, câncer, diabetes e outras enfermidades. A) os comprovam … ajudá-la.
A agressividade impulsiva é consequência de perturbações nos B) os comprovam …ajudar-la.
mecanismos biológicos de controle emocional. Tendências agressi- C) os comprovam … ajudar-lhe.
vas surgem em indivíduos com dificuldades adaptativas que os tor- D) lhes comprovam … ajudar-lhe.
nam despreparados para lidar com as frustrações de seus desejos. E) lhes comprovam … ajudá-la.
A violência é uma doença. Os mais vulneráveis são os que tive-
ram a personalidade formada num ambiente desfavorável ao desen- GABARITO
volvimento psicológico pleno.
A revisão de estudos científicos permite identificar três fatores
principais na formação das personalidades com maior inclinação ao 01. C 02. E 03. C 04. D 05. C
comportamento violento:
1) Crianças que apanharam, foram vítimas de abusos, humilha- 06. A 07. C 08. E 09. A 10. A
das ou desprezadas nos primeiros anos de vida.
2) Adolescentes vivendo em famílias que não lhes transmitiram COMENTÁRIOS
valores sociais altruísticos, formação moral e não lhes impuseram
limites de disciplina. 1-) Restam dúvidas sobre o crescimento verde. Primeiro, não
3) Associação com grupos de jovens portadores de comporta- está claro até onde pode realmente chegar uma política baseada em
mento antissocial. melhorar a eficiência sem preços adequados para o carbono, a água
Na periferia das cidades brasileiras vivem milhões de crianças e (na maioria dos países pobres) a terra. É verdade que mesmo que
que se enquadram nessas três condições de risco. Associados à falta a ameaça dos preços do carbono e da água faça em si diferença, as
de acesso aos recursos materiais, à desigualdade social, esses fatores companhias não podem suportar ter de pagar, de repente, diga-
de risco criam o caldo de cultura que alimenta a violência crescente mos, 40 dólares por tonelada de carbono, sem qualquer prepa-
nas cidades. ração. Portanto, elas começam a usar preços-sombra. Ainda assim,
Na falta de outra alternativa, damos à criminalidade a resposta ninguém encontrou até agora uma maneira de quantificar adequa-
do aprisionamento. Porém, seu efeito é passageiro: o criminoso fica damente os insumos básicos. E sem eles a maioria das políticas de
impedido de delinquir apenas enquanto estiver preso. Ao sair, estará crescimento verde sempre será a segunda opção.
mais pobre, terá rompido laços familiares e sociais e dificilmente
encontrará quem lhe dê emprego. Ao mesmo tempo, na prisão, terá 2-)
criado novas amizades e conexões mais sólidas com o mundo do A) ...sei tratar tipos como o senhor. − sei tratá-los
crime.
B) ...erguendo os braços desalentado... − erguendo-os desalen-
Construir cadeias custa caro; administrá-las, mais ainda. Obri-
tado
gados a optar por uma repressão policial mais ativa, aumentaremos
o número de prisioneiros. As cadeias continuarão superlotadas. C) ...que tem de conhecer as leis do país? − que tem de conhe-
Seria mais sensato investir em educação, para prevenir a crimi- cê-las ?
nalidade e tratar os que ingressaram nela. D) ...não parecia ser um importante industrial... − não parecia
Na verdade, não existe solução mágica a curto prazo. Precisa- sê-lo
mos de uma divisão de renda menos brutal, motivar os policiais a
executar sua função com dignidade, criar leis que acabem com a im- 3-) transpor [...] as matas espessas= transpô-las
punidade dos criminosos bem-sucedidos e construir cadeias novas
para substituir as velhas. 4-)
Enquanto não aprendermos a educar e oferecer medidas pre- (A) Ela não se lembrava do caminho de volta.
ventivas para que os pais evitem ter filhos que não serão capazes de (B) A menina tinha se distanciado muito da família.
criar, cabe a nós a responsabilidade de integrá-los na sociedade por (C) A garota disse que se perdeu dos pais.
meio da educação formal de bom nível, das práticas esportivas e da (E) Ninguém se comprometeu a ajudar a criança
oportunidade de desenvolvimento artístico.
(Drauzio Varella. In Folha de S.Paulo, 9 mar.2002. Adaptado) 5-)
(A) Não nos autorizam a ler os comentários sigilosos.
Considere o seguinte trecho: (B) Falaram-nos que a diplomacia americana está abalada.
Adolescentes vivendo em famílias que não lhes transmitiram (D) Conformado, rendeu-se às punições.
valores sociais altruísticos, formação moral e não lhes impuseram (E) Todos querem que se combata a corrupção.
limites de disciplina. 6-)
O pronome lhes, nas duas ocorrências, nesse trecho, refere-se, (B) O passageiro ao lado jamais se imaginou na situação de ter
respectivamente, a de procurar a dona de uma bolsa perdida.
A) adolescentes e adolescentes. (C) Sentimo-nos impotentes quando não conseguimos restituir
B) famílias e adolescentes. um objeto à pessoa que o perdeu.
C) valores sociais altruísticos e limites de disciplina. (D) O homem indignou-se quando lhe propuseram que abrisse
D) adolescentes e famílias. a bolsa que encontrara.
E) famílias e famílias.
Didatismo e Conhecimento 55
LÍNGUA PORTUGUESA
(E) Em se tratando de objetos encontrados, há uma tendência 3) Quando o sujeito é representado por expressões partitivas,
natural das pessoas em devolvê-los a seus donos. representadas por “a maioria de, a maior parte de, a metade de, uma
porção de, entre outras”, o verbo tanto pode concordar com o núcleo
7-) Há pessoas que, mesmo sem condições, compram produtos dessas expressões quanto com o substantivo que a segue: A maioria
de que não necessitam eacabam tendo de pagar tudoaprazo. dos alunos resolveu ficar. A maioria dos alunos resolveram ficar.
4) No caso de o sujeito ser representado por expressões apro-
8-) Fazalguns anos, num programa de televisão, uma jovem fa- ximativas, representadas por “cerca de, perto de”, o verbo concorda
zia referência à violência a que o brasileiro estava sujeito de forma com o substantivo determinado por elas: Cerca de vinte candidatos
cômica. se inscreveram no concurso de piadas.
5) Em casos em que o sujeito é representado pela expressão
Faz, no sentido de tempo passado = sempre no singular “mais de um”, o verbo permanece no singular: Mais de um candida-
to se inscreveu no concurso de piadas.
9-) Adolescentes vivendo em famílias que não lhes transmiti- Observação:
ram valores sociais altruísticos, formação moral e não lhes impuse- - No caso da referida expressão aparecer repetida ou associada a
ram limites de disciplina. um verbo que exprime reciprocidade, o verbo, necessariamente, de-
verá permanecer no plural: Mais de um aluno, mais de um professor
Famílias que não impuseram aos adolescentes valores sociais, contribuíram na campanha de doação de alimentos.
formação moral e limites de disciplina. Mais de um formando se abraçaram durante as solenidades de
formatura.
10-) – Em ambos os casos, as câmeras dos estabelecimentos fe- 6) Quando o sujeito for composto da expressão “um dos que”, o
lizmente comprovam os acontecimentos, e testemunhas vão ajudar verbo permanecerá no plural: Esse jogador foi um dos que atuaram
a polícia na investigação. na Copa América.
7) Em casos relativos à concordância com locuções pronomi-
felizmente os comprovam...ajudá-la nais, representadas por “algum de nós, qual de vós, quais de vós,
(advérbio) alguns de nós”, entre outras, faz-se necessário nos atermos a duas
questões básicas:
- No caso de o primeiro pronome estar expresso no plural, o
CONCORDÂNCIA VERBAL E NOMINAL verbo poderá com ele concordar, como poderá também concordar
com o pronome pessoal: Alguns de nós o receberemos. / Alguns de
nós o receberão.
- Quando o primeiro pronome da locução estiver expresso no
singular, o verbo permanecerá, também, no singular: Algum de nós
Concordância Verbal
Ao falarmos sobre a concordância verbal, estamos nos referin- o receberá.
do à relação de dependência estabelecida entre um termo e outro 8) No caso de o sujeito aparecer representado pelo pronome
mediante um contexto oracional. Desta feita, os agentes principais “quem”, o verbo permanecerá na terceira pessoa do singular ou po-
desse processo são representados pelo sujeito, que no caso funciona derá concordar com o antecedente desse pronome: Fomos nós
como subordinante; e o verbo, o qual desempenha a função de su- quem contou toda a verdade para ela. / Fomos nós quem contamos
bordinado. toda a verdade para ela.
Dessa forma, temos que a concordância verbal caracteriza-se 9) Em casos nos quais o sujeito aparece realçado pela palavra
pela adaptação do verbo, tendo em vista os quesitos “número e pes- “que”, o verbo deverá concordar com o termo que antecede essa
soa” em relação ao sujeito. Exemplificando, temos: O aluno chegou palavra: Nesta empresa somos nós que tomamos as decisões. / Em
atrasado. casa sou eu que decido tudo.
Temos que o verbo apresenta-se na terceira pessoa do singular, 10) No caso de o sujeito aparecer representado por expressões
pois faz referência a um sujeito, assim também expresso (ele). Como que indicam porcentagens, o verbo concordará com o numeral ou
poderíamos também dizer: os alunos chegaram atrasados. com o substantivo a que se refere essa porcentagem: 50% dos
Temos aí o que podemos chamar de princípio básico. Contudo, funcionários aprovaram a decisão da diretoria. / 50% do eleitorado
a intenção a que se presta o artigo em evidência é eleger as princi- apoiou a decisão.
pais ocorrências voltadas para os casos de sujeito simples e para os
de sujeito composto. Dessa forma, vejamos: Observações:
- Caso o verbo aparecer anteposto à expressão de porcentagem,
Casos referentes a sujeito simples esse deverá concordar com o numeral: Aprovaram a decisão da dire-
1) Em caso de sujeito simples, o verbo concorda com o núcleo toria 50% dos funcionários.
em número e pessoa: O aluno chegou atrasado. - Em casos relativos a 1%, o verbo permanecerá no singular:
2) Nos casos referentes a sujeito representado por substantivo 1% dos funcionários não aprovou a decisão da diretoria.
coletivo, o verbo permanece na terceira pessoa do singular: A mul- - Em casos em que o numeral estiver acompanhado de determi-
tidão, apavorada, saiu aos gritos. nantes no plural, o verbo permanecerá no plural: Os 50% dos fun-
Observação: cionários apoiaram a decisão da diretoria.
- No caso de o coletivo aparecer seguido de adjunto adnominal 11) Nos casos em que o sujeito estiver representado por prono-
no plural, o verbo permanecerá no singular ou poderá ir para o plu- mes de tratamento, o verbo deverá ser empregado na terceira pessoa
ral: Uma multidão de pessoas saiu aos gritos. do singular ou do plural: Vossas Majestades gostaram das homena-
Uma multidão de pessoas saíram aos gritos. gens. Vossa Majestade agradeceu o convite.
Didatismo e Conhecimento 56
LÍNGUA PORTUGUESA
12) Casos relativos a sujeito representado por substantivo pró- 2 - Substantivos de gêneros diferentes: vai para o plural mas-
prio no plural se encontram relacionados a alguns aspectos que os culino ou concorda com o substantivo mais próximo.
determinam: - Ela tem pai e mãe louros.
- Diante de nomes de obras no plural, seguidos do verbo ser, - Ela tem pai e mãe loura.
este permanece no singular, contanto que o predicativo também es- 3 - Adjetivo funciona como predicativo: vai obrigatoriamente
teja no singular: Memórias póstumas de Brás Cubas é uma criação para o plural.
de Machado de Assis. - O homem e o menino estavam perdidos.
- Nos casos de artigo expresso no plural, o verbo também per- - O homem e sua esposa estiveram hospedados aqui.
manece no plural: Os Estados Unidos são uma potência mundial.
b) Um adjetivo anteposto a vários substantivos
- Casos em que o artigo figura no singular ou em que ele nem
1 - Adjetivo anteposto normalmente concorda com o mais
aparece, o verbo permanece no singular: Estados Unidos é uma próximo.
potência mundial. Comi delicioso almoço e sobremesa.
Provei deliciosa fruta e suco.
Casos referentes a sujeito composto 2 - Adjetivo anteposto funcionando como predicativo: concor-
1) Nos casos relativos a sujeito composto de pessoas gramati- da com o mais próximo ou vai para o plural.
cais diferentes, o verbo deverá ir para o plural, estando relacionado Estavam feridos o pai e os filhos.
a dois pressupostos básicos: Estava ferido o pai e os filhos.
- Quando houver a 1ª pessoa, esta prevalecerá sobre as demais:
Eu, tu e ele faremos um lindo passeio. c) Um substantivo e mais de um adjetivo
- Quando houver a 2ª pessoa, o verbo poderá flexionar na 2ª ou 1- antecede todos os adjetivos com um artigo.
na 3ª pessoa: Tu e ele sois primos. Falava fluentemente a língua inglesa e a espanhola.
Tu e ele são primos. 2- coloca o substantivo no plural.
2) Nos casos em que o sujeito composto aparecer anteposto ao Falava fluentemente as línguas inglesa e espanhola.
verbo, este permanecerá no plural: O pai e seus dois filhos compa-
receram ao evento. d) Pronomes de tratamento
3) No caso em que o sujeito aparecer posposto ao verbo, este 1 - sempre concordam com a 3ª pessoa.
Vossa Santidade esteve no Brasil.
poderá concordar com o núcleo mais próximo ou permanecer no
plural: Compareceram ao evento o pai e seus dois filhos. Compare- e) Anexo, incluso, próprio, obrigado
ceu ao evento o pai e seus dois filhos. 1 - Concordam com o substantivo a que se referem.
4) Nos casos relacionados a sujeito simples, porém com mais As cartas estão anexas.
de um núcleo, o verbo deverá permanecer no singular: Meu esposo A bebida está inclusa.
e grande companheiro merece toda a felicidade do mundo. Precisamos de nomes próprios.
5) Casos relativos a sujeito composto de palavras sinônimas ou Obrigado, disse o rapaz.
ordenado por elementos em gradação, o verbo poderá permanecer
no singular ou ir para o plural: Minha vitória, minha conquista, mi- f) Um(a) e outro(a), num(a) e noutro(a)
nha premiação são frutos de meu esforço. / Minha vitória, minha 1 - Após essas expressões o substantivo fica sempre no singu-
conquista, minha premiação é fruto de meu esforço. lar e o adjetivo no plural.
Renato advogou um e outro caso fáceis.
Fonte: http://www.brasilescola.com/gramatica/concordancia- Pusemos numa e noutra bandeja rasas o peixe.
-verbal.htm
g) É bom, é necessário, é proibido
Concordância Nominal 1- Essas expressões não variam se o sujeito não vier precedido
É o ajuste que fazemos aos demais termos da oração para que de artigo ou outro determinante.
Canja é bom. / A canja é boa.
concordem em gênero e número com o substantivo. Teremos que
alterar, portanto, o artigo, o adjetivo, o numeral e o pronome. Além É necessário sua presença. / É necessária a sua presença.
disso, temos também o verbo, que se flexionará à sua maneira. É proibido entrada de pessoas não autorizadas. / A entrada
é proibida.
REGRA GERAL: O artigo, o adjetivo, o numeral e o prono-
me concordam em gênero e número com o substantivo. h) Muito, pouco, caro
- A pequena criança é uma gracinha. 1- Como adjetivos: seguem a regra geral.
- O garoto que encontrei era muito gentil e simpático. Comi muitas frutas durante a viagem.
Pouco arroz é suficiente para mim.
CASOS ESPECIAIS: Veremos alguns casos que fogem à re- Os sapatos estavam caros.
gra geral mostrada acima.
a) Um adjetivo após vários substantivos 2- Como advérbios: são invariáveis.
1 - Substantivos de mesmo gênero: adjetivo vai para o plural Comi muito durante a viagem.
ou concorda com o substantivo mais próximo. Pouco lutei, por isso perdi a batalha.
- Irmão e primo recém-chegado estiveram aqui.
Comprei caro os sapatos.
- Irmão e primo recém-chegados estiveram aqui.
Didatismo e Conhecimento 57
LÍNGUA PORTUGUESA
i) Mesmo, bastante cente, onde seu corpo não passa de um ponto obscuro, sua inte-
1- Como advérbios: invariáveis ligência pode abarcar inteira, e dela fruira silenciosa harmonia.
Preciso mesmo da sua ajuda. Atingimos assim a consciência de nossa força, e isso é uma coisa
Fiquei bastante contente com a proposta de emprego. pela qual jamais pagaríamos caro demais, porque essa consciên-
2- Como pronomes: seguem a regra geral. cia nos torna mais fortes.
Seus argumentos foram bastantes para me convencer. Mas o que eu gostaria de mostrar, antes de tudo, é a que ponto
Os mesmos argumentos que eu usei, você copiou. a astronomia facilitou a obra das outras ciências, mais diretamen-
te úteis, porque foi ela que nos proporcionou um espírito capaz de
j) Menos, alerta compreender a natureza.
1- Em todas as ocasiões são invariáveis. [Adaptado de Henri Poincaré (1854-1912). O valor da ciên-
Preciso de menos comida para perder peso. cia. Tradução Maria Helena Franco Martins. Rio de Janeiro: Con-
Estamos alerta para com suas chamadas. traponto, 1995, p.101]
Didatismo e Conhecimento 58
LÍNGUA PORTUGUESA
De acordo com a norma-padrão da língua portuguesa, as la- C) Se a empresa propuser um estágio no exterior, ele não
cunas do texto devem ser preenchidas, correta e respectivamente, recusará.
com: D) Se estas caixas caberem no armário, a sala ficará organi-
(A) Restam… faça… será zada.
(B) Resta… faz… será E) Se o microempresário querer, poderá fazer futuros inves-
(C) Restam… faz... serão timentos.
(D) Restam… façam… serão
(E) Resta… fazem… será 08. (Agente de Vigilância e Recepção – VUNESP – 2013).
Assinale a frase correta quanto à concordância verbal e nominal.
04 (Escrevente TJ SP – Vunesp/2012) Assinale a alternativa A) Com os shows da banda, os músicos propõem um momen-
em que o trecho – Ainda assim, ninguém encontrou até agora uma to de descontração para os passageiros.
maneira de quantificar adequadamente os insumos básicos. – está B) Por causa da paralisação, as férias dos alunos terminou
corretamente reescrito, de acordo com a norma-padrão da língua mais cedo.
portuguesa. C) Na cidade, já se esgotou as vagas nos hotéis para o período
(A) Ainda assim, temos certeza que ninguém encontrou até de Carnaval.
agora uma maneira adequada de se quantificar os insumos básicos. D) Ela próprio passou o uniforme de trabalho.
(B) Ainda assim, temos certeza de que ninguém encontrou até E) Seguem anexadas ao e-mail o cronograma do curso e o
agora uma maneira adequada de os insumos básicos ser quantifi- currículo dos inscritos.
cados.
(C) Ainda assim, temos certeza que ninguém encontrou até 09. (Agente Educacional – VUNESP – 2013). Assinale a al-
ternativa correta quanto à concordância, de acordo com a norma-
agora uma maneira adequada para que os insumos básicos sejam
-padrão da língua portuguesa.
quantificado.
A) Estudos recente demonstram a necessidade de se investir
(D) Ainda assim, temos certeza de que ninguém encontrou até
no ensino de matemática nos níveis fundamentais de aprendiza-
agora uma maneira adequada para que os insumos básicos seja
gem.
quantificado.
B) Muito concorrida, carreiras como as de advogado e de jor-
(E) Ainda assim, temos certeza de que ninguém encontrou até
nalista também requerem conhecimento matemático.
agora uma maneira adequada de se quantificarem os insumos bá-
sicos. C) A cultura científica, apesar de fundamental para muitas car-
reiras, ainda é visto com certo desprezo entre alguns estudantes.
05. (Agente de Apoio Operacional – VUNESP – 2013). As- D) Conhecimentos básicos de estatística é de fundamental im-
sinale a alternativa em que a concordância da palavra destacada portância para a compreensão de algumas informações do nosso
está de acordo com a norma culta da língua. cotidiano.
A) Ela mesmo reclamou com o gerente do mercado. E) A matemática pode ser considerada a base para algumas
B) A vendedora ficou meia atrapalhada com o excesso de das mais intrigantes especulações científicas da atualidade.
clientes na loja.
C) É proibido a entrada de animais no estabelecimento. 10. (Agente de Apoio – Microinformática – VUNESP –
D) Ela voltou para dizer obrigada ao vendedor. 2013). Leia o texto a seguir.
E) Anexo aos comprovantes de pagamento, vão duas amos-
tras grátis. O chato é um chato, mas é essencial nos negócios
06. (Agente de Apoio Socioeducativo – VUNESP – 2013). O chato é um chato. Não é o tipo de companhia que se quer
Assinale a alternativa que completa, correta e respectivamente, de para tomar um vinho ou ir ao cinema. O chato tem a insuportável
acordo com a norma-padrão da língua, as lacunas das frases, quan- mania de apontar o dedo para as coisas, enxergar os problemas que
to à concordância verbal e à colocação pronominal. não queremos ver, fazer comentários desconcertantes.
______muitos lares destroçados, mas______ pessoas boas Por isso, é pouco recomendável ter um deles por perto nos
prontas para ajudar. momentos nos quais tudo o que você não quer fazer é tomar deci-
Inteligente e informativa a reportagem que_____________ a sões. Para todos os outros – e isso envolve o dia a dia dos negócios
transformar aborrecimentos em aprendizagem. – é bom ter um desses cada vez mais raros e discriminados exem-
A) Havia ...existiam ... nos ensina plares da fauna empresarial por perto.
B) Haviam ... existia ... ensina-nos Conselho dado por alguém que entende muito de ganhar di-
C) Havia ...existia ... nos ensina nheiro, Warren Buffett, um dos homens mais ricos do mundo:
D) Haviam ... existiam ... ensina-nos “Ouça alguém que discorda de você”. No início de maio, Buffett
E) Havia ...existiam ... ensina-nos convidou um sujeito chamado Doug Kass para participar de um
dos painéis que compuseram a reunião anual de investidores de
07. (Agente de Vigilância e Recepção – VUNESP – 2013). sua empresa, a Berkshire Hathaway.
Assinale a alternativa em que o verbo foi empregado corre- Como executivo de um fundo de investimento, Kass havia
tamente. apostado contra as ações da Berkshire. Buffett queria entender o
A) Se a proprietária manter o valor do aluguel, poderemos
porquê. Kass foi o chato escolhido para alertá-lo sobre eventuais
permanecer no apartamento.
erros que ninguém havia enxergado.
B) Se os operários fazerem o acordo, a greve terminará.
Didatismo e Conhecimento 59
LÍNGUA PORTUGUESA
Buffett conhece o valor desse tipo de pessoa. O chato é o su- B) Obras que se considera clássicas na literatura sempre de-
jeito que ainda acha que as perguntas simples são o melhor ca- lineiam novos caminhos, pois são capazes de encantar o leitor ao
minho para chegar às melhores respostas, é alguém que não tem ultrapassarem os limites da época em que vivem seus autores, gê-
medo. Não se importa de ser tachado de inábil no trato com as pes- nios no domínio das palavras, sua matéria-prima.
soas ou de ser politicamente incorreto. Questiona. Coloca o dedo C) A palavra, matéria-prima de poetas e romancistas, lhes per-
na ferida. Insiste em ser um animal pensante, quando todo mundo mite criar todo um mundo de ficção, em que personagens se trans-
sabe que dá menos trabalho deixar tudo como está. formam em seres vivos a acompanhar os leitores, numa verdadeira
Quase sempre, as coisas que o chato diz fazem um tremendo interação com a realidade.
sentido. Nada pode ser mais devastador para seus críticos do que a D) As possibilidades de comunicação entre autor e leitor so-
constatação de que o chato, feitas as contas, tem razão. mente se realizam plenamente caso haja afinidade de ideias entre
Pobre do chefe que não reconhece, não escuta e não tolera ambos, o que permite, ao mesmo tempo, o crescimento intelectual
os chatos que cruzam seu caminho. Ele acredita que está seguro deste último e o prazer da leitura.
num mundo de certezas próprias, de verdades absolutas. Ora, o E) Constam, na literatura mundial, obras-primas que consti-
controle total de um negócio é uma miragem. Coisas boas e ruins tuem leitura obrigatória e se tornam referências por seu conteúdo
acontecem o tempo todo nas empresas sem que ele se dê conta. que ultrapassa os limites de tempo e de época.
Pensar que é possível estar no comando de tudo, o tempo todo, só
vai torná-lo mais vulnerável como líder. E vai, mais dia ou menos 3-)
dia, afastar definitivamente os chatos, os questionadores, aqueles _Restam___dúvidas mesmo que a ameaça dos preços do
que fazem as perguntas incômodas e necessárias. carbono e da água em si __faça __diferença a maioria das políti-
Por isso, só existem chatos em lugares onde há alguma pers- cas de crescimento verde sempre ____será_____ a segunda opção.
pectiva de futuro. Esse espécime de profissional só prolifera em
ambientes onde a liberdade de pensamento e expressão é respei- Em “a maioria de”, a concordância pode ser dupla: tanto no
tada, onde a dúvida não é um mal em si, onde existe disposição, plural quanto no singular. Nas alternativas não há “restam/faça/
coragem e humildade para mudar de trajetória quando essa parece serão”, portanto a A é que apresenta as opções adequadas.
ser a melhor opção.
(Cláudia Vassallo, http://exame.abril.com.br, 07.07.2013. 4-).
Adaptado) (A) Ainda assim, temos certeza de que ninguém encontrou até
Considere as frases: agora uma maneira adequada de se quantificar os insumos básicos.
- Kass foi o chato escolhido para alertá-lo sobre eventuais er- (B) Ainda assim, temos certeza de que ninguém encontrou até
ros que ninguém havia enxergado. agora uma maneira adequada de os insumos básicos serem quan-
- Por isso, só existem chatos em lugares onde há alguma pers- tificados.
pectiva de futuro. (C) Ainda assim, temos certeza de que ninguém encontrou até
As expressões destacadas podem ser substituídas, correta e agora uma maneira adequada para que os insumos básicos sejam
respectivamente, seguindo as regras de concordância da norma- quantificados.
-padrão da língua portuguesa, por: (D) Ainda assim, temos certeza de que ninguém encontrou até
A) não havia sido enxergado ...pode haver agora uma maneira adequada para que os insumos básicos sejam
B) não havia sido enxergados ...podem haver
quantificados.
C) não haviam sido enxergado ...pode haver
(E) Ainda assim, temos certeza de que ninguém encontrou até
D) não havia sido enxergado ...podem haver
agora uma maneira adequada de se quantificarem os insumos bá-
E) não haviam sido enxergados ...pode haver
sicos.= correta
5-)
GABARITO
A) Ela mesma reclamou com o gerente do mercado.
B) A vendedora ficou meio atrapalhada com o excesso de
01. C 02. A 03. A 04. E 05. D clientes na loja.
C) É proibida a entrada de animais no estabelecimento.
06. A 07. C 08. A 09. E 10. E D) Ela voltou para dizer obrigada ao vendedor. = correta
E) Anexas aos comprovantes de pagamento, vão duas amos-
COMENTÁRIOS tras grátis.
1-) a astronomia é uma das ciências que custam mais caro. 6-)
Nas gramáticas aborda-se sempre a expressão UM DOS QUE __Havia _muitos lares destroçados, mas__existiam__ pes-
como determinante de duas concordâncias. O verbo fica no singu- soas boas prontas para ajudar.
lar só nas poucas vezes em que a ação se refere a um só agente: Inteligente e informativa a reportagem que _nos ensina_ a
O Sol é um dos astros que dá luz e calor à Terra.
transformar aborrecimentos em aprendizagem.
2-)
Verbo haver usado no sentido de existir = impessoal, invariá-
A) Alguns dos aspectos mais desejáveis de uma boa leitura,
vel (não sofre flexão); já o verbo existir concorda com o sujeito.
que satisfaça aos leitores e seja veículo de aprimoramento intelec-
Quanto à colocação pronominal: a presença do pronome re-
tual, estão na capacidade de criação do autor, mediante palavras,
lativo (que) “atrai” o pronome oblíquo, ocorrendo, então, próclise
sua matéria-prima. = correta
(pronome antes do verbo).
Didatismo e Conhecimento 60
LÍNGUA PORTUGUESA
7-) Regência Verbal
A) Se a proprietária mantiver o valor do aluguel, poderemos Termo Regente: VERBO
permanecer no apartamento. A regência verbal estuda a relação que se estabelece entre
B) Se os operários fizerem o acordo, a greve terminará. os verbos e os termos que os complementam (objetos diretos e
C) Se a empresa propuser um estágio no exterior, ele não objetos indiretos) ou caracterizam (adjuntos adverbiais).
recusará.=correta O estudo da regência verbal permite-nos ampliar nossa capa-
D) Se estas caixas couberem no armário, a sala ficará orga- cidade expressiva, pois oferece oportunidade de conhecermos as
nizada. diversas significações que um verbo pode assumir com a simples
E) Se o microempresário quiser, poderá fazer futuros inves- mudança ou retirada de uma preposição. Observe:
timentos. A mãe agrada o filho. -> agradar significa acariciar, contentar.
A mãe agrada ao filho. -> agradar significa “causar agrado ou pra-
8-) zer”, satisfazer.
A) Com os shows da banda, os músicos propõem um momen- Logo, conclui-se que “agradar alguém” é diferente de “agra-
to de descontração para os passageiros.= correta dar a alguém”.
B) Por causa da paralisação, as férias dos alunos terminaram
mais cedo. Saiba que:
C) Na cidade, já se esgotaram as vagas nos hotéis para o pe- O conhecimento do uso adequado das preposições é um dos
ríodo de Carnaval. aspectos fundamentais do estudo da regência verbal (e também
D) Ela própria passou o uniforme de trabalho. nominal). As preposições são capazes de modificar completamente
E) Seguem anexados ao e-mail o cronograma do curso e o o sentido do que se está sendo dito. Veja os exemplos:
currículo dos inscritos. Cheguei ao metrô.
Cheguei no metrô.
9-) No primeiro caso, o metrô é o lugar a que vou; no segundo
caso, é o meio de transporte por mim utilizado. A oração “Cheguei
A) Estudos recentes demonstram a necessidade de se investir
no metrô”, popularmente usada a fim de indicar o lugar a que se
no ensino de matemática nos níveis fundamentais de aprendiza-
vai, possui, no padrão culto da língua, sentido diferente. Aliás, é
gem.
muito comum existirem divergências entre a regência coloquial,
B) Muito concorridas, carreiras como as de advogado e de
cotidiana de alguns verbos, e a regência culta.
jornalista também requerem conhecimento matemático.
C) A cultura científica, apesar de fundamental para muitas car-
Para estudar a regência verbal, agruparemos os verbos de
reiras, ainda é vista com certo desprezo entre alguns estudantes.
acordo com sua transitividade. A transitividade, porém, não é um
D) Conhecimentos básicos de estatística são de fundamental fato absoluto: um mesmo verbo pode atuar de diferentes formas
importância para a compreensão de algumas informações do nosso em frases distintas.
cotidiano.
E) A matemática pode ser considerada a base para algumas das Verbos Intransitivos
mais intrigantes especulações científicas da atualidade. = correta Os verbos intransitivos não possuem complemento. É impor-
tante, no entanto, destacar alguns detalhes relativos aos adjuntos
10-) adverbiais que costumam acompanhá-los.
- Kass foi o chato escolhido para alertá-lo sobre eventuais a) Chegar, Ir
erros que não haviam sido enxergados. Normalmente vêm acompanhados de adjuntos adverbiais de
- Por isso, só pode haver chatos em lugares onde há alguma lugar. Na língua culta, as preposições usadas para indicar desti-
perspectiva de futuro. no ou direção são: a, para.
Fui ao teatro.
No primeiro caso, havia empregado com sentido de ter: sofre Adjunto Adverbial de Lugar
flexão (vai para o plural concordando com o termo que o antecede Ricardo foi para a Espanha.
(erros); já no caso do haver com sentido de existir: invariável - ele Adjunto Adverbial de Lugar
e seu auxiliar (poder). b) Comparecer
O adjunto adverbial de lugar pode ser introduzido por em ou a.
Comparecemos ao estádio (ou no estádio) para ver o último
jogo.
REGÊNCIA VERBAL E NOMINAL
Verbos Transitivos Diretos
Os verbos transitivos diretos são complementados por objetos
diretos. Isso significa que não exigem preposição para o estabele-
cimento da relação de regência. Ao empregar esses verbos, deve-
Dá-se o nome de regência à relação de subordinação que ocorre mos lembrar que os pronomes oblíquos o, a, os, as atuam como
entre um verbo (ou um nome) e seus complementos. Ocupa-se em objetos diretos. Esses pronomes podem assumir as formas lo, los,
estabelecer relações entre as palavras, criando frases não ambíguas, la, las (após formas verbais terminadas em -r, -s ou -z) ou no, na,
nos, nas (após formas verbais terminadas em sons nasais), enquan-
que expressem efetivamente o sentido desejado, que sejam corretas
to lhe e lhes são, quando complementos verbais, objetos indiretos.
e claras.
Didatismo e Conhecimento 61
LÍNGUA PORTUGUESA
São verbos transitivos diretos, dentre outros: abandonar, Agradeço aos ouvintes a audiência.
abençoar, aborrecer, abraçar, acompanhar, acusar, admirar, ado- Objeto Indireto Objeto Direto
rar, alegrar, ameaçar, amolar, amparar, auxiliar, castigar, con- Cristo ensina que é preciso perdoar o pecado ao pecador.
denar, conhecer, conservar,convidar, defender, eleger, estimar, Objeto Direto Objeto Indireto
humilhar, namorar, ouvir, prejudicar, prezar, proteger, respeitar, Paguei o débito ao cobrador.
socorrer, suportar, ver, visitar. Objeto Direto Objeto Indireto
Na língua culta, esses verbos funcionam exatamente como o
verbo amar: - O uso dos pronomes oblíquos átonos deve ser feito com par-
Amo aquele rapaz. / Amo-o. ticular cuidado. Observe:
Amo aquela moça. / Amo-a. Agradeci o presente. / Agradeci-o.
Amam aquele rapaz. / Amam-no. Agradeço a você. / Agradeço-lhe.
Ele deve amar aquela mulher. / Ele deve amá-la. Perdoei a ofensa. / Perdoei-a.
Obs.: os pronomes lhe, lhes só acompanham esses verbos para Perdoei ao agressor. / Perdoei-lhe.
indicar posse (caso em que atuam como adjuntos adnominais). Paguei minhas contas. / Paguei-as.
Quero beijar-lhe o rosto. (= beijar seu rosto)
Paguei aos meus credores. / Paguei-lhes.
Prejudicaram-lhe a carreira. (= prejudicaram sua carreira)
Conheço-lhe o mau humor! (= conheço seu mau humor)
Informar
Verbos Transitivos Indiretos - Apresenta objeto direto ao se referir a coisas e objeto indireto
Os verbos transitivos indiretos são complementados por ao se referir a pessoas, ou vice-versa.
objetos indiretos. Isso significa que esses verbos exigem uma pre- Informe os novos preços aos clientes.
posição para o estabelecimento da relação de regência. Os prono- Informe os clientes dos novos preços. (ou sobre os novos pre-
mes pessoais do caso oblíquo de terceira pessoa que podem atuar ços)
como objetos indiretos são o “lhe”, o “lhes”, para substituir pes- - Na utilização de pronomes como complementos, veja as
soas. Não se utilizam os pronomes o, os, a, as como complementos construções:
de verbos transitivos indiretos. Com os objetos indiretos que não Informei-os aos clientes. / Informei-lhes os novos preços.
representam pessoas, usam-se pronomes oblíquos tônicos de ter- Informe-os dos novos preços. / Informe-os deles. (ou sobre
ceira pessoa (ele, ela) em lugar dos pronomes átonos lhe, lhes. Os eles)
verbos transitivos indiretos são os seguintes: Obs.: a mesma regência do verbo informar é usada para os
a) Consistir - Tem complemento introduzido pela preposi- seguintes: avisar, certificar, notificar, cientificar, prevenir.
ção “em”.
A modernidade verdadeira consiste em direitos iguais para Comparar
todos. Quando seguido de dois objetos, esse verbo admite as preposi-
b) Obedecer e Desobedecer - Possuem seus complementos in- ções “a” ou “com” para introduzir o complemento indireto.
troduzidos pela preposição “a”. Comparei seu comportamento ao (ou com o) de uma criança.
Devemos obedecer aos nossos princípios e ideais.
Eles desobedeceram às leis do trânsito. Pedir
c) Responder - Tem complemento introduzido pela preposi- Esse verbo pede objeto direto de coisa (geralmente na forma
ção “a”. Esse verbo pede objeto indireto para indicar “a quem” ou de oração subordinada substantiva) e indireto de pessoa.
“ao que” se responde. Pedi-lhe favores.
Respondi ao meu patrão. Objeto Indireto Objeto Direto
Respondemos às perguntas.
Respondeu-lhe à altura. Pedi-lhe que mantivesse em silêncio.
Obs.: o verbo responder, apesar de transitivo indireto quando Objeto Indireto Oração Subordinada Substantiva
exprime aquilo a que se responde, admite voz passiva analítica. Objetiva Direta
Veja:
O questionário foi respondido corretamente. Saiba que:
Todas as perguntas foram respondidas satisfatoriamente. 1) A construção “pedir para”, muito comum na linguagem
d) Simpatizar e Antipatizar - Possuem seus complementos in- cotidiana, deve ter emprego muito limitado na língua culta. No
troduzidos pela preposição “com”. entanto, é considerada correta quando a palavra licença estiver
Antipatizo com aquela apresentadora. subentendida.
Simpatizo com os que condenam os políticos que governam Peço (licença) para ir entregar-lhe os catálogos em casa.
para uma minoria privilegiada. Observe que, nesse caso, a preposição “para” introduz uma
oração subordinada adverbial final reduzida de infinitivo (para ir
Verbos Transitivos Diretos e Indiretos entregar-lhe os catálogos em casa).
Os verbos transitivos diretos e indiretos são acompanhados de 2) A construção “dizer para”, também muito usada
um objeto direto e um indireto. Merecem destaque, nesse grupo: popularmente, é igualmente considerada incorreta.
Preferir
Agradecer, Perdoar e Pagar
Na língua culta, esse verbo deve apresentar objeto indireto in-
São verbos que apresentam objeto direto relacionado a coi-
troduzido pela preposição “a”. Por Exemplo:
sas e objeto indireto relacionado a pessoas. Veja os exemplos:
Didatismo e Conhecimento 62
LÍNGUA PORTUGUESA
Prefiro qualquer coisa a abrir mão de meus ideais. CHAMAR
Prefiro trem a ônibus. 1) Chamar é transitivo direto no sentido de convocar, solicitar
Obs.: na língua culta, o verbo “preferir” deve ser usado sem a atenção ou a presença de.
termos intensificadores, tais como: muito, antes, mil vezes, um mi- Por gentileza, vá chamar sua prima. / Por favor, vá chamá-la.
lhão de vezes, mais. A ênfase já é dada pelo prefixo existente no Chamei você várias vezes. / Chamei-o várias vezes.
próprio verbo (pre). 2) Chamar no sentido de denominar, apelidar pode apresentar
objeto direto e indireto, ao qual se refere predicativo preposicio-
Mudança de Transitividade versus Mudança de Significado nado ou não.
Há verbos que, de acordo com a mudança de transitividade, A torcida chamou o jogador mercenário.
apresentam mudança de significado. O conhecimento das diferentes A torcida chamou ao jogador mercenário.
regências desses verbos é um recurso linguístico muito importante, A torcida chamou o jogador de mercenário.
pois além de permitir a correta interpretação de passagens escritas, A torcida chamou ao jogador de mercenário.
oferece possibilidades expressivas a quem fala ou escreve. Dentre
os principais, estão: CUSTAR
1) Custar é intransitivo no sentido de ter determinado valor ou
preço, sendo acompanhado de adjunto adverbial.
AGRADAR
Frutas e verduras não deveriam custar muito.
1) Agradar é transitivo direto no sentido de fazer carinhos,
2) No sentido de ser difícil, penoso, pode ser intransitivo ou
acariciar. transitivo indireto.
Sempre agrada o filho quando o revê. / Sempre o agrada Muito custa viver tão longe da família.
quando o revê. Verbo Oração Subordinada Substantiva Subjetiva
Cláudia não perde oportunidade de agradar o gato. / Cláudia Intransitivo Reduzida de Infinitivo
não perde oportunidade de agradá-lo. Custa-me (a mim) crer que tomou realmente aquela atitude.
2) Agradar é transitivo indireto no sentido de causar agrado Objeto Oração Subordinada Substantiva Subjetiva
a, satisfazer, ser agradável a. Rege complemento introduzido pela Indireto Reduzida de Infinitivo
preposição “a”. Obs.: a Gramática Normativa condena as construções que
O cantor não agradou aos presentes. atribuem ao verbo “custar” um sujeito representado por pessoa.
O cantor não lhes agradou. Observe o exemplo abaixo:
Custei para entender o problema.
ASPIRAR Forma correta: Custou-me entender o problema.
1) Aspirar é transitivo direto no sentido de sorver, inspirar (o
ar), inalar. IMPLICAR
Aspirava o suave aroma. (Aspirava-o) 1) Como transitivo direto, esse verbo tem dois sentidos:
2) Aspirar é transitivo indireto no sentido de desejar, ter como a) dar a entender, fazer supor, pressupor
ambição. Suas atitudes implicavam um firme propósito.
Aspirávamos a melhores condições de vida. (Aspirávamos a
b) Ter como consequência, trazer como consequência, acar-
elas) retar, provocar
Liberdade de escolha implica amadurecimento político de um
Obs.: como o objeto direto do verbo “aspirar” não é pes- povo.
soa, mas coisa, não se usam as formas pronominais átonas “lhe”
e “lhes” e sim as formas tônicas “a ele (s)”, “ a ela (s)”. Veja o 2) Como transitivo direto e indireto, significa comprometer,
exemplo: envolver
Aspiravam a uma existência melhor. (= Aspiravam a ela) Implicaram aquele jornalista em questões econômicas.
Obs.: no sentido de antipatizar, ter implicância, é transitivo
ASSISTIR indireto e rege com preposição “com”.
1) Assistir é transitivo direto no sentido de ajudar, prestar as- Implicava com quem não trabalhasse arduamente.
sistência a, auxiliar.
Por Exemplo: PROCEDER
As empresas de saúde negam-se a assistir os idosos. 1) Proceder é intransitivo no sentido de ser decisivo, ter ca-
As empresas de saúde negam-se a assisti-los. bimento, ter fundamento ou portar-se, comportar-se, agir. Nessa
2) Assistir é transitivo indireto no sentido de ver, presenciar, segunda acepção, vem sempre acompanhado de adjunto adverbial
estar presente, caber, pertencer. de modo.
As afirmações da testemunha procediam, não havia como
Exemplos:
refutá-las.
Assistimos ao documentário.
Você procede muito mal.
Não assisti às últimas sessões. 2) Nos sentidos de ter origem, derivar-se (rege a preposição”
Essa lei assiste ao inquilino. de”) e fazer, executar (rege complemento introduzido pela prepo-
Obs.: no sentido de morar, residir, o verbo “assistir” é intran- sição “a”) é transitivo indireto.
sitivo, sendo acompanhado de adjunto adverbial de lugar introdu- O avião procede de Maceió.
zido pela preposição “em”. Procedeu-se aos exames.
Assistimos numa conturbada cidade. O delegado procederá ao inquérito.
Didatismo e Conhecimento 63
LÍNGUA PORTUGUESA
QUERER Agradável a Escasso de Parco em, de
1) Querer é transitivo direto no sentido de desejar, ter vontade
de, cobiçar. Alheio a, de Essencial a, para Passível de
Querem melhor atendimento. Análogo a Fácil de Preferível a
Queremos um país melhor.
2) Querer é transitivo indireto no sentido de ter afeição, esti- Ansioso de, para,
Fanático por Prejudicial a
mar, amar. por
Quero muito aos meus amigos. Apto a, para Favorável a Prestes a
Ele quer bem à linda menina. Ávido de Generoso com Propício a
Despede-se o filho que muito lhe quer.
Benéfico a Grato a, por Próximo a
VISAR Capaz de, para Hábil em Relacionado com
1) Como transitivo direto, apresenta os sentidos de mirar, fa-
Compatível com Habituado a Relativo a
zer pontaria e de pôr visto, rubricar.
O homem visou o alvo. Contemporâneo a, Satisfeito com, de,
Idêntico a
O gerente não quis visar o cheque. de em, por
2) No sentido de ter em vista, ter como meta, ter como objeti- Contíguo a Impróprio para Semelhante a
vo, é transitivo indireto e rege a preposição “a”.
O ensino deve sempre visar ao progresso social. Contrário a Indeciso em Sensível a
Prometeram tomar medidas que visassem ao bem-estar pú- Curioso de, por Insensível a Sito em
blico. Descontente com Liberal com Suspeito de
Didatismo e Conhecimento 64
LÍNGUA PORTUGUESA
O verbo que exige o mesmo tipo de complemento que o grifa- GABARITO
do acima está empregado em:
A) Em campos extensos, chegavam em alguns casos a extre- 01. D 02. D 03. A 04. A 05. E
mos de sutileza.
B) ...eram comumente assinalados a golpes de machado nos COMENTÁRIOS
troncos mais robustos.
C) Os toscos desenhos e os nomes estropiados desorientam, 1-) ... a que ponto a astronomia facilitou a obra das outras
não raro, quem... ciências ...
D) Koch-Grünberg viu uma dessas marcas de caminho na ser- Facilitar – verbo transitivo direto
ra de Tunuí...
E) ...em que tão bem se revelam suas afinidades com o gentio, A) ...astros que ficam tão distantes ...= verbo de ligação
mestre e colaborador... B) ...que a astronomia é uma das ciências ...= verbo de ligação
C) ...que nos proporcionou um espírito ... = verbo transitivo
04. (Agente Técnico – FCC – 2013-adap.). direto e indireto
... para lidar com as múltiplas vertentes da justiça... E) ...onde seu corpo não passa de um ponto obscuro= verbo
O verbo que exige o mesmo tipo de complemento que oda transitivo indireto
frase acima se encontra em:
A) A palavra direito, em português, vem de directum, do ver- 2-) ... pediu ao delegado do bairro que desse um jeito nos
bo latino dirigere... filhos do sueco.
B) ...o Direito tem uma complexa função de gestão das so- Pedir = verbo transitivo direto e indireto
ciedades...
C) ...o de que o Direito [...] esteja permeado e regulado pela A) ...que existe uma coisa chamada EXÉRCITO... = transi-
justiça. tivo direto
D) Essa problematicidade não afasta a força das aspirações B) ...como se isso aqui fosse casa da sogra?=verbo de ligação
da justiça... C) ...compareceu em companhia da mulher à delegacia...
E) Na dinâmica dessa tensão tem papel relevante o sentimen- =verbo intransitivo
to de justiça. E) O delegado apenas olhou-a espantado com o atrevimento.
=transitivo direto
05. Leia a tira a seguir.
3-) ... constava simplesmente de uma vareta quebrada em par-
tes desiguais...
Constar = verbo intransitivo
Didatismo e Conhecimento 65
LÍNGUA PORTUGUESA
Refiro-me à mesma pessoa. (Refiro-me ao mesmo indivíduo.)
CRASE Informei o ocorrido à senhora. (Informei o ocorrido ao se-
nhor.)
Peça à própria Cláudia para sair mais cedo. (Peça ao pró-
prio Cláudio para sair mais cedo.)
A palavra crase é de origem grega e significa “fusão”,
4-) diante de numerais cardinais:
“mistura”. Na língua portuguesa, é o nome que se dá à “junção”
Chegou a duzentos o número de feridos.
de duas vogais idênticas. É de grande importância a crase da
Daqui a uma semana começa o campeonato.
preposição “a” com o artigo feminino “a” (s), com o “a” inicial
dos pronomes aquele(s), aquela (s), aquilo e com o “a” do relati-
Casos em que a crase SEMPRE ocorre:
vo a qual (as quais). Na escrita, utilizamos o acento grave ( ` ) para
1-) diante de palavras femininas:
indicar a crase. O uso apropriado do acento grave depende da com-
Amanhã iremos à festa de aniversário de minha colega.
preensão da fusão das duas vogais. É fundamental também, para
Sempre vamos à praia no verão.
o entendimento da crase, dominar a regência dos verbos e nomes
Ela disse à irmã o que havia escutado pelos corredores.
que exigem a preposição “a”. Aprender a usar a crase, portanto,
Sou grata à população.
consiste em aprender a verificar a ocorrência simultânea de uma
Fumar é prejudicial à saúde.
preposição e um artigo ou pronome. Observe:
Este aparelho é posterior à invenção do telefone.
Vou a + a igreja.
Vou à igreja.
2-) diante da palavra “moda”, com o sentido de “à moda de”
(mesmo que a expressão moda de fique subentendida):
No exemplo acima, temos a ocorrência da preposição “a”, exi-
O jogador fez um gol à (moda de) Pelé.
gida pelo verbo ir (ir a algum lugar) e a ocorrência do artigo “a” que
Usava sapatos à (moda de) Luís XV.
está determinando o substantivo feminino igreja. Quando ocorre
Estava com vontade de comer frango à (moda de) passarinho.
esse encontro das duas vogais e elas se unem, a união delas é indi-
O menino resolveu vestir-se à (moda de) Fidel Castro.
cada pelo acento grave. Observe os outros exemplos:
Conheço a aluna.
3-) na indicação de horas:
Refiro-me à aluna.
Acordei às sete horas da manhã.
No primeiro exemplo, o verbo é transitivo direto (conhecer
Elas chegaram às dez horas.
algo ou alguém), logo não exige preposição e a crase não pode
Foram dormir à meia-noite.
ocorrer. No segundo exemplo, o verbo é transitivo indireto (refe-
rir-se a algo ou a alguém) e exige a preposição “a”. Portanto, a
4-) em locuções adverbiais, prepositivas e conjuntivas de que
crase é possível, desde que o termo seguinte seja feminino e ad-
participam palavras femininas. Por exemplo:
mita o artigo feminino “a” ou um dos pronomes já especificados.
Veja os principais casos em que a crase NÃO ocorre: à tarde às ocultas às pressas à medida que
1-) diante de substantivos masculinos: à noite às claras às escondidas à força
Andamos a cavalo.
Fomos a pé. à vontade à beça à larga à escuta
Passou a camisa a ferro. às avessas à revelia à exceção de à imitação de
Fazer o exercício a lápis. à esquerda às turras às vezes à chave
Compramos os móveis a prazo.
à direita à procura à deriva à toa
2-) diante de verbos no infinitivo: à luz à sombra de à frente de à proporção que
A criança começou a falar. à semelhança de às ordens à beira de
Ela não tem nada a dizer.
Obs.: como os verbos não admitem artigos, o “a” dos exem- Crase diante de Nomes de Lugar
plos acima é apenas preposição, logo não ocorrerá crase.
Alguns nomes de lugar não admitem a anteposição do arti-
3-) diante da maioria dos pronomes e das expressões de trata- go “a”. Outros, entretanto, admitem o artigo, de modo que dian-
mento, com exceção das formas senhora, senhorita e dona: te deles haverá crase, desde que o termo regente exija a preposi-
Diga a ela que não estarei em casa amanhã. ção “a”. Para saber se um nome de lugar admite ou não a antepo-
Entreguei a todos os documentos necessários. sição do artigo feminino “a”, deve-se substituir o termo regente
Ele fez referência a Vossa Excelência no discurso de ontem. por um verbo que peça a preposição “de” ou “em”. A ocorrência
Peço a Vossa Senhoria que aguarde alguns minutos. da contração “da” ou “na” prova que esse nome de lugar aceita o
Os poucos casos em que ocorre crase diante dos pronomes artigo e, por isso, haverá crase. Por exemplo:
podem ser identificados pelo método: troque a palavra feminina Vou à França. (Vim da [de+a] França. Estou na [em+a] França.)
por uma masculina, caso na nova construção surgir a forma ao, Cheguei à Grécia. (Vim da Grécia. Estou na Grécia.)
ocorrerá crase. Por exemplo: Retornarei à Itália. (Vim da Itália. Estou na Itália)
Didatismo e Conhecimento 66
LÍNGUA PORTUGUESA
Vou a Porto Alegre. (Vim de Porto Alegre. Estou em Porto Minha revolta é ligada à do meu país.
Alegre.) Meu luto é ligado ao do meu país.
As orações são semelhantes às de antes.
-- Dica: use a regrinha “Vou A volto DA, crase HÁ; vou A Os exemplos são semelhantes aos de antes.
volto DE, crase PRA QUÊ?” Suas perguntas são superiores às dele.
Ex: Vou a Campinas.= Volto de Campinas. Seus argumentos são superiores aos dele.
Vou à praia.= Volto da praia. Sua blusa é idêntica à de minha colega.
Seu casaco é idêntico ao de minha colega.
ATENÇÃO: quando o nome de lugar estiver especificado,
ocorrerá crase. Veja: A Palavra Distância
Retornarei à São Paulo dos bandeirantes. = mesmo que, pela Se a palavra distância estiver especificada, determinada, a cra-
regrinha acima, seja a do “VOLTO DE” se deve ocorrer. Por exemplo:
Irei à Salvador de Jorge Amado. Sua casa fica à distância de 100 Km daqui. (A palavra está
determinada)
Crase diante dos Pronomes Demonstrativos Aquele (s), Todos devem ficar à distância de 50 metros do palco. (A pala-
Aquela (s), Aquilo vra está especificada.)
Haverá crase diante desses pronomes sempre que o termo re- Se a palavra distância não estiver especificada, a cra-
gente exigir a preposição “a”. Por exemplo: se não pode ocorrer. Por exemplo:
Os militares ficaram a distância.
Gostava de fotografar a distância.
Refiro-me a+ aquele atentado. Ensinou a distância.
Preposição Pronome Dizem que aquele médico cura a distância.
Reconheci o menino a distância.
Refiro-me àquele atentado.
Observação: por motivo de clareza, para evitar ambiguidade,
O termo regente do exemplo acima é o verbo transitivo indire- pode-se usar a crase. Veja:
to referir (referir-se a algo ou alguém) e exige preposição, portan- Gostava de fotografar à distância.
to, ocorre a crase. Observe este outro exemplo: Ensinou à distância.
Aluguei aquela casa. Dizem que aquele médico cura à distância.
O verbo “alugar” é transitivo direto (alugar algo) e não exi- Casos em que a ocorrência da crase é FACULTATIVA
ge preposição. Logo, a crase não ocorre nesse caso.Veja outros 1-) diante de nomes próprios femininos:
exemplos: Observação: é facultativo o uso da crase diante de nomes pró-
Dediquei àquela senhora todo o meu trabalho. prios femininos porque é facultativo o uso do artigo. Observe:
Quero agradecer àqueles que me socorreram. Paula é muito bonita. Laura é minha amiga.
Refiro-me àquilo que aconteceu com seu pai. A Paula é muito bonita. A Laura é minha amiga.
Não obedecerei àquele sujeito.
Assisti àquele filme três vezes. Como podemos constatar, é facultativo o uso do artigo femi-
Espero aquele rapaz. nino diante de nomes próprios femininos, então podemos escrever
Fiz aquilo que você disse. as frases abaixo das seguintes formas:
Comprei aquela caneta.
Entreguei o cartão a Paula. Entreguei o cartão a Roberto.
Crase com os Pronomes Relativos A Qual, As Quais Entreguei o
A ocorrência da crase com os pronomes relativos a qual e as Entreguei o cartão à Paula.
cartão ao Roberto.
quais depende do verbo. Se o verbo que rege esses pronomes exigir
a preposição «a», haverá crase. É possível detectar a ocorrência da 2-) diante de pronome possessivo feminino:
crase nesses casos utilizando a substituição do termo regido femi- Observação: é facultativo o uso da crase diante de pronomes
nino por um termo regido masculino. Por exemplo: possessivos femininos porque é facultativo o uso do artigo. Ob-
A igreja à qual me refiro fica no centro da cidade. serve:
O monumento ao qual me refiro fica no centro da cidade.
Minha irmã está esperando
Minha avó tem setenta anos.
Caso surja a forma ao com a troca do termo, ocorrerá a crase. por você.
Veja outros exemplos: A minha irmã está esperando
A minha avó tem setenta anos.
São normas às quais todos os alunos devem obedecer. por você.
Esta foi a conclusão à qual ele chegou.
Várias alunas às quais ele fez perguntas não souberam res- Sendo facultativo o uso do artigo feminino diante de prono-
ponder nenhuma das questões. mes possessivos femininos, então podemos escrever as frases abai-
A sessão à qual assisti estava vazia. xo das seguintes formas:
Crase com o Pronome Demonstrativo “a” Cedi o lugar a minha avó. Cedi o lugar a meu avô.
A ocorrência da crase com o pronome demonstrativo “a” tam-
bém pode ser detectada através da substituição do termo regente Cedi o lugar à minha avó. Cedi o lugar ao meu avô.
feminino por um termo regido masculino. Veja:
Didatismo e Conhecimento 67
LÍNGUA PORTUGUESA
3-) depois da preposição até: Isto apenas vem provar que a leitura é um remédio para a
solidão em que vive cada um de nós neste formigueiro. Claro que
Fui até a praia. ou Fui até à praia.
não me estou referindo a essa vulgar comunicação festiva e efer-
Acompanhe-o até a porta. ou Acompanhe-o até à porta. vescente.
A palestra vai até as cin- A palestra vai até às cinco Porque o autor escreve, antes de tudo, para expressar-se. Sua
ou comunicação com o leitor decorre unicamente daí. Por afinidades.
co horas da tarde. horas da tarde. É como, na vida, se faz um amigo.
Questões sobre Crase E o sonho do escritor, do poeta, é individualizar cada formiga
num formigueiro, cada ovelha num rebanho − para que sejamos
01.( Escrevente TJ SP – Vunesp/2012) No Brasil, as discus- humanos e não uma infinidade de xerox infinitamente reproduzi-
sões sobre drogas parecem limitar-se ______aspectos jurídicos dos uns dos outros.
ou policiais. É como se suas únicas consequências estivessem em Mas acontece que há também autores xerox, que nos invadem
legalismos, tecnicalidades e estatísticas criminais. Raro ler ____ com aqueles seus best- -sellers...
respeito envolvendo questões de saúde pública como programas Será tudo isto uma causa ou um efeito?
de esclarecimento e prevenção, de tratamento para dependentes e Tristes interrogações para se fazerem num mundo que já foi
de reintegração desses____ vida. Quantos de nós sabemos o nome civilizado.
de um médico ou clínica ____quem tentar encaminhar um drogado
da nossa própria família? (Mário Quintana. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova
(Ruy Castro, Da nossa própria família. Aguilar, 1. ed., 2005. p. 654)
Folha de S.Paulo, 17.09.2012. Adaptado)
As lacunas do texto devem ser preenchidas, correta e respec- Claro que não me estou referindo a essa vulgar comunicação
tivamente, com: festiva e efervescente.
(A) aos … à … a … a O vocábulo a deverá receber o sinal indicativo de crase se o
(B) aos … a … à … a segmento grifado for substituído por:
(C) a … a … à … à A) leitura apressada e sem profundidade.
B) cada um de nós neste formigueiro.
(D) à … à … à … à
C) exemplo de obras publicadas recentemente.
(E) a … a … a … a
D) uma comunicação festiva e virtual.
E) respeito de autores reconhecidos pelo público.
02. (Agente de Apoio Administrativo – FCC – 2013).Leia
05. (Agente de Escolta e Vigilância Penitenciária – VU-
o texto a seguir.
NESP – 2013). O Instituto Nacional de Administração Prisional
Foi por esse tempo que Rita, desconfiada e medrosa, correu
(INAP) também desenvolve atividades lúdicas de apoio______
______ cartomante para consultá-la sobre a verdadeira causa do
ressocialização do indivíduo preso, com o objetivo de prepará-lo
procedimento de Camilo. Vimos que ______ cartomante restituiu-
para o retorno______ sociedade. Dessa forma, quando em liber-
-lhe ______ confiança, e que o rapaz repreendeu-a por ter feito o
dade, ele estará capacitado______ ter uma profissão e uma vida
que fez.
digna.
(Machado de Assis. A cartomante. In: Várias histórias. Rio
(Disponível em: www.metropolitana.com.br/blog/qual_e_a_
de Janeiro: Globo, 1997, p. 6)
importancia_da_ressocializacao_de_presos. Acesso em:
Preenchem corretamente as lacunas da frase acima, na ordem
18.08.2012. Adaptado)
dada:
Assinale a alternativa que preenche, correta e respectivamen-
A) à – a – a
te, as lacunas do texto, de acordo com a norma-padrão da língua
B) a – a – à
portuguesa.
C) à – a – à
A) à … à … à
D) à – à – a
B) a … a … à
E) a – à – à
C) a … à … à
D) à … à ... a
03 “Nesta oportunidade, volto ___ referir-me ___ problemas
E) a … à … a
já expostos ___ V. Sª ___ alguns dias”.
a) à - àqueles - a - há
06. O Ministro informou que iria resistir _____ pressões con-
b) a - àqueles - a - há
trárias _____ modificações relativas _____ aquisição da casa
c) a - aqueles - à - a
própria.
d) à - àqueles - a - a
a) às - àquelas _ à
e) a - aqueles - à - há
b) as - aquelas - a
c) às àquelas - a
04.(Agente Técnico – FCC – 2013). Leia o texto a seguir.
d) às - aquelas - à
e) as - àquelas - à
Comunicação
O público ledor (existe mesmo!) é sensorial: quer ter um au-
07. (Agente de Escolta e Vigilância Penitenciária – VU-
tor ao vivo, em carne e osso. Quando este morre, há uma queda
NESP – 2013-adap)
de popularidade em termos de venda. Ou, quando teatrólogo, em
O acento indicativo de crase está corretamente empregado em:
termos de espetáculo. Um exemplo: G. B. Shaw. E, entre nós, o
A) Tendências agressivas começam à ser relacionadas com as
suave fantasma de Cecília Meireles recém está se materializando,
dificuldades para lidar com as frustrações de seus desejos.
tantos anos depois.
Didatismo e Conhecimento 68
LÍNGUA PORTUGUESA
B) A agressividade impulsiva deve-se à perturbações nos me- GABARITO
canismos biológicos de controle emocional.
01. B 02. A 03. B 04. A 05. D
C) A violência urbana é comparada à uma enfermidade.
D) Condições de risco aliadas à exemplo de impunidade ali- 06. A 07. E 08. B 09. D 10. C
mentam a violência crescente nas cidades.
E) Um ambiente desfavorável à formação da personalidade
atinge os mais vulneráveis. COMENTÁRIOS
Didatismo e Conhecimento 69
LÍNGUA PORTUGUESA
C) A violência urbana é comparada à uma enfermidade. (ar-
tigo indefinido) ANOTAÇÕES
D) Condições de risco aliadas à exemplo de impunidade ali-
mentam a violência crescente nas cidades. (palavra masculina)
E) Um ambiente desfavorável à formação da personalidade
atinge os mais vulneráveis. = correta (regência nominal: desfa-
vorável a?)
—————————————————————————
8-)
A) Este cientista tem se dedicado à uma pesquisa na área de —————————————————————————
biotecnologia. (artigo indefinido)
B) Os pais não podem ser omissos e devem se dedicar à edu- —————————————————————————
cação dos filhos. = correta (regência verbal: dedicar a )
C) Nossa síndica dedica-se integralmente à conservar as insta- —————————————————————————
lações do prédio. (verbo no infinitivo)
D) O bombeiro deve dedicar sua atenção à qualquer detalhe —————————————————————————
que envolva a segurança das pessoas. (pronome indefinido)
E) É função da política é dedicar-se à todo problema que com- —————————————————————————
prometa o bem-estar do cidadão. (pronome indefinido)
—————————————————————————
9-) Um bom conhecimento de matemática é indispensável à —————————————————————————
construção do saber nas mais diversas áreas.
A) à todo e qualquer estudante. (pronome indefinido) —————————————————————————
B) à estudantes de nível superior. (“a” no singular antes de
palavra no plural) —————————————————————————
C) à quem pretende carreiras no campo de exatas. (pronome
indefinido/relativo) —————————————————————————
E) à uma boa formação profissional. (artigo indefinido)
—————————————————————————
10-) —————————————————————————
- a alguns anos - Pronome indefinido
- começar a ir - verbo no infinitivo —————————————————————————
- ir à escola - ir a algum lugar – regência verbal pede prepo-
sição —————————————————————————
- aprender a ler - verbo no infinitivo
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ANOTAÇÕES
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Didatismo e Conhecimento 70
NOÇÕES DE DIREITO
NOÇÕES DE DIREITO
A) A forma de Estado: o Brasil é uma federação, isto é, o re-
Prof. Rafael José Nadim De Lazari sultado da união indissolúvel de Estados-membros, dos Municí-
pios e do Distrito Federal. Inclusive, por força do art. 60, §4º, I,
Doutorando em Direito pela Pontifícia Universidade Cató-
lica de São Paulo - PUC/SP. Mestre-bolsista (CAPES/PROSUP CF, a forma federativa de Estado é cláusula pétrea constitucional-
Modalidade 1) em Direito pelo Centro Universitário “Eurípides mente explícita.
Soares da Rocha”, de Marília/SP - UNIVEM. Advogado e consul- B) A forma de governo: O Brasil é uma república.
tor jurídico. Autor, organizador e participante de inúmeras obras
jurídicas. 1.1.2 Significado de “Estado Democrático de Direito” (art.
1º, caput, CF). Ato contínuo, o mesmo art. 1º, caput, prevê que
esta união indissolúvel dos membros da federação constitui-se
um “Estado Democrático de Direito”, Estado este que representa
2.1 CONSTITUIÇÃO FEDERAL: o resultado de uma revolução histórica, por ser o sucessor, nesta
ARTIGOS 1.º A 5.º, 37 E 144 ordem, dos Estados Liberal e Social.
Os “princípios fundamentais” da República Federativa do 1.1.6 Significado de “valores sociais do trabalho e da livre
Brasil estão posicionados logo no início da Constituição pátria, iniciativa” (art. 1º, IV, CF). É o reconhecimento de que adotamos
após o preâmbulo constitucional, e antes dos direitos e garantias o capitalismo (iniciativa privada), mas um “capitalismo humanis-
fundamentais. Representam as premissas especiais e majoritárias ta”, isto é, fortemente influenciado pelos valores sociais do traba-
que norteiam todo o ordenamento pátrio, como a dignidade da lho. É exatamente por isso, p. ex., que os arts. 7º e 8º, da Consti-
pessoa humana, o pluralismo político, a prevalência dos direitos tuição Federal, consagram uma série de direitos aos trabalhadores
humanos, a harmonia entre os três Poderes etc. e rurais. É exatamente por isso também, p. ex., que não se pode
Há se tomar cuidado, contudo, para eventuais “pegadinhas” impor pena de trabalhos forçados, que se considera o trabalho es-
de concurso. Se a questão perguntar “quais são os fundamentos da cravo crime, e que se exige que o trabalho deve ser justamente
República Federativa do Brasil”, há se responder aqueles previstos remunerado de acordo com sua complexidade.
no art. 1º, caput, CF. Agora, se a questão perguntar “quais são os
objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil”, há se 1.1.7 Significado de “pluralismo político” (art. 1º, V, CF).
responder aqueles previstos no art. 3º. Por fim, se a questão per- Por ser o Brasil um país cuja identidade é resultante da miscige-
guntar “quais são os princípios seguidos pelo Brasil nas relações nação étnica, religiosa, racial, ideal, o pluralismo político assegura
internacionais”, há se responder aqueles previstos no art. 4º, da Lei que todas estas nuanças sejam devidamente respeitadas, constitu-
Fundamental. am elas ou não uma maioria. É dizer, desta forma, que o pluralismo
político representa o respeito às minorias, também.
1.1.1 Significado de “República Federativa do Brasil” (art.
1º, caput, CF). Com efeito, a expressão “República Federativa do
1.2 Art. 2º, CF. Reproduzamos o dispositivo, para facilitar o
Brasil”, usada no art. 1º, caput, CF, revela, dentre outras coisas:
entendimento do leitor:
Didatismo e Conhecimento 1
NOÇÕES DE DIREITO
Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos marginalidade, e a redução das desigualdades sociais e regionais
entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. (art. 3º, III), e a promoção do bem de todos, sem preconceitos de
origem, raça, sexo, idade, cor, e quaisquer outras formas de discri-
São três os Poderes da República, a saber, o Executivo (ou minação (art. 3º, IV).
Administrativo), o Legislativo e o Judiciário, todos independentes
e harmônicos entre si. 1.3.1 Significado da expressão “construir uma sociedade
Por independência, significa que cada Poder pode realizar livre, justa e solidária” (art. 3º, I, CF). A “fraternidade” não é
seus próprios concursos, pode destinar o orçamento da maneira consagrada explicitamente na Constituição, tal como o são a “li-
que lhe convier, pode estruturar seu quadro de cargos e funcioná- berdade” e a “igualdade”, somente se lhe fazendo menção no pre-
rios livremente, pode criar ou suprimir funções, pode gastar ou su- âmbulo constitucional, quando se utiliza a expressão “sociedade
primir despesas de acordo com suas necessidades, dentre inúmeras fraterna”.
outras atribuições. Por “sociedade livre”, se entende a não submissão deste país
Por harmonia, significa que cada Poder deve respeitar a esfera a qualquer força estrangeira (tal como já foi este país colônia de
de atribuição dos outros Poderes. Assim, dentro de suas atribui- Portugal) bem como por qualquer movimento totalitário nacional
ções típicas, ao Judiciário não compete legislar (caso em que esta- (tal como já foi este país vítima do regime militar).
ria invadindo a esfera de atuação típica do Poder Legislativo), ao Por “sociedade justa” há se entender aquela que respeita e que
Executivo não compete julgar, e ao Executivo não compete editar faz ser respeitada, não permitindo atrocidades políticas, abusos
leis (repete-se: em sua esfera de atribuições típica). econômicos, ou violações à dignidade humana.
Essa harmonia, também, pode ser vista no controle que um Por fim, por “sociedade solidária” há se entender a observân-
Poder exerce sobre o outro, na conhecida “Teoria dos Freios e cia ao terceiro vetor da Revolução Francesa, a saber, a “fraternida-
Contrapesos”. de”, representativa da cooperação interna e internacional.
É óbvio que cada Poder tem suas funções atípicas (ex.: em
alguns casos o Judiciário legisla) (ex. 2: em alguns casos o Le- 1.3.2 Significado da expressão “garantir o desenvolvimen-
gislativo julga). Isso não representa óbice, todavia, que a atuação to nacional” (art. 3º, II, CF). Mais à frente se estudará a chamada
funcional de cada Poder corra de maneira independente, desde “terceira geração/dimensão” de direitos fundamentais, ligada ao
que respeitada a harmonia de cada um para com seus “Poderes- valor “fraternidade”, dentro da qual estariam, dentre outros, o di-
-irmãos”, obviamente. reito ao progresso, ao meio ambiente, e o direito de propriedade
sobre o patrimônio comum da humanidade.
1.3 Art. 3º, CF. Reproduzamos o dispositivo, para facilitar o Este “desenvolvimento nacional” deve ser entendido em sen-
entendimento do leitor: tido amplo, isto é, para mais que um simples progresso econômi-
co. Engloba, também, o desenvolvimento político, social, cultural,
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Fe- ideal, dentre tantos outros.
derativa do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; 1.3.3 Significado da expressão “erradicar a pobreza e a
II - garantir o desenvolvimento nacional; marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais”
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desi- (art. 3º, III, CF). Trata-se de desdobramento da garantia do desen-
gualdades sociais e regionais; volvimento nacional do art. 3º, II, CF.
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, O Brasil é uma nação de diferenças socioeconômicas gritan-
raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. tes no que atine à sua população, com a majoritária concentração
de riqueza nas mãos de poucos. Sendo assim, como um processo
Logo no início do estudo dos “princípios fundamentais”, lo- osmótico, do meio mais para o menos concentrado, é preciso que
calizados entre os arts. 1º e 4º, da Constituição, foi dito que os parte dessa riqueza seja transferida aos grupos populacionais mais
“fundamentos da República Federativa do Brasil” não são a mes- carentes.
ma coisa que os “objetivos fundamentais da República Federativa Veja-se que, neste aspecto, o texto constitucional foi feliz em
do Brasil”. seu texto: é preciso “erradicar” a pobreza e a marginalização, mas
Melhor explica-se: por “fundamentos” entende-se aquelas si- “reduzir” as desigualdades sociais e regionais. Ora, bem sabem to-
tuações que já são inerentes ao sistema constitucional pátrio. A dos que sempre haverá discrepâncias sociais e regionais (a concen-
dignidade da pessoa humana, p. ex., não é um objetivo a ser al- tração da produção industrial, p. ex., obviamente se concentra em
cançado num futuro próximo, mas uma exigência prevista para o sua maior parte na região sudeste e em menor parte na região norte
presente. Já os “objetivos fundamentais” são as premissas a que o do país). O que se deve é, apenas, atenuar estas desigualdades.
Brasil se compromete a alcançar o quanto antes em prol da conso- Já a pobreza “é pobreza em qualquer lugar” (com o perdão da
lidação da sua democracia. licença poética), e, portanto, deve ser extirpada deste país.
Graças a este art. 3º, pode-se falar que o Brasil vive à égide de
uma Constituição compromissária, dirigente. O art. 3º nos revela 1.3.4 Significado da expressão “promover o bem de todos,
que temos um caminho a ser percorrido. O art. 3º é a busca pela sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
concretização dos princípios fundamentais do art. 1º. outras formas de discriminação” (art. 3º, IV, CF). Eis o reco-
E, como objetivos fundamentais, se elenca a construção de nhecimento do “pluralismo” como elemento norteador da nação
uma sociedade livre, justa e solidária (art. 3º, I), a garantia do de- (o “pluralismo”, como já dito outrora, é muito mais que o simples
senvolvimento nacional (art. 3º, II), a erradicação da pobreza e da conceito de “democracia”).
Didatismo e Conhecimento 2
NOÇÕES DE DIREITO
A promoção do bem de todos deve ser feita sem qualquer di- de conquistas” nem as “guerras preventivas”, tal como é praxe na
ferenciação quanto às posições políticas, religiosas, étnicas, ideais, cultura norte-americana, mas só as “guerras defensivas”, isto é, as
e sociais. guerras de proteção ao território e ao povo brasileiro, ainda que,
para isso, precise lutar fora do espaço territorial pátrio. Em outras
1.4 Art. 4º, CF. Reproduzamos o dispositivo, para facilitar o palavras, “guerra defensiva” não significa esperar ser invadido,
entendimento do leitor: como erroneamente se possa pensar.
Para a solução dos conflitos, busca-se a arbitragem internacio-
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas rela- nal, os acordos internacionais, a mediação, o auxílio das Nações
ções internacionais pelos seguintes princípios:
Unidas etc. O belicismo só deve ser utilizado em último caso.
I - independência nacional;
II - prevalência dos direitos humanos;
III - autodeterminação dos povos; 1.4.5 Significado de “igualdade entre os Estados” (art. 4º,
IV - não intervenção; V, CF). Trata-se de princípio autoexplicativo. O Brasil não reco-
V - igualdade entre os Estados; nhece a existência de Estados “maiores” ou “melhores” que os ou-
VI - defesa da paz; tros tão-somente por seu poderio bélico, econômico, cultural etc.
VII - solução pacífica dos conflitos; Sendo iguais todas as nações, todas podem proteger-se e ser pro-
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo; tegidas contra ameaças estrangeiras, tal como o Brasil se autoriza
IX - cooperação entre os povos para o progresso da humani- a fazer.
dade;
X - concessão de asilo político. 1.4.6 Significado de “solução pacífica dos conflitos” (art.
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará 4º, VII, CF). Trata-se de desdobramento dos princípios da “não
a integração econômica, política, social e cultural dos povos da intervenção” e da “defesa da paz” já estudados. Para a solução dos
América Latina, visando à formação de uma comunidade latino- conflitos, busca-se a arbitragem internacional, os acordos interna-
-americana de nações.
cionais, a mediação, o auxílio das Nações Unidas etc. O belicismo
O art. 4º é a revelação de que vivemos em um “Estado Cons- só deve ser utilizado em último caso.
titucional Cooperativo”, expressão esta utilizada por Peter Häber-
le, defensor de uma concepção culturalista de Constituição. Por 1.4.7 Significado de “repúdio ao terrorismo e ao racismo”
“Estado Constitucional Cooperativo” se entende um Estado que se (art. 4º, VIII, CF). “Repúdio” tem significado de repulsa, contra-
disponibiliza para outros Estados, que se abre para outros Estados, riedade. “Racismo” é um termo amplo para designar qualquer tipo
mas que exige algum grau de reciprocidade em troca, a bem do de- de discriminação, seja ela de raça ou não.
senvolvimento de um constitucionalismo mundial, ou, ao menos, O Brasil não tem uma tipificação específica para crimes de
ocidental. terrorismo, como o tem para os crimes de racismo. A “Lei de Se-
gurança Nacional” (Lei nº 7.170/83) apenas fala em “atos de terro-
1.4.1 Significado de “independência nacional” (art. 4º, I, rismo” em seu art. 20, sem especificar, contudo, o que seriam estes
CF). É a consequência da “soberania nacional”, constante do art. atos e como puni-los. Por tratar-se de conceito indeterminado, há
1º, I, CF. Afinal, é graças à independência deste país que se autori- se defender que, hoje, o Brasil não pune de forma autônoma o
za a chamá-lo de nação soberana.
crime de terrorismo.
1.4.2 Significado de “prevalência dos direitos humanos”
(art. 4º, II, CF). Os direitos humanos são proteções jurídicas ne- 1.4.8 Significado de “cooperação entre os povos para o
cessárias à concretização da dignidade da pessoa humana. progresso da humanidade” (art. 4º, IX, CF). Um bom exemplo
Em verdade, os direitos fundamentais nada mais são que os da aplicação deste princípio está no parágrafo único, do art. 4º, da
direitos humanos internalizados em Constituições. Constituição Federal, segundo o qual a República Federativa do
Desta forma, tal como os direitos fundamentais devem pre- Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural
valecer no plano interno, também os direitos humanos devem ser dos povos da América Latina, visando à formação de uma comu-
a tônica no plano internacional. Disso infere-se que tanto faria ao nidade latino-americana de nações. Tal objetivo acabou sendo em
constituinte ter consagrado, neste art. 4º, II, CF, a “prevalência dos parte alcançado com a criação do MERCOSUL, ainda não total-
direitos humanos” (como o fez) ou a “prevalência dos direitos fun- mente implementado.
damentais”. O resultado pretendido é o mesmo. Essa ideia de cooperação entre os povos remonta a uma pro-
posta defendida pelo globalismo, de formação de blocos econô-
1.4.3 Significado de “autodeterminação dos povos” (art.
mico-políticos de desenvolvimento recíproco. Some-se a isso o
4º, III, CF). Esse princípio é um “recado” às demais nações. Por
fato de que, o art. 4º, IX, CF, em sua parte final, faz menção ao
tal, o Brasil afirma que não aceita nem adota a prática de que um
povo seja submetido/subordinado a outro. Todos têm direito a um “progresso da humanidade”, o qual é considerado um direito fun-
Estado, para que possam geri-lo, autonomamente, da maneira que damental de terceira dimensão/geração, aliado ao valor “fraterni-
melhor lhes convier. dade”, na abrasileirada classificação de Paulo Bonavides.
Assim, unindo a ideia de fraternidade à de criação de grupos
1.4.4 Significado de “não intervenção” e “defesa da paz” de países (como o MERCOSUL, como a União Europeia etc.),
(art. 4º, IV e VI, CF). A República Federativa do Brasil é um Es- forma-se o princípio de cooperação entre os povos para o progres-
tado não beligerante. Não é uma tendência deste país as “guerras so de cada país e da humanidade.
Didatismo e Conhecimento 3
NOÇÕES DE DIREITO
1.4.9 Significado de “concessão de asilo político” (art. 4º, XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de
X, CF). “Asilo político” é a proteção que um Estado dá a nacionais paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, per-
de outros Estados que estiverem sofrendo perseguições políticas manecer ou dele sair com seus bens;
em razão de sua ideologia, crença, etnia etc. O Estatuto do Estran- XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em
geiro (Lei nº 6.815/80) regula a condição do asilado. Em seu art. locais abertos ao público, independentemente de autorização, des-
28, se afirma que o estrangeiro admitido no território nacional na de que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para
condição de asilado político ficará sujeito, além dos deveres que o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade
lhe forem impostos pelo direito internacional, a cumprir as dispo- competente;
sições da legislação vigente e as que o Governo brasileiro lhe fixar. XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, ve-
dada a de caráter paramilitar;
2 Direitos e deveres individuais e coletivos (art. 5º, CF). A XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de coo-
seguir, das quatro espécies de direitos e garantias fundamentais perativas independem de autorização, sendo vedada a interferência
previstas na Constituição Federal (direitos e deveres individuais estatal em seu funcionamento;
e coletivos, direitos sociais, direitos da nacionalidade, e direitos XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente dissol-
políticos), o edital em lume somente sobre a primeira espécie, ex- vidas ou ter suas atividades suspensas por decisão judicial, exigin-
pressamente prevista no art. 5º, CF, dispositivo o qual convém a do-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado;
XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a per-
seguir reproduzir:
manecer associado;
XXI - as entidades associativas, quando expressamente auto-
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qual-
rizadas, têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou
quer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros re- extrajudicialmente;
sidentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à XXII - é garantido o direito de propriedade;
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação
termos desta Constituição; por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, me-
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma diante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos
coisa senão em virtude de lei; previstos nesta Constituição;
III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desu- XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade com-
mano ou degradante; petente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao pro-
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o prietário indenização ulterior, se houver dano;
anonimato; XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em lei,
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, desde que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para
além da indenização por dano material, moral ou à imagem; pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dis-
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo pondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento;
assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização,
forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias; publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdei-
VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistên- ros pelo tempo que a lei fixar;
cia religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva; XXVIII - são assegurados, nos termos da lei:
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e
religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar à reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades
para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a desportivas;
cumprir prestação alternativa, fixada em lei; b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, cien- obras que criarem ou de que participarem aos criadores, aos in-
térpretes e às respectivas representações sindicais e associativas;
tífica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;
XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos industriais
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a
privilégio temporário para sua utilização, bem como proteção às
imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano
criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de em-
material ou moral decorrente de sua violação; presas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse so-
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela po- cial e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País;
dendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de XXX - é garantido o direito de herança;
flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros situados no País
dia, por determinação judicial; será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos
XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunica- filhos brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável a lei
ções telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, pessoal do “de cujus”;
no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do
a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução consumidor;
processual penal; XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos in-
XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profis- formações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou
são, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer; geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de respon-
XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguar- sabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à
dado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional; segurança da sociedade e do Estado;
Didatismo e Conhecimento 4
NOÇÕES DE DIREITO
XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pa- LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado,
gamento de taxas: em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de
a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de di- comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e
reitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder; drogas afins, na forma da lei;
b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defe- LII - não será concedida extradição de estrangeiro por crime
sa de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal; político ou de opinião;
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela
lesão ou ameaça a direito; autoridade competente;
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurí- LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem
dico perfeito e a coisa julgada; o devido processo legal;
XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção; LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo,
XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organi- e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla
zação que lhe der a lei, assegurados: defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por
a) a plenitude de defesa;
meios ilícitos;
b) o sigilo das votações;
LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em
c) a soberania dos veredictos;
julgado de sentença penal condenatória;
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra LVIII - o civilmente identificado não será submetido à identi-
a vida; ficação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei;
XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação pública,
sem prévia cominação legal; se esta não for intentada no prazo legal;
XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu; LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processu-
XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos di- ais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem;
reitos e liberdades fundamentais; LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por
XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e im- ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competen-
prescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei; te, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente
XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis militar, definidos em lei;
de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entor- LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre
pecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes serão comunicados imediatamente ao juiz competente e à família
hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os do preso ou à pessoa por ele indicada;
que, podendo evitá-los, se omitirem; LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais
XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da fa-
grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional mília e de advogado;
e o Estado Democrático; LXIV - o preso tem direito à identificação dos responsáveis
XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, poden- por sua prisão ou por seu interrogatório policial;
do a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela auto-
bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles ridade judiciária;
executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido; LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando
XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança;
entre outras, as seguintes: LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do respon-
a) privação ou restrição da liberdade; sável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação
alimentícia e a do depositário infiel;
b) perda de bens;
LXVIII - conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém so-
c) multa;
frer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua
d) prestação social alternativa;
liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder;
e) suspensão ou interdição de direitos; LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger
XLVII - não haverá penas: direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for
art. 84, XIX; autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de
b) de caráter perpétuo; atribuições do Poder Público;
c) de trabalhos forçados; LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado
d) de banimento; por:
e) cruéis; a) partido político com representação no Congresso Nacional;
XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, b) organização sindical, entidade de classe ou associação le-
de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado; galmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano,
XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física em defesa dos interesses de seus membros ou associados;
e moral; LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a
L - às presidiárias serão asseguradas condições para que pos- falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos di-
sam permanecer com seus filhos durante o período de amamenta- reitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à
ção; nacionalidade, à soberania e à cidadania;
Didatismo e Conhecimento 5
NOÇÕES DE DIREITO
LXXII - conceder-se-á habeas data: B) Algumas questões práticas sobre o direito à vida. Como
a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à fica o caso das Testemunhas de Jeová, que não admitem receber
pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados transfusão de sangue? Como fica a questão do conflito entre o di-
de entidades governamentais ou de caráter público; reito à vida e a liberdade religiosa? O entendimento prevalente é o
b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo de que o direito à vida deve prevalecer sobre a liberdade religiosa.
por processo sigiloso, judicial ou administrativo; E o caso da eutanásia/ortotanásia? São escassas as decisões
LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação judiciais admitindo o “direito de morrer”, condicionando isso ao
popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de elevado grau de sofrimento de quem pede, bem como a impossibi-
entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, lidade de recuperação deste. Há se lembrar que, tal como o direito
ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o de permanecer vivo, o direito à vida também engloba o direito de
autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus viver com dignidade, e conviver com o sofrimento físico é um
da sucumbência; profundo golpe a esta dignidade do agente.
LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gra- E a legalização do aborto? Também há grande celeuma em
tuita aos que comprovarem insuficiência de recursos; torno da questão. Quem se põe favoravelmente ao aborto o faz
LXXV - o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, com base no direito à privacidade e à intimidade, de modo que não
assim como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença; caberia ao Estado obrigar uma pessoa a ter seu filho. Quem se põe
LXXVI - são gratuitos para os reconhecidamente pobres, na de maneira contrária ao aborto, contudo, o faz com base na vida do
forma da lei: feto que se está dando fim com o procedimento abortivo.
a) o registro civil de nascimento; E a hipótese de fetos anencéfalos? O Supremo Tribunal Fe-
b) a certidão de óbito; deral decidiu pela possibilidade de extirpação do feto anencefá-
LXXVII - são gratuitas as ações de habeas corpus e habeas lico do ventre materno, sem que isso configure o crime de aborto
data, e, na forma da lei, os atos necessários ao exercício da cida- previsto no Código Penal. Isto posto, em entendendo que o feto
dania; anencefálico tem vida, agora são três as hipóteses de aborto: em
LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são caso de estupro, em caso de risco à vida da gestante, e em caso de
assegurados a razoável duração do processo e os meios que garan- feto anencefálico. Por outro lado, em entendendo que o feto anen-
cefálico não tem vida, não haverá crime de aborto por se tratar de
tam a celeridade de sua tramitação.
crime impossível, afinal, para que haja o delito é necessário que o
§1º. As normas definidoras dos direitos e garantias fundamen-
feto esteja vivo. De toda maneira, qualquer que seja o entendimen-
tais têm aplicação imediata.
to adotado, agora é possível tal hipótese, independentemente de
§2º. Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não
autorização judicial.
excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela ado-
tados, ou dos tratados internacionais em que a República Federati-
2.2 Direito à liberdade. O direito à liberdade, consagrado no
va do Brasil seja parte.
caput do art. 5º, CF, é genericamente previsto no segundo inciso
§3º. Os tratados e convenções internacionais sobre direitos do mesmo artigo, quando se afirma que ninguém será obrigado a
humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Na- fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei. Tal
cional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos dispositivo representa a consagração da autonomia privada.
membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. Trata-se a liberdade, contudo, de direito amplíssimo, por
§4º. O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Inter- compreender, dentre outros, a liberdade de opinião, a liberdade de
nacional a cuja criação tenha manifestado adesão. pensamento, a liberdade de locomoção, a liberdade de consciência
e crença, a liberdade de reunião, a liberdade de associação, e a
2.1 Direito à vida. O art. 5º, caput, da Constituição Federal, liberdade de expressão.
dispõe que o direito à vida é inviolável. Dividamos em subtópicos: Dividamos em subtópicos:
A) Acepções do direito à vida. São duas as acepções deste A) Liberdade de consciência, de crença e de culto. O art. 5º,
direito à vida, a saber, o direito de permanecer vivo (ex.: o Brasil VI, da Constituição Federal, prevê que é inviolável a liberdade de
veda a pena de morte, salvo em caso de guerra declarada pelo Pre- consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos
sidente da República em resposta à agressão estrangeira, conforme cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais
o art. 5º, XLVII, “a” c.c. art. 84, XIX, CF), e o direito de viver com de culto e a suas liturgias. Ademais, o inciso VIII, do art. 5º, dispõe
dignidade (ex.: conforme o art. 5º, III, CF, ninguém será subme- que é assegurada, nos termos de lei, a prestação de assistência reli-
tido à tortura nem a tratamento desumano ou degradante) (ex. 2: giosa nas entidades civis e militares de internação coletiva.
consoante o art. 5º, XLV, CF, nenhuma pena passará da pessoa do Há se ressaltar, preliminarmente, que a “consciência” é mais
condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação algo amplo que “crença”. A “crença” tem aspecto essencialmente
do perdimento de bens ser, nos termos de lei, estendidas aos suces- religioso, enquanto a “consciência” abrange até mesmo a ausência
sores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio de uma crença.
transferido) (ex. 3: são absolutamente vedadas neste ordenamento Isto posto, o “culto” é a forma de exteriorização da crença.
constitucional penas de caráter perpétuo, de banimento, cruéis, e O culto se realiza em templos ou em locais públicos (desde que
de trabalhos forçados) (ex. 4: a pena será cumprida em estabeleci- atenda à ordem pública e não desrespeite terceiros).
mentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o O Brasil não adota qualquer religião oficial, como a República
sexo do apenado, conforme o inciso XLVIII, do art. 5º, CF) (ex. 5: Islâmica do Irã, p. ex. Em outros tempos, o Brasil já foi uma nação
pelo art. 5º, XLIX, é assegurado aos presos o respeito à integridade oficialmente católica. Com a Lei Fundamental de 1988, o seu art.
física e moral); 19 vedou o estabelecimento de religiões oficiais pelo Estado.
Didatismo e Conhecimento 6
NOÇÕES DE DIREITO
O que é a “escusa de consciência”? Está prevista no art. 5º, tizados; das atividades artísticas, que representam o incentivo à
VIII, da Constituição, segundo o qual ninguém será privado de cena cultural, sem que músicas, livros, obras de arte e espetáculos
direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica teatrais, por exemplo, sejam objeto de censura prévia, como houve
ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a no passado recente do país; das atividades científicas, aqui enten-
todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa fixada didas como o direito à pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico;
em lei. e da comunicação, termo abrangente, se considerada a imprensa, a
Enfim, a escusa de consciência representa a possibilidade que televisão, o rádio, a telefonia, a internet, a transferência de dados
a pessoa tem de alegar algum imperativo filosófico/religioso/polí- etc.;
tico para se eximir de alguma obrigação, cumprindo, em contra- F) Liberdade de informação. É assegurado a todos o acesso à
partida, uma prestação alternativa fixada em lei. informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao
A prestação alternativa não tem qualquer cunho sancionatório. exercício profissional (art. 5º, XIV, CF).
É apenas uma forma de se respeitar a convicção de alguém. Tal liberdade engloba tanto o direito de informar (prerrogativa
E se não houver prestação alternativa fixada em lei, fica in- de transmitir informações pelos meios de comunicação), como o
direito de ser informado.
viabilizada a escusa de consciência? Não, a possibilidade é ampla.
Vale lembrar, inclusive, que conforme o art. 5º, XXXIII, da
Mesmo se a lei não existir, a pessoa poderá alegar o imperativo
Constituição, todos têm direito a receber dos órgãos públicos in-
de consciência, independentemente de qualquer contraprestação.
formações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou
E se a pessoa se recusa a cumprir, também, a prestação alter- geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de respon-
nativa? Ficará com seus direitos políticos suspensos (há quem diga sabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à
que seja hipótese de perda dos direitos políticos, na verdade), por segurança da sociedade e do Estado;
força do que prevê o art. 15, IV, da Constituição Federal. G) Liberdade de reunião e de associação. Pelo art. 5º, XVI,
B) Liberdade de locomoção. Consoante o inciso XV, do art. CF, todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais
5º, da Lei Fundamental, é livre a locomoção no território nacional abertos ao público, independentemente de autorização, desde que
em tempos de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos de lei não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mes-
(essa lei é a de nº 6.815 - Estatuto do Estrangeiro), nele entrar, mo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade compe-
permanecer ou dele sair com seus bens. tente. Eis a liberdade de reunião.
Isso nada mais representa que a “liberdade de ir e vir”; Já pelo art. 5º, XVII, CF, é plena a liberdade de associação
C) Liberdade da manifestação do pensamento. Conforme o para fins lícitos, sendo vedado que associações tenham caráter pa-
art. 5º, IV, da Constituição pátria, é livre a manifestação do pensa- ramilitar. Eis a liberdade de associação.
mento, sendo vedado o anonimato. Por outro lado, o inciso subse- O que diferencia a “reunião” da “associação”, basicamente, é
quente a este assegura o direito de resposta, proporcional ao agra- o espaço temporal em que existem. As reuniões são temporárias,
vo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem. para fins específicos (ex.: protesto contra a legalização das drogas).
Veja-se, pois, que a Constituição protege a “manifestação” do Já as associações são permanentes, ou, ao menos, duram por mais
pensamento, isto é, sua exteriorização, já que o “pensamento em tempo que as reuniões (ex.: associação dos plantadores de tomate).
si” já é livre por sua própria natureza de atributo inerente ao ho- Ademais, a criação de associações independe de lei, sendo ve-
mem. dada a interferência estatal em seu funcionamento (art. 5º, XVIII,
Ademais, a vedação ao anonimato existe justamente para per- CF). As associações poderão ter suas atividades suspensas (para
mitir a responsabilização quando houver uma manifestação abusi- isso não se exige decisão judicial transitada em julgado), ou pode-
va do pensamento; rão ser dissolvidas (para isso se exige decisão judicial transitada
D) Liberdade de profissão. É livre o exercício de qualquer tra- em julgado) (art. 5º, XIX, CF). Ninguém poderá ser compelido
balho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais a associar-se ou manter-se associado, contudo (art. 5º, XX, CF).
Também, o art. 5º, XXI, da CF, estabelece a possibilidade de
que a lei estabelecer (art. 5º, XIII, CF).
representação processual dos associados pelas entidades associati-
Trata-se de norma constitucional de eficácia contida, seguindo
vas. Trata-se de verdadeira representação processual (não é substi-
a tradicional classificação de José Afonso da Silva, pois o exer-
tuição), que depende de autorização expressão dos associados nes-
cício de qualquer trabalho é livre embora a lei possa estabelecer se sentido, que pode ser dada em assembleia ou mediante previsão
restrições. É o caso do exercício da advocacia, p. ex., condicionado genérica no Estatuto.
à prévia composição dos quadros da Ordem dos Advogados do
Brasil por meio de exame de admissão. 2.3 Direito à igualdade. Um dos mais importantes direitos
Tal liberdade representa tanto o exercício de qualquer profis- fundamentais, convém dividi-lo em subtópicos para melhor aná-
são como a escolha de qualquer profissão; lise:
E) Liberdade de expressão. Trata-se de liberdade amplíssima. A) Igualdade formal e material. A igualdade deve ser anali-
Conforme o nono inciso, do art. 5º, da Lei Fundamental, é livre a sada tanto em seu prisma formal, como em seu enfoque material.
expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comu- Sob enfoque formal, a igualdade consiste em tratar a todos
nicação, independentemente de censura ou licença. igualmente (ex.: para os maiores de dezesseis anos e menores de
Tal dispositivo é a consagração do direito à manifestação do dezoito anos, o voto é facultativo. Todos que se situam nesta faixa
pensamento, ao estabelecer meios que deem efetividade a tal direi- etária têm o direito ao voto, embora ele seja facultativo).
to, afinal, o rol exemplificativo de meios de expressão previstos no Ademais, neste enfoque formal, a igualdade pode ser na lei
mencionado inciso trata das atividades intelectuais, melhor com- (normas jurídicas não podem fazer distinções que não sejam auto-
preendidas como o direito à elaboração de raciocínios independen- rizadas pela Constituição), bem como perante a lei (a lei deve ser
tes de modelos preexistentes, impostos ou negativamente dogma- aplicada igualmente a todos, mesmo que isso crie desigualdade).
Didatismo e Conhecimento 7
NOÇÕES DE DIREITO
Já sob enfoque material, a igualdade consiste em tratar de for- gurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano (art. 5º,
ma desigual os desiguais (ex: o voto é facultativo para os analfabe- XXV, CF); e no caso de vigência de estado de sítio, decretado em
tos. Todavia, os analfabetos não podem ser votados. A alfabetiza- caso de comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência de
ção é uma condição de elegibilidade. Significa que, se o indivíduo fatos que comprovem a ineficácia da medida tomada durante o es-
souber ler e escrever, poderá ser votado. Se não, há óbice constitu- tado de defesa, é possível a requisição de bens (art. 139, VII, CF).
cional a que ocupe cargo eletivo); Na requisição civil não há transferência de propriedade. Há
B) Igualdade de gênero. A CF é expressa, em seu art. 5º, I: apenas uso ou ocupação temporários da propriedade particular.
homens e mulheres são iguais nos termos da Constituição Federal. Trata-se de ocupação emergencial, de modo que só caberá indeni-
Isso significa que a CF pode fixar distinções, como o faz quan- zação posterior, e, ainda, se houver dano.
to aos requisitos para aposentadoria, quanto à licença-gestante, e A requisição militar também é emergencial. Também só have-
quanto ao serviço militar obrigatório apenas para os indivíduos do rá indenização posterior, diante de dano;
sexo masculino, p. ex. Quanto à legislação infraconstitucional, é D) Desapropriação da propriedade. Prevista no art. 5º, XXIV,
possível fixar distinções, desde que isso seja feito em consonân- da CF, é cabível em três casos: necessidade pública; utilidade pú-
cia com a Constituição Federal, isto é, sem excedê-la ou for-lhe blica; e interesse social.
insuficiente. Na desapropriação, dá-se retirada compulsória da propriedade
do particular.
2.4 Direito à segurança. A segurança é tratada tanto no caput Se em razão de interesse social, exige-se indenização em di-
do art. 5º, como no caput do art. 6º, ambos da Constituição Federal. nheiro justa e prévia, como regra geral.
No caput do art. 6º, se refere à segurança pública, que será E, nos casos de necessidade e utilidade pública, o particular
estudada quando da análise dos direitos sociais. A segurança a que não tem culpa alguma. Trata-se, meramente, de situação de pre-
se refere o caput do art. 5º é a segurança jurídica, que impõe aos valência do interesse público sobre o interesse privado. A inde-
Poderes públicos o respeito à estabilidade das relações jurídicas já nização, como regra geral, também deve ser prévia, justa, e em
constituídas. dinheiro.
Engloba-se, pois, o direito adquirido (o direito já se incorpo- Ainda, no caso de desapropriação por interesse social, pode
rou a seu titular), o ato jurídico perfeito (há se preservar a mani- ocorrer a chamada “desapropriação sanção”, pelo desatendimento
festação de vontade de quem editou algum ato, desde que ele não da função social da propriedade. Nesse caso, diante da “culpa”
atente contra a lei, a moral e os bons costumes), e a coisa julgada do proprietário, a indenização será prévia, justa, porém não será
(é a imutabilidade de uma decisão que impede que a mesma ques- em dinheiro, mas sim em títulos públicos. Com efeito, são duas
tão seja debatida pela via processual novamente), consagrados to- as hipóteses de desapropriação-sanção: desapropriação-sanção de
dos no art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal. imóvel urbano, prevista no art. 182, §4º, III, CF (o pagamento é
feito em títulos da dívida pública, com prazo de resgate de até dez
2.5 Direito de propriedade. Conforme o art. 5º, caput e anos); desapropriação-sanção de imóvel rural, prevista no art. 184,
inciso XXII, da Constituição Federal, é assegurado o direito de CF (ela é feita para fins de reforma agrária, e o pagamento é feito
propriedade. Há limitações, contudo, a tal direito, como a função em títulos da dívida agrária, com prazo de resgate de até vinte
social da propriedade. Para melhor compreender tal instituto fun- anos, contados a partir do segundo ano de sua emissão);
damental, pois, há se dividi-lo em temas específicos: E) Confisco da propriedade. O confisco está previsto no art.
A) Função social da propriedade. A função social, consa- 243 da CF. Também é hipótese de transferência compulsória da
grada no art. 5º, XXIII, CF, não é apenas um limite ao direito de propriedade, como a desapropriação. Mas, dela se distingue por-
propriedade, mas, sim, faz parte da própria estrutura deste direito. que no confisco não há pagamento de qualquer indenização.
“Trocando em miúdos”, só há direito de propriedade se atendida Isto posto, são duas as hipóteses de confisco: as glebas de
sua função social (há, minoritariamente, quem pense o contrário). qualquer região do país onde forem localizadas culturas ilegais de
Aliás, é esta função social da propriedade que assegura que a plantas psicotrópicas serão imediatamente expropriadas e especifi-
pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que traba- camente destinadas ao assentamento de colonos, para o cultivo de
lhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento de produtos alimentícios e medicamentosos, sem qualquer indeniza-
débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre ção ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em
os meios de financiar o seu desenvolvimento (art. 5º, XXVI, CF); lei (art. 243, caput, CF); bem como todo e qualquer bem de valor
B) Inviolabilidade do domicílio. A Constituição Federal asse- econômico apreendido em decorrência do tráfico ilícito de entor-
gura, em seu art. 5º, XI, que a casa é asilo inviolável do indivíduo, pecentes e drogas afins será confiscado e reverterá em benefício de
ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, instituições e pessoal especializado no tratamento e recuperação
salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar so- de viciados e no aparelhamento e custeio de atividades de fiscali-
corro, ou, durante o dia, por determinação judicial. zação, controle, prevenção e repressão do crime de tráfico dessas
Veja-se que, em caso de flagrante delito, para prestar socorro, substâncias (art. 243, parágrafo único, CF);
ou evitar desastre, na casa se pode entrar a qualquer hora do dia. F) Usucapião da propriedade (aquelas previstas na Constitui-
Se houver necessidade de determinação judicial, a entrada na re- ção). Há duas previsões constitucionais acerca de usucapião, em
sidência, salvo consentimento do morador, somente pode ser feita que o prazo para aquisição da propriedade é reduzido: usucapião
durante o dia; urbano (aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos
C) Requisição da propriedade. A Constituição Federal prevê e cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente
duas hipóteses de requisição: no caso de iminente perigo público, a e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família,
autoridade competente poderá usar de propriedade particular, asse- adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro
Didatismo e Conhecimento 8
NOÇÕES DE DIREITO
imóvel urbano ou rural, conforme o art. 183, caput, da CF); e usu- B) Honra. O direito à honra almeja tutelar o conjunto de atri-
capião rural (aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural butos pertinentes à reputação do cidadão sujeito de direitos. Exata-
ou urbano, possua como seu, por cinco anos ininterruptos, sem mente por isso o Código Penal prevê os chamados “crimes contra
oposição, área de terra, em zona rural, não superior a cinquenta a honra”.
hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família,
tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade, consoante o 2.7 Direitos de acesso à justiça. São vários os desdobramen-
art. 191, caput, da CF). tos desta garantia:
Não custa chamar a atenção, veja-se, que as hipóteses consti- A) Defesa do consumidor. Conforme o inciso XXXII, do art.
tucionais também exigem os requisitos tradicionais da usucapião, 5º, da Constituição, o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa
a saber, a posse mansa e pacífica, a posse ininterrupta, e a posse do consumidor. Tal lei existe, e foi editada em 1990. É a Lei nº
não-precária. 8.078 - Código de Defesa do Consumidor;
Não custa lembrar, por fim, que imóveis públicos não podem B) Inafastabilidade do Poder Judiciário. A lei não excluirá da
ser adquiridos por usucapião; apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça de direito (art. 5º,
G) Propriedade intelectual. A Constituição protege a proprie- XXXV, CF). Junte-se a isso o fato de que os juízes não podem se
furtar de decidir (proibição do “non liquet”). Isso tanto é verdade
dade intelectual como direito fundamental.
que, na ausência de lei, ou quando esta for omissa, o juiz decidirá
Aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publi-
o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios ge-
cação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros rais de direito (art. 4º, da Lei de Introdução às Normas do Direito
pelo tempo que a lei fixar (art. 5º, XXVII, CF). Brasileiro);
São assegurados, nos termos de lei, a proteção às participa- C) Direito de petição e direito de certidão. São a todos asse-
ções individuais em obras coletivas e à reprodução da imagem e gurados, independentemente do pagamento de taxas, o direito de
voz humanas, inclusive nas atividades esportivas (art. 5º, XXVIII, petição aos Poderes públicos em defesa de direitos ou contra ile-
“a”, CF), bem como direito de fiscalização do aproveitamento galidade ou abuso de poder (art. 5º, XXXIV, “a”, CF), bem como
econômico das obras que criarem ou de que participarem (art. 5º, a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de
XXVIII, “b”, CF). direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal (art. 5º,
A lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio XXXIV, “b”, CF);
temporário para sua utilização, bem como proteção às criações in- D) Direito ao juiz natural. A Constituição veda, em seu art.
dustriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a ou- 5º, XXXVII, a criação de juízos ou tribunais de exceção. Desta
tros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desen- maneira, todos devem ser processados e julgados por autoridade
volvimento tecnológico e econômico do país (art. 5º, XXIX, CF); judicial previamente estabelecida e constitucionalmente investida
H) Direito de herança. Tal direito está previsto, de maneira em seu ofício. Não é possível a criação de um tribunal de julga-
pioneira, no trigésimo inciso, do art. 5º, CF. Nas outras Constitui- mento após a prática do fato tão somente para apreciá-lo.
ções, ele era apenas deduzido do direito de propriedade. Em mesmo sentido, o art. 5º, LIII, CF prevê que ninguém será
Ademais, a sucessão de bens de estrangeiros situados no país processado nem sentenciado senão pela autoridade competente;
será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos E) Direito ao tribunal do júri. Ao tribunal do júri compete
filhos brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável a lei o julgamento dos crimes dolosos contra a vida, salvo se tiver o
pessoal do “de cujus” (art. 5º, XXXI, CF). agente prerrogativa de foro assegurada na Constituição Federal,
caso em que esta prerrogativa prevalecerá sobre o júri (é o caso
2.6 Direito à privacidade. Para o estudo do Direito Constitu- do Prefeito Municipal, p. ex., que será julgado pelo Tribunal de
cional, a privacidade é o gênero, do qual são espécies a intimidade, Justiça, pelo Tribunal Regional Federal ou pelo Tribunal Regional
a honra, a vida privada e a imagem. Neste sentido, o inciso X, do Eleitoral a depender da natureza do delito perpetrado).
Ademais, além da competência para crimes dolosos contra a
art. 5º, da Constituição, prevê que são invioláveis a intimidade, a
vida, norteiam o júri a plenitude de defesa (que é mais que a ampla
vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direi-
defesa), o sigilo das votações, e a soberania dos veredictos;
to à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua F) Direito ao devido processo legal. Ninguém será privado
violação: da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal (art. 5º,
A) Intimidade, vida privada e publicidade (imagem). Pela LIV). Em verdade, o termo correto é “devido procedimento legal”,
“Teoria das Esferas”, importada do direito alemão, quanto mais pois todo processo, para ser processo, deve ser legal. O que pode
próxima do indivíduo, maior a proteção a ser conferida à esfera ser legal ou ilegal é o “procedimento”.
(as esferas são representadas pela intimidade, pela vida privada, e Ademais, há se lembrar que também na esfera administrativa
pela publicidade). (e não só na judicial) o direito ao procedimento é devido.
Desta maneira, a intimidade merece maior proteção. São Por fim, insere-se na cláusula do devido processo legal o direi-
questões de foro personalíssimo de seu detentor, não competindo a to ao duplo grau de jurisdição, consistente na possibilidade de que
terceiros invadir este universo íntimo. as decisões emanadas sejam revistas por outra autoridade também
Já a vida privada merece proteção intermediária. São questões constitucionalmente investida;
que apenas dizem respeito a seu detentor, desde que realizadas em G) Direito ao contraditório e à ampla defesa. “Contraditório”
ambiente íntimo. Se momentos da vida privada são expostos ao e “ampla defesa” não são a mesma coisa, se entendendo pelo pri-
público, pouco pode fazer a proteção legal que não resguardar a meiro o direito vigente a ambas as partes de serem informadas dos
honra e a imagem do indivíduo. atos processuais praticados, e pelo segundo o direito do acusado
Por fim, na publicidade a proteção é mínima. Compete à pro- de se defender das imputações que lhe são feitas. Assim, enquanto
teção legal apenas resguardar a honra do indivíduo, já que o ato é o contraditório vale para ambas as partes, a ampla defesa só vale
público; para o acusado.
Didatismo e Conhecimento 9
NOÇÕES DE DIREITO
O contraditório e a ampla defesa vigem tanto para o procedi- A lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça
mento judicial como para o administrativo. Neste sentido, o art. 5º, ou anistia a prática de tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e
LV, CF prevê que aos litigantes, em processo judicial ou adminis- drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos,
trativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, poden-
a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; do evitá-los, se omitirem (art. 5º, XLIII, CF).
H) Inadmissibilidade de provas ilícitas. São inadmissíveis no Por fim, constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de
processo tanto as provas obtidas ilicitamente (quanto contrárias à grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e
Constituição) como as obtidas ilegitimamente (quando contrários o Estado Democrático (art. 5º, XLIV, CF);
aos procedimentos estabelecidos pela lei processual). Prova “ilíci- E) Direitos relacionados a prisões. Em regra, toda prisão deve
ta” e “ilegítima” são espécies do gênero “prova ilegal”. ser determinada pela autoridade judicial, mediante ordem escrita e
O art. 5º, LVI, CF diz “menos do que queria dizer”, por se fundamentada, salvo se em caso de flagrante delito (art. 5º, LXI,
referir apenas às provas ilícitas; CF).
I) Direito à ação penal privada subsidiária da pública. O titu- Ato contínuo, a prisão de qualquer pessoa e o local onde se
lar da ação penal pública é o Ministério Público, e a ele compete, encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente e
pois, manejar esta espécie de ação penal. Se isto não for feito por à família do preso ou à pessoa por ele indicada (art. 5º, LXII, CF).
pura desídia do órgão ministerial, é possível o manejo de ação pe- Nada obstante, o preso será informado de seus direitos, dentre
nal privada subsidiária da pública pela vítima (art. 5º, LIX, CF); os quais o de permanecer calado (direito a não autoincriminação),
J) Direito à publicidade dos atos processuais. Todos os atos sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado (art.
processuais serão públicos (art. 5º, LX, CF) e as decisões deverão 5º, LXIII, CF).
ser devidamente fundamentadas (art. 93, IX, CF). É possível impor O preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua
o sigilo processual se o interesse público ou motivo de força maior prisão ou por seu interrogatório policial (art. 5º, LXIV, CF), valen-
assim indicar; do lembrar que toda prisão ilegal será imediatamente relaxada pela
K) Direito à assistência judiciária. O Estado prestará assistên- autoridade judicial (art. 5º, LXV, CF).
cia jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência Ademais, ninguém será levado à prisão ou nela mantido quan-
de recursos (art. 5º, LXXIV, CF). À Defensoria Pública competirá do a lei admitir a liberdade provisória com ou sem fiança (art. 5,
tal função, nos moldes do art. 134, caput, da Constituição Federal. LXVI, CF).
Ademais, são gratuitos para os reconhecidamente pobres, na Por fim, às presidiárias serão asseguradas condições para que
forma da lei, o registro civil de nascimento (art. 5º, LXXVI, “a”, possam permanecer com seus filhos durante o período de amamen-
CF) e a certidão de óbito (art. 5º, LXXVI, “b”, CF); tação (art. 5º, L, CF);
L) Direito à duração razoável do processo. Trata-se de inciso F) Penas admitidas e vedadas pelo ordenamento pátrio. São
acrescido à Constituição Federal pela Emenda Constitucional nº admitidas as penas de privação ou restrição de liberdade, perda de
45/2004. bens, multa, prestação social alternativa, bem como suspensão ou
Objetiva-se fazer cessar as pelejas judiciais infindáveis. Para interdição de direitos.
se aferir a duração razoável do processo, é preciso analisar o grau Por outro lado, não haverá penas de morte (salvo em caso de
de complexidade da causa, a disposição das partes no resultado da guerra declarada pelo Presidente da República contra nação estran-
demanda, e a atividade jurisdicional que caminhe no sentido de geira), de caráter perpétuo, de trabalhos forçados, de banimento e
prezar ou não por um fim célere (mas com qualidade). cruéis. Eis o teor do inciso XLVI, do art. 5º, da Magna Carta pátria;
G) Uso de algemas. Consoante a Súmula Vinculante nº 11,
2.8 Direitos constitucionais-penais. Vejamos: só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado
A) Princípio da legalidade. Não há crime sem lei anterior que receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia,
o defina, nem pena sem prévia cominação legal (art. 5º, XXXIX, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade
CF). Ademais, a lei penal somente retroagirá se para beneficiar o por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal
acusado (art. 5º, XL, CF); do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato pro-
B) Princípio da pessoalidade das penas. Nenhuma pena pas- cessual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do
sará da pessoa do condenado (apenas a obrigação de reparar o Estado;
dano e a decretação do perdimento de bens podem passar da pes- H) Sigilosidade do inquérito policial para o defensor do acu-
soa do condenado, se estendendo aos seus sucessores até o limite sado. De acordo com o art. 20, do Código de Processo Penal, a
do patrimônio transferido). Eis o teor inciso XLV, do art. 5º, da Lei autoridade policial assegurará no inquérito o sigilo necessário à
Fundamental pátria; elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade. Mas,
C) Princípio da presunção de inocência (ou presunção de não esse sigilo não é absoluto, pois, em verdade, tem acesso aos autos
culpabilidade). Ninguém será considerado culpado até o trânsito do inquérito o juiz, o promotor de justiça, e a autoridade policial,
em julgado de sentença penal condenatória (art. 5º, LVII, CF). As- e, ainda, de acordo com o art. 5º, LXIII, CF, com o art. 7º, XIV, da
sim, enquanto for possível algum recurso, a presunção do acusado Lei nº 8.906/94 (“Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil”), e
é de inocência. com a Súmula Vinculante nº 14, o advogado tem acesso aos atos já
Isso não represente um óbice à imposição de prisões processu- documentados nos autos, independentemente de procuração, para
ais/medidas cautelares diversas da prisão, todavia; assegurar direito de assistência do preso e investigado.
D) Crimes previstos na Constituição. A prática do racismo Desta forma, veja-se, o acesso do advogado não é amplo e
constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de re- irrestrito. Seu acesso é apenas às informações já introduzidas nos
clusão, nos termos da lei (art. 5º, XLVV). autos, mas não em relação às diligências em andamento.
Didatismo e Conhecimento 10
NOÇÕES DE DIREITO
Caso o delegado não permita o acesso do advogado aos atos G) Competência para apreciação. A competência é determi-
já documentados, é cabível reclamação ao STF para ter acesso às nada de acordo com a autoridade coatora. Assim, se esta for um
informações (por desrespeito a teor de Súmula Vinculante), habe- Delegado de Polícia, o “writ” será endereçado ao juiz de primeiro
as corpus em nome de seu cliente, ou o meio mais rápido que é o grau; se for o juiz de primeira instância, endereça-se ao tribunal
mandado de segurança em nome do próprio advogado, já que a a que é vinculado; se for o promotor de justiça, para um primeiro
prerrogativa violada de ter acesso aos autos é dele. entendimento endereça-se ao juiz de primeira instância e para um
segundo entendimento endereça-se ao tribunal respectivo equipa-
2.9 Habeas corpus. Vejamos o primeiro dos chamados “remé- rando, pois, a autoridade ministerial ao magistrado de primeiro
dios constitucionais”: grau; se a autoridade coatora for o juiz do JECRIM, competente
A) Surgimento. A Magna Carta inglesa, de 1215, foi o primei- para apreciar o remédio será a turma recursal.
ro documento a prevê-lo, enquanto o “Habeas Corpus Act”, de Vale lembrar, ainda, que o STF (arts. 102, I, “d”, “i” e 102, II,
1679, procedimentalizou-o pela primeira vez. No Brasil, o Código “a”, CF) e o STJ (arts. 105, I, “c” e 105, II, “a”, CF) também têm
de Processo Penal do Império, de 1832, trouxe-o para este orde- competência para apreciar habeas corpus.
namento, enquanto a primeira Constituição Republicana, de 1891, H) Procedimento. O procedimento está previsto no Código de
foi a primeira Lei Fundamental pátria a consagrar o instituto (é da Processo Penal, entre seus arts. 647 e 667;
época da Lei Fundamental a chamada “Doutrina Brasileira do Ha- I) Algumas considerações finais. Pela Súmula nº 695, do Su-
beas Corpus”, que maximizava o instituto a habilitava-o a proteger premo Tribunal Federal, não cabe HC quando já extinta a pena
qualquer direito, inclusive aqueles que hoje são buscados pela via privativa de liberdade.
do Mandado de Segurança). Hoje, a previsão constitucional do ha- Pela Súmula nº 693, STF, não cabe habeas corpus contra deci-
beas corpus está no art. 5º, LXVIII, da Constituição da República; são condenatória a pena de multa, ou relativo a processo em curso
B) Natureza jurídica. Trata-se de ação constitucional (e não por infração penal a que a pena pecuniária seja a única cominada.
de “recurso processual penal”, veja-se) de natureza tipicamente Pela Súmula nº 690, STF, compete ao Supremo o julgamento
penal que almeja a proteção das liberdades individuais de loco- de habeas corpus contra decisão de turma recursal dos juizados
moção quando esta se encontra indevidamente violada ou em vias especiais criminais.
de violação. Por fim, pela Súmula nº 694, do Supremo, não cabe tal “writ”
Vale lembrar que, apesar de ser uma ação tipicamente penal, contra a imposição de pena de exclusão de militar ou de perda de
não há qualquer óbice a que se utilize o habeas corpus em outras
patente ou de função pública.
searas como a cível, num caso de indevida privação de liberdade
por dívida de alimentos, p. ex., ou na trabalhista, caso alguém seja
2.10 Mandado de segurança. Vejamos:
indevidamente impedido de exercer seu labor, noutro exemplo;
A) Surgimento. Trata-se de remédio trazido ao Brasil (há
C) Espécies. O habeas corpus pode ser preventivo (quando
quem defenda, prevalentemente, que o instituto seja criação ge-
houver mera ameaça de violação ao direito de ir e vir, caso em que
nuinamente brasileira) pela Lei Fundamental de 1934, e, desde
se obterá um “salvo-conduto”), ou repressivo (quando ameaça já
então, a única Constituição que não o previu foi a de 1937. Hoje,
tiver se materializado);
o mandado de segurança individual está constitucionalmente dis-
D) Legitimidade ativa. É amplíssima. Qualquer pessoa pode
manejá-lo, em próprio nome ou de terceiro, assim como o Minis- ciplinado no art. 5º, LXIX, e o mandado de segurança coletivo no
tério Público. A pessoa que o maneja é chamada “impetrante”, en- art. 5º, LXX, todos da Lei Maior pátria;
quanto que a pessoa que dele se beneficia é chamada “paciente” B) Natureza jurídica. Trata-se de ação constitucional, de rito
(desta maneira, é perfeitamente possível que impetrante e paciente sumário e especial, destinada à proteção de direito líquido e cer-
sejam a mesma pessoa). to de pessoa física ou jurídica não amparado por habeas corpus
A importância deste “writ” é tão grande que, nos termos do ou habeas data (com isso já se denota a natureza subsidiária do
segundo parágrafo, do art. 654, do Código de Processo Penal, os “writ”: ele somente é cabível caso não seja hipótese de habeas
juízes e os tribunais têm competência para expedir de ofício o re- corpus ou habeas data).
médio quando, no curso do processo, verificarem que alguém sofre Ademais, apesar de ser mais comum sua utilização no âmbito
ou está na iminência de sofrer coação ilegal; cível, óbice não deve haver a sua utilização nas searas das justiças
E) Legitimidade passiva. Pode ser tanto um agente público criminal e especializada;
(autoridade policial ou autoridade judicial, p. ex.) como um agente C) Espécies. O “writ” pode ser preventivo (quando se estiver
particular (diretor de uma clínica de psiquiatria, p. ex.). na iminência de violação a direito líquido e certo), ou repressivo
F) Hipóteses de coação ilegal. A coação será considerada ile- (quando já consumado o abuso/ilegalidade);
gal, nos moldes do art. 648, CPP, quando não houver justa causa D) Legitimidade ativa. Deve ser a mais ampla possível,
para tal; quando alguém estiver preso por mais tempo do que de- abrangendo não só a pessoa física como a jurídica, nacional ou
termina a lei; quando quem tiver ordenado a coação não tiver com- estrangeira, residente ou não no Brasil, bem como órgãos públicos
petência para fazê-lo; quando houver cessado o motivo que autori- despersonalizados e universalidades reconhecidas por lei (espólio,
zou a coação; quando não for alguém admitido a prestar fiança nos condomínio, massa falida etc.). Vale lembrar que esta legitimidade
casos em que a lei autoriza; quando o processo for manifestamente pode ser ordinária (se postula-se direito próprio em nome próprio)
nulo; ou quando extinta a punibilidade. ou extraordinária (postula-se em nome próprio direito alheio);
Vale lembrar, por outro lado, que o segundo parágrafo, do art. E) Legitimidade passiva. A autoridade coatora deve ser auto-
142, da Constituição, veda tal remédio constitucional em relação a ridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribui-
punições disciplinares militares; ções do Poder Público;
Didatismo e Conhecimento 11
NOÇÕES DE DIREITO
F) Mandado de segurança coletivo. O mandado de segurança cidade. Já a ADO é instrumento adequado a atender o particular
coletivo poderá ser impetrado por partido político com representa- numa situação abstrata, sendo dotado, por conseguinte, de conte-
ção no Congresso Nacional ou por organização sindical, entidade údo e finalidade mais abrangente que seu antecessor em razão de
de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamen- seu raio de alcance. Em outras palavras, seria dizer que o mandado
to há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus mem- de injunção se baseia em um comando da emergência, e a ADI por
bros ou associados; omissão se baseia em um dispositivo de urgência.
G) Competência. A competência se fixa de acordo com a au- H) Efeitos da decisão concedida em sede de mandado de in-
toridade coatora. Assim, pode apreciar mandado de segurança um junção. Aqui há divergência na doutrina e na jurisprudência.
juiz de primeiro grau, estadual ou federal; os Tribunais estaduais Para uma primeira corrente (“corrente não concretista”), deve
ou federais; o STF (arts. 102, I, “d” e 102, II, “a”, CF); e o STJ o Judiciário apenas cientificar o omisso em prol da edição norma-
(arts. 105, I, “b” e 105, II, “b”, CF); tiva necessária, dando à injunção concedida natureza declaratória
H) Procedimento. É regulado pela Lei nº 12.016/09, que revo- apenas. Este posicionamento imperou por muito tempo no Supre-
gou a Lei anterior, de nº 1.533, que vigia desde 1951. mo Tribunal Federal.
Já um segundo entendimento, subdividindo-se, confere cará-
2.11 Mandado de injunção. Vejamos: ter condenatório ou mandamental à ciência da mora, nos moldes
A) Surgimento. Prevalece que é uma criação genuinamente de uma “obrigação de fazer” referida no art. 461 ou de uma “exe-
brasileira, tendo sido previsto por primeira vez na Carta Funda- cução contra a Fazenda Pública” referida nos arts. 730 e seguintes,
mental pátria de 1988. Institutos com nomes semelhantes podem todos do Código de Processo Civil, ensejando a necessidade de
ser encontrados no direito anglo-saxão, embora, neste, sua fina- execução de sentença, própria no caso condenatório, ou imprópria
lidade é distinta daquela para a qual a Constituição brasileira o no caso mandamental. Há julgados esparsos no STF perfilhando-se
criou. Atualmente, o mandado de injunção está disciplinado no art. aos posicionamentos condenatório e mandamental.
5º, LXXI, da Constituição Federal; Um terceiro entendimento (“corrente concretista individual
B) Natureza jurídica. Cuida-se de ação constitucional que intermediária”) entende que, constatada a mora legislativa, é o
objetiva a regulamentação de normas constitucionais de eficácia caso de assinalar um prazo razoável para a elaboração da norma
limitada (omissas, portanto), assegurando, deste modo, o intento regulamentadora. Findo tal prazo e persistindo a omissão, é caso
de aplicabilidade imediata previsto no parágrafo primeiro, do art. de indenização por perdas e danos a ser buscada perante o Estado.
5º, da Constituição Federal; Por sua vez, uma quarta corrente (“corrente concretista indi-
C) Legitimidade ativa. Toda e qualquer pessoa, nacional ou
vidual pura”) acena pelo caráter constitutivo da injunção conce-
estrangeira, física ou jurídica, capaz ou incapaz, que titularize di-
dida via pronunciamento judicial, mas que a criação normativa se
reito fundamental não materializável por omissão legislativa do
limita apenas aos litigantes. Assim, admite-se atividade legislativa
Poder público;
do Judiciário, mas com alcance restrito às partes. Esse é o posi-
D) Legitimidade passiva. Pertence à autoridade ou órgão res-
cionamento atualmente prevalente no Guardião da Constituição
ponsável pela expedição da norma regulamentadora;
Federal.
E) Competência. No tocante ao órgão competente para jul-
Por fim, uma quinta corrente (“corrente concretista geral”)
gamento, o tal “writ” apresenta competência “móvel”, de acordo
entende, sim, ser constitutiva a natureza da injunção concedida,
com a condição e vinculação do impetrado. Assim, tal incumbên-
cia caberá ao Supremo Tribunal Federal, quando a elaboração de tomando de um caso específico a inspiração necessária para a edi-
norma regulamentadora for atribuição do Presidente da República, ção de uma norma geral e abstrata. Seria o exercício atípico de
do Congresso Nacional, da Câmara dos Deputados, do Senado Fe- “atividade legislativa” do Judiciário. Consoante tal entendimento,
deral, das Mesas de uma dessas Casas Legislativas, do Tribunal de o STF sanaria ele próprio a ausência de regulamentação a normas
Contas da União, de um dos Tribunais Superiores, ou do próprio constitucionais de eficácia e aplicabilidade limitada.
Supremo Tribunal Federal (art. 102, I, “q”, CF); ao Superior Tri-
bunal de Justiça, quando a elaboração da norma regulamentadora 2.12 Habeas data. Vejamos:
for atribuição de órgão, entidade ou autoridade federal, da admi- A) Surgimento. A origem do habeas data está no direito norte-
nistração direta ou indireta, excetuados os casos da competência -americano, através do “Freedom of Information Act”, de 1974,
do Supremo Tribunal Federal e dos órgãos da Justiça Militar, da com a finalidade de possibilitar o acesso do particular aos dados
Justiça Eleitoral, da Justiça do Trabalho e da Justiça Federal (art. ou às informações constantes de registros públicos ou particulares
105, I, “h”, CF); ao Tribunal Superior Eleitoral, quando as deci- permitidos ao público. No Brasil, a Constituição Federal de 1988
sões dos Tribunais Regionais Eleitorais denegarem habeas corpus, foi a primeira a trazê-lo, em seu art. 5º, LXXII;
mandado de segurança, habeas data ou mandado de injunção (art. B) Natureza jurídica. Trata-se de ação constitucional, que ob-
121, §4º, V, CF); e aos Tribunais de Justiça Estaduais, frente aos jetiva assegurar o conhecimento de informações relativas à pes-
entes a ele vinculados; soa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de
F) Procedimento. Não há lei regulamentando o mandado de entidades governamentais de caráter público, bem como a retifi-
injunção, se lhe aplicando, por analogia, a Lei nº 12.016/09, inclu- cação de dados, quando não se prefira fazê-lo por procedimento
sive no que atine ao mandado de injunção coletivo; sigiloso, judicial ou administrativo;
G) Diferença do mandado de injunção para a ação direta de C) Legitimidade ativa. Tal “writ” pode ser impetrado por pes-
inconstitucionalidade por omissão. O mandado de injunção é re- soa física, brasileira ou estrangeira, ou por pessoa jurídica. Ain-
médio habilitado a socorrer o particular numa situação concreta, da, há quem defenda sua impetração por entes despersonalizados,
isto é, busca-se um pronunciamento apto a atender uma especifi- como a massa falida e o espólio;
Didatismo e Conhecimento 12
NOÇÕES DE DIREITO
D) Legitimidade passiva. Figurarão no polo ativo entidades C) Objeto. De acordo com o art. 3º, LACP, a ação civil pode-
governamentais da Administração Pública Direta e Indireta nas rá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de
três esferas, bem como instituições, órgãos, entidades e pessoas obrigação de fazer ou não fazer;
jurídicas privadas prestadores de serviços de interesse público que D) Legitimidade ativa. Consoante o art. 5º, da LACP, tem le-
possuam dados relativos à pessoa do impetrante; gitimidade ativa tanto para a ação principal como para a cautelar
E) Competência. A Constituição Federal prevê a competência o Ministério Público (inciso I); a Defensoria Pública (inciso II); a
do Supremo Tribunal Federal (art. 102, I, “d”), do Superior Tribu- União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios (inciso III);
nal de Justiça (art. 105, I, “b”), dos Tribunais Regionais Federais a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia
(art. 108, I, “c”), bem como dos juízes federais (art. 109, VIII);
mista (inciso IV); e a associação que, concomitantemente, esteja
F) Procedimento. A disciplina do habeas data está prevista na
constituída há pelo menos um ano nos termos da lei civil (inciso
Lei nº 9.507/97.
V, alínea “a”) e inclua, entre suas finalidades institucionais, a pro-
2.13 Ação popular. Vejamos: teção ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à
A) Surgimento. Sua origem vem da época do Império Roma- livre concorrência ou ao patrimônio artístico, estético, histórico,
no, quando os cidadãos romanos dirigiam-se ao magistrado para turístico e paisagístico (inciso V, alínea “b”);
buscar a tutela de um bem, valor ou interesse que pertencesse à E) Legitimidade passiva. Não há, em regra, limitação quanto a
coletividade. O primeiro texto legal sobre a ação popular surgiu na quem deva figurar no polo passivo da ação civil pública.
Bélgica, em 1836.
No Brasil, a primeira Lei Fundamental pátria a disciplinar a 2.15 Tratados Internacionais de que o Brasil seja signa-
ação popular foi a de 1934. Suprimida na de 1937, mas restabe- tário. Quando a Constituição Federal de 1988 entrou em vigor, o
lecida na de 1946, tem estado presente em todas as Cartas desde Supremo Tribunal Federal entendia que todo e qualquer Tratado
então. Na Constituição Federal de 1988, sua previsão se encontra Internacional, fosse ou não sobre direitos humanos, tinha “status”
no art. 5º, LXXIII; de lei ordinária.
B) Natureza jurídica. Trata-se de ação constitucional, que
Tal entendimento vigorou até o advento da Emenda Consti-
visa anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de
que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio am- tucional nº 45/2004, que acresceu ao art. 5º da Constituição um
biente e ao patrimônio histórico e cultural; parágrafo terceiro, segundo o qual os tratados e convenções inter-
C) Requisitos para a propositura da ação popular. Há um nacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada
requisito objetivo (o legitimado ativo deve ser cidadão) e outro Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos
subjetivo (a proteção do patrimônio público, da moralidade admi- votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas
nistrativa, do meio ambiente, do patrimônio histórico, e do patri- constitucionais.
mônio cultural); Mas como fica a situação dos Tratados Internacionais que não
D) Legitimidade ativa. Deve ser “cidadão”, isto é, aquele que forem (ou não foram) aprovados pelo quórum de Emenda Cons-
esteja no pleno gozo dos direitos políticos. Se está falando, pois, titucional? Com isso, o STF revisou seu posicionamento, e, atu-
do cidadão-eleitor. Inclusive, o parágrafo terceiro, do art. 1º, da almente, os Tratados Internacionais possuem tripla hierarquia em
Lei nº 4.717/65, que regula a ação popular, dispõe que a prova da nosso ordenamento:
cidadania para ingresso em juízo será feita com o título eleitoral ou A) Se versar sobre direitos humanos, e for aprovado pelo quó-
com o documento a que ele corresponda;
rum de Emenda Constitucional, o “status” do Tratado Internacio-
E) Legitimidade passiva. Nos moldes do art. 6º, da Lei nº
4.717/65, sempre haverá um ente da Administração Pública, direta nal será de Emenda Constitucional;
ou indireta, ou então pessoa jurídica que de algum modo lide com B) Se versar sobre direitos humanos, mas não for aprovado
dinheiro público; pelo quórum de Emenda Constitucional, o “status” do Tratado In-
F) Competência. Será fixada de acordo com a origem do ato ternacional será de norma supralegal, isto é, abaixo da Constitui-
ou omissão a serem impugnados. Vale lembrar que, quanto ao pro- ção, mas acima do ordenamento infraconstitucional;
cedimento, a Lei nº 4.717/65, que disciplina tal ação, afirma que C) Se não versar sobre direitos humanos, o Tratado Interna-
segue-se o rito ordinário previsto no Código de Processo Civil, cional terá o “status” de lei ordinária, conforme o entendimento
com algumas modificações. primeiro do Supremo Tribunal Federal.
2.14 Ação civil pública. Vejamos: 3 Administração Pública: disposições gerais. A seguir, dos
A) Cabimento. Conforme o art. 1º, da Lei nº 7.347/85, é ca- dispositivos pertinentes à Administração Pública na Constituição
bível ação civil pública em caso de danos patrimoniais e morais Federal, o edital em lume somente cobra o art. 37, que traz as dis-
causados ao meio ambiente (inciso I); ao consumidor (inciso II);
posições gerais. Convém reproduzi-lo para otimizar o estudo:
a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico (inciso III); a qualquer outro interesse difuso ou cole-
tivo (inciso IV); por infração da ordem econômica e da economia Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer
popular (inciso V); e à ordem urbanística (inciso VI); dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Mu-
B) Não cabimento. Segundo o art. 1º, parágrafo único, da nicípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade,
LACP - Lei da Ação Civil Pública, não será cabível ação civil pú- moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
blica para veicular pretensões que envolvam tributos, contribuições I - os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos
previdenciárias, FGTS ou outros fundos de natureza institucional brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei, as-
cujos beneficiários podem ser individualmente determinados; sim como aos estrangeiros, na forma da lei;
Didatismo e Conhecimento 13
NOÇÕES DE DIREITO
II - a investidura em cargo ou emprego público depende de XV - o subsídio e os vencimentos dos ocupantes de cargos
aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e e empregos públicos são irredutíveis, ressalvado o disposto nos
títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou incisos XI e XIV deste artigo e nos arts. 39, §4º, 150, II, 153, III,
emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para e 153, §2º, I;
cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exone- XVI - é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos,
ração; exceto, quando houver compatibilidade de horários, observado em
III - o prazo de validade do concurso público será de até dois qualquer caso o disposto no inciso XI.
anos, prorrogável uma vez, por igual período; a) a de dois cargos de professor;
IV - durante o prazo improrrogável previsto no edital de con- b) a de um cargo de professor com outro técnico ou científico;
vocação, aquele aprovado em concurso público de provas ou de c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de
provas e títulos será convocado com prioridade sobre novos con- saúde, com profissões regulamentadas;
cursados para assumir cargo ou emprego, na carreira; XVII - a proibição de acumular estende-se a empregos e fun-
V - as funções de confiança, exercidas exclusivamente por ções e abrange autarquias, fundações, empresas públicas, socieda-
servidores ocupantes de cargo efetivo, e os cargos em comissão, a des de economia mista, suas subsidiárias, e sociedades controla-
serem preenchidos por servidores de carreira nos casos, condições das, direta ou indiretamente, pelo poder público;
e percentuais mínimos previstos em lei, destinam-se apenas às atri- XVIII - a administração fazendária e seus servidores fiscais
buições de direção, chefia e assessoramento; terão, dentro de suas áreas de competência e jurisdição, precedên-
VI - é garantido ao servidor público civil o direito à livre as- cia sobre os demais setores administrativos, na forma da lei;
sociação sindical; XIX - somente por lei específica poderá ser criada autarquia e
VII - o direito de greve será exercido nos termos e nos limites autorizada a instituição de empresa pública, de sociedade de eco-
definidos em lei específica; nomia mista e de fundação, cabendo à lei complementar, neste úl-
VIII - a lei reservará percentual dos cargos e empregos públi- timo caso, definir as áreas de sua atuação;
cos para as pessoas portadoras de deficiência e definirá os critérios XX - depende de autorização legislativa, em cada caso, a cria-
de sua admissão; ção de subsidiárias das entidades mencionadas no inciso anterior,
IX - a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo de- assim como a participação de qualquer delas em empresa privada;
terminado para atender a necessidade temporária de excepcional XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as
interesse público; obras, serviços, compras e alienações serão contratados mediante
X - a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que processo de licitação pública que assegure igualdade de condições
trata o §4º do art. 39 somente poderão ser fixados ou alterados por a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obriga-
lei específica, observada a iniciativa privativa em cada caso, asse- ções de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta,
gurada revisão geral anual, sempre na mesma data e sem distinção nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de quali-
de índices; ficação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumpri-
XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, mento das obrigações;
funções e empregos públicos da administração direta, autárquica XXII - as administrações tributárias da União, dos Estados, do
e fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da União, Distrito Federal e dos Municípios, atividades essenciais ao funcio-
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores namento do Estado, exercidas por servidores de carreiras específi-
de mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os proventos, cas, terão recursos prioritários para a realização de suas atividades
pensões ou outra espécie remuneratória, percebidos cumulativa- e atuarão de forma integrada, inclusive com o compartilhamento
mente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer ou- de cadastros e de informações fiscais, na forma da lei ou convênio.
tra natureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, §1º. A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e
dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, in-
limite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos Estados e no formativo ou de orientação social, dela não podendo constar no-
Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do mes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de
Poder Executivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais autoridades ou servidores públicos.
no âmbito do Poder Legislativo e o subsídio dos Desembargadores §2º. A não observância do disposto nos incisos II e III impli-
do Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco cará a nulidade do ato e a punição da autoridade responsável, nos
centésimos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos Minis- termos da lei.
tros do Supremo Tribunal Federal, no âmbito do Poder Judiciário, §3º. A lei disciplinará as formas de participação do usuário na
aplicável este limite aos membros do Ministério Público, aos Pro- administração pública direta e indireta, regulando especialmente:
curadores e aos Defensores Públicos; I - as reclamações relativas à prestação dos serviços públicos
XII - os vencimentos dos cargos do Poder Legislativo e do em geral, asseguradas a manutenção de serviços de atendimento
Poder Judiciário não poderão ser superiores aos pagos pelo Poder ao usuário e a avaliação periódica, externa e interna, da qualidade
Executivo; dos serviços;
XIII - é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer es- II - o acesso dos usuários a registros administrativos e a infor-
pécies remuneratórias para o efeito de remuneração de pessoal do mações sobre atos de governo, observado o disposto no art. 5º, X
serviço público; e XXXIII;
XIV - os acréscimos pecuniários percebidos por servidor pú- III - a disciplina da representação contra o exercício negli-
blico não serão computados nem acumulados para fins de conces- gente ou abusivo de cargo, emprego ou função na administração
são de acréscimos ulteriores; pública.
Didatismo e Conhecimento 14
NOÇÕES DE DIREITO
§4º. Os atos de improbidade administrativa importarão a sus- Já os órgãos da Administração Pública indireta são as autar-
pensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indispo- quias, fundações, empresas públicas, e sociedades de economia
nibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e grada- mista. Tais órgãos têm personalidade jurídica própria, ou de direito
ção previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível. público (autarquias e fundações públicas de direito público) ou de
§5º. A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos direito privado (fundações públicas de direito privado, empresas
praticados por qualquer agente, servidor ou não, que causem pre- públicas, e sociedades de economia mista).
juízos ao erário, ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento.
§6º. As pessoas jurídicas de direito público e as de direito 3.3 Alguns princípios aplicáveis à Administração Pública.
privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos São eles:
que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegu-
A) Princípio da legalidade. Para o direito privado, legalidade
rado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo
significa poder fazer tudo o que a lei não proíbe (autonomia priva-
ou culpa.
§7º. A lei disporá sobre os requisitos e as restrições ao ocu- da). Já para a Administração Pública, legalidade significa somente
pante de cargo ou emprego da administração direta e indireta que poder fazer aquilo previsto em lei;
possibilite o acesso a informações privilegiadas. B) Princípio da impessoalidade. Impessoalidade denota au-
§8º. A autonomia gerencial, orçamentária e financeira dos sência de subjetividade. O administrador não pode se utilizar da
órgãos e entidades da administração direta e indireta poderá ser coisa pública para satisfazer interesses pessoais;
ampliada mediante contrato, a ser firmado entre seus administra- C) Princípio da moralidade. Traduz a ideia de honestidade,
dores e o poder público, que tenha por objeto a fixação de metas de de ética, de correção de atitudes, de boa-fé. A moralidade adminis-
desempenho para o órgão ou entidade, cabendo à lei dispor sobre: trativa representa mais que a moralidade comum, porque enquanto
I - o prazo de duração do contrato; nesta as relações são interpessoais, na moralidade administrativa
II - os controles e critérios de avaliação de desempenho, direi- envolve-se o trato da coisa pública;
tos, obrigações e responsabilidade dos dirigentes; D) Princípio da publicidade. Tal princípio significa conhe-
III - a remuneração do pessoal. cimento, ciência, divulgação ao titular dos interesses em jogo, a
§9º. O disposto no inciso XI aplica-se às empresas públicas saber, o povo. Disso infere-se que a publicidade acaba sendo con-
e às sociedades de economia mista, e suas subsidiárias, que rece- dição de eficácia, em regra, do ato administrativo (como ocorre
berem recursos da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos nos procedimentos licitatórios, p. ex.). Neste diapasão, o primeiro
Municípios para pagamento de despesas de pessoal ou de custeio parágrafo, do art. 37, da Constituição, preceitua que a publicidade
em geral.
dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos pú-
§10. É vedada a percepção simultânea de proventos de apo-
blicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação
sentadoria decorrentes do art. 40 ou dos arts. 42 e 142 com a re-
muneração de cargo, emprego ou função pública, ressalvados os social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que
cargos acumuláveis na forma desta Constituição, os cargos eleti- caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores pú-
vos e os cargos em comissão declarados em lei de livre nomeação blicos;
e exoneração. E) Princípio da eficiência. Tal princípio não estava previsto
§11. Não serão computadas, para efeito dos limites remunera- no texto originário da Constituição Federal em 1988. Foi ele acres-
tórios de que trata o inciso XI do caput deste artigo, as parcelas de cido pela Emenda Constitucional nº 19/1998, e significa presteza,
caráter indenizatório previstas em lei. qualidade no serviço, agilidade, economia, ausência de desperdí-
§12. Para os fins do disposto no inciso XI do caput deste ar- cio;
tigo, fica facultado aos Estados e ao Distrito Federal fixar, em seu F) Princípio da supremacia do interesse público. Em um
âmbito, mediante emenda às respectivas Constituições e Lei Orgâ- eventual conflito entre um interesse particular e outro da coletivi-
nica, como limite único, o subsídio mensal dos Desembargadores dade, este último deverá prevalecer, como regra geral. Tal princípio
do respectivo Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e decorre de outro axioma, a saber, o “da Indisponibilidade do Inte-
vinte e cinco centésimos por cento do subsídio mensal dos Mi- resse Público”, segundo o qual, sendo a coisa pública pertencente
nistros do Supremo Tribunal Federal, não se aplicando o disposto a todos, não pode o agente administrador dela utilizar livremente;
neste parágrafo aos subsídios dos Deputados Estaduais e Distritais G) Princípio da presunção de legitimidade dos atos adminis-
e dos Vereadores. trativos. Há uma presunção relativa (isto é, que admite prova em
contrário) em torno dos atos administrativos, de que são legítimos,
3.1 Atividade administrativa. A atividade administrativa
válidos e eficazes.
poderá ser prestada de maneira centralizada, pelos entes políticos
componentes da Administração Direta (União, Estados, Municí- É óbvio que, além destes, há outros princípios vigentes para a
pios e Distrito Federal), ou de maneira descentralizada, pelos entes Administração Pública, como o da isonomia, o da razoabilidade/
componentes da Administração Indireta (Autarquias, Fundações proporcionalidade, o da autotutela etc. Mas, tais matérias não se-
Públicas, Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista) rão aqui explicadas, por serem da alçada do Direito Administrativo
bem como por particulares (através de concessionárias e permis- propriamente dito.
sionárias de serviços públicos, p. ex.).
3.4 Ocupantes de cargos, empregos e funções públicas.
3.2 Administração direta e indireta. Os órgãos da Admi- Tanto brasileiros (que preencham os requisitos estabelecidos em
nistração Pública direta são aqueles componentes dos Poderes da lei) como os estrangeiros (na forma da lei) podem ocupar cargos,
República propriamente ditos. Tais órgãos são despersonalizados. empregos e funções públicas.
Didatismo e Conhecimento 15
NOÇÕES DE DIREITO
3.5 Investidura em cargo ou emprego público. Em regra, a III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e
investidura em cargo ou emprego público se dá mediante aprova- de fronteiras;
ção prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judici-
de acordo com a natureza e complexidade do cargo ou emprego. ária da União.
As exceções são os cargos em comissão, de livre nomeação e exo- §2º. A polícia rodoviária federal, órgão permanente, organi-
neração. zado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se,
Em situações excepcionais, como urgência ou interesse públi- na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das rodovias federais.
§3º. A polícia ferroviária federal, órgão permanente, organi-
co de duração temporária, se pode dispensar o concurso público,
zado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se,
ou, ao menos, realizar processo seletivo simplificado. Neste diapa-
na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das ferrovias federais.
são, a Lei nº 8.745/93 disciplina os casos de contratação por tempo §4º. Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de
determinado para atender a necessidade temporária de excepcional carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as fun-
interesse público, p. ex. ções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto
as militares.
3.6 Prazo de validade do concurso público. O prazo de §5º. Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preser-
validade do concurso público será de até dois anos, prorrogável vação da ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, além
uma vez por igual período. Convém lembrar que, durante o prazo das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades
improrrogável previsto no edital, aquele aprovado em concurso de defesa civil.
público será convocado com prioridade sobre novos concursados §6º. As polícias militares e corpos de bombeiros militares, for-
para assumir cargo ou emprego. ças auxiliares e reserva do Exército, subordinam-se, juntamente
com as polícias civis, aos Governadores dos Estados, do Distrito
Federal e dos Territórios.
3.7 Contratação pela Administração Publica de obras, ser-
§7º. A lei disciplinará a organização e o funcionamento dos
viços, compras e alienações. Ressalvadas as hipóteses de dispen-
órgãos responsáveis pela segurança pública, de maneira a garantir
sa ou inexigibilidade, a contratação, pela Administração Pública, a eficiência de suas atividades.
de obras, serviços, compras ou alienações se dá mediante procedi- §8º. Os Municípios poderão constituir guardas municipais
mento licitatório. A lei que dispõe sobre normas gerais de licitação destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, confor-
é a de nº 8.666/93. me dispuser a lei.
Consoante o art. 37, XXI, da Lei Fundamental pátria, os pro- §9º. A remuneração dos servidores policiais integrantes dos
cedimentos licitatórios devem ser públicos, e devem assegurar órgãos relacionados neste artigo será fixada na forma do §4º do
igualdade de condições a todos os concorrentes (com cláusulas art. 39.
que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições
efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá 4.1 Segurança pública. A segurança tem um duplo aspecto
as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis na Constituição Federal, a saber, o aspecto de direito e garantia
à garantia do cumprimento das obrigações). individual e coletivo, por estar prevista no caput, do art. 5º, da
Constituição Federal (ao lado do direito à vida, da liberdade, da
igualdade, e da propriedade), bem como o aspecto de direito so-
4 Segurança pública (art. 144, CF). Dispositivo constitucio-
cial, por estar prevista no art. 6º, da Constituição Federal. A se-
nal pertinente ao tema: gurança do caput, do art. 5º, CF, todavia, se refere à “segurança
jurídica”. Já a segurança do art. 6º, CF, se refere à “segurança
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e res- pública”, a qual encontra disciplinamento no art. 144, da Consti-
ponsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem tuição da República.
pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através Ademais, enquanto a Lei Fundamental pátria preceitua que
dos seguintes órgãos: a educação e a saúde são “direitos de todos e dever do Estado”,
I - polícia federal; fala, por outro lado, que a segurança pública, antes mesmo de ser
II - polícia rodoviária federal; direito de todos, é um “dever do Estado”. Com isso, isto é, ao co-
III - polícia ferroviária federal; locar a segurança pública antes de tudo como um dever do Estado,
IV - polícias civis; e só depois como um direito do todos, denota o compromisso dos
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares. agentes estatais em prevenir a desordem, e, consequencialmente,
evitar a justiça por próprias mãos.
§1º. A polícia federal, instituída por lei como órgão perma-
Neste prumo, no art. 144, caput, da Constituição Federal, se
nente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira,
afirma que a segurança pública é exercida para a preservação da
destina-se a: ordem pública e da incolumidade das pessoas, como para a pre-
I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou servação dos patrimônios público e particular.
em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas
entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras in- 4.2 Órgãos que compõem a estrutura da segurança públi-
frações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacio- ca. São eles:
nal e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei; A) A polícia federal;
II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e dro- B) A polícia rodoviária federal;
gas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação C) A polícia ferroviária federal;
fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de D) As polícias civis;
competência; E) As polícias militares e corpos de bombeiros militares.
Didatismo e Conhecimento 16
NOÇÕES DE DIREITO
4.3 Função da Polícia Federal. A polícia federal, instituída (D) Um cidadão qualquer, por meio de ação popular, requerer
por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União a anulação do contrato, por ser lesivo ao patrimônio público e à
e estruturado em carreira, destina-se: moralidade administrativa, ficando o autor, salvo comprovada má-
A) A apurar infrações penais contra a ordem política e social -fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência.
ou em detrimento de bens, serviços e interessas da União ou de (E) O Procurador-Geral de Justiça, por meio de mandado de
suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras injunção, requerer que fosse declarada a omissão do Poder Público
infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou interna- municipal no cumprimento de sua obrigação de prestar serviços.
cional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei;
B) A prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e 2. (ANALISTA JUDICIÁRIO - TRF/2ª REGIÃO - 2012 -
FCC) Considere:
drogas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação
I. O Partido Político A, regularmente constituído, não possui
fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de representação no Congresso Nacional.
competência; II. O Sindicato B, legalmente constituído, está em funciona-
C) A exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e mento há dois anos.
de fronteiras; III. A Associação C, legalmente constituída, está em funciona-
D) A exercer, com exclusividade, as funções de polícia judi- mento há um ano e quinze dias.
ciária da União. IV. A Associação D, legalmente constituída, está em funciona-
4.4 Função da Polícia Rodoviária Federal. A polícia rodo- mento há dez meses.
viária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União De acordo com a Constituição Federal brasileira, possuem le-
e estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulha- gitimidade para impetrar mandado de segurança coletivo apenas
mento ostensivo das rodovias federais. os entes indicados em:
(A) II e III.
4.5 Função da Polícia Ferroviária Federal. A polícia ferro- (B) I, II e III.
(C) II, III e IV.
viária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União
(D) III e IV.
e estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulha- (E) I e II.
mento ostensivo das ferrovias federais.
3. (ANALISTA - MPE/RO - 2012 - FUNCAB) O mandado
4.6 Função das Polícias Civis. Às polícias civis, dirigidas por de injunção é instrumento processual, previsto pela Constituição
delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a compe- Federal, para a hipótese de:
tência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de (A) Sigilo ilegal de informações relativas à pessoa do impe-
infrações penais, exceto as militares. trante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades
governamentais ou de caráter público.
4.7 Função das Polícias Militares. Às polícias militares ca- (B) Ameaça ou sofrimento de violência ou coação à liberdade
bem o papel de polícia ostensiva e a preservação da ordem pú- de locomoção.
blica. (C) Ofensa a direito líquido e certo, não amparado por habeas
corpus, ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou
abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica
4.8 Função dos Corpos de Bombeiros Militares. Além das
no exercício de atribuições do Poder Público.
atividades definidas em lei, incumbe aos corpos de bombeiros mi- (D) A falta de norma regulamentadora tornar viável o exer-
litares a execução de atividades de defesa civil. cício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas
inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania.
QUESTÕES DE FIXAÇÃO (E) Dano ao patrimônio público, ao meio ambiente, ao patri-
mônio histórico e cultural ou ofensa à moralidade administrativa.
1. (ANALISTA JUDICIÁRIO - TRE/SP - 2012 - FCC) Um
órgão da Administração direta de determinado Município efetua 4. (ANALISTA JUDICIÁRIO - CNJ - 2013 - CESPE) Em
contratação de serviços que poderiam ser prestados por servidores relação à CF e aos direitos e garantias fundamentais dos cidadãos
públicos, sem realizar licitação e sem que o ato que determinou a brasileiros, julgue o item seguinte: “Serão considerados equiva-
contratação tivesse sido precedido de justificativa. Nessa hipótese, lentes às emendas constitucionais os tratados internacionais sobre
poderia: direitos humanos referendados em ambas as Casas do Congresso
(A) O Ministério Público, por meio de mandado de segurança Nacional em dois turnos de votação e por um terço dos respectivos
membros”.
coletivo, requerer que fosse declarada a ilegalidade da contratação,
por ofensa aos princípios constitucionais de realização de licitação 5. (INSPETOR DE POLÍCIA CIVIL - PC/ES - 2012 -
e motivação dos atos administrativos. CESPE) Julgue o seguinte item: “Considere que uma manifes-
(B) Uma associação de servidores públicos municipais, por tação pública realizada por determinado grupo religioso tenha
meio de habeas data, requerer a anulação da contratação e a deter- atraído uma multidão hostil e que, quando a polícia foi chamada
minação de que seja realizado concurso público para contratação a intervir, o líder do grupo tenha chamado os policiais de fascis-
de novos servidores, com vistas ao desempenho das atividades. tas, criando uma situação de perigo de pronta e violenta retaliação
(C) Um servidor público integrante dos quadros do órgão mu- por parte dos policiais. Nessa situação, o líder do movimento está
nicipal, por meio de mandado de segurança, requerer a anulação amparado pela garantia constitucional que assegura a liberdade de
do ato praticado pelo dirigente do órgão, por abuso de poder. expressão”.
Didatismo e Conhecimento 17
NOÇÕES DE DIREITO
6. (TÉCNICO JUDICIÁRIO - TRF/2ª REGIÃO - 2012 - 11. (ANALISTA JUDICIÁRIO - TRT/10ª Região - 2013 -
FCC) Sobre os Direitos e Garantias Fundamentais, considere: CESPE) No que concerne ao regime constitucional da administra-
I. Os tratados e convenções internacionais sobre direitos hu- ção pública, julgue o item seguinte: “A CF autoriza a acumulação
manos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacio- remunerada de dois cargos de técnico-administrativo, desde que
nal, em turno único, por três quintos dos votos dos respectivos haja compatibilidade de horários e seja observado o teto constitu-
membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. cional da remuneração do serviço público”.
II. São gratuitas as ações de habeas corpus e habeas data.
III. O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Inter- 12. (ANALISTA JUDICIÁRIO - TRT/1ª Região - 2013 -
nacional a cuja criação tenha manifestado adesão. FCC) Considere as seguintes afirmações em relação ao regime ju-
IV. É assegurada, nos termos da lei, a proteção à reprodução rídico dos servidores públicos, à luz da Constituição da República
da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades desportivas. e da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal sobre a matéria:
Nos termos da Constituição Federal de 1988, está correto o I. Dentro do prazo de validade de concurso público, a Admi-
que consta apenas em: nistração poderá escolher o momento no qual se realizará a nome-
(A) I, III e IV. ação, mas não poderá dispor sobre a própria nomeação, estando
(B) I, II e III. obrigada a nomear os aprovados dentro do número de vagas pre-
(C) II e IV. visto no edital, ressalvadas situações excepcionalíssimas que justi-
(D) II, III e IV. fiquem soluções diferenciadas, devidamente motivadas de acordo
(E) I e II. com o interesse público.
II. Salvo nos casos previstos na Constituição, o salário mínimo
7. (EXAME DE ORDEM UNIFICADO - OAB - 2012 - não pode ser usado como indexador de base de cálculo de vanta-
FGV) A Constituição assegura, entre os direitos e garantias indi- gem de servidor público, nem ser substituído por decisão judicial.
viduais, a inviolabilidade do domicílio, afirmando que “a casa é III. Até que sobrevenha lei específica para regulamentar o
asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem exercício do direito de greve pelos servidores públicos civis, apli-
o consentimento do morador” (art. 5º, XI, CRFB). A esse respeito, ca-se-lhes, no que couber, a lei que disciplina o exercício do direito
assinale a alternativa correta: de greve dos trabalhadores em geral.
(A) O conceito de “casa” é abrangente e inclui quarto de hotel. Está correto o que se afirma em:
(B) O conceito de casa é abrangente, mas não inclui escritório (A) I e II, apenas.
de advocacia. (B) I e III, apenas.
(C) A prisão em flagrante durante o dia é um limite a essa ga- (C) II e III, apenas.
rantia, mas apenas quando houver mandado judicial. (D) I, II e III.
(D) A prisão em quarto de hotel obedecendo a mandado judi- (E) I, apenas.
cial pode se dar no período noturno.
13. (ANALISTA JUDICIÁRIO - TRE/MS - 2013 - CES-
8. (ANALISTA JUDICIÁRIO - CNJ - 2013 - CESPE) PE) Considerando o que dispõe a CF acerca da administração pú-
Acerca dos princípios fundamentais da Constituição Federal de blica, assinale a opção correta:
1988 (CF), julgue o item que segue: “A República Federativa do (A) As funções de confiança podem ser livremente preenchi-
Brasil rege-se, nas suas relações internacionais, pelos seguintes das pela administração.
princípios: independência nacional; prevalência dos direitos hu- (B) A CF garante ao servidor público civil o direito à livre
manos; autodeterminação dos povos; não intervenção; igualdade associação sindical.
entre os Estados; defesa da paz; solução pacífica dos conflitos; re- (C) Os servidores públicos não possuem direito constitucional
púdio ao terrorismo e ao racismo; cooperação entre os povos para à greve.
o progresso da humanidade; e concessão de asilo político”. (D) É exigida a prévia aprovação em concurso público de pro-
vas e títulos para a investidura em cargo público, ainda que o cargo
9. (ANALISTA TÉCNICO - DPE/SC - 2013 - FEPESE) seja declarado, em lei, de livre nomeação e exoneração.
Assinale a alternativa correta em matéria de Direito Constitucio- (E) O prazo de validade de concurso público pode ser de até
nal. É fundamento da República Federativa do Brasil: cinco anos, vedada qualquer prorrogação.
(A) A defesa da paz.
(B) Erradicar a pobreza. 14. (DELEGADO DE POLÍCIA - PC/GO - 2008 - UEG/
(C) A dignidade da pessoa humana. NÚCLEO) São atribuições da Polícia Federal:
(D) A prevalência dos direitos humanos. (A) Apurar infrações penais contra a ordem pública e social
(E) Construir uma sociedade livre, justa e solidária. ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de
suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras
10. (ANALISTA JUDICIÁRIO - TRT/10ª Região - 2013 infrações cuja prática tenha repercussão regional ou interestadual e
- CESPE) Acerca dos princípios fundamentais expressos na Cons- exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei.
tituição Federal de 1988 (CF) e da aplicabilidade das normas cons- (B) Prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e dro-
titucionais, julgue o item a seguir: “A dignidade da pessoa humana gas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação
e o pluralismo político são princípios fundamentais da República fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de
Federativa do Brasil”. competência.
Didatismo e Conhecimento 18
NOÇÕES DE DIREITO
(C) Exercer, concorrentemente com as polícias civis e milita-
res, as funções de polícia judiciária da União.
Prof. Bruna Pinotti Garcia.
(D) Exercer as funções de polícia marítima, fluvial, aeropor-
Advogada e pesquisadora. Sócia da EPS&O Consultoria
tuária e de fronteiras.
Ambiental. Mestre em Teoria do Direito e do Estado pelo Centro
Universitário Eurípides de Marília (UNIVEM) - bolsista CAPES.
15. (INSPETOR DE POLÍCIA - PC/RJ - 2008 - PC/RJ)
Membro dos grupos de pesquisa “Constitucionalização do Direito
Incumbe à Polícia Civil, de acordo com as disposições constitucio-
Processual” e “Núcleo de Estudos e Pesquisas em Direito e Inter-
nais vigentes, a função de:
net”. Professora de curso preparatório para concursos. Autora de
(A) Polícia administrativa.
diversos artigos jurídicos publicados em revistas qualificadas e
(B) Polícia ostensiva.
anais de eventos, notadamente na área do direito eletrônico.
(C) Polícia executiva.
(D) Polícia judiciária.
(E) Polícia repressiva.
2.2 DIREITOS HUMANOS
GABARITO 2.2.1 DIREITOS HUMANOS: NOÇÃO, SIGNI-
FICADO, FINALIDADES E HISTÓRIA.
1. Alternativa “D”
2. Alternativa “A”
3. Alternativa “D”
4. Afirmação errada
Teoria geral dos direitos humanos é o estudo dos direitos hu-
5. Afirmação errada
manos, desde os seus elementos básicos como conceito, caracterís-
6. Alternativa “D”
ticas, fundamentação e finalidade, passando pela análise histórica
7. Alternativa “A”
e chegando à compreensão de sua estrutura normativa.
8. Afirmação correta
Na atualidade, a primeira noção que vem à mente quando se
9. Alternativa “C”
fala em direitos humanos é a dos documentos internacionais que os
10. Afirmação correta
consagram, aliada ao processo de transposição para as Constitui-
11. Afirmação errada
ções Federais dos países democráticos. Contudo, é possível apro-
12. Alternativa “D”
fundar esta noção se tomadas as raízes históricas e filosóficas dos
13. Alternativa “B”
direitos humanos, as quais serão abordadas em detalhes adiante,
14. Alternativa “B”
acrescentando-se que existem direitos inatos ao homem indepen-
15. Alternativa “D”
dentemente de previsão expressa por serem elementos essenciais
na construção de sua dignidade.
REFERÊNCIAS
Logo, um conceito preliminar de direitos humanos pode ser
estabelecido: direitos humanos são aqueles inerentes ao homem
CUNHA JÚNIOR, Dirley da. Curso de direito constitucional.
enquanto condição para sua dignidade que usualmente são des-
6. ed. Salvador: JusPODIUM, 2012.
critos em documentos internacionais para que sejam mais segura-
mente garantidos. A conquista de direitos da pessoa humana é, na
FACHIN, Zulmar. Curso de direito constitucional. Rio de Ja-
verdade, uma busca da dignidade da pessoa humana.
neiro: Forense, 2013.
O direito natural se contrapõe ao direito positivo, localizado
no tempo e no espaço: tem como pressuposto a ideia de imutabi-
LAZARI, Rafael José Nadim de; BERNARDI, Renato. En-
lidade de certos princípios, que escapam à história, e a universali-
saios escolhidos de direito constitucional. Brasília: Kiron, 2013.
dade destes princípios transcendem a geografia. A estes princípios,
que são dados e não postos por convenção, os homens têm aces-
MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires;
so através da razão comum a todos (todo homem é racional), e
BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional.
são estes princípios que permitem qualificar as condutas humanas
5. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
como boas ou más, qualificação esta que promove uma contínua
vinculação entre norma e valor e, portanto, entre Direito e Moral.1
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional posi-
As premissas dos direitos humanos se encontram no conceito
tivo. 35. ed. São Paulo: Malheiros, 2012.
de lei natural. Lei natural é aquela inerente à humanidade, inde-
pendentemente da norma imposta, e que deve ser respeitada acima
LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 17. ed.
de tudo. O conceito de lei natural foi fundamental para a estrutu-
São Paulo: Saraiva, 2013.
ração dos direitos dos homens, ficando reconhecido que a pessoa
humana possui direitos inalienáveis e imprescritíveis, válidos em
VADE MECUM SARAIVA. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.
qualquer tempo e lugar, que devem ser respeitados por todos os
Estados e membros da sociedade. O direito natural é, então, co-
1 LAFER, Celso. A reconstrução dos direitos humanos:
um diálogo com o pensamento de Hannah Arendt. São Paulo: Cia.
das Letras, 2009.
Didatismo e Conhecimento 19
NOÇÕES DE DIREITO
mum a todos e, ligado à própria origem da humanidade, representa cação, saúde e bem-estar), culturais (participação na vida cultural)
um padrão geral, funcionando como instrumento de validação das e ambientais (meio ambiente saudável, sustentabilidade para as fu-
ordens positivas2. turas gerações). Percebe-se uma proximidade entre os direitos hu-
O direito natural, na sua formulação clássica, não é um con- manos e os direitos fundamentais do homem, o que ocorre porque
junto de normas paralelas e semelhantes às do direito positivo, e o valor da pessoa humana na qualidade de valor-fonte da ordem
sim o fundamento deste direito positivo, sendo formado por nor- de vida em sociedade fica expresso juridicamente nestes direitos
mas que servem de justificativa a este, por exemplo: “deve se fazer fundamentais do homem.
o bem”, “dar a cada um o que lhe é devido”, “a vida social deve ser As normas de direitos humanos e direitos fundamentais, por
conservada”, “os contratos devem ser observados” etc.3 sua própria natureza, possuem baixa densidade normativa. Isso
Em literatura, destaca-se a obra do filósofo Sófocles4 intitula- significa que elas abrem alta margem para interpretação e geral-
da Antígona, na qual a personagem se vê em conflito entre seguir mente adotam a forma de princípios, não de regras.
o que é justo pela lei dos homens em detrimento do que é justo por Neste sentido, toma-se a divisão clássica de Alexy5, segundo
natureza quando o rei Creonte impõe que o corpo de seu irmão não o qual a distinção entre regras e princípios é uma distinção entre
seja enterrado porque havia lutado contra o país. Neste sentido, dois tipos de normas, fornecendo juízos concretos para o dever ser.
a personagem Antígona defende, ao ser questionada sobre o des- A diferença essencial é que princípios são normas de otimização,
cumprimento da ordem do rei: “sim, pois não foi decisão de Zeus; ao passo que regras são normas que são sempre satisfeitas ou não.
e a Justiça, a deusa que habita com as divindades subterrâneas, ja- Se as regras se conflitam, uma será válida e outra não. Se princí-
mais estabeleceu tal decreto entre os humanos; tampouco acredito pios colidem, um deles deve ceder, embora não perca sua validade
que tua proclamação tenha legitimidade para conferir a um mortal e nem exista fundamento em uma cláusula de exceção, ou seja,
o poder de infringir as leis divinas, nunca escritas, porém irrevogá- haverá razões suficientes para que em um juízo de sopesamento
veis; não existem a partir de ontem, ou de hoje; são eternas, sim! E (ponderação) um princípio prevaleça. Enquanto adepto da adoção
ninguém pode dizer desde quando vigoram! Decretos como o que de tal critério de equiparação normativa entre regras e princípios,
proclamaste, eu, que não temo o poder de homem algum, posso o jurista alemão Robert Alexy é colocado entre os nomes do pós-
violar sem merecer a punição dos deuses! [...]”. -positivismo.
O desrespeito às normas de direito natural - e porque não di- Ainda assim, é possível verificar, com relação a estas normas
zer de direitos humanos - leva à invalidade da norma que assim o específicas, princípios ou tendências mais abrangentes, que envol-
preveja (Ex: autorizar a tortura para fins de investigação penal e vem um grupo de diretrizes ou então indiretamente compõem to-
processual penal não é simplesmente inconstitucional, é mais que das elas. Em outras palavras, existem determinados fundamentos
isso, por ser inválida perante a ordem internacional de garantia de que pairam sobre todos os princípios e regras de direitos humanos
direitos naturais/humanos uma norma que contrarie a dignidade e fundamentais, como o caso da dignidade da pessoa humana, da
inerente ao homem sob o aspecto da preservação de sua vida e democracia e da razoabilidade-proporcionalidade, ou referem-se
integridade física e moral). especificamente a um grupo deles, a exemplo da liberdade, da
Enfim, quando questões inerentes ao direito natural passam a igualdade e da fraternidade.
ser colocadas em textos expressos tem-se a formação de um con- Por isso, embora a nomenclatura princípio seja usual em dou-
ceito contemporâneo de direitos humanos. Entre outros documen- trina e jurisprudência quanto a estes elementos que serão estudados
tos a partir dos quais tal concepção começou a ganhar forma, des- neste capítulo, opta-se, para fins de distinção dos demais princípios
tacam-se: Magna Carta de 1215, Bill of Rights ao final do século específicos, a adoção do vocábulo fundamento. Logo, pretende-se
XVII e Constituições da Revolução Francesa de 1789 e Americana deixar evidente que a existência de normas específicas de baixa
de 1787. No entanto, o documento que constitui o marco mais sig- densidade normativa, adotando a forma de princípio jurídico, não
nificativo para a formação de uma concepção contemporânea de exclui normas ainda mais abrangentes, também tomando a forma
direitos humanos é a Declaração Universal de Direitos Humanos de princípio, com baixíssima densidade normativa, a ponto de po-
de 1948. Após ela, muitos outros documentos relevantes surgiram, derem ser consideradas fundamentos base de todo o sistema de
como o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e Pacto direitos humanos e fundamentais.
Internacional de Direitos Humanos, Sociais e Culturais, ambos de O principal fundamento de direitos humanos, sem sombra de
1966, além da Convenção Interamericana de Direitos Humanos dúvidas, é a dignidade da pessoa humana. A exemplo do que ex-
(Pacto de São José da Costa Rica) de 1969, entre outros. põe Comparato6: “Uma das tendências marcantes do pensamento
A finalidade primordial dos direitos humanos é garantir que moderno é a convicção generalizada de que o verdadeiro funda-
a dignidade do homem não seja violada, estabelecendo um rol mento de validade - do direito em geral e dos direitos humanos
de bens jurídicos fundamentais que merecem proteção ineren- em particular - já não deve ser procurado na esfera sobrenatural da
tes, basicamente, aos direitos civis (vida, segurança, propriedade revelação religiosa, nem tampouco numa abstração metafísica - a
e liberdade), políticos (participação direta e indireta nas decisões natureza - como essência imutável de todos os entes no mundo.
políticas), econômicos (trabalho), sociais (igualdade material, edu- Se o direito é uma criação humana, o seu valor deriva, justamen-
2 LAFER, Celso. A reconstrução dos direitos humanos: 5 ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais.
um diálogo com o pensamento de Hannah Arendt. São Paulo: Cia. Tradução Virgílio Afonso da Silva. 2. ed. São Paulo: Malheiros,
das Letras, 2009. 2011.
3 MONTORO, André Franco. Introdução à ciência do 6 COMPARATO, Fábio Konder. Fundamento dos
Direito. 26. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. Direitos Humanos. Instituto de Estudos Avançados da USP,
4 SÓFOCLES. Édipo rei / Antígona. Tradução Jean 1997. Disponível em: <http://www.iea.usp.br/publicacoes/textos/
Melville. São Paulo: Martin Claret, 2003. comparatodireitoshumanos.pdf>. Acesso em: 02 jul. 2013.
Didatismo e Conhecimento 20
NOÇÕES DE DIREITO
te, daquele que o criou. O que significa que esse fundamento não nidade. Como se depreende do sistema internacional de proteção
é outro, senão o próprio homem, considerado em sua dignidade de direitos humanos tais fundamentos lançam base para a declara-
substancial de pessoa, diante da qual as especificações individuais ção de inúmeros direitos humanos, servindo de viés para a leitura
e grupais são sempre secundárias”. de todos eles. Assim, são mais do que princípios e sim verdadeiros
A dignidade da pessoa humana é o valor-base de interpre- nortes para a proteção internacional dos direitos humanos.
tação de qualquer sistema jurídico, internacional ou nacional, que Não obstante, pela larga margem de interpretação que decorre
possa se considerar compatível com os valores éticos, notadamen- da baixa densidade normativa das normas de direitos humanos,
te da moral, da justiça e da democracia. Pensar em dignidade da surgem como fundamentos para a interpretação sistêmica a razo-
pessoa humana significa, acima de tudo, colocar a pessoa humana abilidade e a proporcionalidade. Alexy8 entende que determina-
como centro e norte para qualquer processo de interpretação jurídi- dos valores exteriorizam tudo o que é levado em conta num sope-
co, seja na elaboração da norma, seja na sua aplicação. samento de direitos fundamentais: “assim, com poucos conceitos,
A menção constante da dignidade no que pode ser conside- como ‘dignidade’, ‘liberdade’, ‘igualdade’, ‘proteção’ e ‘bem-es-
rado o principal instrumento de declaração de direitos humanos tar da comunidade’, é possível abarcar quase tudo aquilo que tem
universais, qual seja a Declaração Universal de 1948, desde o seu que ser levado em consideração em um sopesamento de direitos
início a coloca não só como principal norte de interpretação das fundamentais”. Por sua vez, “segundo a lei do sopesamento, a me-
normas de direitos humanos como um todo, mas como a justifica- dida permitida de não-satisfação ou de afetação de um princípio
tiva principal para a criação de um sistema internacional com tal
depende do grau de importância da satisfação do outro”9 .
natureza de proteção.
Os fundamentos de direitos humanos servem como norte para
Comparato7 aponta outros fundamentos de direitos humanos
toda norma de proteção dos direitos humanos, tanto no processo de
associados à dignidade da pessoa humana:
elaboração quanto no de aplicação, sempre tendo em vista a pro-
a) Autoconsciência: “Contrariamente aos outros animais, o
homem não tem apenas memória de fatos exteriores, incorporada moção da dignidade da pessoa humana em todas suas dimensões
ao mecanismo de seus instintos, mas possui a consciência de sua de direitos.
própria subjetividade, no tempo e no espaço; sobretudo, consciên- Os direitos humanos possuem as seguintes características
cia de sua condição de ser vivente e mortal”. principais:
b) Sociabilidade: “[...] o indivíduo humano somente desen- 1) Historicidade: os direitos humanos possuem antecedentes
volve as suas virtualidades de pessoa, isto é, de homem capaz de históricos relevantes e, através dos tempos, adquirem novas pers-
cultura e auto-aperfeiçoamento, quando vive em sociedade. É pre- pectivas. Nesta característica se enquadra a noção de dimensões
ciso não esquecer que as qualidades eminentes e próprias do ser de direitos.
humano - a razão, a capacidade de criação estética, o amor - são 2) Universalidade: os direitos humanos pertencem a todos e
essencialmente comunicativas”. por isso se encontram ligados a um sistema global (ONU), o que
c) Historicidade: “A substância da natureza humana é his- impede o retrocesso.
tórica, isto é, vive em perpétua transformação, pela memória do 3) Inalienabilidade: os direitos humanos não possuem con-
passado e o projeto do futuro”. teúdo econômico-patrimonial, logo, são intransferíveis, inegoci-
d) Unicidade existencial: “outra característica essencial da áveis e indisponíveis, estando fora do comércio, o que evidencia
condição humana é o fato de que cada um de nós se apresenta uma limitação do princípio da autonomia privada.
como um ente único e rigorosamente insubstituível no mundo”. 4) Irrenunciabilidade: direitos humanos não podem ser re-
Outro fundamento de direitos humanos é a democracia. A nunciados pelo seu titular devido à fundamentalidade material des-
adoção da forma democrática de Estado aparece como fundamento tes direitos para a dignidade da pessoa humana.
dos direitos humanos por ser um pressuposto para que eles pos- 5) Inviolabilidade: direitos humanos não podem deixar de ser
sam ser adequadamente exercidos. Em outras palavras, fora de um observados por disposições infraconstitucionais ou por atos das
Estado democrático, não há possibilidade de exercício pleno de autoridades públicas, sob pena de nulidades.
nenhuma das dimensões de direito: a liberdade fica tolhida pela 6) Indivisibilidade: os direitos humanos compõem um único
censura, os direitos políticos pelo impedimento da participação conjunto de direitos porque não podem ser analisados de maneira
popular, os direitos econômicos, sociais e culturais pela manipula- isolada, separada.
ção de recursos ao que é conveniente ao governo antidemocrático
7) Imprescritibilidade: os direitos humanos não se perdem
e não ao interesse coletivo, os direitos de solidariedade pela im-
com o tempo, não prescrevem, uma vez que são sempre exercíveis
possibilidade de criação de consciência coletiva sem o exercício
e exercidos, não deixando de existir pela falta de uso (prescrição).
e a efetivação dos direitos individuais. Na Declaração de 1948,
8) Complementaridade: os sistemas regionais descentrali-
o conceito de democracia aparece associado adequadamente ao
pressuposto de um Estado de Direito que propicie e assegure todos zam a ONU para respeitar a complementaridade, ou seja, os di-
os direitos humanos e fundamentais. ferentes elementos de base cultural, religiosa e social das diversas
Pode-se afirmar que o centro das três primeiras dimensões de regiões.
direitos humanos consagrados também constituem fundamentos 8 ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais.
de direitos humanos, quais sejam: liberdade, igualdade e frater- Tradução Virgílio Afonso da Silva. 2. ed. São Paulo: Malheiros,
7 COMPARATO, Fábio Konder. Fundamento dos 2011.
Direitos Humanos. Instituto de Estudos Avançados da USP, 9 ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais.
1997. Disponível em: <http://www.iea.usp.br/publicacoes/textos/ Tradução Virgílio Afonso da Silva. 2. ed. São Paulo: Malheiros,
comparatodireitoshumanos.pdf>. Acesso em: 02 jul. 2013. 2011.
Didatismo e Conhecimento 21
NOÇÕES DE DIREITO
9) Interdependência: as dimensões de direitos humanos mas com a legislação passou a ter um conteúdo palpável, de modo
apresentam uma relação orgânica entre si, logo, a dignidade da que a justiça deveria corresponder às leis da cidade; entretanto, é
pessoa humana deve ser buscada por meio da implementação mais preciso considerar que os costumes primitivos trazem o justo por
eficaz e uniforme das liberdades clássicas, dos direitos sociais, natureza, que pode se contrapor ao justo por convenção ou legisla-
econômicos e de solidariedade como um todo único e indissolúvel. ção, devendo prevalecer o primeiro, que se refere ao naturalmente
10) Efetividade: para dar efetividade aos direitos humanos a justo, sendo esta a origem da ideia de lei natural.
ONU se subdivide, isto é, o tratamento é global mas certas áreas De início, a literatura grega trouxe na obra Antígona uma dis-
irão cuidar de determinados direitos de suas regiões. Além disso, cussão a respeito da prevalência da lei natural sobre a lei posta. Na
há uma descentralização para os sistemas regionais para preservar obra, a protagonista discorda da proibição do rei Creonte de que
a complementaridade, sem a qual não há efetividade. Reflete tal seu irmão fosse enterrado, uma vez que ele teria traído a pátria. As-
característica a aplicabilidade imediata dos direitos humanos pre- sim, enterra seu irmão e argumenta com o rei que nada do que seu
vista no art. 5°, §1° da Constituição Federal. irmão tivesse feito em vida poderia dar o direito ao rei de violar a
11) Relatividade: o princípio da relatividade dos direitos hu- regra imposta pelos deuses de que todo homem deveria ser enter-
manos possui dois sentidos: por um, o multiculturalismo existente rado para que pudesse partir desta vida: a lei natural prevaleceria
no globo impede que a universalidade se consolide plenamente, então sobre a ordem do rei.13
de forma que é preciso levar em consideração as culturas locais Os sofistas, seguidores de Sócrates (470 a.C. - 399 a.C.), o
para compreender adequadamente os direitos humanos; por outro, primeiro grande filósofo grego, questionaram essa concepção de
os direitos humanos não podem ser utilizados como um escudo lei natural, pois a lei estabelecida na polis, fruto da vontade dos
para práticas ilícitas ou como argumento para afastamento ou di- cidadãos, seria variável no tempo e no espaço, não havendo que
minuição da responsabilidade por atos ilícitos, assim os direitos se falar num direito imutável; ao passo que Aristóteles (384 a.C. -
humanos não são ilimitados e encontram seus limites nos demais 322 a.C.), que o sucedeu, estabeleceu uma divisão entre a justiça
direitos igualmente consagrados como humanos. positiva e a natural, reconhecendo que a lei posta poderia não ser
O surgimento dos direitos humanos está envolvido num his- justa14.
tórico complexo no qual pesaram vários fatores: tradição huma- Aristóteles15 argumenta: “lei particular é aquela que cada co-
nista, recepção do direito romano, senso comum da sociedade da munidade determina e aplica a seus próprios membros; ela é em
Europa na Idade Média, tradição cristã, entre outros10. Com efeito, parte escrita e em parte não escrita. A lei universal é a lei da na-
são muitos os elementos relevantes para a formação do conceito tureza. Pois, de fato, há em cada um alguma medida do divino,
de direitos humanos tal qual perceptível na atualidade de forma uma justiça natural e uma injustiça que está associada a todos os
que é difícil estabelecer um histórico linear do processo de forma- homens, mesmo naqueles que não têm associação ou pacto com
ção destes direitos. Entretanto, é possível apontar alguns fatores outro”.
históricos e filosóficos diretamente ligados à construção de uma Nesta linha, destaca-se o surgimento do estoicismo, doutri-
concepção contemporânea de direitos humanos. na que se desenvolveu durante seis séculos, desde os últimos três
É a partir do período axial (800 a.C. a 200 a.C.), ou seja, mes- séculos anteriores à era cristã até os primeiros três séculos desta
mo antes da existência de Cristo, que o ser humano passou a ser era, mas que trouxe ideias que prevaleceram durante toda a Idade
considerado, em sua igualdade essencial, como um ser dotado de Média e mesmo além dela. O estoicismo organizou-se em torno
liberdade e razão. Surgiam assim os fundamentos intelectuais para de algumas ideias centrais, como a unidade moral do ser humano
a compreensão da pessoa humana e para a afirmação da existência e a dignidade do homem, considerado filho de Zeus e possuidor,
de direitos universais, porque a ela inerentes. Durante este período como consequência, de direitos inatos e iguais em todas as partes
que despontou a ideia de uma igualdade essencial entre todos os do mundo, não obstante as inúmeras diferenças individuais e gru-
homens. Contudo, foram necessários vinte e cinco séculos para pais16.
que a Organização das Nações Unidas - ONU, que pode ser con- Influenciado pelos estóicos, Cícero (106 a.C. - 43 a.C.), um
siderada a primeira organização internacional a englobar a quase- dos principais pensadores do período da jovem república romana,
-totalidade dos povos da Terra, proclamasse, na abertura de uma também defendeu a existência de uma lei natural. Neste sentido é
Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, que “todos a assertiva de Cícero17: “a razão reta, conforme à natureza, gravada
os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos”11. em todos os corações, imutável, eterna, cuja voz ensina e pres-
No berço da civilização grega continuou a discussão a respei- creve o bem, afasta do mal que proíbe e, ora com seus mandados,
to da existência de uma lei natural inerente a todos os homens. As ora com suas proibições, jamais se dirige inutilmente aos bons,
premissas da concepção de lei natural estão justamente na discus- nem fica impotente ante os maus. Essa lei não pode ser contestada,
são promovida na Grécia antiga, no espaço da polis. Neste sentido, nem derrogada em parte, nem anulada; não podemos ser isentos de
destaca Assis12 que, originalmente, a concepção de lei natural está 13 SÓFOCLES. Édipo rei / Antígona. Tradução Jean
ligada não só à de natureza, mas também à de diké: a noção de Melville. São Paulo: Martin Claret, 2003.
justiça simbolizada a partir da deusa diké é muito ampla e abstrata, 14 ASSIS, Olney Queiroz. O estoicismo e o Direito: justiça,
10 COSTA, Paulo Sérgio Weyl A. Direitos Humanos e liberdade e poder. São Paulo: Lúmen, 2002.
Crítica Moderna. Revista Jurídica Consulex. São Paulo, ano XIII, 15 ARISTÓTELES. Retórica. Tradução Marcelo Silvano
n. 300, p. 27-29, jul. 2009. Madeira. São Paulo: Rideel, 2007.
11 COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica 16 COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica
dos Direitos Humanos. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. dos Direitos Humanos. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2004.
12 ASSIS, Olney Queiroz. O estoicismo e o Direito: justiça, 17 CÍCERO, Marco Túlio. Da República. Tradução Amador
liberdade e poder. São Paulo: Lúmen, 2002. Cisneiros. Rio de Janeiro: Ediouro, 1995.
Didatismo e Conhecimento 22
NOÇÕES DE DIREITO
seu cumprimento pelo povo nem pelo senado; não há que procurar Em geral, o absolutismo europeu foi marcado profundamen-
para ela outro comentador nem intérprete; não é uma lei em Roma te pelo antropocentrismo, colocando o homem no centro do uni-
e outra em Atenas, - uma antes e outra depois, mas uma, sempiter- verso, ocupando o espaço de Deus. Naturalmente, as premissas
na e imutável, entre todos os povos e em todos os tempos”. da lei natural passaram a ser questionadas, já que geralmente se
Com a queda do Império Romano, iniciou-se o período me- associavam à dimensão do divino. A negação plena da existência
dieval, predominantemente cristianista. Um dos grandes pensado- de direitos inatos ao homem implicava em conferir um poder irres-
res do período, Santo Tomás de Aquino (1225 d.C. -1274 d.C.)18, trito ao soberano, o que gerou consequências que desagradavam a
supondo que o mundo e toda a comunidade do universo são regi- burguesia.
dos pela razão divina e que a própria razão do governo das coisas O príncipe, obra de Maquiavel (1469 d.C. - 1527 d.C.) consi-
em Deus fundamenta-se em lei, entendeu que existe uma lei eterna derada um marco para o pensamento absolutista, relata com preci-
ou divina, pois a razão divina nada concebe no tempo e é sempre são este contexto no qual o poder do soberano poderia se sobrepor
eterna. Com base nisso, Aquino19 chamou de lei natural “a par- a qualquer direito alegadamente inato ao ser humano desde que
ticipação da lei eterna na lei racional”. Sobre o conteúdo da lei sua atitude garantisse a manutenção do poder. Maquiavel22 consi-
natural, definiu Aquino (2005, p. 562) que “todas aquelas coisas dera “na conduta dos homens, especialmente dos príncipes, contra
que devem ser feitas ou evitadas pertencem aos preceitos da lei de a qual não há recurso, os fins justificam os meios. Portanto, se um
natureza, que a razão prática naturalmente apreende ser bens hu- príncipe pretende conquistar e manter o poder, os meios que em-
manos”. Logo, a lei natural determina o agir virtuoso, o que se es- pregue serão sempre tidos como honrosos, e elogiados por todos,
pera do homem em sociedade, independentemente da lei humana. pois o vulgo atenta sempre para as aparências e os resultados”.
Com a concepção medieval de pessoa humana é que se iniciou Os monarcas dos séculos XVI, XVII e XVIII agiam de forma
um processo de elaboração em relação ao princípio da igualdade autocrática, baseados na teoria política desenvolvida até então que
de todos, independentemente das diferenças existentes, seja de or- negava a exigência do respeito à Ética, logo, ao direito natural,
dem biológica, seja de ordem cultural. Foi assim, então, que surgiu no espaço público. Somente num momento histórico posterior se
o conceito universal de direitos humanos, com base na igualdade permitiu algum resgate da aproximação entre a Moral e o Direito,
essencial da pessoa20. qual seja o da Revolução Intelectual dos séculos XVII e XVIII,
No processo de ascensão do absolutismo europeu, a monar- com o movimento do Iluminismo, que conferiu alicerce para as
quia da Inglaterra encontrou obstáculos para se estabelecer no iní- Revoluções Francesa e Industrial - ainda assim a visão antropocen-
cio do século XIII, sofrendo um revés. Ao se tratar da formação trista permaneceu, mas começou a se consolidar a ideia de que não
da monarquia inglesa, em 1215 os barões feudais ingleses, em era possível que o soberano impusesse tudo incondicionalmente
uma reação às pesadas taxas impostas pelo Rei João Sem-Terra, aos seus súditos.
impuseram-lhe a Magna Carta. Referido documento, em sua aber- Com efeito, quando passou a se questionar o conceito de So-
tura, expõe a noção de concessão do rei aos súditos, estabelece a berano, ao qual todos deveriam obediência mas que não deveria
existência de uma hierarquia social sem conceder poder absoluto obedecer a ninguém. Indagou-se se os indivíduos que colocaram
ao soberano, prevê limites à imposição de tributos e ao confisco, o Soberano naquela posição (pois sem povo não há Soberano) te-
constitui privilégios à burguesia e traz procedimentos de julga- riam direitos no regime social e, em caso afirmativo, quais seriam
mento ao prever conceitos como o de devido processo legal, ha- eles. As respostas a estas questões iniciam uma visão moderna do
beas corpus e júri. Não que a carta se assemelhe a uma declaração direito natural, reconhecendo-o como um direito que acompanha
de direitos humanos, principalmente ao se considerar que poucos o cidadão e não pode ser suprimido em nenhuma circunstância.23
homens naquele período eram de fato livres, mas ela foi funda- Antes que despontassem as grandes revoluções que interrom-
mental naquele contexto histórico de falta de limites ao soberano21. peram o contexto do absolutismo europeu, na Inglaterra houve uma
A Magna Carta de 1215 instituiu ainda um Grande Conselho que árdua discussão sobre a garantia das liberdades pessoais, ainda que
foi o embrião para o Parlamento inglês, embora isto não signifique o foco fosse a proteção do clero e da nobreza. Quando a dinastia
que o poder do rei não tenha sido absoluto em certos momentos, Stuart tentou transformar o absolutismo de fato em absolutismo
como na dinastia Tudor. Havia um absolutismo de fato, mas não de direito, ignorando o Parlamento, este impôs ao rei a Petição de
de Direito. Direitos de 1948, que exigia o cumprimento da Magna Carta de
18 AQUINO, Santo Tomás de. Suma teológica. Tradução 1215. Contudo, o rei se recusou a fazê-lo, fechando por duas vezes
Aldo Vannucchi e Outros. Direção Gabriel C. Galache e Fidel o Parlamento, sendo que a segunda vez gerou uma violenta reação
García Rodríguez. Coordenação Geral Carlos-Josaphat Pinto de que desencadeou uma guerra civil. Após diversas transições no
Oliveira. Edição Joaquim Pereira. São Paulo: Loyola, 2005b. v. trono inglês, despontou a Revolução Gloriosa que durou de 1688
VI, parte II, seção II, questões 57 a 122. até 1689, conferindo-se o trono inglês a Guilherme de Orange, que
19 AQUINO, Santo Tomás de. Suma teológica. Tradução aceitou a Declaração de Direitos - Bill of Rights.
Aldo Vannucchi e Outros. Direção Gabriel C. Galache e Fidel Todo este movimento resultou, assim, nas garantias expres-
García Rodríguez. Coordenação Geral Carlos-Josaphat Pinto de sas do habeas corpus e do Bill of Rights de 1698. Por sua vez,
Oliveira. Edição Joaquim Pereira. São Paulo: Loyola, 2005b. v. a instituição-chave para a limitação do poder monárquico e para
VI, parte II, seção II, questões 57 a 122. garantia das liberdades na sociedade civil foi o Parlamento e foi
20 COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica 22 MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. Tradução Pietro
dos Direitos Humanos. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. Nassetti. São Paulo: Martin Claret, 2007.
21 AMARAL, Sérgio Tibiriçá. Magna Carta: Algumas 23 COSTA, Paulo Sérgio Weyl A. Direitos Humanos e
Contribuições Jurídicas. Revista Intertemas: revista da Toledo. Crítica Moderna. Revista Jurídica Consulex. São Paulo, ano XIII,
Presidente Prudente, ano 09, v. 11, p. 201-227, nov. 2006. n. 300, p. 27-29, jul. 2009.
Didatismo e Conhecimento 23
NOÇÕES DE DIREITO
a partir do Bill of Rights britânico que surgiu a ideia de governo 2) Já a Revolução Francesa decorreu da incapacidade do
representativo, ainda que não do povo, mas pelo menos de suas governo de resolver sua crise financeira, ascendendo com isso a
camadas superiores24. classe burguesa (sans-culottes), sendo o primeiro evento de tal as-
Tais ideias liberais foram importantes como base para o Ilu- censão a Queda da Bastilha, em 14 de julho de 1789, seguida por
minismo, que se desencadeou por toda a Europa. Destaca-se que outros levantes populares. Derrubados os privilégios das classes
quando isso ocorreu, em meados do século XVIII, se dava o ad- dominantes, a Assembleia se reuniu para o preparo de uma carta
vento do capitalismo em sua fase industrial. O processo de forma- de liberdades, que veio a ser a Declaração dos Direitos do Homem
ção do capitalismo e a ascensão da burguesia trouxeram implica- e do Cidadão.26
ções profundas no campo teórico, gerando o Iluminismo. Entre outras noções, tal documento previu: a liberdade e
O Iluminismo lançou base para os principais eventos que igualdade entre os homens quanto aos seus direitos (artigo 1º), a
ocorreram no início da Idade Contemporânea, quais sejam as Re- necessidade de conservação dos seus direitos naturais, quais sejam
voluções Francesa, Americana e Industrial. Tiveram origem nestes a liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência à opressão
movimentos todos os principais fatos do século XIX e do início do (artigo 2º); a limitação do direito de liberdade somente por lei (ar-
século XX, por exemplo, a disseminação do liberalismo burguês, o
tigo 4º); o princípio da legalidade (artigo 7º); o princípio da ino-
declínio das aristocracias fundiárias e o desenvolvimento da cons-
cência (artigo 9º); a manifestação livre do pensamento (artigos 10
ciência de classe entre os trabalhadores25.
e 11); e a necessária separação de poderes (artigo 16).
Jonh Locke (1632 d.C. - 1704 d.C.) foi um dos pensadores da
3) Por sua vez, a Revolução Industrial, que começou na Ingla-
época, transportando o racionalismo para a política, refutando o
Estado Absolutista, idealizando o direito de rebelião da sociedade terra, criou o sistema fabril, o que reformulou a vida de homens
civil e afirmando que o contrato entre os homens não retiraria o e mulheres pelo mundo todo, não só pelos avanços tecnológicos,
seu estado de liberdade. Ao lado dele, pode ser colocado Montes- mas notadamente por determinar o êxodo de milhões de pessoas
quieu (1689 d.C. - 1755 d.C.), que avançou nos estudos de Locke do interior para as cidades. Os milhares de trabalhadores se sujei-
e na obra O Espírito das Leis estabeleceu em definitivo a clássica tavam a jornadas longas e desgastantes, sem falar nos ambientes
divisão de poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. Por fim, insalubres e perigosos, aos quais se sujeitavam inclusive as crian-
merece menção o pensador Rousseau (1712 d.C. - 1778 d.C.), de- ças. Neste contexto, surgiu a consciência de classe27, lançando-se
fendendo que o homem é naturalmente bom e formulando na obra base para uma árdua luta pelos direitos trabalhistas.
O Contrato Social a teoria da vontade geral, aceita pela pequena Fato é que quanto maior a autonomia de vontade - buscada
burguesia e pelas camadas populares face ao seu caráter democrá- nas revoluções anteriores - melhor funciona o mercado capitalista,
tico. Enfim, estes três contratualistas trouxeram em suas obras as beneficiando quem possui maior número de bens. Assim, a clas-
ideias centrais das Revoluções Francesa e Americana. Em comum, se que detinha bens, qual seja a burguesia, ampliou sua esfera de
defendiam que o Estado era um mal necessário, mas que o sobera- poder, enquanto que o proletariado passou a ser vítima do poder
no não possuía poder divino/absoluto, sendo suas ações limitadas econômico. No Estado Liberal, aquele que não detém poder eco-
pelos direitos dos cidadãos submetidos ao regime estatal. No en- nômico fica desprotegido. O indivíduo da classe operária sozinho
tanto, Rousseau era o pensador que mais se diferenciava dos dois não tinha defesa, mas descobriu que ao se unir com outros em situ-
anteriores, que eram mais individualistas e trouxeram os principais ação semelhante poderia conquistar direitos. Para tanto, passaram
fundamentos do Estado Liberal, porque defendia a entrega do po- a organizar greves.
der a quem realmente estivesse legitimado para exercê-lo, pensa- Nasceu, assim, o direito do trabalho, voltado à proteção da
mento que mais se aproxima da atual concepção de democracia. vítima do poder econômico, o trabalhador. Parte-se do princípio
1) O primeiro grande movimento desencadeado foi a Re- da hipossuficiência do trabalhador, que é o princípio da proteção
volução Americana. Em 1776 se deu a independência das treze e que gerou os princípios da primazia, da irredutibilidade de ven-
Colônias da América Continental Britânica, registrada na Decla- cimentos e outros. Nota-se que no campo destes direitos e dos de-
ração de Direitos do Homem e, posteriormente, na Declaração de mais direitos econômicos, sociais e culturais não basta uma postu-
Independência. Após diversas batalhas, a Inglaterra reconheceu a
ra do indivíduo: é preciso que o Estado interfira e controle o poder
independência em 1783. Destacam-se alguns pontos do primeiro
econômico.
documento: o artigo I do referido documento assegura a igualdade
Entre os documentos relevantes que merecem menção nesta
de todos de maneira livre e independente, considerando esta como
esfera, destacam-se: Constituição do México de 1917, Constitui-
um direito inato; o artigo II estabelece que o poder pertence ao
povo e que o Estado é responsável perante ele; o artigo V prevê ção Alemã de Weimar de 1919 e Tratado de Versalhes de 1919,
a separação dos poderes e o artigo VI institui a realização de elei- sendo que o último instituiu a Organização Internacional do Tra-
ções diretas, necessariamente. A declaração americana estava mais balho - OIT (que emitia convenções e recomendações) e pôs fim à
voltada aos americanos do que à humanidade, razão pela qual a Primeira Guerra Mundial.
Revolução Francesa costuma receber mais destaque num cenário 26 BURNS, Edward McNall. História da civilização
histórico global. ocidental: do homem das cavernas às naves espaciais. 43. ed.
24 COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica Atualização Robert E. Lerner e Standisch Meacham. São Paulo:
dos Direitos Humanos. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. Globo, 2005. v. 2.
25 BURNS, Edward McNall. História da civilização 27 BURNS, Edward McNall. História da civilização
ocidental: do homem das cavernas às naves espaciais. 43. ed. ocidental: do homem das cavernas às naves espaciais. 43. ed.
Atualização Robert E. Lerner e Standisch Meacham. São Paulo: Atualização Robert E. Lerner e Standisch Meacham. São Paulo:
Globo, 2005. v. 2. Globo, 2005. v. 2.
Didatismo e Conhecimento 24
NOÇÕES DE DIREITO
No final do século XIX e no início de século XX, o mundo jurídico da gestão totalitária. Este amorfismo reflete-se tanto em
passou por variadas crises de instabilidade diplomática, posto que matéria constitucional quanto em todos os desdobramentos norma-
vários países possuíam condições suficientes para se sobreporem tivos. A Constituição de Weimar nunca foi ab-rogada durante o re-
sobre os demais, resultado dos avanços tecnológicos e das me- gime nazista, mas a lei de plenos poderes de 24 de março de 1933
lhorias no padrão de vida da sociedade. Neste contexto, surgiram teve não só o efeito de legalizar a posse de Hitler no poder como o
condições para a eclosão das duas Guerras Mundiais, eventos que de legalizar geral e globalmente as suas ações futuras. Dessa ma-
alteraram o curso da história da civilização ocidental. Entre estas, neira, como apontou Carl Schmitt - escrevendo depois da II Guer-
destaca-se a Segunda Guerra Mundial, cujos eventos foram marca- ra Mundial -, Hitler foi confirmado no poder, tornando-se a fonte
dos pela desumanização: todos com o devido respaldo jurídico pe- de toda legalidade positiva, em virtude de uma lei do Parlamento
rante o ordenamento dos países que determinavam os atos. A teoria que modificou a Constituição. Também a Constituição stalinista
jurídica que conferiu fundamento a um Direito que aceitasse tantas de 1936, completamente ignorada na prática, nunca foi abolida”.
barbáries, sem perder a sua validade, foi o Positivismo que teve No dia 10 de dezembro de 1948, a Assembleia Geral das Na-
como precursor Hans Kelsen, com a obra Teoria Pura do Direito. ções Unidas elaborou a Declaração Universal dos Direitos Huma-
No entender de Kelsen28, a justiça não é a característica que nos. Um dos principais pensadores que contribuiu para a Declara-
distingue o Direito das outras ordens coercitivas porque é relativo
ção Universal dos Direitos Humanos de 1948 foi Maritain32, que
o juízo de valor segundo o qual uma ordem pode ser considerada
entendia que os direitos humanos da pessoa como tal se fundamen-
justa. Percebe-se que a Moral é afastada como conteúdo necessário
tam no fato de que a pessoa humana é superior ao Estado, que não
do Direito, já que a justiça é o valor moral inerente ao Direito.
pode impor a ela determinados deveres e nem retirar dela alguns
.A Segunda Guerra Mundial chegou ao fim somente em 1945,
após uma sucessão de falhas alemãs, que impediram a conquista de direitos, por ser contrário à lei natural. Em suma, para o filósofo
Moscou, desprotegeram a Itália e impossibilitaram o domínio da o homem ético é fiel aos valores da verdade, da justiça e do amor,
região setentrional da Rússia (produtora de alimentos e petróleo). e segue a doutrina cristã para determinar seus atos: tais elementos
Já o evento que culminou na rendição do Japão foi o lançamento determinam o agir moral e levam à produção do bem na sociedade
das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki. O mundo somente humanista integral.
tomou conhecimento da extensão da tirania alemã quando os exér- Moraes33 lembra que a Declaração de 1948 foi a mais impor-
citos Aliados abriram os campos de concentração na Alemanha e tante conquista no âmbito dos direitos humanos fundamentais em
nos países por ela ocupados, encontrando prisioneiros famintos, nível internacional, muito embora o instrumento adotado tenha
doentes e brutalizados, além de milhões de corpos dos judeus, po- sido uma resolução, não constituindo seus dispositivos obriga-
loneses, russos, ciganos, homossexuais e traidores do Reich em ções jurídicas dos Estados que a compõem. O fato é que desse
geral, que foram perseguidos, torturados e mortos29. documento se originaram muitos outros, nos âmbitos nacional e
Vale ressaltar a constituição de um órgão que foi o responsá- internacional, sendo que dois deles praticamente repetem e por-
vel por redigir o primeiro documento de relevância internacional menorizam o seu conteúdo, quais sejam: o Pacto Internacional dos
abrangendo a questão dos direitos humanos. Em 26 de junho de Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional dos Direitos Eco-
1945 foi assinada a carta de organização das Nações Unidas, que nômicos, Sociais e Culturais, ambos de 1966.
tem por fundamento o princípio da igualdade soberana de todos os Ainda internacionalmente, após os pactos mencionados, vá-
estados que buscassem a paz, possuindo uma Assembleia Geral, rios tratados internacionais surgiram. Nesta linha, Piovesan34
um Conselho de Segurança, uma Secretaria, em Conselho Econô- apontou os seguintes documentos: Convenção Internacional sobre
mico e Social, um Conselho de Mandatos e um Tribunal Interna- a Eliminação de todas as formas de Discriminação Racial, Con-
cional de Justiça30. venção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação
Entre 20 de novembro de 1945 e 1º de outubro de 1946 re- contra a Mulher, Convenção sobre os Direitos da Criança, Con-
alizou-se o Tribunal de Nuremberg, ao qual foram submetidos a venção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, Convenção
julgamento os principais líderes nazistas, o principal argumento contra a Tortura, etc.
levantado foi o de que todas as ações praticadas foram baseadas Ao lado do sistema global surgiram os sistemas regionais de
em ordens superiores, todas dotadas de validade jurídica perante
proteção, que buscam internacionalizar os direitos humanos no
a Constituição. Explica Lafer31: “No plano do Direito, uma das
plano regional, em especial na Europa, na América e na África35.
maneiras de assegurar o primado do movimento foi o amorfismo
Resultou deste processo a Convenção Americana de Direitos Hu-
28 KELSEN, Hans. Teoria pura do Direito. 6. ed. Tradução
manos (Pacto de São José da Costa Rica) de 1969.
João Baptista Machado. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
29 BURNS, Edward McNall. História da civilização 32 MARITAIN, Jacques. Os direitos do homem e a lei
ocidental: do homem das cavernas às naves espaciais. 43. ed. natural. 3. ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora,
Atualização Robert E. Lerner e Standisch Meacham. São Paulo: 1967.
Globo, 2005. v. 2. 33 MORAES, Alexandre de. Direitos humanos
30 BURNS, Edward McNall. História da civilização fundamentais: teoria geral, comentários aos artigos 1º a 5º da
ocidental: do homem das cavernas às naves espaciais. 43. ed. Constituição da República Federativa do Brasil, doutrina e
Atualização Robert E. Lerner e Standisch Meacham. São Paulo: jurisprudência. São Paulo: Atlas, 1997.
Globo, 2005. v. 2. 34 PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito
31 LAFER, Celso. A reconstrução dos direitos humanos: Constitucional Internacional. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
um diálogo com o pensamento de Hannah Arendt. São Paulo: Cia. 35 PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito
das Letras, 2009. Constitucional Internacional. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
Didatismo e Conhecimento 25
NOÇÕES DE DIREITO
No âmbito nacional, destacam-se as positivações nos textos Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união
das Constituições Federais. Afinal, como explica Lafer36, a afir- indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, cons-
mação do jusnaturalismo moderno de um direito racional, univer- titui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamen-
salmente válido, gerou implicações relevantes na teoria constitu- tos:
cional e influenciou o processo de codificação a partir de então. [...]
Embora muitos direitos humanos também se encontrem nos textos III - a dignidade da pessoa humana;
constitucionais, aqueles não positivados na Carta Magna também
possuem proteção porque o fato de este direito não estar assegura- Percebe-se o porquê da dignidade da pessoa humana ter tanto
do constitucionalmente é uma ofensa à ordem pública internacio- destaque no sistema jurídico internacional e nacional, sendo men-
nal, ferindo o princípio da dignidade humana. ção constante nas legislações específicas e nas decisões judiciais,
bem como objeto de estudo na doutrina jurídica.
Didatismo e Conhecimento 26
NOÇÕES DE DIREITO
enquanto ser que só realiza no sentido de seu dever ser, é o que e passando a envolver a manutenção da sociedade sustentável. A
chamamos de pessoa. Só o homem possui a dignidade originária teoria das dimensões de direitos humanos foi identificada por Ka-
de ser enquanto deve ser, pondo-se essencialmente como razão de- rel Vasak.
terminante do processo histórico”. É pacífico que as três primeiras dimensões de direitos humanos
Ou ainda, aponta Barroso40: “o princípio da dignidade da pes- envolvem: 1) direitos civis e políticos (LIBERDADE); 2) direitos
soa humana identifica um espaço de integridade moral a ser asse- sociais, econômicos e culturais (IGUALDADE MATERIAL); 3)
gurado a todas as pessoas por sua só existência no mundo. É um direitos ambientais e de solidariedade (FRATERNIDADE). Desta-
respeito à criação, independente da crença que se professe quanto à ca-se que as três primeiras dimensões de direitos remetem ao lema
sua origem. A dignidade relaciona-se tanto com a liberdade e valo- da Revolução Francesa: “Liberdade, igualdade, fraternidade”.
res do espírito como com as condições materiais de subsistência”. Em relação à primeira dimensão de direitos, inicialmente, de-
Por sua vez, Bonavides41 entende que “a vinculação essencial nota-se a afirmação dos direitos de liberdade, referente aos direitos
dos direitos fundamentais à liberdade e à dignidade humana, en- que tendem a limitar o poder estatal e reservar parcela dele para o
quanto valores históricos e filosóficos, nos conduzirá sem óbices indivíduo (liberdade em relação ao Estado), sendo que posterior-
ao significado da universalidade inerente a esses direitos como ide- mente despontam os direitos políticos, relativos às liberdades posi-
al da pessoa humana”. tivas no sentido de garantir uma participação cada vez mais ampla
Uma das características dos direitos humanos é a interdepen- dos indivíduos no poder político (liberdade no Estado). Os dois
dência, segundo a qual as dimensões de direitos humanos apre- movimentos que levaram à afirmação dos direitos de primeira di-
sentam uma relação orgânica entre si. Logo, a dignidade da pessoa mensão, que são os direitos de liberdade e os direitos políticos, fo-
humana deve ser buscada por meio da implementação mais eficaz ram a Revolução Americana, que culminou na Declaração de Vir-
e uniforme das liberdades clássicas, dos direitos sociais, econômi- gínia (1776), e a Revolução Francesa, cujo documento essencial
cos e de solidariedade como um todo único e indissolúvel. foi a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789)43.
As dimensões de direitos humanos não são estanques, mas Quanto à segunda dimensão, foram proclamados os direitos
sim complementares. Somam-se e dialogam uma com a outra, sociais, expressando o amadurecimento das novas exigências
formando um completo sistema de proteção da pessoa humana. como as de bem-estar e igualdade material (liberdade por meio
Toma-se o pressuposto de que todos os bens jurídicos garantidos à do Estado). Durante a Revolução Industrial tomaram proporção
pessoa humana devem ser preservados e respeitados, sob pena de os direitos de segunda dimensão, que são os direitos sociais, re-
uma proteção defeituosa. Por isso mesmo, a nomenclatura dimen- fletindo a busca do trabalhador por condições dignas de trabalho,
são é mais adequada do que geração. remuneração adequada, educação e assistência social em caso de
Aprofunda Piovesan42, ao explicar a estrutura da Declaração invalidez ou velhice, garantindo o amparo estatal à parte mais fra-
de 1948 sob o aspecto das dimensões de direitos humanos: “Ao ca da sociedade.44
conjugar o valor da liberdade com o da igualdade, a Declaração in- Ao lado dos direitos sociais, chamados de segunda geração,
troduz a concepção contemporânea de direitos humanos, pela qual emergiram os chamados direitos de terceira geração, que consti-
esses direitos passam a ser concebidos como uma unidade interde- tuem uma categoria ainda heterogênea e vaga, mas que concentra
pendente e indivisível. Assim, partindo do critério metodológico na reivindicação do direito de viver num ambiente sem poluição.45
que classifica os direitos humanos em gerações, compartilha-se o A doutrina não é pacífica no que tange à definição de dimen-
entendimento de que uma geração de direitos não substitui a outra, sões posteriores de direitos humanos. Para Bobbio46 - e a maioria
mas com ela interage. Isto é, afasta-se a equivocada visão da su- da doutrina - os chamados direitos de quarta dimensão se referem
cessão ‘geracional’ de direitos, na medida em que se acolhe a ideia aos efeitos traumáticos da evolução da pesquisa biológica, que
da expansão, cumulação e fortalecimento dos direitos humanos, permitirá a manipulação do patrimônio genético do indivíduo de
todos essencialmente complementares e em constante dinâmica de modo cada vez mais intenso; enquanto que Bonavides47 defende
interação. Logo, apresentando os direitos humanos uma unidade que são de quarta dimensão os direitos inerentes à globalização
indivisível, revela-se esvaziado o direito à liberdade quando não política. Bonavides48 também diverge ao falar de uma quinta di-
assegurado o direito à igualdade; por sua vez, esvaziado, revela-se mensão composta pelo direito à paz, o qual foi colocado por Vasak
o direito à igualdade quando não assegurada a liberdade”. na terceira dimensão. Autores do direito eletrônico como Peck49
Portanto, a consolidação do princípio da dignidade da pessoa
humana depende do reconhecimento e da efetivação de todas as 43 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Tradução Celso
dimensões de direitos humanos, que se consolidam nos fundamen- Lafer. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
tos da liberdade, da igualdade e da solidariedade (ou fraternidade). 44 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Tradução Celso
Conforme evoluíram as chamadas dimensões dos direitos hu- Lafer. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
manos tais bens jurídicos fundamentais adquiriram novas verten- 45 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Tradução Celso
tes, saindo de uma noção individualista e chegando a uma coletiva, Lafer. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
de modo que a própria finalidade dos direitos humanos adquiriu 46 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Tradução Celso
nova compreensão, deixando de ser preservar apenas o indivíduo Lafer. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
40 BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da 47 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional.
Constituição. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. 26. ed. São Paulo: Malheiros, 2011.
41 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 48 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional.
26. ed. São Paulo: Malheiros, 2011. 26. ed. São Paulo: Malheiros, 2011.
42 PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito 49 PECK, Patrícia. Direito digital. São Paulo: Saraiva,
constitucional internacional. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. 2002.
Didatismo e Conhecimento 27
NOÇÕES DE DIREITO
e Olivo50 entendem que ele seria a quinta dimensão dos direitos de cada um para com a sociedade de participar de forma cons-
humanos, envolvendo o direito de acesso e convivência num am- ciente e livre e de se interar total e habitualmente na vida social
biente salutar no ciberespaço. que pertence53.
Em resumo, as dimensões de direitos humanos se referem às Quem deve participar é quem vive na sociedade, é o cidadão,
mudanças de paradigmas quanto aos bens jurídicos que deveriam aquele que pode ter direitos. Participar é ao mesmo tempo um di-
ser considerados fundamentais ao homem. Embora todo direito reito e um dever. O cidadão deve participar, esta é uma obrigação
humano seja imutável, isso não significa que o processo interpre- de todo aquele que vive em sociedade. E o cidadão deve ter espaço
tativo não possa evoluir e, com isso, se reconhecer que um novo para participar, o fato de não participar em si já é uma injustiça.
aspecto da dignidade humana merece ampla proteção. Com a ampliação do conceito de soberania e cidadania e, conse-
quentemente, da responsabilidade do cidadão, se torna ainda mais
evidente esta necessidade de participar54.
2.2.3 CIDADANIA: NOÇÃO, “O desinteresse da maioria dos indivíduos pelos assuntos po-
SIGNIFICADO E HISTÓRIA líticos é um dos grandes problemas políticos nas sociedade moder-
2.2.3.1 DIREITOS E DEVERES DA nas. Os indivíduos são levados ao isolamento pelo predomínio de
CIDADANIA valores individualistas e de interesses estritamente particulares, as-
sim como pela submissão às leis do mercado e do consumo. Nesse
contexto, perde-se o sentido do que é comunitário e não se percebe
a importância da participação na vida coletiva”55.
A referência à justiça participativa, corolário do conceito de
Obs.: Para fins didáticos, o tópico e o subtópico serão tratados cidadania, é de fundamental importância para o elemento moral
conjuntamente. da noção de ética, no sentido de possibilitar um agir voltado para
Ética e cidadania sempre apareceram como conceitos interli- o bem da sociedade.
gados porque a concepção de cidadania ganhou forças justamente Ninguém é obrigado a suportar desonestidades. A cidadania
no espaço em que as discussões filosóficas começaram a ser mais tem um compromisso com a efetivação da democracia participa-
intensas. Não obstante, temas relacionados à ética possuem no ge-
tiva. E participar não é votar a cada eleição, não se interessas pelo
ral uma forte discussão de questões políticas.
andamento da política e até se esquecer de quem mereceu seu su-
“Na sociedade moderna, nascida de transformações que cul-
frágio.
minaram na Revolução Francesa, o indivíduo é visto como homem
“Muitas vezes achamos que não cabe a nós a responsabilidade
(pessoa privada) e como cidadão (pessoa pública). O termo cida-
pelo que acontece em nosso bairro, na cidade, no país. Afinal, o que
dão designava originalmente o habitante da cidade. Com a conso-
podemos fazer? Não somos políticos; é a tais homens, eleitos pelo
lidação da sociedade burguesa, passa a indicar a ação política e a
povo, que compete resolver os problemas. Em nenhum momento
participação do sujeito na vida da sociedade”51.
nos perguntamos: se nos tivéssemos reunido com outras pessoas
Sendo cidadão aquele que participa do processo político de
escolhas, o bom cidadão é aquele que se preocupa com escolhas para discutir os problemas que nos afetam, se nos tivéssemos re-
éticas, corretas, que geram o bem em sociedade. belado de alguma forma, esses fatos estariam acontecendo? Como
O principal conceito aliado ao surgimento da noção de cidada- interferir? Como atuar para mudar essa realidade tão dura?”56
nia é o de democracia, cujos históricos se coincidem. Com efeito, Com efeito, participar é um direito de todo aquele que é cida-
como se aprofundará adiante, a democracia é o regime de governo dão, consolidando o conceito de democracia e reforçando os valo-
em que se assegura a participação popular, sendo que o sujeito res éticos de preservação do justo e garantia do bem comum. Mas,
que pode participar é o cidadão. Logo, democracia e cidadania afinal, quem é cidadão?
são conceitos interligados, não somente no aspecto jurídico em Inicialmente, é preciso levantar alguns conceitos correlatos:
seu sentido técnico restrito, mas ao próprio elemento da justiça, a) Nacionalidade: é o vínculo jurídico-político que liga um
valor do Direito. Pode-se afirmar isto se considerados os três con- indivíduo a determinado Estado, fazendo com que ele passe a
ceitos de Aristóteles52 sobre as dimensões da justiça (distributiva, integrar o povo daquele Estado, desfrutando assim de direitos e
comutativa e social), dos quais se origina a dimensão da justiça obrigações.
participativa. b) Povo: conjunto de pessoas que compõem o Estado, unidas
Por esta dimensão da justiça participativa, resta despertada a pelo vínculo da nacionalidade.
consciência das pessoas para uma atitude de agir, de falar, de atuar, 53 POZZOLI, Lafayette. Justiça participativa e cidadania.
de entrar na vida da comunidade em que se vive ou trabalha. En- Revista ibero-americana de filosofia política e filosofia do direito.
fim, busca despertar esta consciência de que há uma obrigação Porto Alegre, Instituto Jacques Maritain do Rio Grande do Sul, v.
50 OLIVO, Luís Carlos Cancellier de. Os “novos” direitos 1, n. 1, 2006.
enquanto direitos públicos virtuais na sociedade da informação. In: 54 POZZOLI, Lafayette. Justiça participativa e cidadania.
WOLKMER, Antônio Carlos; LEITE, José Rubens Morato (Org.). Revista ibero-americana de filosofia política e filosofia do direito.
Os “novos” direitos no Brasil: natureza e perspectivas. São Paulo: Porto Alegre, Instituto Jacques Maritain do Rio Grande do Sul, v.
Saraiva, 2003. 1, n. 1, 2006.
51 SCHLESENER, Anita Helena. Cidadania e política. In: 55 SCHLESENER, Anita Helena. Cidadania e política. In:
CARDI, Cassiano; et. al. Para filosofar. São Paulo: Scipione, 2000. CARDI, Cassiano; et. al. Para filosofar. São Paulo: Scipione, 2000.
52 ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tradução Pietro 56 SCHLESENER, Anita Helena. Cidadania e política. In:
Nassetti. São Paulo: Martin Claret, 2006. CARDI, Cassiano; et. al. Para filosofar. São Paulo: Scipione, 2000.
Didatismo e Conhecimento 28
NOÇÕES DE DIREITO
c) População: conjunto de pessoas residentes no Estado, na- “Enfrentar o grande desafio de assegurar e ampliar o exercício
cionais ou não. da cidadania em nosso país implica questionar o caráter excludente
Cidadão, por sua vez, é o nacional, isto é, aquele que possui de nosso modelo econômico e, ao mesmo tempo, efetivar e apri-
o vínculo político-jurídico da nacionalidade com o Estado, que morar a democracia. Necessitamos de uma política democrática
goza de direitos políticos, ou seja, que pode votar e ser votado. que viabilize mudanças econômicas para resolver os nossos graves
No Brasil, votar é tanto um direito do cidadão quanto um dever, eis problemas sociais, reconhecer e defender os direitos de todos os
que o voto é obrigatório. cidadãos e garantir o pluralismo e os direitos das minorias. Por
Na disciplina constitucional, os direitos políticos garantidos isso, em nossa sociedade, o exercício da cidadania não é apenas
àquele que é cidadão encontram-se disciplinados nos artigos 14 uma questão de aprendizagem, mas também de luta por condições
e 15. Direitos políticos são os instrumentos por meio dos quais dignas de vida, trabalho e educação. É preciso criar espaços de ma-
a Constituição Federal permite o exercício da soberania popular, nifestação na sociedade civil, onde os interesses comuns possam
atribuindo poderes aos cidadãos para que eles possam interferir na ser defendidos e os indivíduos possam tomas consciência do papel
condução da coisa pública de forma direta ou indireta57. que desempenham na sociedade”58.
não se pode retirar a cidadania de uma pessoa apenas porque
ela cometeu um ato danoso ao Estado, principalmente se ela for Um elemento essencial para que o cidadão exerça a cidadania
natural deste Estado. Nos poucos casos em que a perda de direitos de forma consciente é a consciência crítica. Consciência crítica
políticos é aceita, a pessoa não se torna apátrida, isto é, sem pátria, consiste na existência de raciocínios e na formação de pensamen-
sem nacionalidade, mas passa ou volta a ter outra nacionalidade. tos que levam uma pessoa a estabelecer soluções e reflexões ra-
Portanto, a cidadania é um status da pessoa humana, um direito da cionais sobre determinado aspecto. Pode-se afirmar que o filósofo
pessoa humana. possui consciência crítica, pois o raciocínio filosófico em si exige
Emblemático o artigo XV da Declaração Universal dos Direi- que se dispa do senso comum e que se faça um raciocínio lógico
tos Humanos a respeito: sobre fatos da vida humana.
Assim, opõe-se à consciência crítica o senso comum, que vem
1. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade. 2. Ninguém de experiências passadas, mas nem sempre ilumina a realidade. Na
será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direi- filosofia, o senso comum (ou conhecimento vulgar) é a primeira
to de mudar de nacionalidade. suposta compreensão do mundo resultante da herança fecunda de
um grupo social e das experiências atuais que continuam sendo
Sendo a nacionalidade a premissa para aquisição dos direitos efetuadas. O senso comum descreve as crenças e proposições que
políticos e para o gozo e exercício dos direitos humanos, não cabe aparecem como normal, sem depender de uma investigação deta-
a privação arbitrária. Não obstante, quanto ao direito de participar lhada para alcançar verdades mais profundas como as científicas.
das decisões políticas do Estado, atuando como cidadão, a Decla- Um tipo de conhecimento que se acumula no nosso cotidiano e é
ração Universal dos Direitos Humanos também é bastante clara em chamado de senso comum, baseado na tentativa e no erro. O sen-
seu artigo XXI: so comum que nos permite sentir uma realidade menos detalhada,
menos profunda e imediata e vai do hábito de realizar um com-
1. Toda pessoa tem o direito de tomar parte no governo de portamento até a tradição que, quando instalada, passa de geração
seu país, diretamente ou por intermédio de representantes livre- para geração.
mente escolhidos. 2. Toda pessoa tem igual direito de acesso ao Quando o senso comum é usado para o mau, sem a vontade
serviço público do seu país. 3. A vontade do povo será a base da de verificar se o conhecimento é correto ou se evoluiu, origina-se
autoridade do governo; esta vontade será expressa em eleições a chamada consciência ingênua, que se caracteriza nos seguintes
periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto termos: evidencia certa simplicidade, tendente a interpretar e en-
ou processo equivalente que assegure a liberdade de voto. carar os problemas e desafios de maneira simples; não busca um
aprofundamento na observação de relações de causalidade, nem se
Ser cidadão é um direito humano fundamental de cada ser hu- preocupa com a investigação complexa dos fatos, satisfazendo-se
mano. Contudo, sob o ponto de vista ético, é muito mais do que com aparências;possui também uma tendência a considerar que o
isso: ser cidadão é um dever, um compromisso social, um compro- passado foi melhor e olha ao novo com maus olhos; tende a acei-
metimento pela melhoria da sociedade consolidando o ideário do tar formas pré-estabelecida de comportamento, inclusive beirando
bem comum. uma consciência fanática; subestima o homem simples e não dá
E sendo a cidadania mais do que uma mera formalidade, mais atenção às suas explicações; pretende ganhar a discussão com ar-
do que simplesmente eleger representantes, cabendo buscar a gumentos frágeis, gota de ser polêmico e não pretende esclarecer
construção de uma sociedade melhor, tem-se que a cidadania pode suas posições, as quais são formadas mais de emoções do que de
ser dividida em duas categorias: cidadania formal e substantiva. críticas; pode cair no fanatismo ou intolerância; rejeita mudanças
A cidadania formal é referente à nacionalidade de um indivíduo sociais.
e ao fato de pertencer a uma determinada nação; ao passo que a A consciência crítica é uma forma de relação com o mundo
cidadania substantiva é de um caráter mais amplo, estando relacio- que busca compreendê-lo de modo concreto, para além das aparên-
nada com direitos sociais, políticos e civis. O sociólogo britânico cias. O indivíduo dotado de consciência crítica rejeita as interpre-
T. H. Marshall afirmou que a cidadania só é plena se for dotada de tações subjetivas, fantasiosas, enganosas, místicas e outras formas
direito civil, político e social. Parece que tal noção é realmente a ilusórias de encobrir a verdade. Por meio da observação, ele busca
mais adequada num contexto de justiça participativa e de coliga- as causas de todo o que observa e se interessa pelos fundamentos
ção entre cidadania e ética. mais profundos dos problemas que visualiza nesta observação.
57 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional 58 SCHLESENER, Anita Helena. Cidadania e política. In:
esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. CARDI, Cassiano; et. al. Para filosofar. São Paulo: Scipione, 2000.
Didatismo e Conhecimento 29
NOÇÕES DE DIREITO
A consciência crítica observa, experimenta, problematiza e consciência de que por vezes não existirão meios para análise dos
critica os fatos. Pensar de modo crítico é, então, derrubar as men- problemas e de que a realidade é mutável, mas isto não impede
tiras, as falsas imagens, as suposições levianas, as crenças alienan- o processo de reflexão; coloca no lugar de situações ou explica-
tes, as ideias preconceituosas, para poder estabelecer a razão, as ções mágicas princípios autênticos de causalidade, os quais ex-
causas e o sentido das coisas. plicam uma relação de causa e efeito nos fenômenos observados,
Como é possível extrair desta introdução, a ciência e a filo- permitindo descobertas que sempre poderão ser revistas (afinal,
sofia são dois produtos da consciência crítica, porque elas se a verdade é mutável); quando se visualiza um fato, livra-se dos
fundam na racionalidade, na observação, na experimentação e na preconceitos ao examiná-lo e ao propor soluções; rejeita posições
análise do mundo. E são muitas as questões que exigem tal análise, quietas, repele o comodismo, sendo intensamente inquieta pois é
uma vez que tudo o que é criado é incompleto, é relativo, é precá- justamente na inquietude que o processo de reflexão crítica se in-
rio, é histórico, possui vazios a serem preenchidos. tensifica; sabe-se que nem tudo é o que parece, razão pela qual
Sim, comprometido com a sua responsabilidade de “ser his- é preciso refletir sobre tudo, buscando a sua essência, no que se
tórico”, de gente de mudança do mundo. Enquanto o indivíduo encontra a autenticidade; rejeita toda transferência de responsabi-
lidade e de autoridade e aceita a delegação das mesmas (no caso
de consciência ingênua aceita o que vê, o de consciência crítica
do cidadão, ele exerce todos os meios possíveis de participação
problematiza o que vê; isto é, ao passo que o primeiro é um ser
no processo democrático); é indagadora, investiga, força, choca,
“castrado” mentalmente, sem projetos de futuro, o segundo é um
nutre-se do diálogo; nunca ignora nenhum argumento possível, por
ser que incorpora que faz seu o compromisso da luta pela mudança isso, ao mesmo tempo em que não teme o novo, sempre olha para o
o compromisso com o futuro. Logo, aquele que possui consciência velho com cuidado e dentro de um processo reflexivo.
crítica, naturalmente, é um melhor cidadão, pois está preocupado e Da consciência crítica que se origina a chamada consciência
ciente dos problemas sociais que merecem solução. social, que vai sendo adquirida depois que a pessoa descobre que
“À medida que se pensa e se representa o convívio pátrio, é sujeito de sua história e passa ter maior interesse pelas coisas da
vão-se conhecendo, explicando e justificando as condições dessa sociedade. Ela deixa de pensar somente nela ou em seu grupo e
convivência, inclusive a participação na vida política do país. Ve- passa a ver e viver o social. A consciência neste momento é refle-
mos que ideologia é um fenômeno social cheio de sutilezas. Mais xiva, amadurecida e crítica. A pessoa percebe que o mundo é uma
que ideias que se impõem a ideologia tem uma dimensão prática, construção do homem e está sempre passando por transformações.
pois ideias impulsionam os homens à ação e a própria ação altera Descobre que tudo se transforma a realidade pessoal, comunitária
as ideias que não têm autossustentação. Esse é um processo his- e social. A construção de um mundo novo, justo e fraterno é missão
tórico, recíproco, que ocorre ao nos associarmos para garantir a de todos e não apenas de alguns.
reprodução da vida biológica e cultural”59. Ter consciência crítica
é mais do que ter mera ideologia, é se preocupar em agir por uma
sociedade melhor porque se está ciente dos problemas dela. 2.2.3 DEMOCRACIA: NOÇÃO,
“A pátria é um fenômeno vivido em um tempo e espaço de- SIGNIFICADO E VALORES
terminados, mas generalizado em sua concepção. É mediante opi- 2.2.3.1 ESTADO DEMOCRÁTICO DE
niões cristalizadas pela cultura sobre diferentes situações sociais DIREITO: NOÇÃO E SIGNIFICADO
que pensamos ter uma participação social plena”60. Muitas vezes
somos iludidos com a política do pão e circo para não enxergarmos
os maiores problemas sociais. Aqueles munidos de consciência
crítica ficam isentos de tais práticas e enxergam a sociedade em
que vivem com mais clareza. Obs.: Para fins didáticos, o tópico e o subtópico serão tratados
A ação do homem só tem sentido se for compromissada com conjuntamente.
A adoção da forma democrática de Estado aparece como fun-
a realidade, uma vez que, diferente do animal, o ser humano é
damento dos direitos humanos por ser um pressuposto para que
capaz de reflexão. O homem existe. Está inserido no mundo. Toma
eles possam ser adequadamente exercidos. Em outras palavras,
conhecimento deste mundo, sendo até capaz de modificá-lo. Esta
fora de um Estado democrático, não há possibilidade de exercí-
ação modificadora, entretanto, torna-se impossível, se ele estiver cio pleno de nenhuma das dimensões de direito: a liberdade fica
imerso e acomodado a este mundo e for incapaz de distanciar-se tolhida pela censura, os direitos políticos pelo impedimento da
dele para admirá-lo e perceber o seu conjunto. A partir da visão participação popular, os direitos econômicos, sociais e culturais
crítica de realidade, que o homem se torna capaz de modificar o pela manipulação de recursos ao que é conveniente ao governo
mundo em que vive. Ao contrário, a consciência ingênua leva a antidemocrático e não ao interesse coletivo, os direitos de soli-
uma visão distorcida da realidade. dariedade pela impossibilidade de criação de consciência coletiva
São características da consciência crítica: anseio de profun- sem o exercício e a efetivação dos direitos individuais.
didade na análise de problemas, isto é, busca-se um conhecimen- Na Declaração de 1948, o conceito de democracia aparece as-
to detalhado de cada problema visualizado não se contentando sociado adequadamente ao pressuposto de um Estado de Direito
apenas com o que está às vistas claras, com o que é aparente; há que propicie e assegure todos os direitos humanos e fundamentais,
59 ARAÚJO, Silvia Maria de. As várias faces da ideologia. como se denota no preâmbulo:
In: CARDI, Cassiano; et. al. Para filosofar. São Paulo: Scipione,
2000. Considerando essencial que os direitos humanos sejam pro-
60 ARAÚJO, Silvia Maria de. As várias faces da ideologia. tegidos pelo Estado de Direito, para que o homem não seja com-
In: CARDI, Cassiano; et. al. Para filosofar. São Paulo: Scipione, pelido, como último recurso, à rebelião contra tirania e a opres-
2000. são, [...]
Didatismo e Conhecimento 30
NOÇÕES DE DIREITO
Considerando que os Estados-Membros se comprometeram Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união
a desenvolver, em cooperação com as Nações Unidas, o respeito indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal,
universal aos direitos humanos e liberdades fundamentais e a constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fun-
observância desses direitos e liberdades, [...]. damentos: [...] Parágrafo único. Todo o poder emana do povo,
que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente,
Indiretamente depreendem-se aspectos da democracia, quais nos termos desta Constituição.
sejam o respeito ao princípio da legalidade e da anterioridade, a
existência de um modelo estatal que crie e aplique leis utilizan- Antes de esmiuçar este conceito, frisa-se a importância da
do um adequado processo legislativo e judicial, o impedimento da menção ao modelo do Estado Democrático no preâmbulo e no ar-
tirania e da opressão (marca de regimes totalitários e ditatoriais), tigo 1º do texto constitucional, despontando este como condição
sine qua non à consolidação das premissas trazidas pela Constitui-
a garantia de respeito e observância dos direitos humanos funda-
ção Federal de 1988.
mentais.
A República Federativa do Brasil é um Estado Democrático
Não obstante, no artigo XXIV há menção direta ao direito de de Direito e a adoção da forma federativa que implica no modelo
se conviver numa sociedade democrática: democrático é considerada cláusula pétrea pela Constituição Fede-
ral em seu artigo 60, §4º, o que exclui a possibilidade de alteração
2. No exercício de seus direitos e liberdades, toda pessoa es- do regime de governo democrático, trocando-o por um antidemo-
tará sujeita apenas às limitações determinadas pela lei, exclusiva- crático.
mente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito A primeira implicação da democracia em seu sentido clássico
dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer às justas exigên- é que por meio dela é garantida a soberania popular, que pode ser
cias da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade conceituada como “a qualidade máxima do poder extraída da soma
democrática. dos atributos de cada membro da sociedade estatal, encarregado de
escolher os seus representantes no governo por meio do sufrágio
Quanto à disciplina na Constituição Federal, a adoção do mo- universal e do voto direto, secreto e igualitário”61. O sentido de
delo de Estado Democrático consta desde o preâmbulo: soberania popular associado à democracia pode ser depreendido
da menção do parágrafo único de que o poder emana do povo, que
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assem- o exerce.
bléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democráti- Quanto ao conceito restrito de democracia, tem-se que ela é
co, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e indivi- o regime de governo no qual os cidadãos participam das decisões
políticas, direta ou indiretamente. Em outras palavras, democracia
duais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento,
(do grego, demo + kratos) é um regime de governo em que o po-
a igualdade e a justiça como valores supremos de uma socieda-
der de tomar decisões políticas está com os cidadãos, de forma
de fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia direta (quando um cidadão se reúne com os demais e, juntos, eles
social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a tomam a decisão política) ou indireta (quando ao cidadão é dado
solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção o poder de eleger um representante). Logo, dentro do conceito de
de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERA- democracia incluem-se três modelos democráticos possíveis: dire-
TIVA DO BRASIL. to, indireto e misto.
Neste sentido, a principal classificação da democracia refere-
Em verdade, do preâmbulo se depreendem algumas esferas do -se aos seus modelos possíveis, que variam conforme o nível de
modelo de Estado Democrático, demonstrando que este vai além participação popular direta ou indireta:
da simples permissão de participação política e ingressa na pos- a) Democracia direta, também chamada de pura, na qual o
sibilidade de exercício de direitos humanos e fundamentais por cidadão expressa sua vontade por voto direto e individual em casa
todos os cidadãos, assegurando o respeito da dignidade destes. questão relevante;
O mesmo pode ser extraído de outras previsões do texto cons- b) Democracia indireta, também chamada representati-
titucional, notadamente a do título V, que trata da Defesa do Estado va, em que os cidadãos exercem individualmente o direito de
e das Instituições Democráticas, que será exercida pelos órgãos de voto para escolher representante(s) e aquele(s) que for(em) mais
segurança pública e mediante institutos como o estado de defesa e escolhido(s) representa(m) todos os eleitores;
o estado de sítio. Como instituições democráticas podem-se colo- c) Democracia semidireta ou participativa, em que se tem
uma democracia representativa mesclada com peculiaridades e
car todas aquelas que têm por fulcro assegurar a defesa de alguma
atributos da democracia direta (sistema híbrido ou misto).
das facetas da dignidade da pessoa humana, logo, democracia é
A democracia direta tornou-se cada vez mais difícil, conside-
participação popular, mas não somente isso. rado o grande número de cidadãos, de modo que a regra é a demo-
Democracia significa dignidade e igualdade no exercício de cracia indireta. Na Grécia Antiga se encontra um raro exemplo de
direitos (por exemplo, o artigo 215, IV da Constituição Federal democracia direta, que somente era possível porque embora a po-
fala em democratização do acesso aos bens de cultura). pulação fosse grande, a maioria dela não era composta de pessoas
A Constituição Federal confere atenção também ao conceito consideradas como cidadãs, como mulheres, escravos e crianças,
clássico de democracia. O modelo de Estado Democrático previsto e somente os cidadãos tinham direito de participar do processo
no texto constitucional é conceituado de maneira mais restrita no democrático.
artigo 1º da Constituição Federal, que traz os fundamentos da Re- 61 BULOS, Uadi Lammêngo. Constituição federal anotada.
pública, em seu parágrafo único: 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2003.
Didatismo e Conhecimento 31
NOÇÕES DE DIREITO
Uma democracia semidireta é um regime de democracia em como reflexo de um processo de incorporação. Por isso mesmo,
que existe a combinação de representação política com formas de para fins metodológicos, serão feitos comentários simultâneos ao
democracia direta. A maioria dos países adota modelo de democra- texto constitucional e aos dispositivos do principal documento in-
cia semidireta, com a diferença de que uns se aproximam mais da ternacional declaratório dos direitos humanos, a Declaração Uni-
indireta e outros mais da indireta. Contemporaneamente, o regime versal de 1948, que com ele se relacionam.
que mais se aproxima dos ideais de uma democracia direta é a
democracia semidireta da Suíça. TÍTULO I
A democracia brasileira adota a modalidade semidireta, por- Dos Princípios Fundamentais
que possibilita a participação popular direta no poder por intermé-
dio de processos como o plebiscito, o referendo e a iniciativa po- Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união
pular (artigo 14, caput, CF). Como são hipóteses restritas, pode-se indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, cons-
afirmar que a democracia indireta é predominantemente adotada titui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamen-
no Brasil, por meio do sufrágio universal e do voto direto e secreto tos:
com igual valor para todos. I - a soberania;
Regime de governo é diferente de forma de governo. Por regi- II - a cidadania;
me de governo entende-se a adoção de uma forma democrática ou
III - a dignidade da pessoa humana;
antidemocrática, ao passo que por forma de governo compreende-
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
-se a adoção de um ou outro modelo governamental que permita
V - o pluralismo político.
que tal forma ganhe vida. Em outras palavras, uma democracia
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exer-
pode existir num sistema presidencialista ou parlamentarista, re-
publicano ou monárquico - somente importa que seja dado aos ce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos
cidadãos o poder de tomar decisões políticas (por si só ou por seu desta Constituição.
representante eleito) para que exista democracia. Três aspectos merecem destaque em termos de direitos hu-
Tomando que existe o regime de governo democrático, há tam- manos: a forma do Estado Democrático de Direito, garantindo a
bém o regime de governo antidemocrático ou ditatorial. Tal exis- estrita observância da lei e a participação do povo no processo de
tência não é atestada no campo meramente teórico, mas se detecta escolha dos governantes; a soberania, que sofre relativizações com
de forma prática, isto é, existem na atualidade países que adotam a participação do Estado na comunidade internacional; a dignidade
regimes de governo ditatoriais. A ONU se opõe aos regimes dita- da pessoa humana, valor norte de todo Estado.
toriais e toma medidas não somente para combatê-los, mas para A dignidade da pessoa humana é o valor-base de interpretação
esclarecer o passado ditatorial dos países que passaram por um pe- de qualquer sistema jurídico, internacional ou nacional, que possa
ríodo de privação da democracia. Ainda assim, muitos países hoje se considerar compatível com os valores éticos, notadamente da
adotam regime antidemocrático de governo, utilizando-se de re- moral, da justiça e da democracia. Pensar em dignidade da pessoa
cursos como a censura para evitarem a queda do poder, a exemplo humana significa, acima de tudo, colocar a pessoa humana como
de Cuba, China, Coréia do Norte, Sudão e Irã. Todos estes países centro e norte para qualquer processo de interpretação jurídico,
fazem parte da ONU e estão no centro dos debates mais polêmicos seja na elaboração da norma, seja na sua aplicação.
nela estabelecidos, uma vez que o ideário dos direitos humanos é Aponta Barroso62: “o princípio da dignidade da pessoa huma-
completamente contrário aos modelos antidemocráticos. na identifica um espaço de integridade moral a ser assegurado a
todas as pessoas por sua só existência no mundo. É um respeito à
criação, independente da crença que se professe quanto à sua ori-
2.2.4 OS DIREITOS HUMANOS
gem. A dignidade relaciona-se tanto com a liberdade e valores do
FUNDAMENTAIS VIGENTES NA CONSTI-
TUIÇÃO DA REPÚBLICA: DIREITOS À VIDA espírito como com as condições materiais de subsistência”.
E À PRESERVAÇÃO DA INTEGRIDADE FÍ-
SICA E MORAL (HONRA, IMAGEM, NOME, Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos
INTIMIDADE E VIDA PRIVADA), À LIBER- entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.
DADE EM TODAS AS SUAS FORMAS, À A separação de poderes é inerente ao modelo do Estado De-
IGUALDADE, À PROPRIEDADE E À SEGU- mocrático de Direito, impedindo a monopolização do poder e, por
RANÇA, OS DIREITOS SOCIAIS, A NACIO- conseguinte, a tirania e a opressão.
NALIDADE E OS DIREITOS POLÍTICOS
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Fe-
derativa do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
Os direitos humanos internacionalmente reconhecidos pas- II - garantir o desenvolvimento nacional;
saram por um processo de institucionalização no âmbito dos Es- III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as
tados, notadamente sendo transpostos e especificados nos textos desigualdades sociais e regionais;
constitucionais, processo que será estudado no próximo tópico. IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem,
Assim, quando se falam nos direitos humanos na Constituição Fe- raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
deral brasileira em verdade se pretende dar um olhar diferenciado 62 BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da
às principais normas de direitos fundamentais, compreendendo-as Constituição. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 382.
Didatismo e Conhecimento 32
NOÇÕES DE DIREITO
Em destaque o inciso primeiro: a expressão livre, justa e soli- O princípio da legalidade se encontra delimitado neste inciso,
dária corresponde à tríade liberdade, igualdade e fraternidade, que prevendo que nenhuma pessoa será obrigada a fazer ou deixar de
consolida as três dimensões de direitos humanos. fazer alguma coisa a não ser que a lei assim determine. Assim,
salvo situações previstas em lei, a pessoa tem liberdade para agir
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas re- como considerar conveniente.
lações internacionais pelos seguintes princípios:
I - independência nacional; III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento de-
II - prevalência dos direitos humanos; sumano ou degradante;
III - autodeterminação dos povos; A tortura é um dos piores meios de tratamento desumano, ex-
IV - não-intervenção; pressamente vedada em âmbito internacional, como visto no tópi-
V - igualdade entre os Estados; co anterior. No Brasil, além da disciplina constitucional, a Lei nº
VI - defesa da paz; 9.455, de 7 de abril de 1997 define os crimes de tortura e dá outras
VII - solução pacífica dos conflitos; providências, destacando-se o artigo 1º:
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
IX - cooperação entre os povos para o progresso da huma- Art. 1º Constitui crime de tortura:
nidade; I - constranger alguém com emprego de violência ou grave
X - concessão de asilo político. ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental:
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da
a integração econômica, política, social e cultural dos povos da vítima ou de terceira pessoa;
América Latina, visando à formação de uma comunidade latino- b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;
-americana de nações. c) em razão de discriminação racial ou religiosa;
A formação de uma comunidade internacional não significa a II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade,
com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento
eliminação da soberania dos países, mas apenas uma relativização,
físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida
limitando as atitudes por ele tomadas em prol da preservação do
de caráter preventivo.
bem comum e da paz mundial. Na verdade, o próprio compromis-
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
so de respeito aos direitos humanos traduz a limitação das ações
§ 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou
estatais, que sempre devem se guiar por eles.
sujeita a medida de segurança a sofrimento físico ou mental, por
Sobre o direito de asilo, tem-se que serve para proteger uma
intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante
pessoa perseguida por suas opiniões políticas, situação racial, con- de medida legal.
vicções religiosas ou outro motivo político em seu país de origem, § 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, quando ti-
permitindo que ela requeira perante a autoridade de outro Estado nha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de detenção
proteção. Claro, não se protege aquele que praticou um crime co- de um a quatro anos.
mum em seu país e fugiu para outro, caso em que deverá ser extra- § 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssi-
ditado para responder pelo crime praticado. ma, a pena é de reclusão de quatro a dez anos; se resulta morte, a
reclusão é de oito a dezesseis anos.
TÍTULO II § 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço:
DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS I - se o crime é cometido por agente público;
CAPÍTULO I II – se o crime é cometido contra criança, gestante, portador
DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS de deficiência, adolescente ou maior de 60 (sessenta) anos;
III - se o crime é cometido mediante seqüestro.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qual- § 5º A condenação acarretará a perda do cargo, função ou
quer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros emprego público e a interdição para seu exercício pelo dobro do
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, prazo da pena aplicada.
à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: § 6º O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça
O caput do artigo 5º, que pode ser considerado um dos princi- ou anistia.
pais (senão o principal) artigos da Constituição Federal, consagra § 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipó-
o princípio da igualdade e delimita as cinco esferas de direitos in- tese do § 2º, iniciará o cumprimento da pena em regime fechado.
dividuais e coletivos que merecem proteção, isto é, vida, liberda-
de, igualdade, segurança e propriedade. Os incisos deste artigos IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o
delimitam vários direitos e garantias que se enquadram em alguma anonimato;
destas esferas de proteção. Em primeiro plano tem-se a liberdade de pensamento. Afinal,
“o ser humano, através dos processos internos de reflexão, formula
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos juízos de valor. Estes exteriorizam nada mais do que a opinião
termos desta Constituição; de seu emitente. Assim, a regra constitucional, ao consagrar a li-
Não deve haver nenhuma distinção de gênero, ou seja, entre vre manifestação do pensamento, imprime a existência jurídica ao
o sexo feminino e o masculino. O homem e a mulher possuem os chamado direito de opinião”63. Em outras palavras, primeiro existe
mesmos direitos e obrigações. o direito de ter uma opinião, depois o de expressá-la.
63 ARAÚJO, Luiz Alberto David; NUNES JÚNIOR,
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma Vidal Serrano. Curso de direito constitucional. 10. ed. São Paulo:
coisa senão em virtude de lei; Saraiva, 2006.
Didatismo e Conhecimento 33
NOÇÕES DE DIREITO
No entanto, tal direito é limitado. Um destes limites é o anoni- Consoante o magistério de José Afonso da Silva66, entra na
mato, que consiste na garantia de atribuir a cada manifestação uma liberdade de crença a liberdade de escolha da religião, a liberdade
autoria certa e determinada, permitindo eventuais responsabiliza- de aderir a qualquer seita religiosa, a liberdade (ou o direito) de
ções por manifestações que contrariem a lei. mudar de religião, além da liberdade de não aderir a religião algu-
ma, assim como a liberdade de descrença, a liberdade de ser ateu
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agra- e de exprimir o agnosticismo, apenas excluída a liberdade de em-
vo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; baraçar o livre exercício de qualquer religião, de qualquer crença.
“A manifestação do pensamento é livre e garantida em nível A liberdade de culto consiste na liberdade de orar e de praticar os
constitucional, não aludindo a censura prévia em diversões e es- atos próprios das manifestações exteriores em casa ou em público,
petáculos públicos. Os abusos porventura ocorridos no exercício bem como a de recebimento de contribuições para tanto. Por fim,
a liberdade de organização religiosa refere-se à possibilidade de
indevido da manifestação do pensamento são passíveis de exame
estabelecimento e organização de igrejas e suas relações com o
e apreciação pelo Poder Judiciário com a consequente responsa- Estado.
bilidade civil e penal de seus autores, decorrentes inclusive de
publicações injuriosas na imprensa, que deve exercer vigilância e VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assis-
controle da matéria que divulga”64. tência religiosa nas entidades civis e militares de internação co-
O direito de resposta é o direito que uma pessoa tem de se letiva;
defender de críticas públicas no mesmo meio em que foram publi- Refere-se não só aos estabelecimentos prisionais civis e mili-
cadas garantida exatamente a mesma repercussão. Mesmo quando tares, mas também a hospitais.
for garantido o direito de resposta não é possível reverter plena-
mente os danos causados pela manifestação ilícita de pensamento, VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença
religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invo-
razão pela qual a pessoa inda fará jus à indenização.
car para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-
A manifestação ilícita do pensamento geralmente causa um -se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;
dano, ou seja, um prejuízo sofrido pelo agente, que pode ser indivi- Sempre que a lei impõe uma obrigação a todos, por exemplo,
dual ou coletivo, moral ou material, econômico e não econômico. a todos os homens maiores de 18 anos o alistamento militar, não
Dano material é aquele que atinge o patrimônio (material ou cabe se escusar, a não ser que tenha fundado motivo em crença re-
imaterial) da vítima, podendo ser mensurado financeiramente e in- ligiosa ou convicção filosófica/política, caso em que será obrigado
denizado. a cumprir uma prestação alternativa, isto é, uma outra atividade
“Dano moral direto consiste na lesão a um interesse que visa que não contrarie tais preceitos.
a satisfação ou gozo de um bem jurídico extrapatrimonial contido
nos direitos da personalidade (como a vida, a integridade corporal, IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística,
científica e de comunicação, independentemente de censura ou
a liberdade, a honra, o decoro, a intimidade, os sentimentos afeti-
licença;
vos, a própria imagem) ou nos atributos da pessoa (como o nome, A respeito da censura prévia, tem-se não cabe impedir a divul-
a capacidade, o estado de família)”65. gação e o acesso a informações como modo de controle do poder.
Já o dano à imagem é delimitado no artigo 20 do Código A censura somente é cabível quando necessária ao interesse públi-
Civil: co numa ordem democrática, por exemplo, censurar a publicação
de um conteúdo de exploração sexual infanto-juvenil é adequado.
Art. 20, CC. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à admi-
nistração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divul- X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e
gação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo
exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser dano material ou moral decorrente de sua violação;
Reforçando a conexão entre a privacidade e a intimidade, ao
proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que
abordar a proteção da vida privada - que, em resumo, é a privacida-
couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, de da vida pessoal no âmbito do domicílio e de círculos de amigos
ou se se destinarem a fins comerciais. -, Silva67 entende que “o segredo da vida privada é condição de ex-
pansão da personalidade”, mas não caracteriza os direitos de perso-
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sen- nalidade em si. “O direito à honra distancia-se levemente dos dois
do assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, anteriores, podendo referir-se ao juízo positivo que a pessoa tem
na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias; de si (honra subjetiva) e ao juízo positivo que dela fazem os outros
Cada pessoa tem liberdade para professar a sua fé como bem (honra objetiva), conferindo-lhe respeitabilidade no meio social.
entender dentro dos limites da lei. Não há uma crença ou religião O direito à imagem também possui duas conotações, podendo ser
que seja proibida, garantindo-se que a profissão desta fé possa se entendido em sentido objetivo, com relação à reprodução gráfica
da pessoa, por meio de fotografias, filmagens, desenhos, ou em
realizar em locais próprios.
sentido subjetivo, significando o conjunto de qualidades cultivadas
Nota-se que a liberdade de religião engloba 3 tipos distintos,
pela pessoa e reconhecidas como suas pelo grupo social”68.
porém intrinsecamente relacionados de liberdades: a liberdade de
crença; a liberdade de culto; e a liberdade de organização religiosa. 66 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional
positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006.
64 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 67 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional
26. ed. São Paulo: Malheiros, 2011. positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006.
65 ZANNONI, Eduardo. El daño en la responsabilidad 68 MOTTA, Sylvio; BARCHET, Gustavo. Curso de direito
civil. Buenos Aires: Astrea, 1982. constitucional. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.
Didatismo e Conhecimento 34
NOÇÕES DE DIREITO
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela po- Imagine uma grande reunião de pessoas por uma causa, a exem-
dendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de plo da Parada Gay, que chega a aglomerar milhões de pessoas em
flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante algumas capitais: seria absurdo tolerar tal tipo de reunião sem o
o dia, por determinação judicial; prévio aviso do poder público para que ele organize o policiamen-
O domicílio é inviolável, razão pela qual ninguém pode nele to e a assistência médica, evitando algazarras e socorrendo pesso-
entrar sem o consentimento do morador, a não ser EM QUAL- as que tenham algum mal-estar no local. Outro limite é o uso de
QUER HORÁRIO no caso de flagrante delito (o morador foi fla- armas, totalmente vedado, assim como de substâncias ilícitas (Ex:
grado na prática de crime e fugiu para seu domicílio) ou desastre embora a Marcha da Maconha tenha sido autorizada pelo Supre-
(incêndio, enchente, terremoto...) ou para prestar socorro (morador mo Tribunal Federal, vedou-se que nela tal substância ilícita fosse
teve ataque do coração, está sufocado, desmaiado...), e SOMEN- utilizada).
TE DURANTE O DIA por determinação judicial.
XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, ve-
XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunica- dada a de caráter paramilitar;
ções telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, Por exemplo, o PCC e o Comando vermelho são associações
no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que ilícitas e de caráter paramilitar, pois possuem armas e o ideal de
a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução realizar sua própria justiça paralelamente à estatal.
processual penal;
O sigilo de correspondência e das comunicações está melhor XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de coo-
regulamentado na Lei nº 9.296, de 1996. perativas independem de autorização, sendo vedada a interferên-
cia estatal em seu funcionamento;
XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou pro- Associações são organizações resultantes da reunião legal en-
fissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabe- tre duas ou mais pessoas, com ou sem personalidade jurídica, para
lecer; a realização de um objetivo comum. Já cooperativas são uma for-
O livre exercício profissional é garantido, respeitados os limi- ma específica de associação, pois visam a obtenção de vantagens
tes legais. Por exemplo, não pode exercer a profissão de advogado comuns em suas atividades econômicas.
aquele que não se formou em Direito e não foi aprovado no Exame
da Ordem dos Advogados do Brasil; não pode exercer a medicina XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente dis-
aquele que não fez faculdade de medicina reconhecida pelo MEC solvidas ou ter suas atividades suspensas por decisão judicial,
e obteve o cadastro no Conselho Regional de Medicina. exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado;
O primeiro caso é o de dissolução compulsória, ou seja, a as-
XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguar- sociação deixará de existir para sempre. Obviamente, é preciso o
dado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissio- trânsito em julgado da decisão judicial que assim determine, pois
nal; antes disso sempre há possibilidade de reverter a decisão e permitir
O acesso à informação envolve o direito de todos obterem in- que a associação continue em funcionamento. Contudo, a decisão
formações claras, precisas e verdadeiras a respeito de fatos que judicial pode suspender atividades até que o trânsito em julgado
sejam de seu interesse, notadamente pelos meios de comunicação ocorra, ou seja, no curso de um processo judicial.
imparciais e não monopolizados (artigo 220, CF). No entanto, nem
sempre é possível que a imprensa divulgue com quem obteve a in- XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a per-
formação divulgada, sem o que a segurança desta poderia ficar pre- manecer associado;
judicada e a informação inevitavelmente não chegaria ao público. Toda pessoa possui liberdade de associação, ou seja, de inte-
grar ou deixar de integrar um grupo de tal natureza quando bem
XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo entender.
de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar,
permanecer ou dele sair com seus bens; XXI - as entidades associativas, quando expressamente auto-
A liberdade de locomoção é um aspecto básico do direito à rizadas, têm legitimidade para representar seus filiados judicial
liberdade, permitindo à pessoa ir e vir em todo o território do país ou extrajudicialmente;
em tempos de paz (em tempos de guerra é possível limitar tal liber- Trata-se de caso de legitimidade processual extraordiná-
dade em prol da segurança). A liberdade de sair do país não signi- ria, pela qual um ente vai a juízo defender interesse de outra(s)
fica que existe um direito de ingressar em qualquer outro país, pois pessoa(s) porque a lei assim autoriza.
caberá à ele, no exercício de sua soberania, controlar tal entrada.
XXII - é garantido o direito de propriedade;
XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;
locais abertos ao público, independentemente de autorização, A propriedade, segundo Silva69, “[...] não pode mais ser consi-
desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada derada como um direito individual nem como instituição do direito
para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autori- privado. [...] embora prevista entre os direitos individuais, ela não
dade competente; mais poderá ser considerada puro direito individual, relativizando-
Pessoas podem ir às ruas para reunirem-se com demais na -se seu conceito e significado, especialmente porque os princípios
defesa de uma causa, apenas possuindo o dever de informar tal 69 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional
reunião. Tal dever remonta-se a questões de segurança coletiva. positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006.
Didatismo e Conhecimento 35
NOÇÕES DE DIREITO
da ordem econômica são preordenados à vista da realização de Os direitos morais do autor, que são imprescritíveis, inalie-
seu fim: assegurar a todos existência digna, conforme os ditames náveis e irrenunciáveis, envolvem, basicamente, o direito de rei-
da justiça social. Se é assim, então a propriedade privada, que, vindicar a autoria da obra, ter seu nome divulgado na utilização
ademais, tem que atender a sua função social, fica vinculada à con- desta, assegurar a integridade desta ou modificá-la e retirá-la de
secução daquele princípio”. circulação se esta passar a afrontar sua honra ou imagem.
Com efeito, a proteção da propriedade privada está limitada Já os direitos patrimoniais do autor, nos termos dos artigos
ao atendimento de sua função social, sendo este o requisito que 41 a 44 da Lei n. 9.610/98, prescrevem em 70 anos contados do
a correlaciona com a proteção da dignidade da pessoa humana. A primeiro ano seguinte à sua morte ou do falecimento do último
propriedade de bens e valores em geral é um direito assegurado na coautor, ou contados do primeiro ano seguinte à divulgação da
Constituição Federal e, como todos os outros, se encontra limitado obra se esta for de natureza audiovisual ou fotográfica. Estes, por
pelos demais princípios conforme melhor se atenda à dignidade do sua vez, abrangem, basicamente, o direito de dispor sobre a repro-
ser humano. dução, edição, adaptação, tradução, utilização, inclusão em bases
de dados ou qualquer outra modalidade de utilização; sendo que
XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropria-
estas modalidades de utilização podem se dar a título oneroso ou
ção por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social,
mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os gratuito.
casos previstos nesta Constituição; “Os direitos autorais, também conhecidos como copyright (di-
XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade com- reito de cópia), são considerados bens móveis, podendo ser alie-
petente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao nados, doados, cedidos ou locados. Ressalte-se que a permissão
proprietário indenização ulterior, se houver dano; a terceiros de utilização de criações artísticas é direito do autor.
XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, [...] A proteção constitucional abrange o plágio e a contrafação.
desde que trabalhada pela família, não será objeto de penhora Enquanto que o primeiro caracteriza-se pela difusão de obra cria-
para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produ- da ou produzida por terceiros, como se fosse própria, a segunda
tiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvi- configura a reprodução de obra alheia sem a necessária permissão
mento; do autor”70.
Os incisos XXV e XXVI são desdobramentos do direito à
propriedade e do necessário respeito à sua função social. Se uma XXX - é garantido o direito de herança;
pessoa tem uma propriedade, numa situação de perigo, o poder XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros situados no País
público pode se utilizar dela (ex: montar uma base para capturar será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos
um fugitivo), pois o interesse da coletividade é maior que o do filhos brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável a lei
indivíduo proprietário. Se uma pessoa é mais humilde e tem uma pessoal do de cujus;
pequena propriedade será assegurado que permaneça com ela e a
O direito à herança envolve o direito de receber - seja devido a
torne mais produtiva.
uma previsão legal, seja por testamento - bens de uma pessoa que
XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, faleceu. Assim, o patrimônio passa para outra pessoa, conforme a
publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos her- vontade do falecido e/ou a lei determine. A Constituição estabele-
deiros pelo tempo que a lei fixar; ce uma disciplina específica para bens de estrangeiros situados no
XXVIII - são assegurados, nos termos da lei: Brasil, assegurando que eles sejam repassados ao cônjuge e filhos
a) a proteção às participações individuais em obras coletivas brasileiros nos termos da lei mais benéfica (do Brasil ou do país
e à reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas ativida- estrangeiro).
des desportivas;
b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do
obras que criarem ou de que participarem aos criadores, aos in- consumidor;
térpretes e às respectivas representações sindicais e associativas; O Direito do Consumidor pode ser considerado um ramo re-
XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos industriais cente do Direito. No Brasil, a legislação que o regulamentou foi
privilégio temporário para sua utilização, bem como proteção promulgada nos anos 90, qual seja a Lei n. 8.078, de 11 de setem-
às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de bro de 1990, conforme determinado pela Constituição Federal de
empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse 1988, que também estabeleceu no artigo 48 do Ato das Disposi-
social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País; ções Constitucionais Transitórias: “o Congresso Nacional, dentro
A propriedade também possui uma vertente intelectual que de cento e vinte dias da promulgação da Constituição, elaborará
deve ser respeitada, tanto sob o aspecto moral quanto sob o patri-
código de defesa do consumidor”. A elaboração do Código de De-
monial. No âmbito infraconstitucional brasileiro, a Lei n. 9.610, de
fesa do Consumidor foi um grande passo para a proteção da pessoa
19 de fevereiro de 1998, regulamenta os direitos autorais, isto é,
“os direitos de autor e os que lhes são conexos”. nas relações de consumo que estabeleça, respeitando-se a condição
O artigo 7° do referido diploma considera como obras inte- de hipossuficiente técnico daquele que adquire um bem ou faz uso
lectuais que merecem a proteção do direito do autor os textos de de determinado serviço, enquanto consumidor.
obras de natureza literária, artística ou científica; as conferências, 70 MORAES, Alexandre de. Direitos humanos
sermões e obras semelhantes; as obras cinematográficas e televisi- fundamentais: teoria geral, comentários aos artigos 1º a 5º da
vas; as composições musicais; fotografias; ilustrações; programas Constituição da República Federativa do Brasil, doutrina e
de computador; coletâneas e enciclopédias; entre outras. jurisprudência. São Paulo: Atlas, 1997.
Didatismo e Conhecimento 36
NOÇÕES DE DIREITO
XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos in- § 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judi-
formações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou cial de que já não caiba recurso.
geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de respon-
sabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;
segurança da sociedade e do Estado; Trata-se de desdobramento do princípio do juiz natural ou
A Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011 regula o acesso legal, pelo qual ninguém será processado ou julgado senão pela
a informações previsto no inciso XXXIII do art. 5º, CF, também autoridade competente71. Juízo ou Tribunal de Exceção é aquele
conhecida como Lei do Acesso à Informação. especialmente criado para uma situação pretérita, bem como não
reconhecido como legítimo pela Constituição do país.
XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pa-
gamento de taxas:
XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organi-
a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de
zação que lhe der a lei, assegurados:
direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;
b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para de- a) a plenitude de defesa;
fesa de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal; b) o sigilo das votações;
Quanto ao direito de petição, de maneira prática, cumpre ob- c) a soberania dos veredictos;
servar que o direito de petição deve resultar, na prática, em uma d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos con-
manifestação do Estado, normalmente dirimindo (resolvendo) tra a vida;
uma questão proposta, em um verdadeiro exercício contínuo de O Tribunal do Júri é formado por pessoas do povo, que julgam
delimitação dos direitos e obrigações que regulam a vida social e, os seus pares, nos crimes dolosos (em que há intenção ou ao menos
desta maneira, quando “dificulta a apreciação de um pedido que se assume o risco de produção do resultado) contra a vida, que são:
um cidadão quer apresentar” (muitas vezes, embaraçando-lhe o homicídio, aborto, induzimento, instigação ou auxílio a suicídio
acesso à Justiça); “demora para responder aos pedidos formula- e infanticídio. Sua competência não é absoluta e é mitigada, por
dos” (administrativa e, principalmente, judicialmente) ou “impõe vezes, pela própria Constituição (arts. 29, X / 102, I, b) e c) / 105,
restrições e/ou condições para a formulação de petição”, traz a I, a) / 108, I).
chamada insegurança jurídica, que traz desesperança e faz prolife-
rar as desigualdades e as injustiças. XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena
Dentro do espectro do direito de petição se insere, por exem- sem prévia cominação legal;
plo, o direito de solicitar esclarecimentos, de solicitar cópias repro-
“O art. 5º, XXXIX, consagra a regra do nullum crimen nulla
gráficas e certidões, bem como de ofertar denúncias de irregulari-
poena sine praevia lege. Assim, de uma só vez, assegura tanto o
dades. Contudo, o constituinte, talvez na intenção de deixar clara
princípio da legalidade (ou reserva legal), na medida em que não
a obrigação dos Poderes Públicos em fornecer certidões, trouxe a
letra b) do inciso, o que gera confusões conceituais no sentido do há crime sem lei que o defina, nem pena sem prévia cominação
direito de obter certidões ser dissociado do direito de petição. legal, como o princípio da anterioridade, visto que não há crime
sem lei anterior que o defina”72.
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário
lesão ou ameaça a direito; XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;
O princípio da inafastabilidade da jurisdição é o princípio de Restam consagrados tanto o princípio da irretroatividade da
Direito Processual Público subjetivo, também cunhado como Prin- lei penal in pejus quanto o da retroatividade da lei penal mais be-
cípio da Ação ou Acesso à Justiça, em que a Constituição garante a néfica73.
necessária tutela estatal aos conflitos ocorrentes na vida em socie-
dade. Sempre que uma controvérsia for levada ao Poder Judiciário, XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos di-
preenchidos os requisitos de admissibilidade, ela será resolvida, reitos e liberdades fundamentais;
independentemente de haver ou não previsão específica a respeito A Constituição sempre remete ao princípio da igualdade, ra-
na legislação. zão pela qual práticas discriminatórias não podem ser aceitas.
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurí- XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e
dico perfeito e a coisa julgada;
imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei;
Pelo inciso restam estabelecidos limites à retroatividade da
A Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989 define os crimes resul-
lei. Define o artigo 6º da Lei de Introdução às Normas do Direito
tantes de preconceito de raça ou de cor. Contra eles não cabe fian-
Brasileiro:
ça (pagamento de valor para deixar a prisão provisória) e não se
Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados aplica o instituto da prescrição (perda de pretensão de se processar/
o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. punir uma pessoa pelo decurso do tempo).
§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo 71 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional
a lei vigente ao tempo em que se efetuou. esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu ti- 72 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional
tular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo começo esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida 73 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional
inalterável, a arbítrio de outrem. esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
Didatismo e Conhecimento 37
NOÇÕES DE DIREITO
XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis A pena de multa ou patrimonial opera uma diminuição do pa-
de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entor- trimônio do indivíduo delituoso.
pecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes A prestação social alternativa corresponde às penas restritivas
hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os de direitos, autônomas e substitutivas das penas privativas de li-
que, podendo evitá-los, se omitirem; berdade, estabelecidas no art. 44 do Código Penal.
Anistia, graça e indulto diferenciam-se nos seguintes ter-
mos: a anistia exclui o crime, rescinde a condenação e extingue XLVII - não haverá penas:
totalmente a punibilidade, a graça e o indulto apenas extinguem a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos
a punibilidade, podendo ser parciais; a anistia, em regra, atinge do art. 84, XIX;
crimes políticos, a graça e o indulto, crimes comuns; a anistia pode b) de caráter perpétuo;
ser concedida pelo Poder Legislativo, a graça e o indulto são de c) de trabalhos forçados;
competência exclusiva do Presidente da República; a anistia pode d) de banimento;
ser concedida antes da sentença final ou depois da condenação ir- e) cruéis;
recorrível, a graça e o indulto pressupõem o trânsito em julgado Em resumo, o inciso consolida o princípio da humanidade,
da sentença condenatória; graça e o indulto apenas extinguem a pelo qual o “poder punitivo estatal não pode aplicar sanções que
atinjam a dignidade da pessoa humana ou que lesionem a consti-
punibilidade, persistindo os efeitos do crime, apagados na anistia;
tuição físico-psíquica dos condenados”74 .
graça é em regra individual e solicitada, enquanto o indulto é co-
letivo e espontâneo.
XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos distintos,
Não cabe graça, anistia ou indulto (pode-se considerar que o de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado;
artigo o abrange, pela doutrina majoritária) contra crimes de tortu- A distinção do estabelecimento conforme a natureza do delito
ra, tráfico, terrorismo (TTT) e hediondos (previstos na Lei nº 8.072 visa impedir que a prisão se torne uma faculdade do crime. Infe-
de 25 de julho de 1990). lizmente, o Estado não possui aparato suficiente para cumprir tal
diretiva, diferenciando, no máximo, o nível de segurança das pri-
XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de sões. Quanto à idade, destacam-se as Fundações Casas, para cum-
grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional primento de medida por menores infratores. Quanto ao sexo, pri-
e o Estado Democrático; sões costumam ser exclusivamente para homens ou para mulheres.
XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, po-
dendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdi- XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física
mento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e e moral;
contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio trans- Obviamente, o desrespeito à integridade física e moral do pre-
ferido; so é uma violação do princípio da dignidade da pessoa humana.
O princípio da personalidade encerra o comando de o crime
ser imputado somente ao seu autor, que é, por seu turno, a úni- L - às presidiárias serão asseguradas condições para que
ca pessoa passível de sofrer a sanção. Seria flagrante a injustiça possam permanecer com seus filhos durante o período de ama-
se fosse possível alguém responder pelos atos ilícitos de outrem: mentação;
caso contrário, a reação, ao invés de restringir-se ao malfeitor, al- A presidiária poderá ficar com seu filho quando este precisar
cançaria inocentes. Contudo, se uma pessoa deixou patrimônio e ser amamentado.
faleceu, este patrimônio responderá pelas repercussões financeiras
do ilícito. LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturaliza-
do, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização,
XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecen-
entre outras, as seguintes: tes e drogas afins, na forma da lei;
Extradição é um ato de cooperação internacional que consiste
a) privação ou restrição da liberdade;
na entrega de uma pessoa, acusada ou condenada por um ou mais
b) perda de bens;
crimes, ao país que a reclama. O Brasil não extraditará seu nacio-
c) multa;
nal nato em hipótese alguma, mas extraditará o nacional naturali-
d) prestação social alternativa; zado por crime cometido antes deste ato que o tronou nacional ou
e) suspensão ou interdição de direitos; por crime de tráfico praticado após a naturalização.
A individualização da pena tem por finalidade concretizar o
princípio de que a responsabilidade penal é sempre pessoal, jamais LII - não será concedida extradição de estrangeiro por crime
passando do criminoso. político ou de opinião;
Pelo princípio da individualização da pena, a pena deve ser O Brasil adota como princípio que rege as suas relações inter-
individualizada nos planos legislativo, judiciário e executório, nacionais, conforme artigo 4º, X, CF, a concessão de asilo político.
evitando-se a padronização a sanção penal. A individualização da
pena significa adaptar a pena ao condenado, consideradas as carac- LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela
terísticas do agente e do delito. autoridade competente;
A pena privativa de liberdade é aquela que restringe, com Trata-se do princípio do juiz natural.
maior ou menor intensidade, a liberdade do condenado, consis-
tente em permanecer em algum estabelecimento prisional, por um 74 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal.
determinado tempo. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. v. 1.
Didatismo e Conhecimento 38
NOÇÕES DE DIREITO
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais
o devido processo legal; o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da
Pelo princípio do devido processo legal a legislação deve ser família e de advogado;
respeitada quando o Estado pretender punir alguém judicialmente. O preso deverá ser informado de todos os seus direitos, in-
clusive o direito ao silêncio, podendo entrar em contato com sua
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e família e com um advogado.
aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla
defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; LXIV - o preso tem direito à identificação dos responsáveis
Trata-se de corolário do princípio do devido processo legal por sua prisão ou por seu interrogatório policial;
ou então da faceta material deste princípio, que não se limita ao LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela auto-
simples cumprimento da lei, mas busca a realização de justiça no ridade judiciária;
caso concreto. A legislação estabelece inúmeros requisitos para que a prisão
seja validada, sem os quais cabe relaxamento.
LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por
meios ilícitos; LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando
Provas ilícitas são vedadas porque não se pode aceitar o des- a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança;
cumprimento do ordenamento para fazê-lo cumprir: seria parado- Mesmo que a pessoa seja presa em flagrante, devido ao prin-
xal. cípio da presunção de inocência, entende-se que ela não deve ser
mantida presa quando não preencher os requisitos legais para pri-
LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em são preventiva ou temporária.
julgado de sentença penal condenatória;
Consolida-se o princípio da presunção de inocência, pelo qual LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do respon-
uma pessoa não é culpada até que, em definitivo, o Judiciário assim sável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação
decida, respeitados todos os princípios e garantias constitucionais. alimentícia e a do depositário infiel;
Nos termos da Súmula Vinculante nº 25, “é ilícita a prisão
LVIII - o civilmente identificado não será submetido a identi- civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do de-
ficação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei; pósito”. Por isso, a única exceção à regra da prisão por dívida do
Se uma pessoa possui identificação civil, não há porque fazer ordenamento é a que se refere à obrigação alimentícia.
identificação criminal, colhendo digitais, fotos, etc. Pensa-se que
seria uma situação constrangedora desnecessária ao suspeito. LXVIII - conceder-se-á habeas-corpus sempre que alguém
sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em
LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação pública, sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder;
se esta não for intentada no prazo legal; LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger
A chamada ação penal privada subsidiária da pública encon- direito líquido e certo, não amparado por habeas-corpus ou habe-
tra respaldo constitucional, assegurando que a omissão do poder as-data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder
público na atividade de persecução criminal não será ignorada, for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício
fornecendo-se instrumento para que o interessado a proponha. de atribuições do Poder Público;
LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado
LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos pro- por:
cessuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o a) partido político com representação no Congresso Nacio-
exigirem; nal;
O processo, em regra, não será sigiloso. Apenas o será quando b) organização sindical, entidade de classe ou associação le-
a intimidade merecer preservação (ex: processo criminal de estu- galmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano,
pro ou causas de família em geral) ou quando o interesse social em defesa dos interesses de seus membros ou associados;
exigir (ex: investigações que possam ser comprometidas pela pu- LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a
blicidade). falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos di-
reitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à
LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por or- nacionalidade, à soberania e à cidadania;
dem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, LXXII - conceder-se-á habeas-data:
salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente mi- a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à
litar, definidos em lei; pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados
A prisão somente se dará em caso de flagrante delito (neces- de entidades governamentais ou de caráter público;
sariamente antes do trânsito em julgado), ou em caráter temporá- b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo
rio, provisório ou definitivo (as duas primeiras independente do por processo sigiloso, judicial ou administrativo;
trânsito em julgado, preenchidos requisitos legais e a última pela LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação
irreversibilidade da condenação). popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de
entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa,
LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando
serão comunicados imediatamente ao juiz competente e à família o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do
do preso ou à pessoa por ele indicada; ônus da sucumbência;
Didatismo e Conhecimento 39
NOÇÕES DE DIREITO
Habeas-corpus, mandado de segurança, mandado de seguran- É o erro em que incorre um juiz na apreciação e julgamento
ça coletivo, mandado de injunção, habeas-data e ação popular são de um processo criminal, resultando em condenação de alguém
os chamados remédios constitucionais, explicados por Lenza75 da inocente. Neste caso, o Estado indenizará. Ele também indenizará
seguinte maneira, em resumo: uma pessoa que ficar presa além do tempo que foi condenada a
a) Habeas-corpus: ação que serve para proteger a liberdade de cumprir.
locomoção. Antes de haver proteção no Brasil por outros remédios
constitucionais de direitos que não este, o habeas-corpus foi uti- LXXVI - são gratuitos para os reconhecidamente pobres, na
lizado para protegê-los. Hoje, apenas serve à lesão ou ameaça de forma da lei:
lesão ao direito de ir e vir. a) o registro civil de nascimento;
b) Mandado de segurança: ação constitucional de natureza ci- b) a certidão de óbito;
vil, independente da natureza do ato impugnado (administrativo, Evidente, seria absurdo cobrar de uma pessoa sem condições
jurisdicional, eleitoral, criminal, trabalhista). Veio com a finali- a elaboração de documentos para que ela seja reconhecida como
dade de preencher a lacuna decorrente da sistemática do habeas- viva ou morta. Apenas incentivaria a indigência dos menos favo-
-corpus e das liminares possessórias. “Excluindo-se a proteção de recidos.
direitos humanos à liberdade de locomoção e ao acesso ou retifica- LXXVII - são gratuitas as ações de habeas-corpus e habeas-
ção de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de -data, e, na forma da lei, os atos necessários ao exercício da ci-
registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de dadania.
caráter público, através do mandado de segurança busca-se a inva- Tais ações são garantias constitucionais, razão pela qual faz
lidação de atos de autoridade ou a suspensão dos efeitos da omis- sentido serem gratuitas. O mesmo vale para qualquer ato que sirva
são administrativa, geradores de lesão a direito líquido e certo, por ao exercício da cidadania.
ilegalidade ou abuso de poder”. Destaca-se que “direito líquido e
certo é aquele que pode ser demonstrado de plano mediante prova LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são
pré-constituída, sem a necessidade de dilação probatória”. assegurados a razoável duração do processo e os meios que ga-
c) Mandado de segurança coletivo: difere-se do mandado de rantam a celeridade de sua tramitação.
segurança individual pelo objeto, qual seja a preservação ou a re- Com o tempo se percebeu que não bastava garantir o acesso à
paração de interesses transindividuais (individuais homogêneos ou justiça se este não fosse célere e eficaz. Não significa que se deve
acelerar o processo em detrimento de direitos e garantias assegu-
coletivos), e pela legitimidade ativa, pertencente a partidos políti-
rados em lei, mas sim que é preciso proporcionar um trâmite que
cos e determinadas associações.
dure nem mais e nem menos que o necessário para a efetiva reali-
d) Mandado de injunção: os dois requisitos constitucionais
zação da justiça no caso concreto.
para que seja proposto o mandado de injunção são a existência de
norma constitucional de eficácia limitada que prescreva direitos,
§ 1º As normas definidoras dos direitos e garantias funda-
liberdades constitucionais e prerrogativas inerentes à nacionali-
mentais têm aplicação imediata.
dade, à soberania e à cidadania; além da falta de norma regula-
§ 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não
mentadores, impossibilitando o exercício dos direitos, liberdades e excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela
prerrogativas em questão. Assim, visa curar o hábito que se incutiu adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Fe-
no legislador brasileiro de não regulamentar as normas de eficácia derativa do Brasil seja parte.
limitada para que elas não sejam aplicáveis. Para o tratado internacional ingressar no ordenamento jurídi-
e) Habeas-data: “a garantia constitucional do habeas-data, co brasileiro deve ser observado um procedimento complexo, que
regulamentada péla Lei nº 9.507, de 12 de novembro de 1997, exige o cumprimento de quatro fases: a negociação (bilateral ou
destina-se a disciplinar o direito de acesso a informações, constan- multilateral, com posterior assinatura do Presidente da República),
tes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais submissão do tratado assinado ao Congresso Nacional (que dará
ou de caráter público, para o conhecimento ou retificação (tanto referendo por meio do decreto legislativo), ratificação do tratado
informações erradas como imprecisas, ou, apesar de corretas e ver- (confirmação da obrigação perante a comunidade internacional) e
dadeiras, desatualizadas), todas referentes a dados pessoais con- a promulgação e publicação do tratado pelo Poder Executivo76.
cernentes à pessoa do impetrante”. O §1° e o §2° do artigo 5° existiam de maneira originária na
f) Ação popular: trata-se de instrumento de exercício direto da Constituição Federal, conferindo o caráter de primazia dos direi-
democracia, permitindo ao cidadão que busque a proteção da coisa tos humanos, desde logo consagrando o princípio da primazia dos
pública, ou seja, que vise assegurar a preservação dos interesses direitos humanos, como reconhecido pela doutrina e jurisprudên-
difusos. cia majoritários na época. “O princípio da primazia dos direitos
humanos nas relações internacionais implica em que o Brasil deve
LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gra- incorporar os tratados quanto ao tema ao ordenamento interno bra-
tuita aos que comprovarem insuficiência de recursos; sileiro e respeitá-los. Implica, também em que as normas voltadas
Trata-se da função desempenhada pela Defensoria Pública, à proteção da dignidade em caráter universal devem ser aplicadas
seja diretamente, seja por nomeações. no Brasil em caráter prioritário em relação a outras normas”77.
76 VICENTE SOBRINHO, Benedito. Direitos
LXXV - o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, Fundamentais e Prisão Civil. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris
assim como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença; Editor, 2008.
75 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional 77 PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito
esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. Internacional Público e Privado. Salvador: JusPodivm, 2009.
Didatismo e Conhecimento 40
NOÇÕES DE DIREITO
Regra geral, os tratados internacionais comuns ingressam com guerra; d) crime de agressão. Para o crime de genocídio usa a de-
força de lei ordinária no ordenamento jurídico brasileiro porque finição da convenção de 1948. Como crimes contra a humanidade
somente existe previsão constitucional quanto à possibilidade da são citados: assassinato, escravidão, prisão violando as normas in-
equiparação às emendas constitucionais se o tratado abranger ma- ternacionais, violação tortura, apartheid, escravidão sexual, prosti-
téria de direitos humanos. Antes da emenda alterou o quadro quan- tuição forçada, esterilização, etc. São crimes de guerra: homicídio
to aos tratados de direitos humanos, era o que acontecia, mas isso internacional, destruição de bens não justificada pela guerra, de-
não significa que tais direitos eram menos importantes. portação, forçar um prisioneiro a servir nas forças inimigas, etc.”
Didatismo e Conhecimento 41
NOÇÕES DE DIREITO
II - seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário; XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das relações de
III - fundo de garantia do tempo de serviço; trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para os traba-
IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, lhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extin-
capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua ção do contrato de trabalho;
família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, ves- XXX - proibição de diferença de salários, de exercício de fun-
tuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes pe- ções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou
riódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua estado civil;
vinculação para qualquer fim; XXXI - proibição de qualquer discriminação no tocante a
V - piso salarial proporcional à extensão e à complexidade salário e critérios de admissão do trabalhador portador de de-
do trabalho; ficiência;
VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em conven- XXXII - proibição de distinção entre trabalho manual, técni-
ção ou acordo coletivo; co e intelectual ou entre os profissionais respectivos;
VII - garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalu-
que percebem remuneração variável; bre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de
VIII - décimo terceiro salário com base na remuneração inte- dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de qua-
gral ou no valor da aposentadoria; torze anos;
IX - remuneração do trabalho noturno superior à do diurno; XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalhador com víncu-
X - proteção do salário na forma da lei, constituindo crime lo empregatício permanente e o trabalhador avulso.
sua retenção dolosa; Parágrafo único. São assegurados à categoria dos traba-
XI - participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da lhadores domésticos os direitos previstos nos incisos IV, VI, VII,
remuneração, e, excepcionalmente, participação na gestão da em- VIII, X, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI,
presa, conforme definido em lei; XXX, XXXI e XXXIII e, atendidas as condições estabelecidas em
XII - salário-família para os seus dependentes; lei e observada a simplificação do cumprimento das obrigações
XII - salário-família pago em razão do dependente do traba- tributárias, principais e acessórias, decorrentes da relação de
lhador de baixa renda nos termos da lei; trabalho e suas peculiaridades, os previstos nos incisos I, II, III,
XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas IX, XII, XXV e XXVIII, bem como a sua integração à previdência
diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação social. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 72, de 2013
de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou conven- - PEC DAS DOMÉSTICAS)
ção coletiva de trabalho;
XIV - jornada de seis horas para o trabalho realizado em Os artigos 8º a 11 trazem os DIREITOS SOCIAIS COLETI-
turnos ininterruptos de revezamento, salvo negociação coletiva; VOS dos trabalhadores, que são os exercidos pelos trabalhadores,
XV - repouso semanal remunerado, preferencialmente aos coletivamente ou no interesse de uma coletividade, quais sejam:
domingos; associação profissional ou sindical, greve, substituição processual,
XVI - remuneração do serviço extraordinário superior, no participação e representação classista80.
mínimo, em cinquenta por cento à do normal; (HORA EXTRA) Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, obser-
XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, vado o seguinte:
um terço a mais do que o salário normal; I - a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fun-
XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do sa- dação de sindicato, ressalvado o registro no órgão competente,
lário, com a duração de cento e vinte dias; vedadas ao Poder Público a interferência e a intervenção na or-
XIX - licença-paternidade, nos termos fixados em lei; ganização sindical;
XX - proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante II - é vedada a criação de mais de uma organização sindi-
incentivos específicos, nos termos da lei; cal, em qualquer grau, representativa de categoria profissional
XXI - aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo ou econômica, na mesma base territorial, que será definida pelos
no mínimo de trinta dias, nos termos da lei; trabalhadores ou empregadores interessados, não podendo ser in-
XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de ferior à área de um Município;
normas de saúde, higiene e segurança; III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses cole-
XXIII - adicional de remuneração para as atividades peno- tivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais
sas, insalubres ou perigosas, na forma da lei; ou administrativas;
XXIV - aposentadoria; IV - a assembleia geral fixará a contribuição que, em se tra-
XXV - assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o tando de categoria profissional, será descontada em folha, para
nascimento até 5 (cinco) anos de idade em creches e pré-escolas; custeio do sistema confederativo da representação sindical res-
XXVI - reconhecimento das convenções e acordos coletivos pectiva, independentemente da contribuição prevista em lei;
de trabalho; V - ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado
XXVII - proteção em face da automação, na forma da lei; a sindicato;
(Substituição da máquina pelo homem) VI - é obrigatória a participação dos sindicatos nas negocia-
XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do ções coletivas de trabalho;
empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, 80 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional
quando incorrer em dolo ou culpa; esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
Didatismo e Conhecimento 42
NOÇÕES DE DIREITO
VII - o aposentado filiado tem direito a votar e ser votado nas § 1º Aos portugueses com residência permanente no País, se
organizações sindicais; houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos
VIII - é vedada a dispensa do empregado sindicalizado a par- os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta
tir do registro da candidatura a cargo de direção ou representação Constituição.
sindical e, se eleito, ainda que suplente, até um ano após o final do § 2º A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros
mandato, salvo se cometer falta grave nos termos da lei. natos e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constitui-
Parágrafo único. As disposições deste artigo aplicam-se à or- ção.
ganização de sindicatos rurais e de colônias de pescadores, aten- § 3º São privativos de brasileiro nato os cargos:
didas as condições que a lei estabelecer. I - de Presidente e Vice-Presidente da República;
II - de Presidente da Câmara dos Deputados;
Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos tra- III - de Presidente do Senado Federal;
balhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;
interesses que devam por meio dele defender. V - da carreira diplomática;
§ 1º A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e dis- VI - de oficial das Forças Armadas;
porá sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comu- VII - de Ministro de Estado da Defesa.
nidade. § 4º Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro
§ 2º Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas que:
da lei. I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial,
Neste sentido, conferir a Lei nº 7.783/89. Enquanto não for em virtude de atividade nociva ao interesse nacional;
disciplinado o direito de greve dos servidores públicos, esta é a II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos:
legislação que se aplica, segundo o STF. a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei es-
trangeira; (Incluído pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3,
Art. 10. É assegurada a participação dos trabalhadores e em- de 1994)
pregadores nos colegiados dos órgãos públicos em que seus inte- b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao
resses profissionais ou previdenciários sejam objeto de discussão brasileiro residente em estado estrangeiro, como condição para
e deliberação. permanência em seu território ou para o exercício de direitos ci-
vis;
Trata-se do direito de participação.
Art. 13. A língua portuguesa é o idioma oficial da República
Art. 11. Nas empresas de mais de duzentos empregados, é as-
Federativa do Brasil.
segurada a eleição de um representante destes com a finalidade
§ 1º São símbolos da República Federativa do Brasil a ban-
exclusiva de promover-lhes o entendimento direto com os empre-
deira, o hino, as armas e o selo nacionais.
gadores.
§ 2º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão
Trata-se do direito de representação classista.
ter símbolos próprios.
CAPÍTULO III CAPÍTULO IV
DA NACIONALIDADE DOS DIREITOS POLÍTICOS
Art. 12. São brasileiros: Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio uni-
I - natos: versal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e,
a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que nos termos da lei, mediante:
de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu I - plebiscito;
país; II - referendo;
b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe bra- III - iniciativa popular.
sileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República § 1º O alistamento eleitoral e o voto são:
Federativa do Brasil; I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos;
c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe II - facultativos para:
brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasilei- a) os analfabetos;
ra competente ou venham a residir na República Federativa do b) os maiores de setenta anos;
Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maiori- c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.
dade, pela nacionalidade brasileira; § 2º Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e,
II - naturalizados: durante o período do serviço militar obrigatório, os conscritos.
a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade bra- § 3º São condições de elegibilidade, na forma da lei:
sileira, exigidas aos originários de países de língua portuguesa I - a nacionalidade brasileira;
apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral; II - o pleno exercício dos direitos políticos;
b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na III - o alistamento eleitoral;
República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininter- IV - o domicílio eleitoral na circunscrição;
ruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a naciona- V - a filiação partidária;
lidade brasileira. VI - a idade mínima de:
Didatismo e Conhecimento 43
NOÇÕES DE DIREITO
a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da Ademais, enquanto a Lei Fundamental pátria preceitua que
República e Senador; a educação e a saúde são “direitos de todos e dever do Estado”,
b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado fala, por outro lado, que a segurança pública, antes mesmo de ser
e do Distrito Federal; direito de todos, é um “dever do Estado”. Com isso, isto é, ao co-
c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadu- locar a segurança pública antes de tudo como um dever do Estado,
al ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz; e só depois como um direito do todos, denota o compromisso dos
d) dezoito anos para Vereador. agentes estatais em prevenir a desordem, e, consequencialmente,
§ 4º São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos. evitar a justiça por próprias mãos.
§ 5º O Presidente da República, os Governadores de Estado Neste prumo, no art. 144, caput, da Constituição Federal, se
e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou afirma que a segurança pública é exercida para a preservação da
substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um ordem pública e da incolumidade das pessoas, como para a preser-
único período subsequente.
vação dos patrimônios público e particular.
§ 6º Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da Re-
Os órgãos responsáveis pela garantia da segurança pública,
pública, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os
Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até seis me- compondo sua estrutura, são: polícia federal; polícia rodoviária fe-
ses antes do pleito. deral; polícia ferroviária federal; polícias civis; e polícias militares
§ 7º São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o e corpos de bombeiros militares. Em destaque, o papel das polícias
cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau militares, que é de polícia ostensiva e de preservação da ordem
ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de Es- pública.
tado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os
haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo Com efeito, a atuação policial se dá no espaço público, que é
se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição. aquele de uso comum e posse de todos. Por muito tempo a atua-
§ 8º O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes con- ção das polícias ficava restrita, apenas se limitava ao exercício do
dições: poder de polícia fiscalizatório e repressivo. No entanto, uma preo-
I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se cupação social tem se arraigado nestas instituições, que tomaram
da atividade; novos rumos. Por exemplo as polícias também têm desenvolvido
II - se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela iniciativas junto à população em complemento às suas funções tra-
autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato dicionais, como o caso de campanhas preventivas, da presença em
da diplomação, para a inatividade. redes sociais e do serviço de ouvidoria e pesquisa de satisfação.
§ 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibi- Pouco a pouco, percebe-se que há uma preocupação em apro-
lidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade
ximar a polícia da sociedade, tirando a imagem de uma instituição
administrativa, a moralidade para exercício de mandato conside-
à parte, inimiga da população. Mais que isso, pretende-se acabar
rada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade
das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso com a percepção da polícia como uma instituição avessa aos di-
do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta reitos humanos garantidos à população, passando a ser protetora
ou indireta. e efetivadora destes direitos, mesmo quando estiver atuando na
§ 10. O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Justiça repressão de um cidadão que infringiu a lei.
Eleitoral no prazo de quinze dias contados da diplomação, instru- Por outro lado, inegável que inúmeras notícias são veiculadas
ída a ação com provas de abuso do poder econômico, corrupção diariamente a respeito da atuação policial no espaço público para
ou fraude. dirimir conflitos e controlar manifestações. Muitas vezes, se dá o
§ 11. A ação de impugnação de mandato tramitará em segre- uso indevido da força, que deve ser coibido e caracteriza clássica
do de justiça, respondendo o autor, na forma da lei, se temerária violação de direitos humanos. O uso desnecessário de disparos de
ou de manifesta má-fé. armas, bombas de efeito moral, balas de borracha e outros aparatos
de contenção e dispersão caracteriza violação de direitos humanos,
notadamente, liberdade de expressão, liberdade de manifestação,
2.2.5 A POLÍCIA CIVIL E A DEFESA DAS integridade física, moral e psíquica e vida. Portanto, é preciso res-
INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS: A POLÍ- ponsabilidade na atuação policial no espaço público, utilizando da
CIA JUDICIÁRIA E A PROMOÇÃO DOS DI- força apenas na medida do necessário e sem perder de vista dos
REITOS FUNDAMENTAIS direitos humanos consagrados.
Assim, durante muitos anos o tema “Direitos Humanos” foi
considerado antagônico ao de Segurança Pública. O principal mo-
A segurança tem um duplo aspecto na Constituição Federal, a tivo disso foi o autoritarismo vigente no país entre 1964 e 1984 e
saber, o aspecto de direito e garantia individual e coletivo, por es- a manipulação, por ele, dos aparelhos policiais. Neste paradigma,
tar prevista no caput, do art. 5º, da Constituição Federal (ao lado do a sociedade foi separada da polícia, como se esta não fizesse parte
direito à vida, da liberdade, da igualdade, e da propriedade), bem daquela.
como o aspecto de direito social, por estar prevista no art. 6º, da Desde então, a polícia passou a ser caracterizada pelos seg-
Constituição Federal. A segurança do caput, do art. 5º, CF, todavia, mentos progressistas da sociedade de forma equivocada, quer di-
se refere à “segurança jurídica”. Já a segurança do art. 6º, CF, se zer, passou a ser vista como inimiga da democracia e dos direitos
refere à “segurança pública”, a qual encontra disciplinamento no humanos, associando-se à repressão anti-democrática, à truculên-
art. 144, da Constituição da República. cia, ao conservadorismo.
Didatismo e Conhecimento 44
NOÇÕES DE DIREITO
Por sua vez, os Direitos Humanos como militância, na outra fundada sobre suposta dualidade ou antagonismo entre uma “so-
ponta, passaram a ser vistos como ideologicamente filiados à es- ciedade civil” e outra “sociedade policial”, isto é, a sociedade é
querda, durante toda a vigência da Guerra Fria (estranhamente, uma só, composta por todos os cidadãos brasileiros e a polícia não
nos países do “socialismo real”, os Direitos Humanos eram vistos forma uma sociedade paralela.
como uma arma retórica e organizacional do capitalismo). No caso Essa afirmação é plenamente válida mesmo quando se trata da
do Brasil, um país capitalista, em tempos de ditadura os Direitos Polícia Militar, que é um serviço público realizado na perspectiva
Humanos faziam parte do ideário dos que tentavam derrubar o re- de uma sociedade única, da qual todos os segmentos estatais são
gime, por vezes utilizando-se de argumentos socialistas, ao passo derivados. Portanto não há, igualmente, uma “sociedade civil” e
que aqueles que estavam no poder se valiam das violações a estes outra “sociedade militar”.
A “lógica” da Guerra Fria (socialismo/capitalismo), aliada
Direitos Humanos como mecanismo para a manutenção do poder.
aos “anos de chumbo”, no Brasil, quer dizer, ao período de dita-
Bem se sabe que até hoje se tenta quebrar o estigma conferido
dura militar, é que se encarregou de solidificar esses equívocos,
aos Direitos Humanos. Mesmo após a rearticulação democrática, tentando transformar a polícia, de um serviço à cidadania, em fer-
inclusive após a Constituição Federal de 1988, os defensores dos ramenta para enfrentamento do “inimigo interno”. Assim, o cida-
Direitos Humanos passaram a ser vistos como defensores de ban- dão que não fazia parte do corpo policial passava a ser visto como
didos e da impunidade. um potencial inimigo que pudesse derrubar o Estado. Mesmo após
Evidentemente, ambas visões, tanto a da época de ditadura o encerramento desses anos de paranoia, sequelas ideológicas per-
militar quanto a que se instalou no início da redemocratização, es- sistem indevidamente, obstaculizando, em algumas áreas, a eluci-
tão fortemente equivocadas e prejudicadas pelo preconceito. dação da real função policial.
Estamos desde 1988 construindo uma nova democracia e
essa paralisia de paradigmas das “partes” (uma vez que a visão 2ª) Policial: cidadão qualificado
de Direitos Humanos como um aparato de proteção de crimino- O agente de Segurança Pública é, contudo, um cidadão quali-
sos, embora de forma atenuada, permanece), representa um forte ficado: representa o Estado, em seu contato mais imediato com a
impedimento à parceria para a edificação de uma sociedade mais população. Em verdade, todo cidadão que é designado para desem-
civilizada. penho de uma função pública passa a exteriorizar a imagem que o
Aproximar a policia das ONGs que atuam com Direitos Hu- Estado pretende passar, à qual notadamente se encontra aliado um
manos, e vice-versa, é tarefa impostergável para que possamos valor ético. Mas não é o Estado que é ético ou não, e sim as pessoas
viver, a médio prazo, em uma nação que respire “cultura de ci- que compõem o seu aparato. Entre elas, destaca-se o policial, uma
das figuras representativas do Estado que mais ficam aos olhos da
dadania”. Para que isso ocorra, é necessário que as lideranças do
população.
campo dos Direitos Humanos desarmem as “minas ideológicas” Sendo a autoridade mais comumente encontrada tem, portan-
altamente preconceituosas já referidas e não mais justificáveis, que to, a missão de ser uma espécie de “porta voz” popular do conjunto
agora impedem uma real aproximação. O mesmo vale para a polí- de autoridades das diversas áreas do poder. Além disso, porta a sin-
cia, que precisa deixar de acreditar que Direitos Humanos são um gular permissão para o uso da força e das armas, no âmbito da lei,
inimigo para o desempenho efetivo das funções policiais. o que lhe confere natural e destacada autoridade para a construção
A polícia pode aprender muito com a sociedade, e vice-versa, social ou para sua devastação. O impacto sobre a vida de indivídu-
de forma a se promover uma atuação de agentes defensores da os e comunidades, exercido por esse cidadão qualificado é, pois,
mesma democracia. sempre um impacto extremado e simbolicamente referencial para
Neste ponto, será tecido um aprofundamento sobre as atitudes o bem ou para o mal-estar da sociedade.
esperadas dos policiais no que tange ao respeito dos Direitos Hu-
manos. Ricardo Balestreri81, com base em sua experiência de qua- 3ª) Policial: pedagogo da cidadania
se uma década de parceria no campo da educação para os direitos Há, assim, uma dimensão pedagógica no agir policial que,
humanos junto a policiais e em demais aspectos de sua experiência como em outras profissões de suporte público, antecede as pró-
prática, tece treze considerações que devem ser guia na atuação da prias especificidades de sua especialidade.
polícia em relação aos Direitos Humanos, que estudaremos indivi- Os paradigmas contemporâneos na área da educação nos obri-
dualmente a partir deste ponto. gam a repensar o agente educacional de forma mais includente.
No passado, esse papel estava reservado unicamente aos pais, pro-
fessores e especialistas em educação. Hoje é preciso incluir com
1ª) Cidadania, dimensão primeira
primazia no rol pedagógico também outras profissões irrecusavel-
O policial é, antes de tudo um cidadão, e na cidadania deve mente formadoras de opinião: médicos, advogados, jornalistas e
nutrir sua razão de ser. Cidadão é aquele que possui com o Estado policiais, por exemplo.
o vínculo jurídico-político da nacionalidade, passando a compor O policial, assim, à luz desses paradigmas educacionais mais
o seu povo, adquirindo direitos políticos aos quais correspondem abrangentes, é um pleno e legítimo educador. Essa dimensão é ina-
deveres perante à sociedade. Um cidadão não é diferente do outro, bdicável e reveste de profunda nobreza a função policial, quando
todos têm a mesma importância e o mesmo papel social. conscientemente explicitada através de comportamentos e atitu-
Portanto, o policial é equiparado a todos os membros da des.
comunidade em direitos e deveres. Sua condição de cidadania é,
portanto, condição primeira, tornando-se bizarra qualquer reflexão 4ª) A importância da autoestima pessoal e institucional
81 BALESTERI, Ricardo. Direitos humanos: Coisa de O reconhecimento da mencionada “dimensão pedagógica” é,
polícia. Disponível em: <http://www.mpba.mp.br/atuacao/ceosp/ seguramente, o caminho mais rápido e eficaz para a reconquista da
artigos/Balestreri_Direitos_Humanos_Coisa_policia.pdf>. Acesso abalada autoestima policial. Note-se que os vínculos de respeito e
em: 03 out. 2013. solidariedade só podem constituir-se sobre uma boa base de auto-
Didatismo e Conhecimento 45
NOÇÕES DE DIREITO
estima. A experiência primária do “querer-se bem” é fundamental Em termos de inconsciente coletivo, o policial exerce função
para possibilitar o conhecimento de como chegar a “querer bem educativa arquetípica: deve ser “o mocinho”, com procedimentos
o outro”. Não podemos viver para fora o que não vivemos para e atitudes coerentes com a “firmeza moralmente reta”, oposta ra-
dentro. dicalmente aos desvios perversos do outro arquétipo que se lhe
Em nível pessoal, é fundamental que o cidadão policial sinta- contrapõe: o bandido.
-se motivado e orgulhoso de sua profissão. Isso só é alcançável à Ao olhar para uns e outros, é preciso que a sociedade per-
partir de um patamar de “sentido existencial”. Se a função policial ceba claramente as diferenças metodológicas, isto é, que distinga
for esvaziada desse sentido, transformando o homem e a mulher o mocinho do bandido, ou a “confusão arquetípica” intensificará
que a exercem em meros cumpridores de ordens sem um signifi-
sua crise de moralidade, incrementando a ciranda da violência. Em
cado pessoalmente assumido como ideário, o resultado será uma
outras palavras, a sociedade que não olha para o policial como
autoimagem denegrida e uma baixa autoestima.
Resgatar, pois, o pedagogo que há em cada policial, é permitir a pessoa que está certa em sua atuação, e para o bandido como
a ressignificação da importância social da polícia, com a conse- aquele que deve ser reprimido, tende a delinquir. Isso significa que
quente consciência da nobreza e da dignidade dessa missão. a violência policial é geradora de mais violência da qual, mui co-
A elevação dos padrões de autoestima pode ser o caminho mumente, o próprio policial torna-se a vítima.
mais seguro para uma boa prestação de serviços. Só respeita o ou- Ao policial, portanto, não cabe ser cruel com os cruéis, vin-
tro aquele que se dá respeito a si mesmo. Um policial insatisfeito gativo contra os antissociais, hediondo com os hediondos. Apenas
com as funções que desempenha não pode ser um bom policial. estaria com isso, liberando, licenciando a sociedade para fazer o
mesmo, a partir de seu patamar de visibilidade moral. Não se en-
5ª ) Polícia e “superego” social sina a respeitar desrespeitando, não se pode educar para preservar
Essa “dimensão pedagógica”, evidentemente, não se confun- a vida matando, não importa quem seja. O policial jamais pode
de com “dimensão demagógica” e, portanto, não exime a polícia esquecer que também o observa o inconsciente coletivo.
de sua função técnica de intervir preventivamente no cotidiano e
repressivamente em momentos de crise, uma vez que democracia
8ª) A “visibilidade moral” da polícia: importância do
nenhuma se sustenta sem a contenção do crime, sempre fundado
sobre uma moralidade mal constituída e hedonista, resultante de exemplo
uma complexidade causal que vai do social ao psicológico. Essa dimensão “testemunhal”, exemplar, pedagógica, que o
Assim como nas famílias é preciso, em “ocasiões extremas”, policial carrega irrecusavelmente é, possivelmente, mais marcante
que o adulto sustente, sem vacilar, limites que possam balizar mo- na vida da população do que a própria intervenção do educador por
ralmente a conduta de crianças e jovens, também em nível macro ofício, o professor.
é necessário que alguma instituição se encarregue da contenção da Esse fenômeno ocorre devido à gravidade do momento em
sociopatia. que normalmente o policial encontra o cidadão. À polícia recorre-
A polícia é, portanto, uma espécie de superego social indis- -se, como regra, em horas de fragilidade emocional, que deixam
pensável em culturas urbanas, complexas e de interesses conflitan- os indivíduos ou a comunidade fortemente “abertos” ao impacto
tes, contendo o óbvio caos a que estaríamos expostos na absurda psicológico e moral da ação realizada.
hipótese de sua inexistência. Possivelmente por isso não se conhe- Por essa razão é que uma intervenção incorreta funda marcas
ça nenhuma sociedade contemporânea que não tenha assentamen- traumáticas por anos ou até pela vida inteira, assim como a ação do
to, entre outros, no poder da polícia. Zelar, pois, diligentemente,
“bom policial” será sempre lembrada com satisfação e conforto.
pela segurança pública, pelo direito do cidadão de ir e vir, de não
ser molestado, de não ser saqueado, de ter respeitada sua integri- Curiosamente, um significativo número de policiais não con-
dade física e moral, é dever da polícia, um compromisso com o segue perceber com clareza a enorme importância que têm para
rol mais básico dos direitos humanos que devem ser garantidos à a sociedade, talvez por não haverem refletido suficientemente a
imensa maioria de cidadãos honestos e trabalhadores. respeito dessa peculiaridade do impacto emocional do seu agir so-
Para isso é que a polícia recebe desses mesmos cidadãos a bre a clientela. Justamente aí reside a maior força pedagógica da
unção para o uso da força, quando necessário. polícia, a grande chave para a redescoberta de seu valor e o resgate
de sua autoestima.
6ª) Rigor versus violência É essa mesma “visibilidade moral” da polícia o mais forte
O uso legítimo da força não se confunde, contudo, com trucu- argumento para convencê-la de sua “responsabilidade paternal”
lência. A fronteira entre a força e a violência é delimitada, no cam- (ainda que não paternalista) sobre a comunidade. Zelar pela ordem
po formal, pela lei, no campo racional pela necessidade técnica e, pública é, assim, acima de tudo, dar exemplo de conduta forte-
no campo moral, pelo antagonismo que deve reger a metodologia mente baseada em princípios. Não há exceção quando tratamos
de policiais e criminosos. Significa que a lei delimita juridicamen-
de princípios, mesmo quando está em questão a prisão, guarda e
te a atuação do policial, mas a própria moralidade incute no po-
condução de malfeitores.
licial o bom senso que limita suas atuações. Assim, a força deve
ser usada com bom senso, na medida do necessário ao adequado Se o policial é capaz de transigir nos seus princípios de civili-
desempenho das funções. dade, isto é, de relativizá-los, quando no contato com os sociopa-
tas, abona a violência, contamina-se com o que nega, conspurca a
7ª) Policial versus criminoso: metodologias antagônicas normalidade, confunde o imaginário popular e rebaixa-se à igual-
Dessa forma, mesmo ao reprimir, o policial oferece uma vi- dade de procedimentos com aqueles que combate.
sualização pedagógica, ao antagonizar-se aos procedimentos do Note-se que a perspectiva, aqui, não é refletir do ponto de vis-
crime. ta da “defesa do bandido”, mas da defesa da dignidade do policial.
Didatismo e Conhecimento 46
NOÇÕES DE DIREITO
A violência desequilibra e desumaniza o sujeito, não importa Evidentemente, se os critérios de seleção e permanência de-
com que fins seja cometida, e não restringe-se a áreas isoladas, vem tornar-se cada vez mais exigentes, espera-se que o Estado cui-
mas, fatalmente, acaba por dominar-lhe toda a conduta. O violento de também de retribuir com salários cada vez mais dignos.
se dá uma perigosa permissão de exercício de pulsões negativas, De qualquer forma, o zelo pelo respeito e a decência dos
que vazam gravemente sua censura moral e que, inevitavelmente, quadros policiais não cabe apenas ao Estado mas aos próprios
vão alastrando-se em todas as direções de sua vida, de maneira policiais, os maiores interessados em participarem de instituições
incontrolável. livres de vícios, valorizadas socialmente e detentoras de credibili-
dade histórica.
9ª) “Ética” corporativa versus ética cidadã
Essa consciência da autoimportância obriga o policial a ab- 11ª) Direitos Humanos dos policiais: humilhação ver-
dicar de qualquer lógica corporativista. Por lógica corporativista,
sus hierarquia
entende-se reforçar a distinção da polícia como uma corporação
O equilíbrio psicológico, tão indispensável na ação da polícia,
alheia à sociedade, autônoma.
Ter identidade com a polícia, amar a corporação da qual par- passa também pela saúde emocional da própria instituição. Mesmo
ticipa, coisas essas desejáveis, não se podem confundir, em mo- que isso não se justifique, sabemos que policiais maltratados inter-
mento algum, com acobertar práticas abomináveis. Ao contrário, namente tendem a descontar sua agressividade sobre o cidadão.
a verdadeira identidade policial exige do sujeito um permanente Evidentemente, polícia não funciona sem hierarquia. Há, contudo,
zelo pela “limpeza” da instituição da qual participa. clara distinção entre hierarquia e humilhação, entre ordem e per-
Um verdadeiro policial, ciente de seu valor social, será o pri- versidade.
meiro interessado no “expurgo” dos maus profissionais, dos cor- Em muitas academias de polícia (é claro que não em todas)
ruptos, dos torturadores, dos psicopatas. Sabe que o lugar deles os policiais parecem ainda ser “adestrados” para alguma suposta
não é polícia, pois, além do dano social que causam, prejudicam o “guerra de guerrilhas”, sendo submetidos a toda ordem de maus-
equilíbrio psicológico de todo o conjunto da corporação e inundam -tratos (beber sangue no pescoço da galinha, ficar em pé sobre for-
os meios de comunicação social com um marketing que denigre migueiro, ser “afogado” na lama por superior hierárquico, são só
o esforço heróico de todos aqueles outros que cumprem correta- alguns dos recentes exemplos que tenho colecionado à partir da
mente sua espinhosa missão. Por esse motivo, não está disposto a narrativa de policiais).
conceder-lhes qualquer tipo de espaço. Por uma contaminação da ideologia militar (diga-se de pas-
Aqui, se antagoniza a “ética da corporação” (que na verdade sagem, presente não apenas nas PMs mas também em muitas po-
é a negação de qualquer possibilidade ética) com a ética da cida- lícias civis), os futuros policiais são, muitas vezes, submetidos a
dania (aquela voltada à missão da polícia junto a seu cliente, o
violento estresse psicológico, a fim de atiçar-lhes a raiva contra o
cidadão).
“inimigo” (será, nesse caso, o cidadão?).
O acobertamento de práticas espúrias demonstra, ao contrário
do que muitas vezes parece, o mais absoluto desprezo pelas insti- Essa permissividade na violação interna dos Direitos Huma-
tuições policiais. Quem acoberta o espúrio permite que ele enxo- nos dos policiais pode dar guarida à ação de personalidades sádi-
valhe a imagem do conjunto da instituição e mostra, dessa forma, cas e depravadas, que usam sua autoridade superior como cobertu-
não ter qualquer respeito pelo ambiente do qual faz parte. ra para o exercício de suas doenças.
Além disso, como os policiais não vão lutar na extinta guerra
10ª) Critérios de seleção, permanência e acompanhamento do Vietnã, mas atuar nas ruas das cidades, esse tipo de “formação”
Essa preocupação deve crescer à medida em que tenhamos (deformadora) representa uma perda de tempo, geradora apenas de
clara a preferência da psicopatia pelas profissões de poder. Política brutalidade, atraso técnico e incompetência.
profissional, Forças Armadas, Comunicação Social, Direito, Medi- A verdadeira hierarquia só pode ser exercida com base na lei
cina, Magistério e Polícia são algumas das profissões de encantada e na lógica, longe, portanto, do personalismo e do autoritarismo
predileção para os psicopatas, sempre em busca do exercício livre doentios.
e sem culpas de seu poder sobre outrem. O respeito aos superiores não pode ser imposto na base da
Profissões magníficas, de grande amplitude social, que agre- humilhação e do medo. Não pode haver respeito unilateral, como
gam heróis e mesmo santos, são as mesmas que atraem a escória, não pode haver respeito sem admiração. Não podemos respeitar
pelo alcance que têm, pelo poder que representam. aqueles a quem odiamos.
A permissão para o uso da força, das armas, do direito a deci- A hierarquia é fundamental para o bom funcionamento da po-
dir sobre a vida e a morte, exercem irresistível atração à perversi-
lícia, mas ela só pode ser verdadeiramente alcançada através do
dade, ao delírio onipotente, à loucura articulada.
exercício da liderança dos superiores, o que pressupõe práticas bi-
Os processos de seleção de policiais devem tornar-se cada vez
mais rígidos no bloqueio à entrada desse tipo de gente. Igualmente, laterais de respeito, competência e seguimento de regras lógicas e
é nefasta a falta de um maior acompanhamento psicológico aos suprapessoais.
policiais já na ativa.
A polícia é chamada a cuidar dos piores dramas da popula- 12ª) Direitos Humanos dos policiais: humilhação ver-
ção e nisso reside um componente desequilibrador. Quem cuida sus hierarquia
da polícia? No extremo oposto, a debilidade hierárquica é também um
Os governos, de maneira geral, estruturam pobremente os ser- mal. Pode passar uma imagem de descaso e desordem no serviço
viços de atendimento psicológico aos policiais e aproveitam muito público, além de enredar na malha confusa da burocracia toda a
mal os policiais diplomados nas áreas de saúde mental. prática policial.
Didatismo e Conhecimento 47
NOÇÕES DE DIREITO
A falta de uma Lei Orgânica Nacional para a polícia civil, por O policial, pela natural autoridade moral que porta, tem o po-
exemplo, pode propiciar um desvio fragmentador dessa institui- tencial de ser o mais marcante promotor dos Direitos Humanos,
ção, amparando uma tendência de definição de conduta, em alguns revertendo o quadro de descrédito social e qualificando-se como
casos, pela mera junção, em “colcha de retalhos”, do conjunto das um personagem central da democracia. As organizações não-go-
práticas de suas delegacias. vernamentais que ainda não descobriram a força e a importância
Enquanto um melhor direcionamento não ocorre em plano do policial como agente de transformação, devem abrir-se, urgen-
nacional, é fundamental que os estados e instituições da polícia temente, a isso, sob pena de, aferradas a velhos paradigmas, perde-
civil direcionem estrategicamente o processo de maneira a unifi- rem o concurso da ação impactante desse ator social.
car sob regras claras a conduta do conjunto de seus agentes, trans- Direitos Humanos, cada vez mais, também é coisa de polícia!
cendendo a mera predisposição dos delegados localmente respon-
sáveis (e superando, assim, a “ordem” fragmentada, baseada na
personificação). Além do conjunto da sociedade, a própria polícia
civil será altamente beneficiada, uma vez que regras objetivas para 2.2.5 O DIREITO DE RECEBER
todos (incluídas aí as condutas internas) só podem dar maior segu- SERVIÇOS PÚBLICOS ADEQUADOS
rança e credibilidade aos que precisam executar tão importante e
ao mesmo tempo tão intrincado e difícil trabalho.
Didatismo e Conhecimento 48
NOÇÕES DE DIREITO
Seguros são os serviços que não expõem a pessoa atendida a Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos
riscos desnecessários, que fujam às expectativas normais de risco humanos resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciên-
do serviço prestado. cia da Humanidade e que o advento de um mundo em que os ho-
Eficientes são os serviços compatíveis com os novos proces- mens gozem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de
sos tecnológicos, mas que respeitem o menor gasto possível. viverem a salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a
Contínuos são os serviços públicos que não sofrem interrup- mais alta aspiração do homem comum,
ção. A prestação dos serviços públicos deve ser contínua para evi- A humanidade nunca irá esquecer das imagens vistas quando
tar que a paralisação provoque colapso nas múltiplas atividades da abertura dos campos de concentração nazistas, nos quais os ca-
particulares. dáveres esqueléticos do que não eram considerados seres humanos
Se o serviço público for dotado destas características míni- perante aquele regime político se amontoavam. Aquelas pessoas
mas, possuirá qualidade. não eram consideradas iguais às demais por possuírem alguma ca-
racterística, crença ou aparência que o Estado não apoiava. Daí a
importância de se atentar para os antecedentes históricos e com-
2.2.6 OS SISTEMAS GLOBAL E preender a igualdade de todos os homens, independentemente de
AMERICANO DE PROTEÇÃO DOS DIREI- qualquer fator.
TOS HUMANOS FUNDAMENTAIS: A DE-
CLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS Considerando essencial que os direitos humanos sejam prote-
HUMANOS E A CONVENÇÃO AMERICANA gidos pelo Estado de Direito, para que o homem não seja compe-
DE DIREITOS HUMANOS (PACTO DE SÃO lido, como último recurso, à rebelião contra tirania e a opressão,
JOSÉ DA COSTA RICA) Por todo o mundo se espalharam, notadamente durante a Se-
gunda Guerra Mundial, regimes totalitários altamente opressivos,
não só por parte das Potências do Eixo (Alemanha, Itália, Japão),
mas também no lado dos Aliados (Rússia e o regime de Stálin).
Declaração Universal dos Direitos Humanos
Considerando essencial promover o desenvolvimento de rela-
Adotada e proclamada pela Resolução n° 217 A (III) da As- ções amistosas entre as nações,
sembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948 Depois de duas grandes guerras a humanidade conseguiu per-
Preâmbulo ceber o quanto era prejudicial não manter relações amistosas entre
O preâmbulo é um elemento comum em textos constitucio- as nações, de forma que o ideal de paz ganhou uma nova força.
nais. Em relação ao preâmbulo constitucional, Jorge Miranda82
define: “[...] proclamação mais ou menos solene, mais ou menos Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram,
significante, anteposta ao articulado constitucional, não é compo- na Carta, sua fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade
nente necessário de qualquer Constituição, mas tão somente um e no valor da pessoa humana e na igualdade de direitos dos ho-
elemento natural de Constituições feitas em momentos de ruptura mens e das mulheres, e que decidiram promover o progresso social
histórica ou de grande transformação político-social”. Do conceito e melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla,
do autor é possível extrair elementos para definir o que represen- Considerando que os Estados-Membros se comprometeram
tam os preâmbulos em documentos internacionais: proclamação a desenvolver, em cooperação com as Nações Unidas, o respeito
dotada de certa solenidade e significância que antecede o texto do universal aos direitos humanos e liberdades fundamentais e a ob-
documento internacional e, embora não seja um elemento neces- servância desses direitos e liberdades,
sário a ele, merece ser considerada porque reflete o contexto de Considerando que uma compreensão comum desses direitos e
ruptura histórica e de transformação político-social que levou à
liberdades é da mais alta importância para o pleno cumprimento
elaboração do documento como um todo. No caso da Declaração
desse compromisso,
de 1948 ficam evidentes os antecedentes históricos inerentes às
Todos os países que fazem parte da Organização das Nações
Guerras Mundiais.
Unidas, tanto os 51 membros fundadores quanto os que ingressa-
Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a ram posteriormente (basicamente, todos demais países do mundo),
todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e totalizando 193, assumiram o compromisso de cumprir a Carta da
inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no ONU, documento que a fundou e que traz os princípios condutores
mundo, da ação da organização.
O princípio da dignidade da pessoa humana, pelo qual todos
os seres humanos são dotados da mesma dignidade e para que ela A Assembleia Geral proclama
seja preservada é preciso que os direitos inerentes à pessoa hu- A presente Declaração Universal dos Diretos Humanos como
mana sejam garantidos, já aparece no preâmbulo constitucional, o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações,
sendo guia de todo documento. com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade,
Denota-se, ainda, a característica da inalienabilidade dos di- tendo sempre em mente esta Declaração, se esforce, através do
reitos humanos, pela qual os direitos humanos não possuem con- ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos
teúdo econômico-patrimonial, logo, são intransferíveis, inegoci- e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter
áveis e indisponíveis, estando fora do comércio, o que evidencia nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e
uma limitação do princípio da autonomia privada. a sua observância universais e efetivos, tanto entre os povos dos
82 MIRANDA, Jorge (Coord.). Estudos sobre a constituição. próprios Estados-Membros, quanto entre os povos dos territórios
Lisboa: Petrony, 1978. sob sua jurisdição.
Didatismo e Conhecimento 49
NOÇÕES DE DIREITO
A Assembleia Geral é o principal órgão deliberativo das Na- Na primeira parte do artigo estatui-se que não basta a igual-
ções Unidas, no qual há representatividade de todos os membros e dade formal perante a lei, mas é preciso realizar esta igualdade de
por onde passam inúmeros tratados internacionais. forma a ser possível que todo homem atinja um grau satisfatório
de dignidade.
Artigo I Neste sentido, as discriminações legais asseguram a verdadei-
Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direi- ra igualdade, por exemplo, com as ações afirmativas, a proteção
tos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação especial ao trabalho da mulher e do menor, as garantias aos porta-
umas às outras com espírito de fraternidade. dores de deficiência, entre outras medidas que atribuam a pessoas
O primeiro artigo da Declaração é altamente representativo, com diferentes condições, iguais possibilidades, protegendo e res-
trazendo diversos conceitos chaves de todo o documento: peitando suas diferenças.
a) Princípios da universalidade, presente na palavra todos, que
se repete no documento inteiro, pelo qual os direitos humanos per-
Artigo II
tencem a todos e por isso se encontram ligados a um sistema global
(ONU), o que impede o retrocesso. Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liber-
Na primeira parte do artigo estatui-se que não basta a igual- dades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer
dade formal perante a lei, mas é preciso realizar esta igualdade de espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política
forma a ser possível que todo homem atinja um grau satisfatório ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nasci-
de dignidade. Neste sentido, as discriminações legais asseguram mento, ou qualquer outra condição.
a verdadeira igualdade, por exemplo, com as ações afirmativas, a Reforça-se o princípio da igualdade, bem como o da dignidade
proteção especial ao trabalho da mulher e do menor, as garantias da pessoa humana, de forma que todos seres humanos são iguais
aos portadores de deficiência, entre outras medidas que atribuam a independentemente de qualquer condição, possuindo os mesmos
pessoas com diferentes condições, iguais possibilidades, protegen- direitos visando a preservação de sua dignidade.
do e respeitando suas diferenças.83 O dispositivo traz um aspecto da igualdade que impede a
b) Princípio da dignidade da pessoa humana: a dignidade é um distinção entre pessoas pela condição do país ou território a que
atributo da pessoa humana, segundo o qual ela merece todo o res- pertença, o que é importante sob o aspecto de proteção dos refu-
peito por parte dos Estados e dos demais indivíduos, independen- giados, prisioneiros de guerra, pessoas perseguidas politicamente,
temente de qualquer fator como aparência, religião, sexualidade, nacionais de Estados que não cumpram os preceitos das Nações
condição financeira. Todo ser humano é digno e, por isso, possui Unidas. Não obstante, a discriminação não é proibida apenas quan-
direitos que visam garantir tal dignidade. to a indivíduos, mas também quanto a grupos humanos, sejam for-
c) Dimensões de direitos humanos: tradicionalmente, os direi-
mados por classe social, etnia ou opinião em comum86.
tos humanos dividem-se em três dimensões, cada qual representa-
tiva de um momento histórico no qual se evidenciou a necessidade “A Declaração reconhece a capacidade de gozo indistinto dos
de garantir direitos de certa categoria. A primeira dimensão, pre- direitos e liberdades assegurados a todos os homens, e não apenas
sente na expressão livres, refere-se aos direitos civis e políticos, os a alguns setores ou atores sociais. Garantir a capacidade de gozo,
quais garantem a liberdade do homem no sentido de não ingerência no entanto, não é suficiente para que este realmente se efetive. É
estatal e de participação nas decisões políticas, evidenciados his- fundamental aos ordenamentos jurídicos próprios dos Estados via-
toricamente com as Revoluções Americana e Francesa. A segunda bilizar os meios idôneos a proporcionar tal gozo, a fim de que se
dimensão, presente na expressão iguais, refere-se aos direitos eco- perfectibilize, faticamente, esta garantia. Isto se dá não somente
nômicos, sociais e culturais, os quais garantem a igualdade mate- com a igualdade material diante da lei, mas também, e principal-
rial entre os cidadãos exigindo prestações positivas estatais nesta mente, através do reconhecimento e respeito das desigualdades
direção, por exemplo, assegurando direitos trabalhistas e de saúde, naturais entre os homens, as quais devem ser resguardadas pela
possuindo como antecedente histórico a Revolução Industrial. A ordem jurídica, pois é somente assim que será possível propiciar a
terceira dimensão, presente na expressão fraternidade, refere-se ao aludida capacidade de gozo a todos”87.
necessário olhar sobre o mundo como um lugar de todos, no qual
cada qual deve reconhecer no outro seu semelhante, digno de di- Artigo III
reitos, olhar este que também se lança para as gerações futuras, por Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança
exemplo, com a preservação do meio ambiente e a garantia da paz pessoal.
social, sendo o marco histórico justamente as Guerras Mundiais.84
Segundo Lenza88, “abrange tanto o direito de não ser morto,
Assim, desde logo a Declaração estabelece seus parâmetros funda-
privado da vida, portanto, direito de continuar vivo, como também
mentais, com esteio na Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão de 1789 e na Constituição Francesa de 1791, quais sejam o direito de ter uma vida digna”. Na primeira esfera, enquadram-se
igualdade, liberdade e fraternidade. Embora os direitos de 1ª, 2ª e questões como pena de morte, aborto, pesquisas com células-tron-
3ª dimensão, que se baseiam nesta tríade, tenham surgido de forma co, eutanásia, entre outras polêmicas. Na segunda esfera, notam-
paulatina, devem ser considerados em conjunto proporcionando a -se desdobramentos como a proibição de tratamentos indignos, a
plena realização do homem85. exemplo da tortura, dos trabalhos forçados, etc.
86 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à
83 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração Declaração Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium,
Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008. 2008.
84 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Tradução Celso 87 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração
Lafer. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008.
85 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração 88 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional
Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008. esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
Didatismo e Conhecimento 50
NOÇÕES DE DIREITO
A vida humana é o centro gravitacional no qual orbitam todos Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes
os direitos da pessoa humana, possuindo reflexos jurídicos, políti- (Resolução n° 39/46 da Assembleia Geral das Nações Unidas) foi
cos, econômicos, morais e religiosos. Daí existir uma dificuldade estabelecida em 10 de dezembro de 1984 e ratificada pelo Brasil
em conceituar o vocábulo vida. Logo, tudo aquilo que uma pessoa em 28 de setembro de 1989. Em destaque, o artigo 1 da referida
possui deixa de ter valor ou sentido se ela perde a vida. Sendo Convenção:
assim, a vida é o bem principal de qualquer pessoa, é o primeiro
valor moral de todos os seres humanos. Trata-se de um direito que Artigo 1º, Convenção da ONU contra Tortura e Outros Trata-
pode ser visto em 4 aspectos, quais sejam: a) direito de nascer; b) mentos ou Penas Cruéis
direito de permanecer vivo; c) direito de ter uma vida digna quanto 1. Para os fins da presente Convenção, o termo “tortura” de-
à subsistência e; d) direito de não ser privado da vida através da signa qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos agudos, físicos
pena de morte89. ou mentais, são infligidos intencionalmente a uma pessoa a fim de
Por sua vez, o direito à liberdade é posto como consectário obter, dela ou de uma terceira pessoa, informações ou confissões;
do direito à vida, pois ela depende da liberdade para o desenvol- de castigá-la por ato que ela ou uma terceira pessoa tenha come-
vimento intelectual e moral. Assim, “[...] liberdade é assim a fa- tido ou seja suspeita de ter cometido; de intimidar ou coagir esta
culdade de escolher o próprio caminho, sendo um valor inerente à pessoa ou outras pessoas; ou por qualquer motivo baseado em
dignidade do ser, uma vez que decorre da inteligência e da volição, discriminação de qualquer natureza; quando tais dores ou sofri-
duas características da pessoa humana”90. mentos são infligidos por um funcionário público ou outra pessoa
O direito à segurança pessoal é o direito de viver sem medo, no exercício de funções públicas, ou por sua instigação, ou com
protegido pela solidariedade e liberto de agressões, logo, é uma o seu consentimento ou aquiescência. Não se considerará como
maneira de garantir o direito à vida91. tortura as dores ou sofrimentos que sejam consequência unica-
mente de sanções legítimas, ou que sejam inerentes a tais sanções
Artigo IV ou delas decorram.
Ninguém será mantido em escravidão ou servidão, a escra- 2. O presente Artigo não será interpretado de maneira a res-
vidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas tringir qualquer instrumento internacional ou legislação nacional
formas. que contenha ou possa conter dispositivos de alcance mais amplo.
“O trabalho escravo não se confunde com o trabalho servil.
A escravidão é a propriedade plena de um homem sobre o outro. Artigo VI
Consiste na utilização, em proveito próprio, do trabalho alheio. Toda pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares, reco-
Os escravos eram considerados seres humanos sem personalida- nhecida como pessoa perante a lei.
de, mérito ou valor. A servidão, por seu turno, é uma alienação “Afinal, se o Direito existe em função da pessoa humana, será
relativa da liberdade de trabalho através de um pacto de prestação ela sempre sujeito de direitos e de obrigações. Negar-lhe a per-
de serviços ou de uma ligação absoluta do trabalhador à terra, já sonalidade, a aptidão para exercer direitos e contrair obrigações,
que a servidão era uma instituição típica das sociedades feudais. equivale a não reconhecer sua própria existência. [...] O reconheci-
A servidão, representava a espinha dorsal do feudalismo. O servo mento da personalidade jurídica é imprescindível à plena realiza-
pagava ao senhor feudal uma taxa altíssima pela utilização do solo, ção da pessoa humana. Trata-se de garantir a cada um, em todos os
que superava a metade da colheita”92. lugares, a possibilidade de desenvolvimento livre e isonômico”93.
A abolição da escravidão foi uma luta histórica em todo o glo- O sistema de proteção de direitos humanos estabelecido no
bo. Seria totalmente incoerente quanto aos princípios da liberdade, âmbito da Organização das Nações Unidas é global, razão pela
da igualdade e da dignidade se admitir que um ser humano pudesse qual não cabe o seu desrespeito em qualquer localidade do mundo.
ser submetido ao outro, ser tratado como coisa. O ser humano não Por isso, um estrangeiro que visite outro país não pode ter seus
possui valor financeiro e nem serve ao domínio de outro, razão direitos humanos violados, independentemente da Constituição
pela qual a escravidão não pode ser aceita. daquele país nada prever a respeito dos direitos dos estrangeiros.
A pessoa humana não perde tal caráter apenas por sair do territó-
Artigo V rio de seu país. Em outras palavras, denota-se uma das facetas do
Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou cas- princípio da universalidade.
tigo cruel, desumano ou degradante.
Tortura é a imposição de dor física ou psicológica por cruel- Artigo VII
dade, intimidação, punição, para obtenção de uma confissão, in- Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer dis-
formação ou simplesmente por prazer da pessoa que tortura. A tinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção
tortura é uma espécie de tratamento ou castigo cruel, desumano contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e
ou degradante. A Convenção das Nações Unidas contra a Tortura e contra qualquer incitamento a tal discriminação.
89 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração Um dos desdobramentos do princípio da igualdade refere-se à
Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008. igualdade perante à lei. Toda lei é dotada de caráter genérico e abs-
90 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração trato que evidencia não aplicar-se a uma pessoa determinada, mas
Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008. sim a todas as pessoas que venham a se encontrar na situação por
91 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração ela descrita. Não significa que a legislação não possa estabelecer,
Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008. em abstrato, regras especiais para um grupo de pessoas desfavo-
92 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração 93 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração
Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008. Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008.
Didatismo e Conhecimento 51
NOÇÕES DE DIREITO
recido socialmente, direcionando ações afirmativas, por exemplo, Artigo XI
aos deficientes, às mulheres, aos pobres - no entanto, todas estas 1. Toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o direito de
ações devem respeitar a proporcionalidade e a razoabilidade (prin- ser presumida inocente até que a sua culpabilidade tenha sido
cípio da igualdade material). provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe
tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua de-
Artigo VIII fesa.
Toda pessoa tem direito a receber dos tributos nacionais com- O princípio da presunção de inocência ou não culpabilidade
petentes remédio efetivo para os atos que violem os direitos fun- liga-se ao direito à liberdade. Antes que ocorra a condenação cri-
damentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela minal transitada em julgado, isto é, processada até o último recurso
lei. interposto pelo acusado, este deve ser tido como inocente. Durante
Não basta afirmar direitos, é preciso conferir meios para o processo penal, o acusado terá direito ao contraditório e à ampla
garanti-los. Ciente disto, a Declaração traz aos Estados-partes o defesa, bem como aos meios e recursos inerentes a estas garantias,
dever de estabelecer em suas legislações internas instrumentos e caso seja condenado ao final poderá ser considerado culpado. A
para proteção dos direitos humanos. Geralmente, nos textos cons- razão é que o estado de inocência é inerente ao ser humano até que
titucionais são estabelecidos os direitos fundamentais e os instru- ele viole direito alheio, caso em que merecerá sanção.
mentos para protegê-los, por exemplo, o habeas corpus serve à “Através desse princípio verifica-se a necessidade de o Estado
proteção do direito à liberdade de locomoção. comprovar a culpabilidade do indivíduo presumido inocente. Está
diretamente relacionado à questão da prova no processo penal que
Artigo IX deve ser validamente produzida para ao final do processo condu-
Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado. zir a culpabilidade do indivíduo admitindo-se a aplicação das pe-
Prisão e detenção são formas de impedir que a pessoa saia de nas previamente cominadas. Entretanto, a presunção de inocência
um estabelecimento sob tutela estatal, privando-a de sua liberdade não afasta a possibilidade de medidas cautelares como as prisões
de locomoção. Exílio é a expulsão ou mudança forçada de uma provisórias, busca e apreensão, quebra de sigilo como medidas
pessoa do país, sendo assim também uma forma de privar a pessoa de caráter excepcional cujos requisitos autorizadores devem estar
de sua liberdade de locomoção em um determinado território. Ne- previstos em lei”95.
nhuma destas práticas é permitida de forma arbitrária, ou seja, sem 2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omis-
o respeito aos requisitos previstos em lei. são que, no momento, não constituíam delito perante o direito
Não significa que em alguns casos não seja aceita a privação nacional ou internacional. Tampouco será imposta pena mais
de liberdade, notadamente quando o indivíduo tiver praticado um forte do que aquela que, no momento da prática, era aplicável
ato que comprometa a segurança ou outro direito fundamental de ao ato delituoso.
outra pessoa. Evidencia-se o princípio da irretroatividade da lei penal in
pejus (para piorar a situação do acusado) pelo qual uma lei penal
Artigo X elaborada posteriormente não pode se aplicar a atos praticados no
Toda pessoa tem direito, em plena igualdade, a uma audiên- passado - nem para um ato que não era considerado crime passar a
cia justa e pública por parte de um tribunal independente e im- ser, nem para que a pena de um ato que era considerado crime seja
parcial, para decidir de seus direitos e deveres ou do fundamento aumentada. Evidencia não só o respeito à liberdade, mas também
de qualquer acusação criminal contra ele. - e principalmente - à segurança jurídica.
“De acordo com a ordem que promana do preceito acima re-
produzido, as pessoas têm a faculdade de exigir um pronuncia- Artigo XII
mento do Poder Judiciário, acerca de seus direitos e deveres postos Ninguém será sujeito a interferências na sua vida privada,
em litígio ou do fundamento de acusação criminal, realizado sob o na sua família, no seu lar ou na sua correspondência, nem a ata-
amparo dos princípios da isonomia, do devido processo legal, da ques à sua honra e reputação. Toda pessoa tem direito à proteção
publicidade dos atos processuais, da ampla defesa e do contraditó- da lei contra tais interferências ou ataques.
rio e da imparcialidade do juiz”94. A proteção aos direitos à privacidade e à personalidade se
Em outras palavras não é possível juízo ou tribunal de exce- enquadra na primeira dimensão de direitos fundamentais no que
ção, ou seja, um juízo especialmente delegado para o julgamento tange à proteção à liberdade. Enfim, o exercício da liberdade lega-
do caso daquela pessoa. O juízo deve ser escolhido imparcialmen- -se também às limitações a este exercício: de que adianta ser ple-
te, de acordo com as regras de organização judiciária que valem namente livre se a liberdade de um interfere na liberdade - e nos
para todos. Não obstante, o juízo deve ser independente, isto é, direitos inerentes a esta liberdade - do outro.
poder julgar independentemente de pressões externas para que o “O direito à intimidade representa relevante manifestação dos
julgamento se dê num ou noutro sentido. O juízo também deve ser direitos da personalidade e qualifica-se como expressiva prerro-
imparcial, não possuindo amizade ou inimizade em graus relevan- gativa de ordem jurídica que consiste em reconhecer, em favor
tes para com o acusado. Afinal, o direito à liberdade é consagrado da pessoa, a existência de um espaço indevassável destinado a
e para que alguém possa ser privado dela por uma condenação protegê-la contra indevidas interferências de terceiros na esfera de
criminal é preciso que esta se dê dentro dos trâmites legais, sem sua vida privada”96.
violar direitos humanos do acusado. 95 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração
Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008.
94 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração 96 MOTTA, Sylvio; BARCHET, Gustavo. Curso de direito
Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008. constitucional. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.
Didatismo e Conhecimento 52
NOÇÕES DE DIREITO
Reforçando a conexão entre a privacidade e a intimidade, ao O direito dos refugiados é o que envolve a garantia de asilo
abordar a proteção da vida privada - que, em resumo, é a privacida- fora do território do qual é nacional por algum dos motivos especi-
de da vida pessoal no âmbito do domicílio e de círculos de amigos ficados em normas de direitos humanos, notadamente, perseguição
-, Silva97 entende que “o segredo da vida privada é condição de ex- por razões de raça, religião, nacionalidade, pertença a um grupo
pansão da personalidade”, mas não caracteriza os direitos de perso- social determinado ou convicções políticas. Diversos documentos
nalidade em si. “O direito à honra distancia-se levemente dos dois internacionais disciplinam a matéria, a exemplo da Declaração
anteriores, podendo referir-se ao juízo positivo que a pessoa tem Universal de 1948, Convenção de 1951 relativa ao Estatuto dos
de si (honra subjetiva) e ao juízo positivo que dela fazem os outros Refugiados, Quarta Convenção de Genebra Relativa à Proteção
(honra objetiva), conferindo-lhe respeitabilidade no meio social.
das Pessoas Civis em Tempo de Guerra de 1949, Convenção rela-
O direito à imagem também possui duas conotações, podendo ser
tiva ao Estatuto dos Apátridas de 1954, Convenção sobre a Redu-
entendido em sentido objetivo, com relação à reprodução gráfica
da pessoa, por meio de fotografias, filmagens, desenhos, ou em ção da Apatridia de 1961 e Declaração das Nações Unidas sobre a
sentido subjetivo, significando o conjunto de qualidades cultivadas Concessão de Asilo Territorial de 1967. Não obstante, a constitui-
pela pessoa e reconhecidas como suas pelo grupo social”98. ção brasileira adota a concessão de asilo político como um de seus
O artigo também abrange a proteção ao domicílio, local no princípios nas relações internacionais (art. 4º, X, CF).
qual a pessoa deseja manter sua privacidade e pode desenvolver “A prática de conceder asilo em terras estrangeiras a pessoas
sua personalidade; e à correspondência, enviada ao seu lar uni- que estão fugindo de perseguição é uma das características mais
camente para sua leitura e não de terceiros, preservando-se sua antigas da civilização. Referências a essa prática foram encontra-
privacidade. das em textos escritos há 3.500 anos, durante o florescimento dos
antigos grandes impérios do Oriente Médio, como o Hitita, Babi-
Artigo XIII lônico, Assírio e Egípcio antigo.
1. Toda pessoa tem direito à liberdade de locomoção e resi- Mais de três milênios depois, a proteção de refugiados foi
dência dentro das fronteiras de cada Estado. estabelecida como missão principal da agência de refugiados da
Não há limitações ao direito de locomoção dentro do próprio
ONU, que foi constituída para assistir, entre outros, os refugiados
Estado, nem ao direito de residir. Vale lembrar que a legislação
interna pode estabelecer casos em que tal direito seja relativizado, que esperavam para retornar aos seus países de origem no final da
por exemplo, obrigando um funcionário público a residir no muni- II Guerra Mundial.
cípio em que está sediado ou impedindo o ingresso numa área de A Convenção de Refugiados de 1951, que estabeleceu o AC-
interesse estatal. NUR, determina que um refugiado é alguém que ‘temendo ser per-
São exceções à liberdade de locomoção: decisão judicial que seguida por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social
imponha pena privativa de liberdade ou limitação da liberdade, ou opiniões políticas, se encontra fora do país de sua nacionalidade
normas administrativas de controle de vias e veículos, limitações e que não pode ou, em virtude desse temor, não quer valer-se da
para estrangeiros em certas regiões ou áreas de segurança nacional proteção desse país’.
e qualquer situação em que o direito à liberdade deva ceder aos Desde então, o ACNUR tem oferecido proteção e assistência
interesses públicos99. para dezenas de milhões de refugiados, encontrando soluções du-
2. Toda pessoa tem o direito de deixar qualquer país, inclusi- radouras para muitos deles. Os padrões da migração se tornaram
ve o próprio, e a este regressar. cada vez mais complexos nos tempos modernos, envolvendo não
A nacionalidade é um direito humano, assim como a liberdade
apenas refugiados, mas também milhões de migrantes econômi-
de locomoção. Destaca-se que o artigo não menciona o direito de
entrar em qualquer país, mas sim o de deixá-lo. cos. Mas refugiados e migrantes, mesmo que viajem da mesma
forma com frequência, são fundamentalmente distintos, e por esta
Artigo XIV razão são tratados de maneira muito diferente perante o direito in-
1.Toda pessoa, vítima de perseguição, tem o direito de procu- ternacional moderno.
rar e de gozar asilo em outros países. Migrantes, especialmente migrantes econômicos, decidem
2. Este direito não pode ser invocado em caso de perseguição deslocar-se para melhorar as perspectivas para si mesmos e para
legitimamente motivada por crimes de direito comum ou por atos suas famílias. Já os refugiados necessitam deslocar-se para salvar
contrários aos propósitos e princípios das Nações Unidas. suas vidas ou preservar sua liberdade. Eles não possuem proteção
O direito de asilo serve para proteger uma pessoa perseguida de seu próprio Estado e de fato muitas vezes é seu próprio governo
por suas opiniões políticas, situação racial, convicções religiosas que ameaça persegui-los. Se outros países não os aceitarem em
ou outro motivo político em seu país de origem, permitindo que ela seus territórios, e não os auxiliarem uma vez acolhidos, poderão
requeira perante a autoridade de outro Estado proteção. Claro, não estar condenando estas pessoas à morte ou à uma vida insuportável
se protege aquele que praticou um crime comum em seu país e fu-
nas sombras, sem sustento e sem direitos”100.
giu para outro, caso em que deverá ser extraditado para responder
As Nações Unidas101 descrevem sua participação no histórico
pelo crime praticado.
do direito dos refugiados no mundo:
97 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional 100 http://www.acnur.org/t3/portugues/a-quem-ajudamos/
positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006. refugiados/
98 MOTTA, Sylvio; BARCHET, Gustavo. Curso de direito 101 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS - ONU.
constitucional. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. Direitos Humanos e Refugiados. Ficha normativa nº 20.
99 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração Disponível em: <http://www.gddc.pt/direitos-humanos/Ficha_
Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008. Informativa_20.pdf >. Acesso em: 13 jun. 2013.
Didatismo e Conhecimento 53
NOÇÕES DE DIREITO
“Desde a sua criação, a Organização das Nações Unidas tem no território do pais por um longo período de tempo dá direito à
dedicado os seus esforços à proteção dos refugiados no mundo. naturalização, abrindo mão da nacionalidade anterior para incor-
Em 1951, data em que foi criado o Alto Comissariado das Na- porar a nova.
ções Unidas para os Refugiados (ACNUR), havia um milhão de
refugiados sob a sua responsabilidade. Hoje este número aumen- Artigo XVI
tou para 17,5 milhões, para além dos 2,5 milhões assistidos pelo 1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer restri-
Organismo das Nações Unidas das Obras Públicas e Socorro aos ção de raça, nacionalidade ou religião, têm o direito de contrair
Refugiados da Palestina, no Próximo Oriente (ANUATP), e ainda matrimônio e fundar uma família. Gozam de iguais direitos em
mais de 25 milhões de pessoas deslocadas internamente. Em 1951, relação ao casamento, sua duração e sua dissolução.
a maioria dos refugiados eram Europeus. Hoje, a maior parte é 2. O casamento não será válido senão com o livre e pleno
proveniente da África e da Ásia. Atualmente, os movimentos de consentimento dos nubentes.
refugiados assumem cada vez mais a forma de êxodos maciços, O casamento, como todas as instituições sociais, varia com
diferentemente das fugas individuais do passado. Hoje, oitenta por o tempo e os povos, que evoluem e adquirem novas culturas. Há
cento dos refugiados são mulheres e crianças. Também as causas quem o defina como um ato, outros como um contato. Basicamen-
dos êxodos se multiplicaram, incluindo agora as catástrofes natu- te, casamento é a união, devidamente formalizada conforme a lei,
rais ou ecológicas e a extrema pobreza. Daí que muitos dos atuais com a finalidade de construir família. A principal finalidade do ca-
refugiados não se enquadrem na definição da Convenção relativa samento é estabelecer a comunhão plena de vida, impulsionada
ao Estatuto dos Refugiados. Esta Convenção refere-se a vítimas de pelo amor e afeição existente entre o casal e baseada na igualdade
perseguição por razões de raça, religião, nacionalidade, pertença a de direitos e deveres dos cônjuges e na mútua assistência.102 Não
um grupo social determinado ou convicções políticas. [...] é aceitável o casamento que se estabeleça à força para algum dos
Existe uma relação evidente entre o problema dos refugiados nubentes, sendo exigido o livre e pleno consentimento de ambos.
e a questão dos direitos humanos. As violações dos direitos huma- Não obstante, é coerente que a lei traga limitações como a idade,
nos constituem não só uma das principais causas dos êxodos ma- pois o casamento é uma instituição séria, base da família, e somen-
ciços, mas afastam também a opção do repatriamento voluntário te a maturidade pode permitir compreender tal importância.
enquanto se verificarem. As violações dos direitos das minorias
e os conflitos étnicos encontram-se cada vez mais na origem quer Artigo XVII
dos êxodos maciços, quer das deslocações internas. [...] 1. Toda pessoa tem direito à propriedade, só ou em sociedade
Na sua segunda sessão, no final de 1946, a Assembleia Geral com outros.
criou a Organização Internacional para os Refugiados (OIR), que
2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade.
assumiu as funções da Agência das Nações Unidas para a Assistên-
“Toda pessoa [...] tem direito à propriedade, podendo o or-
cia e a Reabilitação (ANUAR). Foi investida no mandato temporá-
denamento jurídico estabelecer suas modalidades de aquisição,
rio de registrar, proteger, instalar e repatriar refugiados. [...] Cedo
perda, uso e limites. O direito de propriedade, constitucionalmente
se tornou evidente que a responsabilidade pelos refugiados mere-
assegurado, garante que dela ninguém poderá ser privado arbitra-
cia um maior esforço da comunidade internacional, a desenvolver
riamente [...]”103. O direito à propriedade se insere na primeira di-
sob os auspícios da própria Organização das Nações Unidas. As-
mensão de direitos humanos, garantindo que cada qual tenha bens
sim, muito antes de terminar o mandato da OIR, iniciaram-se as
materiais justamente adquiridos, respeitada a função social.
discussões sobre a criação de uma organização que lhe pudesse
suceder.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados Artigo XVIII
(ACNUR) Na sua Resolução 319 A (IV) de 3 de Dezembro de Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, cons-
1949, a Assembleia Geral decidiu criar o Alto Comissariado das ciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de
Nações Unidas para os Refugiados. O Alto Comissariado foi insti- religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou
tuído em 1 de Janeiro de 1951, como órgão subsidiário da Assem- crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância,
bleia Geral, com um mandato inicial de três anos. Desde então, o isolada ou coletivamente, em público ou em particular.
mandato do ACNUR tem sido renovado por períodos sucessivos Silva104 aponta que a liberdade de pensamento, que também
de cinco anos [...]”. pode ser chamada de liberdade de opinião, é considerada pela dou-
trina como a liberdade primária, eis que é ponto de partida de todas
Artigo XV as outras, e deve ser entendida como a liberdade da pessoa adotar
1. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade. determinada atitude intelectual ou não, de tomar a opinião pública
2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalida- que crê verdadeira. Tal opinião pública se refere a diversos aspec-
de, nem do direito de mudar de nacionalidade. tos, entre eles religião e crença.
Nacionalidade é o vínculo jurídico-político que liga um indi- 102 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro.
víduo a determinado Estado, fazendo com que ele passe a integrar 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. v. 6.
o povo daquele Estado, desfrutando assim de direitos e obrigações. 103 MORAES, Alexandre de. Direitos humanos
Não é aceita a figura do apátrida ou heimatlos, o indivíduo que não fundamentais: teoria geral, comentários aos artigos 1º a 5º da
possui nenhuma nacionalidade. Constituição da República Federativa do Brasil, doutrina e
É possível mudar de nacionalidade nas situações previstas em jurisprudência. São Paulo: Atlas, 1997.
lei, naturalizando-se como nacional de outro Estado que não aque- 104 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional
le do qual originalmente era nacional. Geralmente, a permanência positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006.
Didatismo e Conhecimento 54
NOÇÕES DE DIREITO
A liberdade de religião atrela-se à liberdade de consciência dão designava originalmente o habitante da cidade. Com a conso-
e à liberdade de pensamento, mas o inverso não ocorre, porque é lidação da sociedade burguesa, passa a indicar a ação política e a
possível existir liberdade de pensamento e consciência desvincu- participação do sujeito na vida da sociedade”108.
lada de cunho religioso. Aliás, a liberdade de consciência também Democracia (do grego, demo+kratos) é um regime de governo
concretiza a liberdade de ter ou não ter religião, ter ou não ter opi- em que o poder de tomar decisões políticas está com os cidadãos,
nião político-partidária ou qualquer outra manifestação positiva ou de forma direta (quando um cidadão se reúne com os demais e,
negativa da consciência105. juntos, eles tomam a decisão política) ou indireta (quando ao ci-
No que tange à exteriorização da liberdade de religião, ou dadão é dado o poder de eleger um representante). Uma democra-
seja, à liberdade de expressão religiosa, não é devida nenhuma per- cia pode existir num sistema presidencialista ou parlamentarista,
seguição, assim como é garantido o direito de praticá-la em grupo republicano ou monárquico - somente importa que seja dado aos
ou individualmente. cidadãos o poder de tomar decisões políticas (por si só ou por seu
representante eleito), nos termos que este artigo da Declaração
Artigo XIX prevê. A principal classificação das democracias é a que distingue
Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; a direta da indireta - a) direta, também chamada de pura, na qual
este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e o cidadão expressa sua vontade por voto direto e individual em
de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quais- casa questão relevante; b) indireta, também chamada represen-
quer meios e independentemente de fronteiras. tativa, em que os cidadãos exercem individualmente o direito de
Silva106 entende que a liberdade de expressão pode ser vista voto para escolher representante(s) e aquele(s) que for(em) mais
sob diversos enfoques, como o da liberdade de comunicação, ou escolhido(s) representa(m) todos os eleitores.
liberdade de informação, que consiste em um conjunto de direitos, Não obstante, se introduz a dimensão do Estado Social, de
formas, processos e veículos que viabilizam a coordenação livre forma que ao cidadão é garantida a prestação de serviços públicos.
da criação, expressão e difusão da informação e do pensamento. Isto se insere na segunda dimensão de direitos humanos, referentes
Contudo, o a manifestação do pensamento não pode ocorrer de aos direitos econômicos, sociais e culturais - sem os quais não se
forma ilimitada, devendo se pautar na verdade e no respeito dos consolida a igualdade material.
direitos à honra, à intimidade e à imagem dos demais membros da
sociedade. Artigo XXII
Toda pessoa, como membro da sociedade, tem direito à se-
Artigo XX
gurança social e à realização, pelo esforço nacional, pela coo-
1. Toda pessoa tem direito à liberdade de reunião e associa-
peração internacional e de acordo com a organização e recursos
ção pacíficas.
de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais in-
O direito de reunião pode ser exercido independentemente de
dispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua
autorização estatal, mas deve se dar de maneira pacífica, por exem-
personalidade.
plo, sem utilização de armas.
Direitos econômicos, sociais e culturais compõem a segunda
2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associa-
dimensão de direitos fundamentais. O Pacto internacional de Di-
ção.
Por sua vez, “a liberdade de associação para fins lícitos, veda- reitos Econômicos, Sociais e Culturais de 1966 é o documento que
da a de caráter paramilitar, é plena. Portanto, ninguém poderá ser especifica e descreve tais direitos. de uma maneira geral, são direi-
compelido a associar-se e, uma vez associado, será livre, também, tos que não dependem puramente do indivíduo para a implementa-
para decidir se permanece associado ou não”107. ção, exigindo prestações positivas estatais, geralmente externadas
por políticas públicas (escolhas políticas a respeito de áreas que
Artigo XXI necessitam de investimento maior ou menos para proporcionar
1. Toda pessoa tem o direito de tomar parte no governo de um bom índice de desenvolvimento social, diminuindo desigual-
seu país, diretamente ou por intermédio de representantes livre- dades). Entre outros direitos, envolvem o trabalho, a educação, a
mente escolhidos. saúde, a alimentação, a moradia, o lazer, etc. Como são inúmeras
2. Toda pessoa tem igual direito de acesso ao serviço público as áreas que necessitam de investimento estatal, naturalmente o
do seu país. atendimento a estes direitos se dá de maneira gradual.
3. A vontade do povo será a base da autoridade do governo;
esta vontade será expressa em eleições periódicas e legítimas, por Artigo XXIII
sufrágio universal, por voto secreto ou processo equivalente que 1. Toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha de
assegure a liberdade de voto. emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção
“Na sociedade moderna, nascida de transformações que cul- contra o desemprego.
minaram na Revolução Francesa, o indivíduo é visto como homem 2. Toda pessoa, sem qualquer distinção, tem direito a igual
(pessoa privada) e como cidadão (pessoa pública). O termo cida- remuneração por igual trabalho.
105 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração 3. Toda pessoa que trabalhe tem direito a uma remuneração
Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008. justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família,
106 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional uma existência compatível com a dignidade humana, e a que se
positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006. acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social.
107 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional 108 SCHLESENER, Anita Helena. Cidadania e política. In:
esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. CARDI, Cassiano; et. al. Para filosofar. São Paulo: Scipione, 2000.
Didatismo e Conhecimento 55
NOÇÕES DE DIREITO
4. Toda pessoa tem direito a organizar sindicatos e neles in- O ideal é que todas as pessoas possuam um padrão de vida
gressar para proteção de seus interesses. suficiente para garantir sua dignidade em todas as esferas: alimen-
O trabalho é um instrumento fundamental para assegurar a tação, vestuário, moradia, saúde, etc. Bem se sabe que é um obje-
todos uma existência digna: de um lado por proporcionar a remu- tivo constante do Estado Democrático de Direito proporcionar que
neração com a qual a pessoa adquirirá bens materiais para sua sub- pessoas cheguem o mais próximo possível - e cada vez mais - desta
sistência, de outro por gerar por si só o sentimento de importância circunstância.
para a sociedade por parte daquele que faz algo útil nela. No en- Fala-se em segurança no sentido de segurança pública, de de-
tanto, a geração de empregos não se dá automaticamente, cabendo ver do Estado de preservar a ordem pública e a incolumidade das
aos Estados desenvolverem políticas econômicas para diminuir os pessoas e do patrimônio público e privado110. Neste conceito en-
índices de desemprego o máximo possível. quadra-se a seguridade social, na qual o Estado, custeado pela co-
A remuneração é a retribuição financeira pelo trabalho rea- letividade e pelos cofres públicos, garante a manutenção financeira
lizado. Nesta esfera também é necessário o respeito ao princípio dos que por algum motivo não possuem condição de trabalhar.
da igualdade, por não ser justo que uma pessoa que desempenhe 2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e as-
sistência especiais. Todas as crianças nascidas dentro ou fora do
as mesmas funções que a outra receba menos por um fator exter-
matrimônio, gozarão da mesma proteção social.
no, característico dela, como sexo ou raça. No âmbito do serviço
A proteção da maternidade tem sentido porque sem isto o
público é mais fácil controlar tal aspecto, mas são inúmeras as
mundo não continua. É preciso que as crianças sejam protegidas
empresas privadas que pagam menor salário a mulheres e que não com atenção especial para que se tornem adultos capazes de pro-
chegam a ser levadas à justiça por isso. Não obstante, a remune- porcionar uma melhora no planeta.
ração deve ser suficiente para proporcionar uma existência digna,
com o necessário para manter assegurados ao menos minimamente Artigo XXVI
todos os direitos humanos previstos na Declaração. 1. Toda pessoa tem direito à instrução. A instrução será gra-
Os sindicatos são bastante comuns na seara trabalhista e, tuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instru-
como visto, a todos é garantida a liberdade de associação, não po- ção elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional
dendo ninguém ser impedido ou forçado a ingressar ou sair de um será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta base-
sindicato. ada no mérito.
2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvi-
Artigo XXIV mento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito
Toda pessoa tem direito a repouso e lazer, inclusive a limi- pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. A ins-
tação razoável das horas de trabalho e férias periódicas remu- trução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre
neradas. todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as
Por mais que o trabalho seja um direito humano, nem somente atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz.
dele é feita a vida de uma pessoa. Desta forma, assegura-se horá- 3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de
rios livres para que a pessoa desfrute de momentos de lazer e des- instrução que será ministrada a seus filhos.
canso, bem como impede-se a fixação de uma jornada de trabalho A Declaração Universal de 1948 divide a disponibilidade e
muito exaustiva. São medidas que asseguram isto a previsão de a obrigatoriedade da educação em níveis. Aquela educação que é
descanso semanal remunerado, a limitação do horário de trabalho, considerada essencial, qual seja, a elementar, deve ser gratuita e
a concessão de férias remuneradas anuais, entre outras. obrigatória. Já a educação fundamental, de grande importância,
Quanto aos artigos XXIII e XXIV, tem-se que é fornecido deve ser gratuita, mas não é obrigatória. Esta nomenclatura adota-
“[...] um conjunto mínimo de direitos dos trabalhadores. De forma da pela Declaração equipara-se ao ensino fundamental e ao ensino
geral, os dispositivos em comento versam sobre o direito ao traba- médio no Brasil, sendo elementar o primeiro e fundamental o se-
gundo. A educação técnico-profissional refere-se às escolas vol-
lho, principal meio de sobrevivência dos indivíduos que ‘vendem’
tadas ao ensino de algum ofício, não complexo a ponto de exigir
força de trabalho em troca de uma remuneração justa. Ademais,
formação superior e, justamente por isso, possuem menor duração
estabelecem a liberdade do cidadão de escolher o trabalho e, uma
e menor custo; ao passo que a educação superior é a que se dá no
vez obtido o emprego, o direito de nele encontrar condições justas, âmbito das universidades, formando profissionais de maior espe-
tanto no tocante à remuneração, como no que diz respeito ao limite cialidade numa área profissional, com amplo conhecimento, razão
de horas trabalhadas e períodos de repouso (disposição constante pela qual dura mais tempo e é mais onerosa. As duas últimas são
do artigo XXIV da Declaração). Garantem ainda o direito dos tra- de maior custo e não podem ser instituídas de tal forma que sejam
balhadores de se unirem em associação, com o objetivo de defesa garantidas vagas para todas as pessoas em sociedade, entretanto,
de seus interesses”109. exige-se um critério justo para a seleção dos ingressos, o qual seja
baseado no mérito (os mais capacitados conseguirão as vagas de
Artigo XXV ensino técnico-profissional e superior).
1. Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de asse- Ainda, a Declaração de 1948 deixa clara que a educação não
gurar a si e a sua família saúde e bem estar, inclusive alimentação, envolve apenas o aprendizado do conteúdo programático das ma-
vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indis- térias comuns como matemática, português, história e geografia,
pensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, mas também a compreensão de abordagens sobre assuntos que
invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de possam contribuir para a formação da personalidade da pessoa hu-
subsistência fora de seu controle. mana e conscientizá-la de seu papel social.
109 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração 110 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional
Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008. esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
Didatismo e Conhecimento 56
NOÇÕES DE DIREITO
Não obstante, da parte final da Declaração extrai-se a consci- dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer às justas exigên-
ência de que a educação não é apenas a formal, aprendida nos es- cias da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade
tabelecimentos de ensino, mas também a informal, transmitida no democrática.
ambiente familiar e nas demais áreas de contato da pessoa, como 3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese algu-
igreja, clubes e, notadamente, a residência. Por isso, os pais têm ma, ser exercidos contrariamente aos propósitos e princípios das
um papel direto na escolha dos meios de educação de seus filhos. Nações Unidas.
Explica Canotilho114 que “a ideia de deveres fundamentais é
Artigo XXVII suscetível de ser entendida como o ‘outro lado’ dos direitos funda-
1. Toda pessoa tem o direito de participar livremente da vida mentais. Como ao titular de um direito fundamental corresponde
cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar do pro- um dever por parte de um outro titular, poder-se-ia dizer que o par-
cesso científico e de seus benefícios. ticular está vinculado aos direitos fundamentais como destinatário
2. Toda pessoa tem direito à proteção dos interesses morais de um dever fundamental. Neste sentido, um direito fundamental,
e materiais decorrentes de qualquer produção científica, literária enquanto protegido, pressuporia um dever correspondente”. Esta é
ou artística da qual seja autor. a ideia que a Declaração de 1948 busca trazer: não será assegurada
Os conflitos que se dão entre a liberdade e a propriedade inte- nenhuma liberdade que contrarie a lei ou os demais direitos de
lectual se evidenciam, principalmente, sob o aspecto da liberdade outras pessoas, isto é, os preceitos universais consagrados pelas
de expressão, na esfera específica da liberdade de comunicação ou Nações Unidas.
informação, que, nos dizeres de Silva111, “compreende a liberdade
de informar e a liberdade de ser informado”. Sob o enfoque do Artigo XXX
direito à liberdade e do direito de acesso à cultura, seria livre a Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser in-
divulgação de toda e qualquer informação e o acesso aos dados terpretada como o reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou
disponíveis, independentemente da fonte ou da autoria. De outro pessoa, do direito de exercer qualquer atividade ou praticar qual-
lado, há o direito de propriedade intelectual, o qual possui um ca- quer ato destinado à destruição de quaisquer dos direitos e liber-
ráter dualista: moral, que nunca prescreve porque o autor de uma dades aqui estabelecidos.
obra nunca deixará de ser considerado como tal, e patrimonial, “A colidência entre os direitos afirmados na Declaração é na-
que prescreve, perdendo o autor o direito de explorar benefícios tural. Busca-se com o presente artigo evitar que, no eventual cho-
econômicos de sua obra112. Cada vez mais esta dualidade entre di- que entre duas normas garantistas, os sujeitos nela mencionados
reitos se encontra em conflito, uma vez que a evolução tecnológica se valham de uma interpretação tendente a infirmar qualquer das
trouxe meios para a cópia em massa de conteúdos protegidos pela disposições da Declaração ao argumento de que estão respeitando
propriedade intelectual. um direito em detrimento de outro”115.
Nenhum direito humano é ilimitado: se o fossem, seria im-
Artigo XVIII possível garantir um sistema no qual todas as pessoas tivessem
Toda pessoa tem direito a uma ordem social e internacional tais direitos plenamente respeitados, afinal, estes necessariamente
em que os direitos e liberdades estabelecidos na presente Decla- colidiriam com os direitos das outras pessoas, os quais teriam que
ração possam ser plenamente realizados. ser violados. Este é um dos sentidos do princípio da relatividade
Como já destacado, o sistema de proteção dos direitos huma- dos direitos humanos - os direitos humanos não podem ser utiliza-
nos tem caráter global e cada Estado que assumiu compromisso dos como um escudo para práticas ilícitas ou como argumento para
perante a ONU ao integrá-la deve garantir o respeito a estes di- afastamento ou diminuição da responsabilidade por atos ilícitos,
reitos no âmbito de seu território. Com isso, a pessoa estará numa assim os direitos humanos não são ilimitados e encontram seus li-
ordem social e internacional na qual seus direitos humanos sejam mites nos demais direitos igualmente consagrados como humanos.
assegurados, preservando-se sua dignidade. Em outras palavras, Isto vale tanto para os indivíduos, numa atitude perante os demais,
“devidamente emparelhadas, portanto, a ordem social e a ordem quanto para os Estados, ao externar o compromisso global assumi-
internacional se manifestam, a seu modo, como as duas faces das do perante a ONU.
instituições humanitárias, tanto estatais quanto particulares, orien-
tando seus passos a serviço da comunidade humana”113. Convenção Americana de Direitos Humanos
(Pacto de São José da Costa Rica)
Artigo XXIX
1. Toda pessoa tem deveres para com a comunidade, em que DECRETO n° 678, de 6 de novembro de 1992.
o livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade é possível.
2. No exercício de seus direitos e liberdades, toda pessoa es- Promulga a Convenção Americana sobre Direitos Humanos
tará sujeita apenas às limitações determinadas pela lei, exclusiva- (Pacto de São José da Costa Rica), de 22 de novembro de 1969.
mente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito O VICE-PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no exercício do
111 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional cargo de PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição
positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006. que lhe confere o art. 84, inciso VIII, da Constituição, e
112 PAESANI, Liliana Minardi. Direito e Internet: liberdade 114 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito
de informação, privacidade e responsabilidade civil. 3. ed. São constitucional e teoria da constituição. 2. ed. Coimbra: Almedina,
Paulo: Atlas, 2006. 1998.
113 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração 115 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração
Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008. Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008.
Didatismo e Conhecimento 57
NOÇÕES DE DIREITO
Considerando que a Convenção Americana sobre Direitos Depois do processo de internacionalização dos direitos hu-
Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), adotada no âmbito manos, iniciou-se um processo de regionalização deles, ou seja,
da Organização dos Estados Americanos, em São José da Costa adaptação do conteúdo de cada uma das declarações de direitos até
Rica, em 22 de novembro de 1969, entrou em vigor internacional então proferidas a determinadas regiões do globo.
em 18 de julho de 1978, na forma do segundo parágrafo de seu
art. 74; ANEXO
Considerando que o Governo brasileiro depositou a carta de CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS
adesão a essa convenção em 25 de setembro de 1992; (1969)
Considerando que a Convenção Americana sobre Direitos (PACTO DE SAN JOSÉ DA COSTA RICA)
Humanos (Pacto de São José da Costa Rica) entrou em vigor, para
o Brasil, em 25 de setembro de 1992 , de conformidade com o dis- PREÂMBULO
posto no segundo parágrafo de seu art. 74;
A primeira fase do chamado processo de elaboração dos trata- Os Estados Americanos signatários da presente Convenção,
dos é a negociação. No Brasil, compete à União “manter relações Reafirmando seu propósito de consolidar neste Continente,
com Estados estrangeiros e participar de organizações internacio- dentro do quadro das instituições democráticas, um regime de li-
nais”, nos termos do artigo 21, I da Constituição Federal. O único berdade pessoal e de justiça social, fundado no respeito dos direi-
agente nas relações internacionais com competência exclusiva é o tos humanos essenciais;
Presidente da República, que manterá as relações com o respectivo Reconhecendo que os direitos essenciais da pessoa humana
Estado estrangeiro e celebrará tratados, convenções e atos interna- não derivam do fato de ser ela nacional de determinado Estado,
cionais, que precisam apenas do referendo do Congresso Nacional, mas sim do fato de ter como fundamento os atributos da pessoa
conforme dispõe o artigo 84, VII e VIII da Constituição Federal. O humana, razão por que justificam uma proteção internacional, de
momento seguinte é o da assinatura do tratado por esta autoridade natureza convencional, coadjuvante ou complementar da que ofe-
competente. Contudo, a exigibilidade dos tratados depende de atos rece o direito interno dos Estados americanos;
posteriores. A colaboração entre os Poderes Executivo e Legislati- Considerando que esses princípios foram consagrados na
vo é indispensável para a conclusão de um tratado no ordenamento Carta da Organização dos Estados Americanos, na Declaração
jurídico brasileiro, já que muito embora a competência seja ex- Americana dos Direitos e Deveres do Homem e na Declaração
clusiva do Presidente da República, cabe ao Congresso Nacional, Universal dos Direitos do Homem, e que foram reafirmados e de-
por meio de um decreto legislativo, autorizar a ratificação do ato senvolvidos em outros instrumentos internacionais, tanto de âmbi-
internacional. Nos termos do artigo 49, I da Constituição Federal to mundial como regional;
“é da competência exclusiva do Congresso Nacional: I - resolver Reiterando que, de acordo com a Declaração Universal dos
definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que Direitos Humanos, só pode ser realizado o ideal do ser humano
acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio na- livre, isento do temor e da miséria, se forem criadas condições
cional”. Quanto ao Pacto de São José da Costa Rica, este foi nego- que permitam a cada pessoa gozar dos seus direitos econômicos,
ciado e assinado pela autoridade do Executivo competente e pos- sociais e culturais, bem como dos seus direitos civis e políticos; e
teriormente submetido à aprovação do Congresso Nacional, a qual Considerando que a Terceira Conferência Interamericana
foi concedida pelo Decreto Legislativo n° 27/92. Somente depois Extraordinária (Buenos Aires, 1967) aprovou a incorporação à
esta foi promulgada pelo Decreto n° 678/92 e ratificada pelo Brasil própria Carta da Organização de normas mais amplas sobre os
perante a Organização dos Estados Americanos. direitos econômicos, sociais e educacionais e resolveu que uma
Convenção Interamericana sobre Direitos Humanos determinas-
DECRETA: se a estrutura, competência e processo dos órgãos encarregados
Art. 1° A Convenção Americana sobre Direitos Humanos dessa matéria;
(Pacto de São José da Costa Rica), celebrada em São José da Convieram no seguinte:
Costa Rica, em 22 de novembro de 1969, apensa por cópia ao Pelo preâmbulo da Convenção denotam-se os antecedentes
presente decreto, deverá ser cumprida tão inteiramente como nela históricos e as intenções envoltas em sua elaboração. Basicamen-
se contém. te, os direitos humanos já haviam sido reconhecidos internacio-
Art. 2° Ao depositar a carta de adesão a esse ato internacio- nalmente desde a criação da ONU e a elaboração da Declaração
nal, em 25 de setembro de 1992, o Governo brasileiro fez a seguin- Universal dos Direitos Humanos de 1948 por todos os Estados-
te declaração interpretativa: “O Governo do Brasil entende que -membros da organização. Entretanto, ainda se buscava um ca-
os arts. 43 e 48, alínea d , não incluem o direito automático de vi- minho para a efetivação deles, garantindo a dignidade inerente
sitas e inspeções in loco da Comissão Interamericana de Direitos à pessoa humana em qualquer localidade, independentemente de
Humanos, as quais dependerão da anuência expressa do Estado”. fatores externos. Neste sentido, optou-se por um processo de re-
Art. 3° O presente decreto entra em vigor na data de sua pu- gionalização dos direitos humanos, no qual as peculiaridades das
blicação. grandes regiões globais poderiam ser levadas em consideração,
Brasília, 6 de novembro de 1992; 171° da Independência e permitindo maior efetividade das normas de direitos humanos.
104° da República. Assim, os países da América se reuniram para a formação de uma
ITAMAR FRANCO organização específica, a Organização dos Estados Americanos, e
Fernando Henrique Cardoso para a assunção de um compromisso internacional continental pela
Este texto não substitui o publicado no DOU de 9.11.1992. preservação dos direitos humanos.
Didatismo e Conhecimento 58
NOÇÕES DE DIREITO
PARTE I - DEVERES DOS ESTADOS E consequência a participação cada vez mais ampla, generalizada
DIREITOS PROTEGIDOS e frequente dos membros de uma comunidade no poder político
(ou liberdade no Estado) [...]”. Estes dois momentos representam
A primeira parte da Convenção trata do aspecto material da a formação da primeira dimensão de direitos humanos, correspon-
proteção dos direitos humanos na América. No capítulo I, são es- dentes aos direitos civis e políticos, os quais são abordados neste
tabelecidos os deveres dos Estados-partes, que são os de respeito e capítulo da Convenção. Em geral, tais direitos não exigem uma
adoção das disposições do pacto no ordenamento jurídico interno; postura ativa estatal, mas sim de abstenção, deixando de se ingerir
no capítulo II são enumerados os direitos civis e políticos, que em direitos humanos individuais e permitindo que as pessoas par-
são praticamente os mesmos declarados no âmbito internacional, ticipem das decisões políticas.
embora mais amplos em relação a alguns direitos; no capítulo III
ocorre uma remissão à Carta da Organização dos Estados Ameri- Artigo 3º - Direito ao reconhecimento da personalidade ju-
canos no tocante aos direitos econômicos, sociais e culturais, de rídica
realização progressiva; no capítulo IV são tratados os casos de Toda pessoa tem direito ao reconhecimento de sua persona-
suspensão de garantias, interpretação e aplicação; no capítulo V lidade jurídica.
abordam-se os deveres das pessoas. “O conceito de personalidade está umbilicalmente ligado ao
de pessoa. Todo aquele que nasce com vida torna-se uma pessoa,
Capítulo I - ENUMERAÇÃO DOS DEVERES ou seja, adquire personalidade. Esta é, portanto, qualidade ou atri-
buto do ser humano. Pode ser definida como aptidão genérica para
Artigo 1º - Obrigação de respeitar os direitos adquirir direitos e contrair obrigações ou deveres na ordem civil. É
1. Os Estados-partes nesta Convenção comprometem-se a pressuposto para a inserção e atuação da pessoa na ordem jurídica.
respeitar os direitos e liberdades nela reconhecidos e a garantir A personalidade é, portanto, o conceito básico da ordem jurídica,
seu livre e pleno exercício a toda pessoa que esteja sujeita à sua que a estende a todos os homens, consagrando-a na legislação ci-
jurisdição, sem discriminação alguma, por motivo de raça, cor, vil e nos direitos constitucionais de vida, liberdade e igualdade.
sexo, idioma, religião, opiniões políticas ou de qualquer outra na- É qualidade jurídica que se revela como preliminar de todos os
tureza, origem nacional ou social, posição econômica, nascimento
direitos e deveres”117.
ou qualquer outra condição social.
2. Para efeitos desta Convenção, pessoa é todo ser humano.
Artigo 4º - Direito à vida
Os Estados-membros da OEA assumem o compromisso de
1. Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida. Esse
respeitar os direitos humanos declarados neste documento para
direito deve ser protegido pela lei e, em geral, desde o momento
com todos os seres humanos que ingressem em território de sua
da concepção. Ninguém pode ser privado da vida arbitrariamente.
jurisdição, não apenas nacionais. Nota-se, ainda, que não há ser
Atenção: a Convenção assegura a proteção à vida desde a
humano que possa não ser considerado como pessoa.
concepção! Não obstante, veda a morte por razões arbitrárias, por
Artigo 2º - Dever de adotar disposições de direito interno exemplo, pena de morte sem o devido processo legal.
Se o exercício dos direitos e liberdades mencionados no arti- 2. Nos países que não houverem abolido a pena de morte, esta
go 1° ainda não estiver garantido por disposições legislativas ou só poderá ser imposta pelos delitos mais graves, em cumprimento
de outra natureza, os Estados-partes comprometem-se a adotar, de de sentença final de tribunal competente e em conformidade com
acordo com as suas normas constitucionais e com as disposições a lei que estabeleça tal pena, promulgada antes de haver o delito
desta Convenção, as medidas legislativas ou de outra natureza que sido cometido. Tampouco se estenderá sua aplicação a delitos aos
forem necessárias para tornar efetivos tais direitos e liberdades. quais não se aplique atualmente.
O conteúdo da Convenção tem um caráter genérico, de for- No ideário de proteção à vida, impedindo a aplicação de pena
ma que meios específicos para assegurar os direitos nela previstos de morte, a Convenção adota um posicionamento de não retroces-
dentro do ordenamento interno são necessários. Este artigo deixa so. Basicamente, para os casos e nas localidades em que a pena de
claro o dever dos Estados-partes de adaptar o ordenamento interno morte foi abolida não é possível passar a aplicá-la.
a este contexto. 3. Não se pode restabelecer a pena de morte nos Estados que
a hajam abolido.
Capítulo II - DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS Os países que adotavam pena de morte antes da Convenção
não podem ampliar sua aplicação para outros crimes, mas não são
Em relação à primeira dimensão de direitos, aponta Bobbio116: obrigados a aboli-la plenamente.
“[...] o desenvolvimento dos direitos do homem passou por três 4. Em nenhum caso pode a pena de morte ser aplicada a deli-
fases: num primeiro momento, afirmaram-se os direitos de liber- tos políticos, nem a delitos comuns conexos com delitos políticos.
dade, isto é, todos aqueles direitos que tendem a limitar o poder do A aplicação de pena de morte por crimes políticos significaria
Estado e a reservar para o indivíduo, ou para os grupos particula- uma violação dos direitos políticos, que permitem o livre exercício
res, uma esfera de liberdade em relação ao Estado; num segundo do pensamento perante o Estado. Sem isto, não há democracia.
momento, foram propugnados os direitos políticos, os quais – con- Assim, somente cabe pena de morte para certos delitos comuns
cebendo a liberdade não apenas negativamente, como não impe- mais graves aos quais já se aplicava tal pena antes da Convenção
dimento, mas positivamente, como autonomia – tiveram como naquele Estado-parte.
116 BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Tradução Celso 117 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro.
Lafer. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. v. 1.
Didatismo e Conhecimento 59
NOÇÕES DE DIREITO
5. Não se deve impor a pena de morte a pessoa que, no mo- 6. As penas privativas de liberdade devem ter por finalidade
mento da perpetração do delito, for menor de dezoito anos, ou essencial a reforma e a readaptação social dos condenados.
maior de setenta, nem aplicá-la a mulher em estado de gravidez. A pena tem função retributiva e preventiva (geral e especial).
Não é possível aplicar pena de morte a menores de 18 anos Retributiva por ser uma resposta ao mal causado pelo criminoso
(proteção à criança e ao adolescente) e nem às mulheres grávidas para a sociedade. Preventiva geral no sentido de intimidar todos
(proteção da maternidade e da infância). os destinatários da norma penal, visando impedir que eles prati-
6. Toda pessoa condenada à morte tem direito a solicitar anis- quem crimes; preventiva especial no sentido de impedir o autor
tia, indulto ou comutação da pena, os quais podem ser concedi- do crime que volte a delinquir. Há, ainda, a função social ou res-
dos em todos os casos. Não se pode executar a pena de morte socializadora, que visa permitir que o condenado seja devolvido à
enquanto o pedido estiver pendente de decisão ante a autoridade sociedade em condições de não mais cometer crimes e conviver
competente. pacificamente.
Segundo Bitencourt118, anistia “é o esquecimento jurídico do
ilícito e tem por objeto fatos (não pessoas) definidos como crimes, Artigo 6º - Proibição da escravidão e da servidão
de regra, políticos, militares ou eleitorais, excluindo-se, normal- 1. Ninguém poderá ser submetido a escravidão ou servidão e
mente, os crimes comuns”; ao passo que indulto coletivo ou pro- tanto estas como o tráfico de escravos e o tráfico de mulheres são
priamente dito “destina-se a um grupo determinado de condenados proibidos em todas as suas formas.
e é delimitado pela natureza do crime e quantidade da pena apli- 2. Ninguém deve ser constrangido a executar trabalho for-
cada, além de outros requisitos que o diploma legal pode estabele- çado ou obrigatório. Nos países em que se prescreve, para certos
cer”; já a comutação da pena é o indulto parcial, não extinguindo a delitos, pena privativa de liberdade acompanhada de trabalhos
punibilidade, mas diminuindo a pena a ser cumprida. forçados, esta disposição não pode ser interpretada no sentido de
proibir o cumprimento da dita pena, imposta por um juiz ou tribu-
Artigo 5º - Direito à integridade pessoal nal competente. O trabalho forçado não deve afetar a dignidade,
1. Toda pessoa tem direito a que se respeite sua integridade nem a capacidade física e intelectual do recluso.
física, psíquica e moral. Se todo ser humano é uma pessoa e, como tal, dotada de digni-
São garantias inerentes ao direito à vida e ao direito à saúde. dade, aceitar a escravidão seria absurdo. Inerente a isto se encontra
2. Ninguém deve ser submetido a torturas, nem a penas ou a vedação de trabalhos forçados: não significa que não pode existir
tratos cruéis, desumanos ou degradantes. Toda pessoa privada de
trabalho obrigatório, mas a negativa em cumpri-lo não pode im-
liberdade deve ser tratada com o respeito devido à dignidade ine-
pedir o cumprimento da pena, embora o desempenho do trabalho
rente ao ser humano.
possa gerar sua diminuição proporcional aos dias trabalhados. Ha-
Tortura é a imposição de dor física ou psicológica por cruel-
vendo trabalho obrigatório, este não pode influenciar a dignidade
dade, intimidação, punição, para obtenção de uma confissão, in-
e nem a capacidade física ou intelectual do acusado, por exemplo,
formação ou simplesmente por prazer da pessoa que tortura, sendo
colocar um professor para limpar os banheiros da prisão e não para
assim uma espécie de trato cruel, desumano ou degradante. As pe-
ministrar aulas aos detentos é uma violação.
nas também não podem ser cruéis, desumanas ou degradantes, por
3. Não constituem trabalhos forçados ou obrigatórios para os
exemplo, de trabalhos forçados. O cumprimento da pena, ainda
que em si ela não seja cruel, a exemplo da privativa de liberdade, efeitos deste artigo:
deve se dar de maneira digna, não se aceitando a falta de estrutura a) os trabalhos ou serviços normalmente exigidos de pessoa
nos estabelecimentos prisionais. reclusa em cumprimento de sentença ou resolução formal expe-
3. A pena não pode passar da pessoa do delinquente. dida pela autoridade judiciária competente. Tais trabalhos ou
Pelo princípio da personalidade da pena o crime pode ser im- serviços devem ser executados sob a vigilância e controle das au-
putado somente ao seu autor, que é, por seu turno, a única pessoa toridades públicas, e os indivíduos que os executarem não devem
passível de sofrer a sanção. Seria flagrante a injustiça se fosse pos- ser postos à disposição de particulares, companhias ou pessoas
sível alguém responder pelos atos ilícitos de outrem: caso con- jurídicas de caráter privado;
trário, a reação, ao invés de restringir-se ao malfeitor, alcançaria b) serviço militar e, nos países em que se admite a isenção
inocentes. por motivo de consciência, qualquer serviço nacional que a lei
4. Os processados devem ficar separados dos condenados, estabelecer em lugar daquele;
salvo em circunstâncias excepcionais, e devem ser submetidos a c) o serviço exigido em casos de perigo ou de calamidade que
tratamento adequado à sua condição de pessoas não condenadas. ameacem a existência ou o bem-estar da comunidade;
Trata-se de um benefício inerente à presunção de inocência: d) o trabalho ou serviço que faça parte das obrigações cívicas
os que ainda são considerados inocentes perante a lei devem ficar normais.
separados dos culpados. Evidencia-se que trabalho obrigatório não significa trabalho
5. Os menores, quando puderem ser processados, devem ser forçado. Nestes casos, não há trabalho forçado, por mais que o
separados dos adultos e conduzidos a tribunal especializado, com indivíduo na verdade não queira desempenhá-lo.
a maior rapidez possível, para seu tratamento.
Para proteger as crianças e os adolescentes tem-se um sistema Artigo 7º - Direito à liberdade pessoal
específico para processo e condenação criminal, bem como local 1. Toda pessoa tem direito à liberdade e à segurança pessoais.
próprio de execução da pena. A liberdade aparece ligada à segurança porque a privação da
118 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal. liberdade de um por parte do Estado visa, necessariamente, a pre-
16. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. v. 1. servação da segurança dos demais.
Didatismo e Conhecimento 60
NOÇÕES DE DIREITO
2. Ninguém pode ser privado de sua liberdade física, salvo Evidencia-se o direito ao contraditório, consistente em poder
pelas causas e nas condições previamente fixadas pelas Consti- ouvir e dar uma resposta a respeito dos fatos controversos levados
tuições políticas dos Estados-partes ou pelas leis de acordo com a juízo, em qualquer esfera. Também traz o princípio do juiz natu-
elas promulgadas. ral e da vedação ao tribunal de exceção, de forma que sempre será
3. Ninguém pode ser submetido a detenção ou encarceramen- fixado o juízo competente de maneira prévia por regras de organi-
to arbitrários. zação judiciária, avaliando-se ainda se aquele juízo atribuído é de
A legislação deve ser expressa a respeito dos casos em que se fato imparcial (não possuindo inimizades ou amizades para com
admite a privação da liberdade de locomoção. as partes).
4. Toda pessoa detida ou retida deve ser informada das razões 2. Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se pre-
da detenção e notificada, sem demora, da acusação ou das acusa-
suma sua inocência, enquanto não for legalmente comprovada
ções formuladas contra ela.
5. Toda pessoa presa, detida ou retida deve ser conduzida, sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena
sem demora, à presença de um juiz ou outra autoridade autoriza- igualdade, às seguintes garantias mínimas:
da por lei a exercer funções judiciais e tem o direito de ser julgada O estado de inocência é inerente à pessoa humana, de forma
em prazo razoável ou de ser posta em liberdade, sem prejuízo de que somente pode ser considerada culpada após o trânsito em jul-
que prossiga o processo. Sua liberdade pode ser condicionada a gado do processo criminal que apure devidamente o ilícito (princí-
garantias que assegurem o seu comparecimento em juízo. pio da presunção de inocência).
6. Toda pessoa privada da liberdade tem direito a recorrer a) direito do acusado de ser assistido gratuitamente por um
a um juiz ou tribunal competente, a fim de que este decida, sem tradutor ou intérprete, caso não compreenda ou não fale a língua
demora, sobre a legalidade de sua prisão ou detenção e ordene do juízo ou tribunal;
sua soltura, se a prisão ou a detenção forem ilegais. Nos Estados-
b) comunicação prévia e pormenorizada ao acusado da acu-
-partes cujas leis prevêem que toda pessoa que se vir ameaçada
de ser privada de sua liberdade tem direito a recorrer a um juiz ou sação formulada;
tribunal competente, a fim de que este decida sobre a legalidade c) concessão ao acusado do tempo e dos meios necessários à
de tal ameaça, tal recurso não pode ser restringido nem abolido. preparação de sua defesa;
O recurso pode ser interposto pela própria pessoa ou por outra d) direito do acusado de defender-se pessoalmente ou de ser
pessoa. assistido por um defensor de sua escolha e de comunicar-se, livre-
Os itens 4 a 6 tratam do devido processo legal (ampla defesa mente e em particular, com seu defensor;
e contraditório) garantidos àquele que é privado de sua liberdade e) direito irrenunciável de ser assistido por um defensor pro-
de locomoção. É preciso que a pessoa seja notificada a respeito porcionado pelo Estado, remunerado ou não, segundo a legisla-
dos motivos da acusação, seja levada ao juiz que decidirá sobre a ção interna, se o acusado não se defender ele próprio, nem nome-
manutenção da prisão e possa interpor recurso contra tal decisão.
ar defensor dentro do prazo estabelecido pela lei;
7. Ninguém deve ser detido por dívidas. Este princípio não li-
mita os mandados de autoridade judiciária competente expedidos f) direito da defesa de inquirir as testemunhas presentes no
em virtude de inadimplemento de obrigação alimentar. Tribunal e de obter o comparecimento, como testemunhas ou peri-
Uma das maiores polêmicas jurídicas brasileiras nos últimos tos, de outras pessoas que possam lançar luz sobre os fatos;
anos envolve justamente este dispositivo da Convenção: enquanto g) direito de não ser obrigada a depor contra si mesma, nem
ela somente permite a prisão por dívida em caso de obrigação ali- a confessar-se culpada; e
mentar, a Constituição brasileira a permite também para os depo- h) direito de recorrer da sentença a juiz ou tribunal superior.
sitários infiéis (aquele que fica vinculado ao cumprimento de uma Todas as garantias enumeradas fazem parte do devido pro-
obrigação meramente contratual, cuja função que lhe é confiada cesso legal, formado pelo binômio contraditório + ampla defesa.
envolve a guarda de uma coisa específica, devendo conservá-la e Pelo princípio do devido processo legal “ninguém será privado da
restituí-la in natura quando for exigida pelo depositante ou pagar
liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal. Corolário
o preço equivalente se a coisa não mais existir na sua esfera de
disponibilidade). Ocorre que os tratados de direitos humanos, a a esse princípio, asseguram-se aos litigantes, em processo judicial
partir da Emenda Constitucional n° 45/04, cumpridas as condições ou administrativo, e aos acusados em geral o contraditório e a am-
do artigo 5°, §3° são considerados como emendas constitucionais; pla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”119. São meios,
mas a Convenção em estudo foi ratificada antes desta alteração por exemplo, a conferência de um tradutor e de um defensor, pú-
legislativa, havendo posicionamentos diversos a respeito dela pos- blico ou privado, e ainda os direitos ao silêncio e à não produção
suir ou não o caráter constitucional. Depois de muitas discussões, de provas contra si. São recursos as vias de questionamento da
o Supremo Tribunal Federal decidiu no dia 05 de dezembro de decisão judicial perante outro juiz ou tribunal superior.
2008 que é ilegal a prisão civil do depositário infiel, utilizando-se 3. A confissão do acusado só é válida se feita sem coação de
da tese de que os tratados de direitos humanos têm status suprale- nenhuma natureza.
gal, ou seja, encontram-se acima das leis ordinárias, porém abaixo
Assim, não é que a confissão não seja um meio de prova vá-
da Constituição Federal. Neste sentido, a súmula vinculante n° 25
e Habeas Corpus n° 87.585-8/TO. lido: é válida, mas não pode ser obtida à força, por exemplo, me-
diante tortura ou ameaça.
Artigo 8º - Garantias judiciais 4. O acusado absolvido por sentença transitada em julgado
1. Toda pessoa terá o direito de ser ouvida, com as devidas não poderá ser submetido a novo processo pelos mesmos fatos.
garantias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou Tribunal Não cabe revisão criminal pro societate - em favor da socie-
competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormen- dade. Não importa se o acusado foi indevidamente absolvido, tran-
te por lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada sitada em julgado a decisão não poderá ser processado novamen-
contra ela, ou na determinação de seus direitos e obrigações de 119 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional
caráter civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza. esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
Didatismo e Conhecimento 61
NOÇÕES DE DIREITO
te pelo mesmo fato. A revisão criminal só é possível se surgirem 2. Ninguém pode ser submetido a medidas restritivas que pos-
provas para absolver o réu condenado criminalmente, nunca para sam limitar sua liberdade de conservar sua religião ou suas cren-
condená-lo. ças, ou de mudar de religião ou de crenças.
5. O processo penal deve ser público, salvo no que for neces- 3. A liberdade de manifestar a própria religião e as próprias
sário para preservar os interesses da justiça. crenças está sujeita apenas às limitações previstas em lei e que
O segredo de justiça é limitado a alguns casos porque, em se façam necessárias para proteger a segurança, a ordem, a saú-
regra, “o direito subjetivo das partes e advogados à intimidade de ou a moral públicas ou os direitos e as liberdades das demais
somente estará garantido se não prejudicar o interesse público à
pessoas.
informação”120.
4. Os pais e, quando for o caso, os tutores, têm direito a que
Artigo 9º - Princípio da legalidade e da retroatividade seus filhos e pupilos recebam a educação religiosa e moral que
Ninguém poderá ser condenado por atos ou omissões que, no esteja de acordo com suas próprias convicções.
momento em que foram cometidos, não constituam delito, de acor- Uma das esferas da liberdade de pensamento é a liberdade de
do com o direito aplicável. Tampouco poder-se-á impor pena mais crença religiosa. Cada qual tem direito a professar a crença que
grave do que a aplicável no momento da ocorrência do delito. Se, quiser no Estado democrático, não podendo ser tolhido deste di-
depois de perpetrado o delito, a lei estipular a imposição de pena reito. No entanto, há algumas limitações lógicas ao exercício deste
mais leve, o deliquente deverá dela beneficiar-se. direito, notadamente quanto às colisões com outros direitos hu-
Há uma regra dominante em termos de conflito de leis penais manos: por exemplo, não pode ser aceita a prática de sacrifício
no tempo que é a da irretroatividade da lei penal, sem a qual não
humano nos cultos religiosos.
haveria nem segurança e nem liberdade na sociedade, em flagrante
desrespeito ao princípio da legalidade e da anterioridade da lei. A religiosidade é um dos aspectos em que os pais influenciam
Logo, o tempo rege a ação - tempus regit actum - e uma lei so- os filhos e, por isso, possuem direito de vê-los educados em conso-
mente abrange os atos praticados durante a sua vigência, não antes nância com tais crenças.
(retroatividade) nem depois (ultra-atividade). Contudo, o princípio
da irretroatividade vige somente quanto à lei mais severa, de forma Artigo 13 - Liberdade de pensamento e de expressão
que a lei que for mais favorável ao réu irá retroagir, no que se con- 1. Toda pessoa tem o direito à liberdade de pensamento e de
solida o princípio da retroatividade da lei mais benéfica.121 expressão. Esse direito inclui a liberdade de procurar, receber e
difundir informações e ideias de qualquer natureza, sem consi-
Artigo 10 - Direito à indenização derações de fronteiras, verbalmente ou por escrito, ou em forma
Toda pessoa tem direito de ser indenizada conforme a lei, no impressa ou artística, ou por qualquer meio de sua escolha.
caso de haver sido condenada em sentença transitada em julgado,
“Na verdade, o ser humano, através dos processos internos de
por erro judiciário.
Uma pessoa injustamente condenada por um erro estatal na reflexão, formula juízos de valor. Estes exteriorizam nada mais do
apuração do ilícito tem direito a indenização. que a opinião de seu emitente. Assim, a regra constitucional, ao
consagrar a livre manifestação do pensamento, imprime a existên-
Artigo 11 - Proteção da honra e da dignidade cia jurídica ao chamado direito de opinião”122.
1. Toda pessoa tem direito ao respeito da sua honra e ao reco- 2. O exercício do direito previsto no inciso precedente não
nhecimento de sua dignidade. pode estar sujeito à censura prévia, mas a responsabilidades ul-
2. Ninguém pode ser objeto de ingerências arbitrárias ou teriores, que devem ser expressamente previstas em lei e que se
abusivas em sua vida privada, em sua família, em seu domicílio façam necessárias para assegurar:
ou em sua correspondência, nem de ofensas ilegais à sua honra a) o respeito dos direitos e da reputação das demais pessoas;
ou reputação.
b) a proteção da segurança nacional, da ordem pública, ou da
3. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais inge-
rências ou tais ofensas. saúde ou da moral públicas.
Privacidade e personalidade são direitos que parecem interli- Silva123 explica que “o homem se torna cada vez mais livre
gados, uma vez que a primeira é condição de expansão da segunda. na medida em que amplia seu domínio sobre a natureza”, ou seja,
A honra pode ser objetiva, no que tange ao modo como o mundo com a evolução da sociedade, a tendência é que o círculo que deli-
vê a pessoa, e subjetiva, referindo-se à maneira como ela se vê. mita a esfera da liberdade se amplie. Entretanto, o direito à liberda-
Para o bom desenvolvimento da personalidade é preciso garantir de nunca foi assegurado de forma irrestrita, assim como nunca se
a privacidade, cabendo à lei proteger todos estes bens jurídicos. defendeu no campo ético que alguém pudesse exercê-lo sem limi-
tes. Não significa que é aceita a censura prévia, como era comum
Artigo 12 - Liberdade de consciência e de religião nos regimes ditatoriais, mas que é preciso limitar a veiculação de
1. Toda pessoa tem direito à liberdade de consciência e de
conteúdos que violem direitos humanos alheios ou atentem contra
religião. Esse direito implica a liberdade de conservar sua religião
ou suas crenças, ou de mudar de religião ou de crenças, bem como a moral social. Por exemplo, se uma pessoa publicar um conteúdo
a liberdade de professar e divulgar sua religião ou suas crenças, ofensivo a outra cometerá violação da honra, se divulgar conteú-
individual ou coletivamente, tanto em público como em privado. dos antissemitas praticará crime de preconceito e discriminação.
122 ARAÚJO, Luiz Alberto David; NUNES JÚNIOR,
120 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional Vidal Serrano. Curso de direito constitucional. 10. ed. São Paulo:
esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. Saraiva, 2006.
121 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal. 123 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional
16. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. v. 1. positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006.
Didatismo e Conhecimento 62
NOÇÕES DE DIREITO
3. Não se pode restringir o direito de expressão por vias e Artigo 16 - Liberdade de associação
meios indiretos, tais como o abuso de controles oficiais ou parti- 1. Todas as pessoas têm o direito de associar-se livremente
culares de papel de imprensa, de frequências radioelétricas ou de com fins ideológicos, religiosos, políticos, econômicos, trabalhis-
equipamentos e aparelhos usados na difusão de informação, nem tas, sociais, culturais, desportivos ou de qualquer outra natureza.
por quaisquer outros meios destinados a obstar a comunicação e 2. O exercício desse direito só pode estar sujeito às restrições
a circulação de ideias e opiniões. previstas em lei e que se façam necessárias, em uma sociedade
A propriedade dos meios de comunicação não pode ser utili- democrática, ao interesse da segurança nacional, da segurança e
zada para manipulação do pensamento da população. da ordem públicas, ou para proteger a saúde ou a moral públicas
4. A lei pode submeter os espetáculos públicos a censura ou os direitos e as liberdades das demais pessoas.
prévia, com o objetivo exclusivo de regular o acesso a eles, para 3. O presente artigo não impede a imposição de restrições
proteção moral da infância e da adolescência, sem prejuízo do legais, e mesmo a privação do exercício do direito de associação,
aos membros das forças armadas e da polícia.
disposto no inciso 2.
Entidades associativas têm legitimidade para representar
Antes de permitir que um espetáculo chegue ao público é acei- seus filiados judicial ou extrajudicialmente, podendo defender,
ta a avaliação prévia do conteúdo, limitando o acesso, por exem- em nome próprio, direitos de seus associados. Logo, caracteriza a
plo, a determinada faixa etária. união das forças individuais num grupo organizado e devidamente
5. A lei deve proibir toda propaganda a favor da guerra, bem autorizado por lei. Ninguém é obrigado a ingressas ou permanecer
como toda apologia ao ódio nacional, racial ou religioso que em uma associação. Nenhuma associação pode defender interes-
constitua incitamento à discriminação, à hostilidade, ao crime ou ses ilícitos (por exemplo, seria absurdo permitir que o PCC ou o
à violência. Comando Vermelho fossem consideradas associações, posto que
Permitir o incentivo a este tipo de pensamento contrário à paz reúnem criminosos). Enfim, a lei pode limitar, com razoabilidade e
mundial vai contra o que os sistemas global e regional de proteção proporcionalidade, a liberdade de associação.
de direitos humanos buscam.
Artigo 17 - Proteção da família
Artigo 14 - Direito de retificação ou resposta 1. A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e
1. Toda pessoa, atingida por informações inexatas ou ofen- deve ser protegida pela sociedade e pelo Estado.
sivas emitidas em seu prejuízo por meios de difusão legalmente 2. É reconhecido o direito do homem e da mulher de contraí-
regulamentados e que se dirijam ao público em geral, tem direito rem casamento e de constituírem uma família, se tiverem a idade e
a fazer, pelo mesmo órgão de difusão, sua retificação ou resposta, as condições para isso exigidas pelas leis internas, na medida em
que não afetem estas o princípio da não-discriminação estabele-
nas condições que estabeleça a lei.
cido nesta Convenção.
2. Em nenhum caso a retificação ou a resposta eximirão das
3. O casamento não pode ser celebrado sem o consentimento
outras responsabilidades legais em que se houver incorrido. livre e pleno dos contraentes.
3. Para a efetiva proteção da honra e da reputação, toda pu- 4. Os Estados-partes devem adotar as medidas apropriadas
blicação ou empresa jornalística, cinematográfica, de rádio ou te- para assegurar a igualdade de direitos e a adequada equivalência
levisão, deve ter uma pessoa responsável, que não seja protegida de responsabilidades dos cônjuges quanto ao casamento, durante
por imunidades, nem goze de foro especial. o mesmo e por ocasião de sua dissolução. Em caso de dissolução,
A publicação de um conteúdo ofensivo dá ao ofendido direito serão adotadas as disposições que assegurem a proteção necessá-
de resposta (direito de em local idêntico, com mesmo destaque e ria aos filhos, com base unicamente no interesse e conveniência
circulação, expor seus argumento contrários à ofensa publicada), dos mesmos.
mas não exime o ofensor de responder por seu ato. Para garantir 5. A lei deve reconhecer iguais direitos tanto aos filhos nasci-
isto, nos meios de comunicação é preciso de um responsável que dos fora do casamento, como aos nascidos dentro do casamento.
não seja impedido de ser processado regularmente, ou seja, que A proteção da família é essencial porque ela é a base da estru-
não possua imunidades ou goze de foro especial. tura social. O tradicional modo de constituição da família é o ca-
samento, tanto que ele é protegido nesta Convenção e na DUDH,
Artigo 15 - Direito de reunião sendo o consentimento dos nubentes um requisito essencial. Du-
É reconhecido o direito de reunião pacífica e sem armas. O rante o casamento, as obrigações devem ser partilhadas e, em caso
de dissolução, deve ser priorizado o melhor interesse dos filhos
exercício desse direito só pode estar sujeito às restrições previstas
para decidir a respeito de guarda, visitas e alimentos. No mais, os
em lei e que se façam necessárias, em uma sociedade democrática,
filhos nascidos dentro ou fora do casamento são equiparados.
ao interesse da segurança nacional, da segurança ou ordem públi-
cas, ou para proteger a saúde ou a moral públicas ou os direitos e Artigo 18 - Direito ao nome
as liberdades das demais pessoas. Toda pessoa tem direito a um prenome e aos nomes de seus
O direito de reunião evidencia a liberdade de expressão con- pais ou ao de um destes. A lei deve regular a forma de assegurar
ferida aos indivíduos e aos grupos sociais. Grupos de pessoas po- a todos esse direito, mediante nomes fictícios, se for necessário.
dem se reunir para manifestar algum pensamento, respeitados os O nome é um modo de individualização da pessoa natural.
limites legais, por exemplo, não é autorizada a presença de armas, “Integra a personalidade, individualiza a pessoa não só durante a
ou ainda, é preciso informar o poder público para que ele tome sua vida como também após a sua morte, e indica a sua procedên-
providências para garantir a segurança numa manifestação grupal cia familiar”124.
principalmente se ela tiver grande repercussão (exemplificando,
algumas paradas gays chegam a reunir milhões de pessoas). 124 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro.
9. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. v. 1.
Didatismo e Conhecimento 63
NOÇÕES DE DIREITO
Artigo 19 - Direitos da criança A liberdade de circulação dentro de seu país ou em um terri-
Toda criança terá direito às medidas de proteção que a sua tório em que entre legalmente não é plena: pode ser restringida em
condição de menor requer, por parte da sua família, da sociedade virtude de lei, bem como visando proteger o interesse público e a
e do Estado. segurança social.
A criança é parte fundamental da sociedade, representando seu 5. Ninguém pode ser expulso do território do Estado do qual
futuro. Protegê-la significa garantir que no futuro existirão adultos for nacional e nem ser privado do direito de nele entrar.
preparados para construir uma sociedade melhor. Para tanto são 6. O estrangeiro que se encontre legalmente no território de
criados inúmeros mecanismos. No Brasil, destaca-se o Estatuto da um Estado-parte na presente Convenção só poderá dele ser expul-
Criança e do Adolescente. so em decorrência de decisão adotada em conformidade com a lei.
Nota-se que não se garante o livre ingresso em território que
Artigo 20 - Direito à nacionalidade não o do próprio país, para tanto é preciso respeitar as regras do
1. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade. país para recebimento de estrangeiros - apenas se veda a expulsão
2. Toda pessoa tem direito à nacionalidade do Estado em cujo arbitrária do que já esteja lá.
território houver nascido, se não tiver direito a outra. 7. Toda pessoa tem o direito de buscar e receber asilo em ter-
3. A ninguém se deve privar arbitrariamente de sua naciona- ritório estrangeiro, em caso de perseguição por delitos políticos
lidade, nem do direito de mudá-la. ou comuns conexos com delitos políticos, de acordo com a legisla-
Com estas regras, impede-se que uma pessoa não se vincule ção de cada Estado e com as Convenções internacionais.
jurídica e politicamente a um Estado, integrando o povo e desfru- O asilo político é instituição pela qual um Estado confere abri-
tando de direitos e obrigações. No mínimo, terá a nacionalidade do go e proteção a um indivíduo que tenha fugido de um outro Estado
território em que tiver nascido. A figura do apátrida é vedada. Em no qual sofria perseguição por delitos políticos ou conexos a ele.
certos casos, será possível mudar de nacionalidade, não podendo a 8. Em nenhum caso o estrangeiro pode ser expulso ou entre-
pessoa ser impedida. gue a outro país, seja ou não de origem, onde seu direito à vida ou
à liberdade pessoal esteja em risco de violação em virtude de sua
Artigo 21 - Direito à propriedade privada raça, nacionalidade, religião, condição social ou de suas opiniões
1. Toda pessoa tem direito ao uso e gozo de seus bens. A lei políticas.
9. É proibida a expulsão coletiva de estrangeiros.
pode subordinar esse uso e gozo ao interesse social.
A extradição é permitida, dentro dos limites da legislação de
O direito à propriedade é garantido, mas não de forma ilimi-
direitos humanos.
tada. Entre os limites possíveis destaca-se o do respeito à função
social. Por exemplo, não poderá manter a propriedade aquele que
Artigo 23 - Direitos políticos
não a torna produtiva.
1. Todos os cidadãos devem gozar dos seguintes direitos e
2. Nenhuma pessoa pode ser privada de seus bens, salvo me-
oportunidades:
diante o pagamento de indenização justa, por motivo de utilidade
a) de participar da condução dos assuntos públicos, direta-
pública ou de interesse social e nos casos e na forma estabelecidos
mente ou por meio de representantes livremente eleitos;
pela lei. b) de votar e ser eleito em eleições periódicas, autênticas, re-
O item se refere ao instituto da desapropriação, pelo qual o Es- alizadas por sufrágio universal e igualitário e por voto secreto,
tado toma a propriedade de um bem em prol do interesse coletivo, que garantam a livre expressão da vontade dos eleitores; e
indenizando o proprietário. Participar das decisões políticas de maneira direta ou indireta
3. Tanto a usura, como qualquer outra forma de exploração é um direito político de primeira dimensão. Existem modalidades
do homem pelo homem, devem ser reprimidas pela lei. de participação direta, consolidando a democracia direta, mas ge-
Usura significa agiotagem, uma pessoa emprestar dinheiro por ralmente, como são muitos os indivíduos que podem participar em
juros abusivos e utilizar meios controversos para receber os juros sociedade, adota-se a democracia indireta, na qual são eleitos re-
e o valor emprestado de volta. presentantes por meio do voto. Ainda assim, são comuns alguns
mecanismos de participação direta, como o plebiscito, o referendo
Artigo 22 - Direito de circulação e de residência e a iniciativa popular, formando um modelo de democracia misto.
1. Toda pessoa que se encontre legalmente no território de um c) de ter acesso, em condições gerais de igualdade, às funções
Estado tem o direito de nele livremente circular e de nele residir, públicas de seu país.
em conformidade com as disposições legais. 2. A lei pode regular o exercício dos direitos e oportunidades,
2. Toda pessoa terá o direito de sair livremente de qualquer a que se refere o inciso anterior, exclusivamente por motivo de
país, inclusive de seu próprio país. idade, nacionalidade, residência, idioma, instrução, capacidade
3. O exercício dos direitos supracitados não pode ser restrin- civil ou mental, ou condenação, por juiz competente, em processo
gido, senão em virtude de lei, na medida indispensável, em uma penal.
sociedade democrática, para prevenir infrações penais ou para O acesso às funções públicas geralmente se dá por concurso
proteger a segurança nacional, a segurança ou a ordem públicas, público, não podendo utilizar critérios preconceituosos para ad-
a moral ou a saúde públicas, ou os direitos e liberdades das de- missão.
mais pessoas.
4. O exercício dos direitos reconhecidos no inciso 1 pode tam- Artigo 24 - Igualdade perante a lei
bém ser restringido pela lei, em zonas determinadas, por motivo Todas as pessoas são iguais perante a lei. Por conseguinte,
de interesse público. têm direito, sem discriminação alguma, à igual proteção da lei.
Didatismo e Conhecimento 64
NOÇÕES DE DIREITO
Trata-se do princípio da igualdade perante a lei. Assim, a lei é integridade pessoal), 6 (proibição da escravidão e da servidão),
válida para todas as pessoas, embora possa estabelecer regramen- 9 (princípio da legalidade e da retroatividade), 12 (liberdade de
tos específicos para certos grupos sociais vulneráveis. consciência e religião), 17 (proteção da família), 18 (direito ao
nome), 19 (direitos da criança), 20 (direito à nacionalidade) e 23
Artigo 25 - Proteção judicial (direitos políticos), nem das garantias indispensáveis para a pro-
1. Toda pessoa tem direito a um recurso simples e rápido ou a teção de tais direitos.
qualquer outro recurso efetivo, perante os juízes ou tribunais com- Nem precisaria especificar, pois tais direitos estão ligados jus-
petentes, que a proteja contra atos que violem seus direitos funda- tamente a raça, cor, sexo, idioma, religião ou origem social. Entre-
mentais reconhecidos pela Constituição, pela lei ou pela presente tanto, a especificação aumenta a segurança jurídica.
Convenção, mesmo quando tal violação seja cometida por pessoas 3. Todo Estado-parte no presente Pacto que fizer uso do di-
que estejam atuando no exercício de suas funções oficiais. reito de suspensão deverá comunicar imediatamente aos outros
No Brasil, entre outros instrumentos, destacam-se o mandado Estados-partes na presente Convenção, por intermédio do Secre-
de segurança, o habeas corpus e o habeas data. tário Geral da Organização dos Estados Americanos, as disposi-
2. Os Estados-partes comprometem-se: ções cuja aplicação haja suspendido, os motivos determinantes da
a) a assegurar que a autoridade competente prevista pelo sis- suspensão e a data em que haja dado por terminada tal suspensão.
tema legal do Estado decida sobre os direitos de toda pessoa que Assim, o direito de suspensão é, basicamente, a possibilida-
interpuser tal recurso; de do Estado-parte da Organização dos Estados Americanos, por
b) a desenvolver as possibilidades de recurso judicial; e alguma razão específica e discriminada em suas justificativas, de
c) a assegurar o cumprimento, pelas autoridades competen- deixar de cumprir parte do conteúdo da Convenção Americana de
tes, de toda decisão em que se tenha considerado procedente o Direitos Humanos, respeitados os limites consagrados internacio-
recurso. nalmente no que tange à dignidade humana.
Não basta prever tais garantias, é preciso conferir estrutura ao
Judiciário para cumpri-las. Artigo 28 - Cláusula federal
1. Quando se tratar de um Estado-parte constituído como Es-
Capítulo III - DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E tado federal, o governo nacional do aludido Estado-parte cum-
prirá todas as disposições da presente Convenção, relacionadas
CULTURAIS
com as matérias sobre as quais exerce competência legislativa e
judicial.
Artigo 26 - Desenvolvimento progressivo
A forma federativa de Estado tem origem nos Estados Unidos,
Os Estados-partes comprometem-se a adotar as providências,
em 1787. No federalismo por agregação, os Estados independentes
tanto no âmbito interno, como mediante cooperação internacio-
ou soberanos abrem mão de parcela de sua soberania para agregar-
nal, especialmente econômica e técnica, a fim de conseguir pro-
-se entre si e formarem um Estado Federativo, mas mantendo a
gressivamente a plena efetividade dos direitos que decorrem das
autonomia entre si: foi o que ocorreu nos Estados Unidos. Mas
normas econômicas, sociais e sobre educação, ciência e cultura,
também é possível o federalismo por desagregação, quando a fede-
constantes da Carta da Organização dos Estados Americanos, re- ração surge a partir de um Estado unitário e resolve descentralizar-
formada pelo Protocolo de Buenos Aires, na medida dos recursos -se, a exemplo do Brasil desde 1891. Dentro da federação há re-
disponíveis, por via legislativa ou por outros meios apropriados. partição de competências entre a União e as unidades federativas.
Como a União que firma os compromissos internacionais, nem
Capítulo IV - SUSPENSÃO DE GARANTIAS, INTER- sempre ela terá competência para fazer cumprir todas as normas
PRETAÇÃO E APLICAÇÃO deles, que podem ser da alçada das unidades federativas.
2. No tocante às disposições relativas às matérias que corres-
Artigo 27 - Suspensão de garantias pondem à competência das entidades componentes da federação,
1. Em caso de guerra, de perigo público, ou de outra emer- o governo nacional deve tomar imediatamente as medidas perti-
gência que ameace a independência ou segurança do Estado-par- nentes, em conformidade com sua Constituição e com suas leis,
te, este poderá adotar as disposições que, na medida e pelo tempo a fim de que as autoridades competentes das referidas entidades
estritamente limitados às exigências da situação, suspendam as possam adotar as disposições cabíveis para o cumprimento desta
obrigações contraídas em virtude desta Convenção, desde que tais Convenção.
disposições não sejam incompatíveis com as demais obrigações Enfim, o máximo que é possível para a União é alertar as
que lhe impõe o Direito Internacional e não encerrem discrimina- suas unidades federativas para que elas tomem providências para
ção alguma fundada em motivos de raça, cor, sexo, idioma, reli- o cumprimento das normas convencionadas internacionalmente.
gião ou origem social. 3. Quando dois ou mais Estados-partes decidirem constituir
A limitações de direitos humanos é permitida, mas não é pos- entre eles uma federação ou outro tipo de associação, diligencia-
sível que ela viole premissas ligadas à dignidade humana, como rão no sentido de que o pacto comunitário respectivo contenha
raça, cor, sexo, idioma, religião. Por exemplo, na situação descrita as disposições necessárias para que continuem sendo efetivas no
no artigo seria aceitável autorizar trabalhos forçados compatíveis novo Estado, assim organizado, as normas da presente Conven-
com a dignidade humana. ção.
2. A disposição precedente não autoriza a suspensão dos di- É possível que Estados-partes firmem entre si tratados espe-
reitos determinados nos seguintes artigos: 3 (direito ao reconhe- cíficos, caso em que deverão se atentar para as normas da Con-
cimento da personalidade jurídica), 4 (direito à vida), 5 (direito à venção.
Didatismo e Conhecimento 65
NOÇÕES DE DIREITO
Artigo 29 - Normas de interpretação correspondente”. Logo, a um direito humano conferido à pessoa
Nenhuma disposição da presente Convenção pode ser inter- corresponde o dever de respeito ao arcabouço de direitos conferi-
pretada no sentido de: dos às outras pessoas.
a) permitir a qualquer dos Estados-partes, grupo ou indiví- Considera-se um aspecto da característica da relatividade dos
duo, suprimir o gozo e o exercício dos direitos e liberdades reco- direitos humanos, que não podem ser utilizados como um escudo
nhecidos na Convenção ou limitá-los em maior medida do que a para práticas ilícitas ou como argumento para afastamento ou di-
nela prevista; minuição da responsabilidade por atos ilícitos. Assim, os direitos
b) limitar o gozo e exercício de qualquer direito ou liberdade humanos não são ilimitados e encontram seus limites nos demais
que possam ser reconhecidos em virtude de leis de qualquer dos direitos igualmente consagrados como humanos.
Estados-partes ou em virtude de Convenções em que seja parte um
dos referidos Estados; PARTE II - MEIOS DE PROTEÇÃO
c) excluir outros direitos e garantias que são inerentes ao ser
humano ou que decorrem da forma democrática representativa de A segunda parte da Convenção analisa os meios de proteção
governo; aos direitos humanos que deverão ser garantidos, criando a Comis-
d) excluir ou limitar o efeito que possam produzir a Decla- são Interamericana de Direitos Humanos e a Corte Interamericana
ração Americana dos Direitos e Deveres do Homem e outros atos de Direitos Humanos. Assim, “a Convenção Americana estabelece
internacionais da mesma natureza. um aparato de monitoramento e implementação dos direitos que
A Convenção não pode ser usada para contrariar os preceitos enuncia. Esse aparato é integrado pela Comissão Interamericana
que ela visa proteger, para permitir a violação de direitos humanos de Direitos Humanos e pela Corte Interamericana”126.
fundamentais consagrados.
Capítulo VI - ÓRGÃOS COMPETENTES
Artigo 30 - Alcance das restrições
As restrições permitidas, de acordo com esta Convenção, ao Artigo 33 - São competentes para conhecer de assuntos rela-
gozo e exercício dos direitos e liberdades nela reconhecidos, não cionados com o cumprimento dos compromissos assumidos pelos
podem ser aplicadas senão de acordo com leis que forem promul-
Estados-partes nesta Convenção:
gadas por motivo de interesse geral e com o propósito para o qual
a) a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, dora-
houverem sido estabelecidas.
vante denominada a Comissão; e
No decorrer da Convenção são reconhecidos vários casos em
b) a Corte Interamericana de Direitos Humanos, doravante
que é possível limitar direitos humanos, mas sempre é preciso ter
denominada a Corte.
em mente o interesse da coletividade e a finalidade pelas quais
Estes dois órgãos ficam, então, vinculados à OEA e são os res-
foram aceitas.
ponsáveis pela implementação no plano do continente americano
dos direitos humanos garantidos na Convenção.
Artigo 31 - Reconhecimento de outros direitos
Poderão ser incluídos, no regime de proteção desta Conven-
ção, outros direitos e liberdades que forem reconhecidos de acor- Capítulo VII - COMISSÃO INTERAMERICANA DE DI-
do com os processos estabelecidos nos artigo 69 e 70. REITOS HUMANOS
As sentenças da corte trazem direitos e liberdades por ela re-
conhecidos e que deverão ser cumpridos pelo Estado-parte a qual Seção 1 - Organização
se referem.
Artigo 34 - A Comissão Interamericana de Direitos Humanos
Capítulo V - DEVERES DAS PESSOAS compor-se-á de sete membros, que deverão ser pessoas de alta
autoridade moral e de reconhecido saber em matéria de direitos
Artigo 32 - Correlação entre deveres e direitos humanos.
1. Toda pessoa tem deveres para com a família, a comunidade Alta autoridade moral e reconhecido saber em matéria de di-
e a humanidade. reitos humanos são conceitos subjetivos. Nota-se que não é exigi-
2. Os direitos de cada pessoa são limitados pelos direitos dos da formação em Direito.
demais, pela segurança de todos e pelas justas exigências do bem
comum, em uma sociedade democrática. Artigo 35 - A Comissão representa todos os Membros da Or-
Explica Canotilho125 quanto aos direitos fundamentais, mas o ganização dos Estados Americanos.
mesmo vale para os direitos humanos: “a ideia de deveres fun- Logo, a representatividade dos Estados perante a Comissão
damentais é suscetível de ser entendida como o ‘outro lado’ dos não é direta. São eleitos 7 representantes que manifestarão o ide-
direitos fundamentais. Como ao titular de um direito fundamental ário de toda a organização na matéria que é de sua competência.
corresponde um dever por parte de um outro titular, poder-se-ia
dizer que o particular está vinculado aos direitos fundamentais Artigo 36 - 1. Os membros da Comissão serão eleitos a tí-
como destinatário de um dever fundamental. Neste sentido, um tulo pessoal, pela Assembleia Geral da Organização, a partir de
direito fundamental, enquanto protegido, pressuporia um dever uma lista de candidatos propostos pelos governos dos Estados-
125 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito -membros.
constitucional e teoria da constituição. 2. ed. Coimbra: Almedina, 126 PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito
1998. constitucional internacional. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
Didatismo e Conhecimento 66
NOÇÕES DE DIREITO
2. Cada um dos referidos governos pode propor até três can- a) estimular a consciência dos direitos humanos nos povos
didatos, nacionais do Estado que os propuser ou de qualquer da América;
outro Estado-membro da Organização dos Estados Americanos. b) formular recomendações aos governos dos Estados-mem-
Quando for proposta uma lista de três candidatos, pelo menos um bros, quando considerar conveniente, no sentido de que adotem
deles deverá ser nacional de Estado diferente do proponente. medidas progressivas em prol dos direitos humanos no âmbito
Cada Estado-membro pode apresentar uma lista com três can- de suas leis internas e seus preceitos constitucionais, bem como
didatos e, possuindo este número, um deles deverá ser de outra disposições apropriadas para promover o devido respeito a esses
nacionalidade. direitos;
c) preparar estudos ou relatórios que considerar convenien-
Artigo 37 - 1. Os membros da Comissão serão eleitos por tes para o desempenho de suas funções;
quatro anos e só poderão ser reeleitos um vez, porém o mandato d) solicitar aos governos dos Estados-membros que lhe pro-
porcionem informações sobre as medidas que adotarem em maté-
de três dos membros designados na primeira eleição expirará ao
ria de direitos humanos;
cabo de dois anos. Logo depois da referida eleição, serão deter-
e) atender às consultas que, por meio da Secretaria Geral da
minados por sorteio, na Assembleia Geral, os nomes desses três Organização dos Estados Americanos, lhe formularem os Estados-
membros. -membros sobre questões relacionadas com os direitos humanos e,
2. Não pode fazer parte da Comissão mais de um nacional de dentro de suas possibilidades, prestar-lhes o assessoramento que
um mesmo país. lhes solicitarem;
O mandato é de 4 anos, aceita uma reeleição. f) atuar com respeito às petições e outras comunicações, no
Não é permitido que dois nacionais do mesmo país compo- exercício de sua autoridade, de conformidade com o disposto nos
nham a Comissão. artigos 44 a 51 desta Convenção; e
g) apresentar um relatório anual à Assembleia Geral da Or-
Artigo 38 - As vagas que ocorrerem na Comissão, que não se ganização dos Estados Americanos.
devam à expiração normal do mandato, serão preenchidas pelo O artigo 41 permite uma compreensão clara a respeito das
Conselho Permanente da Organização, de acordo com o que dis- funções da Comissão: fomentar a consciência do dever de respeito
puser o Estatuto da Comissão. aos direitos humanos, formular recomendações a Estados-mem-
O Conselho Permanente da Organização preencherá as vagas bros que estejam violando a Convenção, além de atender a consul-
que surjam por motivos diversos de fim de mandato, por exemplo, tas que estes façam, podendo redigir estudos e relatórios e solicitar
morte ou renúncia do membro da Comissão. informações para tanto. Também deverá apresentar relatório anual
sobre sua atuação.
Artigo 39 - A Comissão elaborará seu estatuto e submetê-lo-á
Artigo 42 - Os Estados-partes devem submeter à Comissão
à aprovação da Assembleia Geral e expedirá seu próprio Regu- cópia dos relatórios e estudos que, em seus respectivos campos,
lamento. submetem anualmente às Comissões Executivas do Conselho In-
O regulamento da Comissão discrimina como se dá a sua atua- teramericano Econômico e Social e do Conselho Interamericano
ção em detalhes. Por sua vez, o Estatuto da Comissão foi aprovado de Educação, Ciência e Cultura, a fim de que aquela zele para que
pela resolução AG/RES. 447 (IX-O/79), adotada pela Assembleia se promovam os direitos decorrentes das normas econômicas, so-
Geral da OEA, em seu Nono Período Ordinário de Sessões, re- ciais e sobre educação, ciência e cultura, constantes da Carta da
alizado em La Paz, Bolívia, em outubro de 1979. Nota-se que o Organização dos Estados Americanos, reformada pelo Protocolo
Regulamento não passa pelo crivo da Assembleia, mas somente o de Buenos Aires.
Estatuto. isto é coerente porque enquanto o Regulamento é mais Ambas Comissões em referência fazem parte da Organização
formal, tratando de questões ligadas ao modo de atuação da Co- dos Estados Americanos. A elas são submetidos relatórios e estu-
missão, o Estatuto é mais profundo, trazendo princípios e finalida- dos, os quais devem ser também enviados à Comissão em estudo,
des que regem a Comissão. para que ela desempenhe adequadamente suas funções.
Artigo 40 - Os serviços da Secretaria da Comissão devem ser Artigo 43 - Os Estados-partes obrigam-se a proporcionar à
desempenhados pela unidade funcional especializada que faz par- Comissão as informações que esta lhes solicitar sobre a manei-
te da Secretaria Geral da Organização e deve dispor dos recursos ra pela qual seu direito interno assegura a aplicação efetiva de
quaisquer disposições desta Convenção.
necessários para cumprir as tarefas que lhe forem confiadas pela
A Comissão precisa de tais informações para decidir os ca-
Comissão.
sos que lhe sejam submetidos, por exemplo, para recomendar uma
Secretarias são órgãos administrativos e burocráticos que ampliação na proteção de forma que as violações não mais acon-
mantém o funcionamento da instituição principal. Não há uma se- teçam.
cretaria específica para a Comissão, que se utiliza da secretaria da
OEA. Seção 3 - Competência
Didatismo e Conhecimento 67
NOÇÕES DE DIREITO
Atenção: qualquer pessoa ou grupo de pessoas pode represen- um prazo de 6 meses, que não esteja pendente outra busca de so-
tar! Esta pergunta é frequente em concursos. lução internacional e identificação da pessoa ou grupo de pessoas
ou entidade não-governamental (se for o caso). Dispensa-se o es-
Artigo 45 - 1. Todo Estado-parte pode, no momento do de- gotamento de recursos e a consequente passagem de 6 meses como
pósito do seu instrumento de ratificação desta Convenção, ou de prazo quando não existir normas de proteção ao devido processo
adesão a ela, ou em qualquer momento posterior, declarar que legal no Estado, quando tiver sido impedido ou dificultado o aces-
reconhece a competência da Comissão para receber e examinar so ao Judiciário no país ou quando houver demora sem motivos
as comunicações em que um Estado-parte alegue haver outro para o processamento interno.
Estado-parte incorrido em violações dos direitos humanos estabe-
lecidos nesta Convenção. Artigo 47 - A Comissão declarará inadmissível toda petição
2. As comunicações feitas em virtude deste artigo só podem ou comunicação apresentada de acordo com os artigos 44 ou 45
ser admitidas e examinadas se forem apresentadas por um Estado- quando:
-parte que haja feito uma declaração pela qual reconheça a refe- a) não preencher algum dos requisitos estabelecidos no artigo 46;
rida competência da Comissão. A Comissão não admitirá nenhu-
b) não expuser fatos que caracterizem violação dos direitos
ma comunicação contra um Estado-parte que não haja feito tal
garantidos por esta Convenção;
declaração.
c) pela exposição do próprio peticionário ou do Estado, for
3. As declarações sobre reconhecimento de competência po-
dem ser feitas para que esta vigore por tempo indefinido, por perí- manifestamente infundada a petição ou comunicação ou for evi-
odo determinado ou para casos específicos. dente sua total improcedência; ou
4. As declarações serão depositadas na Secretaria Geral da d) for substancialmente reprodução de petição ou comunica-
Organização dos Estados Americanos, a qual encaminhará cópia ção anterior, já examinada pela Comissão ou por outro organis-
das mesmas aos Estados-membros da referida Organização. mo internacional.
Seja no momento de depósito da ratificação, seja posterior- A Comissão fará um exame prévio da petição ou comunicação
mente, o Estado-parte pode reconhecer a competência da Comis- para decidir se irá processá-la ou arquivá-la, no qual são avaliados
são para receber e examinar comunicações de um Estado-parte a os requisitos acima.
respeito de outro Estado-parte que tenha cometido violações. Se
não reconhecê-la, não poderá apresentar comunicações neste sen- Seção 4 - Processo
tido. No entanto, a declaração pode ser feita por tempo determina- Artigo 48 - 1. A Comissão, ao receber uma petição ou co-
do ou para casos específicos, sendo depositada na Secretaria Geral municação na qual se alegue a violação de qualquer dos direitos
da OEA. Somente no caso do artigo 45 que o Estado-parte pode consagrados nesta Convenção, procederá da seguinte maneira:
representar à Comissão. a) se reconhecer a admissibilidade da petição ou comunica-
ção, solicitará informações ao Governo do Estado ao qual perten-
Artigo 46 - Para que uma petição ou comunicação apresenta- ça a autoridade apontada como responsável pela violação alegada
da de acordo com os artigos 44 ou 45 seja admitida pela Comis- e transcreverá as partes pertinentes da petição ou comunicação.
são, será necessário: As referidas informações devem ser enviadas dentro de um prazo
a) que hajam sido interpostos e esgotados os recursos da ju- razoável, fixado pela Comissão ao considerar as circunstâncias
risdição interna, de acordo com os princípios de Direito Interna- de cada caso;
cional geralmente reconhecidos; A comunicação ou petição passou pelo crivo do artigo 47 e
b) que seja apresentada dentro do prazo de seis meses, a par- será processada. O primeiro passo é a solicitação de informações
tir da data em que o presumido prejudicado em seus direitos tenha do governo ao qual pertença a autoridade apontada como respon-
sido notificado da decisão definitiva; sável pela violação, informando o conteúdo da comunicação ou
c) que a matéria da petição ou comunicação não esteja pen-
petição, fixando-se prazo.
dente de outro processo de solução internacional; e
b) recebidas as informações, ou transcorrido o prazo fixado
d) que, no caso do artigo 44, a petição contenha o nome, a
sem que sejam elas recebidas, verificará se existem ou subsistem
nacionalidade, a profissão, o domicílio e a assinatura da pessoa
ou pessoas ou do representante legal da entidade que submeter a os motivos da petição ou comunicação. No caso de não existirem
petição. ou não subsistirem, mandará arquivar o expediente;
2. As disposições das alíneas “a” e “b” do inciso 1 deste c) poderá também declarar a inadmissibilidade ou a impro-
artigo não se aplicarão quando: cedência da petição ou comunicação, com base em informação ou
a) não existir, na legislação interna do Estado de que se tra- prova supervenientes;
tar, o devido processo legal para a proteção do direito ou direitos Recebidas as informações ou transcorrido o prazo decidirá se
que se alegue tenham sido violados; continuará o processamento da petição ou comunicação, arquivan-
b) não se houver permitido ao presumido prejudicado em do-a, decidindo-a pela improcedência ou dando o próximo passo
seus direitos o acesso aos recursos da jurisdição interna, ou hou- para a continuidade.
ver sido ele impedido de esgotá-los; e d) se o expediente não houver sido arquivado, e com o fim de
c) houver demora injustificada na decisão sobre os mencio- comprovar os fatos, a Comissão procederá, com conhecimento das
nados recursos. partes, a um exame do assunto exposto na petição ou comunica-
O artigo 46 é incidente em concursos, trazendo os requisitos ção. Se for necessário e conveniente, a Comissão procederá a uma
para que a petição ou comunicação seja processada pela Comissão: investigação para cuja eficaz realização solicitará, e os Estados
esgotamento de recursos no plano interno, a partir do qual se conta interessados lhe proporcionarão, todas as facilidades necessárias;
Didatismo e Conhecimento 68
NOÇÕES DE DIREITO
Decidido continuar o expediente, produz-se provas. Em três meses o Estado-parte no qual ocorreu a violação deve
e) poderá pedir aos Estados interessados qualquer informa- apresentar uma solução ou levar o caso à Corte Interamericana
ção pertinente e receberá, se isso for solicitado, as exposições ver- de Direitos Humanos, ou se a Comissão não levar o caso à Corte
bais ou escritas que apresentarem os interessados; e reconhecendo sua competência para o julgamento daquele caso, a
Pode, ainda, pedir informações. Comissão poderá emitir sua opinião e conclusões sobre a questão,
f) pôr-se-á à disposição das partes interessadas, a fim de che- num julgamento conclusivo.
gar a uma solução amistosa do assunto, fundada no respeito aos 2. A Comissão fará as recomendações pertinentes e fixará um
direitos reconhecidos nesta Convenção. prazo dentro do qual o Estado deve tomar as medidas que lhe
Deve, ainda, se colocar à disposição para uma solução ami- competir para remediar a situação examinada.
gável. 3. Transcorrido o prazo fixado, a Comissão decidirá, pelo
2. Entretanto, em casos graves e urgentes, pode ser realiza- voto da maioria absoluta dos seus membros, se o Estado tomou
da uma investigação, mediante prévio consentimento do Estado ou não as medidas adequadas e se publica ou não seu relatório.
em cujo território se alegue houver sido cometida a violação, tão Este julgamento conclusivo irá trazer as providências espe-
radas do Estado-parte em certo prazo, após o qual se decidirá se
somente com a apresentação de uma petição ou comunicação que
ele tomou ou não tais medidas assecuratórias num relatório con-
reúna todos os requisitos formais de admissibilidade.
clusivo.
É possível abreviar estas etapas no caso de uma denúncia
grave, procedendo desde logo com a investigação, desde que com
Capítulo VIII - CORTE INTERAMERICANA DE DIREI-
autorização do Estado. TOS HUMANOS
Artigo 49 - Se se houver chegado a uma solução amistosa de Seção 1 - Organização
acordo com as disposições do inciso 1, “f”, do artigo 48, a Comis-
são redigirá um relatório que será encaminhado ao peticionário Artigo 52 - 1. A Corte compor-se-á de sete juízes, nacionais
e aos Estados-partes nesta Convenção e posteriormente transmi- dos Estados-membros da Organização, eleitos a título pessoal
tido, para sua publicação, ao Secretário Geral da Organização dentre juristas da mais alta autoridade moral, de reconhecida
dos Estados Americanos. O referido relatório conterá uma bre- competência em matéria de direitos humanos, que reúnam as
ve exposição dos fatos e da solução alcançada. Se qualquer das condições requeridas para o exercício das mais elevadas funções
partes no caso o solicitar, ser-lhe-á proporcionada a mais ampla judiciais, de acordo com a lei do Estado do qual sejam nacionais,
informação possível. ou do Estado que os propuser como candidatos.
Obtida a conciliação será redigido um relatório, que será en- 2. Não deve haver dois juízes da mesma nacionalidade.
caminhado a todos Estados-partes da Convenção e transmitido ao São 7 os membros, todos de nacionalidade diferente. Cada
Secretário Geral da OEA, contendo uma breve exposição dos fatos qual deve ser nacional de algum Estado-membro da OEA, juris-
e da solução alcançada. ta de alta autoridade moral e reconhecida competência na área,
reunindo condições para exercício das mais elevadas funções judi-
Artigo 50 - 1. Se não se chegar a uma solução, e dentro do ciais conforme requisitos do país pelo qual é indicado. por exem-
prazo que for fixado pelo Estatuto da Comissão, esta redigirá um plo, no Brasil, seria a capacidade de exercer um cargo de ministro
relatório no qual exporá os fatos e suas conclusões. Se o relató- perante os Tribunais Superiores.
rio não representar, no todo ou em parte, o acordo unânime dos
membros da Comissão, qualquer deles poderá agregar ao referido Artigo 53 - 1. Os juízes da Corte serão eleitos, em votação
relatório seu voto em separado. Também se agregarão ao relatório secreta e pelo voto da maioria absoluta dos Estados-partes na
as exposições verbais ou escritas que houverem sido feitas pelos Convenção, na Assembleia Geral da Organização, a partir de uma
lista de candidatos propostos pelos mesmos Estados.
interessados em virtude do inciso 1, “e”, do artigo 48.
Haverá uma eleição com voto secreto, exigido quórum de
2. O relatório será encaminhado aos Estados interessados,
maioria absoluta (mais da metade de todos Estados-partes da Con-
aos quais não será facultado publicá-lo.
venção).
3. Ao encaminhar o relatório, a Comissão pode formular as
2. Cada um dos Estados-partes pode propor até três candi-
proposições e recomendações que julgar adequadas. datos, nacionais do Estado que os propuser ou de qualquer outro
Não obtida a conciliação, será expedido um relatório, no qual Estado-membro da Organização dos Estados Americanos. Quan-
se decidirá se houve de fato violação de direitos humanos e serão do se propuser um lista de três candidatos, pelo menos um deles
formuladas proposições e recomendações, se o caso. A ele serão deverá ser nacional do Estado diferente do proponente.
agregados eventuais votos dissidentes e exposições dos interessa- Regra idêntica à da Comissão.
dos.
Artigo 54 - 1. Os juízes da Corte serão eleitos por um período
Artigo 51 - 1. Se no prazo de três meses, a partir da remessa de seis anos e só poderão ser reeleitos uma vez. O mandato de três
aos Estados interessados do relatório da Comissão, o assunto não dos juízes designados na primeira eleição expirará ao cabo de três
houver sido solucionado ou submetido à decisão da Corte pela anos. Imediatamente depois da referida eleição, determinar-se-ão
Comissão ou pelo Estado interessado, aceitando sua competência, por sorteio, na Assembleia Geral, os nomes desse três juízes.
a Comissão poderá emitir, pelo voto da maioria absoluta dos seus Mandato de 6 anos, aceita uma reeleição.
membros, sua opinião e conclusões sobre a questão submetida à 2. O juiz eleito para substituir outro, cujo mandato não haja
sua consideração. expirado, completará o período deste.
Didatismo e Conhecimento 69
NOÇÕES DE DIREITO
3. Os juízes permanecerão em suas funções até o término dos Diferente da Comissão, a Corte possui uma secretaria especí-
seus mandatos. Entretanto, continuarão funcionando nos casos de fica, a qual será dirigida pelo Secretário geral da OEA, que nome-
que já houverem tomado conhecimento e que se encontrem em fase ará funcionários após consultado o Secretário da Corte, respeitada
de sentença e, para tais efeitos, não serão substituídos pelos novos sempre a independência da Corte.
juízes eleitos.
Mesmo após o mandato de 6 anos, independente de reeleição, Artigo 60 - A Corte elaborará seu Estatuto e submetê-lo-á à
os juízes continuarão julgando os casos que estiverem sendo pro- aprovação da Assembleia Geral e expedirá seu Regimento.
cessados perante eles. Foi aprovado pela resolução AG/RES n° 448 (IX-O/79), ado-
tada pela Assembleia Geral da OEA, em seu Nono Período Ordi-
Artigo 55 - 1. O juiz, que for nacional de algum dos Estados- nário de Sessões, realizado em La Paz, Bolívia, outubro de 1979.
-partes em caso submetido à Corte, conservará o seu direito de
conhecer do mesmo. Seção 2 - Competência e funções
2. Se um dos juízes chamados a conhecer do caso for de na-
cionalidade de um dos Estados-partes, outro Estado-parte no caso Artigo 61 - 1. Somente os Estados-partes e a Comissão têm
poderá designar uma pessoa de sua escolha para integrar a Corte,
direito de submeter um caso à decisão da Corte.
na qualidade de juiz ad hoc.
2. Para que a Corte possa conhecer de qualquer caso, é ne-
3. Se, dentre os juízes chamados a conhecer do caso, nenhum
cessário que sejam esgotados os processos previstos nos artigos
for da nacionalidade dos Estados-partes, cada um destes poderá
designar um juiz ad hoc. 48 a 50.
4. O juiz ad hoc deve reunir os requisitos indicados no artigo 52. Atenção: diferente do que ocorre nas Comissões, não é qual-
5. Se vários Estados-partes na Convenção tiverem o mesmo quer pessoa que pode submeter um caso à Corte, mas somente
interesse no caso, serão considerados como uma só parte, para Estados-partes e a própria Comissão.
os fins das disposições anteriores. Em caso de dúvida, a Corte
decidirá. Artigo 62 - 1. Todo Estado-parte pode, no momento do de-
Se algum juiz do caso foi nacional de um dos Estados-parte pósito do seu instrumento de ratificação desta Convenção ou de
não precisará se afastar, mas o seu país não poderá indicar um juiz adesão a ela, ou em qualquer momento posterior, declarar que
ad hoc. Quando não for nacional, ambos Estados-partes poderão reconhece como obrigatória, de pleno direito e sem convenção
indicar o juiz ad hoc, mas se forem muitos os Estados-partes com especial, a competência da Corte em todos os casos relativos à
o mesmo interesse eles serão considerados como uma única parte interpretação ou aplicação desta Convenção.
(indicando um só juiz ad hoc). 2. A declaração pode ser feita incondicionalmente, ou sob
condição de reciprocidade, por prazo determinado ou para casos
Artigo 56 - O quorum para as deliberações da Corte é cons- específicos. Deverá ser apresentada ao Secretário Geral da Or-
tituído por cinco juízes. ganização, que encaminhará cópias da mesma a outros Estados-
Ao menos 5 juízes da Corte devem participar da decisão. -membros da Organização e ao Secretário da Corte.
3. A Corte tem competência para conhecer de qualquer caso,
Artigo 57 - A Comissão comparecerá em todos os casos pe- relativo à interpretação e aplicação das disposições desta Con-
rante a Corte. venção, que lhe seja submetido, desde que os Estados-partes no
Ainda que a Comissão não leve o caso à Corte, sempre será caso tenham reconhecido ou reconheçam a referida competência,
ouvida. seja por declaração especial, como prevêem os incisos anteriores,
seja por convenção especial.
Artigo 58 - 1. A Corte terá sua sede no lugar que for determi- No momento do depósito do instrumento de ratificação ou
nado, na Assembleia Geral da Organização, pelos Estados-partes posteriormente o Estado-parte pode reconhecer como obrigatória
na Convenção, mas poderá realizar reuniões no território de qual-
a competência da Corte, de maneira condicionada ou incondicio-
quer Estado-membro da Organização dos Estados Americanos em
nada - é a chamada declaração especial. Por convenção especial
que considerar conveniente, pela maioria dos seus membros e
entende-se um tipo de tratado internacional com este fim. É preci-
mediante prévia aquiescência do Estado respectivo. Os Estados-
-partes na Convenção podem, na Assembleia Geral, por dois ter- so ao menos uma das duas para que a Corte possa apreciar o caso
ços dos seus votos, mudar a sede da Corte. relativo ao Estado-parte.
2. A Corte designará seu Secretário.
3. O Secretário residirá na sede da Corte e deverá assistir às Artigo 63 - 1. Quando decidir que houve violação de um direi-
reuniões que ela realizar fora da mesma. to ou liberdade protegidos nesta Convenção, a Corte determinará
A sede da Corte fica em São José, na Costa Rica. podendo que se assegure ao prejudicado o gozo do seu direito ou liberdade
realizar reuniões em outras localidades. Somente o secretário obri- violados. Determinará também, se isso for procedente, que sejam
gatoriamente residirá na sede. reparadas as consequências da medida ou situação que haja con-
figurado a violação desses direitos, bem como o pagamento de
Artigo 59 - A Secretaria da Corte será por esta estabelecida e indenização justa à parte lesada.
funcionará sob a direção do Secretário Geral da Organização em O artigo resume neste inciso as providências que a Corte pode
tudo o que não for incompatível com a independência da Corte. determinar, basicamente: que seja assegurado o direito ou liberda-
Seus funcionários serão nomeados pelo Secretário Geral da Or- de violado e, se o caso, que sejam reparadas as consequências da
ganização, em consulta com o Secretário da Corte. violação, além do pagamento de indenização ao lesado.
Didatismo e Conhecimento 70
NOÇÕES DE DIREITO
2. Em casos de extrema gravidade e urgência, e quando se Artigo 68 - 1. Os Estados-partes na Convenção comprome-
fizer necessário evitar danos irreparáveis às pessoas, a Corte, nos tem-se a cumprir a decisão da Corte em todo caso em que forem
assuntos de que estiver conhecendo, poderá tomar as medidas partes.
provisórias que considerar pertinentes. Se se tratar de assuntos 2. A parte da sentença que determinar indenização compensa-
que ainda não estiverem submetidos ao seu conhecimento, poderá tória poderá ser executada no país respectivo pelo processo inter-
atuar a pedido da Comissão. no vigente para a execução de sentenças contra o Estado.
Mesmo antes do final do julgamento a Corte pode tomar pro- A decisão da Corte deverá ser cumprida pelos Estados-partes,
vidências provisórias. Também pode intervir quando o caso ainda sob pena de sanção internacional.
estiver na Comissão, desde que esta requeira. Eventual indenização a ser paga pelo Estado-parte será pro-
cessada conforme as normas de execução internas, logo, a senten-
Artigo 64 - 1. Os Estados-membros da Organização poderão ça é título executivo.
consultar a Corte sobre a interpretação desta Convenção ou de
outros tratados concernentes à proteção dos direitos humanos nos Artigo 69 - A sentença da Corte deve ser notificada às partes
Estados americanos. Também poderão consultá-la, no que lhes no caso e transmitida aos Estados-partes na Convenção.
compete, os órgãos enumerados no capítulo X da Carta da Or- Assim é conferida publicidade à sentença não só quanto aos
ganização dos Estados Americanos, reformada pelo Protocolo de envolvidos, mas quanto a todos Estados-partes, que ficarão cientes
do posicionamento da Corte em relação a certa matéria, podendo
Buenos Aires.
eventualmente corrigir alguma postura interna.
Trata-se da competência consultiva da Corte. Afinal, a Corte
não serve apenas para julgar litígios, mas para aconselhar e di-
Capítulo IX - DISPOSIÇÕES COMUNS
recionar o cumprimento das normas de direitos humanos, o que
inclui fazer interpretações que esclareçam dúvidas dos Estados- Artigo 70 - 1. Os juízes da Corte e os membros da Comis-
-membros. Obs.: A Comissão também possui competência consul- são gozam, desde o momento da eleição e enquanto durar o seu
tiva. mandato, das imunidades reconhecidas aos agentes diplomáticos
2. A Corte, a pedido de um Estado-membro da Organização, pelo Direito Internacional. Durante o exercício dos seus cargos
poderá emitir pareceres sobre a compatibilidade entre qualquer gozam, além disso, dos privilégios diplomáticos necessários para
de suas leis internas e os mencionados instrumentos internacio- o desempenho de suas funções.
nais. 2. Não se poderá exigir responsabilidade em tempo algum dos
Esta é uma das situações em que a Corte poderá emitir parecer juízes da Corte, nem dos membros da Comissão, por votos e opini-
no exercício da competência consultiva. ões emitidos no exercício de suas funções.
As imunidades diplomáticas no curso do mandato são confe-
Artigo 65 - A Corte submeterá à consideração da Assembleia ridas aos juízes da Comissão e da Corte.
Geral da Organização, em cada período ordinário de sessões, um Estes juízes não poderão ser responsabilizados por seus votos
relatório sobre as suas atividades no ano anterior. De maneira e opiniões, o que influenciaria na independência com a qual devem
especial, e com as recomendações pertinentes, indicará os casos atuar em suas funções.
em que um Estado não tenha dado cumprimento a suas sentenças.
O artigo especifica quando e como a Corte deverá apresentar Artigo 71 - Os cargos de juiz da Corte ou de membro da
relatório de suas atividades: ele é anual e informa as recomenda- Comissão são incompatíveis com outras atividades que possam
ções feitas e as medidas que tenham sido ou não cumpridas. afetar sua independência ou imparcialidade, conforme o que for
determinado nos respectivos Estatutos.
Seção 3 - Processo O juiz não pode assumir obrigações incompatíveis com o car-
go que exerce. Por exemplo, ministro de Estado num dos Estados-
Artigo 66 - 1. A sentença da Corte deve ser fundamentada. -partes da Convenção.
A Corte deve justificar sua decisão, referindo-se às provas dos
Artigo 72 - Os juízes da Corte e os membros da Comissão
autos e às normas de direitos humanos vigentes.
perceberão honorários e despesas de viagem na forma e nas con-
2. Se a sentença não expressar no todo ou em parte a opinião
dições que determinarem os seus Estatutos, levando em conta a
unânime dos juízes, qualquer deles terá direito a que se agregue à
importância e independência de suas funções. Tais honorários e
sentença o seu voto dissidente ou individual. despesas de viagem serão fixados no orçamento-programa da Or-
Se o voto não for unânime, ou seja, o mesmo para todos, o ganização dos Estados Americanos, no qual devem ser incluídas,
voto dissidente ou diverso será juntado à sentença e não ignorado. além disso, as despesas da Corte e da sua Secretaria. Para tais
efeitos, a Corte elaborará o seu próprio projeto de orçamento e
Artigo 67 - A sentença da Corte será definitiva e inapelável. submetê-lo-á à aprovação da Assembleia Geral, por intermédio
Em caso de divergência sobre o sentido ou alcance da sentença, a da Secretaria Geral. Esta última não poderá nele introduzir mo-
Corte interpretá-la-á, a pedido de qualquer das partes, desde que dificações.
o pedido seja apresentado dentro de noventa dias a partir da data O artigo abrange o custeio dos juízes.
da notificação da sentença.
A sentença é definitiva e inapelável, ou seja, não é possível Artigo 73 - Somente por solicitação da Comissão ou da Corte,
interpor recurso para nenhum órgão, nem mesmo a Assembleia conforme o caso, cabe à Assembleia Geral da Organização resol-
Geral da OEA. No máximo, é possível pedir em até 90 dias escla- ver sobre as sanções aplicáveis aos membros da Comissão ou aos
recimentos sobre o seu conteúdo. juízes da Corte que incorrerem nos casos previstos nos respectivos
Didatismo e Conhecimento 71
NOÇÕES DE DIREITO
Estatutos. Para expedir uma resolução, será necessária maioria Artigo 77 - 1. De acordo com a faculdade estabelecida no
de dois terços dos votos dos Estados-membros da Organização, artigo 31, qualquer Estado-parte e a Comissão podem submeter à
no caso dos membros da Comissão; e, além disso, de dois terços consideração dos Estados-partes reunidos por ocasião da Assem-
dos votos dos Estados-partes na Convenção, se se tratar dos juízes bleia Geral projetos de Protocolos adicionais a esta Convenção,
da Corte. com a finalidade de incluir progressivamente, no regime de prote-
Somente o órgão ao qual o juiz pertence - Comissão ou Corte ção da mesma, outros direitos e liberdades.
- poderá requerer à Assembleia Geral a aplicação de sanção por 2. Cada Protocolo deve estabelecer as modalidades de sua
violação do respectivo estatuto. Tal sanção será aplicada mediante entrada em vigor e será aplicado somente entre os Estados-partes
resolução, exigindo-se quorum de 2/3 (qualificado) dos Estados- no mesmo.
-membros para os juízes da Corte e dos Estados-partes da Conven- Os Estados-partes podem propor alterações ou complementa-
ção para os juízes da Comissão. ções à Convenção, seja ao seu texto, seja por protocolos comple-
mentares, sendo necessária a adesão dos demais Estados-partes.
PARTE III - DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS
Capítulo X - ASSINATURA, RATIFICAÇÃO, RESERVA, Artigo 78 - 1. Os Estados-partes poderão denunciar esta Con-
EMENDA, PROTOCOLO E DENÚNCIA venção depois de expirado o prazo de cinco anos, a partir da data
em vigor da mesma e mediante aviso prévio de um ano, notifican-
Artigo 74 - 1. Esta Convenção está aberta à assinatura e à do o Secretário Geral da Organização, o qual deve informar as
ratificação de todos os Estados-membros da Organização dos Es- outras partes.
tados Americanos. 2. Tal denúncia não terá o efeito de desligar o Estado-parte
2. A ratificação desta Convenção ou a adesão a ela efetuar- interessado das obrigações contidas nesta Convenção, no que diz
-se-á mediante depósito de um instrumento de ratificação ou ade- respeito a qualquer ato que, podendo constituir violação dessas
são na Secretaria Geral da Organização dos Estados Americanos. obrigações, houver sido cometido por ele anteriormente à data na
Esta Convenção entrará em vigor logo que onze Estados houve- qual a denúncia produzir efeito.
rem depositado os seus respectivos instrumentos de ratificação ou A denúncia é o ato unilateral pelo qual uma Parte Contratante
de adesão. Com referência a qualquer outro Estado que a ratificar manifesta a sua vontade de deixar de ser Parte no tratado. Abrange
ou que a ela aderir ulteriormente, a Convenção entrará em vigor somente os atos posteriores a ela, não os anteriores.
na data do depósito do seu instrumento de ratificação ou adesão.
3. O Secretário Geral comunicará todos os Estados-membros Capítulo XI - DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS
da Organização sobre a entrada em vigor da Convenção.
A Convenção é um tratado internacional firmado no âmbito Seção 1 - Comissão Interamericana de Direitos Humanos
da Organização dos Estados Americanos, somente podendo ser
assinado e ratificado por Estados que a compõem. Assinatura e Artigo 79 - Ao entrar em vigor esta Convenção, o Secretário
ratificação são dois atos diferentes: a assinatura é o ato pelo qual Geral pedirá por escrito a cada Estado-membro da Organização
a autoridade competente assume o compromisso de cumprir o tra- que apresente, dentro de um prazo de noventa dias, seus candida-
tado internacional que se segue à negociação; ratificação é a con- tos a membro da Comissão Interamericana de Direitos Humanos.
firmação deste compromisso após o crivo do Poder Legislativo do O Secretário Geral preparará uma lista por ordem alfabética dos
Estado mediante o depósito do instrumento na Secretaria Geral. candidatos apresentados e a encaminhará aos Estados-membros
A convenção entrou em vigor em 18 de julho de 1978, quando da Organização, pelo menos trinta dias antes da Assembleia Geral
onze Estados já haviam depositado o instrumento de adesão. seguinte.
Artigo 75 - Esta Convenção só pode ser objeto de reservas em Artigo 80 - A eleição dos membros da Comissão far-se-á den-
conformidade com as disposições da Convenção de Viena sobre o tre os candidatos que figurem na lista a que se refere o artigo 79,
Direito dos Tratados, assinada em 23 de maio de 1969. por votação secreta da Assembleia Geral, e serão declarados elei-
A Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados (CVDT), tos os candidatos que obtiverem maior número de votos e a maio-
adotada em 22 de maio de 1969, codificou o direito internacional ria absoluta dos votos dos representantes dos Estados-membros.
consuetudinário referente aos tratados. A Convenção entrou em vi- Se, para eleger todos os membros da Comissão, for necessário
gor em 27 de janeiro de 1980. realizar várias votações, serão eliminados sucessivamente, na for-
ma que for determinada pela Assembleia Geral, os candidatos que
Artigo 76 - 1. Qualquer Estado-parte, diretamente, e a Co- receberem maior número de votos.
missão e a Corte, por intermédio do Secretário Geral, podem
submeter à Assembleia Geral, para o que julgarem conveniente, Seção 2 - Corte Interamericana de Direitos Humanos
proposta de emendas a esta Convenção.
2. Tais emendas entrarão em vigor para os Estados que as ra- Artigo 81 - Ao entrar em vigor esta Convenção, o Secretá-
tificarem, na data em que houver sido depositado o respectivo ins- rio Geral pedirá a cada Estado-parte que apresente, dentro de
trumento de ratificação, por dois terços dos Estados-partes nesta um prazo de noventa dias, seus candidatos a juiz da Corte Inte-
Convenção. Quanto aos outros Estados-partes, entrarão em vigor ramericana de Direitos Humanos. O Secretário Geral preparará
na data em que eles depositarem os seus respectivos instrumentos uma lista por ordem alfabética dos candidatos apresentados e a
de ratificação. encaminhará aos Estados-partes pelo menos trinta dias antes da
Assembleia Geral seguinte.
Didatismo e Conhecimento 72
NOÇÕES DE DIREITO
Artigo 82 - A eleição dos juízes da Corte far-se-á dentre os d) o relativismo cultural, a indivisibilidade e a interdependên-
candidatos que figurem na lista a que se refere o artigo 81, por cia dos direitos humanos, conferindo primazia aos direitos econô-
votação secreta dos Estados-partes, na Assembleia Geral, e serão micos, sociais e culturais, como condição ao exercício dos direitos
declarados eleitos os candidatos que obtiverem o maior número de civis e políticos.
votos e a maioria absoluta dos votos dos representantes dos Esta- e) a universalidade, a indivisibilidade e a interdependência
dos-partes. Se, para eleger todos os juízes da Corte, for necessário dos direitos humanos, conferindo primazia aos direitos econômi-
realizar várias votações, serão eliminados sucessivamente, na for- cos, sociais e culturais, como condição ao exercício dos direitos
ma que for determinada pelos Estados-partes, os candidatos que civis e políticos.
receberem menor número de votos. R: B. A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948
Os artigos 79 a 82 trazem as regras para a formação dos dois reconhece todos os direitos humanos, sejam eles da primeira, da
órgãos criados pela Convenção, a Comissão Interamericana de Di- segunda ou da terceira dimensão, como essenciais à dignidade
reitos Humanos e a Corte Interamericana de Direitos Humanos. humana. Logo, não há primazia entre eles. No mais, de fato, di-
reitos humanos são dotados de universalidade (valem para todos
Adotada e aberta à assinatura na Conferência Especializada seres humanos, garantindo-se um sistema global), indivisibilidade
Interamericana sobre Direitos Humanos, em San José de Costa (compõem um único conjunto de direitos porque não podem ser
Rica, em 22.11.1969 - ratificada pelo Brasil em 25.09.1992. analisados de maneira isolada, separada) e interdependência (as
dimensões de direitos humanos apresentam uma relação orgâni-
EXERCÍCIOS ca entre si, logo, a dignidade da pessoa humana deve ser buscada
por meio da implementação mais eficaz e uniforme das liberda-
1. (ESAF - 2012 - CGU - Analista de Finanças e Controle - des clássicas, dos direitos sociais, econômicos e de solidariedade
Prevenção da Corrupção e Ouvidoria) Marque a opção incorreta: como um todo único e indissolúvel).
a) os Fundamentos e Princípios dos Direitos Humanos têm
como finalidade a observância e proteção da dignidade da pessoa 3. (FGV - 2011 - OAB) Com relação aos chamados “direitos
humana de maneira universal. econômicos, sociais e culturais”, é correto afirmar que:
b) Direitos Humanos, Direitos Fundamentais e Direitos do a) são direitos humanos de segunda geração, o que significa
Homem não possuem o mesmo significado. Assim, a primeira no- que não são juridicamente exigíveis, diferentemente do que ocorre
menclatura surgida foi a dos Direitos Fundamentais, a qual remon- com os direitos civis e políticos.
ta a época do jusnaturalismo.
b) são previstos, no âmbito do sistema interamericano, no
c) a concepção contemporânea de Direitos Humanos destaca
texto original da Convenção Americana sobre Direitos Humanos
que eles são vistos como uma unidade indivisível, interdependente
(Pacto de San José da Costa Rica).
e inter-relacionada, capaz de conjugar o catálogo de direitos civis
c) formam, juntamente com os direitos civis e políticos, um
e políticos ao catálogo de direitos sociais, econômicos e culturais.
conjunto indivisível de direitos fundamentais, entre os quais não
d) surge uma concepção denominada pós-contemporânea dos
há qualquer relação hierárquica.
Direitos Humanos com a Declaração de Viena.
d) incluem o direito à participação no processo eleitoral, à
e) tendo em vista a influência do pensamento religioso e do
educação, à alimentação e à previdência social.
sistema político, as diversas teorizações sobre direitos humanos
encontram-se profundamente relacionadas às prerrogativas esta- R: C. A única coisa que distingue os direitos civis e políticos
mentais e à hierarquia secular. dos direitos econômicos, sociais e culturais é que os primeiros,
R: B. A alternativa “b” está incorreta porque direitos huma- pertencentes à 1ª dimensão de direitos humanos, exigem do Es-
nos, direitos fundamentais e direitos do homem não possuem o tado apenas uma postura passiva, de não intervenção, enquanto
mesmo significado, além do que há maior relação dos direitos do que o seu exercício se dá diretamente pelos indivíduos com maior
homem com o jusnaturalismo do que dos direitos fundamentais, facilidade; já os segundos, componentes da 2ª dimensão, exigem
conceito predominantemente contratualista, embora correlaciona- do Estado uma postura ativa, ou seja, a elaboração de políticas pú-
do com os direitos do homem e os direitos humanos. blicas para a efetivação destes direitos. Por isso, são disciplinados
internacionalmente em dois Pactos. No entanto, como a Declara-
2. (FCC - 2009 - DPE-MA - Defensor Público) Ao introduzir a ção Universal dos Direitos Humanos confere a ambos a mesma
concepção contemporânea de direitos humanos, a Declaração Uni- essencialidade para a dignidade humana é possível afirmar que não
versal de Direitos Humanos de 1948 afirma que: existe entre eles nenhuma relação hierárquica.
a) o relativismo cultural, a indivisibilidade e a interdependên-
cia dos direitos humanos, conferindo primazia ao valor da solida- 4. (MPE-SP - 2011 - MPE-SP - Promotor de Justiça) O princí-
riedade, como condição ao exercício dos direitos civis, políticos, pio da dignidade da pessoa humana:
econômicos, sociais e culturais. a) está previsto constitucionalmente como um dos fundamen-
b) a universalidade, a indivisibilidade e a interdependência tos da República e constitui um núcleo essencial de irradiação dos
dos direitos humanos, conferindo paridade hierárquica entre di- direitos humanos, devendo ser levado em conta em todas as áreas
reitos civis e políticos e direitos econômicos, sociais e culturais. na atuação do Ministério Público.
c) a universalidade, a indivisibilidade e a interdependência b) não está previsto constitucionalmente, mas consta do cha-
dos direitos humanos, conferindo primazia aos direitos civis e po- mado Pacto de São José da Costa Rica, possuindo grande centra-
líticos, como condição ao exercício dos direitos econômicos, so- lidade no reconhecimento dos direitos humanos e tendo reflexo na
ciais e culturais. atuação criminal do Ministério Público.
Didatismo e Conhecimento 73
NOÇÕES DE DIREITO
c) está previsto constitucionalmente como um dos objetivos R: D. Com a Declaração Universal dos Direitos Humanos
da República e possui grande centralidade no reconhecimento dos de 1948 se iniciou um processo de internacionalização dos direi-
direitos humanos, mas não tem reflexo direto na atuação criminal tos humanos porque ela foi o primeiro documento internacional
do Ministério Público. a abordar os direitos humanos, discriminando-os expressamente.
d) está previsto como um dos direitos fundamentais previstos Ocorre que com a crescente positivação do Direito pelo Estado
na Constituição Federal, serve de base aos direitos de personali- que se fez presente antes e durante as grandes guerras, ele se tor-
dade e deve ser considerado na atuação do Ministério Público, em nou um simples instrumento de gestão e comando da sociedade,
especial perante o juízo de família. ou seja, deixou de ser algo dado pela razão comum, gerando uma
e) não está previsto constitucionalmente, mas consta da De- mutabilidade no tempo e um particularismo no espaço: o lícito e o
claração Universal dos Direitos do Homem, constitui um núcleo ilícito passou a ser basicamente o que cada Estado impõe como tal,
não o consolidado pelo direito natural. O mundo somente tomou
essencial de irradiação dos direitos humanos, devendo ser levado
conhecimento da extensão da tirania alemã quando os exércitos
em conta em todas as áreas na atuação do Ministério Público.
Aliados abriram os campos de concentração na Alemanha e nos
R: A. O princípio da dignidade da pessoa humana, mais do que países por ela ocupados, encontrando prisioneiros famintos, do-
princípio, é fundamento, o que é reconhecido pela Constituição entes e brutalizados, além de milhões de corpos dos judeus, po-
Federal de 1988 em seu artigo 1º ao trazê-lo enquanto fundamento loneses, russos, ciganos, homossexuais e traidores do Reich em
da República no inciso III. No mais, é de fato núcleo essencial geral, que foram perseguidos, torturados e mortos. No Tribunal de
de proteção da pessoa humana, isto é, dos direitos humanos reco- Nuremberg, ao qual foram submetidos a julgamento os principais
nhecidos internacionalmente, merecendo respeito e consideração líderes nazistas, o principal argumento levantado foi o de que todas
por parte de todas instituições públicas, mas principalmente pelo as ações praticadas foram baseadas em ordens superiores, todas
Ministério Público, um dos principais responsáveis pela defesa dos dotadas de validade jurídica perante a Constituição. Percebeu-se a
direitos humanos fundamentais (notadamente de 3ª dimensão). necessidade de impedir que isto ocorresse novamente e, para tan-
to, os direitos naturais ora consagrados desde o início da história
5. (VUNESP - 2013 - PC-SP - Investigador de Polícia) Na foram positivados, num movimento de laicização e sistematização
evolução dos direitos humanos, costumam-se classificar, geral- do Direito característico do mundo moderno, formando uma ponte
mente, as gerações dos direitos em três fases (Eras dos Direitos), involuntária entre o jusnaturalismo e o positivismo jurídico.
conforme seu processo evolutivo histórico. Assinale a alternativa
que representa, correta e cronologicamente, essa classificação: 7. (VUNESP - 2008 - DPE-MS - Defensor Público) Conside-
a) direitos civis; direitos políticos; direitos fundamentais. rando a evolução histórica, os marcos jurídicos fundamentais e a
estrutura normativa dos Direitos Humanos, pode-se afirmar que:
b) igualdade; liberdade; fraternidade.
a) a globalização dos direitos humanos forçou os Estados a
c) direitos individuais; direitos coletivos; direitos políticos e escolherem entre um sistema global e um regional de proteção a
civis. esses direitos, uma vez que ambos sistemas não podiam coexistir.
d) direitos civis e políticos; direitos econômicos e sociais; di- b) os indivíduos passaram a ser sujeitos de direito internacio-
reitos difusos. nal, mas, por razões de soberania, ainda dependem dos Estados
e) liberdades positivas; liberdades negativas; direitos dos po- para acionar os mecanismos de proteção dos direitos humanos.
vos. c) a Declaração Universal dos Direitos Humanos introduziu
R: D. As dimensões de direitos humanos são verdadeiros fun- internacionalmente a concepção contemporânea desses direitos.
damentos de direitos humanos que se correlacionam com o funda- d) a vítima de uma lesão dos direitos humanos deverá acionar
mento da interdependência. Não são, assim, dimensões estanques, em sua proteção, nessa ordem, o sistema jurídico nacional, depois
mas que dialogam. Entretanto, podem ser detectadas em grupos o regional e, por último, o global, em razão da hierarquia da estru-
determinados de direitos, no seguinte sentido: direitos civis e po- tura normativa de proteção.
líticos correspondem à dimensão da liberdade (1ª); direitos econô- R: C. A alternativa “a” está incorreta porque os sistemas regio-
micos, sociais e culturais referem-se à dimensão da igualdade (2ª); nais (interamericano, europeu, africano...) coexistem com o global
e direitos difusos e coletivos abrangem a dimensão da fraternidade (Organização das Nações Unidas, notadamente); “b” está incorreta
(3ª). porque existem meios de acesso direto a mecanismos internacio-
nais de proteção de direitos humanos, por exemplo, representação
à Comissão Interamericana de Direitos Humanos; “d” está incorre-
6. (VUNESP - 2008 - DPE-MS - Defensor Público) Quando
ta porque não existe uma relação hierárquica entre os sistemas em
se fala em direitos humanos, considerando sua historicidade, é cor-
questão, além do que há exceções sobre o esgotamento de recursos
reto dizer que: no âmbito interno. Somente resta a alternativa “c”, que está corre-
a) somente passam a existir com as Declarações de Direitos ta, uma vez que a Declaração Universal dos Direitos Humanos de
elaboradas a partir da Revolução Gloriosa Inglesa de 1688. 1948 foi o primeiro documento internacional relevante a abordar
b) foram estabelecidos, pela primeira vez, por meio da Carta os direitos humanos que deveriam ser garantidos a todas as pesso-
Magna de 1215, que é a expressão maior da proteção dos Direitos as do planeta.
do Homem em âmbito universal.
c) a concepção contemporânea de Direitos Humanos foi in- 8. (CESPE - 2011 - DPE-MA - Defensor Público) Acerca da
troduzida, em 1789, pela Declaração dos Direitos do Homem e do afirmação histórica dos direitos humanos, assinale a opção correta:
Cidadão, fruto da Revolução Francesa. a) a Magna Carta, de 1215, instituiu a separação dos poderes
d) a internacionalização dos Direitos Humanos surge a partir ao declarar que o funcionamento do parlamento, um órgão que
do Pós-Guerra, como resposta às atrocidades cometidas durante o visa defender os súditos perante o rei, não pode estar sujeito ao
nazismo. arbítrio deste.
Didatismo e Conhecimento 74
NOÇÕES DE DIREITO
b) os sistemas das minorias e de mandatos, criados no âmbito nal dos direitos humanos foi a Segunda Guerra Mundial. Somente
das Nações Unidas, garantiam que os habitantes pertencentes às resta a alternativa d, que está correta porque direitos humanos são
minorias de determinados países europeus enviassem petições ao normas, as quais são editadas internacionalmente (tratados em ge-
Comitê de Minorias. ral) e nacionalmente (Constituição e leis infraconstitucionais).
c) a Declaração de Filadélfia é considerada a primeira carta
política a atribuir aos direitos trabalhistas o estatuto de direito fun- 10. (CESPE - 2012 - DPE-AC - Defensor Público) Assinale a
damental, juntamente com as liberdades individuais e os direitos opção correta no que diz respeito à afirmação histórica dos direitos
políticos. humanos:
d) a importância histórica do habeas corpus, de 1679, con- a) o expresso reconhecimento do princípio da universalidade
siste no fato de que essa garantia judicial, instituída na Inglaterra dos direitos humanos pela Declaração de Viena de 1993 pôs termo
para proteger a liberdade de locomoção, serviu de modelo para a ao debate sobre o multiculturalismo e o relativismo cultural.
criação de outras formas de proteção das liberdades fundamentais, b) o Bill of Rights, de 1689, foi a primeira carta de direitos de
como o juicio de amparo, na América Latina. que se tem notícia na história.
e) a Constituição de Weimar foi o primeiro documento a afir- c) a Constituição Mexicana de 1917 e a Constituição de Wei-
mar os princípios democráticos na história política moderna. mar de 1919 são marcos da afirmação dos direitos humanos de
R: D. Embora o habeas corpus já existisse na Inglaterra, no- segunda geração.
tadamente tendo como marco a Magna Carta de 1215, somente d) após a Segunda Guerra Mundial, para que os direitos dos
em 1679 foi promulgada a Lei do Habeas Corpus, delineando os trabalhadores enumerados na Declaração Universal dos Direitos
direitos inerentes a esta garantia e tornando-a mais eficaz. O diplo- do Homem de 1948 fossem garantidos no plano internacional,
ma inglês serviu de parâmetro para legislações em todo mundo, criou-se a Organização Internacional do Trabalho.
inclusive servindo de parâmetro para criação de outras garantias e) não há referência, na Declaração de Viena de 1993, ao prin-
semelhantes. No México, a juicio de amparo visa proteger garan- cípio da indivisibilidade dos direitos humanos.
tias constitucionais em geral, não somente inerentes à liberdade. R: C. A Constituição mexicana de 1917 e a Constituição ale-
No Brasil, o mandado de segurança é uma garantia inspirada no mã de Weimar de 1919 foram os primeiros textos constitucionais
habeas corpus. a reconhecerem expressamente os direitos sociais, notadamente os
inerentes ao trabalhador, funcionando como marcos da 2ª dimen-
9. (CESPE - 2012 - PM-AL - Oficial Combatente da Polícia são de direitos humanos.
Militar) Com relação ao conceito, à evolução e à abrangência dos
11. (CESPE - 2009 - DPE-PI - Defensor Público) A respeito
direitos humanos, assinale a opção correta:
do desenvolvimento histórico dos direitos humanos e seus marcos
a) os chamados direitos de solidariedade correspondem, no
fundamentais, assinale a opção correta:
plano dos direitos fundamentais, aos direitos de segunda geração,
a) os direitos fundamentais surgem todos de uma vez, não se
que se identificam com as liberdades concretas, acentuando o prin-
originam de processo histórico paulatino.
cípio da igualdade.
b) não há uma correlação entre o surgimento do cristianismo e
b) no século XX, inaugurou-se uma nova fase no sistema de
o respeito à dignidade da pessoa humana.
proteção dos direitos fundamentais, na medida em que foi nele que c) as gerações de direitos humanos mais recentes substituem
os Estados passaram a acolher as declarações de direitos em suas as gerações de direitos fundamentais mais antigas.
Constituições. d) a proteção dos direitos fundamentais é objeto também do
c) a individualidade é uma das características dos direitos hu- direito internacional.
manos fundamentais, e, nesse sentido, eles são dirigidos a cada e) a ONU é o órgão responsável pela UDHR e pela Declaração
ser humano isoladamente considerado, o que se justifica em razão Americana de Direitos.
das diferenças de nacionalidade, sexo, raça, credo ou convicção R: D. Os direitos humanos são históricos, o cristianismo in-
político-filosófica. fluenciou na formação de um conceito de dignidade humana e
d) os direitos fundamentais são os direitos humanos reconhe- igualdade universal, as dimensões de direitos se dialogam (não
cidos como tais pelas autoridades às quais se atribui o poder po- se excluem) e a ONU é responsável pela UDHR (sigla em inglês
lítico de editar normas, tanto no interior dos Estados quanto no para a Declaração de 1948) mas não pela Declaração Americana
plano internacional; são, assim, os direitos humanos positivados de Direitos (nacional - EUA). Quanto aos direitos fundamentais,
nas Constituições, nas leis, nos tratados internacionais. embora se diferenciem em alguns aspectos dos direitos humanos,
e) com o fim da Primeira Guerra Mundial, a estrutura do di- maiores são as semelhanças, principalmente quanto ao conteúdo.
reito internacional dos direitos humanos começou a se consolidar.
A essa época, os direitos humanos tornaram-se uma legítima pre- 12. (ESAF - 2012 - CGU - Analista de Finanças e Controle)
ocupação internacional e, então, foram criados mecanismos insti- Considerando os precedentes históricos da evolução dos Direitos
tucionais e de instrumentos que levaram tais direitos a ocupar um Humanos, marque a opção incorreta:
espaço central na agenda das organizações internacionais. a) no contexto histórico em que houve o desenvolvimento lai-
R: D. Os direitos de fraternidade são direitos de 3ª geração; as co do pensamento jusnaturalista entre os séculos XVII e XVIII
Constituições já acolhem desde antes do século XX declarações de que as ideias acerca da dignidade da pessoa humana começaram a
direitos nas Constituições, estas apenas não possuíam abrangência ganhar relevância.
universal; os direitos humanos possuem como nota a universalida- b) o registro escrito de direitos em um documento difundiu-se
de, o que impõe um tratamento perante a igualdade material, não a a partir da segunda metade da Idade Média, ocasião em que foram
individualidade; o marco para a estruturação do direito internacio- registrados direitos de comunidades locais.
Didatismo e Conhecimento 75
NOÇÕES DE DIREITO
c) a Magna Carta de 21 de junho de 1215 aponta a judicialida- d) a internacionalização dos direitos humanos impõe que o
de, um dos princípios do Estado de Direito. Estado, e não o indivíduo, seja sujeito de direito internacional.
d) o Rule of Law consiste na sujeição de todos ao império do R: C. As normas de proteção de direitos humanos são dotadas
Direito e é expressão da Common Law, que inclui o direito judici- de universalidade, de forma que valem para todos os indivíduos do
ário inglês, o qual se desenvolveu a partir do século XII. mundo, independentemente do território em que se encontrem. As-
e) o filósofo John Locke, ao final do século XV, foi quem pela sim, funcionam como limitadoras da soberania estatal, posto que o
primeira vez cunhou a expressão dignitas humana. Estado não pode fazer o que bem entender contra os direitos huma-
R: E. Em “a”, nota-se que, embora as ideias a respeito da dig- nos e ficar impune. Para tanto, inúmeros mecanismos se encontram
nidade da pessoa humana existam desde os primórdios da civiliza- previstos internacionalmente.
ção, estas somente começaram a ser levadas a sério quando vistas
sob uma perspectiva não religiosa; em “b”, destacam-se os forais 15. (PC-MG - 2008 - PC-MG - Delegado de Polícia) O Direi-
(os forais eram, na Idade Média, diplomas pelos quais o Rei ou to Internacional dos Direitos Humanos resultou de um processo
Senhor garantia aos moradores determinada terra, certas regalias histórico de gradual formação, consolidação, expansão e aperfei-
e privilégios, visando incrementar o povoamento e a fixação das çoamento da proteção internacional dos direitos humanos. É um
pessoas, sendo que em grande parte dos casos as cartas de foral direito de proteção dotado de especificidade própria. Com relação
eram os documentos fundadores dos conselhos, regulando a vida a esse processo histórico, assinale a afirmativa incorreta:
jurídica, administrativa e comercial das populações) e a própria a) a aceitação universal da tese da indivisibilidade dos direitos
Magna Carta de 1215; em “c”, assevera-se que a Magna Carta de humanos eliminou a disparidade entre os métodos de implementa-
1215 traz procedimentos de julgamento ao prever conceitos como ção internacional dos direitos civis e políticos e dos direitos eco-
o de devido processo legal, habeas corpus e júri; em “d” que Rule nômicos, sociais e culturais, deixando de ser negligenciados estes
of Law exterioriza a supremacia do poder regular em oposição ao últimos.
arbitrário, expressão do século XVII popularizada no século XIX b) a gradual passagem da fase legislativa de elaboração dos
pelo jurista A. V. Dicey, implicando que todo cidadão está sujeito primeiros instrumentos internacionais de direitos humanos, à fase
ao Direito, não ao soberano, que deixa de ter caráter de divindade. de implementação de tais instrumentos, pode ser considerada
Por sua vez, a expressão dignidade humana já havia sido emprega- como resultado da primeira Conferência Mundial de Direitos Hu-
da anteriormente, notadamente por filósofos do cristianismo. manos, ocorrida em Teerã no ano de 1968.
c) uma das grandes conquistas da proteção internacional dos
direitos humanos é, sem dúvida, o acesso dos indivíduos às instân-
13. (ESAF - 2012 - CGU - Analista de Finanças e Controle) A
cias internacionais de proteção e o reconhecimento de sua capaci-
Declaração de Independência dos Estados Unidos da América de
dade processual internacional em casos de violações dos direitos
1776 e a Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cida-
humanos.
dão de 1789 são consideradas de grande relevância para o reconhe-
d) graças aos esforços dos órgãos internacionais de supervi-
cimento das garantias e proteção aos direitos humanos. Essas duas
são nos planos global e regional, logrou-se salvar muitas vidas,
Declarações possuíam características em comum, exceto:
reparar muitos danos denunciados e comprovados, bem como ado-
a) os direitos declarados traziam uma conotação de direito na- tar programas educativos e outras medidas positivas por parte dos
tural. governos.
b) os direitos ainda eram concebidos como privilégios. R: A. O reconhecimento paulatino no processo histórico pri-
c) garantiam o direito à propriedade. meiro dos direitos civis e políticos e depois dos direitos econômi-
d) asseguravam direitos já inseridos na Constituição de seus cos, sociais e culturais deixou claro que enquanto os primeiros não
Estados. precisam da intervenção do Estado (mas sim de sua abstenção),
e) os direitos tinham conotação individualista. os segundos são dependentes de prestações estatais positivas para
R: D. Tais declarações tiveram como marco essencial justa- se verem efetivos. Como o rol de direitos econômicos, sociais e
mente trazer pela primeira vez, de forma escrita e compilada num culturais é amplo, evidente que o Estado não consegue investir
único documento, os direitos considerados inerentes ao homem. adequadamente em todas áreas. Prova disso é o contexto de defici-
Ambas aplicavam-se apenas ao país em que foram promulgadas, ência em áreas como saúde, educação e cultura. Logo, mesmo com
embora a Declaração Francesa tenha adquirido maior repercussão a afirmação internacional, ainda há negligência quanto aos direitos
internacional. de 2ª dimensão.
14. (FGV - 2011 - OAB - Exame de Ordem) A respeito da 16. (CETRO - 2013 - ANVISA - Analista Administrativo -
internacionalização dos direitos humanos, assinale a alternativa Conhecimentos Gerais - Todas as Áreas - Prova Anulada) De acor-
correta: do com o parágrafo único do artigo 1º da Constituição Federal de
a) já antes do fim da II Guerra Mundial ocorreu a internacio- 1988, todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de re-
nalização dos direitos humanos, com a limitação dos poderes do presentantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
Estado a fim de garantir o respeito integral aos direitos fundamen- Com base neste preceito, analise as assertivas abaixo.
tais da pessoa humana. I. A democracia em vigor no Estado brasileiro é semidireta,
b) a limitação do poder, quando previsto na Constituição, ga- caracterizada pela junção do princípio representativo às formas de
rante por si só o respeito aos direitos humanos. participação popular que caracterizam a democracia direta.
c) a criação de normas de proteção internacional no âmbito II. A democracia brasileira poderá ser exercida pelo referendo,
dos direitos humanos possibilita a responsabilização do Estado para o qual a população é convocada previamente à criação do ato
quando as normas nacionais forem omissas. legislativo ou administrativo que trate do assunto em pauta.
Didatismo e Conhecimento 76
NOÇÕES DE DIREITO
III. Plebiscito e referendo tratam-se de consultas à população, 19. (VUNESP - 2011 - TJ-SP - Juiz) Nossa ordem constitucio-
quanto à matéria de relevância para a nação, sobre questões de nal estabelece institutos de democracia semidireta, dentre os quais:
natureza constitucional, legislativa ou administrativa. I. a iniciativa popular, exercida pela apresentação à Câmara
IV. A democracia brasileira é definida como forma de gover- dos Deputados de projeto de lei subscrito por, no mínimo, um por
no, tendo como elementos necessários o princípio da igualdade e cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Es-
da liberdade. tados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de
É correto o que se afirma em cada um deles;
a) I, II e III, apenas. II. o referendo, podendo ser utilizado pelo Congresso Nacio-
b) III e IV, apenas. nal nos casos em que este decidir ser conveniente, indicado em
c) I e III, apenas. casos específicos como para a formação de novos Estados e de
d) II e IV, apenas. novos Municípios;
e) IV, apenas. III. o plebiscito, espécie de consulta popular semelhante ao
R: C. A democracia brasileira é semidireta porque mescla ins- referendo, mas o único apto a permitir que forças estrangeiras tran-
trumentos de democracia direta, como a iniciativa popular, o ple- sitem pelo território nacional.
biscito e o referendo, com o instrumento tradicional de democracia Está correto apenas o contido em
indireta, o sufrágio universal (capacidade de eleger representantes a) I.
e se candidatar). O referendo, diferente do que traz o item II, é b) II e III.
realizado após o ato legislativo, não antes. Neste sentido, plebis- c) III.
cito e referendo são instrumentos de consulta à população sobre d) II.
atos de natureza constitucional, legislativa ou administrativa. Não e) I e III.
obstante, a democracia é um regime de governo, não uma forma R: A. Estabelece o artigo 61 da CF em seu §2º: “A iniciativa
de governo. popular pode ser exercida pela apresentação à Câmara dos De-
putados de projeto de lei subscrito por, no mínimo, um por cento
17. (FUNCAB - 2013 - PC-ES - Escrivão de Polícia) O Estado do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados,
Brasileiro: com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um
a) Não pode estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subven- deles”. II e III estão incorretas porque não definem nos termos da
cioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou lei as finalidades do referendo e do plebiscito.
seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalva-
da, na forma da lei, a colaboração de interesse público. 20. (FCC - 2011 - DPE-RS - Defensor Público) O ideal preco-
b) Tem como forma de governo a democracia. nizado na Constituição Federal de 1988 é o de instituir um Estado
c) Tem como regime político a federação. Democrático de Direito, cujo ponto de equilíbrio são os direitos
d) É formado pela União, Estados, Distrito Federal,Municípios fundamentais, que também limitam o poder estatal. Vários de seus
e Territórios. dispositivos indicam o cidadão como um dos maiores protagonis-
e) Possui como forma de Estado a República. tas na tomada de decisões relevantes para o País, por isso ela tam-
R: A. A alternativa a está correta porque traduz a liberdade bém é denominada de Constituição Cidadã. Na prática, porém, a
de religião e as possibilidades de seu exercício, sem prejuízo do participação popular ainda é incipiente, tanto que poucas são as
Estado laico. A alternativa b está incorreta porque a democracia leis de iniciativa popular.
é um regime de governo, não uma forma de governo (são formas De acordo com tais aspectos, é correto afirmar que
de governo os sistemas que se referem à estrutura governamental: a) a Constituição Federal contempla um modelo de democra-
presidencialista ou parlamentarista, republicano ou monárquico). cia participativa, também denominada semidireta.
b) a participação popular é exercida através do sufrágio uni-
18. (FCC - 2012 - TRT - 6ª Região (PE) - Analista Judiciário versal, garantido a todos, sem exceção, bem como por meio do
- Execução de Mandados) O voto é uma das principais armas da referendo.
Democracia, pois permite ao povo escolher os responsáveis pela c) todo o poder emana do povo, que o exerce sempre por meio
condução das decisões políticas de um Estado. Quem faz mau uso de representantes eleitos pelo voto secreto.
do voto deixa de zelar pela boa condução da política e põe em risco d) a iniciativa popular propriamente dita consiste, no âmbito
seus próprios direitos e deveres, o que afeta a essência do Estado federal, na apresentação de projeto de lei ao Congresso Nacional,
Democrático de Direito. Dentre os fundamentos da República Fe- subscrito por 1% do eleitorado nacional, distribuído por pelo me-
derativa do Brasil, expressamente previstos na Constituição, aque- nos dez Estados-Federados, com não menos de 0,3% dos eleitores
le que mais adequadamente se relaciona à ideia acima exposta é a de cada um deles.
a) soberania. e) a competência para autorizar referendo e convocar plebis-
b) prevalência dos direitos humanos. cito é privativa do Congresso Nacional e é materializada por meio
c) cidadania. de resolução.
d) independência nacional. R: A. A democracia brasileira é semidireta porque mescla
e) dignidade da pessoa humana. instrumentos de democracia direta com o clássico instrumento da
R: C. Democracia e cidadania são conceitos interligados, in- democracia indireta, o voto. O sufrágio universal não é garantido
trínsecos, exteriorizando o poder do cidadão de participar na toma- a todos sem exceção (há limites, principalmente quanto à capaci-
da de decisões políticas. Pode participar do processo democrático dade de ser votado). Nem sempre o poder é exercido por meio de
o cidadão, e somente ele. representantes, pode o ser por meio dos instrumentos de democra-
Didatismo e Conhecimento 77
NOÇÕES DE DIREITO
cia direta. A iniciativa popular parte de 5 Estados-Federados, não 23. (VUNESP - 2010 - TJ-SP - Escrevente Técnico Judiciário)
10. A competência privativa, não obstante o nome, seria aquela Na hipótese de ocorrência de ato lesivo ao patrimônio público ou
que, conferida a determinado ente federativo prioritariamente, não de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa,
obsta que o ente beneficiado a delegue a outro, nos limites e forma ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, nos termos
permitidos na Constituição, no entanto, o Congresso Nacional não do que dispõe, expressamente, a Constituição, o cidadão poderá
pode delegar as competências de autorizar referendo e convocar ajuizar
plebiscito, que são exclusivas: “Art. 49, CF. É da competência ex- a) ação popular.
clusiva do Congresso Nacional: [...] XV - autorizar referendo e b) habeas corpus.
convocar plebiscito; [...]”. c) ação civil pública.
d) mandado de injunção.
21. (Defensoria/ MT - 2009 - FCC) - A violação à dignidade e) ação de improbidade administrativa.
dos presos é um grave problema nacional. A exemplo disso, a su- R: A. Neste sentido, prevê o artigo 5°, no inciso LXXIII que
perpopulação carcerária no Estado do Mato Grosso era de 91,4% “qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que
em 2007 (DEPEN, 2008). Em face do que dispõe os tratados in- vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entida-
ternacionais de direitos humanos referidos no Edital do presente de de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao
concurso, considere as afirmações abaixo: meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o
I. É um direito do condenado criminalmente dispor de cela autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus
individual, com área mínima de seis metros quadrados; da sucumbência”.
II. O condenado criminalmente não pode ser obrigado à reali-
zação de trabalhos na prisão; 24. (VUNESP - 2012 - TJ-SP - Escrevente Técnico Judiciário)
III. As pessoas privadas de liberdade devem ter por finalidade Assinale a alternativa que contempla corretamente um direito ga-
essencial a reabilitação social e moral dos condenados; rantido expressamente pela Constituição Federal.
IV. O isolamento celular máximo, como medidas punitiva, a) Inviolabilidade do sigilo de correspondência e das comu-
não pode ultrapassar trinta dias; nicações telefônicas, salvo, no primeiro caso, por ordem judicial,
Diante dessas afirmações é correto afirmar que: para fins de investigação criminal ou instrução processual penal.
a) apenas a II e III são verdadeiras; b) Inviolabilidade do domicílio, impedindo que alguém nele
b) apenas I e III são verdadeiras; possa entrar sem consentimento do morador, salvo para prestar so-
corro, ou, durante o dia ou à noite, por determinação judicial.
c) apenas II e III são falsas;
c) Livre exercício dos cultos religiosos e garantia, na forma da
d) I, II e IV são falsas;
lei, da proteção aos locais de culto e a suas liturgias.
e) I, II e III são verdadeiras.
d) Direito de reunião pacífica, sem armas, em locais abertos
R: D. O item I está incorreto porque embora o artigo 10 das
ao público, desde que obtida prévia autorização do poder público e
regras mínimas para o tratamento dos presos trate das acomoda-
desde que não frustre outra reunião anteriormente convocada para
ções destinadas aos reclusos, especialmente dormitórios, as quais
o mesmo local.
devem satisfazer todas as exigências de higiene e saúde, tornan- e) Manifestação livre do pensamento, com respectiva garantia
do-se devidamente em consideração as condições climatéricas e do anonimato.
especialmente a cubicagem de ar disponível, o espaço mínimo, a R: C. Prevê o artigo 5°, VI, CF: “ é inviolável a liberdade de
iluminação, o aquecimento e a ventilação, bem como façam pre- consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos
visão no artigo 9º de celas individuais para descanso, sabe-se que cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos
são recomendações aos Estados que devem progressivamente ser locais de culto e a suas liturgias”.
atingidas, não um direito do preso. O item II está incorreto porque
as regras mínimas reconhecem a obrigatoriedade do trabalho no 25. (VUNESP - 2012 - TJ-SP - Escrevente Técnico Judiciário)
artigo 71. O item IV está incorreto porque embora no artigo 32 as Segundo o que estabelece a Carta Magna Brasileira, para que um
regras mínimas critiquem tal prática, não estabelece limites tem- tratado internacional seja considerado equivalente à emenda cons-
porais. titucional, é necessário que
a) seja assinado pelo Chefe do Poder Executivo, ratificado por
22. (CESPE - 2011 - TRF 3ª Região - Juiz Federal) Conforme ambas as Casas do Congresso Nacional e, independentemente da
a jurisprudência do STF, tratados de direitos humanos anteriores sua matéria, que seja aprovado em dois turnos, por três quintos dos
à Emenda Constitucional nº 45/03 possuem, no direito brasileiro, votos dos respectivos membros.
status hierárquico b) seja sobre direitos humanos e que tenha sido aprovado, em
a) supraconstitucional. cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos
b) constitucional originário. dos votos dos respectivos membros.
c) constitucional derivado. c) tenha sido aprovado, em cada Casa do Congresso Nacional,
d) supralegal. em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos mem-
e) legal. bros, independentemente da matéria que ele trate.
R: D. O Supremo Tribunal Federal decidiu no dia 05 de de- d) seja devidamente aprovado pelo Congresso Nacional, rati-
zembro de 2008 que é ilegal a prisão civil do depositário infiel, ficado pelo Poder Executivo e incorporado à Constituição Federal,
utilizando-se da tese de que os tratados de direitos humanos têm independentemente da matéria que ele trate.
status supralegal, ou seja, encontram-se acima das leis ordinárias, e) o Supremo Tribunal Federal reconheça a sua compatibili-
porém abaixo da Constituição Federal. Neste sentido, a súmula dade com o texto constitucional por meio do julgamento de Ação
vinculante n° 25 e Habeas Corpus n° 87.585-8/TO. Declaratória da Constitucionalidade.
Didatismo e Conhecimento 78
NOÇÕES DE DIREITO
R: B. Nesta linha, o artigo 5°, §3°, CF: “Os tratados e conven- e) a custódia de presos em celas coletivas, visando à sua res-
ções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, socialização, é obrigatória.
em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três R: D. Referidas regras mínimas criticam práticas de isolamen-
quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às to que possam fazer o preso se sentir excluído da sociedade, como
emendas constitucionais”. se tivesse sido transportado para um universo paralelo, o que di-
ficulta sua reabilitação. Contudo, tais regras mínimas funcionam
26. (VUNESP - 2011 - TJM-SP - Oficial de Justiça) Deter- mais como um objetivo a ser atingido pelos Estados no sistema
mina expressamente o inc. IX do art. 5.° da Constituição da Re- penitenciário do que como direitos dos presos. Neste sentido, o
pública Federativa do Brasil, que é livre a expressão da atividade Judiciário brasileiro e a doutrina majoritárias são pela constitucio-
intelectual, artística, cientifica e de comunicação, nalidade do RDD. Obs.: destaca-se que a questão, por ser de con-
a) mediante prévia obtenção de licença. curso da Defensoria, tem tendência à mínima intervenção do direi-
b) mediante prévia análise do órgão censor. to penal e à máxima garantia dos direitos humanos dos reclusos.
c) independentemente de censura ou licença.
d) mediante prévia aprovação por órgão catalogador. 29. (FGV - 2011 - OAB - Exame de Ordem Unificado 2) No
e) independentemente de censura com relação às três primei- que tange ao direito de nacionalidade, assinale a alternativa cor-
ras atividades e mediante licença com relação à última. reta:
R: C. Nos termos do mencionado dispositivo “é livre a expres- a) o brasileiro nato não pode perder a nacionalidade.
são da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, b) o filho de pais alemães que estão no Brasil a serviço de
independentemente de censura ou licença”. empresa privada alemã será brasileiro nato caso venha a nascer
no Brasil.
27. (VUNESP - 2011 - TJM-SP - Escrevente Técnico Judi- c) o brasileiro naturalizado pode ser extraditado pela prática
ciário) Nos termos do quanto determina o inc. XI do art. 5.° da de crime comum após a naturalização.
Constituição da República Federativa do Brasil, “a casa é asilo d) o brasileiro nato somente poderá ser extraditado no caso de
inviolável do indivíduo,ninguém nela podendo penetrar sem con- envolvimento com o tráfico de entorpecentes.
sentimento do morador, salvo em caso de R: B. A alternativa “a” está errada, pois o brasileiro nato pode,
a) flagrante delito ou desastre”. sim, perder a nacionalidade. O que ele não pode é ser extraditado
b) perseguição que se segue a delito em estado de flagrância”. sendo brasileiro nato. Agora, mesmo brasileiro nato, pode perder
c) flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, em a nacionalidade brasileira se adquirir outra nacionalidade (salvo
qualquer horário, por determinação judicial”. nos casos de reconhecimento da nacionalidade originária pela lei
d) flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, estrangeira ou de imposição de naturalização, pela norma estran-
durante o dia, por determinação judicial”. geira, ao brasileiro residente em Estado estrangeiro como condição
e) flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, du- para permanência em seu território ou para o exercício de direitos
rante o dia, por determinação judicial transitada em julgado”. civis). Eis o teor do art. 12, §4º, II, “a” e “b”, da Constituição.
R: D. Referido dispositivo tem o seguinte teor: “a casa é asi- Ademais, as alternativas “c” e “d” estão erradas, pois brasileiro
lo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem naturalizado não pode ser extraditado, salvo pela prática de crime
consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou comum cometido antes da naturalização, ou envolvimento com
desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por deter- tráfico de entorpecentes após a naturalização, caso este último em
minação judicial”. Logo, nos casos de flagrante delito, desastre que a naturalização brasileira será cancelada (art. 5º, LI, CF). A
ou para prestar socorro é possível entrar na casa do indivíduo a alternativa correta, pois, é a letra “b”: se um filho de pais alemães
qualquer hora, mas por determinação judicial somente durante o que estão no Brasil a serviço de empresa privada aqui nasce, esta
dia. criança será considerada brasileira nata. Somente se o pai ou a mãe
dessa criança estivesse a serviço da Alemanha é que essa criança
28. (FCC - 2006 - DPE-SP - Defensor Público) A Lei nº não adquiriria a naturalidade do Brasil. Neste sentido, o art. 12, I,
10.792/03 introduziu o Regime Disciplinar Diferenciado de cum- “a”, da Constituição, é claro no sentido de que são brasileiros natos
primento de penas (RDD), mediante o qual o preso pode ficar até os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais
360 dias em cela individual, com direito a duas horas diárias de estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país.
banho de sol. Tal sistemática pode ser entendida como violado-
ra das Regras Mínimas para o Tratamento de Presos das Nações 30. (FCC - 2012 - TRE/PR - Técnico Judiciário) Considere as
Unidas, pois seguintes afirmações a respeito dos direitos e garantias fundamen-
a) conflita com o respeito devido à pessoa privada de liber- tais expressos na Constituição da República:
dade, conforme previsto pela Declaração Universal dos Direitos I. Não haverá penas de morte ou de caráter perpétuo, salvo em
Humanos, ratificada pelo Brasil. caso de guerra declarada.
b) é vedado o uso de isolamento celular (solitária) como forma II. É assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo,
de punir presos ou de segregá-los em caso de rebelião. além da indenização por dano material, moral ou à imagem.
c) as Regras Mínimas para o Tratamento de Presos são con- III. A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão
sideradas tratado internacional de direitos humanos, tendo hierar- ou ameaça a direito.
quia legal superior à da Lei nº 10.792/03. IV. As associações somente poderão ser compulsoriamente
d) ultrapassa os limites definidos pelas Regras Mínimas para a dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por decisão judicial
segregação prolongada de presos. transitada em julgado.
Didatismo e Conhecimento 79
NOÇÕES DE DIREITO
Está correto o que se afirma apenas em: 33. (FCC - 2010 - SJCDH-BA - Agente Penitenciário) São
a) I e II. princípios fundamentais proclamados no artigo I da Declaração
b) I e III. Universal dos Direitos Humanos, de 1948:
c) II e III. a) a igualdade entre homens e mulheres e a liberdade de pen-
d) II e IV. samento e religião.
e) III e IV. b) a presunção de inocência e a inviolabilidade da vida pri-
R: C. O item “I” está errado, pois, apesar de somente se permi- vada.
tir a pena de morte no Brasil em caso de guerra declarada (art. 5º, c) o amplo acesso à educação e ao trabalho.
XLVII, “a”, CF), as penas de caráter perpétuo não são admitidas d) a liberdade de ir e vir e o direito de buscar asilo em outros
em hipótese alguma, com ou sem guerra (art. 5º, XLVII, “b”). O países.
item “II” está correto, por reproduzir a essência do que está pre- e) a liberdade, a igualdade e a fraternidade.
visto no art. 5º, V, da Constituição Federal, a saber, a disposição R: E. Preconiza o citado dispositivo: “todas as pessoas nascem
de que é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e
além da indenização por dano material, moral ou à imagem. O
consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito
item “III” está certo: a lei não excluirá da apreciação do Poder
de fraternidade”.
Judiciário lesão ou ameaça a direito (art. 5º, XXXV, CF). O item
“IV” está incorreto, vez que se exige decisão judicial transitada
34. (FUNIVERSA - 2010 - SEJUS-DF - Especialista em As-
em julgado apenas para se dissolver compulsoriamente as asso-
ciações. Para suspender suas atividades não há essa exigência (art. sistência Social - Ciências Contábeis) Acerca da Declaração Uni-
5º, XIX, CF). versal dos Direitos Humanos, assinale a alternativa correta.
a) A Declaração é documento fortemente inspirado pela dou-
31. (CESPE - 2011 - TRF 5ª Região - Juiz) A Declaração Uni- trina religiosa da Igreja Católica e baseia-se na crença em um deus
versal dos Direitos Humanos único e no amor ao próximo.
a) não trata de direitos econômicos. b) A Declaração pressupõe as diferenças culturais entre os
b) trata dos direitos de liberdade e igualdade. povos, mas adota determinados princípios e regras com caráter
c) trata o meio ambiente ecologicamente equilibrado como absoluto e pretensão de universalidade, como a proscrição da es-
direito de todos. cravidão e da tortura e a igualdade de todos perante a lei.
d) não faz referência a direitos políticos. c) A fim de garantir o direito à imagem e a privacidade dos
e) não faz referência a direitos culturais e à bioética. cidadãos, a Declaração estabelece que, no caso de alguém ser pro-
R: B. Os direitos de liberdade e igualdade são o foco da Decla- cessado criminalmente, deverá ser julgado pelo órgão competente
ração de 1948, como se percebe pelos seus dois primeiros artigos: em processo sigiloso; o sigilo somente deverá ser levantado na
“Artigo I. Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignida- hipótese de condenação transitada em julgado.
de e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir d) Pelo fato de reconhecer o direito à liberdade de locomoção
em relação umas às outras com espírito de fraternidade. Artigo II. e a relevância do intercâmbio cultural entre os povos, a Declaração
Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades propugna a possibilidade de livre entrada e saída dos indivíduos
estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espé- em qualquer país, em tempo de paz.
cie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de e) Devido à inspiração de natureza socialista vigente na época
outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou de sua aprovação, a Declaração não menciona de forma expressa o
qualquer outra condição”. direito à propriedade privada.
R: B. A Declaração, por partir das Nações Unidas, mais im-
32. (CESPE - 2012 - DPE-AC - Defensor Público) A Declara- portante órgão internacional, tem a pretensão de valer para todas as
ção Universal de Direitos Humanos pessoas do mundo. Obviamente, particularidades culturais existem
a) foi proclamada pelos revolucionários franceses do final do
e devem ser respeitadas. Contudo, reconhece-se a existência de
século XVIII e confirmada, após a Segunda Guerra Mundial, pela
uma dignidade inerente a todos os homens que impede a aceitação
Assembleia Geral das Nações Unidas.
de determinadas práticas, como a escravidão, a tortura e a arbitra-
b) foi o primeiro documento internacional a estabelecer ex-
riedade.
pressamente o princípio da vedação ao retrocesso social.
c) nada declara sobre o direito à propriedade, em razão da ne-
cessidade de acomodação das diferentes ideologias das potências 35. (FEPESE - 2013 - DPE-SC - Técnico Administrativo) As-
vencedoras da Segunda Guerra Mundial. sinale a alternativa incorreta em relação à Declaração Universal
d) não faz referência à possibilidade de qualquer pessoa dei- dos Direitos Humanos.
xar o território de qualquer país ou nele ingressar, embora assegure a) Os direitos nela contidos são inalienáveis.
expressamente a liberdade de locomoção dentro das fronteiras dos b) Os preceitos descritos serão desenvolvidos em cooperação
Estados. com as Nações Unidas.
e) assegura a toda pessoa o direito de participar do governo de c) A liberdade e a justiça são fundamentos expressos da De-
seu próprio país, diretamente ou por meio de representantes. claração.
R: E. Nos termos do artigo XXI, item 1, “toda pessoa tem o d) A proteção pelo Estado de Direito é princípio implícito.
direito de tomar parte no governo de seu país, diretamente ou por e) A Declaração busca expressamente o desenvolvimento de
intermédio de representantes livremente escolhidos”. relações amistosas entre as nações.
Didatismo e Conhecimento 80
NOÇÕES DE DIREITO
R: D. É falsa a afirmação de que a proteção pelo Estado de b) não está previsto constitucionalmente, mas consta do cha-
Direito é um princípio implícito porque a Declaração consagra mado Pacto de São José da Costa Rica, possuindo grande centra-
em diversos pontos o princípio da legalidade, garantindo à pessoa lidade no reconhecimento dos direitos humanos e tendo reflexo na
humana a restrição de seus direitos apenas por lei, com o devido atuação criminal do Ministério Público.
processo legal. Neste sentido, apontam-se, por exemplo, os artigos c) está previsto constitucionalmente como um dos objetivos
VII a X. da República e possui grande centralidade no reconhecimento dos
direitos humanos, mas não tem reflexo direto na atuação criminal
36. (CEPERJ - 2012 - SEAP-RJ - Inspetor de Segurança e Ad- do Ministério Público.
ministração Penitenciária) De acordo com a Declaração Universal d) está previsto como um dos direitos fundamentais previstos
dos Direitos Humanos, de 1948, todas as pessoas nascem livres e na Constituição Federal, serve de base aos direitos de personali-
iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência dade e deve ser considerado na atuação do Ministério Público, em
e devem agir em relação umas às outras com espírito de: especial perante o juízo de família.
a) amor e) não está previsto constitucionalmente, mas consta da De-
b) compaixão claração Universal dos Direitos do Homem, constitui um núcleo
c) fraternidade essencial de irradiação dos direitos humanos, devendo ser levado
d) felicidade em conta em todas as áreas na atuação do Ministério Público.
e) discriminação R: A. O princípio da dignidade da pessoa humana, mais do que
R: D. Conforme o artigo I da Declaração, “Todas as pessoas princípio, é fundamento, o que é reconhecido pela Constituição
nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de Federal de 1988 em seu artigo 1º ao trazê-lo enquanto fundamento
razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com da República no inciso III. No mais, é de fato núcleo essencial
espírito de fraternidade”. de proteção da pessoa humana, isto é, dos direitos humanos reco-
nhecidos internacionalmente, merecendo respeito e consideração
37. (CEPERJ - 2012 - SEAP-RJ - Inspetor de Segurança e por parte de todas instituições públicas, mas principalmente pelo
Administração Penitenciária) No que concerne à liberdade das Ministério Público, um dos principais responsáveis pela defesa dos
pessoas, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, direitos humanos fundamentais (notadamente de 3ª dimensão).
repudia a(o):
a) escravidão 40. (CESPE - 2012 - DPE-SE - Defensor Público) De acordo
b) serviçal com o que dispõe a Convenção Americana de Direitos Humanos:
c) empregado
a) o Estado-parte não tem a obrigação de analisar pedido de
d) autônomo
indulto, anistia ou comutação de pena requeridos por condenado
e) trabalhador
à morte.
R: A. É o que disciplina o artigo IV: “Ninguém será mantido
b) o direito à vida deve ser protegido, como regra, desde a
em escravidão ou servidão, a escravidão e o tráfico de escravos
concepção.
serão proibidos em todas as suas formas”. As formas de trabalho
c) a pena de morte pode ser restabelecida nos Estados-parte
em geral são permitidas pela Declaração, desde que os direitos dos
que a tenham abolido.
trabalhadores sejam respeitados, como se extrai do artigo XXIII.
d) a pena de morte, nos Estados-partes que a adotem, pode ser
38. (FEPESE - 2013 - DPE-SC - Técnico Administrativo) As- aplicada a delitos políticos.
sinale a alternativa correta em relação à Declaração Universal dos e) a pena de morte pode ser imposta a condenados por crimes
Direitos Humanos. conexos a delitos políticos.
a) A Declaração afirma que toda pessoa tem direito a repouso R: B. Neste sentido, o item 1, do artigo 4°: “Toda pessoa tem o
e lazer. direito de que se respeite sua vida. Esse direito deve ser protegido
b) O texto da Declaração garante o sigilo de correspondên- pela lei e, em geral, desde o momento da concepção. Ninguém
cia, porém assegura a sua violação para casos em que a segurança pode ser privado da vida arbitrariamente”.
exigir.
c) A Declaração contempla que instrução será gratuita apenas 41. (VUNESP - 2008 - DPE-MS - Defensor Público) O Pacto
para o nível fundamental. de San José da Costa Rica garante direitos políticos e oportunida-
d) A unicidade de base sindical é tratada na Declaração. des de participação política ao cidadão. Segundo esse instrumento
e) Assegura o direito ao apátrida de escolher a nacionalidade jurídico, o exercício de tais direitos e oportunidades poderá ser
cujos laços forem maiores. regulado pela lei, exceto por motivo de:
R: A. Trata-se do conteúdo do artigo XXIV: “Toda pessoa a) instrução.
tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das b) residência.
horas de trabalho e férias periódicas remuneradas”. c) idioma.
d) capacidade intelectual.
39. (MPE-SP - 2011 - MPE-SP - Promotor de Justiça) O prin- R: D. Segundo o artigo 23, que regula os direitos políticos:
cípio da dignidade da pessoa humana “1. Todos os cidadãos devem gozar dos seguintes direitos e opor-
a) está previsto constitucionalmente como um dos fundamen- tunidades: a) de participar da condução dos assuntos públicos, di-
tos da República e constitui um núcleo essencial de irradiação dos retamente ou por meio de representantes livremente eleitos; b) de
direitos humanos, devendo ser levado em conta em todas as áreas votar e ser eleito em eleições periódicas, autênticas, realizadas por
na atuação do Ministério Público. sufrágio universal e igualitário e por voto secreto, que garantam
Didatismo e Conhecimento 81
NOÇÕES DE DIREITO
a livre expressão da vontade dos eleitores; e c) de ter acesso, em por a pena de morte a pessoa que, no momento da perpetração do
condições gerais de igualdade, às funções públicas de seu país. 2. delito, for menor de dezoito anos, ou maior de setenta, nem aplicá-
A lei pode regular o exercício dos direitos e oportunidades, a que -la a mulher em estado de gravidez. 6. Toda pessoa condenada à
se refere o inciso anterior, exclusivamente por motivo de idade, morte tem direito a solicitar anistia, indulto ou comutação da pena,
nacionalidade, residência, idioma, instrução, capacidade civil ou os quais podem ser concedidos em todos os casos. Não se pode
mental, ou condenação, por juiz competente, em processo penal”. executar a pena de morte enquanto o pedido estiver pendente de
Logo, a capacidade intelectual não pode limitar o exercício de di- decisão ante a autoridade competente”.
reitos políticos.
44. (FCC - 2009 - DPE-MT - Defensor Público) Em face do
42. (ESAF - 2012 - CGU - Analista de Finanças e Contro- que dispõe a Convenção Americana de Direitos Humanos quanto
le) Considerando os direitos consagrados no Pacto de São José da ao direito de defesa da pessoa acusada da prática de um delito:
Costa Rica, ao qual o Brasil subscreveu, marque a opção correta: a) é direito do acusado, sempre que o interesse da justiça as-
a) o Pacto expressa que o direito à vida ocorre após a 12a sim o exija, ter um defensor designado ex officio, que atuará gra-
semana de gestação. tuitamente.
b) o Pacto expressa que é cabível a prisão do depositário infiel. b) o Estado deve dispor de um órgão de assistência jurídica
c) o Pacto expressa que é cabível a pena de morte nos casos do encarregado da defesa dos acusados que demonstrarem insufici-
cometimento de delitos políticos, quando graves. ência de recursos.
d) o Pacto expressa que a confissão não pode ser adotada c) a defesa pode ser realizada pessoalmente pelo acusado,
como meio de prova. caso o Estado não disponha de meios para lhe proporcionar um
e) o Pacto expressa o impedimento de os Estados signatários defensor.
abolirem a ação do Habeas Corpus de suas legislações. d) a defesa pode ser realizada pessoalmente pelo acusado,
R: E. Em “a”, nota-se que o direito à vida é assegurado desde caso seja ele tecnicamente habilitado e renuncie ao defensor indi-
a concepção (artigo 4°, 1); em “b”, destaca-se que o pacto somente cado pelo Estado.
aceita prisão por dívida no caso de alimentos (artigo 7°, 7); em e) é obrigatória a existência de defesa técnica, fornecida pelo
“c”, assevera-se que o pacto não aceita pena de morte para delitos Estado, caso o acusado não indique advogado de sua confiança e
políticos (artigo 4°, 4); em “d”, vislumbra-se que a confissão pode nem se defenda por si mesmo.
ser um meio de prova, desde que não decorra de coação (artigo 8°, R: E. Nos termos do artigo 8º, 2, e da Convenção, a pessoa
3). Por sua vez, não há menção expressa no pacto sobre a ação de acusada de um delito tem o “direito irrenunciável de ser assistido
habeas corpus. por um defensor proporcionado pelo Estado, remunerado ou não,
segundo a legislação interna, se o acusado não se defender ele pró-
43. (FGV - 2012 - OAB - Exame de Ordem) A Convenção prio, nem nomear defensor dentro do prazo estabelecido pela lei”.
Interamericana de Direitos Humanos dispõe que toda pessoa tem
direito à vida, que deve ser protegida por lei, e que ninguém dela 45. (VUNESP - 2008 - DPE-MS - Defensor Público) Quanto
poderá ser privado arbitrariamente. A respeito da pena de morte, o aos direitos civis contidos na Convenção Americana de Direitos
documento afirma que: Humanos, esta estabelece que:
a) é inadmissível a aplicação da pena de morte em qualquer a) nos países em que não houverem abolido a pena de morte,
circunstância, já que o direito à vida deve ser protegido por lei esta só poderá ser imposta pelos delitos mais graves, em cumpri-
desde a concepção. mento de sentença final de tribunal competente e em conformidade
b) não se pode aplicar pena de morte aos delitos políticos, ex- com a lei que estabeleça tal pena, promulgada antes de o delito ter
ceto se forem conexos a delitos comuns sujeitos a tal pena. sido cometido.
c) a pena de morte não pode ser imposta àquele que, no mo- b) ninguém deve ser constrangido a executar trabalho forçado
mento da perpetração do delito, for menor de dezoito anos, nem ou obrigatório, exceto em decorrência de crime considerado he-
aplicada à mulher em estado gestacional. diondo pela legislação do país que adotar punição específica para
d) não se admite que Estados promulguem pena de morte, ex- essa modalidade de crime, não podendo, porém, a respectiva pena
ceto se já a tiverem aplicado e a tenham abolido, hipótese em que ultrapassar 30 anos de reclusão.
a tal pena poderá ser restabelecida. c) ninguém deve ser detido por dívidas. Este princípio, porém,
R: C. Estabelece o artigo 4° da Convenção, que trata do direito não limita os mandados de autoridade judiciária competente expe-
à vida: “1. Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida. didos em virtude de inadimplemento de obrigação alimentar ou do
Esse direito deve ser protegido pela lei e, em geral, desde o mo- depositário infiel.
mento da concepção. Ninguém pode ser privado da vida arbitraria- d) todas as pessoas têm o direito de associar-se livremente
mente. 2. Nos países que não houverem abolido a pena de morte, com fins ideológicos, religiosos, políticos, econômicos, trabalhis-
esta só poderá ser imposta pelos delitos mais graves, em cumpri- tas, sociais, culturais, desportivos ou de qualquer outra natureza,
mento de sentença final de tribunal competente e em conformidade não podendo o Estado restringir ou suprimir o exercício do direito
com a lei que estabeleça tal pena, promulgada antes de haver o de- de associação aos membros das forças armadas e da polícia.
lito sido cometido. Tampouco se estenderá sua aplicação a delitos R: A. O artigo 4º da Convenção Americana sobre Direitos
aos quais não se aplique atualmente. 3. Não se pode restabelecer Humanos aborda em detalhes questões sobre a pena de morte e o
a pena de morte nos Estados que a hajam abolido. 4. Em nenhum direito à vida nos seguintes termos: “1. Toda pessoa tem o direito
caso pode a pena de morte ser aplicada a delitos políticos, nem a de que se respeite sua vida. Esse direito deve ser protegido pela
delitos comuns conexos com delitos políticos. 5. Não se deve im- lei e, em geral, desde o momento da concepção. Ninguém pode
Didatismo e Conhecimento 82
NOÇÕES DE DIREITO
ser privado da vida arbitrariamente. 2. Nos países que não hou- optar por um conceito específico. Exemplo: quantos requisitos tem
verem abolido a pena de morte, esta só poderá ser imposta pelos o delito? O que responder na hora da prova? Falar de todas corren-
delitos mais graves, em cumprimento de sentença final de tribunal tes. Todas estão certas.
competente e em conformidade com a lei que estabeleça tal pena,
promulgada antes de haver o delito sido cometido. Tampouco se B) Conceito material
estenderá sua aplicação a delitos aos quais não se aplique atual- • Delito é ofensa a um direito subjetivo.
mente. 3. Não se pode restabelecer a pena de morte nos Estados • Delito é ofensa a um bem.
que a hajam abolido. 4. Em nenhum caso pode a pena de morte ser • Delito é ofensa aos valores éticos.
aplicada a delitos políticos, nem a delitos comuns conexos com de- • Delito é ofensa à norma.
litos políticos. 5. Não se deve impor a pena de morte a pessoa que, Melhor conceito material de delito: “É uma ofensa grave a um
no momento da perpetração do delito, for menor de dezoito anos, bem jurídico relevante”.
ou maior de setenta, nem aplicá-la a mulher em estado de gravidez.
6. Toda pessoa condenada à morte tem direito a solicitar anistia,
indulto ou comutação da pena, os quais podem ser concedidos em 2.3.2 CRIME E CONTRAVENÇÃO
todos os casos. Não se pode executar a pena de morte enquanto o
pedido estiver pendente de decisão ante a autoridade competente”.
Prof. Carla Baggio Laperuta Fróes Primeiramente, importa esclarecer que o Brasil é dualista, ou
binário. Isso significa que há duas espécies de infrações penais:
Mestranda em Teoria do Direito e do Estado pelo Centro 1) Crime - delito
Universitário Eurípides de Marília (UNIVEM). Especialista em 2) Contravenção Penal – crime anão, delito lilliputiano, cri-
Direito Processual pela Universidade do Sul de Santa Catarina. me vagabundo (este terceiro sinônimo caiu na prova do MP/SP).
Docente. Advogada. “O Brasil é adepto do sistema dualista, estabelecendo a exis-
tência de crimes e contravenções. A diferença destes (crimes) para
contravenção é de grau, é puramente axiológica e não ontológi-
ca”. – Rogério Sanches.
2.3 DIREITO PENAL. Apesar de crimes serem ontologicamente idênticos às contra-
2.3.1 CRIME: CONCEITOS venções penais, há algumas diferenças:
Didatismo e Conhecimento 83
NOÇÕES DE DIREITO
É uma maneira diferente de falar: ação penal pública incon- Atenção: Há um caso em que a contravenção penal pode e
dicionada. deve ser processada e julgada perante a Justiça Federal: quando o
Em resumo, o que defendem parte da doutrina e jurisprudên- autor for detentor de foro de prerrogativa de função federal (juiz
cia: federal pratica contravenção, quem julga é o TRF).
- Lesão corporal dolosa de natureza leve – era pública incon-
dicionada, torna-se condicionada com a lei. f) Limite das penas
- Vias de fato – era pública incondicionada, permanece incon-
dicionada depois da lei. Nisso, a jurisprudência enxerga uma con- - No caso de crime, a pena está limitada a 30 anos.
tradição. Como pode o mais depender de representação e o menos - No caso de contravenção penal, o cumprimento da pena está
não? Assim, transforma as vias de fato em pública condicionada. limitado a 5 anos.
Então, segundo esse entendimento, isso é uma exceção ao art.
17, da LCP. “Art. 10, LCP. A duração da pena de prisão simples não
Equívoco da exceção – Qual é o equívoco dessa construção? pode, em caso algum, ser superior a cinco anos, nem a impor-
É imaginar que tipo de ação penal está ligado à gravidade do fato. tância das multas ultrapassar cinquenta contos.”
O tipo de ação penal não está ligado à gravidade do fato, mas à
conveniência do processo, da transferência ou não da titularidade g) Sursis
da ação para a vítima. Tanto é que um dos crimes mais graves do - No caso de crime, a suspensão tem um período de prova
Código Penal, que é o de estupro, tem regra de ação privada. Se variando de 2 a 4 anos, em regra.
fosse, assim, o furto também dependeria de representação da víti- - No caso da contravenção penal, o período de prova, varia de
ma, já que é menos que o estupro. A contravenção penal “impor- 1 a 3 anos. Art. 11, LCP:
tunação ofensiva ao pudor” também dependeria de queixa-crime,
por esse raciocínio. Fica a crítica. “Art. 11. Desde que reunidas as condições legais, o juiz pode
suspender por tempo não inferior a um ano nem superior a três,
Observação importante: STF – não reconhece essa exce- a execução da pena de prisão simples, bem como conceder livra-
ção. O STF trabalha com o artigo 17, da LCP, SEM exceções. mento condicional.”
c) Punibilidade da Tentativa
Considerações Gerais:
Em se tratando de crime, a tentativa é punível. Em se tratando
Crime e contravenção penal ontologicamente são idênticos,
de contravenção penal, não se pune a tentativa (art. 4º, da LCP).
conforme já dito aqui. A diferença é axiológica, quanto ao grau,
Cuidado! Eu não estou dizendo que contravenção penal não admi-
quanto à gravidade. O que é crime e o que é contravenção penal,
te tentativa. Eu estou dizendo que a tentativa não é punível. Ad-
vai depender de opção política do legislador. Ele pode, amanhã
mite tentativa, apenas essa tentativa não interessa, não é punível.
transformar uma contravenção em crime e vice-versa porque a di-
“Art. 4º Não é punível a tentativa de contravenção.” ferença é quanto ao grau. Para fazer a opção, o legislador toma
por base o que está na lei. Na hora de escolher se tal fato vai ser
d) Regras de extraterritorialidade crime ou vai ser contravenção ele deve analisar se exige reclusão
ou prisão simples.
- Crime admite extraterritorialidade da lei penal. Vejam como, realmente, a opção é política: o mesmo fato
- Contravenção penal não admite extraterritorialidade – JA- (porte ilegal de arma de fogo), até 1997, era uma contravenção
MAIS a lei penal brasileira vai alcançar a contradição penal ocor- penal. Em 2003 passou a ser crime. Exatamente o mesmo fato. O
rida no estrangeiro (art. 2º, da LCP). É territorialidade: legislador veio enquadrá-lo na condição de crime. O mesmo fato.
Tudo isso com base em opção política.
“Art. 2º A lei brasileira só é aplicável à contravenção prati-
cada no território nacional.”
2.3.3 CRIME DOLOSO E
e) Competência para o processo e julgamento CRIME CULPOSO
- No caso de crime, pode ser da justiça estadual ou federal.
- No caso de contravenção penal, somente da justiça estadu-
al. Art. 109, IV, da Constituição Federal:
Art. 18 - Diz-se o crime:
“Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:” I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o
“IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em risco de produzi-lo;
detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por
entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as con- imprudência, negligência ou imperícia.
travenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei, ninguém
Justiça Eleitoral;” pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o
pratica dolosamente.
Nem quando ela for conexa a um crime federal vai para a Jus- Art. 19- Pelo resultado que agrava especialmente a pena, só
tiça Federal. responde o agente que o houver causado ao menos culposamente
Didatismo e Conhecimento 84
NOÇÕES DE DIREITO
DOLO - Dolo indireto ou indeterminado
Conceito É aquele que existe quando o agente não quer produzir resul-
Existem três teorias que falam sobre o conceito de dolo: tado certo e determinado. Pode ser:
• Teoria da vontade: dolo é a vontade de praticar a conduta • Eventual: quando o agente não quer produzir o resultado,
e produzir o resultado. O agente quer o resultado. mas aceita o risco de produzi-lo (exemplo: o motorista que, em de-
• Teoria do assentimento ou da aceitação: dolo é a vonta- sabalada corrida, para chegar em seu destino, aceita o resultado de
de de praticar a conduta com a aceitação dos riscos de produzir o atropelar uma pessoa). Nélson Hungria lembra a fórmula de Frank
resultado. O agente não quer, mas não se importa com o resultado. para explicar o dolo eventual: “Seja como for, dê no que der, em
• Teoria da representação ou da previsão: dolo é a pre- qualquer caso não deixo de agir”.
visão do resultado. Para que haja dolo, basta o agente prever o • Alternativo: quando o agente quer produzir um ou outro
resultado. resultado (exemplo: o agente atira para ferir ou para matar; nesse
O Código Penal adotou as teorias da vontade e do assentimen- caso, responde pelo resultado mais grave, aplicando-se o princípio
to. Ao conceituar crime doloso, o legislador indiretamente concei- da consunção).
tuou dolo: “quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco - Dolo geral ou erro sucessivo
de produzi-lo” (artigo 18, inciso I, do Código Penal). A teoria da Conhecido também como erro sobre o nexo causal ou aber-
representação, que confunde culpa consciente com dolo, não foi ratio causae, ocorre quando o agente, supondo já ter produzido
adotada. o resultado, pratica nova agressão, que para ele é mero exauri-
mento, mas é nesse momento que atinge a consumação (exemplo:
Espécies de Dolo: “A” quer matar “B” por envenenamento; após o envenenamento,
- Dolo normativo supondo que “B” já está morto, “A” joga o que imagina ser um
É o dolo segundo a teoria clássica, causal ou naturalista. É cadáver no rio e “B” acaba morrendo por afogamento; nesse caso,
o dolo que integra a culpabilidade e não a conduta, e tem como o erro é irrelevante, pois o que vale é a intenção do agente, que
elementos a consciência (sei o que faço), a vontade (quero fazer) e responderá por homicídio doloso). O Professor Damásio de Jesus
a consciência da ilicitude (sei que é errado). É o dolo que depende entende que o agente deve responder por tentativa de homicídio,
de um juízo de valor. aplicando-se a teoria da imputação objetiva.
- Dolo natural
É o dolo segundo a doutrina finalista. Para os finalistas, o CULPA
dolo passou a constituir elemento do fato típico (conduta dolosa),
Culpa é o elemento normativo da conduta (não confundir
deixando de ser requisito para a culpabilidade. A consciência da
com elemento normativo do tipo), pois sua existência decorre da
ilicitude se destacou do dolo e passou a integrar a culpabilidade.
comparação que se faz entre o comportamento do agente no caso
Assim, o dolo que passou para a conduta é aquele composto ape-
concreto e aquele previsto na norma, que seria o ideal. Essa norma
nas por consciência e vontade (sem a consciência da ilicitude, que
corresponde ao sentimento médio da sociedade sobre o que é certo
passou a integrar a culpabilidade). É uma manifestação psicológi-
e o que é errado.
ca, que prescinde de juízo de valor. É o dolo adotado pelo Código
Penal.
- Dolo genérico Elementos do Fato Típico Culposo
É a vontade de realizar o verbo do tipo sem qualquer finali- São elementos do fato típico culposo:
dade especial. • conduta voluntária;
- Dolo específico • resultado naturalístico involuntário;
É a vontade de realizar o verbo do tipo com uma finalidade • nexo causal;
especial. Sempre que no tipo houver um elemento subjetivo, para • tipicidade;
que o fato seja típico, será necessário o dolo específico. • previsibilidade objetiva: é a possibilidade de qualquer
- Dolo de perigo pessoa ter previsto o resultado; o que se leva em conta é se o resul-
É a vontade de expor o bem a uma situação de perigo de dano. tado era ou não previsível para uma pessoa de prudência mediana,
O perigo pode ser concreto ou abstrato. Quando o perigo for con- e não a capacidade do agente de prever o resultado;
creto, é necessária a efetiva comprovação de que o bem jurídico • ausência de previsão: não prever o previsível. Exceção:
ficou exposto a uma real situação de perigo (exemplo: crime do na culpa consciente há previsão;
artigo 132 do Código Penal). O perigo abstrato, também conhecido • quebra do dever objetivo de cuidado: é o dever de cuida-
como presumido, é aquele em que basta a prática da conduta para do imposto a todos. Existem três maneiras de violar o dever obje-
que a lei presuma o perigo (exemplo: artigo 135 do Código Penal). tivo de cuidado. São as três modalidades de culpa.
Os Professores Damásio de Jesus e Luiz Flávio Gomes sustentam
que os crimes de perigo abstrato não existem mais na ordem jurí- Modalidades de Culpa:
dica. - Imprudência: É a culpa de quem age (exemplo: passar no
- Dolo de dano farol fechado). É a prática de um fato perigoso, ou seja, é uma ação
Existe quando a vontade é de produzir uma efetiva lesão ao descuidada. Decorre de uma conduta comissiva.
bem jurídico. Quase todos os crimes são de dano (exemplos: furto,
homicídio etc.). - Negligência: É a culpa de quem se omite. É a falta de cui-
- Dolo direto ou determinado dado antes de começar a agir. Ocorre sempre antes da ação (exem-
Existe quando o agente quer produzir resultado certo e deter- plo: não verificar os freios do automóvel antes de colocá-lo em
minado; é o dolo da teoria da vontade. movimento).
Didatismo e Conhecimento 85
NOÇÕES DE DIREITO
- Imperícia: É a falta de habilidade no exercício de uma pro- 2.ª posição: é possível a participação em crime culposo, sendo
fissão ou atividade. o autor aquele que realiza o núcleo do tipo doloso e partícipe quem
No caso de exercício de profissão, arte ou ofício, se não for concorre para tal. Exemplo: motorista dirige de forma imprudente
observada uma regra técnica o fato poderá enquadrar-se nos arti- e, instigado pelo acompanhante, acaba atropelando uma pessoa. O
gos 121, § 4.º, e 129, § 7.º, do Código Penal. Observe-se que só motorista matou a vítima, pois foi ele quem a atropelou; o acom-
haverá aumento de pena se o agente conhecer a regra técnica e não panhante teve participação nesta morte.
aplicá-la. Não incide o aumento de pena se o agente desconhece A primeira posição prevalece na doutrina, pois a culpa é um
a regra. tipo aberto, não possuindo, por esse motivo, conduta principal dis-
Se a imperícia advier de pessoa que não exerce a arte ou pro- tinta da secundária. É a nossa posição.
fissão, haverá imprudência ou negligência (exemplo: motorista
sem habilitação). Espécies de Culpa:
Difere-se a imperícia do erro profissional, que ocorre quando - Culpa inconsciente ou sem previsão
são empregados os conhecimentos normais da arte ou ofício e o É a culpa sem previsão, em que o agente não prevê o que era
agente chega a uma conclusão equivocada. previsível.
O Código Penal de 1890, em seu artigo 297, previa a culpa in - Culpa consciente ou com previsão
re ipsa ou culpa presumida, resultante de inobservância de disposi- É aquela em que o agente prevê o resultado, mas acredita sin-
ção regulamentar. Se, por exemplo, um motorista sem habilitação ceramente que ele não ocorrerá. Não se pode confundir a culpa
atropelasse uma criança, responderia pelo resultado, mesmo se não consciente com o dolo eventual. Tanto na culpa consciente quanto
tivesse agido culposamente. Adotava-se, como se vê, a responsabi- no dolo eventual o agente prevê o resultado, entretanto na culpa
lidade penal objetiva, abolida no Código Penal de 1940. consciente o agente não aceita o resultado, e no dolo eventual o
agente aceita o resultado.
Tipo Aberto - Culpa indireta ou mediata
O tipo culposo é um tipo aberto, pois não há descrição da É aquela em que o sujeito dá causa indiretamente a um resul-
conduta. Assim, se o legislador tentasse descrever todas as hipó- tado culposo (exemplo: o assaltante aponta uma arma a um mo-
teses em que ocorresse culpa, certamente jamais esgotaria o rol. torista que está parado no sinal; o motorista, assustado, foge do
Compara-se a conduta do agente, no caso concreto, com a conduta carro e acaba sendo atropelado). A solução do problema depende
de uma pessoa de prudência mediana. Se a conduta do agente se
da previsibilidade ou imprevisibilidade do segundo resultado.
afastar dessa prudência, haverá a culpa. Será feita uma valoração
- Culpa imprópria
para verificar a existência da culpa.
Também é chamada culpa por extensão, por assimilação ou
O tipo culposo, como vimos, é um tipo aberto. Excepcional-
por equiparação. Nesse caso, o resultado é previsto e querido pelo
mente, o tipo culposo é um tipo fechado. Exemplos: receptação
agente, que age em erro de tipo inescusável ou vencível. Exemplo:
culposa, tráfico culposo (ministrar dose evidentemente maior) etc.
“A” está em casa assistindo televisão quando seu primo entra na
casa pelas portas dos fundos; pensando tratar-se de um ladrão, “A”
Excepcionalidade da Culpa
Um crime só pode ser punido como culposo quando há pre- efetua disparos de arma de fogo contra seu azarado parente. Nes-
visão expressa na lei. Se a lei é omissa o crime só é punido como se caso, “A” acredita estar agindo em legítima defesa. Como “A”
doloso (artigo 18, parágrafo único, do Código Penal). agiu em erro de tipo inescusável ou vencível (se fosse mais atento
e diligente perceberia que era seu primo), responde por homicídio
Compensação de Culpas culposo nos termos do artigo 20, § 1.º, do Código Penal. Observe-
No Direito Penal, não existe compensação de culpas. O fato de -se que a culpa imprópria, na verdade, diz respeito a um crime
a vítima ter agido também com culpa não impede que o agente res- doloso que o legislador aplica pena de crime culposo.
ponda pela sua conduta culposa. Somente nos casos em que existir Se “A”, no entanto, tivesse agido em erro de tipo escusável ou
culpa exclusiva da vítima haverá exclusão da culpa do agente. invencível, haveria exclusão de dolo e culpa, hipótese em que “A”
Não confundir com concorrência de culpas que ocorre quando ficaria impune.
dois ou mais agentes, culposamente, contribuem para a produção Qual a solução se o primo (do exemplo citado acima) não ti-
do resultado (exemplo: choque de dois veículos num cruzamento). vesse morrido?
Há duas posições na doutrina:
Graus de Culpa - 1.ª posição: “A” responderia por lesões corporais culposas.
Para efeito de cominação abstrata de pena, não há diferença. - 2.ª posição: “A” responderia por tentativa de homicídio cul-
Na dosagem da pena concreta, entretanto, é levado em conta o poso.
grau da culpa na primeira fase de sua fixação (artigo 59 do Código Preferimos a primeira posição, pois não admitimos a tentativa
Penal). São três níveis: grave, leve e levíssima. em crime culposo.
Didatismo e Conhecimento 86
NOÇÕES DE DIREITO
Crime qualificado pelo resultado é aquele em que o legislador, Lembre-se que o latrocínio nem sempre é preterdoloso, pois
após definir um crime completo e acabado, com todos os seus ele- o resultado morte pode ser querido pelo agente, hipótese em que o
mentos (fato antecedente), acrescenta-lhe um resultado (fato con- latrocínio admite a tentativa.
sequente). O resultado não é necessário para a consumação, que já
ocorreu no fato antecedente; o resultado tem a função de aumentar
abstratamente a pena.
2.3.4 CRIME CONSUMADO E
Espécies: CRIME TENTADO
- Conduta dolosa e resultado agravador doloso:
Antecedente Consequente
O agente pratica o crime Art. 14 - Diz-se o crime:
com dolo e depois acrescenta I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos
um resultado também dolo- de sua definição legal;
DOLO DOLO so (exemplo: latrocínio – há II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma
dolo na prática do roubo e por circunstâncias alheias à vontade do agente.
dolo na morte da vítima). Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a
tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, dimi-
- Conduta culposa e resultado agravador doloso : nuída de um a dois terços.
Didatismo e Conhecimento 87
NOÇÕES DE DIREITO
- Tentativa perfeita ou acabada Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosse-
Também conhecida como “crime falho”. Ocorre quando o guir na execução ou impede que o resultado se produza, só res-
agente pratica todos os atos de execução do crime, mas o resultado ponde pelos atos já praticados.
não se produz por circunstâncias alheias à sua vontade. Na desistência voluntária, o agente interrompe voluntaria-
mente a execução do crime, impedindo, desse modo, a sua con-
- Tentativa branca ou incruenta sumação. Ocorre antes de o agente esgotar os atos de execução,
Classificação para os crimes contra a pessoa; ocorre quando a sendo possível somente na tentativa imperfeita ou inacabada. Não
vítima não é atingida. há que se falar em desistência voluntária em crime unissubsistente,
- Tentativa cruenta visto que este é composto de um único ato.
Classificação para os crimes contra a pessoa; ocorre quando No arrependimento eficaz, o agente executa o crime até o
a vítima é atingida, mas o resultado desejado não acontece por último ato, esgotando-os, e logo após se arrepende, impedindo o
circunstância alheia à vontade do agente. resultado. Só é possível no caso da tentativa perfeita ou acabada.
Ocorre somente nos crimes materiais que se consumam com a ve-
Infrações que Não Admitem Tentativa: rificação do resultado naturalístico.
- Crimes culposos: parte da doutrina admite no caso de culpa A desistência ou o arrependimento não precisa ser espontâneo,
imprópria. mas deve ser voluntário. Mesmo se a desistência ou a resipiscên-
- Crimes preterdolosos: no caso dos crimes preterdolosos ou cia for sugerida por terceiros subsistirão seus efeitos. A tentativa
preterintencionais, o evento de maior gravidade, não querido pelo abandonada, em suas duas modalidades, exclui a aplicação da pena
agente, é punido a título de culpa. No caso de latrocínio tentado, o por tentativa, ou seja, o agente responderá somente pelos atos até
resultado morte era querido pelo agente; assim, embora qualifica- então praticados.
do pelo resultado, o latrocínio só poderá ser preterdoloso quando
consumado. Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ame-
- Crimes omissivos próprios: são crimes de mera conduta aça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebi-
(exemplo: artigo 135 do Código Penal). mento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a
pena será reduzida de um a dois terços.
- Contravenção penal: a tentativa não é punida (artigo 4.º do
A expressão utilizada pelo legislador é redundante, pois todo
Decreto-lei n. 3.688/41).
arrependimento é posterior. Na verdade o arrependimento é poste-
- Delitos de atentado: são crimes em que a lei pune a tentativa
rior à consumação do crime.
como se fosse consumado o delito (exemplo: artigo 352 do Código
Trata-se de causa obrigatória de redução de pena.
Penal).
É causa objetiva de diminuição de pena, portanto, estende-se
- Crimes habituais: tais crimes exigem, para consumação, a
aos coautores e partícipes condenados pelo mesmo fato.
reiteração de atos que, isolados, não configuram fato típico. Invi-
ável a verificação da tentativa, posto que uma segunda conduta já Requisitos:
caracteriza o delito. • Só cabe em crime cometido sem violência ou grave ame-
- Crimes que a lei só pune se ocorrer o resultado: trata-se, aça contra a pessoa. Visa o legislador a dar oportunidade ao agen-
por exemplo, do artigo 122 do Código Penal. te, que pratica crime contra o patrimônio sem violência ou grave
ameaça, de reparar o dano ou restituir a coisa. Na jurisprudência,
Observações: prevalece o entendimento de que a lei só se refere à violência dolo-
Parte da doutrina entende que os crimes formais e de mera sa, podendo a diminuição ser aplicada aos crimes culposos em que
conduta não admitem tentativa. Não concordamos com esse en- haja violência, como o homicídio culposo. Assim, a intenção do
tendimento. O crime de ameaça, por exemplo, trata-se de crime legislador foi criar um instituto para os crimes patrimoniais, mas a
formal, mas admite a tentativa no caso de ameaça por escrito, em jurisprudência estendeu ao homicídio culposo.
que a carta é interceptada por terceiro. Alguns crimes de mera • Reparação do dano ou restituição da coisa (deve ser in-
conduta também admitem tentativa, como a violação de domicílio tegral).
(o agente pode, sem sucesso, tentar invadir domicílio de outrem). • Por ato voluntário do agente. Não há necessidade de ser
O crime unissubsistente comporta tentativa em alguns casos, por ato espontâneo, podendo haver influência de terceira pessoa.
exemplo, quando o agente efetua um único disparo contra a vítima • O arrependimento posterior só pode ocorrer até o recebi-
e erra o alvo. mento da denúncia ou queixa. Após, a reparação do dano será so-
mente causa atenuante genérica (artigo 65, inciso III, alínea “b”).
Tentativa Abandonada ou Qualificada
Ocorre quando, iniciada a execução, o resultado não se produz Critérios para Aplicação da Redução da Pena:
por força da vontade do próprio agente. É chamada pela doutrina São dois os critérios para se aplicar a redução da pena: espon-
de ponte de ouro. Comporta duas espécies: desistência voluntária taneidade e celeridade. O arrependimento posterior não precisa ser
e arrependimento eficaz. espontâneo, mas se for, a pena sofrerá maior diminuição. Também,
quanto mais rápido reparar o dano, maior será a diminuição.
Aplicação da Pena
A tentativa é punida com a mesma pena do crime consumado, Relevância da Reparação do Dano:
reduzida de 1/3 a 2/3. O critério para essa redução é a proximidade • Cheque sem fundos: o pagamento até o recebimento da
do momento consumativo, ou seja, quanto mais próximo chegar da denúncia ou queixa extingue a punibilidade (Súmula 554 do Su-
consumação, menor será a redução. premo Tribunal Federal).
Didatismo e Conhecimento 88
NOÇÕES DE DIREITO
• Crimes contra a ordem tributária: o pagamento do tri-
buto até o recebimento da denúncia ou queixa também extingue a 2.3.5 ESTADO DE NECESSIDADE.
punibilidade. LEGÍTIMA DEFESA. ESTRITO CUMPRI-
• Peculato culposo (artigo 312, § 3.º): se a reparação do MENTO DO DEVER LEGAL. EXERCÍCIO
dano precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se REGULAR DO DIREITO
lhe é posterior reduz de metade a pena imposta.
• Crimes de ação penal privada ou pública condicionada
à representação (artigo 74, parágrafo único, da Lei n. 9.099/95):
havendo composição civil do dano em audiência preliminar, extin-
gue-se o direito de queixa ou representação. Causas de exclusão de ilicitude:
Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato:
Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia ab- I - em estado de necessidade;
soluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é im- II - em legítima defesa;
possível consumar-se o crime III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício
Também chamada “tentativa inidônea ou inadequada”, “quase regular de direito;
crime”, e ocorre quando a consumação é impossível pela ineficácia Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses deste
absoluta do meio ou impropriedade absoluta do objeto. artigo, responderá pelo excesso doloso ou culposo.
A consequência do crime impossível é a atipicidade do fato. As causas de exclusão da ilicitude (também chamadas exclu-
A teoria adotada no crime impossível é a teoria objetiva tem- são da antijuridicidade, causas justificantes ou descriminantes)
perada, pois se a ineficácia do meio e a impropriedade do objeto podem ser:
forem relativas há tentativa. Essa teoria opõe-se à teoria sintomá- - causas legais: são as quatro previstas em lei (estado de ne-
tica (se o agente demonstra periculosidade deve ser punido) e à cessidade, legítima defesa, estrito cumprimento do dever legal e o
teoria subjetiva (deve ser punido se demonstra vontade de delin- exercício regular de direito);
quir). Para a teoria objetiva pura, há crime impossível mesmo se a - causas supralegais: são aquelas não previstas em lei, que po-
impropriedade e a ineficácia forem relativas. dem ser admitidas sem que haja colisão com o princípio da reserva
legal, pois aqui se cuida de norma não incriminadora (exemplo:
Ineficácia Absoluta do Meio colocação de piercing; não se trata de crime de lesão corporal, pois
O meio empregado jamais poderia levar à consumação do cri- há o consentimento do ofendido).
me. A ineficácia do meio deve ser absoluta (exemplo: um palito
para matar um adulto, uma arma de brinquedo). Deve-se lembrar, A) Estado de Necessidade
entretanto, que um determinado meio pode ser ineficaz para um Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pra-
crime, mas eficaz para outro (exemplo: num crime de roubo, uma tica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por
arma totalmente inapta a produzir disparos pode ser utilizada para sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio
intimidar a vítima). ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável
exigir-se.
Crime de ensaio ou experiência § 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o
Também chamado “delito putativo por obra do agente pro- dever legal de enfrentar o perigo.
vocador” ou “crime de flagrante preparado”, ocorre quando a po- § 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito
lícia ou terceiro (agente provocador) prepara uma situação, que ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a dois terços.
induz o agente a cometer o delito (exemplo: detetive simula querer Consiste em uma conduta lesiva praticada para afastar uma
comprar maconha e prende o traficante). O agente é protagonista situação de perigo. Obviamente, não é qualquer situação de perigo
de uma farsa. A jurisprudência considera a encenação do flagrante
que admite a conduta lesiva e não é qualquer conduta lesiva que
preparado uma terceira espécie de crime impossível, entendendo
pode ser praticada na situação de perigo. A situação de perigo pode
não haver crime ante a atipicidade do fato (Súmula n. 145 do Su-
ser, por exemplo, um fenômeno da natureza, um ataque de animal
premo Tribunal Federal).
irracional, um ataque humano justificado (se for injusto, será legí-
tima defesa).
Impropriedade Absoluta do Objeto
A pessoa ou a coisa sobre a qual recai a conduta jamais po-
Característica essencial
deria ser alvo do crime (exemplo: atirar em alguém que já está
morto). No estado de necessidade, um bem jurídico é sacrificado para
salvar outro ameaçado por situação de perigo (exemplo: naufrá-
Delito putativo por erro de tipo gio).
O crime impossível pela absoluta impropriedade do objeto é
também chamado delito putativo por erro de tipo, pois se trata de Teorias
um crime imaginário; o agente quer cometer um crime, mas devi- Teoria unitária: o estado de necessidade sempre exclui a anti-
do ao desconhecimento da situação de fato, comete um irrelevante juridicidade. Essa teoria foi acolhida pelo Código Penal.
penal (exemplo: mulher pensa que está grávida e ingere substância Teoria diferenciada (Direito Penal alemão): se o bem sacrifi-
abortiva). Não se confunde com o erro de tipo, pois neste o agente cado for de valor igual ao salvo, o estado de necessidade só exclui
não sabe, devido a um erro de apreciação da realidade, que está co- a culpabilidade.
metendo um crime (exemplo: compra cocaína pensando ser talco).
Didatismo e Conhecimento 89
NOÇÕES DE DIREITO
Requisitos para a existência do estado de necessidade Requisitos
O perigo deve ser atual ou iminente. A lei só fala em perigo - Agressão: ataque humano. No caso de ataque de animal irra-
atual, mas a doutrina considera que o agente não precisa aguardar cional, não há legítima defesa e sim estado de necessidade.
o perigo surgir para só então agir. Assim, o perigo deve estar acon- Observação: se uma pessoa açula um animal para atacar ou-
tecendo naquele momento ou prestes a acontecer. Quando, portan- tra, há legítima defesa, pois nesse caso o animal é instrumento do
to, o perigo for remoto ou futuro, não há o estado de necessidade. crime.
O perigo deve ameaçar direito próprio ou alheio. Necessá- A agressão pode ser ativa ou passiva:
rio se faz que o bem esteja protegido pelo ordenamento jurídico - ativa: a agressão injusta é uma ação;
(exemplo: o condenado à morte não pode alegar estado de neces- - passiva: quando o ato de agredir é uma omissão, é preciso
sidade contra o carrasco). No caso de situação de perigo a bem de que o agressor omitente esteja obrigado a atuar (exemplo: carcerei-
terceiro, não há necessidade da autorização deste. ro que, mesmo com alvará de soltura, não liberta o preso).
O perigo não pode ter sido causado voluntariamente pelo
agente. Quem dá causa a uma situação de perigo não pode invocar - Injusta: no sentido de ilícita, contrária ao ordenamento ju-
o estado de necessidade para afastá-la. Aquele que provocou o pe- rídico.
rigo com dolo não age em estado de necessidade porque tem o de-
A agressão deve ser ilícita. Assim, não se admite:
ver jurídico de impedir o resultado. Mas, se o perigo foi provocado
-legítima defesa real contra legítima defesa real;
culposamente, o agente pode se valer do estado de necessidade.
-legítima defesa real contra estado de necessidade real;
Observação: há, entretanto, quem defenda que, mesmo se o perigo
foi provocado culposamente, o agente não pode se valer do estado -legítima defesa real contra exercício regular de direto;
de necessidade. -legítima defesa real contra estrito cumprimento do dever le-
Quem possui o dever legal de enfrentar o perigo não pode gal.
invocar o estado de necessidade, pois deve afastar a situação de Observação: em nenhuma dessas hipóteses havia agressão
perigo sem lesar qualquer outro bem jurídico (exemplo: bombei- injusta.
ro). Observe-se que a lei fala em dever legal e não dever jurídico,
sendo este mais amplo do que aquele. - Atual ou iminente:atual é a agressão que está acontecendo e
Inevitabilidade do comportamento lesivo, ou seja, somente iminente é a que está prestes a acontecer. Não cabe legítima defe-
deverá ser sacrificado um bem se não houver outra maneira de sa contra agressão passada ou futura nem quando há promessa de
afastar a situação de perigo. agressão.
É necessário existir proporcionalidade entre a gravidade do - A direito próprio ou de terceiro: há legítima defesa própria
perigo que ameaça o bem jurídico do agente ou alheio e a gravi- quando o sujeito está se defendendo e legítima defesa alheia quan-
dade da lesão causada. Trata-se da razoabilidade do sacrifício, ou do defende terceiro. Pode-se alegar legítima defesa alheia mesmo
seja, se o sacrifício for razoável, haverá estado de necessidade, ex- agredindo o próprio terceiro (exemplo: em caso de suicídio, pode-
cluindo-se a ilicitude. Se houver desproporcionalidade o fato será -se agredir o terceiro para o salvar).
ilícito, afastando-se o estado de necessidade, e o réu terá direito à - Meio necessário: é o meio menos lesivo colocado à disposi-
redução da pena de 1/3 a 2/3 (artigo 24, § 2.º, do Código Penal). ção do agente no momento da agressão.
Requisito subjetivo: os finalistas consideram mais um requi- - Moderação: é o emprego do meio menos lesivo dentro dos
sito do estado de necessidade; o conhecimento da situação justifi- limites necessários para conter a agressão. Somente quando ficar
cante. Se não houver esse conhecimento, o agente não terá direito evidente a intenção de agredir e não a de se defender, caracterizar-
a invocar o estado de necessidade. Para os clássicos, esse conheci- -se-á o excesso.
mento é irrelevante.
Excesso é a intensificação desnecessária de uma ação inicial-
Espécies de estado de necessidade mente justificada, ou seja, ocorre quando se utiliza um meio que
Próprio ou de terceiro: é próprio quando há o sacrifício de
não é necessário ou quando se utiliza meio necessário sem mode-
um bem jurídico para salvar outro que é do próprio agente. É de
ração. Se o excesso for doloso não há legítima defesa. Se o excesso
terceiro quando o sacrifício visa a salvar bem jurídico de terceiro.
for culposo o agente responde pelo crime culposo. Neste caso, os
Real ou putativo: é real quando se verificam todos os requi-
sitos da situação de perigo. É putativo quando não subsistem, de jurados desclassificam o crime doloso contra a vida para um crime
fato, todos os requisitos legais da situação de necessidade, mas o culposo (é a chamada desclassificação imprópria). Caso não se ca-
agente os julga presentes. racterize nem o dolo nem a culpa do excesso, verifica-se a legítima
Defensivo ou agressivo: é defensivo quando há o sacrifício de defesa subjetiva.
bem jurídico da própria pessoa que criou a situação de perigo. É
agressivo quando há o sacrifício de bem jurídico de terceira pessoa Espécies de legítima defesa
inocente. - legítima defesa putativa: é a legítima defesa imaginária. É a
errônea suposição da existência da legítima defesa por erro de tipo
B) Legítima Defesa ou erro de proibição.
Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando mode- - legítima defesa subjetiva: é o excesso cometido por um erro
radamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual plenamente justificável.
ou iminente, a direito seu ou de outrem. - legítima defesa sucessiva: é a repulsa contra o excesso.
Trata-se de causa de exclusão da ilicitude consistente em repe-
lir injusta agressão, atual ou iminente, a direito próprio ou alheio, Hipóteses de cabimento da legítima defesa:
usando moderadamente dos meios necessários. - cabe legítima defesa real contra legítima defesa putativa.
Didatismo e Conhecimento 90
NOÇÕES DE DIREITO
- cabe legítima defesa putativa contra legítima defesa real
(exemplo: “A” é o agressor, “B” é a vítima. “A” começa a agredir 2.3.6 DOS CRIMES CONTRA A PESSOA
“B” e este começa a se defender. “C” não sabe quem começou a
briga e age em legítima defesa de “A”, agredindo “B”).
- cabe legítima defesa putativa contra legítima defesa putativa.
- cabe legítima defesa real contra agressão culposa. HOMICÍDIO:
- cabe legítima defesa real contra agressão de inimputável. Art. 121. Matar alguém:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de
Pergunta: Cabe legítima defesa real contra legítima defesa
relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta
subjetiva? emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, ou juiz
Resposta: Em tese caberia, pois a partir da continuidade da pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
agressão a vítima se torna agressora. Para a jurisprudência, en- § 2° Se o homicídio é cometido:
tretanto, não é aceita quando o excesso for repelido pelo próprio I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro
agressor, porque não pode invocar a legítima defesa quem iniciou motivo torpe;
a agressão, mas o excesso pode ser repelido por terceiro. II - por motivo fútil;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tor-
C) Estrito Cumprimento do Dever Legal tura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar
O dever deve constar de lei, decreto, regulamento ou qualquer perigo comum;
ato administrativo, desde que de caráter geral. Quando há ordem IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou
específica a um agente, não há o estrito cumprimento do dever outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofen-
legal, mas obediência hierárquica (estudada na culpabilidade). dido;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade
O agente atua em cumprimento de um dever imposto generi-
ou vantagem de outro crime:
camente, de forma abstrata e impessoal. Se houver abuso no cum- Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
primento da ordem, não há a excludente, o cumprimento deve ser § 3º Se o homicídio é culposo:
estrito, limitado aos ditames legais. Pena - detenção, de um a três anos.
É possível haver estrito cumprimento do dever legal putativo, § 4oNo homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um
ou seja, o sujeito pensa que está agindo no estrito cumprimento do terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de
dever legal, mas não está. profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imedia-
Necessário se faz ainda o requisito subjetivo, a consciência de to socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do
que se cumpre um dever legal; do contrário, há um ilícito. seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso
o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é
D) Exercício Regular do Direito praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60
O exercício de um direito jamais pode configurar um fato ilíci- (sessenta) anos.
to. O exercício irregular ou abusivo do direito, ou com espírito de § 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar
de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o
mera emulação, faz desaparecer a excludente.
próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne
desnecessária.
OBSERVAÇÕES: § 6º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o
- Ofendículos e defesa mecânica predisposta: Ofendículos crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de presta-
são aparatos visíveis destinados à defesa da propriedade ou de ção de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio.
qualquer outro bem jurídico. O que os caracteriza é a visibilidade,
devendo ser perceptíveis por qualquer pessoa (exemplos: lança no São três os tipos (espécies):
portão da casa, caco de vidro no muro etc.). Existem duas posições - homicídio simples;
sobre sua natureza jurídica: - homicídio privilegiado;
- legítima defesa preordenada, pois o aparato é armado com - homicídio qualificado.
antecedência, mas só atua no instante da agressão (Damásio de
Jesus); Homicídio Simples:
- exercício regular de direito (Aníbal Bruno). Conceito de homicídio: eliminação da vida humana extraute-
rina, provocada por outra pessoa.
Tipo penal: matar alguém.
- Defesa mecânica predisposta: é aparato oculto destinado Pena: reclusão de 6 (seis) a 20 (vinte) anos.
à defesa da propriedade ou de qualquer outro bem jurídico. Po-
dem configurar delitos culposos, pois alguns aparatos instalados Objeto jurídico:
imprudentemente podem trazer trágicas consequências. Observa- Objetividade jurídica trata-se do bem jurídico tutelado pela
ção: Para o Prof. Damásio de Jesus, nos dois casos, salvo condutas norma penal. No caso do homicídio o bem jurídico tutelado é a
manifestamente imprudentes, é mais correta a aplicação da justi- vida humana extrauterina. O homicídio é um crime simples, pois
ficativa da legítima defesa. A predisposição do aparelho constitui tem apenas um bem jurídico tutelado (vida). Crimes complexos
exercício regular de direito, mas, no momento em que este atua, o são aqueles em que a lei protege mais de um bem jurídico (exem-
caso é de legítima defesa preordenada. plo: latrocínio).
Didatismo e Conhecimento 91
NOÇÕES DE DIREITO
Sujeito ativo: Progressão criminosa: o agente inicia a execução querendo
Qualquer pessoa. O homicídio é um crime comum, pois pode apenas lesionar e depois altera o seu dolo e resolve matar. Con-
ser praticado por qualquer pessoa, ao contrário dos crimes pró- sequência: o agente só responde pelo homicídio que absorve as
prios, que só podem ser praticados por determinadas pessoas. lesões corporais.
O homicídio admite coautoria e participação. Lembre-se que Lesão corporal seguida de morte: trata-se de crime preterdo-
o Código Penal adotou a teoria restritiva, logo: loso (dolo na lesão e culpa na morte). Não se confunde com a
Autor: é a pessoa que pratica a conduta descrita no tipo, o ver- progressão criminosa.
bo do tipo (é quem subtrai, quem constrange, quem mata). Desistência Voluntária: o agente só responde pelos atos já
Partícipe: é a pessoa que não comete a conduta descrita no praticados. Ocorre quando, por exemplo, ele efetua um disparo
tipo, mas de alguma forma contribui para o crime. Exemplo: aque- contra a vítima e percebe que não a atingiu de forma mortal, sendo
le que empresta a arma, incentiva. que, na sequência, voluntariamente deixa de efetuar novos dispa-
ros, apesar de ser possível fazê-lo. O agente responde só por lesões
Para que exista coautoria e participação, é necessário que corporais. Não há tentativa, por não existir circunstância alheia à
exista liame subjetivo, ou seja, a ciência por parte dos envolvidos vontade do agente que tenha impedido a consumação (artigo 15 do
de que estão colaborando para um fim comum. Código Penal).
Elemento subjetivo:
Pergunta: Que vem a ser autoria colateral?
- dolo direto: quando a pessoa quer o resultado;
Resposta: Ocorre quando duas ou mais pessoas querem come-
- dolo eventual: o agente assume o risco de produzir o resulta-
ter o mesmo crime e agem ao mesmo tempo, sem que uma saiba da do (prevê a morte e age).
intenção da outra, e o resultado morte decorre da conduta de um só
agente, que é identificado no caso concreto. O que for identificado No caso de homicídio decorrente de racha de automóveis (ar-
responderá por homicídio consumado e o outro por tentativa. tigo 308 do Código de Trânsito Brasileiro), os Tribunais têm en-
tendido que se trata de homicídio com dolo eventual.
Pergunta: Que se entende por autoria incerta?
Resposta: Ocorre quando, na autoria colateral, não se conse- HOMICÍDIO PRIVILEGIADO - ARTIGO 121, § 1.º, DO
gue identificar o causador da morte, respondendo todos por tenta- CÓDIGO PENAL
tiva de homicídio. Natureza Jurídica:
Causa de diminuição de pena (redução de 1/6 a 1/3, em todas
Classificação: as hipóteses).
É um crime simples, comum, instantâneo, material e de dano. Apesar de o parágrafo trazer a expressão “pode”, trata-se de
uma obrigatoriedade, para não ferir a soberania dos veredictos. O
Sujeito passivo: privilégio é votado pelos jurados e, se reconhecido o privilégio,
Qualquer ser humano após seu nascimento e desde que esteja a redução da pena é obrigatória, pois do contrário estaria sendo
vivo. ferido o princípio da soberania dos veredictos. Trata-se, portanto,
Crime impossível: tem a finalidade de afastar a tentativa por de um direito subjetivo do réu.
absoluta ineficácia do meio ou absoluta impropriedade do objeto. As hipóteses são de natureza subjetiva porque estão ligadas
Há crime impossível por absoluta impropriedade do objeto na con- aos motivos do crime:
duta de quem tenta tirar a vida de pessoa já morta e, neste caso, não - Motivo de relevante valor moral (nobre): diz respeito a senti-
há tentativa de homicídio, ainda que o agente não soubesse que a mentos do agente que demonstre que houve uma motivação ligada
vítima estava morta. Haverá também crime impossível, mas por a uma compaixão ou algum outro sentimento nobre. É o caso da
absoluta ineficácia do meio, quando o agente usa, por exemplo, eutanásia.
arma de brinquedo ou bala de festim. - Motivo de relevante valor social: diz respeito ao sentimento
da coletividade. Exemplo: matar o traidor da Pátria.
- Sob domínio de violenta emoção, logo em seguida à injusta
Consumação:
provocação da vítima.
Dá-se no momento da morte (crime material). A morte ocorre
Requisitos:
quando cessa a atividade encefálica (Lei n. 9.434/97, artigo 3.º). A a - existência de uma injusta provocação (não é injusta agres-
prova da materialidade se faz por meio do laudo de exame necros- são, senão seria legítima defesa). Exemplo: adultério, xingamento,
cópico assinado por dois legistas, que devem atestar a ocorrência traição. Não é necessário que a vítima tenha tido a intenção especí-
da morte e se possível as suas causas. fica de provocar, bastando que o agente se sinta provocado.
b - que, em razão da provocação, o agente fique tomado por
Tentativa: uma emoção extremamente forte. Emoção é um estado súbito e
Tentativa branca de homicídio: ocorre quando o agente prati- passageiro de instabilidade psíquica.
ca o ato de execução, mas não atinge o corpo da vítima que, por- c - reação imediata (logo em seguida...): não pode ficar evi-
tanto, não sofre qualquer dano em sua integridade corporal. denciada uma patente interrupção entre a provocação e a morte.
Tentativa cruenta de homicídio: ocorre quando a vítima é atin- Leva-se em conta o momento em que o sujeito ficou sabendo da
gida, sendo apenas lesionada. provocação.
Tentativa de homicídio diferencia-se de lesão corporal consu- Pergunta: Qual a diferença entre o privilégio da violenta emo-
mada: o que distingue é o dolo (intenção do agente). ção com a atenuante genérica homônima?
Didatismo e Conhecimento 92
NOÇÕES DE DIREITO
Resposta: No privilégio, a lei exige que o sujeito esteja sob Emprego de veneno:
o domínio de violenta emoção, enquanto na atenuante, basta que Trata-se do venefício, que é o homicídio praticado com o em-
o sujeito esteja sob a influência da violenta emoção. O privilégio prego de veneno.
exige reação imediata, já a atenuante não. É necessário que seja inoculado de forma que a vítima não
perceba. Se o veneno for introduzido com violência ou grave ame-
HOMICÍDIO QUALIFICADO - ARTIGO 121, § 2.º, DO aça, será aplicada a qualificadora do meio cruel. Certas substâncias
CÓDIGO PENAL que são inofensivas para as pessoas em geral poderão ser conside-
Pena: reclusão de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. radas veneno em razão de condições de saúde peculiares da vítima,
como no caso do açúcar para o diabético.
Classificação:
- Quanto aos motivos: incisos I e II. Emprego de fogo:
- Quanto ao meio empregado: inciso III. Se além de causar a morte da vítima o fogo ou explosivo da-
- Quanto ao modo de execução: inciso IV. nificarem bem alheio, o agente só responderá pelo homicídio qua-
- Por conexão: inciso V. lificado (artigo 163, parágrafo único, inciso II, do Código Penal).
Didatismo e Conhecimento 93
NOÇÕES DE DIREITO
quer a morte da vítima e utiliza meio que causa intenso sofrimen- - Consequencial: Ocorre quando a morte visa garantir:
to físico ou mental. No crime de tortura com resultado morte, no - ocultação de outro crime: o agente quer evitar que alguém
entanto, o agente tem a intenção de torturar a vítima, mas acaba descubra que o crime foi praticado;
provocando sua morte culposamente (trata-se de crime preterdolo- - impunidade: evitar que alguém conheça o autor de um crime
so - dolo no antecedente e culpa no consequente). (exemplo: matar testemunha);
Meio insidioso: é o meio ardiloso que consiste no uso de frau- - vantagem (exemplo: ladrões de banco – um mata o outro).
de, armadilha, parecendo não ter havido infração penal, e sim um
acidente, como no caso de sabotagem nos freios do automóvel. Na conexão teleológica, primeiro o agente mata e depois co-
mete o outro crime. Na consequencial, primeiro comete o outro
Emprego de qualquer meio do qual possa resultar perigo crime, depois mata.
comum: Se o agente visa a garantia da execução, a ocultação, a impu-
Gera perigo a um número indeterminado de pessoas. Não é nidade ou vantagem de uma contravenção, será aplicada a quali-
necessário que o caso concreto demonstre o perigo comum, basta ficadora do motivo torpe, conforme o caso. Não incide o inciso V,
que se comprove que o meio usado poderia causar dano a várias pois, esse se refere expressamente a outro crime.
pessoas, ainda que não haja uma situação de risco específico.
Questão: O que ocorre, todavia, se no caso concreto o agen- Observações:
te, além de matar a vítima, efetivamente expõe outras pessoas a
- Premeditação não é qualificadora.
perigo?
- Homicídio de pessoa da mesma família não gera qualifica-
Resposta: Parte da doutrina entende que há homicídio quali-
dora, apenas agravante genérica do artigo 61 inciso II, alínea “e”,
ficado em concurso formal com o crime de perigo comum (artigo
do Código Penal.
250 e seguintes do Código Penal). Mas há entendimento divergen-
te, pois se o agente atua com o dolo de dano, não pode agir com - Parricídio: matar qualquer ascendente.
dolo de perigo. - Matricídio: matar a própria mãe.
- Filicídio: matar o próprio filho.
Inciso IV – à traição, de emboscada ou mediante dissimula-
ção ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa As qualificadoras podem ser de duas espécies:
do ofendido - subjetivas: referem-se aos motivos do crime (incisos I, II e
Refere-se ao modo que o sujeito usou para aproximar-se da V);
vítima. - objetivas: referem-se aos meios e modos de execução (inci-
Traição: aproveitar-se da prévia confiança que a vítima de- sos III e IV).
posita no agente para alvejá-la (exemplo: matar a esposa que está
dormindo). As qualificadoras se estendem aos coautores ou partícipes?
- Emboscada ou tocaia: aguardar escondido a passagem da Somente as objetivas se comunicam, desde que tenham in-
vítima por um determinado local para matá-la. gressado na esfera de conhecimento do coautor ou partícipe. As de
- Dissimulação: uso de artifício para se aproximar da vítima. caráter subjetivo são incomunicáveis, conforme dispõe o artigo 30
Pode ser: do Código Penal.
Material: dá-se com o uso de disfarce, fantasia ou métodos
análogos para se aproximar. Se o crime tem mais de uma qualificadora que incide so-
- Moral: a pessoa usa a palavra. Sujeito dá falsas provas de bre um fato, aplica-se somente uma delas. Exemplo: homicídio
amizade ou de apreço para poder se aproximar. triplamente qualificado. Basta uma qualificadora para alterar os li-
mites da pena. As demais qualificadoras passam a ter a função de
Qualquer outro recurso que dificulte ou torne impossível a influir na dosagem da pena dentro dos novos limites. Aqui, surge
defesa da vítima a seguinte questão:
Exemplos: surpresa, disparo pelas costas, enquanto a vítima Como as demais qualificadoras influem na pena?
dorme etc.
Resposta: há duas posições:
Quando uma pessoa armada mata outra desarmada, a jurispru-
Se previstas como agravantes genéricas, passam a funcionar
dência não configura a qualificadora por razão de política criminal.
como tal, sendo consideradas na segunda fase.
Funcionam como circunstâncias judiciais desfavoráveis ob-
Inciso V – para assegurar a execução, a ocultação, a impu-
nidade ou vantagem de outro crime servadas na primeira fase. Esse entendimento se baseia na inter-
O inciso refere-se às qualificadoras por conexão, que podem pretação do artigo 61, caput, do Código Penal.
ser:
- Teleológica: Quando a morte visa assegurar a execução de Questão: O delito disposto no artigo 121 do Código Penal
outro crime (exemplo: matar o segurança para sequestrar o empre- pode ser qualificado e privilegiado ao mesmo tempo?
sário). Haverá concurso material entre o homicídio qualificado e Resposta: Sim, desde que as qualificadoras sejam objetivas,
o outro delito, salvo se houver crime específico no Código Penal pois as hipóteses que tratam do privilégio são todas de natureza
para esta situação (exemplo: no latrocínio, o agente mata para rou- subjetiva – tornando-se inconciliáveis com as qualificadoras sub-
bar). jetivas (o homicídio não poder ser, a um só tempo, cometido por
motivo de relevante valor social e por motivo fútil).
Didatismo e Conhecimento 94
NOÇÕES DE DIREITO
No momento da quesitação, quando do julgamento pelo Júri, - Se o agente foge para evitar o flagrante
o privilégio é votado antes das qualificadoras (Súmula n. 162 do
Supremo Tribunal Federal). Assim, se os jurados o reconhecerem, - Se o agente não procurar diminuir as consequências de
o juiz coloca em votação apenas as qualificadoras objetivas, já que seu ato.
as subjetivas ficam prejudicadas.
O homicídio qualificado é crime hediondo. - Se o crime resulta da inobservância de regra técnica de
arte, profissão ou ofício.
Questão: O homicídio privilegiado-qualificado é conside- Como diferenciá-la da imperícia? A diferença é que na impe-
rado crime hediondo? rícia o agente não possui aptidão técnica para a conduta, enquanto
Resposta: Existem duas correntes: na causa de aumento o agente conhece a regra técnica, mas por
Para o Prof. Damásio de Jesus, não é hediondo. O artigo 67 do descaso, desleixo, não a observa, provocando assim a morte da
Código Penal dispõe que havendo concurso entre agravante e ate- vítima.
nuante, deve se dar preponderância à circunstância de caráter sub-
jetivo (motivos do crime, personalidade do agente e reincidência). No Homicídio Doloso: A pena será aumentada de 1/3, se a
Por analogia, concorrendo privilégio e qualificadora, prevalece o vítima for menor de 14 anos. A idade deve ser aferida no momen-
privilégio, por tratar-se de circunstância subjetiva. to da ação ou omissão. Assim, aplica-se o aumento mesmo se a
Aceita pela jurisprudência: inaplicável a analogia ao arti- vítima morre após completar 14 anos, nos termos do artigo 4.º do
go 67, porque qualificadora e privilégio são elementos que não Código Penal.
se equivalem. Ao contrário do que ocorre com as agravantes e Aplica-se ao homicídio simples, qualificado e privilegiado.
atenuantes genéricas. A qualificadora deve preponderar, porque
modifica a própria estrutura típica do delito, alternando a pena in PERDÃO JUDICIAL - ARTIGO 121, § 5.º, DO CÓDIGO
abstrato, enquanto que o privilégio é apenas causa de diminuição PENAL
de pena. Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá conceder o
perdão judicial, deixando de aplicar a pena, quando as consequên-
HOMICÍDIO CULPOSO - ARTIGO 121, § 3.º, DO CÓ- cias do crime atingirem o próprio agente de forma tão grave que a
DIGO PENAL
imposição da mesma se torne desnecessária. Só na sentença é que
Pena: detenção de 1 (um) a 3 (três) anos.
poderá ser concedido o perdão judicial.
A morte decorre de imprudência, negligência ou imperícia.
Exemplo: agente que culposamente mata o próprio filho.
- Imprudência: consiste numa ação, conduta perigosa.
Tem caráter pessoal, logo não se estende a terceiro.
- Negligência: é uma omissão; ocorre quando se deveria ter
tomado um certo cuidado.
Natureza Jurídica do Perdão Judicial
- Imperícia: ocorre quando uma pessoa não possui aptidão
É uma faculdade do juiz e não um dos direitos públicos subje-
técnica para a realização de uma certa conduta e mesmo assim a
realiza, dando causa à morte. tivos do réu. O juiz, portanto, tem a discricionariedade de conceder
ou não. Trata-se de causa extintiva da punibilidade (artigo 107,
Culpa concorrente: ocorre quando duas pessoas agem de for- inciso IX, do Código Penal).
ma culposa, provocando a morte de um terceiro. Ambos respon-
dem pelo crime. INDUZIMENTO, AUXÍLIO OU INSTIGAÇÃO AO SUI-
O fato de a vítima também ter agido com culpa não exclui a CÍDIO
responsabilidade do agente. Não há compensação de culpas em
Direito Penal. Art. 122, caput — Induzir ou instigar alguém a suicidar-se
O homicídio culposo do Código Penal só se aplica se o crime ou prestar-lhe auxílio para que o faça:
não for cometido na direção de veículo automotor, porque nesse Pena — reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se con-
caso estará configurado o crime definido no artigo 302 do Código suma; ou reclusão, de um a três anos, se da tentativa de suicídio
de Trânsito Brasileiro, que prevê pena mais severa. resulta lesão corporal de natureza grave.
A ação penal é pública incondicionada. O processo observará
o rito sumário. Esse crime também é chamado de “participação em suicídio”
porque pune quem colabora com suicídio alheio. A lei não incri-
AUMENTO DE PENA ARTIGO 121, § 4.º, DO CÓDIGO mina aquele que tenta o suicídio e não obtém êxito. O legislador
PENAL entendeu que a punição nesse caso teria apenas efeitos negativos,
No Homicídio Culposo: A pena será aumentada de 1/3 (um como, por exemplo, reforçar a ideia suicida. Assim, como o sui-
terço): cídio em si não constitui crime, pode-se dizer que no art. 122 o
legislador tornou ilícita a participação em fato não criminoso (par-
- Se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima ticipação em suicídio).
Só se aplica a quem agiu com culpa e não socorreu. Não se A lei pune apenas aquele que participa do suicídio de outra
aplica o aumento: pessoa em uma das três modalidades definidas no tipo, quais se-
se a vítima está evidentemente morta; jam, induzindo, instigando ou prestando auxílio.
se a vítima foi socorrida de imediato por terceiro; Induzir. Significa dar a ideia do suicídio a alguém que ainda
quando o socorro não era possível por questões materiais, não tinha tido esse pensamento. O agente faz surgir a intenção do
ameaça de agressão etc. suicídio.
Didatismo e Conhecimento 95
NOÇÕES DE DIREITO
Na história recente, há vários acontecimentos que se integram vez que, para esse caso, já existe pena autônoma na própria parte
a essa hipótese, ligados, basicamente, a líderes de fanáticos reli- especial do Código Penal, sendo, portanto, desnecessária a combi-
giosos, que estimulam o suicídio em massa de seus seguidores. nação com a norma de extensão do art. 14, II, do Código Penal que
Instigar. Significa reforçar a intenção suicida já existente. É o trata da tentativa.
caso daqueles que vislumbram uma pessoa no alto de um prédio, A conclusão, portanto, é que o crime do art. 122 não admite
prestes a se atirar de lá, e, ainda assim, passam a estimular, me- tentativa. Não se confunda, todavia, a tentativa de suicídio que
diante gritos, que o suicida efetivamente salte. evidentemente existe e que se refere ao fato em si, com a tentativa
No induzimento, a ideia de suicídio ainda não havia passado de crime de participação em suicídio que, nos termos acima, não
pela cabeça da vítima. Na instigação, por outro lado, a ideia já admite o conatus.
havia surgido na vítima e o sujeito a estimula. O induzimento e a Observações:
instigação são chamados de participação moral. 1) Não há suicídio no ato daquele que quer ser herói e que vai
Auxiliar. Significa colaborar materialmente com a prática do à guerra por seu país. Por isso, aquele que o instiga a ir à guerra
suicídio, quer dando instruções, quer emprestando objetos (arma, não pratica crime.
veneno) para que a vítima se suicide. O auxílio é chamado de par- 2) Se o agente pratica, por exemplo, induzimento e auxílio
ticipação material. Essa participação, todavia, deve ser secundária, ao suicídio de alguém, responde por um único delito. Trata-se de
acessória, pois se a ajuda for a causa direta e imediata da morte da crime de ação múltipla (de conteúdo variado), em que a prática de
vítima, o crime será o de homicídio, como no caso de quem, a pe- mais de uma conduta em relação à mesma vítima configura uma
dido da vítima, puxa o gatilho e provoca a sua morte, já que, ainda só infração penal. Nessa espécie de delito, que possui tipo misto
que exista consentimento, ele não é válido, uma vez que a vida é alternativo, a realização de mais de uma conduta, apesar de confi-
bem indisponível. Não se pode, nesse caso, tipificar o crime de gurar crime único, deve ser levada em consideração na aplicação
participação em suicídio, porque não houve efetivamente suicídio. da pena.
No Brasil, o famoso caso do médico norte-americano que 3) Livros e músicas que estimulam a prática do suicídio ou
cede um dispositivo a pacientes terminais para que eles próprios que ensinam modos de se suicidar não geram a incriminação de
venham a dar início à inoculação de veneno para a provocação da seus autores porque o induzimento, o auxílio ou a instigação têm
morte configuraria o crime do art. 122 do Código Penal. que visar pessoa determinada ou determinadas.
Suicídio — é a supressão voluntária e consciente da própria 4) Deve haver relação de causa e efeito entre a conduta do
vida. agente e a da vítima. É o chamado nexo de causalidade. Se o agen-
Assim, se alguém tira sua própria vida mas de forma não cons- te empresta um revólver e a vítima se enforca, não há crime, já que,
ciente ou voluntária, afasta-se a caracterização do delito em estudo excluído o empréstimo da arma, a vítima teria conseguido cometer
e pode- -se configurar o crime de homicídio. Por isso, se a vítima o suicídio da mesma forma como o fez.
é forçada, mediante violência ou grave ameaça, a ingerir veneno 5) Seriedade deve existir na conduta do agente. Se alguém, em
ou a desferir um tiro no próprio peito não há suicídio porque a tom de brincadeira, diz à vítima que a única solução é “se matar”
vítima não queria se matar. O autor da violência ou grave ameaça e a vítima efetivamente se mata, o fato é atípico por ausência de
responderá por homicídio. dolo. O crime em estudo admite apenas a forma dolosa, inclusive
Da mesma maneira, se há emprego de alguma forma de fraude o dolo eventual, mas não prevê hipótese culposa.
para que a vítima tire sua vida sem perceber que o está fazendo, 6) Se várias pessoas fazem roleta-russa em grupo, uns esti-
também se tipificará homicídio por parte do autor da fraude. mulando os outros, os sobreviventes respondem pelo crime do art.
122 do Código Penal. Se, entretanto, uma pessoa aperta o gatilho
Consumação e tentativa. O art. 122 do Código Penal, quan- da arma em direção a outra pessoa e provoca a morte dela haverá
do trata da pena para o delito, menciona punição apenas nas hipó- homicídio com dolo eventual.
tese sem que a vítima morre ou sofre lesões graves. Na primeira 7) A existência desse crime pressupõe que a vítima tenha al-
hipótese, a pena é de reclusão de dois a seis anos e, na segunda, guma capacidade de entendimento (de que sua conduta irá provo-
reclusão de um a três. car sua morte) e resistência. Assim, quem induz criança de pouca
Percebe-se, assim, que a própria lei exclui o crime quando a idade ou pessoa com grave enfermidade mental a se atirar de um
vítima não tenta se matar ou, se tentando, sofre apenas lesões le- prédio responde por homicídio.
ves, já que, para esses casos, não há previsão legal de pena. 8) Se duas pessoas fazem um pacto de morte, incentivando-
Por isso, o crime somente se consuma no momento da morte -se mutuamente a cometer suicídio, e uma delas se mata e a outra
da vítima ou, no segundo caso, quando ela sofre lesões graves. desiste, esta responde pelo crime do art. 122 do Código Penal. O
Não importa o tempo que medeie entre a conduta do agente e mesmo ocorre se ambas realizam o ato suicida, mas uma sobre-
a da vítima. Basta que se prove o nexo causal, ou seja, se alguém vive. Caso ambas sobrevivam, e uma sofra lesão grave e a outra
estimulou a vítima há um ano e esta se mata, só terá havido infra- sofra lesão leve, a última responderá pelo crime (porque a primeira
ção penal no instante em que a vítima agiu contra a própria vida. sofreu lesão grave), enquanto para a outra o fato será considerado
Apenas a partir desse momento poderá correr o prazo prescricional atípico.
e somente então é que será possível a punição do agente. A tentati- Por sua vez, é possível que, apesar do incentivo mútuo, fique
va que teoricamente seria possível não existe porque a lei só pune acertado que uma delas irá atirar na outra e depois se matar. Nesse
o crime quando há morte ou lesões graves e, nesses casos, o crime caso, se a autora do disparo sobreviver, responderá pelo homicídio
está consumado. Com efeito, se a vítima sequer tenta o suicídio ou da outra, mas, se o resultado for o inverso (morte da própria au-
sofre apenas lesões leves, o fato é atípico e, na hipótese em que tora dos disparos), a sobrevivente responderá por participação em
sofre lesões graves, entende-se que o crime está consumado, uma suicídio.
Didatismo e Conhecimento 96
NOÇÕES DE DIREITO
9) O crime de participação em suicídio admite a forma omis- d) Instantâneo. Consuma em um momento determinado e cer-
siva? to, ou seja, o momento em que a vítima sofre lesão grave ou morre.
Damásio, Frederico Marques e Delmanto entendem que não, e) Ação livre. Admite qualquer meio de execução.
pois, mesmo que o agente tenha o dever jurídico de impedir a mor- f) Comum. Pode ser praticado por qualquer pessoa.
te e não o faça, responderá por omissão de socorro qualificada pela g) Simples. Atinge apenas o bem jurídico vida.
morte (art. 135, parágrafo único do CP) e não por participação em
suicídio. CAUSAS DE AU MENTO DE PENA
Ex.: bombeiro que assiste passivamente uma pessoa se atirar Art. 122, parágrafo único — A pena é duplicada:
de um prédio quando poderia ter tentado salvá-la. Esses autores I — se o crime é praticado por motivo egoístico;
entendem que os verbos induzir, instigar e prestar auxílio, conti- II — se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer
dos no art. 122do CP, por seu próprio significado, são incompatí- causa, a capacidade de resistência.
veis com a forma omissiva. Prevalece, entretanto, o entendimento O art. 122, parágrafo único, dispõe que a pena será aplicada
de que é possível o auxílio por omissão, mas apenas para aqueles em dobro quando:
que têm o dever jurídico de evitar o resultado e, podendo fazê-lo,
intencionalmente se omitem. Essa interpretação se funda no art. 1) O crime for praticado por motivo egoístico. Ocorre nas hi-
13, § 2o do Código Penal, que, de acordo com seus seguidores, póteses em que o agente visa auferir alguma vantagem, econômica
por estar na Parte Geral do Código, incide sobre todos os delitos ou não, em decorrência do suicídio da vítima. Ex.: para ficar com
da Parte Especial, inclusive sobre o do art. 122. É o entendimento sua herança; para ficar com seu cargo; para poder conquistar sua
de Júlio F. Mirabete, Cezar Roberto Bitencourt, Fernando Capez, esposa etc.
Magalhães Noronha, Flávio Monteiro de Barros, dentre outros.
10) A configuração do crime de participação em suicídio pres- 2) A vítima for menor (1a parte). De acordo com a maior parte
supõe que a conduta do agente — induzimento, instigação ou auxí- dos doutrinadores, esta causa de aumento só tem aplicação quan-
lio — tenha ocorrido antes do ato suicida. Assim, quando alguém, do a vítima for maior de 14 e menor de 18 anos. Argumentam
sem qualquer colaboração ou incentivo de outrem, comete o ato que, por interpretação sistemática, deve-se presumir a total falta
suicida (corta os pulsos, p. ex.) e, em seguida, arrepende-se e pede de capacidade de entendimento daquele que não tem mais de 14
anos, com base no art. 224, do Código Penal, que presume a vio-
para ser socorrido e não é atendido, ocorre crime de omissão de
lência nos crimes sexuais quando a vítima está em tal faixa etária.
socorro. Por sua vez, comete homicídio doloso quem pratica uma
É o entendimento de Damásio de Jesus, Cezar Roberto Bitencourt,
ação para intencionalmente impedir o socorro solicitado pelo sui-
Fernando Capez, Celso Delmanto etc.
cida arrependido que tentava salvar-se. Ex.: o suicida telefona para
Para essa corrente, se a vítima tem mais de 18 anos, aplica-se
o socorro médico, mas o agente, querendo que sobrevenha a morte
o crime de participação em suicídio em sua forma simples; se tem
da vítima, leva-a para local diverso daquele em que o socorro fora
menos de 18 e mais de 14, aplica-se tal crime em sua forma agra-
pedido.
vada; finalmente, se a vítima não é maior de 14, o crime é sempre
11) O art. 146, § 3º, II, do Código Penal estabelece que não há de homicídio.
crime de constrangimento ilegal na coação exercida para impedir Heleno Fragoso discorda da interpretação anterior, sustentan-
suicídio. do que a presunção de violência não está prevista na Parte Geral
12) Quem pessoalmente induz, instiga ou auxilia a vítima a se do Código e sim dentro do título dos crimes sexuais, de modo que
matar é autor do crime de participação em suicídio. Por sua vez, aplicá-la a outros delitos constitui analogia in malam parte, que é
uma pessoa que não teve contato direto com ela, mas, anteriormen- vedada. Argumenta que não se pode punir por homicídio com base
te, estimulou o autor do crime, é partícipe do crime de participação em presunções.
em suicídio. Em outras palavras, existe a possibilidade do instituto Para esse autor, o delito só deixa de ser suicídio com a pena
da participação no crime chamado “participação em suicídio”. Ex.: aumentada para ser tratado como homicídio se for feita prova efe-
A, sabendo que C está com depressão, convence B a procurar C e tiva, no caso concreto – por perícias, depoimentos –, de que o me-
induzi- lo ao suicídio. B conversa com C e este efetivamente se nor não entendeu que estava tirando a própria vida.
mata.
Como apenas B teve contato direto com a vítima, só ele pode 3) A vítima tiver diminuída, por qualquer causa, a capacida-
ser chamado de autor do crime de participação em suicídio, en- de de resistência (2ª parte). Ocorre quando o agente se aproveita
quanto A é partícipe deste crime. de uma situação de maior fragilidade da vítima para estimulá-la ao
13) A namorada rompe um relacionamento amoroso e depois suicídio, como, por exemplo, no caso de embriaguez, depressão etc.
é procurada pelo namorado, que, desesperado, diz que vai se ma- Veja-se que a lei se refere à diminuição de tal capacidade, já que a
tar se ela não voltar com ele. Esta, todavia, fica irredutível e não sua total supressão implicará o reconhecimento de homicídio.
retoma o namoro. Ele, então, se mata. A conduta da namorada não
constitui crime, porque a decisão de não reatar o namoro não se INFANTICÍDIO
enquadra na definição de induzimento, instigação ou auxílio. Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o pró-
prio filho, durante o parto ou logo após:
Qualificação doutrinária Pena - detenção, de dois a seis anos.
a) Material. Para que se consuma é necessário o resultado
morte ou lesão grave. Tipo Penal: matar, sob a influência do estado puerperal, o
b) De dano. Pressupõe efetiva lesão ao bem jurídico. próprio filho, durante o parto ou logo após. Pena: detenção de dois
c) Comissivo (discutível, conforme já visto). a seis anos.
Didatismo e Conhecimento 97
NOÇÕES DE DIREITO
Elementares do Crime: Pena - reclusão, de um a quatro anos.
- Matar: aplicam-se as regras do homicídio quanto a esse ver- Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a
bo (consumação, tentativa etc.). gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou débil
- Estado puerperal: alteração psíquica que acontece em gran- mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave
de número de mulheres em razão de alterações orgânicas decorren- ameaça ou violência
tes do fenômeno do parto. Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores
P: Deve ser provado o estado puerperal ou ele se presume? são aumentadas de um terço, se, em consequência do aborto ou
R: Tem de ser provado por perícia médica, mas, se os médicos dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão
ficarem em dúvida sobre sua existência e o laudo for inconclusivo, corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer
será presumido o estado puerperal, aplicando-se o in dubio pro reo. dessas causas, lhe sobrevém a morte.
- Próprio filho: é o sujeito passivo, nascente ou recém-nascido. Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:
Se a mulher, por erro, mata o filho de outra, supondo ser o I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
dela, responderá por infanticídio (art. 20, § 3.º, do Código Penal – II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido
erro quanto à pessoa). de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu repre-
Não são aplicadas as agravantes genéricas de crime contra sentante legal.
descendente e de crime contra criança por constituírem elementos
essenciais do crime. Conceito
- Durante ou logo após o parto: este é o elemento temporal, É a interrupção da gravidez com a consequente morte do feto.
ou seja, o crime só poderá ser praticado em um determinado mo- O aborto pode ser natural, acidental ou provocado (ele é criminoso
mento. ou é legal).
Considera-se início do parto a dilatação do colo do útero, e fim
do parto, o nascimento. Aborto Criminoso (arts. 124 a 126 do Código Penal):
A expressão “logo após” variará conforme o caso concreto, Art. 124 do Código Penal:
pois a duração do estado puerperal difere de uma mulher para ou- Traz duas figuras que punem a mulher grávida. São dois casos
tra. de crime próprio, sendo o sujeito passivo sempre o feto.
Diferenças entre o infanticídio e o abandono de recém-nas- - Auto aborto: praticar aborto em si mesma.
cido qualificado pela morte (art. 134, § 2.º, do Código Penal): no - Aborto consentido: consentir que terceiro provoque aborto.
O terceiro responderá pelo art. 126, que contém pena maior. Esta
infanticídio existe dolo de matar e a mulher age em razão do estado
é uma exceção à regra de que todos que colaboram para um crime
puerperal, enquanto no abandono, o dolo é apenas o de abandonar
respondem nos mesmos termos de seu autor principal (exceção à
o recém-nascido para ocultar desonra própria, e o evento morte
teoria monista ou unitária. É uma exceção expressa).
decorre da culpa.
A pena para quem provoca aborto com o consentimento da
Sujeito Ativo: é a mãe que esteja sob estado puerperal (crime
gestante é de um a quatro anos. Se ocorrer a morte da gestante, de
próprio).
dois a oito anos. O aumento é aplicável na hipótese de morte cul-
P: É possível concurso de pessoas?
posa, porque, se o agente tinha dolo em relação ao aborto e em re-
R: Sim, incide o art. 30 do Código Penal (não se comunicam lação à morte, haverá dois crimes autônomos (aborto e homicídio).
as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando O crime do art. 126 do Código Penal pressupõe que a autorização
elementares do crime). O estado puerperal é uma circunstância de da mulher dure até a consumação do aborto.
caráter pessoal, porém é elementar do crime de infanticídio, por- P: É possível que terceiro responda pela prática de aborto sem
tanto alcança os participantes, que responderão pelo delito. o consentimento da gestante quando o consentimento foi dado e
Há uma corrente que afirma ser o estado puerperal uma con- durou até a consumação?
dição personalíssima, incomunicável. Mas a lei não fala em condi- R: Sim, nas cinco hipóteses do art. 126, par. ún., do Código
ção de caráter personalíssimo. Prevalece, todavia, a doutrina opos- Penal, que determinam que o consentimento deve ser desconside-
ta, infanticídio para a mãe e para terceiro. rado: quando houver violência, grave ameaça ou fraude na obten-
O infanticídio não possui forma culposa. Assim, se a morte ção do consentimento (vontade viciada); se a gestante for menor
da criança resulta de culpa da mãe, mesmo que esta esteja sob a de 14 anos ou doente mental (ausência de capacidade de entendi-
influência do estado puerperal, o crime será de homicídio culposo mento do ato).
(HUNGRIA e MIRABETE). Para uma segunda corrente (DAMÁ- Consumação: o aborto consuma-se com a morte do feto.
SIO DE JESUS), estando a mulher sob a influência do estado puer- Tentativa: é possível.
peral, não se pode exigir dela uma conduta de cuidado (cuidado Elemento subjetivo: só existe na forma dolosa. Não existe cri-
do homem comum) e prudência, sendo, portanto, atípico o fato me autônomo de aborto culposo.
(incompatibilidade entre a conduta culposa e o estado puerperal). Quem, por imprudência, dá causa a um aborto responde por
crime de lesão corporal culposa, sendo vítima a mulher (gestante).
ABORTO Porém, se foi a própria gestante que, por imprudência, deu causa
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que ao aborto, o fato será atípico, já que não existe a autolesão.
outrem lho provoque: Manobras abortivas em quem não está grávida constituem cri-
Pena - detenção, de um a três anos. me impossível por absoluta impropriedade do objeto.
Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: O aborto é um crime de ação livre (pode ser praticado por
Pena - reclusão, de três a dez anos. qualquer meio), mas desde que seja um meio apto a provocar a
Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: morte do feto, caso contrário, haverá crime impossível.
Didatismo e Conhecimento 98
NOÇÕES DE DIREITO
Se a gravidez era de gêmeos e a pessoa que praticou o aborto III - perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
não sabia, há crime único para evitar a responsabilidade objetiva. IV - deformidade permanente;
Se sabia que eram gêmeos, responde pelos dois crimes de aborto V - aborto:
(concurso formal impróprio ou imperfeito: uma ação, dois resulta- Pena - reclusão, de dois a oito anos.
dos, cuja consequência é a soma de penas). § 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o
agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo:
Art. 127 do Código Penal – forma qualificada: Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
Se a gestante sofre lesão grave, a pena é aumentada em um § 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de re-
terço. levante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emo-
Se a gestante morre, a pena é aumentada em dobro. Só vale ção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode
para o aborto praticado por terceiro, consentido ou não pela ges- reduzir a pena de um sexto a um terço.
tante (arts.125 e 126). § 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir
A forma qualificada não é aplicada ao art. 124 por expressa a pena de detenção pela de multa, de duzentos mil réis a dois
disposição. contos de réis:
I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior;
Aborto Legal – Art. 128 do Código Penal: II - se as lesões são recíprocas.
Prevê duas hipóteses em que a provocação do aborto é per- § 6° Se a lesão é culposa:
mitida. Pena - detenção, de dois meses a um ano.
Natureza jurídica: causa de exclusão de ilicitude. § 7º - Aumenta-se a pena de um terço, se ocorrer qualquer
Inc. I: aborto necessário. das hipóteses do art. 121, § 4º.
Requisitos: § 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121.
- que seja feito por médico; § 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente,
- que não haja outro meio para salvar a vida da gestante. irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha
Não se exige risco atual, como no estado de necessidade. Ante convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações do-
a simples constatação de que no futuro haverá perigo, poderá o mésticas, de coabitação ou de hospitalidade:
aborto ser realizado desde logo. Havendo perigo atual, o aborto Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.
pode ser praticado por qualquer pessoa, aplicando-se nesse caso o § 10. Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as
estado de necessidade. circunstâncias são as indicadas no § 9o deste artigo, aumenta-se
Inc. II: aborto sentimental. a pena em 1/3 (um terço).
Requisitos: § 11. Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será aumentada
- que seja feito por médico; de um terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de
- que a gravidez tenha resultado de estupro; deficiência.
- que haja o consentimento da gestante ou, se incapaz, de seu
representante legal. Ofensa à integridade corporal consiste no dano anatômico
Não se exige a autorização judicial. Na prática, basta o bole- prejudicial ao corpo humano. Exemplo: corte, queimadura, mu-
tim de ocorrência. tilações etc.
P: Como o art. 128, inc. II, do Código Penal só permite o abor- Sujeito Ativo: qualquer pessoa, exceto o próprio ofendido.
to se a gravidez resultar de estupro, é permitido o aborto também Saliente-se que a lei não pune a autolesão. A autolesão pode, entre-
quando a gravidez resultar de crime de atentado violento ao pudor? tanto, constituir crime de outra natureza, tais como autolesão para
R: A doutrina é unânime em dizer que sim. Aplica-se a ana- receber seguro (artigo 171, § 2.º, inciso V, do Código Penal), ou
logia in bonam partem (em favor do causador do aborto). O aten- criação de incapacidade para frustar a incorporação militar (artigo
tado violento ao pudor é o único crime análogo ao estupro porque 184 do Código Penal Militar).
ambos são cometidos com violência ou grave ameaça e atingem o Sujeito Passivo: qualquer pessoa, salvo nas hipóteses em que
mesmo bem jurídico, que é a liberdade sexual. a vítima só poderá ser mulher grávida.
Consumação: no momento da ofensa à integridade física ou
Das lesões corporais à saúde.
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de ou- Tentativa: É possível. A tentativa de lesão corporal difere da
trem: contravenção de vias de fato (artigo 21 da Lei de Contravenções
Pena - detenção, de três meses a um ano. Penais), pois, na contravenção o agente não tem intenção de lesio-
§ 1º Se resulta: nar a vítima (exemplo: empurrão). Se o agente emprega violência
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de ultrajante, com intenção de humilhar a vítima, estamos diante do
trinta dias; crime de injúria real (artigo 140, § 2.º, do Código Penal).
II - perigo de vida; Se o agente agride sem a intenção de lesionar, mas lesiona,
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função; ocorre a lesão corporal culposa, que afasta as vias de fato.
IV - aceleração de parto:
Pena - reclusão, de um a cinco anos. Lesão Leve:
§ 2° Se resulta: Por exclusão, é toda lesão que não for grave nem gravíssima.
I - Incapacidade permanente para o trabalho; Pena: detenção de 3 (três) meses a 1 (um) ano. A lesão corporal
II - enfermidade incurável; leve é infração de menor potencial ofensivo.
Didatismo e Conhecimento 99
NOÇÕES DE DIREITO
Concurso de crimes: Inciso III – se resulta debilidade permanente de membro,
Em muitos crimes, como no roubo, por exemplo, a violência é sentido ou função.
utilizada como meio de execução. O que ocorrerá se da violência Membros são os apêndices do corpo (braços e pernas). Exem-
decorrer lesão leve? plo: cortar o tendão do braço, causando perda parcial do membro.
No silêncio da lei a respeito do resultado violência, conclui-se Os sentidos são o tato, o olfato, a visão, o paladar e a audição.
que a lesão leve fica absorvida (exemplo: roubo, extorsão, estupro, Exemplo: diminuição da capacidade de enxergar, ouvir etc.
atentado violento ao pudor, crime de tortura etc.). Se, no entanto, a A função consiste no funcionamento de órgãos ou aparelhos
lei expressamente ressalvar a aplicação autônoma do resultado da do corpo humano (exemplo: função respiratória, função reprodu-
violência, o agente responderá pelos dois crimes, sendo somadas tora).
as penas (exemplo: injúria real, constrangimento ilegal, dano qua- A debilidade é o enfraquecimento, a diminuição, a redução
lificado, rapto, exercício arbitrário das próprias razões, resistência da capacidade funcional. A debilidade deve ser permanente, ou
etc.). seja, de recuperação incerta e improvável e cuja cessação eventual
ocorrerá em data incalculável (permanente não é a mesma coisa
Ação penal: que perpétua).
O artigo 88 da Lei n. 9.099/95 transformou a lesão corporal A debilidade não se confunde com a perda ou inutilização do
dolosa leve em crime de ação penal pública condicionada à repre- membro, sentido ou função, hipóteses de lesão corporal gravíssi-
sentação do ofendido. A jurisprudência e a doutrina estenderam a ma, disciplinadas no § 2.º.
exigência da representação para as vias de fato.
Outra regra trazida pela Lei n. 9.099/95: para o oferecimento Inciso IV - aceleração do parto
da denúncia não é necessário um exame de corpo de delito, basta Caracteriza-se pela antecipação da data do nascimento. Pres-
um boletim de ocorrência ou ficha médica. supõe o nascimento com vida. Para evitar a responsabilidade ob-
jetiva, é necessário que o agente saiba que a mulher está grávida.
Lesão decorrente de esporte: Lesão Gravíssima – Artigo 129, § 2.º, do Código Penal
Não há crime, desde que tenha havido respeito às regras do Pena: reclusão de 2 (dois) a 8 (oito) anos.
jogo, pois se trata de exercício regular de direito. A denominação lesão gravíssima é dada pela doutrina e juris-
prudência. A lei não utiliza essa expressão, que tem a finalidade
Intervenção cirúrgica: de diferenciar as lesões do § 2.º que tem pena mais severa do que
Se a cirurgia não é de emergência, o médico deve obter o con- o § 1.º.
sentimento do paciente ou do seu representante legal. Trata-se, Se uma lesão se enquadra em grave e gravíssima, o réu res-
quando há consentimento, de exercício regular de direito. ponderá pela gravíssima.
Se a cirurgia for de urgência, o agente estará acobertado pelo
estado de necessidade em favor de terceiro. Inciso I – se resulta incapacidade permanente para o tra-
Lesão Grave – Artigo 129, § 1.º, do Código Penal balho:
Pena: de 1 (um) a 5 (cinco) anos de reclusão. É mais específico que o § 1.º, inciso I. A incapacidade deve ser
Inciso I – se resulta incapacidade para as ocupações habitu- permanente (a lei não diz perpétua) e deve abranger qualquer tipo
ais por mais de 30 dias de trabalho (posição majoritária). Para uma corrente minoritária,
É necessário o exame complementar, realizado no primeiro a incapacidade da vítima deve impossibilitar o trabalho que ela
dia após o período de 30 dias, para comprovar a materialidade da exercia anteriormente.
lesão grave (artigo 168, § 2.º, do Código de Processo Penal). O O sujeito passivo não poderá ser criança ou pessoa idosa apo-
prazo de 30 dias é contado nos termos do artigo 10 do Código sentada.
Penal. Inciso II – se resulta enfermidade incurável:
Ocupação habitual é qualquer atividade rotineira na vida da Da lesão decorre doença para a qual não existe cura.
vítima, tal como estudar, andar, praticar esportes etc., exceto a Para uma corrente, a transmissão intencional de AIDS tipifica
considerada ilícita. No caso de atividade lícita, mas imoral, have- a tentativa de homicídio. Para outra, caracteriza lesão gravíssima,
rá lesão grave (exemplo: incapacitar prostituta de manter relações pela transmissão de moléstia incurável.
sexuais).
Se a vítima deixar de praticar atividades rotineiras, por sentir Inciso III – se resulta perda ou inutilização de membro, sen-
vergonha, não há se falar em incapacidade. tido ou função:
Trata-se de um exemplo de crime a prazo. A perda pode se dar:
O resultado agravador pode ser culposo ou doloso. - por mutilação: ocorre pela própria ação lesiva; é o corte de
Inciso II – se resulta perigo de vida uma parte do corpo da vítima (extirpação do braço, da perna, da
É uma hipótese preterdolosa, pois o sujeito não quer a morte. mão etc.);
Se o agente queria o resultado morte, responderá por tentativa de - por amputação: é a extirpação feita pelo médico, posterior-
homicídio. mente à ação, para salvar a vida da vítima.
O perito deve dizer claramente em que consistiu o perigo de Na inutilização, o membro permanece ligado ao corpo da víti-
vida (exemplo: houve perigo de vida porque a vítima perdeu muito ma, ainda que parcialmente, mas totalmente inapto para a realiza-
sangue etc.), e o Promotor de Justiça deve transcrever na denúncia. ção de sua atividade própria.
Tipo objetivo. O rufião visa à obtenção de vantagem econô- Objetividade jurídica. Evitar a facilitação à prostituição e o
mica reiterada em relação a prostituta ou prostitutas determinadas. aliciamento ou compra de prostitutas.
É o caso, por exemplo, de pessoa que faz agenciamento de encon-
tro com prostituta, que a “empresaria”, que recebe participação nos Tipo objetivo. A lei pune quem realiza diretamente o tráfico
lucros por lhe prestar segurança, ou, simplesmente, que se sustenta e quem o auxilia, além de eventuais intermediários que sejam os
pelos responsáveis pelo aliciamento ou agenciamento. Pune também a
lucros da prostituição alheia, sem que se trate de hipótese de pessoa que compra a pessoa traficada e também aqueles que, cien-
estado de necessidade. tes da situação, ajudam a transportá-la, transferi-la ou alojá-la, a
Trata-se de crime habitual que só se configura pelo proveito fim de que possa ser explorada sexualmente. Penaliza-se, ainda, a
reiterado nos lucros da vítima. pessoa que, de alguma forma, facilita a entrada ou saída da prosti-
tuta do território nacional.
Sujeito ativo. Pode ser qualquer pessoa. Se o agente for as- A anuência da vítima não desnatura o crime. Por sua vez, se
cendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, compa- houver emprego de violência, grave ameaça ou fraude, a pena será
nheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se aumentada em metade, nos termos do § 2o, IV.
assumiu por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou O tipo penal abrange a entrada e a saída de pessoas que preten-
vigilância em relação a ela, aplica-se a figura qualificada do § 1o. dem exercer a prostituição.
Sujeito passivo. Necessariamente pessoa que exerce a pros-
tituição (homem ou mulher). Se for menor de dezoito e maior de Sujeito ativo. Pode ser qualquer pessoa. Trata-se de crime
quatorze anos, configura-se a hipótese qualificada do § 1o. comum. A pena, todavia, será aumentada em metade se o agente
for ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, com-
Consumação. Quando ocorrer reiteração na participação nos panheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou
lucros ou no sustento pela prostituta. se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção
ou vigilância, no termos do art. 231, § 2o, III, do Código Penal.
Tentativa. Inadmissível por se tratar de crime habitual.
Sujeito passivo. Qualquer pessoa que pretenda exercer a
Emprego de violência, grave ameaça ou fraude. Tornam o prostituição. Pode ser homem ou mulher.
crime qualificado, nos termos do art. 230, § 2o. Ademais, se da Se a vítima for menor de dezoito anos ou se por enfermidade
violência empregada resultarem lesões corporais, ainda que leves, ou doença mental não tiver o necessário discernimento para a prá-
o agente responderá também pelo crime do art. 129 do Código tica do ato, a pena será aumentada em metade, nos termos do art.
Penal, por haver disposição expressa nesse sentido. 231, § 2o, I e II, do Código Penal.
TRÁFICO INTERNACIONAL DE PESSOA PARA Tentativa. É possível quando a vítima, por exemplo, é impe-
FIM DE EXPLORAÇÃO SEXUAL dida de embarcar.
Art. 231 — Promover ou facilitar a entrada, no território
nacional, de alguém que nele venha a exercer a prostituição ou Intuito de lucro. Não é requisito do crime a intenção de lucro
outra forma de exploração sexual, ou a saída de alguém que vá por parte do agente. Se existir tal intenção, será também aplicável
exercê-la no estrangeiro: pena de multa, conforme dispõe o § 3o.
Pena — reclusão, de três a oito anos.
Segredo de justiça. Nos termos do art. 234-B, os processos Intuito de lucro. Não é requisito do crime a intenção de
que apuram esse tipo de infração correm em segredo de justiça. lucro por parte do agente. Se existir tal intenção, será também
aplicável pena de multa, conforme dispõe o § 3o.
TRÁFICO INTERNO DE PESSOA PARA FIM DE EX-
PLORAÇÃO SEXUAL Ação penal. É pública incondicionada.
Art. 231-A — Promover ou facilitar o deslocamento de al-
guém dentro do território nacional para o exercício da prostitui- Segredo de justiça. Nos termos do art. 234-B, os processos
ção ou outraforma de exploração sexual: que apuram esse tipo de infração correm em segredo de justiça.
Pena — reclusão, de dois a seis anos.
§ 1o — Incorre na mesma pena aquele que agenciar, aliciar, ART. 232 – REVOGADO.
vender ou comprar a pessoa traficada, assim como, tendo conhe-
cimento dessa condição, transportá-la, transferi-la ou alojá-la. ATO OBSCENO
§ 2o — A pena é aumentada da metade se: Art. 233 — Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto
ou exposto ao público:
I — a vítima é menor de dezoito anos;
Pena — detenção, de três meses a um ano, ou multa.
II — a vítima, por enfermidade ou deficiência mental, não
tem o necessário discernimento para a prática do ato;
Ato obsceno é o ato revestido de sexualidade e que fere o sen-
III — se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, timento médio de pudor. Ex.: exposição de órgãos sexuais, dos
enteado, seios, das nádegas, prática de ato libidinoso em local público etc.
cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou em- A micção voltada para a via pública com exposição do pênis ca-
pregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obri- racteriza o ato obsceno. Também configura o delito o trottoir feito
gação de cuidado, proteção ou vigilância; ou por travestis nus ou seminus nas ruas.
IV — há emprego de violência, grave ameaça ou fraude. O tipo exige a prática de ato e, por isso, o mero uso da palavra
§ 3o — Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem pode configurar apenas a contravenção de importunação ofensiva
econômica, aplica-se também multa. ao pudor.
Só se configura o crime se o fato ocorre em um dos locais
Objetividade jurídica. Coibir a exploração sexual e a pros- previstos no tipo:
tituição. a) Local público: ruas, praças, parques etc.
b) Local aberto ao público: onde qualquer pessoa pode entrar,
Tipo objetivo. O presente tipo penal tem a finalidade de pu- ainda que sujeita a condições, como pagamento de ingresso — tea-
nir pessoas que aliciam, agenciam ou transportam prostitutas de tro, cinema, estádio de futebol etc. Não haverá o crime, entretanto,
um local para outro do território nacional. Em geral essas pessoas se as pessoas pagam o ingresso justamente para ver show de sexo
procuram moças em locais distantes e, com a promessa de altos explícito, por exemplo.
lucros com a prostituição em grandes centros, as convencem a c) Exposto ao público: é um local privado, mas que pode ser
acompanhá-los para que se prostituam em estabelecimentos com visto por número indeterminado de pessoas que passem pelas
os quais mantêm negócios. Alei também pune quem aloja a pros- proximidades. Ex.: janela aberta, terraço, varanda, terreno baldio
tituta, ciente de suas atividades, devendo, evidentemente, tratar-se aberto, interior de automóvel etc.
de pessoa que participa do “esquema” de aliciamento, na medida Entende-se, entretanto, que não há crime se o ato é praticado
em que não se pode cogitar de punir criminalmente a dona de pen- em local escuro ou afastado, que não pode ser normalmente visto
são que aceita prostituta como moradora. pelas pessoas.
E se o agente só pode ser visto por vizinhos?
Nélson Hungria entende que não há crime.
Sujeito ativo. Pode ser qualquer pessoa. Trata-se de crime
comum. A pena, todavia, será aumentada em metade se o agente
Sujeitos ativo e passivo. O sujeito ativo pode ser qualquer
for ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, com- pessoa, homem ou mulher. Sujeito passivo é a coletividade, bem
panheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou como qualquer pessoa que presencie o ato. O tipo não exige que o
se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção agente tenha finalidade erótica. O fato pode ter sido praticado por
ou vigilância, no termos do art. 231-A, § 2o, III, do Código Penal. vingança, por brincadeira, por aposta etc.
Em qualquer caso, há crime.
Sujeito passivo. Qualquer pessoa que pretenda exercer a
prostituição. Pode ser homem ou mulher. Consumação. Ocorre com a prática do ato, ainda que não seja
Se a vítima for menor de dezoito anos ou se por enfermidade presenciado por qualquer pessoa, mas desde que pudesse sê-lo, ou,
ou doença mental não tiver o necessário discernimento para a prá- ainda, quando o assistente não se sente ofendido.
tica do ato, a pena será aumentada em metade, nos termos do art. Trata-se de crime formal e de perigo.
231-A, § 2o, I e II, do Código Penal.
Tentativa. Discute-se acerca da tentativa, por ser duvidosa a
Consumação. No momento em que é realizada a conduta tí- possibilidade de fracionamento da conduta. Magalhães Noronha
pica. Não se exige o efetivo início das atividades de prostituição, não admite, ao contrário de Júlio F. Mirabete e de Heleno Fragoso,
que, em verdade, constituem exaurimento do crime. que a aceitam.
Tomando-se como base o pensamento de Fernando Capez, po- Falsificação do selo ou sinal público
demos definir o Art. 293 do Código Penal como sendo o título que Art. 296 - Falsificar, fabricando-os ou alterando-os:
tem por objetivo punir a falsificação de papéis públicos por meio I - selo público destinado a autenticar atos oficiais da União,
de alteração ou fabricação do título. Este crime configura-se como de Estado ou de Município;
sendo uma ofensa à fé pública e às entidades públicas como um II - selo ou sinal atribuído por lei a entidade de direito públi-
todo. É passível de punição penal por meio de reclusão e comporta co, ou a autoridade, ou sinal público de tabelião:
causa de aumento de pena. Há que se falar também na figura da Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
suspensão condicional do processo em condutas de pouco poder § 1º - Incorre nas mesmas penas:
lesivo (de acordo com as Leis dos Juizados Especiais Criminais). I - quem faz uso do selo ou sinal falsificado;
Subtração ou inutilização de livro ou documento 2 – (Prova: FCC - 2012 - PGM-Joao Pessoa-PB - Procura-
Art. 337 - Subtrair, ou inutilizar, total ou parcialmente, livro dor Municipal). Considere as seguintes penas:
oficial, processo ou documento confiado à custódia de funcio- I. Reclusão.
nário, em razão de ofício, ou de particular em serviço público: II. Detenção.
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, se o fato não constitui III. Prisão Simples.
crime mais grave. IV. Multa.
Para os ilícitos contravencionais estão previstas em lei SO-
Sonegação de contribuição previdenciária MENTE as penas indicadas em
Art. 337-A. Suprimir ou reduzir contribuição social previ- a) II e IV.
denciária e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas: b) I e IV.
I - omitir de folha de pagamento da empresa ou de documen- c) II, III e IV.
to de informações previsto pela legislação previdenciária segura- d) III e IV.
dos empregado, empresário, trabalhador avulso ou trabalhador e) I e II.
autônomo ou a este equiparado que lhe prestem serviços;
II - deixar de lançar mensalmente nos títulos próprios da 3 – (Prova: FCC - 2012 - TJ-PE - Analista Judiciário -
contabilidade da empresa as quantias descontadas dos segurados Área Judiciária - e Administrativa). A respeito do dolo e da
ou as devidas pelo empregador ou pelo tomador de serviços; culpa, considere:
14. (Agente de Fiscalização Judiciária – TJ – SP – VU- 19. (Analista – UFPR – 2010) O servidor público comete
NESP – 2010) A conduta de apropriar-se de dinheiro ou qualquer crime contra Administração Pública quando pratica condutas de-
utilidade que, no exercício do cargo, recebeu por erro de outrem finidas no Código Penal Brasileiro como crime. A respeito do as-
configura o crime de sunto, identifique as afirmativas a seguir como verdadeiras (V) ou
a) corrupção ativa. falsas (F).
b) peculato culposo. ( ) Há crime de peculato quando o servidor se apropria de
c) corrupção passiva. dinheiro que estava sob sua posse em razão do cargo que ocupa.
d) excesso de exação ( ) Concussão ocorre quando o servidor, usando da influência
e) peculato mediante erro de outrem. de seu posto, recebe vantagem para si ou para outrem.
( ) Prevaricação é o crime que ocorre quando o servidor deixa
15. (Oficial de Justiça – TJ/RS – OFICCIUM – 2003) Sobre de responsabilizar seu subordinado que cometeu infração no exer-
o crime de prevaricação, assinale a assertiva correta. cício do cargo.
a) Está configurado o crime quando o agente, sem qualquer Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta, de
objetivo pessoal, retarda ou deixa de praticar, por indolência, ato cima para baixo.
de ofício. a) V - F - F.
b) Está configurado o crime quando o agente, sem qualquer b) V - V - F.
objetivo pessoal, retarda ou deixa de praticar, por mera negligên- c) F - F - V
cia, ato de ofício. d) F - F - F.
c) Está configurado o crime quando o agente retarda ou dei- e) V - V - V.
xa de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou o pratica contra
disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento 20. (Oficial de Chancelaria – MRE – FCC – 2009) É correto
pessoal. afirmar que o funcionário público que
Art. 5º Nos crimes de ação pública o inquérito policial será Art. 8º Havendo prisão em flagrante, será observado o dispos-
iniciado: to no Capítulo II do Título IX deste Livro.
I - de ofício;
II - mediante requisição da autoridade judiciária ou do Mi- Art. 9º Todas as peças do inquérito policial serão, num só pro-
nistério Público, ou a requerimento do ofendido ou de quem tiver cessado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubri-
qualidade para representá-lo. cadas pela autoridade.
§1º O requerimento a que se refere o nº II conterá sempre que
possível: Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o
a) a narração do fato, com todas as circunstâncias; indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso preventi-
b) a individualização do indiciado ou seus sinais característi- vamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se
cos e as razões de convicção ou de presunção de ser ele o autor da executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver
infração, ou os motivos de impossibilidade de o fazer; solto, mediante fiança ou sem ela.
Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do Art. 161. O exame de corpo de delito poderá ser feito em
processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em viola- qualquer dia e a qualquer hora.
ção a normas constitucionais ou legais.
§1º São também inadmissíveis as provas derivadas das ilí- Art. 162. A autópsia será feita pelo menos seis horas depois
citas, salvo quando não evidenciado o nexo de causalidade entre do óbito, salvo se os peritos, pela evidência dos sinais de morte,
umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, o que declararão
uma fonte independente das primeiras. no auto.
Art. 183. Nos crimes em que não couber ação pública, obser- Art. 186. Depois de devidamente qualificado e cientificado do
var-se-á o disposto no art. 19. inteiro teor da acusação, o acusado será informado pelo juiz, antes
de iniciar o interrogatório, do seu direito de permanecer calado e
Art. 184. Salvo o caso de exame de corpo de delito, o juiz ou a de não responder perguntas que lhe forem formuladas.
autoridade policial negará a perícia requerida pelas partes, quando Parágrafo único. O silêncio, que não importará em confissão,
não for necessária ao esclarecimento da verdade. não poderá ser interpretado em prejuízo da defesa.
Art. 185. O acusado que comparecer perante a autoridade ju- Art. 187. O interrogatório será constituído de duas partes: so-
diciária, no curso do processo penal, será qualificado e interrogado bre a pessoa do acusado e sobre os fatos.
na presença de seu defensor, constituído ou nomeado. §1º Na primeira parte o interrogando será perguntado sobre
§1º O interrogatório do réu preso será realizado, em sala a residência, meios de vida ou profissão, oportunidades sociais,
própria, no estabelecimento em que estiver recolhido, desde que lugar onde exerce a sua atividade, vida pregressa, notadamente se
estejam garantidas a segurança do juiz, do membro do Ministério foi preso ou processado alguma vez e, em caso afirmativo, qual o
Público e dos auxiliares bem como a presença do defensor e a pu- juízo do processo, se houve suspensão condicional ou condena-
blicidade do ato. ção, qual a pena imposta, se a cumpriu e outros dados familiares
§2º Excepcionalmente, o juiz, por decisão fundamentada, de e sociais.
ofício ou a requerimento das partes, poderá realizar o interrogató- §2º Na segunda parte será perguntado sobre:
rio do réu preso por sistema de videoconferência ou outro recurso I - ser verdadeira a acusação que lhe é feita;
tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real, des-
II - não sendo verdadeira a acusação, se tem algum motivo
de que a medida seja necessária para atender a uma das seguintes
particular a que atribuí-la, se conhece a pessoa ou pessoas a quem
finalidades:
deva ser imputada a prática do crime, e quais sejam, e se com elas
I - prevenir risco à segurança pública, quando exista fundada
suspeita de que o preso integre organização criminosa ou de que, esteve antes da prática da infração ou depois dela;
por outra razão, possa fugir durante o deslocamento; III - onde estava ao tempo em que foi cometida a infração e se
II - viabilizar a participação do réu no referido ato processual, teve notícia desta;
quando haja relevante dificuldade para seu comparecimento em IV - as provas já apuradas;
juízo, por enfermidade ou outra circunstância pessoal; V - se conhece as vítimas e testemunhas já inquiridas ou por
III - impedir a influência do réu no ânimo de testemunha ou da inquirir, e desde quando, e se tem o que alegar contra elas;
vítima, desde que não seja possível colher o depoimento destas por VI - se conhece o instrumento com que foi praticada a infra-
videoconferência, nos termos do art. 217 deste Código; ção, ou qualquer objeto que com esta se relacione e tenha sido
IV - responder à gravíssima questão de ordem pública. apreendido;
§3º Da decisão que determinar a realização de interrogatório VII - todos os demais fatos e pormenores que conduzam à
por videoconferência, as partes serão intimadas com 10 (dez) dias elucidação dos antecedentes e circunstâncias da infração;
de antecedência. VIII - se tem algo mais a alegar em sua defesa.
§4º Antes do interrogatório por videoconferência, o preso po-
derá acompanhar, pelo mesmo sistema tecnológico, a realização de Art. 188. Após proceder ao interrogatório, o juiz indagará das
todos os atos da audiência única de instrução e julgamento de que partes se restou algum fato para ser esclarecido, formulando as
tratam os arts. 400, 411 e 531 deste Código. perguntas correspondentes se o entender pertinente e relevante.
Art. 200. A confissão será divisível e retratável, sem prejuízo Art. 208. Não se deferirá o compromisso a que alude o art.
do livre convencimento do juiz, fundado no exame das provas em 203 aos doentes e deficientes mentais e aos menores de 14 (quator-
conjunto. ze) anos, nem às pessoas a que se refere o art. 206.
Art. 201. Sempre que possível, o ofendido será qualificado e Art. 209. O juiz, quando julgar necessário, poderá ouvir ou-
perguntado sobre as circunstâncias da infração, quem seja ou pre- tras testemunhas, além das indicadas pelas partes.
suma ser o seu autor, as provas que possa indicar, tomando-se por §1º Se ao juiz parecer conveniente, serão ouvidas as pessoas a
termo as suas declarações. que as testemunhas se referirem.
§1º Se, intimado para esse fim, deixar de comparecer sem mo- §2º Não será computada como testemunha a pessoa que nada
tivo justo, o ofendido poderá ser conduzido à presença da autori- souber que interesse à decisão da causa.
dade.
§2º O ofendido será comunicado dos atos processuais rela- Art. 210. As testemunhas serão inquiridas cada uma de per
tivos ao ingresso e à saída do acusado da prisão, à designação de si, de modo que umas não saibam nem ouçam os depoimentos das
data para audiência e à sentença e respectivos acórdãos que a man- outras, devendo o juiz adverti-las das penas cominadas ao falso
tenham ou modifiquem. testemunho.
Art. 211. Se o juiz, ao pronunciar sentença final, reconhecer Art. 221. O Presidente e o Vice-Presidente da República, os
que alguma testemunha fez afirmação falsa, calou ou negou a ver- senadores e deputados federais, os ministros de Estado, os go-
dade, remeterá cópia do depoimento à autoridade policial para a vernadores de Estados e Territórios, os secretários de Estado, os
instauração de inquérito. prefeitos do Distrito Federal e dos Municípios, os deputados às
Parágrafo único. Tendo o depoimento sido prestado em ple- Assembleias Legislativas Estaduais, os membros do Poder Judici-
nário de julgamento, o juiz, no caso de proferir decisão na audiên- ário, os ministros e juízes dos Tribunais de Contas da União, dos
cia (art. 538, §2º), o tribunal (art. 561), ou o conselho de sentença, Estados, do Distrito Federal, bem como os do Tribunal Marítimo
após a votação dos quesitos, poderão fazer apresentar imediata- serão inquiridos em local, dia e hora previamente ajustados entre
mente a testemunha à autoridade policial. eles e o juiz.
§1º O Presidente e o Vice-Presidente da República, os presi-
Art. 212. As perguntas serão formuladas pelas partes direta- dentes do Senado Federal, da Câmara dos Deputados e do Supre-
mente à testemunha, não admitindo o juiz aquelas que puderem mo Tribunal Federal poderão optar pela prestação de depoimento
induzir a resposta, não tiverem relação com a causa ou importarem por escrito, caso em que as perguntas, formuladas pelas partes e
na repetição de outra já respondida. deferidas pelo juiz, Ihes serão transmitidas por ofício.
Parágrafo único. Sobre os pontos não esclarecidos, o juiz po- §2º Os militares deverão ser requisitados à autoridade supe-
derá complementar a inquirição. rior.
§3º Aos funcionários públicos aplicar-se-á o disposto no art.
Art. 213. O juiz não permitirá que a testemunha manifeste 218, devendo, porém, a expedição do mandado ser imediatamente
suas apreciações pessoais, salvo quando inseparáveis da narrativa comunicada ao chefe da repartição em que servirem, com indica-
do fato. ção do dia e da hora marcados.
Art. 214. Antes de iniciado o depoimento, as partes poderão Art. 222. A testemunha que morar fora da jurisdição do juiz
contraditar a testemunha ou arguir circunstâncias ou defeitos, que será inquirida pelo juiz do lugar de sua residência, expedindo-se,
a tornem suspeita de parcialidade, ou indigna de fé. O juiz fará para esse fim, carta precatória, com prazo razoável, intimadas as
consignar a contradita ou arguição e a resposta da testemunha, mas partes.
só excluirá a testemunha ou não Ihe deferirá compromisso nos ca- §1º A expedição da precatória não suspenderá a instrução cri-
sos previstos nos arts. 207 e 208. minal.
§2º Findo o prazo marcado, poderá realizar-se o julgamento,
Art. 215. Na redação do depoimento, o juiz deverá cingir-se, mas, a todo tempo, a precatória, uma vez devolvida, será junta aos
tanto quanto possível, às expressões usadas pelas testemunhas, re- autos.
produzindo fielmente as suas frases. §3º Na hipótese prevista no caput deste artigo, a oitiva de
testemunha poderá ser realizada por meio de videoconferência ou
Art. 216. O depoimento da testemunha será reduzido a termo, outro recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em
assinado por ela, pelo juiz e pelas partes. Se a testemunha não sou- tempo real, permitida a presença do defensor e podendo ser rea-
ber assinar, ou não puder fazê-lo, pedirá a alguém que o faça por lizada, inclusive, durante a realização da audiência de instrução e
ela, depois de lido na presença de ambos. julgamento.
Art. 217. Se o juiz verificar que a presença do réu poderá Art. 222-A. As cartas rogatórias só serão expedidas se de-
causar humilhação, temor, ou sério constrangimento à testemunha monstrada previamente a sua imprescindibilidade, arcando a parte
ou ao ofendido, de modo que prejudique a verdade do depoimento, requerente com os custos de envio.
fará a inquirição por videoconferência e, somente na impossibili- Parágrafo único. Aplica-se às cartas rogatórias o disposto nos
dade dessa forma, determinará a retirada do réu, prosseguindo na §§1º e 2º do art. 222 deste Código.
inquirição, com a presença do seu defensor.
Parágrafo único. A adoção de qualquer das medidas previstas Art. 223. Quando a testemunha não conhecer a língua nacio-
no caput deste artigo deverá constar do termo, assim como os mo- nal, será nomeado intérprete para traduzir as perguntas e respostas.
tivos que a determinaram. Parágrafo único. Tratando-se de mudo, surdo ou surdo-mudo,
proceder-se-á na conformidade do art. 192.
Art. 218. Se, regularmente intimada, a testemunha deixar de
comparecer sem motivo justificado, o juiz poderá requisitar à au- Art. 224. As testemunhas comunicarão ao juiz, dentro de um
toridade policial a sua apresentação ou determinar seja conduzida ano, qualquer mudança de residência, sujeitando-se, pela simples
por oficial de justiça, que poderá solicitar o auxílio da força pú- omissão, às penas do não-comparecimento.
blica.
Art. 225. Se qualquer testemunha houver de ausentar-se, ou,
Art. 219. O juiz poderá aplicar à testemunha faltosa a multa por enfermidade ou por velhice, inspirar receio de que ao tempo
prevista no art. 453, sem prejuízo do processo penal por crime de da instrução criminal já não exista, o juiz poderá, de ofício ou a
desobediência, e condená-la ao pagamento das custas da diligên- requerimento de qualquer das partes, tomar-lhe antecipadamente
cia. o depoimento.
Art. 231. Salvo os casos expressos em lei, as partes poderão Art. 241. Quando a própria autoridade policial ou judiciária
apresentar documentos em qualquer fase do processo. não a realizar pessoalmente, a busca domiciliar deverá ser precedi-
da da expedição de mandado.
Art. 232. Consideram-se documentos quaisquer escritos, ins-
trumentos ou papéis, públicos ou particulares. Art. 242. A busca poderá ser determinada de ofício ou a re-
Parágrafo único. À fotografia do documento, devidamente querimento de qualquer das partes.
autenticada, se dará o mesmo valor do original.
Art. 243. O mandado de busca deverá:
Art. 233. As cartas particulares, interceptadas ou obtidas por I - indicar, o mais precisamente possível, a casa em que será
meios criminosos, não serão admitidas em juízo. realizada a diligência e o nome do respectivo proprietário ou mo-
Parágrafo único. As cartas poderão ser exibidas em juízo pelo rador; ou, no caso de busca pessoal, o nome da pessoa que terá de
respectivo destinatário, para a defesa de seu direito, ainda que não sofrê-la ou os sinais que a identifiquem;
haja consentimento do signatário. II - mencionar o motivo e os fins da diligência;
Art. 292. Se houver, ainda que por parte de terceiros, resis- Art. 296. Os inferiores e praças de pré, onde for possível, se-
tência à prisão em flagrante ou à determinada por autoridade com- rão recolhidos à prisão, em estabelecimentos militares, de acordo
petente, o executor e as pessoas que o auxiliarem poderão usar dos com os respectivos regulamentos.
meios necessários para defender-se ou para vencer a resistência, do
que tudo se lavrará auto subscrito também por duas testemunhas. Art. 297. Para o cumprimento de mandado expedido pela
autoridade judiciária, a autoridade policial poderá expedir tantos
Art. 293. Se o executor do mandado verificar, com seguran- outros quantos necessários às diligências, devendo neles ser fiel-
ça, que o réu entrou ou se encontra em alguma casa, o morador mente reproduzido o teor do mandado original.
será intimado a entregá-lo, à vista da ordem de prisão. Se não for
obedecido imediatamente, o executor convocará duas testemunhas Art. 298. Revogado pela Lei nº 12.403/11.
e, sendo dia, entrará à força na casa, arrombando as portas, se pre-
ciso; sendo noite, o executor, depois da intimação ao morador, se Art. 299. A captura poderá ser requisitada, à vista de mandado
não for atendido, fará guardar todas as saídas, tornando a casa in- judicial, por qualquer meio de comunicação, tomadas pela autori-
comunicável, e, logo que amanheça, arrombará as portas e efetuará dade, a quem se fizer a requisição, as precauções necessárias para
a prisão. averiguar a autenticidade desta.
Parágrafo único. O morador que se recusar a entregar o réu
oculto em sua casa será levado à presença da autoridade, para que Art. 300. As pessoas presas provisoriamente ficarão separa-
se proceda contra ele como for de direito. das das que já estiverem definitivamente condenadas, nos termos
da lei de execução penal.
Art. 294. No caso de prisão em flagrante, observar-se-á o dis- Parágrafo único. O militar preso em flagrante delito, após a
posto no artigo anterior, no que for aplicável. lavratura dos procedimentos legais, será recolhido a quartel da ins-
tituição a que pertencer, onde ficará preso à disposição das autori-
Art. 295. Serão recolhidos a quartéis ou a prisão especial, dades competentes.
à disposição da autoridade competente, quando sujeitos a prisão
antes de condenação definitiva: Art. 301. Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais
I - os ministros de Estado; e seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em
II - os governadores ou interventores de Estados ou Territó- flagrante delito.
rios, o prefeito do Distrito Federal, seus respectivos secretários, os
prefeitos municipais, os vereadores e os chefes de Polícia; Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem:
Art. 309. Se o réu se livrar solto, deverá ser posto em liberda- Art. 315. A decisão que decretar, substituir ou denegar a pri-
de, depois de lavrado o auto de prisão em flagrante. são preventiva será sempre motivada.
GABARITO
LEI Nº 4.898, DE 9 DE DEZEMBRO DE 1965.
1. Alternativa “A”
2. Alternativa “A” Regula o Direito de Representação e o processo de Respon-
3. Alternativa “D” sabilidade Administrativa Civil e Penal, nos casos de abuso de
autoridade.
Art. 14. Se a ato ou fato constitutivo do abuso de autoridade Art. 21. A audiência de instrução e julgamento será pública,
houver deixado vestígios o ofendido ou o acusado poderá: se contrariamente não dispuser o Juiz, e realizar-se-á em dia útil,
a) promover a comprovação da existência de tais vestígios, entre dez (10) e dezoito (18) horas, na sede do Juízo ou, excepcio-
por meio de duas testemunhas qualificadas; nalmente, no local que o Juiz designar.
b) requerer ao Juiz, até setenta e duas horas antes da audiência
de instrução e julgamento, a designação de um perito para fazer as Art. 22. Aberta a audiência o Juiz fará a qualificação e o inter-
verificações necessárias. rogatório do réu, se estiver presente.
§ 1º O perito ou as testemunhas farão o seu relatório e presta- Parágrafo único. Não comparecendo o réu nem seu advo-
rão seus depoimentos verbalmente, ou o apresentarão por escrito, gado, o Juiz nomeará imediatamente defensor para funcionar na
querendo, na audiência de instrução e julgamento. audiência e nos ulteriores termos do processo.
§ 2º No caso previsto na letra a deste artigo a representação
poderá conter a indicação de mais duas testemunhas. Art. 23. Depois de ouvidas as testemunhas e o perito, o Juiz
dará a palavra sucessivamente, ao Ministério Público ou ao advo-
Art. 15. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apre-
gado que houver subscrito a queixa e ao advogado ou defensor do
sentar a denúncia requerer o arquivamento da representação, o
réu, pelo prazo de quinze minutos para cada um, prorrogável por
Juiz, no caso de considerar improcedentes as razões invocadas,
mais dez (10), a critério do Juiz.
fará remessa da representação ao Procurador-Geral e este oferece-
rá a denúncia, ou designará outro órgão do Ministério Público para
Art. 24. Encerrado o debate, o Juiz proferirá imediatamente
oferecê-la ou insistirá no arquivamento, ao qual só então deverá o
a sentença.
Juiz atender.
Art. 25. Do ocorrido na audiência o escrivão lavrará no livro
Art. 16. Se o órgão do Ministério Público não oferecer a de-
núncia no prazo fixado nesta lei, será admitida ação privada. O próprio, ditado pelo Juiz, termo que conterá, em resumo, os depoi-
órgão do Ministério Público poderá, porém, aditar a queixa, re- mentos e as alegações da acusação e da defesa, os requerimentos
pudiá-la e oferecer denúncia substitutiva e intervir em todos os e, por extenso, os despachos e a sentença.
termos do processo, interpor recursos e, a todo tempo, no caso de
negligência do querelante, retomar a ação como parte principal. Art. 26. Subscreverão o termo o Juiz, o representante do Mi-
nistério Público ou o advogado que houver subscrito a queixa, o
Art. 17. Recebidos os autos, o Juiz, dentro do prazo de qua- advogado ou defensor do réu e o escrivão.
renta e oito horas, proferirá despacho, recebendo ou rejeitando a
denúncia. Art. 27. Nas comarcas onde os meios de transporte forem di-
§ 1º No despacho em que receber a denúncia, o Juiz designará, fíceis e não permitirem a observância dos prazos fixados nesta lei,
desde logo, dia e hora para a audiência de instrução e julgamento, o juiz poderá aumentá-las, sempre motivadamente, até o dobro.
que deverá ser realizada, improrrogavelmente dentro de cinco dias.
§ 2º A citação do réu para se ver processar, até julgamento Art. 28. Nos casos omissos, serão aplicáveis as normas do
final e para comparecer à audiência de instrução e julgamento, será Código de Processo Penal, sempre que compatíveis com o sistema
feita por mandado sucinto que, será acompanhado da segunda via de instrução e julgamento regulado por esta lei.
da representação e da denúncia. Parágrafo único. Das decisões, despachos e sentenças, cabe-
rão os recursos e apelações previstas no Código de Processo Penal.
Art. 18. As testemunhas de acusação e defesa poderão ser
apresentada em juízo, independentemente de intimação. Art. 29. Revogam-se as disposições em contrário.
Parágrafo único. Não serão deferidos pedidos de precatória
para a audiência ou a intimação de testemunhas ou, salvo o caso Brasília, 9 de dezembro de 1965; 144º da Independência e 77º
previsto no artigo 14, letra “b”, requerimentos para a realização de da República.
diligências, perícias ou exames, a não ser que o Juiz, em despacho
motivado, considere indispensáveis tais providências. Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 13.12.1965
TÍTULO IV
DA REPRESSÃO À PRODUÇÃO NÃO AUTORIZADA
2.5.9 LEI SOBRE DROGAS – E AO TRÁFICO ILÍCITO DE DROGAS
LEI N.º 11.343/06 – ARTIGOS 27 AO 53
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 20. Descumprir determinação de sigilo das investiga- Brasília, 2 de agosto de 2013; 192o da Independência e 125o da
ções que envolvam a ação controlada e a infiltração de agentes: República.
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. DILMA ROUSSEFF
José Eduardo Cardozo
Art. 21. Recusar ou omitir dados cadastrais, registros, docu- Este texto não substitui o publicado no DOU de 5.8.2013 -
mentos e informações requisitadas pelo juiz, Ministério Público Edição extra
ou delegado de polícia, no curso de investigação ou do processo:
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem, de forma in- 2.5.11 LEI DA PRISÃO TEMPORÁRIA –
devida, se apossa, propala, divulga ou faz uso dos dados cadastrais LEI Nº 7.960/89
de que trata esta Lei.
CAPÍTULO III
DISPOSIÇÕES FINAIS LEI Nº 7.960, DE 21 DE DEZEMBRO DE 1989.
Art. 22. Os crimes previstos nesta Lei e as infrações penais Dispõe sobre prisão temporária.
conexas serão apurados mediante procedimento ordinário previsto
no Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Pro- O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Con-
cesso Penal), observado o disposto no parágrafo único deste artigo. gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 24. Fabricar, ceder ou vender gazua ou instrumento em- Art. 33. Dirigir aeronave sem estar devidamente licenciado:
pregado usualmente na prática de crime de furto: Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, e multa, de
Pena – prisão simples, de seis meses a dois anos, e multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.
trezentos mil réis a três contos de réis.
Art. 34. Dirigir veículos na via pública, ou embarcações em
Art. 25. Ter alguém em seu poder, depois de condenado, por águas públicas, pondo em perigo a segurança alheia:
crime de furto ou roubo, ou enquanto sujeito à liberdade vigiada ou Pena – prisão simples, de quinze das a três meses, ou multa, de
quando conhecido como vadio ou mendigo, gazuas, chaves falsas trezentos mil réis a dois contos de réis.
ou alteradas ou instrumentos empregados usualmente na prática de
crime de furto, desde que não prove destinação legítima: Art. 35. Entregar-se na prática da aviação, a acrobacias ou a
vôos baixos, fora da zona em que a lei o permite, ou fazer descer a
Pena – prisão simples, de dois meses a um ano, e multa de
aeronave fora dos lugares destinados a esse fim:
duzentos mil réis a dois contos de réis.
Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa,
de quinhentos mil réis a cinco contos de réis.
Art. 26. Abrir alguém, no exercício de profissão de serralheiro
ou oficio análogo, a pedido ou por incumbência de pessoa de cuja Art. 36. Deixar do colocar na via pública, sinal ou obstáculo,
legitimidade não se tenha certificado previamente, fechadura ou determinado em lei ou pela autoridade e destinado a evitar perigo
qualquer outro aparelho destinado à defesa de lugar nu objeto: a transeuntes:
Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, Pena – prisão simples, de dez dias a dois meses, ou multa, de
de duzentos mil réis a um conto de réis. duzentos mil réis a dois contos de réis.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem:
Art. 27. (Revogado) a) apaga sinal luminoso, destrói ou remove sinal de outra na-
tureza ou obstáculo destinado a evitar perigo a transeuntes;
CAPÍTULO III b) remove qualquer outro sinal de serviço público.
DAS CONTRAVENÇÕES REFERENTES À INCOLU-
MIDADE PÚBLICA Art. 37. Arremessar ou derramar em via pública, ou em lugar
de uso comum, ou do uso alheio, coisa que possa ofender, sujar ou
Art. 28. Disparar arma de fogo em lugar habitado ou em suas molestar alguém:
adjacências, em via pública ou em direção a ela: Pena – multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.
Pena – prisão simples, de um a seis meses, ou multa, de tre- Parágrafo único. Na mesma pena incorre aquele que, sem as
zentos mil réis a três contos de réis. devidas cautelas, coloca ou deixa suspensa coisa que, caindo em
Parágrafo único. Incorre na pena de prisão simples, de quinze via pública ou em lugar de uso comum ou de uso alheio, possa
dias a dois meses, ou multa, de duzentos mil réis a dois contos ofender, sujar ou molestar alguém.
de réis, quem, em lugar habitado ou em suas adjacências, em via
pública ou em direção a ela, sem licença da autoridade, causa de- Art. 38. Provocar, abusivamente, emissão de fumaça, vapor
flagração perigosa, queima fogo de artifício ou solta balão aceso. ou gás, que possa ofender ou molestar alguém:
Pena – multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.
Art. 29. Provocar o desabamento de construção ou, por erro
CAPÍTULO IV
no projeto ou na execução, dar-lhe causa:
DAS CONTRAVENÇÕES REFERENTES À PAZ PÚ-
Pena – multa, de um a dez contos de réis, se o fato não consti- BLICA
tui crime contra a incolumidade pública.
Art. 39. Participar de associação de mais de cinco pessoas,
Art. 30. Omitir alguém a providência reclamada pelo Estado que se reunam periodicamente, sob compromisso de ocultar à au-
ruinoso de construção que lhe pertence ou cuja conservação lhe toridade a existência, objetivo, organização ou administração da
incumbe: associação:
Pena – multa, de um a cinco contos de réis. Pena – prisão simples, de um a seis meses, ou multa, de tre-
zentos mil réis a três contos de réis.
Art. 31. Deixar em liberdade, confiar à guarda de pessoa inex- § 1º Na mesma pena incorre o proprietário ou ocupante de
periente, ou não guardar com a devida cautela animal perigoso: prédio que o cede, no todo ou em parte, para reunião de associação
Pena – prisão simples, de dez dias a dois meses, ou multa, de que saiba ser de caráter secreto.
cem mil réis a um conto de réis. § 2º O juiz pode, tendo em vista as circunstâncias, deixar de
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem: aplicar a pena, quando lícito o objeto da associação.
a) na via pública, abandona animal de tiro, carga ou corrida,
ou o confia à pessoa inexperiente; Art. 40. Provocar tumulto ou portar-se de modo inconvenien-
b) excita ou irrita animal, expondo a perigo a segurança alheia; te ou desrespeitoso, em solenidade ou ato oficial, em assembleia
c) conduz animal, na via pública, pondo em perigo a seguran- ou espetáculo público, se o fato não constitui infração penal mais
ça alheia. grave;
Art. 46. Usar, publicamente, de uniforme, ou distintivo de fun- Art. 51. Promover ou fazer extrair loteria, sem autorização
ção pública que não exerce; usar, indevidamente, de sinal, distinti- legal:
vo ou denominação cujo emprego seja regulado por lei. Pena – prisão simples, de seis meses a dois anos, e multa, de
Pena – multa, de duzentos a dois mil cruzeiros, se o fato não cinco a dez contos de réis, estendendo-se os efeitos da condenação
constitui infração penal mais grave. à perda dos moveis existentes no local.
§ 1º Incorre na mesma pena quem guarda, vende ou expõe à
CAPÍTULO VI venda, tem sob sua guarda para o fim de venda, introduz ou tenta
DAS CONTRAVENÇÕES RELATIVAS À ORGANIZA- introduzir na circulação bilhete de loteria não autorizada.
ÇÃO DO TRABALHO § 2º Considera-se loteria toda operação que, mediante a distri-
buição de bilhete, listas, cupões, vales, sinais, símbolos ou meios
Art. 47. Exercer profissão ou atividade econômica ou anunciar análogos, faz depender de sorteio a obtenção de prêmio em dinhei-
que a exerce, sem preencher as condições a que por lei está subor- ro ou bens de outra natureza.
dinado o seu exercício: § 3º Não se compreendem na definição do parágrafo anterior
Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, os sorteios autorizados na legislação especial.
de quinhentos mil réis a cinco contos de réis.
Art. 52. Introduzir, no país, para o fim de comércio, bilhete de
Art. 48. Exercer, sem observância das prescrições legais, co- loteria, rifa ou tômbola estrangeiras:
mércio de antiguidades, de obras de arte, ou de manuscritos e li- Pena – prisão simples, de quatro meses a um ano, e multa, de
vros antigos ou raros: um a cinco contos de réis.
Pena – prisão simples de um a seis meses, ou multa, de um a Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem vende, expõe à
dez contos de réis. venda, tem sob sua guarda. para o fim de venda, introduz ou tenta
introduzir na circulação, bilhete de loteria estrangeira.
Art. 49. Infringir determinação legal relativa à matrícula ou à
escrituração de indústria, de comércio, ou de outra atividade: Art. 53. Introduzir, para o fim de comércio, bilhete de loteria
Pena – multa, de duzentos mil réis a cinco contos de réis. estadual em território onde não possa legalmente circular:
quando for o caso. compromisso, ficarão suspensas, em relação aos fatos que deram
causa à celebração do instrumento, a aplicação de sanções admi-
Art. 78. Para a consecução dos fins visados nesta Lei e espe- nistrativas contra a pessoa física ou jurídica que o houver firmado.
cialmente para a reciprocidade da cooperação internacional, deve § 4o A celebração do termo de compromisso de que trata este
ser mantido sistema de comunicações apto a facilitar o intercâmbio artigo não impede a execução de eventuais multas aplicadas antes
rápido e seguro de informações com órgãos de outros países. da protocolização do requerimento.
§ 5o Considera-se rescindido de pleno direito o termo de com-
CAPÍTULO VIII promisso, quando descumprida qualquer de suas cláusulas, ressal-
DISPOSIÇÕES FINAIS vado o caso fortuito ou de força maior.
§ 6o O termo de compromisso deverá ser firmado em até no-
Art. 79. Aplicam-se subsidiariamente a esta Lei as disposi- venta dias, contados da protocolização do requerimento.
ções do Código Penal e do Código de Processo Penal. § 7o O requerimento de celebração do termo de compromis-
so deverá conter as informações necessárias à verificação da sua
viabilidade técnica e jurídica, sob pena de indeferimento do plano.
Art. 79-A. Para o cumprimento do disposto nesta Lei, os
§ 8o Sob pena de ineficácia, os termos de compromisso deve-
órgãos ambientais integrantes do SISNAMA, responsáveis pela
rão ser publicados no órgão oficial competente, mediante extrato.
execução de programas e projetos e pelo controle e fiscalização
dos estabelecimentos e das atividades suscetíveis de degradarem Art. 80. O Poder Executivo regulamentará esta Lei no prazo
a qualidade ambiental, ficam autorizados a celebrar, com força de de noventa dias a contar de sua publicação.
título executivo extrajudicial, termo de compromisso com pessoas
físicas ou jurídicas responsáveis pela construção, instalação, am- Art. 81. (VETADO)
pliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades utiliza-
dores de recursos ambientais, considerados efetiva ou potencial- Art. 82. Revogam-se as disposições em contrário.
mente poluidores. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.163-41,
de 23.8.2001) Brasília, 12 de fevereiro de 1998; 177º da Independência e
§ 1o O termo de compromisso a que se refere este artigo 110º da República.
destinar-se-á, exclusivamente, a permitir que as pessoas físicas e
jurídicas mencionadas no caput possam promover as necessárias FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
correções de suas atividades, para o atendimento das exigências Gustavo Krause
impostas pelas autoridades ambientais competentes, sendo obriga-
tório que o respectivo instrumento disponha sobre: Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 13.2.1998 e
I - o nome, a qualificação e o endereço das partes compromis- retificado no DOU de 17.2.1998
sadas e dos respectivos representantes legais;
II - o prazo de vigência do compromisso, que, em função da
complexidade das obrigações nele fixadas, poderá variar entre o
mínimo de noventa dias e o máximo de três anos, com possibilida- 2.5.16 LEI DE INTERCEPTAÇÃO
de de prorrogação por igual período;
TELEFÔNICA – Nº LEI 9.296/96
III - a descrição detalhada de seu objeto, o valor do investi-
mento previsto e o cronograma físico de execução e de implanta-
ção das obras e serviços exigidos, com metas trimestrais a serem
LEI Nº 9.296, DE 24 DE JULHO DE 1996.
atingidas;
IV - as multas que podem ser aplicadas à pessoa física ou Regulamenta o inciso XII, parte final, do art. 5° da Constitui-
jurídica compromissada e os casos de rescisão, em decorrência do ção Federal.
não-cumprimento das obrigações nele pactuadas;
V - o valor da multa de que trata o inciso IV não poderá ser O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, Faço saber que o
superior ao valor do investimento previsto; Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
VI - o foro competente para dirimir litígios entre as partes.
§ 2o No tocante aos empreendimentos em curso até o dia 30 Art. 1º A interceptação de comunicações telefônicas, de qual-
de março de 1998, envolvendo construção, instalação, ampliação quer natureza, para prova em investigação criminal e em instrução
e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadores de processual penal, observará o disposto nesta Lei e dependerá de or-
recursos ambientais, considerados efetiva ou potencialmente po- dem do juiz competente da ação principal, sob segredo de justiça.
luidores, a assinatura do termo de compromisso deverá ser reque- Parágrafo único. O disposto nesta Lei aplica-se à intercepta-
rida pelas pessoas físicas e jurídicas interessadas, até o dia 31 de ção do fluxo de comunicações em sistemas de informática e tele-
dezembro de 1998, mediante requerimento escrito protocolizado mática.
junto aos órgãos competentes do SISNAMA, devendo ser firmado
pelo dirigente máximo do estabelecimento.
Art. 4° O pedido de interceptação de comunicação telefôni- Brasília, 24 de julho de 1996; 175º da Independência e 108º
ca conterá a demonstração de que a sua realização é necessária da República.
à apuração de infração penal, com indicação dos meios a serem FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
empregados. Nelson A. Jobim
§ 1° Excepcionalmente, o juiz poderá admitir que o pedido
seja formulado verbalmente, desde que estejam presentes os pres- Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 25.7.1996
supostos que autorizem a interceptação, caso em que a concessão
será condicionada à sua redução a termo.
§ 2° O juiz, no prazo máximo de vinte e quatro horas, decidirá
sobre o pedido. 2.5.17 LEI DOS CRIMES RESULTANTES
DE PRECONCEITO DE RAÇA E COR –
Art. 5° A decisão será fundamentada, sob pena de nulidade, LEI Nº 7.716/89
indicando também a forma de execução da diligência, que não po-
derá exceder o prazo de quinze dias, renovável por igual tempo
uma vez comprovada a indispensabilidade do meio de prova.
LEI Nº 7.716, DE 5 DE JANEIRO DE 1989.
Art. 6° Deferido o pedido, a autoridade policial conduzirá os
procedimentos de interceptação, dando ciência ao Ministério Pú- Define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor.
blico, que poderá acompanhar a sua realização.
§ 1° No caso de a diligência possibilitar a gravação da comu- O PRESIDENTE DA REPÚBLICA faço saber que o Con-
nicação interceptada, será determinada a sua transcrição. gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
§ 2° Cumprida a diligência, a autoridade policial encaminhará
o resultado da interceptação ao juiz, acompanhado de auto circuns- Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultan-
tanciado, que deverá conter o resumo das operações realizadas. tes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou
§ 3° Recebidos esses elementos, o juiz determinará a provi- procedência nacional.
dência do art. 8°, ciente o Ministério Público.
Art. 2º (Vetado).
Art. 7° Para os procedimentos de interceptação de que trata
esta Lei, a autoridade policial poderá requisitar serviços e técnicos Art. 3º Impedir ou obstar o acesso de alguém, devidamente
especializados às concessionárias de serviço público. habilitado, a qualquer cargo da Administração Direta ou Indireta,
bem como das concessionárias de serviços públicos.
Art. 8° A interceptação de comunicação telefônica, de qual- Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, por motivo de
quer natureza, ocorrerá em autos apartados, apensados aos autos discriminação de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional,
do inquérito policial ou do processo criminal, preservando-se o obstar a promoção funcional.
sigilo das diligências, gravações e transcrições respectivas. Pena: reclusão de dois a cinco anos.
Parágrafo único. A apensação somente poderá ser realizada
imediatamente antes do relatório da autoridade, quando se tratar Art. 4º Negar ou obstar emprego em empresa privada.
de inquérito policial (Código de Processo Penal, art.10, § 1°) ou § 1o Incorre na mesma pena quem, por motivo de discrimi-
na conclusão do processo ao juiz para o despacho decorrente do nação de raça ou de cor ou práticas resultantes do preconceito de
disposto nos arts. 407, 502 ou 538 do Código de Processo Penal. descendência ou origem nacional ou étnica:
Artigo 7º — Classe é o conjunto de cargos da mesma deno- Artigo 14 — A nomeação para cargo público de provimento
minação. efetivo será precedida de concurso público de provas ou de provas
e títulos.
Artigo 63 — Salvo os casos previstos nesta lei, o funcionário Artigo 73 — O exercício do mandato de Prefeito, ou de
que interromper o exercício por mais de 30 (trinta) dias consecu- Vereador, quando remunerado, determinará o afastamento do
tivos, ficará sujeito à pena de demissão por abandono de cargo. funcionário, com a faculdade de opção entre os subsídios do
mandato e os vencimentos ou a remuneração do cargo, inclusi-
Artigo 64 — O funcionário deverá ter exercício na repartição ve vantagens pecuniárias, ainda que não incorporadas. (NR)
em cuja lotação houver claro. Parágrafo único — O disposto neste artigo aplica-se igualmente
à hipótese de nomeação de Prefeito.(NR)
Artigo 65 — Nenhum funcionário poderá ter exercício em
serviço ou repartição diferente daquela em que estiver lotado, sal- Artigo 74 — Quando não remunerada a vereança, o afasta-
vo nos casos previstos nesta lei, ou mediante autorização do Go- mento somente ocorrerá nos dias de sessão e desde que o horário
vernador. das sessões da Câmara coincida com o horário normal de trabalho
a que estiver sujeito o funcionário. (NR)
Artigo 66 — Na hipótese de autorização do Governador, o § 1º — Na hipótese prevista neste artigo, o afastamento se
afastamento só será permitido, com ou sem prejuízo de vencimen- dará sem prejuízo de vencimentos e vantagens, ainda que não in-
tos, para fim determinado e prazo certo. corporadas, do respectivo cargo.(NR)
Parágrafo único — O afastamento sem prejuízo de venci- § 2º — É vedada a remoção ou transferência do funcionário
mentos poderá ser condicionado ao reembolso das despesas efetu- durante o exercício do mandato. (NR)
adas pelo órgão de origem, na forma a ser estabelecida em regu-
lamento. (NR) Artigo 75 — O funcionário, devidamente autorizado pelo Go-
vernador, poderá afastar-se do cargo para participar de provas de
Artigo 67 — O afastamento do funcionário para ter exercício
competições desportivas, dentro ou fora do Estado.
em entidades com as quais o Estado mantenha convênios, reger-
§ 1º — O afastamento de que trata este artigo, será precedido
-se-á pelas normas nestes estabelecidas.
de requisição justificada do órgão competente.
§ 2º — O funcionário será afastado por prazo certo, nas se-
Artigo 68 — O funcionário poderá ausentar-se do Estado ou
deslocar-se da respectiva sede de exercício, para missão ou estudo guintes condições:
de interesse do serviço público, mediante autorização expressa do I — sem prejuízo do vencimento ou remuneração, quando
Governador. representar o Brasil, ou o Estado, em competições desportivas ofi-
ciais; e
Artigo 69 — Os afastamentos de funcionários para participa- II — com prejuízo do vencimento ou remuneração, em quais-
ção em congressos e outros certames culturais, técnicos ou cientí- quer outros casos.
ficos, poderão ser autorizados pelo Governador, na forma estabe-
lecida em regulamento. CAPÍTULO XV
Da Contagem de Tempo de Serviço
Artigo 70 — O servidor preso em flagrante, preventiva ou
temporariamente ou pronunciado será considerado afastado do Artigo 76 — O tempo de serviço público, assim considerado
exercício do cargo, com prejuízo da remuneração, até a condena- o exclusivamente prestado ao Estado e suas Autarquias, será con-
ção ou absolvição transitada em julgado. (NR) tado singelamente para todos os fins. (NR)
Artigo 88 — O merecimento do funcionário será apurado em Artigo 97 — Não serão promovidos por merecimento, ainda
pontos positivos e negativos. que classificados dentro dos limites estabelecidos no regulamento,
§ 1º — Os pontos positivos se referem a condições de eficiên- os funcionários que tiverem sofrido qualquer penalidade nos dois
cia no cargo e ao aperfeiçoamento funcional resultante do aprimo- anos anteriores à data de vigência da promoção.
ramento dos seus conhecimentos.
§ 2º — Os pontos negativos resultam da falta de assiduidade Artigo 98 — O funcionário submetido a processo administra-
e da indisciplina. tivo poderá ser promovido, ficando, porém, sem efeito a promoção
por merecimento no caso de o processo resultar em penalidade.
Artigo 89 — Da apuração do merecimento será dada ciência
ao funcionário. Artigo 99 — Para promoção por merecimento é indispensável
que o funcionário obtenha número de pontos não inferior à metade
Artigo 90 — A antiguidade será determinada pelo tempo de do máximo atribuível.
efetivo exercício no cargo e no serviço público, apurado em dias.
Artigo 100 — O merecimento do funcionário é adquirido na
Artigo 91 — As promoções serão feitas em junho e dezembro classe.
de cada ano, dentro de limites percentuais a serem estabelecidos
em regulamento e corresponderão às condições existentes até o Artigo 101 — Revogado
último dia do semestre imediatamente anterior.
Artigo 102 — O tempo no cargo será o efetivo exercício, con-
Artigo 92 — Os direitos e vantagens que decorrerem da pro- tado na seguinte conformidade:
moção serão contados a partir da publicação do ato, salvo quando I — a partir da data em que o funcionário assumir o exercício
publicado fora do prazo legal, caso em que vigorará a contar do do cargo, nos casos de nomeação, transferência a pedido, reversão
último dia do semestre a que corresponder. e aproveitamento;
Parágrafo único — Ao funcionário que não estiver em efe- II — como se o funcionário estivesse em exercício, no caso
tivo exercício, só se abonarão as vantagens a partir da data da re- de reintegração;
assunção. III — a partir da data em que o funcionário assumir o exer-
cício do cargo do qual foi transferido, no caso de transferência
Artigo 93 — Será declarada sem efeito a promoção indevida, ex-officio; e
não ficando o funcionário, nesse caso, obrigado a restituições, sal- IV — a partir da data em que o funcionário assumir o exercí-
vo na hipótese de declaração falsa ou omissão intencional. cio do cargo reclassificado ou transformado.
Artigo 94 — Só poderão ser promovidos os servidores que Artigo 103 — Será contado como tempo no cargo o efetivo
tiverem o interstício de efetivo exercício no grau. exercício que o funcionário houver prestado no mesmo cargo, sem
Parágrafo único — O interstício a que se refere este artigo solução de continuidade, desde que por prazo superior a 6 (seis)
será estabelecido em regulamento. meses:
I — como substituto; e
Artigo 95 — Dentro de cada quadro, haverá para cada classe, II — no desempenho de função gratificada, em período ante-
nos respectivos graus, uma lista de classificação, para os critérios rior à criação do respectivo cargo.
de merecimento e antiguidade.
Parágrafo único — Ocorrendo empate terão preferência, su- Artigo 104 — As promoções obedecerão à ordem de classi-
cessivamente: ficação.
1 — na classificação por merecimento:
a) os títulos e os comprovantes de conclusão de cursos, rela- Artigo 105 — Haverá em cada Secretaria de Estado uma Co-
cionados com a função exercida; missão de Promoção que terá as seguintes atribuições:
b) a assiduidade; I — eleger o respectivo presidente;
c) a antiguidade no cargo; II — decidir as reclamações contra a avaliação do mérito, po-
d) os encargos de família; e dendo alterar, fundamentalmente, os pontos atribuídos ao recla-
e) a idade; mante ou a outros funcionários;
CAPÍTULO II Artigo 127 — O funcionário terá direito, após cada período
Das Vantagens de Ordem Pecuniária de 5 (cinco) anos, contínuos, ou não, à percepção de adicional por
tempo de serviço, calculado à razão de 5% (cinco por cento) sobre
SEÇÃO I o vencimento ou remuneração, a que se incorpora para todos os
Disposições Gerais efeitos.
Parágrafo único — Declarado Inconstitucional pelo Supre-
Artigo 124 — Além do valor do padrão do cargo, o funcioná- mo Tribunal Federal (ADIn nº 3.167)
rio só poderá receber as seguintes vantagens pecuniárias: “Parágrafo único — O adicional por tempo de serviço será
I — adicionais por tempo de serviço; concedido pela autoridade competente, na forma que for estabe-
II — gratificações; lecida em regulamento, no prazo máximo de 180 (cento e oitenta)
III — diárias; dias, contados da data da completação do período aquisitivo, sob
IV — ajudas de custo; pena de ser responsabilizado o servidor que der causa ao descum-
V — salário-família e salário-esposa; primento do prazo ora fixado.”
VI — Revogado;
VII — quota-parte de multas e porcentagens fixadas em lei; Artigo 128 — A apuração do quinquênio será feita em dias e o
VIII — honorários, quando fora do período normal ou extra- total convertido em anos, considerados estes sempre como de 365
ordinário de trabalho a que estiver sujeito, for designado para reali- (trezentos e sessenta e cinco) dias.
zar investigações ou pesquisas científicas, bem como para exercer
as funções de auxiliar ou membro de bancas e comissões de con- Artigo 129 — Vetado.
curso ou prova, ou de professor de cursos de seleção e aperfei-
çoamento ou especialização de servidores, legalmente instituídos, Artigo 130 — O funcionário que completar 25 (vinte e cinco)
observadas as proibições atinentes a regimes especiais de trabalho anos de efetivo exercício perceberá mais a sexta-parte do venci-
fixados em lei; mento ou remuneração, a estes incorporada para todos os efeitos.
Artigo 138 — Será punido com pena de suspensão e, na rein- Artigo 147 — O funcionário que indevidamente receber diá-
cidência, com a de demissão, a bem do serviço público, o funcio- ria, será obrigado a restituí-la de uma só vez, ficando ainda sujeito
nário: à punição disciplinar.
I — que atestar falsamente a prestação de serviço extraordi-
nário; e Artigo 148 — É vedado conceder diárias com o objetivo de
II — que se recusar, sem justo motivo, à prestação de serviço remunerar outros encargos ou serviços.
extraordinário. Parágrafo único — Será responsabilizada a autoridade que
infringir o disposto neste artigo.
Artigo 139 — O funcionário que exercer cargo de direção não
poderá perceber gratificação por serviço extraordinário. SEÇÃO V
§ 1º — O disposto neste artigo não se aplica durante o período Das Ajudas de Custo
em que subordinado de titular de cargo nele mencionado venha a
perceber, em consequência do acréscimo da gratificação por ser- Artigo 149 — A juízo da Administração, poderá ser concedi-
viço extraordinário, quantia que iguale ou ultrapasse o valor do da ajuda de custo ao funcionário que no interesse do serviço passar
padrão do cargo de direção. a ter exercício em nova sede.
Artigo 152 — Quando o funcionário for incumbido de servi- Artigo 159 — A concessão e a supressão do salário-família
serão processadas na forma estabelecida em lei.
ço que o obrigue a permanecer fora da sede por mais de 30 (trinta)
dias, poderá receber ajuda de custo sem prejuízos das diárias que
Artigo 160 — Não será pago o salário-família nos casos em
lhe couberem.
que o funcionário deixar de perceber o respectivo vencimento ou
Parágrafo único — A importância dessa ajuda de custo será
remuneração.
fixada na forma do art. 150, não podendo exceder a quantia relati-
Parágrafo único — O disposto neste artigo não se aplica aos
va a 1 (uma) vez o valor do padrão do cargo.
casos disciplinares e penais, nem aos de licença por motivo de
doença em pessoa da família.
Artigo 153 — Restituirá a ajuda de custo que tiver recebido:
I — o funcionário que não seguir para a nova sede dentro dos Artigo 161 — É vedada a percepção de salário-família por
prazos fixados, salvo motivo independente de sua vontade, devida- dependente em relação ao qual já esteja sendo pago este benefício
mente comprovado sem prejuízo da pena disciplinar cabível; por outra entidade pública federal, estadual ou municipal, ficando
II — o funcionário que, antes de concluir o serviço que lhe foi o infrator sujeito às penalidades da lei.
cometido, regressar da nova sede, pedir exoneração ou abandonar
o cargo. Artigo 162 — O salário esposa será concedido ao funcioná-
§ 1º — A restituição poderá ser feita parceladamente, a juízo rio que não perceba vencimento ou remuneração de importância
da autoridade que houver concedido a ajuda de custo, salvo no superior a 2 (duas) vezes o valor do menor vencimento pago pelo
caso de recebimento indevido, em que a importância por devol- Estado, desde que a mulher não exerça atividade remunerada.
ver será descontada integralmente do vencimento ou remuneração, Parágrafo único — A concessão do benefício a que se refere
sem prejuízo da pena disciplinar cabível. este artigo será objeto de regulamento.
§ 2º — A responsabilidade pela restituição de que trata este
artigo, atinge exclusivamente a pessoa do funcionário. SEÇÃO VII
§ 3º — Se o regresso do funcionário for determinado pela au- Outras Concessões Pecuniárias
toridade competente ou por motivo de força maior devidamente
comprovado, não ficará ele obrigado a restituir a ajuda de custo. Artigo 163 — O Estado assegurará ao funcionário o direito de
pleno ressarcimento de danos ou prejuízos, decorrentes de aciden-
Artigo 154 — Caberá também ajuda de custo ao funcionário tes no trabalho, do exercício em determinadas zonas ou locais e da
designado para serviço ou estudo no estrangeiro. execução de trabalho especial, com risco de vida ou saúde.
Parágrafo único — A ajuda de custo de que trata este artigo
será arbitrada pelo Governador. Artigo 164 — Ao funcionário licenciado, para tratamento de
saúde poderá ser concedido transporte, se decorrente do tratamen-
SEÇÃO VI to, inclusive para pessoa de sua família.
Do Salário-Família e do Salário-Esposa
Artigo 165 — Poderá ser concedido transporte à família do
Artigo 155 — O salário-família será concedido ao funcioná- funcionário, quando este falecer fora da sede de exercício, no de-
rio ou ao inativo por: sempenho de serviço.
Artigo 183 — Finda a licença, o funcionário deverá reassu- Artigo 192 — O funcionário ocupante de cargo em comissão
mir, imediatamente, o exercício do cargo.(NR) poderá ser aposentado, nas condições do artigo anterior, desde que
§ 1º — o disposto no caput deste artigo não se aplica às li- preencha os requisitos do art. 227.
cenças previstas nos incisos V e VII do artigo 181, quando em
prorrogação. (NR) Artigo 193 — A licença para tratamento de saúde dependerá
§ 2º — a infração do disposto no caput deste artigo importará
de inspeção médica oficial e poderá ser concedida:
em perda total do vencimento ou remuneração correspondente ao
I — a pedido do funcionário;
período de ausência e, se esta exceder a 30 (trinta) dias, ficará o
II — “ex officio”.
funcionário sujeito à pena de demissão por abandono de cargo.
(NR) § 1º — A inspeção médica de que trata o “caput” deste artigo
poderá ser dispensada, a critério do órgão oficial, quando a análise
Artigo 184 — O funcionário licenciado nos termos dos itens documental for suficiente para comprovar a incapacidade laboral,
I a IV do art. 181, é obrigado a reassumir o exercício, se for con- observado o estabelecido em decreto.
siderado apto em inspeção médica realizada ex-officio ou se não § 2º — A licença “ex officio” de que trata o inciso II deste
subsistir a doença na pessoa de sua família. artigo será concedida por decisão do órgão oficial:
Parágrafo único — O funcionário poderá desistir da licença, 1 — quando as condições de saúde do funcionário assim o
desde que em inspeção médica fique comprovada a cessação dos determinarem;
motivos determinantes da licença. 2 — a pedido do órgão de origem do funcionário.
§ 3º — O funcionário poderá ser dispensado da inspeção mé-
Artigo 185 — As licenças previstas nos incisos I, II e IV do dica de que trata o “caput” deste artigo em caso de licença para
artigo 181 não serão concedidas em prorrogação, cabendo ao fun- tratamento de saúde de curta duração, conforme estabelecido em
cionário ou à autoridade competente ingressar, quando for o caso, decreto. (NR) (Redação dada pela Lei complementar nº 1.196, de
com um novo pedido. (NR) 27 de fevereiro de 2013).
Artigo 210 — Para fins da licença prevista nesta Seção, não Artigo 219 — O funcionário poderá ser posto em disponibi-
se consideram interrupção de exercício: lidade remunerada:
I — os afastamentos enumerados no art. 78, excetuado o pre- I — no caso previsto no § 2º do art. 31; e
visto no item X; e II — quando, tendo adquirido estabilidade, o cargo for extinto
II — as faltas abonadas, as justificadas e os dias de licença a por lei.
que se referem os itens I e IV do art. 181 desde que o total de todas Parágrafo único — O funcionário ficará em disponibilidade
essas ausências não exceda o limite máximo de 30 (trinta) dias, no até o seu obrigatório aproveitamento em cargo equivalente.
período de 5 (cinco) anos.
Artigo 220 — O provento da disponibilidade não poderá ser
Artigo 211 — Revogado. superior ao vencimento ou remuneração e vantagens percebidos
pelo funcionário.
Artigo 212 — A licença-prêmio será concedida mediante cer- Artigo 221 — Qualquer alteração do vencimento ou remu-
tidão de tempo de serviço, independente de requerimento do fun- neração e vantagens percebidas pelo funcionário em virtude de
cionário, e será publicada no Diário Oficial do Estado, nos termos medida geral, será extensiva ao provento do disponível, na mesma
da legislação em vigor. (NR) proporção.
Artigo 222 — O funcionário será aposentado: Artigo 233 — Nos trabalhos insalubres executados pelos fun-
I — por invalidez; cionários, o Estado é obrigado a fornecer-lhes gratuitamente equi-
II — compulsoriamente, aos 70 (setenta) anos; e pamentos de proteção à saúde.
Parágrafo único — Os equipamentos aprovados por órgão
III — voluntariamente, após 35 (trinta e cinco) anos de ser-
competente, serão de uso obrigatório dos funcionários, sob pena
viço. de suspensão.
§ 1º — No caso do item III, o prazo é reduzido a 30 (trinta)
anos para as mulheres. Artigo 234 — Ao funcionário é assegurado o direito de re-
§ 2º — Os limites de idade e de tempo de serviço para a apo- moção para igual cargo no local de residência do cônjuge, se este
sentadoria poderão ser reduzidos, nos termos do parágrafo único também for funcionário e houver vaga.
do art. 94 da Constituição do Estado de São Paulo.
Artigo 235 — Havendo vaga na sede do exercício de ambos
Artigo 223 — A aposentadoria prevista no item I do artigo os cônjuges, a remoção poderá ser feita para o local indicado por
anterior, só será concedida, após a comprovação da invalidez do qualquer deles, desde que não prejudique o serviço.
funcionário, mediante inspeção de saúde realizada em órgão mé-
Artigo 236 — Somente será concedida nova remoção por
dico oficial. união de cônjuges ao funcionário que for removido a pedido para
outro local, após transcorridos 5 (cinco) anos.
Artigo 224 — A aposentadoria compulsória prevista no item
II do art. 222 é automática. Artigo 237 — Considera-se local, para os fins dos arts. 234 a
Parágrafo único — O funcionário se afastará no dia imediato 236, o município onde o cônjuge tem sua residência.
àquele em que atingir a idade limite, independentemente da publi-
cação do ato declaratório da aposentadoria. Artigo 238 — O ato que remover ou transferir o funcionário
estudante de uma para outra cidade ficará suspenso se, na nova
Artigo 225 — O funcionário em disponibilidade poderá ser sede, não existir estabelecimento congênere, oficial, reconhecido
ou equiparado àquele em que o interessado esteja matriculado.
aposentado nos termos do art. 222.
§ 1º — Efetivar-se-á a transferência, se o funcionário concluir
o curso, deixar de cursá-lo ou for reprovado durante 2 (dois) anos.
Artigo 226 — O provento da aposentadoria será: § 2º — Anualmente, o interessado deverá fazer prova, perante
I — igual ao vencimento ou remuneração e demais vantagens a repartição a que esteja subordinado, de que está frequentando
pecuniárias incorporadas para esse efeito: regularmente o curso em que estiver matriculado.
1 — quando o funcionário, do sexo masculino, contar 35 (trin-
ta e cinco) anos de serviço e do sexo feminino, 30 (trinta) anos; e CAPÍTULO VII
2 — quando ocorrer a invalidez. Do Direito de Petição
II — proporcional ao tempo de serviço, nos demais casos.
Artigo 239 — É assegurado a qualquer pessoa, física ou jurí-
dica, independentemente de pagamento, o direito de petição contra
Artigo 227 — As disposições dos itens I e II do art. 222 apli-
ilegalidade ou abuso de poder e para defesa de direitos. (NR)
cam-se ao funcionário ocupante de cargo em comissão, que contar § 1º — Qualquer pessoa poderá reclamar sobre abuso, erro,
mais de 15 (quinze) anos de exercício ininterrupto nesse cargo, omissão ou conduta incompatível no serviço público.(NR)
seja ou não ocupante de cargo de provimento efetivo. § 2º — Em nenhuma hipótese, a Administração poderá recu-
sar-se a protocolar, encaminhar ou apreciar a petição, sob pena de
Artigo 228 — A aposentadoria prevista no item III do art. 222 responsabilidade do agente.
produzirá efeito a partir da publicação do ato no “Diário Oficial”.
Artigo 240 — Ao servidor é assegurado o direito de requerer
Artigo 229 — O pagamento dos proventos a que tiver direito ou representar, bem como, nos termos desta lei complementar, pe-
o aposentado deverá iniciar-se no mês seguinte ao em que cessar a dir reconsideração e recorrer de decisões, no prazo de 30 (trinta)
dias, salvo previsão legal específica. (NR)
percepção do vencimento ou remuneração.
TÍTULO VI
Artigo 230 — O provento do aposentado só poderá sofrer DOS DEVERES, DAS PROIBIÇÕES E DAS RESPONSABI-
descontos autorizados em lei. LIDADES
Artigo 271 — Os procedimentos disciplinares punitivos serão Artigo 278 — Autuada a portaria e demais peças preexisten-
realizados pela Procuradoria Geral do Estado e presididos por Pro- tes, designará o presidente dia e hora para audiência de interroga-
curador do Estado confirmado na carreira. (NR) tório, determinando a citação do acusado e a notificação do denun-
ciante, se houver. (NR)
CAPÍTULO II § 1º — O mandado de citação deverá conter: (NR)
Da Sindicância 1 — cópia da portaria;
2 — data, hora e local do interrogatório, que poderá ser acom-
Artigo 272 — São competentes para determinar a instauração panhado pelo advogado do acusado;
de sindicância as autoridades enumeradas no artigo 260. (NR) 3 — data, hora e local da oitiva do denunciante, se houver, que
Parágrafo único — Instaurada a sindicância, o Procurador deverá ser acompanhada pelo advogado do acusado;
do Estado que a presidir comunicará o fato ao órgão setorial de 4 — esclarecimento de que o acusado será defendido por ad-
pessoal. (NR) vogado dativo, caso não constitua advogado próprio;
5 — informação de que o acusado poderá arrolar testemunhas
Artigo 273 — Aplicam-se à sindicância as regras previstas e requerer provas, no prazo de 3 (três) dias após a data designada
nesta lei complementar para o processo administrativo, com as se- para seu interrogatório;
guintes modificações: 6 — advertência de que o processo será extinto se o acusado
I — a autoridade sindicante e cada acusado poderão arrolar pedir exoneração até o interrogatório, quando se tratar exclusiva-
até 3 (três) testemunhas; mente de abandono de cargo ou função, bem como inassiduidade.
II — a sindicância deverá estar concluída no prazo de 60 (ses- § 2º — A citação do acusado será feita pessoalmente, no mí-
senta) dias; nimo 2 (dois) dias antes do interrogatório, por intermédio do res-
III — com o relatório, a sindicância será enviada à autoridade pectivo superior hierárquico, ou diretamente, onde possa ser en-
competente para a decisão. (NR) contrado. (NR)
§ 3º — Não sendo encontrado em seu local de trabalho ou no
CAPÍTULO III endereço constante de seu assentamento individual, furtando-se o
Do Processo Administrativo (NR) acusado à citação ou ignorando-se seu paradeiro, a citação far-se-
-á por edital, publicado uma vez no Diário Oficial do Estado, no
Artigo 274 — São competentes para determinar a instauração mínimo 10 (dez) dias antes do interrogatório. (NR)
de processo administrativo as autoridades enumeradas no artigo
260, até o inciso IV, inclusive.(NR) Artigo 279 — Havendo denunciante, este deverá prestar de-
clarações, no interregno entre a data da citação e a fixada para o
Artigo 275 — Não poderá ser encarregado da apuração, nem interrogatório do acusado, sendo notificado para tal fim. (NR)
atuar como secretário, amigo íntimo ou inimigo, parente consan- § 1º — A oitiva do denunciante deverá ser acompanhada pelo
guíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau in- advogado do acusado, próprio ou dativo. (NR)
clusive, cônjuge, companheiro ou qualquer integrante do núcleo § 2º — O acusado não assistirá à inquirição do denunciante;
familiar do denunciante ou do acusado, bem assim o subordinado antes porém de ser interrogado, poderá ter ciência das declarações
deste. (NR) que aquele houver prestado. (NR)
Artigo 276 — A autoridade ou o funcionário designado de- Artigo 280 — Não comparecendo o acusado, será, por des-
verão comunicar, desde logo, à autoridade competente, o impedi- pacho, decretada sua revelia, prosseguindo-se nos demais atos e
mento que houver. (NR) termos do processo. (NR)
Artigo 277 — O processo administrativo deverá ser instaura- Artigo 281 — Ao acusado revel será nomeado advogado da-
do por portaria, no prazo improrrogável de 8 (oito) dias do rece- tivo. (NR)
bimento da determinação, e concluído no de 90 (noventa) dias da
citação do acusado.(NR) Artigo 282 — O acusado poderá constituir advogado que o
§ 1º — Da portaria deverão constar o nome e a identificação representará em todos os atos e termos do processo. (NR)
do acusado, a infração que lhe é atribuída, com descrição sucinta § 1º — É faculdade do acusado tomar ciência ou assistir aos
dos fatos, a indicação das normas infringidas e a penalidade mais atos e termos do processo, não sendo obrigatória qualquer notifi-
elevada em tese cabível. (NR) cação. (NR)
Artigo 305 — Não será declarada a nulidade de nenhum ato Artigo 313 — Caberá pedido de reconsideração, que não po-
processual que não houver influído na apuração da verdade subs- derá ser renovado, de decisão tomada pelo Governador do Estado
tancial ou diretamente na decisão do processo ou sindicância. (NR) em única instância, no prazo de 30 (trinta) dias. (NR)
Disposições Finais
O GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO: Artigo 8.º - As guardas municipais, guardas noturnas e os ser-
Faço saber que a Assembleia Legislativa decreta e eu promul- viços de segurança e vigilância, autorizados por lei, ficam sujeitos
go a seguinte lei complementar: à orientação, controle e fiscalização da Secretaria da Segurança
Pública, na forma de regulamentação específica.
TÍTULO I
Da Polícia do Estado de São Paulo TÍTULO II
Da Polícia Civil
Capítulo I
Artigo 1.º - A Secretaria de Estado dos Negócios da Segurança
Das Disposições Preliminares
Pública, responsável pela manutenção, em todo o Estado, da or-
dem e da segurança pública internas, executará o serviço policial Artigo 9.º - Esta lei complementar estabelece as normas, os
por intermédio dos órgãos policiais que a integram. direitos, os deveres e as vantagens dos titulares de cargos policiais
Parágrafo único – Abrange o serviço policial a prevenção e civis do Estado.
investigação criminais, o policiamento ostensivo, o trânsito e a
proteção em casos de calamidade pública, incêndio e salvamento. Artigo 10 – Consideram-se para fins desta lei complementar:
I – classe: conjunto de cargos públicos de natureza policial da
Artigo 2.º - São órgãos policiais, subordinados hierárquica, mesma denominação e amplitude de vencimentos;
administrativa e funcionalmente ao Secretário da Segurança Pú- II – série de classes: conjunto de classes da mesma natureza de
blica: trabalho policial, hierarquicamente escalonadas de acordo com o
I – Polícia Civil grau de complexidade das atribuições e nível de responsabilidade;
II – Polícia Militar III – carreira policial: conjunto de cargos de natureza policial
§ 1.º - Integrarão também a Secretaria da Segurança Públi- civil, de provimento efetivo.
ca os órgãos de assessoramento do Secretário da Segurança, que
constituem a administração superior da Pasta. Artigo 11 – São classes policiais civis aquelas constantes do
§ 2.º - A organização, estrutura, atribuições e competência anexo que faz parte integrante desta lei complementar.
pormenorizada dos órgãos de que trata este artigo serão estabe-
Artigo 12 – As classes e as séries de classes policiais civis
lecidos por decreto, nos termos desta lei e da legislação federal
integram o Quadro da Secretaria da Segurança Pública na seguinte
pertinente.
conformidade:
Artigo 39 – O policial civil não poderá ser removido no inte- Artigo 46 – Ao policial civil removido no interesse do serviço
resse do serviço, para município diverso do de sua sede de exercí- policial, de um para outro município, será concedida ajuda de cus-
cio, no período de 6 (seis) meses antes e até 3 (três) meses após a to correspondente a um mês de vencimento.
data das eleições. § 1.º - A ajuda de custo será paga à vista da publicação do ato
Parágrafo único – Esta proibição vigorará no caso de eleições de remoção, no Diário Oficial.
federais, estaduais ou municipais, isolada ou simultaneamente re- § 2.º - A ajuda de custo de que trata este artigo não será devida
alizadas. quando a remoção se processar a pedido ou por permuta.
Artigo 40 – É preferencial, na união de cônjuges, a sede de
exercício do policial civil, quando este for cabeça do casal. SEÇÃO III
Das Outras Concessões
CAPÍTULO V
Do Vencimento e Outras Vantagens de Ordem Pecuniária Artigo 47 – Ao policial civil licenciado para tratamento de
SEÇÃO I saúde, em razão de moléstia profissional ou lesão recebida em ser-
Do Vencimento viço, será concedido transporte por conta do Estado para institui-
ção onde deva ser atendido.
Artigo 41 – Aos cargos policiais civis aplicam-se os valores
dos graus das referências numéricas fixados na Tabela I da escala Artigo 48 – À família do policial civil que falecer fora da sede
de vencimentos do funcionalismo público civil do Estado. de exercício e dentro do território nacional no desempenho de ser-
viço, será concedido transporte para, no máximo 3 (três) pessoas
Artigo 42 – O enquadramento das classes na escala de ven-
do local de domicílio ao do óbito (ida e volta).
cimentos, bem como a amplitude de vencimentos e velocidade
evolutiva correspondente à cada classe policial, são estabelecidos
na conformidade do Anexo que faz parte integrante desta lei com- Artigo 49 – o Secretário da Segurança Pública, por proposta
plementar. do Delegado Geral de Polícia, ouvido o Conselho da Polícia Ci-
vil, poderá conceder honrarias ou prêmios aos policiais autores de
SEÇÃO II trabalhos de relevante interesse policial ou por atos de bravura, na
Das Vantagens de Ordem Pecuniária forma em que for regulamentado.
SUBSEÇÃO I
Das Disposições Gerais Artigo 50 – O policial civil que ficar inválido ou vier a falecer
em conseqüência de lesões recebidas ou doenças contraídas em
Artigo 43 – Além do valor do padrão do cargo e sem prejuí- razão do serviço, terá seu vencimento fixado na referência final da
zo das vantagens previstas na Lei nº 10.261, de 28 de outubro de amplitude de vencimentos de sua classe.
1978, e demais legislação pertinente, o policial civil fará jus às § 1.º - A concessão do benefício será precedida de competente
seguintes vantagens pecuniárias: apuração, retroagindo seus efeitos à data de invalidez ou morte.
Artigo 73 – A pena de suspensão, que não excederá de 90 (no- Artigo 79 – Independe do resultado de eventual ação penal a
venta) dias, será aplicada nos casos de : aplicação das penas disciplinares previstas neste Estatuto.
I – descumprimento dos deveres e transgressão disciplinar,
ocorrendo dolo ou má fé; SEÇÃO II
II – reincidência em falta já punida com repreensão. Da Extinção da Punibilidade
§ 1.º - O policial suspenso perderá, durante o período da sus-
pensão, todos os direitos e vantagens decorrentes do exercício do Artigo 80- Extingue-se a punibilidade pela prescrição:
cargo. I – da falta sujeita à pena de advertência, em 1 (um) ano;
§ 2.º - A autoridade que aplicar a pena de suspensão poderá II – da falta sujeita à pena de repreensão, multa ou suspensão,
convertê-la em multa, na base de 50% (cinquenta por cento), por em 2 (dois) anos;
dia, do vencimento e demais vantagens, sendo o policial, neste
III – da falta sujeita à pena de demissão, demissão a bem do
caso, obrigado a permanecer em serviço.
serviço público e de cassação da aposentadoria ou disponibilidade,
Artigo 74 – Será aplicada a pena de demissão nos casos de: em 5 (cinco) anos;
I – abandono de cargo; IV – da falta prevista em lei, com infração penal, no mesmo
II – procedimento irregular, de natureza grave; prazo em que se extingue a punibilidade desta, pela prescrição.
III – ineficiência intencional e reiterada no serviço; Parágrafo único – O prazo da prescrição inicia-se no dia em
IV – aplicação indevida de dinheiros públicos; que a autoridade tomar conhecimento da existência da falta e inter-
V – insubordinação grave. rompe-se pela abertura de sindicância ou, quando for o caso, pela
instauração do processo administrativo.
Artigo 75 – Será aplicada a pena de demissão a bem do servi-
ço público, nos casos de: Artigo 81 – Extingue-se, ainda, a punibilidade:
I – conduzir-se com incontinência pública e escandalosa e pra- I – pela morte do agente;
ticar jogos proibidos; II – pela anistia administrativa;
II – praticar ato definido como crime contra a Administração III – pela retroatividade de lei que não considere o fato como
Pública, a Fé Pública e a Fazenda Pública ou previsto na Lei de falta.
Segurança Nacional;
III – revelar dolosamente segredos de que tenha conhecimen- Artigo 82 – O policial civil que, sem justa causa, deixar de
to em razão do cargo ou função, com prejuízo para o Estado ou atender a qualquer exigência para cujo cumprimento seja marcado
particulares; prazo certo, terá suspenso o pagamento de seu vencimento ou re-
IV – praticar ofensas físicas contra funcionários, servidores ou muneração até que satisfaça essa exigência.
particulares, salvo em legítima defesa; Parágrafo único – Aplica-se aos aposentados ou em disponibi-
V – causar lesão dolosa ao patrimônio ou aos cofres públicos; lidade o disposto neste artigo.
VI – exigir, receber ou solicitar vantagem indevida, direta-
mente ou por intermédio de outrem, ainda que fora de suas fun- Artigo 83 – Deverão constar do assentamento individual do
ções, mas em razão destas; policial civil as penas que lhe forem impostas.
VII – provocar movimento de paralisação total ou parcial do
serviço policial ou outro qualquer serviço, ou dele participar;
VIII – pedir ou aceitar empréstimo de dinheiro ou valor de SEÇÃO III
pessoas que tratem de interesses ou os tenham na repartição, ou Da Suspensão Preventiva
estejam sujeitos à sua fiscalização;
IX – exercer advocacia administrativa. Artigo 84 – Poderá ser ordenada, pelo Delegado Geral de
Polícia, mediante representação da autoridade que determinou a
Artigo 76 – O ato que cominar pena ao policial civil mencio- instauração de processo disciplinar, a suspensão preventiva do po-
nará, sempre, a disposição legal em que se fundamenta. licial civil até 60 (sessenta) dias, desde que o seu afastamento seja
§ 1.º - Desse ato será dado conhecimento ao órgão do pessoal, necessário para averiguações de faltas a ele atribuídas, podendo
para registro e publicidade, no prazo de 8 (oito) dias, desde que o Secretário da Segurança Pública, prorrogá-la até 90 (noventa)
não se tenha revestido de reserva. dias, findos os quais cessarão os efeitos da suspensão, ainda que o
§ 2.º - As penas previstas nos incisos I a IV do artigo 67, quan- processo disciplinar não esteja concluído.
do aplicadas aos integrantes da carreira de Delegado de Polícia, Parágrafo único – Vetado.
revestir-se-ão sempre de reserva.
Artigo 85 - Durante o período de suspensão preventiva o po-
Artigo 77 – Será aplicada a pena de cassação de aposentadoria licial civil perderá 1/3 (um terço) do vencimento.
ou disponibilidade, se ficar provado que o inativo:
I – praticou, quando em atividade, falta para a qual é comina- Artigo 86 – O período de suspensão preventiva será compu-
da nesta lei a pena de demissão ou de demissão a bem do serviço tado no cumprimento da pena de suspensão, assegurado o direito
público; à restituição nas hipóteses previstas no Estatuto dos Funcionários
II – aceitou ilegalmente cargo ou função pública; Públicos.
Artigo 116 – A autoridade julgadora determinará a expedição Artigo 125 – Não será admissível a reiteração do pedido, sal-
dos atos decorrentes da decisão e as providências necessárias à sua vo se fundado em novas provas.
execução.
Artigo 126 – O pedido será sempre dirigido à autoridade que
Artigo 117 – Terão forma processual resumida, quando pos- aplicou a penalidade, ou que a tiver confirmado em grau de recur-
sível, todos os termos lavrados pelo Secretário, quais sejam: au- so.
tuação, juntada, conclusão, intimação, data de recebimento, bem § 1.º - A revisão será processada por comissão, especialmen-
como certidões e compromissos. te designada pela autoridade que a deferiu, composta de 3 (três)
membros, Delegados de Polícia, um dos quais Delegado de Polícia
Artigo 118 – Toda e qualquer juntada aos autos se fará na or- de Classe Especial, que será o presidente.
dem cronológica da apresentação, rubricando o presidente as fo- § 2.º - Incumbe ao presidente da comissão designar seu secre-
lhas acrescidas. tário, que será um Escrivão de Polícia.
§ 3.º - Estará impedido de atuar na revisão quem tenha fun-
Artigo 119 – Quando na esfera administrativa houver notícia cionado no processo disciplinar de que resultou a punição do re-
de crime praticado por polícia civil, o Delegado Geral de Polícia, querente.
se não houver sido instaurado ainda o inquérito policial, determi-
nará a medida.
Artigo 127 – Recebido o pedido o presidente da Comissão
§ 1.º - Todo o procedimento de Polícia Judiciária instaurada
providenciará o apensamento do processo administrativo e notifi-
contra servidor policial, deverá ser imediatamente comunicado
cará o requerente para, no prazo de 8 (oito) dias, juntar as provas
pela autoridade que preside, pela via hierárquica ao Delegado Ge-
que tiver ou indicar as que pretenda produzir, oferecendo o rol de
ral de Polícia.
testemunhas, se for o caso.
§ 2.º - A autoridade policial, pelas vias hierárquicas, comuni-
Parágrafo único – Nas fases de instrução e de decisão será
cará, de imediato, ao Delegado Geral de Polícia toda irregularida-
de administrativa praticada por policial civil de que, por qualquer observado o procedimento previsto nesta lei complementar, para
meio, tiver conhecimento. o processo disciplinar.
Artigo 120 – É defeso fornecer à imprensa ou a qualquer ou- Artigo 128 – Se a revisão for julgada procedente, será reduzi-
tros meios de divulgação notas sobre os atos processuais, salvo no da ou cancelada a penalidade aplicada ao requerente, restabelecen-
interesse da administração, a juízo do Delegado Geral de Polícia. do-se todos os direitos atingidos pela decisão reformada.
Artigo 121 – Não será declarada a nulidade de nenhum ato CAPÍTULO XIII
processual que não houver influído na apuração da verdade subs- Das Disposições Gerais e Finais
tancial ou diretamente na decisão do processo ou sindicância.
Artigo 129 – Vetado
CAPÍTULO XI
Da Revisão do Processo Disciplinar Artigo 130 – Contar-se-ão por dias corridos os prazos previs-
tos nesta lei complementar.
Artigo 122 – Dar-se-á revisão de processo findo mediante re- Parágrafo único – Computam-se os prazos excluindo o dia do
curso do punido, quando: começo e incluindo o do vencimento, prorrogando-se este, quando
I – a decisão houver sido proferida contra expressa disposição incidir em sábado, domingo, feriado ou facultativo, para o primei-
legal; ro dia útil seguinte.
II – a decisão for contrária à evidência da prova colhida nos
autos; Artigo 131 – Compete ao Órgão Setorial de Recursos Huma-
III – a decisão se fundar em depoimentos, exames, perícias, nos da Polícia Civil, o planejamento, a coordenação, a orientação
vistorias ou documentos comprovadamente falsos; técnica e o controle, sempre em integração com o órgão central das
IV – surgirem, após a decisão, provas de inocência do punido; atividades de administração do pessoal policial civil.
V – ocorrer circunstâncias que autorize o abrandamento da
pena aplicada. Artigo 132 – O Estado fornecerá aos policiais civis, arma, mu-
§ 1.º - Os pedidos que não se fundarem nos casos enumerados nição, algema e distintivo, quando for necessária ao exercício de
no artigo serão indeferidos “in limine”. suas funções.
Artigo 135 – Aplicam-se ao funcionários policiais civis, no LEI COMPLEMENTAR 922, DE 2 DE JULHO DE 2002
que não conflitar com esta lei complementar as disposições da Lei
nº 199, de 1.º de dezembro de 1948, do Decreto-lei nº 141, de 24 de Altera a Lei Complementar nº 207, de 5 de janeiro de 1979
julho de 1969, da Lei nº 10.261, de 28 de outubro de 1968, da Lei - Lei Orgânica da Polícia do Estado de São Paulo, e dá outras
nº 122, de 17 de outubro de 1975, da Lei Complementar nº 180, providências correlatas.
de 12 de maio de 1978, bem como o regime de pensão instituído
pela Lei nº 4.832, de 4 de setembro de 1958, com suas alterações O GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO:
posteriores. Faço saber que a Assembleia Legislativa decreta e eu promul-
go a seguinte lei complementar:
Artigo 136 – Esta lei complementar aplicar-se, nas mesmas
bases, termos e condições aos inativos. Artigo 1º - Passam a vigorar com a seguinte redação os dispo-
sitivos adiante enumerados da Lei Complementar nº 207, de 5 de
Artigo 137 – As despesas decorrentes da aplicação desta lei janeiro de 1979:
complementar, correrão à conta de créditos suplementares que I - os artigos 55, 56 e 57:
o Poder Executivo fica autorizado a abrir, até o limite de Cr$ “Artigo 55 - É assegurado a qualquer pessoa, física ou jurídi-
270.000.000,00 (duzentos e setenta milhões de cruzeiros). ca, independentemente de pagamento, o direito de petição contra
Parágrafo único – O valor do crédito autorizado neste artigo ilegalidade ou abuso de poder e para defesa de direitos.(NR)
será coberto com recursos de que trata o artigo 43 da Lei federal nº Parágrafo único - Em nenhuma hipótese, a Administração po-
4.320 de 17 de março de 1964. derá recusar-se a protocolar, encaminhar ou apreciar a petição, sob
pena de responsabilidade do agente.(NR)
Artigo 138 – Esta lei complementar e suas disposições tran- Artigo 56 - Qualquer pessoa poderá reclamar sobre abuso,
sitórias entrarão em vigor em 1.º de março de 1979 revogadas as erro, omissão ou conduta incompatível no serviço policial.(NR)
disposições em contrário, especialmente a Lei nº 7.626, de 6 de Artigo 57 - Ao policial civil é assegurado o direito de requerer
dezembro de 1962, o Decreto-lei nº 156, de 8 de outubro de 1969, ou representar, bem como, nos termos desta lei complementar, pe-
bem como a alínea “a” do inciso III do artigo 64 e o artigo 182, dir reconsideração e recorrer de decisões.”(NR);
ambos da Lei Complementar nº 180, de 12 de maio de 1978. II - o artigo 70, passando o CAPÍTULO IX a denominar-se
“Das Penalidades, da Extinção da Punibilidade e das Providências
Das Disposições Transitórias Preliminares”(NR):
“Artigo 70 - Para a aplicação das penas previstas no artigo 67
Artigo 1.º - Somente se aplicará esta lei complementar às in- são competentes:
frações disciplinares praticadas na vigência da lei anterior, quando: I - o Governador; (NR)
I – o fato não for considerado infração disciplinar; II - o Secretário da Segurança Pública; (NR)
II – de qualquer forma, for mais branda a pena cominada. III - o Delegado Geral de Polícia, até a de suspensão; (NR)
IV - o Delegado de Polícia Diretor da Corregedoria, até a de
Artigo 2.º - Os processos em curso, quando da entrada em suspensão limitada a 60 (sessenta) dias; (NR)
vigor desta lei complementar, obedecerão ao rito processual esta- V - os Delegados de Polícia Corregedores Auxiliares, até a de
belecido pela legislação anterior. repreensão. (NR)
§ 1º - Compete exclusivamente ao Governador do Estado, a
Artigo 3.º - Os atuais cargos de Delegado de Polícia Substituto aplicação das penas de demissão, demissão a bem do serviço pú-
serão extintos na vacância. blico e cassação de aposentadoria ou disponibilidade a Delegado
Parágrafo único – Os ocupantes dos cargos que alude este ar- de Polícia. (NR)
tigo, serão inscritos nos concursos de ingresso na carreira de De- § 2º - Compete às autoridades enumeradas neste artigo, até
legado de Polícia. o inciso III, inclusive, a aplicação de pena a Delegado de Polícia.
(NR)
Artigo 4.º - Vetado. § 3º - Para o exercício da competência prevista nos incisos I e
II será ouvido o órgão de consultoria jurídica.(NR)
Artigo 5.º - Vetado. § 4º - Para a aplicação da pena prevista no artigo 68 é compe-
Parágrafo único – Vetado tente o Delegado Geral de Polícia.”(NR);
III - o artigo 80:
Artigo 6.º - Vetado “Artigo 80 - Extingue-se a punibilidade pela prescrição:
vetado; I - da falta sujeita à pena de advertência, repreensão, multa ou
vetado; suspensão, em 2 (dois) anos;(NR)
vetado; II - da falta sujeita à pena de demissão, demissão a bem do
vetado. serviço público e de cassação da aposentadoria ou disponibilidade,
em 5 (cinco) anos;(NR)
Artigo 14 - Na promoção por antiguidade, apurada pelo tempo Artigo 19 - As listas dos policiais civis indicados à promoção
de efetivo exercício na classe, computado até a data que antecede por antiguidade e merecimento, esta última disposta em ordem al-
a abertura do respectivo processo, o empate na classificação final fabética, serão publicadas no Diário Oficial do Estado, no prazo
resolver-se-á observada a seguinte ordem: máximo de 15 (quinze) dias, a partir da data da portaria de instau-
I - maior tempo de serviço na respectiva carreira; ração do respectivo processo.
II - maior tempo de serviço público estadual; § 1º - Cabe reclamação, dentro do prazo de 5 (cinco) dias úteis
III - maior idade. a partir da publicação, dirigida ao Presidente do Conselho, contra
a classificação na lista de antiguidade ou não indicação na lista de
Artigo 15 - A promoção por merecimento depende do preen-
chimento dos requisitos e de avaliação do merecimento. merecimento.
§ 1º - Para fins de promoção a que se refere o “caput” deste § 2º - Findo o prazo, as reclamações serão distribuídas me-
artigo, além do interstício de que trata o artigo 12 desta lei comple- diante rotatividade entre os membros do Conselho da Polícia Civil,
mentar, o policial civil deverá preencher os seguintes requisitos: que deverão emitir parecer no prazo improrrogável de 3 (três) dias
1 - estar na primeira metade da lista de classificação em sua úteis.
respectiva classe; § 3º - Esgotado o prazo a que se refere o § 2º deste artigo, as
2 - estar em efetivo exercício na Secretaria da Segurança Pú- reclamações serão submetidas à deliberação do Conselho da Polí-
blica, ou regularmente afastado para exercer cargo ou função; cia Civil, que as decidirá no prazo improrrogável de 3 (três) dias
3 - não ter sofrido punição disciplinar na qual tenha sido im- úteis.
posta pena de: § 4º - A decisão e a alteração das listas, se houver, serão publi-
a) advertência ou de repreensão, nos 12 (doze) meses ante- cadas no Diário Oficial do Estado.
riores; § 5º - Não caberá qualquer recurso contra a nova classificação.
Artigo 21 - Os casos omissos serão objeto de deliberação do Artigo 26 - Fica constituído grupo de trabalho integrado por
Conselho da Polícia Civil. representantes do Poder Executivo e Legislativo, com a finalidade
de avaliar as possibilidades de valorização das carreiras de Inves-
Artigo 22 - Além da promoção prevista no artigo 10 desta lei tigador de Polícia e Escrivão de Polícia, considerando a Lei Com-
complementar, o policial civil será promovido à classe superior, plementar nº 1.067, de 1º de dezembro de 2008, no prazo de 180
independente de limite, observados os seguintes critérios: (cento e oitenta) dias.
I - para a 2ª Classe da respectiva carreira, contar com 15 (quin-
ze) anos de efetivo exercício na carreira, considerado o tempo de Artigo 27 - Esta lei complementar e suas disposições transitó-
estágio probatório; rias aplicam-se, no que couber, aos ocupantes de funções ativida-
II - para a 1ª Classe da respectiva carreira, contar com 25 (vin- des, bem como aos inativos e pensionistas.
te e cinco) anos na referida carreira.
§ 1º - A promoção de que trata este artigo será realizada se- Artigo 28 - As despesas decorrentes desta lei complementar
mestralmente, nos meses de março e setembro de cada ano, e pro- correrão à conta das dotações próprias consignadas no orçamento
duzirá efeitos a partir da data subsequente ao implemento dos cri- da Secretaria da Segurança Pública, suplementadas, se necessário,
térios estabelecidos nos incisos I e II deste artigo. mediante utilização de recursos nos termos do § 1º do artigo 43 da
§ 2º - Caberá ao órgão setorial de recursos humanos apresentar Lei federal nº 4.320, de 17 de março de 1964.
a lista dos policiais civis com direito à promoção de que trata este
artigo, para homologação pelo Conselho da Polícia Civil. Artigo 29 - Esta lei complementar e suas disposições transitó-
rias entram em vigor na data de sua publicação, retroagindo seus
Artigo 23 - Atendidas as exigências previstas nesta lei com- efeitos a 1º de julho de 2011, exceto o artigo 25, que retroage seus
plementar, as promoções serão efetivadas por ato do Governador. efeitos a 1º de março de 2010, ficando revogados os artigos 5º a 14
da Lei Complementar nº 675, de 5 de junho de 1992.
Artigo 24 - Na vacância, os cargos das carreiras policiais civis
de 2ª Classe a Classe Especial retornarão à 3ª Classe da respectiva Disposições Transitórias
carreira.
Artigo 1º - Os atuais policiais civis de 4ª Classe terão seus
Artigo 25 - Os dispositivos adiante mencionados passam a vi- cargos enquadrados na 3ª Classe da respectiva carreira, mantida a
gorar com a seguinte redação: ordem de classificação.
§ 1º - O tempo de efetivo exercício no cargo de 4ª Classe será
I - a alínea “a” do inciso II do artigo 3º da Lei Complementar
computado para efeito de estágio probatório a que se refere o arti-
nº 696, de 18 de novembro de 1992, alterado pela Lei Complemen-
go 3º desta lei complementar.
tar nº 1.114, de 26 de maio de 2010:
§ 2º - Os títulos dos servidores abrangidos por este artigo se-
“Artigo 3º - Os valores do Adicional de Local de Exercício
rão apostilados pelas autoridades competentes.
ficam fixados na seguinte conformidade:
............................................................................ Artigo 2º - O provimento em cargos das carreiras de policiais
II - para o Local II: civis de candidatos aprovados em concursos públicos de ingresso,
a) R$ 1.575,00 (mil, quinhentos e setenta e cinco reais), para em andamento ou encerrado, cujo prazo de validade não tenha se
o Delegado Geral de Polícia, Superintendente da Polícia Técnico- expirado, dar-se-á em conformidade com o disposto no artigo 3º
-Científica e para as carreiras de Delegado de Polícia, Médico Le- desta lei complementar.
gista e Perito Criminal;” (NR); Parágrafo único - Os policiais civis que tenham concluído ou
II - os incisos I e II do artigo 4º da Lei Complementar nº 1.114, estejam frequentando o Curso Específico de Aperfeiçoamento ne-
de 26 de maio de 2010: cessário à promoção de 3ª Classe para 2ª Classe, e de 1ª Classe
“Artigo 4º - Quando a retribuição total mensal do policial civil para a Classe Especial, terão preferência para concorrer ao primei-
for inferior aos valores fixados neste artigo, será concedido abono ro processo de promoção que houver após a aprovação desta lei
complementar para que sua retribuição total mensal corresponda a complementar.
esses valores, na seguinte conformidade:
I - R$ 1.350,00 (mil, trezentos e cinquenta reais), para as Artigo 3º - O primeiro processo de promoção a que se refere o
carreiras de Investigador de Polícia, Escrivão de Polícia, Agen- artigo 22 desta lei complementar observará os critérios estabeleci-
te Policial, Carcereiro, Auxiliar de Papiloscopista Policial, Aten- dos de tempo de efetivo exercício na classe e na respectiva carreira
dente de Necrotério Policial, Papiloscopista Policial, Desenhista até a data que antecede a publicação desta lei complementar.
Técnico-Pericial, Auxiliar de Necropsia, Agente de Telecomunica- Parágrafo único - As promoções a que se refere o “caput” des-
ções Policial e Fotógrafo Técnico-Pericial, quando o policial civil te artigo produzirão efeitos a partir da vigência desta lei comple-
prestar serviços em município com população inferior a 500.000 mentar.
(quinhentos mil) habitantes;
II - R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais), para as carreiras de Palácio dos Bandeirantes, 25 de outubro de 2011
Investigador de Polícia, Escrivão de Polícia, Agente Policial, Car- GERALDO ALCKMIN
cereiro, Auxiliar de Papiloscopista Policial, Atendente de Necroté- Antônio Ferreira Pinto
rio Policial, Papiloscopista Policial, Desenhista Técnico-Pericial, Secretário da Segurança Pública
Art. 6º Cabe aos órgãos e entidades do poder público, obser- Art. 8º É dever dos órgãos e entidades públicas promover, in-
vadas as normas e procedimentos específicos aplicáveis, assegurar dependentemente de requerimentos, a divulgação em local de fácil
a: acesso, no âmbito de suas competências, de informações de inte-
I - gestão transparente da informação, propiciando amplo resse coletivo ou geral por eles produzidas ou custodiadas.
acesso a ela e sua divulgação; § 1º Na divulgação das informações a que se refere o caput,
II - proteção da informação, garantindo-se sua disponibilida- deverão constar, no mínimo:
de, autenticidade e integridade; e I - registro das competências e estrutura organizacional, en-
III - proteção da informação sigilosa e da informação pessoal, dereços e telefones das respectivas unidades e horários de atendi-
observada a sua disponibilidade, autenticidade, integridade e even- mento ao público;
tual restrição de acesso. II - registros de quaisquer repasses ou transferências de recur-
sos financeiros;
Art. 7º O acesso à informação de que trata esta Lei compreen- III - registros das despesas;
de, entre outros, os direitos de obter: IV - informações concernentes a procedimentos licitatórios,
I - orientação sobre os procedimentos para a consecução de inclusive os respectivos editais e resultados, bem como a todos os
acesso, bem como sobre o local onde poderá ser encontrada ou
contratos celebrados;
obtida a informação almejada;
V - dados gerais para o acompanhamento de programas,
II - informação contida em registros ou documentos, produ-
ações, projetos e obras de órgãos e entidades; e
zidos ou acumulados por seus órgãos ou entidades, recolhidos ou
VI - respostas a perguntas mais frequentes da sociedade.
não a arquivos públicos;
§ 2º Para cumprimento do disposto no caput, os órgãos e en-
III - informação produzida ou custodiada por pessoa física ou
tidades públicas deverão utilizar todos os meios e instrumentos
entidade privada decorrente de qualquer vínculo com seus órgãos
legítimos de que dispuserem, sendo obrigatória a divulgação em
ou entidades, mesmo que esse vínculo já tenha cessado;
IV - informação primária, íntegra, autêntica e atualizada; sítios oficiais da rede mundial de computadores (internet).
V - informação sobre atividades exercidas pelos órgãos e enti- § 3º Os sítios de que trata o § 2º deverão, na forma de regula-
dades, inclusive as relativas à sua política, organização e serviços; mento, atender, entre outros, aos seguintes requisitos:
VI - informação pertinente à administração do patrimônio pú- I - conter ferramenta de pesquisa de conteúdo que permita o
blico, utilização de recursos públicos, licitação, contratos admi- acesso à informação de forma objetiva, transparente, clara e em
nistrativos; e linguagem de fácil compreensão;
VII - informação relativa: II - possibilitar a gravação de relatórios em diversos formatos
a) à implementação, acompanhamento e resultados dos pro- eletrônicos, inclusive abertos e não proprietários, tais como plani-
gramas, projetos e ações dos órgãos e entidades públicas, bem lhas e texto, de modo a facilitar a análise das informações;
como metas e indicadores propostos; III - possibilitar o acesso automatizado por sistemas externos
b) ao resultado de inspeções, auditorias, prestações e tomadas em formatos abertos, estruturados e legíveis por máquina;
de contas realizadas pelos órgãos de controle interno e externo, IV - divulgar em detalhes os formatos utilizados para estrutu-
incluindo prestações de contas relativas a exercícios anteriores. ração da informação;
§ 1º O acesso à informação previsto no caput não compreende V - garantir a autenticidade e a integridade das informações
as informações referentes a projetos de pesquisa e desenvolvimen- disponíveis para acesso;
to científicos ou tecnológicos cujo sigilo seja imprescindível à se- VI - manter atualizadas as informações disponíveis para aces-
gurança da sociedade e do Estado. so;
§ 2º Quando não for autorizado acesso integral à informação VII - indicar local e instruções que permitam ao interessado
por ser ela parcialmente sigilosa, é assegurado o acesso à parte não comunicar-se, por via eletrônica ou telefônica, com o órgão ou en-
sigilosa por meio de certidão, extrato ou cópia com ocultação da tidade detentora do sítio; e
parte sob sigilo. VIII - adotar as medidas necessárias para garantir a acessibi-
§ 3º O direito de acesso aos documentos ou às informações lidade de conteúdo para pessoas com deficiência, nos termos do
neles contidas utilizados como fundamento da tomada de decisão art. 17 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000, e do art.
e do ato administrativo será assegurado com a edição do ato deci- 9o da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência,
sório respectivo. aprovada pelo Decreto Legislativo no 186, de 9 de julho de 2008.
Art. 10. Qualquer interessado poderá apresentar pedido de Art. 13. Quando se tratar de acesso à informação contida
acesso a informações aos órgãos e entidades referidos no art. 1o em documento cuja manipulação possa prejudicar sua integridade,
desta Lei, por qualquer meio legítimo, devendo o pedido conter deverá ser oferecida a consulta de cópia, com certificação de que
a identificação do requerente e a especificação da informação re- esta confere com o original.
querida. Parágrafo único. Na impossibilidade de obtenção de cópias, o
§ 1º Para o acesso a informações de interesse público, a identi- interessado poderá solicitar que, a suas expensas e sob supervisão
ficação do requerente não pode conter exigências que inviabilizem de servidor público, a reprodução seja feita por outro meio que não
a solicitação. ponha em risco a conservação do documento original.
§ 2º Os órgãos e entidades do poder público devem viabilizar
alternativa de encaminhamento de pedidos de acesso por meio de Art. 14. É direito do requerente obter o inteiro teor de decisão
seus sítios oficiais na internet. de negativa de acesso, por certidão ou cópia.
§ 3º São vedadas quaisquer exigências relativas aos motivos
determinantes da solicitação de informações de interesse público. Seção II
Dos Recursos
Art. 11. O órgão ou entidade pública deverá autorizar ou
conceder o acesso imediato à informação disponível. Art. 15. No caso de indeferimento de acesso a informações
§ 1º Não sendo possível conceder o acesso imediato, na forma ou às razões da negativa do acesso, poderá o interessado interpor
disposta no caput, o órgão ou entidade que receber o pedido deve-
recurso contra a decisão no prazo de 10 (dez) dias a contar da sua
rá, em prazo não superior a 20 (vinte) dias:
ciência.
I - comunicar a data, local e modo para se realizar a consulta,
Parágrafo único. O recurso será dirigido à autoridade hierar-
efetuar a reprodução ou obter a certidão;
II - indicar as razões de fato ou de direito da recusa, total ou quicamente superior à que exarou a decisão impugnada, que deve-
parcial, do acesso pretendido; ou rá se manifestar no prazo de 5 (cinco) dias.
III - comunicar que não possui a informação, indicar, se for do
seu conhecimento, o órgão ou a entidade que a detém, ou, ainda, Art. 16. Negado o acesso a informação pelos órgãos ou enti-
remeter o requerimento a esse órgão ou entidade, cientificando o dades do Poder Executivo Federal, o requerente poderá recorrer à
interessado da remessa de seu pedido de informação. Controladoria-Geral da União, que deliberará no prazo de 5 (cin-
§ 2º O prazo referido no § 1o poderá ser prorrogado por mais co) dias se:
10 (dez) dias, mediante justificativa expressa, da qual será cienti- I - o acesso à informação não classificada como sigilosa for
ficado o requerente. negado;
§ 3º Sem prejuízo da segurança e da proteção das informações II - a decisão de negativa de acesso à informação total ou
e do cumprimento da legislação aplicável, o órgão ou entidade po- parcialmente classificada como sigilosa não indicar a autoridade
derá oferecer meios para que o próprio requerente possa pesquisar classificadora ou a hierarquicamente superior a quem possa ser di-
a informação de que necessitar. rigido pedido de acesso ou desclassificação;
Artigo 40 - Os documentos sigilosos em sua expedição e tra- Artigo 47 - Os agentes públicos responsáveis pela guarda ou
mitação obedecerão às seguintes prescrições: custódia de documentos sigilosos os transmitirão a seus substitu-
I - deverão ser registrados no momento de sua produção, prio- tos, devidamente conferidos, quando da passagem ou transferência
ritariamente em sistema informatizado de gestão arquivística de de responsabilidade.
documentos;
II - serão acondicionados em envelopes duplos; SUBSEÇÃO II
III - no envelope externo não constará qualquer indicação do Da Marcação
grau de sigilo ou do teor do documento;
IV - o envelope interno será fechado, lacrado e expedido me- Artigo 48 - O grau de sigilo será indicado em todas as páginas
diante relação de remessa, que indicará, necessariamente, reme- do documento, nas capas e nas cópias, se houver, pelo produtor do
tente, destinatário, número de registro e o grau de sigilo do docu-
documento, dado ou informação, após classificação, ou pelo agen-
mento;
te classificador que juntar a ele documento ou informação com
V - para os documentos sigilosos digitais deverão ser observa-
alguma restrição de acesso.
das as prescrições referentes à criptografia.
§ 1º - Os documentos, dados ou informações cujas partes con-
Artigo 41 - A expedição, tramitação e entrega de documen- tenham diferentes níveis de restrição de acesso devem receber di-
to ultrassecreto e secreto, deverá ser efetuadas pessoalmente, por ferentes marcações, mas no seu todo, será tratado nos termos de
agente público credenciado, sendo vedada a sua postagem. seu grau de sigilo mais elevado.
Parágrafo único - A comunicação de informação de natureza § 2º - A marcação será feita em local que não comprometa a
ultrassecreta e secreta, de outra forma que não a prescrita no “ca- leitura e compreensão do conteúdo do documento e em local que
put” deste artigo, só será permitida excepcionalmente e em casos possibilite sua reprodução em eventuais cópias.
extremos, que requeiram tramitação e solução imediatas, em aten- § 3º - As páginas serão numeradas seguidamente, devendo a
dimento ao princípio da oportunidade e considerados os interesses juntada ser precedida de termo próprio consignando o número total
da segurança da sociedade e do Estado, utilizando-se o adequado de folhas acrescidas ao documento.
meio de criptografia. § 4º - A marcação deverá ser necessariamente datada.
Artigo 42 - A expedição de documento reservado poderá ser Artigo 49 - A marcação em extratos de documentos, esboços,
feita mediante serviço postal, com opção de registro, mensageiro desenhos, fotografias, imagens digitais, multimídia, negativos,
oficialmente designado, sistema de encomendas ou, quando for o diapositivos, mapas, cartas e fotocartas obedecerá ao prescrito no
caso, mala diplomática. artigo 48 deste decreto.
Palácio dos Bandeirantes, 16 de maio de 2012 05. CESPE - 2013 - ANTT - Analista Administrativo
GERALDO ALCKMIN Tendo em vista que a Lei de Acesso à Informação é um
instrumento que auxilia o exercício de um direito constitucio-
Questionário: nal dos cidadãos, o de acesso às informações públicas, julgue
os itens a seguir.
01. Nos termos do que dispõe a Lei Federal n.º 12.527/2011 O acesso à informação, contida em documento cuja mani-
(Lei de Acesso à Informação), quando se tratar de acesso à in- pulação possa prejudicar sua integridade deverá ser feito por
formação contida em documento cuja manipulação possa pre- cópia com certificação de que confere com o original.
judicar sua integridade, ( ) Certo ( ) Errado
ANOTAÇÕES —————————————————————————
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Prof. Adriano Augusto Placidino Gonçalves me) e do grego logos (tratado ou estudo), seria portanto o “estudo
do crime”. É uma ciência empírica e interdisciplinar. É empírica,
Graduado pela Faculdade de Direito da Alta Paulista – FA- pois baseia-se na experiência da observação, nos fatos e na prática,
DAP. mais que em opiniões e argumentos. É interdisciplinar e portanto
Advogado regularmente inscrito na OAB/SP formada pelo diálogo de uma série de ciências e disciplinas, tais
como a biologia, a psicopatologia, a sociologia, a política, a antro-
pologia, o direito, a criminalística, a filosofia e outros.
A Criminologia é uma visão de 360° sobre os seus objetos,
3.1 FUNDAMENTOS TEÓRICOS. não apenas uma visão de “Ser contra” ou a “Favor” de uma pu-
3.2 ETAPAS EVOLUTIVAS DO PENSAMEN- nição, desenvolvendo linhas de raciocínio e ultrapassando a linha
TO CRIMINOLÓGICO do senso comum. Trabalha com dados de fatos passados e não é
conclusiva, dando subsídios as ciências penais.
Objetos:
A criminologia é ciência moderna, sendo um modo específico - Ser Humano e sua imprevisibilidade.
e qualificado de conhecimento e uma sistematização do saber de - O Infrator.
várias disciplinas. A partir da experimentação desse saber multi- - As determinantes endógenas e exógenas.
disciplinar surgem teorias (um corpo de conceitos sistematizados - A Vítima.
que permitem conhecer um dado domínio da realidade). - O Controle Social.
Enquanto ciência, a criminologia possui objeto próprio e um
rigor metodológico (método) que inclui a necessidade de experi- Métodos:
mentação, a possibilidade de refutação de suas teorias e a cons- - Empirismo.
ciência da transitoriedade de seus postulados. Ainda que interdis- - Interdisciplinaridade (Sociologia, Psicologia, Ciências Exa-
ciplinar é também ciência autônoma, não se confundindo com ne- tas, etc).
nhuma das áreas que contribuem para a sua formação e sem deixar - Trabalha com fatos sociais e individuais.
considerar o jogo dialético da realidade social como um todo.
Objeto da criminologia é o crime, o criminoso (que é o su- Quando nasceu, a criminologia tratava de explicar a origem da
jeito que se envolve numa situação criminógena de onde deriva o delinquência, utilizando o método das ciências, o esquema causal e
crime), os mecanismos de controle social (formais e informais) explicativo, ou seja, buscava a causa do efeito produzido. Pensou-
que atuam sobre o crime; e, a vítima (que às vezes pode ter inclu- -se que erradicando a causa se eliminaria o efeito, como se fosse
sive certa culpa no evento). suficiente fechar as maternidades para o controle da natalidade.
A relevância da criminologia reside no fato de que não existe Academicamente a Criminologia começa com a publicação
sociedade sem crime. Ela contribui para o crescimento do conheci- da obra de Cesare Lombroso chamad “L’Uomo Delinquente”, em
mento científico com uma abordagem adequada do fenômeno cri- 1876. Sua tese principal era a do delinquente nato.
minal. O fato de ser ciência não significa que ela esteja alheia a sua Já existiram várias tendências causais na criminologia. Ba-
função na sociedade. Muito pelo contrário, ela filia-se ao princípio seado em Rousseau, a criminologia deveria procurar a causa do
de justiça social. delito na sociedade, baseado em Lombroso, para erradicar o delito
Os estudos em criminologia têm como finalidade, entre outros deveríamos encontrar a eventual causa no próprio delinquente e
aspectos, determinar a etiologia do crime, fazer uma análise da não no meio. Um extremo que procura as causas de toda crimina-
personalidade e conduta do criminoso para que se possa puni-lo lidade na sociedade e o outro, organicista, investigava o arquétipo
de forma justa (que é uma preocupação da criminologia e não do do criminoso nato (um delinquente com determinados traços mor-
Direito Penal), identificar as causas determinantes do fenômeno fológicos).
criminógeno, auxiliar na prevenção da criminalidade; e permitir a Isoladamente, tanto as tendências sociológicas, quanto as or-
ressocialização do delinquente. gânicas fracassaram. Hoje em dia fala-se no elemento bio-psico-
Os estudos em criminologia se dividem em dois ramos que -social. Volta a tomar força os estudos de endocrinologia, que as-
não são independentes, mas sim interdependentes. Temos de um sociam a agressividade do delinquente à testosterona (hormônio
lado a Criminologia Clínica (bioantropológica), esta utiliza-se do masculino), os estudos de genética ao tentar identificar no genoma
método individual, (particular, análise de casos, biológico, experi- humano um possível “gene da criminalidade”, juntamente com os
mental), que envolve a indução. De outro lado vemos a Crimino- transtornos da violência urbana, de guerra, da fome, etc.
logia Penal (sociológica), esta utiliza-se do método estatístico (de De qualquer forma, a criminologia transita pelas teorias que
grupo, estatístico, sociológico, histórico) que enfatiza o procedi- buscam analisar o crime, a criminalidade, o criminoso e a víti-
mento de dedução. ma. Passa pela sociologia, pela psicopatologia, psicologia, religião
(nos casos de crimes satânicos), antropologia, política, enfim, a
Neste contexto, podemos definir a criminologia como um criminologia habita o universo da ação humana.
conjunto de conhecimentos que se ocupa do crime, da criminali- Como em outras ciências, também em criminologia se tem
dade e suas causas, da vítima, do controle social do ato criminoso, tentado eliminar o conceito de “causa”, substituindo-o pela ideia
bem como da personalidade do criminoso e da maneira de resso- de “fator”. Isso implica no reconhecimento de não apenas uma
cializá-lo. Etmologicamente o termo deriva do latim crimino (cri- causa, mas, sobretudo, de fatores que possam desencadear o efeito
criminoso (fatores biológicos, psíquicos, sociais...). Uma das fun-
Didatismo e Conhecimento 1
CRIMINOLOGIA
ções principais da criminologia é estabelecer uma relação estreita fez um estudo comparativo entre delinquentes encarcerados e ci-
entre três disciplinas consideradas fundamentais: a psicopatologia, dadãos respeitadores das leis, chegando à conclusão de que não
o direito penal e a ciência político-criminal. existem os chamados “tipos criminais” com disposição inata para
Outra atribuição da criminologia é, por exemplo, elaborar o crime. Na França, Montesquieu procurou relacionar o comporta-
uma série de teorias e hipóteses sobre as razões para o aumento de mento criminoso com o ambiente natural e físico. Por outro lado,
um determinado delito. Os criminólogos se encarregam de dar esse os estudiosos ligados aos movimentos socialistas têm considerado
tipo de informação a quem elabora a política criminal, os quais, o delito como um efeito derivado das necessidades da pobreza.
por sua vez, idealizarão soluções, proporão leis, etc. Esta última Outros teóricos relacionam a criminalidade com o estado geral da
etapa se faz através do direito penal. Posteriormente, outra vez cultura, sobretudo pelo impacto desencadeado pelas crises econô-
mais o criminólogo avaliará o impacto produzido por essa nova micas, as guerras, as revoluções e o sentimento generalizado de
lei na criminalidade. insegurança e desproteção derivados de tais fenômenos. No século
Interessam ao criminólogo as causas e os motivos para o fato XX, destacam-se as teorias elaboradas por psicólogos e psiquia-
delituoso. Normalmente ele procura fazer um diagnóstico do crime tras, que indicam que cerca de um quarto da população reclusa é
e uma tipologia do criminoso, assim como uma classificação do composta por psicóticos, neuróticos ou pessoas instáveis emocio-
delito cometido. Essas causas e motivos abrangem desde avaliação nalmente, e outro quarto padece de deficiências mentais. A maioria
do entorno prévio ao crime, os antecedentes vivenciais e emocio- dos especialistas, porém, está mais inclinada a assumir as teorias
nais do delinquente, até a motivação pragmática para o crime. do fator múltiplo, de que o delito surge como consequência de um
Define-se também, em regra como sendo o estudo do crime conjunto de conflitos e influências biológicas, psicológicas, cultu-
e do criminoso, isto é: criminalidade. A Criminologia, o estudo rais, econômicas e políticas.
do crime e dos criminosos, dentro de um recorte causal, explica- Ao lado do desenvolvimento das teorias sobre as causas do
tivo, informado de elementos naturalísticos (psicofísicos). Não é delito, são estudados vários modelos correcionais. Assim, a antiga
uma ciência independente, mas atrelada à Sociologia, à apreciação teoria teológica e moral entendia o castigo como uma retribuição à
científica da organização da sociedade humana. Ao lado da Socio- sociedade pelo mal cometido. Jeremy Bentham procurou que hou-
logia, se mostra numa condição de contrastante de ‘‘uma das mais vesse uma relação mais precisa entre castigo e delito e insistia na
jovens e uma das mais velhas ciências’’ fixação de penas definidas e inflexíveis para cada classe de crime,
Jovem e livre até da rotulação relativamente recente do res- de tal forma que a dor da pena superasse apenas um pouco o prazer
pectivo vocábulo, um termo híbrido, por Augusto Comte, do latim do delito. No princípio do século XX, a escola neoclássica rejeita-
va as penas fixas e propunha que as sentenças variassem em fun-
socius, amigo ou companheiro, e do grego logos, ciência. Velha,
ção das circunstâncias concretas do delito, como a idade, o nível
uma vez que a análise da vida gregária dos seres humanos já era
intelectual e o estado psicológico do delinquente. A chamada esco-
praticada de vários modos pela Antropologia, bem antes de sua
la italiana outorgava às medidas preventivas do delito mais impor-
aparição no panorama cultural.
tância do que às destinadas a reprimi-lo. As tentativas modernas
Não é tarefa fácil para a Criminologia lidar com a delinquên-
de tratamento dos delinquentes devem quase tudo à psiquiatria e
cia constantemente sofisticada, assim como com a violência, que
aos métodos de estudo aplicados a casos concretos. A atitude dos
hoje se banalizou. Para ficar mais a par do itinerário, e dos atalhos,
cientistas contemporâneos é de que os delinquentes são indivíduos
que conduzem ao delito, sobretudo nos agregados sociais urba- e sua reabilitação só poderá ser alcançada através de tratamentos
nos de densa população, a Criminologia precisa traçar uma tática individuais e específicos.
eficaz. A criminologia, não trata unicamente da pessoa humana, Entretanto, há na ciência, Criminologia, já um acervo com que
porque o homem é o agente do ato antissocial, mas sobre este se deve contar, para ir em demanda das novas rotas que se nos
agente existem várias causas e muitas ainda desconhecidas, que deparam. E esse acervo já vem sendo colhido em longas décadas
modificarão o caráter essencialmente humano ou antropológico de estudo e de meditação, armazenando largos cabedais que cons-
do fenômeno. A criminologia é e deve ser considerada de acordo tituem uma bibliografia inumerável, na qual, ao lado de muito joio,
com a maioria dos estudiosos do assunto, uma ciência pré-jurídica, excelentes contribuições se podem contar. Todavia, alguns menos
sua matéria de estudos é o homem, o seu viver social, suas ações, ansiosos por avançar sempre na procura da solução de múltiplas
toda sua evolução, como espécie e como indivíduo. Para um es- incógnitas que ainda nos enfrentam, creem desde logo de assentar
tudo completo de criminologia devemos estudar tanto a filosofia, a Criminologia em bases suficientemente estáveis.
sociologia, psicologia, e a ética. Esta última, que vai à base moral O crime apresenta uma transformação, ou ampliação, que de
da humanidade, daí deve-se entender melhor o que é essa Moral; uma forma aceitavelmente denominada “normal”, se projeta hoje
pois o Código Penal apoia-se sobre a moral. para configurações que poderiam ser consideradas “anormais”.
Esta ciência social que estuda a natureza, a extensão e as cau- Apenas se deve ponderar que essa atual anormalidade assim se
sas do crime, possui dois objetivos básicos: a determinação de cau- nos apresenta por não terem podido estar os gabaritos normativos
sas, tanto pessoais como sociais, do comportamento criminoso e o acompanhando sempre as transformações psico-sociais que a épo-
desenvolvimento de princípios válidos para o controle social do ca atual oferece, dada à tumultuosa evolução dos sistemas de vida
delito. Desde o século XVIII, são formuladas várias teorias cien- e das colisões sociais. E daí desde logo nos apresenta um dos pro-
tíficas para explicar as causas do delito. O médico alemão Franz blemas básicos da Criminologia: é que ela se desenvolveu a partir
Joseph Gall procurou relacionar a estrutura cerebral com as incli- do Direito Criminal, mas, por assim dizer, disciplinada, ou jungi-
nações criminosas. No final do século XIX, o criminologista Ce- da, às condições penais e, ainda, demarcada, em seus horizontes,
sare Lombroso afirmava que os delitos são cometidos por aqueles por uma finalidade que ia mais às situações pós-delituais, e avança
que nascem com certos traços físicos hereditários reconhecíveis, preferentemente para os aspectos punitivos e, depois, recuperados
teoria refutada no começo do século XX por Charles Goring, que do delinquente.
Didatismo e Conhecimento 2
CRIMINOLOGIA
Desta sorte, há uma Criminologia ainda hoje definida como a Biotipologia criminal. E a cada passo, novas esperanças, mas
um ramo subsidiário do Direito Penal, e que serviria mais para a acompanhadas do reconhecimento de que era mister da Psiquiatria
correta aplicação desse mesmo Direito; visaria ela ilustrá-lo com forense, a então recente concepção freudiana, mais euforia domi-
os conhecimentos que se foram adquirindo quanto à pessoa do cri- nou o campo da criminogênese - e a Psicanálise criminal dava a
minoso, às condições do crime dentro da dinâmica delituosa e da entender que tudo estava resolvido a partir de então.
eventual motivação do ato antissocial, inclusive pela incorporação O que estava a se verificar era o entusiasmo que cada “pílula
da vitimologia hoje de tanta nomeada nos círculos científicos. científica”, cada nova fresta entreaberta, parecia anunciar-se como
Tratar-se-á de uma Criminologia que se poderá denominar fórmula final para a solução da incógnita criminogenética. Mas, a
de pragmática e que, na escala do conhecimento, sempre defini- cada nova esperança, depois se verificava que nem tudo estava re-
da como sendo de posição pré-jurídica. A partir dos Códigos, e solvido, e que só mais um ângulo, de abertura estreita, no caminho
atendendo ao seu espírito, busca essa Criminologia oferecer ao cada vez mais longo da via causal do delito. E como já foi dito,
aplicador da Lei os meios mais efetivos e esclarecidos para que o novas pílulas foram se acrescendo, até à diencefalose, criminóge-
cumprimento dos dispositivos penais se torne mais cientificamente na, até aos conjuntos cromossômicos aberrantes (XYX, XXY etc.),
apoiado e informado. até às indagações citoquímicas, enzimáticas, até... aonde puderem
Nessa mesma ordem de aplicação científica dos conheci- ser levadas as observações mais agudas de campos cada vez mais
mentos criminológicos se situou o nosso sábio legislador de 1940 miúdos e estreitos.
quando, no já citado artigo 42 do Código Penal, ainda vigente, Mas desde logo se percebe que a solução bio-criminogenética
preceituou que o Juiz, para aplicar a pena, deverá atender “aos é um dédalo em que se tem perdido a ânsia de resolver o problema
antecedentes e à personalidade do agente, à intensidade do dolo apenas por esse lado. E, ademais, desde logo se verificou que só
ou grau da culpa, aos motivos, às circunstâncias e consequências o exame do “uomo delinqüente” não bastava, visto que ele era
do crime”. também produto do meio. E a Sociologia se aplicou também aos
Aí estão, pois, as vias da Criminologia pragmática, auxiliar estudos criminogenéticos, dando origem á Sociologia Criminal,
do Direito, para assessorá-lo, em matéria de sua competência, e que se arrogava, por sua vez, a pretensão de Ter em si a solução
visando a personalização do tratamento penal. Como nem sempre sempre tão ambicionada. Já vinha, aliás, de Platão, este pensamen-
se pode realizar este exame do delinquente antes do julgamento, to precursor, “atribuindo os crimes à falta de educação dos cida-
dãos e má organização do Estado”, como lembrava oportunamente
momento esse que seria idealmente o ótimo pra o levar a efeito,
Afrânio Peixoto, em sua “Criminologia”. Com Durkhein, Ferri,
e como é determinado pela Lei, segundo ficou registrado, quando
Lacassagne, Tarde, Turati, Bataglia, Lafargue, Bebel... desenvol-
menos deve essa análise do criminoso ser posta de triagem sufi-
veu-se esta escola que opunha, ao falar biológico, a gênese social
cientemente capaz de apreciar a pluridimensional personalidade
dos delitos. E houve, incrivelmente, um dissídio que pretendeu,
do agente antissocial. E dessa análise deverá surgir a orientação
cada um do seu lado, impor a conclusão de que o fator mesológico,
a seguir no tratamento, para melhor perspectiva de êxito do mes-
ou o fator biológico, é que determinava prevalentemente o crime.
mo, desde que bem adequado à personalidade do delinquente e
Só mais tarde, e agora mais lucidamente, é que veio a prevale-
às várias opções que se ofereçam dentro do sistema penitenciário cer o princípio de uma globalização de todos os chamados fatores
existente. criminogenéticos que, num caso, podem oferecer predomínio da
Além desta Criminologia pragmática, ainda e sempre ao lado influência mesológica, num outro caso, podem apontar a biologia
do Direito, para servi-lo nas suas indagações sobre a criminogê- como sobressalente, e, em muitos outros, se verificava certa equi-
nese dos fatos delituosos, poder-se-á colocar a Criminologia espe- valência na atuação de tais fatores. Mas sempre se reconhecendo,
culativa, causal da genética, que teria uma posição para-jurídica, em todos os casos, a presença de ambos esses fatores, como desde
cuidando da grande ambição de todos os criminólogos, ou seja, de Ferri, já se fazia patente. Daí resultou, até, uma classificação de
indagar e identificar as causas da criminalidade. criminosos, que tem feito sucesso, e que é absolutamente natural
É a grande meta que os estudos criminogenéticos têm como em sua formulação.
alvo e que, se acaso lá pudéssemos aportar, nos levaria, quiçá, um Mesmo quando muito se haja batendo neste caudal das pos-
dia, a poder aplicar, com total sucesso, o velho preceito, que dita: síveis causas do delito, tanto no campo da biologia, quanto no da
“sublata causa tollitur effectus” ideal fagueiro dos estudos crimi- mesologia, ainda devemos confessar que a gênese delitual conti-
nológicos, mas que tem sido ainda a miragem fugidia de todas as nua a oferecer pontos penumbrosos. De onde, as palavras de Ro-
esperanças causal-explicativas do delito. berto Lyra Filho.
Recorde-se, ainda uma vez, que, inicialmente, houve a fase É que não há fatores específicos para o crime, que o venham a
biológica estricta; a Somatologia criminal, com os seus tipos lom- ocasionar dentro de um determinismo irreversível - nem do ponto
brosianos, pretendeu fornecer a primeira chave para abrir a incóg- de vista endógeno, nem dentro do ângulo exógeno. Essa identifi-
nita criminogenética, chegando-se até à abstração do criminoso cação de causas específicas, como se fossem sintomas patagno-
nato, que não chegou a vingar. Recolhidos os contributos desta mônicos, era a grande ambição do lombrosianismo, para desde
fase, prosseguiram as esperanças quando se iniciou a era endocri- logo caracterizar os criminosos. Ao início de sua carreira, tinha o
nológica, de que nos dá informação assaz completa a monumental sábio de Turim essa visão: “um periodista francês, Laveleye, que
obra de Mariano Ruiz-Funes, Mestre espanhol que, na Faculdade o conheceu neste estágio de sua crítica científica, registrou a se-
de Direito da Universidade de São Paulo, proferiu o curso “En- guinte impressão sobre o emérito investigador, tocada de laivos
docrinologia Y criminalidad”, de 1929, que marcou época pela de ironia:” Apresentaram-me esta noite um jovem sábio desconhe-
amplitude e segurança de seus conceitos. Esta fase funcional das cido, chamado Lombroso; fala de cenas caracteres pelos quais se
endocrinias, por vez, deu ensejo à concepção biotipológica, já in- poderia reconhecer facilmente o delinquente. Que útil e cômoda
tegrada do tipo humano vivente, e que logo se desenvolveu para descoberta para os juizes de instrução...
Didatismo e Conhecimento 3
CRIMINOLOGIA
Buscava-se, então, a solução de um problema de conduta hu- os fatores bio-mesológicos, que procuram explicar a gênese crimi-
mana sem atentar holisticamente para o autor desse tal comporta- nosa, são de apreciação criminológica estrita; ao passo que o fator
mento. Não só a disputa de primazias bio ou mesológicas, como ético, onde se insere a condição que procura justificar a origem do
também, e principalmente, a exclusão do núcleo ético da perso- delito, só pode ser apreciada pela capacidade do Juiz. Daí, surge
nalidade, entre os núcleos de geração do ato antissocial, levaram aquela distinção do Prof. López-Rey Y Arrojo, ao recordar que se
a decepções no campo da caracterização naturalística das causas deve distinguir precisamente entre o que tende a explicar, daquilo
do delito. E só mais moderadamente se volvem as mentes dos cri- que pode justificar uma conduta antissocial. Se escusável, ou não,
minólogos para uma conceituação mais globalizadora da gênese só o Juiz pode decidir, mas para tanto, deverá ele atender às causas
delital, incluindo todos os elementos com que se deve contar: os aferíveis que podem explicar porque a deliberação humana tenha
chamados fatores criminogenéticos, e também os fundamentos sido mais ou menos comprometida pela influência dos fatores cri-
éticos da personalidade, sobre os quais agem exatamente aqueles minogenéticos endo e exógenos; e até que o ponto ético teria sido
fatores. O “cientificismo” (expressão com que se busca denominar consensual com a prática criminosa.
a falsa posição de uma ciência daltônica que não sabe ver senão Por isso, e para isso mesmo, deve ser considerada também, ao
o seu estreito espectro de visada) deve-se curvar à evidência de lado da Criminologia pragmática (pré-jurídica) e da Criminologia
que, se podemos falar, como dizia Di Túllio e, fatores crimino-im- especulativa (para-jurídica), uma Criminologia crítica ou, melhor,
pelentes, devemos também reconhecer, por parte daquele núcleo dialética, ao estilo do que o propõe Roberto Lyra Filho, a cuja po-
ético, a existência de fatores crimino-repelentes. O ato antissocial sição seria de colocação metajurídica. Esta Criminologia dialética
só resultará se, à ação dos ditos falares que impelem para o cri- deve propor a si mesma um estudo das mutações do conceito so-
me, se somar à ação consensual do núcleo ético da pessoa sobre cial da vida humana. Se voltarmos ao início destas considerações,
a qual eles agem. Daí que é necessário não nos fixarmos somente e nos recordarmos de que há uma criminalidade nova, devemos
na Biologia criminal e na Sociologia criminal, olvidando que, em consequentemente ter a decisão de rever os valores sociais, éticos e
cada pessoa, o que realmente a caracteriza como ser humano é a jurídicos, em face da sociedade tecnocrática em que ingressamos,
existência, ainda e sempre vigente, de um arbítrio. Não é ele livre para buscar as formas adequadas para uma reformulação, inclusive
na existência do homem, como o é era sua essência: mas é sempre, estrutural, das condições anuais da vida humana.
em certa medida capaz de enfrentar a ação dos fatores crimino- Evidentemente, a tripartição da Criminologia em seções, prag-
genéticos, E porque, às vezes, cede é que se faz mister julgar o mática (pré-jurídica), especulativa (para-jurídica) e dialética (me-
homem inteligentemente, a fim de saber até onde e como agiram tajurídica), não quererá significar, de forma alguma, que haja uma
os referidos fatores, e até que medida e de maneira o núcleo moral separação estanque entre esses departamentos; antes, eles se entro-
consentiu, ou se dobrou, à ação dos ditos fatores. sam e entre si estabelecem uma linha de plena fusão. Apenas, em
O reconhecimento de uma avaliação globalizante das condi- graus sucessivos, procura-se ampliar progressivamente o estudo e
ções personalíssimas de cada criminoso, em razão desse conjunto o conhecimento da dificílima e ampla ciência que é a Criminolo-
ora referido, leva a um neo-ecletismo penal. Assim, só será válida gia, para chegar até a formulação de princípios que solucionem os
a retornada da gênese criminal se, às causas endo e exógenas, sou- intrincados problemas da vida contemporânea e prevejam as pos-
bermos anexar o núcleo sobre o qual elas agem, ou seja, a essência síveis rotas a seguir para uma prevenção mais efetiva dos conflitos
ética da personalidade, sem cuja consideração a criminogênese humanos, profilaxia essa que é o alvo supremo das cogitações, e
clássica, ou ortodoxa, cairá na decepção de que nos falava Afrânio que deve pretender chegar até às próprias estruturas e valores fun-
Peixoto. Como entender a ação de fatores criminogenéticos sem damentais, a fim de advertir quanto à conveniência ou necessidade
os coligar à pessoa humana, e ao núcleo dessa pessoa no qual, en- de se realizar as mudanças possíveis e indicadas para se avançar
fim, se delibera? Atualmente, tomadas mais humildes, e sábias, por no objetivo de uma Justiça Social mais efetiva. E só a partir de
isso, as pretensões criminogenéticas naturalísticas, pode-se passar uma base que considere realisticamente, mais instruidamente, os
àquele neo-ecletismo penal, em que, como causas, se escalonam as fatos fundamentais da vida humana hodierna, com todas as suas
ambientais, as bio-psíquicas e as éticas (ou volitivas, em termos de especificações mais compreensivas da conduta dos homens, e não
deliberação, ou de arbítrio). ficar só na obsessão de saber como lutar mais efetivamente contra
Então, só se podendo caracterizar o ratio crime se, aos fatores o delito já praticado, em termos de penitenciariarismo, suposta-
endo e exógenos, se associar o fato ético, esta tripeça, bio-psiquis- mente ressocializante. Assim, se fará a macro-criminologia de que
mo, mesologia e anuência ética, deverá ser considerada como o nos fala, sábia e oportunamente, usando expressões trazidas das
conjunto indispensável para se poder falar em delito, em seu senti- Ciências Econômicas, Roberto Lyra Filho, indo, então, mais além
do mais exato, científico e compreensivo de um complexo pessoal da micro-criminologia que se atém ao âmbito de estudo apenas do
que só assim se constitui completamente. crime e do criminoso.
É desse fato fundamental, mas que se tem mantido sem a de- No que se refere à Criminologia especulativa, sem dúvida al-
vida conotação consciente de seus elementos constitutivos, que guma, necessita-se do seu estudo pormenorizado, fazendo sentir
decorre o neo-ecletismo penal, o qual proclama estas verdades ba- quantas informações úteis se recolhem na análise pluridimensio-
silares, sem as quais a Criminologia nunca alcançará uma formula- nal que busca das causas do delito, não só em sentido casuísti-
ção mais inteligente a adequada das suas postulações. co, e em perspectiva globalizadora, em fluxo analítico-sintético,
Desde que integremos estas noções, de que, na gênese cri- como também em sentido de generalização dos conceitos que daí
minal, devem ser considerados os falares bio e mesológicos, e decorreram, desse conhecimento individualizado, para prudentes
também o falar ético leva-nos a admitir, todavia, uma separação considerações gerais. Dentro desse estudo, outrossim, é necessário
das capacidades que podem apreciar e decidir sobre a forma de deixar bem patente que cada delinquente deve ser considerado em
atuação e sobre a ordenação dos seus respectivos valores. É que seu contorno situacional, de modo a permitir uma avaliação dos fa-
Didatismo e Conhecimento 4
CRIMINOLOGIA
tores que possam explicar a sua conduta, e daqueles que a possam uma prisão que não corrompa, que não destrua mais o que deve
justificar, ou não. Ou seja, sopesar ambos os campos em que se de- reconstruir. E este último alvo é, sem dúvida, possível, para os le-
senvolve a atuação humana, o daquele que sofre a ação dos fatores gítimos penalistas, cônscios, em verdade, da ciência a que servem.
bio-psicológicos e sociais, e o daquele em que se manifesta o fator E enfim, fale-se em tratamento, sempre como alvo que se su-
deliberativo, em razão do arbítrio, à luz da ética exigível dentro do cede ao conhecimento da personalidade e ao reconhecimento das
“mínimo de moral” que se espera para a conduta humana. suas possíveis falhas, deficiências ou defeitos.
Por fim, no que se projeta dentro do campo imenso e intensa- Ainda dentro desse tratamento, deve-se considerar o seu papel
mente sedutor da Criminologia dialética, há que ensejar um amplo disciplinador, ou seja, criar ou desenvolver no delinquente a ne-
debate em busca, ansiosa e plena de inquietude interrogativa, do cessidade basilar de integrar, em sua maneira de ser, uma estrutura
quanto se possa vislumbrar dentro da avaliação epistemológica do disciplinatória de todas as suas vivências, tomando-as sintônicas
que, em verdade, possa continuar a ser admitido e respeitado, e do com a convivência, obrigatória, a que somos levados pela própria
quanto se deva ciente e conscientemente entender objeto de modi- natureza da nossa vida social.
ficação, de reformulação. Disciplina, outrossim, não quer significar despersonalização,
É evidente que, por sua mesma posição de ciência auxiliar amolgamento da vontade, submissão passiva a outrem, e coisas
do Direito, a Criminologia só poderá ir ao ponto de oferecer a sua desse tipo. Com disciplina quer-se significar a conjugação daquilo
colaboração, sem pretender dogmatizar, o que seja uma atitude, que somos, em todos os nossos atributos e prerrogativas, com a
aliás, contrária ao espírito íntimo dessa disciplina especulativa e necessidade da convivência, que sempre impõe necessárias limi-
de investigação científica. Mas, se for válida esta atitude, estudar tações e normas. O que define uma sociedade é justamente uma
mais afincadamente esta Ciência Criminológica, para poder ofere- unidade de ordem, que põe sentido, pragmatismo e possibilidade
cer uma cooperação cada vez mais instruída e idônea, e sacar dela de sobrevivência, de todo um grupo, mas que não pode abolir ne-
prestimosas conclusões. cessariamente a personalidade de cada um, antes até lhe dá condi-
Recorde-se que a referida definição assim soa: pena é “o tra- ções de preservação e permanência. Sem essa unidade de ordem, a
tamento compulsório ressocializante, personalizado e indetermi- vida seria insuportável e o caos social só seria de esperar. E aquilo
nado”. que se poderia entender como liberdade individual, sempre tão ar-
Retira-se dessa definição um conceito acolhedor da mais atu- dorosamente defendida, até além dos seus convenientes limites,
alizada doutrina neo-eclética, iniciando-se por caracterizar a pena desapareceria, envolvida a pessoa no turbilhão em que não poderia
como tratamento. A introdução dessa expressão, hoje de livre cur- sequer sobreviver. Daí que a unidade de ordem é indispensável à
so para os próprios jus-penalistas, desde logo dá a demonstração própria liberdade, garantindo-a, ainda que disciplinando-a.
de como a influência médico-psicológica foi levada avante e com Disciplinado, em que sentido? No de união, conjugação, coo-
plena aceitação, em certos aspectos, pelos cultores do Direito. Nos peração de esforços e de sacrifícios para o bem comum. Sem esse
nossos dias, já não causa espécie o emprego dessa palavra, que traz princípio, a liberdade seria licenciosidade, a pessoa passando a ser
em seu bojo um conteúdo de índole médica, antropológica, clínica. uma vítima da solidão que essa própria liberdade então imporia,
Fala-se, pois, em tratamento como um processo a que deve ser pois que viver em sociedade é, essencialmente, conviver (com
submetido o criminoso e que visa corrigir os defeitos, que possa equivale a junto, e conviver significa viver junto).
haver apresentado em sua personalidade. É claro que o termo até Essa disciplina social precisa ser ensinada e reestruturada em
ultrapassa, de muito, o que em si mesmo quereria traduzir, desde cada criminoso. O seu crime nada mais é do que um ato, afinal, de
que esse tratamento às vezes em nada será médico, podendo ser indisciplina. É mister que o ensino do respeito e da integração des-
apenas pedagógico, ou social. E sempre deverá admitir parâmetros sa disciplina social seja ministrado subjetiva e objetivamente ao
jurídico-penais sob os quais ainda e sempre deve permanecer a delinquente. E até com um cuidado muito zeloso, eis que o crimi-
aplicação da Justiça, segundo o venho defendendo dentro do neo- noso, ao deixar a prisão, certamente vai encontrar uma sociedade
-ecletismo penal. diversa daquela que ele deixou ao iniciar o cumprimento da pena, e
Assim, tratamento será a pena, dentro do amplo conceito ora isso devido ao vertiginoso desenvolvimento da era presente. Des-
expendido, em que entra a atividade médica propriamente dita, ta forma, acompanhando esse desenvolvimento, é indispensável
mas em que, ao lado dela, entra também a pedagogia, o cultivo que o regime penitenciário coloque com o devido cuidado e com
de uma profissão e que a pessoa humana tem de considerar, como a necessária sapiência um sistema disciplinar que prepare o delin-
“animal gregário” que é, e que lhe impõe o estabelecimento dessa quente a compreender que, sem aquelas limitações indispensáveis
Inter-relação. E isso deve assim ocorrer para que o ser humano, no para a manutenção desse regime de convivência, sem essa obriga-
conjunto complexo da sua personalidade, seja deveras tratado lá tória disciplina, ao voltar ao convívio social, este lhe imporá, como
onde o exigir a frincha que permitiu a maior influência crimino- resultante da sua própria essência, aquelas e até novas limitações.
-impelente, seja essa debilidade de ordem somático, fisiológico ou Esse regime disciplinar começa por impor ao criminoso um
cultural, além de ética. tratamento compulsório, isto é, um regime que não é adotado es-
A prática tem demonstrado que a “prisão não cura, corrompe”, pontaneamente, mas que se é obrigado a aceitar e a seguir. Haverá
segundo a frase feita que já corre mundo. Mas se a prisão ainda aí um certo ressabio aflitivo, e até retribuitivo. Mas não há mal
assim se apresenta, é apenas porque ela não se deixou embeber do algum em que se mantenha, na dose adequada, esse caráter tam-
seu legítimo sentido e da sua verdadeira meta. bém, desde que, enfim, o criminoso é submetido a esse tratamento
Para que a distorção do tratamento não venha a ocorrer na pri- a partir de um ato antissocial que praticou, em que foram feridos
são, levando-a para a perversão moral, é que tanto se está lutando interesses, valores, normas, de importância para a manutenção da
no campo da doutrina para iluminar uma prática mais sadia. E o comunidade. E até hoje existe uma corrente que tende para uma
que aqui se vem dizendo, quanto ao tratamento, visa exatamente revisão do excesso de liberalidade em termos de regime peniten-
Didatismo e Conhecimento 5
CRIMINOLOGIA
ciário, com uma também excessiva preocupação com o welfare of É bem claro que não deve ser permitido exagero nesse campo,
the offender, como se só o bem-estar do delinquente importasse e aliás como em nenhum outro. Não é rigorosamente necessário que
fosse o motivo e a razão de ser dos sistemas penitenciários. Esta se pormenorize um só tratamento, e exclusivo, para cada um dos
preocupação mereceu um justo reparo por parte do Prof.López- criminosos. De fato, ainda como para os doentes, a terapêutica dis-
-Rey Y Arrojo, que não deixou de criticar esse erro em colocar põe de meios que abrangem grupos humanos com caracteres afins.
tanta ênfase naquilo que deve ser apenas um dos aspectos a consi- Há grupos que podem receber um tratamento basicamente comum
derar no regime prisional, mas não o principal, nem o essencial. E a todos os seus integrantes. Daí que sempre se cogitou de estabe-
que não pode fazer descuidar o que é primordial, que será sempre a lecer classificações penitenciadas dos criminosos, para ensejar um
recomposição de uma personalidade, inclusive pela compreensão agrupamento de delinquentes de características assimiláveis, para
que ela deva integrar quanto ao erro cometido, pelo qual deve res- serem enviadas a estabelecimentos de determinado tipo.
ponder moralmente também. E então, neste neo-ecletismo penal Na prática, é admissível, porque necessário, que se façam es-
que deve prevalecer nas modernas perspectivas da Criminologia, tes grupos de tipos afins. Mas não se creia que essa seja a maneira
não se pode descartar uma retomada de posição quanto a estas im- ideal de enfrentar e resolver o problema terapêutico penal, desde
plicações éticas do tratamento penitenciário, no qual se deve me- que, bem no âmago dos fatos, está o ser humano, único em seu
nosprezar o campo moral do problema, em termos de tratamento. perfil e na sua colocação perante a circunstância ambiental.
Há aqui toda uma infinita problemática penitenciária, que Como, todavia, será impraticável uma distribuição dos delin-
dependerá das possibilidades efetivas de cada país e região; mas quentes indo até uma personalização assim tão exclusiva, é ad-
sempre se devendo manter uma certa segurança e atenção para mitida a divisão dos estabelecimentos penais em diversos tipos,
com o tipo especial de população com que se vai lidar, sem nos dentro dos quais se enquadrarão, mais ou menos de acordo com
deixar seduzir por facilitações generosas, mas imprudentes, e sem os seus perfis individuais, os diversos tipos de personalizados de
deixarmos de considerar que, no início de tudo, sempre se par- criminosos.
te de uma ação antissocial praticada, cuja responsabilidade moral Mas não se deixe de dizer que, feita a triagem de acordo com
cabe a, quem a efetivou, sem excusa bastante para ela, como o as várias possibilidades que se ofereçam á administração peniten-
julgamento o deve haver definido. Nunca os regimes penitenciá- ciária, e enviados os criminosos para os vários tipos de estabeleci-
rios devem assumir liberalidades excessivas, e até às vezes anun- mentos mais adequados às suas características pessoais, em cada
ciadas quase com excesso, que toca as raias de uma espécie de um desses estabelecimentos poder-se-á, e se deverá, ir mais longe
propaganda. Recentemente, o noticiário dos canais de televisão
na personalização, a partir dos grandes grupos considerados.
deu conhecimento de suas penitenciárias que se projetam em cida-
De um ponto de vista ético, todavia, não deve se afastar esse
des do Interior de São Paulo, com tantas vantagens para o welfare
tratamento: deve ele dar ao criminoso, sem que assim ele se sinta
of the offender (piscinas, quadras de vários esportes, enxadrismo,
deprimido, ou deformado, ou mesmo sensibilizado, a noção da ne-
cinema, TV, etc.) que o locutor de um dos canais, causticamente,
cessidade da sua recuperação moral, desde que o ponto de partida
comentou: o problema que está surgindo é o número excessivo
da sua ação agressiva contra a sociedade se reconheceu sempre
de telefonemas para essas cidades, de numerosos interessados em
no animus que pôs ao serviço da mentalidade criminosa de que
saber o que é necessário realizar para se ingressar e obter vagas
nessas instituições... se deixou assenhorear o seu espírito. Tudo o mais que se possa
A justiça, que hoje vê bem e julga melhor, deve cercar-se de fazer do ponto de vista médico, psicológico, pedagógico em um
serenidade, competência e profundo conhecimento, para saber o enfoque holístico, enfim, ressocializante, deve-se apoiar na base
que deve ser feito de melhor, mas sempre com a extrema serie- de uma sólida, tão sólida quanto possível, reconstrução ética da
dade, que a superioridade da sua posição de suprema sabedoria e sua personalidade. Se não houver a mudança da mente (a meta-
equanimidade deve saber atender e impor. Não é conveniente esse noia, dos gregos), se não houver a sideração da vontade no sentido
caráter que, às vezes, assume uma inautêntica ciência penitenciá- de se robustecer a âmago anímico da personalidade, tudo o mais
ria, de uma pieguice falsa e quase consensual com o delito e o de- pode entrar em falência, pode a qualquer momento ser, de novo,
linquente. O tratamento deve visar o reforço da intimidade anímica submetido às forças crímino-impelentes e por elas dominado, e a
do criminoso, robustecendo caracteres, e não alagando os autores reincidência se manifestar.
de condutas que já foram agressivas para a sociedade, e que se Portanto, dê-se a ênfase maior na reeducação e no fortaleci-
necessita evitar que reincidam na cedência da vontade. E, para tan- mento do núcleo moral da personalidade; ou seja, daquele núcleo
to, use-se a compreensão, o auxílio, a filantropia, o real interesse que é o que define exatamente a natureza humana de que somos
em tudo fazer para recuperar o criminoso, mas não se desvirtue a participantes. A partir daí, então, dê-se ao tratamento todo o conte-
rota a seguir por falsas imagens que se afastem da realidade crua údo de um processo reeducativo, recuperador, ressocializante, indo
da disciplina social e de suas correspondentes responsabilidade. alcançar todos os ângulos da personalidade e mirando a volta de
O tratamento deveria buscar a reeducação (correção do caminho delinquente ao convívio social, com todas as implicações que daí
a seguir). decorrem, inclusive, e principalmente, a atenção que deva ser dada
A personalização da pena foi uma das conquistas mais efeti- aos deveres sociais e à integração de uma pessoa na comunidade; o
vas do positivismo penal e decorre diretamente da Antropologia que importa era receber logo estímulos vários para agir de maneira
Criminal. Foi a demonstração, feita a partir de Lombroso, de que agressiva, antissocial e criminosa, aos quais é dever resistir.
se deve enfocar o criminoso em seus caracteres pessoais, diversos Ora, uma corrente de penalistas e criminologistas há muito
em cada indivíduo, quer do ponto de vista biológico, quer ainda vem reclamando de situação semelhante para a aplicação das pe-
das influências mesológicas que haja recebido, o que levou a tentar nas, naquilo que se denomina de pena indeterminada. De fato, um
um tratamento adequado a cada um desses tipos personalizados de tratamento penal deverá ser aplicado até o momento em que um
criminosos. mínimo de recuperação haja sido obtido, compatível com a volta
Didatismo e Conhecimento 6
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do criminoso ao convívio social. Passar daí, é arriscar-se em per- Deixar de dar, entretanto, toda a ênfase que merece este nú-
der o que se haja alcançado. A doutrina tem repetido, com carradas cleo Moral do ser humano é incidir num erro fundamental, visto
de razão, que, tanto as penas de curta duração, quanto aquelas de que a explicação científica da gênese do delito não afasta a neces-
longa duração, são prejudiciais para a pessoa do delinquente. Ora, sidade de se enfocar este outro aspecto da questão, que, no homem,
desde logo se deduz que essa duração deverá ser idealmente aquela é primordial.
que leve o indivíduo a obter aquele ótimo de recuperação, nem A forma de atender às necessidades morais da criatura huma-
antes, e nem depois. E, assim, estabelecer-se-ia condições para um na tem sido apanágio do ensino religioso; e este ensino tem sido
melhor resultado final. facultado nas instituições penitenciárias com ampla liberdade de
Dois óbices têm sido levantados contra esse ideal da pena crença. Ao lado dele, entretanto, complementando-o e abrindo a
indeterminada: um decorrente ainda de um remanescente espírito visão para campos mais amplos, deve-se dar toda a oportunidade
retributivo, que deseja para uma espécie de crimes, uma pena mais à instrução moral e cívica, de largo horizonte, o que não exclui,
severa que para outras espécies de delitos; o outro óbice provém como disse, a prática do culto religioso, mas que abrange inclusive
de uma ideia, a ser corrigida, de que a execução penal passada, das os que não se declaram religiosos, ou tenham apenas parcas no-
mãos do Juiz, para as mãos do técnico. ções sobre as suas crenças.
Quanto ao primeiro desses argumentos contrários à pena in-
determinada, deve-se informar que o tipo de delito praticado nem
sempre corresponde à deformação da personalidade ocorrida no 3.3 MODELOS TEÓRICOS DE
criminoso; às vezes, sim, desde logo se tem uma noção de gravi- NATUREZA BIOLÓGICA, PSICOLÓGICA
dade do comprometimento dessa personalidade, como ocorre na E SOCIOLÓGICA
hediondez de certos crimes; mas pode acontecer o contrário, isto
é, de um pequeno delito seja, todavia, a primeira manifestação de
uma personalidade bastante agressiva.
Justifica-se plenamente que a pena indeterminada seja dotada Parte das reflexões e das pesquisas sobre aquilo que hoje de-
nas nossas leis penais, desde que atendidos os pontos fundamen- signamos de comportamentos desviantes, delinquentes ou crimi-
tais anteriormente referidos, ou seja: que a sua indeterminação nosos, consoante as perspectivas teóricas, tem-se traduzido numa
não fique fora da competência judicante, a qual deliberará sobre a única e simples questão: por que motivo, ou motivos, alguns indi-
extinção da medida punitiva, desde que proposta pelos auxiliares víduos parecem mais predispostos que outros ao cometimento de
técnicos do Juiz. delitos?
Na realidade, a pena fixa é contrária à boa recuperação dos As respostas têm variado consoante as épocas históricas e
criminosos, ao marcar limites artificiais à mesma, e apenas decor- o manancial de conhecimentos teóricos e empíricos disponível.
rentes da quantidade do delito praticado. E deixando de lado a per- Num primeiro momento, os comportamentos delinquentes foram
sonalidade do réu, e sua capacidade de recuperação ético-social, explicados através do recurso a fatores externos aos homens, mas
mesmo quando esteja em vigência o artigo 42 do Código Penal, de alguma forma inexplicáveis, uma vez que foram remetidos para
até hoje não atendido adequadamente quanto “aos antecedentes e as causas sobrenaturais subjacentes a todo o tipo de eventos e de
à personalidade do agente, à intensidade do dolo ou grau da culpa, comportamentos.
aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime”. Os comportamentos delinquentes, e as suas causas e as suas
Não fique sem dizer que, também na apreciação criminoló- relações, eram simplesmente atribuídos à ação de deuses ou outros
gico-clínica do delinquente, deve entrar em cogitação a natureza poderes sobrenaturais.
do delito praticado; é um dos elementos centrais que informa a Num segundo momento, os comportamentos delinquentes
observação do criminoso. passaram a ser explicados através do recurso a fatores internos
Mesmo que fossem aceitos e praticados estes preceitos, sem- ou, melhor dizendo, a qualidades intrínsecas a alguns indivíduos,
pre caberá plenamente a manutenção da liberdade condicional, mesmo que relativamente abstratas, como a maldade, a imorali-
para os que hajam estado segregados do convívio social. E isto dade, o egoísmo ou a desonestidade. Embora ainda persistissem
porque ela representa, nos dizeres de Flamínio Fávero, a convales- explicações de natureza externa, essencialmente sobrenaturais, a
cença penal, isto é, aquele período de prova em que se verifica se o percepção de que alguns seres humanos transportavam em si uma
delinquente já se encontra efetivamente em condições de conviver incapacidade para se conformar às exigências das sociedades mo-
em sociedade de maneira sintônica, e não agressiva. dernas, intrinsecamente justas e racionais, começou a tornar-se
O neo-ecletismo penal pretende dar todo o valor, que é in- preponderante.
constante, à evolução da Criminologia Clínica e na investigação Num terceiro momento, já dominado por paradigmas cientí-
científica das causas da criminalidade, até onde elas possam ser ficos ou “positivos”, os comportamentos delinquentes passaram a
rastreadas e reconhecidas. Mas quer reivindicar a necessidade de ser explicados através do recurso a características biológicas, psi-
se valorizar a atenção para os aspectos morais do ente humano, que cológicas ou sociais específicas e passíveis de serem facilmente
devem ser devidamente computados: observadas e medidas.
- para a indispensável avaliação da responsabilidade moral Ao longo deste percurso, apenas um pressuposto se manteve
pelo ato praticado, em termos de uma justificação, ou não, de tal inalterado. Quem se envolve em delitos é, necessariamente, dife-
ato; rente, e só essa diferença, seja ela biológica, psicológica ou social,
- para o reaparelhamento do núcleo moral do delinquente, a permite explicar, e eventualmente prever e prevenir, os comporta-
fim de aumentar-lhe as resistências futuras aos falares crímino-im- mentos delinquentes. Este pressuposto marcou todas as reflexões
pelentes que no porvir venham a agir de novo sobre o indivíduo. teóricas que foram desenvolvidas até quase ao final do século XX.
Didatismo e Conhecimento 7
CRIMINOLOGIA
No campo da biologia, por exemplo, a diferença foi remetida A obstinada busca de causas explicativas do agir criminoso
para atavismos que se manifestavam, quer a um nível intelectual, em oposição às condutas conforme a lei, somente poderia resul-
quer a um nível físico. Até pelo menos ao final da segunda gran- tar na negação do “livre arbítrio”, apontado até então pela Escola
de guerra mundial, os atavismos foram concebidos como sendo Clássica como verdadeiro fundamento legitimador da responsabi-
hereditários, concepção que legitimou, entre outras práticas «pre- lidade criminal.
ventivas», o isolamento dos “criminosos” ou a sua esterilização É claro que a noção de livre arbítrio não poderia servir a uma
forçada, por forma a que não se pudessem reproduzir, e, no limite, concepção positivista, pois que ensejava um total descontrole e
a sua eliminação física. imprevisibilidade quanto às práticas criminosas. A postura positi-
No campo da psicologia, a diferença foi remetida, quase inva- vista não se coaduna com tal insegurança. Deseja apropriar-se de
riavelmente, para a questão da personalidade e dos seus diferentes um conhecimento que propicie o domínio seguro de leis constantes
traços, o que sustentou toda uma série de estudos e de programas a regerem o mundo e, por que não, o comportamento humano,
de tratamento e de adaptação forçada da personalidade, imatura, inclusive aquele desviado.
impulsiva ou agressiva, do delinquente, às características e às exi- A consequência imediata foi a consideração do criminoso
gências da vida em sociedade. como um “anormal”. A partir daí, bastaria dotar o pesquisador de
A própria sociologia não escapou a este pressuposto. Os de- instrumentos hábeis a selecionar, de forma científica, os crimino-
linquentes foram quase sempre conceptualizados como sendo dife- sos (anormais), em meio à população humana aparentemente ho-
rentes, mesmo que essa diferença se situasse nas diferentes tensões mogênea ou normal.
ou pressões sociais exercidas sobre alguns grupos sociais, e tal O primeiro grande passo dado por um pesquisador nesse sen-
motivou todo um conjunto de programas de redução dessas ten- tido foi a doutrina preconizada por Cesare Lombroso, destacando-
sões ou pressões como principal estratégia de prevenção de com- -se a publicação de sua conhecida obra “O homem Delinquente”,
portamentos delinquentes. em 1876.
O grande marco a inaugurar verdadeiramente os estudos cri- Lombroso entendia ser possível detectar no criminoso uma es-
minológicos encontra-se no surgimento do Positivismo e, mais pécie diferente de “homo sapiens”, o qual apresentaria determina-
especificamente, da chamada “Antropologia Criminal”. Nessa dos sinais, denominados “stigmata”, de natureza física e psíquica.
ocasião opera-se uma mudança singular no que diz respeito ao Esses sinais caracterizariam o chamado “criminoso nato” (forma
objeto das preocupações da ciência criminal. Enquanto a Escola da calota craniana e da face, dimensões do crânio, maxilar inferior
Clássica Liberal preocupava-se com o estudo dos postulados jurí- procidente, sobrancelhas fartas, molares muito salientes, orelhas
grandes e deformadas, corpo assimétrico, grande envergadura dos
dico - penais, procurando desenvolver uma formulação teórico —
braços, mãos e pés, pouca sensibilidade à dor, crueldade, levianda-
dogmática do Direito Penal, o advento da Antropologia Criminal
de, tendência à superstição, precocidade sexual etc.). Todos esses
propicia uma alteração de perspectiva, voltando os olhos da pes-
sinais indicariam um “regresso atávico”, tendo em conta sua clara
quisa científico — criminal para o estudo do fenômeno do crime e,
aproximação com as formas humanas primitivas. Ademais, Lom-
especialmente, da figura do criminoso.
broso intentou demonstrar uma ligação entre a epilepsia e aquilo
O Positivismo exerce grande influência na conformação dessa
que chamava de “insanidade moral”.
nova postura, pois que defende a irradiação do método científico
Percebe-se claramente o conteúdo determinista das teorias
para todas as áreas do saber humano, até mesmo às da filosofia e lombrosianas, o qual conduziria a importantes conclusões e conse-
da religião. Nesse contexto, o Direito e especificamente o ramo quências para a Política Criminal.
jurídico — criminal, também passaram a sofrer influências impor- Ora, se o criminoso estava exposto à conduta desviada forço-
tantíssimas desse referencial teórico então dominante. samente, tendo em vista uma congênita predisposição, seria injus-
O Positivismo Jurídico aproxima o Direito, o quanto possível, to atribuir-lhe qualquer reprovação que fosse ligada ao desvalor de
ao método das ciências naturais, objetivando limitá-lo àquilo que suas escolhas quanto à sua conduta, isso pelo simples motivo de
tenha de concreto, observável, passível de mensuração e descrição. que não atuava por sua livre escolha, mas sim dirigido por forças
Por isso é que seu resultado acaba sendo a limitação do Direito naturais irresistíveis a impeli-lo para os mais diversos atos crimi-
às normas legais, evitando a consideração de fatores axiológicos, nosos. Assim sendo, jamais poderia ser exposto a apenações mo-
metafísicos etc. rais e infamantes. Não obstante, sendo as práticas criminosas com-
O afastamento rigoroso das questões que não fossem subsu- ponentes indissociáveis de sua personalidade, estaria a sociedade
miveis ao método de experimentação científico, ensejou, no bojo legitimada a defender-se, impondo-lhe desde a prisão perpétua até
das ciências criminais, o nascimento da busca de relações e regras a pena de morte.
constantes que tivessem a capacidade de esclarecer o fenômeno da A doutrina lombrosiana, no entanto, foi grandemente critica-
criminalidade. da e desmentida por estudos ulteriores que comprovaram a ine-
E daí dessa efervescência exsurge a Criminologia, desse entu- xistência de indícios seguros a demonstrarem qualquer diferença
siasmo pelo método científico, dando destaque nunca antes cons- fisiológica, física ou psíquica entre homens que perpetraram atos
tatado ao estudo do homem criminoso e à pesquisa das causas da criminosos e indivíduos cumpridores da lei.
delinquência. Não obstante, deve ser atribuído a Lombroso o mérito de ser
Em meio a esse clima, a criminalidade somente poderia ser o primeiro a impulsionar os estudos que dariam origem à Crimi-
estudada com sustentação em dados empíricos ofertados pela de- nologia. Ele iniciou, com a sua Antropologia Criminal, os estudos
monstração experimental de leis naturais seguras e imutáveis. do homem delinquente, razão pela qual tem sido considerado o
O criminoso passa a ser objeto de estudo, uma fonte de pes- verdadeiro “Pai da Criminologia”. A partir dele começam os mais
quisas e experimentos com vistas à descoberta científica das cau- diversos campos de pesquisa de elementos endógenos capazes de
sas do fenômeno criminal. ocasionarem o comportamento criminoso.
Didatismo e Conhecimento 8
CRIMINOLOGIA
Inúmeras investigações científicas nos mais variados campos Portanto, o desvio é funcional, somente tornando-se perigoso
das ciências naturais e biológicas lograram conformar um conjun- ao exceder certos limites toleráveis. Em tais circunstâncias pode
to de teorias elucidativas do fenômeno criminal. A esse conjunto eclodir um estado de desorganização e anarquia, no qual todo o or-
costuma-se denominar “Criminologia Clínica”. denamento normativo perde sua efetividade. Não emergindo disso
Pode-se exemplificar essa corrente criminológica com alguns um novo ordenamento a substituir aquele que ruiu, passa-se a uma
de seus ramos mais destacados: Biologia Criminal, Criminologia situação de carência absoluta de normas ou regras, ficando a con-
Genética, Psiquiatria Criminal, Psicologia Criminal, Endocrinolo- duta humana à margem de qualquer orientação. A isso Durkheim
gia Criminal, Estudos das Toxicomanias etc. dá o nome de “anomia”, efetiva causadora de desagregação e de-
Todas essas linhas de pesquisa têm como traço comum a bus- terioração social.
ca de uma explicação etiológica endógena do crime e do homem O conceito de “anomia” e o reconhecimento da funcionali-
criminoso. Procura-se apontar uma causa da conduta criminosa dade do crime no meio social produzem uma revolução quanto
que estaria no próprio homem, enquanto alguma forma de anor- às finalidades e fundamentos da pena, vez que estes já não devem
malidade física e/ou psíquica. Também todas essas teorias apre- mais ser buscados na fantasiosa profilaxia de um suposto mal. Ou-
sentam um equívoco comum: pretendem explicar isoladamente o tra formulação teórica relevante de matiz estrutural-funcionalista
complexo fenômeno da criminalidade. deve-se a Robert Merton. Ele se apropria do conceito de “anomia”
Em contraposição à “Criminologia Clínica”, surge a denomi- para demonstrar que o desvio não passa de um produto da pró-
nada “Criminologia Sociológica”, tendo como seu mais destaca- pria estrutura social. Portanto, absolutamente normal, consideran-
do representante Enrico Ferri. A “Criminologia Sociológica” pro- do que esta própria estrutura é que vem a compelir o indivíduo
põe uma revisão crítica da “Criminologia Clínica”, pondo a des- à conduta desviante. Merton expõe detalhadamente o mecanismo
coberto que a insistência desta nas causas endógenas da criminali- estrutural que conduz o indivíduo ao crime no seio social: a so-
dade, olvidava as importantes influências ambientais ou exógenas ciedade apresenta-lhe metas, mas não lhe disponibiliza os meios
para a gênese do crime. Aliás, para os defensores da “Criminologia necessários para o seu alcance legal. O indivíduo perde suas refe-
Sociológica”, as causas preponderantes da criminalidade seriam rências, sentindo-se abandonado sem possibilidades “normais” de
mesmo ambientais ou exógenas, de forma que mais relevante do conseguir seus objetivos. Sem os meios legais, mas pressionado
que perquirir as características do homem criminoso, seria identi- para a conquista de certos objetivos sociais, o indivíduo precisa
ficar o meio criminógeno em que ele se encontra. preencher esse vácuo (anomia) de alguma maneira. E a única ma-
No entanto, a “Criminologia Sociológica” em nada inova no neira disponível será a perseguição dos fins colimados por meios
ilegítimos, ilegais e desviantes, uma vez que os legítimos não estão
que tange à postura de procurar uma etiologia do delito. Os cri-
acessíveis.
minólogos ainda insistem em encontrar “causas” para o crime,
De acordo com Merton: “a desproporção entre os fins cultu-
somente alterando a natureza destas, transplantando-as do crimi-
ralmente reconhecidos como válidos e os meios legítimos à dispo-
noso para o ambiente criminógeno. Em suma, muda o “locus” da
sição do indivíduo para alcançá-los, está na origem dos compor-
pesquisa, mas não muda a natureza claramente etiológica desta.
tamentos desviantes”. E mais: “a cultura coloca, pois, aos mem-
Os estudos relativos à atuação do ambiente na criminalida-
bros dos estratos inferiores, exigências inconciliáveis entre si. Por
de são variegados, podendo-se mencionar alguns ramos a título
um lado, aqueles são solicitados a orientar a sua conduta para a
meramente exemplificativo: Geografia Criminal e Meio Natural,
perspectiva de um alto bem-estar; por outro, as possibilidades de
Metereologia Criminal, Higiene e Nutrição, Sistema Econômico, fazê-lo, com meios institucionais legítimos, lhes são, em ampla
Mal vivência, Ambiente familiar, Profissão, Guerra, Migração e medida, negados”.
Imigração, Prisão e contágio moral, Meios de Comunicação etc. Outro referencial importante é a denominada “Teoria da
Ainda no matiz sociológico deve-se dar atenção especial às Associação Diferencial”, produzida por Edwin H. Sutherland.
chamadas “Teorias Estrutural-Funcionalistas”, as quais podem Segundo essa construção teórica, a criminalidade, a exemplo de
ser tratadas como item apartado, tendo em vista suas peculiarida- qualquer outro modelo de comportamento humano, é aprendida
des. conforme as convivências específicas às quais o sujeito se expõe
As Teorias Estrutural-Funcionalistas afirmam que o crime é em seu ambiente social e profissional.
produzido pela própria estrutura social, inclusive exercendo uma Essa linha de pensamento possibilitou a formulação da conhe-
certa função no interior do sistema, de maneira que não deve ser cida “Teoria das Subculturas Criminais”, para a qual o sujeito
visto como uma anomalia ou moléstia social. aprenderia o crime de acordo com sua convivência em certos am-
A base teórica principal é ofertada por Emile Durkheim que bientes, assumindo as características de determinados grupos aos
dá ênfase para a normalidade do crime em toda e qualquer socie- quais estaria preso por uma aproximação voluntária, ocasional ou
dade. Aduz o autor em referência que “o crime é normal porque coercitiva.
uma sociedade isenta dele é completamente impossível”. Mas, o Afirma Sutherland que o processo de “associação diferencial”
autor vai além, chegando a reconhecer que o crime não somente propicia ao sujeito, de conformidade com seu convívio, aprender
é normal, mas também “é necessário” para a coesão social, sendo e apreender as condutas desviantes respectivas. Dessa forma, tal
uma sociedade sem crimes indicadora, esta sim, de deterioração teoria teria a vantagem de poder explicar a criminalidade das clas-
social. Durkheim indica o fenômeno criminal como reafirmador ses baixas tanto quanto a das classes altas. Nesse processo de con-
da ordem social violada e, portanto, legitimador de sua existência. vívio-aprendizado os infratores menos privilegiados praticariam
Toda vez que acontece um crime, a reação desencadeada contra usualmente os mesmos crimes, vez que estariam conectados ao
ele reafirma os liames sociais e ratifica a validade e a vigência das convívio de pessoas de seu nível social e só teriam oportunidade
normas legais. de aprender essas determinadas espécies de condutas delitivas, não
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CRIMINOLOGIA
sendo-lhes possibilitado o acesso a conhecimentos e condiciona- b) Negação da ilicitude — o criminoso interpreta suas atua-
mentos que os tornassem aptos a outras condutas mais sofisticadas. ções apenas como proibidas, mas não criminosas, imorais ou des-
De outra banda, os mais abastados teriam acesso ao aprendiza- trutivas, procurando redefini-las com eufemismos.
do de outras modalidades criminosas ligadas naturalmente ao seu c) Negação da vitimização — a vítima da ação delituosa é
meio social. apontada como merecedora do mal ou do prejuízo que lhe foi im-
Em razão disso também dificilmente incidiriam nas condu- pingido.
tas afetas às classes mais baixas. Há certo ponto de contato entre d) Condenação dos que condenam — atribuem-se quali-
a teoria de Merton e a de Sutherland, pois que a modalidade de dades negativas às instâncias oficiais responsáveis pela repressão
conduta atribuída aos indivíduos das classes pobres e abastadas criminal.
apresentaria uma distribuição em conformidade com os meios dis- e) Apelo às instancias superiores — sobrevalorização confe-
postos aos sujeitos para desenvolverem seus impulsos criminosos. rida a pequenos grupos marginais a que o desviado pertence, ade-
No entanto, a formulação de Sutherland tem a pretensão de ser rindo às suas normas e valores alternativos, em prejuízo das regras
mais ampla, fornecendo uma fórmula geral apta a explicar a crimi- sociais normais.
nalidade dos pobres e das classes altas. Para o autor sob comento, Note-se que a mais destacável “técnica de neutralização” é
qualquer conduta desviante seria “apreendida em associação direta
a própria criação de uma subcultura. Esta é a maior ensejadora
ou indireta com os que já praticaram um comportamento crimino-
de abrandamentos de consciência e defesas contra remorsos, na
so e aqueles que aprendem esse comportamento criminoso não têm
medida em que o apoio e aprovação por parte de outras pessoas
contatos frequentes ou estreitos com o comportamento conforme a
lei”. Dessa forma, uma pessoa torna-se ou não criminosa de acordo integrantes do grupo, ocasionam uma tranquilização e um senti-
“com o grau relativo de frequência e intensidade de suas relações mento de integração que não se poderia obter no seio da sociedade
com os dois tipos de comportamento” (legal e ilegal). Isso é o que calcada nas normas e valores oficiais.
se denomina propriamente de “associação diferencial”. Inobstante os avanços obtidos com as “Teorias Estrutural —
Essa maior abrangência da teoria preconizada por Sutherland Funcionalistas”, uma alteração verdadeiramente radical do modelo
a teria tornado mais completa do que aquela defendida por Merton. de pesquisa do fenômeno criminal somente adviria com o surgi-
Segundo a maioria dos críticos, as explicações de Merton seriam mento da chamada “Criminologia Crítica”. É com ela que se leva
bastante satisfatórias para a criminalidade dos pobres, mas não ser- a efeito o abandono da mais constante premissa da Criminologia
viriam para esclarecer por que pessoas dotadas de todos os meios Tradicional, qual seja, aquela de ser o crime uma realidade ontolo-
institucionais e legais para a consecução de seus objetivos sociais, gicamente reificada. A partir das ideias trazidas à tona pela revisão
mesmo assim, perpetrariam ações delituosas. Portanto, não é sem criminológica crítica, o crime passa a ser visto como uma realidade
motivo que o termo “crime de colarinho branco” ou “white collar meramente normativa, moldada pelo Sistema Social responsável
crime” foi cunhado e empregado originalmente por Edwin H. Su- pela edição, vigência e aplicação das leis penais.
therland, em data de 28.11.1939, durante uma conferência que se Por reflexo disso o criminoso deixa de ser encarado como um
passou na sede da “American Sociological Society”, com a finali- “anormal” e o crime como manifestação “patológica”.
dade de fazer referência a uma espécie de criminalidade praticada A explicação para a criminalidade é agora procurada no des-
por pessoas de nível social elevado, e em especial na sua atuação velar da atuação do Sistema Penal que a define e reage contra ela,
profissional. iniciando pelas normas abstratamente previstas, até chegar à efe-
Como derradeira representante da linha de pensamento estru- tiva atuação das agências oficiais de repressão e prevenção que
tural — funcionalista pode-se mencionar a chamada “Teoria das aplicam as leis. Vislumbra-se que a indicação de alguém como cri-
Técnicas de Neutralização”, cujos principais expoentes foram minoso é dependente da ação ou omissão das agências estatais res-
Gresham M. Sykes e David Matza. Trata-se de uma “correção da ponsáveis pelo controle social. Percebe-se que muitos indivíduos
Teoria das Subculturas Criminais”, mediante a complementação praticantes de atos desviantes não são tratados como criminosos,
implementada pelo acréscimo dos estudos das “técnicas de neutra-
até que sejam alcançados pela atuação das referidas agências, as
lização”. Estas seriam maneiras de promover a racionalização da
quais são pautadas por uma conduta e exercem um papel altamente
conduta marginal, as quais seriam apreendidas e usadas lado a lado
seletivo. Ser ou não ser criminoso é algo que não está ligado à pre-
com os modelos de comportamento e valores desviantes, de forma
a neutralizar a atuação eficaz dos valores e regras sociais, aos quais sença ou não de alguma doença ou anormalidade, mas sim ao fato
o delinquente, de uma forma ou de outra, adere. de haver ou não o indivíduo sido retido pelas malhas das agências
Na verdade, mesmo aquele indivíduo que vive mergulhado seletivas que agem baseadas em orientações normativas e sociais.
em uma subcultura criminal não perde totalmente o contato com Propõem as Teorias da Criminologia Radical o abandono do
a cultura oficial e, de alguma forma, sobre a influência e presta velho modelo etiológico, visando erigir uma inovadora abordagem
reconhecimento a algumas de suas regras. E desta constatação que crítica do Sistema Penal, inclusive propiciando um sério questio-
partem Sykes e Matza para lograrem expor os mecanismos usa- namento de sua legitimidade.
dos pelas pessoas para justificarem perante si mesmas e os demais, A Criminologia Crítica é caracterizada por certo matiz mar-
suas condutas desviantes, infringentes das normas oficiais impos- xista, pois parte da ideia de que o Sistema Punitivo é construído
tas pela sociedade. e funciona com apoio em uma ideologia da sociedade de classes.
São descritas algumas espécies básicas de “técnicas de neu- Dessa forma, seu principal objetivo longe estaria da defesa social
tralização”: ou da preocupação com a criação ou manutenção de condições
a) Exclusão da própria responsabilidade — o infrator se en- para um convívio harmônico entre as pessoas. O verdadeiro fim
xerga como vítima das contingências, surgindo muito mais como oculto de todo Sistema Penal seria a sustentação dos interesses
sujeito passivo quanto ao seu encaminhamento para o agir crimi- das classes dominantes. Qualquer instrumento repressivo de con-
noso. trole social revelaria a atuação opressiva de umas classes sobre as
Didatismo e Conhecimento 10
CRIMINOLOGIA
outras. Por isso seria o Direito Penal elitista e seletivo, recaindo minoso adquire importância central nos estudos, que não mais se
pesadamente sobre os pobres e raramente atuando contra os inte- reduzem às dogmáticas jurídicas. O segundo momento relevante
grantes das classes dominantes, os quais, aliás, seriam aqueles que foi o da mudança radical do referencial teórico da Criminologia,
redigem as leis e as aplicam. O Direito é visto como absolutamente propiciado pela emergência da chamada “Criminologia Crítica”.
despido de qualquer finalidade de transformação social. Ao con- Nessa oportunidade abandona-se o modelo de pesquisa etiológico
trário, é encarado como um instrumento de manutenção e reforço - profilático, mediante um consistente questionamento de um lon-
do “status quo” social, conservando e alimentando desigualdades go “processo de medicalização do crime”. O fenômeno criminal
pelo exercício de um poder de dominação e força. passa a ser perquirido como criação da própria organização social
Impõe-se uma conscientização da gigantesca diferença de in- e não mais como um ente pré-existente, passível de compreensão e
tensidade da atuação do Direito Penal sobre setores desvalidos da apreensão pela aplicação isolada do método das ciências naturais.
sociedade, enquanto apresenta-se bastante leniente e omisso pe- A virada epistemológica propiciada pela “Criminologia Crí-
rante condutas gravíssimas ligadas às classes dominantes. tica” não desmerece o conjunto dos estudos anteriores e nem re-
É nesse contexto que emerge a “Teoria do Labeling Approa- presenta um ponto final para a pesquisa criminológica. Tão so-
ch” ou “Teoria da Reação Social”. mente faz perceber que são possíveis explicações parciais para o
Enquanto o pensamento criminológico até então vigente ad- fenômeno criminal, mas jamais tal questão pode ser devidamente
vogava a tese de que o atributo criminal de uma conduta existia ob- desvendada de forma simplista e reducionista. A criminalidade e
jetivamente, como um ente natural e até era preexistente às normas a violência em geral são problemas complexos que somente per-
penais que o definiam num mero exercício de reconhecimento, o mitem uma visão ponderada através de um conjunto de saberes
qual, aliás, consistia em um certo acordo universal, um consenso e métodos de investigação, os quais, isolados, produzem noções
social; a “Teoria do Labeling Approach” virá para desmistificar fantasiosas e distorcidas. Não é por outro motivo que atualmente
todas essas equivocadas convicções. se fala numa “Criminologia Integrada”.
O “Labeling Approach” ou “etiquetamento” indica que um Neste item procedeu-se a uma retomada dessa evolução dos
fato só é tomado como criminoso após a aquisição desse “status” estudos criminológicos já anteriormente levada a efeito em outro
através da criação de uma lei que seleciona certos comportamentos trabalho com um objetivo bastante definido: pretendeu-se expor o
como irregulares, de acordo com os interesses sociais. Em seguida, mais clara e pormenorizadamente possível como se chegou à pon-
a atribuição a alguém da pecha de criminoso depende novamente derada e racional conclusão de que o “crime” em si não existe na
da atuação seletiva das agências estatais. natureza, tratando-se do resultado de normas humanas convencio-
Passa a ser objeto de estudo da Criminologia a descoberta dos nadas. O criminoso, portanto, é somente todo aquele que infringe
mecanismos sociais responsáveis pela definição dos desvios e dos tais normas e não o portador de anomalias. As pesquisas etiológi-
desviantes; os efeitos dessa definição e os atores que interagem co-profiláticas, que são o original impulso da Criminologia, são
nessas complexas relações. Deixa-se de lado a ilusão do crime impregnadas de um determinismo irreal porque baseadas em uma
como entidade natural pré- jurídica e do criminoso como portador noção ilusória do crime como ente natural pré-jurídico, que o Di-
de anomalias físicas ou psíquicas. reito Penal somente faz reconhecer e declarar, quando, na verdade,
Essa nova linha de reflexões produz uma derrocada no mito do o crime é uma criação do Direito, podendo inclusive modificar-se
Sistema Penal como recuperador dos desviados. Contrariamente, ao longo do tempo e das mudanças sociais.
entende-se que a atuação rotuladora do Sistema Penal exerce forte Ainda que certos eventos criminais possam ser validamente
pressão para a permanência do indivíduo no papel social (margi- explicados por meio de uma abordagem etiológica (o homicídio
nal e marginalizado) que lhe é atribuído. O sujeito estigmatizado perpetrado por um esquizofrênico que acredita estar esfaqueando
ao invés de se recuperar, ganharia um reforço de sua identidade um monstro), deve-se ter em mente que se trata de um critério
desviante. Na realidade, o Sistema Penal assim concebido passa válido somente de forma eventual e parcial. Além disso, mesmo
a ser entendido como um criador e reprodutor da violência e da sua validade eventual em nada atinge a conclusão inarredável de
criminalidade. que o crime é uma criação normativa, um filho do Direito e das
Finalmente cabe expor sumariamente a relação entre a “So- convenções e não um rebento da natureza. O retorno a uma noção
ciologia do Conflito” e a “Nova Criminologia”. equivocada a este respeito, devido a qualquer espécie de descober-
Como já visto, a Nova Criminologia põe em cheque a ideia de ta científica e novas possibilidades de intervenção, constitui um
que as normas de convívio social derivam de certo consenso em enorme retrocesso do pensamento criminológico com riscos de
torno de valores e objetivos comuns. terríveis consequências sociais e individuais.
Aí está o ponto de contato com a “Sociologia do Conflito”,
que apregoa ser uma tal concepção uma mera ficção erigida com CONDICIONANTES BIOLÓGICOS
a finalidade de legitimar a ordem social. Na realidade, essa ordem
social seria produto não de consenso, mas do conflito de interesses É habitual a questão do crime envolver uma série de refle-
de grupos antagônicos, prevalecendo a vontade daqueles que lo- xões e comentários que ultrapassam em muito o ato delituoso em
graram exercer maior dominação. si; são questões que resvalam na ética, na moral, na psicologia e
Com o esboço desse quadro evolutivo da ciência criminológi- na psiquiatria simultaneamente. Sempre há alguém atribuindo ao
ca, é possível determinar dois principais momentos de mudanças criminoso traços e características psicopatológicas ou sociológi-
conceituais e epistemológicas: o primeiro deles refere-se à transi- cas: porque Fulano cometeu esse crime? Estaria perturbado psi-
ção do Direito Penal Clássico para o nascimento da Criminologia, quicamente? Estaria encurralado socialmente? Seria essa a única
sob a égide do Positivismo, com as inaugurais pesquisas lombro- alternativa? Ou, ao contrário, seria ele simplesmente uma pessoa
sianas de Antropologia Criminal. Somente aí é que o homem cri- maldosa? Portadora de um caráter delituoso, etc.
Didatismo e Conhecimento 11
CRIMINOLOGIA
Atualmente, apesar da ciência não ter ainda algum consenso Os estudos parecem apontar na identificação das disfunções
definitivo sobre a questão, sabe-se, no mínimo, que qualquer abor- neuropsicológicas relacionadas ao comportamento violento estar
dagem isolada do ser humano corre enorme risco de errar. presente no lobo frontal e nos lobos temporais. O Lobo Frontal
se relaciona à regulação e inibição de comportamentos, a forma-
Fatores bioquímicos ção de planos e intenções, e a verificação do comportamento com-
Os estudos neste grupo causal procuram dosar algumas subs- plexo, suas alterações teriam como consequência dificuldades de
tância possivelmente envolvida com o comportamento violento, atenção, concentração e motivação, aumento da impulsividade e
como por exemplo, o colesterol, a glicose, hormônios e alguns da desinibição, perda do autocontrole, dificuldades em reconhecer
neurotransmissores. a culpa, desinibição sexual, dificuldade de avaliação das consequ-
Virkkunen, em 1987, procurou demonstrar a diminuição nos ências das ações praticadas, aumento do comportamento agressivo
níveis séricos de colesterol em pessoas com comportamento cri- e aumento da sensibilidade ao álcool (sintomas positivamente cor-
minoso, da mesma forma como também se associava os baixos relacionados com o comportamento criminoso), bem como inca-
níveis de glicose. pacidade de aprendizagem com a experiência (sintoma correlacio-
Como o álcool é frequentemente relacionado com o com- nado positivamente com a alta incidência de recidivas entre alguns
portamento violento, foi também estudada a sua associação com tipos de criminosos).
glicose e colesterol. Fisiologicamente se demonstra que, de fato, Os Lobos Temporais regulam a vida emocional, sentimentos,
o álcool diminui o açúcar na corrente sanguínea por inibição da instintos, comandam as respostas viscerais às alterações ambien-
produção de glucose hepática. Deste modo, o álcool ao fazer dimi- tais. Alterações nesses lobos resultam em inúmeras consequências
nuir a quantidade de açúcar no sangue pode ser apontado como um comportamentais, das quais se destacam a dificuldade de experi-
fator facilitador do crime. mentar algumas emoções, tais como o medo e outras emoções ne-
Quanto ao colesterol a situação é mais curiosa ainda. Virkku- gativas e, consequentemente, uma incapacidade em desenvolver
nen mostrou que a relação entre o colesterol e o álcool pode ter até sentimentos de medo das sanções, postura esta frequente em cri-
uma finalidade discriminante. Ele conseguiu isolar dois grupos de minosos. Esses estudos procuram associar o crime com alterações
pessoas envolvidas com o alcoolismo; um grupo representado por cerebrais especificas. (Cristina Queirós, A importância das aborda-
pessoas que ficam agressivas quando bebem e outro, por pessoas gens biológicas no estudo do crime).
que bebem mas não ficam agressivos. Os primeiros mostraram me-
Fatores psicofisiológicos
nor nível de colesterol do que os segundos. e, estes, menor nível
O enfoque psicofisiológico se baseia essencialmente na avalia-
ainda do que os sujeitos não delinqüentes, verificando-se que a
ção da função cerebral (fisiopatologia), como por exemplo a Ativi-
maior violência aparece associada a menor quantidade de coles-
dade Elétrica da Pele, o Eletroencefalograma e o Eletrocardiograma,
terol.
trabalhando sobretudo em contexto laboratorial. Falta, no momento,
No que diz respeito ao nível neuroendócrino, a hormônio mais
uma metanálise de outros tipos de investigação da função cerebral,
relacionado á agressividade é a testosterona. A pesquisa verifica os
como por exemplo, os estudos com PET e SPECT .
níveis desse hormônio tomando por base três comparações; entre
Os estudos demonstraram que, tanto a ativação tônica (reação
criminosos, entre criminosos e não criminosos (grupo controle) e global do sujeito na ausência de estimulação específica) quanto a
entre não criminosos relacionando-se com a agressividade e não ativação fásica (reação a estimulação específica), é menor nos cri-
agressividade. minosos. Também apresentam, os criminosos, uma média menor
Nas investigações entre pessoas não criminosas os resultados do ritmo cardíaco, menor nível de condutância da pele e maior
são muito variáveis e até contraditórios, concluindo-se por vezes tempo de resposta na atividade elétrica da pele, bem como regis-
que não há correlações entre testosterona e potencial para agressi- tros eletroencefalográficos com maior incidência de anormalida-
vidade (Rubin, 1987). Entre criminosos e não criminosos (Olweus, des (Fowles, 1980; Hemming, 1981; Satterfield, 1987; Volavka,
1987; Rubin, 1987; Schalling, 1987) os resultados são mais consis- 1987; Hodgins & Grunau, 1988; Milstein, 1988; Venables, 1988;
tentes, mas nem sempre são significativos. Alguns desses resulta- Buikhuisen, Eurelings-Bontekoe & Host, 1989; Patrick, Cuthbert
dos mostram criminosos apresentando maior nível de testosterona & Lang, 1994).
do que os não criminosos. Alguns estudos trabalharam também com crianças e adoles-
Sobre as influências neuroquímicas no comportamento agres- centes (Magnusson, 1988), e demonstraram que as crianças com
sivo, algumas das substâncias mais estudadas (Rubin, 1987; Mag- comportamentos considerados desviantes apresentam maior ativa-
nusson, 1988; Bader, 1994) são a serotonina, que existiria em ção do sistema nervoso. No entanto estudos longitudinais (Raine,
menor quantidade, o ácido fenilacético e a norepinefrina, que exis- Venables & Williams, 1990 e 1995) demonstraram que adolescen-
tiriam em maior quantidade nos criminosos. tes com comportamentos antissociais e que posteriormente vieram
Esses estudos procuram estabelecer uma correlação entre al- a cometer crimes apresentavam significativamente menor ativação
terações bioquímicas capazes de desencadear comportamentos cri- cardiovascular e eletrodérmica, do que os que não cometeram cri-
minosos, bem como as associações entre tais alterações, ingestão mes.
de álcool e criminalidade. Através da apresentação das quatro categorias citadas é possí-
vel constatar que foram realizados diferentes estudos. Apesar das
Fatores neurológicos metodologias utilizadas e dos resultados serem por vezes questio-
Esses estudos (Buikhuisen, 1987; Hare & Connolly, 1987; nados, a maior parte dos trabalhos podem ser considerados cien-
Nachshon & Denno, 1987; Pincus, 1993) associam desordens do tíficos e metodologicamente corretos, demonstrando que de fato,
comportamento com eventuais alterações cerebrais, essencialmen- podem existir fatores biológicos implicados no crime, sejam estes
te no hemisfério esquerdo. identificados como genes, hormônios, neurotransmissores, etc.
Didatismo e Conhecimento 12
CRIMINOLOGIA
Constata-se também que, apesar de alguns estudos não re- Na constituição da personalidade interferem ou atuam múl-
ferirem apenas as variáveis biológicas, mas também as variáveis tiplas variáveis de ordem biopsiquica (constituição biopsíquica)
psicológicas e contextuais, a divulgação dos seus dados é efetuada somadas às experiências vividas (integração). Como colocado por
segundo uma lógica reducionista e determinista, tentando estabe- odon ramos maranhão, constituição é o conjunto da estrutura do
lecer uma causalidade linear entre fatores biológicos e o crime e, organismo e do temperamento.
contribuindo deste modo para a rejeição das abordagens biológicas A estrutura da personalidade é integrada por:
no estudo do crime. - tipo morfológico: conformação básica;
Funcionando de acordo com esta perspectiva linear, se um su- - tipo temperamental: disposição emocional básica;
jeito cometeu um crime porque as suas características biológicas - caráter conjunto de experiências vividas.
assim o determinam, e se estas são fáceis de identificar (ex.: medir A personalidade apresenta particularidades, que são suas ba-
a quantidade de glicose, colesterol, EEG, etc), porque não prevenir ses fundamentais (maranhão), a saber:
o crime em pessoas, digamos, “de risco”. Avançando um pouco - unidade e identidade: que lhe permitem ser um todo coeren-
mais, porque não efetuar terapias genéticas no embrião para os te, organizado e resistente;
sujeitos que apresentam a este nível alterações identificadas como - vitalidade: caracterizando um conjunto animado e hierarqui-
características do criminoso? zado, com oscilações interiores (fatores endógenos) e estímulos
Perante estas questões levanta-se uma outra, que é do arbí- exteriores (fatores exógenos), que reage e responde;
trio individual, anulando esta liberdade através da certeza do com- - consciência: que mantém a informação sobre o si mesmo e
portamento ser desse jeito porque é determinado unicamente por o meio;
fatores biológicos. Essas questões são de primordial importância - relações com o meio ambiente: caracterizadas pela regulação
na Psiquiatria Forense porque dizem respeito à imputabilidade, entre o eu e o meio ambiente.
culpabilidade e responsabilidade. De qualquer forma, parece que
a idéia da biologia ser a única e/ou principal determinante do Personalidade Normal
comportamento é universalmente rejeitada. É difícil estabelecer um critério de personalidade normal.
Assim sendo, tentar explicar o comportamento e as atitudes Vários autores adotaram diversos critérios para atingir tal fim.
humanas, apenas a partir de fatores biológicos não parece ser um Exemplificamos duas classificações: a primeira, baseada no crité-
bom método, pois qualquer comportamento, incluindo o compor- rio biopsicológico e, a segunda, baseada em tipos somáticos.
tamento criminoso, é considerado como um conjunto de inúmeros
O critério biopsicológico, descrito por kretschmer, apresenta
processos em complexa interação. Em nosso caso, essa interação
três tipos somáticos:
se dá através do vocábulo tríplice; bio-psico-social.
a) Leptossômico: Alto, magro, pouco musculoso, rosto afila-
Segundo Cristina Queirós, a perspectiva biológica utilizada
do, encanece precocemente, é introvertido e oscila da insensibili-
pelos vários estudos descritos pode ser considerada como uma
dade á hipersensibilidade (esquizotímico).
“biologia das causas”. A alternativa a esta perspectiva mecanicis-
b) Pícnico: Baixo, gordo, com abdome volumoso, sem pes-
ta seria a “biologia dos processos”, que começa a ser utilizada
coço, com tendência à calvície, apresenta variações frequentes de
atualmente, através da abordagem bio-psico- social, a qual tenta
humor, da euforia à depressão (ciclotímico).
articular os fatores biológicos com os restantes níveis do compor-
tamento humano. c) Atlético: De aspecto trapezoidal, ombros largos, relevos
Na avaliação da biologia do crime, mesmo reconhecendo ser musculares evidentes, é explosivo e agressivo (epileptóide).
necessário perscrutar as bases biológicas do crime, esta deverá
considerar, obrigatoriamente, a interação com outros fatores en- Sheldon descreveu os tipos somáticos, com base embriológi-
volvidos (Farrington, 1987; Raine & Dunkin, 1990; Farrington, ca, englobando três tipos básicos: endomorfo, mesomorfo e ecto-
1991), não esquecendo que o todo o indivíduo é um ser biológico morfo.
em interação com o meio (Karli, 1990). Outras classificações de menor importância são baseadas em
Em suma, pode-se concluir que as abordagens biológicas, critérios filosóficos, sociológicos e psicanalíticos.
apesar de serem geralmente vistas como polêmicas e discricioná- O critério jurídico é definido pelos códigos:
rias, também são importantes no estudo e na compreensão do - Penal — dirige-se a entender o caráter do fato e a determi-
crime e do criminoso, não devendo nem ser negadas nem super- nar-se conforme esse entendimento.
valorizadas. - Civil, de acordo com Maranhão — presume capacidade geral
Interpretando os fatores biológicos como representantes da e faz restrições parciais e absolutas, considerando as capacidades
personalidade da pessoa, será possível articular este aspecto cons- de discernimento, intenção, consciência e juízo.
titucional com outros níveis da personalidade, bem como com os
níveis do ato transgressivo e com o significado deste. Personalidades Patológicas
Ante o exposto, mais uma vez baseado nos trabalhos do Pro-
CONDICIONANTES PSICOLÓGICOS fessor odon ramos maranhão, podemos considerar fazendo parte
das personalidades patológicas as seguintes perturbações:
Personalidade - do desenvolvimento e da continuidade, representadas pelos
Segundo Porot, personalidade é a síntese de todos os elemen- atrasos e infranormalidades — são as oligofrenias;
tos que concorrem para a conformação mental de uma pessoa, de - da senso-percepção, da ideação e do juízo crítico, represen-
modo a conferir-lhe fisionomia própria. Em termos gerais pode- tadas pelas psicoses (alienações) e pelas demências (deterioração
mos dizer que é o hardware da pessoa. mental);
Didatismo e Conhecimento 13
CRIMINOLOGIA
- da harmonia intrapsíquica, provocando sofrimentos cons- Os criminosos em série geralmente são psicopatas. Um termo
cientes de causa insconsciente, representadas pelas neuroses; usado para designar não somente doenças mentais. “Um psicopata
- do caráter, de base constitucional, representadas pelas perso- pode não ser exatamente um doente mental”, afirma a psicóloga
nalidades psicopáticas. Maria de Fátima Franco dos Santos professora de Psicologia Fo-
rense da Puc de Campinas - SP. São pessoas com personalidades
Oligofrenias de difícil relacionamento social. A personalidade é uma peça que
As oligofrenias, também denominadas atrasos ou debilidades começa a ser formada bem cedo no ser humano, desde a sua con-
mentais, são insuficiências congênitas, caracterizadas pelo não-de- cepção e termina por volta dos cinco anos de idade. Neste período,
senvolvimento da inteligência; diferem das demências, caracteri- a criança recebe os elementos necessários vão servir de base para
zadas por deterioração da inteligência normalmente desenvolvida. o seu comportamento pelo resto da vida. Daí grande parte dos cri-
São vários os critérios diagnósticos: minosos psicopatas serem frutos de famílias desestruturadas e de
a) Psicométrico lares violentos.
Baseado em medidas do quociente de inteligência, é o crité- Já os doentes mentais interagem com o mundo a partir de uma
rio mais conhecido, mas que por apresentar muitas deficiências, é realidade que eles mesmos criam. Os psicopatas, ao contrário, in-
atualmente muito combatido. Divide os deficientes em três grupos: terferem na realidade a partir de sua personalidade desajustada aos
- Idiotas: com Q.I. até 30, para alguns autores, e até 20 para padrões sociais. São assim alguns estupradores e assassinos de sé-
outros. rie, sendo estes últimos os casos mais graves.
- Imbecis: com Q.I. entre 30 e 60 segundo um critério e entre Veja algumas características deste tipo de criminoso:
20 e 40 em outro. - São em grande maioria psicopatas;
- Débeis: com Q.I. entre 60 e 90 segundo um critério e entre - Gostam de demonstrar poder (são narcisistas, onipotentes,
40 e 65 em outro. dominadores, machistas); - Sempre reincidentes, raramente come-
te o crime somente uma vez.;
b) Escolar - Sadismo, sentem prazer em assistir o sofrimento alheio;
Baseado no desenvolvimento e na cronologia, é o critério - Não assumem o crime, geralmente só confessam por deslizes
mais aceito e mais justo, dividindo as deficiências em ligeiras (dé-
movidos pelo prazer em reviver o momento do crime.
beis), médias e profundas (idiotas). Permite ainda um tipo deno-
- São levados ao crime por motivos diversos: uma homosse-
minado atrasados profundos, equivalentes aos idiotas do critério
xualidade latente pode levará violência contra a mulher, por ser a
psicométrico.
criatura odiada, ou à violência contra homens, em uma tentativa de
Outros critérios diagnósticos são o social e o clínico; porém,
atacar a morbidade encontrada em si mesmo.
são pouco utilizados. São inimputáveis.
Atenção: psicopatas não são tipos raros. Estima-se que 40%
Alienações da população seja formada por psicopatas, ou seja, pessoas que
Alienações ou psicoses são alterações psíquicas que tornam o sofrem de sérios distúrbios de personalidade a ponto de interferir
indivíduo impossibilitado de manter uma vida normal e de parti- em seu relacionamento social.
cipar da vida em sociedade (vida coletiva e social), resultando daí Como agem? - Modus Operandis
as designações alienação ou alienados. São os “loucos de todo o - Atacam em locais públicos; - Escolhem vítimas sozinhas;
gênero” do Código Civil e a “doença ou doente mental” do Código - Os ataques são, em sua maioria, noturnos e durante finais
Penal. São exemplos a psicose maníaco-depressiva (atual distúr- de semana;
bio bi-polar), as epilepsias, as senis, a esquizofrenia e as altera- - Abordam pedindo informação ou oferecendo algo atrativo;
ções decorrentes do alcoolismo, da sífilis, das drogas, da arterios-
clerose e dos traumatismos crânio- encefálicos. São inimputáveis, Personalidade Delinquente
via de regra. Os indivíduos com personalidade delinquente são portadores
de defeitos graves do caráter, quase sempre estruturados e geral-
Demências mente irreversíveis. Considerados delinquentes essenciais, primá-
De acordo com o pensamento de Seglas, as demências ou de- rios ou verdadeiros, são também conhecidos como portadores de
teriorações mentais são caracterizadas por um enfraquecimento personalidades dissociais.
(deterioração) intelectual progressivo, global e incurável. Podem De acordo com JERKINS, citado por MARANHÃO, o psi-
ser exemplificadas pelas senis (arteriosclerose, demência e Alzhei- copata (personalidade psicopática) apresenta falta de adequadas
mer) e pelos traumatismos. São inimputáveis, via de regra. inibições, o que o leva a desordens do comportamento e à ação an-
tissocial, enquanto a personalidade pseudo-social (delinquente) se
Personalidades Psicopáticas mostra capaz de se adaptar a grupos de comportamento desviado.
Personalidades psicopáticas ou antissociais são as determina-
das por conduta anormal, social ou não (reação antissocial). Neuroses
Segundo entendimento de Maranhão são indivíduos cronica- As neuroses manifestam-se por alterações frequentes, geral-
mente antissociais, sempre em dificuldades, que não tiram provei- mente sem base anatômica conhecida, que não alteram a persona-
to das experiências vividas, nem das punições sofridas e que não lidade. Caracterizam-se por perturbações afetivas, inadaptação à
mantém lealdade real a qualquer pessoa, grupo ou código. realidade e sensação de insuficiência afetiva e social, dentre outras.
Apresentam ausência de sentimentos, incluindo sentimento de São exemplificadas por distúrbios neuro-vegetativos (azia,
culpa, tendência à impulsividade, agressividade, falta de motiva- dor e/ou batedeira no peito etc.), doenças psicossomáticas (gastri-
ção e intolerância à frustração. Normalmente são religiosos. São te, colite etc.), fobias (“medo” de altura, de pontas, de aranha etc.),
semi-imputáveis, via de regra. histeria, angústia e compulsão, dentre outros.
Didatismo e Conhecimento 14
CRIMINOLOGIA
As pessoas portadoras de neuroses são pessoas capazes, pois a nais entre filho e pai, entre filho e mãe, assim como os dos pais entre
personalidade está preservada. si, são de hábito conturbados no caso de delinquentes, muito mais do
Incidente de Sanidade Mental que nos lares de onde provêm os jovens obsessivos fóbicos.
Quando há dúvida sobre a integridade psíquica do agente cri- Curiosamente, porém, assinalam alguns autores, não se veri-
minal, determina-se o “exame prévio”, nos termos dos arts. 149 e ficam diferenças de vulto no trato entre os irmãos, quer considere-
151 do Código de Processo Penal. Como complemento, apresen- mos um ou outro dos grupos comparados.
tamos, baseadas nos trabalhos de Maranhão, as diferenças mais A conduta leviana, incoerente, dos pais, influi de modo nocivo
significativas entre as neuroses e a personalidade delinquente. na estruturação da personalidade da criança que poderá vir a ser
um psicopata delinquente. Também importa mencionar aqui a pro-
porção de menores perturbados da conduta que foram amamenta-
Neuroses Personalidade delinquente dos pela mãe é insignificante e, quando o foram, o desmame se deu
precocemente. Com os conhecimentos que possuímos hoje acerca
Com conflito interno Sem conflito interno da formação da personalidade, é fácil compreender que esses fato-
Agressividade voltada à res negativos estão no núcleo dinâmico e genético do problema que
Agressividade voltada a si ora nos ocupa. A base de toda a situação psicopática-delinquente
sociedade
é um impulso, devido à carência das funções de adaptação alo-
Alivia tensões internas por plástica do ego. Entretanto, como a confusão é frequente, importa
Gratifica-se por fantasias
meio de ações criminosas salientar que impulso e compulsão são diferentes. A compulsão ca-
Admite seus impulsos e os Atribui seus impulsos ao racteriza o ato obsessivo, mandato interior para fazer algo sentido
reconhece como seus mundo exterior como desagradável, por doloroso, cruel ou repugnante. Na prática
Desenvolve relações Desenvolve defesas clínica, os atos compulsivos podem às vezes com fundir-se com os
emocionais positivas emocionais impulsos, principalmente se estes estão sobrecarregados de culpa.
A delinquência, que se impõe como expressão mais ostensiva
Socialmente ajustado Comportamento dissocial
da psicopatia, é um transtorno psíquico essencialmente evolutivo,
Reage à passividade e Procura negar a passividade que atinge o processo de personificação. Em consequência, há um
dependência com sofrimento, e a dependência com atitudes déficit do sentido de realidade, de sentimento de identidade, da
mas admite a situação. agressivas noção do esquema corporal e da capacidade de síntese do ego. A
adaptação à realidade, não obstante a fachada de lucidez, é uma
Caráter normal Caráter deformado (dissociai)
pseudo-adaptação, decorrente da falta de integração adequada no
nível afetivo e da inaptidão a aprender com a experiência. E sobre
As características psicológicas profundas da delinquência isso somem-se as deficiências de abstração, o que leva o psicopata
estão catalogadas, hoje, graças às investigações de autores muito delituoso a incorporar experiências concretas sem seu correspon-
sérios. dente valor simbólico. Portanto, se não vivencia o significado efe-
Os menores delinquentes, por exemplo, raramente apresentam tivo de muitas situações existenciais, importantes, consegue ape-
sintomas neuróticos. São de manejo difícil, mas procuram con- nas verbalizar suas emoções e tem extremamente comprometido
quistar a atenção e os sentimentos de pena dos circunstantes, assim o processo do pensamento. Com efeito, pensar implica retardar a
como só excepcionalmente apresentam dificuldade de aprendiza- ação, esperar o momento apropriado para a gratificação desejada.
gem escolar em relação a certas matérias, o que, no entanto é fre- Como explicar, então, as habilidades mentais e motoras que
quente, nas crianças neuróticas, devido à inibição intelectual de caracterizam a maioria dos delinquentes, a ponto de escaparem
causa afetiva. O que lhes é comum, a menores neuróticos e meno- impunes de inúmeros roubos, assassínios, embustes, etc.? E que,
res delinquentes, é a instabilidade da atenção. Consequentemente, como salientou Edgardo Rolla, esse “indivíduos fizeram de sua
atrasam-se na escola. O menor delinquente devaneia menos, pois forma de viver um tipo de especialização da coordenação motora
está dominado pelas tendências a dramatizar suas fantasias em estriada, e consequentemente da coordenação do pensamento, que
ações. Quanto à conduta sexual, as diferenças mais significativas lhes permite cometer com o máximo de impunidade as ações fun-
que se registram entre menores delinquentes e menores neuróticos damentais características do psicopata”.
dizem respeito às perversões manifestas, mais comumente obser- Acentua-se ainda que, na psicopatologia desses indivíduos, se
vadas naqueles. No referente à formação da personalidade, o que evidencia uma outra peculiaridade do psiquismo, que é a pertur-
se aponta com mais frequência nos delinquentes é a distorção do bação de função sintética do ego, da qual depende a integração
superego. dos impulsos e o seu aproveitamento para o desenvolvimento da
De ordinário, os menores delinquentes sofrem pressões am- personalidade. Daí o déficit de autocrítica, a desconsideração da
bientais mais traumatizantes que os neuróticos. E ainda ressalta realidade e a sempre possível eclosão criminosa.
o fato de terem passado, muitas vezes, um bom tempo de sua in- Um dos aspectos do nosso tema, que talvez seja o que mais
fância recolhidos a instituições, do gênero reformatório. Os neu- empolga no momento, é o da delinquência juvenil cujo substra-
róticos provêm de lares que aparentam uma relativa estabilidade, to psicopatológico pode consistir em qualquer tipo de psicopatia.
enquanto, entre delinquentes, o habitual é que provenham de lares Duas séries de fatores objetivos, convergindo para os sentimentos
totalmente destruídos. Os pais de menores delinquentes dão mos- da infância e seus privilégios, de um lado, e de outro, a expectativa
tras de instabilidade temperamental ou mesmo de tendências ou ansiosa do futuro, contribuem para o quadro complexíssimo que
atuações antissociais francas. Os pais de crianças rotuladas como configura a crise da adolescência. Nessa crise, de ação e de expres-
neuróticas são em geral neuróticos manifestos. Os laços emocio- são, o jovem corre atrás de suas definições: a sexual e a de identi-
Didatismo e Conhecimento 15
CRIMINOLOGIA
dade. As expressões fenomenológicas dessa etapa subordinam-se CONDICIONANTES SOCIAIS
às defesas antidepressivas. Nesse jogo defensivo, recorrem à men-
tira, à má-fé, às identificações projetivas maciças e, mais grave- Condição Social versus Violência
mente, às crises de despersonalização. A atividade desses jovens Há quem considere a violência uma característica contempo-
psicopatas, que facilmente caem no delito, tanto em casa como rânea, que emana da evolução do homem, da globalização, da ex-
na escola, no trabalho, nos locais de diversão, tende a ser predo- clusão e dos diversos níveis sociais.
minantemente negativa, tanto do ponto de vista da produtividade Ocorre que a violência, e por consequência a criminalidade,
quanto da ética. Procedem de lares carentes de figuras parentais não se encontram restritas a esse ambiente. Quem assim pensa
apropriadas para uma boa identificação. São pais de caráter muito só conhece da violência atual das megalópoles, e já se equivoca
infantil, desejosos de transformar os filhos em seus protetores, nos porquanto desde os primórdios a violência acompanha a conduta
diferentes níveis emocionais. O resultado de tal relacionamento humana, ou melhor, faz parte da natureza do homem independente
com os pais é desastroso. Sem modelos maduros, esses jovens são deste encontrar-se em ambiente urbano ou rural. Naquele sentido,
capazes de desenvolver as qualidades que levam naturalmente ao quando falamos de violência estaríamos deixando à margem aque-
equilíbrio adulto. Crescem, se é que se pode chamar a isso crescer, la violência do campo onde as contendas são resolvidas “na base
na dependência de mecanismos de repressão maciça e de negação do facão”, porquanto, ademais, não se revestem na degradação
dos instintos, o que os isola da realidade. Incrementando-lhes o lato sensu do homem.
narcisismo e as fantasias de onipotência, fonte de suas defesas an- Como anteriormente citado, alguns homens cometem crimes
tidepressivas. Como lhes faltam pais para uma relação interpessoal levados pela influência do meio em que vivem. Nesse passo, “con-
salutar, tampouco podem adquirir confiança em si mesmos, o que dição social” abarca uma gama de características, quais sejam:
constitui um pré-requisito indispensável para desenvolver o espíri- a) condição económica - renda insuficiente ou inexistente
to de independência e socialização. E que não puderam tornar pró- (oportunidade de trabalho);
prios, assimilados, os controles externos. E mais, para neutralizar a b) formação de caráter - estrutura familiar na qual foi criado e
angústia que lhes provoca essa impotência, negam seu valor como na qual vive atualmente, (educação - escola / creche);
norma de vida. Tudo isso interfere negativamente na compreensão c) condições dignas de moradia - habitação com infraestrutura
da realidade, que tentam manejar magicamente. O fracasso dessa adequada (ser humano);
defesa tem uma das primeiras manifestações na ansiedade que lhes
d) outras;
provoca a escolha profissional, devido à incapacidade para renun-
Não podemos olvidar, como consequência da falta de tais
ciar. Escolher então assume o significado, não de aquisição, mas
“condições mínimas de sobrevivência” a precária alimentação do
de perda de algo. Muitas de suas ações agressivas tomam aspectos
corpo que influi, ademais, na má formação “física, psíquica e bio-
de substitutivos de sintomas psíquicos. Haja vista a esfera de geni-
lógica” do homem, tornando-o “apto”, também, a delinquir; cuida-
talidade. Como a conduta genital se expressa em todas as ativida-
-se do louco criminoso que da patologia que possui - independente
des, o fracasso de identidade sexual no psicopata manifesta-se em
de sua fonte - acarreta o crime. Nesta esteira, cumpre-nos exami-
todos os campos da conduta humana.
nar:
A delinquência exprime o distúrbio da personalidade resul-
tante do conflito crônico com os pais, com as pessoas que são ou
representam autoridades, com a sociedade em geral. O comporta- A Influência da Educação nos Instintos Criminosos.
mento desses indivíduos atesta o fracasso mais flagrante da luta “...a educação não representa senão uma das influencias que
defensiva contra os impulsos, contra as premências reivindicantes. atuam nos primeiros anos da vida e que, como a hereditariedade e
A pesquisa das raízes do verdadeiro sentido desse distúrbio do a tradição, contribuem para a gênese do caráter. Mas, uma vez for-
existir levou os estudiosos do assunto a considerá-lo multidisci- mado, este subsiste, como a physionomia physica, perpetuamente
plinar, epigenético. Portanto, será um enfoque errôneo pôr dema- aquilo que é. De resto, é ainda duvidoso que um instinto moral
siada ênfase num só fator dominante da personalidade delituosa. definitivo possa criar-se pela educação na primeira infância”.
As séries complementares do desenvolvimento dos indivíduos - Como se verifica da citação de GAROFALO, a educação não
instintos, família, costumes comunitários, sistema socioeconômi- se reveste de critério determinante à formação dos criminosos, mas
co - todos amalgamados determinam vicissitudes de caráter e de deve ser considerado “um dos” fatores de influência em seu cará-
conduta dificilmente reversíveis. Temos aí, referidas de relance, ter. Vale dizer que o fato de um indivíduo possuir uma educação
as ciências básicas do homem: a Biologia, a Psicologia, a Eco- “exemplar” não resta definido seu futuro em face do cometimento
logia, a Antropologia, e a Sociologia. Quando ocorre uma falha futuro de crimes.
na interação dessas séries complementares, o que pode sobrevir é Vale sopesar que a educação que faz referência o tópico desde
o transtorno no engajamento pessoal, dificultando a colaboração título não se restringe tão somente ao sentido pedagógico; trata-se,
coletiva a favor das transformações do ambiente, que se faz através ademais, de uma série de influências externas, “de cenas continu-
das influências renovadoras. E então o indivíduo - ante a angústia amente vistas” pelas crianças e que são capazes de criar hábitos
de sentir-se ameaçado de marginalização, se a comunidade o aban- morais.
dona impiedosamente à sua imaturidade psicológica, deixando-o Fazendo um exercício hipotético de realidade, o que pode-
entregue à indigência de seus recursos naturais de aprendizagem mos esperar de duas crianças (um menino e uma menina) que são
para a vida - ou reagirá destrutivamente contra a sua organização criados em um lar aonde seu pai, depois de um longo e cansativo
comunitária ou se retrairá como unidade social e se apagará no au- dia de “vadiagem” chega em casa e prontamente passa a espancar
tismo. Noutras palavras: ou se extravia no crime, ou se desagrega sua esposa, a gritar com seus filhos, chegando - não raras vezes a
na psicose. violentá-los.
Didatismo e Conhecimento 16
CRIMINOLOGIA
- Não é difícil crer que aquele menino vai crescer com a figura A Influência Econômica nos Instintos Criminosos
de seus pais (ele violento e ela submissa) na mente, como uma “crêem os socialistas que, removidas certas instituições e
mancha negra indelével, tendo para si a certeza de que aquele é o atingido o ideal que eles proclamam, cessaria a maior parte dos
papel da esposa e do marido no casamento. delitos”.
De outra feita, a posição daquela menina frente à sociedade - Marginal é quem mora na favela!
conjugal que um dia possa vir a contrair fica desde logo afetada; Em tais locais, por exemplo, ademais do contato diário da vio-
não se poderá responsabilizá-la pelo medo e submissão da figura lência com os moradores, suas próprias condições refletem a falta
masculina que a acompanhará para sempre, ademais, caso venha absoluta de condições humanas de vida; as pessoas vivem ao lado
ela a ser violentada pelo futuro marido, nada de novo terá tal “bes- de esgotos, “moram em residências” sem o mínimo de estrutura,
tialidade” posto que na sua concepção de família esta conduta é sem falar da precariedade de subsistência frente sua condição so-
“legal”; não se cobrará dela sequer denunciá-lo. cial.
“a educação doméstica é uma continuação da herança; o que Tal realidade denota a falta de oportunidade de emprego e a
não é transmitido por geração, é-o, de um modo também quase ineficácia do seu ganho refletir em melhores condições de SO-
sempre inconsciente, pelos exemplos dos pais”. BREVIVÊNCIA.
- Uma questão se impõe: Podemos afirmar que o marido que Muitos acreditam que o aumento da desigualdade social é o
bate em sua esposa o faz porque sua mãe apanhava de seu pai? - responsável pela violência que impera hodiernamente. Ora, se as-
Não há exceção? sim o fosse, certo seria dizer que a violência se voltaria tão somen-
Torna-se equivocado (fazendo referência novamente à citação te contra os mais abastados; no entanto, o que se vê é a indiscrimi-
de Garofalo) dizer que tais “cenas” são determinantes no caráter nada violência, ou seja, o “não abastado”, ou mais, “o miserável”
criminoso de um homem. possui chances iguais de ser violentado em seus mais diversos
Do sentido de educação podemos extrair algumas considera- bens quanto aquele que ostenta boa situação econômica.
ções, o que impõe desde logo algumas indagações: O que ocorre - certamente - que a falta de condições econômi-
- Toda criança “mal educada” vai um dia cometer crime? - Al- cas refletem e geram outros maus; a desigual repartição da riqueza
guém com “boa educação” pode cometer um delito? condena uma parte da população à miséria, e com esta à falta de
- A educação (ou a falta dela) é “o” caráter definidor da condu- educação, de moradia, de alimento, de condições mínimas de so-
ta delituosa de um indivíduo? brevivência, de falta total de esperança num futuro pouco melhor.
Dados da Secretaria de Segurança Pública refletem as carac- Tal assertiva reveste-se da realidade conquanto os “ricos”
terísticas dos internos da FEBEM e nos dão certa ideia dos fatores também cometem crimes; há aqueles que não estão privados de
determinantes do crime; como se verá, a falsa ideia de que só o excelente moradia, educação pedagógica e familiar exemplar, mas
“pobre” comete crime não se funda na realidade. nem por isso deixam, absolutamente, de estarem “aptos” à delin-
Os menores infratores apontam como fatores que os levaram quência.
ao crime: exclusão social, uso de drogas e falta de estrutura familiar. Os abastados trazem consigo diferentes fatores que os levam
As palavras dos internos da FEBEM são o retrato da menta- ao crime. Algumas vezes, “o pobre” rouba visando o sustento de
lidade social: “nem todos que estão é um bicho como a imagem seus familiares, ou ainda, o faz em busca de melhores condições
nossa lá fora”. de vida. O “rico”, de outra feita, já dispõe de tudo que necessita
“O que fez eu entrar pro crime (...) foi as necessidades que porquanto se alimenta com dignidade, sua família detêm certas
eu encontrei e que estava passando... uma certa ambição também “regalias”, não possuindo, a priori “desculpa para roubar”.
de ter as coisas (...) andar do jeito que todo mundo anda, com di- Possui, todavia, o que o homem tratou chamar de ganância.
nheiro. A proposta que foi feita pra mim não foi a proposta de um Utópica e hipoteticamente refletindo, não podia ele dispor de
trabalho, de ter um trampo. A primeira proposta que teve pra mim seus bens em excesso a favor daquele que não os tem? - Assim não
foi pegar num revólver, foi vender uma droga”. sendo, necessita ainda de mais, e, sobretudo, precisa delinquir para
“não ter emprego, falta de estudo e não ter oportunidade pra alcançar este algo mais?
nós da periferia. Essa situação chegou a um ponto que na vida do O que diverge da antagônica realidade do “pobre” e do “rico”
crime a gente ganhava alguma coisa”. é o crime (meio) dos quais se utilizam para “saciar” seus desejos;
“eu costumava roubar para usar drogas e usar drogas para rou- O primeiro se vale do furto, do roubo, do sequestro; o segundo das
bar. Quando eu ia roubar eu gostava de cheirar cocaína porque ela falsificações e das fraudes de toda espécie, visando essencialmente
estimulava a violência, deixa você mais agressivo. Então, eu tinha a obtenção de mais riqueza (monetária). De certo que os crimes
mais apetite”. mais violentos estão ligados à camada mais baixa da sociedade,
“já tirei a vida de duas pessoas num assalta, mas, por mim não mas são, senão, variantes de um mesmo delito natural.
fez nem falta” Independente ou não das sua boa ou má-educação lato sensu
“o primeiro ato infracional que eu cometi na minha vida foi (como explicitado no tópico anterior) o abastado comete o delito e
esse homicídio. O que eu senti num primeiro momento foi a revol- não se frustra, igualmente, a novos crimes se necessário for.
ta. Eu até não queria mas a revolta foi trazendo tudo isso na minha Inserida assim a questão podemos asseverar que os fatores
cabeça e pelo ódio e pelas mágoas eu ajuntei tudo e cometi esse econômicos e educacionais não determinam, individualmente, o
crime”. caráter delinquente do homem. Devemos assim nos voltar para a
Sendo assim, em relação à educação podemos assegurar que base da formação que é a família e com igual razão ao Estado
não se trata de critério único e determinante na delinquência futura como garantidor de condições mínimas de humanidade. A família
do homem; há se levar em consideração outros fatores que, soma- por sua vez - berço de um futuro sólido - só se fortifica se o Estado
dos, PODEM criar uma personalidade criminosa. se coloca como sua base primária.
Didatismo e Conhecimento 17
CRIMINOLOGIA
Homem violento e criminoso: Fruto do meio social em que
vive? 3.4 VITIMOLOGIA
Qualquer motivo é idôneo para impulsionar alguém a ter ou
deixar de ter determinado comportamento, ainda que considerado
socialmente inadequado ou absurdo; na verdade, toda ação possui
uma lógica interna, orientada para a satisfação de uma necessidade
primordial de sobrevivência, de segurança ou de amadurecimento, Vitimologia pode ser definida como o estudo científico da ex-
tais como o amor, estima social, autoestima ou sensação de perten- tensão, natureza e causas da vitimização criminal, suas consequên-
cer a um grupo, qualquer que seja ele. cias para as pessoas envolvidas e as reações àquela pela sociedade,
É óbvio que as dificuldades econômicas pelas quais passam em particular pela polícia e pelo sistema de justiça criminal, assim
nosso país, refletem na população em geral, sobretudo nas cama- como pelos trabalhadores voluntários e colaboradores profissio-
das mais pobres, na grande parte miseráveis; contudo isso não im- nais.
porta necessariamente em que se tornem criminosos. A definição abrange tanto a vitimologia penal quanto a geral
Vários são os exemplos de que pobreza não implica em con- ou vitimologia orientada para a assistência.
duta criminosa, sendo o maior de todos, no nosso ponto de vista, O termo “vitimologia” foi utilizado por primeiro pelo psiquia-
aquele em que o indivíduo se coloca como um animal de carga e tra americano Frederick Wertham, mas ganhou notoriedade com
passa a puxar um carrinho no qual deposita papelão ou ferro velho, o trabalho de Hans von Hentig “The Criminal an his Victim”, de
para sustentar a si e à sua família. Tais pessoas preferem o caminho 1948. Hentig propôs uma abordagem dinâmica, interacionista, de-
mais difícil, ou seja, passar fome a cometer delitos. safiando a concepção de vítima como ator passivo. Salientou que
Os que o leva a não cometer crimes é difícil responder, mas poderia haver algumas características das vítimas que poderiam
sem dúvida, tal resposta se baseia, necessariamente, na sua perso- precipitar os fatos ou condutas delituosas. Sobretudo, realçou a ne-
nalidade (sentimento, valores, tendências e volições). cessidade de analisar as relações existentes entre vítima e agressor.
Exatamente por serem vários os exemplos, entendemos não A vitimologia é hoje um campo de estudo orientado para a
ser lícito ao criminoso escorar-se na condição social para justificar ação ou formulação de políticas públicas. A vitimologia não deve
seus atos violentos. Em sua maioria, aquele que comete crime por ser definida em termos de direito penal, mas de direitos huma-
passar fome, não usa da violência para cometê-los, opta no mais nos. Assim, a vitimologia deveria ser o estudo das consequências
das vezes por cometer pequenos furtos (chamado furto famélico). dos abusos contra os direitos humanos, cometidos por cidadãos
Também é verdade que podemos encontrar atitudes violentas ou agentes do governo. As violações a direitos humanos são hoje
e crimes violentos em todas classes sociais, do contrário como ex- consideradas questão central na vitimologia.
plicar crimes como o cometido pelo jornalista Pimenta Neves, o do A expressão “vítimas” significa pessoas que, individual ou
promotor de justiça Igor Ferreira que matou a esposa grávida de coletivamente, sofreram dano, incluindo lesão física ou mental,
oito meses, dentre tantos outros. sofrimento emocional, perda econômica ou restrição substancial
Contudo, não podemos nos apartar da realidade e negar que é dos seus direitos fundamentais, através de atos ou omissões que
no seio da população mais carente e miserável que a violência e os consistem em violação a normas penais, incluindo aquelas que
crimes violentos encontram campo propício para se desenvolver, proscrevem abuso de poder.
ademais dos motivos anteriormente expostos. As vítimas de atos ilícitos, especialmente de delitos, passaram
Nesse passo, os crimes violentos não se resumem em homi- por fases que, no dizer de Garcia-Pablos de Molina, correspondem
cídios, no entanto esse é um bom parâmetro para demonstrarmos a um protagonismo, neutralização, e redescobrimento.
nossa posição. Segundo dados fornecidos pela Secretaria de Se- O protagonismo correspondeu ao período da vingança priva-
gurança Pública, no tocante ao ano de 1999, podemos observar a da, em que os danos produzidos sobre uma pessoa ou seus bens
maior incidência de homicídios (100.000 habit.) no município de eram reparados ou punidos pela própria pessoa. As chamadas ciên-
São Paulo nas áreas dos Distritos Policiais em que se encontram as cias criminais - Ciência do Direito Penal, Criminologia e Política
populações mais carentes tais como Jardim Angela - 116,23; Cida- Criminal, “abandonaram” a vitima, quando sua atenção volta-se
de Ademar - 106,06; Iguatemi - 100,11; Parque São Rafael - 96,16 para o infrator.
e Grajaú - 95,62 ao passo que há uma menor incidência nas áreas A resposta ao delito assume critérios vingativos e punitivos,
dos Distritos Policiais em que se encontram populações de clas- quase nunca reparatórios. A ideia de neutralização da vítima en-
ses média e alta, tais como Moema - 4,11; Jardim Paulista - 8,22; tende que a resposta ao crime deve ser imparcial, desapaixonada,
Vila Mariana - 11,55; Perdizes - 14,73 e Alto de Pinheiros - 16,49 despersonalizando a rivalidade. O problema daí decorrente é que a
(Apêndice, p. VI e VII). linguagem simbólica do direito e formalismo transformaram víti-
Não podemos assim responder se o homem violento é pro- mas concretas em abstrações.
duto do meio em que vive ou se ele forja tal meio ao seu talante, Observe-se, ainda, que a punição serviria como prevenção
ou seja, se o meio é produto do homem; no entanto, com certeza, geral. Pouca preocupação havia com a reparação. O redescobri-
podemos dizer que a grande massa de miseráveis, principalmente mento da vítima é um fenômeno do pós 2ª Guerra Mundial. É uma
aqueles que coabitam em favelas, convivem no seu dia a dia com resposta ética e social ao fenômeno multitudinário da macrovitimi-
um alto grau de violência, comparável somente a Estados que se zação, que atingiu especialmente judeus, ciganos, homossexuais,
encontram em constante guerra. Diante das estatísticas e números e outros grupos vulneráveis. Esse redescobrimento não persegue
não há argumentos. nem retorno à vingança privada; nem quebra das garantias para os
delinquentes: a vítima quer justiça.
Didatismo e Conhecimento 18
CRIMINOLOGIA
A vitimologia vem, efetivamente, conferir novo status à víti- prevenção vitimaria exige adoção de políticas públicas sociais,
ma, contribuindo para redefinir suas relações com o delinquente; ensejando intervenção não penal. Finalmente, corresponsabiliza
com o sistema jurídico; com autoridades, etc. todos. O que é muito próprio, já que vivemos em uma sociedade
A propósito, o próprio conceito de vítima precisou ser revisto, de risco.
posto que já não corresponde apenas ao sujeito passivo (protago- Outro aspecto absolutamente relevante é que a vítima é fonte
nista) do fato criminoso. Exemplo de modo amplo de compreender de informações. Com efeito, as pesquisas de vitimização fornecem
vítima é trazido por Sue Moody, ao mencionar como o principal imensos subsídios a respeito de como os delitos ocorrem, em que
documento definidor de política pública para vítimas de delitos, circunstâncias de tempo e lugar, e por quais fatores desencade-
na Escócia, trata a questão: Vítima é qualquer pessoa que tenha antes. A partir da vítima, que é conhecida, e acessível de pronto,
sido sujeita a qualquer tipo de crime, como também sua família ou é possível identificar relações existentes ou não com a pessoa do
aqueles que gozam de uma posição equivalente à de família. agressor, e outros fatores relevantes.
Ao lado do conceito mais amplo de vítima, surgiu também O medo do delito e o medo coletivo de ser a próxima vítima
o de vitimização, que examina tanto a propensão para ser vítima são também objeto do estudo da vitimologia. O medo, percepção
quanto os vários mecanismos de produção de danos diretos e indi- e sentimento individual, mas com forte conteúdo de objetividade,
retos sobre a vítima. ajuda a reconhecer a presença do risco, e orientar a conduta para
Israel Charny entende que o processo de vitimização diz res- minimizá-lo ou mitigar seus efeitos. Mas também o medo aprisio-
peito a relações humanas, que podem ser compreendidas como na, e termina sendo, ele mesmo, fator de vitimização. A sensação
relações de poder. Fattah (1979) identificava no crime como que de insegurança coletiva, que enseja a adoção de políticas criminais
uma transação em que agressor e vítima desempenhavam papéis. fortemente repressoras, plenas de abusos de direitos, e destruição
Assim, a identificação de vulnerabilidade e de definibilidade da de prerrogativas dos cidadãos, encontra aí sua raiz.
vítima são essenciais no processo. Também o modo como a política criminal trata a vítima é
A vulnerabilidade da vítima decorre de diversos fatores (de tema de relevo. O modo tradicional tenta, quando o faz, uma res-
ordem física, psicológica, econômica e outras), o que faz com que socialização do delinquente. Mas raramente se percebe que tam-
o risco de vitimização seja diferencial, para cada pessoa e deli- bém a vítima precisa se encontrar, e ser reintroduzida ao convívio
to. Nesse sentido, o exame dos recursos sociais efetivos da vítima social. Não sendo percebida, torna-se esquecida em todas as fases
também deve ser levados em conta. das políticas criminais. A chave para sua inclusão está no respeito
a seus direitos, para evitar vitimização secundária. Esta termina
Kurt Vonnegut Jr., com uma certa ironia, afirma que “Os evan-
acontecendo quando se tem a lesão e sua não reparação; o crime
gelhos ensinaram, de fato, o seguinte:” Antes de matar alguém,
e sua impunidade; a vitimização e a ausência de investigação, de
certifique-se de que ele não é bem relacionado.”
processo e de condenação. Uma tendência que tem sido observada
Os judeus mataram Cristo. Mais de 2.000 anos depois, mais
é a introdução de programas de assistência à vítima, que incluem
de um bilhão de pessoas diariamente escutam, em todas as partes
assistência strictu sensu, reparação pelo infrator, programas de
do mundo, a narrativa de sua morte. “Não sabíamos que era o Filho
compensação, e programas especiais de assistência, quando a víti-
de Deus”, poderão responder. Como, em Brasília, os garotos que
ma for declarante.
brincaram de incendiários, e queimaram o índio Galdino Pataxó Talvez as maiores contribuições estejam sendo dadas a partir
disseram: “Não sabíamos que era um índio. Pensávamos que fosse das reflexões sobre as relações existentes entre a vítima e sistema
só um mendigo”. legal, e a vítima e a justiça penal.
O sistema legal costuma realizar perseguição aos delitos noti-
Contribuições da vitimologia ciados. Estudos revelam que há subnotificação. Ou seja, os delitos
praticados são em número superior às ocorrências registradas. Por
Os estudos de vitimologia tem dado imensa contribuição para que se subnotifica? Quem melhor pode responder é a vítima, e o
a compreensão do fenômeno da criminalidade, contribuindo para sistema não pode ser indiferente às suas percepções.
melhor enfrentamento, a partir da introdução do enfoque sobre as Ora, a alienação em relação ao sistema diz tanto quanto a
vítimas atingidas e os danos produzidos. O primeiro aspecto ob- afirmação de notificar. O certo é que a vivência da vítima, e suas
servado por Garcia-Pablos diz respeito à compreensão da dinâmi- características e atitudes são elementos e fatores relevantes para o
ca criminal, e da interação delinquente-vítima. Em que medida a adequado funcionamento do sistema penal.
vítima interfere para o desencadear da ação, ou sua precipitação. A relação existente entre crimes conhecidos ou esclarecidos
Em que medida suas ações ou reações condicionam ou direcionam pela Polícia, ou processados, e o papel desempenhado pela vítima.
as ações dos agressores. E em que delitos o papel da vítima é de Identificam que os crimes conhecidos ordinariamente resultam de
menor importância. uma proatividade da polícia, ou de uma reatividade. Na pro-ativi-
Análise sobre a vítima também se faz relevante para a pre- dade, a polícia seleciona suspeitos pelos estereótipos. Isso pode
venção do delito. A introdução da chamada “prevenção vitimaria”, implicar em procedimentos discriminatórios por parte da polícia,
que se contrapõe à prevenção criminal, realça a importância de se desde que há grupos antecipadamente considerados como mais
evitar que delitos aconteçam, a partir da reorientação às vítimas, e propensos à prática de delitos, e outros grupos imunes à suspeita,
aos próprios órgãos do estado, para que adotem condutas e pers- ou investigação.
pectivas distintas, que reduzam ou eliminem as situações de risco. Na reatividade, a denúncia da vítima desempenha papel vital.
A reflexão parte da constatação de que o crime é um fenômeno Mas eles advertem: nem toda vítima faz desencadear investiga-
seletivo, e que atinge os mais vulneráveis, no momento de maior ções. Só as capazes de se justificarem como tais. Ou seja, não é
vulnerabilidade. Assim, a prevenção é dirigida aos grupos mais toda vítima que consegue fazer com que a polícia inicie uma inves-
vulneráveis ou mais propensos à vitimização. Além disso, essa tigação. E é a polícia que define quem e o que investigar.
Didatismo e Conhecimento 19
CRIMINOLOGIA
As conclusões a que chegaram esses pesquisadores apontam “Pessoa que, individual ou coletivamente, tenha sofrido da-
no sentido de que a polícia não investiga quando a vítima se opõe nos, inclusive lesões físicas ou mentais, sofrimento emocional,
fortemente, nem quando o investigado é muito poderoso. Por outro perda financeira ou diminuição substancial de seus direitos fun-
lado, o ministério público também constrói seu perfil de vítima damentais, como consequências de ações ou omissões que violem
ideal. Esta deve ser aquela que pode ser uma boa testemunha. a legislação penal vigente, nos Estados–Membros, incluída a que
Finalmente, os estudos de vitimologia ajudam a melhor com- prescreve o abuso de poder”. (Resolução 40/34 da Assembléia Ge-
preender a interação existente entre a vítima e justiça penal. O mo- ral das Nações Unidas, de 29/11/85).
delo clássico, com efeito, tem a vítima como objeto, ou pretexto, Pensou-se no passado que a vítima era sempre inocente e o
para a investigação. Mas ordinariamente não leva em conta seus causador do delito o único e exclusivamente culpado. Com o tem-
interesses legítimos. Isso fez com que fossem identificados fato- po, as pesquisas, os estudos e segundo a designação de Benjamin
res que pudessem contribuir para mensurar a qualidade de uma Mendelsohn, a vítima pode ser inteiramente inocente na dinâmica
justiça criminal. Entre esses, são examinados como se concebe o do crime; pode ser tão culpada quanto o agente; mais culpada do
fato delitivo e o papel dos protagonistas; como ou se se satisfaz a que o agente; pode ser menos culpada de que o agente criminoso
expectativa dos protagonistas; qual o custo social; qual a atitude e ainda, poderá ser a única culpada do cometimento de um crime.
dos usuários da justiça. O vitimólogo fundamenta sua classificação na correlação da
O Conselho de Ministros da União Europeia publicou uma culpabilidade entre a vítima e o infrator. Vislumbrando, pois, em
Decisão Referencial sobre a Presença das Vítimas nos Procedi- primeira mão, a atitude da vítima relacionada à aplicação da pena.
mentos Criminais. Como padrão mínimo é incluído o dever de
informação sobre tipos de apoio disponíveis para a vítima; onde Vitimização: Vitimização, processo vitimizatório, ou vitima-
e como comunicar a queixa; os procedimentos criminais e o papel ção são termos neológicos, oriundos de “vítima”, e significam ação
da vítima; acesso a proteção e aconselhamento; elegibilidade para ou efeito de alguém vem a ser vítima de sua própria conduta ou da
compensação; resultado do julgamento e da sentença. Uma boa conduta de terceiro, ou fato da natureza.
comunicação com a vítima é exigida em todas as fases do processo
criminal. Classificação Vitimológica
Em linhas gerais, podemos definir vitimologia, como muito O vitimólogo israelita Benjamín Mendelsohn fundamenta
mais do que o estudo da influência da vítima na ocorrência do de-
sua classificação na correlação da culpabilidade entre a vítima e
lito, pois estuda os vários momentos do crime, desde a sua ocor-
o infrator. E o único que chega a relacionar a pena com a atitude
rência até as suas consequências. O Direito Penal desde a Escola
vitimal. Sustenta que há uma relação inversa entre a culpabilidade
Clássica sempre concentrou seus estudos no trinômio delinquente
do agressor e a do ofendido, a maior culpabilidade de uma é menor
– pena – crime, após trabalhos apresentados sobre a situação da
que a culpabilidade do outro.
vítima começaria a mudar, com a evolução do Direito Penal e os
estudos sobre o delito, o infrator e a vítima foi tendo importância
1 - Vítima completamente inocente ou vítima ideal: é a ví-
no mundo todo.
tima inconsciente que se colocaria em 0% absoluto da escala de
Percebe-se então, que no estudo da vitimologia há dois pon-
tos fundamentais: o estudo do comportamento da vítima de for- Mendelsohn. E a que nada fez ou nada provocou para desencadear
ma geral, sua personalidade, seu atuar na dinâmica do crime, sua a situação criminal, pela qual se vê danificada. Ex. incêndio
etiologia e relações com o agente criminoso e a reparação do dano
causado pelo delito. 2 - Vítima de culpabilidade menor ou vítima por ignorância:
Podemos dizer que no Brasil já tinha noções de vitimilogia, neste caso se dá um certo impulso involuntário ao delito. O sujeito
quando estudos demonstram que o Santo ofício da Inquisição agia por certo grau de culpa ou por meio de um ato pouco reflexivo
como uma espécie de jus punienti contra qualquer um que pudesse causa sua própria vitimização. Ex. Mulher que provoca um aborto
colaborar com ideias diferentes. Nunca se estabeleceu oficialmente por meios impróprios pagando com sua vida, sua ignorância.
um Tribunal no Brasil, embora tenha sempre agido em terras brasi-
leiras por intermédio das autoridades eclesiásticas locais e visita- 3 - Vítima tão culpável como o infrator ou vítima voluntá-
dores. Na primeira década do século XVIII a Inquisição fez prisões ria: aquelas que cometem suicídio jogando com a sorte. Ex. roleta
em massa, no auto de fé de 1711 havia 52 brasileiros, as persegui- russa, suicídio por adesão vítima que sofre de enfermidade incu-
ções e os confiscos de propriedades nesse ano levaram a uma para- rável e que pede que a matem, não podendo mais suportar a dor
lisação crescente na fabricação do açúcar, prejudicando seriamente (eutanásia) a companheira (o) que pactua um suicídio; os amantes
o comércio. Procurando resolver as demandas, necessita assim de desesperados; o esposo que mata a mulher doente e se suicida.
um engajamento do poder público, a fim de proporcionar melhores
condições de vida à população desprovida de recurso. 4 - Vítima mais culpável que o infrator:
- Vítima provocadora: aquela que por sua própria conduta in-
Vítima: Etmon: Victima ae = da vítima + logos = tratado, es- cita o infrator a cometer a infração. Tal incitação cria e favorece a
tudo = estudo da vítima. explosão prévia á descarga que significa o crime.
A palavra foi usada pela primeira vez, por Benjamim Mendel- - Vítima por imprudência: é a que determina o acidente por
son, advogado israelense, vítima da II Guerra mundial, em 1947, falta de cuidados. Ex. quem deixa o automóvel mal fechado ou
em palestra intitulada “The origins of the Doctrine of Victimolo- com as chaves no contato.
gy”.
Didatismo e Conhecimento 20
CRIMINOLOGIA
5 - Vítima mais culpável ou unicamente culpável: Proteção às Vítimas
- Vítima infratora: cometendo uma infração o agressor cai ví-
tima exclusivamente culpável ou ideal, se trata do caso de legitima A política criminal não pode continuar limitada à ideia de
defesa, em que o acusado deve ser absolvido. “tratamento”, deve-se tentar de todas as formas de intervenção
- Vítima simuladora: o acusador que premedita e irresponsa- destinadas a neutralizar as cargas de medo e frustração da vítima,
velmente joga a culpa ao acusado, recorrendo a qualquer manobra consolidando que se converta à vítima em fim autônomo da pró-
com a intenção de fazer justiça num erro. pria política criminal.
A inclusão real da vítima na investigação e no próprio proces-
Meldelsohn conclui que as vítimas podem ser classificadas em so criminal na condição de aliada ao trabalho do Ministério Públi-
3 grandes grupos para efeitos de aplicação da pena ao infrator: co, demonstram que, inúmeros delitos não ocorreriam se a vítima
1 - Primeiro grupo: vítima inocente: não há provocação nem não facilita-se, diretamente a ação do criminoso. A Lei 9.807 de
outra forma de participação no delito, mas sim puramente vitimal. 13 de Julho de 1.999 estabelece normas e programas para proteção
2 - Segundo grupo: estas vítimas colaboraram na ação nociva das vítimas, que tenham ou venham a ser ameaçadas pelos crimi-
e existe uma culpabilidade reciproca, pela qual a pena deve ser nosos.
menor para o agente do delito (vítima provocadora) Diferentemente de Vitimologia o campo de Direitos Humano
3 - Terceiro grupo: nestes casos são as vítimas as que co- tem pouco apelo de pesquisa acadêmica e científica e menos litera-
metem por si a ação nociva e o não culpado deve ser excluído de
tura examinando temas de Vitimização.
toda pena.
A Vitimologia pode oferecer aos Direitos Humanos a metodo-
logia e um conjunto de Teorias Vitimológicas e questões, sem con-
Direitos das vítimas
tar com dados comparativos e outras categorias de vítimas, como
Basicamente os direitos das vítimas consistem em tratamen- vítimas de crime. Com ênfase no crime, a Vitimologia pode auxi-
to justo e respeito à sua dignidade e privacidade; proteção contra liar os Direitos Humanos a teorizar mais claramente sobre “crimes
agressor; informação sobre a tramitação processual, e garantia de contra a humanidade”, ainda parcialmente operacionalizado. Pode
presença em corte; acesso ao acusador público; restituição das coi- também ajudar a melhor conceituar a Vitimização definida como
sas indevidamente tomadas ou apreendidas; informação sobre a Criminal, comparativamente às não consideradas Criminais, ape-
condenação, a sentença, a prisão e a libertação do agressor. sar de seus efeitos danosos.
A Declaração sobre os princípios fundamentais de justiça para O Direito Humano pode ajudar a examinar as fontes de Viti-
as vítimas de delitos e do abuso de poder, da ONU, deram a dire- mização e a relação entre causa da opressão. As vítimas de opres-
ção que foi seguida pela norma americana: garantia de ACESSO são terão uma responsabilidade funcional para com a Vitimização?
A JUSTIÇA E TRATAMENTO JUSTO; tratamento com compai- A que ponto as violações de Direitos Humanos emergem de me-
xão e respeito; Informação sobre seu papel e alcance; assistência canismos de controle social doméstico? Alguns grupos ou poucos
apropriada (legal, medica, psicológica); ressarcimento dos danos; poderiam Ter sido designados implícita ou explicitamente vítima
informação sobre a tramitação processual. alternadamente “legitimadas”, não lhes garantindo proteção efeti-
va? Paradoxalmente pode, se fornecer mais dados adotando pers-
Direitos Humanos e Vitimologia pectivas, mas amplas dos Direitos Humanos.
Direitos Humanos e vitimologia resultam de um novo olhar Fases do Inter Victimae, o crime precipitado pela vítima
sobre as vítimas, como consequência dos horrores da 2ª Guerra
e do nazi-fascismo. Não é obra do acaso o fato de o primeiro ins- - Intuição, “quando se planta na mente da vítima a ideia de ser
trumento vinculante, promulgado no âmbito da ONU, ter sido a prejudicado por um ofensor”.
Convenção contra o Genocídio, em 9 de dezembro de 1948, um - Atos preparatórios (conatus remotus), “momento em que
dia antes da promulgação da Declaração Universal de Direitos Hu- revela a preocupação de tomar as medidas preliminares para de-
manos. fender-se ou ajustar o seu comportamento”.
A vitimologia é uma espécie de “filha” da Criminologia, ou
- Início da execução (conatus proximus), “oportunidade em
parte dela. Integra com esta última os pilares das ciências criminais
que a vítima começa a operacionalização de sua defesa aproveitan-
(ciência do direito penal, criminologia e política criminal). Analisa
do a chance que dispõe para exercitá-la”.
o sistema de justiça e segurança. O seu objeto de estudo faz parte
(estando contido) no âmbito de atuação dos direitos humanos. O - Execução (executio), “resistência da vítima para evitar a
âmbito dos direitos humanos é mais amplo. Abrange os direitos todo custo, que seja atingida pelo resultado pretendido por seu
civis e políticos (como vida, liberdade, integridade física e mental, agressor”.
julgamento justo, propriedade, etc.), mas também acrescenta os - Consumação (consumatio), “quando a prática do fato de-
direitos econômicos, sociais e culturais, conhecidos como DESCs. monstrar que o autor não alcançou seu propósito (fins operantis)
Assim, vítimas de fome, despejos forçados e coletivos, desempre- em virtude de algum impedimento alheio à sua vontade, aí pode se
go, discriminação, doenças, etc, são sujeitos de direitos no direito classificar como tentativa de crime”.
internacional dos direitos humanos. O olhar solidário as enxerga, e
as traz para protagonizarem as lutas em defesa do reconhecimento Diante do que discorre o artigo 59, Caput do Código Penal,
e respeito de seus direitos. passou a ser do magistrado na dosimetria da pena, analisar o com-
Quanto ao modo de atuar, a interdisciplinaridade caracteriza portamento da vítima (antes e depois do delito) como circunstân-
tanto a criminologia e a vitimologia quanto os estudos de direitos cia judicial na individualização da pena imposta ao acusado. De
humanos. acordo com o professor Edmundo de Oliveira, “Inter Victimae”
Didatismo e Conhecimento 21
CRIMINOLOGIA
é o caminho, interno e externo, que segue um indivíduo para se Em consequência, as políticas de prevenção do crime, espe-
converter em vítima, o conjunto de etapas que se operam cronolo- cialmente aquelas propostas nas campanhas eleitorais visam me-
gicamente no desenvolvimento de Vitimização. nos reduzir e controlar o crime e as oportunidades de delinquir ou
aprofundar a eficiência de políticas de prevenção ao crime, mas
LEI 9.099/95 apenas diminuir o medo e a sensação de insegurança das classes.
Teóricos apontam ferminização dos processos migratórios,
Principais avanços gerais: milhares de mulheres deixam o Terceiro Mundo para tentar a sor-
- Concepção do delito como um fato histórico, inter pessoal, te em países industrializados e acabam se transformando na face
comunitário e social; feudal das ricas e modernas sociedades privilegiadas. Tráfico hu-
- Transformação da vítima em sujeito de direitos; mano, prostituição involuntária, casamentos forçados, são vários
- O fim da despersonalização do conflito; os métodos da escravidão moderna.
- A ponderação das várias expectativas geradas pelo crime; Para as vítimas desse tráfico humano moderno, o sonho de
- A comunicabilidade, possibilidade do diálogo entre infrator uma vida melhor quase sempre desmorona mais rápido do que o
e vítima; esperado. O aumento da discriminação e da violência contra os
- Resolutibilidade, que a decisão adotada pelo juiz criminal migrantes é uma das consequências de 11 de Setembro de 2001.
resolva o conflito, é dizer, permita a reparação do dano; O Departamento de Estado dos EUA, em relatório divulgado,
- A vítima passa a ser comunicada de todo o andamento do considera o Brasil, País fornecedor de vítimas para o tráfico do-
feito e de seus direitos; méstico e internacional de seres humanos. Além de uma falta de
- Evita-se a vulgarização da pena de prisão (última ratio) des- percepção do crime por vítimas, denunciantes, órgãos de defesa e
mistificando-se; operadores de direito, outros fatores negativos são as leis inade-
- A pretensão punitiva, na linha da “força do Direito”. quadas, a falta de conhecimento da legislação nacional, tanto de
brasileiros quanto estrangeiros. As embaixadas e consulados tam-
Reparação do dano: O tema remota a mais longínqua antigui- bém estão despreparados para proceder nos casos de diagnósticos
dade, vários monumentos legislativos da história demonstraram a de tráfico, processos e inquéritos sistematizados. É essencial haver
preocupação do legislador, da comunidade e do grupo social com enfrentamento do problema sob a ótica de responsabilização, au-
um todo, pela reparação do dano, exemplificando o Código de Ha-
mentando a capacidade institucional de investigação e incrementar
murabi datado do século XXIII a.C.
políticas de apoio às vítimas e testemunhas do tráfico.
Modernamente, há que se destacar a Lei n.º 9.099/95 que pre-
A legislação existente deve vigorar, não permitindo lacunas
ocupou-se com a reparação do dano à vítima. Comenta Luiz Flávio
ou incorreção legais. Aquele que “compra” a pessoa traficada deve
Gomes: “...a lei 9.099/95, no âmbito da criminalidade pequena
ser punido também, o tráfico não deve restringir à prostituição e
e média, introduziu no Brasil o chamado modelo consensual de
sim incluir outras modalidades estabelecendo uma figura autôno-
Justiça Criminal. A prioridade agora não é o castigo do infra-
ma com punição mais elevada, depois do tráfico de drogas e de
tor, senão sobretudo a indenização dos danos e prejuízo causa-
dos pelo delito em favor da vítima”. armas, o de pessoas é o ramo mais lucrativo do crime estabelecido.
Assim, a Lei propõe uma inversão, a pena privativa de liber- Propõe-se um novo modelo de Justiça Penal, em que o Estado dará
dade como exceção para casos especiais, e maior destaque para as resposta eficaz à população que exige um sistema adequado garan-
penas alternativas. tindo o ressarcimento do dano causado pela criminalidade.
A Lei enfoca a vítima direta ou indiretamente vária vezes com
o intuito de participação ativa desta no processo, visando, pois, Síntese Histórica
minorar os efeitos da vitimização secundária e, consequentemente,
atingir um dos objetivos da vitimologia, a reparação do dano. As escolas penais, tanto a Escola Clássica de Becaria e Fuer-
Há evidências disto quando do estudo dos novos institutos da bach, como a Escola Positiva de Lombroso, Ferri e Garofalo, esta-
Lei n.º 9.099/95, tais como, a composição civil que implica em vam centradas nos elementos delito/delinquente/pena. Não houve
renúncia da vítima ao direito de queixa ou representação; a am- grande preocupação com a vítima.
pliação do rol de crimes que dependem de representação; e a sus- Nesse sentido, Luiz Flávio Gomes e Antônio Garcia Pablos
pensão condicional do processo, institutos esses, que evidenciam, de Molina comentam: “O abandono da vítima do delito é um
repita-se, o incentivo à reparação do dano. fato incontestável que se manifesta em todos os âmbitos: no
Outros diplomas legais preocuparam-se com a vítima no to- Direito Penal (material e processual), na Política Criminal, na
cante a reparação do dano, citamos: a Lei n.º 8.078/90, Código de Política Social, nas próprias ciências criminológicas. Desde o
Defesa do Consumidor; a Lei n.º 9.503/98 que instituiu o Código campo da Sociologia e da Psicologia social, diversos autores,
de Trânsito; a Lei n.º 9.714/98 que deu nova redação a vários têm denunciado esse abandono: o Direito Penal contemporâ-
artigos do Código Penal; e a Lei n.º 9.605/98 que regulamentou a neo, advertem, acha-se unilateral e equivocadamente voltado
prestação pecuniária nos crimes ambientais. para a pessoa do infrator, relegando a vítima a uma posição
marginal, no âmbito da previsão social e do Direto civil mate-
Mais do que em outros países do mundo, na América Lati- rial e processual”.
na, apesar das constituições democráticas e dos Códigos Penais, a Praticamente, só no final da Segunda Guerra Mundial, um
percepção de crime está diretamente influenciada pelo uso que as advogado de origem israelita chamado Benjamin Mendelsohn,
elites fazem dos aparelhos judiciais. Há uma confluência entre os também vítima da guerra, começou a pensar em sistematizar uma
alvos do medo, do crime das políticas judiciais e da percepção da nova ciência ou desenvolver um ramo da criminologia que foi a
mídia nas práticas criminosas que são os crimes comuns. vitimologia.
Didatismo e Conhecimento 22
CRIMINOLOGIA
Sua obra “Horizonte Novo na ciência Bio-psicosocial – A Vi- O surgimento repentino da vítima, a exemplo do que ocorrera
timologia”, publicada em 1956 passou a ser um marco no assunto, no passado com o criminoso, fez com que Mendelsohn propusesse
seguido posteriormente, de vários outros estudos iniciando uma à ONU que considerasse a vitimologia como uma ciência e não
fase de redescoberta da vítima, pois, até então não passava de um mais como um desdobramento da criminologia, o que foi objetado
subdesenvolvido sujeito passivo no crime ou no processo penal. por Pinatel sob o argumento de que criminoso e vítima são indis-
Importante ainda, ressaltar no processo evolutivo, a Resolu- sociáveis, sendo a criminologia e a vitimologia o estudo do fato
ção n.º 40/34 denominada Declaração Universal dos Direitos da criminoso como um todo, definindo a tese de Mendelsohn como
Vítima, promulgada pela ONU em 29 de novembro de 1985. abrangente.
Nesse sentido, Antônio Scarance Fernandes reconhece a im- Todavia, este argumento posteriormente fora refutado por
portância da vítima na história do Direito Criminal, citando três Mendelsohn, que ao ampliar seu conceito, considerando todas as
momentos distintos na história processual penal: o primeiro ainda categorias de vítimas na sociedade, inclusive as não decorrentes
à época da vingança Privada ou Justiça Privada, depois, correspon- de crimes, antecipou-se à concepção atual de vitimologia. É por
deria, a punição do culpado, a um dever sagrado exercido conjun- esta amplitude conceitual que transcende o estudo das vítimas cri-
tamente pela Igreja e Estado e, por último, o estágio atual onde o minais, que a vitimologia era considerada por Mendelsohn e hoje,
direito de punir é exclusivo do Estado. por vários outros estudiosos, como ciência autônoma.
A preocupação com a reparação causada injustamente como Essa consolidação da vitimologia como ciência independente,
medida de justiça remonta desde a antiguidade, embora sem a cla- veio a se confirmar com a Declaração dos Princípios Básicos de
reza científica da vitimologia atual, como podemos verificar atra- Justiça para as Vítimas de Delitos e Abuso de Poder, no 7° Con-
vés dos Códigos e Leis antigos, dentre eles o Código de Ur-Nam- gresso das Nações Unidas sobre a Prevenção do Crime e Trata-
mu, as Leis de Eshnunna, o Código de Hammurabi, o Alcorão, o mento do Delinquente, no ano de 1985, em Milão.
Código de Manu e a Lei das XII Tábuas. Nesse congresso firmou-se um conceito mundial de vítima,
A vitimologia nasceu após a segunda Guerra Mundial, mais como sendo o individuo ou coletividade que tenha sofrido lesões
especificamente em 1947, dois anos após seu término, em decor- de qualquer tipo (físicas ou psíquicas) em decorrência de violações
rência do sofrimento dos judeus pelo nazismo de Hitler que teve da legislação de cada Estado-Membro ou ainda de normas reco-
como resultado milhões de mortos, feridos e desaparecidos que nhecidas mundialmente, relativas a Direitos Humanos.
chocou o mundo e influenciou o Direito Penal na Europa.
No Brasil, temos como estudiosos do tema Edgard de Moura
Com isso, o estudo da vítima, que se encontrava esquecida
Bittencourt, Laércio Pelegrino e a professora Arminda Bergamini
desde a época da vingança privada, voltou a ter importância dei-
Miotto, que contribuíram para a difusão da vitimologia no país.
xando de ser o Direito Penal, o Direito dos Criminosos, como afir-
mou Carrara.
A aplicabilidade da Vitimologia no Brasil
Nos mostra Calhau que o estudo da vítima teve como seu pre-
cursor Benjamim Mendelsohn, Professor Emérito da Universidade
Atualmente temos o que podemos chamar de criminalidade
Hebraica de Jerusalém e também vítima da Guerra, quando falou
oculta vez que nem todos os delitos que ocorrem são levados a
em 1947 sobre o assunto na conferencia realizada na Universidade
de Bucareste. No ano seguinte o tema foi abordado por Hans Von conhecimento das autoridades policiais e judiciária (cifra negra)
Hentig ao divulgar sua pesquisa “O criminoso e sua vítima” na devido ao medo de represálias ou pela descrença na justiça penal,
universidade de Yale, onde traçou a importância da psicologia no fazendo com que as estatísticas oficiais não representem fielmente
estudo da vítima juntamente com seu ofensor. a real criminalidade.
Após estes estudiosos que deram o primeiro passo, outros Assim, as pesquisas de vitimização compostas por questioná-
vieram a discutir o tema, com destaque para Vasile Stanciu autor rios estruturados, direcionados às vítimas dos delitos, sem levar
de grandes obras sobre sociologia criminal, com enfoque para a em conta as estatísticas oficiais, como aponta Molinas, “permitem
vitimologia. avaliar cientificamente a criminalidade real, constituindo a técnica
A vitimologia se consagrou como disciplina criminológica em mais adequada para quantificá-la e identificar suas variáveis”. Per-
1956 quando o próprio Mendelsohn sistematizou vários estudos de mitem identificar variáveis como idade, nível econômico e sexo
sua autoria; começou a crescer, chegando em 1965 à América La- das vítimas em cada tipo de delito, facilitando os programas de
tina, com Jimenez de Asúa, sendo ali o primeiro jurista a se ocupar prevenção.
dela em seminário realizado na Faculdade de Direito de Buenos Nosso pais é recordista em analfabetismo, desigualdade social
Aires. Em seguida, chegou a Israel, onde foi realizado no ano de pela alta concentração de renda nas mão de poucos, desemprego,
1973, na cidade de Jerusalém, sob a supervisão de Israel Drapkin desnutrição infantil e falta de saneamento básico e água potável.
(diretor do Instituto de Criminologia da Faculdade de Direito da Esses fatores favorecem, e muito, o processo de vitimização da
Universidade Hebraica de Jerusalém), o I Congresso Internacional nossa população. Daí a necessidade de se dar maior importância à
de Vitimologia onde se discutiu as causas da vitimização e sua vitimologia, não só buscando a punição do infrator ou a reparação
prevenção e pesquisa. das consequências de sua conduta mas também orientando o Poder
Após este, vários outros simpósios foram organizados ao lon- Público na prevenção dessas causas de vitimização.
go dos anos pelo mundo: 1976 em Boston, Estados Unidos; 1979 O estudo da vítima, sob seus variados aspectos constitui um
em Münter, República Federal da Alemanha; 1982 em Tóquio e dos grande desafios das ciências criminais. O assunto reúne à ele-
Quioto, Japão; 1985 em Zagreb, Iugoslávia e os Congressos In- vação teórica uma significativa importância prática, isso concer-
ternacionais realizados em 1980 nos Estados Unidos e em 1982 nente ao comportamento da vítima no julgamento e aplicação da
na Itália. pena e quanto à reparação do dano.
Didatismo e Conhecimento 23
CRIMINOLOGIA
Podemos afirmar que a vítima foi, durante muito tempo esque- Nesse instrumento investigatório são produzidas provas que
cida, porém, modernamente, e com a edição da Lei n.º 9.099/95 visam elucidar a autoria e materialidade da infração objeto de in-
que trouxe importantes modificações, a tendência atual do direito vestigação, tais como depoimentos testemunhais, declarações de
penal, seguido por outros ramos do Direito, é a valorização da ví- vitimas, reconstituição de crimes, confissões de suspeitos, apre-
tima. ensão de instrumentos e/ou objetos e/ou produtos de crimes, exa-
Resta claro, pois, que ainda há muito a se explorar, porém, é mes de necrópsia, reconhecimento de pessoas, acareações, dentre
mister concluirmos pela ascensão do papel da vítima como ele- outras.
mento estrutural do Estado Democrático de Direito. Toda esta colheita probatória é presidida por profissional ba-
charel em Direito, previamente aprovado em concurso público de
provas e de títulos, denominado Delegado de Polícia, que tem por
3.5 MODELOS E SISTEMAS DE SEGURAN- finalidade gerenciar esta produção pluricientífica, com lastro na le-
ÇA PÚBLICA E DE JUSTIÇA CRIMINAL gislação em vigor e, principalmente, atento ao preceitos estatuídos
na Constituição Federal.
Confeccionado o caderno policial, a polícia judiciária, após o
delegado de polícia realizar a subsunção cognitiva do fato crimi-
O ordenamento jurídico brasileiro é composto por uma série noso à norma penal, dá por termo as investigações, indiciando for-
de micros-sistemas normativos, cada um voltado para disciplinar malmente o investigado, que passa então a figurar como indiciado.
determinada seara de atuação social. Concluídas as investigações o Inquérito Policial é remetido à
Assim temos os Direito Civil, Empresarial e Trabalhista (regu- “Justiça”, terminando-se assim a fase administrativa do Sistema
lam, em regra, as relações privadas), bem como os Direitos Cons- de Justiça Criminal. Na “Justiça” -Poder Judiciário -, inicia-se a
titucional, Administrativo, Tributário, Previdenciário, Processual, segunda fase, denominada judicial, onde a vitima e/ou seu repre-
Ambiental, dentre outros, que moldam as condutas sociais onde sentante legal, bem como o Ministério Público, possuem o direito
o interesse público estatal possui uma maior atenção em evitar o -para o parquet dever - de promover a ação penal contra o autor
descumprimento de tais preceitos. daquele delito apurado no Inquérito Policial. Ao Juiz cabe decidir
Ao conjunto de normas impostas coercitivamente pelo Estado pela absolvição ou condenação do acusado, conforme as provas
com a finalidade de manter a paz social, definindo crimes e impon-
dos autos.
do sanções ou medidas de segurança, denomina-se Direito Penal.
Tanto na fase administrativa como na judicial o acusado de
Esse ramo do Direito é chamado pelos penalistas modernos
um crime tem o seu direito à liberdade ameaçado. É para não ferir
como a “última razão”, ou seja, só deve atuar quando as outras for-
os Princípios da Igualdade Formal e da Dignidade da Pessoa Hu-
mas jurídicas de controle social, leia-se, outros ramos do Direito,
mana que as autoridades que presidem a colheita de provas de um
foram ineficazes em evitar uma conduta contrária ao ordenamento
determinado crime -Delegado de Polícia na fase administrativa, e
jurídico vigente.
Juiz, na fase judicial - devem assegurar a produção de todas aque-
Evidentemente que o Direito Penal não regula todos os com-
portamentos sociais, bem como nem pode, sob pena de cair em las que tenham alguma relação com o fato delituoso, sejam elas
descrédito. Reserva a esta Ciência o controle das atividades mais prejudiciais ou benéficas ao imputado.
nocivas que um ser humano pode praticar em sociedade - Princípio Tanto é assim que a doutrina e a jurisprudência brasileira é
do Direito Penal Mínimo. quase uníssona no sentido de que as únicas autoridades existen-
Contudo, a aplicação do Direito Criminal está jungida a uma tes no Sistema de Justiça Criminal são os Delegados de Polícia e
teia organizacional composta de vários órgãos chamada de Siste- os Juízes, pois estas devem se pautar pela imparcialidade quando
ma de Justiça Criminal. O Sistema de Justiça Criminal deve ser no desempenho de suas atribuições legais. Os outros órgãos esta-
considerado sob dois ângulos: “lato sensu” e “estricto senso”. O tais que por ventura venham a atuar na repressão criminal ou são
primeiro leva em consideração todas as medidas estatais preven- partes, tendo interesse em uma determinada decisão -Ministério
tivas da criminalidade, como a distribuição da renda, educação, Público, Exemplo: ou são testemunhas favoráveis ou contrárias
saúde, saneamento básico, emprego etc, em síntese, tem enfoque aos interesses do Estado acusador (policiais militares, bombeiros,
sociológico. O segundo é o que interessa no momento. agentes penitenciários, etc.).
Com o advento da Constituição Federal de 1988 instaurou-se Vários estudiosos do fenômeno da criminalidade e do Sistema
no Brasil um novo modelo de justiça criminal, cujo mecanismo de de Justiça Criminal consideram um equívoco a Polícia Judiciária
funcionamento é dividido em duas fases. A primeira é a adminis- pertencer à estrutura do Poder Executivo, pois é exatamente este
trativa, chamada pelos aplicadores do Direito como extrajudicial, Poder que exerce as atribuições de acusador na esfera criminal,
e que tem início com o trabalho ostensivo/preventivo da polícia através dos Promotores de Justiça, não sendo coerente que as au-
uniformizada, com escopo de impedir a prática de delitos. Nessa toridades que investigam, Delegados da Polícia Civil e Federal,
fase, quando o trabalho preventivo não é capaz de evitar o crime, pertençam à mesma estrutura que acusa. Assim, existem estudio-
cabe ao Estado, atendidas algumas exigências legais, o dever de sos que defendem a Polícia Judiciária pertencente à estrutura do
descobrir o autor do ilícito para que o mesmo seja submetido a Poder Judiciário.
julgamento, eis que é “vedado ao particular fazer justiça com as Durante a década de 1990, como os índices de criminalidades
próprias mãos”. na maior parte do Brasil atingiam níveis aceitáveis, não se deu a
A tarefa investigativa é consagrada nas Constituição da Repú- devida atenção ao Sistema de Justiça Criminal. Com o crescimen-
blica e dos estados-membros à Polícia Judiciária (Polícia Civil nos to da criminalidade nesta década as entidades políticas, principal-
Estados Membros e Federal, na União), através do procedimento mente a União e os Estados-Membros, sentiram a necessidade de
denominado Inquérito Policial. implementar medidas no campo da Justiça Criminal, pois os índi-
Didatismo e Conhecimento 24
CRIMINOLOGIA
ces atingiram níveis inaceitáveis. Depararam-se, no entanto, com o segundo estes dados, de apenas 0,026%, a comparação com outros
sucateamento do Sistema de Justiça Criminal (polícias judiciárias, países evidencia um grave problema de segurança pública no Bra-
estabelecimentos prisionais etc). sil. Outros crimes também preocupam. A Secretaria Nacional de
Percebeu-se que o “elo de ligação” entre as fases adminis- Segurança Pública (Ministério da Justiça) conseguiu reunir outros
trativa e judicial da persecução penal encontrava-se, no aspecto dados de vítimas de crime no país, relativos a 2005. Os números
estrutural (recursos humanos e materiais), em dissonância com a são os seguintes:
demanda social. - lesão corporal dolosa – 308.952 vítimas;
Algumas medidas já começaram a serem adotadas no sentido - tentativa de homicídio – 21.461;
de “recuperar o tempo perdido”, no que pertine ao aperfeiçoamen- - extorsão mediante sequestro – 617;
to do Sistema de Justiça Criminal. São políticas que apesar de tar- - roubo a transeunte – 202.577;
dias são bem vindas e necessárias, satisfazendo uma exigência da - estupro – 7.550;
população. Contudo, não se pode perder de vista os direitos consti- - atentado violento ao pudor – 7.172 vítimas.
tucionais assegurados aos cidadãos, sejam eles quem for, sob pena
de que na “ânsia de reduzirmos a criminalidade a qualquer custo”, Por fim, a ação da sociedade civil e a mídia têm também cha-
retornemos ao período da Inquisição. mado atenção para uma série de fenômenos: corrupção, violência
contra grupos vulneráveis (mulheres, crianças, idosos, GLBT, de-
fensores de direitos humanos, trabalhadores rurais), contrabando,
A segurança pública, nos últimos anos, tornou-se uma das áre-
tráfico de armas etc. Essa forte preocupação social, por sua vez,
as de políticas públicas de maior preocupação dos brasileiros. Isto
tem despertado na sociedade e no Estado (setores de saúde, educa-
pode ser notado em pesquisas de opinião pública realizadas recen- ção, urbanização, trabalho etc.) novas ações que contribuem para a
temente. A pesquisa CNT-Sensus trabalhou com três indicadores: melhora da situação ao atuar na prevenção da violência e do crime.
- a avaliação dos entrevistados sobre o controle da violência e No entanto, embora alguns estudos venham questionando a
da criminalidade pelas autoridades; ideia de prisão de criminosos como forma de intimidar o crime
- a forma de violência pela qual o entrevistado se sente mais e assegurar a ressocialização, a responsabilidade mais específica
ameaçado; sobre o problema, atribuída pela mídia e pelos atores políticos de
- a classificação da cidade como mais ou menos violenta, se- maneira geral, continua sendo do sistema de justiça criminal. O
gundo o entrevistado. objetivo deste estudo foi avaliar a atuação desse sistema de justiça
criminal. Duas são as perspectivas de avaliação: o respeito ao Es-
Os resultados mostram que, para 76,1% dos entrevistados, a tado Democrático de Direito e os resultados dos órgãos em relação
violência e a criminalidade estão fora do controle das autoridades. às infrações penais.
Para o segundo indicador, entre as opções apresentadas, o assalto
em casa ou na rua foi escolhido por 38,4% dos entrevistados como Desenho Institucional do Sistema de Justiça Criminal
a violência que mais ameaça. Os demais entrevistados escolheram:
- tráfico de drogas (31,7%); O sistema de justiça criminal abrange órgãos dos Poderes
- estupro (9%); Executivo e Judiciário em todos os níveis da Federação. O sis-
- sequestro (7%); tema se organiza em três frentes principais de atuação: seguran-
- violência na família (6,1%); ça pública, justiça criminal e execução penal. Ou seja, abrange a
- brigas em locais públicos (5,9%). atuação do poder público desde a prevenção das infrações penais
até a aplicação de penas aos infratores. As três linhas de atuação
Por último, a cidade onde mora o entrevistado foi considera- relacionam-se estreitamente, de modo que a eficiência das ativida-
da muito violenta por 14,7%, violenta por 16,9%, mais ou menos des da Justiça comum, por exemplo, depende da atuação da polí-
violenta por 29,7%, pouco violenta por 27,8%, e nada violenta por cia, que por sua vez também é chamada a agir quando se trata do
10,1% dos entrevistados. Os resultados dessa pesquisa revelam encarceramento, para vigiar externamente as penitenciárias e se
encarregar do transporte de presos, também à guisa de exemplo.
também, entre outros aspectos, que os entrevistados tendem a ser
A política de segurança pública, de execução penal e a ad-
críticos quanto à atuação das autoridades, mesmo aqueles que con-
ministração da Justiça são majoritariamente desenvolvidas pelos
sideram relativamente pouco violentas as cidades em que moram.
poderes estaduais. Os poderes públicos federal e municipal desem-
A percepção dos brasileiros sobre a situação de violência e penham papel de menor importância nesta área.
criminalidade é influenciada pela ampla cobertura que os meios de O objetivo desta seção é apresentar o desenho institucional de
comunicação de massa dão aos casos de violência. Em qualquer cada um dos subsistemas da Justiça criminal. Além dos órgãos en-
lugar do país, tem-se informação sobre crimes ocorridos em São volvidos em cada nível da Federação, busca-se aqui também mos-
Paulo, Rio de Janeiro, outras cidades de grande e médio porte, e trar a relação entre eles e as principais normas legais que regem a
também, embora mais raramente, em pequenos municípios. Isso atuação governamental na área, de modo a subsidiar a posterior
não quer dizer, no entanto, que não existam motivos reais para uma análise sobre o funcionamento do sistema, assim como permitir ao
grande preocupação com o tema. leitor uma maior familiaridade com o tema.
Em relação às mortes por agressão (homicídios ou latrocí-
nios), por exemplo, num conjunto de 80 países, o Brasil é o pri- Estrutura do Sistema de Segurança Pública
meiro em número absoluto de mortes, o quarto em taxa de mortos
por agressão por 100 mil habitantes (26,4), e o quarto na proporção O sistema de segurança pública no Brasil organiza-se com
entre as mortes por agressão sobre o total de mortes (4,8%). Em- base em órgãos do Poder Executivo Federal, estadual e munici-
bora o risco de morte por agressão do brasileiro em um ano seja, pal. A Constituição Federal (CF) de 1988 traz as diretrizes gerais
Didatismo e Conhecimento 25
CRIMINOLOGIA
para o sistema, prevendo o papel dos órgãos policiais e dos entes tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão
federativos em sua organização. No art. 144, a CF define a segu- uniforme”. Cabe, ainda, “prevenir e reprimir o tráfico ilícito de
rança pública como dever do Estado e responsabilidade de todos. entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho (...)”,
Define, ainda, que os órgãos responsáveis por sua manutenção são “exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de frontei-
a Polícia Federal as Polícias Rodoviária e Ferroviária Federais; as ras” e “exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária
Polícias Civis; as Polícias Militares; e os Corpos de Bombeiros da União” (CF, art. 144, § 1o, incisos I a IV).
Militares. Dessa forma, a Polícia Federal cumpre um importante papel
A seguir será traçada a estrutura do sistema, de acordo com os nas investigações que envolvem crimes contra o patrimônio da
papéis e a organização de cada nível da Federação: União, poder União, aí incluídos delitos cometidos por autoridades políticas,
estadual e poder municipal. no policiamento de fronteira, e no combate ao tráfico de drogas,
- Órgãos federais de segurança pública: No âmbito do go- atuando em todo o país por meio de suas unidades regionalizadas
verno federal, a segurança pública é assunto da área de competên- – 27 superintendências regionais e 81 delegacias, além de postos
cia do Ministério da Justiça, no qual se encontram vinculados os avançados, centros especializados, e delegacias de imigração, en-
seguintes órgãos: Secretaria Nacional de Segurança Pública (Se- tre outros. A Polícia Federal atua também na fiscalização nos aero-
nasp), Departamento de Polícia Federal, e Departamento de Po- portos, na emissão de passaportes e no registro de armas de fogo.
lícia Rodoviária Federal. Cabe mencionar, ainda, a existência de Seus principais órgãos centrais são: Comando de Operações Táti-
conselhos ligados ao Ministério da Justiça, tais como o Conselho cas, Academia Nacional de Polícia, Diretoria Técnico-Científica,
Nacional de Segurança Pública, que também exercem papel im- Coordenação-Geral de Polícia de Imigração, e Coordenação-Geral
portante para as definições e avaliações da política. de Controle de Segurança Privada.
A Senasp, criada em 1997, tem por principais atribuições: A Polícia Rodoviária Federal, que também tem suas atribui-
promover a integração dos órgãos de segurança pública; planejar, ções definidas constitucionalmente, deve exercer o patrulhamento
acompanhar e avaliar as ações do governo federal na área; estimu- das rodovias federais. Integram sua atuação: realizar patrulhamen-
lar a modernização e o reaparelhamento dos órgãos de segurança to ostensivo, inclusive operações relacionadas com a segurança
pública; estimular e propor aos órgãos estaduais e municipais a pública; exercer os poderes de autoridade de polícia de trânsito;
elaboração de planos integrados de segurança; e implementar e aplicar e arrecadar multas impostas por infrações de trânsito; exe-
manter o Sistema Nacional de Informações de Justiça e Segurança cutar serviços de prevenção, atendimento de acidentes e salvamen-
Pública (Infoseg), entre outras. to de vítimas; assegurar a livre circulação nas rodovias federais;
É a Senasp que gerencia o programa Sistema Único de Se- efetuar a fiscalização e o controle do tráfico de crianças e ado-
gurança Pública (Susp), bem como a administração dos recursos lescentes; colaborar e atuar na prevenção e repressão aos crimes
do Fundo Nacional de Segurança Pública, por meio do qual são contra a vida, os costumes, o patrimônio, o meio ambiente, o con-
apoiados projetos de estados e municípios. trabando, o tráfico de drogas e demais crimes.
O Fundo Nacional de Segurança Pública foi criado em 2000, Na espera do governo federal, cabe mencionar também a atu-
logo após o lançamento do Plano Nacional de Segurança Pública, ação do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da
e tem por objetivo apoiar projetos na área de segurança pública e República, que é o órgão de coordenação das atividades de inteli-
projetos sociais de prevenção à violência, tanto de estados quanto gência federal e, juntamente com outros doze, compõe o Sistema
de municípios, desde que atendam aos critérios estabelecidos. Brasileiro de Inteligência, cujo órgão central é a Agência Brasilei-
O Susp, lançado em 2003, é um programa criado para articu- ra de Inteligência (Abin), também responsável por atividades rela-
lar as ações federais, estaduais e municipais na área da segurança cionadas à segurança pública, e que atua muitas vezes em conjunto
pública e da Justiça criminal. A integração ao Susp se dá via as- com a Secretaria Nacional Anti-Drogas (Senad) e com a Polícia
sinatura de um protocolo de intenções entre o governo do estado Federal.
e o Ministério da Justiça, a partir do qual se institui no estado um A Senad, por sua vez, subordinada ao Gabinete de Segurança
Gabinete de Gestão Integrada, composto por representantes do Po- Institucional da Presidência da República, é “o órgão executivo
der Executivo estadual, das polícias e guardas municipais, Polícia das atividades de prevenção do uso indevido de substâncias entor-
Federal e Polícia Rodoviária Federal, além da cooperação do Mi- pecentes e drogas que causem dependência, bem como daquelas
nistério Público e do Poder Judiciário. O gabinete deve definir as relacionadas com o tratamento, recuperação, redução de danos e
ações a serem implementadas, e suas decisões são repassadas para reinserção social de dependentes”. A secretaria gerencia o Fundo
o Comitê Gestor Nacional. Este modelo já está em funcionamento Nacional Anti-Drogas e, junto ao Conselho Nacional Anti-Drogas,
em todos os estados da Federação, mas esbarra na dificuldade de atua na implementação da Política Nacional sobre as Drogas, lan-
falta de regulamentação por parte do Susp do ponto de vista nor- çada em 2005.
mativo. Finalmente, cumpre lembrar a recente instituição da Força
O papel da Senasp vem sendo sobretudo fomentar a discussão, Nacional de Segurança Pública, criada em novembro de 2004, por
delinear diretrizes gerais, especialmente na área de capacitação de meio do Decreto no 5.289, considerando “o princípio de solida-
recursos humanos, de informação e conhecimento, e manter o elo riedade federativa que orienta o desenvolvimento das atividades
entre governo federal e governos estaduais e municipais. do sistema único de segurança pública”, para exercer atividades
Ainda no âmbito do Ministério da Justiça, o Departamento de relacionadas com policiamento ostensivo no caso de solicitação
Polícia Federal cumpre uma função bem distinta. A norma consti- expressa de um governador de estado.
tucional define que cabe à Polícia Federal “apurar infrações penais Integram a Força Nacional servidores de órgãos de segurança
contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços pública estaduais e federais selecionados e treinados para traba-
e interesses da União (...) assim como outras infrações cuja prática lhar conjuntamente. Os estados podem aderir voluntariamente ao
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CRIMINOLOGIA
programa. O emprego da Força Nacional será determinado pelo Frequentemente há ainda, em separado, um estatuto, um re-
ministro da Justiça, sempre de forma episódica e planejada, e após gulamento disciplinar e um código de ética, todos publicados por
solicitação do governador de estado. Portanto, a Força Nacional lei estadual ou decreto governamental, embora seja mais comum
não possui sede própria nem contingente próprio, os policiais ca- que a lei orgânica aborde todos os aspectos relativos à organização
pacitados para integrá-la são convocados para missões específicas, da corporação, finalidades, atribuições, regime disciplinar, cargos
e tampouco funciona de maneira permanente. e carreiras etc.
O governador deve publicar em lei o número de cargos exis-
- Órgãos Estaduais de Segurança Pública: A Constituição tentes nas polícias, com base na proposta do comandante-geral da
Federal define o papel das Polícias Civil e Militar, que se subordi- corporação.
nam ao Poder Executivo estadual. A Polícia Militar deve realizar o Uma das possibilidades encontradas nos estados é a organi-
policiamento ostensivo e garantir a preservação da ordem pública. zação da Polícia Civil em departamentos e institutos, o que con-
A Polícia Civil tem como principal atribuição a investigação de tribui para uma especialização entre os policiais e das próprias
crimes. Nesse sentido, cumpre a função de polícia judiciária, de- delegacias, que se voltam para áreas como: homicídios e proteção
vendo apurar as infrações penais, com exceção das militares. à pessoa; narcóticos; crime organizado, além de departamento de
As Polícias Civil e Militar, o Corpo de Bombeiros e os órgãos polícia da capital e departamento de polícia do interior; e depar-
de perícia vinculam-se ao Poder Executivo estadual e organizam- tamento de inteligência, entre outros. Há ainda grupos ostensivos
-se, sob o princípio da norma constitucional, de acordo com a le- em alguns estados.
gislação local, havendo diferenças entre os estados brasileiros. São Normalmente ligado à unidade de perícias está o instituto de
as constituições estaduais que explicitam a organização das corpo- identificação, visto que cabe à Polícia Civil executar os serviços
rações policiais e da política de segurança pública local. de identificação civil e criminal. Outras unidades desta polícia são
Em geral, compõem as Secretarias Estaduais de Segurança corregedoria e academia, além de departamentos administrativos e
Pública: Polícia Civil, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, Polí- de apoio, órgãos colegiados ou equivalentes.
cia Técnico-Científica, quando separada da Polícia Civil, Departa- As carreiras da Polícia Civil também encontram diferenças
mento de Trânsito, conselhos comunitários, instituto de identifica- de um estado para outro, havendo necessariamente distinção entre
ção, além de Corregedoria e Ouvidoria de Polícia. carreira de delegado de polícia e de agente, além de carreiras es-
A Polícia Civil atende a população em delegacias ou distritos, pecíficas ligadas às atividades de perícia. O ingresso em todas as
carreiras se dá mediante concurso público, sendo necessário, para
nos quais são registradas as ocorrências de infrações. Em geral,
delegado, ser detentor de curso superior em Direito.
cada delegacia de polícia deve registrar e apurar os delitos de sua
Em alguns estados, a Polícia Científica, que trabalha nas ativi-
área de circunscrição. É o delegado de polícia que abre o inqué-
dades de perícia e medicina legal, constitui uma corporação espe-
rito policial para investigar os crimes e realiza os procedimentos
cífica, independente da Polícia Civil.
relacionados à investigação, como interrogatório de testemunhas,
A organização da Polícia Militar (PM) também difere entre
solicitação de perícias etc. Com vistas a subsidiar a investigação,
os estados, mas em geral é formada por batalhões e companhias.
entra em ação o trabalho da Polícia Científica, formada pelos espe-
Existem atualmente doze graus hierárquicos, de soldado a coronel
cialistas que atuam nos institutos de criminalística e institutos ou
– em reprodução à organização do Exército, à exceção do grau de
departamentos de medicina legal. general, inexistente na polícia. O comandante-geral da polícia no
Uma vez concluído, o inquérito policial (procedimento admi- estado deve ter a patente de coronel. Os integrantes das polícias
nistrativo anterior à ação penal) é encaminhado para o Judiciário, militares são denominados pela Constituição Militar dos estados,
que o remete ao Ministério Público. constituindo força auxiliar do Exército.
Este pode requerer seu arquivamento ou apresentar denúncia. O trabalho de mais visibilidade da PM é o policiamento os-
O Ministério Público tem competência privativa de promover a tensivo, caracterizado pela ação em que o agente é identificado
ação penal pública,15 fazendo a denúncia que dá início ao proces- pela farda, pelo equipamento e pela viatura, podendo ser: osten-
so criminal. Cabe lembrar, ainda, que as provas produzidas pela sivo geral, urbano e rural; de trânsito; florestal e de mananciais;
polícia, como os depoimentos, têm de ser refeitas no âmbito do Ju- rodoviário e ferroviário, nas vias estaduais; portuário; fluvial e la-
diciário, para que sejam respeitados os princípios do contraditório, custre; de radiopatrulha terrestre e aérea; e de segurança externa
da ampla defesa e do devido processo legal. dos estabelecimentos penais, entre outros.
O inquérito policial não é obrigatório. Se já há elementos para Cada corporação policial possui uma corregedoria-geral en-
propor a ação penal, ele se torna dispensável. No caso de infrações carregada de investigar infrações penais e transgressões discipli-
penais de menor potencial ofensivo, a polícia pode lavrar termo nares de seus agentes, assim como de realizar correições. Além da
circunstanciado,16 encaminhado ao Judiciário, no contexto dos corregedoria, quatorze estados já possuem também Ouvidorias de
procedimentos mais simplificados para a conclusão judicial. Polícia, tanto ligadas especificamente a cada corporação quanto
A relação da Polícia Civil com o Judiciário e o Ministério configuradas como ouvidorias únicas. A Ouvidoria de Polícia atua
Público se dá em diferentes circunstâncias, não somente ao lon- como controle externo da atividade policial, encaminhando denún-
go da instrução do inquérito policial e do processo criminal, mas cias e acompanhando seu andamento junto à Corregedoria, que se
também para cumprir mandados de prisão, de busca e apreensão, incumbe das apurações.
entre outros. No âmbito do Poder Executivo estadual, coordenam as ações
Cada estado organiza seu departamento de polícia civil de ma- relativas à segurança pública as secretarias estaduais (Secretarias
neira independente, sendo que, na maioria das vezes, tal organiza- de Segurança Pública e Secretarias de Defesa Social), que mui-
ção é normatizada por uma lei orgânica. tas vezes também têm como atribuição a fiscalização de trânsito
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CRIMINOLOGIA
urbano. Na verdade, o Código Nacional de Trânsito remeteu esta de vigilantes. O vigilante pode portar arma de fogo quando em
fiscalização aos municípios, mas ela ainda se encontra sob a res- serviço, sendo os calibres permitidos definidos na lei, e as armas
ponsabilidade dos governos estaduais na maioria dos casos, ou sob de propriedade das empresas têm de ser registradas junto à Polícia
responsabilidade compartilhada, por meio de convênios entre es- Federal. Como já apontava estudo de Musumeci (1998), o pessoal
tado e município. É a Polícia Militar a responsável, na maior parte ocupado na atividade de vigilância e guarda vem aumentando con-
dos estados, pela fiscalização de trânsito. sideravelmente ao longo dos anos. Em 2005, o número de pesso-
Pode-se concluir que a organização dual das forças policiais as ocupadas em serviços de segurança privada já alcançava 45%
no Brasil se explica pela seguinte divisão: a ação da Polícia Militar do total de ocupados na área de segurança, sendo que na região
se dá enquanto o crime ocorre ou para evitá-lo, ao passo que a ação Sudeste já alcançava 51,6% do total, ultrapassando o número de
da Polícia Civil se dá prioritariamente após a ocorrência do crime. ocupados em serviços de segurança pública. Esta expansão dos
serviços de segurança privada no Brasil engendra questionamentos
- Órgãos Municipais de Segurança Pública: A Constituição importantes relacionados até mesmo ao papel do Estado.
Federal de 1988, em seu art. 144, prevê que os municípios poderão A importância de garantir o monopólio estatal da coerção fí-
constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus bens, sica tem como pressuposto a proteção dos indivíduos e dos grupos
serviços e instalações. As guardas municipais são instituições de sociais, inclusive contra abusos do próprio Estado no exercício
caráter civil, que se encarregam não somente de zelar pelo patri- desta sua função. Diante da preocupação de que a expansão da
mônio público e cuidar da segurança coletiva em eventos públi- segurança privada colocaria em risco importantes conquistas da
cos, mas também atuam em rondas e assistência nas escolas, em democracia ocidental, cabe ressaltar a necessidade de o Estado
atividades de defesa civil, e na mediação de conflitos, entre outras permanecer com as atribuições de polícia e justiça criminal e com
atividades desenvolvidas, conforme levantamentos realizados pela o monopólio da delegação e regulação do uso da força, delimitan-
Senasp. Destaca-se o importante papel das guardas municipais na do as atribuições públicas e privadas (Musumeci).
prevenção da violência e da criminalidade, por meio da articulação
de projetos sociais e comunitários. Tem-se observado, ainda, a ex- Estrutura dos Órgãos de Justiça Criminal
pansão da atuação das guardas municipais no sentido de cumprir
papéis legalmente destinados às corporações policiais, o que vem A Constituição Federal delineia uma série de princípios e di-
retrizes relativos ao processo penal. Entre os princípios constitu-
sendo tema de debates e propostas no âmbito dos Poderes Execu-
cionais, destacam-se:
tivo e Legislativo.
- a presunção da inocência, ou da não-culpabilidade, como
Nesse sentido, uma importante questão reside na permissão
preferem alguns juristas;
para porte de armas de fogo pelos integrantes das guardas munici-
- o princípio do devido processo legal, contraditório e da am-
pais. A legislação federal determina que podem ter porte de arma
pla defesa;
de fogo os integrantes das guardas municipais das capitais e dos
- o da verdade real ou da busca da verdade;
municípios com mais de 500 mil habitantes, enquanto os integran-
- da irretroatividade da lei penal; v) o princípio da publicidade;
tes das guardas municipais de municípios com população entre 50 - do juiz natural – “ninguém será processado nem sentenciado
mil e 500 mil habitantes, e de municípios de regiões metropolita- senão pela autoridade competente” (CF, art. 5o, LIII).
nas, podem utilizar arma de fogo quando em serviço. Tal permis-
são está condicionada à existência de mecanismos de fiscalização e Os órgãos de Justiça criminal no Brasil organizam-se nos ní-
controle interno nas instituições, assim como de formação de seus veis federal e estadual: juízes federais, Tribunais Regionais Fede-
integrantes em estabelecimentos de ensino de atividade policial. rais, Ministério Público Federal e Defensoria Pública da União, no
Existem hoje no Brasil cerca de 400 guardas municipais, que primeiro caso, e juízes estaduais, Tribunais de Justiça, Ministérios
se reúnem por meio de uma associação denominada Conselho Públicos e Defensorias Públicas Estaduais, no último. As compe-
Nacional das Guardas Municipais. Diversos municípios, especial- tências de cada um destes órgãos são ditadas pela Constituição
mente os de maior porte e aqueles localizados em regiões metro- Federal e pelas legislações específicas, como as leis estaduais de
politanas, possuem também Secretarias Municipais de Segurança organização judiciária.
Pública. A seguir, serão apresentados brevemente os principais órgãos
de cada nível de governo, suas atribuições e os principais elemen-
Segurança Privada: Os serviços particulares de segurança e tos de organização institucional do sistema de justiça criminal.
vigilância são normatizados no Brasil desde a década de 1980,
quando foram estabelecidas as normas para a segurança de esta- - Órgãos Federais de Justiça Criminal: O Poder Judiciário no
belecimentos financeiros. A Lei nº 7.102, de 20 de junho de 1983, âmbito federal é composto pelas justiças especializadas, Justiça do
alterada posteriormente por leis de 1994, 1995 e 2001 e regula- Trabalho, eleitoral e militar, e Justiça comum, constituída pelos
mentada por portarias do Ministério da Justiça, estabelece, entre juízes federais e pelos Tribunais Regionais Federais.
outros, que o vigilante deve ter no mínimo 21 anos, ter concluído As competências da Justiça comum federal são definidas pela
até pelo menos a 4a série do ensino fundamental, ter concluído Constituição Federal, em seus artigos 108 e 109. Entre elas, no que
curso de formação em estabelecimento credenciado, não ter ante- diz respeito às competências criminais, destaca-se o julgamento:
cedentes criminais e ter sido aprovado em exames de saúde física - dos crimes políticos e das infrações penais praticadas em
e mental e psicotécnico. detrimento de bens, serviços ou interesse da União;
O Ministério da Justiça deve conceder autorização para o fun- - dos habeas corpus em matéria criminal de sua competência
cionamento das empresas especializadas em serviços de vigilân- ou quando o constrangimento provier de autoridade cujos atos não
cia, serviços de transporte de valores, e dos cursos de formação estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição;
Didatismo e Conhecimento 28
CRIMINOLOGIA
- dos crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves; A Carta Magna veta a pena de morte, a de caráter perpétuo, a
- dos crimes de ingresso ou permanência irregular de estran- de trabalhos forçados, a de banimento e as penas cruéis, e prevê os
geiro. direitos básicos do apenado.
O Código Penal (Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de
Enquanto os juízes federais constituem o primeiro grau de ju- 1940) divide-se em: parte geral, alterada pela Lei nº 7.209, de 11
risdição, os Tribunais Regionais Federais, cinco em todo o país, de julho de 1984, que prevê as normas não-incriminadoras, refe-
cada qual com sua área de jurisdição, constituem o segundo grau, rentes à aplicação da lei penal, crime, imputabilidade penal, penas
com a competência de julgar, em grau de recurso, as causas deci- e medidas de segurança, tipos de ação penal e extinção da punibi-
didas pelos juízes federais e pelos juízes estaduais no exercício da lidade; e parte especial, que prevê as normas incriminadoras, que
competência federal em sua área de jurisdição, além de processar descrevem uma conduta e impõem as respectivas penas.
e julgar mandados de segurança e habeas corpus contra ato do A legislação brasileira prevê dois tipos de infrações penais:
próprio tribunal ou de juiz federal, entre outras competências. crimes (ou delitos) e contravenções. Estas últimas são infrações
A Justiça federal em cada região está organizada em varas es- penais de menor impacto e estão tipificadas na Lei de Contraven-
pecializadas e nãoespecializadas, havendo varas federais criminais ções Penais (Decreto-Lei nº 3.688, de 3 de outubro de 1941).
em algumas comarcas, além dos Tribunais Regionais Federais e O Código Penal define, portanto, somente os crimes ou deli-
dos Juizados Especiais Federais. Cada tribunal atua por meio de tos, que podem ser cometidos por ação ou por omissão, podem ser
seu pleno, de seu órgão especial e de seções e/ou turmas especiali- dolosos ou culposos e, ainda, terem sido consumados ou caracteri-
zadas, entre as quais algumas se dedicam, exclusivamente ou não, zar-se como tentativa.
aos feitos de matéria penal. Os tipos de pena são: privativas de liberdade, restritivas de
Os Juizados especiais federais criminais julgam infrações direitos, e multa. As penas privativas de liberdade podem ser de
de menor potencial ofensivo de competência da Justiça federal, reclusão , cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto, ou
pautando sua atuação pelos princípios de oralidade, simplicidade, de detenção, cumprida em regime semi-aberto ou aberto.
informalidade, economia processual e celeridade, de acordo com Os regimes para cumprimento das penas privativas de liber-
a Lei nº 10.259/2001. dade são, portanto:
- Fechado, que por lei deveria ser cumprido em cela individu-
- Órgãos Estaduais de Justiça Criminal: Os juízes de direito, al, de no mínimo seis metros quadrados, com trabalho durante o
dia e isolamento à noite;
em primeira instância, e os Tribunais de Justiça, em segunda ins-
- Semi-aberto, cumprido em colônia agrícola, industrial ou
tância, integram o Poder Judiciário nos estados e se regem pelas
similar, em alojamento coletivo, com possibilidade de atividades
constituições estaduais e pelas normas específicas que organizam
externas sem vigilância, caso permitidas pelo juiz da execução;
suas unidades e atribuições.
- Aberto, no qual o preso trabalha sem vigilância e se recolhe à
Os Tribunais de Justiça Estaduais atuam por meio das varas cri-
casa de albergado para dormir e passar os dias de folga.
minais, Juizados Especiais Criminais e tribunais do júri. O número
Se a pena definida é superior a oito anos, inicia-se seu cum-
e a distribuição das varas criminais, das varas não-especializadas
primento em regime fechado; para penas maiores de quatro anos e
que tratam das causas relacionadas a crimes, das varas de execução
inferiores a oito, em regime semiaberto; e para as penas menores
penal e dos juizados especiais e tribunais do júri são determinados de quatro anos, no caso de réus primários, inicia-se em regime
pela lei de organização judiciária de cada estado, complementada aberto. Por regra, o cumprimento da pena deve ser progressivo. O
pelo regimento interno do Tribunal de Justiça Estadual. juiz da execução define o regime inicial e sua progressão ocorre
O fluxo de justiça criminal obedece a seqüências e ritos espe- com o tempo e de acordo com o comportamento do preso. Para
cíficos de acordo com alguns fatores relacionados à infração penal passar de um regime para outro mais brando, o condenado deve
cometida. A primeira distinção diz respeito ao tipo de ação penal, cumprir pelo menos um sexto da pena no regime anterior, sen-
pública ou privada, que determinará os procedimentos a serem do que a progressão depende de pareceres internos que avaliam o
adotados pela autoridade policial, pelo Ministério Público, assim comportamento e a recuperação do preso. Além disso, para passar
como os respectivos fluxos no âmbito do Poder Judiciário. para o regime aberto, é preciso comprovar trabalho ou promessa
O tipo de crime e a pena cominada no Código Penal definem de emprego. No caso de o condenado sofrer nova condenação ou
os ritos a serem seguidos no âmbito do Poder Judiciário para que desobedecer às exigências da execução, o regime penitenciário
sejam ouvidas as testemunhas, os acusados e, finalmente, para que pode regredir.
possa haver formação de convencimento pelo juiz e este profira a A Lei nº 8.072/90 previa, em seu art. 2º, § 1º, que a pena por
sentença. crimes hediondos, tráfico de drogas e terrorismo deveria ser cum-
O Código de Processo Penal prevê o procedimento comum e prida integralmente em regime fechado.
os especiais. Entre estes, cabe destacar os ritos do júri e dos Juiza- Contudo, no dia 23 de fevereiro de 2006, o Supremo Tribunal
dos Especiais Criminais. Federal julgou tal determinação inconstitucional, por violar o prin-
cípio constitucional da individualização da pena.
Estrutura do Sistema de Execução Penal Brasileiro O livramento condicional, por sua vez, se dá somente após
cumprimento de um terço da pena, se o condenado tem bons an-
A Constituição prevê diretrizes relativas à pena para o trans- tecedentes e não é reincidente em crime doloso. Se é reincidente,
gressor das leis: a pena é individual e pode ser de privação ou res- deve ter cumprido metade da pena. Para ter o livramento condi-
trição de liberdade, de perda de bens, de multa, de prestação social cional, deve comprovar bom comportamento, aptidão para prover
alternativa ou de suspensão ou interdição de direitos, entre outras. a subsistência e ter reparado o dano, se possível. Durante o livra-
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CRIMINOLOGIA
mento condicional, é preciso cumprir diferentes condições impos- A pena privativa de liberdade poderá ser reduzida pelo traba-
tas pelo juiz, como ter ocupação, voltar para casa em hora fixada e lho, à razão de um dia de pena por três dias de trabalho do preso.
não freqüentar determinados lugares. A legislação brasileira determina que ninguém pode permanecer
No caso de crimes hediondos, tráfico de drogas, tortura e preso por mais de trinta anos, mas ainda há controvérsias a respeito
terrorismo, se o condenado é primário, tem direito ao livramento das regras para progressão de regime e livramento condicional no
condicional somente após cumprir dois terços da pena em regime caso de penas superiores a trinta anos.
fechado. A Lei de Execução Penal, que regulamenta o cumprimento
A graça ou indulto individual, outro benefício concedido a das penas privativas de liberdade, especifica o princípio constitu-
presos que atendam a determinados critérios, é também vetada a cional de individualização da pena, ao determinar tanto que cabe
praticantes de crimes hediondos e assemelhados. A graça e o in- à Comissão Técnica de Classificação elaborar o programa indivi-
dulto são concedidos pelo presidente da República, por meio de dualizador da pena, como que devem ser separados nos estabeleci-
decreto que especifica todos os apenados sujeitos a ter suas penas mentos penais os presos provisórios dos condenados, e os primá-
perdoadas ou aliviadas – individual, no caso da graça, e coletivo, rios dos reincidentes.
no caso do indulto. É de fundamental importância ressaltar que a função da pena
A suspensão condicional da pena, ou sursis, é outro instituto no Brasil, de acordo com a legislação em vigor, é a reinserção so-
previsto no Código de Processo Penal e na Lei de Execução Penal cial do condenado. A exposição de motivos da nova parte geral
(LEP, Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984), por meio do qual se do Código Penal, reformulada em 1984, explicita e defende este
suspende uma pena de reclusão ou de detenção, desde que aten- princípio, que deve permear a atuação de todos os integrantes do
didos os critérios especificados na lei. A suspensão é condicional sistema de execução penal.
porque o condenado deve cumprir as condições estabelecidas pelo Nossa legislação estabelece que são penalmente inimputáveis
juiz para continuar tendo direito ao benefício. os menores de dezoito anos, os doentes mentais e os índios ditos
A Lei nº 10.792, de 1o de dezembro de 2003, alterou a Lei não-aculturados. No caso dos menores de dezoito anos, o Estatuto
de Execução Penal, ao prever o Regime Disciplinar Diferenciado da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990)
(RDD), que deve ser aplicado ao preso que cometer crime doloso, disciplina as chamadas medidas socioeducativas no caso de ato
ao preso que apresente “alto risco para a segurança do estabeleci- infracional; e no caso dos índios não-aculturados, o regime penal
mento penal ou da sociedade”, e ao preso suspeito de ligação com deve ser de semiliberdade, sob controle da Fundação Nacional do
o crime organizado. O RDD tem duração máxima de trezentos e Índio (Funai). Os doentes mentais que cometerem infrações deve-
rão cumprir medida de segurança em hospitais de custódia e trata-
sessenta dias e se caracteriza pelo recolhimento em cela individu-
mento psiquiátrico. Isto se aplica no caso de infratores com doença
al, visitas semanais de duas pessoas por no máximo duas horas,
ou deficiência mental no ato da infração e para presos com doença
e banho de sol de duas horas diárias, quando o preso sai da cela.
mental adquirida durante o cumprimento da pena. Para readquirir
Dessa forma, no RDD estende-se o prazo limite para as san-
liberdade, é preciso exame psiquiátrico específico, sendo a sanção
ções de isolamento, suspensão e restrição de direitos, previstas ori-
de tempo indeterminado, pois somente é aplicada se constatada
ginalmente na Lei de Execução Penal.
periculosidade.
A nova lei prevê, inclusive, a construção de estabelecimentos
Além das penas privativas de liberdade, existem as penas
penais destinados exclusivamente aos presos sujeitos ao regime restritivas de direitos, também chamadas penas alternativas, e as
disciplinar diferenciado. penas de multa. As penas restritivas de direito podem ser: pres-
A mesma norma que criou o RDD aboliu a necessidade de tação pecuniária, perda de bens e valores, prestação de serviços à
exame criminológico, previsto no Código de Processo Penal e na comunidade, interdição temporária de direitos e limitação de fim
Lei de Execução Penal, para a avaliação da progressão de regime, de semana. Estas penas são imputadas pelo juiz da execução, após
o que vem sendo objeto de grande controvérsia entre especialistas conversão da pena de prisão, se esta for inferior a quatro anos e se
da área. Alguns criminalistas acreditam que a ausência do exame o crime não tiver sido cometido com violência ou grave ameaça
dá mais dinamismo à execução penal e se justifica na medida em contra pessoa, e quando, qualquer que seja a pena, se tratar de
que o preso não é permanentemente acompanhado pelo Estado, crime culposo.
lacuna que não poderia ser preenchida por um exame realizado O condenado não pode ser reincidente em crime doloso, ape-
em condições pouco transparentes e em circunstâncias pontuais. nas excepcionalmente, e o juiz deve verificar se a substituição da
Muitos estudiosos, contudo, defendem que o exame criminológico pena de prisão por uma pena restritiva de direitos é suficiente para
embasa em grande medida a decisão do juiz e é fundamental por a reprovação do crime cometido.
contemplar aspectos referentes à personalidade do apenado, vida Dessa forma, a pena de prisão de até um ano pode ser substi-
pregressa, comportamento na prisão, percepção sobre o crime e so- tuída por pena restritiva de direitos ou multa, e a pena de prisão de
bre a pena, e possibilidade de reinserção social, entre outros. Após um a quatro anos pode ser convertida em pena restritiva de direitos
a mudança, com vistas a determinar a progressão de regime, a lei e multa ou em duas penas restritivas de direitos. Caso o condenado
se atém tão-somente ao bom comportamento carcerário, que deve não cumpra as medidas impostas, a pena converte-se em privativa
ser atestado pelo diretor do estabelecimento. No entanto, muitos de liberdade.
operadores do direito interpretam que a lei não aboliu o exame No caso de todas as infrações penais de menor potencial ofen-
criminológico, mas somente sua obrigatoriedade, interpretação sivo (contravenções penais e crimes cujas penas não ultrapassem
adotada pelo Superior Tribunal Federal (STF) e pelo Superior Tri- dois anos de privação de liberdade), admite-se a transação penal,
bunal de Justiça (STJ). Ou seja, quando da avaliação do pedido de isto é, se o acusado aceitar a pena restritiva de direitos ou de multa
progressão de regime, o juiz da execução pode solicitar a realiza- sem a instauração do processo e o julgamento da causa, não perde
ção do exame criminológico. a primariedade e o caso se extingue no Juizado Especial Criminal.
Didatismo e Conhecimento 30
CRIMINOLOGIA
A execução penal fica predominantemente a cargo dos esta- - Colaborar com as Unidades federativas na realização de cur-
dos, que organizam o sistema penitenciário de acordo com as leis sos de formação de pessoal penitenciário e de ensino profissionali-
nacionais e locais em vigor. No âmbito do governo federal, além zante do condenado e do internado;
dos órgãos do Poder Judiciário, existem os órgãos do Poder Exe- - Coordenar e supervisionar os estabelecimentos penais fede-
cutivo encarregados de definir a política penitenciária e fiscalizar rais.
sua aplicação nos estados. A seguir, serão tratados os dois níveis de
governo separadamente. Os estabelecimentos penitenciários federais já estavam pre-
vistos na Lei de Execução Penal, de 1984, para recolher condena-
- Órgãos Federais do Sistema Penal: Ligados ao Ministério dos em local distante da condenação caso isto seja necessário para
da Justiça, os principais órgãos do sistema penal na esfera federal, a segurança pública e a segurança do próprio condenado.
com finalidades definidas inclusive na Lei de Execução Penal, são Atualmente, dois presídios federais encontram-se em funcio-
o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNP- namento, um localizado em Catanduvas (PR) e outro em Campo
CP) e o Departamento Penitenciário Nacional (Depen). Somam- Grande (MS), e outras três unidades encontram-se em processo de
-se a estes o Ministério Público Federal, os presídios federais e os construção. Os presídios federais são de segurança máxima e pos-
órgãos da Justiça federal envolvidos na execução penal. suem, cada um, 208 celas padronizadas. Os presos ocupam celas
O CNPCP foi instalado em 1980 e é composto por treze mem- individuais, sendo a segurança monitorada por equipamentos de
bros designados pelo ministro da Justiça entre professores e pro- alta tecnologia.
fissionais da área de execução penal, bem como por representantes Os presídios vêm recebendo presos considerados de alta pe-
da comunidade e de ministérios da área social. O mandato de seus riculosidade e ligados ao crime organizado e ao tráfico de drogas,
integrantes é de dois anos, o colegiado se reúne ordinariamente além de presos que se encontrem em regime disciplinar diferen-
uma vez por mês, e vem atuando especialmente mediante a publi- ciado. O Conselho da Justiça Federal (CJF) determinou que os de-
cação de resoluções e de pareceres. tentos só podem permanecer nestes presídios pelo prazo máximo
Tal conselho tem como competências, entre outras: de um ano, que pode ser prorrogado se solicitado pelo juiz federal
- Propor diretrizes da política criminal quanto à prevenção do encarregado da execução.
crime, administração da Justiça criminal e execução das penas e No caso dos presídios federais, resolução do CJF estabeleceu
medidas de segurança; regras para a atuação dos juízes federais na execução penal. O Tri-
- Promover a avaliação periódica do sistema criminal, assim bunal Regional Federal de cada região deve designar o juízo com-
como estimular e promover a pesquisa criminológica; petente para a execução penal nas unidades.
- Elaborar programa nacional de formação e aperfeiçoamento A atuação do Ministério Público Federal (MPF) na execução
do servidor penitenciário; penal se assemelha à dos Ministérios Públicos Estaduais, sen-
- Estabelecer regras sobre a construção e reforma de estabele- do que, no caso do MPF, a atuação se refere aos crimes contra a
cimentos penais; União, a administração pública, aos chamados crimes federais, e
- Inspecionar e fiscalizar os estabelecimentos penais e infor- em relação aos presos nas penitenciárias federais.
mar-se acerca do desenvolvimento da execução penal nos estados;
- Representar ao juiz da execução ou autoridade administrati- - Órgãos Estaduais do Sistema Penal: Conforme determina a
va para instauração de sindicância ou procedimento administrativo Lei de Execução Penal (LEP), são órgãos da execução penal nos
em caso de violação das normas de execução penal; estados: o Juízo da Execução, o Ministério Público, o Conselho
- Representar à autoridade competente para a interdição de Penitenciário, o Conselho da Comunidade, o Patronato e os depar-
estabelecimento penal; tamentos penitenciários locais.
- Opinar sobre matéria penal, processual penal e execução pe- Cada Unidade da Federação possui uma legislação específica
nal submetida à sua apreciação; para a organização judiciária. É nestas normas que se explicitam
- Estabelecer os critérios e prioridades para aplicação dos as varas existentes em cada comarca e suas atribuições. Normal-
recursos do Fundo Penitenciário Nacional (Funpen – Decreto nº mente, nas comarcas maiores existem varas criminais e vara de
5.834, de 6 de julho de 2006). execução penal. O juiz da vara de execução penal é o responsável
por todas as determinações e acompanhamento relativos ao cum-
O Departamento Penitenciário Nacional, também vinculado primento da pena pelo condenado, tomando decisões referentes a:
ao Ministério da Justiça, é o órgão executivo da política penitenci- progressão e regressão de regimes, soma ou unificação de penas,
ária nacional. Deve zelar pela aplicação da legislação penal e das remição, livramento condicional, saídas temporárias, revogação de
diretrizes emanadas do Conselho Nacional de Política Criminal e medidas de segurança, conversão da pena privativa de liberdade
Penitenciária, o qual apóia administrativa e financeiramente. Tem em pena restritiva de direitos, inspeção periódica dos estabeleci-
como principais competências: mentos penais, entre outras competências delineadas na LEP. No
- Planejar e coordenar a política penitenciária nacional; caso de não haver vara específica de execução penal, a lei de or-
- Inspecionar e fiscalizar periodicamente os estabelecimentos ganização judiciária indica o juiz incumbido destas competências.
e serviços penais; A atuação do Ministério Público (MP) no que tange à exe-
- Assistir tecnicamente às Unidades federativas na implemen- cução penal está delineada na mesma lei. Seu papel é fiscalizar a
tação dos princípios e regras da execução penal; execução da pena e da medida de segurança, zelando pela regula-
- Colaborar com as Unidades federativas, mediante convê- ridade dos procedimentos e correta aplicação da medida de segu-
nios, na implantação de estabelecimentos e serviços penais e gerir rança e da pena. Entre outras competências, cabe ao MP requerer
os recursos do Funpen; a conversão de penas, a progressão ou regressão de regimes, e a
Didatismo e Conhecimento 31
CRIMINOLOGIA
revogação da medida de segurança. O MP deve fiscalizar men- de 13 de julho de 1990). O ECA estabelece que ao ato infracional
salmente os estabelecimentos penais e pode interpor recursos de cometido por criança, com até 12 anos de idade, correspondem
decisões proferidas pela autoridade judiciária. medidas de proteção como tratamento médico, psicológico ou psi-
O Conselho Penitenciário é órgão consultivo, deve emitir pa- quiátrico, inclusão em programa de auxílio à família, tratamento
receres sobre pedidos de indulto e de livramento condicional, e a alcoólatras ou toxicômanos, matrícula e frequência obrigatórias
fiscalizador da execução da pena, deve inspecionar os estabele- em escola, entre outras.
cimentos penais e supervisionar os patronatos e a assistência aos No caso de ato infracional praticado por adolescente, com ida-
egressos. Integrado por membros nomeados pelo governador de de entre doze e dezoito anos, podem ser adotadas, além das supra-
estado, entre professores e profissionais da área e representantes da citadas, as seguintes medidas, de acordo tanto com as circunstân-
comunidade, sua função primeira está relacionada ao livramento cias e a gravidade do ato como com as capacidades do adolescente:
condicional, sobre o qual não apenas deve obrigatoriamente emitir - advertência;
parecer, indispensável para a decisão do juiz, como pode protoco- - obrigação de reparar o dano;
lar diretamente o pedido. O Conselho Penitenciário de cada estado - prestação de serviços à comunidade;
encaminha anualmente relatório ao Conselho Nacional de Política - liberdade assistida;
Criminal e Penitenciária. Os conselhos penitenciários, criados ori- - inserção em regime de semiliberdade;
ginalmente em 1924, estão hoje presentes em todas as Unidades - internação em estabelecimento educacional.
da Federação.
O patronato é a instituição encarregada dos programas de as- A internação é medida excepcional, não pode ultrapassar três
sistência aos egressos e também aos albergados. De acordo com a anos, e deve ser aplicada somente no caso de ato infracional come-
LEP, pode ter caráter público ou privado, e tem também como atri- tido mediante grave ameaça ou violência a pessoa, por reiteração
buições orientar os condenados a penas alternativas, fiscalizar as no cometimento de outras infrações graves e/ou por descumpri-
penas de prestação de serviços à comunidade e de limitação de fim mento reiterado e injustificável de medida imposta anteriormente.
de semana, bem como colaborar na fiscalização do cumprimento O adolescente deve ser recolhido em estabelecimento específico
das condições da suspensão e do livramento condicional. Na maior para esse fim, que deve contar com atividades pedagógicas, educa-
parte dos estados, o patronato insere-se no sistema de execução cionais e profissionalizantes.
penal, enquanto órgão ligado ao Poder Executivo estadual. Mas
sua presença ainda é muito limitada: segundo apuração do Depar- O Estado de Direito e o Sistema de Justiça Criminal no Brasil
tamento Penitenciário Nacional (Depen), somente quatro estados
possuem patronatos atualmente. Para verificar o respeito ao Estado Democrático de Direito no
A LEP prevê, ainda, como um dos órgãos da execução penal, o Brasil pelos órgãos do sistema de justiça criminal é importante,
Conselho da Comunidade, que deve existir em cada comarca e ser primeiramente, debruçar-se sobre os fundamentos básicos para o
composto por representantes da sociedade civil. Incumbe ao Con- sistema. Na Constituição Federal está estabelecida uma série de
selho visitar pelo menos mensalmente os estabelecimentos penais direitos individuais e limites para o funcionamento do sistema de
existentes na comarca, entrevistar os presos, apresentar relatórios justiça criminal. São eles, entre outros:
ao Conselho Penitenciário e ao juiz da execução, e providenciar a - Direitos individuais e limites gerais: todos são iguais perante
obtenção de recursos materiais e humanos para melhor assistência a lei; são invioláveis os direitos à vida, à liberdade, à igualdade, à
ao preso. segurança e à propriedade; é proibida a tortura e o tratamento desu-
Alguns estados possuem ainda órgãos ligados ao Poder Exe- mano ou degradante; são invioláveis a intimidade, a vida privada,
cutivo encarregados da administração penitenciária, como é o caso a honra e a imagem das pessoas; toda lesão ou ameaça de direito
das Secretarias de Estado do Rio de Janeiro, São Paulo e Paraíba. sempre pode ser apreciada pelo Poder Judiciário; é proibido juízo
No caso dos estabelecimentos penais administrados pelos es- ou tribunal de exceção; crimes e penas devem ser estabelecidos em
tados, têm-se os seguintes tipos: lei e só serão reprimidos a partir dela; o preso será informado de
- Penitenciárias estaduais, destinadas à pena de reclusão em seus direitos; aos presos deve ser assegurada a integridade física e
regime fechado; moral; ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o
- Colônias agrícolas, industriais ou similares, destinadas ao devido processo legal; habeas corpus; as crianças e adolescentes
cumprimento da pena em regime semi-aberto; são inimputáveis e estão sujeitos à legislação especial;
- Casas do albergado, para os condenados em regime aberto e - Direitos individuais e limites para ação e abordagem po-
com pena de limitação de fim de semana; licial: a casa é asilo inviolável do indivíduo; ninguém será preso
- Centros de observação, onde são realizados exames gerais; senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de
- Cadeias públicas, para o recolhimento de presos provisórios, autoridade judiciária competente; a prisão de qualquer pessoa e o
a LEP determina que cada comarca tenha pelo menos uma; local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz
- Hospitais de custódia, destinados aos sentenciados para competente e à família do preso;
cumprir medida de segurança. - Direitos individuais e limites no processo penal: nenhuma
pena passará da pessoa do condenado; a lei regulará a individuali-
A Constituição Federal garante que crianças e adolescentes zação da pena; não haverá penas de morte, de caráter perpétuo, de
com menos de dezoito anos de idade são penalmente inimputáveis trabalhos forçados, de banimento e cruéis; nenhum brasileiro será
(art. 228). Diante disso, em caso de cometerem infração, crime extraditado; ninguém será processado nem sentenciado senão pela
ou contravenção penal, devem se adequar às normas estabelecidas autoridade competente; aos litigantes e aos acusados em geral são
pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA – Lei nº 8.069, assegurados o contraditório e ampla defesa; ninguém será conside-
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CRIMINOLOGIA
rado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condena- tura de correspondência e grampo telefônico sem autorização judi-
tória; são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios cial, desrespeito à inviolabilidade do domicílio, detenção de civis
ilícitos; o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos sem mandado judicial ou flagrante delito, a demora na comunica-
que comprovarem insuficiência de recursos; ção de prisões ao juiz e familiares, não informação ao detido sobre
- Direitos individuais e limites para o sistema penal: a pena seus direitos, vedação à assistência da família e de advogados ao
será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a na- detido etc. Tais violações são classificadas por Costa em sete ti-
tureza do delito, a idade e o sexo do apenado; às presidiárias serão pos de violência policial: abuso da força letal, tortura, detenções
asseguradas condições para que possam permanecer com seus fi- violentas, mortes sob custódia, controle violento de manifestações
lhos durante o período de amamentação. públicas, intimidação e vingança.
Dispõem-se de poucos dados sobre violência policial. Não há
No Brasil, em complemento à norma constitucional, está em pesquisas de vitimização nacionais que tenham dimensionado o
vigor um conjunto de atos multilaterais que estabelecem direitos fenômeno. Nas corregedorias de polícia (militares, civis, rodovi-
individuais, limites e diretrizes para a atuação do Estado e do sis- ária federal e federal) são registrados casos de violações come-
tema de justiça criminal: tidas por policiais, mas não há uma sistemática de coleta, análise
- A Declaração Universal dos Direitos Humanos; o Pacto In- e divulgação destas informações. Algumas ouvidorias de polícia
ternacional sobre Direitos Civis e Políticos; estaduais e secretarias de segurança pública divulgam números,
- O Protocolo Facultativo ao Pacto Internacional sobre Direi- e organizações da sociedade civil, como SOS Tortura e Comissão
tos Civis e Políticos; Teotônio Vilela, acompanham denúncias e colaboram na produção
- A Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de de relatórios, como o já citado do Núcleo de Estudos da Violência
São José da Costa Rica); da USP, além daqueles produzidos por relatores especiais da ONU
- A Convenção sobre os Direitos da Criança; (United Nations).
- A Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Num dos poucos estados com informações facilmente aces-
Cruéis, Desumanos ou Degradantes; síveis, São Paulo, registram-se fortes indícios de um constante
- O Protocolo Facultativo à Convenção contra a Tortura e ou- abuso da força letal. Neste estado, no período 1996-2006, morre-
tros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanas ou Degradantes; ram 5.447 pessoas em conflito com a polícia, estando os policiais
- O Protocolo Adicional à Convenção Americana sobre os Di- em serviço ou em folga, isto é, uma média de 495 pessoas mortas
reitos Humanos Relativo à Abolição da Pena de Morte; por ano (Governo do Estado de São Paulo). Além disso, morreram
- A Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura. 503 policiais em serviço. Assim, somente as mortes envolvendo
policiais (em serviço ou não) e não policiais respondem por apro-
Além deles, o Código Penal, o Código de Processo Penal e a ximadamente 4% das mortes por agressão31 no período 1996-
Lei de Execução Penal, entre outras leis, estabelecem os parâme- 2005. Neste caso, não fica configurado que as mortes de pessoas
tros e as bases para o funcionamento do sistema de justiça crimi- em conflito com policiais ocorreram de forma ilegal. No entanto,
nal, conforme descrito na seção anterior. mesmo que houvesse a certeza de que todos os casos atendem aos
Há uma vasta bibliografia no Brasil que trata do desrespeito requisitos da legítima defesa, surge o questionamento sobre se a
pelo Estado Brasileiro aos direitos individuais básicos na atuação operação policial respondeu da melhor maneira possível ao inci-
do sistema de justiça criminal. dente que a provocou, ou seja, procurando preservar a integridade
Recentemente foram publicados quatro documentos que reú- física de suspeitos, policiais e demais cidadãos, e respeitando os
nem uma extensa lista de casos de violações aos direitos humanos princípios do uso da força: necessidade, legalidade e proporcio-
cometidos por agentes dos órgãos pertencentes aos sistemas de nalidade (Comitê Internacional da Cruz Vermelha). Os indícios de
justiça criminal: abusos aumentam quando se consideram os registros de denúncias
- U.S. State Department, 2007; recolhidas pela Ouvidoria de Polícia do estado. O Relatório Anual
- Nev, 2007; de Prestação de Contas da Ouvidoria de Polícia do Estado de São
- Amnesty International, 2007; Paulo aponta que foram recebidas 3.809 denúncias de homicídios
- Human Rights Watch, 2007. que teriam sido cometidos por policiais de 1995 a 2006 (Governo
do Estado de São Paulo). No estado do Rio de Janeiro, a situação
Nestes documentos são citados casos recentes de violência também é grave: apenas entre janeiro e junho, foram registrados
policial e de péssimas condições de custódia em presídios. Além 652 autos de resistência (Instituto de Segurança Pública), que são,
de casos narrados, há críticas quanto à não-punição de responsá- na realidade, mortes de civis em intervenções policiais (Cano).
veis. Logo a seguir, serão tratados separadamente alguns proble- Um fato que chamou grande atenção da opinião pública foram
mas relativos à violência policial, ao acesso à defensoria pública e as mortes ocorridas no período dos ataques atribuídos ao Primeiro
à situação das prisões, enquanto indicadores do respeito ao Estado Comando Capital em São Paulo. Segundo notícia da Ouvidoria de
de Direito. Polícia do Estado de São Paulo, houve 87 vítimas em 52 casos de
execução sumária no período de 12 a 21 de maio daquele ano. Em
Violência Policial: Há uma ampla gama de direitos e de proi- onze casos, segundo a ouvidoria, há suspeitas de participação de
bições que podem ser violados na ação policial. Partindo apenas policiais (Governo do Estado de São Paulo).
dos direitos civis assegurados na CF, os suspeitos, os indiciados ou Além dos homicídios já citados, a Ouvidoria de Polícia rece-
uma pessoa qualquer podem ser alvos de vários tipos de excessos beu, desde 1995, denúncias de: abuso de autoridade sem classifica-
passíveis de serem cometidos por agentes policiais e que violem ção específica (2.159 casos); agressão (468); constrangimento ile-
sua integridade física e moral: tortura, violação da imagem, aber- gal (431); invasão de domicílio (136); prisão (69); ameaça (1.518);
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CRIMINOLOGIA
tortura (834); agressão (799); lesão corporal (444); tentativa de ho- No entanto, a avaliação da atuação da Justiça criminal tam-
micídio (274); maus tratos (177); abordagem com excesso (124); bém é prejudicada pela falta de informações. Faltam pesquisas que
maus tratos a presos (32); superlotação carcerária (26); entre ou- verifiquem a qualidade do acesso à justiça criminal ou que iden-
tras (Governo do Estado de São Paulo). tifiquem violações de direitos que possam estar sendo cometidas
A Ouvidoria de Polícia de São Paulo apresenta também nú- nesse atendimento. Não há informações, por exemplo, sobre uso
meros sobre os resultados dessas denúncias. De 1998 a 2006, de de provas ilícitas ou sobre a utilização de elementos produzidos
um total de 22.279 denúncias contra policiais, houve os seguintes no inquérito policial como provas, sem que tenham passado por
encerramentos (Governo do Estado de São Paulo): contraditório. Sem tal transparência o controle social fica muito
- 11.398 denúncias não confirmadas (51,16%); prejudicado.
- 3.992 denúncias procedentes (17,92%); Um dos poucos direitos sobre os quais há informações de
- 2.450 denúncias não apuradas (11,00%); acesso é em relação à assistência jurídica, mesmo que só em re-
- 1.848 denúncias improcedentes (8,29%); lação às Defensorias Públicas, órgãos responsáveis pela prestação
- 1.208 denúncias parcialmente procedentes (5,42%); de assistência jurídica integral e gratuita. Pesquisa realizada sobre
- 280 denúncias não encaminhadas para nenhum órgão a Defensoria Pública no Brasil (Ministério da Justiça) mostra que
(1,26%); cerca de 20% dos atendimentos realizados pelas defensorias são
- 84 denúncias retiradas a pedido do denunciante (0,38%); relativos à área criminal, o que corresponderia a um total aproxi-
- 68 denúncias encaminhadas a outros órgãos (0,31%); mado de 1 milhão e 300 mil atendimentos. As Defensorias Públi-
- 951 com outros encaminhamentos (4,27%). cas, também propuseram 275.422 ações criminais – sem contar
Ceará, Distrito Federal e a Defensoria Pública da União. Segundo
Aqui o maior problema são as denúncias que nem sequer fo- o estudo, no entanto, nem todas as comarcas têm acesso aos ser-
ram apuradas. Outra informação é que, de um total de 23.549 po- viços de defensoria. Entre os estados pesquisados que possuem
liciais denunciados à ouvidoria, 8.001 foram investigados e 4.923 defensoria pública, o grau de cobertura é de apenas 37,7% das co-
punidos (Governo do Estado de São Paulo). Infelizmente, não há marcas existentes.
informações mais detalhadas sobre as punições e os tipos de casos Além disso, em apenas seis Unidades da Federação todas as
mais punidos. comarcas são atendidas (AC, AP, DF, MS, PB e RR). A situação é
Alguns operadores do direito também apontam violações em ainda agravada pelo fato de a Defensoria Pública da União (DPU)
ações ordinárias das polícias. Em artigo, o juiz de Direito Sérgio estar presente em apenas 17,7% das comarcas.
Ricardo de Souza critica a falta de proteção à imagem, ao nome A pesquisa revelou também outras informações da capacidade
e à honra de suspeitos e indiciados em operações realizadas pela de atendimento atual das defensorias:
Polícia Federal. Segundo ele, (...) não há qualquer lei que autorize
- Presença nas varas de execução penal: nos estados em que
a autoridade policial a submeter o suspeito ou mesmo o indiciado
foi implantada, a Defensoria Pública está presente nas varas de
(investigado) ao constrangimento de ser filmado ou fotografado
execução penal, à exceção do Pará;
pelos profissionais ligados aos meios de comunicação jornalística
- Plantões regulares em delegacias de polícia: existente em
e, acha-se patente que esse investigado não perde a sua condição
apenas sete estados (AM, AP, CE, MS, PA, PI e RS). A DPU não
de ser humano e a proteção constitucional a sua honra e imagem
realiza tais plantões;
(CF, art. 5º, incisos V e X). Logo, quando a autoridade que mantém
- Plantões regulares em unidades prisionais: constituído em
a custódia dele vem a submetê-lo a tal constrangimento, age com
dezesseis Unidades da Federação (AL, BA, CE, DF, ES, MS, MT,
manifesto abuso de autoridade e em afronta à lei respectiva (...)
PA, PB, PE, PI, RJ, RO, RR, RS e SP). A DPU não realiza tais
(Souza).
Outro abuso de autoridade criticado é a utilização banal do plantões;
baculejo ou revista policial. Segundo artigo de Edison Miguel da - Plantões regulares em unidades de internação de adolescen-
Silva Júnior, procurador de Justiça em Goiás, a revista policial só tes: constituído em quatoze Unidades da Federação (AL, AP, BA,
seria legal se há fundada suspeita de que a pessoa oculte consigo DF, ES, MS, PA, PB, PE, PI, RJ, RO, RR e RS). A DPU não realiza
objeto fruto de crime, de porte proibido ou de interesse probatório. tais plantões;
Nessa perspectiva, as blitz policiais com revistas aleatórias seriam - Núcleos especializados no atendimento ao sistema prisional:
ilegais (Silva Júnior). existentes em quatro estados (AC, CE, RJ e SP).
Acesso à Defensoria Pública A situação nas Prisões: Para a avaliação do sistema de exe-
cução penal em relação ao respeito aos direitos civis previstos
Também considerando os parâmetros constitucionais, os ci- na Constituição Federal, é possível prever os seguintes tipos de
dadãos podem ser vítimas diante do Judiciário, entre outras, nas violações dentro de estabelecimentos penais: tortura; tratamento
seguintes situações: não poder submeter à apreciação do Judiciá- desumano ou degradante; violação de correspondência; exclusão
rio lesão ou ameaça de direito; não ter habeas corpus quando se de apreciação do Poder Judiciário de lesão ou ameaça de direito;
achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade restrições à assistência da família; ausência de assistência legal;
de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder; não ter acesso a violação da integridade física e moral; não separação de estabe-
contraditório e ampla defesa; ter provas contra si que foram obti- lecimentos penais segundo delito, idade e sexo; presidiárias cujos
das por meios ilícitos; não ter recursos para custear um advogado e filhos não permaneçam consigo em período de amamentação, en-
não dispor de assistência jurídica integral e gratuita. tre outros.
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CRIMINOLOGIA
A Lei de Execução Penal prevê ainda os seguintes direitos: A execução penal sofre ainda suspeita de violar as previsões
alimentação suficiente e vestuário; atribuição de trabalho e sua constitucionais por meio de um instituto relativamente recente: o
remuneração; previdência social; constituição de pecúlio; propor- regime disciplinar diferenciado (Lei nº 10.792/03). As conclusões
cionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, o descanso de parecer do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenci-
e a recreação; exercício das atividades profissionais, intelectuais, ária do Ministério da Justiça apontam que: Diante do quadro exa-
artísticas e desportivas, desde que compatíveis com a execução da minado, do confronto das regras instituídas pela Lei nº 10.792/03
pena; assistência material à saúde, jurídica, educacional, social e atinentes ao Regime Disciplinar Diferenciado, com aquelas da
religiosa; proteção contra qualquer forma de sensacionalismo; en- Constituição Federal, dos Tratados Internacionais de Direitos Hu-
trevista pessoal e reservada com o advogado; visita do cônjuge, da manos e das Regras Mínimas das Nações Unidas para o Tratamen-
to de Prisioneiros, ressalta a incompatibilidade da nova sistemática
companheira, de parentes e amigos em dias determinados; chama-
em diversos e centrais aspectos, como a falta de garantia para a
mento nominal; igualdade de tratamento salvo quanto às exigên-
sanidade do encarcerado e duração excessiva, implicando violação
cias da individualização da pena; audiência especial com o diretor à proibição do estabelecimento de penas, medidas ou tratamentos
do estabelecimento; representação e petição a qualquer autoridade, cruéis, desumanos ou degradantes, prevista nos instrumentos cita-
em defesa de direito; contato com o mundo exterior por meio de dos. Ademais, a falta de tipificação clara das condutas e a ausên-
correspondência escrita, da leitura e de outros meios de informa- cia de correspondência entre a suposta falta disciplinar praticada
ção que não comprometam a moral e os bons costumes; atestado e a punição decorrente, revelam que o RDD não possui natureza
de pena a cumprir, emitido anualmente, sob pena de responsabili- jurídica de sanção administrativa, sendo, antes, uma tentativa de
zação da autoridade judiciária competente. Apesar da escassez de segregar presos do restante da população carcerária, em condições
informações, é possível se formar um retrato da situação. não permitidas pela legislação (Ministério da Justiça).
Em termos de separação por idade e sexo, poucos são os es- Além desse parecer, o Regime Disciplinar Diferenciado
tados que possuem estabelecimentos separados para o sexo femi- (RDD) está sendo discutido na Justiça. O Ministério Público de
nino. Somente catorze contam com penitenciárias, dois possuem São Paulo, no final de 2006, ingressou com recurso especial no
colônia agrícola, industrial ou similar, três possuem casa do alber- Supremo Tribunal de Justiça e recurso extraordinário no STF para
gado, e nenhum possui cadeia pública ou hospital de custódia e que seja anulado um acórdão da 1a Câmara Criminal do Tribunal
tratamento psiquiátrico para mulheres. Por fim, estabelecimentos de Justiça de São Paulo que considerou inconstitucional o RDD.
para presos maiores de 60 anos, conforme estabelecido pela Lei nº Nesta seção, destacou-se que os casos de violência policial, os
9.460/97, são inexistentes. Com isso, o tratamento diferenciado a limites do acesso aos serviços da Defensoria Pública e a situação
nas prisões são indicadores importantes para demonstrar as falhas
estes grupos fica comprometido.
existentes no respeito ao Estado de Direito pelo sistema de justiça
Os estabelecimentos existentes também apresentam déficit de
criminal. Estas falhas não significam apenas desrespeito à Consti-
vagas. Segundo dados do Ministério da Justiça, no sistema peni- tuição ou aos direitos humanos: elas tendem a acentuar a desigual-
tenciário havia, 105.075 condenados submetidos a medidas de se- dade social, como a existente entre réus que podem contratar um
gurança, e presos provisórios além da capacidade do sistema, que advogado e os demais, a desconfiança na polícia e a certeza de que
é de 233.907. Este número já é maior que o déficit encontrado (Le- os presídios não têm capacidade de tratar os infratores. Assim, as
mgruber): 104.363 vagas. Além disso, indevidamente, há 58.721 violações ao Estado de Direito contribuem também para reduzir a
presos sob responsabilidade da Polícia Civil. Assim, o sistema credibilidade no sistema de justiça criminal e a sua própria eficá-
precisaria ampliar em 70% o número de vagas para zerar o déficit. cia. No entanto, não se pode deixar de reconhecer certos avanços
A consolidação dos relatórios com informações estatísticas do nos últimos anos.
sistema prisional das Unidades da Federação permite notar a situa- A criação de ouvidorias de Polícia, por exemplo, tem sido
ção de mais alguns quesitos para sua avaliação (Ministério da Jus- importante para aumentar o controle social sobre as polícias. Nos
tiça). No caso da saúde do preso, existiam 3,7 leitos ambulatoriais últimos anos, as Defensorias Públicas foram instaladas em mais
por estabelecimento penal, pois 921 estabelecimentos informaram estados e a Defensoria Pública da União também foi expandida,
que contavam com 3.417 leitos. Em termos do respeito ao direito permitindo aumento no atendimento aos cidadãos de baixa renda.
à vida, a situação é preocupante. Faleceram dezesseis pessoas por Na área de execução penal, a Lei nº 9.099/95 favoreceu a aplicação
motivo criminal (em 921 estabelecimentos penais). Estas mortes de penas alternativas à prisão, contribuindo para impedir um maior
aumento na superpopulação carcerária.
que ocorrem sob a custódia do Estado, além de constituírem uma
marca clara de sua incapacidade para fazer cumprir a lei, indicam
O Sistema de Justiça Criminal e a Prevenção
um clima de insegurança nos estabelecimentos que em nada cola-
bora para o objetivo de tratamento dos internos..39/ O segundo parâmetro de avaliação do sistema de justiça cri-
Uma pesquisa nacional realizada (Ministério da Justiça/FIR- minal está relacionado com seus objetivos finais, ou seja, a sua ca-
JAN/SESI/PNUD) identificou outros problemas à época: pacidade de garantir o direito “à vida, à liberdade, (...) à segurança
- 36% dos presos em delegacias eram condenados, contrarian- e à propriedade” (CF, art 5o, caput), e prevenir os crimes definidos
do as normas legais; na lei brasileira. Assim, o problema para a política pública pode
- 4.355 condenados a regimes semi-aberto e aberto cumpriam ser definido como a ocorrência de violações aos direitos à vida,
pena em delegacias policiais, sem poder usufruir de benefícios integridade física, liberdade, propriedade, e também enquanto
como trabalho externo e visita ao lar; toda uma gama de violências, como assédio moral, assédio sexual,
- apenas 70,6% dos presos recebiam visitas; aproximadamen- violência psicológica, violência de trânsito, violência doméstica,
te 48% dos sistemas penitenciários estaduais não dispunham de ameaças, crimes contra os direitos difusos (patrimônio histórico,
creches para os filhos pequenos de mulheres presas. meio ambiente etc.) e outros crimes definidos no Código Penal.
Didatismo e Conhecimento 35
CRIMINOLOGIA
Nesse sentido, pode-se partir do pressuposto de que o objetivo - Prevenção secundária: “estratégia de prevenção centrada em
final do sistema de justiça criminal é a prevenção. Mas antes de ações dirigidas a pessoas mais suscetíveis de praticar crimes e vio-
passar à avaliação da capacidade do sistema em fazê-lo, é preciso lências, mais especificamente aos fatores que contribuem para a
detalhar este pressuposto. vulnerabilidade e/ou resiliência dessas pessoas (...), bem como a
Considera-se que, por sua natureza, as ações do sistema de pessoas mais suscetíveis de ser vítimas de crimes e violências”;
justiça criminal podem ser analisadas sob a ótica da prevenção. No - Prevenção terciária: “estratégia de prevenção centrada em
caso da punição, por exemplo, buscam-se dois resultados, entre ações dirigidas a pessoas que já praticaram crimes e violências,
outros. Primeiro, defender e reforçar as leis, isto é, por meio das visando a evitar a reincidência e promover o seu tratamento, rea-
sanções negativas (penas) os infratores e a sociedade em geral são bilitação e reintegração familiar, profissional e social, bem como
informados de que as infrações às leis são reprovadas e de que o a pessoas que já foram vítimas de crime e violências, visando a
Estado se encarrega de puni-las, dissuadindo novos crimes. O se- evitar a repetição da vitimização e a promover seu tratamento, rea-
gundo resultado almejado é a reinserção na sociedade, ou seja, no bilitação e reintegração familiar, profissional e social”.
Brasil as penas visam ao tratamento do infrator, de maneira a que
sua vida em sociedade se guie pelo respeito às leis. A prevenção primária: Em termos de prevenção primária,
Ao se propor a prevenção aos crimes como objetivo, a avalia- pode-se dizer que o sistema de justiça criminal age basicamente de
ção da eficácia do sistema de justiça criminal é, no entanto, difi- três formas. Primeiro, por meio do policiamento ostensivo.
cultada. Os crimes são fenômenos sociais complexos e sua preven- O policiamento realizado nas ruas, rodovias, ferrovias, flores-
ção em vários aspectos está fora da governabilidade do sistema. tas, rios, aeroportos, rodoviárias, ferroviárias etc., a guarda de re-
O crime e a violência ocorrem num contexto em que os aspectos partições públicas, o policiamento de diversões públicas, a guarda
culturais e sociais devem ser considerados. Os valores culturais externa de estabelecimentos penais e a segurança de autoridades
ajudam a definir o que é violência e, no limite, quão reprováveis visam inibir a ocorrência de crimes e violências. Parte-se do pres-
são os crimes ou mesmo que grupos sociais são mais passíveis suposto de que a presença policial aumenta o risco para qualquer
de serem alvo do sistema. Nesse sentido, hoje em dia, por exem- pessoa que cometa infrações penais de ser presa em flagrante,
plo, o sistema é cada vez mais capaz de punir as lesões corporais assim como reduz a possibilidade de que uma briga ou tumulto
domésticas (violência doméstica), pois as mudanças culturais na resulte num dano mais sério. Assim, a ostensividade policial, por
exemplo, em áreas/situações de forte concentração de pessoas
sociedade brasileira colocaram em xeque o antigo padrão em que
(ruas movimentadas, eventos artísticos e esportivos, manifesta-
a violência interna familiar estava fora das preocupações do espa-
ções públicas) pode dissuadir a ocorrência de crimes. No entanto,
ço público. Também o crime e a violência podem ser favorecidos
é impossível garantir efetivos policiais em todos os lugares. De
pelas condições sociais existentes. Fortes desigualdades sociais,
qualquer forma, o patrulhamento policial é um claro indicativo de
consumo de drogas legais, baixa mobilidade social, fácil acesso a
que a população pode contar com o auxílio da polícia, como quan-
armas de fogo são fatores, entre outros, que podem ter influência
do um crime esteja ocorrendo, e que a área não é completamente
na ocorrência dos crimes. Há assim mudanças que têm lugar na
dominada por quadrilhas criminosas.
sociedade, provocadas diretamente pelo Estado ou não, que podem
Faltam, no entanto, informações públicas a respeito. Não há
auxiliar (ou prejudicar) na prevenção da violência (ou dos crimes um mapeamento no Brasil dos locais que podem contar com poli-
em geral) e que pouco têm a ver com o sistema de justiça criminal. ciamento ostensivo e ronda policial, tampouco sobre a qualidade
Além disso, a atuação da sociedade e do Estado vai muito deste policiamento.
além do que é feito pelo sistema de justiça criminal. Os investi- A segunda forma de atuação da prevenção primária se dá pela
mentos sociais (educação, saúde, moradia, cultura, emprego, ge- implementação e apoio aos programas educativos, como aqueles
ração de renda, saneamento básico etc.) e urbanos, o crescimento de prevenção do uso de drogas.
econômico, a atuação de ONGs (atendimento de vítimas, trabalho O trabalho educativo realizado por Polícias Militares Estadu-
com adolescentes em liberdade assistida, denúncia de violência ais junto a adolescentes, no âmbito do Programa Educacional de
policial etc.) e a resolução de conflitos pelas vias da justiça cível Resistência às Drogas e à Violência (Proerd), e o apoio a projetos
ou canais pacíficos alternativos (projetos de justiça comunitária, pela Secretaria Nacional Anti-Drogas são alguns exemplos. Fal-
por exemplo) podem ter um impacto positivo forte na prevenção tam, contudo, pesquisas avaliativas para tais ações.
da violência. Nesse sentido, tal sistema exerce um papel comple- O terceiro meio de atuação reside na própria capacidade do
mentar nesta prevenção e é muito difícil isolar o impacto que ele sistema de justiça criminal de punir. Aqui é a impunidade o pro-
produz, ao se tentar medi-lo, de outros provocados pelas ações dos blema. Considerando hipoteticamente que a punição dos crimes
demais atores, assim como das mudanças no contexto que podem fosse total, o risco para quem comete crimes seria da ordem de
contribuir para uma redução da criminalidade. 100%. No limite, só ocorreriam crimes nos casos de atos irracio-
De qualquer forma, este trabalho propõe-se a avaliar a atuação nais, desconhecimento ou desafio à lei, ou quando os efeitos po-
desse sistema em três níveis de prevenção: sitivos obtidos com o crime fossem considerados pelos infratores
- Prevenção primária: “estratégia centrada em ações dirigi- superiores às penas.
das ao meio ambiente físico e/ou social, mais especificamente aos
fatores ambientais que aumentam o risco de crimes e violências A prevenção secundária: A prevenção secundária se refere,
(fatores de risco) e que diminuem o risco de crimes e violências como se viu anteriormente, às ações dirigidas às pessoas mais
(fatores de proteção), visando a reduzir a incidência e/ou os efeitos suscetíveis a praticar crimes e violências, mais especificamente
negativos de crimes e violências” (Ministério da Justiça/FIRJAN/ aos fatores que contribuem para a vulnerabilidade e/ou resiliên-
SESI/PNUD); cia destas pessoas. Inscrevem-se na prevenção secundária ainda
Didatismo e Conhecimento 36
CRIMINOLOGIA
pessoas mais suscetíveis de serem vítimas de crimes e violências. A prevenção terciária: O foco maior de ação do sistema de
Os órgãos do sistema de justiça criminal podem atuar junto a gru- justiça criminal é a prevenção terciária, ou seja, as ações dirigidas
pos populacionais, nos quais a proporção de vítimas e infratores para pessoas que já praticaram crimes. O objetivo da ação do siste-
é superior à dos demais grupos da população. Há aí um primeiro ma é evitar a reincidência e promover o tratamento, reabilitação e
problema, qual seja, o de conhecer quais são esses grupos. Não há reintegração familiar, profissional e social do infrator. Nesse senti-
pesquisas de vitimização nacionais e nem registros administrativos do, para dar conta do fluxo crime-pena reinserção social, a atuação
tratados atualmente a ponto de permitir saber com foco e precisão do sistema será avaliada nos seguintes subsistemas: polícias, justi-
em quais grupos populacionais se concentram vítimas e agressores ça criminal e sistema de execução penal.
por cada um dos tipos penais. No entanto, pesquisa da Senasp (Mi-
nistério da Justiça), com dados de ocorrências policiais no Brasil, Polícias: A atuação das polícias no que diz respeito à pre-
indica, para alguns crimes, as faixas etárias e sexo de vítimas e venção terciária envolve principalmente o registro do crime, sua
agressores. Segundo a pesquisa, o grupo com maior número de apuração e as prisões.
agressores é o de homens entre 18 e 24 anos. Os números são:
- Homicídios dolosos – 36,7% dos infratores com sexo e faixa Registro de crimes: O conhecimento das ocorrências de crime
etária informada; não depende apenas da polícia. A polícia não conta com um siste-
- Lesão corporal dolosa – 28,7%; ma de vigilância que lhe permita identificar a ocorrência da maio-
- Tentativa de homicídio – 35,4%; ria dos crimes. Os crimes que ela pode conhecer sem o auxílio da
- Extorsão mediante sequestro – 40,9%; população são aquelas ocorrências identificadas pelo trabalho de
- Roubo a transeunte – 57,6%; patrulhamento policial, por um sistema de vigilância por câmeras
- Roubo de veículos – 48,6%; de vídeo que pertença à própria polícia ou aqueles que eventual-
- Estupro – 34,1%; mente sejam descobertos pelos policiais em serviço ou em folga.
- Atentado violento ao pudor – 19,6%; Uma maior coordenação de esforços com outros órgãos públi-
- Posse e uso de drogas – 42,1%; cos (Ibama, Receita Federal, Controladoria Geral da União, Minis-
- Tráfico de drogas – 32,2%. tério Público, conselhos, companhias de trânsito, penitenciárias,
hospitais, escolas, universidades etc.) e privados (bancos, conces-
Já o grupo com maior número de vítimas depende do crime: sionárias de rodovias, companhias de trânsito, empresas de segu-
- Homens entre 18 e 24 anos – no caso dos homicídios dolo- rança privada, ONGs etc.) pode também ajudar no conhecimento
sos (35,2%), tentativas de homicídio (31,1%), furto a transeunte de crimes. No entanto, o registro depende fundamentalmente de
(12,9%), roubo a transeunte (20,4%) e roubo de veículo (21,5%);
vítimas e testemunhas que acionem a polícia. Uma baixa colabo-
- Mulheres entre 18 e 24 anos – no caso de lesões corporais
ração dos cidadãos contribui para limitar a capacidade do sistema
dolosas (18,6%);
em punir.
- Mulheres entre 30 e 34 anos, no crime de extorsão mediante
Uma pesquisa aplicada nas cidades de São Paulo, Rio de Ja-
seqüestro (13%);
neiro, Recife e Vitória apontou que o registro de ocorrência pela
- Mulheres entre 12 e 17 anos – nos crimes de atentado violen-
população é baixo em geral (ILANUD/FIA/GSI). Com exceção
to ao pudor (19,3%) e estupro (44,4%).
dos crimes de roubo/furto de automóveis, para todos os crimes
Assim, fica claro que jovens, sejam como vítimas ou agres- pesquisados (roubo, furto de algo dentro do carro, furto, agressão
sores, e mulheres merecem uma atenção especial de políticas de física, agressão sexual, arrombamento e tentativa de arrombamen-
prevenção. to) não chegou a 40% a proporção de vítimas entrevistadas que
Um segundo problema é que o trabalho do sistema de justiça registrou o crime na polícia.
criminal pode ser altamente estigmatizador. O princípio da pre- No entanto, a baixa notificação pode ser em parte relacionada
venção, numa sociedade democrática de direito, não permite que ao próprio desempenho do sistema de justiça criminal. Se a vítima
determinados grupos populacionais (moradores de favela e peri- não registra o crime porque teme retaliação do infrator, porque não
ferias, jovens, famílias monoparentais, sem-teto, sem-terra, mora- acredita que haverá persecução penal e condenação e quer evitar
dores de rua, desempregados, apenados e egressos do sistema de ainda se submeter a algum desrespeito no distrito policial, porque
execução penal ou do sistema de medidas socioeducativas, entre não reconhece a importância dos registros para a política de segu-
outros) sejam alvos de um trabalho de vigilância policial especial. rança pública, e porque enfrenta resistência da autoridade policial
Ao fazê-lo, as vulnerabilidades sociais, antes existentes ou não, para o registro de um crime, entre outros possíveis motivos, é res-
podem se constituir ou se ampliar. O princípio prevê que se atue ponsabilidade do sistema enfrentar esses empecilhos.
sobre os fatores que contribuem para a vulnerabilidade e/ou resi- Áreas dominadas por quadrilhas de tráfico de drogas (Zaluar)
liência, e não que se os fortaleça pela colocação desses indivíduos e milícias parecem ser exemplos claros de que o sistema não gera
em suspeição. Nesse sentido, este tipo de prevenção parece poder a confiança necessária para que vítimas e testemunhas dos crimes
ser mais bem empreendido dentro de políticas sociais e por seus praticados por estes grupos venham a comunicá-los à polícia. Ape-
atores clássicos: agentes da saúde, assistentes sociais, educadores sar de existirem programas de proteção de vítimas e testemunhas,
etc. Há, porém, programas com características de prevenção se- os crimes cometidos por tais quadrilhas na maioria das vezes não
cundária e terciária e que envolvem ação policial e social. são notificados. Também a falta de confiança prejudica a notifica-
Um exemplo é o Fica Vivo, um programa de controle de ho- ção dos crimes.
micídios em territórios definidos, com ações de prevenção e con- Segundo pesquisa de opinião pública de agosto de 2005, 61%
trole da criminalidade, gerido pelo governo do estado de Minas dos entrevistados não confiavam na Polícia e 51% não confiavam
Gerais em Belo Horizonte (Andrade e Peixoto). no Poder Judiciário (IBOPE). No entanto, apesar desse quadro,
Didatismo e Conhecimento 37
CRIMINOLOGIA
duas inovações parecem estar tendo impacto na notificação de cri- A primeira fase de apuração pela Polícia Judiciária ocorre em
mes: as Ouvidorias de Polícia e os serviços de disque-denúncia. geral nos casos de comunicação de crimes pelo ofendido, seu re-
As ouvidorias estão em funcionamento em quatorze Unidades da presentante, uma pessoa do povo ou uma instituição (Receita Fe-
Federação. deral, por exemplo). Nestes casos, é do poder discricionário do
Elas parecem estar servindo para aproximar o sistema de jus- delegado de polícia a decisão de instaurar inquérito policial, ou
tiça criminal da população. Primeiro, por receberem denúncias produzir termo circunstanciado. Se crimes registrados não levarem
contra policiais e indicarem que a Secretaria de Segurança Pública a inquérito policial ou termo circunstanciado, a eficácia do sistema
está preocupada em punir os desvios. Segundo, porque a ouvidora estará sendo comprometida. No caso de São Paulo, por exemplo,
é mais um canal para notificação de crimes e para outras reclama- foram registrados 1.977.149 delitos. No mesmo ano, foram produ-
ções. A Ouvidoria de Polícia de São Paulo, por exemplo, recebeu zidos 295.316 termos circunstanciados e instaurados 313.457 in-
1.693 denúncias de falta de policiamento, 1.585 solicitações de quéritos policiais (Governo do Estado de São Paulo). Assim, numa
intervenção em pontos de droga, 1.041 comunicações de crimes, estimativa, um terço das infrações penais notificadas deram início
698 solicitações de policiamento, 154 denúncias de morosidade no a procedimentos administrativos, o que indica que a capacidade de
andamento de polícia judiciária, e 69 denúncias de falta de recur- apuração inicial das infrações penais é limitada.
sos materiais, entre outros (Governo do Estado de São Paulo). Os A segunda fase é a que se dá com o inquérito policial ins-
números são ainda baixos, talvez pela pouca confiança na polícia e taurado. Segundo o Código de Processo Penal (CPP), a polícia
reduzido conhecimento da existência da ouvidoria. deverá: garantir a preservação do local do crime; apreender os
O disque-denúncia é um exemplo de parceria entre o Estado objetos relacionados ao fato, depois de liberados pelos peritos; co-
e a sociedade. Ao garantir o anonimato do denunciante, o serviço lher todas as provas; ouvir o ofendido; ouvir o indiciado; proceder
parece contribuir para o aumento de notificações e mesmo para ou- ao reconhecimento de pessoas e coisas e realizar acareações; pro-
tras ações do sistema, favorecendo o melhor desempenho policial. ceder ao exame de corpo de delito e a quaisquer outras perícias;
No Rio de Janeiro, o disque-denúncia foi lançado em 1º de agosto ordenar a identificação do indiciado e juntar aos autos sua folha
de 1995 e é mantido numa parceria entre o Movimento Rio de de antecedentes; averiguar a vida pregressa do indiciado; produzir
Combate ao Crime e a Secretaria de Segurança Pública do estado. um relatório do que tiver sido apurado; e enviar os autos ao juiz
Segundo os responsáveis pelo projeto, o serviço atingiu, até 8 de competente, entre outras atribuições. Estes procedimentos não se
agosto de 2007, a cifra de 1.120.016 denúncias,40 e o projeto foi aplicam a todos os casos e podem variar conforme o tipo ou cir-
replicado em Pernambuco, Goiás, Espírito Santo, Ceará, São Pau- cunstância da infração. Para uma avaliação dessaapuração faltam
lo e Bahia. Em São Paulo, segundo o Instituto São Paulo contra a dados nacionais do número de inquéritos policiais que permitem
Violência, nos primeiros quatro anos de existência do serviço na o início da ação penal, mas há algumas pesquisas locais. Segundo
Região Metropolitana de São Paulo, houve 1,6 milhão de denún- uma delas, realizada em Recife, de 8.778 casos de homicídio ocor-
cias. ridos no triênio 1998-2000, apenas 356 casos foram encaminhados
O registro de crimes depende também de uma boa comunica- ao Ministério Público e, destes, apenas 262 foram transformados
ção entre a Polícia Militar e a Polícia Civil, pois os crimes iden- em denúncia. Embora possam existir mais alguns casos que te-
tificados nas chamadas ao serviço 190 da PM ou de outra forma nham sido levados adiante até os dias de hoje, estes números indi-
pelos policiais militares deveriam ser registrados nas delegacias cam que apenas 3% dos casos de homicídio chegaram à denúncia
de polícia. Nesse sentido, o desempenho policial é comprometido (Zaverucha). Outra pesquisa (Vargas), com 444 casos de estupros
se os todos os crimes registrados no sistema 190 ou em talões de registrados na Delegacia de Defesa da Mulher de Campinas (SP)
ocorrência da PM não forem registrados em boletins de ocorrência entre 1988 e 1992, mostrou que, até 2000, 71% dos boletins de
da Polícia Civil ou em termos circunstanciados produzidos pela ocorrência foram arquivados e apenas 55% dos inquéritos instau-
Polícia Militar. rados levaram à queixa-crime.
Uma análise mais conclusiva da capacidade da polícia de co-
nhecer os crimesdepende da comparação do número de registros Realização de prisões: Em relação ao trabalho de prender, a
com os resultados de pesquisas de vitimização. Contudo, atual- polícia pode efetuar a prisão em flagrante, cumprir os mandados de
mente, não há uma pesquisa de vitimização nacional disponível prisão expedidos pelas autoridades judiciárias e representar junto à
para se efetuar tal avaliação. Justiça criminal acerca das prisões preventivas e temporárias. Em
síntese, são dois trabalhos: apreender pessoas e realizar adequada-
Apuração dos crimes: O trabalho de apuração dos crimes en- mente os procedimentos formais para que a privação de liberdade
volve levantar informações sobre uma infração e sua autoria. A atenda aos requisitos legais.
Polícia Civil e a Polícia Federal realizam esta apuração como uma No caso de São Paulo, foram registradas 90.935 prisões e
rotina comum, e a Polícia Militar, somente em caráter excepcional, 7.980 apreensões, que resultou num total de 85.875 pessoas presas
como nos casos de crimes cometidos por policiais militares e para em flagrante, 42.260 presas por mandado, além de 10.845 adoles-
o registro de termos circunstanciados. centes apreendidos em flagrante e 1.478 adolescentes apreendidos
O desempenho policial pode ser medido pela proporção de por mandado (Governo do Estado de São Paulo). A proporção de
crimes registrados pelas polícias que chegam até a denúncia (ou prisões por total de ações com objetivo de prender e apreender
queixa-crime) nos procedimentos ordinários ou sumários da Jus- seria um bom indicador para avaliar o sucesso destas operações.
tiça criminal relativos aos casos de crimes comuns, ou até a audi- Não há, entretanto, no caso de São Paulo, registros de quantas ten-
ência preliminar de procedimento sumaríssimo nos casos de infra- tativas de prisão foram frustradas ou do total de ações destinadas
ção de menor potencial ofensivo. Quanto maior a proporção, mais a este fim. Verifica-se aqui um problema maior, porque em casos
eficaz a ação da polícia. Pode-se dividir a apuração em três fases: de crimes como o tráfico de drogas, a corrupção policial tende a
pré-inquérito, durante o inquérito, e após o inquérito. impedir tanto o registro do crime quanto a prisão em flagrante.
Didatismo e Conhecimento 38
CRIMINOLOGIA
Quanto ao cumprimento de mandados de prisão, indicadores Sistema de Execução Penal: O objetivo maior do sistema de
de desempenho seriam um baixo estoque de mandados de prisão a execução penal está em evitar a reincidência e promover o trata-
cumprir e um curto tempo para a realização da prisão. No entanto, mento, reabilitação e reintegração familiar, profissional e social
estas informações não estão disponíveis. dos apenados. Um importante indicador de resultado é a taxa de
O outro trabalho é a preparação dos documentos necessários reincidência, isto é, o número de apenados ou ex-condenados que
para representar junto ao Judiciário as prisões preventivas e tem- voltam a cometer um crime.
porárias. A avaliação deste trabalho dependeria, entre outros requi- Entretanto, não há números nacionais sobre a reincidência no
sitos, de se ter informações sobre a proporção de prisões sanciona- Brasil. O único número disponível é a proporção de reincidentes
das pelo Judiciário frente ao total de representações apresentadas. na população prisional, que estaria em torno de 42,3%.47 Assim, a
Tais dados são inexistentes atualmente. Em suma, deve-se avaliação do sistema pode passar pela verificação do seu desempe-
destacar que a eficácia do trabalho policial depende da ajuda da nho. Uma forma de fazê-lo é considerar se o apenado está cumprin-
população e de órgãos públicos ou privados. As informações dis- do a pena de acordo com os parâmetros estabelecidos pela política
ponibilizadas por vítimas, testemunhas e organizações são funda- de execução penal. Esta política está fortemente regulamentada e
mentais no registro e apuração de crimes e na detenção de infra- descrita na Lei de Execução Penal (LEP), que estabelece, entre ou-
tores. Um maior incentivo a esta colaboração depende da própria tras diretrizes, o tipo de tratamento que deve ser dado ao apenado,
polícia e do sistema de justiça criminal. A repressão à violência e à visando à sua reinserção social. Entre os seus instrumentos estão:
corrupção policial, uma maior aproximação com a comunidade e a - Estabelecimentos penais: penitenciária; colônia agrícola, in-
redução da impunidade podem aumentar a confiança da população dustrial ou similar; casa do albergado; centro de observação; hos-
nas instituições deste sistema. A implantação de ouvidorias de po- pital de custódia e tratamento psiquiátrico; e cadeia pública;
lícias nos últimos anos, as parcerias com ONGs em projetos como - Órgãos da execução penal: Conselho Nacional de Política
disque-denúncia e Fica Vivo, a maior divulgação das informações Criminal e Penitenciária, Juízo de Execução, Ministério Público,
sobre a ação policial, assim como a implantação de projetos de Conselho Penitenciário, Departamento Penitenciário, Patronato e
policiamento comunitário são iniciativas existentes em alguns es- Conselho da Comunidade;
tados que favorecem um melhor desempenho policial. - Assistência ao egresso (liberado definitivo e o liberado con-
dicional): orientação e apoio para reintegrá-lo à vida em liberdade,
Processo e Justiça Criminal: Neste item, o foco principal concessão de alojamento e alimentação por até quatro meses, au-
é a atuação do Ministério Público e do Poder Judiciário na área xílio para a obtenção de trabalho;
criminal. Em termos práticos, o desempenho ótimo do Ministério
- Assistência ao preso: material (alimentação, vestuário e ins-
Público estará em alcançar a condenação ou medida de segurança
talações higiênicas), à saúde (atendimento médico, farmacêutico e
no máximo de casos em que for proposta ação penal, para todos os
odontológico), jurídica, educacional (instrução escolar e formação
réus e na pena que foi pedida, e atuar com celeridade de forma a
profissional), social (recreação, orientação, amparo à família) e re-
evitar a prescrição de crimes.
ligiosa;
Já para o Poder Judiciário, o bom desempenho reside, por
- Trabalho: o trabalho deve ter finalidade educativa e produti-
exemplo, em impedir a prescrição de crimes, atuar rapidamente
va, objetivando a formação profissional do condenado. O produto
na resposta aos pedidos de autorização de ações policiais, e ter um
número reduzido de casos em que sejam reconhecidas nulidades da remuneração deverá atender: à indenização dos danos causados
formais em recursos a sentenças. pelo crime; à assistência à família; a pequenas despesas pessoais;
Há poucas pesquisas e dados sobre a matéria. Contudo, os ao ressarcimento ao Estado das despesas realizadas com a manu-
já existentes apresentam um quadro bastante preocupante. Uma tenção do condenado; e à constituição de pecúlio.
pesquisa recente (Cano) estimou que na cidade do Rio de Janei- A avaliação ficará concentrada na existência dos estabeleci-
ro, apenas 21% dos processos de homicídio que chegaram a uma mentos penais, na existência e atuação dos órgãos de execução
sentença em primeira instância resultaram em condenação. Nestes penal, na assistência ao preso, na quantidade de presos trabalhando
dois anos, de um total de 5.652 processos, 1.178 (20,8% do total) e na aplicação de penas alternativas.
resultaram em sentença condenatória. Segundo o autor, em todos Após 22 anos da sanção da LEP, há estados que ainda não pos-
os outros casos houve impunidade. Em outros 785 processos, por suem todos os estabelecimentos penais para os presos provisórios,
exemplo, a sentença foi absolutória (13,9%). Isto pode significar condenados à pena restritiva de liberdade ou submetidos à medida
que um inocente não foi punido, mas indica certamente que o cul- de segurança (penitenciária, cadeia pública, casa do albergado, co-
pado também não o foi. Fica então a suspeita de que o Ministério lônia agrícola, industrial ou similar, e hospital de custódia e trata-
Público possa ter despendido esforços num caso em que a mate- mento). Segundo dados do Ministério da Justiça, alguns estados
rialidade do delito ou a autoria não estavam claros, ou que o júri possuem apenas um tipo de estabelecimento penal: é o caso do
tenha, apesar de provas em contrário, optado pela absolvição. Acre e do Amapá.
Problema maior parece ser o que envolve os 770 casos Apenas cinco estados (AM, CE, PA, PE e RJ) possuem to-
(13,6%) em que o processo foi extinto por prescrição. Isto indica dos os estabelecimentos penais. Porém, nem todos eles cumprem
provavelmente uma incapacidade do Judiciário, do Ministério Pú- a exigência de uma cadeia pública e uma casa de albergado por
blico e da Polícia Civil de imprimir maior celeridade ao processo. comarca.49 A própria existência de instituições classificadas como
Segundo a pesquisa supracitada realizada em Recife, de 356 presídios no quadro produzido pelo Depen parece indicar que nes-
casos de homicídio e encaminhados ao Ministério Público, apenas ses locais há diversos tipos de internos.
262 foram transformados em denúncia, ou seja, 73,6% dos casos Em relação à existência de órgãos de execução penal, algumas
(Zaverucha), e isto não significa que houve ou haverá sentença informações disponíveis são de uma pesquisa já citada neste tex-
transitada em julgado para todos os casos. to (Ministério da Justiça). Segundo seus resultados, apenas 16,7%
Didatismo e Conhecimento 39
CRIMINOLOGIA
dos estados possuíam patronatos e 61% dos estados tinham con- constatamos a presença, naquele dia, de dois paraplégicos e de
selhos da comunidade. A inexistência de patronatos compromete duas auxiliares de enfermagem. O médico somente atende a uni-
a assistência aos albergados e egressos e a orientação aos conde- dade duas vezes por semana, não possuindo os referidos locais de
nados à pena restritiva de direitos, comprometendo a reinserção atendimento médico condições higiênicas mínimas. Ao revés. São
social. Além disso, sem o patronato, a própria aplicação de penas elas deploráveis. Ademais, não são realizados trabalhos de preven-
alternativas, suspensão de pena e livramento condicional também ção ou controle de doenças infecto-contagiosas e de doenças sexu-
fica comprometida, pois, segundo a lei, este órgão é responsável almente transmissíveis (DST). Sobreleva-se informar que não há
por fiscalizar o cumprimento das penas de prestação de serviço à atividades educacionais e a parte cultural é desenvolvida, tão-só,
comunidade e de limitação de fim de semana, e por colaborar na por grupos religiosos. (...) Na entrada do presídio encontramos três
fiscalização das condições da suspensão e do livramento condi- presos contidos num lugar que, a princípio, deveria ser destinado
cional.
unicamente ao guarda-volumes, mas, em razão da superpopulação
Quanto ao monitoramento das unidades prisionais, a pesquisa
carcerária, vem sendo utilizado como cela; bem como cerca de 25
constatou que os estados não contavam com a atuação de cada um
dos órgãos de execução penal: (vinte e cinco) presos na cela que, a rigor, só deveria ser de passa-
- os conselhos de comunidades atuavam em 52,2% dos estados; gem, mas que, pelas mesmas razões, vem sendo usada como cela.
- o Ministério Público da Vara de Execuções Penais, em Visitamos diversas galerias e celas nas quais constatamos, sem
87,5%; qualquer dificuldade, a precariedade do estabelecimento, sempre
- o Juízo da Vara de Execuções, em 91,7%; para falar o menos. A saber: solário sem grades; restos de alimen-
- o Conselho Penitenciário Estadual, em 79,2%; v) o Depen, tação com água para fermentar bebidas; celas com quatro beliches
em 56,5%; sem chuveiros; estoques; peças de ventiladores para potencializar
- o CNPCP, em 36,4%. os celulares; buracos de toda espécie, inclusive para vigiar os poli-
ciais; vergalhões que servem como armas; interligação de galerias
O mesmo estudo também trouxe resultados sobre a assistên- e alas; buracos no chão, que se comunicam com o pátio de visita;
cia ao preso. Segundo ele, apenas 17,3% dos presos estavam en- enfim, locais de toda espécie para esconder armas, drogas, baratas
volvidos em alguma atividade educacional, comprometendo a sua e roedores. Na área externa das galerias, vimos duas quadras de
futura reinserção social. futebol; ala de visitas com canos aparentes e locais alagados. Para
Além disso, com base nos questionários e visitas realizadas, visita íntima, que se dá aos sábados, não existe qualquer controle
concluiu-se que, apesar de 88% dos estados informarem que havia para DST, e as visitas familiares, que deveriam acontecer aos sá-
distribuição de material de higiene nos seus sistemas penitenciá- bados, ocorrem aos domingos, em local desapropriado e insalubre.
rios e 40% sustentarem que distribuíam vestuário e roupa de cama,
Enfim, um verdadeiro caos! (Ministério da Justiça).
tal distribuição, em geral, não era regular.
No que tange ao trabalho de presos, num total de 1.076 esta- No caso das penas alternativas, há pouca informação dispo-
belecimentos cadastrados pelo Sistema Integrado de Informações nível sobre a situação atual de aplicação dessas penas. Segundo
Penitenciárias, Infopen (Ministério da Justiça), mais de novecen- relatório de avaliação do Programa Modernização do Sistema Pe-
tos estabelecimentos penais informaram sobre o total de pessoas nitenciário Nacional, cerca de 170 mil penas e medidas alterna-
em programas de laborterapia, dentro ou fora do estabelecimento tivas estão sendo cumpridas, envolvendo 39 centrais de penas e
penal, somando um total de 77.030 pessoas em tais programas. medidas alternativas, 56 núcleos de apoio no interior dos estados,
Apesar de poder haver outros em laborterapia, nos mais de e sete varas judiciais especializadas (Ministério do Planejamento,
100 estabelecimentos que não informaram, este valor representa Orçamento e Gestão). Segundo o Ministério da Justiça, 527 mu-
apenas 18% do total da população em custódia. nicípios e o Distrito Federal desenvolvem trabalhos nesta área. O
Mesmo com os avanços produzidos pelo Depen na produção documento, no entanto, não apresenta a informação sobre se há
de informações, falta um diagnóstico nacional mais abrangente aplicação de penas e medidas alternativas em todas as comarcas.
dos estabelecimentos penais para demonstrar a situação do cum- Outra dúvida é se a aplicação destas penas e medidas está sendo
primento das penas restritivas de liberdade. Para trazer um dado comprometida pela falta de infraestrutura, como a falta de patrona-
atualizado sobre a situação em um desses estabelecimentos penais, tos mencionada anteriormente.
optou-se por citar trecho extraído do Relatório de Inspeção no Por fim, cabe ser analisado o trabalho com os egressos das
estado do Espírito Santo (Ministério da Justiça), no qual os con- penas restritivas de liberdade para verificar a sua eficácia na rein-
selheiros do CNPCP relatam a visita a um presídio de segurança
serção social do apenado. Segundo prevê a LEP, o egresso deve
máxima:
receber, se necessário, alojamento e alimentação pelo prazo de
Trata-se de prédio novo, com menos de 4 (quatro) anos de dois meses, e o serviço de assistência social deverá colaborar para
construção, que causou péssima impressão (...) porque pratica- que o egresso obtenha trabalho. Não há, no entanto, informações
mente destruído (para não falarmos destruído totalmente) em seu disponíveis sobre o número de egressos atendidos e nem sobre a
interior, conforme se vê nas fotografias e filmes em anexo. O esta- qualidade do atendimento.
belecimento de regime fechado é (...) destinado somente a homens.
Possui capacidade para 520 (quinhentos e vinte) presos, sendo que Procedimento no rito ordinário ou processo comum. Aplica-
a sua lotação, no dia da inspeção, era de 613 (seiscentos e treze) -se a crimes punidos com reclusão.
presos provisórios (sim, presos provisórios) e condenados. A uni-
dade não possui celas individuais, apresentando um consultório Oferecimento da denúncia ou queixa com rol de testemunhas
médico e uma enfermaria e uma área para isolamento de presos de acusação. → Recebimento da denúncia ou queixa; juiz designa
tuberculosos. Exclama-se que os presos-pacientes ficam no chão, data para interrogatório e manda citar o réu. → Citação do réu.
na ausência de acomodações apropriadas. Exclama-se, ainda, que → Interrogatório do acusado. → Defesa prévia com rol de teste-
Didatismo e Conhecimento 40
CRIMINOLOGIA
munhas. → Audiência das testemunhas de acusação. → Audiência Procedimento sumaríssimo. Aplica-se a infrações penais
das testemunhas de defesa. → Prazo para diligências das partes (crimes e contravenções) cuja pena não ultrapasse dois anos.
(24 horas para cada parte). → Alegações finais. → Diligências ex
officio. → Sentença. No caso de ação penal privada:
Procedimento no rito sumário. Aplica-se a crimes punidos 1) Audiência preliminar. Estando presentes o autuado e a
com detenção, prisão simples ou multa. vítima, ambos assistidos por seus advogados, haverá tentativa de
conciliação, conduzida pelo juiz, que consiste na composição dos
Oferecimento da denúncia ou queixa com rol de testemunhas danos sofridos pela vítima. → Havendo conciliação, a composição
de acusação (máximo de cinco). → Recebimento da denúncia pelo dos danos será reduzida a termo e homologada pelo juiz. → O
juiz, que designa data para interrogatório e manda citar o réu. → acordo homologado é irrecorrível e implica renúncia ao direito de
Citação do réu. → Interrogatório do réu. → Defesa prévia com rol queixa ou representação do ofendido. → Não havendo acordo, a
de testemunhas de defesa (máximo de cinco). → Audiência das vítima poderá oferecer a queixa oralmente, na própria audiência
testemunhas de acusação. → Despacho saneador. → Audiência preliminar, ou fazê-lo em outro momento, sendo, então, designada
das testemunhas de defesa, debates e julgamento. data para audiência de instrução e julgamento, devendo o acusado
ser citado pessoalmente. →
Procedimento nos crimes de competência do Tribunal do
2) Audiência de instrução e julgamento. Iniciada a audiência,
Júri Aplica-se aos crimes dolosos contra a vida, tentados ou con-
haverá nova tentativa de conciliação. → Não havendo conciliação,
sumados.
o defensor irá responder à acusação. → O juiz receberá a denúncia
ou queixa – caso o juiz não a receba, caberá apelação, no prazo de
1ª fase – Instrução criminal (Vara Auxiliar do Júri) dez dias, que será julgada pela Turma Recursal do JECrim. → Se-
rão ouvidas a vítima, as testemunhas de acusação e as testemunhas
Oferecimento da denúncia com rol de testemunhas de acusa- de defesa, nesta ordem. → Interrogatório do acusado. → Debates
ção. → Recebimento da denúncia pelo juiz, que designa data para orais, no prazo de vinte minutos, prorrogáveis por mais dez, para
interrogatório e manda citar o réu. → Citação do réu. → Interro- cada parte. → Sentença.
gatório do acusado. → Defesa prévia com rol de testemunhas. →
Audiência das testemunhas de acusação. → Audiência das teste- No caso de ação penal pública:
munhas de defesa. → Prazo para diligências das partes (24 horas
para cada parte). → Alegações finais. → Diligências ex officio – 1) Audiência preliminar
não poderão ser acrescidas novas provas. → Sentença do juiz: de
pronúncia, impronúncia, absolvição sumária ou desclassificação. a) Ministério Público propõe acordo:
- nos crimes apenados com multa ou cuja pena máxima não
No caso de pronúncia, o réu será submetido ao julgamento ultrapasse um ano → aplicação imediata da multa. Nos crimes cuja
pelo júri, que constitui a 2ª fase, descrita a seguir. Em caso de sen- pena mínima não exceda um ano → suspensão do processo pelo
tença de impronúncia (quando os indícios não forem suficientes período de dois a quatro anos. → O acusado aceita o acordo. A
para remeter o réu ao júri), o processo é encerrado. No entanto, aceitação do acordo não implica reconhecimento → de culpa nem
como não há um julgamento de mérito pelo juiz, caso surjam no- terá efeito para reincidência. → O juiz homologa o acordo
vas evidências, novo processo poderá ser instaurado. A sentença
de absolvição advém de um julgamento de mérito pelo juiz, à qual b) Se não houver proposta de acordo por parte do Ministério
cabe recurso pela acusação. A desclassificação ocorre quando o Público, o promotor fará denúncia oral, que será reduzida a termo.
juiz entende que não se trata de crime doloso contra a vida, não → O juiz marca data para audiência de instrução e julgamento. →
sendo portanto competência do júri. Neste caso, o processo é enca- Estando o acusado presente, receberá uma cópia da denúncia, →
minhado ao juiz competente. sendo considerado citado e cientificado da data da audiência. → Se
o acusado não estiver presente na audiência preliminar, deverá ser
citado pessoalmente. →
2ª fase – Tribunal do Júri (Plenário)
2) Audiência de instrução e julgamento – conforme procedi-
Libelo acusatório, com rol de testemunhas de acusação. →
mento da ação privada.
Contrariedade do libelo, com rol de testemunhas de defesa. → De-
saforamento (transferência do julgamento para outra comarca), se EXERCICIOS
necessário. → Determinação da data de julgamento e intimação
das testemunhas. → Convocação do júri. → Exortação (juramento 1. A criminologia é uma ciência que dispõe de leis
dos jurados). → Interrogatório do réu. → Relatório do juiz. → a) imutáveis e evolutivas.
Inquirição das testemunhas de acusação. → Acareação, se neces- b) inflexíveis e evolutivas.
sário. → Debates orais. → Elaboração e leitura dos quesitos. → c) permanentes e flexíveis.
Votação – dos quesitos pelos jurados, de forma secreta e sem in- d) flexíveis e restritivas.
tervenções das partes. → Sentença: absolutória, condenatória ou e) evolutivas e flexíveis.
desclassificatória.
Didatismo e Conhecimento 41
CRIMINOLOGIA
2. “L’uomo delinquente” ou “O homem delinquente” é uma 8. (MPE-SC - 2013 - MPE-SC - Promotor de Justiça) A
obra clássica da criminologia, de autoria de criminalização primária, realizada pelos legisladores, é o ato e o
a) Marquês de Beccaria. efeito de sancionar uma lei penal material que incrimina ou per-
b) Césare Lombroso. mite a punição de determinadas pessoas; enquanto a criminaliza-
c) Francesco Carrara. ção secundária, exercida por agências estatais como o Ministério
d) Pellegrino Rossi. Público, Polícia e Poder Judiciário, consistente na ação punitiva
e) Enrico Pessina. exercida sobre pessoas concretas, que acontece quando é detectado
uma pessoa que se supõe tenha praticado certo ato criminalizado
3. Segundo a teoria behaviorista, o homem comete um delito primariamente.
porque e seu comportamento
a) é uma resposta às causas ou fatores que o levam à prática a) VERDADEIRA
do crime. b) FALSA
b) decorre de sua própria natureza humana, independentemen-
te de fatores internos ou externos. 9. (MPE-SC - 2013 - MPE-SC - Promotor de Justiça) 129
c) é dominado por uma vontade insana de praticar um crime. Em sede de Política Criminal, o Direito Penal de segunda veloci-
d) não permite a distinção entre o bem e o mal. dade, identificado, por exemplo, quando da edição das Leis dos
e) impede-o de entender o caráter delituoso da ação praticada. Crimes Hediondos e do Crime Organizado, compreende a utiliza-
ção da pena privativa de liberdade e a permissão de uma flexibili-
4. (VUNESP - 2013 - PC-SP - Agente de Polícia) É correto zação de garantias materiais e processuais.
afirmar que a Criminologia contemporânea tem por objetos
(A) o delito, o delinquente, a vítima e o controle social. a) VERDADEIRA
(B) a tipificação do delito e a cominação da pena. b) FALSA
(C) apenas o delito, o delinquente e o controle social.
(D) apenas o delito e o delinquente. 10. (VUNESP - 2013 - PC-SP - Investigador de Polícia) A
(E) apenas a vítima e o controle social. atuação das polícias, do ministério público e da justiça criminal,
quando focada em determinados grupos ou setores da sociedade,
5. (VUNESP - 2013 - PC-SP - Agente de Polícia) O compor- por possuírem maior risco de praticar o crime ou de ser vitimados
tamento inadequado da vítima que de certo modo facilita, instiga
por este, constitui programa de prevenção
ou provoca a ação de seu verdugo é denominado
(A) secundária.
(A) vitimização terciária.
(B) quaternária.
(B) vitimização secundária.
(C) primária.
(C) periculosidade vitimal.
(D) quinária.
(D) vitimização primária.
(E) terciária.
(E) vitimologia.
6. (VUNESP - 2013 - PC-SP - Perito Criminal) Assinale a 11. (CESPE - 2013 - Polícia Federal - Delegado de Polícia)
alternativa correta. No que se refere à prevenção da infração penal, julgue os próximos
(A) No modelo clássico (tradicional) de Justiça Criminal, a itens.
vítima é encarada como mero objeto, pois dela se espera que cum-
pra seu papel de testemunha, com todos os inconvenientes e riscos Ações como controle dos meios de comunicação e ordenação
que isso acarreta. urbana, orientadas a determinados grupos ou subgrupos sociais,
(B) A Vitimologia não possui relação com a Sociologia. estão inseridas no âmbito da chamada prevenção secundária do
(C) A Vitimologia não estuda a vítima e suas relações com o delito.
infrator e com o sistema de persecução criminal.
(D) A Vitimologia não possui relação com a Criminologia. a) CERTO
(E) No modelo clássico (tradicional) de Justiça Criminal, a ví- b) ERRADO
tima é encarada como sujeito passivo da relação jurídica, pois dela
se espera que cumpra seu papel de ofendido, com todos os direitos 12. As modalidades preventivas nas quais se inserem os pro-
e deveres que isso acarreta. gramas de policiamento orientado à solução de problemas e de
policiamento comunitário, assim como outros programas de apro-
7. (MPE-SC - 2013 - MPE-SC - Promotor de Justiça) A po- ximação entre polícia e comunidade, podem ser incluídas na cate-
lítica criminal do Direito Penal Funcional sustenta, como moderni- goria de prevenção primária.
zação funcional no combate à “criminalidade moderna”, uma mu-
dança semântico-dogmática, tal como: “perigo” em vez de dano; a) CERTO
“risco” em vez de ofensa efetiva a um bem jurídico; “abstrato” em b) ERRADO
vez de concreto; “tipo aberto” em vez de fechado; e “bem jurídico
coletivo” em vez de individual. 13. Na terminologia criminológica, criminalização primária
equivale à chamada prevenção primária.
a) VERDADEIRA a) CERTO
b) FALSA b) ERRADO
Didatismo e Conhecimento 42
CRIMINOLOGIA
14. A prevenção terciária, considerada intervenção tardia e
parcial, destina-se exclusivamente à população carcerária, obje- ANOTAÇÕES
tivando evitar a reincidência, mas não atua nas condições gerais
que favorecem a ocorrência de episódios violentos.
a) CERTO
b) ERRADO
GABARITO: —————————————————————————
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1 E
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2 B
3 A —————————————————————————
4 A —————————————————————————
5 C
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6 A
7 A —————————————————————————
8 A —————————————————————————
9 B
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10 A
11 A —————————————————————————
12 B —————————————————————————
13 B —————————————————————————
14 A
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ANOTAÇÕES —————————————————————————
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Didatismo e Conhecimento 43
CRIMINOLOGIA
ANOTAÇÕES
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Didatismo e Conhecimento 44
CRIMINOLOGIA
ANOTAÇÕES
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Didatismo e Conhecimento 45
CRIMINOLOGIA
ANOTAÇÕES
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Didatismo e Conhecimento 46
LÓGICA
LÓGICA
nos concursos públicos. Uma base sólida de matemática será
4. LÓGICA suficiente para resolver pelo menos 50% dos problemas. Os outros
30% podem ser resolvidos pela aplicação direta dos métodos de
raciocínio lógico que estudarão.
Portanto veremos alguns conceitos sobre lógica e,
A Lógica é uma ciência com características matemáticas, mas posteriormente, alguns testes para avaliação do aprendizado. No
está fortemente ligada à Filosofia. Ela cuida das regras do bem mais, já servindo como dica, raciocínio lógico deve ser estudado,
pensar, ou do pensar correto, sendo, portanto, um instrumento do principalmente, através da prática, ou seja, resolução de testes.
pensar humano. Aristóteles, filósofo grego (384 – 322 a.C.) em sua Pode, à primeira vista, parecer complexa a disciplina “Raciocínio
obra “Órganon”, distribuída em oito volumes, foi o seu principal Lógico”. Entretanto, ela está ao alcance de toda pessoa que
organizador. George Boole (1815 – 1864), em seu livro “A Análise memorize as regras e exercite bastante. Portanto, mãos à obra.
Matemática da Lógica”, estruturou os princípios matemáticos da
lógica formal, que, em sua homenagem, foi denominada Álgebra
Booleana. No século XX, Claude Shannon aplicou pela primeira
4.1 CONCEITO DE PROPOSIÇÃO -
vez a álgebra booleana em interruptores, dando origem aos atuais
PROPOSIÇÕES SIMPLES E COMPOSTAS -
computadores. Desde 1996, nos editais de concursos já inseriam o
CONECTIVOS LÓGICOS
“Raciocínio Lógico” em suas provas.
Existem muitas definições para a palavra “lógica”, porém no
caso do nosso estudo não é relevante um aprofundamento nesse
ponto, é suficiente apenas discutir alguns pontos de vista sobre o Proposições ou Sentenças
assunto. Alguns autores definem lógica como sendo a “Ciência das
leis do pensamento”, e neste caso existem divergências com essa Uma proposição é uma afirmação que pode ser verdadeira ou
definição, pois o pensamento é matéria estudada na Psicologia, falsa. Ela é o significado da afirmação, não um arranjo preciso das
que é uma ciência distinta da lógica (ciência). Segundo Irving palavras para transmitir esse significado. Por exemplo, “Existe um
Copi, uma definição mais adequada é: “A lógica é uma ciência do número primo par maior que dois” é uma proposição (no caso,
raciocínio”, pois a sua ideia está ligada ao processo de raciocínio falsa). “Um número primo par maior que dois existe” é a mesma
correto e incorreto que depende da estrutura dos argumentos proposição, expressa de modo diferente. É muito fácil mudar
envolvidos nele. acidentalmente o significado das palavras apenas reorganizando-
“Lógica: Coerência de raciocínio, de ideias. Modo de as. A dicção da proposição deve ser considerada algo significante.
raciocinar peculiar a alguém, ou a um grupo. Sequência coerente, É possível utilizar a linguística formal para analisar e reformular
regular e necessária de acontecimentos, de coisas.” (dicionário uma afirmação sem alterar o significado.
Aurélio), portanto podemos dizer que a Lógica é a ciência do As sentenças ou proposições são os elementos que, na
raciocínio. Assim concluímos que a lógica estuda as formas linguagem escrita ou falada, expressam uma ideia, mesmo que
ou estruturas do pensamento, isto é, seu propósito é estudar e absurda. Considerar-se-ão as que são bem definidas, isto é, aquelas
estabelecer propriedades das relações formais entre as proposições. que podem ser classificadas em falsas ou verdadeiras, denominadas
declarativas. As proposições geralmente são designadas por letras
Dica: A esmagadora maioria das questões de raciocínio latinas minúsculas: p, q, r, s...
lógico exigidas em concursos públicos necessita de uma forma
ou de outra, de conhecimentos básicos de matemática. Este é o Considere os exemplos a seguir:
motivo para que façam paralelamente à matéria de raciocínio
lógico propriamente dito uma revisão dos principais tópicos p: Mônica é inteligente.
da matemática de nível secundário. Concomitantemente com a q: Se já nevou na região Sul, então o Brasil é um país europeu.
revisão mencionada, devem estudar todas as grandes famílias de r: 7 > 3
problemas consideradas de raciocínio lógico, e a maneira mais s: 8 + 2 ≠ 10
rápida de resolvê-los.
Muitas questões podem ser resolvidas pela simples intuição. Tipos de Proposições
Porém, sem o devido treinamento, mesmo os melhores terão
dificuldade em resolvê-las no exíguo tempo disponível nos Podemos classificar as sentenças ou proposições, conforme o
concursos. Grande parte dos problemas de Raciocínio Lógico, significado de seu texto, em:
como não poderia deixar de ser, serão do tipo “charada” ou
“quebra-cabeças”. Alguns problemas que caem nos concursos - Declarativas ou afirmativas: são as sentenças em que se
exigem muita criatividade, malícia e sorte, e, a não ser que o afirma algo, que pode ou não ser verdadeiro. Exemplo: Júlio César
candidato já tenha visto coisa similar, não podem ser resolvidos é o melhor goleiro do Brasil.
nos três a cinco minutos disponíveis para cada questão. - Interrogativas: são aquelas sentenças em que se questiona
Muitos candidatos, mesmo devidamente treinados não terão algo. Esse tipo de sentença não admite valor verdadeiro ou falso.
condições de resolvê-los. Nosso conselho é que não devem se Exemplo: Lula estava certo em demitir a ministra?
preocupar muito. Esses problemas irrespondíveis no tempo hábil - Imperativas ou ordenativas: são as proposições em que se
não passam de 20% das questões de Raciocínio Lógico exigidas ordena alguma coisa. Exemplo: Mude a geladeira de lugar.
Didatismo e Conhecimento 1
LÓGICA
Proposições Universais e Particulares - Algum S é P (particular afirmativa – I)
Nesta definição incluímos o caso em que o sujeito é unitário. - Algum S não é P (particular negativa – O)
S
S S P
Exemplo: “O cão é mamífero”. P
∧
corresponde a “não”
AFIRMATIVA NEGATIVA
∧ corresponde a “e”
corresponde a “ou”
UNIVERSAL Todo S é P (A) Nenhum S é P (E) ⇒ corresponde a “então”
PARTICULAR Algum S é P (I) Algum S não é P (O) ⇔ corresponde a “se somente se”
Diagrama de Euler Sendo assim, a partir de uma proposição podemos construir
uma outra correspondente com a sua negação; e com duas ou mais,
Para analisar, poderemos usar o diagrama de Euler. podemos formar:
Didatismo e Conhecimento 2
LÓGICA
Sentenças Abertas Para negação, tem-se
1. p( x) : x + 4 = 9 A sentença t:
“O time do Paraná resistiu à pressão do São Paulo” possui
A sentença matemática x + 4 = 9 é aberta, pois existem como negativa de t, ou seja, “~t”, o correspondente a: “O time do
infinitos números que satisfazem a equação. Obviamente, apenas Paraná não resistiu à pressão do São Paulo”.
um deles, x = 5 , tornando a sentença verdadeira. Porém, existem
infinitos outros números que podem fazer com que a proposição se Observação: Alguns matemáticos utilizam o símbolo “¬ O
torne falsa, como x = −5. Brasil possui um grande time de futebol”, que pode ser lida como
“O Brasil não possui um grande time de futebol”.
2. q( x) : x < 3
Proposições Simples e Compostas
Dessa maneira, na sentença x < 3 , obtemos infinitos valores
Uma proposição pode ser simples (também denominada
que satisfazem à equação. Porém, alguns são verdadeiros, como
atômica) ou composta (também denominada molecular). As
x = −2 , e outros são falsos, como x = +7. proposições simples apresentam apenas uma afirmação. Pode-
se considerá-las como frases formadas por apenas uma oração.
Atenção: As proposições ou sentenças lógicas são As proposições simples são representadas por letras latinas
representadas por letras latinas e podem ser classificadas em minúsculas.
abertas ou fechadas.
A sentença s ( x ) : 2 + 2 = 5 é uma sentença fechada, pois a Exemplos
ela se pode atribuir um valor lógico; nesse caso, o valor de s (x )
é F, pois a sentença é falsa. (1) p: eu sou estudioso
A sentença p (x ) “Phil Collins é um grande cantor de música (2) q: Maria é bonita
pop internacional” é fechada, dado que possui um valor lógico e (3) r: 3 + 4 > 12
esse valor é verdadeiro.
Já a sentença e(x ) “O sorteio milionário da Mega-Sena” é Uma proposição composta é formada pela união de duas ou
uma sentença aberta, pois não se sabe o objetivo de falar do sorteio mais proposições simples. Indica-se uma proposição composta
da Mega-Sena, nem se pode atribuir um valor lógico para que por letras latinas maiúsculas. Se P é uma proposição composta das
e(x) seja verdadeiro, ou falso. proposições simples p, q, r, ..., escreve-se P (p, q, r,...). Quando
P estiver claramente definida não há necessidade de indicar as
Modificadores proposições simples entre os parênteses, escrevendo simplesmente
P.
A partir de uma proposição, podemos formar outra proposição
usando o modificador “não” (~), que será sua negação, a qual Exemplos:
possuirá o valor lógico oposto ao da proposição.
(4) P: Paulo é estudioso e Maria é bonita. P é composta das
Exemplo proposições simples p: Paulo é estudioso e q: Maria é bonita.
(5) Q: Maria é bonita ou estudiosa. Q é composta das
proposições simples p: Maria é bonita e q: Maria é estudiosa.
p: Jacira tem 3 irmãos.
(6) R: Se x = 2 então x2 + 1 = 5. R é composta das proposições
~p: Jacira não tem 3 irmãos.
simples p: x = 2 e q: x2 + 1 = 5.
(7) S: a > b se e somente se b < a. S é composta das proposições
É fácil verificar que: simples p: a > b e q: b < a.
1. Quando uma proposição é verdadeira, sua negação é falsa.
2. Quando uma proposição é falsa, sua negação é verdadeira. As proposições simples são aquelas que expressam “uma
única ideia”. Constituem a base da linguagem e são também
V ou F Sentença: p Negação: ~p V ou F chamadas de átomos da linguagem. São representadas por letras
latinas minúsculas (p, q, r, s, ...).
V 4∈ N 4∉ N F
As proposições composta são aquelas formadas por duas ou
12 não é divisível mais proposições ligadas pelos conectivos lógicos. São geralmente
F 12 é divisível por zero V
por zero. representadas por letras latinas maiúsculas (P, Q, R, S, ...). O
Para classificar mais facilmente as proposições em falsas ou símbolo P (p, q, r), por exemplo, indica que a proposição composta
verdadeiras, utilizam-se as chamadas tabelas-verdade. P é formada pelas proposições simples p, q e r.
Didatismo e Conhecimento 3
LÓGICA
Exemplos Observe-se que os valores lógicos V e F se alternam de dois
em dois para a primeira proposição p e de um em um para a
São proposições simples: segunda proposição q, e que, além disso, VV, VF, FV e FF são os
p: A lua é um satélite da terra. arranjos binários com repetição dos dois elementos V e F.
q: O número 2 é primo.
r: O número 2 é par.
Proposição Composta - 03 proposições simples
s: Roma é a capital da França.
t: O Brasil fica na América do Sul.
u: 2 + 5 = 3 . 4 No caso de uma proposição composta cujas proposições
simples componentes são p, q e r as únicas possíveis atribuições
São proposições compostas: de valores lógicos a p, a q e a r são:
P(q, r): O número 2 é primo ou é par.
Q(s, t): Roma é a capital da França e o Brasil fica na América p q r
do Sul.
R: O número 6 é par e o número 8 é cubo perfeito. V V V
V V F
Não são proposições lógicas: V F V
- Roma
- O cão do menino V F F
- 7+1 F V V
- As pessoas estudam F V F
- Quem é?
F F V
- Que pena!
F F F
Didatismo e Conhecimento 4
LÓGICA
02. Considere as proposições p: A terra é um planeta e q: 08. (CESPE - Papiloscopista) Sejam P e Q variáveis
Aterra gira em torno do Sol. Traduza para linguagem simbólica as proposicionais que podem ter valorações, ou serem julgadas
seguintes proposições: verdadeiras (V) ou falsas (F). A partir dessas variáveis, podem ser
a) Não é verdade: que a Terra é um planeta ou gira em torno obtidas novas proposições, tais como: a proposição condicional,
do Sol. denotada por P → Q, que será F quando P for V e Q for F, ou V,
b) Se a Terra é um planeta então a Terra gira em torno do Sol. nos outros casos; a disjunção de P e Q, denotada por P v Q, que
será F somente quando P e Q forem F, ou V nas outras situações;
c) É falso que a Terra é um planeta ou que não gira em torno
a conjunção de P e Q, denotada por P ^ Q, que será V somente
do Sol.
quando P e Q forem V, e, em outros casos, será F; e a negação de
d) A Terra gira em torno do Sol se, e somente se, a Terra não P, denotada por ¬P, que será F se P for V e será V se P for F. Uma
é um planeta. tabela de valorações para uma dada proposição é um conjunto de
e) A Terra não é nem um planeta e nem gira em torno do Sol. possibilidades V ou F associadas a essa proposição. A partir das
(Expressões da forma “não é nem p e nem q” devem ser vistas informações do texto, julgue os itens subsequentes.
como “não p e não q”) a) As tabelas de valorações das proposições P v Q e Q → ¬P
são iguais.
03. Dada a condicional: “Se p é primo então p = 2 ou p é b) As proposições (P v Q) → S e (P → S) v (Q → S) possuem
impar”, determine: tabelas de valorações iguais.
a) a contrapositiva
b) a recíproca 09. (CESPE - PF - Regional) Considere as sentenças abaixo.
05. Dê o conjunto-verdade em R das seguintes sentenças Considere também que P, Q, R e T representem as sentenças
abertas: listadas na tabela a seguir.
a) x² + x – 6 = 0 → x² - 9 = 0
b) x² ˃ 4 ↔ x² -5x + 6 = 0 P Fumar deve ser proibido.
Q Fumar de ser encorajado.
06. Use o diagrama de Venn para decidir quais das seguintes
afirmações são válidas: R Fumar não faz bem à saúde.
T Muitos europeus fumam.
a) Todos os girassóis são amarelos e alguns pássaros são Com base nas informações acima e considerando a notação
amarelos, logo nenhum pássaro é um girassol. introduzida no texto, julgue os itens seguintes.
b) Alguns baianos são surfistas. Alguns surfistas são louros.
Não existem professores surfistas. Conclusões: a) A sentença I pode ser corretamente representada por P ^
I- Alguns baianos são louros. (¬ T).
II- Alguns professores são baianos. b) A sentença II pode ser corretamente representada por (¬ P)
III- Alguns louros são professores. ^ (¬ R).
c) A sentença III pode ser corretamente representada por R
IV- Existem professores louros.
→ P.
d) A sentença IV pode ser corretamente representada por (R
07. (CESPE - PF - Regional) Considere que as letras P, Q, R ^ (¬ T)) → P.
e T representem proposições e que os símbolos ̚ , ^, ˅ e → sejam e) A sentença V pode ser corretamente representada por T →
operadores lógicos que constroem novas proposições e significam ((¬ R) ^ (¬ P)).
não, e, ou e então, respectivamente. Na lógica proposicional, cada
proposição assume um único valor (valor-verdade), que pode ser 10. Um agente de viagens atende três amigas. Uma delas é
verdadeiro (V) ou falso (F), mas nunca ambos. Com base nas loura, outra é morena e a outra é ruiva. O agente sabe que uma delas
informações apresentadas no texto, julgue os itens a seguir. se chama Bete, outra se chama Elza e a outra se chama Sara. Sabe,
a) Se as proposições P e Q são ambas verdadeiras, então a ainda, que cada uma delas fará uma viagem a um país diferente da
proposição ( ̚ P) ˅ ( ̚ Q) também é verdadeira. Europa: uma delas irá à Alemanha, outra irá à França e a outra irá
b) Se a proposição T é verdadeira e a proposição R é falsa, à Espanha. Ao agente de viagens, que queria identificar o nome e o
então a proposição R→ ( ̚ T) é falsa. destino de cada uma, elas deram as seguintes informações:
A loura: “Não vou à França nem à Espanha”.
c) Se as proposições P e Q são verdadeiras e a proposição R é
A morena: “Meu nome não é Elza nem Sara”.
falsa, então a proposição (P ^ R) → (¬ Q) é verdadeira. A ruiva: “Nem eu nem Elza vamos à França”.
Didatismo e Conhecimento 5
LÓGICA
O agente de viagens concluiu, então, acertadamente, que: 07.
a) A loura é Sara e vai à Espanha. a) Item ERRADO. Pela tabela do “ou” temos:
b) A ruiva é Sara e vai à França. (¬ P) v (¬ Q)
c) A ruiva é Bete e vai à Espanha. (¬ V) v (¬ V)
d) A morena é Bete e vai à Espanha. (F) v (F)
e) A loura é Elza e vai à Alemanha. Falsa
Respostas: b) Item ERRADO. A condicional regra que:
R → (¬ T)
01. F (¬ V)
a) “Está frio ou não está chovendo”. F (F)
b) “Se está frio então está chovendo”. Verdadeira
c) “Não está frio e não está chovendo”.
d) “Está frio se e somente se não está chovendo”.
c) Item CERTO. Obedecendo a conjunção e a condicional:
e) “Está frio e não está chovendo se e somente se está
(P ^ R) → (¬ Q)
chovendo e não está frio”.
(V ^ F) → (¬ V)
02. F F
a) ~(p ˅ q); Verdadeira
b) p → q
c) ~(p ˅ ~q) 08.
d) ~p ^ ~q a) Item ERRADO. Basta considerarmos a linha da tabela-
e) q ↔ ~p verdade onde P e Q são ambas proposições verdadeiras para
verificar que as tabelas de valorações de P v Q e Q → ¬P não são
03. iguais:
a) a contrapositiva: “Se p 2 e p é par, então p não é primo”.
b) a recíproca: “Se p = 2 ou p é ímpar, então p é primo”. P Q ¬P PvQ Q → ¬P
V V F V F
04.
a) Supondo V (p ^ q ↔ r ˅ s) = F (1) e V (~r ^ ~s) = V (2),
determine V (p → r ^ s). Solução: De (2) temos que V (r) = V (s) b) Item ERRADO. Nas seguintes linhas da tabela-verdade,
= F; Usando estes resultados em (1) obtemos: V (p) = V (q) = V, temos os valores lógicos da proposição (P v Q) → S diferente dos
logo, V (p → r ^ s) = F da proposição (P → S) v (Q → S):
b) Supondo V (p ^ (q ˅ r)) = V (1) e V (p ˅ r → q) = F (2),
determine V (p), V (q) e V (r). Solução: De (1) concluímos que V P Q S (P v Q) → S P→SvQ→S
(p) = V e V (q ˅ r) = V e de (2) temos que V (q) = F, logo V (r) = V V F F F V
c) Supondo V (p → q) = V, determine V (p ^ r → q ^ r) e V (p F V F F V
˅ r → q ˅ r). Solução: Vamos supor V (p ^ r → q ^ r) = F. Temos
assim que V (p ^ r) = V e V (q ^ r) = F, o que nos permite concluir 09.
que V (p) = V (r) = V e V (q) = F, o que contradiz V (p → q) = V.
a) Item ERRADO. Sua representação seria P ^ T.
Logo, V (p ˅ r → q ˅ r) = V. Analogamente, mostramos que V (p
b) Item CERTO. Apenas deve-se ter o cuidado para o que
˅ r → q ˅ r) = V.
diz a proposição R: “Fumar não faz bem à saúde”. É bom sempre
05. ficarmos atentos à atribuição inicial dada à respectiva letra.
a) R – {2} c) Item CERTO. É a representação simbólica da Condicional
b) [-2,2[ entre as proposições R e P.
d) Item CERTO. Proposição composta, com uma Conjunção
06. (R ^ ¬T) como condição suficiente para P.
a) O diagrama a seguir mostra que o argumento é falso: d) Item ERRADO. Dizer “...consequentemente...” é dizer
“se... então...”. A representação correta seria ((¬ R) ^ (¬ P)) → T.
Didatismo e Conhecimento 6
LÓGICA
A loura: “Não vou à França nem à Espanha”.
A morena: “Meu nome não é Elza nem Sara”.
A ruiva: “Nem eu nem Elza vamos à França”.
Conectivos
Para compor novas proposições, definidas como composta, a partir de outras proposições simples, usam-se os conectivos. Os conectivos
mais usados são: “e”(˄), “ou”(˅), “se... então”(→) e “se e somente se”(↔).
Exemplos
- Mônica é uma mulher bonita e o Brasil é um grande país.
- Professor Fábio é esperto ou está doente.
- Se eu comprar um carro, então venderei meu carro antigo.
- Um número é primo se e somente se for divisível apenas por 1 e por si mesmo.
Sejam os argumentos:
p: -3 é um número inteiro.
q: a cobra é um réptil.
Com os argumentos acima, podemos compôr uma sentença fechada, que expressa os dois argumentos: “-3 é um número inteiro e a cobra
é um réptil”. A sentença pode ser representada como p ˄ q, podemos receber um valor lógico, verdadeiro ou falso.
Conceito: Se p e q são duas proposições, a proposição p ˄ q será chamada de conjunção. Observe que uma conjunção p ˄ q só é
verdadeira quando p e q são verdadeiras. Para a conjunção, tem-se a seguinte tabela-verdade:
p q p˄q
V V V
V F F
F V F
F F F
Didatismo e Conhecimento 7
LÓGICA
Atenção: Os conectivos são usados para interligar duas ou mais Conceito: Se p e q são duas proposições, a proposição p→q
sentenças. E toda sentença interligada por conectivos terá um valor é chamada subjunção ou condicional. Considere a seguinte
lógico, isto é, será verdadeira ou falsa. Sentenças interligadas pelo subjunção: “Se fizer sol, então irei à praia”.
conectivo “e” possuirão o valor verdadeiro somente quando todas 1. Podem ocorrer as situações:
as sentenças, ou argumentos lógicos, tiverem valores verdadeiros. 2. Fez sol e fui à praia. (Eu disse a verdade)
3. Fez sol e não fui à praia. (Eu menti)
4. Não fez sol e não fui à praia. (Eu disse a verdade)
Conectivo “ou” (V) 5. Não fez sol e fui à praia. (Eu disse a verdade, pois eu não
disse o que faria se não fizesse sol. Assim, poderia ir ou não ir à
O conectivo “ou” pode ter dois significados: praia).
1. “ou” inclusivo: Elisabete é bonita ou Elisabete é inteligente. Observe que uma subjunção p→q somente será falsa quando
(Nada impede que Elisabete seja bonita e inteligente) a primeira proposição, p, for verdadeira e a segunda, q, for falsa.
Para a subjunção, tem-se a seguinte tabela-verdade:
2. “ou” exclusivo: Elisabete é paulista ou Elisabete é carioca.
(Se Elisabete é paulista, não será carioca e vice-versa) p q p→q
V V V
Atenção: Estudaremos o “ou” inclusivo, pois o elemento V F F
em questão pode possuir duas ou mais características, como o F F V
exemplo do item 1, em que Elisabete poderá possuir duas ou mais
qualidades ou características. Sejam: F V V
Didatismo e Conhecimento 8
LÓGICA
Observe que uma bijunção só é verdadeira quando as 02. (Cespe - Analista do Seguro Social - INSS) Proposições
proposições formadoras são ambas falsas ou ambas verdadeiras. são sentenças que podem ser julgadas como verdadeiras (V) ou
Para a bijunção, tem-se a seguinte tabela-verdade: falsas (F), mas não como ambas. Se p e q são proposições, então a
proposição “Se p então q”, denotada por P → Q, terá valor lógico
p q p↔q F quando p for V e q for F, e, nos demais casos, será V. Uma
V V V expressão da forma ~p, a negação da proposição p, terá valores
lógicos contrários aos de p. (p v q, lida como “p ou q”, terá valor
V F F
lógico F quando p e q forem, ambas, F; nos demais casos, será V.
F V F Considere as proposições simples e compostas apresentadas
F F V abaixo, denotadas por A, B e C, que podem ou não estar de acordo
com o artigo 50 da Constituição Federal.
Devemos lembrar que p↔q é o mesmo que (p→q) ˄ (q→p).
Assim, dizer “Hoje é sábado e somente se amanhã é domingo” é o A: A prática do racismo é crime afiançável.
mesmo que dizer: “Se hoje é sábado, então amanhã é domingo e, B: A defesa do consumidor deve ser promovida pelo Estado.
se amanhã é domingo, então hoje é sábado”.
C: Todo cidadão estrangeiro que cometer crime político em
Atenção: Dizemos que “p equivale a q” (p→q) quando
território brasileiro será extraditado.
estamos considerando uma relação entre duas ou mais proposições,
diferentemente do símbolo ↔ , que denota uma operação entre
duas proposições, resultando numa nova proposição. Exemplos: De acordo com as valorações V ou F atribuídas corretamente
às proposições A, B e C, a partir da Constituição Federal, julgue o
1. Dar os valores lógicos das seguintes proposições compostas: item. Para a simbolização apresentada acima e seus correspondentes
a) p1 : 2 + 5 = 7 ou 2 + 5 = 6 Temos que p ˅ q, com p(V), valores lógicos, a proposição B = C é V. Certo ou Errado?
q(F); portanto, p1 (V)
b) p2 : se 2 + 4 = 8 se 2 + 4 = 8, então 2 = 6 = 9 Temos que 03. Roberta, Rejane e Renata são servidoras de um mesmo
p→q com p(F), q(F); portanto, p2 (V) órgão público do Poder Executivo Federal. Em um treinamento, ao
lidar com certa situação, observou-se que cada uma delas tomou
2. Estude os valores lógicos das sentenças abertas compostas: uma das seguintes atitudes:
“se x² - 14x + 48 = 0, então x – 2 = 4”. Como x² - 14x + 48 = 0 ↔ A1: deixou de utilizar avanços técnicos e científicos que
x = 6 ou x = 8 e x – 2 = 4 ↔ x = 6, tem-se: estavam ao seu alcance;
a) (VV) substituindo x por 6, temos o valor lógico V.
A2: alterou texto de documento oficial que deveria apenas ser
b) (VF) substituindo x por 8, temos o valor lógico F.
encaminhado para providências;
c) (FV) não se verifica.
d) (FF) substituindo x por qualquer número real diferente de 6 A3: buscou evitar situações procrastinatórias.
e 8, temos o valor lógico V.
Cada uma dessas atitudes, que pode ou não estar de acordo
3. Sejam as proposições: com o Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do
p: Joana é graciosa. Poder Executivo Federal (CEP), foi tomada por exatamente uma
q: Fátima é tímida. das servidoras. Além disso, sabe-se que a servidora Renata tomou
Dar as sentenças verbais para: p→~q a atitude A3 e que a servidora Roberta não tomou a atitude A1.
Se Joana é graciosa, então Fátima não é tímida. Essas informações estão comtempladas na tabela a seguir, em
~(~p ∨ q) cada célula, correspondente ao cruzamento de uma linha com
É falso que Joana não é graciosa ou que Fátima é tímida. uma coluna, foi preenchida com V(verdadeiro) ou F(falso) caso
contrario.
Atenção: O conectivo ↔ é usado quando se quer mostrar que
dois argumentos são equivalentes. Por exemplo, quando dizemos
que “todo número par é da forma 2n, n є N”, não é o mesmo que A1 A2 A3
dizer que “os números pares são divisíveis por 2”. Roberta F
Rejane
Questões
Renata V
01. (ICMS) Se você se esforçar então irá vencer. Assim sendo,
(A) mesmo que se esforce, você não vencerá. Com base nessas informações, julgue o item seguinte: Se
(B) seu esforço é condição necessária para vencer. p for a proposição “Rejane alterou texto de documento oficial
(C) se você não se esforçar então não irá vencer. que deveria apenas ser encaminhado para providências” e q for
(D) você vencerá só se se esforçar. a proposição” Renata buscou evitar situações procrastinatórias”,
(E) seu esforço é condição suficiente para vencer. então a proposição pq tem valor lógico V. Certo ou errado?
Didatismo e Conhecimento 9
LÓGICA
04. (FCC - Oficial de Justiça - TJ/PE) Suponha que exista p q p→q
uma pessoa que só fala mentiras as terças, quartas e quintas-
feiras, enquanto que, nos demais dias da semana, só fala a verdade. V V V
Nessas condições, somente em quais dias da semana seria possível V F F
ela fazer a afirmação “Eu menti ontem e também mentirei amanha”?
F V V
(A) Terça e quinta-feira.
(B) Terça e sexta-feira. F F V
(C) Quarta e quinta-feira.
(D) Quarta-feira e sábado. Poderíamos resumir a tabela verdade do conectivo “se então”
(E) Quinta-feira e domingo. pela seguinte regra: “A implicação p→q só será FALSA quando
p for VERDADEIRA e q for FALSA, nesta ordem”. Observe que
05. Na análise de um argumento, podem-se evitar estamos falando da segunda linha. Observe também que todos os
considerações subjetivas, por meio da reescrita das proposições demais valores lógicos de p→q que não se tratam da regra passam
a ser verdadeiros (1ª, 3ª e 4ª linhas).
envolvidas na linguagem da lógica formal. Considere que P, Q,
Agora por definição informamos que dado que p→q se
R e S sejam proposições e que “ ”, “ ∨ ”, “¬” e “→” sejam
∨
verifica então também se verifica que ~q→~p. Para analisarmos
os conectores lógicos que representam, respectivamente, “e”,
esta afirmação devemos conhecer um novo conectivo, o conectivo
“ou”, “negação” e o “conector condicional”. Considere também “não” ou “negação”, cuja tabela verdade se verifica a seguir:
a proposição a seguir: Quando Paulo vai ao trabalho de ônibus ou
de metrô, ele sempre leva um guarda-chuva e também dinheiro
trocado. p ~p
Assinale a opção que expressa corretamente a proposição V F
acima em linguagem da lógica formal, assumindo que:
F V
P= “Quando Paulo vai ao trabalho de ônibus”;
Q= “Quando Paulo vai ao trabalho de metrô”; O “~” representa o conectivo “não” e a tabela verdade do
R= “ele sempre leva um guarda-chuva”; conectivo não é a inversão do valor lógico da proposição, vejamos,
S= “ele sempre leva dinheiro trocado”. se a proposição p é verdadeira, então ~p é falsa e viceversa, se
a proposição p é falsa, ~p é verdadeira. Desse modo vamos
(A) P→ (Q R)
∨
comprovar o que foi afirmado logicamente, ou seja, dado que
(B) (P → Q) ∨ R p→q posso afirmar que negando a condição necessária eu nego a
(C) (P ∨ Q) (R S)
∨
condição suficiente, observe através da tabela verdade:
∨
(D) P ∨ (Q (R S))
∨ ∨
p q ~p ~q p→q ~q→~p
Respostas
V V F F V V
01. Resposta “E”. V F F V F F
Aqui estamos tratando de uma proposição composta (Se você
se esforçar então irá vencer) formada por duas proposições simples F V V F V V
(você se esforçar) (irá vencer), ligadas pela presença do conectivo F F V V V V
(→) “se então”. O conectivo “se então” liga duas proposições
simples da seguinte forma: Observe que para a mesma entrada de valores (V) ou (F) as
Se p então q, ou seja: colunas que representam os possíveis valores de p→q e de ~q→~p
→ p será uma proposição simples que por estar antes do então são exatamente iguais, o que equivale a afirmar que são expressões
é também conhecida como antecedente logicamente equivalentes. Sabendo um pouco mais a respeito do
→ q será uma proposição simples que por estar depois do “se então” vamos ao exercício:
então é também conhecida como consequente Se você se esforçar então irá vencer
→ Se p então q também pode ser lido como p implica em q → você se esforçar é a proposição p também conhecida como
→ p é conhecida como condição suficiente para que q ocorra, antecedente.
ou seja, basta que p ocorra para q ocorrer. → irá vencer é a proposição q também conhecida como
consequente.
→ q é conhecida como condição necessária para que p ocorra,
→ você se esforçar é a proposição p também conhecida como
ou seja, se q não ocorrer então p também não irá ocorrer.
condição suficiente para que ocorra q→ irá vencer é a proposição q
também conhecida como condição necessária para que ocorra q→.
Logo a seguir está a tabela verdade do “se então”. Tabela
Verdade é a forma de representar todas as combinações possíveis Dado p→q é uma equivalente lógica de: ~q→~p. Ou seja,
de valores verdadeiros ou falsos de determinadas proposições, Se você se esforçar então irá vencer é uma equivalente lógica de
sejam elas simples ou compostas. Observe que para quaisquer Se você não venceu então você não se esforçou. Observe que p
valores lógicos de p e q (na realidade uma combinação de valores e q podem ser quaisquer conjuntos de palavras ou símbolos que
de verdadeiros e falsos poderá ocorrer e está sendo estudada logo expressam um sentido completo, por mais absurdo que pareça
abaixo). O número de linhas de uma tabela verdade é dado por: 2n basta estar na forma do conectivo “se então” que as regras
onde n = número de proposições simples. Na tabela verdade são acima transpostas estão logicamente corretas. Vamos analisar as
duas proposições simples e ao todo 22 = 4 linhas. alternativas:
Didatismo e Conhecimento 10
LÓGICA
Se você se esforçar então irá vencer. Assim sendo, 04. Resposta “A”.
a) errada, a alternativa “A” encontra erro uma vez que você se
esforçar é a condição suficiente para que você vença, ou seja, basta Pelo enunciado, sabemos que a pessoa só fala mentiras as
que você se esforce que você irá vencer, e a afirmação nega isto. terças, quartas e quintas-feiras. Com o conectivo “e”, para se ter
b) errada, na forma p→q, o p é o antecedente e condição uma verdade, ambas as sentenças devem ser verdadeiras. Assim,
suficiente para que q ocorra. nesse problema, é preciso analisar dia a dia e procurar um em que
c) errada, esta afirmação sempre vai cair em prova. não ocorra contradição.
- Domingo, segunda, sexta, sábado: a sentença é falsa,
Cuidado: Sempre vai levar muitos candidatos ao erro, ao pois nesses dias a pessoa fala a verdade. Portanto, temos uma
afirmar: Se você se esforçar então irá vencer a única conclusão contradição.
possível é de que basta que você se esforce que você irá vencer, e - Terça e quinta: a sentença é falsa, mas como a pessoa sempre
se você não se esforçar, ora se não ocorreu a condição suficiente mente na terça e na quinta, não há contradição.
- Quarta: a sentença é verdadeira, mas como a pessoa mente
nada posso afirmar, se você não se esforçar você poderá ou não
na quarta, há contradição. Então, a alternativa “A” satisfaz ao
vencer. Na tabela verdade é possível comprovar que (Se você se
enunciado.
esforçar então irá vencer p→q) e (Se você não se esforçar então
não irá vencer ~p→~q) não são equivalentes lógicas. Observe que
05. Resposta “C”.
as proposições p→q e ~p→~q não apresentam os mesmos valores
lógicos, ou seja, afirmar uma não quer dizer afirmar a outra. A proposição composta original possui uma divisão principal,
que é o fato de Paulo trabalhar de ônibus ou metrô; outro aspecto
d) errada, você vencerá só se se esforçar, indica que seu esforço é o fato de ele levar guarda-chuva e dinheiro trocado. Portanto,
é condição necessária para você vencer, o que não é verdade. o conectivo
∨
é o principal, interligando as duas partes da
e) correta, seu esforço (você se esforçar) é condição suficiente proposição. Na primeira parte da proposição, ou Paulo vai ao
para que você vença. trabalho de ônibus ou vai de metrô. Nesse caso, essa proposição é
interligada pelo conectivo “ou”: P ∨ Q.
02. Resposta “Errado”. Já na parte final da proposição, como ele sempre leva um
guarda-chuva e também dinheiro trocado, essa parte da proposição
Analisando as proposições: é interligada pelo conectivo “e”: R S. Reunindo então as duas
∨
A: “A prática do racismo é crime afiançável”- é falsa partes da proposição original, obtém-se (P ∨ Q) ∨ (R ∨
B: “A defesa do consumidor deve ser promovida pelo Estado” - é S).
verdadeira;
C: “Todo cidadão estrangeiro que cometer crime político em
território brasileiro será extraditado” - é falsa. 4.2 NEGAÇÃO DE UMA PROPOSIÇÃO
SIMPLES
Então, a proposição composta “B - C” pode ser traduzida
em “V > F” e, pela regra do conectivo → (implica), a proposição
composta terá valor lógico F.
Dada uma proposição, por exemplo “O carro é verde”, todos
sabemos, na linguagem corrente, negá-la; no exemplo considerado
03. Resposta “Certo”.
seria “O carro não é verde”. Se a proposição “O carro é verde”
for verdadeira, então “O carro não é verde” é falsa; se “O carro é
Sabendo que cada uma das servidoras tomou apenas uma
verde” for falsa, então “O carro não é verde” é verdadeira.
das atitudes, basta completar a tabela de acordo com os dados do
Somos então levados a introduzir, na nossa linguagem
enunciado: matemática, além da afirmação a chamada operação de negação.
Seja p uma proposição qualquer; chamaremos negação de p a uma
A1 A2 A3 nova proposição, designada por ~p (leia-se “não p”), cujo valor
Roberta F V F lógico é diferente do de p. Assim, se p for verdadeira, ~p é falsa; se
p for falsa, ~p é verdadeira. A tabela do valor lógico da negação é,
Rejane V F F portanto muito simples:
Renata F F V
p ~p
Analisando a questão: Como (a proposição p) “Rejane alterou
texto de documento oficial que deveria apenas ser encaminhado V F
para providências” tem valor lógico F e (a proposição q) “Renata F V
buscou evitar situações procrastinatórias” tem valor lógico V, a
proposição “p → q” pode ser traduzida em “F → V” e, pela regra Por exemplo, são verdadeiras as proposições ~ 2 < 1, ~ (2 +
do conectivo → (implica), o valor lógico da proposição é V. 3)2 = 22 + 32, ~ 52 53 = 56, são falsas as proposições ~ 42 = 16, ~
2
√-27 = -3, ~ (52)3 = 56.
Didatismo e Conhecimento 11
LÓGICA
Voltemos a um diálogo... “O nosso Governo não é bom” cinema ou não vou ao teatro”. A intuição diz-nos que a negação
afirma, convicto, o Antero Gatinho, da oposição, sorvendo de uma conjunção é a disjunção das negações. De forma análoga,
lentamente a sua “bica pingada”; “Não é verdade que o nosso a negação de “Hoje como sopa ou carne”, é “Hoje não como sopa
Governo não seja bom” riposta, pressurosa, a Manuela Ferrada nem como carne”; a intuição sugere-nos que a negação de uma
Lamas (afeta ao partido do Governo) entre dois golos da sua disjunção é a conjunção das negações.
“italiana”. Não narrarei, por pudor, a continuação da história (nem O que acabamos de dizer leva-nos a considerar duas
o destino final da “bica pingada” e da “italiana”), mas gostaria de proposições p e q quaisquer e a tentar demonstrar rigorosamente
chamar a atenção para a frase da Manuela Ferrada Lamas; consiste as propriedades
ela na negação da frase do Antero Gatinho, frase essa que, por sua
(~ (p ∧ q)) ⇔ ((~ p) ∧ (~ q)) (6)
vez, era a negação de “O nosso Governo é bom”.
(~ (p ∧ q)) ⇔ ((~ p) ∧ (~ q)) (7)
Vemos assim que, na linguagem corrente (mesmo em situações
menos dramáticas do que a descrita) utilizamos por vezes a Claro que uma demonstração de (6) e (7) deverá ser feita à
negação de uma negação. Em termos matemáticos, e sendo p uma custa de tabelas de verdade convenientes:
proposição qualquer, a negação da negação de p escreve-se ~ (~p).
Podemos agora pensar nas propriedades que ligam a negação 01. Dê a negação lógica de cada sentença:
com as operações já estudadas. Da análise das tabelas de verdade a) Nenhum aluno gosta de geometria.
para a equivalência ( ⇔ ) e para a não equivalência ( ⇔ b) Tudo o que é bom engorda.
) é imediato ver que a negação de uma equivalência é uma não c) Existe um país de língua portuguesa na Europa.
d) Comprei um CD e um livro.
equivalência e vice-versa. Por outras palavras, quaisquer que sejam
as proposições p e q, são verdadeiras as proposições seguintes: 02. Considere as afirmações seguintes:
(~ (p ⇔ q)) ⇔ (p ⇔ q) (2) (I) Se um político tem muito dinheiro, então ele pode ganhar
(~ (p ⇔ q)) ⇔ (p ⇔ q) (3) as eleições.
(II) Se um político não tem muito dinheiro, então ele não pode
Algo de análogo se passa com os símbolos de igualdade (=) e ganhar as eleições.
de desigualdade (≠); assim, sendo a e b dois entes quaisquer, são (III) Se um político pode ganhar as eleições, então ele tem
verdadeiras as seguintes proposições: muito dinheiro.
(IV) Se um político não pode ganhar as eleições, então ele não
(~ a = b) ⇔ (a ≠ b) (4) tem muito dinheiro.
(~ a ≠ b) ⇔ (a = b) (5) (V) Um político não pode ganhar as eleições, se ele não tem
muito dinheiro.
De uma forma geral, qualquer que seja o símbolo matemático
usado para construir uma certa proposição, uma barra “/” sobre a) Assumindo que (I) é verdadeira, quais das outras afirmações
esse símbolo corresponde à negação dessa proposição. são verdadeiras?
Vejamos agora as interligações entre a negação e as operações b) Qual é a negação de (I)?
c) A afirmação (I) é do tipo p → q. Como ficaria a afirmação q
de conjunção e de disjunção. Mais especificamente, qual o valor
→ p, chamada recíproca de (I)?
lógico da negação de uma conjunção? E de uma disjunção?
d) Como ficaria a afirmação ~q → ~p, chamada contra positiva
Suponhamos que eu digo: “Hoje vou ao cinema e ao teatro”;
de (I)?
intuitivamente, negar esta frase é dizer que “Hoje não vou ao
Didatismo e Conhecimento 12
LÓGICA
03. Escreva a negação das seguintes proposições numa d) Carlos é mais velho do que Pedro, e João é mais moço do
sentença o mais simples possível. que Pedro.
a) É falso que não está frio ou que está chovendo. e) Carlos não é mais velho do que Pedro, e Maria e Julia não
b) Se as ações caem aumenta o desemprego. tem a mesma idade.
c) Ele tem cabelos louros se e somente se tem olhos azuis.
d) A condição necessária para ser um bom matemático é saber 09. José quer ir ao cinema assistir ao filme “Fogo Contra
lógica. Fogo”, mas não tem certeza se o mesmo está sendo exibido. Seus
e) Jorge estuda física mas não estuda química. amigos, Maria, Luís e Júlio têm opiniões discordantes sobre se o
(Expressões da forma “p mas q” devem ser vistas como “p e filme está ou não em cartaz. Se Maria estiver certa, então Júlio está
q”) enganado. Se Júlio estiver enganado, então Luís está enganado. Se
Luís estiver enganado, então o filme não está sendo exibido. Ora,
04. (ESAF AFC-STN) A afirmação “Alda é alta, ou Bino não é ou o filme “Fogo contra Fogo” está sendo exibido, ou José não ira
baixo, ou Ciro é calvo” é falsa. Segue-se, pois, que é verdade que: ao cinema. Verificou - se que Maria está certa. Logo,
a) se Bino é baixo, Alda é alta, e se Bino não é baixo, Ciro a) O filme “Fogo contra Fogo” está sendo exibido.
não é calvo. b) Luís e Júlio não estão enganados.
b) se Alda é alta, Bino é baixo, e se Bino é baixo, Ciro é calvo. c) Júlio está enganado, mas Luís não.
c) se Alda é alta, Bino é baixo, e se Bino não é baixo, Ciro d) Luís está enganado, mas Júlio não.
não é calvo. e) José não irá ao cinema.
d) se Bino não é baixo, Alda é alta, e se Bino é baixo, Ciro é
calvo. 10. Sejam as declarações: Se ele me ama então ele casa
e) se Alda não é alta, Bino não é baixo, e se Ciro é calvo, Bino comigo. Se ele casa comigo então não vou trabalhar. Ora, se vou
não é baixo. ter que trabalhar podemos concluir que:
a) Ele é pobre, mas me ama.
05. Dê a negação das seguintes proposições: b) Ele é rico, mas é pão duro.
a) ( x ϵ A; p(x) ) ^ (Ǝ x ϵ A; q(x))
c) Ele não me ama e eu gosto de trabalhar.
b) (Ǝ x ϵ A; P(X) ) → ( X ϵ A; ̴q(x))
d) Ele não casa comigo e não vou trabalhar.
c) Existem pessoas inteligentes que não sabem ler nem
e) Ele não me ama e não casa comigo.
escrever.
d) Toda pessoa culta é sábia se, e somente se, for inteligente.
Respostas:
e) Para todo número primo, a condição suficiente para ser par
é ser igual a 2.
01.
a) p: Nenhum aluno gosta de geometria.
06. Dizer que a afirmação “todos os economistas são médicos”
é falsa, do ponto de vista lógico, equivale a dizer que a seguinte ~p: Existe algum aluno que gosta de geometria.
afirmação é verdadeira:
a) pelo menos um economista não é médico b) p: Tudo o que é bom engorda.
b) nenhum economista é médico ~p: Existe algo que é bom e não engorda.
c) nenhum médico é economista
d) pelo menos um médico não é economista c) p: Existe um país de língua portuguesa na Europa.
e) todos os não médicos são não economistas ~p: Qualquer país na Europa não é de língua portuguesa.
Didatismo e Conhecimento 13
LÓGICA
Para verificar esse fato, vamos examinar as tabelas-verdade: Escrevendo o enunciado em linguagem simbólica: p ˅ ~q ˅ r
Didatismo e Conhecimento 14
LÓGICA
05. ∨ ∨
p q q q p↔q (p q) → (p ↔ q)
a) (Ǝ x ϵ A; ~p(x)) ˅ ( x ϵ A; ~q(x)
b) (Ǝ x ϵ A; P(X) ) ^ (Ǝ x ϵ A; q(x)) V V V V V
c) “Todas as pessoas inteligentes sabem ler ou escrever” V F F F V
d) “Existe pessoa culta que é sábia e não é inteligente ou que F V F F V
é inteligente e não é sábia”
e) “Existe um número primo que é igual a 2 e não é par” F F F V V
06. Aprendemos que a palavra TODOS é negada por PELO Contradição: é uma proposição cujo valor lógico é sempre
MENOS UM (=ALGUM). Daí, se o enunciado diz que é FALSA falso. Exemplo: A proposição (p Λ q) Λ (p Λ q) é uma contradição,
a sentença “Todos os economistas são médicos”, o que ela quer na pois o seu valor lógico é sempre F conforme a tabela-verdade. Que
verdade é que façamos a NEGAÇÃO desta frase! Ora, se é mentira significa que uma proposição não pode ser falsa e verdadeira ao
que todos os economistas são médicos, é fácil concluirmos que mesmo tempo, isto é, o princípio da não contradição.
∨
pelo menos um economista não é médico! Alternativa “A”.
p ~p p q (~p)
07. Resposta “E”. O que a questão pede é a negação de uma
condicional. Ora, já aprendemos como se faz isso: mantém-se a V F F
primeira parte E nega-se a segunda. Daí, concluiremos o seguinte: F V F
“se estiver chovendo, eu levo o guarda-chuva” é igual a: “está
chovendo E eu não levo o guarda-chuva”. Contingência: quando uma proposição não é tautológica
nem contra válida, a chamamos de contingência ou proposição
08. Se Carlos não é mais velho do que Maria, então João não
contingente ou proposição indeterminada.
é mais moço que Pedro Se João não é mais moço que Pedro, então
Maria e Julia não tem a mesma idade Se Maria e Julia não tem a
Propriedades de Proposições
∨ ∨
mesma idade, então Carlos não é mais velho que Pedro. Logo, a
única opção correta é: e) Carlos não é mais velho do que Pedro, e
Maria e Julia não tem a mesma idade. I – Comutativa: p q ⇔ q p
p ∨ q ⇔ q ∨ p
09. Se Maria está certa, então Júlio está enganado. Se Júlio ∨ ∨ ∨ ∨
está enganado, então Luís está enganado. Se Luís estiver enganado, II – Associativa: p (q r) ⇔ (p q) r
então O Filme não está sendo exibido. Ora, ou o filme está sendo p ∨ (q ∨ r) ⇔ (p ∨ q) ∨ r
exibido ou José não irá ao cinema. Logo, concluímos que: José não ∨ ∨ ∨
∨
irá ao cinema. Resposta “E”. III – Distributiva: p (q ∨ r) ⇔ (p q) ∨ (p r)
p ∨ (q r) ⇔ (p ∨ q) ∨ (p ∨ r)
∨
10. Resposta “E”. Vou trabalhar, então, ele não casou comigo.
∨
Ele não casou comigo, então, não me ama. Logo, ele não me ama IV – Morgan: ~(p q) ⇔ ~p ∨ ~q
e não casa comigo. ~(p ∨ q) ⇔ ~p ~q
Didatismo e Conhecimento 15
LÓGICA
QUESTÕES Os valores lógicos que completam a última coluna da tabela,
de cima para baixo, são:
01. Considere-se a conjunção “A vida tem sentido e a (A) V – F – V – V
felicidade é real”. (B) V – F – F – V
(A) Admitindo que a vida não tenha sentido, a conjunção é (C) F – V – F – V
verdadeira ou falsa? Por quê? (D) V – V – V – F
(B) Admitindo que a vida tenha sentido e que não sabemos se (E) F – F – V – V
a felicidade é real, é possível saber se a conjunção é verdadeira ou
falsa? Por quê? 09. Considere a seguinte tabela-verdade:
∨
(C) Admitindo que a vida tenha sentido, a conjunção “A vida
não tem sentido e a felicidade é real” é verdadeira ou falsa? Por p q p q p∨ q
quê? V V V V
02. Por que razão a tabela verdade da negação tem apenas V F F V
duas filas e não quatro? F V F V
03. Considere-se a condicional “Se Deus existe, a vida tem F F F F
∨
sentido”.
Podemos escrever:
∨
(A) Admitindo que Deus não exista, a condicional é verdadeira
ou falsa? Por quê? (A) p∨q é verdade ↔ p q é verdade
(B) p q é verdade ↔ p∨q é verdade
∨
(C) p∨q é verdade ↔ p∨q é verdade
∨
04. Recorrendo as tabelas verdade e a exemplos de
proposições, explique por que razão a bicondicional é comutativa, (D) p∨q é falso ↔ p q é falso
mas a condicional não. (E) p q é falso ↔ p∨q é verdade
05. Considere-se a bicondicional “Deus existe se, e só se, a 10. A negação da sentença “Ana não voltou e foi ao cinema” é:
vida tem sentido”. (A) Ana voltou ou não foi ao cinema.
(A) Admitindo que Deus exista e que a vida não tem sentido, (B) Ana voltou e não foi ao cinema.
a bicondicional é verdadeira ou falsa? Por quê? (C) Ana não voltou ou não foi ao cinema.
(B) Admitindo que Deus não exista e que a vida não tem (D) Ana não voltou e não foi ao cinema.
sentido, a bicondicional é verdadeira ou falsa? Por quê? (E) Ana não voltou e foi ao cinema.
(C) Admitindo que a vida tenha sentido, mas que não sabemos
se Deus existe, é possível saber se a bicondicional é verdadeira ou Respostas
falsa? Por quê?
01.
06. Determine a forma argumentativa do seguinte argumento (A) É falsa porque uma conjunção só pode ser verdadeira se as
e teste a sua validade recorrendo a inspetores de circunstâncias: duas conjuntas que a formam forem verdadeiras. Admitindo que a
Ou o livre-arbítrio é possível ou a nossa vida é uma ilusão. vida não tenha sentido, “A vida tem sentido” é uma conjunta falsa,
O livre-arbítrio é impossível. o que torna a conjunção falsa.
Logo, a nossa vida é uma ilusão. (B) Não é possível porque uma conjunção só é verdadeira
quando as duas conjuntas que a formam são verdadeiras. Se
07. Formule proposições equivalentes às seguintes: admitirmos que a primeira conjunta seja verdadeira, mas não
(A) Se a felicidade é possível, a vida tem sentido. soubermos se a segunda é ou não verdadeira, não é possível saber
(B) Há felicidade e justiça. se a conjunção formada pelas duas é verdadeira ou falsa.
(C) É falsa porque admitindo que a vida tenha sentido, “A
08. Considere a tabela verdade abaixo, na qual as colunas vida não tem sentido” é uma proposição falsa e uma conjunção
representam os valores lógicos para as fórmulas A, B e A∨B. só pode ser verdadeira se as duas conjuntas que a formam forem
Sendo que o símbolo ∨ denota o conector ou, V denota verdadeira verdadeiras.
e F denota falsa.
02. Porque o operador de negação se aplica a uma só
A B A∨B proposição e não as duas; deste modo, só há duas possibilidades a
V V considerar no que respeita à proposição sem o operador.
V F
03. É verdadeira porque se a antecedente for falsa, como é o
F V caso, independente de a consequente ser verdadeira ou falsa, pela
F F lógica clássica, a condicional é verdadeira.
Didatismo e Conhecimento 16
LÓGICA
04. A condicional não é comutativa porque “Se o João está 07.
em Paris, está em França” não tem o mesmo valor de verdade em (A) Condicional: P→Q
todas as circunstâncias que “Se o João está em França, está em Proposição equivalente: ¬P Λ Q: A felicidade não é possível
Paris”: ou a vida tem sentido.
(B) Conjunção: PΛQ.
PQ P→Q Q→P Proposição equivalente: ¬ (¬P v ¬Q): Não é verdade que não
há felicidade ou não há justiça.
VV V V
VF F V ∨
08. Conceitua-se disjunção inclusiva de duas proposições A
FV V F e B a proposição representada por (A B) que só será falsa (F),
quando as duas componentes, ou seja, A e B forem falsas (F).
∨
FF V V
09. Lembrando: Os conectivos mais usados são: “e”( ),
Todavia, a bicondicional é comutativa, porque em todas as “ou”(∨), “se... então”(→) e “se e somente se”(↔). Agora é só
∨ ∨
circunstâncias “Platão era grego se, e só se, nasceu na Grécia” tem interpretar: Alternativa “D” – p ou q serão falsos somente quando
o mesmo valor de verdade que “Platão nasceu na Grécia se, e só p q for falso, pois quando p q for verdadeiro, p e q também serão.
se, era grego”:
10. Resposta “A”.
P Q P↔Q Q↔P Em linguagem simbólica, a frase dada fica:
p: Ana voltou;
VV V V q: Ana foi ao cinema.
∨
VF F F
FV F F Temos, portanto: ~p q .∨
A negação é: ~(~p q). Aplicando-se De Morgan, vem: p ∨
FF V V ~q, que, em linguagem corrente fica: “Ana voltou ou não foi ao
cinema”.
Contudo, dado que uma bicondicional é apenas a conjunção
de duas condicionais, poderá parecer estranho que a bicondicional Contradições
seja comutativa, quando a condicional não o é. Mas isso explica-se
analisando cuidadosamente a seguinte tabela de verdade: Contradição é uma proposição cujo valor lógico é sempre
∨
falso. Exemplo: A proposição (p Λ q) Λ (p Λ q) é uma contradição,
PQ (P→Q) (Q→P) pois o seu valor lógico é sempre F conforme a tabela-verdade. Que
significa que uma proposição não pode ser falsa e verdadeira ao
VV V V V
mesmo tempo, isto é, o principio da não contradição.
VF F F V
FV V F F p ~p p Λ (~p)
FF V V V V F F
F V F
Como se vê, a conjunção das duas condicionais é comutativa
apesar da não comutatividade das condicionais componentes,
Diz-se que há contradição quando se afirma e se nega
porque é irrelevante qual das variáveis, P ou Q, é falsa: desde que
simultaneamente algo sobre a mesma coisa. O princípio da
uma delas o seja, a conjunção é falsa.
contradição informa que duas proposições contraditórias não
podem ser ambas falsas ou ambas verdadeiras ao mesmo tempo.
05.
Existe relação de simetria, não podem ter o mesmo valor de verdade.
(A) É falsa porque a bicondicional só é verdadeira quando as
Dessa forma, ocorre uma contradição quando uma afirmação é
duas proposições que a formam têm o mesmo valor de verdade.
falsa e a outra é verdadeira. Se forem ambas verdadeiras ou falsas,
Neste caso, a primeira é verdadeira e a segunda é falsa.
não existe contradição.
(B) É verdadeira porque neste caso as duas proposições que
Por exemplo, imaginando-se que se tem um conjunto de bolas,
formam a bicondicional têm o mesmo valor de verdade.
a afirmação “Toda Bola é Vermelha” e a afirmação “Alguma Bola
(C) Não é possível porque só temos conhecimento do valor de
não é Vermelha” formam uma contradição, visto que:
verdade de uma das proposições e numa condicional precisamos
- se “Toda Bola é Vermelha” for verdadeira, “Alguma Bola
saber o valor de verdade das duas proposições que a formam para
não é Vermelha” tem que ser falsa;
poder afirmar se ela é verdadeira ou falsa.
- se “Toda Bola é Vermelha” for falsa, “Alguma Bola não é
Vermelha” tem que ser verdadeira;
06.
- se “Alguma Bola não é Vermelha” for verdadeira, “Toda
Interpretação: P: O livre arbítrio é possível.
Bola é Vermelha” tem que ser falsa; e
Q: A nossa vida é uma ilusão.
- se “Alguma Bola não é Vermelha” for falsa, “Toda Bola é
Formalização: P v Q, ¬P ╞ Q
Vermelha” tem que ser verdadeira.
Didatismo e Conhecimento 17
LÓGICA
Por outro lado, a afirmação “Toda Bola é Vermelha” e Contingência: Quando uma proposição não é tautológica
a afirmação “Nenhuma Bola é Vermelha” não formam uma nem contra válida, a chamamos de contingência ou proposição
contradição, visto que: contingente ou proposição indeterminada.
- se “Toda Bola é Vermelha” for verdadeira, “Nenhuma Bola
é Vermelha” tem que ser falsa; mas
- se “Toda Bola é Vermelha” for falsa, “Nenhuma Bola é
4.4 IMPLICAÇÃO LÓGICA
Vermelha” pode tanto ser verdadeira quanto falsa; e
- se “Nenhuma Bola é Vermelha” for verdadeira, “Toda Bola
é Vermelha” tem que ser falsa; mas A proposição p implica a proposição q, quando a condicional p
- se “Nenhuma Bola é Vermelha” for falsa, “Toda Bola é → q for uma tautologia. O símbolo p → q (p implica q) representa
Vermelha” pode tanto ser verdadeira quanto falsa. a implicação lógica.
E, sendo uma negação total (em nível da quantidade e da Diferenciação dos símbolos → e ⇒
qualidade), a contraditória da afirmação “As contraditórias
das grandes verdades são grandes verdades” seria: “Algumas O símbolo → representa uma operação matemática entre as
contraditórias das grandes verdades não são grandes verdades”. proposições p e q que tem como resultado a proposição p → q,
A palavra significa: contra + dicção, ou seja, que diz contra algo, com valor lógico V ou F.
no caso, contra si mesma. Dessa forma, está relacionada dentro O símbolo ⇒ representa a não ocorrência de VF na tabela-
do campo da oratória também, da fala, do discurso. A linguagem, verdade de p → q, ou ainda que o valor lógico da condicional p →
q será sempre V, ou então que p → q é uma tautologia. Exemplo:
como veículo e universo específico, é paralógica ao raciocínio
convencional humano. A tabela-verdade da condicional (p Λ q) → (p ↔ q) será:
O conceito estende-se por áreas onde possivelmente não
encontraria suporte, mas apenas no momento em que entra em
confronto com a avaliação mental humana, já que, conforme p q pΛq p↔q (p Λ q) → (p ↔ q)
a psicanálise lacaniana enuncia, o “inconsciente é estruturado V V V V V
como linguagem” (Lacan) e suas figuras correspondem ao real V F F F V
humano. Por esse motivo, com rigor filosófico, a palavra é frágil
em aplicações matemáticas e físicas, por exemplo. Se um elétron, F V F F V
em sua definição probabilística, pode comportar-se como onda ou F F F V V
partícula, isso poderia ser uma contradição, pois o que é, é, em Portanto, (p Λ q) → (p ↔ q) é uma tautologia, por isso (p Λ
termos do senso comum. Não se podem ser duas coisas distintas q) ⇒ (p ↔q)
ao mesmo tempo. Mas, no universo quântico e astronômico, além
da física newtoniana, as contradições são matematicamente reais Relação lógica entre duas proposições p e q, expressa pela
e viáveis. Então pode-se dizer que: Uma coisa é o que é e não se fórmula lógica se p então q (p→q), em que se p é verdadeira então
confunde com nenhuma outra. q também tem que ser verdadeira, porque a informação contida
em Q está também incluída em p. De igual modo, se q é falsa, p
também deve ser falsa para que haja uma relação de implicação.
Para completar, vamos ver mais dois conceitos ligados à É um tipo de relação apenas centrado nos valores de verdade das
matéria: proposições. Como exemplos, considerem-se as frases seguintes:
I) Tareco é um gato.
Tautologia é uma proposição cujo valor lógico é sempre II) Tareco é um animal.
verdadeiro. Exemplo: A proposição p ∨ (~p) é uma tautologia, III) A tua camisola é azul.
pois o seu valor lógico é sempre V, conforme a tabela-verdade. IV) A tua camisola tem uma cor.
Didatismo e Conhecimento 18
LÓGICA
A conclusão do silogismo (frase VII) é uma proposição Ao dizermos esta frase, na linguagem corrente, estamos a
verdadeira. Sendo as proposições anteriores também verdadeiras, admitir uma relação de causa a efeito entre a crise econômica e
podemos afirmar que V e VI implicam estritamente VII. o aumento dos salários. Do ponto de vista matemático esta frase
A implicação é uma relação entre proposições próxima da é uma implicação: “Estamos em crise econômica implica que
pressuposição. Na linguagem corrente usamos frequentemente os salários sobem abaixo da inflação”. Mas cuidado. Na lógica
frases condicionais, por exemplo, “Se hoje chover, então vou ao matemática não nos preocupamos com qualquer relação de causa
cinema”. Esta frase só é falsa se hoje chover e eu não for ao cinema; e efeito entre o antecedente e o consequente de uma implicação.
se hoje não chover a frase é verdadeira, tal como o é se hoje chover O que há é uma relação entre o valor lógico da implicação e os
e eu for ao cinema. A operação que traduz, em termos de Lógica valores lógicos do antecedente e do consequente. A frase “Estamos
Matemática, a ideia de uma frase condicional é a implicação. Trata- em crise econômica, logo os salários sobem abaixo da inflação” é
se de uma operação lógica de grande importância que é designada verdadeira porque o antecedente (“Estamos em crise econômica”)
por ⇒ . Sendo p e q duas proposições quaisquer, a proposição p ⇒ é verdadeiro e o consequente (“Os salários sobem abaixo da
q (leia-se “p implica q”) é falsa se p for verdadeira e q falsa e é
inflação”) é também verdadeiro.
verdadeira em todos os outros casos; por outras palavras, a tabela
Mas a frase “O Primeiro Ministro é astronauta, logo os
verdade para a implicação é, por definição, a seguinte:
salários sobem abaixo da inflação” também é verdadeira. Isto
porque o antecedente (“O Primeiro Ministro é astronauta”) é falso;
p q p⇒ q agora já é irrelevante o valor lógico do consequente porque, numa
V V V implicação, se o antecedente for falso, a implicação é verdadeira.
V F F Neste caso não há (ou, pelo menos, não parece haver) qualquer
relação de causa e efeito entre o Primeiro Ministro ser astronauta
F V V
e os salários subirem abaixo da inflação. Curiosamente a frase “O
F F V Primeiro Ministro é astronauta, logo os salários sobem acima da
inflação” também é verdadeira porque o Primeiro Ministro não é
Na implicação p ⇒ q chama-se antecedente à proposição p astronauta; o antecedente é falso, logo a implicação é verdadeira.
e consequente à proposição q. Repare-se que uma implicação só Passemos agora a exemplos matemáticos; são falsas as seguintes
é falsa se o antecedente for verdadeiro e o consequente for falso; proposições:
em todos os outros casos a implicação é verdadeira. Também por
vezes escreveremos q ← p (em vez de p ⇒ q) com o significado
2 > 1 ⇒ 2 > 4, 4 = 22 ⇒ √( 4 ) = −2, 3 + 2 = 5 ⇒ 100000 ≠
de “p implica q”.
10 102.
3
A implicação é muito importante na linguagem matemática
porque aparece sistematicamente nos teoremas que constituem
De fato, em cada uma das três implicações anteriores, o
as teorias matemáticas. Um teorema é uma proposição do tipo p
antecedente é verdadeiro e o consequente é falso. Nesta situação a
⇒ q, onde p é uma proposição verdadeira na teoria em questão.
Demonstrar um teorema não é mais do que provar que a proposição implicação é falsa; é, aliás, a única situação em que a implicação
p ⇒ q é verdadeira o que, atendendo a que p é verdadeira, é falsa (antecedente verdadeiro e consequente falso). As seguintes
é equivalente a dizer que q é verdadeira. Num teorema é usual proposições (todas elas implicações) são verdadeiras:
chamar hipótese à proposição p, antecedente da implicação p ⇒ q.
A proposição q, que é o consequente da implicação, designa-se por 2 > 0 ⇒ 2 > 1, 4 = 23 ⇒ √( 4 )= 2, 3 + 2 = 7 ⇒ 1000 ≠ 103.
tese. Um exemplo de um teorema é
Na primeira das implicações anteriores o antecedente é
Seja n um número natural. Então, se n é par, n também é par.
2 verdadeiro e o consequente também, pelo que a implicação
é verdadeira. Nas outras duas o antecedente é falso pelo que,
A hipótese é a proposição “n é par”; a tese é “n2 é par”. A independentemente do valor lógico do consequente, a implicação
demonstração deste teorema pode ser feita da forma que passamos é verdadeira. Construindo as tabelas de valores lógicos necessárias
a expor. Por definição de número par, sabemos que existe um é fácil provar as seguintes propriedades:
natural k tal que n = 2k; consequentemente n2 = (2k)2 = 22k2 =
4k2 = 2(2k2) = 2m, onde designamos por m o natural 2k2. Mas, 1- (p ⇒ q) ⇔ ((~ p) ∨ q)
novamente por definição de número par, e tendo em conta que n2 2- (~ (⇒p ⇒ q)) ⇔ (p ∧ (~ q))
= 2m, vemos que n2 é par. O teorema está demonstrado. Antes 3- ((p ⇒ q) ∧ (q ⇒ p)) ⇔ (p ⇔ q)
de darmos alguns exemplos de proposições onde a implicação 4- (p ⇒ q) ⇔ ((~ q) ⇒ (~ p))
intervém, queremos chamar a atenção para um fato importante. 5- ((p ⇒ q) ∧ (q ⇒ r)) ⇒ (p ⇒ r)
Consideremos a frase:
A título de exemplo demonstraremos a propriedade (5), que
“Estamos em crise econômica, logo os salários sobem abaixo é a transitividade da implicação, recorrendo à seguinte tabela de
da inflação”. verdade:
Didatismo e Conhecimento 19
LÓGICA
p q r p⇒ q q⇒ r (p ⇒ q) ∧ (q ⇒ r) p⇒ r (5)
V V V V V V V V
V V F V F F F V
V F V F V F V V
V F F F V F F V
F V V V V V V V
F V F V F F V V
F F V V V V V V
F F F V V V V V
Verificamos que o valor lógico de (5) é sempre V, independentemente dos valores lógicos de cada uma das proposições p, q e r; isto
significa que (5) é verdadeira. Embora não o façamos aqui, recomendamos vivamente que construa as tabelas verdade que permitem
demonstrar as propriedades (1), (2), (3) e (4).
Atenção à negação de uma implicação. Um erro frequente entre os estudantes é dizer que a negação de p ⇒ q é (~q) ⇒ (~p); falso,
como se depreende de (2). Outro erro frequente é dizer que a negação de p ⇒ q é q ⇒ p; igualmente falso. A negação de p ⇒ q, dada por
(2), é p ∧ (~q).
A proposição q ⇒ p é chamada proposição recíproca de p ⇒ q; a propriedade (3) mostra-nos que, se tanto p ⇒ q como a sua
recíproca forem verdadeiras, então p e q são equivalentes. A proposição (~q) ⇒ (~p) é chamada contra-recíproca de p ⇒ q; por essa razão
a propriedade (4) é conhecida como regra do contra-recíproco, vulgarmente utilizada em certo tipo de demonstrações onde, em vez de
demonstrarmos que p ⇒ q, provamos que (~q) ⇒ (~p). Para exemplificar demonstraremos que, fixado um número natural n, se o quadrado
de n for par, então n também é par. A proposição a demonstrar escreve-se, simbolicamente,
n2 é par ⇒ n é par.
Designando por p a proposição “n2 é par” e por q a proposição “n é par”, queremos mostrar que p ⇒ q (6)
Vamos então demonstrar que n não é par ⇒ n2 não é par. Suponhamos então que o número natural n não é par; então n é ímpar e, por
definição de número ímpar, existe um natural k tal que n = 2k + 1. Consequentemente tem-se
Onde designamos por m o número natural 2k2 + 2k. A igualdade anterior mostra-nos que o número natural n2 é ímpar (porque se escreve
na forma 2m + 1) e portanto não é par. Demonstramos assim que a proposição (7) é verdadeira e, como (6) é equivalente a (7), demonstramos
a proposição (6).
Um outro tipo de demonstração também muitas vezes utilizado é o chamado método de demonstração por redução ao absurdo. Neste
caso, para demonstrarmos que p ⇒ q, começamos por supor que a hipótese é verdadeira e que a tese é falsa, ou seja, que a proposição p ∧
(~q) é verdadeira. À custa desta proposição deduzimos uma outra proposição r que sabemos ser falsa na teoria em que estamos. Concluímos
então que a proposição r é simultaneamente verdadeira e falsa, o que é absurdo. Logo p ∧ (~q) é falsa e (porque p é verdadeiro, por ser a
hipótese do teorema) vem que ~q é falsa, ou seja, q é verdadeira.
Exemplificaremos este processo de demonstração tornando a provar (agora por redução ao absurdo) que, fixado um número natural n,
se tem n2 é par ⇒ n é par. Suponhamos, portanto que é verdadeira a proposição
Mas, na igualdade anterior, o primeiro membro é um número ímpar e o segundo membro é um número par; por outro lado sabemos
que não existe qualquer número natural simultaneamente par e ímpar. Concluímos, portanto que a proposição (8) é falsa, logo n é par.
Terminamos esta seção introduzindo uma notação. Sendo p e q duas proposições quaisquer, escreveremos p ⥼ q (leia-se p não implica q)
para negar que p implica q. Assim, p ⥼ q é, por definição, equivalente a ~(p ⇒ q). Por vezes, em vez de p ⥼ q, escrevemos q ⥼ p. Tem-se
então (p ⥼ q) ⇔ (q ⥼ p) ⇔ (~(p ⇒ q)) ⇔ (p ∧ (~q)).
Didatismo e Conhecimento 20
LÓGICA
Propriedades da implicação lógica: reflexiva e transitiva Podemos observar que {3} {-3, 3}. Portanto, podemos dizer
que a implicação é verdadeira, logo a sentença x – 3 = 0 ⇒ x2 =
São: 9 está correta.
- A condição necessária e suficiente para que uma implicação
p ⇒ q seja verdadeira é que uma condicional p → q seja uma Implicações Notáveis
tautologia;
- Propriedade reflexiva (R): p ⇒ p; Estas implicações são consideradas notáveis (ou clássicas),
- Propriedade transitiva (T): Se p ⇒ q e q ⇒ r, então p ⇒ r. pois são argumentos válidos fundamentais, usados para fazer
“inferências”, isto é, executar os “passos” de uma demonstração
Demonstração de implicação lógica, comparando-se tabelas- ou de uma dedução. Também chamadas de Regras de Inferência.
verdade
Adição
Verificar se p ⇒ q → p
p⇒ pVq
p q p→q q⇒ pVq
V V V
Organizando a tabela-verdade tem-se que:
V F V
F V F p q pVq
F F V V V V
Didatismo e Conhecimento 21
LÓGICA
Regra do Silogismo Disjuntivo
(p V q) ∧ ~p ⇒ q
(p V q) ∧ ~q ⇒ p
Silogismo Hipotético
(p → q) ∧ (q → r) ⇒ p → r
Dilema Construtivo
((p → q) ∧ (r → s) ∧ (p V r)) ⇒ q V s
Dilema Destrutivo
A proposição “p(x) ⇒ q(x)” é verdadeira se, e somente se “~q(x) ⇒ ~p(x)” é verdadeira. Assim, afirmar “Se p, então q” é o mesmo
que afirmar “se ~q, então ~p”. Portanto, “p(x) ⇒ q(x)” é equivalente a “~q(x) ⇒ ~p(x)”. Exemplo: A sentença “Se comeu, então matou a
fome” é equivalente a “Se não matou a fome, então não comeu”.
Implicações Recíprocas: p ⇒ q e q ⇒ p. Duas proposições recíprocas não são logicamente equivalentes, uma pode ser verdadeira sem
que a outra o seja.
Implicações Inversas: p ⇒ q e ~p ⇒ ~q. Duas proposições inversas não são logicamente equivalentes, uma pode ser verdadeira sem
que a outra o seja.
Implicações Contrapositivas: p ⇒ q e ~q ⇒ ~p. Duas proposições contrapositivas são logicamente equivalentes, sempre que uma é
verdadeira, a outra também será.
Na lógica, as asserções p e q são ditas logicamente equivalentes ou simplesmente equivalentes, se p ╞ q e q ╞ p. Em termos intuitivos,
duas sentenças são logicamente equivalentes se possuem o mesmo “conteúdo lógico”. Do ponto de vista da teoria da demonstração, p e q são
equivalentes se cada uma delas pode ser derivada a partir da outra. Semanticamente, p e q são equivalentes se elas têm os mesmos valores
para qualquer interpretação. A notação normalmente usada para representar a equivalência lógica entre p e q é p ≡ q, p ⇔ q ou p q.
Em símbolos:
d: “Hoje é sábado”. (d → f)
f: “Hoje é fim de semana”. ( f → d)
Sintaticamente, (1) e (2) são equivalentes pela Lei da Contraposição. Semânticamente, (1) e (2) têm os mesmos valores nas mesmas
interpretações.
Há equivalência entre as proposições p e q somente quando a bicondicional p ↔ q for uma tautologia ou quando p e q tiverem a mesma
tabela-verdade.
Didatismo e Conhecimento 22
LÓGICA
O símbolo ↔ representa uma operação entre as proposições p e q, que tem como resultado uma nova proposição p ↔ q com valor
lógico V ou F.
O símbolo ⇔ representa a não ocorrência de VF e de FV na tabela-verdade p ↔ q, ou ainda que o valor lógico de p ↔ q é sempre
V, ou então p ↔ q é uma tautologia. Exemplo:
Portanto, p → q é equivalente a ~q → ~p, pois estas proposições possuem a mesma tabela-verdade ou a bicondicional (p → q) ↔ (~q
→ ~p) é uma tautologia. Veja a representação: (p → q) ⇔ (~q → ~p)
Equivalências Notáveis
Nome Propriedade Dual
Dupla Negação (DN) ~~p ↔ p
Idempotente (IP) pVp↔p p∧p↔p
Comutativa (COM) pVq↔qVp p∧q↔q∧p
Associativa (ASS) p V (q V r) ↔ (p V q) V r p ∧ (q ∧ r) ↔ (p ∧ q) ∧ r
De Morgan (DM) ~(p V q) ↔ ~p ∧ ~q ~(p ∧ q) ↔ ~p V ~q
Distributiva (DIS) p ∧ (q V r) ↔ (p ∧ q) V (p ∧ r) p V (q ∧ r) ↔ (p V q) ∧ (p V r)
Absorção (ABS) p ∧ (p V q) ↔ p p V (p ∧ q) ↔ p
Reescrita da Condicional (COND) p → q ↔ ~p V q
Reescrita da Bicondicional (BI) p ↔ q ↔ (p → q) ∧ (q → p)
Elemento Neutro (EN) pVF↔p p∧V↔p
Elemento Absorvedor (EA) pVV↔V p∧F↔F
Complementares (COMPLE) p V ~p ↔ V p ∧ ~p ↔ F
F = contradição V = tautologia
As proposições p e q são chamadas de logicamente equivalentes (≡) se p ↔ q é uma tautologia. Exemplos:
Mostraremos que (p V q) e p ∧ q são logicamente equivalentes. Uma das leis de De Morgan. Solução:
(p V q) e p ∧ q
p q (p V q) ¬(p V q) ¬p ¬q p∧ q (p V q) ↔ p ∧ q
V V V F F F F V
V F V F F V F V
F V V F V F F V
F F F V V V V V
(p → q) e p V q
p q ¬p ¬p V q p→q (p → q) ↔ p V q
V V F V V V
V F F F F V
F V V V V V
F F V V V V
Didatismo e Conhecimento 23
LÓGICA
QUESTÕES (D) p ∧ q → r ⇔ p → (q → r)
p∧q→r⇔
01. Demonstre as relações abaixo utilizando as equivalências ~(p ∧ q) ∨ r ⇔ (reescrita da condicional)
~p ∨ ~q ∨ r ⇔ (De Morgan)
notáveis:
~p ∨ (~q ∨ r) ⇔ (associativa)
(A) p → q ∧ r ⇔ (p → q) ∧ (p → r)
~p ∨ (q → r) ⇔ (reescrita da condicional)
(B) p → q ∨ r ⇔ (p → q) ∨ (p → r) p → (q → r) (reescrita da condicional)
(C) p ∧ (r ∨ s ∨ t) ⇔ (p ∧ r) ∨ (p ∧ s) ∨ (p ∧ t)
(D) p ∧ q → r ⇔ p → (q → r) (E) ~(~p → ~q) ⇔ ~p ∧ q
~(~p → ~q) ⇔ ~p ∧ q
(E) ~(~p → ~q) ⇔
~(~~p ∨ ~q) ⇔ (reescrita da condicional)
02. Demonstre, utilizando as equivalências notáveis, que as ~(p ∨ ~q) ⇔ (dupla negação)
relações de implicação são válidas: ~p ∧ ~~q ⇔ (De Morgan)
~p ∧ q (dupla negação)
(A) Exemplo: Regra da simplificação: p ∧ q ⇒ q
Para provarmos uma relação de implicação temos que
02.
demonstrar que a condicional p ∧ q → q é tautológica, ou seja, (B) Regra da adição: p ⇒ p ∨ q
que a condicional p ∧ q → q ⇔ V p → p ∨ q ⇔ V (devemos demonstrar que a relação de
Desenvolvendo o lado esquerdo da equivalência, tem-se: implicação equivale a uma tautologia)
p ∧ q → q ≡ (aplicando-se a equiv. de reescrita da condicio- ~p ∨ (p ∨ q) ⇔ (condicional)
nal) ~p ∨ p ∨ q ⇔ (associativa)
~(p ∧ q) ∨ q ≡ (aplicando-se a Lei de Morgan) V ∨ q ⇔ (complementares ~p ∨ p )
~p ∨ ~q ∨ q ≡ (aplicando-se lei complementar, ~q ∨ q é uma V (identidade)
tautologia)
(C) Regra do Silogismo Disjuntivo: (p ∨ q) ∧ ~q ⇒ p
~p ∨ V ≡ (pela lei da identidade ~p ∨ V é um tautologia) (p ∨ q) ∧ ~q → p ⇔ V (devemos demonstrar que a relação
V Portanto, está provado que p ∧ q ⇒ q é uma tautologia de implicação equivale a uma tautologia)
(p ∧ ~q) ∨ (q ∧ ~q) → p ⇔ (distributiva)
(B) Regra da adição: p ⇒ p ∨ q (p ∧ ~q) ∨ F → p ⇔ (complementares)
(C) Regra do Silogismo Disjuntivo: (p ∨ q) ∧ ~q ⇒ p (p ∧ ~q) → p ⇔ (identidade)
(D) Regra de Modus Ponens: (p → q) ∧ p ⇒ q ~(p ∧ ~q) ∨ p ⇔ (condicional)
(E) Regra de Modus Tollens: (p → q) ∧ ~q ⇒ ~p ~p ∨ ~q ∨ p ⇔ (De Morgan)
(~p ∨ p) ∨ ~q ⇔ (associativa)
03. Usando as regras de equivalência, mostre a seguinte
V ∨ ~q ⇔ (complementares)
V (identidade)
tautologia: (p → q) → r ⇔ r ∨ (p ∧ ~q)
(D) Regra de Modus Ponens: (p → q) ∧ p ⇒ q
Respostas (p → q) ∧ p → q ⇔ V (devemos demonstrar que a relação
de implicação equivale a uma tautologia)
01. (~p ∨ q) ∧ q → q ⇔ (condicional)
(A) p → q ∧ r ⇔ (p → q) ∧ (p → r) (q ∧ ~p) ∨ (q ∧ q) → q ⇔ (distributiva)
p→q∧r⇔ (q ∧ ~p) ∨ q → q ⇔ (idempotente)
~p ∨ (q ∧ r) ⇔ (reescrita da condicional) ~((q ∧ ~p) ∨ q) ∨ q ⇔ (condicional)
(~(q ∧ ~p) ∧ ~q) ∨ q ⇔ (De Morgan)
(~p ∨ q) ∧ (~p ∨ r) ⇔ (distributiva)
((~q ∨ p) ∧ ~q) ∨ q ⇔ (De Morgan)
(p → q) ∧ (p → r) (reescrita da condicional) (~q ∧ ~q) ∨ (~q ∧ p) ∨ q ⇔ (distributiva)
~q ∨ (~q ∧ p) ∨ q ⇔ (idempotente)
(B) p → q ∨ r ⇔ (p → q) ∨ (p → r) (~q ∨ q) ∨ (~q ∧ p) ⇔ (associativa)
p→q∨r⇔ V ∨ (~q ∧ p) ⇔ (complementares)
~p ∨ (q ∨ r) ⇔ (reescrita da condicional) V (identidade)
~p ∨ q ∨ r ⇔ (associativa)
~p ∨ ~p ∨ q ∨ r ⇔ (idempotente, adicionei um ~p, (E) Regra de Modus Tollens: (p → q) ∧ ~q ⇒ ~p
pois ~p ∨ ~p ⇔ ~p) (p → q) ∧ ~q → ~p ⇔ V (devemos demonstrar que a
relação de implicação equivale a uma tautologia)
(~p ∨ q) ∨ (~p ∨ r) ⇔ (associativa)
(~p ∨ q) ∧ ~q → ~p ⇔ (De Morgan)
(p → q) ∨ (p → r) (reescrita da condicional) (~q ∧ ~p) ∨ (~q ∧ q) → ~p ⇔ (Distributiva)
(~q ∧ ~p) ∨ F → ~p ⇔ (Complementares)
(C) p ∧ (r ∨ s ∨ t) ⇔ (p ∧ r) ∨ (p ∧ s) ∨ (p ∧ t) (~q ∧ ~p) → ~p ⇔ (Identidade)
p ∧ (r ∨ s ∨ t) ⇔ ~(~q ∧ ~p) ∨ ~p ⇔ (condicional)
p ∧ (r ∨ (s ∨ t)) ⇔ (associativa em s ∨ t ) ~~q ∨ ~~p ∨ ~p ⇔ (De Morgan)
(p ∧ r) ∨ (p ∧ (s ∨ t)) ⇔ (distributiva) q ∨ p ∨ ~p ⇔ (Dupla Negação)
(p ∧ r) ∨ (p ∧ s) ∨ (p ∧ t) (distributiva) q ∨ V ⇔ (complementares)
V
Didatismo e Conhecimento 24
LÓGICA
03. Mostraremos que (p → q) → r ⇔ r ∨ (p ∧ ~q) é Exemplos:
uma tautologia, de fato:
01.
Se eu passar no concurso, então irei trabalhar.
Ordem Proposição Passei no concurso
1 (p → q) → r ⇔ ________________________
∴ Irei trabalhar
2 ⇔(~p ∨ q) → r ⇔
3 ⇔~(~p ∨ q) ∨ r ⇔
02.
4 ⇔ r ∨ ~(~p ∨ q)
Se ele me ama então casa comigo.
5 r ∨ (p ∧ ~q) Ele me ama.
__________________________
∴ Ele casa comigo.
Didatismo e Conhecimento 25
LÓGICA
Há, no entanto, uma coisa que não pode ser feita: a partir de Conclusão: Finalmente se chegará a uma proposição que
premissas verdadeiras, inferirem de modo correto e chegar a uma consiste na conclusão, ou seja, no que se está tentando provar.
conclusão falsa. Podemos resumir esses resultados numa tabela Ela é o resultado final do processo de inferência e só pode ser
de regras de implicação. O símbolo A denota implicação; A é a classificada como conclusão no contexto de um argumento em
premissa, B é a conclusão. particular. A conclusão respalda-se nas premissas e é inferida a
partir delas.
Regras de Implicação
Premissas Conclusão Inferência A seguir está exemplificado um argumento válido, mas que
A B AàB pode ou não ser “consistente”.
1. Premissa: Todo evento tem uma causa.
Falsas Falsa Verdadeira
2. Premissa: O universo teve um começo.
Falsas Verdadeira Verdadeira 3. Premissa: Começar envolve um evento.
Verdadeiras Falsa Falsa 4. Inferência: Isso implica que o começo do universo envolveu
Verdadeiras Verdadeira Verdadeira um evento.
5. Inferência: Logo, o começo do universo teve uma causa.
- Se as premissas são falsas e a inferência é válida, a conclusão 6. Conclusão: O universo teve uma causa.
pode ser verdadeira ou falsa (linhas 1 e 2).
- Se as premissas são verdadeiras e a conclusão é falsa, a A proposição do item 4 foi inferida dos itens 2 e 3. O item 1,
inferência é inválida (linha 3). então, é usado em conjunto com proposição 4 para inferir uma
- Se as premissas e a inferência são válidas, a conclusão é nova proposição (item 5). O resultado dessa inferência é reafirmado
verdadeira (linha 4). (numa forma levemente simplificada) como sendo a conclusão.
Desse modo, o fato de um argumento ser válido não significa
Validade de um Argumento
necessariamente que sua conclusão seja verdadeira, pois pode ter
partido de premissas falsas. Um argumento válido que foi derivado
de premissas verdadeiras é chamado de argumento consistente. Conforme citamos anteriormente, uma proposição é verdadeira
Esses, obrigatoriamente, chegam a conclusões verdadeiras. ou falsa. No caso de um argumento diremos que ele é válido ou não
válido. A validade de uma propriedade dos argumentos dedutivos
Premissas: Argumentos dedutíveis sempre requerem certo que depende da forma (estrutura) lógica das suas proposições
número de “assunções-base”. São as chamadas premissas. É a (premissas e conclusões) e não do conteúdo delas. Sendo assim
partir delas que os argumentos são construídos ou, dizendo de outro podemos ter as seguintes combinações para os argumentos válidos
modo, é as razões para se aceitar o argumento. Entretanto, algo que dedutivos:
é uma premissa no contexto de um argumento em particular pode
ser a conclusão de outro, por exemplo. As premissas do argumento
a) Premissas verdadeiras e conclusão verdadeira. Exemplo:
sempre devem ser explicitadas. A omissão das premissas é
comumente encarada como algo suspeito, e provavelmente
reduzirá as chances de aceitação do argumento. Todos os apartamentos são pequenos. (V)
A apresentação das premissas de um argumento geralmente Todos os apartamentos são residências. (V)
é precedida pelas palavras “admitindo que...”, “já que...”, __________________________________
“obviamente se...” e “porque...”. É imprescindível que seu oponente ∴ Algumas residências são pequenas. (V)
Didatismo e Conhecimento 26
LÓGICA
Todos os argumentos acima são válidos, pois se suas premissas Argumentos Dedutivos Válidos
fossem verdadeiras então as conclusões também as seriam.
Podemos dizer que um argumento é válido quando todas as suas Vimos então que a noção de argumentos válidos ou não
premissas são verdadeiras, acarreta que sua conclusão também é válidos aplica-se apenas aos argumentos dedutivos, e também
verdadeira. Portanto, um argumento será não válido se existir a que a validade depende apenas da forma do argumento e não dos
possibilidade de suas premissas serem verdadeiras e sua conclusão respectivos valores verdades das premissas. Vimos também que
falsa. Observe que a validade do argumento depende apenas da não podemos ter um argumento válido com premissas verdadeiras
estrutura dos enunciados. Exemplo: e conclusão falsa. A seguir exemplificaremos alguns argumentos
dedutivos válidos importantes.
Todas as mulheres são bonitas.
Todas as princesas são mulheres. Afirmação do Antecedente: O primeiro argumento dedutivo
__________________________ válido que discutiremos chama-se “afirmação do antecedente”,
∴ Todas as princesas são bonitas. também conhecido como modus ponens. Exemplo:
Observe que não precisamos de nenhum conhecimento Se José for reprovado no concurso, então será demitido do
aprofundado sobre o assunto para concluir que o argumento é serviço.
válido. Vamos substituir mulheres bonitas e princesas por A, B e C José foi aprovado no concurso.
respectivamente e teremos: ___________________________
∴ José será demitido do serviço.
Todos os A são B.
Todos os C são A. Este argumento é evidentemente válido e sua forma pode ser
________________ escrita da seguinte forma:
∴ Todos os C são B.
Se p, então q, p→q
Logo, o que é importante é a forma do argumento e não o p. ou p
conhecimento de A, B e C, isto é, este argumento é válido para ∴ q. ∴q
quaisquer A, B e C, portanto, a validade é consequência da forma
do argumento. O atributo validade aplica-se apenas aos argumentos
dedutivos. Outro argumento dedutivo válido é a “negação do
consequente” (também conhecido como modus tollens). Obs.:
Argumentos Dedutivos e Indutivos ( ) ( )
p → q é equivalente a ¬q → ¬p . Esta equivalência é
chamada de contra positiva. Exemplo:
O argumento será dedutivo quando suas premissas fornecerem
prova conclusiva da veracidade da conclusão, isto é, o argumento “Se ele me ama, então casa comigo” é equivalente a “Se ele
é dedutivo quando a conclusão é completamente derivada das não casa comigo, então ele não me ama”;
premissas. Exemplo:
Então vejamos o exemplo do modus tollens. Exemplo:
Todo ser humano tem mãe.
Todos os homens são humanos. Se aumentarmos os meios de pagamentos, então haverá
__________________________ inflação.
∴ Todos os homens têm mãe. Não há inflação.
______________________________
O argumento será indutivo quando suas premissas não ∴ Não aumentamos os meios de pagamentos.
fornecerem o apoio completo para retificar as conclusões.
Exemplo: Este argumento é evidentemente válido e sua forma pode ser
escrita da seguinte maneira:
O Flamengo é um bom time de futebol.
O Palmeiras é um bom time de futebol. Se p, então q, p→q
O Vasco é um bom time de futebol.
O Cruzeiro é um bom time de futebol. Não q. ou ¬q
______________________________ ∴ Não p. ∴ ¬p
∴ Todos os times brasileiros de futebol são bons.
Didatismo e Conhecimento 27
LÓGICA
João se inscreve no concurso de MS, porém não gostaria de Este argumento é uma falácia, podemos ter as premissas
sair de São Paulo, e seus colegas de trabalho estão torcendo por verdadeiras e a conclusão falsa.
ele. Eis o dilema de João:
Outra falácia que corre com frequência é a conhecida por
Ou João passa ou não passa no concurso. “falácia da negação do antecedente”. Exemplo:
Se João passar no concurso vai ter que ir embora de São Paulo.
Se João não passar no concurso ficará com vergonha diante Se João parar de fumar ele engordará.
dos colegas de trabalho. João não parou de fumar.
_________________________ ________________________
∴ João não engordará.
∴ Ou João vai embora de São Paulo ou João ficará com
Não p. ou ¬p
p ou q. p∨ q
∴ Não q. ∴ ¬q
Se p então r p→ r
ou
q→s
Se p então s. Este argumento é uma falácia, pois podemos ter as premissas
∴r ∨ s
∴ r ou s verdadeiras e a conclusão falsa.
Didatismo e Conhecimento 28
LÓGICA
Tautologia: Quando uma proposição composta é 03. Ou Lógica é fácil, ou Artur não gosta de Lógica. Por outro
sempre verdadeira, então teremos uma tautologia. Ex: lado, se Geografia não é difícil, então Lógica é difícil. Daí segue-se
P (p,q) = ( p ∧ q) ↔ (p V q) . Numa tautologia, que, se Artur gosta de Lógica, então:
o valor lógico da proposição composta P (p,q,s) = a) Se Geografia é difícil, então Lógica é difícil.
{(p ∧ q) V (p V s) V [p ∧ (q ∧ s)]} → p será sempre verdadeiro. b) Lógica é fácil e Geografia é difícil.
c) Lógica é fácil e Geografia é fácil.
Há argumentos válidos com conclusões falsas, da mesma
d) Lógica é difícil e Geografia é difícil.
forma que há argumentos não válidos com conclusões verdadeiras.
e) Lógica é difícil ou Geografia é fácil.
Logo, a verdade ou falsidade de sua conclusão não determinam a
validade ou não validade de um argumento. O reconhecimento de
argumentos é mais difícil que o das premissas ou da conclusão. 04. Três suspeitos de haver roubado o colar da rainha foram
Muitas pessoas abarrotam textos de asserções sem sequer levados à presença de um velho e sábio professor de Lógica. Um
produzirem algo que possa ser chamado de argumento. Às vezes, dos suspeitos estava de camisa azul, outro de camisa branca e o
os argumentos não seguem os padrões descritos acima. Por outro de camisa preta. Sabe-se que um e apenas um dos suspeitos é
exemplo, alguém pode dizer quais são suas conclusões e depois culpado e que o culpado às vezes fala a verdade e às vezes mente.
justificá-las. Isso é válido, mas pode ser um pouco confuso. Sabe-se, também, que dos outros dois (isto é, dos suspeitos que
Para complicar, algumas afirmações parecem argumentos, são inocentes), um sempre diz a verdade e o outro sempre mente.
mas não são. Por exemplo: “Se a Bíblia é verdadeira, Jesus foi O velho e sábio professor perguntou, a cada um dos suspeitos,
ou um louco, ou um mentiroso, ou o Filho de Deus”. Isso não qual entre eles era o culpado. Disse o de camisa azul: “Eu sou o
é um argumento, é uma afirmação condicional. Não explicita as culpado”. Disse o de camisa branca, apontando para o de camisa
premissas necessárias para embasar as conclusões, sem mencionar azul: “Sim, ele é o culpado”. Disse, por fim, o de camisa preta:
que possui outras falhas.
“Eu roubei o colar da rainha; o culpado sou eu”. O velho e sábio
Um argumento não equivale a uma explicação. Suponha
que, tentando provar que Albert Einstein cria em Deus, alguém professor de Lógica, então, sorriu e concluiu corretamente que:
dissesse: “Einstein afirmou que ‘Deus não joga dados’ porque a) O culpado é o de camisa azul e o de camisa preta sempre
acreditava em Deus”. Isso pode parecer um argumento relevante, mente.
mas não é. Trata-se de uma explicação da afirmação de Einstein. b) O culpado é o de camisa branca e o de camisa preta sempre
Para perceber isso, deve-se lembrar que uma afirmação da forma mente.
“X porque Y” pode ser reescrita na forma “Y logo X”. O que c) O culpado é o de camisa preta e o de camisa azul sempre
resultaria em: “Einstein acreditava em Deus, por isso afirmou que mente.
‘Deus não joga dados’”. Agora fica claro que a afirmação, que d) O culpado é o de camisa preta e o de camisa azul sempre
parecia um argumento, está admitindo a conclusão que deveria diz a verdade.
estar provando. Ademais, Einstein não cria num Deus pessoal e) O culpado é o de camisa azul e o de camisa azul sempre
preocupado com assuntos humanos. diz a verdade.
QUESTÕES
05. O rei ir à caça é condição necessária para o duque sair
01. Se Iara não fala italiano, então Ana fala alemão. Se Iara fala do castelo, e é condição suficiente para a duquesa ir ao jardim.
italiano, então ou Ching fala chinês ou Débora fala dinamarquês. Por outro lado, o conde encontrar a princesa é condição necessária
Se Débora fala dinamarquês, Elton fala espanhol. Mas Elton fala e suficiente para o barão sorrir e é condição necessária para a
espanhol se e somente se não for verdade que Francisco não fala duquesa ir ao jardim. O barão não sorriu. Logo:
francês. Ora, Francisco não fala francês e Ching não fala chinês. a) A duquesa foi ao jardim ou o conde encontrou a princesa.
Logo, b) Se o duque não saiu do castelo, então o conde encontrou a
a) Iara não fala italiano e Débora não fala dinamarquês. princesa.
b) Ching não fala chinês e Débora fala dinamarquês. c) O rei não foi à caça e o conde não encontrou a princesa.
c) Francisco não fala francês e Elton fala espanhol. d) O rei foi à caça e a duquesa não foi ao jardim.
d) Ana não fala alemão ou Iara fala italiano. e) O duque saiu do castelo e o rei não foi à caça.
e) Ana fala alemão e Débora fala dinamarquês.
06. (FUNIVERSA - 2012 - PC-DF - Perito Criminal) Parte
02. Sabe-se que todo o número inteiro n maior do que 1
superior do formulário
admite pelo menos um divisor (ou fator) primo.Se n é primo, então
Cinco amigos encontraram-se em um bar e, depois de algumas
tem somente dois divisores, a saber, 1 e n. Se n é uma potência
de um primo p, ou seja, é da forma ps, então 1, p, p2, ..., ps são os horas de muita conversa, dividiram igualmente a conta, a qual
divisores positivos de n. Segue-se daí que a soma dos números fora de, exatos, R$ 200,00, já com a gorjeta incluída. Como se
inteiros positivos menores do que 100, que têm exatamente três encontravam ligeiramente alterados pelo álcool ingerido, ocorreu
divisores positivos, é igual a: uma dificuldade no fechamento da conta. Depois que todos
a) 25 julgaram ter contribuído com sua parte na despesa, o total colocado
b) 87 sobre a mesa era de R$ 160,00, apenas, formados por uma nota de
c) 112 R$ 100,00, uma de R$ 20,00 e quatro de R$ 10,00. Seguiram-se,
d) 121 então, as seguintes declarações, todas verdadeiras:
e) 169
Didatismo e Conhecimento 29
LÓGICA
Antônio: — Basílio pagou. Eu vi quando ele pagou. (A) é terça, ou quinta ou sexta-feira, ou Jane não fez o almoço.
Danton: — Carlos também pagou, mas do Basílio não sei (B) Pedro não teve aula de natação e não é segunda-feira.
dizer. (C) Carlos levou Pedro até a escolinha para Jane fazer o
Eduardo: — Só sei que alguém pagou com quatro notas de almoço.
R$ 10,00.
(D) não é segunda, nem quarta, mas Pedro teve aula de apenas
Basílio: — Aquela nota de R$ 100,00 ali foi o Antônio quem
colocou, eu vi quando ele pegou seus R$ 60,00 de troco. uma das modalidades esportivas.
Carlos: — Sim, e nos R$ 60,00 que ele retirou, estava a nota (E) não é segunda, Pedro não teve aulas, e Jane não fez o
de R$ 50,00 que o Eduardo colocou na mesa. almoço.
Imediatamente após essas falas, o garçom, que ouvira 10. (VUNESP - 2011 - TJM-SP) Parte superior do formulário
atentamente o que fora dito e conhecia todos do grupo, dirigiu-se Se afino as cordas, então o instrumento soa bem. Se o
exatamente àquele que ainda não havia contribuído para a despesa instrumento soa bem, então toco muito bem. Ou não toco muito
e disse: — O senhor pretende usar seu cartão e ficar com o troco bem ou sonho acordado. Afirmo ser verdadeira a frase: não sonho
em espécie? Com base nas informações do texto, o garçom fez a
acordado. Dessa forma, conclui-se que
pergunta a
(A) Antônio. (A) sonho dormindo.
(B) Basílio. (B) o instrumento afinado não soa bem.
(C) Carlos. (C) as cordas não foram afinadas.
(D) Danton. (D) mesmo afinado o instrumento não soa bem.
(E) Eduardo. (E) toco bem acordado e dormindo.
Didatismo e Conhecimento 30
LÓGICA
Da premissa 3 tem-se: Se Débora fala dinamarquês, Elton 03. Resposta “B”.
fala espanhol. Uma premissa composta formada por outras duas O Argumento é uma sequência finita de proposições lógicas
simples conectadas pelo se então (veja que a vírgula subentende iniciais (Premissas) e uma proposição final (conclusão). A validade
que existe o então), pois é, a regra do se então é que ele só vai ser de um argumento independe se a premissa é verdadeira ou falsa,
falso se o seu antecedente for verdadeiro e o seu consequente for observe a seguir:
falso, da premissa 4 sabemos que Elton não fala espanhol, logo,
para que a premissa seja verdadeira só poderemos aceitar um valor Todo cavalo tem 4 patas (P1)
lógico possível para o antecedente, ou seja, ele deverá ser falso, Todo animal de 4 patas tem asas (P2)
pois F Î F = V, logo: Débora não fala dinamarquês. Logo: Todo cavalo tem asas (C)
Da premissa 2 temos: Se Iara fala italiano, então ou Ching fala Observe que se tem um argumento com duas premissas,
chinês ou Débora fala dinamarquês. Vamos analisar o consequente P1 (verdadeira) e P2 (falsa) e uma conclusão C. Veja que este
do se então, observe: ou Ching fala chinês ou Débora fala argumento é válido, pois se as premissas se verificarem a conclusão
dinamarquês. (temos um ou exclusivo, cuja regra é, o ou exclusivo, também se verifica: (P1) Todo cavalo tem 4 patas. Indica que se
só vai ser falso se ambas forem verdadeiras, ou ambas falsas), no é cavalo então tem 4 patas, ou seja, posso afirmar que o conjunto
caso como Ching não fala chinês e Débora não fala dinamarquês, dos cavalos é um subconjunto do conjunto de animais de 4 patas.
temos: F ou exclusivo F = F. Se o consequente deu falso, então
o antecedente também deverá ser falso para que a premissa seja
verdadeira, logo: Iara não fala italiano.
Didatismo e Conhecimento 31
LÓGICA
Observe que deveremos fazer as três premissas serem c) Lógica é fácil e Geografia é fácil. (V ^ F = F)
verdadeiras, inicie sua análise pela premissa mais fácil, ou seja, d) Lógica é difícil e Geografia é difícil. (F ^ V = F)
aquela que já vai lhe informar algo que deseja, observe a premissa e) Lógica é difícil ou Geografia é fácil. (F v F = F) a regra
três, veja que para ela ser verdadeira, Artur gosta de Lógica. Com do “ou” é que só é falso quando as proposições que o formarem
esta informação vamos até a premissa um, onde temos a presença forem falsas.
do “ou exclusivo” um ou especial que não aceita ao mesmo tempo
que as duas premissas sejam verdadeiras ou falsas. Observe a 04. Alternativa “A”.
tabela verdade do “ou exclusivo” abaixo: Com os dados fazemos a tabela:
Se Geografia não é difícil, então Lógica é difícil. Do se então III) Terceira hipótese: Se o inocente que fala a verdade é o
já sabemos que: de camisa branca achamos a resposta, observem: Ele é inocente
Geografia não é difícil - é o antecedente do se então. e afirma que o de camisa branca é culpado, ele é o inocente que
Lógica é difícil - é o consequente do se então. sempre fala a verdade. O de camisa branca é o culpado que ora fala
a verdade e ora mente (no problema ele está dizendo a verdade).
Chamando: O de camisa preta é inocente e afirma que roubou, logo ele é o
r: Geografia é difícil inocente que está sempre mentindo.
~r: Geografia não é difícil (ou Geografia é fácil)
p: Lógica é fácil O resultado obtido pelo sábio aluno deverá ser: O culpado é o
(não p) ~p: Lógica é difícil de camisa azul e o de camisa preta sempre mente (Alternativa A).
~r → ~p (lê-se se não r então não p) sempre que se verificar 05. Resposta “C”.
o se então tem-se também que a negação do consequente gera a Uma questão de lógica argumentativa, que trata do uso do
negação do antecedente, ou seja: ~(~p) → ~(~r), ou seja, p → r ou conectivo “se então” também representado por “→”. Vamos a um
Se Lógica é fácil então Geografia é difícil. exemplo:
Se o duque sair do castelo então o rei foi à caça. Aqui estamos
De todo o encadeamento lógico (dada as premissas tratando de uma proposição composta (Se o duque sair do castelo
verdadeiras) sabemos que: então o rei foi à caça) formada por duas proposições simples (duque
Artur gosta de Lógica sair do castelo) (rei ir à caça), ligadas pela presença do conectivo
Lógica é fácil (→) “se então”. O conectivo “se então” liga duas proposições
Geografia é difícil simples da seguinte forma: Se p então q, ou seja:
→ p será uma proposição simples que por estar antes do então
Vamos agora analisar as alternativas, em qual delas a é também conhecida como antecedente.
conclusão é verdadeira: → q será uma proposição simples que por estar depois do
a) Se Geografia é difícil, então Lógica é difícil. (V → F = F) a então é também conhecida como consequente.
regra do “se então” é só ser falso se o antecedente for verdadeiro e → Se p então q também pode ser lido como p implica em q.
o consequente for falso, nas demais possibilidades ele será sempre → p é conhecida como condição suficiente para que q ocorra,
verdadeiro. ou seja, basta que p ocorra para q ocorrer.
b) Lógica é fácil e Geografia é difícil. (V ^ V = V) a regra do → q é conhecida como condição necessária para que p ocorra,
“e” é que só será verdadeiro se as proposições que o formarem ou seja, se q não ocorrer então p também não irá ocorrer.
forem verdadeiras.
Didatismo e Conhecimento 32
LÓGICA
Vamos às informações do problema: Eduardo: - Só sei que alguém pagou com quatro notas de R$
1) O rei ir à caça é condição necessária para o duque sair do 10,00. Restam A, D, e E.
castelo. Chamando A (proposição rei ir à caça) e B (proposição Basílio: - Aquela nota de R$ 100,00 ali foi o Antônio. Restam
duque sair do castelo) podemos escrever que se B então A ou B → D, e E.
A. Lembre-se de que ser condição necessária é ser consequente no Carlos: - Sim, e nos R$ 60,00 que ele retirou, estava a nota
“se então”. de R$ 50,00 que o Eduardo colocou. Resta somente D (Dalton) a
2) O rei ir à caça é condição suficiente para a duquesa ir ao pagar.
jardim. Chamando A (proposição rei ir à caça) e C (proposição
duquesa ir ao jardim) podemos escrever que se A então C ou A → 07. Resposta “B”.
C. Lembre-se de que ser condição suficiente é ser antecedente no 1°: separar a informação que a questão forneceu: “não vou
“se então”. morar em passárgada”.
3) O conde encontrar a princesa é condição necessária e 2°: lembrando-se que a regra do ou diz que: para ser verdadeiro
suficiente para o barão sorrir. Chamando D (proposição conde
tem de haver pelo menos uma proposição verdadeira.
encontrar a princesa) e E (proposição barão sorrir) podemos
3°: destacando-se as informações seguintes:
escrever que D se e somente se E ou D ↔ E (conhecemos este
- caso ou compro uma bicicleta.
conectivo como um bicondicional, um conectivo onde tanto o
- viajo ou não caso.
antecedente quanto o consequente são condição necessária e
suficiente ao mesmo tempo), onde poderíamos também escrever E - vou morar em passárgada ou não compro uma bicicleta.
se e somente se D ou E → D.
4) O conde encontrar a princesa é condição necessária para a Logo:
duquesa ir ao jardim. Chamando D (proposição conde encontrar a - vou morar em pasárgada (F)
princesa) e C (proposição duquesa ir ao jardim) podemos escrever - não compro uma bicicleta (V)
que se C então D ou C → D. Lembre-se de que ser condição - caso (V)
necessária é ser consequente no “se então”. - compro uma bicicleta (F)
A única informação claramente dada é que o barão não sorriu, - viajo (V)
ora chamamos de E (proposição barão sorriu). Logo barão não - não caso (F)
sorriu = ~E (lê-se não E).
Dado que ~E se verifica e D ↔ E, ao negar a condição Conclusão: viajo, caso, não compro uma bicicleta.
necessária nego a condição suficiente: esse modo ~E → ~D (então
o conde não encontrou a princesa). Outra forma:
Se ~D se verifica e C → D, ao negar a condição necessária
nego a condição suficiente: ~D → ~C (a duquesa não foi ao jardim). c = casar
Se ~C se verifica e A → C, ao negar a condição necessária b = comprar bicicleta
nego a condição suficiente: ~C → ~A (então o rei não foi à caça). v = viajar
Se ~A se verifica e B → A, ao negar a condição necessária p = morar em Passárgada
nego a condição suficiente: ~A → ~B (então o duque não saiu do
castelo). Temos as verdades:
c ou b
Observe entre as alternativas, que a única que afirma uma v ou ~c
proposição logicamente correta é a alternativa C, pois realmente p ou ~b
deduziu-se que o rei não foi à caça e o conde não encontrou a
princesa.
Transformando em implicações:
~c → b = ~b → c
06. Resposta “D”.
~v → ~c = c → v
Como todas as informações dadas são verdadeiras, então
~p → ~b
podemos concluir que:
1 - Basílio pagou;
2 - Carlos pagou; Assim:
3 - Antônio pagou, justamente, com os R$ 100,00 e pegou ~p → ~b
os R$ 60,00 de troco que, segundo Carlos, estavam os R$ 50,00 ~b → c
pagos por Eduardo, então... c→v
4 - Eduardo pagou com a nota de R$ 50,00.
Por transitividade:
O único que escapa das afirmações é o Danton. ~p → c
~p → v
Outra forma: 5 amigos: A,B,C,D, e E.
Não morar em passárgada implica casar. Não morar em
Antônio: - Basílio pagou. Restam A, D, C e E. passárgada implica viajar.
Danton: - Carlos também pagou. Restam A, D, e E.
Didatismo e Conhecimento 33
LÓGICA
08. Resposta “C”. Sendo Je = Jane leva Pedro para a escolinha e ~Je = a negação,
ou seja Jane não leva Pedro a escolinha. Ainda temos que ~Ja =
A declaração dizia: Jane deixa de fazer o almoço e C = Carlos almoça em Casa e ~C =
“Todo funcionário de nossa empresa possui plano de saúde e Carlos não almoça em casa, temos:
ganha mais de R$ 3.000,00 por mês”. Porém, o diretor percebeu
que havia se enganado, portanto, basta que um funcionário não PF V PN → Je
tenha plano de saúde ou ganhe até R$ 3.000,00 para invalidar,
Je → ~Ja
negar a declaração, tornando-a desse modo FALSA. Logo,
~Ja → ~C
necessariamente, um funcionário da empresa X não tem plano de
saúde ou ganha até R$ 3.000,00 por mês.
Em questões de raciocínio lógico devemos admitir que todas
Proposição composta no conectivo “e” - “Todo funcionário de as proposições compostas são verdadeiras. Ora, o enunciado diz
nossa empresa possui plano de saúde e ganha mais de R$ 3.000,00 que Carlos almoçou em casa, logo a proposição ~C é Falsa.
por mês”. Logo: basta que uma das proposições seja falsa para a
declaração ser falsa. ~Ja → ~C
1ª Proposição: Todo funcionário de nossa empresa possui Para a proposição composta ~Ja → ~C ser verdadeira, então
plano de saúde. ~Ja também é falsa.
2ª Proposição: ganha mais de R$ 3.000,00 por mês. ~Ja → ~C
Lembre-se que no enunciado não fala onde foi o erro da Na proposição acima desta temos que Je → ~Ja, contudo
declaração do gerente, ou seja, pode ser na primeira proposição e
já sabemos que ~Ja é falsa. Pela mesma regra do conectivo Se,
não na segunda ou na segunda e não na primeira ou nas duas que
... então, temos que admitir que Je também é falsa para que a
o resultado será falso.
proposição composta seja verdadeira.
Na alternativa C a banca fez a negação da primeira proposição
e fez a da segunda e as ligaram no conectivo “ou”, pois no Na proposição acima temos que PF V PN → Je, tratando PF
conectivo “ou” tanto faz a primeira ser verdadeira ou a segunda V PN como uma proposição individual e sabendo que Je é falsa,
ser verdadeira, desde que haja uma verdadeira para o resultado ser para esta proposição composta ser verdadeira PF V PN tem que
verdadeiro. ser falsa.
Atenção: A alternativa “E” está igualzinha, só muda o Ora, na primeira proposição composta da questão, temos
conectivo que é o “e”, que obrigaria que o erro da declaração fosse que S V Q → PF V PN e pela mesma regra já citada, para esta
nas duas. ser verdadeira S V Q tem que ser falsa. Bem, agora analisando
individualmente S V Q como falsa, esta só pode ser falsa se as duas
A questão pede a negação da afirmação: Todo funcionário premissas simples forem falsas. E da mesma maneira tratamos PF
de nossa empresa possui plano de saúde “e” ganha mais de R$ V PN.
3.000,00 por mês.
Essa fica assim ~(p ^ q).
Representação lógica de todas as proposições:
A negação dela ~pv~q
S V Q → PF V PN
~(p^q) ↔ ~pv~q (negação todas “e” vira “ou”)
(f) (f) (f) (f)
A 1ª proposição tem um Todo que é quantificador universal, F F
para negá-lo utilizamos um quantificador existencial. Pode ser:
um, existe um, pelo menos, existem... PF V PN → Je
No caso da questão ficou assim: Um funcionário da empresa F F
não possui plano de saúde “ou” ganha até R$ 3.000,00 por mês. A
negação de ganha mais de 3.000,00 por mês, é ganha até 3.000,00. Je → ~Ja
F F
09. Resposta “B”.
~Ja → ~C
Sendo: F F
Segunda = S e Quarta = Q,
Pedro tem aula de Natação = PN e
Conclusão: Carlos almoçou em casa hoje, Jane fez o almoço
Pedro tem aula de Futebol = PF.
e não levou Pedro à escolinha esportiva, Pedro não teve aula de
V = conectivo ou e → = conectivo Se, ... então, temos: futebol nem de natação e também não é segunda nem quarta. Agora
S V Q → PF V PN é só marcar a questão cuja alternativa se encaixa nesse esquema.
Didatismo e Conhecimento 34
LÓGICA
10. Resposta “C”.
A dica é trabalhar com as exceções: na condicional só dá • O primeiro estágio pode ocorrer de m modos distintos.
falso quando a primeira V e a segunda F. Na disjunção exclusiva • O segundo estágio pode ocorrer de n modos distintos.
(ou... ou) as divergentes se atraem o que dá verdade. Extraindo as
conclusões temos que: Desse modo, podemos dizer que o número de formas diferente
Não toco muito bem, não sonho acordado como verdade. que pode ocorrer em um acontecimento é igual ao produto m . n
Se afino as corda deu falso, então não afino as cordas.
Se o instrumento soa bem deu falso, então o instrumento não
soa bem. Exemplo: Alice decidiu comprar um carro novo, e inicialmente
ela quer se decidir qual o modelo e a cor do seu novo veículo. Na
Joga nas alternativas: concessionária onde Alice foi há 3 tipos de modelos que são do
(A) sonho dormindo (você não tem garantia de que sonha interesse dela: Siena, Fox e Astra, sendo que para cada carro há
dormindo, só temos como verdade que não sonho acordado, pode 5 opções de cores: preto, vinho, azul, vermelho e prata. Qual é o
ser que você nem sonhe). número total de opções que Alice poderá fazer?
(B) o instrumento afinado não soa bem deu que: Não afino as
cordas. Resolução: Segundo o Principio Fundamental da Contagem,
(C) Verdadeira: as cordas não foram afinadas.
Alice tem 3×5 opções para fazer, ou seja,ela poderá optar por 15
(D) mesmo afinado (Falso deu que não afino as cordas) o
instrumento não soa bem. carros diferentes. Vamos representar as 15 opções na árvore de
(E) toco bem acordado e dormindo, absurdo. Deu não toco possibilidades:
muito bem e não sonho acordado.
Didatismo e Conhecimento 35
LÓGICA
2. Quando se diferir tanto pela natureza quanto pela ordem
de seus elementos, os problemas de contagem serão agrupados e
considerados distintos.
ac ≠ ca, neste caso os agrupamentos são denominados arranjos.
Didatismo e Conhecimento 36
LÓGICA
No Princípio Fundamental da Contagem (An, k), o número total Se trocarmos os 3 elementos das 4 combinações obtemos
de arranjos simples dos n elementos de A (tomados k a k), temos: todos os arranjos 3 a 3:
Portanto: Pn = n!
Didatismo e Conhecimento 37
LÓGICA
Combinações Completas: Combinações completas de 06. (MACKENZIE) – Numa empresa existem 10 diretores,
n elementos, de k a k, são combinações de k elementos não dos quais 6 estão sob suspeita de corrupção. Para que se analisem
necessariamente distintos. Em vista disso, quando vamos calcular as suspeitas, será formada uma comissão especial com 5 diretores,
as combinações completas devemos levar em consideração as na qual os suspeitos não sejam maioria. O número de possíveis
combinações com elementos distintos (combinações simples) e comissões é:
as combinações com elementos repetidos. O total de combinações (A) 66
completas de n elementos, de k a k, indicado por C*n,k (B) 72
(C) 90
(D) 120
(E) 124
Didatismo e Conhecimento 38
LÓGICA
02. O número total de jogos a serem realizados é A14,2 = 14 . III) O número de possibilidades para se escolher 1 entre os 2
13 = 182. mais experientes é
03.
Letras
As três letras poderão ser escolhidas de 5 . 5 . 5 =125 maneiras. V) Assim, o número total de grupos que podem ser formados
Os quatro algarismos poderão ser escolhidos de 5 . 4 . 3 . 2 = é2.3=6
120 maneiras.
O número total de senhas distintas, portanto, é igual a 125 . 09.
120 = 15.000.
10.
04. a) 9 . A*10,3 = 9 . 103 = 9 . 10 . 10 . 10 = 9000
I) O número de cartões feitos por Cláudia foi b) 8 . A*9,3 = 8 . 93 = 8 . 9 . 9 . 9 = 5832
c) (a) – (b): 9000 – 5832 = 3168
d) 9 . A9,3 = 9 . 9 . 8 . 7 = 4536
e) (a) – (d): 9000 – 4536 = 4464
II) O número de cartões esperados por João era
4.13 EXPERIMENTOS ALEATÓRIOS
4.14 ESPAÇO AMOSTRAL
4.15 EVENTO
Assim, a diferença obtida foi 2.520 – 840 = 1.680 4.16 CONCEITO DE PROBABILIDADE -
PROBABILIDADE DE UM EVENTO
05. Se as permutações das letras da palavra PROVA forem ELEMENTAR - EVENTO
listadas em ordem alfabética, então teremos: COMPLEMENTAR - UNIÃO
P4 = 24 que começam por A E INTERSECÇÃO DE EVENTOS
P4 = 24 que começam por O 4.17 LEI DA SOMA – SITUAÇÕES
P4 = 24 que começam por P EXCLUDENTES
4.18 PROBABILIDADE
A 73.ª palavra nessa lista é a primeira permutação que começa CONDICIONAL - EVENTOS
por R. Ela é RAOPV. INDEPENDENTES - MULTIPLICAÇÃO DE
PROBABILIDADES
06. Se, do total de 10 diretores, 6 estão sob suspeita de
corrupção, 4 não estão. Assim, para formar uma comissão de 5
diretores na qual os suspeitos não sejam maioria, podem ser
escolhidos, no máximo, 2 suspeitos. Portanto, o número de Ponto Amostral, Espaço Amostral e Evento
possíveis comissões é
Em uma tentativa com um número limitado de resultados,
todos com chances iguais, devemos considerar:
Ponto Amostral: Corresponde a qualquer um dos resultados
possíveis.
Espaço Amostral: Corresponde ao conjunto dos resultados
possíveis; será representado por S e o número de elementos do
espaço amostra por n(S).
07. C5,3 . C4,2 . C4,3 = 10 . 6 . 4 = 240 Evento: Corresponde a qualquer subconjunto do espaço
amostral; será representado por A e o número de elementos do
08. evento por n(A).
I) Existem 5 enfermeiros disponíveis: 2 mais experientes e
outros 3. Os conjuntos S e Ø também são subconjuntos de S, portanto
II) Para formar grupos com 3 enfermeiros, conforme o são eventos.
enunciado, devemos escolher 1 entre os 2 mais experientes e 2 Ø = evento impossível.
entre os 3 restantes. S = evento certo.
Didatismo e Conhecimento 39
LÓGICA
Conceito de Probabilidade União de Eventos
As probabilidades têm a função de mostrar a chance Considere A e B como dois eventos de um espaço amostral S,
de ocorrência de um evento. A probabilidade de ocorrer um finito e não vazio, temos:
determinado evento A, que é simbolizada por P(A), de um espaço
amostral S ≠ Ø, é dada pelo quociente entre o número de elementos A
A e o número de elemento S. Representando:
B
S
Então, logo:
Didatismo e Conhecimento 40
LÓGICA
Probabilidade Condicionada Problema: Realizando-se a experiência descrita exatamente n
vezes, qual é a probabilidade de ocorrer o evento A só k vezes?
Considere dois eventos A e B de um espaço amostral S, finito
e não vazio. A probabilidade de B condicionada a A é dada pela Resolução:
probabilidade de ocorrência de B sabendo que já ocorreu A. É - Se num total de n experiências, ocorrer somente k vezes
representada por P(B/A). o evento A, nesse caso será necessário ocorrer exatamente n – k
vezes o evento A.
Veja: - Se a probabilidade de ocorrer o evento A é p e do evento A é
1 – p, nesse caso a probabilidade de ocorrer k vezes o evento A e
n – k vezes o evento A, ordenadamente, é:
Didatismo e Conhecimento 41
LÓGICA
05. Uma urna contém 500 bolas, numeradas de 1 a 500. Uma
bola dessa urna é escolhida ao acaso. A probabilidade de que seja 03. P(dama ou rei) = P(dama) + P(rei) =
escolhida uma bola com um número de três algarismos ou múltiplo
de 10 é 04. No lançamento de dois dados de 6 faces, numeradas de 1 a
(A) 10% 6, são 36 casos possíveis. Considerando os eventos A (dois números
(B) 12% ímpares) e B (dois números iguais), a probabilidade pedida é:
(C) 64%
(D) 82%
(E) 86% 05. Sendo Ω, o conjunto espaço amostral, temos n(Ω) = 500
06. Uma urna contém 4 bolas amarelas, 2 brancas e 3 bolas A: o número sorteado é formado por 3 algarismos;
vermelhas. Retirando-se uma bola ao acaso, qual a probabilidade A = {100, 101, 102, ..., 499, 500}, n(A) = 401 e p(A) = 401/500
de ela ser amarela ou branca?
B: o número sorteado é múltiplo de 10;
07. Duas pessoas A e B atiram num alvo com probabilidade B = {10, 20, ..., 500}.
40% e 30%, respectivamente, de acertar. Nestas condições, a
probabilidade de apenas uma delas acertar o alvo é: Para encontrarmos n(B) recorremos à fórmula do termo geral
(A) 42% da P.A., em que
(B) 45% a1 = 10
(C) 46% an = 500
(D) 48% r = 10
(E) 50% Temos an = a1 + (n – 1) . r → 500 = 10 + (n – 1) . 10 → n = 50
08. Num espaço amostral, dois eventos independentes A e B Dessa forma, p(B) = 50/500.
são tais que P(A U B) = 0,8 e P(A) = 0,3. Podemos concluir que o
valor de P(B) é: A Ω B: o número tem 3 algarismos e é múltiplo de 10;
(A) 0,5 A Ω B = {100, 110, ..., 500}.
(B) 5/7 De an = a1 + (n – 1) . r, temos: 500 = 100 + (n – 1) . 10 → n =
(C) 0,6 41 e p(A B) = 41/500
(D) 7/15
(E) 0,7 Por fim, p(A.B) =
09. Uma urna contém 6 bolas: duas brancas e quatro pretas. 06.
Retiram-se quatro bolas, sempre com reposição de cada bola antes Sejam A1, A2, A3, A4 as bolas amarelas, B1, B2 as brancas e V1,
de retirar a seguinte. A probabilidade de só a primeira e a terceira V2, V3 as vermelhas.
serem brancas é: Temos S = {A1, A2, A3, A4, V1, V2, V3 B1, B2} → n(S) = 9
(A) (B) (C) (D) (E) A: retirada de bola amarela = {A1, A2, A3, A4}, n(A) = 4
B: retirada de bola branca = {B1, B2}, n(B) = 2
10. Uma lanchonete prepara sucos de 3 sabores: laranja,
abacaxi e limão. Para fazer um suco de laranja, são utilizadas 3
laranjas e a probabilidade de um cliente pedir esse suco é de 1/3.
Se na lanchonete, há 25 laranjas, então a probabilidade de que,
para o décimo cliente, não haja mais laranjas suficientes para fazer
o suco dessa fruta é:
Como A B = , A e B são eventos mutuamente exclusivos;
(A) 1 (B) (C) (D) (E) Logo: P(A B) = P(A) + P(B) =
Respostas
07.
01. Se apenas um deve acertar o alvo, então podem ocorrer os
seguintes eventos:
02. (A) “A” acerta e “B” erra; ou
A partir da distribuição apresentada no gráfico: (B) “A” erra e “B” acerta.
08 mulheres sem filhos.
07 mulheres com 1 filho. Assim, temos:
06 mulheres com 2 filhos. P (A B) = P (A) + P (B)
02 mulheres com 3 filhos. P (A B) = 40% . 70% + 60% . 30%
P (A B) = 0,40 . 0,70 + 0,60 . 0,30
Como as 23 mulheres têm um total de 25 filhos, a probabilidade P (A B) = 0,28 + 0,18
de que a criança premiada tenha sido um(a) filho(a) único(a) é P (A B) = 0,46
igual a P = 7/25. P (A B) = 46%
Didatismo e Conhecimento 42
LÓGICA
08.
Sendo A e B eventos independentes, P(A B) = P(A) . P(B) e ANOTAÇÕES
como P(A B) = P(A) + P(B) – P(A B). Temos:
P(A B) = P(A) + P(B) – P(A) . P(B)
0,8 = 0,3 + P(B) – 0,3 . P(B)
0,7 . (PB) = 0,5
P(B) = 5/7.
—————————————————————————
09. Representando por a —————————————————————————
probabilidade pedida, temos:
= —————————————————————————
=
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ANOTAÇÕES —————————————————————————
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Didatismo e Conhecimento 43
LÓGICA
ANOTAÇÕES
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Didatismo e Conhecimento 44
LÓGICA
ANOTAÇÕES
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Didatismo e Conhecimento 45
LÓGICA
ANOTAÇÕES
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Didatismo e Conhecimento 46
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Fixar navegador de internet e cliente de e-mail padrão no
5. NOÇÕES DE INFORMÁTICA menu Iniciar e na área de trabalho (programas podem ser fixados
5.1 MS-WINDOWS 7: CONCEITO DE manualmente).
PASTAS, DIRETÓRIOS, ARQUIVOS E Windows Photo Gallery, Windows Movie Maker, Windows
ATALHOS, ÁREA DE TRABALHO, ÁREA Mail e Windows
DE TRANSFERÊNCIA, MANIPULAÇÃO DE Calendar foram substituídos pelas suas respectivas contrapar-
ARQUIVOS E PASTAS, USO DOS MENUS, tes do Windows Live, com a perda de algumas funcionalidades.
PROGRAMAS E APLICATIVOS, INTERAÇÃO O Windows 7, assim como o Windows Vista, estará disponível
em cinco diferentes edições, porém apenas o Home Premium, Pro-
COM O CONJUNTO DE APLICATIVOS fessional e Ultimate serão vendidos na maioria dos países, restando
DO MS-OFFICE 2010 outras duas edições que se concentram em outros mercados, como
mercados de empresas ou só para países em desenvolvimento.
Cada edição inclui recursos e limitações, sendo que só o Ultimate
não tem limitações de uso. Segundo a Microsoft, os recursos para
O Windows 7 é um sistema operacional produzidos pela Mi- todas as edições do Windows 7 são armazenadas no computador.
crosoft para uso em computadores. O Windows 7 foi lançado para Um dos principais objetivos da Microsoft com este novo Win-
empresas no dia 22 de julho de 2009, e começou a ser vendido dows é proporcionar uma melhor interação e integração do siste-
livremente para usuários comuns dia 22 de outubro de 2009. ma com o usuário, tendo uma maior otimização dos recursos do
Diferente do Windows Vista, que introduziu muitas novida- Windows 7, como maior autonomia e menor consumo de energia,
voltado a profissionais ou usuários de internet que precisam in-
des, o Windows 7 é uma atualização mais modesta e direcionada
teragir com clientes e familiares com facilidade, sincronizando e
para a linha Windows, tem a intenção de torná-lo totalmente com- compartilhando facilmente arquivos e diretórios.
patível com aplicações e hardwares com os quais o Windows Vista
já era compatível. Comparando as edições
Apresentações dadas pela companhia no começo de 2008
mostraram que o Windows 7 apresenta algumas variações como O Windows 7 tem três edições diferentes de um mesmo siste-
uma barra de tarefas diferente, um sistema de “network” chamada ma operacional, que se adéquam as necessidades diárias de cada
de “HomeGroup”, e aumento na performance. usuário essas edições são o Home Premium, o Professional e Ul-
· Interface gráfica aprimorada, com nova barra de tarefas e timate.
suporte para telas touch screen e multi-táctil (multi-touch) Essas edições apresentam variações de uma para outra, como
o Home Premium, que é uma edição básica, mas de grande uso
· Internet Explorer 8;
para usuários que não apresentam grandes necessidades.
· Novo menu Iniciar; Os seus recursos são a facilidade para suas atividades diárias
· Nova barra de ferramentas totalmente reformulada; com a nova navegação na área de trabalho, o usuário pode abrir
· Comando de voz (inglês); os programas mais rápida e facilmente e encontrar os documentos
· Gadgets sobre o desktop; que mais usa em instantes.
· Novos papéis de parede, ícones, temas etc.; Tornar sua experiência na Web mais rápida, fácil e segura do
· Conceito de Bibliotecas (Libraries), como no Windows Me- que nunca com o Internet Explorer 8, assistir a muitos dos seus
dia Player, integrado ao Windows Explorer; programas de TV favoritos de graça e onde quiser, com a TV na
· Arquitetura modular, como no Windows Server 2008; Internet e criar facilmente uma rede doméstica e conectar seus
· Faixas (ribbons) nos programas incluídos com o Windows computadores a uma impressora com o Grupo Doméstico.
Já o Professional apresenta todos esses recursos adicionados
(Paint e WordPad, por exemplo), como no Office 2007;
de outros que o deixam mais completo como o usuário pode exe-
· Aceleradores no Internet Explorer 8; cutar vários programas de produtividade do Windows XP no Modo
· Aperfeiçoamento no uso da placa de vídeo e memória RAM; Windows XP, conectar-se a redes corporativas facilmente e com
· Home Groups; mais segurança com o Ingresso no Domínio e além do Backup e
· Melhor desempenho; Restauração de todo o sistema encontrado em todas as edições, é
· Windows Media Player 12; possível fazer backup em uma rede doméstica ou corporativa.
· Nova versão do Windows Media Center; O Ultimate também apresenta todos esses recursos acrescidos
· Gerenciador de Credenciais; de outros que tornam sua funcionalidade completa com todos os
· Instalação do sistema em VHDs; recursos disponíveis nessa versão do sistema operacional como
· Nova Calculadora, com interface aprimorada e com mais ajuda para proteger os dados do seu computador e de dispositivos
de armazenamento portáteis contra perda ou roubo com o BitLo-
funções;
cker e poder trabalhar no idioma de sua escolha ou alternar entre
· Reedição de antigos jogos, como Espadas Internet, Gamão 35 idiomas.
Internet e Internet Damas;
· Windows XP Mode; Recursos
· Aero Shake;
Apesar do Windows 7 conter muitos novos recursos o número Segundo o site da própria Microsoft, os recursos encontrados
de capacidades e certos programas que faziam parte do Windows no Windows 7 são fruto das novas necessidades encontradas pe-
Vista não estão mais presentes ou mudaram, resultando na remo- los usuários. Muitos vêm de seu antecessor, Windows Vista, mas
ção de certas funcionalidades. Mesmo assim, devido ao fato de existem novas funcionalidades exclusivas, feitas para facilitar a
ainda ser um sistema operacional em desenvolvimento, nem todos utilização e melhorar o desempenho do SO (Sistema Operacional)
os recursos podem ser definitivamente considerados excluídos. no computador.
Didatismo e Conhecimento 1
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Vale notar que, se você tem conhecimentos em outras versões Lista de Atalhos
do Windows, não terá que jogar todo o conhecimento fora. Ape-
nas vai se adaptar aos novos caminhos e aprender “novos truques” Novidade desta nova versão, agora você pode abrir diretamen-
enquanto isso. te um arquivo recente, sem nem ao menos abrir o programa que
você utilizou. Digamos que você estava editando um relatório em
Tarefas Cotidianas seu editor de texto e precisou fechá-lo por algum motivo. Quando
quiser voltar a trabalhar nele, basta clicar com o botão direito sob
Já faz tempo que utilizar um computador no dia a dia se tornou o ícone do editor e o arquivo estará entre os recentes.
comum. Não precisamos mais estar em alguma empresa enorme Ao invés de ter que abrir o editor e somente depois se preocu-
para precisar sempre de um computador perto de nós. O Windows par em procurar o arquivo, você pula uma etapa e vai diretamente
7 vem com ferramentas e funções para te ajudar em tarefas comuns para a informação, ganhando tempo.
do cotidiano.
Grupo Doméstico
Snap
Windows Search
Didatismo e Conhecimento 2
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Menu iniciar
As pesquisas agora podem ser feitas diretamente do menu iniciar. É útil quando você necessita procurar, por exemplo, pelo atalho de
inicialização de algum programa ou arquivo de modo rápido.
“Diferente de buscas com as tecnologias anteriores do Windows Search, a pesquisa do menu início não olha apenas aos nomes de pastas
e arquivos.
Considera-se o conteúdo do arquivo, tags e propriedades também” (Jim Boyce; Windows 7 Bible, pg 770).
Os resultados são mostrados enquanto você digita e são divididos em categorias, para facilitar sua visualização.
Abaixo as categorias nas quais o resultado de sua busca pode ser dividido.
· Programas
· Painel de Controle
· Documentos
· Música
· Arquivos
Ao digitar “pai” temos os itens que contêm essas letras em seu nome.
Windows Explorer
O que você encontra pelo menu iniciar é uma pequena parte do total disponível.
Fazendo a busca pelo Windows Explorer – que é acionado automaticamente quando você navega pelas pastas do seu computador – você
encontrará uma busca mais abrangente.
Em versões anteriores, como no Windows XP, antes de se fazer uma busca é necessário abrir a ferramenta de busca. No Seven, precisa-
mos apenas digitar os termos na caixa de busca, que fica no canto superior direito.
Didatismo e Conhecimento 3
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Windows Explorer com a caixa de busca (Jim Boyce; Windows 7 Bible, pg 774).
A busca não se limita a digitação de palavras. Você pode aplicar filtros, por exemplo, buscar, na pasta músicas, todas as canções do
gênero Rock. Existem outros, como data, tamanho e tipo. Dependendo do arquivo que você procura, podem existir outras classificações
disponíveis.
Imagine que todo arquivo de texto sem seu computador possui um autor. Se você está buscando por arquivos de texto, pode ter a opção
de filtrar por autores.
Não é uma tarefa fácil proteger os mais novos do que visualizam por meio do computador. O Windows 7 ajuda a limitar o que pode
ser visualizado ou não. Para que essa funcionalidade fique disponível, é importante que o computador tenha uma conta de administrador,
protegida por senha, registrada. Além disso, o usuário que se deseja restringir deve ter sua própria conta.
As restrições básicas que o Seven disponibiliza:
· Limite de Tempo: Permite especificar quais horas do dia que o PC pode ser utilizado.
· Jogos: Bloqueia ou permite jogar, se baseando pelo horário e também pela classificação do jogo. Vale notar que a classificação já vem
com o próprio game.
· Bloquear programas: É possível selecionar quais aplicativos estão autorizados a serem executados.
Fazendo download de add-on’s é possível aumentar a quantidade de restrições, como controlar as páginas que são acessadas, e até
mesmo manter um histórico das atividades online do usuário.
Central de ações
A central de ações consolida todas as mensagens de segurança e manutenção do Windows. Elas são classificadas em vermelho (impor-
tante – deve ser resolvido rapidamente) e amarelas (tarefas recomendadas).
O painel também é útil caso você sinta algo de estranho no computador. Basta checar o painel e ver se o Windows detectou algo de
errado.
Didatismo e Conhecimento 4
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
- Do seu jeito
O ambiente que nos cerca faz diferença, tanto para nossa qualidade de vida quanto para o desempenho no trabalho. O computador é uma
extensão desse ambiente. O Windows 7 permite uma alta personalização de ícones, cores e muitas outras opções, deixando um ambiente
mais confortável, não importa se utilizado no ambiente profissional ou no doméstico.
Muitas opções para personalizar o Windows 7 estão na página de Personalização1, que pode ser acessada por um clique com o botão
direito na área de trabalho e em seguida um clique em Personalizar.
É importante notar que algumas configurações podem deixar seu computador mais lento, especialmente efeitos de transparência. Abaixo
estão algumas das opções de personalização mais interessantes.
Papéis de Parede
Os papéis de parede não são tamanha novidade, virou praticamente uma rotina entre as pessoas colocarem fotos de ídolos, paisagens
ou qualquer outra figura que as agrade. Uma das novidades fica por conta das fotos que você encontra no próprio SO. Variam de uma foto
focando uma única folha numa floresta até uma montanha.
A outra é a possibilidade de criar um slide show com várias fotos. Elas ficaram mudando em sequência, dando a impressão que sua área
de trabalho está mais viva.
Gadgets
As “bugigangas” já são conhecidas do Windows Vista, mas eram travadas no canto direito. Agora elas podem ficar em qualquer local
do desktop.
Servem para deixar sua área de trabalho com elementos sortidos, desde coisas úteis – como uma pequena agenda – até as de gosto mais
duvidosas – como uma que mostra o símbolo do Corinthians. Fica a critério do usuário o que e como utilizar.
O próprio sistema já vem com algumas, mas se sentir necessidade, pode baixar ainda mais opções da internet.
Didatismo e Conhecimento 5
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Com este novo recurso, dois computadores rodando Windows
7 podem compartilhar músicas através do Windows Media Player
12. É necessário que ambos estejam associados com um ID online,
como a do Windows Live.
Personalização
Didatismo e Conhecimento 6
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Com o Sticky Notes pode-se deixar lembretes no desktop e
também suportar entrada por caneta e toque.
No Math Input Center, utilizando recursos multitoque, equa-
ções matemáticas escritas na tela são convertidas em texto, para
poder adicioná-la em um processador de texto.
O print screen agora tem um aplicativo que permite capturar
de formas diferentes a tela, como por exemplo, a tela inteira, partes
ou áreas desenhadas da tela com o mouse.
WordPad remodelado
Requisitos
Didatismo e Conhecimento 7
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Configuração Recomendada: Outras, como uma impressão, tem baixa prioridade pois são
· Processador de 2 GHz (32 ou 64 bits) naturalmente lentas e podem ser executadas “longe da visão” do
· Memória (RAM) de 2 GB usuário, dando a impressão que o computador não está lento.
· Espaço requerido de disco rígido: 16 GB Essa característica permite que o usuário não sinta uma lenti-
· Placa de vídeo com suporte a elementos gráficos DirectX 9 dão desnecessária no computador.
com 256 MB de memória (para habilitar o tema do Windows Aero) Entretanto, não se pode ignorar o fato que, com cada vez mais
· Unidade de DVD-R/W recursos e “efeitos gráficos”, a tendência é que o sistema operacio-
· Conexão com a Internet (para obter atualizações) nal se torne um forte consumidor de memória e processamento. O
Seven disponibiliza vários recursos de ponta e mantêm uma per-
Atualizar de um SO antigo formance satisfatória.
Didatismo e Conhecimento 8
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Esta edição será colocada à venda em lojas de varejo e também poderá ser encontrada em computadores novos.
Mais voltada para as pequenas empresas, a versão Professional do Windows 7 possuirá diversos recursos que visam facilitar a comuni-
cação entre computadores e até mesmo impressoras de uma rede corporativa.
Para isso foram desenvolvidos aplicativos como o Domain Join, que ajuda os computadores de uma rede a “se enxergarem” e consegui-
rem se comunicar. O Location Aware Printing, por sua vez, tem como objetivo tornar muito mais fácil o compartilhamento de impressoras.
Como empresas sempre estão procurando maneiras para se proteger de fraudes, o Windows 7 Professional traz o Encrypting File Sys-
tem, que dificulta a violação de dados. Esta versão também será encontrada em lojas de varejo ou computadores novos.
Windows 7 Enterprise, apenas para vários
Sim, é “apenas para vários” mesmo. Como esta é uma versão mais voltada para empresas de médio e grande porte, só poderá ser ad-
quirida com licenciamento para diversas máquinas. Acumula todas as funcionalidades citadas na edição Professional e possui recursos mais
sofisticados de segurança.
Dentre esses recursos estão o BitLocker, responsável pela criptografia de dados e o AppLocker, que impede a execução de programas
não-autorizados. Além disso, há ainda o BrachCache, para turbinar transferência de arquivos grandes e também o DirectAccess, que dá uma
super ajuda com a configuração de redes corporativas.
Esta será, provavelmente, a versão mais cara de todas, pois contém todas as funcionalidades já citadas neste artigo e mais algumas.
Apesar de sua venda não ser restrita às empresas, o Microsoft disponibilizará uma quantidade limitada desta versão do sistema.
Isso porque grande parte dos aplicativos e recursos presentes na Ultimate são dedicados às corporações, não interessando muito aos
usuários comuns.
Didatismo e Conhecimento 9
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Um arquivo é muito parecido com um documento digitado que você poderia encontrar na mesa de alguém ou em um arquivo conven-
cional. É um item que contém um conjunto de informações relacionadas. Nessa classificação estariam, por exemplo, documentos de texto,
planilhas, imagens digitais e até músicas. Cada foto que você tira com uma câmera digital é um arquivo separado. Um CD de música pode
conter dezenas de arquivos de música individuais.
O computador usa ícones para representar arquivos. Basta olhar o ícone para saber o tipo de arquivo. Veja a seguir alguns ícones de
arquivo comuns:
Pela aparência do ícone, é possível dizer o tipo de arquivo que ele representa
Uma pasta é pouco mais que um contêiner no qual é possível armazenar arquivos. Se você colocasse milhares de arquivos em papel na
mesa de alguém, seria praticamente impossível encontrar um determinado arquivo quando precisasse. É por isso que as pessoas costumam
armazenar os arquivos em papel em pastas dentro de um arquivo convencional. A organização de arquivos em grupos lógicos torna fácil
localizar um determinado arquivo.
As pastas no computador funcionam exatamente da mesma forma. Esta é a aparência de um ícone de pasta típico:
Didatismo e Conhecimento 10
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
É possível abrir pastas comuns a partir do menu Iniciar
As pastas Documentos, Imagens e Música também podem ser
encontradas no menu Iniciar, logo abaixo da pasta particular.
Lembre-se que você pode criar subpastas dentro de qualquer
uma dessas pastas para ajudá-lo a organizar melhor os arquivos.
Na pasta Imagens, por exemplo, você pode criar subpastas para
organizar imagens por data, por evento, pelos nomes das pessoas
nas fotos ou por qualquer outro esquema que o ajude a trabalhar
com mais eficiência.
Didatismo e Conhecimento 11
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Barra de ferramentas / A barra de ferramentas permite execu-
tar tarefas comuns, como alterar a aparência de arquivos e pastas,
copiar arquivos para um CD ou iniciar uma apresentação de slides
de imagens digitais. Os botões da barra de ferramentas mudam
para mostram apenas os comandos que são úteis. Por exemplo,
se você clicar em um arquivo de imagem, a barra de ferramentas
mostrará botões diferentes daqueles que mostraria se você clicasse
em um arquivo de música.
Painel de navegação / Como a Barra de endereços, o Painel
de navegação permite alterar o modo de exibição para outras pas-
tas. A seção de links Favoritos torna fácil alterar para uma pasta
comum ou iniciar uma pesquisa salva anteriormente. Se você vai
com freqüência para a mesma pasta, pode arrastá-la para o Painel
de navegação e torná-la um de seus links favoritos. Para obter mais
informações, consulte Trabalhando com o Painel de navegação.
Lista de arquivos / É aqui que o conteúdo da pasta atual é exi-
bido. Se você digitou na caixa Pesquisar para localizar um arquivo,
aparecerão somente os arquivos que correspondam à sua pesquisa.
Para obter mais informações, consulte Dicas para localizar arqui- As opções do botão Modos de Exibição
vos.
Títulos de coluna / Use os títulos de coluna para alterar a for- Localizando seus arquivos
ma como os itens na lista de arquivos são organizados. É possível Quando você precisar localizar um determinado arquivo, já
classificar, agrupar ou empilhar os arquivos no modo de exibição sabe que ele deverá estar em alguma pasta comum como Docu-
atual. Para obter mais informações, consulte Dicas para localizar mentos ou Imagens. Infelizmente, localizar realmente o arqui-
arquivos. vo desejado pode significar navegar por centenas de arquivos e
Painel de detalhes / O Painel de detalhes mostra as proprieda- subpastas, o que não é uma tarefa fácil. Para poupar tempo e esfor-
des mais comuns associadas ao arquivo selecionado. Propriedades ço, use a caixa Pesquisar para localizar o arquivo.
do arquivo são informações sobre um arquivo, como o autor, a data
da última alteração e qualquer marca descritiva que você possa
ter adicionado ao arquivo. Para obter mais informações, consulte
Adicionar etiquetas ou outras propriedades a arquivos.
Painel de visualização / Use o Painel de visualização para ver
o conteúdo de vários tipos de arquivos. Se você selecionar uma A caixa Pesquisar
mensagem de email, um arquivo de texto ou uma imagem, por
exemplo, poderá ver seu conteúdo sem abri-lo em um programa. A caixa Pesquisar está localizada na parte superior de cada
O Painel de visualização não é exibido por padrão na maioria das pasta. Para localizar um arquivo, abra a pasta que contém o arqui-
pastas. Para vê-lo, clique no botão Organizar na barra de ferramen- vo que você está procurando, clique na caixa Pesquisar e comece a
tas, em Layout e em Painel de visualização. digitar. A caixa Pesquisar filtra o modo de exibição atual com base
no texto que você digitar. Os arquivos são exibidos como resulta-
Exibindo seus arquivos em uma pasta dos da pesquisa se o termo de pesquisa corresponder ao nome do
Ao abrir uma pasta e ver os arquivos, talvez você prefira íco- arquivo, a marcas ou a outras propriedades do arquivo. Os docu-
nes maiores (ou menores) ou uma organização que lhe permita ver mentos de texto são exibidos se o termo de pesquisa ocorrer em
tipos diferentes de informações sobre cada arquivo. Para fazer es- algum texto dentro do documento. Sua pesquisa aparece na pasta
ses tipos de alterações, use o botão Modos de Exibição na barra de atual, assim como em todas as subpastas.
ferramentas. Se você não tem idéia de onde procurar um arquivo, pode ex-
Toda vez que você clica nesse botão, a janela de pasta muda a pandir sua pesquisa para incluir o computador inteiro, e não ape-
forma como ela exibe os ícones de pastas e de arquivos, alternando nas uma única pasta.
entre ícones grandes, um modo de exibição de ícones menores cha-
mado Lado a lado e um modo de exibição chamado Detalhes que Copiando e movendo arquivos e pastas
mostra várias colunas de informações sobre o arquivo. De vez em quando, você pode querer alterar o local onde os
Se você clicar na seta ao lado do botão Modos de Exibição, arquivos ficam armazenados no computador. Por exemplo, mover
terá ainda mais opções. Arraste o controle deslizante para cima ou os arquivos para outra pasta ou copiá-los para uma mídia removí-
para baixo para ajustar o tamanho dos ícones das pastas e dos ar- vel (como CDs ou cartões de memória) a fim de compartilhar com
quivos. Você poderá ver os ícones alterando de tamanho enquanto outra pessoa.
move o controle deslizante. A maioria das pessoas copia e move arquivos usando um mé-
todo chamado arrastar e soltar. Comece abrindo a pasta que con-
tém o arquivo ou a pasta que deseja mover. Em seguida, abra a
pasta para onde deseja mover. Posicione as janelas de pasta na área
de trabalho de modo a ver o conteúdo de ambas.
Didatismo e Conhecimento 12
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
A seguir, arraste a pasta ou o arquivo da primeira pasta para a Mas nem sempre é o caso. O clique duplo em uma imagem di-
segunda. Isso é tudo. gital, por exemplo, abrirá um visualizador de imagens. Para editar
a imagem, você precisa usar um programa diferente. Clique com o
botão direito do mouse no arquivo, clique em Abrir com e no nome
do programa que deseja usar.
Didatismo e Conhecimento 13
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Através dessa ABA, podemos criar novos documentos, abrir arquivos existentes, salvar documentos, imprimir, preparar o documento
(permite adicionar propriedades ao documento, criptografar, adicionar assinaturas digitais, etc.).
ABAS
Os comandos para a edição de nosso texto agora ficam agrupadas dentro destas guias. Dentro destas guias temos os grupos de ferra-
mentas, por exemplo, na guia Inicio, temos “Fonte”, “Parágrafo”, etc., nestes grupos fica visíveis para os usuários os principais comandos,
para acessar os demais comandos destes grupos de ferramentas, alguns destes grupos possuem pequenas marcações na sua direita inferior.
Didatismo e Conhecimento 14
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
O Word possui também guias contextuais quando determinados elementos dentro de seu texto são selecionados, por exemplo, ao sele-
cionar uma imagem, ele criar na barra de guias, uma guia com a possibilidade de manipulação do elemento selecionado.
Ao iniciarmos o Word temos um documento em branco que é sua área de edição de texto. Vamos digitar um pequeno texto conforme
abaixo:
Didatismo e Conhecimento 15
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Salvando Arquivos Observe que o nome de seu arquivo agora aparece na barra
de títulos.
É importante ao terminar um documento, ou durante a digita-
ção do mesmo, quando o documento a ser criado é longo, salvar Abrindo um arquivo do Word
seu trabalho. Salvar consiste em armazenar se documento em for-
ma de arquivo em seu computador, pendrive, ou outro dispositivo Para abrir um arquivo, você precisa clicar na ABA Arquivo.
de armazenamento. Para salvar seu documento, clique no botão
salvar no topo da tela. Será aberta uma tela onde você poderá defi-
nir o nome, local e formato de seu arquivo.
Visualização do Documento
Didatismo e Conhecimento 16
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
• Layout de Impressão: Formato atual de seu documento é o formato de como seu documento ficará na folha impressa.
• Leitura em Tela Inteira: Ele oculta as barras de seu documento, facilitando a leitura em tela, observe que no rodapé do documento
à direita, ele possui uma flecha apontado para a próxima página. Para sair desse modo de visualização, clique no botão fechar no topo à
direita da tela.
• Layout da Web: Aproxima seu texto de uma visualização na Internet, esse formato existe, pois muitos usuários postam textos pro-
duzidos no Word em sites e blogs na Internet.
• Estrutura de Tópicos: Permite visualizar seu documento em tópicos, o formato terá melhor compreensão quando trabalharmos com
marcadores.
• Rascunho: É o formato bruto, permite aplicar diversos recursos de produção de texto, porém não visualiza como impressão nem
outro tipo de meio.
O terceiro grupo de ferramentas da Aba exibição permite trabalhar com o Zoom da página. Ao clicar no botão Zoom o Word apresenta
a seguinte janela:
Onde podemos utilizar um valor de zoom predefinido, ou colocarmos a porcentagem desejada, podemos visualizar o documento em
várias páginas. E finalizando essa aba temos as formas de exibir os documentos aberto em uma mesma seção do Word.
Configuração de Documentos
Um dos principais cuidados que se deve ter com seus documentos é em relação à configuração da página. A ABNT (Associação Bra-
sileira de Normas Técnicas) possui um manual de regras para documentações, então é comum escutar “o documento tem que estar dentro
das normas”, não vou me atentar a nenhuma das normas especificas, porém vou ensinar como e onde estão as opções de configuração de
um documento.
Didatismo e Conhecimento 17
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
No Word 2010 a ABA que permite configurar sua página é a
ABA Layout da Página.
O grupo “Configurar Página”, permite definir as margens de A terceira guia dessa janela chama-se Layout. A primeira
seu documento, ele possui alguns tamanhos pré-definidos, como opção dessa guia chama-se seção. Aqui se define como será uma
também personalizá-las. nova seção do documento, vamos aprender mais frente como tra-
balhar com seções.
Ao personalizar as margens, é possível alterar as margens su-
perior, esquerda, inferior e direita, definir a orientação da página, Em cabeçalhos e rodapés podemos definir se vamos utilizar
se retrato ou paisagem, configurar a fora de várias páginas, como cabeçalhos e rodapés diferentes nas páginas pares e ímpares, e se
normal, livro, espelho. Ainda nessa mesma janela temos a guia quero ocultar as informações de cabeçalho e rodapé da primeira
Papel. página. Em Página, pode-se definir o alinhamento do conteúdo do
texto na página.
O padrão é o alinhamento superior, mesmo que fique um bom
espaço em branco abaixo do que está editado. Ao escolher a opção
centralizada, ele centraliza o conteúdo na vertical. A opção núme-
ros de linha permite adicionar numeração as linhas do documento.
Didatismo e Conhecimento 18
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Colunas Plano de Fundo da Página
Números de Linha
O Word apresenta alguns modelos, mais abaixo temos o item
É bastante comum em documentos acrescentar numeração Personalizar Marca D’água. Clique nessa opção.
nas páginas dos documentos, o Word permite que você possa fazer
facilmente, clicando no botão “Números de Linhas”.
Didatismo e Conhecimento 19
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Nesta janela podemos definir uma imagem como marca
d’água, basta clicar em Selecionar Imagem, escolher a imagem
e depois definir a dimensão e se a imagem ficará mais fraca (des-
botar) e clicar em OK. Como também é possível definir um texto
como marca d’água. O segundo botão permite colocar uma cor de
fundo em seu texto, um recurso interessante é que o Word verifica
a cor aplicada e automaticamente ele muda a cor do texto.
O botão Bordas da Página, já estudamos seu funcionamento Ao copiar um texto da Internet, se você precisa adequá-lo ao
ao clicar nas opções de Margens. seu documento, não basta apenas clicar em colar, é necessário cli-
car na setinha apontando para baixo no botão Colar, escolher Colar
Selecionando Textos Especial.
Copiar e Colar
Didatismo e Conhecimento 20
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
A substituição pode ser feita uma a uma, clicando em substituir, ou pode ser todas de uma única vez clicando-se no botão Substituir
Tudo.
Algumas vezes posso precisar substituir uma palavra por ela mesma, porém com outra cor, ou então somente quando escrita em maiús-
cula, etc., nestes casos clique no botão Mais. As opções são:
• Pesquisar: Use esta opção para indicar a direção da pesquisa;
• Diferenciar maiúsculas de minúsculas: Será localizada exatamente a palavra como foi digitada na caixa localizar.
• Palavras Inteiras: Localiza uma palavra inteira e não parte de uma palavra. Ex: Atenciosamente.
• Usar caracteres curinga: Procura somente as palavras que você especificou com o caractere coringa. Ex. Se você digitou *ão o
Word vai localizar todas as palavras terminadas em ão.
• Semelhantes: Localiza palavras que tem a mesma sonoridade, mas escrita diferente. Disponível somente para palavras em inglês.
• Todas as formas de palavra: Localiza todas as formas da palavra, não será permitida se as opções usar caractere coringa e seme-
lhantes estiverem marcadas.
• Formatar: Localiza e Substitui de acordo com o especificado como formatação.
• Especial: Adiciona caracteres especiais à caixa localizar. A caixa de seleção usar caracteres curinga.
Formatação de texto
Um dos maiores recursos de uma edição de texto é a possibilidade de se formatar o texto. No Office 2010 a ABA responsável pela
formatação é a Inicio e os grupo Fonte, Parágrafo e Estilo.
Formatação de Fonte
A formatação de fonte diz respeito ao tipo de letra, tamanho de letra, cor, espaçamento entre caracteres, etc., para formatar uma palavra,
basta apenas clicar sobre ela, para duas ou mais é necessário selecionar o texto, se quiser formatar somente uma letra também é necessário
selecionar a letra.
No grupo Fonte, temos visível o tipo de letra, tamanho, botões de aumentar fonte e diminuir fonte, limpar formatação, negrito, itálico,
sublinhado, observe que ao lado de sublinhado temos uma seta apontando para baixo, ao clicar nessa seta, é possível escolher tipo e cor de
linha.
Ao lado do botão de sublinhado temos o botão Tachado – que coloca um risco no meio da palavra, botão subscrito e sobrescrito e o
botão Maiúsculas e Minúsculas.
Didatismo e Conhecimento 21
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Formatação de parágrafos
Podemos também clicar na Faixa no grupo Fonte.
A principal regra da formatação de parágrafos é que indepen-
dente de onde estiver o cursor a formatação será aplicada em todo
o parágrafo, tendo ele uma linha ou mais. Quando se trata de dois
ou mais parágrafos será necessárioselecionar os parágrafos a se-
rem formatados.
A formatação de parágrafos pode ser localizada na ABA Ini-
cio, e os recuos também na ABA Layout da Página.
Didatismo e Conhecimento 22
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Na guia parágrafo da ABA Layout de Página temos apenas
os recuos e os espaçamentos entre parágrafos. Ao clicar na Faixa
do grupo Parágrafos, será aberta a janela de Formatação de Pará-
grafos.
Bordas no parágrafo.
Marcadores e Numeração
Didatismo e Conhecimento 23
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Didatismo e Conhecimento 24
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Didatismo e Conhecimento 25
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
beçalho basta clicar em Números de Página, apenas tome o cui-
dado de escolher Inicio da Página se optar por Fim da Página ele
aplicará o número da página no rodapé.
Podemos também aplicar cabeçalhos e rodapés diferentes a
um documento, para isso basta que ambos estejam em seções dife- Imagens
rentes do documento. O primeiro elemento gráfico que temos é o elemento Imagem.
O cuidado é ao aplicar o cabeçalho ou o rodapé, desmarcar a Para inserir uma imagem clique no botão com o mesmo nome no
opção Vincular ao anterior. grupo Ilustrações na ABA Inserir. Na janela que se abre, localize o
O funcionamento para o rodapé é o mesmo para o cabeçalho, arquivo de imagem em seu computador.
apenas deve-se clicar no botão Rodapé.
Data e Hora
Inserindo Elementos Gráficos O primeiro grupo é o Ajustar, dentre as opções temos Brilho e
Contraste, que permite clarear ou escurecer a imagem e adicionar
O Word permite que se insira em seus documentos arquivos ou remover o contraste. Podemos recolorir a imagem.
gráficos como Imagem, Clip-art, Formas, etc., as opções de inser-
ção estão disponíveis na ABA Inserir.
Didatismo e Conhecimento 26
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
No botão Efeitos de Sombra, você poderá escolher algumas
posições de sombra (Projetada, Perspectiva) e cor da sombra. Ao
lado deste botão é possível definir a posição da sombra e no meio a
opção de ativar e desativar a sombra. No grupo Organizar é possí-
vel definir a posição da imagem em relação ao texto.
Didatismo e Conhecimento 27
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Neste grupo você pode cortar a sua imagem, ou redimensionar a imagem definindo Largura e Altura.
Os comandos vistos até o momento estavam disponíveis da seguinte forma, pois nosso documento esta salvo em.DOC – versão com-
patível com Office XP e 2003. Ao salvar o documento em .DOCX compatível somente com a versão 2010, acontecem algumas alterações
na barra de imagens.
No grupo Ajustar já temos algumas alterações, ao clicar no item Cor. Em estilos de imagem podemos definir bordas e sombreamentos
para a imagem.
Didatismo e Conhecimento 28
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Clique sobre a imagem a ser adicionada ao seu texto com o
botão direito e escolha Copiar (CTRL+C).
Formas
Clip Art
Didatismo e Conhecimento 29
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Os primeiros botões permitem aplicar um estilo a sua forma.
Didatismo e Conhecimento 30
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Ao escolher uma cor você pode escolher a cor a ser aplicada, A Guia Textura permite aplicar imagens como texturas ao
se quer ela mais para o claro ou escuro, pode definir a transparên- preenchimento, a guia Padrão permite aplicar padrões de preenchi-
cia do gradiente e como será o sombreamento. mento e imagem permite aplicar uma imagem Após o grupo Esti-
los de Forma temos o grupo sombra e após ele o grupo Efeitos 3D.
SmartArt
Didatismo e Conhecimento 31
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Altere os textos conforme a sua necessidade. Ao clicar no topo em Ferramentas SmartArt, serão mostradas as opções de alteração do
objeto.
O primeiro botão é o de Adicionar uma forma. Basta clicar em um botão do mesmo nível do que será criado e clicar neste botão. Outra
forma de se criar novas caixas dentro de um mesmo nível é ao terminar de digitar o texto pressionar ENTER. Ainda no grupo Criar Gráfico
temos os botões de Elevar / Rebaixar que permite mudar o nível hierárquico de nosso organograma.
O próximo grupo é o Estilos de SmartArt que permite mudar as cores e o estilo do organograma.
Didatismo e Conhecimento 32
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
WordArt
Para finalizarmos o trabalho com elementos gráficos temo os WordArt que já um velho conhecido da suíte Office, ele ainda mantém a
mesma interface desde a versão do Office 97 No grupo Texto da ABA Inserir temos o botão de WorArt Selecione um formato de WordArt
e clique sobre ele.
Será solicitado a digitação do texto do WordArt. Digite seu texto e clique em OK. Será mostrada a barra do WordArt
O primeiro grupo é o Texto, nesse grupo podemos editar o texto digitado e definir seu espaçamento e alinhamentos. No grupo Estilos de
WordArt pode-se mudar a forma do WordArt, depois temos os grupos de Sombra, Efeitos 3D, Organizar e Tamanho.
Didatismo e Conhecimento 33
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Tabelas Ao desenhar a caixa que fará parte da tabela, você pode uti-
lizar o topo
As tabelas são com certeza um dos elementos mais importan-
tes para colocar dados em seu documento. Ferramentas de Tabela.
Use tabelas para organizar informações e criar formas de pá-
ginas interessantes e disponibilizar seus dados.
Para inserir uma tabela, na ABA Inserir clique no botão Ta-
bela.
Didatismo e Conhecimento 34
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Nesta janela existem quatro Guias. A opção dividir células permite dividir uma célula. Ao clicar
A primeira é relativa à tabela, pode-se definir a largura da ta- nessa opção será mostrada uma janela onde você deve definir em
bela, o alinhamento e a quebra do texto na tabela. Ao clicar no quantas linhas e colunas a célula será dividida.
botão Bordas e Sombreamento abre-se a janela de bordas e som-
breamento estudada anteriormente. Ao clicar em Opções é possí-
vel definir as margens das células e o espaçamento entre as células.
Didatismo e Conhecimento 35
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Ele abre a seguinte janela e coloca sua primeira linha como a linha de cabeçalho, você pode colocar até três colunas como critérios de
classificação.
O botão Converter em Texto permite transformar sua tabela em textos normal. A opção fórmula permite fazer cálculos na tabela.
ABA Revisão
A ABA revisão é responsável por correção, proteção, comentários etc., de seu documento.
O primeiro grupo Revisão de Texto tem como principal botão o de ortografia e Gramática, clique sobre ele.
Os de ortografia ele marca em vermelho e os de gramática em verde. É importante lembrar que o fato dele marcar com cores para veri-
ficação na impressão sairá com as cores normais. Ao encontrar uma palavra considerada pelo Word como errada você pode:
Impressão
Didatismo e Conhecimento 36
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Podemos também se necessário criarmos nossos próprios esti-
los. Clique na Faixa do grupo Estilo.
Estilos
Didatismo e Conhecimento 37
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Abaixo definir a formatação a ser aplicada no mesmo. Na par-
te de baixo mantive a opção dele aparecer nos estilos rápidos e que
o mesmo está disponível somente a este documento. Ao finalizar
clique em OK. Veja um exemplo do estilo aplicado:
Índices
Sumário
O Sumário ou Índice Analítico é o mais utilizado, ele normal-
mente aparece no inicio de documentos. A principal regra é que
todo parágrafo que faça parte de seu índice precisa estar atrelado a
um estilo. Clique no local onde você precisa que fique seu índice
e clique no botão Sumário. Serão mostrados alguns modelos de
sumário, clique em Inserir Sumário.
Didatismo e Conhecimento 38
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Um arquivo do Excel ao iniciar com três guias de planilha,
5.3 MS-EXCEL 2010: ESTRUTURA BÁSI- estas guias permite que se possa em um único arquivo armazenar
CA DAS PLANILHAS, CONCEITOS DE mais de uma planilha, inicialmente o Excel possui três planilhas,
CÉLULAS, LINHAS, COLUNAS, PASTAS E e ao final da Plan3 temos o ícone de inserir planilha que cria uma
GRÁFICOS, ELABORAÇÃO DE TABELAS E nova planilha. Você pode clicar com o botão direito do mouse em
GRÁFICOS, USO DE FÓRMULAS, FUNÇÕES uma planilha existente para manipular as planilhas.
E MACROS, IMPRESSÃO, INSERÇÃO DE
OBJETOS, CAMPOS PREDEFINIDOS, CON-
TROLE DE QUEBRAS E NUMERAÇÃO DE
PÁGINAS, OBTENÇÃO DE DADOS EXTER-
NOS, CLASSIFICAÇÃO DE DADOS
Guias de Planilha
Didatismo e Conhecimento 39
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Se precisar selecionar células alternadamente, clique sobre a Dê um nome ao seu arquivo, defina o local onde ele deverá ser
primeira célula a ser selecionada, pressione CTRL e vá clicando salvo e clique em Salvar, o formato padrão das planilhas do Excel
nas que você quer selecionar. 2010 é o xlsx, se precisar salvar em xls para manter compatibilida-
de com as versões anteriores é preciso em tipo definir como Pasta
de Trabalho do Excel 97 – 2003.
Para abrir um arquivo existente, clique no botão Office e de-
pois no botão Abrir, localize seu arquivo e clique sobre ele e depois
em abrir.
Operadores e Funções
Na área de trabalho do Excel podem ser digitados caracteres, Existem funções para os cálculos matemáticos, financeiros e
números e fórmulas. Ao finalizar a digitação de seus dados, você estatísticos. Por exemplo, na função: =SOMA (A1:A10) seria o
pode pressionar a tecla ENTER, ou com as setas mudar de célula, mesmo que (A1+A2+A3+A4+A5+A6+A7+A8+A9+A10), só que
esse recurso somente não será válido quando estiver efetuando um com a função o processo passa a ser mais fácil. Ainda conforme
cálculo. Caso precise alterar o conteúdo de uma célula sem preci- o exemplo pode-se observar que é necessário sempre iniciar um
sar redigitar tudo novamente, clique sobre ela e pressione F2, faça cálculo com sinal de igual (=) e usa-se nos cálculos a referência de
sua alteração e pressione ENTER em seu teclado. células (A1) e não somente valores.
Didatismo e Conhecimento 40
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Vamos montar uma planilha simples. Poderíamos fazer o seguinte cálculo =1*20 que me traria o re-
sultado, porém bastaria alterar o valor da quantidade ou o V. unitá-
rio que eu precisaria fazer novamente o cálculo. O correto é então
é fazer =A4*C4 com isso eu multiplico referenciando as células,
independente do conteúdo dela, ele fará a multiplicação, desde que
ali se tenha um número.
Didatismo e Conhecimento 41
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
No caso a função a ser utilizada é a função SOMA, a sua estrutura é =SOMA(CelIni:Celfim), ou seja, inicia-se com o sinal de igual (=),
escreve-se o nome da função, abrem-se parênteses, clica-se na célula inicial da soma e arrasta-se até a última célula a ser somada, este
intervalo é representado pelo sinal de dois pontos (:), e fecham-se os parênteses.
Embora você possa fazer manualmente na célula o Excel possui um assistente de função que facilita e muito a utilização das mesmas
em sua planilha. Na ABA Inicio do Excel dentro do grupo Edição existe o botão de função.
A primeira função é justamente Soma, então clique na célula e clique no botão de função.
Observe conforme a imagem que o Excel acrescenta a soma e o intervalo de células pressione ENTER e você terá seu cálculo.
Formatação de células
A formatação de células é muito semelhante a que vimos para formatação de fonte no Word, basta apenas que a célula onde será aplicada
a formatação esteja selecionada, se precisar selecionar mais de uma célula, basta selecioná-las.
Temos o grupo Fonte que permite alterar a fonte a ser utilizada, o tamanho, aplicar negrito, itálico e sublinhado, linhas de grade, cor de
preenchimento e cor de fonte. Ao clicar na faixa do grupo será mostrada a janela de fonte.
Didatismo e Conhecimento 42
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
A guia Alinhamento permite definir o alinhamento do conte-
údo da célula na horizontal e vertical, além do controle do texto.
Didatismo e Conhecimento 43
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Vamos então formatar nossa planilha, inicialmente selecione O botão estilo de Célula permite que se utilize um estilo de
todas as células de valores em moeda. Você pode utilizar a janela cor para sua planilha.
de formatação como vimos antes, como pode também no grupo
Número clicar sobre o botão moeda.
Didatismo e Conhecimento 44
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Esta mesma sequência pode ser aplicada a dias da semana, horas, etc...
Este processo pode ser feito também pelo grupo Células que está na ABA inicio.
Didatismo e Conhecimento 45
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Através da opção Formatar podemos também definir a largura das linhas e colunas.
Congelar Painéis
Algumas planilhas quando muito longas necessitam que sejam mantidos seus cabeçalho e primeiras linhas, evitando-se assim a digita-
ção de valores em locais errados. Esse recurso chama-se congelar painéis e está disponível na ABA exibição.
No grupo Janela temos o botão Congelar Painéis, clique na opção congelar primeira linha e mesmo que você role a tela a primeira linha
ficará estática.
Ainda dentro desta ABA podemos criar uma nova janela da planilha Ativa clicando no botão Nova Janela, podemos organizar as janelas
abertas clicando no botão Organizar Tudo,
Didatismo e Conhecimento 46
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
O cálculo ficaria para o primeiro produto =D4/D9 e depois
bastaria aplicar a formatação de porcentagem e acrescentar duas
casas decimais.
Uma solução seria fazer uma a uma, mas a ideia de uma pla-
nilha é ganhar-se tempo.
Didatismo e Conhecimento 47
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
$D$9 - Absoluta, fixa a linha e a coluna.
Algumas outras funções
Vamos inicialmente montar a seguinte planilha
$D9 - Mista, fixa apenas a coluna, permitindo a variação da Ao clicar na opção Mais Funções abre-se a tela de Inserir
linha. Função, você pode digitar uma descrição do que gostaria de saber
calcular, pode buscar por categoria, como Financeira,m Data Hora
D$9 - Mista, fixa apenas a linha, permitindo a variação da etc..., ao escolher uma categoria, na caixa central serão mostradas
coluna. todas as funções relativas a essa categoria.
Didatismo e Conhecimento 48
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Ao selecionar, por exemplo, a categoria Estatística e dentro Em nossa planilha clique na célula abaixo da coluna de ida-
do conjunto de funções desta categoria a função Máximo abaixo é de na linha de valores máximos E16 e monte a seguinte função
apresentado uma breve explicação da utilização desta função. Se =MIN(E4:E13). Com essa função está buscando no intervalo das
precisar de mais detalhes da utilização da função clique sobre o células E4 à E13 qual é valor máximo encontrado.
link Ajuda sobre esta função.
Média
Didatismo e Conhecimento 49
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Altere a função para =ARRED(MÉDIA(E4:E13);1) com isso Convertendo isso para a função e baseando-se que a idade do
fizemos com que caso exista números após a vírgula o mesmo primeiro atleta está na célula E4 à função ficará:
será arredonda a somente uma casa decimal. Caso você não queira =SE(E4<18;”Juvenil”;”Profissional”.)
casas decimais coloque após o ponto e vírgula o número zero.
Nesta situação deve-se ter uma atenção grande em relação aos
parênteses, observe que foi aberto uma após a função ARRED e
um a pós a função MÉDIA então se deve ter o cuidado de fechá-los
corretamente. O que auxilia no fechamento correto dos parênte-
ses é que o Excel vai colorindo os mesmos enquanto você faz o
cálculo.
=SE(E4<J4;K4;SE(E4<J5;K5;K6))
Temos então:
Vamos atribuir inicialmente que atletas com idade menor que =SE(E4<J4: Aqui temos nosso primeiro teste lógico, onde
18 anos serão da categoria Juvenil e acima disso categoria Profis- verificamos se a idade que consta na célula E4 é menor que o
sional. Então a lógica da função será que quando a Idade do atleta valor que consta na célula J4.
for menor que 18 ele será Juvenil e quando ela for igual ou maior K4: Célula definida a ser retornada como verdadeiro deste tes-
que 18 ele será Profissional. te lógico, no caso o texto “Juvenil”.
Didatismo e Conhecimento 50
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
SE(E4<J5: segundo teste lógico, onde verificamos se valor =AGORA( ) Retorna a data e à hora
da célula E4 é menor que 30, se for real retorna o segundo valor =DIA.DA.SEMANA(HOJE()) Retorna o dia da semana em
verdadeiro, é importante ressaltar que este teste lógico somente número
será utilizado se o primeiro teste der como falso. =DIAS360( ) Calcula o número de dias que há entre uma
K5: Segundo valor verdadeiro, será retornado se o segundo data inicial e uma data final.
teste lógico estiver correto. Para exemplificar monte a seguinte planilha.
K6: Valor falso, será retornado se todos os testes lógicos de-
rem como falso.
Permite contar em um intervalo de valores quantas vezes se
repete determinado item. Vamos aplicar a função em nossa plani-
lha de controle de atletas
Didatismo e Conhecimento 51
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Inicialmente utilizamos a função HORA e pegamos como re- Crie um novo campo abaixo da Tabela e coloque V. a receber
ferência de hora o valor da célula B6, multiplicamos pelo valor que e faça a soma dos valores totais.
está em B7, essa parte calcula somente à hora cheia então precisa-
mos somar os minutos que pega a função MINUTO e multiplica a
quantidade de horas pelo valor da hora, como o valor é para a hora
o dividimos então por 60
Planilhas 3D
Didatismo e Conhecimento 52
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
O ideal nesta planilha é que a única célula onde o usuário pos-
sa manipular seja a célula onde será digitado valor em real para a
conversão, então vamos bloquear a planilha deixando essa célula
desprotegia.
Clique na célula onde será digitado o valor em real depois na
ABA Inicio no grupo Fonte clique na faixa e na janela que se abre
clique na guia Proteção.
Desmarque a opção Bloqueadas, isso é necessário, pois esta
célula é a única que poderá receber dados.
Didatismo e Conhecimento 53
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Se precisar alterar alguma célula protegida basta clicar no botão Desproteger Planilha no grupo Alterações.
Didatismo e Conhecimento 54
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Inserção de Objetos
A inserção de objetos no Excel é muito semelhante ao que aprendemos no Word, as opções de inserção de objetos estão na ABA Inserir.
Podemos inserir Imagens, clip-arts, formas, SmartArt, caixas de texto, WordArt, objetos, símbolos, etc.
Como a maioria dos elementos já sabemos como implementar vamos focar em Gráficos.
Gráficos
A utilização de um gráfico em uma planilha além de deixá-la com uma aparência melhor também facilita na hora de mostrar resultados.
As opções de gráficos, esta no grupo Gráficos na ABA Inserir do Excel
Para criar um gráfico é importante decidir quais dados serão avaliados para o gráfico. Vamos utilizar a planilha Atletas para criarmos
nosso gráfico, vamos criar um gráfico que mostre os atletas x peso.
Selecione a coluna com o nome dos atletas, pressione CTRL e selecione os valores do peso.
Ao clicar em um dos modelos de gráfico no grupo Gráficos você poderá selecionar um tipo de gráfico disponível, no exemplo cliquei
no estilo de gráfico de colunas.
Didatismo e Conhecimento 55
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Para mover o gráfico para qualquer parte de sua planilha basta clicar em uma área em branco de o gráfico manter o mouse pressionado
e arrastar para outra parte.
Na parte superior do Excel é mostrada a ABA Design (Acima dela Ferramentas de Gráfico).
Se você quiser mudar o estilo de seu gráfico, você pode clicar no botão Alterar Tipo de Gráfico.
Didatismo e Conhecimento 56
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Dados
Didatismo e Conhecimento 57
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Classificação
Classificar uma lista de dados é muito fácil, e este recurso pode ser obtido pelo botão Classificar e Filtrar na ABA Inicio, ou pelo grupo
Classificar e Filtrar na ABA Dados.
Você precisa definir quais serão os critérios de sua classificação, onde diz
Classificar por clique e escolha nome, depois clique no botão Adicionar Nível e coloque Modalidade.
Didatismo e Conhecimento 58
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Antes de clicar em OK, verifique se está marcada a opção Meus dados contêm cabeçalhos, pois selecionamos a linha de títulos em nossa
planilha e clique em OK.
Você pode mudar a ordem de classificação sempre que for necessário, basta clicar no botão de Classificar.
Auto Filtro
Este é um recurso que permite listar somente os dados que você precisa visualizar no momento em sua planilha. Com seus dados sele-
cionados clique no botão Filtro e observe que será adicionado junto a cada célula do cabeçalho da planilha uma seta.
Estas setas permite visualizar somente os dados que te interessam na planilha, por exemplo caso eu precise da relação de atletas do sexo
feminino, basta eu clicar na seta do cabeçalho sexo e marcar somente Feminino, que os demais dados da planilha ficarão ocultos.
Didatismo e Conhecimento 59
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Posso ainda refinar mais a minha filtragem, caso precise saber dentro do sexo feminino quantos atletas estão na categoria Profissional,
eu faço um novo filtro na coluna Categoria.
Observe que as colunas que estão com filtro possuem um ícone em forma de funil no lugar da seta.
Para remover os filtros, basta clicar nos cabeçalhos com filtro e escolher a opção selecionar tudo.
Você também pode personalizar seus filtros através da opção Filtros de Texto e Filtro de número (quando conteúdo da célula for um
número).
Didatismo e Conhecimento 60
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Impressão
Subtotais O processo de impressão no Excel é muito parecido com o que
Podemos agrupar nossos dados através de seus valores, vamos fizemos no Word.
inicialmente classificar nossa planilha pelo sexo dos atletas rela- Clique no botão Office e depois em Imprimir e escolha Visu-
cionado com a idade. alizar Impressão.
Didatismo e Conhecimento 61
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Marque a opção Paisagem e clique em OK. CTRL + Sinal de adição (+): quando você precisar inserir cé-
lulas, linhas ou colunas no meio dos dados, ao invés de clicar com
o mouse no número da linha ou na letra da coluna, basta pressionar
esse comando.
*Utilize o sinal de adição do teclado numérico ou a combina-
ção CTRL + SHIFT + Sinal de adição que fica à esquerda da tecla
backspace, pois ela tem o mesmo efeito.
Didatismo e Conhecimento 62
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
F8: use essa tecla para ligar ou desligar o modo de seleção
estendida. Esse pode ser usado da mesma forma que o SHIFT. Po-
rém, ele só será desativado quando for pressionado novamente,
diferente do SHIFT, que precisa ser mantido pressionado para que
você possa selecionar várias células da planilha.
Didatismo e Conhecimento 63
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Principais recursos da Faixa de Opções
Didatismo e Conhecimento 64
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
A guia Arquivo
A guia Arquivo é o local onde é possível criar um novo arquivo, abrir ou salvar um existente e imprimir sua apresentação.
1 Salvar como
2 Abrir
3 Novo
4 Imprimir
A guia Página Inicial é o local onde é possível inserir novos slides, agrupar objetos e formatar texto no slide.
1 Se você clicar na seta ao lado de Novo Slide, poderá escolher entre vários layouts de slide.
2 O grupo Fonte inclui os botões Fonte, Negrito, Itálico e Tamanho da Fonte.
3 O grupo Parágrafo inclui Alinhar Texto à Direita, Alinhar Texto à Esquerda, Justificar e Centralizar.
4 Para localizar o comando Agrupar, clique em Organizar e, em Agrupar Objetos, selecione Agrupar.
Guia Inserir
A guia Inserir é o local onde é possível inserir tabelas, formas, gráficos, cabeçalhos ou rodapés em sua apresentação.
1 Tabela
Didatismo e Conhecimento 65
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
2 Formas
3 Gráfico
4 Cabeçalho e Rodapé
Guia Design
A guia Design é o local onde é possível personalizar o plano de fundo, o design e as cores do tema ou a configuração de página na
apresentação.
Guia Transições
A guia Transições é o local onde é possível aplicar, alterar ou remover transições no slide atual.
1 No grupo Transições para este Slide, clique em uma transição para aplicá-la ao slide atual.
2 Na lista Som, você pode selecionar entre vários sons que serão executados durante a transição.
3 Em Avançar Slide, você pode selecionar Ao Clicar com o Mouse para fazer com que a transição ocorra ao clicar.
Guia Animações
A guia Animações é o local onde é possível aplicar, alterar ou remover animações em objetos do slide.
1 Clique em Adicionar Animação e selecione uma animação que será aplicada ao objeto selecionado.
2 Clique em Painel de Animação para iniciar o painel de tarefas Painel de Animação.
3 O grupo Intervalo inclui áreas para definir o Página Inicial e a Duração.
A guia Apresentação de Slides é o local onde é possível iniciar uma apresentação de slides, personalizar as configurações da apresenta-
ção de slides e ocultar slides individuais.
Didatismo e Conhecimento 66
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
1 O grupo Iniciar Apresentação de Slides, que inclui Do Começo e Do Slide Atual.
2 Clique em Configurar Apresentação de Slides para iniciar a caixa de diálogo Configurar Apresentação.
3 Ocultar Slide
Guia Revisão
A guia Revisão é o local onde é possível verificar a ortografia, alterar o idioma da apresentação ou comparar alterações na apresentação
atual com outra.
Guia Exibir
A guia Exibir é o local onde é possível exibir o slide mestre, as anotações mestras, a classificação de slides. Você também pode ativar
ou desativar a régua, as linhas de grade e as guias de desenho.
1 Classificação de Slides
2 Slide Mestre
3 O grupo Mostrar, que inclui Régua e Linhas de Grade.
Didatismo e Conhecimento 67
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Salvar uma apresentação
Didatismo e Conhecimento 68
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
2. Na guia Página Inicial, no grupo Slides, clique na seta • Um slide de resumo que repete a lista de pontos ou áreas
ao lado de Novo Slide. Ou então, para que o novo slide tenha o principais da sua apresentação
mesmo layout do slide anterior, basta clicar em Novo Slide em vez Usando essa estrutura básica, se você possui três pontos ou
de clicar na seta ao lado dele. áreas principais para apresentar, planeje ter um mínimo de seis: um
slide de título, um slide introdutório, um slide para cada um dos
três pontos ou áreas principais e um slide de resumo.
Didatismo e Conhecimento 69
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Reorganizar a ordem dos slides
No modo de exibição Normal, no painel que contém as guias Tópicos e Slides, clique na guia Slides, clique no slide que deseja mover
e arraste-o para o local desejado.
Para selecionar vários slides, clique em um slide que deseja mover, pressione e mantenha pressionada a tecla CTRL enquanto clica em
cada um dos outros slides que deseja mover.
Excluir um slide
No modo de exibição Normal, no painel que contém as guias Tópicos e Slides, clique na guia Slides, clique com o botão direito do
mouse no slide que deseja excluir e clique em Excluir Slide.
2. Clique na forma desejada, clique em qualquer parte do slide e arraste para colocar a forma.
Para criar um quadrado ou círculo perfeito (ou restringir as dimensões de outras formas), pressione e mantenha a tecla SHIFT pressio-
nada ao arrastar.
Para exibir a apresentação no modo de exibição Apresentação de Slides a partir do primeiro slide, siga este procedimento:
Na guia Apresentação de Slides, no grupo Iniciar Apresentação de Slides, clique em Do Começo (ou pressione F5).
Para exibir a apresentação no modo de exibição Apresentação de Slides a partir do slide atual, siga este procedimento(ou pressione
Shift+F5):
Na guia Apresentação de Slides, no grupo Iniciar Apresentação de Slides, clique em Do Slide Atual.
Didatismo e Conhecimento 70
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
2. Em Imprimir, siga um destes procedimentos:
• Para imprimir todos os slides, clique em Tudo.
• Para imprimir somente o slide exibido no momento, clique em Slide Atual.
• Para imprimir slides específicos por número, clique em Intervalo Personalizado de Slides e digite uma lista de slides individuais,
um intervalo, ou ambos.
Observação Use vírgulas para separar os números, sem espaços. Por exemplo: 1,3,5-12.
3. Em Outras Configurações, clique na lista Cor e selecione a configuração desejada.
4. Ao concluir as seleções, clique em Imprimir.
Você pode imprimir as apresentações na forma de folhetos, com até nove slides em uma página, que podem ser utilizados pelo público
para acompanhar a apresentação ou para referência futura.
O folheto com três slides por página possui espaços entre as linhas para anotações.
Você pode selecionar um layout para os folhetos em visualização de impressão (um modo de exibição de um documento da maneira
como ele aparecerá ao ser impresso).
Organizar conteúdo em um folheto:
Na visualização de impressão é possível organizar o conteúdo no folheto e visualizá-lo para saber como ele será impresso. Você pode
especificar a orientação da página como paisagem ou retrato e o número de slides que deseja exibir por página.
Você pode adicionar visualizar e editar cabeçalhos e rodapés, como os números das páginas. No layout com um slide por página, você
só poderá aplicar cabeçalhos e rodapés ao folheto e não aos slides, se não desejar exibir texto, data ou numeração no cabeçalho ou no rodapé
dos slides.
Didatismo e Conhecimento 71
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Então basta começar a digitar.
Formatar texto
Para alterar um texto, é necessário primeiro selecioná-lo. Para
selecionar um texto ou palavra, basta clicar com o boto esquerdo
sobre o ponto em que se deseja iniciar a seleção e manter o botão
pressionado, arrastar o mouse até o ponto desejado e soltar o botão
esquerdo.
Didatismo e Conhecimento 72
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
4 – Itálico
Aplica Itálico ao texto selecionado. Também pode ser acionado através do comando Ctrl+I.
5 – Sublinhado
Sublinha o texto selecionado. Também pode ser acionado através do comando Ctrl+S.
6 – Tachado
Desenha uma linha no meio do texto selecionado.
7 – Sombra de Texto
Adiciona uma sombra atrás do texto selecionado para destacá-lo no slide.
8 – Espaçamento entre Caracteres
Ajusta o espaçamento entre caracteres.
9 – Maiúsculas e Minúsculas
Altera todo o texto selecionado para MAIÚSCULAS, minúsculas, ou outros usos comuns de maiúsculas/minúsculas.
10 – Cor da Fonte
Altera a cor da fonte.
11 – Alinhar Texto à Esquerda
Alinha o texto à esquerda. Também pode ser acionado através do comando Ctrl+Q.
12 – Centralizar
Centraliza o texto. Também pode ser acionado através do comando Ctrl+E.
13 – Alinhar Texto à Direita
Alinha o texto à direita. Também pode ser acionado através do comando Ctrl+G.
14 – Justificar
Alinha o texto às margens esquerda e direita, adicionando espaço extra entre as palavras conforme o necessário, promovendo uma apa-
rência organizada nas laterais esquerda e direita da página.
15 – Colunas
Divide o texto em duas ou mais colunas.
Limpar formatação
Para limpar toda a formatação de um texto basta selecioná-lo e clicar no botão , localizado na guia Início.
Didatismo e Conhecimento 73
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Marcadores e numeração
Com a guia Início acionada, clicar no botão , para criar parágrafos com marcadores. Para escolher o tipo de marcador clicar na
seta.
Com a guia Início acionada, clicar no botão , para iniciar uma lista numerada. Para escolher diferentes formatos de numeração clicar
na seta.
Inserir figuras
Para inserir uma figura no slide clicar na guia Inserir, e clicar em um desses botões:
• Imagem do Arquivo: insere uma imagem de um arquivo.
• Clip-art: é possível escolher entre várias figuras que acompanham o Microsoft Office.
• Formas: insere formas prontas, como retângulos e círculos, setas, linhas, símbolos de fluxograma e textos explicativos.
• SmartArt: insere um elemento gráfico SmartArt para comunicar informações visualmente. Esses elementos gráficos variam desde
listas gráficas e diagramas de processos até gráficos mais complexos, como diagramas de Venn e organogramas.
• Gráfico: insere um gráfico para ilustrar e comparar dados.
• WordArt: insere um texto com efeitos especiais.
Didatismo e Conhecimento 74
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Alterar plano de fundo Os quiosques podem ser configurados para executar apresen-
Para alterar o plano de fundo de um slide, basta clicar com o tações do PowerPoint de forma automática, contínua ou ambas).
botão direito do mouse sobre ele, e em seguida clicar em Formatar 1. Na guia Inserir, no grupo Ilustrações, clicar na seta abaixo
Plano de Fundo.
de Formas e, em seguida, clique no botão Mais .
2. Em Botões de Ação, clicar no botão que se deseja adicio-
nar.
3. Clicar sobre um local do slide e arrastar para desenhar a
forma para o botão.
4. Na caixa Configurar Ação, seguir um destes procedimentos:
• Para escolher o comportamento do botão de ação quando
você clicar nele, clicar na guia Selecionar com o Mouse.
• Para escolher o comportamento do botão de ação quando
você mover o ponteiro sobre ele, clicar na guia Selecionar sem o
Mouse.
5. Para escolher o que acontece quando você clica ou move
o ponteiro sobre o botão de ação, siga um destes procedimentos:
• Se você não quiser que nada aconteça, clicar em Nenhuma.
Depois escolher entre as opções clicar Aplicar a tudo para • Para criar um hiperlink, clicar em Hiperlink para e selecionar
aplicar a mudança a todos os slides, se for alterar apenas o slide o destino para o hiperlink.
atual clicar em fechar. • Para executar um programa, clicar em Executar programa
e, em seguida, clicar em Procurar e localizar o programa que você
deseja executar.
• Para executar um macro (uma ação ou um conjunto de ações
que você pode usar para automatizar tarefas. Os macros são grava-
dos na linguagem de programação Visual Basic for Applications),
clicar em Executar macro e selecionar a macro que você deseja
executar.
As configurações de Executar macro estarão disponíveis so-
mente se a sua apresentação contiver um macro.
• Se você deseja que a forma escolhida como um botão de
ação execute uma ação, clicar em Ação do objeto e selecionar a
ação que você deseja que ele execute.
As configurações de Ação do objeto estarão disponíveis so-
mente se a sua apresentação contiver um objeto OLE (uma tecno-
logia de integração de programa que pode ser usada para compar-
tilhamento de informações entre programas. Todos os programas
do Office oferecem suporte para OLE; por isso, você pode compar-
tilhar informações por meio de objetos vinculados e incorporados).
• Para tocar um som, marcar a caixa de seleção Tocar som e
selecionar o som desejado.
Animar textos e objetos
Para animar um texto ou objeto, selecionar o texto ou objeto, Criar apresentação personalizada
clicar na guia Animações, e depois em Animações Personalizadas,
Existem dois tipos de apresentações personalizadas: básica e
abrirá um painel à direita, clicar em Adicionar efeito. Nele se en-
com hiperlinks.
contram várias opções de animação de entrada, ênfase, saída e tra-
Uma apresentação personalizada básica é uma apresentação
jetórias de animação.
separada ou uma apresentação que inclui alguns slides originais.
Inserir botão de ação Uma apresentação personalizada com hiperlinks é uma forma
Um botão de ação consiste em um botão já existente que pode rápida de navegar para uma ou mais apresentações separadas.
ser inserido na apresentação e para o qual pode definir hiperlinks. 1 – Apresentação Personalizada Básica
Os botões de ação contêm formas, como setas para direita e para Utilizar uma apresentação personalizada básica para fornecer
esquerda e símbolos de fácil compreensão referentes às ações de apresentações separadas para diferentes grupos da sua organiza-
ir para o próximo, anterior, primeiro e último slide, além de exe- ção. Por exemplo, se sua apresentação contém um total de cinco
cutarem filmes ou sons. Eles são mais comumente usados para slides, é possível criar uma apresentação personalizada chamada
apresentações autoexecutáveis — por exemplo, apresentações que “Site 1” que inclui apenas os slides 1, 3 e 5. É possível criar uma
são exibidas várias vezes em uma cabine ou quiosque (um compu- segunda apresentação personalizada chamada “Site 2” que inclui
tador e monitor, geralmente localizados em uma área frequentada os slides 1, 2, 4 e 5. Quando você criar uma apresentação perso-
por muitas pessoas, que pode incluir tela sensível ao toque, som nalizada a partir de outra apresentação, é possível executá-la, na
ou vídeo. íntegra, em sua sequência original.
Didatismo e Conhecimento 75
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
1. Na guia Apresentações, no grupo Iniciar Apresentação de
Slides, clicar na seta ao lado de Apresentação de Slides Personali-
zada e, em seguida, clicar em Apresentações Personalizadas.
2. Na caixa de diálogo Apresentações Personalizadas, clicar
em Novo.
3. Em Slides na apresentação, clicar nos slides que você de-
seja incluir na apresentação personalizada principal e, em seguida,
clicar em Adicionar.
Para selecionar diversos slides sequenciais, clicar no primeiro
slide e, em seguida, manter pressionada a tecla SHIFT enquanto
clica no último slide que deseja selecionar. Para selecionar diver-
sos slides não sequenciais, manter pressionada a tecla CTRL en-
quanto clica em cada slide que queira selecionar.
4. Para alterar a ordem em que os slides são exibidos, em
Slides na apresentação personalizada, clicar em um slide e, em
1. Na guia Apresentações de Slides, no grupo Iniciar Apre-
seguida, clicar em uma das setas para mover o slide para cima ou
sentação de Slides, clicar na seta ao lado de Apresentação de Slides
para baixo na lista.
Personalizada e, em seguida, clicar em Apresentações Personali- 5. Digitar um nome na caixa Nome da apresentação de slides
zadas. e clicar em OK. Para criar apresentações personalizadas adicionais
2. Na caixa de diálogo Apresentações Personalizadas, clicar com quaisquer slides da sua apresentação, repetir as etapas de 1
em Novo. a 5.
3. Em Slides na apresentação, clicar nos slides que você de- 6. Para criar um hiperlink da apresentação principal para uma
seja incluir na apresentação personalizada e, em seguida, clicar em apresentação de suporte, selecionar o texto ou objeto que você de-
Adicionar. seja para representar o hiperlink.
Para selecionar diversos slides sequenciais, clicar no primeiro 7. Na guia Inserir, no grupo Vínculos, clicar na seta abaixo
slide e, em seguida, manter pressionada a tecla SHIFT enquanto de Hiperlink.
clica no último slide que deseja selecionar. Para selecionar diver- 8. Em Vincular para, clicar em Colocar Neste Documento.
sos slides não sequenciais, manter pressionada a tecla CTRL en- 9. Seguir um destes procedimentos:
quanto clica em cada slide que queira selecionar. • Para se vincular a uma apresentação personalizada, na lista
4. Para alterar a ordem em que os slides são exibidos, em Selecionar um local neste documento, selecionar a apresentação
Slides na apresentação personalizada, clicar em um slide e, em personalizada para a qual deseja ir e marcar a caixa de seleção
seguida, clicar em uma das setas para mover o slide para cima ou Mostrar e retornar.
para baixo na lista. • Para se vincular a um local na apresentação atual, na lista
5. Digitar um nome na caixa Nome da apresentação de slides Selecione um local neste documento, selecionar o slide para o qual
e clicar em OK. Para criar apresentações personalizadas adicionais você deseja ir.
com quaisquer slides da sua apresentação, repetir as etapas de 1 Para visualizar uma apresentação personalizada, clicar no
a 5. nome da apresentação na caixa de diálogo Apresentações Persona-
Para visualizar uma apresentação personalizada, clicar no lizadas e, em seguida, clicar em Mostrar.
nome da apresentação na caixa de diálogo Apresentações Persona-
lizadas e, em seguida, clicar em Mostrar. Transição de slides
As transições de slide são os efeitos semelhantes à animação
2 – Apresentação Personalizada com Hiperlink
que ocorrem no modo de exibição Apresentação de Slides quando
Utilizar uma apresentação personalizada com hiperlinks para
você move de um slide para o próximo.
organizar o conteúdo de uma apresentação. Por exemplo, se você
É possível controlar a velocidade de cada efeito de transição
cria uma apresentação personalizada principal sobre a nova orga-
de slides e também adicionar som.
nização geral da sua empresa, é possível criar uma apresentação
personalizada para cada departamento da sua organização e vincu- O Microsoft Office PowerPoint 2010 inclui vários tipos dife-
lá-los a essas exibições da apresentação principal. rentes de transições de slides, incluindo (mas não se limitando) as
seguintes:
1. Sem transição
2. Persiana Horizontal
3. Persiana Vertical
4. Quadro Fechar
5. Quadro Abrir
Didatismo e Conhecimento 76
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
6. Quadriculado na Horizontal o Para permitir que a audiência role por sua apresentação de
7. Quadriculado na Vertical auto execução a partir de um computador autônomo, marcar a cai-
8. Pente Horizontal xa de seleção Mostrar barra de rolagem.
9. Pente Vertical o Para entregar uma apresentação de auto execução execu-
tada em um quiosque (um computador e monitor, geralmente lo-
Para consultar mais efeitos de transição, na lista Estilos Rápi- calizados em uma área frequentada por muitas pessoas, que pode
dos, clicar no botão Mais, conforme mostrado no diagrama acima. incluir tela sensível ao toque, som ou vídeo. Os quiosques podem
• Adicionar a mesma transição de slides a todos os slides em ser configurados para executar apresentações do PowerPoint de
sua apresentação: forma automática, contínua ou ambas), clicar em Apresentada em
1. No painel que contém as guias Tópicos e Slides, clicar na um quiosque (tela inteira).
guia Slides. • Mostrar slides
2. Na guia Início, clicar na miniatura de um slide. Usar as opções na seção Mostrar slides para especificar quais
3. Na guia Animações, no grupo Transição para Este Slide, slides estão disponíveis em uma apresentação ou para criar uma
clicar em um efeito de transição de slides. apresentação personalizada (uma apresentação dentro de uma
4. Para consultar mais efeitos de transição, na lista Estilos apresentação na qual você agrupa slides em uma apresentação
Rápidos, clicar no botão Mais. existente para poder mostrar essa seção da apresentação para um
5. Para definir a velocidade de transição de slides, no grupo público em particular).
Transição para Este Slide, clicar na seta ao lado de Velocidade da o Para mostrar todos os slides em sua apresentação, clicar em
Transição e, em seguida, selecionar a velocidade desejada. Tudo.
6. No grupo Transição para Este Slide, clicar em Aplicar a o Para mostrar um grupo específico de slides de sua apresen-
Tudo. tação, digitar o número do primeiro slide que você deseja mostrar
• Adicionar diferentes transições de slides aos slides em sua na caixa De e digitar o número do último slide que você deseja
apresentação mostrar na caixa Até.
1. No painel que contém as guias Tópicos e Slides, clicar na o Para iniciar uma apresentação de slides personalizada que
guia Slides. seja derivada de outra apresentação do PowerPoint, clicar em
2. Na guia Início, clicar na miniatura de um slide. Apresentação personalizada e, em seguida, clicar na apresenta-
3. Na guia Animações, no grupo Transição para Este Slide,
ção que você deseja exibir como uma apresentação personalizada
clicar no efeito de transição de slides que você deseja para esse
(uma apresentação dentro de uma apresentação na qual você agru-
slide.
pa slides em uma apresentação existente para poder mostrar essa
4. Para consultar mais efeitos de transição, na lista Estilos
seção da apresentação para um público em particular).
Rápidos, clicar no botão Mais.
• Opções da apresentação
5. Para definir a velocidade de transição de slides, no grupo
Usar as opções na seção Opções da apresentação para especi-
Transição para Este Slide, clicar na seta ao lado de Velocidade da
ficar como você deseja que arquivos de som, narrações ou anima-
Transição e, em seguida, selecionar a velocidade desejada.
6. Para adicionar uma transição de slides diferente a outro ções sejam executados em sua apresentação.
slide em sua apresentação, repetir as etapas 2 a 4. o Para executar um arquivo de som ou animação continua-
• Adicionar som a transições de slides mente, marcar a caixa de opções Repetir até ‘Esc’ ser pressionada.
1. No painel que contém as guias Tópicos e Slides, clicar na o Para mostrar uma apresentação sem executar uma narração
guia Slides. incorporada, marcar a caixa de seleção Apresentação sem narra-
2. Na guia Início, clicar na miniatura de um slide. ção.
3. Na guia Animações, no grupo Transição para Este Slide, o Para mostrar uma apresentação sem executar uma animação
clicar na seta ao lado de Som de Transição e, em seguida, seguir incorporada, marcar a caixa de seleção Apresentação sem anima-
um destes procedimentos: ção.
• Para adicionar um som a partir da lista, selecionar o som o Ao fazer sua apresentação diante de uma audiência ao vivo,
desejado. é possível escrever nos slides. Para especificar uma cor de tinta, na
• Para adicionar um som não encontrado na lista, selecionar lista Cor da caneta, selecionar uma cor de tinta.
Outro Som, localizar o arquivo de som que você deseja adicionar
e, em seguida, clicar em OK. A lista Cor da caneta estará disponível apenas se Exibida por
4. Para adicionar som a uma transição de slides diferente, um orador (tela inteira) (na seção Tipo de apresentação) estiver
repetir as etapas 2 e 3. selecionada.
• Avançar slides
Configurar apresentação de slides
Usar as opções na seção Avançar slides para especificar como
• Tipo de apresentação
Usar as opções na seção Tipo de apresentação para especificar mover de um slide para outro.
como você deseja mostrar a apresentação para sua audiência. o Para avançar para cada slide manualmente durante a apre-
o Para fazer sua apresentação diante de uma audiência ao sentação, clicar em Manualmente.
vivo, clicar em Exibida por um orador (tela inteira). o Para usar intervalos de slide para avançar para cada slide
o Para permitir que a audiência exiba sua apresentação a partir automaticamente durante a apresentação, clicar em Usar interva-
de um disco rígido ou CD em um computador ou na Internet, clicar los, se houver.
em Apresentada por uma pessoa (janela).
Didatismo e Conhecimento 77
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
• Vários Monitores 1. Miniaturas dos slides que você pode clicar para pular um
É possível executar sua apresentação do Microsoft Office Po- slide ou retornar para um slide já apresentado.
werPoint 2010 de um monitor (por exemplo, em um pódio) en- 2. O slide que você está exibindo no momento para o pú-
quanto o público a vê em um segundo monitor. blico.
Usando dois monitores, é possível executar outros programas 3. O botão Finalizar Apresentação, que você pode clicar a
que não são vistos pelo público e acessar o modo de exibição Apre- qualquer momento para finalizar a sua apresentação.
4. O botão Escurecer, que você pode clicar para escurecer a
sentador. Este modo de exibição oferece as seguintes ferramentas
tela do público temporariamente e, em seguida, clicar de novo para
para facilitar a apresentação de informação:
exibir o slide atual.
o É possível utilizar miniaturas para selecionar os slides de 5. Avançar para cima, que indica o slide que o seu público
uma sequência e criar uma apresentação personalizada para o seu verá em seguida.
público. 6. Botões que você pode selecionar para mover para frente
o A visualização de texto mostra aquilo que o seu próximo cli- ou para trás na sua apresentação.
que adicionará à tela, como um slide novo ou o próximo marcador 7. O Número do slide (por exemplo, Slide 7 de 12)
de uma lista. 8. O tempo decorrido, em horas e minutos, desde o início
o As anotações do orador são mostradas em letras grandes e da sua apresentação.
claras, para que você possa utilizá-las como um script para a sua 9. As anotações do orador, que você pode usar como um
apresentação. script para a sua apresentação.
o É possível escurecer a tela durante sua apresentação e, de- Requisitos para o uso do modo de exibição Apresentador:
pois, prosseguir do ponto em que você parou. Por exemplo, talvez Para utilizar o modo de exibição Apresentador, faça o seguin-
você não queira exibir o conteúdo do slide durante um intervalo ou te:
o Certifique-se que o computador usado para a apresentação
uma seção de perguntas e respostas.
tem capacidade para vários monitores.
o Ativar o suporte a vários monitores
o Ativar o modo de exibição Apresentador.
Didatismo e Conhecimento 78
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
3. Para começar a entrega da apresentação, na guia Exibir, no mo, a mensagem vai direto ao destinatário, não precisa passa de
grupo Modos de Exibição de Apresentação, clicar em Apresenta- mão-em-mão (funcionário do correio, carteiro, etc.), fica na sua
ção de Slides. caixa postal onde somente o dono tem acesso e, apesar de cada
• Desempenho pessoa ter seu endereço próprio, você pode acessar seu e-mail de
Usar as opções na seção Desempenho para especificar o nível qualquer computador conectado à Internet.
de clareza visual da apresentação. Bem, o e-mail mesclou a facilidade de uso do correio conven-
o Para acelerar o desenho de elementos gráficos na apresen- cional com a velocidade do telefone, se tornando um dos melhores
tação, selecionar Usar aceleração de elementos gráficos do har- e mais utilizado meio de comunicação.
dware.
o Na lista Resolução da apresentação de slides, clicar na reso- Estrutura e Funcionalidade do e-mail
lução, ou número de pixels por polegada, que você deseja. Quanto
mais pixels, mais nítida será a imagem, contudo mais lento será o Como no primeiro e-mail criado por Tomlinson, todos os en-
desempenho do computador. Por exemplo, uma tela de 640 x 480 dereços eletrônicos seguem uma estrutura padrão, nome do usuá-
pixels é capaz de exibir 640 pontos distintos em cada uma das 480 rio + @ + host, onde:
linhas, ou aproximadamente 300.000 pixels. Essa é a resolução
com desempenho mais rápido, contudo fornece a menor qualidade. » Nome do Usuário – é o nome de login escolhido pelo usuá-
Em contraste, uma tela com 1280 x 1024 pixels fornece as imagens rio na hora de fazer seu e-mail. Exemplo: sergiodecastro.
mais nítidas, mas com desempenho mais lento. » @ - é o símbolo, definido por Tomlinson, que separa o nome
do usuário do seu provedor.
» Host – é o nome do provedor onde foi criado o endereço
5.5 CORREIO ELETRÔNICO: eletrônico. Exemplo: click21.com.br .
USO DE CORREIO ELETRÔNICO, » Provedor – é o host, um computador dedicado ao serviço 24
PREPARO E ENVIO DE MENSAGENS, horas por dia.
ANEXAÇÃO DE ARQUIVOS
Vejamos um exemplo real: sergiodecastro@click21.com.br
Didatismo e Conhecimento 79
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Para receber seus e-mails você não precisa está conectado à In- » Criando seu e-mail
ternet, pois o e-mail funciona com provedores. Mesmo você não Fazer sua conta de e-mail é uma tarefa extremamente sim-
estado com seu computador ligado, seus e-mail são recebidos e ar- ples, eu escolhi o iBestMail, pois a interface deste WebMail não
mazenados na sua caixa postal, localizada no seu provedor. Quando tem propagandas e isso ajudar muito os entendimentos, no entanto
você acessa sua caixa postal, pode ler seus e-mail on-line (direta- você pode acessar qualquer dos endereços informados acima ou
mente na Internet, pelo WebMail) ou baixar todos para seu com- ainda qualquer outro que você conheça. O processo de cadastro
putador através de programas de correio eletrônico. Um programa é muito simples, basta preencher um formulário e depois você
muito conhecido é o Outlook Express, o qual detalhar mais a frente. terá sua conta de e-mail pronta para ser usada. Alguns provedores
A sua caixa postal é identificada pelo seu endereço de e-mail exigem CPF para o cadastro, o iBest e o iG são exemplos, já outros
e qualquer pessoa que souber esse endereço, pode enviar mensa- você informa apenas dados pessoais, o Yahoo e o Gmail são exem-
gens para você. Também é possível enviar mensagens para várias plos, este último é preciso ter um convite.
pessoas ao mesmo tempo, para isto basta usar os campos “Cc” e Vamos aos passos:
“Cco” descritos acima.
Atualmente, devido a grande facilidade de uso, a maioria das 1. Acesse a pagina do provedor (www.ibestmail.com.br) ou
pessoas acessa seu e-mail diretamente na Internet através do nave- qualquer outro de sua preferência.
gador. Este tipo de correio é chamado de WebMail. O WebMail é
2. Clique no botão “CADASTRE-SE JÁ”, será aberto um for-
responsável pela grande popularização do e-mail, pois mesmo as
mulário, preencha-o observando todos os campos. Os campos do
pessoas que não tem computador, podem acessar sua caixa postal
formulário têm suas particularidades de provedor para provedor,
de qualquer lugar (um cyber, casa de um amigo, etc.). Para ter um
no entanto todos trazem a mesma ideia, colher informações do
endereço eletrônico basta querer e acessar a Internet, é claro. Existe
quase que uma guerra por usuários. Os provedores, também, dispu- usuário. Este será a primeira parte do seu e-mail e é igual a este em
tam quem oferece maior espaço em suas caixas postais. Há pouco qualquer cadastro, no exemplo temos “@ibest.com.br”. A junção
tempo encontrar um e-mail com mais de 10 Mb, grátis, não era fácil. do nome de usuário com o nome do provedor é que será seu en-
Lembro que, quando a Embratel ofereceu o Click21 com 30 Mb, dereço eletrônico. No exemplo ficaria o seguinte: seunome@ibest.
achei que era muito espaço, mas logo o iBest ofereceu 120 Mb e com.br.
não parou por ai, a “guerra” continuo culminando com o anúncio de 3. Após preencher todo o formulário clique no botão “Aceito”,
que o Google iria oferecer 1 Gb (1024 Mb). A ultima campanha do pronto seu cadastro estará efetivado.
GMail, e-mail do Google, é de aumentar sua caixa postal constante- Pelo fato de ser gratuito e ter muitos usuários é comum que
mente, a ultima vez que acessei estava em 2663 Mb. muitos nomes já tenham sido cadastrados por outros usuários,
neste caso será exibida uma mensagem lhe informando do pro-
WebMail blema. Isso acontece porque dentro de um mesmo provedor não
pode ter dois nomes de usuários iguais. A solução é procurar outro
O WebMail, como descrito acima, é uma aplicação acessada nome que ainda esteja livre, alguns provedores mostram sugestões
diretamente na Internet, sem a necessidade de usar programa de como: seunome2005; seunome28, etc. Se ocorrer isso com você (o
correio eletrônico. Praticamente todos os e-mails possuem aplica- que é bem provável que acontecerá) escolha uma das sugestões ou
ções para acesso direto na Internet. É grande o número de prove- informe outro nome (não desista, você vai conseguir), finalize seu
dores que oferecem correio eletrônico gratuitamente, logo abaixo cadastro que seu e-mail vai está pronto para ser usado.
segue uma lista dos mais populares. » Entendendo a Interface do WebMail
» Hotmail – http://www.hotmail.com A interface é a parte gráfica do aplicativo de e-mail que nos
» GMail – http://www.gmail.com liga do mundo externo aos comandos do programa. Estes conheci-
» iBest Mail – http://www.ibestmail.com.br mentos vão lhe servir para qualquer WebMail que você tiver e tam-
» iG Mail – http://www.ig.com.br bém para o Outlook Express que é um programa de gerenciamento
» Yahoo – http://www.yahoo.com.br de e-mails, vamos ver este programa mais adiante.
» Click21 – http://www.click21.com.br
1. Chegou e-mail? – Este botão serve para atualizar sua caixa
de entrar, verificando se há novas mensagens no servidor.
Para criar seu e-mail basta visitar o endereço acima e seguir
2. Escrever – Ao clicar neste botão a janela de edição de e-
as instruções do site. Outro importante fator a ser observado é o
-mail será aberta. A janela de edição é o espaço no qual você vai
tamanho máximo permitido por anexo, este foi outro fator que au-
mentou muito de tamanho, há pouco tempo a maioria dos prove- redigir, responder e encaminhar mensagens. Semelhante à função
dores permitiam em torno de 2 Mb, mas atualmente a maioria já novo e-mail do Outlook.
oferecem em média 10 Mb. Porém tem alguns mais generosos que 3. Contatos – Abre a seção de contatos. Aqui os seus endere-
chegam a oferecer mais que isso, é o caso do Click21 que oferece ços de e-mail são previamente guardados para utilização futura,
21 Mb, claro que essas limitações são preocupantes quando se tra- nesta seção também é possível criar grupos para facilitar o geren-
ta de e-mail grátis, pois a final de contas quando pagamos o bolso ciamento dos seus contatos.
é quem manda. Além de caixa postal os provedores costumam ofe- 4. Configurações – Este botão abre (como o próprio nome já
recer serviços de agenda e contatos. diz) a janela de configurações. Nesta janela podem ser feitas di-
Todos os WebMail acima são ótimos, então fica a critério de versas configurações, tais como: mudar senha, definir número de
cada um escolher o seu, ou até mesmo os seus, eu, por exemplo, e-mail por página, assinatura, resposta automática, etc.
procuro aqueles que oferecem uma interface com o menor propa- 5. Ajuda – Abre, em outra janela do navegador, uma seção
ganda possível. com vários tópicos de ajuda.
Didatismo e Conhecimento 80
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
6. Sair – Este botão é muito importante, pois é através dele que MS OUTLOOK 2010
você vai fechar sua caixa postal, muito recomendado quando o uso O Microsoft Outlook 2010 oferece excelentes ferramentas de
de seu e-mail ocorrer em computadores de terceiros. gerenciamento de emails profissionais e pessoais para mais de 500
7. Espaço – Esta seção é apenas informativa, exibe seu ende- milhões de usuários do Microsoft Office no mundo todo. Com o
reço de e-mail; quantidade total de sua caixa posta; parte utilizada lançamento do Outlook 2010, você terá uma série de experiências
em porcentagem e um pequeno gráfico. mais ricas para atender às suas necessidades de comunicação no
8. Seção atual – Mostra o nome da seção na qual você está, no trabalho, em casa e na escola.
exemplo a Caixa de Entrada. Do visual redesenhado aos avançados recursos de organização
9. Número de Mensagens – Exibe o intervalo de mensagens de emails, pesquisa, comunicação e redes sociais, o Outlook 2010
que estão na tela e também o total da seção selecionada. proporciona uma experiência fantástica para você se manter pro-
10. Caixa de Comandos – Neste menu suspenso estão todos dutivo e em contato com suas redes pessoais e profissionais.
os comandos relacionados com as mensagens exibidas. Para usar
estes comandos, selecione uma ou mais mensagens o comando Adicionar uma conta de email
desejado e clique no botão “OK”. O botão “Bloquear”, bloqueia Antes de poder enviar e receber emails no Outlook 2010, você
precisa adicionar e configurar uma conta de email. Se tiver usado
o endereço de e-mail da mensagem, útil para bloquear e-mails in-
uma versão anterior do Microsoft Outlook no mesmo computador
desejados. Já o botão “Contas externas” abre uma seção para con-
em que instalou o Outlook 2010, suas configurações de conta serão
figurar outras contas de e-mails que enviarão as mensagens a sua
importadas automaticamente.
caixa postal. Para o correto funcionamento desta opção é preciso
Se você não tem experiência com o Outlook ou se estiver ins-
que a conta a ser acessada tenha serviço POP3 e SMTP. talando o Outlook 2010 em um computador novo, o recurso Con-
11. Lista de Páginas – Este menu suspenso exibe a lista de figuração Automática de Conta será iniciado automaticamente e
página, que aumenta conforme a quantidade de e-mails na seção. o ajudará a configurar as definições de suas contas de email. Essa
Para acessar selecione a página desejada e clique no botão “OK”. configuração exige somente seu nome, endereço de email e senha.
Veja que todos os comandos estão disponíveis também na parte Se não for possível configurar sua conta de email automaticamen-
inferior, isto para facilitar o uso de sua caixa postal. te, será necessário digitar as informações adicionais obrigatórias
12. Pastas do Sistema – Exibe as pastas padrões de um correio manualmente.
eletrônico. Caixa de Entrada; Mensagens Enviadas; Rascunho e 1. Clique na guia Arquivo.
Lixeira. Um detalhe importante é o estilo do nome, quando está 2. Em Dados da Conta e clique em Adicionar Conta.
normal significa que todas as mensagens foram abertas, porém 3.
quando estão em negrito, acusam que há uma ou mais mensagens
que não foram lidas, o número entre parêntese indica a quantidade.
Este detalhe funciona para todas as pastas e mensagens do correio.
13. Painel de Visualização – Espaço destinado a exibir as
mensagens. Por padrão, ao abrir sua caixa postal, é exibido o
conteúdo da Caixa de Entrada, mas este painel exibe também as
mensagens das diversas pastas existentes na sua caixa postal. A
observação feita no item anterior, sobre negrito, também é válida
para esta seção. Observe as caixas de seleção localizadas do lado
esquerdo de cada mensagem, é através delas que as mensagens são
selecionadas. A seleção de todos os itens ao mesmo tempo, tam- Sobre contas de email
bém pode ser feito pela caixa de seleção do lado esquerdo do título O Outlook dá suporte a contas do Microsoft Exchange, POP3
da coluna “Remetente”. O título das colunas, além de nomeá-las, e IMAP. Seu ISP (provedor de serviços de Internet) ou administra-
dor de emails pode lhe fornecer as informações necessárias para a
também serve para classificar as mensagens que por padrão estão
configuração da sua conta de email no Outlook.
classificadas através da coluna “Data”, para usar outra coluna na
Contas de email estão contidas em um perfil. Um perfil é com-
classificação basta clicar sobre nome dela.
posto de contas, arquivos de dados e configurações que especifi-
14. Gerenciador de Pastas – Nesta seção é possível adicio-
cam onde as suas mensagens de email são salvas. Um novo perfil
nar, renomear e apagar as suas pastas. As pastas são um modo de é criado automaticamente quando o Outlook é executando pela
organizar seu conteúdo, armazenando suas mensagens por temas. primeira vez.
Quando seu e-mail é criado não existem pastas nesta seção, isso Adicionar uma conta de email ao iniciar o Outlook 2010 pela
deve ser feito pelo usuário de acordo com suas necessidades. primeira vez
15. Contas Externas – Este item é um link que abrirá a seção Se você ainda não tem experiência com o Outlook ou se esti-
onde pode ser feita uma configuração que permitirá você acessar ver instalando o Outlook 2010 em um computador novo, o recurso
outras caixas postais diretamente da sua. O próximo link, como o Configuração Automática de Conta será iniciado automaticamente
nome já diz, abre a janela de configuração dos e-mails bloqueados e o ajudará a definir as configurações das suas contas de email.
e mais abaixo o link para baixar um plug-in que lhe permite fazer Esse processo exige somente seu nome, endereço de email e senha.
uma configuração automática do Outlook Express. Estes dois pri- Se não for possível configurar a sua conta de email automatica-
meiros links são os mesmos apresentados no item 10. mente, você precisará inserir as informações adicionais obrigató-
rias manualmente.
Didatismo e Conhecimento 81
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
1. Inicie o Outlook.
2. Quando solicitado a configurar uma conta de email, cli-
que em Avançar.
Didatismo e Conhecimento 82
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
5. Para sair da caixa de diálogo Adicionar Nova Conta, cli- 3. Em Informações do Usuário, faça o seguinte:
que em Concluir. • Na caixa Nome, digite seu nome da forma que aparecerá
Se você tiver adicionado uma conta do Exchange Server, de- para as outras pessoas.
verá sair e reiniciar o Outlook para que essa conta apareça e possa • Na caixa Endereço de Email, digite o endereço de email
ser usada no Outlook. completo atribuído por seu administrador de email ou ISP. Não se
Observação: Se o seu perfil já tiver uma conta do Microsoft esqueça de incluir o nome de usuário, o símbolo @ e o nome do
Exchange Server e você quiser adicionar outra, será necessário domínio como, por exemplo, pat@contoso.com.
usar a Configuração Automática de Conta. Para configurar • Nas caixas Senha e Confirmar Senha, digite a senha atri-
manualmente uma conta adicional do Exchange Server, você deve buída ou criada por você.
sair do Outlook e depois usar o módulo Email no Painel de Con- Dica: A senha poderá diferenciar maiúsculas de minúsculas.
trole. Verifique se a tecla CAPS LOCK foi pressionada durante a
inserção da sua senha.
Adicionar uma conta de email manualmente
4. Em Informações do Servidor, faça o seguinte:
Existem três maneiras de adicionar manualmente sua conta de
• Na caixa de listagem Tipo de Conta, escolha POP3 ou
email. A maioria das pessoas só possui um perfil e deverá usar a
IMAP.
seção Adicionar ao perfil em execução.
• Na caixa Servidor de entrada de emails, digite o nome
Observação A configuração manual de contas do Microsoft
Exchange não pode ser feita enquanto o Outlook estiver em completo do servidor fornecido pelo provedor de serviços de In-
execução. Use as etapas das seções Adicionar a um perfil existente ternet ou pelo administrador de email. Geralmente, é mail. seguido
ou Adicionar a um novo perfil. do nome de domínio, por exemplo, mail.contoso.com.
Adicionar ao perfil em execução • Na caixa Servidor de saída de emails (SMTP), digite o
1. Clique na guia Arquivo. nome completo do servidor fornecido pelo provedor de serviços
2. Na guia Info, em Informações da Conta, clique em Con- de Internet ou pelo administrador de email. Geralmente, é mail.
figurações de Conta. seguido do nome do domínio, por exemplo, mail.contoso.com.
3. Clique em Configurações de Conta. 5. Em Informações de Logon, faça o seguinte:
4. Clique em Adicionar Conta. • Na caixa Nome de Usuário, digite o nome do usuário
Adicionar a um perfil existente fornecido pelo provedor ou pelo administrador de email. Ele pode
1. Feche o Outlook. fazer parte do seu endereço de email antes do símbolo @, como
2. No Painel de Controle, clique ou clique duas vezes em pat, ou pode ser o seu endereço de email completo, como pat@
Email. contoso.com.
A barra de título da caixa de diálogo Configurar Email contém • Na caixa Senha, digite a senha fornecida pelo provedor
o nome do perfil atual. Para selecionar um perfil diferente já exis- ou pelo administrador de email ou uma senha que tenha sido criada
tente, clique em Mostrar Perfis, selecione o nome do perfil e, em por você.
seguida, clique em Propriedades. • Marque a caixa de seleção Lembrar senha.
3. Clique em Contas de Email. Observação: Você tem a opção de salvar sua senha digitando-a
Adicionar a um novo perfil na caixa Senha e marcando a caixa de seleção Lembrar senha. Se
1. Feche o Outlook. você escolheu essa opção, não precisará digitar a senha sempre que
2. No Painel de Controle, clique ou clique duas vezes no acessar a conta. No entanto, isso também torna a conta vulnerável
módulo Email. a qualquer pessoa que tenha acesso ao seu computador.
3. Em Perfis, clique em Mostrar Perfis. Opcionalmente, você poderá denominar sua conta de email
4. Clique em Adicionar. como ela aparece no Outlook. Isso será útil caso você esteja usan-
5. Na caixa de diálogo Novo Perfil, digite um nome para o
do mais de uma conta de email. Clique em Mais Configurações.
perfil e, em seguida, clique em OK.
Na guia Geral, em Conta de Email, digite um nome que ajudará a
Trata-se do nome que você vê ao iniciar o Outlook caso confi-
identificar a conta, por exemplo, Meu Email de Provedor de Servi-
gure o Outlook para solicitar o perfil a ser usado.
ços de Internet Residencial.
6. Clique em Contas de Email.
A sua conta de email pode exigir uma ou mais das configura-
Configurar manualmente uma conta POP3 ou IMAP ções adicionais a seguir. Entre em contato com o seu ISP se tiver
Uma conta POP3 é o tipo mais comum de conta de email. dúvidas sobre quais configurações usar para sua conta de email.
Uma conta IMAP é um tipo avançado de conta de email que • Autenticação de SMTP Clique em Mais Configura-
oferece várias pastas de email em um servidor de emails. As contas ções. Na guia Saída, marque a caixa de seleção Meu servidor de
do Google GMail e da AOL podem ser usadas no Outlook 2010 saída de emails requer autenticação, caso isso seja exigido pela
como contas IMAP. conta.
Se não souber ao certo qual é o tipo da sua conta, entre em • Criptografia de POP3 Para contas POP3, clique em
contato com o seu provedor de serviços de Internet (ISP) ou admi- Mais Configurações. Na guia Avançada, em Números das portas
nistrador de email. do servidor, em Servidor de entrada (POP3), marque a caixa de
1. Clique em Definir manualmente as configurações do ser- seleção O servidor requer uma conexão criptografada (SSL), caso
vidor ou tipos de servidor adicionais e em Avançar. o provedor de serviços de Internet instrua você a usar essa confi-
2. Clique em Email da Internet e em Avançar. guração.
Didatismo e Conhecimento 83
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
• Criptografia de IMAP Para contas IMAP, clique em Remover uma conta de email
Mais Configurações. Na guia Avançada, em Números das portas 1. Clique na guia Arquivo.
do servidor, em Servidor de entrada (IMAP), para a opção Usar o 2. Em Informações da Conta, clique em Configurações de
seguinte tipo de conexão criptografada, clique em Nenhuma, SSL, Conta e depois em Configurações de Conta.
TLS ou Automática, caso o provedor de serviços de Internet ins-
trua você a usar uma dessas configurações.
• Criptografia de SMTP Clique em Mais Configurações.
Na guia Avançada, em Números das portas do servidor, em Servi-
dor de saída (SMTP), para a opção Usar o seguinte tipo de conexão
criptografada, clique em Nenhuma, SSL, TLS ou Automática, caso
o provedor de serviços de internet instrua você a usar uma dessas
configurações.
Opcionalmente, clique em Testar Configurações da Conta
para verificar se a conta está funcionando. Se houver informações
ausentes ou incorretas, como a senha, será solicitado que sejam
fornecidas ou corrigidas. Verifique se o computador está conectado
com a Internet.
Clique em Avançar. 3. Selecione a conta de email que você deseja remover e
Clique em Concluir. clique em Remover.
4. Para confirmar a remoção da conta, clique em Sim.
Configurar manualmente uma conta do Microsoft Ex- Para remover uma conta de email de um perfil diferente, en-
change cerre e reinicie o Outlook com o outro perfil e siga as etapas an-
As contas do Microsoft Exchange são usadas por organizações teriores. Você também pode remover contas de outros perfis da
como parte de um pacote de ferramentas de colaboração incluindo seguinte forma:
mensagens de email, calendário e agendamento de reuniões e con- 1. Saia do Outlook.
trole de tarefas. Alguns provedores de serviços de Internet (ISPs) 2. No Painel de Controle, clique ou clique duas vezes em
também oferecem contas do Exchange hospedadas. Se não estiver Email.
certo sobre o tipo de conta que utiliza, entre em contato com o seu A barra de título da caixa de diálogo Configurar Email contém
ISP ou administrador de email.
o nome do perfil atual. Para selecionar um perfil diferente já exis-
A configuração manual de contas do Microsoft Exchange não
tente, clique em Mostrar Perfis, selecione o nome do perfil e, em
pode ser feita enquanto o Outlook estiver em execução. Para adi-
seguida, clique em Propriedades.
cionar uma conta do Microsoft Exchange, siga as etapas de Adi-
3. Clique em Contas de Email.
cionar a um perfil existente ou Adicionar a um novo perfil e siga
4. Selecione a conta e clique em Remover.
um destes procedimentos:
5. Para confirmar a remoção da conta, clique em Sim.
1. Clique em Definir manualmente as configurações do ser-
vidor ou tipos de servidor adicionais e em Avançar.
2. Clique em Microsoft Exchange e, em seguida, clique em Observações
Avançar. • A remoção de uma conta de email POP3 ou IMAP não
3. Digite o nome atribuído pelo administrador de email para exclui os itens enviados e recebidos com o uso dessa conta. Se
o servidor executando o Exchange. você estiver usando uma conta POP3, ainda poderá usar o Arquivo
4. Para usar as Configurações do Modo Cache do Exchan- de Dados do Outlook (.pst) para trabalhar com os seus itens.
ge, marque a caixa de seleção Usar o Modo Cache do Exchange. • Se estiver usando uma conta do Exchange, seus dados
5. Na caixa Nome de Usuário, digite o nome do usuário permanecerão no servidor de email, a não ser que eles sejam mo-
atribuído ao administrador de email. Ele não costuma ser seu nome vidos para um Arquivo de Dados do Outlook (.pst).
completo.
6. Opcionalmente, siga um destes procedimentos: Criar uma mensagem de email
• Clique em Mais Configurações. Na guia Geral em Con- 1. Na guia Página Inicial, no grupo Novo, clique em Novo
ta de Email, digite o nome que ajudará a identificar a conta, por Email.
exemplo, Meu Email de Trabalho.
• Clique em Mais Configurações. Em qualquer uma das
guias, configure as opções desejadas.
• Clique em Verificar Nomes para confirmar se o servidor
reconhece o seu nome e se o computador está conectado com a
rede. Os nomes de conta e de servidor especificados nas etapas 3
e 5 devem se tornar sublinhados. Se isso não acontecer, entre em
contato com o administrador do Exchange.
7. Se você clicou em Mais Configurações e abriu a caixa de
diálogo Microsoft Exchange Server, clique em OK. Atalho do teclado Para criar uma mensagem de email a partir
8. Clique em Avançar. de qualquer pasta do Outlook, pressione CTRL+SHIFT+M
9. Clique em Concluir. 2. Na caixa Assunto, digite o assunto da mensagem.
Didatismo e Conhecimento 84
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
3. Insira os endereços de email ou os nomes dos destina- Adicionar um anexo a uma mensagem de email
tários na caixa Para, Cc ou Cco. Separe vários destinatários por Arquivos podem ser anexados a uma mensagem de email.
ponto-e-vírgula. Além disso, outros itens do Outlook, como mensagens, contatos
Para selecionar os nomes dos destinatários em uma lista no ou tarefas, podem ser incluídos com as mensagens enviadas.
Catálogo de Endereços, clique em Para, Cc ou Cco e clique nos 1. Crie uma mensagem ou, para uma mensagem existente,
nomes desejados. clique em Responder, Responder a Todos ou Encaminhar.
4. Depois de redigir a mensagem, clique em Enviar. 2. Na janela da mensagem, na guia Mensagem, no grupo
Incluir, clique em Anexar Arquivo.
Responder ou encaminhar uma mensagem de email
Quando você responde a uma mensagem de email, o reme-
tente da mensagem original é automaticamente adicionado à caixa
Para. De modo semelhante, quando você usa Responder a Todos,
uma mensagem é criada e endereçada ao remetente e a todos os
destinatários adicionais da mensagem original. Seja qual for sua
escolha, você poderá alterar os destinatários nas caixas Para, Cc
e Cco.
Ao encaminhar uma mensagem, as caixas Para, Cc e Cco fi- Abrir e salvar anexos
cam vazias e é preciso fornecer pelo menos um destinatário. Anexos são arquivos ou itens que podem ser incluídos em
uma mensagem de email. As mensagens com anexos são identi-
Responder ao remetente ou a outros destinatários ficadas por um ícone de clipe de papel na lista de mensagens.
Você poder responder apenas ao remetente de uma mensagem Dependendo do formato da mensagem recebida, os anexos são
ou a qualquer combinação de pessoas existente nas linhas Para e exibidos em um de dois locais na mensagem.
Cc. Pode também adicionar novos destinatários. • Se o formato da mensagem for HTML ou texto sem for-
1. Na guia Página Inicial ou na guia Mensagem, no grupo matação, os anexos serão exibidos na caixa de anexo, sob a linha
Responder, clique em Responder ou em Responder a Todos. Assunto.
Observação: O nome da guia depende da condição da • Se o formato da mensagem for o formato menos comum
mensagem, se está selecionada na lista de mensagens ou se está RTF (Rich Text Format), os anexos serão exibidos no corpo da
aberta na respectiva janela. mensagem. Mesmo que o arquivo apareça no corpo da mensagem,
Para remover o nome das linhas Para e Cc, clique no nome ele continua sendo um anexo separado.
e pressione DELETE. Para adicionar um destinatário, clique na Observação O formato utilizado na criação da mensagem é
caixa Para, Cc ou Cco e especifique o destinatário. indicado na barra de título, na parte superior da mensagem.
2. Escreva sua mensagem.
3. Clique em Enviar. Abrir um anexo
Dica Seja cuidadoso ao clicar em Responder a Todos, Um anexo pode ser aberto no Painel de Leitura ou em uma
principalmente quando houver listas de distribuição ou um grande mensagem aberta. Em qualquer um dos casos, clique duas vezes
número de destinatários em sua resposta. Geralmente, o melhor é no anexo para abri-lo.
usar Responder e adicionar somente os destinatários necessários, Para abrir um anexo na lista de mensagens, clique com o botão
ou então usar Responder a Todos, mas remover os destinatários direito do mouse na mensagem que contém o anexo, clique em
desnecessários e as listas de distribuição. Exibir Anexos e clique no nome do anexo.
Observações
Encaminhar uma mensagem • Você pode visualizar anexos de mensagens HTML ou
Ao encaminhar uma mensagem, ela incluirá todos os anexos com texto sem formatação no Painel de Leitura e em mensagens
que estavam incluídos na mensagem original. Para incluir mais abertas. Clique no anexo a ser visualizado e ele será exibido no
anexos, consulte Anexar um arquivo ou outro item a uma mensa- corpo da mensagem. Para voltar à mensagem, na guia Ferramentas
gem de email. de Anexo, no grupo Mensagem, clique em Mostrar Mensagem. O
1. Na guia Página Inicial ou Mensagem, no grupo Respon- recurso de visualização não está disponível para mensagens RTF.
der, clique em Encaminhar. • Por padrão, o Microsoft Outlook bloqueia arquivos de
Observação: O nome da guia depende da condição da mensa- anexo potencialmente perigosos (inclusive os arquivos .bat, .exe,
gem, se está selecionada na lista de mensagens ou se está aberta na .vbs e .js), os quais possam conter vírus. Se o Outlook bloquear
respectiva janela. algum arquivo de anexo em uma mensagem, uma lista dos tipos
2. Especifique destinatários nas caixas Para, Cc ou Cco. de arquivos bloqueados será exibida na Barra de Informações, na
3. Escreva sua mensagem. parte superior da mensagem.
4. Clique em Enviar.
Dica: Se quiser encaminhar duas ou mais mensagens para os
mesmos destinatários, como se fossem uma só, em Email, clique
em uma das mensagens, pressione CTRL e clique em cada mensa-
gem adicional. Na guia Página Inicial, no grupo Responder, clique
em Encaminhar. Cada mensagem será encaminhada como anexo
de uma nova mensagem.
Didatismo e Conhecimento 85
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Salvar um anexo Adicionar uma assinatura
Após abrir e exibir um anexo, você pode preferir salvá-lo em • Em uma nova mensagem, na guia Mensagem, no grupo
uma unidade de disco. Se a mensagem tiver mais de um anexo, Incluir, clique em Assinatura e clique na assinatura desejada.
você poderá salvar os vários anexos como um grupo ou um de
cada vez.
Salvar um único anexo de mensagem
Execute um dos seguintes procedimentos:
• Se a mensagem estiver no formato HTML ou de texto
sem formatação Clique no anexo, no Painel de Leitura, ou abra
a mensagem. Na guia Anexos, no grupo Ações, clique em Salvar
como. É possível clicar com o botão direito do mouse no anexo e
então clicar em Salvar como. Criar um compromisso de calendário
• Se a mensagem estiver no formato RTF No Painel Compromissos são atividades que você agenda no seu calen-
de Leitura ou na mensagem aberta, clique com o botão direito do dário e que não envolvem convites a outras pessoas nem reserva
mouse no anexo e clique em Salvar como. de recursos.
Escolha uma local de pasta e clique em Salvar. • Em Calendário, na guia Página Inicial, no grupo Novo,
Salvar vários anexos de uma mensagem clique em Novo Compromisso. Como alternativa, você pode clicar
1. No Painel de Leitura ou na mensagem aberta, selecione com o botão direito do mouse em um bloco de tempo em sua grade
os anexos a serem salvos. Para selecionar vários anexos, clique de calendário e clicar em Novo Compromisso.
neles mantendo pressionada a tecla CTRL.
2. Execute um dos seguintes procedimentos:
• Se a mensagem estiver no formato HTML ou de texto
sem formatação Na guia Anexos, no grupo Ações, clique em
Salvar como.
• Se a mensagem estiver no formato RTF Clique com
o botão direito do mouse em uma das mensagens selecionadas e
depois clique em Salvar como.
3. Clique em uma local de pasta e clique em OK. Atalho do teclado: Para criar um compromisso, pressione
Salvar todos os anexos de uma mensagem CTRL+SHIFT+A.
1. No Painel de Leitura ou na mensagem aberta, clique em Agendar uma reunião com outras pessoas
um anexo. Uma reunião é um compromisso que inclui outras pessoas e
2. Siga um destes procedimentos: pode incluir recursos como salas de conferência. As respostas às
• Se a mensagem estiver no formato HTML ou de texto suas solicitações de reunião são exibidas na Caixa de Entrada.
sem formatação Na guia Anexos, no grupo Ações, clique em • Em Calendário, na guia Página Inicial, no grupo Novo,
Salvar Todos os Anexos. clique em Nova Reunião.
• Se a mensagem estiver no formato RTF Clique na guia
Arquivo para abrir o modo de exibição Backstage. Em seguida,
clique em Salvar anexos e depois em OK.
3. Clique em uma local de pasta e clique em OK.
Didatismo e Conhecimento 86
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Criar uma anotação
Anotações são o equivalente eletrônico de notas adesivas em
papel. Use-as para rascunhar dúvidas, ideias, lembretes e qualquer
coisa que você escreveria em papel.
• Em Anotações, no grupo Novo, clique em Nova Anota-
ção.
Criar um contato
Contatos podem ser tão simples quanto um nome e endereço INTERNET
de email ou incluir outras informações detalhadas, como endereço “Imagine que fosse descoberto um continente tão vasto
físico, vários telefones, uma imagem, datas de aniversário e quais- que suas dimensões não tivessem fim. Imagine um mundo
quer outras informações que se relacionem ao contato. novo, com tantos recursos que a ganância do futuro não seria ca-
• Em Contatos, na guia Página Inicial, no grupo Novo, cli- paz de esgotar; com tantas oportunidades que os empreendedores
que em Novo Contato. seriam poucos para aproveitá-las; e com um tipo peculiar de
imóvel que se expandiria com o desenvolvimento.”
John P. Barlow
Os Estados Unidos temiam que em um ataque nuclear ficas-
sem sem comunicação entre a Casa Branca e o Pentágono.
Este meio de comunicação “infalível”, até o fim da década de
60, ficou em poder exclusivo do governo conectando bases milita-
res, em quatro localidades.
Nos anos 70, seu uso foi liberado para instituições norte-
-americanas de pesquisa que desejassem aprimorar a tecnologia,
Atalho do teclado: Para criar um contato de qualquer pasta no logo vinte e três computadores foram conectados, porém o padrão
Outlook, pressione CTRL+SHIFT+C. de conversação entre as máquinas se tornou impróprio pela quan-
tidade de equipamentos.
Criar uma tarefa Era necessário criar um modelo padrão e universal para
Muitas pessoas mantêm uma lista de coisas a fazer — em que as máquinas continuassem trocando dados, surgiu então o
papel, em uma planilha ou com uma combinação de papel e méto- Protocolo Padrão TCP/IP, que permitiria portanto que mais outras
dos eletrônicos. No Microsoft Outlook, você pode combinar várias máquinas fossem inseridas àquela rede.
listas em uma só, receber lembretes e controlar o andamento das Com esses avanços, em 1972 é criado o correio eletrônico, o
tarefas. E-mail, permitindo a troca de mensagens entre as máquinas que
• Em Tarefas, na guia Página Inicial, no grupo Novo, cli- compunham aquela rede de pesquisa, assim no ano seguinte a rede
que em Nova Tarefa. se torna internacional.
Na década de 80, a Fundação Nacional de Ciência do Brasil
conectou sua grande rede à ARPANET, gerando aquilo que co-
nhecemos hoje como internet, auxiliando portanto o processo de
pesquisa em tecnologia e outras áreas a nível mundial, além de
alimentar as forças armadas brasileiras de informação de todos os
tipos, até que em 1990 caísse no domínio público.
Com esta popularidade e o surgimento de softwares de nave-
gação de interface amigável, no fim da década de 90, pessoas que
Atalho do teclado: Para criar uma nova tarefa, pressione não tinham conhecimentos profundos de informática começaram a
CTRL+SHIFT+K. utilizar a rede internacional.
Didatismo e Conhecimento 87
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Acesso à Internet Assim, um link ou hiperlink, quando acionado com o mouse,
remete o usuário à outra parte do documento ou outro documento.
O ISP, Internet Service Provider, ou Provedor de Serviço de
Internet, oferece principalmente serviço de acesso à Internet, adi- Home Page
cionando serviços como e-mail, hospedagem de sites ou blogs, ou
seja, são instituições que se conectam à Internet com o ob- Sendo assim, home page designa a página inicial, principal do
jetivo de fornecer serviços à ela relacionados, e em função do site ou web page.
serviço classificam-se em: É muito comum os usuários confundirem um Blog ou Perfil
• Provedores de Backbone: São instituições que constroem e no Orkut com uma Home Page, porém são coisas distintas, aonde
administram backbones de longo alcance, ou seja, estrutura física um Blog é um diário e um Perfil no Orkut é um Profile, ou seja um
de conexão, com o objetivo de fornecer acesso à Internet para re- hipertexto que possui informações de um usuário dentro de uma
des locais;
comunidade virtual.
• Provedores de Acesso: São instituições que se conectam à
Internet via um ou mais acessos dedicados e disponibilizam acesso
à terceiros a partir de suas instalações; HTML, Hyper Text Markut language ou Linguagem de Mar-
• Provedores de Informação: São instituições que disponibili- cação de Hipertexto
zam informação através da Internet.
É a linguagem com a qual se cria as páginas para a web.
Endereço Eletrônico ou URL Suas principais características são:
• Portabilidade (Os documentos escritos em HTML devem ter
Para se localizar um recurso na rede mundial, deve-se conhe- aparência semelhante nas diversas plataformas de trabalho);
cer o seu endereço. • Flexibilidade (O usuário deve ter a liberdade de “customi-
Este endereço, que é único, também é considerado sua URL zar” diversos elementos do documento, como o tamanho padrão
(Uniform Resource Locator), ou Localizador de Recursos Univer- da letra, as cores, etc);
sal. Boa parte dos endereços apresenta-se assim: www.xxxx.com.br • Tamanho Reduzido (Os documentos devem ter um ta-
Onde: manho reduzido, a fim de economizar tempo na transmissão
www = protocolo da World Wide Web através da Internet, evitando longos períodos de espera e
xxx = domínio congestionamento na rede).
com = comercial
br = brasil Browser ou Navegador
WWW = World Wide Web ou Grande Teia Mundial
É o programa específico para visualizar as páginas da web.
É um serviço disponível na Internet que possui um conjunto O Browser lê e interpreta os documentos escritos em HTML,
de documentos espalhados por toda rede e disponibilizados a apresentando as páginas formatadas para os usuários.
qualquer um.
Estes documentos são escritos em hipertexto, que utiliza uma ARQUITETURAS DE REDES
linguagem especial, chamada HTML.
As modernas redes de computadores são projetadas de forma
Domínio altamente estruturada. Nas seções seguintes examinaremos com
algum detalhe a técnica de estruturação.
Designa o dono do endereço eletrônico em questão, e
onde os hipertextos deste empreendimento estão localizados. HIERARQUIAS DE PROTOCOLOS
Quanto ao tipo do domínio, existem:
.com = Instituição comercial ou provedor de serviço Para reduzir a complexidade de projeto, a maioria das redes é
.edu = Instituição acadêmica organizada em camadas ou níveis, cada uma construída sobre sua
.gov = Instituição governamental predecessora. O número de camadas, o nome, o conteúdo e a fun-
.mil = Instituição militar norte-americana ção de cada camada diferem de uma rede para outra. No entanto,
.net = Provedor de serviços em redes em todas as redes, o propósito de cada camada é oferecer certos
.org = Organização sem fins lucrativos
serviços às camadas superiores, protegendo essas camadas dos de-
talhes de como os serviços oferecidos são de fato implementados.
HTTP, Hyper Texto Transfer Protocol ou Protocolo de Trasfe-
rência em Hipertexto A camada n em uma máquina estabelece uma conversão com
É um protocolo ou língua específica da internet, responsável a camada n em outra máquina. As regras e convenções utilizadas
pela comunicação entre computadores. nesta conversação são chamadas coletivamente de protocolo da
Um hipertexto é um texto em formato digital, e pode le- camada n, conforme ilustrado na Figura abaixo para uma rede
var a outros, fazendo o uso de elementos especiais (palavras, com sete camadas. As entidades que compõem as camadas cor-
frases, ícones, gráficos) ou ainda um Mapa Sensitivo o qual leva respondentes em máquinas diferentes são chamadas de processos
a outros conjuntos de informação na forma de blocos de textos, parceiros. Em outras palavras, são os processos parceiros que se
imagens ou sons. comunicam utilizando o protocolo.
Didatismo e Conhecimento 88
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Na verdade, nenhum dado é transferido diretamente da cama- cada residência ou estabelecimento - que você recebe suas contas
da n em uma máquina para a camada n em outra máquina. Em vez de água, aquele produto que você comprou em uma loja on-line,
disso, cada camada passa dados e informações de controle para enfim.
a camada imediatamente abaixo, até que o nível mais baixo seja Na internet, o princípio é o mesmo. Para que o seu computa-
alcançado. Abaixo do nível 1 está o meio físico de comunicação, dor seja encontrado e possa fazer parte da rede mundial de com-
através do qual a comunicação ocorre. Na Figura abaixo, a comu- putadores, necessita ter um endereço único. O mesmo vale para
nicação virtual é mostrada através de linhas pontilhadas e a comu- websites: este fica em um servidor, que por sua vez precisa ter um
nicação física através de linhas sólidas. endereço para ser localizado na internet. Isto é feito pelo endereço
IP (IP Address), recurso que também é utilizado para redes locais,
como a existente na empresa que você trabalha, por exemplo.
O endereço IP é uma sequência de números composta de 32
bits. Esse valor consiste em um conjunto de quatro sequências de
8 bits. Cada uma destas é separada por um ponto e recebe o nome
de octeto ou simplesmente byte, já que um byte é formado por
8 bits. O número 172.31.110.10 é um exemplo. Repare que cada
octeto é formado por números que podem ir de 0 a 255, não mais
do que isso.
Entre cada par de camadas adjacentes há uma interface. A A divisão de um IP em quatro partes facilita a organização da
interface define quais operações primitivas e serviços a camada rede, da mesma forma que a divisão do seu endereço em cidade,
inferior oferece à camada superior. Quando os projetistas decidem bairro, CEP, número, etc, torna possível a organização das casas
quantas camadas incluir em uma rede e o que cada camada deve da região onde você mora. Neste sentido, os dois primeiros octetos
fazer, uma das considerações mais importantes é definir interfaces de um endereço IP podem ser utilizados para identificar a rede, por
limpas entre as camadas. Isso requer, por sua vez, que cada camada exemplo. Em uma escola que tem, por exemplo, uma rede para
desempenhe um conjunto específico de funções bem compreendi- alunos e outra para professores, pode-se ter 172.31.x.x para uma
das. Além de minimizar a quantidade de informações que deve ser rede e 172.32.x.x para a outra, sendo que os dois últimos octetos
passada de camada em camada, interfaces bem definidas também são usados na identificação de computadores.
tornam fácil a troca da implementação de uma camada por outra Classes de endereços IP
implementação completamente diferente (por exemplo, trocar to- Neste ponto, você já sabe que os endereços IP podem ser utili-
das as linhas telefônicas por canais de satélite), pois tudo o que é zados tanto para identificar o seu computador dentro de uma rede,
exigido da nova implementação é que ela ofereça à camada supe- quanto para identificá-lo na internet.
rior exatamente os mesmos serviços que a implementação antiga Se na rede da empresa onde você trabalha o seu computador
oferecia. tem, como exemplo, IP 172.31.100.10, uma máquina em outra rede
O conjunto de camadas e protocolos é chamado de arquitetura pode ter este mesmo número, afinal, ambas as redes são distintas
de rede. A especificação de arquitetura deve conter informações e não se comunicam, sequer sabem da existência da outra. Mas,
suficientes para que um implementador possa escrever o programa como a internet é uma rede global, cada dispositivo conectado nela
ou construir o hardware de cada camada de tal forma que obedeça precisa ter um endereço único. O mesmo vale para uma rede local:
corretamente ao protocolo apropriado. Nem os detalhes de imple- nesta, cada dispositivo conectado deve receber um endereço único.
mentação nem a especificação das interfaces são parte da arquite- Se duas ou mais máquinas tiverem o mesmo IP, tem-se então um
tura, pois esses detalhes estão escondidos dentro da máquina e não problema chamado “conflito de IP”, que dificulta a comunicação
são visíveis externamente. Não é nem mesmo necessário que as in- destes dispositivos e pode inclusive atrapalhar toda a rede.
terfaces em todas as máquinas em uma rede sejam as mesmas, des- Para que seja possível termos tanto IPs para uso em redes
de que cada máquina possa usar corretamente todos os protocolos. locais quanto para utilização na internet, contamos com um es-
quema de distribuição estabelecido pelas entidades IANA (Inter-
O endereço IP net Assigned Numbers Authority) e ICANN (Internet Corporation
Quando você quer enviar uma carta a alguém, você... Ok, for Assigned Names and Numbers) que, basicamente, divide os
você não envia mais cartas; prefere e-mail ou deixar um recado endereços em três classes principais e mais duas complementares.
no Facebook. Vamos então melhorar este exemplo: quando você São elas:
quer enviar um presente a alguém, você obtém o endereço da pes- Classe A: 0.0.0.0 até 127.255.255.255 - permite até 128 redes,
soa e contrata os Correios ou uma transportadora para entregar. É cada uma com até 16.777.214 dispositivos conectados;
graças ao endereço que é possível encontrar exatamente a pessoa Classe B: 128.0.0.0 até 191.255.255.255 - permite até 16.384
a ser presenteada. Também é graças ao seu endereço - único para redes, cada uma com até 65.536 dispositivos;
Didatismo e Conhecimento 89
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Classe C: 192.0.0.0 até 223.255.255.255 - permite até - A: N.H.H.H;
2.097.152 redes, cada uma com até 254 dispositivos; - B: N.N.H.H;
Classe D: 224.0.0.0 até 239.255.255.255 - multicast; - C: N.N.N.H.
Classe E: 240.0.0.0 até 255.255.255.255 - multicast reservado. N significa Network (rede) e H indica Host. Com o uso de
As três primeiras classes são assim divididas para atender às máscaras, podemos fazer uma rede do N.N.H.H se “transformar”
seguintes necessidades: em N.N.N.H. Em outras palavras, as máscaras de sub-rede per-
- Os endereços IP da classe A são usados em locais onde são mitem determinar quantos octetos e bits são destinados para a
necessárias poucas redes, mas uma grande quantidade de máqui- identificação da rede e quantos são utilizados para identificar os
nas nelas. Para isso, o primeiro byte é utilizado como identificador dispositivos.
da rede e os demais servem como identificador dos dispositivos Para isso, utiliza-se, basicamente, o seguinte esquema: se um
conectados (PCs, impressoras, etc); octeto é usado para identificação da rede, este receberá a máscara
- Os endereços IP da classe B são usados nos casos onde a de sub-rede 255. Mas, se um octeto é aplicado para os dispositivos,
quantidade de redes é equivalente ou semelhante à quantidade de seu valor na máscara de sub-rede será 0 (zero). A tabela a seguir
dispositivos. Para isso, usam-se os dois primeiros bytes do ende- mostra um exemplo desta relação:
reço IP para identificar a rede e os restantes para identificar os
dispositivos; Identifica-
- Os endereços IP da classe C são usados em locais que reque- Identifica- Máscara de
Classe Endereço IP dor do com-
rem grande quantidade de redes, mas com poucos dispositivos em dor da rede sub-rede
putador
cada uma. Assim, os três primeiros bytes são usados para identifi-
A 10.2.68.12 10 2.68.12 255.0.0.0
car a rede e o último é utilizado para identificar as máquinas.
Quanto às classes D e E, elas existem por motivos especiais: B 172.31.101.25 172.31 101.25 255.255.0.0
a primeira é usada para a propagação de pacotes especiais para a C 192.168.0.10 192.168.0 10 255.255.255.0
comunicação entre os computadores, enquanto que a segunda está
reservada para aplicações futuras ou experimentais. Você percebe então que podemos ter redes com máscara
Vale frisar que há vários blocos de endereços reservados para 255.0.0.0, 255.255.0.0 e 255.255.255.0, cada uma indicando uma
fins especiais. Por exemplo, quando o endereço começa com 127, classe. Mas, como já informado, ainda pode haver situações onde
geralmente indica uma rede “falsa”, isto é, inexistente, utilizada há desperdício. Por exemplo, suponha que uma faculdade tenha
para testes. No caso do endereço 127.0.0.1, este sempre se refere à que criar uma rede para cada um de seus cinco cursos. Cada curso
própria máquina, ou seja, ao próprio host, razão esta que o leva a possui 20 computadores. A solução seria então criar cinco redes
ser chamado de localhost. Já o endereço 255.255.255.255 é utili- classe C? Pode ser melhor do que utilizar classes B, mas ainda
zado para propagar mensagens para todos os hosts de uma rede de haverá desperdício. Uma forma de contornar este problema é criar
maneira simultânea. uma rede classe C dividida em cinco sub-redes. Para isso, as más-
caras novamente entram em ação.
Endereços IP privados Nós utilizamos números de 0 a 255 nos octetos, mas estes, na
Há conjuntos de endereços das classes A, B e C que são pri- verdade, representam bytes (linguagem binária). 255 em binário
vados. Isto significa que eles não podem ser utilizados na internet, é 11111111. O número zero, por sua vez, é 00000000. Assim, a
sendo reservados para aplicações locais. São, essencialmente, estes: máscara de um endereço classe C, 255.255.255.0, é:
-Classe A: 10.0.0.0 à 10.255.255.255; 11111111.11111111.11111111.00000000
-Classe B: 172.16.0.0 à 172.31.255.255; Perceba então que, aqui, temos uma máscara formada por 24
-Classe C: 192.168.0.0 à 192.168.255.255. bits 1: 11111111 + 11111111 + 11111111. Para criarmos as nossas
Suponha então que você tenha que gerenciar uma rede com sub-redes, temos que ter um esquema com 25, 26 ou mais bits,
cerca de 50 computadores. Você pode alocar para estas máquinas conforme a necessidade e as possibilidades. Em outras palavras,
endereços de 192.168.0.1 até 192.168.0.50, por exemplo. Todas precisamos trocar alguns zeros do último octeto por 1.
elas precisam de acesso à internet. O que fazer? Adicionar mais um Suponha que trocamos os três primeiros bits do último octeto
IP para cada uma delas? Não. Na verdade, basta conectá-las a um (sempre trocamos da esquerda para a direita), resultando em:
servidor ou equipamento de rede - como um roteador - que receba 11111111.11111111.11111111.11100000
a conexão à internet e a compartilhe com todos os dispositivos Se fizermos o número 2 elevado pela quantidade de bits “tro-
conectados a ele. Com isso, somente este equipamento precisará cados”, teremos a quantidade possível de sub-redes. Em nosso
de um endereço IP para acesso à rede mundial de computadores. caso, temos 2^3 = 8. Temos então a possibilidade de criar até oito
sub-redes. Sobrou cinco bits para o endereçamento dos host. Fa-
Máscara de sub-rede zemos a mesma conta: 2^5 = 32. Assim, temos 32 dispositivos em
As classes IP ajudam na organização deste tipo de endereça- cada sub-rede (estamos fazendo estes cálculos sem considerar li-
mento, mas podem também representar desperdício. Uma solução mitações que possam impedir o uso de todos os hosts e sub-redes).
bastante interessante para isso atende pelo nome de máscara de 11100000 corresponde a 224, logo, a máscara resultante é
sub-rede, recurso onde parte dos números que um octeto destina- 255.255.255.224.
do a identificar dispositivos conectados (hosts) é “trocado” para Perceba que esse esquema de “trocar” bits pode ser empre-
aumentar a capacidade da rede. Para compreender melhor, vamos gado também em endereços classes A e B, conforme a necessi-
enxergar as classes A, B e C da seguinte forma: dade. Vale ressaltar também que não é possível utilizar 0.0.0.0 ou
255.255.255.255 como máscara.
Didatismo e Conhecimento 90
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
IP estático e IP dinâmico
IP estático (ou fixo) é um endereço IP dado permanentemente
a um dispositivo, ou seja, seu número não muda, exceto se tal ação
for executada manualmente. Como exemplo, há casos de assina-
turas de acesso à internet via ADSL onde o provedor atribui um
IP estático aos seus assinantes. Assim, sempre que um cliente se
conectar, usará o mesmo IP.
O IP dinâmico, por sua vez, é um endereço que é dado a um
computador quando este se conecta à rede, mas que muda toda
vez que há conexão. Por exemplo, suponha que você conectou seu
computador à internet hoje. Quando você conectá-lo amanhã, lhe
será dado outro IP. Para entender melhor, imagine a seguinte situa-
ção: uma empresa tem 80 computadores ligados em rede. Usan-
do IPs dinâmicos, a empresa disponibiliza 90 endereços IP para O IPv6 não consiste, necessariamente, apenas no aumento da
tais máquinas. Como nenhum IP é fixo, um computador receberá, quantidade de octetos. Um endereço do tipo pode ser, por exemplo:
quando se conectar, um endereço IP destes 90 que não estiver sen- FEDC:2D9D:DC28:7654:3210:FC57:D4C8:1FFF
do utilizado. É mais ou menos assim que os provedores de internet Finalizando
trabalham. Com o surgimento do IPv6, tem-se a impressão de que a es-
O método mais utilizado na distribuição de IPs dinâmicos é o pecificação tratada neste texto, o IPv4, vai sumir do mapa. Isso até
protocolo DHCP (Dynamic Host Configuration Protocol). deve acontecer, mas vai demorar bastante. Durante essa fase, que
podemos considerar de transição, o que veremos é a “convivência”
IP nos sites entre ambos os padrões. Não por menos, praticamente todos os
Você já sabe que os sites na Web também necessitam de um IP. sistemas operacionais atuais e a maioria dos dispositivos de rede
Mas, se você digitar em seu navegador www.infowester.com, por estão aptos a lidar tanto com um quanto com o outro. Por isso, se
exemplo, como é que o seu computador sabe qual o IP deste site ao você é ou pretende ser um profissional que trabalha com redes ou
ponto de conseguir encontrá-lo? simplesmente quer conhecer mais o assunto, procure se aprofundar
Quando você digitar um endereço qualquer de um site, um nas duas especificações.
servidor de DNS (Domain Name System) é consultado. Ele é A esta altura, você também deve estar querendo descobrir qual
quem informa qual IP está associado a cada site. O sistema DNS o seu IP. Cada sistema operacional tem uma forma de mostrar isso.
possui uma hierarquia interessante, semelhante a uma árvore (ter- Se você é usuário de Windows, por exemplo, pode fazê-lo digi-
mo conhecido por programadores). Se, por exemplo, o site www. tando cmd em um campo do Menu Iniciar e, na janela que surgir,
infowester.com é requisitado, o sistema envia a solicitação a um informar ipconfig /all e apertar Enter. Em ambientes Linux, o co-
servidor responsável por terminações “.com”. Esse servidor loca- mando é ifconfig.
lizará qual o IP do endereço e responderá à solicitação. Se o site
solicitado termina com “.br”, um servidor responsável por esta ter-
minação é consultado e assim por diante.
IPv6
O mundo está cada vez mais conectado. Se, em um passado
não muito distante, você conectava apenas o PC da sua casa à in-
ternet, hoje o faz com o celular, com o seu notebook em um serviço
de acesso Wi-Fi no aeroporto e assim por diante. Somando este
aspecto ao fato de cada vez mais pessoas acessarem a internet no
mundo inteiro, nos deparamos com um grande problema: o núme-
ro de IPs disponíveis deixa de ser suficiente para toda as (futuras)
aplicações.
A solução para este grande problema (grande mesmo, afinal, Perceba, no entanto, que se você estiver conectado a partir
a internet não pode parar de crescer!) atende pelo nome de IPv6, de uma rede local - tal como uma rede wireless - visualizará o IP
uma nova especificação capaz de suportar até - respire fundo - 340. que esta disponibiliza à sua conexão. Para saber o endereço IP do
282.366.920.938.463.463.374.607.431.768.211.456 de endereços, acesso à internet em uso pela rede, você pode visitar sites como
um número absurdamente alto! whatsmyip.org.
Provedor
Didatismo e Conhecimento 91
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
No Brasil, a maioria dos provedores está conectada à Embra- WWW -> (World Wide Web) Grande rede mundial
tel, que por sua vez, está conectada com outros computadores fora pelotas -> empresa ou organização que mantém o site
do Brasil. Esta conexão chama-se link, que é a conexão física que .com -> tipo de organização
interliga o provedor de acesso com a Embratel. Neste caso, a Em- ......br -> identifica o país
bratel é conhecida como backbone, ou seja, é a “espinha dorsal”
da Internet no Brasil. Pode-se imaginar o backbone como se fosse Tipos de Organizações:
uma avenida de três pistas e os links como se fossem as ruas que
estão interligadas nesta avenida. .edu -> instituições educacionais. Exemplo: michigam.edu
Tanto o link como o backbone possui uma velocidade de .com -> instituções comerciais. Exemplo: microsoft.com
transmissão, ou seja, com qual velocidade ele transmite os dados. .gov -> governamental. Exemplo: fazenda.gov
Esta velocidade é dada em bps (bits por segundo). Deve ser feito .mil -> instalação militar. Exemplo: af.mil
um contrato com o provedor de acesso, que fornecerá um nome de .net -> computadores com funções de administrar redes.
usuário, uma senha de acesso e um endereço eletrônico na Internet. Exemplo: embratel.net
.org -> organizações não governamentais. Exemplo: care.org
URL - Uniform Resource Locator
Didatismo e Conhecimento 92
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
maioria das vezes, esses programas exibem, de tempos em tem- Depois disto, várias outras companhias passaram a produzir
pos, uma mensagem avisando que ele deve ser registrado. Outros browsers que deveriam fazer concorrência ao Mosaic. Mark An-
tipos de shareware têm tempo de uso limitado. Depois de expirado dreesen partiu para a criação da Netscape Communications, cria-
este tempo de teste, é necessário que seja feito a compra deste dora do browser Netscape.
programa. Surgiram ainda o Cello, o AIR Mosaic, o SPRY Mosaic, o
Microsoft Internet Explorer, o Mozilla Firefox e muitos outros
Navegar nas páginas browsers.
Navegadores
Didatismo e Conhecimento 93
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
O resultado da pesquisa
HISTÓRICO
Diretórios: pesquisa o conteúdo da internet organizados por Os primeiros computadores construídos pelo homem foram
assunto em categorias. Exemplo: idealizados como máquinas para processar números (o que conhe-
cemos hoje como calculadoras), porém, tudo era feito fisicamente.
Existia ainda um problema, porque as máquinas processavam
os números, faziam operações aritméticas, mas depois não sabiam
o que fazer com o resultado, ou seja, eram simplesmente máquinas
de calcular, não recebiam instruções diferentes e nem possuíam
uma memória.
Até então, os computadores eram utilizados para pouquíssi-
mas funções, como calcular impostos e outras operações. Os com-
Como escolher palavra-chave putadores de uso mais abrangente apareceram logo depois da Se-
gunda Guerra Mundial. Os EUA desenvolveram ― secretamente,
• Busca com uma palavra: retorna páginas que incluam a durante o período ― o primeiro grande computador que calculava
palavra digitada. trajetórias balísticas. A partir daí, o computador começou a evoluir
• “Busca entre aspas”: a pesquisa só retorna páginas que num ritmo cada vez mais acelerado, até chegar aos dias de hoje.
incluam todos os seus termos de busca, ou seja, toda a sequência
de termos que foram digitadas. Código Binário, Bit e Byte
• Busca com sinal de mais (+): a pesquisa retorna páginas
que incluam todas O sistema binário (ou código binário) é uma representação
• as palavras aleatoriamente na página. numérica na qual qualquer unidade pode ser demonstrada usando-
• Busca com sinal de menos (-): as palavras que ficam an- -se apenas dois dígitos: 0 e 1. Esta é a única linguagem que os
tes do sinal de computadores entendem.
• menos são excluídas da pesquisa. Cada um dos dígitos utilizados no sistema binário é chamado
• Resultado de um cálculo: pode ser efetuado um cálculo de Binary Digit (Bit), em português, dígito binário e representa a
em um site de pesquisa. menor unidade de informação do computador.
Os computadores geralmente operam com grupos de bits. Um
Por exemplo: 3+4 grupo de oito bits é denominado Byte. Este pode ser usado na re-
Irá retornar: presentação de caracteres, como uma letra (A-Z), um número (0-9)
ou outro símbolo qualquer (#, %, *,?, @), entre outros.
Assim como podemos medir distâncias, quilos, tamanhos etc.,
também podemos medir o tamanho das informações e a velocidade
de processamento dos computadores. A medida padrão utilizada é
o byte e seus múltiplos, conforme demonstramos na tabela abaixo:
Didatismo e Conhecimento 94
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
DESKTOPS
PORTÁTEIS
LAPTOPS
Os computadores podem ser classificados pelo porte. Basica-
Também chamados de notebooks, são computadores portáteis,
mente, existem os de grande porte ― mainframes ― e os de pe-
leves e produzidos para serem transportados facilmente. Os lap-
queno porte ― microcomputadores ― sendo estes últimos dividi-
tops possuem tela, geralmente de Liquid Crystal Display (LCD),
dos em duas categorias: desktops ou torres e portáteis (notebooks,
teclado, mouse (touchpad), disco rígido, drive de CD/DVD e por-
laptops, handhelds e smartphones).
tas de conexão. Seu nome vem da junção das palavras em inglês
Conceitualmente, todos eles realizam funções internas idênti-
lap (colo) e top (em cima), significando “computador que cabe no
cas, mas em escalas diferentes. colo de qualquer pessoa”.
Os mainframes se destacam por ter alto poder de processa-
mento, muita capacidade de memória e por controlar atividades NETBOOKS
com grande volume de dados. Seu custo é bastante elevado. São
encontrados, geralmente, em bancos, grandes empresas e centros São computadores portáteis muito parecidos com o notebook,
de pesquisa. porém, em tamanho reduzido, mais leves, mais baratos e não pos-
suem drives de CD/ DVD.
CLASSIFICAÇÃO DOS COMPUTADORES
PDA
A classificação de um computador pode ser feita de diversas
maneiras. Podem ser avaliados: É a abreviação do inglês Personal Digital Assistant e também
• Capacidade de processamento; são conhecidos como palmtops. São computadores pequenos e,
• Velocidade de processamento; geralmente, não possuem teclado. Para a entrada de dados, sua tela
• Capacidade de armazenamento das informações; é sensível ao toque. É um assistente pessoal com boa quantidade
• Sofisticação do software disponível e compatibilidade; de memória e diversos programas para uso específico.
• Tamanho da memória e tipo de CPU (Central Processing
Uni), Unidade SMARTPHONES
Central de Processamento.
São telefones celulares de última geração. Possuem alta ca-
TIPOS DE MICROCOMPUTADORES pacidade de processamento, grande potencial de armazenamento,
acesso à Internet, reproduzem músicas, vídeos e têm outras fun-
Os microcomputadores atendem a uma infinidade de aplica- cionalidades.
ções. São divididos em duas plataformas: PC (computadores pes-
soais) e Macintosh (Apple). Sistema de Processamento de Dados
Os dois padrões têm diversos modelos, configurações e op-
cionais. Além disso, podemos dividir os microcomputadores em Quando falamos em “Processamento de Dados” tratamos de
desktops, que são os computadores de mesa, com uma torre, tecla- uma grande variedade de atividades que ocorre tanto nas organi-
do, mouse e monitor e portáteis, que podem ser levados a qualquer zações industriais e comerciais, quanto na vida diária de cada um
lugar. de nós.
Didatismo e Conhecimento 95
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Para tentarmos definir o que seja processamento de dados te- Identificaremos as partes internas do computador, localizadas
mos de ver o que existe em comum em todas estas atividades. Ao no gabinete ou torre:
analisarmos, podemos perceber que em todas elas são dadas certas
informações iniciais, as quais chamamos de dados. • Motherboard (placa-mãe)
E que estes dados foram sujeitos a certas transformações, com • Processador
as quais foram obtidas as informações. • Memórias
O processamento de dados sempre envolve três fases essen- • Fonte de Energia
ciais: Entrada de Dados, Processamento e Saída da Informação. • Cabos
Para que um sistema de processamento de dados funcione ao • Drivers
contento, faz-se necessário que três elementos funcionem em per- • Portas de Entrada/Saída
feita harmonia, são eles:
MOTHERBOARD (PLACA-MÃE)
Hardware
Software
Peopleware
É uma das partes mais importantes do computador. A
Esta é a parte humana do sistema: usuários (aqueles que usam motherboard é uma placa de circuitos integrados que serve de
a informática como um meio para a sua atividade fim), progra- suporte para todas as partes do computador.
madores e analistas de sistemas (aqueles que usam a informática Praticamente, tudo fica conectado à placa-mãe de alguma ma-
como uma atividade fim). neira, seja por cabos ou por meio de barramentos.
Embora não pareça, a parte mais complexa de um sistema A placa mãe é desenvolvida para atender às características
de processamento de dados é, sem dúvida o Peopleware, pois por especificas de famílias de processadores, incluindo até a possibi-
mais moderna que sejam os equipamentos, por mais fartos que se- lidade de uso de processadores ainda não lançados, mas que apre-
jam os suprimentos, e por mais inteligente que se apresente o sof- sentem as mesmas características previstas na placa.
tware, de nada adiantará se as pessoas (peopleware) não estiverem A placa mãe é determinante quanto aos componentes que po-
devidamente treinadas a fazer e usar a informática. dem ser utilizados no micro e sobre as possibilidades de upgrade,
O alto e acelerado crescimento tecnológico vem aprimoran- influenciando diretamente na performance do micro.
do o hardware, seguido de perto pelo software. Equipamentos que Diversos componentes integram a placa-mãe, como:
cabem na palma da mão, softwares que transformam fantasia em • Chipset
realidade virtual não são mais novidades. Entretanto ainda temos Denomina-se chipset os circuitos de apoio ao microcomputa-
em nossas empresas pessoas que sequer tocaram algum dia em um dor que gerenciam praticamente todo o funcionamento da placa-
teclado de computador. -mãe (controle de memória cache, DRAM, controle do buffer de
Mesmo nas mais arrojadas organizações, o relacionamento dados, interface com a CPU, etc.).
entre as pessoas dificulta o trâmite e consequente processamento O chipset é composto internamente de vários outros peque-
da informação, sucateando e subutilizando equipamentos e softwa- nos chips, um para cada função que ele executa. Há um chip con-
res. Isto pode ser vislumbrado, sobretudo nas instituições públicas. trolador das interfaces IDE, outro controlador das memórias, etc.
Existem diversos modelos de chipsets, cada um com recursos bem
POR DENTRO DO GABINETE diferentes.
Devido à complexidade das motherboards, da sofisticação dos
sistemas operacionais e do crescente aumento do clock, o chipset é
o conjunto de CIs (circuitos integrados) mais importante do micro-
computador. Fazendo uma analogia com uma orquestra, enquanto
o processador é o maestro, o chipset seria o resto!
• BIOS
Didatismo e Conhecimento 96
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Durante o processo de inicialização, o BIOS é o responsável pelo (setup), acessados no momento do BOOT. Estes dados são atri-
reconhecimento dos componentes de hardware instalados, dar o buídos na montagem do microcomputador refletindo sua configu-
boot, e prover informações básicas para o funcionamento do sis- ração (tipo de winchester, números e tipo de drives, data e hora,
tema. configurações gerais, velocidade de memória, etc.) permanecendo
O BIOS é a camada (vide diagrama 1.1) que viabiliza a uti- armazenados na CMOS enquanto houver alimentação da bateria
lização de Sistemas Operacionais diferentes (Linux, Unix, Hurd, interna. Algumas alterações no hardware (troca e/ou inclusão de
BSD, Windows, etc.) no microcomputador. É no BIOS que estão novos componentes) podem implicar na alteração de alguns desses
descritos os elementos necessários para operacionalizar o Hardwa- parâmetros.
re, possibilitando aos diversos S.O. acesso aos recursos independe Muitos desses itens estão diretamente relacionados com o pro-
de suas características específicas. cessador e seu chipset e portanto é recomendável usar os valores
default sugerido pelo fabricante da BIOS. Mudanças nesses pa-
râmetros pode ocasionar o travamento da máquina, intermitência
na operação, mau funcionamento dos drives e até perda de dados
do HD.
• Slots para módulos de memória
Na época dos micros XT e 286, os chips de memória eram
encaixados (ou até soldados) diretamente na placa mãe, um a um.
O agrupamento dos chips de memória em módulos (pentes), ini-
cialmente de 30 vias, e depois com 72 e 168 vias, permitiu maior
versatilidade na composição dos bancos de memória de acordo
com as necessidades das aplicações e dos recursos financeiros dis-
poníveis.
Durante o período de transição para uma nova tecnologia é
comum encontrar placas mãe com slots para mais de um modelo.
Atualmente as placas estão sendo produzidas apenas com módulos
O BIOS é gravado em um chip de memória do tipo EPROM de 168 vias, mas algumas comportam memórias de mais de um
(Erased Programmable Read Only Memory). É um tipo de memó- tipo (não simultaneamente): SDRAM, Rambus ou DDR-SDRAM.
ria “não volátil”, isto é, desligando o computador não há a perda • Clock
das informações (programas) nela contida. O BIOS é contem 2 Relógio interno baseado num cristal de Quartzo que gera um
programas: POST (Power On Self Test) e SETUP para teste do pulso elétrico. A função do clock é sincronizar todos os circuitos
sistema e configuração dos parâmetros de inicialização, respecti- da placa mãe e também os circuitos internos do processador para
vamente, e de funções básicas para manipulação do hardware uti- que o sistema trabalhe harmonicamente.
lizadas pelo Sistema Operacional. Estes pulsos elétricos em intervalos regulares são medidos
Quando inicializamos o sistema, um programa chamado pela sua frequência cuja unidade é dada em hertz (Hz). 1 MHz é
POST conta a memória disponível, identifica dispositivos plug- igual a 1 milhão de ciclos por segundo. Normalmente os proces-
-and-play e realiza uma checagem geral dos componentes instala- sadores são referenciados pelo clock ou frequência de operação:
dos, verificando se existe algo de errado com algum componente. Pentium IV 2.8 MHz.
Após o término desses testes, é emitido um relatório com várias
informações sobre o hardware instalado no micro. Este relatório PROCESSADOR
é uma maneira fácil e rápida de verificar a configuração de um
computador. Para paralisar a imagem tempo suficiente para con-
seguir ler as informações, basta pressionar a tecla “pause/break”
do teclado.
Caso seja constatado algum problema durante o POST, serão
emitidos sinais sonoros indicando o tipo de erro encontrado. Por
isso, é fundamental a existência de um alto-falante conectado à
placa mãe.
Atualmente algumas motherboards já utilizam chips de me-
mória com tecnologia flash. Memórias que podem ser atualizadas
por software e também não perdem seus dados quando o compu-
tador é desligado, sem necessidade de alimentação permanente.
As BIOS mais conhecidas são: AMI, Award e Phoenix. 50%
dos micros utilizam BIOS AMI.
O microprocessador, também conhecido como processador,
• Memória CMOS consiste num circuito integrado construído para realizar cálculos
e operações. Ele é a parte principal do computador, mas está longe
CMOS (Complementary Metal-Oxide Semicondutor) é uma de ser uma máquina completa por si só: para interagir com o usuá-
memória formada por circuitos integrados de baixíssimo consumo rio é necessário memória, dispositivos de entrada e saída, conver-
de energia, onde ficam armazenadas as informações do sistema sores de sinais, entre outros.
Didatismo e Conhecimento 97
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
É o processador quem determina a velocidade de O aumento da velocidade de barramento da placa-mãe pode criar
processamento dos dados na máquina. Os primeiros modelos problemas caso algum periférico (como memória RAM, cache L2,
comerciais começaram a surgir no início dos anos 80. etc.) não suporte essa velocidade.
• Clock Speed ou Clock Rate Quando se faz um overclock, o processador passa a trabalhar
É a velocidade pela qual um microprocessador executa a uma velocidade maior do que ele foi projetado, fazendo com que
instruções. Quanto mais rápido o clock, mais instruções uma CPU haja um maior aquecimento do mesmo. Com isto, reduz-se a vida
pode executar por segundo. útil do processador de cerca de 20 para 10 anos (o que não chega
Usualmente, a taxa de clock é uma característica fixa do pro- a ser um problema já que os processadores rapidamente se tornam
cessador. Porém, alguns computadores têm uma “chave” que per- obsoletos). Esse aquecimento excessivo pode causar também fre-
mite 2 ou mais diferentes velocidades de clock. Isto é útil porque quentes “crashes” (travamento) do sistema operacional durante o
programas desenvolvidos para trabalhar em uma máquina com alta seu uso, obrigando o usuário a reiniciar a máquina.
velocidade de clock podem não trabalhar corretamente em uma Ao fazer o overclock, é indispensável a utilização de um coo-
máquina com velocidade de clock mais lenta, e vice versa. Além ler (ventilador que fica sobre o processador para reduzir seu aque-
disso, alguns componentes de expansão podem não ser capazes de cimento) de qualidade e, em alguns casos, uma pasta térmica espe-
trabalhar a alta velocidade de clock. cial que é passada diretamente sobre a superfície do processador.
Assim como a velocidade de clock, a arquitetura inter- Atualmente fala-se muito em CORE, seja dual, duo ou quad,
na de um microprocessador tem influência na sua performance. essa denominação refere-se na verdade ao núcleo do processador,
Dessa forma, 2 CPUs com a mesma velocidade de clock não onde fica a ULA (Unidade Aritmética e Lógica). Nos modelos
necessariamente trabalham igualmente. Enquanto um processador DUAL ou DUO, esse núcleo é duplicado, o que proporciona uma
Intel 80286 requer 20 ciclos para multiplicar 2 números, um Intel execução de duas instruções efetivamente ao mesmo tempo, em-
80486 (ou superior) pode fazer o mesmo cálculo em um simples bora isto não aconteça o tempo todo. Basta uma instrução precisar
ciclo. Por essa razão, estes novos processadores poderiam ser 20 de um dado gerado por sua “concorrente” que a execução paralela
vezes mais rápido que os antigos mesmo se a velocidade de clock torna-se inviável, tendo uma instrução que esperar pelo término
fosse a mesma. Além disso, alguns microprocessadores são supe- da outra. Os modelos QUAD CORE possuem o núcleo quadru-
rescalar, o que significa que eles podem executar mais de uma ins- plicado.
trução por ciclo. Esses são os processadores fabricados pela INTEL, empresa
Como as CPUs, os barramentos de expansão também têm a que foi pioneira nesse tipo de produto. Temos também alguns con-
sua velocidade de clock. Seria ideal que as velocidades de clock da correntes famosos dessa marca, tais como NEC, Cyrix e AMD;
CPU e dos barramentos fossem a mesma para que um componente sendo que atualmente apenas essa última marca mantém-se fazen-
não deixe o outro mais lento. Na prática, a velocidade de clock dos do frente aos lançamentos da INTEL no mercado. Por exemplo,
barramentos é mais lenta que a velocidade da CPU. um modelo muito popular de 386 foi o de 40 MHz, que nunca
• Overclock foi feito pela INTEL, cujo 386 mais veloz era de 33 MHz, esse
Overclock é o aumento da frequência do processador para que processador foi obra da AMD. Desde o lançamento da linha Pen-
ele trabalhe mais rapidamente. tium, a AMD foi obrigada a criar também novas denominações
A frequência de operação dos computadores domésticos é de- para seus processadores, sendo lançados modelos como K5, K6-2,
terminada por dois fatores: K7, Duron (fazendo concorrência direta à ideia do Celeron) e os
• A velocidade de operação da placa-mãe, conhecida também mais atuais como: Athlon, Turion, Opteron e Phenom.
como velocidade de barramento, que nos computadores Pentium
pode ser de 50, 60 e 66 MHz. MEMÓRIAS
• Um multiplicador de clock, criado a partir dos 486 que
permite ao processador trabalhar internamente a uma velocidade
maior que a da placa-mãe. Vale lembrar que os outros periféricos
do computador (memória RAM, cache L2, placa de vídeo, etc.)
continuam trabalhando na velocidade de barramento.
Como exemplo, um computador Pentium 166 trabalha com
velocidade de barramento de 66 MHz e multiplicador de 2,5x. Fa-
zendo o cálculo, 66 x 2,5 = 166, ou seja, o processador trabalha a
166 MHz, mas se comunica com os demais componentes do micro
a 66 MHz.
Tendo um processador Pentium 166 (como o do exemplo aci-
ma), pode-se fazê-lo trabalhar a 200 MHz, simplesmente aumen-
tando o multiplicador de clock de 2,5x para 3x. Caso a placa-mãe
permita, pode-se usar um barramento de 75 ou até mesmo 83 MHz
(algumas placas mais modernas suportam essa velocidade de bar-
ramento). Neste caso, mantendo o multiplicador de clock de 2,5x,
o Pentium 166 poderia trabalhar a 187 MHz (2,5 x 75) ou a 208
MHz (2,5 x 83). As frequências de barramento e do multiplicador Vamos chamar de memória o que muitos autores denominam
podem ser alteradas simplesmente através de jumpers de configu- memória primária, que é a memória interna do computador, sem a
ração da placa-mãe, o que torna indispensável o manual da mesma. qual ele não funciona.
Didatismo e Conhecimento 98
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
A memória é formada, geralmente, por chips e é utilizada para DRIVERS
guardar a informação para o processador num determinado mo-
mento, por exemplo, quando um programa está sendo executado.
As memórias ROM (Read Only Memory - Memória Somen-
te de Leitura) e RAM (Random Access Memory - Memória de
Acesso Randômico) ficam localizadas junto à placa-mãe. A ROM
são chips soldados à placa-mãe, enquanto a RAM são “pentes” de
memória.
FONTE DE ENERGIA
CABOS
Didatismo e Conhecimento 99
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
MEMÓRIAS E DISPOSITIVOS DE ARMAZENAMEN- Random Access Memory (RAM) - Memória de acesso alea-
TO tório onde são armazenados dados em tempo de processamento,
isto é, enquanto o computador está ligado e, também, todas as in-
Memórias formações que estiverem sendo executadas, pois essa memória é
mantida por pulsos elétricos. Todo conteúdo dela é apagado ao
Memória ROM desligar-se a máquina, por isso é chamada também de volátil.
O módulo de memória é um componente adicionado à placa-
-mãe. É composto de uma série de pequenos circuitos integrados,
chamados chip de RAM. A memória pode ser aumentada, de acor-
do com o tipo de equipamento ou das necessidades do usuário. O
local onde os chips de memória são instalados chama-se SLOT de
memória.
A memória ganhou melhor desempenho com versões mais
poderosas, como DRAM (Dynamic RAM - RAM dinâmica), EDO
No microcomputador também se encontram as memórias de- (Extended Data Out - Saída Estendida Dados), entre outras, que
finidas como dispositivos eletrônicos responsáveis pelo armaze- proporcionam um aumento no desempenho de 10% a 30% em
namento de informações e instruções utilizadas pelo computador. comparação à RAM tradicional. Hoje, as memórias mais utilizadas
Read Only Memory (ROM) é um tipo de memória em que são do tipo DDR2 e DDR3.
os dados não se perdem quando o computador é desligado. Este
tipo de memória é ideal para guardar dados da BIOS (Basic Input/ Memória Cache
Output System - Sistema Básico de Entrada/Saída) da placa-mãe
e outros dispositivos.
Os tipos de ROM usados atualmente são:
Blu-Ray
OS PERIFÉRICOS
Entrada
São dispositivos que possuem a função de inserir dados ao
computador, por exemplo: teclado, scanner, caneta óptica, leitor
de código de barras, mesa digitalizadora, mouse, microfone, joys-
tick, CD-ROM, DVD-ROM, câmera fotográfica digital, câmera de
vídeo, webcam etc. É o periférico mais conhecido e utilizado para entrada de
dados no computador.
Mouse Acompanha o PC desde suas primeiras versões e foi pouco
alterado. Possui teclas representando letras, números e símbolos,
bem como teclas com funções específicas (F1... F12, ESC etc.).
Câmera Digital
Webcam
Saída
Categoria de impressora criada para ter cor no impresso com Os barramentos, conhecidos como BUS em inglês, são con-
qualidade de laser, porém o custo elevado de manutenção aliado ao juntos de fios que normalmente estão presentes em todas as placas
surgimento da laser colorida fizeram essa tecnologia ser esquecida. do computador.
A ideia aqui é usar uma sublimação de cera (aquela do lápis de Na verdade existe barramento em todas as placas de produtos
cera) para fazer impressão. eletrônicos, porém em outros aparelhos os técnicos referem-se aos
barramentos simplesmente como o “impresso da placa”.
Plotters Barramento é um conjunto de 50 a 100 fios que fazem a comu-
nicação entre todos os dispositivos do computador: UCP, memó-
ria, dispositivos de entrada e saída e outros. Os sinais típicos en-
contrados no barramento são: dados, clock, endereços e controle.
Os dados trafegam por motivos claros de necessidade de se-
rem levados às mais diversas porções do computador.
Os endereços estão presentes para indicar a localização para
onde os dados vão ou vêm.
O clock trafega nos barramentos conhecidos como síncronos,
pois os dispositivos são obrigados a seguir uma sincronia de tempo
para se comunicarem.
O controle existe para informar aos dispositivos envolvidos
na transmissão do barramento se a operação em curso é de escrita,
leitura, reset ou outra qualquer. Alguns sinais de controle são bas-
tante comuns:
Outro dispositivo utilizado para impressão é a plotter, que é • Memory Write - Causa a escrita de dados do barramento de
dados no endereço especificado no barramento de endereços.
uma impressora destinada a imprimir desenhos em grandes dimen-
• Memory Read - Causa dados de um dado endereço especi-
sões, com elevada qualidade e rigor, como plantas arquite-
ficado pelo barramento de endereço a ser posto no barramento de
tônicas, mapas cartográficos, projetos de engenharia e grafismo, ou
dados.
seja, a impressora plotter é destinada às artes gráficas, editoração
• I/O Write - Causa dados no barramento de dados serem en-
eletrônica e áreas de CAD/CAM.
viados para uma porta de saída (dispositivo de I/O).
Vários modelos de impressora plotter têm resolução de 300
• I/O Read - Causa a leitura de dados de um dispositivo de I/O,
dpi, mas alguns podem chegar a 1.200 pontos por polegada, per-
os quais serão colocados no barramento de dados.
mitindo imprimir, aproximadamente, 20 páginas por minuto (no • Bus request - Indica que um módulo pede controle do barra-
padrão de papel utilizado em impressoras a laser). mento do sistema.
Existe a plotter que imprime materiais coloridos com largura • Reset - Inicializa todos os módulos
de até três metros (são usadas em empresas que imprimem grandes Todo barramento é implementado seguindo um conjunto de
volumes e utilizam vários formatos de papel). regras de comunicação entre dispositivos conhecido como BUS
STANDARD, ou simplesmente PROTOCOLO DE BARRAMEN-
Projetor TO, que vem a ser um padrão que qualquer dispositivo que queira
ser compatível com este barramento deva compreender e respeitar.
É um equipamento muito utilizado em apresentações Mas um ponto sempre é certeza: todo dispositivo deve ser único
multimídia. no acesso ao barramento, porque os dados trafegam por toda a
Antigamente, as informações de uma apresentação eram im- extensão da placa-mãe ou de qualquer outra placa e uma mistura
pressas em transparências e ampliadas num retroprojetor, mas, de dados seria o caos para o funcionamento do computador.
com o avanço tecnológico, os projetores têm auxiliado muito nesta Os barramentos têm como principais vantagens o fato de ser
área. o mesmo conjunto de fios que é usado para todos os periféricos,
Quando conectados ao computador, esses equipamentos re- o que barateia o projeto do computador. Outro ponto positivo é a
produzem o que está na tela do computador em dimensões amplia- versatilidade, tendo em vista que toda placa sempre tem alguns
das, para que várias pessoas vejam ao mesmo tempo. slots livres para a conexão de novas placas que expandem as pos-
sibilidades do sistema.
Entrada/Saída A grande desvantagem dessa idéia é o surgimento de engarra-
famentos pelo uso da mesma via por muitos periféricos, o que vem
São dispositivos que possuem tanto a função de inserir dados, a prejudicar a vazão de dados (troughput).
quanto servir de saída de dados. Exemplos: pen drive, modem,
CD-RW, DVD-RW, tela sensível ao toque, impressora multifun- Dispositivos conectados ao barramento
cional, etc.
IMPORTANTE: A impressora multifuncional pode ser clas- • Ativos ou Mestres - dispositivos que comandam o acesso ao
sificada como periférico de Entrada/Saída, pois sua principal ca- barramento para leitura ou escrita de dados
racterística é a de realizar os papeis de impressora (Saída) e scan- • Passivos ou Escravos - dispositivos que simplesmente obe-
ner (Entrada) no mesmo dispositivo. decem à requisição do mestre.
1- Com relação ao sistema operacional Windows, assinale a 4- Qual a técnica que permite reduzir o tamanho de arquivos,
opção correta. sem que haja perda de informação?
(A) A desinstalação de um aplicativo no Windows deve ser (A) Compactação
feita a partir de opção equivalente do Painel de Controle, de modo (B) Deleção
a garantir a correta remoção dos arquivos relacionados ao aplicati- (C) Criptografia
vo, sem prejuízo ao sistema operacional. (D) Minimização
(B) O acionamento simultâneo das teclas CTRL, ALT e DE- (E) Encolhimento adaptativo
LETE constitui ferramenta poderosa de acesso direto aos diretó-
rios de programas instalados na máquina em uso. Comentários: A compactação de arquivos é uma técnica am-
(C) O Windows oferece acesso facilitado a usuários de um plamente utilizada. Alguns arquivos compactados podem conter
computador, pois bastam o nome do usuário e a senha da máquina extensões ZIP, TAR, GZ, RAR e alguns exemplos de programas
para se ter acesso às contas dos demais usuários possivelmente compactadores são o WinZip, WinRar, SolusZip, etc.
cadastrados nessa máquina. Resposta: A
(D) O Windows oferece um conjunto de acessórios disponí-
veis por meio da instalação do pacote Office, entre eles, calculado- 5- A figura a seguir foi extraída do MS-Excel:
ra, bloco de notas, WordPad e Paint.
(E) O comando Fazer Logoff, disponível a partir do botão Ini-
ciar do Windows, oferece a opção de se encerrar o Windows, dar
saída no usuário correntemente em uso na máquina e, em seguida,
desligar o computador.
Passo 2
que foi propagada pela alça de preenchimento para A2 e A3
a) 3, 0 e 7.
b) 5, 0 e 7.
c) 5, 1 e 2.
d) 7, 5 e 2.
e) 8, 3 e 4.
Resposta: “C”
Comentário:
Expressão =MÉDIA(A1:A3)
São somadas as celular A1, A2 e A3, sendo uma média é divi-
dido por 3 (pois tem 3 células): (8+3+4)/3 = 5
Expressão =MENOR(B1:B3;2) Click na imagem para melhor visualizar
Da célula B1 até a B3, deve mostrar o 2º menor número, que Passo 3
seria o número 1. Para facilitar coloque esses números em ordem Assim, a célula com interrogação (A3) apresenta, após a pro-
crescente. pagação, o resultado
Expressão =MAIOR(C1:C3;3)
Da célula C1 até a C3, deve mostrar o 3º maior número, que
seria o número 2. Para facilitar coloque esses números em ordem
decrescente.
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Este botão, contido na barra de ferramentas, exibe/ oculta o
painel PASTAS. —————————————————————————
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