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Índice

PC-SP
Polícia Civil do Estado de São Paulo

Investigador de Polícia
A Apostila Preparatória é elaborada antes da publicação do Edital Oficial, com base no último concurso
para este cargo, elaboramos essa apostila a fim que o aluno antecipe seus estudos.
Quando o novo concurso for divulgado aconselhamos a compra de uma nova apostila elaborada de acordo
com o novo Edital.
A antecipação dos estudos é muito importante, porém essa apostila não lhe dá o direito de troca, atualizações
ou quaisquer alterações sofridas no Novo Edital.

ARTIGO DO WILLIAM DOUGLAS

LÍNGUA PORTUGUESA

1.1 Leitura e interpretação de diversos tipos de textos (literários e não literários)........................................................01


1.2 Sinônimos e antônimos...................................................................................................................................................03
1.3 Sentido próprio e figurado das palavras.......................................................................................................................05
1.4 Pontuação.........................................................................................................................................................................50
1.5 Classes de palavras: substantivo, adjetivo, numeral, pronome, verbo, advérbio, preposição e conjunção: emprego
e sentido que imprimem às relações que estabelecem..............................................................................................................09
1.6 Concordância verbal e nominal.....................................................................................................................................56
1.7 Regência verbal e nominal.............................................................................................................................................61
1.8 Colocação pronominal....................................................................................................................................................53
1.9 Crase.................................................................................................................................................................................66

NOÇÕES DE DIREITO

2.1 Constituição Federal: artigos 1.º a 5.º, 37 e 144............................................................................................................01


2.2 Direitos Humanos............................................................................................................................................................19
2.2.1 Direitos Humanos: noção, significado, finalidades e história...................................................................................19
2.2.2 A dignidade da pessoa humana e os valores da liberdade, da igualdade e da solidariedade................................26
2.2.3 Cidadania: noção, significado e história....................................................................................................................28
2.2.3.1 Direitos e deveres da cidadania................................................................................................................................28
2.2.3 Democracia: noção, significado e valores...................................................................................................................30
2.2.3.1 Estado Democrático de Direito: noção e significado..............................................................................................30
2.2.4 Os Direitos Humanos fundamentais vigentes na Constituição da República: direitos à vida e à preservação da
integridade física e moral (honra, imagem, nome, intimidade e vida privada), à liberdade em todas as suas formas, à
igualdade, à propriedade e à segurança, os direitos sociais, a nacionalidade e os direitos políticos....................................32

Didatismo e Conhecimento
Índice
2.2.5 A Polícia Civil e a defesa das instituições democráticas: a polícia judiciária e a promoção dos direitos
fundamentais................................................................................................................................................................................44
2.2.5 O direito de receber serviços públicos adequados.....................................................................................................48
2.2.6 Os sistemas global e americano de proteção dos direitos humanos fundamentais: a Declaração Universal dos
Direitos Humanos e a Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica)............................49
2.3 Direito Penal....................................................................................................................................................................83
2.3.1 Crime: conceitos...........................................................................................................................................................83
2.3.2 Crime e contravenção..................................................................................................................................................83
2.3.3 Crime doloso e crime culposo.....................................................................................................................................84
2.3.4 Crime consumado e crime tentado.............................................................................................................................87
2.3.5 Estado de necessidade. Legítima defesa. Estrito cumprimento do dever legal. Exercício regular do direito.....89
2.3.6 Dos Crimes Contra a Pessoa.......................................................................................................................................91
2.3.7 Dos Crimes Contra o Patrimônio.............................................................................................................................121
2.3.8 Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual...................................................................................................................137
2.3.9 Dos Crimes Contra a Incolumidade Pública...........................................................................................................148
2.3.10 Dos Crimes Contra a Paz Pública..........................................................................................................................151
2.3.11 Dos Crimes Contra a Fé Pública.............................................................................................................................154
2.3.12 Dos Crimes Contra a Administração Pública........................................................................................................159
2.4 Direito Processual Penal:..............................................................................................................................................175
2.4.1 Do Inquérito Policial..................................................................................................................................................175
2.4.2 Da Prova......................................................................................................................................................................180
2.4.3 Da Prisão em Flagrante.............................................................................................................................................193
2.4.4 Da Prisão Preventiva..................................................................................................................................................193
2.5 Legislação Especial:......................................................................................................................................................200
2.5.1 Lei de Abuso de Autoridade - Lei n.º 4.898/65.........................................................................................................200
2.5.2 Estatuto da Criança e do Adolescente - Lei n.º 8.069/90 - artigos 225 ao 244-B..................................................203
2.5.3 Lei de Crimes Hediondos - Lei n.º 8.072/90.............................................................................................................204
2.5.4 Código de Defesa do Consumidor - Lei n.º 8.078/90 - artigos. 61 ao 80................................................................206
2.5.5 Lei de Improbidade Administrativa - Lei n.º 8.429/92...........................................................................................207
2.5.6 Lei de Tortura - Lei n.º 9.455/97............................................................................................................................... 211
2.5.7 Código de Trânsito Brasileiro - Lei n.º 9.503/97 - artigos 302 ao 312.................................................................... 211
2.5.8 Lei Maria da Penha - Lei n.º 11.340/06....................................................................................................................212
2.5.9 Lei sobre Drogas - Lei n.º 11.343/06 - artigos 27 ao 53...........................................................................................217
2.5.10 Lei do Crime Organizado - Lei nº 12850/13..........................................................................................................220
2.5.11 Lei da Prisão Temporária - Lei nº 7.960/89...........................................................................................................223
2.5.12 Lei dos Juizados Especiais - Lei nº 9.099/95 - artigos 60 ao 97............................................................................224
2.5.13 Lei das Contravenções Penais - Decreto-lei nº 3.688/41.......................................................................................227
2.5.14 Estatuto do Desarmamento - Lei nº 10.826/2003 - artigos 12 ao 21....................................................................232
2.5.15 Lei dos Crimes Ambientais - Lei nº 9.605/98.........................................................................................................233
2.5.16 Lei de Interceptação Telefônica - nº Lei 9.296/96..................................................................................................240
2.5.17 Lei dos Crimes Resultantes de Preconceito de Raça e Cor - Lei nº 7.716/89......................................................241
2.5.18 Estatuto do Idoso - Lei nº 10.741/2003 - artigos 93 ao 108...................................................................................243
2.5.19 Estatuto dos Funcionários Públicos Civis do Estado - Lei nº 10.261/68.............................................................244
2.5.20 Lei Orgânica da Polícia do Estado de São Paulo (Lei Complementar n.º 207 de 05/01/1979 e Lei Complementar
n.º 922/02 e Lei Complementar n.º 1.151/11)...........................................................................................................................267
2.5.21 Lei Federal n.º 12.527, de 18/11/2011 (Lei de Acesso à Informação) e seu decreto regulamentador no âmbito do
Estado de São Paulo (Decreto n.º 58.052, de 16/05/2012).......................................................................................................289

CRIMINOLOGIA

3.1 Fundamentos teóricos.....................................................................................................................................................01


3.2 Etapas evolutivas do pensamento criminológico..........................................................................................................01
3.3 Modelos teóricos de natureza biológica, psicológica e sociológica..............................................................................07
3.4 Vitimologia.......................................................................................................................................................................18
3.5 Modelos e sistemas de segurança pública e de justiça criminal..................................................................................24

Didatismo e Conhecimento
Índice

LÓGICA

4.1 Conceito de Proposição - Proposições Simples e Compostas - Conectivos Lógicos..................................................01


4.2 Negação de uma Proposição Simples............................................................................................................................. 11
4.3 Tautologia, Contradição e Contingência.......................................................................................................................15
4.4 Implicação Lógica...........................................................................................................................................................18
4.5 Equivalência Lógica - Equivalências Notáveis.............................................................................................................22
4.6 Sentenças Abertas e Quantificadores............................................................................................................................25
4.7 Negação de Proposições Quantificadas.........................................................................................................................25
4.8 Argumentos......................................................................................................................................................................25
4.9 Princípio Fundamental da Contagem...........................................................................................................................35
4.10 Permutações...................................................................................................................................................................35
4.11 Arranjos..........................................................................................................................................................................35
4.12 Combinações..................................................................................................................................................................35
4.13 Experimentos Aleatórios...............................................................................................................................................39
4.14 Espaço Amostral............................................................................................................................................................39
4.15 Evento.............................................................................................................................................................................39
4.16 Conceito de Probabilidade - Probabilidade de um Evento Elementar - Evento Complementar - União e
Intersecção de Eventos................................................................................................................................................................39
4.17 Lei da Soma - Situações Excludentes..........................................................................................................................39
4.18 Probabilidade Condicional - Eventos Independentes - Multiplicação de Probabilidades.....................................39

NOÇÕES DE INFORMÁTICA

5.1 MS-Windows 7: conceito de pastas, diretórios, arquivos e atalhos, área de trabalho, área de transferência,
manipulação de arquivos e pastas, uso dos menus, programas e aplicativos, interação com o conjunto de aplicativos do
MS-Office 2010.............................................................................................................................................................................01
5.2 MS-Word 2010: estrutura básica dos documentos, edição e formatação de textos, cabeçalhos, parágrafos, fontes,
colunas, marcadores simbólicos e numéricos, tabelas, impressão, controle de quebras e numeração de páginas, legendas,
índices, inserção de objetos, campos predefinidos, caixas de texto.........................................................................................13
5.3 MS-Excel 2010: estrutura básica das planilhas, conceitos de células, linhas, colunas, pastas e gráficos, elaboração
de tabelas e gráficos, uso de fórmulas, funções e macros, impressão, inserção de objetos, campos predefinidos, controle
de quebras e numeração de páginas, obtenção de dados externos, classificação de dados...................................................39
5.4 MS-PowerPoint 2010: estrutura básica das apresentações, conceitos de slides, anotações, régua, guias, cabeçalhos
e rodapés, noções de edição e formatação de apresentações, inserção de objetos, numeração de páginas, botões de ação,
animação e transição entre slides...............................................................................................................................................63
5.5 Correio Eletrônico: uso de correio eletrônico, preparo e envio de mensagens, anexação de arquivos...................79
5.6 Internet: Navegação Internet, conceitos de URL, links, sites, busca e impressão de páginas.................................87
5.7 Computadores pessoais (desktops, tablets, notebooks e noções gerais e operações)................................................94

Didatismo e Conhecimento
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Atenção
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Didatismo e Conhecimento
Artigo
O conteúdo do artigo abaixo é de responsabilidade do autor William Douglas, autorizado gentilmente e sem cláusula
de exclusividade, para uso do Grupo Nova.
O conteúdo das demais informações desta apostila é de total responsabilidade da equipe do Grupo Nova.

ELA, A DEPRESSÃO.

William Douglas, professor, juiz federal.

Creio que para falar sobre como passar em concursos a pessoa já deve ter sido reprovada e aprovada várias vezes.
Tem, necessariamente de ter sentido cada uma das dores e alegrias dessa jornada longa, trabalhosa e gratificante.
Apenas tem.
Feliz ou infelizmente, esse é um planeta onde antes de se falar deve se fazer. É assim que funciona.
E é por isso mesmo que vou me arvorar a falar sobre ela, a depressão. Porque eu já a tive. Diante da depressão, o
mundo não faz sentido, nem nós, nem nossa vida, nem nada, mesmo as coisas boas. Um sono infinito, uma vontade
de tudo acabar mesmo que precisemos, nós mesmos, dar um fim a isto. Dores loucas pelo corpo, fisgadas, uma afasia
enorme, uma incessante sensação de que nada vale a pena. E remédios. Rivotril, Lexotan, Frontal... vários, os laboratórios
estão aí para isso mesmo. E, claro, consultas e, mais que tudo, culpa. Culpa por estar triste, culpa por estar assim, culpa
por culpa. O mundo todo desabando, exigindo você... e tudo o que você quer é o direito de não querer mais coisa alguma.
Apenas passar, ir, dormir.
É assim que funciona. Quem já viveu, sabe. E, em um mundo louco como esse nosso, parece que quem ainda não
viveu pode esperar: cedo ou tarde passa por ela, a depressão.
Claro, há graus e níveis. Não há quem não tenha tido um mal dia. O problema é que os jornais são depressivos, a
miséria desse país e desse mundo também é e, somadas as frustrações cotidianas, são um grande incentivo ao desânimo
total e irrestrito. E, claro, estudar para concursos também é depressivo.
Sim, das carteiras às apostilas, dos professores ruins ou arrogantes aos examinadores, passando por programas de
concurso, rotinas, reveses, custos, insucessos, anulações, cansaço, inquietações e, óbvio, prazos longos. Tudo isso tem
um extraordinário potencial depressivo.
Então, por isso, cedo ou tarde, esse depressivo em recuperação teria que tocar no assunto. Já estive deprimido e sem
ânimo algum e, se não tomar cuidado, tenho de novo.
E você, já a experimentou?
Até Elias, um grande profeta da Bíblia, passou pelo atual mal do século (I Reis 19), desejando morrer e indo para
uma caverna.
No livro Não sou a mulher maravilha (Ed. Thomas Nelson Brasil), Sheila Walsh aborda o tema num interessante
capítulo chamado “Máscaras”. Acho que o primeiro problema da vida social é termos que usar máscaras de invencibilidade
e força. E isto é depressivo.
Ela cita o Mágico de Oz, em especial Dorothy e seus amigos por buscarem a solução para seus problemas no Mágico
que estava na cidade Esmeralda. E lá foram eles pela estrada amarela em busca da solução mágica para suas angústias.
E, quando finalmente chegam à Cidade Esmeralda, descobrem que o Grande Oz usava uma máscara, que era um engodo.
Diz a autora: “À primeira vista, a imagem do Mágico projetada na tela diante de Dorothy é impressionante e irresistível,
mas quando Totó puxa a cortina, ela vê que o Grande Oz é só um velho falando em um microfone. Dorothy fica muito
decepcionada, mas quando diz ao Mágico que ele é um homem ruim, a resposta é maravilhosa.” O mágico diz:
— Não, querida, sou um homem bom. Sou apenas um péssimo mágico.

Didatismo e Conhecimento
Artigo
O livro traz boas lições. A primeira é que o que muda Dorothy, o Espantalho, o Homem de Lata e o Leão não são o
mágico, mas a viagem. Outra, que ao reconhecerem suas limitações e abandonarem as máscaras tiveram força força e
alento para, juntos, prosseguirem. Mas isso eu já comentei no artigo da semana passada.
Quero, agora, ir mais longe.
E, para isso, vou citar a fantástica experiência de Sheila Walsh:
“Já experimentei meus próprios momentos de péssimo mágico. Não conheço sua história ou quais eventos a levaram
à situação em que você se encontra agora, mas será que já não se sentiu assim também? Será que você deu tanto duro
para manter funcionando toda a fumaça e os espelhos, todos os pratos girando no ar, tentando ser mais do que consegue
e, então, de repente, tudo caiu no chão à sua frente? Acredito que esses momentos são dádivas de Deus se estivermos
dispostos a ver a mão dele.
Eles podem ser o começo de uma nova maneira de viver se deixarmos as máscaras caírem. Já escrevi extensivamente
sobre minha experiência com depressão clínica em meu livro Honestly [Honestamente] e também abordei isso em The
Heartache No One Sees [A dor que ninguém vê], então não vou me alongar aqui. Mas, se somos novas amigas, deixe-me
dar uma breve noção de como Deus me transformou de uma péssima mágica, uma Mulher-Maravilha exausta, em uma
mulher muito grata que finalmente entendeu que foi feita maravilhosamente.
Estava morando em Virginia Beach há cinco anos e estava feliz por morar perto do oceano novamente. Tinha crescido
perto da praia e acho que ela pode ser pacífica e confortante até mesmo quando não estou em paz por dentro. Tinha
aprendido a evitar a praia principal, mais popular, e encontrei meu cantinho sossegado longe da multidão. Sentei-me na
praia uma noite e olhei para as ondas quebrando na areia. Elas pareciam simbolizar o que estava acontecendo na minha
vida. Tudo com que já tinha contado para construir minha identidade estava acabando.
Amanhã de manhã seria a co-anfitriã de minha última edição do The 700 Club [O Clube dos 700], e então dirigiria
até Washington, D.C., e me internaria em um hospital psiquiátrico. Era o meu maior medo se concretizando. Se fosse
diagnosticada com alguma coisa física, poderia facilmente compartilhar isso com os outros, receber apoio e perseverado.
Um diagnóstico de depressão clínica aguda, entretanto, não era algo para se compartilhar. Estava muito envergonhada.
Por anos havia baseado minha identidade na tentativa de ser a mulher cristã perfeita. Dava duro, tentava ajudar todas
as pessoas que pudesse, nunca me atrasava para nada e nem reclamava de excesso de trabalho. Até tinha ajuda com minha
máscara. Todas as manhãs eu me sentava na sala de maquiagem e Debbie fazia o melhor que podia para disfarçar minhas
olheiras. Quando terminava, ela fazia meu cabelo. Aileen trazia meu terno passado, pendurando-o ao lado dos sapatos e
jóias certos.
Dei uma última olhada no espelho e caminhei pelo corredor até o camarim de Pat Robinson, onde orávamos com os
produtores antes do show a cada manhã. Desempenhava meu papel por fora, mas por dentro estava me enfiando mais e
mais em um buraco negro.
Tinha tentado me salvar, mas não pude. Tinha jejuado e orado, me energizado, e tomado vitaminas suficientes para
uma horda de búfalos doentes.
Desesperada, falei com meu amigo, Dr. Henry Cloud, e Henry disse que eu precisava conseguir ajuda, e bem rápido.
Ele me pôs em contato com o médico e o hospital certos, conseguindo que fosse admitida na noite seguinte.
Não me lembro muito daquele último programa, mas me lembro de uma conversa final. Uma de minhas amigas que
fazia parte do programa há muitos anos e era uma pessoas respeitada e querida da equipe me pediu para reconsiderar:
— Se você fizer isso, Sheila, ninguém vai confiar em você novamente.
Vai vazar a informação de que esteve em uma ala psiquiátrica e isso vai persegui-la pelo resto da vida.
Sabia que ela estava certa, mas não tinha escolha. Estava sentindo tanta dor e incômodo que decidi que o que quer que
acontecesse não podia ser pior que viver assim. Depois do programa, vesti uma calça jeans, um suéter e saí pelos portões
da Christian Brodcasting Network [rede de televisão cristã] em meu carro.
Estava dando adeus a tudo que considerava importante. Tinha um emprego que adorava e no qual era muito boa.
Meus colegas confiavam em mim e me respeitavam. Não fazia idéia do que o futuro reservaria para mim ou se ao menos
teria um.

Didatismo e Conhecimento
Artigo
Para aquelas de vocês que não estão familiarizadas com esta doença, a depressão não é ter pena de si mesma ou ter
uns poucos dias ruins.
É uma doença muito real que ocorre no cérebro quando algumas substâncias necessárias ao bom funcionamento dele
estão faltando. É uma doença totalmente tratável, mas, infelizmente, muitas pessoas não procuram ajuda porque, como
eu, têm vergonha de admitir que precisam de ajuda. É uma doença que afeta a família inteira — o que sofre e aqueles ao
redor, pois freqüentemente não entendem ou não sabem o que fazer para ajudar.
Tenho muitas memórias do mês que passei no hospital, mas há duas que se destacam para mim em especial.
Não dormi bem naquela primeira noite. Eu me sentia doente, com medo e sozinha. Mais ou menos às sete da manhã,
vesti o roupão de banho por cima do pijama e vaguei pelo corredor até o hall dos pacientes. Havia seis ou sete pacientes
lá, conversando e bebendo café descafeinado.
Quando entrei, eles ficaram em silêncio. Cada um parou o que estava fazendo e me olhou fixamente. A princípio, não
fazia idéia por que estavam me encarando, então, de repente, dei conta que, estando em uma unidade administrada por
médicos cristãos, era bem provável que eles assistissem The 700 Club. Não tinha pensado nessa possibilidade até invadir
o espaço deles, e a dinâmica da sala mudou. Não sabia o que dizer, então não disse nada.
Finalmente um homem quebrou o silêncio.
— Você é Sheila Walsh?
— Sim.
— A da televisão?
— Sim.
— Nós assistimos a você aqui. Você deveria estar nos ajudando.
Nunca me esquecerei daquele momento. Naquele milésimo de segundo em que minha máscara caiu, o fracasso era
um convite de Deus para começar uma vida nova, e eu o aceitei. Tudo o que eu consegui dizer foi:
— Sinto muito, eu também preciso de ajuda.
Eu também preciso de ajuda — cinco palavras, apenas cinco palavrinhas que pareciam ter o poder de cortar o fardo
que vinha carregando por tanto tempo e deixei espatifar no chão. Naquele momento em que reconheci publicamente que
não era a Mulher-Maravilha ou o Grande Oz, descobri que é o suficiente ser humana. Deus não se sente diminuído por
nossa humanidade e ninguém ganha nada fingindo ser uma deidade também.
Houve outro momento que me impactou profundamente e me mostrou o que Deus fará se tirarmos nossas máscaras.
Eu estava no hospital havia quase duas semanas, progredindo bastante na busca dentro do meu armário interno por
tudo que tinha escondido lá por anos. Eu me sentia como uma criança levando suas bonecas àquele que podia consertálas.
Uma noite, depois do jantar, fui à sala das enfermeiras para pegar meu secador de cabelo. Qualquer coisa que seja
potencialmente perigosa aos pacientes é mantida trancada na caixa dos “pontiagudos”, mas pode ser retirada por um
breve período de tempo.
Quando me aproximava da mesa, vi que eles estavam recebendo uma nova paciente que estava muito nervosa, então
decidi voltar mais tarde. Quando saía, as duas filhas da nova paciente me reconheceram e começaram a chorar.
Instintivamente, me aproximei delas. Quando a mãe delas levantou os olhos e me viu, jogou os braços em volta do
meu pescoço e me abraçou forte. Ela era uma espectadora fiel de The 700 Club que precisava de ajuda desesperadamente,
mas estava com muita vergonha de sua necessidade. Deus a pôs ali na mesma hora que eu para que soubesse que não
estava sozinha e que não há problema algum em buscar ajuda.
Aprendi aquela noite que, quando tiramos as máscaras, podemos reconhecer a dor uns dos outros. Quando estamos
dispostos a mostrar nossa fragilidade e deixar a luz de Cristo entrar em nós, a boa nova é pregada aos pobres de espírito,
os cegos podem ver a verdade, e os aleijados e feridos podem andar de novo.
Não sei que máscaras você está usando. Não sei por que você acha que precisa delas. O que sei é que, se pela graça
de Deus conseguir tirá-las, nunca as usará novamente. Pode ser que lhe seja custoso; foi para mim, mas valeu a pena.

Didatismo e Conhecimento
Artigo
Houve alguns momentos em que as pessoas me disseram que estavam desapontadas comigo, particularmente porque
ainda tomo medicação para depressão. Mas entendo isso e está tudo bem. Não preciso da aprovação de todo mundo que
conheço. Tenho o amor poderoso do meu Pai e a companhia de outros que estão tendo o tecido de sua vida restaurado
com amor pelo Mestre dos Alfaiates.
Mas se você já realizou mudanças significativas em sua vida, entende que quando mudamos, tudo à nossa volta muda
também e, o mais significativo de tudo, nossos relacionamentos.”
Não sei se você está passando pelo problema, se já passou ou vai passar.
Espero que não passe. Mas sei que se tentar manter máscaras de que é perfeito ou superior, ou imune à dor, ou que não
tem medo, isso pode ter um alto custo. Máscaras são sempre pesadas, tiram o ar de quem as usa, atrapalham a visão. Sei
que é preciso ter coragem para se assumir como concurseiro e ir em busca de uma vaga, quando a multidão se omite, ou
ri, ou critica sua busca por uma melhoria de condição de vida. Sei que sempre vai aparecer alguém, de perto ou de longe,
com soluções melhores e com críticas ácidas ou, pior, com aquele risinho ou carinha de deboche ou falta de confiança
diante de você ou do que você está fazendo.
Sei que existe uma hora em que somos fracos e precisamos de ajuda.
Não existem mágicos, nem super-heróis. E quis começar essa conversa de hoje dizendo que o primeiro colocado
de vários concursos, o “guru”, também passou por isso. Quis tirar a minha máscara e dizer que tenho medo, que sofro,
que foi uma lenha conseguir passar, enfrentar as cobranças, a insegurança, tudo. Mas, ao mesmo tempo, dizer que tudo
isso passa. Nós permanecemos. Você permanece e estará aqui no futuro. Portanto, espero que jogue fora as máscaras da
perfeição, que aceite ajuda, que se permita mudar.
Como disse Sheila, “quando mudamos, tudo à nossa volta muda também e, o mais significativo de tudo, nossos
relacionamentos.” Estou certo que existem vitórias, alegrias e relacionamentos à sua espera, logo depois da esquina. E
desejo boa sorte a você, e coragem de ir até lá. É Importante você saber ou, se for o caso, dizer para alguém com esse
problema, que a depressão é só mais uma doença. Não é nenhuma vergonha têla. É só uma «gripe da alma». Ela tem
cura. Você passa por ela e, cedo ou tarde, reencontra a alegria de viver, compreende que estar vivo é, apesar de tudo, uma
dádiva. Que as coisas valem a pena.
Você passa por ela e se reconstrói, se redescobre, e ainda termina mais sábio, forte e maduro do que era. Como já foi
dito, tudo o que não me destrói, me fortalece. E quem diz isso já passou pelo desânimo, pela idéia de suicídio e outras
dores, umas bem grandes. No final, tudo se ajeita, a vida segue e a paisagem, com suas flores e pedras, volta a ficar
colorida.
Vamos manter a estrada colorida, e seguir nela, então.
Com abraço fraterno,
William Douglas

Didatismo e Conhecimento
LÍNGUA PORTUGUESA
LÍNGUA PORTUGUESA
- A linguagem não literária é objetiva, denotativa, preocupa-se
Prof Especialista Zenaide Auxiliadora Pachegas Branco em transmitir o conteúdo, utiliza a palavra em seu sentido próprio,
utilitário, sem preocupação artística. Geralmente, recorre à ordem
Graduada pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de direta (sujeito, verbo, complementos).
Adamantina Especialista pela Universidade Estadual Paulista –
Unesp Leia com atenção os textos a seguir e compare as linguagens
utilizadas neles.
Texto A
1.1 - LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE
Amor (ô). [Do lat. amore.] S. m. 1. Sentimento que predispõe
DIVERSOS TIPOS DE TEXTOS
alguém a desejar o bem de outrem, ou de alguma coisa: amor ao
(LITERÁRIOS E NÃO LITERÁRIOS).
próximo; amor ao patrimônio artístico de sua terra. 2. Sentimento
de dedicação absoluta de um ser a outro ser ou a uma coisa;
devoção, culto; adoração: amor à Pátria; amor a uma causa. 3.
Sabemos que a “matéria-prima” da literatura são as palavras. Inclinação ditada por laços de família: amor filial; amor conjugal.
No entanto, é necessário fazer uma distinção entre a linguagem 4. Inclinação forte por pessoa de outro sexo, geralmente de caráter
literária e a linguagem não literária, isto é, aquela que não carac- sexual, mas que apresenta grande variedade
teriza a literatura. e comportamentos e reações.
Embora um médico faça suas prescrições em determinado Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. Novo Dicionário da
idioma, as palavras utilizadas por ele não podem ser consideradas Língua Portuguesa, Nova Fronteira.
literárias porque se tratam de um vocabulário especializado e de
um contexto de uso específico. Agora, quando analisamos a lite- Texto B
ratura, vemos que o escritor dispensa um cuidado diferente com a Amor é fogo que arde sem se ver;
linguagem escrita, e que os leitores dispensam uma atenção dife- É ferida que dói e não se sente;
renciada ao que foi produzido. É um contentamento descontente;
Outra diferença importante é com relação ao tratamento do é dor que desatina sem doer.
conteúdo: ao passo que, nos textos não literários (jornalísticos, Luís de Camões. Lírica, Cultrix.
científicos, históricos, etc.) as palavras servem para veicular uma
série de informações, o texto literário funciona de maneira a cha- Você deve ter notado que os textos tratam do mesmo assunto,
mar a atenção para a própria língua (FARACO & MOURA, 1999) porém os autores utilizam linguagens diferentes.
no sentido de explorar vários aspectos como a sonoridade, a estru- No texto A, o autor preocupou-se em definir “amor”, usando
tura sintática e o sentido das palavras. uma linguagem objetiva, científica, sem preocupação artística.
Veja abaixo alguns exemplos de expressões na linguagem não No texto B, o autor trata do mesmo assunto, mas com
literária ou “corriqueira” e um exemplo de uso da mesma expres- preocupação literária, artística. De fato, o poeta entra no campo
são, porém, de acordo com alguns escritores, na linguagem lite- subjetivo, com sua maneira própria de se expressar, utiliza
rária: comparações (compara amor com fogo, ferida, contentamento e
dor) e serve-se ainda de contrastes que acabam dando graça e força
Linguagem não Linguagem literária: expressiva ao poema (contentamento descontente, dor sem doer,
literária: ferida que não se sente, fogo que não se vê).
Anoitece. A mão da noite embrulha os horizontes.
Questões
(Alvarenga Peixoto)
Teus cabelos loiros Os clarins de ouro dos teus cabelos can- 1-) Leia o trecho do poema abaixo.
brilham. tam na luz! (Mário Quintana)
Uma nuvem cobriu ... um sujo de nuvem emporcalhou o luar O Poeta da Roça
parte do céu. em sua nascença. (José Cândido de Car- Sou fio das mata, cantô da mão grosa
valho) Trabaio na roça, de inverno e de estio
A minha chupana é tapada de barro
Como distinguir, na prática, a linguagem literária da não Só fumo cigarro de paia de mio.
literária? Patativa do Assaré

- A linguagem literária é conotativa, utiliza figuras (palavras A respeito dele, é possível afirmar que
de sentido figurado), em que as palavras adquirem sentidos mais (A) não pode ser considerado literário, visto que a linguagem
amplos do que geralmente possuem. aí utilizada não está adequada à norma culta formal.
- Na linguagem literária há uma preocupação com a escolha (B) não pode ser considerado literário, pois nele não se perce-
e a disposição das palavras, que acabam dando vida e beleza a um be a preservação do patrimônio cultural brasileiro.
texto. (C) não é um texto consagrado pela crítica literária.
- Na linguagem literária é muito importante a maneira original
de apresentar o tema escolhido.

Didatismo e Conhecimento 1
LÍNGUA PORTUGUESA
(D) trata-se de um texto literário, porque, no processo criativo 3-) Ainda com relação ao textos I e II, assinale a opção incor-
da Literatura, o trabalho com a linguagem pode aparecer de várias reta
formas: cômica, lúdica, erótica, popular etc a) No texto I, em lugar de apenas informar sobre o real, ou de
(E) a pobreza vocabular – palavras erradas – não permite que produzi-lo, a expressão literária é utilizada principalmente como
o consideremos um texto literário. um meio de refletir e recriar a realidade.
b) No texto II, de expressão não literária, o autor informa o lei-
Leia os fragmentos abaixo para responder às questões que se- tor sobre a origem da cana-de-açúcar, os lugares onde é produzida,
guem: como teve início seu cultivo no Brasil, etc.
c) O texto I parte de uma palavra do domínio comum – açúcar
TEXTO I – e vai ampliando seu potencial significativo, explorando recursos
formais para estabelecer um paralelo entre o açúcar – branco, doce,
O açúcar puro – e a vida do trabalhador que o produz – dura, amarga, triste.
O branco açúcar que adoçará meu café nesta manhã de Ipa- d) No texto I, a expressão literária desconstrói hábitos de lin-
nema não foi produzido por mim nem surgiu dentro do açucareiro guagem, baseando sua recriação no aproveitamento de novas for-
por milagre. mas de dizer.
Vejo-o puro e afável ao paladar como beijo de moça, água na e) O texto II não é literário porque, diferentemente do literá-
pele, flor que se dissolve na boca. Mas este açúcar não foi feito rio, parte de um aspecto da realidade, e não da imaginação.
por mim.
Este açúcar veio da mercearia da esquina e tampouco o fez o Gabarito
Oliveira, dono da mercearia.
Este açúcar veio de uma usina de açúcar em Pernambuco ou 1-) D
no Estado do Rio e tampouco o fez o dono da usina.
Este açúcar era cana e veio dos canaviais extensos que não 2-) D – Esta alternativa está correta, pois ela remete ao caráter
nascem por acaso no regaço do vale. reflexivo do autor de um texto literário, ao passo em que ele revela
Em lugares distantes, onde não há hospital nem escola, ho- às pessoas o “seu mundo” de maneira peculiar.
mens que não sabem ler e morrem de fome aos 27 anos plantaram
e colheram a cana que viraria açúcar.
3-) E – o texto I também fala da realidade, mas com um cunho
Em usinas escuras, homens de vida amarga e dura produzi-
diferente do texto II. No primeiro há uma colocação diferencia-
ram este açúcar branco e puro com que adoço meu café esta ma-
da por parte do autor em que o objetivo não é unicamente passar
nhã em Ipanema.
informação, existem outros “motivadores” por trás desta escrita.
fonte: “O açúcar” (Ferreira Gullar. Toda poesia. Rio de Janei-
ro, Civilização Brasileira, 1980, pp.227-228)
Fontes:
TEXTO II http://robertoavila.com.br/arquivos/literatura_aula01.htm
http://www.soliteratura.com.br/texto_literario/
A cana-de-açúcar https://www.unifonte.com.br/wp-content/uploads/2012/02/
Originária da Ásia, a cana-de-açúcar foi introduzida no Brasil Exerc%C3%ADcios-Complementares.pdf
pelos colonizadores portugueses no século XVI. A região que du- http://blogdoenem.com.br/enem-2013-literatura-texto-nao-litera-
rante séculos foi a grande produtora de cana-de-açúcar no Brasil é rio/
a Zona da Mata nordestina, onde os férteis solos de massapé, além
da menor distância em relação ao mercado europeu, propiciaram
condições favoráveis a esse cultivo. Atualmente, o maior produtor
nacional de cana-de-açúcar é São Paulo, seguido de Pernambuco,
Alagoas, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Além de produzir o açú-
car, que em parte é exportado e em parte abastece o mercado inter-
no, a cana serve também para a produção de álcool, importante nos
dias atuais como fonte de energia e de bebidas. A imensa expansão
dos canaviais no Brasil, especialmente em São Paulo, está ligada
ao uso do álcool como combustível.

2-) Para que um texto seja literário:


a) basta somente a correção gramatical; isto é, a expressão
verbal segundo as leis lógicas ou naturais.
b) deve prescindir daquilo que não tenha correspondência na
realidade palpável e externa.
c) deve fugir do inexato, daquilo que confunda a capacidade
de compreensão do leitor.
d) deve assemelhar-se a uma ação de desnudamento. O escri-
tor revela, ao escrever, o mundo, e, em especial, revela o Homem
aos outros homens.
e) deve revelar diretamente as coisas do mundo: sentimentos,
ideias, ações.

Didatismo e Conhecimento 2
LÍNGUA PORTUGUESA
QUESTÕES SOBRE SIGNIFICAÇÃO DAS PALAVRAS

SINÔNIMOS, ANTÔNIMOS E PARÔNIMOS 01.Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas


da frase abaixo:
Da mesma forma que os italianos e japoneses _________ para
- Sinônimos o Brasil no século passado, hoje os brasileiros ________ para a
São palavras de sentido igual ou aproximado: alfabeto - abece- Europa e para o Japão, à busca de uma vida melhor; internamente,
dário; brado, grito - clamor; extinguir, apagar - abolir. __________ para o Sul, pelo mesmo motivo.
Observação: A contribuição greco-latina é responsável pela a) imigraram - emigram - migram
existência de numerosos pares de sinônimos: adversário e antago- b) migraram - imigram - emigram
nista; translúcido e diáfano; semicírculo e hemiciclo; contraveneno c) emigraram - migram - imigram.
e antídoto; moral e ética; colóquio e diálogo; transformação e meta- d) emigraram - imigram - migram.
e) imigraram - migram – emigram
morfose; oposição e antítese.
Agente de Apoio – Microinformática – VUNESP – 2013
- Antônimos
Leia o texto para responder às questões de números 02 e 03.
São palavras de significação oposta: ordem - anarquia; soberba
Alunos de colégio fazem robôs com sucata eletrônica
- humildade; louvar - censurar; mal - bem.
Você comprou um smartphone e acha que aquele seu celular
Observação: A antonímia pode originar-se de um prefixo de antigo é imprestável? Não se engane: o que é lixo para alguns pode
sentido oposto ou negativo: bendizer e maldizer; simpático e anti- ser matéria-prima para outros. O CMID – Centro Marista de Inclu-
pático; progredir e regredir; concórdia e discórdia; ativo e inativo; são Digital –, que funciona junto ao Colégio Marista de Santa Maria,
esperar e desesperar; comunista e anticomunista; simétrico e assi- no Rio Grande do Sul, ensina os alunos do colégio a fazer robôs a
métrico. partir de lixo eletrônico.
Os alunos da turma avançada de robótica, por exemplo, cons-
O que são Homônimos e Parônimos: troem carros com sensores de movimento que respondem à aproxi-
- Homônimos mação das pessoas. A fonte de energia vem de baterias de celular.
a) Homógrafos: são palavras iguais na escrita e diferentes na “Tirando alguns sensores, que precisamos comprar, é tudo recicla-
pronúncia: gem”, comentou o instrutor de robótica do CMID, Leandro Sch-
rego (subst.) e rego (verbo); neider. Esses alunos também aprendem a consertar computadores
colher (verbo) e colher (subst.); antigos. “O nosso projeto só funciona por causa do lixo eletrônico.
jogo (subst.) e jogo (verbo); Se tivéssemos que comprar tudo, não seria viável”, completou.
apoio (subst.) e apóio (verbo); Em uma época em que celebridades do mundo digital fazem
denúncia (subst.) e denuncia (verbo); campanha a favor do ensino de programação nas escolas, é inspi-
providência (subst.) e providencia (verbo). rador o relato de Dionatan Gabriel, aluno da turma avançada de ro-
bótica do CMID que, aos 16 anos, já sabe qual será sua profissão.
b) Homófonos: são palavras iguais na pronúncia e diferentes “Quero ser programador. No início das aulas, eu achava meio chato,
na escrita: mas depois fui me interessando”, disse.
acender (atear) e ascender (subir); (Giordano Tronco, www.techtudo.com.br, 07.07.2013. Adapta-
concertar (harmonizar) e consertar (reparar); do)
cela (compartimento) e sela (arreio);
censo (recenseamento) e senso (juízo); 02. A palavra em destaque no trecho –“Tirando alguns sen-
sores, que precisamos comprar, é tudo reciclagem”... – pode ser
paço (palácio) e passo (andar).
substituída, sem alteração do sentido da mensagem, pela seguinte
expressão:
c) Homógrafos e homófonos simultaneamente: São palavras
A) Pelo menos
iguais na escrita e na pronúncia:
B) A contar de
caminho (subst.) e caminho (verbo);
C) Em substituição a
cedo (verbo) e cedo (adv.); D) Com exceção de
livre (adj.) e livre (verbo). E) No que se refere a

- Parônimos 03. Assinale a alternativa que apresenta um antônimo para o


São palavras parecidas na escrita e na pronúncia: coro e couro; termo destacado em – …“No início das aulas, eu achava meio cha-
cesta e sesta; eminente e iminente; osso e ouço; sede e cede; compri- to, mas depois fui me interessando”, disse.
mento e cumprimento; tetânico e titânico; autuar e atuar; degradar e A) Estimulante.
degredar; infligir e infringir; deferir e diferir; suar e soar. B) Cansativo.
C) Irritante.
http://www.coladaweb.com/portugues/sinonimos,-antonimos,- D) Confuso.
-homonimos-e-paronimos E) Improdutivo.

Didatismo e Conhecimento 3
LÍNGUA PORTUGUESA
04. (Agente de Escolta e Vigilância Penitenciária – VUNESP d) deferir = diferenciar; diferir = conceder
– 2013). Analise as afirmações a seguir. e) dispensa = cômodo; despensa = desobrigação
I. Em – Há sete anos, Fransley Lapavani Silva está preso por
homicídio. – o termo em destaque pode ser substituído, sem altera- 09. (Agente de Apoio Operacional – VUNESP – 2013). Leia
ção do sentido do texto, por “faz”. o texto a seguir.
II. A frase – Todo preso deseja a libertação. – pode ser reescrita Temos o poder da escolha
da seguinte forma – Todo preso aspira à libertação. Os consumidores são assediados pelo marketing a todo mo-
III. No trecho – ... estou sendo olhado de forma diferente aqui mento para comprarem além do que necessitam, mas somente eles
no presídio devido ao bom comportamento. – pode-se substituir a podem decidir o que vão ou não comprar. É como se abrissem em
expressão em destaque por “em razão do”, sem alterar o sentido nós uma “caixa de necessidades”, mas só nós temos o poder da es-
do texto. colha.
De acordo com a norma-padrão da língua portuguesa, está cor- Cada vez mais precisamos do consumo consciente. Será que
reto o que se afirma em paramos para pensar de onde vem o produto que estamos consumin-
A) I, II e III. do e se os valores da empresa são os mesmos em que acreditamos? A
B) III, apenas. competitividade entre as empresas exige que elas evoluam para se-
C) I e III, apenas. rem opções para o consumidor. Nos anos 60, saber fabricar qualquer
D) I, apenas. coisa era o suficiente para ter uma empresa. Nos anos 70, era preciso
E) I e II, apenas. saber fazer com qualidade e altos índices de produção. Já no ano
2000, a preocupação era fazer melhor ou diferente da concorrência e
05. Leia as frases abaixo: as empresas passaram a atuar com responsabilidade socioambiental.
1 - Assisti ao ________ do balé Bolshoi; O consumidor tem de aprender a dizer não quando a sua relação
2 - Daqui ______ pouco vão dizer que ______ vida em Marte. com a empresa não for boa. Se não for boa, deve comprar o produto
3 - As _________ da câmara são verdadeiros programas de hu- em outro lugar. Os cidadãos não têm ideia do poder que possuem.
mor.
É importante, ainda, entender nossa relação com a empresa ou
4 - ___________ dias que não falo com Alfredo.
produto que vamos eleger. Temos uma expectativa, um envolvimen-
Escolha a alternativa que oferece a seqüência correta de vocá-
to e aceitação e a preferência dependerá das ações que aprovamos ou
bulos para as lacunas existentes:
não nas empresas, pois podemos mudar de ideia.
a) concerto – há – a – cessões – há;
Há muito a ser feito. Uma pesquisa mostrou que 55,4% das pes-
b) conserto – a – há – sessões – há;
c) concerto – a – há – seções – a; soas acreditam no consumo consciente, mas essas mesmas pessoas
d) concerto – a – há – sessões – há; admitem que já compraram produto pirata. Temos de refletir sobre
e) conserto – há – a – sessões – a . isso para mudar nossas atitudes.
(Jornal da Tarde 24.04.2007. Adaptado)
06. (Agente de Escolta e Vigilância Penitenciária – VUNESP No trecho – Temos uma expectativa, um envolvimento e aceita-
– 2013-adap.). Considere o seguinte trecho para responder à ques- ção... –, a palavra destacada apresenta sentido contrário de
tão.Adolescentes vivendo em famílias que não lhes transmitiram A) vontade.
valores sociais altruísticos, formação moral e não lhes impuseram B) apreciação.
limites de disciplina. C) avaliação.
O sentido contrário (antônimo) de altruísticos, nesse trecho, é: D) rejeição.
A) de desprendimento. E) indiferença.
B) de responsabilidade.
C) de abnegação. 10. (Agente de Apoio Operacional – VUNESP – 2013). Na
D) de amor. frase – Os consumidores são assediados pelo marketing... –, a pa-
E) de egoísmo. lavra destacada pode ser substituída, sem alteração de sentido, por:
A) perseguidos.
07. Assinale o único exemplo cuja lacuna deve ser preenchida B) ameaçados.
com a primeira alternativa da série dada nos parênteses: C) acompanhados.
A) Estou aqui _______ de ajudar os flagelados das enchentes. D) gerados.
(afim- a fim). E) preparados.
B) A bandeira está ________. (arreada - arriada).
C) Serão punidos os que ________ o regulamento. (inflingirem GABARITO
- infringirem).
D) São sempre valiosos os ________ dos mais velhos. (conce- 01. A
lhos - conselhos). 02. D
E) Moro ________ cem metros da praça principal. (a cerca de 03. A
- acerca de). 04. A
05. D
08. Assinale a alternativa correta, considerando que à direita de 06. E
cada palavra há um sinônimo. 07. E
a) emergir = vir à tona; imergir = mergulhar 08. A
b) emigrar = entrar (no país); imigrar = sair (do país) 09. D
c) delatar = expandir; dilatar = denunciar 10. A

Didatismo e Conhecimento 4
LÍNGUA PORTUGUESA
COMENTÁRIOS 8-)
b) emigrar = entrar (no país); imigrar = sair (do país) = signifi-
1-) Da mesma forma que os italianos e japoneses imigraram cados invertidos
para o Brasil no século passado, hoje os brasileirosemigram para c) delatar = expandir; dilatar = denunciar = significados inver-
a Europa e para o Japão, à busca de uma vida melhor; internamen- tidos
te, migrampara o Sul, pelo mesmo motivo. d) deferir = diferenciar; diferir = conceder= significados inver-
2-) “Com exceção de alguns sensores, que precisamos com- tidos
prar, é tudo reciclagem”... e) dispensa = cômodo; despensa = desobrigação= significados
invertidos
3-) antônimo para o termo destacado : “No início das aulas, eu
achava meio chato, mas depois fui me interessando”
9-) Temos uma expectativa, um envolvimento e aceitação... –, a
“No início das aulas, eu achava meio estimulante, mas depois
palavra destacada apresenta sentido contrário de rejeição.
fui me interessando”
10-) Os consumidores são assediados pelo marketing... –, a pa-
4-) lavra destacada pode ser substituída, sem alteração de sentido, por
I. Em – Há sete anos, Fransley Lapavani Silva está preso por perseguidos.
homicídio. – o termo em destaque pode ser substituído, sem altera-
ção do sentido do texto, por “faz”.= correta
II. A frase – Todo preso deseja a libertação. – pode ser reescrita
da seguinte forma – Todo preso aspira à libertação.= correta SENTIDO PRÓPRIO E FIGURADO
III. No trecho – ... estou sendo olhado de forma diferente aqui DAS PALAVRAS
no presídio devido ao bom comportamento. – pode-se substituir a
expressão em destaque por “em razão do”, sem alterar o sentido do
texto.=correta
Na língua portuguesa, uma PALAVRA (do latim parabola, que
5-) por sua vez deriva do grego parabolé) pode ser definida como sen-
1 - Assisti aoconcertodo balé Bolshoi; do um conjunto de letras ou sons de uma língua, juntamente com a
ideia associada a este conjunto.
2 - Daqui a pouco vão dizer que há (=existe) vida em Marte.
3 – As sessões da câmara são verdadeiros programas de humor.
Sentido Próprio e Figurado das Palavras
4 - Há dias que não falo com Alfredo. (=tempo passado)
Pela própria definição acima destacada podemos perceber que
a palavra é composta por duas partes, uma delas relacionada a sua
6-) Adolescentes vivendo em famílias que não lhes transmiti- forma escrita e os seus sons (denominada significante) e a outra re-
ram valores sociais altruísticos, formação moral e não lhes impuse- lacionada ao que ela (palavra) expressa, ao conceito que ela traz
ram limites de disciplina. (denominada significado).
Em relação ao seu SIGNIFICADO as palavras subdividem-se
O sentido contrário (antônimo) de altruísticos, nesse trecho, é assim:
de egoísmo - Sentido Próprio - é o sentido literal, ou seja, o sentido comum
que costumamos dar a uma palavra.
Altruísmo é um tipo de comportamento encontrado nos seres - Sentido Figurado - é o sentido “simbólico”, “figurado”, que
humanos e outros seres vivos, em que as ações de um indivíduo podemos dar a uma palavra.
beneficiam outros. É sinônimo de filantropia. No sentido comum Vamos analisar a palavra cobra utilizada em diferentes con-
do termo, é muitas vezes percebida, também, como sinônimo de so- textos:
lidariedade. Esse conceito opõe-se, portanto, ao egoísmo, que são
as inclinações específica e exclusivamente individuais (pessoais ou 1. A cobra picou o menino. (cobra = tipo de réptil peçonhento)
coletivas). 2. A sogra dele é uma cobra. (cobra = pessoa desagradável, que
adota condutas pouco apreciáveis)
3. O cara é cobra em Física! (cobra = pessoa que conhece muito
7-)
sobre alguma coisa, “expert”)
A) Estou aquia fim de de ajudar os flagelados das enchentes.
(afim = O adjetivo “afim” é empregado para indicar que uma coi- No item 1 aplica-se o termo cobra em seu sentido comum (ou
sa tem afinidade com a outra. Há pessoas que têm temperamentos literal); nos itens 2 e 3 o termo cobra é aplicado em sentido figurado.
afins, ou seja, parecidos) Podemos então concluir que um mesmo significante (parte
B) A bandeira estáarriada . (arrear = colocar arreio no cavalo) concreta) pode ter vários significados (conceitos).
C) Serão punidos os que infringiremo regulamento. (inflingi-
rem = aplicarem a pena) Denotação e Conotação
D) São sempre valiosos osconselhos dos mais velhos; (conce- - Denotação: verifica-se quando utilizamos a palavra com
lhos= Porção territorial ou parte administrativa de um distrito). o seu significado primitivo e original, com o sentido do dicioná-
E) Moro a cerca de cem metros da praça principal. (acerca de rio; usada de modo automatizado; linguagem comum. Veja este
= Acerca de é sinônimo de “a respeito de”.). exemplo:Cortaram as asas da ave para que não voasse mais.

Didatismo e Conhecimento 5
LÍNGUA PORTUGUESA
Aqui a palavra em destaque é utilizada em seu sentido próprio, posso perder uma peça muito importante na minha vida, como eu
comum, usual, literal. perdi três anos na cadeia. Mas, na rua, o problema maior é tomar o
- DICA - Procure associar Denotação com Dicionário: trata- xeque-mate”, afirma João Carlos.
-se de definição literal, quando o termo é utilizado em seu sentido O xadrez faz parte da rotina de cerca de dois mil internos em
dicionarístico. 22 unidades prisionais do Espírito Santo. É o projeto “Xadrez que
- Conotação: verifica-se quando utilizamos a palavra com o seu liberta”. Duas vezes por semana, os presos podem praticar a ativida-
significado secundário, com o sentido amplo (ou simbólico); usada de sob a orientação de servidores da Secretaria de Estado da Justiça
de modo criativo, figurado, numa linguagem rica e expressiva. Veja (Sejus). Na próxima sexta-feira, será realizado o primeiro torneio
este exemplo: fora dos presídios desde que o projeto foi implantado. Vinte e oito
Seria aconselhável cortar as asas deste menino, antes que seja internos de 14 unidades participam da disputa, inclusive João Carlos
tarde mais. e Fransley, que diz que a vitória não é o mais importante.
Já neste caso o termo (asas) é empregado de forma figurada, “Só de chegar até aqui já estou muito feliz, porque eu não espe-
fazendo alusão à ideia de restrição e/ou controle de ações; disciplina, rava. A vitória não é tudo. Eu espero alcançar outras coisas devido
limitação de conduta e comportamento. ao xadrez, como ser olhado com outros olhos, como estou sendo
olhado de forma diferente aqui no presídio devido ao bom compor-
tamento”.
Fonte:
Segundo a coordenadora do projeto, Francyany Cândido Ventu-
http://www.tecnolegis.com/estudo-dirigido/oficial-de-justica-
rin, o “Xadrez que liberta” tem provocado boas mudanças no com-
-tjm-sp/lingua-portuguesa-sentido-proprio-e-figurado-das-palavras. portamento dos presos. “Tem surtido um efeito positivo por eles se
html tornarem uma referência positiva dentro da unidade, já que cum-
prem melhor as regras, respeitam o próximo e pensam melhor nas
QUESTÕES SOBRE DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO suas ações, refletem antes de tomar uma atitude”.
Embora a Sejus não monitore os egressos que ganham a liber-
01. (Agente de Apoio – Microinformática – VUNESP – dade, para saber se mantêm o hábito do xadrez, João Carlos já faz
2013). Uma frase empregada – exclusivamente – com sentido fi- planos. “Eu incentivo não só os colegas, mas também minha famí-
gurado é: lia. Sou casado e tenho três filhos. Já passei para a minha família:
A) Não é o tipo de companhia que se quer para tomar um vinho xadrez, quando eu sair para a rua, todo mundo vai ter que aprender
ou ir ao cinema. porque vai rolar até o torneio familiar”.
B) No início de maio, Buffett convidou um sujeito chamado “Medidas de promoção de educação e que possibilitem que o
Doug Kass para participar de um dos painéis que compuseram a reu- egresso saia melhor do que entrou são muito importantes. Nós não
nião anual de investidores de sua empresa, a Berkshire Hathaway. temos pena de morte ou prisão perpétua no Brasil. O preso tem data
C) Buffett queria entender o porquê. para entrar e data para sair, então ele tem que sair sem retornar para
D) Questiona. o crime”, analisa o presidente do Conselho Estadual de Direitos Hu-
E) Coloca o dedo na ferida. manos, Bruno Alves de Souza Toledo.
(Disponível em: www.inapbrasil.com.br/en/noticias/xadrez-
02. (Agente de Apoio Operacional – VUNESP – 2013). As- -que-liberta-estrategia-concentracao-e-reeducacao/6/noticias. Aces-
sinale a alternativa que apresenta palavra empregada no sentido fi- so em: 18.08.2012. Adaptado)
gurado.
A)...somente eles podem decidir o que vão ou não comprar. Considerando o contexto em que as seguintes frases foram
B) Há consumidores que gastam rios de dinheiro com supér- produzidas, assinale a alternativa em que há emprego figurado das
fluos. palavras.
A) O xadrez faz parte da rotina de cerca de dois mil internos em
C)… deve comprar o produto em outro lugar.
22 unidades prisionais do Espírito Santo.
D)… de onde vem o produto que estamos consumindo…
B) Além dos muros, grades, cadeados e detectores de metal,
E) Temos de refletir sobre isso para mudar nossas atitudes.
eles têm outros pontos em comum...
C) Nós não temos pena de morte ou prisão perpétua no Brasil.
03. (Agente de Escolta e Vigilância Penitenciária – VUNESP D) “Mas, na rua, o problema maior é tomar o xeque-mate”, afir-
– 2013). Leia o texto a seguir. ma João Carlos.
“Xadrez que liberta”: estratégia, concentração e reeducação E) Já passei para a minha família: xadrez, quando eu sair para a
João Carlos de Souza Luiz cumpre pena há três anos e dois me- rua, todo mundo vai ter que aprender...
ses por assalto. Fransley Lapavani Silva está há sete anos preso por
homicídio. Os dois têm 30 anos. Além dos muros, grades, cadeados 04. (Agente de Promotoria – Assessoria – VUNESP – 2013).
e detectores de metal, eles têm outros pontos em comum: tabuleiros Leia o texto a seguir.
e peças de xadrez. Na FLIP, como na Copa
O jogo, que eles aprenderam na cadeia, além de uma válvula RIO DE JANEIRO – Durante entrevista na Festa Literária In-
de escape para as horas de tédio, tornou-se uma metáfora para o que ternacional de Paraty deste ano, o cantor Gilberto Gil criticou as
pretendem fazer quando estiverem em liberdade. arquibancadas dos estádios brasileiros em jogos da Copa das Con-
“Quando você vai jogar uma partida de xadrez, tem que pensar federações.
duas, três vezes antes. Se você movimenta uma peça errada, pode Poderia ter dito o mesmo sobre a plateia da Tenda dos Autores,
perder uma peça de muito valor ou tomar um xeque- -mate, ins- para a qual ele e mais de 40 outros se apresentaram. A audiência do
tantaneamente. Se eu for para a rua e movimentar a peça errada, eu evento literário lembra muito a dos eventos Fifa: classe média alta.

Didatismo e Conhecimento 6
LÍNGUA PORTUGUESA
Na Flip, como nas Copas por aqui, pobre só aparece “como Construir cadeias custa caro; administrá-las, mais ainda. Obri-
prestador de serviço”, para citar uma participante de um protesto em gados a optar por uma repressão policial mais ativa, aumentaremos
Paraty, anteontem. o número de prisioneiros. As cadeias continuarão superlotadas.
Como lembrou outro dos convidados da festa literária, o mexi- Seria mais sensato investir em educação, para prevenir a crimi-
cano Juan Pablo Villalobos, esse cenário é “um espelho do que é o nalidade e tratar os que ingressaram nela.
Brasil”. Na verdade, não existe solução mágica a curto prazo. Precisa-
(Marco Aurélio Canônico, Na Flip, como na Copa. Folha de mos de uma divisão de renda menos brutal, motivar os policiais a
S.Paulo, 08.07.2013. Adaptado) executar sua função com dignidade, criar leis que acabem com a im-
O termo espelho está empregado em sentido punidade dos criminosos bem-sucedidos e construir cadeias novas
A) figurado, significando qualidade. para substituir as velhas.
B) próprio, significando modelo. Enquanto não aprendermos a educar e oferecer medidas pre-
C) figurado, significando advertência. ventivas para que os pais evitem ter filhos que não serão capazes de
D) próprio, significando símbolo. criar, cabe a nós a responsabilidade de integrá-los na sociedade por
meio da educação formal de bom nível, das práticas esportivas e da
E) figurado, significando reflexo.
oportunidade de desenvolvimento artístico.
(Drauzio Varella. In Folha de S.Paulo, 9 mar.2002. Adaptado)
05. (Agente de Escolta e Vigilância Penitenciária – VUNESP
– 2013). Leia o texto a seguir.
Assinale a alternativa em cuja frase foi empregada palavra ou
Violência epidêmica expressão com sentido figurado.
A violência urbana é uma enfermidade contagiosa. Embora A) Tendências agressivas surgem em indivíduos com dificulda-
possa acometer indivíduos vulneráveis em todas as classes sociais, é des adaptativas ...(4.º parágrafo)
nos bairros pobres que ela adquire características epidêmicas. B) A revisão de estudos científicos permite identificar três fato-
A prevalência varia de um país para outro e entre as cidades res principais na formação das personalidades com maior inclinação
de um mesmo país, mas, como regra, começa nos grandes centros ao comportamento violento... (6.º parágrafo)
urbanos e se dissemina pelo interior. C) As estratégias que as sociedades adotam para combater a
As estratégias que as sociedades adotam para combater a vio- violência variam... (3.º parágrafo)
lência variam muito e a prevenção das causas evoluiu muito pou- D) ...esses fatores de risco criam o caldo de cultura que alimenta
co no decorrer do século 20, ao contrário dos avanços ocorridos no a violência crescente nas cidades. (10.º parágrafo)
campo das infecções, câncer, diabetes e outras enfermidades. E) Os mais vulneráveis são os que tiveram a personalidade for-
A agressividade impulsiva é consequência de perturbações nos mada num ambiente desfavorável ao desenvolvimento psicológico
mecanismos biológicos de controle emocional. Tendências agressi- pleno. (5.º parágrafo)
vas surgem em indivíduos com dificuldades adaptativas que os tor-
nam despreparados para lidar com as frustrações de seus desejos. 06. (Agente de Vigilância e Recepção – VUNESP – 2013).
A violência é uma doença. Os mais vulneráveis são os que tive- Considere a tirinha para responder à questão.
ram a personalidade formada num ambiente desfavorável ao desen-
volvimento psicológico pleno.
A revisão de estudos científicos permite identificar três fatores
principais na formação das personalidades com maior inclinação ao
comportamento violento:
1) Crianças que apanharam, foram vítimas de abusos, humilha-
das ou desprezadas nos primeiros anos de vida.
2) Adolescentes vivendo em famílias que não lhes transmitiram
valores sociais altruísticos, formação moral e não lhes impuseram
limites de disciplina.
3) Associação com grupos de jovens portadores de comporta-
mento antissocial.
Na periferia das cidades brasileiras vivem milhões de crianças
que se enquadram nessas três condições de risco. Associados à falta
de acesso aos recursos materiais, à desigualdade social, esses fatores
de risco criam o caldo de cultura que alimenta a violência crescente
nas cidades.
Na falta de outra alternativa, damos à criminalidade a resposta
do aprisionamento. Porém, seu efeito é passageiro: o criminoso fica (Adão, Folha de S. Paulo, 19.06.2011)
impedido de delinquir apenas enquanto estiver preso. Ao sair, estará
mais pobre, terá rompido laços familiares e sociais e dificilmente Observando a tirinha, pode-se afirmar que o termo atropelada
encontrará quem lhe dê emprego. Ao mesmo tempo, na prisão, terá foi empregado em sentido
criado novas amizades e conexões mais sólidas com o mundo do A) próprio, indicando que o marido não é uma pessoa sensível
crime. e compreensiva com a esposa.

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B) próprio, indicando que a esposa é vaidosa e sente-se frustra- C) Manoel de Araújo Porto-Alegre foi o primeiro profissional
da com a perda da beleza. dessa arte e o primeiro a produzir caricaturas no Brasil.
C) figurado, indicando que as crianças são tranqüilas, mas exi- D) O jornal alternativo em 1834 zunia às orelhas de todos e
gem total disponibilidade da mãe. atacava esta ou aquela personagem da Corte.
D) figurado, indicando que o marido recusa-se a realizar as ta- E) O livro sobre a arte caricatural respeita cronologicamente
refas domésticas. os acontecimentos da história brasileira, suas temáticas políticas e
E) figurado, indicando que as responsabilidades familiares sociais.
comprometeram a juventude da esposa.
09. (Analista em Planejamento, Orçamento e Finanças Pú-
07. O item em que o termo sublinhado está empregado no blicas – VUNESP – 2013). Leia o texto a seguir.
sentido denotativo é: Tomadas e oboés
A) “Além dos ganhos econômicos, a nova realidade rendeu fru- “O do meio, com heliponto, tá vendo?”, diz o taxista, apontando
tos políticos.” o enorme prédio espelhado, do outro lado da marginal: “A parte elé-
B) “...com percentuais capazes de causar inveja ao presidente.” trica, inteirinha, meu cunhado que fez”. Ficamos admirando o edifí-
C) “Os genéricos estão abrindo as portas do mercado...” cio parcialmente iluminado ao cair da tarde e penso menos no tama-
D) “...a indústria disparou gordos investimentos.” nho da empreitada do que em nossa variegada humanidade: uns se
E) “Colheu uma revelação surpreendente:...” dedicam à escrita, outros a instalações elétricas,lembro- -me do meu
tio Augusto, que vive de tocar oboé.“Fio, disjuntor, tomada, tudo!”,
08. (Analista em C&T Júnior – Administração – VUNESP – insiste o motorista, com tanto orgulho que chega a contaminar-me.
2013). Leia o texto a seguir. Pergunto quantas tomadas ele acha que tem, no prédio todo. Há
O humor deve visar à crítica, não à graça, ensinou Chico Any- quem ria desse tipo de indagação. Meu taxista, não. É um homem
sio, o humorista popular. E disse isso quando lhe solicitaram consi- sério, eu também, fazemos as contas: uns dez escritórios por andar,
derar o estado atual do riso brasileiro. Nos últimos anos de vida, o cada um com umas seis salas, vezes 30 andares. “Cada sala tem o
escritor contribuía para o cômico apenas em sua porção de ator, im- quê? Duas tomadas?”
pedido pela televisão brasileira de produzir textos. E o que ele dizia “Cê tá louco! Muito mais! Hoje em dia, com computador, essas
sobre a risada ajuda a entender a acomodação de muitos humoristas coisas? Depois eu pergunto pro meu cunhado, mas pode botar aí pra
contemporâneos. Porque, quando eles humilham aqueles julgados uma média de seis tomadas/sala.”
inferiores, os pobres, os analfabetos, os negros, os nordestinos, to- Ok: 10 x 6 x 6 x 30 = 10.800. Dez mil e oitocentas tomadas!
dos os oprimidos que parece fácil espezinhar, não funcionam bem Há 30, 40 anos, uma hora dessas, a maior parte das tomadas
como humoristas. O humor deve ser o oposto disto, uma restauração já estaria dormindo o sono dos justos, mas a julgar pelo número de
do que é justo, para a qual desancar aqueles em condições piores janelas acesas, enquanto volto para casa, lentamente, pela marginal,
do que as suas não vale. Rimos, isso sim, do superior, do arrogante, centenas de trabalhadores suam a camisa, ali no prédio: criam logo-
daquele que rouba nosso lugar social. tipos, calculam custos para o escoamento da soja, negociam minério
O curioso é perceber como o Brasil de muito tempo atrás sabia de ferro. Talvez até, quem sabe, deitado num sofá, um homem escu-
disso, e o ensinava por meio de uma imprensa ocupada em ferir a te em seu iPod as notas de um oboé.
brutal desigualdade entre os seres e as classes. Ao percorrer o ex- Alegra-me pensar nesse sujeito de olhos fechados, ouvindo
tenso volume da História da Caricatura Brasileira (Gala Edições), música. Bom saber que, na correria geral, em meio a tantos profis-
compreendemos que tal humor primitivo não praticava um rosário sionais que acreditam estar diretamente envolvidos no movimento
de ofensas pessoais. Naqueles dias, humor parecia ser apenas, e de rotação da Terra, esse aí reservou-se cinco minutos de contem-
necessariamente, a virulência em relação aos modos opressivos do plação.
poder. Está tarde, contudo. Algo não fecha: por que segue no escritó-
A amplitude dessa obra é inédita. Saem da obscuridade os no- rio, esse homem? Por que não voltou para a mulher e os filhos, não
mes que sucederam ao mais aclamado dos artistas a produzir arte foi para o chope ou o cinema? O homem no sofá, entendo agora, está
naquele Brasil, Ângelo Agostini. Corcundas magros, corcundas gor- ainda mais afundado do que os outros. O momento oboé era apenas
dos, corcovas com cabeça de burro, todos esses seres compostos em uma pausa para repor as energias, logo mais voltará à sua mesa e a
aspecto polimórfico, com expressivo valor gráfico, eram os respon- seus logotipos, à soja ou ao minério de ferro.
sáveis por ilustrar a subserviência a estender-se pela Corte Imperial. “Onze mil, cento e cinquenta”, diz o taxista, me mostrando o
Contra a escravidão, o comodismo dos bem-postos e dos covardes celular. Não entendo. “É o SMS do meu cunhado: 11.150 tomadas.”
imperialistas, esses artistas operavam seu espírito crítico em jornais Olho o prédio mais uma vez, admirado com a instalação elétrica
de todos os cantos do País. e nossa heteróclita humanidade, enquanto seguimos, feito cágados,
(Carta Capital.13.02.2013. Adaptado) pela marginal.
(Antonio Prata, Folha de S.Paulo, 06.03.2013. Adaptado)
Na frase –… compreendemos que tal humor primitivo não pra-
ticava um rosário de ofensas pessoais. –, observa-se emprego de No trecho do sexto parágrafo – Bom saber que, na correria ge-
expressão com sentido figurado, o que ocorre também em: ral, em meio a tantos profissionais que acreditam estar diretamente
A) O livro sobre a história da caricatura estabelece marcos inau- envolvidos no movimento de rotação da Terra, esse aí reservou-se
gurais em relação a essa arte. cinco minutos de contemplação. –, o segmento em destaque expres-
B) O trabalho do caricaturista pareceu tão importante a seus sa, de modo figurado, um sentido equivalente ao da expressão: pro-
contemporâneos que recebeu o nome de “nova invenção artística.” fissionais que acreditam ser

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A) incompreendidos, que são obrigados a trabalhar além do ex- 9-) indispensáveis, que consideram realizar um trabalho de
pediente. grande importância.
B) desvalorizados, que não são devidamente reconhecidos. Comparando-se ao movimento de rotação, que acontece sem a
C) indispensáveis, que consideram realizar um trabalho de intervenção de quaisquer trabalhadores, “importantes” ou não.
grande importância.
D) metódicos, que gerenciam com rigidez a vida corporativa. 10-) A dureza dos corações.
E) flexíveis, que sabem valorizar os momentos de ócio. Corações de pessoas que parecem não ter sentimento.
10.Assinale a alternativa usada em sentido figurado:
A)A dureza das pedras.
B)O perfume das flores. CLASSES DE PALAVRAS: SUBSTANTIVO,
C)O verde das matas. ADJETIVO, NUMERAL, PRONOME, VERBO,
D)A dureza dos corações. ADVÉRBIO, PREPOSIÇÃO E CONJUNÇÃO
E)Nenhuma das alternativas anteriores. (EMPREGO E SENTIDO QUE IMPRIMEM ÀS
RELAÇÕES QUE ESTABELECEM).
GABARITO

01. E
02. B SUBSTANTIVO
03. D
04. E Tudo o que existe é ser e cada ser tem um nome. Substantivo é
05. D a classe gramatical de palavras variáveis, as quais denominam os
06. E seres. Além de objetos, pessoas e fenômenos, os substantivos tam-
07. B bém nomeiam:
08. D -lugares: Alemanha, Porto Alegre...
09. C -sentimentos: raiva, amor...
10. D -estados: alegria, tristeza...
-qualidades: honestidade, sinceridade...
COMENTÁRIOS -ações: corrida, pescaria...

1-) Coloca o dedo na ferida. Morfossintaxe do substantivo


Frase empregada para dizer que acerta o ponto fraco, onde dói. Nas orações de língua portuguesa, o substantivo em geral
exerce funções diretamente relacionadas com o verbo: atua como
2-) Há consumidores que gastam rios de dinheiro com su- núcleo do sujeito, dos complementos verbais (objeto direto ou in-
direto) e do agente da passiva. Pode ainda funcionar como núcleo
pérfluos.
do complemento nominal ou do aposto, como núcleo do predica-
Exagero, hipérbole.
tivo do sujeito ou do objeto ou como núcleo do vocativo. Também
encontramos substantivos como núcleos de adjuntos adnominais e
3-) Mas, na rua, o problema maior é tomar o xeque-mate”, afir- de adjuntos adverbiais - quando essas funções são desempenhadas
ma João Carlos. por grupos de palavras.
É o lance que põe fim à partida, acaba com a as liberdade, no
caso. Classificação dos Substantivos
1-  Substantivos Comuns e Próprios
4-) O termo espelho está empregado em sentido figurado, sig- Observe a definição:
nificando reflexo do que é o país. s.f. 1: Povoação maior que vila, com muitas casas e edifícios,
dispostos em ruas e avenidas (no Brasil, toda a sede de município
5-) criam o caldo de cultura que alimenta a violência crescente é cidade). 2. O centro de uma cidade (em oposição aos bairros).
nas cidades. (10.º parágrafo)
Criam o ambiente, as situações que alimentam, fortalecem a Qualquer “povoação maior que vila, com muitas casas e edi-
violência. fícios, dispostos em ruas e avenidas” será chamada  cidade. Isso
significa que a palavra cidade é um substantivo comum.
6-) E) figurado, indicando que as responsabilidades familiares Substantivo Comum é aquele que designa os seres de uma
comprometeram a juventude da esposa. mesma espécie de forma genérica.
cidade, menino, homem, mulher, país, cachorro.
7-) com percentuais capazes de causar inveja ao presidente.
Sentido denotativo = empregado com o sentido real da palavra Estamos voando para Barcelona.

8-) O jornal alternativo em 1834 zunia às orelhas de todos e O substantivo Barcelona designa apenas um ser da espécie
atacava esta ou aquela personagem da Corte. cidade. Esse substantivo é próprio.Substantivo Próprio: é aquele
Zunir: Produzir som forte e áspero. Empregado no sentido de que designa os seres de uma mesma espécie de forma particular.
“gritar” aos leitores as notícias. Londres, Paulinho, Pedro, Tietê, Brasil.

Didatismo e Conhecimento 9
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2 - Substantivos Concretos e Abstratos O substantivo chuva é formado por um único elemento ou ra-
dical. É um substantivo simples.
Substantivo Simples: é aquele formado por um único elemento.
Outros substantivos simples: tempo, sol, sofá, etc. Veja agora:
LÂMPADA MALA O substantivo  guarda-chuva  é formado por dois elementos
(guarda + chuva). Esse substantivo é composto.
Os substantivos lâmpada e mala  designam seres com exis- Substantivo Composto:  é aquele formado por dois ou mais
tência própria, que são  independentes de outros seres. São assim, elementos.
substantivos concretos.
Outros exemplos: beija-flor, passatempo.
Substantivo Concreto: é aquele que designa o ser que existe,
 
independentemente de outros seres.
Substantivos Primitivos e Derivados
Obs.: os substantivos concretos designam seres do mundo
real e do mundo imaginário. Meu limão meu limoeiro,
meu pé de jacarandá...
Seres do mundo real: homem, mulher, cadeira, cobra, Brasí-  
lia, etc. O substantivo limão é primitivo, pois não se originou de ne-
Seres do mundo imaginário: saci, mãe-d’água, fantasma, etc. nhum outro dentro de língua portuguesa.
  Substantivo Primitivo: é aquele que não deriva de nenhuma
Observe agora: outra palavra da própria língua portuguesa. O substantivo limoei-
ro é derivado, pois se originou a partir da palavra limão. Substanti-
Beleza exposta vo Derivado: é aquele que se origina de outra palavra.
Jovens atrizes veteranas destacam-se pelo visual.
Flexão dos substantivos
O substantivo beleza designa uma qualidade. O substantivo é uma classe variável. A palavra é variável
Substantivo Abstrato: é aquele que designa seres que depen- quando sofre flexão (variação). A palavra  menino, por exemplo,
dem de outros para se manifestar ou existir. pode sofrer variações para indicar:
Pense bem: a beleza não existe por si só, não pode ser obser- Plural: meninos
vada. Só podemos observar a beleza numa pessoa ou coisa que seja Feminino: menina
bela. A beleza depende de outro ser para se manifestar. Portanto, a Aumentativo: meninão
palavra beleza é um substantivo abstrato. Diminutivo: menininho
Os substantivos abstratos designam estados, qualidades, ações Flexão de Gênero
e sentimentos dos seres, dos quais podem ser abstraídos, e sem os
quais não podem existir. Gênero é  a propriedade que as palavras têm de indicar sexo
vida (estado), rapidez (qualidade), viagem (ação), saudade real ou fictício dos seres. Na língua portuguesa, há dois gêne-
(sentimento).   ros:  masculino  e  feminino. Pertencem ao gênero  masculino  os
substantivos que podem vir precedidos dos artigos o, os, um, uns.
3 - Substantivos Coletivos Veja estes títulos de filmes:

Ele vinha pela estrada e foi picado por uma abelha, outra abe- - O velho e o mar
lha, mais outra abelha. - Um Natal inesquecível
- Os reis da praia
Ele vinha pela estrada e foi picado por várias abelhas.  
Pertencem ao gênero feminino os substantivos que podem vir
Ele vinha pela estrada e foi picado por um enxame. precedidos dos artigos a, as, uma, umas:

Note que, no primeiro caso, para indicar plural, foi necessário A história sem fim
repetir o substantivo: uma abelha, outra abelha, mais outra abe- Uma cidade sem passado
lha... As tartarugas ninjas
No segundo caso, utilizaram-se duas palavras no plural.
No terceiro caso, empregou-se um substantivo no singular Substantivos Biformes e Substantivos Uniformes
(enxame) para designar um conjunto de seres da mesma espécie
(abelhas). Substantivos Biformes (= duas formas):   ao indicar nomes
O substantivo enxame é um substantivo coletivo. de seres vivos, geralmente o gênero da palavra está relacionado ao
Substantivo Coletivo: é o substantivo comum que, mesmo es- sexo do ser, havendo, portanto, duas formas, uma para o masculino
tando no singular, designa um conjunto de seres da mesma espécie. e outra para o feminino. Observe:
gato - gata
Formação dos Substantivos homem - mulher
Substantivos Simples e Compostos poeta - poetisa
Chuva - subst. Fem. 1 - água caindo em gotas sobre a terra. prefeito - prefeita

Didatismo e Conhecimento 10
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Substantivos Uniformes: são aqueles que apresentam uma Formação do Feminino dos Substantivos Uniformes
única forma, que serve tanto para o masculino quanto para o femi- Epicenos:
nino. Classificam-se em: Novo jacaré escapa de policiais no rio Pinheiros.
Epicenos: têm um só gênero e nomeiam bichos. Não é possível saber o sexo do jacaré em questão. Isso ocorre
a cobra macho e a cobra fêmea, o jacaré macho e o jacaré porque o substantivo jacaré tem apenas uma forma para indicar o
fêmea. masculino e o feminino.
Sobrecomuns: têm um só gênero e nomeiam pessoas. Alguns nomes de animais apresentam uma só forma para de-
a criança, a testemunha, a vítima, o cônjuge, o gênio, o ídolo, signar os dois sexos. Esses substantivos são chamados de epice-
o indivíduo. nos. No caso dos epicenos, quando houver a necessidade de espe-
Comuns de Dois Gêneros: indicam o sexo das pessoas por cificar o sexo, utilizam-se palavras macho e fêmea.
meio do artigo. A cobra macho picou o marinheiro.
o colega e a colega, o doente e a doente, o artista e a artista. A cobra fêmea escondeu-se na bananeira.

Saiba que: Sobrecomuns:


- Substantivos de origem grega terminados em ema ou oma, Entregue as crianças à natureza.
são masculinos. A palavra crianças refere-se tanto a seres do sexo masculino,
o axioma, o fonema, o poema, o sistema, o sintoma, o teorema. quanto a seres do sexo feminino. Nesse caso, nem o artigo nem um
- Existem certos substantivos que, variando de gênero, variam possível adjetivo permitem identificar o sexo dos seres a que se
em seu significado. refere a palavra. Veja:
o rádio (aparelho receptor) e a rádio (estação emissora) o A criança chorona chamava-se João.
capital (dinheiro) e a capital (cidade) A criança chorona chamava-se Maria.
Outros substantivos sobrecomuns: a criatura =João é uma boa
Formação do Feminino dos Substantivos Biformes criatura. Maria é uma boa criatura. o cônjuge =
O cônjuge de João faleceu.
O cônjuge de Marcela faleceu
a) Regra geral: troca-se a terminação -o por -a.
aluno - aluna
Comuns de Dois Gêneros:
Motorista tem acidente idêntico 23 anos depois.
b) Substantivos terminados em -ês: acrescenta-se -a ao mas- Quem sofreu o acidente: um homem ou uma mulher?
culino. É impossível saber apenas pelo título da notícia, uma vez que
freguês - freguesa a palavra motorista é um substantivo uniforme. O restante da notí-
cia informa-nos de que se trata de um homem.
c) Substantivos terminados em -ão: fazem o feminino de três A distinção de gênero pode ser feita através da análise do arti-
formas: go ou adjetivo, quando acompanharem o substantivo.
- troca-se -ão por -oa. =patrão – patroa o colega - a colega
- troca-se -ão por -ã.=campeão - campeã o imigrante - a imigrante
-troca-se -ão por ona. = solteirão - solteirona um jovem - uma jovem
Exceções: barão – baronesa ladrão- ladra sultão - sultana artista famoso - artista famosa
repórter francês - repórter francesa
d) Substantivos terminados em -or:
- acrescenta-se -a ao masculino = doutor – doutora - A palavra personagem é usada indistintamente nos dois gê-
- troca-se -or por -triz:=imperador - imperatriz neros.
a) Entre os escritores modernos nota-se acentuada preferência
e) Substantivos com feminino em -esa, -essa, -isa: pelo masculino:
cônsul - consulesa abade - abadessa poeta - poetisa O menino descobriu nas nuvens os personagens dos contos
duque - duquesa conde - condessa profeta - profetisa de carochinha.
b) Com referência a mulher, deve-se preferir o feminino:
f) Substantivos que formam o feminino trocando o -e final O problema está nas mulheres de mais idade, que não aceitam
por -a: a personagem.
elefante - elefanta Não cheguei assim, nem era minha intenção, a criar uma per-
sonagem.
- Diz-se: o (ou a) manequim Marcela, o (ou a) modelo foto-
g) Substantivos que têm radicais diferentes no masculino e no
gráfico Ana Belmonte.
feminino:
bode – cabraboi - vaca Observe o gênero dos substantivos seguintes:
h) Substantivos que formam o feminino de maneira especial, Masculinos
isto é, não seguem nenhuma das regras anteriores: o tapa
czar – czarinaréu - ré o eclipse
o lança-perfume
o dó (pena)

Didatismo e Conhecimento 11
LÍNGUA PORTUGUESA
o sanduíche A acolhedora Porto Alegre.
o clarinete Uma Londres imensa e triste.
o champanha Exceções: o Rio de Janeiro, o Cairo, o Porto, o Havre.
o sósia
o maracajá Gênero e Significação:
o clã Muitos substantivos têm uma significação no masculino e ou-
o hosana tra no feminino. Observe:
o herpes
o pijama
o suéter o baliza (soldado que, que à a baliza (marco, estaca; sinal
o soprano frente da tropa, indica os mo- que marca um limite ou proibi-
o proclama vimentos que se deve realizar ção de trânsito)
o pernoite em conjunto; o que vai à frente
o púbis de um bloco carnavalesco, ma-
nejando um bastão)
Femininos
a dinamite o cabeça (chefe) a cabeça (parte do corpo)
a áspide o cisma (separação religiosa, a cisma (ato de cismar, descon-
a derme dissidência) fiança)
a hélice o cinza (a cor cinzenta) a cinza (resíduos de combus-
a alcíone tão)
a filoxera
o capital (dinheiro) a capital (cidade)
a clâmide
a omoplata o coma (perda dos sentidos) a coma (cabeleira)
a cataplasma a pane o coral (pólipo, a cor verme- a coral (cobra venenosa)
a mascote lha, canto em coro)
a gênese
o crisma (óleo sagrado, usado a crisma (sacramento da con-
a entorse
na administração da crisma e firmação)
a libido
de outros sacramentos)
a cal
a faringe o cura (pároco) a cura (ato de curar)
a cólera (doença) o estepe (pneu sobressalente) a estepe (vasta planície de ve-
a ubá (canoa) getação)
o guia (pessoa que guia outras) a guia (documento, pena gran-
São geralmente masculinos os substantivos de origem grega
de das asas das aves)
terminados em -ma:
o grama (peso) o grama (unidade de peso) a grama (relva)
o quilograma o caixa (funcionário da caixa) a caixa (recipiente, setor de pa-
o plasma gamentos)
o apostema
o lente (professor) a lente (vidro de aumento)
o diagrama
o epigrama o moral (ânimo) a moral (honestidade, bons
o telefonema costumes, ética)
o estratagema o nascente (lado onde nasce o a nascente (a fonte)
o dilema Sol)
o teorema
o maria-fumaça (trem como a maria-fumaça (locomotiva
o apotegma
locomotiva a vapor) movida a vapor)
o trema
o eczema o pala (poncho) a pala (parte anterior do boné
o edema ou quepe, anteparo)
o magma o rádio (aparelho receptor) a rádio (estação emissora)
o anátema
o voga (remador) a voga (moda, popularidade)
o estigma
Flexão de Número do Substantivo
Exceções: a cataplasma, a celeuma, a fleuma, etc.
Em português, há dois números gramaticais: o singular, que
Gênero dos Nomes de Cidades:
indica um ser ou um grupo de seres, e o plural, que indica mais de
Com raras exceções, nomes de cidades são femininos.
um ser ou grupo de seres. A característica do plural é o “s” final.
A histórica Ouro Preto.
A dinâmica São Paulo.

Didatismo e Conhecimento 12
LÍNGUA PORTUGUESA
Plural dos Substantivos Simples substantivo + preposição clara + substantivo = água-de-colô-
a) Os substantivos terminados em vogal, ditongo oral e “n” nia e águas-de-colônia
fazem o plural pelo acréscimo de “s”. substantivo + preposição oculta + substantivo = cavalo-vapor
pai – paisímã - ímãs hífen - hifens (sem acento, no plural). e cavalos-vapor
Exceção: cânon - cânones. substantivo + substantivo que funciona como determinante do
b) Os substantivos terminados em “m” fazem o plural em primeiro, ou seja, especifica a função ou o tipo do termo anterior.
“ns”. palavra-chave - palavras-chave
homem - homens. bomba-relógio - bombas-relógio
c) Os substantivos terminados em “r” e “z” fazem o plural notícia-bomba - notícias-bomba
pelo acréscimo de “es”. homem-rã - homens-rã
revólver – revólveresraiz - raízes peixe-espada - peixes-espada
Atenção: O plural de caráter é caracteres. d) Permanecem invariáveis, quando formados de:
d) Os substantivos terminados em al, el, ol, ul flexionam-se no verbo + advérbio = o bota-fora e os bota-fora
plural, trocando o “l” por “is”. verbo + substantivo no plural = o saca-rolhas e os saca-rolhas
quintal - quintais caracol – caracóis hotel - hotéis e) Casos Especiais
Exceções: mal e males, cônsul e cônsules. o louva-a-deus e os louva-a-deus
e) Os substantivos terminados em “il” fazem o plural de duas o bem-te-vi e os bem-te-vis
maneiras: o bem-me-quer e os bem-me-queres
- Quando oxítonos, em “is”: canil - canis o joão-ninguém e os joões-ninguém.
- Quando paroxítonos, em “eis”: míssil - mísseis.
Obs.: a palavra réptil pode formar seu plural de duas manei- Plural das Palavras Substantivadas
ras: répteis ou reptis (pouco usada).
f) Os substantivos terminados em “s” fazem o plural de duas As palavras substantivadas, isto é, palavras de outras classes
maneiras: gramaticais usadas como substantivo, apresentam, no plural, as
- Quando monossilábicos ou oxítonos, mediante o acréscimo flexões próprias dos substantivos.
de “es”: ás – ases / retrós - retroses Pese bem os prós e os contras.
- Quando paroxítonos ou proparoxítonos, ficam invariáveis: o O aluno errou na prova dos noves.
lápis - os lápis / o ônibus - os ônibus. Ouça com a mesma serenidade os sins e os nãos.
g) Os substantivos terminados em “ao” fazem o plural de três Obs.: numerais substantivados terminados em “s” ou “z” não
maneiras. variam no plural.
- substituindo o -ão por -ões: ação - ações Nas provas mensais consegui muitos seis e alguns dez.
- substituindo o -ão por -ães: cão - cães
- substituindo o -ão por -ãos: grão - grãos Plural dos Diminutivos
h) Os substantivos terminados em “x” ficam invariáveis: o lá-
tex - os látex. Flexiona-se o substantivo no plural, retira-se o “s” final e
acrescenta-se o sufixo diminutivo.
Plural dos Substantivos Compostos pãe(s) + zinhos = pãezinhos
A formação do plural dos substantivos compostos depende animai(s) + zinhos= animaizinhos
da forma como são grafados, do tipo de palavras que formam o botõe(s) + zinhos = botõezinhos
composto e da relação que estabelecem entre si. Aqueles que são chapéu(s) + zinhos= chapeuzinhos
grafados sem hífen comportam-se como os substantivos simples: farói(s) + zinhos = faroizinhos
aguardente e aguardentes girassol e girassóis tren(s) + zinhos= trenzinhos
pontapé e pontapés malmequer e malmequeres colhere(s) + zinhas= colherezinhas
O plural dos substantivos compostos cujos elementos são li- flore(s) + zinhas = florezinhas
gados por hífen costuma provocar muitas dúvidas e discussões. mão(s) + zinhas = mãozinhas
Algumas orientações são dadas a seguir: papéi(s) + zinhos = papeizinhos
a) Flexionam-se os dois elementos, quando formados de: nuven(s) + zinhas = nuvenzinhas
substantivo + substantivo = couve-flor e couves-flores funi(s) + zinhos = funizinhos
substantivo + adjetivo = amor-perfeito e amores-perfeitos túnei(s) + zinhos = tuneizinhos
adjetivo + substantivo = gentil-homem e gentis-homens pai(s) + zinhos = paizinhos
numeral + substantivo = quinta-feira e quintas-feiras pé(s) + zinhos = pezinhos
b) Flexiona-se somente o segundo elemento, quando forma- pé(s) + zitos = pezitos
dos de:
verbo + substantivo = guarda-roupa e guarda-roupas Plural dos Nomes Próprios Personativos
palavra invariável + palavra variável = alto-falante e alto-
-falantes Devem-se pluralizar os nomes próprios de pessoas sempre
palavras repetidas ou imitativas = reco-reco e reco-recos que a terminação preste-se à flexão.
c) Flexiona-se somente o primeiro elemento, quando forma- Os Napoleões também são derrotados.
dos de: As Raquéis e Esteres.

Didatismo e Conhecimento 13
LÍNGUA PORTUGUESA
Plural dos Substantivos Estrangeiros Grau Normal - Indica um ser de tamanho considerado normal.
Por exemplo: casa
Substantivos ainda não aportuguesados devem ser escritos Grau Aumentativo - Indica o aumento do tamanho do ser.
como na língua original, acrescentando-se “s” (exceto quando ter- Classifica-se em:
minam em “s” ou “z”). Analítico = o substantivo é acompanhado de um adjetivo que
os showsos shorts os jazz indica grandeza. Por exemplo: casa grande.
Sintético = é acrescido ao substantivo um sufixo indicador de
Substantivos já aportuguesados flexionam-se de acordo com aumento. Por exemplo: casarão.
as regras de nossa língua:
os clubes os chopes Grau Diminutivo - Indica a diminuição do tamanho do ser.
os jipes os esportes Pode ser:
as toaletes os bibelôs Analítico = substantivo acompanhado de um adjetivo que in-
os garçons os réquiens dica pequenez. Por exemplo: casa pequena.
Sintético = é acrescido ao substantivo um sufixo indicador de
diminuição. Por exemplo: casinha.
Observe o exemplo:
Este jogador faz gols toda vez que joga.
Fonte: http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf12.php
O plural correto seria gois (ô), mas não se usa.
Questões sobre Substantivo
Plural com Mudança de Timbre
01. (Escrevente TJ SP Vunesp/2012) A flexão de número do
Certos substantivos formam o plural com mudança de timbre termo “preços-sombra” também ocorre com o plural de
da vogal tônica (o fechado / o aberto). É um fato fonético chamado (A) reco-reco.
metafonia (plural metafônico). (B) guarda-costa.
(C) guarda-noturno.
Singular Plural Singular Plural (D) célula-tronco.
(E) sem-vergonha.
corpo (ô) corpos (ó) osso (ô) ossos (ó)
esforço esforços ovo ovos 02. (Escrevente TJ SP Vunesp/2013) Assinale a alternativa
fogo fogos poço poços cujas palavras se apresentam flexionadas de acordo com a norma-
forno fornos porto portos -padrão.
fosso fossos posto postos (A) Os tabeliãos devem preparar o documento.
imposto impostos rogo rogos (B) Esses cidadões tinham autorização para portar fuzis.
olho olhos tijolo tijolos (C) Para autenticar as certidãos, procure o cartório local.
(D) Ao descer e subir escadas, segure-se nos corrimãos.
Têm a vogal tônica fechada (ô): adornos, almoços, bolsos, es- (E) Cuidado com os degrais, que são perigosos!
posos, estojos, globos, gostos, polvos, rolos, soros, etc.
Obs.: distinga-se molho (ô) = caldo (molho de carne), de mo- 03. Indique a alternativa em que a flexão do substantivo está
lho (ó) = feixe (molho de lenha). errada:
A) Catalães.
Particularidades sobre o Número dos Substantivos B) Cidadãos.
C) Vulcães.
a) Há substantivos que só se usam no singular: D) Corrimões.
o sul, o norte, o leste, o oeste, a fé, etc.
04. Assinale o par de vocábulos que fazem o plural da mesma
b) Outros só no plural:
forma que “balão” e “caneta--tinteiro”:
as núpcias, os víveres, os pêsames, as espadas/os paus (nai-
a) vulcão, abaixo-assinado;
pes de baralho), as fezes.
b) irmão, salário-família;
c) Outros, enfim, têm, no plural, sentido diferente do singular:
c) questão, manga-rosa;
bem (virtude) e bens (riquezas)
d) bênção, papel-moeda;
honra (probidade, bom nome) e honras (homenagem, títulos)
e) razão, guarda-chuva.
d) Usamos às vezes, os substantivos no singular, mas com
sentido de plural:
05. Sabendo-se que há substantivos que no masculino têm
Aqui morreu muito negro.
um significado; e no feminino têm outro, diferente. Marque a al-
Celebraram o sacrifício divino muitas vezes em capelas im-
ternativa em que há um substantivo que não corresponde ao seu
provisadas. significado:
a) O capital = dinheiro;
Flexão de Grau do Substantivo A capital = cidade principal;
b) O grama = unidade de medida;
Grau é a propriedade que as palavras têm de exprimir as varia- A grama = vegetação rasteira;
ções de tamanho dos seres. Classifica-se em:

Didatismo e Conhecimento 14
LÍNGUA PORTUGUESA
c) O rádio = aparelho transmissor; GABARITO
A rádio = estação geradora;
d) O cabeça = o chefe;
01. D 02. D 03. C 04. C 05. E
A cabeça = parte do corpo;
e) A cura = o médico. 06. A 07. D 08. A 09. D 10. E
O cura = ato de curar.
COMENTÁRIOS
06. Correlacione os substantivos com os respectivos coleti-
vos, e indique a alternativa correta:
I - Bispos. 1-) Flexiona-se somente o primeiro elemento, quando forma-
II - Cães de caça. do de substantivo + substantivo que funciona como determinante
III -Vadios. do primeiro, ou seja, especifica a função ou o tipo do termo ante-
IV -Papéis. rior. = células-tronco
( ) Resma.
( ) Concílio. 2-)
( ) Corja. A) Os tabeliãos devem preparar o documento.= tabeliãesB)
( ) Matilha. Esses cidadões tinham autorização para portar fuzis.= cidadãos
A) IV, I, III, II. C) Para autenticar as certidãos, procure o cartório local.= cer-
B) III, I, II, IV. tidões
C) I, III, II, IV. E) Cuidado com os degrais, que são perigosos!=degraus
D) III, I, IV, II.
3-) Vulcões
07. Indique a alternativa que apresenta erro na formação do
plural: 4-) Assinale o par de vocábulos que fazem o plural da mesma
A) Os boias-frias participaram da manifestação na estrada. forma que “balão” e “caneta-tinteiro”:
B) Colocaram tanto alpiste, que o quintal ficou cheio de beija-
-flores. Balões /canetas-tinteiro
C) Aqueles pães de ló estavam deliciosos.
D) Os abaixos-assinados foram entregues ao diretor. a) vulcões, abaixo-assinados;
b) irmãos, salários-família;
08. Das palavras abaixo, faz plural como “assombrações” d) bênçãos, papéis-moeda;
a) perdão.  e) razões, guarda-chuvas.
b) bênção.  5-)o cura: sacerdote a cura: ato ou efeito de curar
c) alemão.
d) cristão.  6-)
e) capitão. I - Bispos.
II - Cães de caça.
09. Entre os substantivos selecionados nas alternativas a se-
III -Vadios.
guir, há apenas um que pertence ao gênero masculino. Indique-o:
IV -Papéis.
A) alface
B) omoplata
C) comichão ( ) Resma= papéis IV
D) lança-perfume ( ) Concílio.= bisposI
( ) Corja. = vadiosIII
10. Assinale a frase correta quanto ao emprego do gênero dos ( ) Matilha.= cães de caça II
substantivos.
A) A perda das esperanças provocou uma profunda dó na per- 7-) Os abaixo-assinados foram entregues ao diretor.
sonagem.
B) O advogado não deu o ênfase necessário às milhares de 8-)
solicitações. b) bênçãos. 
C) Ele vestiu o pijama e sentou-se para beber uma champanha c) alemães. 
gelada. d) cristãos. 
D) O omelete e o couve foram acompanhados por doses do e) capitães.
melhor aguardente.
E) O beliche não coube na quitinete recém-comprada pelos 9-)
estudantes. A) a alface
B) a omoplata
C) a comichão
D) o lança-perfume

Didatismo e Conhecimento 15
LÍNGUA PORTUGUESA
10-) belgo- / Por exemplo: Acampamentos belgo-
A) A perda das esperanças provocou um profundo dó na per- Bélgica
franceses
sonagem.
B) O advogado não deu a ênfase necessário às milhares de China sino- / Por exemplo: Acordos sino-japoneses
solicitações. hispano- / Por exemplo: Mercado hispano-
Espanha
C) Ele vestiu o pijama e sentou-se para beber um champanha português
gelado. euro- / Por exemplo: Negociações euro-
D) A omelete e a couve foram acompanhadas por doses da Europa
americanas
melhor aguardente. franco- ou galo- / Por exemplo: Reuniões franco-
França
italianas
Adjetivo
Adjetivo é a palavra que expressa uma qualidade ou caracte- Grécia greco- / Por exemplo: Filmes greco-romanos
rística do ser e se relaciona com o substantivo.
Ao analisarmos a palavra bondoso, por exemplo, percebemos Inglaterra anglo- / Por exemplo: Letras anglo-portuguesas
que, além de expressar uma qualidade, ela pode ser colocada ao
Itália ítalo- / Por exemplo: Sociedade ítalo-portuguesa
lado de um substantivo: homem bondoso, moça bondosa, pessoa
bondosa. Japão nipo- / Por exemplo: Associações nipo-brasileiras
Já com a palavra bondade, embora expresse uma qualidade, Portugal luso- / Por exemplo: Acordos luso-brasileiros
não acontece o mesmo; não faz sentido dizer: homem bondade,
moça bondade, pessoa bondade.  FLEXÃO DOS ADJETIVOS
Bondade, portanto, não é adjetivo, mas substantivo. O adjetivo varia em gênero, número e grau.

Morfossintaxe do Adjetivo: Gênero dos Adjetivos


O adjetivo exerce sempre funções sintáticas (função dentro Os adjetivos concordam com o substantivo a que se referem
de uma oração) relativas aos substantivos, atuando como adjunto (masculino e feminino). De forma semelhante aos substantivos,
adnominal ou como predicativo (do sujeito ou do objeto). classificam-se em: 
Biformes - têm duas formas, sendo uma para o masculino e
Adjetivo Pátrio outra para o feminino. Por exemplo:
Indica a nacionalidade ou o lugar de origem do ser. Observe ativo e ativa, mau e má, judeu e judia.
alguns deles: Se o adjetivo é composto e biforme, ele flexiona no feminino
Estados e cidades brasileiros: somente o último elemento. Por exemplo: o moço norte-america-
no, a moça norte-americana. 
Exceção: surdo-mudo e surda-muda.
Alagoas alagoano Uniformes - têm uma só forma tanto para o masculino como
Amapá amapaense para o feminino. Por exemplo: homem feliz e mulher feliz.
Aracaju aracajuano ou aracajuense Se o adjetivo é composto e uniforme, fica invariável no femi-
nino. Por exemplo: conflito político--social e desavença político-
Amazonas amazonense ou baré -social.

Belo Horizonte belo-horizontino Número dos Adjetivos


Plural dos adjetivos simples

Brasília brasiliense Os adjetivos simples flexionam-se no plural de acordo com


Cabo Frio cabo-friense as regras estabelecidas para a flexão numérica dos substantivos
simples.
Campinas campineiro ou campinense
mau e maus
feliz e felizes
Adjetivo Pátrio Composto 
ruim e ruins
Na formação do adjetivo pátrio composto, o primeiro elemen-
boa e boas
to aparece na forma reduzida e, normalmente, erudita. Observe
alguns exemplos:
Caso o adjetivo seja uma palavra que também exerça função
de substantivo, ficará invariável, ou seja, se a palavra que estiver
África afro- / Por exemplo: Cultura afro-americana qualificando um elemento for, originalmente, um substantivo, ela
germano- ou teuto- / Por exemplo: Competições manterá sua forma primitiva. Exemplo: a palavra cinza é origi-
Alemanha nalmente um substantivo; porém, se estiver qualificando um ele-
teuto-inglesas
mento, funcionará como adjetivo. Ficará, então invariável. Logo:
américo- / Por exemplo: Companhia américo-
América camisas cinza, ternos cinza.
africana

Didatismo e Conhecimento 16
LÍNGUA PORTUGUESA
Veja outros exemplos: b) Bom, mau, grande e pequeno têm formas sintéticas
Motos vinho (mas: motos verdes) (melhor, pior, maior e menor), porém, em comparações feitas entre
Paredes musgo (mas: paredes brancas). duas qualidades de um mesmo elemento, deve-se usar as formas
Comícios monstro (mas: comícios grandiosos). analíticas mais bom, mais mau,mais grande e mais pequeno.
Por exemplo: Pedro é maior do que Paulo - Comparação de
Adjetivo Composto dois elementos.
É aquele formado por dois ou mais elementos. Normalmente, Pedro é  mais grande  que pequeno -  comparação de duas
esses elementos são ligados por hífen. Apenas o último elemento qualidades de um mesmo elemento.
concorda com o substantivo a que se refere; os demais ficam na 4) Sou  menos alto  (do) que  você.  = Comparativo de
forma masculina, singular. Caso um dos elementos que formam Inferioridade
o adjetivo composto seja um substantivo adjetivado, todo o ad- Sou menos passivo (do) que tolerante.
jetivo composto ficará invariável. Por exemplo:  a palavra  rosa  é
originalmente um substantivo, porém, se estiver qualificando um Superlativo
elemento, funcionará como adjetivo. Caso se ligue a outra palavra O superlativo expressa qualidades num grau muito elevado ou
por hífen, formará um adjetivo composto; como é um substantivo em grau máximo. O grau superlativo pode ser absoluto ou relativo e
adjetivado, o adjetivo composto inteiro ficará invariável. apresenta as seguintes modalidades:

Por exemplo: Superlativo Absoluto: ocorre quando a qualidade de um ser


Camisas rosa-claro. é intensificada, sem  relação com outros seres. Apresenta-se nas
Ternos rosa-claro. formas:
Olhos verde-claros. Analítica:  a intensificação se faz com o auxílio de palavras
Calças azul-escuras e camisas verde-mar. que dão ideia de intensidade (advérbios).
Telhados marrom-café e paredes verde-claras. Por exemplo:
O secretário é muito inteligente.
Obs.:
- Azul-marinho, azul-celeste, ultravioleta e qualquer adjetivo Sintética:  a intensificação se faz por meio do acréscimo de
composto iniciado por cor-de-... são sempre invariáveis. sufixos.
- Os adjetivos compostos surdo-mudo e pele-vermelha têm os Por exemplo:
dois elementos flexionados. O secretário é inteligentíssimo.
Grau do Adjetivo Observe alguns superlativos sintéticos: 
Os adjetivos flexionam-se em grau para indicar a intensidade
da qualidade do ser. São dois os graus do adjetivo: o comparativo e benéfico beneficentíssimo
o superlativo.
bom boníssimo ou ótimo
Comparativo
Nesse grau, comparam-se a mesma característica atribuí-
comum comuníssimo
da a dois ou mais seres ou duas ou mais características atribuí-
das ao mesmo ser. O comparativo pode ser de igualdade, de su- cruel crudelíssimo
perioridade ou de inferioridade. Observe os exemplos abaixo: difícil dificílimo
1) Sou tão alto como você. = Comparativo de Igualdade
doce dulcíssimo
No comparativo de igualdade, o segundo termo da compara-
ção é introduzido pelas palavras como, quanto ou quão. fácil facílimo
2) Sou mais alto (do) que você. = Comparativo de Superiori- fiel fidelíssimo
dade Analítico
No comparativo de superioridade analítico, entre os dois subs- Superlativo Relativo: ocorre quando a qualidade de um ser
tantivos comparados, um tem qualidade superior. A forma é ana- é intensificada em relação a um conjunto de seres. Essa relação
lítica porque pedimos auxílio a “mais...do que” ou “mais...que”. pode ser:
3) O Sol é maior (do) que a Terra. = Comparativo de Superio-
De Superioridade: Clara é a mais bela da sala.
ridade Sintético
De Inferioridade: Clara é a menos bela da sala.
Alguns adjetivos possuem, para o comparativo de superiori-
dade, formas sintéticas, herdadas do latim. São eles:
Note bem:
1) O superlativo absoluto analítico é expresso por meio dos
bom-melhor pequeno-menor advérbios muito, extremamente, excepcionalmente, etc., antepos-
mau-pior alto-superior tos ao adjetivo.
grande-maior baixo-inferior 2)  O superlativo absoluto sintético se apresenta sob duas
formas : uma erudita, de origem latina, outra popular, de origem
Observe que:  vernácula. A forma erudita é constituída pelo radical do adjetivo
a) As formas menor e pior são comparativos de superioridade, latino +  um dos sufixos  -íssimo, -imo ou érrimo.  Por exemplo:
pois equivalem a mais pequeno e mais mau, respectivamente. fidelíssimo, facílimo, paupérrimo.

Didatismo e Conhecimento 17
LÍNGUA PORTUGUESA
A forma popular é constituída do radical do adjetivo portu- a executar sua função com dignidade, criar leis que acabem com
guês + o sufixo -íssimo: pobríssimo, agilíssimo. a impunidade dos criminosos bem-sucedidos e construir cadeias
3) Em vez dos superlativos normais seriíssimo, precariíssimo, novas para substituir as velhas.
necessariíssimo, preferem-se, na linguagem atual, as formas serís- Enquanto não aprendermos a educar e oferecer medidas pre-
simo, precaríssimo, necessaríssimo, sem o desagradável hiato i-í. ventivas para que os pais evitem ter filhos que não serão capazes
de criar, cabe a nós a responsabilidade de integrá-los na sociedade
Questões sobre Adjetivo por meio da educação formal de bom nível, das práticas esportivas
e da oportunidade de desenvolvimento artístico.
01. (Agente de Escolta e Vigilância Penitenciária – VU- (Drauzio Varella. In Folha de S.Paulo, 9 mar.2002. Adaptado)
NESP – 2013). Leia o texto a seguir.
Em – características epidêmicas –, o adjetivo epidêmicas
Violência epidêmica corresponde a – características de epidemias.
Assinale a alternativa em que, da mesma forma, o adjetivo em
A violência urbana é uma enfermidade contagiosa. Embora destaque corresponde, corretamente, à expressão indicada.
possa acometer indivíduos vulneráveis em todas as classes sociais, A) água fluvial – água da chuva.
é nos bairros pobres que ela adquire características epidêmicas. B) produção aurífera – produção de ouro.
A prevalência varia de um país para outro e entre as cidades C) vida rupestre – vida do campo.
de um mesmo país, mas, como regra, começa nos grandes centros D) notícias brasileiras – notícias de Brasília.
E) costela bovina – costela de porco.
urbanos e se dissemina pelo interior.
As estratégias que as sociedades adotam para combater a vio-
02.Não se pluraliza os adjetivos compostos abaixo, exceto:
lência variam muito e a prevenção das causas evoluiu muito pouco
A)azul-celeste
no decorrer do século 20, ao contrário dos avanços ocorridos no
B)azul-pavão
campo das infecções, câncer, diabetes e outras enfermidades.
C)surda-muda
A agressividade impulsiva é consequência de perturbações
D)branco-gelo
nos mecanismos biológicos de controle emocional. Tendências
agressivas surgem em indivíduos com dificuldades adaptativas
03.Assinale a única alternativa em que os adjetivos não estão
que os tornam despreparados para lidar com as frustrações de seus no grau superlativo absoluto sintético:
desejos. A)Arquimilionário/ ultraconservador;
A violência é uma doença. Os mais vulneráveis são os que B)Supremo/ ínfimo;
tiveram a personalidade formada num ambiente desfavorável ao C)Superamigo/ paupérrimo;
desenvolvimento psicológico pleno. D)Muito amigo/ Bastante pobre
A revisão de estudos científicos permite identificar três fatores
principais na formação das personalidades com maior inclinação
04.Na frase: “Trata-se de um artista originalíssimo”, o adjeti-
ao comportamento violento:
1) Crianças que apanharam, foram vítimas de abusos, humi- vo grifado encontra-se no grau:
lhadas ou desprezadas nos primeiros anos de vida. A)comparativo de superioridade.
2) Adolescentes vivendo em famílias que não lhes transmiti- B)superlativo absoluto sintético.
ram valores sociais altruísticos, formação moral e não lhes impu- C)superlativo relativo de superioridade.
seram limites de disciplina. D)comparativo de igualdade.
3) Associação com grupos de jovens portadores de comporta- E)superlativo absoluto analítico.
mento antissocial.
Na periferia das cidades brasileiras vivem milhões de crian- 05.Aponte a alternativa em que o superlativo do adjetivo está
ças que se enquadram nessas três condições de risco. Associados à incorreto:
falta de acesso aos recursos materiais, à desigualdade social, esses A)Meu tio está elegantíssimo.
fatores de risco criam o caldo de cultura que alimenta a violência B)Joana, ela é minha amicíssima.
crescente nas cidades. C)Esta panela está cheissíssima de água.
Na falta de outra alternativa, damos à criminalidade a resposta D)A prova foi facílima.
do aprisionamento. Porém, seu efeito é passageiro: o criminoso
fica impedido de delinquir apenas enquanto estiver preso. Ao sair, 06. Indique nas alternativas a seguir o adjetivo incorreto da
estará mais pobre, terá rompido laços familiares e sociais e difi- locução adjetiva em negrito:
cilmente encontrará quem lhe dê emprego. Ao mesmo tempo, na
A)mulher muito magra = macérrima
prisão, terá criado novas amizades e conexões mais sólidas com o
B)pessoa muito amiga = amicíssima
mundo do crime.
Construir cadeias custa caro; administrá-las, mais ainda. Obri- C)pessoa muito inimiga = inimicíssimo
gados a optar por uma repressão policial mais ativa, aumentaremos D)atitude muito benéfica = beneficientíssima
o número de prisioneiros. As cadeias continuarão superlotadas.
Seria mais sensato investir em educação, para prevenir a cri- 07. “Ele era tão pequeno que recebeu o apelido de miúdo”. A
minalidade e tratar os que ingressaram nela. palavra miúdo possui, no grau superlativo absoluto sintético, duas
Na verdade, não existe solução mágica a curto prazo. Preci- formas. Uma delas é miudíssimo (regular) e a outra, irregular, é:
samos de uma divisão de renda menos brutal, motivar os policiais

Didatismo e Conhecimento 18
LÍNGUA PORTUGUESA
A)minutíssimo Famosa – adjetivo
B)miudinitíssimo na – preposição
C)midunitíssimo cidade – substantivo
D)miduníssimo
9-) De lua – lunar
08. Quantos adjetivos existem na frase “Essa lanchonete é fa-
mosa na cidade?” 10-) Alemães capazes
A)1.
B)2. NUMERAL
C)3.
D)4. Numeral é a palavra que indica os seres em termos numéricos,
E)5. isto é, que atribui quantidade aos seres ou os situa em determinada
sequência.
09.Indique a alternativa incorreta quanto à correspondência Os quatro últimos ingressos foram vendidos há pouco.
entre a locução adjetiva e o adjetivo equivalente: [quatro: numeral = atributo numérico de “ingresso”]
A)de pele = cutâneo Eu quero café duplo, e você?
B)de professor = docente ...[duplo: numeral = atributo numérico de “café”]
C)de face = facial A primeira pessoa da fila pode entrar, por favor!
D)de lua = lunático ...[primeira: numeral = situa o ser “pessoa” na sequência de
“fila”]
10.O plural correto da expressão: “alemão capaz” é:
A)alemãos capazes Note bem: os numerais traduzem, em palavras, o que os nú-
B)alemões capazes meros indicam em relação aos seres. Assim, quando a expressão
C)alemães capazes é colocada em números (1, 1°, 1/3, etc.) não se trata de numerais,
D)os alemão capaz mas sim de algarismos.
Além dos numerais mais conhecidos, já que refletem a ideia
GABARITO expressa pelos números, existem mais algumas palavras conside-
radas numerais porque denotam quantidade, proporção ou ordena-
01. B 02. C 03. D 04. B 05. C ção. São alguns exemplos: década, dúzia, par, ambos(as), novena.

06. D 07. A 08. A 09. D 10. C Classificação dos Numerais

COMENTÁRIOS Cardinais: indicam contagem, medida. É o número básico:


um, dois, cem mil, etc.
1-) Ordinais: indicam a ordem ou lugar do ser numa série dada:
a-) fluvial – do rio primeiro, segundo, centésimo, etc.
b-) correta Fracionários: indicam parte de um inteiro, ou seja, a divisão
c-) brasileiras – do Brasil dos seres: meio, terço, dois quintos, etc.
d-) vida campestre Multiplicativos: expressam ideia de multiplicação dos seres,
e-) suína indicando quantas vezes a quantidade foi aumentada: dobro, tri-
plo, quíntuplo, etc.
2-) Surdas-mudas
Leitura dos Numerais
3-) d-) estão no superlativo absoluto analítico Separando os números em centenas, de trás para frente, ob-
têm-se conjuntos numéricos, em forma de centenas e, no início,
4-) originalíssimo – grau superlativo absoluto sintético também de dezenas ou unidades. Entre esses conjuntos usa-se vír-
gula; as unidades ligam-se pela conjunção “e”.
5-) C) Esta panela está cheissíssima de água. 1.203.726 = um milhão, duzentos e três mil, setecentos e vinte
O correto é cheíssima. e seis.
45.520 = quarenta e cinco mil, quinhentos e vinte.
6-) D)atitude muito benéfica = beneficientíssima
O correto é beneficentíssima ( sem o “i” em cien) Flexão dos numerais
Os numerais cardinais que variam em gênero são um/uma,
7-) minutíssimo é a forma correta. dois/duas e os que indicam centenas de duzentos/duzentas em
diante: trezentos/trezentas; quatrocentos/quatrocentas, etc. Cardi-
8-) “Essa lanchonete é famosa na cidade?” nais como milhão, bilhão, trilhão, variam em número: milhões,
Essa – pronome bilhões, trilhões. Os demais cardinais são invariáveis.
Lanchonete – substantivo
É – verbo

Didatismo e Conhecimento 19
LÍNGUA PORTUGUESA
Os numerais ordinais variam em gênero e número:
primeiro segundo milésimo
primeira segunda milésima
primeiros segundos milésimos
primeiras segundas milésimas

Os numerais multiplicativos são invariáveis quando atuam em funções substantivas:


Fizeram o dobro do esforço e conseguiram o triplo de produção.
Quando atuam em funções adjetivas, esses numerais flexionam-se em gênero e número:
Teve de tomar doses triplas do medicamento.
Os numerais fracionários flexionam-se em gênero e número. Observe: um terço/dois terços, uma terça parte, duas terças partes
Os numerais coletivos flexionam-se em número. Veja: uma dúzia, um milheiro, duas dúzias, dois milheiros
É comum na linguagem coloquial a indicação de grau nos numerais, traduzindo afetividade ou especialização de sentido. É o que ocorre
em frases como:
“Me empresta duzentinho...”
É artigo de primeiríssima qualidade!
O time está arriscado por ter caído na segundona. (= segunda divisão de futebol)

Emprego dos Numerais


- Para designar papas, reis, imperadores, séculos e partes em que se divide uma obra, utilizam-se os ordinais até décimo e a partir daí
os cardinais, desde que o numeral venha depois do substantivo:
Ordinais Cardinais
João Paulo II (segundo) Tomo XV (quinze)
D. Pedro II (segundo) Luís XVI (dezesseis)
Ato II (segundo) Capítulo XX (vinte)
Século VIII (oitavo) Século XX (vinte)
Canto IX (nono) João XXIII ( vinte e três)

- Para designar leis, decretos e portarias, utiliza-se o ordinal até nono e o cardinal de dez em diante:
Artigo 1.° (primeiro)Artigo 10 (dez)
Artigo 9.° (nono) Artigo 21 (vinte e um)
- Ambos/ambas são considerados numerais. Significam “um e outro”, “os dois” (ou “uma e outra”, “as duas”) e são largamente em-
pregados para retomar pares de seres aos quais já se fez referência.
Pedro e João parecem ter finalmente percebido a importância da solidariedade. Ambos agora participam das atividades comunitárias
de seu bairro.

Obs.: a forma “ambos os dois” é considerada enfática. Atualmente, seu uso indica afetação, artificialismo.

Fonte: http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf40.php

Cardinais Ordinais Multiplicativos Fracionários


um primeiro - -
dois segundo dobro, duplo meio
três terceiro triplo, tríplice terço
quatro quarto quádruplo quarto
cinco quinto quíntuplo quinto
seis sexto sêxtuplo sexto
sete sétimo sétuplo sétimo
oito oitavo óctuplo oitavo
nove nono nônuplo nono
dez décimo décuplo décimo
onze décimo primeiro - onze avos
doze décimo segundo - doze avos
treze décimo terceiro - treze avos

Didatismo e Conhecimento 20
LÍNGUA PORTUGUESA

catorze décimo quarto - catorze avos


quinze décimo quinto - quinze avos
dezesseis décimo sexto - dezesseis avos
dezessete décimo sétimo - dezessete avos
dezoito décimo oitavo - dezoito avos
dezenove décimo nono - dezenove avos
vinte vigésimo - vinte avos
trinta trigésimo - trinta avos
quarenta quadragésimo - quarenta avos
cinqüenta qüinquagésimo - cinqüenta avos
sessenta sexagésimo - sessenta avos
setenta septuagésimo - setenta avos
oitenta octogésimo - oitenta avos
noventa nonagésimo - noventa avos
cem centésimo cêntuplo centésimo
duzentos ducentésimo - ducentésimo
trezentos trecentésimo - trecentésimo
quatrocentos quadringentésimo - quadringentésimo
quinhentos qüingentésimo - qüingentésimo
seiscentos sexcentésimo - sexcentésimo
setecentos septingentésimo - septingentésimo
oitocentos octingentésimo - octingentésimo
nongentésimo ou
novecentos - nongentésimo
noningentésimo
mil milésimo - milésimo
milhão milionésimo - milionésimo
bilhão bilionésimo - bilionésimo

Questões sobre Numeral

01.Na frase “Nessa carteira só há duas notas de cinco reais” temos exemplos de numerais:
A)ordinais;
B)cardinais;
C)fracionários;
D)romanos;
E)Nenhuma das alternativas.

02.Aponte a alternativa em que os numerais estão bem empregados.


A) Ao papa Paulo Seis sucedeu João Paulo Primeiro.
B) Após o parágrafo nono virá o parágrafo décimo.
C) Depois do capítulo sexto, li o capitulo décimo primeiro.
D)Antes do artigo dez vem o artigo nono.
E) O artigo vigésimo segundo foi revogado.

03. Os ordinais referentes aos números 80, 300, 700 e 90 são, respectivamente
A) octagésimo, trecentésimo, septingentésirno, nongentésimo
B) octogésimo, trecentésimo, septingentésimo, nonagésimo
C) octingentésimo, tricentésimo, septuagésimo, nonagésimo
D) octogésimo, tricentésimo, septuagésimo, nongentésimo

Didatismo e Conhecimento 21
LÍNGUA PORTUGUESA
04. (Contador – IESES – 2012).“Em maio, um abaixo-as- COMENTÁRIOS
sinado, para que o parlamento extinga a lei ortográfica, tomou a
82ª Feira do Livro de Lisboa.” O numeral ordinal destacado está 1-) Nessa carteira só há duas notas de cinco reais = numerais
corretamente escrito na alternativa: cardinais
a) Oitogésima segunda.
b) Octogésima segunda. 2-)
c) Oitagésima segunda. A) Ao papa Paulo Sexto sucedeu João Paulo Primeiro.
d) Octagésima segunda. B) Após o parágrafo nono virá o parágrafo dez.
C) Depois do capítulo sexto, li o capítulo onze.
05.Marque o emprego incorreto do numeral: D) Antes do artigo dez vem o artigo nono. = correta
A) século III (três) E) O artigo vinte e dois foi revogado.
B) página 102 (cento e dois)
C) 80º (octogésimo) 3-) 80 (octogésimo), 300 (trecentésimo ou tricentésimo) , 700
D) capítulo XI (onze) (septingentésimo) 90 (nonagésimo)
E) X tomo (décimo)
4-) 82ª Feira = Octogésima segunda.
06.Triplo e tríplice são numerais:
A) multiplicativo o primeiro e ordinal o segundo 5-)
B) ambos ordinais A) século III (terceiro)
B) página 102 (cento e dois)
C) ambos cardinais
C) 80º (octogésimo)
D) ambos multiplicativos.
D) capítulo XI (onze)
E) X tomo (décimo)
07. Indique a grafia e leitura corretas do seguinte numeral car-
dinal: 3.726. 6-) triplo e tríplice = ambos são numerais multiplicativos
A) Três mil, setecentos e vinte e seis.
B) Três mil, e setecentos e vinte e seis. 7-)
C) Três mil e setecentos e vinte e seis. B) Três mil, e setecentos e vinte e seis. = retirar o “e”
D) Três mil, setecentos, vinte, seis. C) Três mil e setecentos e vinte e seis. = faltou a vírgula;
retirar o “e”
08.Em todas as frases abaixo,os numerais foram corretamente D) Três mil, setecentos, vinte, seis. = substituir as duas últi-
empregados, exceto em: mas vírgulas pela conjunção “e”
A) O artigo vinte e cinco deste código foi revogado.
B) Seu depoimento foi transcrito na página duzentos e vinte 8-) Este terremoto ocorreu no século décimo antes de Cristo.
e dois.
C) Ainda o capítulo sétimo desta obra. 9-) Ontem à tarde, um rapaz procurou por você? = artigo
D) Este terremoto ocorreu no século dez antes de Cristo. indefinido
09. Em todas as frases abaixo, a palavra grifada é um numeral,
exceto em: 10-) Ele é o duodécimo colocado. = (posição 12)
A) Ele só leu um livro este semestre.
B) Não é preciso mais que uma pessoa para fazer este serviço. PRONOME
C) Ontem à tarde, um rapaz procurou por você?
D) Você quer uma ou mais caixas deste produto? Pronome é a palavra que se usa em lugar do nome, ou a ele se
refere, ou ainda, que acompanha o nome qualificando-o de alguma
10.Assinale o caso em que não haja expressão numérica de forma.
sentido indefinido: A moça era mesmo bonita. Ela morava nos meus sonhos!
A) Ele é o duodécimo colocado. [substituição do nome]
B) Quer que veja este filme pela milésima vez? A moça que morava nos meus sonhos era mesmo bonita!
C) “Na guerra os meus dedos dispararam mil mortes”. [referência ao nome]
D) “A vida tem uma só entrada; a saída é por cem portas”. Essa moça morava nos meus sonhos!
E) N.D.A. [qualificação do nome]
Grande parte dos pronomes não possuem significados fixos,
GABARITO isto é, essas palavras só adquirem significação dentro de um con-
texto, o qual nos permite recuperar a referência exata daquilo que
01. B 02. D 03. B 04. B 05. A está sendo colocado por meio dos pronomes no ato da comunica-
ção. Com exceção dos pronomes interrogativos e indefinidos, os
06. A 07. A 08. D 09. C 10. A demais pronomes têm por função principal apontar para as pessoas
do discurso ou a elas se relacionar, indicando-lhes sua situação no
tempo ou no espaço. Em virtude dessa característica, os pronomes
apresentam uma forma específica para cada pessoa do discurso.

Didatismo e Conhecimento 22
LÍNGUA PORTUGUESA
Minha carteira estava vazia quando eu fui assaltada. Pronome Oblíquo
[minha/eu: pronomes de 1ª pessoa = aquele que fala] Pronome pessoal do caso oblíquo é aquele que, na sentença,
Tua carteira estava vazia quando tu foste assaltada? exerce a função de complemento verbal (objeto direto ou  indireto)
[tua/tu: pronomes de 2ª pessoa = aquele a quem se fala] ou complemento nominal.
A carteira dela estava vazia quando ela foi assaltada. Ofertaram-nos flores. (objeto indireto)
[dela/ela: pronomes de 3ª pessoa = aquele de quem se fala] Obs.: em verdade, o pronome oblíquo é uma forma variante
Em termos morfológicos, os pronomes são  palavras variá- do pronome pessoal do caso reto. Essa variação indica a função di-
veis em gênero (masculino ou feminino) e em número (singular ou versa que eles desempenham na oração: pronome reto marca o su-
plural). Assim, espera-se que a referência através do pronome seja jeito da oração; pronome oblíquo marca o complemento da oração.
coerente em termos de gênero e número (fenômeno da concordân- Os pronomes oblíquos sofrem variação de acordo com a acen-
cia) com o seu objeto, mesmo quando este se apresenta ausente no tuação tônica que possuem, podendo ser átonos ou tônicos.
enunciado.
Fala-se de Roberta. Ele  quer participar do desfile da  nos- Pronome Oblíquo Átono
sa escola neste ano. São chamados átonos os pronomes oblíquos que não são pre-
[nossa: pronome que qualifica “escola” = concordância ade- cedidos de preposição. Possuem acentuação tônica  fraca.
quada] Ele me deu um presente.
[neste: pronome que determina “ano” = concordância adequada]
[ele: pronome que faz referência à “Roberta” = concordância O quadro dos pronomes oblíquos átonos é assim configurado:
inadequada] - 1ª pessoa do singular (eu): me
Existem seis tipos de pronomes: pessoais, possessivos, de- - 2ª pessoa do singular (tu): te
monstrativos, indefinidos, relativos e interrogativos. - 3ª pessoa do singular (ele, ela): o, a, lhe
- 1ª pessoa do plural (nós): nos
Pronomes Pessoais - 2ª pessoa do plural (vós): vos
São aqueles que substituem os substantivos, indicando di- - 3ª pessoa do plural (eles, elas): os, as, lhes
retamente as pessoas do discurso. Quem fala ou escreve assu-
me os pronomes “eu” ou “nós”, usa os pronomes  “tu”, “vós”, Observações:
“você” ou “vocês” para designar a quem se dirige e “ele”, “ela”, O “lhe” é o único pronome oblíquo átono que já se apresenta
“eles” ou “elas” para fazer referência à pessoa ou às pessoas de na forma contraída, ou seja, houve a união entre o pronome “o” ou 
quem fala. “a” e preposição “a” ou “para”. Por acompanhar diretamente uma
Os pronomes pessoais variam de acordo com as funções que preposição, o pronome  “lhe”  exerce sempre a função de objeto
exercem nas orações, podendo ser do caso reto ou do caso oblíquo. indireto na oração.
Os pronomes me, te, nos e vos podem tanto ser objetos diretos
Pronome Reto como objetos indiretos.
Pronome pessoal do caso reto é aquele que, na sentença, exer- Os pronomes o, a, os e as atuam exclusivamente como objetos
ce a função de sujeito ou predicativo do sujeito. diretos.
Nós lhe ofertamos flores.
Os pronomes retos apresentam flexão de número, gênero (ape- Saiba que:
nas na 3ª pessoa) e pessoa, sendo essa última a principal flexão, Os pronomes me, te, lhe, nos, vos e lhes podem combinar-se
uma vez que marca a pessoa do discurso. Dessa forma, o quadro com os pronomes o, os, a, as, dando origem a formas como mo,
dos pronomes retos é assim configurado: mos, ma, mas; to, tos, ta, tas; lho, lhos, lha, lhas; no-lo, no-los,
- 1ª pessoa do singular: eu no-la, no--las, vo-lo, vo-los, vo-la, vo-las. Observe  o uso dessas
- 2ª pessoa do singular: tu formas nos exemplos que seguem:
- 3ª pessoa do singular: ele, ela
- 1ª pessoa do plural: nós
- Não contaram a novidade a
- 2ª pessoa do plural: vós - Trouxeste o pacote?
vocês?
- 3ª pessoa do plural: eles, elas
- Sim, entreguei-to ainda há
- Não, no-la contaram.
Atenção: esses pronomes não costumam ser usados como pouco.
complementos verbais na língua-padrão. Frases como “Vi ele na
rua”, “Encontrei ela na praça”, “Trouxeram eu até aqui”, comuns No português do Brasil, essas combinações não são usadas;
na língua oral cotidiana, devem ser evitadas na língua formal es- até mesmo na língua literária atual, seu emprego é muito raro.
crita ou falada. Na língua formal, devem ser usados os pronomes
oblíquos correspondentes: “Vi-o na rua”, “Encontrei-a na praça”, Atenção:
“Trouxeram--me até aqui”. Os pronomes o, os, a, as assumem formas especiais depois de
Obs.: frequentemente observamos a omissão do pronome reto certas terminações verbais. Quando o verbo termina em -z, -s ou -r,
em Língua Portuguesa. Isso se dá porque as próprias formas ver- o pronome assume a forma lo, los, la ou las, ao mesmo tempo que
bais marcam, através de suas desinências, as pessoas do verbo in- a terminação verbal é suprimida.
dicadas pelo pronome reto.
Fizemos boa viagem. (Nós)

Didatismo e Conhecimento 23
LÍNGUA PORTUGUESA
Por exemplo: Pronome Reflexivo
fiz + o = fi-lo São pronomes pessoais oblíquos que, embora funcionem
fazeis + o = fazei-lo como objetos direto ou indireto, referem--se ao sujeito da oração.
dizer + a = dizê-la Indicam que o sujeito pratica e recebe a ação expressa pelo verbo.
O quadro dos pronomes reflexivos é assim configurado:
Quando o verbo termina em som nasal, o pronome assume as - 1ª pessoa do singular (eu): me, mim.
formas no, nos, na, nas.
Eu não me vanglorio disso.
Por exemplo: Olhei para mim no espelho e não gostei do que vi.
viram + o: viram-no
repõe + os = repõe-nos - 2ª pessoa do singular (tu): te, ti.
retém + a: retém-na
tem + as = tem-nas Assim tu te prejudicas.
Conhece a ti mesmo.
Pronome Oblíquo Tônico
Os pronomes oblíquos tônicos são sempre precedidos por pre- - 3ª pessoa do singular (ele, ela): se, si, consigo.
posições, em geral as preposições a, para, de e com. Por esse mo- Guilherme já se preparou.
tivo, os pronomes tônicos exercem a função de objeto indireto da Ela deu a si um presente.
oração. Possuem acentuação tônica  forte. Antônio conversou consigo mesmo.
O quadro dos pronomes oblíquos tônicos é assim configurado:
- 1ª pessoa do singular (eu): mim, comigo - 1ª pessoa do plural (nós): nos.
- 2ª pessoa do singular (tu): ti, contigo
- 3ª pessoa do singular (ele, ela): ele, ela
Lavamo-nos no rio.
- 1ª pessoa do plural (nós): nós, conosco
- 2ª pessoa do plural (vós): vós, convosco
- 2ª pessoa do plural (vós): vos.
- 3ª pessoa do plural (eles, elas): eles, elas
Vós vos beneficiastes com a esta conquista.
Observe que as únicas formas próprias do pronome tônico são
a primeira pessoa (mim) e segunda pessoa (ti). As demais repetem - 3ª pessoa do plural (eles, elas): se, si, consigo.
a forma do pronome pessoal do caso reto.
- As preposições essenciais introduzem sempre pronomes pes- Eles se conheceram.
soais do caso oblíquo e nunca pronome do caso reto. Nos contex- Elas deram a si um dia de folga.
tos interlocutivos que exigem o uso da língua formal, os pronomes
costumam ser usados desta forma: A Segunda Pessoa Indireta
Não há mais nada entre mim e ti. A chamada segunda pessoa indireta manifesta-se quando uti-
Não se comprovou qualquer ligação entre ti e ela. lizamos pronomes que, apesar de indicarem nosso interlocutor (
Não há nenhuma acusação contra mim. portanto, a segunda pessoa), utilizam o verbo na terceira pessoa.
Não vá sem mim. É o caso dos chamados pronomes de tratamento, que podem ser
observados no quadro seguinte:
Atenção:
Há construções em que a preposição, apesar de surgir antepos- Pronomes de Tratamento
ta a um pronome, serve para introduzir uma oração cujo verbo está
no infinitivo. Nesses casos, o verbo pode ter sujeito expresso; se
esse sujeito for um pronome, deverá ser do caso reto. Vossa Alteza V. A. príncipes, duques
Vossa Eminência V. Ema.(s) cardeais
Trouxeram vários vestidos para eu experimentar. Vossa
Não vá sem eu mandar. V. Revma.(s) sacerdotes e bispos
Reverendíssima
- A combinação da preposição “com” e alguns pronomes origi- altas autoridades e
Vossa Excelência V. Ex.ª (s)
nou as formas especiais comigo, contigo, consigo, conosco e con- oficiais-generais
vosco. Tais pronomes oblíquos tônicos frequentemente exercem a reitores de
função de adjunto adverbial de companhia. Vossa Magnificência V. Mag.ª (s)
universidades
 Ele carregava o documento consigo.
- As formas “conosco” e “convosco” são substituídas por “com Vossa Majestade V. M. reis e rainhas
nós” e “com vós” quando os pronomes pessoais são reforçados por Vossa Majestade
V. M. I. Imperadores
palavras como outros, mesmos, próprios, todos, ambos ou algum Imperial
numeral. Vossa Santidade V. S. Papa
Você terá de viajar com nós todos. Vossa Senhoria V. S.ª (s) tratamento cerimonioso
Estávamos com vós outros quando chegaram as más notícias. Vossa Onipotência V. O. Deus
Ele disse que iria com nós três.

Didatismo e Conhecimento 24
LÍNGUA PORTUGUESA
Também são pronomes de tratamento o senhor, a senho- Note que:
ra e você, vocês. “O senhor”  e  “a senhora”  são empregados no A forma do possessivo depende da pessoa gramatical a que
tratamento cerimonioso;  “você”  e  “vocês”, no tratamento fami- se refere; o gênero e o número concordam com o objeto possuído.
liar.  Você e vocês são largamente empregados no português do Ele trouxe seu apoio e sua contribuição naquele momento di-
Brasil; em algumas regiões, a forma tu é de uso frequente; em ou- fícil.
tras, pouco empregada. Já a forma vós tem uso restrito à linguagem Observações:
litúrgica, ultraformal ou literária. 1 - A forma  “seu” não é um possessivo quando resultar da
Observações: alteração fonética da palavra senhor.
a) Vossa Excelência X Sua Excelência : os pronomes de tra- - Muito obrigado, seu José.
tamento que possuem “Vossa (s)”  são empregados em relação à 2 - Os pronomes possessivos nem sempre indicam posse. Po-
pessoa com quem falamos. dem ter outros empregos, como:
a) indicar afetividade.
Espero que  V. Ex.ª, Senhor Ministro, compareça a este - Não faça isso, minha filha.
encontro. b) indicar cálculo aproximado.
*Emprega-se “Sua (s)” quando se fala a respeito da pessoa. Ele já deve ter seus 40 anos.
Todos os membros da C.P.I. afirmaram que Sua Excelência, o c) atribuir valor indefinido ao substantivo.
Senhor Presidente da República, agiu com propriedade. Marisa tem lá seus defeitos, mas eu gosto muito dela.
3- Em frases onde se usam pronomes de tratamento, o prono-
- Os pronomes  de tratamento representam uma forma indi- me possessivo fica na 3ª pessoa.
reta de nos dirigirmos aos nossos interlocutores. Ao tratarmos um Vossa Excelência trouxe sua mensagem?
deputado por Vossa Excelência, por exemplo, estamos nos ende- 4- Referindo-se a mais de um substantivo, o possessivo con-
reçando à excelência que esse deputado supostamente tem para corda com o mais próximo.
poder ocupar o cargo que ocupa. Trouxe-me seus livros e anotações.
b)  3ª pessoa:  embora os pronomes de tratamento dirijam-se 5-  Em algumas construções, os pronomes pessoais oblíquos
à 2ª pessoa, toda a concordância deve ser feita com a 3ª pessoa. átonos assumem valor de possessivo.
Assim, os verbos, os pronomes possessivos e os pronomes oblí- Vou seguir-lhe os passos. (= Vou seguir seus passos.)
quos empregados em relação a eles devem ficar na 3ª pessoa.
Basta que V. Ex.ª cumpra a terça parte das suas promessas, Pronomes Demonstrativos
para que seus eleitores lhe fiquem reconhecidos. Os pronomes demonstrativos são utilizados para explicitar a
c) Uniformidade de Tratamento: quando escrevemos ou nos posição de uma certa palavra em relação a outras ou ao contexto.
dirigimos a alguém, não é permitido mudar, ao longo do texto, a Essa relação pode ocorrer em termos de espaço, no tempo ou dis-
pessoa do tratamento escolhida inicialmente. Assim, por exemplo, curso.
se começamos a chamar alguém de “você”, não poderemos usar No espaço:
“te” ou “teu”. O uso correto exigirá, ainda, verbo na terceira pes- Compro este carro (aqui). O pronome este indica que o carro
soa. está perto da pessoa que fala.
Compro  esse  carro (aí). O pronome  esse indica que o carro
Quando  você  vier, eu  te  abraçarei e enrolar-me-ei está perto da pessoa com quem falo, ou afastado da pessoa que
nos teus cabelos. (errado) fala.
Quando  você  vier, eu  a  abraçarei e enrolar-me-ei Compro aquele carro (lá). O pronome aquele diz que o carro
nos seus cabelos. (correto) está afastado da pessoa que fala e daquela com quem falo.
Quando  tu  vieres, eu  te  abraçarei e enrolar-me-ei Atenção:  em situações de fala direta (tanto ao vivo quan-
nos teus cabelos. (correto) to por meio de correspondência, que é uma modalidade escri-
ta de fala), são particularmente importantes o  este  e o esse - o
Pronomes Possessivos primeiro localiza os seres em relação ao emissor; o segundo,
São palavras que, ao indicarem a pessoa gramatical (possui- em relação ao destinatário. Trocá-los pode causar ambiguidade.
dor), acrescentam a ela a ideia de posse de algo (coisa possuída). Dirijo-me a essa universidade com o objetivo de solicitar informações
Este caderno é meu. (meu = possuidor: 1ª pessoa do singular) sobre o concurso vestibular. (trata-se da universidade destinatária).
Observe o quadro: Reafirmamos a disposição  desta  universidade em participar no
próximo Encontro de Jovens. (trata- -se da universidade que envia
NÚMERO PESSOA PRONOME a mensagem).

singular primeira meu(s), minha(s) No tempo:


singular segunda teu(s), tua(s) Este ano está sendo bom para nós. O pronome este se refere
singular terceira seu(s), sua(s) ao ano presente.
Esse ano que passou foi razoável. O pronome esse se refere a
plural primeira nosso(s), nossa(s) um passado próximo.
plural segunda vosso(s), vossa(s) Aquele ano foi terrível para todos. O pronome aquele está se
plural terceira seu(s), sua(s) referindo a um passado distante.
 

Didatismo e Conhecimento 25
LÍNGUA PORTUGUESA
- Os pronomes demonstrativos podem ser variáveis ou inva- Algo o incomoda?
riáveis, observe: Quem avisa amigo é.
Variáveis:  este(s), esta(s), esse(s), essa(s), aquele(s),
aquela(s). - Pronomes Indefinidos Adjetivos: qualificam um ser expresso
Invariáveis: isto,  isso, aquilo. na frase, conferindo-lhe a noção de quantidade aproximada. São
- Também aparecem como pronomes demonstrativos: eles: cada, certo(s), certa(s).
- o(s), a(s): quando estiverem antecedendo o “que” e puderem
ser substituídos por aquele(s), aquela(s), aquilo. Cada povo tem seus costumes.
Não ouvi o que disseste. (Não ouvi aquilo que disseste.)
Certas pessoas exercem várias profissões.
Essa rua não é a que te indiquei. (Esta rua não é aquela que
te indiquei.)
- mesmo(s), mesma(s): Note que:
Estas são as mesmas pessoas que o procuraram ontem. Ora são pronomes indefinidos substantivos, ora pronomes in-
- próprio(s), própria(s): definidos adjetivos:
Os próprios alunos resolveram o problema.
- semelhante(s): algum, alguns, alguma(s), bastante(s) (= muito, muitos),
Não compre semelhante livro. demais, mais, menos, muito(s), muita(s), nenhum, nenhuns,
- tal, tais: nenhuma(s), outro(s), outra(s), pouco(s), pouca(s), qualquer,
Tal era a solução para o problema. quaisquer, qual, que, quanto(s), quanta(s), tal, tais, tanto(s),
Note que: tanta(s), todo(s), toda(s), um, uns, uma(s), vários, várias.
a) Não raro os demonstrativos aparecem na frase, em constru-
ções redundantes, com finalidade expressiva, para salientar algum Menos palavras e mais ações.
termo anterior. Por exemplo: Alguns se contentam pouco.
Manuela, essa é que dera em cheio casando com o José Afon-
so. Desfrutar das belezas brasileiras, isso é que é sorte! Os pronomes indefinidos podem ser divididos em  variá-
b) O pronome demonstrativo neutro ou pode representar um
veis e invariáveis. Observe o quadro:
termo ou o conteúdo de uma oração inteira, caso em que aparece,
geralmente, como objeto direto, predicativo ou aposto.
O casamento seria um desastre. Todos o pressentiam. Variáveis
c) Para evitar  a repetição de um verbo anteriormente expres- Singular Plural Invariá-
so, é comum empregar-se, em tais casos, o verbo fazer, chamado, veis
então, verbo vicário (= que substitui, que faz as vezes de). Mascu- Mascu-
Feminino Feminino
Ninguém teve coragem de falar antes que ela o fizesse. lino lino
d) Em frases como a seguinte, este se refere à pessoa mencio- algum alguma alguns algumas
nada em último lugar; aquele, à mencionada em primeiro lugar. nenhum nenhuma nenhuns nenhumas alguém
O referido deputado e o Dr. Alcides eram amigos ínti- todo toda todos todas ninguém
mos;  aquele casado, solteiro este. [ou então: este solteiro, aque- muito muita muitos muitas outrem
le casado] pouco pouca poucos poucas tudo
e) O pronome demonstrativo tal pode ter conotação irônica.
vário vária vários várias nada
A menina foi a tal que ameaçou o professor?
f)  Pode ocorrer a contração das preposições  a, de, em com tanto tanta tantos tantas algo
pronome demonstrativo: àquele, àquela, deste, desta, disso, nisso, outro outra outros outras cada
no, etc. quanto quanta quantos quantas
Não acreditei no que estava vendo. (no = naquilo) qualquer quaisquer
 
Pronomes Indefinidos São  locuções pronominais indefinidas: cada qual, cada um,
São palavras que se referem à terceira pessoa do discurso, qualquer um, quantos quer (que), quem quer (que), seja quem for,
dando-lhe sentido vago (impreciso) ou expressando quantidade seja qual for, todo aquele (que), tal qual (= certo), tal e qual, tal
indeterminada. ou qual, um ou outro, uma ou outra, etc.
Alguém entrou no jardim e destruiu as mudas recém-planta-
das.
Cada um escolheu o vinho desejado.
Não é difícil perceber que “alguém”  indica uma pessoa de
quem se fala (uma terceira pessoa, portanto) de forma imprecisa,
vaga. É uma palavra capaz de indicar um ser humano que segura- Indefinidos Sistemáticos
mente existe, mas cuja identidade é desconhecida ou não se quer Ao observar atentamente os pronomes indefinidos, percebe-
revelar.  mos que existem alguns grupos que criam oposição de sentido. É
Classificam-se em: o caso de: algum/alguém/algo, que têm sentido afirmativo, e ne-
- Pronomes Indefinidos Substantivos:  assumem o lugar do nhum/ninguém/nada, que têm sentido negativo; todo/tudo, que
ser ou da quantidade aproximada de seres na frase. São eles: algo, indicam uma totalidade afirmativa, e nenhum/nada, que indicam
alguém, fulano, sicrano, beltrano, nada, ninguém, outrem, quem, uma totalidade negativa; alguém/ninguém, que se referem à pes-
tudo. soa, e algo/nada, que se referem à coisa; certo, que particulariza,
e qualquer, que generaliza.

Didatismo e Conhecimento 26
LÍNGUA PORTUGUESA
Essas oposições de sentido são muito importantes na constru- Essas são as conclusões sobre  as quais  pairam muitas
ção de frases e textos coerentes, pois delas muitas vezes dependem dúvidas? (Não se poderia usar “que” depois de sobre.)
a solidez e a consistência dos argumentos expostos. Observe nas
frases seguintes a força que os pronomes indefinidos destacados c) O relativo “que” às vezes equivale a o que, coisa que, e se
imprimem às afirmações de que fazem parte: refere a uma oração.
Nada do que tem sido feito produziu qualquer resultado
prático. Não chegou a ser padre, mas deixou de ser poeta, que era a
Certas  pessoas conseguem perceber sutilezas: não são pes- sua vocação natural.
soas quaisquer.
d)  O pronome  “cujo” não concorda com o seu antecedente,
Pronomes Relativos mas com o consequente. Equivale a do qual, da qual, dos quais,
São aqueles que representam nomes já mencionados anterior- das quais.
mente e com os quais se relacionam. Introduzem as orações subor-
dinadas adjetivas.
Este é o caderno cujas folhas estão rasgadas.
O racismo é um sistema  que  afirma a superioridade de um
grupo racial sobre outros.
↑ ↑
(antecedente) (consequente)
(afirma a superioridade de um grupo racial sobre outros = ora-
ção subordinada adjetiva).
O pronome relativo “que” refere-se à palavra “sistema” e in- e) “Quanto” é pronome relativo quando tem por antecedente
troduz uma oração subordinada. Diz-se que a palavra  “sistema” um pronome indefinido: tanto (ou variações) e tudo:
é antecedente do pronome relativo que. O antecedente do pronome
relativo pode ser o pronome demonstrativo o, a, os, as. Emprestei tantos quantos foram necessários.
Não sei o que você está querendo dizer. ↑
Às vezes, o antecedente do pronome relativo não vem (antecedente)
expresso.
Quem casa, quer casa. Ele fez tudo quanto havia falado.

Observe o quadro abaixo: (antecedente)

Quadro dos Pronomes Relativos f) O pronome “quem” se refere a pessoas e vem sempre pre-
cedido de preposição.
Variáveis
Invariáveis
Masculino Feminino É um professor a quem muito devemos.
o qual os quais a qual as quais quem ↑
cujo cujos cuja cujas que (preposição)
quanto quantos quanta quantas onde
g) “Onde”, como pronome relativo, sempre possui anteceden-
Note que: te e só pode ser utilizado na indicação de lugar.
a) O pronome “que” é o relativo de mais largo emprego, sendo A casa onde morava foi assaltada.
por isso chamado relativo universal. Pode ser substituído por  o h) Na indicação de tempo, deve-se empregar quando ou em
qual, a qual, os quais, as quais, quando seu antecedente for um que.
substantivo. Sinto saudades da época em que (quando) morávamos no ex-
terior.
O trabalho que eu fiz refere-se à corrupção. (= o qual) i) Podem ser utilizadas como pronomes relativos as palavras:
A cantora que acabou de se apresentar é péssima. (= a qual) - como (= pelo qual)
Os trabalhos que eu fiz referem-se à corrupção. (= os quais) Não me parece correto o modo como você agiu semana pas-
As cantoras que se apresentaram eram péssimas. (= as quais) sada.
- quando (= em que)
b)  O qual, os quais, a qual  e  as quais são exclusivamente Bons eram os tempos quando podíamos jogar videogame.
pronomes relativos: por isso, são utilizados didaticamente para j) Os pronomes relativos permitem reunir duas orações numa
verificar se palavras como “que”, “quem”, “onde” (que podem
só frase.
ter várias classificações) são pronomes relativos. Todos eles são
O futebol é um esporte.
usados com referência à pessoa ou coisa por motivo de clareza ou
O povo gosta muito deste esporte.
depois de determinadas preposições:
O futebol é um esporte de que o povo gosta muito.
Regressando de São Paulo, visitei o sítio de minha tia,  o k) Numa série de orações adjetivas coordenadas, pode ocorrer
qual me deixou encantado. (O uso de “que”, neste caso, geraria a elipse do relativo “que”.
ambiguidade.) A sala estava cheia de gente que conversava,  (que)  ria,
(que) fumava.

Didatismo e Conhecimento 27
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Pronomes Interrogativos O que caracteriza o verbo são as suas flexões, e não os seus
São usados na formulação de perguntas, sejam elas diretas ou possíveis significados. Observe que palavras como corrida,
indiretas. Assim como os pronomes indefinidos, referem-se à 3ª chuva e nascimento têm conteúdo muito próximo ao de alguns
pessoa do discurso de modo impreciso. São pronomes interrogati- verbos mencionados acima; não apresentam, porém, todas as
vos: que, quem, qual (e variações), quanto (e variações). possibilidades de flexão que esses verbos possuem.

Quem fez o almoço?/ Diga-me quem fez o almoço. Estrutura das Formas Verbais
Do ponto de vista estrutural, uma forma verbal pode apresen-
Qual das bonecas preferes? / Não sei qual das bonecas pre-
tar os seguintes elementos:
feres. a)  Radical:  é a parte invariável, que expressa o significado
Quantos passageiros desembarcaram? / Pergunte  quan- essencial do verbo. Por exemplo:
tos passageiros desembarcaram. fal-ei; fal-ava; fal-am. (radical fal-)
b) Tema: é o radical seguido da vogal temática que indica a
Sobre os pronomes: conjugação a que pertence o verbo. Por exemplo: fala-r
O pronome pessoal é do caso reto quando tem função de sujei- São três as conjugações:
to na frase. O pronome pessoal é do caso oblíquo quando desem- 1ª - Vogal Temática - A - (falar)
penha função de complemento. Vamos entender, primeiramente, 2ª - Vogal Temática - E - (vender)
como o pronome pessoal surge na frase e que função exerce. Ob- 3ª - Vogal Temática - I - (partir)
serve as orações:
c)  Desinência modo-temporal:  é o elemento que designa o
1. Eu não sei essa matéria, mas ele irá me ajudar. tempo e o modo do verbo. Por exemplo:
2. Maria foi embora para casa, pois não sabia se devia ajudá-lo. falávamos ( indica o pretérito imperfeito do indicativo.)
falasse ( indica o pretérito imperfeito do subjuntivo.)
Na primeira oração os pronomes pessoais “eu” e “ele” exer-
cem função de sujeito, logo, são pertencentes ao caso reto. Já na d)  Desinência número-pessoal:  é o elemento que designa a
segunda oração, observamos o pronome “lhe” exercendo função pessoa do discurso ( 1ª, 2ª ou 3ª) e o número (singular ou plural).
de complemento, e, consequentemente, é do caso oblíquo. Os falamos (indica a 1ª pessoa do plural.)
pronomes pessoais indicam as pessoas do discurso, o pronome falavam (indica a 3ª pessoa do plural.)
oblíquo “lhe”, da segunda oração, aponta para a segunda pessoa
do singular (tu/você): Maria não sabia se devia ajudar.... Ajudar Observação: o verbo pôr, assim como seus derivados (com-
por, repor, depor, etc.), pertencem à 2ª conjugação, pois a forma
quem? Você (lhe).
arcaica do verbo pôr era poer. A vogal “e”, apesar de haver desapa-
Importante: Em observação à segunda oração, o emprego do recido do infinitivo, revela-se em algumas formas do verbo: põe,
pronome oblíquo “lhe” é justificado antes do verbo intransitivo pões, põem, etc.
“ajudar” porque o pronome oblíquo pode estar antes, depois ou
entre locução verbal, caso o verbo principal (no caso “ajudar”) es- Formas Rizotônicas e Arrizotônicas
tiver no infinitivo ou gerúndio. Ao combinarmos os conhecimentos sobre a estrutura dos ver-
Eu desejo lhe perguntar algo. bos com o conceito de acentuação tônica, percebemos com facili-
Eu estou perguntando-lhe algo. dade que nas formas rizotônicas, o acento tônico cai no radical do
verbo: opino, aprendam, nutro, por exemplo. Nas formas arrizotô-
Os pronomes pessoais oblíquos podem ser átonos ou tônicos: nicas, o acento tônico não cai no radical, mas sim na terminação
verbal: opinei, aprenderão, nutriríamos.
os primeiros não são precedidos de preposição, diferentemente dos
segundos que são sempre precedidos de preposição.
Classificação dos Verbos
Pronome oblíquo átono: Joana me perguntou o que eu estava Classificam-se em:
fazendo. a) Regulares: são aqueles que possuem as desinências nor-
Pronome oblíquo tônico: Joana perguntou para mim o que eu mais de sua conjugação e cuja flexão não provoca alterações no ra-
estava fazendo. dical. Por exemplo: canto     cantei      cantarei     cantava      cantasse
b) Irregulares: são aqueles cuja flexão provoca alterações no
Fontes: radical ou nas desinências. Por exemplo: faço     fiz      farei     fi-
zesse
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf42.php c) Defectivos: são aqueles que não apresentam conjugação
http://www.brasilescola.com/gramatica/colocacao-pronominal. completa. Classificam-se em impessoais, unipessoais e pessoais.
htm - Impessoais: são os verbos que não têm sujeito. Normalmen-
te, são usados na terceira pessoa do singular. Os principais verbos
VERBO impessoais são:
a) haver, quando sinônimo de existir, acontecer, realizar-se ou
É a classe de palavras que se flexiona em pessoa, número, fazer (em orações temporais).
tempo, modo e voz. Pode indicar, entre outros processos: ação Havia poucos ingressos à venda. (Havia = Existiam)
(correr); estado (ficar); fenômeno (chover); ocorrência (nascer); Houve duas guerras mundiais. (Houve = Aconteceram)
desejo (querer). Haverá reuniões aqui. (Haverá = Realizar-se-ão)

Didatismo e Conhecimento 28
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Deixei de fumar há muitos anos. (há = faz) - Pessoais: não apresentam algumas flexões por motivos mor-
b) fazer, ser e estar (quando indicam tempo) fológicos ou eufônicos. Por exemplo:
Faz invernos rigorosos no Sul do Brasil. verbo falir. Este verbo teria como formas do presente do in-
Era primavera quando a conheci. dicativo falo, fales, fale, idênticas às do verbo falar - o que prova-
Estava frio naquele dia. velmente causaria problemas de interpretação em certos contextos.
c) Todos os verbos que indicam fenômenos da natureza são verbo computar. Este verbo teria como formas do presente do
indicativo computo, computas, computa - formas de sonoridade
impessoais:  chover, ventar, nevar, gear, trovejar, amanhecer, es-
considerada ofensiva por alguns ouvidos gramaticais. Essas razões
curecer, etc. Quando, porém, se constrói, “Amanheci mal-humo- muitas vezes não impedem o uso efetivo de formas verbais re-
rado”, usa-se o verbo “amanhecer” em sentido figurado. Qualquer pudiadas por alguns gramáticos: exemplo disso é o próprio ver-
verbo impessoal, empregado em sentido figurado, deixa de ser im- bo computar, que, com o desenvolvimento e a popularização da
pessoal para ser pessoal. informática, tem sido conjugado em todos os tempos, modos e
Amanheci mal-humorado. (Sujeito desinencial: eu) pessoas.
Choveram candidatos ao cargo. (Sujeito: candidatos)
Fiz quinze anos ontem. (Sujeito desinencial: eu) d) Abundantes: são aqueles que possuem mais de uma forma
d) São impessoais, ainda: com o mesmo valor. Geralmente, esse fenômeno costuma ocor-
1. o verbo passar (seguido de preposição), indicando tempo. rer no particípio, em que, além das formas regulares terminadas
Ex.: Já passa das seis. em  -ado  ou  -ido, surgem as chamadas  formas curtas  (particípio
2. os verbos bastar e chegar, seguidos da preposição de, indi- irregular).
cando suficiência. Ex.:  Observe:
Basta de tolices. Chega de blasfêmias.
3. os verbos estar e ficar em orações tais como Está bem, Está PARTICÍPIO PARTICÍPIO
INFINITIVO
muito bem assim, Não fica bem, Fica mal, sem referência a sujeito REGULAR IRREGULAR
expresso anteriormente. Podemos, ainda, nesse caso, classificar o Anexar Anexado Anexo
sujeito como hipotético, tornando-se, tais verbos, então, pessoais.
4. o verbo deu + para da língua popular, equivalente de “ser Dispersar Dispersado Disperso
possível”. Por exemplo: Eleger Elegido Eleito
Não deu para chegar mais cedo. Envolver Envolvido Envolto
Dá para me arrumar uns trocados?
Imprimir Imprimido Impresso
- Unipessoais:  são aqueles que, tendo sujeito, conjugam-se Matar Matado Morto
apenas  nas terceiras pessoas, do singular e do plural. Morrer Morrido Morto
A fruta amadureceu.
As frutas amadureceram. Pegar Pegado Pego
Soltar Soltado Solto
Obs.: os verbos unipessoais podem ser usados como verbos
pessoais na linguagem figurada: e) Anômalos: são aqueles que incluem mais de um radical em
Teu irmão amadureceu bastante. sua conjugação.
Entre os unipessoais estão os verbos que significam vozes de Por exemplo: 
animais; eis alguns:
bramar: tigre Ir Pôr Ser Saber
bramir: crocodilo
vou sou
cacarejar: galinha ponho sei
vais és
coaxar: sapo pus sabes
ides fui
cricrilar: grilo pôs soube
fui foste
punha saiba
Os principais verbos unipessoais são: foste seja
1. cumprir, importar, convir, doer, aprazer, parecer, ser (preci-
f) Auxiliares
so, necessário, etc.). São aqueles que entram na formação dos tempos compostos e
Cumpre trabalharmos bastante. (Sujeito: trabalharmos bastante.) das locuções verbais. O verbo principal, quando acompanhado de
Parece que vai chover. (Sujeito: que vai chover.) verbo auxiliar, é expresso numa das formas nominais: infinitivo,
É preciso que chova. (Sujeito: que chova.) gerúndio ou particípio.
2. fazer e ir, em orações que dão ideia de tempo, seguidos da     Vou                  espantar        as     moscas.
conjunção que. (verbo auxiliar)  (verbo principal no infinitivo)
Faz dez anos que deixei de fumar. (Sujeito: que deixei de fu-
mar.)        Está                  chegando       a      hora   do    debate.
Vai para (ou Vai em ou Vai por) dez anos que não vejo Cláu- (verbo auxiliar)    (verbo principal no gerúndio)                 
dia. (Sujeito: que não vejo Cláudia) Os noivos foram cumprimentados por todos os presentes.
Obs.: todos os sujeitos apontados são oracionais.          (verbo auxiliar)  (verbo principal no particípio)
Obs.: os verbos auxiliares mais usados são: ser, estar, ter e
haver.

Didatismo e Conhecimento 29
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Conjugação dos Verbos Auxiliares

SER - Modo Indicativo


Pretérito
Pretérito Pretérito Futuro do Futuro do
Presente Mais-Que-
Perfeito Imperfeito Presente Pretérito
-Perfeito
sou fui era fora serei seria
és foste eras foras serás serias
é foi era fora será seria
somos fomos éramos fôramos seremos seríamos
sois fostes éreis fôreis sereis seríeis
são foram eram foram serão seriam
SER - Modo Subjuntivo
Presente Pretérito Imperfeito Futuro
que eu seja se eu fosse quando eu for
que tu sejas se tu fosses quando tu fores
que ele seja se ele fosse quando ele for
que nós sejamos se nós fôssemos quando nós formos
que vós sejais se vós fôsseis quando vós fordes
que eles sejam se eles fossem quando eles forem
SER - Modo Imperativo
Afirmativo Negativo
sê tu não sejas tu
seja você não seja você
sejamos nós não sejamos nós
sede vós não sejais vós
sejam vocês não sejam vocês

SER - Formas Nominais


Infinitivo Infinitivo
Gerúndio Particípio
Impessoal Pessoal
ser ser eu sendo sido
  seres tu    
  ser ele    
  sermos nós    
  serdes vós    
  serem eles    

ESTAR - Modo Indicativo


Presente Pretérito Perfeito Pretérito Imperfeito Pretérito Mais-Que-Perfeito Futuro do Presente Futuro do Pretérito
estou estive estava estivera estarei estaria
estás estiveste estavas estiveras estarás estarias
está esteve estava estivera estará estaria
estamos estivemos estávamos estivéramos estaremos estaríamos
estais estivestes estáveis estivéreis estareis estaríeis
estão estiveram estavam estiveram estarão estariam

Didatismo e Conhecimento 30
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ESTAR - Modo Subjuntivo e Imperativo
Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo
esteja estivesse estiver    
estejas estivesses estiveres está estejas
esteja estivesse estiver esteja esteja
estejamos estivéssemos estivermos estejamos estejamos
estejais estivésseis estiverdes estai estejais
estejam estivessem estiverem estejam estejam

ESTAR - Formas Nominais


Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio
estar estar estando estado
  estares    
  estar    
  estarmos    
  estardes    
  estarem    

HAVER - Modo Indicativo


Pretérito Pretérito Pretérito Futuro do Futuro do
Presente
Perfeito Imperfeito Mais-Que-Perfeito Presente Pretérito
hei houve havia houvera haverei haveria
hás houveste havias houveras haverás haverias
há houve havia houvera haverá haveria
havemos houvemos havíamos houvéramos haveremos haveríamos
haveis houvestes havíeis houvéreis havereis haveríeis
hão houveram haviam houveram haverão haveriam

HAVER - Modo Subjuntivo e Imperativo


Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo
haja houvesse houver    
hajas houvesses houveres há hajas
haja houvesse houver haja haja
hajamos houvéssemos houvermos hajamos hajamos
hajais houvésseis houverdes havei hajais
hajam houvessem houverem hajam hajam

HAVER - Formas Nominais


Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio
haver haver havendo havido
  haveres    
  haver    
  havermos    
  haverdes    
  haverem    

Didatismo e Conhecimento 31
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TER - Modo Indicativo

Pretérito Pretérito Pretérito Futuro do Futuro do


Presente
Perfeito Imperfeito Mais-Que-Perfeito Presente Pretérito
tenho tive tinha tivera terei teria
tens tiveste tinhas tiveras terás terias
tem teve tinha tivera terá teria
temos tivemos tínhamos tivéramos teremos teríamos
tendes tivestes tínheis tivéreis tereis teríeis
têm tiveram tinham tiveram terão teriam

TER - Modo Subjuntivo e Imperativo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo


tenha tivesse tiver    
tenhas tivesses tiveres tem tenhas
tenha tivesse tiver tenha tenha
tenhamos tivéssemos tivermos tenhamos tenhamos
tenhais tivésseis tiverdes tende tenhais
tenham tivessem tiverem tenham tenham

g) Pronominais: São aqueles verbos que se conjugam com os pronomes oblíquos átonos me, te, se, nos, vos, se, na mesma pessoa do
sujeito, expressando reflexibilidade (pronominais acidentais) ou apenas reforçando a ideia já implícita no próprio sentido do verbo (reflexi-
vos essenciais). Veja:
- 1. Essenciais: são aqueles que sempre se conjugam com os pronomes oblíquos me, te, se, nos, vos, se. São poucos: abster-se, ater-se,
apiedar-se, atrever-se, dignar-se, arrepender-se, etc. Nos verbos pronominais essenciais a reflexibilidade já está implícita no radical do
verbo. Por exemplo:
Arrependi-me de ter estado lá.
A ideia é de que a pessoa representada pelo sujeito (eu) tem um sentimento (arrependimento) que recai sobre ela mesma, pois não recebe
ação transitiva nenhuma vinda do verbo; o pronome oblíquo átono é apenas uma partícula integrante do verbo, já que, pelo uso, sempre é
conjugada com o verbo. Diz-se que o pronome apenas serve de reforço da ideia reflexiva expressa pelo radical do próprio verbo.  
Veja uma conjugação pronominal essencial (verbo e respectivos pronomes): 

Eu me arrependo 
Tu te arrependes
Ele se arrepende 
Nós nos arrependemos 
Vós vos arrependeis 
Eles se arrependem
 
- 2. Acidentais:  são aqueles verbos transitivos diretos em que a ação exercida pelo sujeito recai sobre o objeto representado por pronome
oblíquo da mesma pessoa do sujeito; assim, o sujeito faz uma ação que recai sobre ele mesmo. Em geral, os verbos transitivos diretos ou
transitivos diretos e indiretos podem ser conjugados com os pronomes mencionados, formando o que se chama voz reflexiva. Por exem-
plo: Maria se penteava.
A reflexibilidade é acidental, pois a ação reflexiva pode ser exercida também sobre outra pessoa. Por exemplo: Maria penteou-me.
 
Observações:
1- Por fazerem parte integrante do verbo, os pronomes oblíquos átonos dos verbos pronominais não possuem função sintática.
2- Há verbos que também são acompanhados de pronomes oblíquos átonos, mas que não são essencialmente pronominais, são os verbos
reflexivos. Nos verbos reflexivos, os pronomes, apesar de se encontrarem na pessoa idêntica à do sujeito, exercem funções sintáticas.
Por exemplo:
Eu me feri. = Eu(sujeito) - 1ª pessoa do singular me (objeto direto) - 1ª pessoa do singular

Didatismo e Conhecimento 32
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Modos Verbais - Pretérito Perfeito (simples) - Expressa um fato ocorrido num
Dá-se o nome de modo às várias formas assumidas pelo verbo momento anterior ao atual e que foi totalmente terminado. Por
na expressão de um fato. Em Português, existem três modos:  exemplo: Ele estudou as lições ontem à noite.
Indicativo - indica uma certeza, uma realidade. Por exemplo: - Pretérito Perfeito (composto)  -  Expressa um fato que teve
Eu sempre estudo. início no passado e que pode se prolongar até o momento atual.
Subjuntivo - indica uma dúvida, uma possibilidade. Por exem- Por exemplo: Tenho estudado muito para os exames.
plo: Talvez eu estude amanhã. - Pretérito-Mais-Que-Perfeito  -  Expressa um fato ocorrido
Imperativo - indica uma ordem, um pedido. Por exemplo: Es- antes de outro fato já terminado. Por exemplo: Ele já tinha estu-
tuda agora, menino. dado as lições quando os amigos chegaram. (forma composta) Ele
já estudara as lições quando os amigos chegaram. (forma simples)
Formas Nominais - Futuro do Presente (simples)  - Enuncia um fato que deve
Além desses três modos, o verbo apresenta ainda formas que ocorrer num tempo vindouro com relação ao momento atual. Por
podem exercer funções de nomes (substantivo, adjetivo, advér- exemplo:  Ele estudará as lições amanhã.
bio), sendo por isso denominadas formas nominais. Observe: 
- a) Infinitivo Impessoal: exprime a significação do verbo de - Futuro do Presente (composto) - Enuncia um fato que deve
modo vago e indefinido, podendo ter valor e função de substanti- ocorrer posteriormente a um momento atual, mas já terminado an-
vo. Por exemplo: Viver é lutar. (= vida é luta) tes de outro fato futuro. Por exemplo: Antes de bater o sinal, os
É indispensável combater a corrupção. (= combate à) alunos já terão terminado o teste.
- Futuro do Pretérito (simples)  -  Enuncia um fato que pode
O infinitivo impessoal pode apresentar-se no presente (forma ocorrer posteriormente a um determinado fato passado. Por exem-
simples) ou no passado (forma composta). Por exemplo: plo: Se eu tivesse dinheiro, viajaria nas férias.
É preciso ler este livro. - Futuro do Pretérito (composto) - Enuncia um fato que po-
Era preciso ter lido este livro. deria ter ocorrido posteriormente a um determinado fato passado.
- b) Infinitivo Pessoal: é o infinitivo relacionado às três pes- Por exemplo:  Se eu tivesse ganho esse dinheiro, teria viajado nas
soas do discurso. Na 1ª e 3ª pessoas do singular, não apresenta férias.
desinências, assumindo a mesma forma do impessoal; nas demais,
flexiona--se da seguinte maneira: 2. Tempos do Subjuntivo
- Presente - Enuncia um fato que pode ocorrer no momento
2ª pessoa do singular: Radical + ES Ex.: teres(tu) atual. Por exemplo: É conveniente que estudes para o exame.
1ª pessoa do plural: Radical + MOS Ex.: termos (nós) - Pretérito Imperfeito - Expressa um fato passado, mas pos-
terior a outro já ocorrido. Por exemplo: Eu esperava que ele ven-
2ª pessoa do plural: Radical + DES Ex.: terdes (vós) cesse o jogo.
3ª pessoa do plural: Radical + EM Ex.: terem (eles) Obs.: o pretérito imperfeito é também usado nas construções
em que se expressa a ideia de condição ou desejo. Por exemplo: Se
Por exemplo: ele viesse ao clube, participaria do campeonato.
Foste elogiado por teres alcançado uma boa colocação. - Pretérito Perfeito (composto) - Expressa um fato totalmente
- c) Gerúndio:  o gerúndio pode funcionar como adjetivo ou terminado num momento passado. Por exemplo:Embora tenha es-
advérbio. Por exemplo:  tudado bastante,  não passou no teste.
Saindo de casa, encontrei alguns amigos. (função de advérbio) - Futuro do Presente (simples)  -  Enuncia um fato que pode
Nas ruas, havia crianças vendendo doces. (função adjetivo) ocorrer num momento futuro em relação ao atual. Por exemplo:
Na forma simples, o gerúndio expressa uma ação em curso; na Quando ele vier à loja, levará as encomendas.
forma composta, uma ação concluída. Por exemplo: Obs.: o futuro do presente é também usado em frases que in-
Trabalhando, aprenderás o valor do dinheiro. dicam possibilidade ou desejo. Por exemplo: Se ele  vier  à loja,
Tendo trabalhado, aprendeu o valor do dinheiro. levará as encomendas.
- d) Particípio:  quando não é empregado na formação dos - Futuro do Presente (composto) - Enuncia um fato posterior
tempos compostos, o particípio indica geralmente o  resultado de ao momento atual mas já terminado antes de outro fato futuro. Por
uma ação terminada, flexionando-se em gênero, número e grau. exemplo: Quando ele tiver saído do hospital, nós o visitaremos.
Por exemplo:
Terminados os exames, os candidatos saíram. Presente do Indicativo
Quando o particípio exprime somente estado, sem nenhuma
relação temporal, assume verdadeiramente a função de adjetivo Desinência
(adjetivo verbal). Por exemplo: 1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação
pessoal
Ela foi a aluna escolhida para representar a escola.
CANTAR VENDER PARTIR
Tempos Verbais
Tomando-se como referência o momento em que se fala, a cantO vendO partO O
ação expressa pelo verbo pode ocorrer em diversos tempos. Veja: cantaS vendeS parteS S
1. Tempos do Indicativo
canta vende parte -
- Presente  - Expressa um fato atual. Por exemplo: Eu  estu-
do neste colégio. cantaMOS vendeMOS partiMOS MOS
- Pretérito Imperfeito - Expressa um fato ocorrido num mo- cantaIS vendeIS partIS IS
mento anterior ao atual, mas que não foi completamente termina-
do. Por exemplo: Ele estudava as lições quando foi interrompido. cantaM vendeM parteM M

Didatismo e Conhecimento 33
LÍNGUA PORTUGUESA
Pretérito Perfeito do Indicativo cantar eis vender eis partir eis
cantar ão vender ão partir ão
Desinência
1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação
pessoal Futuro do Pretérito do Indicativo
CANTAR VENDER PARTIR
canteI vendI partI I 1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação
cantaSTE vendeSTE partISTE STE CANTAR VENDER PARTIR
cantoU vendeU partiU U cantarIA venderIA partirIA
cantaMOS vendeMOS partiMOS MOS
cantarIAS venderIAS partirIAS
cantaSTES vendeSTES partISTES STES
cantarIA venderIA partirIA
cantaRAM vendeRAM partiRAM RAM
cantarÍAMOS venderÍAMOS partirÍAMOS
Pretérito mais-que-perfeito do Indicativo cantarÍEIS venderÍEIS partirÍEIS
cantarIAM venderIAM partirIAM
Desinên-
1ª conjuga- 2ª conjuga- 3ª conju- Des. tem- Presente do Subjuntivo
cia pes-
ção ção gação poral Para se formar o presente do subjuntivo, substitui-se a desi-
soal
nência -o da primeira pessoa do singular do presente do indicativo
1ª/2ª e 3ª pela desinência -E (nos verbos de 1ª conjugação) ou pela desinên-
conj. cia -A (nos verbos de 2ª e 3ª conjugação).
CANTAR VENDER PARTIR
cantaRA vendeRA partiRA RA Ø Des. Desi-
Des.
cantaRAS vendeRAS partiRAS RA S 1ª conjuga- 2ª conjuga- 3ª conju- tem- nência
tem-
ção ção gação po- pes-
cantaRA vendeRA partiRA RA Ø poral
ral soal
c a n t á R A - vendêRA- partíRA- 1ª 2ª/3ª
RA MOS
MOS MOS MOS conj. conj.
cantáREIS vendêREIS partíREIS RE IS CANTAR VENDER PARTIR
cantaRAM vendeRAM partiRAM RA M cantE vendA partA E A Ø

Pretérito Imperfeito do Indicativo cantES vendAS partAS E A S


cantE vendA partA E A Ø
1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação partA-
cantEMOS vendAMOS E A MOS
MOS
CANTAR VENDER PARTIR
cantEIS vendAIS partAIS E A IS
cantAVA vendIA partIA
cantEM vendAM partAM E A M
cantAVAS vendIAS partAS
CantAVA vendIA partIA Pretérito Imperfeito do Subjuntivo
cantÁVAMOS vendÍAMOS partÍAMOS Para formar o imperfeito do subjuntivo, elimina-se a desinên-
cia -STE da 2ª pessoa do singular do pretérito perfeito, obtendo-se,
cantÁVEIS vendÍEIS partÍEIS assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a desinência
cantAVAM vendIAM partIAM temporal -SSE mais a desinência de número e pessoa correspon-
dente.
Futuro do Presente do Indicativo

1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantar ei vender ei partir ei
cantar ás vender ás partir ás
cantar á vender á partir á
cantar emos vender emos partir emos

Didatismo e Conhecimento 34
LÍNGUA PORTUGUESA

1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação Des. temporal Desinência pessoal


1ª /2ª e 3ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø
cantaSSES vendeSSES partiSSES SSE S
cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø
cantáSSEMOS vendêSSEMOS partíSSEMOS SSE MOS
cantáSSEIS vendêSSEIS partíSSEIS SSE IS
cantaSSEM vendeSSEM partiSSEM SSE M
Futuro do Subjuntivo
Para formar o futuro do subjuntivo elimina-se a desinência -STE da 2ª pessoa do singular do pretérito perfeito, obtendo-se, assim, o
tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a desinência temporal -R mais a desinência de número e pessoa correspondente.
1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação Des. temporal Desinência pessoal
1ª /2ª e 3ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaR vendeR partiR Ø
cantaRES vendeRES partiRES R ES
cantaR vendeR partiR R Ø
cantaRMOS vendeRMOS partiRMOS R MOS
cantaRDES vendeRDES partiRDES R DES
cantaREM VendeREM PartiREM R EM
Imperativo
Imperativo Afirmativo
Para se formar o imperativo afirmativo, toma-se do presente do indicativo a 2ª pessoa do singular (tu) e a segunda pessoa do plural (vós)
eliminando-se o “S” final. As demais pessoas vêm, sem alteração, do presente do subjuntivo. Veja: 

Presente do Indicativo Imperativo Afirmativo Presente do Subjuntivo

Eu canto --- Que eu cante


Tu cantas CantA tu Que tu cantes
Ele canta Cante você Que ele cante
Nós cantamos Cantemos nós Que nós cantemos
Vós cantais CantAI vós Que vós canteis
Eles cantam Cantem vocês Que eles cantem

Imperativo Negativo
Para se formar o imperativo negativo, basta antecipar a negação às formas do presente do subjuntivo.

Presente do Subjuntivo Imperativo Negativo


Que eu cante ---
Que tu cantes Não cantes tu
Que ele cante Não cante você
Que nós cantemos Não cantemos nós
Que vós canteis Não canteis vós
Que eles cantem Não cantem eles
 

Didatismo e Conhecimento 35
LÍNGUA PORTUGUESA
Observações: Nesse contexto, o verbo estereotipar tem sentido de
- No modo imperativo não faz sentido usar na 3ª pessoa (A) considerar ao acaso, sem premeditação.
(singular e plural) as formas ele/eles, pois uma ordem, pedido ou (B) aceitar uma ideia mesmo sem estar convencido dela.
conselho só se aplicam diretamente à pessoa com quem se fala. Por (C) adotar como referência de qualidade.
essa razão, utiliza-se você/vocês. (D) julgar de acordo com normas legais.
- O verbo SER, no imperativo, faz excepcionalmente: sê (tu), (E) classificar segundo ideias preconcebidas.
sede (vós).
04. (Escrevente TJ SP Vunesp 2013 Assinale a alternativa
Infinitivo Impessoal contendo a frase do texto na qual a expressão verbal destacada ex-
prime possibilidade.
(A) ... o cientista Theodor Nelson sonhava com um sistema ca-
1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação
paz de disponibilizar um grande número de obras literárias...
CANTAR VENDER PARTIR (B) Funcionando como um imenso sistema de informação e
arquivamento, o hipertexto deveria ser um enorme arquivo virtual.
Infinitivo Pessoal (C) Isso acarreta uma textualidade que funciona por associa-
ção, e não mais por sequências fixas previamente estabelecidas.
(D) Desde o surgimento da ideia de hipertexto, esse conceito
1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação está ligado a uma nova concepção de textualidade...
CANTAR VENDER PARTIR (E) Criou, então, o “Xanadu”, um projeto para disponibilizar
toda a literatura do mundo...
cantar vender partir
cantarES venderES partirES 05.(Analista – Arquitetura – FCC – 2013-adap.). Está ade-
cantar vender partir quada a correlação entre tempos e modos verbais na frase:
A) Os que levariam a vida pensando apenas nos valores abso-
cantarMOS venderMOS partirMOS
lutos talvez façam melhor se pensassem no encanto dos pequenos
cantarDES venderDES partirDES bons momentos.
cantarEM venderEM partirEM B) Há até quem queira saber quem fosse o maior bandido entre
os que recebessem destaque nos popularescos programas da TV.
Fonte: http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf54. C) Não admira que os leitores de Manuel Bandeira gostam tan-
php to de sua poesia, sobretudo porque ela não tenha aspirações a ser
metafísica.
Questões sobre Verbo D) Se os adeptos da fama a qualquer custo levarem em conta
nossa condição de mortais, não precisariam preocupar-se com os
01. (Agente Policia Vunesp 2013) Considere o trecho a seguir. degraus da notoriedade.
É comum que objetos ___________ esquecidos em locais pú- E) Quanto mais aproveitássemos o que houvesse de grande nos
blicos. Mas muitos transtornos poderiam ser evitados se as pessoas momentos felizes, menos precisaríamos nos preocupar com con-
quistas superlativas.
_____________ a atenção voltada para seus pertences, conservan-
do-os junto ao corpo.
06. (Escrevente TJ SP Vunesp 2013) Assinale a alternativa
Assinale a alternativa que preenche, correta e respectivamente,
em que todos os verbos estão empregados de acordo com a norma-
as lacunas do texto.
-padrão.
(A) sejam … mantesse
(A) Enviaram o texto, para que o revíssemos antes da impressão
(B) sejam … mantivessem
definitiva.
(C) sejam … mantém
(B) Não haverá prova do crime se o réu se manter em silêncio.
(D) seja … mantivessem (C) Vão pagar horas-extras aos que se disporem a trabalhar no
(E) seja … mantêm feriado.
(D) Ficarão surpresos quando o verem com a toga...
02. (Escrevente TJ SP Vunesp 2012-adap.) Na frase –… os (E) Se você quer a promoção, é necessário que a requera a seu
níveis de pessoas sem emprego estão apresentando quedas sucessi- superior.
vas de 2005 para cá. –, a locução verbal em destaque expressa ação
(A) concluída. 07. (Papiloscopista Policial Vunesp 2013-adap.) Assinale a
(B) atemporal. alternativa que substitui, corretamente e sem alterar o sentido da
(C) contínua. frase, a expressão destacada em – Se a criança se perder, quem
(D) hipotética. encontrá-la verá na pulseira instruções para que envie uma mensa-
(E) futura. gem eletrônica ao grupo ou acione o código na internet.
(A) Caso a criança se havia perdido…
03. (Escrevente TJ SP Vunesp 2013-adap.) Sem querer este- (B) Caso a criança perdeu…
reotipar, mas já estereotipando: trata-se de um ser cujas interações (C) Caso a criança se perca…
sociais terminam, 99% das vezes, diante da pergunta “débito ou (D) Caso a criança estivera perdida…
crédito?”. (E) Caso a criança se perda…

Didatismo e Conhecimento 36
LÍNGUA PORTUGUESA
08. (Agente de Apoio Operacional – VUNESP – 2013-adap.). 4-)
Assinale a alternativa em que o verbo destacado está no tempo fu- (B) Funcionando como um imenso sistema de informação e ar-
turo. quivamento, o hipertexto deveria ser um enorme arquivo virtual. =
A) Os consumidores são assediados pelo marketing … verbo no futuro do pretérito
B) … somente eles podem decidir se irão ou não comprar.
C) É como se abrissem em nós uma “caixa de necessidades”… 5-)
D) … de onde vem o produto…? A) Os que levam a vida pensando apenas nos valores absolutos
E) Uma pesquisa mostrou que 55,4% das pessoas… talvez fariam melhor se pensassem no encanto dos pequenos bons
momentos.
09. (Papiloscopista Policial – VUNESP – 2013). Assinale a B) Há até quem queira saber quem é o maior bandido entre os
alternativa em que a concordância das formas verbais destacadas se que recebem destaque nos popularescos programas da TV.
dá em conformidade com a norma-padrão da língua. C) Não admira que os leitores de Manuel Bandeira gostem
(A) Chegou, para ajudar a família, vários amigos e vizinhos. tanto de sua poesia, sobretudo porque ela não tem aspirações a ser
(B) Haviam várias hipóteses acerca do que poderia ter aconte- metafísica.
cido com a criança. D) Se os adeptos da fama a qualquer custo levassem em conta
(C) Fazia horas que a criança tinha saído e os pais já estavam nossa condição de mortais, não precisariam preocupar-se com os
preocupados. degraus da notoriedade.
(D) Era duas horas da tarde, quando a criança foi encontrada.
(E) Existia várias maneiras de voltar para casa, mas a criança 6-)
se perdeu mesmo assim. (B) Não haverá prova do crime se o réu se mantiver em silêncio.
(C) Vão pagar horas-extras aos que se dispuserem a trabalhar
10. (Agente de Escolta e Vigilância Penitenciária – VUNESP no feriado.
– 2013-adap.). (D) Ficarão surpresos quando o virem com a toga...
Leia as frases a seguir. (E) Se você quiser a promoção, é necessário que a requeira a
I. Havia onze pessoas jogando pedras e pedaços de madeira no seu superior.
animal.
II. Existiam muitos ferimentos no boi. 7-)Caso a criança se perca… (perda = substantivo: Houve uma
III. Havia muita gente assustando o boi numa avenida movi- grande perda salarial...)
mentada.
Substituindo-se o verbo Haver pelo verbo Existir e este pelo 8-)
A) Os consumidores são assediados pelo marketing …= pre-
verbo Haver, nas frases, têm- -se, respectivamente:
sente
A) Existia – Haviam – Existiam
C) É como se abrissem em nós uma “caixa de necessida-
B) Existiam – Havia – Existiam
des”…= pretérito do Subjuntivo
C) Existiam – Haviam – Existiam
D) … de onde vem o produto…? = presente
D) Existiam – Havia – Existia E) Uma pesquisa mostrou que 55,4% das pessoas… = preté-
E) Existia – Havia – Existia rito perfeito
GABARITO 9-)
(A) Chegaram, para ajudar a família, vários amigos e vizinhos.
01. B 02. C 03. E 04. B 05. E (B) Havia várias hipóteses acerca do que poderia ter acontecido
com a criança.
06. A 07. C 08. B 09. C 10. D (D) Eram duas horas da tarde, quando a criança foi encontrada.
(E) Existiam várias maneiras de voltar para casa, mas a criança
COMENTÁRIOS se perdeu mesmo assim.
1-) É comum que objetos sejam esquecidos em locais públicos.
Mas muitos transtornos poderiam ser evitados se as pessoasmanti- 10-)
vessema atenção voltada para seus pertences, conservando-os jun- I. Havia onze pessoas jogando pedras e pedaços de madeira no
to ao corpo. animal.
II. Existiam muitos ferimentos no boi.
2-) os níveis de pessoas sem emprego estão apresentando que- III. Havia muita gente assustando o boi numa avenida movi-
das sucessivas de 2005 para cá. –, a locução verbal em destaque mentada.
expressa ação contínua (=não concluída)
Haver – sentido de existir= invariável, impessoal; existir = va-
3-) Sem querer estereotipar, mas já estereotipando: trata-se de riável. Portanto, temos:
um ser cujas interações sociais terminam, 99% das vezes, diante da I – Existiam onze pessoas...
pergunta “débito ou crédito?”. II – Havia muitos ferimentos...
Nesse contexto, o verbo estereotipar tem sentido de classificar III – Existia muita gente...
segundo ideias preconcebidas.

Didatismo e Conhecimento 37
LÍNGUA PORTUGUESA
ADVÉRBIO de exclusão: Apenas, exclusivamente, salvo, senão, somente,
simplesmente, só, unicamente
O advérbio, assim como muitas outras palavras existentes na de inclusão: Ainda, até, mesmo, inclusivamente, também
Língua Portuguesa, advém de outras línguas. Assim sendo, tal qual o de ordem: Depois, primeiramente, ultimamente
adjetivo, o prefixo “ad-” indica a ideia de proximidade, contiguida- de designação: Eis
de. Essa proximidade faz referência ao processo verbal, no sentido de interrogação: onde?(lugar), como?(modo), quando?(tempo),
de caracterizá-lo, ou seja, indicando as circunstâncias em que esse por quê?(causa), quanto?(preço e intensidade), para quê?(finalidade)
processo se desenvolve. Locução adverbial
O advérbio relaciona-se aos verbos da língua, no sentido de É reunião de duas ou mais palavras com valor de advérbio.
caracterizar os processos expressos por ele. Contudo, ele não é mo- Exemplo:
dificador exclusivo desta classe (verbos), pois também modifica o
• Carlos saiu às pressas. (indicando modo)
adjetivo e até outro advérbio. Seguem alguns exemplos:
• Maria saiu à tarde. (indicando tempo)
Para quem se diz distantemente alheio a esse assunto, você está
Há locuções adverbiais que possuem advérbios corresponden-
até bem informado.
tes.
Temos o advérbio “distantemente” que modifica o adjetivo
Exemplo:
alheio, representando uma qualidade, característica.
Carlos saiu às pressas. = Carlos saiu apressadamente.
O artista canta muito mal.
Nesse caso, o advérbio de intensidade “muito” modifica outro Apenas os advérbios de intensidade, de lugar e de modo são fle-
advérbio de modo – “mal”. xionados, sendo que os demais são todos invariáveis. A única flexão
Em ambos os exemplos pudemos verificar que se tratava de propriamente dita que existe na categoria dos advérbios é a de grau:
somente uma palavra funcionando como advérbio. No entanto, ele • Superlativo: aumenta a intensidade.
pode estar demarcado por mais de uma palavra, que mesmo assim Exemplos: longe - longíssimo, pouco - pouquíssimo, inconsti-
não deixará de ocupar tal função. Temos aí o que chamamos de locu- tucionalmente - inconstitucionalissimamente, etc;
ção adverbial, representada por algumas expressões, tais como: às • Diminutivo: diminui a intensidade.
vezes, sem dúvida, frente a frente, de modo algum, entre outras. Exemplos: perto - pertinho, pouco - pouquinho, devagar - de-
Mediante tais postulados, afirma-se que, dependendo das cir- vagarinho,
cunstâncias expressas pelos advérbios, eles se classificam em distin-
tas categorias, uma vez expressas por: Questões sobre Advérbio
de modo: Bem, mal, assim, depressa, devagar, às pressas, às
claras, às cegas, à toa, à vontade, às escondidas, aos poucos, desse 01. (Agente de Escolta e Vigilância Penitenciária – VUNESP
jeito, desse modo, dessa maneira, em geral, frente a frente, lado a – 2013). Leia os quadrinhos para responder a questão.
lado, a pé, de cor, em vão, e a maior parte dos que terminam em
-mente:calmamente, tristemente, propositadamente, pacientemente,
amorosamente, docemente, escandalosamente, bondosamente, ge-
nerosamente
de intensidade: Muito, demais, pouco, tão, menos, em exces-
so, bastante, pouco, mais, menos, demasiado, quanto, quão, tanto,
que(equivale a quão), tudo, nada, todo, quase, de todo, de muito,
por completo.
de tempo: Hoje, logo, primeiro, ontem, tarde outrora, amanhã,
cedo, dantes, depois, ainda, antigamente, antes, doravante, nunca,
então, ora, jamais, agora, sempre, já, enfim, afinal, breve, constante-
mente, entrementes, imediatamente, primeiramente, provisoriamen-
te, sucessivamente, às vezes, à tarde, à noite, de manhã, de repente,
de vez em quando, de quando em quando, a qualquer momento, de
tempos em tempos, em breve, hoje em dia
de lugar: Aqui, antes, dentro, ali, adiante, fora, acolá, atrás,
além, lá, detrás, aquém, cá, acima, onde, perto, aí, abaixo, aonde,
longe, debaixo, algures, defronte, nenhures, adentro, afora, alhures,
nenhures, aquém, embaixo, externamente, a distância, à distancia
de, de longe, de perto, em cima, à direita, à esquerda, ao lado, em
volta
de negação: Não, nem, nunca, jamais, de modo algum, de for-
ma nenhuma, tampouco, de jeito nenhum
de dúvida: Acaso, porventura, possivelmente, provavelmente,
quiçá, talvez, casualmente, por certo, quem sabe
de afirmação: Sim, certamente, realmente, decerto, efetiva- (Leila Lauar Sarmento e Douglas Tufano. Português. Volume
mente, certo, decididamente, realmente, deveras, indubitavelmente Único)

Didatismo e Conhecimento 38
LÍNGUA PORTUGUESA
No primeiro e segundo quadrinhos, estão em destaque dois ad- E) O fato é que é difícil acreditar que tanta gente ande se que-
vérbios: AÍ e ainda. brando por aí…
Considerando que advérbio é a palavra que modifica um verbo,
um outro advérbio ou um adjetivo, expressando a circunstância em 03. (Agente Educacional – VUNESP – 2013). Leia o texto a
que determinado fato ocorre, assinale a alternativa que classifica, seguir.
correta e respectivamente, as circunstâncias expressas por eles. Cultura matemática
A) Lugar e negação. Hélio Schwartsman
B) Lugar e tempo.
C) Modo e afirmação. SÃO PAULO – Saiu mais um estudo mostrando que o ensino
D) Tempo e tempo. de matemática no Brasil não anda bem. A pergunta é: podemos viver
E) Intensidade e dúvida. sem dominar o básico da matemática? Durante muito tempo, a res-
posta foi sim. Aqueles que não simpatizavam muito com Pitágoras
02. (Agente de Vigilância e Recepção – VUNESP – 2013). podiam simplesmente escolher carreiras nas quais os números não
Leia o texto a seguir. encontravam muito espaço, como direito, jornalismo,as humanida-
Impunidade é motor de nova onda de agressões
des e até a medicina de antigamente.
Repetidos episódios de violência têm sido noticiados nas últi-
Como observa Steven Pinker, ainda hoje, nos meios universitá-
mas semanas. Dois que chamam a atenção, pela banalidade com que
rios, é considerado aceitável que um intelectual se vanglorie de ter
foram cometidos, estão gerando ainda uma série de repercussões.
Em Natal, um garoto de 19 anos quebrou o braço da estudante passado raspando em física e de ignorar o beabá da estatística. Mas
de direito R.D., 19, em plena balada, porque ela teria recusado um ai de quem admitir nunca ter lido Joyce ou dizer que não gosta de
beijo. O suposto agressor já responde a uma ação penal, por agres- Mozart. Sobre ele recairão olhares tão recriminadores quanto sobre
são, movida por sua ex-mulher. o sujeito que assoa o nariz na manga da camisa.
No mesmo final de semana, dois amigos que saíam de uma bo- Joyce e Mozart são ótimos, mas eles, como quase toda a cultura
ate em São Paulo também foram atacados por dois jovens que esta- humanística, têm pouca relevância para nossa vida prática. Já a cul-
vam na mesma balada, e um dos agredidos teve a perna fraturada. tura científica, que muitos ainda tratam com uma ponta de desprezo,
Esses dois jovens teriam tentado se aproximar, sem sucesso, de duas torna-se cada vez mais fundamental, mesmo para quem não preten-
garotas que eram amigas dos rapazes que saíam da boate. Um dos de ser engenheiro ou seguir carreiras técnicas.
suspeitos do ataque alega que tudo não passou de um engano e que Como sobreviver à era do crédito farto sem saber calcular as
o rapaz teria fraturado a perna ao cair no chão. armadilhas que uma taxa de juros pode esconder? Hoje, é difícil até
Curiosamente, também é possível achar um blog que diz que posicionar-se de forma racional sobre políticas públicas sem assi-
R.D., em Natal, foi quem atacou o jovem e que seu braço se quebrou milar toda a numeralha que idealmente as informa. Conhecimentos
ao cair no chão. rudimentares de estatística são pré-requisito para compreender as
Em ambos os casos, as câmeras dos estabelecimentos felizmen- novas pesquisas que trazem informações relevantes para nossa saú-
te comprovam os acontecimentos, e testemunhas vão ajudar a polí- de e bem-estar.
cia na investigação. A matemática está no centro de algumas das mais intrigantes es-
O fato é que é difícil acreditar que tanta gente ande se que- peculações cosmológicas da atualidade. Se as equações da mecânica
brando por aí ao cair no chão, não é mesmo? As agressões devem quântica indicam que existem universos paralelos, isso basta para
ser rigorosamente apuradas e, se houver culpados, que eles sejam que acreditemos neles? Ou, no rastro de Eugene Wigner, podemos
julgados e condenados. nos perguntar por que a matemática é tão eficaz para exprimir as leis
A impunidade é um dos motores da onda de violência que te- da física.
mos visto. O machismo e o preconceito são outros. O perfil impul- (Folha de S.Paulo. 06.04.2013. Adaptado)
sivo de alguns jovens (amplificado pela bebida e por outras substân- Releia os trechos apresentados a seguir.
cias) completa o mecanismo que gera agressões.
- Aqueles que não simpatizavam muito com Pitágoras podiam
Sem interferir nesses elementos, a situação não vai mudar.
simplesmente escolher carreiras nas quais os números não encon-
Maior rigor da justiça, educação para a convivência com o outro,
travam muito espaço... (1.º parágrafo)
aumento da tolerância à própria frustração e melhor controle sobre
os impulsos (é normal levar um “não”, gente!) são alguns dos ca- - Já a cultura científica, que muitos ainda tratam com uma pon-
minhos. ta de desprezo, torna-se cada vez mais fundamental...(3.º parágrafo)
(Jairo Bouer, Folha de S.Paulo, 24.10.2011. Adaptado) Os advérbios em destaque nos trechos expressam, correta e res-
pectivamente, circunstâncias de
Assinale a alternativa cuja expressão em destaque apresenta cir- A) afirmação e de intensidade.
cunstância adverbial de modo. B) modo e de tempo.
A) Repetidos episódios de violência (...) estão gerando ainda C) modo e de lugar.
uma série de repercussões. D) lugar e de tempo.
B) ...quebrou o braço da estudante de direito R. D., 19, em ple- E) intensidade e de negação.
na balada…
C) Esses dois jovens teriam tentado se aproximar, sem sucesso, 04. (Analista Administrativo – VUNESP – 2013). Leia o tex-
de duas amigas… to para responder às questões
D) Um dos suspeitos do ataque alega que tudo não passou de Mais denso, menos trânsito
um engano... Henrique Meirelles

Didatismo e Conhecimento 39
LÍNGUA PORTUGUESA
As grandes cidades brasileiras estão congestionadas e em pro- D)apressadamente com o caminhão.
cesso de deterioração agudizado pelo crescimento econômico da E)agora calmamente.
última década. Existem deficiências evidentes em infraestrutura,
mas é importante também considerar e estudar em profundidade o 07. Em qual das alternativas abaixo o adjunto adverbial expres-
planejamento urbano. sa o sentido de instrumento:
Muitas grandes cidades adotaram uma abordagem de descon- A)Viajou de trem.
centração, incentivando a criação de diversos centros urbanos, na B)Tânia foi almoçar com seus primos.
visão de que isso levaria a uma maior facilidade de deslocamento. C)Cortou-se com o alicate.
Mas o efeito tem sido o inverso. A criação de diversos centros e D)Chorou de dor.
o aumento das distâncias multiplicam o número de viagens, dificul-
tando o escasso investimento em transporte coletivo e aumentando a
necessidade do transporte individual. 08. Assinale a alternativa em que o elemento destacado NÃO é
Se olharmos Los Angeles como a região que levou a descon- um adjunto adverbial.
centração ao extremo, ficam claras as consequências. Numa região A)“...ameaçou até se acorrentar à porta da embaixada brasileira
rica como a Califórnia, com enorme investimento viário, temos en- em Roma.”
garrafamentos gigantescos que viraram característica da cidade. B)“...decidida na semana passada por Tarso Genro...”.
Os modelos urbanos bem-sucedidos são aqueles com elevado C)“Hoje Mutti vive com identidade trocada e em lugar não sa-
adensamento e predominância do transporte coletivo, como mos- bido.”
tram Manhattan, Tóquio e algumas novas áreas urbanas chinesas. D)“A concessão de refúgio político ao italiano Cesare Battisti,
Apesar da desconcentração e do aumento da extensão urbana decidida...”.
verificados no Brasil, é importante desenvolver e adensar ainda mais
os diversos centros já existentes com investimentos no transporte E)“...decida se é o caso de reabrir o processo e julgá-lo nova-
coletivo. mente?”
O centro histórico de São Paulo é demonstração inequívoca do
que não deve ser feito. É a região da cidade mais bem servida de 09. Em todas as alternativas há dois advérbios, exceto em:
transporte coletivo, com infraestrutura de telecomunicação, água, A) Ele permaneceu muito calado.
eletricidade etc. Conta ainda com equipamentos de importância cul- B) Amanhã, não iremos ao cinema.
tural e histórica que dão identidade aos aglomerados urbanos. Seria C) O menino, ontem, cantou desafinadamente.
natural que, como em outras grandes cidades, o centro de São Paulo D) Tranquilamente, realizou-se, hoje, o jogo.
fosse a região mais adensada da metrópole. Mas não é o caso. Te- E) Ela falou calma e sabiamente.
mos, hoje, um esvaziamento gradual do centro, com deslocamento
das atividades para diversas regiões da cidade.
É fundamental que essa visão de adensamento com uso abun- 10. Assinale a frase em que meio funciona como advérbio:
dante de transporte coletivo seja recuperada para que possamos A) Só quero meio quilo.
reverter esse processo de uso cada vez mais intenso do transporte B) Achei-o meio triste.
individual devorando espaços viários que não têm a capacidade de C) Descobri o meio de acertar.
absorver a crescente frota de automóveis, fruto não só do novo aces- D) Parou no meio da rua.
so da população ao automóvel mas também da necessidade de maior E) Comprou um metro e meio de tecido.
número de viagens em função da distância cada vez maior entre os
destinos da população. GABARITO
(Folha de S.Paulo, 13.01.2013. Adaptado)

Em – … mas é importante também considerar e estudar em 01. B 02. C 03. B 04. D 05. C
profundidade o planejamento urbano. –, a expressão em destaque é
empregada na oração para indicar circunstância de 06. C 07. C 08. D 09. A 10. B
A) lugar.
B) causa. COMENTÁRIOS
C) origem.
D) modo. 1-) AÍ = LUGAR AINDA = TEMPO
E) finalidade.
2-) a-) ainda = tempo
05. (UFC) A opção em que há um advérbio exprimindo cir-
cunstância de tempo é: B) em plena balada = lugar
A) Possivelmente viajarei para São Paulo. C) sem sucesso = modo
B) Maria tinha aproximadamente 15 anos. D) não = negação .
C) As tarefas foram executadas concomitantemente. E) por aí = lugar
D) Os resultados chegaram demasiadamente atrasados.
3-) Simplesmente = modo / ainda = tempo
06. Indique a alternativa que completa a frase a seguir, respec-
tivamente, com as circunstâncias de intensidade e de modo. Após o 4-) em profundidade = profundamente = advérbio de modo
telefonema, o motorista partiu...
A)às 18 h com o veículo. 5-) concomitantemente = Diz-se do que acontece, desenvolve-
B)rapidamente ao meio-dia. -se ou é expresso ao mesmo tempo com outra(s) coisa(s); simultâ-
C)bastante alerta. neo.

Didatismo e Conhecimento 40
LÍNGUA PORTUGUESA
6-) A alternativa deve começar com advérbio que expresse IN- Vale ressaltar que essa concordância não é característica da pre-
TENSIDADE. Vá por eliminação: posição, mas das palavras às quais ela se une.
a-) às 18h = tempo Esse processo de junção de uma preposição com outra palavra
b-) rapidamente = modo pode se dar a partir de dois processos:
c-) bastante= intensidade 1. Combinação: A preposição não sofre alteração.
d-) apressadamente = modo preposição a + artigos definidos o, os
e-) agora = tempo a + o = ao
preposição a + advérbio onde
7-) a + onde = aonde
A-) Viajou de trem. = meio 2. Contração: Quando a preposição sofre alteração.
B)Tânia foi almoçar com seus primos. = companhia Preposição + Artigos
C)Cortou-se com o alicate. = instrumento De + o(s) = do(s)
D)Chorou de dor. = causa De + a(s) = da(s)
De + um = dum
8-) “A concessão de refúgio político ao italiano Cesare Battisti, De + uns = duns
decidida...”. = complemento nominal
De + uma = duma
De + umas = dumas
9-):
Em + o(s) = no(s)
A) Ele permaneceu muito calado.
Em + a(s) = na(s)
B) Amanhã, não iremos ao cinema.
Em + um = num
C) O menino, ontem, cantou desafinadamente.
Em + uma = numa
D) Tranquilamente, realizou-se, hoje, o jogo.
Em + uns = nuns
E) Ela falou calma e sabiamente. ( Nesse caso, subentende-se
calmamente. È a maneira correta de se escrever quando utilizarmos Em + umas = numas
dois advérbios de modo: o primeiro é escrito sem o sufixo “mente”, A + à(s) = à(s)
deixando este apenas no segundo elemento. Por exemplo: “Apresen- Por + o = pelo(s)
tou-se breve e pausadamente.”) Por + a = pela(s)
Preposição + Pronomes
10-) De + ele(s) = dele(s)
a) Só quero meio quilo. = numeral De + ela(s) = dela(s)
b) Achei-o meio triste. = um pouco (advérbio) De + este(s) = deste(s)
c) Descobri o meio de acertar. = substantivo De + esta(s) = desta(s)
d) Parou no meio da rua. = numeral De + esse(s) = desse(s)
e) Comprou um metro e meio de tecido. = numeral De + essa(s) = dessa(s)
De + aquele(s) = daquele(s)
PREPOSIÇÃO De + aquela(s) = daquela(s)
Preposição é uma palavra invariável que serve para ligar termos De + isto = disto
ou orações. Quando esta ligação acontece, normalmente há uma su- De + isso = disso
bordinação do segundo termo em relação ao primeiro. As preposi- De + aquilo = daquilo
ções são muito importantes na estrutura da língua, pois estabelecem De + aqui = daqui
a coesão textual e possuem valores semânticos indispensáveis para De + aí = daí
a compreensão do texto. De + ali = dali
De + outro = doutro(s)
Tipos de Preposição De + outra = doutra(s)
1. Preposições essenciais: palavras que atuam exclusivamente Em + este(s) = neste(s)
como preposições. Em + esta(s) = nesta(s)
A, ante, perante, após, até, com, contra, de, desde, em, entre, Em + esse(s) = nesse(s)
para, por, sem, sob, sobre, trás, atrás de, dentro de, para com. Em + aquele(s) = naquele(s)
2. Preposições acidentais: palavras de outras classes gramati- Em + aquela(s) = naquela(s)
cais que podem atuar como preposições. Em + isto = nisto
Como, durante, exceto, fora, mediante, salvo, segundo, senão, Em + isso = nisso
visto. Em + aquilo = naquilo
3. Locuções prepositivas: duas ou mais palavras valendo como A + aquele(s) = àquele(s)
uma preposição, sendo que a última palavra é uma delas. A + aquela(s) = àquela(s)
Abaixo de, acerca de, acima de, ao lado de, a respeito de, de A + aquilo = àquilo
acordo com, em cima de, embaixo de, em frente a, ao redor de, gra-
ças a, junto a, com, perto de, por causa de, por cima de, por trás de. Dicas sobre preposição
A preposição, como já foi dito, é invariável. No entanto pode 1. O “a” pode funcionar como preposição, pronome pessoal
unir-se a outras palavras e assim estabelecer concordância em gêne- oblíquo e artigo. Como distingui-los?
ro ou em número. Ex: por + o = pelo por + a = pela

Didatismo e Conhecimento 41
LÍNGUA PORTUGUESA
- Caso o “a” seja um artigo, virá precedendo a um substanti- O xadrez faz parte da rotina de cerca de dois mil internos em
vo. Ele servirá para determiná-lo como um substantivo singular e 22 unidades prisionais do Espírito Santo. É o projeto “Xadrez que
feminino. liberta”. Duas vezes por semana, os presos podem praticar a ativida-
A dona da casa não quis nos atender. de sob a orientação de servidores da Secretaria de Estado da Justiça
Como posso fazer a Joana concordar comigo? (Sejus). Na próxima sexta-feira, será realizado o primeiro torneio
- Quando é preposição, além de ser invariável, liga dois termos fora dos presídios desde que o projeto foi implantado.Vinte e oito
e estabelece relação de subordinação entre eles. internos de 14 unidades participam da disputa, inclusive João Carlos
Cheguei a sua casa ontem pela manhã. e Fransley, que diz que a vitória não é o mais importante.
Não queria, mas vou ter que ir à outra cidade para procurar um “Só de chegar até aqui já estou muito feliz, porque eu não espe-
rava. A vitória não é tudo. Eu espero alcançar outras coisas devido
tratamento adequado. ao xadrez, como ser olhado com outros olhos, como estou sendo
- Se for pronome pessoal oblíquo estará ocupando o lugar e/ou olhado de forma diferente aqui no presídio devido ao bom compor-
a função de um substantivo. tamento”.
Temos Maria como parte da família. /Atemos como parte da família Segundo a coordenadora do projeto, Francyany Cândido Ventu-
Creio que conhecemos nossa mãe melhor que ninguém. / Creio que rin, o “Xadrez que liberta” tem provocado boas mudanças no com-
a conhecemos melhor que ninguém. portamento dos presos. “Tem surtido um efeito positivo por eles se
tornarem uma referência positiva dentro da unidade, já que cum-
2. Algumas relações semânticas estabelecidas por meio das pre- prem melhor as regras, respeitam o próximo e pensam melhor nas
posições: suas ações, refletem antes de tomar uma atitude”.
Destino = Irei para casa. Embora a Sejus não monitore os egressos que ganham a liber-
dade, para saber se mantêm o hábito do xadrez, João Carlos já faz
Modo = Chegou em casa aos gritos.
planos. “Eu incentivo não só os colegas, mas também minha famí-
Lugar = Vou ficar em casa; lia. Sou casado e tenho três filhos. Já passei para a minha família:
Assunto = Escrevi um artigo sobre adolescência. xadrez, quando eu sair para a rua, todo mundo vai ter que aprender
Tempo = A prova vai começar em dois minutos. porque vai rolar até o torneio familiar”.
Causa = Ela faleceu de derrame cerebral. “Medidas de promoção de educação e que possibilitem que o
Fim ou finalidade = Vou ao médico para começar o tratamento. egresso saia melhor do que entrou são muito importantes. Nós não
Instrumento = Escreveu a lápis. temos pena de morte ou prisão perpétua no Brasil. O preso tem data
Posse = Não posso doar as roupas da mamãe. para entrar e data para sair, então ele tem que sair sem retornar para
Autoria = Esse livro de Machado de Assis é muito bom. o crime”, analisa o presidente do Conselho Estadual de Direitos Hu-
Companhia = Estarei com ele amanhã. manos, Bruno Alves de Souza Toledo.
(Disponível em: www.inapbrasil.com.br/en/noticias/xadrez-
Matéria = Farei um cartão de papel reciclado.
-que-liberta-estrategia-concentracao-e-reeducacao/6/noticias. Aces-
Meio = Nós vamos fazer um passeio de barco. so em: 18.08.2012. Adaptado)
Origem = Nós somos do Nordeste, e você?
Conteúdo = Quebrei dois frascos de perfume. No trecho – ...xadrez, quando eu sair para a rua, todo mundo vai
Oposição = Esse movimento é contra o que eu penso. ter que aprender porque vai rolar até o torneio familiar.– o termo em
Preço = Essa roupa sai por R$ 50 à vista. destaque expressa relação de
A) espaço, como em – Nosso diretor foi até Brasília para falar
Fonte: http://www.infoescola.com/portugues/preposicao/ do projeto “Xadrez que liberta”.
B) inclusão, como em – O xadrez mudou até o nosso modo de
Questões sobre Preposição falar.
C) finalidade, como em – Precisamos treinar até junho para ter-
mos mais chances de vencer o torneio de xadrez.
01. (Agente de Escolta e Vigilância Penitenciária – VUNESP D) movimento, como em – Só de chegar até aqui já estou muito
– 2013). Leia o texto a seguir. feliz, porque eu não esperava.
“Xadrez que liberta”: estratégia, concentração e reeducação E) tempo, como em – Até o ano que vem, pretendo conseguir a
João Carlos de Souza Luiz cumpre pena há três anos e dois me- revisão da minha pena.
ses por assalto. Fransley Lapavani Silva está há sete anos preso por
homicídio. Os dois têm 30 anos. Além dos muros, grades, cadeados 02. (Agente de Vigilância e Recepção – VUNESP – 2013 –
e detectores de metal, eles têm outros pontos em comum: tabuleiros adap.) Considere o trecho a seguir.
e peças de xadrez. O metrô paulistano, ________quem a banda recebe apoio, ga-
O jogo, que eles aprenderam na cadeia, além de uma válvula rante o espaço para ensaios e os equipamentos; e a estabilidade no
emprego, vantagem________ que muitos trabalhadores sonham, é
de escape para as horas de tédio, tornou-se uma metáfora para o que
o que leva os integrantes do grupo a permanecerem na instituição.
pretendem fazer quando estiverem em liberdade. As preposições que preenchem o trecho, correta, respectiva-
“Quando você vai jogar uma partida de xadrez, tem que pensar mente e de acordo com a norma-padrão, são:
duas, três vezes antes. Se você movimenta uma peça errada, pode A) a ...com
perder uma peça de muito valor ou tomar um xeque-mate, instanta- B) de ...com
neamente. Se eu for para a rua e movimentar a peça errada, eu posso C) de ...a
perder uma peça muito importante na minha vida, como eu perdi D) com ...a
três anos na cadeia. Mas, na rua, o problema maior é tomar o xeque- E) para ...de
-mate”, afirma João Carlos.

Didatismo e Conhecimento 42
LÍNGUA PORTUGUESA
03. (Agente Policial – Vunesp/2013). Assinale a alternativa 09. (Papiloscopista Policial – Vunesp/2013) Considerando as
cuja preposição em destaque expressa ideia de finalidade. regras de regência verbal, assinale a alternativa que completa, corre-
(A) Além disso, aumenta a punição administrativa, de R$ ta e respectivamente, as lacunas da frase.
957,70 para R$ 1.915,40. A ONG Anjos do Verão colabora _______ trabalho do Corpo
(B) ... o STJ (Superior Tribunal de Justiça) decidiu que o ba- de Bombeiros, empenhando-se ____________ encontrar crianças
fômetro e o exame de sangue eram obrigatórios para comprovar o perdidas.
crime. (A) do ... sobre
(C) “... Ele é encaminhado para a delegacia para o perito fazer (B) com o ... para
o exame clínico”... (C) no ... ante
(D) Já para o juiz criminal de São Paulo, Fábio Munhoz Soa- (D) o ... entre
res, um dos que devem julgar casos envolvendo pessoas embriaga- (E) pelo ... de
das ao volante, a mudança “é um avanço”.
(E) Para advogados, a lei aumenta o poder da autoridade poli- 10. Assinale a alternativa em que a norma culta não aceita a
cial de dizer quem está embriagado... contração da preposição de:
A) Aos prantos, despedi-me dela.
04. (Agente Policial - VUNESP – 2013). Em – Jamais em B) Está na hora da criança dormir.
minha vida achei na rua ou em qualquer parte do globo um objeto C) Falava das colegas em público.
qualquer. –, o termo em destaque introduz ideia de D) Retirei os livros das prateleiras para limpá-los.
(A) tempo. E) O local da chacina estava interditado.
(B) lugar.
(C) modo. GABARITO
(D) posse.
(E) direção. 01. B 02. B 03. B 04. B 05. A
05. Na frase - As duas sobrinhas quase desmaiam de enjoo... - a 06. E 07. C 08. B 09. B 10. B
preposição de, destacada, tem sentido de
A)causa. COMENTÁRIOS
B)tempo.
C)assunto. 1-) xadrez, quando eu sair para a rua, todo mundo vai ter que
D)lugar. aprender porque vai rolar até o torneio familiar.– o termo em des-
E)posse. taque expressa relação de inclusão: rolará, inclusive, o torneio fa-
miliar.
06. No trecho: “(O Rio) não se industrializou, deixou explodir
a questão social, fermentada por mais de dois milhões de favelados, 2-) O metrô paulistano,dequem a banda recebe apoio, garante
e inchou, à exaustão, uma máquina administrativa que não funcio- o espaço para ensaios e os equipamentos; e a estabilidade no em-
na...”, a preposição a (que está contraída com o artigo a) traduz uma prego, vantagemcomque muitos trabalhadores sonham, é o que leva
relação de: os integrantes do grupo a permanecerem na instituição.
A) fim As preposições que preenchem o trecho, correta, respectiva-
B) causa mente e de acordo com a norma-padrão, são:
C) concessão
D) limite 3-)
E) modo (A) Além disso, aumenta a punição administrativa, de R$
957,70 para R$ 1.915,40. = preço
07. (Agente Policial – Vunesp/2013) Assinale a alternativa em (C) “... Ele é encaminhado para a delegacia para o perito fazer
que o termo em destaque expressa circunstância de posse. o exame clínico”...= lugar
(A) Por isso, grande foi a minha emoção ao deparar, no assento (D) Já para o juiz criminal de São Paulo, Fábio Munhoz Soa-
do ônibus, com uma bolsa preta de senhora. res, um dos que devem julgar casos envolvendo pessoas embriaga-
(B) Era razoável, e diante da testemunha abri a bolsa, não sem das ao volante, a mudança “é um avanço”. = posse
experimentar a sensação de violar uma intimidade. (E) Para advogados, a lei aumenta o poder da autoridade poli-
(C) Hesitei: constrangia-me abrir a bolsa de uma desconhecida cial de dizer quem está embriagado= posse
ausente; nada haveria nela que me dissesse respeito.
(D) ...e sei de um polonês que achou um piano na praia do 4-) Jamais em minha vida achei na rua ou em qualquer parte
Leblon. do globo um objeto qualquer. –, o termo em destaque introduz ideia
(E) Mas eu não estava preparado para achar uma bolsa, e co- de lugar.
muniquei a descoberta ao passageiro mais próximo 5-) As duas sobrinhas quase desmaiam de enjoo... - a preposi-
ção de, destacada, tem sentido de causa (do desmaio).
08. Assinale a alternativa em que ocorre combinação de uma
preposição com um pronome demonstrativo: 6-) “(O Rio) não se industrializou, deixou explodir a questão
A) Estou na mesma situação. social, fermentada por mais de dois milhões de favelados, e inchou,
B) Neste momento, encerramos nossas transmissões. à exaustão, uma máquina administrativa que não funciona...”, a
C) Daqui não saio. preposição a (que está contraída com o artigo a) traduz uma relação
D) Ando só pela vida.
de modo (=exaustivamente).
E) Acordei num lugar estranho.

Didatismo e Conhecimento 43
LÍNGUA PORTUGUESA
7-) Conjunções coordenativas
(A) Por isso, grande foi a minha emoção ao deparar, no assento Dividem-se em:
do ônibus, com uma bolsa preta de senhora.= lugar - ADITIVAS: expressam a ideia de adição, soma. Ex. Gosto de
(B) Era razoável, e diante da testemunha abri a bolsa, não sem cantar e de dançar.
experimentar a sensação de violar uma intimidade.= lugar Principais conjunções aditivas: e, nem, não só...mas também,
(D) ... e sei de um polonês que achou um piano na praia do não só...como também.
Leblon.=assunto - ADVERSATIVAS: Expressam ideias contrárias, de oposição,
(E) Mas eu não estava preparado para achar uma bolsa, e co- de compensação. Ex. Estudei, mas não entendi nada.
muniquei a descoberta ao passageiro mais próximo.= finalidade Principais conjunções adversativas: mas, porém, contudo, toda-
via, no entanto, entretanto.
8-) - ALTERNATIVAS: Expressam ideia de alternância.
A) Estou na mesma situação. (+ artigo) - Ou você sai do telefone ou eu vendo o aparelho.
C) Daqui não saio. (+advérbio) Principais conjunções alternativas: Ou...ou, ora...ora, quer...
D) Ando só pela vida. (+advérbio) quer, já...já.
E) Acordei num lugar estranho (+artigo) - CONCLUSIVAS: Servem para dar conclusões às orações. Ex.
Estudei muito, por isso mereço passar.
9-) A ONG Anjos do Verão colabora com o trabalho do Corpo Principais conjunções conclusivas: logo, por isso, pois (depois
de Bombeiros, empenhando-se para encontrar crianças perdidas. do verbo), portanto, por conseguinte, assim.
- EXPLICATIVAS: Explicam, dão um motivo ou razão. Ex. É
melhor colocar o casaco porque está fazendo muito frio lá fora.
10-)
Principais conjunções explicativas: que, porque, pois (antes do
A) Aos prantos, despedi-me dela. (ela = objeto)
verbo), porquanto.
C) Falava das colegas em público. (elas = objeto)
D) Retirei os livros das prateleiras para limpá-los. (=artigo)
Conjunções subordinativas
E) O local da chacina estava interditado. (=artigo)
- CAUSAIS
Principais conjunções causais: porque, visto que, já que, uma
É incorreto contrair a preposição de com o artigo que inicia
vez que, como (= porque).
o sujeito de um verbo, bem como com o pronome ele(s), ela(s), Ele não fez o trabalho porque não tem livro.
quando estes funcionarem como sujeito de uma oração. - COMPARATIVAS
Principais conjunções comparativas: que, do que, tão...como,
CONJUNÇÃO mais...do que, menos...do que.
Ela fala mais que um papagaio.
Conjunção é a palavra invariável que liga duas orações ou dois - CONCESSIVAS
termos semelhantes de uma mesma oração. Por exemplo: Principais conjunções concessivas: embora, ainda que, mesmo
A menina segurou a boneca e mostrou quando viu as amigui- que, apesar de, se bem que.
nhas. Indicam uma concessão, admitem uma contradição, um fato
Deste exemplo podem ser retiradas três informações: inesperado.Traz em si uma ideia de “apesar de”.
1-) segurou a boneca2-) a menina mostrou3-) viu as amiguinhas Embora estivesse cansada, fui ao shopping. (= apesar de estar
Cada informação está estruturada em torno de um verbo: segu- cansada)
rou, mostrou, viu. Assim, há nessa frase três orações: Apesar de ter chovido fui ao cinema.
1ª oração: A menina segurou a boneca - CONFORMATIVAS
2ª oração: e mostrou Principais conjunções conformativas: como, segundo, confor-
3ª oração: quando viu as amiguinhas. me, consoante
A segunda oração liga-se à primeira por meio do “e”, e a tercei- Cada um colhe conforme semeia.
ra oração liga-se à segunda por meio do “quando”. As palavras “e” Expressam uma ideia de acordo, concordância, conformidade.
e “quando” ligam, portanto, orações. Observe: - CONSECUTIVAS
Gosto de natação e de futebol. Expressam uma ideia de consequência.
Nessa frase as expressões de natação, de futebol são partes ou Principais conjunções consecutivas: que (após “tal”, “tanto”,
termos de uma mesma oração. “tão”, “tamanho”).
Conjunção é a palavra invariável que liga duas orações ou Falou tanto que ficou rouco.
dois termos semelhantes de uma mesma oração. - FINAIS
Logo, a palavra “e” está ligando termos de uma mesma oração. Expressam ideia de finalidade, objetivo.
Morfossintaxe da Conjunção Todos trabalham para que possam sobreviver.
As conjunções, a exemplo das preposições, não exercem pro- Principais conjunções finais: para que, a fim de que, porque
priamente uma função sintática: são conectivos. (=para que),
- PROPORCIONAIS
CLASSIFICAÇÃO Principais conjunções proporcionais: à medida que, quanto
- Conjunções Coordenativas mais, ao passo que, à proporção que.
- Conjunções Subordinativas À medida que as horas passavam, mais sono ele tinha.

Didatismo e Conhecimento 44
LÍNGUA PORTUGUESA
- TEMPORAIS da elite às massas. Antes de Edison, diziam os utópicos, as sinfonias
Principais conjunções temporais: quando, enquanto, logo que. de Beethoven só podiam ser ouvidas em salas de concerto selecio-
Quando eu sair, vou passar na locadora. nadas. Agora, as gravações levam a mensagem de Beethoven aos
Importante: confins do planeta, convocando a multidão saudada na “Ode à ale-
gria”: “Abracem--se, milhões!”. Glenn Gould, depois de afastar-se
Diferença entre orações causais e explicativas das apresentações ao vivo em 1964, previu que dentro de um século
Quando estudamos Orações Subordinadas Adverbiais (OSA) o concerto público desapareceria no éter eletrônico, com grande
e Coordenadas Sindéticas (CS), geralmente nos deparamos com a efeito benéfico sobre a cultura musical.
dúvida de como distinguir uma oração causal de uma explicativa. (Adaptado de Alex Ross. Escuta só. Tradução Pedro Maia So-
Veja os exemplos: ares. São Paulo, Cia. das Letras, 2010, p. 76-77)
1º) Na frase “Não atravesse a rua, porque você pode ser atro-
pelado”: No entanto, a música não é mais algo que fazemos nós mesmos,
a) Temos uma CS Explicativa, que indica uma justificativa ou ou até que observamos outras pessoas fazerem diante de nós.
uma explicação do fato expresso na oração anterior. Considerando-se o contexto, é INCORRETO afirmar que o ele-
b) As orações são coordenadas e, por isso, independentes uma mento grifado pode ser substituído por:
A) Porém.
da outra. Neste caso, há uma pausa entre as orações que vêm mar-
B) Contudo.
cadas por vírgula.
C) Todavia.
Não atravesse a rua. Você pode ser atropelado.
D) Entretanto.
b) Outra dica é, quando a oração que antecede a OC (Oração
E) Conquanto.
Coordenada) vier com verbo no modo imperativo, ela será explica-
tiva. 02.( Escrevente TJ SP – Vunesp/2012) Observando as ocor-
Façam silêncio, que estou falando. (façam= verbo imperativo) rências da palavra “como” em – Como fomos programados para
ver o mundo como um lugar ameaçador… – é correto afirmar que
2º) Na frase “Precisavam enterrar os mortos em outra cidade se trata de conjunção
porque não havia cemitério no local.” (A) comparativa nas duas ocorrências.
a) Temos uma OSA Causal, já que a oração subordinada (parte (B) conformativa nas duas ocorrências.
destacada) mostra a causa da ação expressa pelo verbo da oração (C) comparativa na primeira ocorrência.
principal. Outra forma de reconhecê-la é colocá-la no início do pe- (D) causal na segunda ocorrência.
ríodo, introduzida pela conjunção como - o que não ocorre com a (E) causal na primeira ocorrência.
CS Explicativa.
Como não havia cemitério no local, precisavam enterrar os 03.(Analista de Procuradoria – FCC – 2013). Leia o texto a
mortos em outra cidade. seguir.
b) As orações são subordinadas e, por isso, totalmente depen- Participação
dentes uma da outra. Num belo poema, intitulado “Traduzir-se”, Ferreira Gullar
aborda o tema de uma divisão muito presente em cada um de nós:
Questões sobre Conjunção a que ocorre entre o nosso mundo interior e a nossa atuação junto
aos outros, nosso papel na ordem coletiva. A divisão não é simples:
01.(Administrador – FCC – 2013). Leia o texto a seguir. costuma-se ver como antagônicas essas duas “partes” de nós, nas
A música alcançou uma onipresença avassaladora em nosso quais nos dividimos. De fato, em quantos momentos da nossa vida
mundo: milhões de horas de sua história estão disponíveis em dis- precisamos escolher entre o atendimento de um interesse pessoal e
co; rios de melodia digital correm na internet; aparelhos de mp3 o cumprimento de um dever ético? Como poeta e militante político,
com 40 mil canções podem ser colocados no bolso. No entanto, a Ferreira Gullar deixou-se atrair tanto pela expressão das paixões
música não é mais algo que fazemos nós mesmos, ou até que obser- mais íntimas quanto pela atuação de um convicto socialista. Em seu
poema, o diálogo entre as duas partes é desenvolvido de modo a nos
vamos outras pessoas fazerem diante de nós. Ela se tornou um meio
fazer pensar que são incompatíveis.
radicalmente virtual, uma arte sem rosto. Quando caminhamos pela
Mas no último momento do poema deparamo-nos com esta es-
cidade num dia comum, nossos ouvidos registram música em quase
trofe:
todos os momentos − pedaços de hip-hop vazando dos fones de ou-
“Traduzir uma parte
vido de adolescentes no metrô, o sinal do celular de um advogado na outra parte
tocando a “Ode à alegria”, de Beethoven −, mas quase nada disso − que é uma questão
será resultado imediato de um trabalho físico de mãos ou vozes hu- de vida ou morte −
manas, como se dava no passado. será arte?”
Desde que Edison inventou o cilindro fonográfico, em1877, O poeta levanta a possibilidade da “tradução” de uma parte
existe gente que avalia o que a gravação fez em favor e desfavor na outra, ou seja, da interação de ambas, numa espécie de espe-
da arte da música. Inevitavelmente, a conversa descambou para os lhamento. Isso ocorreria quando o indivíduo conciliasse verdadei-
extremos retóricos. No campo oposto ao dos que diziam que a tec- ramente a instância pessoal e os interesses de uma comunidade;
nologia acabaria com a música estão os utópicos, que alegam que a quando deixasse de haver contradição entre a razão particular e
tecnologia não aprisionou a música, mas libertou-a, levando a arte a coletiva. Pergunta-se o poeta se não seria arte esse tipo de inte-

Didatismo e Conhecimento 45
LÍNGUA PORTUGUESA
gração. Realmente, com muita frequência a arte se mostra capaz de (A) alternância.
expressar tanto nossa subjetividade como nossa identidade social. (B) oposição.
Nesse sentido, traduzir uma parte na outra parte significaria vencer (C) causa.
a parcialidade e chegar a uma autêntica participação, de sentido (D) adição.
altamente político. O poema de Gullar deixa-nos essa hipótese pro- (E) explicação.
vocadora, formulada com um ar de convicção.
(Belarmino Tavares, inédito) 06. (Agente Policial – Vunesp/2013) Considerando que o ter-
Os seguintes fatos, referidos no texto, travam entre si uma rela- mo em destaque em – Segundo especialistas, recusar o bafômetro
ção de causa e efeito: não vai mais impedir o processo criminal... – introduz ideia de con-
A) ser poeta e militante político / confronto entre subjetividade formidade, assinale a alternativa que apresenta a frase corretamente
e atuação social reescrita, e com seu sentido inalterado.
B) ser poeta e militante político / divisão permanente em cada (A) A fim de que para especialistas, recusar o bafômetro não
um de nós vai mais impedir o processo criminal...
C) ser movido pelas paixões / esposar teses socialistas (B) A menos que para especialistas, recusar o bafômetro não
D) fazer arte / obliterar uma questão de vida ou morte vai mais impedir o processo criminal...
E) participar ativamente da política / formular hipóteses com ar (C) De acordo com especialistas, recusar o bafômetro não vai
de convicção mais impedir o processo criminal...
(D) Apesar de que para especialistas, recusar o bafômetro não
04. (Agente de Apoio Operacional – VUNESP – 2013). Leia vai mais impedir o processo criminal...
o texto a seguir. (E) Desde que para especialistas, recusar o bafômetro não vai
Temos o poder da escolha mais impedir o processo criminal...
Os consumidores são assediados pelo marketing a todo mo-
mento para comprarem além do que necessitam, mas somente eles 07. (Agente Policial – Vunesp/2013) Considerando que o ter-
podem decidir o que vão ou não comprar. É como se abrissem em mo em destaque em – Esse valor é dobrado caso o motorista seja
nós uma “caixa de necessidades”, mas só nós temos o poder da es- reincidente em um ano. – estabelece relação de condição entre as
colha. orações, assinale a alternativa que apresenta o trecho corretamente
Cada vez mais precisamos do consumo consciente. Será que reescrito, e com seu sentido inalterado.
paramos para pensar de onde vem o produto que estamos consumin-
(A) Porque o motorista é reincidente em um ano, esse valor é
do e se os valores da empresa são os mesmos em que acreditamos? A
dobrado.
competitividade entre as empresas exige que elas evoluam para se-
(B) Como o motorista é reincidente em um ano, esse valor é
rem opções para o consumidor. Nos anos 60, saber fabricar qualquer
dobrado.
coisa era o suficiente para ter uma empresa. Nos anos 70, era preciso
(C) Conforme o motorista for reincidente em um ano, esse va-
saber fazer com qualidade e altos índices de produção. Já no ano
lor é dobrado.
2000, a preocupação era fazer melhor ou diferente da concorrência e
as empresas passaram a atuar com responsabilidade socioambiental. (D) Se o motorista for reincidente em um ano, esse valor é do-
O consumidor tem de aprender a dizer não quando a sua relação brado.
com a empresa não for boa. Se não for boa, deve comprar o produto (E) À medida que o motorista é reincidente em um ano, esse
em outro lugar. Os cidadãos não têm ideia do poder que possuem. valor é dobrado.
É importante, ainda, entender nossa relação com a empresa ou
produto que vamos eleger. Temos uma expectativa, um envolvimen- 08. Em – O projeto “Começar de Novo” busca sensibilizar en-
to e aceitação e a preferência dependerá das ações que aprovamos ou tidades públicas e privadas para promover a ressocialização dos
não nas empresas, pois podemos mudar de ideia. presos... – o termo em destaque estabelece uma relação de
Há muito a ser feito. Uma pesquisa mostrou que 55,4% das pes- A) causa.
soas acreditam no consumo consciente, mas essas mesmas pessoas B) tempo.
admitem que já compraram produto pirata. Temos de refletir sobre C) lugar.
isso para mudar nossas atitudes. D) finalidade.
(Jornal da Tarde 24.04.2007. Adaptado) E) modo.
No trecho – Temos de refletir sobre isso para mudar nossas
atitudes. –, a palavra destacada apresenta sentido de 09. (Agente de Promotoria – Assessoria – VUNESP – 2013).
A) tempo. Leia o texto a seguir.
B) modo. Barreira da língua
C) origem. A barreira da língua e dos regionalismos parece um mero deta-
D) assunto. lhe em meio a tantas outras questões mais sérias já levantadas, como
E) finalidade. a falta de remédios, de equipes e de infraestrutura, mas não é.
Como é possível estabelecer uma relação médico-paciente, um
05. (Escrevente TJ SP –Vunesp/2012) No período – A pes- diagnóstico correto, se o médico não compreende o paciente e vice-
quisa do Dieese é um medidor importante, pois sua metodologia -versa?
leva em conta não só o desemprego aberto (quem está procuran- Sim, essa dificuldade já existe no Brasil mesmo com médicos e
do trabalho), como também o oculto (pessoas que desistiram de pacientes falando português, mas ela só tende a piorar com o “portu-
procurar ou estão em postos precários). –, os termos em destaque nhol” que se vislumbra pela frente.
estabelecem entre as orações relação de

Didatismo e Conhecimento 46
LÍNGUA PORTUGUESA
O ministro da Saúde já disse que isso não será problema, que é COMENTÁRIOS
mais fácil treinar um médico em português do que ficar esperando
sete ou oito anos até um médico brasileiro ser formado. 1-) Conquanto é uma conjunção concessiva – abre uma exceção
Experiências internacionais, porém, mostram que não é tão fá- à regra. Portanto, a troca correta é por uma outra conjunção adver-
cil assim. Na Alemanha, mesmo com a exigência da proficiência na sativa.
língua, um estudo constatou atraso de diagnósticos pelo fato de o
médico estrangeiro não conseguir entender direito os sintomas de 2-) Como fomos programados para ver o mundo como um lu-
pacientes. gar ameaçador…
Além disso, há queixa dos profissionais alemães, que se sentem Causal na primeira ocorrência e comparativa na segunda.
sobrecarregados por terem de atuar como intérpretes dos colegas 3-) ser poeta e militante político / confronto entre subjetividade
de fora. e atuação social.
Nada contra a vinda dos estrangeiros, desde que estejam aptos O fato de ser poeta e militante político gera confronto entre seu
para o trabalho. Tenho dúvidas, porém, se três semanas de treina- lado subjetivo e racional.
mento, como aventou o ministro, é tempo suficiente para isso.
(Cláudia Collucci, Barreira da língua. Folha de S.Paulo, 4-) Temos de refletir sobre isso para mudar nossas atitudes.
03.07.2013. Adaptado) Apresenta a finalidade da reflexão. Devemos refletir para quê?

Considere o parágrafo final do texto: 5-) Uma junção, soma de ideias. Há a presença de conjunções
Nada contra a vinda dos estrangeiros, desde que estejam aptos aditivas.
para o trabalho. Tenho dúvidas, porém, se três semanas de treina-
mento, como aventou o ministro, é tempo suficiente para isso. 6-) De acordo com especialistas, recusar o bafômetro não vai
Mantendo-se os sentidos originais, ele está corretamente rees- mais impedir o processo criminal...
crito de acordo com a norma-padrão em: Apresenta a mesma ideia que a do enunciado – além de ser a
A) Nada contra a vinda dos estrangeiros, se estiverem aptos mais coerente.
para o trabalho. Tenho dúvidas, no entanto: três semanas de treina-
mento, como aventou o ministro, é suficiente para isso? 7-) Esse valor é dobrado caso o motorista seja reincidente em
B) Nada contra a vinda dos estrangeiros, caso estão aptos para um ano. – estabelece relação de condição, portanto devemos utilizar
o trabalho. Tenho dúvidas, todavia: três semanas de treinamento, uma conjunção condicional: SE.
como aventou o ministro, são suficiente para isso? Se o motorista for reincidente em um ano, esse valor é dobrado.
C) Nada contra a vinda dos estrangeiros, quando estarão aptos
para o trabalho. Tenho dúvidas, portanto: três semanas de treina- 8-) A finalidade da sensibilização.
mento, como aventou o ministro, são suficientes para isso?
D) Nada contra a vinda dos estrangeiros, mas estariam aptos 9-) A) Nada contra a vinda dos estrangeiros, se estiverem aptos
para o trabalho. Tenho dúvidas, apesar disso: três semanas de treina- para o trabalho. Tenho dúvidas, no entanto: três semanas de treina-
mento, como aventou o ministro, é suficiente para isso. mento, como aventou o ministro, é suficiente para isso? = correta
E) Nada contra a vinda dos estrangeiros, pois estarão aptos para O único item que não altere o que foi dito no enunciado.
o trabalho. Tenho dúvidas, por conseguinte: três semanas de treina-
mento, como aventou o ministro, são suficiente para isso. 10-) Porém = conjunção adversativa.

10. (Agente Policial - Vunesp/2013) Considere o trecho: –


Leve para casa – ponderou meu conselheiro, como quem diz: – É VOZES VERBAIS: ATIVA E PASSIVA
sua. Mas acrescentou: – procure direito e o endereço aparece.
Sem que seja alterado o sentido do texto e de acordo com a
norma-padrão da língua portuguesa, o termo em destaque pode ser
corretamente substituído por: Vozes do Verbo
(A) Por isso. Dá-se o nome de voz à forma assumida pelo verbo para indi-
(B) Portanto. car se o sujeito gramatical é agente ou paciente da ação. São três
(C) Pois. as vozes verbais:
(D) Porquanto. - a) Ativa:  quando o sujeito é agente, isto é, pratica a ação
(E) Porém. expressa pelo verbo. Por exemplo:

GABARITO Ele fez o trabalho.


sujeito agente ação objeto (paciente)
01. E 02. E 03. A 04. E 05. D

06. C 07. D 08. D 09. A 10. E - b) Passiva:  quando o sujeito é paciente, recebendo a ação
expressa pelo verbo. Por exemplo:

Didatismo e Conhecimento 47
LÍNGUA PORTUGUESA
sofrimento, padecimento. Daí vem o significado de voz passiva
O trabalho foi feito por ele.
como sendo a voz que expressa a ação sofrida pelo sujeito. Na voz
sujeito paciente ação agente da passiva passiva temos dois elementos que nem sempre aparecem: SUJEI-
TO PACIENTE e AGENTE DA PASSIVA.
- c) Reflexiva: quando o sujeito é ao mesmo tempo agente e
paciente, isto é, pratica e recebe a ação. Por exemplo:  Conversão da Voz Ativa na Voz Passiva
O menino feriu-se. Pode-se mudar a voz ativa na passiva sem alterar substancial-
Obs.: não confundir o emprego reflexivo do verbo com a no- mente o sentido da frase.
ção de reciprocidade. Por exemplo:
Os lutadores feriram-se. (um ao outro)
Gutenberg inventou a imprensa (Voz Ativa)
Formação da Voz Passiva Sujeito da
Objeto Direto
A voz passiva pode ser formada por dois processos: analíti- Ativa
co e sintético.  
1- Voz Passiva Analítica
Constrói-se da seguinte maneira: Verbo SER + particípio do (Voz
A imprensa foi inventada por Gutenberg
verbo principal. Por exemplo: Passiva)
A escola será pintada. Sujeito da
O trabalho é feito por ele. Agente da Passiva
Passiva
Obs.: o agente da passiva geralmente é acompanhado da pre-
posição por, mas pode ocorrer a construção com a preposição de. Observe que o objeto direto será o sujeito da passiva, o su-
Por exemplo: jeito da ativa passará a agente da passiva e o verbo ativo assumi-
A casa ficou cercada de soldados. rá a forma passiva, conservando o mesmo tempo. Observe mais
- Pode acontecer ainda que o agente da passiva não esteja ex- exemplos:
plícito na frase. Por exemplo:  - Os mestres têm constantemente aconselhado os alunos.
A exposição será aberta amanhã. Os alunos têm sido constantemente aconselhados pelos mes-
- A variação temporal é indicada pelo verbo auxiliar (SER), tres.
pois o particípio é invariável. Observe a transformação das frases
- Eu o acompanharei.
seguintes:
Ele será acompanhado por mim.
Obs.: quando o sujeito da voz ativa for indeterminado, não
a) Ele fez o trabalho. (pretérito perfeito do indicativo) haverá complemento agente na passiva.
O trabalho foi feito por ele. (pretérito perfeito do indicativo) Por exemplo:
- Prejudicaram-me.
b) Ele faz o trabalho. (presente do indicativo)
Fui prejudicado.
O trabalho é feito por ele. (presente do indicativo) Saiba que:
c) Ele fará o trabalho. (futuro do presente) 1) Aos verbos que não são ativos nem passivos ou reflexivos,
são chamados neutros.
O trabalho será feito por ele. (futuro do presente)
O vinho é bom.
Aqui chove muito.
- Nas frases com locuções verbais, o verbo SER assume o
mesmo tempo e modo do verbo principal da voz ativa. Observe a 2) Há formas passivas com sentido ativo:
transformação da frase seguinte: É chegada a hora. (= Chegou a hora.)
O vento ia levando as folhas. (gerúndio) Eu ainda não era nascido. (= Eu ainda não tinha nascido.)
As folhas iam sendo levadas pelo vento. (gerúndio) És um homem lido e viajado. (= que leu e viajou)
Obs.: é menos frequente a construção da voz passiva analítica 3) Inversamente, usamos formas ativas com sentido passivo:
com outros verbos que podem eventualmente funcionar como au- Há coisas difíceis de  entender. (= serem entendidas)
xiliares. Por exemplo: Mandou-o lançar na prisão. (= ser lançado)
A moça ficou marcada pela doença.

2- Voz Passiva Sintética 4) Os verbos chamar-se, batizar-se, operar-se (no sentido ci-


A voz passiva sintética ou pronominal constrói-se com o verbo rúrgico) e vacinar-se são considerados passivos, logo o sujeito é
na 3ª pessoa, seguido do pronome apassivador SE. Por exemplo: paciente.
Abriram-se as inscrições para o concurso. Chamo-me Luís. 
Destruiu-se o velho prédio da escola. Batizei-me na Igreja do Carmo. 
Obs.: o agente não costuma vir expresso na voz passiva sin- Operou-se de hérnia. 
tética. Vacinaram-se contra a gripe.

Curiosidade Fonte: http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf54.


A palavra passivo possui a mesma raiz latina de paixão (la- php
tim  passio,  passionis) e ambas se relacionam com o significado

Didatismo e Conhecimento 48
LÍNGUA PORTUGUESA
Questões sobre Vozes dos Verbos 08. Indique a única alternativa em que a oração não está na
voz passiva:
01. Transitando para a voz passiva a oração “O tropel dos cava- A) Entreolharam-se apaixonadamente os dois pombinhos.
los avisava os cangaceiros.”, a forma verbal será: B) O cantor romântico foi demoradamente aplaudido.
A) ia avisando C) Elegeu-se, infelizmente, o deputado errado.
B) avisavam D) Fizeram-se apenas os exercícios mais fáceis.
C) avisava-se
D) foram avisados 09. Em “O presidente americano Barack Obama cancelou pro-
E) eram avisados grama”, a forma verbal “cancelou” está na voz ativa. A forma cor-
respondente, na voz passiva analítica, é
02. (FCC-COPERGÁS – Auxiliar Técnico Administrativo A) era cancelado.
- 2011) Um dia um tufão furibundo abateu-o pela raiz. Transpondo- B) foi cancelado.
-se a frase acima para a voz passiva, a forma verbal resultante será: C) tinha sido cancelado.
(A) era abatido. D) cancelava-se
(B) fora abatido. E) estava sendo cancelado.
(C) abatera-se.
(D) foi abatido. 10. A oração “o engenheiro podia controlar todos os empre-
gados da estação ferroviária” está na voz ativa. Assinale a forma
(E) tinha abatido
verbal passiva correspondente.
A) podiam ser controlados
03. (FCC-TRE-Analista Judiciário – 2011) Transpondo-se
B) seriam controlados
para a voz passiva a frase Hoje a autoria institucional enfrenta sé- C) podia ser controlado
ria concorrência dos autores anônimos, obter-se-á a seguinte forma D) controlavam-se
verbal:
(A) são enfrentados. GABARITO
(B) tem enfrentado.
(C) tem sido enfrentada.
(D) têm sido enfrentados. 01. E 02. D 03. E 04. D 05. C
(E) é enfrentada. 06. C 07. D 08. A 09. B 10. A
04. (Fundação Carlos Chagas) Transpondo para a voz passiva
a oração “O faro dos cães guiava os caçadores”, obtém-se a forma COMENTÁRIOS
verbal:
A) guiava-se 1-) Transitando para a voz passiva a oração “O tropel dos cava-
B) ia guiando los avisava os cangaceiros.”, a forma verbal será
C) guiavam Os cangaceiros eram avisados...
D) eram guiados
E) foram guiados 2-) Um dia um tufão furibundo abateu-o pela raiz.

05. (Analista de Procuradoria – FCC – 2013-adap) Trans- Ele foi abatido...


pondo-se para a voz passiva a frase O poeta teria aberto um diálogo
entre as duas partes, a forma verbal resultante será: 3-) Hoje a autoria institucional enfrenta séria concorrência dos
A) fora aberto. autores anônimos
B) abriria.
C) teria sido aberto. Séria concorrência é enfrentada pela autoria...
D) teriam sido abertas.
E) foi aberto. 4-) O faro dos cães guiava os caçadores
Os caçadores eram guiados...

06. A frase que não está na voz passiva é: 5-) O poeta teria aberto um diálogo entre as duas partes
A) O filme foi estrondosamente aclamado pelo público.
B) Fizeram-se apenas os consertos mais urgentes nas ruas. Um diálogo teria sido aberto...
C) Cruzaram-se rapidamente na rua as duas rivais.
6-) Cruzaram-se rapidamente na rua as duas rivais. = voz re-
D) Escolheu-se a pessoa errada para o cargo.
flexiva (recíproca)
07. Assinale a alternativa que apresenta a frase na voz passiva: 7-)
A) Os turcos vendem maçã. A) Os turcos vendem maçã.= ativa
B) As pessoas refugiam-se no vão da porta. B) As pessoas refugiam-se no vão da porta. = reflexiva
C) Os cães arranhavam o portão. C) Os cães arranhavam o portão. = ativa
D) O sorvete é feito pelo sorveteiro.

Didatismo e Conhecimento 49
LÍNGUA PORTUGUESA
8-) Entreolharam-se apaixonadamente os dois pombinhos. = 4- Em frases de estilo direto
reflexiva  Maria perguntou:
- Por que você não toma uma decisão?
9-) O presidente americano Barack Obama cancelou programa
Ponto de Exclamação
1- Usa-se para indicar entonação de surpresa, cólera, susto,
Programa foi cancelado pelo presidente...
súplica, etc.
- Sim! Claro que eu quero me casar com você!
10-) o engenheiro podia controlar todos os empregados da es-
tação 2- Depois de interjeições ou vocativos
Todos os empregados da estação podiam ser controlados... - Ai! Que susto!
- João! Há quanto tempo!

Ponto de Interrogação
PONTUAÇÃO
Usa-se nas interrogações diretas e indiretas livres.
“- Então? Que é isso? Desertaram ambos?” (Artur Azevedo)

Reticências
Os sinais de  pontuação  são marcações gráficas que servem 1- Indica que palavras foram suprimidas.
para compor a coesão e a coerência textual além de ressaltar es- - Comprei lápis, canetas, cadernos...
pecificidades semânticas e pragmáticas. Vejamos as principais
funções dos sinais de pontuação conhecidos pelo uso da língua 2- Indica interrupção violenta da frase.
portuguesa.
“- Não... quero dizer... é verdad... Ah!”
Ponto
1- Indica o término do discurso ou de parte dele. 3- Indica interrupções de hesitação ou dúvida
- Façamos o que for preciso para tirá-la da situação em que - Este mal... pega doutor?
se encontra.
- Gostaria de comprar pão, queijo, manteiga e leite. 4- Indica que o sentido vai além do que foi dito
- Acordei. Olhei em volta. Não reconheci onde estava. - Deixa, depois, o coração falar...

2- Usa-se nas abreviações - V. Exª. - Sr. Vírgula


Não se usa vírgula
Ponto e Vírgula ( ; )
- separando termos que, do ponto de vista sintático, ligam-se
1- Separa várias partes do discurso, que têm a mesma impor-
tância. diretamente entre si:
- “Os pobres dão pelo pão o trabalho; os ricos dão pelo pão
a fazenda; os de espíritos generosos dão pelo pão a vida; os de a) entre sujeito e predicado.
nenhum espírito dão pelo pão a alma...” (VIEIRA) Todos os alunos da sala    foram advertidos. 
             Sujeito                            predicado
2- Separa partes de frases que já estão separadas por vírgulas.
-  Alguns quiseram verão, praia e calor; outros montanhas, b) entre o verbo e seus objetos.
frio e cobertor. O trabalho custou            sacrifício             aos realizadores. 
                   V.T.D.I.              O.D.                             O.I.
3- Separa itens de uma enumeração, exposição de motivos,
c) entre nome e complemento nominal; entre nome e adjunto
decreto de lei, etc.
- Ir ao supermercado; adnominal.
- Pegar as crianças na escola;
- Caminhada na praia;
- Reunião com amigos. Usa-se a vírgula:
- Para marcar intercalação:
Dois pontos a) do adjunto adverbial: O café, em razão da sua abundância,
1- Antes de uma citação vem caindo de preço.
- Vejamos como Afrânio Coutinho trata este assunto: b) da conjunção: Os cerrados são secos e áridos. Estão produ-
zindo, todavia, altas quantidades de alimentos.
2- Antes de um aposto
c) das expressões explicativas ou corretivas: As indústrias não
- Três coisas não me agradam: chuva pela manhã, frio à tarde
e calor à noite. querem abrir mão de suas vantagens, isto é, não querem abrir mão
dos lucros altos.
3- Antes de uma explicação ou esclarecimento
- Lá estava a deplorável família: triste, cabisbaixa, vivendo a - Para marcar inversão:
rotina de sempre. a) do adjunto adverbial (colocado no início da oração): Depois
das sete horas, todo o comércio está de portas fechadas.

Didatismo e Conhecimento 50
LÍNGUA PORTUGUESA
b) dos objetos pleonásticos antepostos ao verbo: Aos pesqui- 03. (Agente de Apoio Administrativo – FCC – 2013). Os
sadores, não lhes destinaram verba alguma. sinais de pontuação estão empregados corretamente em:
c) do nome de lugar anteposto às datas: Recife, 15 de maio A) Duas explicações, do treinamento para consultores ini-
de 1982. ciantes receberam destaque, o conceito de PPD e a construção de
tabelas Price; mas por outro lado, faltou falar das metas de vendas
- Para separar entre si elementos coordenados (dispostos em associadas aos dois temas.
enumeração): B) Duas explicações do treinamento para consultores inician-
Era um garoto de 15 anos, alto, magro. tes receberam destaque: o conceito de PPD e a construção de ta-
A ventania levou árvores, e telhados, e pontes, e animais. belas Price; mas, por outro lado, faltou falar das metas de vendas
associadas aos dois temas.
- Para marcar elipse (omissão) do verbo: C) Duas explicações do treinamento para consultores inician-
Nós queremos comer pizza; e vocês, churrasco. tes receberam destaque; o conceito de PPD e a construção de ta-
belas Price, mas por outro lado, faltou falar das metas de vendas
- Para isolar: associadas aos dois temas.
- o aposto: São Paulo, considerada a metrópole brasileira, D) Duas explicações do treinamento para consultores inician-
possui um trânsito caótico. tes, receberam destaque: o conceito de PPD e a construção de ta-
- o vocativo: Ora, Thiago, não diga bobagem. belas Price, mas, por outro lado, faltou falar das metas de vendas
associadas aos dois temas.
Fontes: E) Duas explicações, do treinamento para consultores inician-
http://www.infoescola.com/portugues/pontuacao/ tes, receberam destaque; o conceito de PPD e a construção de ta-
http://www.brasilescola.com/gramatica/uso-da-virgula.htm belas Price, mas por outro lado, faltou falar das metas, de vendas
associadas aos dois temas.
Questões sobre Pontuação
04.(Escrevente TJ SP – Vunesp 2012). Assinale a alternativa
01. (Agente Policial – Vunesp – 2013). Assinale a alternativa em que o período, adaptado da revista Pesquisa Fapesp de junho
em que a pontuação está corretamente empregada, de acordo com de 2012, está correto quanto à regência nominal e à pontuação.
a norma-padrão da língua portuguesa. (A) Não há dúvida que as mulheres ampliam, rapidamente,
(A) Diante da testemunha, o homem abriu a bolsa e, embora, seu espaço na carreira científica ainda que o avanço seja mais no-
experimentasse, a sensação de violar uma intimidade, procurou a tável em alguns países, o Brasil é um exemplo, do que em outros.
esmo entre as coisinhas, tentando encontrar algo que pudesse aju- (B) Não há dúvida de que, as mulheres, ampliam rapidamente
dar a revelar quem era a sua dona. seu espaço na carreira científica; ainda que o avanço seja mais no-
(B) Diante, da testemunha o homem abriu a bolsa e, embora tável, em alguns países, o Brasil é um exemplo!, do que em outros.
experimentasse a sensação, de violar uma intimidade, procurou a (C) Não há dúvida de que as mulheres, ampliam rapidamente
esmo entre as coisinhas, tentando encontrar algo que pudesse aju- seu espaço, na carreira científica, ainda que o avanço seja mais no-
dar a revelar quem era a sua dona. tável, em alguns países: o Brasil é um exemplo, do que em outros.
(C) Diante da testemunha, o homem abriu a bolsa e, embora (D) Não há dúvida de que as mulheres ampliam rapidamen-
experimentasse a sensação de violar uma intimidade, procurou a te seu espaço na carreira científica, ainda que o avanço seja mais
esmo entre as coisinhas, tentando encontrar algo que pudesse aju- notável em alguns países – o Brasil é um exemplo – do que em
dar a revelar quem era a sua dona. outros.
(D) Diante da testemunha, o homem, abriu a bolsa e, embora (E) Não há dúvida que as mulheres ampliam rapidamente, seu
experimentasse a sensação de violar uma intimidade, procurou a espaço na carreira científica, ainda que, o avanço seja mais notável
esmo entre as coisinhas, tentando, encontrar algo que pudesse aju- em alguns países (o Brasil é um exemplo) do que em outros.
dar a revelar quem era a sua dona.
(E) Diante da testemunha, o homem abriu a bolsa e, embora, 05. (Papiloscopista Policial – Vunesp – 2013 – adap.). Assi-
experimentasse a sensação de violar uma intimidade, procurou a
nale a alternativa em que a frase mantém-se correta após o acrés-
esmo entre as coisinhas, tentando, encontrar algo que pudesse aju-
cimo das vírgulas.
dar a revelar quem era a sua dona.
(A) Se a criança se perder, quem encontrá-la, verá na pulseira
instruções para que envie, uma mensagem eletrônica ao grupo ou
02. Assinale a opção em que está corretamente indicada a or-
acione o código na internet.
dem dos sinais de pontuação que devem preencher as lacunas da
(B) Um geolocalizador também, avisará, os pais de onde o
frase abaixo:
código foi acionado.
“Quando se trata de trabalho científico ___ duas coisas de-
vem ser consideradas ____ uma é a contribuição teórica que o (C) Assim que o código é digitado, familiares cadastrados,
trabalho oferece ___ a outra é o valor prático que possa ter. recebem automaticamente, uma mensagem dizendo que a criança
A) dois pontos, ponto e vírgula, ponto e vírgula foi encontrada.
B) dois pontos, vírgula, ponto e vírgula; (D) De fabricação chinesa, a nova pulseirinha, chega primeiro
C) vírgula, dois pontos, ponto e vírgula; às, areias do Guarujá.
D) pontos vírgula, dois pontos, ponto e vírgula; (E) O sistema permite, ainda, cadastrar o nome e o telefone de
E) ponto e vírgula, vírgula, vírgula. quem a encontrou e informar um ponto de referência

Didatismo e Conhecimento 51
LÍNGUA PORTUGUESA
06. Assinale a série de sinais cujo emprego corresponde, na COMENTÁRIOS
mesma ordem, aos parênteses indicados no texto: “Pergunta-se ()
qual é a ideia principal desse parágrafo () A chegada de reforços 1- Assinalei com um (X) as pontuações inadequadas
() a condecoração () o escândalo da opinião pública ou a renúncia (A) Diante da testemunha, o homem abriu a bolsa e, embora
do presidente () Se é a chegada de reforços () que relação há () ou , (X) experimentasse , (X) a sensação de violar uma intimidade,
mostrou seu autor haver () entre esse fato e os restantes ()”. procurou a esmo entre as coisinhas, tentando encontrar algo que
A) vírgula, vírgula, interrogação, interrogação, interrogação, pudesse ajudar a revelar quem era a sua dona.
vírgula, vírgula, vírgula, ponto final (B) Diante , (X) da testemunha o homem abriu a bolsa e, em-
B) dois pontos, interrogação, vírgula, vírgula, interrogação, bora experimentasse a sensação , (X) de violar uma intimidade,
vírgula, travessão, travessão, interrogação procurou a esmo entre as coisinhas, tentando encontrar algo que
C) travessão, interrogação, vírgula, vírgula, ponto final, tra- pudesse ajudar a revelar quem era a sua dona.
vessão, travessão, ponto final, ponto final
(D) Diante da testemunha, o homem , (X) abriu a bolsa e,
D) dois pontos, interrogação, vírgula, ponto final, travessão,
embora experimentasse a sensação de violar uma intimidade, pro-
vírgula, vírgula, vírgula, interrogação
E)dois pontos, ponto final, vírgula, vírgula, interrogação, vír- curou a esmo entre as coisinhas, tentando , (X) encontrar algo que
gula, vírgula, travessão, interogação pudesse ajudar a revelar quem era a sua dona.
(E) Diante da testemunha, o homem abriu a bolsa e, embora ,
07. (SRF) Das redações abaixo, assinale a que não está pon- (X) experimentasse a sensação de violar uma intimidade, procu-
tuada corretamente: A) Os candidatos, em fila, aguardavam ansio- rou a esmo entre as coisinhas, tentando , (X) encontrar algo que
sos o resultado do concurso. pudesse ajudar a revelar quem era a sua dona.
B) Em fila, os candidatos, aguardavam, ansiosos, o resultado 2-) Quando se trata de trabalho científico , duas coisas devem
do concurso. ser consideradas : uma é a contribuição teórica que o trabalho
C) Ansiosos, os candidatos aguardavam, em fila, o resultado oferece ; a outra é o valor prático que possa ter.
do concurso.
D) Os candidatos ansiosos aguardavam o resultado do con- vírgula, dois pontos, ponto e vírgula
curso, em fila.
E) Os candidatos aguardavam ansiosos, em fila, o resultado 3-) Assinalei com (X) onde estão as pontuações inadequadas
do concurso. A) Duas explicações , (X) do treinamento para consultores
iniciantes receberam destaque , (X) o conceito de PPD e a cons-
08.  A frase em que deveria haver uma vírgula é:
trução de tabelas Price; mas por outro lado, faltou falar das metas
A) Comi uma fruta pela manhã e outra à tarde.
de vendas associadas aos dois temas.
B) Eu usei um vestido vermelho na festa e minha irmã usou
um vestido azul. C) Duas explicações do treinamento para consultores inician-
C) Ela tem lábios e nariz vermelhos. tes receberam destaque ; (X) o conceito de PPD e a construção de
D) Não limparam a sala nem a cozinha. tabelas Price , (X) mas por outro lado, faltou falar das metas de
vendas associadas aos dois temas.
09. (Cefet-PR) Assinale o item em que o texto está correta- D) Duas explicações do treinamento para consultores inician-
mente pontuado: tes , (X) receberam destaque: o conceito de PPD e a construção de
A) Não nego, que ao avistar a cidade natal tive uma sensação tabelas Price , (X) mas, por outro lado, faltou falar das metas de
nova. B) Não nego que ao avistar, a cidade natal, tive uma sen- vendas associadas aos dois temas.
sação nova. C) Não nego que, ao avistar, a cidade natal, tive uma E) Duas explicações , (X) do treinamento para consultores
sensação nova.D) Não nego que ao avistar a cidade natal tive uma iniciantes , (X) receberam destaque ; (X) o conceito de PPD e a
sensação nova. E)Não nego que, ao avistar a cidade natal, tive construção de tabelas Price , (X) mas por outro lado, faltou falar
uma sensação nova. das metas , (X) de vendas associadas aos dois temas.
10. (Agente de Apoio Operacional – VUNESP – 2013). As- 4-)
sinale a alternativa em que a pontuação está de acordo com a nor- (A) Não há dúvida de que as mulheres ampliam , (X) rapi-
ma culta da língua.
damente , (X) seu espaço na carreira científica (, ) ainda que o
A) Atualmente, não se pode, fabricar apenas um produto.
avanço seja mais notável em alguns países, o Brasil é um exemplo,
B) Os índices de produção devem, acompanhar, o mercado.
C) A responsabilidade, socioambiental, é de extrema impor- do que em outros.
tância. (B) Não há dúvida de que , (X) as mulheres , (X) ampliam
D) Acreditar, no consumo, consciente é necessário. rapidamente seu espaço na carreira científica ; (X) ainda que o
E) O marketing, como se sabe, induz ao consumo desneces- avanço seja mais notável , (X) em alguns países, o Brasil é um
sário. exemplo ! (X) , do que em outros.
(C) Não há dúvida de que as mulheres , (X) ampliam rapi-
GABARITO damente seu espaço , (X) na carreira científica , (X) ainda que
o avanço seja mais notável, em alguns países : (X) o Brasil é um
exemplo, do que em outros.
01. C 02. C 03. B 04. D 05. E
(E) Não há dúvida de que as mulheres ampliam rapidamente
06. B 07. E 08. B 09. E 10. E , (X) seu espaço na carreira científica, ainda que , (X) o avanço
seja mais notável em alguns países (o Brasil é um exemplo) do que
em outros.

Didatismo e Conhecimento 52
LÍNGUA PORTUGUESA
5-) Próclise
(A) Se a criança se perder, quem encontrá-la , (X)verá na pul- A próclise é aplicada antes do verbo quando temos:
seira instruções para que envie , (X) uma mensagem eletrônica ao - Palavras com sentido negativo:
grupo ou acione o código na internet. Nada me faz querer sair dessa cama.
(B) Um geolocalizador também , (X) avisará , (X) os pais de Não se trata de nenhuma novidade.
onde o código foi acionado.
(C) Assim que o código é digitado, familiares cadastrados , - Advérbios:
(X) recebem ( , ) automaticamente, uma mensagem dizendo que a Nesta casa se fala alemão.
criança foi encontrada. Naquele dia me falaram que a professora não veio.
(D) De fabricação chinesa, a nova pulseirinha , (X) chega
primeiro às , (X) areias do Guarujá. - Pronomes relativos:
A aluna que me mostrou a tarefa não veio hoje.
6-) Pergunta-se ( :) qual é a ideia principal desse parágrafo ( Não vou deixar de estudar os conteúdos que me falaram.
? ) A chegada de reforços ( , ) a condecoração ( , ) o escândalo da
opinião pública ou a renúncia do presidente (?) Se é a chegada de - Pronomes indefinidos:
reforços ( , ) que relação há ( - ) ou mostrou seu autor haver ( -) Quem me disse isso?
entre esse fato e os restantes ( ? ) Todos se comoveram durante o discurso de despedida.
7-) Em fila, os candidatos , (X) aguardavam, ansiosos, o re-
sultado do concurso. - Pronomes demonstrativos:
Isso me deixa muito feliz!
8-) Eu usei um vestido vermelho na festa, e minha irmã usou Aquilo me incentivou a mudar de atitude!
um vestido azul.
Há situações em que é possível usar a vírgula antes do “e”. - Preposição seguida de gerúndio:
Isso ocorre quando a conjunção aditiva coordena orações de sujei- Em se tratando de qualidade, o Brasil Escola é o site mais in-
tos diferentes nas quais a leitura fluente pode ser prejudicada pela dicado à pesquisa escolar.
ausência da pontuação. 
- Conjunção subordinativa:
9-) A) Não nego , (X) que ao avistar a cidade natal tive uma Vamos estabelecer critérios, conforme lhe avisaram.
sensação nova. B) Não nego que ao avistar , (X) a cidade natal,
tive uma sensação nova.C) Não nego que, ao avistar , (X) a cidade Ênclise
natal, tive uma sensação nova.D)Não nego que ( , ) ao avistar a A ênclise é empregada depois do verbo. A norma culta não acei-
cidade natal ( , ) tive uma sensação nova. ta orações iniciadas com pronomes oblíquos átonos. A ênclise vai
acontecer quando:
10-) - O verbo estiver no imperativo afirmativo:
A) Atualmente, não se pode , (X) fabricar apenas um produto. Amem-se uns aos outros.
B) Os índices de produção devem , (X) acompanhar , (X) o Sigam-me e não terão derrotas.
mercado.
C) A responsabilidade , (X) socioambiental , (X) é de extre- - O verbo iniciar a oração:
ma importância. Diga-lhe que está tudo bem.
D) Acreditar , (X) no consumo , (X) consciente é necessário. Chamaram-me para ser sócio.

- O verbo estiver no infinitivo impessoal regido da preposição


“a”:
COLOCAÇÃO PRONOMINAL Naquele instante os dois passaram a odiar-se.
Passaram a cumprimentar-se mutuamente.

- O verbo estiver no gerúndio:


Não quis saber o que aconteceu, fazendo-se de despreocupada.
Colocação pronominal Despediu-se, beijando-me a face.
De acordo com as autoras Rose Jordão e Clenir Bellezi, a co-
locação pronominal é a posição que os pronomes pessoais oblíquos - Houver vírgula ou pausa antes do verbo:
átonos ocupam na frase em relação ao verbo a que se referem. Se passar no vestibular em outra cidade, mudo-me no mesmo
São pronomes oblíquos átonos: me, te, se, o, os, a, as, lhe, lhes, instante.
nos e vos. Se não tiver outro jeito, alisto-me nas forças armadas.
O pronome oblíquo átono pode assumir três posições na oração
em relação ao verbo: Mesóclise
1. próclise: pronome antes do verbo A mesóclise acontece quando o verbo está flexionado no futuro
2. ênclise: pronome depois do verbo do presente ou no futuro do pretérito:
3. mesóclise: pronome no meio do verbo

Didatismo e Conhecimento 53
LÍNGUA PORTUGUESA
A prova realizar-se-á neste domingo pela manhã. (= ela se (A) Ela não lembrava-se do caminho de volta.
realizará) (B) A menina tinha distanciado-se muito da família.
Far-lhe-ei uma proposta irrecusável. (= eu farei uma proposta (C) A garota disse que perdeu-se dos pais.
a você) (D) O pai alegrou-se ao encontrar a filha.
(E) Ninguém comprometeu-se a ajudar a criança.
Fontes:
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf42.php 05. (Escrevente TJ SP – Vunesp 2011). Assinale a alternativa
http://www.brasilescola.com/gramatica/colocacao-pronominal. cujo emprego do pronome está em conformidade com a norma pa-
htm drão da língua.
(A) Não autorizam-nos a ler os comentários sigilosos.
Questões sobre Pronome (B) Nos falaram que a diplomacia americana está abalada.
(C) Ninguém o informou sobre o caso WikiLeaks.
01. (Escrevente TJ SP – Vunesp/2012). (D) Conformado, se rendeu às punições.
Restam dúvidas sobre o crescimento verde. Primeiro, não está (E) Todos querem que combata-se a corrupção.
claro até onde pode realmente chegar uma política baseada em me-
lhorar a eficiência sem preços adequados para o carbono, a água e 06. (Papiloscopista Policial = Vunesp - 2013). Assinale a al-
(na maioria dos países pobres) a terra. É verdade que mesmo que ternativa correta quanto à colocação pronominal, de acordo com a
a ameaça dos preços do carbono e da água faça em si diferença, as norma-padrão da língua portuguesa.
companhias não podem suportar ter de pagar, de repente, digamos, (A) Para que se evite perder objetos, recomenda-se que eles se-
40 dólares por tonelada de carbono, sem qualquer preparação. Por- jam sempre trazidos junto ao corpo.
tanto, elas começam a usar preços-sombra. Ainda assim, ninguém (B) O passageiro ao lado jamais imaginou-se na situação de ter
encontrou até agora uma maneira de quantificar adequadamente os de procurar a dona de uma bolsa perdida.
insumos básicos. E sem eles a maioria das políticas de crescimento (C) Nos sentimos impotentes quando não conseguimos restituir
verde sempre será a segunda opção. um objeto à pessoa que o perdeu.
(CartaCapital, 27.06.2012. Adaptado) (D) O homem se indignou quando propuseram-lhe que abrisse
Os pronomes “elas” e “eles”, em destaque no texto, referem-se, a bolsa que encontrara.
respectivamente, a (E) Em tratando-se de objetos encontrados, há uma tendência
(A) dúvidas e preços. natural das pessoas em devolvê-los a seus donos.
(B) dúvidas e insumos básicos.
(C) companhias e insumos básicos. 07. (Agente de Apoio Operacional – VUNESP – 2013). Há
(D) companhias e preços do carbono e da água. pessoas que, mesmo sem condições, compram produtos______não
(E) políticas de crescimento e preços adequados. necessitam e______ tendo de pagar tudo______ prazo.
Assinale a alternativa que preenche as lacunas, correta e respec-
02. (Agente de Apoio Administrativo – FCC – 2013-adap.). tivamente, considerando a norma culta da língua.
Leia o texto a seguir. A) a que … acaba … à
Fazendo-se as alterações necessárias, o trecho grifado está cor- B) com que … acabam … à
retamente substituído por um pronome em: C) de que … acabam … a
A) ...sei tratar tipos como o senhor. − sei tratá-lo D) em que … acaba … a
B) ...erguendo os braços desalentado... − erguendo-lhes desa- E) dos quais … acaba … à
lentado
C) ...que tem de conhecer as leis do país? − que tem de conhe- 08. (Agente de Apoio Socioeducativo – VUNESP – 2013-
cê-lo? adap.). Assinale a alternativa que substitui, correta e respectivamen-
D) ...não parecia ser um importante industrial... − não parecia te, as lacunas do trecho.
ser-lhe ______alguns anos, num programa de televisão, uma jovem
E) incomodaram o general... − incomodaram-no fazia referência______ violência______ o brasileiro estava sujeito
de forma cômica.
03.(Agente de Defensoria Pública – FCC – 2013-adap.). A A) Fazem... a ... de que
substituição do elemento grifado pelo pronome correspondente, com B) Faz ...a ... que
os necessários ajustes, foi realizada de modo INCORRETO em: C) Fazem ...à ... com que
A) mostrando o rio= mostrando-o. D) Faz ...à ... que
B) como escolher sítio= como escolhê-lo. E) Faz ...à ... a que
C) transpor [...] as matas espessas= transpor-lhes.
D) Às estreitas veredas[...] nada acrescentariam = nada lhes 09. (Agente de Escolta e Vigilância Penitenciária – VUNESP
acrescentariam. – 2013). Leia o texto a seguir:
E) viu uma dessas marcas= viu uma delas. Violência epidêmica
A violência urbana é uma enfermidade contagiosa. Embora
04. (Papiloscopista Policial – Vunesp – 2013). Assinale a al- possa acometer indivíduos vulneráveis em todas as classes sociais, é
ternativa em que o pronome destacado está posicionado de acordo nos bairros pobres que ela adquire características epidêmicas.
com a norma-padrão da língua.

Didatismo e Conhecimento 54
LÍNGUA PORTUGUESA
A prevalência varia de um país para outro e entre as cidades 10. (Agente de Vigilância e Recepção – VUNESP – 2013-
de um mesmo país, mas, como regra, começa nos grandes centros adap.). No trecho, – Em ambos os casos, as câmeras dos estabele-
urbanos e se dissemina pelo interior. cimentos felizmente comprovam os acontecimentos, e testemunhas
As estratégias que as sociedades adotam para combater a vio- vão ajudar a polícia na investigação., – de acordo com a norma-
lência variam muito e a prevenção das causas evoluiu muito pou- -padrão, os pronomes que substituem, corretamente, os termos em
co no decorrer do século 20, ao contrário dos avanços ocorridos no destaque são:
campo das infecções, câncer, diabetes e outras enfermidades. A) os comprovam … ajudá-la.
A agressividade impulsiva é consequência de perturbações nos B) os comprovam …ajudar-la.
mecanismos biológicos de controle emocional. Tendências agressi- C) os comprovam … ajudar-lhe.
vas surgem em indivíduos com dificuldades adaptativas que os tor- D) lhes comprovam … ajudar-lhe.
nam despreparados para lidar com as frustrações de seus desejos. E) lhes comprovam … ajudá-la.
A violência é uma doença. Os mais vulneráveis são os que tive-
ram a personalidade formada num ambiente desfavorável ao desen- GABARITO
volvimento psicológico pleno.
A revisão de estudos científicos permite identificar três fatores
principais na formação das personalidades com maior inclinação ao 01. C 02. E 03. C 04. D 05. C
comportamento violento:
1) Crianças que apanharam, foram vítimas de abusos, humilha- 06. A 07. C 08. E 09. A 10. A
das ou desprezadas nos primeiros anos de vida.
2) Adolescentes vivendo em famílias que não lhes transmitiram COMENTÁRIOS
valores sociais altruísticos, formação moral e não lhes impuseram
limites de disciplina. 1-) Restam dúvidas sobre o crescimento verde. Primeiro, não
3) Associação com grupos de jovens portadores de comporta- está claro até onde pode realmente chegar uma política baseada em
mento antissocial. melhorar a eficiência sem preços adequados para o carbono, a água
Na periferia das cidades brasileiras vivem milhões de crianças e (na maioria dos países pobres) a terra. É verdade que mesmo que
que se enquadram nessas três condições de risco. Associados à falta a ameaça dos preços do carbono e da água faça em si diferença, as
de acesso aos recursos materiais, à desigualdade social, esses fatores companhias não podem suportar ter de pagar, de repente, diga-
de risco criam o caldo de cultura que alimenta a violência crescente mos, 40 dólares por tonelada de carbono, sem qualquer prepa-
nas cidades. ração. Portanto, elas começam a usar preços-sombra. Ainda assim,
Na falta de outra alternativa, damos à criminalidade a resposta ninguém encontrou até agora uma maneira de quantificar adequa-
do aprisionamento. Porém, seu efeito é passageiro: o criminoso fica damente os insumos básicos. E sem eles a maioria das políticas de
impedido de delinquir apenas enquanto estiver preso. Ao sair, estará crescimento verde sempre será a segunda opção.
mais pobre, terá rompido laços familiares e sociais e dificilmente
encontrará quem lhe dê emprego. Ao mesmo tempo, na prisão, terá 2-)
criado novas amizades e conexões mais sólidas com o mundo do A) ...sei tratar tipos como o senhor. − sei tratá-los
crime.
B) ...erguendo os braços desalentado... − erguendo-os desalen-
Construir cadeias custa caro; administrá-las, mais ainda. Obri-
tado
gados a optar por uma repressão policial mais ativa, aumentaremos
o número de prisioneiros. As cadeias continuarão superlotadas. C) ...que tem de conhecer as leis do país? − que tem de conhe-
Seria mais sensato investir em educação, para prevenir a crimi- cê-las ?
nalidade e tratar os que ingressaram nela. D) ...não parecia ser um importante industrial... − não parecia
Na verdade, não existe solução mágica a curto prazo. Precisa- sê-lo
mos de uma divisão de renda menos brutal, motivar os policiais a
executar sua função com dignidade, criar leis que acabem com a im- 3-) transpor [...] as matas espessas= transpô-las
punidade dos criminosos bem-sucedidos e construir cadeias novas
para substituir as velhas. 4-)
Enquanto não aprendermos a educar e oferecer medidas pre- (A) Ela não se lembrava do caminho de volta.
ventivas para que os pais evitem ter filhos que não serão capazes de (B) A menina tinha se distanciado muito da família.
criar, cabe a nós a responsabilidade de integrá-los na sociedade por (C) A garota disse que se perdeu dos pais.
meio da educação formal de bom nível, das práticas esportivas e da (E) Ninguém se comprometeu a ajudar a criança
oportunidade de desenvolvimento artístico.
(Drauzio Varella. In Folha de S.Paulo, 9 mar.2002. Adaptado) 5-)
(A) Não nos autorizam a ler os comentários sigilosos.
Considere o seguinte trecho: (B) Falaram-nos que a diplomacia americana está abalada.
Adolescentes vivendo em famílias que não lhes transmitiram (D) Conformado, rendeu-se às punições.
valores sociais altruísticos, formação moral e não lhes impuseram (E) Todos querem que se combata a corrupção.
limites de disciplina. 6-)
O pronome lhes, nas duas ocorrências, nesse trecho, refere-se, (B) O passageiro ao lado jamais se imaginou na situação de ter
respectivamente, a de procurar a dona de uma bolsa perdida.
A) adolescentes e adolescentes. (C) Sentimo-nos impotentes quando não conseguimos restituir
B) famílias e adolescentes. um objeto à pessoa que o perdeu.
C) valores sociais altruísticos e limites de disciplina. (D) O homem indignou-se quando lhe propuseram que abrisse
D) adolescentes e famílias. a bolsa que encontrara.
E) famílias e famílias.

Didatismo e Conhecimento 55
LÍNGUA PORTUGUESA
(E) Em se tratando de objetos encontrados, há uma tendência 3) Quando o sujeito é representado por expressões partitivas,
natural das pessoas em devolvê-los a seus donos. representadas por “a maioria de, a maior parte de, a metade de, uma
porção de, entre outras”, o verbo tanto pode concordar com o núcleo
7-) Há pessoas que, mesmo sem condições, compram produtos dessas expressões quanto com o substantivo que a segue: A maioria
de que não necessitam eacabam tendo de pagar tudoaprazo. dos alunos resolveu ficar. A maioria dos alunos resolveram ficar.
4) No caso de o sujeito ser representado por expressões apro-
8-) Fazalguns anos, num programa de televisão, uma jovem fa- ximativas, representadas por “cerca de, perto de”, o verbo concorda
zia referência à violência a que o brasileiro estava sujeito de forma com o substantivo determinado por elas: Cerca de vinte candidatos
cômica. se inscreveram no concurso de piadas.
5) Em casos em que o sujeito é representado pela expressão
Faz, no sentido de tempo passado = sempre no singular “mais de um”, o verbo permanece no singular: Mais de um candida-
to se inscreveu no concurso de piadas.
9-) Adolescentes vivendo em famílias que não lhes transmiti- Observação:
ram valores sociais altruísticos, formação moral e não lhes impuse- - No caso da referida expressão aparecer repetida ou associada a
ram limites de disciplina. um verbo que exprime reciprocidade, o verbo, necessariamente, de-
verá permanecer no plural: Mais de um aluno, mais de um professor
Famílias que não impuseram aos adolescentes valores sociais, contribuíram na campanha de doação de alimentos.
formação moral e limites de disciplina. Mais de um formando se abraçaram durante as solenidades de
formatura.
10-) – Em ambos os casos, as câmeras dos estabelecimentos fe- 6) Quando o sujeito for composto da expressão “um dos que”, o
lizmente comprovam os acontecimentos, e testemunhas vão ajudar verbo permanecerá no plural: Esse jogador foi um dos que atuaram
a polícia na investigação. na Copa América.
7) Em casos relativos à concordância com locuções pronomi-
felizmente os comprovam...ajudá-la nais, representadas por “algum de nós, qual de vós, quais de vós,
(advérbio) alguns de nós”, entre outras, faz-se necessário nos atermos a duas
questões básicas:
- No caso de o primeiro pronome estar expresso no plural, o
CONCORDÂNCIA VERBAL E NOMINAL verbo poderá com ele concordar, como poderá também concordar
com o pronome pessoal: Alguns de nós o receberemos. / Alguns de
nós o receberão.
- Quando o primeiro pronome da locução estiver expresso no
singular, o verbo permanecerá, também, no singular: Algum de nós
Concordância Verbal
Ao falarmos sobre a concordância verbal, estamos nos referin- o receberá.
do à relação de dependência estabelecida entre um termo e outro 8) No caso de o sujeito aparecer representado pelo pronome
mediante um contexto oracional. Desta feita, os agentes principais “quem”, o verbo permanecerá na terceira pessoa do singular ou po-
desse processo são representados pelo sujeito, que no caso funciona derá concordar com o antecedente desse pronome: Fomos nós
como subordinante; e o verbo, o qual desempenha a função de su- quem contou toda a verdade para ela. / Fomos nós quem contamos
bordinado. toda a verdade para ela.
Dessa forma, temos que a concordância verbal caracteriza-se 9) Em casos nos quais o sujeito aparece realçado pela palavra
pela adaptação do verbo, tendo em vista os quesitos “número e pes- “que”, o verbo deverá concordar com o termo que antecede essa
soa” em relação ao sujeito. Exemplificando, temos: O aluno chegou palavra: Nesta empresa somos nós que tomamos as decisões. / Em
atrasado. casa sou eu que decido tudo.
Temos que o verbo apresenta-se na terceira pessoa do singular, 10) No caso de o sujeito aparecer representado por expressões
pois faz referência a um sujeito, assim também expresso (ele). Como que indicam porcentagens, o verbo concordará com o numeral ou
poderíamos também dizer: os alunos chegaram atrasados. com o substantivo a que se refere essa porcentagem: 50% dos
Temos aí o que podemos chamar de princípio básico. Contudo, funcionários aprovaram a decisão da diretoria. / 50% do eleitorado
a intenção a que se presta o artigo em evidência é eleger as princi- apoiou a decisão.
pais ocorrências voltadas para os casos de sujeito simples e para os
de sujeito composto. Dessa forma, vejamos: Observações:
- Caso o verbo aparecer anteposto à expressão de porcentagem,
Casos referentes a sujeito simples esse deverá concordar com o numeral: Aprovaram a decisão da dire-
1) Em caso de sujeito simples, o verbo concorda com o núcleo toria 50% dos funcionários.
em número e pessoa: O aluno chegou atrasado. - Em casos relativos a 1%, o verbo permanecerá no singular:
2) Nos casos referentes a sujeito representado por substantivo 1% dos funcionários não aprovou a decisão da diretoria.
coletivo, o verbo permanece na terceira pessoa do singular: A mul- - Em casos em que o numeral estiver acompanhado de determi-
tidão, apavorada, saiu aos gritos. nantes no plural, o verbo permanecerá no plural: Os 50% dos fun-
Observação: cionários apoiaram a decisão da diretoria.
- No caso de o coletivo aparecer seguido de adjunto adnominal 11) Nos casos em que o sujeito estiver representado por prono-
no plural, o verbo permanecerá no singular ou poderá ir para o plu- mes de tratamento, o verbo deverá ser empregado na terceira pessoa
ral: Uma multidão de pessoas saiu aos gritos. do singular ou do plural: Vossas Majestades gostaram das homena-
Uma multidão de pessoas saíram aos gritos. gens. Vossa Majestade agradeceu o convite.

Didatismo e Conhecimento 56
LÍNGUA PORTUGUESA
12) Casos relativos a sujeito representado por substantivo pró- 2 - Substantivos de gêneros diferentes: vai para o plural mas-
prio no plural se encontram relacionados a alguns aspectos que os culino ou concorda com o substantivo mais próximo.
determinam: - Ela tem pai e mãe louros.
- Diante de nomes de obras no plural, seguidos do verbo ser, - Ela tem pai e mãe loura.
este permanece no singular, contanto que o predicativo também es- 3 - Adjetivo funciona como predicativo: vai obrigatoriamente
teja no singular: Memórias póstumas de Brás Cubas é uma criação para o plural.
de Machado de Assis. - O homem e o menino estavam perdidos.
- Nos casos de artigo expresso no plural, o verbo também per- - O homem e sua esposa estiveram hospedados aqui.
manece no plural: Os Estados Unidos são uma potência mundial.
b) Um adjetivo anteposto a vários substantivos
- Casos em que o artigo figura no singular ou em que ele nem
1 - Adjetivo anteposto normalmente concorda com o mais
aparece, o verbo permanece no singular: Estados Unidos é uma próximo.
potência mundial. Comi delicioso almoço e sobremesa.
Provei deliciosa fruta e suco.
Casos referentes a sujeito composto 2 - Adjetivo anteposto funcionando como predicativo: concor-
1) Nos casos relativos a sujeito composto de pessoas gramati- da com o mais próximo ou vai para o plural.
cais diferentes, o verbo deverá ir para o plural, estando relacionado Estavam feridos o pai e os filhos.
a dois pressupostos básicos: Estava ferido o pai e os filhos.
- Quando houver a 1ª pessoa, esta prevalecerá sobre as demais:
Eu, tu e ele faremos um lindo passeio. c) Um substantivo e mais de um adjetivo
- Quando houver a 2ª pessoa, o verbo poderá flexionar na 2ª ou 1- antecede todos os adjetivos com um artigo.
na 3ª pessoa: Tu e ele sois primos. Falava fluentemente a língua inglesa e a espanhola.
Tu e ele são primos. 2- coloca o substantivo no plural.
2) Nos casos em que o sujeito composto aparecer anteposto ao Falava fluentemente as línguas inglesa e espanhola.
verbo, este permanecerá no plural: O pai e seus dois filhos compa-
receram ao evento. d) Pronomes de tratamento
3) No caso em que o sujeito aparecer posposto ao verbo, este 1 - sempre concordam com a 3ª pessoa.
Vossa Santidade esteve no Brasil.
poderá concordar com o núcleo mais próximo ou permanecer no
plural: Compareceram ao evento o pai e seus dois filhos. Compare- e) Anexo, incluso, próprio, obrigado
ceu ao evento o pai e seus dois filhos. 1 - Concordam com o substantivo a que se referem.
4) Nos casos relacionados a sujeito simples, porém com mais As cartas estão anexas.
de um núcleo, o verbo deverá permanecer no singular: Meu esposo A bebida está inclusa.
e grande companheiro merece toda a felicidade do mundo. Precisamos de nomes próprios.
5) Casos relativos a sujeito composto de palavras sinônimas ou Obrigado, disse o rapaz.
ordenado por elementos em gradação, o verbo poderá permanecer
no singular ou ir para o plural: Minha vitória, minha conquista, mi- f) Um(a) e outro(a), num(a) e noutro(a)
nha premiação são frutos de meu esforço. / Minha vitória, minha 1 - Após essas expressões o substantivo fica sempre no singu-
conquista, minha premiação é fruto de meu esforço. lar e o adjetivo no plural.
Renato advogou um e outro caso fáceis.
Fonte: http://www.brasilescola.com/gramatica/concordancia- Pusemos numa e noutra bandeja rasas o peixe.
-verbal.htm
g) É bom, é necessário, é proibido
Concordância Nominal 1- Essas expressões não variam se o sujeito não vier precedido
É o ajuste que fazemos aos demais termos da oração para que de artigo ou outro determinante.
Canja é bom. / A canja é boa.
concordem em gênero e número com o substantivo. Teremos que
alterar, portanto, o artigo, o adjetivo, o numeral e o pronome. Além É necessário sua presença. / É necessária a sua presença.
disso, temos também o verbo, que se flexionará à sua maneira. É proibido entrada de pessoas não autorizadas. / A entrada
é proibida.
REGRA GERAL: O artigo, o adjetivo, o numeral e o prono-
me concordam em gênero e número com o substantivo. h) Muito, pouco, caro
- A pequena criança é uma gracinha. 1- Como adjetivos: seguem a regra geral.
- O garoto que encontrei era muito gentil e simpático. Comi muitas frutas durante a viagem.
Pouco arroz é suficiente para mim.
CASOS ESPECIAIS: Veremos alguns casos que fogem à re- Os sapatos estavam caros.
gra geral mostrada acima.
a) Um adjetivo após vários substantivos 2- Como advérbios: são invariáveis.
1 - Substantivos de mesmo gênero: adjetivo vai para o plural Comi muito durante a viagem.
ou concorda com o substantivo mais próximo. Pouco lutei, por isso perdi a batalha.
- Irmão e primo recém-chegado estiveram aqui.
Comprei caro os sapatos.
- Irmão e primo recém-chegados estiveram aqui.

Didatismo e Conhecimento 57
LÍNGUA PORTUGUESA
i) Mesmo, bastante cente, onde seu corpo não passa de um ponto obscuro, sua inte-
1- Como advérbios: invariáveis ligência pode abarcar inteira, e dela fruira silenciosa harmonia.
Preciso mesmo da sua ajuda. Atingimos assim a consciência de nossa força, e isso é uma coisa
Fiquei bastante contente com a proposta de emprego. pela qual jamais pagaríamos caro demais, porque essa consciên-
2- Como pronomes: seguem a regra geral. cia nos torna mais fortes.
Seus argumentos foram bastantes para me convencer. Mas o que eu gostaria de mostrar, antes de tudo, é a que ponto
Os mesmos argumentos que eu usei, você copiou. a astronomia facilitou a obra das outras ciências, mais diretamen-
te úteis, porque foi ela que nos proporcionou um espírito capaz de
j) Menos, alerta compreender a natureza.
1- Em todas as ocasiões são invariáveis. [Adaptado de Henri Poincaré (1854-1912). O valor da ciên-
Preciso de menos comida para perder peso. cia. Tradução Maria Helena Franco Martins. Rio de Janeiro: Con-
Estamos alerta para com suas chamadas. traponto, 1995, p.101]

k) Tal Qual Mantém-se o respeito às normas de concordância verbal


1- “Tal” concorda com o antecedente, “qual” concorda com o caso a forma do verbo grifado seja substituída pela que está entre
conseqüente. parênteses ao final da frase:
As garotas são vaidosas tais qual a tia. A) Os governos e os parlamentos devem achar que...(deve)
Os pais vieram fantasiados tais quais os filhos. B) ...porque essa consciência nos torna mais fortes.(tornam)
C) ...a astronomia é uma das ciências que custam mais caro
l) Possível ... (custa)
1- Quando vem acompanhado de “mais”, “menos”, “me- D) E tudo isso para astros que [...] jamais desempenharão
lhor” ou “pior”, acompanha o artigo que precede as expressões. qualquer papel nelas. (desempenhará)
A mais possível das alternativas é a que você expôs. E) ...é isso que se precisa dizer. (precisam)
Os melhores cargos possíveis estão neste setor da empresa.
As piores situações possíveis são encontradas nas favelas da 02. (Agente Técnico – FCC – 2013). As normas de concor-
cidade. dância verbal e nominal estão inteiramente respeitadas em:
A) Alguns dos aspectos mais desejáveis de uma boa leitura,
m) Meio que satisfaça aos leitores e seja veículo de aprimoramento intelec-
1- Como advérbio: invariável.
tual, estão na capacidade de criação do autor, mediante palavras,
Estou meio (um pouco) insegura.
sua matéria-prima.
2- Como numeral: segue a regra geral.
B) Obras que se considera clássicas na literatura sempre de-
Comi meia (metade) laranja pela manhã.
lineia novos caminhos, pois é capaz de encantar o leitor ao ultra-
n) Só
passar os limites da época em que vivem seus autores, gênios no
1- apenas, somente (advérbio): invariável.
domínio das palavras, sua matéria-prima.
Só consegui comprar uma passagem.
2- sozinho (adjetivo): variável. C) A palavra, matéria-prima de poetas e romancistas, lhe
Estiveram sós durante horas. permitem criar todo um mundo de ficção, em que personagens se
transformam em seres vivos a acompanhar os leitores, numa ver-
Questões sobre Concordância Nominal e Verbal dadeira interação com a realidade.
D) As possibilidades de comunicação entre autor e leitor so-
01. (Administrador – FCC – 2013). Leia o texto a seguir. mente se realiza plenamente caso haja afinidade de ideias entre
ambos, o que permite, ao mesmo tempo, o crescimento intelectual
Os governos e os parlamentos devem achar que a astronomia deste último e o prazer da leitura.
é uma das ciências que custam mais caro: o menor instrumento E) Consta, na literatura mundial, obras-primas que constitui
custa centenas de milhares de francos; o menor observatório custa leitura obrigatória e se tornam referências por seu conteúdo que
milhões; cada eclipse acarreta depois de si despesas suplementa- ultrapassa os limites de tempo e de época.
res. E tudo isso para astros que ficam tão distantes, que são com-
pletamente estranhos às nossas lutas eleitorais, e provavelmente 03. (Escrevente Tj SP – Vunesp/2012) Leia o texto para res-
jamais desempenharão qualquer papel nelas. É impossível que ponder à questão.
nossos homens políticos não tenham conservado um resto de idea- _________dúvidas sobre o crescimento verde. Primeiro, não
lismo, um vago instinto daquilo que é grande; realmente, creio está claro até onde pode realmente chegar uma política baseada em
que eles foram caluniados; convém encorajá-los, e lhes mostrar melhorar a eficiência sem preços adequados para o carbono, a água
que esse instinto não os engana, e que não são logrados por esse e (na maioria dos países pobres) a terra. É verdade que mesmo que
idealismo. a ameaça dos preços do carbono e da água em si ___________di-
Bem poderíamos lhes falar da navegação, cuja importância ferença, as companhias não podem suportar ter de pagar, de re-
ninguém ignora, e que tem necessidade da astronomia. Mas isso pente, digamos, 40 dólares por tonelada de carbono, sem qualquer
seria abordar a questão por seu lado menos importante. preparação. Portanto, elas começam a usar preços-sombra. Ainda
A astronomia é útil porque nos eleva acima de nós mesmos; assim, ninguém encontrou até agora uma maneira de quantificar
é útil porque é grande; é útil porque é bela; é isso que se precisa adequadamente os insumos básicos. E sem eles a maioria das polí-
dizer. É ela que nos mostra o quanto o homem é pequeno no corpo ticas de crescimento verde sempre ___________ a segunda opção.
e o quanto é grande no espírito, já que essa imensidão resplande- (CartaCapital, 27.06.2012. Adaptado)

Didatismo e Conhecimento 58
LÍNGUA PORTUGUESA
De acordo com a norma-padrão da língua portuguesa, as la- C) Se a empresa propuser um estágio no exterior, ele não
cunas do texto devem ser preenchidas, correta e respectivamente, recusará.
com: D) Se estas caixas caberem no armário, a sala ficará organi-
(A) Restam… faça… será zada.
(B) Resta… faz… será E) Se o microempresário querer, poderá fazer futuros inves-
(C) Restam… faz... serão timentos.
(D) Restam… façam… serão
(E) Resta… fazem… será 08. (Agente de Vigilância e Recepção – VUNESP – 2013).
Assinale a frase correta quanto à concordância verbal e nominal.
04 (Escrevente TJ SP – Vunesp/2012) Assinale a alternativa A) Com os shows da banda, os músicos propõem um momen-
em que o trecho – Ainda assim, ninguém encontrou até agora uma to de descontração para os passageiros.
maneira de quantificar adequadamente os insumos básicos. – está B) Por causa da paralisação, as férias dos alunos terminou
corretamente reescrito, de acordo com a norma-padrão da língua mais cedo.
portuguesa. C) Na cidade, já se esgotou as vagas nos hotéis para o período
(A) Ainda assim, temos certeza que ninguém encontrou até de Carnaval.
agora uma maneira adequada de se quantificar os insumos básicos. D) Ela próprio passou o uniforme de trabalho.
(B) Ainda assim, temos certeza de que ninguém encontrou até E) Seguem anexadas ao e-mail o cronograma do curso e o
agora uma maneira adequada de os insumos básicos ser quantifi- currículo dos inscritos.
cados.
(C) Ainda assim, temos certeza que ninguém encontrou até 09. (Agente Educacional – VUNESP – 2013). Assinale a al-
ternativa correta quanto à concordância, de acordo com a norma-
agora uma maneira adequada para que os insumos básicos sejam
-padrão da língua portuguesa.
quantificado.
A) Estudos recente demonstram a necessidade de se investir
(D) Ainda assim, temos certeza de que ninguém encontrou até
no ensino de matemática nos níveis fundamentais de aprendiza-
agora uma maneira adequada para que os insumos básicos seja
gem.
quantificado.
B) Muito concorrida, carreiras como as de advogado e de jor-
(E) Ainda assim, temos certeza de que ninguém encontrou até
nalista também requerem conhecimento matemático.
agora uma maneira adequada de se quantificarem os insumos bá-
sicos. C) A cultura científica, apesar de fundamental para muitas car-
reiras, ainda é visto com certo desprezo entre alguns estudantes.
05. (Agente de Apoio Operacional – VUNESP – 2013). As- D) Conhecimentos básicos de estatística é de fundamental im-
sinale a alternativa em que a concordância da palavra destacada portância para a compreensão de algumas informações do nosso
está de acordo com a norma culta da língua. cotidiano.
A) Ela mesmo reclamou com o gerente do mercado. E) A matemática pode ser considerada a base para algumas
B) A vendedora ficou meia atrapalhada com o excesso de das mais intrigantes especulações científicas da atualidade.
clientes na loja.
C) É proibido a entrada de animais no estabelecimento. 10. (Agente de Apoio – Microinformática – VUNESP –
D) Ela voltou para dizer obrigada ao vendedor. 2013). Leia o texto a seguir.
E) Anexo aos comprovantes de pagamento, vão duas amos-
tras grátis. O chato é um chato, mas é essencial nos negócios

06. (Agente de Apoio Socioeducativo – VUNESP – 2013). O chato é um chato. Não é o tipo de companhia que se quer
Assinale a alternativa que completa, correta e respectivamente, de para tomar um vinho ou ir ao cinema. O chato tem a insuportável
acordo com a norma-padrão da língua, as lacunas das frases, quan- mania de apontar o dedo para as coisas, enxergar os problemas que
to à concordância verbal e à colocação pronominal. não queremos ver, fazer comentários desconcertantes.
______muitos lares destroçados, mas______ pessoas boas Por isso, é pouco recomendável ter um deles por perto nos
prontas para ajudar. momentos nos quais tudo o que você não quer fazer é tomar deci-
Inteligente e informativa a reportagem que_____________ a sões. Para todos os outros – e isso envolve o dia a dia dos negócios
transformar aborrecimentos em aprendizagem. – é bom ter um desses cada vez mais raros e discriminados exem-
A) Havia ...existiam ... nos ensina plares da fauna empresarial por perto.
B) Haviam ... existia ... ensina-nos Conselho dado por alguém que entende muito de ganhar di-
C) Havia ...existia ... nos ensina nheiro, Warren Buffett, um dos homens mais ricos do mundo:
D) Haviam ... existiam ... ensina-nos “Ouça alguém que discorda de você”. No início de maio, Buffett
E) Havia ...existiam ... ensina-nos convidou um sujeito chamado Doug Kass para participar de um
dos painéis que compuseram a reunião anual de investidores de
07. (Agente de Vigilância e Recepção – VUNESP – 2013). sua empresa, a Berkshire Hathaway.
Assinale a alternativa em que o verbo foi empregado corre- Como executivo de um fundo de investimento, Kass havia
tamente. apostado contra as ações da Berkshire. Buffett queria entender o
A) Se a proprietária manter o valor do aluguel, poderemos
porquê. Kass foi o chato escolhido para alertá-lo sobre eventuais
permanecer no apartamento.
erros que ninguém havia enxergado.
B) Se os operários fazerem o acordo, a greve terminará.

Didatismo e Conhecimento 59
LÍNGUA PORTUGUESA
Buffett conhece o valor desse tipo de pessoa. O chato é o su- B) Obras que se considera clássicas na literatura sempre de-
jeito que ainda acha que as perguntas simples são o melhor ca- lineiam novos caminhos, pois são capazes de encantar o leitor ao
minho para chegar às melhores respostas, é alguém que não tem ultrapassarem os limites da época em que vivem seus autores, gê-
medo. Não se importa de ser tachado de inábil no trato com as pes- nios no domínio das palavras, sua matéria-prima.
soas ou de ser politicamente incorreto. Questiona. Coloca o dedo C) A palavra, matéria-prima de poetas e romancistas, lhes per-
na ferida. Insiste em ser um animal pensante, quando todo mundo mite criar todo um mundo de ficção, em que personagens se trans-
sabe que dá menos trabalho deixar tudo como está. formam em seres vivos a acompanhar os leitores, numa verdadeira
Quase sempre, as coisas que o chato diz fazem um tremendo interação com a realidade.
sentido. Nada pode ser mais devastador para seus críticos do que a D) As possibilidades de comunicação entre autor e leitor so-
constatação de que o chato, feitas as contas, tem razão. mente se realizam plenamente caso haja afinidade de ideias entre
Pobre do chefe que não reconhece, não escuta e não tolera ambos, o que permite, ao mesmo tempo, o crescimento intelectual
os chatos que cruzam seu caminho. Ele acredita que está seguro deste último e o prazer da leitura.
num mundo de certezas próprias, de verdades absolutas. Ora, o E) Constam, na literatura mundial, obras-primas que consti-
controle total de um negócio é uma miragem. Coisas boas e ruins tuem leitura obrigatória e se tornam referências por seu conteúdo
acontecem o tempo todo nas empresas sem que ele se dê conta. que ultrapassa os limites de tempo e de época.
Pensar que é possível estar no comando de tudo, o tempo todo, só
vai torná-lo mais vulnerável como líder. E vai, mais dia ou menos 3-)
dia, afastar definitivamente os chatos, os questionadores, aqueles _Restam___dúvidas mesmo que a ameaça dos preços do
que fazem as perguntas incômodas e necessárias. carbono e da água em si __faça __diferença a maioria das políti-
Por isso, só existem chatos em lugares onde há alguma pers- cas de crescimento verde sempre ____será_____ a segunda opção.
pectiva de futuro. Esse espécime de profissional só prolifera em
ambientes onde a liberdade de pensamento e expressão é respei- Em “a maioria de”, a concordância pode ser dupla: tanto no
tada, onde a dúvida não é um mal em si, onde existe disposição, plural quanto no singular. Nas alternativas não há “restam/faça/
coragem e humildade para mudar de trajetória quando essa parece serão”, portanto a A é que apresenta as opções adequadas.
ser a melhor opção.
(Cláudia Vassallo, http://exame.abril.com.br, 07.07.2013. 4-).
Adaptado) (A) Ainda assim, temos certeza de que ninguém encontrou até
Considere as frases: agora uma maneira adequada de se quantificar os insumos básicos.
- Kass foi o chato escolhido para alertá-lo sobre eventuais er- (B) Ainda assim, temos certeza de que ninguém encontrou até
ros que ninguém havia enxergado. agora uma maneira adequada de os insumos básicos serem quan-
- Por isso, só existem chatos em lugares onde há alguma pers- tificados.
pectiva de futuro. (C) Ainda assim, temos certeza de que ninguém encontrou até
As expressões destacadas podem ser substituídas, correta e agora uma maneira adequada para que os insumos básicos sejam
respectivamente, seguindo as regras de concordância da norma- quantificados.
-padrão da língua portuguesa, por: (D) Ainda assim, temos certeza de que ninguém encontrou até
A) não havia sido enxergado ...pode haver agora uma maneira adequada para que os insumos básicos sejam
B) não havia sido enxergados ...podem haver
quantificados.
C) não haviam sido enxergado ...pode haver
(E) Ainda assim, temos certeza de que ninguém encontrou até
D) não havia sido enxergado ...podem haver
agora uma maneira adequada de se quantificarem os insumos bá-
E) não haviam sido enxergados ...pode haver
sicos.= correta
5-)
GABARITO
A) Ela mesma reclamou com o gerente do mercado.
B) A vendedora ficou meio atrapalhada com o excesso de
01. C 02. A 03. A 04. E 05. D clientes na loja.
C) É proibida a entrada de animais no estabelecimento.
06. A 07. C 08. A 09. E 10. E D) Ela voltou para dizer obrigada ao vendedor. = correta
E) Anexas aos comprovantes de pagamento, vão duas amos-
COMENTÁRIOS tras grátis.
1-) a astronomia é uma das ciências que custam mais caro. 6-)
Nas gramáticas aborda-se sempre a expressão UM DOS QUE __Havia _muitos lares destroçados, mas__existiam__ pes-
como determinante de duas concordâncias. O verbo fica no singu- soas boas prontas para ajudar.
lar só nas poucas vezes em que a ação se refere a um só agente: Inteligente e informativa a reportagem que _nos ensina_ a
O Sol é um dos astros que dá luz e calor à Terra.
transformar aborrecimentos em aprendizagem.
2-)
Verbo haver usado no sentido de existir = impessoal, invariá-
A) Alguns dos aspectos mais desejáveis de uma boa leitura,
vel (não sofre flexão); já o verbo existir concorda com o sujeito.
que satisfaça aos leitores e seja veículo de aprimoramento intelec-
Quanto à colocação pronominal: a presença do pronome re-
tual, estão na capacidade de criação do autor, mediante palavras,
lativo (que) “atrai” o pronome oblíquo, ocorrendo, então, próclise
sua matéria-prima. = correta
(pronome antes do verbo).

Didatismo e Conhecimento 60
LÍNGUA PORTUGUESA
7-) Regência Verbal
A) Se a proprietária mantiver o valor do aluguel, poderemos Termo Regente:  VERBO
permanecer no apartamento. A regência verbal estuda a relação que se estabelece entre
B) Se os operários fizerem o acordo, a greve terminará. os verbos e os termos que os complementam (objetos diretos e
C) Se a empresa propuser um estágio no exterior, ele não objetos indiretos) ou caracterizam (adjuntos adverbiais).
recusará.=correta O estudo da regência verbal permite-nos ampliar nossa capa-
D) Se estas caixas couberem no armário, a sala ficará orga- cidade expressiva, pois oferece oportunidade de conhecermos as
nizada. diversas significações que um verbo pode assumir com a simples
E) Se o microempresário quiser, poderá fazer futuros inves- mudança ou retirada de uma preposição. Observe:
timentos. A mãe agrada o filho. -> agradar significa acariciar, contentar.
A mãe agrada ao filho. -> agradar significa “causar agrado ou pra-
8-) zer”, satisfazer.
A) Com os shows da banda, os músicos propõem um momen- Logo, conclui-se que “agradar alguém” é diferente de “agra-
to de descontração para os passageiros.= correta dar a alguém”.
B) Por causa da paralisação, as férias dos alunos terminaram
mais cedo. Saiba que:
C) Na cidade, já se esgotaram as vagas nos hotéis para o pe- O conhecimento do uso adequado das preposições é um dos
ríodo de Carnaval. aspectos fundamentais do estudo da regência verbal (e também
D) Ela própria passou o uniforme de trabalho. nominal). As preposições são capazes de modificar completamente
E) Seguem anexados ao e-mail o cronograma do curso e o o sentido do que se está sendo dito. Veja os exemplos:
currículo dos inscritos. Cheguei ao metrô.
Cheguei no metrô.
9-) No primeiro caso, o metrô é o lugar a que vou; no segundo
caso, é o meio de transporte por mim utilizado. A oração “Cheguei
A) Estudos recentes demonstram a necessidade de se investir
no metrô”, popularmente usada a fim de indicar o lugar a que se
no ensino de matemática nos níveis fundamentais de aprendiza-
vai, possui, no padrão culto da língua, sentido diferente. Aliás, é
gem.
muito comum existirem divergências entre a regência coloquial,
B) Muito concorridas, carreiras como as de advogado e de
cotidiana de alguns verbos, e a regência culta.
jornalista também requerem conhecimento matemático.
C) A cultura científica, apesar de fundamental para muitas car-
Para estudar a regência verbal, agruparemos os verbos de
reiras, ainda é vista com certo desprezo entre alguns estudantes.
acordo com sua transitividade. A transitividade, porém, não é um
D) Conhecimentos básicos de estatística são de fundamental fato absoluto: um mesmo verbo pode atuar de diferentes formas
importância para a compreensão de algumas informações do nosso em frases distintas.
cotidiano.
E) A matemática pode ser considerada a base para algumas das Verbos Intransitivos
mais intrigantes especulações científicas da atualidade. = correta Os verbos intransitivos não possuem complemento. É impor-
tante, no entanto, destacar alguns detalhes relativos aos adjuntos
10-) adverbiais que costumam acompanhá-los.
- Kass foi o chato escolhido para alertá-lo sobre eventuais a) Chegar, Ir
erros que não haviam sido enxergados. Normalmente vêm acompanhados de adjuntos adverbiais de
- Por isso, só pode haver chatos em lugares onde há alguma lugar. Na língua culta, as preposições usadas para indicar desti-
perspectiva de futuro. no ou direção são: a, para.
Fui ao teatro.
No primeiro caso, havia empregado com sentido de ter: sofre       Adjunto Adverbial de Lugar
flexão (vai para o plural concordando com o termo que o antecede Ricardo foi para a Espanha.
(erros); já no caso do haver com sentido de existir: invariável - ele                   Adjunto Adverbial de Lugar
e seu auxiliar (poder). b) Comparecer
O adjunto adverbial de lugar pode ser introduzido por em ou a.
Comparecemos ao estádio (ou no estádio) para ver o último
jogo.
REGÊNCIA VERBAL E NOMINAL
Verbos Transitivos Diretos
Os verbos transitivos diretos são complementados por objetos
diretos. Isso significa que não exigem preposição para o estabele-
cimento da relação de regência. Ao empregar esses verbos, deve-
Dá-se o nome de regência à relação de subordinação que ocorre mos lembrar que os pronomes oblíquos o, a, os, as atuam como
entre um verbo (ou um nome) e seus complementos. Ocupa-se em objetos diretos. Esses pronomes podem assumir as formas lo, los,
estabelecer relações entre as palavras, criando frases não ambíguas, la, las (após formas verbais terminadas em -r, -s ou -z) ou no, na,
nos, nas (após formas verbais terminadas em sons nasais), enquan-
que expressem efetivamente o sentido desejado, que sejam corretas
to lhe e lhes são, quando complementos verbais, objetos indiretos.
e claras.

Didatismo e Conhecimento 61
LÍNGUA PORTUGUESA
São verbos transitivos diretos, dentre outros: abandonar, Agradeço   aos ouvintes         a audiência.
abençoar, aborrecer, abraçar, acompanhar, acusar, admirar, ado-                   Objeto Indireto      Objeto Direto
rar, alegrar, ameaçar, amolar, amparar, auxiliar, castigar, con- Cristo ensina que é preciso perdoar    o pecado        ao pecador.
denar, conhecer, conservar,convidar, defender, eleger, estimar,                                                       Objeto Direto       Objeto Indireto
humilhar, namorar, ouvir, prejudicar, prezar, proteger, respeitar, Paguei      o débito        ao cobrador.
socorrer, suportar, ver, visitar.               Objeto Direto      Objeto Indireto
Na língua culta, esses verbos funcionam exatamente como o
verbo amar: - O uso dos pronomes oblíquos átonos deve ser feito com par-
Amo aquele rapaz. / Amo-o. ticular cuidado. Observe:
Amo aquela moça. / Amo-a. Agradeci o presente. / Agradeci-o.
Amam aquele rapaz. / Amam-no. Agradeço a você. / Agradeço-lhe.
Ele deve amar aquela mulher. / Ele deve amá-la. Perdoei a ofensa. / Perdoei-a.
Obs.: os pronomes lhe, lhes só acompanham esses verbos para Perdoei ao agressor. / Perdoei-lhe.
indicar posse (caso em que atuam como adjuntos adnominais). Paguei minhas contas. / Paguei-as.
Quero beijar-lhe o rosto. (= beijar seu rosto)
Paguei aos meus credores. / Paguei-lhes.
Prejudicaram-lhe a carreira. (= prejudicaram sua carreira)
Conheço-lhe o mau humor! (= conheço seu mau humor)
Informar
Verbos Transitivos Indiretos - Apresenta objeto direto ao se referir a coisas e objeto indireto 
Os verbos transitivos indiretos são complementados por ao se referir a pessoas, ou vice-versa.
objetos indiretos. Isso significa que esses verbos exigem uma pre- Informe os novos preços aos clientes.
posição para o estabelecimento da relação de regência. Os prono- Informe os clientes dos novos preços. (ou sobre os novos pre-
mes pessoais do caso oblíquo de terceira pessoa que podem atuar ços)
como objetos indiretos são o “lhe”, o “lhes”, para substituir pes- - Na utilização de pronomes como complementos,  veja as
soas. Não se utilizam os pronomes o, os, a, as como complementos construções:
de verbos transitivos indiretos. Com os objetos indiretos que não Informei-os aos clientes. / Informei-lhes os novos preços.
representam pessoas, usam-se pronomes oblíquos tônicos de ter- Informe-os dos novos preços. / Informe-os deles. (ou sobre
ceira pessoa (ele, ela) em lugar dos pronomes átonos lhe, lhes. Os eles)
verbos transitivos indiretos são os seguintes: Obs.: a mesma regência do verbo  informar é usada  para os
a) Consistir - Tem complemento introduzido pela preposi- seguintes:  avisar, certificar, notificar, cientificar, prevenir.
ção “em”.
A modernidade verdadeira consiste em direitos iguais para Comparar
todos. Quando seguido de dois objetos, esse verbo admite as preposi-
b) Obedecer e Desobedecer - Possuem seus complementos in- ções “a” ou “com” para introduzir o complemento indireto.
troduzidos pela preposição “a”. Comparei seu comportamento ao (ou com o) de uma criança.
Devemos obedecer aos nossos princípios e ideais.
Eles desobedeceram às leis do trânsito. Pedir
c) Responder - Tem complemento introduzido pela preposi- Esse verbo pede objeto direto de coisa (geralmente na forma
ção “a”. Esse verbo pede objeto indireto para indicar “a quem” ou de oração subordinada substantiva) e indireto de pessoa.
“ao que” se responde. Pedi-lhe                favores.
Respondi ao meu patrão.   Objeto Indireto   Objeto Direto
Respondemos às perguntas.                                      
Respondeu-lhe à altura. Pedi-lhe                     que mantivesse em silêncio.
Obs.: o verbo responder, apesar de transitivo indireto quando Objeto Indireto           Oração Subordinada Substantiva
exprime aquilo a que se responde, admite voz passiva analítica.                                                            Objetiva Direta
Veja:
O questionário foi respondido corretamente. Saiba que:
Todas as perguntas foram respondidas satisfatoriamente. 1) A construção  “pedir para”,  muito comum na linguagem
d) Simpatizar e Antipatizar - Possuem seus complementos in- cotidiana, deve ter emprego muito limitado na língua culta. No
troduzidos pela preposição “com”. entanto,  é considerada correta quando a palavra licença estiver
Antipatizo com aquela apresentadora. subentendida.
Simpatizo com os que condenam os políticos que governam Peço (licença) para ir entregar-lhe os catálogos em casa.
para uma minoria privilegiada. Observe que, nesse caso, a preposição “para” introduz uma
oração subordinada adverbial final reduzida de infinitivo (para ir
Verbos Transitivos Diretos e Indiretos entregar-lhe os catálogos em casa).
Os verbos transitivos diretos e indiretos são acompanhados de 2) A construção  “dizer para”,  também muito usada
um objeto direto e um indireto. Merecem destaque, nesse grupo: popularmente, é igualmente considerada incorreta.

Preferir
Agradecer, Perdoar e Pagar
Na língua culta, esse verbo deve apresentar objeto indireto in-
São verbos que apresentam objeto direto relacionado a coi-
troduzido pela preposição “a”. Por Exemplo:
sas e objeto indireto relacionado a pessoas. Veja os exemplos:

Didatismo e Conhecimento 62
LÍNGUA PORTUGUESA
Prefiro qualquer coisa  a  abrir mão de meus ideais. CHAMAR
Prefiro trem a ônibus. 1) Chamar é transitivo direto no sentido de convocar, solicitar
Obs.: na língua culta, o verbo “preferir” deve ser usado sem a atenção ou a presença de.
termos intensificadores, tais como: muito, antes, mil vezes, um mi- Por gentileza, vá chamar sua prima. / Por favor, vá chamá-la.
lhão de vezes, mais. A ênfase já é dada pelo prefixo existente no Chamei você várias vezes. / Chamei-o várias vezes.
próprio verbo (pre). 2) Chamar no sentido de denominar, apelidar pode apresentar
objeto direto e indireto, ao qual se refere predicativo preposicio-
Mudança de Transitividade versus Mudança de Significado nado ou não.
Há verbos que, de acordo com a mudança de transitividade, A torcida chamou o jogador mercenário.
apresentam mudança de significado. O conhecimento das diferentes A torcida chamou ao jogador mercenário.
regências desses verbos é um recurso linguístico muito importante, A torcida chamou o jogador de mercenário.
pois além de permitir a correta interpretação de passagens escritas, A torcida chamou ao jogador de mercenário.
oferece possibilidades expressivas a quem fala ou escreve. Dentre
os principais, estão: CUSTAR
1) Custar é intransitivo no sentido de ter determinado valor ou
preço, sendo acompanhado de adjunto adverbial.
AGRADAR
Frutas e verduras não deveriam custar muito.
1) Agradar  é transitivo direto no sentido de  fazer carinhos,
2) No sentido de ser difícil, penoso, pode ser intransitivo ou
acariciar. transitivo indireto.
Sempre agrada o filho quando o revê. / Sempre o agrada Muito custa          viver tão longe da família.
quando o revê.             Verbo   Oração Subordinada Substantiva Subjetiva 
Cláudia não perde oportunidade de agradar o gato. / Cláudia        Intransitivo                       Reduzida de Infinitivo
não perde oportunidade de agradá-lo. Custa-me (a mim) crer que tomou realmente aquela atitude.
2) Agradar é transitivo indireto no sentido de causar agrado       Objeto                 Oração Subordinada Substantiva Subjetiva 
a, satisfazer, ser agradável a.  Rege complemento introduzido pela         Indireto                                     Reduzida de Infinitivo
preposição “a”. Obs.: a Gramática Normativa condena as construções que
O cantor não agradou aos presentes. atribuem ao verbo “custar” um sujeito representado por pessoa.
O cantor não lhes agradou. Observe o exemplo abaixo:
Custei para entender o problema. 
ASPIRAR Forma correta: Custou-me entender o problema.
1) Aspirar é transitivo direto no sentido de sorver, inspirar (o
ar), inalar. IMPLICAR
Aspirava o suave aroma. (Aspirava-o) 1) Como transitivo direto, esse verbo tem dois sentidos:
2) Aspirar é transitivo indireto no sentido de desejar, ter como a) dar a entender, fazer supor, pressupor
ambição. Suas atitudes implicavam um firme propósito.
Aspirávamos a melhores condições de vida. (Aspirávamos a
b) Ter como consequência, trazer como consequência, acar-
elas) retar, provocar
Liberdade de escolha implica amadurecimento político de um
Obs.: como o objeto direto do verbo “aspirar” não é pes- povo.
soa, mas coisa, não se usam as formas pronominais átonas “lhe”
e “lhes” e sim as formas tônicas “a ele (s)”, “ a ela (s)”. Veja o 2)  Como transitivo direto e indireto, significa  comprometer,
exemplo: envolver
Aspiravam a uma existência melhor. (= Aspiravam a ela) Implicaram aquele jornalista em questões econômicas.
Obs.: no sentido de  antipatizar,  ter implicância, é transitivo
ASSISTIR indireto e rege com preposição “com”.
1) Assistir é transitivo direto no sentido de ajudar,  prestar as- Implicava com quem não trabalhasse arduamente.
sistência a, auxiliar.
Por Exemplo: PROCEDER
As empresas de saúde negam-se a assistir os idosos. 1) Proceder é intransitivo no sentido de ser decisivo, ter ca-
As empresas de saúde negam-se a assisti-los. bimento, ter fundamento ou portar-se, comportar-se, agir. Nessa
2) Assistir é transitivo indireto no sentido de ver, presenciar, segunda acepção, vem sempre acompanhado de adjunto adverbial
estar presente, caber, pertencer. de modo.
As afirmações da testemunha procediam, não havia como
Exemplos:
refutá-las.
Assistimos ao documentário.
Você procede muito mal.
Não assisti às últimas sessões. 2) Nos sentidos de ter origem, derivar-se (rege a preposição”
Essa lei assiste ao inquilino. de”) e fazer, executar (rege complemento introduzido pela prepo-
Obs.: no sentido de morar, residir, o verbo “assistir” é intran- sição “a”) é transitivo indireto.
sitivo, sendo acompanhado de adjunto adverbial de lugar introdu- O avião procede de Maceió.
zido pela preposição “em”. Procedeu-se aos exames.
Assistimos numa conturbada cidade. O delegado procederá ao inquérito.

Didatismo e Conhecimento 63
LÍNGUA PORTUGUESA
QUERER Agradável a Escasso de Parco em, de
1) Querer é transitivo direto no sentido de desejar, ter vontade
de, cobiçar. Alheio a, de Essencial a, para Passível de
Querem melhor atendimento. Análogo a Fácil de Preferível a
Queremos um país melhor.
2) Querer é transitivo indireto no sentido de ter afeição, esti- Ansioso de, para,
Fanático por Prejudicial a
mar, amar. por
Quero muito aos meus amigos. Apto a, para Favorável a Prestes a
Ele quer bem à linda menina. Ávido de Generoso com Propício a
Despede-se o filho que muito lhe quer.
Benéfico a Grato a, por Próximo a
VISAR Capaz de, para Hábil em Relacionado com
1) Como transitivo direto, apresenta os sentidos de mirar, fa-
Compatível com Habituado a Relativo a
zer pontaria e de pôr visto, rubricar.
O homem visou o alvo. Contemporâneo a, Satisfeito com, de,
Idêntico a
O gerente não quis visar o cheque. de em, por
2) No sentido de ter em vista, ter como meta, ter como objeti- Contíguo a Impróprio para Semelhante a
vo, é transitivo indireto e rege a preposição “a”.
O ensino deve sempre visar ao progresso social. Contrário a Indeciso em Sensível a
Prometeram tomar medidas que visassem ao bem-estar pú- Curioso de, por Insensível a Sito em
blico. Descontente com Liberal com Suspeito de

Regência Nominal Desejoso de Natural de Vazio de


É o nome da relação existente entre um nome (substantivo,
adjetivo ou advérbio) e os termos regidos por esse nome. Essa re- Advérbios
lação é sempre intermediada por uma preposição. No estudo da Longe de
regência nominal, é preciso levar em conta que vários nomes apre- Perto de
sentam exatamente o mesmo regime dos verbos de que derivam.
Conhecer o regime de um verbo significa, nesses casos, conhecer Obs.: os advérbios terminados em -mente tendem a seguir o
o regime dos nomes cognatos. Observe o exemplo: regime dos adjetivos de que são formados: paralela a; paralela-
Verbo obedecer e os nomes correspondentes: todos regem mente a; relativa a; relativamente a.
complementos introduzidos pela preposição “a”.Veja: Fonte: http://www.soportugues.com.br/secoes/sint/sint61.php

Obedecer a algo/ a alguém. Questões sobre Regência Nominal e Verbal


Obediente a algo/ a alguém.
Apresentamos a seguir vários nomes acompanhados da 01. (Administrador – FCC – 2013-adap.).
preposição ou preposições que os regem. Observe-os atentamente ... a que ponto a astronomia facilitou a obra das outras ciên-
e procure, sempre que possível, associar esses nomes entre si ou a cias ...
algum verbo cuja regência você conhece. O verbo que exige o mesmo tipo de complemento que o grifa-
do acima está empregado em:
Substantivos A) ...astros que ficam tão distantes ...
B) ...que a astronomia é uma das ciências ...
Admiração a, Devoção a, para, com, C) ...que nos proporcionou um espírito ...
Medo a, de
por por D) ...cuja importância ninguém ignora ...
Aversão a, E) ...onde seu corpo não passa de um ponto obscuro ...
Doutor em Obediência a
para, por
Atentado a, Dúvida acerca de, em, 02.(Agente de Apoio Administrativo – FCC – 2013-adap.).
Ojeriza a, por ... pediu ao delegado do bairro que desse um jeito nos filhos
contra sobre
do sueco.
Bacharel em Horror a Proeminência sobre O verbo que exige, no contexto, o mesmo tipo de complemen-
Capacidade de, Respeito a, com, tos que o grifado acima está empregado em:
Impaciência com
para para com, por A) ...que existe uma coisa chamada EXÉRCITO...
  B) ...como se isso aqui fosse casa da sogra?
Adjetivos C) ...compareceu em companhia da mulher à delegacia...
Acessível a Diferente de Necessário a D) Eu ensino o senhor a cumprir a lei, ali no duro...
E) O delegado apenas olhou-a espantado com o atrevimento.
Acostumado a, com Entendido em Nocivo a
Afável com, para 03.(Agente de Defensoria Pública – FCC – 2013-adap.).
Equivalente a Paralelo a ... constava simplesmente de uma vareta quebrada em partes
com
desiguais...

Didatismo e Conhecimento 64
LÍNGUA PORTUGUESA
O verbo que exige o mesmo tipo de complemento que o grifa- GABARITO
do acima está empregado em:
A) Em campos extensos, chegavam em alguns casos a extre- 01. D 02. D 03. A 04. A 05. E
mos de sutileza.
B) ...eram comumente assinalados a golpes de machado nos COMENTÁRIOS
troncos mais robustos.
C) Os toscos desenhos e os nomes estropiados desorientam, 1-) ... a que ponto a astronomia facilitou a obra das outras
não raro, quem... ciências ...
D) Koch-Grünberg viu uma dessas marcas de caminho na ser- Facilitar – verbo transitivo direto
ra de Tunuí...
E) ...em que tão bem se revelam suas afinidades com o gentio, A) ...astros que ficam tão distantes ...= verbo de ligação
mestre e colaborador... B) ...que a astronomia é uma das ciências ...= verbo de ligação
C) ...que nos proporcionou um espírito ... = verbo transitivo
04. (Agente Técnico – FCC – 2013-adap.). direto e indireto
... para lidar com as múltiplas vertentes da justiça... E) ...onde seu corpo não passa de um ponto obscuro= verbo
O verbo que exige o mesmo tipo de complemento que oda transitivo indireto
frase acima se encontra em:
A) A palavra direito, em português, vem de directum, do ver- 2-) ... pediu ao delegado do bairro que desse um jeito nos
bo latino dirigere... filhos do sueco.
B) ...o Direito tem uma complexa função de gestão das so- Pedir = verbo transitivo direto e indireto
ciedades...
C) ...o de que o Direito [...] esteja permeado e regulado pela A) ...que existe uma coisa chamada EXÉRCITO... = transi-
justiça. tivo direto
D) Essa problematicidade não afasta a força das aspirações B) ...como se isso aqui fosse casa da sogra?=verbo de ligação
da justiça... C) ...compareceu em companhia da mulher à delegacia...
E) Na dinâmica dessa tensão tem papel relevante o sentimen- =verbo intransitivo
to de justiça. E) O delegado apenas olhou-a espantado com o atrevimento.
=transitivo direto
05. Leia a tira a seguir.
3-) ... constava simplesmente de uma vareta quebrada em par-
tes desiguais...
Constar = verbo intransitivo

B) ...eram comumente assinalados a golpes de machado nos


troncos mais robustos. =ligação
C) Os toscos desenhos e os nomes estropiados desorientam,
não raro, quem... =transitivo direto
D) Koch-Grünberg viu uma dessas marcas de caminho na ser-
ra de Tunuí... = transitivo direto
E) ...em que tão bem se revelam suas afinidades com o gentio,
mestre e colaborador...=transitivo direto

4-) ... para lidar com as múltiplas vertentes da justiça...


Lidar = transitivo intransitivo

B) ...o Direito tem uma complexa função de gestão das socie-


dades... =transitivo direto
C) ...o de que o Direito [...] esteja permeado e regulado pela
justiça. =ligação
D) Essa problematicidade não afasta a força das aspirações da
Considerando as regras de regência da norma-padrão da lín- justiça... =transitivo direto e indireto
gua portuguesa, a frase do primeiro quadrinho está corretamente E) Na dinâmica dessa tensão tem papel relevante o sentimen-
reescrita, e sem alteração de sentido, em: to de justiça. =transitivo direto
A) Ter amigos ajuda contra o combate pela depressão.
B) Ter amigos ajuda o combate sob a depressão. 5-) Considerando as regras de regência da norma-padrão da
C) Ter amigos ajuda do combate com a depressão. língua portuguesa, a frase do primeiro quadrinho está corretamente
D) Ter amigos ajuda ao combate na depressão. reescrita, e sem alteração de sentido, em:
E) Ter amigos ajuda no combate à depressão. Ter amigos ajuda no combate à depressão.

Didatismo e Conhecimento 65
LÍNGUA PORTUGUESA
Refiro-me à mesma pessoa. (Refiro-me ao mesmo indivíduo.)
CRASE Informei o ocorrido  à  senhora. (Informei o ocorrido  ao  se-
nhor.)
Peça à própria Cláudia para sair mais cedo. (Peça ao pró-
prio Cláudio para sair mais cedo.)
A palavra  crase  é de origem grega e significa “fusão”,
4-) diante de numerais cardinais:
“mistura”. Na língua portuguesa, é o nome que se dá à “junção”
Chegou a duzentos o número de feridos.
de duas vogais idênticas. É de grande importância a crase da
Daqui a uma semana começa o campeonato.
preposição “a” com o artigo feminino “a” (s), com o “a” inicial
dos pronomes aquele(s), aquela (s), aquilo e com o “a” do relati-
Casos em que a crase SEMPRE ocorre:
vo a qual (as quais). Na escrita, utilizamos o acento grave ( ` ) para
1-) diante de palavras femininas:
indicar a crase. O uso apropriado do acento grave depende da com-
Amanhã iremos à festa de aniversário de minha colega.
preensão da fusão das duas vogais. É fundamental também, para
Sempre vamos à praia no verão.
o entendimento da crase, dominar a regência dos verbos e nomes
Ela disse à irmã o que havia escutado pelos corredores.
que exigem a preposição “a”. Aprender a usar a crase, portanto,
Sou grata à população.
consiste em aprender a verificar a ocorrência simultânea de uma
Fumar é prejudicial à saúde.
preposição e um artigo ou pronome. Observe:
Este aparelho é posterior à invenção do telefone.
Vou a + a igreja.
Vou à igreja.
2-) diante da palavra “moda”, com o sentido de “à moda de”
(mesmo que a expressão moda de fique subentendida):
No exemplo acima, temos a ocorrência da preposição “a”, exi-
O jogador fez um gol à (moda de) Pelé. 
gida pelo verbo ir (ir a algum lugar) e a ocorrência do artigo “a” que
Usava sapatos à (moda de) Luís XV.
está determinando o substantivo feminino igreja. Quando ocorre
Estava com vontade de comer frango à (moda de) passarinho.
esse encontro das duas vogais e elas se unem, a união delas é indi-
O menino resolveu vestir-se à (moda de) Fidel Castro.
cada pelo acento grave. Observe os outros exemplos:
Conheço a aluna.
3-) na indicação de horas:
Refiro-me à aluna.
Acordei às sete horas da manhã.
No primeiro exemplo, o verbo é transitivo direto (conhecer
Elas chegaram às dez horas.
algo ou alguém), logo não exige preposição e a crase não pode
Foram dormir à meia-noite.
ocorrer. No segundo exemplo, o verbo é transitivo indireto (refe-
rir-se a algo ou a alguém) e exige a preposição “a”. Portanto, a
4-) em locuções adverbiais, prepositivas e conjuntivas de que
crase é possível, desde que o termo seguinte seja feminino e ad-
participam palavras femininas. Por exemplo:
mita o artigo feminino “a” ou um dos pronomes já especificados.

Veja os principais casos em que a crase NÃO ocorre: à tarde às ocultas às pressas à medida que
1-) diante de substantivos masculinos: à noite às claras às escondidas à força
Andamos a cavalo.
Fomos a pé. à vontade à beça à larga à escuta
Passou a camisa a ferro. às avessas à revelia à exceção de à imitação de
Fazer o exercício a lápis. à esquerda às turras às vezes à chave
Compramos os móveis a prazo.
à direita à procura à deriva à toa
2-) diante de  verbos no infinitivo: à luz à sombra de à frente de à proporção que
A criança começou a falar. à semelhança de às ordens à beira de
Ela não tem nada a dizer.
Obs.: como os verbos não admitem artigos, o “a” dos exem- Crase diante de Nomes de Lugar
plos acima é apenas preposição, logo não ocorrerá crase.
Alguns nomes de lugar não admitem a anteposição do arti-
3-) diante da maioria dos pronomes e das expressões de trata- go “a”. Outros, entretanto, admitem o artigo, de modo que dian-
mento, com exceção das formas senhora, senhorita e dona: te deles haverá crase, desde que o termo regente exija a preposi-
Diga a ela que não estarei em casa amanhã. ção “a”. Para saber se um nome de lugar admite ou não a antepo-
Entreguei a todos os documentos necessários. sição do artigo feminino “a”, deve-se substituir o termo regente
Ele fez referência a Vossa Excelência no discurso de ontem. por um verbo que peça a preposição “de” ou “em”. A ocorrência
Peço a Vossa Senhoria que aguarde alguns minutos. da contração “da” ou “na” prova que esse nome de lugar aceita o
Os poucos casos em que ocorre crase diante dos pronomes artigo e, por isso, haverá crase. Por exemplo:
podem ser identificados pelo método: troque a palavra feminina Vou à França. (Vim da [de+a] França. Estou na [em+a] França.)
por uma masculina, caso na nova construção surgir a forma ao, Cheguei à Grécia. (Vim da Grécia. Estou na Grécia.)
ocorrerá crase. Por exemplo: Retornarei à Itália. (Vim da Itália. Estou na Itália)

Didatismo e Conhecimento 66
LÍNGUA PORTUGUESA
Vou  a  Porto Alegre. (Vim  de  Porto Alegre. Estou  em  Porto Minha revolta é ligada à do meu país.
Alegre.) Meu luto é ligado ao do meu país.
As orações são semelhantes às de antes.
-- Dica: use a regrinha “Vou A volto DA, crase HÁ; vou A Os exemplos são semelhantes aos de antes.
volto DE, crase PRA QUÊ?” Suas perguntas são superiores às dele.
Ex: Vou a Campinas.= Volto de Campinas. Seus argumentos são superiores aos dele.
Vou à praia.= Volto da praia. Sua blusa é idêntica à de minha colega.
Seu casaco é idêntico ao de minha colega.
ATENÇÃO: quando o nome de lugar estiver especificado,
ocorrerá crase. Veja: A Palavra Distância
Retornarei à São Paulo dos bandeirantes. = mesmo que, pela Se a palavra distância estiver especificada, determinada, a cra-
regrinha acima, seja a do “VOLTO DE” se deve ocorrer. Por exemplo:
Irei à Salvador de Jorge Amado. Sua casa fica à distância de 100 Km daqui. (A palavra está
determinada)
Crase diante dos Pronomes Demonstrativos Aquele (s), Todos devem ficar à distância de 50 metros do palco. (A pala-
Aquela (s), Aquilo vra está especificada.)
Haverá crase diante desses pronomes sempre que o termo re- Se a palavra  distância  não estiver especificada, a cra-
gente exigir a preposição “a”. Por exemplo: se não pode ocorrer. Por exemplo:
Os militares ficaram a distância.
Gostava de fotografar a distância.
Refiro-me a+ aquele atentado. Ensinou a distância.
Preposição Pronome Dizem que aquele médico cura a distância.
Reconheci o menino a distância.
Refiro-me àquele atentado.
Observação: por motivo de clareza, para evitar ambiguidade,
O termo regente do exemplo acima é o verbo transitivo indire- pode-se usar a crase. Veja:
to referir (referir-se a algo ou alguém) e exige preposição, portan- Gostava de fotografar à distância.
to, ocorre a crase. Observe este outro exemplo: Ensinou à distância.
Aluguei aquela casa. Dizem que aquele médico cura à distância.
O verbo “alugar” é transitivo direto (alugar algo) e não exi- Casos em que a ocorrência da crase é FACULTATIVA
ge preposição. Logo, a crase não ocorre nesse caso.Veja outros 1-) diante de nomes próprios femininos:
exemplos: Observação: é facultativo o uso da crase diante de nomes pró-
Dediquei àquela senhora todo o meu trabalho. prios femininos porque é facultativo o uso do artigo. Observe:
Quero agradecer àqueles que me socorreram. Paula é muito bonita. Laura é minha amiga.
Refiro-me àquilo que aconteceu com seu pai. A Paula é muito bonita. A Laura é minha amiga.
Não obedecerei àquele sujeito.
Assisti àquele filme três vezes. Como podemos constatar, é facultativo o uso do artigo femi-
Espero aquele rapaz. nino diante de nomes próprios femininos, então podemos escrever
Fiz aquilo que você disse. as frases abaixo das seguintes formas:
Comprei aquela caneta.
Entreguei o cartão a Paula. Entreguei o cartão a Roberto.
Crase com os Pronomes Relativos A Qual, As Quais Entreguei o
A ocorrência da crase com os pronomes relativos a qual e as Entreguei o cartão à Paula.
cartão ao Roberto.
quais depende do verbo. Se o verbo que rege esses pronomes exigir
a preposição «a», haverá crase. É possível detectar a ocorrência da 2-) diante de pronome possessivo feminino:
crase nesses casos utilizando a substituição do termo regido femi- Observação: é facultativo o uso da crase diante de pronomes
nino por um termo regido masculino. Por exemplo: possessivos femininos porque é facultativo o uso do artigo. Ob-
A igreja à qual me refiro fica no centro da cidade. serve:
O monumento ao qual me refiro fica no centro da cidade.
Minha irmã está esperando
Minha avó tem setenta anos.
Caso surja a forma ao com a troca do termo, ocorrerá a crase. por você.
Veja outros exemplos: A minha irmã está esperando
A minha avó tem setenta anos.
São normas às quais todos os alunos devem obedecer. por você.
Esta foi a conclusão à qual ele chegou.
Várias alunas às quais ele fez perguntas não souberam res- Sendo facultativo o uso do artigo feminino diante de prono-
ponder nenhuma das questões. mes possessivos femininos, então podemos escrever as frases abai-
A sessão à qual assisti estava vazia. xo das seguintes formas:

Crase com o Pronome Demonstrativo “a” Cedi o lugar a minha avó. Cedi o lugar a meu avô.
A ocorrência da crase com o pronome demonstrativo “a” tam-
bém pode ser detectada através da substituição do termo regente Cedi o lugar à minha avó. Cedi o lugar ao meu avô.
feminino por um termo regido masculino. Veja:

Didatismo e Conhecimento 67
LÍNGUA PORTUGUESA
3-) depois da preposição até: Isto apenas vem provar que a leitura é um remédio para a
solidão em que vive cada um de nós neste formigueiro. Claro que
Fui até a praia. ou Fui até à praia.
não me estou referindo a essa vulgar comunicação festiva e efer-
Acompanhe-o até a porta. ou Acompanhe-o até à porta. vescente.
A palestra vai até as cin- A palestra vai até às cinco Porque o autor escreve, antes de tudo, para expressar-se. Sua
ou comunicação com o leitor decorre unicamente daí. Por afinidades.
co horas da tarde. horas da tarde. É como, na vida, se faz um amigo.
Questões sobre Crase E o sonho do escritor, do poeta, é individualizar cada formiga
num formigueiro, cada ovelha num rebanho − para que sejamos
01.( Escrevente TJ SP – Vunesp/2012) No Brasil, as discus- humanos e não uma infinidade de xerox infinitamente reproduzi-
sões sobre drogas parecem limitar-se ______aspectos jurídicos dos uns dos outros.
ou policiais. É como se suas únicas consequências estivessem em Mas acontece que há também autores xerox, que nos invadem
legalismos, tecnicalidades e estatísticas criminais. Raro ler ____ com aqueles seus best- -sellers...
respeito envolvendo questões de saúde pública como programas Será tudo isto uma causa ou um efeito?
de esclarecimento e prevenção, de tratamento para dependentes e Tristes interrogações para se fazerem num mundo que já foi
de reintegração desses____ vida. Quantos de nós sabemos o nome civilizado.
de um médico ou clínica ____quem tentar encaminhar um drogado
da nossa própria família? (Mário Quintana. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova
(Ruy Castro, Da nossa própria família. Aguilar, 1. ed., 2005. p. 654)
Folha de S.Paulo, 17.09.2012. Adaptado)

As lacunas do texto devem ser preenchidas, correta e respec- Claro que não me estou referindo a essa vulgar comunicação
tivamente, com: festiva e efervescente.
(A) aos … à … a … a O vocábulo a deverá receber o sinal indicativo de crase se o
(B) aos … a … à … a segmento grifado for substituído por:
(C) a … a … à … à A) leitura apressada e sem profundidade.
B) cada um de nós neste formigueiro.
(D) à … à … à … à
C) exemplo de obras publicadas recentemente.
(E) a … a … a … a
D) uma comunicação festiva e virtual.
E) respeito de autores reconhecidos pelo público.
02. (Agente de Apoio Administrativo – FCC – 2013).Leia
05. (Agente de Escolta e Vigilância Penitenciária – VU-
o texto a seguir.
NESP – 2013). O Instituto Nacional de Administração Prisional
Foi por esse tempo que Rita, desconfiada e medrosa, correu
(INAP) também desenvolve atividades lúdicas de apoio______
______ cartomante para consultá-la sobre a verdadeira causa do
ressocialização do indivíduo preso, com o objetivo de prepará-lo
procedimento de Camilo. Vimos que ______ cartomante restituiu-
para o retorno______ sociedade. Dessa forma, quando em liber-
-lhe ______ confiança, e que o rapaz repreendeu-a por ter feito o
dade, ele estará capacitado______ ter uma profissão e uma vida
que fez.
digna.
(Machado de Assis. A cartomante. In: Várias histórias. Rio
(Disponível em: www.metropolitana.com.br/blog/qual_e_a_
de Janeiro: Globo, 1997, p. 6)
importancia_da_ressocializacao_de_presos. Acesso em:
Preenchem corretamente as lacunas da frase acima, na ordem
18.08.2012. Adaptado)
dada:
Assinale a alternativa que preenche, correta e respectivamen-
A) à – a – a
te, as lacunas do texto, de acordo com a norma-padrão da língua
B) a – a – à
portuguesa.
C) à – a – à
A) à … à … à
D) à – à – a
B) a … a … à
E) a – à – à
C) a … à … à
D) à … à ... a
03 “Nesta oportunidade, volto ___ referir-me ___ problemas
E) a … à … a
já expostos ___ V. Sª ___ alguns dias”.
a) à - àqueles - a - há
06. O Ministro informou que iria resistir _____ pressões con-
b) a - àqueles - a - há 
trárias _____ modificações relativas _____ aquisição da casa
c) a - aqueles - à - a 
própria.
d) à - àqueles - a - a
a) às - àquelas _ à 
e) a - aqueles - à - há
b) as - aquelas - a 
c) às àquelas - a 
04.(Agente Técnico – FCC – 2013). Leia o texto a seguir.
d) às - aquelas - à 
e) as - àquelas - à
Comunicação
O público ledor (existe mesmo!) é sensorial: quer ter um au-
07. (Agente de Escolta e Vigilância Penitenciária – VU-
tor ao vivo, em carne e osso. Quando este morre, há uma queda
NESP – 2013-adap)
de popularidade em termos de venda. Ou, quando teatrólogo, em
O acento indicativo de crase está corretamente empregado em:
termos de espetáculo. Um exemplo: G. B. Shaw. E, entre nós, o
A) Tendências agressivas começam à ser relacionadas com as
suave fantasma de Cecília Meireles recém está se materializando,
dificuldades para lidar com as frustrações de seus desejos.
tantos anos depois.

Didatismo e Conhecimento 68
LÍNGUA PORTUGUESA
B) A agressividade impulsiva deve-se à perturbações nos me- GABARITO
canismos biológicos de controle emocional.
01. B 02. A 03. B 04. A 05. D
C) A violência urbana é comparada à uma enfermidade.
D) Condições de risco aliadas à exemplo de impunidade ali- 06. A 07. E 08. B 09. D 10. C
mentam a violência crescente nas cidades.
E) Um ambiente desfavorável à formação da personalidade
atinge os mais vulneráveis. COMENTÁRIOS

08. (Agente de Vigilância e Recepção – VUNESP – 2013). O 1-)


sinal indicativo de crase está correto em: limitar-se _aos _aspectos jurídicos ou policiais.
A) Este cientista tem se dedicado à uma pesquisa na área de Raro ler __a__respeito(antes de palavra masculina não há crase)
biotecnologia. de reintegração desses_à_ vida.(reintegrar a + a vida = à)
B) Os pais não podem ser omissos e devem se dedicar à edu- o nome de um médico ou clínica __a_quem tentar encaminhar
cação dos filhos. um drogado da nossa própria família? ( antes de pronome indefi-
C) Nossa síndica dedica-se integralmente à conservar as ins-
nido/relativo)
talações do prédio.
D) O bombeiro deve dedicar sua atenção à qualquer detalhe
que envolva a segurança das pessoas. 2-) correu _à (= para a ) cartomante para consultá-la sobre
E) É função da política é dedicar-se à todo problema que com- a verdadeira causa do procedimento de Camilo. Vimos que _a__
prometa o bem-estar do cidadão. cartomante (objeto direto)restituiu-lhe ___a___ confiança (objeto
direto), e que o rapaz repreendeu-a por ter feito o que fez.
09. (Agente Educacional – VUNESP – 2013). Assinale a al-
ternativa em que a sequência da frase a seguir traz o uso correto 3-) “Nesta oportunidade, volto _a_ referir-me àqueles__ pro-
do acento indicativo de crase, de acordo com a norma-padrão da blemas já expostos a _ V. Sª _há_ alguns dias”.
língua portuguesa. - a referir = antes de verbo no infinito não há crase;
Um bom conhecimento de matemática é indispensável
- quem faz referência, faz referência A algo ou A alguém ( a
A) à todo e qualquer estudante.
B) à estudantes de nível superior. regência do verbo pede preposição)
C) à quem pretende carreiras no campo de exatas. - antes de pronome de tratamento não há crase (exceção à
D) à construção do saber nas mais diversas áreas. senhora, que admite artigo);
E) à uma boa formação profissional. - há no sentido de tempo passado.
4-) Claro que não me estou referindo à leitura apressada e
10. (Agente Técnico de Assistência à Saúde – VUNESP – sem profundidade.
2013). Leia a tirinha para responder à questão. a cada um de nós neste formigueiro. (antes de pronome in-
à construção do saber nas mais diversas áreas. definido)
a exemplo de obras publicadas recentemente. (palavra mas-
culina)
a uma comunicação festiva e virtual.(artigo indefinido)
a respeito de autores reconhecidos pelo público.(palavra mas-
culina)

5-) O Instituto Nacional de Administração Prisional (INAP)


também desenvolve atividades lúdicas de apoio___à__ ressocia-
lização do indivíduo preso, com o objetivo de prepará-lo para o
retorno___à__ sociedade. Dessa forma, quando em liberdade, ele
estará capacitado__a___ ter uma profissão e uma vida digna.
- Apoio a ? Regência nominal pede preposição;
- retorno a? regência nominal pede preposição;
- antes de verbo no infinitivo não há crase.

6-) O Ministro informou que iria resistir _às__ pressões con-


trárias àquelas_ modificações relativas __à_ aquisição da casa
própria.
- resistir a? regência verbal pede preposição;
- contrária a? regência nominal pede preposição;
As lacunas da tirinha devem ser preenchidas, correta e respec- - relativas a? regência nominal pede preposição.
tivamente, com:
7-)
A) à ...a ... à ... à
A) Tendências agressivas começam à ser relacionadas com as
B) a ...à ... à ... a dificuldades para lidar com as frustrações de seus desejos.(antes de
C) a ...a ... à ... a verbo no infinitivo não há crase)
D) a ...à ... a ... a B) A agressividade impulsiva deve-se à perturbações nos me-
E) a ...a ... à ... à canismos biológicos de controle emocional.(se o “a” está no sin-
gular e antecede palavra no plural, não há crase)

Didatismo e Conhecimento 69
LÍNGUA PORTUGUESA
C) A violência urbana é comparada à uma enfermidade. (ar-
tigo indefinido) ANOTAÇÕES
D) Condições de risco aliadas à exemplo de impunidade ali-
mentam a violência crescente nas cidades. (palavra masculina)
E) Um ambiente desfavorável à formação da personalidade
atinge os mais vulneráveis. = correta (regência nominal: desfa-
vorável a?)
—————————————————————————
8-)
A) Este cientista tem se dedicado à uma pesquisa na área de —————————————————————————
biotecnologia. (artigo indefinido)
B) Os pais não podem ser omissos e devem se dedicar à edu- —————————————————————————
cação dos filhos. = correta (regência verbal: dedicar a )
C) Nossa síndica dedica-se integralmente à conservar as insta- —————————————————————————
lações do prédio. (verbo no infinitivo)
D) O bombeiro deve dedicar sua atenção à qualquer detalhe —————————————————————————
que envolva a segurança das pessoas. (pronome indefinido)
E) É função da política é dedicar-se à todo problema que com- —————————————————————————
prometa o bem-estar do cidadão. (pronome indefinido)
—————————————————————————
9-) Um bom conhecimento de matemática é indispensável à —————————————————————————
construção do saber nas mais diversas áreas.
A) à todo e qualquer estudante. (pronome indefinido) —————————————————————————
B) à estudantes de nível superior. (“a” no singular antes de
palavra no plural) —————————————————————————
C) à quem pretende carreiras no campo de exatas. (pronome
indefinido/relativo) —————————————————————————
E) à uma boa formação profissional. (artigo indefinido)
—————————————————————————
10-) —————————————————————————
- a alguns anos - Pronome indefinido
- começar a ir - verbo no infinitivo —————————————————————————
- ir à escola - ir a algum lugar – regência verbal pede prepo-
sição —————————————————————————
- aprender a ler - verbo no infinitivo
—————————————————————————
—————————————————————————
ANOTAÇÕES
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Didatismo e Conhecimento 70
NOÇÕES DE DIREITO
NOÇÕES DE DIREITO
A) A forma de Estado: o Brasil é uma federação, isto é, o re-
Prof. Rafael José Nadim De Lazari sultado da união indissolúvel de Estados-membros, dos Municí-
pios e do Distrito Federal. Inclusive, por força do art. 60, §4º, I,
Doutorando em Direito pela Pontifícia Universidade Cató-
lica de São Paulo - PUC/SP. Mestre-bolsista (CAPES/PROSUP CF, a forma federativa de Estado é cláusula pétrea constitucional-
Modalidade 1) em Direito pelo Centro Universitário “Eurípides mente explícita.
Soares da Rocha”, de Marília/SP - UNIVEM. Advogado e consul- B) A forma de governo: O Brasil é uma república.
tor jurídico. Autor, organizador e participante de inúmeras obras
jurídicas. 1.1.2 Significado de “Estado Democrático de Direito” (art.
1º, caput, CF). Ato contínuo, o mesmo art. 1º, caput, prevê que
esta união indissolúvel dos membros da federação constitui-se
um “Estado Democrático de Direito”, Estado este que representa
2.1 CONSTITUIÇÃO FEDERAL: o resultado de uma revolução histórica, por ser o sucessor, nesta
ARTIGOS 1.º A 5.º, 37 E 144 ordem, dos Estados Liberal e Social.

1.1.3 Significado de “soberania” (art. 1º, I, CF). Significa


poder político, supremo e independente. Soberania, aqui, tem sig-
1 Princípios fundamentais (arts. 1º a 4º, CF). A seguir, há nificado de “soberania nacional”. É totalmente diferente da “sobe-
se estudar os quatro primeiros artigos da Constituição Federal, que rania popular”, de que trata o parágrafo único, do art. 1º, CF, se-
trazem os princípios fundamentais da República Federativa do gundo a qual todo poder emana do povo, que o exerce por meio de
Brasil. Para tanto, convém a análise de cada dispositivo separada- representantes eleitos ou diretamente, nos termos da Constituição.
mente, para sua melhor compreensão.
1.1.4 Significado de “cidadania” (art. 1º, II, CF). É o direito
1.1 Art. 1º, CF. Reproduzamos o dispositivo, para facilitar o de ter direitos. O cidadão, por meio da cidadania, pode contrair
entendimento do leitor: direitos e obrigações.
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união 1.1.5 Significado de “dignidade da pessoa humana” (art.
indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, cons- 1º, III, CF). A dignidade humana é o elemento mais forte que a
titui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamen-
Constituição Federal consagra a um ser humano, apesar de inde-
tos:
pender desta consagração constitucional para que o ser humano
I - a soberania;
tenha o direito à existência digna.
II - a cidadania;
Consiste a dignidade numa série de fatores que, necessaria-
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; mente devem ser observados para que o homem tenha condições
V - o pluralismo político. de sobrevivência. Não é à toa que a dignidade da pessoa humana
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce tem “status” de sobreprincípio constitucional, isto é, está acima até
por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos des- mesmo dos princípios (é o entendimento que prevalece na doutri-
ta Constituição. na).

Os “princípios fundamentais” da República Federativa do 1.1.6 Significado de “valores sociais do trabalho e da livre
Brasil estão posicionados logo no início da Constituição pátria, iniciativa” (art. 1º, IV, CF). É o reconhecimento de que adotamos
após o preâmbulo constitucional, e antes dos direitos e garantias o capitalismo (iniciativa privada), mas um “capitalismo humanis-
fundamentais. Representam as premissas especiais e majoritárias ta”, isto é, fortemente influenciado pelos valores sociais do traba-
que norteiam todo o ordenamento pátrio, como a dignidade da lho. É exatamente por isso, p. ex., que os arts. 7º e 8º, da Consti-
pessoa humana, o pluralismo político, a prevalência dos direitos tuição Federal, consagram uma série de direitos aos trabalhadores
humanos, a harmonia entre os três Poderes etc. e rurais. É exatamente por isso também, p. ex., que não se pode
Há se tomar cuidado, contudo, para eventuais “pegadinhas” impor pena de trabalhos forçados, que se considera o trabalho es-
de concurso. Se a questão perguntar “quais são os fundamentos da cravo crime, e que se exige que o trabalho deve ser justamente
República Federativa do Brasil”, há se responder aqueles previstos remunerado de acordo com sua complexidade.
no art. 1º, caput, CF. Agora, se a questão perguntar “quais são os
objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil”, há se 1.1.7 Significado de “pluralismo político” (art. 1º, V, CF).
responder aqueles previstos no art. 3º. Por fim, se a questão per- Por ser o Brasil um país cuja identidade é resultante da miscige-
guntar “quais são os princípios seguidos pelo Brasil nas relações nação étnica, religiosa, racial, ideal, o pluralismo político assegura
internacionais”, há se responder aqueles previstos no art. 4º, da Lei que todas estas nuanças sejam devidamente respeitadas, constitu-
Fundamental. am elas ou não uma maioria. É dizer, desta forma, que o pluralismo
político representa o respeito às minorias, também.
1.1.1 Significado de “República Federativa do Brasil” (art.
1º, caput, CF). Com efeito, a expressão “República Federativa do
1.2 Art. 2º, CF. Reproduzamos o dispositivo, para facilitar o
Brasil”, usada no art. 1º, caput, CF, revela, dentre outras coisas:
entendimento do leitor:

Didatismo e Conhecimento 1
NOÇÕES DE DIREITO
Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos marginalidade, e a redução das desigualdades sociais e regionais
entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. (art. 3º, III), e a promoção do bem de todos, sem preconceitos de
origem, raça, sexo, idade, cor, e quaisquer outras formas de discri-
São três os Poderes da República, a saber, o Executivo (ou minação (art. 3º, IV).
Administrativo), o Legislativo e o Judiciário, todos independentes
e harmônicos entre si. 1.3.1 Significado da expressão “construir uma sociedade
Por independência, significa que cada Poder pode realizar livre, justa e solidária” (art. 3º, I, CF). A “fraternidade” não é
seus próprios concursos, pode destinar o orçamento da maneira consagrada explicitamente na Constituição, tal como o são a “li-
que lhe convier, pode estruturar seu quadro de cargos e funcioná- berdade” e a “igualdade”, somente se lhe fazendo menção no pre-
rios livremente, pode criar ou suprimir funções, pode gastar ou su- âmbulo constitucional, quando se utiliza a expressão “sociedade
primir despesas de acordo com suas necessidades, dentre inúmeras fraterna”.
outras atribuições. Por “sociedade livre”, se entende a não submissão deste país
Por harmonia, significa que cada Poder deve respeitar a esfera a qualquer força estrangeira (tal como já foi este país colônia de
de atribuição dos outros Poderes. Assim, dentro de suas atribui- Portugal) bem como por qualquer movimento totalitário nacional
ções típicas, ao Judiciário não compete legislar (caso em que esta- (tal como já foi este país vítima do regime militar).
ria invadindo a esfera de atuação típica do Poder Legislativo), ao Por “sociedade justa” há se entender aquela que respeita e que
Executivo não compete julgar, e ao Executivo não compete editar faz ser respeitada, não permitindo atrocidades políticas, abusos
leis (repete-se: em sua esfera de atribuições típica). econômicos, ou violações à dignidade humana.
Essa harmonia, também, pode ser vista no controle que um Por fim, por “sociedade solidária” há se entender a observân-
Poder exerce sobre o outro, na conhecida “Teoria dos Freios e cia ao terceiro vetor da Revolução Francesa, a saber, a “fraternida-
Contrapesos”. de”, representativa da cooperação interna e internacional.
É óbvio que cada Poder tem suas funções atípicas (ex.: em
alguns casos o Judiciário legisla) (ex. 2: em alguns casos o Le- 1.3.2 Significado da expressão “garantir o desenvolvimen-
gislativo julga). Isso não representa óbice, todavia, que a atuação to nacional” (art. 3º, II, CF). Mais à frente se estudará a chamada
funcional de cada Poder corra de maneira independente, desde “terceira geração/dimensão” de direitos fundamentais, ligada ao
que respeitada a harmonia de cada um para com seus “Poderes- valor “fraternidade”, dentro da qual estariam, dentre outros, o di-
-irmãos”, obviamente. reito ao progresso, ao meio ambiente, e o direito de propriedade
sobre o patrimônio comum da humanidade.
1.3 Art. 3º, CF. Reproduzamos o dispositivo, para facilitar o Este “desenvolvimento nacional” deve ser entendido em sen-
entendimento do leitor: tido amplo, isto é, para mais que um simples progresso econômi-
co. Engloba, também, o desenvolvimento político, social, cultural,
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Fe- ideal, dentre tantos outros.
derativa do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; 1.3.3 Significado da expressão “erradicar a pobreza e a
II - garantir o desenvolvimento nacional; marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais”
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desi- (art. 3º, III, CF). Trata-se de desdobramento da garantia do desen-
gualdades sociais e regionais; volvimento nacional do art. 3º, II, CF.
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, O Brasil é uma nação de diferenças socioeconômicas gritan-
raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. tes no que atine à sua população, com a majoritária concentração
de riqueza nas mãos de poucos. Sendo assim, como um processo
Logo no início do estudo dos “princípios fundamentais”, lo- osmótico, do meio mais para o menos concentrado, é preciso que
calizados entre os arts. 1º e 4º, da Constituição, foi dito que os parte dessa riqueza seja transferida aos grupos populacionais mais
“fundamentos da República Federativa do Brasil” não são a mes- carentes.
ma coisa que os “objetivos fundamentais da República Federativa Veja-se que, neste aspecto, o texto constitucional foi feliz em
do Brasil”. seu texto: é preciso “erradicar” a pobreza e a marginalização, mas
Melhor explica-se: por “fundamentos” entende-se aquelas si- “reduzir” as desigualdades sociais e regionais. Ora, bem sabem to-
tuações que já são inerentes ao sistema constitucional pátrio. A dos que sempre haverá discrepâncias sociais e regionais (a concen-
dignidade da pessoa humana, p. ex., não é um objetivo a ser al- tração da produção industrial, p. ex., obviamente se concentra em
cançado num futuro próximo, mas uma exigência prevista para o sua maior parte na região sudeste e em menor parte na região norte
presente. Já os “objetivos fundamentais” são as premissas a que o do país). O que se deve é, apenas, atenuar estas desigualdades.
Brasil se compromete a alcançar o quanto antes em prol da conso- Já a pobreza “é pobreza em qualquer lugar” (com o perdão da
lidação da sua democracia. licença poética), e, portanto, deve ser extirpada deste país.
Graças a este art. 3º, pode-se falar que o Brasil vive à égide de
uma Constituição compromissária, dirigente. O art. 3º nos revela 1.3.4 Significado da expressão “promover o bem de todos,
que temos um caminho a ser percorrido. O art. 3º é a busca pela sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
concretização dos princípios fundamentais do art. 1º. outras formas de discriminação” (art. 3º, IV, CF). Eis o reco-
E, como objetivos fundamentais, se elenca a construção de nhecimento do “pluralismo” como elemento norteador da nação
uma sociedade livre, justa e solidária (art. 3º, I), a garantia do de- (o “pluralismo”, como já dito outrora, é muito mais que o simples
senvolvimento nacional (art. 3º, II), a erradicação da pobreza e da conceito de “democracia”).

Didatismo e Conhecimento 2
NOÇÕES DE DIREITO
A promoção do bem de todos deve ser feita sem qualquer di- de conquistas” nem as “guerras preventivas”, tal como é praxe na
ferenciação quanto às posições políticas, religiosas, étnicas, ideais, cultura norte-americana, mas só as “guerras defensivas”, isto é, as
e sociais. guerras de proteção ao território e ao povo brasileiro, ainda que,
para isso, precise lutar fora do espaço territorial pátrio. Em outras
1.4 Art. 4º, CF. Reproduzamos o dispositivo, para facilitar o palavras, “guerra defensiva” não significa esperar ser invadido,
entendimento do leitor: como erroneamente se possa pensar.
Para a solução dos conflitos, busca-se a arbitragem internacio-
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas rela- nal, os acordos internacionais, a mediação, o auxílio das Nações
ções internacionais pelos seguintes princípios:
Unidas etc. O belicismo só deve ser utilizado em último caso.
I - independência nacional;
II - prevalência dos direitos humanos;
III - autodeterminação dos povos; 1.4.5 Significado de “igualdade entre os Estados” (art. 4º,
IV - não intervenção; V, CF). Trata-se de princípio autoexplicativo. O Brasil não reco-
V - igualdade entre os Estados; nhece a existência de Estados “maiores” ou “melhores” que os ou-
VI - defesa da paz; tros tão-somente por seu poderio bélico, econômico, cultural etc.
VII - solução pacífica dos conflitos; Sendo iguais todas as nações, todas podem proteger-se e ser pro-
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo; tegidas contra ameaças estrangeiras, tal como o Brasil se autoriza
IX - cooperação entre os povos para o progresso da humani- a fazer.
dade;
X - concessão de asilo político. 1.4.6 Significado de “solução pacífica dos conflitos” (art.
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará 4º, VII, CF). Trata-se de desdobramento dos princípios da “não
a integração econômica, política, social e cultural dos povos da intervenção” e da “defesa da paz” já estudados. Para a solução dos
América Latina, visando à formação de uma comunidade latino- conflitos, busca-se a arbitragem internacional, os acordos interna-
-americana de nações.
cionais, a mediação, o auxílio das Nações Unidas etc. O belicismo
O art. 4º é a revelação de que vivemos em um “Estado Cons- só deve ser utilizado em último caso.
titucional Cooperativo”, expressão esta utilizada por Peter Häber-
le, defensor de uma concepção culturalista de Constituição. Por 1.4.7 Significado de “repúdio ao terrorismo e ao racismo”
“Estado Constitucional Cooperativo” se entende um Estado que se (art. 4º, VIII, CF). “Repúdio” tem significado de repulsa, contra-
disponibiliza para outros Estados, que se abre para outros Estados, riedade. “Racismo” é um termo amplo para designar qualquer tipo
mas que exige algum grau de reciprocidade em troca, a bem do de- de discriminação, seja ela de raça ou não.
senvolvimento de um constitucionalismo mundial, ou, ao menos, O Brasil não tem uma tipificação específica para crimes de
ocidental. terrorismo, como o tem para os crimes de racismo. A “Lei de Se-
gurança Nacional” (Lei nº 7.170/83) apenas fala em “atos de terro-
1.4.1 Significado de “independência nacional” (art. 4º, I, rismo” em seu art. 20, sem especificar, contudo, o que seriam estes
CF). É a consequência da “soberania nacional”, constante do art. atos e como puni-los. Por tratar-se de conceito indeterminado, há
1º, I, CF. Afinal, é graças à independência deste país que se autori- se defender que, hoje, o Brasil não pune de forma autônoma o
za a chamá-lo de nação soberana.
crime de terrorismo.
1.4.2 Significado de “prevalência dos direitos humanos”
(art. 4º, II, CF). Os direitos humanos são proteções jurídicas ne- 1.4.8 Significado de “cooperação entre os povos para o
cessárias à concretização da dignidade da pessoa humana. progresso da humanidade” (art. 4º, IX, CF). Um bom exemplo
Em verdade, os direitos fundamentais nada mais são que os da aplicação deste princípio está no parágrafo único, do art. 4º, da
direitos humanos internalizados em Constituições. Constituição Federal, segundo o qual a República Federativa do
Desta forma, tal como os direitos fundamentais devem pre- Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural
valecer no plano interno, também os direitos humanos devem ser dos povos da América Latina, visando à formação de uma comu-
a tônica no plano internacional. Disso infere-se que tanto faria ao nidade latino-americana de nações. Tal objetivo acabou sendo em
constituinte ter consagrado, neste art. 4º, II, CF, a “prevalência dos parte alcançado com a criação do MERCOSUL, ainda não total-
direitos humanos” (como o fez) ou a “prevalência dos direitos fun- mente implementado.
damentais”. O resultado pretendido é o mesmo. Essa ideia de cooperação entre os povos remonta a uma pro-
posta defendida pelo globalismo, de formação de blocos econô-
1.4.3 Significado de “autodeterminação dos povos” (art.
mico-políticos de desenvolvimento recíproco. Some-se a isso o
4º, III, CF). Esse princípio é um “recado” às demais nações. Por
fato de que, o art. 4º, IX, CF, em sua parte final, faz menção ao
tal, o Brasil afirma que não aceita nem adota a prática de que um
povo seja submetido/subordinado a outro. Todos têm direito a um “progresso da humanidade”, o qual é considerado um direito fun-
Estado, para que possam geri-lo, autonomamente, da maneira que damental de terceira dimensão/geração, aliado ao valor “fraterni-
melhor lhes convier. dade”, na abrasileirada classificação de Paulo Bonavides.
Assim, unindo a ideia de fraternidade à de criação de grupos
1.4.4 Significado de “não intervenção” e “defesa da paz” de países (como o MERCOSUL, como a União Europeia etc.),
(art. 4º, IV e VI, CF). A República Federativa do Brasil é um Es- forma-se o princípio de cooperação entre os povos para o progres-
tado não beligerante. Não é uma tendência deste país as “guerras so de cada país e da humanidade.

Didatismo e Conhecimento 3
NOÇÕES DE DIREITO
1.4.9 Significado de “concessão de asilo político” (art. 4º, XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de
X, CF). “Asilo político” é a proteção que um Estado dá a nacionais paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, per-
de outros Estados que estiverem sofrendo perseguições políticas manecer ou dele sair com seus bens;
em razão de sua ideologia, crença, etnia etc. O Estatuto do Estran- XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em
geiro (Lei nº 6.815/80) regula a condição do asilado. Em seu art. locais abertos ao público, independentemente de autorização, des-
28, se afirma que o estrangeiro admitido no território nacional na de que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para
condição de asilado político ficará sujeito, além dos deveres que o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade
lhe forem impostos pelo direito internacional, a cumprir as dispo- competente;
sições da legislação vigente e as que o Governo brasileiro lhe fixar. XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, ve-
dada a de caráter paramilitar;
2 Direitos e deveres individuais e coletivos (art. 5º, CF). A XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de coo-
seguir, das quatro espécies de direitos e garantias fundamentais perativas independem de autorização, sendo vedada a interferência
previstas na Constituição Federal (direitos e deveres individuais estatal em seu funcionamento;
e coletivos, direitos sociais, direitos da nacionalidade, e direitos XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente dissol-
políticos), o edital em lume somente sobre a primeira espécie, ex- vidas ou ter suas atividades suspensas por decisão judicial, exigin-
pressamente prevista no art. 5º, CF, dispositivo o qual convém a do-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado;
XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a per-
seguir reproduzir:
manecer associado;
XXI - as entidades associativas, quando expressamente auto-
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qual-
rizadas, têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou
quer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros re- extrajudicialmente;
sidentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à XXII - é garantido o direito de propriedade;
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação
termos desta Constituição; por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, me-
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma diante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos
coisa senão em virtude de lei; previstos nesta Constituição;
III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desu- XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade com-
mano ou degradante; petente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao pro-
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o prietário indenização ulterior, se houver dano;
anonimato; XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em lei,
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, desde que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para
além da indenização por dano material, moral ou à imagem; pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dis-
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo pondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento;
assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização,
forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias; publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdei-
VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistên- ros pelo tempo que a lei fixar;
cia religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva; XXVIII - são assegurados, nos termos da lei:
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e
religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar à reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades
para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a desportivas;
cumprir prestação alternativa, fixada em lei; b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, cien- obras que criarem ou de que participarem aos criadores, aos in-
térpretes e às respectivas representações sindicais e associativas;
tífica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;
XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos industriais
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a
privilégio temporário para sua utilização, bem como proteção às
imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano
criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de em-
material ou moral decorrente de sua violação; presas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse so-
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela po- cial e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País;
dendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de XXX - é garantido o direito de herança;
flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros situados no País
dia, por determinação judicial; será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos
XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunica- filhos brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável a lei
ções telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, pessoal do “de cujus”;
no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do
a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução consumidor;
processual penal; XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos in-
XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profis- formações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou
são, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer; geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de respon-
XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguar- sabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à
dado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional; segurança da sociedade e do Estado;

Didatismo e Conhecimento 4
NOÇÕES DE DIREITO
XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pa- LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado,
gamento de taxas: em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de
a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de di- comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e
reitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder; drogas afins, na forma da lei;
b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defe- LII - não será concedida extradição de estrangeiro por crime
sa de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal; político ou de opinião;
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela
lesão ou ameaça a direito; autoridade competente;
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurí- LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem
dico perfeito e a coisa julgada; o devido processo legal;
XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção; LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo,
XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organi- e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla
zação que lhe der a lei, assegurados: defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por
a) a plenitude de defesa;
meios ilícitos;
b) o sigilo das votações;
LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em
c) a soberania dos veredictos;
julgado de sentença penal condenatória;
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra LVIII - o civilmente identificado não será submetido à identi-
a vida; ficação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei;
XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação pública,
sem prévia cominação legal; se esta não for intentada no prazo legal;
XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu; LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processu-
XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos di- ais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem;
reitos e liberdades fundamentais; LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por
XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e im- ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competen-
prescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei; te, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente
XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis militar, definidos em lei;
de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entor- LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre
pecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes serão comunicados imediatamente ao juiz competente e à família
hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os do preso ou à pessoa por ele indicada;
que, podendo evitá-los, se omitirem; LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais
XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da fa-
grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional mília e de advogado;
e o Estado Democrático; LXIV - o preso tem direito à identificação dos responsáveis
XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, poden- por sua prisão ou por seu interrogatório policial;
do a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela auto-
bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles ridade judiciária;
executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido; LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando
XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança;
entre outras, as seguintes: LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do respon-
a) privação ou restrição da liberdade; sável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação
alimentícia e a do depositário infiel;
b) perda de bens;
LXVIII - conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém so-
c) multa;
frer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua
d) prestação social alternativa;
liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder;
e) suspensão ou interdição de direitos; LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger
XLVII - não haverá penas: direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for
art. 84, XIX; autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de
b) de caráter perpétuo; atribuições do Poder Público;
c) de trabalhos forçados; LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado
d) de banimento; por:
e) cruéis; a) partido político com representação no Congresso Nacional;
XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, b) organização sindical, entidade de classe ou associação le-
de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado; galmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano,
XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física em defesa dos interesses de seus membros ou associados;
e moral; LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a
L - às presidiárias serão asseguradas condições para que pos- falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos di-
sam permanecer com seus filhos durante o período de amamenta- reitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à
ção; nacionalidade, à soberania e à cidadania;

Didatismo e Conhecimento 5
NOÇÕES DE DIREITO
LXXII - conceder-se-á habeas data: B) Algumas questões práticas sobre o direito à vida. Como
a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à fica o caso das Testemunhas de Jeová, que não admitem receber
pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados transfusão de sangue? Como fica a questão do conflito entre o di-
de entidades governamentais ou de caráter público; reito à vida e a liberdade religiosa? O entendimento prevalente é o
b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo de que o direito à vida deve prevalecer sobre a liberdade religiosa.
por processo sigiloso, judicial ou administrativo; E o caso da eutanásia/ortotanásia? São escassas as decisões
LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação judiciais admitindo o “direito de morrer”, condicionando isso ao
popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de elevado grau de sofrimento de quem pede, bem como a impossibi-
entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, lidade de recuperação deste. Há se lembrar que, tal como o direito
ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o de permanecer vivo, o direito à vida também engloba o direito de
autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus viver com dignidade, e conviver com o sofrimento físico é um
da sucumbência; profundo golpe a esta dignidade do agente.
LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gra- E a legalização do aborto? Também há grande celeuma em
tuita aos que comprovarem insuficiência de recursos; torno da questão. Quem se põe favoravelmente ao aborto o faz
LXXV - o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, com base no direito à privacidade e à intimidade, de modo que não
assim como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença; caberia ao Estado obrigar uma pessoa a ter seu filho. Quem se põe
LXXVI - são gratuitos para os reconhecidamente pobres, na de maneira contrária ao aborto, contudo, o faz com base na vida do
forma da lei: feto que se está dando fim com o procedimento abortivo.
a) o registro civil de nascimento; E a hipótese de fetos anencéfalos? O Supremo Tribunal Fe-
b) a certidão de óbito; deral decidiu pela possibilidade de extirpação do feto anencefá-
LXXVII - são gratuitas as ações de habeas corpus e habeas lico do ventre materno, sem que isso configure o crime de aborto
data, e, na forma da lei, os atos necessários ao exercício da cida- previsto no Código Penal. Isto posto, em entendendo que o feto
dania; anencefálico tem vida, agora são três as hipóteses de aborto: em
LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são caso de estupro, em caso de risco à vida da gestante, e em caso de
assegurados a razoável duração do processo e os meios que garan- feto anencefálico. Por outro lado, em entendendo que o feto anen-
cefálico não tem vida, não haverá crime de aborto por se tratar de
tam a celeridade de sua tramitação.
crime impossível, afinal, para que haja o delito é necessário que o
§1º. As normas definidoras dos direitos e garantias fundamen-
feto esteja vivo. De toda maneira, qualquer que seja o entendimen-
tais têm aplicação imediata.
to adotado, agora é possível tal hipótese, independentemente de
§2º. Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não
autorização judicial.
excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela ado-
tados, ou dos tratados internacionais em que a República Federati-
2.2 Direito à liberdade. O direito à liberdade, consagrado no
va do Brasil seja parte.
caput do art. 5º, CF, é genericamente previsto no segundo inciso
§3º. Os tratados e convenções internacionais sobre direitos do mesmo artigo, quando se afirma que ninguém será obrigado a
humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Na- fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei. Tal
cional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos dispositivo representa a consagração da autonomia privada.
membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. Trata-se a liberdade, contudo, de direito amplíssimo, por
§4º. O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Inter- compreender, dentre outros, a liberdade de opinião, a liberdade de
nacional a cuja criação tenha manifestado adesão. pensamento, a liberdade de locomoção, a liberdade de consciência
e crença, a liberdade de reunião, a liberdade de associação, e a
2.1 Direito à vida. O art. 5º, caput, da Constituição Federal, liberdade de expressão.
dispõe que o direito à vida é inviolável. Dividamos em subtópicos: Dividamos em subtópicos:
A) Acepções do direito à vida. São duas as acepções deste A) Liberdade de consciência, de crença e de culto. O art. 5º,
direito à vida, a saber, o direito de permanecer vivo (ex.: o Brasil VI, da Constituição Federal, prevê que é inviolável a liberdade de
veda a pena de morte, salvo em caso de guerra declarada pelo Pre- consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos
sidente da República em resposta à agressão estrangeira, conforme cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais
o art. 5º, XLVII, “a” c.c. art. 84, XIX, CF), e o direito de viver com de culto e a suas liturgias. Ademais, o inciso VIII, do art. 5º, dispõe
dignidade (ex.: conforme o art. 5º, III, CF, ninguém será subme- que é assegurada, nos termos de lei, a prestação de assistência reli-
tido à tortura nem a tratamento desumano ou degradante) (ex. 2: giosa nas entidades civis e militares de internação coletiva.
consoante o art. 5º, XLV, CF, nenhuma pena passará da pessoa do Há se ressaltar, preliminarmente, que a “consciência” é mais
condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação algo amplo que “crença”. A “crença” tem aspecto essencialmente
do perdimento de bens ser, nos termos de lei, estendidas aos suces- religioso, enquanto a “consciência” abrange até mesmo a ausência
sores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio de uma crença.
transferido) (ex. 3: são absolutamente vedadas neste ordenamento Isto posto, o “culto” é a forma de exteriorização da crença.
constitucional penas de caráter perpétuo, de banimento, cruéis, e O culto se realiza em templos ou em locais públicos (desde que
de trabalhos forçados) (ex. 4: a pena será cumprida em estabeleci- atenda à ordem pública e não desrespeite terceiros).
mentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o O Brasil não adota qualquer religião oficial, como a República
sexo do apenado, conforme o inciso XLVIII, do art. 5º, CF) (ex. 5: Islâmica do Irã, p. ex. Em outros tempos, o Brasil já foi uma nação
pelo art. 5º, XLIX, é assegurado aos presos o respeito à integridade oficialmente católica. Com a Lei Fundamental de 1988, o seu art.
física e moral); 19 vedou o estabelecimento de religiões oficiais pelo Estado.

Didatismo e Conhecimento 6
NOÇÕES DE DIREITO
O que é a “escusa de consciência”? Está prevista no art. 5º, tizados; das atividades artísticas, que representam o incentivo à
VIII, da Constituição, segundo o qual ninguém será privado de cena cultural, sem que músicas, livros, obras de arte e espetáculos
direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica teatrais, por exemplo, sejam objeto de censura prévia, como houve
ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a no passado recente do país; das atividades científicas, aqui enten-
todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa fixada didas como o direito à pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico;
em lei. e da comunicação, termo abrangente, se considerada a imprensa, a
Enfim, a escusa de consciência representa a possibilidade que televisão, o rádio, a telefonia, a internet, a transferência de dados
a pessoa tem de alegar algum imperativo filosófico/religioso/polí- etc.;
tico para se eximir de alguma obrigação, cumprindo, em contra- F) Liberdade de informação. É assegurado a todos o acesso à
partida, uma prestação alternativa fixada em lei. informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao
A prestação alternativa não tem qualquer cunho sancionatório. exercício profissional (art. 5º, XIV, CF).
É apenas uma forma de se respeitar a convicção de alguém. Tal liberdade engloba tanto o direito de informar (prerrogativa
E se não houver prestação alternativa fixada em lei, fica in- de transmitir informações pelos meios de comunicação), como o
direito de ser informado.
viabilizada a escusa de consciência? Não, a possibilidade é ampla.
Vale lembrar, inclusive, que conforme o art. 5º, XXXIII, da
Mesmo se a lei não existir, a pessoa poderá alegar o imperativo
Constituição, todos têm direito a receber dos órgãos públicos in-
de consciência, independentemente de qualquer contraprestação.
formações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou
E se a pessoa se recusa a cumprir, também, a prestação alter- geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de respon-
nativa? Ficará com seus direitos políticos suspensos (há quem diga sabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à
que seja hipótese de perda dos direitos políticos, na verdade), por segurança da sociedade e do Estado;
força do que prevê o art. 15, IV, da Constituição Federal. G) Liberdade de reunião e de associação. Pelo art. 5º, XVI,
B) Liberdade de locomoção. Consoante o inciso XV, do art. CF, todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais
5º, da Lei Fundamental, é livre a locomoção no território nacional abertos ao público, independentemente de autorização, desde que
em tempos de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos de lei não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mes-
(essa lei é a de nº 6.815 - Estatuto do Estrangeiro), nele entrar, mo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade compe-
permanecer ou dele sair com seus bens. tente. Eis a liberdade de reunião.
Isso nada mais representa que a “liberdade de ir e vir”; Já pelo art. 5º, XVII, CF, é plena a liberdade de associação
C) Liberdade da manifestação do pensamento. Conforme o para fins lícitos, sendo vedado que associações tenham caráter pa-
art. 5º, IV, da Constituição pátria, é livre a manifestação do pensa- ramilitar. Eis a liberdade de associação.
mento, sendo vedado o anonimato. Por outro lado, o inciso subse- O que diferencia a “reunião” da “associação”, basicamente, é
quente a este assegura o direito de resposta, proporcional ao agra- o espaço temporal em que existem. As reuniões são temporárias,
vo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem. para fins específicos (ex.: protesto contra a legalização das drogas).
Veja-se, pois, que a Constituição protege a “manifestação” do Já as associações são permanentes, ou, ao menos, duram por mais
pensamento, isto é, sua exteriorização, já que o “pensamento em tempo que as reuniões (ex.: associação dos plantadores de tomate).
si” já é livre por sua própria natureza de atributo inerente ao ho- Ademais, a criação de associações independe de lei, sendo ve-
mem. dada a interferência estatal em seu funcionamento (art. 5º, XVIII,
Ademais, a vedação ao anonimato existe justamente para per- CF). As associações poderão ter suas atividades suspensas (para
mitir a responsabilização quando houver uma manifestação abusi- isso não se exige decisão judicial transitada em julgado), ou pode-
va do pensamento; rão ser dissolvidas (para isso se exige decisão judicial transitada
D) Liberdade de profissão. É livre o exercício de qualquer tra- em julgado) (art. 5º, XIX, CF). Ninguém poderá ser compelido
balho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais a associar-se ou manter-se associado, contudo (art. 5º, XX, CF).
Também, o art. 5º, XXI, da CF, estabelece a possibilidade de
que a lei estabelecer (art. 5º, XIII, CF).
representação processual dos associados pelas entidades associati-
Trata-se de norma constitucional de eficácia contida, seguindo
vas. Trata-se de verdadeira representação processual (não é substi-
a tradicional classificação de José Afonso da Silva, pois o exer-
tuição), que depende de autorização expressão dos associados nes-
cício de qualquer trabalho é livre embora a lei possa estabelecer se sentido, que pode ser dada em assembleia ou mediante previsão
restrições. É o caso do exercício da advocacia, p. ex., condicionado genérica no Estatuto.
à prévia composição dos quadros da Ordem dos Advogados do
Brasil por meio de exame de admissão. 2.3 Direito à igualdade. Um dos mais importantes direitos
Tal liberdade representa tanto o exercício de qualquer profis- fundamentais, convém dividi-lo em subtópicos para melhor aná-
são como a escolha de qualquer profissão; lise:
E) Liberdade de expressão. Trata-se de liberdade amplíssima. A) Igualdade formal e material. A igualdade deve ser anali-
Conforme o nono inciso, do art. 5º, da Lei Fundamental, é livre a sada tanto em seu prisma formal, como em seu enfoque material.
expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comu- Sob enfoque formal, a igualdade consiste em tratar a todos
nicação, independentemente de censura ou licença. igualmente (ex.: para os maiores de dezesseis anos e menores de
Tal dispositivo é a consagração do direito à manifestação do dezoito anos, o voto é facultativo. Todos que se situam nesta faixa
pensamento, ao estabelecer meios que deem efetividade a tal direi- etária têm o direito ao voto, embora ele seja facultativo).
to, afinal, o rol exemplificativo de meios de expressão previstos no Ademais, neste enfoque formal, a igualdade pode ser na lei
mencionado inciso trata das atividades intelectuais, melhor com- (normas jurídicas não podem fazer distinções que não sejam auto-
preendidas como o direito à elaboração de raciocínios independen- rizadas pela Constituição), bem como perante a lei (a lei deve ser
tes de modelos preexistentes, impostos ou negativamente dogma- aplicada igualmente a todos, mesmo que isso crie desigualdade).

Didatismo e Conhecimento 7
NOÇÕES DE DIREITO
Já sob enfoque material, a igualdade consiste em tratar de for- gurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano (art. 5º,
ma desigual os desiguais (ex: o voto é facultativo para os analfabe- XXV, CF); e no caso de vigência de estado de sítio, decretado em
tos. Todavia, os analfabetos não podem ser votados. A alfabetiza- caso de comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência de
ção é uma condição de elegibilidade. Significa que, se o indivíduo fatos que comprovem a ineficácia da medida tomada durante o es-
souber ler e escrever, poderá ser votado. Se não, há óbice constitu- tado de defesa, é possível a requisição de bens (art. 139, VII, CF).
cional a que ocupe cargo eletivo); Na requisição civil não há transferência de propriedade. Há
B) Igualdade de gênero. A CF é expressa, em seu art. 5º, I: apenas uso ou ocupação temporários da propriedade particular.
homens e mulheres são iguais nos termos da Constituição Federal. Trata-se de ocupação emergencial, de modo que só caberá indeni-
Isso significa que a CF pode fixar distinções, como o faz quan- zação posterior, e, ainda, se houver dano.
to aos requisitos para aposentadoria, quanto à licença-gestante, e A requisição militar também é emergencial. Também só have-
quanto ao serviço militar obrigatório apenas para os indivíduos do rá indenização posterior, diante de dano;
sexo masculino, p. ex. Quanto à legislação infraconstitucional, é D) Desapropriação da propriedade. Prevista no art. 5º, XXIV,
possível fixar distinções, desde que isso seja feito em consonân- da CF, é cabível em três casos: necessidade pública; utilidade pú-
cia com a Constituição Federal, isto é, sem excedê-la ou for-lhe blica; e interesse social.
insuficiente. Na desapropriação, dá-se retirada compulsória da propriedade
do particular.
2.4 Direito à segurança. A segurança é tratada tanto no caput Se em razão de interesse social, exige-se indenização em di-
do art. 5º, como no caput do art. 6º, ambos da Constituição Federal. nheiro justa e prévia, como regra geral.
No caput do art. 6º, se refere à segurança pública, que será E, nos casos de necessidade e utilidade pública, o particular
estudada quando da análise dos direitos sociais. A segurança a que não tem culpa alguma. Trata-se, meramente, de situação de pre-
se refere o caput do art. 5º é a segurança jurídica, que impõe aos valência do interesse público sobre o interesse privado. A inde-
Poderes públicos o respeito à estabilidade das relações jurídicas já nização, como regra geral, também deve ser prévia, justa, e em
constituídas. dinheiro.
Engloba-se, pois, o direito adquirido (o direito já se incorpo- Ainda, no caso de desapropriação por interesse social, pode
rou a seu titular), o ato jurídico perfeito (há se preservar a mani- ocorrer a chamada “desapropriação sanção”, pelo desatendimento
festação de vontade de quem editou algum ato, desde que ele não da função social da propriedade. Nesse caso, diante da “culpa”
atente contra a lei, a moral e os bons costumes), e a coisa julgada do proprietário, a indenização será prévia, justa, porém não será
(é a imutabilidade de uma decisão que impede que a mesma ques- em dinheiro, mas sim em títulos públicos. Com efeito, são duas
tão seja debatida pela via processual novamente), consagrados to- as hipóteses de desapropriação-sanção: desapropriação-sanção de
dos no art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal. imóvel urbano, prevista no art. 182, §4º, III, CF (o pagamento é
feito em títulos da dívida pública, com prazo de resgate de até dez
2.5 Direito de propriedade. Conforme o art. 5º, caput e anos); desapropriação-sanção de imóvel rural, prevista no art. 184,
inciso XXII, da Constituição Federal, é assegurado o direito de CF (ela é feita para fins de reforma agrária, e o pagamento é feito
propriedade. Há limitações, contudo, a tal direito, como a função em títulos da dívida agrária, com prazo de resgate de até vinte
social da propriedade. Para melhor compreender tal instituto fun- anos, contados a partir do segundo ano de sua emissão);
damental, pois, há se dividi-lo em temas específicos: E) Confisco da propriedade. O confisco está previsto no art.
A) Função social da propriedade. A função social, consa- 243 da CF. Também é hipótese de transferência compulsória da
grada no art. 5º, XXIII, CF, não é apenas um limite ao direito de propriedade, como a desapropriação. Mas, dela se distingue por-
propriedade, mas, sim, faz parte da própria estrutura deste direito. que no confisco não há pagamento de qualquer indenização.
“Trocando em miúdos”, só há direito de propriedade se atendida Isto posto, são duas as hipóteses de confisco: as glebas de
sua função social (há, minoritariamente, quem pense o contrário). qualquer região do país onde forem localizadas culturas ilegais de
Aliás, é esta função social da propriedade que assegura que a plantas psicotrópicas serão imediatamente expropriadas e especifi-
pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que traba- camente destinadas ao assentamento de colonos, para o cultivo de
lhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento de produtos alimentícios e medicamentosos, sem qualquer indeniza-
débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre ção ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em
os meios de financiar o seu desenvolvimento (art. 5º, XXVI, CF); lei (art. 243, caput, CF); bem como todo e qualquer bem de valor
B) Inviolabilidade do domicílio. A Constituição Federal asse- econômico apreendido em decorrência do tráfico ilícito de entor-
gura, em seu art. 5º, XI, que a casa é asilo inviolável do indivíduo, pecentes e drogas afins será confiscado e reverterá em benefício de
ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, instituições e pessoal especializado no tratamento e recuperação
salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar so- de viciados e no aparelhamento e custeio de atividades de fiscali-
corro, ou, durante o dia, por determinação judicial. zação, controle, prevenção e repressão do crime de tráfico dessas
Veja-se que, em caso de flagrante delito, para prestar socorro, substâncias (art. 243, parágrafo único, CF);
ou evitar desastre, na casa se pode entrar a qualquer hora do dia. F) Usucapião da propriedade (aquelas previstas na Constitui-
Se houver necessidade de determinação judicial, a entrada na re- ção). Há duas previsões constitucionais acerca de usucapião, em
sidência, salvo consentimento do morador, somente pode ser feita que o prazo para aquisição da propriedade é reduzido: usucapião
durante o dia; urbano (aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos
C) Requisição da propriedade. A Constituição Federal prevê e cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente
duas hipóteses de requisição: no caso de iminente perigo público, a e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família,
autoridade competente poderá usar de propriedade particular, asse- adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro

Didatismo e Conhecimento 8
NOÇÕES DE DIREITO
imóvel urbano ou rural, conforme o art. 183, caput, da CF); e usu- B) Honra. O direito à honra almeja tutelar o conjunto de atri-
capião rural (aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural butos pertinentes à reputação do cidadão sujeito de direitos. Exata-
ou urbano, possua como seu, por cinco anos ininterruptos, sem mente por isso o Código Penal prevê os chamados “crimes contra
oposição, área de terra, em zona rural, não superior a cinquenta a honra”.
hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família,
tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade, consoante o 2.7 Direitos de acesso à justiça. São vários os desdobramen-
art. 191, caput, da CF). tos desta garantia:
Não custa chamar a atenção, veja-se, que as hipóteses consti- A) Defesa do consumidor. Conforme o inciso XXXII, do art.
tucionais também exigem os requisitos tradicionais da usucapião, 5º, da Constituição, o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa
a saber, a posse mansa e pacífica, a posse ininterrupta, e a posse do consumidor. Tal lei existe, e foi editada em 1990. É a Lei nº
não-precária. 8.078 - Código de Defesa do Consumidor;
Não custa lembrar, por fim, que imóveis públicos não podem B) Inafastabilidade do Poder Judiciário. A lei não excluirá da
ser adquiridos por usucapião; apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça de direito (art. 5º,
G) Propriedade intelectual. A Constituição protege a proprie- XXXV, CF). Junte-se a isso o fato de que os juízes não podem se
furtar de decidir (proibição do “non liquet”). Isso tanto é verdade
dade intelectual como direito fundamental.
que, na ausência de lei, ou quando esta for omissa, o juiz decidirá
Aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publi-
o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios ge-
cação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros rais de direito (art. 4º, da Lei de Introdução às Normas do Direito
pelo tempo que a lei fixar (art. 5º, XXVII, CF). Brasileiro);
São assegurados, nos termos de lei, a proteção às participa- C) Direito de petição e direito de certidão. São a todos asse-
ções individuais em obras coletivas e à reprodução da imagem e gurados, independentemente do pagamento de taxas, o direito de
voz humanas, inclusive nas atividades esportivas (art. 5º, XXVIII, petição aos Poderes públicos em defesa de direitos ou contra ile-
“a”, CF), bem como direito de fiscalização do aproveitamento galidade ou abuso de poder (art. 5º, XXXIV, “a”, CF), bem como
econômico das obras que criarem ou de que participarem (art. 5º, a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de
XXVIII, “b”, CF). direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal (art. 5º,
A lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio XXXIV, “b”, CF);
temporário para sua utilização, bem como proteção às criações in- D) Direito ao juiz natural. A Constituição veda, em seu art.
dustriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a ou- 5º, XXXVII, a criação de juízos ou tribunais de exceção. Desta
tros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desen- maneira, todos devem ser processados e julgados por autoridade
volvimento tecnológico e econômico do país (art. 5º, XXIX, CF); judicial previamente estabelecida e constitucionalmente investida
H) Direito de herança. Tal direito está previsto, de maneira em seu ofício. Não é possível a criação de um tribunal de julga-
pioneira, no trigésimo inciso, do art. 5º, CF. Nas outras Constitui- mento após a prática do fato tão somente para apreciá-lo.
ções, ele era apenas deduzido do direito de propriedade. Em mesmo sentido, o art. 5º, LIII, CF prevê que ninguém será
Ademais, a sucessão de bens de estrangeiros situados no país processado nem sentenciado senão pela autoridade competente;
será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos E) Direito ao tribunal do júri. Ao tribunal do júri compete
filhos brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável a lei o julgamento dos crimes dolosos contra a vida, salvo se tiver o
pessoal do “de cujus” (art. 5º, XXXI, CF). agente prerrogativa de foro assegurada na Constituição Federal,
caso em que esta prerrogativa prevalecerá sobre o júri (é o caso
2.6 Direito à privacidade. Para o estudo do Direito Constitu- do Prefeito Municipal, p. ex., que será julgado pelo Tribunal de
cional, a privacidade é o gênero, do qual são espécies a intimidade, Justiça, pelo Tribunal Regional Federal ou pelo Tribunal Regional
a honra, a vida privada e a imagem. Neste sentido, o inciso X, do Eleitoral a depender da natureza do delito perpetrado).
Ademais, além da competência para crimes dolosos contra a
art. 5º, da Constituição, prevê que são invioláveis a intimidade, a
vida, norteiam o júri a plenitude de defesa (que é mais que a ampla
vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direi-
defesa), o sigilo das votações, e a soberania dos veredictos;
to à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua F) Direito ao devido processo legal. Ninguém será privado
violação: da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal (art. 5º,
A) Intimidade, vida privada e publicidade (imagem). Pela LIV). Em verdade, o termo correto é “devido procedimento legal”,
“Teoria das Esferas”, importada do direito alemão, quanto mais pois todo processo, para ser processo, deve ser legal. O que pode
próxima do indivíduo, maior a proteção a ser conferida à esfera ser legal ou ilegal é o “procedimento”.
(as esferas são representadas pela intimidade, pela vida privada, e Ademais, há se lembrar que também na esfera administrativa
pela publicidade). (e não só na judicial) o direito ao procedimento é devido.
Desta maneira, a intimidade merece maior proteção. São Por fim, insere-se na cláusula do devido processo legal o direi-
questões de foro personalíssimo de seu detentor, não competindo a to ao duplo grau de jurisdição, consistente na possibilidade de que
terceiros invadir este universo íntimo. as decisões emanadas sejam revistas por outra autoridade também
Já a vida privada merece proteção intermediária. São questões constitucionalmente investida;
que apenas dizem respeito a seu detentor, desde que realizadas em G) Direito ao contraditório e à ampla defesa. “Contraditório”
ambiente íntimo. Se momentos da vida privada são expostos ao e “ampla defesa” não são a mesma coisa, se entendendo pelo pri-
público, pouco pode fazer a proteção legal que não resguardar a meiro o direito vigente a ambas as partes de serem informadas dos
honra e a imagem do indivíduo. atos processuais praticados, e pelo segundo o direito do acusado
Por fim, na publicidade a proteção é mínima. Compete à pro- de se defender das imputações que lhe são feitas. Assim, enquanto
teção legal apenas resguardar a honra do indivíduo, já que o ato é o contraditório vale para ambas as partes, a ampla defesa só vale
público; para o acusado.

Didatismo e Conhecimento 9
NOÇÕES DE DIREITO
O contraditório e a ampla defesa vigem tanto para o procedi- A lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça
mento judicial como para o administrativo. Neste sentido, o art. 5º, ou anistia a prática de tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e
LV, CF prevê que aos litigantes, em processo judicial ou adminis- drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos,
trativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, poden-
a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; do evitá-los, se omitirem (art. 5º, XLIII, CF).
H) Inadmissibilidade de provas ilícitas. São inadmissíveis no Por fim, constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de
processo tanto as provas obtidas ilicitamente (quanto contrárias à grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e
Constituição) como as obtidas ilegitimamente (quando contrários o Estado Democrático (art. 5º, XLIV, CF);
aos procedimentos estabelecidos pela lei processual). Prova “ilíci- E) Direitos relacionados a prisões. Em regra, toda prisão deve
ta” e “ilegítima” são espécies do gênero “prova ilegal”. ser determinada pela autoridade judicial, mediante ordem escrita e
O art. 5º, LVI, CF diz “menos do que queria dizer”, por se fundamentada, salvo se em caso de flagrante delito (art. 5º, LXI,
referir apenas às provas ilícitas; CF).
I) Direito à ação penal privada subsidiária da pública. O titu- Ato contínuo, a prisão de qualquer pessoa e o local onde se
lar da ação penal pública é o Ministério Público, e a ele compete, encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente e
pois, manejar esta espécie de ação penal. Se isto não for feito por à família do preso ou à pessoa por ele indicada (art. 5º, LXII, CF).
pura desídia do órgão ministerial, é possível o manejo de ação pe- Nada obstante, o preso será informado de seus direitos, dentre
nal privada subsidiária da pública pela vítima (art. 5º, LIX, CF); os quais o de permanecer calado (direito a não autoincriminação),
J) Direito à publicidade dos atos processuais. Todos os atos sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado (art.
processuais serão públicos (art. 5º, LX, CF) e as decisões deverão 5º, LXIII, CF).
ser devidamente fundamentadas (art. 93, IX, CF). É possível impor O preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua
o sigilo processual se o interesse público ou motivo de força maior prisão ou por seu interrogatório policial (art. 5º, LXIV, CF), valen-
assim indicar; do lembrar que toda prisão ilegal será imediatamente relaxada pela
K) Direito à assistência judiciária. O Estado prestará assistên- autoridade judicial (art. 5º, LXV, CF).
cia jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência Ademais, ninguém será levado à prisão ou nela mantido quan-
de recursos (art. 5º, LXXIV, CF). À Defensoria Pública competirá do a lei admitir a liberdade provisória com ou sem fiança (art. 5,
tal função, nos moldes do art. 134, caput, da Constituição Federal. LXVI, CF).
Ademais, são gratuitos para os reconhecidamente pobres, na Por fim, às presidiárias serão asseguradas condições para que
forma da lei, o registro civil de nascimento (art. 5º, LXXVI, “a”, possam permanecer com seus filhos durante o período de amamen-
CF) e a certidão de óbito (art. 5º, LXXVI, “b”, CF); tação (art. 5º, L, CF);
L) Direito à duração razoável do processo. Trata-se de inciso F) Penas admitidas e vedadas pelo ordenamento pátrio. São
acrescido à Constituição Federal pela Emenda Constitucional nº admitidas as penas de privação ou restrição de liberdade, perda de
45/2004. bens, multa, prestação social alternativa, bem como suspensão ou
Objetiva-se fazer cessar as pelejas judiciais infindáveis. Para interdição de direitos.
se aferir a duração razoável do processo, é preciso analisar o grau Por outro lado, não haverá penas de morte (salvo em caso de
de complexidade da causa, a disposição das partes no resultado da guerra declarada pelo Presidente da República contra nação estran-
demanda, e a atividade jurisdicional que caminhe no sentido de geira), de caráter perpétuo, de trabalhos forçados, de banimento e
prezar ou não por um fim célere (mas com qualidade). cruéis. Eis o teor do inciso XLVI, do art. 5º, da Magna Carta pátria;
G) Uso de algemas. Consoante a Súmula Vinculante nº 11,
2.8 Direitos constitucionais-penais. Vejamos: só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado
A) Princípio da legalidade. Não há crime sem lei anterior que receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia,
o defina, nem pena sem prévia cominação legal (art. 5º, XXXIX, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade
CF). Ademais, a lei penal somente retroagirá se para beneficiar o por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal
acusado (art. 5º, XL, CF); do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato pro-
B) Princípio da pessoalidade das penas. Nenhuma pena pas- cessual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do
sará da pessoa do condenado (apenas a obrigação de reparar o Estado;
dano e a decretação do perdimento de bens podem passar da pes- H) Sigilosidade do inquérito policial para o defensor do acu-
soa do condenado, se estendendo aos seus sucessores até o limite sado. De acordo com o art. 20, do Código de Processo Penal, a
do patrimônio transferido). Eis o teor inciso XLV, do art. 5º, da Lei autoridade policial assegurará no inquérito o sigilo necessário à
Fundamental pátria; elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade. Mas,
C) Princípio da presunção de inocência (ou presunção de não esse sigilo não é absoluto, pois, em verdade, tem acesso aos autos
culpabilidade). Ninguém será considerado culpado até o trânsito do inquérito o juiz, o promotor de justiça, e a autoridade policial,
em julgado de sentença penal condenatória (art. 5º, LVII, CF). As- e, ainda, de acordo com o art. 5º, LXIII, CF, com o art. 7º, XIV, da
sim, enquanto for possível algum recurso, a presunção do acusado Lei nº 8.906/94 (“Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil”), e
é de inocência. com a Súmula Vinculante nº 14, o advogado tem acesso aos atos já
Isso não represente um óbice à imposição de prisões processu- documentados nos autos, independentemente de procuração, para
ais/medidas cautelares diversas da prisão, todavia; assegurar direito de assistência do preso e investigado.
D) Crimes previstos na Constituição. A prática do racismo Desta forma, veja-se, o acesso do advogado não é amplo e
constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de re- irrestrito. Seu acesso é apenas às informações já introduzidas nos
clusão, nos termos da lei (art. 5º, XLVV). autos, mas não em relação às diligências em andamento.

Didatismo e Conhecimento 10
NOÇÕES DE DIREITO
Caso o delegado não permita o acesso do advogado aos atos G) Competência para apreciação. A competência é determi-
já documentados, é cabível reclamação ao STF para ter acesso às nada de acordo com a autoridade coatora. Assim, se esta for um
informações (por desrespeito a teor de Súmula Vinculante), habe- Delegado de Polícia, o “writ” será endereçado ao juiz de primeiro
as corpus em nome de seu cliente, ou o meio mais rápido que é o grau; se for o juiz de primeira instância, endereça-se ao tribunal
mandado de segurança em nome do próprio advogado, já que a a que é vinculado; se for o promotor de justiça, para um primeiro
prerrogativa violada de ter acesso aos autos é dele. entendimento endereça-se ao juiz de primeira instância e para um
segundo entendimento endereça-se ao tribunal respectivo equipa-
2.9 Habeas corpus. Vejamos o primeiro dos chamados “remé- rando, pois, a autoridade ministerial ao magistrado de primeiro
dios constitucionais”: grau; se a autoridade coatora for o juiz do JECRIM, competente
A) Surgimento. A Magna Carta inglesa, de 1215, foi o primei- para apreciar o remédio será a turma recursal.
ro documento a prevê-lo, enquanto o “Habeas Corpus Act”, de Vale lembrar, ainda, que o STF (arts. 102, I, “d”, “i” e 102, II,
1679, procedimentalizou-o pela primeira vez. No Brasil, o Código “a”, CF) e o STJ (arts. 105, I, “c” e 105, II, “a”, CF) também têm
de Processo Penal do Império, de 1832, trouxe-o para este orde- competência para apreciar habeas corpus.
namento, enquanto a primeira Constituição Republicana, de 1891, H) Procedimento. O procedimento está previsto no Código de
foi a primeira Lei Fundamental pátria a consagrar o instituto (é da Processo Penal, entre seus arts. 647 e 667;
época da Lei Fundamental a chamada “Doutrina Brasileira do Ha- I) Algumas considerações finais. Pela Súmula nº 695, do Su-
beas Corpus”, que maximizava o instituto a habilitava-o a proteger premo Tribunal Federal, não cabe HC quando já extinta a pena
qualquer direito, inclusive aqueles que hoje são buscados pela via privativa de liberdade.
do Mandado de Segurança). Hoje, a previsão constitucional do ha- Pela Súmula nº 693, STF, não cabe habeas corpus contra deci-
beas corpus está no art. 5º, LXVIII, da Constituição da República; são condenatória a pena de multa, ou relativo a processo em curso
B) Natureza jurídica. Trata-se de ação constitucional (e não por infração penal a que a pena pecuniária seja a única cominada.
de “recurso processual penal”, veja-se) de natureza tipicamente Pela Súmula nº 690, STF, compete ao Supremo o julgamento
penal que almeja a proteção das liberdades individuais de loco- de habeas corpus contra decisão de turma recursal dos juizados
moção quando esta se encontra indevidamente violada ou em vias especiais criminais.
de violação. Por fim, pela Súmula nº 694, do Supremo, não cabe tal “writ”
Vale lembrar que, apesar de ser uma ação tipicamente penal, contra a imposição de pena de exclusão de militar ou de perda de
não há qualquer óbice a que se utilize o habeas corpus em outras
patente ou de função pública.
searas como a cível, num caso de indevida privação de liberdade
por dívida de alimentos, p. ex., ou na trabalhista, caso alguém seja
2.10 Mandado de segurança. Vejamos:
indevidamente impedido de exercer seu labor, noutro exemplo;
A) Surgimento. Trata-se de remédio trazido ao Brasil (há
C) Espécies. O habeas corpus pode ser preventivo (quando
quem defenda, prevalentemente, que o instituto seja criação ge-
houver mera ameaça de violação ao direito de ir e vir, caso em que
nuinamente brasileira) pela Lei Fundamental de 1934, e, desde
se obterá um “salvo-conduto”), ou repressivo (quando ameaça já
então, a única Constituição que não o previu foi a de 1937. Hoje,
tiver se materializado);
o mandado de segurança individual está constitucionalmente dis-
D) Legitimidade ativa. É amplíssima. Qualquer pessoa pode
manejá-lo, em próprio nome ou de terceiro, assim como o Minis- ciplinado no art. 5º, LXIX, e o mandado de segurança coletivo no
tério Público. A pessoa que o maneja é chamada “impetrante”, en- art. 5º, LXX, todos da Lei Maior pátria;
quanto que a pessoa que dele se beneficia é chamada “paciente” B) Natureza jurídica. Trata-se de ação constitucional, de rito
(desta maneira, é perfeitamente possível que impetrante e paciente sumário e especial, destinada à proteção de direito líquido e cer-
sejam a mesma pessoa). to de pessoa física ou jurídica não amparado por habeas corpus
A importância deste “writ” é tão grande que, nos termos do ou habeas data (com isso já se denota a natureza subsidiária do
segundo parágrafo, do art. 654, do Código de Processo Penal, os “writ”: ele somente é cabível caso não seja hipótese de habeas
juízes e os tribunais têm competência para expedir de ofício o re- corpus ou habeas data).
médio quando, no curso do processo, verificarem que alguém sofre Ademais, apesar de ser mais comum sua utilização no âmbito
ou está na iminência de sofrer coação ilegal; cível, óbice não deve haver a sua utilização nas searas das justiças
E) Legitimidade passiva. Pode ser tanto um agente público criminal e especializada;
(autoridade policial ou autoridade judicial, p. ex.) como um agente C) Espécies. O “writ” pode ser preventivo (quando se estiver
particular (diretor de uma clínica de psiquiatria, p. ex.). na iminência de violação a direito líquido e certo), ou repressivo
F) Hipóteses de coação ilegal. A coação será considerada ile- (quando já consumado o abuso/ilegalidade);
gal, nos moldes do art. 648, CPP, quando não houver justa causa D) Legitimidade ativa. Deve ser a mais ampla possível,
para tal; quando alguém estiver preso por mais tempo do que de- abrangendo não só a pessoa física como a jurídica, nacional ou
termina a lei; quando quem tiver ordenado a coação não tiver com- estrangeira, residente ou não no Brasil, bem como órgãos públicos
petência para fazê-lo; quando houver cessado o motivo que autori- despersonalizados e universalidades reconhecidas por lei (espólio,
zou a coação; quando não for alguém admitido a prestar fiança nos condomínio, massa falida etc.). Vale lembrar que esta legitimidade
casos em que a lei autoriza; quando o processo for manifestamente pode ser ordinária (se postula-se direito próprio em nome próprio)
nulo; ou quando extinta a punibilidade. ou extraordinária (postula-se em nome próprio direito alheio);
Vale lembrar, por outro lado, que o segundo parágrafo, do art. E) Legitimidade passiva. A autoridade coatora deve ser auto-
142, da Constituição, veda tal remédio constitucional em relação a ridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribui-
punições disciplinares militares; ções do Poder Público;

Didatismo e Conhecimento 11
NOÇÕES DE DIREITO
F) Mandado de segurança coletivo. O mandado de segurança cidade. Já a ADO é instrumento adequado a atender o particular
coletivo poderá ser impetrado por partido político com representa- numa situação abstrata, sendo dotado, por conseguinte, de conte-
ção no Congresso Nacional ou por organização sindical, entidade údo e finalidade mais abrangente que seu antecessor em razão de
de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamen- seu raio de alcance. Em outras palavras, seria dizer que o mandado
to há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus mem- de injunção se baseia em um comando da emergência, e a ADI por
bros ou associados; omissão se baseia em um dispositivo de urgência.
G) Competência. A competência se fixa de acordo com a au- H) Efeitos da decisão concedida em sede de mandado de in-
toridade coatora. Assim, pode apreciar mandado de segurança um junção. Aqui há divergência na doutrina e na jurisprudência.
juiz de primeiro grau, estadual ou federal; os Tribunais estaduais Para uma primeira corrente (“corrente não concretista”), deve
ou federais; o STF (arts. 102, I, “d” e 102, II, “a”, CF); e o STJ o Judiciário apenas cientificar o omisso em prol da edição norma-
(arts. 105, I, “b” e 105, II, “b”, CF); tiva necessária, dando à injunção concedida natureza declaratória
H) Procedimento. É regulado pela Lei nº 12.016/09, que revo- apenas. Este posicionamento imperou por muito tempo no Supre-
gou a Lei anterior, de nº 1.533, que vigia desde 1951. mo Tribunal Federal.
Já um segundo entendimento, subdividindo-se, confere cará-
2.11 Mandado de injunção. Vejamos: ter condenatório ou mandamental à ciência da mora, nos moldes
A) Surgimento. Prevalece que é uma criação genuinamente de uma “obrigação de fazer” referida no art. 461 ou de uma “exe-
brasileira, tendo sido previsto por primeira vez na Carta Funda- cução contra a Fazenda Pública” referida nos arts. 730 e seguintes,
mental pátria de 1988. Institutos com nomes semelhantes podem todos do Código de Processo Civil, ensejando a necessidade de
ser encontrados no direito anglo-saxão, embora, neste, sua fina- execução de sentença, própria no caso condenatório, ou imprópria
lidade é distinta daquela para a qual a Constituição brasileira o no caso mandamental. Há julgados esparsos no STF perfilhando-se
criou. Atualmente, o mandado de injunção está disciplinado no art. aos posicionamentos condenatório e mandamental.
5º, LXXI, da Constituição Federal; Um terceiro entendimento (“corrente concretista individual
B) Natureza jurídica. Cuida-se de ação constitucional que intermediária”) entende que, constatada a mora legislativa, é o
objetiva a regulamentação de normas constitucionais de eficácia caso de assinalar um prazo razoável para a elaboração da norma
limitada (omissas, portanto), assegurando, deste modo, o intento regulamentadora. Findo tal prazo e persistindo a omissão, é caso
de aplicabilidade imediata previsto no parágrafo primeiro, do art. de indenização por perdas e danos a ser buscada perante o Estado.
5º, da Constituição Federal; Por sua vez, uma quarta corrente (“corrente concretista indi-
C) Legitimidade ativa. Toda e qualquer pessoa, nacional ou
vidual pura”) acena pelo caráter constitutivo da injunção conce-
estrangeira, física ou jurídica, capaz ou incapaz, que titularize di-
dida via pronunciamento judicial, mas que a criação normativa se
reito fundamental não materializável por omissão legislativa do
limita apenas aos litigantes. Assim, admite-se atividade legislativa
Poder público;
do Judiciário, mas com alcance restrito às partes. Esse é o posi-
D) Legitimidade passiva. Pertence à autoridade ou órgão res-
cionamento atualmente prevalente no Guardião da Constituição
ponsável pela expedição da norma regulamentadora;
Federal.
E) Competência. No tocante ao órgão competente para jul-
Por fim, uma quinta corrente (“corrente concretista geral”)
gamento, o tal “writ” apresenta competência “móvel”, de acordo
entende, sim, ser constitutiva a natureza da injunção concedida,
com a condição e vinculação do impetrado. Assim, tal incumbên-
cia caberá ao Supremo Tribunal Federal, quando a elaboração de tomando de um caso específico a inspiração necessária para a edi-
norma regulamentadora for atribuição do Presidente da República, ção de uma norma geral e abstrata. Seria o exercício atípico de
do Congresso Nacional, da Câmara dos Deputados, do Senado Fe- “atividade legislativa” do Judiciário. Consoante tal entendimento,
deral, das Mesas de uma dessas Casas Legislativas, do Tribunal de o STF sanaria ele próprio a ausência de regulamentação a normas
Contas da União, de um dos Tribunais Superiores, ou do próprio constitucionais de eficácia e aplicabilidade limitada.
Supremo Tribunal Federal (art. 102, I, “q”, CF); ao Superior Tri-
bunal de Justiça, quando a elaboração da norma regulamentadora 2.12 Habeas data. Vejamos:
for atribuição de órgão, entidade ou autoridade federal, da admi- A) Surgimento. A origem do habeas data está no direito norte-
nistração direta ou indireta, excetuados os casos da competência -americano, através do “Freedom of Information Act”, de 1974,
do Supremo Tribunal Federal e dos órgãos da Justiça Militar, da com a finalidade de possibilitar o acesso do particular aos dados
Justiça Eleitoral, da Justiça do Trabalho e da Justiça Federal (art. ou às informações constantes de registros públicos ou particulares
105, I, “h”, CF); ao Tribunal Superior Eleitoral, quando as deci- permitidos ao público. No Brasil, a Constituição Federal de 1988
sões dos Tribunais Regionais Eleitorais denegarem habeas corpus, foi a primeira a trazê-lo, em seu art. 5º, LXXII;
mandado de segurança, habeas data ou mandado de injunção (art. B) Natureza jurídica. Trata-se de ação constitucional, que ob-
121, §4º, V, CF); e aos Tribunais de Justiça Estaduais, frente aos jetiva assegurar o conhecimento de informações relativas à pes-
entes a ele vinculados; soa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de
F) Procedimento. Não há lei regulamentando o mandado de entidades governamentais de caráter público, bem como a retifi-
injunção, se lhe aplicando, por analogia, a Lei nº 12.016/09, inclu- cação de dados, quando não se prefira fazê-lo por procedimento
sive no que atine ao mandado de injunção coletivo; sigiloso, judicial ou administrativo;
G) Diferença do mandado de injunção para a ação direta de C) Legitimidade ativa. Tal “writ” pode ser impetrado por pes-
inconstitucionalidade por omissão. O mandado de injunção é re- soa física, brasileira ou estrangeira, ou por pessoa jurídica. Ain-
médio habilitado a socorrer o particular numa situação concreta, da, há quem defenda sua impetração por entes despersonalizados,
isto é, busca-se um pronunciamento apto a atender uma especifi- como a massa falida e o espólio;

Didatismo e Conhecimento 12
NOÇÕES DE DIREITO
D) Legitimidade passiva. Figurarão no polo ativo entidades C) Objeto. De acordo com o art. 3º, LACP, a ação civil pode-
governamentais da Administração Pública Direta e Indireta nas rá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de
três esferas, bem como instituições, órgãos, entidades e pessoas obrigação de fazer ou não fazer;
jurídicas privadas prestadores de serviços de interesse público que D) Legitimidade ativa. Consoante o art. 5º, da LACP, tem le-
possuam dados relativos à pessoa do impetrante; gitimidade ativa tanto para a ação principal como para a cautelar
E) Competência. A Constituição Federal prevê a competência o Ministério Público (inciso I); a Defensoria Pública (inciso II); a
do Supremo Tribunal Federal (art. 102, I, “d”), do Superior Tribu- União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios (inciso III);
nal de Justiça (art. 105, I, “b”), dos Tribunais Regionais Federais a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia
(art. 108, I, “c”), bem como dos juízes federais (art. 109, VIII);
mista (inciso IV); e a associação que, concomitantemente, esteja
F) Procedimento. A disciplina do habeas data está prevista na
constituída há pelo menos um ano nos termos da lei civil (inciso
Lei nº 9.507/97.
V, alínea “a”) e inclua, entre suas finalidades institucionais, a pro-
2.13 Ação popular. Vejamos: teção ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à
A) Surgimento. Sua origem vem da época do Império Roma- livre concorrência ou ao patrimônio artístico, estético, histórico,
no, quando os cidadãos romanos dirigiam-se ao magistrado para turístico e paisagístico (inciso V, alínea “b”);
buscar a tutela de um bem, valor ou interesse que pertencesse à E) Legitimidade passiva. Não há, em regra, limitação quanto a
coletividade. O primeiro texto legal sobre a ação popular surgiu na quem deva figurar no polo passivo da ação civil pública.
Bélgica, em 1836.
No Brasil, a primeira Lei Fundamental pátria a disciplinar a 2.15 Tratados Internacionais de que o Brasil seja signa-
ação popular foi a de 1934. Suprimida na de 1937, mas restabe- tário. Quando a Constituição Federal de 1988 entrou em vigor, o
lecida na de 1946, tem estado presente em todas as Cartas desde Supremo Tribunal Federal entendia que todo e qualquer Tratado
então. Na Constituição Federal de 1988, sua previsão se encontra Internacional, fosse ou não sobre direitos humanos, tinha “status”
no art. 5º, LXXIII; de lei ordinária.
B) Natureza jurídica. Trata-se de ação constitucional, que
Tal entendimento vigorou até o advento da Emenda Consti-
visa anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de
que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio am- tucional nº 45/2004, que acresceu ao art. 5º da Constituição um
biente e ao patrimônio histórico e cultural; parágrafo terceiro, segundo o qual os tratados e convenções inter-
C) Requisitos para a propositura da ação popular. Há um nacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada
requisito objetivo (o legitimado ativo deve ser cidadão) e outro Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos
subjetivo (a proteção do patrimônio público, da moralidade admi- votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas
nistrativa, do meio ambiente, do patrimônio histórico, e do patri- constitucionais.
mônio cultural); Mas como fica a situação dos Tratados Internacionais que não
D) Legitimidade ativa. Deve ser “cidadão”, isto é, aquele que forem (ou não foram) aprovados pelo quórum de Emenda Cons-
esteja no pleno gozo dos direitos políticos. Se está falando, pois, titucional? Com isso, o STF revisou seu posicionamento, e, atu-
do cidadão-eleitor. Inclusive, o parágrafo terceiro, do art. 1º, da almente, os Tratados Internacionais possuem tripla hierarquia em
Lei nº 4.717/65, que regula a ação popular, dispõe que a prova da nosso ordenamento:
cidadania para ingresso em juízo será feita com o título eleitoral ou A) Se versar sobre direitos humanos, e for aprovado pelo quó-
com o documento a que ele corresponda;
rum de Emenda Constitucional, o “status” do Tratado Internacio-
E) Legitimidade passiva. Nos moldes do art. 6º, da Lei nº
4.717/65, sempre haverá um ente da Administração Pública, direta nal será de Emenda Constitucional;
ou indireta, ou então pessoa jurídica que de algum modo lide com B) Se versar sobre direitos humanos, mas não for aprovado
dinheiro público; pelo quórum de Emenda Constitucional, o “status” do Tratado In-
F) Competência. Será fixada de acordo com a origem do ato ternacional será de norma supralegal, isto é, abaixo da Constitui-
ou omissão a serem impugnados. Vale lembrar que, quanto ao pro- ção, mas acima do ordenamento infraconstitucional;
cedimento, a Lei nº 4.717/65, que disciplina tal ação, afirma que C) Se não versar sobre direitos humanos, o Tratado Interna-
segue-se o rito ordinário previsto no Código de Processo Civil, cional terá o “status” de lei ordinária, conforme o entendimento
com algumas modificações. primeiro do Supremo Tribunal Federal.

2.14 Ação civil pública. Vejamos: 3 Administração Pública: disposições gerais. A seguir, dos
A) Cabimento. Conforme o art. 1º, da Lei nº 7.347/85, é ca- dispositivos pertinentes à Administração Pública na Constituição
bível ação civil pública em caso de danos patrimoniais e morais Federal, o edital em lume somente cobra o art. 37, que traz as dis-
causados ao meio ambiente (inciso I); ao consumidor (inciso II);
posições gerais. Convém reproduzi-lo para otimizar o estudo:
a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico (inciso III); a qualquer outro interesse difuso ou cole-
tivo (inciso IV); por infração da ordem econômica e da economia Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer
popular (inciso V); e à ordem urbanística (inciso VI); dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Mu-
B) Não cabimento. Segundo o art. 1º, parágrafo único, da nicípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade,
LACP - Lei da Ação Civil Pública, não será cabível ação civil pú- moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
blica para veicular pretensões que envolvam tributos, contribuições I - os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos
previdenciárias, FGTS ou outros fundos de natureza institucional brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei, as-
cujos beneficiários podem ser individualmente determinados; sim como aos estrangeiros, na forma da lei;

Didatismo e Conhecimento 13
NOÇÕES DE DIREITO
II - a investidura em cargo ou emprego público depende de XV - o subsídio e os vencimentos dos ocupantes de cargos
aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e e empregos públicos são irredutíveis, ressalvado o disposto nos
títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou incisos XI e XIV deste artigo e nos arts. 39, §4º, 150, II, 153, III,
emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para e 153, §2º, I;
cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exone- XVI - é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos,
ração; exceto, quando houver compatibilidade de horários, observado em
III - o prazo de validade do concurso público será de até dois qualquer caso o disposto no inciso XI.
anos, prorrogável uma vez, por igual período; a) a de dois cargos de professor;
IV - durante o prazo improrrogável previsto no edital de con- b) a de um cargo de professor com outro técnico ou científico;
vocação, aquele aprovado em concurso público de provas ou de c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de
provas e títulos será convocado com prioridade sobre novos con- saúde, com profissões regulamentadas;
cursados para assumir cargo ou emprego, na carreira; XVII - a proibição de acumular estende-se a empregos e fun-
V - as funções de confiança, exercidas exclusivamente por ções e abrange autarquias, fundações, empresas públicas, socieda-
servidores ocupantes de cargo efetivo, e os cargos em comissão, a des de economia mista, suas subsidiárias, e sociedades controla-
serem preenchidos por servidores de carreira nos casos, condições das, direta ou indiretamente, pelo poder público;
e percentuais mínimos previstos em lei, destinam-se apenas às atri- XVIII - a administração fazendária e seus servidores fiscais
buições de direção, chefia e assessoramento; terão, dentro de suas áreas de competência e jurisdição, precedên-
VI - é garantido ao servidor público civil o direito à livre as- cia sobre os demais setores administrativos, na forma da lei;
sociação sindical; XIX - somente por lei específica poderá ser criada autarquia e
VII - o direito de greve será exercido nos termos e nos limites autorizada a instituição de empresa pública, de sociedade de eco-
definidos em lei específica; nomia mista e de fundação, cabendo à lei complementar, neste úl-
VIII - a lei reservará percentual dos cargos e empregos públi- timo caso, definir as áreas de sua atuação;
cos para as pessoas portadoras de deficiência e definirá os critérios XX - depende de autorização legislativa, em cada caso, a cria-
de sua admissão; ção de subsidiárias das entidades mencionadas no inciso anterior,
IX - a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo de- assim como a participação de qualquer delas em empresa privada;
terminado para atender a necessidade temporária de excepcional XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as
interesse público; obras, serviços, compras e alienações serão contratados mediante
X - a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que processo de licitação pública que assegure igualdade de condições
trata o §4º do art. 39 somente poderão ser fixados ou alterados por a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obriga-
lei específica, observada a iniciativa privativa em cada caso, asse- ções de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta,
gurada revisão geral anual, sempre na mesma data e sem distinção nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de quali-
de índices; ficação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumpri-
XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, mento das obrigações;
funções e empregos públicos da administração direta, autárquica XXII - as administrações tributárias da União, dos Estados, do
e fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da União, Distrito Federal e dos Municípios, atividades essenciais ao funcio-
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores namento do Estado, exercidas por servidores de carreiras específi-
de mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os proventos, cas, terão recursos prioritários para a realização de suas atividades
pensões ou outra espécie remuneratória, percebidos cumulativa- e atuarão de forma integrada, inclusive com o compartilhamento
mente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer ou- de cadastros e de informações fiscais, na forma da lei ou convênio.
tra natureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, §1º. A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e
dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, in-
limite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos Estados e no formativo ou de orientação social, dela não podendo constar no-
Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do mes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de
Poder Executivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais autoridades ou servidores públicos.
no âmbito do Poder Legislativo e o subsídio dos Desembargadores §2º. A não observância do disposto nos incisos II e III impli-
do Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco cará a nulidade do ato e a punição da autoridade responsável, nos
centésimos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos Minis- termos da lei.
tros do Supremo Tribunal Federal, no âmbito do Poder Judiciário, §3º. A lei disciplinará as formas de participação do usuário na
aplicável este limite aos membros do Ministério Público, aos Pro- administração pública direta e indireta, regulando especialmente:
curadores e aos Defensores Públicos; I - as reclamações relativas à prestação dos serviços públicos
XII - os vencimentos dos cargos do Poder Legislativo e do em geral, asseguradas a manutenção de serviços de atendimento
Poder Judiciário não poderão ser superiores aos pagos pelo Poder ao usuário e a avaliação periódica, externa e interna, da qualidade
Executivo; dos serviços;
XIII - é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer es- II - o acesso dos usuários a registros administrativos e a infor-
pécies remuneratórias para o efeito de remuneração de pessoal do mações sobre atos de governo, observado o disposto no art. 5º, X
serviço público; e XXXIII;
XIV - os acréscimos pecuniários percebidos por servidor pú- III - a disciplina da representação contra o exercício negli-
blico não serão computados nem acumulados para fins de conces- gente ou abusivo de cargo, emprego ou função na administração
são de acréscimos ulteriores; pública.

Didatismo e Conhecimento 14
NOÇÕES DE DIREITO
§4º. Os atos de improbidade administrativa importarão a sus- Já os órgãos da Administração Pública indireta são as autar-
pensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indispo- quias, fundações, empresas públicas, e sociedades de economia
nibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e grada- mista. Tais órgãos têm personalidade jurídica própria, ou de direito
ção previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível. público (autarquias e fundações públicas de direito público) ou de
§5º. A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos direito privado (fundações públicas de direito privado, empresas
praticados por qualquer agente, servidor ou não, que causem pre- públicas, e sociedades de economia mista).
juízos ao erário, ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento.
§6º. As pessoas jurídicas de direito público e as de direito 3.3 Alguns princípios aplicáveis à Administração Pública.
privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos São eles:
que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegu-
A) Princípio da legalidade. Para o direito privado, legalidade
rado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo
significa poder fazer tudo o que a lei não proíbe (autonomia priva-
ou culpa.
§7º. A lei disporá sobre os requisitos e as restrições ao ocu- da). Já para a Administração Pública, legalidade significa somente
pante de cargo ou emprego da administração direta e indireta que poder fazer aquilo previsto em lei;
possibilite o acesso a informações privilegiadas. B) Princípio da impessoalidade. Impessoalidade denota au-
§8º. A autonomia gerencial, orçamentária e financeira dos sência de subjetividade. O administrador não pode se utilizar da
órgãos e entidades da administração direta e indireta poderá ser coisa pública para satisfazer interesses pessoais;
ampliada mediante contrato, a ser firmado entre seus administra- C) Princípio da moralidade. Traduz a ideia de honestidade,
dores e o poder público, que tenha por objeto a fixação de metas de de ética, de correção de atitudes, de boa-fé. A moralidade adminis-
desempenho para o órgão ou entidade, cabendo à lei dispor sobre: trativa representa mais que a moralidade comum, porque enquanto
I - o prazo de duração do contrato; nesta as relações são interpessoais, na moralidade administrativa
II - os controles e critérios de avaliação de desempenho, direi- envolve-se o trato da coisa pública;
tos, obrigações e responsabilidade dos dirigentes; D) Princípio da publicidade. Tal princípio significa conhe-
III - a remuneração do pessoal. cimento, ciência, divulgação ao titular dos interesses em jogo, a
§9º. O disposto no inciso XI aplica-se às empresas públicas saber, o povo. Disso infere-se que a publicidade acaba sendo con-
e às sociedades de economia mista, e suas subsidiárias, que rece- dição de eficácia, em regra, do ato administrativo (como ocorre
berem recursos da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos nos procedimentos licitatórios, p. ex.). Neste diapasão, o primeiro
Municípios para pagamento de despesas de pessoal ou de custeio parágrafo, do art. 37, da Constituição, preceitua que a publicidade
em geral.
dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos pú-
§10. É vedada a percepção simultânea de proventos de apo-
blicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação
sentadoria decorrentes do art. 40 ou dos arts. 42 e 142 com a re-
muneração de cargo, emprego ou função pública, ressalvados os social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que
cargos acumuláveis na forma desta Constituição, os cargos eleti- caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores pú-
vos e os cargos em comissão declarados em lei de livre nomeação blicos;
e exoneração. E) Princípio da eficiência. Tal princípio não estava previsto
§11. Não serão computadas, para efeito dos limites remunera- no texto originário da Constituição Federal em 1988. Foi ele acres-
tórios de que trata o inciso XI do caput deste artigo, as parcelas de cido pela Emenda Constitucional nº 19/1998, e significa presteza,
caráter indenizatório previstas em lei. qualidade no serviço, agilidade, economia, ausência de desperdí-
§12. Para os fins do disposto no inciso XI do caput deste ar- cio;
tigo, fica facultado aos Estados e ao Distrito Federal fixar, em seu F) Princípio da supremacia do interesse público. Em um
âmbito, mediante emenda às respectivas Constituições e Lei Orgâ- eventual conflito entre um interesse particular e outro da coletivi-
nica, como limite único, o subsídio mensal dos Desembargadores dade, este último deverá prevalecer, como regra geral. Tal princípio
do respectivo Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e decorre de outro axioma, a saber, o “da Indisponibilidade do Inte-
vinte e cinco centésimos por cento do subsídio mensal dos Mi- resse Público”, segundo o qual, sendo a coisa pública pertencente
nistros do Supremo Tribunal Federal, não se aplicando o disposto a todos, não pode o agente administrador dela utilizar livremente;
neste parágrafo aos subsídios dos Deputados Estaduais e Distritais G) Princípio da presunção de legitimidade dos atos adminis-
e dos Vereadores. trativos. Há uma presunção relativa (isto é, que admite prova em
contrário) em torno dos atos administrativos, de que são legítimos,
3.1 Atividade administrativa. A atividade administrativa
válidos e eficazes.
poderá ser prestada de maneira centralizada, pelos entes políticos
componentes da Administração Direta (União, Estados, Municí- É óbvio que, além destes, há outros princípios vigentes para a
pios e Distrito Federal), ou de maneira descentralizada, pelos entes Administração Pública, como o da isonomia, o da razoabilidade/
componentes da Administração Indireta (Autarquias, Fundações proporcionalidade, o da autotutela etc. Mas, tais matérias não se-
Públicas, Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista) rão aqui explicadas, por serem da alçada do Direito Administrativo
bem como por particulares (através de concessionárias e permis- propriamente dito.
sionárias de serviços públicos, p. ex.).
3.4 Ocupantes de cargos, empregos e funções públicas.
3.2 Administração direta e indireta. Os órgãos da Admi- Tanto brasileiros (que preencham os requisitos estabelecidos em
nistração Pública direta são aqueles componentes dos Poderes da lei) como os estrangeiros (na forma da lei) podem ocupar cargos,
República propriamente ditos. Tais órgãos são despersonalizados. empregos e funções públicas.

Didatismo e Conhecimento 15
NOÇÕES DE DIREITO
3.5 Investidura em cargo ou emprego público. Em regra, a III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e
investidura em cargo ou emprego público se dá mediante aprova- de fronteiras;
ção prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judici-
de acordo com a natureza e complexidade do cargo ou emprego. ária da União.
As exceções são os cargos em comissão, de livre nomeação e exo- §2º. A polícia rodoviária federal, órgão permanente, organi-
neração. zado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se,
Em situações excepcionais, como urgência ou interesse públi- na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das rodovias federais.
§3º. A polícia ferroviária federal, órgão permanente, organi-
co de duração temporária, se pode dispensar o concurso público,
zado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se,
ou, ao menos, realizar processo seletivo simplificado. Neste diapa-
na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das ferrovias federais.
são, a Lei nº 8.745/93 disciplina os casos de contratação por tempo §4º. Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de
determinado para atender a necessidade temporária de excepcional carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as fun-
interesse público, p. ex. ções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto
as militares.
3.6 Prazo de validade do concurso público. O prazo de §5º. Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preser-
validade do concurso público será de até dois anos, prorrogável vação da ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, além
uma vez por igual período. Convém lembrar que, durante o prazo das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades
improrrogável previsto no edital, aquele aprovado em concurso de defesa civil.
público será convocado com prioridade sobre novos concursados §6º. As polícias militares e corpos de bombeiros militares, for-
para assumir cargo ou emprego. ças auxiliares e reserva do Exército, subordinam-se, juntamente
com as polícias civis, aos Governadores dos Estados, do Distrito
Federal e dos Territórios.
3.7 Contratação pela Administração Publica de obras, ser-
§7º. A lei disciplinará a organização e o funcionamento dos
viços, compras e alienações. Ressalvadas as hipóteses de dispen-
órgãos responsáveis pela segurança pública, de maneira a garantir
sa ou inexigibilidade, a contratação, pela Administração Pública, a eficiência de suas atividades.
de obras, serviços, compras ou alienações se dá mediante procedi- §8º. Os Municípios poderão constituir guardas municipais
mento licitatório. A lei que dispõe sobre normas gerais de licitação destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, confor-
é a de nº 8.666/93. me dispuser a lei.
Consoante o art. 37, XXI, da Lei Fundamental pátria, os pro- §9º. A remuneração dos servidores policiais integrantes dos
cedimentos licitatórios devem ser públicos, e devem assegurar órgãos relacionados neste artigo será fixada na forma do §4º do
igualdade de condições a todos os concorrentes (com cláusulas art. 39.
que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições
efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá 4.1 Segurança pública. A segurança tem um duplo aspecto
as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis na Constituição Federal, a saber, o aspecto de direito e garantia
à garantia do cumprimento das obrigações). individual e coletivo, por estar prevista no caput, do art. 5º, da
Constituição Federal (ao lado do direito à vida, da liberdade, da
igualdade, e da propriedade), bem como o aspecto de direito so-
4 Segurança pública (art. 144, CF). Dispositivo constitucio-
cial, por estar prevista no art. 6º, da Constituição Federal. A se-
nal pertinente ao tema: gurança do caput, do art. 5º, CF, todavia, se refere à “segurança
jurídica”. Já a segurança do art. 6º, CF, se refere à “segurança
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e res- pública”, a qual encontra disciplinamento no art. 144, da Consti-
ponsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem tuição da República.
pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através Ademais, enquanto a Lei Fundamental pátria preceitua que
dos seguintes órgãos: a educação e a saúde são “direitos de todos e dever do Estado”,
I - polícia federal; fala, por outro lado, que a segurança pública, antes mesmo de ser
II - polícia rodoviária federal; direito de todos, é um “dever do Estado”. Com isso, isto é, ao co-
III - polícia ferroviária federal; locar a segurança pública antes de tudo como um dever do Estado,
IV - polícias civis; e só depois como um direito do todos, denota o compromisso dos
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares. agentes estatais em prevenir a desordem, e, consequencialmente,
evitar a justiça por próprias mãos.
§1º. A polícia federal, instituída por lei como órgão perma-
Neste prumo, no art. 144, caput, da Constituição Federal, se
nente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira,
afirma que a segurança pública é exercida para a preservação da
destina-se a: ordem pública e da incolumidade das pessoas, como para a pre-
I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou servação dos patrimônios público e particular.
em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas
entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras in- 4.2 Órgãos que compõem a estrutura da segurança públi-
frações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacio- ca. São eles:
nal e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei; A) A polícia federal;
II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e dro- B) A polícia rodoviária federal;
gas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação C) A polícia ferroviária federal;
fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de D) As polícias civis;
competência; E) As polícias militares e corpos de bombeiros militares.

Didatismo e Conhecimento 16
NOÇÕES DE DIREITO
4.3 Função da Polícia Federal. A polícia federal, instituída (D) Um cidadão qualquer, por meio de ação popular, requerer
por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União a anulação do contrato, por ser lesivo ao patrimônio público e à
e estruturado em carreira, destina-se: moralidade administrativa, ficando o autor, salvo comprovada má-
A) A apurar infrações penais contra a ordem política e social -fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência.
ou em detrimento de bens, serviços e interessas da União ou de (E) O Procurador-Geral de Justiça, por meio de mandado de
suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras injunção, requerer que fosse declarada a omissão do Poder Público
infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou interna- municipal no cumprimento de sua obrigação de prestar serviços.
cional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei;
B) A prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e 2. (ANALISTA JUDICIÁRIO - TRF/2ª REGIÃO - 2012 -
FCC) Considere:
drogas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação
I. O Partido Político A, regularmente constituído, não possui
fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de representação no Congresso Nacional.
competência; II. O Sindicato B, legalmente constituído, está em funciona-
C) A exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e mento há dois anos.
de fronteiras; III. A Associação C, legalmente constituída, está em funciona-
D) A exercer, com exclusividade, as funções de polícia judi- mento há um ano e quinze dias.
ciária da União. IV. A Associação D, legalmente constituída, está em funciona-
4.4 Função da Polícia Rodoviária Federal. A polícia rodo- mento há dez meses.
viária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União De acordo com a Constituição Federal brasileira, possuem le-
e estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulha- gitimidade para impetrar mandado de segurança coletivo apenas
mento ostensivo das rodovias federais. os entes indicados em:
(A) II e III.
4.5 Função da Polícia Ferroviária Federal. A polícia ferro- (B) I, II e III.
(C) II, III e IV.
viária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União
(D) III e IV.
e estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulha- (E) I e II.
mento ostensivo das ferrovias federais.
3. (ANALISTA - MPE/RO - 2012 - FUNCAB) O mandado
4.6 Função das Polícias Civis. Às polícias civis, dirigidas por de injunção é instrumento processual, previsto pela Constituição
delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a compe- Federal, para a hipótese de:
tência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de (A) Sigilo ilegal de informações relativas à pessoa do impe-
infrações penais, exceto as militares. trante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades
governamentais ou de caráter público.
4.7 Função das Polícias Militares. Às polícias militares ca- (B) Ameaça ou sofrimento de violência ou coação à liberdade
bem o papel de polícia ostensiva e a preservação da ordem pú- de locomoção.
blica. (C) Ofensa a direito líquido e certo, não amparado por habeas
corpus, ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou
abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica
4.8 Função dos Corpos de Bombeiros Militares. Além das
no exercício de atribuições do Poder Público.
atividades definidas em lei, incumbe aos corpos de bombeiros mi- (D) A falta de norma regulamentadora tornar viável o exer-
litares a execução de atividades de defesa civil. cício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas
inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania.
QUESTÕES DE FIXAÇÃO (E) Dano ao patrimônio público, ao meio ambiente, ao patri-
mônio histórico e cultural ou ofensa à moralidade administrativa.
1. (ANALISTA JUDICIÁRIO - TRE/SP - 2012 - FCC) Um
órgão da Administração direta de determinado Município efetua 4. (ANALISTA JUDICIÁRIO - CNJ - 2013 - CESPE) Em
contratação de serviços que poderiam ser prestados por servidores relação à CF e aos direitos e garantias fundamentais dos cidadãos
públicos, sem realizar licitação e sem que o ato que determinou a brasileiros, julgue o item seguinte: “Serão considerados equiva-
contratação tivesse sido precedido de justificativa. Nessa hipótese, lentes às emendas constitucionais os tratados internacionais sobre
poderia: direitos humanos referendados em ambas as Casas do Congresso
(A) O Ministério Público, por meio de mandado de segurança Nacional em dois turnos de votação e por um terço dos respectivos
membros”.
coletivo, requerer que fosse declarada a ilegalidade da contratação,
por ofensa aos princípios constitucionais de realização de licitação 5. (INSPETOR DE POLÍCIA CIVIL - PC/ES - 2012 -
e motivação dos atos administrativos. CESPE) Julgue o seguinte item: “Considere que uma manifes-
(B) Uma associação de servidores públicos municipais, por tação pública realizada por determinado grupo religioso tenha
meio de habeas data, requerer a anulação da contratação e a deter- atraído uma multidão hostil e que, quando a polícia foi chamada
minação de que seja realizado concurso público para contratação a intervir, o líder do grupo tenha chamado os policiais de fascis-
de novos servidores, com vistas ao desempenho das atividades. tas, criando uma situação de perigo de pronta e violenta retaliação
(C) Um servidor público integrante dos quadros do órgão mu- por parte dos policiais. Nessa situação, o líder do movimento está
nicipal, por meio de mandado de segurança, requerer a anulação amparado pela garantia constitucional que assegura a liberdade de
do ato praticado pelo dirigente do órgão, por abuso de poder. expressão”.

Didatismo e Conhecimento 17
NOÇÕES DE DIREITO
6. (TÉCNICO JUDICIÁRIO - TRF/2ª REGIÃO - 2012 - 11. (ANALISTA JUDICIÁRIO - TRT/10ª Região - 2013 -
FCC) Sobre os Direitos e Garantias Fundamentais, considere: CESPE) No que concerne ao regime constitucional da administra-
I. Os tratados e convenções internacionais sobre direitos hu- ção pública, julgue o item seguinte: “A CF autoriza a acumulação
manos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacio- remunerada de dois cargos de técnico-administrativo, desde que
nal, em turno único, por três quintos dos votos dos respectivos haja compatibilidade de horários e seja observado o teto constitu-
membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. cional da remuneração do serviço público”.
II. São gratuitas as ações de habeas corpus e habeas data.
III. O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Inter- 12. (ANALISTA JUDICIÁRIO - TRT/1ª Região - 2013 -
nacional a cuja criação tenha manifestado adesão. FCC) Considere as seguintes afirmações em relação ao regime ju-
IV. É assegurada, nos termos da lei, a proteção à reprodução rídico dos servidores públicos, à luz da Constituição da República
da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades desportivas. e da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal sobre a matéria:
Nos termos da Constituição Federal de 1988, está correto o I. Dentro do prazo de validade de concurso público, a Admi-
que consta apenas em: nistração poderá escolher o momento no qual se realizará a nome-
(A) I, III e IV. ação, mas não poderá dispor sobre a própria nomeação, estando
(B) I, II e III. obrigada a nomear os aprovados dentro do número de vagas pre-
(C) II e IV. visto no edital, ressalvadas situações excepcionalíssimas que justi-
(D) II, III e IV. fiquem soluções diferenciadas, devidamente motivadas de acordo
(E) I e II. com o interesse público.
II. Salvo nos casos previstos na Constituição, o salário mínimo
7. (EXAME DE ORDEM UNIFICADO - OAB - 2012 - não pode ser usado como indexador de base de cálculo de vanta-
FGV) A Constituição assegura, entre os direitos e garantias indi- gem de servidor público, nem ser substituído por decisão judicial.
viduais, a inviolabilidade do domicílio, afirmando que “a casa é III. Até que sobrevenha lei específica para regulamentar o
asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem exercício do direito de greve pelos servidores públicos civis, apli-
o consentimento do morador” (art. 5º, XI, CRFB). A esse respeito, ca-se-lhes, no que couber, a lei que disciplina o exercício do direito
assinale a alternativa correta: de greve dos trabalhadores em geral.
(A) O conceito de “casa” é abrangente e inclui quarto de hotel. Está correto o que se afirma em:
(B) O conceito de casa é abrangente, mas não inclui escritório (A) I e II, apenas.
de advocacia. (B) I e III, apenas.
(C) A prisão em flagrante durante o dia é um limite a essa ga- (C) II e III, apenas.
rantia, mas apenas quando houver mandado judicial. (D) I, II e III.
(D) A prisão em quarto de hotel obedecendo a mandado judi- (E) I, apenas.
cial pode se dar no período noturno.
13. (ANALISTA JUDICIÁRIO - TRE/MS - 2013 - CES-
8. (ANALISTA JUDICIÁRIO - CNJ - 2013 - CESPE) PE) Considerando o que dispõe a CF acerca da administração pú-
Acerca dos princípios fundamentais da Constituição Federal de blica, assinale a opção correta:
1988 (CF), julgue o item que segue: “A República Federativa do (A) As funções de confiança podem ser livremente preenchi-
Brasil rege-se, nas suas relações internacionais, pelos seguintes das pela administração.
princípios: independência nacional; prevalência dos direitos hu- (B) A CF garante ao servidor público civil o direito à livre
manos; autodeterminação dos povos; não intervenção; igualdade associação sindical.
entre os Estados; defesa da paz; solução pacífica dos conflitos; re- (C) Os servidores públicos não possuem direito constitucional
púdio ao terrorismo e ao racismo; cooperação entre os povos para à greve.
o progresso da humanidade; e concessão de asilo político”. (D) É exigida a prévia aprovação em concurso público de pro-
vas e títulos para a investidura em cargo público, ainda que o cargo
9. (ANALISTA TÉCNICO - DPE/SC - 2013 - FEPESE) seja declarado, em lei, de livre nomeação e exoneração.
Assinale a alternativa correta em matéria de Direito Constitucio- (E) O prazo de validade de concurso público pode ser de até
nal. É fundamento da República Federativa do Brasil: cinco anos, vedada qualquer prorrogação.
(A) A defesa da paz.
(B) Erradicar a pobreza. 14.  (DELEGADO DE POLÍCIA - PC/GO - 2008 - UEG/
(C) A dignidade da pessoa humana. NÚCLEO) São atribuições da Polícia Federal:
(D) A prevalência dos direitos humanos. (A) Apurar infrações penais contra a ordem pública e social
(E) Construir uma sociedade livre, justa e solidária. ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de
suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras
10. (ANALISTA JUDICIÁRIO - TRT/10ª Região - 2013 infrações cuja prática tenha repercussão regional ou interestadual e
- CESPE) Acerca dos princípios fundamentais expressos na Cons- exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei.
tituição Federal de 1988 (CF) e da aplicabilidade das normas cons- (B) Prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e dro-
titucionais, julgue o item a seguir: “A dignidade da pessoa humana gas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação
e o pluralismo político são princípios fundamentais da República fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de
Federativa do Brasil”. competência.

Didatismo e Conhecimento 18
NOÇÕES DE DIREITO
(C) Exercer, concorrentemente com as polícias civis e milita-
res, as funções de polícia judiciária da União.
Prof. Bruna Pinotti Garcia.
(D) Exercer as funções de polícia marítima, fluvial, aeropor-
Advogada e pesquisadora. Sócia da EPS&O Consultoria
tuária e de fronteiras.
Ambiental. Mestre em Teoria do Direito e do Estado pelo Centro
Universitário Eurípides de Marília (UNIVEM) - bolsista CAPES.
15. (INSPETOR DE POLÍCIA - PC/RJ - 2008 - PC/RJ)
Membro dos grupos de pesquisa “Constitucionalização do Direito
Incumbe à Polícia Civil, de acordo com as disposições constitucio-
Processual” e “Núcleo de Estudos e Pesquisas em Direito e Inter-
nais vigentes, a função de:
net”. Professora de curso preparatório para concursos. Autora de
(A) Polícia administrativa.
diversos artigos jurídicos publicados em revistas qualificadas e
(B) Polícia ostensiva.
anais de eventos, notadamente na área do direito eletrônico.
(C) Polícia executiva.
(D) Polícia judiciária.
(E) Polícia repressiva.
2.2 DIREITOS HUMANOS
GABARITO 2.2.1 DIREITOS HUMANOS: NOÇÃO, SIGNI-
FICADO, FINALIDADES E HISTÓRIA.
1. Alternativa “D”
2. Alternativa “A”
3. Alternativa “D”
4. Afirmação errada
Teoria geral dos direitos humanos é o estudo dos direitos hu-
5. Afirmação errada
manos, desde os seus elementos básicos como conceito, caracterís-
6. Alternativa “D”
ticas, fundamentação e finalidade, passando pela análise histórica
7. Alternativa “A”
e chegando à compreensão de sua estrutura normativa.
8. Afirmação correta
Na atualidade, a primeira noção que vem à mente quando se
9. Alternativa “C”
fala em direitos humanos é a dos documentos internacionais que os
10. Afirmação correta
consagram, aliada ao processo de transposição para as Constitui-
11. Afirmação errada
ções Federais dos países democráticos. Contudo, é possível apro-
12. Alternativa “D”
fundar esta noção se tomadas as raízes históricas e filosóficas dos
13. Alternativa “B”
direitos humanos, as quais serão abordadas em detalhes adiante,
14. Alternativa “B”
acrescentando-se que existem direitos inatos ao homem indepen-
15. Alternativa “D”
dentemente de previsão expressa por serem elementos essenciais
na construção de sua dignidade.
REFERÊNCIAS
Logo, um conceito preliminar de direitos humanos pode ser
estabelecido: direitos humanos são aqueles inerentes ao homem
CUNHA JÚNIOR, Dirley da. Curso de direito constitucional.
enquanto condição para sua dignidade que usualmente são des-
6. ed. Salvador: JusPODIUM, 2012.
critos em documentos internacionais para que sejam mais segura-
mente garantidos. A conquista de direitos da pessoa humana é, na
FACHIN, Zulmar. Curso de direito constitucional. Rio de Ja-
verdade, uma busca da dignidade da pessoa humana.
neiro: Forense, 2013.
O direito natural se contrapõe ao direito positivo, localizado
no tempo e no espaço: tem como pressuposto a ideia de imutabi-
LAZARI, Rafael José Nadim de; BERNARDI, Renato. En-
lidade de certos princípios, que escapam à história, e a universali-
saios escolhidos de direito constitucional. Brasília: Kiron, 2013.
dade destes princípios transcendem a geografia. A estes princípios,
que são dados e não postos por convenção, os homens têm aces-
MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires;
so através da razão comum a todos (todo homem é racional), e
BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional.
são estes princípios que permitem qualificar as condutas humanas
5. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
como boas ou más, qualificação esta que promove uma contínua
vinculação entre norma e valor e, portanto, entre Direito e Moral.1
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional posi-
As premissas dos direitos humanos se encontram no conceito
tivo. 35. ed. São Paulo: Malheiros, 2012.
de lei natural. Lei natural é aquela inerente à humanidade, inde-
pendentemente da norma imposta, e que deve ser respeitada acima
LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 17. ed.
de tudo. O conceito de lei natural foi fundamental para a estrutu-
São Paulo: Saraiva, 2013.
ração dos direitos dos homens, ficando reconhecido que a pessoa
humana possui direitos inalienáveis e imprescritíveis, válidos em
VADE MECUM SARAIVA. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.
qualquer tempo e lugar, que devem ser respeitados por todos os
Estados e membros da sociedade. O direito natural é, então, co-
1 LAFER, Celso. A reconstrução dos direitos humanos:
um diálogo com o pensamento de Hannah Arendt. São Paulo: Cia.
das Letras, 2009.

Didatismo e Conhecimento 19
NOÇÕES DE DIREITO
mum a todos e, ligado à própria origem da humanidade, representa cação, saúde e bem-estar), culturais (participação na vida cultural)
um padrão geral, funcionando como instrumento de validação das e ambientais (meio ambiente saudável, sustentabilidade para as fu-
ordens positivas2. turas gerações). Percebe-se uma proximidade entre os direitos hu-
O direito natural, na sua formulação clássica, não é um con- manos e os direitos fundamentais do homem, o que ocorre porque
junto de normas paralelas e semelhantes às do direito positivo, e o valor da pessoa humana na qualidade de valor-fonte da ordem
sim o fundamento deste direito positivo, sendo formado por nor- de vida em sociedade fica expresso juridicamente nestes direitos
mas que servem de justificativa a este, por exemplo: “deve se fazer fundamentais do homem.
o bem”, “dar a cada um o que lhe é devido”, “a vida social deve ser As normas de direitos humanos e direitos fundamentais, por
conservada”, “os contratos devem ser observados” etc.3 sua própria natureza, possuem baixa densidade normativa. Isso
Em literatura, destaca-se a obra do filósofo Sófocles4 intitula- significa que elas abrem alta margem para interpretação e geral-
da Antígona, na qual a personagem se vê em conflito entre seguir mente adotam a forma de princípios, não de regras.
o que é justo pela lei dos homens em detrimento do que é justo por Neste sentido, toma-se a divisão clássica de Alexy5, segundo
natureza quando o rei Creonte impõe que o corpo de seu irmão não o qual a distinção entre regras e princípios é uma distinção entre
seja enterrado porque havia lutado contra o país. Neste sentido, dois tipos de normas, fornecendo juízos concretos para o dever ser.
a personagem Antígona defende, ao ser questionada sobre o des- A diferença essencial é que princípios são normas de otimização,
cumprimento da ordem do rei: “sim, pois não foi decisão de Zeus; ao passo que regras são normas que são sempre satisfeitas ou não.
e a Justiça, a deusa que habita com as divindades subterrâneas, ja- Se as regras se conflitam, uma será válida e outra não. Se princí-
mais estabeleceu tal decreto entre os humanos; tampouco acredito pios colidem, um deles deve ceder, embora não perca sua validade
que tua proclamação tenha legitimidade para conferir a um mortal e nem exista fundamento em uma cláusula de exceção, ou seja,
o poder de infringir as leis divinas, nunca escritas, porém irrevogá- haverá razões suficientes para que em um juízo de sopesamento
veis; não existem a partir de ontem, ou de hoje; são eternas, sim! E (ponderação) um princípio prevaleça. Enquanto adepto da adoção
ninguém pode dizer desde quando vigoram! Decretos como o que de tal critério de equiparação normativa entre regras e princípios,
proclamaste, eu, que não temo o poder de homem algum, posso o jurista alemão Robert Alexy é colocado entre os nomes do pós-
violar sem merecer a punição dos deuses! [...]”. -positivismo.
O desrespeito às normas de direito natural - e porque não di- Ainda assim, é possível verificar, com relação a estas normas
zer de direitos humanos - leva à invalidade da norma que assim o específicas, princípios ou tendências mais abrangentes, que envol-
preveja (Ex: autorizar a tortura para fins de investigação penal e vem um grupo de diretrizes ou então indiretamente compõem to-
processual penal não é simplesmente inconstitucional, é mais que das elas. Em outras palavras, existem determinados fundamentos
isso, por ser inválida perante a ordem internacional de garantia de que pairam sobre todos os princípios e regras de direitos humanos
direitos naturais/humanos uma norma que contrarie a dignidade e fundamentais, como o caso da dignidade da pessoa humana, da
inerente ao homem sob o aspecto da preservação de sua vida e democracia e da razoabilidade-proporcionalidade, ou referem-se
integridade física e moral). especificamente a um grupo deles, a exemplo da liberdade, da
Enfim, quando questões inerentes ao direito natural passam a igualdade e da fraternidade.
ser colocadas em textos expressos tem-se a formação de um con- Por isso, embora a nomenclatura princípio seja usual em dou-
ceito contemporâneo de direitos humanos. Entre outros documen- trina e jurisprudência quanto a estes elementos que serão estudados
tos a partir dos quais tal concepção começou a ganhar forma, des- neste capítulo, opta-se, para fins de distinção dos demais princípios
tacam-se: Magna Carta de 1215, Bill of Rights ao final do século específicos, a adoção do vocábulo fundamento. Logo, pretende-se
XVII e Constituições da Revolução Francesa de 1789 e Americana deixar evidente que a existência de normas específicas de baixa
de 1787. No entanto, o documento que constitui o marco mais sig- densidade normativa, adotando a forma de princípio jurídico, não
nificativo para a formação de uma concepção contemporânea de exclui normas ainda mais abrangentes, também tomando a forma
direitos humanos é a Declaração Universal de Direitos Humanos de princípio, com baixíssima densidade normativa, a ponto de po-
de 1948. Após ela, muitos outros documentos relevantes surgiram, derem ser consideradas fundamentos base de todo o sistema de
como o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e Pacto direitos humanos e fundamentais.
Internacional de Direitos Humanos, Sociais e Culturais, ambos de O principal fundamento de direitos humanos, sem sombra de
1966, além da Convenção Interamericana de Direitos Humanos dúvidas, é a dignidade da pessoa humana. A exemplo do que ex-
(Pacto de São José da Costa Rica) de 1969, entre outros. põe Comparato6: “Uma das tendências marcantes do pensamento
A finalidade primordial dos direitos humanos é garantir que moderno é a convicção generalizada de que o verdadeiro funda-
a dignidade do homem não seja violada, estabelecendo um rol mento de validade - do direito em geral e dos direitos humanos
de bens jurídicos fundamentais que merecem proteção ineren- em particular - já não deve ser procurado na esfera sobrenatural da
tes, basicamente, aos direitos civis (vida, segurança, propriedade revelação religiosa, nem tampouco numa abstração metafísica - a
e liberdade), políticos (participação direta e indireta nas decisões natureza - como essência imutável de todos os entes no mundo.
políticas), econômicos (trabalho), sociais (igualdade material, edu- Se o direito é uma criação humana, o seu valor deriva, justamen-
2 LAFER, Celso. A reconstrução dos direitos humanos: 5 ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais.
um diálogo com o pensamento de Hannah Arendt. São Paulo: Cia. Tradução Virgílio Afonso da Silva. 2. ed. São Paulo: Malheiros,
das Letras, 2009. 2011.
3 MONTORO, André Franco. Introdução à ciência do 6 COMPARATO, Fábio Konder. Fundamento dos
Direito. 26. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. Direitos Humanos. Instituto de Estudos Avançados da USP,
4 SÓFOCLES. Édipo rei / Antígona. Tradução Jean 1997. Disponível em: <http://www.iea.usp.br/publicacoes/textos/
Melville. São Paulo: Martin Claret, 2003. comparatodireitoshumanos.pdf>. Acesso em: 02 jul. 2013.

Didatismo e Conhecimento 20
NOÇÕES DE DIREITO
te, daquele que o criou. O que significa que esse fundamento não nidade. Como se depreende do sistema internacional de proteção
é outro, senão o próprio homem, considerado em sua dignidade de direitos humanos tais fundamentos lançam base para a declara-
substancial de pessoa, diante da qual as especificações individuais ção de inúmeros direitos humanos, servindo de viés para a leitura
e grupais são sempre secundárias”. de todos eles. Assim, são mais do que princípios e sim verdadeiros
A dignidade da pessoa humana é o valor-base de interpre- nortes para a proteção internacional dos direitos humanos.
tação de qualquer sistema jurídico, internacional ou nacional, que Não obstante, pela larga margem de interpretação que decorre
possa se considerar compatível com os valores éticos, notadamen- da baixa densidade normativa das normas de direitos humanos,
te da moral, da justiça e da democracia. Pensar em dignidade da surgem como fundamentos para a interpretação sistêmica a razo-
pessoa humana significa, acima de tudo, colocar a pessoa humana abilidade e a proporcionalidade. Alexy8 entende que determina-
como centro e norte para qualquer processo de interpretação jurídi- dos valores exteriorizam tudo o que é levado em conta num sope-
co, seja na elaboração da norma, seja na sua aplicação. samento de direitos fundamentais: “assim, com poucos conceitos,
A menção constante da dignidade no que pode ser conside- como ‘dignidade’, ‘liberdade’, ‘igualdade’, ‘proteção’ e ‘bem-es-
rado o principal instrumento de declaração de direitos humanos tar da comunidade’, é possível abarcar quase tudo aquilo que tem
universais, qual seja a Declaração Universal de 1948, desde o seu que ser levado em consideração em um sopesamento de direitos
início a coloca não só como principal norte de interpretação das fundamentais”. Por sua vez, “segundo a lei do sopesamento, a me-
normas de direitos humanos como um todo, mas como a justifica- dida permitida de não-satisfação ou de afetação de um princípio
tiva principal para a criação de um sistema internacional com tal
depende do grau de importância da satisfação do outro”9 .
natureza de proteção.
Os fundamentos de direitos humanos servem como norte para
Comparato7 aponta outros fundamentos de direitos humanos
toda norma de proteção dos direitos humanos, tanto no processo de
associados à dignidade da pessoa humana:
elaboração quanto no de aplicação, sempre tendo em vista a pro-
a) Autoconsciência: “Contrariamente aos outros animais, o
homem não tem apenas memória de fatos exteriores, incorporada moção da dignidade da pessoa humana em todas suas dimensões
ao mecanismo de seus instintos, mas possui a consciência de sua de direitos.
própria subjetividade, no tempo e no espaço; sobretudo, consciên- Os direitos humanos possuem as seguintes características
cia de sua condição de ser vivente e mortal”. principais:
b) Sociabilidade: “[...] o indivíduo humano somente desen- 1) Historicidade: os direitos humanos possuem antecedentes
volve as suas virtualidades de pessoa, isto é, de homem capaz de históricos relevantes e, através dos tempos, adquirem novas pers-
cultura e auto-aperfeiçoamento, quando vive em sociedade. É pre- pectivas. Nesta característica se enquadra a noção de dimensões
ciso não esquecer que as qualidades eminentes e próprias do ser de direitos.
humano - a razão, a capacidade de criação estética, o amor - são 2) Universalidade: os direitos humanos pertencem a todos e
essencialmente comunicativas”. por isso se encontram ligados a um sistema global (ONU), o que
c) Historicidade: “A substância da natureza humana é his- impede o retrocesso.
tórica, isto é, vive em perpétua transformação, pela memória do 3) Inalienabilidade: os direitos humanos não possuem con-
passado e o projeto do futuro”. teúdo econômico-patrimonial, logo, são intransferíveis, inegoci-
d) Unicidade existencial: “outra característica essencial da áveis e indisponíveis, estando fora do comércio, o que evidencia
condição humana é o fato de que cada um de nós se apresenta uma limitação do princípio da autonomia privada.
como um ente único e rigorosamente insubstituível no mundo”. 4) Irrenunciabilidade: direitos humanos não podem ser re-
Outro fundamento de direitos humanos é a democracia. A nunciados pelo seu titular devido à fundamentalidade material des-
adoção da forma democrática de Estado aparece como fundamento tes direitos para a dignidade da pessoa humana.
dos direitos humanos por ser um pressuposto para que eles pos- 5) Inviolabilidade: direitos humanos não podem deixar de ser
sam ser adequadamente exercidos. Em outras palavras, fora de um observados por disposições infraconstitucionais ou por atos das
Estado democrático, não há possibilidade de exercício pleno de autoridades públicas, sob pena de nulidades.
nenhuma das dimensões de direito: a liberdade fica tolhida pela 6) Indivisibilidade: os direitos humanos compõem um único
censura, os direitos políticos pelo impedimento da participação conjunto de direitos porque não podem ser analisados de maneira
popular, os direitos econômicos, sociais e culturais pela manipula- isolada, separada.
ção de recursos ao que é conveniente ao governo antidemocrático
7) Imprescritibilidade: os direitos humanos não se perdem
e não ao interesse coletivo, os direitos de solidariedade pela im-
com o tempo, não prescrevem, uma vez que são sempre exercíveis
possibilidade de criação de consciência coletiva sem o exercício
e exercidos, não deixando de existir pela falta de uso (prescrição).
e a efetivação dos direitos individuais. Na Declaração de 1948,
8) Complementaridade: os sistemas regionais descentrali-
o conceito de democracia aparece associado adequadamente ao
pressuposto de um Estado de Direito que propicie e assegure todos zam a ONU para respeitar a complementaridade, ou seja, os di-
os direitos humanos e fundamentais. ferentes elementos de base cultural, religiosa e social das diversas
Pode-se afirmar que o centro das três primeiras dimensões de regiões.
direitos humanos consagrados também constituem fundamentos 8 ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais.
de direitos humanos, quais sejam: liberdade, igualdade e frater- Tradução Virgílio Afonso da Silva. 2. ed. São Paulo: Malheiros,
7 COMPARATO, Fábio Konder. Fundamento dos 2011.
Direitos Humanos. Instituto de Estudos Avançados da USP, 9 ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais.
1997. Disponível em: <http://www.iea.usp.br/publicacoes/textos/ Tradução Virgílio Afonso da Silva. 2. ed. São Paulo: Malheiros,
comparatodireitoshumanos.pdf>. Acesso em: 02 jul. 2013. 2011.

Didatismo e Conhecimento 21
NOÇÕES DE DIREITO
9) Interdependência: as dimensões de direitos humanos mas com a legislação passou a ter um conteúdo palpável, de modo
apresentam uma relação orgânica entre si, logo, a dignidade da que a justiça deveria corresponder às leis da cidade; entretanto, é
pessoa humana deve ser buscada por meio da implementação mais preciso considerar que os costumes primitivos trazem o justo por
eficaz e uniforme das liberdades clássicas, dos direitos sociais, natureza, que pode se contrapor ao justo por convenção ou legisla-
econômicos e de solidariedade como um todo único e indissolúvel. ção, devendo prevalecer o primeiro, que se refere ao naturalmente
10) Efetividade: para dar efetividade aos direitos humanos a justo, sendo esta a origem da ideia de lei natural.
ONU se subdivide, isto é, o tratamento é global mas certas áreas De início, a literatura grega trouxe na obra Antígona uma dis-
irão cuidar de determinados direitos de suas regiões. Além disso, cussão a respeito da prevalência da lei natural sobre a lei posta. Na
há uma descentralização para os sistemas regionais para preservar obra, a protagonista discorda da proibição do rei Creonte de que
a complementaridade, sem a qual não há efetividade. Reflete tal seu irmão fosse enterrado, uma vez que ele teria traído a pátria. As-
característica a aplicabilidade imediata dos direitos humanos pre- sim, enterra seu irmão e argumenta com o rei que nada do que seu
vista no art. 5°, §1° da Constituição Federal. irmão tivesse feito em vida poderia dar o direito ao rei de violar a
11) Relatividade: o princípio da relatividade dos direitos hu- regra imposta pelos deuses de que todo homem deveria ser enter-
manos possui dois sentidos: por um, o multiculturalismo existente rado para que pudesse partir desta vida: a lei natural prevaleceria
no globo impede que a universalidade se consolide plenamente, então sobre a ordem do rei.13
de forma que é preciso levar em consideração as culturas locais Os sofistas, seguidores de Sócrates (470 a.C. - 399 a.C.), o
para compreender adequadamente os direitos humanos; por outro, primeiro grande filósofo grego, questionaram essa concepção de
os direitos humanos não podem ser utilizados como um escudo lei natural, pois a lei estabelecida na polis, fruto da vontade dos
para práticas ilícitas ou como argumento para afastamento ou di- cidadãos, seria variável no tempo e no espaço, não havendo que
minuição da responsabilidade por atos ilícitos, assim os direitos se falar num direito imutável; ao passo que Aristóteles (384 a.C. -
humanos não são ilimitados e encontram seus limites nos demais 322 a.C.), que o sucedeu, estabeleceu uma divisão entre a justiça
direitos igualmente consagrados como humanos. positiva e a natural, reconhecendo que a lei posta poderia não ser
O surgimento dos direitos humanos está envolvido num his- justa14.
tórico complexo no qual pesaram vários fatores: tradição huma- Aristóteles15 argumenta: “lei particular é aquela que cada co-
nista, recepção do direito romano, senso comum da sociedade da munidade determina e aplica a seus próprios membros; ela é em
Europa na Idade Média, tradição cristã, entre outros10. Com efeito, parte escrita e em parte não escrita. A lei universal é a lei da na-
são muitos os elementos relevantes para a formação do conceito tureza. Pois, de fato, há em cada um alguma medida do divino,
de direitos humanos tal qual perceptível na atualidade de forma uma justiça natural e uma injustiça que está associada a todos os
que é difícil estabelecer um histórico linear do processo de forma- homens, mesmo naqueles que não têm associação ou pacto com
ção destes direitos. Entretanto, é possível apontar alguns fatores outro”.
históricos e filosóficos diretamente ligados à construção de uma Nesta linha, destaca-se o surgimento do estoicismo, doutri-
concepção contemporânea de direitos humanos. na que se desenvolveu durante seis séculos, desde os últimos três
É a partir do período axial (800 a.C. a 200 a.C.), ou seja, mes- séculos anteriores à era cristã até os primeiros três séculos desta
mo antes da existência de Cristo, que o ser humano passou a ser era, mas que trouxe ideias que prevaleceram durante toda a Idade
considerado, em sua igualdade essencial, como um ser dotado de Média e mesmo além dela. O estoicismo organizou-se em torno
liberdade e razão. Surgiam assim os fundamentos intelectuais para de algumas ideias centrais, como a unidade moral do ser humano
a compreensão da pessoa humana e para a afirmação da existência e a dignidade do homem, considerado filho de Zeus e possuidor,
de direitos universais, porque a ela inerentes. Durante este período como consequência, de direitos inatos e iguais em todas as partes
que despontou a ideia de uma igualdade essencial entre todos os do mundo, não obstante as inúmeras diferenças individuais e gru-
homens. Contudo, foram necessários vinte e cinco séculos para pais16.
que a Organização das Nações Unidas - ONU, que pode ser con- Influenciado pelos estóicos, Cícero (106 a.C. - 43 a.C.), um
siderada a primeira organização internacional a englobar a quase- dos principais pensadores do período da jovem república romana,
-totalidade dos povos da Terra, proclamasse, na abertura de uma também defendeu a existência de uma lei natural. Neste sentido é
Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, que “todos a assertiva de Cícero17: “a razão reta, conforme à natureza, gravada
os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos”11. em todos os corações, imutável, eterna, cuja voz ensina e pres-
No berço da civilização grega continuou a discussão a respei- creve o bem, afasta do mal que proíbe e, ora com seus mandados,
to da existência de uma lei natural inerente a todos os homens. As ora com suas proibições, jamais se dirige inutilmente aos bons,
premissas da concepção de lei natural estão justamente na discus- nem fica impotente ante os maus. Essa lei não pode ser contestada,
são promovida na Grécia antiga, no espaço da polis. Neste sentido, nem derrogada em parte, nem anulada; não podemos ser isentos de
destaca Assis12 que, originalmente, a concepção de lei natural está 13 SÓFOCLES. Édipo rei / Antígona. Tradução Jean
ligada não só à de natureza, mas também à de diké: a noção de Melville. São Paulo: Martin Claret, 2003.
justiça simbolizada a partir da deusa diké é muito ampla e abstrata, 14 ASSIS, Olney Queiroz. O estoicismo e o Direito: justiça,
10 COSTA, Paulo Sérgio Weyl A. Direitos Humanos e liberdade e poder. São Paulo: Lúmen, 2002.
Crítica Moderna. Revista Jurídica Consulex. São Paulo, ano XIII, 15 ARISTÓTELES. Retórica. Tradução Marcelo Silvano
n. 300, p. 27-29, jul. 2009. Madeira. São Paulo: Rideel, 2007. 
11 COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica 16 COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica
dos Direitos Humanos. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. dos Direitos Humanos. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2004.
12 ASSIS, Olney Queiroz. O estoicismo e o Direito: justiça, 17 CÍCERO, Marco Túlio. Da República. Tradução Amador
liberdade e poder. São Paulo: Lúmen, 2002. Cisneiros. Rio de Janeiro: Ediouro, 1995.

Didatismo e Conhecimento 22
NOÇÕES DE DIREITO
seu cumprimento pelo povo nem pelo senado; não há que procurar Em geral, o absolutismo europeu foi marcado profundamen-
para ela outro comentador nem intérprete; não é uma lei em Roma te pelo antropocentrismo, colocando o homem no centro do uni-
e outra em Atenas, - uma antes e outra depois, mas uma, sempiter- verso, ocupando o espaço de Deus. Naturalmente, as premissas
na e imutável, entre todos os povos e em todos os tempos”. da lei natural passaram a ser questionadas, já que geralmente se
Com a queda do Império Romano, iniciou-se o período me- associavam à dimensão do divino. A negação plena da existência
dieval, predominantemente cristianista. Um dos grandes pensado- de direitos inatos ao homem implicava em conferir um poder irres-
res do período, Santo Tomás de Aquino (1225 d.C. -1274 d.C.)18, trito ao soberano, o que gerou consequências que desagradavam a
supondo que o mundo e toda a comunidade do universo são regi- burguesia.
dos pela razão divina e que a própria razão do governo das coisas O príncipe, obra de Maquiavel (1469 d.C. - 1527 d.C.) consi-
em Deus fundamenta-se em lei, entendeu que existe uma lei eterna derada um marco para o pensamento absolutista, relata com preci-
ou divina, pois a razão divina nada concebe no tempo e é sempre são este contexto no qual o poder do soberano poderia se sobrepor
eterna. Com base nisso, Aquino19 chamou de lei natural “a par- a qualquer direito alegadamente inato ao ser humano desde que
ticipação da lei eterna na lei racional”. Sobre o conteúdo da lei sua atitude garantisse a manutenção do poder. Maquiavel22 consi-
natural, definiu Aquino (2005, p. 562) que “todas aquelas coisas dera “na conduta dos homens, especialmente dos príncipes, contra
que devem ser feitas ou evitadas pertencem aos preceitos da lei de a qual não há recurso, os fins justificam os meios. Portanto, se um
natureza, que a razão prática naturalmente apreende ser bens hu- príncipe pretende conquistar e manter o poder, os meios que em-
manos”. Logo, a lei natural determina o agir virtuoso, o que se es- pregue serão sempre tidos como honrosos, e elogiados por todos,
pera do homem em sociedade, independentemente da lei humana. pois o vulgo atenta sempre para as aparências e os resultados”.
Com a concepção medieval de pessoa humana é que se iniciou Os monarcas dos séculos XVI, XVII e XVIII agiam de forma
um processo de elaboração em relação ao princípio da igualdade autocrática, baseados na teoria política desenvolvida até então que
de todos, independentemente das diferenças existentes, seja de or- negava a exigência do respeito à Ética, logo, ao direito natural,
dem biológica, seja de ordem cultural. Foi assim, então, que surgiu no espaço público. Somente num momento histórico posterior se
o conceito universal de direitos humanos, com base na igualdade permitiu algum resgate da aproximação entre a Moral e o Direito,
essencial da pessoa20. qual seja o da Revolução Intelectual dos séculos XVII e XVIII,
No processo de ascensão do absolutismo europeu, a monar- com o movimento do Iluminismo, que conferiu alicerce para as
quia da Inglaterra encontrou obstáculos para se estabelecer no iní- Revoluções Francesa e Industrial - ainda assim a visão antropocen-
cio do século XIII, sofrendo um revés. Ao se tratar da formação trista permaneceu, mas começou a se consolidar a ideia de que não
da monarquia inglesa, em 1215 os barões feudais ingleses, em era possível que o soberano impusesse tudo incondicionalmente
uma reação às pesadas taxas impostas pelo Rei João Sem-Terra, aos seus súditos.
impuseram-lhe a Magna Carta. Referido documento, em sua aber- Com efeito, quando passou a se questionar o conceito de So-
tura, expõe a noção de concessão do rei aos súditos, estabelece a berano, ao qual todos deveriam obediência mas que não deveria
existência de uma hierarquia social sem conceder poder absoluto obedecer a ninguém. Indagou-se se os indivíduos que colocaram
ao soberano, prevê limites à imposição de tributos e ao confisco, o Soberano naquela posição (pois sem povo não há Soberano) te-
constitui privilégios à burguesia e traz procedimentos de julga- riam direitos no regime social e, em caso afirmativo, quais seriam
mento ao prever conceitos como o de devido processo legal, ha- eles. As respostas a estas questões iniciam uma visão moderna do
beas corpus e júri. Não que a carta se assemelhe a uma declaração direito natural, reconhecendo-o como um direito que acompanha
de direitos humanos, principalmente ao se considerar que poucos o cidadão e não pode ser suprimido em nenhuma circunstância.23
homens naquele período eram de fato livres, mas ela foi funda- Antes que despontassem as grandes revoluções que interrom-
mental naquele contexto histórico de falta de limites ao soberano21. peram o contexto do absolutismo europeu, na Inglaterra houve uma
A Magna Carta de 1215 instituiu ainda um Grande Conselho que árdua discussão sobre a garantia das liberdades pessoais, ainda que
foi o embrião para o Parlamento inglês, embora isto não signifique o foco fosse a proteção do clero e da nobreza. Quando a dinastia
que o poder do rei não tenha sido absoluto em certos momentos, Stuart tentou transformar o absolutismo de fato em absolutismo
como na dinastia Tudor. Havia um absolutismo de fato, mas não de direito, ignorando o Parlamento, este impôs ao rei a Petição de
de Direito. Direitos de 1948, que exigia o cumprimento da Magna Carta de
18 AQUINO, Santo Tomás de. Suma teológica. Tradução 1215. Contudo, o rei se recusou a fazê-lo, fechando por duas vezes
Aldo Vannucchi e Outros. Direção Gabriel C. Galache e Fidel o Parlamento, sendo que a segunda vez gerou uma violenta reação
García Rodríguez. Coordenação Geral Carlos-Josaphat Pinto de que desencadeou uma guerra civil. Após diversas transições no
Oliveira. Edição Joaquim Pereira. São Paulo: Loyola, 2005b. v. trono inglês, despontou a Revolução Gloriosa que durou de 1688
VI, parte II, seção II, questões 57 a 122. até 1689, conferindo-se o trono inglês a Guilherme de Orange, que
19 AQUINO, Santo Tomás de. Suma teológica. Tradução aceitou a Declaração de Direitos - Bill of Rights.
Aldo Vannucchi e Outros. Direção Gabriel C. Galache e Fidel Todo este movimento resultou, assim, nas garantias expres-
García Rodríguez. Coordenação Geral Carlos-Josaphat Pinto de sas do habeas corpus e do Bill of Rights de 1698. Por sua vez,
Oliveira. Edição Joaquim Pereira. São Paulo: Loyola, 2005b. v. a instituição-chave para a limitação do poder monárquico e para
VI, parte II, seção II, questões 57 a 122. garantia das liberdades na sociedade civil foi o Parlamento e foi
20 COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica 22 MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. Tradução Pietro
dos Direitos Humanos. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. Nassetti. São Paulo: Martin Claret, 2007.
21 AMARAL, Sérgio Tibiriçá. Magna Carta: Algumas 23 COSTA, Paulo Sérgio Weyl A. Direitos Humanos e
Contribuições Jurídicas. Revista Intertemas: revista da Toledo. Crítica Moderna. Revista Jurídica Consulex. São Paulo, ano XIII,
Presidente Prudente, ano 09, v. 11, p. 201-227, nov. 2006. n. 300, p. 27-29, jul. 2009.

Didatismo e Conhecimento 23
NOÇÕES DE DIREITO
a partir do Bill of Rights britânico que surgiu a ideia de governo 2) Já a Revolução Francesa decorreu da incapacidade do
representativo, ainda que não do povo, mas pelo menos de suas governo de resolver sua crise financeira, ascendendo com isso a
camadas superiores24. classe burguesa (sans-culottes), sendo o primeiro evento de tal as-
Tais ideias liberais foram importantes como base para o Ilu- censão a Queda da Bastilha, em 14 de julho de 1789, seguida por
minismo, que se desencadeou por toda a Europa. Destaca-se que outros levantes populares. Derrubados os privilégios das classes
quando isso ocorreu, em meados do século XVIII, se dava o ad- dominantes, a Assembleia se reuniu para o preparo de uma carta
vento do capitalismo em sua fase industrial. O processo de forma- de liberdades, que veio a ser a Declaração dos Direitos do Homem
ção do capitalismo e a ascensão da burguesia trouxeram implica- e do Cidadão.26
ções profundas no campo teórico, gerando o Iluminismo. Entre outras noções, tal documento previu: a liberdade e
O Iluminismo lançou base para os principais eventos que igualdade entre os homens quanto aos seus direitos (artigo 1º), a
ocorreram no início da Idade Contemporânea, quais sejam as Re- necessidade de conservação dos seus direitos naturais, quais sejam
voluções Francesa, Americana e Industrial. Tiveram origem nestes a liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência à opressão
movimentos todos os principais fatos do século XIX e do início do (artigo 2º); a limitação do direito de liberdade somente por lei (ar-
século XX, por exemplo, a disseminação do liberalismo burguês, o
tigo 4º); o princípio da legalidade (artigo 7º); o princípio da ino-
declínio das aristocracias fundiárias e o desenvolvimento da cons-
cência (artigo 9º); a manifestação livre do pensamento (artigos 10
ciência de classe entre os trabalhadores25.
e 11); e a necessária separação de poderes (artigo 16).
Jonh Locke (1632 d.C. - 1704 d.C.) foi um dos pensadores da
3) Por sua vez, a Revolução Industrial, que começou na Ingla-
época, transportando o racionalismo para a política, refutando o
Estado Absolutista, idealizando o direito de rebelião da sociedade terra, criou o sistema fabril, o que reformulou a vida de homens
civil e afirmando que o contrato entre os homens não retiraria o e mulheres pelo mundo todo, não só pelos avanços tecnológicos,
seu estado de liberdade. Ao lado dele, pode ser colocado Montes- mas notadamente por determinar o êxodo de milhões de pessoas
quieu (1689 d.C. - 1755 d.C.), que avançou nos estudos de Locke do interior para as cidades. Os milhares de trabalhadores se sujei-
e na obra O Espírito das Leis estabeleceu em definitivo a clássica tavam a jornadas longas e desgastantes, sem falar nos ambientes
divisão de poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. Por fim, insalubres e perigosos, aos quais se sujeitavam inclusive as crian-
merece menção o pensador Rousseau (1712 d.C. - 1778 d.C.), de- ças. Neste contexto, surgiu a consciência de classe27, lançando-se
fendendo que o homem é naturalmente bom e formulando na obra base para uma árdua luta pelos direitos trabalhistas.
O Contrato Social a teoria da vontade geral, aceita pela pequena Fato é que quanto maior a autonomia de vontade - buscada
burguesia e pelas camadas populares face ao seu caráter democrá- nas revoluções anteriores - melhor funciona o mercado capitalista,
tico. Enfim, estes três contratualistas trouxeram em suas obras as beneficiando quem possui maior número de bens. Assim, a clas-
ideias centrais das Revoluções Francesa e Americana. Em comum, se que detinha bens, qual seja a burguesia, ampliou sua esfera de
defendiam que o Estado era um mal necessário, mas que o sobera- poder, enquanto que o proletariado passou a ser vítima do poder
no não possuía poder divino/absoluto, sendo suas ações limitadas econômico. No Estado Liberal, aquele que não detém poder eco-
pelos direitos dos cidadãos submetidos ao regime estatal. No en- nômico fica desprotegido. O indivíduo da classe operária sozinho
tanto, Rousseau era o pensador que mais se diferenciava dos dois não tinha defesa, mas descobriu que ao se unir com outros em situ-
anteriores, que eram mais individualistas e trouxeram os principais ação semelhante poderia conquistar direitos. Para tanto, passaram
fundamentos do Estado Liberal, porque defendia a entrega do po- a organizar greves.
der a quem realmente estivesse legitimado para exercê-lo, pensa- Nasceu, assim, o direito do trabalho, voltado à proteção da
mento que mais se aproxima da atual concepção de democracia. vítima do poder econômico, o trabalhador. Parte-se do princípio
1) O primeiro grande movimento desencadeado foi a Re- da hipossuficiência do trabalhador, que é o princípio da proteção
volução Americana. Em 1776 se deu a independência das treze e que gerou os princípios da primazia, da irredutibilidade de ven-
Colônias da América Continental Britânica, registrada na Decla- cimentos e outros. Nota-se que no campo destes direitos e dos de-
ração de Direitos do Homem e, posteriormente, na Declaração de mais direitos econômicos, sociais e culturais não basta uma postu-
Independência. Após diversas batalhas, a Inglaterra reconheceu a
ra do indivíduo: é preciso que o Estado interfira e controle o poder
independência em 1783. Destacam-se alguns pontos do primeiro
econômico.
documento: o artigo I do referido documento assegura a igualdade
Entre os documentos relevantes que merecem menção nesta
de todos de maneira livre e independente, considerando esta como
esfera, destacam-se: Constituição do México de 1917, Constitui-
um direito inato; o artigo II estabelece que o poder pertence ao
povo e que o Estado é responsável perante ele; o artigo V prevê ção Alemã de Weimar de 1919 e Tratado de Versalhes de 1919,
a separação dos poderes e o artigo VI institui a realização de elei- sendo que o último instituiu a Organização Internacional do Tra-
ções diretas, necessariamente. A declaração americana estava mais balho - OIT (que emitia convenções e recomendações) e pôs fim à
voltada aos americanos do que à humanidade, razão pela qual a Primeira Guerra Mundial.
Revolução Francesa costuma receber mais destaque num cenário 26 BURNS, Edward McNall. História da civilização
histórico global. ocidental: do homem das cavernas às naves espaciais. 43. ed.
24 COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica Atualização Robert E. Lerner e Standisch Meacham. São Paulo:
dos Direitos Humanos. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. Globo, 2005. v. 2.
25 BURNS, Edward McNall. História da civilização 27 BURNS, Edward McNall. História da civilização
ocidental: do homem das cavernas às naves espaciais. 43. ed. ocidental: do homem das cavernas às naves espaciais. 43. ed.
Atualização Robert E. Lerner e Standisch Meacham. São Paulo: Atualização Robert E. Lerner e Standisch Meacham. São Paulo:
Globo, 2005. v. 2. Globo, 2005. v. 2.

Didatismo e Conhecimento 24
NOÇÕES DE DIREITO
No final do século XIX e no início de século XX, o mundo jurídico da gestão totalitária. Este amorfismo reflete-se tanto em
passou por variadas crises de instabilidade diplomática, posto que matéria constitucional quanto em todos os desdobramentos norma-
vários países possuíam condições suficientes para se sobreporem tivos. A Constituição de Weimar nunca foi ab-rogada durante o re-
sobre os demais, resultado dos avanços tecnológicos e das me- gime nazista, mas a lei de plenos poderes de 24 de março de 1933
lhorias no padrão de vida da sociedade. Neste contexto, surgiram teve não só o efeito de legalizar a posse de Hitler no poder como o
condições para a eclosão das duas Guerras Mundiais, eventos que de legalizar geral e globalmente as suas ações futuras. Dessa ma-
alteraram o curso da história da civilização ocidental. Entre estas, neira, como apontou Carl Schmitt - escrevendo depois da II Guer-
destaca-se a Segunda Guerra Mundial, cujos eventos foram marca- ra Mundial -, Hitler foi confirmado no poder, tornando-se a fonte
dos pela desumanização: todos com o devido respaldo jurídico pe- de toda legalidade positiva, em virtude de uma lei do Parlamento
rante o ordenamento dos países que determinavam os atos. A teoria que modificou a Constituição. Também a Constituição stalinista
jurídica que conferiu fundamento a um Direito que aceitasse tantas de 1936, completamente ignorada na prática, nunca foi abolida”.
barbáries, sem perder a sua validade, foi o Positivismo que teve No dia 10 de dezembro de 1948, a Assembleia Geral das Na-
como precursor Hans Kelsen, com a obra Teoria Pura do Direito. ções Unidas elaborou a Declaração Universal dos Direitos Huma-
No entender de Kelsen28, a justiça não é a característica que nos. Um dos principais pensadores que contribuiu para a Declara-
distingue o Direito das outras ordens coercitivas porque é relativo
ção Universal dos Direitos Humanos de 1948 foi Maritain32, que
o juízo de valor segundo o qual uma ordem pode ser considerada
entendia que os direitos humanos da pessoa como tal se fundamen-
justa. Percebe-se que a Moral é afastada como conteúdo necessário
tam no fato de que a pessoa humana é superior ao Estado, que não
do Direito, já que a justiça é o valor moral inerente ao Direito.
pode impor a ela determinados deveres e nem retirar dela alguns
.A Segunda Guerra Mundial chegou ao fim somente em 1945,
após uma sucessão de falhas alemãs, que impediram a conquista de direitos, por ser contrário à lei natural. Em suma, para o filósofo
Moscou, desprotegeram a Itália e impossibilitaram o domínio da o homem ético é fiel aos valores da verdade, da justiça e do amor,
região setentrional da Rússia (produtora de alimentos e petróleo). e segue a doutrina cristã para determinar seus atos: tais elementos
Já o evento que culminou na rendição do Japão foi o lançamento determinam o agir moral e levam à produção do bem na sociedade
das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki. O mundo somente humanista integral.
tomou conhecimento da extensão da tirania alemã quando os exér- Moraes33 lembra que a Declaração de 1948 foi a mais impor-
citos Aliados abriram os campos de concentração na Alemanha e tante conquista no âmbito dos direitos humanos fundamentais em
nos países por ela ocupados, encontrando prisioneiros famintos, nível internacional, muito embora o instrumento adotado tenha
doentes e brutalizados, além de milhões de corpos dos judeus, po- sido uma resolução, não constituindo seus dispositivos obriga-
loneses, russos, ciganos, homossexuais e traidores do Reich em ções jurídicas dos Estados que a compõem. O fato é que desse
geral, que foram perseguidos, torturados e mortos29. documento se originaram muitos outros, nos âmbitos nacional e
Vale ressaltar a constituição de um órgão que foi o responsá- internacional, sendo que dois deles praticamente repetem e por-
vel por redigir o primeiro documento de relevância internacional menorizam o seu conteúdo, quais sejam: o Pacto Internacional dos
abrangendo a questão dos direitos humanos. Em 26 de junho de Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional dos Direitos Eco-
1945 foi assinada a carta de organização das Nações Unidas, que nômicos, Sociais e Culturais, ambos de 1966.
tem por fundamento o princípio da igualdade soberana de todos os Ainda internacionalmente, após os pactos mencionados, vá-
estados que buscassem a paz, possuindo uma Assembleia Geral, rios tratados internacionais surgiram. Nesta linha, Piovesan34
um Conselho de Segurança, uma Secretaria, em Conselho Econô- apontou os seguintes documentos: Convenção Internacional sobre
mico e Social, um Conselho de Mandatos e um Tribunal Interna- a Eliminação de todas as formas de Discriminação Racial, Con-
cional de Justiça30. venção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação
Entre 20 de novembro de 1945 e 1º de outubro de 1946 re- contra a Mulher, Convenção sobre os Direitos da Criança, Con-
alizou-se o Tribunal de Nuremberg, ao qual foram submetidos a venção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, Convenção
julgamento os principais líderes nazistas, o principal argumento contra a Tortura, etc.
levantado foi o de que todas as ações praticadas foram baseadas Ao lado do sistema global surgiram os sistemas regionais de
em ordens superiores, todas dotadas de validade jurídica perante
proteção, que buscam internacionalizar os direitos humanos no
a Constituição. Explica Lafer31: “No plano do Direito, uma das
plano regional, em especial na Europa, na América e na África35.
maneiras de assegurar o primado do movimento foi o amorfismo
Resultou deste processo a Convenção Americana de Direitos Hu-
28 KELSEN, Hans. Teoria pura do Direito. 6. ed. Tradução
manos (Pacto de São José da Costa Rica) de 1969.
João Baptista Machado. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
29 BURNS, Edward McNall. História da civilização 32 MARITAIN, Jacques. Os direitos do homem e a lei
ocidental: do homem das cavernas às naves espaciais. 43. ed. natural. 3. ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora,
Atualização Robert E. Lerner e Standisch Meacham. São Paulo: 1967.
Globo, 2005. v. 2. 33 MORAES, Alexandre de. Direitos humanos
30 BURNS, Edward McNall. História da civilização fundamentais: teoria geral, comentários aos artigos 1º a 5º da
ocidental: do homem das cavernas às naves espaciais. 43. ed. Constituição da República Federativa do Brasil, doutrina e
Atualização Robert E. Lerner e Standisch Meacham. São Paulo: jurisprudência. São Paulo: Atlas, 1997.
Globo, 2005. v. 2. 34 PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito
31 LAFER, Celso. A reconstrução dos direitos humanos: Constitucional Internacional. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
um diálogo com o pensamento de Hannah Arendt. São Paulo: Cia. 35 PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito
das Letras, 2009. Constitucional Internacional. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.

Didatismo e Conhecimento 25
NOÇÕES DE DIREITO
No âmbito nacional, destacam-se as positivações nos textos Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união
das Constituições Federais. Afinal, como explica Lafer36, a afir- indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, cons-
mação do jusnaturalismo moderno de um direito racional, univer- titui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamen-
salmente válido, gerou implicações relevantes na teoria constitu- tos:
cional e influenciou o processo de codificação a partir de então. [...]
Embora muitos direitos humanos também se encontrem nos textos III - a dignidade da pessoa humana;
constitucionais, aqueles não positivados na Carta Magna também
possuem proteção porque o fato de este direito não estar assegura- Percebe-se o porquê da dignidade da pessoa humana ter tanto
do constitucionalmente é uma ofensa à ordem pública internacio- destaque no sistema jurídico internacional e nacional, sendo men-
nal, ferindo o princípio da dignidade humana. ção constante nas legislações específicas e nas decisões judiciais,
bem como objeto de estudo na doutrina jurídica.

Estabelecer um conceito para a dignidade da pessoa humana


2.2.2 A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
é uma tarefa complicada, notadamente face à altíssima densidade
E OS VALORES DA LIBERDADE, DA 
normativa inerente a este fundamento.
IGUALDADE E DA SOLIDARIEDADE
Sem pretender estabelecer uma definição fechada ou plena, é
possível conceituar dignidade da pessoa humana como o principal
valor do ordenamento ético e, por consequência, jurídico que pre-
tende colocar a pessoa humana como um sujeito pleno de direitos
A dignidade da pessoa humana é o valor-base de interpretação e obrigações na ordem internacional e nacional, cujo desrespeito
de qualquer sistema jurídico, internacional ou nacional, que possa acarreta a própria exclusão de sua personalidade.
se considerar compatível com os valores éticos, notadamente da O Ministro Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, do Tri-
moral, da justiça e da democracia. Pensar em dignidade da pessoa bunal Superior do Trabalho, trouxe interessante conceito numa das
humana significa, acima de tudo, colocar a pessoa humana como decisões que relatou: “a dignidade consiste na percepção intrín-
centro e norte para qualquer processo de interpretação jurídico, seca de cada ser humano a respeito dos direitos e obrigações, de
seja na elaboração da norma, seja na sua aplicação. modo a assegurar, sob o foco de condições existenciais mínimas,
A importância do princípio da dignidade da pessoa humana já a participação saudável e ativa nos destinos escolhidos, sem que
pode ser detraída com a sua aparição no preâmbulo e no primeiro isso importe destilação dos valores soberanos da democracia e das
artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948: liberdades individuais. O processo de valorização do indivíduo
articula a promoção de escolhas, posturas e sonhos, sem olvidar
Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a que o espectro de abrangência das liberdades individuais encon-
todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e tra limitação em outros direitos fundamentais, tais como a honra,
inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no a vida privada, a intimidade, a imagem. Sobreleva registrar que
mundo, essas garantias, associadas ao princípio da dignidade da pessoa hu-
[...] mana, subsistem como conquista da humanidade, razão pela qual
Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, auferiram proteção especial consistente em indenização por dano
na Carta, sua fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade moral decorrente de sua violação”37.
e no valor da pessoa humana e na igualdade de direitos dos ho- Pela própria impossibilidade de se estabelecer um conceito
mens e das mulheres, e que decidiram promover o progresso social fechado, a doutrina se limita a relatar a importância da dignidade
e melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla, da pessoa humana, buscando enquadrá-la em termos históricos e
[...] filosóficos, com as devidas correlações quanto à universalidade e à
Artigo I validade dos direitos humanos.
Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direi- Para Reale38, a evolução histórica demonstra o domínio de um
tos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação valor sobre o outro, ou seja, a existência de uma ordem gradativa
umas às outras com espírito de fraternidade. entre os valores; mas existem os valores fundamentais e os secun-
dários, sendo que o valor fonte é o da pessoa humana. Nesse sen-
A menção constante da dignidade no que pode ser conside- tido, são os dizeres de Reale39: “partimos dessa ideia, a nosso ver
rado o principal instrumento de declaração de direitos humanos básica, de que a pessoa humana é o valor-fonte de todos os valores.
universais desde o seu início a coloca não só como principal norte O homem, como ser natural biopsíquico, é apenas um indivíduo
de interpretação das normas de direitos humanos como um todo, entre outros indivíduos, um ente animal entre os demais da mes-
mas como a justificativa principal para a criação de um sistema ma espécie. O homem, considerado na sua objetividade espiritual,
internacional com tal natureza de proteção. 37 Tribunal Superior do Trabalho. Recurso de Revista n.
Como seria natural, a dignidade da pessoa humana foi trans- 259300-59.2007.5.02.0202. Relator: Alberto Luiz Bresciani de
posta para os textos constitucionais dos países democráticos, in- Fontan Pereira. Brasília, 05 de setembro de 2012. Disponível em:
clusive o brasileiro, na qualidade de fundamento da república fe- www.tst.gov.br. Acesso em: 17 nov. 2012.
derativa: 38 REALE, Miguel. Filosofia do direito. 19. ed. São Paulo:
36 LAFER, Celso. A reconstrução dos direitos humanos: Saraiva, 2002.
um diálogo com o pensamento de Hannah Arendt. São Paulo: Cia. 39 REALE, Miguel. Filosofia do direito. 19. ed. São Paulo:
das Letras, 2009. Saraiva, 2002.

Didatismo e Conhecimento 26
NOÇÕES DE DIREITO
enquanto ser que só realiza no sentido de seu dever ser, é o que e passando a envolver a manutenção da sociedade sustentável. A
chamamos de pessoa. Só o homem possui a dignidade originária teoria das dimensões de direitos humanos foi identificada por Ka-
de ser enquanto deve ser, pondo-se essencialmente como razão de- rel Vasak.
terminante do processo histórico”. É pacífico que as três primeiras dimensões de direitos humanos
Ou ainda, aponta Barroso40: “o princípio da dignidade da pes- envolvem: 1) direitos civis e políticos (LIBERDADE); 2) direitos
soa humana identifica um espaço de integridade moral a ser asse- sociais, econômicos e culturais (IGUALDADE MATERIAL); 3)
gurado a todas as pessoas por sua só existência no mundo. É um direitos ambientais e de solidariedade (FRATERNIDADE). Desta-
respeito à criação, independente da crença que se professe quanto à ca-se que as três primeiras dimensões de direitos remetem ao lema
sua origem. A dignidade relaciona-se tanto com a liberdade e valo- da Revolução Francesa: “Liberdade, igualdade, fraternidade”.
res do espírito como com as condições materiais de subsistência”. Em relação à primeira dimensão de direitos, inicialmente, de-
Por sua vez, Bonavides41 entende que “a vinculação essencial nota-se a afirmação dos direitos de liberdade, referente aos direitos
dos direitos fundamentais à liberdade e à dignidade humana, en- que tendem a limitar o poder estatal e reservar parcela dele para o
quanto valores históricos e filosóficos, nos conduzirá sem óbices indivíduo (liberdade em relação ao Estado), sendo que posterior-
ao significado da universalidade inerente a esses direitos como ide- mente despontam os direitos políticos, relativos às liberdades posi-
al da pessoa humana”. tivas no sentido de garantir uma participação cada vez mais ampla
Uma das características dos direitos humanos é a interdepen- dos indivíduos no poder político (liberdade no Estado). Os dois
dência, segundo a qual as dimensões de direitos humanos apre- movimentos que levaram à afirmação dos direitos de primeira di-
sentam uma relação orgânica entre si. Logo, a dignidade da pessoa mensão, que são os direitos de liberdade e os direitos políticos, fo-
humana deve ser buscada por meio da implementação mais eficaz ram a Revolução Americana, que culminou na Declaração de Vir-
e uniforme das liberdades clássicas, dos direitos sociais, econômi- gínia (1776), e a Revolução Francesa, cujo documento essencial
cos e de solidariedade como um todo único e indissolúvel. foi a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789)43.
As dimensões de direitos humanos não são estanques, mas Quanto à segunda dimensão, foram proclamados os direitos
sim complementares. Somam-se e dialogam uma com a outra, sociais, expressando o amadurecimento das novas exigências
formando um completo sistema de proteção da pessoa humana. como as de bem-estar e igualdade material (liberdade por meio
Toma-se o pressuposto de que todos os bens jurídicos garantidos à do Estado). Durante a Revolução Industrial tomaram proporção
pessoa humana devem ser preservados e respeitados, sob pena de os direitos de segunda dimensão, que são os direitos sociais, re-
uma proteção defeituosa. Por isso mesmo, a nomenclatura dimen- fletindo a busca do trabalhador por condições dignas de trabalho,
são é mais adequada do que geração. remuneração adequada, educação e assistência social em caso de
Aprofunda Piovesan42, ao explicar a estrutura da Declaração invalidez ou velhice, garantindo o amparo estatal à parte mais fra-
de 1948 sob o aspecto das dimensões de direitos humanos: “Ao ca da sociedade.44
conjugar o valor da liberdade com o da igualdade, a Declaração in- Ao lado dos direitos sociais, chamados de segunda geração,
troduz a concepção contemporânea de direitos humanos, pela qual emergiram os chamados direitos de terceira geração, que consti-
esses direitos passam a ser concebidos como uma unidade interde- tuem uma categoria ainda heterogênea e vaga, mas que concentra
pendente e indivisível. Assim, partindo do critério metodológico na reivindicação do direito de viver num ambiente sem poluição.45
que classifica os direitos humanos em gerações, compartilha-se o A doutrina não é pacífica no que tange à definição de dimen-
entendimento de que uma geração de direitos não substitui a outra, sões posteriores de direitos humanos. Para Bobbio46 - e a maioria
mas com ela interage. Isto é, afasta-se a equivocada visão da su- da doutrina - os chamados direitos de quarta dimensão se referem
cessão ‘geracional’ de direitos, na medida em que se acolhe a ideia aos efeitos traumáticos da evolução da pesquisa biológica, que
da expansão, cumulação e fortalecimento dos direitos humanos, permitirá a manipulação do patrimônio genético do indivíduo de
todos essencialmente complementares e em constante dinâmica de modo cada vez mais intenso; enquanto que Bonavides47 defende
interação. Logo, apresentando os direitos humanos uma unidade que são de quarta dimensão os direitos inerentes à globalização
indivisível, revela-se esvaziado o direito à liberdade quando não política. Bonavides48 também diverge ao falar de uma quinta di-
assegurado o direito à igualdade; por sua vez, esvaziado, revela-se mensão composta pelo direito à paz, o qual foi colocado por Vasak
o direito à igualdade quando não assegurada a liberdade”. na terceira dimensão. Autores do direito eletrônico como Peck49
Portanto, a consolidação do princípio da dignidade da pessoa
humana depende do reconhecimento e da efetivação de todas as 43 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Tradução Celso
dimensões de direitos humanos, que se consolidam nos fundamen- Lafer. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
tos da liberdade, da igualdade e da solidariedade (ou fraternidade). 44 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Tradução Celso
Conforme evoluíram as chamadas dimensões dos direitos hu- Lafer. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
manos tais bens jurídicos fundamentais adquiriram novas verten- 45 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Tradução Celso
tes, saindo de uma noção individualista e chegando a uma coletiva, Lafer. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
de modo que a própria finalidade dos direitos humanos adquiriu 46 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Tradução Celso
nova compreensão, deixando de ser preservar apenas o indivíduo Lafer. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
40 BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da 47 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional.
Constituição. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. 26. ed. São Paulo: Malheiros, 2011.
41 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 48 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional.
26. ed. São Paulo: Malheiros, 2011. 26. ed. São Paulo: Malheiros, 2011.
42 PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito 49 PECK, Patrícia. Direito digital. São Paulo: Saraiva,
constitucional internacional. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. 2002.

Didatismo e Conhecimento 27
NOÇÕES DE DIREITO
e Olivo50 entendem que ele seria a quinta dimensão dos direitos de cada um para com a sociedade de participar de forma cons-
humanos, envolvendo o direito de acesso e convivência num am- ciente e livre e de se interar total e habitualmente na vida social
biente salutar no ciberespaço. que pertence53.
Em resumo, as dimensões de direitos humanos se referem às Quem deve participar é quem vive na sociedade, é o cidadão,
mudanças de paradigmas quanto aos bens jurídicos que deveriam aquele que pode ter direitos. Participar é ao mesmo tempo um di-
ser considerados fundamentais ao homem. Embora todo direito reito e um dever. O cidadão deve participar, esta é uma obrigação
humano seja imutável, isso não significa que o processo interpre- de todo aquele que vive em sociedade. E o cidadão deve ter espaço
tativo não possa evoluir e, com isso, se reconhecer que um novo para participar, o fato de não participar em si já é uma injustiça.
aspecto da dignidade humana merece ampla proteção. Com a ampliação do conceito de soberania e cidadania e, conse-
quentemente, da responsabilidade do cidadão, se torna ainda mais
evidente esta necessidade de participar54.
2.2.3 CIDADANIA: NOÇÃO, “O desinteresse da maioria dos indivíduos pelos assuntos po-
SIGNIFICADO E HISTÓRIA líticos é um dos grandes problemas políticos nas sociedade moder-
2.2.3.1 DIREITOS E DEVERES DA nas. Os indivíduos são levados ao isolamento pelo predomínio de
CIDADANIA valores individualistas e de interesses estritamente particulares, as-
sim como pela submissão às leis do mercado e do consumo. Nesse
contexto, perde-se o sentido do que é comunitário e não se percebe
a importância da participação na vida coletiva”55.
A referência à justiça participativa, corolário do conceito de
Obs.: Para fins didáticos, o tópico e o subtópico serão tratados cidadania, é de fundamental importância para o elemento moral
conjuntamente. da noção de ética, no sentido de possibilitar um agir voltado para
Ética e cidadania sempre apareceram como conceitos interli- o bem da sociedade.
gados porque a concepção de cidadania ganhou forças justamente Ninguém é obrigado a suportar desonestidades. A cidadania
no espaço em que as discussões filosóficas começaram a ser mais tem um compromisso com a efetivação da democracia participa-
intensas. Não obstante, temas relacionados à ética possuem no ge-
tiva. E participar não é votar a cada eleição, não se interessas pelo
ral uma forte discussão de questões políticas.
andamento da política e até se esquecer de quem mereceu seu su-
“Na sociedade moderna, nascida de transformações que cul-
frágio.
minaram na Revolução Francesa, o indivíduo é visto como homem
“Muitas vezes achamos que não cabe a nós a responsabilidade
(pessoa privada) e como cidadão (pessoa pública). O termo cida-
pelo que acontece em nosso bairro, na cidade, no país. Afinal, o que
dão designava originalmente o habitante da cidade. Com a conso-
podemos fazer? Não somos políticos; é a tais homens, eleitos pelo
lidação da sociedade burguesa, passa a indicar a ação política e a
povo, que compete resolver os problemas. Em nenhum momento
participação do sujeito na vida da sociedade”51.
nos perguntamos: se nos tivéssemos reunido com outras pessoas
Sendo cidadão aquele que participa do processo político de
escolhas, o bom cidadão é aquele que se preocupa com escolhas para discutir os problemas que nos afetam, se nos tivéssemos re-
éticas, corretas, que geram o bem em sociedade. belado de alguma forma, esses fatos estariam acontecendo? Como
O principal conceito aliado ao surgimento da noção de cidada- interferir? Como atuar para mudar essa realidade tão dura?”56
nia é o de democracia, cujos históricos se coincidem. Com efeito, Com efeito, participar é um direito de todo aquele que é cida-
como se aprofundará adiante, a democracia é o regime de governo dão, consolidando o conceito de democracia e reforçando os valo-
em que se assegura a participação popular, sendo que o sujeito res éticos de preservação do justo e garantia do bem comum. Mas,
que pode participar é o cidadão. Logo, democracia e cidadania afinal, quem é cidadão?
são conceitos interligados, não somente no aspecto jurídico em Inicialmente, é preciso levantar alguns conceitos correlatos:
seu sentido técnico restrito, mas ao próprio elemento da justiça, a) Nacionalidade: é o vínculo jurídico-político que liga um
valor do Direito. Pode-se afirmar isto se considerados os três con- indivíduo a determinado Estado, fazendo com que ele passe a
ceitos de Aristóteles52 sobre as dimensões da justiça (distributiva, integrar o povo daquele Estado, desfrutando assim de direitos e
comutativa e social), dos quais se origina a dimensão da justiça obrigações.
participativa. b) Povo: conjunto de pessoas que compõem o Estado, unidas
Por esta dimensão da justiça participativa, resta despertada a pelo vínculo da nacionalidade.
consciência das pessoas para uma atitude de agir, de falar, de atuar, 53 POZZOLI, Lafayette. Justiça participativa e cidadania.
de entrar na vida da comunidade em que se vive ou trabalha. En- Revista ibero-americana de filosofia política e filosofia do direito.
fim, busca despertar esta consciência de que há uma obrigação Porto Alegre, Instituto Jacques Maritain do Rio Grande do Sul, v.
50 OLIVO, Luís Carlos Cancellier de. Os “novos” direitos 1, n. 1, 2006.
enquanto direitos públicos virtuais na sociedade da informação. In: 54 POZZOLI, Lafayette. Justiça participativa e cidadania.
WOLKMER, Antônio Carlos; LEITE, José Rubens Morato (Org.). Revista ibero-americana de filosofia política e filosofia do direito.
Os “novos” direitos no Brasil: natureza e perspectivas. São Paulo: Porto Alegre, Instituto Jacques Maritain do Rio Grande do Sul, v.
Saraiva, 2003. 1, n. 1, 2006.
51 SCHLESENER, Anita Helena. Cidadania e política. In: 55 SCHLESENER, Anita Helena. Cidadania e política. In:
CARDI, Cassiano; et. al. Para filosofar. São Paulo: Scipione, 2000. CARDI, Cassiano; et. al. Para filosofar. São Paulo: Scipione, 2000.
52 ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tradução Pietro 56 SCHLESENER, Anita Helena. Cidadania e política. In:
Nassetti. São Paulo: Martin Claret, 2006. CARDI, Cassiano; et. al. Para filosofar. São Paulo: Scipione, 2000.

Didatismo e Conhecimento 28
NOÇÕES DE DIREITO
c) População: conjunto de pessoas residentes no Estado, na- “Enfrentar o grande desafio de assegurar e ampliar o exercício
cionais ou não. da cidadania em nosso país implica questionar o caráter excludente
Cidadão, por sua vez, é o nacional, isto é, aquele que possui de nosso modelo econômico e, ao mesmo tempo, efetivar e apri-
o vínculo político-jurídico da nacionalidade com o Estado, que morar a democracia. Necessitamos de uma política democrática
goza de direitos políticos, ou seja, que pode votar e ser votado. que viabilize mudanças econômicas para resolver os nossos graves
No Brasil, votar é tanto um direito do cidadão quanto um dever, eis problemas sociais, reconhecer e defender os direitos de todos os
que o voto é obrigatório. cidadãos e garantir o pluralismo e os direitos das minorias. Por
Na disciplina constitucional, os direitos políticos garantidos isso, em nossa sociedade, o exercício da cidadania não é apenas
àquele que é cidadão encontram-se disciplinados nos artigos 14 uma questão de aprendizagem, mas também de luta por condições
e 15. Direitos políticos são os instrumentos por meio dos quais dignas de vida, trabalho e educação. É preciso criar espaços de ma-
a Constituição Federal permite o exercício da soberania popular, nifestação na sociedade civil, onde os interesses comuns possam
atribuindo poderes aos cidadãos para que eles possam interferir na ser defendidos e os indivíduos possam tomas consciência do papel
condução da coisa pública de forma direta ou indireta57. que desempenham na sociedade”58.
não se pode retirar a cidadania de uma pessoa apenas porque
ela cometeu um ato danoso ao Estado, principalmente se ela for Um elemento essencial para que o cidadão exerça a cidadania
natural deste Estado. Nos poucos casos em que a perda de direitos de forma consciente é a consciência crítica. Consciência crítica
políticos é aceita, a pessoa não se torna apátrida, isto é, sem pátria, consiste na existência de raciocínios e na formação de pensamen-
sem nacionalidade, mas passa ou volta a ter outra nacionalidade. tos que levam uma pessoa a estabelecer soluções e reflexões ra-
Portanto, a cidadania é um status da pessoa humana, um direito da cionais sobre determinado aspecto. Pode-se afirmar que o filósofo
pessoa humana. possui consciência crítica, pois o raciocínio filosófico em si exige
Emblemático o artigo XV da Declaração Universal dos Direi- que se dispa do senso comum e que se faça um raciocínio lógico
tos Humanos a respeito: sobre fatos da vida humana.
Assim, opõe-se à consciência crítica o senso comum, que vem
1. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade. 2. Ninguém de experiências passadas, mas nem sempre ilumina a realidade. Na
será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direi- filosofia, o senso comum (ou conhecimento vulgar) é a primeira
to de mudar de nacionalidade. suposta compreensão do mundo resultante da herança fecunda de
um grupo social e das experiências atuais que continuam sendo
Sendo a nacionalidade a premissa para aquisição dos direitos efetuadas. O senso comum descreve as crenças e proposições que
políticos e para o gozo e exercício dos direitos humanos, não cabe aparecem como normal, sem depender de uma investigação deta-
a privação arbitrária. Não obstante, quanto ao direito de participar lhada para alcançar verdades mais profundas como as científicas.
das decisões políticas do Estado, atuando como cidadão, a Decla- Um tipo de conhecimento que se acumula no nosso cotidiano e é
ração Universal dos Direitos Humanos também é bastante clara em chamado de senso comum, baseado na tentativa e no erro. O sen-
seu artigo XXI: so comum que nos permite sentir uma realidade menos detalhada,
menos profunda e imediata e vai do hábito de realizar um com-
1. Toda pessoa tem o direito de tomar parte no governo de portamento até a tradição que, quando instalada, passa de geração
seu país, diretamente ou por intermédio de representantes livre- para geração.
mente escolhidos. 2. Toda pessoa tem igual direito de acesso ao Quando o senso comum é usado para o mau, sem a vontade
serviço público do seu país. 3. A vontade do povo será a base  da de verificar se o conhecimento é correto ou se evoluiu, origina-se
autoridade do governo; esta vontade será expressa em eleições a chamada consciência ingênua, que se caracteriza nos seguintes
periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto termos: evidencia certa simplicidade, tendente a interpretar e en-
ou processo equivalente que assegure a liberdade de voto. carar os problemas e desafios de maneira simples; não busca um
aprofundamento na observação de relações de causalidade, nem se
Ser cidadão é um direito humano fundamental de cada ser hu- preocupa com a investigação complexa dos fatos, satisfazendo-se
mano. Contudo, sob o ponto de vista ético, é muito mais do que com aparências;possui também uma tendência a considerar que o
isso: ser cidadão é um dever, um compromisso social, um compro- passado foi melhor e olha ao novo com maus olhos; tende a acei-
metimento pela melhoria da sociedade consolidando o ideário do tar formas pré-estabelecida de comportamento, inclusive beirando
bem comum. uma consciência fanática; subestima o homem simples e não dá
E sendo a cidadania mais do que uma mera formalidade, mais atenção às suas explicações; pretende ganhar a discussão com ar-
do que simplesmente eleger representantes, cabendo buscar a gumentos frágeis, gota de ser polêmico e não pretende esclarecer
construção de uma sociedade melhor, tem-se que a cidadania pode suas posições, as quais são formadas mais de emoções do que de
ser dividida em duas categorias: cidadania formal e substantiva. críticas; pode cair no fanatismo ou intolerância; rejeita mudanças
A cidadania formal é referente à nacionalidade de um indivíduo sociais.
e ao fato de pertencer a uma determinada nação; ao passo que a A consciência crítica é uma forma de relação com o mundo
cidadania substantiva é de um caráter mais amplo, estando relacio- que busca compreendê-lo de modo concreto, para além das aparên-
nada com direitos sociais, políticos e civis. O sociólogo britânico cias. O indivíduo dotado de consciência crítica rejeita as interpre-
T. H. Marshall afirmou que a cidadania só é plena se for dotada de tações subjetivas, fantasiosas, enganosas, místicas e outras formas
direito civil, político e social. Parece que tal noção é realmente a ilusórias de encobrir a verdade. Por meio da observação, ele busca
mais adequada num contexto de justiça participativa e de coliga- as causas de todo o que observa e se interessa pelos fundamentos
ção entre cidadania e ética. mais profundos dos problemas que visualiza nesta observação.
57 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional 58 SCHLESENER, Anita Helena. Cidadania e política. In:
esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. CARDI, Cassiano; et. al. Para filosofar. São Paulo: Scipione, 2000.

Didatismo e Conhecimento 29
NOÇÕES DE DIREITO
A consciência crítica observa, experimenta, problematiza e consciência de que por vezes não existirão meios para análise dos
critica os fatos. Pensar de modo crítico é, então, derrubar as men- problemas e de que a realidade é mutável, mas isto não impede
tiras, as falsas imagens, as suposições levianas, as crenças alienan- o processo de reflexão; coloca no lugar de situações ou explica-
tes, as ideias preconceituosas, para poder estabelecer a razão, as ções mágicas princípios autênticos de causalidade, os quais ex-
causas e o sentido das coisas. plicam uma relação de causa e efeito nos fenômenos observados,
Como é possível extrair desta introdução, a ciência e a filo- permitindo descobertas que sempre poderão ser revistas (afinal,
sofia são dois produtos da consciência crítica, porque elas se a verdade é mutável); quando se visualiza um fato, livra-se dos
fundam na racionalidade, na observação, na experimentação e na preconceitos ao examiná-lo e ao propor soluções; rejeita posições
análise do mundo. E são muitas as questões que exigem tal análise, quietas, repele o comodismo, sendo intensamente inquieta pois é
uma vez que tudo o que é criado é incompleto, é relativo, é precá- justamente na inquietude que o processo de reflexão crítica se in-
rio, é histórico, possui vazios a serem preenchidos. tensifica; sabe-se que nem tudo é o que parece, razão pela qual
Sim, comprometido com a sua responsabilidade de “ser his- é preciso refletir sobre tudo, buscando a sua essência, no que se
tórico”, de gente de mudança do mundo. Enquanto o indivíduo encontra a autenticidade; rejeita toda transferência de responsabi-
lidade e de autoridade e aceita a delegação das mesmas (no caso
de consciência ingênua aceita o que vê, o de consciência crítica
do cidadão, ele exerce todos os meios possíveis de participação
problematiza o que vê; isto é, ao passo que o primeiro é um ser
no processo democrático); é indagadora, investiga, força, choca,
“castrado” mentalmente, sem projetos de futuro, o segundo é um
nutre-se do diálogo; nunca ignora nenhum argumento possível, por
ser que incorpora que faz seu o compromisso da luta pela mudança isso, ao mesmo tempo em que não teme o novo, sempre olha para o
o compromisso com o futuro. Logo, aquele que possui consciência velho com cuidado e dentro de um processo reflexivo.
crítica, naturalmente, é um melhor cidadão, pois está preocupado e Da consciência crítica que se origina a chamada consciência
ciente dos problemas sociais que merecem solução. social, que vai sendo adquirida depois que a pessoa descobre que
“À medida que se pensa e se representa o convívio pátrio, é sujeito de sua história e passa ter maior interesse pelas coisas da
vão-se conhecendo, explicando e justificando as condições dessa sociedade. Ela deixa de pensar somente nela ou em seu grupo e
convivência, inclusive a participação na vida política do país. Ve- passa a ver e viver o social. A consciência neste momento é refle-
mos que ideologia é um fenômeno social cheio de sutilezas. Mais xiva, amadurecida e crítica. A pessoa percebe que o mundo é uma
que ideias que se impõem a ideologia tem uma dimensão prática, construção do homem e está sempre passando por transformações.
pois ideias impulsionam os homens à ação e a própria ação altera Descobre que tudo se transforma a realidade pessoal, comunitária
as ideias que não têm autossustentação. Esse é um processo his- e social. A construção de um mundo novo, justo e fraterno é missão
tórico, recíproco, que ocorre ao nos associarmos para garantir a de todos e não apenas de alguns.
reprodução da vida biológica e cultural”59. Ter consciência crítica
é mais do que ter mera ideologia, é se preocupar em agir por uma
sociedade melhor porque se está ciente dos problemas dela. 2.2.3 DEMOCRACIA: NOÇÃO,
“A pátria é um fenômeno vivido em um tempo e espaço de- SIGNIFICADO E VALORES
terminados, mas generalizado em sua concepção. É mediante opi- 2.2.3.1 ESTADO DEMOCRÁTICO DE
niões cristalizadas pela cultura sobre diferentes situações sociais DIREITO: NOÇÃO E SIGNIFICADO
que pensamos ter uma participação social plena”60. Muitas vezes
somos iludidos com a política do pão e circo para não enxergarmos
os maiores problemas sociais. Aqueles munidos de consciência
crítica ficam isentos de tais práticas e enxergam a sociedade em
que vivem com mais clareza. Obs.: Para fins didáticos, o tópico e o subtópico serão tratados
A ação do homem só tem sentido se for compromissada com conjuntamente.
A adoção da forma democrática de Estado aparece como fun-
a realidade, uma vez que, diferente do animal, o ser humano é
damento dos direitos humanos por ser um pressuposto para que
capaz de reflexão. O homem existe. Está inserido no mundo. Toma
eles possam ser adequadamente exercidos. Em outras palavras,
conhecimento deste mundo, sendo até capaz de modificá-lo. Esta
fora de um Estado democrático, não há possibilidade de exercí-
ação modificadora, entretanto, torna-se impossível, se ele estiver cio pleno de nenhuma das dimensões de direito: a liberdade fica
imerso e acomodado a este mundo e for incapaz de distanciar-se tolhida pela censura, os direitos políticos pelo impedimento da
dele para admirá-lo e perceber o seu conjunto. A partir da visão participação popular, os direitos econômicos, sociais e culturais
crítica de realidade, que o homem se torna capaz de modificar o pela manipulação de recursos ao que é conveniente ao governo
mundo em que vive. Ao contrário, a consciência ingênua leva a antidemocrático e não ao interesse coletivo, os direitos de soli-
uma visão distorcida da realidade. dariedade pela impossibilidade de criação de consciência coletiva
São características da consciência crítica: anseio de profun- sem o exercício e a efetivação dos direitos individuais.
didade na análise de problemas, isto é, busca-se um conhecimen- Na Declaração de 1948, o conceito de democracia aparece as-
to detalhado de cada problema visualizado não se contentando sociado adequadamente ao pressuposto de um Estado de Direito
apenas com o que está às vistas claras, com o que é aparente; há que propicie e assegure todos os direitos humanos e fundamentais,
59 ARAÚJO, Silvia Maria de. As várias faces da ideologia. como se denota no preâmbulo:
In: CARDI, Cassiano; et. al. Para filosofar. São Paulo: Scipione,
2000. Considerando essencial que os direitos humanos sejam pro-
60 ARAÚJO, Silvia Maria de. As várias faces da ideologia. tegidos pelo Estado de Direito, para que o homem não seja com-
In: CARDI, Cassiano; et. al. Para filosofar. São Paulo: Scipione, pelido, como último recurso, à rebelião contra tirania e a opres-
2000. são, [...]

Didatismo e Conhecimento 30
NOÇÕES DE DIREITO
Considerando que os Estados-Membros se comprometeram Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união
a desenvolver, em cooperação com as Nações Unidas, o respeito indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal,
universal aos direitos humanos e liberdades fundamentais e a constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fun-
observância desses direitos e liberdades, [...]. damentos: [...] Parágrafo único. Todo o poder emana do povo,
que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente,
Indiretamente depreendem-se aspectos da democracia, quais nos termos desta Constituição.
sejam o respeito ao princípio da legalidade e da anterioridade, a
existência de um modelo estatal que crie e aplique leis utilizan- Antes de esmiuçar este conceito, frisa-se a importância da
do um adequado processo legislativo e judicial, o impedimento da menção ao modelo do Estado Democrático no preâmbulo e no ar-
tirania e da opressão (marca de regimes totalitários e ditatoriais), tigo 1º do texto constitucional, despontando este como condição
sine qua non à consolidação das premissas trazidas pela Constitui-
a garantia de respeito e observância dos direitos humanos funda-
ção Federal de 1988.
mentais.
A República Federativa do Brasil é um Estado Democrático
Não obstante, no artigo XXIV há menção direta ao direito de de Direito e a adoção da forma federativa que implica no modelo
se conviver numa sociedade democrática: democrático é considerada cláusula pétrea pela Constituição Fede-
ral em seu artigo 60, §4º, o que exclui a possibilidade de alteração
2. No exercício de seus direitos e liberdades, toda pessoa es- do regime de governo democrático, trocando-o por um antidemo-
tará sujeita apenas às limitações determinadas pela lei, exclusiva- crático.
mente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito A primeira implicação da democracia em seu sentido clássico
dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer às justas exigên- é que por meio dela é garantida a soberania popular, que pode ser
cias da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade conceituada como “a qualidade máxima do poder extraída da soma
democrática. dos atributos de cada membro da sociedade estatal, encarregado de
escolher os seus representantes no governo por meio do sufrágio
Quanto à disciplina na Constituição Federal, a adoção do mo- universal e do voto direto, secreto e igualitário”61. O sentido de
delo de Estado Democrático consta desde o preâmbulo: soberania popular associado à democracia pode ser depreendido
da menção do parágrafo único de que o poder emana do povo, que
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assem- o exerce.
bléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democráti- Quanto ao conceito restrito de democracia, tem-se que ela é
co, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e indivi- o regime de governo no qual os cidadãos participam das decisões
políticas, direta ou indiretamente. Em outras palavras, democracia
duais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento,
(do grego, demo + kratos) é um regime de governo em que o po-
a igualdade e a justiça como valores supremos de uma socieda-
der de tomar decisões políticas está com os cidadãos, de forma
de fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia direta (quando um cidadão se reúne com os demais e, juntos, eles
social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a tomam a decisão política) ou indireta (quando ao cidadão é dado
solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção o poder de eleger um representante). Logo, dentro do conceito de
de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERA- democracia incluem-se três modelos democráticos possíveis: dire-
TIVA DO BRASIL. to, indireto e misto.
Neste sentido, a principal classificação da democracia refere-
Em verdade, do preâmbulo se depreendem algumas esferas do -se aos seus modelos possíveis, que variam conforme o nível de
modelo de Estado Democrático, demonstrando que este vai além participação popular direta ou indireta:
da simples permissão de participação política e ingressa na pos- a) Democracia direta, também chamada de pura, na qual o
sibilidade de exercício de direitos humanos e fundamentais por cidadão expressa sua vontade por voto direto e individual em casa
todos os cidadãos, assegurando o respeito da dignidade destes. questão relevante;
O mesmo pode ser extraído de outras previsões do texto cons- b) Democracia indireta, também chamada representati-
titucional, notadamente a do título V, que trata da Defesa do Estado va, em que os cidadãos exercem individualmente o direito de
e das Instituições Democráticas, que será exercida pelos órgãos de voto para escolher representante(s) e aquele(s) que for(em) mais
segurança pública e mediante institutos como o estado de defesa e escolhido(s) representa(m) todos os eleitores;
o estado de sítio. Como instituições democráticas podem-se colo- c) Democracia semidireta ou participativa, em que se tem
uma democracia representativa mesclada com peculiaridades e
car todas aquelas que têm por fulcro assegurar a defesa de alguma
atributos da democracia direta (sistema híbrido ou misto).
das facetas da dignidade da pessoa humana, logo, democracia é
A democracia direta tornou-se cada vez mais difícil, conside-
participação popular, mas não somente isso. rado o grande número de cidadãos, de modo que a regra é a demo-
Democracia significa dignidade e igualdade no exercício de cracia indireta. Na Grécia Antiga se encontra um raro exemplo de
direitos (por exemplo, o artigo 215, IV da Constituição Federal democracia direta, que somente era possível porque embora a po-
fala em democratização do acesso aos bens de cultura). pulação fosse grande, a maioria dela não era composta de pessoas
A Constituição Federal confere atenção também ao conceito consideradas como cidadãs, como mulheres, escravos e crianças,
clássico de democracia. O modelo de Estado Democrático previsto e somente os cidadãos tinham direito de participar do processo
no texto constitucional é conceituado de maneira mais restrita no democrático.
artigo 1º da Constituição Federal, que traz os fundamentos da Re- 61 BULOS, Uadi Lammêngo. Constituição federal anotada.
pública, em seu parágrafo único: 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2003.

Didatismo e Conhecimento 31
NOÇÕES DE DIREITO
Uma democracia semidireta é um regime de democracia em como reflexo de um processo de incorporação. Por isso mesmo,
que existe a combinação de representação política com formas de para fins metodológicos, serão feitos comentários simultâneos ao
democracia direta. A maioria dos países adota modelo de democra- texto constitucional e aos dispositivos do principal documento in-
cia semidireta, com a diferença de que uns se aproximam mais da ternacional declaratório dos direitos humanos, a Declaração Uni-
indireta e outros mais da indireta. Contemporaneamente, o regime versal de 1948, que com ele se relacionam.
que mais se aproxima dos ideais de uma democracia direta é a
democracia semidireta da Suíça. TÍTULO I
A democracia brasileira adota a modalidade semidireta, por- Dos Princípios Fundamentais
que possibilita a participação popular direta no poder por intermé-
dio de processos como o plebiscito, o referendo e a iniciativa po- Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união
pular (artigo 14, caput, CF). Como são hipóteses restritas, pode-se indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, cons-
afirmar que a democracia indireta é predominantemente adotada titui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamen-
no Brasil, por meio do sufrágio universal e do voto direto e secreto tos:
com igual valor para todos. I - a soberania;
Regime de governo é diferente de forma de governo. Por regi- II - a cidadania;
me de governo entende-se a adoção de uma forma democrática ou
III - a dignidade da pessoa humana;
antidemocrática, ao passo que por forma de governo compreende-
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
-se a adoção de um ou outro modelo governamental que permita
V - o pluralismo político.
que tal forma ganhe vida. Em outras palavras, uma democracia
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exer-
pode existir num sistema presidencialista ou parlamentarista, re-
publicano ou monárquico - somente importa que seja dado aos ce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos
cidadãos o poder de tomar decisões políticas (por si só ou por seu desta Constituição.
representante eleito) para que exista democracia. Três aspectos merecem destaque em termos de direitos hu-
Tomando que existe o regime de governo democrático, há tam- manos: a forma do Estado Democrático de Direito, garantindo a
bém o regime de governo antidemocrático ou ditatorial. Tal exis- estrita observância da lei e a participação do povo no processo de
tência não é atestada no campo meramente teórico, mas se detecta escolha dos governantes; a soberania, que sofre relativizações com
de forma prática, isto é, existem na atualidade países que adotam a participação do Estado na comunidade internacional; a dignidade
regimes de governo ditatoriais. A ONU se opõe aos regimes dita- da pessoa humana, valor norte de todo Estado.
toriais e toma medidas não somente para combatê-los, mas para A dignidade da pessoa humana é o valor-base de interpretação
esclarecer o passado ditatorial dos países que passaram por um pe- de qualquer sistema jurídico, internacional ou nacional, que possa
ríodo de privação da democracia. Ainda assim, muitos países hoje se considerar compatível com os valores éticos, notadamente da
adotam regime antidemocrático de governo, utilizando-se de re- moral, da justiça e da democracia. Pensar em dignidade da pessoa
cursos como a censura para evitarem a queda do poder, a exemplo humana significa, acima de tudo, colocar a pessoa humana como
de Cuba, China, Coréia do Norte, Sudão e Irã. Todos estes países centro e norte para qualquer processo de interpretação jurídico,
fazem parte da ONU e estão no centro dos debates mais polêmicos seja na elaboração da norma, seja na sua aplicação.
nela estabelecidos, uma vez que o ideário dos direitos humanos é Aponta Barroso62: “o princípio da dignidade da pessoa huma-
completamente contrário aos modelos antidemocráticos. na identifica um espaço de integridade moral a ser assegurado a
todas as pessoas por sua só existência no mundo. É um respeito à
criação, independente da crença que se professe quanto à sua ori-
2.2.4 OS DIREITOS HUMANOS
gem. A dignidade relaciona-se tanto com a liberdade e valores do
FUNDAMENTAIS VIGENTES NA CONSTI-
TUIÇÃO DA REPÚBLICA: DIREITOS À VIDA espírito como com as condições materiais de subsistência”.
E À PRESERVAÇÃO DA INTEGRIDADE FÍ-
SICA E MORAL (HONRA, IMAGEM, NOME, Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos
INTIMIDADE E VIDA PRIVADA), À LIBER- entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.
DADE EM TODAS AS SUAS FORMAS, À A separação de poderes é inerente ao modelo do Estado De-
IGUALDADE, À PROPRIEDADE E À SEGU- mocrático de Direito, impedindo a monopolização do poder e, por
RANÇA, OS DIREITOS SOCIAIS, A NACIO- conseguinte, a tirania e a opressão.
NALIDADE E OS DIREITOS POLÍTICOS
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Fe-
derativa do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
Os direitos humanos internacionalmente reconhecidos pas- II - garantir o desenvolvimento nacional;
saram por um processo de institucionalização no âmbito dos Es-  III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as
tados, notadamente sendo transpostos e especificados nos textos desigualdades sociais e regionais;
constitucionais, processo que será estudado no próximo tópico. IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem,
Assim, quando se falam nos direitos humanos na Constituição Fe- raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
deral brasileira em verdade se pretende dar um olhar diferenciado 62 BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da
às principais normas de direitos fundamentais, compreendendo-as Constituição. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 382.

Didatismo e Conhecimento 32
NOÇÕES DE DIREITO
Em destaque o inciso primeiro: a expressão livre, justa e soli- O princípio da legalidade se encontra delimitado neste inciso,
dária corresponde à tríade liberdade, igualdade e fraternidade, que prevendo que nenhuma pessoa será obrigada a fazer ou deixar de
consolida as três dimensões de direitos humanos. fazer alguma coisa a não ser que a lei assim determine. Assim,
salvo situações previstas em lei, a pessoa tem liberdade para agir
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas re- como considerar conveniente.
lações internacionais pelos seguintes princípios:
 I - independência nacional; III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento de-
II - prevalência dos direitos humanos; sumano ou degradante;
III - autodeterminação dos povos; A tortura é um dos piores meios de tratamento desumano, ex-
IV - não-intervenção; pressamente vedada em âmbito internacional, como visto no tópi-
V - igualdade entre os Estados; co anterior. No Brasil, além da disciplina constitucional, a Lei nº
VI - defesa da paz; 9.455, de 7 de abril de 1997 define os crimes de tortura e dá outras
VII - solução pacífica dos conflitos; providências, destacando-se o artigo 1º:
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
IX - cooperação entre os povos para o progresso da huma- Art. 1º Constitui crime de tortura:
nidade; I - constranger alguém com emprego de violência ou grave
X - concessão de asilo político. ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental:
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da
a integração econômica, política, social e cultural dos povos da vítima ou de terceira pessoa;
América Latina, visando à formação de uma comunidade latino- b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;
-americana de nações. c) em razão de discriminação racial ou religiosa;
A formação de uma comunidade internacional não significa a II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade,
com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento
eliminação da soberania dos países, mas apenas uma relativização,
físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida
limitando as atitudes por ele tomadas em prol da preservação do
de caráter preventivo.
bem comum e da paz mundial. Na verdade, o próprio compromis-
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
so de respeito aos direitos humanos traduz a limitação das ações
§ 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou
estatais, que sempre devem se guiar por eles.
sujeita a medida de segurança a sofrimento físico ou mental, por
Sobre o direito de asilo, tem-se que serve para proteger uma
intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante
pessoa perseguida por suas opiniões políticas, situação racial, con- de medida legal.
vicções religiosas ou outro motivo político em seu país de origem, § 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, quando ti-
permitindo que ela requeira perante a autoridade de outro Estado nha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de detenção
proteção. Claro, não se protege aquele que praticou um crime co- de um a quatro anos.
mum em seu país e fugiu para outro, caso em que deverá ser extra- § 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssi-
ditado para responder pelo crime praticado. ma, a pena é de reclusão de quatro a dez anos; se resulta morte, a
reclusão é de oito a dezesseis anos.
TÍTULO II § 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço:
DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS I - se o crime é cometido por agente público;
CAPÍTULO I II – se o crime é cometido contra criança, gestante, portador
DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS de deficiência, adolescente ou maior de 60 (sessenta) anos; 
III - se o crime é cometido mediante seqüestro.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qual- § 5º A condenação acarretará a perda do cargo, função ou
quer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros emprego público e a interdição para seu exercício pelo dobro do
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, prazo da pena aplicada.
à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: § 6º O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça
O caput do artigo 5º, que pode ser considerado um dos princi- ou anistia.
pais (senão o principal) artigos da Constituição Federal, consagra § 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipó-
o princípio da igualdade e delimita as cinco esferas de direitos in- tese do § 2º, iniciará o cumprimento da pena em regime fechado.
dividuais e coletivos que merecem proteção, isto é, vida, liberda-
de, igualdade, segurança e propriedade. Os incisos deste artigos IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o
delimitam vários direitos e garantias que se enquadram em alguma anonimato;
destas esferas de proteção. Em primeiro plano tem-se a liberdade de pensamento. Afinal,
“o ser humano, através dos processos internos de reflexão, formula
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos juízos de valor. Estes exteriorizam nada mais do que a opinião
termos desta Constituição; de seu emitente. Assim, a regra constitucional, ao consagrar a li-
Não deve haver nenhuma distinção de gênero, ou seja, entre vre manifestação do pensamento, imprime a existência jurídica ao
o sexo feminino e o masculino. O homem e a mulher possuem os chamado direito de opinião”63. Em outras palavras, primeiro existe
mesmos direitos e obrigações. o direito de ter uma opinião, depois o de expressá-la.
63 ARAÚJO, Luiz Alberto David; NUNES JÚNIOR,
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma Vidal Serrano. Curso de direito constitucional. 10. ed. São Paulo:
coisa senão em virtude de lei; Saraiva, 2006.

Didatismo e Conhecimento 33
NOÇÕES DE DIREITO
No entanto, tal direito é limitado. Um destes limites é o anoni- Consoante o magistério de José Afonso da Silva66, entra na
mato, que consiste na garantia de atribuir a cada manifestação uma liberdade de crença a liberdade de escolha da religião, a liberdade
autoria certa e determinada, permitindo eventuais responsabiliza- de aderir a qualquer seita religiosa, a liberdade (ou o direito) de
ções por manifestações que contrariem a lei. mudar de religião, além da liberdade de não aderir a religião algu-
ma, assim como a liberdade de descrença, a liberdade de ser ateu
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agra- e de exprimir o agnosticismo, apenas excluída a liberdade de em-
vo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; baraçar o livre exercício de qualquer religião, de qualquer crença.
“A manifestação do pensamento é livre e garantida em nível A liberdade de culto consiste na liberdade de orar e de praticar os
constitucional, não aludindo a censura prévia em diversões e es- atos próprios das manifestações exteriores em casa ou em público,
petáculos públicos. Os abusos porventura ocorridos no exercício bem como a de recebimento de contribuições para tanto. Por fim,
a liberdade de organização religiosa refere-se à possibilidade de
indevido da manifestação do pensamento são passíveis de exame
estabelecimento e organização de igrejas e suas relações com o
e apreciação pelo Poder Judiciário com a consequente responsa- Estado.
bilidade civil e penal de seus autores, decorrentes inclusive de
publicações injuriosas na imprensa, que deve exercer vigilância e VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assis-
controle da matéria que divulga”64. tência religiosa nas entidades civis e militares de internação co-
O direito de resposta é o direito que uma pessoa tem de se letiva;
defender de críticas públicas no mesmo meio em que foram publi- Refere-se não só aos estabelecimentos prisionais civis e mili-
cadas garantida exatamente a mesma repercussão. Mesmo quando tares, mas também a hospitais.
for garantido o direito de resposta não é possível reverter plena-
mente os danos causados pela manifestação ilícita de pensamento, VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença
religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invo-
razão pela qual a pessoa inda fará jus à indenização.
car para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-
A manifestação ilícita do pensamento geralmente causa um -se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;
dano, ou seja, um prejuízo sofrido pelo agente, que pode ser indivi- Sempre que a lei impõe uma obrigação a todos, por exemplo,
dual ou coletivo, moral ou material, econômico e não econômico. a todos os homens maiores de 18 anos o alistamento militar, não
Dano material é aquele que atinge o patrimônio (material ou cabe se escusar, a não ser que tenha fundado motivo em crença re-
imaterial) da vítima, podendo ser mensurado financeiramente e in- ligiosa ou convicção filosófica/política, caso em que será obrigado
denizado. a cumprir uma prestação alternativa, isto é, uma outra atividade
“Dano moral direto consiste na lesão a um interesse que visa que não contrarie tais preceitos.
a satisfação ou gozo de um bem jurídico extrapatrimonial contido
nos direitos da personalidade (como a vida, a integridade corporal, IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística,
científica e de comunicação, independentemente de censura ou
a liberdade, a honra, o decoro, a intimidade, os sentimentos afeti-
licença;
vos, a própria imagem) ou nos atributos da pessoa (como o nome, A respeito da censura prévia, tem-se não cabe impedir a divul-
a capacidade, o estado de família)”65. gação e o acesso a informações como modo de controle do poder.
Já o dano à imagem é delimitado no artigo 20 do Código A censura somente é cabível quando necessária ao interesse públi-
Civil: co numa ordem democrática, por exemplo, censurar a publicação
de um conteúdo de exploração sexual infanto-juvenil é adequado.
Art. 20, CC. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à admi-
nistração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divul- X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e
gação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo
exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser dano material ou moral decorrente de sua violação;
Reforçando a conexão entre a privacidade e a intimidade, ao
proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que
abordar a proteção da vida privada - que, em resumo, é a privacida-
couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, de da vida pessoal no âmbito do domicílio e de círculos de amigos
ou se se destinarem a fins comerciais. -, Silva67 entende que “o segredo da vida privada é condição de ex-
pansão da personalidade”, mas não caracteriza os direitos de perso-
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sen- nalidade em si. “O direito à honra distancia-se levemente dos dois
do assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, anteriores, podendo referir-se ao juízo positivo que a pessoa tem
na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias; de si (honra subjetiva) e ao juízo positivo que dela fazem os outros
Cada pessoa tem liberdade para professar a sua fé como bem (honra objetiva), conferindo-lhe respeitabilidade no meio social.
entender dentro dos limites da lei. Não há uma crença ou religião O direito à imagem também possui duas conotações, podendo ser
que seja proibida, garantindo-se que a profissão desta fé possa se entendido em sentido objetivo, com relação à reprodução gráfica
da pessoa, por meio de fotografias, filmagens, desenhos, ou em
realizar em locais próprios.
sentido subjetivo, significando o conjunto de qualidades cultivadas
Nota-se que a liberdade de religião engloba 3 tipos distintos,
pela pessoa e reconhecidas como suas pelo grupo social”68.
porém intrinsecamente relacionados de liberdades: a liberdade de
crença; a liberdade de culto; e a liberdade de organização religiosa. 66 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional
positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006.
64 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 67 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional
26. ed. São Paulo: Malheiros, 2011. positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006.
65 ZANNONI, Eduardo. El daño en la responsabilidad 68 MOTTA, Sylvio; BARCHET, Gustavo. Curso de direito
civil. Buenos Aires: Astrea, 1982. constitucional. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.

Didatismo e Conhecimento 34
NOÇÕES DE DIREITO
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela po- Imagine uma grande reunião de pessoas por uma causa, a exem-
dendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de plo da Parada Gay, que chega a aglomerar milhões de pessoas em
flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante algumas capitais: seria absurdo tolerar tal tipo de reunião sem o
o dia, por determinação judicial; prévio aviso do poder público para que ele organize o policiamen-
O domicílio é inviolável, razão pela qual ninguém pode nele to e a assistência médica, evitando algazarras e socorrendo pesso-
entrar sem o consentimento do morador, a não ser EM QUAL- as que tenham algum mal-estar no local. Outro limite é o uso de
QUER HORÁRIO no caso de flagrante delito (o morador foi fla- armas, totalmente vedado, assim como de substâncias ilícitas (Ex:
grado na prática de crime e fugiu para seu domicílio) ou desastre embora a Marcha da Maconha tenha sido autorizada pelo Supre-
(incêndio, enchente, terremoto...) ou para prestar socorro (morador mo Tribunal Federal, vedou-se que nela tal substância ilícita fosse
teve ataque do coração, está sufocado, desmaiado...), e SOMEN- utilizada).
TE DURANTE O DIA por determinação judicial.
XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, ve-
XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunica- dada a de caráter paramilitar;
ções telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, Por exemplo, o PCC e o Comando vermelho são associações
no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que ilícitas e de caráter paramilitar, pois possuem armas e o ideal de
a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução realizar sua própria justiça paralelamente à estatal.
processual penal; 
O sigilo de correspondência e das comunicações está melhor XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de coo-
regulamentado na Lei nº 9.296, de 1996. perativas independem de autorização, sendo vedada a interferên-
cia estatal em seu funcionamento;
XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou pro- Associações são organizações resultantes da reunião legal en-
fissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabe- tre duas ou mais pessoas, com ou sem personalidade jurídica, para
lecer; a realização de um objetivo comum. Já cooperativas são uma for-
O livre exercício profissional é garantido, respeitados os limi- ma específica de associação, pois visam a obtenção de vantagens
tes legais. Por exemplo, não pode exercer a profissão de advogado comuns em suas atividades econômicas.
aquele que não se formou em Direito e não foi aprovado no Exame
da Ordem dos Advogados do Brasil; não pode exercer a medicina XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente dis-
aquele que não fez faculdade de medicina reconhecida pelo MEC solvidas ou ter suas atividades suspensas por decisão judicial,
e obteve o cadastro no Conselho Regional de Medicina. exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado;
O primeiro caso é o de dissolução compulsória, ou seja, a as-
XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguar- sociação deixará de existir para sempre. Obviamente, é preciso o
dado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissio- trânsito em julgado da decisão judicial que assim determine, pois
nal; antes disso sempre há possibilidade de reverter a decisão e permitir
O acesso à informação envolve o direito de todos obterem in- que a associação continue em funcionamento. Contudo, a decisão
formações claras, precisas e verdadeiras a respeito de fatos que judicial pode suspender atividades até que o trânsito em julgado
sejam de seu interesse, notadamente pelos meios de comunicação ocorra, ou seja, no curso de um processo judicial.
imparciais e não monopolizados (artigo 220, CF). No entanto, nem
sempre é possível que a imprensa divulgue com quem obteve a in- XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a per-
formação divulgada, sem o que a segurança desta poderia ficar pre- manecer associado;
judicada e a informação inevitavelmente não chegaria ao público. Toda pessoa possui liberdade de associação, ou seja, de inte-
grar ou deixar de integrar um grupo de tal natureza quando bem
XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo entender.
de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar,
permanecer ou dele sair com seus bens; XXI - as entidades associativas, quando expressamente auto-
A liberdade de locomoção é um aspecto básico do direito à rizadas, têm legitimidade para representar seus filiados judicial
liberdade, permitindo à pessoa ir e vir em todo o território do país ou extrajudicialmente;
em tempos de paz (em tempos de guerra é possível limitar tal liber- Trata-se de caso de legitimidade processual extraordiná-
dade em prol da segurança). A liberdade de sair do país não signi- ria, pela qual um ente vai a juízo defender interesse de outra(s)
fica que existe um direito de ingressar em qualquer outro país, pois pessoa(s) porque a lei assim autoriza.
caberá à ele, no exercício de sua soberania, controlar tal entrada.
XXII - é garantido o direito de propriedade;
XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;
locais abertos ao público, independentemente de autorização, A propriedade, segundo Silva69, “[...] não pode mais ser consi-
desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada derada como um direito individual nem como instituição do direito
para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autori- privado. [...] embora prevista entre os direitos individuais, ela não
dade competente; mais poderá ser considerada puro direito individual, relativizando-
Pessoas podem ir às ruas para reunirem-se com demais na -se seu conceito e significado, especialmente porque os princípios
defesa de uma causa, apenas possuindo o dever de informar tal 69 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional
reunião. Tal dever remonta-se a questões de segurança coletiva. positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006.

Didatismo e Conhecimento 35
NOÇÕES DE DIREITO
da ordem econômica são preordenados à vista da realização de Os direitos morais do autor, que são imprescritíveis, inalie-
seu fim: assegurar a todos existência digna, conforme os ditames náveis e irrenunciáveis, envolvem, basicamente, o direito de rei-
da justiça social. Se é assim, então a propriedade privada, que, vindicar a autoria da obra, ter seu nome divulgado na utilização
ademais, tem que atender a sua função social, fica vinculada à con- desta, assegurar a integridade desta ou modificá-la e retirá-la de
secução daquele princípio”. circulação se esta passar a afrontar sua honra ou imagem.
Com efeito, a proteção da propriedade privada está limitada Já os direitos patrimoniais do autor, nos termos dos artigos
ao atendimento de sua função social, sendo este o requisito que 41 a 44 da Lei n. 9.610/98, prescrevem em 70 anos contados do
a correlaciona com a proteção da dignidade da pessoa humana. A primeiro ano seguinte à sua morte ou do falecimento do último
propriedade de bens e valores em geral é um direito assegurado na coautor, ou contados do primeiro ano seguinte à divulgação da
Constituição Federal e, como todos os outros, se encontra limitado obra se esta for de natureza audiovisual ou fotográfica. Estes, por
pelos demais princípios conforme melhor se atenda à dignidade do sua vez, abrangem, basicamente, o direito de dispor sobre a repro-
ser humano. dução, edição, adaptação, tradução, utilização, inclusão em bases
de dados ou qualquer outra modalidade de utilização; sendo que
XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropria-
estas modalidades de utilização podem se dar a título oneroso ou
ção por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social,
mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os gratuito.
casos previstos nesta Constituição; “Os direitos autorais, também conhecidos como copyright (di-
XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade com- reito de cópia), são considerados bens móveis, podendo ser alie-
petente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao nados, doados, cedidos ou locados. Ressalte-se que a permissão
proprietário indenização ulterior, se houver dano; a terceiros de utilização de criações artísticas é direito do autor.
XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, [...] A proteção constitucional abrange o plágio e a contrafação.
desde que trabalhada pela família, não será objeto de penhora Enquanto que o primeiro caracteriza-se pela difusão de obra cria-
para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produ- da ou produzida por terceiros, como se fosse própria, a segunda
tiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvi- configura a reprodução de obra alheia sem a necessária permissão
mento; do autor”70.
Os incisos XXV e XXVI são desdobramentos do direito à
propriedade e do necessário respeito à sua função social. Se uma XXX - é garantido o direito de herança;
pessoa tem uma propriedade, numa situação de perigo, o poder XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros situados no País
público pode se utilizar dela (ex: montar uma base para capturar será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos
um fugitivo), pois o interesse da coletividade é maior que o do filhos brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável a lei
indivíduo proprietário. Se uma pessoa é mais humilde e tem uma pessoal do de cujus;
pequena propriedade será assegurado que permaneça com ela e a
O direito à herança envolve o direito de receber - seja devido a
torne mais produtiva.
uma previsão legal, seja por testamento - bens de uma pessoa que
XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, faleceu. Assim, o patrimônio passa para outra pessoa, conforme a
publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos her- vontade do falecido e/ou a lei determine. A Constituição estabele-
deiros pelo tempo que a lei fixar; ce uma disciplina específica para bens de estrangeiros situados no
XXVIII - são assegurados, nos termos da lei: Brasil, assegurando que eles sejam repassados ao cônjuge e filhos
a) a proteção às participações individuais em obras coletivas brasileiros nos termos da lei mais benéfica (do Brasil ou do país
e à reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas ativida- estrangeiro).
des desportivas;
b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do
obras que criarem ou de que participarem aos criadores, aos in- consumidor;
térpretes e às respectivas representações sindicais e associativas; O Direito do Consumidor pode ser considerado um ramo re-
XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos industriais cente do Direito. No Brasil, a legislação que o regulamentou foi
privilégio temporário para sua utilização, bem como proteção promulgada nos anos 90, qual seja a Lei n. 8.078, de 11 de setem-
às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de bro de 1990, conforme determinado pela Constituição Federal de
empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse 1988, que também estabeleceu no artigo 48 do Ato das Disposi-
social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País; ções Constitucionais Transitórias: “o Congresso Nacional, dentro
A propriedade também possui uma vertente intelectual que de cento e vinte dias da promulgação da Constituição, elaborará
deve ser respeitada, tanto sob o aspecto moral quanto sob o patri-
código de defesa do consumidor”. A elaboração do Código de De-
monial. No âmbito infraconstitucional brasileiro, a Lei n. 9.610, de
fesa do Consumidor foi um grande passo para a proteção da pessoa
19 de fevereiro de 1998, regulamenta os direitos autorais, isto é,
“os direitos de autor e os que lhes são conexos”. nas relações de consumo que estabeleça, respeitando-se a condição
O artigo 7° do referido diploma considera como obras inte- de hipossuficiente técnico daquele que adquire um bem ou faz uso
lectuais que merecem a proteção do direito do autor os textos de de determinado serviço, enquanto consumidor.
obras de natureza literária, artística ou científica; as conferências, 70 MORAES, Alexandre de. Direitos humanos
sermões e obras semelhantes; as obras cinematográficas e televisi- fundamentais: teoria geral, comentários aos artigos 1º a 5º da
vas; as composições musicais; fotografias; ilustrações; programas Constituição da República Federativa do Brasil, doutrina e
de computador; coletâneas e enciclopédias; entre outras. jurisprudência. São Paulo: Atlas, 1997.

Didatismo e Conhecimento 36
NOÇÕES DE DIREITO
XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos in- § 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judi-
formações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou cial de que já não caiba recurso.
geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de respon-
sabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;
segurança da sociedade e do Estado;  Trata-se de desdobramento do princípio do juiz natural ou
A Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011 regula o acesso legal, pelo qual ninguém será processado ou julgado senão pela
a informações previsto no inciso XXXIII do art. 5º, CF, também autoridade competente71. Juízo ou Tribunal de Exceção é aquele
conhecida como Lei do Acesso à Informação. especialmente criado para uma situação pretérita, bem como não
reconhecido como legítimo pela Constituição do país.
XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pa-
gamento de taxas:
XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organi-
a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de
zação que lhe der a lei, assegurados:
direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;
b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para de- a) a plenitude de defesa;
fesa de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal; b) o sigilo das votações;
Quanto ao direito de petição, de maneira prática, cumpre ob- c) a soberania dos veredictos;
servar que o direito de petição deve resultar, na prática, em uma d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos con-
manifestação do Estado, normalmente dirimindo (resolvendo) tra a vida;
uma questão proposta, em um verdadeiro exercício contínuo de O Tribunal do Júri é formado por pessoas do povo, que julgam
delimitação dos direitos e obrigações que regulam a vida social e, os seus pares, nos crimes dolosos (em que há intenção ou ao menos
desta maneira, quando “dificulta a apreciação de um pedido que se assume o risco de produção do resultado) contra a vida, que são:
um cidadão quer apresentar” (muitas vezes, embaraçando-lhe o homicídio, aborto, induzimento, instigação ou auxílio a suicídio
acesso à Justiça); “demora para responder aos pedidos formula- e infanticídio. Sua competência não é absoluta e é mitigada, por
dos” (administrativa e, principalmente, judicialmente) ou “impõe vezes, pela própria Constituição (arts. 29, X / 102, I, b) e c) / 105,
restrições e/ou condições para a formulação de petição”, traz a I, a) / 108, I).
chamada insegurança jurídica, que traz desesperança e faz prolife-
rar as desigualdades e as injustiças. XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena
Dentro do espectro do direito de petição se insere, por exem- sem prévia cominação legal;
plo, o direito de solicitar esclarecimentos, de solicitar cópias repro-
“O art. 5º, XXXIX, consagra a regra do nullum crimen nulla
gráficas e certidões, bem como de ofertar denúncias de irregulari-
poena sine praevia lege. Assim, de uma só vez, assegura tanto o
dades. Contudo, o constituinte, talvez na intenção de deixar clara
princípio da legalidade (ou reserva legal), na medida em que não
a obrigação dos Poderes Públicos em fornecer certidões, trouxe a
letra b) do inciso, o que gera confusões conceituais no sentido do há crime sem lei que o defina, nem pena sem prévia cominação
direito de obter certidões ser dissociado do direito de petição. legal, como o princípio da anterioridade, visto que não há crime
sem lei anterior que o defina”72.
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário
lesão ou ameaça a direito; XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;
O princípio da inafastabilidade da jurisdição é o princípio de Restam consagrados tanto o princípio da irretroatividade da
Direito Processual Público subjetivo, também cunhado como Prin- lei penal in pejus quanto o da retroatividade da lei penal mais be-
cípio da Ação ou Acesso à Justiça, em que a Constituição garante a néfica73.
necessária tutela estatal aos conflitos ocorrentes na vida em socie-
dade. Sempre que uma controvérsia for levada ao Poder Judiciário, XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos di-
preenchidos os requisitos de admissibilidade, ela será resolvida, reitos e liberdades fundamentais;
independentemente de haver ou não previsão específica a respeito A Constituição sempre remete ao princípio da igualdade, ra-
na legislação. zão pela qual práticas discriminatórias não podem ser aceitas.
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurí- XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e
dico perfeito e a coisa julgada;
imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei;
Pelo inciso restam estabelecidos limites à retroatividade da
A Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989 define os crimes resul-
lei. Define o artigo 6º da Lei de Introdução às Normas do Direito
tantes de preconceito de raça ou de cor. Contra eles não cabe fian-
Brasileiro:
ça (pagamento de valor para deixar a prisão provisória) e não se
Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados aplica o instituto da prescrição (perda de pretensão de se processar/
o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. punir uma pessoa pelo decurso do tempo).
§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo 71 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional
a lei vigente ao tempo em que se efetuou. esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu ti- 72 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional
tular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo começo esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida 73 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional
inalterável, a arbítrio de outrem. esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.

Didatismo e Conhecimento 37
NOÇÕES DE DIREITO
XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis A pena de multa ou patrimonial opera uma diminuição do pa-
de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entor- trimônio do indivíduo delituoso.
pecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes A prestação social alternativa corresponde às penas restritivas
hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os de direitos, autônomas e substitutivas das penas privativas de li-
que, podendo evitá-los, se omitirem; berdade, estabelecidas no art. 44 do Código Penal.
Anistia, graça e indulto diferenciam-se nos seguintes ter-
mos: a anistia exclui o crime, rescinde a condenação e extingue XLVII - não haverá penas:
totalmente a punibilidade, a graça e o indulto apenas extinguem a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos
a punibilidade, podendo ser parciais; a anistia, em regra, atinge do art. 84, XIX;
crimes políticos, a graça e o indulto, crimes comuns; a anistia pode b) de caráter perpétuo;
ser concedida pelo Poder Legislativo, a graça e o indulto são de c) de trabalhos forçados;
competência exclusiva do Presidente da República; a anistia pode d) de banimento;
ser concedida antes da sentença final ou depois da condenação ir- e) cruéis;
recorrível, a graça e o indulto pressupõem o trânsito em julgado Em resumo, o inciso consolida o princípio da humanidade,
da sentença condenatória; graça e o indulto apenas extinguem a pelo qual o “poder punitivo estatal não pode aplicar sanções que
atinjam a dignidade da pessoa humana ou que lesionem a consti-
punibilidade, persistindo os efeitos do crime, apagados na anistia;
tuição físico-psíquica dos condenados”74 .
graça é em regra individual e solicitada, enquanto o indulto é co-
letivo e espontâneo.
XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos distintos,
Não cabe graça, anistia ou indulto (pode-se considerar que o de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado;
artigo o abrange, pela doutrina majoritária) contra crimes de tortu- A distinção do estabelecimento conforme a natureza do delito
ra, tráfico, terrorismo (TTT) e hediondos (previstos na Lei nº 8.072 visa impedir que a prisão se torne uma faculdade do crime. Infe-
de 25 de julho de 1990). lizmente, o Estado não possui aparato suficiente para cumprir tal
diretiva, diferenciando, no máximo, o nível de segurança das pri-
XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de sões. Quanto à idade, destacam-se as Fundações Casas, para cum-
grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional primento de medida por menores infratores. Quanto ao sexo, pri-
e o Estado Democrático; sões costumam ser exclusivamente para homens ou para mulheres.
XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, po-
dendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdi- XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física
mento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e e moral;
contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio trans- Obviamente, o desrespeito à integridade física e moral do pre-
ferido; so é uma violação do princípio da dignidade da pessoa humana.
O princípio da personalidade encerra o comando de o crime
ser imputado somente ao seu autor, que é, por seu turno, a úni- L - às presidiárias serão asseguradas condições para que
ca pessoa passível de sofrer a sanção. Seria flagrante a injustiça possam permanecer com seus filhos durante o período de ama-
se fosse possível alguém responder pelos atos ilícitos de outrem: mentação;
caso contrário, a reação, ao invés de restringir-se ao malfeitor, al- A presidiária poderá ficar com seu filho quando este precisar
cançaria inocentes. Contudo, se uma pessoa deixou patrimônio e ser amamentado.
faleceu, este patrimônio responderá pelas repercussões financeiras
do ilícito. LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturaliza-
do, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização,
XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecen-
entre outras, as seguintes: tes e drogas afins, na forma da lei;
Extradição é um ato de cooperação internacional que consiste
a) privação ou restrição da liberdade;
na entrega de uma pessoa, acusada ou condenada por um ou mais
b) perda de bens;
crimes, ao país que a reclama. O Brasil não extraditará seu nacio-
c) multa;
nal nato em hipótese alguma, mas extraditará o nacional naturali-
d) prestação social alternativa; zado por crime cometido antes deste ato que o tronou nacional ou
e) suspensão ou interdição de direitos; por crime de tráfico praticado após a naturalização.
A individualização da pena tem por finalidade concretizar o
princípio de que a responsabilidade penal é sempre pessoal, jamais LII - não será concedida extradição de estrangeiro por crime
passando do criminoso. político ou de opinião;
Pelo princípio da individualização da pena, a pena deve ser O Brasil adota como princípio que rege as suas relações inter-
individualizada nos planos legislativo, judiciário e executório, nacionais, conforme artigo 4º, X, CF, a concessão de asilo político.
evitando-se a padronização a sanção penal. A individualização da
pena significa adaptar a pena ao condenado, consideradas as carac- LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela
terísticas do agente e do delito. autoridade competente;
A pena privativa de liberdade é aquela que restringe, com Trata-se do princípio do juiz natural.
maior ou menor intensidade, a liberdade do condenado, consis-
tente em permanecer em algum estabelecimento prisional, por um 74 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal.
determinado tempo. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. v. 1.

Didatismo e Conhecimento 38
NOÇÕES DE DIREITO
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais
o devido processo legal; o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da
Pelo princípio do devido processo legal a legislação deve ser família e de advogado;
respeitada quando o Estado pretender punir alguém judicialmente. O preso deverá ser informado de todos os seus direitos, in-
clusive o direito ao silêncio, podendo entrar em contato com sua
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e família e com um advogado.
aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla
defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; LXIV - o preso tem direito à identificação dos responsáveis
Trata-se de corolário do princípio do devido processo legal por sua prisão ou por seu interrogatório policial;
ou então da faceta material deste princípio, que não se limita ao LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela auto-
simples cumprimento da lei, mas busca a realização de justiça no ridade judiciária;
caso concreto. A legislação estabelece inúmeros requisitos para que a prisão
seja validada, sem os quais cabe relaxamento.
LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por
meios ilícitos; LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando
Provas ilícitas são vedadas porque não se pode aceitar o des- a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança;
cumprimento do ordenamento para fazê-lo cumprir: seria parado- Mesmo que a pessoa seja presa em flagrante, devido ao prin-
xal. cípio da presunção de inocência, entende-se que ela não deve ser
mantida presa quando não preencher os requisitos legais para pri-
LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em são preventiva ou temporária.
julgado de sentença penal condenatória;
Consolida-se o princípio da presunção de inocência, pelo qual LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do respon-
uma pessoa não é culpada até que, em definitivo, o Judiciário assim sável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação
decida, respeitados todos os princípios e garantias constitucionais. alimentícia e a do depositário infiel;
Nos termos da Súmula Vinculante nº 25, “é ilícita a prisão
LVIII - o civilmente identificado não será submetido a identi- civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do de-
ficação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei; pósito”. Por isso, a única exceção à regra da prisão por dívida do
Se uma pessoa possui identificação civil, não há porque fazer ordenamento é a que se refere à obrigação alimentícia.
identificação criminal, colhendo digitais, fotos, etc. Pensa-se que
seria uma situação constrangedora desnecessária ao suspeito. LXVIII - conceder-se-á habeas-corpus sempre que alguém
sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em
LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação pública, sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder;
se esta não for intentada no prazo legal; LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger
A chamada ação penal privada subsidiária da pública encon- direito líquido e certo, não amparado por habeas-corpus ou habe-
tra respaldo constitucional, assegurando que a omissão do poder as-data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder
público na atividade de persecução criminal não será ignorada, for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício
fornecendo-se instrumento para que o interessado a proponha. de atribuições do Poder Público;
LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado
LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos pro- por:
cessuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o a) partido político com representação no Congresso Nacio-
exigirem; nal;
O processo, em regra, não será sigiloso. Apenas o será quando b) organização sindical, entidade de classe ou associação le-
a intimidade merecer preservação (ex: processo criminal de estu- galmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano,
pro ou causas de família em geral) ou quando o interesse social em defesa dos interesses de seus membros ou associados;
exigir (ex: investigações que possam ser comprometidas pela pu- LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a
blicidade). falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos di-
reitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à
LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por or- nacionalidade, à soberania e à cidadania;
dem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, LXXII - conceder-se-á habeas-data:
salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente mi- a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à
litar, definidos em lei; pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados
A prisão somente se dará em caso de flagrante delito (neces- de entidades governamentais ou de caráter público;
sariamente antes do trânsito em julgado), ou em caráter temporá- b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo
rio, provisório ou definitivo (as duas primeiras independente do por processo sigiloso, judicial ou administrativo;
trânsito em julgado, preenchidos requisitos legais e a última pela LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação
irreversibilidade da condenação). popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de
entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa,
LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando
serão comunicados imediatamente ao juiz competente e à família o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do
do preso ou à pessoa por ele indicada; ônus da sucumbência;

Didatismo e Conhecimento 39
NOÇÕES DE DIREITO
Habeas-corpus, mandado de segurança, mandado de seguran- É o erro em que incorre um juiz na apreciação e julgamento
ça coletivo, mandado de injunção, habeas-data e ação popular são de um processo criminal, resultando em condenação de alguém
os chamados remédios constitucionais, explicados por Lenza75 da inocente. Neste caso, o Estado indenizará. Ele também indenizará
seguinte maneira, em resumo: uma pessoa que ficar presa além do tempo que foi condenada a
a) Habeas-corpus: ação que serve para proteger a liberdade de cumprir.
locomoção. Antes de haver proteção no Brasil por outros remédios
constitucionais de direitos que não este, o habeas-corpus foi uti- LXXVI - são gratuitos para os reconhecidamente pobres, na
lizado para protegê-los. Hoje, apenas serve à lesão ou ameaça de forma da lei:
lesão ao direito de ir e vir. a) o registro civil de nascimento;
b) Mandado de segurança: ação constitucional de natureza ci- b) a certidão de óbito;
vil, independente da natureza do ato impugnado (administrativo, Evidente, seria absurdo cobrar de uma pessoa sem condições
jurisdicional, eleitoral, criminal, trabalhista). Veio com a finali- a elaboração de documentos para que ela seja reconhecida como
dade de preencher a lacuna decorrente da sistemática do habeas- viva ou morta. Apenas incentivaria a indigência dos menos favo-
-corpus e das liminares possessórias. “Excluindo-se a proteção de recidos.
direitos humanos à liberdade de locomoção e ao acesso ou retifica- LXXVII - são gratuitas as ações de habeas-corpus e habeas-
ção de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de -data, e, na forma da lei, os atos necessários ao exercício da ci-
registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de dadania.
caráter público, através do mandado de segurança busca-se a inva- Tais ações são garantias constitucionais, razão pela qual faz
lidação de atos de autoridade ou a suspensão dos efeitos da omis- sentido serem gratuitas. O mesmo vale para qualquer ato que sirva
são administrativa, geradores de lesão a direito líquido e certo, por ao exercício da cidadania.
ilegalidade ou abuso de poder”. Destaca-se que “direito líquido e
certo é aquele que pode ser demonstrado de plano mediante prova LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são
pré-constituída, sem a necessidade de dilação probatória”. assegurados a razoável duração do processo e os meios que ga-
c) Mandado de segurança coletivo: difere-se do mandado de rantam a celeridade de sua tramitação. 
segurança individual pelo objeto, qual seja a preservação ou a re- Com o tempo se percebeu que não bastava garantir o acesso à
paração de interesses transindividuais (individuais homogêneos ou justiça se este não fosse célere e eficaz. Não significa que se deve
acelerar o processo em detrimento de direitos e garantias assegu-
coletivos), e pela legitimidade ativa, pertencente a partidos políti-
rados em lei, mas sim que é preciso proporcionar um trâmite que
cos e determinadas associações.
dure nem mais e nem menos que o necessário para a efetiva reali-
d) Mandado de injunção: os dois requisitos constitucionais
zação da justiça no caso concreto.
para que seja proposto o mandado de injunção são a existência de
norma constitucional de eficácia limitada que prescreva direitos,
§ 1º As normas definidoras dos direitos e garantias funda-
liberdades constitucionais e prerrogativas inerentes à nacionali-
mentais têm aplicação imediata.
dade, à soberania e à cidadania; além da falta de norma regula-
§ 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não
mentadores, impossibilitando o exercício dos direitos, liberdades e excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela
prerrogativas em questão. Assim, visa curar o hábito que se incutiu adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Fe-
no legislador brasileiro de não regulamentar as normas de eficácia derativa do Brasil seja parte.
limitada para que elas não sejam aplicáveis. Para o tratado internacional ingressar no ordenamento jurídi-
e) Habeas-data: “a garantia constitucional do habeas-data, co brasileiro deve ser observado um procedimento complexo, que
regulamentada péla Lei nº 9.507, de 12 de novembro de 1997, exige o cumprimento de quatro fases: a negociação (bilateral ou
destina-se a disciplinar o direito de acesso a informações, constan- multilateral, com posterior assinatura do Presidente da República),
tes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais submissão do tratado assinado ao Congresso Nacional (que dará
ou de caráter público, para o conhecimento ou retificação (tanto referendo por meio do decreto legislativo), ratificação do tratado
informações erradas como imprecisas, ou, apesar de corretas e ver- (confirmação da obrigação perante a comunidade internacional) e
dadeiras, desatualizadas), todas referentes a dados pessoais con- a promulgação e publicação do tratado pelo Poder Executivo76.
cernentes à pessoa do impetrante”. O §1° e o §2° do artigo 5° existiam de maneira originária na
f) Ação popular: trata-se de instrumento de exercício direto da Constituição Federal, conferindo o caráter de primazia dos direi-
democracia, permitindo ao cidadão que busque a proteção da coisa tos humanos, desde logo consagrando o princípio da primazia dos
pública, ou seja, que vise assegurar a preservação dos interesses direitos humanos, como reconhecido pela doutrina e jurisprudên-
difusos. cia majoritários na época. “O princípio da primazia dos direitos
humanos nas relações internacionais implica em que o Brasil deve
LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gra- incorporar os tratados quanto ao tema ao ordenamento interno bra-
tuita aos que comprovarem insuficiência de recursos; sileiro e respeitá-los. Implica, também em que as normas voltadas
Trata-se da função desempenhada pela Defensoria Pública, à proteção da dignidade em caráter universal devem ser aplicadas
seja diretamente, seja por nomeações. no Brasil em caráter prioritário em relação a outras normas”77.
76 VICENTE SOBRINHO, Benedito. Direitos
LXXV - o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, Fundamentais e Prisão Civil. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris
assim como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença; Editor, 2008.
75 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional 77 PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito
esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. Internacional Público e Privado. Salvador: JusPodivm, 2009.

Didatismo e Conhecimento 40
NOÇÕES DE DIREITO
Regra geral, os tratados internacionais comuns ingressam com guerra; d) crime de agressão. Para o crime de genocídio usa a de-
força de lei ordinária no ordenamento jurídico brasileiro porque finição da convenção de 1948. Como crimes contra a humanidade
somente existe previsão constitucional quanto à possibilidade da são citados: assassinato, escravidão, prisão violando as normas in-
equiparação às emendas constitucionais se o tratado abranger ma- ternacionais, violação tortura, apartheid, escravidão sexual, prosti-
téria de direitos humanos. Antes da emenda alterou o quadro quan- tuição forçada, esterilização, etc. São crimes de guerra: homicídio
to aos tratados de direitos humanos, era o que acontecia, mas isso internacional, destruição de bens não justificada pela guerra, de-
não significa que tais direitos eram menos importantes. portação, forçar um prisioneiro a servir nas forças inimigas, etc.”

§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos CAPÍTULO II


humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Na- DOS DIREITOS SOCIAIS
cional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos
membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.  Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimenta-
Com o advento da Emenda Constitucional nº 45/04, que in- ção, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência
troduziu o §3º ao artigo 5º da Constituição Federal, os tratados social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
internacionais de direitos humanos foram equiparados às emen- desamparados, na forma desta Constituição. 
das constitucionais, desde que houvesse a aprovação do tratado Trata-se de desdobramento da perspectiva do Estado Social de
em cada Casa do Congresso Nacional e obtivesse a votação em Direito. Em suma, são elencados os direitos humanos de 2ª dimen-
dois turnos e com três quintos dos votos dos respectivos membros. são, notadamente conhecidos como direitos econômicos, sociais
Logo, a partir da alteração constitucional, os tratados de direi- e culturais. Em resumo, os direitos sociais envolvem prestações
tos humanos que ingressarem no ordenamento jurídico brasileiro, positivas do Estado (diferente dos de liberdade, que referem-se à
versando sobre matéria de direitos humanos, irão passar por um postura de abstenção estatal), ou seja, políticas estatais que visem
processo de aprovação semelhante ao da emenda constitucional. consolidar o princípio da igualdade não apenas formalmente, mas
Contudo, há posicionamentos conflituosos quanto à possi- materialmente (tratando os desiguais de maneira desigual).
bilidade de considerar como hierarquicamente constitucional os a) Educação: a educação proporciona o pleno desenvolvimen-
tratados internacionais de direitos humanos que ingressaram no to da pessoa, não apenas capacitando-a para o trabalho, mas tam-
ordenamento jurídico brasileiro anteriormente ao advento da re- bém para a vida social como um todo.
ferida emenda. Tal discussão se deu com relação à prisão civil b) Saúde: o Estado deve desenvolver políticas sociais e eco-
do depositário infiel, prevista como legal na Constituição e ilegal nômicas para reduzir o risco de doenças e agravos, bem como para
no Pacto de São José da Costa Rica (tratado de direitos humanos propiciar o acesso universal e igualitário aos serviços voltado ao
aprovado antes da EC nº 45/04), sendo que o Supremo Tribunal seu tratamento.
Federal firmou o entendimento pela supralegalidade do tratado de c) Alimentação: alimentação adequada é um direito humano
direitos humanos anterior à Emenda (estaria numa posição que pa- fundamental do ser humano, sem o qual ele não pode ter uma exis-
ralisaria a eficácia da lei infraconstitucional, mas não revogaria a tência digna.
Constituição no ponto controverso). d) Trabalho: cabe ao Estado criar oportunidades de emprego e
propiciar a qualificação das pessoas.
§ 4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal In- d) Moradia: envolve todos programas de construção de mo-
ternacional a cuja criação tenha manifestado adesão.  radias e melhoria das condições habitacionais (como saneamento
O Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional foi pro- básico, destinação de resíduos, etc.).
mulgado no Brasil pelo Decreto nº 4.388 de 25 de setembro de e) Lazer: a vida não é feita somente de trabalho, toda pessoa
2002. Ele contém 128 artigos e foi elaborado em Roma, no dia 17 precisa desfrutar de momentos de diversão e relaxamento ao lado
de julho de 1998, regendo a competência e o funcionamento deste de amigos e familiares, razão pela qual o Estado deve propiciar
Tribunal voltado às pessoas responsáveis por crimes de maior gra- atividades voltadas a este fim.
vidade com repercussão internacional (artigo 1º, ETPI). f) Segurança: tem, o sentido de segurança pública, não indivi-
“Ao contrário da Corte Internacional de Justiça, cuja jurisdi- dual, sendo direito e responsabilidade de todos.
ção é restrita a Estados, ao Tribunal Penal Internacional compete g) Previdência social: conjunto de direitos relativos à seguri-
o processo e julgamento de violações contra indivíduos; e, distin- dade social.
tamente dos Tribunais de crimes de guerra da Iugoslávia e de Ru- h) Proteção à maternidade e à infância: envolve medidas de
anda, criados para analisarem crimes cometidos durante esses con- seguridade e assistência social e outras voltadas à mãe e ao seu
flitos, sua jurisdição não está restrita a uma situação específica”78. filho, para que ele cresça de maneira saudável.
Resume Mello79: “a Conferência das Nações Unidas sobre a i) Assistência aos desamparados: envolve o apoio aos menos
criação de uma Corte Criminal Internacional, reunida em Roma, favorecidos independente de contribuição à seguridade social.
em 1998, aprovou a referida Corte. Ela é permanente. Tem sede
em Haia. A corte tem personalidade internacional. Ela julga: a) Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além
crime de genocídio; b) crime contra a humanidade; c) crime de de outros que visem à melhoria de sua condição social:
78 NEVES, Gustavo Bregalda. Direito Internacional Abaixo são enumerados os DIREITOS INDIVIDUAIS dos
Público & Direito Internacional Privado. 3. ed. São Paulo: Atlas, trabalhadores.
2009. I - relação de emprego protegida contra despedida arbitrária
79 MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso de Direito ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que preverá
Internacional Público. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2000. indenização compensatória, dentre outros direitos;

Didatismo e Conhecimento 41
NOÇÕES DE DIREITO
II - seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário; XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das relações de
III - fundo de garantia do tempo de serviço; trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para os traba-
IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, lhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extin-
capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua ção do contrato de trabalho;
família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, ves- XXX - proibição de diferença de salários, de exercício de fun-
tuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes pe- ções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou
riódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua estado civil;
vinculação para qualquer fim; XXXI - proibição de qualquer discriminação no tocante a
V - piso salarial proporcional à extensão e à complexidade salário e critérios de admissão do trabalhador portador de de-
do trabalho; ficiência;
VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em conven- XXXII - proibição de distinção entre trabalho manual, técni-
ção ou acordo coletivo; co e intelectual ou entre os profissionais respectivos;
VII - garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalu-
que percebem remuneração variável; bre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de
VIII - décimo terceiro salário com base na remuneração inte- dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de qua-
gral ou no valor da aposentadoria; torze anos; 
IX - remuneração do trabalho noturno superior à do diurno; XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalhador com víncu-
X - proteção do salário na forma da lei, constituindo crime lo empregatício permanente e o trabalhador avulso.
sua retenção dolosa; Parágrafo único. São assegurados à categoria dos traba-
XI - participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da lhadores domésticos os direitos previstos nos incisos IV, VI, VII,
remuneração, e, excepcionalmente, participação na gestão da em- VIII, X, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI,
presa, conforme definido em lei; XXX, XXXI e XXXIII e, atendidas as condições estabelecidas em
XII - salário-família para os seus dependentes; lei e observada a simplificação do cumprimento das obrigações
XII - salário-família pago em razão do dependente do traba- tributárias, principais e acessórias, decorrentes da relação de
lhador de baixa renda nos termos da lei; trabalho e suas peculiaridades, os previstos nos incisos I, II, III,
XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas IX, XII, XXV e XXVIII, bem como a sua integração à previdência
diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação social. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 72, de 2013
de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou conven- - PEC DAS DOMÉSTICAS)
ção coletiva de trabalho;
XIV - jornada de seis horas para o trabalho realizado em Os artigos 8º a 11 trazem os DIREITOS SOCIAIS COLETI-
turnos ininterruptos de revezamento, salvo negociação coletiva; VOS dos trabalhadores, que são os exercidos pelos trabalhadores,
XV - repouso semanal remunerado, preferencialmente aos coletivamente ou no interesse de uma coletividade, quais sejam:
domingos; associação profissional ou sindical, greve, substituição processual,
XVI - remuneração do serviço extraordinário superior, no participação e representação classista80.
mínimo, em cinquenta por cento à do normal; (HORA EXTRA) Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, obser-
XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, vado o seguinte:
um terço a mais do que o salário normal; I - a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fun-
XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do sa- dação de sindicato, ressalvado o registro no órgão competente,
lário, com a duração de cento e vinte dias; vedadas ao Poder Público a interferência e a intervenção na or-
XIX - licença-paternidade, nos termos fixados em lei; ganização sindical;
XX - proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante II - é vedada a criação de mais de uma organização sindi-
incentivos específicos, nos termos da lei; cal, em qualquer grau, representativa de categoria profissional
XXI - aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo ou econômica, na mesma base territorial, que será definida pelos
no mínimo de trinta dias, nos termos da lei; trabalhadores ou empregadores interessados, não podendo ser in-
XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de ferior à área de um Município;
normas de saúde, higiene e segurança; III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses cole-
XXIII - adicional de remuneração para as atividades peno- tivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais
sas, insalubres ou perigosas, na forma da lei; ou administrativas;
XXIV - aposentadoria; IV - a assembleia geral fixará a contribuição que, em se tra-
XXV - assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o tando de categoria profissional, será descontada em folha, para
nascimento até 5 (cinco) anos de idade em creches e pré-escolas;  custeio do sistema confederativo da representação sindical res-
XXVI - reconhecimento das convenções e acordos coletivos pectiva, independentemente da contribuição prevista em lei;
de trabalho; V - ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado
XXVII - proteção em face da automação, na forma da lei; a sindicato;
(Substituição da máquina pelo homem) VI - é obrigatória a participação dos sindicatos nas negocia-
XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do ções coletivas de trabalho;
empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, 80 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional
quando incorrer em dolo ou culpa; esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.

Didatismo e Conhecimento 42
NOÇÕES DE DIREITO
VII - o aposentado filiado tem direito a votar e ser votado nas § 1º Aos portugueses com residência permanente no País, se
organizações sindicais; houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos
VIII - é vedada a dispensa do empregado sindicalizado a par- os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta
tir do registro da candidatura a cargo de direção ou representação Constituição.
sindical e, se eleito, ainda que suplente, até um ano após o final do § 2º A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros
mandato, salvo se cometer falta grave nos termos da lei. natos e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constitui-
Parágrafo único. As disposições deste artigo aplicam-se à or- ção.
ganização de sindicatos rurais e de colônias de pescadores, aten- § 3º São privativos de brasileiro nato os cargos:
didas as condições que a lei estabelecer. I - de Presidente e Vice-Presidente da República;
II - de Presidente da Câmara dos Deputados;
Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos tra- III - de Presidente do Senado Federal;
balhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;
interesses que devam por meio dele defender. V - da carreira diplomática;
§ 1º A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e dis- VI - de oficial das Forças Armadas;
porá sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comu- VII - de Ministro de Estado da Defesa.
nidade. § 4º Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro
§ 2º Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas que:
da lei. I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial,
Neste sentido, conferir a Lei nº 7.783/89. Enquanto não for em virtude de atividade nociva ao interesse nacional;
disciplinado o direito de greve dos servidores públicos, esta é a II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos:
legislação que se aplica, segundo o STF. a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei es-
trangeira; (Incluído pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3,
Art. 10. É assegurada a participação dos trabalhadores e em- de 1994)
pregadores nos colegiados dos órgãos públicos em que seus inte- b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao
resses profissionais ou previdenciários sejam objeto de discussão brasileiro residente em estado estrangeiro, como condição para
e deliberação. permanência em seu território ou para o exercício de direitos ci-
vis;
Trata-se do direito de participação.
Art. 13. A língua portuguesa é o idioma oficial da República
Art. 11. Nas empresas de mais de duzentos empregados, é as-
Federativa do Brasil.
segurada a eleição de um representante destes com a finalidade
§ 1º São símbolos da República Federativa do Brasil a ban-
exclusiva de promover-lhes o entendimento direto com os empre-
deira, o hino, as armas e o selo nacionais.
gadores.
§ 2º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão
Trata-se do direito de representação classista.
ter símbolos próprios.
CAPÍTULO III CAPÍTULO IV
DA NACIONALIDADE DOS DIREITOS POLÍTICOS
Art. 12. São brasileiros: Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio uni-
I - natos: versal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e,
a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que nos termos da lei, mediante:
de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu I - plebiscito;
país; II - referendo;
b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe bra- III - iniciativa popular.
sileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República § 1º O alistamento eleitoral e o voto são:
Federativa do Brasil; I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos;
c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe II - facultativos para:
brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasilei- a) os analfabetos;
ra competente ou venham a residir na República Federativa do b) os maiores de setenta anos;
Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maiori- c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.
dade, pela nacionalidade brasileira; § 2º Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e,
II - naturalizados: durante o período do serviço militar obrigatório, os conscritos.
a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade bra- § 3º São condições de elegibilidade, na forma da lei:
sileira, exigidas aos originários de países de língua portuguesa I - a nacionalidade brasileira;
apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral; II - o pleno exercício dos direitos políticos;
b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na III - o alistamento eleitoral;
República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininter- IV - o domicílio eleitoral na circunscrição;
ruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a naciona- V - a filiação partidária;
lidade brasileira. VI - a idade mínima de:

Didatismo e Conhecimento 43
NOÇÕES DE DIREITO
a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da Ademais, enquanto a Lei Fundamental pátria preceitua que
República e Senador; a educação e a saúde são “direitos de todos e dever do Estado”,
b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado fala, por outro lado, que a segurança pública, antes mesmo de ser
e do Distrito Federal; direito de todos, é um “dever do Estado”. Com isso, isto é, ao co-
c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadu- locar a segurança pública antes de tudo como um dever do Estado,
al ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz; e só depois como um direito do todos, denota o compromisso dos
d) dezoito anos para Vereador. agentes estatais em prevenir a desordem, e, consequencialmente,
§ 4º São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos. evitar a justiça por próprias mãos.
§ 5º O Presidente da República, os Governadores de Estado Neste prumo, no art. 144, caput, da Constituição Federal, se
e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou afirma que a segurança pública é exercida para a preservação da
substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um ordem pública e da incolumidade das pessoas, como para a preser-
único período subsequente.
vação dos patrimônios público e particular.
§ 6º Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da Re-
Os órgãos responsáveis pela garantia da segurança pública,
pública, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os
Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até seis me- compondo sua estrutura, são: polícia federal; polícia rodoviária fe-
ses antes do pleito. deral; polícia ferroviária federal; polícias civis; e polícias militares
§ 7º São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o e corpos de bombeiros militares. Em destaque, o papel das polícias
cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau militares, que é de polícia ostensiva e de preservação da ordem
ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de Es- pública.
tado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os
haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo Com efeito, a atuação policial se dá no espaço público, que é
se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição. aquele de uso comum e posse de todos. Por muito tempo a atua-
§ 8º O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes con- ção das polícias ficava restrita, apenas se limitava ao exercício do
dições: poder de polícia fiscalizatório e repressivo. No entanto, uma preo-
I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se cupação social tem se arraigado nestas instituições, que tomaram
da atividade; novos rumos. Por exemplo as polícias também têm desenvolvido
II - se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela iniciativas junto à população em complemento às suas funções tra-
autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato dicionais, como o caso de campanhas preventivas, da presença em
da diplomação, para a inatividade. redes sociais e do serviço de ouvidoria e pesquisa de satisfação.
§ 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibi- Pouco a pouco, percebe-se que há uma preocupação em apro-
lidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade
ximar a polícia da sociedade, tirando a imagem de uma instituição
administrativa, a moralidade para exercício de mandato conside-
à parte, inimiga da população. Mais que isso, pretende-se acabar
rada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade
das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso com a percepção da polícia como uma instituição avessa aos di-
do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta reitos humanos garantidos à população, passando a ser protetora
ou indireta. e efetivadora destes direitos, mesmo quando estiver atuando na
§ 10. O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Justiça repressão de um cidadão que infringiu a lei.
Eleitoral no prazo de quinze dias contados da diplomação, instru- Por outro lado, inegável que inúmeras notícias são veiculadas
ída a ação com provas de abuso do poder econômico, corrupção diariamente a respeito da atuação policial no espaço público para
ou fraude. dirimir conflitos e controlar manifestações. Muitas vezes, se dá o
§ 11. A ação de impugnação de mandato tramitará em segre- uso indevido da força, que deve ser coibido e caracteriza clássica
do de justiça, respondendo o autor, na forma da lei, se temerária violação de direitos humanos. O uso desnecessário de disparos de
ou de manifesta má-fé. armas, bombas de efeito moral, balas de borracha e outros aparatos
de contenção e dispersão caracteriza violação de direitos humanos,
notadamente, liberdade de expressão, liberdade de manifestação,
2.2.5 A POLÍCIA CIVIL E A DEFESA DAS integridade física, moral e psíquica e vida. Portanto, é preciso res-
INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS: A POLÍ- ponsabilidade na atuação policial no espaço público, utilizando da
CIA JUDICIÁRIA E A PROMOÇÃO DOS DI- força apenas na medida do necessário e sem perder de vista dos
REITOS FUNDAMENTAIS direitos humanos consagrados.
Assim, durante muitos anos o tema “Direitos Humanos” foi
considerado antagônico ao de Segurança Pública. O principal mo-
A segurança tem um duplo aspecto na Constituição Federal, a tivo disso foi o autoritarismo vigente no país entre 1964 e 1984 e
saber, o aspecto de direito e garantia individual e coletivo, por es- a manipulação, por ele, dos aparelhos policiais. Neste paradigma,
tar prevista no caput, do art. 5º, da Constituição Federal (ao lado do a sociedade foi separada da polícia, como se esta não fizesse parte
direito à vida, da liberdade, da igualdade, e da propriedade), bem daquela.
como o aspecto de direito social, por estar prevista no art. 6º, da Desde então, a polícia passou a ser caracterizada pelos seg-
Constituição Federal. A segurança do caput, do art. 5º, CF, todavia, mentos progressistas da sociedade de forma equivocada, quer di-
se refere à “segurança jurídica”. Já a segurança do art. 6º, CF, se zer, passou a ser vista como inimiga da democracia e dos direitos
refere à “segurança pública”, a qual encontra disciplinamento no humanos, associando-se à repressão anti-democrática, à truculên-
art. 144, da Constituição da República. cia, ao conservadorismo.

Didatismo e Conhecimento 44
NOÇÕES DE DIREITO
Por sua vez, os Direitos Humanos como militância, na outra fundada sobre suposta dualidade ou antagonismo entre uma “so-
ponta, passaram a ser vistos como ideologicamente filiados à es- ciedade civil” e outra “sociedade policial”, isto é, a sociedade é
querda, durante toda a vigência da Guerra Fria (estranhamente, uma só, composta por todos os cidadãos brasileiros e a polícia não
nos países do “socialismo real”, os Direitos Humanos eram vistos forma uma sociedade paralela.
como uma arma retórica e organizacional do capitalismo). No caso Essa afirmação é plenamente válida mesmo quando se trata da
do Brasil, um país capitalista, em tempos de ditadura os Direitos Polícia Militar, que é um serviço público realizado na perspectiva
Humanos faziam parte do ideário dos que tentavam derrubar o re- de uma sociedade única, da qual todos os segmentos estatais são
gime, por vezes utilizando-se de argumentos socialistas, ao passo derivados. Portanto não há, igualmente, uma “sociedade civil” e
que aqueles que estavam no poder se valiam das violações a estes outra “sociedade militar”.
A “lógica” da Guerra Fria (socialismo/capitalismo),  aliada
Direitos Humanos como mecanismo para a manutenção do poder.
aos “anos de chumbo”, no Brasil, quer dizer, ao período de dita-
Bem se sabe que até hoje se tenta quebrar o estigma conferido
dura militar, é que se encarregou de solidificar esses equívocos,
aos Direitos Humanos. Mesmo após a rearticulação democrática, tentando transformar a polícia, de um serviço à cidadania, em fer-
inclusive após a Constituição Federal de 1988, os defensores dos ramenta para enfrentamento do “inimigo interno”. Assim, o cida-
Direitos Humanos passaram a ser vistos como defensores de ban- dão que não fazia parte do corpo policial passava a ser visto como
didos e da impunidade. um potencial inimigo que pudesse derrubar o Estado. Mesmo após
Evidentemente, ambas visões, tanto a da época de ditadura o encerramento desses anos de paranoia, sequelas ideológicas per-
militar quanto a que se instalou no início da redemocratização, es- sistem indevidamente, obstaculizando, em algumas áreas, a eluci-
tão fortemente equivocadas e prejudicadas pelo preconceito. dação da real função policial.
Estamos desde 1988 construindo uma nova democracia e
essa paralisia de paradigmas das “partes” (uma vez que a visão 2ª) Policial: cidadão qualificado
de Direitos Humanos como um aparato de proteção de crimino- O agente de Segurança Pública é, contudo, um cidadão quali-
sos, embora de forma atenuada, permanece), representa um forte ficado: representa o Estado, em seu contato mais imediato com a
impedimento à parceria para a edificação de uma sociedade mais população. Em verdade, todo cidadão que é designado para desem-
civilizada. penho de uma função pública passa a exteriorizar a imagem que o
Aproximar a policia das ONGs que atuam com Direitos Hu- Estado pretende passar, à qual notadamente se encontra aliado um
manos, e vice-versa, é tarefa impostergável para que possamos valor ético. Mas não é o Estado que é ético ou não, e sim as pessoas
viver, a médio prazo, em uma nação que respire “cultura de ci- que compõem o seu aparato. Entre elas, destaca-se o policial, uma
das figuras representativas do Estado que mais ficam aos olhos da
dadania”. Para que isso ocorra, é necessário que as lideranças do
população.
campo dos Direitos Humanos desarmem as “minas ideológicas” Sendo a autoridade mais comumente encontrada tem, portan-
altamente preconceituosas já referidas e não mais justificáveis, que to, a missão de ser uma espécie de “porta voz” popular do conjunto
agora impedem uma real aproximação. O mesmo vale para a polí- de autoridades das diversas áreas do poder. Além disso, porta a sin-
cia, que precisa deixar de acreditar que Direitos Humanos são um gular permissão para o uso da força e das armas, no âmbito da lei,
inimigo para o desempenho efetivo das funções policiais. o que lhe confere natural e destacada autoridade para a construção
A polícia pode aprender muito com a sociedade, e vice-versa, social ou para sua devastação. O impacto sobre a vida de indivídu-
de forma a se promover uma atuação de agentes defensores da os e comunidades, exercido por esse cidadão qualificado é, pois,
mesma democracia. sempre um impacto extremado e simbolicamente referencial para
Neste ponto, será tecido um aprofundamento sobre as atitudes o bem ou para o mal-estar da sociedade.
esperadas dos policiais no que tange ao respeito dos Direitos Hu-
manos. Ricardo Balestreri81, com base em sua experiência de qua- 3ª) Policial: pedagogo da cidadania
se uma década de parceria no campo da educação para os direitos Há, assim, uma dimensão pedagógica no agir policial que,
humanos junto a policiais e em demais aspectos de sua experiência como em outras profissões de suporte público, antecede as pró-
prática, tece treze considerações que devem ser guia na atuação da prias especificidades de sua especialidade.
polícia em relação aos Direitos Humanos, que estudaremos indivi- Os paradigmas contemporâneos na área da educação nos obri-
dualmente a partir deste ponto. gam a repensar o agente educacional de forma mais includente.
No passado, esse papel estava reservado unicamente aos pais, pro-
fessores e especialistas em educação. Hoje é preciso incluir com
1ª) Cidadania, dimensão primeira
primazia no rol pedagógico também outras profissões irrecusavel-
O policial é, antes de tudo um cidadão, e na cidadania deve mente formadoras de opinião: médicos, advogados, jornalistas e
nutrir sua razão de ser. Cidadão é aquele que possui com o Estado policiais, por exemplo.
o vínculo jurídico-político da nacionalidade, passando a compor O policial, assim, à luz desses paradigmas educacionais mais
o seu povo, adquirindo direitos políticos aos quais correspondem abrangentes, é um pleno e legítimo educador. Essa dimensão é ina-
deveres perante à sociedade. Um cidadão não é diferente do outro, bdicável e reveste de profunda nobreza a função policial, quando
todos têm a mesma importância e o mesmo papel social. conscientemente explicitada através de comportamentos e atitu-
Portanto, o policial é equiparado a todos os  membros da des.
comunidade em direitos e deveres. Sua condição de cidadania é,
portanto, condição primeira, tornando-se bizarra qualquer reflexão 4ª) A importância da autoestima pessoal e institucional
81 BALESTERI, Ricardo. Direitos humanos: Coisa de O reconhecimento da mencionada “dimensão pedagógica” é,
polícia. Disponível em: <http://www.mpba.mp.br/atuacao/ceosp/ seguramente, o caminho mais rápido e eficaz para a reconquista da
artigos/Balestreri_Direitos_Humanos_Coisa_policia.pdf>. Acesso abalada autoestima policial. Note-se que os vínculos de respeito e
em: 03 out. 2013. solidariedade só podem constituir-se sobre uma boa base de auto-

Didatismo e Conhecimento 45
NOÇÕES DE DIREITO
estima. A experiência primária do “querer-se bem” é fundamental Em termos de inconsciente coletivo, o policial exerce função
para possibilitar o conhecimento de como chegar a “querer bem educativa arquetípica: deve ser “o mocinho”, com procedimentos
o outro”. Não podemos viver para fora o que não vivemos para e atitudes coerentes com a “firmeza moralmente reta”, oposta ra-
dentro. dicalmente aos desvios perversos do outro arquétipo que se lhe
Em nível pessoal, é fundamental que o cidadão policial sinta- contrapõe: o bandido.
-se motivado e orgulhoso de sua profissão. Isso só é alcançável à Ao olhar para uns e outros, é preciso que a sociedade per-
partir de um patamar de “sentido existencial”. Se a função policial ceba claramente as diferenças metodológicas, isto é, que distinga
for esvaziada desse sentido, transformando o homem e a mulher o mocinho do bandido, ou a “confusão arquetípica” intensificará
que a exercem em meros cumpridores de ordens sem um signifi-
sua crise de moralidade, incrementando a ciranda da violência. Em
cado pessoalmente assumido como ideário, o resultado será uma
outras palavras, a sociedade que não olha para o policial como
autoimagem denegrida e uma baixa autoestima.
Resgatar, pois, o pedagogo que há em cada policial, é permitir a pessoa que está certa em sua atuação, e para o bandido como
a ressignificação da importância social da polícia, com a conse- aquele que deve ser reprimido, tende a delinquir. Isso significa que
quente consciência da nobreza e da dignidade dessa missão. a violência policial é geradora de mais violência da qual, mui co-
A elevação dos padrões de autoestima pode ser o caminho mumente, o próprio policial torna-se a vítima.
mais seguro para uma boa prestação de serviços. Só respeita o ou- Ao policial, portanto, não cabe ser cruel com os cruéis, vin-
tro aquele que se dá respeito a si mesmo. Um policial insatisfeito gativo contra os antissociais, hediondo com os hediondos. Apenas
com as funções que desempenha não pode ser um bom policial. estaria com isso, liberando, licenciando a sociedade para fazer o
mesmo, a partir de seu patamar de visibilidade moral. Não se en-
5ª ) Polícia e “superego” social sina a respeitar desrespeitando, não se pode educar para preservar
Essa “dimensão pedagógica”, evidentemente, não se confun- a vida matando, não importa quem seja. O policial jamais pode
de com “dimensão demagógica” e, portanto, não exime a polícia esquecer que também o observa o inconsciente coletivo.
de sua função técnica de intervir preventivamente no cotidiano e
repressivamente em momentos de crise, uma vez que democracia
8ª) A “visibilidade moral” da polícia: importância do
nenhuma se sustenta sem a contenção do crime, sempre fundado
sobre uma moralidade mal constituída  e hedonista, resultante de exemplo
uma complexidade causal que vai do social ao psicológico. Essa dimensão “testemunhal”, exemplar, pedagógica, que o
Assim como nas famílias é preciso, em “ocasiões extremas”, policial carrega irrecusavelmente é, possivelmente, mais marcante
que o adulto sustente, sem vacilar, limites que possam balizar mo- na vida da população do que a própria intervenção do educador por
ralmente a conduta de crianças e jovens, também em nível macro ofício, o professor.
é necessário que alguma instituição se encarregue da contenção da Esse fenômeno ocorre devido à gravidade do momento em
sociopatia. que normalmente o policial encontra o cidadão. À polícia recorre-
A polícia é, portanto, uma espécie de superego social indis- -se, como regra, em horas de fragilidade emocional, que deixam
pensável em culturas urbanas, complexas e de interesses conflitan- os indivíduos ou a comunidade fortemente “abertos” ao impacto
tes, contendo o óbvio caos a que estaríamos expostos na absurda psicológico e moral da ação realizada.
hipótese de sua inexistência. Possivelmente por isso não se conhe- Por essa razão é que uma intervenção incorreta funda marcas
ça nenhuma sociedade contemporânea que não tenha assentamen- traumáticas por anos ou até pela vida inteira, assim como a ação do
to, entre outros, no poder da polícia. Zelar, pois, diligentemente,
“bom policial” será sempre lembrada com satisfação e conforto.
pela segurança pública, pelo direito do cidadão de ir e vir, de não
ser molestado, de não ser saqueado, de ter respeitada sua integri- Curiosamente, um significativo número de policiais não con-
dade física e moral, é dever da polícia, um compromisso com o segue perceber com clareza a enorme importância que têm para
rol mais básico dos direitos humanos que devem ser garantidos à a sociedade, talvez por não haverem refletido suficientemente a
imensa maioria de cidadãos honestos e trabalhadores. respeito dessa peculiaridade do impacto emocional do seu agir so-
Para isso é que a polícia recebe desses mesmos cidadãos a bre a clientela. Justamente aí reside a maior força pedagógica da
unção para o uso da força, quando necessário. polícia, a grande chave para a redescoberta de seu valor e o resgate
de sua autoestima.
6ª) Rigor versus violência É essa mesma “visibilidade moral” da polícia o mais forte
O uso legítimo da força não se confunde, contudo, com trucu- argumento para convencê-la de sua “responsabilidade paternal”
lência. A fronteira entre a força e a violência é delimitada, no cam- (ainda que não paternalista) sobre a comunidade. Zelar pela ordem
po formal, pela lei, no campo racional pela necessidade técnica e, pública é, assim, acima de tudo, dar exemplo de conduta forte-
no campo moral, pelo antagonismo que deve reger a metodologia mente baseada em princípios. Não há exceção quando tratamos
de policiais e criminosos. Significa que a lei delimita juridicamen-
de princípios, mesmo quando está em questão a prisão, guarda e
te a atuação do policial, mas a própria moralidade incute no po-
condução de malfeitores.
licial o bom senso que limita suas atuações. Assim, a força deve
ser usada com bom senso, na medida do necessário ao adequado Se o policial é capaz de transigir nos seus princípios de civili-
desempenho das funções. dade, isto é, de relativizá-los, quando no contato com os sociopa-
tas, abona a violência, contamina-se com o que nega, conspurca a
7ª) Policial versus criminoso: metodologias antagônicas normalidade, confunde o imaginário popular e rebaixa-se à igual-
Dessa forma, mesmo ao reprimir, o policial oferece uma vi- dade de procedimentos com aqueles que combate.
sualização pedagógica, ao antagonizar-se aos procedimentos do Note-se que a perspectiva, aqui, não é refletir do ponto de vis-
crime. ta da “defesa do bandido”, mas da defesa da dignidade do policial.

Didatismo e Conhecimento 46
NOÇÕES DE DIREITO
A violência desequilibra e desumaniza o sujeito, não importa Evidentemente, se os critérios de seleção e permanência de-
com que fins seja cometida, e não restringe-se a áreas isoladas, vem tornar-se cada vez mais exigentes, espera-se que o Estado cui-
mas, fatalmente, acaba por dominar-lhe toda a conduta. O violento de também de retribuir com salários cada vez mais dignos.
se dá uma perigosa permissão de exercício de pulsões negativas, De qualquer forma, o zelo pelo respeito e a decência dos
que vazam gravemente sua censura moral e que, inevitavelmente, quadros policiais não cabe apenas ao Estado mas aos próprios
vão alastrando-se em todas as direções de sua vida, de maneira policiais, os maiores interessados em participarem de instituições
incontrolável. livres de vícios, valorizadas socialmente e detentoras de credibili-
dade histórica.
9ª) “Ética” corporativa versus ética cidadã
Essa consciência da autoimportância obriga o policial a ab- 11ª) Direitos Humanos dos policiais: humilhação ver-
dicar de qualquer lógica corporativista. Por lógica corporativista,
sus hierarquia
entende-se reforçar a distinção da polícia como uma corporação
O equilíbrio psicológico, tão indispensável na ação da polícia,
alheia à sociedade, autônoma.
Ter identidade com a polícia, amar a corporação da qual par- passa também pela saúde emocional da própria instituição. Mesmo
ticipa, coisas essas desejáveis, não se podem confundir, em mo- que isso não se justifique, sabemos que policiais maltratados inter-
mento algum, com acobertar práticas abomináveis. Ao contrário, namente tendem a descontar sua agressividade sobre o cidadão.
a verdadeira identidade policial exige do sujeito um permanente Evidentemente, polícia não funciona sem hierarquia. Há, contudo,
zelo pela “limpeza” da instituição da qual participa. clara distinção entre hierarquia e humilhação, entre ordem e per-
Um verdadeiro policial, ciente de seu valor social, será o pri- versidade.
meiro interessado no “expurgo” dos maus profissionais, dos cor- Em muitas academias de polícia (é claro que não em todas)
ruptos, dos torturadores, dos psicopatas. Sabe que o lugar deles os policiais parecem ainda ser “adestrados” para alguma suposta
não é polícia, pois, além do dano social que causam, prejudicam o “guerra de guerrilhas”, sendo submetidos a toda ordem de maus-
equilíbrio psicológico de todo o conjunto da corporação e inundam -tratos (beber sangue no pescoço da galinha, ficar em pé sobre for-
os meios de comunicação social com um marketing que denigre migueiro, ser “afogado” na lama por superior hierárquico, são só
o esforço heróico de todos aqueles outros que cumprem correta- alguns dos recentes  exemplos que tenho colecionado à partir da
mente sua espinhosa missão. Por esse motivo, não está disposto a narrativa de policiais).
conceder-lhes qualquer tipo de espaço. Por uma contaminação da ideologia militar (diga-se de pas-
Aqui, se antagoniza a “ética da corporação” (que na verdade sagem, presente não apenas nas PMs mas também em muitas po-
é a negação de qualquer possibilidade ética) com a ética da cida- lícias civis), os futuros policiais são, muitas vezes, submetidos a
dania (aquela voltada à missão da polícia junto a seu cliente, o
violento estresse psicológico, a fim de atiçar-lhes a raiva contra o
cidadão).
“inimigo” (será, nesse caso, o cidadão?).
O acobertamento de práticas espúrias demonstra, ao contrário
do que muitas vezes parece, o mais absoluto desprezo pelas insti- Essa permissividade na violação interna dos Direitos Huma-
tuições policiais. Quem acoberta o espúrio permite que ele enxo- nos dos policiais pode dar guarida à ação de personalidades sádi-
valhe a imagem do conjunto da instituição e mostra, dessa forma, cas e depravadas, que usam sua autoridade superior como cobertu-
não ter qualquer respeito pelo ambiente do qual faz parte. ra para o exercício de suas doenças.
Além disso, como os policiais não vão lutar na extinta guerra
10ª) Critérios de seleção, permanência e acompanhamento do Vietnã, mas atuar nas ruas das cidades, esse tipo de “formação”
Essa preocupação deve crescer à medida em que tenhamos (deformadora) representa uma perda de tempo, geradora apenas de
clara a preferência da psicopatia pelas profissões de poder. Política brutalidade, atraso técnico e incompetência.
profissional, Forças Armadas, Comunicação Social, Direito, Medi- A verdadeira hierarquia só pode ser exercida com base na lei
cina, Magistério e Polícia são algumas das profissões de encantada e na lógica, longe, portanto, do personalismo e do autoritarismo
predileção para os psicopatas, sempre em busca do exercício livre doentios.
e sem culpas de seu poder sobre outrem.  O respeito aos superiores não pode ser imposto na base da
Profissões magníficas, de grande amplitude social, que agre- humilhação e do medo. Não pode haver respeito unilateral, como
gam heróis e mesmo santos, são as mesmas que atraem a escória, não pode haver respeito sem admiração. Não podemos respeitar
pelo alcance que têm, pelo poder que representam. aqueles a quem odiamos.
A permissão para o uso da força, das armas, do direito a deci- A hierarquia é fundamental para o bom funcionamento da po-
dir sobre a vida e a morte, exercem irresistível atração à perversi-
lícia, mas ela só pode ser verdadeiramente alcançada através do
dade, ao delírio onipotente, à loucura articulada.
exercício da liderança dos superiores, o que pressupõe práticas bi-
Os processos de seleção de policiais devem tornar-se cada vez
mais rígidos no bloqueio à entrada desse tipo de gente. Igualmente, laterais de respeito, competência e seguimento de regras lógicas e
é nefasta a falta de um maior acompanhamento psicológico aos suprapessoais.
policiais já na ativa.
A polícia é chamada a cuidar dos piores dramas da popula- 12ª) Direitos Humanos dos policiais: humilhação ver-
ção e nisso reside um componente desequilibrador. Quem cuida sus hierarquia
da polícia? No extremo oposto, a debilidade hierárquica é também um
Os governos, de maneira geral, estruturam pobremente os ser- mal. Pode passar uma imagem de descaso e desordem no serviço
viços de atendimento psicológico aos policiais e aproveitam muito público, além de enredar na malha confusa da burocracia toda a
mal os policiais diplomados nas áreas de saúde mental. prática policial.

Didatismo e Conhecimento 47
NOÇÕES DE DIREITO
A falta de uma Lei Orgânica Nacional para a polícia civil, por O policial, pela natural autoridade moral que porta, tem o po-
exemplo, pode propiciar um desvio fragmentador dessa institui- tencial de ser o mais marcante promotor dos Direitos Humanos,
ção, amparando uma tendência de definição de conduta, em alguns revertendo o quadro de descrédito social e qualificando-se como
casos, pela mera junção, em “colcha de retalhos”, do conjunto das um personagem central da democracia. As organizações não-go-
práticas de suas delegacias. vernamentais que ainda não descobriram a força e a importância
Enquanto um melhor direcionamento não ocorre em plano do policial como agente de transformação, devem abrir-se, urgen-
nacional, é fundamental que os estados e instituições da polícia temente, a isso, sob pena de, aferradas a velhos paradigmas, perde-
civil  direcionem estrategicamente o processo de maneira a unifi- rem o concurso da ação impactante desse ator social.
car sob regras claras a conduta do conjunto de seus agentes, trans- Direitos Humanos, cada vez mais, também é coisa de polícia!
cendendo a mera predisposição dos delegados localmente respon-
sáveis (e superando, assim, a “ordem” fragmentada, baseada na
personificação). Além do conjunto da sociedade, a própria polícia
civil será altamente beneficiada, uma vez que regras objetivas para 2.2.5 O DIREITO DE RECEBER
todos (incluídas aí as condutas internas) só podem dar maior segu- SERVIÇOS PÚBLICOS ADEQUADOS
rança e credibilidade aos que precisam executar tão importante e
ao mesmo tempo tão intrincado e difícil trabalho.

13ª) A formação dos policiais Conceitos de eficiência, eficácia e efetividade na adminis-


A superação desses desvios poderia dar-se, ao menos em par- tração pública
te, pelo estabelecimento de um “núcleo comum”, de conteúdos e
metodologias na formação de ambas as polícias, que privilegiasse A eficiência não se confunde com a eficácia e a efetividade.
a formação do juízo moral, as ciências humanísticas e a tecnolo- A eficiência da Administração Pública é vista sob dois aspec-
gia como contraponto de eficácia à incompetência da força bruta. tos: produtividade e economicidade, de forma a reduzir os desper-
Trata-se de aprender a ser policial, tendo por base de estudo todas dícios de dinheiro público e executar, ainda assim, tais serviços
as diretrizes anteriores. com presteza, perfeição e rendimento funcional. Logo, transmite
Aqui, deve-se ressaltar a importância das academias de Polícia sentido relacionado ao modo pelo qual se processa o desempenho
Civil, das escolas formativas de oficiais e soldados e dos institutos da atividade administrativa, quer dizer, relaciona-se à conduta dos
superiores de ensino e pesquisa, como bases para a construção da
agentes.
Polícia Cidadã, seja através de suas intervenções junto aos poli-
Eficácia, por sua vez, tem relação com os meios e instrumen-
ciais ingressantes, seja na qualificação daqueles que se encontram
tos empregados pelos agentes no exercício de seus misteres na
há mais tempo na ativa. Um bom currículo e professores habilita-
administração, ou seja, trata-se de expressão com sentido instru-
dos não apenas nos conhecimentos técnicos, mas igualmente nas
mental.
artes didáticas e no relacionamento interpessoal, são fundamentais
Por fim, efetividade é voltada para os resultados obtidos com
para a geração de policiais que atuem com base na lei e na or-
as ações administrativas, sobreleva neste aspecto a positividade
dem hierárquica, mas também na autonomia moral e intelectual.
Do policial contemporâneo, mesmo o de mais simples escalão, se dos objetivos. A efetividade é a consequência do que é efetivo,
exigirá, cada vez mais, discernimento de valores éticos e condução isto é, constitui a produção de um resultado por uma ação efetiva.
rápida de processos de raciocínio na tomada de decisões. O desejável é que tais qualificações caminhem simultanea-
mente, mas é possível admitir que haja condutas administrativas
Conclusão produzidas com eficiência, embora não tenham eficácia ou efeti-
A polícia, como instituição de serviço à cidadania em uma de vidade. Ou ainda, a conduta pode não ser muito eficiente mas, por
suas demandas mais básicas - Segurança Pública - tem tudo para conta dos meios eficazes, acabar por ser efetiva. Até é possível
ser altamente respeitada e valorizada. Para tanto, precisa resgatar a admitir que condutas eficientes e eficazes acabem por não alcançar
consciência da importância de seu papel social e, por conseguinte, os resultados desejados, sendo assim despidas de efetividade.
a autoestima.
Esse caminho passa pela superação das sequelas deixadas Qualidade no serviço público
pelo período ditatorial: velhos ranços psicopáticos, às vezes ainda Primeiramente, tem-se que os serviços públicos devem aten-
abancados no poder, contaminação anacrônica pela ideologia mi- der à característica da generalidade, porque devem ser prestados
litar da Guerra Fria, crença de que a competência se alcança pela com a maior amplitude possível, isto é, beneficiar o maior número
truculência e não pela técnica, maus-tratos internos a policiais de possível de indivíduos, não se perdendo de vista a promoção da
escalões inferiores, corporativismo no acobertamento de práticas igualdade material entre os beneficiários.
incompatíveis com a nobreza da missão policial. Por sua vez, o artigo 22, caput do Código de Defesa do Con-
O processo de modernização democrática já está instaurado e sumidor reflete bem a qualidade esperada do serviço público: “Os
conta com a parceria de organizações como a Anistia Internacional órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permis-
(que, dentro e fora do Brasil, aliás, mantém um notável quadro de sionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são
policiais a ela filiados). obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e,
Dessa forma, o velho paradigma antagonista da Segurança quanto aos essenciais, contínuos”.
Pública e dos Direitos Humanos precisa ser substituído por um Adequados são os serviços compatíveis com as necessidades
novo, que exige desacomodação de ambos os campos: “Segurança da pessoa atendida e com os requisitos objetivos para o tipo de
Pública com Direitos Humanos”. serviço que se espera ser prestado naquela situação.

Didatismo e Conhecimento 48
NOÇÕES DE DIREITO
Seguros são os serviços que não expõem a pessoa atendida a Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos
riscos desnecessários, que fujam às expectativas normais de risco humanos resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciên-
do serviço prestado. cia da Humanidade e que o advento de um mundo em que os ho-
Eficientes são os serviços compatíveis com os novos proces- mens gozem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de
sos tecnológicos, mas que respeitem o menor gasto possível. viverem a salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a
Contínuos são os serviços públicos que não sofrem interrup- mais alta aspiração do homem comum,
ção. A prestação dos serviços públicos deve ser contínua para evi- A humanidade nunca irá esquecer das imagens vistas quando
tar que a paralisação provoque colapso nas múltiplas atividades da abertura dos campos de concentração nazistas, nos quais os ca-
particulares. dáveres esqueléticos do que não eram considerados seres humanos
Se o serviço público for dotado destas características míni- perante aquele regime político se amontoavam. Aquelas pessoas
mas, possuirá qualidade. não eram consideradas iguais às demais por possuírem alguma ca-
racterística, crença ou aparência que o Estado não apoiava. Daí a
importância de se atentar para os antecedentes históricos e com-
2.2.6 OS SISTEMAS GLOBAL E preender a igualdade de todos os homens, independentemente de
AMERICANO DE PROTEÇÃO DOS DIREI- qualquer fator.
TOS HUMANOS FUNDAMENTAIS: A DE-
CLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS Considerando essencial que os direitos humanos sejam prote-
HUMANOS E A CONVENÇÃO AMERICANA gidos pelo Estado de Direito, para que o homem não seja compe-
DE DIREITOS HUMANOS (PACTO DE SÃO lido, como último recurso, à rebelião contra tirania e a opressão,
JOSÉ DA COSTA RICA) Por todo o mundo se espalharam, notadamente durante a Se-
gunda Guerra Mundial, regimes totalitários altamente opressivos,
não só por parte das Potências do Eixo (Alemanha, Itália, Japão),
mas também no lado dos Aliados (Rússia e o regime de Stálin).
Declaração Universal dos Direitos Humanos
Considerando essencial promover o desenvolvimento de rela-
Adotada e proclamada pela Resolução n° 217 A (III) da  As- ções amistosas entre as nações,
sembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948 Depois de duas grandes guerras a humanidade conseguiu per-
Preâmbulo ceber o quanto era prejudicial não manter relações amistosas entre
O preâmbulo é um elemento comum em textos constitucio- as nações, de forma que o ideal de paz ganhou uma nova força.
nais. Em relação ao preâmbulo constitucional, Jorge Miranda82
define: “[...] proclamação mais ou menos solene, mais ou menos Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram,
significante, anteposta ao articulado constitucional, não é compo- na Carta, sua fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade
nente necessário de qualquer Constituição, mas tão somente um e no valor da pessoa humana e na igualdade de direitos dos ho-
elemento natural de Constituições feitas em momentos de ruptura mens e das mulheres, e que decidiram promover o progresso social
histórica ou de grande transformação político-social”. Do conceito e melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla,
do autor é possível extrair elementos para definir o que represen- Considerando que os Estados-Membros se comprometeram
tam os preâmbulos em documentos internacionais: proclamação a desenvolver, em cooperação com as Nações Unidas, o respeito
dotada de certa solenidade e significância que antecede o texto do universal aos direitos humanos e liberdades fundamentais e a ob-
documento internacional e, embora não seja um elemento neces- servância desses direitos e liberdades,
sário a ele, merece ser considerada porque reflete o contexto de Considerando que uma compreensão comum desses direitos e
ruptura histórica e de transformação político-social que levou à
liberdades é da mais alta importância para o pleno cumprimento
elaboração do documento como um todo. No caso da Declaração
desse compromisso,
de 1948 ficam evidentes os antecedentes históricos inerentes às
Todos os países que fazem parte da Organização das Nações
Guerras Mundiais.
Unidas, tanto os 51 membros fundadores quanto os que ingressa-
Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a ram posteriormente (basicamente, todos demais países do mundo),
todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e totalizando 193, assumiram o compromisso de cumprir a Carta da
inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no ONU, documento que a fundou e que traz os princípios condutores
mundo, da ação da organização.
O princípio da dignidade da pessoa humana, pelo qual todos
os seres humanos são dotados da mesma dignidade e para que ela A Assembleia  Geral proclama
seja preservada é preciso que os direitos inerentes à pessoa hu- A presente Declaração Universal dos Diretos Humanos como
mana sejam garantidos, já aparece no preâmbulo constitucional, o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações,
sendo guia de todo documento. com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade,
Denota-se, ainda, a característica da inalienabilidade dos di- tendo sempre em mente esta Declaração, se esforce, através do
reitos humanos, pela qual os direitos humanos não possuem con- ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos
teúdo econômico-patrimonial, logo, são intransferíveis, inegoci- e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter
áveis e indisponíveis, estando fora do comércio, o que evidencia nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e
uma limitação do princípio da autonomia privada. a sua observância universais e efetivos, tanto entre os povos dos
82 MIRANDA, Jorge (Coord.). Estudos sobre a constituição. próprios Estados-Membros, quanto entre os povos dos territórios
Lisboa: Petrony, 1978. sob sua jurisdição.

Didatismo e Conhecimento 49
NOÇÕES DE DIREITO
A Assembleia Geral é o principal órgão deliberativo das Na- Na primeira parte do artigo estatui-se que não basta a igual-
ções Unidas, no qual há representatividade de todos os membros e dade formal perante a lei, mas é preciso realizar esta igualdade de
por onde passam inúmeros tratados internacionais. forma a ser possível que todo homem atinja um grau satisfatório
de dignidade.
Artigo I Neste sentido, as discriminações legais asseguram a verdadei-
Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direi- ra igualdade, por exemplo, com as ações afirmativas, a proteção
tos. São dotadas de razão  e consciência e devem agir em relação especial ao trabalho da mulher e do menor, as garantias aos porta-
umas às outras com espírito de fraternidade. dores de deficiência, entre outras medidas que atribuam a pessoas
O primeiro artigo da Declaração é altamente representativo, com diferentes condições, iguais possibilidades, protegendo e res-
trazendo diversos conceitos chaves de todo o documento: peitando suas diferenças.
a) Princípios da universalidade, presente na palavra todos, que
se repete no documento inteiro, pelo qual os direitos humanos per-
Artigo II
tencem a todos e por isso se encontram ligados a um sistema global
(ONU), o que impede o retrocesso. Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liber-
Na primeira parte do artigo estatui-se que não basta a igual- dades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer
dade formal perante a lei, mas é preciso realizar esta igualdade de espécie, seja de raça, cor, sexo, língua,  religião, opinião política
forma a ser possível que todo homem atinja um grau satisfatório ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nasci-
de dignidade. Neste sentido, as discriminações legais asseguram mento, ou qualquer outra condição. 
a verdadeira igualdade, por exemplo, com as ações afirmativas, a Reforça-se o princípio da igualdade, bem como o da dignidade
proteção especial ao trabalho da mulher e do menor, as garantias da pessoa humana, de forma que todos seres humanos são iguais
aos portadores de deficiência, entre outras medidas que atribuam a independentemente de qualquer condição, possuindo os mesmos
pessoas com diferentes condições, iguais possibilidades, protegen- direitos visando a preservação de sua dignidade.
do e respeitando suas diferenças.83 O dispositivo traz um aspecto da igualdade que impede a
b) Princípio da dignidade da pessoa humana: a dignidade é um distinção entre pessoas pela condição do país ou território a que
atributo da pessoa humana, segundo o qual ela merece todo o res- pertença, o que é importante sob o aspecto de proteção dos refu-
peito por parte dos Estados e dos demais indivíduos, independen- giados, prisioneiros de guerra, pessoas perseguidas politicamente,
temente de qualquer fator como aparência, religião, sexualidade, nacionais de Estados que não cumpram os preceitos das Nações
condição financeira. Todo ser humano é digno e, por isso, possui Unidas. Não obstante, a discriminação não é proibida apenas quan-
direitos que visam garantir tal dignidade. to a indivíduos, mas também quanto a grupos humanos, sejam for-
c) Dimensões de direitos humanos: tradicionalmente, os direi-
mados por classe social, etnia ou opinião em comum86.
tos humanos dividem-se em três dimensões, cada qual representa-
tiva de um momento histórico no qual se evidenciou a necessidade “A Declaração reconhece a capacidade de gozo indistinto dos
de garantir direitos de certa categoria. A primeira dimensão, pre- direitos e liberdades assegurados a todos os homens, e não apenas
sente na expressão livres, refere-se aos direitos civis e políticos, os a alguns setores ou atores sociais. Garantir a capacidade de gozo,
quais garantem a liberdade do homem no sentido de não ingerência no entanto, não é suficiente para que este realmente se efetive. É
estatal e de participação nas decisões políticas, evidenciados his- fundamental aos ordenamentos jurídicos próprios dos Estados via-
toricamente com as Revoluções Americana e Francesa. A segunda bilizar os meios idôneos a proporcionar tal gozo, a fim de que se
dimensão, presente na expressão iguais, refere-se aos direitos eco- perfectibilize, faticamente, esta garantia. Isto se dá não somente
nômicos, sociais e culturais, os quais garantem a igualdade mate- com a igualdade material diante da lei, mas também, e principal-
rial entre os cidadãos exigindo prestações positivas estatais nesta mente, através do reconhecimento e respeito das desigualdades
direção, por exemplo, assegurando direitos trabalhistas e de saúde, naturais entre os homens, as quais devem ser resguardadas pela
possuindo como antecedente histórico a Revolução Industrial. A ordem jurídica, pois é somente assim que será possível propiciar a
terceira dimensão, presente na expressão fraternidade, refere-se ao aludida capacidade de gozo a todos”87.
necessário olhar sobre o mundo como um lugar de todos, no qual
cada qual deve reconhecer no outro seu semelhante, digno de di- Artigo III
reitos, olhar este que também se lança para as gerações futuras, por Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança
exemplo, com a preservação do meio ambiente e a garantia da paz pessoal.
social, sendo o marco histórico justamente as Guerras Mundiais.84
Segundo Lenza88, “abrange tanto o direito de não ser morto,
Assim, desde logo a Declaração estabelece seus parâmetros funda-
privado da vida, portanto, direito de continuar vivo, como também
mentais, com esteio na Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão de 1789 e na Constituição Francesa de 1791, quais sejam o direito de ter uma vida digna”. Na primeira esfera, enquadram-se
igualdade, liberdade e fraternidade. Embora os direitos de 1ª, 2ª e questões como pena de morte, aborto, pesquisas com células-tron-
3ª dimensão, que se baseiam nesta tríade, tenham surgido de forma co, eutanásia, entre outras polêmicas. Na segunda esfera, notam-
paulatina, devem ser considerados em conjunto proporcionando a -se desdobramentos como a proibição de tratamentos indignos, a
plena realização do homem85. exemplo da tortura, dos trabalhos forçados, etc.
86 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à
83 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração Declaração Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium,
Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008. 2008.
84 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Tradução Celso 87 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração
Lafer. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008.
85 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração 88 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional
Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008. esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.

Didatismo e Conhecimento 50
NOÇÕES DE DIREITO
A vida humana é o centro gravitacional no qual orbitam todos Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes
os direitos da pessoa humana, possuindo reflexos jurídicos, políti- (Resolução n° 39/46 da Assembleia Geral das Nações Unidas) foi
cos, econômicos, morais e religiosos. Daí existir uma dificuldade estabelecida em 10 de dezembro de 1984 e ratificada pelo Brasil
em conceituar o vocábulo vida. Logo, tudo aquilo que uma pessoa em 28 de setembro de 1989. Em destaque, o artigo 1 da referida
possui deixa de ter valor ou sentido se ela perde a vida. Sendo Convenção:
assim, a vida é o bem principal de qualquer pessoa, é o primeiro
valor moral de todos os seres humanos. Trata-se de um direito que Artigo 1º, Convenção da ONU contra Tortura e Outros Trata-
pode ser visto em 4 aspectos, quais sejam: a) direito de nascer; b) mentos ou Penas Cruéis
direito de permanecer vivo; c) direito de ter uma vida digna quanto 1. Para os fins da presente Convenção, o termo “tortura” de-
à subsistência e; d) direito de não ser privado da vida através da signa qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos agudos, físicos
pena de morte89. ou mentais, são infligidos intencionalmente a uma pessoa a fim de
Por sua vez, o direito à liberdade é posto como consectário obter, dela ou de uma terceira pessoa, informações ou confissões;
do direito à vida, pois ela depende da liberdade para o desenvol- de castigá-la por ato que ela ou uma terceira pessoa tenha come-
vimento intelectual e moral. Assim, “[...] liberdade é assim a fa- tido ou seja suspeita de ter cometido; de intimidar ou coagir esta
culdade de escolher o próprio caminho, sendo um valor inerente à pessoa ou outras pessoas; ou por qualquer motivo baseado em
dignidade do ser, uma vez que decorre da inteligência e da volição, discriminação de qualquer natureza; quando tais dores ou sofri-
duas características da pessoa humana”90. mentos são infligidos por um funcionário público ou outra pessoa
O direito à segurança pessoal é o direito de viver sem medo, no exercício de funções públicas, ou por sua instigação, ou com
protegido pela solidariedade e liberto de agressões, logo, é uma o seu consentimento ou aquiescência. Não se considerará como
maneira de garantir o direito à vida91. tortura as dores ou sofrimentos que sejam consequência unica-
mente de sanções legítimas, ou que sejam inerentes a tais sanções
Artigo IV ou delas decorram.
Ninguém será mantido em escravidão ou servidão, a escra- 2. O presente Artigo não será interpretado de maneira a res-
vidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas tringir qualquer instrumento internacional ou legislação nacional
formas.  que contenha ou possa conter dispositivos de alcance mais amplo.
“O trabalho escravo não se confunde com o trabalho servil.
A escravidão é a propriedade plena de um homem sobre o outro. Artigo VI
Consiste na utilização, em proveito próprio, do trabalho alheio. Toda pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares, reco-
Os escravos eram considerados seres humanos sem personalida- nhecida como pessoa perante a lei.
de, mérito ou valor. A servidão, por seu turno, é uma alienação “Afinal, se o Direito existe em função da pessoa humana, será
relativa da liberdade de trabalho através de um pacto de prestação ela sempre sujeito de direitos e de obrigações. Negar-lhe a per-
de serviços ou de uma ligação absoluta do trabalhador à terra, já sonalidade, a aptidão para exercer direitos e contrair obrigações,
que a servidão era uma instituição típica das sociedades feudais. equivale a não reconhecer sua própria existência. [...] O reconheci-
A servidão, representava a espinha dorsal do feudalismo. O servo mento da personalidade jurídica é imprescindível à plena realiza-
pagava ao senhor feudal uma taxa altíssima pela utilização do solo, ção da pessoa humana. Trata-se de garantir a cada um, em todos os
que superava a metade da colheita”92. lugares, a possibilidade de desenvolvimento livre e isonômico”93.
A abolição da escravidão foi uma luta histórica em todo o glo- O sistema de proteção de direitos humanos estabelecido no
bo. Seria totalmente incoerente quanto aos princípios da liberdade, âmbito da Organização das Nações Unidas é global, razão pela
da igualdade e da dignidade se admitir que um ser humano pudesse qual não cabe o seu desrespeito em qualquer localidade do mundo.
ser submetido ao outro, ser tratado como coisa. O ser humano não Por isso, um estrangeiro que visite outro país não pode ter seus
possui valor financeiro e nem serve ao domínio de outro, razão direitos humanos violados, independentemente da Constituição
pela qual a escravidão não pode ser aceita. daquele país nada prever a respeito dos direitos dos estrangeiros.
A pessoa humana não perde tal caráter apenas por sair do territó-
Artigo V rio de seu país. Em outras palavras, denota-se uma das facetas do
Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou cas- princípio da universalidade.
tigo cruel, desumano ou degradante.
Tortura é a imposição de dor física ou psicológica por cruel- Artigo  VII
dade, intimidação, punição, para obtenção de uma confissão, in- Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer dis-
formação ou simplesmente por prazer da pessoa que tortura. A tinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção
tortura é uma espécie de tratamento ou castigo cruel, desumano contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e
ou degradante. A Convenção das Nações Unidas contra a Tortura e contra qualquer incitamento a tal discriminação.
89 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração Um dos desdobramentos do princípio da igualdade refere-se à
Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008. igualdade perante à lei. Toda lei é dotada de caráter genérico e abs-
90 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração trato que evidencia não aplicar-se a uma pessoa determinada, mas
Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008. sim a todas as pessoas que venham a se encontrar na situação por
91 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração ela descrita. Não significa que a legislação não possa estabelecer,
Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008. em abstrato, regras especiais para um grupo de pessoas desfavo-
92 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração 93 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração
Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008. Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008.

Didatismo e Conhecimento 51
NOÇÕES DE DIREITO
recido socialmente, direcionando ações afirmativas, por exemplo, Artigo XI
aos deficientes, às mulheres, aos pobres - no entanto, todas estas 1. Toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o direito de
ações devem respeitar a proporcionalidade e a razoabilidade (prin- ser presumida inocente até que a sua culpabilidade tenha sido
cípio da igualdade material). provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe
tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua de-
Artigo VIII fesa.
Toda pessoa tem direito a receber dos tributos nacionais com- O princípio da presunção de inocência ou não culpabilidade
petentes remédio efetivo para os atos que violem os direitos fun- liga-se ao direito à liberdade. Antes que ocorra a condenação cri-
damentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela minal transitada em julgado, isto é, processada até o último recurso
lei. interposto pelo acusado, este deve ser tido como inocente. Durante
Não basta afirmar direitos, é preciso conferir meios para o processo penal, o acusado terá direito ao contraditório e à ampla
garanti-los. Ciente disto, a Declaração traz aos Estados-partes o defesa, bem como aos meios e recursos inerentes a estas garantias,
dever de estabelecer em suas legislações internas instrumentos e caso seja condenado ao final poderá ser considerado culpado. A
para proteção dos direitos humanos. Geralmente, nos textos cons- razão é que o estado de inocência é inerente ao ser humano até que
titucionais são estabelecidos os direitos fundamentais e os instru- ele viole direito alheio, caso em que merecerá sanção.
mentos para protegê-los, por exemplo, o habeas corpus serve à “Através desse princípio verifica-se a necessidade de o Estado
proteção do direito à liberdade de locomoção. comprovar a culpabilidade do indivíduo presumido inocente. Está
diretamente relacionado à questão da prova no processo penal que
Artigo IX deve ser validamente produzida para ao final do processo condu-
Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado. zir a culpabilidade do indivíduo admitindo-se a aplicação das pe-
Prisão e detenção são formas de impedir que a pessoa saia de nas previamente cominadas. Entretanto, a presunção de inocência
um estabelecimento sob tutela estatal, privando-a de sua liberdade não afasta a possibilidade de medidas cautelares como as prisões
de locomoção. Exílio é a expulsão ou mudança forçada de uma provisórias, busca e apreensão, quebra de sigilo como medidas
pessoa do país, sendo assim também uma forma de privar a pessoa de caráter excepcional cujos requisitos autorizadores devem estar
de sua liberdade de locomoção em um determinado território. Ne- previstos em lei”95.
nhuma destas práticas é permitida de forma arbitrária, ou seja, sem 2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omis-
o respeito aos requisitos previstos em lei. são que, no momento, não constituíam delito perante o direito
Não significa que em alguns casos não seja aceita a privação nacional ou internacional. Tampouco será imposta pena mais
de liberdade, notadamente quando o indivíduo tiver praticado um forte do que aquela que, no momento da prática, era aplicável
ato que comprometa a segurança ou outro direito fundamental de ao ato delituoso.
outra pessoa. Evidencia-se o princípio da irretroatividade da lei penal in
pejus (para piorar a situação do acusado) pelo qual uma lei penal
Artigo X elaborada posteriormente não pode se aplicar a atos praticados no
Toda pessoa tem direito, em plena igualdade, a uma audiên- passado - nem para um ato que não era considerado crime passar a
cia justa e pública por parte de um tribunal independente e im- ser, nem para que a pena de um ato que era considerado crime seja
parcial, para decidir de seus direitos e deveres ou do fundamento aumentada. Evidencia não só o respeito à liberdade, mas também
de qualquer acusação criminal contra ele. - e principalmente - à segurança jurídica.
“De acordo com a ordem que promana do preceito acima re-
produzido, as pessoas têm a faculdade de exigir um pronuncia- Artigo XII
mento do Poder Judiciário, acerca de seus direitos e deveres postos Ninguém será sujeito a interferências na sua vida privada,
em litígio ou do fundamento de acusação criminal, realizado sob o na sua família, no seu lar ou na sua correspondência, nem a ata-
amparo dos princípios da isonomia, do devido processo legal, da ques à sua honra e reputação. Toda pessoa tem direito à proteção
publicidade dos atos processuais, da ampla defesa e do contraditó- da lei contra tais interferências ou ataques.
rio e da imparcialidade do juiz”94. A proteção aos direitos à privacidade e à personalidade se
Em outras palavras não é possível juízo ou tribunal de exce- enquadra na primeira dimensão de direitos fundamentais no que
ção, ou seja, um juízo especialmente delegado para o julgamento tange à proteção à liberdade. Enfim, o exercício da liberdade lega-
do caso daquela pessoa. O juízo deve ser escolhido imparcialmen- -se também às limitações a este exercício: de que adianta ser ple-
te, de acordo com as regras de organização judiciária que valem namente livre se a liberdade de um interfere na liberdade - e nos
para todos. Não obstante, o juízo deve ser independente, isto é, direitos inerentes a esta liberdade - do outro.
poder julgar independentemente de pressões externas para que o “O direito à intimidade representa relevante manifestação dos
julgamento se dê num ou noutro sentido. O juízo também deve ser direitos da personalidade e qualifica-se como expressiva prerro-
imparcial, não possuindo amizade ou inimizade em graus relevan- gativa de ordem jurídica que consiste em reconhecer, em favor
tes para com o acusado. Afinal, o direito à liberdade é consagrado da pessoa, a existência de um espaço indevassável destinado a
e para que alguém possa ser privado dela por uma condenação protegê-la contra indevidas interferências de terceiros na esfera de
criminal é preciso que esta se dê dentro dos trâmites legais, sem sua vida privada”96.
violar direitos humanos do acusado. 95 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração
Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008.
94 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração 96 MOTTA, Sylvio; BARCHET, Gustavo. Curso de direito
Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008. constitucional. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.

Didatismo e Conhecimento 52
NOÇÕES DE DIREITO
Reforçando a conexão entre a privacidade e a intimidade, ao O direito dos refugiados é o que envolve a garantia de asilo
abordar a proteção da vida privada - que, em resumo, é a privacida- fora do território do qual é nacional por algum dos motivos especi-
de da vida pessoal no âmbito do domicílio e de círculos de amigos ficados em normas de direitos humanos, notadamente, perseguição
-, Silva97 entende que “o segredo da vida privada é condição de ex- por razões de raça, religião, nacionalidade, pertença a um grupo
pansão da personalidade”, mas não caracteriza os direitos de perso- social determinado ou convicções políticas. Diversos documentos
nalidade em si. “O direito à honra distancia-se levemente dos dois internacionais disciplinam a matéria, a exemplo da Declaração
anteriores, podendo referir-se ao juízo positivo que a pessoa tem Universal de 1948, Convenção de 1951 relativa ao Estatuto dos
de si (honra subjetiva) e ao juízo positivo que dela fazem os outros Refugiados, Quarta Convenção de Genebra Relativa à Proteção
(honra objetiva), conferindo-lhe respeitabilidade no meio social.
das Pessoas Civis em Tempo de Guerra de 1949, Convenção rela-
O direito à imagem também possui duas conotações, podendo ser
tiva ao Estatuto dos Apátridas de 1954, Convenção sobre a Redu-
entendido em sentido objetivo, com relação à reprodução gráfica
da pessoa, por meio de fotografias, filmagens, desenhos, ou em ção da Apatridia de 1961 e Declaração das Nações Unidas sobre a
sentido subjetivo, significando o conjunto de qualidades cultivadas Concessão de Asilo Territorial de 1967. Não obstante, a constitui-
pela pessoa e reconhecidas como suas pelo grupo social”98. ção brasileira adota a concessão de asilo político como um de seus
O artigo também abrange a proteção ao domicílio, local no princípios nas relações internacionais (art. 4º, X, CF).
qual a pessoa deseja manter sua privacidade e pode desenvolver “A prática de conceder asilo em terras estrangeiras a pessoas
sua personalidade; e à correspondência, enviada ao seu lar uni- que estão fugindo de perseguição é uma das características mais
camente para sua leitura e não de terceiros, preservando-se sua antigas da civilização. Referências a essa prática foram encontra-
privacidade. das em textos escritos há 3.500 anos, durante o florescimento dos
antigos grandes impérios do Oriente Médio, como o Hitita, Babi-
Artigo XIII lônico, Assírio e  Egípcio antigo.
1. Toda pessoa tem direito à liberdade de locomoção e resi- Mais de três milênios depois, a proteção de refugiados foi
dência dentro das fronteiras de cada Estado. estabelecida como missão principal da agência de refugiados da
Não há limitações ao direito de locomoção dentro do próprio
ONU, que foi constituída para assistir, entre outros, os refugiados
Estado, nem ao direito de residir. Vale lembrar que a legislação
interna pode estabelecer casos em que tal direito seja relativizado, que esperavam para retornar aos seus países de origem no final da
por exemplo, obrigando um funcionário público a residir no muni- II Guerra Mundial.
cípio em que está sediado ou impedindo o ingresso numa área de A Convenção de Refugiados de 1951, que estabeleceu o AC-
interesse estatal. NUR, determina que um refugiado é alguém que ‘temendo ser per-
São exceções à liberdade de locomoção: decisão judicial que seguida por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social
imponha pena privativa de liberdade ou limitação da liberdade, ou opiniões políticas, se encontra fora do país de sua nacionalidade
normas administrativas de controle de vias e veículos, limitações e que não pode ou, em virtude desse temor, não quer valer-se da
para estrangeiros em certas regiões ou áreas de segurança nacional proteção desse país’.
e qualquer situação em que o direito à liberdade deva ceder aos Desde então, o ACNUR tem oferecido proteção e assistência
interesses públicos99. para dezenas de milhões de refugiados, encontrando soluções du-
2. Toda pessoa tem o direito de deixar qualquer país, inclusi- radouras para muitos deles. Os padrões da migração se tornaram
ve o próprio, e a este regressar. cada vez mais complexos nos tempos modernos, envolvendo não
A nacionalidade é um direito humano, assim como a liberdade
apenas refugiados, mas também milhões de migrantes econômi-
de locomoção. Destaca-se que o artigo não menciona o direito de
entrar em qualquer país, mas sim o de deixá-lo. cos. Mas refugiados e migrantes, mesmo que viajem da mesma
forma com frequência, são fundamentalmente distintos, e por esta
Artigo XIV razão são tratados de maneira muito diferente perante o direito in-
1.Toda pessoa, vítima de perseguição, tem o direito de procu- ternacional moderno.
rar e de gozar asilo em outros países.  Migrantes, especialmente migrantes econômicos, decidem
2. Este direito não pode ser invocado em caso de perseguição deslocar-se para melhorar as perspectivas para si mesmos e para
legitimamente motivada por crimes de direito comum ou por atos suas famílias. Já os refugiados necessitam deslocar-se para salvar
contrários aos propósitos e princípios das Nações Unidas. suas vidas ou preservar sua liberdade. Eles não possuem proteção
O direito de asilo serve para proteger uma pessoa perseguida de seu próprio Estado e de fato muitas vezes é seu próprio governo
por suas opiniões políticas, situação racial, convicções religiosas que ameaça persegui-los. Se outros países não os aceitarem em
ou outro motivo político em seu país de origem, permitindo que ela seus territórios, e não os auxiliarem uma vez acolhidos, poderão
requeira perante a autoridade de outro Estado proteção. Claro, não estar condenando estas pessoas à morte ou à uma vida insuportável
se protege aquele que praticou um crime comum em seu país e fu-
nas sombras, sem sustento e sem direitos”100.
giu para outro, caso em que deverá ser extraditado para responder
As Nações Unidas101 descrevem sua participação no histórico
pelo crime praticado.
do direito dos refugiados no mundo:
97 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional 100 http://www.acnur.org/t3/portugues/a-quem-ajudamos/
positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006. refugiados/
98 MOTTA, Sylvio; BARCHET, Gustavo. Curso de direito 101 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS - ONU.
constitucional. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. Direitos Humanos e Refugiados. Ficha normativa nº 20.
99 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração Disponível em: <http://www.gddc.pt/direitos-humanos/Ficha_
Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008. Informativa_20.pdf >. Acesso em: 13 jun. 2013.

Didatismo e Conhecimento 53
NOÇÕES DE DIREITO
“Desde a sua criação, a Organização das Nações Unidas tem no território do pais por um longo período de tempo dá direito à
dedicado os seus esforços à proteção dos refugiados no mundo. naturalização, abrindo mão da nacionalidade anterior para incor-
Em 1951, data em que foi criado o Alto Comissariado das Na- porar a nova.
ções Unidas para os Refugiados (ACNUR), havia um milhão de
refugiados sob a sua responsabilidade. Hoje este número aumen- Artigo XVI
tou para 17,5 milhões, para além dos 2,5 milhões assistidos pelo 1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer restri-
Organismo das Nações Unidas das Obras Públicas e Socorro aos ção de raça, nacionalidade ou religião, têm o direito de contrair
Refugiados da Palestina, no Próximo Oriente (ANUATP), e ainda matrimônio e fundar uma família. Gozam de iguais direitos em
mais de 25 milhões de pessoas deslocadas internamente. Em 1951, relação ao casamento, sua duração e sua dissolução. 
a maioria dos refugiados eram Europeus. Hoje, a maior parte é 2. O casamento não será válido senão com o livre e pleno
proveniente da África e da Ásia. Atualmente, os movimentos de consentimento dos nubentes.
refugiados assumem cada vez mais a forma de êxodos maciços, O casamento, como todas as instituições sociais, varia com
diferentemente das fugas individuais do passado. Hoje, oitenta por o tempo e os povos, que evoluem e adquirem novas culturas. Há
cento dos refugiados são mulheres e crianças. Também as causas quem o defina como um ato, outros como um contato. Basicamen-
dos êxodos se multiplicaram, incluindo agora as catástrofes natu- te, casamento é a união, devidamente formalizada conforme a lei,
rais ou ecológicas e a extrema pobreza. Daí que muitos dos atuais com a finalidade de construir família. A principal finalidade do ca-
refugiados não se enquadrem na definição da Convenção relativa samento é estabelecer a comunhão plena de vida, impulsionada
ao Estatuto dos Refugiados. Esta Convenção refere-se a vítimas de pelo amor e afeição existente entre o casal e baseada na igualdade
perseguição por razões de raça, religião, nacionalidade, pertença a de direitos e deveres dos cônjuges e na mútua assistência.102 Não
um grupo social determinado ou convicções políticas. [...] é aceitável o casamento que se estabeleça à força para algum dos
Existe uma relação evidente entre o problema dos refugiados nubentes, sendo exigido o livre e pleno consentimento de ambos.
e a questão dos direitos humanos. As violações dos direitos huma- Não obstante, é coerente que a lei traga limitações como a idade,
nos constituem não só uma das principais causas dos êxodos ma- pois o casamento é uma instituição séria, base da família, e somen-
ciços, mas afastam também a opção do repatriamento voluntário te a maturidade pode permitir compreender tal importância.
enquanto se verificarem. As violações dos direitos das minorias
e os conflitos étnicos encontram-se cada vez mais na origem quer Artigo XVII
dos êxodos maciços, quer das deslocações internas. [...] 1. Toda pessoa tem direito à propriedade, só ou em sociedade
Na sua segunda sessão, no final de 1946, a Assembleia Geral com outros.
criou a Organização Internacional para os Refugiados (OIR), que
2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade.
assumiu as funções da Agência das Nações Unidas para a Assistên-
“Toda pessoa [...] tem direito à propriedade, podendo o or-
cia e a Reabilitação (ANUAR). Foi investida no mandato temporá-
denamento jurídico estabelecer suas modalidades de aquisição,
rio de registrar, proteger, instalar e repatriar refugiados. [...] Cedo
perda, uso e limites. O direito de propriedade, constitucionalmente
se tornou evidente que a responsabilidade pelos refugiados mere-
assegurado, garante que dela ninguém poderá ser privado arbitra-
cia um maior esforço da comunidade internacional, a desenvolver
riamente [...]”103. O direito à propriedade se insere na primeira di-
sob os auspícios da própria Organização das Nações Unidas. As-
mensão de direitos humanos, garantindo que cada qual tenha bens
sim, muito antes de terminar o mandato da OIR, iniciaram-se as
materiais justamente adquiridos, respeitada a função social.
discussões sobre a criação de uma organização que lhe pudesse
suceder.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados Artigo XVIII
(ACNUR) Na sua Resolução 319 A (IV) de 3 de Dezembro de Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, cons-
1949, a Assembleia Geral decidiu criar o Alto Comissariado das ciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de
Nações Unidas para os Refugiados. O Alto Comissariado foi insti- religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou
tuído em 1 de Janeiro de 1951, como órgão subsidiário da Assem- crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância,
bleia Geral, com um mandato inicial de três anos. Desde então, o isolada ou coletivamente, em público ou em particular.
mandato do ACNUR tem sido renovado por períodos sucessivos Silva104 aponta que a liberdade de pensamento, que também
de cinco anos [...]”. pode ser chamada de liberdade de opinião, é considerada pela dou-
trina como a liberdade primária, eis que é ponto de partida de todas
Artigo XV as outras, e deve ser entendida como a liberdade da pessoa adotar
1. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade.  determinada atitude intelectual ou não, de tomar a opinião pública
2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalida- que crê verdadeira. Tal opinião pública se refere a diversos aspec-
de, nem do direito de mudar de nacionalidade. tos, entre eles religião e crença.
Nacionalidade é o vínculo jurídico-político que liga um indi- 102 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro.
víduo a determinado Estado, fazendo com que ele passe a integrar 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. v. 6.
o povo daquele Estado, desfrutando assim de direitos e obrigações. 103 MORAES, Alexandre de. Direitos humanos
Não é aceita a figura do apátrida ou heimatlos, o indivíduo que não fundamentais: teoria geral, comentários aos artigos 1º a 5º da
possui nenhuma nacionalidade. Constituição da República Federativa do Brasil, doutrina e
É possível mudar de nacionalidade nas situações previstas em jurisprudência. São Paulo: Atlas, 1997.
lei, naturalizando-se como nacional de outro Estado que não aque- 104 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional
le do qual originalmente era nacional. Geralmente, a permanência positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006.

Didatismo e Conhecimento 54
NOÇÕES DE DIREITO
A liberdade de religião atrela-se à liberdade de consciência dão designava originalmente o habitante da cidade. Com a conso-
e à liberdade de pensamento, mas o inverso não ocorre, porque é lidação da sociedade burguesa, passa a indicar a ação política e a
possível existir liberdade de pensamento e consciência desvincu- participação do sujeito na vida da sociedade”108.
lada de cunho religioso. Aliás, a liberdade de consciência também Democracia (do grego, demo+kratos) é um regime de governo
concretiza a liberdade de ter ou não ter religião, ter ou não ter opi- em que o poder de tomar decisões políticas está com os cidadãos,
nião político-partidária ou qualquer outra manifestação positiva ou de forma direta (quando um cidadão se reúne com os demais e,
negativa da consciência105. juntos, eles tomam a decisão política) ou indireta (quando ao ci-
No que tange à exteriorização da liberdade de religião, ou dadão é dado o poder de eleger um representante). Uma democra-
seja, à liberdade de expressão religiosa, não é devida nenhuma per- cia pode existir num sistema presidencialista ou parlamentarista,
seguição, assim como é garantido o direito de praticá-la em grupo republicano ou monárquico - somente importa que seja dado aos
ou individualmente. cidadãos o poder de tomar decisões políticas (por si só ou por seu
representante eleito), nos termos que este artigo da Declaração
Artigo XIX prevê. A principal classificação das democracias é a que distingue
Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; a direta da indireta - a) direta, também chamada de pura, na qual
este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e o cidadão expressa sua vontade por voto direto e individual em
de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quais- casa questão relevante; b) indireta, também chamada represen-
quer meios e independentemente de fronteiras. tativa, em que os cidadãos exercem individualmente o direito de
Silva106 entende que a liberdade de expressão pode ser vista voto para escolher representante(s) e aquele(s) que for(em) mais
sob diversos enfoques, como o da liberdade de comunicação, ou escolhido(s) representa(m) todos os eleitores.
liberdade de informação, que consiste em um conjunto de direitos, Não obstante, se introduz a dimensão do Estado Social, de
formas, processos e veículos que viabilizam a coordenação livre forma que ao cidadão é garantida a prestação de serviços públicos.
da criação, expressão e difusão da informação e do pensamento. Isto se insere na segunda dimensão de direitos humanos, referentes
Contudo, o a manifestação do pensamento não pode ocorrer de aos direitos econômicos, sociais e culturais - sem os quais não se
forma ilimitada, devendo se pautar na verdade e no respeito dos consolida a igualdade material.
direitos à honra, à intimidade e à imagem dos demais membros da
sociedade. Artigo XXII
Toda pessoa, como membro da sociedade, tem direito à se-
Artigo XX
gurança social e à realização, pelo esforço nacional, pela coo-
1. Toda pessoa tem direito à  liberdade de reunião e associa-
peração internacional e de acordo com a organização e recursos
ção pacíficas. 
de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais in-
O direito de reunião pode ser exercido independentemente de
dispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua
autorização estatal, mas deve se dar de maneira pacífica, por exem-
personalidade.
plo, sem utilização de armas.
Direitos econômicos, sociais e culturais compõem a segunda
2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associa-
dimensão de direitos fundamentais. O Pacto internacional de Di-
ção.
Por sua vez, “a liberdade de associação para fins lícitos, veda- reitos Econômicos, Sociais e Culturais de 1966 é o documento que
da a de caráter paramilitar, é plena. Portanto, ninguém poderá ser especifica e descreve tais direitos. de uma maneira geral, são direi-
compelido a associar-se e, uma vez associado, será livre, também, tos que não dependem puramente do indivíduo para a implementa-
para decidir se permanece associado ou não”107. ção, exigindo prestações positivas estatais, geralmente externadas
por políticas públicas (escolhas políticas a respeito de áreas que
Artigo XXI necessitam de investimento maior ou menos para proporcionar
1. Toda pessoa tem o direito de tomar parte no governo de um bom índice de desenvolvimento social, diminuindo desigual-
seu país, diretamente ou por intermédio de representantes livre- dades). Entre outros direitos, envolvem o trabalho, a educação, a
mente escolhidos.  saúde, a alimentação, a moradia, o lazer, etc. Como são inúmeras
2. Toda pessoa tem igual direito de acesso ao serviço público as áreas que necessitam de investimento estatal, naturalmente o
do seu país.  atendimento a estes direitos se dá de maneira gradual.
3. A vontade do povo será a base  da autoridade do governo;
esta vontade será expressa em eleições periódicas e legítimas, por Artigo XXIII
sufrágio universal, por voto secreto ou processo equivalente que 1. Toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha de
assegure a liberdade de voto. emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção
“Na sociedade moderna, nascida de transformações que cul- contra o desemprego.
minaram na Revolução Francesa, o indivíduo é visto como homem 2. Toda pessoa, sem qualquer distinção, tem direito a igual
(pessoa privada) e como cidadão (pessoa pública). O termo cida- remuneração por igual trabalho.
105 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração 3. Toda pessoa que trabalhe tem direito a uma remuneração
Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008. justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família,
106 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional uma existência compatível com a dignidade humana, e a que se
positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006. acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social. 
107 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional 108 SCHLESENER, Anita Helena. Cidadania e política. In:
esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. CARDI, Cassiano; et. al. Para filosofar. São Paulo: Scipione, 2000.

Didatismo e Conhecimento 55
NOÇÕES DE DIREITO
4. Toda pessoa tem direito a organizar sindicatos e neles in- O ideal é que todas as pessoas possuam um padrão de vida
gressar para proteção de seus interesses. suficiente para garantir sua dignidade em todas as esferas: alimen-
O trabalho é um instrumento fundamental para assegurar a tação, vestuário, moradia, saúde, etc. Bem se sabe que é um obje-
todos uma existência digna: de um lado por proporcionar a remu- tivo constante do Estado Democrático de Direito proporcionar que
neração com a qual a pessoa adquirirá bens materiais para sua sub- pessoas cheguem o mais próximo possível - e cada vez mais - desta
sistência, de outro por gerar por si só o sentimento de importância circunstância.
para a sociedade por parte daquele que faz algo útil nela. No en- Fala-se em segurança no sentido de segurança pública, de de-
tanto, a geração de empregos não se dá automaticamente, cabendo ver do Estado de preservar a ordem pública e a incolumidade das
aos Estados desenvolverem políticas econômicas para diminuir os pessoas e do patrimônio público e privado110. Neste conceito en-
índices de desemprego o máximo possível. quadra-se a seguridade social, na qual o Estado, custeado pela co-
A remuneração é a retribuição financeira pelo trabalho rea- letividade e pelos cofres públicos, garante a manutenção financeira
lizado. Nesta esfera também é necessário o respeito ao princípio dos que por algum motivo não possuem condição de trabalhar.
da igualdade, por não ser justo que uma pessoa que desempenhe 2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e as-
sistência especiais. Todas as crianças nascidas dentro ou fora do
as mesmas funções que a outra receba menos por um fator exter-
matrimônio, gozarão da mesma proteção social.
no, característico dela, como sexo ou raça. No âmbito do serviço
A proteção da maternidade tem sentido porque sem isto o
público é mais fácil controlar tal aspecto, mas são inúmeras as
mundo não continua. É preciso que as crianças sejam protegidas
empresas privadas que pagam menor salário a mulheres e que não com atenção especial para que se tornem adultos capazes de pro-
chegam a ser levadas à justiça por isso. Não obstante, a remune- porcionar uma melhora no planeta.
ração deve ser suficiente para proporcionar uma existência digna,
com o necessário para manter assegurados ao menos minimamente Artigo XXVI
todos os direitos humanos previstos na Declaração. 1. Toda pessoa tem direito à instrução. A instrução será gra-
Os sindicatos são bastante comuns na seara trabalhista e, tuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instru-
como visto, a todos é garantida a liberdade de associação, não po- ção elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional
dendo ninguém ser impedido ou forçado a ingressar ou sair de um será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta base-
sindicato. ada no mérito.
2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvi-
Artigo XXIV mento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito
Toda pessoa tem direito a repouso e lazer, inclusive a limi- pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. A ins-
tação razoável das horas de trabalho e férias periódicas remu- trução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre
neradas. todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as
Por mais que o trabalho seja um direito humano, nem somente atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz. 
dele é feita a vida de uma pessoa. Desta forma, assegura-se horá- 3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de
rios livres para que a pessoa desfrute de momentos de lazer e des- instrução que será ministrada a seus filhos.
canso, bem como impede-se a fixação de uma jornada de trabalho A Declaração Universal de 1948 divide a disponibilidade e
muito exaustiva. São medidas que asseguram isto a previsão de a obrigatoriedade da educação em níveis. Aquela educação que é
descanso semanal remunerado, a limitação do horário de trabalho, considerada essencial, qual seja, a elementar, deve ser gratuita e
a concessão de férias remuneradas anuais, entre outras. obrigatória. Já a educação fundamental, de grande importância,
Quanto aos artigos XXIII e XXIV, tem-se que é fornecido deve ser gratuita, mas não é obrigatória. Esta nomenclatura adota-
“[...] um conjunto mínimo de direitos dos trabalhadores. De forma da pela Declaração equipara-se ao ensino fundamental e ao ensino
geral, os dispositivos em comento versam sobre o direito ao traba- médio no Brasil, sendo elementar o primeiro e fundamental o se-
gundo. A educação técnico-profissional refere-se às escolas vol-
lho, principal meio de sobrevivência dos indivíduos que ‘vendem’
tadas ao ensino de algum ofício, não complexo a ponto de exigir
força de trabalho em troca de uma remuneração justa. Ademais,
formação superior e, justamente por isso, possuem menor duração
estabelecem a liberdade do cidadão de escolher o trabalho e, uma
e menor custo; ao passo que a educação superior é a que se dá no
vez obtido o emprego, o direito de nele encontrar condições justas, âmbito das universidades, formando profissionais de maior espe-
tanto no tocante à remuneração, como no que diz respeito ao limite cialidade numa área profissional, com amplo conhecimento, razão
de horas trabalhadas e períodos de repouso (disposição constante pela qual dura mais tempo e é mais onerosa. As duas últimas são
do artigo XXIV da Declaração). Garantem ainda o direito dos tra- de maior custo e não podem ser instituídas de tal forma que sejam
balhadores de se unirem em associação, com o objetivo de defesa garantidas vagas para todas as pessoas em sociedade, entretanto,
de seus interesses”109. exige-se um critério justo para a seleção dos ingressos, o qual seja
baseado no mérito (os mais capacitados conseguirão as vagas de
Artigo XXV ensino técnico-profissional e superior).
1. Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de asse- Ainda, a Declaração de 1948 deixa clara que a educação não
gurar a si e a sua família saúde e bem estar, inclusive alimentação, envolve apenas o aprendizado do conteúdo programático das ma-
vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indis- térias comuns como matemática, português, história e geografia,
pensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, mas também a compreensão de abordagens sobre assuntos que
invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de possam contribuir para a formação da personalidade da pessoa hu-
subsistência fora de seu controle.     mana e conscientizá-la de seu papel social.
109 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração 110 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional
Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008. esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.

Didatismo e Conhecimento 56
NOÇÕES DE DIREITO
Não obstante, da parte final da Declaração extrai-se a consci- dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer às justas exigên-
ência de que a educação não é apenas a formal, aprendida nos es- cias da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade
tabelecimentos de ensino, mas também a informal, transmitida no democrática.
ambiente familiar e nas demais áreas de contato da pessoa, como 3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese algu-
igreja, clubes e, notadamente, a residência. Por isso, os pais têm ma, ser exercidos contrariamente aos propósitos e princípios das
um papel direto na escolha dos meios de educação de seus filhos. Nações Unidas.
Explica Canotilho114 que “a ideia de deveres fundamentais é
Artigo XXVII suscetível de ser entendida como o ‘outro lado’ dos direitos funda-
1. Toda pessoa tem o direito de participar livremente da vida mentais. Como ao titular de um direito fundamental corresponde
cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar do pro- um dever por parte de um outro titular, poder-se-ia dizer que o par-
cesso científico e de seus benefícios.  ticular está vinculado aos direitos fundamentais como destinatário
2. Toda pessoa tem direito à proteção dos interesses morais de um dever fundamental. Neste sentido, um direito fundamental,
e materiais decorrentes de qualquer produção científica, literária enquanto protegido, pressuporia um dever correspondente”. Esta é
ou artística da qual seja autor. a ideia que a Declaração de 1948 busca trazer: não será assegurada
Os conflitos que se dão entre a liberdade e a propriedade inte- nenhuma liberdade que contrarie a lei ou os demais direitos de
lectual se evidenciam, principalmente, sob o aspecto da liberdade outras pessoas, isto é, os preceitos universais consagrados pelas
de expressão, na esfera específica da liberdade de comunicação ou Nações Unidas.
informação, que, nos dizeres de Silva111, “compreende a liberdade
de informar e a liberdade de ser informado”. Sob o enfoque do Artigo XXX
direito à liberdade e do direito de acesso à cultura, seria livre a Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser in-
divulgação de toda e qualquer informação e o acesso aos dados terpretada como o reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou
disponíveis, independentemente da fonte ou da autoria. De outro pessoa, do direito de exercer qualquer atividade ou praticar qual-
lado, há o direito de propriedade intelectual, o qual possui um ca- quer ato destinado à destruição  de quaisquer dos direitos e liber-
ráter dualista: moral, que nunca prescreve porque o autor de uma dades aqui estabelecidos.
obra nunca deixará de ser considerado como tal, e patrimonial, “A colidência entre os direitos afirmados na Declaração é na-
que prescreve, perdendo o autor o direito de explorar benefícios tural. Busca-se com o presente artigo evitar que, no eventual cho-
econômicos de sua obra112. Cada vez mais esta dualidade entre di- que entre duas normas garantistas, os sujeitos nela mencionados
reitos se encontra em conflito, uma vez que a evolução tecnológica se valham de uma interpretação tendente a infirmar qualquer das
trouxe meios para a cópia em massa de conteúdos protegidos pela disposições da Declaração ao argumento de que estão respeitando
propriedade intelectual. um direito em detrimento de outro”115.
Nenhum direito humano é ilimitado: se o fossem, seria im-
Artigo XVIII possível garantir um sistema no qual todas as pessoas tivessem
Toda pessoa tem direito a uma ordem social e internacional tais direitos plenamente respeitados, afinal, estes necessariamente
em que os direitos e  liberdades estabelecidos na presente Decla- colidiriam com os direitos das outras pessoas, os quais teriam que
ração possam ser plenamente realizados. ser violados. Este é um dos sentidos do princípio da relatividade
Como já destacado, o sistema de proteção dos direitos huma- dos direitos humanos - os direitos humanos não podem ser utiliza-
nos tem caráter global e cada Estado que assumiu compromisso dos como um escudo para práticas ilícitas ou como argumento para
perante a ONU ao integrá-la deve garantir o respeito a estes di- afastamento ou diminuição da responsabilidade por atos ilícitos,
reitos no âmbito de seu território. Com isso, a pessoa estará numa assim os direitos humanos não são ilimitados e encontram seus li-
ordem social e internacional na qual seus direitos humanos sejam mites nos demais direitos igualmente consagrados como humanos.
assegurados, preservando-se sua dignidade. Em outras palavras, Isto vale tanto para os indivíduos, numa atitude perante os demais,
“devidamente emparelhadas, portanto, a ordem social e a ordem quanto para os Estados, ao externar o compromisso global assumi-
internacional se manifestam, a seu modo, como as duas faces das do perante a ONU.
instituições humanitárias, tanto estatais quanto particulares, orien-
tando seus passos a serviço da comunidade humana”113. Convenção Americana de Direitos Humanos
(Pacto de São José da Costa Rica)
Artigo XXIX
1. Toda pessoa tem deveres para com a comunidade, em que DECRETO n° 678, de 6 de novembro de 1992.
o livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade é possível.
2. No exercício de seus direitos e liberdades, toda pessoa es- Promulga a Convenção Americana sobre Direitos Humanos
tará sujeita apenas às limitações determinadas pela lei, exclusiva- (Pacto de São José da Costa Rica), de 22 de novembro de 1969.
mente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito O VICE-PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no exercício do
111 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional cargo de PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição
positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006. que lhe confere o art. 84, inciso VIII, da Constituição, e
112 PAESANI, Liliana Minardi. Direito e Internet: liberdade 114 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito
de informação, privacidade e responsabilidade civil. 3. ed. São constitucional e teoria da constituição. 2. ed. Coimbra: Almedina,
Paulo: Atlas, 2006. 1998.
113 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração 115 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração
Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008. Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008.

Didatismo e Conhecimento 57
NOÇÕES DE DIREITO
Considerando que a Convenção Americana sobre Direitos Depois do processo de internacionalização dos direitos hu-
Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), adotada no âmbito manos, iniciou-se um processo de regionalização deles, ou seja,
da Organização dos Estados Americanos, em São José da Costa adaptação do conteúdo de cada uma das declarações de direitos até
Rica, em 22 de novembro de 1969, entrou em vigor internacional então proferidas a determinadas regiões do globo.
em 18 de julho de 1978, na forma do segundo parágrafo de seu
art. 74; ANEXO
Considerando que o Governo brasileiro depositou a carta de CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS
adesão a essa convenção em 25 de setembro de 1992; (1969)
Considerando que a Convenção Americana sobre Direitos (PACTO DE SAN JOSÉ DA COSTA RICA)
Humanos (Pacto de São José da Costa Rica) entrou em vigor, para
o Brasil, em 25 de setembro de 1992 , de conformidade com o dis- PREÂMBULO
posto no segundo parágrafo de seu art. 74;
A primeira fase do chamado processo de elaboração dos trata- Os Estados Americanos signatários da presente Convenção,
dos é a negociação. No Brasil, compete à União “manter relações Reafirmando seu propósito de consolidar neste Continente,
com Estados estrangeiros e participar de organizações internacio- dentro do quadro das instituições democráticas, um regime de li-
nais”, nos termos do artigo 21, I da Constituição Federal. O único berdade pessoal e de justiça social, fundado no respeito dos direi-
agente nas relações internacionais com competência exclusiva é o tos humanos essenciais;
Presidente da República, que manterá as relações com o respectivo Reconhecendo que os direitos essenciais da pessoa humana
Estado estrangeiro e celebrará tratados, convenções e atos interna- não derivam do fato de ser ela nacional de determinado Estado,
cionais, que precisam apenas do referendo do Congresso Nacional, mas sim do fato de ter como fundamento os atributos da pessoa
conforme dispõe o artigo 84, VII e VIII da Constituição Federal. O humana, razão por que justificam uma proteção internacional, de
momento seguinte é o da assinatura do tratado por esta autoridade natureza convencional, coadjuvante ou complementar da que ofe-
competente. Contudo, a exigibilidade dos tratados depende de atos rece o direito interno dos Estados americanos;
posteriores. A colaboração entre os Poderes Executivo e Legislati- Considerando que esses princípios foram consagrados na
vo é indispensável para a conclusão de um tratado no ordenamento Carta da Organização dos Estados Americanos, na Declaração
jurídico brasileiro, já que muito embora a competência seja ex- Americana dos Direitos e Deveres do Homem e na Declaração
clusiva do Presidente da República, cabe ao Congresso Nacional, Universal dos Direitos do Homem, e que foram reafirmados e de-
por meio de um decreto legislativo, autorizar a ratificação do ato senvolvidos em outros instrumentos internacionais, tanto de âmbi-
internacional. Nos termos do artigo 49, I da Constituição Federal to mundial como regional;
“é da competência exclusiva do Congresso Nacional: I - resolver Reiterando que, de acordo com a Declaração Universal dos
definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que Direitos Humanos, só pode ser realizado o ideal do ser humano
acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio na- livre, isento do temor e da miséria, se forem criadas condições
cional”. Quanto ao Pacto de São José da Costa Rica, este foi nego- que permitam a cada pessoa gozar dos seus direitos econômicos,
ciado e assinado pela autoridade do Executivo competente e pos- sociais e culturais, bem como dos seus direitos civis e políticos; e
teriormente submetido à aprovação do Congresso Nacional, a qual Considerando que a Terceira Conferência Interamericana
foi concedida pelo Decreto Legislativo n° 27/92. Somente depois Extraordinária (Buenos Aires, 1967) aprovou a incorporação à
esta foi promulgada pelo Decreto n° 678/92 e ratificada pelo Brasil própria Carta da Organização de normas mais amplas sobre os
perante a Organização dos Estados Americanos. direitos econômicos, sociais e educacionais e resolveu que uma
Convenção Interamericana sobre Direitos Humanos determinas-
DECRETA: se a estrutura, competência e processo dos órgãos encarregados
Art. 1° A Convenção Americana sobre Direitos Humanos dessa matéria;
(Pacto de São José da Costa Rica), celebrada em São José da Convieram no seguinte:
Costa Rica, em 22 de novembro de 1969, apensa por cópia ao Pelo preâmbulo da Convenção denotam-se os antecedentes
presente decreto, deverá ser cumprida tão inteiramente como nela históricos e as intenções envoltas em sua elaboração. Basicamen-
se contém. te, os direitos humanos já haviam sido reconhecidos internacio-
Art. 2° Ao depositar a carta de adesão a esse ato internacio- nalmente desde a criação da ONU e a elaboração da Declaração
nal, em 25 de setembro de 1992, o Governo brasileiro fez a seguin- Universal dos Direitos Humanos de 1948 por todos os Estados-
te declaração interpretativa: “O Governo do Brasil entende que -membros da organização. Entretanto, ainda se buscava um ca-
os arts. 43 e 48, alínea d , não incluem o direito automático de vi- minho para a efetivação deles, garantindo a dignidade inerente
sitas e inspeções in loco da Comissão Interamericana de Direitos à pessoa humana em qualquer localidade, independentemente de
Humanos, as quais dependerão da anuência expressa do Estado”. fatores externos. Neste sentido, optou-se por um processo de re-
Art. 3° O presente decreto entra em vigor na data de sua pu- gionalização dos direitos humanos, no qual as peculiaridades das
blicação. grandes regiões globais poderiam ser levadas em consideração,
Brasília, 6 de novembro de 1992; 171° da Independência e permitindo maior efetividade das normas de direitos humanos.
104° da República. Assim, os países da América se reuniram para a formação de uma
ITAMAR FRANCO organização específica, a Organização dos Estados Americanos, e
Fernando Henrique Cardoso para a assunção de um compromisso internacional continental pela
Este texto não substitui o publicado no DOU de 9.11.1992. preservação dos direitos humanos.

Didatismo e Conhecimento 58
NOÇÕES DE DIREITO
PARTE I - DEVERES DOS ESTADOS E consequência a participação cada vez mais ampla, generalizada
DIREITOS PROTEGIDOS e frequente dos membros de uma comunidade no poder político
(ou liberdade no Estado) [...]”. Estes dois momentos representam
A primeira parte da Convenção trata do aspecto material da a formação da primeira dimensão de direitos humanos, correspon-
proteção dos direitos humanos na América. No capítulo I, são es- dentes aos direitos civis e políticos, os quais são abordados neste
tabelecidos os deveres dos Estados-partes, que são os de respeito e capítulo da Convenção. Em geral, tais direitos não exigem uma
adoção das disposições do pacto no ordenamento jurídico interno; postura ativa estatal, mas sim de abstenção, deixando de se ingerir
no capítulo II são enumerados os direitos civis e políticos, que em direitos humanos individuais e permitindo que as pessoas par-
são praticamente os mesmos declarados no âmbito internacional, ticipem das decisões políticas.
embora mais amplos em relação a alguns direitos; no capítulo III
ocorre uma remissão à Carta da Organização dos Estados Ameri- Artigo 3º - Direito ao reconhecimento da personalidade ju-
canos no tocante aos direitos econômicos, sociais e culturais, de rídica
realização progressiva; no capítulo IV são tratados os casos de Toda pessoa tem direito ao reconhecimento de sua persona-
suspensão de garantias, interpretação e aplicação; no capítulo V lidade jurídica.
abordam-se os deveres das pessoas. “O conceito de personalidade está umbilicalmente ligado ao
de pessoa. Todo aquele que nasce com vida torna-se uma pessoa,
Capítulo I - ENUMERAÇÃO DOS DEVERES ou seja, adquire personalidade. Esta é, portanto, qualidade ou atri-
buto do ser humano. Pode ser definida como aptidão genérica para
Artigo 1º - Obrigação de respeitar os direitos adquirir direitos e contrair obrigações ou deveres na ordem civil. É
1. Os Estados-partes nesta Convenção comprometem-se a pressuposto para a inserção e atuação da pessoa na ordem jurídica.
respeitar os direitos e liberdades nela reconhecidos e a garantir A personalidade é, portanto, o conceito básico da ordem jurídica,
seu livre e pleno exercício a toda pessoa que esteja sujeita à sua que a estende a todos os homens, consagrando-a na legislação ci-
jurisdição, sem discriminação alguma, por motivo de raça, cor, vil e nos direitos constitucionais de vida, liberdade e igualdade.
sexo, idioma, religião, opiniões políticas ou de qualquer outra na- É qualidade jurídica que se revela como preliminar de todos os
tureza, origem nacional ou social, posição econômica, nascimento
direitos e deveres”117.
ou qualquer outra condição social.
2. Para efeitos desta Convenção, pessoa é todo ser humano.
Artigo 4º - Direito à vida
Os Estados-membros da OEA assumem o compromisso de
1. Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida. Esse
respeitar os direitos humanos declarados neste documento para
direito deve ser protegido pela lei e, em geral, desde o momento
com todos os seres humanos que ingressem em território de sua
da concepção. Ninguém pode ser privado da vida arbitrariamente.
jurisdição, não apenas nacionais. Nota-se, ainda, que não há ser
Atenção: a Convenção assegura a proteção à vida desde a
humano que possa não ser considerado como pessoa.
concepção! Não obstante, veda a morte por razões arbitrárias, por
Artigo 2º - Dever de adotar disposições de direito interno exemplo, pena de morte sem o devido processo legal.
Se o exercício dos direitos e liberdades mencionados no arti- 2. Nos países que não houverem abolido a pena de morte, esta
go 1° ainda não estiver garantido por disposições legislativas ou só poderá ser imposta pelos delitos mais graves, em cumprimento
de outra natureza, os Estados-partes comprometem-se a adotar, de de sentença final de tribunal competente e em conformidade com
acordo com as suas normas constitucionais e com as disposições a lei que estabeleça tal pena, promulgada antes de haver o delito
desta Convenção, as medidas legislativas ou de outra natureza que sido cometido. Tampouco se estenderá sua aplicação a delitos aos
forem necessárias para tornar efetivos tais direitos e liberdades. quais não se aplique atualmente.
O conteúdo da Convenção tem um caráter genérico, de for- No ideário de proteção à vida, impedindo a aplicação de pena
ma que meios específicos para assegurar os direitos nela previstos de morte, a Convenção adota um posicionamento de não retroces-
dentro do ordenamento interno são necessários. Este artigo deixa so. Basicamente, para os casos e nas localidades em que a pena de
claro o dever dos Estados-partes de adaptar o ordenamento interno morte foi abolida não é possível passar a aplicá-la.
a este contexto. 3. Não se pode restabelecer a pena de morte nos Estados que
a hajam abolido.
Capítulo II - DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS Os países que adotavam pena de morte antes da Convenção
não podem ampliar sua aplicação para outros crimes, mas não são
Em relação à primeira dimensão de direitos, aponta Bobbio116: obrigados a aboli-la plenamente.
“[...] o desenvolvimento dos direitos do homem passou por três 4. Em nenhum caso pode a pena de morte ser aplicada a deli-
fases: num primeiro momento, afirmaram-se os direitos de liber- tos políticos, nem a delitos comuns conexos com delitos políticos.
dade, isto é, todos aqueles direitos que tendem a limitar o poder do A aplicação de pena de morte por crimes políticos significaria
Estado e a reservar para o indivíduo, ou para os grupos particula- uma violação dos direitos políticos, que permitem o livre exercício
res, uma esfera de liberdade em relação ao Estado; num segundo do pensamento perante o Estado. Sem isto, não há democracia.
momento, foram propugnados os direitos políticos, os quais – con- Assim, somente cabe pena de morte para certos delitos comuns
cebendo a liberdade não apenas negativamente, como não impe- mais graves aos quais já se aplicava tal pena antes da Convenção
dimento, mas positivamente, como autonomia – tiveram como naquele Estado-parte.
116 BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Tradução Celso 117 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro.
Lafer. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. v. 1.

Didatismo e Conhecimento 59
NOÇÕES DE DIREITO
5. Não se deve impor a pena de morte a pessoa que, no mo- 6. As penas privativas de liberdade devem ter por finalidade
mento da perpetração do delito, for menor de dezoito anos, ou essencial a reforma e a readaptação social dos condenados.
maior de setenta, nem aplicá-la a mulher em estado de gravidez. A pena tem função retributiva e preventiva (geral e especial).
Não é possível aplicar pena de morte a menores de 18 anos Retributiva por ser uma resposta ao mal causado pelo criminoso
(proteção à criança e ao adolescente) e nem às mulheres grávidas para a sociedade. Preventiva geral no sentido de intimidar todos
(proteção da maternidade e da infância). os destinatários da norma penal, visando impedir que eles prati-
6. Toda pessoa condenada à morte tem direito a solicitar anis- quem crimes; preventiva especial no sentido de impedir o autor
tia, indulto ou comutação da pena, os quais podem ser concedi- do crime que volte a delinquir. Há, ainda, a função social ou res-
dos em todos os casos. Não se pode executar a pena de morte socializadora, que visa permitir que o condenado seja devolvido à
enquanto o pedido estiver pendente de decisão ante a autoridade sociedade em condições de não mais cometer crimes e conviver
competente. pacificamente.
Segundo Bitencourt118, anistia “é o esquecimento jurídico do
ilícito e tem por objeto fatos (não pessoas) definidos como crimes, Artigo 6º - Proibição da escravidão e da servidão
de regra, políticos, militares ou eleitorais, excluindo-se, normal- 1. Ninguém poderá ser submetido a escravidão ou servidão e
mente, os crimes comuns”; ao passo que indulto coletivo ou pro- tanto estas como o tráfico de escravos e o tráfico de mulheres são
priamente dito “destina-se a um grupo determinado de condenados proibidos em todas as suas formas.
e é delimitado pela natureza do crime e quantidade da pena apli- 2. Ninguém deve ser constrangido a executar trabalho for-
cada, além de outros requisitos que o diploma legal pode estabele- çado ou obrigatório. Nos países em que se prescreve, para certos
cer”; já a comutação da pena é o indulto parcial, não extinguindo a delitos, pena privativa de liberdade acompanhada de trabalhos
punibilidade, mas diminuindo a pena a ser cumprida. forçados, esta disposição não pode ser interpretada no sentido de
proibir o cumprimento da dita pena, imposta por um juiz ou tribu-
Artigo 5º - Direito à integridade pessoal nal competente. O trabalho forçado não deve afetar a dignidade,
1. Toda pessoa tem direito a que se respeite sua integridade nem a capacidade física e intelectual do recluso.
física, psíquica e moral. Se todo ser humano é uma pessoa e, como tal, dotada de digni-
São garantias inerentes ao direito à vida e ao direito à saúde. dade, aceitar a escravidão seria absurdo. Inerente a isto se encontra
2. Ninguém deve ser submetido a torturas, nem a penas ou a vedação de trabalhos forçados: não significa que não pode existir
tratos cruéis, desumanos ou degradantes. Toda pessoa privada de
trabalho obrigatório, mas a negativa em cumpri-lo não pode im-
liberdade deve ser tratada com o respeito devido à dignidade ine-
pedir o cumprimento da pena, embora o desempenho do trabalho
rente ao ser humano.
possa gerar sua diminuição proporcional aos dias trabalhados. Ha-
Tortura é a imposição de dor física ou psicológica por cruel-
vendo trabalho obrigatório, este não pode influenciar a dignidade
dade, intimidação, punição, para obtenção de uma confissão, in-
e nem a capacidade física ou intelectual do acusado, por exemplo,
formação ou simplesmente por prazer da pessoa que tortura, sendo
colocar um professor para limpar os banheiros da prisão e não para
assim uma espécie de trato cruel, desumano ou degradante. As pe-
ministrar aulas aos detentos é uma violação.
nas também não podem ser cruéis, desumanas ou degradantes, por
3. Não constituem trabalhos forçados ou obrigatórios para os
exemplo, de trabalhos forçados. O cumprimento da pena, ainda
que em si ela não seja cruel, a exemplo da privativa de liberdade, efeitos deste artigo:
deve se dar de maneira digna, não se aceitando a falta de estrutura a) os trabalhos ou serviços normalmente exigidos de pessoa
nos estabelecimentos prisionais. reclusa em cumprimento de sentença ou resolução formal expe-
3. A pena não pode passar da pessoa do delinquente. dida pela autoridade judiciária competente. Tais trabalhos ou
Pelo princípio da personalidade da pena o crime pode ser im- serviços devem ser executados sob a vigilância e controle das au-
putado somente ao seu autor, que é, por seu turno, a única pessoa toridades públicas, e os indivíduos que os executarem não devem
passível de sofrer a sanção. Seria flagrante a injustiça se fosse pos- ser postos à disposição de particulares, companhias ou pessoas
sível alguém responder pelos atos ilícitos de outrem: caso con- jurídicas de caráter privado;
trário, a reação, ao invés de restringir-se ao malfeitor, alcançaria b) serviço militar e, nos países em que se admite a isenção
inocentes. por motivo de consciência, qualquer serviço nacional que a lei
4. Os processados devem ficar separados dos condenados, estabelecer em lugar daquele;
salvo em circunstâncias excepcionais, e devem ser submetidos a c) o serviço exigido em casos de perigo ou de calamidade que
tratamento adequado à sua condição de pessoas não condenadas. ameacem a existência ou o bem-estar da comunidade;
Trata-se de um benefício inerente à presunção de inocência: d) o trabalho ou serviço que faça parte das obrigações cívicas
os que ainda são considerados inocentes perante a lei devem ficar normais.
separados dos culpados. Evidencia-se que trabalho obrigatório não significa trabalho
5. Os menores, quando puderem ser processados, devem ser forçado. Nestes casos, não há trabalho forçado, por mais que o
separados dos adultos e conduzidos a tribunal especializado, com indivíduo na verdade não queira desempenhá-lo.
a maior rapidez possível, para seu tratamento.
Para proteger as crianças e os adolescentes tem-se um sistema Artigo 7º - Direito à liberdade pessoal
específico para processo e condenação criminal, bem como local 1. Toda pessoa tem direito à liberdade e à segurança pessoais.
próprio de execução da pena. A liberdade aparece ligada à segurança porque a privação da
118 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal. liberdade de um por parte do Estado visa, necessariamente, a pre-
16. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. v. 1. servação da segurança dos demais.

Didatismo e Conhecimento 60
NOÇÕES DE DIREITO
2. Ninguém pode ser privado de sua liberdade física, salvo Evidencia-se o direito ao contraditório, consistente em poder
pelas causas e nas condições previamente fixadas pelas Consti- ouvir e dar uma resposta a respeito dos fatos controversos levados
tuições políticas dos Estados-partes ou pelas leis de acordo com a juízo, em qualquer esfera. Também traz o princípio do juiz natu-
elas promulgadas. ral e da vedação ao tribunal de exceção, de forma que sempre será
3. Ninguém pode ser submetido a detenção ou encarceramen- fixado o juízo competente de maneira prévia por regras de organi-
to arbitrários. zação judiciária, avaliando-se ainda se aquele juízo atribuído é de
A legislação deve ser expressa a respeito dos casos em que se fato imparcial (não possuindo inimizades ou amizades para com
admite a privação da liberdade de locomoção. as partes).
4. Toda pessoa detida ou retida deve ser informada das razões 2. Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se pre-
da detenção e notificada, sem demora, da acusação ou das acusa-
suma sua inocência, enquanto não for legalmente comprovada
ções formuladas contra ela.
5. Toda pessoa presa, detida ou retida deve ser conduzida, sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena
sem demora, à presença de um juiz ou outra autoridade autoriza- igualdade, às seguintes garantias mínimas:
da por lei a exercer funções judiciais e tem o direito de ser julgada O estado de inocência é inerente à pessoa humana, de forma
em prazo razoável ou de ser posta em liberdade, sem prejuízo de que somente pode ser considerada culpada após o trânsito em jul-
que prossiga o processo. Sua liberdade pode ser condicionada a gado do processo criminal que apure devidamente o ilícito (princí-
garantias que assegurem o seu comparecimento em juízo. pio da presunção de inocência).
6. Toda pessoa privada da liberdade tem direito a recorrer a) direito do acusado de ser assistido gratuitamente por um
a um juiz ou tribunal competente, a fim de que este decida, sem tradutor ou intérprete, caso não compreenda ou não fale a língua
demora, sobre a legalidade de sua prisão ou detenção e ordene do juízo ou tribunal;
sua soltura, se a prisão ou a detenção forem ilegais. Nos Estados-
b) comunicação prévia e pormenorizada ao acusado da acu-
-partes cujas leis prevêem que toda pessoa que se vir ameaçada
de ser privada de sua liberdade tem direito a recorrer a um juiz ou sação formulada;
tribunal competente, a fim de que este decida sobre a legalidade c) concessão ao acusado do tempo e dos meios necessários à
de tal ameaça, tal recurso não pode ser restringido nem abolido. preparação de sua defesa;
O recurso pode ser interposto pela própria pessoa ou por outra d) direito do acusado de defender-se pessoalmente ou de ser
pessoa. assistido por um defensor de sua escolha e de comunicar-se, livre-
Os itens 4 a 6 tratam do devido processo legal (ampla defesa mente e em particular, com seu defensor;
e contraditório) garantidos àquele que é privado de sua liberdade e) direito irrenunciável de ser assistido por um defensor pro-
de locomoção. É preciso que a pessoa seja notificada a respeito porcionado pelo Estado, remunerado ou não, segundo a legisla-
dos motivos da acusação, seja levada ao juiz que decidirá sobre a ção interna, se o acusado não se defender ele próprio, nem nome-
manutenção da prisão e possa interpor recurso contra tal decisão.
ar defensor dentro do prazo estabelecido pela lei;
7. Ninguém deve ser detido por dívidas. Este princípio não li-
mita os mandados de autoridade judiciária competente expedidos f) direito da defesa de inquirir as testemunhas presentes no
em virtude de inadimplemento de obrigação alimentar. Tribunal e de obter o comparecimento, como testemunhas ou peri-
Uma das maiores polêmicas jurídicas brasileiras nos últimos tos, de outras pessoas que possam lançar luz sobre os fatos;
anos envolve justamente este dispositivo da Convenção: enquanto g) direito de não ser obrigada a depor contra si mesma, nem
ela somente permite a prisão por dívida em caso de obrigação ali- a confessar-se culpada; e
mentar, a Constituição brasileira a permite também para os depo- h) direito de recorrer da sentença a juiz ou tribunal superior.
sitários infiéis (aquele que fica vinculado ao cumprimento de uma Todas as garantias enumeradas fazem parte do devido pro-
obrigação meramente contratual, cuja função que lhe é confiada cesso legal, formado pelo binômio contraditório + ampla defesa.
envolve a guarda de uma coisa específica, devendo conservá-la e Pelo princípio do devido processo legal “ninguém será privado da
restituí-la in natura quando for exigida pelo depositante ou pagar
liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal. Corolário
o preço equivalente se a coisa não mais existir na sua esfera de
disponibilidade). Ocorre que os tratados de direitos humanos, a a esse princípio, asseguram-se aos litigantes, em processo judicial
partir da Emenda Constitucional n° 45/04, cumpridas as condições ou administrativo, e aos acusados em geral o contraditório e a am-
do artigo 5°, §3° são considerados como emendas constitucionais; pla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”119. São meios,
mas a Convenção em estudo foi ratificada antes desta alteração por exemplo, a conferência de um tradutor e de um defensor, pú-
legislativa, havendo posicionamentos diversos a respeito dela pos- blico ou privado, e ainda os direitos ao silêncio e à não produção
suir ou não o caráter constitucional. Depois de muitas discussões, de provas contra si. São recursos as vias de questionamento da
o Supremo Tribunal Federal decidiu no dia 05 de dezembro de decisão judicial perante outro juiz ou tribunal superior.
2008 que é ilegal a prisão civil do depositário infiel, utilizando-se 3. A confissão do acusado só é válida se feita sem coação de
da tese de que os tratados de direitos humanos têm status suprale- nenhuma natureza.
gal, ou seja, encontram-se acima das leis ordinárias, porém abaixo
Assim, não é que a confissão não seja um meio de prova vá-
da Constituição Federal. Neste sentido, a súmula vinculante n° 25
e Habeas Corpus n° 87.585-8/TO. lido: é válida, mas não pode ser obtida à força, por exemplo, me-
diante tortura ou ameaça.
Artigo 8º - Garantias judiciais 4. O acusado absolvido por sentença transitada em julgado
1. Toda pessoa terá o direito de ser ouvida, com as devidas não poderá ser submetido a novo processo pelos mesmos fatos.
garantias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou Tribunal Não cabe revisão criminal pro societate - em favor da socie-
competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormen- dade. Não importa se o acusado foi indevidamente absolvido, tran-
te por lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada sitada em julgado a decisão não poderá ser processado novamen-
contra ela, ou na determinação de seus direitos e obrigações de 119 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional
caráter civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza. esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.

Didatismo e Conhecimento 61
NOÇÕES DE DIREITO
te pelo mesmo fato. A revisão criminal só é possível se surgirem 2. Ninguém pode ser submetido a medidas restritivas que pos-
provas para absolver o réu condenado criminalmente, nunca para sam limitar sua liberdade de conservar sua religião ou suas cren-
condená-lo. ças, ou de mudar de religião ou de crenças.
5. O processo penal deve ser público, salvo no que for neces- 3. A liberdade de manifestar a própria religião e as próprias
sário para preservar os interesses da justiça. crenças está sujeita apenas às limitações previstas em lei e que
O segredo de justiça é limitado a alguns casos porque, em se façam necessárias para proteger a segurança, a ordem, a saú-
regra, “o direito subjetivo das partes e advogados à intimidade de ou a moral públicas ou os direitos e as liberdades das demais
somente estará garantido se não prejudicar o interesse público à
pessoas.
informação”120.
4. Os pais e, quando for o caso, os tutores, têm direito a que
Artigo 9º - Princípio da legalidade e da retroatividade seus filhos e pupilos recebam a educação religiosa e moral que
Ninguém poderá ser condenado por atos ou omissões que, no esteja de acordo com suas próprias convicções.
momento em que foram cometidos, não constituam delito, de acor- Uma das esferas da liberdade de pensamento é a liberdade de
do com o direito aplicável. Tampouco poder-se-á impor pena mais crença religiosa. Cada qual tem direito a professar a crença que
grave do que a aplicável no momento da ocorrência do delito. Se, quiser no Estado democrático, não podendo ser tolhido deste di-
depois de perpetrado o delito, a lei estipular a imposição de pena reito. No entanto, há algumas limitações lógicas ao exercício deste
mais leve, o deliquente deverá dela beneficiar-se. direito, notadamente quanto às colisões com outros direitos hu-
Há uma regra dominante em termos de conflito de leis penais manos: por exemplo, não pode ser aceita a prática de sacrifício
no tempo que é a da irretroatividade da lei penal, sem a qual não
humano nos cultos religiosos.
haveria nem segurança e nem liberdade na sociedade, em flagrante
desrespeito ao princípio da legalidade e da anterioridade da lei. A religiosidade é um dos aspectos em que os pais influenciam
Logo, o tempo rege a ação - tempus regit actum - e uma lei so- os filhos e, por isso, possuem direito de vê-los educados em conso-
mente abrange os atos praticados durante a sua vigência, não antes nância com tais crenças.
(retroatividade) nem depois (ultra-atividade). Contudo, o princípio
da irretroatividade vige somente quanto à lei mais severa, de forma Artigo 13 - Liberdade de pensamento e de expressão
que a lei que for mais favorável ao réu irá retroagir, no que se con- 1. Toda pessoa tem o direito à liberdade de pensamento e de
solida o princípio da retroatividade da lei mais benéfica.121 expressão. Esse direito inclui a liberdade de procurar, receber e
difundir informações e ideias de qualquer natureza, sem consi-
Artigo 10 - Direito à indenização derações de fronteiras, verbalmente ou por escrito, ou em forma
Toda pessoa tem direito de ser indenizada conforme a lei, no impressa ou artística, ou por qualquer meio de sua escolha.
caso de haver sido condenada em sentença transitada em julgado,
“Na verdade, o ser humano, através dos processos internos de
por erro judiciário.
Uma pessoa injustamente condenada por um erro estatal na reflexão, formula juízos de valor. Estes exteriorizam nada mais do
apuração do ilícito tem direito a indenização. que a opinião de seu emitente. Assim, a regra constitucional, ao
consagrar a livre manifestação do pensamento, imprime a existên-
Artigo 11 - Proteção da honra e da dignidade cia jurídica ao chamado direito de opinião”122.
1. Toda pessoa tem direito ao respeito da sua honra e ao reco- 2. O exercício do direito previsto no inciso precedente não
nhecimento de sua dignidade. pode estar sujeito à censura prévia, mas a responsabilidades ul-
2. Ninguém pode ser objeto de ingerências arbitrárias ou teriores, que devem ser expressamente previstas em lei e que se
abusivas em sua vida privada, em sua família, em seu domicílio façam necessárias para assegurar:
ou em sua correspondência, nem de ofensas ilegais à sua honra a) o respeito dos direitos e da reputação das demais pessoas;
ou reputação.
b) a proteção da segurança nacional, da ordem pública, ou da
3. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais inge-
rências ou tais ofensas. saúde ou da moral públicas.
Privacidade e personalidade são direitos que parecem interli- Silva123 explica que “o homem se torna cada vez mais livre
gados, uma vez que a primeira é condição de expansão da segunda. na medida em que amplia seu domínio sobre a natureza”, ou seja,
A honra pode ser objetiva, no que tange ao modo como o mundo com a evolução da sociedade, a tendência é que o círculo que deli-
vê a pessoa, e subjetiva, referindo-se à maneira como ela se vê. mita a esfera da liberdade se amplie. Entretanto, o direito à liberda-
Para o bom desenvolvimento da personalidade é preciso garantir de nunca foi assegurado de forma irrestrita, assim como nunca se
a privacidade, cabendo à lei proteger todos estes bens jurídicos. defendeu no campo ético que alguém pudesse exercê-lo sem limi-
tes. Não significa que é aceita a censura prévia, como era comum
Artigo 12 - Liberdade de consciência e de religião nos regimes ditatoriais, mas que é preciso limitar a veiculação de
1. Toda pessoa tem direito à liberdade de consciência e de
conteúdos que violem direitos humanos alheios ou atentem contra
religião. Esse direito implica a liberdade de conservar sua religião
ou suas crenças, ou de mudar de religião ou de crenças, bem como a moral social. Por exemplo, se uma pessoa publicar um conteúdo
a liberdade de professar e divulgar sua religião ou suas crenças, ofensivo a outra cometerá violação da honra, se divulgar conteú-
individual ou coletivamente, tanto em público como em privado. dos antissemitas praticará crime de preconceito e discriminação.
122 ARAÚJO, Luiz Alberto David; NUNES JÚNIOR,
120 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional Vidal Serrano. Curso de direito constitucional. 10. ed. São Paulo:
esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. Saraiva, 2006.
121 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal. 123 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional
16. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. v. 1. positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006.

Didatismo e Conhecimento 62
NOÇÕES DE DIREITO
3. Não se pode restringir o direito de expressão por vias e Artigo 16 - Liberdade de associação
meios indiretos, tais como o abuso de controles oficiais ou parti- 1. Todas as pessoas têm o direito de associar-se livremente
culares de papel de imprensa, de frequências radioelétricas ou de com fins ideológicos, religiosos, políticos, econômicos, trabalhis-
equipamentos e aparelhos usados na difusão de informação, nem tas, sociais, culturais, desportivos ou de qualquer outra natureza.
por quaisquer outros meios destinados a obstar a comunicação e 2. O exercício desse direito só pode estar sujeito às restrições
a circulação de ideias e opiniões. previstas em lei e que se façam necessárias, em uma sociedade
A propriedade dos meios de comunicação não pode ser utili- democrática, ao interesse da segurança nacional, da segurança e
zada para manipulação do pensamento da população. da ordem públicas, ou para proteger a saúde ou a moral públicas
4. A lei pode submeter os espetáculos públicos a censura ou os direitos e as liberdades das demais pessoas.
prévia, com o objetivo exclusivo de regular o acesso a eles, para 3. O presente artigo não impede a imposição de restrições
proteção moral da infância e da adolescência, sem prejuízo do legais, e mesmo a privação do exercício do direito de associação,
aos membros das forças armadas e da polícia.
disposto no inciso 2.
Entidades associativas têm legitimidade para representar
Antes de permitir que um espetáculo chegue ao público é acei- seus filiados judicial ou extrajudicialmente, podendo defender,
ta a avaliação prévia do conteúdo, limitando o acesso, por exem- em nome próprio, direitos de seus associados. Logo, caracteriza a
plo, a determinada faixa etária. união das forças individuais num grupo organizado e devidamente
5. A lei deve proibir toda propaganda a favor da guerra, bem autorizado por lei. Ninguém é obrigado a ingressas ou permanecer
como toda apologia ao ódio nacional, racial ou religioso que em uma associação. Nenhuma associação pode defender interes-
constitua incitamento à discriminação, à hostilidade, ao crime ou ses ilícitos (por exemplo, seria absurdo permitir que o PCC ou o
à violência. Comando Vermelho fossem consideradas associações, posto que
Permitir o incentivo a este tipo de pensamento contrário à paz reúnem criminosos). Enfim, a lei pode limitar, com razoabilidade e
mundial vai contra o que os sistemas global e regional de proteção proporcionalidade, a liberdade de associação.
de direitos humanos buscam.
Artigo 17 - Proteção da família
Artigo 14 - Direito de retificação ou resposta 1. A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e
1. Toda pessoa, atingida por informações inexatas ou ofen- deve ser protegida pela sociedade e pelo Estado.
sivas emitidas em seu prejuízo por meios de difusão legalmente 2. É reconhecido o direito do homem e da mulher de contraí-
regulamentados e que se dirijam ao público em geral, tem direito rem casamento e de constituírem uma família, se tiverem a idade e
a fazer, pelo mesmo órgão de difusão, sua retificação ou resposta, as condições para isso exigidas pelas leis internas, na medida em
que não afetem estas o princípio da não-discriminação estabele-
nas condições que estabeleça a lei.
cido nesta Convenção.
2. Em nenhum caso a retificação ou a resposta eximirão das
3. O casamento não pode ser celebrado sem o consentimento
outras responsabilidades legais em que se houver incorrido. livre e pleno dos contraentes.
3. Para a efetiva proteção da honra e da reputação, toda pu- 4. Os Estados-partes devem adotar as medidas apropriadas
blicação ou empresa jornalística, cinematográfica, de rádio ou te- para assegurar a igualdade de direitos e a adequada equivalência
levisão, deve ter uma pessoa responsável, que não seja protegida de responsabilidades dos cônjuges quanto ao casamento, durante
por imunidades, nem goze de foro especial. o mesmo e por ocasião de sua dissolução. Em caso de dissolução,
A publicação de um conteúdo ofensivo dá ao ofendido direito serão adotadas as disposições que assegurem a proteção necessá-
de resposta (direito de em local idêntico, com mesmo destaque e ria aos filhos, com base unicamente no interesse e conveniência
circulação, expor seus argumento contrários à ofensa publicada), dos mesmos.
mas não exime o ofensor de responder por seu ato. Para garantir 5. A lei deve reconhecer iguais direitos tanto aos filhos nasci-
isto, nos meios de comunicação é preciso de um responsável que dos fora do casamento, como aos nascidos dentro do casamento.
não seja impedido de ser processado regularmente, ou seja, que A proteção da família é essencial porque ela é a base da estru-
não possua imunidades ou goze de foro especial. tura social. O tradicional modo de constituição da família é o ca-
samento, tanto que ele é protegido nesta Convenção e na DUDH,
Artigo 15 - Direito de reunião sendo o consentimento dos nubentes um requisito essencial. Du-
É reconhecido o direito de reunião pacífica e sem armas. O rante o casamento, as obrigações devem ser partilhadas e, em caso
de dissolução, deve ser priorizado o melhor interesse dos filhos
exercício desse direito só pode estar sujeito às restrições previstas
para decidir a respeito de guarda, visitas e alimentos. No mais, os
em lei e que se façam necessárias, em uma sociedade democrática,
filhos nascidos dentro ou fora do casamento são equiparados.
ao interesse da segurança nacional, da segurança ou ordem públi-
cas, ou para proteger a saúde ou a moral públicas ou os direitos e Artigo 18 - Direito ao nome
as liberdades das demais pessoas. Toda pessoa tem direito a um prenome e aos nomes de seus
O direito de reunião evidencia a liberdade de expressão con- pais ou ao de um destes. A lei deve regular a forma de assegurar
ferida aos indivíduos e aos grupos sociais. Grupos de pessoas po- a todos esse direito, mediante nomes fictícios, se for necessário.
dem se reunir para manifestar algum pensamento, respeitados os O nome é um modo de individualização da pessoa natural.
limites legais, por exemplo, não é autorizada a presença de armas, “Integra a personalidade, individualiza a pessoa não só durante a
ou ainda, é preciso informar o poder público para que ele tome sua vida como também após a sua morte, e indica a sua procedên-
providências para garantir a segurança numa manifestação grupal cia familiar”124.
principalmente se ela tiver grande repercussão (exemplificando,
algumas paradas gays chegam a reunir milhões de pessoas). 124 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro.
9. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. v. 1.

Didatismo e Conhecimento 63
NOÇÕES DE DIREITO
Artigo 19 - Direitos da criança A liberdade de circulação dentro de seu país ou em um terri-
Toda criança terá direito às medidas de proteção que a sua tório em que entre legalmente não é plena: pode ser restringida em
condição de menor requer, por parte da sua família, da sociedade virtude de lei, bem como visando proteger o interesse público e a
e do Estado. segurança social.
A criança é parte fundamental da sociedade, representando seu 5. Ninguém pode ser expulso do território do Estado do qual
futuro. Protegê-la significa garantir que no futuro existirão adultos for nacional e nem ser privado do direito de nele entrar.
preparados para construir uma sociedade melhor. Para tanto são 6. O estrangeiro que se encontre legalmente no território de
criados inúmeros mecanismos. No Brasil, destaca-se o Estatuto da um Estado-parte na presente Convenção só poderá dele ser expul-
Criança e do Adolescente. so em decorrência de decisão adotada em conformidade com a lei.
Nota-se que não se garante o livre ingresso em território que
Artigo 20 - Direito à nacionalidade não o do próprio país, para tanto é preciso respeitar as regras do
1. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade. país para recebimento de estrangeiros - apenas se veda a expulsão
2. Toda pessoa tem direito à nacionalidade do Estado em cujo arbitrária do que já esteja lá.
território houver nascido, se não tiver direito a outra. 7. Toda pessoa tem o direito de buscar e receber asilo em ter-
3. A ninguém se deve privar arbitrariamente de sua naciona- ritório estrangeiro, em caso de perseguição por delitos políticos
lidade, nem do direito de mudá-la. ou comuns conexos com delitos políticos, de acordo com a legisla-
Com estas regras, impede-se que uma pessoa não se vincule ção de cada Estado e com as Convenções internacionais.
jurídica e politicamente a um Estado, integrando o povo e desfru- O asilo político é instituição pela qual um Estado confere abri-
tando de direitos e obrigações. No mínimo, terá a nacionalidade do go e proteção a um indivíduo que tenha fugido de um outro Estado
território em que tiver nascido. A figura do apátrida é vedada. Em no qual sofria perseguição por delitos políticos ou conexos a ele.
certos casos, será possível mudar de nacionalidade, não podendo a 8. Em nenhum caso o estrangeiro pode ser expulso ou entre-
pessoa ser impedida. gue a outro país, seja ou não de origem, onde seu direito à vida ou
à liberdade pessoal esteja em risco de violação em virtude de sua
Artigo 21 - Direito à propriedade privada raça, nacionalidade, religião, condição social ou de suas opiniões
1. Toda pessoa tem direito ao uso e gozo de seus bens. A lei políticas.
9. É proibida a expulsão coletiva de estrangeiros.
pode subordinar esse uso e gozo ao interesse social.
A extradição é permitida, dentro dos limites da legislação de
O direito à propriedade é garantido, mas não de forma ilimi-
direitos humanos.
tada. Entre os limites possíveis destaca-se o do respeito à função
social. Por exemplo, não poderá manter a propriedade aquele que
Artigo 23 - Direitos políticos
não a torna produtiva.
1. Todos os cidadãos devem gozar dos seguintes direitos e
2. Nenhuma pessoa pode ser privada de seus bens, salvo me-
oportunidades:
diante o pagamento de indenização justa, por motivo de utilidade
a) de participar da condução dos assuntos públicos, direta-
pública ou de interesse social e nos casos e na forma estabelecidos
mente ou por meio de representantes livremente eleitos;
pela lei. b) de votar e ser eleito em eleições periódicas, autênticas, re-
O item se refere ao instituto da desapropriação, pelo qual o Es- alizadas por sufrágio universal e igualitário e por voto secreto,
tado toma a propriedade de um bem em prol do interesse coletivo, que garantam a livre expressão da vontade dos eleitores; e
indenizando o proprietário. Participar das decisões políticas de maneira direta ou indireta
3. Tanto a usura, como qualquer outra forma de exploração é um direito político de primeira dimensão. Existem modalidades
do homem pelo homem, devem ser reprimidas pela lei. de participação direta, consolidando a democracia direta, mas ge-
Usura significa agiotagem, uma pessoa emprestar dinheiro por ralmente, como são muitos os indivíduos que podem participar em
juros abusivos e utilizar meios controversos para receber os juros sociedade, adota-se a democracia indireta, na qual são eleitos re-
e o valor emprestado de volta. presentantes por meio do voto. Ainda assim, são comuns alguns
mecanismos de participação direta, como o plebiscito, o referendo
Artigo 22 - Direito de circulação e de residência e a iniciativa popular, formando um modelo de democracia misto.
1. Toda pessoa que se encontre legalmente no território de um c) de ter acesso, em condições gerais de igualdade, às funções
Estado tem o direito de nele livremente circular e de nele residir, públicas de seu país.
em conformidade com as disposições legais. 2. A lei pode regular o exercício dos direitos e oportunidades,
2. Toda pessoa terá o direito de sair livremente de qualquer a que se refere o inciso anterior, exclusivamente por motivo de
país, inclusive de seu próprio país. idade, nacionalidade, residência, idioma, instrução, capacidade
3. O exercício dos direitos supracitados não pode ser restrin- civil ou mental, ou condenação, por juiz competente, em processo
gido, senão em virtude de lei, na medida indispensável, em uma penal.
sociedade democrática, para prevenir infrações penais ou para O acesso às funções públicas geralmente se dá por concurso
proteger a segurança nacional, a segurança ou a ordem públicas, público, não podendo utilizar critérios preconceituosos para ad-
a moral ou a saúde públicas, ou os direitos e liberdades das de- missão.
mais pessoas.
4. O exercício dos direitos reconhecidos no inciso 1 pode tam- Artigo 24 - Igualdade perante a lei
bém ser restringido pela lei, em zonas determinadas, por motivo Todas as pessoas são iguais perante a lei. Por conseguinte,
de interesse público. têm direito, sem discriminação alguma, à igual proteção da lei.

Didatismo e Conhecimento 64
NOÇÕES DE DIREITO
Trata-se do princípio da igualdade perante a lei. Assim, a lei é integridade pessoal), 6 (proibição da escravidão e da servidão),
válida para todas as pessoas, embora possa estabelecer regramen- 9 (princípio da legalidade e da retroatividade), 12 (liberdade de
tos específicos para certos grupos sociais vulneráveis. consciência e religião), 17 (proteção da família), 18 (direito ao
nome), 19 (direitos da criança), 20 (direito à nacionalidade) e 23
Artigo 25 - Proteção judicial (direitos políticos), nem das garantias indispensáveis para a pro-
1. Toda pessoa tem direito a um recurso simples e rápido ou a teção de tais direitos.
qualquer outro recurso efetivo, perante os juízes ou tribunais com- Nem precisaria especificar, pois tais direitos estão ligados jus-
petentes, que a proteja contra atos que violem seus direitos funda- tamente a raça, cor, sexo, idioma, religião ou origem social. Entre-
mentais reconhecidos pela Constituição, pela lei ou pela presente tanto, a especificação aumenta a segurança jurídica.
Convenção, mesmo quando tal violação seja cometida por pessoas 3. Todo Estado-parte no presente Pacto que fizer uso do di-
que estejam atuando no exercício de suas funções oficiais. reito de suspensão deverá comunicar imediatamente aos outros
No Brasil, entre outros instrumentos, destacam-se o mandado Estados-partes na presente Convenção, por intermédio do Secre-
de segurança, o habeas corpus e o habeas data. tário Geral da Organização dos Estados Americanos, as disposi-
2. Os Estados-partes comprometem-se: ções cuja aplicação haja suspendido, os motivos determinantes da
a) a assegurar que a autoridade competente prevista pelo sis- suspensão e a data em que haja dado por terminada tal suspensão.
tema legal do Estado decida sobre os direitos de toda pessoa que Assim, o direito de suspensão é, basicamente, a possibilida-
interpuser tal recurso; de do Estado-parte da Organização dos Estados Americanos, por
b) a desenvolver as possibilidades de recurso judicial; e alguma razão específica e discriminada em suas justificativas, de
c) a assegurar o cumprimento, pelas autoridades competen- deixar de cumprir parte do conteúdo da Convenção Americana de
tes, de toda decisão em que se tenha considerado procedente o Direitos Humanos, respeitados os limites consagrados internacio-
recurso. nalmente no que tange à dignidade humana.
Não basta prever tais garantias, é preciso conferir estrutura ao
Judiciário para cumpri-las. Artigo 28 - Cláusula federal
1. Quando se tratar de um Estado-parte constituído como Es-
Capítulo III - DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E tado federal, o governo nacional do aludido Estado-parte cum-
prirá todas as disposições da presente Convenção, relacionadas
CULTURAIS
com as matérias sobre as quais exerce competência legislativa e
judicial.
Artigo 26 - Desenvolvimento progressivo
A forma federativa de Estado tem origem nos Estados Unidos,
Os Estados-partes comprometem-se a adotar as providências,
em 1787. No federalismo por agregação, os Estados independentes
tanto no âmbito interno, como mediante cooperação internacio-
ou soberanos abrem mão de parcela de sua soberania para agregar-
nal, especialmente econômica e técnica, a fim de conseguir pro-
-se entre si e formarem um Estado Federativo, mas mantendo a
gressivamente a plena efetividade dos direitos que decorrem das
autonomia entre si: foi o que ocorreu nos Estados Unidos. Mas
normas econômicas, sociais e sobre educação, ciência e cultura,
também é possível o federalismo por desagregação, quando a fede-
constantes da Carta da Organização dos Estados Americanos, re- ração surge a partir de um Estado unitário e resolve descentralizar-
formada pelo Protocolo de Buenos Aires, na medida dos recursos -se, a exemplo do Brasil desde 1891. Dentro da federação há re-
disponíveis, por via legislativa ou por outros meios apropriados. partição de competências entre a União e as unidades federativas.
Como a União que firma os compromissos internacionais, nem
Capítulo IV - SUSPENSÃO DE GARANTIAS, INTER- sempre ela terá competência para fazer cumprir todas as normas
PRETAÇÃO E APLICAÇÃO deles, que podem ser da alçada das unidades federativas.
2. No tocante às disposições relativas às matérias que corres-
Artigo 27 - Suspensão de garantias pondem à competência das entidades componentes da federação,
1. Em caso de guerra, de perigo público, ou de outra emer- o governo nacional deve tomar imediatamente as medidas perti-
gência que ameace a independência ou segurança do Estado-par- nentes, em conformidade com sua Constituição e com suas leis,
te, este poderá adotar as disposições que, na medida e pelo tempo a fim de que as autoridades competentes das referidas entidades
estritamente limitados às exigências da situação, suspendam as possam adotar as disposições cabíveis para o cumprimento desta
obrigações contraídas em virtude desta Convenção, desde que tais Convenção.
disposições não sejam incompatíveis com as demais obrigações Enfim, o máximo que é possível para a União é alertar as
que lhe impõe o Direito Internacional e não encerrem discrimina- suas unidades federativas para que elas tomem providências para
ção alguma fundada em motivos de raça, cor, sexo, idioma, reli- o cumprimento das normas convencionadas internacionalmente.
gião ou origem social. 3. Quando dois ou mais Estados-partes decidirem constituir
A limitações de direitos humanos é permitida, mas não é pos- entre eles uma federação ou outro tipo de associação, diligencia-
sível que ela viole premissas ligadas à dignidade humana, como rão no sentido de que o pacto comunitário respectivo contenha
raça, cor, sexo, idioma, religião. Por exemplo, na situação descrita as disposições necessárias para que continuem sendo efetivas no
no artigo seria aceitável autorizar trabalhos forçados compatíveis novo Estado, assim organizado, as normas da presente Conven-
com a dignidade humana. ção.
2. A disposição precedente não autoriza a suspensão dos di- É possível que Estados-partes firmem entre si tratados espe-
reitos determinados nos seguintes artigos: 3 (direito ao reconhe- cíficos, caso em que deverão se atentar para as normas da Con-
cimento da personalidade jurídica), 4 (direito à vida), 5 (direito à venção.

Didatismo e Conhecimento 65
NOÇÕES DE DIREITO
Artigo 29 - Normas de interpretação correspondente”. Logo, a um direito humano conferido à pessoa
Nenhuma disposição da presente Convenção pode ser inter- corresponde o dever de respeito ao arcabouço de direitos conferi-
pretada no sentido de: dos às outras pessoas.
a) permitir a qualquer dos Estados-partes, grupo ou indiví- Considera-se um aspecto da característica da relatividade dos
duo, suprimir o gozo e o exercício dos direitos e liberdades reco- direitos humanos, que não podem ser utilizados como um escudo
nhecidos na Convenção ou limitá-los em maior medida do que a para práticas ilícitas ou como argumento para afastamento ou di-
nela prevista; minuição da responsabilidade por atos ilícitos. Assim, os direitos
b) limitar o gozo e exercício de qualquer direito ou liberdade humanos não são ilimitados e encontram seus limites nos demais
que possam ser reconhecidos em virtude de leis de qualquer dos direitos igualmente consagrados como humanos.
Estados-partes ou em virtude de Convenções em que seja parte um
dos referidos Estados; PARTE II - MEIOS DE PROTEÇÃO
c) excluir outros direitos e garantias que são inerentes ao ser
humano ou que decorrem da forma democrática representativa de A segunda parte da Convenção analisa os meios de proteção
governo; aos direitos humanos que deverão ser garantidos, criando a Comis-
d) excluir ou limitar o efeito que possam produzir a Decla- são Interamericana de Direitos Humanos e a Corte Interamericana
ração Americana dos Direitos e Deveres do Homem e outros atos de Direitos Humanos. Assim, “a Convenção Americana estabelece
internacionais da mesma natureza. um aparato de monitoramento e implementação dos direitos que
A Convenção não pode ser usada para contrariar os preceitos enuncia. Esse aparato é integrado pela Comissão Interamericana
que ela visa proteger, para permitir a violação de direitos humanos de Direitos Humanos e pela Corte Interamericana”126.
fundamentais consagrados.
Capítulo VI - ÓRGÃOS COMPETENTES
Artigo 30 - Alcance das restrições
As restrições permitidas, de acordo com esta Convenção, ao Artigo 33 - São competentes para conhecer de assuntos rela-
gozo e exercício dos direitos e liberdades nela reconhecidos, não cionados com o cumprimento dos compromissos assumidos pelos
podem ser aplicadas senão de acordo com leis que forem promul-
Estados-partes nesta Convenção:
gadas por motivo de interesse geral e com o propósito para o qual
a) a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, dora-
houverem sido estabelecidas.
vante denominada a Comissão; e
No decorrer da Convenção são reconhecidos vários casos em
b) a Corte Interamericana de Direitos Humanos, doravante
que é possível limitar direitos humanos, mas sempre é preciso ter
denominada a Corte.
em mente o interesse da coletividade e a finalidade pelas quais
Estes dois órgãos ficam, então, vinculados à OEA e são os res-
foram aceitas.
ponsáveis pela implementação no plano do continente americano
dos direitos humanos garantidos na Convenção.
Artigo 31 - Reconhecimento de outros direitos
Poderão ser incluídos, no regime de proteção desta Conven-
ção, outros direitos e liberdades que forem reconhecidos de acor- Capítulo VII - COMISSÃO INTERAMERICANA DE DI-
do com os processos estabelecidos nos artigo 69 e 70. REITOS HUMANOS
As sentenças da corte trazem direitos e liberdades por ela re-
conhecidos e que deverão ser cumpridos pelo Estado-parte a qual Seção 1 - Organização
se referem.
Artigo 34 - A Comissão Interamericana de Direitos Humanos
Capítulo V - DEVERES DAS PESSOAS compor-se-á de sete membros, que deverão ser pessoas de alta
autoridade moral e de reconhecido saber em matéria de direitos
Artigo 32 - Correlação entre deveres e direitos humanos.
1. Toda pessoa tem deveres para com a família, a comunidade Alta autoridade moral e reconhecido saber em matéria de di-
e a humanidade. reitos humanos são conceitos subjetivos. Nota-se que não é exigi-
2. Os direitos de cada pessoa são limitados pelos direitos dos da formação em Direito.
demais, pela segurança de todos e pelas justas exigências do bem
comum, em uma sociedade democrática. Artigo 35 - A Comissão representa todos os Membros da Or-
Explica Canotilho125 quanto aos direitos fundamentais, mas o ganização dos Estados Americanos.
mesmo vale para os direitos humanos: “a ideia de deveres fun- Logo, a representatividade dos Estados perante a Comissão
damentais é suscetível de ser entendida como o ‘outro lado’ dos não é direta. São eleitos 7 representantes que manifestarão o ide-
direitos fundamentais. Como ao titular de um direito fundamental ário de toda a organização na matéria que é de sua competência.
corresponde um dever por parte de um outro titular, poder-se-ia
dizer que o particular está vinculado aos direitos fundamentais Artigo 36 - 1. Os membros da Comissão serão eleitos a tí-
como destinatário de um dever fundamental. Neste sentido, um tulo pessoal, pela Assembleia Geral da Organização, a partir de
direito fundamental, enquanto protegido, pressuporia um dever uma lista de candidatos propostos pelos governos dos Estados-
125 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito -membros.
constitucional e teoria da constituição. 2. ed. Coimbra: Almedina, 126 PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito
1998. constitucional internacional. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.

Didatismo e Conhecimento 66
NOÇÕES DE DIREITO
2. Cada um dos referidos governos pode propor até três can- a) estimular a consciência dos direitos humanos nos povos
didatos, nacionais do Estado que os propuser ou de qualquer da América;
outro Estado-membro da Organização dos Estados Americanos. b) formular recomendações aos governos dos Estados-mem-
Quando for proposta uma lista de três candidatos, pelo menos um bros, quando considerar conveniente, no sentido de que adotem
deles deverá ser nacional de Estado diferente do proponente. medidas progressivas em prol dos direitos humanos no âmbito
Cada Estado-membro pode apresentar uma lista com três can- de suas leis internas e seus preceitos constitucionais, bem como
didatos e, possuindo este número, um deles deverá ser de outra disposições apropriadas para promover o devido respeito a esses
nacionalidade. direitos;
c) preparar estudos ou relatórios que considerar convenien-
Artigo 37 - 1. Os membros da Comissão serão eleitos por tes para o desempenho de suas funções;
quatro anos e só poderão ser reeleitos um vez, porém o mandato d) solicitar aos governos dos Estados-membros que lhe pro-
porcionem informações sobre as medidas que adotarem em maté-
de três dos membros designados na primeira eleição expirará ao
ria de direitos humanos;
cabo de dois anos. Logo depois da referida eleição, serão deter-
e) atender às consultas que, por meio da Secretaria Geral da
minados por sorteio, na Assembleia Geral, os nomes desses três Organização dos Estados Americanos, lhe formularem os Estados-
membros. -membros sobre questões relacionadas com os direitos humanos e,
2. Não pode fazer parte da Comissão mais de um nacional de dentro de suas possibilidades, prestar-lhes o assessoramento que
um mesmo país. lhes solicitarem;
O mandato é de 4 anos, aceita uma reeleição. f) atuar com respeito às petições e outras comunicações, no
Não é permitido que dois nacionais do mesmo país compo- exercício de sua autoridade, de conformidade com o disposto nos
nham a Comissão. artigos 44 a 51 desta Convenção; e
g) apresentar um relatório anual à Assembleia Geral da Or-
Artigo 38 - As vagas que ocorrerem na Comissão, que não se ganização dos Estados Americanos.
devam à expiração normal do mandato, serão preenchidas pelo O artigo 41 permite uma compreensão clara a respeito das
Conselho Permanente da Organização, de acordo com o que dis- funções da Comissão: fomentar a consciência do dever de respeito
puser o Estatuto da Comissão. aos direitos humanos, formular recomendações a Estados-mem-
O Conselho Permanente da Organização preencherá as vagas bros que estejam violando a Convenção, além de atender a consul-
que surjam por motivos diversos de fim de mandato, por exemplo, tas que estes façam, podendo redigir estudos e relatórios e solicitar
morte ou renúncia do membro da Comissão. informações para tanto. Também deverá apresentar relatório anual
sobre sua atuação.
Artigo 39 - A Comissão elaborará seu estatuto e submetê-lo-á
Artigo 42 - Os Estados-partes devem submeter à Comissão
à aprovação da Assembleia Geral e expedirá seu próprio Regu- cópia dos relatórios e estudos que, em seus respectivos campos,
lamento. submetem anualmente às Comissões Executivas do Conselho In-
O regulamento da Comissão discrimina como se dá a sua atua- teramericano Econômico e Social e do Conselho Interamericano
ção em detalhes. Por sua vez, o Estatuto da Comissão foi aprovado de Educação, Ciência e Cultura, a fim de que aquela zele para que
pela resolução AG/RES. 447 (IX-O/79), adotada pela Assembleia se promovam os direitos decorrentes das normas econômicas, so-
Geral da OEA, em seu Nono Período Ordinário de Sessões, re- ciais e sobre educação, ciência e cultura, constantes da Carta da
alizado em La Paz, Bolívia, em outubro de 1979. Nota-se que o Organização dos Estados Americanos, reformada pelo Protocolo
Regulamento não passa pelo crivo da Assembleia, mas somente o de Buenos Aires.
Estatuto. isto é coerente porque enquanto o Regulamento é mais Ambas Comissões em referência fazem parte da Organização
formal, tratando de questões ligadas ao modo de atuação da Co- dos Estados Americanos. A elas são submetidos relatórios e estu-
missão, o Estatuto é mais profundo, trazendo princípios e finalida- dos, os quais devem ser também enviados à Comissão em estudo,
des que regem a Comissão. para que ela desempenhe adequadamente suas funções.

Artigo 40 - Os serviços da Secretaria da Comissão devem ser Artigo 43 - Os Estados-partes obrigam-se a proporcionar à
desempenhados pela unidade funcional especializada que faz par- Comissão as informações que esta lhes solicitar sobre a manei-
te da Secretaria Geral da Organização e deve dispor dos recursos ra pela qual seu direito interno assegura a aplicação efetiva de
quaisquer disposições desta Convenção.
necessários para cumprir as tarefas que lhe forem confiadas pela
A Comissão precisa de tais informações para decidir os ca-
Comissão.
sos que lhe sejam submetidos, por exemplo, para recomendar uma
Secretarias são órgãos administrativos e burocráticos que ampliação na proteção de forma que as violações não mais acon-
mantém o funcionamento da instituição principal. Não há uma se- teçam.
cretaria específica para a Comissão, que se utiliza da secretaria da
OEA. Seção 3 - Competência

Seção 2 - Funções Artigo 44 - Qualquer pessoa ou grupo de pessoas, ou enti-


dade não-governamental legalmente reconhecida em um ou mais
Artigo 41 - A Comissão tem a função principal de promover a Estados-membros da Organização, pode apresentar à Comissão
observância e a defesa dos direitos humanos e, no exercício de seu petições que contenham denúncias ou queixas de violação desta
mandato, tem as seguintes funções e atribuições: Convenção por um Estado-parte.

Didatismo e Conhecimento 67
NOÇÕES DE DIREITO
Atenção: qualquer pessoa ou grupo de pessoas pode represen- um prazo de 6 meses, que não esteja pendente outra busca de so-
tar! Esta pergunta é frequente em concursos. lução internacional e identificação da pessoa ou grupo de pessoas
ou entidade não-governamental (se for o caso). Dispensa-se o es-
Artigo 45 - 1. Todo Estado-parte pode, no momento do de- gotamento de recursos e a consequente passagem de 6 meses como
pósito do seu instrumento de ratificação desta Convenção, ou de prazo quando não existir normas de proteção ao devido processo
adesão a ela, ou em qualquer momento posterior, declarar que legal no Estado, quando tiver sido impedido ou dificultado o aces-
reconhece a competência da Comissão para receber e examinar so ao Judiciário no país ou quando houver demora sem motivos
as comunicações em que um Estado-parte alegue haver outro para o processamento interno.
Estado-parte incorrido em violações dos direitos humanos estabe-
lecidos nesta Convenção. Artigo 47 - A Comissão declarará inadmissível toda petição
2. As comunicações feitas em virtude deste artigo só podem ou comunicação apresentada de acordo com os artigos 44 ou 45
ser admitidas e examinadas se forem apresentadas por um Estado- quando:
-parte que haja feito uma declaração pela qual reconheça a refe- a) não preencher algum dos requisitos estabelecidos no artigo 46;
rida competência da Comissão. A Comissão não admitirá nenhu-
b) não expuser fatos que caracterizem violação dos direitos
ma comunicação contra um Estado-parte que não haja feito tal
garantidos por esta Convenção;
declaração.
c) pela exposição do próprio peticionário ou do Estado, for
3. As declarações sobre reconhecimento de competência po-
dem ser feitas para que esta vigore por tempo indefinido, por perí- manifestamente infundada a petição ou comunicação ou for evi-
odo determinado ou para casos específicos. dente sua total improcedência; ou
4. As declarações serão depositadas na Secretaria Geral da d) for substancialmente reprodução de petição ou comunica-
Organização dos Estados Americanos, a qual encaminhará cópia ção anterior, já examinada pela Comissão ou por outro organis-
das mesmas aos Estados-membros da referida Organização. mo internacional.
Seja no momento de depósito da ratificação, seja posterior- A Comissão fará um exame prévio da petição ou comunicação
mente, o Estado-parte pode reconhecer a competência da Comis- para decidir se irá processá-la ou arquivá-la, no qual são avaliados
são para receber e examinar comunicações de um Estado-parte a os requisitos acima.
respeito de outro Estado-parte que tenha cometido violações. Se
não reconhecê-la, não poderá apresentar comunicações neste sen- Seção 4 - Processo
tido. No entanto, a declaração pode ser feita por tempo determina- Artigo 48 - 1. A Comissão, ao receber uma petição ou co-
do ou para casos específicos, sendo depositada na Secretaria Geral municação na qual se alegue a violação de qualquer dos direitos
da OEA. Somente no caso do artigo 45 que o Estado-parte pode consagrados nesta Convenção, procederá da seguinte maneira:
representar à Comissão. a) se reconhecer a admissibilidade da petição ou comunica-
ção, solicitará informações ao Governo do Estado ao qual perten-
Artigo 46 - Para que uma petição ou comunicação apresenta- ça a autoridade apontada como responsável pela violação alegada
da de acordo com os artigos 44 ou 45 seja admitida pela Comis- e transcreverá as partes pertinentes da petição ou comunicação.
são, será necessário: As referidas informações devem ser enviadas dentro de um prazo
a) que hajam sido interpostos e esgotados os recursos da ju- razoável, fixado pela Comissão ao considerar as circunstâncias
risdição interna, de acordo com os princípios de Direito Interna- de cada caso;
cional geralmente reconhecidos; A comunicação ou petição passou pelo crivo do artigo 47 e
b) que seja apresentada dentro do prazo de seis meses, a par- será processada. O primeiro passo é a solicitação de informações
tir da data em que o presumido prejudicado em seus direitos tenha do governo ao qual pertença a autoridade apontada como respon-
sido notificado da decisão definitiva; sável pela violação, informando o conteúdo da comunicação ou
c) que a matéria da petição ou comunicação não esteja pen-
petição, fixando-se prazo.
dente de outro processo de solução internacional; e
b) recebidas as informações, ou transcorrido o prazo fixado
d) que, no caso do artigo 44, a petição contenha o nome, a
sem que sejam elas recebidas, verificará se existem ou subsistem
nacionalidade, a profissão, o domicílio e a assinatura da pessoa
ou pessoas ou do representante legal da entidade que submeter a os motivos da petição ou comunicação. No caso de não existirem
petição. ou não subsistirem, mandará arquivar o expediente;
2. As disposições das alíneas “a” e “b” do inciso 1 deste c) poderá também declarar a inadmissibilidade ou a impro-
artigo não se aplicarão quando: cedência da petição ou comunicação, com base em informação ou
a) não existir, na legislação interna do Estado de que se tra- prova supervenientes;
tar, o devido processo legal para a proteção do direito ou direitos Recebidas as informações ou transcorrido o prazo decidirá se
que se alegue tenham sido violados; continuará o processamento da petição ou comunicação, arquivan-
b) não se houver permitido ao presumido prejudicado em do-a, decidindo-a pela improcedência ou dando o próximo passo
seus direitos o acesso aos recursos da jurisdição interna, ou hou- para a continuidade.
ver sido ele impedido de esgotá-los; e d) se o expediente não houver sido arquivado, e com o fim de
c) houver demora injustificada na decisão sobre os mencio- comprovar os fatos, a Comissão procederá, com conhecimento das
nados recursos. partes, a um exame do assunto exposto na petição ou comunica-
O artigo 46 é incidente em concursos, trazendo os requisitos ção. Se for necessário e conveniente, a Comissão procederá a uma
para que a petição ou comunicação seja processada pela Comissão: investigação para cuja eficaz realização solicitará, e os Estados
esgotamento de recursos no plano interno, a partir do qual se conta interessados lhe proporcionarão, todas as facilidades necessárias;

Didatismo e Conhecimento 68
NOÇÕES DE DIREITO
Decidido continuar o expediente, produz-se provas. Em três meses o Estado-parte no qual ocorreu a violação deve
e) poderá pedir aos Estados interessados qualquer informa- apresentar uma solução ou levar o caso à Corte Interamericana
ção pertinente e receberá, se isso for solicitado, as exposições ver- de Direitos Humanos, ou se a Comissão não levar o caso à Corte
bais ou escritas que apresentarem os interessados; e reconhecendo sua competência para o julgamento daquele caso, a
Pode, ainda, pedir informações. Comissão poderá emitir sua opinião e conclusões sobre a questão,
f) pôr-se-á à disposição das partes interessadas, a fim de che- num julgamento conclusivo.
gar a uma solução amistosa do assunto, fundada no respeito aos 2. A Comissão fará as recomendações pertinentes e fixará um
direitos reconhecidos nesta Convenção. prazo dentro do qual o Estado deve tomar as medidas que lhe
Deve, ainda, se colocar à disposição para uma solução ami- competir para remediar a situação examinada.
gável. 3. Transcorrido o prazo fixado, a Comissão decidirá, pelo
2. Entretanto, em casos graves e urgentes, pode ser realiza- voto da maioria absoluta dos seus membros, se o Estado tomou
da uma investigação, mediante prévio consentimento do Estado ou não as medidas adequadas e se publica ou não seu relatório.
em cujo território se alegue houver sido cometida a violação, tão Este julgamento conclusivo irá trazer as providências espe-
radas do Estado-parte em certo prazo, após o qual se decidirá se
somente com a apresentação de uma petição ou comunicação que
ele tomou ou não tais medidas assecuratórias num relatório con-
reúna todos os requisitos formais de admissibilidade.
clusivo.
É possível abreviar estas etapas no caso de uma denúncia
grave, procedendo desde logo com a investigação, desde que com
Capítulo VIII - CORTE INTERAMERICANA DE DIREI-
autorização do Estado. TOS HUMANOS
Artigo 49 - Se se houver chegado a uma solução amistosa de Seção 1 - Organização
acordo com as disposições do inciso 1, “f”, do artigo 48, a Comis-
são redigirá um relatório que será encaminhado ao peticionário Artigo 52 - 1. A Corte compor-se-á de sete juízes, nacionais
e aos Estados-partes nesta Convenção e posteriormente transmi- dos Estados-membros da Organização, eleitos a título pessoal
tido, para sua publicação, ao Secretário Geral da Organização dentre juristas da mais alta autoridade moral, de reconhecida
dos Estados Americanos. O referido relatório conterá uma bre- competência em matéria de direitos humanos, que reúnam as
ve exposição dos fatos e da solução alcançada. Se qualquer das condições requeridas para o exercício das mais elevadas funções
partes no caso o solicitar, ser-lhe-á proporcionada a mais ampla judiciais, de acordo com a lei do Estado do qual sejam nacionais,
informação possível. ou do Estado que os propuser como candidatos.
Obtida a conciliação será redigido um relatório, que será en- 2. Não deve haver dois juízes da mesma nacionalidade.
caminhado a todos Estados-partes da Convenção e transmitido ao São 7 os membros, todos de nacionalidade diferente. Cada
Secretário Geral da OEA, contendo uma breve exposição dos fatos qual deve ser nacional de algum Estado-membro da OEA, juris-
e da solução alcançada. ta de alta autoridade moral e reconhecida competência na área,
reunindo condições para exercício das mais elevadas funções judi-
Artigo 50 - 1. Se não se chegar a uma solução, e dentro do ciais conforme requisitos do país pelo qual é indicado. por exem-
prazo que for fixado pelo Estatuto da Comissão, esta redigirá um plo, no Brasil, seria a capacidade de exercer um cargo de ministro
relatório no qual exporá os fatos e suas conclusões. Se o relató- perante os Tribunais Superiores.
rio não representar, no todo ou em parte, o acordo unânime dos
membros da Comissão, qualquer deles poderá agregar ao referido Artigo 53 - 1. Os juízes da Corte serão eleitos, em votação
relatório seu voto em separado. Também se agregarão ao relatório secreta e pelo voto da maioria absoluta dos Estados-partes na
as exposições verbais ou escritas que houverem sido feitas pelos Convenção, na Assembleia Geral da Organização, a partir de uma
lista de candidatos propostos pelos mesmos Estados.
interessados em virtude do inciso 1, “e”, do artigo 48.
Haverá uma eleição com voto secreto, exigido quórum de
2. O relatório será encaminhado aos Estados interessados,
maioria absoluta (mais da metade de todos Estados-partes da Con-
aos quais não será facultado publicá-lo.
venção).
3. Ao encaminhar o relatório, a Comissão pode formular as
2. Cada um dos Estados-partes pode propor até três candi-
proposições e recomendações que julgar adequadas. datos, nacionais do Estado que os propuser ou de qualquer outro
Não obtida a conciliação, será expedido um relatório, no qual Estado-membro da Organização dos Estados Americanos. Quan-
se decidirá se houve de fato violação de direitos humanos e serão do se propuser um lista de três candidatos, pelo menos um deles
formuladas proposições e recomendações, se o caso. A ele serão deverá ser nacional do Estado diferente do proponente.
agregados eventuais votos dissidentes e exposições dos interessa- Regra idêntica à da Comissão.
dos.
Artigo 54 - 1. Os juízes da Corte serão eleitos por um período
Artigo 51 - 1. Se no prazo de três meses, a partir da remessa de seis anos e só poderão ser reeleitos uma vez. O mandato de três
aos Estados interessados do relatório da Comissão, o assunto não dos juízes designados na primeira eleição expirará ao cabo de três
houver sido solucionado ou submetido à decisão da Corte pela anos. Imediatamente depois da referida eleição, determinar-se-ão
Comissão ou pelo Estado interessado, aceitando sua competência, por sorteio, na Assembleia Geral, os nomes desse três juízes.
a Comissão poderá emitir, pelo voto da maioria absoluta dos seus Mandato de 6 anos, aceita uma reeleição.
membros, sua opinião e conclusões sobre a questão submetida à 2. O juiz eleito para substituir outro, cujo mandato não haja
sua consideração. expirado, completará o período deste.

Didatismo e Conhecimento 69
NOÇÕES DE DIREITO
3. Os juízes permanecerão em suas funções até o término dos Diferente da Comissão, a Corte possui uma secretaria especí-
seus mandatos. Entretanto, continuarão funcionando nos casos de fica, a qual será dirigida pelo Secretário geral da OEA, que nome-
que já houverem tomado conhecimento e que se encontrem em fase ará funcionários após consultado o Secretário da Corte, respeitada
de sentença e, para tais efeitos, não serão substituídos pelos novos sempre a independência da Corte.
juízes eleitos.
Mesmo após o mandato de 6 anos, independente de reeleição, Artigo 60 - A Corte elaborará seu Estatuto e submetê-lo-á à
os juízes continuarão julgando os casos que estiverem sendo pro- aprovação da Assembleia Geral e expedirá seu Regimento.
cessados perante eles. Foi aprovado pela resolução AG/RES n° 448 (IX-O/79), ado-
tada pela Assembleia Geral da OEA, em seu Nono Período Ordi-
Artigo 55 - 1. O juiz, que for nacional de algum dos Estados- nário de Sessões, realizado em La Paz, Bolívia, outubro de 1979.
-partes em caso submetido à Corte, conservará o seu direito de
conhecer do mesmo. Seção 2 - Competência e funções
2. Se um dos juízes chamados a conhecer do caso for de na-
cionalidade de um dos Estados-partes, outro Estado-parte no caso Artigo 61 - 1. Somente os Estados-partes e a Comissão têm
poderá designar uma pessoa de sua escolha para integrar a Corte,
direito de submeter um caso à decisão da Corte.
na qualidade de juiz ad hoc.
2. Para que a Corte possa conhecer de qualquer caso, é ne-
3. Se, dentre os juízes chamados a conhecer do caso, nenhum
cessário que sejam esgotados os processos previstos nos artigos
for da nacionalidade dos Estados-partes, cada um destes poderá
designar um juiz ad hoc. 48 a 50.
4. O juiz ad hoc deve reunir os requisitos indicados no artigo 52. Atenção: diferente do que ocorre nas Comissões, não é qual-
5. Se vários Estados-partes na Convenção tiverem o mesmo quer pessoa que pode submeter um caso à Corte, mas somente
interesse no caso, serão considerados como uma só parte, para Estados-partes e a própria Comissão.
os fins das disposições anteriores. Em caso de dúvida, a Corte
decidirá. Artigo 62 - 1. Todo Estado-parte pode, no momento do de-
Se algum juiz do caso foi nacional de um dos Estados-parte pósito do seu instrumento de ratificação desta Convenção ou de
não precisará se afastar, mas o seu país não poderá indicar um juiz adesão a ela, ou em qualquer momento posterior, declarar que
ad hoc. Quando não for nacional, ambos Estados-partes poderão reconhece como obrigatória, de pleno direito e sem convenção
indicar o juiz ad hoc, mas se forem muitos os Estados-partes com especial, a competência da Corte em todos os casos relativos à
o mesmo interesse eles serão considerados como uma única parte interpretação ou aplicação desta Convenção.
(indicando um só juiz ad hoc). 2. A declaração pode ser feita incondicionalmente, ou sob
condição de reciprocidade, por prazo determinado ou para casos
Artigo 56 - O quorum para as deliberações da Corte é cons- específicos. Deverá ser apresentada ao Secretário Geral da Or-
tituído por cinco juízes. ganização, que encaminhará cópias da mesma a outros Estados-
Ao menos 5 juízes da Corte devem participar da decisão. -membros da Organização e ao Secretário da Corte.
3. A Corte tem competência para conhecer de qualquer caso,
Artigo 57 - A Comissão comparecerá em todos os casos pe- relativo à interpretação e aplicação das disposições desta Con-
rante a Corte. venção, que lhe seja submetido, desde que os Estados-partes no
Ainda que a Comissão não leve o caso à Corte, sempre será caso tenham reconhecido ou reconheçam a referida competência,
ouvida. seja por declaração especial, como prevêem os incisos anteriores,
seja por convenção especial.
Artigo 58 - 1. A Corte terá sua sede no lugar que for determi- No momento do depósito do instrumento de ratificação ou
nado, na Assembleia Geral da Organização, pelos Estados-partes posteriormente o Estado-parte pode reconhecer como obrigatória
na Convenção, mas poderá realizar reuniões no território de qual-
a competência da Corte, de maneira condicionada ou incondicio-
quer Estado-membro da Organização dos Estados Americanos em
nada - é a chamada declaração especial. Por convenção especial
que considerar conveniente, pela maioria dos seus membros e
entende-se um tipo de tratado internacional com este fim. É preci-
mediante prévia aquiescência do Estado respectivo. Os Estados-
-partes na Convenção podem, na Assembleia Geral, por dois ter- so ao menos uma das duas para que a Corte possa apreciar o caso
ços dos seus votos, mudar a sede da Corte. relativo ao Estado-parte.
2. A Corte designará seu Secretário.
3. O Secretário residirá na sede da Corte e deverá assistir às Artigo 63 - 1. Quando decidir que houve violação de um direi-
reuniões que ela realizar fora da mesma. to ou liberdade protegidos nesta Convenção, a Corte determinará
A sede da Corte fica em São José, na Costa Rica. podendo que se assegure ao prejudicado o gozo do seu direito ou liberdade
realizar reuniões em outras localidades. Somente o secretário obri- violados. Determinará também, se isso for procedente, que sejam
gatoriamente residirá na sede. reparadas as consequências da medida ou situação que haja con-
figurado a violação desses direitos, bem como o pagamento de
Artigo 59 - A Secretaria da Corte será por esta estabelecida e indenização justa à parte lesada.
funcionará sob a direção do Secretário Geral da Organização em O artigo resume neste inciso as providências que a Corte pode
tudo o que não for incompatível com a independência da Corte. determinar, basicamente: que seja assegurado o direito ou liberda-
Seus funcionários serão nomeados pelo Secretário Geral da Or- de violado e, se o caso, que sejam reparadas as consequências da
ganização, em consulta com o Secretário da Corte. violação, além do pagamento de indenização ao lesado.

Didatismo e Conhecimento 70
NOÇÕES DE DIREITO
2. Em casos de extrema gravidade e urgência, e quando se Artigo 68 - 1. Os Estados-partes na Convenção comprome-
fizer necessário evitar danos irreparáveis às pessoas, a Corte, nos tem-se a cumprir a decisão da Corte em todo caso em que forem
assuntos de que estiver conhecendo, poderá tomar as medidas partes.
provisórias que considerar pertinentes. Se se tratar de assuntos 2. A parte da sentença que determinar indenização compensa-
que ainda não estiverem submetidos ao seu conhecimento, poderá tória poderá ser executada no país respectivo pelo processo inter-
atuar a pedido da Comissão. no vigente para a execução de sentenças contra o Estado.
Mesmo antes do final do julgamento a Corte pode tomar pro- A decisão da Corte deverá ser cumprida pelos Estados-partes,
vidências provisórias. Também pode intervir quando o caso ainda sob pena de sanção internacional.
estiver na Comissão, desde que esta requeira. Eventual indenização a ser paga pelo Estado-parte será pro-
cessada conforme as normas de execução internas, logo, a senten-
Artigo 64 - 1. Os Estados-membros da Organização poderão ça é título executivo.
consultar a Corte sobre a interpretação desta Convenção ou de
outros tratados concernentes à proteção dos direitos humanos nos Artigo 69 - A sentença da Corte deve ser notificada às partes
Estados americanos. Também poderão consultá-la, no que lhes no caso e transmitida aos Estados-partes na Convenção.
compete, os órgãos enumerados no capítulo X da Carta da Or- Assim é conferida publicidade à sentença não só quanto aos
ganização dos Estados Americanos, reformada pelo Protocolo de envolvidos, mas quanto a todos Estados-partes, que ficarão cientes
do posicionamento da Corte em relação a certa matéria, podendo
Buenos Aires.
eventualmente corrigir alguma postura interna.
Trata-se da competência consultiva da Corte. Afinal, a Corte
não serve apenas para julgar litígios, mas para aconselhar e di-
Capítulo IX - DISPOSIÇÕES COMUNS
recionar o cumprimento das normas de direitos humanos, o que
inclui fazer interpretações que esclareçam dúvidas dos Estados- Artigo 70 - 1. Os juízes da Corte e os membros da Comis-
-membros. Obs.: A Comissão também possui competência consul- são gozam, desde o momento da eleição e enquanto durar o seu
tiva. mandato, das imunidades reconhecidas aos agentes diplomáticos
2. A Corte, a pedido de um Estado-membro da Organização, pelo Direito Internacional. Durante o exercício dos seus cargos
poderá emitir pareceres sobre a compatibilidade entre qualquer gozam, além disso, dos privilégios diplomáticos necessários para
de suas leis internas e os mencionados instrumentos internacio- o desempenho de suas funções.
nais. 2. Não se poderá exigir responsabilidade em tempo algum dos
Esta é uma das situações em que a Corte poderá emitir parecer juízes da Corte, nem dos membros da Comissão, por votos e opini-
no exercício da competência consultiva. ões emitidos no exercício de suas funções.
As imunidades diplomáticas no curso do mandato são confe-
Artigo 65 - A Corte submeterá à consideração da Assembleia ridas aos juízes da Comissão e da Corte.
Geral da Organização, em cada período ordinário de sessões, um Estes juízes não poderão ser responsabilizados por seus votos
relatório sobre as suas atividades no ano anterior. De maneira e opiniões, o que influenciaria na independência com a qual devem
especial, e com as recomendações pertinentes, indicará os casos atuar em suas funções.
em que um Estado não tenha dado cumprimento a suas sentenças.
O artigo especifica quando e como a Corte deverá apresentar Artigo 71 - Os cargos de juiz da Corte ou de membro da
relatório de suas atividades: ele é anual e informa as recomenda- Comissão são incompatíveis com outras atividades que possam
ções feitas e as medidas que tenham sido ou não cumpridas. afetar sua independência ou imparcialidade, conforme o que for
determinado nos respectivos Estatutos.
Seção 3 - Processo O juiz não pode assumir obrigações incompatíveis com o car-
go que exerce. Por exemplo, ministro de Estado num dos Estados-
Artigo 66 - 1. A sentença da Corte deve ser fundamentada. -partes da Convenção.
A Corte deve justificar sua decisão, referindo-se às provas dos
Artigo 72 - Os juízes da Corte e os membros da Comissão
autos e às normas de direitos humanos vigentes.
perceberão honorários e despesas de viagem na forma e nas con-
2. Se a sentença não expressar no todo ou em parte a opinião
dições que determinarem os seus Estatutos, levando em conta a
unânime dos juízes, qualquer deles terá direito a que se agregue à
importância e independência de suas funções. Tais honorários e
sentença o seu voto dissidente ou individual. despesas de viagem serão fixados no orçamento-programa da Or-
Se o voto não for unânime, ou seja, o mesmo para todos, o ganização dos Estados Americanos, no qual devem ser incluídas,
voto dissidente ou diverso será juntado à sentença e não ignorado. além disso, as despesas da Corte e da sua Secretaria. Para tais
efeitos, a Corte elaborará o seu próprio projeto de orçamento e
Artigo 67 - A sentença da Corte será definitiva e inapelável. submetê-lo-á à aprovação da Assembleia Geral, por intermédio
Em caso de divergência sobre o sentido ou alcance da sentença, a da Secretaria Geral. Esta última não poderá nele introduzir mo-
Corte interpretá-la-á, a pedido de qualquer das partes, desde que dificações.
o pedido seja apresentado dentro de noventa dias a partir da data O artigo abrange o custeio dos juízes.
da notificação da sentença.
A sentença é definitiva e inapelável, ou seja, não é possível Artigo 73 - Somente por solicitação da Comissão ou da Corte,
interpor recurso para nenhum órgão, nem mesmo a Assembleia conforme o caso, cabe à Assembleia Geral da Organização resol-
Geral da OEA. No máximo, é possível pedir em até 90 dias escla- ver sobre as sanções aplicáveis aos membros da Comissão ou aos
recimentos sobre o seu conteúdo. juízes da Corte que incorrerem nos casos previstos nos respectivos

Didatismo e Conhecimento 71
NOÇÕES DE DIREITO
Estatutos. Para expedir uma resolução, será necessária maioria Artigo 77 - 1. De acordo com a faculdade estabelecida no
de dois terços dos votos dos Estados-membros da Organização, artigo 31, qualquer Estado-parte e a Comissão podem submeter à
no caso dos membros da Comissão; e, além disso, de dois terços consideração dos Estados-partes reunidos por ocasião da Assem-
dos votos dos Estados-partes na Convenção, se se tratar dos juízes bleia Geral projetos de Protocolos adicionais a esta Convenção,
da Corte. com a finalidade de incluir progressivamente, no regime de prote-
Somente o órgão ao qual o juiz pertence - Comissão ou Corte ção da mesma, outros direitos e liberdades.
- poderá requerer à Assembleia Geral a aplicação de sanção por 2. Cada Protocolo deve estabelecer as modalidades de sua
violação do respectivo estatuto. Tal sanção será aplicada mediante entrada em vigor e será aplicado somente entre os Estados-partes
resolução, exigindo-se quorum de 2/3 (qualificado) dos Estados- no mesmo.
-membros para os juízes da Corte e dos Estados-partes da Conven- Os Estados-partes podem propor alterações ou complementa-
ção para os juízes da Comissão. ções à Convenção, seja ao seu texto, seja por protocolos comple-
mentares, sendo necessária a adesão dos demais Estados-partes.
PARTE III - DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS
Capítulo X - ASSINATURA, RATIFICAÇÃO, RESERVA, Artigo 78 - 1. Os Estados-partes poderão denunciar esta Con-
EMENDA, PROTOCOLO E DENÚNCIA venção depois de expirado o prazo de cinco anos, a partir da data
em vigor da mesma e mediante aviso prévio de um ano, notifican-
Artigo 74 - 1. Esta Convenção está aberta à assinatura e à do o Secretário Geral da Organização, o qual deve informar as
ratificação de todos os Estados-membros da Organização dos Es- outras partes.
tados Americanos. 2. Tal denúncia não terá o efeito de desligar o Estado-parte
2. A ratificação desta Convenção ou a adesão a ela efetuar- interessado das obrigações contidas nesta Convenção, no que diz
-se-á mediante depósito de um instrumento de ratificação ou ade- respeito a qualquer ato que, podendo constituir violação dessas
são na Secretaria Geral da Organização dos Estados Americanos. obrigações, houver sido cometido por ele anteriormente à data na
Esta Convenção entrará em vigor logo que onze Estados houve- qual a denúncia produzir efeito.
rem depositado os seus respectivos instrumentos de ratificação ou A denúncia é o ato unilateral pelo qual uma Parte Contratante
de adesão. Com referência a qualquer outro Estado que a ratificar manifesta a sua vontade de deixar de ser Parte no tratado. Abrange
ou que a ela aderir ulteriormente, a Convenção entrará em vigor somente os atos posteriores a ela, não os anteriores.
na data do depósito do seu instrumento de ratificação ou adesão.
3. O Secretário Geral comunicará todos os Estados-membros Capítulo XI - DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS
da Organização sobre a entrada em vigor da Convenção.
A Convenção é um tratado internacional firmado no âmbito Seção 1 - Comissão Interamericana de Direitos Humanos
da Organização dos Estados Americanos, somente podendo ser
assinado e ratificado por Estados que a compõem. Assinatura e Artigo 79 - Ao entrar em vigor esta Convenção, o Secretário
ratificação são dois atos diferentes: a assinatura é o ato pelo qual Geral pedirá por escrito a cada Estado-membro da Organização
a autoridade competente assume o compromisso de cumprir o tra- que apresente, dentro de um prazo de noventa dias, seus candida-
tado internacional que se segue à negociação; ratificação é a con- tos a membro da Comissão Interamericana de Direitos Humanos.
firmação deste compromisso após o crivo do Poder Legislativo do O Secretário Geral preparará uma lista por ordem alfabética dos
Estado mediante o depósito do instrumento na Secretaria Geral. candidatos apresentados e a encaminhará aos Estados-membros
A convenção entrou em vigor em 18 de julho de 1978, quando da Organização, pelo menos trinta dias antes da Assembleia Geral
onze Estados já haviam depositado o instrumento de adesão. seguinte.

Artigo 75 - Esta Convenção só pode ser objeto de reservas em Artigo 80 - A eleição dos membros da Comissão far-se-á den-
conformidade com as disposições da Convenção de Viena sobre o tre os candidatos que figurem na lista a que se refere o artigo 79,
Direito dos Tratados, assinada em 23 de maio de 1969. por votação secreta da Assembleia Geral, e serão declarados elei-
A Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados (CVDT), tos os candidatos que obtiverem maior número de votos e a maio-
adotada em 22 de maio de 1969, codificou o direito internacional ria absoluta dos votos dos representantes dos Estados-membros.
consuetudinário referente aos tratados. A Convenção entrou em vi- Se, para eleger todos os membros da Comissão, for necessário
gor em 27 de janeiro de 1980. realizar várias votações, serão eliminados sucessivamente, na for-
ma que for determinada pela Assembleia Geral, os candidatos que
Artigo 76 - 1. Qualquer Estado-parte, diretamente, e a Co- receberem maior número de votos.
missão e a Corte, por intermédio do Secretário Geral, podem
submeter à Assembleia Geral, para o que julgarem conveniente, Seção 2 - Corte Interamericana de Direitos Humanos
proposta de emendas a esta Convenção.
2. Tais emendas entrarão em vigor para os Estados que as ra- Artigo 81 - Ao entrar em vigor esta Convenção, o Secretá-
tificarem, na data em que houver sido depositado o respectivo ins- rio Geral pedirá a cada Estado-parte que apresente, dentro de
trumento de ratificação, por dois terços dos Estados-partes nesta um prazo de noventa dias, seus candidatos a juiz da Corte Inte-
Convenção. Quanto aos outros Estados-partes, entrarão em vigor ramericana de Direitos Humanos. O Secretário Geral preparará
na data em que eles depositarem os seus respectivos instrumentos uma lista por ordem alfabética dos candidatos apresentados e a
de ratificação. encaminhará aos Estados-partes pelo menos trinta dias antes da
Assembleia Geral seguinte.

Didatismo e Conhecimento 72
NOÇÕES DE DIREITO
Artigo 82 - A eleição dos juízes da Corte far-se-á dentre os d) o relativismo cultural, a indivisibilidade e a interdependên-
candidatos que figurem na lista a que se refere o artigo 81, por cia dos direitos humanos, conferindo primazia aos direitos econô-
votação secreta dos Estados-partes, na Assembleia Geral, e serão micos, sociais e culturais, como condição ao exercício dos direitos
declarados eleitos os candidatos que obtiverem o maior número de civis e políticos.
votos e a maioria absoluta dos votos dos representantes dos Esta- e) a universalidade, a indivisibilidade e a interdependência
dos-partes. Se, para eleger todos os juízes da Corte, for necessário dos direitos humanos, conferindo primazia aos direitos econômi-
realizar várias votações, serão eliminados sucessivamente, na for- cos, sociais e culturais, como condição ao exercício dos direitos
ma que for determinada pelos Estados-partes, os candidatos que civis e políticos.
receberem menor número de votos. R: B. A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948
Os artigos 79 a 82 trazem as regras para a formação dos dois reconhece todos os direitos humanos, sejam eles da primeira, da
órgãos criados pela Convenção, a Comissão Interamericana de Di- segunda ou da terceira dimensão, como essenciais à dignidade
reitos Humanos e a Corte Interamericana de Direitos Humanos. humana. Logo, não há primazia entre eles. No mais, de fato, di-
reitos humanos são dotados de universalidade (valem para todos
Adotada e aberta à assinatura na Conferência Especializada seres humanos, garantindo-se um sistema global), indivisibilidade
Interamericana sobre Direitos Humanos, em San José de Costa (compõem um único conjunto de direitos porque não podem ser
Rica, em 22.11.1969 - ratificada pelo Brasil em 25.09.1992. analisados de maneira isolada, separada) e interdependência (as
dimensões de direitos humanos apresentam uma relação orgâni-
EXERCÍCIOS ca entre si, logo, a dignidade da pessoa humana deve ser buscada
por meio da implementação mais eficaz e uniforme das liberda-
1. (ESAF - 2012 - CGU - Analista de Finanças e Controle - des clássicas, dos direitos sociais, econômicos e de solidariedade
Prevenção da Corrupção e Ouvidoria) Marque a opção incorreta: como um todo único e indissolúvel).
a) os Fundamentos e Princípios dos Direitos Humanos têm
como finalidade a observância e proteção da dignidade da pessoa 3. (FGV - 2011 - OAB) Com relação aos chamados “direitos
humana de maneira universal. econômicos, sociais e culturais”, é correto afirmar que:
b) Direitos Humanos, Direitos Fundamentais e Direitos do a) são direitos humanos de segunda geração, o que significa
Homem não possuem o mesmo significado. Assim, a primeira no- que não são juridicamente exigíveis, diferentemente do que ocorre
menclatura surgida foi a dos Direitos Fundamentais, a qual remon- com os direitos civis e políticos.
ta a época do jusnaturalismo. 
b) são previstos, no âmbito do sistema interamericano, no
c) a concepção contemporânea de Direitos Humanos destaca
texto original da Convenção Americana sobre Direitos Humanos
que eles são vistos como uma unidade indivisível, interdependente
(Pacto de San José da Costa Rica).
e inter-relacionada, capaz de conjugar o catálogo de direitos civis
c) formam, juntamente com os direitos civis e políticos, um
e políticos ao catálogo de direitos sociais, econômicos e culturais. 
conjunto indivisível de direitos fundamentais, entre os quais não
d) surge uma concepção denominada pós-contemporânea dos
há qualquer relação hierárquica.
Direitos Humanos com a Declaração de Viena.
d) incluem o direito à participação no processo eleitoral, à
e) tendo em vista a influência do pensamento religioso e do
educação, à alimentação e à previdência social.
sistema político, as diversas teorizações sobre direitos humanos
encontram-se profundamente relacionadas às prerrogativas esta- R: C. A única coisa que distingue os direitos civis e políticos
mentais e à hierarquia secular. dos direitos econômicos, sociais e culturais é que os primeiros,
R: B. A alternativa “b” está incorreta porque direitos huma- pertencentes à 1ª dimensão de direitos humanos, exigem do Es-
nos, direitos fundamentais e direitos do homem não possuem o tado apenas uma postura passiva, de não intervenção, enquanto
mesmo significado, além do que há maior relação dos direitos do que o seu exercício se dá diretamente pelos indivíduos com maior
homem com o jusnaturalismo do que dos direitos fundamentais, facilidade; já os segundos, componentes da 2ª dimensão, exigem
conceito predominantemente contratualista, embora correlaciona- do Estado uma postura ativa, ou seja, a elaboração de políticas pú-
do com os direitos do homem e os direitos humanos. blicas para a efetivação destes direitos. Por isso, são disciplinados
internacionalmente em dois Pactos. No entanto, como a Declara-
2. (FCC - 2009 - DPE-MA - Defensor Público) Ao introduzir a ção Universal dos Direitos Humanos confere a ambos a mesma
concepção contemporânea de direitos humanos, a Declaração Uni- essencialidade para a dignidade humana é possível afirmar que não
versal de Direitos Humanos de 1948 afirma que: existe entre eles nenhuma relação hierárquica.
a) o relativismo cultural, a indivisibilidade e a interdependên-
cia dos direitos humanos, conferindo primazia ao valor da solida- 4. (MPE-SP - 2011 - MPE-SP - Promotor de Justiça) O princí-
riedade, como condição ao exercício dos direitos civis, políticos, pio da dignidade da pessoa humana:
econômicos, sociais e culturais. a) está previsto constitucionalmente como um dos fundamen-
b) a universalidade, a indivisibilidade e a interdependência tos da República e constitui um núcleo essencial de irradiação dos
dos direitos humanos, conferindo paridade hierárquica entre di- direitos humanos, devendo ser levado em conta em todas as áreas
reitos civis e políticos e direitos econômicos, sociais e culturais. na atuação do Ministério Público.
c) a universalidade, a indivisibilidade e a interdependência b) não está previsto constitucionalmente, mas consta do cha-
dos direitos humanos, conferindo primazia aos direitos civis e po- mado Pacto de São José da Costa Rica, possuindo grande centra-
líticos, como condição ao exercício dos direitos econômicos, so- lidade no reconhecimento dos direitos humanos e tendo reflexo na
ciais e culturais. atuação criminal do Ministério Público.

Didatismo e Conhecimento 73
NOÇÕES DE DIREITO
c) está previsto constitucionalmente como um dos objetivos R: D. Com a Declaração Universal dos Direitos Humanos
da República e possui grande centralidade no reconhecimento dos de 1948 se iniciou um processo de internacionalização dos direi-
direitos humanos, mas não tem reflexo direto na atuação criminal tos humanos porque ela foi o primeiro documento internacional
do Ministério Público. a abordar os direitos humanos, discriminando-os expressamente.
d) está previsto como um dos direitos fundamentais previstos Ocorre que com a crescente positivação do Direito pelo Estado
na Constituição Federal, serve de base aos direitos de personali- que se fez presente antes e durante as grandes guerras, ele se tor-
dade e deve ser considerado na atuação do Ministério Público, em nou um simples instrumento de gestão e comando da sociedade,
especial perante o juízo de família. ou seja, deixou de ser algo dado pela razão comum, gerando uma
e) não está previsto constitucionalmente, mas consta da De- mutabilidade no tempo e um particularismo no espaço: o lícito e o
claração Universal dos Direitos do Homem, constitui um núcleo ilícito passou a ser basicamente o que cada Estado impõe como tal,
não o consolidado pelo direito natural. O mundo somente tomou
essencial de irradiação dos direitos humanos, devendo ser levado
conhecimento da extensão da tirania alemã quando os exércitos
em conta em todas as áreas na atuação do Ministério Público.
Aliados abriram os campos de concentração na Alemanha e nos
R: A. O princípio da dignidade da pessoa humana, mais do que países por ela ocupados, encontrando prisioneiros famintos, do-
princípio, é fundamento, o que é reconhecido pela Constituição entes e brutalizados, além de milhões de corpos dos judeus, po-
Federal de 1988 em seu artigo 1º ao trazê-lo enquanto fundamento loneses, russos, ciganos, homossexuais e traidores do Reich em
da República no inciso III. No mais, é de fato núcleo essencial geral, que foram perseguidos, torturados e mortos. No Tribunal de
de proteção da pessoa humana, isto é, dos direitos humanos reco- Nuremberg, ao qual foram submetidos a julgamento os principais
nhecidos internacionalmente, merecendo respeito e consideração líderes nazistas, o principal argumento levantado foi o de que todas
por parte de todas instituições públicas, mas principalmente pelo as ações praticadas foram baseadas em ordens superiores, todas
Ministério Público, um dos principais responsáveis pela defesa dos dotadas de validade jurídica perante a Constituição. Percebeu-se a
direitos humanos fundamentais (notadamente de 3ª dimensão). necessidade de impedir que isto ocorresse novamente e, para tan-
to, os direitos naturais ora consagrados desde o início da história
5. (VUNESP - 2013 - PC-SP - Investigador de Polícia) Na foram positivados, num movimento de laicização e sistematização
evolução dos direitos humanos, costumam-se classificar, geral- do Direito característico do mundo moderno, formando uma ponte
mente, as gerações dos direitos em três fases (Eras dos Direitos), involuntária entre o jusnaturalismo e o positivismo jurídico.
conforme seu processo evolutivo histórico. Assinale a alternativa
que representa, correta e cronologicamente, essa classificação: 7. (VUNESP - 2008 - DPE-MS - Defensor Público) Conside-
a) direitos civis; direitos políticos; direitos fundamentais. rando a evolução histórica, os marcos jurídicos fundamentais e a
estrutura normativa dos Direitos Humanos, pode-se afirmar que:
b) igualdade; liberdade; fraternidade.
a) a globalização dos direitos humanos forçou os Estados a
c) direitos individuais; direitos coletivos; direitos políticos e escolherem entre um sistema global e um regional de proteção a
civis. esses direitos, uma vez que ambos sistemas não podiam coexistir.
d) direitos civis e políticos; direitos econômicos e sociais; di- b) os indivíduos passaram a ser sujeitos de direito internacio-
reitos difusos. nal, mas, por razões de soberania, ainda dependem dos Estados
e) liberdades positivas; liberdades negativas; direitos dos po- para acionar os mecanismos de proteção dos direitos humanos.
vos. c) a Declaração Universal dos Direitos Humanos introduziu
R: D. As dimensões de direitos humanos são verdadeiros fun- internacionalmente a concepção contemporânea desses direitos.
damentos de direitos humanos que se correlacionam com o funda- d) a vítima de uma lesão dos direitos humanos deverá acionar
mento da interdependência. Não são, assim, dimensões estanques, em sua proteção, nessa ordem, o sistema jurídico nacional, depois
mas que dialogam. Entretanto, podem ser detectadas em grupos o regional e, por último, o global, em razão da hierarquia da estru-
determinados de direitos, no seguinte sentido: direitos civis e po- tura normativa de proteção.
líticos correspondem à dimensão da liberdade (1ª); direitos econô- R: C. A alternativa “a” está incorreta porque os sistemas regio-
micos, sociais e culturais referem-se à dimensão da igualdade (2ª); nais (interamericano, europeu, africano...) coexistem com o global
e direitos difusos e coletivos abrangem a dimensão da fraternidade (Organização das Nações Unidas, notadamente); “b” está incorreta
(3ª). porque existem meios de acesso direto a mecanismos internacio-
nais de proteção de direitos humanos, por exemplo, representação
à Comissão Interamericana de Direitos Humanos; “d” está incorre-
6. (VUNESP - 2008 - DPE-MS - Defensor Público) Quando
ta porque não existe uma relação hierárquica entre os sistemas em
se fala em direitos humanos, considerando sua historicidade, é cor-
questão, além do que há exceções sobre o esgotamento de recursos
reto dizer que: no âmbito interno. Somente resta a alternativa “c”, que está corre-
a) somente passam a existir com as Declarações de Direitos ta, uma vez que a Declaração Universal dos Direitos Humanos de
elaboradas a partir da Revolução Gloriosa Inglesa de 1688. 1948 foi o primeiro documento internacional relevante a abordar
b) foram estabelecidos, pela primeira vez, por meio da Carta os direitos humanos que deveriam ser garantidos a todas as pesso-
Magna de 1215, que é a expressão maior da proteção dos Direitos as do planeta.
do Homem em âmbito universal.
c) a concepção contemporânea de Direitos Humanos foi in- 8. (CESPE - 2011 - DPE-MA - Defensor Público) Acerca da
troduzida, em 1789, pela Declaração dos Direitos do Homem e do afirmação histórica dos direitos humanos, assinale a opção correta:
Cidadão, fruto da Revolução Francesa. a) a Magna Carta, de 1215, instituiu a separação dos poderes
d) a internacionalização dos Direitos Humanos surge a partir ao declarar que o funcionamento do parlamento, um órgão que
do Pós-Guerra, como resposta às atrocidades cometidas durante o visa defender os súditos perante o rei, não pode estar sujeito ao
nazismo. arbítrio deste.

Didatismo e Conhecimento 74
NOÇÕES DE DIREITO
b) os sistemas das minorias e de mandatos, criados no âmbito nal dos direitos humanos foi a Segunda Guerra Mundial. Somente
das Nações Unidas, garantiam que os habitantes pertencentes às resta a alternativa d, que está correta porque direitos humanos são
minorias de determinados países europeus enviassem petições ao normas, as quais são editadas internacionalmente (tratados em ge-
Comitê de Minorias. ral) e nacionalmente (Constituição e leis infraconstitucionais).
c) a Declaração de Filadélfia é considerada a primeira carta
política a atribuir aos direitos trabalhistas o estatuto de direito fun- 10. (CESPE - 2012 - DPE-AC - Defensor Público) Assinale a
damental, juntamente com as liberdades individuais e os direitos opção correta no que diz respeito à afirmação histórica dos direitos
políticos. humanos:
d) a importância histórica do habeas corpus, de 1679, con- a) o expresso reconhecimento do princípio da universalidade
siste no fato de que essa garantia judicial, instituída na Inglaterra dos direitos humanos pela Declaração de Viena de 1993 pôs termo
para proteger a liberdade de locomoção, serviu de modelo para a ao debate sobre o multiculturalismo e o relativismo cultural.
criação de outras formas de proteção das liberdades fundamentais, b) o Bill of Rights, de 1689, foi a primeira carta de direitos de
como o juicio de amparo, na América Latina. que se tem notícia na história.
e) a Constituição de Weimar foi o primeiro documento a afir- c) a Constituição Mexicana de 1917 e a Constituição de Wei-
mar os princípios democráticos na história política moderna. mar de 1919 são marcos da afirmação dos direitos humanos de
R: D. Embora o habeas corpus já existisse na Inglaterra, no- segunda geração.
tadamente tendo como marco a Magna Carta de 1215, somente d) após a Segunda Guerra Mundial, para que os direitos dos
em 1679 foi promulgada a Lei do Habeas Corpus, delineando os trabalhadores enumerados na Declaração Universal dos Direitos
direitos inerentes a esta garantia e tornando-a mais eficaz. O diplo- do Homem de 1948 fossem garantidos no plano internacional,
ma inglês serviu de parâmetro para legislações em todo mundo, criou-se a Organização Internacional do Trabalho.
inclusive servindo de parâmetro para criação de outras garantias e) não há referência, na Declaração de Viena de 1993, ao prin-
semelhantes. No México, a juicio de amparo visa proteger garan- cípio da indivisibilidade dos direitos humanos.
tias constitucionais em geral, não somente inerentes à liberdade. R: C. A Constituição mexicana de 1917 e a Constituição ale-
No Brasil, o mandado de segurança é uma garantia inspirada no mã de Weimar de 1919 foram os primeiros textos constitucionais
habeas corpus. a reconhecerem expressamente os direitos sociais, notadamente os
inerentes ao trabalhador, funcionando como marcos da 2ª dimen-
9. (CESPE - 2012 - PM-AL - Oficial Combatente da Polícia são de direitos humanos.
Militar) Com relação ao conceito, à evolução e à abrangência dos
11. (CESPE - 2009 - DPE-PI - Defensor Público) A respeito
direitos humanos, assinale a opção correta:
do desenvolvimento histórico dos direitos humanos e seus marcos
a) os chamados direitos de solidariedade correspondem, no
fundamentais, assinale a opção correta:
plano dos direitos fundamentais, aos direitos de segunda geração,
a) os direitos fundamentais surgem todos de uma vez, não se
que se identificam com as liberdades concretas, acentuando o prin-
originam de processo histórico paulatino.
cípio da igualdade.
b) não há uma correlação entre o surgimento do cristianismo e
b) no século XX, inaugurou-se uma nova fase no sistema de
o respeito à dignidade da pessoa humana.
proteção dos direitos fundamentais, na medida em que foi nele que c) as gerações de direitos humanos mais recentes substituem
os Estados passaram a acolher as declarações de direitos em suas as gerações de direitos fundamentais mais antigas.
Constituições. d) a proteção dos direitos fundamentais é objeto também do
c) a individualidade é uma das características dos direitos hu- direito internacional.
manos fundamentais, e, nesse sentido, eles são dirigidos a cada e) a ONU é o órgão responsável pela UDHR e pela Declaração
ser humano isoladamente considerado, o que se justifica em razão Americana de Direitos.
das diferenças de nacionalidade, sexo, raça, credo ou convicção R: D. Os direitos humanos são históricos, o cristianismo in-
político-filosófica. fluenciou na formação de um conceito de dignidade humana e
d) os direitos fundamentais são os direitos humanos reconhe- igualdade universal, as dimensões de direitos se dialogam (não
cidos como tais pelas autoridades às quais se atribui o poder po- se excluem) e a ONU é responsável pela UDHR (sigla em inglês
lítico de editar normas, tanto no interior dos Estados quanto no para a Declaração de 1948) mas não pela Declaração Americana
plano internacional; são, assim, os direitos humanos positivados de Direitos (nacional - EUA). Quanto aos direitos fundamentais,
nas Constituições, nas leis, nos tratados internacionais. embora se diferenciem em alguns aspectos dos direitos humanos,
e) com o fim da Primeira Guerra Mundial, a estrutura do di- maiores são as semelhanças, principalmente quanto ao conteúdo.
reito internacional dos direitos humanos começou a se consolidar.
A essa época, os direitos humanos tornaram-se uma legítima pre- 12. (ESAF - 2012 - CGU - Analista de Finanças e Controle)
ocupação internacional e, então, foram criados mecanismos insti- Considerando os precedentes históricos da evolução dos Direitos
tucionais e de instrumentos que levaram tais direitos a ocupar um Humanos, marque a opção incorreta:
espaço central na agenda das organizações internacionais. a) no contexto histórico em que houve o desenvolvimento lai-
R: D. Os direitos de fraternidade são direitos de 3ª geração; as co do pensamento jusnaturalista entre os séculos XVII e XVIII
Constituições já acolhem desde antes do século XX declarações de que as ideias acerca da dignidade da pessoa humana começaram a
direitos nas Constituições, estas apenas não possuíam abrangência ganhar relevância.
universal; os direitos humanos possuem como nota a universalida- b) o registro escrito de direitos em um documento difundiu-se
de, o que impõe um tratamento perante a igualdade material, não a a partir da segunda metade da Idade Média, ocasião em que foram
individualidade; o marco para a estruturação do direito internacio- registrados direitos de comunidades locais.

Didatismo e Conhecimento 75
NOÇÕES DE DIREITO
c) a Magna Carta de 21 de junho de 1215 aponta a judicialida- d) a internacionalização dos direitos humanos impõe que o
de, um dos princípios do Estado de Direito. Estado, e não o indivíduo, seja sujeito de direito internacional.
d) o Rule of Law consiste na sujeição de todos ao império do R: C. As normas de proteção de direitos humanos são dotadas
Direito e é expressão da Common Law, que inclui o direito judici- de universalidade, de forma que valem para todos os indivíduos do
ário inglês, o qual se desenvolveu a partir do século XII. mundo, independentemente do território em que se encontrem. As-
e) o filósofo John Locke, ao final do século XV, foi quem pela sim, funcionam como limitadoras da soberania estatal, posto que o
primeira vez cunhou a expressão dignitas humana. Estado não pode fazer o que bem entender contra os direitos huma-
R: E. Em “a”, nota-se que, embora as ideias a respeito da dig- nos e ficar impune. Para tanto, inúmeros mecanismos se encontram
nidade da pessoa humana existam desde os primórdios da civiliza- previstos internacionalmente.
ção, estas somente começaram a ser levadas a sério quando vistas
sob uma perspectiva não religiosa; em “b”, destacam-se os forais 15. (PC-MG - 2008 - PC-MG - Delegado de Polícia) O Direi-
(os forais eram, na Idade Média, diplomas pelos quais o Rei ou to Internacional dos Direitos Humanos resultou de um processo
Senhor garantia aos moradores determinada terra, certas regalias histórico de gradual formação, consolidação, expansão e aperfei-
e privilégios, visando incrementar o povoamento e a fixação das çoamento da proteção internacional dos direitos humanos. É um
pessoas, sendo que em grande parte dos casos as cartas de foral direito de proteção dotado de especificidade própria. Com relação
eram os documentos fundadores dos conselhos, regulando a vida a esse processo histórico, assinale a afirmativa incorreta:
jurídica, administrativa e comercial das populações) e a própria a) a aceitação universal da tese da indivisibilidade dos direitos
Magna Carta de 1215; em “c”, assevera-se que a Magna Carta de humanos eliminou a disparidade entre os métodos de implementa-
1215 traz procedimentos de julgamento ao prever conceitos como ção internacional dos direitos civis e políticos e dos direitos eco-
o de devido processo legal, habeas corpus e júri; em “d” que Rule nômicos, sociais e culturais, deixando de ser negligenciados estes
of Law exterioriza a supremacia do poder regular em oposição ao últimos.
arbitrário, expressão do século XVII popularizada no século XIX b) a gradual passagem da fase legislativa de elaboração dos
pelo jurista A. V. Dicey, implicando que todo cidadão está sujeito primeiros instrumentos internacionais de direitos humanos, à fase
ao Direito, não ao soberano, que deixa de ter caráter de divindade. de implementação de tais instrumentos, pode ser considerada
Por sua vez, a expressão dignidade humana já havia sido emprega- como resultado da primeira Conferência Mundial de Direitos Hu-
da anteriormente, notadamente por filósofos do cristianismo. manos, ocorrida em Teerã no ano de 1968.
c) uma das grandes conquistas da proteção internacional dos
direitos humanos é, sem dúvida, o acesso dos indivíduos às instân-
13. (ESAF - 2012 - CGU - Analista de Finanças e Controle) A
cias internacionais de proteção e o reconhecimento de sua capaci-
Declaração de Independência dos Estados Unidos da América de
dade processual internacional em casos de violações dos direitos
1776 e a Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cida-
humanos.
dão de 1789 são consideradas de grande relevância para o reconhe-
d) graças aos esforços dos órgãos internacionais de supervi-
cimento das garantias e proteção aos direitos humanos. Essas duas
são nos planos global e regional, logrou-se salvar muitas vidas,
Declarações possuíam características em comum, exceto:
reparar muitos danos denunciados e comprovados, bem como ado-
a) os direitos declarados traziam uma conotação de direito na- tar programas educativos e outras medidas positivas por parte dos
tural. governos.
b) os direitos ainda eram concebidos como privilégios. R: A. O reconhecimento paulatino no processo histórico pri-
c) garantiam o direito à propriedade. meiro dos direitos civis e políticos e depois dos direitos econômi-
d) asseguravam direitos já inseridos na Constituição de seus cos, sociais e culturais deixou claro que enquanto os primeiros não
Estados. precisam da intervenção do Estado (mas sim de sua abstenção),
e) os direitos tinham conotação individualista. os segundos são dependentes de prestações estatais positivas para
R: D. Tais declarações tiveram como marco essencial justa- se verem efetivos. Como o rol de direitos econômicos, sociais e
mente trazer pela primeira vez, de forma escrita e compilada num culturais é amplo, evidente que o Estado não consegue investir
único documento, os direitos considerados inerentes ao homem. adequadamente em todas áreas. Prova disso é o contexto de defici-
Ambas aplicavam-se apenas ao país em que foram promulgadas, ência em áreas como saúde, educação e cultura. Logo, mesmo com
embora a Declaração Francesa tenha adquirido maior repercussão a afirmação internacional, ainda há negligência quanto aos direitos
internacional. de 2ª dimensão.

14. (FGV - 2011 - OAB - Exame de Ordem) A respeito da 16. (CETRO - 2013 - ANVISA - Analista Administrativo -
internacionalização dos direitos humanos, assinale a alternativa Conhecimentos Gerais - Todas as Áreas - Prova Anulada) De acor-
correta: do com o parágrafo único do artigo 1º da Constituição Federal de
a) já antes do fim da II Guerra Mundial ocorreu a internacio- 1988, todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de re-
nalização dos direitos humanos, com a limitação dos poderes do presentantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
Estado a fim de garantir o respeito integral aos direitos fundamen- Com base neste preceito, analise as assertivas abaixo.
tais da pessoa humana. I. A democracia em vigor no Estado brasileiro é semidireta,
b) a limitação do poder, quando previsto na Constituição, ga- caracterizada pela junção do princípio representativo às formas de
rante por si só o respeito aos direitos humanos. participação popular que caracterizam a democracia direta.
c) a criação de normas de proteção internacional no âmbito II. A democracia brasileira poderá ser exercida pelo referendo,
dos direitos humanos possibilita a responsabilização do Estado para o qual a população é convocada previamente à criação do ato
quando as normas nacionais forem omissas. legislativo ou administrativo que trate do assunto em pauta.

Didatismo e Conhecimento 76
NOÇÕES DE DIREITO
III. Plebiscito e referendo tratam-se de consultas à população, 19. (VUNESP - 2011 - TJ-SP - Juiz) Nossa ordem constitucio-
quanto à matéria de relevância para a nação, sobre questões de nal estabelece institutos de democracia semidireta, dentre os quais:
natureza constitucional, legislativa ou administrativa. I. a iniciativa popular, exercida pela apresentação à Câmara
IV. A democracia brasileira é definida como forma de gover- dos Deputados de projeto de lei subscrito por, no mínimo, um por
no, tendo como elementos necessários o princípio da igualdade e cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Es-
da liberdade. tados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de
É correto o que se afirma em cada um deles;
a) I, II e III, apenas. II. o referendo, podendo ser utilizado pelo Congresso Nacio-
b) III e IV, apenas. nal nos casos em que este decidir ser conveniente, indicado em
c) I e III, apenas. casos específicos como para a formação de novos Estados e de
d) II e IV, apenas. novos Municípios;
e) IV, apenas. III. o plebiscito, espécie de consulta popular semelhante ao
R: C. A democracia brasileira é semidireta porque mescla ins- referendo, mas o único apto a permitir que forças estrangeiras tran-
trumentos de democracia direta, como a iniciativa popular, o ple- sitem pelo território nacional.
biscito e o referendo, com o instrumento tradicional de democracia Está correto apenas o contido em
indireta, o sufrágio universal (capacidade de eleger representantes a) I.
e se candidatar). O referendo, diferente do que traz o item II, é b) II e III.
realizado após o ato legislativo, não antes. Neste sentido, plebis- c) III.
cito e referendo são instrumentos de consulta à população sobre d) II.
atos de natureza constitucional, legislativa ou administrativa. Não e) I e III.
obstante, a democracia é um regime de governo, não uma forma R: A. Estabelece o artigo 61 da CF em seu §2º: “A iniciativa
de governo. popular pode ser exercida pela apresentação à Câmara dos De-
putados de projeto de lei subscrito por, no mínimo, um por cento
17. (FUNCAB - 2013 - PC-ES - Escrivão de Polícia) O Estado do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados,
Brasileiro: com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um
a) Não pode estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subven- deles”. II e III estão incorretas porque não definem nos termos da
cioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou lei as finalidades do referendo e do plebiscito.
seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalva-
da, na forma da lei, a colaboração de interesse público. 20. (FCC - 2011 - DPE-RS - Defensor Público) O ideal preco-
b) Tem como forma de governo a democracia. nizado na Constituição Federal de 1988 é o de instituir um Estado
c) Tem como regime político a federação. Democrático de Direito, cujo ponto de equilíbrio são os direitos
d) É formado pela União, Estados, Distrito Federal,Municípios fundamentais, que também limitam o poder estatal. Vários de seus
e Territórios. dispositivos indicam o cidadão como um dos maiores protagonis-
e) Possui como forma de Estado a República. tas na tomada de decisões relevantes para o País, por isso ela tam-
R: A. A alternativa a está correta porque traduz a liberdade bém é denominada de Constituição Cidadã. Na prática, porém, a
de religião e as possibilidades de seu exercício, sem prejuízo do participação popular ainda é incipiente, tanto que poucas são as
Estado laico. A alternativa b está incorreta porque a democracia leis de iniciativa popular.
é um regime de governo, não uma forma de governo (são formas De acordo com tais aspectos, é correto afirmar que
de governo os sistemas que se referem à estrutura governamental: a) a Constituição Federal contempla um modelo de democra-
presidencialista ou parlamentarista, republicano ou monárquico). cia participativa, também denominada semidireta.
b) a participação popular é exercida através do sufrágio uni-
18. (FCC - 2012 - TRT - 6ª Região (PE) - Analista Judiciário versal, garantido a todos, sem exceção, bem como por meio do
- Execução de Mandados) O voto é uma das principais armas da referendo.
Democracia, pois permite ao povo escolher os responsáveis pela c) todo o poder emana do povo, que o exerce sempre por meio
condução das decisões políticas de um Estado. Quem faz mau uso de representantes eleitos pelo voto secreto.
do voto deixa de zelar pela boa condução da política e põe em risco d) a iniciativa popular propriamente dita consiste, no âmbito
seus próprios direitos e deveres, o que afeta a essência do Estado federal, na apresentação de projeto de lei ao Congresso Nacional,
Democrático de Direito. Dentre os fundamentos da República Fe- subscrito por 1% do eleitorado nacional, distribuído por pelo me-
derativa do Brasil, expressamente previstos na Constituição, aque- nos dez Estados-Federados, com não menos de 0,3% dos eleitores
le que mais adequadamente se relaciona à ideia acima exposta é a de cada um deles.
a) soberania. e) a competência para autorizar referendo e convocar plebis-
b) prevalência dos direitos humanos. cito é privativa do Congresso Nacional e é materializada por meio
c) cidadania. de resolução.
d) independência nacional. R: A. A democracia brasileira é semidireta porque mescla
e) dignidade da pessoa humana. instrumentos de democracia direta com o clássico instrumento da
R: C. Democracia e cidadania são conceitos interligados, in- democracia indireta, o voto. O sufrágio universal não é garantido
trínsecos, exteriorizando o poder do cidadão de participar na toma- a todos sem exceção (há limites, principalmente quanto à capaci-
da de decisões políticas. Pode participar do processo democrático dade de ser votado). Nem sempre o poder é exercido por meio de
o cidadão, e somente ele. representantes, pode o ser por meio dos instrumentos de democra-

Didatismo e Conhecimento 77
NOÇÕES DE DIREITO
cia direta. A iniciativa popular parte de 5 Estados-Federados, não 23. (VUNESP - 2010 - TJ-SP - Escrevente Técnico Judiciário)
10. A competência privativa, não obstante o nome, seria aquela Na hipótese de ocorrência de ato lesivo ao patrimônio público ou
que, conferida a determinado ente federativo prioritariamente, não de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa,
obsta que o ente beneficiado a delegue a outro, nos limites e forma ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, nos termos
permitidos na Constituição, no entanto, o Congresso Nacional não do que dispõe, expressamente, a Constituição, o cidadão poderá
pode delegar as competências de autorizar referendo e convocar ajuizar
plebiscito, que são exclusivas: “Art. 49, CF. É da competência ex- a) ação popular.
clusiva do Congresso Nacional: [...] XV - autorizar referendo e b) habeas corpus.
convocar plebiscito; [...]”. c) ação civil pública.
d) mandado de injunção.
21. (Defensoria/ MT - 2009 - FCC) - A violação à dignidade e) ação de improbidade administrativa.
dos presos é um grave problema nacional. A exemplo disso, a su- R: A. Neste sentido, prevê o artigo 5°, no inciso LXXIII que
perpopulação carcerária no Estado do Mato Grosso era de 91,4% “qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que
em 2007 (DEPEN, 2008). Em face do que dispõe os tratados in- vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entida-
ternacionais de direitos humanos referidos no Edital do presente de de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao
concurso, considere as afirmações abaixo: meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o
I. É um direito do condenado criminalmente dispor de cela autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus
individual, com área mínima de seis metros quadrados; da sucumbência”.
II. O condenado criminalmente não pode ser obrigado à reali-
zação de trabalhos na prisão; 24. (VUNESP - 2012 - TJ-SP - Escrevente Técnico Judiciário)
III. As pessoas privadas de liberdade devem ter por finalidade Assinale a alternativa que contempla corretamente um direito ga-
essencial a reabilitação social e moral dos condenados; rantido expressamente pela Constituição Federal.
IV. O isolamento celular máximo, como medidas punitiva, a) Inviolabilidade do sigilo de correspondência e das comu-
não pode ultrapassar trinta dias; nicações telefônicas, salvo, no primeiro caso, por ordem judicial,
Diante dessas afirmações é correto afirmar que: para fins de investigação criminal ou instrução processual penal.
a) apenas a II e III são verdadeiras; b) Inviolabilidade do domicílio, impedindo que alguém nele
b) apenas I e III são verdadeiras; possa entrar sem consentimento do morador, salvo para prestar so-
corro, ou, durante o dia ou à noite, por determinação judicial.
c) apenas II e III são falsas;
c) Livre exercício dos cultos religiosos e garantia, na forma da
d) I, II e IV são falsas;
lei, da proteção aos locais de culto e a suas liturgias.
e) I, II e III são verdadeiras.
d) Direito de reunião pacífica, sem armas, em locais abertos
R: D. O item I está incorreto porque embora o artigo 10 das
ao público, desde que obtida prévia autorização do poder público e
regras mínimas para o tratamento dos presos trate das acomoda-
desde que não frustre outra reunião anteriormente convocada para
ções destinadas aos reclusos, especialmente dormitórios, as quais
o mesmo local.
devem satisfazer todas as exigências de higiene e saúde, tornan- e) Manifestação livre do pensamento, com respectiva garantia
do-se devidamente em consideração as condições climatéricas e do anonimato.
especialmente a cubicagem de ar disponível, o espaço mínimo, a R: C. Prevê o artigo 5°, VI, CF: “ é inviolável a liberdade de
iluminação, o aquecimento e a ventilação, bem como façam pre- consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos
visão no artigo 9º de celas individuais para descanso, sabe-se que cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos
são recomendações aos Estados que devem progressivamente ser locais de culto e a suas liturgias”.
atingidas, não um direito do preso. O item II está incorreto porque
as regras mínimas reconhecem a obrigatoriedade do trabalho no 25. (VUNESP - 2012 - TJ-SP - Escrevente Técnico Judiciário)
artigo 71. O item IV está incorreto porque embora no artigo 32 as Segundo o que estabelece a Carta Magna Brasileira, para que um
regras mínimas critiquem tal prática, não estabelece limites tem- tratado internacional seja considerado equivalente à emenda cons-
porais. titucional, é necessário que
a) seja assinado pelo Chefe do Poder Executivo, ratificado por
22. (CESPE - 2011 - TRF 3ª Região - Juiz Federal) Conforme ambas as Casas do Congresso Nacional e, independentemente da
a jurisprudência do STF, tratados de direitos humanos anteriores sua matéria, que seja aprovado em dois turnos, por três quintos dos
à Emenda Constitucional nº 45/03 possuem, no direito brasileiro, votos dos respectivos membros.
status hierárquico b) seja sobre direitos humanos e que tenha sido aprovado, em
a) supraconstitucional. cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos
b) constitucional originário. dos votos dos respectivos membros.
c) constitucional derivado. c) tenha sido aprovado, em cada Casa do Congresso Nacional,
d) supralegal. em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos mem-
e) legal. bros, independentemente da matéria que ele trate.
R: D. O Supremo Tribunal Federal decidiu no dia 05 de de- d) seja devidamente aprovado pelo Congresso Nacional, rati-
zembro de 2008 que é ilegal a prisão civil do depositário infiel, ficado pelo Poder Executivo e incorporado à Constituição Federal,
utilizando-se da tese de que os tratados de direitos humanos têm independentemente da matéria que ele trate.
status supralegal, ou seja, encontram-se acima das leis ordinárias, e) o Supremo Tribunal Federal reconheça a sua compatibili-
porém abaixo da Constituição Federal. Neste sentido, a súmula dade com o texto constitucional por meio do julgamento de Ação
vinculante n° 25 e Habeas Corpus n° 87.585-8/TO. Declaratória da Constitucionalidade.

Didatismo e Conhecimento 78
NOÇÕES DE DIREITO
R: B. Nesta linha, o artigo 5°, §3°, CF: “Os tratados e conven- e) a custódia de presos em celas coletivas, visando à sua res-
ções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, socialização, é obrigatória.
em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três R: D. Referidas regras mínimas criticam práticas de isolamen-
quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às to que possam fazer o preso se sentir excluído da sociedade, como
emendas constitucionais”. se tivesse sido transportado para um universo paralelo, o que di-
ficulta sua reabilitação. Contudo, tais regras mínimas funcionam
26. (VUNESP - 2011 - TJM-SP - Oficial de Justiça) Deter- mais como um objetivo a ser atingido pelos Estados no sistema
mina expressamente o inc. IX do art. 5.° da Constituição da Re- penitenciário do que como direitos dos presos. Neste sentido, o
pública Federativa do Brasil, que é livre a expressão da atividade Judiciário brasileiro e a doutrina majoritárias são pela constitucio-
intelectual, artística, cientifica e de comunicação, nalidade do RDD. Obs.: destaca-se que a questão, por ser de con-
a) mediante prévia obtenção de licença. curso da Defensoria, tem tendência à mínima intervenção do direi-
b) mediante prévia análise do órgão censor. to penal e à máxima garantia dos direitos humanos dos reclusos.
c) independentemente de censura ou licença.
d) mediante prévia aprovação por órgão catalogador. 29. (FGV - 2011 - OAB - Exame de Ordem Unificado 2) No
e) independentemente de censura com relação às três primei- que tange ao direito de nacionalidade, assinale a alternativa cor-
ras atividades e mediante licença com relação à última. reta:
R: C. Nos termos do mencionado dispositivo “é livre a expres- a) o brasileiro nato não pode perder a nacionalidade.
são da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, b)  o filho de pais alemães que estão no Brasil a serviço de
independentemente de censura ou licença”. empresa privada alemã será brasileiro nato caso venha a nascer
no Brasil.
27. (VUNESP - 2011 - TJM-SP - Escrevente Técnico Judi- c) o brasileiro naturalizado pode ser extraditado pela prática
ciário) Nos termos do quanto determina o inc. XI do art. 5.° da de crime comum após a naturalização.
Constituição da República Federativa do Brasil, “a casa é asilo d) o brasileiro nato somente poderá ser extraditado no caso de
inviolável do indivíduo,ninguém nela podendo penetrar sem con- envolvimento com o tráfico de entorpecentes.
sentimento do morador, salvo em caso de R: B. A alternativa “a” está errada, pois o brasileiro nato pode,
a) flagrante delito ou desastre”. sim, perder a nacionalidade. O que ele não pode é ser extraditado
b) perseguição que se segue a delito em estado de flagrância”. sendo brasileiro nato. Agora, mesmo brasileiro nato, pode perder
c) flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, em a nacionalidade brasileira se adquirir outra nacionalidade (salvo
qualquer horário, por determinação judicial”. nos casos de reconhecimento da nacionalidade originária pela lei
d) flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, estrangeira ou de imposição de naturalização, pela norma estran-
durante o dia, por determinação judicial”. geira, ao brasileiro residente em Estado estrangeiro como condição
e) flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, du- para permanência em seu território ou para o exercício de direitos
rante o dia, por determinação judicial transitada em julgado”. civis). Eis o teor do art. 12, §4º, II, “a” e “b”, da Constituição.
R: D. Referido dispositivo tem o seguinte teor: “a casa é asi- Ademais, as alternativas “c” e “d” estão erradas, pois brasileiro
lo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem naturalizado não pode ser extraditado, salvo pela prática de crime
consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou comum cometido antes da naturalização, ou envolvimento com
desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por deter- tráfico de entorpecentes após a naturalização, caso este último em
minação judicial”. Logo, nos casos de flagrante delito, desastre que a naturalização brasileira será cancelada (art. 5º, LI, CF). A
ou para prestar socorro é possível entrar na casa do indivíduo a alternativa correta, pois, é a letra “b”: se um filho de pais alemães
qualquer hora, mas por determinação judicial somente durante o que estão no Brasil a serviço de empresa privada aqui nasce, esta
dia. criança será considerada brasileira nata. Somente se o pai ou a mãe
dessa criança estivesse a serviço da Alemanha é que essa criança
28. (FCC - 2006 - DPE-SP - Defensor Público) A Lei nº não adquiriria a naturalidade do Brasil. Neste sentido, o art. 12, I,
10.792/03 introduziu o Regime Disciplinar Diferenciado de cum- “a”, da Constituição, é claro no sentido de que são brasileiros natos
primento de penas (RDD), mediante o qual o preso pode ficar até os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais
360 dias em cela individual, com direito a duas horas diárias de estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país.
banho de sol. Tal sistemática pode ser entendida como violado-
ra das Regras Mínimas para o Tratamento de Presos das Nações 30. (FCC - 2012 - TRE/PR - Técnico Judiciário) Considere as
Unidas, pois seguintes afirmações a respeito dos direitos e garantias fundamen-
a) conflita com o respeito devido à pessoa privada de liber- tais expressos na Constituição da República:
dade, conforme previsto pela Declaração Universal dos Direitos I. Não haverá penas de morte ou de caráter perpétuo, salvo em
Humanos, ratificada pelo Brasil. caso de guerra declarada.
b) é vedado o uso de isolamento celular (solitária) como forma II. É assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo,
de punir presos ou de segregá-los em caso de rebelião. além da indenização por dano material, moral ou à imagem.
c) as Regras Mínimas para o Tratamento de Presos são con- III. A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão
sideradas tratado internacional de direitos humanos, tendo hierar- ou ameaça a direito.
quia legal superior à da Lei nº 10.792/03. IV. As associações somente poderão ser compulsoriamente
d) ultrapassa os limites definidos pelas Regras Mínimas para a dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por decisão judicial
segregação prolongada de presos. transitada em julgado.

Didatismo e Conhecimento 79
NOÇÕES DE DIREITO
Está correto o que se afirma apenas em: 33. (FCC - 2010 - SJCDH-BA - Agente Penitenciário) São
a) I e II. princípios fundamentais proclamados no artigo I da Declaração
b) I e III. Universal dos Direitos Humanos, de 1948:
c) II e III. a) a igualdade entre homens e mulheres e a liberdade de pen-
d) II e IV. samento e religião.
e) III e IV. b) a presunção de inocência e a inviolabilidade da vida pri-
R: C. O item “I” está errado, pois, apesar de somente se permi- vada.
tir a pena de morte no Brasil em caso de guerra declarada (art. 5º, c) o amplo acesso à educação e ao trabalho.
XLVII, “a”, CF), as penas de caráter perpétuo não são admitidas d) a liberdade de ir e vir e o direito de buscar asilo em outros
em hipótese alguma, com ou sem guerra (art. 5º, XLVII, “b”). O países.
item “II” está correto, por reproduzir a essência do que está pre- e) a liberdade, a igualdade e a fraternidade.
visto no art. 5º, V, da Constituição Federal, a saber, a disposição R: E. Preconiza o citado dispositivo: “todas as pessoas nascem
de que é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e
além da indenização por dano material, moral ou à imagem. O
consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito
item “III” está certo: a lei não excluirá da apreciação do Poder
de fraternidade”.
Judiciário lesão ou ameaça a direito (art. 5º, XXXV, CF). O item
“IV” está incorreto, vez que se exige decisão judicial transitada
34. (FUNIVERSA - 2010 - SEJUS-DF - Especialista em As-
em julgado apenas para se dissolver compulsoriamente as asso-
ciações. Para suspender suas atividades não há essa exigência (art. sistência Social - Ciências Contábeis) Acerca da Declaração Uni-
5º, XIX, CF). versal dos Direitos Humanos, assinale a alternativa correta.
a) A Declaração é documento fortemente inspirado pela dou-
31. (CESPE - 2011 - TRF 5ª Região - Juiz) A Declaração Uni- trina religiosa da Igreja Católica e baseia-se na crença em um deus
versal dos Direitos Humanos  único e no amor ao próximo.
a) não trata de direitos econômicos. b) A Declaração pressupõe as diferenças culturais entre os
b) trata dos direitos de liberdade e igualdade. povos, mas adota determinados princípios e regras com caráter
c) trata o meio ambiente ecologicamente equilibrado como absoluto e pretensão de universalidade, como a proscrição da es-
direito de todos. cravidão e da tortura e a igualdade de todos perante a lei.
d) não faz referência a direitos políticos. c) A fim de garantir o direito à imagem e a privacidade dos
e) não faz referência a direitos culturais e à bioética. cidadãos, a Declaração estabelece que, no caso de alguém ser pro-
R: B. Os direitos de liberdade e igualdade são o foco da Decla- cessado criminalmente, deverá ser julgado pelo órgão competente
ração de 1948, como se percebe pelos seus dois primeiros artigos: em processo sigiloso; o sigilo somente deverá ser levantado na
“Artigo I. Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignida- hipótese de condenação transitada em julgado.
de e direitos. São dotadas de razão  e consciência e devem agir d) Pelo fato de reconhecer o direito à liberdade de locomoção
em relação umas às outras com espírito de fraternidade. Artigo II. e a relevância do intercâmbio cultural entre os povos, a Declaração
Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades propugna a possibilidade de livre entrada e saída dos indivíduos
estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espé- em qualquer país, em tempo de paz.
cie, seja de raça, cor, sexo, língua,  religião, opinião política ou de e) Devido à inspiração de natureza socialista vigente na época
outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou de sua aprovação, a Declaração não menciona de forma expressa o
qualquer outra condição”.  direito à propriedade privada.
R: B. A Declaração, por partir das Nações Unidas, mais im-
32. (CESPE - 2012 - DPE-AC - Defensor Público) A Declara- portante órgão internacional, tem a pretensão de valer para todas as
ção Universal de Direitos Humanos pessoas do mundo. Obviamente, particularidades culturais existem
a) foi proclamada pelos revolucionários franceses do final do
e devem ser respeitadas. Contudo, reconhece-se a existência de
século XVIII e confirmada, após a Segunda Guerra Mundial, pela
uma dignidade inerente a todos os homens que impede a aceitação
Assembleia Geral das Nações Unidas.
de determinadas práticas, como a escravidão, a tortura e a arbitra-
b) foi o primeiro documento internacional a estabelecer ex-
riedade.
pressamente o princípio da vedação ao retrocesso social.
c) nada declara sobre o direito à propriedade, em razão da ne-
cessidade de acomodação das diferentes ideologias das potências 35. (FEPESE - 2013 - DPE-SC - Técnico Administrativo) As-
vencedoras da Segunda Guerra Mundial. sinale a alternativa incorreta em relação à Declaração Universal
d) não faz referência à possibilidade de qualquer pessoa dei- dos Direitos Humanos.
xar o território de qualquer país ou nele ingressar, embora assegure a) Os direitos nela contidos são inalienáveis.
expressamente a liberdade de locomoção dentro das fronteiras dos b) Os preceitos descritos serão desenvolvidos em cooperação
Estados. com as Nações Unidas.
e) assegura a toda pessoa o direito de participar do governo de c) A liberdade e a justiça são fundamentos expressos da De-
seu próprio país, diretamente ou por meio de representantes. claração.
R: E. Nos termos do artigo XXI, item 1, “toda pessoa tem o d) A proteção pelo Estado de Direito é princípio implícito.
direito de tomar parte no governo de seu país, diretamente ou por e) A Declaração busca expressamente o desenvolvimento de
intermédio de representantes livremente escolhidos”. relações amistosas entre as nações.

Didatismo e Conhecimento 80
NOÇÕES DE DIREITO
R: D. É falsa a afirmação de que a proteção pelo Estado de b) não está previsto constitucionalmente, mas consta do cha-
Direito é um princípio implícito porque a Declaração consagra mado Pacto de São José da Costa Rica, possuindo grande centra-
em diversos pontos o princípio da legalidade, garantindo à pessoa lidade no reconhecimento dos direitos humanos e tendo reflexo na
humana a restrição de seus direitos apenas por lei, com o devido atuação criminal do Ministério Público.
processo legal. Neste sentido, apontam-se, por exemplo, os artigos c) está previsto constitucionalmente como um dos objetivos
VII a X. da República e possui grande centralidade no reconhecimento dos
direitos humanos, mas não tem reflexo direto na atuação criminal
36. (CEPERJ - 2012 - SEAP-RJ - Inspetor de Segurança e Ad- do Ministério Público.
ministração Penitenciária) De acordo com a Declaração Universal d) está previsto como um dos direitos fundamentais previstos
dos Direitos Humanos, de 1948, todas as pessoas nascem livres e na Constituição Federal, serve de base aos direitos de personali-
iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência dade e deve ser considerado na atuação do Ministério Público, em
e devem agir em relação umas às outras com espírito de: especial perante o juízo de família.
a) amor e) não está previsto constitucionalmente, mas consta da De-
b) compaixão claração Universal dos Direitos do Homem, constitui um núcleo
c) fraternidade essencial de irradiação dos direitos humanos, devendo ser levado
d) felicidade em conta em todas as áreas na atuação do Ministério Público.
e) discriminação R: A. O princípio da dignidade da pessoa humana, mais do que
R: D. Conforme o artigo I da Declaração, “Todas as pessoas princípio, é fundamento, o que é reconhecido pela Constituição
nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de Federal de 1988 em seu artigo 1º ao trazê-lo enquanto fundamento
razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com da República no inciso III. No mais, é de fato núcleo essencial
espírito de fraternidade”. de proteção da pessoa humana, isto é, dos direitos humanos reco-
nhecidos internacionalmente, merecendo respeito e consideração
37. (CEPERJ - 2012 - SEAP-RJ - Inspetor de Segurança e por parte de todas instituições públicas, mas principalmente pelo
Administração Penitenciária) No que concerne à liberdade das Ministério Público, um dos principais responsáveis pela defesa dos
pessoas, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, direitos humanos fundamentais (notadamente de 3ª dimensão).
repudia a(o):
a) escravidão 40. (CESPE - 2012 - DPE-SE - Defensor Público) De acordo
b) serviçal com o que dispõe a Convenção Americana de Direitos Humanos:
c) empregado
a) o Estado-parte não tem a obrigação de analisar pedido de
d) autônomo
indulto, anistia ou comutação de pena requeridos por condenado
e) trabalhador
à morte.
R: A. É o que disciplina o artigo IV: “Ninguém será mantido
b) o direito à vida deve ser protegido, como regra, desde a
em escravidão ou servidão, a escravidão e o tráfico de escravos
concepção.
serão proibidos em todas as suas formas”. As formas de trabalho
c) a pena de morte pode ser restabelecida nos Estados-parte
em geral são permitidas pela Declaração, desde que os direitos dos
que a tenham abolido.
trabalhadores sejam respeitados, como se extrai do artigo XXIII.
d) a pena de morte, nos Estados-partes que a adotem, pode ser
38. (FEPESE - 2013 - DPE-SC - Técnico Administrativo) As- aplicada a delitos políticos.
sinale a alternativa correta em relação à Declaração Universal dos e) a pena de morte pode ser imposta a condenados por crimes
Direitos Humanos. conexos a delitos políticos.
a) A Declaração afirma que toda pessoa tem direito a repouso R: B. Neste sentido, o item 1, do artigo 4°: “Toda pessoa tem o
e lazer. direito de que se respeite sua vida. Esse direito deve ser protegido
b) O texto da Declaração garante o sigilo de correspondên- pela lei e, em geral, desde o momento da concepção. Ninguém
cia, porém assegura a sua violação para casos em que a segurança pode ser privado da vida arbitrariamente”.
exigir.
c) A Declaração contempla que instrução será gratuita apenas 41. (VUNESP - 2008 - DPE-MS - Defensor Público) O Pacto
para o nível fundamental. de San José da Costa Rica garante direitos políticos e oportunida-
d) A unicidade de base sindical é tratada na Declaração. des de participação política ao cidadão. Segundo esse instrumento
e) Assegura o direito ao apátrida de escolher a nacionalidade jurídico, o exercício de tais direitos e oportunidades poderá ser
cujos laços forem maiores. regulado pela lei, exceto por motivo de:
R: A. Trata-se do conteúdo do artigo XXIV: “Toda pessoa a) instrução.
tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das b) residência.
horas de trabalho e férias periódicas remuneradas”. c) idioma.
d) capacidade intelectual.
39. (MPE-SP - 2011 - MPE-SP - Promotor de Justiça) O prin- R: D. Segundo o artigo 23, que regula os direitos políticos:
cípio da dignidade da pessoa humana “1. Todos os cidadãos devem gozar dos seguintes direitos e opor-
a) está previsto constitucionalmente como um dos fundamen- tunidades: a) de participar da condução dos assuntos públicos, di-
tos da República e constitui um núcleo essencial de irradiação dos retamente ou por meio de representantes livremente eleitos; b) de
direitos humanos, devendo ser levado em conta em todas as áreas votar e ser eleito em eleições periódicas, autênticas, realizadas por
na atuação do Ministério Público. sufrágio universal e igualitário e por voto secreto, que garantam

Didatismo e Conhecimento 81
NOÇÕES DE DIREITO
a livre expressão da vontade dos eleitores; e c) de ter acesso, em por a pena de morte a pessoa que, no momento da perpetração do
condições gerais de igualdade, às funções públicas de seu país. 2. delito, for menor de dezoito anos, ou maior de setenta, nem aplicá-
A lei pode regular o exercício dos direitos e oportunidades, a que -la a mulher em estado de gravidez. 6. Toda pessoa condenada à
se refere o inciso anterior, exclusivamente por motivo de idade, morte tem direito a solicitar anistia, indulto ou comutação da pena,
nacionalidade, residência, idioma, instrução, capacidade civil ou os quais podem ser concedidos em todos os casos. Não se pode
mental, ou condenação, por juiz competente, em processo penal”. executar a pena de morte enquanto o pedido estiver pendente de
Logo, a capacidade intelectual não pode limitar o exercício de di- decisão ante a autoridade competente”.
reitos políticos.
44. (FCC - 2009 - DPE-MT - Defensor Público) Em face do
42. (ESAF - 2012 - CGU - Analista de Finanças e Contro- que dispõe a Convenção Americana de Direitos Humanos quanto
le) Considerando os direitos consagrados no Pacto de São José da ao direito de defesa da pessoa acusada da prática de um delito:
Costa Rica, ao qual o Brasil subscreveu, marque a opção correta: a) é direito do acusado, sempre que o interesse da justiça as-
a) o Pacto expressa que o direito à vida ocorre após a 12a sim o exija, ter um defensor designado ex officio, que atuará gra-
semana de gestação. tuitamente.
b) o Pacto expressa que é cabível a prisão do depositário infiel. b) o Estado deve dispor de um órgão de assistência jurídica
c) o Pacto expressa que é cabível a pena de morte nos casos do encarregado da defesa dos acusados que demonstrarem insufici-
cometimento de delitos políticos, quando graves. ência de recursos.
d) o Pacto expressa que a confissão não pode ser adotada c) a defesa pode ser realizada pessoalmente pelo acusado,
como meio de prova. caso o Estado não disponha de meios para lhe proporcionar um
e) o Pacto expressa o impedimento de os Estados signatários defensor.
abolirem a ação do Habeas Corpus de suas legislações. d) a defesa pode ser realizada pessoalmente pelo acusado,
R: E. Em “a”, nota-se que o direito à vida é assegurado desde caso seja ele tecnicamente habilitado e renuncie ao defensor indi-
a concepção (artigo 4°, 1); em “b”, destaca-se que o pacto somente cado pelo Estado.
aceita prisão por dívida no caso de alimentos (artigo 7°, 7); em e) é obrigatória a existência de defesa técnica, fornecida pelo
“c”, assevera-se que o pacto não aceita pena de morte para delitos Estado, caso o acusado não indique advogado de sua confiança e
políticos (artigo 4°, 4); em “d”, vislumbra-se que a confissão pode nem se defenda por si mesmo.
ser um meio de prova, desde que não decorra de coação (artigo 8°, R: E. Nos termos do artigo 8º, 2, e da Convenção, a pessoa
3). Por sua vez, não há menção expressa no pacto sobre a ação de acusada de um delito tem o “direito irrenunciável de ser assistido
habeas corpus. por um defensor proporcionado pelo Estado, remunerado ou não,
segundo a legislação interna, se o acusado não se defender ele pró-
43. (FGV - 2012 - OAB - Exame de Ordem) A Convenção prio, nem nomear defensor dentro do prazo estabelecido pela lei”.
Interamericana de Direitos Humanos dispõe que toda pessoa tem
direito à vida, que deve ser protegida por lei, e que ninguém dela 45. (VUNESP - 2008 - DPE-MS - Defensor Público) Quanto
poderá ser privado arbitrariamente. A respeito da pena de morte, o aos direitos civis contidos na Convenção Americana de Direitos
documento afirma que: Humanos, esta estabelece que:
a) é inadmissível a aplicação da pena de morte em qualquer a) nos países em que não houverem abolido a pena de morte,
circunstância, já que o direito à vida deve ser protegido por lei esta só poderá ser imposta pelos delitos mais graves, em cumpri-
desde a concepção. mento de sentença final de tribunal competente e em conformidade
b) não se pode aplicar pena de morte aos delitos políticos, ex- com a lei que estabeleça tal pena, promulgada antes de o delito ter
ceto se forem conexos a delitos comuns sujeitos a tal pena. sido cometido.
c) a pena de morte não pode ser imposta àquele que, no mo- b) ninguém deve ser constrangido a executar trabalho forçado
mento da perpetração do delito, for menor de dezoito anos, nem ou obrigatório, exceto em decorrência de crime considerado he-
aplicada à mulher em estado gestacional. diondo pela legislação do país que adotar punição específica para
d) não se admite que Estados promulguem pena de morte, ex- essa modalidade de crime, não podendo, porém, a respectiva pena
ceto se já a tiverem aplicado e a tenham abolido, hipótese em que ultrapassar 30 anos de reclusão.
a tal pena poderá ser restabelecida. c) ninguém deve ser detido por dívidas. Este princípio, porém,
R: C. Estabelece o artigo 4° da Convenção, que trata do direito não limita os mandados de autoridade judiciária competente expe-
à vida: “1. Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida. didos em virtude de inadimplemento de obrigação alimentar ou do
Esse direito deve ser protegido pela lei e, em geral, desde o mo- depositário infiel.
mento da concepção. Ninguém pode ser privado da vida arbitraria- d) todas as pessoas têm o direito de associar-se livremente
mente. 2. Nos países que não houverem abolido a pena de morte, com fins ideológicos, religiosos, políticos, econômicos, trabalhis-
esta só poderá ser imposta pelos delitos mais graves, em cumpri- tas, sociais, culturais, desportivos ou de qualquer outra natureza,
mento de sentença final de tribunal competente e em conformidade não podendo o Estado restringir ou suprimir o exercício do direito
com a lei que estabeleça tal pena, promulgada antes de haver o de- de associação aos membros das forças armadas e da polícia.
lito sido cometido. Tampouco se estenderá sua aplicação a delitos R: A. O artigo 4º da Convenção Americana sobre Direitos
aos quais não se aplique atualmente. 3. Não se pode restabelecer Humanos aborda em detalhes questões sobre a pena de morte e o
a pena de morte nos Estados que a hajam abolido. 4. Em nenhum direito à vida nos seguintes termos: “1. Toda pessoa tem o direito
caso pode a pena de morte ser aplicada a delitos políticos, nem a de que se respeite sua vida. Esse direito deve ser protegido pela
delitos comuns conexos com delitos políticos. 5. Não se deve im- lei e, em geral, desde o momento da concepção. Ninguém pode

Didatismo e Conhecimento 82
NOÇÕES DE DIREITO
ser privado da vida arbitrariamente. 2. Nos países que não hou- optar por um conceito específico. Exemplo: quantos requisitos tem
verem abolido a pena de morte, esta só poderá ser imposta pelos o delito? O que responder na hora da prova? Falar de todas corren-
delitos mais graves, em cumprimento de sentença final de tribunal tes. Todas estão certas.
competente e em conformidade com a lei que estabeleça tal pena,
promulgada antes de haver o delito sido cometido. Tampouco se B) Conceito material
estenderá sua aplicação a delitos aos quais não se aplique atual- • Delito é ofensa a um direito subjetivo.
mente. 3. Não se pode restabelecer a pena de morte nos Estados • Delito é ofensa a um bem.
que a hajam abolido. 4. Em nenhum caso pode a pena de morte ser • Delito é ofensa aos valores éticos.
aplicada a delitos políticos, nem a delitos comuns conexos com de- • Delito é ofensa à norma.
litos políticos. 5. Não se deve impor a pena de morte a pessoa que, Melhor conceito material de delito: “É uma ofensa grave a um
no momento da perpetração do delito, for menor de dezoito anos, bem jurídico relevante”.
ou maior de setenta, nem aplicá-la a mulher em estado de gravidez.
6. Toda pessoa condenada à morte tem direito a solicitar anistia,
indulto ou comutação da pena, os quais podem ser concedidos em 2.3.2 CRIME E CONTRAVENÇÃO
todos os casos. Não se pode executar a pena de morte enquanto o
pedido estiver pendente de decisão ante a autoridade competente”.

Prof. Carla Baggio Laperuta Fróes Primeiramente, importa esclarecer que o Brasil é dualista, ou
binário. Isso significa que há duas espécies de infrações penais:
Mestranda em Teoria do Direito e do Estado pelo Centro 1) Crime - delito
Universitário Eurípides de Marília (UNIVEM). Especialista em 2) Contravenção Penal – crime anão, delito lilliputiano, cri-
Direito Processual pela Universidade do Sul de Santa Catarina. me vagabundo (este terceiro sinônimo caiu na prova do MP/SP).
Docente. Advogada. “O Brasil é adepto do sistema dualista, estabelecendo a exis-
tência de crimes e contravenções. A diferença destes (crimes) para
contravenção é de grau, é puramente axiológica e não ontológi-
ca”. – Rogério Sanches.
2.3 DIREITO PENAL. Apesar de crimes serem ontologicamente idênticos às contra-
2.3.1 CRIME: CONCEITOS venções penais, há algumas diferenças:

Diferenças entre crimes e contravenções penais


a) Tipo de pena privativa de liberdade
- Em se tratando de crime, as penas privativas de liberdade são
Conceito de Delito reclusão e detenção.
São dois conceitos de delito que importam: - Em se tratando de contravenção penal a ÚNICA pena priva-
tiva de liberdade possível é a prisão simples (arts. 5º e 6º da Lei
A) Conceito analítico das Contravenções Penais).
Falar em conceituar analiticamente algo, exige a análise de um
fenômeno em setores. Do ponto de vista analítico, o que é crime? “Art. 5º As penas principais são:
a) Há uma primeira posição: crime é fato típico e antijurí- I – prisão simples.
dico. É uma possibilidade de descrever o delito do ponto de vista II – multa.
analítico com dois requisitos. Damásio e Capez fazem isso.
b) Outra forma: fato típico, antijurídico e culpável. Ago- “Art. 6º A pena de prisão simples deve ser cumprida, sem ri-
ra, estamos falando de 3 elementos. Nelson Hungria, Cesar Bitten- gor penitenciário, em estabelecimento especial ou seção especial
court, Regis Prado, entre outros. de prisão comum, em regime semiaberto ou aberto.”
c) Terceira corrente: fato típico, antijurídico, culpável e
punível. Ou seja, quatro efeitos. A diferença é a punibilidade. Pu- Prisão simples JAMAIS é cumprida no fechado, nem mesmo
nibilidade é a ameaça de pena. Ou seja, o que enfatiza essa corren- por intermédio da regressão.
te? Algo novo, que é a ameaça de pena, para dizer o seguinte: não
existe crime sem ameaça de pena. b) Tipo de ação penal
d) Por último, doutrina minoritária, crime é ação, típica,
antijurídica, culpável e punível. Ou seja, 5 requisitos (essa dou- - O crime admite ação penal pública e ação penal de iniciativa
trina decompõe o conceito e dá autonomia para a ação). privada.
e) Há um novíssimo conceito, teoria constitucionalista do - Contravenção penal, não. Crimes, admitem as mais variadas
delito que diz: fato típico, fato formal e materialmente típico e espécies de ação penal. Contravenção penal, não! Contravenção
fato antijurídico. É uma novíssima concepção: teoria constitucio- penal só é perseguida mediante ação pena pública incondicio-
nalista do delito de Luiz Flávio Gomes. nada. Isso está no art. 17, da Lei das Contravenções:
Qualquer um desses conceitos é possível que se coloque numa
prova. Não existe nenhum desses conceitos errados, muito embora “Art. 17. A ação penal é pública, devendo a autoridade pro-
deve-se conhecer a banca examinadora do seu concurso antes de ceder de ofício.”

Didatismo e Conhecimento 83
NOÇÕES DE DIREITO
É uma maneira diferente de falar: ação penal pública incon- Atenção: Há um caso em que a contravenção penal pode e
dicionada. deve ser processada e julgada perante a Justiça Federal: quando o
Em resumo, o que defendem parte da doutrina e jurisprudên- autor for detentor de foro de prerrogativa de função federal (juiz
cia: federal pratica contravenção, quem julga é o TRF).
- Lesão corporal dolosa de natureza leve – era pública incon-
dicionada, torna-se condicionada com a lei. f) Limite das penas
- Vias de fato – era pública incondicionada, permanece incon-
dicionada depois da lei. Nisso, a jurisprudência enxerga uma con- - No caso de crime, a pena está limitada a 30 anos.
tradição. Como pode o mais depender de representação e o menos - No caso de contravenção penal, o cumprimento da pena está
não? Assim, transforma as vias de fato em pública condicionada. limitado a 5 anos.
Então, segundo esse entendimento, isso é uma exceção ao art.
17, da LCP. “Art. 10, LCP. A duração da pena de prisão simples não
Equívoco da exceção – Qual é o equívoco dessa construção? pode, em caso algum, ser superior a cinco anos, nem a impor-
É imaginar que tipo de ação penal está ligado à gravidade do fato. tância das multas ultrapassar cinquenta contos.”
O tipo de ação penal não está ligado à gravidade do fato, mas à
conveniência do processo, da transferência ou não da titularidade g) Sursis
da ação para a vítima. Tanto é que um dos crimes mais graves do - No caso de crime, a suspensão tem um período de prova
Código Penal, que é o de estupro, tem regra de ação privada. Se variando de 2 a 4 anos, em regra.
fosse, assim, o furto também dependeria de representação da víti- - No caso da contravenção penal, o período de prova, varia de
ma, já que é menos que o estupro. A contravenção penal “impor- 1 a 3 anos. Art. 11, LCP:
tunação ofensiva ao pudor” também dependeria de queixa-crime,
por esse raciocínio. Fica a crítica. “Art. 11. Desde que reunidas as condições legais, o juiz pode
suspender por tempo não inferior a um ano nem superior a três,
Observação importante: STF – não reconhece essa exce- a execução da pena de prisão simples, bem como conceder livra-
ção. O STF trabalha com o artigo 17, da LCP, SEM exceções. mento condicional.”
c) Punibilidade da Tentativa
Considerações Gerais:
Em se tratando de crime, a tentativa é punível. Em se tratando
Crime e contravenção penal ontologicamente são idênticos,
de contravenção penal, não se pune a tentativa (art. 4º, da LCP).
conforme já dito aqui. A diferença é axiológica, quanto ao grau,
Cuidado! Eu não estou dizendo que contravenção penal não admi-
quanto à gravidade. O que é crime e o que é contravenção penal,
te tentativa. Eu estou dizendo que a tentativa não é punível. Ad-
vai depender de opção política do legislador. Ele pode, amanhã
mite tentativa, apenas essa tentativa não interessa, não é punível.
transformar uma contravenção em crime e vice-versa porque a di-
“Art. 4º Não é punível a tentativa de contravenção.” ferença é quanto ao grau. Para fazer a opção, o legislador toma
por base o que está na lei. Na hora de escolher se tal fato vai ser
d) Regras de extraterritorialidade crime ou vai ser contravenção ele deve analisar se exige reclusão
ou prisão simples.
- Crime admite extraterritorialidade da lei penal. Vejam como, realmente, a opção é política: o mesmo fato
- Contravenção penal não admite extraterritorialidade – JA- (porte ilegal de arma de fogo), até 1997, era uma contravenção
MAIS a lei penal brasileira vai alcançar a contradição penal ocor- penal. Em 2003 passou a ser crime. Exatamente o mesmo fato. O
rida no estrangeiro (art. 2º, da LCP). É territorialidade: legislador veio enquadrá-lo na condição de crime. O mesmo fato.
Tudo isso com base em opção política.
“Art. 2º A lei brasileira só é aplicável à contravenção prati-
cada no território nacional.”
2.3.3 CRIME DOLOSO E
e) Competência para o processo e julgamento CRIME CULPOSO
- No caso de crime, pode ser da justiça estadual ou federal.
- No caso de contravenção penal, somente da justiça estadu-
al. Art. 109, IV, da Constituição Federal:
Art. 18 - Diz-se o crime:
“Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:” I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o
“IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em risco de produzi-lo;
detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por
entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as con- imprudência, negligência ou imperícia.
travenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei, ninguém
Justiça Eleitoral;” pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o
pratica dolosamente.
Nem quando ela for conexa a um crime federal vai para a Jus- Art. 19- Pelo resultado que agrava especialmente a pena, só
tiça Federal. responde o agente que o houver causado ao menos culposamente

Didatismo e Conhecimento 84
NOÇÕES DE DIREITO
DOLO - Dolo indireto ou indeterminado
Conceito É aquele que existe quando o agente não quer produzir resul-
Existem três teorias que falam sobre o conceito de dolo: tado certo e determinado. Pode ser:
• Teoria da vontade: dolo é a vontade de praticar a conduta • Eventual: quando o agente não quer produzir o resultado,
e produzir o resultado. O agente quer o resultado. mas aceita o risco de produzi-lo (exemplo: o motorista que, em de-
• Teoria do assentimento ou da aceitação: dolo é a vonta- sabalada corrida, para chegar em seu destino, aceita o resultado de
de de praticar a conduta com a aceitação dos riscos de produzir o atropelar uma pessoa). Nélson Hungria lembra a fórmula de Frank
resultado. O agente não quer, mas não se importa com o resultado. para explicar o dolo eventual: “Seja como for, dê no que der, em
• Teoria da representação ou da previsão: dolo é a pre- qualquer caso não deixo de agir”.
visão do resultado. Para que haja dolo, basta o agente prever o • Alternativo: quando o agente quer produzir um ou outro
resultado. resultado (exemplo: o agente atira para ferir ou para matar; nesse
O Código Penal adotou as teorias da vontade e do assentimen- caso, responde pelo resultado mais grave, aplicando-se o princípio
to. Ao conceituar crime doloso, o legislador indiretamente concei- da consunção).
tuou dolo: “quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco - Dolo geral ou erro sucessivo
de produzi-lo” (artigo 18, inciso I, do Código Penal). A teoria da Conhecido também como erro sobre o nexo causal ou aber-
representação, que confunde culpa consciente com dolo, não foi ratio causae, ocorre quando o agente, supondo já ter produzido
adotada. o resultado, pratica nova agressão, que para ele é mero exauri-
mento, mas é nesse momento que atinge a consumação (exemplo:
Espécies de Dolo: “A” quer matar “B” por envenenamento; após o envenenamento,
- Dolo normativo supondo que “B” já está morto, “A” joga o que imagina ser um
É o dolo segundo a teoria clássica, causal ou naturalista. É cadáver no rio e “B” acaba morrendo por afogamento; nesse caso,
o dolo que integra a culpabilidade e não a conduta, e tem como o erro é irrelevante, pois o que vale é a intenção do agente, que
elementos a consciência (sei o que faço), a vontade (quero fazer) e responderá por homicídio doloso). O Professor Damásio de Jesus
a consciência da ilicitude (sei que é errado). É o dolo que depende entende que o agente deve responder por tentativa de homicídio,
de um juízo de valor. aplicando-se a teoria da imputação objetiva.
- Dolo natural
É o dolo segundo a doutrina finalista. Para os finalistas, o CULPA
dolo passou a constituir elemento do fato típico (conduta dolosa),
Culpa é o elemento normativo da conduta (não confundir
deixando de ser requisito para a culpabilidade. A consciência da
com elemento normativo do tipo), pois sua existência decorre da
ilicitude se destacou do dolo e passou a integrar a culpabilidade.
comparação que se faz entre o comportamento do agente no caso
Assim, o dolo que passou para a conduta é aquele composto ape-
concreto e aquele previsto na norma, que seria o ideal. Essa norma
nas por consciência e vontade (sem a consciência da ilicitude, que
corresponde ao sentimento médio da sociedade sobre o que é certo
passou a integrar a culpabilidade). É uma manifestação psicológi-
e o que é errado.
ca, que prescinde de juízo de valor. É o dolo adotado pelo Código
Penal.
- Dolo genérico Elementos do Fato Típico Culposo
É a vontade de realizar o verbo do tipo sem qualquer finali- São elementos do fato típico culposo:
dade especial. • conduta voluntária;
- Dolo específico • resultado naturalístico involuntário;
É a vontade de realizar o verbo do tipo com uma finalidade • nexo causal;
especial. Sempre que no tipo houver um elemento subjetivo, para • tipicidade;
que o fato seja típico, será necessário o dolo específico. • previsibilidade objetiva: é a possibilidade de qualquer
- Dolo de perigo pessoa ter previsto o resultado; o que se leva em conta é se o resul-
É a vontade de expor o bem a uma situação de perigo de dano. tado era ou não previsível para uma pessoa de prudência mediana,
O perigo pode ser concreto ou abstrato. Quando o perigo for con- e não a capacidade do agente de prever o resultado;
creto, é necessária a efetiva comprovação de que o bem jurídico • ausência de previsão: não prever o previsível. Exceção:
ficou exposto a uma real situação de perigo (exemplo: crime do na culpa consciente há previsão;
artigo 132 do Código Penal). O perigo abstrato, também conhecido • quebra do dever objetivo de cuidado: é o dever de cuida-
como presumido, é aquele em que basta a prática da conduta para do imposto a todos. Existem três maneiras de violar o dever obje-
que a lei presuma o perigo (exemplo: artigo 135 do Código Penal). tivo de cuidado. São as três modalidades de culpa.
Os Professores Damásio de Jesus e Luiz Flávio Gomes sustentam
que os crimes de perigo abstrato não existem mais na ordem jurí- Modalidades de Culpa:
dica. - Imprudência: É a culpa de quem age (exemplo: passar no
- Dolo de dano farol fechado). É a prática de um fato perigoso, ou seja, é uma ação
Existe quando a vontade é de produzir uma efetiva lesão ao descuidada. Decorre de uma conduta comissiva.
bem jurídico. Quase todos os crimes são de dano (exemplos: furto,
homicídio etc.). - Negligência: É a culpa de quem se omite. É a falta de cui-
- Dolo direto ou determinado dado antes de começar a agir. Ocorre sempre antes da ação (exem-
Existe quando o agente quer produzir resultado certo e deter- plo: não verificar os freios do automóvel antes de colocá-lo em
minado; é o dolo da teoria da vontade. movimento).

Didatismo e Conhecimento 85
NOÇÕES DE DIREITO
- Imperícia: É a falta de habilidade no exercício de uma pro- 2.ª posição: é possível a participação em crime culposo, sendo
fissão ou atividade. o autor aquele que realiza o núcleo do tipo doloso e partícipe quem
No caso de exercício de profissão, arte ou ofício, se não for concorre para tal. Exemplo: motorista dirige de forma imprudente
observada uma regra técnica o fato poderá enquadrar-se nos arti- e, instigado pelo acompanhante, acaba atropelando uma pessoa. O
gos 121, § 4.º, e 129, § 7.º, do Código Penal. Observe-se que só motorista matou a vítima, pois foi ele quem a atropelou; o acom-
haverá aumento de pena se o agente conhecer a regra técnica e não panhante teve participação nesta morte.
aplicá-la. Não incide o aumento de pena se o agente desconhece A primeira posição prevalece na doutrina, pois a culpa é um
a regra. tipo aberto, não possuindo, por esse motivo, conduta principal dis-
Se a imperícia advier de pessoa que não exerce a arte ou pro- tinta da secundária. É a nossa posição.
fissão, haverá imprudência ou negligência (exemplo: motorista
sem habilitação). Espécies de Culpa:
Difere-se a imperícia do erro profissional, que ocorre quando - Culpa inconsciente ou sem previsão
são empregados os conhecimentos normais da arte ou ofício e o É a culpa sem previsão, em que o agente não prevê o que era
agente chega a uma conclusão equivocada. previsível.
O Código Penal de 1890, em seu artigo 297, previa a culpa in - Culpa consciente ou com previsão
re ipsa ou culpa presumida, resultante de inobservância de disposi- É aquela em que o agente prevê o resultado, mas acredita sin-
ção regulamentar. Se, por exemplo, um motorista sem habilitação ceramente que ele não ocorrerá. Não se pode confundir a culpa
atropelasse uma criança, responderia pelo resultado, mesmo se não consciente com o dolo eventual. Tanto na culpa consciente quanto
tivesse agido culposamente. Adotava-se, como se vê, a responsabi- no dolo eventual o agente prevê o resultado, entretanto na culpa
lidade penal objetiva, abolida no Código Penal de 1940. consciente o agente não aceita o resultado, e no dolo eventual o
agente aceita o resultado.
Tipo Aberto - Culpa indireta ou mediata
O tipo culposo é um tipo aberto, pois não há descrição da É aquela em que o sujeito dá causa indiretamente a um resul-
conduta. Assim, se o legislador tentasse descrever todas as hipó- tado culposo (exemplo: o assaltante aponta uma arma a um mo-
teses em que ocorresse culpa, certamente jamais esgotaria o rol. torista que está parado no sinal; o motorista, assustado, foge do
Compara-se a conduta do agente, no caso concreto, com a conduta carro e acaba sendo atropelado). A solução do problema depende
de uma pessoa de prudência mediana. Se a conduta do agente se
da previsibilidade ou imprevisibilidade do segundo resultado.
afastar dessa prudência, haverá a culpa. Será feita uma valoração
- Culpa imprópria
para verificar a existência da culpa.
Também é chamada culpa por extensão, por assimilação ou
O tipo culposo, como vimos, é um tipo aberto. Excepcional-
por equiparação. Nesse caso, o resultado é previsto e querido pelo
mente, o tipo culposo é um tipo fechado. Exemplos: receptação
agente, que age em erro de tipo inescusável ou vencível. Exemplo:
culposa, tráfico culposo (ministrar dose evidentemente maior) etc.
“A” está em casa assistindo televisão quando seu primo entra na
casa pelas portas dos fundos; pensando tratar-se de um ladrão, “A”
Excepcionalidade da Culpa
Um crime só pode ser punido como culposo quando há pre- efetua disparos de arma de fogo contra seu azarado parente. Nes-
visão expressa na lei. Se a lei é omissa o crime só é punido como se caso, “A” acredita estar agindo em legítima defesa. Como “A”
doloso (artigo 18, parágrafo único, do Código Penal). agiu em erro de tipo inescusável ou vencível (se fosse mais atento
e diligente perceberia que era seu primo), responde por homicídio
Compensação de Culpas culposo nos termos do artigo 20, § 1.º, do Código Penal. Observe-
No Direito Penal, não existe compensação de culpas. O fato de -se que a culpa imprópria, na verdade, diz respeito a um crime
a vítima ter agido também com culpa não impede que o agente res- doloso que o legislador aplica pena de crime culposo.
ponda pela sua conduta culposa. Somente nos casos em que existir Se “A”, no entanto, tivesse agido em erro de tipo escusável ou
culpa exclusiva da vítima haverá exclusão da culpa do agente. invencível, haveria exclusão de dolo e culpa, hipótese em que “A”
Não confundir com concorrência de culpas que ocorre quando ficaria impune.
dois ou mais agentes, culposamente, contribuem para a produção Qual a solução se o primo (do exemplo citado acima) não ti-
do resultado (exemplo: choque de dois veículos num cruzamento). vesse morrido?
Há duas posições na doutrina:
Graus de Culpa - 1.ª posição: “A” responderia por lesões corporais culposas.
Para efeito de cominação abstrata de pena, não há diferença. - 2.ª posição: “A” responderia por tentativa de homicídio cul-
Na dosagem da pena concreta, entretanto, é levado em conta o poso.
grau da culpa na primeira fase de sua fixação (artigo 59 do Código Preferimos a primeira posição, pois não admitimos a tentativa
Penal). São três níveis: grave, leve e levíssima. em crime culposo.

Participação no Crime Culposo CRIME PRETERDOLOSO: é uma espécie do gênero cri-


Sobre a possibilidade de participação em crime culposo, há me qualificado pelo resultado. Não cabe tentativa no crime preter-
duas posições na doutrina: doloso, tendo em vista que o resultado é produzido por culpa e não
1.ª posição: não é possível a participação em crime culpo- pode haver tentativa daquilo que não se quer produzir.
so. Isto porque, o tipo culposo é aberto, logo não há descrição da
conduta. Assim, não há que se falar em conduta acessória e em Art. 19 - Pelo resultado que agrava especialmente a pena, só
conduta principal. responde o agente que o houver causado ao menos culposamente

Didatismo e Conhecimento 86
NOÇÕES DE DIREITO
Crime qualificado pelo resultado é aquele em que o legislador, Lembre-se que o latrocínio nem sempre é preterdoloso, pois
após definir um crime completo e acabado, com todos os seus ele- o resultado morte pode ser querido pelo agente, hipótese em que o
mentos (fato antecedente), acrescenta-lhe um resultado (fato con- latrocínio admite a tentativa.
sequente). O resultado não é necessário para a consumação, que já
ocorreu no fato antecedente; o resultado tem a função de aumentar
abstratamente a pena.
2.3.4 CRIME CONSUMADO E
Espécies: CRIME TENTADO
- Conduta dolosa e resultado agravador doloso:

Antecedente Consequente
O agente pratica o crime Art. 14 - Diz-se o crime:
com dolo e depois acrescenta I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos
um resultado também dolo- de sua definição legal;
DOLO DOLO so (exemplo: latrocínio – há II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma
dolo na prática do roubo e por circunstâncias alheias à vontade do agente.
dolo na morte da vítima). Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a
tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, dimi-
- Conduta culposa e resultado agravador doloso : nuída de um a dois terços.

Antecedente Consequente Crime consumado é aquele em que foram realizados todos os


O agente pratica o crime com elementos da definição legal.
culpa e depois acrescenta um Crime exaurido é aquele em que o agente já consumou o cri-
resultado doloso (exemplo: o me, mas continua atingindo o bem jurídico. O exaurimento influi
CULPA DOLO na primeira fase da fixação da pena (artigo 59, caput, do Código
agente atropela a vítima culpo-
samente e, após, foge, omitindo- Penal).
-se de socorrê-la). Iter criminis é o itinerário do crime. A doutrina aponta quatro
etapas diferentes no caminho do crime:
- Conduta dolosa e resultado agravador culposo : • Cogitação: nesta fase, o agente somente está pensando,
idealizando, planejando a prática do crime. Nessa fase o crime é
impunível.
Antecedente Consequente
• Preparação: é a prática dos atos antecedentes necessá-
O agente pratica o crime com rios ao início da execução. Não existe fato típico ainda, salvo se o
dolo e depois acrescenta um ato preparatório constituir crime autônomo.
resultado culposo (exemplo: • Execução: começa a agressão ao bem jurídico. Nessa
DOLO CULPA
o agente desfere um soco na fase, o agente inicia a realização do núcleo do tipo, e o crime já se
vítima, que cai, bate a cabeça e torna punível.
morre). • Consumação: quando todos os elementos do fato típico
são realizados.
Trata-se do crime preterdoloso (ou preterintencional) que é
uma espécie do gênero crime qualificado pelo resultado. Não cabe Pergunta: Em que momento o crime sai de sua fase preparató-
tentativa no crime preterdoloso, tendo em vista que o resultado é ria e começa a ser executado?
produzido por culpa e não pode haver tentativa daquilo que não se Resposta: A execução começa com a prática do primeiro ato
quer produzir. idôneo e inequívoco à consumação do crime. Ato idôneo é o capaz
de produzir o resultado e ato inequívoco é o que, fora de qualquer
- Conduta culposa e resultado agravador culposo: dúvida, induz ao resultado. Assim, a execução está ligada ao verbo
de cada tipo. Quando o agente começa a praticar o verbo do tipo,
Antecedente Consequente inicia-se a execução.
O agente pratica um delito culpo-
samente e, em razão desse crime, TENTATIVA
dá causa a um resultado agrava- Tentativa é a não consumação de um crime, cuja execução foi
CULPA CULPA dor culposo (exemplo: incêndio iniciada, por circunstâncias alheias à vontade do agente.
culposo que resulta uma morte
também culposa). Espécies de Tentativa:
- Tentativa imperfeita ou inacabada
Observações: Ocorre quando a execução do crime é interrompida, ou seja,
O crime preterdoloso ou preterintencional não admite tentati- o agente, por circunstâncias alheias à sua vontade, não chega a
va, pois o resultado agravador é obtido a título de culpa. praticar todos os atos de execução do crime .

Didatismo e Conhecimento 87
NOÇÕES DE DIREITO
- Tentativa perfeita ou acabada Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosse-
Também conhecida como “crime falho”. Ocorre quando o guir na execução ou impede que o resultado se produza, só res-
agente pratica todos os atos de execução do crime, mas o resultado ponde pelos atos já praticados.
não se produz por circunstâncias alheias à sua vontade. Na desistência voluntária, o agente interrompe voluntaria-
mente a execução do crime, impedindo, desse modo, a sua con-
- Tentativa branca ou incruenta sumação. Ocorre antes de o agente esgotar os atos de execução,
Classificação para os crimes contra a pessoa; ocorre quando a sendo possível somente na tentativa imperfeita ou inacabada. Não
vítima não é atingida. há que se falar em desistência voluntária em crime unissubsistente,
- Tentativa cruenta visto que este é composto de um único ato.
Classificação para os crimes contra a pessoa; ocorre quando No arrependimento eficaz, o agente executa o crime até o
a vítima é atingida, mas o resultado desejado não acontece por último ato, esgotando-os, e logo após se arrepende, impedindo o
circunstância alheia à vontade do agente. resultado. Só é possível no caso da tentativa perfeita ou acabada.
Ocorre somente nos crimes materiais que se consumam com a ve-
Infrações que Não Admitem Tentativa: rificação do resultado naturalístico.
- Crimes culposos: parte da doutrina admite no caso de culpa A desistência ou o arrependimento não precisa ser espontâneo,
imprópria. mas deve ser voluntário. Mesmo se a desistência ou a resipiscên-
- Crimes preterdolosos: no caso dos crimes preterdolosos ou cia for sugerida por terceiros subsistirão seus efeitos. A tentativa
preterintencionais, o evento de maior gravidade, não querido pelo abandonada, em suas duas modalidades, exclui a aplicação da pena
agente, é punido a título de culpa. No caso de latrocínio tentado, o por tentativa, ou seja, o agente responderá somente pelos atos até
resultado morte era querido pelo agente; assim, embora qualifica- então praticados.
do pelo resultado, o latrocínio só poderá ser preterdoloso quando
consumado. Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ame-
- Crimes omissivos próprios: são crimes de mera conduta aça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebi-
(exemplo: artigo 135 do Código Penal). mento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a
pena será reduzida de um a dois terços.
- Contravenção penal: a tentativa não é punida (artigo 4.º do
A expressão utilizada pelo legislador é redundante, pois todo
Decreto-lei n. 3.688/41).
arrependimento é posterior. Na verdade o arrependimento é poste-
- Delitos de atentado: são crimes em que a lei pune a tentativa
rior à consumação do crime.
como se fosse consumado o delito (exemplo: artigo 352 do Código
Trata-se de causa obrigatória de redução de pena.
Penal).
É causa objetiva de diminuição de pena, portanto, estende-se
- Crimes habituais: tais crimes exigem, para consumação, a
aos coautores e partícipes condenados pelo mesmo fato.
reiteração de atos que, isolados, não configuram fato típico. Invi-
ável a verificação da tentativa, posto que uma segunda conduta já Requisitos:
caracteriza o delito. • Só cabe em crime cometido sem violência ou grave ame-
- Crimes que a lei só pune se ocorrer o resultado: trata-se, aça contra a pessoa. Visa o legislador a dar oportunidade ao agen-
por exemplo, do artigo 122 do Código Penal. te, que pratica crime contra o patrimônio sem violência ou grave
ameaça, de reparar o dano ou restituir a coisa. Na jurisprudência,
Observações: prevalece o entendimento de que a lei só se refere à violência dolo-
Parte da doutrina entende que os crimes formais e de mera sa, podendo a diminuição ser aplicada aos crimes culposos em que
conduta não admitem tentativa. Não concordamos com esse en- haja violência, como o homicídio culposo. Assim, a intenção do
tendimento. O crime de ameaça, por exemplo, trata-se de crime legislador foi criar um instituto para os crimes patrimoniais, mas a
formal, mas admite a tentativa no caso de ameaça por escrito, em jurisprudência estendeu ao homicídio culposo.
que a carta é interceptada por terceiro. Alguns crimes de mera • Reparação do dano ou restituição da coisa (deve ser in-
conduta também admitem tentativa, como a violação de domicílio tegral).
(o agente pode, sem sucesso, tentar invadir domicílio de outrem). • Por ato voluntário do agente. Não há necessidade de ser
O crime unissubsistente comporta tentativa em alguns casos, por ato espontâneo, podendo haver influência de terceira pessoa.
exemplo, quando o agente efetua um único disparo contra a vítima • O arrependimento posterior só pode ocorrer até o recebi-
e erra o alvo. mento da denúncia ou queixa. Após, a reparação do dano será so-
mente causa atenuante genérica (artigo 65, inciso III, alínea “b”).
Tentativa Abandonada ou Qualificada
Ocorre quando, iniciada a execução, o resultado não se produz Critérios para Aplicação da Redução da Pena:
por força da vontade do próprio agente. É chamada pela doutrina São dois os critérios para se aplicar a redução da pena: espon-
de ponte de ouro. Comporta duas espécies: desistência voluntária taneidade e celeridade. O arrependimento posterior não precisa ser
e arrependimento eficaz. espontâneo, mas se for, a pena sofrerá maior diminuição. Também,
quanto mais rápido reparar o dano, maior será a diminuição.
Aplicação da Pena
A tentativa é punida com a mesma pena do crime consumado, Relevância da Reparação do Dano:
reduzida de 1/3 a 2/3. O critério para essa redução é a proximidade • Cheque sem fundos: o pagamento até o recebimento da
do momento consumativo, ou seja, quanto mais próximo chegar da denúncia ou queixa extingue a punibilidade (Súmula 554 do Su-
consumação, menor será a redução. premo Tribunal Federal).

Didatismo e Conhecimento 88
NOÇÕES DE DIREITO
• Crimes contra a ordem tributária: o pagamento do tri-
buto até o recebimento da denúncia ou queixa também extingue a 2.3.5 ESTADO DE NECESSIDADE.
punibilidade. LEGÍTIMA DEFESA. ESTRITO CUMPRI-
• Peculato culposo (artigo 312, § 3.º): se a reparação do MENTO DO DEVER LEGAL. EXERCÍCIO
dano precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se REGULAR DO DIREITO
lhe é posterior reduz de metade a pena imposta.
• Crimes de ação penal privada ou pública condicionada
à representação (artigo 74, parágrafo único, da Lei n. 9.099/95):
havendo composição civil do dano em audiência preliminar, extin-
gue-se o direito de queixa ou representação. Causas de exclusão de ilicitude:
Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato:
Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia ab- I - em estado de necessidade;
soluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é im- II - em legítima defesa;
possível consumar-se o crime III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício
Também chamada “tentativa inidônea ou inadequada”, “quase regular de direito;
crime”, e ocorre quando a consumação é impossível pela ineficácia Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses deste
absoluta do meio ou impropriedade absoluta do objeto. artigo, responderá pelo excesso doloso ou culposo.
A consequência do crime impossível é a atipicidade do fato. As causas de exclusão da ilicitude (também chamadas exclu-
A teoria adotada no crime impossível é a teoria objetiva tem- são da antijuridicidade, causas justificantes ou descriminantes)
perada, pois se a ineficácia do meio e a impropriedade do objeto podem ser:
forem relativas há tentativa. Essa teoria opõe-se à teoria sintomá- - causas legais: são as quatro previstas em lei (estado de ne-
tica (se o agente demonstra periculosidade deve ser punido) e à cessidade, legítima defesa, estrito cumprimento do dever legal e o
teoria subjetiva (deve ser punido se demonstra vontade de delin- exercício regular de direito);
quir). Para a teoria objetiva pura, há crime impossível mesmo se a - causas supralegais: são aquelas não previstas em lei, que po-
impropriedade e a ineficácia forem relativas. dem ser admitidas sem que haja colisão com o princípio da reserva
legal, pois aqui se cuida de norma não incriminadora (exemplo:
Ineficácia Absoluta do Meio colocação de piercing; não se trata de crime de lesão corporal, pois
O meio empregado jamais poderia levar à consumação do cri- há o consentimento do ofendido).
me. A ineficácia do meio deve ser absoluta (exemplo: um palito
para matar um adulto, uma arma de brinquedo). Deve-se lembrar, A) Estado de Necessidade
entretanto, que um determinado meio pode ser ineficaz para um Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pra-
crime, mas eficaz para outro (exemplo: num crime de roubo, uma tica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por
arma totalmente inapta a produzir disparos pode ser utilizada para sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio
intimidar a vítima). ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável
exigir-se.
Crime de ensaio ou experiência § 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o
Também chamado “delito putativo por obra do agente pro- dever legal de enfrentar o perigo.
vocador” ou “crime de flagrante preparado”, ocorre quando a po- § 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito
lícia ou terceiro (agente provocador) prepara uma situação, que ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a dois terços.
induz o agente a cometer o delito (exemplo: detetive simula querer Consiste em uma conduta lesiva praticada para afastar uma
comprar maconha e prende o traficante). O agente é protagonista situação de perigo. Obviamente, não é qualquer situação de perigo
de uma farsa. A jurisprudência considera a encenação do flagrante
que admite a conduta lesiva e não é qualquer conduta lesiva que
preparado uma terceira espécie de crime impossível, entendendo
pode ser praticada na situação de perigo. A situação de perigo pode
não haver crime ante a atipicidade do fato (Súmula n. 145 do Su-
ser, por exemplo, um fenômeno da natureza, um ataque de animal
premo Tribunal Federal).
irracional, um ataque humano justificado (se for injusto, será legí-
tima defesa).
Impropriedade Absoluta do Objeto
A pessoa ou a coisa sobre a qual recai a conduta jamais po-
Característica essencial
deria ser alvo do crime (exemplo: atirar em alguém que já está
morto). No estado de necessidade, um bem jurídico é sacrificado para
salvar outro ameaçado por situação de perigo (exemplo: naufrá-
Delito putativo por erro de tipo gio).
O crime impossível pela absoluta impropriedade do objeto é
também chamado delito putativo por erro de tipo, pois se trata de Teorias
um crime imaginário; o agente quer cometer um crime, mas devi- Teoria unitária: o estado de necessidade sempre exclui a anti-
do ao desconhecimento da situação de fato, comete um irrelevante juridicidade. Essa teoria foi acolhida pelo Código Penal.
penal (exemplo: mulher pensa que está grávida e ingere substância Teoria diferenciada (Direito Penal alemão): se o bem sacrifi-
abortiva). Não se confunde com o erro de tipo, pois neste o agente cado for de valor igual ao salvo, o estado de necessidade só exclui
não sabe, devido a um erro de apreciação da realidade, que está co- a culpabilidade.
metendo um crime (exemplo: compra cocaína pensando ser talco).

Didatismo e Conhecimento 89
NOÇÕES DE DIREITO
Requisitos para a existência do estado de necessidade Requisitos
O perigo deve ser atual ou iminente. A lei só fala em perigo - Agressão: ataque humano. No caso de ataque de animal irra-
atual, mas a doutrina considera que o agente não precisa aguardar cional, não há legítima defesa e sim estado de necessidade.
o perigo surgir para só então agir. Assim, o perigo deve estar acon- Observação: se uma pessoa açula um animal para atacar ou-
tecendo naquele momento ou prestes a acontecer. Quando, portan- tra, há legítima defesa, pois nesse caso o animal é instrumento do
to, o perigo for remoto ou futuro, não há o estado de necessidade. crime.
O perigo deve ameaçar direito próprio ou alheio. Necessá- A agressão pode ser ativa ou passiva:
rio se faz que o bem esteja protegido pelo ordenamento jurídico - ativa: a agressão injusta é uma ação;
(exemplo: o condenado à morte não pode alegar estado de neces- - passiva: quando o ato de agredir é uma omissão, é preciso
sidade contra o carrasco). No caso de situação de perigo a bem de que o agressor omitente esteja obrigado a atuar (exemplo: carcerei-
terceiro, não há necessidade da autorização deste. ro que, mesmo com alvará de soltura, não liberta o preso).
O perigo não pode ter sido causado voluntariamente pelo
agente. Quem dá causa a uma situação de perigo não pode invocar - Injusta: no sentido de ilícita, contrária ao ordenamento ju-
o estado de necessidade para afastá-la. Aquele que provocou o pe- rídico.
rigo com dolo não age em estado de necessidade porque tem o de-
A agressão deve ser ilícita. Assim, não se admite:
ver jurídico de impedir o resultado. Mas, se o perigo foi provocado
-legítima defesa real contra legítima defesa real;
culposamente, o agente pode se valer do estado de necessidade.
-legítima defesa real contra estado de necessidade real;
Observação: há, entretanto, quem defenda que, mesmo se o perigo
foi provocado culposamente, o agente não pode se valer do estado -legítima defesa real contra exercício regular de direto;
de necessidade. -legítima defesa real contra estrito cumprimento do dever le-
Quem possui o dever legal de enfrentar o perigo não pode gal.
invocar o estado de necessidade, pois deve afastar a situação de Observação: em nenhuma dessas hipóteses havia agressão
perigo sem lesar qualquer outro bem jurídico (exemplo: bombei- injusta.
ro). Observe-se que a lei fala em dever legal e não dever jurídico,
sendo este mais amplo do que aquele. - Atual ou iminente:atual é a agressão que está acontecendo e
Inevitabilidade do comportamento lesivo, ou seja, somente iminente é a que está prestes a acontecer. Não cabe legítima defe-
deverá ser sacrificado um bem se não houver outra maneira de sa contra agressão passada ou futura nem quando há promessa de
afastar a situação de perigo. agressão.
É necessário existir proporcionalidade entre a gravidade do - A direito próprio ou de terceiro: há legítima defesa própria
perigo que ameaça o bem jurídico do agente ou alheio e a gravi- quando o sujeito está se defendendo e legítima defesa alheia quan-
dade da lesão causada. Trata-se da razoabilidade do sacrifício, ou do defende terceiro. Pode-se alegar legítima defesa alheia mesmo
seja, se o sacrifício for razoável, haverá estado de necessidade, ex- agredindo o próprio terceiro (exemplo: em caso de suicídio, pode-
cluindo-se a ilicitude. Se houver desproporcionalidade o fato será -se agredir o terceiro para o salvar).
ilícito, afastando-se o estado de necessidade, e o réu terá direito à - Meio necessário: é o meio menos lesivo colocado à disposi-
redução da pena de 1/3 a 2/3 (artigo 24, § 2.º, do Código Penal). ção do agente no momento da agressão.
Requisito subjetivo: os finalistas consideram mais um requi- - Moderação: é o emprego do meio menos lesivo dentro dos
sito do estado de necessidade; o conhecimento da situação justifi- limites necessários para conter a agressão. Somente quando ficar
cante. Se não houver esse conhecimento, o agente não terá direito evidente a intenção de agredir e não a de se defender, caracterizar-
a invocar o estado de necessidade. Para os clássicos, esse conheci- -se-á o excesso.
mento é irrelevante.
Excesso é a intensificação desnecessária de uma ação inicial-
Espécies de estado de necessidade mente justificada, ou seja, ocorre quando se utiliza um meio que
Próprio ou de terceiro: é próprio quando há o sacrifício de
não é necessário ou quando se utiliza meio necessário sem mode-
um bem jurídico para salvar outro que é do próprio agente. É de
ração. Se o excesso for doloso não há legítima defesa. Se o excesso
terceiro quando o sacrifício visa a salvar bem jurídico de terceiro.
for culposo o agente responde pelo crime culposo. Neste caso, os
Real ou putativo: é real quando se verificam todos os requi-
sitos da situação de perigo. É putativo quando não subsistem, de jurados desclassificam o crime doloso contra a vida para um crime
fato, todos os requisitos legais da situação de necessidade, mas o culposo (é a chamada desclassificação imprópria). Caso não se ca-
agente os julga presentes. racterize nem o dolo nem a culpa do excesso, verifica-se a legítima
Defensivo ou agressivo: é defensivo quando há o sacrifício de defesa subjetiva.
bem jurídico da própria pessoa que criou a situação de perigo. É
agressivo quando há o sacrifício de bem jurídico de terceira pessoa Espécies de legítima defesa
inocente. - legítima defesa putativa: é a legítima defesa imaginária. É a
errônea suposição da existência da legítima defesa por erro de tipo
B) Legítima Defesa ou erro de proibição.
Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando mode- - legítima defesa subjetiva: é o excesso cometido por um erro
radamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual plenamente justificável.
ou iminente, a direito seu ou de outrem. - legítima defesa sucessiva: é a repulsa contra o excesso.
Trata-se de causa de exclusão da ilicitude consistente em repe-
lir injusta agressão, atual ou iminente, a direito próprio ou alheio, Hipóteses de cabimento da legítima defesa:
usando moderadamente dos meios necessários. - cabe legítima defesa real contra legítima defesa putativa.

Didatismo e Conhecimento 90
NOÇÕES DE DIREITO
- cabe legítima defesa putativa contra legítima defesa real
(exemplo: “A” é o agressor, “B” é a vítima. “A” começa a agredir 2.3.6 DOS CRIMES CONTRA A PESSOA
“B” e este começa a se defender. “C” não sabe quem começou a
briga e age em legítima defesa de “A”, agredindo “B”).
- cabe legítima defesa putativa contra legítima defesa putativa.
- cabe legítima defesa real contra agressão culposa. HOMICÍDIO:
- cabe legítima defesa real contra agressão de inimputável. Art. 121. Matar alguém:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de
Pergunta: Cabe legítima defesa real contra legítima defesa
relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta
subjetiva? emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, ou juiz
Resposta: Em tese caberia, pois a partir da continuidade da pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
agressão a vítima se torna agressora. Para a jurisprudência, en- § 2° Se o homicídio é cometido:
tretanto, não é aceita quando o excesso for repelido pelo próprio I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro
agressor, porque não pode invocar a legítima defesa quem iniciou motivo torpe;
a agressão, mas o excesso pode ser repelido por terceiro. II - por motivo fútil;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tor-
C) Estrito Cumprimento do Dever Legal tura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar
O dever deve constar de lei, decreto, regulamento ou qualquer perigo comum;
ato administrativo, desde que de caráter geral. Quando há ordem IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou
específica a um agente, não há o estrito cumprimento do dever outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofen-
legal, mas obediência hierárquica (estudada na culpabilidade). dido;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade
O agente atua em cumprimento de um dever imposto generi-
ou vantagem de outro crime:
camente, de forma abstrata e impessoal. Se houver abuso no cum- Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
primento da ordem, não há a excludente, o cumprimento deve ser § 3º Se o homicídio é culposo:
estrito, limitado aos ditames legais. Pena - detenção, de um a três anos.
É possível haver estrito cumprimento do dever legal putativo, § 4oNo homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um
ou seja, o sujeito pensa que está agindo no estrito cumprimento do terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de
dever legal, mas não está. profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imedia-
Necessário se faz ainda o requisito subjetivo, a consciência de to socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do
que se cumpre um dever legal; do contrário, há um ilícito. seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso
o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é
D) Exercício Regular do Direito praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60
O exercício de um direito jamais pode configurar um fato ilíci- (sessenta) anos.
to. O exercício irregular ou abusivo do direito, ou com espírito de § 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar
de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o
mera emulação, faz desaparecer a excludente.
próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne
desnecessária.
OBSERVAÇÕES: § 6º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o
- Ofendículos e defesa mecânica predisposta: Ofendículos crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de presta-
são aparatos visíveis destinados à defesa da propriedade ou de ção de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio.
qualquer outro bem jurídico. O que os caracteriza é a visibilidade,
devendo ser perceptíveis por qualquer pessoa (exemplos: lança no São três os tipos (espécies):
portão da casa, caco de vidro no muro etc.). Existem duas posições - homicídio simples;
sobre sua natureza jurídica: - homicídio privilegiado;
- legítima defesa preordenada, pois o aparato é armado com - homicídio qualificado.
antecedência, mas só atua no instante da agressão (Damásio de
Jesus); Homicídio Simples:
- exercício regular de direito (Aníbal Bruno). Conceito de homicídio: eliminação da vida humana extraute-
rina, provocada por outra pessoa.
Tipo penal: matar alguém.
- Defesa mecânica predisposta: é aparato oculto destinado Pena: reclusão de 6 (seis) a 20 (vinte) anos.
à defesa da propriedade ou de qualquer outro bem jurídico. Po-
dem configurar delitos culposos, pois alguns aparatos instalados Objeto jurídico:
imprudentemente podem trazer trágicas consequências. Observa- Objetividade jurídica trata-se do bem jurídico tutelado pela
ção: Para o Prof. Damásio de Jesus, nos dois casos, salvo condutas norma penal. No caso do homicídio o bem jurídico tutelado é a
manifestamente imprudentes, é mais correta a aplicação da justi- vida humana extrauterina. O homicídio é um crime simples, pois
ficativa da legítima defesa. A predisposição do aparelho constitui tem apenas um bem jurídico tutelado (vida). Crimes complexos
exercício regular de direito, mas, no momento em que este atua, o são aqueles em que a lei protege mais de um bem jurídico (exem-
caso é de legítima defesa preordenada. plo: latrocínio).

Didatismo e Conhecimento 91
NOÇÕES DE DIREITO
Sujeito ativo: Progressão criminosa: o agente inicia a execução querendo
Qualquer pessoa. O homicídio é um crime comum, pois pode apenas lesionar e depois altera o seu dolo e resolve matar. Con-
ser praticado por qualquer pessoa, ao contrário dos crimes pró- sequência: o agente só responde pelo homicídio que absorve as
prios, que só podem ser praticados por determinadas pessoas. lesões corporais.
O homicídio admite coautoria e participação. Lembre-se que Lesão corporal seguida de morte: trata-se de crime preterdo-
o Código Penal adotou a teoria restritiva, logo: loso (dolo na lesão e culpa na morte). Não se confunde com a
Autor: é a pessoa que pratica a conduta descrita no tipo, o ver- progressão criminosa.
bo do tipo (é quem subtrai, quem constrange, quem mata). Desistência Voluntária: o agente só responde pelos atos já
Partícipe: é a pessoa que não comete a conduta descrita no praticados. Ocorre quando, por exemplo, ele efetua um disparo
tipo, mas de alguma forma contribui para o crime. Exemplo: aque- contra a vítima e percebe que não a atingiu de forma mortal, sendo
le que empresta a arma, incentiva. que, na sequência, voluntariamente deixa de efetuar novos dispa-
ros, apesar de ser possível fazê-lo. O agente responde só por lesões
Para que exista coautoria e participação, é necessário que corporais. Não há tentativa, por não existir circunstância alheia à
exista liame subjetivo, ou seja, a ciência por parte dos envolvidos vontade do agente que tenha impedido a consumação (artigo 15 do
de que estão colaborando para um fim comum. Código Penal).

Elemento subjetivo:
Pergunta: Que vem a ser autoria colateral?
- dolo direto: quando a pessoa quer o resultado;
Resposta: Ocorre quando duas ou mais pessoas querem come-
- dolo eventual: o agente assume o risco de produzir o resulta-
ter o mesmo crime e agem ao mesmo tempo, sem que uma saiba da do (prevê a morte e age).
intenção da outra, e o resultado morte decorre da conduta de um só
agente, que é identificado no caso concreto. O que for identificado No caso de homicídio decorrente de racha de automóveis (ar-
responderá por homicídio consumado e o outro por tentativa. tigo 308 do Código de Trânsito Brasileiro), os Tribunais têm en-
tendido que se trata de homicídio com dolo eventual.
Pergunta: Que se entende por autoria incerta?
Resposta: Ocorre quando, na autoria colateral, não se conse- HOMICÍDIO PRIVILEGIADO - ARTIGO 121, § 1.º, DO
gue identificar o causador da morte, respondendo todos por tenta- CÓDIGO PENAL
tiva de homicídio. Natureza Jurídica:
Causa de diminuição de pena (redução de 1/6 a 1/3, em todas
Classificação: as hipóteses).
É um crime simples, comum, instantâneo, material e de dano. Apesar de o parágrafo trazer a expressão “pode”, trata-se de
uma obrigatoriedade, para não ferir a soberania dos veredictos. O
Sujeito passivo: privilégio é votado pelos jurados e, se reconhecido o privilégio,
Qualquer ser humano após seu nascimento e desde que esteja a redução da pena é obrigatória, pois do contrário estaria sendo
vivo. ferido o princípio da soberania dos veredictos. Trata-se, portanto,
Crime impossível: tem a finalidade de afastar a tentativa por de um direito subjetivo do réu.
absoluta ineficácia do meio ou absoluta impropriedade do objeto. As hipóteses são de natureza subjetiva porque estão ligadas
Há crime impossível por absoluta impropriedade do objeto na con- aos motivos do crime:
duta de quem tenta tirar a vida de pessoa já morta e, neste caso, não - Motivo de relevante valor moral (nobre): diz respeito a senti-
há tentativa de homicídio, ainda que o agente não soubesse que a mentos do agente que demonstre que houve uma motivação ligada
vítima estava morta. Haverá também crime impossível, mas por a uma compaixão ou algum outro sentimento nobre. É o caso da
absoluta ineficácia do meio, quando o agente usa, por exemplo, eutanásia.
arma de brinquedo ou bala de festim. - Motivo de relevante valor social: diz respeito ao sentimento
da coletividade. Exemplo: matar o traidor da Pátria.
- Sob domínio de violenta emoção, logo em seguida à injusta
Consumação:
provocação da vítima.
Dá-se no momento da morte (crime material). A morte ocorre
Requisitos:
quando cessa a atividade encefálica (Lei n. 9.434/97, artigo 3.º). A a - existência de uma injusta provocação (não é injusta agres-
prova da materialidade se faz por meio do laudo de exame necros- são, senão seria legítima defesa). Exemplo: adultério, xingamento,
cópico assinado por dois legistas, que devem atestar a ocorrência traição. Não é necessário que a vítima tenha tido a intenção especí-
da morte e se possível as suas causas. fica de provocar, bastando que o agente se sinta provocado.
b - que, em razão da provocação, o agente fique tomado por
Tentativa: uma emoção extremamente forte. Emoção é um estado súbito e
Tentativa branca de homicídio: ocorre quando o agente prati- passageiro de instabilidade psíquica.
ca o ato de execução, mas não atinge o corpo da vítima que, por- c - reação imediata (logo em seguida...): não pode ficar evi-
tanto, não sofre qualquer dano em sua integridade corporal. denciada uma patente interrupção entre a provocação e a morte.
Tentativa cruenta de homicídio: ocorre quando a vítima é atin- Leva-se em conta o momento em que o sujeito ficou sabendo da
gida, sendo apenas lesionada. provocação.
Tentativa de homicídio diferencia-se de lesão corporal consu- Pergunta: Qual a diferença entre o privilégio da violenta emo-
mada: o que distingue é o dolo (intenção do agente). ção com a atenuante genérica homônima?

Didatismo e Conhecimento 92
NOÇÕES DE DIREITO
Resposta: No privilégio, a lei exige que o sujeito esteja sob Emprego de veneno:
o domínio de violenta emoção, enquanto na atenuante, basta que Trata-se do venefício, que é o homicídio praticado com o em-
o sujeito esteja sob a influência da violenta emoção. O privilégio prego de veneno.
exige reação imediata, já a atenuante não. É necessário que seja inoculado de forma que a vítima não
perceba. Se o veneno for introduzido com violência ou grave ame-
HOMICÍDIO QUALIFICADO - ARTIGO 121, § 2.º, DO aça, será aplicada a qualificadora do meio cruel. Certas substâncias
CÓDIGO PENAL que são inofensivas para as pessoas em geral poderão ser conside-
Pena: reclusão de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. radas veneno em razão de condições de saúde peculiares da vítima,
como no caso do açúcar para o diabético.
Classificação:
- Quanto aos motivos: incisos I e II. Emprego de fogo:
- Quanto ao meio empregado: inciso III. Se além de causar a morte da vítima o fogo ou explosivo da-
- Quanto ao modo de execução: inciso IV. nificarem bem alheio, o agente só responderá pelo homicídio qua-
- Por conexão: inciso V. lificado (artigo 163, parágrafo único, inciso II, do Código Penal).

Inciso I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por Emprego de explosivo:


outro motivo torpe Exemplo de bombas caseiras em torcidas de futebol. Eventual
Na paga ou promessa de recompensa, há a figura do mandante dano ao patrimônio alheio ficará absorvido pelo homicídio qualifi-
e do executor. Neste caso, o homicídio é também chamado homi- cado pelo fogo ou explosivo.
cídio mercenário.
A paga é prévia em relação à execução. Na promessa de re- Emprego de asfixia:
compensa, o pagamento é posterior à execução. Mesmo se o man- Causa o impedimento da função respiratória. Formas de as-
dante não a cumprir, existirá a qualificadora. fixia:
Questão: a qualificadora da promessa de recompensa comuni- - Asfixia mecânica
ca-se ao mandante do crime? - Esganadura: o agente, com seu próprio corpo, comprime o
Resposta: a qualificadora é mera circunstância. Assim, pescoço da vítima.
sem a qualificadora o homicídio continua existindo. A lei - Estrangulamento: passar fio, arame etc. no pescoço da ví-
procurou aumentar a pena do executor de homicídio que atua tima, causando-lhe a morte. É a própria força do agente atuando,
impelido pelo abjeto e egoístico motivo pecuniário, reservan- mas não com as mãos.
do tratamento mais severo para os chamados “matadores de - Enforcamento: é a força da gravidade que faz com que o
aluguel”. A circunstância tem caráter pessoal porque se trata peso da vítima cause sua morte (por exemplo: o pescoço da vítima
do motivo do crime, ou seja, algo ligado ao agente, não ao é envolto com uma corda).
fato. Assim, tratando-se de circunstância de caráter pessoal, - Sufocação: é a utilização de algum objeto que impeça a en-
não se comunica ao partícipe (artigo 30). Há, todavia, enten- trada de ar nos pulmões da vítima (exemplo: introduzir algodão na
dimento contrário. garganta da vítima, colocar travesseiro no seu rosto).
Motivo torpe: é o motivo moralmente reprovável, vil, repug- - Afogamento: imersão em meio líquido.
nante. Exemplo: matar o pai para ficar com herança; matar a es- - Soterramento: imersão em meio sólido (exemplo: enterrar
posa porque ela não quis manter relação sexual. O ciúme não é alguém vivo fora de um caixão).
considerado motivo torpe. A vingança será considerada, ou não, - Imprensamento ou sufocação indireta: impedir o movimen-
motivo torpe dependendo do que a tenha originado. to respiratório colocando, por exemplo, um peso sobre o tórax da
vítima.
Inciso II - motivo fútil - Asfixia tóxica: uso de gás asfixiante: monóxido de carbono,
Matar por motivo de pequena importância, motivo insignifi- por exemplo.
cante. Exemplo: matar por causa de uma “fechada” no trânsito. - Confinamento: trancar alguém em lugar fechado de forma
A ausência de prova, referente aos motivos do crime, não per- a impedir a troca de ar (exemplo: enterrar alguém vivo dentro de
mite o reconhecimento dessa qualificadora. caixão).
Ciúme não caracteriza motivo fútil.
A existência de uma discussão “forte”, precedente ao crime, Emprego de tortura ou qualquer meio insidioso ou cruel:
afasta o motivo fútil, ainda que a discussão tenha se iniciado por Tortura: Deve ser a causa direta da morte. Trata-se de meios
motivo de pequena importância, pois se entende que a causa do que causam na vítima intenso sofrimento físico ou mental. A reite-
homicídio foi a discussão e não o motivo anterior que a havia ori- ração de golpes, dependendo da forma como ela é utilizada, pode
ginado. ou não caracterizar a qualificadora de meio cruel (exemplos: ape-
A vingança será considerada, ou não, motivo fútil, dependen- drejamento, paulada, espancamento etc.).
do do que a tenha originado. Eventual mutilação praticada após a morte caracteriza crime
autônomo de destruição de cadáver (artigo 211 do Código Penal).
Inciso III - emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tor- O crime de tortura com resultado morte (artigo 1.º, § 3.º, da
tura ou outro meio insidioso ou cruel, ou que possa representar Lei n. 9.455/97), que prevê pena de reclusão de 8 a 16 anos, não
perigo comum. se confunde com o homicídio qualificado pela tortura. A diferença
está no elemento subjetivo. No homicídio qualificado, o agente

Didatismo e Conhecimento 93
NOÇÕES DE DIREITO
quer a morte da vítima e utiliza meio que causa intenso sofrimen- - Consequencial: Ocorre quando a morte visa garantir:
to físico ou mental. No crime de tortura com resultado morte, no - ocultação de outro crime: o agente quer evitar que alguém
entanto, o agente tem a intenção de torturar a vítima, mas acaba descubra que o crime foi praticado;
provocando sua morte culposamente (trata-se de crime preterdolo- - impunidade: evitar que alguém conheça o autor de um crime
so - dolo no antecedente e culpa no consequente). (exemplo: matar testemunha);
Meio insidioso: é o meio ardiloso que consiste no uso de frau- - vantagem (exemplo: ladrões de banco – um mata o outro).
de, armadilha, parecendo não ter havido infração penal, e sim um
acidente, como no caso de sabotagem nos freios do automóvel. Na conexão teleológica, primeiro o agente mata e depois co-
mete o outro crime. Na consequencial, primeiro comete o outro
Emprego de qualquer meio do qual possa resultar perigo crime, depois mata.
comum: Se o agente visa a garantia da execução, a ocultação, a impu-
Gera perigo a um número indeterminado de pessoas. Não é nidade ou vantagem de uma contravenção, será aplicada a quali-
necessário que o caso concreto demonstre o perigo comum, basta ficadora do motivo torpe, conforme o caso. Não incide o inciso V,
que se comprove que o meio usado poderia causar dano a várias pois, esse se refere expressamente a outro crime.
pessoas, ainda que não haja uma situação de risco específico.
Questão: O que ocorre, todavia, se no caso concreto o agen- Observações:
te, além de matar a vítima, efetivamente expõe outras pessoas a
- Premeditação não é qualificadora.
perigo?
- Homicídio de pessoa da mesma família não gera qualifica-
Resposta: Parte da doutrina entende que há homicídio quali-
dora, apenas agravante genérica do artigo 61 inciso II, alínea “e”,
ficado em concurso formal com o crime de perigo comum (artigo
do Código Penal.
250 e seguintes do Código Penal). Mas há entendimento divergen-
te, pois se o agente atua com o dolo de dano, não pode agir com - Parricídio: matar qualquer ascendente.
dolo de perigo. - Matricídio: matar a própria mãe.
- Filicídio: matar o próprio filho.
Inciso IV – à traição, de emboscada ou mediante dissimula-
ção ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa As qualificadoras podem ser de duas espécies:
do ofendido - subjetivas: referem-se aos motivos do crime (incisos I, II e
Refere-se ao modo que o sujeito usou para aproximar-se da V);
vítima. - objetivas: referem-se aos meios e modos de execução (inci-
Traição: aproveitar-se da prévia confiança que a vítima de- sos III e IV).
posita no agente para alvejá-la (exemplo: matar a esposa que está
dormindo). As qualificadoras se estendem aos coautores ou partícipes?
- Emboscada ou tocaia: aguardar escondido a passagem da Somente as objetivas se comunicam, desde que tenham in-
vítima por um determinado local para matá-la. gressado na esfera de conhecimento do coautor ou partícipe. As de
- Dissimulação: uso de artifício para se aproximar da vítima. caráter subjetivo são incomunicáveis, conforme dispõe o artigo 30
Pode ser: do Código Penal.
Material: dá-se com o uso de disfarce, fantasia ou métodos
análogos para se aproximar. Se o crime tem mais de uma qualificadora que incide so-
- Moral: a pessoa usa a palavra. Sujeito dá falsas provas de bre um fato, aplica-se somente uma delas. Exemplo: homicídio
amizade ou de apreço para poder se aproximar. triplamente qualificado. Basta uma qualificadora para alterar os li-
mites da pena. As demais qualificadoras passam a ter a função de
Qualquer outro recurso que dificulte ou torne impossível a influir na dosagem da pena dentro dos novos limites. Aqui, surge
defesa da vítima a seguinte questão:
Exemplos: surpresa, disparo pelas costas, enquanto a vítima Como as demais qualificadoras influem na pena?
dorme etc.
Resposta: há duas posições:
Quando uma pessoa armada mata outra desarmada, a jurispru-
Se previstas como agravantes genéricas, passam a funcionar
dência não configura a qualificadora por razão de política criminal.
como tal, sendo consideradas na segunda fase.
Funcionam como circunstâncias judiciais desfavoráveis ob-
Inciso V – para assegurar a execução, a ocultação, a impu-
nidade ou vantagem de outro crime servadas na primeira fase. Esse entendimento se baseia na inter-
O inciso refere-se às qualificadoras por conexão, que podem pretação do artigo 61, caput, do Código Penal.
ser:
- Teleológica: Quando a morte visa assegurar a execução de Questão: O delito disposto no artigo 121 do Código Penal
outro crime (exemplo: matar o segurança para sequestrar o empre- pode ser qualificado e privilegiado ao mesmo tempo?
sário). Haverá concurso material entre o homicídio qualificado e Resposta: Sim, desde que as qualificadoras sejam objetivas,
o outro delito, salvo se houver crime específico no Código Penal pois as hipóteses que tratam do privilégio são todas de natureza
para esta situação (exemplo: no latrocínio, o agente mata para rou- subjetiva – tornando-se inconciliáveis com as qualificadoras sub-
bar). jetivas (o homicídio não poder ser, a um só tempo, cometido por
motivo de relevante valor social e por motivo fútil).

Didatismo e Conhecimento 94
NOÇÕES DE DIREITO
No momento da quesitação, quando do julgamento pelo Júri, - Se o agente foge para evitar o flagrante
o privilégio é votado antes das qualificadoras (Súmula n. 162 do
Supremo Tribunal Federal). Assim, se os jurados o reconhecerem, - Se o agente não procurar diminuir as consequências de
o juiz coloca em votação apenas as qualificadoras objetivas, já que seu ato.
as subjetivas ficam prejudicadas.
O homicídio qualificado é crime hediondo. - Se o crime resulta da inobservância de regra técnica de
arte, profissão ou ofício.
Questão: O homicídio privilegiado-qualificado é conside- Como diferenciá-la da imperícia? A diferença é que na impe-
rado crime hediondo? rícia o agente não possui aptidão técnica para a conduta, enquanto
Resposta: Existem duas correntes: na causa de aumento o agente conhece a regra técnica, mas por
Para o Prof. Damásio de Jesus, não é hediondo. O artigo 67 do descaso, desleixo, não a observa, provocando assim a morte da
Código Penal dispõe que havendo concurso entre agravante e ate- vítima.
nuante, deve se dar preponderância à circunstância de caráter sub-
jetivo (motivos do crime, personalidade do agente e reincidência). No Homicídio Doloso: A pena será aumentada de 1/3, se a
Por analogia, concorrendo privilégio e qualificadora, prevalece o vítima for menor de 14 anos. A idade deve ser aferida no momen-
privilégio, por tratar-se de circunstância subjetiva. to da ação ou omissão. Assim, aplica-se o aumento mesmo se a
Aceita pela jurisprudência: inaplicável a analogia ao arti- vítima morre após completar 14 anos, nos termos do artigo 4.º do
go 67, porque qualificadora e privilégio são elementos que não Código Penal.
se equivalem. Ao contrário do que ocorre com as agravantes e Aplica-se ao homicídio simples, qualificado e privilegiado.
atenuantes genéricas. A qualificadora deve preponderar, porque
modifica a própria estrutura típica do delito, alternando a pena in PERDÃO JUDICIAL - ARTIGO 121, § 5.º, DO CÓDIGO
abstrato, enquanto que o privilégio é apenas causa de diminuição PENAL
de pena. Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá conceder o
perdão judicial, deixando de aplicar a pena, quando as consequên-
HOMICÍDIO CULPOSO - ARTIGO 121, § 3.º, DO CÓ- cias do crime atingirem o próprio agente de forma tão grave que a
DIGO PENAL
imposição da mesma se torne desnecessária. Só na sentença é que
Pena: detenção de 1 (um) a 3 (três) anos.
poderá ser concedido o perdão judicial.
A morte decorre de imprudência, negligência ou imperícia.
Exemplo: agente que culposamente mata o próprio filho.
- Imprudência: consiste numa ação, conduta perigosa.
Tem caráter pessoal, logo não se estende a terceiro.
- Negligência: é uma omissão; ocorre quando se deveria ter
tomado um certo cuidado.
Natureza Jurídica do Perdão Judicial
- Imperícia: ocorre quando uma pessoa não possui aptidão
É uma faculdade do juiz e não um dos direitos públicos subje-
técnica para a realização de uma certa conduta e mesmo assim a
realiza, dando causa à morte. tivos do réu. O juiz, portanto, tem a discricionariedade de conceder
ou não. Trata-se de causa extintiva da punibilidade (artigo 107,
Culpa concorrente: ocorre quando duas pessoas agem de for- inciso IX, do Código Penal).
ma culposa, provocando a morte de um terceiro. Ambos respon-
dem pelo crime. INDUZIMENTO, AUXÍLIO OU INSTIGAÇÃO AO SUI-
O fato de a vítima também ter agido com culpa não exclui a CÍDIO
responsabilidade do agente. Não há compensação de culpas em
Direito Penal. Art. 122, caput — Induzir ou instigar alguém a suicidar-se
O homicídio culposo do Código Penal só se aplica se o crime ou prestar-lhe auxílio para que o faça:
não for cometido na direção de veículo automotor, porque nesse Pena — reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se con-
caso estará configurado o crime definido no artigo 302 do Código suma; ou reclusão, de um a três anos, se da tentativa de suicídio
de Trânsito Brasileiro, que prevê pena mais severa. resulta lesão corporal de natureza grave.
A ação penal é pública incondicionada. O processo observará
o rito sumário. Esse crime também é chamado de “participação em suicídio”
porque pune quem colabora com suicídio alheio. A lei não incri-
AUMENTO DE PENA ARTIGO 121, § 4.º, DO CÓDIGO mina aquele que tenta o suicídio e não obtém êxito. O legislador
PENAL entendeu que a punição nesse caso teria apenas efeitos negativos,
No Homicídio Culposo: A pena será aumentada de 1/3 (um como, por exemplo, reforçar a ideia suicida. Assim, como o sui-
terço): cídio em si não constitui crime, pode-se dizer que no art. 122 o
legislador tornou ilícita a participação em fato não criminoso (par-
- Se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima ticipação em suicídio).
Só se aplica a quem agiu com culpa e não socorreu. Não se A lei pune apenas aquele que participa do suicídio de outra
aplica o aumento: pessoa em uma das três modalidades definidas no tipo, quais se-
se a vítima está evidentemente morta; jam, induzindo, instigando ou prestando auxílio.
se a vítima foi socorrida de imediato por terceiro; Induzir. Significa dar a ideia do suicídio a alguém que ainda
quando o socorro não era possível por questões materiais, não tinha tido esse pensamento. O agente faz surgir a intenção do
ameaça de agressão etc. suicídio.

Didatismo e Conhecimento 95
NOÇÕES DE DIREITO
Na história recente, há vários acontecimentos que se integram vez que, para esse caso, já existe pena autônoma na própria parte
a essa hipótese, ligados, basicamente, a líderes de fanáticos reli- especial do Código Penal, sendo, portanto, desnecessária a combi-
giosos, que estimulam o suicídio em massa de seus seguidores. nação com a norma de extensão do art. 14, II, do Código Penal que
Instigar. Significa reforçar a intenção suicida já existente. É o trata da tentativa.
caso daqueles que vislumbram uma pessoa no alto de um prédio, A conclusão, portanto, é que o crime do art. 122 não admite
prestes a se atirar de lá, e, ainda assim, passam a estimular, me- tentativa. Não se confunda, todavia, a tentativa de suicídio que
diante gritos, que o suicida efetivamente salte. evidentemente existe e que se refere ao fato em si, com a tentativa
No induzimento, a ideia de suicídio ainda não havia passado de crime de participação em suicídio que, nos termos acima, não
pela cabeça da vítima. Na instigação, por outro lado, a ideia já admite o conatus.
havia surgido na vítima e o sujeito a estimula. O induzimento e a Observações:
instigação são chamados de participação moral. 1) Não há suicídio no ato daquele que quer ser herói e que vai
Auxiliar. Significa colaborar materialmente com a prática do à guerra por seu país. Por isso, aquele que o instiga a ir à guerra
suicídio, quer dando instruções, quer emprestando objetos (arma, não pratica crime.
veneno) para que a vítima se suicide. O auxílio é chamado de par- 2) Se o agente pratica, por exemplo, induzimento e auxílio
ticipação material. Essa participação, todavia, deve ser secundária, ao suicídio de alguém, responde por um único delito. Trata-se de
acessória, pois se a ajuda for a causa direta e imediata da morte da crime de ação múltipla (de conteúdo variado), em que a prática de
vítima, o crime será o de homicídio, como no caso de quem, a pe- mais de uma conduta em relação à mesma vítima configura uma
dido da vítima, puxa o gatilho e provoca a sua morte, já que, ainda só infração penal. Nessa espécie de delito, que possui tipo misto
que exista consentimento, ele não é válido, uma vez que a vida é alternativo, a realização de mais de uma conduta, apesar de confi-
bem indisponível. Não se pode, nesse caso, tipificar o crime de gurar crime único, deve ser levada em consideração na aplicação
participação em suicídio, porque não houve efetivamente suicídio. da pena.
No Brasil, o famoso caso do médico norte-americano que 3) Livros e músicas que estimulam a prática do suicídio ou
cede um dispositivo a pacientes terminais para que eles próprios que ensinam modos de se suicidar não geram a incriminação de
venham a dar início à inoculação de veneno para a provocação da seus autores porque o induzimento, o auxílio ou a instigação têm
morte configuraria o crime do art. 122 do Código Penal. que visar pessoa determinada ou determinadas.
Suicídio — é a supressão voluntária e consciente da própria 4) Deve haver relação de causa e efeito entre a conduta do
vida. agente e a da vítima. É o chamado nexo de causalidade. Se o agen-
Assim, se alguém tira sua própria vida mas de forma não cons- te empresta um revólver e a vítima se enforca, não há crime, já que,
ciente ou voluntária, afasta-se a caracterização do delito em estudo excluído o empréstimo da arma, a vítima teria conseguido cometer
e pode- -se configurar o crime de homicídio. Por isso, se a vítima o suicídio da mesma forma como o fez.
é forçada, mediante violência ou grave ameaça, a ingerir veneno 5) Seriedade deve existir na conduta do agente. Se alguém, em
ou a desferir um tiro no próprio peito não há suicídio porque a tom de brincadeira, diz à vítima que a única solução é “se matar”
vítima não queria se matar. O autor da violência ou grave ameaça e a vítima efetivamente se mata, o fato é atípico por ausência de
responderá por homicídio. dolo. O crime em estudo admite apenas a forma dolosa, inclusive
Da mesma maneira, se há emprego de alguma forma de fraude o dolo eventual, mas não prevê hipótese culposa.
para que a vítima tire sua vida sem perceber que o está fazendo, 6) Se várias pessoas fazem roleta-russa em grupo, uns esti-
também se tipificará homicídio por parte do autor da fraude. mulando os outros, os sobreviventes respondem pelo crime do art.
122 do Código Penal. Se, entretanto, uma pessoa aperta o gatilho
Consumação e tentativa. O art. 122 do Código Penal, quan- da arma em direção a outra pessoa e provoca a morte dela haverá
do trata da pena para o delito, menciona punição apenas nas hipó- homicídio com dolo eventual.
tese sem que a vítima morre ou sofre lesões graves. Na primeira 7) A existência desse crime pressupõe que a vítima tenha al-
hipótese, a pena é de reclusão de dois a seis anos e, na segunda, guma capacidade de entendimento (de que sua conduta irá provo-
reclusão de um a três. car sua morte) e resistência. Assim, quem induz criança de pouca
Percebe-se, assim, que a própria lei exclui o crime quando a idade ou pessoa com grave enfermidade mental a se atirar de um
vítima não tenta se matar ou, se tentando, sofre apenas lesões le- prédio responde por homicídio.
ves, já que, para esses casos, não há previsão legal de pena. 8) Se duas pessoas fazem um pacto de morte, incentivando-
Por isso, o crime somente se consuma no momento da morte -se mutuamente a cometer suicídio, e uma delas se mata e a outra
da vítima ou, no segundo caso, quando ela sofre lesões graves. desiste, esta responde pelo crime do art. 122 do Código Penal. O
Não importa o tempo que medeie entre a conduta do agente e mesmo ocorre se ambas realizam o ato suicida, mas uma sobre-
a da vítima. Basta que se prove o nexo causal, ou seja, se alguém vive. Caso ambas sobrevivam, e uma sofra lesão grave e a outra
estimulou a vítima há um ano e esta se mata, só terá havido infra- sofra lesão leve, a última responderá pelo crime (porque a primeira
ção penal no instante em que a vítima agiu contra a própria vida. sofreu lesão grave), enquanto para a outra o fato será considerado
Apenas a partir desse momento poderá correr o prazo prescricional atípico.
e somente então é que será possível a punição do agente. A tentati- Por sua vez, é possível que, apesar do incentivo mútuo, fique
va que teoricamente seria possível não existe porque a lei só pune acertado que uma delas irá atirar na outra e depois se matar. Nesse
o crime quando há morte ou lesões graves e, nesses casos, o crime caso, se a autora do disparo sobreviver, responderá pelo homicídio
está consumado. Com efeito, se a vítima sequer tenta o suicídio ou da outra, mas, se o resultado for o inverso (morte da própria au-
sofre apenas lesões leves, o fato é atípico e, na hipótese em que tora dos disparos), a sobrevivente responderá por participação em
sofre lesões graves, entende-se que o crime está consumado, uma suicídio.

Didatismo e Conhecimento 96
NOÇÕES DE DIREITO
9) O crime de participação em suicídio admite a forma omis- d) Instantâneo. Consuma em um momento determinado e cer-
siva? to, ou seja, o momento em que a vítima sofre lesão grave ou morre.
Damásio, Frederico Marques e Delmanto entendem que não, e) Ação livre. Admite qualquer meio de execução.
pois, mesmo que o agente tenha o dever jurídico de impedir a mor- f) Comum. Pode ser praticado por qualquer pessoa.
te e não o faça, responderá por omissão de socorro qualificada pela g) Simples. Atinge apenas o bem jurídico vida.
morte (art. 135, parágrafo único do CP) e não por participação em
suicídio. CAUSAS DE AU MENTO DE PENA
Ex.: bombeiro que assiste passivamente uma pessoa se atirar Art. 122, parágrafo único — A pena é duplicada:
de um prédio quando poderia ter tentado salvá-la. Esses autores I — se o crime é praticado por motivo egoístico;
entendem que os verbos induzir, instigar e prestar auxílio, conti- II — se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer
dos no art. 122do CP, por seu próprio significado, são incompatí- causa, a capacidade de resistência.
veis com a forma omissiva. Prevalece, entretanto, o entendimento O art. 122, parágrafo único, dispõe que a pena será aplicada
de que é possível o auxílio por omissão, mas apenas para aqueles em dobro quando:
que têm o dever jurídico de evitar o resultado e, podendo fazê-lo,
intencionalmente se omitem. Essa interpretação se funda no art. 1) O crime for praticado por motivo egoístico. Ocorre nas hi-
13, § 2o do Código Penal, que, de acordo com seus seguidores, póteses em que o agente visa auferir alguma vantagem, econômica
por estar na Parte Geral do Código, incide sobre todos os delitos ou não, em decorrência do suicídio da vítima. Ex.: para ficar com
da Parte Especial, inclusive sobre o do art. 122. É o entendimento sua herança; para ficar com seu cargo; para poder conquistar sua
de Júlio F. Mirabete, Cezar Roberto Bitencourt, Fernando Capez, esposa etc.
Magalhães Noronha, Flávio Monteiro de Barros, dentre outros.
10) A configuração do crime de participação em suicídio pres- 2) A vítima for menor (1a parte). De acordo com a maior parte
supõe que a conduta do agente — induzimento, instigação ou auxí- dos doutrinadores, esta causa de aumento só tem aplicação quan-
lio — tenha ocorrido antes do ato suicida. Assim, quando alguém, do a vítima for maior de 14 e menor de 18 anos. Argumentam
sem qualquer colaboração ou incentivo de outrem, comete o ato que, por interpretação sistemática, deve-se presumir a total falta
suicida (corta os pulsos, p. ex.) e, em seguida, arrepende-se e pede de capacidade de entendimento daquele que não tem mais de 14
anos, com base no art. 224, do Código Penal, que presume a vio-
para ser socorrido e não é atendido, ocorre crime de omissão de
lência nos crimes sexuais quando a vítima está em tal faixa etária.
socorro. Por sua vez, comete homicídio doloso quem pratica uma
É o entendimento de Damásio de Jesus, Cezar Roberto Bitencourt,
ação para intencionalmente impedir o socorro solicitado pelo sui-
Fernando Capez, Celso Delmanto etc.
cida arrependido que tentava salvar-se. Ex.: o suicida telefona para
Para essa corrente, se a vítima tem mais de 18 anos, aplica-se
o socorro médico, mas o agente, querendo que sobrevenha a morte
o crime de participação em suicídio em sua forma simples; se tem
da vítima, leva-a para local diverso daquele em que o socorro fora
menos de 18 e mais de 14, aplica-se tal crime em sua forma agra-
pedido.
vada; finalmente, se a vítima não é maior de 14, o crime é sempre
11) O art. 146, § 3º, II, do Código Penal estabelece que não há de homicídio.
crime de constrangimento ilegal na coação exercida para impedir Heleno Fragoso discorda da interpretação anterior, sustentan-
suicídio. do que a presunção de violência não está prevista na Parte Geral
12) Quem pessoalmente induz, instiga ou auxilia a vítima a se do Código e sim dentro do título dos crimes sexuais, de modo que
matar é autor do crime de participação em suicídio. Por sua vez, aplicá-la a outros delitos constitui analogia in malam parte, que é
uma pessoa que não teve contato direto com ela, mas, anteriormen- vedada. Argumenta que não se pode punir por homicídio com base
te, estimulou o autor do crime, é partícipe do crime de participação em presunções.
em suicídio. Em outras palavras, existe a possibilidade do instituto Para esse autor, o delito só deixa de ser suicídio com a pena
da participação no crime chamado “participação em suicídio”. Ex.: aumentada para ser tratado como homicídio se for feita prova efe-
A, sabendo que C está com depressão, convence B a procurar C e tiva, no caso concreto – por perícias, depoimentos –, de que o me-
induzi- lo ao suicídio. B conversa com C e este efetivamente se nor não entendeu que estava tirando a própria vida.
mata.
Como apenas B teve contato direto com a vítima, só ele pode 3) A vítima tiver diminuída, por qualquer causa, a capacida-
ser chamado de autor do crime de participação em suicídio, en- de de resistência (2ª parte). Ocorre quando o agente se aproveita
quanto A é partícipe deste crime. de uma situação de maior fragilidade da vítima para estimulá-la ao
13) A namorada rompe um relacionamento amoroso e depois suicídio, como, por exemplo, no caso de embriaguez, depressão etc.
é procurada pelo namorado, que, desesperado, diz que vai se ma- Veja-se que a lei se refere à diminuição de tal capacidade, já que a
tar se ela não voltar com ele. Esta, todavia, fica irredutível e não sua total supressão implicará o reconhecimento de homicídio.
retoma o namoro. Ele, então, se mata. A conduta da namorada não
constitui crime, porque a decisão de não reatar o namoro não se INFANTICÍDIO
enquadra na definição de induzimento, instigação ou auxílio. Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o pró-
prio filho, durante o parto ou logo após:
Qualificação doutrinária Pena - detenção, de dois a seis anos.
a) Material. Para que se consuma é necessário o resultado
morte ou lesão grave. Tipo Penal: matar, sob a influência do estado puerperal, o
b) De dano. Pressupõe efetiva lesão ao bem jurídico. próprio filho, durante o parto ou logo após. Pena: detenção de dois
c) Comissivo (discutível, conforme já visto). a seis anos.

Didatismo e Conhecimento 97
NOÇÕES DE DIREITO
Elementares do Crime: Pena - reclusão, de um a quatro anos.
- Matar: aplicam-se as regras do homicídio quanto a esse ver- Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a
bo (consumação, tentativa etc.). gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou débil
- Estado puerperal: alteração psíquica que acontece em gran- mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave
de número de mulheres em razão de alterações orgânicas decorren- ameaça ou violência
tes do fenômeno do parto. Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores
P: Deve ser provado o estado puerperal ou ele se presume? são aumentadas de um terço, se, em consequência do aborto ou
R: Tem de ser provado por perícia médica, mas, se os médicos dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão
ficarem em dúvida sobre sua existência e o laudo for inconclusivo, corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer
será presumido o estado puerperal, aplicando-se o in dubio pro reo. dessas causas, lhe sobrevém a morte.
- Próprio filho: é o sujeito passivo, nascente ou recém-nascido. Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:
Se a mulher, por erro, mata o filho de outra, supondo ser o I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
dela, responderá por infanticídio (art. 20, § 3.º, do Código Penal – II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido
erro quanto à pessoa). de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu repre-
Não são aplicadas as agravantes genéricas de crime contra sentante legal.
descendente e de crime contra criança por constituírem elementos
essenciais do crime. Conceito
- Durante ou logo após o parto: este é o elemento temporal, É a interrupção da gravidez com a consequente morte do feto.
ou seja, o crime só poderá ser praticado em um determinado mo- O aborto pode ser natural, acidental ou provocado (ele é criminoso
mento. ou é legal).
Considera-se início do parto a dilatação do colo do útero, e fim
do parto, o nascimento. Aborto Criminoso (arts. 124 a 126 do Código Penal):
A expressão “logo após” variará conforme o caso concreto, Art. 124 do Código Penal:
pois a duração do estado puerperal difere de uma mulher para ou- Traz duas figuras que punem a mulher grávida. São dois casos
tra. de crime próprio, sendo o sujeito passivo sempre o feto.
Diferenças entre o infanticídio e o abandono de recém-nas- - Auto aborto: praticar aborto em si mesma.
cido qualificado pela morte (art. 134, § 2.º, do Código Penal): no - Aborto consentido: consentir que terceiro provoque aborto.
O terceiro responderá pelo art. 126, que contém pena maior. Esta
infanticídio existe dolo de matar e a mulher age em razão do estado
é uma exceção à regra de que todos que colaboram para um crime
puerperal, enquanto no abandono, o dolo é apenas o de abandonar
respondem nos mesmos termos de seu autor principal (exceção à
o recém-nascido para ocultar desonra própria, e o evento morte
teoria monista ou unitária. É uma exceção expressa).
decorre da culpa.
A pena para quem provoca aborto com o consentimento da
Sujeito Ativo: é a mãe que esteja sob estado puerperal (crime
gestante é de um a quatro anos. Se ocorrer a morte da gestante, de
próprio).
dois a oito anos. O aumento é aplicável na hipótese de morte cul-
P: É possível concurso de pessoas?
posa, porque, se o agente tinha dolo em relação ao aborto e em re-
R: Sim, incide o art. 30 do Código Penal (não se comunicam lação à morte, haverá dois crimes autônomos (aborto e homicídio).
as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando O crime do art. 126 do Código Penal pressupõe que a autorização
elementares do crime). O estado puerperal é uma circunstância de da mulher dure até a consumação do aborto.
caráter pessoal, porém é elementar do crime de infanticídio, por- P: É possível que terceiro responda pela prática de aborto sem
tanto alcança os participantes, que responderão pelo delito. o consentimento da gestante quando o consentimento foi dado e
Há uma corrente que afirma ser o estado puerperal uma con- durou até a consumação?
dição personalíssima, incomunicável. Mas a lei não fala em condi- R: Sim, nas cinco hipóteses do art. 126, par. ún., do Código
ção de caráter personalíssimo. Prevalece, todavia, a doutrina opos- Penal, que determinam que o consentimento deve ser desconside-
ta, infanticídio para a mãe e para terceiro. rado: quando houver violência, grave ameaça ou fraude na obten-
O infanticídio não possui forma culposa. Assim, se a morte ção do consentimento (vontade viciada); se a gestante for menor
da criança resulta de culpa da mãe, mesmo que esta esteja sob a de 14 anos ou doente mental (ausência de capacidade de entendi-
influência do estado puerperal, o crime será de homicídio culposo mento do ato).
(HUNGRIA e MIRABETE). Para uma segunda corrente (DAMÁ- Consumação: o aborto consuma-se com a morte do feto.
SIO DE JESUS), estando a mulher sob a influência do estado puer- Tentativa: é possível.
peral, não se pode exigir dela uma conduta de cuidado (cuidado Elemento subjetivo: só existe na forma dolosa. Não existe cri-
do homem comum) e prudência, sendo, portanto, atípico o fato me autônomo de aborto culposo.
(incompatibilidade entre a conduta culposa e o estado puerperal). Quem, por imprudência, dá causa a um aborto responde por
crime de lesão corporal culposa, sendo vítima a mulher (gestante).
ABORTO Porém, se foi a própria gestante que, por imprudência, deu causa
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que ao aborto, o fato será atípico, já que não existe a autolesão.
outrem lho provoque: Manobras abortivas em quem não está grávida constituem cri-
Pena - detenção, de um a três anos. me impossível por absoluta impropriedade do objeto.
Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: O aborto é um crime de ação livre (pode ser praticado por
Pena - reclusão, de três a dez anos. qualquer meio), mas desde que seja um meio apto a provocar a
Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: morte do feto, caso contrário, haverá crime impossível.

Didatismo e Conhecimento 98
NOÇÕES DE DIREITO
Se a gravidez era de gêmeos e a pessoa que praticou o aborto III - perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
não sabia, há crime único para evitar a responsabilidade objetiva. IV - deformidade permanente;
Se sabia que eram gêmeos, responde pelos dois crimes de aborto V - aborto:
(concurso formal impróprio ou imperfeito: uma ação, dois resulta- Pena - reclusão, de dois a oito anos.
dos, cuja consequência é a soma de penas). § 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o
agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo:
Art. 127 do Código Penal – forma qualificada: Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
Se a gestante sofre lesão grave, a pena é aumentada em um § 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de re-
terço. levante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emo-
Se a gestante morre, a pena é aumentada em dobro. Só vale ção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode
para o aborto praticado por terceiro, consentido ou não pela ges- reduzir a pena de um sexto a um terço.
tante (arts.125 e 126). § 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir
A forma qualificada não é aplicada ao art. 124 por expressa a pena de detenção pela de multa, de duzentos mil réis a dois
disposição. contos de réis:
I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior;
Aborto Legal – Art. 128 do Código Penal: II - se as lesões são recíprocas.
Prevê duas hipóteses em que a provocação do aborto é per- § 6° Se a lesão é culposa:
mitida. Pena - detenção, de dois meses a um ano.
Natureza jurídica: causa de exclusão de ilicitude. § 7º - Aumenta-se a pena de um terço, se ocorrer qualquer
Inc. I: aborto necessário. das hipóteses do art. 121, § 4º.
Requisitos: § 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121.
- que seja feito por médico; § 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente,
- que não haja outro meio para salvar a vida da gestante. irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha
Não se exige risco atual, como no estado de necessidade. Ante convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações do-
a simples constatação de que no futuro haverá perigo, poderá o mésticas, de coabitação ou de hospitalidade:
aborto ser realizado desde logo. Havendo perigo atual, o aborto Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.
pode ser praticado por qualquer pessoa, aplicando-se nesse caso o § 10. Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as
estado de necessidade. circunstâncias são as indicadas no § 9o deste artigo, aumenta-se
Inc. II: aborto sentimental. a pena em 1/3 (um terço).
Requisitos: § 11. Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será aumentada
- que seja feito por médico; de um terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de
- que a gravidez tenha resultado de estupro; deficiência.
- que haja o consentimento da gestante ou, se incapaz, de seu
representante legal. Ofensa à integridade corporal consiste no dano anatômico
Não se exige a autorização judicial. Na prática, basta o bole- prejudicial ao corpo humano. Exemplo: corte, queimadura, mu-
tim de ocorrência. tilações etc.
P: Como o art. 128, inc. II, do Código Penal só permite o abor- Sujeito Ativo: qualquer pessoa, exceto o próprio ofendido.
to se a gravidez resultar de estupro, é permitido o aborto também Saliente-se que a lei não pune a autolesão. A autolesão pode, entre-
quando a gravidez resultar de crime de atentado violento ao pudor? tanto, constituir crime de outra natureza, tais como autolesão para
R: A doutrina é unânime em dizer que sim. Aplica-se a ana- receber seguro (artigo 171, § 2.º, inciso V, do Código Penal), ou
logia in bonam partem (em favor do causador do aborto). O aten- criação de incapacidade para frustar a incorporação militar (artigo
tado violento ao pudor é o único crime análogo ao estupro porque 184 do Código Penal Militar).
ambos são cometidos com violência ou grave ameaça e atingem o Sujeito Passivo: qualquer pessoa, salvo nas hipóteses em que
mesmo bem jurídico, que é a liberdade sexual. a vítima só poderá ser mulher grávida.
Consumação: no momento da ofensa à integridade física ou
Das lesões corporais à saúde.
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de ou- Tentativa: É possível. A tentativa de lesão corporal difere da
trem: contravenção de vias de fato (artigo 21 da Lei de Contravenções
Pena - detenção, de três meses a um ano. Penais), pois, na contravenção o agente não tem intenção de lesio-
§ 1º Se resulta: nar a vítima (exemplo: empurrão). Se o agente emprega violência
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de ultrajante, com intenção de humilhar a vítima, estamos diante do
trinta dias; crime de injúria real (artigo 140, § 2.º, do Código Penal).
II - perigo de vida; Se o agente agride sem a intenção de lesionar, mas lesiona,
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função; ocorre a lesão corporal culposa, que afasta as vias de fato.
IV - aceleração de parto:
Pena - reclusão, de um a cinco anos. Lesão Leve:
§ 2° Se resulta: Por exclusão, é toda lesão que não for grave nem gravíssima.
I - Incapacidade permanente para o trabalho; Pena: detenção de 3 (três) meses a 1 (um) ano. A lesão corporal
II - enfermidade incurável; leve é infração de menor potencial ofensivo.

Didatismo e Conhecimento 99
NOÇÕES DE DIREITO
Concurso de crimes: Inciso III – se resulta debilidade permanente de membro,
Em muitos crimes, como no roubo, por exemplo, a violência é sentido ou função.
utilizada como meio de execução. O que ocorrerá se da violência Membros são os apêndices do corpo (braços e pernas). Exem-
decorrer lesão leve? plo: cortar o tendão do braço, causando perda parcial do membro.
No silêncio da lei a respeito do resultado violência, conclui-se Os sentidos são o tato, o olfato, a visão, o paladar e a audição.
que a lesão leve fica absorvida (exemplo: roubo, extorsão, estupro, Exemplo: diminuição da capacidade de enxergar, ouvir etc.
atentado violento ao pudor, crime de tortura etc.). Se, no entanto, a A função consiste no funcionamento de órgãos ou aparelhos
lei expressamente ressalvar a aplicação autônoma do resultado da do corpo humano (exemplo: função respiratória, função reprodu-
violência, o agente responderá pelos dois crimes, sendo somadas tora).
as penas (exemplo: injúria real, constrangimento ilegal, dano qua- A debilidade é o enfraquecimento, a diminuição, a redução
lificado, rapto, exercício arbitrário das próprias razões, resistência da capacidade funcional. A debilidade deve ser permanente, ou
etc.). seja, de recuperação incerta e improvável e cuja cessação eventual
ocorrerá em data incalculável (permanente não é a mesma coisa
Ação penal: que perpétua).
O artigo 88 da Lei n. 9.099/95 transformou a lesão corporal A debilidade não se confunde com a perda ou inutilização do
dolosa leve em crime de ação penal pública condicionada à repre- membro, sentido ou função, hipóteses de lesão corporal gravíssi-
sentação do ofendido. A jurisprudência e a doutrina estenderam a ma, disciplinadas no § 2.º.
exigência da representação para as vias de fato.
Outra regra trazida pela Lei n. 9.099/95: para o oferecimento Inciso IV - aceleração do parto
da denúncia não é necessário um exame de corpo de delito, basta Caracteriza-se pela antecipação da data do nascimento. Pres-
um boletim de ocorrência ou ficha médica. supõe o nascimento com vida. Para evitar a responsabilidade ob-
jetiva, é necessário que o agente saiba que a mulher está grávida.
Lesão decorrente de esporte: Lesão Gravíssima – Artigo 129, § 2.º, do Código Penal
Não há crime, desde que tenha havido respeito às regras do Pena: reclusão de 2 (dois) a 8 (oito) anos.
jogo, pois se trata de exercício regular de direito. A denominação lesão gravíssima é dada pela doutrina e juris-
prudência. A lei não utiliza essa expressão, que tem a finalidade
Intervenção cirúrgica: de diferenciar as lesões do § 2.º que tem pena mais severa do que
Se a cirurgia não é de emergência, o médico deve obter o con- o § 1.º.
sentimento do paciente ou do seu representante legal. Trata-se, Se uma lesão se enquadra em grave e gravíssima, o réu res-
quando há consentimento, de exercício regular de direito. ponderá pela gravíssima.
Se a cirurgia for de urgência, o agente estará acobertado pelo
estado de necessidade em favor de terceiro. Inciso I – se resulta incapacidade permanente para o tra-
Lesão Grave – Artigo 129, § 1.º, do Código Penal balho:
Pena: de 1 (um) a 5 (cinco) anos de reclusão. É mais específico que o § 1.º, inciso I. A incapacidade deve ser
Inciso I – se resulta incapacidade para as ocupações habitu- permanente (a lei não diz perpétua) e deve abranger qualquer tipo
ais por mais de 30 dias de trabalho (posição majoritária). Para uma corrente minoritária,
É necessário o exame complementar, realizado no primeiro a incapacidade da vítima deve impossibilitar o trabalho que ela
dia após o período de 30 dias, para comprovar a materialidade da exercia anteriormente.
lesão grave (artigo 168, § 2.º, do Código de Processo Penal). O O sujeito passivo não poderá ser criança ou pessoa idosa apo-
prazo de 30 dias é contado nos termos do artigo 10 do Código sentada.
Penal. Inciso II – se resulta enfermidade incurável:
Ocupação habitual é qualquer atividade rotineira na vida da Da lesão decorre doença para a qual não existe cura.
vítima, tal como estudar, andar, praticar esportes etc., exceto a Para uma corrente, a transmissão intencional de AIDS tipifica
considerada ilícita. No caso de atividade lícita, mas imoral, have- a tentativa de homicídio. Para outra, caracteriza lesão gravíssima,
rá lesão grave (exemplo: incapacitar prostituta de manter relações pela transmissão de moléstia incurável.
sexuais).
Se a vítima deixar de praticar atividades rotineiras, por sentir Inciso III – se resulta perda ou inutilização de membro, sen-
vergonha, não há se falar em incapacidade. tido ou função:
Trata-se de um exemplo de crime a prazo. A perda pode se dar:
O resultado agravador pode ser culposo ou doloso. - por mutilação: ocorre pela própria ação lesiva; é o corte de
Inciso II – se resulta perigo de vida uma parte do corpo da vítima (extirpação do braço, da perna, da
É uma hipótese preterdolosa, pois o sujeito não quer a morte. mão etc.);
Se o agente queria o resultado morte, responderá por tentativa de - por amputação: é a extirpação feita pelo médico, posterior-
homicídio. mente à ação, para salvar a vida da vítima.
O perito deve dizer claramente em que consistiu o perigo de Na inutilização, o membro permanece ligado ao corpo da víti-
vida (exemplo: houve perigo de vida porque a vítima perdeu muito ma, ainda que parcialmente, mas totalmente inapto para a realiza-
sangue etc.), e o Promotor de Justiça deve transcrever na denúncia. ção de sua atividade própria.

Didatismo e Conhecimento 100


NOÇÕES DE DIREITO
Observações: Substituição da Pena - Artigo 129, § 5.o, do Código Penal
Com relação aos membros: o decepamento de um dedo ou a “O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a
perda parcial dos movimentos do braço constitui lesão grave, ou pena de detenção pela de multa”, nas seguintes hipóteses:
seja, mera debilidade. Havendo paralisia total, ainda que seja de - quando estiver presente uma das causas de privilégio (tra-
um só braço, ou se houver mutilação da mão, a lesão é gravíssima tando-se de lesão corporal leve privilegiada, o juiz poderá reduzir
pela inutilização de membro. a pena restritiva de liberdade ou substituí-la por multa);
Com relação aos sentidos: há alguns sentidos captados por - quando as lesões forem recíprocas (sem que um dos agentes
órgãos duplos (visão e audição). A provocação de cegueira, ainda tenha agido em legítima defesa).
que completa, em um só olho, constitui apenas debilidade perma-
nente. O mesmo ocorre com a audição. Lesão Corporal Culposa – Artigo 129, § 6.º, do Código Pe-
Com relação à função: a perda ou inutilidade de função só nal
será possível em função não vital, como por exemplo, a perda da Aplicam-se todos os institutos do homicídio culposo, inclusi-
função reprodutora, causada pela extirpação do pênis. ve os que se referem às causas de aumento de pena e também às
Inciso IV – se resulta deformidade permanente regras referentes ao perdão judicial (§§ 7.º e 8.º do artigo 129 do
Código Penal).
Está ligado ao dano estético, causado pelas cicatrizes. Exem-
A pena para lesão culposa é de 2 (dois) meses a 1 (um) ano
plo: queimadura por fogo, por ácido (vitriolagem), etc. Requisitos:
de detenção.
Que o dano estético seja razoável, ou seja, de uma certa mon-
No Código de Trânsito Brasileiro (artigo 303), porém, a lesão
ta. Deve ser permanente, isto é, não se reverte com o passar do
corporal culposa, com o agente na direção de veículo automotor,
tempo. Se a vítima se submeter a uma cirurgia plástica e houver recebe pena de detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e sus-
a correção, desclassifica-se o delito. Se a cirurgia plástica for pos- pensão da habilitação.
sível, mas a vítima não a fizer, persiste o crime, pois a vítima não A composição quanto aos danos civis extingue a punibilida-
está obrigada a fazer a cirurgia. Se a deformidade surgiu de um de, tanto da lesão culposa do Código Penal quanto do Código de
erro médico, há dois crimes (lesão dolosa em relação ao primeiro Trânsito Brasileiro. Exige-se representação, porque a ação penal é
e lesão culposa em relação ao médico). pública condicionada. Na lesão culposa, não há figura autônoma
Que a deformidade seja visível. decorrente da gravidade da lesão cujo grau (leve, grave ou gravís-
Que seja capaz de provocar impressão vexatória. A deformi- simo) é irrelevante para caracterizar lesão corporal culposa, afe-
dade estética deve ser algo que reduza a beleza física da vítima. tando apenas a tipificação da pena em concreto.
Inciso V – se resulta aborto
Aborto é a interrupção da gravidez, com a consequente morte CAUSA DE AU MENTO DE PENA:
do produto da concepção. O art. 129, § 7º, combinado com o art. 121, § 4º, do Código
Trata-se de qualificadora preterdolosa. Há dolo na lesão e cul- Penal, estabelece que a pena da lesão corporal dolosa, de qualquer
pa em relação ao aborto. Se houver dolo também em relação ao espécie, sofrerá acréscimo de um terço se a vítima é menor de 14
aborto, o agente responde por lesão corporal em concurso formal anos ou maior de 60.
imperfeito com aborto (artigo 70, caput, parte final). Há, por fim,
hipótese do agente que quer provocar o aborto e, culposamente, VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
causa lesão grave na mãe (artigo 127 do Código Penal). Art. 129, § 9º — Se a lesão for praticada contra ascenden-
É necessário que o agente saiba que a mulher está grávida. te, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem
Isso para evitar a chamada responsabilidade objetiva (artigo 19 do conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente
Código Penal). das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade:
Pena — detenção, de três meses a três anos.
Lesão Corporal Seguida de Morte – Artigo 129, § 3.º, do Art. 129, § 10 — Nos casos previstos nos §§ 1º a 3º deste
artigo, se as circunstâncias são as indicadas no § 9º deste artigo,
Código Penal:
aumenta-se a pena em um terço.
Pena: reclusão de 4 (quatro) a 12 (doze) anos.
Art. 129, § 11 — Na hipótese do § 9º deste artigo, a pena será
É também um crime preterdoloso no qual há dolo na lesão
aumentada de um terço se o crime for cometido contra pessoa
e culpa no resultado morte. O agente não prevê a morte, que era
portadora de deficiência.
previsível. Por ser preterdoloso, não admite tentativa. Esses dispositivos, criados pela Lei n. 10.886/2004, não cons-
Se não houver dolo na agressão (lesão), trata-se de homicídio tituem tipos penais autônomos, já que não possuem núcleo, isto é,
culposo. não têm nenhum verbo descrevendo uma conduta típica própria.
Caracterizará progressão criminosa se houver dolo inicial de Para criar um tipo penal autônomo não basta lhe dar um nome —
lesão e, durante a execução, o agente resolver matar a vítima. Nes- “violência doméstica”, por exemplo. Pela redação dos §§ 9º e 10,
se caso, responderá pelo homicídio doloso (crime mais grave). resta claro que, pelo texto legal aprovado, o legislador quis acres-
centar algumas circunstâncias com o intuito de agravar o crime de
Lesão Corporal Privilegiada – Artigo 129, § 4.º, do Código lesão corporal.
Penal Tanto é assim que, como já mencionado, não descreveu uma
As hipóteses de privilégio das lesões corporais são as mesmas conduta típica própria, mas sim fez remissão ao crime de lesão
do homicídio privilegiado. O privilégio só se aplica nas lesões do- corporal, iniciando o § 9º com a expressão “se a lesão...”, dei-
losas. É uma causa de redução de pena de 1/6 a 1/3. xando evidente que, ao acrescentar circunstâncias (crime contra

Didatismo e Conhecimento 101


NOÇÕES DE DIREITO
ascendente, descendente, irmão, cônjuge etc.) e prever novos li- ambas da Parte Especial, poderá aplicar um só aumento. A doutri-
mites de pena, acabou criando, no § 9º, o crime de lesão corporal na entende que a palavra “pode” não é mera faculdade do juiz, mas
dolosa leve qualificada pela violência doméstica. A pena que, ori- obrigação de aumentar a pena uma só vez.
ginariamente, era de seis meses a um ano, foi alterada pela Lei n. Deve-se ver, por fim, que não mais podem incidir sobre o cri-
11.340/2006, passando a ser de três meses a três anos de detenção, me de lesão corporal as agravantes genéricas do art. 61, II, e e f,
pena esta que deverá sofrer acréscimo de um terço se a vítima da que possuem redação idêntica, pois, se isso acontecesse, haveria
violência doméstica for portadora de deficiência, nos termos do inegável bis in idem.
art. 129, § 11, do Código Penal (criado pela Lei n. 11.340/2006).
Observação: na hipótese de lesão leve qualificada prevista no Da periclitação da vida e da saúde
§ 9º, como a nova pena máxima é de três anos, deixou o crime de Dentro da classificação geral dos crimes, há uma que interessa
ser de competência do Juizado Especial Criminal, estando, assim, especificamente a este capítulo:
afastadas as regras da Lei n. 9.099/95, que só se aplicam aos cri- a) Crimes de dano. São aqueles cuja existência pressupõe a
efetiva lesão ao bem jurídico tutelado.
mes cuja pena máxima não excede dois anos. De qualquer modo,
b) Crimes de perigo. São aqueles que se caracterizam pela
o art. 16 da Lei n. 11.340/2006 continua exigindo a representação
mera possibilidade de dano, ou seja, basta que o bem jurídico seja
do ofendido.
exposto a uma situação de risco; já em relação ao dolo, basta que o
No § 10 o legislador estabeleceu causas de aumento de pena agente tenha a intenção de expor a vítima a tal situação de perigo.
de um terço para os crimes de lesão corporal grave, gravíssima ou Esse perigo pode ser:
seguida de morte, se cometidos contra ascendente, descendente, — individual: atinge indivíduos determinados (arts. 130 e s.
irmão, cônjuge etc. Com efeito, o § 10 faz expressa menção aos §§ do Código Penal);
1º a 3º do art. 129, deixando claro que se refere a essas modalida- — coletivo ou comum: atinge um número indeterminado de
des de lesão corporal, ficando evidenciado, por exclusão, que o § pessoas (arts. 250 e s. do CP).
9º se refere à lesão leve. Os crimes de perigo subdividem-se ainda em:
O § 10, aliás, ajuda a demonstrar que não foram criados tipos a) perigo concreto — aqueles cuja caracterização depende de
autônomos, mas sim circunstâncias que agravam a pena do delito prova efetiva de que uma certa pessoa sofreu a situação de perigo;
de lesão corporal dolosa, porque, expressamente, diz que as penas b) perigo presumido ou abstrato — a lei descreve uma conduta
aumentam de um terço, “se as circunstâncias são as indicadas no e presume a existência do perigo, independentemente da compro-
§ 9º deste artigo”. É sabido que circunstâncias são elementos agre- vação de que uma certa pessoa tenha sofrido risco, não admitindo,
gados que aumentam a pena e não elementares de um delito. Em ainda, que se faça prova em sentido contrário.
suma, não existe um crime chamado “violência doméstica”, mas
crimes de lesão corporal agravados pela violência doméstica, mes- PERIGO DE CONTÁGIO VENÉREO
mo porque o capítulo em estudo se chama “das lesões corporais”. Art. 130 — Expor alguém, por meio de relações sexuais ou
É possível, ainda, notar, pela leitura de tais parágrafos, que qualquer ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que
sequer é necessário que o fato ocorra no âmbito doméstico para sabe ou deve saber que está contaminado:
que a pena seja agravada. Com efeito, não consta do texto legal Pena — detenção, de três meses a um ano, ou multa.
que a pena só será exacerbada se o crime contra ascendente, des- § 1º — Se é intenção do agente transmitir a moléstia:
cendente, irmão, cônjuge, companheiro, ou contra quem o agente Pena — reclusão, de um a quatro anos, e multa.
conviva ou tenha convivido, tiver sido praticado dentro de casa. § 2º — Somente se procede mediante representação.
É indiferente, portanto, o local em que a agressão ocorra. Haverá Objetividade jurídica. A incolumidade física da vítima.
sempre a agravação. Apenas nas últimas figuras, ou seja, quando o Sujeito ativo. Qualquer pessoa, homem ou mulher, casado
ou solteiro, recatada ou meretriz. A doutrina tradicional costuma
agente cometer o crime prevalecendo- se de relações domésticas,
classificar esse crime como comum; contudo, considerando que
de coabitação ou de hospitalidade, é que se pressupõe que o fato
só pessoas que estão contaminadas com doença venérea podem
ocorra no ambiente doméstico. A conclusão não pode ser outra,
cometê-lo, o correto seria classificá-lo como crime próprio.
na medida em que as primeiras figuras estão separadas destas no Sujeito passivo. É a pessoa com quem o agente pratica o ato
texto legal pela conjunção alternativa “ou”, de modo que não é ne- sexual. Mesmo a prostituta pode ser vítima desse crime, já que a
cessário, para agravar a pena, que a agressão seja feita pelo agente lei também protege a sua saúde, posto que, nos termos da Consti-
contra um ascendente, prevalecendo-se de relação doméstica, já tuição Federal, todos são iguais perante a lei.
que a lei diz “contra ascendente, ..., ou prevalecendo-se de relação Tipo objetivo. A caracterização do crime se dá quando o
doméstica”. agente mantém relações sexuais ou qualquer outro ato libidinoso
Em suma, a rubrica “violência doméstica” não condiz total- coma vítima apto a lhe transmitir moléstia venérea. É evidente que
mente com o texto legal aprovado. se o agente procura evitar eventual transmissão com o uso, por
Com a aprovação da nova lei, pode ocorrer uma situação pe- exemplo, de preservativo, afasta-se a configuração do delito.
culiar. Suponha-se que o pai agrida o filho de 12 anos de idade Elemento subjetivo. Na hipótese do art. 130, caput, é a von-
provocando nele lesões de natureza grave (art. 129, § 1º). Como tade de manter a relação sexual. No que diz respeito ao conheci-
o filho tem menos de 14 anos, o art. 129, § 7º (c/c o art. 121, § mento acerca da doença, a caracterização se dá tanto quando o
4º), determina um aumento de um terço, e como se trata de crime agente sabe da doença (dolo direto em relação a tal elementar)
contra descendente, o § 10 determina outro aumento de um terço. como quando deve saber que está contaminado (hipótese que, de
Poderia o juiz aumentar a pena duas vezes? A resposta é negativa acordo com a maioria quase absoluta da doutrina, indica culpa,
em razão da regra do art. 68, parágrafo único, do Código Penal, havendo, entretanto, entendimento de que seria indicativo de dolo
que estabelece que, se o juiz reconhecer duas causas de aumento, eventual).

Didatismo e Conhecimento 102


NOÇÕES DE DIREITO
Já na hipótese do art. 130, § 1º, do Código Penal, estamos A lei refere-se à transmissão de moléstia grave (que provo-
diante de um crime de perigo com dolo de dano e, portanto, nos ca séria perturbação da saúde), pouco importando se incurável ou
estritos termos da lei, o agente tem de ter conhecimento efetivo de não. Deve ser, entretanto, contagiosa, ou como exige a lei, trans-
que está acometido da doença, e deve ter dolo direto no sentido de missível. As moléstias venéreas, sendo elas graves, podem tipificar
transmiti-la. o crime em tela, desde que o perigo de contágio não ocorra através
Consumação. No momento da prática do ato sexual, ainda de ato sexual, já que, nesse caso, aplica-se o art. 130 do Código
que a vítima não seja contaminada. Ocorrendo o contágio, o agen- Penal.
te responde apenas pelo art. 130, caput, do Código Penal, já que, Elemento subjetivo. Trata-se de crime de perigo com dolo de
por se tratar de dolo de perigo, conclui-se que o agente não queria dano que apenas se caracteriza quando o agente quer transmitir a
transmitir a doença e, assim, poderia, no máximo, responder por moléstia. Em razão disso, admite apenas o dolo direto, excluindo-
-se o dolo eventual. Como a lei não prevê modalidade culposa, o
lesão corporal culposa que, entretanto, fica afastada por ter pena
fato será atípico se o agente atua apenas de forma imprudente e não
menor que o crime de perigo.
ocorre a transmissão da doença. Haverá, entretanto, crime de lesão
Já na hipótese do § 1º, se a vítima sofre apenas lesões leves, culposa se acontecer a transmissão.
por ser a pena desse delito menor do que a do crime de perigo, res- Consumação. No exato instante da prática do ato, indepen-
ponderá o agente pelo crime mais grave, ou seja, o do art. 130, § 1º, dentemente da efetiva transmissão da doença. Trata-se, pois, de
do Código Penal. Por outro lado, se a vítima sofrer lesões graves, crime formal. Se, in casu, ocorre a transmissão de doença que im-
o agente responderá pelas lesões corporais. plica lesão leve, ficarão estas absorvidas, mas se implicarem lesões
Tentativa. É possível quando o agente quer manter a relação graves ou morte, o agente será responsabilizado apenas por crime
sexual e não consegue. de lesão corporal de natureza grave ou homicídio. É o entendi-
Concurso. É bastante comum a hipótese do agente que, aco- mento de Damásio E. de Jesus, o qual nos parece mais adequado
metido de doença venérea, comete um estupro, devendo, nesse à hipótese em tela.
caso, responder pelos dois crimes com concurso formal (arts. 130, Tentativa. É possível.
caput, e 213 do CP). Já no caso de o agente ter intenção de trans- Qualificação doutrinária. Crime formal, com dolo de dano,
mitir a doença, por haver autonomia de desígnios em relação ao comum, simples, comissivo, de forma livre e instantâneo.
resultado, haverá concurso formal impróprio entre o delito previs- Ação penal. Pública incondicionada.
to no art. 130, § 1º, e o de estupro, se não houver a transmissão da
moléstia. Se o ato sexual forçado efetivamente transmitir a doença, PERIGO PARA A SAÚDE OU VIDA DE OUTREM
o agente responderá por crime de estupro com a pena aumentada Art. 132 — Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo di-
reto e iminente:
de um sexto até metade, nos termos do art. 234-B, acrescentado
Pena — detenção, de três meses a um ano, se o fato não
ao Código Penal pela Lei n. 12.015/2009, excluindo-se a punição
constitui crime mais grave.
pelo crime de perigo.
Qualificação doutrinária. Crime comum, de forma vincu- Objetividade jurídica. A vida e a saúde da pessoa humana.
lada (somente pode ser cometido através de contato sexual), co- Sujeito ativo. Qualquer pessoa.
missivo, instantâneo, simples, de perigo (caput) ou de perigo com Sujeito passivo. Qualquer pessoa. Não se exige qualquer vin-
dolo de dano (§ 1º) e formal. culação ou ligação jurídica entre autor e vítima.
Ação penal. Em qualquer caso, a ação é pública condicionada Tipo objetivo. “Expor alguém a perigo” significa criar ou co-
a representação. locar a vítima em uma situação de perigo de dano. Trata-se de
crime de ação livre, que admite qualquer forma de execução: “fe-
PERIGO DE CONTÁGIO DE MOLÉSTIA GRAVE char” veículo, abalroar o veículo da vítima, desferir golpe com
Art. 131 — Praticar, com o fim de transmitir a outrem mo- instrumento contundente próximo à vítima etc. O crime em aná-
léstia grave de que está contaminado, ato capaz de produzir o lise pode também ser cometido por omissão, como, por exemplo,
contágio: no caso de patrão que não fornece aparelhos de proteção a seus
Pena — reclusão, de um a quatro anos, e multa. funcionários, desde que disso resulte situação concreta de peri-
go, já que o não cumprimento das normas de segurança, por si
Objetividade jurídica. A incolumidade física e a saúde da só, caracteriza a contravenção penal do art. 19 da Lei n. 8.213/91
pessoa humana. (legislação referente a benefícios previdenciários e acidentários).
É necessário, ainda, que o perigo seja: a) direto — é aquele que
Sujeito ativo. Qualquer pessoa que esteja acometida com do-
atinge pessoa(s) certa(s) e determinada( s). Trata-se, pois, de crime
ença grave. A doutrina tradicional costuma classificar esse crime
de perigo concreto, uma vez que exige prova de que o agente ob-
como comum, mas ele, em verdade, é crime próprio, porque o tipo jetivava efetuar a conduta contra uma certa pessoa ou contra certas
penal exige uma característica especial no sujeito ativo. pessoas. Se o agente visa número indeterminado de pessoas, ha-
Sujeito passivo. Qualquer pessoa, desde que ainda não con- verá crime de perigo comum previsto nos arts. 250 e s. do Código
taminada. Penal; b) iminente — é aquele que pode provocar imediatamente o
Tipo objetivo. O crime caracteriza-se pela prática de qualquer dano; é o perigo imediato.
ato, uma vez evidenciado que ele pode transmitir a moléstia, exi- Ao tratar da pena desse delito, o legislador estabeleceu uma
gência feita pelo próprio tipo penal (beijo, aperto de mão, espirrar hipótese de subsidiariedade expressa, porque a lei diz que o agen-
no garfo que a vítima vai usar para comer etc.). Trata-se de crime te somente responderá pelo art. 132 do Código Penal “se o fato
de ação livre, já que admite qualquer meio de execução, desde que não constitui crime mais grave”. No passado, o agente que efe-
apto a efetuar a transmissão. tuava disparo de arma de fogo próximo à vítima, na via públi-

Didatismo e Conhecimento 103


NOÇÕES DE DIREITO
ca, respondia pelo crime em estudo, e, caso efetuasse o disparo ABANDONO DE INCAPAZ
para cima, sem expor pessoa determinada a perigo, responderia Art. 133. Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guar-
apenas pela contravenção penal do art. 28 da Lei das Contraven- da, vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de
ções Penais. Acontece que o mencionado art. 28 foi revogado pela defender-se dos riscos resultantes do abandono.
Lei n. 9.437/97, estando a questão do disparo de arma de fogo Pena – detenção, de 6 meses a 3 anos.
em via pública regulamentada, atualmente, pelo art. 15 da Lei n. § 1º — Se do abandono resulta lesão corporal de natureza
10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento), que pune a conduta de grave:
“disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou Pena — reclusão, de um a cinco anos.
em suas adjacências, em via pública ou em direção a ela”, com § 2º — Se resulta a morte:
pena de reclusão, de dois a quatro anos, e multa, e que, por ser mais Pena — reclusão, de quatro a doze anos.
grave, afasta a aplicação do art. 132 do Código Penal. O delito do
art. 15 atinge a incolumidade pública, na medida em que o Estatuto Objetividade jurídica. A vida e a saúde da pessoa.
do Desarmamento presume que o disparo em lugar habitado colo- Sujeito ativo. É aquele que tem o dever de zelar pela vítima.
ca em risco a coletividade. Assim, caso o agente efetue o disparo Trata-se de crime próprio, pois somente pode ser cometido
em lugar habitado, querendo expor a risco pessoa determinada, por quem tenha a pessoa sob seu cuidado, vigilância, guarda ou
sua conduta se amolda aos dois tipos penais, pois colocou em risco autoridade. Pressupõe- se, portanto, uma especial relação de assis-
pessoa determinada e também a coletividade; porém, em razão da tência entre o agente e a vítima.
subsidiariedade do art. 132 do Código Penal, fica absorvido tal Sujeito passivo. A pessoa que esteja sob a mencionada rela-
crime. ção de assistência. A lei não se refere apenas às pessoas menores
Por outro lado, se o disparo for efetuado no meio de uma flo- de idade, mas também aos adultos que não possam se defender por
resta ou em outro lugar desabitado, a conduta não se enquadra no si próprios, abrangendo, ainda, a incapacidade temporária (doentes
mencionado art. 15. Nesse caso, se a intenção do agente era expor físicos ou mentais, paralíticos, cegos, idosos, pessoa embriagada
pessoa(s) determinada(s) a situação de risco, estará tipificado o de- etc.).
lito do art. 132 do Código Penal, mas se não queria expor ninguém Tipo objetivo. “Abandonar” significa deixar sem assistência,
a risco, o fato é atípico. afastar-se do incapaz. O crime pode ser praticado por ação (levar
Se o agente efetua o disparo, qualquer que seja o local, com a vítima em um certo local e ali deixá-la) ou por omissão (deixar
intenção de matar a vítima, mas não a atinge, responde por tentati- de prestar a assistência que a vítima necessita ao se afastar da re-
va branca de homicídio. sidência em que moram), desde que, da conduta, resulte perigo
É evidente, também, que, qualquer que seja o modo de exe- concreto, efetivo, para a vítima. Não haverá crime quando o pró-
cução, deixa de haver o crime de “perigo para a vida ou saúde de prio assistido é quem se afasta daquele que tem o dever de assistir.
outrem” quando a vítima é atingida e sofre lesões graves ou morre. Também não existirá o delito se o responsável fica próximo da
Nesses casos, o agente responderá por lesões corporais ou homi- vítima ou em situação de poder vigiá-la, na expectativa de que
cídio, doloso (dolo eventual) ou culposo, dependendo da hipótese. alguém a recolha.
A Lei n. 9.777/98 acrescentou um parágrafo único ao art. 132, Elemento subjetivo. É o dolo, vontade livre e consciente de
estabelecendo uma causa de aumento de pena de um sexto a um abandonar o assistido, de forma a que corra risco.
terço se a exposição da vida ou da saúde de outrem decorre do Consumação. O crime se consuma quando, em razão do
transporte de pessoas para a prestação de serviços em estabele- abandono, a vítima sofre situação de risco concreto. Trata-se de
cimento de qualquer natureza, em desacordo com as normas le- crime instantâneo, e, mesmo que o agente, posteriormente, reassu-
gais. É inegável que a finalidade do dispositivo é apenar mais gra- ma o dever de assistência, o delito já estará consumado.
vemente os responsáveis pelo transporte de trabalhadores rurais Tentativa. É possível.
(boias-frias) que o fazem sem os cuidados necessários para evitar Distinção
acidentes com vítimas. Pelo texto da lei somente haverá aumento a) Não havendo a relação de assistência entre as partes, o cri-
de pena se houver desrespeito às normas legais destinadas a garan- me poderá eventualmente ser o de omissão de socorro do art. 135
tir a segurança. Essas normas estão descritas no Código de Trânsi- do Código Penal.
to Brasileiro. O aumento da pena pressupõe também a ocorrência b) Se a intenção do agente for a de ocultar desonra própria e a
de perigo concreto. vítima for um recém-nascido, o crime será aquele previsto no art.
Elemento subjetivo. É o dolo de perigo em relação a pes- 134 do Código Penal.
soa (s) determinada(s). Não admite modalidade culposa. Havendo Ação penal. Pública incondicionada.
dolo de dano, o agente responderá por outro crime.
Consumação. No momento da prática do ato que resulta em FORMAS QUALIFICADAS
perigo concreto. Art. 133, § 1º — Se do abandono resulta lesão corporal de
Tentativa. É possível. natureza grave:
Concurso. Caso o agente, com uma única ação, dolosamente Pena — reclusão, de um a cinco anos.
exponha duas pessoas a risco, responde por dois crimes em con- Art. 133, § 2º — Se resulta a morte:
curso formal. Pena — reclusão, de quatro a doze anos.
Qualificação doutrinária. Crime de perigo concreto, comum, Não é difícil de se concluir, em razão das penas cominadas
doloso, de ação livre, comissivo ou omissivo, simples, instantâneo (inferiores às do homicídio doloso simples), que se trata de qua-
e subsidiário. lificadoras exclusivamente preterdolosas. Assim, em havendo in-
Ação penal. Pública incondicionada. tenção de provocar o resultado mais grave, ou, caso o agente tenha

Didatismo e Conhecimento 104


NOÇÕES DE DIREITO
assumido o risco de produzi-lo, responderá por lesões corporais Considerando o montante da pena prevista para as formas
graves ou por homicídio, tentado ou consumado. Se as lesões fo- qualificadas, pode-se concluir facilmente que elas somente se
rem leves, todavia, subsiste o crime do art. 133 do Código Penal, aperfeiçoam quando o resultado agravador é culposo. Constituem,
que as absorve por possuir pena maior. portanto, hipóteses exclusivamente preterdolosas.
Havendo intenção de matar, o crime poderá ser o de infanticí-
CAUSAS DE AU MENTO DE PENA dio, se caracterizado o estado puerperal, ou o homicídio, caso não
Art. 133, § 3º — As penas cominadas neste artigo aumen- caracterizado.
tam-se de um terço:
I — se o abandono ocorre em lugar ermo — é o local solitá- OMISSÃO DE SOCORRO
rio, isolado (habitual ou acidentalmente);
II — se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, ir- Art. 135 — Deixar de prestar assistência, quando possível
mão, tutor ou curador da vítima — a enumeração é taxativa. fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada,
ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e imi-
III — se a vítima é maior de 60 anos — esse dispositivo
nente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade
foi acrescentado no Código Penal pelo Estatuto do Idoso (Lei n.
pública:
10.741/2003).
Pena — detenção, de um a seis meses, ou multa.
EXPOSIÇÃO OU ABANDONO DE RECÉM- -NASCIDO Objetividade jurídica. A preservação da vida e da saúde e a
Art. 134 — Expor ou abandonar recém-nascido, para ocul- consagração do dever de assistência mútua entre os homens.
tar desonra própria: Sujeito ativo. Pode ser qualquer pessoa, independentemente
Pena — detenção, de seis meses a dois anos. de alguma vinculação jurídica com a vítima.
E se várias pessoas negam assistência à vítima?
Objetividade jurídica. A segurança do recém-nascido. Todos respondem pelo crime.
Sujeito ativo. Trata-se de crime próprio que somente pode ser E se apenas um presta socorro, havendo várias pessoas que
cometido pela mãe para esconder a gravidez fora do casamento, poderiam tê-lo feito?
ou pelo pai, na mesma hipótese, ou em razão de filho adulterino ou Não há crime, uma vez que a vítima foi socorrida e, em se
incestuoso. Existe, porém, corrente minoritária sustentando que, tratando de obrigação solidária, o cumprimento do dever por uma
como o tipo penal usa a expressão “ocultar desonra própria”, só delas desobriga todas as demais.
a mãe poderia ser sujeito ativo, respondendo o pai por crime de Sujeito passivo. Apenas as pessoas enumeradas na lei podem
abandono de incapaz (art. 133). Este último entendimento é defen- ser sujeito passivo. Há, portanto, cinco espécies de vítima:
dido por Cezar Roberto Bitencourt e Celso Delmanto. a) Criança abandonada — é aquela que foi propositadamente
Sujeito passivo. O recém-nascido, assim considerado até a deixada em determinado lugar por seus responsáveis e, assim, está
queda do cordão umbilical. Há séria divergência, entretanto, em entregue a si mesma, sem poder prover sua própria subsistência.
torno do exato significado da condição de “recém-nascido”. Diverge do crime de abandono de incapaz porque, na omissão, não
Tipo objetivo. Expor significa remover a vítima para local é o agente quem cria o perigo abandonando o menor, o sujeito já
diverso daquele em que lhe é prestada a assistência; abandonar encontra a vítima em abandono e não lhe presta assistência. No
significa omitir à vítima a devida assistência. crime de abandono de incapaz é o próprio agente quem toma a
Elemento subjetivo. Dolo de perigo. Exige o tipo um espe- iniciativa de abandoná-la.
cial fim de agir que é o de “ocultar desonra própria”. Essa honra b) Criança extraviada — é a criança perdida, aquela que não
que o agente deve visar preservar é a de natureza sexual, a boa sabe retornar ao local onde reside ou onde possa encontrar proteção.
fama, a reputação etc. Se a causa do abandono for miséria, excesso Nos termos do Estatuto da Criança e do Adolescente, “crian-
ça” é a pessoa menor de 12 anos.
de filhos ou outros, o crime será o de abandono de incapaz do art.
c) Pessoa inválida, ao desamparo — invalidez é a caracterís-
133 do Código Penal, delito que também ocorrerá se o agente não
tica daquele que não pode se valer de si próprio para a prática dos
é pai ou mãe da vítima.
atos normais do ser humano. Pode decorrer de defeito físico, de
Consumação. Quando a vítima é abandonada, desde que do
doença incapacitante etc. A pessoa deve, ainda, estar ao desampa-
fato resulte perigo concreto para o recém-nascido. ro, ou seja, impossibilitada de se afastar de uma situação de perigo
Tentativa. É possível quando o agente elege a forma comissi- por suas próprias forças e sem contar com a assistência de outra
va para o cometimento do delito. pessoa.
Qualificação doutrinária. Crime de perigo concreto, doloso, Atualmente, se a omissão de socorro referir-se a pessoa idosa
próprio, simples, comissivo ou omissivo e instantâneo. em situação de iminente perigo, estará caracterizado crime mais
Ação penal. Pública incondicionada. grave, descrito no art. 97 da Lei n. 10.741/2003 (Estatuto do Ido-
so), cuja pena é de detenção, de seis meses a um ano, e multa.
FORMAS QUALIFICADAS d) Pessoa ferida, ao desamparo — é aquela que sofreu lesões
Art. 134, § 1º — Se do fato resulta lesão corporal de natu- corporais, de forma acidental ou provocada por terceiro e que está
reza grave: também desamparada.
Pena — detenção, de um a três anos. e) Pessoa em grave e iminente perigo — o perigo, nesse caso,
Art. 134, § 2º — Se resulta a morte: deve ser de grandes proporções e estar prestes a desencadear um
Pena — detenção, de dois a seis anos. dano. Ex.: pessoa pendurada em um abismo ou trancada em um

Didatismo e Conhecimento 105


NOÇÕES DE DIREITO
quarto de um prédio em chamas etc. Mesmo que a vítima não quei- No caso em tela, o nexo causal tem de ser analisado de forma
ra ser socorrida existirá o crime, pois a incolumidade física e a vida inversa, uma vez que o crime é omissivo. Assim, somente será
são bens indisponíveis. O crime, entretanto, deixará de existir se a aplicada a qualificadora se ficar provado que, caso o agente tivesse
oposição da vítima inviabilizar o socorro. socorrido a vítima, poderia ter evitado a ocorrência do resultado
Não importa, por outro lado, quem causou a situação de pe- agravador (lesão grave ou morte).
rigo (a própria vítima, terceiro, forças da natureza etc.). O pró-
prio omitente pode ter sido o autor da situação de risco. Veja-se, MAUS-TRATOS
entretanto, que se ele agiu culposamente, de forma a causar, por Art. 136 — Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob
exemplo, lesões corporais na vítima e depois não a socorreu, res- sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, en-
ponderá pelo crime específico de lesões corporais culposas com a sino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou
pena agravada (art. 129, §§ 6º e 7º, do CP). É óbvio também que cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo
ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou disci-
se o agente quis lesionar ou matar alguém e, posteriormente, não
plina:
prestou socorro, responderá tão somente pelas lesões corporais do- Pena — detenção, de dois meses a um ano, ou multa.
losas ou pelo homicídio.
Nas quatro primeiras hipóteses (“a” até “d”), o crime de omis- Objetividade jurídica. A vida e a saúde da pessoa.
são de socorro é de perigo abstrato ou presumido, ou seja, basta Condutas típicas. “Expor a vida ou a saúde de outrem a pe-
que se prove que a pessoa se enquadra em uma das hipóteses des- rigo” através de uma das condutas descritas na lei. Trata-se, pois,
critas na lei, que já se presume que a ausência do socorro implicou de crime de ação vinculada, cuja caracterização depende da ocor-
situação de risco. Já na última, o crime é de perigo concreto, de- rência de uma das situações descritas na lei (ao contrário do que
vendo se provar que efetivamente ocorreu uma situação de risco. ocorre no art. 132, que admite qualquer meio de execução).
Elemento objetivo. O crime pode ocorrer de duas maneiras: As hipóteses enumeradas pela lei são as seguintes:
a) Falta de assistência imediata — quando o agente pode pres- a) Privar a vítima de alimentos ou cuidados indispensáveis
tar o socorro e não o faz. Ex.: uma pessoa vê outra se afogar e, — a privação de alimentos pode ser relativa (parcial) ou absoluta
sabendo nadar, nada faz para salvá-la. Somente se aplica quando (total). Basta a privação relativa para a caracterização do ilícito
a prestação do socorro não põe em risco a vida ou a incolumidade penal. É evidente, ainda, que no caso de privação absoluta, so-
física da pessoa que, na realidade, não precisa tentar se tornar um mente existirá maus-tratos se o agente deixar de alimentar a vítima
herói. Contudo, certas profissões, como no caso mais comum que apenas por um certo tempo, expondo-a a situação de perigo, já que
é o dos bombeiros, trazem o dever de enfrentar o perigo, e os seus se houver intenção homicida, o crime será o de homicídio, tentado
ou consumado.
agentes apenas não responderão pela omissão de socorro quando
Cuidados indispensáveis são aqueles necessários à preserva-
o risco for efetivamente muito grande. Se a prestação de socorro ção da vida e da saúde (tratamento médico, agasalho etc.).
implicar risco para terceira pessoa, a omissão não constitui fato b) Sujeitar a vítima a trabalhos excessivos ou inadequados —
antijurídico. trabalho excessivo é aquele que produz fadiga acima do normal em
b) Falta de assistência mediata — não podendo prestar o so- face do grande volume. Essa análise deve ser feita em confronto
corro pessoalmente, o agente também não solicita auxílio à autori- com o tipo físico da vítima, ou seja, caso a caso.
dade pública. No exemplo acima, se a pessoa não sabe nadar, deve Trabalho inadequado, por sua vez, é aquele impróprio ou in-
procurar noticiar o afogamento que está acontecendo para qual- conveniente às condições de idade, sexo, desenvolvimento físico
quer agente da autoridade para que este providencie o salvamento. da vítima, etc. Obrigar uma criança a trabalhar à noite, no frio, em
Caso não o faça, incide na 2ª figura da omissão de socorro. Veja-se, local aberto, ou seja, em situações que podem lhe trazer problemas
ainda, que o pedido de auxílio deve ser imediato. para a saúde.
Não se trata, em verdade, de uma opção do agente, ou, em c) Abusar dos meios de disciplina ou correção — refere-se a
outras palavras, se tem condições de auxiliar ele próprio a vítima, lei à aplicação de castigos corporais imoderados. Abuso no poder
deve fazê- -lo. Se não o fizer, responderá pelo crime, ainda que de correção e disciplina passa a existir quando o meio empregado
solicite a ajuda da autoridade, já que não estamos diante de uma para tanto atinge tal intensidade que expõe a vítima a uma situação
mera opção. de perigo para sua vida ou saúde. Não há crime na aplicação de
Elemento subjetivo. É o dolo, direto ou eventual. Não existe palmadas ou chineladas nas nádegas de uma criança. Há crime, en-
tretanto, quando se desferem violentos socos ou chutes na vítima
forma culposa.
ou, ainda, na aplicação de chineladas no rosto de uma criança etc.
Consumação. No momento da omissão. Se o meio empregado expõe a vítima a um intenso sofrimento
Tentativa. Não é admissível, já que se trata de crime omissivo físico ou mental, estará configurado o crime do art. 1º, II, da Lei n.
puro (ou próprio). 9.455/97 (Lei de Tortura), que tem redação bastante parecida com
Qualificação doutrinária. Comum, simples, omissivo pró- a última hipótese do crime de maus-tratos, mas que, por possuir
prio (só admite forma omissiva), doloso, de perigo concreto ou pena bem mais alta (reclusão, de dois a oito anos), se diferencia do
abstrato, dependendo do caso. crime de maus-tratos em razão da gravidade da conduta, ou seja,
no crime de tortura a vítima deve ser submetida a um sofrimento
CAUSAS DE AU MENTO DE PENA intenso, bem mais grave do que o dos maus-tratos. A distinção,
Art. 135, parágrafo único — A pena é aumentada de metade, porém, deverá ser feita caso a caso. Configuram o crime de tortura
se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e tripli- a aplicação de chicotadas, aplicação de ferro em brasa etc. A re-
cada, se resulta a morte. dação completa de tal dispositivo é a seguinte: “Submeter alguém
Em razão do montante da pena, conclui-se que as qualifica- sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou
doras são exclusivamente preterdolosas, ou seja, o resultado lesão grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma
grave ou morte deve ser culposo. de aplicar castigo corporal ou medida de caráter preventivo”.

Didatismo e Conhecimento 106


NOÇÕES DE DIREITO
Há que se ressaltar, ainda, que se o meio empregado não ex- multos é impossível estabelecer qual golpe foi desferido por deter-
põe a vítima a perigo, mas a submete a situação vexatória, não se minado agressor contra outro, todos devem ser punidos por rixa,
configura o delito de maus-tratos, mas o crime do art. 232 do Esta- ou seja, pela participação no tumulto. Dessa forma, não há rixa
tuto da Criança e do Adolescente (desde que a vítima seja criança quando existem dois grupos contrários, perfeitamente definidos,
ou adolescente sob guarda, autoridade ou vigilância do agente). lutando entre si, porque, nessa hipótese, os integrantes de cada
Ex.: raspar o seu cabelo, rasgar sua roupa em público etc. grupo serão responsabilizados pelas lesões corporais causadas nos
Sujeitos do delito. O crime de maus-tratos é um crime pró- integrantes do grupo contrário. A jurisprudência, entretanto, vem
prio específico, pois exige uma vinculação, uma relação jurídica reconhecendo o crime de rixa quando se inicia uma troca de agres-
entre o autor da infração penal e a vítima, ou seja, o autor do crime sões entre dois grupos distintos, mas, em razão do grande número
deve ter a guarda, vigilância ou autoridade sobre a vítima para fim de envolvidos, surge tamanha confusão, que, durante seu desenro-
de educação, ensino, tratamento ou custódia. A vítima, pois, deve lar, torna-se impossível identificar tais grupos.
estar subordinada ao agente, hipótese que, por exemplo, afasta a Objetividade jurídica. A vida e a saúde das pessoas envol-
possibilidade de a esposa ser vítima desse crime em relação ao vidas.
marido, já que não existe relação de subordinação entre eles. O Sujeito ativo e passivo. Trata-se de crime de concurso ne-
marido pode cometer lesões corporais qualificadas pela violência cessário cuja configuração exige uma participação de, no mínimo,
doméstica ou o delito do art. 132 do Código Penal, mas não crime três pessoas (ainda que alguns sejam menores de idade) na troca
de maus-tratos. Podem cometer os maus-tratos, por exemplo, os de agressões. É também definido como crime de condutas contra-
pais, tutores, curadores, professores, enfermeiros, carcereiros etc. postas, já que os rixosos agem uns contra os outros e, assim, são, a
Consumação. No momento da produção do perigo. Algumas um só tempo, sujeito ativo e passivo do delito.
das hipóteses previstas na lei exigem uma certa habitualidade, Elemento subjetivo. O dolo. É irrelevante o motivo que le-
como no caso da privação de alimentos, em que não basta deixar vou ao surgimento da rixa. Trata-se de crime de perigo em que
a vítima sem um almoço para sua configuração, outras, entretanto, se pune a simples troca de agressões, sem a Necessidade de que
não a exigem, como na situação na qual ocorre abuso dos meios de qualquer dos envolvidos sofra lesão. Caso isso ocorra e o autor das
correção ou disciplina. Nesse último caso, o crime é instantâneo, lesões seja identificado, ele responderá pela rixa e pelas lesões le-
mas há hipóteses em que os maus-tratos constituem crime perma- ves. Se, entretanto, as lesões forem graves ou houver morte, haverá
nente (privação de alimentos ou cuidados indispensáveis). rixa qualificada, que será estudada mais adiante. A contravenção
Tentativa. Somente é possível nas condutas comissivas. de vias de fato, porém, fica absorvida pela rixa.
Elemento subjetivo. É o dolo, direto ou eventual. Não existe Veja-se, ainda, que o crime é de perigo abstrato, pois a lei pre-
forma culposa. sume que, com a troca de agressões, há situação de risco.
Qualificação doutrinária. Crime de perigo concreto, de ação
Não há crime na conduta daquele que ingressa na luta apenas
múltipla, já que a prática de mais de uma conduta em face da mes-
para separar os lutadores, já que inexiste dolo nessa hipótese.
ma vítima e no mesmo contexto caracteriza crime único (privação
Elemento objetivo. Participar: significa tomar parte nas
de alimentos e abuso dos meios de correção, por exemplo), pró-
agressões através de chutes, socos, pauladas etc. A participação,
prio, simples, comissivo ou omissivo, instantâneo ou permanente.
entretanto, pode ser:
- material — por parte daqueles que realmente tomam parte na
FORMAS QUALIFICADAS
Art. 136, § 1º — Se do fato resulta lesão corporal de natu- luta através dos chutes, socos etc.;
reza grave: - moral — por parte daqueles que incentivam os demais atra-
Pena — reclusão, de um a quatro anos. vés de induzimento, instigação ou qualquer outra forma de estí-
Art. 136, § 2º — Se resulta a morte: mulo. O partícipe moral, todavia, deve ser, no mínimo, a quarta
Pena — reclusão, de quatro a doze anos. pessoa, já que a rixa exige pelo menos três na efetiva troca de
Em razão da pena também se conclui que são hipóteses exclu- agressões.
sivamente preterdolosas. Na primeira hipótese, o agente é chamado de partícipe da rixa
e, na segunda, de partícipe do crime de rixa.
CAUSA DE AU MENTO DE PENA Consumação. Com a efetiva troca de agressões.
Art. 136, § 3º — Aumenta-se a pena de um terço, se o crime Tentativa. Em regra não é possível, pois, ou ocorre a rixa e
é praticado contra pessoa menor de catorze anos. o crime está consumado, ou ela não se inicia, e, nesse caso, não
Cuida-se de figura inserida no Código Penal por ocasião do há crime. Damásio E. de Jesus, por sua vez, entende ser possível
advento do Estatuto da Criança e do Adolescente. Por sua vez, os a tentativa na chamada rixa ex proposito, em que três lutadores
maus-tratos realizados contra idosos caracterizam, atualmente, cri- combinam uma briga entre si, na qual cada um lutará com qualquer
me especial, previsto no art. 99 da Lei n. 10.741/2003 — Estatuto deles, sendo que a polícia intervém no exato momento em que
do Idoso. iriam iniciar-se as violências recíprocas.
Qualificação doutrinária. Crime de concurso necessário
RIXA (plurissubjetivo), doloso, instantâneo, simples, de ação livre, co-
Art. 137 — Participar de rixa, salvo para separar os con- missivo, comum e de perigo abstrato.
tendores: Legítima defesa. Não é possível se alegar legítima defesa na
Pena — detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa. rixa, pois quem dela participa comete ato antijurídico. Assim, se,
durante a rixa, uma pessoa empunha um revólver para atingir outro
Conceito. Rixa é uma luta desordenada, um tumulto, envol- rixoso e este se defende, matando o primeiro, responde pela rixa
vendo troca de agressões entre três ou mais pessoas, em que os porque este crime já se havia consumado anteriormente. Há legíti-
lutadores visam todos os outros indistintamente. Como nesses tu- ma defesa apenas em relação ao homicídio.

Didatismo e Conhecimento 107


NOÇÕES DE DIREITO
RIXA QUALIFICADA os outros pensam a respeito do sujeito. A calúnia e a difamação
Art. 137, parágrafo único — Se ocorre morte ou lesão cor- atingem a honra objetiva. Ambas se consumam, portanto, quando
poral de natureza grave, aplica-se, pelo fato da participação na terceira pessoa toma conhecimento da ofensa proferida.
rixa, a pena de detenção, de seis meses a dois anos. Honra subjetiva. Sentimento que cada um tem a respeito de
A rixa qualificada é, na realidade, um dos últimos resquí cios seus próprios atributos. É o juízo que se faz de si mesmo, o seu
de responsabilidade objetiva que estão em vigor em nossa lei pe- amor- -próprio, sua autoestima.
nal, uma vez que a sua redação, bem como a própria explicação A honra subjetiva subdivide-se em:
extraída da exposição de motivos, deixa claro que todos os en- 1) honra-dignidade — diz respeito aos atributos morais da
volvidos na rixa sofrerão maior punição, independentemente de pessoa;
serem eles ou não os responsáveis pela lesão grave ou morte. Até 2) honra-decoro — refere-se aos atributos físicos e intelec-
mesmo a vítima das lesões graves responderá pela pena agravada. tuais.
Por outro lado, se for descoberto o autor do resultado agravador, A injúria atinge a honra subjetiva e, assim, se consuma quando
ele responderá pela rixa qualificada em concurso material com o a própria vítima toma conhecimento da ofensa que lhe foi feita.
crime de lesões corporais graves ou homicídio (doloso ou culpo-
so, dependendo do caso), enquanto todos os demais continuarão CALÚNIA
respondendo pela rixa qualificada. Há, entretanto, entendimento Art. 138, caput — Caluniar alguém, imputando-lhe falsa-
no sentido de que a pessoa identificada como responsável pelo mente fato definido como crime:
resultado agravador responderá pelas lesões graves ou morte em Pena — detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
concurso com rixa simples, pois puni-la pela rixa qualificada cons-
tituiria bis in idem (dupla punição pelo mesmo fato). TIPO FUNDAMENTAL (caput)
É indiferente que o resultado tenha ocorrido em um dos inte- Imputar. Atribuir a alguém a responsabilidade pela prática de
grantes da rixa ou em terceira pessoa. algum fato.
Se ocorrerem várias mortes, haverá crime único de rixa quali- Falsamente. Elemento normativo do tipo. Se não for falsa a
ficada, devendo a circunstância ser levada em conta na fixação da ofensa, o fato é atípico. A falsidade pode referir-se:
pena- base (art. 59 do CP). a) à existência do fato — o agente narra um crime que ele sabe
Se o agente tomou parte na rixa e saiu antes da morte da víti- que não ocorreu;
ma, responde pela forma qualificada, pois se entende que, com seu b) à autoria do crime — o fato existiu mas o agente sabe que
comportamento anterior, colaborou com a criação de condições a vítima não foi a autora.
para o desenrolar da luta, que culminou em resultado mais lesivo. Se o sujeito acha que a imputação é verdadeira, há erro de
Ao contrário, se o agente entra na rixa após a morte, responde por tipo, que exclui o dolo.
rixa simples. Fato definido como crime. Não importa se a imputação se re-
Diz a lei que a rixa é qualificada se efetivamente ocorre morte fere a crime de ação pública ou privada, apenado com reclusão ou
ou lesão grave. Assim, se durante a luta ocorre uma tentativa de detenção, doloso ou culposo etc. É necessário que o caluniador
homicídio da qual não sobrevém morte nem lesão grave, a rixa é atribua ao caluniado a prática de um fato determinado, ou seja,
simples e o autor da tentativa, se identificado, também responderá de um acontecimento concreto. Assim, dizer que, no mês passa-
por esse crime. do, João matou Pedro quando este chegava em sua casa constitui
A pena da figura qualificada é a mesma, quer resulte morte ou imputação de fato determinado e configura calúnia, desde que seja
lesão grave. falsa tal imputação. Ao contrário, dizer apenas que João é assas-
sino constitui crime de injúria (imputação de qualidade negativa),
CRIMES CONTRA HONRA: pois não existe na hipótese imputação de fato.
Os crimes contra a honra são: Veja-se que, se uma lei posterior deixar de considerar o fato
a) calúnia; como crime, pode haver desclassificação para difamação ou até
b) injúria; mesmo tornar o fato atípico.
c) difamação. Elemento subjetivo. O dolo, direto ou eventual (quando o
Cada um desses crimes tem um significado próprio e está pre- agente, na dúvida, assume o risco de fazer uma imputação falsa).
visto no Código Penal e em várias legislações especiais (Código Formas de calúnia
Eleitoral, Código Militar, Lei de Segurança Nacional). Assim, a a) inequívoca ou explícita. Ocorre quando a ofensa é feita às
legislação penal comum somente será aplicada quando não ocorrer claras, sem deixar qualquer margem de dúvida no sentido de que o
uma das hipóteses especiais. agente queria praticar uma ofensa.
b) equívoca ou implícita. A ofensa é feita de forma velada,
CONCEITO DE HONRA sub-reptícia.
Honra é o conjunto de atributos morais, físicos e intelectuais Nela o agente dá a entender que alguém teria feito determi-
de uma pessoa, que a tornam merecedora de apreço no convívio nada coisa.
social e que promovem a sua autoestima. c) reflexa. Ocorre quando o agente quer caluniar uma pessoa
A honra divide-se em: mas, na descrição do fato, acaba por atribuir crime também a uma
1) honra objetiva; outra pessoa. Em relação a esta a calúnia é reflexa. Ex.: ao imputar
2) honra subjetiva. a prática de corrupção passiva a um funcionário público, o calunia-
Honra objetiva. Sentimento que o grupo social tem a respei- dor acaba ofendendo também a pessoa que teria sido o corruptor
to dos atributos físicos, morais e intelectuais de alguém. É o que ativo.

Didatismo e Conhecimento 108


NOÇÕES DE DIREITO
Consumação. Conforme já visto, o crime de calúnia se con- lidade de decidir se vai ou não processar. Ora, se o autor da impu-
suma no momento em que a imputação chega aos ouvidos de ter- tação quiser provar em juízo que sua alegação é verdadeira (sem
ceira pessoa, já que se trata de crime que atinge a honra objetiva. que haja condenação por esse fato), ele estará passando por cima
Independe, pois, de se saber quando a vítima tomou conhecimento da vontade da vítima e tocando em assunto que ela quis evitar. Por
da ofensa contra ela assacada. isso, não é permitida a exceção.
Tentativa. A calúnia verbal não admite tentativa, pois, ou o Art. 138, § 3º, II — se o fato é imputado a qualquer das pes-
agente profere a ofensa e o crime se consuma, ou não o faz e, nesse soas indicadas no n. I do art. 141.
caso, o fato é atípico. Na forma escrita, a tentativa é admissível, Não cabe, pois, a exceção da verdade quando a ofensa é feita
como, por exemplo, no caso de carta ofensiva que se extravia. contra o presidente da República ou contra chefe de governo es-
Distinção. Na calúnia o agente visa atingir apenas a honra da trangeiro.
vítima, imputando-lhe falsamente um crime perante outras pessoas. Art. 138, § 3º, III — se do crime imputado, embora de ação
Na denunciação caluniosa (art. 339 do CP), o agente quer pre- pública, o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível.
judicar a vítima perante as autoridades constituídas, dando causa, O crime imputado pode ser de ação pública ou privada. Em
por exemplo, ao início de uma investigação policial ou de uma qualquer caso, se já houve absolvição, não é possível a exceção,
ação penal, imputando-lhe crime ou contravenção de que o sabe mesmo que surjam novas provas.
inocente. É possível existir a calúnia se a imputação for verdadeira?
Sim, nos casos em que não se admite exceção da verdade (art.
SUBTIPO DA CALÚNIA 138, § 3º, I, II e III, do CP).
Art. 138, § 1º — Na mesma pena incorre quem, sabendo Veja-se, por outro lado, que a exceção da verdade é, inegavel-
falsa a imputação, a propala ou divulga. mente, um meio de defesa, e, em razão disso, existe entendimento
Propalar — relatar verbalmente. de que qualquer vedação ao uso do instituto (tal qual ocorre nas
Divulgar — relatar por qualquer outro meio. três hipóteses acima) fere o princípio constitucional que assegura
Esse dispositivo visa punir aquele que ouviu a calúnia e a es- aos acusados o contraditório e a ampla defesa.
palhou, enquanto a calúnia do caput visa punir o próprio precursor.
Se fica provado que o sujeito sabia que a imputação era falsa, em DIFAMAÇÃO
nada lhe beneficia dizer que a ouviu de outra pessoa. Art. 139 — Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à
Nesse delito, todavia, não é possível o dolo eventual, pois a lei sua reputação:
se utiliza da expressão “sabendo falsa”, indicativa de dolo direto, Pena — detenção, de três meses a um ano, e multa.
de efetivo conhecimento acerca da falsidade.
Ocorre esse crime se o sujeito propala apenas para uma pes- Conceito. A difamação, conforme já mencionado, é crime que
soa? atenta contra a honra objetiva, e pressupõe, tal qual na calúnia,
Sim, porque possibilita que ela venha a transmitir a informa- a imputação de um fato determinado, bastando, entretanto, que a
ção a outras pessoas. ofensa tenha o poder de arranhar a reputação da vítima, ou seja, o
É possível a tentativa nestes casos? bom nome, o bom conceito que o ofendido goza entre seus pares.
Não. Ou o sujeito conta o que ouviu ou não conta. Ex.: dizer que Mário foi trabalhar embriagado na semana passada.
Art. 138, § 2º — É punível a calúnia contra os mortos. A imputação de fato definido como contravenção penal a carac-
teriza, uma vez que somente existe calúnia na imputação falsa de
EXCEÇÃO DA VERDADE crime. Saliente- -se, ainda, que, na difamação, mesmo que a impu-
Só existe calúnia se a imputação é falsa. Se ela for verdadei- tação seja verdadeira, existirá o crime, deixando claro o legislador
ra o fato é atípico. A falsidade da imputação é presumida, sendo, que as pessoas não devem fazer comentários com outros acerca
entretanto, uma presunção relativa, uma vez que a lei permite que de fatos desabonadores de que tenham conhecimento sobre essa
o querelado (ofensor) se proponha a provar, no mesmo processo, ou aquela pessoa. Dizer que viu uma determinada mulher casa-
que sua imputação era verdadeira. Tal se dará através da oposição da cometendo adultério constitui difamação e não calúnia, porque
da exceção da verdade. o adultério deixou de ser considerado crime em razão da Lei n.
Assim, se o querelado consegue provar a veracidade, será ab- 11.106/2005.
solvido e, caso o crime imputado seja de ação pública e ainda não Falar que viu uma certa moça trabalhando como garota de
esteja prescrito, serão remetidas cópias para o Ministério Públi- programa também constitui difamação, pois a prostituição em si
co para que tome as providências pertinentes ao caso. A razão de não é crime.
existir da exceção é que há interesse público em se possibilitar que Comentar que viu alguém drogado em uma festa também con-
o querelado prove que o ofendido cometeu o crime, para que se figura difamação, pois o uso de droga não é crime. Se o agente,
possa futuramente responsabilizá-lo. todavia, tivesse dito ter visto tal pessoa portando droga na festa,
Regra. Na calúnia cabe exceção da verdade. Todavia, a exce- o fato seria considerado calúnia — se a imputação fosse falsa —,
ção não será admitida em três hipóteses: uma vez que o art. 28 da Lei Antidrogas (Lei n. 11.343/2006) con-
Art. 138, § 3º, I — Admite-se a prova da verdade, salvo: se, sidera crime o porte de entorpecente para uso próprio.
constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido Sujeito ativo. Pode ser qualquer pessoa.
não foi condenado por sentença irrecorrível. Aquele que ouve uma difamação e propala o fato é sujeito
Nos crimes de ação privada só a vítima (ou seus representan- ativo?
tes legais) pode iniciar o processo, pois o legislador entendeu que Sim, uma vez que não há figura autônoma como na calúnia.
o processo pode lhe causar gravames e, assim, deu a ela a possibi- Assim, aquele que propala o fato comete nova difamação.

Didatismo e Conhecimento 109


NOÇÕES DE DIREITO
Sujeito passivo. Qualquer pessoa. A 1ª parte, que trata da ofensa referente a raça, cor, etnia, reli-
Consumação. A difamação consuma-se quando um terceiro gião ou origem, é conhecida como “injúria racial”. O crime de in-
fica sabendo da imputação. júria, como todos os demais crimes contra a honra, pressupõe que
Tentativa. Somente possível na forma escrita. a ofensa seja endereçada a pessoa ou pessoas determinadas. As-
sim, os xingamentos referentes a raça ou cor da vítima constituirão
EXCEÇÃO DA VERDADE crime de injúria qualificada (e não racismo) se visavam pessoa(s)
Regra. Não cabe, já que na difamação é indiferente que a im- determinada(s). Os delitos de racismo, por sua vez, estão previstos
putação seja falsa ou verdadeira. na Lei n. 7.716/89 e se caracterizam por manifestações preconcei-
Exceção. Se o fato é imputado a funcionário público e diz res- tuosas generalizadas (a todos de uma determinada cor, p. ex.) ou
peito ao exercício de suas funções, é cabível a exceção da verdade pela segregação racial (proibição de ficar sócio de um clube ou de
(art. 139, parágrafo único). Nesse caso, se o ofensor provar que é se matricular em uma escola em razão da raça ou da cor, p. ex.).
verdadeira a imputação, será absolvido, funcionando aqui como As ofensas contra pessoas idosas ou deficientes só constituem
excludente específica da ilicitude, já que a falsidade não integra o a qualificadora quando referentes a essa condição da vítima.
tipo. Na calúnia, por outro lado, a prova da verdade torna o fato
atípico porque a falsidade integra a descrição do crime. PERDÃO JUDICIAL
Art. 140, § 1º, I — O juiz pode deixar de aplicar a pena:
INJÚRIA quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente
Art. 140 — Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou a injúria.
o decoro: A palavra “diretamente” implica que as partes devam estar
Pena — detenção, de um a seis meses, ou multa. presentes, face a face. A palavra “reprovável”, por sua vez, é con-
Conceito. Trata-se de crime contra a honra que se diferencia siderada um elemento normativo.
dos demais porque não implica imputação de fato determinado, A finalidade do dispositivo é permitir que o juiz isente de pena
exigindo apenas que o agente profira um xingamento à vítima ou quem proferiu a ofensa em um momento de irritação, por ter sido
que lhe atribua uma qualidade negativa apta a atingir-lhe a digni- provocado pela outra parte naquele exato instante.
dade ou o decoro. A dignidade é atingida quando se atenta con- Art. 140, § 1º, II — no caso de retorsão imediata, que con-
tra os atributos morais da pessoa, enquanto o decoro é arranhado sista em outra injúria.
Retorsão significa revide, ou seja, tão logo é ofendida, a víti-
quando se atingem seus atributos físicos ou intelectuais. Dizer que
ma também ofende o primeiro.
alguém é safado, sem- -vergonha, ladrão, vagabundo constitui
A retorsão, para que possibilite o perdão judicial, deve ser
ofensa à dignidade. Chamar a vítima de idiota, imbecil, ignorante,
imediata, feita logo em seguida à primeira ofensa.
burro, celerado, monstro constitui ofensa ao decoro.
Na queixa-crime ou na denúncia por crime de injúria é ne-
INJÚRIA REAL
cessário que o titular da ação descreva, sob pena de inépcia, quais
Art. 140, § 2º — Se a injúria consiste em violência ou vias
foram as palavras ofensivas ditas pelo ofensor, ainda que sejam
de fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se con-
palavras de baixo calão.
siderem aviltantes:
Como na injúria não há imputação de fato, a exceção da ver- Pena — detenção, de três meses a um ano, e multa, além da
dade é totalmente vedada. pena correspondente à violência.
Qual a diferença entre a injúria contra funcionário público e Conceito. É a injúria em que o agente elege como meio para
desacato? ofender a vítima uma agressão que tenha o potencial de causar
O desacato tem de ser praticado na presença do funcionário vergonha, desonra.
público. Elementos do tipo. Trata-se de modalidade de injúria cujo
Já a injúria na ausência dele. Veja-se, entretanto, que a injúria, meio de execução é a violência ou as vias de fato.
de forma geral, pode ser praticada tanto na presença quanto na Violência. Nesse crime é sinônimo de agressão da qual decor-
ausência da vítima. Apenas no caso de funcionário público é que ra lesão corporal. A própria lei determina que o agente responderá
a ofensa na presença do funcionário se constitui em delito mais pela injúria real e também pelas lesões eventualmente provocadas,
grave, ou seja, o desacato. somando- se as penas.
Consumação. Por se tratar de crime contra a honra subjetiva, Vias de fato. Qualquer agressão dirigida a outrem, sem in-
o crime somente se consuma quando o fato chega ao conhecimento tenção de provocar lesões. As vias de fato ficam absorvidas pela
da vítima. injúria real, já que a lei prevê autonomia apenas para as lesões
Tentativa. Possível apenas na forma escrita, nunca na oral. corporais. Para que exista injúria real é necessário que a agressão
seja considerada aviltante, ou seja, que possa causar vergonha, de-
QUALIFICADORA sonra. A vergonha pode ser causada:
Art. 140, § 3º — Se a injúria consiste na utilização de ele- 1) Pela natureza do ato. Esbofetear, levantar a saia, rasgar a
mentos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condi- roupa, cavalgar a vítima com intenção de ultrajar, raspar seu ca-
ção de pessoa idosa ou portadora de deficiência: belo etc.
Pena — reclusão, de um a três anos e multa. 2) Pelo meio empregado. Atirar tomate ou ovo em quem está
Essa qualificadora foi introduzida no Código Penal pela Lei n. fazendo um discurso, jogar cerveja ou um bolo no rosto da vítima
9.459/97, mas a sua 2ª parte, referente a vítimas idosas ou deficien- durante uma festa com a intenção de envergonhá-la em público
tes, foi acrescentada pela Lei n. 10.741/2003 (Estatuto do Idoso). etc.

Didatismo e Conhecimento 110


NOÇÕES DE DIREITO
Observações genéricas: 1) Damásio de Jesus, Cezar Roberto Bitencourt e Euclides da
1) Os crimes contra a honra são crimes de dano. Neles, o agen- Silveira entendem que sim, pois ela goza de reputação, ou seja,
te visa causar efetiva lesão à honra da vítima, que é o bem jurídico outras pessoas têm um conceito acerca de seus atributos, como,
tutelado. por exemplo, cumpridora de suas obrigações, fabricante de bons
2) São, entretanto, crimes formais, pois o resultado (desonra) produtos etc. É a corrente mais aceita.
é descrito mas não exigido para fim de consumação. 2) Para Nélson Hungria e Magalhões Noronha, a pessoa jurí-
Sujeito ativo. Pode ser qualquer pessoa. Certas pessoas, en- dica não pode ser sujeito passivo porque a difamação está contida
tretanto, não podem ser sujeito ativo de crime contra a honra, pois no Título I da Parte Especial, que trata “Dos crimes contra a pes-
gozam de imunidade. soa”, sendo que, nesse título, todos os demais crimes têm como
1) Imunidade parlamentar — prevista no art. 53 da Constitui- vítima uma pessoa física, não havendo motivos para que apenas na
ção Federal — os deputados e senadores são invioláveis por suas difamação a pessoa jurídica pudesse sê-lo.
palavras, votos e opiniões, quando no exercício do mandato. E os mortos?
2) Os vereadores também são invioláveis, mas apenas nos li- Os mortos podem apenas ser vítima de calúnia por previsão
mites do município onde exercem suas funções — art. 29, VIII, da expressa do art. 138, § 2º, do Código Penal, que diz que é punível a
Constituição. calúnia contra os mortos. O sujeito passivo, todavia, não é o morto,
3) Art. 7º, § 2º, da Lei n. 8.906/94 (Estatuto da OAB) — os ad- que não mais é titular de direitos. As vítimas são seus familiares,
vogados possuem imunidade, não praticando injúria e difamação, interessados na manutenção de seu bom nome. Por não haver pre-
quando no exercício regular de suas atividades, sem prejuízo das visão idêntica com relação à difamação e à injúria, entende-se, por
sanções disciplinares aplicáveis pela ordem dos advogados. conseguinte, não ser possível difamação e injúria contra os mortos.
4) Os membros do Ministério Público no desempenho de suas Meios de execução. Os três crimes podem ser cometidos por
funções (art. 41, V, da Lei n. 8.625/93 — Lei Orgânica do Minis- meio de palavras, por escrito, por gestos ou meios simbólicos, des-
tério Público). de que possam ser compreendidos.
Sujeito passivo. Pode ser qualquer pessoa. Elemento subjetivo. É o dolo.
O desonrado pode ser sujeito passivo? Não basta, entretanto, praticar a conduta descrita no tipo. Exi-
A doutrina entende que sim. Não há pessoa que seja totalmen- ge- -se também que o sujeito queira atingir, diminuir a honra da
te desonrada. Se o fato ofende a pessoa de alguma forma, há crime. vítima (animus injuriandiveldifamandi).
O doente mental e o menor de 18 anos podem ser sujeito pas- Exige-se, também, seriedade na conduta. Se a ofensa é feita
sivo? por brincadeira, jocandianimu, não há crime.
Quanto à injúria não há dúvidas de que podem ser sujeito pas- Também não há crime se a intenção da pessoa era repreender
sivo, desde que possam entender as ofensas contra eles proferidas, ou aconselhar a vítima.
já que se trata de crime contra a honra subjetiva. Há crime impos- O consentimento da vítima exclui o crime?
A honra é bem disponível. Por isso, o prévio consentimento
sível, por exemplo, quando alguém tenta ofender uma criança de
exclui o delito. O consentimento posterior, por sua vez, pode acar-
seis meses, xingando-a de alguma forma.
retar renúncia ou perdão, que são causas extintivas da punibilida-
Em relação à difamação também podem ser sujeito passivo,
de, já que os crimes contra a honra, de regra, somente se apuram
pois é possível que a honra deles seja atingida, uma vez que pos-
mediante ação privada.
suem reputação a zelar.
E o consentimento dado pelo representante legal de um me-
No que diz respeito à calúnia, atualmente se encontra supe-
nor?
rada a discussão em torno das teorias clássica e finalista que dis-
Não exclui o crime porque a honra não é dele.
cutiam se os menores e loucos cometiam ou não CRIME. Basta,
em verdade, a atribuição de fato, em tese, descrito como crime, e DISPOSIÇÕES COMUNS:
isto, evidentemente, pode acontecer. Podem, portanto, ser vítimas CAUSAS DE AU MENTO DE PENA
de calúnia. Art. 141 — As penas cominadas neste Capítulo aumentam-
E a pessoa jurídica? -se de um terço, se qualquer dos crimes é cometido: (aplicam-se
A pessoa jurídica, em regra, não pode ser vítima de calúnia, a todos os crimes contra a honra).
pois, no Brasil, ela não pode praticar fato definido como crime. I — contra o Presidente da República, ou contra chefe de
Observação: Os arts. 173, § 5º, e 225, § 3º, da Constituição governo estrangeiro.
Federal preveem, excepcionalmente, a possibilidade de o legisla- Se for calúnia ou difamação contra o presidente da Repúbli-
dor criar a responsabilidade penal da pessoa jurídica que venha a ca, havendo motivação política e lesão real ou potencial a bens
praticar crimes contra a ordem econômica e financeira, a economia inerentes à Segurança Nacional, haverá crime contra a Segurança
popular ou o meio ambiente. Nacional (arts. 1º, 2º e 26 da Lei n. 7.170/83).
A Lei n. 9.605/98 tipificou crimes contra o meio ambiente que Art. 141, II — contra funcionário público, em razão de suas
podem ser praticados por pessoas jurídicas, e, por isso, passou a funções.
ser possível caluniá-las, imputando- lhes falsamente a prática de Deve haver nexo de causalidade entre a ofensa e o exercício
crime ambiental. da função. Mesmo que seja feita fora do serviço, mas o fato se
A pessoa jurídica, ente fictício que é, também não pode ser refira ao exercício das funções, haverá o aumento de pena.
vítima de injúria, pois não possui honra subjetiva. Não se aplica essa causa de aumento quando a vítima não
Nesses casos, resolve-se em injúria contra os representantes é mais funcionário público, mesmo que a ofensa esteja ligada a
legais da pessoa jurídica e não contra ela própria. função que ele exercia. Isso porque a vítima deve ser funcionário
Quanto à difamação, há duas posições doutrinárias: público e o aposentado não é.

Didatismo e Conhecimento 111


NOÇÕES DE DIREITO
Art. 141, III — na presença de várias pessoas, ou por meio Porém, com relação aos advogados, surgiu uma regra especí-
que facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou da injúria. fica que se encontra no art. 7º, § 2º, da Lei n. 8.906/94 (Estatuto
O que significa a expressão “várias pessoas”? da OAB):
Significa que deve haver um mínimo de três pessoas. Quando “O advogado tem imunidade profissional, não constituindo
a lei se refere a duas pessoas o faz expressamente (exs.: art. 155, injúria, difamação ou desacato puníveis qualquer manifestação de
§ 4º, IV; art. 157, § 2º, II; art. 226, I). Quando se refere a quatro, sua parte, no exercício de sua atividade, em juízo ou fora dele, sem
também (exs.: art. 146, § 1º; art. 288). prejuízo das sanções disciplinares perante a OAB”.
Não se computa nesse número o autor, os coautores e os que Trata-se de regra mais abrangente, pois exclui a injúria e a
não puderem entender o fato, como crianças, surdos, loucos etc. difamação mesmo que a ofensa não seja feita em juízo (inquérito
Por meio que facilite a divulgação. Pode ser através de carta- policial, civil, comissão parlamentar de inquérito) nem na discus-
zes, alto- -falantes, distribuição de panfletos etc. O Supremo Tribu- são da causa (basta que esteja no exercício regular da advocacia).
nal Federal entendeu que a Lei de Imprensa não foi recepcionada O art. 142, I, portanto, continua sendo aplicável, porém, ape-
pela Carta Constitucional, e, ao julgar a ADPF n. 130, cassou sua nas para quem não exerce a advocacia, já que para estes existe a
eficácia. Assim, atualmente as ofensas feitas em jornais ou revis- regra específica e mais abrangente do Estatuto da OAB.
tas, ou, ainda, em programas de rádio ou televisão, sofrerão o au- É evidente, por sua vez, que eventuais ofensas “gratuitas” fei-
mento em estudo. tas por advogado, sem que haja qualquer relação entre estas e o
Art. 141, IV — contra pessoa maior de 60 anos ou portadora desempenho das atividades profissionais, constituem ilícito penal,
de deficiência, exceto no caso de injúria. pois a imunidade prevista no Estatuto não confere aos advogados
O dispositivo foi introduzido no Código Penal pela Lei n. licença para ofender as pessoas indistintamente e sem qualquer
10.741/2003 (Estatuto do Idoso). razão plausível.
Essa causa de aumento não se aplica ao crime de injúria, uma
vez que houve expressa exclusão no texto legal. Contudo, quando Art. 142, II — a opinião desfavorável da crítica literária,
a injúria consiste na utilização de elementos referentes a condi- artística ou científica, salvo quando inequívoca a intenção de in-
ção de pessoa idosa ou deficiente, caracteriza-se o crime de injúria juriar ou difamar.
qualificadado art. 140, § 3º, do Código Penal, com a redação dada A finalidade do dispositivo é conferir certa liberdade para que
também pelo Estatuto do Idoso. Em suma, em se tratando de ca- os críticos possam expor suas opiniões sem receio de, automatica-
lúnia ou difamação aplica-se a causa de aumento de pena do art. mente, responder a uma ação penal.
141, IV, mas se o crime for de injúria, aplica-se a qualificadora já Art. 142, III — o conceito desfavorável emitido por funcio-
mencionada. Art. 141, parágrafo único — Se o crime é cometido
nário público, em apreciação ou informação que preste no cum-
mediante paga ou promessa de recompensa, aplica-se a pena em
primento de dever do ofício.
dobro.
É uma hipótese especial de estrito cumprimento do dever le-
Aplica-se tanto ao que pagou quanto ao que recebeu.
gal.
Paga. Ocorre antes do crime.
O conceito de funcionário público encontra-se no art. 327 do
Promessa de recompensa. A vantagem (financeira ou não)
Código Penal.
será entregue após a prática do crime.
Art. 142, parágrafo único — Nos casos dos ns. I e III, res-
CAUSAS ESPECIAIS DE EXCLUSÃO DE ANTIJURI- ponde pela injúria ou pela difamação quem lhe dá publicidade.
DICIDADE
Art. 142 — Não constituem injúria ou difamação punível: RETRATAÇÃO
I — a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela Art. 143 — O querelado que, antes da sentença, se retrata
parte ou por seu procurador. cabalmente da calúnia ou da difamação, fica isento de pena.
Abrange a ofensa: Observações:
Oral. Júri ou debates em audiência. 1) Retratar significa retirar o que foi dito, assumir que errou.
Escrita. Petições, alegações finais, recursos etc. 2) A retratação deve ser total e incondicional ou, como diz a
Para que haja a excludente é necessário que exista nexo entre lei, cabal. Deve englobar tudo o que foi dito.
a ofensa e a discussão da causa. A ofensa gratuita não está acober- 3) Funciona a retratação como causa extintiva da punibilida-
tada pelo dispositivo. de.
A excludente alcança as partes (autor e réu), bem como as- O art. 107, VI, do Código Penal diz que se extingue a punibi-
sistentes, litisconsortes, terceiros intervenientes, inventariante etc. lidade pela retratação, nos casos previstos em lei. O art. 143 é um
Existe a excludente mesmo que a ofensa não seja contra a ou- desses casos.
tra parte, mas contra terceiro (testemunha, p. ex.), e desde que rela- 4) A retratação é circunstância subjetiva e, por isso, não se
cionada com a causa. Há divergência, entretanto, quando a ofensa estende aos outros querelados que não se retratarem.
é feita contra o juiz da ação. Para alguns existe o crime, já que o 5) Independe de aceitação.
juiz, por ser imparcial e presidir o processo, não pode ser ofendi- 6) Como a lei se refere apenas a “querelado”, a retratação so-
do. Para outros não subsiste a ofensa, uma vez que a lei não faz mente gera efeito nos crimes de calúnia e difamação que se apu-
qualquer ressalva. rem mediante queixa. Quando a ação for pública, como no caso
O dispositivo abrange apenas ofensas feitas em juízo. de ofensa contra funcionário público, a retratação não gera efeito
O art. 133 da Constituição Federal diz que o advogado é in- algum.
violável por seus atos e manifestações, no exercício da profissão, 7) Ela pode ocorrer até a sentença de 1ª Instância. Após, não
nos limites da lei. Essa lei era justamente o art. 142, I, do Código terá valor algum.
Penal. 8) Não se aplica à injúria.

Didatismo e Conhecimento 112


NOÇÕES DE DIREITO
PEDIDO DE EXPLICAÇÕES representação o crime de lesão corporal de natureza leve, passou
Art. 144 — Se, de referências, alusões ou frases, se infe- a fazer a seguinte distinção quanto ao tipo de ação na injúria real:
re calúnia, difamação ou injúria, quem se julga ofendido pode se a vítima sofre lesão grave ou gravíssima, a ação continua sendo
pedir explicações em juízo. Aquele que se recusa a dá-las ou, a pública incondicionada, e, se sofre lesão leve, a ação é condiciona-
critério do juiz, não as dá satisfatórias, responde pela ofensa. da à representação. Ressalte-se, por fim, que a injúria real cometi-
Observações: da por vias de fato é de ação privada, ou seja, segue a regra do art.
1) É uma medida facultativa. 145, caput, do CP.
2) Somente pode ser feita antes do oferecimento da queixa. 4) De acordo com a Lei n. 12.033/2009, no crime de injúria
3) É utilizada quando a vítima fica na dúvida acerca de ter sido qualificada do art. 140, § 3o, do CP, a ação penal é pública condi-
ou não ofendida ou sobre qual o real significado do que contra ela cionada à representação.
foi dito.
4) Não há rito especial para esse pedido de explicações em Dos crimes contra a liberdade pessoal
nossa lei. Por isso, segue o rito das notificações avulsas, ou seja, CONSTRANGIMENTO ILEGAL
a vítima faz o requerimento, o juiz manda notificar o autor da im- Art. 146 — Constranger alguém, mediante violência ou gra-
putação a ser esclarecida e, com ou sem resposta, o juiz entrega ve ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro
os autos ao requerente (vítima). Se, após isso, a vítima ingressa meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite,
com queixa, é nessa fase que o juiz analisará se a recebe ou rejeita, ou a fazer o que ela não manda:
levando em conta as explicações dadas. Pena — detenção, de três meses a um ano, ou multa.
5) O juiz não julga o pedido de explicações. Objetividade jurídica. A liberdade dos cidadãos de fazer ou
6) A parte final do art. 144 diz que aquele que se recusa a dar não o que bem lhes aprouver, dentro dos parâmetros da lei.
explicações ou as dá de forma insatisfatória, responde pela ofensa. Sujeito ativo. Qualquer pessoa. Trata-se, pois, de crime co-
Isso não significa, entretanto, que o juiz estará obrigado a condenar mum, já que, no mais das vezes, se o agente for funcionário públi-
o ofensor, já que, após o recebimento da queixa, o querelado terá co no exercício de suas funções estará cometendo crime de abuso
toda oportunidade de defesa, observando-se, ainda, o princípio do de autoridade (Lei n. 4.898/65).
contraditório. O dispositivo tem a única finalidade de ressalvar a Sujeito passivo. Qualquer pessoa que tenha capacidade de
importância da resposta e esclarecer que, em verdade, a omissão decidir sobre seus atos, estando, assim, excluídos os menores de
será levada em conta por ocasião da análise acerca do recebimento pouca idade, os que estejam completamente embriagados, os lou-
ou rejeição da queixa ou denúncia. cos etc.
7) O pedido de explicações não interrompe o prazo decaden- Tipo objetivo.
cial, mas torna o juízo prevento. Constranger. Sinônimo de obrigar, coagir.
O crime completa-se em dois casos:
AÇÃO PENAL 1) quando a vítima é forçada a fazer algo: uma viagem, escre-
Art. 145 — Nos crimes previstos neste Capítulo somente se ver uma carta, dirigir um veículo etc.;
procede mediante queixa, salvo quando, no caso do art. 140, § 2º, 2) quando a vítima é forçada a não fazer algo — conduta
da violência resulta lesão corporal. omissiva (por parte da vítima) que abrange também a hipótese em
Parágrafo único — Procede-se mediante requisição do Mi- que ela é obrigada a tolerar que o agente faça algo.
nistro da Justiça, no caso do n. I do art. 141, e mediante repre- A conduta, aqui, é no sentido de que a vítima se omita em
sentação do ofendido, no caso do n. II do mesmo artigo. relação a alguma coisa e, portanto, a tentativa é perfeitamente pos-
Regra. A ação penal é privada. sível, por exemplo, quando o agente emprega violência ou grave
Essa regra comporta três exceções: ameaça para forçar alguém a não viajar ou a não aceitar um empre-
1) É pública condicionada à requisição do Ministro da Justiça go e este, não obstante a violência ou grave ameaça, o faz.
quando a ofensa for feita contra a honra do presidente da Repúbli- Observações:
ca ou chefe de governo estrangeiro. 1) O crime possui, em verdade, três meios de execução: vio-
2) É pública condicionada à representação do ofendido quan- lência, grave ameaça ou qualquer outro que reduza a capacidade de
do a vítima for funcionário público e a ofensa referir-se ao exercí- resistência da vítima (violência imprópria), como no caso de uso
cio de suas funções. Contudo, o Supremo Tribunal Federal entende de hipnose, bebida, sonífero etc.
que, nesse caso, o funcionário público pode optar por ingressar 2) A ação ou omissão da vítima visada pelo agente deve estar
com queixa-crime (ação privada), sem que haja ilegitimidade de em desamparo perante a lei. A ilegitimidade da pretensão pode ser:
parte. Nesse sentido, a Súmula 714 do Supremo Tribunal Fede- a) absoluta: quando o agente não tem qualquer direito a ação
ral, estabelecendo que é concorrente a legitimidade do ofendido, ou omissão — constranger a vítima a tomar uma bebida, a fazer
mediante queixa, ou do Ministério Público, condicionada à repre- uma viagem;
sentação, em crime contra a honra de servidor público em razão do b) relativa: quando há o direito mas a vítima não pode ser
exercício das funções. O fundamento é de que o Código estabele- forçada — constranger a vítima a pagar dívida de jogo, dívida com
ceu a ação pública condicionada apenas para o funcionário não ter meretriz.
que arcar com as despesas de contratação de advogado, mas ele Elemento subjetivo. O dolo, que, nesse crime, significa a
pode abrir mão desse benefício reingressar com a ação privada. vontade e a consciência de que a ação ou omissão visadas são ile-
3) É pública incondicionada no crime de injúria real se a ví- gítimas.
tima sofrer lesão corporal. A doutrina, entretanto, atenta ao fato A finalidade do agente é, pois, irrelevante, excluindo-se o de-
de a Lei n. 9.099/95 ter transformado em pública condicionada à lito, porém, quando há erro quanto a ilicitude do fato.

Didatismo e Conhecimento 113


NOÇÕES DE DIREITO
Consumação. No instante em que a vítima, coagida, toma o EXCLU DENTES DE TIPICIDADE
comportamento que não queria. Art. 146, § 3º — Não se compreendem na disposição deste
Tentativa. É possível. artigo:
Subsidiariedade. Trata-se de crime de caráter subsidiário, ou I — a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimen-
seja, a existência de delito mais grave, como roubo, estupro, se- to do paciente ou de seu representante legal, se justificada por
questro, afasta sua incidência. iminente perigo de vida.
Antes do advento da Lei Antitortura (Lei n. 9.455/97), quem É uma espécie de estado de necessidade.
empregasse violência ou grave ameaça para forçar a vítima a co- Há a exclusão da ilicitude mesmo na transfusão de sangue
meter um crime responderia por crime de constrangimento ilegal feita sem autorização, ainda que os familiares não a aceitem por
em concurso material com o delito que a vítima foi forçada a co- motivos religiosos.
meter. Atualmente, entretanto, haverá concurso entre o crime pra- Art. 146, § 3º, II — a coação exercida para impedir suicídio.
ticado e a modalidade de tortura prevista no art. 1º, I, b, da Lei Não constitui crime, por exemplo, amarrar alguém para evitar
n. 9.455/97: “constranger alguém com emprego de violência ou que ele pule do alto de um prédio.
grave ameaça, causando- lhe sofrimento físico ou mental para pro-
vocar ação ou omissão de natureza criminosa”. Porém, se a coação
AMEAÇA
for para a prática de contravenção penal, haverá concurso entre
Art. 147 — Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto,
esta e o constrangimento ilegal, uma vez que a lei de tortura refere-
ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e
-se apenas à coação para a prática de crime.
O constrangimento ilegal é também subsidiário em relação ao grave:
crime de extorsão (art. 158) porque, neste, o agente obriga a vítima Pena — detenção, de um a seis meses, ou multa.
a fazer ou não fazer algo visando obter vantagem econômica ilíci- Parágrafo único — Somente se procede mediante represen-
ta, enquanto, no constrangimento, sua intenção é outra qualquer. tação.
Qualificação doutrinária. Crime doloso, simples, comum, Objetividade jurídica. A liberdade das pessoas no que tange
instantâneo, de ação livre e comissivo. à tranquilidade, sossego etc.
Ação penal. Pública incondicionada. Sujeito ativo. Qualquer pessoa.
Sujeito passivo. Deve(m) ser pessoa(s) determinada(s) e
CAUSAS DE AU MENTO DE PENA capaz(es) de entender o caráter intimidatório da ameaça proferida.
Art. 146, § 1º — As penas aplicam-se cumulativamente e em Assim, dizer a uma criança de um ano que irá matá-la não constitui
dobro, quando, para a execução do crime, se reúnem mais de três crime, pois a criança não compreende o que foi falado e não se
pessoas, ou há emprego de armas. sente amedrontada. É óbvio, por outro lado, que há crime quando
Em face da redação, exige-se que pelo menos quatro pesso- o agente se dirige aos pais e diz a estes que irá matar a criança,
as tenham tomado parte nos próprios atos executórios, ou seja, é pois a morte do filho constitui mal injusto e grave, sendo evidente
preciso que haja quatro coautores. Quanto ao emprego de arma, o poder de atemorizar os genitores.
exige-se que ela seja efetivamente usada, não bastando, pois, mera Tipo objetivo. A ameaça, ato de intimidar que é, pode ser co-
simulação. A utilização da palavra “armas”, no plural, refere-se ao metida, nos termos da própria lei, de diversas formas: por palavras,
gênero, não havendo a necessidade do emprego de duas ou mais. gestos, escritos, ou por qualquer outra forma apta a amedrontar.
Como a lei não faz distinção, abrange tanto as armas próprias, que Trata- -se de crime de ação livre.
são aquelas fabricadas para servir como instrumento de ataque ou A ameaça, além disso, pode ser:
defesa (armas de fogo, punhais, espadas etc.), quanto as impró- 1) Direta. Refere-se a mal a ser causado na própria vítima.
prias, que são instrumentos confeccionados com outra finalidade, 2) Indireta. Refere-se a mal a ser provocado em terceira pes-
mas que também têm poder vulnerante (facas de cozinha, navalhas soa, como no exemplo há pouco mencionado da ameaça de matar
etc.).
o filho recém-nascido feita aos pais.
No que se refere às armas de brinquedo, após o cancelamento
3) Explícita. Exibição de arma, por exemplo.
da Súmula 174 do Superior Tribunal de Justiça, voltaram a existir
4) Implícita. Quando o agente dá a entender, de forma velada,
duas correntes. A primeira entendendo configurado o aumento da
que causará mal a alguém.
pena porque a vítima não sabe que a arma é de brinquedo e, assim,
o agente obtém maior facilidade na execução do crime. A segunda A ameaça pode, ainda, ser condicionada a eventos futuros da
sustentando que não se trata tecnicamente de arma porque não tem própria vítima e a ela alheios. Ex.: “se você casar de novo eu te
poder vulnerante e, assim, não configura a causa de aumento por mato” ou “se eu não arrumar outro trabalho eu me mato”. Caso, to-
não haver adequação na descrição legal. Como a mencionada Sú- davia, o agente condicione o mal a uma ação ou omissão imediata
mula 174 admitia o aumento no crime de roubo se cometido com da vítima, o crime é o de constrangimento ilegal. Ex.: “se você for
arma de brinquedo e, posteriormente, foi cancelada, é amplamente embora agora eu te mato”. Neste último caso, o agente está forçan-
dominante atualmente o entendimento de que não há o acréscimo. do a vítima a não fazer algo, com emprego de grave ameaça, o que
Também não há aumento se o agente apenas simula estar ar- configura crime mais grave de constrangimento ilegal.
mado. A ameaça deve se referir, ainda, a mal:
Art. 146, § 2º — Além das penas cominadas, aplicam-se as a) grave — de morte, de lesões corporais, de colocar fogo na
correspondentes à violência. casa da vítima etc. Se a ameaça não for considerada grave, não
As penas, portanto, serão somadas, ainda que as lesões sejam existirá o delito de ameaça;
leves, isto é, se ao praticar o constrangimento ilegal o agente pro- b) injusto — não acobertado pela lei. A exigência de que o mal
vocar lesão na vítima, responderá pelos dois crimes. seja injusto é o elemento normativo do crime de ameaça.

Didatismo e Conhecimento 114


NOÇÕES DE DIREITO
A doutrina exige também que o mal prometido seja iminente Tipo objetivo. No cárcere privado a vítima fica em local fe-
e verossímil, já que não constitui infração penal, por exemplo, a chado, sem possibilidade de deambulação, ao contrário do seques-
promessa de fazer chover sem parar até inundar a região. Tampou- tro, em que a vítima fica privada de sua liberdade, mas em local
co haverá crime se o agente disser que vai matar a vítima, que hoje aberto.
tem 18 anos, quando ela completar 80. Como diz Júlio Fabbrini Mirabete, nesse caso há enclausura-
Não é necessário, por outro lado, que a ameaça seja proferida mento e no outro, confinamento.
na presença da vítima, mas o delito só se consumará quando a Elemento subjetivo. É o dolo. Não se exige qualquer inten-
vítima dela tomar conhecimento. ção específica. Se a finalidade for obter um resgate, haverá crime
Elemento subjetivo. Trata-se de crime doloso que pressupõe de extorsão mediante sequestro (art. 159), e se houver intenção
intenção específica de intimidar a vítima. Não é necessário, entre- libidinosa, será reconhecida a figura qualificada do próprio crime
tanto, que o agente tenha, em seu íntimo, intenção de concretizar de sequestro (art. 148, § 1º,V).
o mal prometido. Consumação. Quando ocorre a efetiva privação da liberdade
Os doutrinadores costumam salientar, em sua maioria, que o por tempo juridicamente relevante. Trata-se de crime permanente,
no qual é possível a prisão em flagrante durante todo o tempo em
fato de o agente ter proferido a ameaça em momento de raiva, de
que a vítima estiver no cárcere.
exaltação de ânimos, não afasta a ameaça, porque o art. 28, I, do
Tentativa. É possível, quando o agente inicia o ato executório
Código Penal diz que a emoção não exclui o crime. Na jurispru-
mas não consegue sequestrar a vítima.
dência, entretanto, prevalece o entendimento de que a ameaça feita
em meio a uma discussão, em momento de ira, não constitui crime QUALIFICA DORAS
por falta de intenção específica de amedrontar a vítima. O melhor Art. 148, § 1º — A pena é de reclusão, de dois a cinco anos:
entendimento, todavia, é no sentido de que a análise deve ser feita I — se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou com-
em cada caso concreto. É comum, por exemplo, que na briga entre panheiro do agente ou maior de 60 anos; (a hipótese do maior de
irmãos, um grite que vai matar o outro, porém, ninguém leva isso 60 anos foi inserida pelo Estatuto do Idoso, e a do companheiro da
a sério – a frase foi dita “da boca para fora”. Ao contrário, existem vítima foi introduzida pela Lei n. 11.106/2005).
situações em que o fato de o agente estar nervoso constitui até Se a vítima é sequestrada dias antes de completar 60 anos e só
mesmo fator de maior apreensão por parte da vítima, configurando for solta depois, aplica-se a qualificadora, pois o sequestro é crime
o delito. Ex.: após uma colisão de veículos, um dos condutores, permanente.
conhecido como agressivo e valentão, diz ao outro que irá matá-lo. II — se o crime é praticado mediante internação da vítima
É claro que a vítima se sente intimidada. em casa de saúde ou hospital; (pode ser cometido por médico ou
Discussão semelhante existe em relação à ameaça feita por por qualquer outra pessoa).
pessoa embriagada. Para alguns há crime porque o art. 28, II, do CP III — se a privação da liberdade dura mais de quinze dias;
estabelece que a embriaguez voluntária não exclui a infração. Para (entre a consumação e a libertação da vítima).
outros, a pessoa embriagada não tem intenção de intimidar. Pare- IV — se o crime é praticado contra menor de 18 anos; (dis-
ce, contudo, que uma interpretação intermediária é mais adequada, positivo inserido pela Lei n. 11.106/2005).
excluindo- se o crime de ameaça apenas quando se demonstrar que V — se o crime é praticado com fins libidinosos.
o estágio de embriaguez era tão elevado que o próprio agente já Essa qualificadora foi inserida no Código Penal pela Lei n.
não tinha controle do que falava, pois é comum que pessoas com- 11.106/2005, que, concomitantemente, revogou o crime de rapto
pletamente embriagadas passem a falar coisas sem sentido. violento. A conduta típica é praticamente a mesma — privação
Consumação. No momento em que a vítima toma conheci- da liberdade para fim libidinoso —, tendo, porém, havido algu-
mento do teor da ameaça, independentemente de sua real intimi- mas alterações relevantes: a) pela nova redação, a vítima pode ser
dação. qualquer pessoa, homem ou mulher, enquanto, no rapto, apenas
mulheres podiam ser sujeito passivo. Além disso, uma prostituta
Trata-se, pois, de crime formal. Basta que o agente queira inti-
pode ser vítima de sequestro qualificado, porque o novo texto não
midar e que a ameaça proferida tenha potencial para tanto.
exige que a vítima seja pessoa honesta no âmbito sexual. No rapto,
Tentativa. É possível, nos casos de ameaça feita por escrita.
apenas mulher honesta podia ser vítima; b) no rapto a ação pe-
Ex.: carta contendo ameaça que se extravia e não chega ao
nal era, em regra, privada, enquanto no sequestro a ação é pública
destinatário. incondicionada; c) no rapto a finalidade libidinosa era elementar,
Ação penal. Pública condicionada à representação. enquanto no sequestro é qualificadora; d) a conduta deixou de ser
tratada como crime sexual, tendo sido deslocada do título dos cri-
SEQUESTRO E CÁRCERE PRIVADO mes contra os costumes para aquele que trata dos crimes contra a
Art. 148 — Privar alguém de sua liberdade, mediante se- pessoa — mais especificamente para o capítulo dos crimes contra
questro ou cárcere privado: a liberdade individual.
Pena — reclusão, de um a três anos. O crime de sequestro qualificado é formal, pois se consuma
Objetividade jurídica. A liberdade de ir e vir. no momento da captura da vítima, ainda que o agente seja preso
Sujeito ativo. Qualquer pessoa, mas, caso seja funcionário antes de conseguir com ela realizar algum ato de natureza sexual.
público no exercício da função, haverá crime de abuso de auto- Se, após o sequestro, o agente estuprar a vítima, responderá pelos
ridade. crimes em concurso material.
Sujeito passivo. Qualquer pessoa, inclusive as paraplégicas Art. 148, § 2º — Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos
ou portadoras de doenças incapacitantes, que não podem ser obri- ou da natureza da detenção, grave sofrimento físico ou moral:
gadas a ir ou permanecer em qualquer local contra sua vontade. Pena — reclusão, de dois a oito anos.

Didatismo e Conhecimento 115


NOÇÕES DE DIREITO
Essa qualificadora se aplica, por exemplo, quando a vítima Elemento subjetivo. É o dolo, direto ou eventual.
fica detida em local frio, quando é exposta à falta de alimentação, Se o crime tiver sido cometido por motivo de preconceito de
quando fica mantida em local ermo ou privado de luz solar etc. raça, cor, etnia, religião ou origem, haverá um acréscimo de me-
Também é aplicável se a vítima é espancada pelos sequestradores, tade da pena (art. 149, § 2º, II). Quer dizer, se o sujeito cometeu o
exceto se ela vier a sofrer lesão grave ou morte, hipótese em que crime por ser a vítima pessoa branca, negra, oriental, indígena, ca-
se aplicarão as penas dos crimes autônomos de lesões corporais tólica, judia, muçulmana, nordestina, argentina, árabe, hindu etc.,
graves ou homicídio e a do sequestro simples. Nesse caso não se a sua pena será maior.
aplica a qualificadora para se evitar a configuração de bis in idem. Consumação. Como o Código Penal exige que a vítima seja
Veja-se, por fim, que haverá crime de tortura agravada do art. reduzida a condição análoga à de escravo, é evidente que a situa-
1º, § 3º, III, da Lei n. 9.455/97 se o sequestro for realizado com o ção fática deve perdurar por um certo período, de modo a ser pos-
fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de sível a constatação, de acordo com as circunstâncias do caso con-
terceira pessoa, para provocar ação ou omissão de natureza crimi- creto, de que houve uma completa submissão da vítima ao agente.
nosa ou em razão de discriminação racial ou religiosa. Em se tratando de delito que atinge a liberdade da vítima,
pode ser classificado como crime permanente, ou seja, sua consu-
REDUÇÃO A CONDIÇÃO ANÁLOGA À DE ESCRAVO mação prolonga-se no tempo enquanto a vítima estiver submetida
Art. 149 — Reduzir alguém a condição análoga à de escra- ao agente, de modo que, nesse período, a prisão em flagrante é
vo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaus- sempre possível, nos termos do art. 303 do Código de Processo
tiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, Penal.
quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão Tentativa. É possível.
da dívida contraída com o empregador ou preposto: Ação penal. É pública incondicionada. O Supremo Tribunal
Pena — reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena Federal declarou que a competência para apurar este crime é da
correspondente à violência. Justiça Federal ao julgar o Recurso Extraordinário n. 398041, em
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem: 30 de novembro de 2006.
I — cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte Pena. Por expressa previsão legal, além da pena de reclusão,
do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho; de dois a oito anos, e multa, caso o agente provoque lesões cor-
II — mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se porais, ainda que leves, na vítima, responderá pelos dois crimes.
apodera de documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com
o fim de retê-lo no local de trabalho. Dos crimes contra a inviolabilidade do domicílio
§ 2º A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido:
I — contra criança ou adolescente; VIOLAÇÃO DE DOMICÍLIO
II — por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião Art. 150 — Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosa-
ou origem. mente, ou contra a vontade expressa ou tácita de quem de direito,
Introdução. Esse dispositivo teve sua redação alterada pela em casa alheia ou em suas dependências:
Lei n. 10.803/2003. Antes de tal alteração, o delito era de forma Pena — detenção, de um a três meses, ou multa.
livre, pois não especificava o modo de reduzir a vítima a condição Objetividade jurídica. A tranquilidade da vida doméstica.
análoga à de escravo. Atualmente, o crime é de forma vinculada, Não se trata de delito que protege a posse ou o patrimônio,
pois só haverá sua tipificação se o fato ocorrer por uma das formas posto que não se considera crime, por exemplo, o ingresso em casa
de execução descritas na lei, ou seja: abandonada ou desabitada.
a) submetendo-se a vítima a trabalhos forçados ou a jornada Conceito. A lei estabelece, na definição do delito, duas formas
exaustiva; de execução:
b) sujeitando-a a condições degradantes de trabalho; a) entrar em casa alheia significa que o agente invade, ingressa
c) restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão totalmente na residência da vítima ou em alguma de suas depen-
de dívida contraída com o empregador ou preposto; dências;
d) cerceando o uso de qualquer meio de transporte, com o b) permanecer em casa alheia pressupõe que, em um primeiro
intuito de retê-la no local de trabalho; momento, tenha o agente autorização para lá estar e, cessada essa
e) mantendo vigilância ostensiva no local de trabalho ou apo- autorização, o agente, contra a vontade da vítima, deixa de se des-
derando- se de documentos ou objetos pessoais do trabalhador, locar para fora de suas dependências.
com o fim de retê-lo no local de trabalho. Por se tratar de tipo misto alternativo, haverá crime único
A enumeração é taxativa e não comporta analogia para abran- quando o agente entra e, depois, permanece no local sem autori-
ger outras hipóteses. zação.
Trata-se de crime de ação múltipla — tipo misto alternativo De outro lado, a entrada ou permanência pode ser clandestina,
— em que a realização de mais de uma conduta em relação à mes- quando o agente o faz sem que a vítima o perceba, ou astuciosa,
ma vítima constitui crime único. quando o agente emprega uma espécie qualquer de fraude, como
Sujeito ativo. Pode ser qualquer pessoa. Trata-se de crime no caso de uso de roupa de empresa telefônica, elétrica etc.
comum. O fato pode se dar, também, contra vontade expressa do mo-
Sujeito passivo. Também pode ser qualquer pessoa. Eventual rador, nas hipóteses em que o responsável pela residência clara-
consentimento da vítima é irrelevante, já que não se admite que mente diz que se opõe à entrada ou permanência do agente, ou
alguém concorde em viver em escravidão. contra vontade tácita do morador, nas situações em que é possível
Se a vítima for criança ou adolescente, a pena será aumentada ao agente concluir, em razão das circunstâncias do caso concreto,
em metade (art. 149, § 2º, I). que o morador não deseja sua entrada ou permanência no local.

Didatismo e Conhecimento 116


NOÇÕES DE DIREITO
A descrição típica exige, pois, a oposição, expressa ou tácita, Qualificação doutrinária. Crime comum, doloso, instantâ-
de quem de direito, ou seja, daquele que tem o poder de impedir a neo ou permanente (conforme o caso), subsidiário, simples etc.
entrada de pessoas em sua casa (proprietário, locatário, possuidor
etc.). No caso de edifícios, cada morador tem direito de vetar a FORMAS QUALIFICADAS
entrada ou permanência de alguém em sua unidade, bem como Art. 150, § 1º — Se o crime é cometido durante a noite, ou
nas áreas comuns (desde que, nesse caso, não atinja o direito dos em lugar ermo, ou com o emprego de violência ou de arma, ou
outros condôminos). por duas ou mais pessoas:
No caso de habitações coletivas, prevalece o entendimento Pena — detenção, de seis meses a dois anos, além da pena
de que, havendo oposição de um dos moradores, persistirá a proi- correspondente à violência.
bição. Por outro lado, se houver divergência entre pais e filhos, Noite. É o período em que não há luz solar.
prevalecerá a intenção dos pais, exceto se a residência for de pro- Lugar ermo. É o local desabitado, onde não há circulação de
priedade de filho maior de idade. Os empregados têm direito de pessoas.
impedir a entrada de pessoas estranhas em seus aposentos, direito Violência. É tanto aquela empregada contra pessoas como
que, entretanto, não atinge o proprietário da casa. contra coisa, já que a lei não fez distinção. Se, todavia, a violência
O art. 150, em seu § 4º, traz uma norma penal complemen- for empregada contra pessoa e a vítima vier a sofrer lesões corpo-
tar, esclarecendo que se compreendem na expressão “casa”: “I — rais, serão aplicadas cumulativamente as penas referentes à viola-
qualquer compartimento habitado” (casas, apartamentos, barracos ção de domicílio e às lesões corporais, ainda que leves.
de favela etc.); “II — aposento ocupado de habitação coletiva” Emprego de arma. Pode ser a utilização de arma própria (ins-
(quarto de hotel, cortiço etc.); “III — compartimento não aberto trumentos feitos com a finalidade específica de matar ou ferir —
ao público, onde alguém exerce sua profissão ou atividade” (escri- revólver, pistola, espingarda etc.) ou imprópria (feitas com outras
tório, consultório, parte interna de uma oficina etc.). Entende-se, finalidades mas que também podem matar ou ferir — navalha,
pois, que não há crime no ingresso às partes abertas desses locais, faca, machado etc.).
como recepção, sala de espera etc. No que se refere às armas de brinquedo, após o cancelamento
Protege a lei, ainda, as dependências da casa, ou seja, quintal, da Súmula 174 do Superior Tribunal de Justiça, que admitia a agra-
garagem, terraço etc. vação, voltaram a existir duas correntes. A primeira entendendo
Por outro lado, o art. 150, § 5º, do Código Penal estabelece configurada a qualificadora porque a vítima não sabe que a arma é
que não se incluem na expressão “casa”: “I — hospedaria, estala- brinquedo, e, assim, o agente obtém maior facilidade na execução
gem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto aberta, salvo do crime. A segunda sustentando que não se trata tecnicamente de
a restrição do n. II do parágrafo anterior; II — taverna, casa de arma porque não possui poder vulnerante, de modo que a qualifi-
jogo e outras do mesmo gênero”. Estão, pois, excluídos os bares, cadora não é aplicável por não haver adequação na descrição legal.
estabelecimentos comerciais na parte aberta ao público (salvo se Como a mencionada Súmula 174 admitia o aumento no crime de
estiver fechado e alguém nele residir), igrejas, veículos (salvo se roubo cometido com arma de brinquedo e, posteriormente, foi can-
houver uma parte própria para alguém morar como no caso de trai- celada, é amplamente dominante, atualmente, o entendimento de
lers), casas desabitadas etc. Entende- se, também, que não estão que não há o acréscimo.
incluídos na expressão “casa” as pastagens de uma fazenda ou o Também não há aumento se o agente apenas simula estar ar-
gramado de uma casa não murada ou cercada, nem as repartições mado.
públicas. A doutrina é praticamente unânime no sentido de que basta
Sujeito ativo. Qualquer pessoa. Até mesmo o proprietário o envolvimento de duas pessoas, ainda que uma delas seja mera
pode cometê-lo, quando invade a casa do inquilino sem autori- partícipe. Ex.: empregado que, conluiado com outra pessoa, deixa
zação. a porta aberta para que esta entre na casa para ali pernoitar sem o
Sujeito passivo. O morador, titular do direito de proibir a en- consentimento do morador.
trada ou permanência de alguém na casa.
Elemento subjetivo. É o dolo. Para a configuração do crime CAUSAS DE AU MENTO DE PENA
pressupõe-se que o agente tenha, como fim próprio, o ingresso ou Art. 150, § 2º — Aumenta-se a pena de um terço, se o fato é
permanência em casa alheia. Quando o agente o faz como meio cometido por funcionário público, fora dos casos legais, ou com
de execução de outro crime, a violação de domicílio fica por este inobservância das formalidades estabelecidas em lei, ou com
absorvida. abuso do poder.
O delito torna-se também afastado quando o agente entra na Aplica-se às formas simples e qualificadas do § 1º.
casa para fugir de pessoas que o perseguem para agredi-lo ou sub- Se o funcionário entra ou permanece em casa alheia sem man-
traí- lo, ou quando o agente imagina estar ingressando em local dado judicial ou sem se tratar de hipótese de flagrante delito, de
diverso do que pretendia (erro de tipo). desastre ou para prestar socorro, está agindo fora dos casos legais
Consumação. Quando o agente ingressa completamente na em que o ingresso em residência é permitido. Se existe um man-
casa da vítima, ou, quando, ciente de que deve sair, não o faz por dado de prisão ou de busca, devem ser observadas as formalidades
tempo juridicamente relevante. Na primeira hipótese, o crime é para seu cumprimento.
instantâneo, e, na segunda, permanente. O mandado de prisão em residência, por exemplo, só pode ser
Trata-se, por outro lado, de crime de mera conduta, uma vez cumprido durante o dia. Se o cumprimento se der à noite, haverá
que a lei não descreve qualquer resultado. crime. Existe abuso de poder, por sua vez, quando o funcionário,
Tentativa. É admissível em ambas as hipóteses (entrada ou por exemplo, extrapola o tempo necessário de permanência no lo-
permanência). cal.

Didatismo e Conhecimento 117


NOÇÕES DE DIREITO
O art. 3o, b, da Lei n. 4.898/65 prevê como crime de abuso de de correspondência endereçada a homônimo, quando há suspeita
autoridade a conduta de qualquer funcionário público que atente de a correspondência conter material sujeito a imposto, proibido
contra a inviolabilidade de domicílio. Embora exista entendimento ou não declarado, ou, ainda, na hipótese de impossibilidade de sua
de que tal dispositivo tenha revogado o crime do Código Penal em restituição ao remetente.
relação a funcionários públicos, na prática tem-se entendido que O crime se consuma no momento em que o agente toma co-
deve ser ele punido por violação de domicílio, na forma simples, nhecimento acerca do teor da correspondência, sendo de se salien-
em concurso com o crime de abuso de autoridade. tar que a infração penal admite a tentativa, como no caso de quem
é flagrado ao abrir uma carta, mas antes de tomar conhecimento do
EXCLU DENTES DE ILICITUDE seu conteúdo. É evidente, também, que o crime somente é punido
Art. 150, § 3º — Não constitui crime a entrada ou perma- na forma dolosa, não havendo, pois, a configuração da infração
nência em casa alheia ou em suas dependências: quando o agente abre a correspondência por engano.
I — durante o dia, com observância das formalidades legais, O sujeito ativo do delito pode ser qualquer pessoa, e as vítimas
para efetuar prisão ou outra diligência; são o remetente e o destinatário, que são as pessoas interessadas na
II — a qualquer hora do dia ou da noite, quando algum cri- manutenção do sigilo da correspondência. Trata-se, pois, de crime
me está sendo ali praticado ou na iminência de o ser. de dupla subjetividade passiva.
Nas hipóteses do inciso I, há que se ressaltar que a Constitui- Existe uma presunção de que há autorização entre cônjuges
ção Federal exige sempre mandado judicial, quer para efetuar bus- para que um abra a correspondência do outro, presunção que ces-
ca e apreensão, quer para cumprir mandado de prisão, quer para sará, todavia, se for feita prova de que um já havia alertado o outro
efetivar qualquer outra diligência. para assim não agir, e o outro desrespeitou.
Estabelece a Carta Magna que “a casa é asilo inviolável do A ação penal é pública condicionada à representação (art. 151,
indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem o consentimento § 4º, do CP, mantido em vigor pelo art. 48 da Lei n. 6.538/78).
do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para
prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação legal”. SONEGAÇÃO OU DESTRUIÇÃO DE CORRESPON-
Pela regra constitucional, portanto, verifica-se ser possível a DÊNCIA
invasão do domicílio, além das hipóteses enumeradas na lei, quan- Art. 40, § 1º — “Incorre nas mesmas penas quem se apossa
do é caso de desastre ou para prestar socorro a alguém.
indevidamente de correspondência alheia, embora não fecha-
da, para sonegá-la ou destruí-la, no todo ou em parte”.
§ 4º - A expressão “casa” compreende:
Trata-se de figura penal que tem por finalidade punir o agente
I - qualquer compartimento habitado;
que se apodera de correspondência alheia, aberta ou fechada, com
II - aposento ocupado de habitação coletiva;
o fito de sonegá-la (fazer com que não chegue até a vítima) ou de
III - compartimento não aberto ao público, onde alguém
destruí-la (rasgando-a, ateando fogo etc.). Não importa se a vítima
exerce profissão ou atividade.
chegou a ter conhecimento de seu conteúdo. Se a correspondência
tem valor econômico, a subtração constituirá furto e a destruição
§ 5º - Não se compreendem na expressão “casa”:
I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação co- crime de dano. O delito em tela admite apenas a forma dolosa,
letiva, enquanto aberta, salvo a restrição do n.º II do parágrafo sendo irrelevante o motivo que leva o agente a querer destruir ou
anterior; sonegar a correspondência.
II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero. Temos aqui outra figura penal com dupla subjetividade jurí-
dica, pois as vítimas do delito são o destinatário e o remetente. O
Os delitos previstos no art. 151, caput, e em seu § 1º, I, foram sujeito ativo, por sua vez, pode ser qualquer pessoa, e, caso seja
substituídos pelos crimes descritos no art. 40 da Lei n. 6.538/78. funcionário público que cometa a infração, se prevalecendo de seu
“Art. 40 — Devassar indevidamente o conteúdo de corres- cargo ou de sua função, deverá ser aplicada a agravante genérica
pondência fechada dirigida a outrem: do art. 43 da Lei n. 6.538/78.
Pena — detenção, até seis meses, ou pagamento não exce- A consumação ocorre no instante em que o agente se apodera
dente a vinte dias-multa.” da correspondência, e, sendo crime formal, não é necessário que
atinja a finalidade visada de destruí-la ou sonegá-la. A tentativa,
Trata a lei de proteger a carta, o bilhete, o telegrama, des- por seu turno, é possível quando o agente não consegue se apossar
de que fechados, decorrência do princípio constitucional que diz da carta, telegrama etc.
ser “inviolável o sigilo de correspondência” (art. 5o, XII, 1a parte). A ação penal é pública condicionada à representação.
Veja-se, entretanto, que apesar do texto constitucional não descre-
ver qualquer exceção, é evidente que tal princípio não é absoluto, VIOLAÇÃO DE COMUNICAÇÃO TELEGRÁFICA,
cedendo quando houver interesse maior a ser preservado, como, RADIOELÉTRICA OU TELEFÔNICA
por exemplo, no caso de leitura de correspondência de preso, per- Art. 151, § 1º, II — Na mesma pena incorre quem indevi-
mitida nas hipóteses descritas no art. 41, parágrafo único, da Lei damente divulga, transmite a outrem ou utiliza abusivamente
de Execuções Penais, para se evitar motins ou planos de resgate comunicação telegráfica ou radioelétrica dirigida a terceiro, ou
de detentos etc. Damásio E. de Jesus lembra que também não ha- conversação telefônica entre outras pessoas.
verá o delito quando o curador abre uma carta endereçada a um As condutas típicas são:
doente mental, ou o pai abre a carta dirigida a um filho menor. A A - divulgar — relatar o conteúdo da correspondência a outras
própria Lei n. 6.538/78 estabelece não haver o crime na abertura pessoas;

Didatismo e Conhecimento 118


NOÇÕES DE DIREITO
B - utilizar — como a lei não faz ressalva, significa usá-la para FORMAS QUALIFICADAS
qualquer fim, para qualquer destinação; Art. 151, § 2º — As penas aumentam-se de metade, se há
C - transmitir — narrar o conteúdo a uma pessoa determinada. dano para outrem.
O delito apenas existe quando a divulgação ou transmissão Esse dispositivo aplica-se aos crimes que ainda estão previs-
são feitas de forma indevida (elemento normativo) ou quando a tos no Código Penal. Em relação àqueles da Lei n. 6.538/78, há
utilização é feita de forma abusiva (elemento subjetivo do tipo). dispositivo idêntico no art. 40, § 2º. O dano a que as leis se referem
Os sujeitos do delito são os mesmos dos dois crimes anterio- é aquele decorrente de alguma lesão econômica ou moral.
res. Art. 151, § 3º — Se o agente comete o crime, com abuso de
A infração penal se consuma no instante da divulgação, trans- função em serviço postal, telegráfico, radioelétrico ou telefônico:
missão ou utilização. Trata-se de crime material que, assim, admite Pena — detenção, de um a três anos.
a tentativa. Art. 151, § 4º — Somente se procede mediante representa-
A lei tutela no presente dispositivo o sigilo das conversações ção, salvo nos casos do § 1º, IV, e do § 3º.
telegráficas, radioelétricas e telefônicas entre outras pessoas. Esse dispositivo não foi revogado pelo art. 3º, c, da Lei n.
A ação é pública condicionada à representação e a pena é de 4.898/65, que prevê crime de abuso de autoridade na conduta de
detenção, de um a seis meses, ou multa. quem atenta contra o sigilo de correspondência. Isso porque não
Em relação a conversações telefônicas o tipo penal ainda pode são todos os que trabalham em serviço postal, telegráfico ou radio-
ser aplicado para quem, por exemplo, ouve conversa alheia em ex- elétrico que se enquadram no conceito de funcionário público de
tensão telefônica e divulga seu conteúdo. Atualmente, entretanto, modo a poderem se enquadrar na lei de abuso de autoridade.
constitui crime, bem mais gravemente apenado (reclusão, de dois
a quatro anos, e multa), “realizar interceptação de comunicações CORRESPONDÊNCIA COMERCIAL
telefônicas, de informática ou telemática, ou quebrar segredo da Art. 152 — Abusar da condição de sócio ou empregado de
Justiça, sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados estabelecimento comercial ou industrial para, no todo ou em
em lei”. Esse crime está descrito no art. 10 da Lei n. 9.296/96, que parte, desviar, sonegar, subtrair ou suprimir correspondência,
regulamenta as hipóteses em que pode ser decretada a intercepta- ou revelar a estranho o seu conteúdo:
Pena — detenção, de três meses a dois anos.
ção telefônica, bem como o procedimento a ser adotado.
Parágrafo único — Somente se procede mediante represen-
Assim, quem realiza a interceptação de conversa telefônica
tação.
alheia sem autorização judicial já está cometendo crime, indepen-
Trata-se de crime próprio, já que somente pode ser pratica-
dentemente da futura divulgação do conteúdo. Além disso, como
do por sócio ou empregado, exigindo-se, pois, a existência de um
as gravações feitas de forma autorizada devem ser mantidas em
contrato de emprego ou de sociedade. Como bem salienta Nélson
sigilo, nos termos do art. 8o da Lei n. 9.296/96, quem tomar co-
Hungria, basta essa condição para o aperfeiçoamento do crime,
nhecimento de seu conteúdo e der divulgação cometerá também o
sendo desnecessário que ele ocorra quando o agente está no lo-
delito em sua parte final. Ex.: funcionário de Distrito Policial que cal de trabalho ou no exercício da função. Veja-se, também, que o
informa o conteúdo das gravações a órgãos da impresa. agente pode ser o sócio ou o empregado tanto da empresa remeten-
te como da destinatária. Sujeito passivo, por sua vez, também será
IMPEDIMENTO DE COMUNICAÇÃO OU CONVER- a empresa ou a indústria remetente ou destinatária.
SAÇÃO O objeto material é a correspondência comercial, assim enten-
Art. 151, § 1º, III — Na mesma pena incorre quem impede dida aquela que diga respeito às atividades exercidas pelo estabe-
a comunicação ou a conversação referidas no número anterior. lecimento. Por isso, a correspondência remetida a ele, tratando de
A lei pune quem impede a comunicação telegráfica ou radio- assunto estranho às suas atividades, poderá ser objeto apenas de
elétrica dirigida a terceiros ou a conversação entre outras pessoas. crime comum de violação de correspondência.
É indiferente que o agente o faça de forma continuada ou não. O art. 152 descreve um tipo misto alternativo, incriminando
O crime configura-se quando o agente impede a comunicação ou quem desvia (dá rumo diverso do correto), sonega (se apropria e
conversação já iniciadas ou mesmo quando, ainda não iniciadas, o esconde), subtrai (furta) ou suprime (destrói) a correspondência
agente atua de forma a inviabilizar que as partes entrem em conta- comercial. A prática de mais de uma dessas condutas em relação à
to telefônico, telegráfico etc. mesma correspondência caracteriza crime único.
Também existe crime na conduta do sócio ou do empregado
A - INSTALAÇÃO OU UTILIZAÇÃO DE ESTAÇÃO DE que revela o conteúdo da correspondência a outras pessoas que
APARELHO RADIOELÉTRICO dele não deviam ter conhecimento.
O art. 151, § 1º, IV, foi substituído pelo art. 70 da Lei n. O insigne Nélson Hungria lembra que “é preciso, para a exis-
4.117/62 com a seguinte redação: “Constitui crime punível com tência do crime, que haja, pelo menos, possibilidade de dano, seja
detenção de um a dois anos, aumentada da metade se houver dano este patrimonial ou moral”, pois “Não se compreenderia que o só-
a terceiro, a instalação ou utilização de telecomunicações, sem ob- cio cometesse crime por praticar qualquer dos atos referidos no
servância do disposto nesta lei e nos regulamentos”. texto legal, se dele nenhum dano pudesse resultar à sociedade ou a
O parágrafo único do art. 70 estabelece como condição de outrem. Quanto ao empregado, se, do mesmo modo, não houvesse
procedibilidade a busca e apreensão do aparelho. A figura típica sequer perigo de dano, além do infligido à intangibilidade da cor-
abrange a transmissão de radioamadores, até mesmo daqueles que respondência, não haveria necessidade de incriminação fora do art.
operam em automóveis, conhecidos como PX, sem a autorização 151. Se o conteúdo da correspondência é fútil ou inócuo, não pode
exigida pelo CONTEL. ser objeto do crime em questão” (Comentários ao Código Penal,
4. ed., Forense, v. 6 , p. 246).

Didatismo e Conhecimento 119


NOÇÕES DE DIREITO
A consumação ocorre no exato instante da prática do ato des- Cuida-se, pois, de crime próprio.
crito no tipo, e a tentativa é possível. No dizer de Damásio de Jesus, “sujeitos ativos do crime são
O parágrafo único do art. 152 dispõe que a ação é pública os confidentes necessários, pessoas que recebem o conteúdo do se-
condicionada à representação. gredo em razão de função, ministério, ofício ou profissão. Dizem-
-se confidentes necessários porque, em razão de sua atividade es-
DIVULGAÇÃO DE SEGREDO pecífica, normalmente tomam conhecimento de fatos particulares
Art. 153 — Divulgar alguém, sem justa causa, conteúdo de da vida alheia” (Direito penal, 16. ed., Saraiva, v. 2, p. 263).
documento particular ou de correspondência confidencial, de Função é o encargo decorrente de lei, de contrato, ou de ordem
que é destinatário ou detentor, e cuja divulgação possa produzir judicial, como, por exemplo, tutela, curatela, direção de escola etc.
dano a outrem: Pena — detenção, de um a seis meses, ou multa. Ministério é uma atividade decorrente de uma situação fática
Visa a lei resguardar o sigilo em relação aos fatos da vida cujo e não de direito, de origem religiosa ou social. Ex.: sacerdócio,
conhecimento por outras pessoas possa provocar dano. Trata-se de assistência social voluntária etc.
crime próprio, pois somente pode ser cometido pelo destinatário Ofício é o desempenho de atividade mecânica ou manual.
ou detentor. É necessário, ainda, que a informação tenha chegado Exs.: motorista particular que toma conhecimento das atividades
a ele através de documento particular ou de correspondência con- do patrão; jardineiro que presencia fatos em seu local de trabalho
etc.
fidencial. Assim, a divulgação de segredo que lhe é confidenciado
Profissão abrange, no dizer de Nélson Hungria, qualquer ati-
oralmente não constitui crime. O sujeito passivo, nos termos da lei,
vidade exercida habitualmente e com fim de lucro. Ex.: médicos,
é a pessoa que pode sofrer o dano com a divulgação do segredo.
dentistas, advogados etc.
Pode ser o remetente, o destinatário ou qualquer outra pessoa. O Os auxiliares dessas pessoas também respondem pelo crime
crime, entretanto, se consuma quando o segredo é divulgado para quando tomam conhecimento do segredo no desempenho de suas
número indeterminado de pessoas, sendo, na verdade, desnecessá- atividades. Ex.: estagiários, enfermeiras etc.
rio que alguém efetivamente sofra prejuízo, bastando, pois, a po- Se o agente toma conhecimento do segredo em razão de fun-
tencialidade lesiva nesse sentido. Trata-se, assim, de crime formal. ção pública estará cometendo o crime do art. 325 (violação de si-
A tentativa é possível. gilo funcional).
O crime é doloso e, como a lei exige que o fato ocorra sem Sujeito passivo do delito é aquele que pode sofrer algum dano
justa causa, é necessário que o agente saiba da ilegitimidade de seu com a revelação do segredo, podendo ser o titular do segredo ou
comportamento, que tenha ciência de que o conteúdo divulgado terceiro.
era sigiloso e que, portanto, poderia gerar prejuízo a outrem. Não A conduta típica é “revelar”, que significa dar ciência, contar
se admite a forma culposa. a alguém o segredo. Pode ocorrer de forma escrita, oral etc. Basta
A descrição típica contém um elemento normativo manifesta- que o agente conte o segredo para uma única pessoa, que o delito já
do na expressão “divulgar, sem justa causa”, que significa a ine- estará configurado, desde que possa, evidentemente, causar dano a
xistência de um motivo razoável a justificar a divulgação. Há justa alguém, dano este que pode ser de qualquer natureza, patrimonial
causa, por exemplo, quando a divulgação se faz necessária para ou moral. Por ser crime formal, a infração se consuma no momen-
apurar a autoria de um delito ou quando há consentimento do in- to em que o segredo chega à terceira pessoa, mesmo que disso não
teressado etc. decorra o prejuízo para a vítima, bastando, pois, a lesividade, a
A Lei n. 9.983/2000 criou uma figura qualificada no § 1º-A, possibilidade do dano. A tentativa é possível, por exemplo, no caso
punindo com reclusão, de um a quatro anos, e multa, quem divul- em que a revelação se daria por escrito e se extravia.
gar, sem justa causa, informações sigilosas ou reservadas, assim Não se caracteriza a infração penal quando há justa causa para
definidas em lei, contidas ou não nos sistemas de informações ou a revelação do segredo: consentimento da vítima, estado de neces-
banco de dados da Administração Pública. sidade, exercício regular de direito etc.
A ação penal depende de representação, salvo se o fato causar O crime é doloso e não admite a forma culposa.
prejuízo para a Administração Pública, quando será incondiciona- A ação penal é pública condicionada à representação.
da (§§ 1º e 2º).
Invasão de dispositivo informático
Art. 154-A. Invadir dispositivo informático alheio, conecta-
VIOLAÇÃO DE SEGREDO PROFISSIONAL
do ou não à rede de computadores, mediante violação indevida
Art. 154 — Revelar alguém, sem justa causa, segredo, de de mecanismo de segurança e com o fim de obter, adulterar ou
que tem ciência em razão de função, ministério, ofício ou profis- destruir dados ou informações sem autorização expressa ou tá-
são, e cuja revelação possa produzir dano a outrem: cita do titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para
Pena — detenção, de três meses a um ano, ou multa. obter vantagem ilícita:
Parágrafo único — Somente se procede mediante represen- Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
tação. § 1º Na mesma pena incorre quem produz, oferece, distribui,
Na vida em sociedade, nas relações entre os homens, muitas vende ou difunde dispositivo ou programa de computador com o
vezes um indivíduo, no exercício de sua atividade, toma conheci- intuito de permitir a prática da conduta definida no caput.
mento de segredos de outras pessoas e, por isso, o legislador eri- § 2º Aumenta-se a pena de um sexto a um terço se da inva-
giu à condição de crime a conduta daqueles que, sem um motivo são resulta prejuízo econômico.
justo, revelem tais segredos. É o caso, por exemplo, do advogado § 3º Se da invasão resultar a obtenção de conteúdo de co-
que ouve seu cliente confessar particularmente o cometimento do municações eletrônicas privadas, segredos comerciais ou indus-
delito de que está sendo acusado, do sacerdote em relação às con- triais, informações sigilosas, assim definidas em lei, ou o contro-
fissões dos fiéis, do médico etc. le remoto não autorizado do dispositivo invadido:

Didatismo e Conhecimento 120


NOÇÕES DE DIREITO
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, se Furto Simples
a conduta não constitui crime mais grave. Caput: “Subtrair para si ou para outrem coisa alheia móvel:
§ 4º Na hipótese do § 3o, aumenta-se a pena de um a dois Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.”
terços se houver divulgação, comercialização ou transmissão a
terceiro, a qualquer título, dos dados ou informações obtidos. Elementos
§ 5º Aumenta-se a pena de um terço à metade se o crime for a)Subtrair: tirar algo de alguém, desapossar
praticado contra: Pode ocorrer em dois casos:
I - Presidente da República, governadores e prefeitos; - tirar algo de alguém;
II - Presidente do Supremo Tribunal Federal; - receber uma posse vigiada e sem autorização levar o bem,
III - Presidente da Câmara dos Deputados, do Senado Fede- retirando-o da esfera de vigilância da vítima.
ral, de Assembleia Legislativa de Estado, da Câmara Legislativa Conclui-se que a expressão engloba tanto a hipótese em que
do Distrito Federal ou de Câmara Municipal; ou o bem é tirado da vítima quanto aquela em que a coisa é entregue
IV - dirigente máximo da administração direta e indireta fe- voluntariamente ao agente e este a leva consigo.
Essa modalidade difere da apropriação indébita porque nesta
deral, estadual, municipal ou do Distrito Federal.
a posse é desvigiada. Ex.: caixa de supermercado, tem a posse vi-
Ação penal
giada, se pegar dinheiro praticará furto.
Art. 154-B. Nos crimes definidos no art. 154-A, somente se
procede mediante representação, salvo se o crime é cometido b) Ânimo de assenhoramento definitivo do bem, para si ou
contra a administração pública direta ou indireta de qualquer para outrem (animus remsibihabendi)
dos Poderes da União, Estados, Distrito Federal ou Municípios Trata-se do elemento subjetivo específico do tipo. Não basta
ou contra empresas concessionárias de serviços públicos. apenas a vontade de subtrair (dolo geral): a norma exige a intenção
específica de ter a coisa, para si ou para outrem, de forma defini-
tiva.
2.3.7 DOS CRIMES É esse elemento que distingue o crime de furto e o furto de uso
CONTRA O PATRIMÔNIO (fato atípico). Para a sua caracterização é necessário que o agente
tenha intenção de uso momentâneo e que restitua a coisa imediata
e integralmente à vítima.
FURTO c) Coisa alheia móvel (objeto material do tipo)
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia mó- Coisa móvel: aquela que pode ser transportada de um local
vel: para outro. O Código Civil considera como imóvel alguns bens
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. móveis, como aviões, embarcações, o que para fins penais é irre-
§ 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado levante.
durante o repouso noturno. Os semoventes também podem ser objeto de furto, como, por
§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a exemplo, o abigeato, ou seja, o furto de gado.
coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de Areia, terra (retirados sem autorização) e árvores (quando ar-
detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a rancadas do solo) podem ser objeto de furto, desde que não confi-
pena de multa. gure crime contra o meio ambiente.
§ 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qual- A coisa deve ser alheia (elemento normativo do furto).
quer outra que tenha valor econômico. O furto é um tipo anormal porque contém elemento normativo
Furto qualificado que exige juízo de valor. Coisa alheia é aquela que tem dono; dessa
§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o forma, não constituem objeto de furto a resnullius (coisa de nin-
crime é cometido: guém, que nunca teve dono) e a res derelicta (coisa abandonada).
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração Nessas hipóteses, o fato será atípico porque a coisa não é alheia.
da coisa; A coisa perdida (res desperdicta) tem dono, mas não pode ser
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada objeto de furto porque falta o requisito da subtração; quem a en-
ou destreza; contra e não a devolve não está subtraindo - responderá por apro-
III - com emprego de chave falsa; priação de coisa achada, tipificada no art. 169, par. ún., inc. II, do
Código Penal.
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.
A coisa só é considerada perdida quando está em local público
§ 5º - A pena é de reclusão de 3 (três) a 8 (oito) anos, se a
ou aberto ao público. Coisa perdida, por exemplo, dentro de casa,
subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado
dentro do carro, se achada e não restituída ao proprietário, carac-
para outro Estado ou para o exterior. terizará crime de furto.
Furto de coisa comum Coisa de uso comum: (água dos mares, ar atmosférico etc.)
Art. 156 - Subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio, para não pode ser objeto de furto, exceto se estiver destacada de seu
si ou para outrem, a quem legitimamente a detém, a coisa co- meio natural e for explorada por alguém. Ex.: água da Sabesp.
mum: Não confundir com furto de coisa comum, art. 156 do Có-
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. digo Penal, que ocorre quando o objeto pertence a duas ou mais
§ 1º - Somente se procede mediante representação. pessoas nas hipóteses de sociedade, condomínio de coisa móvel e
§ 2º - Não é punível a subtração de coisa comum fungível, co-herança. É crime de ação penal pública condicionada à repre-
cujo valor não excede a quota a que tem direito o agente. sentação.

Didatismo e Conhecimento 121


NOÇÕES DE DIREITO
O art. 155, § 3.o, do Código Penal trata do furto de energia. retirada do bem da esfera de vigilância da vítima;
Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica, bem como qualquer possetranqüila do bem, ainda que por pouco tempo.
outra forma de energia com valor econômico. Esse dispositivo é Se, na fuga, o agente se desfaz ou perde o objeto, que não
uma norma penal explicativa ou complementar (esclarece outras venha a ser recuperado pela vítima, consuma-se o delito, pois a ví-
normas; na hipótese, define como objeto material do furto, a ener- tima sofreu efetivo prejuízo. É exceção à exigência de que o agente
gia). tenha posse tranqüila do bem.
A TV a cabo está sendo equiparada. Quando há concurso de agentes, se o crime está consumado
O sêmen é considerado energia genética e sua subtração ca- para um, está também consumado para todos – adoção da teoria
racteriza o delito de furto. unitária. Ex.: dois ladrões furtam uma carteira, um foge com o bem
Ser humano não pode ser objeto de furto, pois não é coisa. e o outro é preso no local: o crime está consumado para ambos.
A subtração de cadáver ou parte dele tipifica o delito específi-
co do art. 211 do Código Penal (destruição, subtração ou ocultação Tentativa
de cadáver). O cadáver só pode ser objeto de furto quando pertence É possível, até mesmo na forma qualificada, com exceção do
a uma instituição e está sendo utilizado para uma finalidade especí- § 5.o do art. 155 do Código Penal.
fica. Ex.: faculdade de medicina, institutos de pesquisa. O fato de ter havido prisão em flagrante não implica, neces-
A subtração de órgão de pessoa viva ou de cadáver, para fins sariamente, que o furto seja tentado, como, por exemplo, o caso
de transplante, caracteriza crime da Lei n. 9.434/97. do flagrante ficto (art. 302, IV, do CPP), que permite a prisão do
Cortar o cabelo de alguém para vender, não configura furto, agente encontrado, algum tempo depois da prática do crime com
mas sim, lesão corporal. papéis, instrumentos, armas ou objetos (PIAO) que façam presu-
No caso de alguém retirar dente de ouro ou paletó do cadáver, mir ser ele o autor do crime.
há dois entendimentos:
Esses bens possuem dono, que são os sucessores do falecido, Concurso de delitos
por isso tratam-se de coisa alheia que pode ser furtada, caracteri- A violação de domicílio fica absorvida pelo furto praticado em
zando o crime de furto que terá como sujeito passivo os familiares residência por ser crime meio (princípio da consunção).
do de cujus. Se o agente, após a subtração, danifica o bem subtraído, res-
Os bens equivalem à coisa abandonada, por não haver interes- ponde apenas pelo furto, sendo o dano um post factum impunível,
se por parte dos sucessores em recuperá-los. Assim, o crime não pois a segunda conduta delituosa não traz novo prejuízo à vítima.
é o de furto, mas o de violação de sepultura – art. 210 do Código Se a pessoa furta um bem, e depois o aliena a um terceiro de
Penal. boa-fé, deve responder por furto e por disposição de coisa alheia
como própria. A jurisprudência, entretanto, diz que é um post fac-
Sujeito ativo tumimpunível.
Pode ser qualquer pessoa, exceto o dono, porque o tipo exige
que a coisa seja alheia. Furto Noturno:Art. 155, § 1.o, do Código Penal
Subtrair coisa própria, que se encontra em poder de terceiro, “A pena aumenta-se de 1/3, se o crime é praticado durante o
em razão de contrato (mútuo pignoratício) ou de ordem judicial repouso noturno.”
(objeto penhorado), acarreta o crime do art. 346 do Código Penal Trata-se de causa de aumento de pena que tem por finalidade
(tirar, suprimir, destruir ou danificar coisa própria, que se acha em garantir a proteção em relação ao patrimônio durante o repouso
poder de terceiro por determinação judicial ou convenção). Este do proprietário, uma vez que neste período há menor vigilância de
crime não tem nome; é um subtipo do exercício arbitrário das pró- seus pertences.
prias razões. O furto noturno não se aplica ao furto qualificado. Só vale
O credor que subtrair bem do devedor, para se auto-ressarcir para o furto simples:
de dívida já vencida e não paga, pratica o crime de exercício arbi- - pela posição do parágrafo(o § 1.º só vale para o que vem
trário das próprias razões (art. 345 do CP). Não responde por furto antes);
porque não agiu com intenção de causar prejuízo. - no furto qualificado já há previsão de pena maior.
Se alguém, por erro, pegar um objeto alheio pensando que lhe A jurisprudência dominante traça algumas considerações:
pertence, não responderá por furto em razão da incidência do erro - só se aplica quando o fato ocorre em residência (definida
de tipo. pelo art. 150, § 4.o, do Código Penal como sendo qualquer com-
partimento habitado, ou o aposento de habitação coletiva, ou com-
Sujeito passivo partimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou
É sempre o dono e, eventualmente, o possuidor ou detentor atividade) ou em qualquer de seus compartimentos, desde que haja
que sofre algum prejuízo. morador dormindo;
O agente que furta um bem que já fora anteriormente furtado - o aumento não se aplica se a casa estiver desabitada ou se
responde pelo delito, que terá como vítima não o primeiro furtador, seus moradores estiverem viajando;
mas o dono da coisa. - não se aplica o aumento no caso de furto praticado na rua ou
Pessoas jurídicas podem ser vítimas de furto, porque o seu em comércio.
patrimônio é autônomo do patrimônio dos sócios. Para o Prof. Damásio o aumento é cabível estando a casa ha-
bitada ou não, bastando que o agente se aproveite da menor vi-
Consumação gilância que decorre do “período do sossego noturno”, conforme
O furto consuma-se mediante dois requisitos: orientação da Exposição de Motivos do Código Penal, n. 56.

Didatismo e Conhecimento 122


NOÇÕES DE DIREITO
Furto Privilegiado - Art. 155, § 2.o, do Código Penal O cão não é considerado obstáculo.
O crime de dano fica absorvido pelo furto qualificado quando
Requisitos é meio para a subtração, por ser uma qualificadora específica.
Que o agente seja primário (todo aquele que não é reinciden- A qualificadora só é aplicada quando o obstáculo atingido não
te). Se o réu for primário e tiver maus antecedentes, fará jus ao é parte integrante do bem a ser subtraído. Ex.: arrombar o portão
privilégio, porque a lei não exige bons antecedentes. para furtar o carro – aplica-se a qualificadora; quebrar o vidro do
Que a coisa subtraída seja de pequeno valor. A jurisprudência carro para subtrair o automóvel – furto simples; quebrar o vidro do
adotou o critério objetivo para conceituar pequeno valor, conside- carro para subtrair uma bolsa que está dentro – furto qualificado.
rando aquilo que não excede a um salário mínimo. Na tentativa A divergência surge quanto ao furto de toca-fitas. Para uns, incide
leva-se em conta o valor do bem que se pretendia subtrair. a qualificadora; para outros, o furto é simples porque o toca-fitas é
Deve ser examinado o valor do bem no momento da subtração parte integrante do carro.
e não o prejuízo suportado pela vítima. Ex.: no furto de um carro, b) Com abuso de confiança, mediante fraude, escalada ou
que é recuperado depois, o prejuízo pode ter sido pequeno, mas destreza
será levado em conta o valor do objeto furtado. Com abuso de confiança – requisitos:
Não confundir privilégio com furto de bagatela; pelo princípio Que a vítima, por algum motivo, deposite uma especial con-
da insignificância, o crime de furto de bagatela é atípico porque a fiança em alguém: amizade, namoro, relação de emprego etc.
lesão ao bem jurídico tutelado é ínfima, irrisória. Saliente-se que a relação de emprego deve ser analisada no caso
No furto privilegiado, ao contrário, o fato é considerado cri- concreto, pois, em determinados empregos, patrão e empregado
me, mas haverá um benefício. não possuem qualquer contato, inclusive para os empregados do-
mésticos a jurisprudência exige a demonstração da confiança.
Consequências Que a subtração tenha sido praticada pelo agente, aproveitan-
Na aplicação da pena no furto privilegiado “... o juiz pode do-se de alguma facilidade decorrente da relação de confiança.
converter a reclusão em detenção, podendo reduzir uma ou outra Emprego de fraude: significa usar de artifícios para enganar
de um a dois terços, ou aplicar somente a multa. O que não pode é alguém, possibilitando a execução do furto.
reduzir a privativa e a multa” (JTACrimSP 76/363). O furto mediante fraude distingue-se do estelionato porque
Apesar do § 2.º trazer a expressão “pode”, presentes os requi- neste a fraude é utilizada para convencer a vítima a entregar o bem
sitos legais, o juiz deve aplicar o privilégio, porque não há facul- ao agente e naquele, a fraude serve para distrair a vítima para que
dade, e sim, direito subjetivo do réu. o bem seja subtraído.
P.: O privilégio pode ser aplicado ao furto qualificado? No furto, a fraude é qualificadora; no estelionato é elementar
R.: A doutrina diverge a respeito: uma corrente afirma que do tipo.
sim, pois não há vedação legal; a outra, majoritária, não admite A jurisprudência entende que a entrega do veículo a alguém
a aplicação e fundamenta que o privilégio encontra-se no § 2.o, e que pede para testá-lo, demonstrando interesse na sua compra, ca-
portanto, não poderia ser aplicado aos §§ 4.o e 5.o; ademais, a gra- racteriza o crime de furto qualificado pela fraude (para possibilitar
vidade do furto qualificado é incompatível com as consequências a indenização por parte do seguro, que cobre apenas furto e não
brandas (de redução da pena) do privilégio. estelionato, crime que realmente ocorreu porque houve entrega).
Escalada:é o acesso por via anormal ao local da subtração.
Furto Qualificado- Art. 155, §§ 4.ºe 5.º, do Código Penal Ex.: entrada pelo telhado, pela tubulação do ar-condicionado, pela
Quando o juiz reconhecer mais de uma qualificadora, utilizará janela, escavação de um túnel e outros.
a segunda como circunstância judicial na primeira fase da fixação Para configuração da escalada tem-se exigido que o agente
da pena. dispense um esforço razoável para ter acesso ao local: entrar por
O furto qualificado tentado admite a suspensão condicional uma janela que se encontra no andar térreo, saltar um muro baixo,
do processo, pois a pena mínima passa a ser de 8 meses – para por exemplo, não qualificam o furto.
se chegar a esse resultado diminui-se a pena mínima em abstrato, O art. 171 do Código de Processo Penal exige a perícia do
prevista para o delito, do redutor máximo previsto na tentativa (2 local.
– 2/3 = 8 meses). Destreza:habilidade do agente que permite a prática do furto
sem que a vítima perceba.
Art. 155, § 4.º, do Código Penal A vítima deve estar ao lado ou com o objeto para que a destre-
A pena é de reclusão de 2 a 8 anos, e multa, se o crime é co- za tenha relevância (uma bolsa, um colar etc.).
metido: Se a vítima está dormindo ou em avançado estado de embria-
guez não se aplica a qualificadora, pois não há necessidade de ha-
a) Com rompimento ou destruição de obstáculo bilidade para tal subtração.
Pressupõe uma agressão que danifique o objeto, destruindo-o Se a vítima percebe a conduta do agente, não se aplica a qua-
(destruição total) ou rompendo-o (destruição parcial). O art. 171 lificadora.
do Código de Processo Penal exige perícia. Se a vítima não perceber a conduta do agente, mas for vista
O obstáculo pode ser passivo (porta, janela, corrente, cadeado por terceiro, subsiste a qualificadora.
etc.) ou ativo (alarme, armadilha). c) Com emprego de chave falsa
A simples remoção do obstáculo não caracteriza a qualificado- Considera-se chave falsa:
ra, que exige o rompimento ou destruição. - cópia feita sem autorização;
Desligar o alarme não danifica o objeto, não fazendo incidir - qualquer objeto capaz de abrir uma fechadura. Ex.: grampo,
a qualificadora. chave mixa, gazua etc.

Didatismo e Conhecimento 123


NOÇÕES DE DIREITO
A chave falsa deve ser submetida à perícia para constatação III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e
de sua eficácia. o agente conhece tal circunstância.
A utilização da chave verdadeira encontrada ou subtraída pelo IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a
agente não configura a qualificadora; o furto será simples. Se sub- ser transportado para outro Estado ou para o exterior;
traída mediante fraude, haverá furto qualificado mediante fraude. V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringin-
d) Mediante o concurso de duas ou mais pessoas do sua liberdade.
A aplicação da qualificadora dispensa a identificação de todos § 3º Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena
os indivíduos e é cabível ainda que um dos envolvidos seja menor. é de reclusão, de sete a quinze anos, além da multa; se resul-
P.: Exige-se que as duas pessoas pratiquem os atos de execu- ta morte, a reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuízo da
ção do furto? multa
R.: Para Nelson Hungria e Celso Delmanto a qualificadora
Enquanto o furto é a subtração pura e simples de coisa alheia
será aplicada quando pelo menos duas pessoas executarem a sub-
móvel, para si ou para outrem (artigo 155 do Código Penal), o
tração, pois o crime seria cometido com maior facilidade, dificul-
roubo é a subtração de coisa móvel alheia, para si ou para outrem,
tando a defesa da vítima. mediante violência, grave ameaça ou qualquer outro recurso que
Para Damásio de Jesus e Heleno Fragoso a qualificadora exis- reduza a possibilidade de resistência da vítima.
tirá ainda que uma só pessoa tenha praticado os atos executórios, O caput do artigo 157 trata do roubo próprio, e o seu § 1.º des-
porque a lei exige o “concurso de duas ou mais pessoas”, não dis- creve o que a doutrina chama roubo impróprio. A diferença reside
tinguindo co-autoria de participação, sendo que nessa o agente não no preciso instante em que a violência ou a grave ameaça contra
pratica atos executórios. Demonstram ainda que a lei, quando exi- a pessoa são empregadas. Quando o agente pratica a violência ou
ge a execução por todos os envolvidos, expressa-se nesse sentido, grave ameaça, antes ou durante a subtração, responde por roubo
citando como exemplo o art. 146 do Código Penal que impõe “para próprio; quando pratica esses recursos depois de apanhada a coisa,
execução do crime” a reunião de mais de três pessoas. para assegurar a impunidade do crime ou a detenção do objeto
Reconhecida a existência do crime de quadrilha ou bando (art. material, responde por roubo impróprio.
288 do CPP), o juiz não poderá aplicar a qualificadora do furto A pena para ambos é de reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez)
mediante concurso de duas ou mais pessoas porque constituiria anos, e multa.
bis in idem.
Elementos do Tipo
Art. 155, § 5.º, do Código Penal – Inserido pela Lei n. - Subtrair e coisa alheia móvel: jáforam objeto de análise no
módulo relativo ao crime de furto.
9.426/96
- Violência: trata-se da violência física.
A pena passa a ser de reclusão de 3 a 8 anos, se a subtração
- Grave ameaça:é a promessa de um mal grave e iminente
é de veículo automotor “que venha a ser transportado para outro (exemplos: anúncio de morte, lesão, sequestro).
Estado ou para o exterior”. A definição de veículo automotor en- - Qualquer outro meio:é a chamada violência imprópria, que
contra-se no Anexo I do CTB. pode ser revelada, por exemplo, pelo uso de sonífero, de hipnose
O § 5.º absorve as qualificadoras do § 4.º, que só poderão ser etc. A simulação de arma e o uso de arma de brinquedo configuram
utilizadas como circunstâncias judiciais, já que as penas previstas a grave ameaça.
em abstrato são diversas. A “trombada” será considerada violência se for meio utilizado
Não basta a intenção do agente de transportar o veículo para pelo agente para reduzir a vítima à impossibilidade de resistên-
outro Estado ou para o exterior; deve ocorrer o efetivo transpasse cia, caracterizando o roubo e não o furto (um forte empurrão, por
da fronteira ou divisa para incidência da qualificadora. exemplo). Se, no entanto, a “trombada” consistir num mero esbar-
Se o agente for detido antes de cruzar a divisa, haverá o crime rão, incapaz de machucar a vítima, empregado com o intuito de
de furto simples consumado e a qualificadora não será aplicada. distraí-la, haverá crime de furto.
A tentativa dessa modalidade de furto qualificado será possí- O mesmo acontece com o arrebatamento de objeto preso ao
vel quando o agente tentar transpor a barreira da divisa e for detido. corpo da vítima.

ROUBO Sujeito Ativo: pode ser qualquer pessoa.

Sujeito Passivo: pode ser qualquer pessoa que sofra dimi-


Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para ou-
nuição (perda) patrimonial (proprietário ou possuidor) ou que seja
trem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois atingida pela violência ou grave ameaça.
de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de
resistência: Objetividade Jurídica
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. Em virtude de o crime em estudo ser considerado complexo,
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtra- tutela-se, além da posse e propriedade, a integridade física e a li-
ída a coisa, emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, berdade individual.
a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da
coisa para si ou para terceiro. Concurso de Crimes
§ 2º - A pena aumenta-se de um terço até metade: O número de vítimas não guarda equivalência com o número
I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de de delitos. Este último será relacionado com base no número de
arma; resultados (lesão patrimonial), que o agente sabia estar realizando
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas; no caso concreto.

Didatismo e Conhecimento 124


NOÇÕES DE DIREITO
É possível que um só roubo tenha duas vítimas? No roubo próprio, a violência ou grave ameaça constituem
Sim, pois a vítima do roubo é tanto quem sofre a lesão patri- meio para a subtração, enquanto no roubo impróprio, o agente, ini-
monial, como quem sofre a violência ou grave ameaça. Exemplo: cialmente, quer apenas furtar e, depois de já se haver apoderado de
se A empresta seu carro a B, sendo este último assaltado, ambos bens da vítima, emprega violência ou grave ameaça para garantir a
serão vítimas. sua impunidade ou a detenção do bem.
Da mesma forma, havendo grave ameaça contra duas pessoas, No roubo próprio, a lei menciona três meios de execução,
mas lesado o patrimônio de apenas uma, haverá crime único, po- que são a violência, a grave ameaça ou qualquer outro recurso que
rém, com duas vítimas. dificulte a defesa da vítima. No roubo impróprio, a lei menciona
Empregada grave ameaça contra cinco pessoas e lesado o pa- apenas dois, que são a grave ameaça e a violência, incabível o em-
trimônio de três, por exemplo, há três crimes de roubo em concur- prego de sonífero ou hipnose (violência imprópria).
so formal.
E se o agente emprega grave ameaça contra uma pessoa para Requisitos do roubo impróprio
subtrair bens de duas? São os seguintes os requisitos do roubo impróprio:
Nesse caso, se o agente não sabe que está lesando dois patri- Que o agente tenha se apoderado do bem que pretendia furtar.
Se o agente ainda não tinha a posse do bem, não se pode cogitar de
mônios, há crime único, evitando-se a responsabilidade penal ob-
roubo impróprio, nem de tentativa. Exemplo: o agente está tentan-
jetiva; se o agente sabe que está lesando dois patrimônios (subtrai
do arrombar a porta de uma casa, quando alguém chega ao local
o relógio do cobrador e o dinheiro do caixa, por exemplo), há dois
e é agredido pelo agente, que visa garantir sua impunidade e fugir
crimes de roubo em concurso formal.
sem nada levar. Haverá tentativa de furto qualificado em concurso
É possível a existência de crime continuado, se preenchidos material com o crime de lesões corporais.
os requisitos do artigo 71 do Código Penal. Exemplo: indivíduo Que a violência ou grave ameaça tenham sido empregadas
rouba uma pessoa em um ônibus, sai dele, entra em outro e rouba logo depois o apoderamento do objeto material. O “logo depois”
outra pessoa. está presente enquanto o agente não tiver consumado o furto no
caso concreto. Após a consumação do furto, o emprego de vio-
Consumação do Roubo lência ou de grave ameaça não pode caracterizar o roubo impró-
Há certa divergência quanto ao momento consumativo do rou- prio. Poderá haver, por exemplo, furto consumado em concurso
bo próprio. material com lesão corporal. A violência ou grave ameaça pode
Para alguns doutrinadores, o roubo consuma-se da mesma ser contra o próprio dono do bem ou contra um terceiro qualquer,
maneira que o furto – quando, após empregar violência ou grave até mesmo um policial. Para a jurisprudência, se a violência contra
ameaça, o agente consegue a posse tranquila da res, fora da esfera policial serviu para transformar o furto em roubo impróprio, não
de vigilância da vítima. se pode aplicar em concurso o crime de resistência, porque confi-
O entendimento do Supremo Tribunal Federal e do Superior guraria bis in idem.
Tribunal de Justiça é que o roubo se consuma com a simples retira- Que a violência ou grave ameaça tenham por finalidade garan-
da do bem da vítima, após o emprego da violência ou grave ame- tir a detenção do bem ou assegurar a impunidade do agente.
aça, ainda que não consiga a posse tranquila. É a nossa posição.
Consumação
Tentativa O roubo impróprio consuma-se no exato momento em que é
A tentativa é possível e será verificada quando, iniciada a empregada a violência ou grave ameaça, ainda que o agente não
execução, mediante violência ou grave ameaça, o agente não con- atinja sua finalidade (garantir a impunidade ou evitar a detenção).
segue efetivar a subtração; não se exige o início da execução do O golpe desferido que não atinge a vítima é considerado vio-
núcleo “subtrair”, e sim da prática da violência, conforme entende lência empregada; portanto, roubo impróprio consumado.
o Prof. Damásio de Jesus.
Quando o agente é preso em flagrante com o objeto do roubo, Tentativa
A tentativa não é admissível, pois ou o agente emprega a vio-
após perseguição, responde por crime tentado (para aqueles que
lência ou a grave ameaça e o crime de roubo impróprio está con-
exigem a posse tranqüila da coisa para consumação) e por crime
sumado, ou não as emprega e o crime praticado é o de furto. Esse
consumado (Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Jus-
é o entendimento predominante na doutrina e na jurisprudência.
tiça, que dispensam o requisito da posse tranqüila da coisa para
Alguns autores (minoria) admitem a tentativa quando o agente
consumação do roubo). quer empregar a violência, mas é impedido.
Roubo Impróprio – Artigo 157, § 1.º, do Código Penal Causas de Aumento da Pena – Artigo 157, § 2.º, do Código
“Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a Penal (Roubo Circunstanciado)
coisa, emprega violência contra a pessoa ou grave ameaça, a fim “§ 2.º A pena aumenta-se de um terço até metade:
de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma;
ou para terceiro.” II – se há o concurso de duas ou mais pessoas;
III – se a vítima está em serviço de transporte de valores e o
Diferenças entre roubo próprio e roubo impróprio agente conhece tal circunstância;
No roubo próprio a violência ou grave ameaça ocorre antes ou IV – se a subtração for de veículo automotor que venha a ser
durante a subtração; no roubo impróprio, ocorre depois. transportado para outro Estado ou para o exterior;

Didatismo e Conhecimento 125


NOÇÕES DE DIREITO
V – se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo Súmula, venham a reconhecer concurso entre o roubo simples e
sua liberdade.” a utilização de arma de brinquedo no cometimento do crime, nos
Se o juiz reconhecer a existência de duas ou mais causas de termos do artigo 10, § 1.º, inciso II, da Lei n. 9.437/97.
aumento da pena poderá aplicar somente uma, de acordo com o Nossa posição: arma de brinquedo equipara-se a arma de ver-
parágrafo único do artigo 68 do Código Penal. dade, para fins específicos do tipo que define o roubo, razão pela
As causas de aumento da pena incidem apenas sobre o roubo qual o autor responderá apenas como incurso no artigo 157, § 2.º,
simples (próprio ou impróprio). Não se aplicam ao roubo qualifi- inciso I, do Código Penal.
cado pelo resultado lesão grave ou morte (§ 3.º).
Note-se que as agravantes previstas no § 2.º do artigo 157 são Concurso de duas ou mais pessoas
erroneamente denominadas qualificadoras. Não é correto o empre- As anotações feitas a respeito do concurso de pessoas no furto
go desse termo, pois, tecnicamente, trata-se de causa especial de (artigo 155 do Código Penal) aplicam-se ao roubo; a distinção é
aumento de pena, a incidir na terceira fase de aplicação da pena. quanto à natureza jurídica: naquele é qualificadora; neste é causa
de aumento.
Emprego de arma
É chamado roubo qualificado pelo emprego de arma. Repita-
Serviço de transporte de valores
-se que apesar desse nome, não se trata de qualificadora, mas sim
Aplicável apenas se a vítima está trabalhando (“em serviço”)
de causa de aumento de pena.
com o transporte de valores (exemplo: assalto de office-boy, de
Arma é qualquer instrumento que tenha poder vulnerante. A
arma pode ser própria ou imprópria. Arma própria é a criada espe- carro-forte etc.).
cificamente para ataque e defesa, tal como o revólver, por exem- Se o ladrão assaltar o motorista do carro-forte, levando so-
plo. Arma imprópria é qualquer objeto que possa matar ou ferir, mente o seu relógio, não há qualificadora.
mas que não possui esta finalidade específica, como, por exemplo, Exige-se que o agente conheça a circunstância do transporte
faca, tesoura, espeto etc. de valor (dolo direto), não se admitindo dolo eventual.
Para o aumento da pena, é necessário que a arma seja apon- Observação: não existe qualificadora semelhante no crime de
tada para a vítima; não basta que o agente esteja armado e que a furto.
vítima tome conhecimento disto.
Para nós, o fundamento dessa causa de aumento é o poder Veículo automotor que venha a ser transportado para outro
intimidador que a arma exerce sobre a vítima. Assim, não importa estado ou país
o poder vulnerante da arma, desde que ela seja apta a incutir medo Ver anotações sobre furto.
na vítima, facilitando o roubo. Assim, a arma de fogo descarregada
ou defeituosa ou o simulacro de arma configuram a majorante em Se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo
tela. sua liberdade:
Prevalece, no entanto, o entendimento de que essa causa de Aplica-se às hipóteses em que a vítima é mantida pelos assal-
aumento tem por fundamento o perigo real que representa à in- tantes por pouco tempo, ou tempo suficiente para a consumação do
columidade física da vítima o emprego de arma. À vista disso, roubo. Se o período for longo, haverá concurso material de roubo
a arma deve ter idoneidade ofensiva, capacidade de colocar em simples e sequestro (artigo 157 combinado com artigo 148, ambos
risco a integridade física da vítima. Tal não ocorre com o emprego do Código Penal).
de arma desmuniciada, defeituosa, arma de brinquedo ou simples Observe-se que essa majorante não se aplica nos casos em que
simulação. ocorre o chamado sequestro-relâmpago, embora tenha sido esta a
Em razão desse entendimento, a Terceira Seção do Supe- intenção da lei. Com efeito, o sequestro-relâmpago não se trata de
rior Tribunal de Justiça, no REsp n. 213.054, de São Paulo, em roubo, mas sim de extorsão, pois o comportamento da vítima, no
24.10.2001, relator o Ministro José Arnaldo da Fonseca, decidiu sentido de fornecer a senha do cartão magnético, é imprescindível
cancelar a Súmula n. 174, considerando que o emprego de arma
para o sucesso da empreitada criminosa. Como se vê, no caso do
de brinquedo, embora não descaracterize o crime, não agrava o
sequestro-relâmpago, não se trata de subtração e por isso não se
roubo, uma vez que não apresenta real potencial ofensivo. Ficou
pode falar em roubo. Assim, em que pese a boa intenção do legis-
assentado que a incidência da referida circunstância de exaspera-
ção da pena127: lador, essa circunstância incidirá em outras situações, nas quais
- fere o princípio constitucional da reserva legal (princípio da a privação de liberdade da vítima for utilizada com meio para a
tipicidade); realização de um roubo ou, após a sua consumação, como forma
- configura bis in idem; de fugir à ação policial.
- deve ser apreciada na sentença final como critério diretivo
de dosagem da pena (circunstância judicial do artigo 59 do Código Roubo Qualificado – Artigo 157, § 3.º, do Código Penal
Penal); Há duas formas de roubo qualificado, aplicáveis tanto ao rou-
- lesa o princípio da proporcionalidade. bo próprio quanto ao impróprio.
De acordo com a primeira parte do dispositivo: “se da violên-
De notar-se que a decisão apenas cancelou a referida Súmu- cia resulta lesão corporal de natureza grave, a pena é de reclusão,
la, não havendo impedimento a que juízes e tribunais ainda conti- de 7 (sete) a 15 (quinze) anos, além de multa”.
nuem adotando a primeira orientação, que determina o agravamen- Houve alteração da pena mínima, para tornar pacífico o en-
to da pena. Além disso, há o risco de que, cancelada a mencionada tendimento de que as causas de aumento da pena do § 2.º não se
127 Súmula 174 “No crime de roubo, a intimidação feita com aplicam às qualificadoras do § 3.º. Se a lesão é leve, esta fica ab-
arma de brinquedo autoriza o aumento da pena.” sorvida.

Didatismo e Conhecimento 126


NOÇÕES DE DIREITO
A parte final dispõe que “se resulta morte, a reclusão é de 20 EXTORSÃO
(vinte) a 30 (trinta) anos, sem prejuízo da multa”. É o denomina- Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave
do latrocínio, considerado crime hediondo nos termos da Lei n. ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida
8.072/90. vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar fazer
O roubo será qualificado se a morte ou a lesão corporal grave alguma coisa:
resultarem da “violência”; o tipo não menciona a grave ameaça. Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
Assim, se a vítima morre em razão da grave ameaça tem-se con- § 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou
curso formal de roubo simples e homicídio culposo (exemplo: a com emprego de arma, aumenta-se a pena de um terço até me-
vítima, ao ver a arma, sofre ataque cardíaco e morre). tade.
Via de regra, o crime qualificado pelo resultado é preterdoloso § 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o
(há dolo no antecedente e culpa no consequente). No caso do § 3.º disposto no § 3º do artigo anterior.
em estudo o resultado agravador pode decorrer de culpa ou dolo. § 3o  Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade
O agente pode, além de desejar a subtração, querer provocar lesão da vítima, e essa condição é necessária para a obtenção da van-
grave ou a morte da vítima. É evidente que a tentativa só é admi- tagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze)
tida quando o resultado agravador for desejado pelo agente, pois anos, além da multa; se resulta lesão corporal grave ou morte,
não se pode tentar algo produzido por acidente. aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2o e 3o, respectiva-
Destarte, não confundir tentativa de latrocínio com roubo qua- mente.
lificado pela lesão grave. No latrocínio tentado, o agente tem inten-
ção de matar a vítima, o que não ocorre por circunstâncias alheias A definição do crime de extorsão consta do artigo 158 do Có-
à sua vontade. No roubo qualificado pela lesão grave, o agente tem digo Penal: “Constranger alguém, mediante violência ou grave
intenção de lesionar a vítima. ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida
Oportuno salientar que a morte ou a lesão deve decorrer do vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer
emprego de violência pelo agente com o fim de se apoderar da res alguma coisa”.
ou assegurar a sua posse ou garantir a impunidade do crime. Se a A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, e multa (é
morte, por exemplo, advier de vingança, haverá crime de roubo em a mesma pena do roubo).
concurso com o crime de homicídio.
Objetividade Jurídica
Assim, caracteriza-se a violência quando empregada em ra-
A principal é a inviolabilidade do patrimônio. A secundária é
zão do roubo (nexo causal) e durante o cometimento do delito (no
a proteção à vida, integridade física, liberdade pessoal e tranquili-
mesmo contexto fático).
dade do espírito.
O nexo causal estará presente quando a violência constituir
meio para a subtração (roubo próprio) ou quando for empregada
Diferença entre Extorsão e Exercício Arbitrário das Pró-
para garantir a detenção do bem ou a impunidade do agente (roubo
prias Razões
impróprio).
Na extorsão o agente visa a uma vantagem patrimonial inde-
Faltando um desses requisitos, haverá roubo em concurso ma- vida, enquanto no exercício arbitrário das próprias razões a vanta-
terial com homicídio doloso ou delito de lesão corporal dolosa. gem é devida (artigo 345 do Código Penal).
Exemplos:
Exemplo 1: João rouba alguém hoje; semanas depois, para ga- Roubo e Extorsão
rantir a impunidade, mata a vítima. Responderá por roubo em con- Há três correntes doutrinárias que buscam os pontos diferen-
curso material com homicídio, pois a violência não foi empregada ciais desses dois crimes:
no mesmo contexto fático. 1.ª) Para Nelson Hungria, no roubo o bem é tirado da vítima,
Exemplo 2: ladrão mata um desafeto seu, que passa pelo local e na extorsão a vítima entrega o bem.
durante o roubo. Foi durante o roubo, mas não em razão dele. 2.ª) Enquanto no roubo a ação e o resultado são concomitan-
Tem-se, como regra, que a morte ou lesão corporal grave, tes, na extorsão o mal prometido e a vantagem são futuros.
resultando de violência, pode ser de qualquer pessoa (exemplo: 3.ª) Para o Prof. Damásio de Jesus, “na extorsão é imprescin-
segurança da vítima). dível o comportamento da vítima, enquanto no roubo é prescindí-
Súmula n. 603 do Supremo Tribunal Federal: “ainda que a vel. No exemplo do assalto, é irrelevante que a coisa venha a ser
morte seja dolosa, por haver latrocínio (crime contra o patrimô- entregue pela vítima ao agente ou que este a subtraia. Trata-se de
nio), a competência é do juízo singular”. roubo. Constrangido o sujeito passivo, a entrega do bem não pode
ser considerada ato livre voluntário, tornando tal conduta de ne-
Consumação e tentativa nhuma importância no plano jurídico. A entrega pode ser dispen-
Por se tratar de crime complexo, tem-se o seguinte: sada pelo autor do fato. Já na extorsão o apoderamento do objeto
Subtração consumada + morte consumada = latrocínio con- material depende da conduta da vítima”. A jurisprudência tem-se
sumado. manifestado nesse sentido.
Subtração tentada + morte consumada = latrocínio consuma- Questão polêmica é a que diz respeito ao constrangimento da
do (Súmula n. 610 do Supremo Tribunal Federal: “Há crime de vítima para sacar dinheiro em caixa eletrônico (sequestro-relâm-
latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não realize pago). Para a jurisprudência, o delito é de extorsão (artigo 158
o agente a subtração de bens da vítima”). do Código Penal) e não de roubo (artigo 157, § 2.º, inciso V, do
Subtração consumada + morte tentada = latrocínio tentado. Código Penal), com fundamento na tese da dispensabilidade ou
Subtração tentada + morte tentada = latrocínio tentado. indispensabilidade da conduta da vítima. Correta essa posição.

Didatismo e Conhecimento 127


NOÇÕES DE DIREITO
Questão: Como ficará a repressão do crime de sequestro, já EXTORSÃO MEDIANTE SEQÜESTRO – ARTIGO 159
que o artigo 158 não o prevê como causa de aumento de pena? DO CÓDIGO PENAL
Resposta: Se o sequestro for praticado como meio executório Trata-se de crime hediondo em todas as modalidades (forma
do crime de extorsão ou como escudo para a fuga, restará absor- simples ou qualificada).
vido por este delito. Se praticado depois da extorsão, sem que a As penas foram alteradas pela Lei n. 8.072/90, que aumentou
restrição da liberdade da vítima seja necessária para a consumação a pena privativa de liberdade de 6 (seis) a 12 (doze) anos para 8
do crime, haverá concurso material de delitos. (oito)a 15 (quinze) anos, eliminando a multa.
O caput do artigo 159 do Código Penal trata da forma simples
Diferença entre Extorsão e Estelionato da extorsão mediante sequestro: “sequestrar pessoa com o fim de
Para se saber se o crime é o de extorsão, deve-se verificar se a obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição
entrega do objeto material foi espontânea (voluntária) ou não. No ou preço do resgate”.
estelionato, a entrega é espontânea porque a vítima está sendo en-
ganada; na extorsão, a vítima entrega a coisa contra a sua vontade Objetividade Jurídica
para evitar um mal maior. No estelionato, a vítima não sabe que A principal é a inviolabilidade do patrimônio. A secundária é
está havendo um crime. a tutela da liberdade de locomoção. Trata-se de crime complexo.
Quando o agente emprega fraude e violência ou grave ameaça
Sujeito Ativo
para obter a coisa, o delito é de extorsão, pois a entrega ocorre não
Sujeito ativo é qualquer pessoa.
em razão da fraude, mas sim da violência ou grave ameaça. Ob-
serve o exemplo citado por Nelson Hungria: “Uma pessoa simula
Sujeito Passivo
ser policial e, sob ameaça de morte, obriga a vítima a entregar-lhe Sujeito Passivo é qualquer pessoa. Admite-se a pluralidade
certa quantia em dinheiro”. de sujeitos passivos. É sujeito passivo o sequestrado e a pessoa a
quem se dirige a finalidade do agente de obter a vantagem.
Extorsão e Constrangimento Ilegal
Tanto na extorsão quanto no constrangimento ilegal, o agente Consumação
emprega violência ou grave ameaça contra a vítima, no sentido de O crime se consuma no momento do sequestro, com a priva-
que faça ou deixe de fazer alguma coisa. ção da liberdade de locomoção da vítima. Trata-se, portanto, de
A diferença entre extorsão e constrangimento ilegal está na crime formal, já que não exige o pagamento do resgate, considera-
finalidade: no constrangimento ilegal, o sujeito ativo deseja que a do simples exaurimento. Tratando-se de delito permanente, poderá
vítima se comporte de determinada maneira, para obter qualquer ocorrer prisão em flagrante enquanto a vítima estiver sob o poder
tipo de vantagem. Na extorsão, o constrangimento é realizado com dos sequestradores (artigo 303 do Código de Processo Penal).
o objetivo expresso no tipo de obter “indevida vantagem econô-
mica”. Competência
Consumação e Tentativa A competência para julgamento desse delito é do local onde
Súmula n. 96 do Superior Tribunal de Justiça: “O crime de ex- se deu a consumação. Se o crime consumar-se em território de
torsão consuma-se independentemente da obtenção da vantagem duas comarcas, ambas serão competentes, fixando-se uma delas
indevida”. É, portanto, um crime formal. por prevenção (artigo 71 do Código de Processo Penal).
De acordo com entendimento do Professor Damásio de Jesus,
o crime se consuma quando a vítima faz, deixa de fazer ou tolera Tentativa
que se faça alguma coisa. A tentativa é possível, pois a extorsão é A tentativa é possível quando, iniciado o ato de “sequestrar”,
crime formal e plurissubsistente. Pode ocorrer a tentativa quando os agentes não tiverem êxito na captura da vítima.
o constrangido não realiza a conduta desejada pelo agente.
Extorsão Mediante Sequestro e Rapto
No crime do artigo 159 do Código Penal (extorsão mediante
Causas de Aumento da Pena
sequestro) ocorre privação da liberdade com o intuito de se obter
O § 1.º do artigo 158 do Código Penal dispõe que a pena é
vantagem patrimonial.
aumentada de um terço a metade (1/3 a 1/2) se o crime é cometido
No rapto (artigo 219), a privação da liberdade de mulher ho-
por duas ou mais pessoas ou com o emprego de arma. nesta (sujeito passivo do delito) tem fins libidinosos.
Note-se que aqui a lei fala em cometimento, não em concurso,
sendo indispensável, pois, que os coagentes pratiquem atos exe- Extorsão Mediante Sequestro e Sequestro e Cárcere Pri-
cutórios do crime. Exige-se, portanto, a coautoria e não a mera vado
participação. Não se deve confundir essa majorante com a prevista O sequestro do artigo 148 do Código Penal é crime subsidi-
no crime de roubo e furto, que prevêem o concurso de pessoas, o ário. É a privação da liberdade de alguém mediante violência ou
qual abrange a coautoria e a participação. grave ameaça, desde que o fato não constitua crime mais grave.

Extorsão Qualificada Elementos Objetivos do Tipo


Segundo o § 2.º do artigo 158 deve-se aplicar à extorsão as O tipo traz a expressão “qualquer vantagem”.
regras e penas do roubo qualificado pela lesão grave ou morte. A O Prof. Damásio de Jesus entende que, para configuração da
extorsão qualificada pela morte é crime hediondo (artigo 1.º, inciso extorsão mediante sequestro, a vantagem visada pode ser devida
III, da Lei n. 8.072/90). ou indevida, econômica ou não econômica, uma vez que o Código
Penal não especifica.

Didatismo e Conhecimento 128


NOÇÕES DE DIREITO
A maioria da doutrina, no entanto, entende que a vantagem Extorsão indireta
deve ser indevida e patrimonial. Para essa corrente, se a vanta- Art. 160 - Exigir ou receber, como garantia de dívida, abu-
gem visada for devida haverá concurso formal entre os crimes de sando da situação de alguém, documento que pode dar causa a
sequestro (artigo 148) e exercício arbitrário das próprias razões procedimento criminal contra a vítima ou contra terceiro:
(artigo 345). Assim, só existe extorsão mediante sequestro se a Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
vantagem for indevida e necessariamente patrimonial, pois se trata
de crime contra o patrimônio. Alteração de limites
Art. 161 - Suprimir ou deslocar tapume, marco, ou qualquer
Formas Qualificadas outro sinal indicativo de linha divisória, para apropriar-se, no
Artigo 159, § 1.º, do Código Penal todo ou em parte, de coisa imóvel alheia:
A pena é de reclusão de 12 (doze) a 20 (vinte) anos, se: Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.
- o sequestro dura mais de 24 horas; § 1º - Na mesma pena incorre quem:
- o sequestrado tem menos de 18 anos;
- o crime é praticado por quadrilha. Usurpação de águas
I - desvia ou represa, em proveito próprio ou de outrem,
Se a vítima é menor de 14 anos, não se aplica a qualificadora águas alheias;
prevista nesse parágrafo, mas sim o artigo 9.º da Lei n. 8.072/90 Esbulho possessório
(Lei dos Crimes Hediondos), que manda acrescer a pena de meta- II - invade, com violência a pessoa ou grave ameaça, ou
de, respeitando o limite máximo de 30 anos de reclusão. mediante concurso de mais de duas pessoas, terreno ou edifício
Se o crime for cometido por quadrilha ou bando (reunião de alheio, para o fim de esbulho possessório.
mais de três pessoas para o fim de cometer crimes), aplica-se a § 2º - Se o agente usa de violência, incorre também na pena
qualificadora do parágrafo em análise. Nesse caso, questiona-se: a esta cominada.
fica absorvido o delito de quadrilha ou bando previsto no artigo § 3º - Se a propriedade é particular, e não há emprego de
288 do Código Penal? A resposta é sim, segundo o Prof. Victor E. violência, somente se procede mediante queixa.
Rios Gonçalves, pois “apesar de ser delito formal e normalmente Supressão ou alteração de marca em animais
autônomo em relação às infrações perpetradas pelos quadrilheiros,
nesta hipótese constituiria inegável bis in idem”. Para nós, entre- Art. 162 - Suprimir ou alterar, indevidamente, em gado ou
tanto, existe concurso material com o delito de quadrilha ou bando rebanho alheio, marca ou sinal indicativo de propriedade:
que tem momento consumativo e objetividade jurídica diversa. Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa.

Artigo 159, §§ 2.º e 3.º, do Código Penal Dano


A pena é de reclusão de 16 (dezesseis) a 24 (vinte e quatro) Art. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia:
anos, se resulta em lesão grave, e de 24 (vinte e quatro) a 30 (trinta) Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
anos, se resulta em morte.
Essas duas qualificadoras só se aplicam quando o resultado Dano qualificado
recair sobre a pessoa sequestrada. A morte de outras pessoas cons- Parágrafo único - Se o crime é cometido:
titui crime de homicídio (ou lesão grave) em concurso com o crime I - com violência à pessoa ou grave ameaça;
do artigo 159 do Código Penal em sua forma simples. II - com emprego de substância inflamável ou explosiva, se
As qualificadoras se aplicam tanto ao resultado doloso quanto o fato não constitui crime mais grave;
ao resultado culposo. Só não será aplicada se o resultado agrava- III - contra o patrimônio da União, Estado, Município, em-
dor for consequência de caso fortuito ou culpa de terceiro (artigo presa concessionária de serviços públicos ou sociedade de eco-
19 do Código Penal). nomia mista;
O reconhecimento de uma qualificadora mais grave afasta o IV - por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para
reconhecimento de uma qualificadora menos grave. a vítima:
A pena deverá ser agravada de metade se a vítima se encontra Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa, além da
nas condições do artigo 224 do Código Penal, nos termos do artigo pena correspondente à violência.
9.º da Lei dos Crimes Hediondos.
Introdução ou abandono de animais em propriedade alheia
Delação Eficaz – Artigo 159, § 4.º, do Código Penal Art. 164 - Introduzir ou deixar animais em propriedade
Se o crime for praticado em concurso (duas ou mais pessoas), alheia, sem consentimento de quem de direito, desde que o fato
o concorrente (coautores e partícipes) que denunciar o fato à auto- resulte prejuízo:
ridade, facilitando a libertação da vítima, terá sua pena reduzida de Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, ou multa.
1/3 a 2/3 (um a dois terços).
O parágrafo foi inserido pela Lei dos Crimes Hediondos, alte- Dano em coisa de valor artístico, arqueológico ou histórico
rada pela Lei n. 9.269/96. Trata-se de causa de diminuição de pena. Art. 165 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa tombada
Haverá a diminuição da pena se a delação efetivamente facili- pela autoridade competente em virtude de valor artístico, arque-
tar a libertação da vítima. Quanto maior a colaboração, maior será ológico ou histórico:
a redução da pena. Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.

Didatismo e Conhecimento 129


NOÇÕES DE DIREITO
Alteração de local especialmente protegido Observações Gerais
Art. 166 - Alterar, sem licença da autoridade competente, o O funcionário público que se apropria de coisa pública, ou de
aspecto de local especialmente protegido por lei: coisa particular que se encontra sob a guarda da Administração,
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. pratica o crime de peculato (peculato-apropriação - artigo 312 do
Código Penal).
Ação penal A posse do todo (continente) entregue trancado não implica
Art. 167 - Nos casos do art. 163, do inciso IV do seu parágra- a posse do conteúdo. Exemplo: alguém recebe um cofre trancado
fo e do art. 164, somente se procede mediante queixa. para transportá-lo e o arromba para se apropriar dos valores nele
contidos. O agente pratica furto qualificado pelo rompimento de
APROPRIAÇÃO INDÉBITA obstáculo.
Art. 168 - Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a A apropriação de uso não constitui crime pela ausência de âni-
posse ou a detenção: mo de assenhoreamento definitivo.
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Pergunta: É possível apropriação indébita de coisa fungível?
§ 1º - A pena é aumentada de um terço, quando o agente Resposta: Sim. Há, entretanto, duas exceções: quando o bem é
recebeu a coisa: recebido em razão de contrato de mútuo ou de depósito, porque os
I - em depósito necessário; artigos 587 e 645 do Código Civil estabelecem que nesses contra-
II - na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário, in- tos a tradição transfere a propriedade e, assim, o sujeito não recebe
ventariante, testamenteiro ou depositário judicial; a “posse de coisa alheia” – recebe na posição de dono.
III - em razão de ofício, emprego ou profissão. Quando podemos dizer que a não restituição do bem configu-
ra o crime em estudo? Quando já houver vencido o prazo para a
Trata-se de crime que se caracteriza pela quebra da confiança, devolução da coisa. E se não houver prazo para tal? O vencimento
porque o agente tem legitimamente a posse ou a detenção da coisa, do prazo passa a ficar na dependência de prévia interpelação, noti-
a qual é transferida pelo proprietário, de forma livre e consciente, ficação ou protesto por parte da vítima, muito embora tais medidas
mas, em momento posterior, inverte esse título, passando a agir não sejam indispensáveis à configuração do crime.
como se dono fosse. Tem-se reconhecido crime único nas condutas de quem:
- estando obrigado a uma prestação conjunta, em várias ocasi-
Requisitos ões apropria-se do numerário de terceiro;
São requisitos da apropriação indébita: - sendo empregado, recebe dinheiro de várias pessoas e não o
Que a vítima, por algum motivo, entregue ao agente um ob- entrega ao patrão.
jeto, fazendo-o de forma livre e consciente. Difere, destarte, da
extorsão, em que a entrega é feita em razão de violência ou grave Causas de Aumento de Pena - Artigo 168, § 1.º, do Código
ameaça, e do estelionato, em que a vítima, de forma consciente, Penal
entrega a coisa, mas está sendo enganada. A razão de ser do aumento de pena é o motivo pelo qual a
Que o agente tenha a posse ou detenção desvigiada (a posse pessoa recebe a posse. Aumenta-se a pena em 1/3, quando:
é sempre desvigiada); se a detenção for vigiada, o crime será o - o bem é recebido em depósito necessário. Nos termos dos
de furto; assim, o empregado de uma loja que é vigiado pelo ge- artigos 647 e 649 do Código Civil, depósito necessário pode ser:
rente comete furto, mas o representante comercial que detém os - legal: decorre de lei;
bens para venda fora da esfera de vigilância do proprietário comete - miserável: feito em razão de situações de calamidades como
apropriação indébita. enchentes, desabamentos etc.;
Que o agente, ao receber o bem, esteja de boa-fé (não exista - por equiparação: refere-se aos valores de bagagens dos hós-
dolo de se apoderar do bem naquele momento), porque, se há dolo pedes em hotéis, pensões ou estabelecimentos congêneres.
antes do recebimento do bem, o crime é de estelionato. Na dúvida, - o agente recebe o objeto na qualidade de tutor, curador,
denuncia-se por apropriação indébita, pois a boa-fé se presume. síndico, inventariante, testamenteiro, liquidatário (figura que não
Que, após estar na posse do bem, o agente inverta o seu âni- existe mais em nosso sistema) ou depositário judicial;
mo em relação ao objeto, passando a se considerar e a se portar - o agente recebe o objeto no desempenho de sua profissão,
como se fosse dono. O comportamento de dono pode ocorrer com emprego ou ofício.
o assenhoreamento definitivo (negativa de restituição) ou quando
o agente dispõe do bem, vendendo-o, alugando-o (apropriação in- Há grande divergência doutrinária no tocante à abrangência
débita propriamente dita). da causa de aumento de pena do inciso I (depósito necessário).
Vejamos os entendimentos:
Consumação e Tentativa Para Nelson Hungria, abrange apenas o depósito miserável,
Trata-se de crime material. Consuma-se no momento em que pois o depositário legal é sempre funcionário público, que comete
o agente transforma a posse ou detenção sobre o objeto em domí- peculato, e o depósito por equiparação se enquadra no artigo 168,
nio, ou seja, quando passa a adotar comportamentos incompatíveis § 1.º, inciso III.
com a mera posse ou detenção da coisa. Para Magalhães Noronha, o dispositivo compreende o depósi-
A tentativa em tese é possível no caso de apropriação indébi- to legal, miserável e por equiparação.
ta propriamente dita, quando, por exemplo, o agente é impedido Segundo Damásio de Jesus, tratando-se de depósito necessá-
de vender o objeto de que tem a posse ou a detenção. O conatus, rio legal, duas hipóteses podem ocorrer. Se o sujeito ativo é funcio-
porém, não seria possível na hipótese de negativa de restituição. nário público, responde por delito de peculato. Se o sujeito ativo é

Didatismo e Conhecimento 130


NOÇÕES DE DIREITO
um particular, responde por apropriação indébita qualificada, nos Estelionato (artigo 171), no qual o agente sabe que a vítima
termos do artigo 168, parágrafo único, inciso II, última figura (de- está em erro antes de receber o bem porque cria uma situação de
positário judicial). Assim, não se aplica a disposição do inciso I. fraude para induzi-la ou mantê-la nessa circunstância, justamente
Tratando-se de depósito necessário por equiparação, não aplica- para que ela efetue a entrega do objeto (o agente recebe a coisa
mos a qualificadora do depósito necessário, mas sim a do inciso III de má-fé). Na apropriação de coisa havida por erro, o agente não
do parágrafo único (coisa recebida em razão de profissão). O pará- percebe que recebeu o objeto por equívoco; posteriormente toma
grafo único, inciso I, quando fala em depósito necessário, abrange conhecimento do engano e decide não devolver o bem (o agente
exclusivamente o depósito necessário miserável. recebe a coisa de boa-fé).
Note-se que no § 1.º houve um erro do legislador, pois trata-se
de parágrafo único, já que não existe nenhum outro. Apropriação de Coisa Achada - Artigo 169, parágrafo úni-
co, inciso II, do Código Penal
Tipifica a conduta de quem encontra coisa perdida (res des-
Apropriação Indébita Previdenciária – Artigo 168 - A, § 1.º
perdita) e dela se apodera no total ou em parte, deixando de devol-
(Lei n. 9.983/2000)
vê-la ao dono ou ao legítimo possuidor ou, ainda, de entregá-la à
“Deixar de repassar à Previdência Social as contribuições autoridade (policial ou judiciária) no prazo de 15 dias.
recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma legal ou con- Coisa perdida é a que se extraviou do dono em local público
vencional. ou aberto ao público. Coisa esquecida em local particular não equi-
Pena – reclusão, de 2 a 5 anos, e multa.” vale à coisa perdida, sendo, pois, objeto de furto. Também não se
Trata-se de modalidade de sonegação fiscal. considera coisa perdida a res derelicta(coisa abandonada) e a res
A apropriação indébita previdenciária pune a conduta de não nullius (coisa que nunca teve proprietário ou possuidor).
transferir as contribuições recolhidas dos contribuintes ao Instituto O delito se consuma após os 15 dias que a lei estabelece para
Nacional de Seguridade Social. a devolução, salvo se antes disso o agente deixa clara sua intenção
O crime consuma-se quando o prazo assinalado para o reco- de não devolver. É um “crime a prazo”.
lhimento se esgota. Trata-se de crime omissivo puro, por isso a Trata-se de infração de menor potencial ofensivo, nos termos
tentativa é inviável. da Lei n. 9.099/95.
As figuras descritas no § 1.º destinam-se ao contribuinte-
-empresário, que deve recolher a contribuição que arrecadou do Privilegiada
contribuinte. Nos termos do artigo 170, nos crimes previstos no Capítulo V
O § 2.º estabelece a extinção da punibilidade se o agente, an- (artigos 168 a 169) aplica-se o disposto no artigo 155, § 2.º.
tes do início da ação fiscal, espontaneamente, confessa, declara,
ESTELIONATO
paga e presta todas as informações que lhe forem solicitadas pela
Previdência.
Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita,
O § 3.º dispõe que, se o pagamento for feito após o início em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, me-
da ação fiscal (procedimento administrativo da Previdência, que diante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:
visa apurar o valor devido) e antes do oferecimento da denúncia, o Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos
juiz poderá aplicar somente a pena de multa ou conceder o perdão mil réis a dez contos de réis.
judicial. A providência é cabível se o réu for primário e de bons § 1º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o
antecedentes. prejuízo, o juiz pode aplicar a pena conforme o disposto no art.
155, § 2º.
Apropriação de Coisa Havida Por Erro (caput) - Artigo § 2º - Nas mesmas penas incorre quem:
169 do Código Penal I - vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou em
Dispõe o artigo 169, caput, do Código Penal: “Apropriar-se garantia coisa alheia como própria;
alguém de coisa alheia vinda ao seu poder por erro, caso for- II - vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia coisa
tuito ou força da natureza: própria inalienável, gravada de ônus ou litigiosa, ou imóvel que
Pena – detenção, de 1 (um) mês a 1 (um) ano, ou multa”. prometeu vender a terceiro, mediante pagamento em prestações,
Caracteriza-se pela entrega da coisa pela vítima, que se encon- silenciando sobre qualquer dessas circunstâncias;
tra em erro, ao agente. Erro é a representação falsa de algo. III - defrauda, mediante alienação não consentida pelo cre-
O erro pode se referir: dor ou por outro modo, a garantia pignoratícia, quando tem a
posse do objeto empenhado;
- à pessoa a quem deve ser entregue o objeto;
IV - defrauda substância, qualidade ou quantidade de coisa
- ao próprio objeto;
que deve entregar a alguém;
- à existência da obrigação. V - destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa própria,
ou lesa o próprio corpo ou a saúde, ou agrava as consequências
Distinções da lesão ou doença, com o intuito de haver indenização ou valor
A apropriação de coisa havida por erro distingue-se dos se- de seguro;
guintes crimes: VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em po-
Apropriação indébita (artigo 168), porque nesta a vítima não der do sacado, ou lhe frustra o pagamento.
está em erro. § 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido
Extorsão (artigo 158), no qual a vítima entrega o bem median- em detrimento de entidade de direito público ou de instituto de
te coação. economia popular, assistência social ou beneficência.

Didatismo e Conhecimento 131


NOÇÕES DE DIREITO
Caracteriza-se pelo emprego de fraude, para induzir ou manter Pergunta: Qual a responsabilização de quem falsifica docu-
a vítima em erro, convencendo-a a entregar seus pertences. Erro é mento para cometer estelionato?
a falsa percepção da realidade. Resposta: Há divergência:
Artifício é a utilização de algum aparato material para enganar Uma corrente aplica a Súmula n. 17 do Superior Tribunal de
(cheque, bilhete etc.). Ardil é a conversa enganosa. Pode ser cita- Justiça: “Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais po-
do, como exemplo de qualquer outro meio fraudulento, o silêncio tencialidade lesiva, é por este absorvido”. Exemplo: se o agente
empregado para manter a vítima em erro. falsifica um RG e o usa junto com o cheque da vítima, a potenciali-
dade lesiva do falso persiste, pois o agente, após entregar o cheque
Sujeito Ativo (cometendo estelionato – artigo 171, § 2.º, inciso VI, do Código
O sujeito ativo é qualquer pessoa. Penal), continua com o RG da vítima, podendo vir a praticar outros
Admite-se o concurso de pessoas. Exemplo: quando um em- crimes – não há absorção, o agente responderá pelos dois delitos.
prega a fraude e o outro obtém a indevida vantagem patrimonial. Uma outra corrente entende que há concurso material entre
falsificação de documento e estelionato. Não há absorção de um
Sujeito Passivo
crime por outro porque atingem bens jurídicos diversos, sendo
O sujeito passivo é qualquer pessoa, desde que determinada.
também diversas as vítimas. Ademais, não há unidade de conduta.
Não se pode denunciar por estelionato quando as vítimas são in-
determinadas. Em tais casos, pode se caracterizar crime contra a Ambos os crimes coexistem, mas em concurso formal. Con-
economia popular. Exemplo: adulteração de balança. A propósito, forme adverte o Prof. Damásio de Jesus, tecnicamente trata-se de
caracteriza crime contra a economia popular: “obter ou tentar obter concurso material, mas, por razões de política criminal, na juris-
ganhos ilícitos em detrimento do povo ou de número indetermina- prudência prevalece que há concurso formal. É a posição do Su-
do de pessoas mediante especulações ou processos fraudulentos premo Tribunal Federal.
(‘bola de neve’, ‘cadeias’, ‘pichardismo’, e quaisquer outros meios Outra corrente sustenta que o falso (documento público) ab-
equivalentes)” (artigo 2.º, inciso IX, da Lei n. 1.521/51). sorve o estelionato porque tem pena mais grave.
A vítima é a pessoa enganada que sofre o prejuízo material. Pergunta: Que se entende por fraude bilateral?
Pode haver mais de uma (a que é enganada e a que sofre o preju- Resposta: Há fraude bilateral quando a vítima também age de
ízo). má-fé. Exemplo: a vítima compra uma máquina de fazer dinheiro
que não passa de um truque.
Objetivo da Fraude Pergunta: No caso de fraude bilateral existe estelionato por
Provocar o equívoco da vítima (induzir em erro) ou manter o parte de quem ficou com o lucro?
erro em que já incorre a vítima, independentemente de prévia con- Resposta: A doutrina se divide:
duta do agente. O emprego da fraude deve ser anterior à obtenção Segundo Nelson Hungria não há crime, pois:
da vantagem ilícita. - a lei não pode amparar a má-fé da vítima;
- se no cível a pessoa não pode pedir a reparação do dano,
Consumação então também não há ilícito penal.
O crime é material. Se consuma com a efetiva obtenção da Na visão de Magalhães Noronha existe estelionato, pois:
vantagem ilícita (não há a expressão “com o fim de”, típica dos - a lei não pode ignorar a má-fé do agente com a qual obteve
crimes formais). Consuma-se, pois, no momento em que o agente uma vantagem ilegal;
aufere a vantagem econômica indevida e não no momento do em- - a boa-fé da vítima não é elementar do tipo;
prego da fraude. - o Direito Penal visa tutelar o interesse de toda a coletividade
O resultado no crime de estelionato é duplo: vantagem ilícita e não apenas o interesse particular da vítima.
e prejuízo alheio. Assim, se a vítima sofre o prejuízo, mas o agente
não obtém a vantagem, o crime é tentado. O agente responderá
Privilégio – Artigo 171, § 1.o, do Código Penal
por tentativa se obtiver a vantagem ilícita, sem causar prejuízo à
vítima.
Requisitos
Tentativa Pequeno valor do prejuízo. Não deve superar um salário mí-
A tentativa é possível. Mas, se a fraude é meio inidôneo para nimo. O valor do prejuízo deve ser apurado no momento de sua
enganar a vítima, o crime é impossível por absoluta ineficácia do consumação. No caso de tentativa, leva-se em conta o prejuízo que
meio (artigo 17 do Código Penal). A inidoneidade do meio deve o agente pretendia causar à vítima.
ser analisada de acordo com as circunstâncias pessoais da vítima. Que o agente seja primário.
Se o meio é idôneo, mas, acidentalmente, se mostrou ineficaz, há As consequências são as mesmas do furto privilegiado, se-
tentativa. gundo o artigo 155, § 2.º, do Código Penal. Aplica-se às figuras do
caput e do § 2.º, que não são qualificadoras.
Observações Não se trata de faculdade, mas sim de direito do réu.
Se o agente diz que, de alguma forma, irá influir em funcioná-
rio público para beneficiar a vítima, comete o crime de tráfico de Disposição de Coisa Alheia Como Própria – Artigo 171, §
influência (artigo 332 do Código Penal). 2.º, inciso I, do Código Penal
Qualquer banca de jogo de azar é ilegal e o agente pratica a “§ 2.º Nas mesmas penas incorre quem: I – vende, permu-
contravenção do artigo 50 da Lei das Contravenções Penais, exce- ta, dá em pagamento, em locação ou em garantia coisa alheia
to se há emprego de fraude com o fim de excluir a possibilidade de como própria;”
ganho – nesse caso tem-se estelionato.

Didatismo e Conhecimento 132


NOÇÕES DE DIREITO
O fato consuma-se com o recebimento da vantagem. Pressuposto do crime é a existência de contrato de seguro vá-
Não é necessária a tradição ou inscrição no registro do objeto lido e vigente ao tempo da ação.
da venda. O sujeito ativo é o segurado; o sujeito passivo, o segurador.
O silêncio do agente a respeito da propriedade da coisa é im- Nada impede que terceiro intervenha no comportamento típi-
prescindível. A ciência do adquirente exclui o delito. co, respondendo também pelo crime. Na hipótese de lesão causada
É admissível a tentativa. no segurado, o terceiro responde por dois crimes: estelionato e le-
Tem-se entendido que, se o agente está na posse ou na deten- são corporal.
ção do objeto material e o aliena, responde somente por apropria- Nessa modalidade, é crime formal, pois basta que se realize a
ção indébita. conduta, independentemente da obtenção da vantagem indevida.
Não é necessário que o autor do fato seja o beneficiário do contrato
Alienação ou Oneração Fraudulenta de Coisa Própria – Artigo
de seguro, podendo ocorrer que terceiro venha a receber o valor da
171, § 2.º, inciso II, do Código Penal
“§ 2.º Nas mesmas penas incorre quem: ...II – vende, per- indenização.
muta, dá em pagamento ou em garantia coisa própria inaliená- Admite-se a tentativa.
vel, gravada de ônus ou litigiosa, ou imóvel que prometeu ven-
der a terceiro, mediante pagamento em prestações, silenciando Fraude no Pagamento por Meio de Cheque – Artigo 171, §
sobre qualquer dessas circunstâncias;” 2.o, inciso VI, do Código Penal
“§ 2.º Nas mesmas penas incorre quem:...VI – emite che-
O silêncio do agente constitui a fraude. que, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou
A inalienabilidade pode ser legal ou convencional (imposta lhe frustra o pagamento.”
por doador ou testador).
A simples promessa de venda não configura o delito. O delito Emitir é preencher, assinar e colocar em circulação (entregar
consuma-se com a obtenção da vantagem. a alguém).
A tentativa é admissível. Trata-se de crime doloso, não admitindo a modalidade culpo-
sa. Para configurar o crime, o agente deve ter consciência da falta
Defraudação de Penhor – Artigo 171, § 2.º, inciso III, do de provisão de fundos quando da emissão do cheque. Súmula n.
Código Penal 246 do Supremo Tribunal Federal: “Comprovado não ter havido
“§ 2.º Nas mesmas penas incorre quem:...III – defrauda, fraude, não se configura o crime de emissão de cheques sem fun-
mediante alienação não consentida pelo credor ou por outro
dos”.
modo, a garantia pignoratícia, quando tem a posse do objeto
Frustrar o pagamento do cheque é o segundo núcleo do cri-
empenhado;”
me. Caracteriza-se pela existência de fundos no momento da emis-
Trata-se da espécie de penhor em que, pelo efeito da clausula são e o posterior impedimento do recebimento do valor, como, por
constituti, a coisa móvel empenhada continua em poder do deve- exemplo, sustação de cheque, saque do valor antes da apresentação
dor. do cheque etc.
O sujeito ativo é somente o devedor do contrato de penhor.
Se tiver o consentimento do credor não comete crime. Consumação
A defraudação de penhor consiste em defraudar o objeto ma- A consumação ocorre quando o banco sacado se recusa a efe-
terial que constitui a garantia pignoratícia. Trata-se de crime ma- tuar o pagamento, pois é nesse momento que ocorre o prejuízo.
terial, exigindo-se a efetiva defraudação da garantia pignoratícia. Trata-se de crime material.
Consuma-se com a alienação, a ocultação, o desvio, a substituição, Súmula n. 521 do Supremo Tribunal Federal: “O foro compe-
o consumo, o abandono etc. da coisa dada em garantia. tente para o processo e o julgamento dos crimes de estelionato, sob
a modalidade da emissão dolosa de cheque sem provisão de fun-
Fraude na Entrega de Coisa - Artigo 171, § 2.º, inciso IV, dos, é o do local onde se deu a recusa do pagamento pelo sacado”.
do Código Penal No caso de o agente emitir dolosamente um cheque sem fun-
“§ 2.º Nas mesmas penas incorrer quem:...IV – defrauda dos, mas, antes da consumação, se arrepender e depositar o valor,
substância, qualidade ou quantidade de coisa que deve entre- ocorre o arrependimento eficaz que exclui o crime (artigo 15 do
gar a alguém;”
Código Penal).
Se, por outro lado, o agente arrepender-se após a consumação
O sujeito ativo é aquele que tem a obrigação de entregar a
coisa a alguém. do crime, incide a Súmula n. 554 do Supremo Tribunal Federal:
A ação incide sobre a qualidade, quantidade ou substância. “O pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos, após
Consuma-se com a tradição do objeto material. Admite-se a o recebimento da denúncia, não obsta ao prosseguimento da ação
tentativa. penal”. Assim, se o pagamento efetuado após a denúncia não obsta
a ação penal, o pagamento efetuado antes da denúncia, impede a
2.12. Fraude para Recebimento de Indenização ou Valor ação penal. Esse era o entendimento antes da reforma de 1984.
de Seguro – Artigo 171, § 2.º, inciso V, do Código Penal Com a reforma penal de 1984, posterior à edição dessa sú-
“§ 2.º Nas mesmas penas incorrer quem:...V – destrói, total mula, surgiu o instituto do arrependimento posterior (artigo 16
ou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio corpo do Código Penal), que impõe a redução da pena na hipótese de o
ou a saúde, ou agrava as consequências da lesão ou doença, com o agente se arrepender após a consumação do crime, mas antes do
intuito de haver indenização ou valor de seguro;” oferecimento da denúncia.

Didatismo e Conhecimento 133


NOÇÕES DE DIREITO
O Pretório Excelso, porém, reexaminando a questão manteve, Abuso de incapazes
por razões de política criminal, seu entendimento anterior à Lei n. Art. 173 - Abusar, em proveito próprio ou alheio, de neces-
7.209/84. Destarte, a súmula continua sendo aplicada. sidade, paixão ou inexperiência de menor, ou da alienação ou
A reparação do dano, feita após o recebimento da denúncia, é debilidade mental de outrem, induzindo qualquer deles à prática
mera atenuante genérica. de ato suscetível de produzir efeito jurídico, em prejuízo próprio
ou de terceiro:
Tentativa Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
A tentativa existe nas duas modalidades. Exemplo: o agente
atua com dolo, mas esquece que tem dinheiro na conta e o banco Induzimento à especulação
paga o cheque. O agente quis o estelionato, mas por circunstâncias Art. 174 - Abusar, em proveito próprio ou alheio, da inexpe-
alheias à sua vontade o crime não se consumou. riência ou da simplicidade ou inferioridade mental de outrem,
induzindo-o à prática de jogo ou aposta, ou à especulação com
Observação títulos ou mercadorias, sabendo ou devendo saber que a opera-
O delito em estudo pressupõe que a emissão do cheque sem ção é ruinosa:
fundos tenha sido a fraude empregada pelo agente para induzir Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
a vítima em erro e convencê-la a entregar o objeto. Não há cri-
me quando o prejuízo preexiste em relação à emissão do cheque Fraude no comércio
(exemplo: empréstimo e posterior pagamento com cheque sem Art. 175 - Enganar, no exercício de atividade comercial, o
fundos). Pela mesma razão, não há crime quando o cheque é en- adquirente ou consumidor:
tregue em substituição a outro título de crédito anteriormente emi- I - vendendo, como verdadeira ou perfeita, mercadoria falsi-
tido. ficada ou deteriorada;
Se o agente encerra sua conta corrente, mas continua emitindo II - entregando uma mercadoria por outra:
cheques que manteve em seu poder, configura o crime de estelio- Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
nato (artigo 171, caput, do Código Penal). É o estelionato do caput § 1º - Alterar em obra que lhe é encomendada a qualidade ou
porque a fraude preexiste em relação à emissão do cheque. o peso de metal ou substituir, no mesmo caso, pedra verdadeira
por falsa ou por outra de menor valor; vender pedra falsa por
Inexiste crime quando o cheque é emitido para pagamento de
verdadeira; vender, como precioso, metal de ou outra qualidade:
dívida de conduta ilícita (jogo, por exemplo).
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
A natureza jurídica do cheque é de ordem de pagamento à
§ 2º - É aplicável o disposto no art. 155, § 2º.
vista. Qualquer atitude que desconfigure essa natureza afasta o de-
lito em análise (exemplos: cheque pré-datado, cheque dado como
Outras fraudes
garantia etc.).
Art. 176 - Tomar refeição em restaurante, alojar-se em hotel
O desconto do cheque fora do prazo para apresentação desca-
ou utilizar-se de meio de transporte sem dispor de recursos para
racteriza o delito. efetuar o pagamento:
O pagamento com cheque roubado caracteriza estelionato Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa.
simples. Parágrafo único - Somente se procede mediante representa-
ção, e o juiz pode, conforme as circunstâncias, deixar de aplicar
Artigo 171, § 3.o, do Código Penal – Causa de Aumento a pena.
de Pena
Aumenta-se a pena em 1/3: Fraudes e abusos na fundação ou administração de socie-
Se o estelionato é praticado contra entidade de direito público. dade por ações
Súmula n. 24 do Supremo Tribunal Federal: “Aplica-se ao crime Art. 177 - Promover a fundação de sociedade por ações, fa-
de estelionato, em que figure como vítima entidade autárquica da zendo, em prospecto ou em comunicação ao público ou à as-
Previdência Social, a qualificadora do § 3.º do artigo 171 do Có- sembléia, afirmação falsa sobre a constituição da sociedade, ou
digo Penal”. ocultando fraudulentamente fato a ela relativo:
Se é praticado contra entidade assistencial, beneficente ou Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, se o fato não
contra instituto de economia popular, pois o prejuízo não atinge constitui crime contra a economia popular.
apenas as entidades, mas sim todos os seus beneficiários. § 1º - Incorrem na mesma pena, se o fato não constitui crime
contra a economia popular:
Duplicata simulada I - o diretor, o gerente ou o fiscal de sociedade por ações,
Art. 172 - Emitir fatura, duplicata ou nota de venda que não que, em prospecto, relatório, parecer, balanço ou comunicação
corresponda à mercadoria vendida, em quantidade ou qualidade, ao público ou à assembleia, faz afirmação falsa sobre as condi-
ou ao serviço prestado. ções econômicas da sociedade, ou oculta fraudulentamente, no
Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. todo ou em parte, fato a elas relativo;
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrerá aquele que II - o diretor, o gerente ou o fiscal que promove, por qual-
falsificar ou adulterar a escrituração do Livro de Registro de quer artifício, falsa cotação das ações ou de outros títulos da
Duplicatas. sociedade;
III - o diretor ou o gerente que toma empréstimo à sociedade
ou usa, em proveito próprio ou de terceiro, dos bens ou haveres
sociais, sem prévia autorização da assembleia geral;

Didatismo e Conhecimento 134


NOÇÕES DE DIREITO
IV - o diretor ou o gerente que compra ou vende, por conta § 6º - Tratando-se de bens e instalações do patrimônio da
da sociedade, ações por ela emitidas, salvo quando a lei o per- União, Estado, Município, empresa concessionária de serviços
mite; públicos ou sociedade de economia mista, a pena prevista no ca-
V - o diretor ou o gerente que, como garantia de crédito so- put deste artigo aplica-se em dobro
cial, aceita em penhor ou em caução ações da própria sociedade;
VI - o diretor ou o gerente que, na falta de balanço, em de- Trata-se de crime acessório, cuja existência pressupõe a práti-
sacordo com este, ou mediante balanço falso, distribui lucros ou ca de um delito antecedente (crime pressuposto). O tipo menciona
dividendos fictícios; “produto de crime” para a caracterização da receptação, portanto,
VII - o diretor, o gerente ou o fiscal que, por interposta pes- aquele que tem sua conduta ligada a uma contravenção anterior
soa, ou conluiado com acionista, consegue a aprovação de conta não comete receptação.
ou parecer; A receptação é crime contra o patrimônio, porém, o crime an-
VIII - o liquidante, nos casos dos ns. I, II, III, IV, V e VII; tecedente não precisa estar previsto no título dos crimes contra o
IX - o representante da sociedade anônima estrangeira, au- patrimônio, mas é necessário que cause prejuízo a alguém (exem-
torizada a funcionar no País, que pratica os atos mencionados plo: receber coisa produto de peculato).
A receptação é crime de ação pública incondicionada, inde-
nos ns. I e II, ou dá falsa informação ao Governo.
pendente da espécie de ação do crime anterior.
§ 2º - Incorre na pena de detenção, de seis meses a dois anos,
Existe receptação de receptação, e de acordo com Victor E.
e multa, o acionista que, a fim de obter vantagem para si ou para
Rios Gonçalves “respondem pelo crime todos aqueles que, nas su-
outrem, negocia o voto nas deliberações de assembleia geral.
cessivas negociações envolvendo o objeto, tenham ciência da ori-
gem espúria do bem. Desse modo, ainda que tenha ocorrido uma
Emissão irregular de conhecimento de depósito ou “war- quebra na seqüência, haverá receptação. Exemplo: o receptador
rant” A vende o objeto para B, que não sabe da origem ilícita e, por sua
Art. 178 - Emitir conhecimento de depósito ou warrant, em vez, vende-o a C, que tem ciência da origem espúria do objeto.
desacordo com disposição legal: É óbvio que nesse caso A e C respondem pela receptação, pois o
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. objeto não deixa de ser produto de furto apenas porque B não sabia
da sua procedência”.
Fraude à execução
Art. 179 - Fraudar execução, alienando, desviando, des- Artigo 180, § 4.o, do Código Penal
truindo ou danificando bens, ou simulando dívidas: Trata-se de norma penal explicativa que dispõe sobre a auto-
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. nomia da receptação, traçando duas regras: a receptação é punível
Parágrafo único - Somente se procede mediante queixa. ainda que desconhecido o autor do crime antecedente, ou isento
de pena.
RECEPTAÇÃO São causas de isenção de pena que não atingem o delito de
receptação:
Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocul- - excludentes de culpabilidade (exemplo: inimputabilidade);
tar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de - escusas absolutórias (artigo 181 do Código Penal).
crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba
ou oculte: Assim, comete crime de receptação quem adquire objeto fur-
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. tado por um alienado mental, por exemplo.
§ 1º - Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em De acordo com o disposto no artigo 108 do Código Penal, a
depósito, desmontar, montar, remontar, vender, expor à venda, extinção da punibilidade do crime anterior não atinge o delito que
ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, dele dependa, salvo duas exceções: abolitio criminis e anistia.
no exercício de atividade comercial ou industrial, coisa que deve
Sujeito Ativo
saber ser produto de crime:
Pode ser praticado por qualquer pessoa, desde que não seja o
Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa.
autor, coautor ou partícipe do delito antecedente.
§ 2º - Equipara-se à atividade comercial, para efeito do pa-
O advogado não se exime do crime com o argumento de que
rágrafo anterior, qualquer forma de comércio irregular ou clan- está recebendo honorários advocatícios.
destino, inclusive o exercício em residência.
§ 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou Sujeito Passivo
pela desproporção entre o valor e o preço, ou pela condição de É a mesma vítima do crime antecedente.
quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso: O tipo não exige que a coisa seja alheia, no entanto, o pro-
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou ambas prietário do objeto não comete receptação quando adquire o bem
as penas. que lhe havia sido subtraído, porque não se pode ser sujeito ativo e
§ 4º - A receptação é punível, ainda que desconhecido ou passivo de um mesmo crime. Tem-se como exceção o mútuo pig-
isento de pena o autor do crime de que proveio a coisa. noratício – alguém toma um empréstimo e deixa com o credor uma
§ 5º - Na hipótese do § 3º, se o criminoso é primário, pode o garantia. Terceiro furta o objeto, sem qualquer participação do pro-
juiz, tendo em consideração as circunstâncias, deixar de aplicar prietário, e oferece a esse, que adquire com o intuito de favorecer-
a pena. Na receptação dolosa aplica-se o disposto no § 2º do art. -se. Há receptação porque o patrimônio do credor foi lesado com
155. a perda da garantia.

Didatismo e Conhecimento 135


NOÇÕES DE DIREITO
Objeto Material Receptação imprópria – artigo 180, “caput”, segunda parte,
A coisa deve ser produto de crime ainda que tenha sido modi- do Código Penal
ficado, como, por exemplo, o furto de automóvel – há receptação A receptação imprópria consiste em influir para que terceiro,
mesmo que sejam adquiridas apenas algumas peças. de boa-fé, adquira, receba ou oculte objeto produto de crime.
O instrumento do crime (arma, chave falsa etc.) não constitui Influir significa persuadir, convencer etc.
objeto do crime de receptação, pois não é produto de crime. A pessoa que influi recebe o nome de intermediário, não po-
dendo ser o autor do delito antecedente e, necessariamente, tem de
Pergunta: Um imóvel pode ser objeto de receptação? conhecer a origem espúria do bem, enquanto o terceiro (adquiren-
Resposta: A doutrina não é pacífica: te) deve desconhecer o fato.
Como a lei não exige que a coisa seja móvel, tal como faz Quem convence um terceiro de má-fé é partícipe da recepta-
em alguns delitos (exemplo: artigo 155 do Código Penal), Fragoso ção desse.
entende que pode ser objeto de receptação.
Na opinião dos Professores Damásio de Jesus, Nelson Hun- Consumação
gria e Magalhães Noronha, a palavra receptação pressupõe o des- A consumação ocorre no exato instante em que o agente man-
tém contato com o terceiro de boa-fé, ainda que não o convença a
locamento do objeto, tornando prescindível que o tipo especifique
adquirir, receber ou ocultar. É crime formal. Assim, não se admite
“coisa móvel”; dessa forma, excluem a possibilidade de um imó-
tentativa, pois ou o agente manteve contato com o terceiro confi-
vel ser objeto de receptação. Essa é a posição do Supremo Tribunal
gurando-se o crime ou não, tornando-se fato atípico.
Federal. É também a nossa posição.
Causa de Aumento – Artigo 180, § 6.o, do Código Penal
Receptação Dolosa Simples – Artigo 180, caput, do Código Se o objeto é produto de crime contra a União, o Estado, o
Penal Município, concessionária de serviço público ou sociedade de eco-
Receptação própria – artigo 180, “caput”, primeira parte, nomia mista, a pena do caput aplica-se em dobro.
do Código Penal O agente deve saber que o produto do crime atingiu uma das
São cinco as condutas típicas: entidades mencionadas. Se assim não fosse, haveria responsabili-
- adquirir: obter a propriedade a título oneroso ou gratuito; dade objetiva.
- receber: obter a posse (tomar emprestado); Repise-se que a figura do § 6.o só se aplica à receptação dolosa
- transportar: levar de um lugar para outro. do caput.
- conduzir: estar na direção de meio de transporte;
- ocultar: esconder. Receptação Qualificada – Artigo 180, § 1.o, do Código Pe-
nal
As duas últimas figuras foram introduzidas no Código Penal A pena é de reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa se o
pela Lei n. 9.426/96. crime é praticado por comerciante ou industrial no exercício de
Na receptação dolosa do caput aplica-se o privilégio previsto suas atividades, que deve saber da origem criminosa do bem.
no § 2.º do artigo 155 do Código Penal, como dispõe a segunda O nomem juris está incorreto, pois não se trata de qualificado-
parte do § 5.º do artigo 180 do Código Penal. ra, mas sim de um tipo autônomo que contém verbos não previstos
no caput. Além disso, é crime próprio, pois só pode ser cometido
Consumação por comerciante ou industrial.
É delito material. Consuma-se quando o agente adquire, rece-
be, oculta, conduz ou transporta, sendo que os três últimos núcleos Interpretação da expressão “deve saber”:
tratam de crime permanente cuja consumação protrai-se no tempo, - segundo os Professores Celso Delmanto e Paulo José da
permitindo o flagrante a qualquer momento. Costa Júnior, trata-se de dolo eventual.
- segundo Nelson Hungria e Magalhães Noronha, significa
culpa.
Tentativa
A tentativa é possível.
Pergunta: Como punir o comerciante que sabe da proce-
dência ilícita (dolo direto)?
Elemento subjetivo Resposta: A questão não é pacífica:
É o dolo direto. O agente deve ter efetivo conhecimento da O § 1.º tanto prevê as condutas de quem sabe (dolo direto)
origem ilícita do objeto. quanto as de quem deve saber (dolo eventual), visto que, embora
Não basta o dolo eventual. Se assim agir, o fato será enquadra- empregue somente a expressão “deve saber”, a conduta de quem
do na modalidade culposa do crime. sabe encontra-se abrangida, pois se praticar a conduta com dolo
A receptação distingue-se do favorecimento real (artigo 349 eventual qualifica o crime, por óbvio que praticá-la com dolo dire-
do Código Penal) porque neste o agente oculta o proveito do crime to também deve qualificar. É a nossa opinião.
pretendendo auxiliar o infrator; já na receptação, o fato é praticado Para o Prof. Damásio de Jesus, o comerciante que “sabe”
em proveito próprio ou alheio, ou seja, há intenção de lucro e não (dolo direto) só pode ser punido pela figura simples do caput, en-
de favorecer o sujeito ativo do delito anterior. quanto o comerciante que “deve saber” responde pela forma quali-
O dolo subsequente não configura o delito, como no caso de o ficada do § 1.o. Como essa interpretação poderia gerar condenação
agente vir a descobrir posteriormente que a coisa por ele adquirida injusta, pois a conduta mais grave (dolo direto) teria pena menor,
é produto de crime. o Prof. Damásio de Jesus entende que nos dois casos (dolo direto e
eventual) deve ser aplicada a pena do caput.

Didatismo e Conhecimento 136


NOÇÕES DE DIREITO
Artigo 180, § 2.o, do Código Penal Art. 183 - Não se aplica o disposto nos dois artigos anterio-
É uma norma de extensão, pois explica o que se deve entender res:
por “atividade comercial”. I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quan-
Para efeito do § 1.º, considera-se comerciante aquele que do haja emprego de grave ameaça ou violência à pessoa;
exerce sua atividade de forma irregular ou clandestina, inclusive II - ao estranho que participa do crime.
a exercida em residência. Citamos como exemplo o camelô e o III - se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou
desmanche ilegal. superior a 60 (sessenta) anos.

Receptação Culposa – Artigo 180, § 3.o, do Código Penal


Adquirir e receber são os verbos do tipo, que excluiu a condu- 2.3.8 DOS CRIMES CONTRA A
ta ocultar por se tratar de hipótese reveladora de dolo. DIGNIDADE SEXUAL
Os crimes culposos, em geral, têm o tipo aberto. A lei não
descreve as condutas, cabendo ao juiz a análise do caso concreto.
A receptação culposa é exceção, pois a lei descreve os parâmetros
ensejadores da culpa: ESTUPRO
Natureza do objeto: certos objetos exigem maiores cuidados Art. 213 — Constranger alguém, mediante violência ou gra-
quando de sua aquisição. Exemplo: no caso de armas de fogo de- ve ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que
ve-se exigir o registro. com ele se pratique outro ato libidinoso:
Desproporção entre o valor de mercado e o preço pago: deve Pena — reclusão, de seis a dez anos.
haver uma desproporção considerável, que faça surgir no homem
médio uma desconfiança. Tipo objetivo. Constranger significa obrigar, coagir alguém
Condição do ofertante: quando é pessoa desconhecida ou que a fazer algo contra a vontade, e, por isso, se existe consentimento
não tem condições de possuir o objeto, como, por exemplo, no válido da vítima, não há crime. Dessa forma, pode-se concluir que
caso do mendigo que oferece um relógio de ouro. o dissenso é pressuposto do crime. Deve ser, ainda, um dissenso
sério, que demonstre não ter a vítima aderido à conduta do agente.
O tipo abrange o dolo eventual. Entendem a doutrina e a ju- Não se exige, entretanto, uma resistência heroica por parte dela,
risprudência que o dolo eventual não se adapta à hipótese do caput que lute até as últimas forças, pois estaria correndo risco de morte.
do artigo 180 do Código Penal, que pune apenas o dolo direto, Importante alteração foi trazida pela Lei n. 12.015/2009, que
enquadrando-se na receptação culposa prevista no § 3.º do artigo. deixou de distinguir crimes de estupro e atentado violento ao pu-
dor, unindo-os sob a nomenclatura única de estupro. Pela legisla-
Consumação ção antiga,o estupro só se configurava pela prática de conjunção
Ocorre consumação quando a compra ou o recebimento se carnal (penetração do pênis na vagina), de modo que só podia ser
efetivam. cometido por homem contra mulher. Já o atentado violento ao pu-
dor se constituía pela prática de qualquer outro ato de libidinagem
Tentativa (sexo anal, oral, introdução do dedo na vagina da vítima etc.), e
Não cabe tentativa, porque não se admite tentativa de crime podia ser cometido por homem ou mulher contra qualquer outra
culposo. pessoa. Pela nova lei, todavia, haverá estupro quer tenha havido
conjunção carnal, quer tenha sido praticado por qualquer outro
Artigo 180, § 5.o, do Código Penal tipo de ato sexual.
O parágrafo prevê, na primeira parte, o perdão judicial, que A conjunção carnal, como já mencionado, ocorre com a pene-
somente é aplicado à receptação culposa, desde que: tração, ainda que parcial, do pênis na vagina. Em relação a outros
- o agente seja primário; atos de libidinagem, o crime existe quer o agente tenha obrigado a
- o juiz considere as circunstâncias. vítima a praticar o ato, tendo um posicionamento ativo na relação
(masturbar o agente, nele fazer sexo oral etc.), quer a tenha obri-
Trata-se de direito subjetivo do réu e não de faculdade do juiz gado a permitir que nela se pratique o ato, tendo posicionamento
em aplicá-lo – não obstante a existência da expressão pode. passivo na relação (a receber sexo oral, a permitir que o agente
introduza o dedo em seu ânus ou vagina, ou o pênis em seu ânus
Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos cri- etc.).
mes previstos neste título, em prejuízo: Além dos exemplos já mencionados (sexo oral e anal e da
I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal; introdução do dedo na vagina ou ânus da vítima) podem ser apon-
II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo tados inúmeros outros atos libidinosos que também configuram
ou ilegítimo, seja civil ou natural. crime de estupro: passar a mão nos seios da vítima ou em suas
nádegas, esfregar o órgão sexual no corpo dela, introduzir objeto
Art. 182 - Somente se procede mediante representação, se o em seu ânus ou vagina etc.
crime previsto neste título é cometido em prejuízo: O beijo lascivo, dado com eroticidade, caso praticado com
I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado; emprego de violência ou grave ameaça, caracteriza o crime.
II - de irmão, legítimo ou ilegítimo; Para a configuração do estupro é desnecessário que haja con-
III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita. tato físico entre a vítima e o agente, bastando, por exemplo, que o
sujeito a obrigue a se automasturbar. Aliás, nem mesmo se exige

Didatismo e Conhecimento 137


NOÇÕES DE DIREITO
que o agente esteja fisicamente envolvido no ato, de forma que o O estupro admite coautoria e participação. Será considerado
crime também se configura quando a vítima é obrigada a realizar o coautor aquele que empregar violência ou grave ameaça contra a
ato sexual em terceiro ou até em animais. O que é pressuposto do vítima (ato executório), sem, entretanto, realizar conjunção carnal
crime, em verdade, é o envolvimento corpóreo da vítima no ato de ou qualquer ato libidinoso com ela. Haverá participação por parte
libidinagem. Por isso, se ela simplesmente for obrigada a assistir de quem concorrer para o crime sem realizar qualquer ato execu-
a um ato sexual envolvendo outras pessoas, o crime configurado tório, como no caso de quem incentiva verbalmente um amigo a
será o constrangimento ilegal (art. 146), ou, se a vítima for menor cometer o estupro.
de quatorze anos, o crime de satisfação da lascívia mediante pre- Sujeito passivo. A vítima também pode ser homem ou mu-
sença de criança ou adolescente (art. 218-A). lher. A conjunção carnal após a morte da vítima constitui crime de
vilipêndio a cadáver (art. 212 do CP).
O crime de estupro pode caracterizar-se ainda que a roupa da
Atualmente é pacífico que marido pode cometer estupro con-
vítima não seja tirada, como na hipótese de o agente deitar-se so-
tra a própria esposa, e vice-versa, pois o art. 226, II, do Código Pe-
bre ela ou passar a mão em seu órgão genital, por sobre as vestes. nal, com a redação dada pela Lei n. 11.106/2005, passou a prever
Prevalece o entendimento de que a simples conduta de obrigar a um aumento de metade da pena sempre que o crime sexual tiver
vítima a tirar a roupa, sem obrigá-la a prática de qualquer ato se- sido cometido por cônjuge ou companheiro. Tal regra, por estar
xual (contemplação lasciva), configura crime de constrangimento no Capítulo das Disposições Gerais, aplica-se a todos os crimes
ilegal. Argumenta-se que ficar nu, por si só, não é ato libidinoso. sexuais.
Saliente-se que, como o tipo penal exige um ato de natureza sexu- Consumação. Esse tema perdeu um pouco da importância
al, não se configura o delito quando o agente se limita ao uso de pa- após a Lei n. 12.015/2009 ter passado a tratar a prática de qualquer
lavras para fazer propostas indecorosas à vítima, hipótese em que ato de libidinagem como estupro.
se configura a contravenção de importunação ofensiva ao pudor A conjunção carnal consuma-se com a introdução, ainda que
(art. 61 da LCP). Quando o agente, intencionalmente, se encosta parcial, do pênis na vagina. Contudo, se antes disso o agente já
na vítima aproveitando-se da lotação e do movimento de um cole- realizou outro ato sexual independente, o crime já está consumado.
tivo, incorre também na figura contravencional, com o argumento Tentativa. É possível quando o agente emprega a violência ou
grave ameaça e não consegue realizar qualquer ato sexual com a
de que não houve violência física ou grave ameaça nesse caso.
vítima por circunstâncias alheias à sua vontade.
O estupro sempre pressupõe o emprego de violência ou grave Elemento subjetivo. É o dolo. O texto legal não exige que o
ameaça. agente tenha a específica intenção de satisfazer sua libido, seu ape-
Violência é toda forma de agressão ou de força física para tite sexual. Assim, também configura-se o estupro quando a inten-
dominar a vítima e viabilizar a conjunção carnal ou outro ato de ção do agente é vingar-se da vítima, humilhando-a com a prática
libidinagem. Configuram-na a agressão a socos e pontapés, o ato do ato sexual, ou quando o faz por motivo de aposta.
de amarrar a vítima, de derrubá-la no chão e deitar-se sobre ela etc. Concurso:
Na legislação atual, o estupro é sempre cometido mediante violên- a) Se no mesmo contexto fático o agente mantém mais de uma
cia real (física). A Lei n. 12.015/2009, deixou de prever a presun- conjunção carnal com a mesma vítima, responde por crime único
ção de violência como forma de execução do estupro, passando a de estupro. Entretanto, se duas pessoas em concurso revezam-se
tratar a relação sexual com menores de quatorze anos, deficientes na prática da conjunção carnal (curra), respondem por dois crimes
mentais ou pessoas que não possam oferecer resistência, com a de estupro (por autoria direta em um fato e coautoria no outro).
denominação “estupro de vulnerável”, previsto no art. 217-A, que Nesses casos, a jurisprudência tem entendido ser aplicável o crime
continuado. Haverá, também, um aumento de um quarto na pena
tem pena mais grave em face da condição da vítima.
por terem os delitos sido cometidos mediante concurso de pessoas
Grave ameaça é a promessa de mal injusto e grave, a ser cau- (art. 226, I, do CP, com a redação dada pela Lei n. 11.106/2005).
sado na própria vítima do ato sexual ou em terceiro. b) Se o agente, em momentos diversos, mantém conjunção
É possível a responsabilização penal por crime de estupro até carnal com a mesma mulher, há crime continuado (se os crimes fo-
mesmo em virtude de omissão. Ex.: mãe que nada faz para evitar rem praticados sob o mesmo modo de execução, na mesma cidade
que seu companheiro mantenha relações sexuais com a filha de e sem que tenha decorrido mais de um mês entre uma conduta e
quinze anos de idade. A mãe tinha o dever jurídico de proteção. outra) ou concurso material (caso ausente algum dos requisitos do
Tendo permitido pacificamente a prática do delito ou sua reitera- crime continuado). Ex.: pai que estupra a filha por diversas ocasi-
ção (quando cientificada de atos anteriores), responde pelo crime ões, durante vários meses ou até durante anos.
juntamente com o companheiro. Se a vítima tinha menos de qua- c) Se em um mesmo contexto fático o agente estupra duas
torze anos, responderão por crime de estupro de vulnerável (art. vítimas, responde pelos dois crimes (duas ações) em continuação
217-A). delitiva.
Sujeito ativo. Com as alterações trazidas pela Lei n. 12.015/ Nessa hipótese, é aplicável a regra do art. 71, parágrafo único,
do Código Penal, que, segundo estabelece, no crime continuado
2009, o crime de estupro pode ser praticado por qualquer pessoa,
praticado dolosamente, mediante violência ou grave ameaça con-
homem ou mulher. Trata-se de crime comum. O homem que for-
tra vítimas diversas, o Juiz pode até triplicar a pena. Observe-se,
ça uma mulher a uma conjunção carnal (penetração do pênis na entretanto, que, sendo apenas duas as vítimas, o Juiz não poderá
vagina), responde por estupro. A mulher que obriga um homem a aplicar o aumento máximo, limitando-se a duplicá-la.
penetrá-la também responde por tal crime (na legislação anterior d) O art. 130, caput, do Código Penal prevê o crime de perigo
configurava apenas constrangimento ilegal). O homem que força de contágio venéreo, punindo quem sabe ou deve saber que está
outro homem ou uma mulher que força outra mulher à prática de acometido de doença venérea e, mesmo assim, mantém relação
sexo oral responde por estupro. sexual com a vítima, sem intenção de transmitir a doença.

Didatismo e Conhecimento 138


NOÇÕES DE DIREITO
Dessa forma, o estuprador que sabe ou deve saber estar conta- Essas figuras qualificadas (lesão grave ou morte) são exclusi-
minado, responde pelo crime de estupro em concurso formal com vamente preterdolosasem razão do montante de pena previsto em
o mencionado delito de perigo. abstrato.
e) O art. 130, § 1o, do Código Penal, por sua vez, descreve Assim, pressupõem que haja dolo quanto ao estupro e culpa
uma forma qualificada do crime de perigo de contágio venéreo, em relação ao resultado agravador. Por isso o julgamento cabe ao
para a hipótese em que o agente, sabendo ou devendo saber da juízo singular e não ao Tribunal do Júri.
doença, pratica o ato sexual, querendo transmiti-la à vítima. Se ficar demonstrado que houve dolo de provocar lesão gra-
Nesse caso, se a conduta for praticada por ocasião de um es- ve ou morte, o agente responde por estupro simples em concurso
tupro, haverá também concurso formal entre os crimes. Acontece, material com o crime de lesão corporal grave ou homicídio dolo-
contudo, que nessa hipótese será aplicado o denominado concurso so. Assim, quando o agente estupra a vítima e, em seguida, inten-
formal impróprio (imperfeito), que determina a soma das penas cionalmente, a mata para assegurar sua impunidade, responde por
quando o agente, com uma só ação, visa efetivamente produzir crimes de estupro simples em concurso material com homicídio
dois resultados (art. 70, caput, 2a parte). De ver-se, ainda, que, qualificado.
por se tratar de crime de perigo, pressupõe que não ocorra a trans- Se o agente tenta estuprar a vítima e não consegue e, por isso,
missão da moléstia. Se houver, afasta-se a incidência do crime do
comete homicídio e, em seguida, pratica ato libidinoso com o ca-
art. 130, § 1º, e aplica-se a causa de aumento do art. 234-A, IV, do
dáver, responde por tentativa de estupro simples, homicídio quali-
Código Penal ao crime de estupro.
ficado e vilipêndio a cadáver, em concurso material.
f) Se o agente mantém conjunção carnal e outros atos libidi-
O estupro qualificado existe quer a morte seja decorrência da
nosos contra a mesma vítima, no mesmo contexto fático, responde
por crime único, já que, após o advento da Lei n. 12.015/2009, violência quer da grave ameaça utilizada pelo estuprador, já que o
o crime de estupro passou a ter tipo misto alternativo, abrangen- tipo penal do delito qualificado prevê pena maior se “da conduta”
do tanto a conjunção carnal como outros atos de libidinagem. Da resulta lesão grave ou morte.
mesma forma se, na mesma ocasião, realizar com a vítima sexo Na hipótese em que o estupro não passa da tentativa, mas o
anal e oral. agente, culposamente, dá causa à morte da vítima, o crime está
A pluralidade de atos sexuais deve ser apreciada pelo Juiz na consumado.
fixação da pena-base. É que os crimes preterdolosos não admitem tentativa e o texto
Por se tratar, entretanto, de inovação legislativa, é possível legal vincula a incidência da qualificadora ao evento morte.
que haja controvérsia na hipótese em que o agente realiza a con- Natureza hedionda. A Lei n. 12.015/2009 alterou a redação
junção carnal e outros atos libidinosos no mesmo contexto, pois, do art. 1o, V, da Lei n. 8.072/90, e declarou de natureza hedionda o
para alguns, deve ser reconhecida a continuidade delitiva. “estupro (art. 213, caput, e §§ 1o e 2o)”, em sua forma tentada ou
Na vigência da legislação antiga, prevalecia o entendimento consumada. Essa nova redação, que menciona também o caput do
de que entre estupro e atentado violento ao pudor devia ser apli- art. 213, afasta qualquer possibilidade de controvérsia, deixando
cada a regra do concurso material porque tais crimes não eram da claro que tanto o estupro simples, como suas figuras qualificadas,
mesma espécie. constituem crime hediondo.
Estupro qualificado pela idade da vítima. Nos termos do Causas de aumento de pena. Após o advento da Lei n.
art. 213, § 1o, 2a parte, a pena será de reclusão, de oito a doze 12.015/2009, por equívoco do legislador, passaram a existir dois
anos, se a vítima do estupro é maior de quatorze e menor de de- capítulos com a mesma denominação — “Disposições Gerais” —
zoito anos. no Título dos crimes de cunho sexual. São os Capítulos IV e VII.
Trata-se de inovação da Lei n. 12.015/2009, já que não havia Neles existem causas de aumento de pena aplicáveis ao estupro e a
figura qualificada semelhante na legislação anterior. todos os demais crimes contra a dignidade sexual, respectivamente
O reconhecimento da qualificadora pressupõe que tenha havi- nos arts. 226 e 234-A.
do emprego de violência ou grave ameaça contra a vítima em tal a) A pena é aumentada de quarta parte, se o crime é cometido
faixa etária. Se a vítima for menor de quatorze anos, configura-se com o concurso de duas ou mais pessoas (art. 226, I). É cabível
crime de estupro de vulnerável (art. 217-A) — independentemente
tanto nos casos de coautoria como nos de participação.
do emprego de violência ou grave ameaça.
b) A pena é aumentada de metade, se o agente é ascendente,
Se o crime for cometido no dia do aniversário de quatorze
padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor,
anos aplica-se a qualificadora, já que o estupro de vulnerável exige
curador, preceptor ou empregador da vítima ou se por qualquer
que a vítima tenha menos de quatorze anos. O fato de a figura qua-
lificada do § 1o mencionar vítima maior de quatorze anos não pode outro título tem autoridade sobre ela (art. 226, II). Nessas hipó-
gerar interpretação de que o crime é simples em tal data. teses, o legislador entendeu ser necessária a majoração da pena
Estupro qualificado pelo resultado. De acordo com o por ser o delito cometido por pessoa que exerce autoridade sobre
art.213, § 1o, 1a parte, a pena é de reclusão, de oito a doze anos, se a vítima.
da conduta resulta lesão grave e, nos termos do art. 213, § 2o, é de A lei descreve, inicialmente, uma série de hipóteses específi-
reclusão, de doze a trinta anos, se resulta morte. cas e, ao final, utiliza-se de fórmula genérica para abranger toda
As hipóteses de lesão grave que qualificam o estupro são e qualquer relação de fato ou de direito que implique autoridade
aquelas elencadas nos §§ 1o e 2o do art. 129 do Código Penal. sobre a vítima, como, por exemplo, do carcereiro sobre a presa, do
Eventuais lesões leves decorrentes da violência empregada amásio da mãe da vítima etc. O aumento decorrente da condição
pelo estuprador ficam absorvidas pelo crime-fim (estupro). A con- de cônjuge, companheiro, madrasta ou tio da vítima foi inserido no
travenção de vias de fato também fica absorvida. Código Penal pela Lei n. 11.106/2005.

Didatismo e Conhecimento 139


NOÇÕES DE DIREITO
As demais hipóteses já constavam da redação original do Por sua vez, não pode mais ser aplicada a Súmula 608 do Su-
dispositivo, porém o índice de aumento era menor — um quarto. premo Tribunal Federal, segundo a qual a ação é pública incondi-
Atualmente, o aumento é de metade da pena. É evidente que não cionada no estupro simples cometido mediante violência real. A
pode ser aplicada ao crime de estupro a agravante genérica do art. Lei n. 12.015/2009 é posterior à referida súmula e ao art. 101 do
61, II, e, do Código Penal, que se refere a crime cometido contra Código Penal (Lei n. 7.209/84), e, ao regular inteiramente o tema,
descendente, cônjuge ou irmão, na medida em que haveria bis in não estabeleceu regra similar. Pela nova lei todo estupro simples
idem já que o fato já é considerado causa especial de aumento de passa a depender de representação.
pena do art. 226, II. b) No parágrafo único do art. 225 se estabelece que a ação é
Preceptor é o professor responsável pela educação individu- pública incondicionada se a vítima for menor de dezoito anos. Atu-
alizada de menores. A Lei n. 11.106/2005 revogou o inciso III do almente, o fato de o autor do crime ser pai da vítima não altera a
art. 226, de modo que o fato de o autor do crime ser casado com espécie de ação penal. O que importa é a idade da vítima. Se a filha
terceira pessoa não mais constitui causa de aumento de pena nos tiver mais de dezoito anos, a ação depende de sua representação.
crimes sexuais. Se for menor de dezoito anos, a ação será incondicionada.
c) A pena é aumentada de metade se do crime resultar gravi- Segredo de justiça. Nos termos do art. 234-B do Código Pe-
dez (art. 234-A, III). Será necessário demonstrar que a gravidez foi nal, os processos que apuram crime de estupro correm em segredo
resultante do ato sexual forçado. de justiça.
Lembre-se que o art. 128, II, do Código Penal, permite a rea- Casamento da ofendida com o estuprador. Atualmente não
lização de aborto, por médico, quando a gravidez for resultante de
gera qualquer benefício ao agente, uma vez que o art. 107, VII, do
estupro, desde que haja consentimento da gestante, ou, se incapaz,
Código Penal, que previa a extinção da punibilidade nesses casos,
de seu representante legal.
foi revogado expressamente pela Lei n. 11.106/2005. Ademais,
d) A pena é aumentada de um sexto até metade se o agente
transmite à vítima doença sexualmente transmissível de que sabe não se pode cogitar de renúncia ou perdão em razão do casamento
ou deveria saber ser portador (art. 234-A, IV). Note-se que o pre- porque estes institutos são exclusivos da ação privada e, atualmen-
sente dispositivo não se refere tão somente às doenças venéreas, te, o estupro é de ação pública.
como sífilis, gonorreia, cancro mole, papiloma vírus, alcançando Casamento da vítima com terceira pessoa. Desde o advento
todas as doenças sexualmente transmissíveis. Com isso, em tese, da Lei n. 11.106/2005, que revogou o art. 107, VIII, do Código
estaria abrangida a transmissão da AIDS. Penal, não gera qualquer efeito.
De ver-se, todavia, que, como esta doença é incurável, sua A revogação do art. 214 do Código Penal. A Lei n.
transmissão constitui, para alguns, lesão gravíssima (art. 129, § 2o, 12.015/2009 expressamente revogou o art. 214 do Código Penal
II, do CP) e, para outros, tentativa de homicídio, de modo que, a que tipificava o crime de atentado violento ao pudor. Não se tra-
nosso ver, o agente deve ser responsabilizado por crimes de estu- ta, entretanto, de caso de abolitio criminis, porque, a mesma lei,
pro em concurso com lesão gravíssima ou tentativa de homicídio, também de forma expressa, passou a tratar como crime de estupro
pois, no mínimo, agiu com dolo eventual em relação à transmissão todas as condutas que antes caracterizavam o atentado violento.
da doença. Caso se demonstre efetiva intenção de transmiti-la, a Assim, não há que se falar em extinção da punibilidade para
hipótese será de concurso formal impróprio em decorrência da au- as pessoas já condenadas ou que estavam sendo acusadas por este
tonomia de desígnios e as penas serão somadas. crime, na medida em que o art. 107, II, do Código Penal só admite
Ação penal. A atual redação do art. 225 do Código Penal, com a extinção da punibilidade quando a nova lei deixar de considerar
a redação dada pela Lei n. 12.015/2009, traz duas regras em rela- o fato como crime, o que não ocorreu. O fato continua sendo cri-
ção ao crime de estupro: minoso, apenas mudou de nome.
a) No caput do art. 225 está previsto que, como regra, a ação
penal é pública condicionada à representação. VIOLAÇÃO SEXUAL MEDIANTE FRAUDE
De acordo com tal dispositivo a regra vale para todos os cri- Art. 215 — Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libi-
mes do Capítulo I, abrangendo, portanto, o estupro qualificado dinoso com alguém mediante fraude ou outro meio que impeça
pela lesão grave e pela morte. Em relação à primeira hipótese, é ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima:
até aceitável a regra, na medida em que a lesão grave que qualifi- Pena — reclusão, de dois a seis anos.
ca o estupro é a culposa, que também depende de representação,
Parágrafo único — Se o crime é cometido com o fim de obter
nos termos do art. 88 da Lei n. 9.099/95. Já em relação à qualifi-
vantagem econômica, aplica-se também multa.
cadora da morte não há como se aceitar que a ação dependa de
representação. Primeiro porque a Constituição Federal reconhece
o direito à vida e não pode deixar nas mãos de terceiros (cônjuge, Objetividade jurídica. A liberdade sexual no sentido de con-
ascendentes, descendentes ou irmãos), decidir se o agente será ou sentir na prática de ato sexual sem ser ludibriado pelo emprego de
não punido. Segundo, porque é possível que a vítima não tenha uma fraude.
cônjuge ou parentes próximos. Tipo objetivo. A Lei n. 12.015/2009 unificou os antigos cri-
A Procuradoria Geral da República ingressou em setembro de mes de posse sexual e atentado ao pudor mediante fraude em uma
2009 com Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN 4301) a única infração denominada “violação sexual mediante fraude”,
fim de que o Supremo Tribunal Federal declare que a necessidade que passou a abranger o emprego de fraude para manter conjunção
de representação no estupro qualificado pela lesão grave ou morte carnal ou qualquer outro ato libidinoso com a vítima. Se o agen-
fere os princípios da proporcionalidade e razoabilidade, devendo te, no mesmo contexto fático e em face da mesma fraude, obtiver
o art. 225, caput, do Código Penal, ser declarado inconstitucional tanto a conjunção carnal como outro ato libidinoso, responderá por
quanto a este aspecto, mantido seu alcance em relação aos demais crime único e a pluralidade de atos sexuais deverá ser considerada
crimes sexuais. pelo juiz na fixação da pena-base.

Didatismo e Conhecimento 140


NOÇÕES DE DIREITO
De acordo com o texto legal, é necessário que o agente em- Art. 216 – REVOGADO.
pregue fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre ma-
nifestação de vontade da vítima. Fraude é qualquer meio iludente ASSÉDIO SEXUAL
empregado para que a vítima tenha uma errada percepção da reali- Art. 216-A — Constranger alguém com o intuito de obter
dade e consinta no ato sexual. A fraude tanto pode ser empregada vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da
para criar a situação de engano na mente da vítima, como para sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes
mantê-la em tal estado para que, assim, seja levada ao ato sexual. ao exercício de emprego, cargo ou função.
Os exemplos encontrados na prática são de médicos que mentem Pena — detenção, de um a dois anos.
para a paciente a respeito da necessidade de exame ginecológico a Parágrafo único. (Vetado.)
fim de tocá-la; de pessoas que se dizem “pais de santo” ou parap-
sicólogos e que convencem pessoas crédulas a receber “passes” Condutas típicas. O crime de assédio sexual foi introduzido
no qual devem tirar a roupa e se submeter a apalpações; de irmão no Código Penal pela Lei n. 10.224/2001 e, em virtude de sua re-
gêmeo idêntico que se passa pelo outro para realizar atos sexuais dação ambígua, tem causado grandes controvérsias a respeito de
com a namorada ou esposa deste etc. Não há crime, entretanto, sua tipificação e extensão. Além disso, as dificuldades em torno da
quando o agente diz reiteradamente que ama uma moça apenas prova tornaram raríssimas as condenações por este tipo de delito.
para que ela concorde em manter relação sexual com ele e este, A primeira questão consiste em descobrir qual significado o legis-
após o ato sexual, termina o relacionamento. Interessante notar lador quis dar à palavra “constranger”, que é o núcleo do tipo. Este
que, na legislação anterior, exigia-se que a vítima anuísse com a verbo normalmente é empregado em nossa legislação como tran-
conjunção carnal ou que fosse induzida a praticar outra espécie de sitivo direto e indireto, aplicando-se, portanto, a situações em que
ato de libidinagem ou que aceitasse submeter-se a este. Na legis- alguém é coagido, obrigado a fazer ou não fazer algo, como ocorre
lação atual esse consentimento da vítima não se faz necessário, tal nos crimes de estupro, e constrangimento ilegal. Acontece que no
como ocorre em casos em que o cenário iludente montado pelo crime de assédio sexual a lei não descreveu nenhum complemen-
agente impede até mesmo que ela perceba a realização do ato de to, mencionando apenas a conduta de “constranger alguém com o
libidinagem e, portanto, de opor-se a ele. Ex.: médico que ao reali- intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual...”.
Fica, pois, a indagação: constranger a quê?
zar toque vaginal na vítima, que está com a visão encoberta, abre o
Como não há resposta para essa pergunta, é forçoso concluir
zíper de sua calça e encosta o pênis nas nádegas dela.
que o legislador empregou a palavra “constranger” com outro sen-
É de notar-se que, no crime em análise, o que o agente impede
tido, ou seja, como verbo transitivo direto em que significa inco-
é a manifestação de vontade da vítima. Caso inviabilize sua capa-
modar, importunar, embaraçar. A solução deve efetivamente ser
cidade de reação física pelo emprego de soníferos, anestésicos ou
essa, considerando-se o próprio significado da palavra “assédio”
drogas, incorre no crime de estupro de vulnerável, por ter abusado
que dá nome ao delito: “importunar, molestar, com perguntas ou
de alguém que não podia oferecer resistência (art. 217, § 1o).
pretensões”. Não basta, entretanto, que o patrão conte uma anedo-
Sujeito ativo. Pode ser qualquer pessoa, homem ou mulher.
ta que faça a funcionária ficar envergonhada, uma vez que, nesse
Trata-se de crime comum. caso, não há propriamente assédio sexual. Também não configu-
Sujeito passivo. Pode ser qualquer pessoa, homem ou mu- ram o delito os simples elogios ou gracejos eventuais e, tampouco,
lher. Não é necessário que a vítima seja virgem ou pessoa recatada. um convite para jantar, já que isso não é algo constrangedor.É cla-
Caso o agente empregue fraude para obter ato sexual com pessoa ro, entretanto, que haverá crime se houver recusa da funcionária e
menor de quatorze anos, responderá apenas por crime de estupro o chefe começar a importuná-la com reiteradas investidas.
de vulnerável (art. 217-A), que é mais grave. Na realidade, o crime de assédio sexual pode ser visto, em
Consumação. No momento em que é realizado o ato sexual. termos comparativos, como se fosse a contravenção penal de im-
Tentativa. É possível. portunação ofensiva ao pudor (art. 61 da LCP) agravada pelo fato
Causas de aumento de pena. Aplicam-se ao crime de vio- de ser cometido por alguém que se prevalece da sua superioridade
laçãosexual mediante fraude as causas de aumento de pena dos hierárquica ou da ascendência inerente ao cargo.
arts.226 e 234-A do Código Penal, já que tais causas de aumento Como a lei não esclarece os meios de execução, todos devem
aplicam- -se a todos os crimes do Título. ser admitidos (crime de ação livre), como, por exemplo, atos, ges-
Incidência cumulativa da pena de multa. O parágrafo único tos, palavras, escritos etc. Assim, é claro que pode existir crime na
do art. 215 prevê a aplicação cumulativa da pena de multa se o cri- conduta de pedir uma massagem à secretária, de trocar de roupa
me for cometido com o fim de obter vantagem econômica. O dis- em sua presença, de apalpar-lhe as nádegas ou passar-lhe as mãos
positivo, portanto, se aplica, por exemplo, ao irmão gêmeo idênti- nos cabelos, de pedir para ela experimentar um biquíni, de con-
co que aposta dinheiro com alguns amigos, que duvidam que ele vidá-la para encontro em motel, de propor-lhe sexo para que seja
tenha coragem de abordar a namorada de seu irmão e ter com ela promovida, para que não seja transferida, para que receba aumento
relação sexual, fazendo-a acreditar que se trata de seu namorado. etc. Lembre-se, porém, que é sempre necessário para a configura-
Ação penal. Nos termos do art. 225 do Código Penal, a ação ção do crime que o agente tenha se aproveitado do seu cargo.
penal é pública condicionada à representação, exceto se a vítima Sujeito ativo. Pode ser homem ou mulher. O delito pode en-
for menor de dezoito anos, hipótese em que a ação é pública in- volver pessoa do sexo oposto ou do mesmo sexo.
condicionada. É necessário que o agente importune a vítima prevalecendo-se
Segredo de justiça. Nos termos do art. 234-B do Código Pe- de sua superioridade hierárquica ou ascendência inerente ao exer-
nal, os processos que apuram esta modalidade de infração penal cício de emprego (relação laboral privada), cargo ou função (rela-
correm em segredo de justiça. ção laboral pública). Na hipótese de hierarquia existe um superior

Didatismo e Conhecimento 141


NOÇÕES DE DIREITO
e um subalterno, o que não ocorre na hipótese de ascendência em Tipo objetivo. A Lei n. 12.015/2009 abandonou o sistema de
que o agente apenas goza de prestígio, influência em relação à víti- presunções de violência que vigorava no regime antigo, e estabe-
ma (exs.: desembargador em relação a juiz; professor de faculdade leceu objetivamente como crime o ato de manter relacionamento
em relação a aluno). sexual com uma das pessoas vulneráveis elencadas no tipo penal,
Veja-se que uma conduta que constitua crime quando pratica- ainda que com seu consentimento. Se o agente sabia tratar-se de
da pelo superior não o tipificará se realizada pelo subalterno contra pessoa definida na lei como vulnerável não poderia manter ato
seu chefe. sexual com ela. Se o fez, responde pelo crime. Essa orientação
Em razão do veto presidencial ao parágrafo único do art. consta expressamente da Exposição de Motivos que originou a
216-A, somente o assédio laboral constitui crime, sendo atípico Lei n. 12.015/2009, onde o legislador manifestou claramente sua
o assédio proveniente de relações domésticas, de coabitação e de intenção de acabar com a interpretação antes existente de que a
hospitalidade, ou aquele proveniente de abuso de dever inerente a presunção de violência era relativa. Dessa forma, mesmo que se
ofício ou ministério. demonstre que a vítima já tinha tido relacionamentos sexuais ante-
Sujeito passivo. Qualquer pessoa, homem ou mulher, que riores com outras pessoas, se o agente for flagrado tendo com ela
seja subordinado ao agente ou que esteja sob sua influência. relação sexual, ciente de sua condição de vulnerável, deverá ser
Elemento subjetivo. O crime só existe se o sujeito age com punido. Repita-se que essa era a intenção do legislador,conforme
intenção de obter vantagem ou favorecimento sexual (conjunção acima explicado. Apenas o tempo dirá, entretanto, se a jurispru-
carnal ou qualquer outro ato libidinoso). dência aceitará tal determinação legal ou se novos argumentos sur-
Consumação. É fácil concluir pela redação do dispositivo girão para evitar a punição.
que se trata de crime formal cuja consumação ocorre no exato ins- Apenas o erro de tipo (que não se confunde com presunção
tante em que o agente importuna a vítima, independentemente de relativa) é que pode afastar o delito, quando o agente provar que,
obter a vantagem ou favorecimento sexual visados. por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, pensava que
Tentativa. É possível, por exemplo, na forma escrita (bilhete a moça, que concordou em ter com ele relação sexual, já tinha
que se extravia). quatorze anos ou mais, por ter ela, por exemplo, mentido a idade e
Causas de aumento de pena. De acordo com o § 2o do art. já ter desenvolvimento corporal avantajado.
As condutas típicas são as mesmas do estupro simples: ter
216-A, a pena é aumentada de um terço se a vítima do assédio é
conjunção carnal ou praticar qualquer outro ato libidinoso. A con-
menor de dezoito anos. Esse dispositivo foi introduzido no Código
figuração do estupro de vulnerável, entretanto, não exige o empre-
Penal pela Lei n. 12.015/2009. Interessante notar que não existe
go de violência física ou grave ameaça, de modo que, ainda que
e nunca existiu o § 1o. Saliente-se, outrossim, que a proposta de
a vítima diga que consentiu no ato, estará configurada a infração,
sexo seriamente feita, por exemplo, a uma criança de onze anos
pois tal consentimento não é válido conforme se explicou no tó-
configura tentativa de estupro de vulnerável e não figura agravada
pico anterior.
de assédio sexual. Aplicam-se ao crime de assédio sexual as causas
Caso haja emprego de violência física ou grave ameaça, por
de aumento de pena do art. 226 do Código Penal, exceto a hipótese
exemplo, contra uma criança de dez anos de idade para forçá-la ao
do art. 226, II, que prevê aumento de metade da pena se o agente ato sexual, haverá também crime de estupro de vulnerável e não a
for empregador da vítima, na medida em que constituiria bis in figura simples de estupro do art. 213, já que não faria sentido apli-
idem. car a pena mais grave do art. 217-A apenas para os casos em que
Ação penal. Nos termos do art. 225 do Código Penal, a ação não houvesse emprego de violência ou grave ameaça. Em suma,
penal é pública condicionada à representação, exceto se a vítima com ou sem o emprego de violência ou grave ameaça, o crime será
for menor de dezoito anos, hipótese em que será pública incondi- sempre o de estupro de vulnerável se a vítima se enquadrar em
cionada. qualquer das hipóteses do art. 217-A e seu § 1o.
Segredo de justiça. Nos termos do art. 234-B do Código Pe- São considerados vulneráveis:
nal, os processos que apuram esta modalidade de infração penal a) Os menores de quatorze anos. Ao contrário do regime anti-
correm em segredo de justiça. go, se o ato for realizado no dia do 14o aniversário, a vítima não é
mais considerada vulnerável. Em suma, considera-se vulnerável a
ART. 217 - REVOGADO pessoa que ainda não completou quatorze anos.
b) As pessoas portadoras de enfermidade ou doença mental,
ESTUPRO DE VULNERÁVEL que não tenham o necessário discernimento para a prática do ato.
Art. 217-A — Ter conjunção carnal ou praticar outro ato É necessária a realização de perícia médica para a constatação de
libidinoso com menor de quatorze anos. que o problema mental retirava por completo da vítima o discerni-
Pena — reclusão, de oito a quinze anos. mento para o ato sexual.
§ 1o — Incorre na mesma pena quem pratica as ações des- Pela redação do dispositivo, dada pela Lei n. 12.015/2009,
critas no caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência admite- se que o agente tenha agido com dolo eventual quanto ao
mental, não tem o necessário discernimento para a prática do estado mental da vítima, já que foi retirada a exigência do efetivo
ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resis- conhecimento a respeito dessa circunstância que expressamente
tência. constava do antigo art. 224, b, do Código Penal.
c) pessoa que, por qualquer outra causa, não pode oferecer
Objetividade jurídica. A dignidade sexual das pessoas vul- resistência. É indiferente que o fator impossibilitante da defesa da
neráveis— menores de quatorze anos, doentes mentais ou impos- vítima seja prévio (doença, paralisia, idade avançada, estado de
sibilitadas de oferecer resistência. coma, desmaio), provocado pelo agente (ministração de sonífero

Didatismo e Conhecimento 142


NOÇÕES DE DIREITO
ou droga na bebida da vítima, uso de anestésico etc.) ou causado crime. Assim, o crime em análise só será tipificado se a vítima for
por ela própria (embriaguez completa em uma festa). É necessário induzida a satisfazer a lascívia do terceiro, sem, todavia, realizar
que o agente se aproveite do estado de incapacidade de defesa e ato sexual efetivo com este. Ex.: a fazer sexo por telefone, a dançar
que se demonstre que este fator impossibilitava por completo a para ele, a fazer-lhe um stripteaseetc.
capacidade de a vítima se opor ao ato sexual. Sujeito ativo. Pode ser qualquer pessoa. Trata-se de crime
Sujeito ativo. Qualquer pessoa. Homem ou mulher. comum.
Sujeito passivo. Qualquer pessoa vulnerável, homem ou mu- Sujeito passivo. Crianças ou adolescentes menores de qua-
lher. torze anos.
Consumação. No instante em que é realizada a conjunção Consumação. No momento em que o ato é realizado pelo
carnal ou qualquer outro ato libidinoso. 6. Tentativa. É possível. menor.
Formas qualificadas. Nos termos do art. 217-A, §§ 3o e 4o, Tentativa. É possível.
respectivamente, se da conduta resulta lesão grave, a pena é de Ação penal. Pública incondicionada.
reclusão, de dez a vinte anos, e, se resulta morte, reclusão de doze Segredo de justiça. Nos termos do art. 234-B do Código Pe-
a trinta anos. nal, os processos que apuram esta modalidade de infração penal
Essas figuras qualificadas são exclusivamente preterdolosas. correm em segredo de justiça.
Só se configuram se tiver havido dolo em relação ao estupro de
vulnerável e culpa em relação à lesão grave ou morte. Se o agente SATISFAÇÃO DE LASCÍVIA MEDIANTE PRESENÇA
quis ou assumiu o risco de provocar o resultado agravador, res- DE CRIANÇA OU ADOLESCENTE
ponderá por crime de estupro de vulnerável em sua modalidade Art. 218-A — Praticar, na presença de alguém menor de
simples em concurso material com crime de lesão grave ou homi- quatorze anos, ou induzi-lo a presenciar, conjunção carnal ou
cídio doloso. outro ato libidinoso, a fim de satisfazer lascívia própria ou de
Natureza hedionda. O estupro de vulnerável constitui crime outrem:
hediondo, tanto em sua forma simples, como nas qualificadas, nos Pena — reclusão, de dois a quatro anos.
termos do art. 1o, VI, da Lei n. 8.072/90 (com a redação da Lei n. Objetividade jurídica. A dignidade e a formação sexual da
12.015/2009). pessoa menor de quatorze anos.
Causas de aumento de pena. Aplicam-se ao crime de estupro Tipo objetivo. O crime existe quer o agente tome a iniciativa
de vulnerável as causas de aumento de pena dos arts. 226, I e II, e de realizar o ato sexual na presença do menor (mostrar-lhe o pênis,
234-A,III e IV, do Código Penal, já estudadas no crime de estupro por exemplo), quer o convença a presenciá-lo. O ato sexual pode
simples. ser a penetração do pênis na vagina (conjunção carnal) ou qualquer
Assim, a pena é aumentada em um quarto se o delito for co- outro ato de conotação sexual (presenciar o agente a se masturbar,
metido com concurso de duas ou mais pessoas (art. 226, I); em a manter sexo oral ou anal com terceiro etc.).
metade se o agente for ascendente, descendente, padrasto ou ma- Atualmente, se alguém, dentro de um ônibus, se masturba na
drasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor presença de pessoa com menos de quatorze anos, incorre no crime
ou empregador da vítima ou caso tenha autoridade sobre ela por em estudo. Se a vítima, porém, tem mais de quatorze anos, o crime
qualquer outro título (art.226, II), ou, ainda, se resultar gravidez é o de ato obsceno (art. 233). Se o agente convence uma pessoa de
(art. 234-A, III); e, de um sextoaté metade, se o agente transmitir à menos de quatorze anos a assistir um ato sexual envolvendo ou-
vítima doença sexualmente transmissível de que sabia ou deveria tras, configura-se também o crime do art. 218-A, mas se convence
saber estar acometido (art. 234-A, IV). pessoa de vinte anos (por exemplo) a assistir o mesmo ato, o fato
Ação penal. É sempre pública incondicionada, de acordo com é atípico. Premissa do crime é a intenção de satisfazer a própria
o art. 225, parágrafo único, do Código penal. lascívia ou de terceiro pelo fato de o ato sexual estar sendo presen-
Segredo de justiça. Nos termos do art. 234-B do CódigoPe- ciado por pessoa menor de quatorze anos. Outra premissa é que o
nal, os processos que apuram esta modalidade de infração penal- menor não se envolva sexualmente no ato, pois, se o fizer, o crime
correm em segredo de justiça. será o de estupro de vulnerável.
Sujeito ativo. Qualquer pessoa, homem ou mulher. Se o ato
MEDIAÇÃO PARA SATISFAZER A LASCÍVIA DE OU- sexual for praticado por duas pessoas na presença do menor, a fim
TREM COM PESSOA MENOR DE CATORZE ANOS de satisfazer a lascívia de ambos, os dois respondem pelo crime.
Art. 218, caput — Induzir alguém menor de quatorze anos a Sujeito passivo. Crianças ou adolescentes, do sexo masculino
satisfazer a lascívia de outrem: ou feminino, menores de quatorze anos.
Pena — reclusão, de dois a cinco anos. Consumação. No instante em que é realizado o ato sexual na
Objetividade jurídica. A dignidade sexual da pessoa menor presença do menor.
de quatorze anos. Tentativa. É possível. Ex.: menor é convencido a presenciar o
Tipo objetivo. Induzir significa convencer, persuadir o me- ato sexual, mas quando o agente começa a tirar a roupa o menor sai
nor, com ou sem a promessa de alguma vantagem, para que sa- correndo e não presencia concretamente qualquer ato libidinoso.
tisfaça os desejos sexuais de outra pessoa. O agente visa com a Ação penal. É pública incondicionada.
conduta satisfazer a lascívia de terceiro e não a própria. Exige-se Segredo de justiça. Nos termos do art. 234-B, os processos
que a terceira pessoa seja determinada. Importante ressaltar que, que apuram esse tipo de infração penal correm em segredo de jus-
se o agente convence uma adolescente de doze anos a manter con- tiça.
junção carnal com terceiro, e o ato se concretiza, este responde por
estupro de vulnerável e quem induziu a menor é partícipe de tal

Didatismo e Conhecimento 143


NOÇÕES DE DIREITO
FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO OU OUTRA Tal dispositivo pune:
FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL DE VULNERÁVEL I — Quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso
com alguém menor de dezoito e maior de quatorze anos na situa-
Art. 218-B — Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou ção descrita no caput deste artigo(de prostituição ou exploração
outra forma de exploração sexual alguém menor de dezoito anos sexual).
ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o neces- O dispositivo pune quem faz programa com prostituta menor
sário discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou de idade, desde que tenha mais de quatorze anos, pois, se tiver me-
dificultar que a abandone: nos, o crime será o de estupro de vulnerável, que tem pena muito
Pena — reclusão, de quatro a dez anos. maior. Não existe em nossa legislação punição para quem paga
para ter relação sexual com prostituta maior de idade.
Objetividade jurídica. A dignidade e a moralidade sexual do II — o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local
vulnerável, bem como evitar danos à sua saúde e outros riscos li- em que se verifiquem as práticas referidas no caput deste artigo.
gados ao exercício da prostituição. O legislador criou uma espécie de figura qualificada do cri-
Tipo objetivo. O crime consiste em convencer alguém, com me de casa de prostituição (art. 229). Assim, o dono, gerente ou
palavras ou promessas de boa vida, para que se prostitua, ou para responsável por local onde haja prostituição ou exploração sexual
que se submeta a outras formas de exploração sexual, ou, ainda, de pessoa com idade entre quatorze ou dezoito anos, ou com en-
colaborar para que alguém exerça a prostituição, ou, de algum fermidade mental, incorre no crime em análise, para o qual a pena
modo, impedir ou dificultar que a vítima abandone as referidas é maior em relação àqueles que mantém lupanar apenas com pros-
atividades. Em suma, constitui crime introduzir alguém no mundo titutas maiores de idade. Pressupõe, contudo, que o agente tenha
da prostituição, apoiá-lo materialmente enquanto a exerce ou de conhecimento de que há prostitutas menores de idade trabalhando
qualquer modo impedir ou dificultar o abandono das atividades por no local.
parte de quem deseja fazê-lo. O § 3o do art. 218-B, estabelece ainda que constitui efeito
Na figura em análise, a vítima deve ser pessoa com idade entre obrigatório da condenação, a cassação da licença de localização e
quatorze e dezoito anos, ou com deficiência mental que lhe retire de funcionamento do estabelecimento.
a capacidade de entender o caráter do ato. Se a vítima for pessoa A tipificação no Código Penal do crime em análise revogou
maior de idade e sã, o induzimento à prostituição configura o crime delito semelhante previsto no art. 244-A, § 1o, da Lei n. 8.069/90.
do art. 228 do Código Penal, que tem pena menor.
Ação penal. É pública incondicionada.
Prostituição é o comércio do próprio corpo, em caráter habitu-
Segredo de justiça. Nos termos do art. 234-B do Código Pe-
al, visando a satisfação sexual de qualquer pessoa que se disponha
nal, os processos que apuram esta modalidade de infração penal
a pagar para tanto. A prostituição a que se refere a lei pode ser a
correm em segredo de justiça.
masculina ou feminina.
Pune-se também nesse tipo penal quem submete o menor ou
ARTIGOS 219 A 224 - REVOGADOS
o enfermo mental a qualquer outra forma de exploração sexual.
Esta, tal qual a prostituição, deve ter caráter habitual. Ex.: induzir
uma menor a ser dançarina de striptease, a dedicar-se a fazer sexo Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste
por telefone ou via internet por meio de webcams (sem que haja Título, procede-se mediante ação penal pública condicionada à
efetivo contato físico com o cliente) etc. representação.
O art. 218-B, por tratar do mesmo tema, revogou tacitamente Parágrafo único. Procede-se, entretanto, mediante ação pe-
o crime do art. 244-A da Lei n. 8.069/90. nal pública incondicionada se a vítima é menor de 18 (dezoito)
Sujeito ativo. Pode ser qualquer pessoa, homem ou mulher. anos ou pessoa vulnerável.
Sujeito passivo. Homem ou mulher menor de idade (entre 14
e 18 anos), ou que, em razão de enfermidade mental, não tenha Art. 226. A pena é aumentada:
discernimento necessário para compreender a prostituição ou a ex- I - de quarta parte, se o crime é cometido com o concurso de
ploração sexual. 2 (duas) ou mais pessoas;
Consumação. Quando a vítima assume uma vida de prostitui- II - de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou ma-
ção, colocando-se à disposição para o comércio carnal, ou quando drasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, precep-
passa a ser explorada sexualmente. Na modalidade de impedimen- tor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tem
to, consuma-se no momento em que a vítima não abandona as ati- autoridade sobre ela;
vidades.
Nesta última figura o crime é permanente. Na modalidade di- MEDIAÇÃO PARA SERVIR A LASCÍVIA DE OUTREM
ficultar, consuma-se quando o agente cria o óbice.
Tentativa. É possível. Art. 227 — Induzir alguém a satisfazer a lascívia de outrem:
Intenção de lucro. Nos termos do art. 218-B, § 1o, se o cri- Pena — reclusão, de um a três anos.
me é praticado com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se § 1º — Se a vítima é maior de quatorze e menor de dezoito
também multa. A intenção de lucro a que o texto se refere como anos, ou se o agente é seu ascendente, descendente, cônjuge ou
condição para a incidência cumulativa de multa é por parte do companheiro, irmão, tutor ou curador ou pessoa a quem esteja
agente e não da vítima. confiada para fins de educação, de tratamento ou de guarda:
Figuras equiparadas. No § 2o do art. 218-B, existe a previ- Pena — reclusão, de dois a cinco anos.
são de dois outros crimes para os quais é prevista a mesma pena § 2º — Se o crime é cometido com emprego de violência,
do caput. grave ameaça ou fraude:

Didatismo e Conhecimento 144


NOÇÕES DE DIREITO
Pena — reclusão, de dois a oito anos, além da pena corres- Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos.
pondente à violência. § 2º - Se o crime, é cometido com emprego de violência, gra-
§ 3º — Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se ve ameaça ou fraude:
também multa. Pena - reclusão, de quatro a dez anos, além da pena corres-
pondente à violência.
Objetividade jurídica. O legislador visa evitar a exploração § 3º - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se
sexual e, com isso, as consequências danosas que decorrem de tais também multa.
atividades (proliferação de doenças sexuais, abandono dos estudos
etc.). CASA DE PROSTITUIÇÃO
Tipo objetivo. Induzir significa convencer, persuadir alguém Art. 229 — Manter, por conta própria ou de terceiro, estabe-
a satisfazer os desejos sexuais de outrem. O agente visa, com sua lecimento em que ocorra exploração sexual, haja, ou não, intuito
conduta, satisfazer a lascívia de terceiro e não a própria. Somente de lucro ou mediação direta do proprietário ou gerente:
ele responde pelo crime. Pena — reclusão, de dois a cinco anos, e multa.
No crime em análise, em sua figura simples, a relação sexual é
consentida, pois o agente convence a vítima a satisfazer os desejos Objetividade jurídica. O legislador visa evitar a prostitui-
de terceiro. Caso, porém, ele empregue violência, grave ameaça ção e a exploração sexual e, com isso, as consequências danosas
ou fraude, tipifica-se a figura qualificada do § 2o. Note-se, porém, que decorrem de tais atividades (proliferação de doenças sexuais,
que quando o agente empregar violência ou grave ameaça para abandono dos estudos etc.).
forçar a vítima a manter conjunção carnal ou outro ato libidinoso
com terceiro, deverá ser responsabilizado por crime de estupro. Tipo objetivo. O dispositivo abrange casas de prostituição,
Assim, a qualificadora do art. 227 só tem aplicação quando o agen- casas de massagens onde haja encontros com prostitutas em quar-
te empregar a violência ou grave ameaça para forçar a vítima, por tos, boates em que se faça programa com prostitutas etc. O tipo
exemplo, a fazer sexo por telefone ou por webcam, a fazer stripte- penal é abrangente, punindo o dono do local, o gerente, os em-
aseetc. Ademais, se da violência empregada resultar lesão, ainda pregados que mantêm a casa etc. O texto legal, ademais, dispensa
que leve, o agente responderá pelos dois crimes, nos termos do art. para a ocorrência do crime a intenção de lucro (normalmente exis-
tente) e a mediação direta do proprietário ou gerente na captação
227, § 2o.
de clientes.
Nesse crime, a vítima é induzida a servir pessoa determinada
Para o reconhecimento do crime em análise exige-se habitu-
— ainda que mediante paga. Caso o agente convença a vítima a
alidade, ou seja, o funcionamento reiterado do estabelecimento.
habitualmente entregar o corpo a pessoas indeterminadas que se
Há muitos julgados no sentido de que a existência de alvará de
disponham a pagar, o crime é o de favorecimento à prostituição
funcionamento por parte das autoridades não exclui o crime, já que
(art. 228).
há desvirtuamento da licença obtida para outros fins.
Sujeito ativo. Qualquer pessoa. Se o agente for ascendente,
A prostituta que recebe clientes em sua casa para encontros
descendente, cônjuge ou companheiro, irmão, tutor ou curador da sexuais, explorando o próprio comércio carnal, não incorre no cri-
vítima ou pessoa a quem ela esteja confiada para fins de educação, me em análise.
tratamento ou guarda, configura-se a figura qualificada do art. 227,
§ 1o. Sujeito ativo. Pode ser qualquer pessoa. Se alguém mantém a
Sujeito passivo. Qualquer pessoa, homem ou mulher, desde casa de prostituição por conta de terceiro, ambos respondem pelo
que maior de idade. Se a vítima tiver mais de quatorze e menos de crime.
dezoito anos, aplica-se a figura qualificada do art. 227, § 1o.
Consumação. Ocorre com a prática de ato que possa importar Sujeito passivo. São as pessoas exploradas sexualmente no
na satisfação da lascívia de terceiro, ainda que esta não se efetive. estabelecimento. Pode ser homem ou mulher. A sociedade também
Tentativa. É possível. é vítima deste crime que tutela a moralidade e a saúde pública.
Intuito de lucro. Se o agente cometer o crime com intenção
de obter vantagem econômica, aplica-se cumulativamente a pena Consumação. Quando o estabelecimento começa a funcionar
de multa, nos termos do art. 227, § 3o. de forma reiterada (crime habitual). Trata-se, também, de crime
Ação penal. É pública incondicionada. 9. Segredo de justiça. permanente. Por isso, em havendo prova da habitualidade, a prisão
Nos termos do art. 234-B, os processos que apuram esse tipo de em flagrante é possível.
infração correm em segredo de justiça.
Tentativa. Em se tratando de crime habitual, há incompatibi-
Favorecimento da prostituição ou outra forma de explora- lidade com o instituto da tentativa.
ção sexual
Art. 228. Induzir ou atrair alguém à prostituição ou outra Ação penal. É pública incondicionada.
forma de exploração sexual, facilitá-la, impedir ou dificultar que Segredo de justiça. Nos termos do art. 234-B, os processos
alguém a abandone: que apuram esse tipo de infração correm em segredo de justiça.
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
§ 1o  Se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, RUFIANISMO
enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou Art. 230 — Tirar proveito da prostituição alheia, participan-
empregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, do diretamente de seus lucros ou fazendo-se sustentar, no todo
obrigação de cuidado, proteção ou vigilância: ou em parte, por quem a exerça:

Didatismo e Conhecimento 145


NOÇÕES DE DIREITO
Pena — reclusão, de um a quatro anos, e multa. § 1o — Incorre na mesma pena aquele que agenciar, aliciar
§ 1o — Se a vítima é menor de dezoito e maior de quatorze ou
anos ou se o crime é cometido por ascendente, padrasto, madras- comprar a pessoa traficada, assim como, tendo conhecimen-
ta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, pre- to dessa condição, transportá-la, transferi-la ou alojá-la.
ceptor ou empregador da vítima, ou por quem assumiu, por lei § 2o — A pena é aumentada da metade se:
ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância: I — a vítima é menor de dezoito anos;
Pena — reclusão, de três a seis anos, e multa. II — a vítima, por enfermidade ou deficiência mental, não
§ 2o — Se o crime é cometido mediante violência, grave tem o necessário discernimento para a prática do ato;
ameaça, fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre III — o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão,
manifestação da vontade da vítima: enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou
Pena — reclusão, de dois a oito anos, sem prejuízo da pena empregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma,
correspondente à violência. obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; ou
IV — há emprego de violência, grave ameaça ou fraude.
Objetividade jurídica. Evitar a exploração da prostituição § 3o — Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem
alheia. econômica, aplica-se também multa.

Tipo objetivo. O rufião visa à obtenção de vantagem econô- Objetividade jurídica. Evitar a facilitação à prostituição e o
mica reiterada em relação a prostituta ou prostitutas determinadas. aliciamento ou compra de prostitutas.
É o caso, por exemplo, de pessoa que faz agenciamento de encon-
tro com prostituta, que a “empresaria”, que recebe participação nos Tipo objetivo. A lei pune quem realiza diretamente o tráfico
lucros por lhe prestar segurança, ou, simplesmente, que se sustenta e quem o auxilia, além de eventuais intermediários que sejam os
pelos responsáveis pelo aliciamento ou agenciamento. Pune também a
lucros da prostituição alheia, sem que se trate de hipótese de pessoa que compra a pessoa traficada e também aqueles que, cien-
estado de necessidade. tes da situação, ajudam a transportá-la, transferi-la ou alojá-la, a
Trata-se de crime habitual que só se configura pelo proveito fim de que possa ser explorada sexualmente. Penaliza-se, ainda, a
reiterado nos lucros da vítima. pessoa que, de alguma forma, facilita a entrada ou saída da prosti-
tuta do território nacional.
Sujeito ativo. Pode ser qualquer pessoa. Se o agente for as- A anuência da vítima não desnatura o crime. Por sua vez, se
cendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, compa- houver emprego de violência, grave ameaça ou fraude, a pena será
nheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se aumentada em metade, nos termos do § 2o, IV.
assumiu por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou O tipo penal abrange a entrada e a saída de pessoas que preten-
vigilância em relação a ela, aplica-se a figura qualificada do § 1o. dem exercer a prostituição.
Sujeito passivo. Necessariamente pessoa que exerce a pros-
tituição (homem ou mulher). Se for menor de dezoito e maior de Sujeito ativo. Pode ser qualquer pessoa. Trata-se de crime
quatorze anos, configura-se a hipótese qualificada do § 1o. comum. A pena, todavia, será aumentada em metade se o agente
for ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, com-
Consumação. Quando ocorrer reiteração na participação nos panheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou
lucros ou no sustento pela prostituta. se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção
ou vigilância, no termos do art. 231, § 2o, III, do Código Penal.
Tentativa. Inadmissível por se tratar de crime habitual.
Sujeito passivo. Qualquer pessoa que pretenda exercer a
Emprego de violência, grave ameaça ou fraude. Tornam o prostituição. Pode ser homem ou mulher.
crime qualificado, nos termos do art. 230, § 2o. Ademais, se da Se a vítima for menor de dezoito anos ou se por enfermidade
violência empregada resultarem lesões corporais, ainda que leves, ou doença mental não tiver o necessário discernimento para a prá-
o agente responderá também pelo crime do art. 129 do Código tica do ato, a pena será aumentada em metade, nos termos do art.
Penal, por haver disposição expressa nesse sentido. 231, § 2o, I e II, do Código Penal.

Ação penal. É pública incondicionada. Consumação. No momento da entrada ou saída do território


nacional. Não se exige o efetivo início das atividades de prostitui-
Segredo de justiça. Nos termos do art. 234-B, os processos ção, bastando que a vítima tenha vindo ao país com tal finalidade,
que apuram esse tipo de infração correm em segredo de justiça. ou que tenha saído com tal intento. Trata-se de crime formal.

TRÁFICO INTERNACIONAL DE PESSOA PARA Tentativa. É possível quando a vítima, por exemplo, é impe-
FIM DE EXPLORAÇÃO SEXUAL dida de embarcar.
Art. 231 — Promover ou facilitar a entrada, no território
nacional, de alguém que nele venha a exercer a prostituição ou Intuito de lucro. Não é requisito do crime a intenção de lucro
outra forma de exploração sexual, ou a saída de alguém que vá por parte do agente. Se existir tal intenção, será também aplicável
exercê-la no estrangeiro: pena de multa, conforme dispõe o § 3o.
Pena — reclusão, de três a oito anos.

Didatismo e Conhecimento 146


NOÇÕES DE DIREITO
Ação penal. É pública incondicionada. Tentativa. É possível.

Segredo de justiça. Nos termos do art. 234-B, os processos Intuito de lucro. Não é requisito do crime a intenção de
que apuram esse tipo de infração correm em segredo de justiça. lucro por parte do agente. Se existir tal intenção, será também
aplicável pena de multa, conforme dispõe o § 3o.
TRÁFICO INTERNO DE PESSOA PARA FIM DE EX-
PLORAÇÃO SEXUAL Ação penal. É pública incondicionada.
Art. 231-A — Promover ou facilitar o deslocamento de al-
guém dentro do território nacional para o exercício da prostitui- Segredo de justiça. Nos termos do art. 234-B, os processos
ção ou outraforma de exploração sexual: que apuram esse tipo de infração correm em segredo de justiça.
Pena — reclusão, de dois a seis anos.
§ 1o — Incorre na mesma pena aquele que agenciar, aliciar, ART. 232 – REVOGADO.
vender ou comprar a pessoa traficada, assim como, tendo conhe-
cimento dessa condição, transportá-la, transferi-la ou alojá-la. ATO OBSCENO
§ 2o — A pena é aumentada da metade se: Art. 233 — Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto
ou exposto ao público:
I — a vítima é menor de dezoito anos;
Pena — detenção, de três meses a um ano, ou multa.
II — a vítima, por enfermidade ou deficiência mental, não
tem o necessário discernimento para a prática do ato;
Ato obsceno é o ato revestido de sexualidade e que fere o sen-
III — se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, timento médio de pudor. Ex.: exposição de órgãos sexuais, dos
enteado, seios, das nádegas, prática de ato libidinoso em local público etc.
cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou em- A micção voltada para a via pública com exposição do pênis ca-
pregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obri- racteriza o ato obsceno. Também configura o delito o trottoir feito
gação de cuidado, proteção ou vigilância; ou por travestis nus ou seminus nas ruas.
IV — há emprego de violência, grave ameaça ou fraude. O tipo exige a prática de ato e, por isso, o mero uso da palavra
§ 3o — Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem pode configurar apenas a contravenção de importunação ofensiva
econômica, aplica-se também multa. ao pudor.
Só se configura o crime se o fato ocorre em um dos locais
Objetividade jurídica. Coibir a exploração sexual e a pros- previstos no tipo:
tituição. a) Local público: ruas, praças, parques etc.
b) Local aberto ao público: onde qualquer pessoa pode entrar,
Tipo objetivo. O presente tipo penal tem a finalidade de pu- ainda que sujeita a condições, como pagamento de ingresso — tea-
nir pessoas que aliciam, agenciam ou transportam prostitutas de tro, cinema, estádio de futebol etc. Não haverá o crime, entretanto,
um local para outro do território nacional. Em geral essas pessoas se as pessoas pagam o ingresso justamente para ver show de sexo
procuram moças em locais distantes e, com a promessa de altos explícito, por exemplo.
lucros com a prostituição em grandes centros, as convencem a c) Exposto ao público: é um local privado, mas que pode ser
acompanhá-los para que se prostituam em estabelecimentos com visto por número indeterminado de pessoas que passem pelas
os quais mantêm negócios. Alei também pune quem aloja a pros- proximidades. Ex.: janela aberta, terraço, varanda, terreno baldio
tituta, ciente de suas atividades, devendo, evidentemente, tratar-se aberto, interior de automóvel etc.
de pessoa que participa do “esquema” de aliciamento, na medida Entende-se, entretanto, que não há crime se o ato é praticado
em que não se pode cogitar de punir criminalmente a dona de pen- em local escuro ou afastado, que não pode ser normalmente visto
são que aceita prostituta como moradora. pelas pessoas.
E se o agente só pode ser visto por vizinhos?
Nélson Hungria entende que não há crime.
Sujeito ativo. Pode ser qualquer pessoa. Trata-se de crime
comum. A pena, todavia, será aumentada em metade se o agente
Sujeitos ativo e passivo. O sujeito ativo pode ser qualquer
for ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, com- pessoa, homem ou mulher. Sujeito passivo é a coletividade, bem
panheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou como qualquer pessoa que presencie o ato. O tipo não exige que o
se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção agente tenha finalidade erótica. O fato pode ter sido praticado por
ou vigilância, no termos do art. 231-A, § 2o, III, do Código Penal. vingança, por brincadeira, por aposta etc.
Em qualquer caso, há crime.
Sujeito passivo. Qualquer pessoa que pretenda exercer a
prostituição. Pode ser homem ou mulher. Consumação. Ocorre com a prática do ato, ainda que não seja
Se a vítima for menor de dezoito anos ou se por enfermidade presenciado por qualquer pessoa, mas desde que pudesse sê-lo, ou,
ou doença mental não tiver o necessário discernimento para a prá- ainda, quando o assistente não se sente ofendido.
tica do ato, a pena será aumentada em metade, nos termos do art. Trata-se de crime formal e de perigo.
231-A, § 2o, I e II, do Código Penal.
Tentativa. Discute-se acerca da tentativa, por ser duvidosa a
Consumação. No momento em que é realizada a conduta tí- possibilidade de fracionamento da conduta. Magalhães Noronha
pica. Não se exige o efetivo início das atividades de prostituição, não admite, ao contrário de Júlio F. Mirabete e de Heleno Fragoso,
que, em verdade, constituem exaurimento do crime. que a aceitam.

Didatismo e Conhecimento 147


NOÇÕES DE DIREITO
ESCRITO OU OBJETO OBSCENO AUMENTO DE PENA
Art. 234 — Fazer, importar, exportar, adquirir ou ter sob sua § 1o — As penas aumentam-se de um terço:
guarda, para fim de comércio, de distribuição ou de exposição I — se o crime é cometido com intuito de obter vantagem
pública, escrito, desenho, pintura, estampa ou qualquer objeto pecuniária em proveito próprio ou alheio;
obsceno: II — se o incêndio é:
Pena — detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. a) em casa habitada ou destinada a habitação;
Parágrafo único — Incorre na mesma pena quem: b) em edifício público ou destinado a uso público ou a obra
I — vende, distribui ou expõe à venda ou ao público qual- de assistência social ou de cultura;
quer dos objetos referidos neste artigo; c) em embarcação, aeronave, comboio ou veículo de trans-
II — realiza, em lugar público ou acessível ao público, re- porte coletivo;
presentação teatral, ou exibição cinematográfica de caráter obs- d) em estação ferroviária ou aeródromo;
ceno, ou qualquer outro espetáculo, que tenha o mesmo caráter; e) em estaleiro, fábrica ou oficina;
III — realiza, em lugar público ou acessível ao público, ou f) em depósito de explosivo, combustível ou inflamável;
pelo rádio, audição ou recitação de caráter obsceno. g) em poço petrolífero ou galeria de mineração;
h) em lavoura, pastagem, mata ou floresta.
Os crimes descritos neste título visam proteger a incolumida-
O bem jurídico tutelado é o pudor público, a moralidade se-
de pública, ou seja, a tranquilidade na vida em sociedade, evitando
xual pública.
que a integridade corporal ou os bens das pessoas sejam expostos
Trata-se de crime de ação múltipla, uma vez que a lei descre-
a risco.
ve vários verbos como núcleo. Assim, para que exista o crime, o No crime de incêndio, o agente provoca intencionalmente a
agente deve fazer (confeccionar), importar (introduzir no território combustão de algum material no qual o fogo se propaga, fogo este
nacional), exportar (fazer sair do País), adquirir (obter a proprie- que, em face de suas proporções, causa uma situação de risco efe-
dade) ou ter sob sua guarda (ter pessoalmente a custódia) o objeto tivo (concreto) para número elevado e indeterminado de pessoas
material. Este deve ser um escrito, pintura, estampa ou qualquer ou coisas. A situação de risco pode também decorrer de pânico
objeto obsceno. provocado pelo incêndio (em um cinema, teatro, edifício etc.). A
Exige a lei, ainda, que o agente tenha intenção de comércio, provocação de incêndio em uma casa afastada não coloca em risco
distribuição ou exposição pública do objeto. a coletividade e, assim, não caracteriza o crime de incêndio, mas
crime de dano qualificado.
Consumação. O crime se consuma com a ação, independen- O crime pode ser praticado por ação ou por omissão, como, p.
temente da efetiva ofensa à moral pública. ex., por parte de quem tem o dever jurídico de evitar o resultado
porque causou acidentalmente o incêndio, e, mesmo podendo fa-
Tentativa. É possível. zê-lo, resolve se omitir e deixar o fogo tomar grandes proporções.
Nos incisos I, II e III, temos figuras equiparadas, punidas com Sujeito ativo. Pode ser qualquer pessoa, inclusive o proprie-
as mesmas penas, para quem comercializa ou publica os objetos tário do local incendiado.
mencionados, apresenta ao público peça teatral ou filmes cinema- Sujeitos passivos. O Estado e as pessoas expostas a risco.
tográficos de caráter obsceno, ou realiza audição ou declamação Consumação e tentativa. O crime se consuma com a criação
obscenas em local público ou acessível ao público. do perigo, sendo possível a tentativa.
Nos dias atuais, entretanto, não tem havido repressão a essa Se a intenção do agente era matar alguém, responde por crime
infração penal, sob o fundamento de que a sociedade moderna de homicídio (consumado ou tentado, conforme o resultado), qua-
não se abala, por exemplo, com a exibição de espetáculos ou re- lificado pelo emprego de fogo em concurso formal com o crime de
vistas pornográficas, desde que para adultos. Segundo Heleno C. incêndio, pelo risco causado à coletividade.
Fragoso “a pesquisa veio demonstrar que não há dano na exibição Por outro lado, a caracterização do crime de incêndio absor-
de espetáculos obscenos, que, ao contrário, podem evitar ações ve o crime de dano qualificado pelo uso de substância inflamável
(art. 163, parágrafo único, II, do CP). Este crime só se caracteriza
delituosas em matéria sexual, pela gratificação que constituem
quando o fogo não causa perigo comum, aplicando-se, portanto, a
para certas pessoas”. Por essas razões, não se tem punido o dono
situações de menor gravidade.
do cinema que exibe filme pornográfico, o jornaleiro que vende
O § 1º determina a elevação da pena em um terço quando o
revistas da mesma natureza etc. crime é cometido com intenção de obter alguma vantagem (ainda
que o agente não consiga obtê-la) e quando o fato ocorre em de-
terminados locais, elencados na lei, nos quais existe uma situação
mais grave de risco.
2.3.9 DOS CRIMES CONTRA A
INCOLUMIDADE PÚBLICA INCÊNDIO CULPOSO
Art. 250, § 2o — Se culposo o incêndio, a pena é de deten-
ção, de seis meses a dois anos.
Trata-se de crime que ocorre quando alguém não toma os cui-
dados necessários em determinada situação e, por consequência,
INCÊNDIO provoca um incêndio que expõe a perigo a incolumidade física ou
Art. 250 — Causar incêndio, expondo a perigo a vida, a in- patrimônio de número indeterminado de pessoas. Ex.: atirar ponta
tegridade física ou o patrimônio de outrem: de cigarro em local onde pode ocorrer combustão, não tomar as
Pena — reclusão, de três a seis anos, e multa. cautelas devidas em relação a fios elétricos desencapados etc.

Didatismo e Conhecimento 148


NOÇÕES DE DIREITO
As causas de aumento de pena do § 1º não se aplicam ao crime Valem aqui as observações feitas em relação ao crime de in-
de incêndio culposo. cêndio culposo. Ex.: colocação de tambores de gás para utilização
como combustível em veículo sem as cautelas necessárias.
EXPLOSÃO Ressalte-se que também na explosão culposa existe diferen-
Art. 251 — Expor a perigo a vida, a integridade física ou o ciação na pena se há o uso de dinamite ou apenas explosivo de
patrimônio de outrem, mediante explosão, arremesso ou simples menor potencial lesivo.
colocação de engenho de dinamite ou de substância de efeitos
análogos: Uso de gás tóxico ou asfixiante
Pena — reclusão, de três a seis anos, e multa. Art. 252 - Expor a perigo a vida, a integridade física ou o
§ 1o — Se a substância utilizada não é dinamite ou explo- patrimônio de outrem, usando de gás tóxico ou asfixiante:
sivo de Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
efeitos análogos: Modalidade Culposa
Pena — reclusão, de um a quatro anos, e multa. Parágrafo único - Se o crime é culposo:
AUMENTO DE PENA
Pena - detenção, de três meses a um ano.
§ 2o — As penas aumentam-se de um terço, se ocorre qual-
quer das hipóteses previstas no § 1º, I, do artigo anterior, ou é
Fabrico, fornecimento, aquisição posse ou transporte de ex-
visada ou atingida qualquer das coisas enumeradas no n. II do
plosivos ou gás tóxico, ou asfixiante
mesmo parágrafo.
O crime de explosão tem características semelhantes ao crime Art. 253 - Fabricar, fornecer, adquirir, possuir ou transpor-
de incêndio, tendo a mesma objetividade jurídica, sujeito ativo e tar, sem licença da autoridade, substância ou engenho explosivo,
passivo. gás tóxico ou asfixiante, ou material destinado à sua fabricação:
Condutas típicas. São distintas: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
a) Provocar explosão. Significa provocar o estouro de subs-
tância, com a produção de estrondo e violento deslocamento de ar INUNDAÇÃO
pela brusca expansão das substâncias que a compõem. Art. 254 — Causar inundação, expondo a perigo a vida, a
b) Arremessando explosivo. É lançamento feito a distância, integridade física ou o patrimônio de outrem:
com as mãos ou aparelhos. Para a configuração da situação de ris- Pena — reclusão, de três a seis anos, e multa, no caso de
co, basta o arremesso, sendo desnecessária a efetiva explosão. dolo, ou detenção, de seis meses a dois anos, no caso de culpa.
c) Colocação de explosivos. Significa armar o explosivo em Causar inundação significa provocar o alagamento de um
determinado local, como, por exemplo, colocar minas explosivas local de grande extensão, pelo desvio das águas de seus limites
em um terreno. naturais ou artificiais, de forma que não seja possível controlar a
A situação de risco existe, ainda que não haja a efetiva ex- força da corrente.
plosão. O crime pode ser praticado por ação (rompimento de um di-
O objeto material nesses crimes é a dinamite ou substância de que, represamento) ou por omissão.
efeitos análogos (caput) ou qualquer outra substância explosiva de É indiferente que a inundação seja violenta (abertura total de
menor potencial ofensivo (forma privilegiada do § 1º). comporta, rompimento de um dique, p. ex.) ou lenta (represamen-
Consumação. Dá-se com a provocação da situação de perigo. to, p. ex.), bastando que tenha o potencial de expor a perigo a co-
Tentativa. É possível. letividade. Assim, o delito se consuma com a situação efetiva de
Aplica-se o aumento de um terço da pena se o agente visa perigo (concreto) para número indeterminado de pessoas. A tenta-
obter vantagem ou se o crime é praticado em um dos locais men- tiva é possível.
cionados no artigo anterior. Por ser crime mais grave, o delito de inundação absorve o cri-
O crime de explosão é aplicado em concurso formal com o
me de usurpação ou desvio de águas (art. 161, § 1º, do CP).
crime de homicídio qualificado quando a intenção do agente, ao
O crime de inundação pode ser praticado dolosa ou culposa-
provocar a explosão, era de matar determinada pessoa. Por outro
mente, sendo que, no último caso, o fato resulta da não observân-
lado, a configuração do crime de explosão absorve o crime de dano
cia de um cuidado necessário (no sentido de evitar a inundação), e
qualificado pelo uso de substância explosiva (art. 163, parágrafo
único, III, do CP). a pena evidentemente é mais branda.
Veja-se, por fim, que o art. 16, parágrafo único, III, da Lei n.
10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento) pune com reclusão, de PERIGO DE INUNDAÇÃO
três a seis anos, e multa, quem possui, detém, fabrica ou emprega Art. 255 — Remover, destruir ou inutilizar, em prédio pró-
artefato explosivo, sem autorização e em desacordo com determi- prio ou alheio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou
nação legal ou regulamentar. No crime do art. 251 é necessário o patrimônio de outrem, obstáculo natural ou obra destinada a
que a explosão crie perigo concreto, o que não ocorre no crime do impedir inundação:
Estatuto. Pena — reclusão, de um a três anos, e multa.
Esse crime se caracteriza pela não ocorrência da inundação,
MODALIDADE CULPOSA uma vez que a existência desta tipifica o crime previsto no artigo
Art. 251, § 3o — No caso de culpa, se a explosão é de dina- anterior. A conduta incriminada no delito em tela consiste apenas
mite ou substância de efeitos análogos, a pena é de detenção, de em tirar, eliminar ou tornar ineficaz algum obstáculo (margem, p.
seis meses a dois anos; nos demais casos, é de detenção, de três ex.) ou obra (barragem, dique, comporta etc.) cuja finalidade é evi-
meses a um ano. tar a inundação.

Didatismo e Conhecimento 149


NOÇÕES DE DIREITO
Trata-se de crime doloso, em que o agente objetiva provo- b) se resulta morte, a pena será aplicada em dobro.
car uma situação de risco à coletividade pela simples remoção do Essas hipóteses são exclusivamente preterdolosas, ou seja, há
obstáculo, não visando a efetiva ocorrência da inundação. Assim, dolo na conduta inicial (crime de perigo comum) e culpa no re-
o crime se consuma com a situação de perigo decorrente de sua sultado agravador (lesão corporal grave ou morte). Dessa forma,
conduta. A tentativa é possível quando o agente, por exemplo, não como já mencionado anteriormente, existindo dolo em relação à
consegue remover o obstáculo. morte, o agente responde por homicídio doloso em concurso for-
Não se confunde o crime de tentativa de inundação (art. 254), mal com o crime de perigo comum.
em que o agente quer, mas não consegue provocá-la, com o crime 2) Nos crimes de perigo comum culposos:
de perigo de inundação, em que o agente efetivamente não quer a) se resulta lesão corporal (qualquer que seja sua natureza,
provocá-la. inclusive leve), a pena será aumentada de metade;
b) se resulta morte, a pena será a do homicídio culposo (deten-
DESABAMENTO OU DESMORONAMENTO ção de 1 a 3 anos), aumentada de um terço.
Art. 256 — Causar desabamento ou desmoronamento, ex-
pondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de Difusão de doença ou praga
outrem: Art. 259 - Difundir doença ou praga que possa causar dano
Pena — reclusão, de um a quatro anos, e multa. a floresta, plantação ou animais de utilidade econômica:
Condutas típicas Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa.
a) Causar desabamento. Significa provocar a queda de obras Modalidade culposa
construídas pelo homem (edifícios, pontes ou quaisquer outras Parágrafo único - No caso de culpa, a pena é de detenção, de
construções). um a seis meses, ou multa.
b) Causar desmoronamento. Significa provocar a queda de
parte do solo(barrancos, morros, pedreiras etc.). Perigo de desastre ferroviário
Consumação e tentativa. O crime se consuma com a provo- Art. 260 - Impedir ou perturbar serviço de estrada de ferro:
cação de perigo concreto à integridade física ou ao patrimônio de I - destruindo, danificando ou desarranjando, total ou par-
número indeterminado de pessoas. A tentativa é possível. cialmente, linha férrea, material rodante ou de tração, obra-de-
Sujeito ativo. Pode ser qualquer pessoa, inclusive o dono do -arte ou instalação;
imóvel atingido. II - colocando obstáculo na linha;
III - transmitindo falso aviso acerca do movimento dos ve-
MODALIDADE CULPOSA ículos ou interrompendo ou embaraçando o funcionamento de
Parágrafo único — Se o crime é culposo: telégrafo, telefone ou radiotelegrafia;
Pena — detenção, de seis meses a um ano. IV - praticando outro ato de que possa resultar desastre:
É bastante comum a ocorrência da modalidade culposa do Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa.
crime de desabamento ou desmoronamento. É o que ocorre, por
exemplo, quando não são observadas as regras próprias na edifica- Desastre ferroviário
ção de casas ou prédios, quando são construídas valas próximas a § 1º - Se do fato resulta desastre:
edificações, quando é retirada terra ou desmatada área que impede Pena - reclusão, de quatro a doze anos e multa.
a queda de barrancos etc. § 2º - No caso de culpa, ocorrendo desastre:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
Subtração, ocultação ou inutilização de material de salva- § 3º - Para os efeitos deste artigo, entende-se por estrada de
mento ferro qualquer via de comunicação em que circulem veículos de
Art. 257 - Subtrair, ocultar ou inutilizar, por ocasião de in- tração mecânica, em trilhos ou por meio de cabo aéreo.
cêndio, inundação, naufrágio, ou outro desastre ou calamidade,
aparelho, material ou qualquer meio destinado a serviço de com- Atentado contra a segurança de transporte marítimo, fluvial
bate ao perigo, de socorro ou salvamento; ou impedir ou dificul- ou aéreo
tar serviço de tal natureza: Art. 261 - Expor a perigo embarcação ou aeronave, própria
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa. ou alheia, ou praticar qualquer ato tendente a impedir ou dificul-
tar navegação marítima, fluvial ou aérea:
FORMAS QUALIFICADAS DE CRIME DE PERIGO Pena - reclusão, de dois a cinco anos.
COMUM Sinistro em transporte marítimo, fluvial ou aéreo
Art. 258 — Se do crime doloso de perigo comum resulta le- § 1º - Se do fato resulta naufrágio, submersão ou encalhe de
são embarcação ou a queda ou destruição de aeronave:
corporal de natureza grave, a pena privativa de liberdade é Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
aumentada de metade; se resulta morte, é aplicada em dobro. No
caso de culpa, se do fato resulta lesão corporal, a pena aumenta- Prática do crime com o fim de lucro
-se de metade; se resulta morte, aplica-se a pena cominada ao § 2º - Aplica-se, também, a pena de multa, se o agente prati-
homicídio culposo, aumentada de um terço. ca o crime com intuito de obter vantagem econômica, para si ou
Esse dispositivo possui duas partes: para outrem.
1) Nos crimes de perigo comum dolosos: Modalidade culposa
a) se resulta lesão corporal de natureza grave, a pena será au- § 3º - No caso de culpa, se ocorre o sinistro:
mentada de metade; Pena - detenção, de seis meses a dois anos.

Didatismo e Conhecimento 150


NOÇÕES DE DIREITO
Atentado contra a segurança de outro meio de transporte Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
Art. 262 - Expor a perigo outro meio de transporte público, Parágrafo único - Aplicam-se as penas em dobro, se o crime
impedir-lhe ou dificultar-lhe o funcionamento: é cometido por ocasião de calamidade pública.
Pena - detenção, de um a dois anos.
§ 1º - Se do fato resulta desastre, a pena é de reclusão, de
dois a cinco anos. 3.32 CRIMES CONTRA A PAZ PÚBLICA.
§ 2º - No caso de culpa, se ocorre desastre:
Pena - detenção, de três meses a um ano.

Forma qualificada INCITAÇÃO AO CRIME


Art. 263 - Se de qualquer dos crimes previstos nos arts. 260 Art. 286 — Incitar, publicamente, a prática de crime:
a 262, no caso de desastre ou sinistro, resulta lesão corporal ou Pena — detenção, de três a seis meses, ou multa.
morte, aplica-se o disposto no art. 258. Objetividade jurídica. Todos os crimes previstos neste título
visam a resguardar a paz pública.
ARREMESSO DE PROJÉTIL
Tipo objetivo. Consiste em instigar, provocar ou estimular a re-
Art. 264 — Arremessar projétil contra veículo, em movimen-
alização de crime de qualquer natureza (previsto no CP ou em outras
to, destinado ao transporte público por terra, por água ou pelo ar:
Pena — detenção, de um a seis meses. leis). Exige-se que a conduta seja praticada em público, ou seja, na
Parágrafo único — Se do fato resulta lesão corporal, a pena presença de número elevado de pessoas, uma vez que a conduta de
é de detenção, de seis meses a dois anos; se resulta morte, a pena induzir pessoa certa e determinada à prática de um crime constitui
é a do art. 121, § 3o, aumentada de um terço. participação no delito efetivamente cometido. É necessário, ainda,
Nesse dispositivo a lei protege a incolumidade pública, no que que o agente estimule grande número de pessoas a cometer determi-
se refere à segurança nos meios de transporte coletivos. nada espécie de delito, pois a conduta de estimular genericamente o
Conduta típica. Consiste em arremessar, que significa atirar, ingresso de pessoas à delinquência não constitui crime.
jogar um projétil. Este é um objeto sólido capaz de ferir ou causar Nos termos da lei, a incitação pública à prática de ato contra-
dano em coisas ou pessoas (pedaços de pau, pedras etc.). Não estão vencional não constitui crime.
compreendidos pelo conceito os corpos líquidos ou gasosos. Além Também não caracteriza o delito a simples opinião no sentido
disso, o disparo de arma de fogo, atualmente, configura crime mais de ser legalizada certa conduta (porte de entorpecente, aborto etc.).
grave previsto no art. 15 da Lei n. 10.826/2003 (Estatuto do Desar- A incitação ao crime pode ser exercitada por qualquer meio:
mamento). Para que exista crime é necessário que o projétil seja panfletos, cartazes, discursos, gritos em público etc. Após o
lançado contra veículo em movimento por terra, mar ou ar. Exige- Supremo Tribunal Federal julgar que a Lei de Imprensa não foi re-
-se também que o veículo seja destinado a transporte coletivo (ôni- cepcionada pela Constituição Federal de 1988, o crime em análise
bus, navios, aviões etc.). Assim, o arremesso de projétil contra ve- também pode ser cometido por meio de rádio, jornal, televisão, re-
ículo de uso particular ou de transporte público que esteja parado
vistas etc., na medida em que não é mais aplicável o crime previsto
pode caracterizar apenas outro crime (lesões corporais, dano etc.).
Consumação. O crime se consuma com o arremesso, ainda no art. 19 da Lei de Imprensa.
que não atinja o alvo. Trata-se de crime de perigo abstrato, cuja Sujeito ativo. Pode ser qualquer pessoa. Trata-se de crime
configuração independe da efetiva demonstração da situação de comum.
risco. O perigo, portanto, é presumido. Sujeito passivo. A coletividade.
Tentativa. É possível quando o agente movimenta o braço Consumação e tentativa. O crime se consuma com a sim-
para lançar o projétil e é detido por alguém. ples incitação pública, ou seja, quando número indeterminado de
Nos termos do parágrafo único, se do fato resulta lesão, ainda pessoas toma conhecimento dela. Trata-se de crime formal, cuja
que leve, a pena é aumentada para seis meses a dois anos de deten- caracterização dispensa a efetiva prática de crime por parte dos
ção e, se resulta morte, a pena é a do homicídio culposo, aumenta- que receberam a mensagem. A tentativa somente é admitida na
da de um terço. Essas qualificadoras são exclusivamente preterdo- forma escrita, quando, por exemplo, extraviam-se os panfletos que
losas, pois, se o agente quer provocar a morte, responde por crime seriam distribuídos, quando o agente é impedido de entregá-los às
de homicídio doloso, que absorve o delito de arremesso de projétil. pessoas etc.
Atentado contra a segurança de serviço de utilidade pública APOLOGIA DE CRIME OU CRIMINOSO
Art. 265 - Atentar contra a segurança ou o funcionamento Art. 287 — Fazer, publicamente, apologia de fato criminoso
de serviço de água, luz, força ou calor, ou qualquer outro de ou de autor de crime:
utilidade pública:
Pena — detenção, de três a seis meses, ou multa.
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
Na definição de Heleno C. Fragoso, “fazer apologia, no sen-
Parágrafo único - Aumentar-se-á a pena de 1/3 (um terço)
até a metade, se o dano ocorrer em virtude de subtração de mate- tido em que a ação é prevista na lei penal, é defender, justificar,
rial essencial ao funcionamento dos serviços. exaltar, aprovar ou elogiar de maneira perigosa, isto é, de forma
que constitua incentivo indireto ou implícito à repetição da ação
Interrupção ou perturbação de serviço telegráfico ou tele- delituosa.
fônico Não será bastante, portanto, a simples manifestação de soli-
Art. 266 - Interromper ou perturbar serviço telegráfico, ra- dariedade, defesa ou apreciação favorável, ainda que veemente,
diotelegráfico ou telefônico, impedir ou dificultar-lhe o restabe- não sendo punível a mera opinião” (Lições de direito penal, Rio de
lecimento: Janeiro, Forense, v. 3, p. 752).

Didatismo e Conhecimento 151


NOÇÕES DE DIREITO
Comete o crime, dessa forma, quem enaltece fato criminoso Quando os delitos cometidos forem furtos ou roubos, que já
(previsto no CP ou outras leis) ou o próprio autor do crime em possuem qualificadora ou causa de aumento de pena pelo envol-
função do delito que cometeu. vimento de pelo menos duas pessoas, há divergência, na doutrina
A apologia a fato contravencional não se amolda ao tipo penal. e na jurisprudência, quanto ao correto enquadramento, caso tais
É também requisito desse crime que a apologia seja feita em crimes sejam praticados por quatro ou mais membros de uma qua-
público, isto é, que atinja número indeterminado de pessoas. Pode drilha. Para alguns, os agentes respondem por quadrilha em con-
o delito ser cometido por qualquer meio: discurso, panfletos, car- curso material com furto ou roubo simples porque a aplicação da
tazes etc. qualificadora ou causa de aumento seria bis in idem. Para outros,
Após o Supremo Tribunal Federal julgar que a Lei de Impren- os agentes respondem por quadrilha e pelos crimes qualificados
sa não foi recepcionada pela Constituição Federal de 1988, o crime porque a quadrilha é um crime de perigo contra a coletividade de-
em análise também pode ser cometido por meio de rádio, jornal, corrente da mera associação, enquanto a qualificadora decorre da
televisão, revistas etc., na medida em que não é mais aplicável o maior gravidade da conduta contra a vítima do caso concreto. Este
crime previsto no art. 19, § 2º, da Lei de Imprensa. é o entendimento aceito no Supremo Tribunal Federal.
Sujeito ativo. Pode ser qualquer pessoa.
O crime de quadrilha tem natureza permanente, pois, enquanto
Consumação. Ocorre com a exaltação feita em público, inde-
não desmantelada pelas autoridades ou desfeita por seus integran-
pendentemente de qualquer outro resultado. Cuida-se de crime de
tes, subsiste a intenção de cometer crimes que levou os membros
mera conduta.
à associação, estando a paz pública ameaçada a todo momento.
Tentativa. É possível, como, por exemplo, na forma escrita.
Tentativa. É inadmissível.
Q UADRILHA OU BANDO Causa de aumento de pena. O parágrafo único prevê que a
Art. 288 — Associarem-se mais de três pessoas, em quadri- pena será aplicada em dobro se a quadrilha ou bando for armado.
lha ou bando, para o fim de cometer crimes: Apesar das divergências, prevalece o entendimento de que bas-
Pena — reclusão, de um a três anos. ta um dos integrantes da quadrilha estar armado, desde que isso
Parágrafo único — A pena aplica-se em dobro, se a quadri- guarde relação com os fins criminosos do grupo. O dispositivo al-
lha ou bando é armado. cança a utilização de armas próprias (fabricadas para servir como
Quadrilha ou bando é a associação estável de pelo menos instrumento de ataque ou defesa) ou impróprias (feitas com outra
quatro pessoas com o fim de cometer reiteradamente crimes. Pres- finalidade, mas que também podem matar ou ferir — facas, nava-
supõe, portanto, um acordo de vontades dos integrantes, no sentido lhas, estiletes etc.).
de juntarem seus esforços no cometimento dos crimes. As palavras Figura qualificada. O art. 8º da Lei n. 8.072/90 (Lei dos Cri-
“quadrilha” e “bando” são sinônimas. mes Hediondos) dispõe que será de três a seis anos de reclusão
Trata-se de crime de concurso necessário, pois sua existência a pena prevista no art. 288 do Código Penal, quando se tratar de
depende da união de ao menos quatro pessoas. O fato de um dos união visando a prática de crimes hediondos, tortura ou terrorismo.
envolvidos ser menor de idade ou não ter sido identificado no caso Trata-se de qualificadora que se aplica, portanto, quando a qua-
concreto não afasta o delito. drilha é formada para a prática desses crimes de maior gravidade.
A hipótese é de concurso necessário de condutas paralelas Nessas hipóteses, haverá concurso material entre o crime de qua-
porque os envolvidos auxiliam-se mutuamente, visando um resul- drilha qualificado e os crimes efetivamente cometidos. Esse art. 8º
tado comum. também menciona a associação para a prática de tráfico de entor-
O crime de quadrilha distingue-se do concurso de pessoas (co- pecentes, porém, atualmente, a união de duas ou mais pessoas para
autoria ou participação comuns). Na quadrilha as pessoas reúnem- a prática de tráfico, de forma reiterada ou não, constitui o crime
-se de forma estável, enquanto no concurso elas se associam de do art. 35, caput, da Lei n. 11.343/2006 (nova Lei Antitóxicos),
forma momentânea. Além disso, na quadrilha os agentes visam co- punido com reclusão de três a dez anos, e multa. Além disso, o art.
meter número indeterminado de infrações; já no concurso, visam a 35, parágrafo único, da mesma lei, pune com as mesmas penas a
prática de um crime determinado.
associação de duas ou mais pessoas para o financiamento reiterado
O tipo penal expressamente menciona que a intenção dos
do tráfico.
associados, no crime de quadrilha, é a prática de crimes. Assim,
Delação premiada. A Lei dos Crimes Hediondos, em seu art.
quando a intenção for cometer reiteradamente contravenções pe-
8º, parágrafo único, trouxe outra inovação, ao dispor que o parti-
nais em grupo (jogo do bicho, por exemplo), não se tipifica o delito
em estudo. cipante ou associado que denunciar à autoridade (juiz, promotor,
Sujeitos ativo e passivo. O sujeito ativo pode ser qualquer delegado, policial militar) o bando ou quadrilha, possibilitando seu
pessoa. Sujeito passivo é a coletividade. desmantelamento,
Consumação. O delito se consuma no momento em que se terá a pena reduzida de um a dois terços.
verifica a efetiva associação, independentemente da prática de Esse instituto foi também chamado por Damásio E. de Jesus
qualquer crime. Trata-se de crime formal. Além disso, é necessário de traição benéfica, pois implica redução da pena como consequ-
ressaltar que o crime de quadrilha é autônomo em relação aos deli- ência da delação de comparsas. Veja-se que, nos termos da lei, só
tos que efetivamente venham a ser cometidos por seus integrantes, haverá a diminuição da pena se a delação implicar o efetivo des-
uma vez que a lei visa punir a simples situação de perigo decor- mantelamento da quadrilha.
rente da associação. No caso do concurso material entre o crime de quadrilha e
Dessa forma, haverá concurso material entre o crime de qua- outros delitos praticados por seus integrantes, a redução da pena
drilha e as demais infrações efetivamente praticadas. atingirá apenas o primeiro (quadrilha).

Didatismo e Conhecimento 152


NOÇÕES DE DIREITO
A apologia a fato contravencional não se amolda ao tipo penal.
2.3.10 DOS CRIMES CONTRA A É também requisito desse crime que a apologia seja feita em
PAZ PÚBLICA público, isto é, que atinja número indeterminado de pessoas. Pode
o delito ser cometido por qualquer meio: discurso, panfletos, car-
tazes etc.
Após o Supremo Tribunal Federal julgar que a Lei de Impren-
INCITAÇÃO AO CRIME sa não foi recepcionada pela Constituição Federal de 1988, o crime
Art. 286 — Incitar, publicamente, a prática de crime: em análise também pode ser cometido por meio de rádio, jornal,
Pena — detenção, de três a seis meses, ou multa. televisão, revistas etc., na medida em que não é mais aplicável o
Objetividade jurídica. Todos os crimes previstos neste título crime previsto no art. 19, § 2º, da Lei de Imprensa.
visam a resguardar a paz pública. Sujeito ativo. Pode ser qualquer pessoa.
Tipo objetivo. Consiste em instigar, provocar ou estimular a Consumação. Ocorre com a exaltação feita em público, inde-
realização de crime de qualquer natureza (previsto no CP ou em pendentemente de qualquer outro resultado. Cuida-se de crime de
outras leis). Exige-se que a conduta seja praticada em público, mera conduta.
ou seja, na presença de número elevado de pessoas, uma vez que Tentativa. É possível, como, por exemplo, na forma escrita.
a conduta de induzir pessoa certa e determinada à prática de um
crime constitui participação no delito efetivamente cometido. É QUADRILHA OU BANDO
necessário, ainda, que o agente estimule grande número de pes- Art. 288 — Associarem-se mais de três pessoas, em quadri-
soas a cometer determinada espécie de delito, pois a conduta de lha ou bando, para o fim de cometer crimes:
estimular genericamente o ingresso de pessoas à delinquência não Pena — reclusão, de um a três anos.
constitui crime. Parágrafo único — A pena aplica-se em dobro, se a quadri-
Nos termos da lei, a incitação pública à prática de ato contra- lha ou bando é armado.
vencional não constitui crime. Quadrilha ou bando é a associação estável de pelo menos
Também não caracteriza o delito a simples opinião no sentido quatro pessoas com o fim de cometer reiteradamente crimes. Pres-
de ser legalizada certa conduta (porte de entorpecente, aborto etc.). supõe, portanto, um acordo de vontades dos integrantes, no sentido
A incitação ao crime pode ser exercitada por qualquer meio: de juntarem seus esforços no cometimento dos crimes. As palavras
panfletos, cartazes, discursos, gritos em público etc. Após o “quadrilha” e “bando” são sinônimas.
Supremo Tribunal Federal julgar que a Lei de Imprensa não foi re- Trata-se de crime de concurso necessário, pois sua existência
cepcionada pela Constituição Federal de 1988, o crime em análise depende da união de ao menos quatro pessoas. O fato de um dos
também pode ser cometido por meio de rádio, jornal, televisão, re- envolvidos ser menor de idade ou não ter sido identificado no caso
vistas etc., na medida em que não é mais aplicável o crime previsto concreto não afasta o delito.
no art. 19 da Lei de Imprensa.
A hipótese é de concurso necessário de condutas paralelas
Sujeito ativo. Pode ser qualquer pessoa. Trata-se de crime
porque os envolvidos auxiliam-se mutuamente, visando um resul-
comum.
tado comum.
Sujeito passivo. A coletividade.
O crime de quadrilha distingue-se do concurso de pessoas (co-
Consumação e tentativa. O crime se consuma com a sim-
autoria ou participação comuns). Na quadrilha as pessoas reúnem-
ples incitação pública, ou seja, quando número indeterminado de
-se de forma estável, enquanto no concurso elas se associam de
pessoas toma conhecimento dela. Trata-se de crime formal, cuja
caracterização dispensa a efetiva prática de crime por parte dos forma momentânea. Além disso, na quadrilha os agentes visam co-
que receberam a mensagem. A tentativa somente é admitida na meter número indeterminado de infrações; já no concurso, visam a
forma escrita, quando, por exemplo, extraviam-se os panfletos que prática de um crime determinado.
seriam distribuídos, quando o agente é impedido de entregá-los às O tipo penal expressamente menciona que a intenção dos
pessoas etc. associados, no crime de quadrilha, é a prática de crimes. Assim,
quando a intenção for cometer reiteradamente contravenções pe-
APOLOGIA DE CRIME OU CRIMINOSO nais em grupo (jogo do bicho, por exemplo), não se tipifica o delito
Art. 287 — Fazer, publicamente, apologia de fato criminoso em estudo.
ou de autor de crime: Sujeitos ativo e passivo. O sujeito ativo pode ser qualquer
Pena — detenção, de três a seis meses, ou multa. pessoa. Sujeito passivo é a coletividade.
Na definição de Heleno C. Fragoso, “fazer apologia, no sen- Consumação. O delito se consuma no momento em que se
tido em que a ação é prevista na lei penal, é defender, justificar, verifica a efetiva associação, independentemente da prática de
exaltar, aprovar ou elogiar de maneira perigosa, isto é, de forma qualquer crime. Trata-se de crime formal. Além disso, é necessário
que constitua incentivo indireto ou implícito à repetição da ação ressaltar que o crime de quadrilha é autônomo em relação aos deli-
delituosa. tos que efetivamente venham a ser cometidos por seus integrantes,
Não será bastante, portanto, a simples manifestação de soli- uma vez que a lei visa punir a simples situação de perigo decor-
dariedade, defesa ou apreciação favorável, ainda que veemente, rente da associação.
não sendo punível a mera opinião” (Lições de direito penal, Rio de Dessa forma, haverá concurso material entre o crime de qua-
Janeiro, Forense, v. 3, p. 752). drilha e as demais infrações efetivamente praticadas.
Comete o crime, dessa forma, quem enaltece fato criminoso Quando os delitos cometidos forem furtos ou roubos, que já
(previsto no CP ou outras leis) ou o próprio autor do crime em possuem qualificadora ou causa de aumento de pena pelo envol-
função do delito que cometeu. vimento de pelo menos duas pessoas, há divergência, na doutrina

Didatismo e Conhecimento 153


NOÇÕES DE DIREITO
e na jurisprudência, quanto ao correto enquadramento, caso tais
crimes sejam praticados por quatro ou mais membros de uma qua- 2.3.11 DOS CRIMES CONTRA
drilha. Para alguns, os agentes respondem por quadrilha em con- A FÉ PÚBLICA
curso material com furto ou roubo simples porque a aplicação da
qualificadora ou causa de aumento seria bis in idem. Para outros,
os agentes respondem por quadrilha e pelos crimes qualificados
porque a quadrilha é um crime de perigo contra a coletividade de- Moeda Falsa
corrente da mera associação, enquanto a qualificadora decorre da Art. 289 - Falsificar, fabricando-a ou alterando-a, moeda
maior gravidade da conduta contra a vítima do caso concreto. Este metálica ou papel-moeda de curso legal no país ou no estran-
é o entendimento aceito no Supremo Tribunal Federal. geiro:
O crime de quadrilha tem natureza permanente, pois, enquanto Pena - reclusão, de três a doze anos, e multa.
não desmantelada pelas autoridades ou desfeita por seus integran- § 1º - Nas mesmas penas incorre quem, por conta própria ou
tes, subsiste a intenção de cometer crimes que levou os membros alheia, importa ou exporta, adquire, vende, troca, cede, empres-
à associação, estando a paz pública ameaçada a todo momento. ta, guarda ou introduz na circulação moeda falsa.
Tentativa. É inadmissível. § 2º - Quem, tendo recebido de boa-fé, como verdadeira, mo-
Causa de aumento de pena. O parágrafo único prevê que a eda falsa ou alterada, a restitui à circulação, depois de conhecer
pena será aplicada em dobro se a quadrilha ou bando for armado. a falsidade, é punido com detenção, de seis meses a dois anos, e
Apesar das divergências, prevalece o entendimento de que bas- multa.
ta um dos integrantes da quadrilha estar armado, desde que isso § 3º - É punido com reclusão, de três a quinze anos, e multa,
guarde relação com os fins criminosos do grupo. O dispositivo al- o funcionário público ou diretor, gerente, ou fiscal de banco de
cança a utilização de armas próprias (fabricadas para servir como emissão que fabrica, emite ou autoriza a fabricação ou emissão:
instrumento de ataque ou defesa) ou impróprias (feitas com outra I - de moeda com título ou peso inferior ao determinado em lei;
finalidade, mas que também podem matar ou ferir — facas, nava- II - de papel-moeda em quantidade superior à autorizada.
lhas, estiletes etc.). § 4º - Nas mesmas penas incorre quem desvia e faz circular
Figura qualificada. O art. 8º da Lei n. 8.072/90 (Lei dos Cri- moeda, cuja circulação não estava ainda autorizada.
mes Hediondos) dispõe que será de três a seis anos de reclusão
a pena prevista no art. 288 do Código Penal, quando se tratar de Crimes assimilados ao de moeda falsa
união visando a prática de crimes hediondos, tortura ou terrorismo. Art. 290 - Formar cédula, nota ou bilhete representativo de
Trata-se de qualificadora que se aplica, portanto, quando a qua- moeda com fragmentos de cédulas, notas ou bilhetes verdadei-
drilha é formada para a prática desses crimes de maior gravidade. ros; suprimir, em nota, cédula ou bilhete recolhidos, para o fim
Nessas hipóteses, haverá concurso material entre o crime de qua- de restituí-los à circulação, sinal indicativo de sua inutilização;
drilha qualificado e os crimes efetivamente cometidos. Esse art. 8º restituir à circulação cédula, nota ou bilhete em tais condições,
também menciona a associação para a prática de tráfico de entor- ou já recolhidos para o fim de inutilização:
pecentes, porém, atualmente, a união de duas ou mais pessoas para Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
a prática de tráfico, de forma reiterada ou não, constitui o crime Parágrafo único - O máximo da reclusão é elevado a doze
do art. 35, caput, da Lei n. 11.343/2006 (nova Lei Antitóxicos), anos e multa, se o crime é cometido por funcionário que trabalha
punido com reclusão de três a dez anos, e multa. Além disso, o art. na repartição onde o dinheiro se achava recolhido, ou nela tem
35, parágrafo único, da mesma lei, pune com as mesmas penas a fácil ingresso, em razão do cargo.
associação de duas ou mais pessoas para o financiamento reiterado
do tráfico. Petrechos para falsificação de moeda
Delação premiada. A Lei dos Crimes Hediondos, em seu art. Art. 291 - Fabricar, adquirir, fornecer, a título oneroso ou
8º, parágrafo único, trouxe outra inovação, ao dispor que o parti- gratuito, possuir ou guardar maquinismo, aparelho, instrumen-
cipante ou associado que denunciar à autoridade (juiz, promotor, to ou qualquer objeto especialmente destinado à falsificação de
delegado, policial militar) o bando ou quadrilha, possibilitando seu moeda:
desmantelamento, terá a pena reduzida de um a dois terços. Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
Esse instituto foi também chamado por Damásio E. de Jesus
de traição benéfica, pois implica redução da pena como consequ- Emissão de título ao portador sem permissão legal
ência da delação de comparsas. Veja-se que, nos termos da lei, só Art. 292 - Emitir, sem permissão legal, nota, bilhete, ficha,
haverá a diminuição da pena se a delação implicar o efetivo des- vale ou título que contenha promessa de pagamento em dinheiro
mantelamento da quadrilha. ao portador ou a que falte indicação do nome da pessoa a quem
No caso do concurso material entre o crime de quadrilha e deva ser pago:
outros delitos praticados por seus integrantes, a redução da pena Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
atingirá apenas o primeiro (quadrilha). Parágrafo único - Quem recebe ou utiliza como dinheiro
qualquer dos documentos referidos neste artigo incorre na pena
de detenção, de quinze dias a três meses, ou multa.

Didatismo e Conhecimento 154


NOÇÕES DE DIREITO
DA FALSIDADE DE TÍTULOS E OUTROS PAPÉIS PÚ- Petrechos de falsificação
BLICOS Art. 294 - Fabricar, adquirir, fornecer, possuir ou guardar
objeto especialmente destinado à falsificação de qualquer dos
Falsificação de papéis públicos papéis referidos no artigo anterior:
Art. 293 - Falsificar, fabricando-os ou alterando-os: Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
I - selo destinado a controle tributário, papel selado ou qual-
quer papel de emissão legal destinado à arrecadação de tributo; Sujeito Ativo: qualquer pessoa. Se for funcionário público
II - papel de crédito público que não seja moeda de curso que se prevalece do cargo público, há o aumento de pena, nos ter-
legal; mos do art. 295.
III - vale postal; Sujeito Passivo: O Estado.
IV - cautela de penhor, caderneta de depósito de caixa eco- Tipo Objetivo: As condutas são as de fabricar (produzir,
nômica ou de outro estabelecimento mantido por entidade de construir, manufaturar, criar, montar) adquirir (obter de qual-
direito público; quer forma), fornecer (entregar, doar, vender, proporcionar), pos-
V - talão, recibo, guia, alvará ou qualquer outro documento suir (ter a propriedade ou posse material) e guardar (ter consigo, a
relativo a arrecadação de rendas públicas ou a depósito ou cau- sua disposição, conservar) o petrecho para falsificação dos papéis
ção por que o poder público seja responsável; referidos no art. 293.
VI - bilhete, passe ou conhecimento de empresa de transpor- Quanto ao objeto material, a lei inova e refere-se somente ao
te administrada pela União, por Estado ou por Município: objeto, termo abrangente e que engloba, ao contrário do art. 291,
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. as máquinas, matrizes, carimbos, modelos, etc.
§ 1o Incorre na mesma pena quem: Tipo Subjetivo: É o dolo, a vontade de praticar uma das con-
I - usa, guarda, possui ou detém qualquer dos papéis falsifi- dutas típicas, estando ciente o agente que se trata de objeto destina-
cados a que se refere este artigo; do à falsificação dos papéis públicos referidos no art. 293.
II - importa, exporta, adquire, vende, troca, cede, empresta, Consumação e Tentativa: Consuma-se o crime com a prática
guarda, fornece ou restitui à circulação selo falsificado destina- da ação, independentemente de qualquer outro resultado. A posse e
do a controle tributário; a guarda é crime permanente, permitindo a prisão em flagrante do
III - importa, exporta, adquire, vende, expõe à venda, man- agente enquanto o conserva a sua disposição. É possível a tentativa
tém em depósito, guarda, troca, cede, empresta, fornece, porta em algumas das condutas típicas (fabricar, adquirir, fornecer).
ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no Classificação: crime comum (aquele que pode ser cometido
exercício de atividade comercial ou industrial, produto ou mer- por qualquer pessoa); formal (crime que não exige, para a sua con-
cadoria: sumação, a ocorrência de resultado naturalístico, consistente na
a) em que tenha sido aplicado selo que se destine a controle efetiva perturbação da paz pública, com a prática de crimes); de
tributário, falsificado; forma livre (o delito pode ser cometido por qualquer meio eleito
b) sem selo oficial, nos casos em que a legislação tributária pelo agente); comissivo (o verbo implica em ação), e, excepcio-
determina a obrigatoriedade de sua aplicação. nalmente, omissivo impróprio ou comissivo por omissão (quando
§ 2º - Suprimir, em qualquer desses papéis, quando legíti- o agente tem o dever jurídico de evitar o resultado, nos termos
mos, com o fim de torná-los novamente utilizáveis, carimbo ou do art. 13, § 2º, do CP). É delito instantâneo (cuja consumação
sinal indicativo de sua inutilização: não se prolonga no tempo, dando-se em momento determinado);
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. de perigo comum (delito que expõe um número indeterminado de
§ 3º - Incorre na mesma pena quem usa, depois de alterado, pessoas a perigo); unissubjetivo (aquele que pode ser cometido
qualquer dos papéis a que se refere o parágrafo anterior. por um único sujeito); unissubsistente (praticado em um único ato)
§ 4º - Quem usa ou restitui à circulação, embora recibo de ou plurissubsistente (delito cuja ação é composta por vários atos,
boa-fé, qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a que se permitindo-se o seu fracionamento), conforme o caso concreto.
referem este artigo e o seu § 2º, depois de conhecer a falsidade Admite a tentativa na forma plurissubsistente ou quando for co-
ou alteração, incorre na pena de detenção, de 6 (seis) meses a 2 metido de forma escrita.
(dois) anos, ou multa.
§ 5o Equipara-se a atividade comercial, para os fins do inciso Art. 295 - Se o agente é funcionário público, e comete o cri-
III do § 1o, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino, me prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena de sexta parte.
inclusive o exercido em vias, praças ou outros logradouros públi-
cos e em residências. CAPÍTULO III DA FALSIDADE DOCUMENTAL

Tomando-se como base o pensamento de Fernando Capez, po- Falsificação do selo ou sinal público
demos definir o Art. 293 do Código Penal como sendo o título que Art. 296 - Falsificar, fabricando-os ou alterando-os:
tem por objetivo punir a falsificação de papéis públicos por meio I - selo público destinado a autenticar atos oficiais da União,
de alteração ou fabricação do título. Este crime configura-se como de Estado ou de Município;
sendo uma ofensa à fé pública e às entidades públicas como um II - selo ou sinal atribuído por lei a entidade de direito públi-
todo. É passível de punição penal por meio de reclusão e comporta co, ou a autoridade, ou sinal público de tabelião:
causa de aumento de pena. Há que se falar também na figura da Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
suspensão condicional do processo em condutas de pouco poder § 1º - Incorre nas mesmas penas:
lesivo (de acordo com as Leis dos Juizados Especiais Criminais). I - quem faz uso do selo ou sinal falsificado;

Didatismo e Conhecimento 155


NOÇÕES DE DIREITO
II - quem utiliza indevidamente o selo ou sinal verdadeiro Crime praticado por funcionário: Aumenta-se a pena, em
em prejuízo de outrem ou em proveito próprio ou alheio. um sexto (§2º). Não basta que o autor seja funcionário público.
III - quem altera, falsifica ou faz uso indevido de marcas, lo- Exige-se que tenha realizado o delito prevalecendo-se do cargo por
gotipos, siglas ou quaisquer outros símbolos utilizados ou identi- ocasião ou facilidade.
ficadores de órgãos ou entidades da Administração Pública.
§ 2º - Se o agente é funcionário público, e comete o crime Falsificação de documento público
prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena de sexta parte. Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento públi-
co, ou alterar documento público verdadeiro:
Sujeito Ativo: Qualquer pessoa. Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
Sujeito Passivo: O Estado, titular da fé pública lesada com a § 1º - Se o agente é funcionário público, e comete o crime
falsificação. prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena de sexta parte.
Tipo Objetivo: A conduta típica é a de falsificar, por meio de § 2º - Para os efeitos penais, equiparam-se a documento pú-
fabricação ou alteração. O primeiro objeto material é o selo des- blico o emanado de entidade paraestatal, o título ao portador ou
tinado a autenticar atos oficiais da União, Estado ou Município, transmissível por endosso, as ações de sociedade comercial, os
que é o sinete com armas ou emblemas dessas pessoas jurídicas de livros mercantis e o testamento particular.
Direito Público destinado a autenticar atos que lhe são próprios. § 3o Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz inserir:
É também prevista a falsificação do selo ou sinal atribuído por I - na folha de pagamento ou em documento de informações
lei a entidade de direito público, ou a autoridade ou sinal de tabe- que seja destinado a fazer prova perante a previdência social,
lião, que é uma espécie de distintivo da individualidade funcional. pessoa que não possua a qualidade de segurado obrigatório;
Como em qualquer crime de falso, é necessário que a imitação II - na Carteira de Trabalho e Previdência Social do em-
possa induzir em erro determinado número de pessoas. pregado ou em documento que deva produzir efeito perante a
Tipo Subjetivo: É o dolo, a vontade de falsificar, fabricando previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria
ou alterando o selo ou sinal, ciente o agente que ele é destinado à ter sido escrita;
autenticação de documento oficial. III - em documento contábil ou em qualquer outro docu-
Consumação e Tentativa: Consuma-se o crime com a forma- mento relacionado com as obrigações da empresa perante a pre-
ção ou alteração do selo ou sinal, independentemente de qualquer vidência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter
resultado lesivo. constado.
§ 4o Nas mesmas penas incorre quem omite, nos documentos
É possível a tentativa quando iniciada a execução do fabrico
mencionados no § 3o, nome do segurado e seus dados pessoais, a
ou alteração.
remuneração, a vigência do contrato de trabalho ou de prestação
Competência: Quando se trata de crime praticado em detri-
de serviços.
mento dos serviços da União, a competência para processar e jul-
gar é da Justiça Federal.
Objetividade jurídica: A fé pública, a confiança que as pes-
Uso de selo ou sinal falsificado: Nas mesmas penas da falsi-
soas têm de ter no documento público. O crime atinge a coletivi-
ficação, incorre quem faz uso, ou seja, utiliza, aproveita o selo ou
dade (crime vago).
sinal falsificado. Mais uma vez, não estão presentes as condutas de
Sujeito ativo: Sujeito ativo é qualquer pessoa. Tratando-se de
guardar, ter posse ou detenção e ter em depósito. funcionário público, incide a causa de aumento, prevista no § 1.º
A consumação ocorre com a conduta, independentemente de do art. 297, desde que o funcionário prevaleça-se do cargo e, com
resultado danoso concreto. isso, obtenha alguma vantagem ou facilidade para falsificar docu-
Mirabete: Há dúvidas quanto a possibilidade de tentativa. Da- mento público. Exemplos: utilizar o crachá para ingressar no de-
másio anota que é impossível a tentativa, uma vez que o primeiro partamento; acessar dados no computador com senha pessoal etc.
ato de uso já consuma o crime. Sujeito passivo: O Estado, a coletividade. Pode haver tam-
Damásio: o CP não pune o fato de qualquer uso, uma vez que bém vítima secundária, a pessoa lesada pela falsificação.
o verbo deve ser interpretado à luz dos dois incisos do caput. Cui- Elementos objetivos do tipo: São elementos objetivos do
da-se do uso que se refere à destinação regular e normal do selo ou tipo:
sinal de natureza pública, isto é, o emprego do objeto material para • Falsificar: criar materialmente um documento inexisten-
autenticar documentos oficiais. te – fazer ou contrafazer o documento. A falsificação pode ser no
Uso indevido de selo ou sinal verdadeiro: Também é incri- todo ou em parte. Contrafazer é utilizar uma cópia do modelo ver-
minada a conduta de quem utiliza indevidamente o selo ou sinal dadeiro para falsificá-lo.
verdadeiro. O objeto material do delito, portanto, não é mais o selo • Alterar: modificar algo que já existe. O documento ver-
ou sinal falsificado, mas o legítimo. Para a caracterização do crime dadeiro existe e é adulterado.
é necessário que o uso seja indevido e que haja prejuízo (material Requisitos da falsificação: São os seguintes os requisitos da
ou moral) para outrem ou proveito próprio ou alheio. Não é ne- falsificação:
cessário que este prejuízo ou proveito se efetive, bastando que a • Que seja idônea, apta a iludir, capaz de enganar qualquer
conduta do agente seja dirigida para este fim, ou com o intuito de pessoa, considerando-se o padrão médio da sociedade. Segundo a
produzir o prejuízo ou o proveito. O dolo é a vontade de utilizar jurisprudência, a falsificação grosseira não constitui crime, pois
o selo ou sinal verdadeiro, estando o agente ciente de que o faz não é capaz de enganar as pessoas em geral. Se uma pessoa é enga-
indevidamente. A consumação ocorre com o uso, desde que cause nada com falsificação grosseira, pode configurar o estelionato (que
prejuízo a outrem, em proveito próprio ou alheio. considera a vítima em si, não o padrão médio).

Didatismo e Conhecimento 156


NOÇÕES DE DIREITO
• Que tenha capacidade de causar prejuízo a alguém. A fal- Sujeito Passivo: O sujeito passivo é o Estado. Pode existir
sificação inócua não é crime. sujeito passivo secundário, ou seja, a pessoa lesada pela falsidade.
Requisitos do documento público: Elementos Objetivos do Tipo
• deve ser elaborado por funcionário público; • Omitir declaração que deveria constar: conduta omis-
• no exercício da função, o funcionário deve ter atribuição siva própria, ligada ao dever de agir. Deve haver uma norma que
para elaborar documentos; obrigue a pessoa a fazer a declaração.
• deve obedecer às formalidades legais. • Fazer inserir declaração falsa ou diversa da que deveria
Consumação: O crime consuma-se quando existe a falsifi- constar: é fazer com que terceiro insira. Trata-se de falsidade ideo-
cação ou alteração. É crime de natureza formal; basta o resultado lógica indireta, ou seja, o agente atua indiretamente e quem efetiva
jurídico, não precisa do resultado naturalístico. a falsidade é outra pessoa.
• Inserir declaração falsa ou diversa da que deveria cons-
Falsificação de documento particular tar: falsidade ideológica direta.
Art. 298 - Falsificar, no todo ou em parte, documento parti-
cular ou alterar documento particular verdadeiro: OBSERVAÇÕES:
Declaração falsa é aquela que não condiz com a realidade.
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
Exemplo: custou 500 mil e a pessoa faz constar 5 mil.
O tipo é igual ao da falsificação de documento público. A dife-
Declaração diversa da que deveria constar, não precisa ser
rença é que o documento em questão não é público e sim particular.
necessariamente falsa. Exemplo: declaração de bens; a pessoa co-
Documento particular, por exclusão, é aquele que não é público. loca outro documento no lugar da declaração de bens. A declara-
Ex. Um cheque, devolvido pelo banco por insuficiência de ção não é falsa (o documento é verdadeiro), mas é diferente da que
fundos, é tomado por alguém para falsificação. É documento pú- deveria constar.
blico ou particular que a pessoa está falsificando? A falsidade ideológica deve ser idônea, capaz de enganar e de
O cheque devolvido não pode ser transmitido por endosso; causar prejuízo relevante juridicamente.
logo, não é mais considerado documento público por equiparação.
Então, configura documento particular. Falso reconhecimento de firma ou letra
Art. 300 - Reconhecer, como verdadeira, no exercício de
Falsidade ideológica função pública, firma ou letra que o não seja:
Art. 299 - Omitir, em documento público ou particular, de- Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o docu-
claração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir mento é público; e de um a três anos, e multa, se o documento é
declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim particular.
de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre
fato juridicamente relevante: No artigo 300, o legislador penal dispôs: “Reconhecer como
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documen- verdadeira, no exercício de função pública, firma ou letra que não
to é público, e reclusão de um a três anos, e multa, se o documen- o seja”. A pena é aumentada se trata de documento publico.
to é particular. “Falso reconhecimento de firma ou letra” é o “nomen juris”
Parágrafo único - Se o agente é funcionário público, e co- do crime. Define-se aqui um delito especial, pois pressupõe-se no
mete o crime prevalecendo-se do cargo, ou se a falsificação ou agente uma qualidade particular: a de reconhecer firma ou letra.
alteração é de assentamento de registro civil, aumenta-se a pena Têm-na o tabelião e outros que exercem função tabelioa, como os
de sexta parte. agentes consulares.
A falsidade ideológica é voltada para a declaração que com- Só eles podem incidir na sanção do artigo em exame. O que
põe o documento, para o conteúdo do que se quer falsificar. não, exercer tal função não escapará, todavia, a repressão penal,
visto que praticará crime de falso, definido nos arts. 297 e 298 ou
Por exemplo, quando alguém falsifica um documento público,
outro delito, tal seja a configuração da espécie.
ainda que seu conteúdo seja verdadeiro, o documento é falso. A
Convém conhecer, entretanto, o alcance da disposição, pois
falsificação material torna todo o documento falso.
não é qualquer reconhecimento que não corresponda a realidade
Não tem sentido discutir a falsidade ideológica quando todo o que corporificará o crime. Neste passo, a lei penal não pode olvi-
documento é falso. A falsidade ideológica existirá quando o docu- dar o direito privado, a fim de que não haja desarmonia entre eles,
mento for verdadeiro e somente o conteúdo for falso. evitando-se conclusões antinomias.
Quem falsifica assinatura, falsifica documento – falsidade ma-
terial, pouco importando o conteúdo. Exemplo: alguém pega um Certidão ou atestado ideologicamente falso
talonário de cheques não assinados pelo correntista e faz uso deles Art. 301 - Atestar ou certificar falsamente, em razão de fun-
com outra assinatura; uma vez que cheque só existe a partir da ção pública, fato ou circunstância que habilite alguém a obter
sua emissão, a partir da assinatura, a falsificação tipifica falsidade cargo público, isenção de ônus ou de serviço de caráter público,
material e não ideológica. ou qualquer outra vantagem:
Diferente se alguém pegar uma folha de cheque, assinada pelo Pena - detenção, de dois meses a um ano.
correntista, e falsificar a quantia; aí é falsidade ideológica. Falsidade material de atestado ou certidão
Objetividade Jurídica: A fé pública, a confiança na declara- § 1º - Falsificar, no todo ou em parte, atestado ou certidão,
ção do conteúdo do documento. ou alterar o teor de certidão ou de atestado verdadeiro, para pro-
Sujeito Ativo: Qualquer pessoa. Se funcionário público, in- va de fato ou circunstância que habilite alguém a obter cargo
cide o aumento de 1/6 na pena– parágrafo único do artigo 299 do público, isenção de ônus ou de serviço de caráter público, ou
Código Penal. qualquer outra vantagem:

Didatismo e Conhecimento 157


NOÇÕES DE DIREITO
Pena - detenção, de três meses a dois anos. Uso de documento falso
§ 2º - Se o crime é praticado com o fim de lucro, aplica-se, Art. 304 - Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou
além da pena privativa de liberdade, a de multa. alterados, a que se referem os arts. 297 a 302:
Dois verbos são empregados no caput: Atestar (que é afirmar Pena - a cominada à falsificação ou à alteração.
oficialmente) ou certificar (ou seja, afirmar a certeza). Trata-se de É crime remetido; significa que tem como elemento do tipo a
falsidade ideológica. menção expressa a outro tipo penal.
As condutas devem ser realizadas em razão de função pública. Objetividade Jurídica: A fé pública.
Logo, tem-se uma modalidade de crime próprio, que somente pode Sujeito Ativo: Sujeito ativo é qualquer pessoa, menos o autor
ser cometido por funcionário público. da falsificação.
Cabe destacar que para caracterizar o crime não é qualquer Elementos Objetivos do Tipo: A conduta é fazer uso. Con-
tipo de falsidade. Deve ser a falsidade que recaia sobre fato ou siste em utilizar documento falso como se fosse verdadeiro. Exem-
circunstância que habilite alguém a obter cargo público (por exem- plo: nota fiscal falsificada, utilizada para provar compra e venda.
plo, certidão de antecedentes), isenção de ônus ou de serviço de O uso deve ser efetivo, não bastando mencionar que possui o
caráter público ou qualquer outra vantagem, desde que de natureza documento.
pública. Elemento Subjetivo do Tipo: É o dolo (direto ou eventual,
Quanto à consumação, há duas posições: com a entrega do em caso de dúvida). Não se exige elemento especial. Se houver
documento a seu destinatário (primeira posição) ou com a confec- erro, exclui-se o dolo.
ção do documento. De qualquer forma, entende-se que o crime é Consumação e Tentativa: O crime está consumado com o
formal. uso efetivo para a finalidade do documento.
A pena é de detenção de 2 meses a 1 ano. Trata-se de infração A tentativa não é admitida, pois o crime é unissubsistente (ato
penal de menor potencial ofensivo. único).
O art. 301 tem um parágrafo primeiro, cuja falsidade é ma-
terial. O crime agora é comum. Pode ser cometido por qualquer Supressão de documento
pessoa e não mais por funcionário público. Art. 305 - Destruir, suprimir ou ocultar, em benefício pró-
Neste caso, a reprimenda é mais grave, mas continua o crime prio ou de outrem, ou em prejuízo alheio, documento público ou
de competência do JECRIM. A pena é de detenção de 3 meses a particular verdadeiro, de que não podia dispor:
2 anos. Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa, se o documento
Se houver a especial finalidade de lucro, além da pena privati- é público, e reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documen-
va de liberdade, haverá também multa (parágrafo 2º). to é particular.

Falsidade de atestado médico Falsificação do sinal empregado no contraste de metal pre-


Art. 302 - Dar o médico, no exercício da sua profissão, ates- cioso ou na fiscalização alfandegária, ou para outros fins
tado falso: Art. 306 - Falsificar, fabricando-o ou alterando-o, marca ou
Pena - detenção, de um mês a um ano. sinal empregado pelo poder público no contraste de metal pre-
Parágrafo único - Se o crime é cometido com o fim de lucro, cioso ou na fiscalização alfandegária, ou usar marca ou sinal
aplica-se também multa. dessa natureza, falsificado por outrem:
Outra modalidade de falsidade exclusivamente ideológica. Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
Estabelece o dispositivo: dar o médico, no exercício da sua profis- Parágrafo único - Se a marca ou sinal falsificado é o que
são, atestado falso. Evidente que a falsidade deve recair sobre fato usa a autoridade pública para o fim de fiscalização sanitária, ou
juridicamente relevante. Eventual equívoco do médico conduz à para autenticar ou encerrar determinados objetos, ou comprovar
atipicidade da conduta, em vista da exigência do dolo. o cumprimento de formalidade legal:
A forma do documento é perfeita, mas o documento contém Pena - reclusão ou detenção, de um a três anos, e multa.
uma ideia falsa. O que foi atestado pelo médico não é verdadeiro.
O crime é próprio. Somente pode ser cometido por médico. O CAPÍTULO IV - DE OUTRAS FALSIDADES
sujeito passivo é o Estado. O crime é formal. Consuma-se com a
entrega do atestado. A tentativa é possível. Falsa identidade
A pena do art. 302 é de detenção de 1 mês a 1 ano. Se houver Art. 307 - Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identida-
finalidade de lucro, estabelece o parágrafo único que se aplica tam- de para obter vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou para
bém a pena de multa. causar dano a outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa, se o fato
Reprodução ou adulteração de selo ou peça filatélica não constitui elemento de crime mais grave.
Art. 303 - Reproduzir ou alterar selo ou peça filatélica que Ocorre falsa identidade, tipo de fraude criminosa, quando o
tenha valor para coleção, salvo quando a reprodução ou a alte- autor se atribui ou atribui a um terceiro uma falsa identidade, ou
ração está visivelmente anotada na face ou no verso do selo ou seja, qualquer dos elementos que configuram a identidade da pes-
peça: soa, tais como o nome, idade, estado civil, profissão, sexo, filiação,
Pena - detenção, de um a três anos, e multa. condição social, etc. com o fim de obter para si ou para outro algu-
Parágrafo único - Na mesma pena incorre quem, para fins ma vantagem, ou ainda para prejudicar a terceiro.
de comércio, faz uso do selo ou peça filatélica.

Didatismo e Conhecimento 158


NOÇÕES DE DIREITO
A falsa identidade não deve ser confundida com a falsifica-
ção e uso de documento de identidade, pois na falsa identidade 2.3.12 DOS CRIMES CONTRA A
não há uso de documento falso ou verdadeiro, atribui-se à pessoa ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
uma característica falsa, como, por exemplo, ser filho de um artista
famoso, sem a apresentação de qualquer documento, ou seja, o
agente convence a pessoa por meio de palavras ou circunstâncias
que a induzem em erro. Peculato:
O peculato visa proteger a probidade administrativa (patrimô-
Art. 308 - Usar, como próprio, passaporte, título de eleitor, nio público). Esses crimes são chamados crimes de improbidade
caderneta de reservista ou qualquer documento de identidade administrativa. O sujeito ativo é o funcionário público e o sujeito
alheia ou ceder a outrem, para que dele se utilize, documento passivo é o Estado, visto como Administração Pública. Pode exis-
dessa natureza, próprio ou de terceiro: tir um sujeito passivo secundário (particular).
Pena - detenção, de quatro meses a dois anos, e multa, se o Podemos dividir o peculato em dois grandes grupos; doloso
fato não constitui elemento de crime mais grave. e culposo:
Fraude de lei sobre estrangeiro a) Peculato Doloso:
Art. 309 - Usar o estrangeiro, para entrar ou permanecer no  Peculato-apropriação: art. 312, caput, primeira parte.
território nacional, nome que não é o seu:  Peculato-desvio: art. 312, caput, segunda parte.
Pena - detenção, de um a três anos, e multa.  Peculato-furto: art. 312, § 1.º.
Parágrafo único - Atribuir a estrangeiro falsa qualidade  Peculato mediante erro de outrem: art. 313.
para promover-lhe a entrada em território nacional:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. b) Peculato Culposo:
 O peculato culposo está descrito no art. 312, § 2.º, do
Art. 310 - Prestar-se a figurar como proprietário ou possui- Código Penal.
dor de ação, título ou valor pertencente a estrangeiro, nos casos
em que a este é vedada por lei a propriedade ou a posse de tais Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro,
bens: valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa. que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito
próprio ou alheio:
Adulteração de sinal identificador de veículo automotor Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
Art. 311 - Adulterar ou remarcar número de chassi ou qual- § 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, em-
quer sinal identificador de veículo automotor, de seu componente bora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou
ou equipamento: concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio,
Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa.  valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de fun-
§ 1º - Se o agente comete o crime no exercício da função cionário.
pública ou em razão dela, a pena é aumentada de um terço.
§ 2º - Incorre nas mesmas penas o funcionário público que Peculato culposo
contribui para o licenciamento ou registro do veículo remarcado § 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime
ou adulterado, fornecendo indevidamente material ou informa- de outrem:
ção oficial. Pena - detenção, de três meses a um ano.
§ 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se
Art. 311-A. Utilizar ou divulgar, indevidamente, com o fim precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é
de beneficiar a si ou a outrem, ou de comprometer a credibilida- posterior, reduz de metade a pena imposta.
de do certame, conteúdo sigiloso de:
II - avaliação ou exame públicos; Peculato mediante erro de outrem
III - processo seletivo para ingresso no ensino superior; ou Art. 313 - Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade
IV - exame ou processo seletivo previstos em lei: que, no exercício do cargo, recebeu por erro de outrem:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem permite ou facilita,
por qualquer meio, o acesso de pessoas não autorizadas às infor- PECULATO APROPRIAÇÃO:
mações mencionadas no caput. a) apropriar-se;
§ 2o  Se da ação ou omissão resulta dano à administração b) funcionário público;
pública: c) dinheiro, valor, bem móvel, público ou privado;
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. d) posse em razão do cargo;
§ 3o  Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o fato é come- e) proveito próprio ou alheio.
tido por funcionário público.
Elementos objetivos do tipo: O núcleo é apropriar-se, ou seja,
fazer sua a coisa alheia. A pessoa tem a posse e passa a agir com
se fosse dona. O agente muda a sua intenção em relação à coisa. O
fundamento é a posse lícita anterior.

Didatismo e Conhecimento 159


NOÇÕES DE DIREITO
No caso da posse em razão do cargo, temos que a posse está Reparação de danos no peculato culposo – Artigo 312, § 3.º,
com a Administração. O bem tem de estar sob custódia da Admi- do Código Penal: É a devolução do objeto ou o ressarcimento do
nistração. Exemplo: Um automóvel apreendido na rua vai para o dano. É preciso ficar atento para as seguintes regras:
pátio da Delegacia; o policial militar subtrai o toca-fitas - Ele prati- • Se a reparação do dano for anterior à sentença irrecorrí-
cou peculato-furto, pois não tinha a posse do bem. Se o funcionário vel (antes do trânsito em julgado – primeira ou segunda instância),
fosse o responsável pelo bem, seria caso de peculato-apropriação. extingue a punibilidade.
Se o carro estivesse na rua, seria furto. • Se a reparação do dano for posterior à sentença irrecorrí-
No peculato-apropriação e no peculato mediante erro de ou-
vel (depois do trânsito em julgado), ocorre a diminuição da pena,
trem há apropriação, ou seja, a posse é anterior; a diferença está
no erro de outrem. pela metade.
Atenção: No peculato doloso não se aplicam essas regras.
Objeto material: Dinheiro, valor ou bem móvel. Tudo que for
imóvel não é admitido no peculato. O crime que admite imóvel é PECULATO MEDIANTE ERRO DE OUTREM: Não é
o estelionato. um estelionato, pois o erro da vítima não é provocado pelo agente.
O núcleo do tipo é apropriar-se (para tanto, é preciso posse lícita
Consumação: A consumação do peculato-apropriação se dá anterior). Na verdade, é um peculato-apropriação. O núcleo do es-
no momento em que ocorreu a apropriação: quando o agente inver- telionato é obter.
teu o animus, quando passou a agir como se fosse dono. O erro de outrem tem de ser espontâneo, e o recebimento, por
parte do funcionário de boa-fé. Não há fraude.
PECULATO-DESVIO: Artigo 312, Segunda Parte, do Códi- Exemplo: Pessoa deve dinheiro para a Prefeitura, erra a conta
go Penal. No peculato-desvio o que muda é apenas a conduta, que e paga a mais. O funcionário recebe o dinheiro sem perceber o
passa a ser desviar. Desviar é alterar a finalidade, o destino. Exem-
erro. Depois, ao perceber o erro, apropria-se do excedente – trata-
plo: existe um contrato que prevê o pagamento de certo valor por
uma obra. O funcionário paga esse valor, sem a obra ser realizada. -se de peculato mediante erro.
Nesse caso, há peculato-desvio. Liberação de dinheiro para obra O elemento subjetivo é o dolo de se apropriar. O crime consu-
superfaturada também é caso de peculato-desvio. ma-se no momento da apropriação, ou seja, no momento em que o
agente passa a agir como se fosse dono.
Elemento subjetivo do tipo: O elemento subjetivo do tipo é a
intenção do desvio para proveito próprio ou alheio. O funcionário Extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documento
tem de ter a posse lícita da coisa. Se alguém desviar em proveito Art. 314 - Extraviar livro oficial ou qualquer documento, de
da própria Administração, haverá outro crime, qual seja, uso ou que tem a guarda em razão do cargo; sonegá-lo ou inutilizá-lo,
emprego irregular de verbas públicas (art. 315 do CP). total ou parcialmente:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, se o fato não constitui
PECULATO-FURTO: Artigo 312, § 1.º, do Código Penal. crime mais grave.
Funcionário público que, embora não tendo a posse do dinhei- Emprego irregular de verbas ou rendas públicas.
ro, valor ou bem, o subtrai ou concorre para que seja subtraído,
Seguindo a regra dos demais crimes deste Capítulo, o bem
em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe
proporciona a qualidade de funcionário. Nesse caso é aplicada a jurídico tutelado é a Administração Pública.
mesma pena. Sujeitos ativo e passivo. Como não poderia deixar de ser, o
A conduta é subtrair, ou seja, tirar da esfera de proteção da sujeito ativo é somente o funcionário público, sendo a vítima o
vítima, de sua disponibilidade. Outra conduta possível é a de con- Estado e, eventualmente, o particular que tem documento sob a
correr dolosamente. guarda da Administração.
Não basta ser funcionário público; ele precisa se valer da faci- A lei pune três condutas:
lidade que essa qualidade lhe proporciona (a execução do crime é - extraviar: fazer desaparecer, ocultar;
mais fácil para ele). Por facilidade, entende-se crachá, segredo de - sonegar: sinônimo de não apresentar, não exibir quando al-
cofre etc. Um funcionário público pode praticar furto ou peculato- guém o solicita;
-furto, dependendo se houve, ou não, a facilidade. - inutilizar: tornar imprestável.
Nas três hipóteses a conduta deve recair sobre livro ofi cial,
Consumação e tentativa: O crime consuma-se com a efetiva que é aquele pertencente à Administração Pública, ou sobre qual-
retirada da coisa da esfera de vigilância da vítima. A tentativa é
quer documento público ou particular que esteja sob a guarda da
possível.
Administração. Nos termos da lei, o crime subsiste ainda que a
PECULATO CULPOSO: Artigo 312, § 2.º, do Código Pe- conduta atinja parcialmente o livro ou documento.
nal. São requisitos do crime de peculato culposo: a conduta culpo- Elemento subjetivo. O dolo.
sa do funcionário público e que terceiro pratique um crime doloso, Consumação. A infração penal se consuma com o extravio ou
aproveitando-se da facilidade provocada por aquela conduta. inutilização, ainda que parcial e independentemente de qualquer
outro resultado.
Consumação e tentativa: Peculato culposo é crime indepen- Já na modalidade sonegar, o crime se consuma no instante
dente do crime de outrem, mas estará consumado quando se con- em que o agente deveria fazer a entrega e, intencionalmente, não
sumar o crime de outrem. Não há tentativa de peculato culposo, o faz. Nessa hipótese, bem como nos casos de extravio, o crime é
pois não existe tentativa de crime culposo. Se o crime de outrem é permanente.
tentado, este responderá por tentativa, porém o fato é atípico para Tentativa. A tentativa não é admissível apenas na modalidade
o funcionário público. omissiva (sonegar).

Didatismo e Conhecimento 160


NOÇÕES DE DIREITO
Distinção. Aquele que inutiliza documento ou objeto de valor Na concussão não é necessário que o funcionário público es-
probatório que recebeu na qualidade de advogado ou procurador teja trabalhando no momento da exigência. O próprio tipo diz que
comete o crime do art. 356 do Código Penal. Por outro lado, o par- ele pode estar fora da função (horário de descanso, férias, licença)
ticular que subtrai ou inutiliza, total ou parcialmente, livro oficial, ou, até mesmo, nem tê-la assumido (quando já passou no concurso
processo ou documento confiado à Administração comete o crime mas ainda não tomou posse). O que é necessário é que a exigência
do art. 337 do Código Penal. diga respeito à função pública e as represálias a ela se refiram.
Absorção. A própria lei estabelece que esse crime é subsidi- Se o crime for cometido por policial militar estará configura-
ário, ou seja, deixa de existir se o fato constitui crime mais grave, do o crime do art. 305 do Código Penal Militar, que é igualmente
como corrupção passiva (art. 317), supressão de documento (art. chamado de concussão.
305) etc. Se alguém finge ser policial e exige dinheiro para não pren-
der a vítima, não há concussão, porque o agente não é funcionário
Art. 315 - Dar às verbas ou rendas públicas aplicação diver- público. Responderá, nesse caso, por crime de extorsão (art. 158).
sa da estabelecida em lei: Concluindo, a concussão é um crime em que a vítima é cons-
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. trangida a conceder uma vantagem indevida a funcionário público
em razão do temor de uma represália imediata ou futura decorrente
Concussão de exigência feita por este e relacionada necessariamente com sua
Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indireta- função.
mente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em A vantagem exigida tem de ser indevida. Se for devida, haverá
razão dela, vantagem indevida: crime de abuso de autoridade do art. 4º, h, da Lei n. 4.898/65, em
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. razão da ameaça feita.
O crime de concussão guarda certa semelhança com o delito A lei se refere a vantagem indevida:
de corrupção passiva, principalmente no que se refere à primeira - Damásio E. de Jesus, Nélson Hungria e M. Noronha enten-
modalidade desta última infração (solicitar vantagem indevida). dem que deve ser vantagem patrimonial.
Na concussão, porém, o funcionário público constrange, exige a - Júlio F. Mirabete e Fernando Capez, por outro lado, dizem
vantagem indevida. A vítima, temendo alguma represália, cede à que pode ser qualquer espécie de vantagem, uma vez que a lei não
exigência. Na corrupção passiva (em sua primeira figura) há mero faz distinção. Ex.: proveitos patrimoniais, sentimentais, de vaida-
pedido, mera solicitação. A concussão, portanto, descreve fato de, sexuais etc.
mais grave e, por isso, deveria possuir pena mais elevada. Ocorre O agente deve visar proveito para ele próprio ou para terceira
que, após o advento da Lei n. 10.763/2003, a pena de corrupção pessoa.
passiva passou, por incrível que pareça, a ser maior que a de con- Como na concussão o funcionário público faz uma ameaça
cussão. explícita ou implícita, se a vítima vier a entregar o dinheiro exi-
Nesse crime, o funcionário público faz exigência de uma van- gido, não cometerá corrupção ativa, uma vez que somente o terá
tagem. Essa exigência carrega, necessariamente, uma ameaça à feito por se ter sentido constrangida.
vítima, pois do contrário haveria mero pedido, que caracterizaria Consumação. O crime de concussão consuma-se no momen-
a corrupção passiva. to em que a exigência chega ao conhecimento da vítima, indepen-
Tal ameaça pode ser: dentemente da efetiva obtenção da vantagem visada. Trata-se de
- explícita: exigir dinheiro para não fechar uma empresa, para crime formal.
não instaurar inquérito, para permitir o funcionamento de obras A obtenção da vantagem é mero exaurimento.
etc.; Não desnatura o crime, portanto, a devolução posterior da
- implícita: não há promessa de um mal determinado, mas a vantagem (mero arrependimento posterior — art. 16 do CP) ou a
vítima fica amedrontada pelo simples temor que o exercício do ausência de prejuízo.
cargo público inspira. Um policial exige hoje a entrega de certa quantia em dinhei-
A exigência pode ser ainda: ro. A vítima concorda e se compromete a entregar a quantia em um
- direta: quando o funcionário público a formula na presença lugar determinado, três dias depois. Ela, entretanto, chama outros
da vítima, sem deixar qualquer margem de dúvida de que está que- policiais, que prendem o sujeito na hora da entrega. Há flagrante
rendo uma vantagem indevida; provocado?
- indireta: o funcionário se vale de uma terceira pessoa para No flagrante provocado o sujeito é induzido a praticar um cri-
que a exigência chegue ao conhecimento da vítima ou a faz de me, mas se tomam providências que inviabilizam totalmente a sua
forma velada, capciosa, ou seja, o funcionário público não fala que consumação. Nesse caso, não há crime, pois se trata de hipótese de
quer a vantagem, mas deixa isso implícito. crime impossível (Súmula 145 do STF).
A concussão é uma forma especial de extorsão praticada por Assim, na questão em análise, verifica-se não ter ocorrido o
funcionário público com abuso de autoridade. Deve, assim, haver flagrante provocado, pois não houve qualquer provocação, ou seja,
um nexo entre a represália prometida, a exigência feita e a função ninguém induziu o policial a fazer a exigência. Temos, na hipótese,
exercida pelo funcionário público. um crime de concussão consumado, já que a infração se aperfei-
Por isso, se o funcionário público empregar violência ou grave çoou com a simples exigência que ocorrera três dias antes da data
ameaça referente a mal estranho à função pública, haverá crime combinada para a entrega do dinheiro.
de extorsão ou roubo. Ex.: um policial aponta um revólver para a Tentativa. É possível a tentativa. Exs.: a) peço para terceiro
vítima e, mediante ameaça de morte, pede que ela lhe entregue o fazer a exigência à vítima, mas ele morre antes de encontrá-la; b)
carro. uma carta contendo a exigência se extravia.

Didatismo e Conhecimento 161


NOÇÕES DE DIREITO
Sujeitos passivos. O Estado e a pessoa contra quem é dirigida Já, nas modalidades de receber e aceitar promessa, ocorre cor-
a exigência. rupção ativa na outra ponta, pois a iniciativa foi de terceiro.
Vantagem indevida na corrupção passiva é para que o funcio-
Excesso de exação nário faça alguma coisa, deixe de fazer, ou então retarde.
§ 1º - Se o funcionário exige tributo ou contribuição social A consumação ocorre quando houver a solicitação, o recebi-
que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando devido, emprega mento ou a aceitação da vantagem. A consumação não depende
na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza: da prática ou da omissão de ato por parte do funcionário. O rece-
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. bimento da vantagem só é importante para a modalidade receber.
§ 2º - Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de
outrem, o que recebeu indevidamente para recolher aos cofres Elementos Objetivos do Tipo:
públicos: • Solicitar, pedir. Quem pede não constrange, não ameaça,
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. simplesmente pede. A atitude de solicitar é iniciativa do funcioná-
rio público.
O crime de concussão é diferente do crime de corrupção passi- • Receber, entrar na posse. É preciso ao menos o indício de
va. A diferença está no núcleo do tipo. A concussão tem por condu- que a pessoa entrou na posse.
ta exigir; é um “querer imperativo”, que traz consigo uma ameaça, • Aceitar promessa, concordar com a proposta. Pode ser
ainda que implícita. A corrupção passiva tem por conduta solicitar, por silêncio, gesto, palavra. A iniciativa é de terceiro que faz a
receber, aceitar promessa. proposta. Alguém propõe e o funcionário aceita.
Na concussão, há vítima na outra ponta. A concussão é uma
extorsão praticada por funcionário público em razão da função. Corrupção Passiva Privilegiada – § 2.º: A corrupção passiva
Exigir significa coagir, obrigar. A ameaça pode ser implícita privilegiada ocorre com pedido ou influência de outrem. Corrup-
ou explícita e, ainda assim, será concussão. O agente pode exigir ção privilegiada é um crime material – praticar, deixar de praticar.
direta ou indiretamente – por meio de terceiro, ou por outro meio
qualquer. Facilitação de contrabando ou descaminho
Objetividade Jurídica: Proteger a probidade administrativa. Art. 318 - Facilitar, com infração de dever funcional, a prá-
Sujeito Ativo: O sujeito ativo é o funcionário público. O par- tica de contrabando ou descaminho:
ticular pode praticar o crime, em concurso com o funcionário. Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.
Sujeito Passivo: O sujeito passivo é o Estado (a Adminis-
tração Pública). O particular pode ser sujeito passivo secundário. Prevaricação
Elementos Objetivos do Tipo: Exigir em razão da função: Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato
Deve existir nexo causal entre a exigência e a função. de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para
Consumação: A consumação ocorre no momento em que a satisfazer interesse ou sentimento pessoal:
exigência chega ao conhecimento da vítima, pois o crime de con- Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
cussão é formal. A concussão não depende da obtenção da vanta-
gem para a sua consumação; basta a exigência. Se o funcionário Observações:
obtiver a vantagem, será mero exaurimento. 1) Na corrupção passiva, o funcionário público negocia seus
atos, visando uma vantagem indevida. Na prevaricação isso não
Corrupção passiva ocorre.
Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta Aqui, o funcionário público viola sua função para atender a
ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi- objetivos pessoais.
-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa 2) O agente deve atuar para satisfazer:
de tal vantagem: a) interesse patrimonial (desde que não haja recebimento de
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. vantagem indevida, hipótese em que haveria corrupção passiva)
§ 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em consequên- ou moral;
cia da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa b) sentimento pessoal, que diz respeito à afetividade do agente
de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever em relação a pessoas ou fatos. Ex.: Permitir que amigos pesquem
funcional. em local público proibido. Demorar para expedir documento so-
§ 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda licitado por um inimigo. O sentimento, aqui, é do agente, mas o
ato de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido benefício pode ser de terceiro.
ou influência de outrem: O atraso no serviço por desleixo ou preguiça não constitui
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. crime. Se fica caracterizado, todavia, que o agente, por preguiça,
rotineiramente deixa de praticar ato de ofício, responde pelo cri-
Na corrupção passiva não há ameaça, nem constrangimento. me. Ex.: delegado que nunca instaura inquérito policial para apurar
Se o funcionário pede e a pessoa coloca a mão dentro do bolso e crime de furto, por considerá-lo pouco grave.
entrega, não é caso de corrupção ativa, pois não existe tipificação 3) A prevaricação não se confunde com a corrupção passiva
para entregar, só para prometer, oferecer. Só há corrupção passiva privilegiada. Nesta, o agente atende a pedido ou influência de ou-
nesse caso. trem.
Na modalidade solicitar, onde a iniciativa é do funcionário pú- Na prevaricação não há tal pedido ou influência. O agente visa
blico, não há crime de corrupção ativa, e sim de corrupção passiva. satisfazer interesse ou sentimento pessoal.

Didatismo e Conhecimento 162


NOÇÕES DE DIREITO
Se um fiscal flagra um desconhecido cometendo irregulari- § 1º - Se do fato resulta prejuízo público:
dade e deixa de multá-lo em razão de insistentes pedidos deste, Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
há corrupção passiva privilegiada; mas se o fiscal deixa de multar § 2º - Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa de
a pessoa porque percebe que se trata de um antigo amigo, comete fronteira:
prevaricação. Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
4) O tipo exige que a conduta do funcionário público seja in-
devida apenas nas duas primeiras modalidades (retardar e deixar Protege a lei nesse dispositivo a regularidade e o normal de-
de praticar, indevidamente, ato de ofício). Na última hipótese pre- sempenho das atividades públicas, no sentido de evitar que os fun-
vista no tipo (praticar ato de ofício), a conduta deve ser “contra ex- cionários públicos abandonem seus postos de forma a gerar pertur-
pressa previsão legal”. Temos, neste último caso, uma norma penal bação ou até mesmo a paralisação do serviço público.
em branco, pois sua aplicação depende da existência de outra lei. Sujeitos ativo e passivo. Apesar de o delito ter o nome de
Consumação. O crime se consuma com a omissão, retarda- “abandono de função”, percebe-se pela descrição típica que o cri-
mento ou realização do ato. me somente existe com o abandono de cargo, não prevalecendo a
Tentativa. Não é possível nas formas omissivas (omitir ou regra do art. 327 do Código Penal, que define funcionário público
retardar), pois ou o crime está consumado ou o fato é atípico. Na como ocupante de cargo, emprego ou função pública. Assim, em
forma comissiva, a tentativa é possível. razão da ressalva constante do tipo penal, pode-se concluir que su-
Figura equiparada. A Lei n. 11.466, de 28 de março de 2007, jeito ativo desse crime pode ser apenas quem ocupa cargo público
criou nova figura ilícita no art. 319-A do Código Penal, estabele- (criado por lei, com denominação própria, em número certo e pago
cendo que a mesma pena prevista para o crime de prevaricação pelos cofres públicos). Sujeito passivo é o Estado.
será aplicada ao diretor de penitenciária e/ou agente público que Abandonar significa deixar o cargo. Para que esteja configu-
deixar de cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho rado o abandono é necessário que o agente se afaste do seu cargo
telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com por tempo juridicamente relevante, de forma a colocar em risco a
outros presos ou com o ambiente externo. O legislador entendeu regularidade dos serviços prestados. Assim, não há crime na falta
necessária a criação desse tipo penal em face da constatação de eventual, bem como no desleixo na realização de parte do serviço,
que presos têm tido fácil acesso a telefones celulares ou apare- que caracterizam apenas falta funcional, punível na esfera admi-
lhos similares, e que os agentes penitenciários não vêm dando o nistrativa.
combate adequado a esse tipo de comportamento. Assim, a Lei Não há crime também quando a ausência se dá nos casos per-
n. 11.466/2007, além de criar essa figura capaz de punir o agente mitidos em lei, como, por exemplo, com autorização da autoridade
penitenciário que se omita em face da conduta do preso, estipulou competente, para prestação de serviço militar etc.
também que este, ao fazer uso do aparelho, incorre em falta grave Por se tratar de crime doloso, não há crime quando o abando-
— que tem sérias consequências na execução criminal (art. 50, no ocorre em razão de força maior (prisão, doença etc.).
VII, da Lei de Execuções Penais, com a redação dada pela Lei n. A doutrina tem sustentado também que não existe crime na
11.466/2007). Com essas providências pretende o legislador evitar suspensão, ainda que prolongada, do trabalho por parte de fun-
que presos comandem suas quadrilhas do interior de penitenciárias cionário público — mesmo que de função essencial — quando
e que deixem de cometer crimes com tais aparelhos, pois é notório se trata de ato coletivo na luta por reivindicações da categoria, ou
que enorme número de delitos de extorsão vêm sendo cometidos seja, nos casos de greve (enquanto não declarada ilegal).
por pessoas presas, por meio de telefonemas. Consumação. O crime se consuma com o abandono do cargo
por tempo juridicamente relevante, ainda que não decorra efetivo
Condescendência criminosa prejuízo para a Administração. Aliás, o § 1º estabelece uma forma
Art. 320 - Deixar o funcionário, por indulgência, de res- qualificada, quando o abandono traz como consequência prejuízo
ponsabilizar subordinado que cometeu infração no exercício do ao erário.
cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o fato ao co- Tentativa. Por se tratar de crime omissivo puro, não se admite
nhecimento da autoridade competente: a tentativa.
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa. Por fim, a pena será exasperada se o fato ocorrer em lugar
compreendido na faixa de fronteira (compreende a faixa de 150
Advocacia administrativa quilômetros ao longo das fronteiras nacionais — Lei n. 6.634/79).
Art. 321 - Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse pri-
vado perante a administração pública, valendo-se da qualidade Exercício funcional ilegalmente antecipado ou prolongado
de funcionário: Art. 324 - Entrar no exercício de função pública antes de
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. satisfeitas as exigências legais, ou continuar a exercê-la, sem
Parágrafo único - Se o interesse é ilegítimo: autorização, depois de saber oficialmente que foi exonerado, re-
Pena - detenção, de três meses a um ano, além da multa. movido, substituído ou suspenso:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
Violência arbitrária – REVOGADO.
Violação de sigilo funcional
Abandono de função Art. 325 - Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo
Art. 323 - Abandonar cargo público, fora dos casos permi- e que deva permanecer em segredo, ou facilitar-lhe a revelação:
tidos em lei: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa, se o
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa. fato não constitui crime mais grave.

Didatismo e Conhecimento 163


NOÇÕES DE DIREITO
§ 1o Nas mesmas penas deste artigo incorre quem: Figuras equiparadas. A Lei n. 9.983/2000 criou no § 1º do
I - permite ou facilita, mediante atribuição, fornecimento art. 325 algumas infrações penais equiparadas, punindo com as
e empréstimo de senha ou qualquer outra forma, o acesso de mesmas penas do caput quem permite ou facilita, mediante atri-
pessoas não autorizadas a sistemas de informações ou banco de buição, fornecimento e empréstimo de senha ou qualquer outra
dados da Administração Pública; forma, o acesso de pessoas não autorizadas a sistemas de infor-
II - se utiliza, indevidamente, do acesso restrito. mações ou banco de dados da Administração Pública (inciso I),
§ 2o  Se da ação ou omissão resulta dano à Administração ou se utiliza, indevidamente, do acesso restrito a tais informações
Pública ou a outrem: (inciso II). Por fim, o § 2º estabelece uma qualificadora, prevendo
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. pena de reclusão, de dois a seis anos, e multa, se da ação ou omis-
são resulta dano à Administração ou terceiro.
Condutas típicas. Esta infração penal visa resguardar o re-
gular funcionamento da Administração Pública, que pode ser pre- Art. 326 - Violação do sigilo de proposta de concorrência
judicado pela revelação de certos segredos. Por isso, será punido (REVOGADO).
o funcionário público que revelar ou facilitar a revelação desses
segredos, desde que deles tenha tido conhecimento em razão de Funcionário público
seu cargo. O segredo a que se refere este dispositivo é aquele cujo Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos
conhecimento é limitado a número determinado de pessoas e cuja penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração,
exerce cargo, emprego ou função pública.
divulgação afronte o interesse público pelas consequências que
- Cargos: são criados por lei, com denominação própria, em
possam advir.
número certo e pagos pelos cofres públicos (Lei n. 8.112/90, art.
A conduta de revelar segredo caracteriza-se quando o fun-
3º, parágrafo único).
cionário público intencionalmente dá conhecimento de seu teor a
- Emprego: para serviço temporário, com contrato em regime
terceiro, por escrito, verbalmente, mostrando documentos etc. Já a especial ou pela CLT. Ex.: diaristas, mensalistas, contra tados.
conduta de facilitar a divulgação de segredo, também chamada de - Função pública: abrange qualquer conjunto de atribuições
divulgação indireta, dá-se quando o funcionário, querendo que o públicas que não correspondam a cargo ou emprego público. Ex.:
fato chegue a conhecimento de terceiro, adota determinado proce- jurados, mesários etc.
dimento que torna a descoberta acessível a outras pessoas, como São funcionários públicos o Presidente da República, os Pre-
ocorre no clássico exemplo de deixar anotações ou documentos em feitos, os Vereadores, os Juízes, Delegados de Polícia, escreventes,
local que possa ser facilmente visto por outras pessoas. oficiais de justiça etc.
Comete crime o servidor público incumbido de elaborar pro- § 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo,
vas de concurso público que, antes da prova, faz chegar ao conhe- emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha
cimento de alguns candidatos as questões que serão abordadas. para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada
Sujeitos ativo e passivo. Apenas o funcionário público pode para a execução de atividade típica da Administração Pública.
ser sujeito ativo. Predomina na doutrina o entendimento de que A Lei n. 9.983, de 14 de julho de 2000, alterou a redação do
mesmo o funcionário aposentado ou afastado pode cometer o deli- art. 327, § 1º, para ampliar o conceito de funcionário público por
to, pois o interesse público na manutenção do sigilo permanece. O equiparação. Em virtude dessa nova redação, podem ser extraídas
crime admite a coautoria e também a participação — de outro fun- algumas conclusões:
cionário público ou de particular que colabore com a divulgação. 1) em relação ao conceito de entidade paraestatal adotou-se a
A doutrina, contudo, salienta que o particular que se limita a tomar corrente ampliativa, pela qual se considera funcionário por equi-
conhecimento do fato divulgado não comete o delito. paração aquele que exerce suas atividades em:
A revelação de segredo profissional por quem não é funcioná- a) autarquias (ex.: INSS);
rio público constitui crime de outra natureza, previsto no art. 154 b) sociedades de economia mista (ex.: Banco do Brasil);
do Código Penal. c) empresas públicas (ex.: Empresa Brasileira de Correios e
O sujeito passivo é sempre o Estado e, eventualmente, o parti- Telégrafos);
cular que possa sofrer prejuízo, material ou moral, com a revelação d) fundações instituídas pelo Poder Público (ex.: FUNAI).
2) Passam a ser puníveis por crimes funcionais (arts. 312 a
do sigilo.
326 do CP) aqueles que exercem suas funções em concessioná-
Elemento subjetivo. É o dolo, ou seja, a intenção livre e cons-
rias ou permissionárias de serviço público (empresas contratadas)
ciente de revelar o sigilo funcional. Não se admite a forma culposa.
e até mesmo em empresas conveniadas, como, p. ex., a Santa Casa
Consumação. No momento em que terceiro, funcionário pú-
de Misericórdia. O conceito de funcionário público por equipara-
blico ou particular, que não podia tomar conhecimento do segredo, ção não abrange as pessoas que trabalham em empresa contratada
dele toma ciência. Trata-se de crime formal, cuja caracterização com a finalidade de prestar serviço para a Administração Pública
independe da ocorrência de prejuízo. quando não se trata de atividade típica desta. Ex.: trabalhador de
Tentativa. É admitida, exceto na forma oral. empreiteira contratada para construir viaduto.
Subsidiariedade explícita. O art. 325, ao cuidar da pena, ex- Entende-se, ademais, que a equiparação do § 1º, em razão do
pressamente estabelece sua absorção quando o fato constitui crime local onde está prevista no Código Penal, só se aplica quando se
mais grave, como, por exemplo, crime contra a segurança nacio- refere ao sujeito ativo do delito e nunca em relação ao sujeito pas-
nal, fraude em procedimento licitatório com divulgação antecipa- sivo. Ex.: ofender funcionário de uma autarquia é injúria e não
da de propostas, crime contra o sistema financeiro etc. desacato. Se o mesmo funcionário, contudo, apropriar-se de um

Didatismo e Conhecimento 164


NOÇÕES DE DIREITO
bem da autarquia, haverá peculato, não mera apropriação indébita. O tipo penal em comento tem como principal objetivo prote-
Embora esse entendimento seja quase pacífico na doutrina, existe ger o poder estatal e, sendo assim, busca resguardar a autoridade
um conhecido julgado do STF em sentido contrário (RT, 788/526). da administração pública, bem como sua liberdade na execução de
suas atividades por meio de seus funcionários.
AUMENTO DA PENA Por tratar-se de crime comum, qualquer pessoa poderá come-
§ 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os au- tê-lo, desde que se oponha ao cumprimento de ato legal por auto-
tores dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de ridade competente para tanto. Serão sujeitos passivos, o Estado,
cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento o funcionário que foi impedido de cumprir tal ato e, inclusive, a
de órgão da administração direta, sociedade de economia mista, pessoa que esteja, eventualmente, auxiliando o funcionário na exe-
empresa pública ou fundação instituída pelo poder público. cução de atos legais.
Cargo em comissão é o cargo para o qual o sujeito é nomeado É fundamental reforçar a informação de que para que o delito
em confiança, sem a necessidade de concurso público. se caracterize, essencial que o funcionário seja competente para
O aumento também será cabível quando o agente ocupa fun- executar, de ofício, o ato legal, bem como que tal ato seja praticado
ção de direção ou assessoramento.
no exercício das funções e que, nesse momento, o agente se insurja
à execução do ato.
Crimes contra a Administração Pública praticados por
O cerne do artigo é a oposição do sujeito à execução do ato
particular contra a Administração em geral.
USURPAÇÃO DE FUNÇÃO PÚBLICA legal por funcionário competente. Observa-se, aqui, que é necessá-
Art. 328 — Usurpar o exercício de função pública: rio que a oposição do sujeito se manifeste por meio de ameaça ou
Pena — detenção, de três meses a dois anos, e multa. violência física, em face do funcionário ou da pessoa que o auxilia,
Parágrafo único — Se do fato o agente aufere vantagem: no exato momento em que o ato esteja sendo praticado, de modo,
Pena — reclusão, de dois a cinco anos, e multa. portanto, que se a oposição for exercida em momento anterior ou
posterior à prática do ato pelo funcionário público, não constitui
Trata-se de infração penal cuja finalidade também é tutelar a crime de resistência.
regularidade e o normal desempenho das atividades públicas. Para que o sujeito seja enquadrado no crime em tela, necessá-
Usurpar significa desempenhar indevidamente uma atividade rio que haja com dolo, ou seja, com vontade livre e consciente de
pública, ou seja, o sujeito assume uma função pública, vindo a executar a ação, sendo que se houver erro quanto a legalidade do
executar atos inerentes ao ofício, sem que tenha sido aprovado em ato, haverá, também, a exclusão do dolo.
concurso ou nomeado para tal função.
Consumação. O crime se consuma, portanto, no instante em DESOBEDIÊNCIA
que o agente pratica algum ato inerente à função usurpada. É des- Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário públi-
necessária a ocorrência de qualquer outro resultado. A tentativa é co:
admissível. Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa.
Sujeito ativo. O particular que assume as funções. Parte da
doutrina entende que também comete o crime um funcionário pú- O crime em tela consubstancia-se pelo fato do agente deso-
blico que assuma, indevidamente, as funções de outro. bedecer a ordem legal de funcionário público. Todavia, há de se
Elemento subjetivo. O dolo, pressupondo-se, ainda, que o observar que o ato de desobedecer consiste em não acatar, não
agente tenha ciência de que está usurpando a função pública. cumprir, não se submeter à ordem de funcionário público, investi-
A simples conduta de se intitular funcionário público perante do de autoridade para imposição de ordem.
terceiros, sem praticar atos inerentes ao ofício, pode constituir ape- O tipo penal objetiva manter a obediência das ordens emana-
nas a contravenção descrita no art. 45 da Lei das Contravenções das do funcionário público no cumprimento de suas funções.
Penais (“fingir-se funcionário público”).
O sujeito ativo do crime de desobediência poderá ser qualquer
Se da conduta o agente obtém lucro, vantagem material ou
pessoa inclusive o próprio funcionário público que venha a agir
moral, aplica-se a forma qualificada descrita no parágrafo único.
como particular, ou seja, que não esteja no exercício de sua função
Caso o agente simplesmente finja ser funcionário público, sem
praticar atos próprios do cargo, a fim de ludibriar a vítima e obter e venha a desobedecer ordem de funcionário público.  Vale-nos
vantagem ilícita em prejuízo dela, o crime é o de estelionato. consignar que, de acordo com entendimentos jurisprudenciais, não
incorrerá no referido crime o agente, funcionário público, que vier
RESISTÊNCIA a desobedecer ordem de outro funcionário público, quando ambos
Art. 329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante violên- se encontrarem no regular exercício de suas funções. O sujeito pas-
cia ou ameaça a funcionário competente para executá-lo ou a sivo é o Estado.
quem lhe esteja prestando auxílio: O ato de desobedecer, tem o sentido de não cumprir, faltar
Pena - detenção, de dois meses a dois anos. à obediência, não atender a ordem legal de funcionário público,
§ 1º - Se o ato, em razão da resistência, não se executa: ordem esta para que o agente realize ou deixe de praticar determi-
Pena - reclusão, de um a três anos. nada ação.
§ 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das É indispensável para a caracterização do delito que o agente
correspondentes à violência. receba, do funcionário público, um mandamento, uma ordem, não
bastando portanto que seja um pedido ou uma solicitação, sendo
Resistir tem o condão de opor-se, de não ceder, de recusar-se, esta dirigida direta e expressamente ao agente. Outrossim, indis-
tem sentido de oposição, seja pela força ou pela violência, seja, pensável que a ordem esteja investida de legalidade pois caso não
ainda, pela omissão ou pela inércia. esteja, não há que se falar em desobediência.

Didatismo e Conhecimento 165


NOÇÕES DE DIREITO
A desobediência, via de regra, ocorre de forma dolosa, inten- Na modalidade “solicitar” da corrupção passiva, não existe,
cional, ou seja, o agente imputa sua vontade livre e consciente em entretanto, figura correlata na corrupção ativa. Com efeito, na soli-
desobedecer a ordem recebida do funcionário público, porém o citação a iniciativa é do funcionário público, que se adianta e pede
erro ou o motivo de força maior exclui o caráter doloso. Não há alguma vantagem ao particular. Em razão disso, se o particular dá,
forma culposa do delito. entrega o dinheiro, só existe a corrupção passiva. O fato é atípico
quanto ao particular, pois ele não ofereceu nem mesmo prometeu,
DESACATO mas tão somente entregou, o que lhe foi solicitado. Como tal con-
Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício da duta não está prevista em lei, o fato é atípico.
função ou em razão dela: Existe corrupção passiva sem corrupção ativa?
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. Sim, em duas hipóteses. Primeiro, no caso já mencionado aci-
ma.
Desacato é a conduta pela qual determinada pessoa desrespei- Segundo, quando o funcionário público solicita e o particular
ta, não adota, deixa de reverenciar funcionário público no exercí- se recusa a entregar o que foi pedido.
cio de sua função. Assim, comete o crime de desacato não somente Por outro lado, nas condutas de oferecer e prometer, que são
o ato de irreverência ou desrespeito, como também a ofensa, moral asúnicas descritas na corrupção ativa, a iniciativa é do particular.
ou física, lançada contra pessoa investida de autoridade. A corrupção ativa, portanto, consuma-se no momento em que
Conforme a redação do artigo 331, observa-se indispensável a oferta ou a promessa chegam ao funcionário público. Assim, se
que o desacato seja contra funcionário público, no exercício de o funcionário recebe ou aceita a promessa, responde por corrupção
sua função ou em razão dela, tendo o delito como objetividade passiva e o particular por corrupção ativa. Porém, se o funcionário
jurídica, manter o prestigio, o respeito da administração pública público as recusa, só o particular responde por corrupção ativa.
exercido por seu agente público. Existe corrupção ativa sem corrupção passiva?
O sujeito ativo do crime de desacato poderá ser qualquer pes- Sim, quando o funcionário público não recebe e não aceita
soa que vier a desacatar funcionário público, inclusive o próprio aoferta ou promessa de vantagem ilícita.
funcionário público, pois como dito, a objetividade jurídica do cri- É necessário que o agente ofereça ou faça uma promessa de
me é manter o respeito, o decoro, da administração pública. Assim vantagem indevida para que o funcionário público pratique, omita
o sujeito passivo do delito é o Estado, bem como seu funcionário. ou retarde ato de ofício. Sem isso não há corrupção ativa.
O crime em tela traz em seu cerne o sentido de vexar, afrontar, E se o agente se limita a pedir para o funcionário “dar um
ofender, desrespeitar o funcionário público, desferindo-lhe pala- jeitinho”?
vras injuriosas, desrespeitosas, caluniosas, difamatórias bem como Não há corrupção ativa, pois o agente não ofereceu nem pro-
ameaças, gestos e agressão física. meteu qualquer vantagem indevida.
Nesse caso, se o funcionário público “dá o jeitinho” e não pra-
Tráfico de Influência tica o ato que deveria, responde por corrupção passiva privilegiada
Art. 332 - Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para (art. 317, § 2º) e o particular figura como partícipe. Se o funcioná-
outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de in- rio público não dá o jeitinho, o fato é atípico.
fluir em ato praticado por funcionário público no exercício da O tipo exige que a vantagem seja endereçada ao funcionário
função: público.
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. A que tipo de vantagem se refere a lei?
Parágrafo único - A pena é aumentada da metade, se o agen- a) Deve ser indevida; se for devida, não há crime.
te alega ou insinua que a vantagem é também destinada ao fun- b) Nélson Hungria acha que a vantagem deve ser patrimonial.
cionário. Damásio
E. de Jesus, M. Noronha, Heleno C. Fragoso e Júlio F. Mi-
Corrupção Ativa rabete entendem que a vantagem pode ser de qualquer natureza,
Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcio- inclusive sexual.
nário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar Se o particular oferece a vantagem para evitar que o funcio-
ato de ofício: nário público pratique contra ele algum ato ilegal, não há crime.
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. E se um menor de idade oferece dinheiro a um policial que o
Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se, em pegou dirigindo sem habilitação e este aceita?
razão da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou omite O policial pratica crime de corrupção passiva.
ato de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional. Conforme já mencionado, a corrupção ativa consuma-se
quandoa oferta ou a promessa chegam ao funcionário público e
De acordo com a teoria monista ou unitária, todos os que con- independe da aceitação deste.
tribuírem para um crime responderão por esse mesmo crime. Às Se, entretanto, o funcionário público a aceitar e, em razão da
vezes, entretanto, a lei cria exceções a essa teoria, como ocorre vantagem, retardar, omitir ou praticar ato infringindo dever fun-
com a corrupção passiva e a corrupção ativa. Assim, o funcioná- cional, a pena da corrupção ativa será aumentada de um terço, nos
rio público que solicita, recebe ou aceita promessa de vantagem termos do art. 333, parágrafo único, do Código Penal. Sempre que
indevida comete a corrupção passiva, enquanto o particular que ocorrer essa hipótese, o funcionário público será responsabilizado
oferece ou promete essa vantagem pratica corrupção ativa. Existe, pela forma exasperada descrita no art. 317, § 1º, do Código Penal.
portanto, uma correlação entre as figuras típicas dos delitos: Tentativa. A tentativa é possível apenas na forma escrita.

Didatismo e Conhecimento 166


NOÇÕES DE DIREITO
Para que exista a corrupção ativa, o sujeito, com a oferta ou quatro a oito anos de reclusão, e multa. Como essa lei não faz res-
promessa de vantagem, deve visar fazer com que o funcionário: salva, ao contrário do que ocorria com a anterior (Lei n. 9.437/97),
a) Retarde ato de ofício. Ex.: para que um delegado de polícia não é possível a punição concomitantemente com o crime de con-
demore a concluir um inquérito policial, visando a prescrição. trabando ou descaminho.
b) Omita ato de ofício. Ex.: para que o policial não o multe. Objetividade jurídica. O controle do Poder Público sobre a
c) Pratique ato de ofício. Ex.: para delegado de polícia emitir entrada e saída de mercadorias do País e os interesses em termos
Carteira de Habilitação para quem não passou no exame (nesse de tributação da Fazenda Nacional.
caso, há também crime de falsidade ideológica). O STJ vinha aplicando o princípio da insignificância, reconhe-
Distinção. Se houver corrupção ativa em transação comercial cendo a atipicidade da conduta, quando o valor corrigido do tribu-
internacional, estará configurado o crime do art. 337-B do Código to devido não superava R$ 1.000,00, argumentando que a Fazenda
Penal. A corrupção para obter voto em eleição constitui crime do Pública dispensava o ajuizamento de execução fiscal para cobrar
art. 299 do Código Eleitoral (Lei n. 4.737/65). Por fim, a corrup- valores até esse limite com base na Lei n. 9.469/97. O art. 1º-A,
ção ativa de testemunhas, peritos, tradutores ou intérpretes, não da referida lei foi, entretanto, modificado pela Lei n. 11.941/2009.
oficiais, constitui o crime do art. 343 do Código Penal. Pelo texto atual está autorizado o não ajuizamento de ação e o
requerimento da extinção das ações em curso, de acordo com os
CONTRABANDO OU DESCAMINHO critérios de custos de administração e cobrança. Afastou-se, assim,
um valor determinado, passando a decisão de propor ou não a ação
Art. 334 — Importar ou exportar mercadoria proibida ou ao Advogado-Geral da União, que deverá se pautar de acordo com
iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto a conveniência para a administração em face do valor que busca e
devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria: os custos da ação. De ver-se, entretanto, que o parágrafo único do
Pena — reclusão, de um a quatro anos. art. 1º-A estabelece que, no caso de Dívida Ativa da União e nos
§ 1º — Incorre na mesma pena quem: processos em que a representação judicial seja atribuída à Procu-
a) pratica navegação de cabotagem, fora dos casos permiti- radoria-Geral da Fazenda Nacional, não é possível tal discriciona-
dos em lei; riedade, o que tornará necessária reapreciação do tema pelo STJ.
b) pratica fato assimilado, em lei especial, a contrabando ou O art. 34 da Lei n. 9.249/95 estabelece que “extingue-se a
descaminho; punibilidade dos crimes definidos na Lei n. 8.137/90, e na Lei n.
c) vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qual- 4.729/65, quando o agente promover o pagamento do tributo ou
quer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício contribuição social, inclusive acessórios, antes do recebimento da
de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência denúncia”.
estrangeira que introduziu clandestinamente no País ou impor- Embora esta lei não mencione o crime de descaminho, tem-
tou fraudulentamente ou que sabe ser produto de introdução -se entendido que o dispositivo é aplicável a referido delito, pois,
clandestina no território nacional ou de importação fraudulenta como os demais, atinge a ordem tributária.
por parte de outrem; Sujeito ativo. Pode ser qualquer pessoa. O funcionário pú-
d) adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, blico que facilite a conduta, entretanto, responderá pelo crime de
no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de facilitação ao contrabando (art. 318).
procedência estrangeira, desacompanhada de documentação le- Sujeito passivo. O Estado.
gal, ou acompanhada de documentos que sabe serem falsos. Consumação. O crime se consuma com a entrada ou saída da
§ 2º — Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos mercadoria do território nacional.
deste artigo, qualquer forma de comércio irregular ou clandes- Tentativa. É possível. Quando a hipótese é de exportação, o
tino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em resi- crime é tentado se a mercadoria não chega a sair do País. Por outro
dências. lado, no caso de importação, se o agente entrar com a mercadoria
§ 3º — A pena aplica-se em dobro, se o crime de contraban- no País, mas for preso na alfândega (de um aeroporto, por exem-
do ou descaminho é praticado em transporte aéreo. plo), o crime estará consumado.
Ação penal. É pública incondicionada, de competência da
Contrabando é a clandestina importação ou exportação de justiça federal. Além disso, a Súmula 151 do STJ estabelece que “a
mercadorias cuja entrada no país, ou saída dele, é absoluta ou re- competência para processo e julgamento por crime de contrabando
lativamente proibida. Descaminho é a fraude tendente a frustrar, ou descaminho define-se pela prevenção do Juízo Federal do lugar
total ou parcialmente, o pagamento de direitos de importação ou da apreensão dos bens”.
exportação ou do imposto de consumo (a ser cobrado na própria Causa de aumento de pena. Determina o § 3º que a pena
aduana) sobre mercadorias. será aplicada em dobro quando o contrabando ou descaminho for
Essa distinção é apontada por Nélson Hungria (Comentários praticado mediante transporte aéreo. A razão da maior severidade
ao Código Penal, 2. ed., v. 9, p. 432). da pena é a facilidade decorrente da utilização de aeronaves para
Em se tratando de importação ou exportação de substância a prática do delito. Por esse mesmo motivo, parece-nos não ser
entorpecente, configura-se crime de tráfico internacional de entor- aplicável a majorante quando a aeronave pousa ou decola de ae-
pecente, previsto no art. 33, caput, com a pena aumentada pelo art. roporto dotado de alfândega, uma vez que nestes não existe maior
40, I, todos da Lei n. 11.343/2006. facilidade na entrada ou saída de mercadorias.
A importação ou exportação ilegal de arma de fogo, acessório Figuras equiparadas. O § 1º do art. 334 prevê, em suas qua-
ou munição constitui também crime específico, previsto no art. 18 tro alíneas, várias figuras equiparadas ao contrabando ou desca-
da Lei n. 10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento), cuja pena é de minho:

Didatismo e Conhecimento 167


NOÇÕES DE DIREITO
a) A navegação de cabotagem tem a finalidade de realizar o III - omitir, total ou parcialmente, receitas ou lucros auferi-
comércio entre portos de um mesmo país. Assim, constitui crime a dos, remunerações pagas ou creditadas e demais fatos geradores
prática desta fora dos casos permitidos em lei. Trata-se, portanto, de contribuições sociais previdenciárias:
de norma penal em branco, cuja existência pressupõe o desrespeito Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
ao texto de outra lei. § 1o É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamen-
b) A prática de ato assimilado previsto em lei, como, por te, declara e confessa as contribuições, importâncias ou valores
exemplo, a saída de mercadorias da Zona Franca de Manaus sem e presta as informações devidas à previdência social, na forma
o pagamento de tributos, quando o valor excede a cota que cada definida em lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal.
pessoa pode trazer. Trata-se, também, de norma penal em branco. § 2o É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar
c) Nesse dispositivo, o legislador pune, inicialmente, o pró- somente a de multa se o agente for primário e de bons antece-
prio contrabandista que vende, expõe à venda, mantém em depó- dentes, desde que:
sito ou de qualquer forma utiliza a mercadoria, no exercício de I - (VETADO)
atividade comercial ou industrial. Quando isso ocorre, é evidente II - o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios,
que o agente não será punido pela figura do caput, que resta, por- seja igual ou inferior àquele estabelecido pela previdência social,
tanto, absorvida. administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento
Lembre-se que o § 2º estabelece que se equipara à ativida- de suas execuções fiscais.
de comercial qualquer forma de comércio irregular (sem registro § 3o Se o empregador não é pessoa jurídica e sua folha de pa-
junto aos órgãos competentes) ou clandestino (camelôs, por exem- gamento mensal não ultrapassa R$ 1.510,00 (um mil, quinhen-
plo), inclusive o exercido em residências. tos e dez reais), o juiz poderá reduzir a pena de um terço até a
Em um segundo momento, a lei pune quem toma as mesmas metade ou aplicar apenas a de multa.
atitudes em relação a mercadorias introduzidas clandestinamente § 4o O valor a que se refere o parágrafo anterior será rea-
ou importadas fraudulentamente por terceiro. justado nas mesmas datas e nos mesmos índices do reajuste dos
d) A lei pune, por fim, a pessoa que, no exercício de ativida- benefícios da previdência social.
de comercial ou industrial, adquire (obtém a propriedade), recebe
BIBLIOGRAFIA
(obtém a posse) ou oculta (esconde) mercadoria de procedência
estrangeira desacompanhada de documentos ou acompanhada de
- Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Disponí-
documentos que sabe serem falsos. Trata-se de delito que possui as
vel em <http://www.presidencia.gov.br>. Acesso em 12.12.2013.
mesmas condutas típicas do crime de receptação, mas que se aplica
especificamente a mercadorias contrabandeadas. A norma expli-
- GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Sinopses Jurídicas,
cativa do § 2º aplica-se também aos crimes descritos nesta alínea.
volumes 8 e 10 da Editora Saraiva, 2011.
ART. 335 – REVOGADO.
- NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal.
Editora RT, 2012.
Inutilização de edital ou de sinal
Art. 336 - Rasgar ou, de qualquer forma, inutilizar ou cons- EXERCÍCIOS
purcar edital afixado por ordem de funcionário público; violar
ou inutilizar selo ou sinal empregado, por determinação legal 1 – (Prova: CESPE - 2013 - PC-BA - Delegado de Polícia).
ou por ordem de funcionário público, para identificar ou cerrar A tentativa de contravenção, mesmo que factível, não é punida.
qualquer objeto:
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. ( )Certo ( )Errado

Subtração ou inutilização de livro ou documento 2 – (Prova: FCC - 2012 - PGM-Joao Pessoa-PB - Procura-
Art. 337 - Subtrair, ou inutilizar, total ou parcialmente, livro dor Municipal). Considere as seguintes penas:
oficial, processo ou documento confiado à custódia de funcio- I. Reclusão.
nário, em razão de ofício, ou de particular em serviço público: II. Detenção.
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, se o fato não constitui III. Prisão Simples.
crime mais grave. IV. Multa.
Para os ilícitos contravencionais estão previstas em lei SO-
Sonegação de contribuição previdenciária MENTE as penas indicadas em
Art. 337-A. Suprimir ou reduzir contribuição social previ- a) II e IV.
denciária e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas: b) I e IV.
I - omitir de folha de pagamento da empresa ou de documen- c) II, III e IV.
to de informações previsto pela legislação previdenciária segura- d) III e IV.
dos empregado, empresário, trabalhador avulso ou trabalhador e) I e II.
autônomo ou a este equiparado que lhe prestem serviços;
II - deixar de lançar mensalmente nos títulos próprios da 3 – (Prova: FCC - 2012 - TJ-PE - Analista Judiciário -
contabilidade da empresa as quantias descontadas dos segurados Área Judiciária - e Administrativa). A respeito do dolo e da
ou as devidas pelo empregador ou pelo tomador de serviços; culpa, considere:

Didatismo e Conhecimento 168


NOÇÕES DE DIREITO
I. Presume-se a culpa do agente quando infringir disposição b) Através da legítima defesa pode-se proteger qualquer bem
regulamentar. jurídico.
II. Para a existência de ilícito contravencional não se exige c) Na legítima defesa o agente pode escolher qualquer meio à
dolo, nem culpa, mas apenas ação ou omissão voluntária. sua disposição para repelir o injusto.
III. Se a vítima e o agente tiverem culposamente dado causa d) Na legítima defesa o agente não pode empregar o meio
ao evento, este somente será penalmente responsável se a sua além do que é preciso para evitar a lesão do bem jurídico próprio
culpa for mais grave que a daquela. ou de terceiro.
Está correto o que se afirma APENAS em:
a) I. 8 - Quando o agente pratica o fato para salvar de perigo
b) II. atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro
c) I e II. modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas cir-
d) I e III. cunstâncias, não era razoável exigir-se:
e) II e III. a) Não há crime.
b) Há crime, mas não há dolo.
4 – (Prova: FCC - 2012 - TJ-PE - Técnico Judiciário - Área c) Há crime e pode haver dolo, mas o fato é impunível.
Judiciária - e Administrativa). Para as contravenções penais, a d) Há crime, pode haver dolo e o fato pode ser punível se for
lei prevê a aplicação isolada ou cumulativa das penas de: típico.
a) prisão simples e detenção. e) Há crime, pode haver dolo e o fato pode ser punível depen-
b) reclusão e detenção. dendo das circunstâncias.
c) multa e prisão simples.
d) detenção e multa. 9 - Constituem elementos do estado de necessidade:
e) reclusão e prisão simples. a) Perigo atual ou iminente, que o agente não tenha provoca-
do, nem podia de outro modo ter evitado.
5 – (Prova: FUNCAB - 2013 - PC-ES - Médico Legista). Há b) Reação à injusta agressão, atual ou iminente, fazendo uso
mera culpa consciente, e não dolo eventual, quando o agente: dos meios necessários moderadamente.
a) atua sem se dar conta de que sua conduta é perigosa, e de c) Agressão atual, defesa de direito próprio ou de outrem e
que desatende aos cuidados necessários para evitar a produção do reação moderada.
resultado típico, por puro desleixo e desatenção. d) Existência de perigo atual, cujo sacrifício, nas circunstân-
b) não quer diretamente a realização do tipo, mas a aceita cias era razoável exigir-se.
como possível ou até provável, assumindo o risco da produção do e) Defesa de direito próprio ou de outrem, voluntariamente
resultado. provocado pelo agente e exigibilidade de conduta diversa.
c) conhece a periculosidade da sua conduta, prevê o resulta-
do típico como possível, mas age deixando de observar a diligên- 10 - Leia com atenção as assertivas abaixo e assinale a al-
cia a que estava obrigado, por confiar que este não se verificará. ternativa INCORRETA:
d) quer o resultado representado como fim de sua ação, sendo  a) o estado de necessidade pode ser alegado por quem não
sua vontade dirigida à realização do fato típico. tinha o dever legal de enfrentar o perigo;
e) não dá causa ao resultado, do qual depende a existência do  b) na legítima defesa há ação em razão de um perigo e não
crime. de uma agressão;
c) a legítima defesa é uma das causas excludentes da antiju-
6 - Em relação às causas de exclusão de ilicitude, assinale ridicidade;
a opção incorreta. d) mesmo em caso de exercício regular de um direito, o agente
a) Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato responderá pelo excesso doloso ou culposo;
para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade nem e) não respondida.
podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifí-
cio, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. 11. (Analista Judiciário – TRE/AP – FCC – 2006) Conside-
b) Considera-se causa supralegal de exclusão de ilicitude a re as seguintes assertivas:
inexigibilidade de conduta diversa. I. Desviar o funcionário público dinheiro, valor ou qualquer
c) Um bombeiro em serviço não pode alegar estado de neces- outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em
sidade para eximir-se de seu ofício, visto que tem o dever legal de razão do cargo, em proveito próprio ou alheio.
enfrentar o perigo. II. Exigir, para si ou para outrem direta ou indiretamente, ain-
d) Entende-se em legítima defesa quem, usando moderada- da que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela,
mente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou imi- vantagem indevida.
nente, a direito seu ou de outrem. III. Exigir tributo ou contribuição social que sabe ou deveria
saber indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança meio ve-
7 - Em relação à legítima defesa, assinale a alternativa IN- xatório ou gravoso, que a lei não autoriza.
CORRETA. IV. Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou in-
a) Pela legítima o agente pode repelir agressão injusta a direito diretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas
seu ou de outrem que pode ser qualquer pessoa física, mesmo que em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal van-
um criminoso. tagem.

Didatismo e Conhecimento 169


NOÇÕES DE DIREITO
A descrição das condutas típicas acima, correspondem, res- d) Não pode ser sujeito ativo desse crime o funcionário públi-
pectivamente, aos crimes de co ocupante de cargo em comissão.
a) furto, corrupção passiva, extorsão e peculato. e) O sujeito ativo desse crime é qualquer funcionário público,
b) apropriação indébita, peculato, excesso de exação e cor- independentemente do cargo que ocupa; o sujeito passivo é só o
rupção ativa. particular atingido pela ação ou omissão; o bem jurídico tutelado
c) peculato, concussão, excesso de exação e corrupção pas- pela norma é o ordenamento jurídico como um todo.
siva.
d) excesso de exação, extorsão, prevaricação e apropriação 16. (Analista Judiciário – TJ – SE – FCC – 2009) Quem
indébita. solicita vantagem para si, a pretexto de influir em ato praticado
e) estelionato, prevaricação, peculato e extorsão. por funcionário público no exercício da função, comete o crime de
12. (Analista Processual MPU – FCC – 2007) A respeito dos a) peculato
crimes contra a Administração Pública, é correto afirmar: b) tráfico de influência
a) Não configura o crime de contrabando a exportação de mer- c) excesso de exação
cadoria proibida. d) advocacia administrativa
b) Constitui crime de desobediência o não atendimento por e) corrupção ativa.
funcionário público de ordem legal de outro funcionário público.
c) Comete crime de corrupção ativa quem oferece vantagem 17. (Analista Judiciário – TER – PI – FCC – 2009) O poli-
indevida a funcionário público para determiná-lo a deixar de pra- cial que se apropria de quantia em dinheiro encontrada em poder
ticar medida ilegal. de traficante preso em flagrante, produto da venda de drogas,
d) Pratica crime de resistência quem se opõe, mediante violên- a) comete crime de corrupção passiva.
cia, ao cumprimento de mandado de prisão decorrente de sentença b) não comete crime contra a administração pública.
condenatória supostamente contrária à prova dos autos. c) comete crime de peculato culposo.
e) Para a caracterização do crime de desacato não é necessário d) comete crime de concussão.
que o funcionário público esteja no exercício da função ou, não e) comete crime de peculato doloso
estando, que a ofensa se verifique em função dela.
18. (Analista Judiciário – TER – PI – FCC – 2009) Quem
13. (Defensoria Pública – DPE – MS – VUNESP – 2008) patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a ad-
No que diz respeito aos crimes contra a Administração Pública, ministração pública, valendo-se da qualidade de funcionário pú-
assinale a alternativa que traz, apenas, crimes próprios no que con- blico,
cerne ao sujeito ativo. a) responderá no máximo por crime culposo.
a) Tráfico de influência; abandono de função; violação de si- b) não pratica nenhuma infração, se advogado.
gilo funcional. c) pratica o crime de Advocacia Administrativa
b) Usurpação de função pública; prevaricação; peculato. d) não pratica nenhum crime, posto que tinha pleno conheci-
c) Corrupção passiva; condescendência criminosa; advocacia mento da legalidade do ato.
administrativa. e) não responderá pela prática se ocupante de cargo de comis-
d) Favorecimento pessoal; concussão; violência arbitrária. são ou função de direção.

14. (Agente de Fiscalização Judiciária – TJ – SP – VU- 19. (Analista – UFPR – 2010) O servidor público comete
NESP – 2010) A conduta de apropriar-se de dinheiro ou qualquer crime contra Administração Pública quando pratica condutas de-
utilidade que, no exercício do cargo, recebeu por erro de outrem finidas no Código Penal Brasileiro como crime. A respeito do as-
configura o crime de sunto, identifique as afirmativas a seguir como verdadeiras (V) ou
a) corrupção ativa. falsas (F).
b) peculato culposo. ( ) Há crime de peculato quando o servidor se apropria de
c) corrupção passiva. dinheiro que estava sob sua posse em razão do cargo que ocupa.
d) excesso de exação ( ) Concussão ocorre quando o servidor, usando da influência
e) peculato mediante erro de outrem. de seu posto, recebe vantagem para si ou para outrem.
( ) Prevaricação é o crime que ocorre quando o servidor deixa
15. (Oficial de Justiça – TJ/RS – OFICCIUM – 2003) Sobre de responsabilizar seu subordinado que cometeu infração no exer-
o crime de prevaricação, assinale a assertiva correta. cício do cargo.
a) Está configurado o crime quando o agente, sem qualquer Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta, de
objetivo pessoal, retarda ou deixa de praticar, por indolência, ato cima para baixo.
de ofício. a) V - F - F.
b) Está configurado o crime quando o agente, sem qualquer b) V - V - F.
objetivo pessoal, retarda ou deixa de praticar, por mera negligên- c) F - F - V
cia, ato de ofício. d) F - F - F.
c) Está configurado o crime quando o agente retarda ou dei- e) V - V - V.
xa de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou o pratica contra
disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento 20. (Oficial de Chancelaria – MRE – FCC – 2009) É correto
pessoal. afirmar que o funcionário público que

Didatismo e Conhecimento 170


NOÇÕES DE DIREITO
a) concorre, por imprudência ou negligência, para o crime de d) a reparação do dano posterior à denúncia e anterior à sen-
outro servidor público, comete peculato doloso. tença condenatória irrecorrível permite redução da pena pela me-
b) subtrai, mediante fraude, ou sem esta, dinheiro ou bem mó- tade.
vel público, comete estelionato-apropriação. e) a reparação do dano posterior ao recebimento da denúncia
c) se apropria de dinheiro ou utilidade pública, que recebeu permite redução da pena em dois terços.
por erro, pratica peculato-furto.
d) se apropria de dinheiro ou de outro bem público de que tem 26. (Agente Penitenciário – SJCDH – BA – FCC – 2010)
a posse, pratica peculato-estelionato. No que diz respeito ao crime de resistência, é correto afirmar que
e) usa verba pública ou bens, de que tem a posse em razão do a) pode ser sujeito passivo do crime a pessoa que esteja pres-
cargo, para promover reuniões sociais, em proveito próprio ou de tando auxílio ao funcionário que executa o ato.
terceiros, pratica peculato desvio. b) se configura quando o agente desobedece a ordem legal de
funcionário público competente.
21. (Analista de Processos Organizacionais – BAHIAGÁS c) a pena máxima prevista é de quatro anos se o ato, em razão
– FCC – 2010) Quem patrocina, direta ou indiretamente, interesse da resistência, não se executa.
privado perante a Administração Pública, valendo-se da qualidade d) somente se consuma se o ato, em razão da resistência, não
de funcionário, comete crime de se executa.
a) advocacia administrativa. e) as penas pelo crime são aplicáveis sem prejuízo das penas
b) prevaricação. correspondentes à ameaça.
c) tráfico de influência
d) favorecimento real. 27. (Procurador – TCE – AP - FCC – 2010) Não constituem
e) favorecimento pessoal. crimes praticados por particular contra a administração em geral
a) o desacato e a fraude de concorrência
22. (Assistente Social – TJSC – 2010) O funcionário público b) a condescendência criminosa e a advocacia administrativa.
que, em razão da função, solicita para si vantagem indevida para c) a corrupção ativa e a sonegação de contribuição previden-
deixar de praticar ato de ofício, fica sujeito às penas previstas para ciária.
o crime de: d) o tráfico de influência e a resistência.
a) Corrupção ativa e) a desobediência e o contrabando.
b) Prevaricação.
c) Favorecimento pessoal. 28. (Analista do Ministério Público – MPE – SE – FCC –
d) Corrupção passiva. 2009) Aquele que solicita dinheiro a pretexto de influir em órgão
e) Usurpação de função pública. do Ministério Público pratica o crime de
a) condescendência criminosa.
23. (Delegado de Polícia – PC – PF – FUNIVERSA – 2009) b) advocacia administrativa.
Se Marcos exigiu de Maria o pagamento de um tributo que ele c) tráfico de influência.
sabia ser indevido, ele cometeu o crime de d) patrocínio infiel.
a) concussão e) exploração de prestígio
b) peculato mediante erro de outrem
c) excesso de exação. 29. (Analista Judiciário – TJ – PI – FCC – 2009) O funcio-
d) violência arbitrária. nário que solicita vantagem para si, a pretexto de influir em ato
e) prevaricação praticado por outro funcionário, comete o crime de
a) improbidade administrativa
24. (Assessor – MPE – RS – FCC – 2008) O funcionário b) corrupção ativa
público que solicita quantia em dinheiro para aprovar candidato a c) tráfico de influência.
obtenção de carteira de motorista, comete crime de d) advocacia administrativa
a) concussão. e) excesso de exação
b) peculato.
c) corrupção passiva. 30. Manoel dirigia seu automóvel em velocidade compatí-
d) prevaricação. vel com a via pública e utilizando as cautelas necessárias quan-
e) corrupção ativa. do atropelou fatalmente um pedestre que, desejando cometer
suicídio, se atirou contra seu veículo.
25. (Procuradoria do Estado – PGE – RR – FCC – 2006) Com relação a essa situação hipotética, assinale a opção
Em caso de peculato culposo, correta.
a) a reparação do dano, desde que anterior à denúncia, extin- a) Manoel praticou homicídio culposo, uma vez que, ao dirigir
gue a punibilidade. veículo automotor, o condutor assume o risco de produzir o resul-
b) a reparação do dano, desde que anterior ao recebimento da tado, nesse caso o atropelamento.
denúncia, extingue a punibilidade. b) Manoel praticou lesão corporal seguida de morte, pois, ao
c) a reparação do dano, desde que anterior à decisão irrecorrí- dirigir, assumiu o risco de atropelar alguém, mas, como não tinha
vel, extingue a punibilidade. intenção de matar, não responde pelo resultado morte.

Didatismo e Conhecimento 171


NOÇÕES DE DIREITO
c) Manoel praticou o crime de auxílio ao suicídio, posto que b) tentativa de homicídio.
contribuiu para a conduta suicida da vítima. c) lesões corporais graves.
d) Manoel não praticou crime, posto que o fato não é típico, já d) lesões corporais leves.
que não agiu com dolo ou culpa em face da excludente de ilicitude. e) homicídio culposo.
e) Manoel não praticou crime, na medida em que não houve
previsibilidade na conduta da vítima. 35. Analise as proposições que seguem e assinale a corre-
ta, inclusive, se o caso, consoante jurisprudência sumulada dos
31. Dos crimes contra a vida. Homicídio simples, privile- Tribunais Superiores (STJ e STF):
giado e qualificado (Art. 121, §§ 1º e 2º) – Matar alguém; Pena a) Para praticar o aborto necessário, o médico não necessita do
- Reclusão, de 6 (seis) a 20 (vinte) anos. Logo: consentimento da gestante.
a) A causa especial de redução da pena, “sob o domínio de b) No caso do crime continuado, a prescrição é regulada pela
violenta emoção, logo em seguida à injusta provocação da vítima”, pena imposta, computando-se o aumento decorrente da continui-
prevista no §1º, do artigo 121, do Código Penal, é aplicável mesmo dade.
não estando o agente completamente dominado pela emoção; c) A existência de circunstância atenuante autoriza a fixação
b) Ainda que o homicídio seja praticado friamente dias após a da pena abaixo do mínimo legal.
injusta provocação da vítima, a simples existência da emoção por d) Na fixação da pena, o juiz deve considerar condenação,
parte do acusado, é bastante para que o mesmo possa ser conside- ainda não transitada em julgado para o réu, como circunstância
rado privilegiado; judicial desfavorável, a título de maus antecedentes.
c) Configura traição que qualifica o homicídio a conduta do e) O agente que imputa a alguém fato ofensivo à sua reputação
agente que de súbito ataca a vítima pela frente; comete o crime de injúria.
d) Configura traição que qualifica o homicídio a conduta do
agente que colhe a vítima por trás, sem que esta tenha qualquer 36. Relativamente ao crime de homicídio, assinale a alter-
visualização do ataque. nativa correta:
a) Afastado o privilégio da violenta emoção, subsiste impos-
32. Arlete, em estado puerperal, manifesta a intenção de sibilitada, na mesma hipótese, a incidência da atenuante genérica
matar o próprio filho recém-nascido. Após receber a criança homônima, prevista no art. 65, III, “c”, do Código Penal.
b) Classifica-se, doutrinariamente, como crime de ação livre,
no seu quarto para amamentá-la, a criança é levada para o
em que pese se admita sua forma como de ação vinculada.
berçário. Durante a noite, Arlete vai até o berçário, e, após
c) A distinção fundamental entre o delito tipificado no art. 121,
conferir a identificação da criança, a asfixia, causando a sua
§ 2°, inciso III, do Código Penal (homicídio qualificado pela tortu-
morte. Na manhã seguinte, é constatada a morte por asfixia de
ra) e o crime de tortura qualificada pela morte (art. 1°, §3°, da Lei
um recém-nascido, que não era o filho de Arlete.
n. 9.455/97), é que neste último o resultado morte se dá por culpa.
Diante do caso concreto, assinale a alternativa que indique
d) É caso de aumento de pena, no homicídio culposo, se o
a responsabilidade penal da mãe.
crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte
a) Crime de homicídio, pois, o erro acidental não a isenta de ou ofício, em que pese tais circunstâncias se circunscrevam ao pró-
reponsabilidade. prio tipo do ilícito penal.
b) Crime de homicídio, pois, uma vez que o art. 123 do CP
trata de matar o próprio filho sob influência do estado puerperal, 37. Assinale a alternativa que não qualifica o crime de ho-
não houve preenchimento dos elementos do tipo. micídio:
c) Crime de infanticídio, pois houve erro quanto à pessoa. a) Emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou ou-
d) Crime de infanticídio, pois houve erro essencial. tro meio insidioso ou cruel.
b) Para assegurar a ocultação de outro crime.
33. Kaio encontrou Lúcio, seu desafeto, em um restauran- c) Motivo fútil
te. Com a intenção de humilhá-lo e feri-lo, desfere-lhe uma ras- d) Abuso de poder ou violação de dever inerente a cargo, ofí-
teira, fazendo com que Lúcio caia e bata a cabeça no chão. Em cio, ministério ou profissão.
decorrência, Lúcio sofre traumatismo craniano, vindo a óbito. e) Mediante dissimulação.
Na situação descrita, Kaio cometeu crime de:
a) homicídio qualificado por recurso que impossibilitou a de- 38. Em cada um dos itens a seguir, é apresentada uma si-
fesa da vítima. tuação hipotética, seguida de uma assertiva a ser julgada. Assi-
b) homicídio doloso simples. nale a opção cuja assertiva esteja incorreta.
c) lesão corporal seguida de morte. a) Gilson, com animus necandi, efetuou quatro tiros em di-
d) homicídio culposo. reção a Genilson. No entanto, acertou apenas um deles. Logo em
e) lesão corporal culposa. seguida, um policial que passava pelo local levou Genilson ao
hospital, salvando-o da morte. Nessa situação, o crime praticado
34. João, com a intenção de matar, golpeou José com uma por Gilson foi tentado, sendo correto afirmar que houve adequação
faca, ferindo-o. Em condições normais, o ferimento teria confi- típica mediata.
gurado apenas lesão corporal leve. No entanto, por ser a vítima b) David, com animus laedendi, desferiu duas facadas na mão
diabética, a lesão se agravou e esta veio a falecer em razão do de Gerson, que, em consequência, passou a ter debilidade perma-
ocorrido. Nesse caso, João responderá por: nente do membro. Nessa situação, David praticou crime de lesão
a) homicídio doloso. corporal de natureza grave, classificado como crime instantâneo.

Didatismo e Conhecimento 172


NOÇÕES DE DIREITO
c) Morgado, funcionário público, cumprindo ordem não mani- c) Leo responderá como autor de homicídio culposo e João,
festamente ilegal de seu superior hierárquico, acabou por praticar como mandante.
crime contra a administração pública. Nessa situação, apenas o su- d) João responderá pelo crime de lesão corporal, porque quis
perior hierárquico de Morgado será punível participar de crime menos grave do que o cometido por Leo.
d) Quatro indivíduos compunham um grupo de extermínio e) João e Leo responderão pelo crime de lesão corporal se-
procurado havia tempo pela polícia. Em certo momento, um dos guida de morte, porque assumiram o risco de produzir o resultado
integrantes do grupo dirigiu-se à polícia e, voluntariamente, for- morte.
neceu informações e provas que possibilitaram a prisão do grupo.
42. Assinale a opção correta entre as assertivas abaixo
Nessa situação, de acordo com a Lei dos Crimes Hediondos, o relacionadas aos crimes contra a pessoa previstos no Código
associado que denunciar à autoridade o bando ou quadrilha deverá Penal brasileiro:
ser denunciado e processado, mas deverá ficar isento de pena, ao a) Ana, menor de 17 anos, mata seu marido por tê-la traído
ser sentenciado. com a sua melhor amiga. Nesse caso, responderá pelo delito de
e) Wagner, funcionário público, no período de agosto de 1999 homicídio privilegiado.
a novembro de 1999, para dissimular a origem, a movimentação, b) Sebastião induz Carla ao suicídio lembrando que a vida no
a propriedade e a utilização de valores recebidos em cheques pro- céu é melhor que a vida na terra. Nesse caso, Sebastião responde
venientes de concussão, converteu-os em ativos lícitos por meio pelo crime de indução ao suicídio e Carla pelo crime de suicídio.
de depósito em conta-corrente da empresa Acessórios Veiculares c) Acrísia mata seu filho logo após o parto. Nesse caso, res-
Ltda., da qual era sócio-cotista, dando a aparência de que os nume- ponderá pelo delito de aborto.
rários depositados eram oriundos de atividade normal da empresa, d) Álvaro afirma, de forma mentirosa, que Marcos é o sujeito
a fim de aplicá-los no mercado financeiro. Nessa situação, Wagner que a Polícia está procurando pela prática de vários estupros. Nes-
se caso, Álvaro responde pelo crime de calúnia.
responderá pelo crime de lavagem de dinheiro
e) Amélia recusa-se a transportar Marta, pessoa gravemente
ferida. Marta sobrevive. Nesse caso, Amélia responde pelo crime
39. Quanto aos crimes contra as pessoas, as seguintes al- de tentativa de homicídio.
ternativas estão corretas, EXCETO:
a) a mãe que, em estado puerperal, logo após o parto, na en- 43. Quanto aos crimes contra a pessoa, assinale a opção
fermaria do hospital, mata filho de outra pessoa pensando ser o correta:
próprio, responde por infanticídio e não por homicídio. a) São compatíveis, em princípio, o dolo eventual e as quali-
b) o agente que provoca várias lesões corporais, de natureza ficadoras do homicídio. É penalmente aceitável que, por motivo
grave e gravíssima, contra a mesma vítima em um mesmo contex- torpe, fútil etc., assuma-se o risco de produzir o resultado.
to fático responde por crime continuado. b) É inadmissível a ocorrência de homicídio privilegiado-
c) para a ocorrência do crime de induzimento, instigação ou -qualificado, ainda que a qualificadora seja de natureza objetiva.
auxílio ao suicídio, será indispensável que a vítima seja determina- c) No delito de infanticídio incide a agravante prevista na par-
da e tenha capacidade de discernimento. te geral do CP consistente no fato de a vítima ser descendente da
parturiente.
d) todas as pessoas, mulheres ou homens, que se enquadram
d) No delito de aborto, quando a gestante recebe auxílio de
às situações emanadas do tipo, podem ser vítimas dos crimes de terceiros, não se admite exceção à teoria monista, aplicável ao con-
violência doméstica, podendo as penas ser aumentadas de 1/3 se o curso de pessoas.
crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência. e) Por ausência de previsão legal, não se admite a aplicação
do instituto do perdão judicial ao delito de lesão corporal, ainda
40. A respeito do crime de omissão de socorro, assinale a que culposa.
opção correta:
a) A omissão de socorro classifica-se como crime omissivo 44. Sobre o crime de aborto, é correto afirmar:
próprio e instantâneo. a) Não se pune o aborto praticado por médico se a gravidez
b) A criança abandonada pelos pais não pode ser sujeito passi- resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da ges-
vo de ato de omissão de socorro praticado por terceiros. tante ou do seu representante legal, se incapaz.
c) O crime de omissão de socorro é admitido na forma tentada. b) Não constitui infração penal provocar aborto em si mesma.
d) É impossível ocorrer participação, em sentido estrito, em c) É permitido provocar aborto com o consentimento da ges-
tante, em qualquer hipótese.
crime de omissão de socorro.
d) Quando o aborto praticado por terceiro configura crime, as
penas são aumentadas de um terço se, em consequência do aborto
41. ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão
corporal de natureza leve ou grave.
e) Em qualquer hipótese não pratica crime a gestante que con-
sente no aborto.
A respeito dessa situação hipotética, assinale a opção cor-
reta: 45. Marcus, visando roubar Maria, a agride, causando-lhe
a) João e Leo responderão pelo crime de homicídio doloso, lesões corporais de natureza leve. Antes, contudo, de subtrair
porque este foi o resultado final da conduta instigada por João. qualquer pertence, Marcus decide abandonar a empreitada
b) João não responderá pela prática de crime, pois a instigação criminosa, pedindo desculpas à vítima e se evadindo do local.
não é punível no ordenamento jurídico brasileiro, exceto quando Maria, então, comparece à delegacia mais próxima e narra os
expressamente prevista no tipo legal. fatos à autoridade policial.

Didatismo e Conhecimento 173


NOÇÕES DE DIREITO
No caso acima, o delegado de polícia: 49. É certo afirmar:
a) deverá instaurar inquérito policial para apurar o crime de I - A objetividade jurídica imediata do furto é a tutela da
roubo tentado, uma vez que o resultado pretendido por Marcus posse; de forma secundária, o estatuto penal protege a pro-
não se concretizou. priedade.
b) nada poderá fazer, uma vez que houve a desistência volun- II. O furto admite o concurso material e formal, mas não
tária por parte de Marcus. admite o nexo de continuidade. 
c) deverá lavrar termo circunstanciado pelo crime de lesões II. A qualificadora da morte, que configura o latrocínio, é
corporais de natureza leve. aplicável somente ao roubo próprio. 
d) nada poderá fazer, uma vez que houve arrependimento pos- IV. O roubo é considerado crime complexo, pois o Código
terior por parte de Marcus. Penal protege a posse, a propriedade, a integridade física, a
saúde e a liberdade individual.
46. Com relação aos crimes contra o patrimônio, assinale Analisando as proposições, pode-se afirmar:
a opção correta: a) Somente as proposições I e IV estão corretas.
a) A conduta da vítima não é fator de distinção entre os delitos b) Somente as proposições II e IV estão corretas.
de roubo e extorsão. c) Somente as proposições I e III estão corretas.
b) O crime de extorsão mediante sequestro consuma-se no
d) Somente as proposições II e III estão corretas.
momento em que o resgate é exigido, independentemente do mo-
mento da privação da liberdade da vítima.
50. Em relação ao crime de roubo e suas modalidades,
c) Ocorre crime de extorsão indireta quando alguém, abusan-
do da situação de outro, exige, como garantia de dívida, documen- descritas no art. 157 do Código Penal, assinale a alternativa
to que pode dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou correta:
terceiro. a) o emprego de arma imprópria, como uma tesoura, não qua-
d) No crime de apropriação indébita, o fato de o agente pra- lifica o crime.
ticá-lo em razão de ofício, emprego ou profissão não interfere na b) a prática do crime em concurso com adolescente inimputá-
imposição da pena, por se tratar de elementar do tipo. vel não implica reconhecimento da qualificadora do concurso de
agentes.
47. Considere as seguintes assertivas, no que se refere c) se, após a subtração, durante a fuga, atingida por disparo
aos crimes contra o patrimônio: involuntário de um dos agentes, uma das vítimas vem a falecer,
I. O concurso de duas ou mais pessoas é causa de aumento de apenas o autor do disparo responderá por latrocínio.
pena do furto e circunstância qualificadora do roubo; d) subtraído o bem sem que a vítima se aperceba, a ameaça
II. No furto de coisa comum, é punível a subtração de coisa proferida em seguida para assegurar a subtração caracteriza o cri-
comum fungível, ainda que o valor não exceda a quota a que tem me.
direito o agente;  e) somente se consuma a infração quando o agente se locuple-
III. Exigir ou receber, como garantia de dívida, abusando da ta com a subtração do bem.
situação de alguém, documento que pode dar causa a procedimen-
to criminal contra a vítima ou contra terceiro caracteriza o crime 51. Com relação ao crime de receptação, é CORRETO
de extorsão indireta. afirmar que:
É correto, apenas, o que se afirma em a) sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, inclusive o coautor
a) I do crime antecedente.
b) II b) não há previsão de punir por negligência, imprudência ou
c) III imperícia.
d) I e II c) o exercício da atividade comercial para qualificar o crime
e) II e III exige formalidade.
d) é punível, ainda que desconhecido ou isento de pena, o au-
48. É certo afirmar:
tor do crime de que proveio a coisa.
I. O crime de furto classifica-se como crime comum quan-
to ao sujeito, doloso, de forma livre, comissivo, de dano, mate-
rial e instantâneo. 52. Túlio furtou determinado veículo. Quando chegou em
II. O prazo decadencial do direito de queixa começa a con- casa, constatou que no banco de trás encontrava-se uma crian-
tar da data da consumação do delito. ça dormindo. Por esse motivo, Túlio resolveu devolver o carro
III. A competência para julgar o crime de latrocínio é do no local da subtração.
juiz singular através do procedimento sumário. Com relação a essa situação hipotética, assinale a opção
IV. O roubo distingue-se do furto qualificado porquanto correta.
nele a violação é praticada contra pessoa, enquanto no furto a) Túlio cometeu furto, sendo irrelevante a devolução do veí-
qualificado ela é empregada contra a coisa. culo na medida que houve a consumação do crime.
b) Túlio praticou furto, mas deverá ter sua pena reduzida em
Analisando as proposições, pode-se afirmar: face do arrependimento posterior.
a) Somente as proposições I e III estão corretas. c) Túlio cometeu furto e sequestro culposo, ficando isento de
b) Somente as proposições II e III estão corretas. pena em face do arrependimento eficaz.
c) Somente as proposições I e IV estão corretas. d) Túlio deverá responder por roubo, pois o constrangimento
d) Somente as proposições II e IV estão corretas. à liberdade da vítima caracteriza ameaça.

Didatismo e Conhecimento 174


NOÇÕES DE DIREITO
e) Túlio não praticou crime, posto que, ao devolver volunta- c) a nomeação das testemunhas, com indicação de sua profis-
riamente o veículo, tornou a conduta atípica em face da desistência são e residência.
voluntária. §2º Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de
inquérito caberá recurso para o chefe de Polícia.
53. Mara, empregada doméstica, subtraiu joias de sua §3º Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da
empregadora Dora, colocando-as numa caixa que enterrou no existência de infração penal em que caiba ação pública poderá,
quintal da residência. No dia seguinte, porém, Dora deu pela verbalmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade policial, e
falta das joias e chamou a polícia que realizou busca no imóvel esta, verificada a procedência das informações, mandará instaurar
e encontrou o esconderijo onde Mara as havia guardado. Nesse inquérito.
caso, Mara responderá por: §4º O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender
a) apropriação indébita. de representação, não poderá sem ela ser iniciado.
b) furto tentado. §5º Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente
c) furto consumado. poderá proceder a inquérito a requerimento de quem tenha quali-
d) roubo. dade para intentá-la.
e) estelionato.
Art. 6º Logo que tiver conhecimento da prática da infração
GABARITO: penal, a autoridade policial deverá:
1C;2D;3B;4C;5C,6A;7B,8C;9D;10C;11C;12D;13C;14E;15C I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem
;16B;17E;18C; 19A;20E;21A; 22D;23C;24C;25C;26A;27B;28E; o estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos cri-
29C; 30E;31D;32C;33C;34A;35A;36C;37D;38D;39B;40A;41D;4 minais;
2D;43A;44A;45C;46C;47C;48C;49A;50D;51D;52B;53C. II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após
liberados pelos peritos criminais;
Prof. Rafael José Nadim De Lazari III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento
do fato e suas circunstâncias;
Doutorando em Direito pela Pontifícia Universidade Cató- IV - ouvir o ofendido;
lica de São Paulo - PUC/SP. Mestre-bolsista (CAPES/PROSUP V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável,
Modalidade 1) em Direito pelo Centro Universitário “Eurípides do disposto no Capítulo III do Título Vll, deste Livro, devendo o
Soares da Rocha”, de Marília/SP - UNIVEM. Advogado e consul- respectivo termo ser assinado por duas testemunhas que Ihe te-
tor jurídico. Autor, organizador e participante de inúmeras obras nham ouvido a leitura;
jurídicas. VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a aca-
reações;
VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo
de delito e a quaisquer outras perícias;
2.4.1 DO INQUÉRITO POLICIAL VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo da-
tiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de an-
tecedentes;
IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de
Dispositivos do Código de Processo Penal que tratam do as- vista individual, familiar e social, sua condição econômica, sua
sunto: atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e
quaisquer outros elementos que contribuírem para a apreciação do
 Art. 4º A polícia judiciária será exercida pelas autoridades seu temperamento e caráter.
policiais no território de suas respectivas circunscrições e terá por
fim a apuração das infrações penais e da sua autoria. Art. 7º Para verificar a possibilidade de haver a infração sido
Parágrafo único.  A competência definida neste artigo não ex- praticada de determinado modo, a autoridade policial poderá pro-
cluirá a de autoridades administrativas, a quem por lei seja come- ceder à reprodução simulada dos fatos, desde que esta não contra-
tida a mesma função. rie a moralidade ou a ordem pública.

Art.  5º Nos crimes de ação pública o inquérito policial será Art. 8º Havendo prisão em flagrante, será observado o dispos-
iniciado: to no Capítulo II do Título IX deste Livro.
I - de ofício;
II - mediante requisição da autoridade judiciária ou do Mi- Art. 9º Todas as peças do inquérito policial serão, num só pro-
nistério Público, ou a requerimento do ofendido ou de quem tiver cessado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubri-
qualidade para representá-lo. cadas pela autoridade.
§1º O requerimento a que se refere o nº II conterá sempre que
possível: Art. 10.  O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o
a) a narração do fato, com todas as circunstâncias; indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso preventi-
b) a individualização do indiciado ou seus sinais característi- vamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se
cos e as razões de convicção ou de presunção de ser ele o autor da executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver
infração, ou os motivos de impossibilidade de o fazer; solto, mediante fiança ou sem ela.

Didatismo e Conhecimento 175


NOÇÕES DE DIREITO
§1º A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido Parágrafo único. A incomunicabilidade, que não excederá de
apurado e enviará autos ao juiz competente. três dias, será decretada por despacho fundamentado do Juiz, a
§2º No relatório poderá a autoridade indicar testemunhas que requerimento da autoridade policial, ou do órgão do Ministério
não tiverem sido inquiridas, mencionando o lugar onde possam ser Público, respeitado, em qualquer hipótese, o disposto no artigo 89,
encontradas. inciso III, do Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil (Lei n.
§3º Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado es- 4.215, de 27 de abril de 1963).
tiver solto, a autoridade poderá requerer ao juiz a devolução dos
autos, para ulteriores diligências, que serão realizadas no prazo Art. 22.  No Distrito Federal e nas comarcas em que houver
marcado pelo juiz. mais de uma circunscrição policial, a autoridade com exercício em
uma delas poderá, nos inquéritos a que esteja procedendo, ordenar
Art. 11.  Os instrumentos do crime, bem como os objetos que diligências em circunscrição de outra, independentemente de pre-
interessarem à prova, acompanharão os autos do inquérito. catórias ou requisições, e bem assim providenciará, até que com-
pareça a autoridade competente, sobre qualquer fato que ocorra em
Art. 12.  O inquérito policial acompanhará a denúncia ou quei- sua presença, noutra circunscrição.
xa, sempre que servir de base a uma ou outra.
Art. 23.  Ao fazer a remessa dos autos do inquérito ao juiz
competente, a autoridade policial oficiará ao Instituto de Identifi-
Art. 13.  Incumbirá ainda à autoridade policial:
cação e Estatística, ou repartição congênere, mencionando o juízo
I - fornecer às autoridades judiciárias as informações necessá-
a que tiverem sido distribuídos, e os dados relativos à infração
rias à instrução e julgamento dos processos; penal e à pessoa do indiciado.
II -  realizar as diligências requisitadas pelo juiz ou pelo Mi-
nistério Público; 1 Conceito. O inquérito policial é um procedimento admi-
III - cumprir os mandados de prisão expedidos pelas autori- nistrativo investigatório, de caráter inquisitório e preparatório,
dades judiciárias; consistente em um conjunto de diligências realizadas pela polícia
IV - representar acerca da prisão preventiva. investigativa para apuração da infração penal e de sua autoria, pre-
sidido pela autoridade policial, a fim de que o titular da ação penal
Art. 14.  O ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado possa ingressar em juízo.
poderão requerer qualquer diligência, que será realizada, ou não, a A mesma definição pode ser dada para o termo circunstancia-
juízo da autoridade. do (ou “TC”, como é usualmente conhecido), que são instaurados
em caso de infrações penais de menor potencial ofensivo, a saber,
Art. 15.  Se o indiciado for menor, ser-lhe-á nomeado curador as contravenções penais e os crimes com pena máxima não supe-
pela autoridade policial. rior a dois anos, cumulada ou não com multa, submetidos ou não a
procedimento especial.
Art. 16.  O Ministério Público não poderá requerer a devolu-
ção do inquérito à autoridade policial, senão para novas diligên- 2 Natureza jurídica. A natureza jurídica do inquérito policial,
cias, imprescindíveis ao oferecimento da denúncia. como já dito no item anterior, é de “procedimento administrativo
investigatório”. E, se é administrativo o procedimento, significa
Art.  17.  A autoridade policial não poderá mandar arquivar que não incidem sobre ele as nulidades previstas no Código de
autos de inquérito. Processo Penal para o processo, nem os princípios do contraditório
e da ampla defesa.
Art. 18.  Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela Desta maneira, eventuais vícios existentes no inquérito poli-
autoridade judiciária, por falta de base para a denúncia, a autorida- cial não afetam a ação penal a que der origem, salvo na hipótese de
de policial poderá proceder a novas pesquisas, se de outras provas provas obtidas por meios ilícitos, bem como aquelas provas que,
excepcionalmente na fase do inquérito, já foram produzidas com
tiver notícia.
observância do contraditório e da ampla defesa, como uma produ-
ção antecipada de provas, p. ex.
Art. 19.  Nos crimes em que não couber ação pública, os autos
do inquérito serão remetidos ao juízo competente, onde aguarda- 3 Finalidade. Visa o inquérito policial à apuração do crime e
rão a iniciativa do ofendido ou de seu representante legal, ou serão sua autoria, e à colheita de elementos de informação do delito no
entregues ao requerente, se o pedir, mediante traslado. que tange a sua materialidade e seu autor.
Art. 20.  A autoridade assegurará no inquérito o sigilo neces- 4 Presidência do inquérito policial. Será da autoridade po-
sário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade. licial de onde se deu a consumação do delito, no exercício de fun-
Parágrafo único.  Nos atestados de antecedentes que lhe forem ções de polícia judiciária.
solicitados, a autoridade policial não poderá mencionar quaisquer
anotações referentes a instauração de inquérito contra os reque- 5 Competência para investigar. A competência para investi-
rentes. gar depende da justiça competente para julgar o crime.
Assim, se o crime é de competência da Justiça Militar da
Art. 21.  A incomunicabilidade do indiciado dependerá sem- União, em regra será instaurado um inquérito policial militar
pre de despacho nos autos e somente será permitida quando o in- (IPM), o qual será presidido por um encarregado, que é um Oficial
teresse da sociedade ou a conveniência da investigação o exigir. das Forças Armadas.

Didatismo e Conhecimento 176


NOÇÕES DE DIREITO
Se o crime é da competência da Justiça Militar Estadual, tam- D) Peça inquisitorial. No inquérito não há contraditório nem
bém será instaurado um inquérito policial militar (IPM), o qual ampla defesa. Por tal motivo não é autorizado ao juiz, quando da
será presidido por um encarregado, que é um Oficial da Polícia sentença, a se fundar exclusivamente nos elementos de informação
Militar ou dos Bombeiros. colhidos durante tal fase administrativa para embasar seu decreto
Se o crime é da competência da Justiça Federal, a competên- (art. 155, caput, CPP). Ademais, graças a esta característica, não
cia para investigar será da Polícia Federal. há uma sequência pré-ordenada obrigatória de atos a ocorrer na
Se o crime é da competência da Justiça Eleitoral, também será fase do inquérito, tal como ocorre no momento processual, deven-
investigado pela Polícia Federal, já que a Justiça Eleitoral é uma do estes ser realizados de acordo com as necessidades que forem
Justiça da União (embora o Tribunal Superior Eleitoral entenda surgindo;
que, nas localidades em que não haja Polícia Federal, a Polícia E) Peça indisponível. O delegado não pode arquivar o inqué-
Civil estará autorizada a investigar).
rito policial (art. 17, CPP). Quem vai fazer isso é a autoridade judi-
Se o crime é da competência da Justiça Estadual, usualmente
cial, mediante requerimento do promotor de justiça;
a investigação é feita pela Polícia Civil dos Estados, mas isso não
obsta que a Polícia Federal também possa investigar, caso o delito
tenha grande repercussão nacional ou envolva mais de um Esta- 7 Formas de instauração do inquérito policial. Tudo depen-
do. Disso infere-se, pois, que as atribuições da Polícia Federal são derá da espécie de ação penal correspondente ao crime perpetrado.
mais amplas que a competência da Justiça Federal. Vejamos:
A) Se o crime a ser averiguado for de ação penal privada ou
6 Características do inquérito policial. São elas: condicionada à representação. O inquérito começa por represen-
A) Peça escrita. Segundo o art. 9º, do Código de Processo Pe- tação da vítima ou de seu representante legal;
nal, todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, B) Se o crime a ser averiguado for de ação penal pública
reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela condicionada à requisição do Ministro da Justiça. Neste caso, o
autoridade policial. Vale lembrar, contudo, que o fato de ser peça ato inaugural do inquérito é a própria requisição do Ministro da
escrita não obsta que sejam os atos produzidos durante tal fase Justiça;
sejam gravados por meio de recurso de áudio e/ou vídeo; C) Se o crime a ser averiguado for de ação penal pública
B) Peça dispensável. Caso o titular da ação penal obtenha incondicionada. Neste caso, o inquérito pode começar de ofício
elementos de informação a partir de uma fonte autônoma (ex: a (quando a autoridade policial, em suas atividades, tomou conhe-
representação já contém todos os dados essenciais ao oferecimento cimento dos fatos. Neste caso, o procedimento inicia-se por por-
da denúncia), poderá dispensar a realização do inquérito policial;
taria); por requisição do juiz ou do Ministério Público (parte da
C) Peça sigilosa. De acordo com o art. 20, caput, CPP, a auto-
doutrina entende que o ideal é que o juiz não requisite para se
ridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do
fato ou exigido pelo interesse da sociedade. manter imparcial e manter a essência do sistema acusatório. Neste
Mas, esse sigilo não absoluto, pois, em verdade, tem acesso caso, a peça inaugural é a própria requisição); por requerimento da
aos autos do inquérito o juiz, o promotor de justiça, e a autoridade vítima (neste caso, o delegado deve verificar as procedências das
policial, e, ainda, de acordo com o art. 5º, LXIII, CF, com o art. 7º, informações, e, em caso de indeferimento ao requerimento, cabe
XIV, da Lei nº 8.906/94 (“Estatuto da Ordem dos Advogados do recurso inominado dirigido ao Chefe de Polícia. Caso entenda
Brasil”), e com a Súmula Vinculante nº 14, o advogado tem acesso pela instauração de inquérito, o ato inaugural do procedimento é a
aos atos já documentados nos autos, independentemente de procu- portaria); por “delatio criminis” (trata-se de notícia oferecida por
ração, para assegurar direito de assistência do preso e investigado. qualquer do povo ou pela imprensa, de modo que esta não pode
Desta forma, veja-se, o acesso do advogado não é amplo e ser “anônima” (ou inqualificada). Neste caso, a peça inaugural do
irrestrito. Seu acesso é apenas às informações já introduzidas nos procedimento é a portaria. Ademais, vale lembrar que, para o STF,
autos, mas não em relação às diligências em andamento. a denúncia anônima, por si só, não serve para fundamentar a ins-
Caso o delegado não permita o acesso do advogado aos atos tauração de inquérito policial, mas a partir dela o delegado deve
já documentados, é cabível reclamação ao STF para ter acesso às realizar diligências preliminares para apurar a procedência das in-
informações (por desrespeito a teor de Súmula Vinculante), habe- formações antes da devida instauração do inquérito); por auto de
as corpus em nome de seu cliente, ou o meio mais rápido que é o prisão em flagrante (neste caso, a peça inaugural do inquérito é o
mandado de segurança em nome do próprio advogado, já que a próprio auto de prisão em flagrante).
prerrogativa violada de ter acesso aos autos é dele.
Por fim, ainda dentro desta característica da sigilosidade, há
8 Importância em saber a forma de instauração do inqué-
se chamar atenção para o parágrafo único, do art. 20, CPP, com
nova redação dada pela Lei nº 12.681/2012, segundo o qual, nos rito policial. A importância interessa para fins de análise de cabi-
atestados de antecedentes que lhe forem solicitados, a autoridade mento de habeas corpus, mandado de segurança, e definição de au-
policial não poderá mencionar quaisquer anotações referentes à toridade coatora. Se for um procedimento instaurado por portaria,
instauração de inquérito contra os requerentes. p. ex., significa que a autoridade coatora é o delegado de polícia,
Isso atende a um anseio antigo de parcela considerável da logo o habeas corpus é endereçado ao juiz de primeira instância.
doutrina, no sentido de que o inquérito, justamente por sua carac- Agora, se for um procedimento instaurado a partir da requisição do
terística da pré-judicialidade, não deve ser sequer mencionado nos promotor de justiça, p. ex., este é a autoridade coatora, logo, para
atestados de antecedentes. Já para outro entendimento, agora con- uma primeira corrente (minoritária), o habeas corpus é endereçado
tra a lei, tal medida representa criticável óbice a que se descubra ao juiz de primeira instância, ou, para uma corrente majoritária, o
mais sobre um cidadão em situações como a investigação de vida habeas corpus deve ser encaminhado ao respectivo Tribunal, pois
pregressa anterior a um contrato de trabalho, p. ex.; o promotor de justiça tem foro por prerrogativa de função.

Didatismo e Conhecimento 177


NOÇÕES DE DIREITO
9 “Notitia criminis”. É o conhecimento, pela autoridade poli- 11 Lei nº 12.830/2013. Convém chamar a atenção para a Lei
cial, acerca de um fato delituoso que tenha sido praticado. São as nº 12.830/2013, aprovada em 20 de junho de 2013 e publicada no
seguintes suas espécies: Diário Oficial da União no dia seguinte, que dispõe sobre a inves-
A) “Notitia criminis” de cognição imediata. Nesta, a autori- tigação criminal conduzida pelo Delegado de Polícia. O aludido
dade policial toma conhecimento do fato por meio de suas ativida- diploma normativo somente confirma a presidência do inquérito
des corriqueiras (ex: durante uma investigação qualquer descobre policial - procedimento administrativo investigatório, como já vis-
uma ossada humana enterrada no quintal de uma casa); to - pelo Delegado de Polícia, enquanto no exercício de sua função
B) “Notitia criminis” de cognição mediata. Nesta, a autorida- de polícia judiciária. Vejamos algumas nuanças sobre tal comando
de policial toma conhecimento do fato por meio de um expedien- normativo:
te escrito (ex: requisição do Ministério Público; requerimento da A) As funções de polícia judiciária e a apuração de infrações
vítima); penais exercidas pelo Delegado de Polícia são de natureza jurídica,
C) “Notitia criminis” de cognição coercitiva. Nesta, a autori- essenciais e exclusivas de Estado;
dade policial toma conhecimento do fato delituoso por intermédio B) Ao Delegado de Polícia, na qualidade de autoridade po-
do auto de prisão em flagrante. licial, cabe a condução da investigação criminal por meio de in-
quérito policial ou outro procedimento previsto em lei, que tem
10 Alguns atos praticados durante o inquérito policial. De como objetivo a apuração das circunstâncias, da materialidade e
acordo com os arts. 6º, 7º, e 13, do Código de Processo Penal, são da autoria das infrações penais;
algumas das providências a serem tomadas pela autoridade poli- C) Durante a investigação criminal, cabe ao Delegado de Po-
cial durante a fase do inquérito policial: lícia a requisição de perícia, informações, documentos e dados que
A) Dirigir-se ao local dos fatos, providenciando para que não interessem à apuração dos fatos;
se alterem o estado e a conservação das coisas, até a chegada dos D) O inquérito policial ou outro procedimento previsto em lei
peritos criminais (art. 6º, I); em curso somente poderá ser avocado ou redistribuído por supe-
B) Apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após rior hierárquico, mediante despacho fundamentado, por motivo de
liberados pelos peritos criminais (art. 6º, II); interesse público ou nas hipóteses de inobservância dos procedi-
C) Colher todas as provas que servirem para o esclarecimento mentos previstos em regulamento da corporação que prejudique a
do fato e suas circunstâncias (art. 6º, III);
eficácia da investigação;
D) Ouvir o ofendido (art. 6º, IV);
E) A remoção do Delegado de Polícia dar-se-á somente por
E) Ouvir o indiciado com observância, no que for aplicável,
ato fundamentado;
do disposto no Capítulo III, do Título Vll, do Livro I, CPP (“Do
F) O indiciamento, privativo do delegado de polícia, dar-se-á
Processo em Geral”), devendo o respectivo termo ser assinado por
por ato fundamentado, mediante análise técnico-jurídica do fato,
duas testemunhas que tenham ouvido a leitura deste (art. 6º, V);
que deverá indicar a autoria, materialidade e suas circunstâncias;
F) Proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acarea-
G) O cargo de delegado de polícia é privativo de bacharel em
ções (art. 6º, VI);
Direito, devendo-lhe ser dispensado o mesmo tratamento protoco-
G) Determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo
de delito e a quaisquer outras perícias (art. 6º, VII); lar que recebem os magistrados, os membros da Defensoria Públi-
H) Ordenar a identificação do indiciado pelo processo datilos- ca e do Ministério Público e os advogados.
cópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de antece-
dentes (art. 6º, VIII); 12 Identificação criminal. Envolve a identificação fotográfi-
I) Averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de ca e a identificação datiloscópica.
vista individual, familiar e social, sua condição econômica, sua Antes da atual Constituição Federal, a identificação criminal
atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e era obrigatória (a Súmula nº 568, STF, anterior a 1988, inclusive,
quaisquer outros elementos que contribuírem para a apreciação do dizia isso), o que foi modificado na atual Lei Fundamental pelo
seu temperamento e caráter (art. 6º, IX); art. 5º, LVIII, segundo o qual o civilmente identificado não será
J) Proceder à reprodução simulada dos fatos, desde que esta submetido à identificação criminal, “salvo nas hipóteses previstas
não contrarie a moralidade ou a ordem pública (art. 7º); em lei”.
K) Fornecer às autoridades judiciárias as informações neces- A primeira Lei a tratar do assunto foi a de nº 8.069/90 (“Es-
sárias à instrução e julgamento dos processos (art. 13, I); tatuto da Criança e do Adolescente”), em seu art. 109, segundo o
L) Realizar as diligências requisitadas pelo juiz ou pelo Mi- qual a identificação criminal somente será cabível quando houver
nistério Público (art. 13, II); fundada dúvida quanto à identidade do menor.
M) Cumprir os mandados de prisão expedidos pelas autorida- Depois, em 1995, a Lei nº 9.034 (“Lei das Organizações Cri-
des judiciárias (art. 13, III); minosas”) dispôs em seu art. 5º que a identificação criminal de
N) Representar acerca da prisão preventiva (art. 13, IV) bem pessoas envolvidas com a ação praticada por organizações crimi-
como de outras medidas cautelares diversas da prisão (construção nosas será realizada independentemente de identificação civil.
doutrinária recente). Posteriormente, a Lei nº 10.054/00 veio especialmente para
Vale lembrar que este rol de atos não é exaustivo. Como de- tratar do assunto, e, em seu art. 3º, trouxe um rol taxativo de delitos
corrência do caráter inquisitorial do inquérito policial visto alhu- em que a identificação criminal deveria ser feita obrigatoriamente,
res, nada impede que, desde que não-contrária à moral, aos bons sem mencionar, contudo, os crimes praticados por organizações
costumes, à ordem pública, e à dignidade da pessoa humana, outra criminosas, o que levou parcela da doutrina e da jurisprudência
infindável gama de atos possa ser praticada. a considerar o art. 5º, da Lei nº 9.034/90 parcialmente revogado.

Didatismo e Conhecimento 178


NOÇÕES DE DIREITO
Como último ato, a Lei nº 10.054/00 foi revogada pela Lei nº 15 Prazo para conclusão do inquérito policial. De acordo
12.037/09, que também trata especificamente apenas sobre o tema com o Código de Processo Penal, em se tratando de indiciado pre-
“identificação criminal”. Esta lei não traz mais um rol taxativo de so, o prazo é de dez dias improrrogáveis para conclusão. Já em
delitos nos quais a identificação será obrigatória, mas sim um art. se tratando de indiciado solto, tem-se trinta dias para conclusão,
3º com situações em que ela será possível: admitida prorrogações a fim de se realizar ulteriores e necessárias
A) Quando o documento apresentar rasura ou tiver indícios de diligências.
falsificação (inciso I); Convém lembrar que, na Justiça Federal, o prazo é de quinze
B) Quando o documento apresentado for insuficiente para dias para acusado preso, admitida duplicação deste prazo (art. 66,
identificar o indivíduo de maneira cabal (inciso II); da Lei nº 5.010/66). Já para acusado solto, o prazo será de trinta
C) Quando o indiciado portar documentos de identidade dis- dias admitidas prorrogações, seguindo-se a regra geral.
tintos, com informações conflitantes entre si (inciso III);
Também, na Lei nº 11.343/06 (“Lei de Drogas”), o prazo é
D) Quando a identificação criminal for essencial para as in-
de trinta dias para acusado preso, e de noventa dias para acusado
vestigações policiais conforme decidido por despacho da autorida-
de judiciária competente, de ofício ou mediante representação da solto. Em ambos os casos pode haver duplicação de prazo.
autoridade policial/promotor de justiça/defesa (inciso IV). Nesta Por fim, na Lei nº 1.551/51 (“Lei dos Crimes contra a Eco-
hipótese, de acordo com o parágrafo único, do art. 5º da atual nomia Popular”), o prazo, esteja o acusado solto ou preso, será
lei (acrescido pela Lei nº 12.654/2012), a identificação criminal sempre de dez dias.
poderá incluir a coleta de material biológico para a obtenção do E como se dá a contagem de tal prazo? Trata-se de prazo pro-
perfil genético; cessual, isto é, exclui-se o dia do começo e inclui-se o dia do ven-
E) Quando constar de registros policiais o uso de outros no- cimento, tal como disposto no art. 798, §1º, do Código de Processo
mes ou diferentes qualificações (inciso V); Penal.
F) Quando o estado de conservação ou a distância temporal ou
da localidade da expedição do documento apresentado impossibi- 16 Conclusão do inquérito policial. De acordo com o art.
litar a completa identificação dos caracteres essenciais (inciso VI). 10, §1º, CPP, o inquérito policial é concluído com a confecção
Por fim, atualmente, os dados relacionados à coleta do perfil de um relatório pela autoridade policial, no qual se deve relatar,
genético deverão ser armazenados em banco de dados de perfis minuciosamente, e em caráter essencialmente descritivo, o resul-
genéticos, gerenciado por unidade oficial de perícia criminal (art. tado das investigações. Em seguida, deve o mesmo ser enviado à
5º-A, acrescido pela Lei nº 12.654/2012). Tais bancos de dados autoridade judicial.
devem ter caráter sigiloso, respondendo civil, penal e administrati- Não deve a autoridade policial fazer juízo de valor no relató-
vamente aquele que permitir ou promover sua utilização para fins
rio, em regra, com exceção da Lei nº 11.343/06 (“Lei de Drogas”),
diversos do previsto na lei ou em decisão judicial.
em cujo art. 52 se exige da autoridade policial juízo de valor quan-
13 Indiciamento. “Indiciar” é atribuir a alguém a prática de to à tipificação do ilícito de tráfico ou de porte de drogas.
uma infração penal. Trata-se de ato privativo do delegado policial. Por fim, convém lembrar que o relatório é peça dispensável,
O indiciamento pode ser direto, quando feito na presença do logo, a sua falta não tornará inquérito inválido.
investigado, ou indireto, quando este está ausente.
E o art. 15, da Lei Adjetiva Penal? Não mais se aplica o art. 17 Arquivamento do inquérito policial. Quem determina o
15, CPP, segundo o qual lhe deveria ser nomeado curador pela arquivamento do inquérito é a autoridade judicial, após solicitação
autoridade policial. Isto porque, antes do atual Código Civil, os efetuada pelo membro do Ministério Público. Disso infere-se que,
indivíduos entre dezoito e vinte e um anos eram reputados relativa- nem a autoridade policial, nem o membro do Ministério Público,
mente incapazes, razão pela qual deveriam ser assistidos por cura- nem a autoridade judicial, podem promover o arquivamento de
dor caso praticassem infração. Com o Código Civil atual, tanto a ofício.
maioridade civil como a penal se iniciam aos dezoito anos. Ademais, em caso de ação penal privada, o juiz pode promo-
É possível o “desindiciamento”? Sim. Consiste na retirada da ver o arquivamento caso assim requeira o ofendido.
condição de indiciado do agente, por se entender, durante o trans-
curso das investigações, que este não tem qualquer relação com o 18 Trancamento do inquérito policial. Trata-se de medida
fato apurado. O desindiciamento pode ocorrer tanto de forma fa- de natureza excepcional, somente sendo possível nas hipóteses de
cultativa, pela autoridade policial, quanto mediante o uso de habe- atipicidade da conduta, de causa extintiva da punibilidade, e de au-
as corpus, impetrado com o objetivo de trancar o inquérito policial
sência de elementos indiciários relativos à autoria e materialidade.
em relação a algum agente alvo do procedimento administrativo
Se houver o risco à liberdade de locomoção, o meio mais adequado
investigatório.
de se fazê-lo é pela via do habeas corpus.
14 Incomunicabilidade do indiciado preso. De acordo com
o art. 21, do Código de Processo Penal, seria possível manter o 19 Investigação pelo Ministério Público. Apesar do atual
indiciado preso pelo prazo de três dias, quando conveniente à in- grau de pacificação acerca do tema, no sentido de que o Ministério
vestigação ou quando houvesse interesse da sociedade Público pode, sim, investigar - o que se confirmou com a rejeição
O entendimento prevalente, contudo, é o de que, por ser o da Proposta de Emenda à Constituição nº 37/2011, que acrescia um
Código de Processo Penal da década de 1940, não foi o mesmo re- décimo parágrafo ao art. 144 da Constituição Federal no sentido
cepcionado pela Constituição Federal de 1988. Logo, prevalece de de que a apuração de infrações penais caberia apenas aos órgãos
forma maciça, atualmente, que este art. 21, CPP está tacitamente policiais -, há se disponibilizar argumentos favoráveis e contrários
revogado. a tal prática:

Didatismo e Conhecimento 179


NOÇÕES DE DIREITO
A) Argumentos favoráveis. Um argumento favorável à possi- §2º Considera-se fonte independente aquela que por si só, se-
bilidade de investigar atribuída ao Ministério Público é a chamada guindo os trâmites típicos e de praxe, próprios da investigação ou
“Teoria dos Poderes Implícitos”, oriunda da Suprema Corte Norte- instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova.
-americana, segundo a qual “quem pode o mais, pode o menos”, §3º Preclusa a decisão de desentranhamento da prova declara-
isto é, se ao Ministério Público compete o oferecimento da ação da inadmissível, esta será inutilizada por decisão judicial, faculta-
penal (que é o “mais”), também a ele compete buscar os indícios do às partes acompanhar o incidente.
de autoria e materialidade para essa oferta de denúncia pela via do
inquérito policial (que é o “menos”). Ademais, o procedimento in- Art. 158.  Quando a infração deixar vestígios, será indispen-
vestigatório utilizado pela autoridade policial seria o mesmo, ape- sável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo
nas tendo uma autoridade presidente diferente, no caso, o agente supri-lo a confissão do acusado.
ministerial. Por fim, como último argumento, tem-se que a bem do
direito estatal de perseguir o crime, atribuir funções investigatórias Art. 159.  O exame de corpo de delito e outras perícias serão
ao Ministério Público é mais uma arma na busca deste intento; realizados por perito oficial, portador de diploma de curso superior.
B) Argumentos desfavoráveis. Como primeiro argumento §1º Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2
desfavorável à possibilidade investigatória do Ministério Público, (duas) pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior
tem-se que tal função atenta contra o sistema acusatório. Ademais, preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habili-
fala-se em desequilíbrio entre acusação e defesa, já que terá o tação técnica relacionada com a natureza do exame.
membro do MP todo o aparato estatal para conseguir a condenação §2º Os peritos não oficiais prestarão o compromisso de bem e
de um acusado, restando a este, em contrapartida, apenas a defesa fielmente desempenhar o encargo.
por seu advogado caso não tenha condições financeiras de condu- §3º Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente de
zir uma investigação particular. Também, fala-se que o Ministério acusação, ao ofendido, ao querelante e ao acusado a formulação de
Público já tem poder de requisitar diligências e instauração de in- quesitos e indicação de assistente técnico.
quérito policial, de maneira que a atribuição para presidi-lo seria §4º O assistente técnico atuará a partir de sua admissão pelo
“querer demais”. Por fim, alega-se que as funções investigativas juiz e após a conclusão dos exames e elaboração do laudo pelos
são uma exclusividade da polícia judiciária, e que não há previsão peritos oficiais, sendo as partes intimadas desta decisão.
legal nem instrumentos para realização da investigação Ministério §5º Durante o curso do processo judicial, é permitido às par-
Público. tes, quanto à perícia:
I - requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a prova ou
2.4.2 DA PROVA para responderem a quesitos, desde que o mandado de intimação e
os quesitos ou questões a serem esclarecidas sejam encaminhados
com  antecedência  mínima de 10 (dez) dias, podendo apresentar
as respostas em laudo complementar;
II - indicar assistentes técnicos que poderão apresentar parece-
Dispositivos correlatos do CPP:
res em prazo a ser fixado pelo juiz ou ser inquiridos em audiência.
§6º Havendo requerimento das partes, o material probatório
Art. 155.  O juiz formará sua convicção pela livre apreciação
que serviu de base à perícia será disponibilizado  no  ambiente do
da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fun-
damentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos órgão oficial, que manterá sempre sua guarda, e na presença de
colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não re- perito oficial, para exame pelos assistentes, salvo se for impossível
petíveis e antecipadas. a sua conservação.
Parágrafo único. Somente quanto ao estado das pessoas serão §7º Tratando-se de perícia complexa que abranja mais de uma
observadas as restrições estabelecidas na lei civil. área de conhecimento especializado, poder-se-á designar a atuação
de mais de um perito oficial, e a parte indicar mais de um assistente
Art. 156.  A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sen- técnico.
do, porém, facultado ao juiz de ofício:
I - ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção Art. 160. Os peritos elaborarão o laudo pericial, onde descre-
antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, obser- verão minuciosamente o que examinarem, e responderão aos que-
vando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida; sitos formulados.
II - determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sen- Parágrafo único.  O laudo pericial será elaborado no prazo
tença, a realização de diligências para dirimir dúvida sobre ponto máximo de 10 dias, podendo este prazo ser prorrogado, em casos
relevante. excepcionais, a requerimento dos peritos.

Art. 157.  São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do Art. 161.  O exame de corpo de delito poderá ser feito em
processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em viola- qualquer dia e a qualquer hora.
ção a normas constitucionais ou legais.
§1º São também inadmissíveis as provas derivadas das ilí- Art. 162.  A autópsia será feita pelo menos seis horas depois
citas, salvo quando não evidenciado o nexo de causalidade entre do óbito, salvo se os peritos, pela evidência dos sinais de morte,
umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, o que declararão
uma fonte independente das primeiras. no auto.

Didatismo e Conhecimento 180


NOÇÕES DE DIREITO
Parágrafo único.  Nos casos de morte violenta, bastará o sim- Art.  170.   Nas perícias de laboratório, os peritos guardarão
ples exame externo do cadáver, quando não houver infração penal material suficiente para a eventualidade de nova perícia. Sempre
que apurar, ou quando as lesões externas permitirem precisar a que conveniente, os laudos serão ilustrados com provas fotográfi-
causa da morte e não houver necessidade de exame interno para a cas, ou microfotográficas, desenhos ou esquemas.
verificação de alguma circunstância relevante.
Art.  171.   Nos crimes cometidos com destruição ou rompi-
Art. 163.  Em caso de exumação para exame cadavérico, a au- mento de obstáculo a subtração da coisa, ou por meio de escala-
toridade providenciará para que, em dia e hora previamente marca- da, os peritos, além de descrever os vestígios, indicarão com que
dos, se realize a diligência, da qual se lavrará auto circunstanciado. instrumentos, por que meios e em que época presumem ter sido o
Parágrafo único.  O administrador de cemitério público ou fato praticado.
particular indicará o lugar da sepultura, sob pena de desobediên-
cia. No caso de recusa ou de falta de quem indique a sepultura, ou Art.  172.   Proceder-se-á, quando necessário, à avaliação de
de encontrar-se o cadáver em lugar não destinado a inumações, a coisas destruídas, deterioradas ou que constituam produto do cri-
me.
autoridade procederá às pesquisas necessárias, o que tudo constará
Parágrafo único.  Se impossível a avaliação direta, os peritos
do auto.
procederão à avaliação por meio dos elementos existentes nos au-
tos e dos que resultarem de diligências.
Art. 164. Os cadáveres serão sempre fotografados na posição
em que forem encontrados, bem como, na medida do possível, to- Art. 173.  No caso de incêndio, os peritos verificarão a causa e
das as lesões externas e vestígios deixados no local do crime. o lugar em que houver começado, o perigo que dele tiver resultado
para a vida ou para o patrimônio alheio, a extensão do dano e o
Art. 165.  Para representar as lesões encontradas no cadáver, seu valor e as demais circunstâncias que interessarem à elucidação
os peritos, quando possível, juntarão ao laudo do exame provas do fato.
fotográficas, esquemas ou desenhos, devidamente rubricados.
Art. 174.  No exame para o reconhecimento de escritos, por
Art. 166.  Havendo dúvida sobre a identidade do cadáver exu- comparação de letra, observar-se-á o seguinte:
mado, proceder-se-á ao reconhecimento pelo Instituto de Identifi- I - a pessoa a quem se atribua ou se possa atribuir o escrito
cação e Estatística ou repartição congênere ou pela inquirição de será intimada para o ato, se for encontrada;
testemunhas, lavrando-se auto de reconhecimento e de identidade, II - para a comparação, poderão servir quaisquer documentos
no qual se descreverá o cadáver, com todos os sinais e indicações. que a dita pessoa reconhecer ou já tiverem sido judicialmente re-
Parágrafo único.  Em qualquer caso, serão arrecadados e au- conhecidos como de seu punho, ou sobre cuja autenticidade não
tenticados todos os objetos encontrados, que possam ser úteis para houver dúvida;
a identificação do cadáver. III - a autoridade, quando necessário, requisitará, para o exa-
Art. 167.  Não sendo possível o exame de corpo de delito, por me, os documentos que existirem em arquivos ou estabelecimen-
haverem desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá tos públicos, ou nestes realizará a diligência, se daí não puderem
suprir-lhe a falta. ser retirados;
IV - quando não houver escritos para a comparação ou forem
Art. 168.  Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame insuficientes os exibidos, a autoridade mandará que a pessoa escre-
pericial tiver sido incompleto, proceder-se-á a exame complemen- va o que Ihe for ditado. Se estiver ausente a pessoa, mas em lugar
tar por determinação da autoridade policial ou judiciária, de ofício, certo, esta última diligência poderá ser feita por precatória, em que
ou a requerimento do Ministério Público, do ofendido ou do acu- se consignarão as palavras que a pessoa será intimada a escrever.
sado, ou de seu defensor.
Art. 175.  Serão sujeitos a exame os instrumentos empregados
§1º No exame complementar, os peritos terão presente o auto
para a prática da infração, a fim de se Ihes verificar a natureza e a
de corpo de delito, a fim de suprir-lhe a deficiência ou retificá-lo.
eficiência.
§2º Se o exame tiver por fim precisar a classificação do delito
no art. 129, §1º, I, do Código Penal, deverá ser feito logo que de-
Art. 176.  A autoridade e as partes poderão formular quesitos
corra o prazo de 30 dias, contado da data do crime. até o ato da diligência.
§3º A falta de exame complementar poderá ser suprida pela
prova testemunhal. Art. 177.  No exame por precatória, a nomeação dos peritos
far-se-á no juízo deprecado. Havendo, porém, no caso de ação pri-
Art. 169.  Para o efeito de exame do local onde houver sido vada, acordo das partes, essa nomeação poderá ser feita pelo juiz
praticada a infração, a autoridade providenciará imediatamente deprecante.
para que não se altere o estado das coisas até a chegada dos peri- Parágrafo único.  Os quesitos do juiz e das partes serão trans-
tos, que poderão instruir seus laudos com fotografias, desenhos ou critos na precatória.
esquemas elucidativos.
Parágrafo único.  Os peritos registrarão, no laudo, as altera- Art. 178.  No caso do art. 159, o exame será requisitado pela
ções do estado das coisas e discutirão, no relatório, as consequên- autoridade ao diretor da repartição, juntando-se ao processo o lau-
cias dessas alterações na dinâmica dos fatos. do assinado pelos peritos.

Didatismo e Conhecimento 181


NOÇÕES DE DIREITO
Art. 179.  No caso do §1º do art. 159, o escrivão lavrará o auto §5º Em qualquer modalidade de interrogatório, o juiz garan-
respectivo, que será assinado pelos peritos e, se presente ao exame, tirá ao réu o direito de entrevista prévia e reservada com o seu de-
também pela autoridade. fensor; se realizado por videoconferência, fica também garantido
Parágrafo único.  No caso do art. 160, parágrafo único, o lau- o acesso a canais telefônicos reservados para comunicação entre o
do, que poderá ser datilografado, será subscrito e rubricado em defensor que esteja no presídio e o advogado presente na sala de
suas folhas por todos os peritos. audiência do Fórum, e entre este e o preso.
§6º A sala reservada no estabelecimento prisional para a rea-
Art. 180.  Se houver divergência entre os peritos, serão con- lização de atos processuais por sistema de videoconferência será
signadas no auto do exame as declarações e respostas de um e de fiscalizada pelos corregedores e pelo juiz de cada causa, como
outro, ou cada um redigirá separadamente o seu laudo, e a autori- também pelo Ministério Público e pela Ordem dos Advogados do
dade nomeará um terceiro; se este divergir de ambos, a autoridade Brasil.
poderá mandar proceder a novo exame por outros peritos. §7º Será requisitada a apresentação do réu preso em juízo nas
hipóteses em que o interrogatório não se realizar na forma prevista
Art. 181. No caso de inobservância de formalidades, ou no
nos §§ 1º e 2º deste artigo.
caso de omissões, obscuridades ou contradições, a autoridade judi-
§8º Aplica-se o disposto nos §§2º, 3º, 4º e 5º deste artigo, no
ciária mandará suprir a formalidade, complementar ou esclarecer
que couber, à realização de outros atos processuais que dependam
o laudo.
Parágrafo único.  A autoridade poderá também ordenar que se da participação de pessoa que esteja presa, como acareação, re-
proceda a novo exame, por outros peritos, se julgar conveniente. conhecimento de pessoas e coisas, e inquirição de testemunha ou
tomada de declarações do ofendido.
Art. 182.  O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá- §9º Na hipótese do §8º deste artigo, fica garantido o acompa-
-lo ou rejeitá-lo, no todo ou em parte. nhamento do ato processual pelo acusado e seu defensor.

Art. 183.  Nos crimes em que não couber ação pública, obser- Art. 186. Depois de devidamente qualificado e cientificado do
var-se-á o disposto no art. 19. inteiro teor da acusação, o acusado será informado pelo juiz, antes
de iniciar o interrogatório, do seu direito de permanecer calado e
Art. 184.  Salvo o caso de exame de corpo de delito, o juiz ou a de não responder perguntas que lhe forem formuladas.
autoridade policial negará a perícia requerida pelas partes, quando Parágrafo único. O silêncio, que não importará em confissão,
não for necessária ao esclarecimento da verdade. não poderá ser interpretado em prejuízo da defesa.

Art. 185. O acusado que comparecer perante a autoridade ju- Art. 187. O interrogatório será constituído de duas partes: so-
diciária, no curso do processo penal, será qualificado e interrogado bre a pessoa do acusado e sobre os fatos.
na presença de seu defensor, constituído ou nomeado. §1º Na primeira parte o interrogando será perguntado sobre
§1º O interrogatório do réu preso será  realizado, em sala a residência, meios de vida ou profissão, oportunidades sociais,
própria, no estabelecimento em que estiver recolhido, desde que lugar onde exerce a sua atividade, vida pregressa, notadamente se
estejam garantidas a segurança do juiz, do membro do Ministério foi preso ou processado alguma vez e, em caso afirmativo, qual o
Público e dos auxiliares bem como a presença do defensor e a pu- juízo do processo, se houve suspensão condicional ou condena-
blicidade do ato. ção, qual a pena imposta, se a cumpriu e outros dados familiares
§2º Excepcionalmente, o juiz, por decisão fundamentada, de e sociais.
ofício ou a requerimento das partes, poderá realizar o interrogató- §2º Na segunda parte será perguntado sobre:
rio do réu preso por sistema de videoconferência ou outro recurso I - ser verdadeira a acusação que lhe é feita;
tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real, des-
II - não sendo verdadeira a acusação, se tem algum motivo
de que a medida seja necessária para atender a uma das seguintes
particular a que atribuí-la, se conhece a pessoa ou pessoas a quem
finalidades:
deva ser imputada a prática do crime, e quais sejam, e se com elas
I - prevenir risco à segurança pública, quando exista fundada
suspeita de que o preso integre organização criminosa ou de que, esteve antes da prática da infração ou depois dela;
por outra razão, possa fugir durante o deslocamento; III - onde estava ao tempo em que foi cometida a infração e se
II - viabilizar a participação do réu no referido ato processual, teve notícia desta;
quando haja relevante dificuldade para seu comparecimento em IV - as provas já apuradas;
juízo, por enfermidade ou outra circunstância pessoal; V - se conhece as vítimas e testemunhas já inquiridas ou por
III - impedir a influência do réu no ânimo de testemunha ou da inquirir, e desde quando, e se tem o que alegar contra elas;
vítima, desde que não seja possível colher o depoimento destas por VI - se conhece o instrumento com que foi praticada a infra-
videoconferência, nos termos do art. 217 deste Código; ção, ou qualquer objeto que com esta se relacione e tenha sido
IV - responder à gravíssima questão de ordem pública. apreendido;
§3º Da decisão que determinar a realização de interrogatório VII - todos os demais fatos e pormenores que conduzam à
por videoconferência, as partes serão intimadas com 10 (dez) dias elucidação dos antecedentes e circunstâncias da infração;
de antecedência. VIII - se tem algo mais a alegar em sua defesa.
§4º Antes do interrogatório por videoconferência, o preso po-
derá acompanhar, pelo mesmo sistema tecnológico, a realização de Art. 188. Após proceder ao interrogatório, o juiz indagará das
todos os atos da audiência única de instrução e julgamento de que partes se restou algum fato para ser esclarecido, formulando as
tratam os arts. 400, 411 e 531 deste Código. perguntas correspondentes se o entender pertinente e relevante.

Didatismo e Conhecimento 182


NOÇÕES DE DIREITO
Art. 189. Se o interrogando negar a acusação, no todo ou em §3º As comunicações ao ofendido deverão ser feitas no ende-
parte, poderá prestar esclarecimentos e indicar provas. reço por ele indicado, admitindo-se, por opção do ofendido, o uso
de meio eletrônico.
Art. 190. Se confessar a autoria, será perguntado sobre os mo- §4º Antes do início da audiência e durante a sua realização,
tivos e circunstâncias do fato e se outras pessoas concorreram para será reservado espaço separado para o ofendido.
a infração, e quais sejam. §5º Se o juiz entender necessário, poderá encaminhar o ofen-
dido para atendimento multidisciplinar, especialmente nas áreas
Art. 191. Havendo mais de um acusado, serão interrogados psicossocial, de assistência jurídica e de saúde, a expensas do
separadamente. ofensor ou do Estado.
§6º O juiz tomará as providências necessárias à preservação
Art. 192. O interrogatório do mudo, do surdo ou do surdo- da intimidade, vida privada, honra e imagem do ofendido, poden-
-mudo será feito pela forma seguinte: do, inclusive, determinar o segredo de justiça em relação aos da-
I - ao surdo serão apresentadas por escrito as perguntas, que dos, depoimentos e outras informações constantes dos autos a seu
ele responderá oralmente; respeito para evitar sua exposição aos meios de comunicação.
II - ao mudo as perguntas serão feitas oralmente, responden-
do-as por escrito; Art. 202.  Toda pessoa poderá ser testemunha.
III - ao surdo-mudo as perguntas serão formuladas por escrito
e do mesmo modo dará as respostas. Art. 203.  A testemunha fará, sob palavra de honra, a promessa
Parágrafo único. Caso o interrogando não saiba ler ou escre- de dizer a verdade do que souber e Ihe for perguntado, devendo
ver, intervirá no ato, como intérprete e sob compromisso, pessoa declarar seu nome, sua idade, seu estado e sua residência, sua pro-
habilitada a entendê-lo. fissão, lugar onde exerce sua atividade, se é parente, e em que grau,
de alguma das partes, ou quais suas relações com qualquer delas, e
Art. 193. Quando o interrogando não falar a língua nacional, o relatar o que souber, explicando sempre as razões de sua ciência ou
interrogatório será feito por meio de intérprete. as circunstâncias pelas quais possa avaliar-se de sua credibilidade.

Art. 204.  O depoimento será prestado oralmente, não sendo


Art. 194. Revogado pela Lei nº 10.792/2003.
permitido à testemunha trazê-lo por escrito.
Parágrafo único.  Não será vedada à testemunha, entretanto,
Art. 195. Se o interrogado não souber escrever, não puder ou
breve consulta a apontamentos.
não quiser assinar, tal fato será consignado no termo.
Art. 205.  Se ocorrer dúvida sobre a identidade da testemunha,
Art. 196. A todo tempo o juiz poderá proceder a novo interro-
o juiz procederá à verificação pelos meios ao seu alcance, poden-
gatório de ofício ou a pedido fundamentado de qualquer das partes. do, entretanto, tomar-lhe o depoimento desde logo.
Art. 197.  O valor da confissão se aferirá pelos critérios ado- Art. 206.  A testemunha não poderá eximir-se da obrigação de
tados para os outros elementos de prova, e para a sua apreciação o depor. Poderão, entretanto, recusar-se a fazê-lo o ascendente ou
juiz deverá confrontá-la com as demais provas do processo, verifi- descendente, o afim em linha reta, o cônjuge, ainda que desqui-
cando se entre ela e estas existe compatibilidade ou concordância. tado, o irmão e o pai, a mãe, ou o filho adotivo do acusado, salvo
quando não for possível, por outro modo, obter-se ou integrar-se a
Art. 198.  O silêncio do acusado não importará confissão, mas prova do fato e de suas circunstâncias.
poderá constituir elemento para a formação do convencimento do
juiz. Art.  207.   São proibidas de depor as pessoas que, em razão
de função, ministério, ofício ou profissão, devam guardar segredo,
Art. 199.  A confissão, quando feita fora do interrogatório, será salvo se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar o seu
tomada por termo nos autos, observado o disposto no art. 195. testemunho.

Art. 200.  A confissão será divisível e retratável, sem prejuízo Art. 208.  Não se deferirá o compromisso a que alude o art.
do livre convencimento do juiz, fundado no exame das provas em 203 aos doentes e deficientes mentais e aos menores de 14 (quator-
conjunto. ze) anos, nem às pessoas a que se refere o art. 206.

Art. 201.  Sempre que possível, o ofendido será qualificado e Art. 209.  O juiz, quando julgar necessário, poderá ouvir ou-
perguntado sobre as circunstâncias da infração, quem seja ou pre- tras testemunhas, além das indicadas pelas partes.
suma ser o seu autor, as provas que possa indicar, tomando-se por §1º Se ao juiz parecer conveniente, serão ouvidas as pessoas a
termo as suas declarações. que as testemunhas se referirem.
§1º Se, intimado para esse fim, deixar de comparecer sem mo- §2º Não será computada como testemunha a pessoa que nada
tivo justo, o ofendido poderá ser conduzido à presença da autori- souber que interesse à decisão da causa.
dade.
§2º O ofendido será comunicado dos atos processuais rela- Art. 210.  As testemunhas serão inquiridas cada uma de per
tivos ao ingresso e à saída do acusado da prisão, à designação de si, de modo que umas não saibam nem ouçam os depoimentos das
data para audiência e à sentença e respectivos acórdãos que a man- outras, devendo o juiz adverti-las das penas cominadas ao falso
tenham ou modifiquem. testemunho.

Didatismo e Conhecimento 183


NOÇÕES DE DIREITO
Parágrafo único. Antes do início da audiência e durante a sua Art. 220.  As pessoas impossibilitadas, por enfermidade ou
realização, serão reservados espaços separados para a garantia da por velhice, de comparecer para depor, serão inquiridas onde es-
incomunicabilidade das testemunhas. tiverem.

Art. 211.  Se o juiz, ao pronunciar sentença final, reconhecer Art. 221. O Presidente e o Vice-Presidente da República, os
que alguma testemunha fez afirmação falsa, calou ou negou a ver- senadores e deputados federais, os ministros de Estado, os go-
dade, remeterá cópia do depoimento à autoridade policial para a vernadores de Estados e Territórios, os secretários de Estado, os
instauração de inquérito. prefeitos do Distrito Federal e dos Municípios, os deputados às
Parágrafo único.  Tendo o depoimento sido prestado em ple- Assembleias Legislativas Estaduais, os membros do Poder Judici-
nário de julgamento, o juiz, no caso de proferir decisão na audiên- ário, os ministros e juízes dos Tribunais de Contas da União, dos
cia (art. 538, §2º), o tribunal (art. 561), ou o conselho de sentença, Estados, do Distrito Federal, bem como os do Tribunal Marítimo
após a votação dos quesitos, poderão fazer apresentar imediata- serão inquiridos em local, dia e hora previamente ajustados entre
mente a testemunha à autoridade policial. eles e o juiz.
§1º O Presidente e o Vice-Presidente da República, os presi-
Art. 212.  As perguntas serão formuladas pelas partes direta- dentes do Senado Federal, da Câmara dos Deputados e do Supre-
mente à testemunha, não admitindo o juiz aquelas que puderem mo Tribunal Federal poderão optar pela prestação de depoimento
induzir a resposta, não tiverem relação com a causa ou importarem por escrito, caso em que as perguntas, formuladas pelas partes e
na repetição de outra já respondida. deferidas pelo juiz, Ihes serão transmitidas por ofício.
Parágrafo único.  Sobre os pontos não esclarecidos, o juiz po- §2º Os militares deverão ser requisitados à autoridade supe-
derá complementar a inquirição. rior.
§3º Aos funcionários públicos aplicar-se-á o disposto no art.
Art. 213.  O juiz não permitirá que a testemunha manifeste 218, devendo, porém, a expedição do mandado ser imediatamente
suas apreciações pessoais, salvo quando inseparáveis da narrativa comunicada ao chefe da repartição em que servirem, com indica-
do fato. ção do dia e da hora marcados.

Art. 214.  Antes de iniciado o depoimento, as partes poderão Art. 222.  A testemunha que morar fora da jurisdição do juiz
contraditar a testemunha ou arguir circunstâncias ou defeitos, que será inquirida pelo juiz do lugar de sua residência, expedindo-se,
a tornem suspeita de parcialidade, ou indigna de fé. O juiz fará para esse fim, carta precatória, com prazo razoável, intimadas as
consignar a contradita ou arguição e a resposta da testemunha, mas partes.
só excluirá a testemunha ou não Ihe deferirá compromisso nos ca- §1º A expedição da precatória não suspenderá a instrução cri-
sos previstos nos arts. 207 e 208. minal.
§2º Findo o prazo marcado, poderá realizar-se o julgamento,
Art. 215.  Na redação do depoimento, o juiz deverá cingir-se, mas, a todo tempo, a precatória, uma vez devolvida, será junta aos
tanto quanto possível, às expressões usadas pelas testemunhas, re- autos.
produzindo fielmente as suas frases. §3º Na hipótese prevista no caput deste artigo, a oitiva de
testemunha poderá ser realizada por meio de videoconferência ou
Art. 216.  O depoimento da testemunha será reduzido a termo, outro recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em
assinado por ela, pelo juiz e pelas partes. Se a testemunha não sou- tempo real, permitida a presença do defensor e podendo ser rea-
ber assinar, ou não puder fazê-lo, pedirá a alguém que o faça por lizada, inclusive, durante a realização da audiência de instrução e
ela, depois de lido na presença de ambos. julgamento.

Art.  217.  Se o juiz verificar que a presença do réu poderá Art. 222-A.  As cartas rogatórias só serão expedidas se de-
causar humilhação, temor, ou sério constrangimento à testemunha monstrada previamente a sua imprescindibilidade, arcando a parte
ou ao ofendido, de modo que prejudique a verdade do depoimento, requerente com os custos de envio.
fará a inquirição por videoconferência e, somente na impossibili- Parágrafo único.  Aplica-se às cartas rogatórias o disposto nos
dade dessa forma, determinará a retirada do réu, prosseguindo na §§1º e 2º do art. 222 deste Código.
inquirição, com a presença do seu defensor.
Parágrafo único. A adoção de qualquer das medidas previstas Art. 223.  Quando a testemunha não conhecer a língua nacio-
no caput deste artigo deverá constar do termo, assim como os mo- nal, será nomeado intérprete para traduzir as perguntas e respostas.
tivos que a determinaram. Parágrafo único.  Tratando-se de mudo, surdo ou surdo-mudo,
proceder-se-á na conformidade do art. 192.
Art. 218.  Se, regularmente intimada, a testemunha deixar de
comparecer sem motivo justificado, o juiz poderá requisitar à au- Art. 224.  As testemunhas comunicarão ao juiz, dentro de um
toridade policial a sua apresentação ou determinar seja conduzida ano, qualquer mudança de residência, sujeitando-se, pela simples
por oficial de justiça, que poderá solicitar o auxílio da força pú- omissão, às penas do não-comparecimento.
blica.
Art. 225.  Se qualquer testemunha houver de ausentar-se, ou,
Art. 219. O juiz poderá aplicar à testemunha faltosa a multa por enfermidade ou por velhice, inspirar receio de que ao tempo
prevista no art. 453, sem prejuízo do processo penal por crime de da instrução criminal já não exista, o juiz poderá, de ofício ou a
desobediência, e condená-la ao pagamento das custas da diligên- requerimento de qualquer das partes, tomar-lhe antecipadamente
cia. o depoimento.

Didatismo e Conhecimento 184


NOÇÕES DE DIREITO
Art. 226.  Quando houver necessidade de fazer-se o reconhe- Art. 234.  Se o juiz tiver notícia da existência de documento
cimento de pessoa, proceder-se-á pela seguinte forma: relativo a ponto relevante da acusação ou da defesa, providenciará,
I - a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será convida- independentemente de requerimento de qualquer das partes, para
da a descrever a pessoa que deva ser reconhecida; sua juntada aos autos, se possível.
Il - a pessoa, cujo reconhecimento se pretender, será coloca-
da, se possível, ao lado de outras que com ela tiverem qualquer Art. 235.  A letra e firma dos documentos particulares serão
semelhança, convidando-se quem tiver de fazer o reconhecimento submetidas a exame pericial, quando contestada a sua autentici-
a apontá-la; dade.
III - se houver razão para recear que a pessoa chamada para Art. 236.  Os documentos em língua estrangeira, sem preju-
o reconhecimento, por efeito de intimidação ou outra influência, ízo de sua juntada imediata, serão, se necessário, traduzidos por
não diga a verdade em face da pessoa que deve ser reconhecida, a tradutor público, ou, na falta, por pessoa idônea nomeada pela au-
autoridade providenciará para que esta não veja aquela; toridade.
IV - do ato de reconhecimento lavrar-se-á auto pormenoriza-
do, subscrito pela autoridade, pela pessoa chamada para proceder Art. 237.  As públicas-formas só terão valor quando conferi-
ao reconhecimento e por duas testemunhas presenciais. das com o original, em presença da autoridade.
Parágrafo único.  O disposto no nº III deste artigo não terá
aplicação na fase da instrução criminal ou em plenário de julga- Art. 238.  Os documentos originais, juntos a processo findo,
mento. quando não exista motivo relevante que justifique a sua conserva-
ção nos autos, poderão, mediante requerimento, e ouvido o Mi-
Art.  227.   No reconhecimento de objeto, proceder-se-á com nistério Público, ser entregues à parte que os produziu, ficando
as cautelas estabelecidas no artigo anterior, no que for aplicável. traslado nos autos.
Art.  228.   Se várias forem as pessoas chamadas a efetuar o Art.  239.   Considera-se indício a circunstância conhecida e
reconhecimento de pessoa ou de objeto, cada uma fará a prova em provada, que, tendo relação com o fato, autorize, por indução,
separado, evitando-se qualquer comunicação entre elas. concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias.
Art.  229.   A acareação será admitida entre acusados, entre
Art. 240.  A busca será domiciliar ou pessoal.
acusado e testemunha, entre testemunhas, entre acusado ou teste-
§1º Proceder-se-á à busca domiciliar, quando fundadas razões
munha e a pessoa ofendida, e entre as pessoas ofendidas, sempre
a autorizarem, para:
que divergirem, em suas declarações, sobre fatos ou circunstâncias
a) prender criminosos;
relevantes.
b) apreender coisas achadas ou obtidas por meios criminosos;
Parágrafo único.  Os acareados serão reperguntados, para que
c) apreender instrumentos de falsificação ou de contrafação e
expliquem os pontos de divergências, reduzindo-se a termo o ato
de acareação. objetos falsificados ou contrafeitos;
d) apreender armas e munições, instrumentos utilizados na
Art. 230.  Se ausente alguma testemunha, cujas declarações prática de crime ou destinados a fim delituoso;
divirjam das de outra, que esteja presente, a esta se darão a co- e) descobrir objetos necessários à prova de infração ou à de-
nhecer os pontos da divergência, consignando-se no auto o que fesa do réu;
explicar ou observar. Se subsistir a discordância, expedir-se-á pre- f) apreender cartas, abertas ou não, destinadas ao acusado ou
catória à autoridade do lugar onde resida a testemunha ausente, em seu poder, quando haja suspeita de que o conhecimento do seu
transcrevendo-se as declarações desta e as da testemunha presente, conteúdo possa ser útil à elucidação do fato;
nos pontos em que divergirem, bem como o texto do referido auto, g) apreender pessoas vítimas de crimes;
a fim de que se complete a diligência, ouvindo-se a testemunha h) colher qualquer elemento de convicção.
ausente, pela mesma forma estabelecida para a testemunha pre- §2º Proceder-se-á à busca pessoal quando houver fundada
sente. Esta diligência só se realizará quando não importe demora suspeita de que alguém oculte consigo arma proibida ou objetos
prejudicial ao processo e o juiz a entenda conveniente. mencionados nas letras b a f e letra h do parágrafo anterior.

Art. 231.  Salvo os casos expressos em lei, as partes poderão Art. 241.  Quando a própria autoridade policial ou judiciária
apresentar documentos em qualquer fase do processo. não a realizar pessoalmente, a busca domiciliar deverá ser precedi-
da da expedição de mandado.
Art. 232.  Consideram-se documentos quaisquer escritos, ins-
trumentos ou papéis, públicos ou particulares. Art. 242.  A busca poderá ser determinada de ofício ou a re-
Parágrafo único.   À fotografia do documento, devidamente querimento de qualquer das partes.
autenticada, se dará o mesmo valor do original.
Art. 243.  O mandado de busca deverá:
Art. 233.  As cartas particulares, interceptadas ou obtidas por I - indicar, o mais precisamente possível, a casa em que será
meios criminosos, não serão admitidas em juízo. realizada a diligência e o nome do respectivo proprietário ou mo-
Parágrafo único.  As cartas poderão ser exibidas em juízo pelo rador; ou, no caso de busca pessoal, o nome da pessoa que terá de
respectivo destinatário, para a defesa de seu direito, ainda que não sofrê-la ou os sinais que a identifiquem;
haja consentimento do signatário. II - mencionar o motivo e os fins da diligência;

Didatismo e Conhecimento 185


NOÇÕES DE DIREITO
III - ser subscrito pelo escrivão e assinado pela autoridade que §1º Entender-se-á que a autoridade ou seus agentes vão em
o fizer expedir. seguimento da pessoa ou coisa, quando:
§1º Se houver ordem de prisão, constará do próprio texto do a) tendo conhecimento direto de sua remoção ou transporte, a
mandado de busca. seguirem sem interrupção, embora depois a percam de vista;
§2º Não será permitida a apreensão de documento em poder b) ainda que não a tenham avistado, mas sabendo, por infor-
do defensor do acusado, salvo quando constituir elemento do cor- mações fidedignas ou circunstâncias indiciárias, que está sendo
po de delito. removida ou transportada em determinada direção, forem ao seu
Art. 244.  A busca pessoal independerá de mandado, no caso encalço.
de prisão ou quando houver fundada suspeita de que a pessoa este- §2º Se as autoridades locais tiverem fundadas razões para du-
ja na posse de arma proibida ou de objetos ou papéis que constitu- vidar da legitimidade das pessoas que, nas referidas diligências,
am corpo de delito, ou quando a medida for determinada no curso entrarem pelos seus distritos, ou da legalidade dos mandados que
de busca domiciliar. apresentarem, poderão exigir as provas dessa legitimidade, mas de
modo que não se frustre a diligência.
Art.  245.   As buscas domiciliares serão executadas de dia,
salvo se o morador consentir que se realizem à noite, e, antes de 1 Considerações gerais. A prova é um dos institutos mais im-
penetrarem na casa, os executores mostrarão e lerão o mandado portantes do direito, por ser decorrência do direito de ação. Afinal,
ao morador, ou a quem o represente, intimando-o, em seguida, a de nada adianta consagrar-se o direito de ação, se o direito à prova
abrir a porta. não for consagrado para instruí-la e irrigá-la.
§1º Se a própria autoridade der a busca, declarará previamente Enquanto os elementos informativos são aqueles produzidos
sua qualidade e o objeto da diligência. durante a fase do inquérito policial (em regra, já que o inquérito,
§2º Em caso de desobediência, será arrombada a porta e for- como já visto, é dispensável, podendo os elementos informativos
çada a entrada. ser produzidos em qualquer outro meio de investigação suficiente
§3º Recalcitrando o morador, será permitido o emprego de a embasar uma acusação), a prova deve ser produzida à luz do
força contra coisas existentes no interior da casa, para o descobri- contraditório e da ampla defesa, almejando a consolidação do que
mento do que se procura. antes eram meros indícios de autoria e materialidade delitiva, e,
§4º Observar-se-á o disposto nos §§2º e 3º, quando ausentes ainda, com a finalidade imediata de auxiliar o juiz a formar sua
os moradores, devendo, neste caso, ser intimado a assistir à dili- livre convicção.
gência qualquer vizinho, se houver e estiver presente. Vale informar, ainda, que não poderá o juiz, nessa sua livre
§5º Se é determinada a pessoa ou coisa que se vai procurar, o convicção, se fundar exclusivamente nos elementos informativos
morador será intimado a mostrá-la. colhidos durante a fase investigatória. Estes terão apenas função
§6º Descoberta a pessoa ou coisa que se procura, será imedia- complementar, apendicular, na formação do processo de conven-
tamente apreendida e posta sob custódia da autoridade ou de seus cimento do magistrado. Isso significa dizer que a prova é, sim,
agentes. essencial, para se condenar alguém. Justamente porque, a ausência
§7º Finda a diligência, os executores lavrarão auto circunstan- de prova é um dos motivos que pode levar à absolvição de alguém.
ciado, assinando-o com duas testemunhas presenciais, sem prejuí-
zo do disposto no §4º. 2 Alguns princípios relacionados à prova penal. São eles,
além do Princípio da Liberdade Probatória, já mencionado alhures,
Art. 246.  Aplicar-se-á também o disposto no artigo anterior, num rol exemplificativo:
quando se tiver de proceder a busca em compartimento habitado A) Princípio da presunção de inocência (ou princípio da pre-
ou em aposento ocupado de habitação coletiva ou em comparti- sunção de não culpabilidade). Todos são considerados inocentes,
mento não aberto ao público, onde alguém exercer profissão ou até que se prove o contrário por sentença condenatória transitada
atividade. em julgado;
B) Princípio da não autoincriminação. Ninguém é obrigado
Art. 247.  Não sendo encontrada a pessoa ou coisa procurada, a produzir prova contra si mesmo. É por isso que o acusado pode
os motivos da diligência serão comunicados a quem tiver sofrido mentir, pode distorcer os fatos, pode ser manter em silêncio, e tem
a busca, se o requerer. direito à consulta prévia e reservada com seu advogado, como
exemplos;
Art. 248.  Em casa habitada, a busca será feita de modo que C) Princípio da inadmissibilidade das provas obtidas por
não moleste os moradores mais do que o indispensável para o êxito meios ilícitos. São inadmissíveis no processo as provas obtidas
da diligência. de modo ilícito, assim entendidas aquelas obtidas em violação às
normas constitucionais. Ou seja, o direito à prova não pode se so-
Art. 249.  A busca em mulher será feita por outra mulher, se brepor aos direitos fundamentalmente consagrados na Lei Maior
não importar retardamento ou prejuízo da diligência. pátria.
“Prova ilícita” é o mesmo que “prova ilegítima”? Há quem
Art. 250.  A autoridade ou seus agentes poderão penetrar no diga que se tratam de expressões sinônimas. Contudo, o entendi-
território de jurisdição alheia, ainda que de outro Estado, quando, mento prevalente é o de que, apesar de espécies do gênero “pro-
para o fim de apreensão, forem no seguimento de pessoa ou coisa, vas ilegais”, “prova ilícita” é aquela violadora de alguma norma
devendo apresentar-se à competente autoridade local, antes da di- constitucional (ex.: a prova obtida não respeitou a inviolabilidade
ligência ou após, conforme a urgência desta. de domicílio assegurada pela Constituição), enquanto a “prova ile-

Didatismo e Conhecimento 186


NOÇÕES DE DIREITO
gítima” é aquela violadora dos procedimentos previstos para sua Vale lembrar, contudo, que a prova emprestada não vem aos
realização (tais procedimentos são aqueles regularmente previstos autos com o “contraditório montado” do outro processo, isto é, no
no Código de Processo Penal e legislação especial). processo recebedor terão as partes a oportunidade de questionar a
Qual será a consequência da prova ilícita/ilegítima? Sua con- própria validade desta bem como de tentar desqualificá-la.
sequência primeira é o desentranhamento dos autos, devendo esta Não se pode, ainda, dizer que a prova emprestada, por ser
ser inutilizada por decisão judicial (devendo as partes acompanhar emprestada, valha “mais” ou “menos” que outra prova. Não há
o incidente). Agora, uma consequência reflexa é que as provas de- mais, como já dito, “tarifação de provas”. A importância de uma
rivadas das ilícitas, pela “Teoria dos Frutos da Árvore Envene- prova será aferida casuisticamente. Assim, em que pese o respeito
nada”, importada do direito norte-americano, também serão inad- a entendimento minoritário neste sentido, não parece ser o melhor
missíveis, salvo se existirem como fonte independente, graças à argumento defender que a prova emprestada, por si só, não pode
“Teoria da Fonte Independente” (considera-se fonte independente ser suficiente para condenar alguém.
aquela prova que, por si só, seguindo os trâmites típicos e de pra-
xe, próprios da investigação ou instrução criminal, seria capaz de 6 Provas em espécie. A seguir, há se estudar as provas em
espécie, previstas entre os arts. 158 e 250, do Código de Processo
conduzir ao fato objeto da prova).
Penal.
3 Ônus da prova. De acordo com o art. 156, caput, do Código
6.1 Exame do corpo de delito e perícias em geral. Quando
de Processo Penal, a prova da alegação incumbirá a quem o fizer,
a infração deixar vestígios (o chamado “delito não transeunte”),
embora isso não obste que o juiz, de ofício, ordene, mesmo antes o exame de corpo de delito se torna indispensável, não podendo
de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas conside- supri-lo a confissão do acusado. Vale lembrar, contudo, que não
radas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desapa-
e proporcionalidade da medida (inciso I), ou determine, no curso recido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta
da instrução ou antes de proferir sentença, a realização de diligên- (art. 167, CPP).
cias para dirimir dúvida sobre ponto relevante (inciso II). Esse po- A) Conceito. Em primeiro lugar, há se observar que o “corpo
der de atuação do juiz é também conhecido por “gestão da prova” de delito” é o conjunto de vestígios materiais deixados pela infra-
(por ser o juiz, naturalmente, um “gestor da prova”). ção penal. Por isso o nome exame do “corpo de delito”. “Corpo”,
contudo, não diz respeito apenas a um ser humano sem vida, mas
4 Sistemas de avaliação da prova. São eles: a tudo que possa estar envolvido com o delito, como um fio de
A) Sistema da íntima convicção do juiz. Aqui, o juiz é livre cabelo, uma mancha, uma planta, uma janela quebrada, uma porta
para apreciar as provas, inclusive as que não estão nos autos. O arrombada etc.
problema é que, neste sistema, o juiz não está obrigado a funda- Em segundo lugar, logo ao tratar deste meio de prova espécie,
mentar acerca dos motivos que levaram à formação de sua con- fica claro que a confissão do acusado, antes considerada a “rainha
vicção. Este sistema, em nosso ordenamento, só é adotado pelos das provas”, hoje não mais possui esse “status”, haja vista uma
jurados no tribunal do júri, quando eles votam apenas “sim” ou ampla gama de vícios que podem maculá-la, como a coação e a
“não” sem precisar fundamentar as razões de sua escolha; assunção de culpa meramente para livrar alguém de um processo-
B) Sistema da prova tarifada. Neste sistema, as provas têm -crime;
valor previamente fixado pelo legislador, cabendo ao juiz, apenas, B) Corpo de delito direto e indireto. Também, o exame de
apreciar o conjunto probatório atribuindo-lhe o valor devido. Tal corpo de delito pode ser direto, quando realizado de maneira ime-
sistema não é adotado no ordenamento pátrio; diata sobre o alvo ou sobre os instrumentos do crime, ou indireto,
C) Sistema do livre convencimento motivado (ou sistema da quando realizado sobre o alvo, instrumentos ou agentes que não
persuasão racional do juiz). Trata-se do sistema adotado no orde- tiveram conexão precípua com o crime, mas de alguma forma es-
tiverem a ele interligados (ex.: o raciocínio dedutivo feito por um
namento brasileiro. Nele, o juiz tem ampla liberdade de valoração
perito a partir da declaração de uma testemunha). Vale lembrar que
das provas dos autos, mas é obrigado, em contrapartida, a fun-
o exame indireto somente deve ser realizado caso não seja possível
damentar as razões que embasam seu convencimento. Com isso,
a realização do exame direto;
decorre-se que não há prova com valor absoluto (não há a ideia
C) Perito. Os exames de corpo de delito, bem como outras
de que a confissão é a “rainha das provas”, p. ex.), e que somente perícias, serão realizados por perito oficial, portador de diploma
serão consideradas válidas para efeito condenatório as provas do de curso superior. No exame por carta precatória, a nomeação dos
processo (o juiz não pode condenar alguém usando algo que não peritos se fará no juízo deprecado (havendo, contudo, ação penal
está nos autos). privada, a nomeação poderá ser feita pelo juiz deprecante) (art.
177, caput, CPP).
5 Prova emprestada. É aquela produzida em um processo e Basta um perito? Sim. Isso é inovação trazida pela Lei nº
transportada documentalmente para outro. Apesar da valia posi- 11.690/2008, a qual levou à revogação tácita da Súmula nº 361, do
tiva proeminente que lhe deve ser atribuída, a prova emprestada Supremo Tribunal Federal. Antes, exigiam-se dois peritos.
não pode virar mera medida de comodidade às partes, afinal, como Todavia, na falta de perito oficial, o exame será realizado por
regra, cada fato apurado numa lide depende de sua própria prova. duas pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior
Contudo, podem acontecer casos em que um determinado fato preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habili-
já não possa mais ser apurado nos autos, embora o tenha sido devi- tação técnica relacionada com a natureza do exame. Neste caso, os
damente em outros autos, caso em que a prova emprestada pode se peritos não oficiais prestarão o compromisso de bem e fielmente
revelar um eficaz aliado na busca pela verdade real. desempenhar o encargo;

Didatismo e Conhecimento 187


NOÇÕES DE DIREITO
D) Formulação de quesitos pelo Ministério Público, assisten- M) Exame para reconhecimento de escritos. Deve-se obser-
te de acusação, ofendido, querelante, e acusado. Podem, o Minis- var, de acordo com o art. 174, da Lei Adjetiva, o seguinte: a pessoa
tério Público, o assistente de acusação, o ofendido, o querelante, a quem se atribua ou se possa atribuir o escrito será intimada para
e o acusado, formular quesitos e indicar assistente técnico. Eis o o ato (se for encontrada) (inciso I); para a comparação, poderão
teor do previsto no segundo parágrafo, do art. 159, do Código de servir quaisquer documentos que a dita pessoa reconhecer ou já
Processo Penal; tiverem sido judicialmente reconhecidos como de seu punho, ou
E) Laudo pericial. O laudo pericial será elaborado no prazo sobre cuja autenticidade não houver dúvida (inciso II); a autorida-
máximo de dez dias, podendo este prazo ser prorrogado em casos de, quando necessário, requisitará, para o exame, os documentos
excepcionais a requerimento dos peritos. No laudo pericial, os pe- que existirem em arquivos ou estabelecimentos públicos, ou nestes
ritos descreverão minuciosamente o que examinarem, e responde- realizará a diligência, se daí não puderem ser retirados (inciso III);
rão aos eventuais quesitos formulados. Ademais, o exame de corpo quando não houver escritos para a comparação ou forem insufi-
de delito poderá ser feito em qualquer dia, e em qualquer hora; cientes os exibidos, a autoridade mandará que a pessoa escreva o
F) Perícia complexa. Tratando-se de perícia complexa, isto que lhe for ditado, valendo lembrar que, se estiver ausente a pes-
é, aquela que abranja mais de uma área de conhecimento espe- soa, mas em lugar certo, esta última diligência poderá ser feita por
cializado, será possível designar a atuação de mais de um perito precatória, em que se consignarão as palavras que a pessoa será
oficial, bem como à parte será facultada a indicação de mais de um intimada a escrever (inciso IV);
assistente técnico; N) Adstrição do juiz ao laudo. O juiz não fica adstrito ao lau-
G) Autópsia. A autópsia será feita no cadáver pelo menos seis do, podendo rejeitá-lo no todo ou em parte (art. 182, CPP).
horas após o óbito, salvo se os peritos, pela evidência dos sinais
de morte, julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, o que 6.2 Interrogatório do acusado. Consiste o interrogatório em
deverão declarar no auto (art. 162, caput, CPP). No caso de mor- meio de defesa do acusado (em outros tempos, já houve diver-
te violenta, bastará o simples exame externo do cadáver, quando gência se consistiria o interrogatório em meio de defesa ou mero
não houver infração penal que apurar ou quando as lesões externas meio de prova). Disso infere-se que é facultado ao acusado ficar
permitirem precisar a causa da morte e não houver necessidade de em silêncio, mentir, ser acompanhado por seu advogado, deixar de
exame interno para a verificação de alguma circunstância relevan- responder às perguntas que lhe forem feitas etc.
te (art. 162, parágrafo único, CPP);
A) Características. Trata-se de ato personalíssimo (não pode
H) Exumação de cadáver. Em caso de exumação de cadáver,
ser realizado por interposta pessoa); de ato público (em regra);
a autoridade providenciará que, em dia e hora previamente marca-
assistido tecnicamente por advogado (lembrando que é meio de
dos, se realize a diligência, da qual se lavrará auto circunstanciado
defesa); e bifásico (sobre as duas fases melhor se falará a seguir);
(art. 163, caput, CPP). Neste caso, o administrador do cemitério
B) “Interrogatório por videoconferência”. Esta é inovação
público/particular indicará o lugar da sepultura, sob pena de deso-
prevista pela Lei nº 11.900/2009, apesar de parte minoritária da
bediência. Agora, havendo dúvida sobre a identidade do cadáver
doutrina ainda sustentar a inconstitucionalidade desta forma de
exumado, se procederá ao reconhecimento pelo Instituto de Identi-
ficação e Estatística ou repartição congênere ou pela inquirição de interrogatório.
testemunhas, lavrando-se auto de reconhecimento e de identidade, Como ele é realizado? Sua realização é excepcional. Ele so-
no qual se descreverá o cadáver, com todos os sinais e indicações mente será utilizado se para prevenir risco à segurança pública,
(art. 166, CPP); quando exista fundada suspeita de que o preso integra organiza-
I) Fotografia dos cadáveres. Os cadáveres serão sempre fo- ção criminosa ou de que, por outra razão, possa fugir durante o
tografados na posição em que forem encontrados, bem como, na deslocamento; se para viabilizar a participação do réu neste ato
medida do possível, todas as lesões externas e vestígios deixados processual, quando haja relevante dificuldade para seu compareci-
no local do crime (art. 164, CPP). Para representar as lesões encon- mento em juízo, por enfermidade ou outra circunstância pessoal;
tradas no cadáver, os peritos, quando possível, juntarão ao laudo ou se para impedir a influência do réu no ânimo de testemunha ou
do exame provas fotográficas, esquemas ou desenhos, todos devi- da vítima, desde que não seja possível colher o depoimento destas
damente rubricados (art. 165, CPP); por videoconferência; se for necessário por questão de gravíssima
J) Crimes cometidos com destruição/rompimento de obstácu- utilidade pública.
lo à subtração da coisa. Nos crimes cometidos com destruição Ademais, sua determinação é feita pelo juiz, por decisão fun-
ou rompimento de obstáculo a subtração da coisa, ou por meio de damentada, tomada de ofício ou a requerimento das partes. Ainda,
escalada, os peritos, além de descrever os vestígios, indicarão com da decisão que determinar a realização do interrogatório por vide-
que instrumentos, por quais meios e em que época presumem ter oconferência, as partes deverão ser intimadas com, no mínimo, dez
sido o fato praticado (art. 171, CPP); dias de antecedência.
K) Material guardado em laboratório para nova perícia. Nas Também, antes do interrogatório por videoconferência, o pre-
perícias de laboratório, os peritos guardarão material suficiente so poderá acompanhar, pelo mesmo sistema, a realização de todos
para a eventualidade de nova perícia. Ademais, sempre que conve- os atos da audiência única de instrução e julgamento.
niente, os laudos serão ilustrados com provas fotográficas, provas Por fim, o juiz garantirá o direito de entrevista prévia e reser-
microfotográficas, desenhos ou esquemas (art. 170, CPP); vada do réu com seu defensor (como ocorre em qualquer modali-
L) Incêndio. No caso de incêndio, os peritos verificarão a dade de interrogatório judicial);
causa e o lugar em que houver começado, o perigo que dele tiver C) Fases do interrogatório. São duas fases (procedimento bi-
resultado para a vida ou para o patrimônio alheio, a extensão do fásico, como dito alhures), a saber, sobre a pessoa do acusado (o
dano e o seu valor e as demais circunstâncias que interessarem à interrogando será perguntado sobre a residência, meios de vida ou
elucidação do fato (art. 173, CPP); profissão, oportunidades sociais, lugar onde exerce a sua atividade,

Didatismo e Conhecimento 188


NOÇÕES DE DIREITO
vida pregressa, se foi preso ou processado alguma vez, se houver conhece vários fatos criminosos); ou qualificada (quando o réu
suspensão condicional ou condenação e qual foi a pena imposta confessa agregando fatos novos e modificativos que até então não
caso o indivíduo tenha sido processado, obviamente); e sobre os eram sabidos, ou, ainda que sabidos, não eram comprovados por
fatos (será perguntado ao interrogando se é verdadeira a acusação outros meios);
que lhe é feita, onde estava ao tempo em que foi cometida a infra- E) Características da confissão. A confissão é: divisível (pode
ção e se teve notícia desta, sobre as provas já apuradas, se conhece ser que o indivíduo confesse apenas uma parte dos crimes. Nada
as vítimas e testemunhas já inquiridas ou por inquirir, se conhece obsta que a parte não confessada também tenha sido praticada
o instrumento com que foi praticada a infração ou qualquer objeto por este acusado. Neste caso, os outros elementos de prova serão
que com esta se relacione e tenha sido apreendido, e, se não sen- fundamentais para a descoberta da autoria (ou não) da parte não
do verdadeira a acusação, se tem algum motivo particular a que confessada); e retratável (admite-se “voltar atrás” na confissão.
atribuí-la e se conhece, então, quem teria sido o autor da infração, Isso não representa empecilho a que o indivíduo seja condenado
se tem algo mais a alegar em sua defesa etc.); mesmo tendo se retratado da confissão, caso o conjunto probatório
D) Pluralidade de acusados. Havendo mais de um acusado, aponte que foi o acusado, de fato, quem praticou a infração).
serão interrogados separadamente (art. 191, CPP);
E) Interrogatório do surdo-mudo. Ao surdo serão apresen-
6.4 Qualificação e oitiva do ofendido. O “ofendido” é o ti-
tadas por escrito as perguntas, que ele responderá oralmente; ao
tular do direito lesado ou posto em perigo. É a vítima, e, como tal,
mudo, as perguntas serão feitas oralmente, respondendo-as por es-
suas declarações correspondem à versão que lhe cabe dos fatos,
crito; ao surdo-mudo, as perguntas serão formuladas por escrito e
tendo, consequencialmente, natureza probatória.
do mesmo modo dará a resposta (art. 192, CPP);
F) Interrogando analfabeto (total ou parcialmente). Caso o Conforme o art. 201, caput, do Código de Processo Penal,
interrogando não saiba ler ou escrever, intervirá no ato, como in- sempre que possível o ofendido será qualificado e perguntado so-
térprete e sob compromisso, a pessoa habilitada a entendê-lo (art. bre as circunstâncias da infração, quem seja ou presuma ser o seu
192, parágrafo único, CPP); autor, as provas que possa indicar, tomando-se por termo suas de-
G) Interrogando que não fala a língua nacional. Se o interro- clarações.
gando não falar a língua nacional, sua oitiva será feita por meio de A) Ofendido que, intimado, deixa de comparecer sem justo
intérprete (art. 193, CPP); motivo. Se, intimado, deixa o ofendido de comparecer sem justo
H) Reinterrogatório. A todo tempo, o juiz poderá proceder a motivo, poderá ele ser conduzido à autoridade judicial mediante
novo interrogatório de ofício ou a pedido fundamentado de qual- auxílio das autoridades policiais;
quer das partes (art. 196, CPP). B) Dever de comunicação ao ofendido. O ofendido será co-
municado dos atos processuais relativos ao ingresso e à saída do
6.3 Confissão. A confissão, como qualquer outro meio de acusado da prisão, à designação de data para audiência e à senten-
prova, destina-se à apuração da verdade dos fatos. ça e respectivos acórdãos que a mantenham ou modifiquem (art.
Se o interrogando confessar a autoria, será perguntado sobre 201, §2º, CPP). As comunicações ao ofendido deverão ser feitas
os motivos e circunstâncias do fato e se outras pessoas concorre- no endereço por ele indicado, admitindo-se, por sua opção, o uso
ram para a infração. de meio eletrônico (art. 201, §3º, CPP);
A) Confissão e seu valor relativo. Não se pode dizer que a C) Direitos do ofendido. Antes do início da audiência, bem
confissão seja algo absoluto. O valor da confissão se aferirá pe- como durante sua realização, será reservado espaço separado para
los critérios adotados para outros elementos de prova, e para sua o ofendido (art. 201, §4º, CPP). Ademais, se entender necessário,
apreciação o juiz deverá confrontá-la com as demais provas do poderá o juiz encaminhar o ofendido para atendimento multidis-
processo, verificando se entre ela e estas existe compatibilidade ciplinar, a expensas do ofensor ou do Estado (art. 201, §5º, CPP).
ou concordância. Pode ser, p. ex., que a confissão esteja ocorren- Por fim, o juiz deverá tomar as providências necessárias à preser-
do sob coação, ou mesmo para acobertar a real autoria do delito. vação da intimidade, vida privada, honra e imagem do ofendido,
Logo, hoje não há mais se falar na confissão como “rainha das podendo, inclusive, determinar segredo de justiça em relação aos
provas”, como era no sistema inquisitorial;
dados, depoimentos e outras informações constantes dos autos a
B) Silêncio do acusado. O silêncio do acusado não importará
seu respeito para evitar sua exposição aos meios de comunicação
confissão, mas poderá constituir elemento para a formação do con-
(art. 201, §6º, CPP).
vencimento do juiz, conforme consta do art. 198, da Lei Adjetiva
Penal. Desta maneira, se o acusado se manter em silêncio, não se
presumirão verdadeiros os fato alegados contra ele como é possí- 6.5 Testemunhas. “Testemunha” é a pessoa sem qualquer in-
vel de acontecer no processo civil. Entretanto, quando da formação teresse no deslinde da lide processual penal, que apenas relata à
de seu convencimento, autoriza-se que a autoridade judicial utilize autoridade judicial sua percepção sobre os fatos, em face do que
tal silêncio como mais um (e não como item exclusivo) dos ele- viu, ouviu ou sentiu (ela utiliza-se, veja, de sua percepção senso-
mentos em prol da sua convicção; rial).
C) Formas de confissão. A confissão pode ser tanto judicial Consoante o disposto no art. 203, do Código de Processo Pe-
como extrajudicial. Se feita extrajudicialmente, deverá ser tomada nal, a testemunha fará, sob palavra de honra, a promessa de dizer a
por termo nos autos; verdade do que souber e lhe for perguntado, devendo declarar seu
D) Espécies de confissão. A confissão pode ser simples (quan- nome, sua idade, seu estado, sua residência, sua profissão, lugar
do o confitente simplesmente confessa, sem agregar ou modificar onde exerce a atividade, se é parente de alguma das partes e em
informações constantes dos autos); complexa (quando o réu re- que grau, bem como relatar o que souber.

Didatismo e Conhecimento 189


NOÇÕES DE DIREITO
A) Espécies de testemunhas. Há se distinguir as testemunhas e objetividade no depoimento prestado pela testemunha. Não se
numerárias, das extranumerárias, dos informantes, das referidas, quer que a testemunha manifeste impressões pessoais a respeito
das próprias, das impróprias, das diretas, das indiretas, e das “de dos fatos. Deve ela se resumir a esclarecer o que viu/ouviu/sentiu).
antecedentes”. Antes de iniciado o depoimento, as partes poderão contraditar
As numerárias são aquelas arroladas pelas partes de acordo a testemunha ou arguir circunstâncias ou defeitos que a tornem
com o número máximo previsto em lei. suspeita de parcialidade ou indigna de fé (art. 214, primeira parte,
As extranumerárias são as ouvidas por iniciativa do juiz após CPP). Na redação do depoimento, o juiz deverá cingir-se, tanto
serem compromissadas. quanto possível, às expressões usadas pelas testemunhas, repro-
Os informantes são aquelas pessoas que não prestam com- duzindo fielmente suas frases (art. 215, CPP). O depoimento da
promisso e têm o valor de seu depoimento, exatamente por isso, testemunha será reduzido a termo, e assinado por ela, pelo juiz,
bastante reduzido. e pelas partes (se a testemunha não souber assinar, ou não puder
As referidas são ouvidas por juiz após outros que depuseram fazê-lo, pedirá a alguém que o faça por ela, depois de lido na pre-
antes delas a elas fazerem menção. sença de ambos);
As próprias são as que depõem sobre o fato objeto do litígio. G) Inquirição de pessoas impossibilitadas por enfermidade
As impróprias são a que prestam depoimento sobre um ato do ou velhice. As pessoas impossibilitadas, por enfermidade ou por
processo, como o interrogatório, p. ex. velhice, de comparecer para depor, serão inquiridas onde estive-
As diretas são as que prestam depoimento sobre um fato que rem (art. 220, CPP);
presenciaram H) Testemunha que não conhecer a língua nacional. Quando
As indiretas são as que prestam o depoimento de fatos que a testemunha não conhecer a língua nacional, será nomeado intér-
ouviram dizer por palavras de outros. prete para traduzir as perguntas e respostas (art. 223, caput, CPP);
As “de antecedentes” são aquelas que prestam informações I) Testemunha surda-muda. Tratando-se de surdo, mudo, ou
relevantes quanto à dosagem e aplicação da pena, por se referirem, surdo-mudo, proceder-se-á tal como no interrogatório do acusado
primordialmente, a condições pessoais do acusado; para estas situações (art. 223, parágrafo único, CPP);
B) Pessoas que podem ser testemunha. Qualquer pessoa pode J) Testemunha que deixa de comparecer sem justo motivo. Se,
ser testemunha, como regra. O depoimento será prestado oralmen- regularmente intimada, a testemunha deixa de comparecer sem
te, não sendo permitido à testemunha trazê-lo por escrito. Não se motivo justificado, o juiz poderá requisitar à autoridade policial a
vedará a testemunha, contudo, acesso a meros breves apontamen- sua apresentação ou determinar que seja conduzida por oficial de
tos para que não se esqueça de nada; justiça, que poderá solicitar o auxílio de força pública (art. 218,
C) Pessoas que podem se recusar a depor. O ascendente, o CPP);
descendente, o afim em linha reta, o cônjuge e o convivente, o K) Presença do réu na produção da prova testemunhal. Se
irmão e o pai, a mãe, ou o filho adotivo do acusado não estão obri- o juiz verificar que a presença do réu poderá causar humilhação,
gados a depor, salvo se não for possível, por outro modo, obter-se temor, ou sério constrangimento à testemunha ou ao ofendido, de
a prova do fato e de suas circunstâncias (art. 206, CPP); modo que prejudique a verdade do depoimento, fará a inquirição
D) Pessoas que estão proibidas de depor. As pessoas que, em por videoconferência e, somente na impossibilidade dessa forma,
razão de função, ministério, ofício ou profissão, devem guardar se- determinará a retirada do réu, prosseguindo na inquirição, com a
gredo, estão proibidas de depor, salvo se, desobrigadas pela parte presença do seu defensor (art. 217, caput, CPP);
interessada, quiserem dar seu testemunho (art. 207, CPP); L) Oitiva do Presidente da República, do Vice-Presidente da
E) Pessoas que não serão compromissadas ao prestar teste- República, dos Senadores, dos Deputados Federais, dos Minis-
munho. É o caso dos doentes e deficientes mentais; dos menores de tros de Estado, dos Governadores de Estados e Territórios, dos
quatorze anos; e do ascendente, descendente, afim em linha reta, Secretários de Estado, dos Prefeitos Municipais, dos Deputados
cônjuge e convivente, irmão e pai, mãe, ou filho adotivo do acusa- Estaduais, dos membros do Poder Judiciário, dos membros do Mi-
do (art. 208, CPP); nistério Público, dos Ministros dos Tribunais de Contas da União,
F) Modo de inquirição das testemunhas. As testemunhas se- dos Estados e do Distrito Federal. Estes serão inquiridos em lo-
rão ouvidas individualmente, de modo que uma não saiba do que cal, dia e hora previamente designados pelo juiz (art. 221, caput,
foi falado pela outra (art. 210, caput, primeira parte, CPP). O juiz CPP). Ademais, o Presidente da República, o Vice-Presidente da
deve advertir sobre a possibilidade de incurso no crime de falso República, o Presidente do Senado, o Presidente da Câmara dos
testemunho (art. 210, caput, parte final, CPP). As perguntas serão Deputados, e o Ministro Presidente do Supremo Tribunal Federal
formuladas pelas partes diretamente à testemunha, não admitindo poderão optar pela prestação de depoimento por escrito, caso em
o juiz aquelas que puderem induzir a resposta, não tiverem relação que as perguntas formuladas pelas partes e deferidas pelo juiz lhe
com a causa ou importarem na repetição de outra já repetida (aliás, serão transmitidas por ofício (art. 221, §1º, CPP);
essa possibilidade de perguntas feitas diretamente às testemunhas M) Oitiva dos militares. Os militares serão requisitados junto
é inovação trazida pela Lei nº 11.690/2008, já que antes, graças à sua autoridade superior (art. 221, §2º, CPP);
ao “Sistema Presidencialista das Audiências”, as perguntas eram N) Oitiva dos funcionários públicos. A expedição do mandado
feitas ao juiz, que só então as repassava às testemunhas. Agora, deve ser imediatamente comunicada ao chefe da repartição em que
conforme se pode observar do art. 212, caput, do Código de Pro- servirem, com indicação do dia e da hora marcados (art. 221, §3º,
cesso Penal, isso mudou). CPP);
Prosseguindo, o juiz não permitirá que a testemunha manifes- O) Oitiva por carta precatória. A testemunha que morar fora
te suas apreciações pessoais, salvo quando inseparáveis da narra- da jurisdição do juiz será inquirida pelo juiz do lugar de sua resi-
tiva do fato (tal característica remonta a um almejo de dinamismo dência, mediante carta precatória (que não suspenderá a instrução

Didatismo e Conhecimento 190


NOÇÕES DE DIREITO
criminal), intimadas as partes (art. 222, caput, CPP). Vale lembrar 6.7 Acareação. Sempre que houver divergência de declara-
que, aqui, também é prevista a possibilidade de oitiva da testemu- ções sobre fatos ou circunstâncias relevantes, a acareação será ad-
nha por videoconferência ou outro recurso tecnológico de trans- mitida, com supedâneo no art. 229, caput, do Código de Processo
missão de sons e imagens em tempo real, permitida a presença do Penal, entre acusados, entre acusados e testemunha, entre teste-
defensor e podendo ser realizada, inclusive, durante a realização munhas, entre acusado ou testemunha e a pessoa ofendida, entre
da audiência de instrução e julgamento (art. 222, §3º, CPP); ofendidos etc. (as combinações são múltiplas, veja-se).
P) Oitiva por carta rogatória. Aplica-se à carta rogatória o Com efeito, os acareados serão reperguntados, para que expli-
que se acabou de falar da carta precatória, respeitando-se a nuança quem os pontos de divergências (ou seja, os acareados já devem
de que as cartas rogatórias somente serão expedidas se demonstra- ter sido ouvidos uma vez, fora da acareação), reduzindo-se a termo
da previamente sua imprescindibilidade, arcando a parte requeren- o ato de acareação.
te com os cursos do envio (art. 222-A, CPP);
Q) Prova testemunhal “para perpetuar a memória da pro- 6.8 Documentos de prova. Salvo os casos expressos em lei,
va”. É aquela prevista no art. 225, do Código de Processo Penal, as partes poderão apresentar documentos em qualquer fase do pro-
cesso.
segundo o qual, se qualquer testemunha houver de ausentar-se, ou,
A) Conceito de “documento”, para efeito de prova. Quaisquer
por enfermidade ou por velhice, inspirar receio de que ao tempo
escritos, instrumentos ou papéis, públicos ou particulares, serão
da instrução criminal já não exista, o juiz poderá, de ofício ou a re-
considerados documentos, com fulcro na cabeça do art. 232, CPP.
querimento de qualquer das partes, tomar-lhes antecipadamente o
Inclusive, à fotografia do documento, devidamente autenticada, se
depoimento. Tal produção antecipada deve-se à existência de risco dará o mesmo valor do original (art. 232, parágrafo único, CPP).
de que a prova testemunhal não possa ser produzida, ou porque a O que são “instrumentos”? São documentos confeccionados
testemunha terá de ausentar-se, ou porque está muito enferma e com o estrito objetivo de fazer prova, como os contratos, p. ex. O
provavelmente não viva muito tempo, ou porque está idosa e, caso conceito de documento é muito mais amplo que o de “instrumen-
espere o regular trâmite processual, pode não estar viva até lá; to”, portanto;
R) Número de testemunhas. No procedimento comum ordiná- B) Restrição a documento. De acordo com o art. 233, da
rio, este número é de oito no máximo para cada parte (art. 401, Lei Adjetiva, as cartas particulares, interceptadas ou obtidas por
CPP); no procedimento comum sumário, esse número é de no má- meios criminosos, não serão admitidas em juízo, salvo se exibidas
ximo cinco para cada parte (art. 532, CPP); no procedimento su- pelo respectivo destinatário para defesa de seu direito (ainda que
maríssimo, três é o número máximo de testemunhas de cada parte; não haja consentimento do remetente);
e no plenário do júri o número máximo é de cinco testemunhas C) Determinação judicial de juntada de documento. Se o juiz
para cada parte (art. 422, CPP). Vale lembrar, ainda, que de acor- tiver notícia da existência de documento relativo a ponto relevante
do com o segundo parágrafo, do art. 209, CPP, não será computada da acusação ou da defesa, providenciará, independentemente de
como testemunha a pessoa que nada souber que interesse à decisão requerimento de qualquer das partes, para sua juntada aos autos, se
da causa. Também não entrarão nessa contagem o mero informante possível (art. 234, CPP);
e a mera testemunha referida (art. 401, §1º, CPP). D) Documento em língua estrangeira. Os documentos em lín-
gua estrangeira, sem prejuízo de sua juntada imediata, serão, se
6.6 Reconhecimento de pessoas e coisas. O reconhecimento necessário, traduzidos por tradutor público, ou, na falta, por pessoa
de pessoas/coisas é o ato pelo qual alguém verifica e confirma (ou idônea nomeada pela autoridade (art. 236, CPP);
nega) a identidade de pessoa ou coisa que lhe é mostrada. E) Devolução do documento às partes. Os documentos origi-
De acordo com o art. 226, CPP, o itinerário do “reconheci- nais, juntos a processo findo, quando não exista motivo relevante
mento” é o seguinte: a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento que justifique a sua conservação nos autos, poderão, mediante re-
será convidada a descrever a pessoa/coisa que deva ser reconheci- querimento e ouvido o Ministério Público, ser entregues à parte
da (inciso I); a pessoa/coisa cujo reconhecimento se pretender será que os produziu, ficando o traslado nos autos (art. 238 CPP);
F) Documento particular e sua autenticidade. A letra e firma
colocada, se possível, ao lado de outras pessoas/coisas que com ela
dos documentos particulares serão submetidas a exame pericial,
tiverem qualquer semelhança, convidando-se quem tiver de fazer o
quando contestada a sua autenticidade (art. 235, CPP);
reconhecimento a apontá-la (inciso II); se houver razão para recear
G) Documento no júri. De acordo com o art. 479, do Código
que a pessoa chamada para o reconhecimento, por efeito de inti-
de Processo Penal, durante o julgamento não será permitida a leitu-
midação ou outra influência, não diga a verdade em face da pessoa ra de documento ou a exibição de objeto que não tiver sido juntado
que deve ser reconhecida, a autoridade providenciará para que esta aos autos com a antecedência mínima de três dias úteis, dando-se
não veja aquela (inciso III) (de acordo com o parágrafo único, do ciência à outra parte (compreende-se nessa proibição a leitura de
art. 226, CPP, o disposto neste inciso não terá aplicação na fase jornais ou qualquer outro escrito, bem como a exibição de vídeos,
da instrução criminal ou em plenário de julgamento); do ato de gravações, fotografias, laudos, quadros, croqui ou qualquer outro
reconhecimento se lavrará auto pormenorizado, subscrito pela au- meio assemelhado, cujo conteúdo versar sobre a matéria de fato
toridade, pela pessoa chamada para proceder ao reconhecimento e submetida à apreciação e julgamento dos jurados).
por duas testemunhas presenciais (inciso IV).
Vale lembrar, por fim, que se várias forem as pessoas chama- 6.9 Indícios. De acordo com o art. 239, do Código de Pro-
das a efetuar o reconhecimento de pessoa ou de objeto, cada uma cesso, considera-se “indício” a circunstância conhecida e provada
fará a prova em separado, evitando-se qualquer comunicação entre que, tendo relação com o fato, autorize, por indução, concluir-se a
elas (art. 228, CPP). existência de outra ou outras circunstâncias.

Didatismo e Conhecimento 191


NOÇÕES DE DIREITO
Um indício, isoladamente considerado, não pode dar ensejo a F) Busca independente de mandado. A busca pessoal inde-
decreto condenatório ou absolutório impróprio. Seja por seu enfo- penderá de mandado, no caso de prisão ou quando houver fundada
que de “prova indireta”, seja por seu enfoque de “prova semiple- suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de
na”, o valor persuasivo deste meio de prova, quando isoladamente objetos ou papéis que constituam corpo de delito, ou quando a me-
considerado, é bastante pequeno. dida for determinada no curso de busca domiciliar (art. 244, CPP);
Um indício somente passa a ganhar força se eles forem plurais G) Modo de execução da busca domiciliar. As buscas domi-
(ex.: “X” é acusado de matar “Y”. Há indícios de que “X” estava ciliares serão executadas durante o dia, salvo se o morador con-
com “Y” na hora do crime; há indícios de que “X” pretendia se sentir que se realizem a noite, e, antes de penetrarem na casa, os
vingar de “Y”; há indícios de que “Y” temia ser morto por “X”), executores mostrarão e lerão o mandado ao morador, ou a quem
ou, ainda que isolados, se estiverem em consonância com outro os represente, intimando-o, em seguida, a abrir a porta (art. 245,
meio de prova capaz de desempenhar maior papel na convicção do caput, CPP). Se a própria autoridade der busca, declarará previa-
juiz (ex.: “X” está sendo acusado de matar “Y” com uma arma, e a mente sua qualidade e o objeto da diligência (art. 245, §1º, CPP).
testemunha “Z” viu o assassinato. Ainda que “X” negue o assassi- Em caso de desobediência, será arrombada a porta e forçada a en-
nato, há indícios de que “X” pretendia se vingar de “Y” exatamen- trada (art. 245, §2º, CPP). Resistindo o morador ainda assim, será
te na noite do crime. Esse indício, ainda que único, age com carga permitido o emprego de força contra coisas existentes no interior
probatória qualificada a ensejar a culpa de “X”, graças ao auxílio da casa, para o descobrimento do que se procura (art. 245, §3º,
desempenhado pela prova testemunhal). CPP). Ausente o morador, deverá ser intimado a assistir a diligên-
cia qualquer vizinho, se houver e estiver presente (art. 245, §4º,
6.10 Busca e apreensão. Trata-se de medida cuja essência CPP). Se é determinada a pessoa ou coisa que se vai procurar,
visa evitar o desaparecimento de provas, podendo ser realizada o morador será intimado a mostrá-la (art. 245, §5º, CPP). Sen-
tanto na fase inquisitorial como durante a ação penal. A apreensão, do descoberta a pessoa/coisa que se procura, será imediatamente
neste diapasão, nada mais é que o resultado da busca, isto é, se a apreendida e posta sob custódia da autoridade ou de seus agentes
busca resulta frutífera, procede-se à apreensão da coisa buscada. (art. 245, §6º, CPP). Finda a diligência, os executores lavrarão auto
A) Espécies de busca. A busca pode ser domiciliar (art. 240, circunstanciado, assinando-o com duas testemunhas presenciais,
§1º, CPP) ou pessoal (art. 240, §2º, CPP); sem prejuízo do disposto no art. 245, §4º (art. 245, §7º, CPP).
B) Hipóteses em que se utiliza a busca e apreensão. De acordo Este “modus operandi” também vige se tiver de se proceder
à busca em compartimento habitado ou em aposento ocupado de
com o primeiro parágrafo, do art. 240, CPP, a busca domiciliar é
habitação coletiva ou em compartimento não aberto ao público,
comumente utilizada para prender criminosos (alínea “a”); para
onde alguém exercer profissão ou autoridade.
apreender coisas achadas ou obtidas por meios criminosos (alí-
Por fim, há se lembrar que, em casa habitada, a busca será
nea “b”); para apreender instrumentos de falsificação ou de con-
feita de modo que não moleste os moradores mais do que o indis-
trafação e objetos falsificados ou contrafeitos (alínea “c”); para
pensável para o êxito da diligência.
apreender armas e munições, instrumentos utilizados na prática de
Não sendo encontrada a pessoa/coisa buscada, os motivos da
crime ou destinados a fim delituoso (alínea “d”); para descobrir
diligência serão comunicados a quem tiver sofrido a busca, se as-
objetos necessários à prova de infração ou à defesa do réu (alínea
sim o requerer (art. 247, CPP);
“e”); para apreender cartas, abertas ou não, destinadas ao acusado H) Cláusula de reserva de jurisdição. A busca domiciliar so-
ou em seu poder, quando haja suspeita de que o conhecimento de mente pode ser determinada pela autoridade judiciária. Uma Co-
seu conteúdo possa ser útil à elucidação do fato (alínea “f”); para missão Parlamentar de Inquérito, p. ex., não tem competência para
apreender pessoas vítimas de crimes (alínea “g”); e para colher determinar busca domiciliar.
qualquer elemento de convicção (alínea “h”). Ainda, convém lembrar que essa busca somente poderá ser
Já consoante o segundo parágrafo, do mesmo art. 240, a bus- feita durante o dia (a noite será possível desde que haja anuência
ca pessoal será utilizada quando houver fundada suspeita de que do morador). “Dia”, conforme entendimento prevalente do crité-
alguém oculte consigo arma proibida ou objetos mencionados nas rio misto, vai das seis horas da manhã (desde que já tenha nascido
letras “b”, “c”, “d”, “e”, e “f” do primeiro parágrafo visto acima; o sol) até dezoito horas (desde que o sol ainda não tenha se posto).
C) Requerimento da busca. A busca poderá ser determinada I) Busca em mulher. A busca em mulher será feita por outra
de ofício ou a requerimento de qualquer das partes (art. 242, CPP); mulher em regra, se isso não importar retardamento ou prejuízo
D) Conteúdo do mandado de busca. Deverá o mandado, con- da diligência;
forme o art. 243, CPP, indicar, o mais precisamente possível, a J) Busca em território de jurisdição alheia. A autoridade ou
casa em que será realizada a diligência e o nome do respectivo seus agentes poderão penetrar no território de jurisdição alheia,
proprietário ou morador, ou, no caso de busca pessoal, o nome da ainda que de outro Estado, quando, para o fim de apreensão, fo-
pessoa que terá de sofrê-la ou os sinais que a identifiquem (inciso rem no encalço de pessoa ou coisa, devendo apresentar-se à com-
I); mencionar os motivos e o fim da diligência (inciso II); ser subs- petente autoridade local, antes da diligência ou após, conforme a
crito pelo escrivão e assinado pela autoridade que o fizer expedir urgência desta (art. 250, caput, CPP). Conforme o primeiro pará-
(inciso III); se houver ordem de prisão, esta constará do próprio grafo, do art. 250, da Lei Adjetiva, se entenderá que a autoridade
texto do mandado de busca (§1º); ou seus agentes vão no encalço de pessoa ou coisa quando tendo
E) Documento em poder do defensor do acusado. Não será conhecimento direto de sua remoção ou transporte, a seguirem
permitida a apreensão de documento em poder do defensor do sem interrupção, embora depois a percam de vista (alínea “a”), ou,
acusado, salvo quando constituir elemento do corpo de delito (art. ainda que não a tenham avistado, mas sabendo, por informações
243, §2º, CPP); fidedignas ou circunstâncias indiciárias, que está sendo removi-

Didatismo e Conhecimento 192


NOÇÕES DE DIREITO
da ou transportada em determinada direção, forem ao seu encalço Art.  285.  A autoridade que ordenar a prisão fará expedir o
(alínea “b”). Se as autoridades locais tiverem fundadas razões para respectivo mandado.
duvidar da legitimidade das pessoas que, nas referidas diligências, Parágrafo único.  O mandado de prisão:
entrarem pelos seus distritos, ou da legalidade dos mandados que a) será lavrado pelo escrivão e assinado pela autoridade;
apresentarem, poderão exigir as provas dessa legitimidade, mas de b) designará a pessoa, que tiver de ser presa, por seu nome,
modo que não frustre a diligência (art. 250, §2º, CPP). alcunha ou sinais característicos;
c) mencionará a infração penal que motivar a prisão;
d) declarará o valor da fiança arbitrada, quando afiançável a
2.4.3 DA PRISÃO EM FLAGRANTE infração;
2.4.4 DA PRISÃO PREVENTIVA e) será dirigido a quem tiver qualidade para dar-lhe execução.

Art. 286.  O mandado será passado em duplicata, e o executor


entregará ao preso, logo depois da prisão, um dos exemplares com
Dispositivos do CPP que tratam do assunto: declaração do dia, hora e lugar da diligência. Da entrega deverá o
preso passar recibo no outro exemplar; se recusar, não souber ou
Art. 282.  As medidas cautelares previstas neste Título deve- não puder escrever, o fato será mencionado em declaração, assina-
rão ser aplicadas observando-se a: da por duas testemunhas.
I - necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação
ou a instrução criminal e, nos casos expressamente previstos, para Art. 287.  Se a infração for inafiançável, a falta de exibição do
evitar a prática de infrações penais; mandado não obstará à prisão, e o preso, em tal caso, será imedia-
II - adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias tamente apresentado ao juiz que tiver expedido o mandado.
do fato e condições pessoais do indiciado ou acusado.
§1º As medidas cautelares poderão ser aplicadas isolada ou Art. 288.  Ninguém será recolhido à prisão, sem que seja exi-
cumulativamente. bido o mandado ao respectivo diretor ou carcereiro, a quem será
§2º As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz, de ofício entregue cópia assinada pelo executor ou apresentada a guia expe-
ou a requerimento das partes ou, quando no curso da investigação dida pela autoridade competente, devendo ser passado recibo da
criminal, por representação da autoridade policial ou mediante re- entrega do preso, com declaração de dia e hora.
querimento do Ministério Público. Parágrafo único.  O recibo poderá ser passado no próprio
§3º Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de inefi- exemplar do mandado, se este for o documento exibido.
cácia da medida, o juiz, ao receber o pedido de medida cautelar,
determinará a intimação da parte contrária, acompanhada de cópia Art. 289.  Quando o acusado estiver no território nacional,
do requerimento e das peças necessárias, permanecendo os autos fora da jurisdição do juiz processante, será deprecada a sua prisão,
em juízo. devendo constar da precatória o inteiro teor do mandado.
§4º No caso de descumprimento de qualquer das obrigações §1º Havendo urgência, o juiz poderá requisitar a prisão por
impostas, o juiz, de ofício ou mediante requerimento do Ministé- qualquer meio de comunicação, do qual deverá constar o motivo
rio Público, de seu assistente ou do querelante, poderá substituir a da prisão, bem como o valor da fiança se arbitrada.
medida, impor outra em cumulação, ou, em último caso, decretar a §2º A autoridade a quem se fizer a requisição tomará as pre-
prisão preventiva (art. 312, parágrafo único). cauções necessárias para averiguar a autenticidade da comunicação.
§5º O juiz poderá revogar a medida cautelar ou substituí-la §3º O juiz processante deverá providenciar a remoção do pre-
quando verificar a falta de motivo para que subsista, bem como so no prazo máximo de 30 (trinta) dias, contados da efetivação da
voltar a decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem. medida.
§6º A prisão preventiva será determinada quando não for cabí-
vel a sua substituição por outra medida cautelar (art. 319). Art. 289-A.  O juiz competente providenciará o imediato
registro do mandado de prisão em banco de dados mantido pelo
Art. 283.  Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito Conselho Nacional de Justiça para essa finalidade.
ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária com- §1º Qualquer agente policial poderá efetuar a prisão deter-
petente, em decorrência de sentença condenatória transitada em minada no mandado de prisão registrado no Conselho Nacional
julgado ou, no curso da investigação ou do processo, em virtude de Justiça, ainda que fora da competência territorial do juiz que o
de prisão temporária ou prisão preventiva. expediu.
§1º As medidas cautelares previstas neste Título não se apli- §2º Qualquer agente policial poderá efetuar a prisão decre-
cam à infração a que não for isolada, cumulativa ou alternativa- tada, ainda que sem registro no Conselho Nacional de Justiça,
mente cominada pena privativa de liberdade. adotando as precauções necessárias para averiguar a autenticidade
§2º A prisão poderá ser efetuada em qualquer dia e a qual- do mandado e comunicando ao juiz que a decretou, devendo este
quer hora, respeitadas as restrições relativas à inviolabilidade do providenciar, em seguida, o registro do mandado na forma do ca-
domicílio. put deste artigo.
§3º A prisão será imediatamente comunicada ao juiz do local
Art. 284.  Não será permitido o emprego de força, salvo a in- de cumprimento da medida o qual providenciará a certidão extra-
dispensável no caso de resistência ou de tentativa de fuga do preso. ída do registro do Conselho Nacional de Justiça e informará ao
juízo que a decretou.

Didatismo e Conhecimento 193


NOÇÕES DE DIREITO
§4º O preso será informado de seus direitos, nos termos do III - os membros do Parlamento Nacional, do Conselho de
inciso LXIII do art. 5º da Constituição Federal e, caso o autuado Economia Nacional e das Assembleias Legislativas dos Estados;
não informe o nome de seu advogado, será comunicado à Defen- IV - os cidadãos inscritos no “Livro de Mérito”;
soria Pública. V - os oficiais das Forças Armadas e os militares dos Estados,
§5º Havendo dúvidas das autoridades locais sobre a legitimi- do Distrito Federal e dos Territórios;
dade da pessoa do executor ou sobre a identidade do preso, aplica- VI - os magistrados;
-se o disposto no §2º do art. 290 deste Código. VII - os diplomados por qualquer das faculdades superiores
§6º O Conselho Nacional de Justiça regulamentará o registro da República;
do mandado de prisão a que se refere o caput deste artigo. VIII - os ministros de confissão religiosa;
IX - os ministros do Tribunal de Contas;
Art.  290.   Se o réu, sendo perseguido, passar ao território X - os cidadãos que já tiverem exercido efetivamente a função
de outro município ou comarca, o executor poderá efetuar-lhe a de jurado, salvo quando excluídos da lista por motivo de incapaci-
prisão no lugar onde o alcançar, apresentando-o imediatamente à dade para o exercício daquela função;
autoridade local, que, depois de lavrado, se for o caso, o auto de XI - os delegados de polícia e os guardas-civis dos Estados e
flagrante, providenciará para a remoção do preso. Territórios, ativos e inativos.
§1º Entender-se-á que o executor vai em perseguição do réu, §1º A prisão especial, prevista neste Código ou em outras leis,
quando: consiste exclusivamente no recolhimento em local distinto da pri-
a) tendo-o avistado, for perseguindo-o sem interrupção, em- são comum.
bora depois o tenha perdido de vista; §2º Não havendo estabelecimento específico para o preso es-
b) sabendo, por indícios ou informações fidedignas, que o réu pecial, este será recolhido em cela distinta do mesmo estabeleci-
tenha passado, há pouco tempo, em tal ou qual direção, pelo lugar mento.
em que o procure, for no seu encalço. §3º A cela especial poderá consistir em alojamento coletivo,
§2º Quando as autoridades locais tiverem fundadas razões atendidos os requisitos de salubridade do ambiente, pela concor-
para duvidar da legitimidade da pessoa do executor ou da legalida- rência dos fatores de aeração, insolação e condicionamento térmi-
de do mandado que apresentar, poderão pôr em custódia o réu, até co adequados à existência humana.
que fique esclarecida a dúvida. §4º O preso especial não será transportado juntamente com o
Art. 291.  A prisão em virtude de mandado entender-se-á feita preso comum.
desde que o executor, fazendo-se conhecer do réu, Ihe apresente o §5º Os demais direitos e deveres do preso especial serão os
mandado e o intime a acompanhá-lo. mesmos do preso comum.

Art. 292.  Se houver, ainda que por parte de terceiros, resis- Art. 296.  Os inferiores e praças de pré, onde for possível, se-
tência à prisão em flagrante ou à determinada por autoridade com- rão recolhidos à prisão, em estabelecimentos militares, de acordo
petente, o executor e as pessoas que o auxiliarem poderão usar dos com os respectivos regulamentos.
meios necessários para defender-se ou para vencer a resistência, do
que tudo se lavrará auto subscrito também por duas testemunhas. Art.  297.   Para o cumprimento de mandado expedido pela
autoridade judiciária, a autoridade policial poderá expedir tantos
Art. 293.  Se o executor do mandado verificar, com seguran- outros quantos necessários às diligências, devendo neles ser fiel-
ça, que o réu entrou ou se encontra em alguma casa, o morador mente reproduzido o teor do mandado original.
será intimado a entregá-lo, à vista da ordem de prisão. Se não for
obedecido imediatamente, o executor convocará duas testemunhas Art. 298. Revogado pela Lei nº 12.403/11.
e, sendo dia, entrará à força na casa, arrombando as portas, se pre-
ciso; sendo noite, o executor, depois da intimação ao morador, se Art. 299.  A captura poderá ser requisitada, à vista de mandado
não for atendido, fará guardar todas as saídas, tornando a casa in- judicial, por qualquer meio de comunicação, tomadas pela autori-
comunicável, e, logo que amanheça, arrombará as portas e efetuará dade, a quem se fizer a requisição, as precauções necessárias para
a prisão. averiguar a autenticidade desta.
Parágrafo único.  O morador que se recusar a entregar o réu
oculto em sua casa será levado à presença da autoridade, para que Art. 300.  As pessoas presas provisoriamente ficarão separa-
se proceda contra ele como for de direito. das das que já estiverem definitivamente condenadas, nos termos
da lei de execução penal.
Art. 294.  No caso de prisão em flagrante, observar-se-á o dis- Parágrafo único.  O militar preso em flagrante delito, após a
posto no artigo anterior, no que for aplicável. lavratura dos procedimentos legais, será recolhido a quartel da ins-
tituição a que pertencer, onde ficará preso à disposição das autori-
Art.  295.   Serão recolhidos a quartéis ou a prisão especial, dades competentes.
à disposição da autoridade competente, quando sujeitos a prisão
antes de condenação definitiva: Art. 301.  Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais
I - os ministros de Estado; e seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em
II - os governadores ou interventores de Estados ou Territó- flagrante delito.
rios, o prefeito do Distrito Federal, seus respectivos secretários, os
prefeitos municipais, os vereadores e os chefes de Polícia; Art. 302.  Considera-se em flagrante delito quem:

Didatismo e Conhecimento 194


NOÇÕES DE DIREITO
I - está cometendo a infração penal; Art. 310.  Ao receber o auto de prisão em flagrante, o juiz
II - acaba de cometê-la; deverá fundamentadamente:
III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido I - relaxar a prisão ilegal; ou
ou por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor II - converter a prisão em flagrante em preventiva, quando
da infração; presentes os requisitos constantes do art. 312 deste Código, e se
IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, ob- revelarem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares di-
jetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração. versas da prisão; ou
III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança.
Art. 303.  Nas infrações permanentes, entende-se o agente em Parágrafo único.  Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em
flagrante delito enquanto não cessar a permanência. flagrante, que o agente praticou o fato nas condições constantes
dos incisos I a III do caput do art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de
Art. 304. Apresentado o preso à autoridade competente, ou- 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, poderá, fundamentada-
virá esta o condutor e colherá, desde logo, sua assinatura, entre- mente, conceder ao acusado liberdade provisória, mediante termo
gando a este cópia do termo e recibo de entrega do preso. Em se- de comparecimento a todos os atos processuais, sob pena de re-
guida, procederá à oitiva das testemunhas que o acompanharem vogação.
e ao interrogatório do acusado sobre a imputação que lhe é feita,
colhendo, após cada oitiva suas respectivas assinaturas, lavrando,
Art. 311.  Em qualquer fase da investigação policial ou do
a autoridade, afinal, o auto.
processo penal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, de
§1º Resultando das respostas fundada a suspeita contra o con-
duzido, a autoridade mandará recolhê-lo à prisão, exceto no caso ofício, se no curso da ação penal, ou a requerimento do Ministério
de livrar-se solto ou de prestar fiança, e prosseguirá nos atos do Público, do querelante ou do assistente, ou por representação da
inquérito ou processo, se para isso for competente; se não o for, autoridade policial.
enviará os autos à autoridade que o seja.
§2º A falta de testemunhas da infração não impedirá o auto Art. 312.  A prisão preventiva poderá ser decretada como ga-
de prisão em flagrante; mas, nesse caso, com o condutor, deve- rantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência
rão assiná-lo pelo menos duas pessoas que hajam testemunhado a da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal,
apresentação do preso à autoridade. quando houver prova da existência do crime e indício suficiente
§3º Quando o acusado se recusar a assinar, não souber ou não de autoria.
puder fazê-lo, o auto de prisão em flagrante será assinado por duas Parágrafo único.  A prisão preventiva também poderá ser de-
testemunhas, que tenham ouvido sua leitura na presença deste. cretada em caso de descumprimento de qualquer das obrigações
impostas por força de outras medidas cautelares (art. 282, §4º).
Art. 305.  Na falta ou no impedimento do escrivão, qualquer
pessoa designada pela autoridade lavrará o auto, depois de presta- Art. 313.  Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida
do o compromisso legal. a decretação da prisão preventiva:
I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberda-
Art. 306.  A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encon- de máxima superior a 4 (quatro) anos;
tre serão comunicados imediatamente ao juiz competente, ao Mi- II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em senten-
nistério Público e à família do preso ou à pessoa por ele indicada. ça transitada em julgado, ressalvado o disposto no inciso I do ca-
§1º Em até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da pri- put do art. 64 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940
são, será encaminhado ao juiz competente o auto de prisão em - Código Penal;
flagrante e, caso o autuado não informe o nome de seu advogado, III - se o crime envolver violência doméstica e familiar con-
cópia integral para a Defensoria Pública. tra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com
§2º No mesmo prazo, será entregue ao preso, mediante recibo, deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de
a nota de culpa, assinada pela autoridade, com o motivo da prisão,
urgência;
o nome do condutor e os das testemunhas.
Parágrafo único. Também será admitida a prisão preventi-
va quando houver dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou
Art.  307.   Quando o fato for praticado em presença da au-
toridade, ou contra esta, no exercício de suas funções, constarão quando esta não fornecer elementos suficientes para esclarecê-la,
do auto a narração deste fato, a voz de prisão, as declarações que devendo o preso ser colocado imediatamente em liberdade após a
fizer o preso e os depoimentos das testemunhas, sendo tudo assi- identificação, salvo se outra hipótese recomendar a manutenção
nado pela autoridade, pelo preso e pelas testemunhas e remetido da medida.
imediatamente ao juiz a quem couber tomar conhecimento do fato
delituoso, se não o for a autoridade que houver presidido o auto. Art. 314.  A prisão preventiva em nenhum caso será decretada
se o juiz verificar pelas provas constantes dos autos ter o agen-
Art. 308.  Não havendo autoridade no lugar em que se tiver te praticado o fato nas condições previstas nos incisos I, II e III
efetuado a prisão, o preso será logo apresentado à do lugar mais do caput do art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de
próximo. 1940 - Código Penal.

Art. 309.  Se o réu se livrar solto, deverá ser posto em liberda- Art. 315.  A decisão que decretar, substituir ou denegar a pri-
de, depois de lavrado o auto de prisão em flagrante. são preventiva será sempre motivada.

Didatismo e Conhecimento 195


NOÇÕES DE DIREITO
Art. 316. O juiz poderá revogar a prisão preventiva se, no cor- F) Em até vinte e quatro horas após a realização da prisão, será
rer do processo, verificar a falta de motivo para que subsista, bem encaminhado ao juiz competente o auto de prisão em flagrante, e
como de novo decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem. caso o autuado não informe o nome de seu advogado, será enca-
minhada cópia integral deste auto para a Defensoria Pública (art.
1 Prisão em flagrante. A prisão em flagrante consiste numa 306, §1º, CPP);
medida de autodefesa da sociedade, caracterizada pela privação da E) No mesmo prazo de vinte e quatro horas, será entregue ao
liberdade de locomoção daquele que é surpreendido em situação preso, mediante recibo, a nota de culpa, assinada pela autoridade,
de flagrância, independentemente de prévia autorização judicial. A com o motivo da prisão, o nome do condutor e o das testemunhas
própria Constituição Federal autoriza a prisão em flagrante, em seu (art. 306, §2º, CPP);
art. 5º, LXI, o qual afirma que ninguém será preso senão em fla- F) Ao receber o auto de prisão em flagrante, o juiz deverá
grante delito, ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade fundamentadamente relaxar a prisão ilegal, ou converter a prisão
judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou em flagrante em preventiva (quando presentes os requisitos do art.
crime propriamente militar, definidos em lei. 312, do Código de Processo Penal, e quando se revelarem ina-
A expressão “flagrante” deriva do latim “flagrare”, que sig- dequadas as medidas cautelares diversas da prisão), ou conceder
nifica “queimar”, “arder”. Isso serve para demonstrar que o deli- liberdade provisória com ou sem fiança (art. 310, CPP);
to em flagrante é o delito que está “ardendo”, “queimando”, “que G) Se o juiz verificar pelo auto que o agente praticou o fato
acaba de acontecer”. em estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento do
Por isso, qualquer do povo poderá, e as autoridades policiais e dever legal, ou exercício regular de um direito (todos previstos no
seus agentes deverão, prender quem quer que seja encontrado em art. 23, do Código Penal), poderá, fundamentadamente, conceder
flagrante delito. ao acusado liberdade provisória, mediante termo de compareci-
mento a todos os atos processuais, sob pena de revogação (art. 310,
1.1 Funções da prisão em flagrante. São elas: parágrafo único, CPP).
A) Evitar a fuga do infrator; Obtempera-se que, não havendo autoridade no lugar em que
B) Auxiliar na colheita de elementos probatórios; se tiver efetuado a prisão, o preso será apresentado à prisão do
C) Impedir a consumação ou o exaurimento do delito. lugar mais próximo (art. 308, CPP).
Por fim, se o réu se livrar solto, deverá ser posto em liberdade,
depois de lavrado o “APF” (auto de prisão em flagrante) (art. 309,
1.2 Procedimento do flagrante. O procedimento da prisão
CPP).
em flagrante está essencialmente descrito entre os art. 304 e 310,
do Código de Processo Penal:
1.3 Espécies/modalidades de flagrante. Vejamos a classifi-
A) Apresentado o preso à autoridade competente, ouvirá esta
cação feita pela doutrina:
o condutor e colherá, desde logo, sua assinatura, entregando a este
A) Flagrante obrigatório. É aquele que se aplica às autorida-
cópia do termo e recibo de entrega do preso (art. 304, caput, pri-
des policiais e seus agentes, que têm o dever de efetuar a prisão
meira parte, CPP);
em flagrante;
B) Em seguida, procederá a autoridade competente à oitiva B) Flagrante facultativo. É aquele efetuado por qualquer pes-
das testemunhas que o acompanharem e ao interrogatório do acu- soa do povo, embora não seja o indivíduo obrigado a prender em
sado sobre a imputação que lhe é feita, colhendo, após cada oitiva, flagrante, caso isso ameace sua segurança e sua integridade;
suas respectivas assinaturas, lavrando a autoridade, ao final, o auto C) Flagrante próprio (ou flagrante perfeito) (ou flagrante
(art. 304, caput, parte final, CPP); verdadeiro). É aquele que ocorre se o agente é preso quando está
C) A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontrem cometendo a infração ou acaba de cometê-la. Sua previsão está nos
serão comunicados imediatamente ao juiz competente, ao Ministé- incisos I e II, do art. 302, do Código de Processo Penal;
rio Público e à família do preso ou à pessoa por ele indicada (art. D) Flagrante impróprio (ou flagrante imperfeito) (ou “quase
306, caput, CPP); flagrante”). É aquele que o ocorre se o agente é perseguido, logo
D) Resultando das respostas às perguntas feitas ao acusado após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em
fundada suspeita contra o conduzido, a autoridade mandará reco- situação que se faça presumir ser ele autor da infração. Sua previ-
lhê-lo à prisão, exceto no caso de livrar-se solto ou de prestar fian- são está no terceiro inciso, do art. 302, do Diploma Adjetivo Penal.
ça, e prosseguirá nos atos do processo ou inquérito se para isso for Vale lembrar que não há um prazo pré-determinado para esta
competente (se não o for, enviará os autos à autoridade que o seja) perseguição, desde que ela seja contínua, ininterrupta. Assim, pode
(art. 304, §1º, CPP); um agente ser perseguido por vinte e quatro horas após a prática
E) A falta de testemunhas da infração não impedirá o auto delitiva, p. ex., e ainda assim ser autuado em flagrante;
de prisão em flagrante, mas, nesse caso, com o condutor deverão E) Flagrante presumido (ou flagrante ficto). É aquele que
assiná-lo ao menos duas pessoas que tenham testemunhado a apre- ocorre se o agente é encontrado, logo depois do crime, com ins-
sentação do preso à autoridade (art. 304, §2º, CPP). Quando o acu- trumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele o
sado se recusar a assinar, não souber ou não puder fazê-lo, o auto autor da infração. Sua previsão está no art. 302, IV, CPP;
de prisão em flagrante será assinado por duas testemunhas que te- F) Flagrante preparado (ou “crime de ensaio”) (ou delito
nham ouvido sua leitura na presença deste (art. 304, §3º, CPP). Na putativo por obra do agente provocador). A autoridade policial
falta ou no impedimento do escrivão, qualquer pessoa designada instiga o indivíduo a cometer o crime, apenas para prendê-lo em
pela autoridade lavrará o auto, depois de prestado o compromisso flagrante. O entendimento jurisprudencial, contudo, é no sentido
legal (art. 305, CPP); de que esta espécie de flagrante não é válida, por se tratar de cri-

Didatismo e Conhecimento 196


NOÇÕES DE DIREITO
me impossível. Neste sentido, há até mesmo a Súmula nº 145, do ordem pública, ou a garantia da ordem econômica, ou o assegu-
Supremo Tribunal Federal, segundo a qual não há crime quando a ramento da aplicação da lei penal, ou a conveniência da instrução
preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua consu- criminal, ou o descumprimento de qualquer das medidas cautela-
mação; res diversas da prisão).
G) Flagrante esperado. Aqui, a autoridade policial sabe que
o delito vai acontecer, independentemente de instigá-lo ou não, 2.2 Motivos ensejadores da prisão preventiva. Eles estão
e, portanto, se limita a esperar o início da prática do delito, para no art. 312, do Código de Processo Penal, e devem ser conjugadas
efetuar a prisão em flagrante. Trata-se de modalidade de flagran- com a prova da existência do crime e indício suficiente de autoria.
te perfeitamente válida, apesar de entendimento minoritário que o A saber:
considera inválido pelos mesmos motivos do flagrante preparado; A) Para garantia da ordem pública. É o risco considerável
H) Flagrante prorrogado (ou “ação controlada”) (ou fla- de reiteração de ações delituosas, em virtude da periculosidade do
grante protelado). A autoridade policial retarda sua intervenção, agente.
para que o faça no momento mais oportuno sob o ponto de vista O “clamor social” causado pelo delito autoriza à decretação
da colheita de provas. Sua legalidade depende de previsão legal. de prisão preventiva por “garantia da ordem pública”? Prevalece
Ele é previsto na Lei nº 9.034/95 (“Lei das Organizações Cri- que sim, pois, do contrário, se o indivíduo for mantido solto, há
minosas”), e na Lei nº 11.343/06 (“Lei de Drogas”). risco de caírem as autoridades judiciais e policiais em descrédito
Na Lei nº 9.034/95, em seu art. 2º, II, a ação controlada é pos- para com a sociedade;
sível em qualquer fase da persecução criminal, independentemente B) Para garantia da ordem econômica. Trata-se do risco de
de autorização judicial; já na Lei nº 11.343/06, em seu art. 53, II, reiteração delituosa, porém relacionado com crimes contra a or-
a ação controlada é possível, desde que haja autorização judicial, dem econômica. A inserção deste motivo (na verdade, uma espé-
ouvido o Ministério Público; cie da garantia da ordem pública) se deu pelo art. 84, da Lei nº
I) Flagrante forjado (ou flagrante fabricado) (ou flagrante 8.884/94 (“Lei Antitruste”);
maquinado). É o flagrante “plantado” pela autoridade policial (ex.: C) Por conveniência da instrução criminal. Visa-se impedir
a autoridade policial coloca drogas nos objetos pessoais do inves- que o agente perturbe a livre produção probatória. O objetivo,
tigado somente para prendê-lo em flagrante). pois, é proteger o processo, as provas a que o Estado persecutor
ainda não teve acesso, e os agentes (como testemunhas, p. ex.) que
2 Prisão preventiva. Em qualquer fase da investigação po- podem auxiliar no deslinde da lide;
licial ou do processo penal caberá a prisão preventiva decretada D) Para assegurar a aplicação da lei penal. Se ficar demons-
pelo juiz, de ofício, se no curso da ação penal, ou a requerimento trado concretamente que o acusado pretende fugir, p. ex., invia-
do Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por re- bilizando futura e eventual execução da pena, impõe-se a prisão
presentação da autoridade policial (art. 311, CPP). preventiva por este motivo;
De antemão já se pode observar que à autoridade judicial é E) Em caso de descumprimento de qualquer das medidas
vedada a decretação de prisão preventiva de ofício na fase do in- cautelares diversas da prisão. As “medidas cautelares diversas da
quérito policial (isso é novidade da Lei nº 12.403, já que antes prisão” são novidade no processo penal, e foram trazidas pela Lei
desta previa-se legalmente a possibilidade de decretar o juiz prisão nº 12.403/2011.
preventiva de ofício também durante as investigações, o que era
bastante criticado pela doutrina garantista). 2.3 Hipóteses em que se admite prisão preventiva. São elas,
de acordo com o art. 312, CPP:
2.1 Pressupostos da prisão preventiva. Há se distinguir os A) Nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberda-
“pressupostos” dos “motivos ensejadores” da prisão preventiva de máxima superior a quatro a quatro anos (inciso I);
(estes últimos serão estudados no tópico seguinte). São pressupos- B) Se o agente tiver sido condenado por outro crime doloso,
tos: em sentença transitada em julgado, ressalvado o disposto no art.
A) Prova da existência do crime. É o chamado “fumus comissi 64, I, do Código Penal (configuração do período depurador) (in-
delicti”; ciso II);
B) Indícios suficientes de autoria. É o chamado “periculum C) Se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a
libertatis”. mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com defici-
Chama-se a atenção, preliminarmente, que o processualismo ência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência
penal exige “prova da existência do crime”, mas se contenta com (inciso III);
“indícios suficientes de autoria”. Desta maneira, desde que haja D) Quando houver dúvidas sobre a identidade civil da pessoa
um contexto probatório maciço acerca dos fatos, dispensa-se a cer- ou quando esta não fornecer elementos suficientes para esclarecê-
teza acerca da autoria, mesmo porque, em termos práticos, caso -la (neste caso, o preso deve imediatamente ser posto em liberdade
fique realmente comprovada, a autoria só o ficará, de fato, quando após a identificação, salvo de outra hipótese recomendar a manu-
de um eventual decreto condenatório definitivo. tenção da medida) (parágrafo único).
No mais, há se ter em mente que, para que se decrete a prisão
preventiva de alguém, basta um dos motivos ensejadores da prisão 2.4 Revogação da prisão preventiva. Isso é possível se, no
preventiva, mas os dois pressupostos devem estar necessariamente transcorrer do processo, verificar a autoridade judicial a falta de
previstos cumulativamente. Então, sempre deve haver, obrigato- motivo para que subsista a prisão preventiva. Assim, em sentido
riamente, os dois pressupostos (existência do crime e indícios de contrário, também poder decretá-la se sobrevierem razões que a
autoria), mais ao menos um motivo ensejador (ou a garantia da justifiquem.

Didatismo e Conhecimento 197


NOÇÕES DE DIREITO
De toda forma, a decisão que decretar, substituir ou denegar a maior grau de liberdade ao agente, o que denotaria o manejo de
prisão preventiva será sempre motivada. tal instrumento. Por outro lado, há quem entenda que tal decisão
seja irrecorrível por ausência de previsão legal expressa. Não há
2.5 Prisão preventiva e excludentes de culpabilidade e de qualquer entendimento consolidado sobre o tema.
ilicitude. De acordo com o art. 314, do Diploma Processual Penal, De toda maneira, há se observar que o recurso em sentido
a prisão preventiva em nenhum momento será decretada se o juiz estrito somente será cabível caso se indefira o requerimento de
verificar pelas provas constantes dos autos ter o agente praticado preventiva (caso o requerimento seja deferido não há previsão re-
o fato em estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito cursal), ou caso se revogue a medida (caso a medida seja mantida
cumprimento do dever legal, ou no exercício regular de um direito não há previsão recursal).
(excludentes de ilicitude).
QUESTÕES DE FIXAÇÃO
Apesar da ausência de previsão acerca das excludentes de cul-
pabilidade, é forte o entendimento no sentido de que o art. 314
1. (ESCRIVÃO DE POLÍCIA - PC/ES - 2013 - FUNCAB)
deve a elas ser aplicado por analogia, com exceção da hipótese de Pode-se afirmar que “indícios”, de acordo com o Código de Pro-
inimputabilidade (art. 26, caput, CP), afinal, o próprio Código de cesso Penal Brasileiro, são:
Processo Penal permite a absolvição sumária do agente se o juiz (A) Circunstâncias conhecidas e provadas, que permitem che-
verificar a existência de manifesta causa excludente de culpabili- gar à verificação da existência de um fato.
dade, salvo inimputabilidade (art. 297, II, CPP). (B) Presunções juris et de jure, que permitem chegar à verifi-
cação da existência de um fato.
2.6 Inexistência de qualquer hipótese de prisão preventiva (C) Presunções juris tantum, que permitem chegar à verifica-
automática. Não há se falar, sob qualquer hipótese, na prisão pre- ção da existência de um fato.
ventiva como efeito automático de algum ato. (D) Fatos conhecidos e provados, que permitem chegar à veri-
Um bom exemplo disso é o parágrafo primeiro, do art. 387, ficação da existência de uma presunção juris et de jure.
CPP (antigo parágrafo único, mas hoje renumerado pela Lei nº (E) Fatos conhecidos e provados, que permitem chegar à veri-
12.736/2012), segundo o qual o juiz decidirá, fundamentadamente, ficação da existência de uma presunção juris tantum.
sobre a manutenção ou, se for o caso, imposição de prisão preven-
tiva ou de outra medida cautelar, sem prejuízo do conhecimento da 2. (ESCRIVÃO DE POLÍCIA - PC/ES - 2013 - FUNCAB)
apelação que vier a ser interposta. O inquérito policial poderá ser iniciado por:
Outro exemplo é o art. 366, da Lei Adjetiva, pelo qual se o I. Auto de prisão em flagrante.
II. Auto de resistência.
acusado, citado por edital, não comparecer nem constituir defen-
III. Representação do ofendido ou seu representante legal.
sor, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, IV. Requerimento do ofendido ou seu representante legal.
podendo o juiz determinar a produção antecipada de provas urgen- Assinale a opção que contempla as assertivas corretas:
tes, e, se for o caso, decretar prisão preventiva. (A) I, II, III e IV.
Vários informações podem extraídas destes dois únicos dis- (B) I, II e III, apenas.
positivos. (C) I e II, apenas.
A primeira delas é que não há mais se falar em prisão preven- (D) II e III, apenas.
tiva como efeito automático da condenação. Pode ser o caso de, (E) III e IV, apenas.
mesmo diante de decreto condenatório, entender a autoridade judi-
cial que o acusado pode ficar solto esperando o trânsito em julgado 3. (ESCRIVÃO DE POLÍCIA - PC/ES - 2013 - FUNCAB)
do processo no qual litiga. Consoante os ditames do Código de Processo Penal, a autoridade
A segunda delas é a inexigibilidade de recolhimento à pri- policial deverá:
são para apelar, como se entendia no hoje revogado (pela Lei nº (A) Arquivar o inquérito policial, quando restar provada a ine-
11.719/08) art. 594, CPP, o que acabava por constituir grave ofensa xistência de crime ao final das investigações.
ao duplo grau de jurisdição. (B) Representar pela liberdade provisória, quando não esti-
A terceira delas, prevista no art. 366, CPP, que trata da sus- verem presentes os requisitos da prisão processual de natureza
pensão do processo e do prazo prescricional (e será estudado mais cautelar.
(C) Conceder fiança nos casos de infração cuja pena privativa
à frente), atine à informação de que, ainda que foragido/ausente o
de liberdade máxima não seja superior a 5 (cinco) anos.
acusado, deverá o magistrado fundamentar eventual decisão que
(D) Representar acerca da prisão preventiva.
decrete prisão preventiva deste. Desta maneira, o mero “sumiço” (E) Apreender os objetos que tiverem relação com o fato, an-
do acusado não é, por si só, elemento decretador automático de tes de liberados pelos peritos criminais.
prisão preventiva.
4. (ANALISTA JUDICIÁRIO - TRF/2ª REGIÃO - 2012 -
2.7 Recurso de decisão acerca da prisão preventiva. Con- FCC) Na dinâmica do inquérito policial não se inclui:
forme o art. 581, V, CPP, se o juiz de primeiro grau indeferir re- (A) O reconhecimento de pessoas e coisas.
querimento de prisão preventiva ou revogar a medida colocando o (B) As acareações.
agente em liberdade, caberá recurso em sentido estrito. (C) O pedido de prisão temporária.
Uma questão que fica em zona nebulosa diz respeito à revoga- (D) A apreensão dos objetos que tiverem relação com o fato,
ção de prisão preventiva em prol de uma medida cautelar diversa após liberados pelos peritos criminais.
da prisão. Há quem diga que a lógica é mesma das hipóteses aci- (E) A apresentação, através de advogado, de defesa preliminar
ma vistas que desafiam recurso em sentido estrito, por importarem por parte do indiciado.

Didatismo e Conhecimento 198


NOÇÕES DE DIREITO
5. (ANALISTA JUDICIÁRIO - TRE/PR - 2012 - FCC) O 8. (ANALISTA JUDICIÁRIO - TRE/SP - 2012 - FCC)
inquérito policial, em regra, deverá terminar no prazo: Analise as seguintes situações sobre as testemunhas, de acordo
(A) Estabelecido pela autoridade policial, tendo em vista a com o Código do Processo Pena:
complexidade das investigações. I. Tício, padre de uma paróquia na cidade de São Paulo, man-
(B) De 10 dias, se o indiciado estiver preso preventivamente tém contato, no exercício de sua atividade religiosa, com uma de-
ou em flagrante. terminada pessoa que lhe conta com detalhes, em função da fé no
(C) De 20 dias, se o indiciado estiver solto, mediante fiança confessionário, que presenciou um delito de homicídio na porta da
ou sem ela. sua casa, praticado contra um vizinho. Tício poderá figurar como
(D) De 30 dias, se o indiciado estiver preso preventivamente testemunha, mas está proibido de prestar depoimento em juízo,
ou em flagrante. salvo se quiser e for desobrigado pela parte interessada.
(E) De 60 dias, se o indiciado estiver solto, mediante fiança II. O Presidente do Superior Tribunal de Justiça é arrolado
ou sem ela. como testemunha em um processo crime que tramita em uma das
Varas Criminais da Comarca de São Paulo. Neste caso, ele será
6. (ANALISTA JUDICIÁRIO - TRE/SP - 2012 - FCC) inquirido em local, dia e hora previamente ajustados com o juiz do
Tício está preso na Penitenciária de Presidente Venceslau, cum- processo, podendo optar, também, pela prestação de depoimento
prindo pena por crimes de homicídio e sequestro, e responde a por escrito, caso em que as perguntas, formuladas pelas partes,
outro processo por crime de latrocínio na comarca de São Paulo,
lhes serão transmitidas por ofício.
Capital. Há prova, nos autos, de que o agente integra uma facção
III. Em regular audiência de instrução e julgamento está sendo
criminosa e notícia de uma tentativa de resgate do detento durante
ouvida testemunha arrolada pela acusação. O juiz não poderá in-
o seu deslocamento até a cidade de São Paulo para participar de
deferir perguntas formuladas pelo advogado do réu, mesmo se não
um determinado ato processual. Designada audiência de instrução,
interrogatório, debates e julgamento, o Juiz que preside o proces- tiverem relação com o processo.
so que tramita contra Tício pelo delito de latrocínio, em decisão Está correto o que consta somente em:
fundamentada: (A) I.
(A) Deverá necessariamente realizar o interrogatório de Tício (B) II.
por meio de videoconferência, intimando-se as partes com cinco (C) I e II.
dias de antecedência, assegurando ao preso a entrevista prévia e (D) I e III.
reservada com seu defensor, sendo dispensável o acompanhamen- (E) II e III.
to pelo preso de todos os atos da audiência única de instrução e
julgamento, pela presença física de seu defensor no ato processual. 9. (ANALISTA JUDICIÁRIO - TRE/PE - 2011 - FCC) As
(B) Deverá necessariamente realizar o interrogatório de Tí- testemunhas:
cio por meio de videoconferência, intimando-se as partes com dez (A) Responderão às perguntas formuladas diretamente pelas
dias de antecedência, assegurando ao preso o acompanhamento de partes e admitidas pelo juiz.
todos os atos da audiência única de instrução e julgamento, bem (B) Poderão trazer seu depoimento por escrito.
como entrevista prévia e reservada com seu defensor. (C) Serão inquiridas juntamente com outras arroladas pelas
(C) Poderá, em caráter excepcional, realizar o interrogatório partes.
de Tício por meio de videoconferência, intimando-se as partes com (D) Não poderão ser contraditadas pelas partes.
cinco dias de antecedência, assegurando ao preso a entrevista pré- (E) Não poderão fazer breve consulta a apontamentos.
via e reservada com seu defensor, sendo dispensável o acompanha-
mento pelo preso de todos os atos da audiência única de instrução e 10. (DELEGADO DE POLÍCIA - PC/MG - 2011 - PC/
julgamento, pela presença física de seu defensor no ato processual. MG) Sobre a prova pericial é incorreto afirmar:
(D) Poderá, em caráter excepcional, realizar o interrogatório (A) O exame de corpo de delito deverá ser assinado por 2
de Tício por meio de videoconferência, intimando-se as partes com (dois) peritos oficiais, portadores de diploma de curso superior.
dez dias de antecedência, assegurando ao preso o acompanhamen- (B) O exame de corpo de delito poderá ser realizado qualquer
to de todos os atos da audiência única de instrução e julgamento,
dia e horário, inclusive aos domingos.
bem como entrevista prévia e reservada com seu defensor.
(C) A autópsia será realizada, em regra, 6 (seis) horas após o
(E) Deverá necessariamente realizar o interrogatório de Tício
óbito.
por meio de videoconferência, intimando-se as partes com cinco
(D) Nas perícias de laboratório, os peritos guardarão material
dias de antecedência, assegurando ao preso o acompanhamento de
todos os atos da audiência única de instrução e julgamento, bem suficiente para a eventualidade de nova perícia.
como entrevista prévia e reservada com seu defensor.
11. (ESCRIVÃO DE POLÍCIA - PC/ES - 2013 - FUNCAB)
7. (INSPETOR DE POLÍCIA CIVIL - PC/CE - 2012 - Nos termos do art. 313 do Código Processual Penal, será admitida
CESPE) Julgue o próximo item, relativo à prova no processo pe- a decretação da prisão preventiva:
nal: “Inquirido o presidente da República como testemunha, pode- I. Nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberda-
rá ele optar pela prestação de depoimento por escrito, caso em que de máxima superior a 5 (cinco) anos.
as perguntas, formuladas pelas partes e deferidas pelo juiz, lhes II. Se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a
serão transmitidas por ofício”. mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com defici-
ência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência.

Didatismo e Conhecimento 199


NOÇÕES DE DIREITO
III. Quando houver dúvida sobre a identidade civil da pessoa 4. Alternativa “E”
ou quando esta não fornecer elementos suficientes para esclarecê- 5. Alternativa “B”
-la, devendo o preso ser colocado imediatamente em liberdade 6. Alternativa “D”
após a identificação, salvo se outra hipótese recomendar a manu- 7. Afirmação correta
tenção da medida. 8. Alternativa “A”
IV. Nos crimes culposos punidos com pena superior a 8 (oito) 9. Alternativa “A”
anos. 10. Alternativa “A”
Assinale a opção que contempla apenas as assertivas verda-
11. Alternativa “B”
deiras:
(A) I e II. 12. Afirmação errada
(B) II e III. 13. Alternativa “A”
(C) III e IV. 14. Alternativa “C”
(D) I e III. 15. Alternativa “A”
(E) II e IV.
REFERÊNCIAS
12. (INSPETOR DE POLÍCIA CIVIL - PC/CE - 2012 -
CESPE) Acerca de prisões e medidas cautelares, julgue o item se- AVENA, Norberto Cláudio Pâncaro. Processo penal esque-
guinte: “A imediata comunicação da prisão de pessoa é obrigatória matizado. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2011.
ao juiz competente, à família do preso ou à pessoa por ela indicada,
mas não necessariamente ao MP, titular da ação penal”.
CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 20. ed. São Pau-
13. (ANALISTA JUDICIÁRIO - TRE/RN - 2011 - FCC) lo: Saraiva, 2013.
Considere a situação de quem:
I. É perseguido, logo após, pelo ofendido, em situação que LIMA, Renato Brasileiro de. Nova prisão cautelar: doutrina,
faça presumir ser autor da infração penal. jurisprudência e prática. Niterói/RJ: Impetus, 2011.
II. É encontrado, logo depois, com objetos ou papéis que fa-
çam presumir ser ele autor da infração penal. RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 21. ed. São Paulo:
III. É surpreendido num bloqueio policial, de posse de objetos Atlas, 2013.
e instrumentos que façam presumir ser ele autor de infração penal
praticada há dois dias.
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de proces-
Podem(m) ser preso(os) em flagrante quem se encontrar na(s)
situação(ções) indicada(s) apenas em: so penal. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.
(A) I e II.
(B) I e III. VADE MECUM SARAIVA. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.
(C) II e III.
(D) I. Prof. Adriano Augusto Placidino Gonçalves
(E) III.
Graduado pela Faculdade de Direito da Alta Paulista – FA-
14. (ANALISTA JUDICIÁRIO - TRE/AC - 2010 - FCC) DAP.
O documento entregue ao conduzido após a lavratura do auto de Advogado regularmente inscrito na OAB/SP
prisão em flagrante, assinado pela autoridade policial e contendo
o motivo da prisão, o nome do condutor e das testemunhas, deno-
mina-se: Em seguida passaremos a analisar alguns dispositivos legais
(A) Termo circunstanciado. que serão objeto de questionamento no presente certame, não
(B) Auto de prisão em flagrante. deixe de fazer a leitura minuciosa e atenta do conteúdo, conside-
(C) Nota de culpa. rando que vem se tornando rotina nos concursos a exigência do
(D) Carta de guia. conhecimento da “letra da lei”. Enfim, muitos artigos são auto-
(E) Boletim de ocorrência. explicativos; tentar explica-los ou comenta-los poderia não ser
didático. Bons estudos.
15. (JUIZ - TJ/RO - 2011 - PUC/PR) O flagrante presumido
consiste na prisão do agente que:
(A) É encontrado logo depois do fato, com instrumentos, ar- 2.5 LEGISLAÇÃO ESPECIAL:
mas ou objetos que estejam relacionados com o fato. 2.5.1 LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE –
(B) É surpreendido na prática efetiva do crime.
(C) É surpreendido logo depois do fato. LEI N.º 4.898/65
(D) É perseguido e encontrado logo depois do fato.
(E) É preso logo após o fato e reconhecido por testemunhas.

GABARITO
LEI Nº 4.898, DE 9 DE DEZEMBRO DE 1965.
1. Alternativa “A”
2. Alternativa “A” Regula o Direito de Representação e o processo de Respon-
3. Alternativa “D” sabilidade Administrativa Civil e Penal, nos casos de abuso de
autoridade.

Didatismo e Conhecimento 200


NOÇÕES DE DIREITO
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Con- Art. 5º Considera-se autoridade, para os efeitos desta lei,
gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: quem exerce cargo, emprego ou função pública, de natureza civil,
ou militar, ainda que transitoriamente e sem remuneração.
Art. 1º O direito de representação e o processo de responsa-
bilidade administrativa civil e penal, contra as autoridades que, no Art. 6º O abuso de autoridade sujeitará o seu autor à sanção
exercício de suas funções, cometerem abusos, são regulados pela administrativa civil e penal.
presente lei. § 1º A sanção administrativa será aplicada de acordo com a
gravidade do abuso cometido e consistirá em:
Art. 2º O direito de representação será exercido por meio de a) advertência;
petição: b) repreensão;
a) dirigida à autoridade superior que tiver competência legal c) suspensão do cargo, função ou posto por prazo de cinco a
para aplicar, à autoridade civil ou militar culpada, a respectiva san- cento e oitenta dias, com perda de vencimentos e vantagens;
ção; d) destituição de função;
b) dirigida ao órgão do Ministério Público que tiver compe- e) demissão;
tência para iniciar processo-crime contra a autoridade culpada. f) demissão, a bem do serviço público.
Parágrafo único. A representação será feita em duas vias e § 2º A sanção civil, caso não seja possível fixar o valor do
conterá a exposição do fato constitutivo do abuso de autoridade, dano, consistirá no pagamento de uma indenização de quinhentos
com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado e o rol a dez mil cruzeiros.
de testemunhas, no máximo de três, se as houver. § 3º A sanção penal será aplicada de acordo com as regras dos
artigos 42 a 56 do Código Penal e consistirá em:
Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado: a) multa de cem a cinco mil cruzeiros;
a) à liberdade de locomoção; b) detenção por dez dias a seis meses;
b) à inviolabilidade do domicílio; c) perda do cargo e a inabilitação para o exercício de qualquer
c) ao sigilo da correspondência; outra função pública por prazo até três anos.
d) à liberdade de consciência e de crença; § 4º As penas previstas no parágrafo anterior poderão ser apli-
e) ao livre exercício do culto religioso; cadas autônoma ou cumulativamente.
f) à liberdade de associação; § 5º Quando o abuso for cometido por agente de autoridade
g) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício do policial, civil ou militar, de qualquer categoria, poderá ser comina-
voto; da a pena autônoma ou acessória, de não poder o acusado exercer
h) ao direito de reunião; funções de natureza policial ou militar no município da culpa, por
i) à incolumidade física do indivíduo; prazo de um a cinco anos.
j) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício pro-
fissional. Art. 7º recebida a representação em que for solicitada a apli-
cação de sanção administrativa, a autoridade civil ou militar com-
Art. 4º Constitui também abuso de autoridade: petente determinará a instauração de inquérito para apurar o fato.
a) ordenar ou executar medida privativa da liberdade indivi- § 1º O inquérito administrativo obedecerá às normas estabele-
dual, sem as formalidades legais ou com abuso de poder; cidas nas leis municipais, estaduais ou federais, civis ou militares,
b) submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou a que estabeleçam o respectivo processo.
constrangimento não autorizado em lei; § 2º não existindo no município no Estado ou na legislação
c) deixar de comunicar, imediatamente, ao juiz competente a militar normas reguladoras do inquérito administrativo serão apli-
prisão ou detenção de qualquer pessoa; cadas supletivamente, as disposições dos arts. 219 a 225 da Lei
d) deixar o Juiz de ordenar o relaxamento de prisão ou deten- nº 1.711, de 28 de outubro de 1952 (Estatuto dos Funcionários
ção ilegal que lhe seja comunicada; Públicos Civis da União).
e) levar à prisão e nela deter quem quer que se proponha a § 3º O processo administrativo não poderá ser sobrestado para
prestar fiança, permitida em lei; o fim de aguardar a decisão da ação penal ou civil.
f) cobrar o carcereiro ou agente de autoridade policial car-
ceragem, custas, emolumentos ou qualquer outra despesa, desde Art. 8º A sanção aplicada será anotada na ficha funcional da
que a cobrança não tenha apoio em lei, quer quanto à espécie quer autoridade civil ou militar.
quanto ao seu valor;
g) recusar o carcereiro ou agente de autoridade policial recibo Art. 9º Simultaneamente com a representação dirigida à auto-
de importância recebida a título de carceragem, custas, emolumen- ridade administrativa ou independentemente dela, poderá ser pro-
tos ou de qualquer outra despesa; movida pela vítima do abuso, a responsabilidade civil ou penal ou
h) o ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa natural ou ambas, da autoridade culpada.
jurídica, quando praticado com abuso ou desvio de poder ou sem
competência legal; Art. 10. Vetado
i) prolongar a execução de prisão temporária, de pena ou de
medida de segurança, deixando de expedir em tempo oportuno ou Art. 11. À ação civil serão aplicáveis as normas do Código de
de cumprir imediatamente ordem de liberdade. Processo Civil.

Didatismo e Conhecimento 201


NOÇÕES DE DIREITO
Art. 12. A ação penal será iniciada, independentemente de in- Art. 19. A hora marcada, o Juiz mandará que o porteiro dos
quérito policial ou justificação por denúncia do Ministério Público, auditórios ou o oficial de justiça declare aberta a audiência, apre-
instruída com a representação da vítima do abuso. goando em seguida o réu, as testemunhas, o perito, o representante
do Ministério Público ou o advogado que tenha subscrito a queixa
Art. 13. Apresentada ao Ministério Público a representação da e o advogado ou defensor do réu.
vítima, aquele, no prazo de quarenta e oito horas, denunciará o réu, Parágrafo único. A audiência somente deixará de realizar-se
desde que o fato narrado constitua abuso de autoridade, e requererá se ausente o Juiz.
ao Juiz a sua citação, e, bem assim, a designação de audiência de
instrução e julgamento. Art. 20. Se até meia hora depois da hora marcada o Juiz não
§ 1º A denúncia do Ministério Público será apresentada em houver comparecido, os presentes poderão retirar-se, devendo o
duas vias. ocorrido constar do livro de termos de audiência.

Art. 14. Se a ato ou fato constitutivo do abuso de autoridade Art. 21. A audiência de instrução e julgamento será pública,
houver deixado vestígios o ofendido ou o acusado poderá: se contrariamente não dispuser o Juiz, e realizar-se-á em dia útil,
a) promover a comprovação da existência de tais vestígios, entre dez (10) e dezoito (18) horas, na sede do Juízo ou, excepcio-
por meio de duas testemunhas qualificadas; nalmente, no local que o Juiz designar.
b) requerer ao Juiz, até setenta e duas horas antes da audiência
de instrução e julgamento, a designação de um perito para fazer as Art. 22. Aberta a audiência o Juiz fará a qualificação e o inter-
verificações necessárias. rogatório do réu, se estiver presente.
§ 1º O perito ou as testemunhas farão o seu relatório e presta- Parágrafo único. Não comparecendo o réu nem seu advo-
rão seus depoimentos verbalmente, ou o apresentarão por escrito, gado, o Juiz nomeará imediatamente defensor para funcionar na
querendo, na audiência de instrução e julgamento. audiência e nos ulteriores termos do processo.
§ 2º No caso previsto na letra a deste artigo a representação
poderá conter a indicação de mais duas testemunhas. Art. 23. Depois de ouvidas as testemunhas e o perito, o Juiz
dará a palavra sucessivamente, ao Ministério Público ou ao advo-
Art. 15. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apre-
gado que houver subscrito a queixa e ao advogado ou defensor do
sentar a denúncia requerer o arquivamento da representação, o
réu, pelo prazo de quinze minutos para cada um, prorrogável por
Juiz, no caso de considerar improcedentes as razões invocadas,
mais dez (10), a critério do Juiz.
fará remessa da representação ao Procurador-Geral e este oferece-
rá a denúncia, ou designará outro órgão do Ministério Público para
Art. 24. Encerrado o debate, o Juiz proferirá imediatamente
oferecê-la ou insistirá no arquivamento, ao qual só então deverá o
a sentença.
Juiz atender.
Art. 25. Do ocorrido na audiência o escrivão lavrará no livro
Art. 16. Se o órgão do Ministério Público não oferecer a de-
núncia no prazo fixado nesta lei, será admitida ação privada. O próprio, ditado pelo Juiz, termo que conterá, em resumo, os depoi-
órgão do Ministério Público poderá, porém, aditar a queixa, re- mentos e as alegações da acusação e da defesa, os requerimentos
pudiá-la e oferecer denúncia substitutiva e intervir em todos os e, por extenso, os despachos e a sentença.
termos do processo, interpor recursos e, a todo tempo, no caso de
negligência do querelante, retomar a ação como parte principal. Art. 26. Subscreverão o termo o Juiz, o representante do Mi-
nistério Público ou o advogado que houver subscrito a queixa, o
Art. 17. Recebidos os autos, o Juiz, dentro do prazo de qua- advogado ou defensor do réu e o escrivão.
renta e oito horas, proferirá despacho, recebendo ou rejeitando a
denúncia. Art. 27. Nas comarcas onde os meios de transporte forem di-
§ 1º No despacho em que receber a denúncia, o Juiz designará, fíceis e não permitirem a observância dos prazos fixados nesta lei,
desde logo, dia e hora para a audiência de instrução e julgamento, o juiz poderá aumentá-las, sempre motivadamente, até o dobro.
que deverá ser realizada, improrrogavelmente dentro de cinco dias.
§ 2º A citação do réu para se ver processar, até julgamento Art. 28. Nos casos omissos, serão aplicáveis as normas do
final e para comparecer à audiência de instrução e julgamento, será Código de Processo Penal, sempre que compatíveis com o sistema
feita por mandado sucinto que, será acompanhado da segunda via de instrução e julgamento regulado por esta lei.
da representação e da denúncia. Parágrafo único. Das decisões, despachos e sentenças, cabe-
rão os recursos e apelações previstas no Código de Processo Penal.
Art. 18. As testemunhas de acusação e defesa poderão ser
apresentada em juízo, independentemente de intimação. Art. 29. Revogam-se as disposições em contrário.
Parágrafo único. Não serão deferidos pedidos de precatória
para a audiência ou a intimação de testemunhas ou, salvo o caso Brasília, 9 de dezembro de 1965; 144º da Independência e 77º
previsto no artigo 14, letra “b”, requerimentos para a realização de da República.
diligências, perícias ou exames, a não ser que o Juiz, em despacho
motivado, considere indispensáveis tais providências. Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 13.12.1965

Didatismo e Conhecimento 202


NOÇÕES DE DIREITO
Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade,
2.5.2 ESTATUTO DA CRIANÇA E DO guarda ou vigilância a vexame ou a constrangimento:
ADOLESCENTE – LEI N.º 8.069/90 –
ARTIGOS 225 AO 244-B Art. 234. Deixar a autoridade competente, sem justa causa, de
ordenar a imediata liberação de criança ou adolescente, tão logo
tenha conhecimento da ilegalidade da apreensão:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Título VII
Dos Crimes e Das Infrações Administrativas Art. 235. Descumprir, injustificadamente, prazo fixado nesta
Lei em benefício de adolescente privado de liberdade:
Capítulo I Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Dos Crimes
Art. 236. Impedir ou embaraçar a ação de autoridade judici-
Seção I ária, membro do Conselho Tutelar ou representante do Ministério
Disposições Gerais Público no exercício de função prevista nesta Lei:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Art. 225. Este Capítulo dispõe sobre crimes praticados contra
a criança e o adolescente, por ação ou omissão, sem prejuízo do Art. 237. Subtrair criança ou adolescente ao poder de quem o
disposto na legislação penal. tem sob sua guarda em virtude de lei ou ordem judicial, com o fim
de colocação em lar substituto:
Art. 226. Aplicam-se aos crimes definidos nesta Lei as normas
Pena - reclusão de dois a seis anos, e multa.
da Parte Geral do Código Penal e, quanto ao processo, as pertinen-
tes ao Código de Processo Penal.
Art. 238. Prometer ou efetivar a entrega de filho ou pupilo a
Art. 227. Os crimes definidos nesta Lei são de ação pública terceiro, mediante paga ou recompensa:
incondicionada Pena - reclusão de um a quatro anos, e multa.
Parágrafo único. Incide nas mesmas penas quem oferece ou
Seção II efetiva a paga ou recompensa.
Dos Crimes em Espécie
Art. 239. Promover ou auxiliar a efetivação de ato destinado
Art. 228. Deixar o encarregado de serviço ou o dirigente de ao envio de criança ou adolescente para o exterior com inobser-
estabelecimento de atenção à saúde de gestante de manter registro vância das formalidades legais ou com o fito de obter lucro:
das atividades desenvolvidas, na forma e prazo referidos no art. Pena - reclusão de quatro a seis anos, e multa.
10 desta Lei, bem como de fornecer à parturiente ou a seu res- Parágrafo único. Se há emprego de violência, grave ameaça
ponsável, por ocasião da alta médica, declaração de nascimento, ou fraude:
onde constem as intercorrências do parto e do desenvolvimento Pena - reclusão, de 6 (seis) a 8 (oito) anos, além da pena cor-
do neonato: respondente à violência.
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Parágrafo único. Se o crime é culposo:
Art. 240.  Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou re-
Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa.
gistrar, por qualquer meio, cena de sexo explícito ou pornográfica,
Art. 229. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de esta- envolvendo criança ou adolescente: 
belecimento de atenção à saúde de gestante de identificar correta- Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.  § 1o 
mente o neonato e a parturiente, por ocasião do parto, bem como Incorre nas mesmas penas quem agencia, facilita, recruta, coage,
deixar de proceder aos exames referidos no art. 10 desta Lei: ou de qualquer modo intermedeia a participação de criança ou ado-
Pena - detenção de seis meses a dois anos. lescente nas cenas referidas no caput deste artigo, ou ainda quem
Parágrafo único. Se o crime é culposo: com esses contracena. 
Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa. § 2o  Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o agente comete
o crime: 
Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua liberdade, I – no exercício de cargo ou função pública ou a pretexto de
procedendo à sua apreensão sem estar em flagrante de ato infra- exercê-la; 
cional ou inexistindo ordem escrita da autoridade judiciária com- II – prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou
petente: de hospitalidade; ou 
Pena - detenção de seis meses a dois anos. III – prevalecendo-se de relações de parentesco consanguíneo
Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que procede à ou afim até o terceiro grau, ou por adoção, de tutor, curador, pre-
apreensão sem observância das formalidades legais. ceptor, empregador da vítima ou de quem, a qualquer outro título,
tenha autoridade sobre ela, ou com seu consentimento. 
Art. 231. Deixar a autoridade policial responsável pela apre-
ensão de criança ou adolescente de fazer imediata comunicação à
Art. 241.  Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou outro
autoridade judiciária competente e à família do apreendido ou à
registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica en-
pessoa por ele indicada:
volvendo criança ou adolescente:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.

Didatismo e Conhecimento 203


NOÇÕES DE DIREITO
Art. 241-A.  Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distri- Art. 241-E.  Para efeito dos crimes previstos nesta Lei, a
buir, publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive por meio expressão “cena de sexo explícito ou pornográfica” compreende
de sistema de informática ou telemático, fotografia, vídeo ou outro qualquer situação que envolva criança ou adolescente em ativida-
registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica en- des sexuais explícitas, reais ou simuladas, ou exibição dos órgãos
volvendo criança ou adolescente:  genitais de uma criança ou adolescente para fins primordialmente
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.  § 1o  Nas sexuais.
mesmas penas incorre quem
I – assegura os meios ou serviços para o armazenamento das Art. 242. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entre-
fotografias, cenas ou imagens de que trata o caput deste artigo;  gar, de qualquer forma, a criança ou adolescente arma, munição
II – assegura, por qualquer meio, o acesso por rede de com- ou explosivo:
putadores às fotografias, cenas ou imagens de que trata o caput Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos.
deste artigo.
 § 2o  As condutas tipificadas nos incisos I e II do § 1o deste Art. 243. Vender, fornecer ainda que gratuitamente, ministrar
artigo são puníveis quando o responsável legal pela prestação do ou entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente, sem jus-
serviço, oficialmente notificado, deixa de desabilitar o acesso ao
ta causa, produtos cujos componentes possam causar dependência
conteúdo ilícito de que trata o caput deste artigo
física ou psíquica, ainda que por utilização indevida:
Pena - detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, se o fato
 Art. 241-B.  Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer
meio, fotografia, vídeo ou outra forma de registro que contenha não constitui crime mais grave.
cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou ado-
lescente: Art. 244. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entre-
 Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. gar, de qualquer forma, a criança ou adolescente fogos de estampi-
 § 1o  A pena é diminuída de 1 (um) a 2/3 (dois terços) se de do ou de artifício, exceto aqueles que, pelo seu reduzido potencial,
pequena quantidade o material a que se refere o caput deste artigo. sejam incapazes de provocar qualquer dano físico em caso de uti-
 § 2o  Não há crime se a posse ou o armazenamento tem a lização indevida:
finalidade de comunicar às autoridades competentes a ocorrência Pena - detenção de seis meses a dois anos, e multa.
das condutas descritas nos arts. 240, 241, 241-A e 241-C desta Lei,
quando a comunicação for feita por: Art. 244-A. Submeter criança ou adolescente, como tais defi-
I – agente público no exercício de suas funções; nidos no caput do art. 2o desta Lei, à prostituição ou à exploração
 II – membro de entidade, legalmente constituída, que inclua, sexual:
entre suas finalidades institucionais, o recebimento, o processa- Pena - reclusão de quatro a dez anos, e multa.
mento e o encaminhamento de notícia dos crimes referidos neste § 1o Incorrem nas mesmas penas o proprietário, o gerente ou o
parágrafo; responsável pelo local em que se verifique a submissão de criança
 III – representante legal e funcionários responsáveis de pro- ou adolescente às práticas referidas no caput deste artigo.
vedor de acesso ou serviço prestado por meio de rede de compu- § 2o Constitui efeito obrigatório da condenação a cassação da
tadores, até o recebimento do material relativo à notícia feita à licença de localização e de funcionamento do estabelecimento.
autoridade policial, ao Ministério Público ou ao Poder Judiciário.
 § 3o  As pessoas referidas no § 2o deste artigo deverão manter Art. 244-B.  Corromper ou facilitar a corrupção de menor de
sob sigilo o material ilícito referido. 18 (dezoito) anos, com ele praticando infração penal ou induzindo-
  -o a praticá-la: 
Art. 241-C.  Simular a participação de criança ou adolescente Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. 
em cena de sexo explícito ou pornográfica por meio de adultera- § 1o  Incorre nas penas previstas no caput deste artigo quem
ção, montagem ou modificação de fotografia, vídeo ou qualquer
pratica as condutas ali tipificadas utilizando-se de quaisquer meios
outra forma de representação visual:
eletrônicos, inclusive salas de bate-papo da internet. 
Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. 
§ 2o  As penas previstas no caput deste artigo são aumenta-
Parágrafo único.  Incorre nas mesmas penas quem vende, ex-
põe à venda, disponibiliza, distribui, publica ou divulga por qual- das de um terço no caso de a infração cometida ou induzida estar
quer meio, adquire, possui ou armazena o material produzido na incluída no rol do art. 1o da Lei no 8.072, de 25 de julho de 1990.
forma do caput deste artigo.

 Art. 241-D.  Aliciar, assediar, instigar ou constranger, por


qualquer meio de comunicação, criança, com o fim de com ela 2.5.3 LEI DE CRIMES HEDIONDOS –
praticar ato libidinoso: LEI N.º 8.072/90
 Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
 Parágrafo único.  Nas mesmas penas incorre quem:
 I – facilita ou induz o acesso à criança de material contendo
cena de sexo explícito ou pornográfica com o fim de com ela pra- LEI Nº 8.072, DE 25 DE JULHO DE 1990.
ticar ato libidinoso;
 II – pratica as condutas descritas no caput deste artigo com o Dispõe sobre os crimes hediondos, nos termos do art. 5º, in-
fim de induzir criança a se exibir de forma pornográfica ou sexu- ciso XLIII, da Constituição Federal, e determina outras providên-
almente explícita. cias.

Didatismo e Conhecimento 204


NOÇÕES DE DIREITO
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Con- Art. 6º Os arts. 157, § 3º; 159, caput e seus §§ 1º, 2º e 3º; 213;
gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei: 214; 223, caput e seu parágrafo único; 267, caput e 270; caput,
todos do Código Penal, passam a vigorar com a seguinte redação:
Art. 1o São considerados hediondos os seguintes crimes, to- “Art. 157. .............................................................
dos tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 § 3º Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de
- Código Penal, consumados ou tentados: reclusão, de cinco a quinze anos, além da multa; se resulta morte, a
I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuízo da multa.
de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e ........................................................................
homicídio qualificado (art. 121, § 2o, I, II, III, IV e V); Art. 159. ...............................................................
II - latrocínio (art. 157, § 3o, in fine); Pena - reclusão, de oito a quinze anos.
III - extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2o); § 1º .................................................................
IV - extorsão mediante sequestro e na forma qualificada (art. Pena - reclusão, de doze a vinte anos.
159, caput, e §§ lo, 2o e 3o); § 2º .................................................................
V - estupro (art. 213, caput e §§ 1o e 2o); Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos.
VI - estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1o, 2o, 3o
§ 3º .................................................................
e 4o);
Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos.
VII - epidemia com resultado morte (art. 267, § 1o).
........................................................................
VII-A – (VETADO)
Art. 213. ...............................................................
VII-B - falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de
produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais (art. 273, caput Pena - reclusão, de seis a dez anos.
e § 1o, § 1o-A e § 1o-B, com a redação dada pela Lei no 9.677, de 2 Art. 214. ...............................................................
de julho de 1998). Pena - reclusão, de seis a dez anos.
Parágrafo único. Considera-se também hediondo o crime de ........................................................................
genocídio previsto nos arts. 1o, 2o e 3o da Lei no 2.889, de 1o de Art. 223. ...............................................................
outubro de 1956, tentado ou consumado. Pena - reclusão, de oito a doze anos.
Parágrafo único. ........................................................
Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico Pena - reclusão, de doze a vinte e cinco anos.
ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insusce- ........................................................................
tíveis de: Art. 267. ...............................................................
I - anistia, graça e indulto; Pena - reclusão, de dez a quinze anos.
II – fiança. ........................................................................
§ 1o  A pena por crime previsto neste artigo será cumprida Art. 270. ...............................................................
inicialmente em regime fechado. Pena - reclusão, de dez a quinze anos.
§ 2o  A progressão de regime, no caso dos condenados aos .......................................................................”
crimes previstos neste artigo, dar-se-á após o cumprimento de 2/5
(dois quintos) da pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (três Art. 7º Ao art. 159 do Código Penal fica acrescido o seguinte
quintos), se reincidente.  parágrafo:
§ 3o  Em caso de sentença condenatória, o juiz decidirá funda- “Art. 159. ..............................................................
mentadamente se o réu poderá apelar em liberdade.  ........................................................................
§ 4o  A prisão temporária, sobre a qual dispõe a Lei no 7.960, § 4º Se o crime é cometido por quadrilha ou bando, o coautor
de 21 de dezembro de 1989, nos crimes previstos neste artigo, terá que denunciá-lo à autoridade, facilitando a libertação do sequestra-
o prazo de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual período em caso do, terá sua pena reduzida de um a dois terços.”
de extrema e comprovada necessidade.
Art. 8º Será de três a seis anos de reclusão a pena prevista no
Art. 3º A União manterá estabelecimentos penais, de segu-
art. 288 do Código Penal, quando se tratar de crimes hediondos,
rança máxima, destinados ao cumprimento de penas impostas a
prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins ou
condenados de alta periculosidade, cuja permanência em presídios
terrorismo.
estaduais ponha em risco a ordem ou incolumidade pública.
Parágrafo único. O participante e o associado que denunciar
Art. 4º (Vetado). à autoridade o bando ou quadrilha, possibilitando seu desmantela-
mento, terá a pena reduzida de um a dois terços.
Art. 5º Ao art. 83 do Código Penal é acrescido o seguinte
inciso: Art. 9º As penas fixadas no art. 6º para os crimes capitulados
“Art. 83. .............................................................. nos arts. 157, § 3º, 158, § 2º, 159, caput e seus §§ 1º, 2º e 3º, 213,
........................................................................ caput e sua combinação com o art. 223, caput e parágrafo único,
V - cumprido mais de dois terços da pena, nos casos de con- 214 e sua combinação com o art. 223, caput e parágrafo único, to-
denação por crime hediondo, prática da tortura, tráfico ilícito de dos do Código Penal, são acrescidas de metade, respeitado o limite
entorpecentes e drogas afins, e terrorismo, se o apenado não for superior de trinta anos de reclusão, estando a vítima em qualquer
reincidente específico em crimes dessa natureza.” das hipóteses referidas no art. 224 também do Código Penal.

Didatismo e Conhecimento 205


NOÇÕES DE DIREITO
Art. 10. O art. 35 da Lei nº 6.368, de 21 de outubro de 1976, Parágrafo único. As penas deste artigo são aplicáveis sem pre-
passa a vigorar acrescido de parágrafo único, com a seguinte re- juízo das correspondentes à lesão corporal e à morte.
dação:        
“Art. 35. ................................................................ Art. 66. Fazer afirmação falsa ou enganosa, ou omitir infor-
Parágrafo único. Os prazos procedimentais deste capítulo se- mação relevante sobre a natureza, característica, qualidade, quan-
rão contados em dobro quando se tratar dos crimes previstos nos tidade, segurança, desempenho, durabilidade, preço ou garantia de
arts. 12, 13 e 14.” produtos ou serviços:
Pena - Detenção de três meses a um ano e multa.
Art. 11. (Vetado). § 1º Incorrerá nas mesmas penas quem patrocinar a oferta.
§ 2º Se o crime é culposo;
Art. 12. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação. Pena Detenção de um a seis meses ou multa.
       
Art. 13. Revogam-se as disposições em contrário. Art. 67. Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria
saber ser enganosa ou abusiva:
Brasília, 25 de julho de 1990; 169º da Independência e 102º Pena Detenção de três meses a um ano e multa.
da República. Parágrafo único. (Vetado).
       
FERNANDO COLLOR Art. 68. Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria
Bernardo Cabral saber ser capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma
prejudicial ou perigosa a sua saúde ou segurança:
Este texto não substitui o publicado no DOU de 26.7.1990 Pena - Detenção de seis meses a dois anos e multa:
Parágrafo único. (Vetado)
       
2.5.4 CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMI- Art. 69. Deixar de organizar dados fáticos, técnicos e científi-
DOR – LEI N.º 8.078/90 – ARTIGOS. 61 AO 80 cos que dão base à publicidade:
Pena Detenção de um a seis meses ou multa.
       
Art. 70. Empregar na reparação de produtos, peça ou compo-
nentes de reposição usados, sem autorização do consumidor:
TÍTULO II
Pena Detenção de três meses a um ano e multa.
Das Infrações Penais
       
       
Art. 71. Utilizar, na cobrança de dívidas, de ameaça, coação,
Art. 61. Constituem crimes contra as relações de consumo
constrangimento físico ou moral, afirmações falsas incorretas ou
previstas neste código, sem prejuízo do disposto no Código Penal
enganosas ou de qualquer outro procedimento que exponha o con-
e leis especiais, as condutas tipificadas nos artigos seguintes. sumidor, injustificadamente, a ridículo ou interfira com seu traba-
         lho, descanso ou lazer:
Art. 62. (Vetado) Pena Detenção de três meses a um ano e multa.
               
Art. 63. Omitir dizeres ou sinais ostensivos sobre a nocividade Art. 72. Impedir ou dificultar o acesso do consumidor às in-
ou periculosidade de produtos, nas embalagens, nos invólucros, formações que sobre ele constem em cadastros, banco de dados,
recipientes ou publicidade: fichas e registros:
Pena - Detenção de seis meses a dois anos e multa. Pena Detenção de seis meses a um ano ou multa.
§ 1° Incorrerá nas mesmas penas quem deixar de alertar, me-        
diante recomendações escritas ostensivas, sobre a periculosidade Art. 73. Deixar de corrigir imediatamente informação sobre
do serviço a ser prestado. consumidor constante de cadastro, banco de dados, fichas ou re-
§ 2° Se o crime é culposo: gistros que sabe ou deveria saber ser inexata:
Pena Detenção de um a seis meses ou multa. Pena Detenção de um a seis meses ou multa.
               
Art. 64. Deixar de comunicar à autoridade competente e aos Art. 74. Deixar de entregar ao consumidor o termo de garan-
consumidores a nocividade ou periculosidade de produtos cujo co- tia adequadamente preenchido e com especificação clara de seu
nhecimento seja posterior à sua colocação no mercado: conteúdo;
Pena - Detenção de seis meses a dois anos e multa. Pena Detenção de um a seis meses ou multa.
Parágrafo único. Incorrerá nas mesmas penas quem deixar de        
retirar do mercado, imediatamente quando determinado pela au- Art. 75. Quem, de qualquer forma, concorrer para os crimes
toridade competente, os produtos nocivos ou perigosos, na forma referidos neste código, incide as penas a esses cominadas na me-
deste artigo. dida de sua culpabilidade, bem como o diretor, administrador ou
        gerente da pessoa jurídica que promover, permitir ou por qualquer
Art. 65. Executar serviço de alto grau de periculosidade, con- modo aprovar o fornecimento, oferta, exposição à venda ou manu-
trariando determinação de autoridade competente: tenção em depósito de produtos ou a oferta e prestação de serviços
Pena Detenção de seis meses a dois anos e multa. nas condições por ele proibidas.

Didatismo e Conhecimento 206


NOÇÕES DE DIREITO
Art. 76. São circunstâncias agravantes dos crimes tipificados O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, Faço saber que o Con-
neste código: gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei:
I - serem cometidos em época de grave crise econômica ou
por ocasião de calamidade; CAPÍTULO I
II - ocasionarem grave dano individual ou coletivo; Das Disposições Gerais
III - dissimular-se a natureza ilícita do procedimento;       
IV - quando cometidos: Art. 1° Os atos de improbidade praticados por qualquer agente
a) por servidor público, ou por pessoa cuja condição econômi- público, servidor ou não, contra a administração direta, indireta ou
co-social seja manifestamente superior à da vítima; fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
b) em detrimento de operário ou rurícola; de menor de dezoito Distrito Federal, dos Municípios, de Território, de empresa incor-
ou maior de sessenta anos ou de pessoas portadoras de deficiência porada ao patrimônio público ou de entidade para cuja criação ou
mental interditadas ou não; custeio o erário haja concorrido ou concorra com mais de cinquen-
V - serem praticados em operações que envolvam alimentos, ta por cento do patrimônio ou da receita anual, serão punidos na
medicamentos ou quaisquer outros produtos ou serviços essenciais forma desta lei.
. Parágrafo único. Estão também sujeitos às penalidades des-
        ta lei os atos de improbidade praticados contra o patrimônio de
Art. 77. A pena pecuniária prevista nesta Seção será fixada entidade que receba subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou
em dias-multa, correspondente ao mínimo e ao máximo de dias creditício, de órgão público bem como daquelas para cuja criação
de duração da pena privativa da liberdade cominada ao crime. Na ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com menos de cin-
individualização desta multa, o juiz observará o disposto no art. quenta por cento do patrimônio ou da receita anual, limitando-se,
60, §1° do Código Penal. nestes casos, a sanção patrimonial à repercussão do ilícito sobre a
        contribuição dos cofres públicos.
Art. 78. Além das penas privativas de liberdade e de multa,
podem ser impostas, cumulativa ou alternadamente, observado o Art. 2° Reputa-se agente público, para os efeitos desta lei,
disposto nos arts. 44 a 47, do Código Penal: todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem re-
I - a interdição temporária de direitos; muneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou
II - a publicação em órgãos de comunicação de grande circu- qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo,
lação ou audiência, às expensas do condenado, de notícia sobre os emprego ou função nas entidades mencionadas no artigo anterior.
fatos e a condenação;
III - a prestação de serviços à comunidade. Art. 3° As disposições desta lei são aplicáveis, no que couber,
        àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra
Art. 79. O valor da fiança, nas infrações de que trata este códi- para a prática do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qual-
go, será fixado pelo juiz, ou pela autoridade que presidir o inqué- quer forma direta ou indireta.
rito, entre cem e duzentas mil vezes o valor do Bônus do Tesouro
Nacional (BTN), ou índice equivalente que venha a substituí-lo. Art. 4° Os agentes públicos de qualquer nível ou hierarquia
Parágrafo único. Se assim recomendar a situação econômica são obrigados a velar pela estrita observância dos princípios de
do indiciado ou réu, a fiança poderá ser: legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade no trato dos
a) reduzida até a metade do seu valor mínimo; assuntos que lhe são afetos.
b) aumentada pelo juiz até vinte vezes.
        Art. 5° Ocorrendo lesão ao patrimônio público por ação ou
Art. 80. No processo penal atinente aos crimes previstos neste omissão, dolosa ou culposa, do agente ou de terceiro, dar-se-á o
código, bem como a outros crimes e contravenções que envolvam integral ressarcimento do dano.
relações de consumo, poderão intervir, como assistentes do Minis-
tério Público, os legitimados indicados no art. 82, inciso III e IV, Art. 6° No caso de enriquecimento ilícito, perderá o agente
aos quais também é facultado propor ação penal subsidiária, se a público ou terceiro beneficiário os bens ou valores acrescidos ao
denúncia não for oferecida no prazo legal. seu patrimônio.

Art. 7° Quando o ato de improbidade causar lesão ao patrimô-


2.5.5 LEI DE IMPROBIDADE nio público ou ensejar enriquecimento ilícito, caberá a autoridade
ADMINISTRATIVA – LEI N.º 8.429/92 administrativa responsável pelo inquérito representar ao Ministé-
rio Público, para a indisponibilidade dos bens do indiciado.
Parágrafo único. A indisponibilidade a que se refere o caput
deste artigo recairá sobre bens que assegurem o integral ressar-
LEI Nº 8.429, DE 2 DE JUNHO DE 1992. cimento do dano, ou sobre o acréscimo patrimonial resultante do
enriquecimento ilícito.
Dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes públicos nos
casos de enriquecimento ilícito no exercício de mandato, cargo, Art. 8° O sucessor daquele que causar lesão ao patrimônio
emprego ou função na administração pública direta, indireta ou público ou se enriquecer ilicitamente está sujeito às cominações
fundacional e dá outras providências. desta lei até o limite do valor da herança.

Didatismo e Conhecimento 207


NOÇÕES DE DIREITO
CAPÍTULO II Seção II
Dos Atos de Improbidade Administrativa Dos Atos de Improbidade Administrativa que Causam Prejuízo
Seção I ao Erário
Dos Atos de Improbidade Administrativa que Importam Enri-
quecimento Ilícito Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que cau-
sa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa,
Art. 9° Constitui ato de improbidade administrativa importan- que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamen-
do enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patri- to ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no
monial indevida em razão do exercício de cargo, mandato, função, art. 1º desta lei, e notadamente:
emprego ou atividade nas entidades mencionadas no art. 1° desta I - facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incorpora-
lei, e notadamente: ção ao patrimônio particular, de pessoa física ou jurídica, de bens,
I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das
imóvel, ou qualquer outra vantagem econômica, direta ou indire- entidades mencionadas no art. 1º desta lei;
ta, a título de comissão, percentagem, gratificação ou presente de II - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica
quem tenha interesse, direto ou indireto, que possa ser atingido privada utilize bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acer-
ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do vo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem
agente público; a observância das formalidades legais ou regulamentares aplicá-
II - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para fa- veis à espécie;
cilitar a aquisição, permuta ou locação de bem móvel ou imóvel, III - doar à pessoa física ou jurídica bem como ao ente des-
ou a contratação de serviços pelas entidades referidas no art. 1° por personalizado, ainda que de fins educativos ou assistências, bens,
preço superior ao valor de mercado; rendas, verbas ou valores do patrimônio de qualquer das entidades
III - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para mencionadas no art. 1º desta lei, sem observância das formalidades
facilitar a alienação, permuta ou locação de bem público ou o for- legais e regulamentares aplicáveis à espécie;
necimento de serviço por ente estatal por preço inferior ao valor IV - permitir ou facilitar a alienação, permuta ou locação de
de mercado; bem integrante do patrimônio de qualquer das entidades referidas
 IV - utilizar, em obra ou serviço particular, veículos, máqui-
no art. 1º desta lei, ou ainda a prestação de serviço por parte delas,
nas, equipamentos ou material de qualquer natureza, de proprieda-
por preço inferior ao de mercado;
de ou à disposição de qualquer das entidades mencionadas no art.
V - permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação de
1° desta lei, bem como o trabalho de servidores públicos, empre-
bem ou serviço por preço superior ao de mercado;
gados ou terceiros contratados por essas entidades;
VI - realizar operação financeira sem observância das normas
V - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta
legais e regulamentares ou aceitar garantia insuficiente ou inidô-
ou indireta, para tolerar a exploração ou a prática de jogos de azar,
nea;
de lenocínio, de narcotráfico, de contrabando, de usura ou de qual-
quer outra atividade ilícita, ou aceitar promessa de tal vantagem; VII - conceder benefício administrativo ou fiscal sem a ob-
VI - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta servância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à
ou indireta, para fazer declaração falsa sobre medição ou avaliação espécie;
em obras públicas ou qualquer outro serviço, ou sobre quantidade, VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou dispensá-lo
peso, medida, qualidade ou característica de mercadorias ou bens indevidamente;
fornecidos a qualquer das entidades mencionadas no art. 1º desta IX - ordenar ou permitir a realização de despesas não autori-
lei; zadas em lei ou regulamento;
VII - adquirir, para si ou para outrem, no exercício de manda- X - agir negligentemente na arrecadação de tributo ou renda,
to, cargo, emprego ou função pública, bens de qualquer natureza bem como no que diz respeito à conservação do patrimônio pú-
cujo valor seja desproporcional à evolução do patrimônio ou à ren- blico;
da do agente público; XI - liberar verba pública sem a estrita observância das nor-
VIII - aceitar emprego, comissão ou exercer atividade de con- mas pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação
sultoria ou assessoramento para pessoa física ou jurídica que te- irregular;
nha interesse suscetível de ser atingido ou amparado por ação ou XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enri-
omissão decorrente das atribuições do agente público, durante a queça ilicitamente;
atividade; XIII - permitir que se utilize, em obra ou serviço particular,
 IX - perceber vantagem econômica para intermediar a libera- veículos, máquinas, equipamentos ou material de qualquer natu-
ção ou aplicação de verba pública de qualquer natureza; reza, de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades
X - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta mencionadas no art. 1° desta lei, bem como o trabalho de servidor
ou indiretamente, para omitir ato de ofício, providência ou decla- público, empregados ou terceiros contratados por essas entidades.
ração a que esteja obrigado; XIV – celebrar contrato ou outro instrumento que tenha por
XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio bens, objeto a prestação de serviços públicos por meio da gestão asso-
rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das ciada sem observar as formalidades previstas na lei; (Incluído pela
entidades mencionadas no art. 1° desta lei; Lei nº 11.107, de 2005)
 XII - usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou valo- XV – celebrar contrato de rateio de consórcio público sem
res integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas suficiente e prévia dotação orçamentária, ou sem observar as for-
no art. 1° desta lei. malidades previstas na lei. (Incluído pela Lei nº 11.107, de 2005)

Didatismo e Conhecimento 208


NOÇÕES DE DIREITO
Seção III CAPÍTULO IV
Dos Atos de Improbidade Administrativa que Atentam Contra Da Declaração de Bens
os Princípios da Administração Pública
Art. 13. A posse e o exercício de agente público ficam con-
Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que aten- dicionados à apresentação de declaração dos bens e valores que
ta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou compõem o seu patrimônio privado, a fim de ser arquivada no ser-
omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, le- viço de pessoal competente. (Regulamento)    (Regulamento)
galidade, e lealdade às instituições, e notadamente: § 1° A declaração compreenderá imóveis, móveis, semoven-
I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou tes, dinheiro, títulos, ações, e qualquer outra espécie de bens e va-
diverso daquele previsto, na regra de competência; lores patrimoniais, localizado no País ou no exterior, e, quando for
II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofí- o caso, abrangerá os bens e valores patrimoniais do cônjuge ou
cio; companheiro, dos filhos e de outras pessoas que vivam sob a de-
III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão pendência econômica do declarante, excluídos apenas os objetos e
utensílios de uso doméstico.
das atribuições e que deva permanecer em segredo;
§ 2º A declaração de bens será anualmente atualizada e na data
IV - negar publicidade aos atos oficiais;
em que o agente público deixar o exercício do mandato, cargo,
V - frustrar a licitude de concurso público;
emprego ou função.
VI - deixar de prestar contas quando esteja obrigado a fazê-lo; § 3º Será punido com a pena de demissão, a bem do serviço
VII - revelar ou permitir que chegue ao conhecimento de ter- público, sem prejuízo de outras sanções cabíveis, o agente público
ceiro, antes da respectiva divulgação oficial, teor de medida polí- que se recusar a prestar declaração dos bens, dentro do prazo de-
tica ou econômica capaz de afetar o preço de mercadoria, bem ou terminado, ou que a prestar falsa.
serviço. § 4º O declarante, a seu critério, poderá entregar cópia da de-
claração anual de bens apresentada à Delegacia da Receita Federal
CAPÍTULO III na conformidade da legislação do Imposto sobre a Renda e pro-
Das Penas ventos de qualquer natureza, com as necessárias atualizações, para
suprir a exigência contida no caput e no § 2° deste artigo.
Art. 12.  Independentemente das sanções penais, civis e ad-
ministrativas previstas na legislação específica, está o responsá- CAPÍTULO V
vel pelo ato de improbidade sujeito às seguintes cominações, que Do Procedimento Administrativo e do Processo Judicial
podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, de acordo com
a gravidade do fato: (Redação dada pela Lei nº 12.120, de 2009). Art. 14. Qualquer pessoa poderá representar à autoridade ad-
I - na hipótese do art. 9°, perda dos bens ou valores acrescidos ministrativa competente para que seja instaurada investigação des-
ilicitamente ao patrimônio, ressarcimento integral do dano, quan- tinada a apurar a prática de ato de improbidade.
do houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políti- § 1º A representação, que será escrita ou reduzida a termo e
cos de oito a dez anos, pagamento de multa civil de até três vezes assinada, conterá a qualificação do representante, as informações
o valor do acréscimo patrimonial e proibição de contratar com o sobre o fato e sua autoria e a indicação das provas de que tenha
Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou credi- conhecimento.
tícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa § 2º A autoridade administrativa rejeitará a representação, em
jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de dez anos; despacho fundamentado, se esta não contiver as formalidades esta-
II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do dano, per- belecidas no § 1º deste artigo. A rejeição não impede a representa-
da dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se ção ao Ministério Público, nos termos do art. 22 desta lei.
 § 3º Atendidos os requisitos da representação, a autoridade
concorrer esta circunstância, perda da função pública, suspensão
determinará a imediata apuração dos fatos que, em se tratando de
dos direitos políticos de cinco a oito anos, pagamento de multa
servidores federais, será processada na forma prevista nos arts. 148
civil de até duas vezes o valor do dano e proibição de contratar
a 182 da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990 e, em se tratando
com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais de servidor militar, de acordo com os respectivos regulamentos
ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio disciplinares.
de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de
cinco anos; Art. 15. A comissão processante dará conhecimento ao Minis-
III - na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do dano, se tério Público e ao Tribunal ou Conselho de Contas da existência
houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de procedimento administrativo para apurar a prática de ato de im-
de três a cinco anos, pagamento de multa civil de até cem vezes o probidade.
valor da remuneração percebida pelo agente e proibição de contra- Parágrafo único. O Ministério Público ou Tribunal ou Conse-
tar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais lho de Contas poderá, a requerimento, designar representante para
ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio acompanhar o procedimento administrativo.
de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de
três anos. Art. 16. Havendo fundados indícios de responsabilidade, a
Parágrafo único. Na fixação das penas previstas nesta lei o comissão representará ao Ministério Público ou à procuradoria
juiz levará em conta a extensão do dano causado, assim como o do órgão para que requeira ao juízo competente a decretação do
proveito patrimonial obtido pelo agente. sequestro dos bens do agente ou terceiro que tenha enriquecido
ilicitamente ou causado dano ao patrimônio público.

Didatismo e Conhecimento 209


NOÇÕES DE DIREITO
§ 1º O pedido de sequestro será processado de acordo com o Art. 18. A sentença que julgar procedente ação civil de repa-
disposto nos arts. 822 e 825 do Código de Processo Civil. ração de dano ou decretar a perda dos bens havidos ilicitamente
§ 2° Quando for o caso, o pedido incluirá a investigação, o determinará o pagamento ou a reversão dos bens, conforme o caso,
exame e o bloqueio de bens, contas bancárias e aplicações finan- em favor da pessoa jurídica prejudicada pelo ilícito.
ceiras mantidas pelo indiciado no exterior, nos termos da lei e dos
CAPÍTULO VI
tratados internacionais. Das Disposições Penais
Art. 17. A ação principal, que terá o rito ordinário, será pro- Art. 19. Constitui crime a representação por ato de improbida-
posta pelo Ministério Público ou pela pessoa jurídica interessada, de contra agente público ou terceiro beneficiário, quando o autor
dentro de trinta dias da efetivação da medida cautelar. da denúncia o sabe inocente.
§ 1º É vedada a transação, acordo ou conciliação nas ações de Pena: detenção de seis a dez meses e multa.
que trata o caput. Parágrafo único. Além da sanção penal, o denunciante está
sujeito a indenizar o denunciado pelos danos materiais, morais ou
§ 2º A Fazenda Pública, quando for o caso, promoverá as à imagem que houver provocado.
ações necessárias à complementação do ressarcimento do patri-
mônio público. Art. 20. A perda da função pública e a suspensão dos direitos
§ 3o  No caso de a ação principal ter sido proposta pelo Minis- políticos só se efetivam com o trânsito em julgado da sentença
tério Público, aplica-se, no que couber, o disposto no § 3o do art. 6o condenatória.
da Lei no 4.717, de 29 de junho de 1965. (Redação dada pela Lei Parágrafo único. A autoridade judicial ou administrativa com-
nº 9.366, de 1996) petente poderá determinar o afastamento do agente público do
exercício do cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remune-
§ 4º O Ministério Público, se não intervir no processo como
ração, quando a medida se fizer necessária à instrução processual.
parte, atuará obrigatoriamente, como fiscal da lei, sob pena de nu-
lidade. Art. 21. A aplicação das sanções previstas nesta lei independe:
§ 5o  A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para I - da efetiva ocorrência de dano ao patrimônio público, salvo
todas as ações posteriormente intentadas que possuam a mesma quanto à pena de ressarcimento; (Redação dada pela Lei nº 12.120,
causa de pedir ou o mesmo objeto. (Incluído pela Medida provisó- de 2009).
ria nº 2.180-35, de 2001) II - da aprovação ou rejeição das contas pelo órgão de controle
interno ou pelo Tribunal ou Conselho de Contas.
§ 6o  A ação será instruída com documentos ou justificação que
contenham indícios suficientes da existência do ato de improbida- Art. 22. Para apurar qualquer ilícito previsto nesta lei, o Mi-
de ou com razões fundamentadas da impossibilidade de apresen- nistério Público, de ofício, a requerimento de autoridade admi-
tação de qualquer dessas provas, observada a legislação vigente, nistrativa ou mediante representação formulada de acordo com o
inclusive as disposições inscritas nos arts. 16 a 18 do Código de disposto no art. 14, poderá requisitar a instauração de inquérito
Processo Civil. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.225-45, de policial ou procedimento administrativo.
2001)
CAPÍTULO VII
§ 7o  Estando a inicial em devida forma, o juiz mandará autuá-
Da Prescrição
-la e ordenará a notificação do requerido, para oferecer manifes-
tação por escrito, que poderá ser instruída com documentos e jus- Art. 23. As ações destinadas a levar a efeitos as sanções pre-
tificações, dentro do prazo de quinze dias. (Incluído pela Medida vistas nesta lei podem ser propostas:
Provisória nº 2.225-45, de 2001) I - até cinco anos após o término do exercício de mandato, de
§ 8o  Recebida a manifestação, o juiz, no prazo de trinta dias, cargo em comissão ou de função de confiança;
em decisão fundamentada, rejeitará a ação, se convencido da ine- II - dentro do prazo prescricional previsto em lei específica
xistência do ato de improbidade, da improcedência da ação ou da para faltas disciplinares puníveis com demissão a bem do serviço
público, nos casos de exercício de cargo efetivo ou emprego.
inadequação da via eleita. (Incluído pela Medida Provisória nº
2.225-45, de 2001) CAPÍTULO VIII
§ 9o  Recebida a petição inicial, será o réu citado para apre- Das Disposições Finais
sentar contestação. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.225-45,
de 2001) Art. 24. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
§ 10.  Da decisão que receber a petição inicial, caberá agravo
de instrumento. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.225-45, de Art. 25. Ficam revogadas as Leis n°s 3.164, de 1° de junho de
1957, e 3.502, de 21 de dezembro de 1958 e demais disposições
2001) em contrário.
§ 11.  Em qualquer fase do processo, reconhecida a inade-
quação da ação de improbidade, o juiz extinguirá o processo sem Rio de Janeiro, 2 de junho de 1992; 171° da Independência e
julgamento do mérito. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.225- 104° da República.
45, de 2001)
§ 12.  Aplica-se aos depoimentos ou inquirições realizadas nos FERNANDO COLLOR
processos regidos por esta Lei o disposto no art. 221, caput e § 1o, Célio Borja
do Código de Processo Penal. (Incluído pela Medida Provisória nº
2.225-45, de 2001) Este texto não substitui o publicado no DOU de 3.6.1992.

Didatismo e Conhecimento 210


NOÇÕES DE DIREITO

2.5.6 LEI DE TORTURA – LEI N.º 9.455/97 2.5.7 CÓDIGO DE TRÂNSITO


BRASILEIRO - LEI N.º 9.503/97 –
ARTIGOS 302 AO 312
LEI Nº 9.455, DE 7 DE ABRIL DE 1997.

Define os crimes de tortura e dá outras providências. Seção II


Dos Crimes em Espécie
O  PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Con-
gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 302 - Praticar homicídio culposo na direção de veículo
       
Art. 1º Constitui crime de tortura: automotor:
I - constranger alguém com emprego de violência ou grave Penas - detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proi-
ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental: bição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo
a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da automotor.
vítima ou de terceira pessoa; Parágrafo único - No homicídio culposo cometido na direção
b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa; de veículo automotor, a pena é aumentada de um terço à metade,
c) em razão de discriminação racial ou religiosa; se o agente:
II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, I - não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habili-
com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento tação;
físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida
II - praticá-lo em faixa de pedestres ou na calçada;
de caráter preventivo.
Pena - reclusão, de dois a oito anos. III - deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem
§ 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou risco pessoal, à vítima do acidente;
sujeita a medida de segurança a sofrimento físico ou mental, por IV - no exercício de sua profissão ou atividade, estiver condu-
intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante zindo veículo de transporte de passageiros.
de medida legal. V -  (Revogado)
§ 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, quando  
tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de detenção Art. 303 - Praticar lesão corporal culposa na direção de veí-
de um a quatro anos. culo automotor:
§ 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, Penas - detenção, de seis meses a dois anos e suspensão ou
a pena é de reclusão de quatro a dez anos; se resulta morte, a reclu-
proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir ve-
são é de oito a dezesseis anos.
§ 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço: ículo automotor.
I - se o crime é cometido por agente público; Parágrafo único - Aumenta-se a pena de um terço à metade,
II – se o crime é cometido contra criança, gestante, portador se ocorrer qualquer das hipóteses do parágrafo único do artigo an-
de deficiência, adolescente ou maior de 60 (sessenta) anos; terior.
III - se o crime é cometido mediante sequestro.  
§ 5º A condenação acarretará a perda do cargo, função ou em- Art. 304 - Deixar o condutor do veículo, na ocasião do aci-
prego público e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo dente, de prestar imediato socorro à vítima, ou, não podendo fazê-
da pena aplicada. -lo diretamente, por justa causa, deixar de solicitar auxílio da au-
§ 6º O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça toridade pública:
ou anistia.
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa, se o fato
§ 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipó-
tese do § 2º, iniciará o cumprimento da pena em regime fechado. não constituir elemento de crime mais grave.
        Parágrafo único - Incide nas penas previstas neste artigo o
Art. 2º O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime condutor do veículo, ainda que a sua omissão seja suprida por ter-
não tenha sido cometido em território nacional, sendo a vítima ceiros ou que se trate de vítima com morte instantânea ou com
brasileira ou encontrando-se o agente em local sob jurisdição bra- ferimentos leves.
sileira.  
       Art. 305 - Afastar-se o condutor do veículo do local do aci-
Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. dente, para fugir à responsabilidade penal ou civil que lhe possa
        ser atribuída:
Art. 4º Revoga-se o art. 233 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.
1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente.
       
Brasília, 7 de abril de 1997; 176º da Independência e 109º da Art. 306.  Conduzir veículo automotor com capacidade psi-
República. comotora alterada em razão da influência de álcool ou de outra
substância psicoativa que determine dependência: (Redação dada
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO pela Lei nº 12.760, de 2012)
Nelson A. Jobim Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão
Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 8.4.1997 ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir
veículo automotor.

Didatismo e Conhecimento 211


NOÇÕES DE DIREITO
§ 1o  As condutas previstas no caput  serão constatadas por: Parágrafo único - Aplica-se o disposto neste artigo, ainda
(Incluído pela Lei nº 12.760, de 2012) que não iniciados, quando da inovação, o procedimento preparató-
I - concentração igual ou superior a 6 decigramas de álcool rio, o inquérito ou o processo aos quais se refere.
por litro de sangue ou igual ou superior a 0,3 miligrama de álcool
por litro de ar alveolar; ou   (Incluído pela Lei nº 12.760, de 2012)
II - sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, 2.5.8 LEI MARIA DA PENHA –
alteração da capacidade psicomotora.           (Incluído pela Lei nº LEI N.º 11.340/06
12.760, de 2012)
§ 2o  A verificação do disposto neste artigo poderá ser obtida
mediante teste de alcoolemia, exame clínico, perícia, vídeo, pro-
va testemunhal ou outros meios de prova em direito admitidos,
observado o direito à contraprova.  (Incluído pela Lei nº 12.760, LEI Nº 11.340, DE 7 DE AGOSTO DE 2006.
de 2012)
§ 3o  O Contran disporá sobre a equivalência entre os distintos Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar
testes de alcoolemia para efeito de caracterização do crime tipifica- contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição
do neste artigo.  (Incluído pela Lei nº 12.760, de 2012) Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas
de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interame-
Art. 307 - Violar a suspensão ou a proibição de se obter a ricana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mu-
permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor imposta lher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica
com fundamento neste Código: e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal,
Penas - detenção, de seis meses a um ano e multa, com nova o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providên-
imposição adicional de idêntico prazo de suspensão ou de proibi-
cias.
ção.
Parágrafo único - Nas mesmas penas incorre o condenado
que deixa de entregar, no prazo estabelecido no § 1º do art. 293, a O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Con-
Permissão para Dirigir ou a Carteira de Habilitação. gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
 
Art. 308 - Participar, na direção de veículo automotor, em via TÍTULO I
pública, de corrida, disputa ou competição automobilística não au- DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
torizada pela autoridade competente, desde que resulte dano po-
tencial à incolumidade pública ou privada: Art. 1o  Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a vio-
Penas - detenção, de seis meses a dois anos, multa e suspensão lência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do
ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Elimina-
veículo automotor. ção de Todas as Formas de Violência contra a Mulher, da Conven-
  ção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência
Art. 309 - Dirigir veículo automotor, em via pública, sem a
contra a Mulher e de outros tratados internacionais ratificados pela
devida Permissão para Dirigir ou Habilitação ou, ainda, se cassado
o direito de dirigir, gerando perigo de dano: República Federativa do Brasil; dispõe sobre a criação dos Juiza-
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa. dos de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e estabe-
  lece medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de
Art. 310  - Permitir, confiar ou entregar a direção de veícu- violência doméstica e familiar.
lo automotor a pessoa não habilitada, com habilitação cassada ou
com o direito de dirigir suspenso, ou, ainda, a quem, por seu estado Art. 2o  Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia,
de saúde, física ou mental, ou por embriaguez, não esteja em con- orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e reli-
dições de conduzi-lo com segurança: gião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana,
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa. sendo-lhe asseguradas as oportunidades e facilidades para viver
sem violência, preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiço-
Art. 310-A.  (VETADO)   (Incluído pela Lei nº 12.619, de amento moral, intelectual e social.
2012)
 
Art. 3o  Serão asseguradas às mulheres as condições para o
Art. 311 - Trafegar em velocidade incompatível com a segu-
rança nas proximidades de escolas, hospitais, estações de embar- exercício efetivo dos direitos à vida, à segurança, à saúde, à ali-
que e desembarque de passageiros, logradouros estreitos, ou onde mentação, à educação, à cultura, à moradia, ao acesso à justiça, ao
haja grande movimentação ou concentração de pessoas, gerando esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade,
perigo de dano: ao respeito e à convivência familiar e comunitária.
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa. § 1o  O poder público desenvolverá políticas que visem ga-
  rantir os direitos humanos das mulheres no âmbito das relações
Art. 312 - Inovar artificiosamente, em caso de acidente auto- domésticas e familiares no sentido de resguardá-las de toda forma
mobilístico com vítima, na pendência do respectivo procedimento de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
policial preparatório, inquérito policial ou processo penal, o estado opressão.
de lugar, de coisa ou de pessoa, a fim de induzir a erro o agente § 2o  Cabe à família, à sociedade e ao poder público criar as
policial, o perito, ou juiz: condições necessárias para o efetivo exercício dos direitos enun-
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa. ciados no caput.

Didatismo e Conhecimento 212


NOÇÕES DE DIREITO
Art. 4o  Na interpretação desta Lei, serão considerados os fins V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que
sociais a que ela se destina e, especialmente, as condições pecu- configure calúnia, difamação ou injúria.
liares das mulheres em situação de violência doméstica e familiar.
TÍTULO III
TÍTULO II DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE VIO-
DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MU- LÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR
LHER
CAPÍTULO I
CAPÍTULO I
DAS MEDIDAS INTEGRADAS DE PREVENÇÃO
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 8o  A política pública que visa coibir a violência domésti-
Art. 5o  Para os efeitos desta Lei, configura violência domés- ca e familiar contra a mulher far-se-á por meio de um conjunto ar-
tica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada ticulado de ações da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou Municípios e de ações não-governamentais, tendo por diretrizes:
psicológico e dano moral ou patrimonial: I - a integração operacional do Poder Judiciário, do Ministério
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o Público e da Defensoria Pública com as áreas de segurança públi-
espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo ca, assistência social, saúde, educação, trabalho e habitação;
familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; II - a promoção de estudos e pesquisas, estatísticas e outras
II - no âmbito da família, compreendida como a comunida- informações relevantes, com a perspectiva de gênero e de raça ou
de formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, etnia, concernentes às causas, às consequências e à frequência da
unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa; violência doméstica e familiar contra a mulher, para a sistemati-
zação de dados, a serem unificados nacionalmente, e a avaliação
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor
periódica dos resultados das medidas adotadas;
conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente III - o respeito, nos meios de comunicação social, dos valores
de coabitação. éticos e sociais da pessoa e da família, de forma a coibir os papéis
Parágrafo único.  As relações pessoais enunciadas neste artigo estereotipados que legitimem ou exacerbem a violência doméstica
independem de orientação sexual. e familiar, de acordo com o estabelecido no inciso III do art. 1o,
no inciso IV do art. 3o e no inciso IV do art. 221 da Constituição
Art. 6o  A violência doméstica e familiar contra a mulher cons- Federal;
titui uma das formas de violação dos direitos humanos. IV - a implementação de atendimento policial especializado
para as mulheres, em particular nas Delegacias de Atendimento à
CAPÍTULO II Mulher;
DAS FORMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR V - a promoção e a realização de campanhas educativas de
CONTRA A MULHER prevenção da violência doméstica e familiar contra a mulher, vol-
tadas ao público escolar e à sociedade em geral, e a difusão desta
Lei e dos instrumentos de proteção aos direitos humanos das mu-
Art. 7o  São formas de violência doméstica e familiar contra a lheres;
mulher, entre outras: VI - a celebração de convênios, protocolos, ajustes, termos ou
I - a violência física, entendida como qualquer conduta que outros instrumentos de promoção de parceria entre órgãos gover-
ofenda sua integridade ou saúde corporal; namentais ou entre estes e entidades não-governamentais, tendo
II - a violência psicológica, entendida como qualquer con- por objetivo a implementação de programas de erradicação da vio-
duta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima lência doméstica e familiar contra a mulher;
ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que VII - a capacitação permanente das Polícias Civil e Militar,
vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e da Guarda Municipal, do Corpo de Bombeiros e dos profissionais
decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, mani- pertencentes aos órgãos e às áreas enunciados no inciso I quanto às
pulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, questões de gênero e de raça ou etnia;
insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do di- VIII - a promoção de programas educacionais que dissemi-
reito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à nem valores éticos de irrestrito respeito à dignidade da pessoa hu-
mana com a perspectiva de gênero e de raça ou etnia;
saúde psicológica e à autodeterminação;
IX - o destaque, nos currículos escolares de todos os níveis de
III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que ensino, para os conteúdos relativos aos direitos humanos, à equi-
a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação se- dade de gênero e de raça ou etnia e ao problema da violência do-
xual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso méstica e familiar contra a mulher.
da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer
modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método CAPÍTULO II
contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE VIO-
ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou mani- LÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR
pulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais
e reprodutivos; Art. 9o  A assistência à mulher em situação de violência do-
IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer condu- méstica e familiar será prestada de forma articulada e conforme os
ta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de princípios e as diretrizes previstos na Lei Orgânica da Assistência
seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, Social, no Sistema Único de Saúde, no Sistema Único de Seguran-
valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados ça Pública, entre outras normas e políticas públicas de proteção, e
a satisfazer suas necessidades; emergencialmente quando for o caso.

Didatismo e Conhecimento 213


NOÇÕES DE DIREITO
§ 1o  O juiz determinará, por prazo certo, a inclusão da mu- VII - remeter, no prazo legal, os autos do inquérito policial ao
lher em situação de violência doméstica e familiar no cadastro de juiz e ao Ministério Público.
programas assistenciais do governo federal, estadual e municipal. § 1o  O pedido da ofendida será tomado a termo pela autorida-
§ 2o  O juiz assegurará à mulher em situação de violência do- de policial e deverá conter:
méstica e familiar, para preservar sua integridade física e psicoló- I - qualificação da ofendida e do agressor;
gica: II - nome e idade dos dependentes;
I - acesso prioritário à remoção quando servidora pública, in- III - descrição sucinta do fato e das medidas protetivas solici-
tegrante da administração direta ou indireta; tadas pela ofendida.
II - manutenção do vínculo trabalhista, quando necessário o § 2o  A autoridade policial deverá anexar ao documento referi-
do no § 1o o boletim de ocorrência e cópia de todos os documentos
afastamento do local de trabalho, por até seis meses.
disponíveis em posse da ofendida.
§ 3o  A assistência à mulher em situação de violência domés- § 3o  Serão admitidos como meios de prova os laudos ou pron-
tica e familiar compreenderá o acesso aos benefícios decorrentes tuários médicos fornecidos por hospitais e postos de saúde.
do desenvolvimento científico e tecnológico, incluindo os serviços
de contracepção de emergência, a profilaxia das Doenças Sexual- TÍTULO IV
mente Transmissíveis (DST) e da Síndrome da Imunodeficiência DOS PROCEDIMENTOS
Adquirida (AIDS) e outros procedimentos médicos necessários e
cabíveis nos casos de violência sexual. CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS
CAPÍTULO III
DO ATENDIMENTO PELA AUTORIDADE POLICIAL Art. 13.  Ao processo, ao julgamento e à execução das causas
cíveis e criminais decorrentes da prática de violência doméstica e
Art. 10.  Na hipótese da iminência ou da prática de violên- familiar contra a mulher aplicar-se-ão as normas dos Códigos de
cia doméstica e familiar contra a mulher, a autoridade policial que Processo Penal e Processo Civil e da legislação específica relativa
tomar conhecimento da ocorrência adotará, de imediato, as provi- à criança, ao adolescente e ao idoso que não conflitarem com o
dências legais cabíveis. estabelecido nesta Lei.
Parágrafo único.  Aplica-se o disposto no caput deste artigo ao
Art. 14.  Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar con-
descumprimento de medida protetiva de urgência deferida. tra a Mulher, órgãos da Justiça Ordinária com competência cível
e criminal, poderão ser criados pela União, no Distrito Federal e
Art. 11.  No atendimento à mulher em situação de violência nos Territórios, e pelos Estados, para o processo, o julgamento e a
doméstica e familiar, a autoridade policial deverá, entre outras pro- execução das causas decorrentes da prática de violência doméstica
vidências: e familiar contra a mulher.
I - garantir proteção policial, quando necessário, comunicando Parágrafo único.  Os atos processuais poderão realizar-se em
de imediato ao Ministério Público e ao Poder Judiciário; horário noturno, conforme dispuserem as normas de organização
II - encaminhar a ofendida ao hospital ou posto de saúde e ao judiciária.
Instituto Médico Legal;
III - fornecer transporte para a ofendida e seus dependentes Art. 15.  É competente, por opção da ofendida, para os proces-
para abrigo ou local seguro, quando houver risco de vida; sos cíveis regidos por esta Lei, o Juizado:
IV - se necessário, acompanhar a ofendida para assegurar a I - do seu domicílio ou de sua residência;
retirada de seus pertences do local da ocorrência ou do domicílio II - do lugar do fato em que se baseou a demanda;
familiar; III - do domicílio do agressor.
V - informar à ofendida os direitos a ela conferidos nesta Lei
e os serviços disponíveis. Art. 16.  Nas ações penais públicas condicionadas à repre-
sentação da ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a re-
núncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente
Art. 12.  Em todos os casos de violência doméstica e familiar designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e
contra a mulher, feito o registro da ocorrência, deverá a autoridade ouvido o Ministério Público.
policial adotar, de imediato, os seguintes procedimentos, sem pre-
juízo daqueles previstos no Código de Processo Penal: Art. 17.  É vedada a aplicação, nos casos de violência domés-
I - ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência e tomar a tica e familiar contra a mulher, de penas de cesta básica ou outras
representação a termo, se apresentada; de prestação pecuniária, bem como a substituição de pena que im-
II - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento plique o pagamento isolado de multa.
do fato e de suas circunstâncias;
III - remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, expedien- CAPÍTULO II
te apartado ao juiz com o pedido da ofendida, para a concessão de DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA
medidas protetivas de urgência;
IV - determinar que se proceda ao exame de corpo de delito da Seção I
ofendida e requisitar outros exames periciais necessários; Disposições Gerais
V - ouvir o agressor e as testemunhas;
VI - ordenar a identificação do agressor e fazer juntar aos Art. 18.  Recebido o expediente com o pedido da ofendida,
autos sua folha de antecedentes criminais, indicando a existência caberá ao juiz, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas:
de mandado de prisão ou registro de outras ocorrências policiais I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as me-
contra ele; didas protetivas de urgência;

Didatismo e Conhecimento 214


NOÇÕES DE DIREITO
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao órgão de V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios.
assistência judiciária, quando for o caso; § 1o  As medidas referidas neste artigo não impedem a apli-
III - comunicar ao Ministério Público para que adote as pro- cação de outras previstas na legislação em vigor, sempre que a
vidências cabíveis. segurança da ofendida ou as circunstâncias o exigirem, devendo a
providência ser comunicada ao Ministério Público.
Art. 19.  As medidas protetivas de urgência poderão ser conce- § 2o  Na hipótese de aplicação do inciso I, encontrando-se
didas pelo juiz, a requerimento do Ministério Público ou a pedido o agressor nas condições mencionadas no caput e incisos do art.
da ofendida. 6o da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003, o juiz comunicará
§ 1o  As medidas protetivas de urgência poderão ser concedi- ao respectivo órgão, corporação ou instituição as medidas proteti-
das de imediato, independentemente de audiência das partes e de vas de urgência concedidas e determinará a restrição do porte de
manifestação do Ministério Público, devendo este ser prontamente armas, ficando o superior imediato do agressor responsável pelo
comunicado. cumprimento da determinação judicial, sob pena de incorrer nos
§ 2o  As medidas protetivas de urgência serão aplicadas iso- crimes de prevaricação ou de desobediência, conforme o caso.
lada ou cumulativamente, e poderão ser substituídas a qualquer § 3o  Para garantir a efetividade das medidas protetivas de ur-
tempo por outras de maior eficácia, sempre que os direitos reco- gência, poderá o juiz requisitar, a qualquer momento, auxílio da
nhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados. força policial.
§ 3o  Poderá o juiz, a requerimento do Ministério Público ou a § 4o  Aplica-se às hipóteses previstas neste artigo, no que cou-
pedido da ofendida, conceder novas medidas protetivas de urgên- ber, o disposto no caput e nos §§ 5o e 6º do art. 461 da Lei no 5.869,
cia ou rever aquelas já concedidas, se entender necessário à prote- de 11 de janeiro de 1973 (Código de Processo Civil).
ção da ofendida, de seus familiares e de seu patrimônio, ouvido o
Ministério Público. Seção III
Das Medidas Protetivas de Urgência à Ofendida
Art. 20.  Em qualquer fase do inquérito policial ou da ins-
trução criminal, caberá a prisão preventiva do agressor, decretada Art. 23.  Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de
pelo juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou me- outras medidas:
diante representação da autoridade policial. I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa ofi-
Parágrafo único.  O juiz poderá revogar a prisão preventiva cial ou comunitário de proteção ou de atendimento;
se, no curso do processo, verificar a falta de motivo para que sub- II - determinar a recondução da ofendida e a de seus depen-
sista, bem como de novo decretá-la, se sobrevierem razões que a dentes ao respectivo domicílio, após afastamento do agressor;
justifiquem. III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo
dos direitos relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos;
Art. 21.  A ofendida deverá ser notificada dos atos processuais IV - determinar a separação de corpos.
relativos ao agressor, especialmente dos pertinentes ao ingresso e
à saída da prisão, sem prejuízo da intimação do advogado consti- Art. 24.  Para a proteção patrimonial dos bens da sociedade
tuído ou do defensor público. conjugal ou daqueles de propriedade particular da mulher, o juiz
Parágrafo único.  A ofendida não poderá entregar intimação poderá determinar, liminarmente, as seguintes medidas, entre ou-
ou notificação ao agressor. tras:
I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor
Seção II à ofendida;
Das Medidas Protetivas de Urgência que Obrigam o Agressor II - proibição temporária para a celebração de atos e contratos
de compra, venda e locação de propriedade em comum, salvo ex-
Art. 22.  Constatada a prática de violência doméstica e fami- pressa autorização judicial;
liar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de III - suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao
imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes agressor;
medidas protetivas de urgência, entre outras: IV - prestação de caução provisória, mediante depósito judi-
I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com cial, por perdas e danos materiais decorrentes da prática de violên-
comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei no 10.826, cia doméstica e familiar contra a ofendida.
de 22 de dezembro de 2003; Parágrafo único.  Deverá o juiz oficiar ao cartório competente
II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com para os fins previstos nos incisos II e III deste artigo.
a ofendida;
III - proibição de determinadas condutas, entre as quais: CAPÍTULO III
a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemu- DA ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO
nhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor;
b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por Art. 25.  O Ministério Público intervirá, quando não for parte,
qualquer meio de comunicação; nas causas cíveis e criminais decorrentes da violência doméstica e
c) frequentação de determinados lugares a fim de preservar a familiar contra a mulher.
integridade física e psicológica da ofendida;
IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes meno- Art. 26.  Caberá ao Ministério Público, sem prejuízo de outras
res, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço atribuições, nos casos de violência doméstica e familiar contra a
similar; mulher, quando necessário:

Didatismo e Conhecimento 215


NOÇÕES DE DIREITO
I - requisitar força policial e serviços públicos de saúde, de TÍTULO VII
educação, de assistência social e de segurança, entre outros; DISPOSIÇÕES FINAIS
II - fiscalizar os estabelecimentos públicos e particulares de
atendimento à mulher em situação de violência doméstica e fami- Art. 34.  A instituição dos Juizados de Violência Doméstica
liar, e adotar, de imediato, as medidas administrativas ou judiciais e Familiar contra a Mulher poderá ser acompanhada pela implan-
cabíveis no tocante a quaisquer irregularidades constatadas; tação das curadorias necessárias e do serviço de assistência judi-
III - cadastrar os casos de violência doméstica e familiar con- ciária.
tra a mulher.
Art. 35.  A União, o Distrito Federal, os Estados e os Muni-
CAPÍTULO IV cípios poderão criar e promover, no limite das respectivas compe-
DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA tências:
I - centros de atendimento integral e multidisciplinar para mu-
Art. 27.  Em todos os atos processuais, cíveis e criminais, a lheres e respectivos dependentes em situação de violência domés-
mulher em situação de violência doméstica e familiar deverá estar tica e familiar;
acompanhada de advogado, ressalvado o previsto no art. 19 desta II - casas-abrigos para mulheres e respectivos dependentes
Lei. menores em situação de violência doméstica e familiar;
III - delegacias, núcleos de defensoria pública, serviços de
Art. 28.  É garantido a toda mulher em situação de violência saúde e centros de perícia médico-legal especializados no aten-
doméstica e familiar o acesso aos serviços de Defensoria Pública dimento à mulher em situação de violência doméstica e familiar;
ou de Assistência Judiciária Gratuita, nos termos da lei, em sede IV - programas e campanhas de enfrentamento da violência
policial e judicial, mediante atendimento específico e humanizado. doméstica e familiar;
V - centros de educação e de reabilitação para os agressores.
TÍTULO V
Art. 36.  A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municí-
DA EQUIPE DE ATENDIMENTO MULTIDISCIPLINAR
pios promoverão a adaptação de seus órgãos e de seus programas
às diretrizes e aos princípios desta Lei.
Art. 29.  Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar con-
tra a Mulher que vierem a ser criados poderão contar com uma
Art. 37.  A defesa dos interesses e direitos transindividuais
equipe de atendimento multidisciplinar, a ser integrada por profis-
previstos nesta Lei poderá ser exercida, concorrentemente, pelo
sionais especializados nas áreas psicossocial, jurídica e de saúde.
Ministério Público e por associação de atuação na área, regular-
mente constituída há pelo menos um ano, nos termos da legislação
Art. 30.  Compete à equipe de atendimento multidisciplinar, civil.
entre outras atribuições que lhe forem reservadas pela legislação Parágrafo único.  O requisito da pré-constituição poderá ser
local, fornecer subsídios por escrito ao juiz, ao Ministério Público dispensado pelo juiz quando entender que não há outra entidade
e à Defensoria Pública, mediante laudos ou verbalmente em au- com representatividade adequada para o ajuizamento da demanda
diência, e desenvolver trabalhos de orientação, encaminhamento, coletiva.
prevenção e outras medidas, voltados para a ofendida, o agressor e
os familiares, com especial atenção às crianças e aos adolescentes. Art. 38.  As estatísticas sobre a violência doméstica e familiar
contra a mulher serão incluídas nas bases de dados dos órgãos ofi-
Art. 31.  Quando a complexidade do caso exigir avaliação ciais do Sistema de Justiça e Segurança a fim de subsidiar o siste-
mais aprofundada, o juiz poderá determinar a manifestação de pro- ma nacional de dados e informações relativo às mulheres.
fissional especializado, mediante a indicação da equipe de atendi- Parágrafo único.  As Secretarias de Segurança Pública dos
mento multidisciplinar. Estados e do Distrito Federal poderão remeter suas informações
criminais para a base de dados do Ministério da Justiça.
Art. 32.  O Poder Judiciário, na elaboração de sua proposta
orçamentária, poderá prever recursos para a criação e manutenção Art. 39.  A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municí-
da equipe de atendimento multidisciplinar, nos termos da Lei de pios, no limite de suas competências e nos termos das respectivas
Diretrizes Orçamentárias. leis de diretrizes orçamentárias, poderão estabelecer dotações or-
çamentárias específicas, em cada exercício financeiro, para a im-
TÍTULO VI plementação das medidas estabelecidas nesta Lei.
DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS
Art. 40.  As obrigações previstas nesta Lei não excluem outras
Art. 33.  Enquanto não estruturados os Juizados de Violência decorrentes dos princípios por ela adotados.
Doméstica e Familiar contra a Mulher, as varas criminais acumu-
larão as competências cível e criminal para conhecer e julgar as Art. 41.  Aos crimes praticados com violência doméstica e fa-
causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar miliar contra a mulher, independentemente da pena prevista, não
contra a mulher, observadas as previsões do Título IV desta Lei, se aplica a Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995.
subsidiada pela legislação processual pertinente.
Parágrafo único.  Será garantido o direito de preferência, nas Art. 42.  O art. 313 do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro
varas criminais, para o processo e o julgamento das causas referi- de 1941 (Código de Processo Penal), passa a vigorar acrescido do
das no caput. seguinte inciso IV:

Didatismo e Conhecimento 216


NOÇÕES DE DIREITO
“Art. 313.  ................................................. Art. 28.  Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transpor-
................................................................ tar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autori-
IV - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra zação ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar
a mulher, nos termos da lei específica, para garantir a execução das será submetido às seguintes penas:
medidas protetivas de urgência.” (NR) I - advertência sobre os efeitos das drogas;
II - prestação de serviços à comunidade;
Art. 43.  A alínea f do inciso II do art. 61 do Decreto-Lei III - medida educativa de comparecimento a programa ou cur-
no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), passa a vigo- so educativo.
rar com a seguinte redação: § 1o  Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo
“Art. 61.  .................................................. pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação
................................................................. de pequena quantidade de substância ou produto capaz de causar
dependência física ou psíquica.
II - ............................................................
§ 2o  Para determinar se a droga destinava-se a consumo pes-
.................................................................
soal, o juiz atenderá à natureza e à quantidade da substância apre-
f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações endida, ao local e às condições em que se desenvolveu a ação,
domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, ou com violência às circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos
contra a mulher na forma da lei específica; antecedentes do agente.
........................................................... ” (NR) § 3o  As penas previstas nos incisos II e III do caput deste arti-
go serão aplicadas pelo prazo máximo de 5 (cinco) meses.
Art. 44.  O art. 129 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro § 4o  Em caso de reincidência, as penas previstas nos incisos
de 1940 (Código Penal), passa a vigorar com as seguintes altera- II e III do caput deste artigo serão aplicadas pelo prazo máximo de
ções: 10 (dez) meses.
“Art. 129.  .................................................. § 5o  A prestação de serviços à comunidade será cumprida em
.................................................................. programas comunitários, entidades educacionais ou assistenciais,
§ 9o  Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, hospitais, estabelecimentos congêneres, públicos ou privados sem
irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha fins lucrativos, que se ocupem, preferencialmente, da prevenção do
convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações do- consumo ou da recuperação de usuários e dependentes de drogas.
mésticas, de coabitação ou de hospitalidade: § 6o  Para garantia do cumprimento das medidas educativas a
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. que se refere o caput, nos incisos I, II e III, a que injustificadamen-
.................................................................. te se recuse o agente, poderá o juiz submetê-lo, sucessivamente a:
§ 11.  Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será aumentada I - admoestação verbal;
de um terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de II - multa.
deficiência.” (NR) § 7o  O juiz determinará ao Poder Público que coloque à dispo-
Art. 45.  O art. 152 da Lei no 7.210, de 11 de julho de 1984 (Lei sição do infrator, gratuitamente, estabelecimento de saúde, prefe-
de Execução Penal), passa a vigorar com a seguinte redação: rencialmente ambulatorial, para tratamento especializado.
“Art. 152.  ...................................................
Parágrafo único.  Nos casos de violência doméstica contra a Art. 29.  Na imposição da medida educativa a que se refere o
mulher, o juiz poderá determinar o comparecimento obrigatório do inciso II do § 6o do art. 28, o juiz, atendendo à reprovabilidade da
conduta, fixará o número de dias-multa, em quantidade nunca in-
agressor a programas de recuperação e reeducação.” (NR)
ferior a 40 (quarenta) nem superior a 100 (cem), atribuindo depois
a cada um, segundo a capacidade econômica do agente, o valor de
Art. 46.  Esta Lei entra em vigor 45 (quarenta e cinco) dias um trinta avos até 3 (três) vezes o valor do maior salário mínimo.
após sua publicação. Parágrafo único.  Os valores decorrentes da imposição da
multa a que se refere o § 6o do art. 28 serão creditados à conta do
Brasília,  7  de  agosto  de 2006; 185o  da Independência e Fundo Nacional Antidrogas.
118o da República.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA  Art. 30.  Prescrevem em 2 (dois) anos a imposição e a exe-
Dilma Rousseff cução das penas, observado, no tocante à interrupção do prazo, o
Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 8.8.2006 disposto nos arts. 107 e seguintes do Código Penal.

TÍTULO IV
DA REPRESSÃO À PRODUÇÃO NÃO AUTORIZADA
2.5.9 LEI SOBRE DROGAS – E AO TRÁFICO ILÍCITO DE DROGAS
LEI N.º 11.343/06 – ARTIGOS 27 AO 53
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS

CAPÍTULO III Art. 31.  É indispensável a licença prévia da autoridade com-


DOS CRIMES E DAS PENAS petente para produzir, extrair, fabricar, transformar, preparar, pos-
suir, manter em depósito, importar, exportar, reexportar, remeter,
Art. 27.  As penas previstas neste Capítulo poderão ser apli- transportar, expor, oferecer, vender, comprar, trocar, ceder ou ad-
cadas isolada ou cumulativamente, bem como substituídas a qual- quirir, para qualquer fim, drogas ou matéria-prima destinada à sua
quer tempo, ouvidos o Ministério Público e o defensor. preparação, observadas as demais exigências legais.

Didatismo e Conhecimento 217


NOÇÕES DE DIREITO
Art. 32.  As plantações ilícitas serão imediatamente destruídas § 4o  Nos delitos definidos no caput e no § 1o deste artigo, as
pelas autoridades de polícia judiciária, que recolherão quantidade penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, vedada
suficiente para exame pericial, de tudo lavrando auto de levan- a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o agente
tamento das condições encontradas, com a delimitação do local, seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades
asseguradas as medidas necessárias para a preservação da prova. criminosas nem integre organização criminosa. (Vide Resolução
§ 1o  A destruição de drogas far-se-á por incineração, no prazo nº 5, de 2012).
máximo de 30 (trinta) dias, guardando-se as amostras necessárias
à preservação da prova. Art. 34.  Fabricar, adquirir, utilizar, transportar, oferecer, ven-
der, distribuir, entregar a qualquer título, possuir, guardar ou for-
§ 2o  A incineração prevista no § 1o deste artigo será precedida
necer, ainda que gratuitamente, maquinário, aparelho, instrumento
de autorização judicial, ouvido o Ministério Público, e executada ou qualquer objeto destinado à fabricação, preparação, produção
pela autoridade de polícia judiciária competente, na presença de ou transformação de drogas, sem autorização ou em desacordo
representante do Ministério Público e da autoridade sanitária com- com determinação legal ou regulamentar:
petente, mediante auto circunstanciado e após a perícia realizada Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de
no local da incineração. 1.200 (mil e duzentos) a 2.000 (dois mil) dias-multa.
§ 3o  Em caso de ser utilizada a queimada para destruir a plan-
tação, observar-se-á, além das cautelas necessárias à proteção ao Art. 35.  Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de
meio ambiente, o disposto no Decreto no 2.661, de 8 de julho de praticar, reiteradamente ou não, qualquer dos crimes previstos nos
1998, no que couber, dispensada a autorização prévia do órgão arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei:
próprio do Sistema Nacional do Meio Ambiente - Sisnama. Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de
§ 4o  As glebas cultivadas com plantações ilícitas serão expro- 700 (setecentos) a 1.200 (mil e duzentos) dias-multa.
priadas, conforme o disposto no art. 243 da Constituição Federal, Parágrafo único.  Nas mesmas penas do caput deste artigo in-
corre quem se associa para a prática reiterada do crime definido no
de acordo com a legislação em vigor.
art. 36 desta Lei.
CAPÍTULO II Art. 36.  Financiar ou custear a prática de qualquer dos crimes
DOS CRIMES previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 20 (vinte) anos, e pagamento de
Art. 33.  Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fa- 1.500 (mil e quinhentos) a 4.000 (quatro mil) dias-multa.
bricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito,
transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar Art. 37.  Colaborar, como informante, com grupo, organiza-
a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem auto- ção ou associação destinados à prática de qualquer dos crimes pre-
rização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: vistos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei:
Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e pagamento de
de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa. 300 (trezentos) a 700 (setecentos) dias-multa.
§ 1o  Nas mesmas penas incorre quem:
Art. 38.  Prescrever ou ministrar, culposamente, drogas, sem
I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende,
que delas necessite o paciente, ou fazê-lo em doses excessivas ou
expõe à venda, oferece, fornece, tem em depósito, transporta, traz
em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
consigo ou guarda, ainda que gratuitamente, sem autorização ou Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e pagamen-
em desacordo com determinação legal ou regulamentar, matéria- to de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) dias-multa.
-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de Parágrafo único.  O juiz comunicará a condenação ao Conse-
drogas; lho Federal da categoria profissional a que pertença o agente.
II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em
desacordo com determinação legal ou regulamentar, de plantas Art. 39.  Conduzir embarcação ou aeronave após o consumo
que se constituam em matéria-prima para a preparação de drogas; de drogas, expondo a dano potencial a incolumidade de outrem:
III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, além da
propriedade, posse, administração, guarda ou vigilância, ou con- apreensão do veículo, cassação da habilitação respectiva ou proi-
sente que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, sem au- bição de obtê-la, pelo mesmo prazo da pena privativa de liberda-
torização ou em desacordo com determinação legal ou regulamen- de aplicada, e pagamento de 200 (duzentos) a 400 (quatrocentos)
tar, para o tráfico ilícito de drogas. dias-multa.
Parágrafo único.  As penas de prisão e multa, aplicadas cumu-
§ 2o  Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de
lativamente com as demais, serão de 4 (quatro) a 6 (seis) anos e de
droga: (Vide ADI 4274) 400 (quatrocentos) a 600 (seiscentos) dias-multa, se o veículo refe-
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa de 100 rido no caput deste artigo for de transporte coletivo de passageiros.
(cem) a 300 (trezentos) dias-multa.
§ 3o  Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a Art. 40.  As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são
pessoa de seu relacionamento, para juntos a consumirem: aumentadas de um sexto a dois terços, se:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento I - a natureza, a procedência da substância ou do produto apre-
de 700 (setecentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa, sem endido e as circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionali-
prejuízo das penas previstas no art. 28. dade do delito;

Didatismo e Conhecimento 218


NOÇÕES DE DIREITO
II - o agente praticar o crime prevalecendo-se de função pú- Art. 46.  As penas podem ser reduzidas de um terço a dois
blica ou no desempenho de missão de educação, poder familiar, terços se, por força das circunstâncias previstas no art. 45 desta
guarda ou vigilância; Lei, o agente não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena
III - a infração tiver sido cometida nas dependências ou ime- capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se
diações de estabelecimentos prisionais, de ensino ou hospitalares, de acordo com esse entendimento.
de sedes de entidades estudantis, sociais, culturais, recreativas,
esportivas, ou beneficentes, de locais de trabalho coletivo, de re- Art. 47.  Na sentença condenatória, o juiz, com base em ava-
cintos onde se realizem espetáculos ou diversões de qualquer na- liação que ateste a necessidade de encaminhamento do agente para
tureza, de serviços de tratamento de dependentes de drogas ou de tratamento, realizada por profissional de saúde com competência
reinserção social, de unidades militares ou policiais ou em trans- específica na forma da lei, determinará que a tal se proceda, obser-
portes públicos; vado o disposto no art. 26 desta Lei.
IV - o crime tiver sido praticado com violência, grave ameaça,
emprego de arma de fogo, ou qualquer processo de intimidação CAPÍTULO III
difusa ou coletiva; DO PROCEDIMENTO PENAL
V - caracterizado o tráfico entre Estados da Federação ou entre
estes e o Distrito Federal; Art. 48.  O procedimento relativo aos processos por crimes
VI - sua prática envolver ou visar a atingir criança ou adoles- definidos neste Título rege-se pelo disposto neste Capítulo, apli-
cente ou a quem tenha, por qualquer motivo, diminuída ou supri- cando-se, subsidiariamente, as disposições do Código de Processo
mida a capacidade de entendimento e determinação; Penal e da Lei de Execução Penal.
VII - o agente financiar ou custear a prática do crime. § 1o  O agente de qualquer das condutas previstas no art. 28
desta Lei, salvo se houver concurso com os crimes previstos nos
Art. 41.  O indiciado ou acusado que colaborar voluntaria- arts. 33 a 37 desta Lei, será processado e julgado na forma dos arts.
mente com a investigação policial e o processo criminal na identi- 60 e seguintes da Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995, que
ficação dos demais coautores ou partícipes do crime e na recupera- dispõe sobre os Juizados Especiais Criminais.
ção total ou parcial do produto do crime, no caso de condenação, § 2o  Tratando-se da conduta prevista no art. 28 desta Lei, não
terá pena reduzida de um terço a dois terços. se imporá prisão em flagrante, devendo o autor do fato ser ime-
diatamente encaminhado ao juízo competente ou, na falta deste,
Art. 42.  O juiz, na fixação das penas, considerará, com pre- assumir o compromisso de a ele comparecer, lavrando-se termo
ponderância sobre o previsto no art. 59 do Código Penal, a nature- circunstanciado e providenciando-se as requisições dos exames e
za e a quantidade da substância ou do produto, a personalidade e a
perícias necessários.
conduta social do agente.
§ 3o  Se ausente a autoridade judicial, as providências previs-
tas no § 2o deste artigo serão tomadas de imediato pela autoridade
Art. 43.  Na fixação da multa a que se referem os arts. 33 a
policial, no local em que se encontrar, vedada a detenção do agen-
39 desta Lei, o juiz, atendendo ao que dispõe o art. 42 desta Lei,
te.
determinará o número de dias-multa, atribuindo a cada um, segun-
§ 4o  Concluídos os procedimentos de que trata o § 2o deste
do as condições econômicas dos acusados, valor não inferior a um
trinta avos nem superior a 5 (cinco) vezes o maior salário-mínimo. artigo, o agente será submetido a exame de corpo de delito, se o
Parágrafo único.  As multas, que em caso de concurso de cri- requerer ou se a autoridade de polícia judiciária entender conve-
mes serão impostas sempre cumulativamente, podem ser aumenta- niente, e em seguida liberado.
das até o décuplo se, em virtude da situação econômica do acusa- § 5o  Para os fins do disposto no art. 76 da Lei no 9.099, de
do, considerá-las o juiz ineficazes, ainda que aplicadas no máximo. 1995, que dispõe sobre os Juizados Especiais Criminais, o Minis-
tério Público poderá propor a aplicação imediata de pena prevista
Art. 44.  Os crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 no art. 28 desta Lei, a ser especificada na proposta.
a 37 desta Lei são inafiançáveis e insuscetíveis de sursis, graça,
indulto, anistia e liberdade provisória, vedada a conversão de suas Art. 49.  Tratando-se de condutas tipificadas nos arts. 33, ca-
penas em restritivas de direitos. put e § 1o, e 34 a 37 desta Lei, o juiz, sempre que as circunstâncias
Parágrafo único.  Nos crimes previstos no caput deste artigo, o recomendem, empregará os instrumentos protetivos de colabo-
dar-se-á o livramento condicional após o cumprimento de dois ter- radores e testemunhas previstos na Lei no 9.807, de 13 de julho de
ços da pena, vedada sua concessão ao reincidente específico. 1999.

Art. 45.  É isento de pena o agente que, em razão da de- Seção I


pendência, ou sob o efeito, proveniente de caso fortuito ou força Da Investigação
maior, de droga, era, ao tempo da ação ou da omissão, qualquer
que tenha sido a infração penal praticada, inteiramente incapaz de Art. 50.  Ocorrendo prisão em flagrante, a autoridade de polí-
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo cia judiciária fará, imediatamente, comunicação ao juiz competen-
com esse entendimento. te, remetendo-lhe cópia do auto lavrado, do qual será dada vista ao
Parágrafo único.  Quando absolver o agente, reconhecendo, órgão do Ministério Público, em 24 (vinte e quatro) horas.
por força pericial, que este apresentava, à época do fato previsto § 1o  Para efeito da lavratura do auto de prisão em flagrante e
neste artigo, as condições referidas no caput deste artigo, poderá estabelecimento da materialidade do delito, é suficiente o laudo de
determinar o juiz, na sentença, o seu encaminhamento para trata- constatação da natureza e quantidade da droga, firmado por perito
mento médico adequado. oficial ou, na falta deste, por pessoa idônea.

Didatismo e Conhecimento 219


NOÇÕES DE DIREITO
§ 2o  O perito que subscrever o laudo a que se refere o § 1o A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Con-
deste artigo não ficará impedido de participar da elaboração do gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
laudo definitivo.
CAPÍTULO I
Art. 51.  O inquérito policial será concluído no prazo de 30 DA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA
(trinta) dias, se o indiciado estiver preso, e de 90 (noventa) dias,
quando solto. Art. 1o  Esta Lei define organização criminosa e dispõe sobre
Parágrafo único.  Os prazos a que se refere este artigo podem a investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações
ser duplicados pelo juiz, ouvido o Ministério Público, mediante penais correlatas e o procedimento criminal a ser aplicado.
pedido justificado da autoridade de polícia judiciária. § 1o  Considera-se organização criminosa a associação de 4
(quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracteriza-
Art. 52.  Findos os prazos a que se refere o art. 51 desta Lei, da pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo
a autoridade de polícia judiciária, remetendo os autos do inquérito de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza,
ao juízo: mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam
I - relatará sumariamente as circunstâncias do fato, justifican- superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional.
do as razões que a levaram à classificação do delito, indicando a § 2o  Esta Lei se aplica também:
quantidade e natureza da substância ou do produto apreendido, o I - às infrações penais previstas em tratado ou convenção in-
local e as condições em que se desenvolveu a ação criminosa, as ternacional quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha
circunstâncias da prisão, a conduta, a qualificação e os anteceden- ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;
tes do agente; ou II - às organizações terroristas internacionais, reconhecidas
II - requererá sua devolução para a realização de diligências segundo as normas de direito internacional, por foro do qual o
necessárias. Brasil faça parte, cujos atos de suporte ao terrorismo, bem como
Parágrafo único.  A remessa dos autos far-se-á sem prejuízo de os atos preparatórios ou de execução de atos terroristas, ocorram
diligências complementares: ou possam ocorrer em território nacional.
I - necessárias ou úteis à plena elucidação do fato, cujo resul-
tado deverá ser encaminhado ao juízo competente até 3 (três) dias Art. 2o   Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoal-
antes da audiência de instrução e julgamento; mente ou por interposta pessoa, organização criminosa:
II - necessárias ou úteis à indicação dos bens, direitos e valo- Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa, sem pre-
res de que seja titular o agente, ou que figurem em seu nome, cujo juízo das penas correspondentes às demais infrações penais prati-
resultado deverá ser encaminhado ao juízo competente até 3 (três) cadas.
dias antes da audiência de instrução e julgamento. § 1o  Nas mesmas penas incorre quem impede ou, de qualquer
forma, embaraça a investigação de infração penal que envolva or-
Art. 53.  Em qualquer fase da persecução criminal relativa aos ganização criminosa.
crimes previstos nesta Lei, são permitidos, além dos previstos em § 2o  As penas aumentam-se até a metade se na atuação da
lei, mediante autorização judicial e ouvido o Ministério Público, os organização criminosa houver emprego de arma de fogo.
seguintes procedimentos investigatórios: § 3o  A pena é agravada para quem exerce o comando, indivi-
I - a infiltração por agentes de polícia, em tarefas de investiga- dual ou coletivo, da organização criminosa, ainda que não pratique
ção, constituída pelos órgãos especializados pertinentes; pessoalmente atos de execução.
II - a não-atuação policial sobre os portadores de drogas, seus § 4o  A pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois terços):
precursores químicos ou outros produtos utilizados em sua produ- I - se há participação de criança ou adolescente;
ção, que se encontrem no território brasileiro, com a finalidade de II - se há concurso de funcionário público, valendo-se a orga-
identificar e responsabilizar maior número de integrantes de opera- nização criminosa dessa condição para a prática de infração penal;
ções de tráfico e distribuição, sem prejuízo da ação penal cabível. III - se o produto ou proveito da infração penal destinar-se, no
Parágrafo único.  Na hipótese do inciso II deste artigo, a au- todo ou em parte, ao exterior;
torização será concedida desde que sejam conhecidos o itinerário IV - se a organização criminosa mantém conexão com outras
provável e a identificação dos agentes do delito ou de colabora- organizações criminosas independentes;
dores. V - se as circunstâncias do fato evidenciarem a transnaciona-
lidade da organização.
§ 5o  Se houver indícios suficientes de que o funcionário pú-
2.5.10 LEI DO CRIME ORGANIZADO – blico integra organização criminosa, poderá o juiz determinar seu
LEI Nº 12.850/13 afastamento cautelar do cargo, emprego ou função, sem prejuízo
da remuneração, quando a medida se fizer necessária à investiga-
ção ou instrução processual.
§ 6o  A condenação com trânsito em julgado acarretará ao fun-
LEI Nº 12.850, DE 2 DE AGOSTO DE 2013. cionário público a perda do cargo, função, emprego ou mandato
eletivo e a interdição para o exercício de função ou cargo público
Define organização criminosa e dispõe sobre a investigação pelo prazo de 8 (oito) anos subsequentes ao cumprimento da pena.
criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais corre- § 7o  Se houver indícios de participação de policial nos crimes
latas e o procedimento criminal; altera o Decreto-Lei no 2.848, de de que trata esta Lei, a Corregedoria de Polícia instaurará inquérito
7 de dezembro de 1940 (Código Penal); revoga a Lei no 9.034, de policial e comunicará ao Ministério Público, que designará mem-
3 de maio de 1995; e dá outras providências. bro para acompanhar o feito até a sua conclusão.

Didatismo e Conhecimento 220


NOÇÕES DE DIREITO
CAPÍTULO II § 4o  Nas mesmas hipóteses do caput, o Ministério Público
DA INVESTIGAÇÃO E DOS MEIOS DE OBTENÇÃO DA poderá deixar de oferecer denúncia se o colaborador:
PROVA I - não for o líder da organização criminosa;
II - for o primeiro a prestar efetiva colaboração nos termos
Art. 3o  Em qualquer fase da persecução penal, serão permiti- deste artigo.
dos, sem prejuízo de outros já previstos em lei, os seguintes meios § 5o  Se a colaboração for posterior à sentença, a pena poderá
de obtenção da prova: ser reduzida até a metade ou será admitida a progressão de regime
I - colaboração premiada; ainda que ausentes os requisitos objetivos.
II - captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou § 6o  O juiz não participará das negociações realizadas entre
acústicos; as partes para a formalização do acordo de colaboração, que ocor-
III - ação controlada; rerá entre o delegado de polícia, o investigado e o defensor, com
IV - acesso a registros de ligações telefônicas e telemáticas, a a manifestação do Ministério Público, ou, conforme o caso, entre
dados cadastrais constantes de bancos de dados públicos ou priva- o Ministério Público e o investigado ou acusado e seu defensor.
dos e a informações eleitorais ou comerciais; § 7o  Realizado o acordo na forma do § 6o, o respectivo termo,
V - interceptação de comunicações telefônicas e telemáticas, acompanhado das declarações do colaborador e de cópia da inves-
nos termos da legislação específica; tigação, será remetido ao juiz para homologação, o qual deverá
VI - afastamento dos sigilos financeiro, bancário e fiscal, nos verificar sua regularidade, legalidade e voluntariedade, podendo
termos da legislação específica; para este fim, sigilosamente, ouvir o colaborador, na presença de
VII - infiltração, por policiais, em atividade de investigação, seu defensor.
na forma do art. 11; § 8o  O juiz poderá recusar homologação à proposta que não
VIII - cooperação entre instituições e órgãos federais, distri- atender aos requisitos legais, ou adequá-la ao caso concreto.
tais, estaduais e municipais na busca de provas e informações de § 9o  Depois de homologado o acordo, o colaborador poderá,
interesse da investigação ou da instrução criminal. sempre acompanhado pelo seu defensor, ser ouvido pelo membro
do Ministério Público ou pelo delegado de polícia responsável pe-
Seção I las investigações.
Da Colaboração Premiada § 10.  As partes podem retratar-se da proposta, caso em que as
provas autoincriminatórias produzidas pelo colaborador não pode-
Art. 4o  O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o rão ser utilizadas exclusivamente em seu desfavor.
perdão judicial, reduzir em até 2/3 (dois terços) a pena privativa § 11.  A sentença apreciará os termos do acordo homologado
de liberdade ou substituí-la por restritiva de direitos daquele que e sua eficácia.
tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e § 12.  Ainda que beneficiado por perdão judicial ou não de-
com o processo criminal, desde que dessa colaboração advenha nunciado, o colaborador poderá ser ouvido em juízo a requerimen-
um ou mais dos seguintes resultados: to das partes ou por iniciativa da autoridade judicial.
I - a identificação dos demais coautores e partícipes da organi- § 13.  Sempre que possível, o registro dos atos de colaboração
zação criminosa e das infrações penais por eles praticadas; será feito pelos meios ou recursos de gravação magnética, esteno-
II - a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas tipia, digital ou técnica similar, inclusive audiovisual, destinados a
da organização criminosa; obter maior fidelidade das informações.
III - a prevenção de infrações penais decorrentes das ativida- § 14.  Nos depoimentos que prestar, o colaborador renunciará,
des da organização criminosa; na presença de seu defensor, ao direito ao silêncio e estará sujeito
IV - a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito ao compromisso legal de dizer a verdade.
das infrações penais praticadas pela organização criminosa; § 15.  Em todos os atos de negociação, confirmação e execu-
V - a localização de eventual vítima com a sua integridade ção da colaboração, o colaborador deverá estar assistido por de-
física preservada. fensor.
§ 1o  Em qualquer caso, a concessão do benefício levará em § 16.  Nenhuma sentença condenatória será proferida com
conta a personalidade do colaborador, a natureza, as circunstân- fundamento apenas nas declarações de agente colaborador.
cias, a gravidade e a repercussão social do fato criminoso e a efi-
cácia da colaboração. Art. 5o  São direitos do colaborador:
§ 2o  Considerando a relevância da colaboração prestada, o I - usufruir das medidas de proteção previstas na legislação
Ministério Público, a qualquer tempo, e o delegado de polícia, nos específica;
autos do inquérito policial, com a manifestação do Ministério Pú- II - ter nome, qualificação, imagem e demais informações pes-
blico, poderão requerer ou representar ao juiz pela concessão de soais preservados;
perdão judicial ao colaborador, ainda que esse benefício não te- III - ser conduzido, em juízo, separadamente dos demais co-
nha sido previsto na proposta inicial, aplicando-se, no que couber, autores e partícipes;
o art. 28 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código IV - participar das audiências sem contato visual com os ou-
de Processo Penal). tros acusados;
§ 3o  O prazo para oferecimento de denúncia ou o processo, V - não ter sua identidade revelada pelos meios de comunica-
relativos ao colaborador, poderá ser suspenso por até 6 (seis) me- ção, nem ser fotografado ou filmado, sem sua prévia autorização
ses, prorrogáveis por igual período, até que sejam cumpridas as por escrito;
medidas de colaboração, suspendendo-se o respectivo prazo pres- VI - cumprir pena em estabelecimento penal diverso dos de-
cricional. mais corréus ou condenados.

Didatismo e Conhecimento 221


NOÇÕES DE DIREITO
Art. 6o  O termo de acordo da colaboração premiada deverá Seção III
ser feito por escrito e conter: Da Infiltração de Agentes
I - o relato da colaboração e seus possíveis resultados;
II - as condições da proposta do Ministério Público ou do de- Art. 10.   A infiltração de agentes de polícia em tarefas de
legado de polícia; investigação, representada pelo delegado de polícia ou requerida
III - a declaração de aceitação do colaborador e de seu defen- pelo Ministério Público, após manifestação técnica do delegado de
sor; polícia quando solicitada no curso de inquérito policial, será prece-
IV - as assinaturas do representante do Ministério Público ou dida de circunstanciada, motivada e sigilosa autorização judicial,
do delegado de polícia, do colaborador e de seu defensor; que estabelecerá seus limites.
§ 1o  Na hipótese de representação do delegado de polícia, o
V - a especificação das medidas de proteção ao colaborador e
juiz competente, antes de decidir, ouvirá o Ministério Público.
à sua família, quando necessário.
§ 2o  Será admitida a infiltração se houver indícios de infração
penal de que trata o art. 1o e se a prova não puder ser produzida por
Art. 7o  O pedido de homologação do acordo será sigilosa- outros meios disponíveis.
mente distribuído, contendo apenas informações que não possam § 3o  A infiltração será autorizada pelo prazo de até 6 (seis) me-
identificar o colaborador e o seu objeto. ses, sem prejuízo de eventuais renovações, desde que comprovada
§ 1o  As informações pormenorizadas da colaboração serão di- sua necessidade.
rigidas diretamente ao juiz a que recair a distribuição, que decidirá § 4o  Findo o prazo previsto no § 3o, o relatório circunstancia-
no prazo de 48 (quarenta e oito) horas. do será apresentado ao juiz competente, que imediatamente cienti-
§ 2o  O acesso aos autos será restrito ao juiz, ao Ministério ficará o Ministério Público.
Público e ao delegado de polícia, como forma de garantir o êxito § 5o  No curso do inquérito policial, o delegado de polícia
das investigações, assegurando-se ao defensor, no interesse do re- poderá determinar aos seus agentes, e o Ministério Público poderá
presentado, amplo acesso aos elementos de prova que digam res- requisitar, a qualquer tempo, relatório da atividade de infiltração.
peito ao exercício do direito de defesa, devidamente precedido de
autorização judicial, ressalvados os referentes às diligências em Art. 11.  O requerimento do Ministério Público ou a represen-
andamento. tação do delegado de polícia para a infiltração de agentes conterão
§ 3o  O acordo de colaboração premiada deixa de ser sigiloso a demonstração da necessidade da medida, o alcance das tarefas
assim que recebida a denúncia, observado o disposto no art. 5o. dos agentes e, quando possível, os nomes ou apelidos das pessoas
investigadas e o local da infiltração.
Seção II
Art. 12.   O pedido de infiltração será sigilosamente distri-
Da Ação Controlada buído, de forma a não conter informações que possam indicar a
operação a ser efetivada ou identificar o agente que será infiltrado.
Art. 8o  Consiste a ação controlada em retardar a intervenção § 1o  As informações quanto à necessidade da operação de
policial ou administrativa relativa à ação praticada por organização infiltração serão dirigidas diretamente ao juiz competente, que de-
criminosa ou a ela vinculada, desde que mantida sob observação cidirá no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, após manifestação do
e acompanhamento para que a medida legal se concretize no mo- Ministério Público na hipótese de representação do delegado de
mento mais eficaz à formação de provas e obtenção de informa- polícia, devendo-se adotar as medidas necessárias para o êxito das
ções. investigações e a segurança do agente infiltrado.
§ 1o  O retardamento da intervenção policial ou administra- § 2o  Os autos contendo as informações da operação de infil-
tiva será previamente comunicado ao juiz competente que, se for tração acompanharão a denúncia do Ministério Público, quando
o caso, estabelecerá os seus limites e comunicará ao Ministério serão disponibilizados à defesa, assegurando-se a preservação da
Público. identidade do agente.
§ 2o  A comunicação será sigilosamente distribuída de forma § 3o  Havendo indícios seguros de que o agente infiltrado so-
a não conter informações que possam indicar a operação a ser efe- fre risco iminente, a operação será sustada mediante requisição do
tuada. Ministério Público ou pelo delegado de polícia, dando-se imediata
§ 3o  Até o encerramento da diligência, o acesso aos autos será ciência ao Ministério Público e à autoridade judicial.
restrito ao juiz, ao Ministério Público e ao delegado de polícia,
Art. 13.  O agente que não guardar, em sua atuação, a devida
como forma de garantir o êxito das investigações.
proporcionalidade com a finalidade da investigação, responderá
§ 4o  Ao término da diligência, elaborar-se-á auto circunstan- pelos excessos praticados.
ciado acerca da ação controlada. Parágrafo único.  Não é punível, no âmbito da infiltração, a
prática de crime pelo agente infiltrado no curso da investigação,
Art. 9o  Se a ação controlada envolver transposição de fron- quando inexigível conduta diversa.
teiras, o retardamento da intervenção policial ou administrativa so-
mente poderá ocorrer com a cooperação das autoridades dos países Art. 14.  São direitos do agente:
que figurem como provável itinerário ou destino do investigado, I - recusar ou fazer cessar a atuação infiltrada;
de modo a reduzir os riscos de fuga e extravio do produto, objeto, II - ter sua identidade alterada, aplicando-se, no que couber,
instrumento ou proveito do crime. o disposto no art. 9o da Lei no 9.807, de 13 de julho de 1999, bem
como usufruir das medidas de proteção a testemunhas;

Didatismo e Conhecimento 222


NOÇÕES DE DIREITO
III - ter seu nome, sua qualificação, sua imagem, sua voz e Parágrafo único.  A instrução criminal deverá ser encerrada
demais informações pessoais preservadas durante a investigação e em prazo razoável, o qual não poderá exceder a 120 (cento e vinte)
o processo criminal, salvo se houver decisão judicial em contrário; dias quando o réu estiver preso, prorrogáveis em até igual período,
IV - não ter sua identidade revelada, nem ser fotografado ou por decisão fundamentada, devidamente motivada pela complexi-
filmado pelos meios de comunicação, sem sua prévia autorização dade da causa ou por fato procrastinatório atribuível ao réu.
por escrito.
Art. 23.  O sigilo da investigação poderá ser decretado pela
Seção IV autoridade judicial competente, para garantia da celeridade e da
Do Acesso a Registros, Dados Cadastrais, Documentos e eficácia das diligências investigatórias, assegurando-se ao defen-
Informações sor, no interesse do representado, amplo acesso aos elementos de
prova que digam respeito ao exercício do direito de defesa, devida-
Art. 15.  O delegado de polícia e o Ministério Público terão mente precedido de autorização judicial, ressalvados os referentes
acesso, independentemente de autorização judicial, apenas aos às diligências em andamento.
dados cadastrais do investigado que informem exclusivamente a Parágrafo único.  Determinado o depoimento do investigado,
qualificação pessoal, a filiação e o endereço mantidos pela Justiça seu defensor terá assegurada a prévia vista dos autos, ainda que
Eleitoral, empresas telefônicas, instituições financeiras, provedo- classificados como sigilosos, no prazo mínimo de 3 (três) dias que
res de internet e administradoras de cartão de crédito. antecedem ao ato, podendo ser ampliado, a critério da autoridade
responsável pela investigação.
Art. 16.  As empresas de transporte possibilitarão, pelo prazo
de 5 (cinco) anos, acesso direto e permanente do juiz, do Minis- Art. 24.  O art. 288 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro
tério Público ou do delegado de polícia aos bancos de dados de de 1940 (Código Penal), passa a vigorar com a seguinte redação:
reservas e registro de viagens. “Associação Criminosa
Art. 288.  Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim
Art. 17.  As concessionárias de telefonia fixa ou móvel man- específico de cometer crimes:
terão, pelo prazo de 5 (cinco) anos, à disposição das autoridades Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.
mencionadas no art. 15, registros de identificação dos números dos Parágrafo único.  A pena aumenta-se até a metade se a asso-
terminais de origem e de destino das ligações telefônicas interna- ciação é armada ou se houver a participação de criança ou adoles-
cionais, interurbanas e locais. cente.” (NR)
Seção V
Art. 25.  O art. 342 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro
Dos Crimes Ocorridos na Investigação e na Obtenção da
de 1940 (Código Penal), passa a vigorar com a seguinte redação:
Prova
“Art. 342.  ...............................................................................
....
Art. 18.  Revelar a identidade, fotografar ou filmar o colabo-
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
rador, sem sua prévia autorização por escrito:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. .................................................................................................
.” (NR)
Art. 19.  Imputar falsamente, sob pretexto de colaboração
com a Justiça, a prática de infração penal a pessoa que sabe ser Art. 26.  Revoga-se a Lei no 9.034, de 3 de maio de 1995.
inocente, ou revelar informações sobre a estrutura de organização
criminosa que sabe inverídicas: Art. 27.  Esta Lei entra em vigor após decorridos 45 (quarenta
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. e cinco) dias de sua publicação oficial.

Art. 20.  Descumprir determinação de sigilo das investiga- Brasília, 2 de agosto de 2013; 192o da Independência e 125o da
ções que envolvam a ação controlada e a infiltração de agentes: República.
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. DILMA ROUSSEFF
José Eduardo Cardozo
Art. 21.  Recusar ou omitir dados cadastrais, registros, docu- Este texto não substitui o publicado no DOU de 5.8.2013 -
mentos e informações requisitadas pelo juiz, Ministério Público Edição extra
ou delegado de polícia, no curso de investigação ou do processo:
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Parágrafo único.  Na mesma pena incorre quem, de forma in- 2.5.11 LEI DA PRISÃO TEMPORÁRIA –
devida, se apossa, propala, divulga ou faz uso dos dados cadastrais LEI Nº 7.960/89
de que trata esta Lei.

CAPÍTULO III
DISPOSIÇÕES FINAIS LEI Nº 7.960, DE 21 DE DEZEMBRO DE 1989.

Art. 22.  Os crimes previstos nesta Lei e as infrações penais Dispõe sobre prisão temporária.
conexas serão apurados mediante procedimento ordinário previsto
no Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Pro- O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Con-
cesso Penal), observado o disposto no parágrafo único deste artigo. gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Didatismo e Conhecimento 223


NOÇÕES DE DIREITO
Art. 1° Caberá prisão temporária: Art. 4° O art. 4° da Lei n° 4.898, de 9 de dezembro de 1965,
I - quando imprescindível para as investigações do inquérito fica acrescido da alínea i, com a seguinte redação:
policial; “Art. 4° ...............................................................
II - quando o indicado não tiver residência fixa ou não for- i) prolongar a execução de prisão temporária, de pena ou de
necer elementos necessários ao esclarecimento de sua identidade; medida de segurança, deixando de expedir em tempo oportuno ou
III - quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer de cumprir imediatamente ordem de liberdade;”
prova admitida na legislação penal, de autoria ou participação do
indiciado nos seguintes crimes: Art. 5° Em todas as comarcas e seções judiciárias haverá um
a) homicídio doloso (art. 121, caput, e seu § 2°); plantão permanente de vinte e quatro horas do Poder Judiciário e
b) sequestro ou cárcere privado (art. 148, caput, e seus §§ 1° do Ministério Público para apreciação dos pedidos de prisão tem-
e 2°); porária.
c) roubo (art. 157, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°);
d) extorsão (art. 158, caput, e seus §§ 1° e 2°); Art. 6° Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
e) extorsão mediante sequestro (art. 159, caput, e seus §§ 1°,
2° e 3°); Art. 7° Revogam-se as disposições em contrário.
f) estupro (art. 213, caput, e sua combinação com o art. 223,
caput, e parágrafo único); Brasília, 21 de dezembro de 1989; 168° da Independência e
g) atentado violento ao pudor (art. 214, caput, e sua combina- 101° da República.
ção com o art. 223, caput, e parágrafo único);
h) rapto violento (art. 219, e sua combinação com o art. 223 JOSÉ SARNEY
caput, e parágrafo único); J. Saulo Ramos
i) epidemia com resultado de morte (art. 267, § 1°);
j) envenenamento de água potável ou substância alimentícia Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 22.12.1989
ou medicinal qualificado pela morte (art. 270, caput, combinado
com art. 285);
l) quadrilha ou bando (art. 288), todos do Código Penal; 2.5.12 LEI DOS JUIZADOS ESPECIAIS –
m) genocídio (arts. 1°, 2° e 3° da Lei n° 2.889, de 1° de outu- LEI Nº 9.099/95 – ARTIGOS 60 AO 97
bro de 1956), em qualquer de sua formas típicas;
n) tráfico de drogas (art. 12 da Lei n° 6.368, de 21 de outubro
de 1976);
o) crimes contra o sistema financeiro (Lei n° 7.492, de 16 de Capítulo III
junho de 1986). Dos Juizados Especiais Criminais
Disposições Gerais
Art. 2° A prisão temporária será decretada pelo Juiz, em face         
da representação da autoridade policial ou de requerimento do Mi- Art. 60.  O Juizado Especial Criminal, provido por juízes to-
nistério Público, e terá o prazo de 5 (cinco) dias, prorrogável por
gados ou togados e leigos, tem competência para a conciliação, o
igual período em caso de extrema e comprovada necessidade.
julgamento e a execução das infrações penais de menor potencial
§ 1° Na hipótese de representação da autoridade policial, o
ofensivo, respeitadas as regras de conexão e continência. 
Juiz, antes de decidir, ouvirá o Ministério Público.
Parágrafo único. Na reunião de processos, perante o juízo co-
§ 2° O despacho que decretar a prisão temporária deverá ser
mum ou o tribunal do júri, decorrentes da aplicação das regras de
fundamentado e prolatado dentro do prazo de 24 (vinte e quatro)
conexão e continência, observar-se-ão os institutos da transação
horas, contadas a partir do recebimento da representação ou do
penal e da composição dos danos civis. 
requerimento.
§ 3° O Juiz poderá, de ofício, ou a requerimento do Ministério                 
Público e do Advogado, determinar que o preso lhe seja apresenta- Art. 61.  Consideram-se infrações penais de menor potencial
do, solicitar informações e esclarecimentos da autoridade policial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os
e submetê-lo a exame de corpo de delito. crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois)
§ 4° Decretada a prisão temporária, expedir-se-á mandado de anos, cumulada ou não com multa. 
prisão, em duas vias, uma das quais será entregue ao indiciado e        
servirá como nota de culpa. Art. 62. O processo perante o Juizado Especial orientar-se-á
§ 5° A prisão somente poderá ser executada depois da expedi- pelos critérios da oralidade, informalidade, economia processual
ção de mandado judicial. e celeridade, objetivando, sempre que possível, a reparação dos
§ 6° Efetuada a prisão, a autoridade policial informará o preso danos sofridos pela vítima e a aplicação de pena não privativa de
dos direitos previstos no art. 5° da Constituição Federal. liberdade.
§ 7° Decorrido o prazo de cinco dias de detenção, o preso
deverá ser posto imediatamente em liberdade, salvo se já tiver sido Seção I
decretada sua prisão preventiva. Da Competência e dos Atos Processuais
       
Art. 3° Os presos temporários deverão permanecer, obrigato- Art. 63. A competência do Juizado será determinada pelo lu-
riamente, separados dos demais detentos. gar em que foi praticada a infração penal.

Didatismo e Conhecimento 224


NOÇÕES DE DIREITO
Art. 64. Os atos processuais serão públicos e poderão realizar- Art. 72. Na audiência preliminar, presente o representante
-se em horário noturno e em qualquer dia da semana, conforme do Ministério Público, o autor do fato e a vítima e, se possível,
dispuserem as normas de organização judiciária. o responsável civil, acompanhados por seus advogados, o Juiz
        esclarecerá sobre a possibilidade da composição dos danos e da
Art. 65. Os atos processuais serão válidos sempre que preen- aceitação da proposta de aplicação imediata de pena não privativa
cherem as finalidades para as quais foram realizados, atendidos os de liberdade.
critérios indicados no art. 62 desta Lei.        
§ 1º Não se pronunciará qualquer nulidade sem que tenha ha- Art. 73. A conciliação será conduzida pelo Juiz ou por conci-
vido prejuízo. liador sob sua orientação.
§ 2º A prática de atos processuais em outras comarcas poderá Parágrafo único. Os conciliadores são auxiliares da Justiça,
ser solicitada por qualquer meio hábil de comunicação. recrutados, na forma da lei local, preferentemente entre bacharéis
§ 3º Serão objeto de registro escrito exclusivamente os atos em Direito, excluídos os que exerçam funções na administração da
havidos por essenciais. Os atos realizados em audiência de ins- Justiça Criminal.
trução e julgamento poderão ser gravados em fita magnética ou         
equivalente. Art. 74. A composição dos danos civis será reduzida a escrito
        e, homologada pelo Juiz mediante sentença irrecorrível, terá eficá-
Art. 66. A citação será pessoal e far-se-á no próprio Juizado, cia de título a ser executado no juízo civil competente.
sempre que possível, ou por mandado. Parágrafo único. Tratando-se de ação penal de iniciativa pri-
Parágrafo único. Não encontrado o acusado para ser citado, o vada ou de ação penal pública condicionada à representação, o
Juiz encaminhará as peças existentes ao Juízo comum para adoção acordo homologado acarreta a renúncia ao direito de queixa ou
do procedimento previsto em lei. representação.
               
Art. 67. A intimação far-se-á por correspondência, com aviso Art. 75. Não obtida a composição dos danos civis, será dada
de recebimento pessoal ou, tratando-se de pessoa jurídica ou firma imediatamente ao ofendido a oportunidade de exercer o direito de
individual, mediante entrega ao encarregado da recepção, que será representação verbal, que será reduzida a termo.
Parágrafo único. O não oferecimento da representação na au-
obrigatoriamente identificado, ou, sendo necessário, por oficial de
diência preliminar não implica decadência do direito, que poderá
justiça, independentemente de mandado ou carta precatória, ou
ser exercido no prazo previsto em lei.
ainda por qualquer meio idôneo de comunicação.
       
Parágrafo único. Dos atos praticados em audiência conside-
Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de
rar-se-ão desde logo cientes as partes, os interessados e defensores.
ação penal pública incondicionada, não sendo caso de arquiva-
       
mento, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de
Art. 68. Do ato de intimação do autor do fato e do mandado de
pena restritiva de direitos ou multas, a ser especificada na proposta.
citação do acusado, constará a necessidade de seu comparecimento
§ 1º Nas hipóteses de ser a pena de multa a única aplicável, o
acompanhado de advogado, com a advertência de que, na sua falta, Juiz poderá reduzi-la até a metade.
ser-lhe-á designado defensor público. § 2º Não se admitirá a proposta se ficar comprovado:
I - ter sido o autor da infração condenado, pela prática de cri-
Seção II me, à pena privativa de liberdade, por sentença definitiva;
Da Fase Preliminar II - ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de
         cinco anos, pela aplicação de pena restritiva ou multa, nos termos
Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da deste artigo;
ocorrência lavrará termo circunstanciado e o encaminhará imedia- III - não indicarem os antecedentes, a conduta social e a perso-
tamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima, providencian- nalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, ser
do-se as requisições dos exames periciais necessários. necessária e suficiente a adoção da medida.
Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do § 3º Aceita a proposta pelo autor da infração e seu defensor,
termo, for imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o será submetida à apreciação do Juiz.
compromisso de a ele comparecer, não se imporá prisão em fla- § 4º Acolhendo a proposta do Ministério Público aceita pelo
grante, nem se exigirá fiança. Em caso de violência doméstica, o autor da infração, o Juiz aplicará a pena restritiva de direitos ou
juiz poderá determinar, como medida de cautela, seu afastamento multa, que não importará em reincidência, sendo registrada ape-
do lar, domicílio ou local de convivência com a vítima.  nas para impedir novamente o mesmo benefício no prazo de cinco
        anos.
Art. 70. Comparecendo o autor do fato e a vítima, e não sendo § 5º Da sentença prevista no parágrafo anterior caberá a ape-
possível a realização imediata da audiência preliminar, será desig- lação referida no art. 82 desta Lei.
nada data próxima, da qual ambos sairão cientes. § 6º A imposição da sanção de que trata o § 4º deste artigo não
        constará de certidão de antecedentes criminais, salvo para os fins
Art. 71. Na falta do comparecimento de qualquer dos envolvi- previstos no mesmo dispositivo, e não terá efeitos civis, cabendo
dos, a Secretaria providenciará sua intimação e, se for o caso, a do aos interessados propor ação cabível no juízo cível.
responsável civil, na forma dos arts. 67 e 68 desta Lei.
       

Didatismo e Conhecimento 225


NOÇÕES DE DIREITO
Seção III § 3º A sentença, dispensado o relatório, mencionará os ele-
Do Procedimento Sumariíssimo mentos de convicção do Juiz.
               
Art. 77. Na ação penal de iniciativa pública, quando não hou- Art. 82. Da decisão de rejeição da denúncia ou queixa e da
ver aplicação de pena, pela ausência do autor do fato, ou pela não sentença caberá apelação, que poderá ser julgada por turma com-
ocorrência da hipótese prevista no art. 76 desta Lei, o Ministério posta de três Juízes em exercício no primeiro grau de jurisdição,
Público oferecerá ao Juiz, de imediato, denúncia oral, se não hou- reunidos na sede do Juizado.
ver necessidade de diligências imprescindíveis. § 1º A apelação será interposta no prazo de dez dias, contados
§ 1º Para o oferecimento da denúncia, que será elaborada com da ciência da sentença pelo Ministério Público, pelo réu e seu de-
base no termo de ocorrência referido no art. 69 desta Lei, com dis- fensor, por petição escrita, da qual constarão as razões e o pedido
pensa do inquérito policial, prescindir-se-á do exame do corpo de do recorrente.
delito quando a materialidade do crime estiver aferida por boletim § 2º O recorrido será intimado para oferecer resposta escrita
médico ou prova equivalente. no prazo de dez dias.
§ 2º Se a complexidade ou circunstâncias do caso não per- § 3º As partes poderão requerer a transcrição da gravação da
mitirem a formulação da denúncia, o Ministério Público poderá fita magnética a que alude o § 3º do art. 65 desta Lei.
requerer ao Juiz o encaminhamento das peças existentes, na forma § 4º As partes serão intimadas da data da sessão de julgamento
do parágrafo único do art. 66 desta Lei. pela imprensa.
§ 3º Na ação penal de iniciativa do ofendido poderá ser ofe- § 5º Se a sentença for confirmada pelos próprios fundamentos,
recida queixa oral, cabendo ao Juiz verificar se a complexidade e a súmula do julgamento servirá de acórdão.
as circunstâncias do caso determinam a adoção das providências        
previstas no parágrafo único do art. 66 desta Lei. Art. 83. Caberão embargos de declaração quando, em sentença
        ou acórdão, houver obscuridade, contradição, omissão ou dúvida.
Art. 78. Oferecida a denúncia ou queixa, será reduzida a ter- § 1º Os embargos de declaração serão opostos por escrito ou
mo, entregando-se cópia ao acusado, que com ela ficará citado oralmente, no prazo de cinco dias, contados da ciência da decisão.
e imediatamente cientificado da designação de dia e hora para a § 2º Quando opostos contra sentença, os embargos de declara-
audiência de instrução e julgamento, da qual também tomarão ci- ção suspenderão o prazo para o recurso.
ência o Ministério Público, o ofendido, o responsável civil e seus § 3º Os erros materiais podem ser corrigidos de ofício.
advogados.
§ 1º Se o acusado não estiver presente, será citado na forma
Seção IV
dos arts. 66 e 68 desta Lei e cientificado da data da audiência de
Da Execução
instrução e julgamento, devendo a ela trazer suas testemunhas ou
       
apresentar requerimento para intimação, no mínimo cinco dias an-
Art. 84. Aplicada exclusivamente pena de multa, seu cumpri-
tes de sua realização.
mento far-se-á mediante pagamento na Secretaria do Juizado.
§ 2º Não estando presentes o ofendido e o responsável civil,
Parágrafo único. Efetuado o pagamento, o Juiz declarará ex-
serão intimados nos termos do art. 67 desta Lei para comparece-
rem à audiência de instrução e julgamento. tinta a punibilidade, determinando que a condenação não fique
§ 3º As testemunhas arroladas serão intimadas na forma pre- constando dos registros criminais, exceto para fins de requisição
vista no art. 67 desta Lei. judicial.
               
Art. 79. No dia e hora designados para a audiência de instru- Art. 85. Não efetuado o pagamento de multa, será feita a con-
ção e julgamento, se na fase preliminar não tiver havido possibi- versão em pena privativa da liberdade, ou restritiva de direitos, nos
lidade de tentativa de conciliação e de oferecimento de proposta termos previstos em lei.
pelo Ministério Público, proceder-se-á nos termos dos arts. 72, 73,        
74 e 75 desta Lei. Art. 86. A execução das penas privativas de liberdade e restri-
        tivas de direitos, ou de multa cumulada com estas, será processada
Art. 80. Nenhum ato será adiado, determinando o Juiz, quando perante o órgão competente, nos termos da lei.
imprescindível, a condução coercitiva de quem deva comparecer.
        Seção V
Art. 81. Aberta a audiência, será dada a palavra ao defensor Das Despesas Processuais
para responder à acusação, após o que o Juiz receberá, ou não, a        
denúncia ou queixa; havendo recebimento, serão ouvidas a vítima Art. 87. Nos casos de homologação do acordo civil e aplicação
e as testemunhas de acusação e defesa, interrogando-se a seguir o de pena restritiva de direitos ou multa (arts. 74 e 76, § 4º), as des-
acusado, se presente, passando-se imediatamente aos debates orais pesas processuais serão reduzidas, conforme dispuser lei estadual.
e à prolação da sentença.
§ 1º Todas as provas serão produzidas na audiência de instru- Seção VI
ção e julgamento, podendo o Juiz limitar ou excluir as que consi- Disposições Finais
derar excessivas, impertinentes ou protelatórias.         
§ 2º De todo o ocorrido na audiência será lavrado termo, as- Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação
sinado pelo Juiz e pelas partes, contendo breve resumo dos fatos especial, dependerá de representação a ação penal relativa aos cri-
relevantes ocorridos em audiência e a sentença. mes de lesões corporais leves e lesões culposas.

Didatismo e Conhecimento 226


NOÇÕES DE DIREITO
Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual Art. 95. Os Estados, Distrito Federal e Territórios criarão e
ou inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério instalarão os Juizados Especiais no prazo de seis meses, a contar
Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do pro- da vigência desta Lei.
cesso, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo Parágrafo único. No prazo de 6 (seis) meses, contado da pu-
processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presen- blicação desta Lei, serão criados e instalados os Juizados Espe-
tes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional ciais Itinerantes, que deverão dirimir, prioritariamente, os conflitos
da pena (art. 77 do Código Penal). existentes nas áreas rurais ou nos locais de menor concentração
§ 1º Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na presen- populacional. (Redação dada pela Lei nº 12.726, de 2012).
ça do Juiz, este, recebendo a denúncia, poderá suspender o pro-        
cesso, submetendo o acusado a período de prova, sob as seguintes Art. 96. Esta Lei entra em vigor no prazo de sessenta dias após
condições: a sua publicação.
I - reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo;         
II - proibição de frequentar determinados lugares; Art. 97. Ficam revogadas a  Lei nº 4.611, de 2 de abril de
III - proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem 1965 e a Lei nº 7.244, de 7 de novembro de 1984.
autorização do Juiz;
IV - comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensal-
mente, para informar e justificar suas atividades.
§ 2º O Juiz poderá especificar outras condições a que fica su- 2.5.13 LEI DAS CONTRAVENÇÕES
bordinada a suspensão, desde que adequadas ao fato e à situação PENAIS - DECRETO-LEI Nº 3.688/41
pessoal do acusado.
§ 3º A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o bene-
ficiário vier a ser processado por outro crime ou não efetuar, sem
motivo justificado, a reparação do dano.
§ 4º A suspensão poderá ser revogada se o acusado vier a ser DECRETO-LEI Nº 3.688, DE 3 DE OUTUBRO DE 1941.
processado, no curso do prazo, por contravenção, ou descumprir
qualquer outra condição imposta. Lei das Contravenções Penais
§ 5º Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará extinta
a punibilidade. O Presidente da República, usando das atribuições que lhe
§ 6º Não correrá a prescrição durante o prazo de suspensão confere o artigo 180 da Constituição,
do processo.
§ 7º Se o acusado não aceitar a proposta prevista neste artigo, DECRETA:
o processo prosseguirá em seus ulteriores termos.
        LEI DAS CONTRAVENÇÕES PENAIS
Art. 90. As disposições desta Lei não se aplicam aos processos PARTE GERAL
penais cuja instrução já estiver iniciada. 
         Art. 1º Aplicam-se as contravenções às regras gerais do Códi-
Art. 90-A.  As disposições desta Lei não se aplicam no âmbito go Penal, sempre que a presente lei não disponha de modo diverso.
da Justiça Militar.  
        Art. 2º A lei brasileira só é aplicável à contravenção praticada
Art. 91. Nos casos em que esta Lei passa a exigir representa- no território nacional.
ção para a propositura da ação penal pública, o ofendido ou seu
representante legal será intimado para oferecê-la no prazo de trinta Art. 3º Para a existência da contravenção, basta a ação ou
dias, sob pena de decadência. omissão voluntária. Deve-se, todavia, ter em conta o dolo ou a
        culpa, se a lei faz depender, de um ou de outra, qualquer efeito
Art. 92. Aplicam-se subsidiariamente as disposições dos Có- jurídico.
digos Penal e de Processo Penal, no que não forem incompatíveis
com esta Lei. Art. 4º Não é punível a tentativa de contravenção.

Capítulo IV Art. 5º As penas principais são:


Disposições Finais Comuns I – prisão simples.
        II – multa.
Art. 93. Lei Estadual disporá sobre o Sistema de Juizados Es-
peciais Cíveis e Criminais, sua organização, composição e com- Art. 6º A pena de prisão simples deve ser cumprida, sem rigor
petência. penitenciário, em estabelecimento especial ou seção especial de
        prisão comum, em regime semiaberto ou aberto. 
Art. 94. Os serviços de cartório poderão ser prestados, e as au- § 1º O condenado a pena de prisão simples fica sempre separa-
diências realizadas fora da sede da Comarca, em bairros ou cidades do dos condenados a pena de reclusão ou de detenção.
a ela pertencentes, ocupando instalações de prédios públicos, de § 2º O trabalho é facultativo, se a pena aplicada, não excede
acordo com audiências previamente anunciadas. a quinze dias.

Didatismo e Conhecimento 227


NOÇÕES DE DIREITO
Art. 7º Verifica-se a reincidência quando o agente pratica uma Parágrafo único. O juiz, entretanto, pode, ao invés de decretar
contravenção depois de passar em julgado a sentença que o tenha a internação, submeter o indivíduo a liberdade vigiada.
condenado, no Brasil ou no estrangeiro, por qualquer crime, ou, no
Brasil, por motivo de contravenção. Art. 17. A ação penal é pública, devendo a autoridade proce-
der de ofício.
Art. 8º No caso de ignorância ou de errada compreensão da
lei, quando escusáveis, a pena pode deixar de ser aplicada. PARTE ESPECIAL
CAPÍTULO I
Art. 9º A multa converte-se em prisão simples, de acordo com DAS CONTRAVENÇÕES REFERENTES À PESSOA
o que dispõe o Código Penal sobre a conversão de multa em de-
Art. 18. Fabricar, importar, exportar, ter em depósito ou ven-
tenção.
der, sem permissão da autoridade, arma ou munição:
Parágrafo único. Se a multa é a única pena cominada, a con- Pena – prisão simples, de três meses a um ano, ou multa, de
versão em prisão simples se faz entre os limites de quinze dias e um a cinco contos de réis, ou ambas cumulativamente, se o fato
três meses. não constitui crime contra a ordem política ou social.
Art. 10. A duração da pena de prisão simples não pode, em Art. 19. Trazer consigo arma fora de casa ou de dependência
caso algum, ser superior a cinco anos, nem a importância das mul- desta, sem licença da autoridade:
tas ultrapassar cinquenta contos. Pena – prisão simples, de quinze dias a seis meses, ou multa,
         de duzentos mil réis a três contos de réis, ou ambas cumulativa-
Art. 11. Desde que reunidas as condições legais, o juiz pode mente.
suspender por tempo não inferior a um ano nem superior a três, a § 1º A pena é aumentada de um terço até metade, se o agente
execução da pena de prisão simples, bem como conceder livra- já foi condenado, em sentença irrecorrível, por violência contra
mento condicional.  pessoa.
§ 2º Incorre na pena de prisão simples, de quinze dias a três
Art. 12. As penas acessórias são a publicação da sentença e as meses, ou multa, de duzentos mil réis a um conto de réis, quem,
seguintes interdições de direitos: possuindo arma ou munição:
I – a incapacidade temporária para profissão ou atividade, cujo a) deixa de fazer comunicação ou entrega à autoridade, quan-
do a lei o determina;
exercício dependa de habilitação especial, licença ou autorização
b) permite que alienado menor de 18 anos ou pessoa inexpe-
do poder público; riente no manejo de arma a tenha consigo;
lI – a suspensão dos direitos políticos. c) omite as cautelas necessárias para impedir que dela se apo-
Parágrafo único. Incorrem: dere facilmente alienado, menor de 18 anos ou pessoa inexperiente
a) na interdição sob nº I, por um mês a dois anos, o condenado em manejá-la.
por motivo de contravenção cometida com abuso de profissão ou
atividade ou com infração de dever a ela inerente; Art. 20. Anunciar processo, substância ou objeto destinado a
b) na interdição sob nº II, o condenado a pena privativa de provocar aborto: 
liberdade, enquanto dure a execução do pena ou a aplicação da Pena - multa de hum mil cruzeiros a dez mil cruzeiros.
medida de segurança detentiva.
Art. 21. Praticar vias de fato contra alguém:
Art. 13. Aplicam-se, por motivo de contravenção, as medidas Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa,
de segurança estabelecidas no Código Penal, à exceção do exílio de cem mil réis a um conto de réis, se o fato não constitui crime.
local. Parágrafo único. Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) até a
metade se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos. (Incluído pela
Art. 14. Presumem-se perigosos, além dos indivíduos a que se Lei nº 10.741, de 2003)
referem os ns. I e II do art. 78 do Código Penal:
Art. 22. Receber em estabelecimento psiquiátrico, e nele in-
I – o condenado por motivo de contravenção cometido, em es-
ternar, sem as formalidades legais, pessoa apresentada como do-
tado de embriaguez pelo álcool ou substância de efeitos análogos,
ente mental:
quando habitual a embriaguez; Pena – multa, de trezentos mil réis a três contos de réis.
II – o condenado por vadiagem ou mendicância; § 1º Aplica-se a mesma pena a quem deixa de comunicar a
III e IV – (Revogados) autoridade competente, no prazo legal, internação que tenha admi-
tido, por motivo de urgência, sem as formalidades legais.
Art. 15. São internados em colônia agrícola ou em instituto § 2º Incorre na pena de prisão simples, de quinze dias a três
de trabalho, de reeducação ou de ensino profissional, pelo prazo meses, ou multa de quinhentos mil réis a cinco contos de réis,
mínimo de um ano: aquele que, sem observar as prescrições legais, deixa retirar-se ou
I – o condenado por vadiagem (art. 59); despede de estabelecimento psiquiátrico pessoa nele, internada.
II – o condenado por mendicância (art. 60 e seu parágrafo);
III – (Revogado) Art. 23. Receber e ter sob custódia doente mental, fora do caso
previsto no artigo anterior, sem autorização de quem de direito:
Art. 16. O prazo mínimo de duração da internação em manicô- Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa,
mio judiciário ou em casa de custódia e tratamento é de seis meses. de quinhentos mil réis a cinco contos de réis.

Didatismo e Conhecimento 228


NOÇÕES DE DIREITO
CAPÍLULO II Art. 32. Dirigir, sem a devida habilitação, veículo na via pú-
DAS CONTRAVENÇÕES REFERENTES AO PATRI- blica, ou embarcação a motor em aguas públicas:
MÔNIO Pena – multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.

Art. 24. Fabricar, ceder ou vender gazua ou instrumento em- Art. 33. Dirigir aeronave sem estar devidamente licenciado:
pregado usualmente na prática de crime de furto: Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, e multa, de
Pena – prisão simples, de seis meses a dois anos, e multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.
trezentos mil réis a três contos de réis.
Art. 34. Dirigir veículos na via pública, ou embarcações em
Art. 25. Ter alguém em seu poder, depois de condenado, por águas públicas, pondo em perigo a segurança alheia:
crime de furto ou roubo, ou enquanto sujeito à liberdade vigiada ou Pena – prisão simples, de quinze das a três meses, ou multa, de
quando conhecido como vadio ou mendigo, gazuas, chaves falsas trezentos mil réis a dois contos de réis.
ou alteradas ou instrumentos empregados usualmente na prática de
crime de furto, desde que não prove destinação legítima: Art. 35. Entregar-se na prática da aviação, a acrobacias ou a
vôos baixos, fora da zona em que a lei o permite, ou fazer descer a
Pena – prisão simples, de dois meses a um ano, e multa de
aeronave fora dos lugares destinados a esse fim:
duzentos mil réis a dois contos de réis.
Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa,
de quinhentos mil réis a cinco contos de réis.
Art. 26. Abrir alguém, no exercício de profissão de serralheiro
ou oficio análogo, a pedido ou por incumbência de pessoa de cuja Art. 36. Deixar do colocar na via pública, sinal ou obstáculo,
legitimidade não se tenha certificado previamente, fechadura ou determinado em lei ou pela autoridade e destinado a evitar perigo
qualquer outro aparelho destinado à defesa de lugar nu objeto: a transeuntes:
Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, Pena – prisão simples, de dez dias a dois meses, ou multa, de
de duzentos mil réis a um conto de réis. duzentos mil réis a dois contos de réis.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem:
Art. 27. (Revogado) a) apaga sinal luminoso, destrói ou remove sinal de outra na-
        tureza ou obstáculo destinado a evitar perigo a transeuntes;
CAPÍTULO III b) remove qualquer outro sinal de serviço público.
DAS CONTRAVENÇÕES REFERENTES À INCOLU-
MIDADE PÚBLICA Art. 37. Arremessar ou derramar em via pública, ou em lugar
de uso comum, ou do uso alheio, coisa que possa ofender, sujar ou
Art. 28. Disparar arma de fogo em lugar habitado ou em suas molestar alguém:
adjacências, em via pública ou em direção a ela: Pena – multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.
Pena – prisão simples, de um a seis meses, ou multa, de tre- Parágrafo único. Na mesma pena incorre aquele que, sem as
zentos mil réis a três contos de réis. devidas cautelas, coloca ou deixa suspensa coisa que, caindo em
Parágrafo único. Incorre na pena de prisão simples, de quinze via pública ou em lugar de uso comum ou de uso alheio, possa
dias a dois meses, ou multa, de duzentos mil réis a dois contos ofender, sujar ou molestar alguém.
de réis, quem, em lugar habitado ou em suas adjacências, em via
pública ou em direção a ela, sem licença da autoridade, causa de- Art. 38. Provocar, abusivamente, emissão de fumaça, vapor
flagração perigosa, queima fogo de artifício ou solta balão aceso. ou gás, que possa ofender ou molestar alguém:
Pena – multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.
Art. 29. Provocar o desabamento de construção ou, por erro
CAPÍTULO IV
no projeto ou na execução, dar-lhe causa:
DAS CONTRAVENÇÕES REFERENTES À PAZ PÚ-
Pena – multa, de um a dez contos de réis, se o fato não consti- BLICA
tui crime contra a incolumidade pública.
Art. 39. Participar de associação de mais de cinco pessoas,
Art. 30. Omitir alguém a providência reclamada pelo Estado que se reunam periodicamente, sob compromisso de ocultar à au-
ruinoso de construção que lhe pertence ou cuja conservação lhe toridade a existência, objetivo, organização ou administração da
incumbe: associação:
Pena – multa, de um a cinco contos de réis. Pena – prisão simples, de um a seis meses, ou multa, de tre-
zentos mil réis a três contos de réis.
Art. 31. Deixar em liberdade, confiar à guarda de pessoa inex- § 1º Na mesma pena incorre o proprietário ou ocupante de
periente, ou não guardar com a devida cautela animal perigoso: prédio que o cede, no todo ou em parte, para reunião de associação
Pena – prisão simples, de dez dias a dois meses, ou multa, de que saiba ser de caráter secreto.
cem mil réis a um conto de réis. § 2º O juiz pode, tendo em vista as circunstâncias, deixar de
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem: aplicar a pena, quando lícito o objeto da associação.
a) na via pública, abandona animal de tiro, carga ou corrida,
ou o confia à pessoa inexperiente; Art. 40. Provocar tumulto ou portar-se de modo inconvenien-
b) excita ou irrita animal, expondo a perigo a segurança alheia; te ou desrespeitoso, em solenidade ou ato oficial, em assembleia
c) conduz animal, na via pública, pondo em perigo a seguran- ou espetáculo público, se o fato não constitui infração penal mais
ça alheia. grave;

Didatismo e Conhecimento 229


NOÇÕES DE DIREITO
Pena – prisão simples, de quinze dias a seis meses, ou multa, CAPÍTULO VII
de duzentos mil réis a dois contos de réis. DAS CONTRAVENÇÕES RELATIVAS À POLÍCIA DE
COSTUMES
Art. 41. Provocar alarma, anunciando desastre ou perigo ine-
xistente, ou praticar qualquer ato capaz de produzir pânico ou tu- Art. 50. Estabelecer ou explorar jogo de azar em lugar público
multo: ou acessível ao público, mediante o pagamento de entrada ou sem
Pena – prisão simples, de quinze dias a seis meses, ou multa, ele: (Vide Decreto-Lei nº 4.866, de 23.10.1942) (Vide Decreto-Lei
de duzentos mil réis a dois contos de réis. 9.215, de 30.4.1946)
Pena – prisão simples, de três meses a um ano, e multa, de
Art. 42. Perturbar alguém o trabalho ou o sossego alheios: dois a quinze contos de réis, estendendo-se os efeitos da condena-
I – com gritaria ou algazarra; ção à perda dos moveis e objetos de decoração do local.
II – exercendo profissão incômoda ou ruidosa, em desacordo § 1º A pena é aumentada de um terço, se existe entre os empre-
com as prescrições legais; gados ou participa do jogo pessoa menor de dezoito anos.
III – abusando de instrumentos sonoros ou sinais acústicos; § 2º Incorre na pena de multa, de duzentos mil réis a dois con-
IV – provocando ou não procurando impedir barulho produzi- tos de réis, quem é encontrado a participar do jogo, como ponteiro
do por animal de que tem a guarda: ou apostador.
Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, § 3º Consideram-se, jogos de azar:
de duzentos mil réis a dois contos de réis. a) o jogo em que o ganho e a perda dependem exclusiva ou
principalmente da sorte;
CAPÍTULO V b) as apostas sobre corrida de cavalos fora de hipódromo ou
DAS CONTRAVENÇÕES REFERENTES À FÉ PÚBLI- de local onde sejam autorizadas;
CA c) as apostas sobre qualquer outra competição esportiva.
§ 4º Equiparam-se, para os efeitos penais, a lugar acessivel
Art. 43. Recusar-se a receber, pelo seu valor, moeda de curso ao público:
legal no país: a) a casa particular em que se realizam jogos de azar, quando
Pena – multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis. deles habitualmente participam pessoas que não sejam da família
de quem a ocupa;
Art. 44. Usar, como propaganda, de impresso ou objeto que
b) o hotel ou casa de habitação coletiva, a cujos hóspedes e
pessoa inexperiente ou rústica possa confundir com moeda:
moradores se proporciona jogo de azar;
Pena – multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.
c) a sede ou dependência de sociedade ou associação, em que
se realiza jogo de azar;
Art. 45. Fingir-se funcionário público:
d) o estabelecimento destinado à exploração de jogo de azar,
Pena – prisão simples, de um a três meses, ou multa, de qui-
ainda que se dissimule esse destino.
nhentos mil réis a três contos de réis.

Art. 46. Usar, publicamente, de uniforme, ou distintivo de fun- Art. 51. Promover ou fazer extrair loteria, sem autorização
ção pública que não exerce; usar, indevidamente, de sinal, distinti- legal:
vo ou denominação cujo emprego seja regulado por lei.  Pena – prisão simples, de seis meses a dois anos, e multa, de
Pena – multa, de duzentos a dois mil cruzeiros, se o fato não cinco a dez contos de réis, estendendo-se os efeitos da condenação
constitui infração penal mais grave.  à perda dos moveis existentes no local.
§ 1º Incorre na mesma pena quem guarda, vende ou expõe à
CAPÍTULO VI venda, tem sob sua guarda para o fim de venda, introduz ou tenta
DAS CONTRAVENÇÕES RELATIVAS À ORGANIZA- introduzir na circulação bilhete de loteria não autorizada.
ÇÃO DO TRABALHO § 2º Considera-se loteria toda operação que, mediante a distri-
buição de bilhete, listas, cupões, vales, sinais, símbolos ou meios
Art. 47. Exercer profissão ou atividade econômica ou anunciar análogos, faz depender de sorteio a obtenção de prêmio em dinhei-
que a exerce, sem preencher as condições a que por lei está subor- ro ou bens de outra natureza.
dinado o seu exercício: § 3º Não se compreendem na definição do parágrafo anterior
Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, os sorteios autorizados na legislação especial.
de quinhentos mil réis a cinco contos de réis.
Art. 52. Introduzir, no país, para o fim de comércio, bilhete de
Art. 48. Exercer, sem observância das prescrições legais, co- loteria, rifa ou tômbola estrangeiras:
mércio de antiguidades, de obras de arte, ou de manuscritos e li- Pena – prisão simples, de quatro meses a um ano, e multa, de
vros antigos ou raros: um a cinco contos de réis.
Pena – prisão simples de um a seis meses, ou multa, de um a Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem vende, expõe à
dez contos de réis. venda, tem sob sua guarda. para o fim de venda, introduz ou tenta
introduzir na circulação, bilhete de loteria estrangeira.
Art. 49. Infringir determinação legal relativa à matrícula ou à
escrituração de indústria, de comércio, ou de outra atividade: Art. 53. Introduzir, para o fim de comércio, bilhete de loteria
Pena – multa, de duzentos mil réis a cinco contos de réis. estadual em território onde não possa legalmente circular:

Didatismo e Conhecimento 230


NOÇÕES DE DIREITO
Pena – prisão simples, de dois a seis meses, e multa, de um a Parágrafo único. Se habitual a embriaguez, o contraventor é
três contos de réis. internado em casa de custódia e tratamento.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem vende, expõe à
venda, tem sob sua guarda, para o fim de venda, introduz ou tonta Art. 63. Servir bebidas alcoólicas:
introduzir na circulação, bilhete de loteria estadual, em território I – a menor de dezoito anos;
onde não possa legalmente circular. II – a quem se acha em estado de embriaguez;
III – a pessoa que o agente sabe sofrer das faculdades mentais;
Art. 54. Exibir ou ter sob sua guarda lista de sorteio de loteria IV – a pessoa que o agente sabe estar judicialmente proibida
estrangeira: de frequentar lugares onde se consome bebida de tal natureza:
Pena – prisão simples, de um a três meses, e multa, de duzen- Pena – prisão simples, de dois meses a um ano, ou multa, de
tos mil réis a um conto de réis. quinhentos mil réis a cinco contos de réis.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem exibe ou tem
sob sua guarda lista de sorteio de loteria estadual, em território Art. 64. Tratar animal com crueldade ou submetê-lo a trabalho
onde esta não possa legalmente circular. excessivo:
Pena – prisão simples, de dez dias a um mês, ou multa, de cem
Art. 55. Imprimir ou executar qualquer serviço de feitura de a quinhentos mil réis.
bilhetes, lista de sorteio, avisos ou cartazes relativos a loteria, em § 1º Na mesma pena incorre aquele que, embora para fins di-
lugar onde ela não possa legalmente circular: dáticos ou científicos, realiza em lugar público ou exposto ao pu-
Pena – prisão simples, de um a seis meses, e multa, de duzen- blico, experiência dolorosa ou cruel em animal vivo.
tos mil réis a dois contos de réis. § 2º Aplica-se a pena com aumento de metade, se o animal
é submetido a trabalho excessivo ou tratado com crueldade, em
Art. 56. Distribuir ou transportar cartazes, listas de sorteio ou exibição ou espetáculo público.
avisos de loteria, onde ela não possa legalmente circular:
Pena – prisão simples, de um a três meses, e multa, de cem a Art. 65. Molestar alguém ou perturbar-lhe a tranquilidade, por
quinhentos mil réis. acinte ou por motivo reprovável:
Pena – prisão simples, de quinze dias a dois meses, ou multa,
Art. 57. Divulgar, por meio de jornal ou outro impresso, de rá-
de duzentos mil réis a dois contos de réis.
dio, cinema, ou qualquer outra forma, ainda que disfarçadamente,
anúncio, aviso ou resultado de extração de loteria, onde a circula-
CAPÍTULO VIII
ção dos seus bilhetes não seria legal:
DAS CONTRAVENÇÕES REFERENTES À ADMINIS-
Pena – multa, de um a dez contos de réis.
TRAÇÃO PÚBLICA
Art. 58. Explorar ou realizar a loteria denominada jogo do
bicho, ou praticar qualquer ato relativo à sua realização ou      ex-
Art. 66. Deixar de comunicar à autoridade competente:
ploração:
Pena – prisão simples, de quatro meses a um ano, e multa, de I – crime de ação pública, de que teve conhecimento no exer-
dois a vinte contos de réis. cício de função pública, desde que a ação penal não dependa de
Parágrafo único. Incorre na pena de multa, de duzentos mil representação;
réis a dois contos de réis, aquele que participa da loteria, visando a II – crime de ação pública, de que teve conhecimento no exer-
obtenção de prêmio, para si ou para terceiro. cício da medicina ou de outra profissão sanitária, desde que a ação
penal não dependa de representação e a comunicação não exponha
Art. 59. Entregar-se alguém habitualmente à ociosidade, sen- o cliente a procedimento criminal:
do válido para o trabalho, sem ter renda que lhe assegure meios Pena – multa, de trezentos mil réis a três contos de réis.
bastantes de subsistência, ou prover à própria subsistência median-
te ocupação ilícita: Art. 67. Inumar ou exumar cadáver, com infração das dispo-
Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses. sições legais:
Parágrafo único. A aquisição superveniente de renda, que as- Pena – prisão simples, de um mês a um ano, ou multa, de du-
segure ao condenado meios bastantes de subsistência, extingue a zentos mil réis a dois contos de réis.
pena.
Art. 68. Recusar à autoridade, quando por esta, justificada-
Art. 60. (Revogado pela Lei nº 11.983, de 2009) mente solicitados ou exigidos, dados ou indicações concernentes à
própria identidade, estado, profissão, domicílio e residência:
Art. 61. Importunar alguém, em lugar público ou acessível ao Pena – multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.
público, de modo ofensivo ao pudor: Parágrafo único. Incorre na pena de prisão simples, de um a
Pena – multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis. seis meses, e multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis, se
o fato não constitui infração penal mais grave, quem, nas mesmas
Art. 62. Apresentar-se publicamente em estado de embria- circunstâncias, faz declarações inverídicas a respeito de sua identi-
guez, de modo que cause escândalo ou ponha em perigo a segu- dade pessoal, estado, profissão, domicílio e residência.
rança própria ou alheia:
Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, Art. 69.- (Revogado pela Lei nº 6.815, de 19.8.1980)
de duzentos mil réis a dois contos de réis. Pena – prisão simples, de três meses a um ano.

Didatismo e Conhecimento 231


NOÇÕES DE DIREITO
Art. 70. Praticar qualquer ato que importe violação do mono- Disparo de arma de fogo
pólio postal da União: Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar
Pena – prisão simples, de três meses a um ano, ou multa, de habitado ou em suas adjacências, em via pública ou em direção a
três a dez contos de réis, ou ambas cumulativamente. ela, desde que essa conduta não tenha como finalidade a prática de
outro crime:
DISPOSIÇÕES FINAIS Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável.
Art. 71. Ressalvada a legislação especial sobre florestas, caça (Vide Adin 3.112-1)
e pesca, revogam-se as disposições em contrário.        
Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito
Art. 72. Esta lei entrará em vigor no dia 1º de janeiro de 1942. Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter
em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, empres-
Rio de Janeiro, 3 de outubro de 1941; 120º da Independência tar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de
e 58º da República. fogo, acessório ou munição de uso proibido ou restrito, sem auto-
rização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
GETULIO VARGAS. Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
Francisco Campos. Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem:
I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de
identificação de arma de fogo ou artefato;
2.5.14 ESTATUTO DO DESARMAMENTO – II – modificar as características de arma de fogo, de forma a
LEI Nº 10.826/2003 – ARTIGOS 12 AO 21 torná-la equivalente a arma de fogo de uso proibido ou restrito ou
para fins de dificultar ou de qualquer modo induzir a erro autorida-
de policial, perito ou juiz;
III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo
CAPÍTULO IV
ou incendiário, sem autorização ou em desacordo com determina-
DOS CRIMES E DAS PENAS
ção legal ou regulamentar;
IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de
Posse irregular de arma de fogo de uso permitido
Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, aces- fogo com numeração, marca ou qualquer outro sinal de identifica-
sório ou munição, de uso permitido, em desacordo com determi- ção raspado, suprimido ou adulterado;
nação legal ou regulamentar, no interior de sua residência ou de- V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente,
pendência desta, ou, ainda no seu local de trabalho, desde que seja arma de fogo, acessório, munição ou explosivo a criança ou ado-
o titular ou o responsável legal do estabelecimento ou empresa: lescente; e
Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. VI – produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal,
ou adulterar, de qualquer forma, munição ou explosivo.
Omissão de cautela        
Art. 13. Deixar de observar as cautelas necessárias para impe- Comércio ilegal de arma de fogo
dir que menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa portadora de defici- Art. 17. Adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir, ocul-
ência mental se apodere de arma de fogo que esteja sob sua posse tar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar, adulterar, ven-
ou que seja de sua propriedade: der, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito pró-
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa. prio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial,
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrem o proprietário arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização ou em desa-
ou diretor responsável de empresa de segurança e transporte de va- cordo com determinação legal ou regulamentar:
lores que deixarem de registrar ocorrência policial e de comunicar Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
à Polícia Federal perda, furto, roubo ou outras formas de extravio Parágrafo único. Equipara-se à atividade comercial ou indus-
de arma de fogo, acessório ou munição que estejam sob sua guar- trial, para efeito deste artigo, qualquer forma de prestação de ser-
da, nas primeiras 24 (vinte quatro) horas depois de ocorrido o fato. viços, fabricação ou comércio irregular ou clandestino, inclusive o
        exercido em residência.
Porte ilegal de arma de fogo de uso permitido        
Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depó- Tráfico internacional de arma de fogo
sito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, reme- Art. 18. Importar, exportar, favorecer a entrada ou saída do
ter, empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de fogo, acessó- território nacional, a qualquer título, de arma de fogo, acessório ou
rio ou munição, de uso permitido, sem autorização e em desacordo munição, sem autorização da autoridade competente:
com determinação legal ou regulamentar: Pena – reclusão de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.        
Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável, Art. 19. Nos crimes previstos nos arts. 17 e 18, a pena é au-
salvo quando a arma de fogo estiver registrada em nome do agente. mentada da metade se a arma de fogo, acessório ou munição forem
(Vide Adin 3.112-1) de uso proibido ou restrito.
               

Didatismo e Conhecimento 232


NOÇÕES DE DIREITO
Art. 20. Nos crimes previstos nos arts. 14, 15, 16, 17 e 18, a III - a situação econômica do infrator, no caso de multa.
pena é aumentada da metade se forem praticados por integrante        
dos órgãos e empresas referidas nos arts. 6o, 7o e 8o desta Lei. Art. 7º As penas restritivas de direitos são autônomas e subs-
        tituem as privativas de liberdade quando:
Art. 21. Os crimes previstos nos arts. 16, 17 e 18 são insusce- I - tratar-se de crime culposo ou for aplicada a pena privativa
tíveis de liberdade provisória. (Vide Adin 3.112-1) de liberdade inferior a quatro anos;
II - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a
personalidade do condenado, bem como os motivos e as circuns-
2.5.15 LEI DOS CRIMES AMBIENTAIS – tâncias do crime indicarem que a substituição seja suficiente para
LEI Nº 9.605/98 efeitos de reprovação e prevenção do crime.
Parágrafo único. As penas restritivas de direitos a que se re-
fere este artigo terão a mesma duração da pena privativa de liber-
dade substituída.
LEI Nº 9.605, DE 12 DE FEVEREIRO DE 1998.        
Art. 8º As penas restritivas de direito são:
Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas I - prestação de serviços à comunidade;
de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras II - interdição temporária de direitos;
providências. III - suspensão parcial ou total de atividades;
IV - prestação pecuniária;
O PRESIDENTE  DA  REPÚBLICA Faço saber que o Con- V - recolhimento domiciliar.
gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:        
Art. 9º A prestação de serviços à comunidade consiste na atri-
CAPÍTULO I buição ao condenado de tarefas gratuitas junto a parques e jardins
DISPOSIÇÕES GERAIS públicos e unidades de conservação, e, no caso de dano da coisa
        particular, pública ou tombada, na restauração desta, se possível.
Art. 1º (VETADO)     
        Art. 10. As penas de interdição temporária de direito são a
Art. 2º Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos proibição de o condenado contratar com o Poder Público, de re-
crimes previstos nesta Lei, incide nas penas a estes cominadas, na ceber incentivos fiscais ou quaisquer outros benefícios, bem como
medida da sua culpabilidade, bem como o diretor, o administrador, de participar de licitações, pelo prazo de cinco anos, no caso de
o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o crimes dolosos, e de três anos, no de crimes culposos.
preposto ou mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da con-    
duta criminosa de outrem, deixar de impedir a sua prática, quando Art. 11. A suspensão de atividades será aplicada quando estas
podia agir para evitá-la. não estiverem obedecendo às prescrições legais.
               
Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas admi- Art. 12. A prestação pecuniária consiste no pagamento em di-
nistrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos nheiro à vítima ou à entidade pública ou privada com fim social,
casos em que a infração seja cometida por decisão de seu represen- de importância, fixada pelo juiz, não inferior a um salário mínimo
tante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse nem superior a trezentos e sessenta salários mínimos. O valor pago
ou benefício da sua entidade. será deduzido do montante de eventual reparação civil a que for
Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas condenado o infrator.
não exclui a das pessoas físicas, autoras, coautoras ou partícipes        
do mesmo fato. Art. 13. O recolhimento domiciliar baseia-se na autodiscipli-
na e senso de responsabilidade do condenado, que deverá, sem
Art. 4º Poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre vigilância, trabalhar, frequentar curso ou exercer atividade auto-
que sua personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos rizada, permanecendo recolhido nos dias e horários de folga em
causados à qualidade do meio ambiente. residência ou em qualquer local destinado a sua moradia habitual,
        conforme estabelecido na sentença condenatória.
Art. 5º (VETADO)       
Art. 14. São circunstâncias que atenuam a pena:
CAPÍTULO II I - baixo grau de instrução ou escolaridade do agente;
DA APLICAÇÃO DA PENA II - arrependimento do infrator, manifestado pela espontânea
        reparação do dano, ou limitação significativa da degradação am-
Art. 6º Para imposição e gradação da penalidade, a autoridade biental causada;
competente observará: III - comunicação prévia pelo agente do perigo iminente de
I - a gravidade do fato, tendo em vista os motivos da infração degradação ambiental;
e suas consequências para a saúde pública e para o meio ambiente; IV - colaboração com os agentes encarregados da vigilância e
II - os antecedentes do infrator quanto ao cumprimento da do controle ambiental.
legislação de interesse ambiental;        

Didatismo e Conhecimento 233


NOÇÕES DE DIREITO
Art. 15. São circunstâncias que agravam a pena, quando não Art. 21. As penas aplicáveis isolada, cumulativa ou alterna-
constituem ou qualificam o crime: tivamente às pessoas jurídicas, de acordo com o disposto no art.
I - reincidência nos crimes de natureza ambiental; 3º, são:
II - ter o agente cometido a infração: I - multa;
a) para obter vantagem pecuniária; II - restritivas de direitos;
b) coagindo outrem para a execução material da infração; III - prestação de serviços à comunidade.
c) afetando ou expondo a perigo, de maneira grave, a saúde        
pública ou o meio ambiente; Art. 22. As penas restritivas de direitos da pessoa jurídica são:
d) concorrendo para danos à propriedade alheia; I - suspensão parcial ou total de atividades;
e) atingindo áreas de unidades de conservação ou áreas sujei- II - interdição temporária de estabelecimento, obra ou ativi-
tas, por ato do dade;
f) atingindo áreas urbanas ou quaisquer assentamentos huma- III - proibição de contratar com o Poder Público, bem como
nos;
dele obter subsídios, subvenções ou doações.
g) em período de defeso à fauna;
§ 1º A suspensão de atividades será aplicada quando estas não
h) em domingos ou feriados;
estiverem obedecendo às disposições legais ou regulamentares, re-
i) à noite;
lativas à proteção do meio ambiente.
j) em épocas de seca ou inundações;
l) no interior do espaço territorial especialmente protegido; § 2º A interdição será aplicada quando o estabelecimento, obra
m) com o emprego de métodos cruéis para abate ou captura ou atividade estiver funcionando sem a devida autorização, ou em
de animais; desacordo com a concedida, ou com violação de disposição legal
n) mediante fraude ou abuso de confiança; ou regulamentar.
o) mediante abuso do direito de licença, permissão ou autori- § 3º A proibição de contratar com o Poder Público e dele obter
zação ambiental; subsídios, subvenções ou doações não poderá exceder o prazo de
p) no interesse de pessoa jurídica mantida, total ou parcial- dez anos.
mente, por verbas públicas ou beneficiada por incentivos fiscais;        
q) atingindo espécies ameaçadas, listadas em relatórios ofi- Art. 23. A prestação de serviços à comunidade pela pessoa
ciais das autoridades competentes; jurídica consistirá em:
r) facilitada por funcionário público no exercício de suas fun- I - custeio de programas e de projetos ambientais;
ções. II - execução de obras de recuperação de áreas degradadas;
        III - manutenção de espaços públicos;
Art. 16. Nos crimes previstos nesta Lei, a suspensão condi- IV - contribuições a entidades ambientais ou culturais públi-
cional da pena pode ser aplicada nos casos de condenação a pena cas.
privativa de liberdade não superior a três anos.        
        Art. 24. A pessoa jurídica constituída ou utilizada, prepon-
Art. 17. A verificação da reparação a que se refere o § 2º do derantemente, com o fim de permitir, facilitar ou ocultar a prática
art. 78 do Código Penal será feita mediante laudo de reparação do de crime definido nesta Lei terá decretada sua liquidação forçada,
dano ambiental, e as condições a serem impostas pelo juiz deverão seu patrimônio será considerado instrumento do crime e como tal
relacionar-se com a proteção ao meio ambiente. perdido em favor do Fundo Penitenciário Nacional.
       
Art. 18. A multa será calculada segundo os critérios do Códi- CAPÍTULO III
go Penal; se revelar-se ineficaz, ainda que aplicada no valor máxi-
DA APREENSÃO DO PRODUTO E DO INSTRUMEN-
mo, poderá ser aumentada até três vezes, tendo em vista o valor da
TO DE INFRAÇÃO
vantagem econômica auferida.
ADMINISTRATIVA OU DE CRIME
       
       
Art. 19. A perícia de constatação do dano ambiental, sempre
que possível, fixará o montante do prejuízo causado para efeitos de Art. 25. Verificada a infração, serão apreendidos seus produ-
prestação de fiança e cálculo de multa. tos e instrumentos, lavrando-se os respectivos autos.
Parágrafo único. A perícia produzida no inquérito civil ou no § 1º Os animais serão libertados em seu habitat ou entregues
juízo cível poderá ser aproveitada no processo penal, instaurando- a jardins zoológicos, fundações ou entidades assemelhadas, desde
-se o contraditório. que fiquem sob a responsabilidade de técnicos habilitados.
        § 2º Tratando-se de produtos perecíveis ou madeiras, serão
Art. 20. A sentença penal condenatória, sempre que possível, estes avaliados e doados a instituições científicas, hospitalares, pe-
fixará o valor mínimo para reparação dos danos causados pela in- nais e outras com fins beneficentes.
fração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido ou pelo § 3° Os produtos e subprodutos da fauna não perecíveis serão
meio ambiente. destruídos ou doados a instituições científicas, culturais ou educa-
Parágrafo único. Transitada em julgado a sentença condena- cionais.
tória, a execução poderá efetuar-se pelo valor fixado nos termos do § 4º Os instrumentos utilizados na prática da infração serão
caput, sem prejuízo da liquidação para apuração do dano efetiva- vendidos, garantida a sua descaracterização por meio da recicla-
mente sofrido. gem.

Didatismo e Conhecimento 234


NOÇÕES DE DIREITO
CAPÍTULO IV § 2º No caso de guarda doméstica de espécie silvestre não
DA AÇÃO E DO PROCESSO PENAL considerada ameaçada de extinção, pode o juiz, considerando as
        circunstâncias, deixar de aplicar a pena.
Art. 26. Nas infrações penais previstas nesta Lei, a ação penal § 3° São espécimes da fauna silvestre todos aqueles perten-
é pública incondicionada. centes às espécies nativas, migratórias e quaisquer outras, aquá-
ticas ou terrestres, que tenham todo ou parte de seu ciclo de vida
Art. 27. Nos crimes ambientais de menor potencial ofensivo, ocorrendo dentro dos limites do território brasileiro, ou águas ju-
a proposta de aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou risdicionais brasileiras.
multa, prevista no art. 76 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de § 4º A pena é aumentada de metade, se o crime é praticado:
1995, somente poderá ser formulada desde que tenha havido a pré- I - contra espécie rara ou considerada ameaçada de extinção,
via composição do dano ambiental, de que trata o art. 74 da mesma ainda que somente no local da infração;
lei, salvo em caso de comprovada impossibilidade. II - em período proibido à caça;
       
III - durante a noite;
Art. 28. As disposições do art. 89 da Lei nº 9.099, de 26 de
IV - com abuso de licença;
setembro de 1995, aplicam-se aos crimes de menor potencial ofen-
V - em unidade de conservação;
sivo definidos nesta Lei, com as seguintes modificações:
VI - com emprego de métodos ou instrumentos capazes de
I - a declaração de extinção de punibilidade, de que trata o §
5° do artigo referido no caput, dependerá de laudo de constatação provocar destruição em massa.
de reparação do dano ambiental, ressalvada a impossibilidade pre- § 5º A pena é aumentada até o triplo, se o crime decorre do
vista no inciso I do § 1° do mesmo artigo; exercício de caça profissional.
II - na hipótese de o laudo de constatação comprovar não ter § 6º As disposições deste artigo não se aplicam aos atos de
sido completa a reparação, o prazo de suspensão do processo será pesca.
prorrogado, até o período máximo previsto no artigo referido no        
caput, acrescido de mais um ano, com suspensão do prazo da pres- Art. 30. Exportar para o exterior peles e couros de anfíbios e
crição; répteis em bruto, sem a autorização da autoridade ambiental com-
III - no período de prorrogação, não se aplicarão as condições petente:
dos incisos II, III e IV do § 1° do artigo mencionado no caput; Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
IV - findo o prazo de prorrogação, proceder-se-á à lavratura de        
novo laudo de constatação de reparação do dano ambiental, poden- Art. 31. Introduzir espécime animal no País, sem parecer téc-
do, conforme seu resultado, ser novamente prorrogado o período nico oficial favorável e licença expedida por autoridade compe-
de suspensão, até o máximo previsto no inciso II deste artigo, ob- tente:
servado o disposto no inciso III; Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
V - esgotado o prazo máximo de prorrogação, a declaração de        
extinção de punibilidade dependerá de laudo de constatação que Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar
comprove ter o acusado tomado as providências necessárias à re- animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exó-
paração integral do dano. ticos:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
CAPÍTULO V § 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência do-
DOS CRIMES CONTRA O MEIO AMBIENTE lorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou
científicos, quando existirem recursos alternativos.
Seção I
§ 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre
Dos Crimes contra a Fauna
morte do animal.
       
       
Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes
Art. 33. Provocar, pela emissão de efluentes ou carreamento
da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida
permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou de materiais, o perecimento de espécimes da fauna aquática exis-
em desacordo com a obtida: tentes em rios, lagos, açudes, lagoas, baías ou águas jurisdicionais
Pena - detenção de seis meses a um ano, e multa. brasileiras:
§ 1º Incorre nas mesmas penas: Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas cumu-
I - quem impede a procriação da fauna, sem licença, autoriza- lativamente.
ção ou em desacordo com a obtida; Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas:
II - quem modifica, danifica ou destrói ninho, abrigo ou cria- I - quem causa degradação em viveiros, açudes ou estações de
douro natural; aqüicultura de domínio público;
III - quem vende, expõe à venda, exporta ou adquire, guarda, II - quem explora campos naturais de invertebrados aquáti-
tem em cativeiro ou depósito, utiliza ou transporta ovos, larvas ou cos e algas, sem licença, permissão ou autorização da autoridade
espécimes da fauna silvestre, nativa ou em rota migratória, bem competente;
como produtos e objetos dela oriundos, provenientes de criadouros III - quem fundeia embarcações ou lança detritos de qualquer
não autorizados ou sem a devida permissão, licença ou autorização natureza sobre bancos de moluscos ou corais, devidamente demar-
da autoridade competente. cados em carta náutica.

Didatismo e Conhecimento 235


NOÇÕES DE DIREITO
Art. 34. Pescar em período no qual a pesca seja proibida ou Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas as
em lugares interditados por órgão competente: penas cumulativamente.
Pena - detenção de um ano a três anos ou multa, ou ambas as        
penas cumulativamente. Art. 40. Causar dano direto ou indireto às Unidades de Con-
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem: servação e às áreas de que trata o art. 27 do Decreto nº 99.274, de 6
I - pesca espécies que devam ser preservadas ou espécimes de junho de 1990, independentemente de sua localização:
com tamanhos inferiores aos permitidos; Pena - reclusão, de um a cinco anos.
II - pesca quantidades superiores às permitidas, ou mediante § 1o Entende-se por Unidades de Conservação de Proteção
a utilização de aparelhos, petrechos, técnicas e métodos não per- Integral as Estações Ecológicas, as Reservas Biológicas, os Par-
mitidos; ques Nacionais, os Monumentos Naturais e os Refúgios de Vida
III - transporta, comercializa, beneficia ou industrializa espé- Silvestre.
cimes provenientes da coleta, apanha e pesca proibidas. § 2o A ocorrência de dano afetando espécies ameaçadas de
        extinção no interior das Unidades de Conservação de Proteção In-
Art. 35. Pescar mediante a utilização de: tegral será considerada circunstância agravante para a fixação da
I - explosivos ou substâncias que, em contato com a água, pena.       
produzam efeito semelhante; § 3º Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade.
II - substâncias tóxicas, ou outro meio proibido pela autori-        
dade competente: Art. 40-A. (VETADO) 
Pena - reclusão de um ano a cinco anos. § 1o Entende-se por Unidades de Conservação de Uso Susten-
        tável as Áreas de Proteção Ambiental, as Áreas de Relevante Inte-
Art. 36. Para os efeitos desta Lei, considera-se pesca todo ato resse Ecológico, as Florestas Nacionais, as Reservas Extrativistas,
tendente a retirar, extrair, coletar, apanhar, apreender ou capturar as Reservas de Fauna, as Reservas de Desenvolvimento Sustentá-
espécimes dos grupos dos peixes, crustáceos, moluscos e vegetais vel e as Reservas Particulares do Patrimônio Natural.
hidróbios, suscetíveis ou não de aproveitamento econômico, res- § 2o A ocorrência de dano afetando espécies ameaçadas de
salvadas as espécies ameaçadas de extinção, constantes nas listas extinção no interior das Unidades de Conservação de Uso Sus-
oficiais da fauna e da flora. tentável será considerada circunstância agravante para a fixação
        da pena.
Art. 37. Não é crime o abate de animal, quando realizado: § 3o Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade
I - em estado de necessidade, para saciar a fome do agente ou        
de sua família; Art. 41. Provocar incêndio em mata ou floresta:
II - para proteger lavouras, pomares e rebanhos da ação pre- Pena - reclusão, de dois a quatro anos, e multa.
datória ou destruidora de animais, desde que legal e expressamente Parágrafo único. Se o crime é culposo, a pena é de detenção
autorizado pela autoridade competente; de seis meses a um ano, e multa.
III – (VETADO)        
V - por ser nocivo o animal, desde que assim caracterizado Art. 42. Fabricar, vender, transportar ou soltar balões que pos-
pelo órgão competente. sam provocar incêndios nas florestas e demais formas de vegeta-
ção, em áreas urbanas ou qualquer tipo de assentamento humano:
Seção II Pena - detenção de um a três anos ou multa, ou ambas as pe-
Dos Crimes contra a Flora nas cumulativamente.
               
Art. 38. Destruir ou danificar floresta considerada de preser- Art. 43. (VETADO)
vação permanente, mesmo que em formação, ou utilizá-la com in-        
fringência das normas de proteção: Art. 44. Extrair de florestas de domínio público ou conside-
 Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas as radas de preservação permanente, sem prévia autorização, pedra,
penas cumulativamente. areia, cal ou qualquer espécie de minerais:
Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena será reduzida Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.
à metade.        
        Art. 45. Cortar ou transformar em carvão madeira de lei, as-
Art. 38-A.  Destruir ou danificar vegetação primária ou se- sim classificada por ato do Poder Público, para fins industriais,
cundária, em estágio avançado ou médio de regeneração, do Bio- energéticos ou para qualquer outra exploração, econômica ou não,
ma Mata Atlântica, ou utilizá-la com infringência das normas de em desacordo com as determinações legais:
proteção:  Pena - reclusão, de um a dois anos, e multa.
 Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, ou multa, ou am-        
bas as penas cumulativamente Art. 46. Receber ou adquirir, para fins comerciais ou indus-
Parágrafo único.  Se o crime for culposo, a pena será redu- triais, madeira, lenha, carvão e outros produtos de origem vegetal,
zida à metade. sem exigir a exibição de licença do vendedor, outorgada pela auto-
        ridade competente, e sem munir-se da via que deverá acompanhar
Art. 39. Cortar árvores em floresta considerada de preserva- o produto até final beneficiamento:
ção permanente, sem permissão da autoridade competente: Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.

Didatismo e Conhecimento 236


NOÇÕES DE DIREITO
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem vende, Seção III
expõe à venda, tem em depósito, transporta ou guarda madeira, Da Poluição e outros Crimes Ambientais
lenha, carvão e outros produtos de origem vegetal, sem licença        
válida para todo o tempo da viagem ou do armazenamento, outor- Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais
gada pela autoridade competente. que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que
        provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa
Art. 47. (VETADO) da flora:
        Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Art. 48. Impedir ou dificultar a regeneração natural de flores- § 1º Se o crime é culposo:
tas e demais formas de vegetação: Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.
Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa. § 2º Se o crime:
        I - tornar uma área, urbana ou rural, imprópria para a ocupa-
Art. 49. Destruir, danificar, lesar ou maltratar, por qualquer ção humana;
modo ou meio, plantas de ornamentação de logradouros públicos II - causar poluição atmosférica que provoque a retirada, ain-
da que
ou em propriedade privada alheia:
III - causar poluição hídrica que torne necessária a interrup-
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa, ou ambas
ção do abastecimento público de água de uma comunidade;
as penas cumulativamente.
IV - dificultar ou impedir o uso público das praias;
Parágrafo único. No crime culposo, a pena é de um a seis
V - ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou
meses, ou multa. gasosos, ou detritos, óleos ou substâncias oleosas, em desacordo
        com as exigências estabelecidas em leis ou regulamentos:
Art. 50. Destruir ou danificar florestas nativas ou plantadas Pena - reclusão, de um a cinco anos.
ou vegetação fixadora de dunas, protetora de mangues, objeto de § 3º Incorre nas mesmas penas previstas no parágrafo anterior
especial preservação: quem deixar de adotar, quando assim o exigir a autoridade compe-
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. tente, medidas de precaução em caso de risco de dano ambiental
        grave ou irreversível.
Art. 50-A. Desmatar, explorar economicamente ou degradar        
floresta, plantada ou nativa, em terras de domínio público ou devo- Art. 55. Executar pesquisa, lavra ou extração de recursos mi-
lutas, sem autorização do órgão competente nerais sem a competente autorização, permissão, concessão ou li-
Pena - reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos e multa. cença, ou em desacordo com a obtida:
§ 1o Não é crime a conduta praticada quando necessária à sub- Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.
sistência imediata pessoal do agente ou de sua família        Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem deixa de
§ 2o Se a área explorada for superior a 1.000 ha (mil hectares), recuperar a área pesquisada ou explorada, nos termos da autori-
a pena será aumentada de 1 (um) ano por milhar de hectare. zação, permissão, licença, concessão ou determinação do órgão
        competente.
Art. 51. Comercializar motosserra ou utilizá-la em florestas e        
nas demais formas de vegetação, sem licença ou registro da auto- Art. 56. Produzir, processar, embalar, importar, exportar, co-
ridade competente: mercializar, fornecer, transportar, armazenar, guardar, ter em de-
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. pósito ou usar produto ou substância tóxica, perigosa ou nociva à
        saúde humana ou ao meio ambiente, em desacordo com as exigên-
Art. 52. Penetrar em Unidades de Conservação conduzindo cias estabelecidas em leis ou nos seus regulamentos:
substâncias ou instrumentos próprios para caça ou para exploração Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 1o  Nas mesmas penas incorre quem: 
de produtos ou subprodutos florestais, sem licença da autoridade
I - abandona os produtos ou substâncias referidos no caput
competente:
ou os utiliza em desacordo com as normas ambientais ou de se-
Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.
gurança;
       
II - manipula, acondiciona, armazena, coleta, transporta, reu-
Art. 53. Nos crimes previstos nesta Seção, a pena é aumenta- tiliza, recicla ou dá destinação final a resíduos perigosos de forma
da de um sexto a um terço se: diversa da estabelecida em lei ou regulamento.
I - do fato resulta a diminuição de águas naturais, a erosão do § 2º Se o produto ou a substância for nuclear ou radioativa, a
solo ou a modificação do regime climático; pena é aumentada de um sexto a um terço.
II - o crime é cometido: § 3º Se o crime é culposo:
a) no período de queda das sementes; Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.
b) no período de formação de vegetações;        
c) contra espécies raras ou ameaçadas de extinção, ainda que Art. 57. (VETADO)
a ameaça ocorra somente no local da infração;        
d) em época de seca ou inundação; Art. 58. Nos crimes dolosos previstos nesta Seção, as penas
e) durante a noite, em domingo ou feriado. serão aumentadas:

Didatismo e Conhecimento 237


NOÇÕES DE DIREITO
I - de um sexto a um terço, se resulta dano irreversível à flora § 2o  Não constitui crime a prática de grafite realizada com o
ou ao meio ambiente em geral; objetivo de valorizar o patrimônio público ou privado mediante
II - de um terço até a metade, se resulta lesão corporal de na- manifestação artística, desde que consentida pelo proprietário e,
tureza grave em outrem; quando couber, pelo locatário ou arrendatário do bem privado e,
III - até o dobro, se resultar a morte de outrem. no caso de bem público, com a autorização do órgão competente e
Parágrafo único. As penalidades previstas neste artigo so- a observância das posturas municipais e das normas editadas pelos
mente serão aplicadas se do fato não resultar crime mais grave. órgãos governamentais responsáveis pela preservação e conserva-
       ção do patrimônio histórico e artístico nacional.
Art. 59. (VETADO)
        Seção V
Art. 60. Construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer fun- Dos Crimes contra a Administração Ambiental
cionar, em qualquer parte do território nacional, estabelecimentos,        
obras ou serviços potencialmente poluidores, sem licença ou au- Art. 66. Fazer o funcionário público afirmação falsa ou en-
torização dos órgãos ambientais competentes, ou contrariando as ganosa, omitir a verdade, sonegar informações ou dados técnico-
normas legais e regulamentares pertinentes: -científicos em procedimentos de autorização ou de licenciamento
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa, ou ambas as ambiental:
penas cumulativamente. Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
               
Art. 61. Disseminar doença ou praga ou espécies que possam Art. 67. Conceder o funcionário público licença, autorização
causar dano à agricultura, à pecuária, à fauna, à flora ou aos ecos- ou permissão em desacordo com as normas ambientais, para as
sistemas: atividades, obras ou serviços cuja realização depende de ato auto-
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. rizativo do Poder Público:
Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
Seção IV Parágrafo único. Se o crime é culposo, a pena é de três meses
Dos Crimes contra o Ordenamento Urbano e o Patrimô- a um ano de detenção, sem prejuízo da multa.
nio Cultural        
Art. 68. Deixar, aquele que tiver o dever legal ou contratual
       
de fazê-lo, de cumprir obrigação de relevante interesse ambiental:
Art. 62. Destruir, inutilizar ou deteriorar:
Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
I - bem especialmente protegido por lei, ato administrativo ou
Parágrafo único. Se o crime é culposo, a pena é de três meses
decisão judicial;
a um ano, sem prejuízo da multa.
II - arquivo, registro, museu, biblioteca, pinacoteca, instala-
       
ção científica ou similar protegido por lei, ato administrativo ou
Art. 69. Obstar ou dificultar a ação fiscalizadora do Poder Pú-
decisão judicial:
blico no trato de questões ambientais:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena é de seis        
meses a um ano de detenção, sem prejuízo da multa. Art. 69-A. Elaborar ou apresentar, no licenciamento, conces-
        são florestal ou qualquer outro procedimento administrativo, es-
Art. 63. Alterar o aspecto ou estrutura de edificação ou lo- tudo, laudo ou relatório ambiental total ou parcialmente falso ou
cal especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão enganoso, inclusive por omissão:
judicial, em razão de seu valor paisagístico, ecológico, turístico, Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
artístico, histórico, cultural, religioso, arqueológico, etnográfico § 1o Se o crime é culposo:
ou monumental, sem autorização da autoridade competente ou em Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos.
desacordo com a concedida: § 2o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços),
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. se há dano significativo ao meio ambiente, em decorrência do uso
        da informação falsa, incompleta ou enganosa.
Art. 64. Promover construção em solo não edificável, ou no
seu entorno, assim considerado em razão de seu valor paisagístico, CAPÍTULO VI
ecológico, artístico, turístico, histórico, cultural, religioso, arqueo- DA INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA
lógico, etnográfico ou monumental, sem autorização da autoridade        
competente ou em desacordo com a concedida: Art. 70. Considera-se infração administrativa ambiental toda
Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.    ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promo-
ção, proteção e recuperação do meio ambiente.
Art. 65.  Pichar ou por outro meio conspurcar edificação ou § 1º São autoridades competentes para lavrar auto de infração
monumento urbano:  ambiental e instaurar processo administrativo os funcionários de
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.  órgãos ambientais integrantes do Sistema Nacional de Meio Am-
§ 1o  Se o ato for realizado em monumento ou coisa tombada biente - SISNAMA, designados para as atividades de fiscalização,
em virtude do seu valor artístico, arqueológico ou histórico, a pena bem como os agentes das Capitanias dos Portos, do Ministério da
é de 6 (seis) meses a 1 (um) ano de detenção e multa.  Marinha.

Didatismo e Conhecimento 238


NOÇÕES DE DIREITO
§ 2º Qualquer pessoa, constatando infração ambiental, poderá § 6º A apreensão e destruição referidas nos incisos IV e V do
dirigir representação às autoridades relacionadas no parágrafo an- caput obedecerão ao disposto no art. 25 desta Lei.
terior, para efeito do exercício do seu poder de polícia. § 7º As sanções indicadas nos incisos VI a IX do caput serão
§ 3º A autoridade ambiental que tiver conhecimento de in- aplicadas quando o produto, a obra, a atividade ou o estabeleci-
fração ambiental é obrigada a promover a sua apuração imediata, mento não estiverem obedecendo às prescrições legais ou regula-
mediante processo administrativo próprio, sob pena de correspon- mentares.
sabilidade. § 8º As sanções restritivas de direito são:
§ 4º As infrações ambientais são apuradas em processo admi- I - suspensão de registro, licença ou autorização;
nistrativo próprio, assegurado o direito de ampla defesa e o contra- II - cancelamento de registro, licença ou autorização;
ditório, observadas as disposições desta Lei. III - perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais;
        IV - perda ou suspensão da participação em linhas de financia-
Art. 71. O processo administrativo para apuração de infração mento em estabelecimentos oficiais de crédito;
ambiental deve observar os seguintes prazos máximos: V - proibição de contratar com a Administração Pública, pelo
I - vinte dias para o infrator oferecer defesa ou impugnação período de até três anos.
       
contra o auto de infração, contados da data da ciência da autuação;
Art. 73. Os valores arrecadados em pagamento de multas por
II - trinta dias para a autoridade competente julgar o auto de
infração ambiental serão revertidos ao Fundo Nacional do Meio
infração, contados da data da sua lavratura, apresentada ou não a
Ambiente, criado pela Lei nº 7.797, de 10 de julho de 1989, Fundo
defesa ou impugnação; Naval, criado pelo Decreto nº 20.923, de 8 de janeiro de 1932,
III - vinte dias para o infrator recorrer da decisão condena- fundos estaduais ou municipais de meio ambiente, ou correlatos,
tória à instância superior do Sistema Nacional do Meio Ambiente conforme dispuser o órgão arrecadador.
- SISNAMA, ou à Diretoria de Portos e Costas, do Ministério da        
Marinha, de acordo com o tipo de autuação; Art. 74. A multa terá por base a unidade, hectare, metro cúbi-
IV – cinco dias para o pagamento de multa, contados da data co, quilograma ou outra medida pertinente, de acordo com o objeto
do recebimento da notificação. jurídico lesado.
               
Art. 72. As infrações administrativas são punidas com as se- Art. 75. O valor da multa de que trata este Capítulo será fixa-
guintes sanções, observado o disposto no art. 6º: do no regulamento desta Lei e corrigido periodicamente, com base
I - advertência; nos índices estabelecidos na legislação pertinente, sendo o mínimo
II - multa simples; de R$ 50,00 (cinquenta reais) e o máximo de R$ 50.000.000,00
III - multa diária; (cinquenta milhões de reais).
IV - apreensão dos animais, produtos e subprodutos da fau-        
na e flora, instrumentos, petrechos, equipamentos ou veículos de Art. 76. O pagamento de multa imposta pelos Estados, Mu-
qualquer natureza utilizados na infração; nicípios, Distrito Federal ou Territórios substitui a multa federal na
V - destruição ou inutilização do produto; mesma hipótese de incidência.
VI - suspensão de venda e fabricação do produto;
VII - embargo de obra ou atividade; CAPÍTULO VII
VIII - demolição de obra; DA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL PARA A PRE-
IX - suspensão parcial ou total de atividades; SERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE
X – (VETADO)       
XI - restritiva de direitos. Art. 77. Resguardados a soberania nacional, a ordem pública
§ 1º Se o infrator cometer, simultaneamente, duas ou mais in- e os bons costumes, o Governo brasileiro prestará, no que concer-
ne ao meio ambiente, a necessária cooperação a outro país, sem
frações, ser-lhe-ão aplicadas, cumulativamente, as sanções a elas
qualquer ônus, quando solicitado para:
cominadas.
I - produção de prova;
§ 2º A advertência será aplicada pela inobservância das dispo-
II - exame de objetos e lugares;
sições desta Lei e da legislação em vigor, ou de preceitos regula- III - informações sobre pessoas e coisas;
mentares, sem prejuízo das demais sanções previstas neste artigo. IV - presença temporária da pessoa presa, cujas declarações
§ 3º A multa simples será aplicada sempre que o agente, por tenham relevância para a decisão de uma causa;
negligência ou dolo: V - outras formas de assistência permitidas pela legislação em
I - advertido por irregularidades que tenham sido praticadas, vigor ou pelos tratados de que o Brasil seja parte.
deixar de saná-las, no prazo assinalado por órgão competente do § 1° A solicitação de que trata este artigo será dirigida ao Mi-
SISNAMA ou pela Capitania dos Portos, do Ministério da Mari- nistério da Justiça, que a remeterá, quando necessário, ao órgão ju-
nha; diciário competente para decidir a seu respeito, ou a encaminhará
II - opuser embaraço à fiscalização dos órgãos do SISNAMA à autoridade capaz de atendê-la.
ou da Capitania dos Portos, do Ministério da Marinha. § 2º A solicitação deverá conter:
§ 4° A multa simples pode ser convertida em serviços de pre- I - o nome e a qualificação da autoridade solicitante;
servação, melhoria e recuperação da qualidade do meio ambiente. II - o objeto e o motivo de sua formulação;
§ 5º A multa diária será aplicada sempre que o cometimento III - a descrição sumária do procedimento em curso no país
da infração se prolongar no tempo. solicitante;

Didatismo e Conhecimento 239


NOÇÕES DE DIREITO
IV - a especificação da assistência solicitada; § 3o  Da data da protocolização do requerimento previsto no
V - a documentação indispensável ao seu esclarecimento, § 2 e enquanto perdurar a vigência do correspondente termo de
o

quando for o caso. compromisso, ficarão suspensas, em relação aos fatos que deram
        causa à celebração do instrumento, a aplicação de sanções admi-
Art. 78. Para a consecução dos fins visados nesta Lei e espe- nistrativas contra a pessoa física ou jurídica que o houver firmado.
cialmente para a reciprocidade da cooperação internacional, deve § 4o  A celebração do termo de compromisso de que trata este
ser mantido sistema de comunicações apto a facilitar o intercâmbio artigo não impede a execução de eventuais multas aplicadas antes
rápido e seguro de informações com órgãos de outros países. da protocolização do requerimento.
§ 5o  Considera-se rescindido de pleno direito o termo de com-
CAPÍTULO VIII promisso, quando descumprida qualquer de suas cláusulas, ressal-
DISPOSIÇÕES FINAIS vado o caso fortuito ou de força maior.
        § 6o  O termo de compromisso deverá ser firmado em até no-
Art. 79. Aplicam-se subsidiariamente a esta Lei as disposi- venta dias, contados da protocolização do requerimento.
ções do Código Penal e do Código de Processo Penal. § 7o  O requerimento de celebração do termo de compromis-
so deverá conter as informações necessárias à verificação da sua
       
viabilidade técnica e jurídica, sob pena de indeferimento do plano.
Art. 79-A. Para o cumprimento do disposto nesta Lei, os
§ 8o  Sob pena de ineficácia, os termos de compromisso deve-
órgãos ambientais integrantes do SISNAMA, responsáveis pela
rão ser publicados no órgão oficial competente, mediante extrato.
execução de programas e projetos e pelo controle e fiscalização
        
dos estabelecimentos e das atividades suscetíveis de degradarem Art. 80. O Poder Executivo regulamentará esta Lei no prazo
a qualidade ambiental, ficam autorizados a celebrar, com força de de noventa dias a contar de sua publicação.
título executivo extrajudicial, termo de compromisso com pessoas        
físicas ou jurídicas responsáveis pela construção, instalação, am- Art. 81. (VETADO)
pliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades utiliza-        
dores de recursos ambientais, considerados efetiva ou potencial- Art. 82. Revogam-se as disposições em contrário.
mente poluidores. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.163-41,        
de 23.8.2001) Brasília, 12 de fevereiro de 1998; 177º da Independência e
§  1o  O termo de compromisso a que se refere este artigo 110º da República.
destinar-se-á, exclusivamente, a permitir que as pessoas físicas e
jurídicas mencionadas no caput possam promover as necessárias FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
correções de suas atividades, para o atendimento das exigências Gustavo Krause
impostas pelas autoridades ambientais competentes, sendo obriga-
tório que o respectivo instrumento disponha sobre: Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 13.2.1998 e
I - o nome, a qualificação e o endereço das partes compromis- retificado no DOU de 17.2.1998
sadas e dos respectivos representantes legais;
II - o prazo de vigência do compromisso, que, em função da
complexidade das obrigações nele fixadas, poderá variar entre o
mínimo de noventa dias e o máximo de três anos, com possibilida- 2.5.16 LEI DE INTERCEPTAÇÃO
de de prorrogação por igual período;
TELEFÔNICA – Nº LEI 9.296/96
III - a descrição detalhada de seu objeto, o valor do investi-
mento previsto e o cronograma físico de execução e de implanta-
ção das obras e serviços exigidos, com metas trimestrais a serem
LEI Nº 9.296, DE 24 DE JULHO DE 1996.
atingidas;
IV - as multas que podem ser aplicadas à pessoa física ou Regulamenta o inciso XII, parte final, do art. 5° da Constitui-
jurídica compromissada e os casos de rescisão, em decorrência do ção Federal.
não-cumprimento das obrigações nele pactuadas;
V - o valor da multa de que trata o inciso IV não poderá ser O  PRESIDENTE  DA  REPÚBLICA, Faço saber que o
superior ao valor do investimento previsto; Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
VI - o foro competente para dirimir litígios entre as partes.
§ 2o  No tocante aos empreendimentos em curso até o dia 30 Art. 1º A interceptação de comunicações telefônicas, de qual-
de março de 1998, envolvendo construção, instalação, ampliação quer natureza, para prova em investigação criminal e em instrução
e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadores de processual penal, observará o disposto nesta Lei e dependerá de or-
recursos ambientais, considerados efetiva ou potencialmente po- dem do juiz competente da ação principal, sob segredo de justiça.
luidores, a assinatura do termo de compromisso deverá ser reque- Parágrafo único. O disposto nesta Lei aplica-se à intercepta-
rida pelas pessoas físicas e jurídicas interessadas, até o dia 31 de ção do fluxo de comunicações em sistemas de informática e tele-
dezembro de 1998, mediante requerimento escrito protocolizado mática.
junto aos órgãos competentes do SISNAMA, devendo ser firmado
pelo dirigente máximo do estabelecimento.

Didatismo e Conhecimento 240


NOÇÕES DE DIREITO
Art. 2° Não será admitida a interceptação de comunicações Art. 9° A gravação que não interessar à prova será inutilizada
telefônicas quando ocorrer qualquer das seguintes hipóteses: por decisão judicial, durante o inquérito, a instrução processual ou
I - não houver indícios razoáveis da autoria ou participação após esta, em virtude de requerimento do Ministério Público ou da
em infração penal; parte interessada.
II - a prova puder ser feita por outros meios disponíveis; Parágrafo único. O incidente de inutilização será assistido
III - o fato investigado constituir infração penal punida, no pelo Ministério Público, sendo facultada a presença do acusado ou
máximo, com pena de detenção. de seu representante legal.
Parágrafo único. Em qualquer hipótese deve ser descrita com
clareza a situação objeto da investigação, inclusive com a indica- Art. 10. Constitui crime realizar interceptação de comunica-
ção e qualificação dos investigados, salvo impossibilidade mani- ções telefônicas, de informática ou telemática, ou quebrar segredo
festa, devidamente justificada. da Justiça, sem autorização judicial ou com objetivos não autori-
zados em lei.
Art. 3° A interceptação das comunicações telefônicas poderá Pena: reclusão, de dois a quatro anos, e multa.
ser determinada pelo juiz, de ofício ou a requerimento:
I - da autoridade policial, na investigação criminal; Art. 11. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
II - do representante do Ministério Público, na investigação
criminal e na instrução processual penal. Art. 12. Revogam-se as disposições em contrário.

Art. 4° O pedido de interceptação de comunicação telefôni- Brasília, 24 de julho de 1996; 175º da Independência e 108º
ca conterá a demonstração de que a sua realização é necessária da República.
à apuração de infração penal, com indicação dos meios a serem FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
empregados. Nelson A. Jobim
§ 1° Excepcionalmente, o juiz poderá admitir que o pedido
seja formulado verbalmente, desde que estejam presentes os pres- Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 25.7.1996
supostos que autorizem a interceptação, caso em que a concessão
será condicionada à sua redução a termo.
§ 2° O juiz, no prazo máximo de vinte e quatro horas, decidirá
sobre o pedido. 2.5.17 LEI DOS CRIMES RESULTANTES
DE PRECONCEITO DE RAÇA E COR –
Art. 5° A decisão será fundamentada, sob pena de nulidade, LEI Nº 7.716/89
indicando também a forma de execução da diligência, que não po-
derá exceder o prazo de quinze dias, renovável por igual tempo
uma vez comprovada a indispensabilidade do meio de prova.
LEI Nº 7.716, DE 5 DE JANEIRO DE 1989.
Art. 6° Deferido o pedido, a autoridade policial conduzirá os        
procedimentos de interceptação, dando ciência ao Ministério Pú- Define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor.
blico, que poderá acompanhar a sua realização.
§ 1° No caso de a diligência possibilitar a gravação da comu- O PRESIDENTE DA REPÚBLICA  faço saber que o Con-
nicação interceptada, será determinada a sua transcrição. gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:        
§ 2° Cumprida a diligência, a autoridade policial encaminhará                 
o resultado da interceptação ao juiz, acompanhado de auto circuns- Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultan-
tanciado, que deverá conter o resumo das operações realizadas. tes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou
§ 3° Recebidos esses elementos, o juiz determinará a provi- procedência nacional. 
dência do art. 8°, ciente o Ministério Público.        
Art. 2º (Vetado).
Art. 7° Para os procedimentos de interceptação de que trata         
esta Lei, a autoridade policial poderá requisitar serviços e técnicos Art. 3º Impedir ou obstar o acesso de alguém, devidamente
especializados às concessionárias de serviço público. habilitado, a qualquer cargo da Administração Direta ou Indireta,
bem como das concessionárias de serviços públicos.
Art. 8° A interceptação de comunicação telefônica, de qual- Parágrafo único.  Incorre na mesma pena quem, por motivo de
quer natureza, ocorrerá em autos apartados, apensados aos autos discriminação de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional,
do inquérito policial ou do processo criminal, preservando-se o obstar a promoção funcional. 
sigilo das diligências, gravações e transcrições respectivas. Pena: reclusão de dois a cinco anos.
Parágrafo único. A apensação somente poderá ser realizada         
imediatamente antes do relatório da autoridade, quando se tratar Art. 4º Negar ou obstar emprego em empresa privada. 
de inquérito policial (Código de Processo Penal, art.10, § 1°) ou  § 1o  Incorre na mesma pena quem, por motivo de discrimi-
na conclusão do processo ao juiz para o despacho decorrente do nação de raça ou de cor ou práticas resultantes do preconceito de
disposto nos arts. 407, 502 ou 538 do Código de Processo Penal. descendência ou origem nacional ou étnica: 

Didatismo e Conhecimento 241


NOÇÕES DE DIREITO
I - deixar de conceder os equipamentos necessários ao em- Art. 14. Impedir ou obstar, por qualquer meio ou forma, o
pregado em igualdade de condições com os demais trabalhadores;  casamento ou convivência familiar e social.
II - impedir a ascensão funcional do empregado ou obstar ou- Pena: reclusão de dois a quatro anos.
tra forma de benefício profissional;         
III - proporcionar ao empregado tratamento diferenciado no Art. 15. (Vetado).
ambiente de trabalho, especialmente quanto ao salário.         
§ 2o  Ficará sujeito às penas de multa e de prestação de servi- Art. 16. Constitui efeito da condenação a perda do cargo ou
ços à comunidade, incluindo atividades de promoção da igualdade função pública, para o servidor público, e a suspensão do funcio-
racial, quem, em anúncios ou qualquer outra forma de recrutamen- namento do estabelecimento particular por prazo não superior a
to de trabalhadores, exigir aspectos de aparência próprios de raça três meses.
ou etnia para emprego cujas atividades não justifiquem essas exi-        
gências. Art. 17. (Vetado).
Pena: reclusão de dois a cinco anos.        
        Art. 18. Os efeitos de que tratam os arts. 16 e 17 desta Lei
Art. 5º Recusar ou impedir acesso a estabelecimento comer- não são automáticos, devendo ser motivadamente declarados na
cial, negando-se a servir, atender ou receber cliente ou comprador. sentença.
Pena: reclusão de um a três anos.        
        Art. 19. (Vetado).            
Art. 6º Recusar, negar ou impedir a inscrição ou ingresso de         
aluno em estabelecimento de ensino público ou privado de qual- Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou precon-
quer grau. ceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.
Pena: reclusão de três a cinco anos. Pena: reclusão de um a três anos e multa.
Parágrafo único. Se o crime for praticado contra menor de § 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos,
dezoito anos a pena é agravada de 1/3 (um terço). emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a
        cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo.
Art. 7º Impedir o acesso ou recusar hospedagem em hotel, Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.
pensão, estalagem, ou qualquer estabelecimento similar. § 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido
Pena: reclusão de três a cinco anos. por intermédio dos meios de comunicação social ou publicação de
        qualquer natureza: 
Art. 8º Impedir o acesso ou recusar atendimento em restauran- Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.
tes, bares, confeitarias, ou locais semelhantes abertos ao público. § 3º No caso do parágrafo anterior, o juiz poderá determinar,
Pena: reclusão de um a três anos. ouvido o Ministério Público ou a pedido deste, ainda antes do in-
        quérito policial, sob pena de desobediência:    
Art. 9º Impedir o acesso ou recusar atendimento em estabele- I - o recolhimento imediato ou a busca e apreensão dos exem-
cimentos esportivos, casas de diversões, ou clubes sociais abertos plares do material respectivo;
ao público. II - a cessação das respectivas transmissões radiofônicas, tele-
Pena: reclusão de um a três anos. visivas, eletrônicas ou da publicação por qualquer meio; (Redação
        dada pela Lei nº 12.735, de 2012).
Art. 10. Impedir o acesso ou recusar atendimento em salões de III - a interdição das respectivas mensagens ou páginas de in-
cabelereiros, barbearias, termas ou casas de massagem ou estabe- formação na rede mundial de computadores.
lecimento com as mesmas finalidades. § 4º Na hipótese do § 2º, constitui efeito da condenação, após
Pena: reclusão de um a três anos. o trânsito em julgado da decisão, a destruição do material apreen-
        dido. 
Art. 11. Impedir o acesso às entradas sociais em edifícios pú-         
blicos ou residenciais e elevadores ou escada de acesso aos mes- Art. 21. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
mos:        
Pena: reclusão de um a três anos. Art. 22. Revogam-se as disposições em contrário. 
               
Art. 12. Impedir o acesso ou uso de transportes públicos, Brasília, 5 de janeiro de 1989; 168º da Independência e 101º
como aviões, navios barcas, barcos, ônibus, trens, metrô ou qual- da República.
quer outro meio de transporte concedido.
Pena: reclusão de um a três anos. JOSÉ SARNEY
        Paulo Brossard
Art. 13. Impedir ou obstar o acesso de alguém ao serviço em
qualquer ramo das Forças Armadas. Este texto não substitui o publicado no D.O.U de 6.1.1989 e
Pena: reclusão de dois a quatro anos. retificada em 9.1.1989
       

Didatismo e Conhecimento 242


NOÇÕES DE DIREITO
§ 1o Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
2.5.18 ESTATUTO DO IDOSO – LEI Nº Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
10.741/2003 – ARTIGOS 93 AO 108 § 2o Se resulta a morte:
Pena – reclusão de 4 (quatro) a 12 (doze) anos.
       
Art. 100. Constitui crime punível com reclusão de 6 (seis) me-
ses a 1 (um) ano e multa:
TÍTULO VI I – obstar o acesso de alguém a qualquer cargo público por
Dos Crimes motivo de idade;
II – negar a alguém, por motivo de idade, emprego ou traba-
CAPÍTULO I lho;
Disposições Gerais III – recusar, retardar ou dificultar atendimento ou deixar de
        prestar assistência à saúde, sem justa causa, a pessoa idosa;
Art. 93. Aplicam-se subsidiariamente, no que couber, as dis- IV – deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo motivo,
posições da Lei no 7.347, de 24 de julho de 1985. a execução de ordem judicial expedida na ação civil a que alude
        esta Lei;
Art. 94. Aos crimes previstos nesta Lei, cuja pena máxima V – recusar, retardar ou omitir dados técnicos indispensáveis
privativa de liberdade não ultrapasse 4 (quatro) anos, aplica-se o à propositura da ação civil objeto desta Lei, quando requisitados
procedimento previsto na Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995,
pelo Ministério Público.
e, subsidiariamente, no que couber, as disposições do Código Pe-
       
nal e do Código de Processo Penal. 
Art. 101.  Deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo
motivo, a execução de ordem judicial expedida nas ações em que
CAPÍTULO II
for parte ou interveniente o idoso:
Dos Crimes em Espécie
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.
        
       
Art. 95. Os crimes definidos nesta Lei são de ação penal pú-
Art. 102. Apropriar-se de ou desviar bens, proventos, pensão
blica incondicionada, não se lhes aplicando os arts. 181 e 182 do
Código Penal. ou qualquer outro rendimento do idoso, dando-lhes aplicação di-
        versa da de sua finalidade:
Art. 96. Discriminar pessoa idosa, impedindo ou dificultan- Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa.
do seu acesso a operações bancárias, aos meios de transporte, ao        
direito de contratar ou por qualquer outro meio ou instrumento Art. 103.  Negar o acolhimento ou a permanência do idoso,
necessário ao exercício da cidadania, por motivo de idade: como abrigado, por recusa deste em outorgar procuração à entida-
Pena – reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa. de de atendimento:
§ 1o Na mesma pena incorre quem desdenhar, humilhar, me- Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.
nosprezar ou discriminar pessoa idosa, por qualquer motivo.        
§ 2o A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se a vítima se Art. 104. Reter o cartão magnético de conta bancária relativa
encontrar sob os cuidados ou responsabilidade do agente. a benefícios, proventos ou pensão do idoso, bem como qualquer
        outro documento com objetivo de assegurar recebimento ou res-
Art. 97. Deixar de prestar assistência ao idoso, quando pos- sarcimento de dívida:
sível fazê-lo sem risco pessoal, em situação de iminente perigo, Pena – detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e multa.
ou recusar, retardar ou dificultar sua assistência à saúde, sem justa        
causa, ou não pedir, nesses casos, o socorro de autoridade pública: Art. 105. Exibir ou veicular, por qualquer meio de comunica-
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa. ção, informações ou imagens depreciativas ou injuriosas à pessoa
Parágrafo único. A pena é aumentada de metade, se da omis- do idoso:
são resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta Pena – detenção de 1 (um) a 3 (três) anos e multa.
a morte.        
        Art. 106. Induzir pessoa idosa sem discernimento de seus atos
Art. 98. Abandonar o idoso em hospitais, casas de saúde, en- a outorgar procuração para fins de administração de bens ou deles
tidades de longa permanência, ou congêneres, ou não prover suas dispor livremente:
necessidades básicas, quando obrigado por lei ou mandado: Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 3 (três) anos e multa.        
        Art. 107. Coagir, de qualquer modo, o idoso a doar, contratar,
Art. 99.  Expor a perigo a integridade e a saúde, física ou testar ou outorgar procuração:
psíquica, do idoso, submetendo-o a condições desumanas ou de- Pena – reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.
gradantes ou privando-o de alimentos e cuidados indispensáveis,        
quando obrigado a fazê-lo, ou sujeitando-o a trabalho excessivo Art. 108.  Lavrar ato notarial que envolva pessoa idosa sem
ou inadequado: discernimento de seus atos, sem a devida representação legal:
Pena – detenção de 2 (dois) meses a 1 (um) ano e multa. Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.

Didatismo e Conhecimento 243


NOÇÕES DE DIREITO
Artigo 8º — Carreira é o conjunto de classes da mesma natu-
2.5.19 ESTATUTO DOS FUNCIONÁRIOS reza de trabalho, escalonadas segundo o nível de complexidade e o
PÚBLICOS CIVIS DO ESTADO – grau de responsabilidade.
LEI Nº 10.261/68
Artigo 9º — Quadro é o conjunto de carreiras e de cargos
isolados.

Artigo 10  —  É vedado atribuir ao funcionário serviços di-


LEI Nº 10.261, DE 28 DE OUTUBRO DE 1968 versos dos inerentes ao seu cargo, exceto as funções de chefia e
direção e as comissões legais.
(Atualizada até a Lei Complementar nº 1.199, de
22 de maio de 2013)
TÍTULO II
Dispõe sobre o Estatuto dos Funcionários Públicos Civis do
Estado DO PROVIMENTO, DO EXERCÍCIO E DA VACÂNCIA
DOS CARGOS PÚBLICOS
O GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO:
CAPÍTULO I
Faço saber que a Assembleia Legislativa decreta e eu promul- Do Provimento
go a seguinte lei:
Artigo 11 — Os cargos públicos serão providos por:
ESTATUTO DOS FUNCIONÁRIOS I — nomeação;
PÚBLICOS CIVIS DO ESTADO II — transferência;
III — reintegração;
TÍTULO I IV — acesso;
Disposições Preliminares V — reversão;
VI — aproveitamento; e
Artigo 1º — Esta lei institui o regime jurídico dos funcioná- VII — readmissão.
rios públicos civis do Estado.
Parágrafo único — As suas disposições, exceto no que coli- Artigo 12 — Não havendo candidato habilitado em concurso,
direm com a legislação especial, aplicam-se aos funcionários dos 3 os cargos vagos, isolados ou de carreira, só poderão ser ocupados
Poderes do Estado e aos do Tribunal de Contas do Estado. no regime da legislação trabalhista, até o prazo máximo de 2 (dois)
anos, considerando-se findo o contrato após esse período, vedada
Artigo 2º — As disposições desta lei não se aplicam aos em- a recondução.
pregados das autarquias, entidades paraestatais e serviços públicos
de natureza industrial, ressalvada a situação daqueles que, por lei CAPÍTULO II
anterior, já tenham a qualidade de funcionário público. Das Nomeações
Parágrafo único — Os direitos, vantagens e regalias dos fun-
cionários públicos só poderão ser estendidos aos empregados das
SEÇÃO I
entidades a que se refere este artigo na forma e condições que a lei
Das Formas de Nomeação
estabelecer.
Artigo 13 — As nomeações serão feitas:
Artigo 3º — Funcionário público, para os fins deste Estatuto,
é a pessoa legalmente investida em cargo público. I — em caráter vitalício, nos casos expressamente previstos
na Constituição do Brasil;
Artigo 4º — Cargo público é o conjunto de atribuições e res- II — em comissão, quando se tratar de cargo que em virtude
ponsabilidades cometidas a um funcionário. de lei assim deva ser provido; e
III — em caráter efetivo, quando se tratar de cargo de provi-
Artigo 5º — Os cargos públicos são isolados ou de carreira. mento dessa natureza.

Artigo 6º — Aos cargos públicos serão atribuídos valores de- SEÇÃO II


terminados por referências numéricas, seguidas de letras em or- Da Seleção de Pessoal
dem alfabética, indicadoras de graus.
Parágrafo único — O conjunto de referência e grau constitui SUBSEÇÃO I
o padrão do cargo. Do Concurso

Artigo 7º — Classe é o conjunto de cargos da mesma deno- Artigo 14 — A nomeação para cargo público de provimento
minação. efetivo será precedida de concurso público de provas ou de provas
e títulos.

Didatismo e Conhecimento 244


NOÇÕES DE DIREITO
Parágrafo único — As provas serão avaliadas na escala de 0 § 1º — O substituto exercerá o cargo enquanto durar o impe-
(zero) a 100 (cem) pontos e aos títulos serão atribuídos, no máxi- dimento do respectivo ocupante.
mo, 50 (cinqüenta) pontos. § 2º — O substituto, durante todo o tempo em que exercer a
substituição terá direito a perceber o valor do padrão e as vanta-
Artigo 15 — A realização dos concursos será centralizada gens pecuniárias inerentes ao cargo do substituído e mais as vanta-
num só órgão. gens pessoais a que fizer jus.
§ 3º — O substituto perderá, durante o tempo da substituição,
Artigo 16 — As normas gerais para a realização dos concur- o vencimento ou a remuneração e demais vantagens pecuniárias
sos e para a convocação e indicação dos candidatos para o provi-
inerentes ao seu cargo, se pelo mesmo não optar.
mento dos cargos serão estabelecidas em regulamento.
Artigo 25 — Exclusivamente para atender à necessidade de
Artigo 17 — Os concursos serão regidos por instruções espe- serviço, os tesoureiros, caixas e outros funcionários que tenham
ciais, expedidas pelo órgão competente. valores sob sua guarda, em caso de impedimento, serão substituí-
dos por funcionários de sua confiança, que indicarem, responden-
Artigo 18 — As instruções especiais determinarão, em função do a sua fiança pela gestão do substituto.
da natureza do cargo: Parágrafo único — Feita a indicação, por escrito, ao chefe da
I — se o concurso será: repartição ou do serviço, este proporá a expedição do ato de desig-
1 — de provas ou de provas e títulos; e nação, aplicando-se ao substituto a partir da data em que assumir
2 —  por especializações ou por modalidades profissionais, as funções do cargo, o disposto nos §§ 1º e 2º do art. 24.
quando couber;
II — as condições para provimento do cargo referentes a:
CAPÍTULO IV
1 — diplomas ou experiência de trabalho;
2 — capacidade física; e Da Transferência
3 — conduta;
III — o tipo e conteúdo das provas e as categorias de títulos; Artigo 26 — O funcionário poderá ser transferido de um para
IV — a forma de julgamento das provas e dos títulos; outro cargo de provimento efetivo.
V — os critérios de habilitação e de classificação; e
VI — o prazo de validade do concurso. Artigo 27 — As transferências serão feitas a pedido do fun-
cionário ou “ex-officio”, atendidos sempre a conveniência do ser-
Artigo 19 — As instruções especiais poderão determinar que viço e os requisitos necessários ao provimento do cargo.
a execução do concurso, bem como a classificação dos habilitados,
seja feita por regiões.
Artigo 28 — A transferência será feita para cargo do mesmo
Artigo 20 — A nomeação obedecerá à ordem de classificação padrão de vencimento ou de igual remuneração, ressalvados os ca-
no concurso. sos de transferência a pedido, em que o vencimento ou a remune-
ração poderá ser inferior.
SUBSEÇÃO II
Das Provas de Habilitação Artigo 29 — A transferência por permuta se processará a re-
querimento de ambos os interessados e de acordo com o prescrito
Artigo 21 — As provas de habilitação serão realizadas pelo neste capítulo.
órgão encarregado dos concursos, para fins de transferência e de
outras formas de provimento que não impliquem em critério com- CAPÍTULO V
petitivo. Da Reintegração
Artigo 22 — As normas gerais para realização das provas de
habilitação serão estabelecidas em regulamento, obedecendo, no Artigo 30 — A reintegração é o reingresso no serviço público,
que couber, ao estabelecido para os concursos. decorrente da decisão judicial passada em julgado, com ressarci-
mento de prejuízos resultantes do afastamento.
CAPÍTULO III
Artigo 31 — A reintegração será feita no cargo anteriormente
Das Substituições ocupado e, se este houver sido transformado, no cargo resultante.
§ 1º  — Se o cargo estiver preenchido, o seu ocupante será
Artigo 23 — Haverá substituição no impedimento legal e exonerado, ou, se ocupava outro cargo, a este será reconduzido,
temporário do ocupante de cargo de chefia ou de direção. sem direito a indenização.
Parágrafo único — Ocorrendo a vacância, o substituto pas-
§ 2º — Se o cargo houver sido extinto, a reintegração se fará
sará a responder pelo expediente da unidade ou órgão correspon-
dente até o provimento do cargo. em cargo equivalente, respeitada a habilitação profissional, ou, não
sendo possível, ficará o reintegrado em disponibilidade no cargo
Artigo 24 — A substituição, que recairá sempre em funcioná- que exercia.
rio público, quando não for automática, dependerá da expedição de Artigo 32 — Transitada em julgado a sentença, será expedido
ato de autoridade competente. o decreto de reintegração no prazo máximo de 30 (trinta) dias.

Didatismo e Conhecimento 245


NOÇÕES DE DIREITO
CAPÍTULO VI § 3º — Em nenhum caso poderá efetuar -se o aproveitamento
Do Acesso sem que, mediante inspeção médica, fique provada a capacidade
para o exercício do cargo.
Artigo 33 — Acesso é a elevação do funcionário, dentro § 4º — Se o laudo médico não for favorável, poderá ser pro-
do respectivo quadro a cargo da mesma natureza de trabalho, de cedida nova inspeção de saúde, para o mesmo fim, decorridos no
maior grau de responsabilidade e maior complexidade de atribui- mínimo 90 (noventa) dias.
ções, obedecido o interstício na classe e as exigências a serem ins- § 5º — Será tornado sem efeito o aproveitamento e cassada a
tituídas em regulamento. disponibilidade do funcionário que, aproveitado, não tomar posse
§ 1º — Serão reservados para acesso os cargos cujas atribui- e não entrar em exercício dentro do prazo legal.
ções exijam experiência prévia do exercício de outro cargo. § 6º — Será aposentado no cargo anteriormente ocupado, o
§ 2º — O acesso será feito mediante aferição do mérito dentre funcionário em disponibilidade que for julgado incapaz para o ser-
titulares de cargos cujo exercício proporcione a experiência ne- viço público, em inspeção médica.
cessária ao desempenho das atribuições dos cargos referidos no
§ 7º — Se o aproveitamento se der em cargo de provimento
parágrafo anterior.
em comissão, terá o aproveitado assegurado, no novo cargo, a con-
Artigo 34 — Será de 3 (três) anos de efetivo exercício o in-
dição de efetividade que tinha no cargo anteriormente ocupado.
terstício para concorrer ao acesso.
(NR)
CAPÍTULO VII
Da Reversão CAPÍTULO IX
Da Readmissão
Artigo 35 — Reversão é o ato pelo qual o aposentado rein-
gressa no serviço público a pedido ou ex-officio. Artigo 39 — Readmissão é o ato pelo qual o ex-funcionário,
§ 1º — A reversão ex-officio será feita quando insubsistentes demitido ou exonerado, reingressa no serviço público, sem direito
as razões que determinaram a aposentadoria por invalidez. a ressarcimento de prejuízos, assegurada, apenas, a contagem de
§ 2º — Não poderá reverter à atividade o aposentado que con- tempo de serviço em cargos anteriores, para efeito de aposentado-
tar mais de 58 (cinqüenta e oito) anos de idade. ria e disponibilidade.
§ 3º — No caso de reversão ex-officio, será permitido o rein- § 1º — A readmissão do ex-funcionário demitido será obriga-
gresso além do limite previsto no parágrafo anterior. toriamente precedida de reexame do respectivo processo adminis-
§ 4º — A reversão só poderá efetivar-se quando, em inspeção trativo, em que fique demonstrado não haver inconveniente, para o
médica, ficar comprovada a capacidade para o exercício do cargo. serviço público, na decretação da medida.
§ 5º — Se o laudo médico não for favorável, poderá ser pro- § 2º — Observado o disposto no parágrafo anterior, se a de-
cedida nova inspeção de saúde, para o mesmo fim, decorridos pelo missão tiver sido a bem do serviço público, a readmissão não po-
menos 90 (noventa) dias. derá ser decretada antes de decorridos 5 (cinco) anos do ato de-
§ 6º — Será tornada sem efeito a reversão ex-officio e cassada missório.
a aposentadoria do funcionário que reverter e não tomar posse ou
não entrar em exercício dentro do prazo legal. Artigo 40 — A readmissão será feita no cargo anteriormente
exercido pelo ex-funcionário ou, se transformado, no cargo resul-
Artigo 36 — A reversão far-se-á no mesmo cargo. tante da transformação.
§ 1º — Em casos especiais, a juízo do Governo, poderá o apo-
sentado reverter em outro cargo, de igual padrão de vencimentos, CAPÍTULO X
respeitada a habilitação profissional.
Da Readaptação
§ 2º — A reversão a pedido, que será feita a critério da Ad-
ministração, dependerá também da existência de cargo vago, que
Artigo 41 — Readaptação é a investidura em cargo mais com-
deva ser provido mediante promoção por merecimento.
patível com a capacidade do funcionário e dependerá sempre de
CAPÍTULO VIII inspeção médica.
Do Aproveitamento
Artigo 42 — A readaptação não acarretará diminuição, nem
Artigo 37 — Aproveitamento é o reingresso no serviço públi- aumento de vencimento ou remuneração e será feita mediante
co do funcionário em disponibilidade. transferência.

Artigo 38 — O obrigatório aproveitamento do funcionário em CAPÍTULO XI


disponibilidade ocorrerá em vagas existentes ou que se verificarem Da Remoção
nos quadros do funcionalismo.
§ 1º — O aproveitamento dar-se-á, tanto quanto possível, em Artigo 43 — A remoção, que se processará a pedido do fun-
cargo de natureza e padrão de vencimentos correspondentes ao que cionário ou ex-officio, só poderá ser feita:
ocupava, não podendo ser feito em cargo de padrão superior. I — de uma para outra repartição, da mesma Secretaria; e
§ 2º — Se o aproveitamento se der em cargo de padrão infe- II — de um para outro órgão da mesma repartição.
rior ao provento da disponibilidade, terá o funcionário direito à Parágrafo único — A remoção só poderá ser feita respeitada
diferença. a lotação de cada repartição.

Didatismo e Conhecimento 246


NOÇÕES DE DIREITO
Artigo 44 — A remoção por permuta será processada a reque- § 1º — O prazo fixado neste artigo poderá ser prorrogado por
rimento de ambos os interessados, com anuência dos respectivos mais 30 (trinta) dias, a requerimento do interessado.
chefes e de acordo com o prescrito neste Capítulo. § 2º — O prazo inicial para a posse do funcionário em férias
ou licença, será contado da data em que voltar ao serviço.
Artigo 45 — O funcionário não poderá ser removido ou trans- § 3º — Se a posse não se der dentro do prazo, será tornado
ferido ex-officio para cargo que deva exercer fora da localidade sem efeito o ato de provimento.
de sua residência, no período de 6 (seis) meses antes e até 3 (três)
meses após a data das eleições. Artigo 53 — A contagem do prazo a que se refere o artigo
Parágrafo único — Essa proibição vigorará no caso de elei- anterior poderá ser suspensa nas seguintes hipóteses: (NR)
ções federais, estaduais ou municipais, isolada ou simultaneamen- I — por até 120 (cento e vinte) dias, a critério do órgão mé-
te realizadas. dico oficial, a partir da data de apresentação do candidato junto ao
referido órgão para perícia de sanidade e capacidade física, para
CAPÍTULO XII fins de ingresso, sempre que a inspeção médica exigir essa provi-
Da Posse dência; (NR)
II — por 30 (trinta) dias, mediante a interposição de recurso
Artigo 46 — Posse é o ato que investe o cidadão em cargo
pelo candidato contra a decisão do órgão médico oficial.
público.
§ 1º — o prazo a que se refere o inciso I deste artigo recome-
Artigo 47 — São requisitos para a posse em cargo público: çará a correr sempre que o candidato, sem motivo justificado, dei-
I — ser brasileiro; xe de submeter-se aos exames médicos julgados necessários. (NR)
II — ter completado 18 (dezoito) anos de idade; § 2º — a interposição de recurso a que se refere o inciso II
III — estar em dia com as obrigações militares; deste artigo dar-se-á no prazo máximo de 5 (cinco) dias, a contar
IV — estar no gozo dos direitos políticos; da data de decisão do órgão médico oficial. (NR) 
V — ter boa conduta;
VI — gozar de boa saúde, comprovada em inspeção realizada Artigo 54 — O prazo a que se refere o art. 52 para aquele que,
por órgão médico registrado no Conselho Regional corresponden- antes de tomar posse, for incorporado às Forças Armadas, será
te, para provimento de cargo em comissão; (NR) contado a partir da data da desincorporação.
VII — possuir aptidão para o exercício do cargo; e Artigo 55 — o funcionário efetivo, nomeado para cargo em
VIII — ter atendido às condições especiais prescritas para o comissão, fica dispensado, no ato da posse, da apresentação do
cargo. atestado de que trata o inciso VI do artigo 47 desta lei. (NR)
Parágrafo único — A deficiência da capacidade física, com-
provadamente estacionária, não será considerada impedimento CAPÍTULO XIII
para a caracterização da capacidade psíquica e somática a que se Da Fiança
refere o item VI deste artigo, desde que tal deficiência não impeça
o desempenho normal das funções inerentes ao cargo de cujo pro- Artigo 56 — Revogado
vimento se trata.
Artigo 48 — São competentes para dar posse: CAPÍTULO XIV
I — Os Secretários de Estado, aos diretores gerais, aos di- Do Exercício
retores ou chefes das repartições e aos funcionários que lhes são
diretamente subordinados; e Artigo 57 — O exercício é o ato pelo qual o funcionário assu-
II — Os diretores gerais e os diretores ou chefes de reparti- me as atribuições e responsabilidades do cargo.
ção ou serviço, nos demais casos, de acordo com o que dispuser o
§ 1º — O início, a interrupção e o reinicio do exercício serão
regulamento.
registrados no assentamento individual do funcionário.
§ 2º — O início do exercício e as alterações que ocorrerem
Artigo 49 — A posse verificar-se-á mediante a assinatura de
termo em que o funcionário prometa cumprir fielmente os deveres serão comunicados ao órgão competente, pelo chefe da repartição
do cargo. ou serviço em que estiver lotado o funcionário.
Parágrafo único — O termo será lavrado em livro próprio e
assinado pela autoridade que der posse. Artigo 58 — Entende-se por lotação, o número de funcioná-
rios de carreira e de cargos isolados que devam ter exercício em
Artigo 50 — A posse poderá ser tomada por procuração quan- cada repartição ou serviço.
do se tratar de funcionário ausente do Estado, em comissão do Go-
verno ou, em casos especiais, a critério da autoridade competente. Artigo 59 — O chefe da repartição ou de serviço em que for
lotado o funcionário é a autoridade competente para dar-lhe exer-
Artigo 51 — A autoridade que der posse deverá verificar, sob cício.
pena de responsabilidade, se foram satisfeitas as condições estabe- Parágrafo único — É competente para dar exercício ao fun-
lecidas, em lei ou regulamento, para a investidura no cargo. cionário, com sede no Interior do Estado, a autoridade a que o
mesmo estiver diretamente subordinado.
Artigo 52 — A posse deverá verificar-se no prazo de 30 (trin-
ta) dias, contados da data da publicação do ato de provimento do Artigo 60 — O exercício do cargo terá início dentro do prazo
cargo, no órgão oficial. de 30 (trinta) dias, contados:

Didatismo e Conhecimento 247


NOÇÕES DE DIREITO
I — da data da posse; e § 1º  — Estando o servidor licenciado, sem prejuízo de sua
II — da data da publicação oficial do ato, no caso de remoção. remuneração, será considerada cessada a licença na data em que o
§ 1º — Os prazos previstos neste artigo poderão ser prorroga- servidor for recolhido à prisão. (NR)  
dos por 30 (trinta) dias, a requerimento do interessado e a juízo da § 2º — Se o servidor for, ao final do processo judicial, con-
autoridade competente. denado, o afastamento sem remuneração perdurará até o cumpri-
§ 2º — No caso de remoção, o prazo para exercício de funcio- mento total da pena, em regime fechado ou semiaberto, salvo na
nário em férias ou em licença, será contado da data em que voltar hipótese em que a decisão condenatória determinar a perda do car-
ao serviço. go público. (NR)
§ 3º — No interesse do serviço público, os prazos previstos
neste artigo poderão ser reduzidos para determinados cargos. Artigo 71 — As autoridades competentes determinarão o
§ 4º — O funcionário que não entrar em exercício dentro do afastamento imediato do trabalho, do funcionário que apresente
prazo será exonerado. indícios de lesões orgânicas ou funcionais causadas por raios X
ou substâncias radioativas, podendo atribuir-lhe conforme o  caso,
Artigo 61 — Em caso de mudança de sede, será concedido
tarefas sem risco de radiação ou conceder-lhe licença “ex-officio”
um período de trânsito, até 8 (oito) dias, a contar do desligamento
na forma do art. 194 e seguintes.
do funcionário.
Artigo 72 — O funcionário, quando no desempenho do man-
Artigo 62 — O funcionário deverá apresentar ao órgão com-
petente, logo após ter tomado posse e assumido o exercício, os dato eletivo federal ou estadual, ficará afastado de seu cargo, com
elementos necessários à abertura do assentamento individual. prejuízo do vencimento ou remuneração.

Artigo 63 — Salvo os casos previstos nesta lei, o funcionário Artigo 73 — O exercício do mandato de Prefeito, ou de
que interromper o exercício por mais de 30 (trinta) dias consecu- Vereador, quando remunerado, determinará o afastamento do
tivos, ficará sujeito à pena de demissão por abandono de cargo. funcionário, com a faculdade de opção entre os subsídios do
mandato e os vencimentos ou a remuneração do cargo, inclusi-
Artigo 64 — O funcionário deverá ter exercício na repartição ve vantagens pecuniárias, ainda que não incorporadas. (NR)
em cuja lotação houver claro. Parágrafo único — O disposto neste artigo aplica-se igualmente
à hipótese de nomeação de Prefeito.(NR)
Artigo 65 — Nenhum funcionário poderá ter exercício em
serviço ou repartição diferente daquela em que estiver lotado, sal- Artigo 74 — Quando não remunerada a vereança, o afasta-
vo nos casos previstos nesta lei, ou mediante autorização do Go- mento somente ocorrerá nos dias de sessão e desde que o horário
vernador. das sessões da Câmara coincida com o horário normal de trabalho
a que estiver sujeito o funcionário. (NR)
Artigo 66 — Na hipótese de autorização do Governador, o § 1º  — Na hipótese prevista neste artigo, o afastamento se
afastamento só será permitido, com ou sem prejuízo de vencimen- dará sem prejuízo de vencimentos e vantagens, ainda que não in-
tos, para fim determinado e prazo certo. corporadas, do respectivo cargo.(NR)
Parágrafo único — O afastamento sem prejuízo de venci- § 2º — É vedada a remoção ou transferência do funcionário
mentos poderá ser condicionado ao reembolso das despesas efetu- durante o exercício do mandato. (NR)
adas pelo órgão de origem, na forma a ser estabelecida em regu-
lamento. (NR) Artigo 75 — O funcionário, devidamente autorizado pelo Go-
vernador, poderá afastar-se do cargo para participar de provas de
Artigo 67 — O afastamento do funcionário para ter exercício
competições desportivas, dentro ou fora do Estado.
em entidades com as quais o Estado mantenha convênios, reger-
§ 1º — O afastamento de que trata este artigo, será precedido
-se-á pelas normas nestes estabelecidas.
de requisição justificada do órgão competente.
§ 2º — O funcionário será afastado por prazo certo, nas se-
Artigo 68 — O funcionário poderá ausentar-se do Estado ou
deslocar-se da respectiva sede de exercício, para missão ou estudo guintes condições:
de interesse do serviço público, mediante autorização expressa do I — sem prejuízo do vencimento ou remuneração, quando
Governador. representar o Brasil, ou o Estado, em competições desportivas ofi-
ciais; e
Artigo 69 — Os afastamentos de funcionários para participa- II — com prejuízo do vencimento ou remuneração, em quais-
ção em congressos e outros certames culturais, técnicos ou cientí- quer outros casos.
ficos, poderão ser autorizados pelo Governador, na forma estabe-
lecida em regulamento. CAPÍTULO XV
Da Contagem de Tempo de Serviço
Artigo 70 —  O servidor preso em flagrante, preventiva ou
temporariamente ou pronunciado será considerado afastado do Artigo 76 — O tempo de serviço público, assim considerado
exercício do cargo, com prejuízo da remuneração, até a condena- o exclusivamente prestado ao Estado e suas Autarquias, será con-
ção ou absolvição transitada em julgado. (NR)  tado singelamente para todos os fins. (NR)

Didatismo e Conhecimento 248


NOÇÕES DE DIREITO
Parágrafo único — O tempo de serviço público prestado à I — o afastamento para provas de competições desportivas
União, outros Estados e Municípios, e suas autarquias, anterior- nos termos do item II do § 2º do art. 75; e
mente ao ingresso do funcionário no serviço público estadual, será II — as licenças previstas nos arts. 200 e 201.
contado integralmente para os efeitos de aposentadoria e disponi-
bilidade. (NR) Artigo 81 — Os tempos adiante enunciados serão contados:
Nota: O artigo 1º da Lei Complementar nº 437, de 23/12/1985, (NR)
fixou a vigência deste artigo para 21/12/1984. I — para efeito de concessão de adicional por tempo de servi-
ço, sexta-parte, aposentadoria e disponibilidade: (NR)
Artigo 77 — A apuração do tempo de serviço será feita em a) o de afastamento nos termos dos arts. 65 e 66, junto a ou-
dias. tros poderes do Estado, a fundações instituídas pelo Estado ou em-
§ 1º — Serão computados os dias de efetivo exercício, do re- presas em que o Estado tenha participação majoritária pela sua
gistro de freqüência ou da folha de pagamento. Administração Centralizada ou Descentralizada, bem como junto
§ 2º — O número de dias será convertido em anos, considera- a órgãos da Administração Direta da União, de outros Estados e
dos sempre estes como de 365 (trezentos e sessenta e cinco) dias. Municípios, e de suas autarquias; (NR)
§ 3º — Feita a conversão de que trata o parágrafo anterior, os
b) o de afastamento nos termos do art. 67; (NR)
dias restantes, até 182 (cento e oitenta e dois), não serão computa-
II — para efeito de disponibilidade e aposentadoria, o de li-
dos, arredondando-se para 1 (um) ano, na aposentadoria compul-
cença para tratamento de saúde.(NR)
sória ou por invalidez, quando excederem esse número.
Artigo 82 — O tempo de mandato federal e estadual, bem
Artigo 78 — Serão considerados de efetivo exercício, para to-
dos os efeitos legais, os dias em que o funcionário estiver afastado como o municipal, quando remunerados, será contado para fins de
do serviço em virtude de: aposentadoria e de promoção por antiguidade. (NR)
I — férias; Parágrafo único — O disposto neste artigo aplica-se à hipó-
II — casamento, até 8 (oito) dias; tese de nomeação de Prefeito. (NR)
III —  falecimento do cônjuge, filhos, pais e irmãos, até 8
(oito) dias; Artigo 83 — Para efeito de aposentadoria será contado o tem-
IV — falecimento dos avós, netos, sogros, do padrasto ou ma- po em que o funcionário esteve em disponibilidade.
drasta, até 2 (dois) dias; (NR)
V — serviços obrigatórios por lei; Artigo 84 —  É vedada a acumulação de tempo de serviço
VI — licença quando acidentado no exercício de suas atribui- concorrente ou simultaneamente prestado, em dois ou mais cargos
ções ou atacado de doença profissional; ou funções, à União, Estados, Municípios ou Autarquias em geral.
VII — licença à funcionária gestante; Parágrafo único — Em regime de acumulação é vedado con-
VIII — licenciamento compulsório, nos termos do art. 206; tar tempo de um dos cargos para reconhecimento de direito ou
IX — licença-prêmio; vantagens no outro.
X — faltas abonadas nos termos do parágrafo 1º do art. 110,
observados os limites ali fixados; Artigo 85 — Não será computado, para nenhum efeito, o tem-
XI — missão ou estudo dentro do Estado, em outros pontos do po de serviço gratuito.
território nacional ou no estrangeiro, nos termos do art. 68;
XII — nos casos previstos no art. 122; CAPÍTULO XVI
XIII — afastamento por processo administrativo, se o funcio- Da Vacância
nário for declarado inocente ou se a pena imposta for de repreen-
são ou multa; e, ainda, os dias que excederem o total da pena de Artigo 86 — A vacância do cargo decorrerá de:
suspensão efetivamente aplicada; I — exoneração;
XIV — trânsito, em decorrência de mudança de sede de exer-
II — demissão;
cício, desde que não exceda o prazo de 8 (oito) dias; e
III — transferência;
XV — provas de competições desportivas, nos termos do item
IV — acesso;
I, do § 2º, do art. 75.
V — aposentadoria; e
XVI —  licença-paternidade, por 5 (cinco) dias; (NR)
VI — falecimento.
Artigo 79 — Os dias em que o funcionário deixar de compa- § 1º — Dar-se-á a exoneração:
recer ao serviço em virtude de mandato legislativo municipal serão 1 — a pedido do funcionário;
considerados de efetivo exercício para todos os efeitos legais.(NR) 2 — a critério do Governo, quando se tratar de ocupante de
Parágrafo único — No caso de vereança remunerada, os dias cargo em comissão; e
de afastamento não serão computados para fins de vencimento ou 3 — quando o funcionário não entrar em exercício dentro do
remuneração, salvo se por eles tiver optado o funcionário. prazo legal.
§ 2º — A demissão será aplicada como penalidade nos casos
Artigo 80 — Será contado para todos os efeitos, salvo para a previstos nesta lei.
percepção de vencimento ou remuneração:

Didatismo e Conhecimento 249


NOÇÕES DE DIREITO
TÍTULO III 2 — na classificação por antiguidade:
DA PROMOÇÃO a) o tempo no cargo;
b) o tempo de serviço prestado ao Estado;
CAPÍTULO ÚNICO c) o tempo de serviço público;
Da Promoção d) os encargos de família; e
e) a idade.
Artigo 87 — Promoção é a passagem do funcionário de um
grau a outro da mesma classe e se processará obedecidos, alterna- Artigo 96 — O funcionário em exercício de mandato eletivo
damente, os critérios de merecimento e de antiguidade na forma federal ou estadual ou de mandato de prefeito, somente poderá ser
que dispuser o regulamento. promovido por antiguidade.

Artigo 88 — O merecimento do funcionário será apurado em Artigo 97 — Não serão promovidos por merecimento, ainda
pontos positivos e negativos. que classificados dentro dos limites estabelecidos no regulamento,
§ 1º — Os pontos positivos se referem a condições de eficiên- os funcionários que tiverem sofrido qualquer penalidade nos dois
cia no cargo e ao aperfeiçoamento funcional resultante do aprimo- anos anteriores à data de vigência da promoção.
ramento dos seus conhecimentos.
§ 2º — Os pontos negativos resultam da falta de assiduidade Artigo 98 — O funcionário submetido a processo administra-
e da indisciplina. tivo poderá ser promovido, ficando, porém, sem efeito a promoção
por merecimento no caso de o processo resultar em penalidade.
Artigo 89 — Da apuração do merecimento será dada ciência
ao funcionário. Artigo 99 — Para promoção por merecimento é indispensável
que o funcionário obtenha número de pontos não inferior à metade
Artigo 90 — A antiguidade será determinada pelo tempo de do máximo atribuível.
efetivo exercício no cargo e no serviço público, apurado em dias.
Artigo 100 — O merecimento do funcionário é adquirido na
Artigo 91 — As promoções serão feitas em junho e dezembro classe.
de cada ano, dentro de limites percentuais a serem estabelecidos
em regulamento e corresponderão às condições existentes até o Artigo 101 — Revogado
último dia do semestre imediatamente anterior.
Artigo 102 — O tempo no cargo será o efetivo exercício, con-
Artigo 92 — Os direitos e vantagens que decorrerem da pro- tado na seguinte conformidade:
moção serão contados a partir da publicação do ato, salvo quando I — a partir da data em que o funcionário assumir o exercício
publicado fora do prazo legal, caso em que vigorará a contar do do cargo, nos casos de nomeação, transferência a pedido, reversão
último dia do semestre a que corresponder. e aproveitamento;
Parágrafo único — Ao funcionário que não estiver em efe- II — como se o funcionário estivesse em exercício, no caso
tivo exercício, só se abonarão as vantagens a partir da data da re- de reintegração;
assunção. III — a partir da data em que o funcionário assumir o exer-
cício do cargo do qual foi transferido, no caso de transferência
Artigo 93 — Será declarada sem efeito a promoção indevida, ex-officio; e
não ficando o funcionário, nesse caso, obrigado a restituições, sal- IV — a partir da data em que o funcionário assumir o exercí-
vo na hipótese de declaração falsa ou omissão intencional. cio do cargo reclassificado ou transformado.

Artigo 94 — Só poderão ser promovidos os servidores que Artigo 103 — Será contado como tempo no cargo o efetivo
tiverem o interstício de efetivo exercício no grau. exercício que o funcionário houver prestado no mesmo cargo, sem
Parágrafo único — O interstício a que se refere este artigo solução de continuidade, desde que por prazo superior a 6 (seis)
será estabelecido em regulamento. meses:
I — como substituto; e
Artigo 95 — Dentro de cada quadro, haverá para cada classe, II — no desempenho de função gratificada, em período ante-
nos respectivos graus, uma lista de classificação, para os critérios rior à criação do respectivo cargo.
de merecimento e antiguidade.
Parágrafo único — Ocorrendo empate terão preferência, su- Artigo 104 — As promoções obedecerão à ordem de classi-
cessivamente: ficação.
1 — na classificação por merecimento:
a) os títulos e os comprovantes de conclusão de cursos, rela- Artigo 105 — Haverá em cada Secretaria de Estado uma Co-
cionados com a função exercida; missão de Promoção que terá as seguintes atribuições:
b) a assiduidade; I — eleger o respectivo presidente;
c) a antiguidade no cargo; II — decidir as reclamações contra a avaliação do mérito, po-
d) os encargos de família; e dendo alterar, fundamentalmente, os pontos atribuídos ao recla-
e) a idade; mante ou a outros funcionários;

Didatismo e Conhecimento 250


NOÇÕES DE DIREITO
III — avaliar o mérito do funcionário quando houver diver- Artigo 109 — Remuneração é a retribuição paga ao funcio-
gência igual ou superior a 20 (vinte) pontos entre os totais atribuí- nário pelo efetivo exercício do cargo, correspondente a 2/3 (dois
dos pelas autoridades avaliadoras; terços) do respectivo padrão, mais as quotas ou porcentagens que,
IV — propor à autoridade competente a penalidade que cou- por lei, lhe tenham sido atribuídas e as vantagens pecuniárias a ela
ber ao responsável pelo atraso na expedição e remessa do Boletim incorporadas.
de Promoção, pela falta de qualquer informação ou de elementos
solicitados, pelos fatos de que decorram irregularidade ou parciali- Artigo 110 — O funcionário perderá:
dade no processamento das promoções; I — o vencimento ou remuneração do dia. quando não com-
V — Avaliar os títulos e os certificados de cursos apresentados parecer ao serviço, salvo no caso previsto no § 1º deste artigo; e
pelos funcionários; e II — 1/3 (um terço) do vencimento ou remuneração diária,
VI — dar conhecimento aos interessados mediante afixação quando comparecer ao serviço dentro da hora seguinte à marcada
na repartição: para o início do expediente ou quando dele retirar-se dentro da
1 — das alterações de pontos feitos nos Boletins de Promo- última hora.
ção; e § 1º  — As faltas ao serviço, até o máximo de 6 (seis) por
2 — dos pontos atribuídos pelos títulos e certificados de cur- ano, não excedendo a uma por mês, em razão de moléstia ou outro
motivo relevante, poderão ser abonadas pelo superior imediato, a
sos.
requerimento do funcionário no primeiro dia útil subsequente ao
da falta. (NR)
Artigo 106 — No processamento das promoções cabem as
§ 2º — No caso de faltas sucessivas, justificadas ou injusti-
seguintes reclamações: ficadas, os dias intercalados — domingos, feriados e aqueles em
I — da avaliação do mérito; e que não haja expediente — serão computados exclusivamente para
II — da classificação final. efeito de desconto do vencimento ou remuneração.
§ 1º — Da avaliação do mérito podem ser interpostos pedi-
dos de reconsideração e recurso, e, da classificação final, apenas Artigo 111 — As reposições devidas pelo funcionário e as
recurso. indenizações por prejuízos que causar à Fazenda Pública Estadual,
§ 2º — Terão efeito suspensivo as reclamações relativas à ava- serão descontadas em parcelas mensais não excedentes da décima
liação do mérito. parte do vencimento ou remuneração ressalvados os casos espe-
§ 3º — Serão estabelecidos em regulamento as normas e os ciais previstos neste Estatuto.
prazos para o processamento das reclamações de que trata este ar-
tigo. Artigo 112 — Só será admitida procuração para efeito de re-
cebimento de quaisquer importâncias dos cofres estaduais, decor-
Artigo 107 — A orientação das promoções do funcionalismo rentes do exercício do cargo, quando o funcionário se encontrar
público civil será centralizada, cabendo ao órgão a que for deferida fora da sede ou comprovadamente impossibilitado de locomover-
tal competência: -se.
I — expedir normas relativas ao processamento das promo-
ções e elaborar as respectivas escalas de avaliação, com a aprova- Artigo 113 — O vencimento, remuneração ou qualquer van-
ção do Governador; tagem pecuniária atribuídos ao funcionário, não poderão ser objeto
II — orientar as autoridades competentes quanto à avaliação de arresto, seqüestro ou penhora, salvo:
das condições de promoção; I — quando se tratar de prestação de alimentos, na forma da
III — realizar estudos e pesquisas no sentido de averiguar a lei civil; e
eficiência do sistema em vigor, propondo medidas tendentes ao seu II — nos casos previstos no Capítulo II do Título VI deste
aperfeiçoamento; e Estatuto.
IV — opinar em processos sobre assuntos de promoção, sem-
Artigo 114 — É proibido, fora dos casos expressamente con-
pre que solicitado.
signados neste Estatuto, ceder ou gravar vencimento, remuneração
ou qualquer vantagem decorrente do exercício de cargo público.
TÍTULO IV
DOS DIREITOS E DAS VANTAGENS DE ORDEM PECU- Artigo 115 — O vencimento ou remuneração do funcionário
NIÁRIA não poderá sofrer outros descontos, exceto os obrigatórios e os
autorizados por lei.
CAPÍTULO I
Do Vencimento e da Remuneração Artigo 116 — As consignações em folha, para efeito de des-
conto de vencimentos ou remuneração, serão disciplinadas em re-
SEÇÃO I gulamento.
Disposições Gerais
SEÇÃO II
Artigo 108 — Vencimento é a retribuição paga ao funcionário Do Horário e do Ponto
pelo efetivo exercício do cargo, correspondente ao valor do res-
pectivo padrão fixado em lei, mais as vantagens a ele incorporadas Artigo 117 — O horário de trabalho nas repartições será fi-
para todos os efeitos legais. xado pelo Governo de acordo com a natureza e as necessidades
do serviço.

Didatismo e Conhecimento 251


NOÇÕES DE DIREITO
Artigo 118 — O período de trabalho, nos casos de comprova- IX — honorários pela prestação de serviço peculiar à profis-
da necessidade, poderá ser antecipado ou prorrogado pelo chefe da são que exercer e, em função dela, à Justiça, desde que não a exe-
repartição ou serviço. cute dentro do período normal ou extraordinário de trabalho a que
Parágrafo único — No caso de antecipação ou prorrogação, estiver sujeito e sejam respeitadas as restrições estabelecidas em
será remunerado o trabalho extraordinário, na forma estabelecida lei pela subordinação a regimes especiais de trabalho; e
no art. 136. X — outras vantagens ou concessões pecuniárias previstas em
leis especiais ou neste Estatuto.
Artigo 119 — Nos dias úteis, só por determinação do Gover- § 1º — Excetuados os casos expressamente previstos neste ar-
nador poderão deixar de funcionar as repartições públicas ou ser tigo, o funcionário não poderá receber, a qualquer título, seja qual
suspenso o expediente. for o motivo ou forma de pagamento, nenhuma outra vantagem pe-
cuniária dos órgãos do serviço público, das entidades autárquicas
Artigo 120 — Ponto é o registro pelo qual se verificará, dia- ou paraestatais ou outras organizações públicas, em razão de seu
riamente, a entrada e saída do funcionário em serviço. cargo ou função nos quais tenha sido mandado servir.
§ 1º — Para registro do ponto serão usados, de preferência, § 2º — O não cumprimento do que preceitua este artigo im-
meios mecânicos. portará na demissão do funcionário, por procedimento irregular, e
§ 2º — É vedado dispensar o funcionário do registro do ponto, na imediata reposição, pela autoridade ordenadora do pagamento,
salvo os casos expressamente previstos em lei. da importância indevidamente paga.
§ 3º — A infração do disposto no parágrafo anterior determi- § 3º — Nenhuma importância relativa às vantagens constantes
nará a responsabilidade da autoridade que tiver expedido a ordem, deste artigo será paga ou devida ao funcionário, seja qual for o
sem prejuízo da ação disciplinar cabível. seu fundamento, se não houver crédito próprio, orçamentário ou
adicional.
Artigo 121 — Para o funcionário estudante, conforme dis-
puser o regulamento, poderão ser estabelecidas normas especiais Artigo 125 — As porcentagens ou quotas-partes, atribuídas
quanto à freqüência ao serviço. em virtude de multas ou serviços de fiscalização e inspeção, só
serão creditadas ao funcionário após a entrada da importância res-
Artigo 122 — O funcionário que comprovar sua contribuição pectiva, a título definitivo, para os cofres públicos.
para banco de sangue mantido por órgão estatal ou paraestatal, ou
entidade com a qual o Estado mantenha convênio, fica dispensado Artigo 126 — O funcionário não fará jus à percepção de
de comparecer ao serviço no dia da doação. quaisquer vantagens pecuniárias, nos casos em que deixar de per-
ceber o vencimento ou remuneração, ressalvado o disposto no pa-
Artigo 123 — Apurar-se-á a frequência do seguinte modo: rágrafo único do art. 160.
I — pelo ponto; e
II — pela forma determinada, quanto aos funcionários não SEÇÃO Il
sujeitos a ponto. Dos Adicionais por Tempo de Serviço

CAPÍTULO II Artigo 127 — O funcionário terá direito, após cada período
Das Vantagens de Ordem Pecuniária de 5 (cinco) anos, contínuos, ou não, à percepção de adicional por
tempo de serviço, calculado à razão de 5% (cinco por cento) sobre
SEÇÃO I o vencimento ou remuneração, a que se incorpora para todos os
Disposições Gerais efeitos.
Parágrafo único — Declarado Inconstitucional pelo Supre-
Artigo 124 — Além do valor do padrão do cargo, o funcioná- mo Tribunal Federal (ADIn nº 3.167)
rio só poderá receber as seguintes vantagens pecuniárias: “Parágrafo único — O adicional por tempo de serviço será
I — adicionais por tempo de serviço; concedido pela autoridade competente, na forma que for estabe-
II — gratificações; lecida em regulamento, no prazo máximo de 180 (cento e oitenta)
III — diárias; dias, contados da data da completação do período aquisitivo, sob
IV — ajudas de custo; pena de ser responsabilizado o servidor que der causa ao descum-
V — salário-família e salário-esposa; primento do prazo ora fixado.”
VI — Revogado;
VII — quota-parte de multas e porcentagens fixadas em lei; Artigo 128 — A apuração do quinquênio será feita em dias e o
VIII — honorários, quando fora do período normal ou extra- total convertido em anos, considerados estes sempre como de 365
ordinário de trabalho a que estiver sujeito, for designado para reali- (trezentos e sessenta e cinco) dias.
zar investigações ou pesquisas científicas, bem como para exercer
as funções de auxiliar ou membro de bancas e comissões de con- Artigo 129 — Vetado.
curso ou prova, ou de professor de cursos de seleção e aperfei-
çoamento ou especialização de servidores, legalmente instituídos, Artigo 130 — O funcionário que completar 25 (vinte e cinco)
observadas as proibições atinentes a regimes especiais de trabalho anos de efetivo exercício perceberá mais a sexta-parte do venci-
fixados em lei; mento ou remuneração, a estes incorporada para todos os efeitos.

Didatismo e Conhecimento 252


NOÇÕES DE DIREITO
Artigo 131 — O funcionário que exercer cumulativamente § 2º — Aos titulares de cargos de direção, para efeito do pará-
cargos ou funções, terá direito aos adicionais de que trata esta Se- grafo anterior, apenas será paga gratificação por serviço extraordi-
ção, isoladamente, referentes a cada cargo ou a função. nário correspondente à quantia a esse título percebida pelo subor-
dinado de padrão mais elevado.
Artigo 132 — O ocupante de cargo em comissão fará jus aos
adicionais previstos nesta Seção, calculados sobre o vencimento Artigo 140 — A gratificação pela elaboração ou execução de
que perceber no exercício desse cargo, enquanto nele permanecer. trabalho técnico ou científico, ou de utilidade para o serviço, será
arbitrada pelo Governador, após sua conclusão.
Artigo 133 — Ao funcionário no exercício de cargo em subs-
tituição aplica-se o disposto no artigo anterior. Artigo 141 — A gratificação a título de representação, quando
o funcionário for designado para serviço ou estudo fora do Estado,
Artigo 134 — Para efeito dos adicionais a que se refere esta será arbitrada pelo Governador, ou por autoridade que a lei deter-
Seção, será computado o tempo de serviço, na forma estabelecida minar, podendo ser percebida cumulativamente com a diária.
nos arts. 76 e 78.
Artigo 142 — A gratificação relativa ao exercício em órgão
SEÇÃO III legal de deliberação coletiva, será fixada pelo Governador.
Das Gratificações
Artigo 143 — A gratificação de representação de gabinete, fi-
Artigo 135 — Poderá ser concedida gratificação ao funcioná- xada em regulamento, não poderá ser percebida cumulativamente
rio: (Vide Lei Complementar nº 1.199/2013) com a referida no inciso I do art. 135.
I — pela prestação de serviço extraordinário;
II — pela elaboração ou execução de trabalho técnico ou cien- SEÇÃO IV
tífico ou de utilidade para o serviço público; Das Diárias
III — a título de representação, quando em função de gabine-
te, missão ou estudo fora do Estado ou designação para função de Artigo 144 — Ao funcionário que se deslocar temporaria-
confiança do Governador; mente da respectiva sede, no desempenho de suas atribuições, ou
IV — quando designado para fazer parte de órgão legal de em missão ou estudo, desde que relacionados com o cargo que
deliberação coletiva; e exerce, poderá ser concedida, além do transporte, uma diária a tí-
V — outras que forem previstas em lei. tulo de indenização das despesas de alimentação e pousada.
§ 1º — Não será concedida diária ao funcionário removido ou
Artigo 136 — A gratificação pela prestação de serviço extra- transferido, durante o período de trânsito.
ordinário será paga por hora de trabalho prorrogado ou antecipado, § 2º — Não caberá a concessão de diária quando o desloca-
na mesma razão percebida pelo funcionário em cada hora de perío- mento de funcionário constituir exigência permanente do cargo ou
do normal de trabalho a que estiver sujeito. função.
Parágrafo único — A prestação de serviço extraordinário não § 3º — Entende-se por sede o município onde o funcionário
poderá exceder a duas horas diárias de trabalho. tem exercício.
§ 4º — O disposto no “caput” deste artigo não se aplica aos
Artigo 137 —  É vedado conceder gratificação por serviço casos de missão ou estudo fora do País.
extraordinário, com o objetivo de remunerar outros serviços ou § 5º — As diárias relativas aos deslocamentos de funcionários
encargos. para outros Estados e Distrito Federal, serão fixadas por decreto.
§ 1º — O funcionário que receber importância relativa a ser-
viço extraordinário que não prestou, será obrigado a restituí-la de Artigo 145 — O valor das diárias será fixado em decreto.(NR)
uma só vez, ficando ainda sujeito à punição disciplinar.
§ 2º — Será responsabilizada a autoridade que infringir o dis- Artigo 146 — A tabela de diárias, bem como as autoridades
posto no caput deste artigo. que as concederem, deverão constar de decreto.

Artigo 138 — Será punido com pena de suspensão e, na rein- Artigo 147 — O funcionário que indevidamente receber diá-
cidência, com a de demissão, a bem do serviço público, o funcio- ria, será obrigado a restituí-la de uma só vez, ficando ainda sujeito
nário: à punição disciplinar.
I — que atestar falsamente a prestação de serviço extraordi-
nário; e Artigo 148 — É vedado conceder diárias com o objetivo de
II — que se recusar, sem justo motivo, à prestação de serviço remunerar outros encargos ou serviços.
extraordinário. Parágrafo único — Será responsabilizada a autoridade que
infringir o disposto neste artigo.
Artigo 139 — O funcionário que exercer cargo de direção não
poderá perceber gratificação por serviço extraordinário. SEÇÃO V
§ 1º — O disposto neste artigo não se aplica durante o período Das Ajudas de Custo
em que subordinado de titular de cargo nele mencionado venha a
perceber, em consequência do acréscimo da gratificação por ser- Artigo 149 — A juízo da Administração, poderá ser concedi-
viço extraordinário, quantia que iguale ou ultrapasse o valor do da ajuda de custo ao funcionário que no interesse do serviço passar
padrão do cargo de direção. a ter exercício em nova sede.

Didatismo e Conhecimento 253


NOÇÕES DE DIREITO
§ 1º — A ajuda de custo destina-se a indenizar o funcionário I — filho menor de 18 (dezoito) anos; e
das despesas de viagem e de nova instalação . II — filho inválido de qualquer idade.
§ 2º — O transporte do funcionário e de sua família compre- Parágrafo único — Consideram-se dependentes, desde que
ende passagem e bagagem e correrá por conta do Governo. vivam total ou parcialmente às expensas do funcionário, os filhos
de qualquer condição, os enteados e os adotivos, equiparando-se a
Artigo 150 — A ajuda de custo, desde que em território do estes os tutelados sem meios próprios de subsistência.
País, será arbitrada pelos Secretários de Estado, não podendo exce-
der importância correspondente a 3 (três) vezes o valor do padrão Artigo 156 — A invalidez que caracteriza a dependência é a
do cargo. incapacidade total e permanente para o trabalho.
Parágrafo único —  O regulamento fixará o critério para o
arbitramento, tendo em vista o número de pessoas que acompa- Artigo 157 — Quando o pai e a mãe tiverem ambos a condi-
nham o funcionário, as condições de vida na nova sede, a distância ção de funcionário público ou de inativo e viverem em comum, o
a ser percorrida, o tempo de viagem e os recursos orçamentários salário-família será concedido a um deles.
disponíveis. Parágrafo único — Se não viverem em comum, será conce-
dido ao que tiver os dependentes sob sua guarda, ou a ambos, de
Artigo 151 — Não será concedida ajuda de custo: acordo com a distribuição de dependentes.
I — ao funcionário que se afastar da sede ou a ela voltar, em
virtude de mandato eletivo; e Artigo 158 — Ao pai e à mãe equiparam-se o padrasto e a
II — ao que for afastado junto a outras Administrações. madrasta e, na falta destes, os representantes legais dos incapazes.
Parágrafo único — O funcionário que recebeu ajuda de cus- Artigo 158-A — Fica assegurada nas mesmas bases e condi-
to, se for obrigado a mudar de sede dentro do período de 2 (dois) ções, ao cônjuge supérstite ou ao responsável legal pelos filhos do
anos poderá receber, apenas, 2/3 (dois terços) do benefício que lhe casal, a percepção do salário-família a que tinha direito o funcio-
caberia. nário ou inativo falecido. (NR) 

Artigo 152 — Quando o funcionário for incumbido de servi- Artigo 159 — A concessão e a supressão do salário-família
serão processadas na forma estabelecida em lei.
ço que o obrigue a permanecer fora da sede por mais de 30 (trinta)
dias, poderá receber ajuda de custo sem prejuízos das diárias que
Artigo 160 — Não será pago o salário-família nos casos em
lhe couberem.
que o funcionário deixar de perceber o respectivo vencimento ou
Parágrafo único — A importância dessa ajuda de custo será
remuneração.
fixada na forma do art. 150, não podendo exceder a quantia relati-
Parágrafo único — O disposto neste artigo não se aplica aos
va a 1 (uma) vez o valor do padrão do cargo.
casos disciplinares e penais, nem aos de licença por motivo de
doença em pessoa da família.
Artigo 153 — Restituirá a ajuda de custo que tiver recebido:
I — o funcionário que não seguir para a nova sede dentro dos Artigo 161 —  É vedada a percepção de salário-família por
prazos fixados, salvo motivo independente de sua vontade, devida- dependente em relação ao qual já esteja sendo pago este benefício
mente comprovado sem prejuízo da pena disciplinar cabível; por outra entidade pública federal, estadual ou municipal, ficando
II — o funcionário que, antes de concluir o serviço que lhe foi o infrator sujeito às penalidades da lei.
cometido, regressar da nova sede, pedir exoneração ou abandonar
o cargo. Artigo 162 — O salário esposa será concedido ao funcioná-
§ 1º — A restituição poderá ser feita parceladamente, a juízo rio que não perceba vencimento ou remuneração de importância
da autoridade que houver concedido a ajuda de custo, salvo no superior a 2 (duas) vezes o valor do menor vencimento pago pelo
caso de recebimento indevido, em que a importância por devol- Estado, desde que a mulher não exerça atividade remunerada.
ver será descontada integralmente do vencimento ou remuneração, Parágrafo único — A concessão do benefício a que se refere
sem prejuízo da pena disciplinar cabível. este artigo será objeto de regulamento.
§ 2º — A responsabilidade pela restituição de que trata este
artigo, atinge exclusivamente a pessoa do funcionário. SEÇÃO VII
§ 3º — Se o regresso do funcionário for determinado pela au- Outras Concessões Pecuniárias
toridade competente ou por motivo de força maior devidamente
comprovado, não ficará ele obrigado a restituir a ajuda de custo. Artigo 163 — O Estado assegurará ao funcionário o direito de
pleno ressarcimento de danos ou prejuízos, decorrentes de aciden-
Artigo 154 — Caberá também ajuda de custo ao funcionário tes no trabalho, do exercício em determinadas zonas ou locais e da
designado para serviço ou estudo no estrangeiro. execução de trabalho especial, com risco de vida ou saúde.
Parágrafo único — A ajuda de custo de que trata este artigo
será arbitrada pelo Governador. Artigo 164 — Ao funcionário licenciado, para tratamento de
saúde poderá ser concedido transporte, se decorrente do tratamen-
SEÇÃO VI to, inclusive para pessoa de sua família.
Do Salário-Família e do Salário-Esposa
Artigo 165 — Poderá ser concedido transporte à família do
Artigo 155 — O salário-família será concedido ao funcioná- funcionário, quando este falecer fora da sede de exercício, no de-
rio ou ao inativo por: sempenho de serviço.

Didatismo e Conhecimento 254


NOÇÕES DE DIREITO
§ 1º — A mesma concessão poderá ser feita à família do fun- Artigo 172 — O funcionário ocupante de cargo efetivo, ou em
cionário falecido fora do Estado. disponibilidade, poderá ser nomeado para cargo em comissão, per-
§ 2º — Só serão atendidos os pedidos de transporte formula- dendo, durante o exercício desse cargo, o vencimento ou remune-
dos dentro do prazo de 1 (um) ano, a partir da data em que houver ração do cargo efetivo ou o provento, salvo se optar pelo mesmo.
falecido o funcionário.
Artigo 173 — Não se compreende na proibição de acumular,
Artigo 166 — Revogado. desde que tenha correspondência com a função principal, a percep-
ção das vantagens enumeradas no art. 124.
Artigo 167 — A concessão de que trata o artigo anterior só
poderá ser deferida ao funcionário que se encontre no exercício do Artigo 174 — Verificado, mediante processo administrativo,
cargo e mantenha contato com o público, pagando ou recebendo que o funcionário está acumulando, fora das condições previstas
em moeda corrente. neste Capítulo, será ele demitido de todos os cargos e funções e
obrigado a restituir o que indevidamente houver recebido.
Artigo 168 — Ao cônjuge, ao companheiro ou companheira § 1º — Provada a boa-fé, o funcionário será mantido no cargo
ou, na falta destes, à pessoa que provar ter feito despesas em virtu- ou função que exercer há mais tempo.
§ 2º — Em caso contrário, o funcionário demitido ficará ainda
de do falecimento de funcionário ativo ou inativo será concedido
inabilitado pelo prazo de 5 (cinco) anos, para o exercício de função
auxílio-funeral, a título de benefício assistencial, de valor corres-
ou cargo público, inclusive em entidades que exerçam função dele-
pondente a 1 (um) mês da respectiva remuneração.
gada do poder público ou são por este mantidas ou administradas.
§ 1º  — o pagamento será efetuado pelo órgão competente,
mediante apresentação de atestado de óbito pelas pessoas indica- Artigo 175 — As autoridades civis e os chefes de serviço,
das no caput deste artigo, ou procurador legalmente habilitado, bem como os diretores ou responsáveis pelas entidades referidas
feita a prova de identidade. no parágrafo 2º do artigo anterior e os fiscais ou representantes
§ 2º — no caso de integrante da carreira de Agente de Segu- dos poderes públicos junto às mesmas, que tiverem conhecimento
rança Penitenciária ou da classe de Agente de Escolta e Vigilância de que qualquer dos seus subordinados ou qualquer empregado
Penitenciária, se ficar comprovado, por meio de competente apu- da empresa sujeita à fiscalização está no exercício de acumulação
ração, que o óbito decorreu de lesões recebidas no exercício de proibida, farão a devida comunicação ao órgão competente, para
suas funções, o benefício será acrescido do valor correspondente a os fins indicados no artigo anterior.
mais 1 (um) mês da respectiva remuneração, cujo pagamento será Parágrafo único — Qualquer cidadão poderá denunciar a
efetivado mediante apresentação de alvará judicial. existência de acumulação ilegal.
§ 3º — o pagamento do benefício previsto neste artigo, caso
as despesas tenham sido custeadas por terceiros, em virtude da TÍTULO V
contratação de planos funerários, somente será efetivado mediante DOS DIREITOS E VANTAGENS EM GERAL
apresentação de alvará judicial. (NR)
CAPÍTULO I
Artigo 169 — O Governo do Estado poderá conceder prêmios Das Férias
em dinheiro, dentro das dotações orçamentárias próprias, aos fun-
cionários autores dos melhores trabalhos, classificados em concur- Artigo 176 — O funcionário terá direito ao gozo de 30 (trinta)
sos de monografias de interesse para o serviço público. dias de férias anuais, observada a escala que for aprovada.
§ 1º  —  É proibido levar à conta de férias qualquer falta ao
Artigo 170 — Revogado. trabalho.
§ 2º — É proibida a acumulação de férias, salvo por absoluta
necessidade de serviço e pelo máximo de 2 (dois) anos consecu-
CAPÍTULO III
tivos.
Das Acumulações Remuneradas
§ 3º — O período de férias será reduzido para 20 (vinte) dias,
se o servidor, no exercício anterior, tiver, considerados em conjun-
Artigo 171 — É vedada a acumulação remunerada, exceto: to, mais de 10 (dez) não comparecimentos correspondentes a faltas
I — a de um juiz e um cargo de professor; abonadas, justificadas e injustificadas ou às licenças previstas nos
II — a de dois cargos de professor; itens IV, VI e VII do art. 181.
III — a de um cargo de professor e outro técnico ou científico; e § 4º — Durante as férias, o funcionário terá direito a todas as
IV — a de dois cargos privativos de médico. vantagens, como se estivesse em exercício.
§ 1º — Em qualquer dos casos, a acumulação somente é per-
mitida quando haja correlação de matérias e compatibilidade de Artigo 177 — Atendido o interesse do serviço, o funcionário
horários. poderá gozar férias de uma só vez ou em dois períodos iguais.
§ 2º — A proibição de acumular se estende a cargos, funções
ou empregos em autarquias, empresas públicas e sociedades de Artigo 178 — Somente depois do primeiro ano de exercício
economia mista. no serviço público, adquirirá o funcionário direito a férias.
§ 3º — A proibição de acumular proventos não se aplica aos Parágrafo único — Será contado para efeito deste artigo o
aposentados, quanto ao exercício de mandato eletivo, cargo em tempo de serviço prestado em outro cargo público, desde que entre
comissão ou ao contrato para prestação de serviços técnicos ou a cessação do anterior e o início do subsequente exercício não haja
especializados. interrupção superior a 10 (dez) dias.

Didatismo e Conhecimento 255


NOÇÕES DE DIREITO
Artigo 179 — Caberá ao chefe da repartição ou do serviço, Artigo 186 — Revogado pela Lei complementar nº 1.123 de
organizar, no mês de dezembro, a escala de férias para o ano se- 2010.
guinte, que poderá alterar de acordo com a conveniência do ser-
viço. Artigo 187 — O funcionário licenciado nos termos dos itens
I e II do art. 181 não poderá dedicar-se a qualquer atividade re-
Artigo 180 — O funcionário transferido ou removido, quan- munerada, sob pena de ser cassada a licença e de ser demitido por
do em gozo de férias, não será obrigado a apresentar-se antes de abandono do cargo, caso não reassuma o seu exercício dentro do
terminá-las. prazo de 30 (trinta) dias.

CAPÍTULO II Artigo 188 — Revogado pela Lei complementar nº 1.123 de


Das Licenças 2010.
SEÇÃO I Artigo 189 — Revogado pela Lei complementar nº 1.123 de
Disposições Gerais 2010.
Artigo 181 — O funcionário efetivo poderá ser licenciado:(NR)
Artigo 190 — O funcionário que se recusar a submeter-se
I — para tratamento de saúde;
à inspeção médica, quando julgada necessária, será punido com
II — quando acidentado no exercício de suas atribuições ou
acometido por doença profissional; pena de suspensão.
III — no caso previsto no artigo 198; Parágrafo único — A suspensão cessará no dia em que se
IV — por motivo de doença em pessoa de sua família; realizar a inspeção.
V — para cumprir obrigações concernentes ao serviço militar;
VI — para tratar de interesses particulares; SEÇÃO II
VII — no caso previsto no artigo 205; Da Licença para Tratamento de Saúde
VIII — compulsoriamente, como medida profilática;
IX — como prêmio de assiduidade. Artigo 191 — Ao funcionário que, por motivo de saúde, es-
§ 1º — Ao funcionário ocupante exclusivamente de cargo em tiver impossibilitado para o exercício do cargo, será concedida li-
comissão serão concedidas as licenças previstas neste artigo, salvo cença até o máximo de 4 (quatro) anos, com vencimento ou remu-
as referidas nos incisos IV, VI e VII. (NR) neração.” (NR) (Redação dada pela Lei complementar nº 1.196,
§ 2º — As licenças previstas nos incisos I a III serão concedi- de 27 de fevereiro de 2013).
das ao funcionário de que trata o § 1º deste artigo mediante regras § 1º — Findo o prazo, previsto neste artigo, o funcionário será
estabelecidas pelo regime geral de previdência social. (NR) submetido à inspeção médica e aposentado, desde que verificada
a sua invalidez, permitindo-se o licenciamento além desse prazo,
Artigo 182 — As licenças dependentes de inspeção médica quando não se justificar a aposentadoria.
serão concedidas pelo prazo indicado pelos órgãos oficiais com- § 2º — Será obrigatória a reversão do aposentado, desde que
petentes. (NR) cessados os motivos determinantes da aposentadoria.

Artigo 183 — Finda a licença, o funcionário deverá reassu- Artigo 192 — O funcionário ocupante de cargo em comissão
mir, imediatamente, o exercício do cargo.(NR) poderá ser aposentado, nas condições do artigo anterior, desde que
§ 1º — o disposto no caput deste artigo não se aplica às li- preencha os requisitos do art. 227.
cenças previstas nos incisos V e VII do artigo 181, quando em
prorrogação. (NR) Artigo 193 — A licença para tratamento de saúde dependerá
§ 2º — a infração do disposto no caput deste artigo importará
de inspeção médica oficial e poderá ser concedida:
em perda total do vencimento ou remuneração correspondente ao
I — a pedido do funcionário;
período de ausência e, se esta exceder a 30 (trinta) dias, ficará o
II — “ex officio”.
funcionário sujeito à pena de demissão por abandono de cargo.
(NR) § 1º — A inspeção médica de que trata o “caput” deste artigo
poderá ser dispensada, a critério do órgão oficial, quando a análise
Artigo 184 — O funcionário licenciado nos termos dos itens documental for suficiente para comprovar a incapacidade laboral,
I a IV do art. 181, é obrigado a reassumir o exercício, se for con- observado o estabelecido em decreto.
siderado apto em inspeção médica realizada ex-officio ou se não § 2º  — A licença “ex officio” de que trata o inciso II deste
subsistir a doença na pessoa de sua família. artigo será concedida por decisão do órgão oficial:
Parágrafo único — O funcionário poderá desistir da licença, 1  — quando as condições de saúde do funcionário assim o
desde que em inspeção médica fique comprovada a cessação dos determinarem;
motivos determinantes da licença. 2 — a pedido do órgão de origem do funcionário.
§ 3º — O funcionário poderá ser dispensado da inspeção mé-
Artigo 185 — As licenças previstas nos incisos I, II e IV do dica de que trata o “caput” deste artigo em caso de licença para
artigo 181 não serão concedidas em prorrogação, cabendo ao fun- tratamento de saúde de curta duração, conforme estabelecido em
cionário ou à autoridade competente ingressar, quando for o caso, decreto. (NR) (Redação dada pela Lei complementar nº 1.196, de
com um novo pedido. (NR) 27 de fevereiro de 2013).

Didatismo e Conhecimento 256


NOÇÕES DE DIREITO
SEÇÃO III SEÇÃO V
Da Licença ao Funcionário Acidentado no Exercício de suas Da Licença por Motivo de Doença em Pessoa da Família
Atribuições ou Atacado de Doença Profissional
Artigo 199 — O funcionário poderá obter licença, por motivo
Artigo 194 — O funcionário acidentado no exercício de suas de doença do cônjuge e de parentes até segundo grau. (NR)
atribuições ou que tenha adquirido doença profissional terá direito § 1º — Provar-se-á a doença em inspeção médica na forma
à licença com vencimento ou remuneração. prevista no artigo 193. (NR)
Parágrafo único — Considera-se também acidente: (NR) § 2º — A licença de que trata este artigo será concedida com
1 — a agressão sofrida e não provocada pelo funcionário, no vencimentos ou remuneração até 1 (um) mês e com os seguintes
descontos: (NR)
exercício de suas funções; (NR)
1 — de 1/3 (um terço), quando exceder a 1 (um) mês até 3
2 — a lesão sofrida pelo funcionário, quando em trânsito, no
(três);
percurso usual para o trabalho. (NR) 2 — 2/3 (dois terços), quando exceder a 3 (três) até 6 (seis);
3 — sem vencimento ou remuneração do sétimo ao vigésimo
Artigo 195 — A licença prevista no artigo anterior não poderá mês.
exceder de 4 (quatro) anos. § 3º — Para os efeitos do § 2º deste artigo, serão somadas as
Parágrafo único — No caso de acidente, verificada a incapa- licenças concedidas durante o período de 20 (vinte) meses, conta-
cidade total para qualquer função pública, será desde logo conce- do da primeira concessão. (NR)
dida aposentadoria ao funcionário.
SEÇÃO VI
Artigo 196 — A comprovação do acidente, indispensável Da Licença para Atender a Obrigações Concernentes ao Ser-
para a concessão da licença, será feita em procedimento próprio, viço Militar
que deverá iniciar-se no prazo de 10 (dez) dias, contados da data
Artigo 200 — Ao funcionário que for convocado para o servi-
do acidente. (NR)
ço militar e outros encargos da segurança nacional, será concedida
§ 1º — O funcionário deverá requerer a concessão da licença
licença sem vencimento ou remuneração.
de que trata o caput deste artigo junto ao órgão de origem. (NR) § 1º  — A licença será concedida mediante comunicação do
§ 2º — Concluído o procedimento de que trata o caput deste funcionário ao chefe da repartição ou do serviço, acompanhada de
artigo caberá ao órgão médico oficial a decisão. (NR) documentação oficial que prove a incorporação.
§ 3º — O procedimento para a comprovação do acidente de § 2º  — O funcionário desincorporado reassumirá imediata-
que trata este artigo deverá ser cumprido pelo órgão de origem do mente o exercício, sob pena de demissão por abandono do cargo,
funcionário, ainda que não venha a ser objeto de licença. (NR) se a ausência exceder a 30 (trinta) dias.
§ 3º  — Quando a desincorporação se verificar em lugar di-
Artigo 197 — Para a conceituação do acidente da doença verso do da sede, os prazos para apresentação serão os previstos
profissional, serão adotados os critérios da legislação federal de no art. 60.
acidentes do trabalho.
Artigo 201 — Ao funcionário que houver feito curso para ser
SEÇÃO IV admitido como oficial da reserva das Forças Armadas, será tam-
bém concedida licença sem vencimento ou remuneração, durante
Da Licença à Funcionária Gestante
os estágios prescritos pelos regulamentos militares.
Artigo 198 —  À funcionária gestante será concedida licença SEÇÃO VII
de 180 (cento e oitenta) dias com vencimento ou remuneração, Da Licença para Tratar de Interesses Particulares
observado o seguinte:
I  — a licença poderá ser concedida a partir da 32ª (trigési- Artigo 202 — Depois de 5 (cinco) anos de exercício, o fun-
ma segunda) semana de gestação, mediante documentação médica cionário poderá obter licença, sem vencimento ou remuneração,
que comprove a gravidez e a respectiva idade gestacional; (NR). para tratar de interesses particulares, pelo prazo máximo de 2
(Redação dada pela Lei complementar nº 1.196, de 27 de fevereiro (dois) anos.
de 2013). § 1º — Poderá ser negada a licença quando o afastamento do
II — ocorrido o parto, sem que tenha sido requerida a licença, funcionário for inconveniente ao interesse do serviço.
será esta concedida mediante a apresentação da certidão de nasci- § 2º — O funcionário deverá aguardar em exercício a conces-
mento e vigorará a partir da data do evento, podendo retroagir até são da licença.
§ 3º — A licença poderá ser gozada parceladamente a juízo
15 (quinze) dias; (NR)
da Administração, desde que dentro do período de 3 (três) anos.
III — durante a licença, cometerá falta grave a servidora que
§ 4º — O funcionário poderá desistir da licença, a qualquer
exercer qualquer atividade remunerada ou mantiver a criança em tempo, reassumindo o exercício em seguida.
creche ou organização similar; (NR)
Parágrafo único — No caso de natimorto, será concedida a Artigo 203 — Não será concedida licença para tratar de inte-
licença para tratamento de saúde, a critério médico, na forma pre- resses particulares ao funcionário nomeado, removido ou transfe-
vista no artigo 193. (NR) rido, antes de assumir o exercício do cargo.

Didatismo e Conhecimento 257


NOÇÕES DE DIREITO
Artigo 204 — Só poderá ser concedida nova licença depois de Artigo 213 — O funcionário poderá requerer o gozo da licen-
decorridos 5 (cinco) anos do término da anterior. ça-prêmio: (NR)
I — por inteiro ou em parcelas não inferiores a 15 (quinze)
SEÇÃO VIII dias;
Da Licença à Funcionária Casada com Funcionário ou Mili- II — até o implemento das condições para a aposentadoria
tar voluntária.
§ 1º — Caberá à autoridade competente: (NR)
Artigo 205 — A funcionária casada com funcionário estadual 1 — adotar, após manifestação do chefe imediato, sem preju-
ou com militar terá direito à licença, sem vencimento ou remune- ízo para o serviço, as medidas necessárias para que o funcionário
ração, quando o marido for mandado servir, independentemente possa gozar a licença-prêmio a que tenha direito;
de solicitação, em outro ponto do Estado ou do território nacional 2 — decidir, após manifestação do chefe imediato, observada
ou no estrangeiro. a opção do funcionário e respeitado o interesse do serviço, pelo
Parágrafo único — A licença será concedida mediante pedi- gozo da licença-prêmio por inteiro ou parceladamente.
do devidamente instruído e vigorará pelo tempo que durar a comis- § 2º — A apresentação de pedido de passagem à inatividade,
são ou a nova função do marido. sem a prévia e oportuna apresentação do requerimento de gozo,
implicará perda do direito à licença-prêmio. (NR)
SEÇÃO IX
Da Licença Compulsória Artigo 214 — O funcionário deverá aguardar em exercício a
  apreciação do requerimento de gozo da licença-prêmio.
Artigo 206 — O funcionário, ao qual se possa atribuir a con- Parágrafo único — O gozo da licença-prêmio dependerá de
dição de fonte de infecção de doença transmissível, poderá ser novo requerimento, caso não se inicie em até 30 (trinta) dias conta-
licenciado, enquanto durar essa condição, a juízo de autoridade dos da publicação do ato que o houver autorizado. (NR)
sanitária competente, e na forma prevista no regulamento.
Artigo 215 — Revogado.
Artigo 207 — Verificada a procedência da suspeita, o funcio-
nário será licenciado para tratamento de saúde na forma prevista
Artigo 216 — Revogado.
no art. 191, considerando-se incluídos no período da licença os
dias de licenciamento compulsório.
CAPÍTULO III
Da Estabilidade
Artigo 208 — Quando não positivada a moléstia, deverá o
funcionário retornar ao serviço, considerando -se como de efetivo
Artigo 217 — É assegurada a estabilidade somente ao funcio-
exercício para todos os efeitos legais, o período de licença com-
nário que, nomeado por concurso, contar mais de 2 (dois) anos de
pulsória.
efetivo exercício.
SEÇÃO X Artigo 218 — O funcionário estável só poderá ser demitido
Da licença-prêmio em virtude de sentença judicial ou mediante processo administra-
tivo, assegurada ampla defesa.
Artigo 209 — O funcionário terá direito, como prêmio de as- Parágrafo único — A estabilidade diz respeito ao serviço pú-
siduidade, à licença de 90 (noventa) dias em cada período de 5 blico e não ao cargo, ressalvando-se à Administração o direito de
(cinco) anos de exercício ininterrupto, em que não haja sofrido aproveitar o funcionário em outro cargo de igual padrão, de acordo
qualquer penalidade administrativa. com as suas aptidões.
Parágrafo único — O período da licença será considerado
de efetivo exercício para todos os efeitos legais, e não acarretará CAPÍTULO IV
desconto algum no vencimento ou remuneração. Da Disponibilidade

Artigo 210 — Para fins da licença prevista nesta Seção, não Artigo 219 — O funcionário poderá ser posto em disponibi-
se consideram interrupção de exercício: lidade remunerada:
I — os afastamentos enumerados no art. 78, excetuado o pre- I — no caso previsto no § 2º do art. 31; e
visto no item X; e II — quando, tendo adquirido estabilidade, o cargo for extinto
II — as faltas abonadas, as justificadas e os dias de licença a por lei.
que se referem os itens I e IV do art. 181 desde que o total de todas Parágrafo único — O funcionário ficará em disponibilidade
essas ausências não exceda o limite máximo de 30 (trinta) dias, no até o seu obrigatório aproveitamento em cargo equivalente.
período de 5 (cinco) anos.
Artigo 220 — O provento da disponibilidade não poderá ser
Artigo 211 — Revogado. superior ao vencimento ou remuneração e vantagens percebidos
pelo funcionário.
Artigo 212 — A licença-prêmio será concedida mediante cer- Artigo 221 — Qualquer alteração do vencimento ou remu-
tidão de tempo de serviço, independente de requerimento do fun- neração e vantagens percebidas pelo funcionário em virtude de
cionário, e será publicada no Diário Oficial do Estado, nos termos medida geral, será extensiva ao provento do disponível, na mesma
da legislação em vigor. (NR) proporção.

Didatismo e Conhecimento 258


NOÇÕES DE DIREITO
CAPÍTULO V CAPÍTULO VI
Da Aposentadoria Da Assistência ao Funcionário

Artigo 222 — O funcionário será aposentado: Artigo 233 — Nos trabalhos insalubres executados pelos fun-
I — por invalidez; cionários, o Estado é obrigado a fornecer-lhes gratuitamente equi-
II — compulsoriamente, aos 70 (setenta) anos; e pamentos de proteção à saúde.
Parágrafo único — Os equipamentos aprovados por órgão
III — voluntariamente, após 35 (trinta e cinco) anos de ser-
competente, serão de uso obrigatório dos funcionários, sob pena
viço. de suspensão.
§ 1º — No caso do item III, o prazo é reduzido a 30 (trinta)
anos para as mulheres. Artigo 234 — Ao funcionário é assegurado o direito de re-
§ 2º — Os limites de idade e de tempo de serviço para a apo- moção para igual cargo no local de residência do cônjuge, se este
sentadoria poderão ser reduzidos, nos termos do parágrafo único também for funcionário e houver vaga.
do art. 94 da Constituição do Estado de São Paulo.
Artigo 235 — Havendo vaga na sede do exercício de ambos
Artigo 223 — A aposentadoria prevista no item I do artigo os cônjuges, a remoção poderá ser feita para o local indicado por
anterior, só será concedida, após a comprovação da invalidez do qualquer deles, desde que não prejudique o serviço.
funcionário, mediante inspeção de saúde realizada em órgão mé-
Artigo 236 — Somente será concedida nova remoção por
dico oficial. união de cônjuges ao funcionário que for removido a pedido para
outro local, após transcorridos 5 (cinco) anos.
Artigo 224 — A aposentadoria compulsória prevista no item
II do art. 222 é automática. Artigo 237 — Considera-se local, para os fins dos arts. 234 a
Parágrafo único — O funcionário se afastará no dia imediato 236, o município onde o cônjuge tem sua residência.
àquele em que atingir a idade limite, independentemente da publi-
cação do ato declaratório da aposentadoria. Artigo 238 — O ato que remover ou transferir o funcionário
estudante de uma para outra cidade ficará suspenso se, na nova
Artigo 225 — O funcionário em disponibilidade poderá ser sede, não existir estabelecimento congênere, oficial, reconhecido
ou equiparado àquele em que o interessado esteja matriculado.
aposentado nos termos do art. 222.
§ 1º — Efetivar-se-á a transferência, se o funcionário concluir
o curso, deixar de cursá-lo ou for reprovado durante 2 (dois) anos.
Artigo 226 — O provento da aposentadoria será: § 2º — Anualmente, o interessado deverá fazer prova, perante
I — igual ao vencimento ou remuneração e demais vantagens a repartição a que esteja subordinado, de que está frequentando
pecuniárias incorporadas para esse efeito: regularmente o curso em que estiver matriculado.
1 — quando o funcionário, do sexo masculino, contar 35 (trin-
ta e cinco) anos de serviço e do sexo feminino, 30 (trinta) anos; e CAPÍTULO VII
2 — quando ocorrer a invalidez. Do Direito de Petição
II — proporcional ao tempo de serviço, nos demais casos.
Artigo 239 — É assegurado a qualquer pessoa, física ou jurí-
dica, independentemente de pagamento, o direito de petição contra
Artigo 227 — As disposições dos itens I e II do art. 222 apli-
ilegalidade ou abuso de poder e para defesa de direitos. (NR)
cam-se ao funcionário ocupante de cargo em comissão, que contar § 1º — Qualquer pessoa poderá reclamar sobre abuso, erro,
mais de 15 (quinze) anos de exercício ininterrupto nesse cargo, omissão ou conduta incompatível no serviço público.(NR)
seja ou não ocupante de cargo de provimento efetivo. § 2º — Em nenhuma hipótese, a Administração poderá recu-
sar-se a protocolar, encaminhar ou apreciar a petição, sob pena de
Artigo 228 — A aposentadoria prevista no item III do art. 222 responsabilidade do agente.
produzirá efeito a partir da publicação do ato no “Diário Oficial”.
Artigo 240 — Ao servidor é assegurado o direito de requerer
Artigo 229 — O pagamento dos proventos a que tiver direito ou representar, bem como, nos termos desta lei complementar, pe-
o aposentado deverá iniciar-se no mês seguinte ao em que cessar a dir reconsideração e recorrer de decisões, no prazo de 30 (trinta)
dias, salvo previsão legal específica. (NR)
percepção do vencimento ou remuneração.
TÍTULO VI
Artigo 230 — O provento do aposentado só poderá sofrer DOS DEVERES, DAS PROIBIÇÕES E DAS RESPONSABI-
descontos autorizados em lei. LIDADES

Artigo 231 — O provento da aposentadoria não poderá ser CAPÍTULO I


superior ao vencimento ou remuneração e demais vantagens per- Dos Deveres e das Proibições
cebidas pelo funcionário.
SEÇÃO I
Artigo 232 — Qualquer alteração do vencimento ou remune- Dos Deveres
ração e vantagens percebidas pelo funcionário em virtude de me-
dida geral, será extensiva ao provento do aposentado, na mesma Artigo 241 — São deveres do funcionário:
proporção. I — ser assíduo e pontual;

Didatismo e Conhecimento 259


NOÇÕES DE DIREITO
II — cumprir as ordens superiores, representando quando fo- IV — exercer, mesmo fora das horas de trabalho, emprego ou
rem manifestamente ilegais; função em empresas, estabelecimentos ou instituições que tenham
III — desempenhar com zelo e presteza os trabalhos de que relações com o Governo, em matéria que se relacione com a finali-
for incumbido; dade da repartição ou serviço em que esteja lotado;
IV — guardar sigilo sobre os assuntos da repartição e, espe- V — aceitar representação de Estado estrangeiro, sem autori-
cialmente, sobre despachos, decisões ou providências; zação do Presidente da República;
V — representar aos superiores sobre todas as irregularidades VI — comerciar ou ter parte em sociedades comerciais nas
de que tiver conhecimento no exercício de suas funções; condições mencionadas no item II deste artigo, podendo, em qual-
VI — tratar com urbanidade as pessoas; (NR) quer caso, ser acionista, quotista ou comanditário;
VII — residir no local onde exerce o cargo ou, onde autori- VII — incitar greves ou a elas aderir, ou praticar atos de sabo-
zado; tagem contra o serviço público;
VIII — providenciar para que esteja sempre em ordem, no VIII — praticar a usura;
assentamento individual, a sua declaração de família; IX — constituir-se procurador de partes ou servir de interme-
IX — zelar pela economia do material do Estado e pela con- diário perante qualquer repartição pública, exceto quando se tratar
servação do que for confiado à sua guarda ou utilização; de interesse de cônjuge ou parente até segundo grau;
X — apresentar -se convenientemente trajado em serviço ou X — receber estipêndios de firmas fornecedoras ou de entida-
com uniforme determinado, quando for o caso; des fiscalizadas, no País, ou no estrangeiro, mesmo quando estiver
XI — atender prontamente, com preferência sobre qualquer em missão referente à compra de material ou fiscalização de qual-
outro serviço, às requisições de papéis, documentos, informações quer natureza;
ou providências que lhe forem feitas pelas autoridades judiciárias XI — valer-se de sua qualidade de funcionário para desempe-
ou administrativas, para defesa do Estado, em Juízo; nhar atividade estranha às funções ou para lograr, direta ou indire-
XII — cooperar e manter espírito de solidariedade com os tamente, qualquer proveito; e
companheiros de trabalho, XII — fundar sindicato de funcionários ou deles fazer parte.
XIII — estar em dia com as leis, regulamentos, regimentos, Parágrafo único — Não está compreendida na proibição dos
instruções e ordens de serviço que digam respeito às suas funções; itens II e VI deste artigo, a participação do funcionário em socie-
e dades em que o Estado seja acionista, bem assim na direção ou ge-
XIV — proceder na vida pública e privada na forma que dig- rência de cooperativas e associações de classe, ou como seu sócio.
nifique a função pública.
Artigo 244 — É vedado ao funcionário trabalhar sob as or-
SEÇÃO II dens imediatas de parentes, até segundo grau, salvo quando se tra-
Das Proibições tar de função de confiança e livre escolha, não podendo exceder a
2 (dois) o número de auxiliares nessas condições.
Artigo 242 — Ao funcionário é proibido:
I —  Revogado CAPÍTULO II
II — retirar, sem prévia permissão da autoridade competente, Das Responsabilidades
qualquer documento ou objeto existente na repartição;
III — entreter-se, durante as horas de trabalho, em palestras, Artigo 245 — O funcionário é responsável por todos os preju-
leituras ou outras atividades estranhas ao serviço; ízos que, nessa qualidade, causar à Fazenda Estadual, por dolo ou
IV — deixar de comparecer ao serviço sem causa justificada; culpa, devidamente apurados.
V — tratar de interesses particulares na repartição; Parágrafo único — Caracteriza-se especialmente a respon-
VI — promover manifestações de apreço ou desapreço dentro sabilidade:
da repartição, ou tornar-se solidário com elas; I — pela sonegação de valores e objetos confiados à sua guar-
VII — exercer comércio entre os companheiros de serviço, da ou responsabilidade, ou por não prestar contas, ou por não as
promover ou subscrever listas de donativos dentro da repartição; e tomar, na forma e no prazo estabelecidos nas leis, regulamentos,
VIII — empregar material do serviço público em serviço par- regimentos, instruções e ordens de serviço;
ticular. II — pelas faltas, danos, avarias e quaisquer outros prejuízos
que sofrerem os bens e os materiais sob sua guarda, ou sujeitos a
Artigo 243 — É proibido ainda, ao funcionário: seu exame ou fiscalização;
I — fazer contratos de natureza comercial e industrial com o III — pela falta ou inexatidão das necessárias averbações nas
Governo, por si, ou como representante de outrem; notas de despacho, guias e outros documentos da receita, ou que
II — participar da gerência ou administração de empresas tenham com eles relação; e
bancárias ou industriais, ou de sociedades comerciais, que man- IV — por qualquer erro de cálculo ou redução contra a Fa-
tenham relações comerciais ou administrativas com o Governo do zenda Estadual.
Estado, sejam por este subvencionadas ou estejam diretamente re-
lacionadas com a finalidade da repartição ou serviço em que esteja Artigo 246 — O funcionário que adquirir materiais em desa-
lotado; cordo com disposições legais e regulamentares, será responsabili-
III — requerer ou promover a concessão de privilégios, ga- zado pelo respectivo custo, sem prejuízo das penalidades discipli-
rantias de juros ou outros favores semelhantes, federais, estaduais nares cabíveis, podendo-se proceder ao desconto no seu vencimen-
ou municipais, exceto privilégio de invenção própria; to ou remuneração.

Didatismo e Conhecimento 260


NOÇÕES DE DIREITO
Artigo 247 — Nos casos de indenização à Fazenda Estadual, § 1º — O funcionário suspenso perderá todas as vantagens e
o funcionário será obrigado a repor, de uma só vez, a importância direitos decorrentes do exercício do cargo.
do prejuízo causado em virtude de alcance, desfalque, remissão § 2º — A autoridade que aplicar a pena de suspensão poderá
ou omissão em efetuar recolhimento ou entrada nos prazos legais. converter essa penalidade em multa, na base de 50% (cinqüenta
por cento) por dia de vencimento ou remuneração, sendo o funcio-
Artigo 248 — Fora dos casos incluídos no artigo anterior, a nário, nesse caso, obrigado a permanecer em serviço.
importância da indenização poderá ser descontada do vencimento
ou remuneração não excedendo o desconto à 10ª (décima) parte do Artigo 255 — A pena de multa será aplicada na forma e nos
valor destes. casos expressamente previstos em lei ou regulamento.
Parágrafo único — No caso do item IV do parágrafo único
do art. 245, não tendo havido má-fé, será aplicada a pena de repre- Artigo 256 — Será aplicada a pena de demissão nos casos de:
ensão e, na reincidência, a de suspensão. I — abandono de cargo;
II — procedimento irregular, de natureza grave;
Artigo 249 — Será igualmente responsabilizado o funcioná- III — ineficiência no serviço;
rio que, fora dos casos expressamente previstos nas leis, regula- IV — aplicação indevida de dinheiros públicos, e
mentos ou regimentos, cometer a pessoas estranhas às repartições, V — ausência ao serviço, sem causa justificável, por mais de
o desempenho de encargos que lhe competirem ou aos seus subor- 45 (quarenta e cinco) dias, interpoladamente, durante 1 (um) ano.
dinados. § 1º — Considerar-se-á abandono de cargo, o não compare-
cimento do funcionário por mais de (30) dias consecutivos ex-vi
Artigo 250 — A responsabilidade administrativa não exime do art. 63.
o funcionário da responsabilidade civil ou criminal que no caso § 2º — A pena de demissão por ineficiência no serviço, só será
couber, nem o pagamento da indenização a que ficar obrigado, na aplicada quando verificada a impossibilidade de readaptação.
forma dos arts. 247 e 248, o exame da pena disciplinar em que
incorrer. Artigo 257 — Será aplicada a pena de demissão a bem do
§ 1º — A responsabilidade administrativa é independente da serviço público ao funcionário que:
civil e da criminal.(NR) I — for convencido de incontinência pública e escandalosa e
§ 2º  — Será reintegrado ao serviço público, no cargo que de vício de jogos proibidos;
ocupava e com todos os direitos e vantagens devidas, o servidor II — praticar ato definido como crime contra a administração
absolvido pela Justiça, mediante simples comprovação do trânsito pública, a fé pública e a Fazenda Estadual, ou previsto nas leis
em julgado de decisão que negue a existência de sua autoria ou do relativas à segurança e à defesa nacional; (NR)
fato que deu origem à sua demissão.(NR) III — revelar segredos de que tenha conhecimento em razão
§ 3º  — O processo administrativo só poderá ser sobrestado do cargo, desde que o faça dolosamente e com prejuízo para o
para aguardar decisão judicial por despacho motivado da autorida- Estado ou particulares;
de competente para aplicar a pena.(NR)  IV — praticar insubordinação grave;
V — praticar, em serviço, ofensas físicas contra funcionários
TÍTULO VII ou particulares, salvo se em legítima defesa;
DAS PENALIDADES, DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE VI — lesar o patrimônio ou os cofres públicos;
E DAS PROVIDÊNCIAS PRELIMINARES (NR) VII — receber ou solicitar propinas, comissões, presentes ou
vantagens de qualquer espécie, diretamente ou por intermédio de
CAPÍTULO I outrem, ainda que fora de suas funções mas em razão delas;
Das Penalidades e de sua Aplicação VIII — pedir, por empréstimo, dinheiro ou quaisquer valores
a pessoas que tratem de interesses ou o tenham na repartição, ou
Artigo 251 — São penas disciplinares: estejam sujeitos à sua fiscalização;
I — repreensão; IX — exercer advocacia administrativa; e
II — suspensão; X — apresentar com dolo declaração falsa em matéria de
III — multa; salário-família, sem prejuízo da responsabilidade civil e de proce-
IV — demissão; dimento criminal, que no caso couber.
V — demissão a bem do serviço público; e XI — praticar ato definido como crime hediondo, tortura, trá-
VI — cassação de aposentadoria ou disponibilidade fico ilícito de entorpecentes e drogas afins e terrorismo; (NR)
XII — praticar ato definido como crime contra o Sistema Fi-
Artigo 252 — Na aplicação das penas disciplinares serão con- nanceiro, ou de lavagem ou ocultação de bens, direitos ou valores;
sideradas a natureza e a gravidade da infração e os danos que dela (NR)
provierem para o serviço público. XIII —  praticar ato definido em lei como de improbidade.
(NR)
Artigo 253 — A pena de repreensão será aplicada por escrito,
nos casos de indisciplina ou falta de cumprimento dos deveres. Artigo 258 — O ato que demitir o funcionário mencionará
sempre a disposição legal em que se fundamenta.
Artigo 254 — A pena de suspensão, que não excederá de 90
(noventa) dias, será aplicada em caso de falta grave ou de reinci- Artigo 259 — Será aplicada a pena de cassação de aposenta-
dência. doria ou disponibilidade, se ficar provado que o inativo:

Didatismo e Conhecimento 261


NOÇÕES DE DIREITO
I — praticou, quando em atividade, falta grave para a qual é CAPÍTULO II
cominada nesta lei a pena de demissão ou de demissão a bem do Das Providências Preliminares (NR)
serviço público;
II — aceitou ilegalmente cargo ou função pública; Artigo 264 — A autoridade que, por qualquer meio, tiver co-
III — aceitou representação de Estado estrangeiro sem prévia nhecimento de irregularidade praticada por servidor é obrigada a
autorização do Presidente da República; e adotar providências visando à sua imediata apuração, sem prejuízo
IV — praticou a usura em qualquer de suas formas. das medidas urgentes que o caso exigir.(NR)
Artigo 260 — Para aplicação das penalidades previstas no art.
251, são competentes: Artigo 265 — A autoridade realizará apuração preliminar, de
I — o Governador; natureza simplesmente investigativa, quando a infração não esti-
II — os Secretários de Estado, o Procurador Geral do Estado ver suficientemente caracterizada ou definida autoria. (NR)
e os Superintendentes de Autarquia; § 1º — A apuração preliminar deverá ser concluída no prazo
III — os Chefes de Gabinete, até a de suspensão; de 30 (trinta) dias. (NR)
IV — os Coordenadores, até a de suspensão limitada a 60 § 2º — Não concluída no prazo a apuração, a autoridade deve-
(sessenta) dias; e rá imediatamente encaminhar ao Chefe de Gabinete relatório das
V — os Diretores de Departamento e Divisão, até a de suspen- diligências realizadas e definir o tempo necessário para o término
são limitada a 30 (trinta) dias. dos trabalhos. (NR)
Parágrafo único —  Havendo mais de um infrator e diver-
§ 3º — Ao concluir a apuração preliminar, a autoridade deverá
sidade de sanções, a competência será da autoridade responsável
pela imposição da penalidade mais grave. (NR) opinar fundamentadamente pelo arquivamento ou pela instauração
de sindicância ou de processo administrativo. (NR) 
Artigo 261 — Extingue-se a punibilidade pela prescrição:
I — da falta sujeita à pena de repreensão, suspensão ou multa, Artigo 266 — Determinada a instauração de sindicância ou
em 2 (dois) anos; processo administrativo, ou no seu curso, havendo conveniência
II — da falta sujeita à pena de demissão, de demissão a bem para a instrução ou para o serviço, poderá o Chefe de Gabinete, por
do serviço público e de cassação da aposentadoria ou disponibili- despacho fundamentado, ordenar as seguintes providências: (NR)
dade, em 5 (cinco) anos; I — afastamento preventivo do servidor, quando o recomen-
II — da falta prevista em lei como infração penal, no prazo dar a moralidade administrativa ou a apuração do fato, sem preju-
de prescrição em abstrato da pena criminal, se for superior a 5
ízo de vencimentos ou vantagens, até 180 (cento e oitenta) dias,
(cinco) anos.
§ 1º — A prescrição começa a correr: prorrogáveis uma única vez por igual período;
1 — do dia em que a falta for cometida; II — designação do servidor acusado para o exercício de ati-
2 — do dia em que tenha cessado a continuação ou a perma- vidades exclusivamente burocráticas até decisão final do procedi-
nência, nas faltas continuadas ou permanentes. mento;
§ 2º — Interrompem a prescrição a portaria que instaura sin- III — recolhimento de carteira funcional, distintivo, armas e
dicância e a que instaura processo administrativo. algemas;
§ 3º — O lapso prescricional corresponde: IV — proibição do porte de armas;
1 — na hipótese de desclassificação da infração, ao da pena V — comparecimento obrigatório, em periodicidade a ser es-
efetivamente aplicada; tabelecida, para tomar ciência dos atos do procedimento.
2 — na hipótese de mitigação ou atenuação, ao da pena em
§ 1º — A autoridade que determinar a instauração ou presidir
tese cabível.
§ 4º — A prescrição não corre: sindicância ou processo administrativo poderá representar ao Che-
1 — enquanto sobrestado o processo administrativo para fe de Gabinete para propor a aplicação das medidas previstas neste
aguardar decisão judicial, na forma do § 3º do artigo 250; artigo, bem como sua cessação ou alteração. (NR)
2 — enquanto insubsistente o vínculo funcional que venha a § 2º — O Chefe de Gabinete poderá, a qualquer momento, por
ser restabelecido. despacho fundamentado, fazer cessar ou alterar as medidas previs-
§ 5º — Extinta a punibilidade pela prescrição, a autoridade tas neste artigo. (NR)
julgadora determinará o registro do fato nos assentamentos indi-
viduais do servidor. Artigo 267 — O período de afastamento preventivo computa-
§ 6º — A decisão que reconhecer a existência de prescrição -se como de efetivo exercício, não sendo descontado da pena de
deverá desde logo determinar, quando for o caso, as providências
suspensão eventualmente aplicada. (NR)
necessárias à apuração da responsabilidade pela sua ocorrência.
(NR)
TÍTULO VIII
Artigo 262 — O funcionário que, sem justa causa, deixar de DO PROCEDIMENTO DISCIPLINAR (NR)
atender a qualquer exigência para cujo cumprimento seja marcado
prazo certo, terá suspenso o pagamento de seu vencimento ou re- CAPÍTULO I
muneração até que satisfaça essa exigência. Das Disposições Gerais (NR)
Parágrafo único — Aplica-se aos aposentados ou em dispo-
nibilidade o disposto neste artigo. Artigo 268 — A apuração das infrações será feita mediante
Artigo 263 — Deverão constar do assentamento individual do sindicância ou processo administrativo, assegurados o contraditó-
funcionário todas as penas que lhe forem impostas. rio e a ampla defesa. (NR)

Didatismo e Conhecimento 262


NOÇÕES DE DIREITO
Artigo 269 — Será instaurada sindicância quando a falta dis- § 2º  — Vencido o prazo, caso não concluído o processo, o
ciplinar, por sua natureza, possa determinar as penas de repreen- Procurador do Estado que o presidir deverá imediatamente enca-
são, suspensão ou multa. (NR) minhar ao seu superior hierárquico relatório indicando as provi-
dências faltantes e o tempo necessário para término dos trabalhos.
Artigo 270 — Será obrigatório o processo administrativo (NR)
quando a falta disciplinar, por sua natureza, possa determinar as § 3º — O superior hierárquico dará ciência dos fatos a que se
penas de demissão, de demissão a bem do serviço público e de refere o parágrafo anterior e das providências que houver adotado
cassação de aposentadoria ou disponibilidade. (NR) à autoridade que determinou a instauração do processo. (NR)

Artigo 271 — Os procedimentos disciplinares punitivos serão Artigo 278 — Autuada a portaria e demais peças preexisten-
realizados pela Procuradoria Geral do Estado e presididos por Pro- tes, designará o presidente dia e hora para audiência de interroga-
curador do Estado confirmado na carreira. (NR)  tório, determinando a citação do acusado e a notificação do denun-
ciante, se houver. (NR)
CAPÍTULO II § 1º — O mandado de citação deverá conter: (NR)
Da Sindicância 1 — cópia da portaria;
2 — data, hora e local do interrogatório, que poderá ser acom-
Artigo 272 — São competentes para determinar a instauração panhado pelo advogado do acusado;
de sindicância as autoridades enumeradas no artigo 260. (NR) 3 — data, hora e local da oitiva do denunciante, se houver, que
Parágrafo único — Instaurada a sindicância, o Procurador deverá ser acompanhada pelo advogado do acusado;
do Estado que a presidir comunicará o fato ao órgão setorial de 4 — esclarecimento de que o acusado será defendido por ad-
pessoal. (NR)  vogado dativo, caso não constitua advogado próprio;
5 — informação de que o acusado poderá arrolar testemunhas
Artigo 273 — Aplicam-se à sindicância as regras previstas e requerer provas, no prazo de 3 (três) dias após a data designada
nesta lei complementar para o processo administrativo, com as se- para seu interrogatório;
guintes modificações: 6 — advertência de que o processo será extinto se o acusado
I — a autoridade sindicante e cada acusado poderão arrolar pedir exoneração até o interrogatório, quando se tratar exclusiva-
até 3 (três) testemunhas; mente de abandono de cargo ou função, bem como inassiduidade.
II — a sindicância deverá estar concluída no prazo de 60 (ses- § 2º — A citação do acusado será feita pessoalmente, no mí-
senta) dias; nimo 2 (dois) dias antes do interrogatório, por intermédio do res-
III — com o relatório, a sindicância será enviada à autoridade pectivo superior hierárquico, ou diretamente, onde possa ser en-
competente para a decisão. (NR) contrado. (NR)
§ 3º — Não sendo encontrado em seu local de trabalho ou no
CAPÍTULO III endereço constante de seu assentamento individual, furtando-se o
Do Processo Administrativo (NR) acusado à citação ou ignorando-se seu paradeiro, a citação far-se-
-á por edital, publicado uma vez no Diário Oficial do Estado, no
Artigo 274 — São competentes para determinar a instauração mínimo 10 (dez) dias antes do interrogatório. (NR)
de processo administrativo as autoridades enumeradas no artigo
260, até o inciso IV, inclusive.(NR) Artigo 279 — Havendo denunciante, este deverá prestar de-
clarações, no interregno entre a data da citação e a fixada para o
Artigo 275 — Não poderá ser encarregado da apuração, nem interrogatório do acusado, sendo notificado para tal fim. (NR)
atuar como secretário, amigo íntimo ou inimigo, parente consan- § 1º — A oitiva do denunciante deverá ser acompanhada pelo
guíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau in- advogado do acusado, próprio ou dativo. (NR)
clusive, cônjuge, companheiro ou qualquer integrante do núcleo § 2º — O acusado não assistirá à inquirição do denunciante;
familiar do denunciante ou do acusado, bem assim o subordinado antes porém de ser interrogado, poderá ter ciência das declarações
deste. (NR)  que aquele houver prestado. (NR) 

Artigo 276 — A autoridade ou o funcionário designado de- Artigo 280 — Não comparecendo o acusado, será, por des-
verão comunicar, desde logo, à autoridade competente, o impedi- pacho, decretada sua revelia, prosseguindo-se nos demais atos e
mento que houver. (NR) termos do processo. (NR)

Artigo 277 — O processo administrativo deverá ser instaura- Artigo 281 — Ao acusado revel será nomeado advogado da-
do por portaria, no prazo improrrogável de 8 (oito) dias do rece- tivo. (NR)
bimento da determinação, e concluído no de 90 (noventa) dias da
citação do acusado.(NR) Artigo 282 — O acusado poderá constituir advogado que o
§ 1º — Da portaria deverão constar o nome e a identificação representará em todos os atos e termos do processo. (NR)
do acusado, a infração que lhe é atribuída, com descrição sucinta § 1º — É faculdade do acusado tomar ciência ou assistir aos
dos fatos, a indicação das normas infringidas e a penalidade mais atos e termos do processo, não sendo obrigatória qualquer notifi-
elevada em tese cabível. (NR) cação. (NR)

Didatismo e Conhecimento 263


NOÇÕES DE DIREITO
§ 2º — O advogado será intimado por publicação no Diário Artigo 287 — As testemunhas arroladas pelo acusado com-
Oficial do Estado, de que conste seu nome e número de inscrição parecerão à audiência designada independente de notificação.(NR)
na Ordem dos Advogados do Brasil, bem como os dados necessá- § 1º — Deverá ser notificada a testemunha cujo depoimento
rios à identificação do procedimento. (NR) for relevante e que não comparecer espontaneamente. (NR)
§ 3º — Não tendo o acusado recursos financeiros ou negando- § 2º — Se a testemunha não for localizada, a defesa poderá
-se a constituir advogado, o presidente nomeará advogado dativo. substituí-la, se quiser, levando na mesma data designada para a
(NR) audiência outra testemunha, independente de notificação. (NR) 
§ 4º — O acusado poderá, a qualquer tempo, constituir advo-
gado para prosseguir na sua defesa. (NR)  Artigo 288 — Em qualquer fase do processo, poderá o presi-
dente, de ofício ou a requerimento da defesa, ordenar diligências
Artigo 283 — Comparecendo ou não o acusado ao interroga- que entenda convenientes.
tório, inicia-se o prazo de 3 (três) dias para requerer a produção de § 1º  — As informações necessárias à instrução do processo
provas, ou apresentá-las. (NR) serão solicitadas diretamente, sem observância de vinculação hie-
§ 1º — O presidente e cada acusado poderão arrolar até 5 (cin- rárquica, mediante ofício, do qual cópia será juntada aos autos.
co) testemunhas.(NR) § 2º  — Sendo necessário o concurso de técnicos ou peritos
§ 2º — A prova de antecedentes do acusado será feita exclusi- oficiais, o presidente os requisitará, observados os impedimentos
vamente por documentos, até as alegações finais. (NR) do artigo 275. (NR)
§ 3º — Até a data do interrogatório, será designada a audiên-
cia de instrução. (NR) Artigo 289 — Durante a instrução, os autos do procedimento
administrativo permanecerão na repartição competente. (NR)
Artigo 284 — Na audiência de instrução, serão ouvidas, pela § 1º — Será concedida vista dos autos ao acusado, mediante
ordem, as testemunhas arroladas pelo presidente e pelo acusado. simples solicitação, sempre que não prejudicar o curso do proce-
(NR) dimento. (NR)
Parágrafo único — Tratando-se de servidor público, seu § 2º — A concessão de vista será obrigatória, no prazo para
comparecimento poderá ser solicitado ao respectivo superior ime- manifestação do acusado ou para apresentação de recursos, me-
diato com as indicações necessárias. (NR) diante publicação no Diário Oficial do Estado.(NR)
§ 3º — Não corre o prazo senão depois da publicação a que
Artigo 285 — A testemunha não poderá eximir-se de depor, se refere o parágrafo anterior e desde que os autos estejam efetiva-
mente disponíveis para vista. (NR)
salvo se for ascendente, descendente, cônjuge, ainda que legal-
§ 4º — Ao advogado é assegurado o direito de retirar os autos
mente separado, companheiro, irmão, sogro e cunhado, pai, mãe
da repartição, mediante recibo, durante o prazo para manifestação
ou filho adotivo do acusado, exceto quando não for possível, por
de seu representado, salvo na hipótese de prazo comum, de proces-
outro modo, obter-se ou integrar-se a prova do fato e de suas cir-
so sob regime de segredo de justiça ou quando existirem nos autos
cunstâncias. (NR)
documentos originais de difícil restauração ou ocorrer circunstân-
§ 1º — Se o parentesco das pessoas referidas for com o denun-
cia relevante que justifique a permanência dos autos na reparti-
ciante, ficam elas proibidas de depor, observada a exceção deste ção, reconhecida pela autoridade em despacho motivado. (NR)
artigo.(NR)
§ 2º — Ao servidor que se recusar a depor, sem justa causa, Artigo 290 —  Somente poderão ser indeferidos pelo presi-
será pela autoridade competente adotada a providência a que se dente, mediante decisão fundamentada, os requerimentos de ne-
refere o artigo 262, mediante comunicação do presidente. (NR) nhum interesse para o esclarecimento do fato, bem como as provas
§ 3º — O servidor que tiver de depor como testemunha fora da ilícitas, impertinentes, desnecessárias ou protelatórias. (NR)
sede de seu exercício, terá direito a transporte e diárias na forma da
legislação em vigor, podendo ainda expedir-se precatória para esse Artigo 291 — Quando, no curso do procedimento, surgirem
efeito à autoridade do domicílio do depoente. (NR) fatos novos imputáveis ao acusado, poderá ser promovida a ins-
§ 4º — São proibidas de depor as pessoas que, em razão de tauração de novo procedimento para sua apuração, ou, caso con-
função, ministério, ofício ou profissão, devam guardar segredo, veniente, aditada a portaria, reabrindo-se oportunidade de defesa.
salvo se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar o seu (NR) 
testemunho. (NR) 
Artigo 292 — Encerrada a fase probatória, dar-se-á vista dos
Artigo 286 — A testemunha que morar em comarca diversa autos à defesa, que poderá apresentar alegações finais, no prazo de
poderá ser inquirida pela autoridade do lugar de sua residência, 7 (sete) dias. (NR)
expedindo-se, para esse fim, carta precatória, com prazo razoável, Parágrafo único — Não apresentadas no prazo as alegações
intimada a defesa. finais, o presidente designará advogado dativo, assinando-lhe novo
§ 1º — Deverá constar da precatória a síntese da imputação e prazo. (NR)
os esclarecimentos pretendidos, bem como a advertência sobre a
necessidade da presença de advogado. Artigo 293 — O relatório deverá ser apresentado no prazo de
§ 2º — A expedição da precatória não suspenderá a instrução 10 (dez) dias, contados da apresentação das alegações finais. (NR)
do procedimento. § 1º — O relatório deverá descrever, em relação a cada acu-
§ 3º — Findo o prazo marcado, o procedimento poderá pros- sado, separadamente, as irregularidades imputadas, as provas co-
seguir até final decisão; a todo tempo, a precatória, uma vez devol- lhidas e as razões de defesa, propondo a absolvição ou punição e
vida, será juntada aos autos. (NR) indicando, nesse caso, a pena que entender cabível. (NR)

Didatismo e Conhecimento 264


NOÇÕES DE DIREITO
§ 2º — O relatório deverá conter, também, a sugestão de quais- Artigo 306 — É defeso fornecer à imprensa ou a outros meios
quer outras providências de interesse do serviço público. (NR) de divulgação notas sobre os atos processuais, salvo no interesse
da Administração, a juízo do Secretário de Estado ou do Procura-
Artigo 294 — Relatado, o processo será encaminhado à auto- dor Geral do Estado. (NR)
ridade que determinou sua instauração. (NR)
Artigo 307 — Decorridos 5 (cinco) anos de efetivo exercício,
Artigo 295 — Recebendo o processo relatado, a autoridade contados do cumprimento da sanção disciplinar, sem cometimento
que houver determinado sua instauração deverá, no prazo de 20 de nova infração, não mais poderá aquela ser considerada em pre-
(vinte) dias, proferir o julgamento ou determinar a realização de juízo do infrator, inclusive para efeito de reincidência.(NR)
diligência, sempre que necessária ao esclarecimento de fatos. (NR Parágrafo único — A demissão e a demissão a bem do ser-
Artigo 296 — Determinada a diligência, a autoridade encar- viço público acarretam a incompatibilidade para nova investidura
regada do processo administrativo terá prazo de 15 (quinze) dias em cargo, função ou emprego público, pelo prazo de 5 (cinco) e 10
para seu cumprimento, abrindo vista à defesa para manifestar-se (dez) anos, respectivamente. (NR)
em 5 (cinco) dias. (NR)
CAPÍTULO IV
Artigo 297 — Quando escaparem à sua alçada as penalidades
Do Processo por Abandono do Cargo ou Função e por Inassi-
e providências que lhe parecerem cabíveis, a autoridade que deter-
minou a instauração do processo administrativo deverá propô-las, duidade (NR)
justificadamente, dentro do prazo para julgamento, à autoridade
competente. (NR) Artigo 308 — Verificada a ocorrência de faltas ao serviço que
caracterizem abandono de cargo ou função, bem como inassidui-
Artigo 298 — A autoridade que proferir decisão determinará dade, o superior imediato comunicará o fato à autoridade compe-
os atos dela decorrentes e as providências necessárias a sua exe- tente para determinar a instauração de processo disciplinar, ins-
cução. (NR) truindo a representação com cópia da ficha funcional do servidor e
atestados de frequência. (NR)
Artigo 299 — As decisões serão sempre publicadas no Diá-
rio Oficial do Estado, dentro do prazo de 8 (oito) dias, bem como Artigo 309 — Não será instaurado processo para apurar aban-
averbadas no registro funcional do servidor. (NR) dono de cargo ou função, bem como inassiduidade, se o servidor
tiver pedido exoneração. (NR) 
Artigo 300 — Terão forma processual resumida, quando pos-
sível, todos os termos lavrados pelo secretário, quais sejam: au- Artigo 310 — Extingue-se o processo instaurado exclusiva-
tuação, juntada, conclusão, intimação, data de recebimento, bem mente para apurar abandono de cargo ou função, bem como inassi-
como certidões e compromissos. (NR) duidade, se o indiciado pedir exoneração até a data designada para
§ 1º — Toda e qualquer juntada aos autos se fará na ordem o interrogatório, ou por ocasião deste. (NR)
cronológica da apresentação, rubricando o presidente as folhas
acrescidas. (NR) Artigo 311 — A defesa só poderá versar sobre força maior,
§ 2º — Todos os atos ou decisões, cujo original não conste do coação ilegal ou motivo legalmente justificável. (NR)
processo, nele deverão figurar por cópia. (NR)
CAPÍTULO V
Artigo 301 — Constará sempre dos autos da sindicância ou Dos Recursos (NR)
do processo a folha de serviço do indiciado. (NR)
Artigo 312 — Caberá recurso, por uma única vez, da decisão
Artigo 302 — Quando ao funcionário se imputar crime, pra-
que aplicar penalidade.(NR)
ticado na esfera administrativa, a autoridade que determinou a
instauração do processo administrativo providenciará para que se § 1º — O prazo para recorrer é de 30 (trinta) dias, contados da
instaure, simultaneamente, o inquérito policial. (NR) publicação da decisão impugnada no Diário Oficial do Estado ou
Parágrafo único — Quando se tratar de crime praticado fora da intimação pessoal do servidor, quando for o caso. (NR)
da esfera administrativa, a autoridade policial dará ciência dele à § 2º — Do recurso deverá constar, além do nome e qualifica-
autoridade administrativa. (NR)  ção do recorrente, a exposição das razões de inconformismo. (NR)
§ 3º — O recurso será apresentado à autoridade que aplicou
Artigo 303 — As autoridades responsáveis pela condução do a pena, que terá o prazo de 10 (dez) dias para, motivadamente,
processo administrativo e do inquérito policial se auxiliarão para manter sua decisão ou reformá-la.(NR)
que os mesmos se concluam dentro dos prazos respectivos. (NR) § 4º — Mantida a decisão, ou reformada parcialmente, será
imediatamente encaminhada a reexame pelo superior hierárquico.
Artigo 304 — Quando o ato atribuído ao funcionário for con- (NR)
siderado criminoso, serão remetidas à autoridade competente có- § 5º — O recurso será apreciado pela autoridade competente
pias autenticadas das peças essenciais do processo. (NR)  ainda que incorretamente denominado ou endereçado. (NR) 

Artigo 305 — Não será declarada a nulidade de nenhum ato Artigo 313 — Caberá pedido de reconsideração, que não po-
processual que não houver influído na apuração da verdade subs- derá ser renovado, de decisão tomada pelo Governador do Estado
tancial ou diretamente na decisão do processo ou sindicância. (NR) em única instância, no prazo de 30 (trinta) dias. (NR) 

Didatismo e Conhecimento 265


NOÇÕES DE DIREITO
Artigo 314 — Os recursos de que trata esta lei complemen- Artigo 323 — Os prazos previstos neste Estatuto serão todos
tar não têm efeito suspensivo; os que forem providos darão lugar contados por dias corridos.
às retificações necessárias, retroagindo seus efeitos à data do ato Parágrafo único — Não se computará no prazo o dia inicial,
punitivo. (NR) prorrogando-se o vencimento, que incidir em sábado, domingo,
feriado ou facultativo, para o primeiro dia útil seguinte.
CAPÍTULO VI
Da Revisão (NR) Artigo 324 — As disposições deste Estatuto se aplicam aos
extranumerários, exceto no que colidirem com a precariedade de
Artigo 315 — Admitir-se-á, a qualquer tempo, a revisão de sua situação no Serviço Público.
punição disciplinar de que não caiba mais recurso, se surgirem fa-
tos ou circunstâncias ainda não apreciados, ou vícios insanáveis de Disposições Transitórias
procedimento, que possam justificar redução ou anulação da pena
aplicada.(NR) Artigo 325 — Aplicam-se aos atuais funcionários interinos as
§ 1º — A simples alegação da injustiça da decisão não consti- disposições deste Estatuto, salvo as que colidirem com a natureza
tui fundamento do pedido. (NR) precária de sua investidura e, em especial, as relativas a acesso,
§ 2º — Não será admitida reiteração de pedido pelo mesmo promoção, afastamentos, aposentadoria voluntária e às licenças
fundamento. (NR) previstas nos itens VI, VII e IX do artigo 181.
§ 3º — Os pedidos formulados em desacordo com este artigo
serão indeferidos. (NR) Artigo 326 — Serão obrigatoriamente exonerados os ocupan-
§ 4º — O ônus da prova cabe ao requerente. (NR) tes interinos de cargos para cujo provimento for realizado concurso.
Parágrafo único — As exonerações serão efetivadas dentro de 30
Artigo 316 — A pena imposta não poderá ser agravada pela (trinta) dias, após a homologação do concurso.
revisão. (NR)
Artigo 327 — Revogado. 
Artigo 317 — A instauração de processo revisional poderá
ser requerida fundamentadamente pelo interessado ou, se falecido Artigo 328 — Dentro de 120 (cento e vinte) dias proceder-
ou incapaz, por seu curador, cônjuge, companheiro, ascendente, -se-á ao levantamento geral das atuais funções gratificadas, para
descendente ou irmão, sempre por intermédio de advogado. (NR)  efeito de implantação de novo sistema retribuitório dos encargos
Parágrafo único — O pedido será instruído com as provas por elas atendidos.
que o requerente possuir ou com indicação daquelas que pretenda Parágrafo único — Até a implantação do sistema de que trata
produzir. (NR)  este artigo, continuarão em vigor as disposições legais referentes
à função gratificada.
Artigo 318 — A autoridade que aplicou a penalidade, ou que
a tiver confirmado em grau de recurso, será competente para o Artigo 329 — Ficam expressamente revogadas:
exame da admissibilidade do pedido de revisão, bem como, caso I — as disposições de leis gerais ou especiais que estabeleçam
deferido o processamento, para a sua decisão final. (NR) contagem de tempo em divergência com o disposto no Capítulo
XV do Título II, ressalvada, todavia, a contagem, nos termos da le-
Artigo 319 — Deferido o processamento da revisão, será este gislação ora revogada, do tempo de serviço prestado anteriormente
realizado por Procurador de Estado que não tenha funcionado no ao presente Estatuto;
procedimento disciplinar de que resultou a punição do requerente. II — a Lei nº 1.309, de 29 de novembro de 1951 e as demais
(NR)  disposições atinentes aos extranumerários; e
III — a Lei nº 2.576, de 14 de janeiro de 1954.
Artigo 320 — Recebido o pedido, o presidente providenciará
o apensamento dos autos originais e notificará o requerente para, Artigo 330 — Vetado.
no prazo de 8 (oito) dias, oferecer rol de testemunhas, ou requerer
outras provas que pretenda produzir. Artigo 331 — Revogam-se as disposições em contrário.
Parágrafo único — No processamento da revisão serão ob-
servadas as normas previstas nesta lei complementar para o pro- Palácio dos Bandeirantes, aos 28 de outubro de 1968.
cesso administrativo. (NR)

Artigo 321 — A decisão que julgar procedente a revisão po-


derá alterar a classificação da infração, absolver o punido, modifi-
car a pena ou anular o processo, restabelecendo os direitos atingi-
dos pela decisão reformada. (NR) 

Disposições Finais

Artigo 322 — O dia 28 de outubro será consagrado ao “Fun-


cionário Público Estadual”.

Didatismo e Conhecimento 266


NOÇÕES DE DIREITO
Artigo 3.º - São atribuições básicas:
Prof. Mariela Ribeiro Nunes Cardoso I – Da Polícia Civil – o exercício da Polícia Judiciária, admi-
nistrativa e preventiva especializada;
Jornalista e advogada na Área Civil e Direito de Família. II – Da Polícia Militar – o planejamento, a coordenação e a
Especialização na Fundação Getúlio Vargas, graduada pelo execução do policiamento ostensivo, fardado e a prevenção e ex-
Centro Universitário Eurípides de Marília e pela Universidade de tinção de incêndios.
Marília.
Artigo 4.º - Para efeito de entrosamento dos órgãos policiais
A partir de agora serão analisados os temas em relação a contará a administração superior com mecanismos de planejamen-
esta matéria. to, coordenação e controle, pelos quais se assegurem, tanto a efi-
O objetivo do presente trabalho é potencializar os seus estu- ciência, quanto a complementariedade das ações, quando necessá-
dos, sendo que procuramos trazer um conteúdo mais abrangen- rias à consecução dos objetivos policiais.
te, viabilizando um estudo mais aprofundado do tema.
O foco principal é disponibilizar um material didático, ob- Artigo 5.º - Os direitos, deveres, vantagens e regime de tra-
jetivo e de conteúdo amplo, que os capacite para concursos pú- balho dos policiais civis e militares, bem como as condições de
blicos. ingresso às classes, séries de classes, carreiras ou quadros são es-
Diante disto, aproveitem o material fazendo-o bom uso e boa tabelecidos em estatutos.
sorte, para novas conquistas, com muita dedicação.
Artigo 6.º - É vedada, salvo com autorização expressa do
Governador em cada caso, a utilização de integrantes dos órgãos
policiais em funções estranhas ao serviço policial, sob pena de res-
2.5.20 LEI ORGÂNICA DA POLÍCIA ponsabilidade da autoridade que o permitir.
DO ESTADO DE SÃO PAULO (LEI Parágrafo único – É considerado serviço policial, para todos
COMPLEMENTAR N.º 207 DE 05/01/1979 os efeitos legais, inclusive arregimentação, o exercício em cargo,
E LEI COMPLEMENTAR N.º 922/02 E LEI ou funções de natureza policial, inclusive os de ensino a esta le-
COMPLEMENTAR N.º 1.151/11) gados.

Artigo 7.º - As funções administrativas e outras de natureza


não policial serão exercidas por funcionário ou por servidor, admi-
LEI COMPLEMENTAR 207, DE 5 DE JANEIRO DE 1979 tido nos termos da legislação vigente não pertencente às classes,
séries de classes, carreiras e quadros policiais.
Lei Orgânica da Polícia do Estado de São Paulo Parágrafo único – Vetado.

O GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO: Artigo 8.º - As guardas municipais, guardas noturnas e os ser-
Faço saber que a Assembleia Legislativa decreta e eu promul- viços de segurança e vigilância, autorizados por lei, ficam sujeitos
go a seguinte lei complementar: à orientação, controle e fiscalização da Secretaria da Segurança
Pública, na forma de regulamentação específica.
TÍTULO I
Da Polícia do Estado de São Paulo TÍTULO II
Da Polícia Civil
Capítulo I
Artigo 1.º - A Secretaria de Estado dos Negócios da Segurança
Das Disposições Preliminares
Pública, responsável pela manutenção, em todo o Estado, da or-
dem e da segurança pública internas, executará o serviço policial Artigo 9.º - Esta lei complementar estabelece as normas, os
por intermédio dos órgãos policiais que a integram. direitos, os deveres e as vantagens dos titulares de cargos policiais
Parágrafo único – Abrange o serviço policial a prevenção e civis do Estado.
investigação criminais, o policiamento ostensivo, o trânsito e a
proteção em casos de calamidade pública, incêndio e salvamento. Artigo 10 – Consideram-se para fins desta lei complementar:
I – classe: conjunto de cargos públicos de natureza policial da
Artigo 2.º - São órgãos policiais, subordinados hierárquica, mesma denominação e amplitude de vencimentos;
administrativa e funcionalmente ao Secretário da Segurança Pú- II – série de classes: conjunto de classes da mesma natureza de
blica: trabalho policial, hierarquicamente escalonadas de acordo com o
I – Polícia Civil grau de complexidade das atribuições e nível de responsabilidade;
II – Polícia Militar III – carreira policial: conjunto de cargos de natureza policial
§ 1.º - Integrarão também a Secretaria da Segurança Públi- civil, de provimento efetivo.
ca os órgãos de assessoramento do Secretário da Segurança, que
constituem a administração superior da Pasta. Artigo 11 – São classes policiais civis aquelas constantes do
§ 2.º - A organização, estrutura, atribuições e competência anexo que faz parte integrante desta lei complementar.
pormenorizada dos órgãos de que trata este artigo serão estabe-
Artigo 12 – As classes e as séries de classes policiais civis
lecidos por decreto, nos termos desta lei e da legislação federal
integram o Quadro da Secretaria da Segurança Pública na seguinte
pertinente.
conformidade:

Didatismo e Conhecimento 267


NOÇÕES DE DIREITO
I – na Tabela I (SQC –I): CAPÍTULO III
a) Delegado Geral de Polícia; Do Provimento de Cargos
b) Diretor Geral de Polícia (Departamento Policial); SEÇÃO I
c) Assistente Técnico de Polícia; Das Exigências para Provimento
d) Delegado Regional de Polícia;
e) Diretor de Divisão Policial; Artigo 15 – No provimento dos cargos policiais civis, serão
f) Vetado; exigidos os seguintes requisitos:
g) Vetado; I – para o Delegado Geral de Polícia, ser ocupante do cargo de
h) Assistente de Planejamento e Controle Policial; Delegado de Polícia de Classe Especial (vetado);
i) Vetado; II – para os de Diretor Geral de Polícia, Assistente Técnico de
j) Delegado de Polícia Substituto; Polícia e Delegado Regional de Polícia, ser ocupante do cargo de
Delegado de Polícia de Classe Especial;
l) Escrivão de Polícia Chefe II;
III – vetado;
m) Investigador de Polícia Chefe II;
IV – vetado;
n) Escrivão de Polícia Chefe I; V – para os de Diretor de Divisão Policial: ser ocupante, no
o) Investigador de Polícia Chefe I; mínimo, do cargo de Delegado de Polícia de 1.ª Classe;
II – na Tabela II (SQC-II): VI – para os de Assistente de Planejamento e Controle Poli-
a) Chefe de Seção (Telecomunicação Policial); cial: ser ocupante, no mínimo, de cargo de Delegado de Polícia de
b) Encarregado de Setor (Telecomunicação Policial); 2.ª Classe;
c) Chefe de Seção (Pesquisador Dactiloscópico Policial); VII – para os de Escrivão de Polícia Chefe II: ser ocupante do
d) Encarregado de Setor (Pesquisador Dactiloscópico Poli- cargo de Escrivão de Polícia III;
cial); VIII – para os de Investigador de Polícia Chefe II: ser ocupan-
e) Encarregado de Setor (Carceragem); te do cargo de Investigador de Polícia III;
f) Chefe de Seção (Dactiloscopista Policial); IX – para os de Escrivão de Polícia Chefe I: ser ocupante do
g) Encarregado de Setor (Dactiloscopista Policial); cargo de Escrivão de Polícia III ou II;
III – na Tabela III (SQC-III): X – para os de Investigador de Polícia Chefe I : ser ocupante
a) os das séries de classe de: do cargo de Investigador de Polícia III ou II;
1. Delegado de Polícia; XI – para os de Delegado de Polícia de 5.ª Classe: ser portador
2. Escrivão de Polícia; de Diploma de Bacharel em Direito:
3. Investigador de Polícia; XII – para os de Delegado de Polícia de Classe Especial e de
b) os da seguintes classes: 2.ª Classe: ser portador de certificado de curso específico ministra-
1. Perito Criminal; do pela Academia de Polícia de São Paulo;
2. Técnico em Telecomunicações Policial; XIII – para os de Escrivão de Polícia e Investigador de Polícia:
3. Operador de Telecomunicações Policial; ser portador de certificado de conclusão de curso de segundo grau.
4. Fotógrafo (Técnica Policial);
5. Inspetor de Diversões Públicas; SEÇÃO II
6. Auxiliar de Necrópsia; Dos Concursos Públicos
7. Pesquisador Dactiloscópico Policial;
Artigo 16 – O provimento mediante nomeação para cargos po-
8. Carcereiro;
liciais civis, de caráter efetivo, será precedido de concurso público
9. Dactiloscopista Policial; que será realizado em 3 (três) fases eliminatórias:
10. Motorista Policial; I – a de prova ou provas e títulos, quando se tratar de provi-
11. Atendente de Necrotério Policial. mento de cargos em relação aos quais a lei exija formação de nível
§ 1.º - Vetado. universitário;
§ 2.º - O provimento dos cargos de que trata o inciso II deste II – a de frequência e aproveitamento na Academia de Polícia,
artigo far-se-á por transposição, na forma prevista no artigo 27 da em curso intensivo de formação;
Lei Complementar nº 180, de 12 de maio de 1978. III – a de prova oral, que versará sobre qualquer parte das
§ 3.º - Vetado. matérias exigidas nas provas do inciso I e das que constarem da
programação de que trata o inciso II.
CAPÍTULO II Parágrafo único – Vetado.
Vetado
Artigo 17 – Os concursos públicos terão validade máxima de
Artigo 13 – Vetado. 2 (dois) anos a reger-se-ão por instruções especiais que estabelece-
rão, em função da natureza do cargo:
Artigo 14 – Vetado: I – tipo e conteúdo das provas e as categorias dos títulos;
I – vetado; II – a forma de julgamento das provas e dos títulos;
II – vetado; III – cursos de formação a que ficam sujeitos os candidatos
III – vetado; classificados;
IV – vetado; IV- os critérios de habilitação e classificação final para fins de
V - vetado; nomeação;
§ 1.º - vetado. V – as condições para provimento do cargo, referentes a:
§ 2.º - vetado. a) capacidade física e mental;
§ 3.º - Vetado. b) conduta na vida pública e privada e a forma de sua apuração ;

Didatismo e Conhecimento 268


NOÇÕES DE DIREITO
c) diplomas e certificados. Artigo 26 – A autoridade que der posse deverá verificar, sob
pena de responsabilidade, se foram satisfeitas as condições estabe-
Artigo 18 – São requisitos para a inscrição nos concursos: lecidas em lei ou regulamento para a investidura no cargo policial
I – ser brasileiro; civil.
II – ter no mínimo 18 (dezoito) anos, e no máximo 45 (qua-
renta e cinco) anos incompletos, à data do encerramento das ins- Artigo 27 – A posse verificar-se-á mediante assinatura de ter-
crições; mo em livro próprio, assinado pelo empossado e pela autoridade
III – não registrar antecedentes criminais; competente, após o policial civil prestar solenemente o respectivo
IV – estar em gozo dos direitos políticos; compromisso, cujo teor será definido pelo Secretário da Segurança
V – estar quite com o serviço militar; Pública.
VI – ter altura mínima de 1,60 m para candidatos aos cargos
de Delegado de Polícia, Investigador de Polícia, Carcereiro e Mo- Artigo 28 – A posse deverá verificar-se no prazo de 15 (quin-
torista Policial. ze) dias contados da publicação do ato de provimento, no órgão
Parágrafo único – Vetado. oficial.
§ 1.º - O prazo fixado neste artigo poderá ser prorrogado por
mais 15 (quinze) dias, a requerimento do interessado.
Artigo 19 – Observada a ordem de classificação, os candida-
§ 2.º - Se a posse não se der dentro do prazo será tornado sem
tos, em número equivalente ao de cargos, vagos, serão matricula- efeito o ato de provimento.
dos no curso de formação específica.
Artigo 29 – A contagem do prazo a que se refere o artigo an-
Artigo 20 – Os candidatos a que se refere o artigo anterior terior poderá ser suspensa até no máximo de 120 (cento e vinte)
serão admitidos, pelo Secretário da Segurança Pública, em caráter dias, a critério do órgão médico encarregado da inspeção respec-
experimental e transitório para a formação técnico-profissional. tiva, sempre que este estabelecer exigência para a expedição de
§ 1.º - A admissão de que trata este artigo faz-se-á com retri- certificado de sanidade.
buição equivalente à do vencimento e demais vantagens do cargo Parágrafo único – O prazo a que se refere este artigo recome-
vago a que se candidatar o concursando. çará a fluir sempre que o candidato, sem motivo justificado, deixar
§ 2.º - Sendo funcionário ou servidor, o candidato matriculado de cumprir as exigências do órgão médico.
ficará afastado do seu cargo ou função-atividade, até o término do
concurso junto à Academia de Polícia de São Paulo, sem prejuízo SEÇÃO IV
do vencimento ou salário e demais vantagens, contando-se-lhe o Do Exercício
tempo de serviço para todos os efeitos legais.
§ 3.º - É facultado ao funcionário ou servidor, afastado nos ter- Artigo 30 - O exercício terá início de 15 (quinze) dias, con-
mos do parágrafo anterior, optar pela retribuição prevista no § 1.º . tados:
I – da data da posse;
Artigo 21 – O candidato terá sua matrícula cancelada e será II – da data da publicação do ato no caso de remoção.
dispensado do curso de formação, nas hipóteses em que: § 1.º - Quando o acesso, remoção ou transposição não impor-
I – não atinja o mínimo de frequência estabelecida para o cur- tar mudança de município, deverá o policial civil entrar em exercí-
so; cio no prazo de 5 (cinco) dias.
II – não revele aproveitamento no curso; § 2.º - No interesse do serviço policial o Delegado Geral de
III – não tenha conduta irrepreensível na vida pública ou pri- Polícia poderá determinar que os policiais civis assumam imedia-
vada. tamente o exercício do cargo.
Parágrafo único – Os critérios para a apuração das condições
Artigo 31 – Nenhum policial civil poderá ter exercício em ser-
constantes dos incisos II e III serão fixados em regulamento. viço ou unidade diversa daquela para o qual foi designado, salvo
autorização do Delegado Geral de Polícia.
Artigo 22 – Homologado o concurso pelo Secretário da Segu-
rança Pública, serão nomeados os candidatos aprovados, expedin- Artigo 32 – O Delegado de Polícia só poderá chefiar unidade
do-se-lhes certificados dos quais constará a média final. ou serviço de categoria correspondente à sua classe, ou em caso
excepcional, à classe imediatamente superior.
Artigo 23 – A nomeação obedecerá a ordem de classificação
no concurso. Artigo 33 – Quando em exercício em unidade ou serviço de
categoria superior, nos termos deste artigo, terá o Delegado de Po-
SEÇÃO III lícia direito à percepção da diferença entre os vencimentos do seu
Da posse cargo e os do cargo de classe imediatamente superior.
Parágrafo único – Na hipótese deste artigo aplicam-se as dis-
Artigo 24 – Posse é ato que investe o cidadão em cargo públi- posições do artigo 195 da Lei Complementar nº 180, de 12 de maio
co policial civil. de 1978.

Artigo 25 – São competentes para dar posse: SEÇÃO V


I – O Secretário da Segurança Pública, ao Delegado Geral de Da reversão “Ex Officio”
Polícia;
II – O Delegado Geral de Polícia, aos Delegados de Polícia; Artigo 34 – Reversão “ex officio” é o ato pelo qual o aposen-
III – O Diretor do Departamento de Administração da Polícia tado reingressa no serviço policial quando insubsistentes as razões
Civil, nos demais casos. que determinam a aposentadoria por invalidez.

Didatismo e Conhecimento 269


NOÇÕES DE DIREITO
§ 1.º - A reversão só poderá efetivar-se quando, em inspeção I – gratificação por regime especial de trabalho policial;
médica, ficar comprovada a capacidade para o exercício do cargo. II – ajuda de custo, em caso de remoção.
§ 2.º - Será tomada sem efeito a reversão “ex officio”e cassada
a aposentadoria do policial civil que reverter e não tomar posse ou SUBSEÇÃO II
não entrar em exercício injustificadamente, dentro do prazo legal. Da Gratificação pelo Regime Especial de Trabalho Policial
Artigo 35 – A reversão far-se-á no mesmo cargo. Artigo 44 – Os cargos policiais civis serão exercidos neces-
sariamente em regime especial de trabalho policial, que se carac-
CAPÍTULO IV teriza:
Da Remoção
I – pela prestação de serviço em jornada de, no mínimo 40
Artigo 36 – O Delegado de Polícia só poderá ser removido, de (quarenta) horas semanais de trabalho, em condições precárias de
um para outro município (vetado): segurança;
I – a pedido; II – pelo cumprimento de horário irregular, sujeito a plantões
II – por permuta; noturnos e chamados a qualquer hora;
III – com seu assentimento, após consulta; III – pela proibição do exercício de outras atividades remune-
IV- no interesse do serviço policial, com a aprovação de dois radas, exceto as relativas ao ensino e a difusão cultural.
terços do Conselho da Polícia Civil (vetado). Parágrafo único – A gratificação de que trata este artigo incor-
pora-se ao vencimento para todos os efeitos legais.
Artigo 37 – A remoção dos integrantes das demais séries de
classes e cargos policiais civis, de uma para outra unidade policial, Artigo 45 – Pela sujeição ao regime a que se refere a artigo
será processada: anterior, os titulares de cargos policiais civis fazem jus a uma gra-
I – a pedido;
tificação de 30% (trinta por cento) calculada sobre o padrão de
II – por permuta;
III – no interesse do serviço policial. vencimento em que estiverem enquadrados.

Artigo 38 – A remoção só poderá ser feita, respeitada a lotação SUBSEÇÃO III


de cada unidade policial. Da Ajuda de Custo em Caso de Remoção

Artigo 39 – O policial civil não poderá ser removido no inte- Artigo 46 – Ao policial civil removido no interesse do serviço
resse do serviço, para município diverso do de sua sede de exercí- policial, de um para outro município, será concedida ajuda de cus-
cio, no período de 6 (seis) meses antes e até 3 (três) meses após a to correspondente a um mês de vencimento.
data das eleições. § 1.º - A ajuda de custo será paga à vista da publicação do ato
Parágrafo único – Esta proibição vigorará no caso de eleições de remoção, no Diário Oficial.
federais, estaduais ou municipais, isolada ou simultaneamente re- § 2.º - A ajuda de custo de que trata este artigo não será devida
alizadas. quando a remoção se processar a pedido ou por permuta.
Artigo 40 – É preferencial, na união de cônjuges, a sede de
exercício do policial civil, quando este for cabeça do casal. SEÇÃO III
Das Outras Concessões
CAPÍTULO V
Do Vencimento e Outras Vantagens de Ordem Pecuniária Artigo 47 – Ao policial civil licenciado para tratamento de
SEÇÃO I saúde, em razão de moléstia profissional ou lesão recebida em ser-
Do Vencimento viço, será concedido transporte por conta do Estado para institui-
ção onde deva ser atendido.
Artigo 41 – Aos cargos policiais civis aplicam-se os valores
dos graus das referências numéricas fixados na Tabela I da escala Artigo 48 – À família do policial civil que falecer fora da sede
de vencimentos do funcionalismo público civil do Estado. de exercício e dentro do território nacional no desempenho de ser-
viço, será concedido transporte para, no máximo 3 (três) pessoas
Artigo 42 – O enquadramento das classes na escala de ven-
do local de domicílio ao do óbito (ida e volta).
cimentos, bem como a amplitude de vencimentos e velocidade
evolutiva correspondente à cada classe policial, são estabelecidos
na conformidade do Anexo que faz parte integrante desta lei com- Artigo 49 – o Secretário da Segurança Pública, por proposta
plementar. do Delegado Geral de Polícia, ouvido o Conselho da Polícia Ci-
vil, poderá conceder honrarias ou prêmios aos policiais autores de
SEÇÃO II trabalhos de relevante interesse policial ou por atos de bravura, na
Das Vantagens de Ordem Pecuniária forma em que for regulamentado.
SUBSEÇÃO I
Das Disposições Gerais Artigo 50 – O policial civil que ficar inválido ou vier a falecer
em conseqüência de lesões recebidas ou doenças contraídas em
Artigo 43 – Além do valor do padrão do cargo e sem prejuí- razão do serviço, terá seu vencimento fixado na referência final da
zo das vantagens previstas na Lei nº 10.261, de 28 de outubro de amplitude de vencimentos de sua classe.
1978, e demais legislação pertinente, o policial civil fará jus às § 1.º - A concessão do benefício será precedida de competente
seguintes vantagens pecuniárias: apuração, retroagindo seus efeitos à data de invalidez ou morte.

Didatismo e Conhecimento 270


NOÇÕES DE DIREITO
§ 2.º - O policial inválido nos termos deste artigo será aposen- § 2.º - A decisão final dos recursos a que se refere este artigo
tado com proventos decorrentes do novo enquadramento observa- deverá ser dada dentro do prazo de 90 (noventa) dias, contado da
do o disposto no parágrafo anterior. data do recebimento na repartição, e, uma vez proferida, será ime-
§ 3.º - Aos beneficiários do policial civil falecido nos termos diatamente publicada sob pena de responsabilidade do funcionário
deste artigo, será deferida pensão mensal correspondente aos ven- infrator. Se a decisão não for proferida dentro do prazo, poderá o
cimentos integrais, observado o disposto nos parágrafos anteriores. policial civil desde logo interpor à autoridade superior.
§ 3.º - Os pedidos de reconsideração e os recursos não têm
Artigo 51 – Ao cônjuge ou, na falta deste, à pessoa que provar efeito suspensivo; os que forem providos, porém, darão lugar às
ter feito despesa em virtude do falecimento do policial civil, será retificações necessárias, retroagindo os seus efeitos à data do ato
concedida, a título de auxílio-funeral, a importância corresponden- impugnado, desde que outra providência não determine a autorida-
te a 2 (dois) meses de vencimento. de quanto aos efeitos relativos ao passado.
Parágrafo único – O pagamento será efetuado, pela respectiva
repartição pagadora, no dia em que for apresentado o atestado de Artigo 56 – O prazo (vetado) para pleitear na esfera adminis-
óbito pelo cônjuge ou pessoa a cujas expensas houver sido efetu- trativa será:
I – de 5 (cinco) anos, quanto aos atos dos quais decorreram
ado o funeral, ou procurador habilitado legalmente, feita a prova
a demissão, aposentadoria ou disponibilidade do policial civil; e
de identidade.
II – de 120 (cento e vinte) dias, nos demais casos.
§ 1.º - Os prazos referidos neste artigo são contados da data
Artigo 52 – O policial civil que sofrer lesões no exercício de da publicação, no órgão oficial, do ato impugnado, ou, quando este
suas funções deverá ser encaminhado a qualquer hospital público for de natureza reservada daquela em que tiver ciência o policial
ou particular às expensas do Estado. civil.
§ 2.º - Os recursos ou pedidos de reconsideração, quando ca-
Artigo 53 – Ao policial civil processado por ato praticado no bíveis e apresentados dentro dos prazos de que trata este artigo, in-
desempenho de função policial, será prestada assistência judiciária terrompem o prazo (vetado) até 2 (duas) vezes no máximo, deter-
na forma que dispuser o regulamento. minando a contagem de novos prazos a partir da publicação oficial
do despacho denegatório, parcial ou total, do pedido.
Artigo 54 – Vetado
Parágrafo único – Vetado. Artigo 57 – Os pedidos de reconsideração e os recursos em
procedimento disciplinar, interpostos ao Delegado Geral de Po-
CAPÍTULO VI lícia, serão previamente submetidos à apreciação do Conselho da
Do Direito de Petição Polícia Civil.
Parágrafo único – Deverão ser submetidas, também, à apre-
Artigo 55 – É permitido ao policial civil requerer ou repre- ciação do Conselho, se este não se houver manifestado anterior-
sentar, pedir reconsideração e recorrer de decisões, desde que faça mente, as petições interpostas junto às autoridades superiores.
dentro das normas de urbanidade e em termos, observadas às se-
guintes regras: CAPÍTULO VII
I – nenhuma solicitação, qualquer que seja a sua forma poderá Do Elogio
ser:
a) dirigida a autoridade incompetente para decidi-la; Artigo 58 – Entende-se por elogio, para os fins desta lei, a
b) encaminhada senão por intermédio da autoridade a que es- menção nominal ou coletiva que deva constar dos assentamentos
tiver imediatamente subordinado o policial civil; funcionais do policial civil por atos meritórios que haja praticado.
II – o pedido de reconsideração só será cabível quando con-
Artigo 59 – O elogio destina-se a ressaltar:
tiver novos argumentos ou fatos supervenientes e será sempre di-
I – morte, invalidez ou lesão corporal de natureza grave, no
rigido à autoridade que tiver expedido o ato proferido a decisão;
cumprimento do dever;
III – nenhum pedido de reconsideração poderá ser renovado;
II – ato que traduza dedicação excepcional no cumprimento
IV – o pedido de reconsideração deverá ser decidido no prazo do dever, transcendendo ao que é normalmente exigível do policial
máximo de 30 (trinta) dias; civil por disposição legal ou regulamentar e que importe ou possa
V – só caberá recurso quando houver pedido de reconsidera- importar risco da própria segurança pessoal;
ção desatendido ou não decidido no prazo legal. III – execução de serviços que, pela sua relevância e pelo que
VI – o recurso será dirigido à autoridade a que estiver ime- representam para a instituição ou para a coletividade, mereçam ser
diatamente subordinada a que tenha expedido o ato ou proferido enaltecidos como reconhecimento pela atividade desempenhada.
a decisão e, sucessivamente, na escala ascendente, às demais au-
toridades; e Artigo 60 – Não constitui motivo para elogio o cumprimento
VII – nenhum recurso poderá ser dirigido mais de uma vez à dos deveres impostos ao policial civil.
mesma autoridade.
§ 1.º - Em hipótese alguma poderá ser recebida petição, pedi- Artigo 61 – São competentes para determinar a inscrição de
do de reconsideração ou recurso que não atendam às prescrições elogios nos assentamentos do policial o Secretário da Segurança e
deste artigo, devendo a autoridade à qual forem encaminhadas tais o Delegado Geral de Polícia, ouvido no caso deste, o Conselho da
peças, indeferi-las de plano. Polícia Civil.

Didatismo e Conhecimento 271


NOÇÕES DE DIREITO
Parágrafo único – Os elogios nos casos dos incisos II e III V- deixar de oficiar tempestivamente nos expedientes que lhe
do artigo 59 serão obrigatoriamente considerados para efeito de forem encaminhados;
avaliação de desempenho. VI – negligenciar na execução de ordem legítima;
VII – interceder maliciosamente em favor de parte;
CAPÍTULO VIII VIII – simular doença para esquivar-se ao cumprimento de
Dos Deveres, das Transgressões Disciplinares e das Responsa- obrigação;
bilidades IX – faltar, chegar atrasado ou abandonar escala de serviço ou
SEÇÃO I plantões, ou deixar de comunicar, com antecedência, à autoridade
Dos Deveres a que estiver subordinado, a impossibilidade de comparecer à re-
partição, salvo por motivo justo;
Artigo 62 – São deveres do policial civil: X – permutar horário de serviço ou execução de tarefa sem
I – ser assíduo e pontual; expressa permissão da autoridade competente;
II – ser leal às instituições; XI – usar vestuário incompatível com decoro da função;
III – cumprir as normas legais e regulamentares; XII – descurar de sua aparência física ou do asseio;
IV – zelar pela economia e conservação dos bens do Estado, XIII – apresentar-se no trabalho alcoolizado ou sob efeito de
especialmente daqueles cuja guarda ou utilização lhe for confiada; substância que determine dependência física ou psíquica;
V – desempenhar com zelo e presteza as missões que lhe XIV – lançar intencionalmente, em registros oficiais, papéis
forem confiadas, usando moderadamente de força ou outro meio ou quaisquer expedientes, dados errôneos, incompletos ou que
adequado de que dispõe, para esse fim; possam induzir a erro, bem como inserir neles anotações indevi-
VI – informar incontinenti toda e qualquer alteração de ende- das;
reço da residência e número de telefone, se houver; XV – faltar, salvo motivo relevante a ser comunicado por es-
VII – prestar informações corretas ou encaminhar o solicitante crito no primeiro dia em que comparecer à sua sede de exercício,
a quem possa prestá-las; a ato processual, judiciário ou administrativo, do qual tenha sido
VIII – comunicar o endereço onde possa ser encontrado, previamente cientificado;
quando dos afastamentos regulamentares; XVI – utilizar, para fins particulares, qualquer que seja o pre-
IX – proceder na vida pública e particular de modo a dignifi- texto, material pertencente ao Estado;
car a função policial; XVII – interferir indevidamente em assunto de natureza poli-
X – residir na sede do município onde exerça o cargo ou fun- cial, que não seja de sua competência;
ção, ou onde autorizado; XVIII – fazer uso indevido de bens ou valores que lhe che-
XI – frequentar, com assiduidade, para fins de aperfeiçoamen- guem às mãos, em decorrência da função, ou não entregá-los, com
to e atualização de conhecimentos profissionais, cursos instituídos a brevidade possível, a quem de direito;
periodicamente pela Academia de Polícia; XIX – exibir, desnecessariamente, arma, distintivo ou algema;
XII – portar a carteira funcional; XX – deixar de ostentar distintivo quando exigido para ser-
XIII – promover as comemorações do “Dia da Polícia” a 21 viço;
de abril, ou delas participar, exaltando o vulto de Joaquim José da XXI – deixar de identificar-se, quando solicitado ou quando as
Silva Xavier, o Tiradentes, Patrono da Polícia; circunstâncias o exigirem;
XIV – ser leal para com os companheiros de trabalho e com XXII – divulgar ou proporcionar a divulgação, sem autoriza-
eles cooperar e manter espírito de solidariedade; ção da autoridade competente, através da imprensa escrita, falada
XV – estar em dia com as normas de interesse policial; ou televisada, de fato ocorrido na repartição.
XVI – divulgar para conhecimento dos subordinados as nor- XXIII – promover manifestação contra atos da administração
mas referidas no inciso anterior; ou movimentos de apreço ou desapreço a qualquer autoridade;
XVII – manter discrição sobre os assuntos da repartição e, XXIV – referir-se de modo depreciativo as autoridades e a
especialmente, sobre despachos, decisões e providências. atos da administração pública, qualquer que seja o meio emprega-
do para esse fim;
SEÇÃO II XXV – retirar, sem prévia autorização da autoridade compe-
Das Transgressões Disciplinares tente, qualquer objeto ou documentos da repartição;
XXVI – tecer comentários que possam gerar descréditos da
Artigo 63 – São transgressões disciplinares: instituição policial;
I – manter relações de amizade ou exibir-se em público com XXVII – valer-se do cargo com fim, ostensivo ou velado, de
pessoas de notórios e desabonadores antecedentes criminais, salvo obter proveito de qualquer natureza para si ou para terceiros;
por motivo de serviço; XXVIII – deixar de reassumir exercício sem motivo justo, ao
II – constitui-se procurador de partes ou servir de intermediá- final dos afastamentos regulamentares ou, ainda, depois de saber
rio, perante qualquer repartição pública, salvo quando se tratar de que qualquer destes foi interrompido por ordem superior;
interesse de cônjuge ou parente até segundo grau; XXIX – atribuir-se qualidade funcional diversa do cargo ou
III – descumprir ordem superior salvo quando manifestamente função que exerce;
ilegal, representando neste caso; XXX – fazer uso indevido de documento funcional, arma, al-
IV – não tomar as providências necessárias ou deixar de co- gema ou bens da repartição ou cedê-los a terceiro;
municar, imediatamente, à autoridade competente, faltas ou irre- XXXI – maltratar ou permitir maltrato físico ou moral a preso
gularidades de que tenha conhecimento; sob sua guarda;

Didatismo e Conhecimento 272


NOÇÕES DE DIREITO
XXXII – negligenciar na revista a preso; Artigo 66 – A responsabilidade civil decorre de procedimento
XXXIII – desrespeitar ou procrastinar o cumprimento de de- doloso ou culposo, que importe prejuízo à Fazenda Pública ou a
cisão ou ordem judicial; terceiros.
XXXIV – tratar o superior hierárquico, subordinado ou colega Parágrafo único – A importância da indenização será descon-
sem o devido respeito ou deferência; tada dos vencimentos e vantagens e o desconto não excederá à
XXXV – faltar à verdade no exercício de suas funções; décima parte do valor destes.
XXXVI – deixar de comunicar incontinenti à autoridade com-
petente informação que tiver sobre perturbação da ordem pública
CAPÍTULO IX
ou qualquer fato que exija intervenção policial;
XXXVII – dificultar ou deixar de encaminhar expediente à Das Penalidades, da Extinção da Punibilidade e da Suspensão
autoridade competente, se não estiver na sua alçada resolvê-lo; Preventiva
XXXVIII – concorrer para o não cumprimento ou retarda- SEÇÃO I
mento de ordem de autoridade competente;
XXXIX – deixar, sem justa causa, de submeter-se a inspeção Artigo 67 – São penas disciplinares principais :
médica determinada por lei ou pela autoridade competente; I – advertência;
XL – deixar de concluir nos prazos legais, sem motivo justo, II – repreensão;
procedimentos de polícia judiciária, administrativos ou discipli- III – multa;
nares; IV – suspensão;
XLI – cobrar taxas ou emolumentos não previstos em lei;
V – demissão;
XLII – expedir identidade funcional ou qualquer tipo de cre-
dencial a quem não exerça cargo ou função policial civil; VI – demissão a bem do serviço público;
XLIII – deixar de encaminhar ao órgão, competente, para tra- VII – cassação de aposentadoria ou disponibilidade.
tamento ou inspeção médica, subordinado que apresentar sintomas
de intoxicação habitual por álcool, entorpecente ou outra substân- Artigo 68 – Constitui pena disciplinar a remoção compulsória,
cia que determine dependência física ou psíquica, ou de comunicar que poderá ser aplicada cumulativamente com as penas previstas
tal fato, se incompetente, à autoridade que for; nos incisos II , III e IV do artigo anterior quando em razão da falta
XLIV – dirigir viatura policial com imprudência, imperícia, cometida houver conveniência nesse afastamento para o serviço
negligência ou sem habilitação; policial.
XLV – manter transação ou relacionamento indevido com pre- Parágrafo único – Quando se tratar de Delegado de Polícia,
so, pessoa em custódia ou respectivos familiares;
para a aplicação da pena prevista neste artigo deverá ser observado
XLVI – criar animosidade, velada ou ostensivamente, entre
subalternos e superiores ou entre colegas, ou indispô-los de que o disposto no artigo 36, inciso IV.
qualquer forma;
XLVII – atribuir ou permitir que se atribua a pessoa estranha Artigo 69 – Na aplicação das penas disciplinares serão con-
à repartição, fora dos casos previstos em lei, o desempenho de en- siderados a natureza, a gravidade, os motivos determinantes e a
cargos policiais; repercussão da infração os danos causados, a personalidade e os
XLVIII – praticar a usura em qualquer de suas formas; antecedentes do agente, a intensidade do dolo ou grau de culpa.
XLIX – praticar ato definido em lei como abuso de poder;
L – aceitar representação de Estado estrangeiro, sem autoriza- Artigo 70 – Para a aplicação das penas previstas no artigo 67
ção do Presidente da República; são competentes:
LI – tratar de interesses particulares na repartição;
I – o Governador;
LII – exercer comércio entre colegas, promover ou subscrever
listas de donativos dentro da repartição; II – o Secretário da Segurança Pública, até a de suspensão;
LIII – exercer comércio ou participar de sociedade comercial, III – o Delegado Geral de Polícia, até a de suspensão limitada
salvo como acionista, cotista ou comanditário; a 60 (sessenta) dias;
LIV – exercer, mesmo nas horas de folga, qualquer outro em- IV – Diretores Gerais de Polícia e Assistentes Técnicos de
prego ou função, exceto atividade relativa ao ensino e à difusão Polícia, dirigentes da Corregedoria da Polícia Civil e Centros de
cultural, quando compatível com a atividade policial; Coordenação e Planejamento, até a de suspensão limitada a 30
LV – exercer pressão ou influir junto a subordinado para for- (trinta) dias;
çar determinada solução ou resultado. V – Titulares de unidades diretamente subordinadas às Dire-
torias Gerais de Polícia, até a de suspensão limitada a 15 (quinze)
Artigo 64 – É vedado ao policial civil trabalhar sob as ordens
dias;
imediatas de parentes, até segundo grau, salvo quando se tratar
de função de confiança e livre escolha, não podendo exceder de 2 VI – Delegados de Polícia até a de suspensão limitada 8 (oito)
(dois) o número de auxiliares nestas condições. dias;
Parágrafo único – Para a aplicação da pena prevista no artigo
SEÇÃO III 68 é competente o Delegado Geral de Polícia.
Das responsabilidades
Artigo 71 – A pena de advertência será aplicada verbalmente,
Artigo 65 – O policial responde civil, penal e administrativa- no caso de falta de cumprimento dos deveres, ao infrator primário.
mente pelo exercício irregular de suas atribuições, ficando sujeito, Parágrafo único – A pena de advertência não acarreta perda
cumulativamente, às respectivas cominações. de vencimentos ou de qualquer vantagem de ordem funcional, mas
contará pontos negativos na avaliação de desempenho.

Didatismo e Conhecimento 273


NOÇÕES DE DIREITO
Artigo 72 – A pena de repreensão será aplicada por escrito, III – aceitou representação de Estado estrangeiro sem prévia
no caso de transgressão disciplinar, sendo o infrator primário e na autorização do Presidente da República.
reincidência de falta de cumprimento dos deveres.
Parágrafo único – A pena de repreensão poderá ser transfor- Artigo 78 – Constitui motivo de exclusão de falta disciplinar a
mada em advertência, aplicada por escrito e sem publicidade. não exigibilidade de outra conduta do policial civil.

Artigo 73 – A pena de suspensão, que não excederá de 90 (no- Artigo 79 – Independe do resultado de eventual ação penal a
venta) dias, será aplicada nos casos de : aplicação das penas disciplinares previstas neste Estatuto.
I – descumprimento dos deveres e transgressão disciplinar,
ocorrendo dolo ou má fé; SEÇÃO II
II – reincidência em falta já punida com repreensão. Da Extinção da Punibilidade
§ 1.º - O policial suspenso perderá, durante o período da sus-
pensão, todos os direitos e vantagens decorrentes do exercício do Artigo 80- Extingue-se a punibilidade pela prescrição:
cargo. I – da falta sujeita à pena de advertência, em 1 (um) ano;
§ 2.º - A autoridade que aplicar a pena de suspensão poderá II – da falta sujeita à pena de repreensão, multa ou suspensão,
convertê-la em multa, na base de 50% (cinquenta por cento), por em 2 (dois) anos;
dia, do vencimento e demais vantagens, sendo o policial, neste
III – da falta sujeita à pena de demissão, demissão a bem do
caso, obrigado a permanecer em serviço.
serviço público e de cassação da aposentadoria ou disponibilidade,
Artigo 74 – Será aplicada a pena de demissão nos casos de: em 5 (cinco) anos;
I – abandono de cargo; IV – da falta prevista em lei, com infração penal, no mesmo
II – procedimento irregular, de natureza grave; prazo em que se extingue a punibilidade desta, pela prescrição.
III – ineficiência intencional e reiterada no serviço; Parágrafo único – O prazo da prescrição inicia-se no dia em
IV – aplicação indevida de dinheiros públicos; que a autoridade tomar conhecimento da existência da falta e inter-
V – insubordinação grave. rompe-se pela abertura de sindicância ou, quando for o caso, pela
instauração do processo administrativo.
Artigo 75 – Será aplicada a pena de demissão a bem do servi-
ço público, nos casos de: Artigo 81 – Extingue-se, ainda, a punibilidade:
I – conduzir-se com incontinência pública e escandalosa e pra- I – pela morte do agente;
ticar jogos proibidos; II – pela anistia administrativa;
II – praticar ato definido como crime contra a Administração III – pela retroatividade de lei que não considere o fato como
Pública, a Fé Pública e a Fazenda Pública ou previsto na Lei de falta.
Segurança Nacional;
III – revelar dolosamente segredos de que tenha conhecimen- Artigo 82 – O policial civil que, sem justa causa, deixar de
to em razão do cargo ou função, com prejuízo para o Estado ou atender a qualquer exigência para cujo cumprimento seja marcado
particulares; prazo certo, terá suspenso o pagamento de seu vencimento ou re-
IV – praticar ofensas físicas contra funcionários, servidores ou muneração até que satisfaça essa exigência.
particulares, salvo em legítima defesa; Parágrafo único – Aplica-se aos aposentados ou em disponibi-
V – causar lesão dolosa ao patrimônio ou aos cofres públicos; lidade o disposto neste artigo.
VI – exigir, receber ou solicitar vantagem indevida, direta-
mente ou por intermédio de outrem, ainda que fora de suas fun- Artigo 83 – Deverão constar do assentamento individual do
ções, mas em razão destas; policial civil as penas que lhe forem impostas.
VII – provocar movimento de paralisação total ou parcial do
serviço policial ou outro qualquer serviço, ou dele participar;
VIII – pedir ou aceitar empréstimo de dinheiro ou valor de SEÇÃO III
pessoas que tratem de interesses ou os tenham na repartição, ou Da Suspensão Preventiva
estejam sujeitos à sua fiscalização;
IX – exercer advocacia administrativa. Artigo 84 – Poderá ser ordenada, pelo Delegado Geral de
Polícia, mediante representação da autoridade que determinou a
Artigo 76 – O ato que cominar pena ao policial civil mencio- instauração de processo disciplinar, a suspensão preventiva do po-
nará, sempre, a disposição legal em que se fundamenta. licial civil até 60 (sessenta) dias, desde que o seu afastamento seja
§ 1.º - Desse ato será dado conhecimento ao órgão do pessoal, necessário para averiguações de faltas a ele atribuídas, podendo
para registro e publicidade, no prazo de 8 (oito) dias, desde que o Secretário da Segurança Pública, prorrogá-la até 90 (noventa)
não se tenha revestido de reserva. dias, findos os quais cessarão os efeitos da suspensão, ainda que o
§ 2.º - As penas previstas nos incisos I a IV do artigo 67, quan- processo disciplinar não esteja concluído.
do aplicadas aos integrantes da carreira de Delegado de Polícia, Parágrafo único – Vetado.
revestir-se-ão sempre de reserva.
Artigo 85 - Durante o período de suspensão preventiva o po-
Artigo 77 – Será aplicada a pena de cassação de aposentadoria licial civil perderá 1/3 (um terço) do vencimento.
ou disponibilidade, se ficar provado que o inativo:
I – praticou, quando em atividade, falta para a qual é comina- Artigo 86 – O período de suspensão preventiva será compu-
da nesta lei a pena de demissão ou de demissão a bem do serviço tado no cumprimento da pena de suspensão, assegurado o direito
público; à restituição nas hipóteses previstas no Estatuto dos Funcionários
II – aceitou ilegalmente cargo ou função pública; Públicos.

Didatismo e Conhecimento 274


NOÇÕES DE DIREITO
CAPÍTULO X SEÇÃO III
DO Processo Disciplinar Do Processo Administrativo
SEÇÃO I
Das Disposições Gerais Artigo 94 – São competentes para determinar a instauração de
processo administrativo as autoridades enumeradas no artigo 70,
Artigo 87 – A apuração das infrações será feita mediante sin- até o inciso III, inclusive.
dicância ou processo administrativo, sob a presidência de Delega-
do de Polícia. Artigo 95 – O processo administrativo será realizado pela Co-
missão Processante Permanente do Serviço Disciplinar da Polícia
Artigo 88 – Instaurar-se-á sindicância: ou Comissão Especial designada pelo Delegado Geral de Polícia.
I – como preliminar de processo administrativo, sempre que § 1.º - A Comissão Processante Permanente ou Comissão Es-
a infração não estiver suficientemente caracterizada ou definida a pecial será integrada por 3 (três) membros, Delegados de Polícia,
autoria; um dos quais será seu presidente.
II – quando não for obrigatório o processo administrativo. § 2.º - Cabe ao presidente da comissão designar seu secretário,
que será um Escrivão de Polícia.
Artigo 89 – Será obrigatório o processo administrativo quan-
do a falta disciplinar, por sua natureza, possa determinar a pena de Artigo 96 – Não poderá ser encarregado de proceder à sindi-
demissão ou a cassação de aposentadoria ou disponibilidade. cância, nem fazer parte da Comissão Processante, mesmo como
secretário desta, parente consanguíneo ou afim, em linha reta ou
Artigo 90 – A pena disciplinar até a de suspensão poderá ser colateral, até o terceiro grau inclusive e o cônjuge do denunciante
aplicada pelo critério da verdade sabida. ou acusado, bem assim o subordinado do último.
§ 1.º - Entende-se por verdade sabida o conhecimento pessoal Parágrafo único – A autoridade ou ao funcionário designado
e direto de falta por parte da autoridade competente para aplicar a incumbirá comunicar, desde logo, à autoridade competente, o im-
pena. pedimento que houver, de acordo com este artigo.
§ 2.º - A pena será aplicada após prévia lavratura de circuns-
Artigo 97 – O processo administrativo deverá ser iniciado
tanciado auto de constatação de infração.
dentro do prazo improrrogável de 8 (oito) dias, contando da data
do ato que determinar a instauração, e concluído no de 60 (sessen-
SEÇÃO II
ta) dias, a contar da citação do acusado, prorrogável por mais 30
Da Sindicância
(trinta) dias pelo Delegado Geral de Polícia.
Parágrafo único – Somente o Secretário da Segurança Públi-
Artigo 91 – São competentes para determinar a instauração de
ca, em casos especiais e mediante representação do Delegado Ge-
sindicância as autoridades enumeradas no artigo 70.
ral de Polícia, poderá autorizar a última prorrogação de prazo, por
Parágrafo único – Compete à autoridade sindicante comuni- mais de 30 (trinta) dias.
car o fato à Corregedoria da Polícia Civil e ao órgão setorial de
pessoal. Artigo 98 – Autuada a portaria e demais peças pré-existentes,
designará o presidente dia e hora para audiência inicial, determi-
Artigo 92 – A sindicância deverá estar concluída dentro de 30 nando a citação do acusado e a notificação do denunciante, se hou-
(trinta) dias, a contar da data de sua instauração, prorrogáveis por ver, das testemunhas.
mais 30 (trinta) dias, mediante solicitação ao superior hierárquico § 1.º - A citação do acusado será feita pessoalmente, com an-
imediato. tecedência mínima de 24 (vinte e quatro) horas por intermédio do
respectivo superior hierárquico e será acompanhada de cópia da
Artigo 93 – Colhidos os elementos necessários à compro- portaria que lhe permita conhecer o motivo do processo e seu en-
vação dos fatos e da autoria, deverá ser ouvido o sindicado que, quadramento legal.
pessoalmente, no ato, ou dentro de 3 (três) dias, se o solicitar ex- § 2.º - Achando-se o acusado ausente do lugar, será citado por
pressamente, oferecerá ou indicará as provas de seu interesse, que via postal, em carta registrada, juntando-se ao processo o compro-
serão deferidas, se pertinentes. vante do registro; não sendo encontrado o acusado e ignorando-se
§ 1.º - Concluída a produção de provas, o sindicado será inti- o seu paradeiro, a citação se fará com prazo de 15 (quinze) dias,
mado para dentro de 3 (três) dias, oferecer defesa escrita, pesso- por edital, inserto por três vezes seguidas no órgão oficial.
almente ou por procurador, podendo ter vista dos autos, na repar- § 3.º - O prazo a que se refere o parágrafo anterior “in fine”,
tição. será contado da última publicação, certificando o secretário, no
§ 2.º - Decorrido o prazo de que trata o parágrafo anterior, processo, as datas em que as publicações foram feitas.
a autoridade sindicante elaborará o relatório em que examinará
todos os elementos da sindicância, opinando pela instauração de Artigo 99 – Havendo denunciante, este deverá prestar declara-
processo administrativo, pela aplicação da pena cabível ou pelo ções, salvo se isto importe prejuízo à sua segurança, no interregno
arquivamento. entre a data da citação e a fixada para o interrogatório do acusado,
§ 3.º - Cabe ao Delegado Geral de Polícia, no âmbito de sua sendo notificado para tal fim.
competência, a decisão da sindicância, ouvido o Conselho da Po- Parágrafo único – O acusado não assistirá à inquirição do
lícia Civil. denunciante; antes porém de ser interrogado, as declarações que
houver aquele prestado lhe serão lidas pelo Secretário.

Didatismo e Conhecimento 275


NOÇÕES DE DIREITO
Artigo 100 – Não comparecendo o acusado, será por despa- Parágrafo único – Para efeito do disposto neste artigo serão
cho, decretada, sua revelia, prosseguindo-se nos demais atos e ter- presentes à autoridade policial a síntese da imputação, os escla-
mos do processo. recimentos pretendidos e pedido de comunicação da data da au-
diência.
Artigo 101 – Ao acusado revel será nomeado defensor, bacha-
rel em direito. Artigo 108 – As testemunhas arroladas pelo acusado compa-
recerão à audiência designada, sempre que possível, independente
Artigo 102 – O acusado poderá constituir advogado para to- de notificação.
dos os atos e termos do processo. Parágrafo único – Deverá ser notificada a testemunha cujo de-
Parágrafo único – Não tendo o acusado recursos financeiros poimento for relevante e que não comparecer espontaneamente.
ou negando-se a constituir advogado, o presidente da comissão
nomeará defensor bacharel em direito. Artigo 109 – Em qualquer fase do processo, poderá o pre-
sidente da comissão ordenar diligências que lhe afigurem conve-
Artigo 103 – Comparecendo o acusado, será interrogado, nientes, de ofício ou a requerimento do acusado.
abrindo-se-lhe, em seguida, prazo de 8 (oito) dias para requerer a Parágrafo único – Sendo necessário o concurso de técnicos ou
produção de provas ou apresentá-las. peritos oficiais, o presidente da comissão requisitá-los-á a quem
§ 1.º - Ao acusado é facultado arrolar até 8 (oito) testemunhas. de direito, observados, também, quanto aos técnicos e peritos, os
§ 2.º - A prova de antecedentes do acusado será feita docu- impedimentos a que se referem os artigos 105 e 106.
mentadamente, até as alegações finais.
Artigo 110 – O presidente da Comissão indeferirá o reque-
Artigo 104 – Findo o prazo referido no artigo anterior, os au- rimento manifestamente protelatório ou nenhum interesse para o
tos irão conclusos ao presidente da comissão para designação da esclarecimento do fato, fundamentando sua decisão.
audiência de instrução.
§ 1.º - Serão ouvidas, pela ordem, as testemunhas arroladas Artigo 111 – É permitida à comissão tomar conhecimento de
pela comissão, em número não superior a 8 (oito) e pelo acusado. arguições novas que, no curso do processo, surgirem contra o acu-
§ 2.º - As testemunhas poderão ser ouvidas, reinquiridas ou
sado.
acareadas, em mais de uma audiência.
Parágrafo único – Quando as arguições forem pertinentes ao
§ 3.º - Aos chefes diretos dos servidores notificados a com-
processo, o acusado será intimado das novas imputações, reabrin-
parecerem perante a Comissão Processante, será dado imediato
do-se-lhe prazo para produção de provas, oficiando a autoridade,
conhecimento dos termos da notificação.
em caso contrário, a quem de direito.
§ 4.º Tratando-se de militar ou policial-militar o seu compa-
recimento será requisitado ao respectivo comandante com as indi-
Artigo 112 –Encerrada a fase probatória, dar-se-á vista dos
cações necessárias.
autos ao acusado no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, a fim de
Artigo 105 – A testemunha não poderá eximir-se de depor, sal- que, dentro de 5 (cinco) dias, apresente as alegações finais.
vo se for ascendente, descendente, cônjuge, ainda que legalmente Parágrafo único – Durante estes prazos, se requerer, terá o
separado, irmãos, sogros e cunhados, pai, mãe ou filho adotivo do acusado, ou seu advogado, vistas dos autos em presença do secre-
acusado, exceto quando não for possível, por outro modo, obter-se tário ou de um dos membros da comissão, na repartição.
ou integrar-se a prova do fato e de suas circunstâncias.
§ 1.º - Se o parentesco das pessoas referidas for com o denun- Artigo 113 – Findo o prazo do artigo anterior e saneado o
ciante, ficam elas proibidas de depor, observada a exceção deste processo após o oferecimento das alegações finais, a comissão no
artigo. prazo de 10 (dez) dias, apresentará seu relatório.
§ 2.º - Ao servidor policial que se recusar a depor, sem justa § 1.º - Na hipótese de não terem sido apresentadas as alega-
causa, será pela autoridade competente aplicada a sanção a que ções finais, o presidente da comissão designará defensor, bacharel
se refere o artigo 82 mediante comunicação da Comissão Proces- em Direito, para apresentá-las, assinando-lhe novo prazo.
sante. § 2.º - No relatório, a comissão apreciará, em relação a cada
§ 3.º - O servidor policial que tiver de depor como testemunha acusado, separadamente, as irregularidades que lhe foram imputa-
fora da sede de seu exercício terá direito a transporte e diárias na das, as provas colhidas, as razões de defesa, propondo a absolvição
forma da legislação em vigor, podendo ainda expedir-se precatória ou a punição e indicando neste caso, a pena que entender cabível.
para esse efeito à autoridade do domicílio do depoente. § 3.º - Deverá, também , a comissão, em seu relatório, sugerir
quaisquer outras providências relacionadas ao processo instaurado
Artigo 106 – São proibidas de depor as pessoas que, em razão que lhe parecerem de interesse de serviço público.
de função, ministério, ofício ou profissão, devam guardar segredo,
a menos que, desobrigadas pela parte interessada, queiram dar o Artigo 114 – Relatado, o processo será encaminhado ao De-
seu testemunho. legado Geral de Polícia, que o submeterá ao Conselho da Polícia
Civil, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas.
Artigo 107 – A testemunha que morar em comarca diversa da § 1.º - O presidente do Conselho da Polícia Civil, no prazo de
em que tiver sede a Comissão, será inquirida por precatória, pela 20 (vinte) dias, poderá determinar à realização de diligência, sem-
autoridade do local em que residir, intimado o acusado com prazo pre que entender necessário ao esclarecimento dos fatos constantes
de 5 (cinco) dias, antecedente à data da realização da audiência. do processo.

Didatismo e Conhecimento 276


NOÇÕES DE DIREITO
§ 2.º - Determinada a diligência será concebido à Comissão § 2.º - A revisão poderá verificar-se a qualquer tempo, exceto
Processante o prazo máximo de 15 (quinze) dias, para cumpri-la. nos casos dos incisos I e II, cujo direito decai em 3 (três) anos,
§ 3.º - Sobre as provas restantes da diligência, manifestar-se-á contados da data da publicação da decisão no órgão oficial.
o acusado no prazo de 4 (quatro) dias.
Artigo 123 – A revisão não autoriza a agravação da pena.
Artigo 115 – Compete ao Delegado Geral de Polícia, no prazo
de 30 (trinta) dias, dentro de sua alçada, aplicar as penas e adotar Artigo 124 – Em caso de falecimento do punido, o pedido de
as providências que lhe parecerem cabíveis, propondo-as à autori- revisão poderá ser formulado pelo cônjuge, ascendente, descen-
dade competente, quando não o for. dente ou irmão, representado, sempre, por advogado.

Artigo 116 – A autoridade julgadora determinará a expedição Artigo 125 – Não será admissível a reiteração do pedido, sal-
dos atos decorrentes da decisão e as providências necessárias à sua vo se fundado em novas provas.
execução.
Artigo 126 – O pedido será sempre dirigido à autoridade que
Artigo 117 – Terão forma processual resumida, quando pos- aplicou a penalidade, ou que a tiver confirmado em grau de recur-
sível, todos os termos lavrados pelo Secretário, quais sejam: au- so.
tuação, juntada, conclusão, intimação, data de recebimento, bem § 1.º - A revisão será processada por comissão, especialmen-
como certidões e compromissos. te designada pela autoridade que a deferiu, composta de 3 (três)
membros, Delegados de Polícia, um dos quais Delegado de Polícia
Artigo 118 – Toda e qualquer juntada aos autos se fará na or- de Classe Especial, que será o presidente.
dem cronológica da apresentação, rubricando o presidente as fo- § 2.º - Incumbe ao presidente da comissão designar seu secre-
lhas acrescidas. tário, que será um Escrivão de Polícia.
§ 3.º - Estará impedido de atuar na revisão quem tenha fun-
Artigo 119 – Quando na esfera administrativa houver notícia cionado no processo disciplinar de que resultou a punição do re-
de crime praticado por polícia civil, o Delegado Geral de Polícia, querente.
se não houver sido instaurado ainda o inquérito policial, determi-
nará a medida.
Artigo 127 – Recebido o pedido o presidente da Comissão
§ 1.º - Todo o procedimento de Polícia Judiciária instaurada
providenciará o apensamento do processo administrativo e notifi-
contra servidor policial, deverá ser imediatamente comunicado
cará o requerente para, no prazo de 8 (oito) dias, juntar as provas
pela autoridade que preside, pela via hierárquica ao Delegado Ge-
que tiver ou indicar as que pretenda produzir, oferecendo o rol de
ral de Polícia.
testemunhas, se for o caso.
§ 2.º - A autoridade policial, pelas vias hierárquicas, comuni-
Parágrafo único – Nas fases de instrução e de decisão será
cará, de imediato, ao Delegado Geral de Polícia toda irregularida-
de administrativa praticada por policial civil de que, por qualquer observado o procedimento previsto nesta lei complementar, para
meio, tiver conhecimento. o processo disciplinar.

Artigo 120 – É defeso fornecer à imprensa ou a qualquer ou- Artigo 128 – Se a revisão for julgada procedente, será reduzi-
tros meios de divulgação notas sobre os atos processuais, salvo no da ou cancelada a penalidade aplicada ao requerente, restabelecen-
interesse da administração, a juízo do Delegado Geral de Polícia. do-se todos os direitos atingidos pela decisão reformada.

Artigo 121 – Não será declarada a nulidade de nenhum ato CAPÍTULO XIII
processual que não houver influído na apuração da verdade subs- Das Disposições Gerais e Finais
tancial ou diretamente na decisão do processo ou sindicância.
Artigo 129 – Vetado
CAPÍTULO XI
Da Revisão do Processo Disciplinar Artigo 130 – Contar-se-ão por dias corridos os prazos previs-
tos nesta lei complementar.
Artigo 122 – Dar-se-á revisão de processo findo mediante re- Parágrafo único – Computam-se os prazos excluindo o dia do
curso do punido, quando: começo e incluindo o do vencimento, prorrogando-se este, quando
I – a decisão houver sido proferida contra expressa disposição incidir em sábado, domingo, feriado ou facultativo, para o primei-
legal; ro dia útil seguinte.
II – a decisão for contrária à evidência da prova colhida nos
autos; Artigo 131 – Compete ao Órgão Setorial de Recursos Huma-
III – a decisão se fundar em depoimentos, exames, perícias, nos da Polícia Civil, o planejamento, a coordenação, a orientação
vistorias ou documentos comprovadamente falsos; técnica e o controle, sempre em integração com o órgão central das
IV – surgirem, após a decisão, provas de inocência do punido; atividades de administração do pessoal policial civil.
V – ocorrer circunstâncias que autorize o abrandamento da
pena aplicada. Artigo 132 – O Estado fornecerá aos policiais civis, arma, mu-
§ 1.º - Os pedidos que não se fundarem nos casos enumerados nição, algema e distintivo, quando for necessária ao exercício de
no artigo serão indeferidos “in limine”. suas funções.

Didatismo e Conhecimento 277


NOÇÕES DE DIREITO
Artigo 133 – É proibida a acumulação de férias, salvo por Palácio dos Bandeirantes, 5 de janeiro de 1979.
absoluta necessidade de serviço e pelo máximo de 3 (três) anos PAULO EGYDIO MARTINS
consecutivos. Murillo Macêdo, Secretário da Fazenda
Antonio Erasmo Dias, Secretário da Segurança Pública
Artigo 134 – O disposto nos artigos 41, 42, 44 e 45 desta lei Fernando Milliet de Oliveira, Secretário da Administração
complementar aplicar-se aos cargos e funções-atividades de Guar- Jorge Wilheim, Secretário da Economia e Planejamento
da de Presídio, de Encarregado de Disciplina e de Encarregado de Péricles Eugênio da Silva Ramos, Secretário Extraordinário
Setor (Presídio). do Governo

Artigo 135 – Aplicam-se ao funcionários policiais civis, no LEI COMPLEMENTAR 922, DE 2 DE JULHO DE 2002
que não conflitar com esta lei complementar as disposições da Lei
nº 199, de 1.º de dezembro de 1948, do Decreto-lei nº 141, de 24 de Altera a Lei Complementar nº 207, de 5 de janeiro de 1979
julho de 1969, da Lei nº 10.261, de 28 de outubro de 1968, da Lei - Lei Orgânica da Polícia do Estado de São Paulo, e dá outras
nº 122, de 17 de outubro de 1975, da Lei Complementar nº 180, providências correlatas.
de 12 de maio de 1978, bem como o regime de pensão instituído
pela Lei nº 4.832, de 4 de setembro de 1958, com suas alterações O GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO:
posteriores. Faço saber que a Assembleia Legislativa decreta e eu promul-
go a seguinte lei complementar:
Artigo 136 – Esta lei complementar aplicar-se, nas mesmas
bases, termos e condições aos inativos. Artigo 1º - Passam a vigorar com a seguinte redação os dispo-
sitivos adiante enumerados da Lei Complementar nº 207, de 5 de
Artigo 137 – As despesas decorrentes da aplicação desta lei janeiro de 1979:
complementar, correrão à conta de créditos suplementares que I - os artigos 55, 56 e 57:
o Poder Executivo fica autorizado a abrir, até o limite de Cr$ “Artigo 55 - É assegurado a qualquer pessoa, física ou jurídi-
270.000.000,00 (duzentos e setenta milhões de cruzeiros). ca, independentemente de pagamento, o direito de petição contra
Parágrafo único – O valor do crédito autorizado neste artigo ilegalidade ou abuso de poder e para defesa de direitos.(NR)
será coberto com recursos de que trata o artigo 43 da Lei federal nº Parágrafo único - Em nenhuma hipótese, a Administração po-
4.320 de 17 de março de 1964. derá recusar-se a protocolar, encaminhar ou apreciar a petição, sob
pena de responsabilidade do agente.(NR)
Artigo 138 – Esta lei complementar e suas disposições tran- Artigo 56 - Qualquer pessoa poderá reclamar sobre abuso,
sitórias entrarão em vigor em 1.º de março de 1979 revogadas as erro, omissão ou conduta incompatível no serviço policial.(NR)
disposições em contrário, especialmente a Lei nº 7.626, de 6 de Artigo 57 - Ao policial civil é assegurado o direito de requerer
dezembro de 1962, o Decreto-lei nº 156, de 8 de outubro de 1969, ou representar, bem como, nos termos desta lei complementar, pe-
bem como a alínea “a” do inciso III do artigo 64 e o artigo 182, dir reconsideração e recorrer de decisões.”(NR);
ambos da Lei Complementar nº 180, de 12 de maio de 1978. II - o artigo 70, passando o CAPÍTULO IX a denominar-se
“Das Penalidades, da Extinção da Punibilidade e das Providências
Das Disposições Transitórias Preliminares”(NR):
“Artigo 70 - Para a aplicação das penas previstas no artigo 67
Artigo 1.º - Somente se aplicará esta lei complementar às in- são competentes:
frações disciplinares praticadas na vigência da lei anterior, quando: I - o Governador; (NR)
I – o fato não for considerado infração disciplinar; II - o Secretário da Segurança Pública; (NR)
II – de qualquer forma, for mais branda a pena cominada. III - o Delegado Geral de Polícia, até a de suspensão; (NR)
IV - o Delegado de Polícia Diretor da Corregedoria, até a de
Artigo 2.º - Os processos em curso, quando da entrada em suspensão limitada a 60 (sessenta) dias; (NR)
vigor desta lei complementar, obedecerão ao rito processual esta- V - os Delegados de Polícia Corregedores Auxiliares, até a de
belecido pela legislação anterior. repreensão. (NR)
§ 1º - Compete exclusivamente ao Governador do Estado, a
Artigo 3.º - Os atuais cargos de Delegado de Polícia Substituto aplicação das penas de demissão, demissão a bem do serviço pú-
serão extintos na vacância. blico e cassação de aposentadoria ou disponibilidade a Delegado
Parágrafo único – Os ocupantes dos cargos que alude este ar- de Polícia. (NR)
tigo, serão inscritos nos concursos de ingresso na carreira de De- § 2º - Compete às autoridades enumeradas neste artigo, até
legado de Polícia. o inciso III, inclusive, a aplicação de pena a Delegado de Polícia.
(NR)
Artigo 4.º - Vetado. § 3º - Para o exercício da competência prevista nos incisos I e
II será ouvido o órgão de consultoria jurídica.(NR)
Artigo 5.º - Vetado. § 4º - Para a aplicação da pena prevista no artigo 68 é compe-
Parágrafo único – Vetado tente o Delegado Geral de Polícia.”(NR);
III - o artigo 80:
Artigo 6.º - Vetado “Artigo 80 - Extingue-se a punibilidade pela prescrição:
vetado; I - da falta sujeita à pena de advertência, repreensão, multa ou
vetado; suspensão, em 2 (dois) anos;(NR)
vetado; II - da falta sujeita à pena de demissão, demissão a bem do
vetado. serviço público e de cassação da aposentadoria ou disponibilidade,
em 5 (cinco) anos;(NR)

Didatismo e Conhecimento 278


NOÇÕES DE DIREITO
III - da falta prevista em lei como infração penal, no prazo de III - recolhimento de carteira funcional, distintivo, armas e
prescrição em abstrato da pena criminal, se for superior a 5 (cinco) algemas;(NR)
anos.(NR) IV - proibição do porte de armas;(NR)
§ 1º - A prescrição começa a correr:(NR) V - comparecimento obrigatório, em periodicidade a ser esta-
1 - do dia em que a falta for cometida;(NR) belecida, para tomar ciência dos atos do procedimento.(NR)
2 - do dia em que tenha cessado a continuação ou a permanên- § 1º - O Delegado de Polícia Diretor da Corregedoria, ou qual-
cia, nas faltas continuadas ou permanentes.(NR) quer autoridade que determinar a instauração ou presidir sindicân-
§ 2º - lnterrompe a prescrição a portaria que instaura sindicân- cia ou processo administrativo, poderá representar ao Delegado
cia e a que instaura processo administrativo.(NR) Geral de Polícia para propor a aplicação das medidas previstas
§ 3º - O lapso prescricional corresponde:(NR) neste artigo, bem como sua cessação ou alteração.(NR)
1 - na hipótese de desclassificação da infração, ao da pena § 2º - O Delegado Geral de Polícia poderá, a qualquer momen-
efetivamente aplicada;(NR) to, por despacho fundamentado, fazer cessar ou alterar as medidas
2 - na hipótese de mitigação ou atenuação, ao da pena em tese previstas neste artigo.(NR)
cabível.(NR) § 3º - O período de afastamento preventivo computa-se como
§ 4º - A prescrição não corre:(NR) de efetivo exercício, não sendo descontado da pena de suspensão
1 - enquanto sobrestado o processo administrativo para aguar- eventualmente aplicada.(NR)
dar decisão judicial, na forma do § 3º do artigo 65;(NR)
2 - enquanto insubsistente o vínculo funcional que venha a ser CAPÍTULO X
restabelecido.(NR) Do Procedimento Disciplinar(NR)
§ 5º - A decisão que reconhecer a existência de prescrição de- SEÇÃO I
verá determinar, desde logo, as providências necessárias à apura- Das Disposições Gerais
ção da responsabilidade pela sua ocorrência.”(NR);
IV - os artigos 84 a 128, agrupados nas seções e capítulos a Artigo 87 - A apuração das infrações será feita mediante sin-
seguir indicados: dicância ou processo administrativo, assegurados o contraditório e
a ampla defesa.(NR)
“SEÇÃO III Artigo 88 - Será instaurada sindicância quando a falta disci-
Das Providências Preliminares(NR) plinar, por sua natureza, possa determinar as penas de advertência,
repreensão, multa e suspensão.(NR)
Artigo 84 - A autoridade policial que, por qualquer meio, tiver Artigo 89 - Será obrigatório o processo administrativo quando
conhecimento de irregularidade praticada por policial civil, comu- a falta disciplinar, por sua natureza, possa determinar a pena de
nicará imediatamente o fato ao órgão corregedor, sem prejuízo das demissão, demissão a bem do serviço público, cassação de aposen-
medidas urgentes que o caso exigir.(NR) tadoria ou disponibilidade.(NR)
Parágrafo único - Ao instaurar procedimento administrativo § 1º - Não será instaurado processo para apurar abandono de
ou de polícia judiciária contra policial civil, a autoridade que o cargo, se o servidor tiver pedido exoneração.(NR)
presidir comunicará o fato ao Delegado de Polícia Diretor da Cor- § 2º - Extingue-se o processo instaurado exclusivamente para
regedoria.(NR) apurar abandono de cargo, se o indiciado pedir exoneração até a
Artigo 85 - A autoridade corregedora realizará apuração preli- data designada para o interrogatório, ou por ocasião deste.(NR)
minar, de natureza simplesmente investigativa, quando a infração
não estiver suficientemente caracterizada ou definida autoria.(NR) SEÇÃO II
§ 1º - O início da apuração será comunicado ao Delegado de Da Sindicância
Polícia Diretor da Corregedoria, devendo ser concluída e a este
encaminhada no prazo de 30 (trinta) dias.(NR) Artigo 90 - São competentes para determinar a instauração de
§ 2º - Não concluída no prazo a apuração, a autoridade deve- sindicância as autoridades enumeradas no artigo 70.(NR)
rá imediatamente encaminhar ao Delegado de Polícia Diretor da Parágrafo único - Quando a determinação incluir Delegado de
Corregedoria relatório das diligências realizadas e definir o tempo Polícia, a competência é das autoridades enumeradas no artigo 70,
necessário para o término dos trabalhos.(NR) até o inciso IV, inclusive.(NR)
§ 3º - Ao concluir a apuração preliminar, a autoridade deverá Artigo 91 - Instaurada a sindicância, a autoridade que a pre-
opinar fundamentadamente pelo arquivamento ou pela instauração sidir comunicará o fato à Corregedoria Geral da Polícia Civil e ao
de sindicância ou processo administrativo.(NR) órgão setorial de pessoal.(NR)
Artigo 86 - Determinada a instauração de sindicância ou pro- Artigo 92 - Aplicam-se à sindicância as regras previstas nesta
cesso administrativo, ou no seu curso, havendo conveniência para lei complementar para o processo administrativo, com as seguintes
a instrução ou para o serviço policial, poderá o Delegado Geral modificações:(NR)
de Polícia, por despacho fundamentado, ordenar as seguintes I - a autoridade sindicante e cada acusado poderão arrolar até
providências:(NR) 3 (três) testemunhas;(NR)
I - afastamento preventivo do policial civil, quando o reco- II - a sindicância deverá estar concluída no prazo de 60 (ses-
mendar a moralidade administrativa ou a repercussão do fato, sem senta) dias;(NR)
prejuízo de vencimentos ou vantagens, até 180 (cento e oitenta) III - com o relatório, a sindicância será enviada à autoridade
dias, prorrogáveis uma única vez por igual período;(NR) competente para a decisão.(NR)
II - designação do policial acusado para o exercício de Artigo 93 - O Delegado Geral de Polícia poderá, quando en-
atividades exclusivamente burocráticas até decisão final do tender conveniente, solicitar manifestação do Conselho da Polícia
procedimento;(NR) Civil, antes de opinar ou proferir decisão em sindicância.(NR)

Didatismo e Conhecimento 279


NOÇÕES DE DIREITO
SEÇÃO III § 3º- Não sendo encontrado, furtando-se o acusado à citação
Do Processo Administrativo ou ignorando-se seu paradeiro, a citação far-se-á por edital, pu-
blicado uma vez no Diário Oficial do Estado, no mínimo 10 (dez)
Artigo 94 - São competentes para determinar a instauração de dias antes do interrogatório.(NR)
processo administrativo as autoridades enumeradas no artigo 70, Artigo 99 - Havendo denunciante, este deverá prestar declara-
até o inciso IV, inclusive.(NR) ções, no interregno entre a data da citação e a fixada para o interro-
Parágrafo único - Quando a determinação incluir Delegado de gatório do acusado, sendo notificado para tal fim.(NR)
Polícia, a competência é das autoridades enumeradas no artigo 70, § 1º - A oitiva do denunciante deverá ser acompanhada pelo
até o inciso III, inclusive.(NR) advogado do acusado, próprio ou dativo.(NR)
Artigo 95 - O processo administrativo será presidido por De- § 2º - O acusado não assistirá à inquirição do denunciante;
legado de Polícia, que designará como secretário um Escrivão de antes porém de ser interrogado, poderá ter ciência das declarações
Polícia.(NR) que aquele houver prestado.(NR)
Parágrafo único - Havendo imputação contra Delegado de Po- Artigo 100 - Não comparecendo o acusado, será, por despa-
lícia, a autoridade que presidir a apuração será de classe igual ou cho, decretada sua revelia, prosseguindo-se nos demais atos e ter-
superior à do acusado.(NR) mos do processo.(NR)
Artigo 96 - Não poderá ser encarregado da apuração, nem Artigo 101 - Ao acusado revel será nomeado advogado dativo.
atuar como secretário, amigo íntimo ou inimigo, parente consan- (NR)
guíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau in- Artigo 102 - O acusado poderá constituir advogado que o re-
clusive, cônjuge, companheiro ou qualquer integrante do núcleo presentará em todos os atos e termos do processo.(NR)
familiar do denunciante ou do acusado, bem assim o subordinado § 1º - É faculdade do acusado tomar ciência ou assistir aos
deste.(NR) atos e termos do processo, não sendo obrigatória qualquer notifi-
Parágrafo único - A autoridade ou o funcionário designado cação.(NR)
deverão comunicar, desde logo, à autoridade competente, o impe- § 2º - O advogado será intimado por publicação no Diário Ofi-
dimento que houver.(NR) cial do Estado, de que conste seu nome e número de inscrição na
Artigo 97 - O processo administrativo deverá ser instaurado Ordem dos Advogados do Brasil, bem como os dados necessários
por portaria, no prazo improrrogável de 8 (oito) dias do recebimen- à identificação do procedimento.(NR)
to da determinação, e concluído no de 90 (noventa) dias da citação § 3º - Não tendo o acusado recursos financeiros ou negando-
do acusado.(NR) -se a constituir advogado, o presidente nomeará advogado dativo.
§ 1º - Da portaria deverá constar o nome e a identificação do (NR)
§ 4º - O acusado poderá, a qualquer tempo, constituir advoga-
acusado, a infração que lhe é atribuída, com descrição sucinta dos
do para prosseguir na sua defesa.(NR)
fatos e indicação das normas infringidas.(NR)
Artigo 103 - Comparecendo ou não o acusado ao interrogató-
§ 2º - Vencido o prazo, caso não concluído o processo, a auto-
rio, inicia-se o prazo de 3 (três) dias para requerer a produção de
ridade deverá imediatamente encaminhar ao Delegado de Polícia
provas, ou apresentá-las.(NR)
Diretor da Corregedoria relatório indicando as providências faltan-
§ 1º - Ao acusado é facultado arrolar até 5 (cinco) testemu-
tes e o tempo necessário para término dos trabalhos.(NR) nhas.(NR)
§ 3º - Caso o processo não esteja concluído no prazo de 180 § 2º - A prova de antecedentes do acusado será feita exclusiva-
(cento e oitenta) dias, o Delegado de Polícia Diretor da Correge- mente por documentos, até as alegações finais.(NR)
doria deverá justificar o fato circunstanciadamente ao Delegado § 3º - Até a data do interrogatório, será designada a audiência
Geral de Polícia e ao Secretário da Segurança Pública.(NR) de instrução.(NR)
Artigo 98 - Autuada a portaria e demais peças preexistentes, Artigo 104 - Na audiência de instrução, serão ouvidas, pela
designará o presidente dia e hora para audiência de interrogatório, ordem, as testemunhas arroladas pelo presidente, em número não
determinando a citação do acusado e a notificação do denunciante, superior a 5 (cinco), e pelo acusado.(NR)
se houver.(NR) Parágrafo único - Tratando-se de servidor público, seu com-
§ 1º - O mandado de citação deverá conter:(NR) parecimento poderá ser solicitado ao respectivo superior imediato
1- cópia da portaria;(NR) com as indicações necessárias.(NR)
2- data, hora e local do interrogatório, que poderá ser acompa- Artigo 105 - A testemunha não poderá eximir-se de depor, sal-
nhado pelo advogado do acusado;(NR) vo se for ascendente, descendente, cônjuge, ainda que legalmente
3 - data, hora e local da oitiva do denunciante, se houver, que separado, companheiro, irmão, sogro e cunhado, pai, mãe ou fi-
deverá ser acompanhada pelo advogado do acusado;(NR) lho adotivo do acusado, exceto quando não for possível, por outro
4 - esclarecimento de que o acusado será defendido por advo- modo, obter-se ou integrar-se a prova do fato e de suas circunstân-
gado dativo, caso não constitua advogado próprio;(NR) cias.(NR)
5 - informação de que o acusado poderá arrolar testemunhas § 1º - Se o parentesco das pessoas referidas for com o denun-
e requerer provas, no prazo de 3 (três) dias após a data designada ciante, ficam elas proibidas de depor, observada a exceção deste
para seu interrogatório;(NR) artigo.(NR)
6 - advertência de que o processo será extinto se o acusado § 2º - Ao policial civil que se recusar a depor, sem justa causa,
pedir exoneração até o interrogatório, quando se tratar exclusiva- será pela autoridade competente aplicada a sanção a que se refere
mente de abandono de cargo.(NR) o artigo 82, mediante comunicação do presidente.(NR)
§ 2º - A citação do acusado será feita pessoalmente, no mínimo § 3º - O policial civil que tiver de depor como testemunha fora
2 (dois) dias antes do interrogatório, por intermédio do respectivo da sede de seu exercício, terá direito a transporte e diárias na forma
superior hierárquico, ou diretamente, onde possa ser encontrado. da legislação em vigor, podendo ainda expedir-se precatória para
(NR) esse efeito à autoridade do domicílio do depoente.(NR)

Didatismo e Conhecimento 280


NOÇÕES DE DIREITO
§ 4º - São proibidas de depor as pessoas que, em razão de Artigo 113 - O relatório deverá ser apresentado no prazo de
função, ministério, ofício ou profissão, devam guardar segredo, 10 (dez) dias, contados da apresentação das alegações finais.(NR)
salvo se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar o seu § 1º - O relatório deverá descrever, em relação a cada acusado,
testemunho.(NR) separadamente, as irregularidades imputadas, as provas colhidas e
Artigo 106 - A testemunha que morar em comarca diversa as razões de defesa, propondo a absolvição ou punição e indican-
poderá ser inquirida pela autoridade do lugar de sua residência, do, nesse caso, a pena que entender cabível.(NR)
expedindo-se, para esse fim, carta precatória, com prazo razoável, § 2º - O relatório deverá conter, também, a sugestão de quais-
intimada a defesa.(NR) quer outras providências de interesse do serviço público.(NR)
§ 1º - Deverá constar da precatória a síntese da imputação e os Artigo 114 - Relatado, o processo será encaminhado ao De-
esclarecimentos pretendidos.(NR) legado Geral de Polícia, que o submeterá ao Conselho da Polícia
§ 2º - A expedição da precatória não suspenderá a instrução do Civil, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas.(NR)
procedimento.(NR) § 1º - O Presidente do Conselho da Polícia Civil, no prazo de
§ 3º - Findo o prazo marcado, o procedimento poderá prosse- 20 (vinte) dias, poderá determinar a realização de diligência, sem-
guir até final decisão; a todo tempo, a precatória, uma vez devolvi- pre que necessário ao esclarecimento dos fatos.(NR)
da, será juntada aos autos.(NR) § 2º - Determinada a diligência, a autoridade encarregada do
Artigo 107 - As testemunhas arroladas pelo acusado compa- processo administrativo terá prazo de 15 (quinze) dias para seu
recerão à audiência designada independente de notificação.(NR) cumprimento, abrindo vista à defesa para manifestar-se em 5 (cin-
§ 1º - Deverá ser notificada a testemunha cujo depoimento for co) dias.(NR)
relevante e que não comparecer espontaneamente.(NR) § 3º - Cumpridas as diligências, o Conselho da Polícia Civil
§ 2º - Se a testemunha não for localizada, a defesa poderá emitirá parecer conclusivo, no prazo de 20 (vinte) dias, encami-
substitui-la, se quiser, levando na mesma data designada para a nhando os autos ao Delegado Geral de Polícia.(NR)
audiência outra testemunha, independente de notificação.(NR) § 4º - O Delegado Geral de Polícia, no prazo de 10 (dez) dias,
Artigo 108 - Em qualquer fase do processo, poderá o presi- emitirá manifestação conclusiva e encaminhará o processo admi-
dente, de ofício ou a requerimento da defesa, ordenar diligências nistrativo à autoridade competente para decisão.(NR)
que entenda convenientes.(NR) § 5º - A autoridade que proferir decisão determinará os atos
§ 1º - As informações necessárias à instrução do processo se- dela decorrentes e as providências necessárias a sua execução.
rão solicitadas diretamente, sem observância de vinculação hierár- (NR)
Artigo 115 - Terão forma processual resumida, quando pos-
quica, mediante ofício, do qual cópia será juntada aos autos.(NR)
sível, todos os termos lavrados pelo secretário, quais sejam: au-
§ 2º - Sendo necessário o concurso de técnicos ou peritos ofi-
tuação, juntada, conclusão, intimação, data de recebimento, bem
ciais, o presidente os requisitará, observados os impedimentos do
como certidões e compromissos.(NR)
artigo 105.(NR)
Parágrafo único - Toda e qualquer juntada aos autos se fará
Artigo 109 - Durante a instrução, os autos do procedimento
na ordem cronológica da apresentação, rubricando o presidente as
administrativo permanecerão na repartição competente.(NR)
folhas acrescidas.(NR)
§ 1º - Será concedida vista dos autos ao acusado, mediante Artigo 116 - Não será declarada a nulidade de nenhum ato
simples solicitação, sempre que não prejudicar o curso do proce- processual que não houver influído na apuração da verdade subs-
dimento.(NR) tancial ou diretamente na decisão do processo ou sindicância.(NR)
§ 2º - A concessão de vista será obrigatória, no prazo para ma- Artigo 117 - É defeso fornecer à imprensa ou a outros meios
nifestação do acusado ou para apresentação de recursos, mediante de divulgação notas sobre os atos processuais, salvo no interesse
publicação no Diário Oficial do Estado.(NR) da Administração, a juízo do Delegado Geral de Polícia.(NR)
§ 3º - Ao advogado é assegurado o direito de retirar os autos Artigo 118 - Decorridos 5 (cinco) anos de efetivo exercício,
da repartição, mediante recibo, durante o prazo para manifestação contados do cumprimento da sanção disciplinar, sem cometimento
de seu representado, salvo na hipótese de prazo comum, de proces- de nova infração, não mais poderá aquela ser considerada em pre-
so sob regime de segredo de justiça ou quando existirem nos autos juízo do infrator, inclusive para efeito de reincidência.(NR)
documentos originais de difícil restauração ou ocorrer circunstân-
cia relevante que justifique a permanência dos autos na repartição, SEÇÃO IV
reconhecida pela autoridade em despacho motivado.(NR) Dos Recursos
Artigo 110 - Somente poderão ser indeferidos pelo presidente,
mediante decisão fundamentada, os requerimentos de nenhum in- Artigo 119 - Caberá recurso, por uma única vez, da decisão
teresse para o esclarecimento do fato, bem como as provas ilícitas, que aplicar penalidade.(NR)
impertinentes, desnecessárias ou protelatórias.(NR) § 1º - O prazo para recorrer é de 30 (trinta) dias, contados
Artigo 111 - Quando, no curso do procedimento, surgirem fa- da publicação da decisão impugnada no Diário Oficial do Estado.
tos novos imputáveis ao acusado, poderá ser promovida a instaura- (NR)
ção de novo procedimento para sua apuração, ou, caso convenien- § 2º - Tratando-se de pena de advertência, sem publicidade, o
te, aditada a portaria, reabrindo-se oportunidade de defesa.(NR) prazo será contado da data em que o policial civil for pessoalmente
Artigo 112 - Encerrada a fase probatória, dar-se-á vista dos intimado da decisão.(NR)
autos à defesa, que poderá apresentar alegações finais, no prazo de § 3º - Do recurso deverá constar, além do nome e qualificação
7 (sete) dias.(NR) do recorrente, a exposição das razões de inconformismo.(NR)
Parágrafo único - Não apresentadas no prazo as alegações fi- § 4º - O recurso será apresentado à autoridade que aplicou a
nais, o presidente designará advogado dativo, assinando-lhe novo pena, que terá o prazo de 10 (dez) dias para, motivadamente, man-
prazo.(NR) ter sua decisão ou reformá-la.(NR)

Didatismo e Conhecimento 281


NOÇÕES DE DIREITO
§ 5º - Mantida a decisão, ou reformada parcialmente, será § 3º - O processo administrativo só poderá ser sobrestado para
imediatamente encaminhada a reexame pelo superior hierárquico. aguardar decisão judicial por despacho motivado da autoridade
(NR) competente para aplicar a pena.”
§ 6º - O recurso será apreciado pela autoridade competente II - ao artigo 74, o inciso VI:
ainda que incorretamente denominado ou endereçado.(NR) “VI - ausência ao serviço, sem causa justificável, por mais
Artigo 120 - Caberá pedido de reconsideração, que não poderá de 45 (quarenta e cinco) dias, interpoladamente, durante um ano.”
ser renovado, de decisão tomada pelo Governador do Estado em III - ao artigo 75, os incisos X, XI e XII:
única instância, no prazo de 30 (trinta) dias.(NR) “X - praticar ato definido como crime hediondo, tortura, tráfi-
Artigo 121 - Os recursos de que trata esta lei complementar co ilícito de entorpecentes e drogas afins e terrorismo;
não têm efeito suspensivo; os que forem providos darão lugar às XI - praticar ato definido como crime contra o Sistema Finan-
retificações necessárias, retroagindo seus efeitos à data do ato pu- ceiro, ou de lavagem ou ocultação de bens, direitos ou valores;
nitivo.(NR) XII - praticar ato definido em lei como de improbidade.”
CAPÍTULO XI
Artigo 3º - Esta lei complementar entra em vigor na data de
Da Revisão
sua publicação.
Artigo 122 - Admitir-se-á, a qualquer tempo, a revisão de pu-
nição disciplinar, se surgirem fatos ou circunstâncias ainda não Disposições
apreciados, ou vícios insanáveis de procedimento, que possam Transitórias
justificar redução ou anulação da pena aplicada.(NR)
§ 1º - A simples alegação da injustiça da decisão não constitui Artigo 1º - A nova tipificação acrescentada aos artigos 74 e
fundamento do pedido.(NR) 75 da Lei Complementar nº 207, de 5 de janeiro de 1979, só se
§ 2º - Não será admitida reiteração de pedido pelo mesmo aplica aos atos praticados após a entrada em vigor desta lei com-
fundamento.(NR) plementar.
§ 3º - Os pedidos formulados em desacordo com este artigo
serão indeferidos.(NR) Artigo 2º - As demais disposições desta lei complementar
§ 4º - O ônus da prova cabe ao requerente.(NR) aplicam-se imediatamente, sem prejuízo da validade dos atos rea-
Artigo 123 - A pena imposta não poderá ser agravada pela lizados na vigência da legislação anterior.
revisão.(NR)
Artigo 124 - A instauração de processo revisional poderá ser Artigo 3º - Serão adaptados os procedimentos em curso na
requerida fundamentadamente pelo interessado ou, se falecido ou data da entrada em vigor desta lei complementar, cabendo ao pre-
incapaz, por seu curador, cônjuge, companheiro, ascendente, des- sidente tomar as providências necessárias, ouvido o acusado.
cendente ou irmão, sempre por intermédio de advogado.(NR) Parágrafo único - O presidente da Comissão Processante as-
Parágrafo único - O pedido será instruído com as provas que sumirá a condução do processo administrativo em curso, podendo
o requerente possuir ou com indicação daquelas que pretenda pro- propor, motivadamente, ao Delegado de Polícia Diretor da Corre-
duzir.(NR) gedoria, sua substituição por outro membro.
Artigo 125 - O exame da admissibilidade do pedido de revisão
será feito pela autoridade que aplicou a penalidade, ou que a tiver Artigo 4º - Os policiais civis que tiverem recebido punição da
confirmado em grau de recurso.(NR) qual ainda caiba recurso ou pedido de reconsideração, terão prazo
Artigo 126 - Deferido o processamento da revisão, será este
decadencial de 30 (trinta) dias para a respectiva interposição, na
realizado por Delegado de Polícia de classe igual ou superior à do
forma desta lei complementar.
acusado, que não tenha funcionado no procedimento disciplinar de
que resultou a punição do requerente.(NR) Parágrafo único - A Administração publicará aviso, por 3
Artigo 127 - Recebido o pedido, o presidente providenciará (três) vezes, no Diário Oficial do Estado, quanto ao disposto no
o apensamento dos autos originais e notificará o requerente para, “caput”, contando-se o prazo do primeiro dia útil após a terceira
no prazo de 8 (oito) dias, oferecer rol de testemunhas, ou requerer publicação.
outras provas que pretenda produzir.(NR)
Parágrafo único - No processamento da revisão serão obser- Palácio dos Bandeirantes, aos 02 de julho de 2002.
vadas as normas previstas nesta lei complementar para o processo Geraldo Alckmin
administrativo.(NR) Artigo 128 - A decisão que julgar procedente Saulo de Castro Abreu Filho
a revisão poderá alterar a classificação da infração, absolver o Secretário da Segurança Pública
punido, modificar a pena ou anular o processo, restabelecendo os Rubens Lara
direitos atingidos pela decisão reformada.(NR)” Secretário-Chefe da Casa Civil
Dalmo Nogueira Filho
Artigo 2º - Ficam acrescentados à Lei Complementar nº 207, Secretário do Governo e Gestão Estratégica
de 5 de janeiro de 1979, os seguintes dispositivos: Publicada na Assessoria Técnico-Legislativa, aos 02 de julho
I - ao artigo 65, os §§ 1º, 2º e 3º: de 2002.
“§ 1º - A responsabilidade administrativa é independente da
civil e da criminal. LEI COMPLEMENTAR 1.151 DE 25 DE OUTUBRO DE
§ 2º - Será reintegrado ao serviço público, no cargo que ocu- 2011
pava e com todos os direitos e vantagens devidas, o servidor absol-
vido pela Justiça, mediante simples comprovação do trânsito em Dispõe sobre a reestruturação das carreiras de policiais civis,
julgado de decisão que negue a existência de sua autoria ou do fato do Quadro da Secretaria da Segurança Pública, e dá providências
que deu origem à sua demissão. correlatas

Didatismo e Conhecimento 282


NOÇÕES DE DIREITO
O GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO: § 1º - Durante o período a que se refere o “caput” deste arti-
go, os integrantes das carreiras policiais civis serão observados e
Faço saber que a Assembleia Legislativa decreta e eu promul- avaliados, semestralmente, no mínimo, quanto aos seguintes re-
go a seguinte lei complementar: quisitos:
1 - aprovação no curso de formação técnico-profissional;
Artigo 1º - As carreiras policiais civis, do Quadro da Secreta- 2 - conduta ilibada, na vida pública e na vida privada;
ria da Segurança Pública, de que trata a Lei Complementar nº 494, 3 - aptidão;
de 24 de dezembro de 1986, alterada pela Lei Complementar nº 4 - disciplina;
1.064, de 13 de novembro de 2008, ficam estruturadas, para efeito 5 - assiduidade;
de escalonamento e promoção, em quatro classes, dispostas hierar- 6 - dedicação ao serviço;
quicamente de acordo com o grau de complexidade das atribuições 7 - eficiência;
e nível de responsabilidade. 8 - responsabilidade.
§ 2º - O curso de formação técnico-profissional, fase inicial do
estágio probatório, a que se refere o item 1 do § 1º deste artigo, terá
Artigo 2º - As carreiras policiais civis passam a ser compostas
a duração mínima 3 (três) meses.
pelo quantitativo de cargos fixados no Anexo I desta lei comple- § 3º - O policial civil será considerado aprovado no curso de
mentar, distribuídos hierarquicamente em ordem crescente na se- formação técnico-profissional desde que obtenha nota mínima cor-
guinte conformidade: respondente a 50% (cinquenta por cento) da pontuação máxima,
I - 3ª Classe; em cada disciplina.
II - 2ª Classe; § 4º - Durante o período de estágio probatório, será exonera-
III - 1ª Classe; do, mediante procedimento administrativo, a qualquer tempo, o
IV - Classe Especial. policial civil que não atender aos requisitos estabelecidos neste
artigo, assegurados o contraditório e a ampla defesa.
Artigo 3º - O ingresso nas carreiras policiais civis, precedido § 5º - Os demais critérios e procedimentos para fins do cum-
de aprovação em concurso público de provas e títulos, dar-se-á em primento do estágio probatório serão estabelecidos em decreto,
3ª Classe, mediante nomeação em caráter de estágio probatório, mediante proposta do Secretário da Segurança Pública, ouvida a
pelo período de 3 (três) anos de efetivo exercício, obrigatoriamen- Secretaria de Gestão Pública, no prazo máximo de 90 (noventa)
te em unidades territoriais de Polícia Judiciária da Polícia Civil e dias a contar da data da publicação desta lei complementar.
da Polícia Técnico-Científica. § 6º - Cumpridos os requisitos para fins de estágio probatório,
o policial civil obterá estabilidade, mantido o nível de ingresso na
respectiva carreira.
Artigo 4º - Constituem exigências prévias para inscrição no
concurso público de ingresso nas carreiras policiais civis ser por-
Artigo 8º - Os vencimentos dos integrantes das carreiras po-
tador de nível de escolaridade estabelecido para cada carreira no liciais civis, de que trata o artigo 2º da Lei Complementar nº 731,
artigo 5º da Lei Complementar nº 494, de 24 de dezembro de 1986, de 26 de outubro de 1993, alterado pelo artigo 2º da Lei Comple-
e no artigo 1º da Lei Complementar nº 1.067, de 1º de dezembro mentar nº 1.064, de 13 de novembro de 2008, em decorrência de
de 2008. reclassificação, passam a ser fixados na seguinte conformidade:
I - Anexos II e III desta lei complementar, a partir de 1º de
Artigo 5º - O concurso público a que se refere o artigo 3º desta julho de 2011;
lei complementar será realizado em 6 (seis) fases, a saber: II - Anexos IV e V desta lei complementar, a partir de 1º de
I - prova preambular com questões de múltipla escolha; agosto de 2012.
II - prova escrita com questões dissertativas, quando for o
caso, a ser regulada em edital de concurso público; Artigo 9º - A evolução funcional dos integrantes das carreiras
III - prova de aptidão psicológica; policiais civis dar-se-á por meio de promoção, que consiste na ele-
IV - prova de aptidão física; vação à classe imediatamente superior da respectiva carreira.
V - comprovação de idoneidade e conduta escorreita, median-
te investigação social; Artigo 10 - A promoção será processada pelo Conselho da Po-
VI - prova de títulos, quando for o caso, a ser regulada em lícia Civil, adotados os critérios de antiguidade e merecimento,
realizando-se, no mínimo, uma promoção por semestre.
edital de concurso público.
§ 1º - A evolução funcional até a 1ª Classe das carreiras de
Parágrafo único - As fases a que se referem os incisos I a V
policiais civis dar-se-á por quaisquer dos critérios estabelecidos
deste artigo serão de caráter eliminatório e sucessivas, e a constan- neste artigo, e para a Classe Especial, somente por merecimento.
te do inciso VI, de caráter classificatório. § 2º - O processo de promoção a que se refere o “caput” deste
artigo instaura-se mediante Portaria do Presidente do Conselho da
Artigo 6º - O cargo de Superintendente da Polícia Técnico- Polícia Civil.
-Científica, de provimento em comissão, será ocupado, alterna-
damente, por integrante das carreiras de Médico Legista e Perito Artigo 11 - A promoção de que trata o artigo 10 desta lei com-
Criminal, nos termos da lei. plementar será processada na seguinte conformidade:
I - alternadamente, em proporções iguais, por antiguidade e
Artigo 7º - Os primeiros 3 (três) anos de efetivo exercício nos por merecimento, da 3ª até a 1ª Classe, limitado o quantitativo de
cargos das carreiras policiais civis de 3ª Classe, a que se refere o promoções ao número correspondente de vacâncias ocorridas em
artigo 3º desta lei complementar, caracteriza-se como estágio pro- cada uma das classes das respectivas carreiras, no período que an-
batório. tecede a abertura do respectivo processo;

Didatismo e Conhecimento 283


NOÇÕES DE DIREITO
II - somente por merecimento, para a Classe Especial, limita- b) multa ou de suspensão, nos 24 (vinte e quatro) meses an-
do o quantitativo de promoções a um número que não ultrapasse o teriores.
contingente estabelecido no Anexo VI desta lei complementar, em § 2º - O preenchimento dos requisitos deverá ser apurado pelo
atividade, na referida classe das respectivas carreiras. Conselho da Polícia Civil até a data que antecede a abertura do
§ 1º - O quantitativo de promoções a que se refere o inciso I processo de promoção.
deste artigo poderá ser acrescido em número correspondente ao de § 3º - A avaliação por merecimento será efetuada pelo Conse-
promoções ocorridas dentro do próprio processo, inclusive aquelas lho da Polícia Civil e deverá observar, entre outros, os seguintes
ocorridas nos termos do artigo 22 desta lei complementar. critérios:
§ 2º - Poderá concorrer à promoção o policial civil que, no 1 - conduta do candidato;
período que anteceder a abertura do processo de promoção: 2 - assiduidade;
1 - esteja em efetivo exercício na Secretaria da Segurança Pú- 3 - eficiência;
blica ou regularmente afastado para exercer cargo ou função de 4 - elaboração de trabalho técnico-científico de interesse po-
interesse estritamente policial; licial.
2 - tenha cumprido o interstício a que se refere o artigo 12
desta lei complementar.
§ 3º - A promoção de que trata o “caput” deste artigo produzirá Artigo 16 - A promoção do policial civil da 1ª Classe para a
efeitos a partir da data da publicação do ato a que se refere o artigo Classe Especial, observado o limite fixado no inciso II do artigo
23 desta lei complementar. 11 desta lei complementar, deverá atender, ainda, o requisito de
interstício de 20 (vinte) anos na respectiva carreira, além daqueles
Artigo 12 - Poderá participar do processo de promoção, de previstos no artigo 15 desta lei complementar.
que trata o artigo 10 desta lei complementar, o policial civil que
tenha cumprido o interstício mínimo de: Artigo 17 - Para promoção por merecimento serão indicados
I - 4 (quatro) anos de efetivo exercício na 3ª Classe; policiais civis em número equivalente ao quantitativo de promo-
II - 4 (quatro) anos de efetivo exercício na 2ª e na 1ª Classe. ções fixado para cada classe da respectiva carreira, mais dois.
§ 1º - A votação será descoberta e única para cada indicação.
Artigo 13 - Interromper-se-á o interstício a que se refere o § 2º - O policial civil com maior número de votos será consi-
artigo 12 desta lei complementar quando o policial civil estiver derado indicado para promoção.
afastado para ter exercício em cargo ou função de natureza diversa § 3º - Ao Presidente do Conselho da Polícia Civil caberá emi-
da do cargo ou função que exerce, exceto quando: tir o voto de qualidade, em caso de empate.
I - afastado nos termos dos artigos 78, 79 e 80 da Lei nº § 4º - Quando o quantitativo fixado para promoção for su-
10.261, de 28 de outubro de 1968; perior ao número de indicações possíveis, observar-se-á lista de
II - afastado, sem prejuízo dos vencimentos, para participação
antiguidade para a respectiva promoção.
em cursos, congressos ou demais certames afetos à sua área de
atuação, pelo prazo máximo de 90 (noventa) dias;
III - afastado nos termos do § 1º do artigo 125 da Constituição Artigo 18 - Ao policial civil indicado para promoção pelo
do Estado; Conselho da Polícia Civil e não promovido, fica assegurado o
IV - designado para função de direção, chefia ou encarregatu- direito de novas indicações, desde que não sobrevenha punição
ra retribuída mediante gratificação “pro labore” a que se refere o administrativa.
artigo 7º da Lei Complementar nº 731, de 26 de outubro de 1993, Parágrafo único - O policial civil que figurar em três listas
com alterações posteriores, e o artigo 5º da Lei Complementar nº consecutivas de merecimento terá sua promoção assegurada, por
1.064, de 13 de novembro de 2008. esse critério, no processo de promoção subsequente.

Artigo 14 - Na promoção por antiguidade, apurada pelo tempo Artigo 19 - As listas dos policiais civis indicados à promoção
de efetivo exercício na classe, computado até a data que antecede por antiguidade e merecimento, esta última disposta em ordem al-
a abertura do respectivo processo, o empate na classificação final fabética, serão publicadas no Diário Oficial do Estado, no prazo
resolver-se-á observada a seguinte ordem: máximo de 15 (quinze) dias, a partir da data da portaria de instau-
I - maior tempo de serviço na respectiva carreira; ração do respectivo processo.
II - maior tempo de serviço público estadual; § 1º - Cabe reclamação, dentro do prazo de 5 (cinco) dias úteis
III - maior idade. a partir da publicação, dirigida ao Presidente do Conselho, contra
a classificação na lista de antiguidade ou não indicação na lista de
Artigo 15 - A promoção por merecimento depende do preen-
chimento dos requisitos e de avaliação do merecimento. merecimento.
§ 1º - Para fins de promoção a que se refere o “caput” deste § 2º - Findo o prazo, as reclamações serão distribuídas me-
artigo, além do interstício de que trata o artigo 12 desta lei comple- diante rotatividade entre os membros do Conselho da Polícia Civil,
mentar, o policial civil deverá preencher os seguintes requisitos: que deverão emitir parecer no prazo improrrogável de 3 (três) dias
1 - estar na primeira metade da lista de classificação em sua úteis.
respectiva classe; § 3º - Esgotado o prazo a que se refere o § 2º deste artigo, as
2 - estar em efetivo exercício na Secretaria da Segurança Pú- reclamações serão submetidas à deliberação do Conselho da Polí-
blica, ou regularmente afastado para exercer cargo ou função; cia Civil, que as decidirá no prazo improrrogável de 3 (três) dias
3 - não ter sofrido punição disciplinar na qual tenha sido im- úteis.
posta pena de: § 4º - A decisão e a alteração das listas, se houver, serão publi-
a) advertência ou de repreensão, nos 12 (doze) meses ante- cadas no Diário Oficial do Estado.
riores; § 5º - Não caberá qualquer recurso contra a nova classificação.

Didatismo e Conhecimento 284


NOÇÕES DE DIREITO
Artigo 20 - O Presidente do Conselho da Polícia Civil enca- Auxiliar de Necropsia, Agente de Telecomunicações Policial e Fo-
minhará as listas de promoção ao Secretário da Segurança Pública, tógrafo Técnico-Pericial, quando o policial civil prestar serviços
que as transmitirá ao Governador, para efetivação da promoção em município com população igual ou superior 500.000 (quinhen-
dos classificados por antiguidade e por merecimento. tos mil) habitantes.” (NR)

Artigo 21 - Os casos omissos serão objeto de deliberação do Artigo 26 - Fica constituído grupo de trabalho integrado por
Conselho da Polícia Civil. representantes do Poder Executivo e Legislativo, com a finalidade
de avaliar as possibilidades de valorização das carreiras de Inves-
Artigo 22 - Além da promoção prevista no artigo 10 desta lei tigador de Polícia e Escrivão de Polícia, considerando a Lei Com-
complementar, o policial civil será promovido à classe superior, plementar nº 1.067, de 1º de dezembro de 2008, no prazo de 180
independente de limite, observados os seguintes critérios: (cento e oitenta) dias.
I - para a 2ª Classe da respectiva carreira, contar com 15 (quin-
ze) anos de efetivo exercício na carreira, considerado o tempo de Artigo 27 - Esta lei complementar e suas disposições transitó-
estágio probatório; rias aplicam-se, no que couber, aos ocupantes de funções ativida-
II - para a 1ª Classe da respectiva carreira, contar com 25 (vin- des, bem como aos inativos e pensionistas.
te e cinco) anos na referida carreira.
§ 1º - A promoção de que trata este artigo será realizada se- Artigo 28 - As despesas decorrentes desta lei complementar
mestralmente, nos meses de março e setembro de cada ano, e pro- correrão à conta das dotações próprias consignadas no orçamento
duzirá efeitos a partir da data subsequente ao implemento dos cri- da Secretaria da Segurança Pública, suplementadas, se necessário,
térios estabelecidos nos incisos I e II deste artigo. mediante utilização de recursos nos termos do § 1º do artigo 43 da
§ 2º - Caberá ao órgão setorial de recursos humanos apresentar Lei federal nº 4.320, de 17 de março de 1964.
a lista dos policiais civis com direito à promoção de que trata este
artigo, para homologação pelo Conselho da Polícia Civil. Artigo 29 - Esta lei complementar e suas disposições transitó-
rias entram em vigor na data de sua publicação, retroagindo seus
Artigo 23 - Atendidas as exigências previstas nesta lei com- efeitos a 1º de julho de 2011, exceto o artigo 25, que retroage seus
plementar, as promoções serão efetivadas por ato do Governador. efeitos a 1º de março de 2010, ficando revogados os artigos 5º a 14
da Lei Complementar nº 675, de 5 de junho de 1992.
Artigo 24 - Na vacância, os cargos das carreiras policiais civis
de 2ª Classe a Classe Especial retornarão à 3ª Classe da respectiva Disposições Transitórias
carreira.
Artigo 1º - Os atuais policiais civis de 4ª Classe terão seus
Artigo 25 - Os dispositivos adiante mencionados passam a vi- cargos enquadrados na 3ª Classe da respectiva carreira, mantida a
gorar com a seguinte redação: ordem de classificação.
§ 1º - O tempo de efetivo exercício no cargo de 4ª Classe será
I - a alínea “a” do inciso II do artigo 3º da Lei Complementar
computado para efeito de estágio probatório a que se refere o arti-
nº 696, de 18 de novembro de 1992, alterado pela Lei Complemen-
go 3º desta lei complementar.
tar nº 1.114, de 26 de maio de 2010:
§ 2º - Os títulos dos servidores abrangidos por este artigo se-
“Artigo 3º - Os valores do Adicional de Local de Exercício
rão apostilados pelas autoridades competentes.
ficam fixados na seguinte conformidade:
............................................................................ Artigo 2º - O provimento em cargos das carreiras de policiais
II - para o Local II: civis de candidatos aprovados em concursos públicos de ingresso,
a) R$ 1.575,00 (mil, quinhentos e setenta e cinco reais), para em andamento ou encerrado, cujo prazo de validade não tenha se
o Delegado Geral de Polícia, Superintendente da Polícia Técnico- expirado, dar-se-á em conformidade com o disposto no artigo 3º
-Científica e para as carreiras de Delegado de Polícia, Médico Le- desta lei complementar.
gista e Perito Criminal;” (NR); Parágrafo único - Os policiais civis que tenham concluído ou
II - os incisos I e II do artigo 4º da Lei Complementar nº 1.114, estejam frequentando o Curso Específico de Aperfeiçoamento ne-
de 26 de maio de 2010: cessário à promoção de 3ª Classe para 2ª Classe, e de 1ª Classe
“Artigo 4º - Quando a retribuição total mensal do policial civil para a Classe Especial, terão preferência para concorrer ao primei-
for inferior aos valores fixados neste artigo, será concedido abono ro processo de promoção que houver após a aprovação desta lei
complementar para que sua retribuição total mensal corresponda a complementar.
esses valores, na seguinte conformidade:
I - R$ 1.350,00 (mil, trezentos e cinquenta reais), para as Artigo 3º - O primeiro processo de promoção a que se refere o
carreiras de Investigador de Polícia, Escrivão de Polícia, Agen- artigo 22 desta lei complementar observará os critérios estabeleci-
te Policial, Carcereiro, Auxiliar de Papiloscopista Policial, Aten- dos de tempo de efetivo exercício na classe e na respectiva carreira
dente de Necrotério Policial, Papiloscopista Policial, Desenhista até a data que antecede a publicação desta lei complementar.
Técnico-Pericial, Auxiliar de Necropsia, Agente de Telecomunica- Parágrafo único - As promoções a que se refere o “caput” des-
ções Policial e Fotógrafo Técnico-Pericial, quando o policial civil te artigo produzirão efeitos a partir da vigência desta lei comple-
prestar serviços em município com população inferior a 500.000 mentar.
(quinhentos mil) habitantes;
II - R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais), para as carreiras de Palácio dos Bandeirantes, 25 de outubro de 2011
Investigador de Polícia, Escrivão de Polícia, Agente Policial, Car- GERALDO ALCKMIN
cereiro, Auxiliar de Papiloscopista Policial, Atendente de Necroté- Antônio Ferreira Pinto
rio Policial, Papiloscopista Policial, Desenhista Técnico-Pericial, Secretário da Segurança Pública

Didatismo e Conhecimento 285


NOÇÕES DE DIREITO
Andrea Sandro Calabi O Delegado de Polícia só poderá chefiar unidade ou serviço
Secretário da Fazenda de categoria correspondente à sua classe, ou em caso excepcional,
Emanuel Fernandes à classe imediatamente superior.
Secretário de Planejamento e Desenvolvimento Regional – Reversão “ex officio” é o ato pelo qual o aposentado rein-
Júlio Francisco Semeghini Neto gressa no serviço policial quando insubsistentes as razões que de-
Secretário de Gestão Pública terminam a aposentadoria por invalidez.
Sidney Estanislau Beraldo
Secretário-Chefe da Casa Civil Promoção
A evolução funcional dos integrantes das carreiras policiais
Atribuições civis dar-se-á por meio de promoção, que consiste na elevação à
Da Polícia Civil – o exercício da Polícia Judiciária, adminis- classe imediatamente superior da respectiva carreira.
trativa e preventiva especializada; Poderá participar do processo de promoção o policial civil que
Da Polícia Militar – o planejamento, a coordenação e a execu- tenha cumprido o interstício mínimo de:
ção do policiamento ostensivo, fardado e a prevenção e extinção - 4 anos de efetivo exercício na 3ª Classe;
de incêndios. - 4 anos de efetivo exercício na 2ª e na 1ª Classe.

Concurso Direito de petição


O provimento mediante nomeação para cargos policiais civis, É permitido ao policial civil requerer ou representar, pedir
de caráter efetivo, será através de concurso público que será reali- reconsideração e recorrer de decisões, desde que faça dentro das
zado em 6 fases eliminatórias: normas de urbanidade e em termos.
- prova preambular com questões de múltipla escolha; O prazo para pleitear na esfera administrativa será:
- prova escrita com questões dissertativas, quando for o caso, – de 5 (cinco) anos, quanto aos atos dos quais decorreram a
a ser regulada em edital de concurso público; demissão, aposentadoria ou disponibilidade do policial civil; e
- prova de aptidão psicológica; – de 120 (cento e vinte) dias, nos demais casos.
- prova de aptidão física; Os pedidos de reconsideração e os recursos em procedimento
- comprovação de idoneidade e conduta escorreita, mediante disciplinar, interpostos ao Delegado Geral de Polícia, serão pre-
investigação social; viamente submetidos à apreciação do Conselho da Polícia Civil.
- prova de títulos, quando for o caso, a ser regulada em edital
de concurso público. Deveres do policial civil:
Os concursos públicos terão validade máxima de 2 anos. – ser assíduo e pontual;
– ser leal às instituições;
Posse – cumprir as normas legais e regulamentares;
Posse é ato que investe o cidadão em cargo público policial – zelar pela economia e conservação dos bens do Estado, es-
civil. pecialmente daqueles cuja guarda ou utilização lhe for confiada;
São competentes para dar posse: – desempenhar com zelo e presteza as missões que lhe forem
– O Secretário da Segurança Pública, ao Delegado Geral de confiadas, usando moderadamente de força ou outro meio adequa-
Polícia; do de que dispõe, para esse fim;
– O Delegado Geral de Polícia, aos Delegados de Polícia; – informar incontinenti toda e qualquer alteração de endereço
– O Diretor do Departamento de Administração da Polícia Ci- da residência e número de telefone, se houver;
vil, nos demais casos. – prestar informações corretas ou encaminhar o solicitante a
quem possa prestá-las;
Estágio probatório – comunicar o endereço onde possa ser encontrado, quando
Os primeiros 3 anos de efetivo exercício nos cargos das car- dos afastamentos regulamentares;
reiras policiais civis de 3ª Classe, caracteriza-se como estágio pro- – proceder na vida pública e particular de modo a dignificar a
batório. função policial;
Durante este período os integrantes das carreiras policiais – residir na sede do município onde exerça o cargo ou função,
civis serão observados e avaliados, semestralmente, no mínimo, ou onde autorizado;
quanto aos seguintes requisitos: – frequentar, com assiduidade, para fins de aperfeiçoamento
1 - aprovação no curso de formação técnico-profissional; e atualização de conhecimentos profissionais, cursos instituídos
2 - conduta ilibada, na vida pública e na vida privada; periodicamente pela Academia de Polícia;
3 - aptidão; – portar a carteira funcional;
4 - disciplina; – promover as comemorações do “Dia da Polícia” a 21 de
5 - assiduidade; abril, ou delas participar, exaltando o vulto de Joaquim José da
6 - dedicação ao serviço; Silva Xavier, o Tiradentes, Patrono da Polícia;
7 - eficiência; – ser leal para com os companheiros de trabalho e com eles
8 - responsabilidade. cooperar e manter espírito de solidariedade;
– estar em dia com as normas de interesse policial;
Exercício da função – divulgar para conhecimento dos subordinados as normas re-
Nenhum policial civil poderá ter exercício em serviço ou uni- feridas no inciso anterior;
dade diversa daquela para o qual foi designado, salvo autorização – manter discrição sobre os assuntos da repartição e, especial-
do Delegado Geral de Polícia. mente, sobre despachos, decisões e providências.

Didatismo e Conhecimento 286


NOÇÕES DE DIREITO
Transgressões Disciplinares – deixar de reassumir exercício sem motivo justo, ao final dos
– manter relações de amizade ou exibir-se em público com afastamentos regulamentares ou, ainda, depois de saber que qual-
pessoas de notórios e desabonadores antecedentes criminais, salvo quer destes foi interrompido por ordem superior;
por motivo de serviço; – atribuir-se qualidade funcional diversa do cargo ou função
– constitui-se procurador de partes ou servir de intermediário, que exerce;
perante qualquer repartição pública, salvo quando se tratar de inte- – fazer uso indevido de documento funcional, arma, algema
resse de cônjuge ou parente até segundo grau; ou bens da repartição ou cedê-los a terceiro;
– descumprir ordem superior salvo quando manifestamente – maltratar ou permitir maltrato físico ou moral a preso sob
ilegal, representando neste caso; sua guarda;
– não tomar as providências necessárias ou deixar de comuni- – negligenciar na revista a preso;
car, imediatamente, à autoridade competente, faltas ou irregulari- – desrespeitar ou procrastinar o cumprimento de decisão ou
dades de que tenha conhecimento; ordem judicial;
– deixar de oficiar tempestivamente nos expedientes que lhe – tratar o superior hierárquico, subordinado ou colega sem o
forem encaminhados; devido respeito ou deferência;
– faltar à verdade no exercício de suas funções;
– negligenciar na execução de ordem legítima;
– deixar de comunicar incontinenti à autoridade competente
– interceder maliciosamente em favor de parte;
informação que tiver sobre perturbação da ordem pública ou qual-
– simular doença para esquivar-se ao cumprimento de obri- quer fato que exija intervenção policial;
gação; – dificultar ou deixar de encaminhar expediente à autoridade
– faltar, chegar atrasado ou abandonar escala de serviço ou competente, se não estiver na sua alçada resolvê-lo;
plantões, ou deixar de comunicar, com antecedência, à autoridade – concorrer para o não cumprimento ou retardamento de or-
a que estiver subordinado, a impossibilidade de comparecer à re- dem de autoridade competente;
partição, salvo por motivo justo; – deixar, sem justa causa, de submeter-se a inspeção médica
– permutar horário de serviço ou execução de tarefa sem ex- determinada por lei ou pela autoridade competente;
pressa permissão da autoridade competente; – deixar de concluir nos prazos legais, sem motivo justo, pro-
– usar vestuário incompatível com decoro da função; cedimentos de polícia judiciária, administrativos ou disciplinares;
– descurar de sua aparência física ou do asseio; – cobrar taxas ou emolumentos não previstos em lei;
– apresentar-se no trabalho alcoolizado ou sob efeito de subs- – expedir identidade funcional ou qualquer tipo de credencial
tância que determine dependência física ou psíquica; a quem não exerça cargo ou função policial civil;
– lançar intencionalmente, em registros oficiais, papéis ou – deixar de encaminhar ao órgão, competente, para tratamen-
quaisquer expedientes, dados errôneos, incompletos ou que pos- to ou inspeção médica, subordinado que apresentar sintomas de
sam induzir a erro, bem como inserir neles anotações indevidas; intoxicação habitual por álcool, entorpecente ou outra substância
– faltar, salvo motivo relevante a ser comunicado por escrito que determine dependência física ou psíquica, ou de comunicar tal
no primeiro dia em que comparecer à sua sede de exercício, a ato fato, se incompetente, à autoridade que for;
processual, judiciário ou administrativo, do qual tenha sido previa- – dirigir viatura policial com imprudência, imperícia, negli-
mente cientificado; gência ou sem habilitação;
– utilizar, para fins particulares, qualquer que seja o pretexto, – manter transação ou relacionamento indevido com preso,
material pertencente ao Estado; pessoa em custódia ou respectivos familiares;
– interferir indevidamente em assunto de natureza policial, – criar animosidade, velada ou ostensivamente, entre subalter-
que não seja de sua competência; nos e superiores ou entre colegas, ou indispô-los de que qualquer
– fazer uso indevido de bens ou valores que lhe cheguem às forma;
– atribuir ou permitir que se atribua a pessoa estranha à repar-
mãos, em decorrência da função, ou não entregá-los, com a brevi-
tição, fora dos casos previstos em lei, o desempenho de encargos
dade possível, a quem de direito;
policiais;
– exibir, desnecessariamente, arma, distintivo ou algema; – praticar a usura em qualquer de suas formas;
– deixar de ostentar distintivo quando exigido para serviço; – praticar ato definido em lei como abuso de poder;
– deixar de identificar-se, quando solicitado ou quando as cir- – aceitar representação de Estado estrangeiro, sem autoriza-
cunstâncias o exigirem; ção do Presidente da República;
– divulgar ou proporcionar a divulgação, sem autorização da – tratar de interesses particulares na repartição;
autoridade competente, através da imprensa escrita, falada ou tele- – exercer comércio entre colegas, promover ou subscrever lis-
visada, de fato ocorrido na repartição. tas de donativos dentro da repartição;
– promover manifestação contra atos da administração ou mo- – exercer comércio ou participar de sociedade comercial, sal-
vimentos de apreço ou desapreço a qualquer autoridade; vo como acionista, cotista ou comanditário;
– referir-se de modo depreciativo as autoridades e a atos da – exercer, mesmo nas horas de folga, qualquer outro emprego
administração pública, qualquer que seja o meio empregado para ou função, exceto atividade relativa ao ensino e à difusão cultural,
esse fim; quando compatível com a atividade policial;
– retirar, sem prévia autorização da autoridade competente, – exercer pressão ou influir junto a subordinado para forçar
qualquer objeto ou documentos da repartição; determinada solução ou resultado.
– tecer comentários que possam gerar descréditos da institui- É vedado ao policial civil trabalhar sob as ordens imediatas de
ção policial; parentes, até 2º grau, salvo quando se tratar de função de confiança
– valer-se do cargo com fim, ostensivo ou velado, de obter e livre escolha, não podendo exceder de 2 o número de auxiliares
proveito de qualquer natureza para si ou para terceiros; nestas condições.

Didatismo e Conhecimento 287


NOÇÕES DE DIREITO
Responsabilidades – provocar movimento de paralisação total ou parcial do ser-
O policial responde civil, penal e administrativamente pelo viço policial ou outro qualquer serviço, ou dele participar;
exercício irregular de suas atribuições, ficando sujeito, cumulati- – pedir ou aceitar empréstimo de dinheiro ou valor de pessoas
vamente, às respectivas cominações. que tratem de interesses ou os tenham na repartição, ou estejam
A responsabilidade civil decorre de procedimento doloso ou sujeitos à sua fiscalização;
culposo, que importe prejuízo à Fazenda Pública ou a terceiros. – exercer advocacia administrativa.

Penalidades Será aplicada a pena de cassação de aposentadoria ou disponi-


São penas disciplinares principais: bilidade, se ficar provado que o inativo:
– advertência; – praticou, quando em atividade, falta para a qual é cominada
– repreensão; nesta lei a pena de demissão ou de demissão a bem do serviço
– multa; público;
– suspensão; – aceitou ilegalmente cargo ou função pública;
– demissão; – aceitou representação de Estado estrangeiro sem prévia au-
– demissão a bem do serviço público; torização do Presidente da República.
– cassação de aposentadoria ou disponibilidade.
Questionário:
Na aplicação das penas disciplinares serão considerados a na-
tureza, a gravidade, os motivos determinantes e a repercussão da 01. Praticar ofensas físicas contra funcionários, servido-
infração os danos causados, a personalidade e os antecedentes do res ou particulares, salvo em legítima defesa, é uma conduta
agente, a intensidade do dolo ou grau de culpa. prevista na Lei Orgânica da Polícia Civil do Estado de São
A pena de advertência será aplicada verbalmente, no caso de Paulo, que prevê, expressamente, em relação a ela, a aplicação
falta de cumprimento dos deveres, ao infrator primário. da seguinte penalidade:
A pena de repreensão será aplicada por escrito, no caso de a) multa.
transgressão disciplinar, sendo o infrator primário e na reincidên- b) repreensão.
cia de falta de cumprimento dos deveres, podendo ser transforma- c) demissão a bem do serviço público.
da em advertência, aplicada por escrito e sem publicidade. d) advertência.
A pena de suspensão, que não excederá de 90 dias, será apli- e) demissão.
cada nos casos de :
– descumprimento dos deveres e transgressão disciplinar, 02. Conforme dispõe a Lei Orgânica da Polícia Civil do
ocorrendo dolo ou má fé; Estado de São Paulo, o processo administrativo, como regra
– reincidência em falta já punida com repreensão. geral, será presidido por
A autoridade que aplicar a pena de suspensão poderá conver- a) delegado de polícia, que designará como secretário um es-
tê-la em multa, na base de 50%, por dia, do vencimento e demais crivão de polícia.
vantagens, sendo o policial, neste caso, obrigado a permanecer em b) investigador de polícia chefe, auxiliado por um agente po-
serviço. licial.
Será aplicada a pena de demissão nos casos de: c) delegado de polícia de classe especial, que nomeará um
– abandono de cargo; investigador para atuar como secretário.
– procedimento irregular, de natureza grave; d) delegado de polícia titular, auxiliado por um papiloscopista.
– ineficiência intencional e reiterada no serviço; e) investigador de polícia, que será auxiliado por um escrivão
– aplicação indevida de dinheiros públicos; de polícia.
– insubordinação grave.
03. VUNESP - 2013 - PC-SP - Investigador de Polícia
Será aplicada a pena de demissão a bem do serviço público, Assinale a alternativa que está expressamente de acordo
nos casos de: com a Lei Orgânica da Polícia Civil do Estado de São Paulo.
– conduzir-se com incontinência pública e escandalosa e pra- a) O policial civil que sofrer lesões no exercício de suas fun-
ticar jogos proibidos; ções deverá ser encaminhado a qualquer hospital público ou parti-
– praticar ato definido como crime contra a Administração cular às suas próprias expensas.
Pública, a Fé Pública e a Fazenda Pública ou previsto na Lei de b) A pena de advertência não acarreta perda de vencimentos
Segurança Nacional; ou de qualquer vantagem de ordem funcional nem contará pontos
– revelar dolosamente segredos de que tenha conhecimento negativos na avaliação de desempenho.
em razão do cargo ou função, com prejuízo para o Estado ou par- c) O policial civil não poderá ser removido no interesse do
ticulares; serviço, para município diverso do de sua sede de exercício, no
– praticar ofensas físicas contra funcionários, servidores ou período de 6 (seis) meses antes e até 3 (três) meses após a data das
particulares, salvo em legítima defesa; eleições.
– causar lesão dolosa ao patrimônio ou aos cofres públicos; d) Ao cônjuge ou, na falta deste, à pessoa que provar ter feito
– exigir, receber ou solicitar vantagem indevida, diretamente despesa em virtude do falecimento do policial civil, será concedi-
ou por intermédio de outrem, ainda que fora de suas funções, mas da, a título de auxílio-funeral, a importância correspondente a 3
em razão destas; (três) meses de vencimento.

Didatismo e Conhecimento 288


NOÇÕES DE DIREITO
e) Será dispensável o processo administrativo quando a falta fim de garantir o acesso a informações previsto no inciso XXXIII
disciplinar, por sua natureza, possa determinar a pena de repreen- do art. 5o, no inciso II do § 3º do art. 37 e no § 2º do art. 216 da
são, multa, suspensão, cassação de aposentadoria ou disponibili- Constituição Federal.
dade. Parágrafo único. Subordinam-se ao regime desta Lei:
I - os órgãos públicos integrantes da administração direta dos
04. Conforme o disposto na Lei Orgânica da Polícia do Poderes Executivo, Legislativo, incluindo as Cortes de Contas, e
Estado de São Paulo, se um servidor público pedir ou aceitar Judiciário e do Ministério Público;
empréstimo de dinheiro ou valor de pessoas que tratem de in- II - as autarquias, as fundações públicas, as empresas públicas,
teresses na repartição pública, ficará sujeito à pena de as sociedades de economia mista e demais entidades controladas
a) suspensão. direta ou indiretamente pela União, Estados, Distrito Federal e
b) demissão a bem do serviço público. Municípios.
c) jubilação.
d) exoneração. Art. 2º Aplicam-se as disposições desta Lei, no que couber, às
e) repreensão. entidades privadas sem fins lucrativos que recebam, para realiza-
ção de ações de interesse público, recursos públicos diretamente
05. Consoante disposição da Lei Orgânica da Polícia de do orçamento ou mediante subvenções sociais, contrato de gestão,
São Paulo, ao acusado, em processo administrativo disciplinar, termo de parceria, convênios, acordo, ajustes ou outros instrumen-
tos congêneres.
é possível arrolar até
Parágrafo único. A publicidade a que estão submetidas as en-
a) 7 testemunhas.
tidades citadas no caput refere-se à parcela dos recursos públicos
b) 8 testemunhas.
recebidos e à sua destinação, sem prejuízo das prestações de contas
c) 4 testemunhas.
a que estejam legalmente obrigadas.
d) 5 testemunhas.
e) 3 testemunhas. Art. 3º Os procedimentos previstos nesta Lei destinam-se a
assegurar o direito fundamental de acesso à informação e devem
Gabarito: ser executados em conformidade com os princípios básicos da ad-
ministração pública e com as seguintes diretrizes:
01 C I - observância da publicidade como preceito geral e do sigilo
02 A como exceção;
II - divulgação de informações de interesse público, indepen-
03 C dentemente de solicitações;
04 B III - utilização de meios de comunicação viabilizados pela tec-
05 D nologia da informação;
IV - fomento ao desenvolvimento da cultura de transparência
na administração pública;
2.5.21 LEI FEDERAL N.º 12.527, DE V - desenvolvimento do controle social da administração pú-
18/11/2011 (LEI DE ACESSO À INFORMA- blica.
ÇÃO) E SEU DECRETO REGULAMENTA-
Art. 4º Para os efeitos desta Lei, considera-se:
DOR NO ÂMBITO DO ESTADO DE SÃO PAU-
I - informação: dados, processados ou não, que podem ser uti-
LO (DECRETO N.º 58.052, DE 16/05/2012) lizados para produção e transmissão de conhecimento, contidos
em qualquer meio, suporte ou formato;
II - documento: unidade de registro de informações, qualquer
que seja o suporte ou formato;
LEI Nº 12.527, DE 18 DE NOVEMBRO DE 2011.
III - informação sigilosa: aquela submetida temporariamente
à restrição de acesso público em razão de sua imprescindibilidade
Regula o acesso a informações previsto no inciso XXXIII do para a segurança da sociedade e do Estado;
art. 5o, no inciso II do § 3º do art. 37 e no § 2º do art. 216 da Cons- IV - informação pessoal: aquela relacionada à pessoa natural
tituição Federal; altera a Lei no 8.112, de 11 de dezembro de 1990; identificada ou identificável;
revoga a Lei no 11.111, de 5 de maio de 2005, e dispositivos da Lei V - tratamento da informação: conjunto de ações referentes à
no 8.159, de 8 de janeiro de 1991; e dá outras providências. produção, recepção, classificação, utilização, acesso, reprodução,
transporte, transmissão, distribuição, arquivamento, armazena-
A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Con- mento, eliminação, avaliação, destinação ou controle da informa-
gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: ção;
VI - disponibilidade: qualidade da informação que pode ser
CAPÍTULO I conhecida e utilizada por indivíduos, equipamentos ou sistemas
DISPOSIÇÕES GERAIS autorizados;
VII - autenticidade: qualidade da informação que tenha sido
Art. 1º Esta Lei dispõe sobre os procedimentos a serem obser- produzida, expedida, recebida ou modificada por determinado in-
vados pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios, com o divíduo, equipamento ou sistema;

Didatismo e Conhecimento 289


NOÇÕES DE DIREITO
VIII - integridade: qualidade da informação não modificada, § 4º A negativa de acesso às informações objeto de pedido
inclusive quanto à origem, trânsito e destino; formulado aos órgãos e entidades referidas no art. 1o, quando não
IX - primariedade: qualidade da informação coletada na fonte, fundamentada, sujeitará o responsável a medidas disciplinares, nos
com o máximo de detalhamento possível, sem modificações. termos do art. 32 desta Lei.
§ 5º Informado do extravio da informação solicitada, poderá o
Art. 5º É dever do Estado garantir o direito de acesso à infor- interessado requerer à autoridade competente a imediata abertura
mação, que será franqueada, mediante procedimentos objetivos e de sindicância para apurar o desaparecimento da respectiva docu-
ágeis, de forma transparente, clara e em linguagem de fácil com- mentação.
preensão. § 6º Verificada a hipótese prevista no § 5o deste artigo, o res-
ponsável pela guarda da informação extraviada deverá, no prazo
CAPÍTULO II de 10 (dez) dias, justificar o fato e indicar testemunhas que com-
DO ACESSO A INFORMAÇÕES E DA SUA DIVULGAÇÃO provem sua alegação.

Art. 6º Cabe aos órgãos e entidades do poder público, obser- Art. 8º É dever dos órgãos e entidades públicas promover, in-
vadas as normas e procedimentos específicos aplicáveis, assegurar dependentemente de requerimentos, a divulgação em local de fácil
a: acesso, no âmbito de suas competências, de informações de inte-
I - gestão transparente da informação, propiciando amplo resse coletivo ou geral por eles produzidas ou custodiadas.
acesso a ela e sua divulgação; § 1º Na divulgação das informações a que se refere o caput,
II - proteção da informação, garantindo-se sua disponibilida- deverão constar, no mínimo:
de, autenticidade e integridade; e I - registro das competências e estrutura organizacional, en-
III - proteção da informação sigilosa e da informação pessoal, dereços e telefones das respectivas unidades e horários de atendi-
observada a sua disponibilidade, autenticidade, integridade e even- mento ao público;
tual restrição de acesso. II - registros de quaisquer repasses ou transferências de recur-
sos financeiros;
Art. 7º O acesso à informação de que trata esta Lei compreen- III - registros das despesas;
de, entre outros, os direitos de obter: IV - informações concernentes a procedimentos licitatórios,
I - orientação sobre os procedimentos para a consecução de inclusive os respectivos editais e resultados, bem como a todos os
acesso, bem como sobre o local onde poderá ser encontrada ou
contratos celebrados;
obtida a informação almejada;
V - dados gerais para o acompanhamento de programas,
II - informação contida em registros ou documentos, produ-
ações, projetos e obras de órgãos e entidades; e
zidos ou acumulados por seus órgãos ou entidades, recolhidos ou
VI - respostas a perguntas mais frequentes da sociedade.
não a arquivos públicos;
§ 2º Para cumprimento do disposto no caput, os órgãos e en-
III - informação produzida ou custodiada por pessoa física ou
tidades públicas deverão utilizar todos os meios e instrumentos
entidade privada decorrente de qualquer vínculo com seus órgãos
legítimos de que dispuserem, sendo obrigatória a divulgação em
ou entidades, mesmo que esse vínculo já tenha cessado;
IV - informação primária, íntegra, autêntica e atualizada; sítios oficiais da rede mundial de computadores (internet).
V - informação sobre atividades exercidas pelos órgãos e enti- § 3º Os sítios de que trata o § 2º deverão, na forma de regula-
dades, inclusive as relativas à sua política, organização e serviços; mento, atender, entre outros, aos seguintes requisitos:
VI - informação pertinente à administração do patrimônio pú- I - conter ferramenta de pesquisa de conteúdo que permita o
blico, utilização de recursos públicos, licitação, contratos admi- acesso à informação de forma objetiva, transparente, clara e em
nistrativos; e linguagem de fácil compreensão;
VII - informação relativa: II - possibilitar a gravação de relatórios em diversos formatos
a) à implementação, acompanhamento e resultados dos pro- eletrônicos, inclusive abertos e não proprietários, tais como plani-
gramas, projetos e ações dos órgãos e entidades públicas, bem lhas e texto, de modo a facilitar a análise das informações;
como metas e indicadores propostos; III - possibilitar o acesso automatizado por sistemas externos
b) ao resultado de inspeções, auditorias, prestações e tomadas em formatos abertos, estruturados e legíveis por máquina;
de contas realizadas pelos órgãos de controle interno e externo, IV - divulgar em detalhes os formatos utilizados para estrutu-
incluindo prestações de contas relativas a exercícios anteriores. ração da informação;
§ 1º O acesso à informação previsto no caput não compreende V - garantir a autenticidade e a integridade das informações
as informações referentes a projetos de pesquisa e desenvolvimen- disponíveis para acesso;
to científicos ou tecnológicos cujo sigilo seja imprescindível à se- VI - manter atualizadas as informações disponíveis para aces-
gurança da sociedade e do Estado. so;
§ 2º Quando não for autorizado acesso integral à informação VII - indicar local e instruções que permitam ao interessado
por ser ela parcialmente sigilosa, é assegurado o acesso à parte não comunicar-se, por via eletrônica ou telefônica, com o órgão ou en-
sigilosa por meio de certidão, extrato ou cópia com ocultação da tidade detentora do sítio; e
parte sob sigilo. VIII - adotar as medidas necessárias para garantir a acessibi-
§ 3º O direito de acesso aos documentos ou às informações lidade de conteúdo para pessoas com deficiência, nos termos do
neles contidas utilizados como fundamento da tomada de decisão art. 17 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000, e do art.
e do ato administrativo será assegurado com a edição do ato deci- 9o da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência,
sório respectivo. aprovada pelo Decreto Legislativo no 186, de 9 de julho de 2008.

Didatismo e Conhecimento 290


NOÇÕES DE DIREITO
§ 4º Os Municípios com população de até 10.000 (dez mil) § 4º Quando não for autorizado o acesso por se tratar de in-
habitantes ficam dispensados da divulgação obrigatória na internet formação total ou parcialmente sigilosa, o requerente deverá ser
a que se refere o § 2o, mantida a obrigatoriedade de divulgação, informado sobre a possibilidade de recurso, prazos e condições
em tempo real, de informações relativas à execução orçamentária para sua interposição, devendo, ainda, ser-lhe indicada a autorida-
e financeira, nos critérios e prazos previstos no art. 73-B da Lei de competente para sua apreciação.
Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000 (Lei de Responsabi- § 5º A informação armazenada em formato digital será forne-
lidade Fiscal). cida nesse formato, caso haja anuência do requerente.
§ 6º Caso a informação solicitada esteja disponível ao público
Art. 9º O acesso a informações públicas será assegurado me- em formato impresso, eletrônico ou em qualquer outro meio de
diante: acesso universal, serão informados ao requerente, por escrito, o
I - criação de serviço de informações ao cidadão, nos órgãos lugar e a forma pela qual se poderá consultar, obter ou reproduzir
e entidades do poder público, em local com condições apropriadas a referida informação, procedimento esse que desonerará o órgão
para: ou entidade pública da obrigação de seu fornecimento direto, salvo
a) atender e orientar o público quanto ao acesso a informa- se o requerente declarar não dispor de meios para realizar por si
ções; mesmo tais procedimentos.
b) informar sobre a tramitação de documentos nas suas res-
pectivas unidades;
Art. 12. O serviço de busca e fornecimento da informação é
c) protocolizar documentos e requerimentos de acesso a in-
gratuito, salvo nas hipóteses de reprodução de documentos pelo
formações; e
órgão ou entidade pública consultada, situação em que poderá ser
II - realização de audiências ou consultas públicas, incentivo à
participação popular ou a outras formas de divulgação. cobrado exclusivamente o valor necessário ao ressarcimento do
custo dos serviços e dos materiais utilizados.
CAPÍTULO III Parágrafo único. Estará isento de ressarcir os custos previs-
DO PROCEDIMENTO DE ACESSO À INFORMAÇÃO tos no caput todo aquele cuja situação econômica não lhe permita
Seção I fazê-lo sem prejuízo do sustento próprio ou da família, declarada
Do Pedido de Acesso nos termos da Lei no 7.115, de 29 de agosto de 1983.

Art. 10. Qualquer interessado poderá apresentar pedido de Art. 13. Quando se tratar de acesso à informação contida
acesso a informações aos órgãos e entidades referidos no art. 1o em documento cuja manipulação possa prejudicar sua integridade,
desta Lei, por qualquer meio legítimo, devendo o pedido conter deverá ser oferecida a consulta de cópia, com certificação de que
a identificação do requerente e a especificação da informação re- esta confere com o original.
querida. Parágrafo único. Na impossibilidade de obtenção de cópias, o
§ 1º Para o acesso a informações de interesse público, a identi- interessado poderá solicitar que, a suas expensas e sob supervisão
ficação do requerente não pode conter exigências que inviabilizem de servidor público, a reprodução seja feita por outro meio que não
a solicitação. ponha em risco a conservação do documento original.
§ 2º Os órgãos e entidades do poder público devem viabilizar
alternativa de encaminhamento de pedidos de acesso por meio de Art. 14. É direito do requerente obter o inteiro teor de decisão
seus sítios oficiais na internet. de negativa de acesso, por certidão ou cópia.
§ 3º São vedadas quaisquer exigências relativas aos motivos
determinantes da solicitação de informações de interesse público. Seção II
Dos Recursos
Art. 11. O órgão ou entidade pública deverá autorizar ou
conceder o acesso imediato à informação disponível. Art. 15. No caso de indeferimento de acesso a informações
§ 1º Não sendo possível conceder o acesso imediato, na forma ou às razões da negativa do acesso, poderá o interessado interpor
disposta no caput, o órgão ou entidade que receber o pedido deve-
recurso contra a decisão no prazo de 10 (dez) dias a contar da sua
rá, em prazo não superior a 20 (vinte) dias:
ciência.
I - comunicar a data, local e modo para se realizar a consulta,
Parágrafo único. O recurso será dirigido à autoridade hierar-
efetuar a reprodução ou obter a certidão;
II - indicar as razões de fato ou de direito da recusa, total ou quicamente superior à que exarou a decisão impugnada, que deve-
parcial, do acesso pretendido; ou rá se manifestar no prazo de 5 (cinco) dias.
III - comunicar que não possui a informação, indicar, se for do
seu conhecimento, o órgão ou a entidade que a detém, ou, ainda, Art. 16. Negado o acesso a informação pelos órgãos ou enti-
remeter o requerimento a esse órgão ou entidade, cientificando o dades do Poder Executivo Federal, o requerente poderá recorrer à
interessado da remessa de seu pedido de informação. Controladoria-Geral da União, que deliberará no prazo de 5 (cin-
§ 2º O prazo referido no § 1o poderá ser prorrogado por mais co) dias se:
10 (dez) dias, mediante justificativa expressa, da qual será cienti- I - o acesso à informação não classificada como sigilosa for
ficado o requerente. negado;
§ 3º Sem prejuízo da segurança e da proteção das informações II - a decisão de negativa de acesso à informação total ou
e do cumprimento da legislação aplicável, o órgão ou entidade po- parcialmente classificada como sigilosa não indicar a autoridade
derá oferecer meios para que o próprio requerente possa pesquisar classificadora ou a hierarquicamente superior a quem possa ser di-
a informação de que necessitar. rigido pedido de acesso ou desclassificação;

Didatismo e Conhecimento 291


NOÇÕES DE DIREITO
III - os procedimentos de classificação de informação sigilosa Parágrafo único. As informações ou documentos que versem
estabelecidos nesta Lei não tiverem sido observados; e sobre condutas que impliquem violação dos direitos humanos pra-
IV - estiverem sendo descumpridos prazos ou outros procedi- ticada por agentes públicos ou a mando de autoridades públicas
mentos previstos nesta Lei. não poderão ser objeto de restrição de acesso.
§ 1º O recurso previsto neste artigo somente poderá ser diri-
gido à Controladoria-Geral da União depois de submetido à apre- Art. 22. O disposto nesta Lei não exclui as demais hipóteses
ciação de pelo menos uma autoridade hierarquicamente superior legais de sigilo e de segredo de justiça nem as hipóteses de segredo
àquela que exarou a decisão impugnada, que deliberará no prazo industrial decorrentes da exploração direta de atividade econômica
de 5 (cinco) dias. pelo Estado ou por pessoa física ou entidade privada que tenha
§ 2º Verificada a procedência das razões do recurso, a Con- qualquer vínculo com o poder público.
troladoria-Geral da União determinará ao órgão ou entidade que
adote as providências necessárias para dar cumprimento ao dis- Seção II
posto nesta Lei. Da Classificação da Informação quanto ao Grau e Prazos de
§ 3º Negado o acesso à informação pela Controladoria-Geral Sigilo
da União, poderá ser interposto recurso à Comissão Mista de Rea-
valiação de Informações, a que se refere o art. 35. Art. 23. São consideradas imprescindíveis à segurança da
sociedade ou do Estado e, portanto, passíveis de classificação as
Art. 17. No caso de indeferimento de pedido de desclassi- informações cuja divulgação ou acesso irrestrito possam:
ficação de informação protocolado em órgão da administração I - pôr em risco a defesa e a soberania nacionais ou a integri-
pública federal, poderá o requerente recorrer ao Ministro de Es- dade do território nacional;
tado da área, sem prejuízo das competências da Comissão Mista II - prejudicar ou pôr em risco a condução de negociações ou
de Reavaliação de Informações, previstas no art. 35, e do disposto as relações internacionais do País, ou as que tenham sido forneci-
no art. 16. das em caráter sigiloso por outros Estados e organismos interna-
§ 1º O recurso previsto neste artigo somente poderá ser diri- cionais;
gido às autoridades mencionadas depois de submetido à aprecia- III - pôr em risco a vida, a segurança ou a saúde da população;
ção de pelo menos uma autoridade hierarquicamente superior à IV - oferecer elevado risco à estabilidade financeira, econômi-
ca ou monetária do País;
autoridade que exarou a decisão impugnada e, no caso das Forças
V - prejudicar ou causar risco a planos ou operações estratégi-
Armadas, ao respectivo Comando.
cos das Forças Armadas;
§ 2º Indeferido o recurso previsto no caput que tenha como
VI - prejudicar ou causar risco a projetos de pesquisa e de-
objeto a desclassificação de informação secreta ou ultrassecreta,
senvolvimento científico ou tecnológico, assim como a sistemas,
caberá recurso à Comissão Mista de Reavaliação de Informações
bens, instalações ou áreas de interesse estratégico nacional;
prevista no art. 35.
VII - pôr em risco a segurança de instituições ou de altas auto-
ridades nacionais ou estrangeiras e seus familiares; ou
Art. 18. Os procedimentos de revisão de decisões denegató- VIII - comprometer atividades de inteligência, bem como de
rias proferidas no recurso previsto no art. 15 e de revisão de clas- investigação ou fiscalização em andamento, relacionadas com a
sificação de documentos sigilosos serão objeto de regulamentação prevenção ou repressão de infrações.
própria dos Poderes Legislativo e Judiciário e do Ministério Pú-
blico, em seus respectivos âmbitos, assegurado ao solicitante, em Art. 24. A informação em poder dos órgãos e entidades públi-
qualquer caso, o direito de ser informado sobre o andamento de cas, observado o seu teor e em razão de sua imprescindibilidade à
seu pedido. segurança da sociedade ou do Estado, poderá ser classificada como
ultrassecreta, secreta ou reservada.
Art. 19. (VETADO). § 1º Os prazos máximos de restrição de acesso à informação,
§ 1º (VETADO). conforme a classificação prevista no caput, vigoram a partir da
§ 2º Os órgãos do Poder Judiciário e do Ministério Público in- data de sua produção e são os seguintes:
formarão ao Conselho Nacional de Justiça e ao Conselho Nacional I - ultrassecreta: 25 (vinte e cinco) anos;
do Ministério Público, respectivamente, as decisões que, em grau II - secreta: 15 (quinze) anos; e
de recurso, negarem acesso a informações de interesse público. III - reservada: 5 (cinco) anos.
§ 2º As informações que puderem colocar em risco a segu-
Art. 20. Aplica-se subsidiariamente, no que couber, a Lei no rança do Presidente e Vice-Presidente da República e respectivos
9.784, de 29 de janeiro de 1999, ao procedimento de que trata este cônjuges e filhos(as) serão classificadas como reservadas e ficarão
Capítulo. sob sigilo até o término do mandato em exercício ou do último
mandato, em caso de reeleição.
CAPÍTULO IV § 3º Alternativamente aos prazos previstos no § 1o, poderá ser
DAS RESTRIÇÕES DE ACESSO À INFORMAÇÃO estabelecida como termo final de restrição de acesso a ocorrência
Seção I de determinado evento, desde que este ocorra antes do transcurso
Disposições Gerais do prazo máximo de classificação.
§ 4º Transcorrido o prazo de classificação ou consumado o
Art. 21. Não poderá ser negado acesso à informação neces- evento que defina o seu termo final, a informação tornar-se-á, au-
sária à tutela judicial ou administrativa de direitos fundamentais. tomaticamente, de acesso público.

Didatismo e Conhecimento 292


NOÇÕES DE DIREITO
§ 5º Para a classificação da informação em determinado grau § 1º A competência prevista nos incisos I e II, no que se refere
de sigilo, deverá ser observado o interesse público da informação e à classificação como ultrassecreta e secreta, poderá ser delegada
utilizado o critério menos restritivo possível, considerados: pela autoridade responsável a agente público, inclusive em missão
I - a gravidade do risco ou dano à segurança da sociedade e no exterior, vedada a subdelegação.
do Estado; e § 2º A classificação de informação no grau de sigilo ultrasse-
II - o prazo máximo de restrição de acesso ou o evento que creto pelas autoridades previstas nas alíneas “d” e “e” do inciso
defina seu termo final. I deverá ser ratificada pelos respectivos Ministros de Estado, no
prazo previsto em regulamento.
Seção III § 3º A autoridade ou outro agente público que classificar in-
Da Proteção e do Controle de Informações Sigilosas formação como ultrassecreta deverá encaminhar a decisão de que
trata o art. 28 à Comissão Mista de Reavaliação de Informações, a
Art. 25. É dever do Estado controlar o acesso e a divulgação que se refere o art. 35, no prazo previsto em regulamento.
de informações sigilosas produzidas por seus órgãos e entidades,
assegurando a sua proteção. (Regulamento) Art. 28. A classificação de informação em qualquer grau de
§ 1º O acesso, a divulgação e o tratamento de informação sigilo deverá ser formalizada em decisão que conterá, no mínimo,
classificada como sigilosa ficarão restritos a pessoas que tenham
os seguintes elementos:
necessidade de conhecê-la e que sejam devidamente credenciadas
I - assunto sobre o qual versa a informação;
na forma do regulamento, sem prejuízo das atribuições dos agentes
II - fundamento da classificação, observados os critérios esta-
públicos autorizados por lei.
§ 2º O acesso à informação classificada como sigilosa cria a belecidos no art. 24;
obrigação para aquele que a obteve de resguardar o sigilo. III - indicação do prazo de sigilo, contado em anos, meses ou
§ 3º Regulamento disporá sobre procedimentos e medidas a dias, ou do evento que defina o seu termo final, conforme limites
serem adotados para o tratamento de informação sigilosa, de modo previstos no art. 24; e
a protegê-la contra perda, alteração indevida, acesso, transmissão IV - identificação da autoridade que a classificou.
e divulgação não autorizados. Parágrafo único. A decisão referida no caput será mantida no
mesmo grau de sigilo da informação classificada.
Art. 26. As autoridades públicas adotarão as providências
necessárias para que o pessoal a elas subordinado hierarquicamen- Art. 29. A classificação das informações será reavaliada pela
te conheça as normas e observe as medidas e procedimentos de autoridade classificadora ou por autoridade hierarquicamente su-
segurança para tratamento de informações sigilosas. perior, mediante provocação ou de ofício, nos termos e prazos
Parágrafo único. A pessoa física ou entidade privada que, em previstos em regulamento, com vistas à sua desclassificação ou à
razão de qualquer vínculo com o poder público, executar ativida- redução do prazo de sigilo, observado o disposto no art. 24. (Re-
des de tratamento de informações sigilosas adotará as providências gulamento)
necessárias para que seus empregados, prepostos ou representan- § 1º O regulamento a que se refere o caput deverá considerar
tes observem as medidas e procedimentos de segurança das infor- as peculiaridades das informações produzidas no exterior por au-
mações resultantes da aplicação desta Lei. toridades ou agentes públicos.
§ 2º Na reavaliação a que se refere o caput, deverão ser exa-
Seção IV minadas a permanência dos motivos do sigilo e a possibilidade de
Dos Procedimentos de Classificação, Reclassificação e Desclas- danos decorrentes do acesso ou da divulgação da informação.
sificação § 3º Na hipótese de redução do prazo de sigilo da informação,
o novo prazo de restrição manterá como termo inicial a data da sua
Art. 27. A classificação do sigilo de informações no âmbito da produção.
administração pública federal é de competência: (Regulamento)
I - no grau de ultrassecreto, das seguintes autoridades:
Art. 30. A autoridade máxima de cada órgão ou entidade pu-
a) Presidente da República;
blicará, anualmente, em sítio à disposição na internet e destinado
b) Vice-Presidente da República;
à veiculação de dados e informações administrativas, nos termos
c) Ministros de Estado e autoridades com as mesmas prerro-
gativas; de regulamento:
d) Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica; e I - rol das informações que tenham sido desclassificadas nos
e) Chefes de Missões Diplomáticas e Consulares permanentes últimos 12 (doze) meses;
no exterior; II - rol de documentos classificados em cada grau de sigilo,
II - no grau de secreto, das autoridades referidas no inciso com identificação para referência futura;
I, dos titulares de autarquias, fundações ou empresas públicas e III - relatório estatístico contendo a quantidade de pedidos de
sociedades de economia mista; e informação recebidos, atendidos e indeferidos, bem como infor-
III - no grau de reservado, das autoridades referidas nos inci- mações genéricas sobre os solicitantes.
sos I e II e das que exerçam funções de direção, comando ou che- § 1º Os órgãos e entidades deverão manter exemplar da publi-
fia, nível DAS 101.5, ou superior, do Grupo-Direção e Assesso- cação prevista no caput para consulta pública em suas sedes.
ramento Superiores, ou de hierarquia equivalente, de acordo com § 2º Os órgãos e entidades manterão extrato com a lista de in-
regulamentação específica de cada órgão ou entidade, observado o formações classificadas, acompanhadas da data, do grau de sigilo
disposto nesta Lei. e dos fundamentos da classificação.

Didatismo e Conhecimento 293


NOÇÕES DE DIREITO
Seção V VII - destruir ou subtrair, por qualquer meio, documentos con-
Das Informações Pessoais cernentes a possíveis violações de direitos humanos por parte de
agentes do Estado.
Art. 31. O tratamento das informações pessoais deve ser feito § 1º Atendido o princípio do contraditório, da ampla defesa
de forma transparente e com respeito à intimidade, vida privada, e do devido processo legal, as condutas descritas no caput serão
honra e imagem das pessoas, bem como às liberdades e garantias consideradas:
individuais. I - para fins dos regulamentos disciplinares das Forças Arma-
§ 1º As informações pessoais, a que se refere este artigo, rela- das, transgressões militares médias ou graves, segundo os critérios
neles estabelecidos, desde que não tipificadas em lei como crime
tivas à intimidade, vida privada, honra e imagem:
ou contravenção penal; ou
I - terão seu acesso restrito, independentemente de classifica- II - para fins do disposto na Lei no 8.112, de 11 de dezembro
ção de sigilo e pelo prazo máximo de 100 (cem) anos a contar da de 1990, e suas alterações, infrações administrativas, que deve-
sua data de produção, a agentes públicos legalmente autorizados e rão ser apenadas, no mínimo, com suspensão, segundo os critérios
à pessoa a que elas se referirem; e nela estabelecidos.
II - poderão ter autorizada sua divulgação ou acesso por ter- § 2º Pelas condutas descritas no caput, poderá o militar ou
ceiros diante de previsão legal ou consentimento expresso da pes- agente público responder, também, por improbidade administrati-
soa a que elas se referirem. va, conforme o disposto nas Leis nos 1.079, de 10 de abril de 1950,
§ 2º Aquele que obtiver acesso às informações de que trata e 8.429, de 2 de junho de 1992.
este artigo será responsabilizado por seu uso indevido.
§ 3º O consentimento referido no inciso II do § 1o não será Art. 33. A pessoa física ou entidade privada que detiver infor-
exigido quando as informações forem necessárias: mações em virtude de vínculo de qualquer natureza com o poder
público e deixar de observar o disposto nesta Lei estará sujeita às
I - à prevenção e diagnóstico médico, quando a pessoa estiver
seguintes sanções:
física ou legalmente incapaz, e para utilização única e exclusiva- I - advertência;
mente para o tratamento médico; II - multa;
II - à realização de estatísticas e pesquisas científicas de evi- III - rescisão do vínculo com o poder público;
dente interesse público ou geral, previstos em lei, sendo vedada a IV - suspensão temporária de participar em licitação e impe-
identificação da pessoa a que as informações se referirem; dimento de contratar com a administração pública por prazo não
III - ao cumprimento de ordem judicial; superior a 2 (dois) anos; e
IV - à defesa de direitos humanos; ou V - declaração de inidoneidade para licitar ou contratar com
V - à proteção do interesse público e geral preponderante. a administração pública, até que seja promovida a reabilitação pe-
§ 4º A restrição de acesso à informação relativa à vida privada, rante a própria autoridade que aplicou a penalidade.
honra e imagem de pessoa não poderá ser invocada com o intuito § 1º As sanções previstas nos incisos I, III e IV poderão ser
de prejudicar processo de apuração de irregularidades em que o aplicadas juntamente com a do inciso II, assegurado o direito de
titular das informações estiver envolvido, bem como em ações vol- defesa do interessado, no respectivo processo, no prazo de 10 (dez)
dias.
tadas para a recuperação de fatos históricos de maior relevância.
§ 2º A reabilitação referida no inciso V será autorizada somen-
§ 5º Regulamento disporá sobre os procedimentos para trata- te quando o interessado efetivar o ressarcimento ao órgão ou enti-
mento de informação pessoal. dade dos prejuízos resultantes e após decorrido o prazo da sanção
aplicada com base no inciso IV.
CAPÍTULO V § 3º A aplicação da sanção prevista no inciso V é de compe-
DAS RESPONSABILIDADES tência exclusiva da autoridade máxima do órgão ou entidade pú-
blica, facultada a defesa do interessado, no respectivo processo, no
Art. 32. Constituem condutas ilícitas que ensejam responsabi- prazo de 10 (dez) dias da abertura de vista.
lidade do agente público ou militar:
I - recusar-se a fornecer informação requerida nos termos des- Art. 34. Os órgãos e entidades públicas respondem direta-
ta Lei, retardar deliberadamente o seu fornecimento ou fornecê-la mente pelos danos causados em decorrência da divulgação não
intencionalmente de forma incorreta, incompleta ou imprecisa; autorizada ou utilização indevida de informações sigilosas ou in-
formações pessoais, cabendo a apuração de responsabilidade fun-
II - utilizar indevidamente, bem como subtrair, destruir, inu-
cional nos casos de dolo ou culpa, assegurado o respectivo direito
tilizar, desfigurar, alterar ou ocultar, total ou parcialmente, infor- de regresso.
mação que se encontre sob sua guarda ou a que tenha acesso ou Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se à pessoa
conhecimento em razão do exercício das atribuições de cargo, em- física ou entidade privada que, em virtude de vínculo de qualquer
prego ou função pública; natureza com órgãos ou entidades, tenha acesso a informação sigi-
III - agir com dolo ou má-fé na análise das solicitações de losa ou pessoal e a submeta a tratamento indevido.
acesso à informação;
IV - divulgar ou permitir a divulgação ou acessar ou permitir CAPÍTULO VI
acesso indevido à informação sigilosa ou informação pessoal; DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
V - impor sigilo à informação para obter proveito pessoal ou
de terceiro, ou para fins de ocultação de ato ilegal cometido por si Art. 35. (VETADO).
ou por outrem; § 1º É instituída a Comissão Mista de Reavaliação de Infor-
VI - ocultar da revisão de autoridade superior competente in- mações, que decidirá, no âmbito da administração pública federal,
formação sigilosa para beneficiar a si ou a outrem, ou em prejuízo sobre o tratamento e a classificação de informações sigilosas e terá
de terceiros; e competência para:

Didatismo e Conhecimento 294


NOÇÕES DE DIREITO
I - requisitar da autoridade que classificar informação como § 3º Enquanto não transcorrido o prazo de reavaliação previs-
ultrassecreta e secreta esclarecimento ou conteúdo, parcial ou in- to no caput, será mantida a classificação da informação nos termos
tegral da informação; da legislação precedente.
II - rever a classificação de informações ultrassecretas ou se- § 4º As informações classificadas como secretas e ultrassecre-
cretas, de ofício ou mediante provocação de pessoa interessada, tas não reavaliadas no prazo previsto no caput serão consideradas,
observado o disposto no art. 7o e demais dispositivos desta Lei; e automaticamente, de acesso público.
III - prorrogar o prazo de sigilo de informação classificada
como ultrassecreta, sempre por prazo determinado, enquanto o seu Art. 40. No prazo de 60 (sessenta) dias, a contar da vigência
acesso ou divulgação puder ocasionar ameaça externa à soberania desta Lei, o dirigente máximo de cada órgão ou entidade da admi-
nacional ou à integridade do território nacional ou grave risco às nistração pública federal direta e indireta designará autoridade que
relações internacionais do País, observado o prazo previsto no § lhe seja diretamente subordinada para, no âmbito do respectivo
1o do art. 24. órgão ou entidade, exercer as seguintes atribuições:
§ 2º O prazo referido no inciso III é limitado a uma única I - assegurar o cumprimento das normas relativas ao acesso a
renovação. informação, de forma eficiente e adequada aos objetivos desta Lei;
§ 3º A revisão de ofício a que se refere o inciso II do § 1o
II - monitorar a implementação do disposto nesta Lei e apre-
deverá ocorrer, no máximo, a cada 4 (quatro) anos, após a reava-
sentar relatórios periódicos sobre o seu cumprimento;
liação prevista no art. 39, quando se tratar de documentos ultras-
III - recomendar as medidas indispensáveis à implementação
secretos ou secretos.
§ 4º A não deliberação sobre a revisão pela Comissão Mista de e ao aperfeiçoamento das normas e procedimentos necessários ao
Reavaliação de Informações nos prazos previstos no § 3o implica- correto cumprimento do disposto nesta Lei; e
rá a desclassificação automática das informações. IV - orientar as respectivas unidades no que se refere ao cum-
§ 5º Regulamento disporá sobre a composição, organização primento do disposto nesta Lei e seus regulamentos.
e funcionamento da Comissão Mista de Reavaliação de Informa-
ções, observado o mandato de 2 (dois) anos para seus integrantes e Art. 41. O Poder Executivo Federal designará órgão da admi-
demais disposições desta Lei. (Regulamento) nistração pública federal responsável:
I - pela promoção de campanha de abrangência nacional de
Art. 36. O tratamento de informação sigilosa resultante de fomento à cultura da transparência na administração pública e
tratados, acordos ou atos internacionais atenderá às normas e reco- conscientização do direito fundamental de acesso à informação;
mendações constantes desses instrumentos. II - pelo treinamento de agentes públicos no que se refere ao
desenvolvimento de práticas relacionadas à transparência na admi-
Art. 37. É instituído, no âmbito do Gabinete de Segurança nistração pública;
Institucional da Presidência da República, o Núcleo de Segurança III - pelo monitoramento da aplicação da lei no âmbito da ad-
e Credenciamento (NSC), que tem por objetivos: (Regulamento) ministração pública federal, concentrando e consolidando a publi-
I - promover e propor a regulamentação do credenciamento cação de informações estatísticas relacionadas no art. 30;
de segurança de pessoas físicas, empresas, órgãos e entidades para IV - pelo encaminhamento ao Congresso Nacional de relató-
tratamento de informações sigilosas; e rio anual com informações atinentes à implementação desta Lei.
II - garantir a segurança de informações sigilosas, inclusive
aquelas provenientes de países ou organizações internacionais Art. 42. O Poder Executivo regulamentará o disposto nesta
com os quais a República Federativa do Brasil tenha firmado trata- Lei no prazo de 180 (cento e oitenta) dias a contar da data de sua
do, acordo, contrato ou qualquer outro ato internacional, sem pre- publicação.
juízo das atribuições do Ministério das Relações Exteriores e dos
demais órgãos competentes. Art. 43. O inciso VI do art. 116 da Lei no 8.112, de 11 de de-
Parágrafo único. Regulamento disporá sobre a composição,
zembro de 1990, passa a vigorar com a seguinte redação:
organização e funcionamento do NSC.
“Art. 116. ...................................................................
............................................................................................
Art. 38. Aplica-se, no que couber, a Lei no 9.507, de 12 de
novembro de 1997, em relação à informação de pessoa, física ou VI - levar as irregularidades de que tiver ciência em razão do
jurídica, constante de registro ou banco de dados de entidades go- cargo ao conhecimento da autoridade superior ou, quando houver
vernamentais ou de caráter público. suspeita de envolvimento desta, ao conhecimento de outra autori-
dade competente para apuração;
Art. 39. Os órgãos e entidades públicas deverão proceder .................................................................................” (NR)
à reavaliação das informações classificadas como ultrassecretas e
secretas no prazo máximo de 2 (dois) anos, contado do termo ini- Art. 44. O Capítulo IV do Título IV da Lei no 8.112, de 1990,
cial de vigência desta Lei. passa a vigorar acrescido do seguinte art. 126-A:
§ 1º A restrição de acesso a informações, em razão da reava- “Art. 126-A. Nenhum servidor poderá ser responsabilizado ci-
liação prevista no caput, deverá observar os prazos e condições vil, penal ou administrativamente por dar ciência à autoridade su-
previstos nesta Lei. perior ou, quando houver suspeita de envolvimento desta, a outra
§ 2º No âmbito da administração pública federal, a reavalia- autoridade competente para apuração de informação concernente
ção prevista no caput poderá ser revista, a qualquer tempo, pela à prática de crimes ou improbidade de que tenha conhecimento,
Comissão Mista de Reavaliação de Informações, observados os ainda que em decorrência do exercício de cargo, emprego ou fun-
termos desta Lei. ção pública.”

Didatismo e Conhecimento 295


NOÇÕES DE DIREITO
Art. 45. Cabe aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municí- Abrangência:
pios, em legislação própria, obedecidas as normas gerais estabele- - administração direta e indireta de todos os poderes e todos
cidas nesta Lei, definir regras específicas, especialmente quanto ao os entes federativos
disposto no art. 9o e na Seção II do Capítulo III. - entidades privadas sem fins lucrativos que recebam recursos
públicos
Art. 46. Revogam-se:
I - a Lei no 11.111, de 5 de maio de 2005; e Princípio da publicidade máxima
II - os arts. 22 a 24 da Lei no 8.159, de 8 de janeiro de 1991. - mudança de paradigma (sigilo é exceção)
- publicação pró ativa do maior número de informações possí-
Art. 47. Esta Lei entra em vigor 180 (cento e oitenta) dias vel (evitar sobrecarga/otimização de recursos)
após a data de sua publicação. - informação solicitada deve ser fornecida ao requerente, mes-
mo que parcialmente sigilosa (certidão, extrato, cópia com oculta-
Brasília, 18 de novembro de 2011; 190o da Independência e ção da parte sigilosa)
123o da República.
DILMA ROUSSEFF Transparência Ativa na Lei (obrigações mínimas de divulga-
José Eduardo Cardoso ção - internet)
Celso Luiz Nunes Amorim - Estrutura organizacional/horários e locais de atendimento ao
Antonio de Aguiar Patriota público
Miriam Belchior - Despesas/repasses e transferências $
Paulo Bernardo Silva - Procedimentos licitatórios/contratos celebrados
Gleisi Hoffmann - Dados gerais para acompanhamento de programas, ações,
José Elito Carvalho Siqueira projetos, obras
Helena Chagas - Perguntas mais frequentes da sociedade
Luís Inácio Lucena Adams
Jorge Hage Sobrinho Transparência Passiva na Lei
Maria do Rosário Nunes - Serviço de Informações ao Cidadão (Art. 9º)
- protocolizar requerimentos de acesso à informação
No intuito de regulamentar e efetivar o direito fundamen-
- atender e orientar o público quanto ao acesso a informações
tal do cidadão de acesso às informações públicas sob a guarda de
- informar sobre a tramitação de documentos/pedidos
órgãos e entidades estatais foi sancionada a Lei nº 12.527, em 18
de novembro de 2011, a seguir chamada “LAI”, cuja entrada em
Recurso à decisão denegatória de acesso
vigor no ordenamento jurídico ocorreu no dia 16 de maio de 2012.
- É direito do requerente obter o inteiro teor da decisão nega-
A Lei dispõe sobre os procedimentos a serem observados com
tiva de acesso
o fim de garantir o acesso a informações previsto no inciso XX-
XIII, do art. 5º, no inciso II, do § 3º, do art. 37 e no § 2º, do art. 216, - Requerente deve ser informado sobre a possibilidade, os pra-
todos da Constituição da República de 1988. zos e as condições para a interposição de recurso
Art. 5º. XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públi- - Modelo da lei 12527/2011, válido para os três poderes dos
cos informações de seu interesse particular, ou de interesse coleti- três entes federativos:
vo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de res- - Indeferimento de acesso à informação: Recurso administrati-
ponsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível vo à autoridade superior à que proferiu a decisão impugnada
à segurança da sociedade e do Estado;
Art. 37. § 3º A lei disciplinará as formas de participação do DECRETO Nº 58.052, DE 16 DE MAIO DE 2012
usuário na administração pública direta e indireta, regulando es-
pecialmente: Regulamenta a Lei federal n° 12.527, de 18 de novembro de
II - o acesso dos usuários a registros administrativos e a infor- 2011, que regula o acesso a informações, e dá providências cor-
mações sobre atos de governo, observado o disposto no art. 5º, X relatas.
e XXXIII;
Art. 216. (...): GERALDO ALCKMIN, GOVERNADOR DO ESTADO DE
§ 2º - Cabem à administração pública, na forma da lei, a ges- SÃO PAULO, no uso de suas atribuições legais,
tão da documentação governamental e as providências para fran-
quear sua consulta a quantos dela necessitem. CONSIDERANDO que é dever do Poder Público promover
A LAI tem o objetivo de desenvolver a cultura de transparên- a gestão dos documentos públicos para assegurar o acesso às in-
cia na Administração Pública e o seu respectivo controle social. formações neles contidas, de acordo com o § 2º do artigo 216 da
Nesse sentido, estabelece a publicidade das informações como re- Constituição Federal e com o artigo 1º da Lei federal nº 8.159, de
gra geral e trata como exceção o seu sigilo. Para conferir máxima 8 de janeiro de 1991;
eficácia aos princípios da publicidade e da transparência, o artigo
7º, §2º da Lei preceitua inclusive que, quando não for possível CONSIDERANDO que cabe ao Estado definir, em legislação
acesso integral à informação, fica assegurado acesso à parte não própria, regras específicas para o cumprimento das determinações
sigilosa mediante a expedição de certidão, extrato ou cópia com previstas na Lei federal nº 12.527, de 18 de novembro de 2011, que
ocultação da parte sigilosa. regula o acesso a informações;

Didatismo e Conhecimento 296


NOÇÕES DE DIREITO
CONSIDERANDO as disposições das Leis estaduais nº V - criptografia: processo de escrita à base de métodos lógicos
10.177, de 30 de dezembro de 1998, que regula o processo ad- e controlados por chaves, cifras ou códigos, de forma que somente
ministrativo e nº 10.294, de 20 de abril de 1999, que dispõe sobre os usuários autorizados possam reestabelecer sua forma original;
proteção e defesa do usuário de serviços públicos, e dos Decretos VI - custódia: responsabilidade pela guarda de documentos,
estaduais nº 22.789, de 19 de outubro de 1984, que institui o Sis- dados e informações;
tema de Arquivos do Estado de São Paulo - SAESP, nº 44.074, de VII - dado público: sequência de símbolos ou valores, repre-
1º de julho de 1999, que regulamenta a composição e estabelece sentado em algum meio, produzido ou sob a guarda governamen-
a competência das Ouvidorias, nº 54.276, de 27 de abril de 2009, tal, em decorrência de um processo natural ou artificial, que não
que reorganiza a Unidade do Arquivo Público do Estado, da Casa tenha seu acesso restrito por legislação específica;
Civil, nº 55.479, de 25 de fevereiro de 2010, que institui na Casa VIII - desclassificação: supressão da classificação de sigilo
Civil o Comitê Gestor do Sistema Informatizado Unificado de por ato da autoridade competente ou decurso de prazo, tornando
Gestão Arquivística de Documentos e Informações - SPdoc, alte- irrestrito o acesso a documentos, dados e informações sigilosas;
rado pelo de nº 56.260, de 6 de outubro de 2010, nº 55.559, de 12
IX - documentos de arquivo: todos os registros de informação,
de março de 2010, que institui o Portal do Governo Aberto SP e nº
57.500, de 8 de novembro de 2011, que reorganiza a Corregedoria em qualquer suporte, inclusive o magnético ou óptico, produzidos,
Geral da Administração e institui o Sistema Estadual de Contro- recebidos ou acumulados por órgãos e entidades da Administração
ladoria; e Considerando, finalmente, a proposta apresentada pelo Pública Estadual, no exercício de suas funções e atividades;
Grupo Técnico instituído pela Resolução CC-3, de 9 de janeiro de X - disponibilidade: qualidade da informação que pode ser
2012, junto ao Comitê de Qualidade da Gestão Pública, conhecida e utilizada por indivíduos, equipamentos ou sistemas
autorizados;
DECRETA: XI - documento: unidade de registro de informações, qualquer
que seja o suporte ou formato;
CAPÍTULO I XII - gestão de documentos: conjunto de procedimentos e
Disposições Gerais operações técnicas referentes à sua produção, classificação, ava-
liação, tramitação, uso, arquivamento e reprodução, que assegura
Artigo 1º - Este decreto define procedimentos a serem obser- a racionalização e a eficiência dos arquivos;
vados pelos órgãos e entidades da Administração Pública Estadual, XIII - informação: dados, processados ou não, que podem ser
e pelas entidades privadas sem fins lucrativos que recebam recur- utilizados para produção e transmissão de conhecimento, contidos
sos públicos estaduais para a realização de atividades de interesse em qualquer meio, suporte ou formato;
público, à vista das normas gerais estabelecidas na Lei federal nº XIV - informação pessoal: aquela relacionada à pessoa natural
12.527, de 18 de novembro de 2011. identificada ou identificável;
XV - informação sigilosa: aquela submetida temporariamente
Artigo 2º - O direito fundamental de acesso a documentos, à restrição de acesso público em razão de sua imprescindibilidade
dados e informações será assegurado mediante: para a segurança da sociedade e do Estado;
I - observância da publicidade como preceito geral e do sigilo XVI - integridade: qualidade da informação não modificada,
como exceção; inclusive quanto à origem, trânsito e destino;
II - implementação da política estadual de arquivos e gestão XVII - marcação: aposição de marca assinalando o grau de
de documentos; sigilo de documentos, dados ou informações, ou sua condição de
III - divulgação de informações de interesse público, indepen-
acesso irrestrito, após sua desclassificação;
dentemente de solicitações;
IV - utilização de meios de comunicação viabilizados pela tec- XVIII - metadados: são informações estruturadas e codifica-
nologia da informação; das que descrevem e permitem gerenciar, compreender, preservar
V - fomento ao desenvolvimento da cultura de transparência e acessar os documentos digitais ao longo do tempo e referem-se a:
na administração pública; a) identificação e contexto documental (identificador único,
VI - desenvolvimento do controle social da administração pú- instituição produtora, nomes, assunto, datas, local, código de clas-
blica. sificação, tipologia documental, temporalidade, destinação, ver-
são, documentos relacionados, idioma e indexação);
Artigo 3º - Para os efeitos deste decreto, consideram-se as se- b) segurança (grau de sigilo, informações sobre criptografia,
guintes definições: assinatura digital e outras marcas digitais);
I - arquivos públicos: conjuntos de documentos produzidos, c) contexto tecnológico (formato de arquivo, tamanho de ar-
recebidos e acumulados por órgãos públicos, autarquias, funda- quivo, dependências de hardware e software, tipos de mídias, algo-
ções instituídas ou mantidas pelo Poder Público, empresas públi- ritmos de compressão) e localização física do documento;
cas, sociedades de economia mista, entidades privadas encarre- XIX - primariedade: qualidade da informação coletada na fon-
gadas da gestão de serviços públicos e organizações sociais, no te, com o máximo de detalhamento possível, sem modificações;
exercício de suas funções e atividades; XX - reclassificação: alteração, pela autoridade competente,
II - autenticidade: qualidade da informação que tenha sido da classificação de sigilo de documentos, dados e informações;
produzida, expedida, recebida ou modificada por determinado in- XXI - rol de documentos, dados e informações sigilosas e pes-
divíduo, equipamento ou sistema; soais: relação anual, a ser publicada pelas autoridades máximas de
III - classificação de sigilo: atribuição, pela autoridade compe- órgãos e entidades, de documentos, dados e informações classifi-
tente, de grau de sigilo a documentos, dados e informações; cadas, no período, como sigilosas ou pessoais, com identificação
IV - credencial de segurança: autorização por escrito concedi- para referência futura;
da por autoridade competente, que habilita o agente público esta- XXII - serviço ou atendimento presencial: aquele prestado na
dual no efetivo exercício de cargo, função, emprego ou atividade presença física do cidadão, principal beneficiário ou interessado
pública a ter acesso a documentos, dados e informações sigilosas; no serviço;

Didatismo e Conhecimento 297


NOÇÕES DE DIREITO
XXIII - serviço ou atendimento eletrônico: aquele prestado Parágrafo único - As propostas de planos de classificação e de
remotamente ou à distância, utilizando meios eletrônicos de co- tabelas de temporalidade de documentos deverão ser apreciadas
municação; pelos órgãos jurídicos dos órgãos e entidades e encaminhadas à
XXIV - tabela de documentos, dados e informações sigilosas Unidade do Arquivo Público do Estado para aprovação, antes de
e pessoais: relação exaustiva de documentos, dados e informações sua oficialização.
com quaisquer restrição de acesso, com a indicação do grau de
sigilo, decorrente de estudos e pesquisas promovidos pelas Comis- Artigo 7º - Ficam criados, em todos os órgãos e entidades da
sões de Avaliação de Documentos e Acesso - CADA, e publicada Administração Pública Estadual, os Serviços de Informações ao
pelas autoridades máximas dos órgãos e entidades; Cidadão - SIC, a que se refere o artigo 5º, inciso IV, deste decreto,
XXV - tratamento da informação: conjunto de ações refe- diretamente subordinados aos seus titulares, em local com condi-
rentes à produção, recepção, classificação, utilização, acesso, re- ções apropriadas, infraestrutura tecnológica e equipe capacitada
produção, transporte, transmissão, distribuição, arquivamento, para:
armazenamento, eliminação, avaliação, destinação ou controle da I - realizar atendimento presencial e/ou eletrônico na sede e
informação. nas unidades subordinadas, prestando orientação ao público sobre
os direitos do requerente, o funcionamento do Serviço de Infor-
mações ao Cidadão - SIC, a tramitação de documentos, bem como
CAPÍTULO II
sobre os serviços prestados pelas respectivas unidades do órgão
Do Acesso a Documentos, Dados e Informações
ou entidade;
SEÇÃO I II - protocolar documentos e requerimentos de acesso a in-
Disposições Gerais formações, bem como encaminhar os pedidos de informação aos
setores produtores ou detentores de documentos, dados e infor-
Artigo 4º - É dever dos órgãos e entidades da Administração mações;
Pública Estadual: III - controlar o cumprimento de prazos por parte dos seto-
I - promover a gestão transparente de documentos, dados e res produtores ou detentores de documentos, dados e informações,
informações, assegurando sua disponibilidade, autenticidade e in- previstos no artigo 15 deste decreto;
tegridade, para garantir o pleno direito de acesso; IV - realizar o serviço de busca e fornecimento de documen-
II - divulgar documentos, dados e informações de interesse tos, dados e informações sob custódia do respectivo órgão ou en-
coletivo ou geral, sob sua custódia, independentemente de solici- tidade, ou fornecer ao requerente orientação sobre o local onde
tações; encontrá-los.
III - proteger os documentos, dados e informações sigilosas e § 1º - As autoridades máximas dos órgãos e entidades da Ad-
pessoais, por meio de critérios técnicos e objetivos, o menos res- ministração Pública Estadual deverão designar, no prazo de 30
tritivo possível. (trinta) dias, os responsáveis pelos Serviços de Informações ao
Cidadão - SIC.
SEÇÃO II § 2º - Para o pleno desempenho de suas atribuições, os Servi-
Da Gestão de Documentos, Dados e Informações ços de Informações ao Cidadão - SIC deverão:
1. manter intercâmbio permanente com os serviços de proto-
Artigo 5º - A Unidade do Arquivo Público do Estado, na con- colo e arquivo;
dição de órgão central do Sistema de Arquivos do Estado de São 2. buscar informações junto aos gestores de sistemas informa-
Paulo - SAESP, é a responsável pela formulação e implementação tizados e bases de dados, inclusive de portais e sítios institucionais;
da política estadual de arquivos e gestão de documentos, a que se 3. atuar de forma integrada com as Ouvidorias, instituídas
refere o artigo 2º, inciso II deste decreto, e deverá propor normas, pela Lei estadual nº 10.294, de 20 de abril de 1999, e organizadas
procedimentos e requisitos técnicos complementares, visando o pelo Decreto nº 44.074, de 1º de julho de 1999.
§ 3º - Os Serviços de Informações ao Cidadão - SIC, inde-
tratamento da informação.
pendentemente do meio utilizado, deverão ser identificados com
Parágrafo único - Integram a política estadual de arquivos e
ampla visibilidade.
gestão de documentos:
1. os serviços de protocolo e arquivo dos órgãos e entidades; Artigo 8º - A Casa Civil deverá providenciar a contratação de
2. as Comissões de Avaliação de Documentos e Acesso - serviços para o desenvolvimento de “Sistema Integrado de Infor-
CADA, a que se refere o artigo 11 deste decreto; mações ao Cidadão”, capaz de interoperar com o SPdoc, a ser utili-
3. o Sistema Informatizado Unificado de Gestão Arquivística zado por todos os órgãos e entidades nos seus respectivos Serviços
de Documentos e Informações - SPdoc; de Informações ao Cidadão - SIC.
4. os Serviços de Informações ao Cidadão - SIC.
Artigo 9º - A Unidade do Arquivo Público do Estado, da Casa
Artigo 6º - Para garantir efetividade à política de arquivos e Civil, deverá adotar as providências necessárias para a organiza-
gestão de documentos, os órgãos e entidades da Administração Pú- ção dos serviços da Central de Atendimento ao Cidadão - CAC,
blica Estadual deverão: instituída pelo Decreto nº 54.276, de 27 de abril de 2009, com a
I - providenciar a elaboração de planos de classificação e ta- finalidade de:
belas de temporalidade de documentos de suas atividades-fim, a I - coordenar a integração sistêmica dos Serviços de Informa-
que se referem, respectivamente, os artigos 10 a 18 e 19 a 23, do ções ao Cidadão - SIC, instituídos nos órgãos e entidades;
Decreto nº 48.897, de 27 de agosto de 2004; II - realizar a consolidação e sistematização de dados a que
II - cadastrar todos os seus documentos no Sistema Informa- se refere o artigo 26 deste decreto, bem como a elaboração de es-
tizado Unificado de Gestão Arquivística de Documentos e Infor- tatísticas sobre as demandas de consulta e os perfis de usuários,
mações - SPdoc. visando o aprimoramento dos serviços.

Didatismo e Conhecimento 298


NOÇÕES DE DIREITO
Parágrafo único - Os Serviços de Informações ao Cidadão - SEÇÃO III
SIC deverão fornecer, periodicamente, à Central de Atendimento Das Comissões de Avaliação de Documentos e Acesso
ao Cidadão - CAC, dados atualizados dos atendimentos prestados.
Artigo 11 - As Comissões de Avaliação de Documentos de
Artigo 10 - O acesso aos documentos, dados e informações Arquivo, a que se referem os Decretos nº 29.838, de 18 de abril
compreende, entre outros, os direitos de obter: de 1989, e nº 48.897, de 27 de agosto de 2004, instituídas nos
I - orientação sobre os procedimentos para a consecução de órgãos e entidades da Administração Pública Estadual, passarão a
acesso, bem como sobre o local onde poderá ser encontrado ou ser denominadas Comissões de Avaliação de Documentos e Aces-
obtido o documento, dado ou informação almejada; so - CADA.
II - dado ou informação contida em registros ou documentos, § 1º - As Comissões de Avaliação de Documentos e Acesso -
produzidos ou acumulados por seus órgãos ou entidades, recolhi- CADA deverão ser vinculadas ao Gabinete da autoridade máxima
dos ou não a arquivos públicos; do órgão ou entidade.
III - documento, dado ou informação produzida ou custodia- § 2º - As Comissões de Avaliação de Documentos e Acesso -
da por pessoa física ou entidade privada decorrente de qualquer CADA serão integradas por servidores de nível superior das áreas
vínculo com seus órgãos ou entidades, mesmo que esse vínculo já jurídica, de administração geral, de administração financeira, de
tenha cessado; arquivo e protocolo, de tecnologia da informação e por represen-
IV - dado ou informação primária, íntegra, autêntica e atua- tantes das áreas específicas da documentação a ser analisada.
lizada; § 3º - As Comissões de Avaliação de Documentos e Acesso
V - documento, dado ou informação sobre atividades exerci- - CADA serão compostas por 5 (cinco), 7 (sete) ou 9 (nove) mem-
das pelos órgãos e entidades, inclusive as relativas à sua política, bros, designados pela autoridade máxima do órgão ou entidade.
organização e serviços;
VI - documento, dado ou informação pertinente à administra- Artigo 12 - São atribuições das Comissões de Avaliação de
ção do patrimônio público, utilização de recursos públicos, licita- Documentos e Acesso - CADA, além daquelas previstas para as
ção, contratos administrativos; Comissões de Avaliação de Documentos de Arquivo nos Decretos
VII - documento, dado ou informação relativa: nº 29.838, de 18 de abril de 1989, e nº 48.897, de 27 de agosto de
a) à implementação, acompanhamento e resultados dos pro- 2004:
gramas, projetos e ações dos órgãos e entidades públicas, bem I - orientar a gestão transparente dos documentos, dados e in-
como metas e indicadores propostos; formações do órgão ou entidade, visando assegurar o amplo acesso
b) ao resultado de inspeções, auditorias, prestações e tomadas e divulgação;
de contas realizadas pelos órgãos de controle interno e externo, II - realizar estudos, sob a orientação técnica da Unidade do
incluindo prestações de contas relativas a exercícios anteriores. Arquivo Público do Estado, órgão central do Sistema de Arquivos
§ 1º - O acesso aos documentos, dados e informações previsto do Estado de São Paulo - SAESP, visando à identificação e elabo-
no “caput” deste artigo não compreende as informações referentes ração de tabela de documentos, dados e informações sigilosas e
a projetos de pesquisa e desenvolvimento científicos ou tecnoló- pessoais, de seu órgão ou entidade;
gicos cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e III - encaminhar à autoridade máxima do órgão ou entidade
do Estado. a tabela mencionada no inciso II deste artigo, bem como as nor-
§ 2º - Quando não for autorizado acesso integral ao documen- mas e procedimentos visando à proteção de documentos, dados e
to, dado ou informação por ser ela parcialmente sigilosa, é assegu- informações sigilosas e pessoais, para oitiva do órgão jurídico e
rado o acesso à parte não sigilosa por meio de certidão, extrato ou posterior publicação;
cópia com ocultação da parte sob sigilo. IV - orientar o órgão ou entidade sobre a correta aplicação dos
§ 3º - O direito de acesso aos documentos, aos dados ou às in- critérios de restrição de acesso constantes das tabelas de documen-
formações neles contidas utilizados como fundamento da tomada tos, dados e informações sigilosas e pessoais;
de decisão e do ato administrativo será assegurado com a edição V - comunicar à Unidade do Arquivo Público do Estado a pu-
do ato decisório respectivo. blicação de tabela de documentos, dados e informações sigilosas e
§ 4º - A negativa de acesso aos documentos, dados e informa- pessoais, e suas eventuais alterações, para consolidação de dados,
ções objeto de pedido formulado aos órgãos e entidades referidas padronização de critérios e realização de estudos técnicos na área;
no artigo 1º deste decreto, quando não fundamentada, sujeitará o VI - propor à autoridade máxima do órgão ou entidade a reno-
responsável a medidas disciplinares, nos termos do artigo 32 da vação, alteração de prazos, reclassificação ou desclassificação de
Lei federal nº 12.527, de 18 de novembro de 2011. documentos, dados e informações sigilosas;
§ 5º - Informado do extravio da informação solicitada, poderá VII - manifestar-se sobre os prazos mínimos de restrição de
o interessado requerer à autoridade competente a imediata instau- acesso aos documentos, dados ou informações pessoais;
ração de apuração preliminar para investigar o desaparecimento da VIII - atuar como instância consultiva da autoridade máxima
respectiva documentação. do órgão ou entidade, sempre que provocada, sobre os recursos in-
§ 6º - Verificada a hipótese prevista no § 5º deste artigo, o res- terpostos relativos às solicitações de acesso a documentos, dados e
ponsável pela guarda da informação extraviada deverá, no prazo informações não atendidas ou indeferidas, nos termos do parágrafo
de 10 (dez) dias, justificar o fato e indicar testemunhas que com- único do artigo 19 deste decreto;
provem sua alegação. IX - informar à autoridade máxima do órgão ou entidade a
previsão de necessidades orçamentárias, bem como encaminhar
relatórios periódicos sobre o andamento dos trabalhos.

Didatismo e Conhecimento 299


NOÇÕES DE DIREITO
Parágrafo único - Para o perfeito cumprimento de suas atribui- Artigo 16 - O serviço de busca e fornecimento da informação
ções as Comissões de Avaliação de Documentos e Acesso - CADA é gratuito, salvo nas hipóteses de reprodução de documentos pelo
poderão convocar servidores que possam contribuir com seus co- órgão ou entidade pública consultada, situação em que poderá ser
nhecimentos e experiências, bem como constituir subcomissões e cobrado exclusivamente o valor necessário ao ressarcimento do
grupos de trabalho. custo dos serviços e dos materiais utilizados, a ser fixado em ato
normativo pelo Chefe do Executivo.
Artigo 13 - À Unidade do Arquivo Público do Estado, órgão Parágrafo único - Estará isento de ressarcir os custos previstos
central do Sistema de Arquivos do Estado de São Paulo - SAESP, no “caput” deste artigo todo aquele cuja situação econômica não
responsável por propor a política de acesso aos documentos públi- lhe permita fazê-lo sem prejuízo do sustento próprio ou da família,
cos, nos termos do artigo 6º, inciso XII, do Decreto nº 22.789, de declarada nos termos da Lei federal nº 7.115, de 29 de agosto de
19 de outubro de 1984, caberá o reexame, a qualquer tempo, das 1983.
tabelas de documentos, dados e informações sigilosas e pessoais
dos órgãos e entidades da Administração Pública Estadual. Artigo 17 - Quando se tratar de acesso à informação contida
em documento cuja manipulação possa prejudicar sua integridade,
SEÇÃO IV deverá ser oferecida a consulta de cópia, com certificação de que
Do Pedido esta confere com o original.
Parágrafo único - Na impossibilidade de obtenção de cópias,
Artigo 14 - O pedido de informações deverá ser apresentado o interessado poderá solicitar que, a suas expensas e sob Grupo
ao Serviço de Informações ao Cidadão - SIC do órgão ou entidade, Técnico supervisão de servidor público, a reprodução seja feita por
por qualquer meio legítimo que contenha a identificação do inte- outro meio que não ponha em risco a conservação do documento
ressado (nome, número de documento e endereço) e a especifica- original.
ção da informação requerida.
Artigo 18 - É direito do interessado obter o inteiro teor de
Artigo 15 - O Serviço de Informações ao Cidadão - SIC do ór- decisão de negativa de acesso, por certidão ou cópia.
gão ou entidade responsável pelas informações solicitadas deverá
conceder o acesso imediato àquelas disponíveis. SEÇÃO V
§ 1º - Na impossibilidade de conceder o acesso imediato, o Dos Recursos
Serviço de Informações ao Cidadão - SIC do órgão ou entidade,
Artigo 19 - No caso de indeferimento de acesso aos documen-
em prazo não superior a 20 (vinte) dias, deverá:
tos, dados e informações ou às razões da negativa do acesso, bem
1. comunicar a data, local e modo para se realizar a consulta,
como o não atendimento do pedido, poderá o interessado interpor
efetuar a reprodução ou obter a certidão;
recurso contra a decisão no prazo de 10 (dez) dias a contar de sua
2. indicar as razões de fato ou de direito da recusa, total ou
ciência.
parcial, do acesso pretendido;
Parágrafo único - O recurso será dirigido à apreciação de pelo
3. comunicar que não possui a informação, indicar, se for do menos uma autoridade hierarquicamente superior à que exarou a
seu conhecimento, o órgão ou a entidade que a detém, ou, ainda, decisão impugnada, que deverá se manifestar, após eventual con-
remeter o requerimento a esse órgão ou entidade, cientificando o sulta à Comissão de Avaliação de Documentos e Acesso - CADA,
interessado da remessa de seu pedido de informação. a que se referem os artigos 11 e 12 deste decreto, e ao órgão jurídi-
§ 2º - O prazo referido no § 1º deste artigo poderá ser pror- co, no prazo de 5 (cinco) dias.
rogado por mais 10 (dez) dias, mediante justificativa expressa, da
qual será cientificado o interessado. Artigo 20 - Negado o acesso ao documento, dado e informa-
§ 3º - Sem prejuízo da segurança e da proteção das informa- ção pelos órgãos ou entidades da Administração Pública Estadual,
ções e do cumprimento da legislação aplicável, o Serviço de In- o interessado poderá recorrer à Corregedoria Geral da Administra-
formações ao Cidadão - SIC do órgão ou entidade poderá oferecer ção, que deliberará no prazo de 5 (cinco) dias se:
meios para que o próprio interessado possa pesquisar a informação I - o acesso ao documento, dado ou informação não classifica-
de que necessitar. da como sigilosa for negado;
§ 4º - Quando não for autorizado o acesso por se tratar de II - a decisão de negativa de acesso ao documento, dado ou
informação total ou parcialmente sigilosa, o interessado deverá ser informação, total ou parcialmente classificada como sigilosa, não
informado sobre a possibilidade de recurso, prazos e condições indicar a autoridade classificadora ou a hierarquicamente superior
para sua interposição, devendo, ainda, ser-lhe indicada a autorida- a quem possa ser dirigido o pedido de acesso ou desclassificação;
de competente para sua apreciação. III - os procedimentos de classificação de sigilo estabelecidos
§ 5º - A informação armazenada em formato digital será forne- na Lei federal nº 12.527, de 18 de novembro de 2011, não tiverem
cida nesse formato, caso haja anuência do interessado. sido observados;
§ 6º - Caso a informação solicitada esteja disponível ao públi- IV - estiverem sendo descumpridos prazos ou outros proce-
co em formato impresso, eletrônico ou em qualquer outro meio de dimentos previstos na Lei federal nº 12.527, de 18 de novembro
acesso universal, serão informados ao interessado, por escrito, o de 2011.
lugar e a forma pela qual se poderá consultar, obter ou reproduzir § 1º - O recurso previsto neste artigo somente poderá ser di-
a referida informação, procedimento esse que desonerará o órgão rigido à Corregedoria Geral da Administração depois de submeti-
ou entidade pública da obrigação de seu fornecimento direto, salvo do à apreciação de pelo menos uma autoridade hierarquicamente
se o interessado declarar não dispor de meios para realizar por si superior àquela que exarou a decisão impugnada, nos termos do
mesmo tais procedimentos. parágrafo único do artigo 19 deste decreto.

Didatismo e Conhecimento 300


NOÇÕES DE DIREITO
§ 2º - Verificada a procedência das razões do recurso, a Corre- 6. manter atualizadas as informações disponíveis para acesso;
gedoria Geral da Administração determinará ao órgão ou entidade 7. indicar local e instruções que permitam ao interessado co-
que adote as providências necessárias para dar cumprimento ao municar-se, por via eletrônica ou telefônica, com o órgão ou enti-
disposto na Lei federal nº 12.527, de 18 de novembro de 2011, e dade detentora do sítio;
neste decreto. 8. adotar as medidas necessárias para garantir a acessibilidade
de conteúdo para pessoas com deficiência, nos termos do artigo
Artigo 21 - Negado o acesso ao documento, dado ou infor- 17 da Lei federal nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000, artigo
mação pela Corregedoria Geral da Administração, o requerente 9° da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência,
poderá, no prazo de 10 (dez) dias a contar da sua ciência, interpor aprovada pelo Decreto Legislativo nº 186, de 9 de julho de 2008, e
recurso à Comissão Estadual de Acesso à Informação, de que trata da Lei estadual n° 12.907, de 15 de abril de 2008.
o artigo 76 deste decreto.
Artigo 24 - Os documentos que contenham informações que
Artigo 22 - Aplica-se, no que couber, a Lei estadual nº 10.177, se enquadrem nos casos referidos no artigo anterior deverão estar
de 30 de dezembro de 1998, ao procedimento de que trata este cadastrados no Sistema Informatizado Unificado de Gestão Arqui-
Capítulo.
vista de Documentos e Informações - SPdoc.
CAPÍTULO III
Artigo 25 - A autoridade máxima de cada órgão ou entidade
Da Divulgação de Documentos, Dados e Informações
estadual publicará, anualmente, em sítio próprio, bem como no
Artigo 23 - É dever dos órgãos e entidades da Administração Portal da Transparência e do Governo Aberto:
Pública Estadual promover, independentemente de requerimentos, I - rol de documentos, dados e informações que tenham sido
a divulgação em local de fácil acesso, no âmbito de suas compe- desclassificadas nos últimos12 (doze) meses;
tências, de documentos, dados e informações de interesse coletivo II - rol de documentos classificados em cada grau de sigilo,
ou geral por eles produzidas ou custodiadas. com identificação para referência futura;
§ 1º - Na divulgação das informações a que se refere o “caput” III - relatório estatístico contendo a quantidade de pedidos de
deste artigo, deverão constar, no mínimo: informação recebidos, atendidos e indeferidos, bem como infor-
1. registro das competências e estrutura organizacional, en- mações genéricas sobre os solicitantes.
dereços e telefones das respectivas unidades e horários de atendi- Parágrafo único - Os órgãos e entidades da Administração
mento ao público; Pública Estadual deverão manter exemplar da publicação prevista
2. registros de quaisquer repasses ou transferências de recur- no “caput” deste artigo para consulta pública em suas sedes, bem
sos financeiros; como o extrato com o rol de documentos, dados e informações
3. registros de receitas e despesas; classificadas, acompanhadas da data, do grau de sigilo e dos fun-
4. informações concernentes a procedimentos licitatórios, in- damentos da classificação.
clusive os respectivos editais e resultados, bem como a todos os
contratos celebrados; Artigo 26 - Os órgãos e entidades da Administração Pública
5. relatórios, estudos e pesquisas; Estadual deverão prestar no prazo de 60 (sessenta) dias, para com-
6. dados gerais para o acompanhamento da execução orça- por o “Catálogo de Sistemas e Bases de Dados da Administração
mentária, de programas, ações, projetos e obras de órgãos e enti- Pública do Estado de São Paulo - CSBD”, as seguintes informa-
dades; ções:
7. respostas a perguntas mais frequentes da sociedade. I - tamanho e descrição do conteúdo das bases de dados;
§ 2º - Para o cumprimento do disposto no “caput” deste artigo, II - metadados;
os órgãos e entidades estaduais deverão utilizar todos os meios III - dicionário de dados com detalhamento de conteúdo;
e instrumentos legítimos de que dispuserem, sendo obrigatória a IV - arquitetura da base de dados;
divulgação em sítios oficiais da rede mundial de computadores
V - periodicidade de atualização;
(internet).
VI - software da base de dados;
§ 3º - Os sítios de que trata o § 2º deste artigo deverão atender,
VII - existência ou não de sistema de consulta à base de dados
entre outros, aos seguintes requisitos:
e sua linguagem de programação;
1. conter ferramenta de pesquisa de conteúdo que permita o
acesso à informação de forma objetiva, transparente, clara e em VIII - formas de consulta, acesso e obtenção à base de dados.
linguagem de fácil compreensão; § 1º - Os órgãos e entidades da Administração Pública Es-
2. possibilitar a gravação de relatórios em diversos formatos tadual deverão indicar o setor responsável pelo fornecimento e
eletrônicos, inclusive abertos e não proprietários, tais como plani- atualização permanente de dados e informações que compõem o
lhas e texto, de modo a facilitar a análise das informações; “Catálogo de Sistemas e Bases de Dados da Administração Públi-
3. possibilitar o acesso automatizado por sistemas externos ca do Estado de São Paulo - CSBD”.
em formatos abertos, estruturados e legíveis por máquina; § 2º - O desenvolvimento do “Catálogo de Sistemas e Ba-
4. divulgar em detalhes os formatos utilizados para estrutura- ses de Dados da Administração Pública do Estado de São Paulo
ção da informação; - CSBD”, coleta de informações, manutenção e atualização per-
5. garantir a autenticidade e a integridade das informações dis- manente ficará a cargo da Fundação Sistema Estadual de Análise
poníveis para acesso; de Dados - SEADE.

Didatismo e Conhecimento 301


NOÇÕES DE DIREITO
§ 3º - O “Catálogo de Sistemas e Bases de Dados da Admi- IV - oferecer elevado risco à estabilidade financeira, econômi-
nistração Pública do Estado de São Paulo - CSBD”, bem como as ca ou monetária do País;
bases de dados da Administração Pública Estadual deverão estar V - prejudicar ou causar risco a planos ou operações estratégi-
disponíveis no Portal do Governo Aberto e no Portal da Transpa- cos das Forças Armadas;
rência, nos termos dos Decretos nº 57.500, de 8 de novembro de VI - prejudicar ou causar risco a projetos de pesquisa e de-
2011, e nº 55.559, de 12 de março de 2010, com todos os elemen- senvolvimento científico ou tecnológico, assim como a sistemas,
tos necessários para permitir sua utilização por terceiros, como a bens, instalações ou áreas de interesse estratégico nacional;
arquitetura da base e o dicionário de dados. VII - pôr em risco a segurança de instituições ou de altas auto-
ridades nacionais ou estrangeiras e seus familiares;
CAPÍTULO IV VIII - comprometer atividades de inteligência, bem como de
Das Restrições de Acesso a Documentos, Dados e Informações investigação ou fiscalização em andamento, relacionadas com a
SEÇÃO I prevenção ou repressão de infrações.
Disposições Gerais
Artigo 31 - Os documentos, dados e informações sigilosas em
Artigo 27 - São consideradas passíveis de restrição de acesso, poder de órgãos e entidades da Administração Pública Estadual,
no âmbito da Administração Pública Estadual, duas categorias de observado o seu teor e em razão de sua imprescindibilidade à se-
documentos, dados e informações: gurança da sociedade ou do Estado, poderão ser classificados nos
I - Sigilosos: aqueles submetidos temporariamente à restrição seguintes graus:
de acesso público em razão de sua imprescindibilidade para a se- I - ultrassecreto;
gurança da sociedade e do Estado; II - secreto;
II - Pessoais: aqueles relacionados à pessoa natural identifi- III - reservado.
cada ou identificável, relativas à intimidade, vida privada, honra § 1º - Os prazos máximos de restrição de acesso aos docu-
e imagem das pessoas, bem como às liberdades e garantias indi- mentos, dados e informações, conforme a classificação prevista
viduais. no “caput” e incisos deste artigo, vigoram a partir da data de sua
Parágrafo único - Cabe aos órgãos e entidades da Administra- produção e são os seguintes:
ção Pública Estadual, por meio de suas respectivas Comissões de 1. ultrassecreto: até 25 (vinte e cinco) anos;
Avaliação de Documentos e Acesso - CADA, a que se referem os 2. secreto: até 15 (quinze) anos;
artigos 11 e 12 deste decreto, promover os estudos necessários à
3. reservado: até 5 (cinco) anos.
elaboração de tabela com a identificação de documentos, dados e
§ 2º - Os documentos, dados e informações que puderem
informações sigilosas e pessoais, visando assegurar a sua proteção.
colocar em risco a segurança do Governador e Vice-Governador
do Estado e respectivos cônjuges e filhos (as) serão classificados
Artigo 28 - Não poderá ser negado acesso à informação neces-
como reservados e ficarão sob sigilo até o término do mandato em
sária à tutela judicial ou administrativa de direitos fundamentais.
exercício ou do último mandato, em caso de reeleição.
Parágrafo único - Os documentos, dados e informações que
§ 3º - Alternativamente aos prazos previstos no § 1º deste arti-
versem sobre condutas que impliquem violação dos direitos hu-
go, poderá ser estabelecida como termo final de restrição de acesso
manos praticada por agentes públicos ou a mando de autoridades
públicas não poderão ser objeto de restrição de acesso. a ocorrência de determinado evento, desde que este ocorra antes do
transcurso do prazo máximo de classificação.
Artigo 29 - O disposto neste decreto não exclui as demais hi- § 4º - Transcorrido o prazo de classificação ou consumado o
póteses legais de sigilo e de segredo de justiça nem as hipóteses evento que defina o seu termo final, o documento, dado ou infor-
de segredo industrial decorrentes da exploração direta de atividade mação tornar-se-á, automaticamente, de acesso público.
econômica pelo Estado ou por pessoa física ou entidade privada § 5º - Para a classificação do documento, dado ou informação
que tenha qualquer vínculo com o poder público. em determinado grau de sigilo, deverá ser observado o interesse
público da informação, e utilizado o critério menos restritivo pos-
SEÇÃO II sível, considerados:
Da Classificação, Reclassificação e Desclassificação de Docu- 1. a gravidade do risco ou dano à segurança da sociedade e
mentos, Dados e Informações Sigilosas do Estado;
2. o prazo máximo de restrição de acesso ou o evento que
Artigo 30 - São considerados imprescindíveis à segurança da defina seu termo final.
sociedade ou do Estado e, portanto, passíveis de classificação de
sigilo, os documentos, dados e informações cuja divulgação ou Artigo 32 - A classificação de sigilo de documentos, dados e
acesso irrestrito possam: informações no âmbito da Administração Pública Estadual deverá
I - pôr em risco a defesa e a soberania nacionais ou a integri- ser realizada mediante:
dade do território nacional; I - publicação oficial, pela autoridade máxima do órgão ou
II - prejudicar ou pôr em risco a condução de negociações ou entidade, de tabela de documentos, dados e informações sigilosas
as relações internacionais do País, ou as que tenham sido forneci- e pessoais, que em razão de seu teor e de sua imprescindibilidade
das em caráter sigiloso por outros Estados e organismos interna- à segurança da sociedade e do Estado ou à proteção da intimidade,
cionais; da vida privada, da honra e imagem das pessoas, sejam passíveis
III - pôr em risco a vida, a segurança ou a saúde da população; de restrição de acesso, a partir do momento de sua produção,

Didatismo e Conhecimento 302


NOÇÕES DE DIREITO
II - análise do caso concreto pela autoridade responsável ou § 3º - Na hipótese de redução do prazo de sigilo da informa-
agente público competente, e formalização da decisão de classifi- ção, o novo prazo de restrição manterá como termo inicial a data
cação, reclassificação ou desclassificação de sigilo, bem como de da sua produção.
restrição de acesso à informação pessoal, que conterá, no mínimo,
os seguintes elementos: SEÇÃO III
a) assunto sobre o qual versa a informação; Da Proteção de Documentos, Dados e Informações Pessoais
b) fundamento da classificação, reclassificação ou desclassi-
ficação de sigilo, observados os critérios estabelecidos no artigo Artigo 35 - O tratamento de documentos, dados e informações
31 deste decreto, bem como da restrição de acesso à informação
pessoais deve ser feito de forma transparente e com respeito à in-
pessoal;
c) indicação do prazo de sigilo, contado em anos, meses ou timidade, vida privada, honra e imagem das pessoas, bem como às
dias, ou do evento que defina o seu termo final, conforme limites liberdades e garantias individuais.
previstos no artigo 31 deste decreto, bem como a indicação do pra- § 1º - Os documentos, dados e informações pessoais, a que
zo mínimo de restrição de acesso à informação pessoal; se refere este artigo, relativas à intimidade, vida privada, honra e
d) identificação da autoridade que a classificou, reclassificou imagem:
ou desclassificou. 1. terão seu acesso restrito, independentemente de classifica-
Parágrafo único - O prazo de restrição de acesso contar-se-á ção de sigilo e pelo prazo máximo de 100 (cem) anos a contar da
da data da produção do documento, dado ou informação. sua data de produção, a agentes públicos legalmente autorizados e
à pessoa a que elas se referirem;
Artigo 33 - A classificação de sigilo de documentos, dados e 2. poderão ter autorizada sua divulgação ou acesso por tercei-
informações no âmbito da Administração Pública Estadual, a que ros diante de previsão legal ou consentimento expresso da pessoa
se refere o inciso II do artigo 32 deste decreto, é de competência: a que elas se referirem.
I - no grau de ultrassecreto, das seguintes autoridades:
§ 2º - Aquele que obtiver acesso às informações de que trata
a) Governador do Estado;
b) Vice-Governador do Estado; este artigo será responsabilizado por seu uso indevido.
c) Secretários de Estado e Procurador Geral do Estado; § 3º - O consentimento referido no item 2 do § 1º deste artigo
d) Delegado Geral de Polícia e Comandante Geral da Polícia não será exigido quando as informações forem necessárias:
Militar; 1. à prevenção e diagnóstico médico, quando a pessoa estiver
II - no grau de secreto, das autoridades referidas no inciso I física ou legalmente incapaz, e para utilização única e exclusiva-
deste artigo, das autoridades máximas de autarquias, fundações ou mente para o tratamento médico;
empresas públicas e sociedades de economia mista; 2. à realização de estatísticas e pesquisas científicas de evi-
III - no grau de reservado, das autoridades referidas nos in- dente interesse público ou geral, previstos em lei, sendo vedada a
cisos I e II deste artigo e das que exerçam funções de direção, identificação da pessoa a que as informações se referirem;
comando ou chefia, ou de hierarquia equivalente, de acordo com 3. ao cumprimento de ordem judicial;
regulamentação específica de cada órgão ou entidade, observado o 4. à defesa de direitos humanos;
disposto neste decreto. 5. à proteção do interesse público e geral preponderante.
§ 1º - A competência prevista nos incisos I e II deste artigo, no
§ 4º - A restrição de acesso aos documentos, dados e infor-
que se refere à classificação como ultrassecreta e secreta, poderá
ser delegada pela autoridade responsável a agente público, vedada mações relativos à vida privada, honra e imagem de pessoa não
a subdelegação. poderá ser invocada com o intuito de prejudicar processo de apu-
§ 2º - A classificação de documentos, dados e informações no ração de irregularidades em que o titular das informações estiver
grau de sigilo ultrassecreto pelas autoridades previstas na alínea envolvido, bem como em ações voltadas para a recuperação de
“d” do inciso I deste artigo deverá ser ratificada pelo Secretário da fatos históricos de maior relevância.
Segurança Pública, no prazo de 10 (dez) dias. § 5º - Os documentos, dados e informações identificados
§ 3º - A autoridade ou outro agente público que classificar do- como pessoais somente poderão ser fornecidos pessoalmente, com
cumento, dado e informação como ultrassecreto deverá encami- a identificação do interessado.
nhar a decisão de que trata o inciso II do artigo 32 deste decreto,
à Comissão Estadual de Acesso à Informação, a que se refere o SEÇÃO IV
artigo 76 deste diploma legal, no prazo previsto em regulamento. Da Proteção e do Controle de Documentos, Dados e Informa-
ções Sigilosos
Artigo 34 - A classificação de documentos, dados e informa-
ções será reavaliada pela autoridade classificadora ou por autorida-
de hierarquicamente superior, mediante provocação ou de ofício, Artigo 36 - É dever da Administração Pública Estadual con-
nos termos e prazos previstos em regulamento, com vistas à sua trolar o acesso e a divulgação de documentos, dados e informações
desclassificação ou à redução do prazo de sigilo, observado o dis- sigilosos sob a custódia de seus órgãos e entidades, assegurando a
posto no artigo 31 deste decreto. sua proteção contra perda, alteração indevida, acesso, transmissão
§ 1º - O regulamento a que se refere o “caput” deste artigo e divulgação não autorizados.
deverá considerar as peculiaridades das informações produzidas § 1º - O acesso, a divulgação e o tratamento de documentos,
no exterior por autoridades ou agentes públicos. dados e informações classificados como sigilosos ficarão restritos
§ 2º - Na reavaliação a que se refere o “caput” deste artigo a pessoas que tenham necessidade de conhecê-la e que sejam devi-
deverão ser examinadas a permanência dos motivos do sigilo e a damente credenciadas na forma dos artigos 62 a 65 deste decreto,
possibilidade de danos decorrentes do acesso ou da divulgação da sem prejuízo das atribuições dos agentes públicos autorizados por
informação. lei.

Didatismo e Conhecimento 303


NOÇÕES DE DIREITO
§ 2º - O acesso aos documentos, dados e informações classifi- Parágrafo único - A comunicação dos documentos de que trata
cados como sigilosos ou identificados como pessoais, cria a obri- este artigo poderá ser feita por outros meios, desde que sejam usa-
gação para aquele que as obteve de resguardar restrição de acesso. dos recursos de criptografia compatíveis com o grau de sigilo do
documento, conforme previsto nos artigos 51 a 56 deste decreto.
Artigo 37 - As autoridades públicas adotarão as providências
necessárias para que o pessoal a elas subordinado hierarquicamen- Artigo 43 - Cabe aos agentes públicos credenciados responsá-
te conheça as normas e observe as medidas e procedimentos de veis pelo recebimento de documentos sigilosos:
segurança para tratamento de documentos, dados e informações I - verificar a integridade na correspondência recebida e re-
sigilosos e pessoais. gistrar indícios de violação ou de qualquer irregularidade, dando
Parágrafo único - A pessoa física ou entidade privada que, em ciência do fato ao seu superior hierárquico e ao destinatário, o qual
razão de qualquer vínculo com o poder público executar ativida- informará imediatamente ao remetente;
des de tratamento de documentos, dados e informações sigilosos II - proceder ao registro do documento e ao controle de sua
e pessoais adotará as providências necessárias para que seus em- tramitação.
pregados, prepostos ou representantes observem as medidas e pro-
cedimentos de segurança das informações resultantes da aplicação
Artigo 44 - O envelope interno só será aberto pelo destinatá-
deste decreto.
rio, seu representante autorizado ou autoridade competente hierar-
Artigo 38 - O acesso a documentos, dados e informações quicamente superior, observados os requisitos do artigo 62 deste
sigilosos, originários de outros órgãos ou instituições privadas, decreto.
custodiados para fins de instrução de procedimento, processo ad-
ministrativo ou judicial, somente poderá ser realizado para outra Artigo 45 - O destinatário de documento sigiloso comunicará
finalidade se autorizado pelo agente credenciado do respectivo ór- imediatamente ao remetente qualquer indício de violação ou adul-
gão, entidade ou instituição de origem. teração do documento.

SUBSEÇÃO I Artigo 46 - Os documentos, dados e informações sigilosos se-


Da Produção, do Registro, Expedição, Tramitação e Guarda rão mantidos em condições especiais de segurança, na forma do
regulamento interno de cada órgão ou entidade.
Artigo 39 - A produção, manuseio, consulta, transmissão, ma- Parágrafo único - Para a guarda de documentos secretos e ul-
nutenção e guarda de documentos, dados e informações sigilosos trassecretos deverá ser utilizado cofre forte ou estrutura que ofere-
observarão medidas especiais de segurança. ça segurança equivalente ou superior.

Artigo 40 - Os documentos sigilosos em sua expedição e tra- Artigo 47 - Os agentes públicos responsáveis pela guarda ou
mitação obedecerão às seguintes prescrições: custódia de documentos sigilosos os transmitirão a seus substitu-
I - deverão ser registrados no momento de sua produção, prio- tos, devidamente conferidos, quando da passagem ou transferência
ritariamente em sistema informatizado de gestão arquivística de de responsabilidade.
documentos;
II - serão acondicionados em envelopes duplos; SUBSEÇÃO II
III - no envelope externo não constará qualquer indicação do Da Marcação
grau de sigilo ou do teor do documento;
IV - o envelope interno será fechado, lacrado e expedido me- Artigo 48 - O grau de sigilo será indicado em todas as páginas
diante relação de remessa, que indicará, necessariamente, reme- do documento, nas capas e nas cópias, se houver, pelo produtor do
tente, destinatário, número de registro e o grau de sigilo do docu-
documento, dado ou informação, após classificação, ou pelo agen-
mento;
te classificador que juntar a ele documento ou informação com
V - para os documentos sigilosos digitais deverão ser observa-
alguma restrição de acesso.
das as prescrições referentes à criptografia.
§ 1º - Os documentos, dados ou informações cujas partes con-
Artigo 41 - A expedição, tramitação e entrega de documen- tenham diferentes níveis de restrição de acesso devem receber di-
to ultrassecreto e secreto, deverá ser efetuadas pessoalmente, por ferentes marcações, mas no seu todo, será tratado nos termos de
agente público credenciado, sendo vedada a sua postagem. seu grau de sigilo mais elevado.
Parágrafo único - A comunicação de informação de natureza § 2º - A marcação será feita em local que não comprometa a
ultrassecreta e secreta, de outra forma que não a prescrita no “ca- leitura e compreensão do conteúdo do documento e em local que
put” deste artigo, só será permitida excepcionalmente e em casos possibilite sua reprodução em eventuais cópias.
extremos, que requeiram tramitação e solução imediatas, em aten- § 3º - As páginas serão numeradas seguidamente, devendo a
dimento ao princípio da oportunidade e considerados os interesses juntada ser precedida de termo próprio consignando o número total
da segurança da sociedade e do Estado, utilizando-se o adequado de folhas acrescidas ao documento.
meio de criptografia. § 4º - A marcação deverá ser necessariamente datada.

Artigo 42 - A expedição de documento reservado poderá ser Artigo 49 - A marcação em extratos de documentos, esboços,
feita mediante serviço postal, com opção de registro, mensageiro desenhos, fotografias, imagens digitais, multimídia, negativos,
oficialmente designado, sistema de encomendas ou, quando for o diapositivos, mapas, cartas e fotocartas obedecerá ao prescrito no
caso, mala diplomática. artigo 48 deste decreto.

Didatismo e Conhecimento 304


NOÇÕES DE DIREITO
§ 1º - Em fotografias e reproduções de negativos sem legen- § 1º - A autoridade máxima do órgão ou entidade da Adminis-
da, a indicação do grau de sigilo será no verso e nas respectivas tração Pública Estadual responsável pela custódia de documentos,
embalagens. dados e informações sigilosos e detentor de material criptográfico
§ 2º - Em filmes cinematográficos, negativos em rolos con- designará um agente público responsável pela segurança cripto-
tínuos e microfilmes, a categoria e o grau de sigilo serão indica- gráfica, devidamente credenciado, que deverá observar os proce-
dos nas imagens de abertura e de encerramento de cada rolo, cuja dimentos previstos no “caput” deste artigo.
embalagem será tecnicamente segura e exibirá a classificação do § 2º - O agente público referido no § 1º deste artigo deverá
conteúdo. providenciar as condições de segurança necessárias ao resguardo
§ 3º - Os esboços, desenhos, fotografias, imagens digitais, do sigilo de documentos, dados e informações durante sua produ-
multimídia, negativos, diapositivos, mapas, cartas e fotocartas de ção, tramitação e guarda, em suporte magnético ou óptico, bem
como a segurança dos equipamentos e sistemas utilizados.
que trata esta seção, que não apresentem condições para a indica-
§ 3º - As cópias de segurança de documentos, dados e infor-
ção do grau de sigilo, serão guardados em embalagens que exibam
mações sigilosos deverão ser criptografados, observadas as dispo-
a classificação correspondente à classificação do conteúdo. sições dos §§ 1º e 2º deste artigo.
Artigo 50 - A marcação da reclassificação e da desclassifica- Artigo 55 - Os equipamentos e sistemas utilizados para a pro-
ção de documentos, dados ou informações sigilosos obedecerá às dução e guarda de documentos, dados e informações sigilosos po-
mesmas regras da marcação da classificação. derão estar ligados a redes de comunicação de dados desde que
Parágrafo único - Havendo mais de uma marcação, prevale- possuam sistemas de proteção e segurança adequados, nos termos
cerá a mais recente. das normas gerais baixadas pelo Comitê de Qualidade da Gestão
Pública - CQGP.
SUBSEÇÃO III
Da Criptografia Artigo 56 - Cabe ao órgão responsável pela criptografia de
documentos, dados e informações sigilosos providenciar a sua des-
Artigo 51 - Fica autorizado o uso de código, cifra ou sistema criptação após a sua desclassificação.
de criptografia no âmbito da Administração Pública Estadual e das
instituições de caráter público para assegurar o sigilo de documen- SUBSEÇÃO IV
tos, dados e informações. Da Preservação e Eliminação

Artigo 57 - Aplicam-se aos documentos, dados e informações


Artigo 52 - Para circularem fora de área ou instalação sigi-
sigilosos os prazos de guarda estabelecidos na Tabela de Tempo-
losa, os documentos, dados e informações sigilosos, produzidos ralidade de Documentos das Atividades-Meio, oficializada pelo
em suporte magnético ou óptico, deverão necessariamente estar Decreto nº 48.898, de 27 de agosto de 2004, e nas Tabelas de Tem-
criptografados. poralidade de Documentos das Atividades-Fim, oficializadas pelos
órgãos e entidades da Administração Pública Estadual, ressalvado
Artigo 53 - A aquisição e uso de aplicativos de criptografia no o disposto no artigo 59 deste decreto.
âmbito da Administração Pública Estadual sujeitar-se-ão às nor-
mas gerais baixadas pelo Comitê de Qualidade da Gestão Pública Artigo 58 - Os documentos, dados e informações sigilosos
- CQGP. considerados de guarda permanente, nos termos dos Decretos nº
Parágrafo único - Os programas, aplicativos, sistemas e equi- 48.897 e nº 48.898, ambos de 27 de agosto de 2004, somente po-
pamentos de criptografia são considerados sigilosos e deverão, derão ser recolhidos à Unidade do Arquivo Público do Estado após
antecipadamente, ser submetidos à certificação de conformidade. a sua desclassificação.
Parágrafo único - Excetuam-se do disposto no “caput” deste
Artigo 54 - Aplicam-se aos programas, aplicativos, sistemas e artigo, os documentos de guarda permanente de órgãos ou entida-
equipamentos de criptografia todas as medidas de segurança pre- des extintos ou que cessaram suas atividades, em conformidade
vistas neste decreto para os documentos, dados e informações sigi- com o artigo 7, § 2º, da Lei federal nº 8.159, de 8 de janeiro de
losos e também os seguintes procedimentos: 1991, e com o artigo 1º, § 2º, do Decreto nº 48.897, de 27 de agosto
de 2004.
I - realização de vistorias periódicas, com a finalidade de asse-
gurar uma perfeita execução das operações criptográficas;
Artigo 59 - Decorridos os prazos previstos nas tabelas de tem-
II - elaboração de inventários completos e atualizados do ma- poralidade de documentos, os documentos, dados e informações
terial de criptografia existente; sigilosos de guarda temporária somente poderão ser eliminados
III - escolha de sistemas criptográficos adequados a cada des- após 1 (um) ano, a contar da data de sua desclassificação, a fim de
tinatário, quando necessário; garantir o pleno acesso às informações neles contidas.
IV - comunicação, ao superior hierárquico ou à autoridade
competente, de qualquer anormalidade relativa ao sigilo, à invio- Artigo 60 - A eliminação de documentos dados ou informa-
labilidade, à integridade, à autenticidade, à legitimidade e à dis- ções sigilosos em suporte magnético ou ótico que não possuam
ponibilidade de documentos, dados e informações sigilosos crip- valor permanente deve ser feita, por método que sobrescreva as
tografados; informações armazenadas, após sua desclassificação.
V - identificação e registro de indícios de violação ou inter- Parágrafo único - Se não estiver ao alcance do órgão a elimi-
ceptação ou de irregularidades na transmissão ou recebimento de nação que se refere o “caput” deste artigo, deverá ser providencia-
documentos, dados e informações criptografados. da a destruição física dos dispositivos de armazenamento.

Didatismo e Conhecimento 305


NOÇÕES DE DIREITO
SUBSEÇÃO V § 2º - A reprodução e autenticação de cópias de documentos,
Da Publicidade de Atos Administrativos dados e informações sigilosos serão realizadas por agentes públi-
cos credenciados.
Artigo 61 - A publicação de atos administrativos referentes § 3º - Serão fornecidas certidões de documentos sigilosos que
a documentos, dados e informações sigilosos poderá ser efetuada não puderem ser reproduzidos integralmente, em razão das restri-
mediante extratos, com autorização da autoridade classificadora ções legais ou do seu estado de conservação.
ou hierarquicamente superior. § 4º - A reprodução de documentos, dados e informações
§ 1º - Os extratos referidos no “caput” deste artigo limitar-se- pessoais que possam comprometer a intimidade, a vida privada,
-ão ao seu respectivo número, ao ano de edição e à sua ementa, a honra ou a imagem de terceiros poderá ocorrer desde que haja
redigidos por agente público credenciado, de modo a não compro- autorização nos termos item 2 do § 1º do artigo 35 deste decreto.
meter o sigilo.
§ 2º - A publicação de atos administrativos que trate de do- Artigo 67 - O responsável pela preparação ou reprodução de
cumentos, dados e informações sigilosos para sua divulgação ou documentos sigilosos deverá providenciar a eliminação de provas
execução dependerá de autorização da autoridade classificadora ou ou qualquer outro recurso, que possam dar origem à cópia não
autoridade competente hierarquicamente superior. autorizada do todo ou parte.

SUBSEÇÃO VI Artigo 68 - Sempre que a preparação, impressão ou, se for


Da Credencial de Segurança o caso, reprodução de documentos, dados e informações sigilo-
sos forem efetuadas em tipografias, impressoras, oficinas gráficas,
Artigo 62 - O credenciamento e a necessidade de conhecer ou similares, essa operação deverá ser acompanhada por agente
são condições indispensáveis para que o agente público estadual público credenciado, que será responsável pela garantia do sigilo
no efetivo exercício de cargo, função, emprego ou atividade tenha durante a confecção do documento.
acesso a documentos, dados e informações sigilosos equivalentes
ou inferiores ao de sua credencial de segurança. SUBSEÇÃO VIII
Da Gestão de Contratos
Artigo 63 - As credenciais de segurança referentes aos graus
de sigilo previstos no artigo 31 deste decreto, serão classificadas Artigo 69 - O contrato cuja execução implique o acesso por
nos graus de sigilo ultrassecreta, secreta ou reservada. parte da contratada a documentos, dados ou informações sigilosos,
obedecerá aos seguintes requisitos:
Artigo 64 - A credencial de segurança referente à informação I - assinatura de termo de compromisso de manutenção de si-
pessoal, prevista no artigo 35 deste decreto, será identificada como gilo;
personalíssima. II - o contrato conterá cláusulas prevendo:
a) obrigação de o contratado manter o sigilo relativo ao objeto
Artigo 65 - A emissão da credencial de segurança compete contratado, bem como à sua execução;
às autoridades máximas de órgãos e entidades da Administração b) obrigação de o contratado adotar as medidas de segurança
Pública Estadual, podendo ser objeto de delegação. adequadas, no âmbito de suas atividades, para a manutenção do
§ 1º - A credencial de segurança será concedida mediante ter- sigilo de documentos, dados e informações aos quais teve acesso;
mo de compromisso de preservação de sigilo, pelo qual os agentes c) identificação, para fins de concessão de credencial de se-
públicos responsabilizam-se por não revelarem ou divulgarem do- gurança, das pessoas que, em nome da contratada, terão acesso a
cumentos, dados ou informações sigilosos dos quais tiverem co- documentos, dados e informações sigilosos.
nhecimento direta ou indiretamente no exercício de cargo, função
ou emprego público. Artigo 70 - Os órgãos contratantes da Administração Públi-
§ 2º - Para a concessão de credencial de segurança serão ava- ca Estadual fiscalizarão o cumprimento das medidas necessárias
liados, por meio de investigação, os requisitos profissionais, fun- à proteção dos documentos, dados e informações de natureza si-
cionais e pessoais dos propostos. gilosa transferidos aos contratados ou decorrentes da execução do
§ 3º - A validade da credencial de segurança poderá ser limita- contrato.
da no tempo e no espaço.
§ 4º - O compromisso referido no “caput” deste artigo persis- CAPÍTULO V
tirá enquanto durar o sigilo dos documentos a que tiveram acesso. Das Responsabilidades

SUBSEÇÃO VII Artigo 71 - Constituem condutas ilícitas que ensejam respon-


Da Reprodução e Autenticação sabilidade do agente público:
I - recusar-se a fornecer documentos, dados e informações re-
Artigo 66 - Os Serviços de Informações ao Cidadão - SIC dos queridas nos termos deste decreto, retardar deliberadamente o seu
órgãos e entidades da Administração Pública Estadual fornecerão, fornecimento ou fornecê-la intencionalmente de forma incorreta,
desde que haja autorização expressa das autoridades classificado- incompleta ou imprecisa;
ras ou das autoridades hierarquicamente superiores, reprodução II - utilizar indevidamente, bem como subtrair, destruir, inu-
total ou parcial de documentos, dados e informações sigilosos. tilizar, desfigurar, alterar ou ocultar, total ou parcialmente, docu-
§ 1º - A reprodução do todo ou de parte de documentos, dados mento, dado ou informação que se encontre sob sua guarda ou
e informações sigilosos terá o mesmo grau de sigilo dos documen- a que tenha acesso ou conhecimento em razão do exercício das
tos, dados e informações originais. atribuições de cargo, emprego ou função pública;

Didatismo e Conhecimento 306


NOÇÕES DE DIREITO
III - agir com dolo ou má-fé na análise das solicitações de Artigo 75 - Os órgãos e entidades estaduais respondem dire-
acesso a documento, dado e informação; tamente pelos danos causados em decorrência da divulgação não
IV - divulgar ou permitir a divulgação ou acessar ou permi- autorizada ou utilização indevida de documentos, dados e informa-
tir acesso indevido ao documento, dado e informação sigilosos ou ções sigilosos ou pessoais, cabendo a apuração de responsabilida-
pessoal; de funcional nos casos de dolo ou culpa, assegurado o respectivo
V - impor sigilo a documento, dado e informação para obter direito de regresso.
proveito pessoal ou de terceiro, ou para fins de ocultação de ato Parágrafo único - O disposto neste artigo aplica-se à pessoa
ilegal cometido por si ou por outrem; física ou entidade privada que, em virtude de vínculo de qualquer
VI - ocultar da revisão de autoridade superior competente do- natureza com órgãos ou entidades estaduais, tenha acesso a do-
cumento, dado ou informação sigilosos para beneficiar a si ou a cumento, dado ou informação sigilosos ou pessoal e a submeta a
outrem, ou em prejuízo de terceiros; tratamento indevido.
VII - destruir ou subtrair, por qualquer meio, documentos con-
cernentes a possíveis violações de direitos humanos por parte de CAPÍTULO VI
agentes do Estado. Disposições Finais
§ 1º - Atendido o princípio do contraditório, da ampla defesa
e do devido processo legal, as condutas descritas no “caput” deste Artigo 76 - O tratamento de documento, dado ou informa-
artigo serão apuradas e punidas na forma da legislação em vigor. ção sigilosos resultante de tratados, acordos ou atos internacionais
§ 2º - Pelas condutas descritas no “caput” deste artigo, poderá atenderá às normas e recomendações constantes desses instrumen-
o agente público responder, também, por improbidade administra- tos.
tiva, conforme o disposto na Lei federal nº 8.429, de 2 de junho
de 1992. Artigo 77 - Aplica-se, no que couber, a Lei federal nº 9.507,
de 12 de novembro de 1997, em relação à informação de pessoa,
Artigo 72 - O agente público que tiver acesso a documentos, física ou jurídica, constante de registro ou banco de dados de enti-
dados ou informações sigilosos, nos termos deste decreto, é res- dades governamentais ou de caráter público.
ponsável pela preservação de seu sigilo, ficando sujeito às sanções
administrativas, civis e penais previstas na legislação, em caso de Artigo 78 - Cabe à Secretaria de Gestão Pública:
eventual divulgação não autorizada. I - realizar campanha de abrangência estadual de fomento
à cultura da transparência na Administração Pública Estadual e
Artigo 73 - Os agentes responsáveis pela custódia de docu- conscientização do direito fundamental de acesso à informação;
mentos e informações sigilosos sujeitam-se às normas referentes II - promover treinamento de agentes públicos no que se refe-
ao sigilo profissional, em razão do ofício, e ao seu código de ética re ao desenvolvimento de práticas relacionadas à transparência na
específico, sem prejuízo das sanções legais. Administração Pública Estadual;
III - formular e implementar política de segurança da infor-
Artigo 74 - A pessoa física ou entidade privada que detiver do- mação, em consonância com as diretrizes da política estadual de
cumentos, dados e informações em virtude de vínculo de qualquer arquivos e gestão de documentos;
natureza com o poder público e deixar de observar o disposto na IV - propor e promover a regulamentação do credenciamento
Lei federal nº 12.527, de 18 de novembro de 2011, e neste decreto de segurança de pessoas físicas, empresas, órgãos e entidades da
estará sujeita às seguintes sanções: Administração Pública Estadual para tratamento de informações
I - advertência; sigilosas e pessoais.
II - multa;
III - rescisão do vínculo com o poder público; Artigo 79 - A Corregedoria Geral da Administração será res-
IV - suspensão temporária de participar em licitação e impe- ponsável pela fiscalização da aplicação da Lei federal nº 12.527,
dimento de contratar com a Administração Pública Estadual por de 18 de novembro de 2011, e deste decreto no âmbito da Admi-
prazo não superior a 2 (dois) anos; nistração Pública Estadual, sem prejuízo da atuação dos órgãos de
V - declaração de inidoneidade para licitar ou contratar com a controle interno.
Administração Pública Estadual, até que seja promovida a reabili-
tação perante a própria autoridade que aplicou a penalidade. Artigo 80 - Este decreto e suas disposições transitórias entram
§ 1º - As sanções previstas nos incisos I, III e IV deste artigo em vigor na data de sua publicação.
poderão ser aplicadas juntamente com a do inciso II, assegurado o
direito de defesa do interessado, no respectivo processo, no prazo DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS
de 10 (dez) dias.
§ 2º - A reabilitação referida no inciso V deste artigo será au- Artigo 1º - Fica instituído Grupo Técnico, junto ao Comitê
torizada somente quando o interessado efetivar o ressarcimento ao de Qualidade da Gestão Pública - CQGP, visando a promover os
órgão ou entidade dos prejuízos resultantes e decorrido o prazo da estudos necessários à criação, composição, organização e funcio-
sanção aplicada com base no inciso IV. namento da Comissão Estadual de Acesso à Informação.
§ 3º - A aplicação da sanção prevista no inciso V deste artigo Parágrafo único - O Presidente do Comitê de Qualidade da
é de competência exclusiva da autoridade máxima do órgão ou Gestão Pública designará, no prazo de 30 (trinta) dias, os membros
entidade pública, facultada a defesa do interessado, no respectivo integrantes do Grupo Técnico.
processo, no prazo de 10 (dez) dias da abertura de vista.

Didatismo e Conhecimento 307


NOÇÕES DE DIREITO
Artigo 2º - Os órgãos e entidades da Administração Pública a) o interessado deverá obter decisão judicial que lhe autorize
Estadual deverão proceder à reavaliação dos documentos, dados e o acesso.
informações classificados como ultrassecretos e secretos no prazo b) o próprio interessado poderá extrair cópia do documento,
máximo de 2 (dois) anos, contado do termo inicial de vigência da as suas próprias expensas e sob sua responsabilidade, devendo as-
Lei federal nº 12.527, de 18 de novembro de 2011. sinar declaração de que restituirá o documento em perfeitas con-
§ 1º - A restrição de acesso a documentos, dados e informa- dições.
ções, em razão da reavaliação prevista no “caput” deste artigo, c) deverá ser negado o acesso ao interessado.
deverá observar os prazos e condições previstos na Lei federal nº d) deverá ser oferecida a consulta de cópia, com certificação
12.527, de 18 de novembro de 2011. de que esta confere com o original.
§ 2º - No âmbito da administração pública estadual, a reavalia- e) o interessado poderá ter acesso direto ao documento que
ção prevista no “caput” deste artigo poderá ser revista, a qualquer contém a informação, sem qualquer restrição, mas não poderá ob-
tempo, pela Comissão Estadual de Acesso à Informação, obser- ter cópia.
vados os termos da Lei federal nº 12.527, de 18 de novembro de
2011, e deste decreto. 02. VUNESP - 2013 - PC-SP - Escrivão de Polícia Civil
§ 3º - Enquanto não transcorrido o prazo de reavaliação pre- De acordo com o disposto, expressamente, na Lei Federal
visto no “caput” deste artigo, será mantida a classificação dos do- n. o 12.527/2011 (Lei de Acesso à Informação), se depois de so-
cumentos, dados e informações nos termos da legislação prece- licitar a informação, o interessado souber que houve o extravio
dente. da informação solicitada,
§ 4º - Os documentos, dados e informações classificados a) poderá pedir indenização à autoridade administrativa com-
como secretos e ultrassecretos não reavaliados no prazo previsto petente.
no “caput” deste artigo serão considerados, automaticamente, de b) poderá requerer à autoridade competente a imediata aber-
acesso público. tura de sindicância para apurar o desaparecimento da respectiva
documentação.
Artigo 3º - No prazo de 30 (trinta) dias, a contar da vigência c) deverá providenciar dados e documentos que tiver e for-
deste decreto, a autoridade máxima de cada órgão ou entidade da necê-los à autoridade competente para restituição da respectiva
Administração Pública Estadual designará subordinado para, no
informação.
âmbito do respectivo órgão ou entidade, exercer as seguintes atri-
d) deverá requerer judicialmente a restituição da informação.
buições:
e) poderá requerer a abertura de processo administrativo para
I - planejar e propor, no prazo de 90 (noventa) dias, os recur-
punição do responsável e obtenção de respectiva indenização por
sos organizacionais, materiais e humanos, bem como as demais
danos morais.
providências necessárias à instalação e funcionamento dos Servi-
ços de Informações ao Cidadão - SIC, a que se refere o artigo 7º
deste decreto; 03. A Lei n.º 12.527/2011 regulamenta o direito constitu-
II - assegurar o cumprimento das normas relativas ao acesso a cional de acesso à informação. Nesse sentido, submetem-se ao
documentos, dados ou informações, de forma eficiente e adequada regime dessa Lei diferentes órgãos e pessoas jurídicas. No en-
aos objetivos da Lei federal nº 12.527, de 18 de novembro de 2011, tanto, não se sujeita(m) aos ditames dessa Lei:
e deste decreto; a) Ministério Público.
III - orientar e monitorar a implementação do disposto na Lei b) corretoras de valores.
federal nº 12.527, de 18 de novembro de 2011, e neste decreto, e c) autarquias.
apresentar relatórios periódicos sobre o seu cumprimento; d) sociedades de economia mista.
IV - recomendar as medidas indispensáveis à implementação e) Poder Judiciário.
e ao aperfeiçoamento das normas e procedimentos necessários ao
correto cumprimento do disposto neste decreto; 04. CESPE - 2013 - ANTT - Analista Administrativo
V - promover a capacitação, o aperfeiçoamento e a atualiza- Tendo em vista que a Lei de Acesso à Informação é um
ção de pessoal que desempenhe atividades inerentes à salvaguarda instrumento que auxilia o exercício de um direito constitucio-
de documentos, dados e informações sigilosos e pessoais. nal dos cidadãos, o de acesso às informações públicas, julgue
os itens a seguir.
Artigo 4º - As Comissões de Avaliação de Documentos e A classificação de sigilo no grau ultrassecreto é de compe-
Acesso - CADA deverão apresentar à autoridade máxima do órgão tência do primeiro escalão do governo, incluindo-se os titulares
ou entidade, plano e cronograma de trabalho, no prazo de 30 (trin- de autarquias, as fundações ou as empresas públicas e as socie-
ta) dias, para o cumprimento das atribuições previstas no artigo 6º, dades de econômica mista.
incisos I e II, e artigo 32, inciso I, deste decreto. ( ) Certo ( ) Errado

Palácio dos Bandeirantes, 16 de maio de 2012 05. CESPE - 2013 - ANTT - Analista Administrativo
GERALDO ALCKMIN Tendo em vista que a Lei de Acesso à Informação é um
instrumento que auxilia o exercício de um direito constitucio-
Questionário: nal dos cidadãos, o de acesso às informações públicas, julgue
os itens a seguir.
01. Nos termos do que dispõe a Lei Federal n.º 12.527/2011 O acesso à informação, contida em documento cuja mani-
(Lei de Acesso à Informação), quando se tratar de acesso à in- pulação possa prejudicar sua integridade deverá ser feito por
formação contida em documento cuja manipulação possa pre- cópia com certificação de que confere com o original.
judicar sua integridade, ( ) Certo ( ) Errado

Didatismo e Conhecimento 308


NOÇÕES DE DIREITO
06. VUNESP - 2013 - SAP-SP - Agente de Segurança Pe- a) trabalho incansável do administrador público para evitar o
nitenciária controle social da administração pública.
Para os efeitos da Lei Federal nº. 12.527/11, considera­se b) divulgação de todo o tipo de informação, pública ou priva-
informação sigilosa aquela submetida temporariamente à res- da, desde que solicitada.
trição de acesso público em razão de sua imprescindibilidade c) vedação da utilização dos meios de comunicação eletrôni-
para cos para transmissão das informações de interesse público.
a) todos os setores das Polícias Civil e Militar. d) proibição da transparência na administração pública.
b) os órgãos de inteligência civil e militar. e) observância da publicidade como preceito geral e do sigilo
c) a Administração Pública. como exceção.
d) a segurança da sociedade e do Estado.
e) o serviço reservado militar. 11. VUNESP - 2013 - CETESB - Escriturário
Para efeitos da Lei n.º 12.527/11 – Lei de Acesso à Infor-
07. VUNESP - 2013 - SAP-SP - Agente de Segurança Pe- mação, considera(m)-se como informação(ões) sigilosa(s)
nitenciária
a) aquela relacionada à pessoa natural identificável.
É dever dos órgãos e entidades públicas promover a divul-
b) os dados processados, que só podem ser utilizados para
gação em local de fácil acesso, no âmbito de suas competências,
de informações de interesse coletivo ou geral por eles produ- produção de conhecimento e transmissão em qualquer meio, su-
zidas ou custodiadas. Para esse fim, os órgãos e entidades pú- porte ou formato.
blicas deverão utilizar todos os meios e instrumentos legítimos c) aquela submetida temporariamente à restrição de acesso
de que dispuserem, sendo obrigatória a divulgação em sítios público em razão de sua imprescindibilidade para a segurança da
oficiais da rede mundial de computadores (internet). sociedade e do Estado.
No entanto, ficam dispensados da divulgação obrigatória d) aquela de qualidade da informação não modificada, inclu-
na internet sive quanto à origem, trânsito e destino.
a) as autarquias. e) aquela pertinente à administração do patrimônio público,
b) as empresas públicas. utilização de recursos públicos, licitação e contratos administra-
c) os órgãos integrantes da Polícia Civil. tivos.
d) as sociedades de economia mista.
e) os Municípios com população de até dez mil habitantes. 12. VUNESP - 2013 - PC-SP - Escrivão de Polícia Civil
De acordo com o disposto, expressamente, na Lei Federal
08. VUNESP - 2013 - CETESB - Advogado n. o 12.527/2011 (Lei de Acesso à Informação), se depois de so-
João, interessado em obter informações sobre o andamen- licitar a informação, o interessado souber que houve o extravio
to de um pedido de interesse geral junto à Secretaria da CE- da informação solicitada,
TESB, é informado pelo funcionário que não poderá ter acesso a) poderá pedir indenização à autoridade administrativa com-
à informação requerida. Nesse caso, o que poderá fazer João? petente.
a) Conformar-se com a decisão, uma vez que o pedido refere- b) poderá requerer à autoridade competente a imediata aber-
-se a um interesse geral de caráter sigiloso. tura de sindicância para apurar o desaparecimento da respectiva
b) Recorrer da decisão, encaminhando o requerimento para o documentação.
funcionário que o atendeu, no prazo de 03 (três) dias. c) deverá providenciar dados e documentos que tiver e for-
c) Recorrer da decisão no prazo de 10 (dez) dias a contar da necê-los à autoridade competente para restituição da respectiva
ciência da negativa do acesso à informação.
informação.
d) Não recorrer da decisão, uma vez que a informação reque-
d) deverá requerer judicialmente a restituição da informação.
rida está contida em documento cuja manipulação poderá prejudi-
car sua integridade. e) poderá requerer a abertura de processo administrativo para
e) Encaminhar novo requerimento de solicitação de acesso à punição do responsável e obtenção de respectiva indenização por
mesma informação, dirigido à autoridade hierarquicamente supe- danos morais.
rior ao funcionário que exarou a decisão impugnada.
13. CESPE - 2012 - ANAC - Analista Administrativo
09. VUNESP - 2013 - CETESB - Advogado À luz da Lei n.º 12.527/2011 (Lei de Acesso à Informação),
Conforme dispõe a Lei n.º 12.527/11, agir com dolo ou má- julgue os itens a seguir.
-fé na análise das solicitações de acesso à informação ensejará Por serem pessoas de direito privado, as sociedades de eco-
ao agente público que praticar a conduta ilícita a pena de, nomia mista não se sujeitam à lei em questão.
a) no mínimo, suspensão. ( ) Certo ( ) Errado
b) no máximo, multa.
c) no máximo, advertência. 14. CESPE - 2012 - TCE-ES - Auditor de Controle Externo
d) no máximo, repreensão. Com base nas Leis n.os 12.232/2010, 4.320/1964 e
e) no mínimo, dispensa. 12.527/2011 (Lei de Acesso à Informação) e na Lei Comple-
mentar n.º 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal), julgue
10. VUNESP - 2013 - PC-SP - Agente de Polícia os itens subsecutivos.
De acordo com o que dispõe a Lei n.º 12.527/11, os pro- A solicitação de informação relativa ao resultado das pres-
cedimentos nela previstos destinam-se a assegurar o direito tações de contas relativas a exercícios anteriores de determina-
fundamental de acesso à informação e devem ser executados do órgão público independe de motivação, podendo qualquer
em conformidade com os princípios básicos da administração cidadão ter acesso a essa informação.
pública e, entre outras, com a seguinte diretriz: ( ) Certo ( ) Errado

Didatismo e Conhecimento 309


NOÇÕES DE DIREITO
15. FAURGS - 2012 - TJ-RS - Historiógrafo
A Lei n.º 12.527, sancionada pela Presidenta da República ANOTAÇÕES
em 18 de novembro de 2011, tem o propósito de regulamentar
o direito constitucional de acesso dos cidadãos às informações
públicas, sendo que seus dispositivos são aplicáveis aos três
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Mu-
nicípios.
No que se refere a essa lei, considere as afirmações abaixo. —————————————————————————
I - Sua regulamentação torna essencial o princípio de que —————————————————————————
o acesso é a regra, e o sigilo é a exceção.
II - Sua regulamentação consolida e define o marco regula- —————————————————————————
tório em relação ao acesso à informação pública sob a guarda
do Estado e à informação privada em arquivos pessoais. —————————————————————————
III - Sua regulamentação estabelece os procedimentos
—————————————————————————
para que a Administração responda a pedidos de informação
do cidadão. —————————————————————————
Quais estão corretas?
a) Apenas I. —————————————————————————
b) Apenas II.
—————————————————————————
c) Apenas III.
d) Apenas I e III. —————————————————————————
e) I, II e III.
—————————————————————————
Gabarito:
—————————————————————————
01 D —————————————————————————
02 B —————————————————————————
03 B
—————————————————————————
04 Errado
05 Certo —————————————————————————
06 D —————————————————————————
07 E
—————————————————————————
08 C
09 A —————————————————————————
10 E —————————————————————————
11 C
—————————————————————————
12 B
13 Errado —————————————————————————
14 Certo —————————————————————————
15 D —————————————————————————
—————————————————————————

ANOTAÇÕES —————————————————————————
—————————————————————————
—————————————————————————
—————————————————————————
—————————————————————————
—————————————————————————
—————————————————————————
—————————————————————————
—————————————————————————
—————————————————————————
—————————————————————————

Didatismo e Conhecimento 310


CRIMINOLOGIA
CRIMINOLOGIA

Prof. Adriano Augusto Placidino Gonçalves me) e do grego logos (tratado ou estudo), seria portanto o “estudo
do crime”. É uma ciência empírica e interdisciplinar. É empírica,
Graduado pela Faculdade de Direito da Alta Paulista – FA- pois baseia-se na experiência da observação, nos fatos e na prática,
DAP. mais que em opiniões e argumentos. É interdisciplinar e portanto
Advogado regularmente inscrito na OAB/SP formada pelo diálogo de uma série de ciências e disciplinas, tais
como a biologia, a psicopatologia, a sociologia, a política, a antro-
pologia, o direito, a criminalística, a filosofia e outros.
A Criminologia é uma visão de 360° sobre os seus objetos,
3.1 FUNDAMENTOS TEÓRICOS. não apenas uma visão de “Ser contra” ou a “Favor” de uma pu-
3.2 ETAPAS EVOLUTIVAS DO PENSAMEN- nição, desenvolvendo linhas de raciocínio e ultrapassando a linha
TO CRIMINOLÓGICO do senso comum. Trabalha com dados de fatos passados e não é
conclusiva, dando subsídios as ciências penais.

Objetos:
A criminologia é ciência moderna, sendo um modo específico - Ser Humano e sua imprevisibilidade.
e qualificado de conhecimento e uma sistematização do saber de - O Infrator.
várias disciplinas. A partir da experimentação desse saber multi- - As determinantes endógenas e exógenas.
disciplinar surgem teorias (um corpo de conceitos sistematizados - A Vítima.
que permitem conhecer um dado domínio da realidade). - O Controle Social.
Enquanto ciência, a criminologia possui objeto próprio e um
rigor metodológico (método) que inclui a necessidade de experi- Métodos:
mentação, a possibilidade de refutação de suas teorias e a cons- - Empirismo.
ciência da transitoriedade de seus postulados. Ainda que interdis- - Interdisciplinaridade (Sociologia, Psicologia, Ciências Exa-
ciplinar é também ciência autônoma, não se confundindo com ne- tas, etc).
nhuma das áreas que contribuem para a sua formação e sem deixar - Trabalha com fatos sociais e individuais.
considerar o jogo dialético da realidade social como um todo.
Objeto da criminologia é o crime, o criminoso (que é o su- Quando nasceu, a criminologia tratava de explicar a origem da
jeito que se envolve numa situação criminógena de onde deriva o delinquência, utilizando o método das ciências, o esquema causal e
crime), os mecanismos de controle social (formais e informais) explicativo, ou seja, buscava a causa do efeito produzido. Pensou-
que atuam sobre o crime; e, a vítima (que às vezes pode ter inclu- -se que erradicando a causa se eliminaria o efeito, como se fosse
sive certa culpa no evento). suficiente fechar as maternidades para o controle da natalidade.
A relevância da criminologia reside no fato de que não existe Academicamente a Criminologia começa com a publicação
sociedade sem crime. Ela contribui para o crescimento do conheci- da obra de Cesare Lombroso chamad “L’Uomo Delinquente”, em
mento científico com uma abordagem adequada do fenômeno cri- 1876. Sua tese principal era a do delinquente nato.
minal. O fato de ser ciência não significa que ela esteja alheia a sua Já existiram várias tendências causais na criminologia. Ba-
função na sociedade. Muito pelo contrário, ela filia-se ao princípio seado em Rousseau, a criminologia deveria procurar a causa do
de justiça social. delito na sociedade, baseado em Lombroso, para erradicar o delito
Os estudos em criminologia têm como finalidade, entre outros deveríamos encontrar a eventual causa no próprio delinquente e
aspectos, determinar a etiologia do crime, fazer uma análise da não no meio. Um extremo que procura as causas de toda crimina-
personalidade e conduta do criminoso para que se possa puni-lo lidade na sociedade e o outro, organicista, investigava o arquétipo
de forma justa (que é uma preocupação da criminologia e não do do criminoso nato (um delinquente com determinados traços mor-
Direito Penal), identificar as causas determinantes do fenômeno fológicos).
criminógeno, auxiliar na prevenção da criminalidade; e permitir a Isoladamente, tanto as tendências sociológicas, quanto as or-
ressocialização do delinquente. gânicas fracassaram. Hoje em dia fala-se no elemento bio-psico-
Os estudos em criminologia se dividem em dois ramos que -social. Volta a tomar força os estudos de endocrinologia, que as-
não são independentes, mas sim interdependentes. Temos de um sociam a agressividade do delinquente à testosterona (hormônio
lado a Criminologia Clínica (bioantropológica), esta utiliza-se do masculino), os estudos de genética ao tentar identificar no genoma
método individual, (particular, análise de casos, biológico, experi- humano um possível “gene da criminalidade”, juntamente com os
mental), que envolve a indução. De outro lado vemos a Crimino- transtornos da violência urbana, de guerra, da fome, etc.
logia Penal (sociológica), esta utiliza-se do método estatístico (de De qualquer forma, a criminologia transita pelas teorias que
grupo, estatístico, sociológico, histórico) que enfatiza o procedi- buscam analisar o crime, a criminalidade, o criminoso e a víti-
mento de dedução. ma. Passa pela sociologia, pela psicopatologia, psicologia, religião
(nos casos de crimes satânicos), antropologia, política, enfim, a
Neste contexto, podemos definir a criminologia como um criminologia habita o universo da ação humana.
conjunto de conhecimentos que se ocupa do crime, da criminali- Como em outras ciências, também em criminologia se tem
dade e suas causas, da vítima, do controle social do ato criminoso, tentado eliminar o conceito de “causa”, substituindo-o pela ideia
bem como da personalidade do criminoso e da maneira de resso- de “fator”. Isso implica no reconhecimento de não apenas uma
cializá-lo. Etmologicamente o termo deriva do latim crimino (cri- causa, mas, sobretudo, de fatores que possam desencadear o efeito
criminoso (fatores biológicos, psíquicos, sociais...). Uma das fun-

Didatismo e Conhecimento 1
CRIMINOLOGIA
ções principais da criminologia é estabelecer uma relação estreita fez um estudo comparativo entre delinquentes encarcerados e ci-
entre três disciplinas consideradas fundamentais: a psicopatologia, dadãos respeitadores das leis, chegando à conclusão de que não
o direito penal e a ciência político-criminal. existem os chamados “tipos criminais” com disposição inata para
Outra atribuição da criminologia é, por exemplo, elaborar o crime. Na França, Montesquieu procurou relacionar o comporta-
uma série de teorias e hipóteses sobre as razões para o aumento de mento criminoso com o ambiente natural e físico. Por outro lado,
um determinado delito. Os criminólogos se encarregam de dar esse os estudiosos ligados aos movimentos socialistas têm considerado
tipo de informação a quem elabora a política criminal, os quais, o delito como um efeito derivado das necessidades da pobreza.
por sua vez, idealizarão soluções, proporão leis, etc. Esta última Outros teóricos relacionam a criminalidade com o estado geral da
etapa se faz através do direito penal. Posteriormente, outra vez cultura, sobretudo pelo impacto desencadeado pelas crises econô-
mais o criminólogo avaliará o impacto produzido por essa nova micas, as guerras, as revoluções e o sentimento generalizado de
lei na criminalidade. insegurança e desproteção derivados de tais fenômenos. No século
Interessam ao criminólogo as causas e os motivos para o fato XX, destacam-se as teorias elaboradas por psicólogos e psiquia-
delituoso. Normalmente ele procura fazer um diagnóstico do crime tras, que indicam que cerca de um quarto da população reclusa é
e uma tipologia do criminoso, assim como uma classificação do composta por psicóticos, neuróticos ou pessoas instáveis emocio-
delito cometido. Essas causas e motivos abrangem desde avaliação nalmente, e outro quarto padece de deficiências mentais. A maioria
do entorno prévio ao crime, os antecedentes vivenciais e emocio- dos especialistas, porém, está mais inclinada a assumir as teorias
nais do delinquente, até a motivação pragmática para o crime. do fator múltiplo, de que o delito surge como consequência de um
Define-se também, em regra como sendo o estudo do crime conjunto de conflitos e influências biológicas, psicológicas, cultu-
e do criminoso, isto é: criminalidade. A Criminologia, o estudo rais, econômicas e políticas.
do crime e dos criminosos, dentro de um recorte causal, explica- Ao lado do desenvolvimento das teorias sobre as causas do
tivo, informado de elementos naturalísticos (psicofísicos). Não é delito, são estudados vários modelos correcionais. Assim, a antiga
uma ciência independente, mas atrelada à Sociologia, à apreciação teoria teológica e moral entendia o castigo como uma retribuição à
científica da organização da sociedade humana. Ao lado da Socio- sociedade pelo mal cometido. Jeremy Bentham procurou que hou-
logia, se mostra numa condição de contrastante de ‘‘uma das mais vesse uma relação mais precisa entre castigo e delito e insistia na
jovens e uma das mais velhas ciências’’ fixação de penas definidas e inflexíveis para cada classe de crime,
Jovem e livre até da rotulação relativamente recente do res- de tal forma que a dor da pena superasse apenas um pouco o prazer
pectivo vocábulo, um termo híbrido, por Augusto Comte, do latim do delito. No princípio do século XX, a escola neoclássica rejeita-
va as penas fixas e propunha que as sentenças variassem em fun-
socius, amigo ou companheiro, e do grego logos, ciência. Velha,
ção das circunstâncias concretas do delito, como a idade, o nível
uma vez que a análise da vida gregária dos seres humanos já era
intelectual e o estado psicológico do delinquente. A chamada esco-
praticada de vários modos pela Antropologia, bem antes de sua
la italiana outorgava às medidas preventivas do delito mais impor-
aparição no panorama cultural.
tância do que às destinadas a reprimi-lo. As tentativas modernas
Não é tarefa fácil para a Criminologia lidar com a delinquên-
de tratamento dos delinquentes devem quase tudo à psiquiatria e
cia constantemente sofisticada, assim como com a violência, que
aos métodos de estudo aplicados a casos concretos. A atitude dos
hoje se banalizou. Para ficar mais a par do itinerário, e dos atalhos,
cientistas contemporâneos é de que os delinquentes são indivíduos
que conduzem ao delito, sobretudo nos agregados sociais urba- e sua reabilitação só poderá ser alcançada através de tratamentos
nos de densa população, a Criminologia precisa traçar uma tática individuais e específicos.
eficaz. A criminologia, não trata unicamente da pessoa humana, Entretanto, há na ciência, Criminologia, já um acervo com que
porque o homem é o agente do ato antissocial, mas sobre este se deve contar, para ir em demanda das novas rotas que se nos
agente existem várias causas e muitas ainda desconhecidas, que deparam. E esse acervo já vem sendo colhido em longas décadas
modificarão o caráter essencialmente humano ou antropológico de estudo e de meditação, armazenando largos cabedais que cons-
do fenômeno. A criminologia é e deve ser considerada de acordo tituem uma bibliografia inumerável, na qual, ao lado de muito joio,
com a maioria dos estudiosos do assunto, uma ciência pré-jurídica, excelentes contribuições se podem contar. Todavia, alguns menos
sua matéria de estudos é o homem, o seu viver social, suas ações, ansiosos por avançar sempre na procura da solução de múltiplas
toda sua evolução, como espécie e como indivíduo. Para um es- incógnitas que ainda nos enfrentam, creem desde logo de assentar
tudo completo de criminologia devemos estudar tanto a filosofia, a Criminologia em bases suficientemente estáveis.
sociologia, psicologia, e a ética. Esta última, que vai à base moral O crime apresenta uma transformação, ou ampliação, que de
da humanidade, daí deve-se entender melhor o que é essa Moral; uma forma aceitavelmente denominada “normal”, se projeta hoje
pois o Código Penal apoia-se sobre a moral. para configurações que poderiam ser consideradas “anormais”.
Esta ciência social que estuda a natureza, a extensão e as cau- Apenas se deve ponderar que essa atual anormalidade assim se
sas do crime, possui dois objetivos básicos: a determinação de cau- nos apresenta por não terem podido estar os gabaritos normativos
sas, tanto pessoais como sociais, do comportamento criminoso e o acompanhando sempre as transformações psico-sociais que a épo-
desenvolvimento de princípios válidos para o controle social do ca atual oferece, dada à tumultuosa evolução dos sistemas de vida
delito. Desde o século XVIII, são formuladas várias teorias cien- e das colisões sociais. E daí desde logo nos apresenta um dos pro-
tíficas para explicar as causas do delito. O médico alemão Franz blemas básicos da Criminologia: é que ela se desenvolveu a partir
Joseph Gall procurou relacionar a estrutura cerebral com as incli- do Direito Criminal, mas, por assim dizer, disciplinada, ou jungi-
nações criminosas. No final do século XIX, o criminologista Ce- da, às condições penais e, ainda, demarcada, em seus horizontes,
sare Lombroso afirmava que os delitos são cometidos por aqueles por uma finalidade que ia mais às situações pós-delituais, e avança
que nascem com certos traços físicos hereditários reconhecíveis, preferentemente para os aspectos punitivos e, depois, recuperados
teoria refutada no começo do século XX por Charles Goring, que do delinquente.

Didatismo e Conhecimento 2
CRIMINOLOGIA
Desta sorte, há uma Criminologia ainda hoje definida como a Biotipologia criminal. E a cada passo, novas esperanças, mas
um ramo subsidiário do Direito Penal, e que serviria mais para a acompanhadas do reconhecimento de que era mister da Psiquiatria
correta aplicação desse mesmo Direito; visaria ela ilustrá-lo com forense, a então recente concepção freudiana, mais euforia domi-
os conhecimentos que se foram adquirindo quanto à pessoa do cri- nou o campo da criminogênese - e a Psicanálise criminal dava a
minoso, às condições do crime dentro da dinâmica delituosa e da entender que tudo estava resolvido a partir de então.
eventual motivação do ato antissocial, inclusive pela incorporação O que estava a se verificar era o entusiasmo que cada “pílula
da vitimologia hoje de tanta nomeada nos círculos científicos. científica”, cada nova fresta entreaberta, parecia anunciar-se como
Tratar-se-á de uma Criminologia que se poderá denominar fórmula final para a solução da incógnita criminogenética. Mas, a
de pragmática e que, na escala do conhecimento, sempre defini- cada nova esperança, depois se verificava que nem tudo estava re-
da como sendo de posição pré-jurídica. A partir dos Códigos, e solvido, e que só mais um ângulo, de abertura estreita, no caminho
atendendo ao seu espírito, busca essa Criminologia oferecer ao cada vez mais longo da via causal do delito. E como já foi dito,
aplicador da Lei os meios mais efetivos e esclarecidos para que o novas pílulas foram se acrescendo, até à diencefalose, criminóge-
cumprimento dos dispositivos penais se torne mais cientificamente na, até aos conjuntos cromossômicos aberrantes (XYX, XXY etc.),
apoiado e informado. até às indagações citoquímicas, enzimáticas, até... aonde puderem
Nessa mesma ordem de aplicação científica dos conheci- ser levadas as observações mais agudas de campos cada vez mais
mentos criminológicos se situou o nosso sábio legislador de 1940 miúdos e estreitos.
quando, no já citado artigo 42 do Código Penal, ainda vigente, Mas desde logo se percebe que a solução bio-criminogenética
preceituou que o Juiz, para aplicar a pena, deverá atender “aos é um dédalo em que se tem perdido a ânsia de resolver o problema
antecedentes e à personalidade do agente, à intensidade do dolo apenas por esse lado. E, ademais, desde logo se verificou que só
ou grau da culpa, aos motivos, às circunstâncias e consequências o exame do “uomo delinqüente” não bastava, visto que ele era
do crime”. também produto do meio. E a Sociologia se aplicou também aos
Aí estão, pois, as vias da Criminologia pragmática, auxiliar estudos criminogenéticos, dando origem á Sociologia Criminal,
do Direito, para assessorá-lo, em matéria de sua competência, e que se arrogava, por sua vez, a pretensão de Ter em si a solução
visando a personalização do tratamento penal. Como nem sempre sempre tão ambicionada. Já vinha, aliás, de Platão, este pensamen-
se pode realizar este exame do delinquente antes do julgamento, to precursor, “atribuindo os crimes à falta de educação dos cida-
dãos e má organização do Estado”, como lembrava oportunamente
momento esse que seria idealmente o ótimo pra o levar a efeito,
Afrânio Peixoto, em sua “Criminologia”. Com Durkhein, Ferri,
e como é determinado pela Lei, segundo ficou registrado, quando
Lacassagne, Tarde, Turati, Bataglia, Lafargue, Bebel... desenvol-
menos deve essa análise do criminoso ser posta de triagem sufi-
veu-se esta escola que opunha, ao falar biológico, a gênese social
cientemente capaz de apreciar a pluridimensional personalidade
dos delitos. E houve, incrivelmente, um dissídio que pretendeu,
do agente antissocial. E dessa análise deverá surgir a orientação
cada um do seu lado, impor a conclusão de que o fator mesológico,
a seguir no tratamento, para melhor perspectiva de êxito do mes-
ou o fator biológico, é que determinava prevalentemente o crime.
mo, desde que bem adequado à personalidade do delinquente e
Só mais tarde, e agora mais lucidamente, é que veio a prevale-
às várias opções que se ofereçam dentro do sistema penitenciário cer o princípio de uma globalização de todos os chamados fatores
existente. criminogenéticos que, num caso, podem oferecer predomínio da
Além desta Criminologia pragmática, ainda e sempre ao lado influência mesológica, num outro caso, podem apontar a biologia
do Direito, para servi-lo nas suas indagações sobre a criminogê- como sobressalente, e, em muitos outros, se verificava certa equi-
nese dos fatos delituosos, poder-se-á colocar a Criminologia espe- valência na atuação de tais fatores. Mas sempre se reconhecendo,
culativa, causal da genética, que teria uma posição para-jurídica, em todos os casos, a presença de ambos esses fatores, como desde
cuidando da grande ambição de todos os criminólogos, ou seja, de Ferri, já se fazia patente. Daí resultou, até, uma classificação de
indagar e identificar as causas da criminalidade. criminosos, que tem feito sucesso, e que é absolutamente natural
É a grande meta que os estudos criminogenéticos têm como em sua formulação.
alvo e que, se acaso lá pudéssemos aportar, nos levaria, quiçá, um Mesmo quando muito se haja batendo neste caudal das pos-
dia, a poder aplicar, com total sucesso, o velho preceito, que dita: síveis causas do delito, tanto no campo da biologia, quanto no da
“sublata causa tollitur effectus” ideal fagueiro dos estudos crimi- mesologia, ainda devemos confessar que a gênese delitual conti-
nológicos, mas que tem sido ainda a miragem fugidia de todas as nua a oferecer pontos penumbrosos. De onde, as palavras de Ro-
esperanças causal-explicativas do delito. berto Lyra Filho.
Recorde-se, ainda uma vez, que, inicialmente, houve a fase É que não há fatores específicos para o crime, que o venham a
biológica estricta; a Somatologia criminal, com os seus tipos lom- ocasionar dentro de um determinismo irreversível - nem do ponto
brosianos, pretendeu fornecer a primeira chave para abrir a incóg- de vista endógeno, nem dentro do ângulo exógeno. Essa identifi-
nita criminogenética, chegando-se até à abstração do criminoso cação de causas específicas, como se fossem sintomas patagno-
nato, que não chegou a vingar. Recolhidos os contributos desta mônicos, era a grande ambição do lombrosianismo, para desde
fase, prosseguiram as esperanças quando se iniciou a era endocri- logo caracterizar os criminosos. Ao início de sua carreira, tinha o
nológica, de que nos dá informação assaz completa a monumental sábio de Turim essa visão: “um periodista francês, Laveleye, que
obra de Mariano Ruiz-Funes, Mestre espanhol que, na Faculdade o conheceu neste estágio de sua crítica científica, registrou a se-
de Direito da Universidade de São Paulo, proferiu o curso “En- guinte impressão sobre o emérito investigador, tocada de laivos
docrinologia Y criminalidad”, de 1929, que marcou época pela de ironia:” Apresentaram-me esta noite um jovem sábio desconhe-
amplitude e segurança de seus conceitos. Esta fase funcional das cido, chamado Lombroso; fala de cenas caracteres pelos quais se
endocrinias, por vez, deu ensejo à concepção biotipológica, já in- poderia reconhecer facilmente o delinquente. Que útil e cômoda
tegrada do tipo humano vivente, e que logo se desenvolveu para descoberta para os juizes de instrução...

Didatismo e Conhecimento 3
CRIMINOLOGIA
Buscava-se, então, a solução de um problema de conduta hu- os fatores bio-mesológicos, que procuram explicar a gênese crimi-
mana sem atentar holisticamente para o autor desse tal comporta- nosa, são de apreciação criminológica estrita; ao passo que o fator
mento. Não só a disputa de primazias bio ou mesológicas, como ético, onde se insere a condição que procura justificar a origem do
também, e principalmente, a exclusão do núcleo ético da perso- delito, só pode ser apreciada pela capacidade do Juiz. Daí, surge
nalidade, entre os núcleos de geração do ato antissocial, levaram aquela distinção do Prof. López-Rey Y Arrojo, ao recordar que se
a decepções no campo da caracterização naturalística das causas deve distinguir precisamente entre o que tende a explicar, daquilo
do delito. E só mais moderadamente se volvem as mentes dos cri- que pode justificar uma conduta antissocial. Se escusável, ou não,
minólogos para uma conceituação mais globalizadora da gênese só o Juiz pode decidir, mas para tanto, deverá ele atender às causas
delital, incluindo todos os elementos com que se deve contar: os aferíveis que podem explicar porque a deliberação humana tenha
chamados fatores criminogenéticos, e também os fundamentos sido mais ou menos comprometida pela influência dos fatores cri-
éticos da personalidade, sobre os quais agem exatamente aqueles minogenéticos endo e exógenos; e até que o ponto ético teria sido
fatores. O “cientificismo” (expressão com que se busca denominar consensual com a prática criminosa.
a falsa posição de uma ciência daltônica que não sabe ver senão Por isso, e para isso mesmo, deve ser considerada também, ao
o seu estreito espectro de visada) deve-se curvar à evidência de lado da Criminologia pragmática (pré-jurídica) e da Criminologia
que, se podemos falar, como dizia Di Túllio e, fatores crimino-im- especulativa (para-jurídica), uma Criminologia crítica ou, melhor,
pelentes, devemos também reconhecer, por parte daquele núcleo dialética, ao estilo do que o propõe Roberto Lyra Filho, a cuja po-
ético, a existência de fatores crimino-repelentes. O ato antissocial sição seria de colocação metajurídica. Esta Criminologia dialética
só resultará se, à ação dos ditos falares que impelem para o cri- deve propor a si mesma um estudo das mutações do conceito so-
me, se somar à ação consensual do núcleo ético da pessoa sobre cial da vida humana. Se voltarmos ao início destas considerações,
a qual eles agem. Daí que é necessário não nos fixarmos somente e nos recordarmos de que há uma criminalidade nova, devemos
na Biologia criminal e na Sociologia criminal, olvidando que, em consequentemente ter a decisão de rever os valores sociais, éticos e
cada pessoa, o que realmente a caracteriza como ser humano é a jurídicos, em face da sociedade tecnocrática em que ingressamos,
existência, ainda e sempre vigente, de um arbítrio. Não é ele livre para buscar as formas adequadas para uma reformulação, inclusive
na existência do homem, como o é era sua essência: mas é sempre, estrutural, das condições anuais da vida humana.
em certa medida capaz de enfrentar a ação dos fatores crimino- Evidentemente, a tripartição da Criminologia em seções, prag-
genéticos, E porque, às vezes, cede é que se faz mister julgar o mática (pré-jurídica), especulativa (para-jurídica) e dialética (me-
homem inteligentemente, a fim de saber até onde e como agiram tajurídica), não quererá significar, de forma alguma, que haja uma
os referidos fatores, e até que medida e de maneira o núcleo moral separação estanque entre esses departamentos; antes, eles se entro-
consentiu, ou se dobrou, à ação dos ditos fatores. sam e entre si estabelecem uma linha de plena fusão. Apenas, em
O reconhecimento de uma avaliação globalizante das condi- graus sucessivos, procura-se ampliar progressivamente o estudo e
ções personalíssimas de cada criminoso, em razão desse conjunto o conhecimento da dificílima e ampla ciência que é a Criminolo-
ora referido, leva a um neo-ecletismo penal. Assim, só será válida gia, para chegar até a formulação de princípios que solucionem os
a retornada da gênese criminal se, às causas endo e exógenas, sou- intrincados problemas da vida contemporânea e prevejam as pos-
bermos anexar o núcleo sobre o qual elas agem, ou seja, a essência síveis rotas a seguir para uma prevenção mais efetiva dos conflitos
ética da personalidade, sem cuja consideração a criminogênese humanos, profilaxia essa que é o alvo supremo das cogitações, e
clássica, ou ortodoxa, cairá na decepção de que nos falava Afrânio que deve pretender chegar até às próprias estruturas e valores fun-
Peixoto. Como entender a ação de fatores criminogenéticos sem damentais, a fim de advertir quanto à conveniência ou necessidade
os coligar à pessoa humana, e ao núcleo dessa pessoa no qual, en- de se realizar as mudanças possíveis e indicadas para se avançar
fim, se delibera? Atualmente, tomadas mais humildes, e sábias, por no objetivo de uma Justiça Social mais efetiva. E só a partir de
isso, as pretensões criminogenéticas naturalísticas, pode-se passar uma base que considere realisticamente, mais instruidamente, os
àquele neo-ecletismo penal, em que, como causas, se escalonam as fatos fundamentais da vida humana hodierna, com todas as suas
ambientais, as bio-psíquicas e as éticas (ou volitivas, em termos de especificações mais compreensivas da conduta dos homens, e não
deliberação, ou de arbítrio). ficar só na obsessão de saber como lutar mais efetivamente contra
Então, só se podendo caracterizar o ratio crime se, aos fatores o delito já praticado, em termos de penitenciariarismo, suposta-
endo e exógenos, se associar o fato ético, esta tripeça, bio-psiquis- mente ressocializante. Assim, se fará a macro-criminologia de que
mo, mesologia e anuência ética, deverá ser considerada como o nos fala, sábia e oportunamente, usando expressões trazidas das
conjunto indispensável para se poder falar em delito, em seu senti- Ciências Econômicas, Roberto Lyra Filho, indo, então, mais além
do mais exato, científico e compreensivo de um complexo pessoal da micro-criminologia que se atém ao âmbito de estudo apenas do
que só assim se constitui completamente. crime e do criminoso.
É desse fato fundamental, mas que se tem mantido sem a de- No que se refere à Criminologia especulativa, sem dúvida al-
vida conotação consciente de seus elementos constitutivos, que guma, necessita-se do seu estudo pormenorizado, fazendo sentir
decorre o neo-ecletismo penal, o qual proclama estas verdades ba- quantas informações úteis se recolhem na análise pluridimensio-
silares, sem as quais a Criminologia nunca alcançará uma formula- nal que busca das causas do delito, não só em sentido casuísti-
ção mais inteligente a adequada das suas postulações. co, e em perspectiva globalizadora, em fluxo analítico-sintético,
Desde que integremos estas noções, de que, na gênese cri- como também em sentido de generalização dos conceitos que daí
minal, devem ser considerados os falares bio e mesológicos, e decorreram, desse conhecimento individualizado, para prudentes
também o falar ético leva-nos a admitir, todavia, uma separação considerações gerais. Dentro desse estudo, outrossim, é necessário
das capacidades que podem apreciar e decidir sobre a forma de deixar bem patente que cada delinquente deve ser considerado em
atuação e sobre a ordenação dos seus respectivos valores. É que seu contorno situacional, de modo a permitir uma avaliação dos fa-

Didatismo e Conhecimento 4
CRIMINOLOGIA
tores que possam explicar a sua conduta, e daqueles que a possam uma prisão que não corrompa, que não destrua mais o que deve
justificar, ou não. Ou seja, sopesar ambos os campos em que se de- reconstruir. E este último alvo é, sem dúvida, possível, para os le-
senvolve a atuação humana, o daquele que sofre a ação dos fatores gítimos penalistas, cônscios, em verdade, da ciência a que servem.
bio-psicológicos e sociais, e o daquele em que se manifesta o fator E enfim, fale-se em tratamento, sempre como alvo que se su-
deliberativo, em razão do arbítrio, à luz da ética exigível dentro do cede ao conhecimento da personalidade e ao reconhecimento das
“mínimo de moral” que se espera para a conduta humana. suas possíveis falhas, deficiências ou defeitos.
Por fim, no que se projeta dentro do campo imenso e intensa- Ainda dentro desse tratamento, deve-se considerar o seu papel
mente sedutor da Criminologia dialética, há que ensejar um amplo disciplinador, ou seja, criar ou desenvolver no delinquente a ne-
debate em busca, ansiosa e plena de inquietude interrogativa, do cessidade basilar de integrar, em sua maneira de ser, uma estrutura
quanto se possa vislumbrar dentro da avaliação epistemológica do disciplinatória de todas as suas vivências, tomando-as sintônicas
que, em verdade, possa continuar a ser admitido e respeitado, e do com a convivência, obrigatória, a que somos levados pela própria
quanto se deva ciente e conscientemente entender objeto de modi- natureza da nossa vida social.
ficação, de reformulação. Disciplina, outrossim, não quer significar despersonalização,
É evidente que, por sua mesma posição de ciência auxiliar amolgamento da vontade, submissão passiva a outrem, e coisas
do Direito, a Criminologia só poderá ir ao ponto de oferecer a sua desse tipo. Com disciplina quer-se significar a conjugação daquilo
colaboração, sem pretender dogmatizar, o que seja uma atitude, que somos, em todos os nossos atributos e prerrogativas, com a
aliás, contrária ao espírito íntimo dessa disciplina especulativa e necessidade da convivência, que sempre impõe necessárias limi-
de investigação científica. Mas, se for válida esta atitude, estudar tações e normas. O que define uma sociedade é justamente uma
mais afincadamente esta Ciência Criminológica, para poder ofere- unidade de ordem, que põe sentido, pragmatismo e possibilidade
cer uma cooperação cada vez mais instruída e idônea, e sacar dela de sobrevivência, de todo um grupo, mas que não pode abolir ne-
prestimosas conclusões. cessariamente a personalidade de cada um, antes até lhe dá condi-
Recorde-se que a referida definição assim soa: pena é “o tra- ções de preservação e permanência. Sem essa unidade de ordem, a
tamento compulsório ressocializante, personalizado e indetermi- vida seria insuportável e o caos social só seria de esperar. E aquilo
nado”. que se poderia entender como liberdade individual, sempre tão ar-
Retira-se dessa definição um conceito acolhedor da mais atu- dorosamente defendida, até além dos seus convenientes limites,
alizada doutrina neo-eclética, iniciando-se por caracterizar a pena desapareceria, envolvida a pessoa no turbilhão em que não poderia
como tratamento. A introdução dessa expressão, hoje de livre cur- sequer sobreviver. Daí que a unidade de ordem é indispensável à
so para os próprios jus-penalistas, desde logo dá a demonstração própria liberdade, garantindo-a, ainda que disciplinando-a.
de como a influência médico-psicológica foi levada avante e com Disciplinado, em que sentido? No de união, conjugação, coo-
plena aceitação, em certos aspectos, pelos cultores do Direito. Nos peração de esforços e de sacrifícios para o bem comum. Sem esse
nossos dias, já não causa espécie o emprego dessa palavra, que traz princípio, a liberdade seria licenciosidade, a pessoa passando a ser
em seu bojo um conteúdo de índole médica, antropológica, clínica. uma vítima da solidão que essa própria liberdade então imporia,
Fala-se, pois, em tratamento como um processo a que deve ser pois que viver em sociedade é, essencialmente, conviver (com
submetido o criminoso e que visa corrigir os defeitos, que possa equivale a junto, e conviver significa viver junto).
haver apresentado em sua personalidade. É claro que o termo até Essa disciplina social precisa ser ensinada e reestruturada em
ultrapassa, de muito, o que em si mesmo quereria traduzir, desde cada criminoso. O seu crime nada mais é do que um ato, afinal, de
que esse tratamento às vezes em nada será médico, podendo ser indisciplina. É mister que o ensino do respeito e da integração des-
apenas pedagógico, ou social. E sempre deverá admitir parâmetros sa disciplina social seja ministrado subjetiva e objetivamente ao
jurídico-penais sob os quais ainda e sempre deve permanecer a delinquente. E até com um cuidado muito zeloso, eis que o crimi-
aplicação da Justiça, segundo o venho defendendo dentro do neo- noso, ao deixar a prisão, certamente vai encontrar uma sociedade
-ecletismo penal. diversa daquela que ele deixou ao iniciar o cumprimento da pena, e
Assim, tratamento será a pena, dentro do amplo conceito ora isso devido ao vertiginoso desenvolvimento da era presente. Des-
expendido, em que entra a atividade médica propriamente dita, ta forma, acompanhando esse desenvolvimento, é indispensável
mas em que, ao lado dela, entra também a pedagogia, o cultivo que o regime penitenciário coloque com o devido cuidado e com
de uma profissão e que a pessoa humana tem de considerar, como a necessária sapiência um sistema disciplinar que prepare o delin-
“animal gregário” que é, e que lhe impõe o estabelecimento dessa quente a compreender que, sem aquelas limitações indispensáveis
Inter-relação. E isso deve assim ocorrer para que o ser humano, no para a manutenção desse regime de convivência, sem essa obriga-
conjunto complexo da sua personalidade, seja deveras tratado lá tória disciplina, ao voltar ao convívio social, este lhe imporá, como
onde o exigir a frincha que permitiu a maior influência crimino- resultante da sua própria essência, aquelas e até novas limitações.
-impelente, seja essa debilidade de ordem somático, fisiológico ou Esse regime disciplinar começa por impor ao criminoso um
cultural, além de ética. tratamento compulsório, isto é, um regime que não é adotado es-
A prática tem demonstrado que a “prisão não cura, corrompe”, pontaneamente, mas que se é obrigado a aceitar e a seguir. Haverá
segundo a frase feita que já corre mundo. Mas se a prisão ainda aí um certo ressabio aflitivo, e até retribuitivo. Mas não há mal
assim se apresenta, é apenas porque ela não se deixou embeber do algum em que se mantenha, na dose adequada, esse caráter tam-
seu legítimo sentido e da sua verdadeira meta. bém, desde que, enfim, o criminoso é submetido a esse tratamento
Para que a distorção do tratamento não venha a ocorrer na pri- a partir de um ato antissocial que praticou, em que foram feridos
são, levando-a para a perversão moral, é que tanto se está lutando interesses, valores, normas, de importância para a manutenção da
no campo da doutrina para iluminar uma prática mais sadia. E o comunidade. E até hoje existe uma corrente que tende para uma
que aqui se vem dizendo, quanto ao tratamento, visa exatamente revisão do excesso de liberalidade em termos de regime peniten-

Didatismo e Conhecimento 5
CRIMINOLOGIA
ciário, com uma também excessiva preocupação com o welfare of É bem claro que não deve ser permitido exagero nesse campo,
the offender, como se só o bem-estar do delinquente importasse e aliás como em nenhum outro. Não é rigorosamente necessário que
fosse o motivo e a razão de ser dos sistemas penitenciários. Esta se pormenorize um só tratamento, e exclusivo, para cada um dos
preocupação mereceu um justo reparo por parte do Prof.López- criminosos. De fato, ainda como para os doentes, a terapêutica dis-
-Rey Y Arrojo, que não deixou de criticar esse erro em colocar põe de meios que abrangem grupos humanos com caracteres afins.
tanta ênfase naquilo que deve ser apenas um dos aspectos a consi- Há grupos que podem receber um tratamento basicamente comum
derar no regime prisional, mas não o principal, nem o essencial. E a todos os seus integrantes. Daí que sempre se cogitou de estabe-
que não pode fazer descuidar o que é primordial, que será sempre a lecer classificações penitenciadas dos criminosos, para ensejar um
recomposição de uma personalidade, inclusive pela compreensão agrupamento de delinquentes de características assimiláveis, para
que ela deva integrar quanto ao erro cometido, pelo qual deve res- serem enviadas a estabelecimentos de determinado tipo.
ponder moralmente também. E então, neste neo-ecletismo penal Na prática, é admissível, porque necessário, que se façam es-
que deve prevalecer nas modernas perspectivas da Criminologia, tes grupos de tipos afins. Mas não se creia que essa seja a maneira
não se pode descartar uma retomada de posição quanto a estas im- ideal de enfrentar e resolver o problema terapêutico penal, desde
plicações éticas do tratamento penitenciário, no qual se deve me- que, bem no âmago dos fatos, está o ser humano, único em seu
nosprezar o campo moral do problema, em termos de tratamento. perfil e na sua colocação perante a circunstância ambiental.
Há aqui toda uma infinita problemática penitenciária, que Como, todavia, será impraticável uma distribuição dos delin-
dependerá das possibilidades efetivas de cada país e região; mas quentes indo até uma personalização assim tão exclusiva, é ad-
sempre se devendo manter uma certa segurança e atenção para mitida a divisão dos estabelecimentos penais em diversos tipos,
com o tipo especial de população com que se vai lidar, sem nos dentro dos quais se enquadrarão, mais ou menos de acordo com
deixar seduzir por facilitações generosas, mas imprudentes, e sem os seus perfis individuais, os diversos tipos de personalizados de
deixarmos de considerar que, no início de tudo, sempre se par- criminosos.
te de uma ação antissocial praticada, cuja responsabilidade moral Mas não se deixe de dizer que, feita a triagem de acordo com
cabe a, quem a efetivou, sem excusa bastante para ela, como o as várias possibilidades que se ofereçam á administração peniten-
julgamento o deve haver definido. Nunca os regimes penitenciá- ciária, e enviados os criminosos para os vários tipos de estabeleci-
rios devem assumir liberalidades excessivas, e até às vezes anun- mentos mais adequados às suas características pessoais, em cada
ciadas quase com excesso, que toca as raias de uma espécie de um desses estabelecimentos poder-se-á, e se deverá, ir mais longe
propaganda. Recentemente, o noticiário dos canais de televisão
na personalização, a partir dos grandes grupos considerados.
deu conhecimento de suas penitenciárias que se projetam em cida-
De um ponto de vista ético, todavia, não deve se afastar esse
des do Interior de São Paulo, com tantas vantagens para o welfare
tratamento: deve ele dar ao criminoso, sem que assim ele se sinta
of the offender (piscinas, quadras de vários esportes, enxadrismo,
deprimido, ou deformado, ou mesmo sensibilizado, a noção da ne-
cinema, TV, etc.) que o locutor de um dos canais, causticamente,
cessidade da sua recuperação moral, desde que o ponto de partida
comentou: o problema que está surgindo é o número excessivo
da sua ação agressiva contra a sociedade se reconheceu sempre
de telefonemas para essas cidades, de numerosos interessados em
no animus que pôs ao serviço da mentalidade criminosa de que
saber o que é necessário realizar para se ingressar e obter vagas
nessas instituições... se deixou assenhorear o seu espírito. Tudo o mais que se possa
A justiça, que hoje vê bem e julga melhor, deve cercar-se de fazer do ponto de vista médico, psicológico, pedagógico em um
serenidade, competência e profundo conhecimento, para saber o enfoque holístico, enfim, ressocializante, deve-se apoiar na base
que deve ser feito de melhor, mas sempre com a extrema serie- de uma sólida, tão sólida quanto possível, reconstrução ética da
dade, que a superioridade da sua posição de suprema sabedoria e sua personalidade. Se não houver a mudança da mente (a meta-
equanimidade deve saber atender e impor. Não é conveniente esse noia, dos gregos), se não houver a sideração da vontade no sentido
caráter que, às vezes, assume uma inautêntica ciência penitenciá- de se robustecer a âmago anímico da personalidade, tudo o mais
ria, de uma pieguice falsa e quase consensual com o delito e o de- pode entrar em falência, pode a qualquer momento ser, de novo,
linquente. O tratamento deve visar o reforço da intimidade anímica submetido às forças crímino-impelentes e por elas dominado, e a
do criminoso, robustecendo caracteres, e não alagando os autores reincidência se manifestar.
de condutas que já foram agressivas para a sociedade, e que se Portanto, dê-se a ênfase maior na reeducação e no fortaleci-
necessita evitar que reincidam na cedência da vontade. E, para tan- mento do núcleo moral da personalidade; ou seja, daquele núcleo
to, use-se a compreensão, o auxílio, a filantropia, o real interesse que é o que define exatamente a natureza humana de que somos
em tudo fazer para recuperar o criminoso, mas não se desvirtue a participantes. A partir daí, então, dê-se ao tratamento todo o conte-
rota a seguir por falsas imagens que se afastem da realidade crua údo de um processo reeducativo, recuperador, ressocializante, indo
da disciplina social e de suas correspondentes responsabilidade. alcançar todos os ângulos da personalidade e mirando a volta de
O tratamento deveria buscar a reeducação (correção do caminho delinquente ao convívio social, com todas as implicações que daí
a seguir). decorrem, inclusive, e principalmente, a atenção que deva ser dada
A personalização da pena foi uma das conquistas mais efeti- aos deveres sociais e à integração de uma pessoa na comunidade; o
vas do positivismo penal e decorre diretamente da Antropologia que importa era receber logo estímulos vários para agir de maneira
Criminal. Foi a demonstração, feita a partir de Lombroso, de que agressiva, antissocial e criminosa, aos quais é dever resistir.
se deve enfocar o criminoso em seus caracteres pessoais, diversos Ora, uma corrente de penalistas e criminologistas há muito
em cada indivíduo, quer do ponto de vista biológico, quer ainda vem reclamando de situação semelhante para a aplicação das pe-
das influências mesológicas que haja recebido, o que levou a tentar nas, naquilo que se denomina de pena indeterminada. De fato, um
um tratamento adequado a cada um desses tipos personalizados de tratamento penal deverá ser aplicado até o momento em que um
criminosos. mínimo de recuperação haja sido obtido, compatível com a volta

Didatismo e Conhecimento 6
CRIMINOLOGIA
do criminoso ao convívio social. Passar daí, é arriscar-se em per- Deixar de dar, entretanto, toda a ênfase que merece este nú-
der o que se haja alcançado. A doutrina tem repetido, com carradas cleo Moral do ser humano é incidir num erro fundamental, visto
de razão, que, tanto as penas de curta duração, quanto aquelas de que a explicação científica da gênese do delito não afasta a neces-
longa duração, são prejudiciais para a pessoa do delinquente. Ora, sidade de se enfocar este outro aspecto da questão, que, no homem,
desde logo se deduz que essa duração deverá ser idealmente aquela é primordial.
que leve o indivíduo a obter aquele ótimo de recuperação, nem A forma de atender às necessidades morais da criatura huma-
antes, e nem depois. E, assim, estabelecer-se-ia condições para um na tem sido apanágio do ensino religioso; e este ensino tem sido
melhor resultado final. facultado nas instituições penitenciárias com ampla liberdade de
Dois óbices têm sido levantados contra esse ideal da pena crença. Ao lado dele, entretanto, complementando-o e abrindo a
indeterminada: um decorrente ainda de um remanescente espírito visão para campos mais amplos, deve-se dar toda a oportunidade
retributivo, que deseja para uma espécie de crimes, uma pena mais à instrução moral e cívica, de largo horizonte, o que não exclui,
severa que para outras espécies de delitos; o outro óbice provém como disse, a prática do culto religioso, mas que abrange inclusive
de uma ideia, a ser corrigida, de que a execução penal passada, das os que não se declaram religiosos, ou tenham apenas parcas no-
mãos do Juiz, para as mãos do técnico. ções sobre as suas crenças.
Quanto ao primeiro desses argumentos contrários à pena in-
determinada, deve-se informar que o tipo de delito praticado nem
sempre corresponde à deformação da personalidade ocorrida no 3.3 MODELOS TEÓRICOS DE
criminoso; às vezes, sim, desde logo se tem uma noção de gravi- NATUREZA BIOLÓGICA, PSICOLÓGICA
dade do comprometimento dessa personalidade, como ocorre na E SOCIOLÓGICA
hediondez de certos crimes; mas pode acontecer o contrário, isto
é, de um pequeno delito seja, todavia, a primeira manifestação de
uma personalidade bastante agressiva.
Justifica-se plenamente que a pena indeterminada seja dotada Parte das reflexões e das pesquisas sobre aquilo que hoje de-
nas nossas leis penais, desde que atendidos os pontos fundamen- signamos de comportamentos desviantes, delinquentes ou crimi-
tais anteriormente referidos, ou seja: que a sua indeterminação nosos, consoante as perspectivas teóricas, tem-se traduzido numa
não fique fora da competência judicante, a qual deliberará sobre a única e simples questão: por que motivo, ou motivos, alguns indi-
extinção da medida punitiva, desde que proposta pelos auxiliares víduos parecem mais predispostos que outros ao cometimento de
técnicos do Juiz. delitos?
Na realidade, a pena fixa é contrária à boa recuperação dos As respostas têm variado consoante as épocas históricas e
criminosos, ao marcar limites artificiais à mesma, e apenas decor- o manancial de conhecimentos teóricos e empíricos disponível.
rentes da quantidade do delito praticado. E deixando de lado a per- Num primeiro momento, os comportamentos delinquentes foram
sonalidade do réu, e sua capacidade de recuperação ético-social, explicados através do recurso a fatores externos aos homens, mas
mesmo quando esteja em vigência o artigo 42 do Código Penal, de alguma forma inexplicáveis, uma vez que foram remetidos para
até hoje não atendido adequadamente quanto “aos antecedentes e as causas sobrenaturais subjacentes a todo o tipo de eventos e de
à personalidade do agente, à intensidade do dolo ou grau da culpa, comportamentos.
aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime”. Os comportamentos delinquentes, e as suas causas e as suas
Não fique sem dizer que, também na apreciação criminoló- relações, eram simplesmente atribuídos à ação de deuses ou outros
gico-clínica do delinquente, deve entrar em cogitação a natureza poderes sobrenaturais.
do delito praticado; é um dos elementos centrais que informa a Num segundo momento, os comportamentos delinquentes
observação do criminoso. passaram a ser explicados através do recurso a fatores internos
Mesmo que fossem aceitos e praticados estes preceitos, sem- ou, melhor dizendo, a qualidades intrínsecas a alguns indivíduos,
pre caberá plenamente a manutenção da liberdade condicional, mesmo que relativamente abstratas, como a maldade, a imorali-
para os que hajam estado segregados do convívio social. E isto dade, o egoísmo ou a desonestidade. Embora ainda persistissem
porque ela representa, nos dizeres de Flamínio Fávero, a convales- explicações de natureza externa, essencialmente sobrenaturais, a
cença penal, isto é, aquele período de prova em que se verifica se o percepção de que alguns seres humanos transportavam em si uma
delinquente já se encontra efetivamente em condições de conviver incapacidade para se conformar às exigências das sociedades mo-
em sociedade de maneira sintônica, e não agressiva. dernas, intrinsecamente justas e racionais, começou a tornar-se
O neo-ecletismo penal pretende dar todo o valor, que é in- preponderante.
constante, à evolução da Criminologia Clínica e na investigação Num terceiro momento, já dominado por paradigmas cientí-
científica das causas da criminalidade, até onde elas possam ser ficos ou “positivos”, os comportamentos delinquentes passaram a
rastreadas e reconhecidas. Mas quer reivindicar a necessidade de ser explicados através do recurso a características biológicas, psi-
se valorizar a atenção para os aspectos morais do ente humano, que cológicas ou sociais específicas e passíveis de serem facilmente
devem ser devidamente computados: observadas e medidas.
- para a indispensável avaliação da responsabilidade moral Ao longo deste percurso, apenas um pressuposto se manteve
pelo ato praticado, em termos de uma justificação, ou não, de tal inalterado. Quem se envolve em delitos é, necessariamente, dife-
ato; rente, e só essa diferença, seja ela biológica, psicológica ou social,
- para o reaparelhamento do núcleo moral do delinquente, a permite explicar, e eventualmente prever e prevenir, os comporta-
fim de aumentar-lhe as resistências futuras aos falares crímino-im- mentos delinquentes. Este pressuposto marcou todas as reflexões
pelentes que no porvir venham a agir de novo sobre o indivíduo. teóricas que foram desenvolvidas até quase ao final do século XX.

Didatismo e Conhecimento 7
CRIMINOLOGIA
No campo da biologia, por exemplo, a diferença foi remetida A obstinada busca de causas explicativas do agir criminoso
para atavismos que se manifestavam, quer a um nível intelectual, em oposição às condutas conforme a lei, somente poderia resul-
quer a um nível físico. Até pelo menos ao final da segunda gran- tar na negação do “livre arbítrio”, apontado até então pela Escola
de guerra mundial, os atavismos foram concebidos como sendo Clássica como verdadeiro fundamento legitimador da responsabi-
hereditários, concepção que legitimou, entre outras práticas «pre- lidade criminal.
ventivas», o isolamento dos “criminosos” ou a sua esterilização É claro que a noção de livre arbítrio não poderia servir a uma
forçada, por forma a que não se pudessem reproduzir, e, no limite, concepção positivista, pois que ensejava um total descontrole e
a sua eliminação física. imprevisibilidade quanto às práticas criminosas. A postura positi-
No campo da psicologia, a diferença foi remetida, quase inva- vista não se coaduna com tal insegurança. Deseja apropriar-se de
riavelmente, para a questão da personalidade e dos seus diferentes um conhecimento que propicie o domínio seguro de leis constantes
traços, o que sustentou toda uma série de estudos e de programas a regerem o mundo e, por que não, o comportamento humano,
de tratamento e de adaptação forçada da personalidade, imatura, inclusive aquele desviado.
impulsiva ou agressiva, do delinquente, às características e às exi- A consequência imediata foi a consideração do criminoso
gências da vida em sociedade. como um “anormal”. A partir daí, bastaria dotar o pesquisador de
A própria sociologia não escapou a este pressuposto. Os de- instrumentos hábeis a selecionar, de forma científica, os crimino-
linquentes foram quase sempre conceptualizados como sendo dife- sos (anormais), em meio à população humana aparentemente ho-
rentes, mesmo que essa diferença se situasse nas diferentes tensões mogênea ou normal.
ou pressões sociais exercidas sobre alguns grupos sociais, e tal O primeiro grande passo dado por um pesquisador nesse sen-
motivou todo um conjunto de programas de redução dessas ten- tido foi a doutrina preconizada por Cesare Lombroso, destacando-
sões ou pressões como principal estratégia de prevenção de com- -se a publicação de sua conhecida obra “O homem Delinquente”,
portamentos delinquentes. em 1876.
O grande marco a inaugurar verdadeiramente os estudos cri- Lombroso entendia ser possível detectar no criminoso uma es-
minológicos encontra-se no surgimento do Positivismo e, mais pécie diferente de “homo sapiens”, o qual apresentaria determina-
especificamente, da chamada “Antropologia Criminal”. Nessa dos sinais, denominados “stigmata”, de natureza física e psíquica.
ocasião opera-se uma mudança singular no que diz respeito ao Esses sinais caracterizariam o chamado “criminoso nato” (forma
objeto das preocupações da ciência criminal. Enquanto a Escola da calota craniana e da face, dimensões do crânio, maxilar inferior
Clássica Liberal preocupava-se com o estudo dos postulados jurí- procidente, sobrancelhas fartas, molares muito salientes, orelhas
grandes e deformadas, corpo assimétrico, grande envergadura dos
dico - penais, procurando desenvolver uma formulação teórico —
braços, mãos e pés, pouca sensibilidade à dor, crueldade, levianda-
dogmática do Direito Penal, o advento da Antropologia Criminal
de, tendência à superstição, precocidade sexual etc.). Todos esses
propicia uma alteração de perspectiva, voltando os olhos da pes-
sinais indicariam um “regresso atávico”, tendo em conta sua clara
quisa científico — criminal para o estudo do fenômeno do crime e,
aproximação com as formas humanas primitivas. Ademais, Lom-
especialmente, da figura do criminoso.
broso intentou demonstrar uma ligação entre a epilepsia e aquilo
O Positivismo exerce grande influência na conformação dessa
que chamava de “insanidade moral”.
nova postura, pois que defende a irradiação do método científico
Percebe-se claramente o conteúdo determinista das teorias
para todas as áreas do saber humano, até mesmo às da filosofia e lombrosianas, o qual conduziria a importantes conclusões e conse-
da religião. Nesse contexto, o Direito e especificamente o ramo quências para a Política Criminal.
jurídico — criminal, também passaram a sofrer influências impor- Ora, se o criminoso estava exposto à conduta desviada forço-
tantíssimas desse referencial teórico então dominante. samente, tendo em vista uma congênita predisposição, seria injus-
O Positivismo Jurídico aproxima o Direito, o quanto possível, to atribuir-lhe qualquer reprovação que fosse ligada ao desvalor de
ao método das ciências naturais, objetivando limitá-lo àquilo que suas escolhas quanto à sua conduta, isso pelo simples motivo de
tenha de concreto, observável, passível de mensuração e descrição. que não atuava por sua livre escolha, mas sim dirigido por forças
Por isso é que seu resultado acaba sendo a limitação do Direito naturais irresistíveis a impeli-lo para os mais diversos atos crimi-
às normas legais, evitando a consideração de fatores axiológicos, nosos. Assim sendo, jamais poderia ser exposto a apenações mo-
metafísicos etc. rais e infamantes. Não obstante, sendo as práticas criminosas com-
O afastamento rigoroso das questões que não fossem subsu- ponentes indissociáveis de sua personalidade, estaria a sociedade
miveis ao método de experimentação científico, ensejou, no bojo legitimada a defender-se, impondo-lhe desde a prisão perpétua até
das ciências criminais, o nascimento da busca de relações e regras a pena de morte.
constantes que tivessem a capacidade de esclarecer o fenômeno da A doutrina lombrosiana, no entanto, foi grandemente critica-
criminalidade. da e desmentida por estudos ulteriores que comprovaram a ine-
E daí dessa efervescência exsurge a Criminologia, desse entu- xistência de indícios seguros a demonstrarem qualquer diferença
siasmo pelo método científico, dando destaque nunca antes cons- fisiológica, física ou psíquica entre homens que perpetraram atos
tatado ao estudo do homem criminoso e à pesquisa das causas da criminosos e indivíduos cumpridores da lei.
delinquência. Não obstante, deve ser atribuído a Lombroso o mérito de ser
Em meio a esse clima, a criminalidade somente poderia ser o primeiro a impulsionar os estudos que dariam origem à Crimi-
estudada com sustentação em dados empíricos ofertados pela de- nologia. Ele iniciou, com a sua Antropologia Criminal, os estudos
monstração experimental de leis naturais seguras e imutáveis. do homem delinquente, razão pela qual tem sido considerado o
O criminoso passa a ser objeto de estudo, uma fonte de pes- verdadeiro “Pai da Criminologia”. A partir dele começam os mais
quisas e experimentos com vistas à descoberta científica das cau- diversos campos de pesquisa de elementos endógenos capazes de
sas do fenômeno criminal. ocasionarem o comportamento criminoso.

Didatismo e Conhecimento 8
CRIMINOLOGIA
Inúmeras investigações científicas nos mais variados campos Portanto, o desvio é funcional, somente tornando-se perigoso
das ciências naturais e biológicas lograram conformar um conjun- ao exceder certos limites toleráveis. Em tais circunstâncias pode
to de teorias elucidativas do fenômeno criminal. A esse conjunto eclodir um estado de desorganização e anarquia, no qual todo o or-
costuma-se denominar “Criminologia Clínica”. denamento normativo perde sua efetividade. Não emergindo disso
Pode-se exemplificar essa corrente criminológica com alguns um novo ordenamento a substituir aquele que ruiu, passa-se a uma
de seus ramos mais destacados: Biologia Criminal, Criminologia situação de carência absoluta de normas ou regras, ficando a con-
Genética, Psiquiatria Criminal, Psicologia Criminal, Endocrinolo- duta humana à margem de qualquer orientação. A isso Durkheim
gia Criminal, Estudos das Toxicomanias etc. dá o nome de “anomia”, efetiva causadora de desagregação e de-
Todas essas linhas de pesquisa têm como traço comum a bus- terioração social.
ca de uma explicação etiológica endógena do crime e do homem O conceito de “anomia” e o reconhecimento da funcionali-
criminoso. Procura-se apontar uma causa da conduta criminosa dade do crime no meio social produzem uma revolução quanto
que estaria no próprio homem, enquanto alguma forma de anor- às finalidades e fundamentos da pena, vez que estes já não devem
malidade física e/ou psíquica. Também todas essas teorias apre- mais ser buscados na fantasiosa profilaxia de um suposto mal. Ou-
sentam um equívoco comum: pretendem explicar isoladamente o tra formulação teórica relevante de matiz estrutural-funcionalista
complexo fenômeno da criminalidade. deve-se a Robert Merton. Ele se apropria do conceito de “anomia”
Em contraposição à “Criminologia Clínica”, surge a denomi- para demonstrar que o desvio não passa de um produto da pró-
nada “Criminologia Sociológica”, tendo como seu mais destaca- pria estrutura social. Portanto, absolutamente normal, consideran-
do representante Enrico Ferri. A “Criminologia Sociológica” pro- do que esta própria estrutura é que vem a compelir o indivíduo
põe uma revisão crítica da “Criminologia Clínica”, pondo a des- à conduta desviante. Merton expõe detalhadamente o mecanismo
coberto que a insistência desta nas causas endógenas da criminali- estrutural que conduz o indivíduo ao crime no seio social: a so-
dade, olvidava as importantes influências ambientais ou exógenas ciedade apresenta-lhe metas, mas não lhe disponibiliza os meios
para a gênese do crime. Aliás, para os defensores da “Criminologia necessários para o seu alcance legal. O indivíduo perde suas refe-
Sociológica”, as causas preponderantes da criminalidade seriam rências, sentindo-se abandonado sem possibilidades “normais” de
mesmo ambientais ou exógenas, de forma que mais relevante do conseguir seus objetivos. Sem os meios legais, mas pressionado
que perquirir as características do homem criminoso, seria identi- para a conquista de certos objetivos sociais, o indivíduo precisa
ficar o meio criminógeno em que ele se encontra. preencher esse vácuo (anomia) de alguma maneira. E a única ma-
No entanto, a “Criminologia Sociológica” em nada inova no neira disponível será a perseguição dos fins colimados por meios
ilegítimos, ilegais e desviantes, uma vez que os legítimos não estão
que tange à postura de procurar uma etiologia do delito. Os cri-
acessíveis.
minólogos ainda insistem em encontrar “causas” para o crime,
De acordo com Merton: “a desproporção entre os fins cultu-
somente alterando a natureza destas, transplantando-as do crimi-
ralmente reconhecidos como válidos e os meios legítimos à dispo-
noso para o ambiente criminógeno. Em suma, muda o “locus” da
sição do indivíduo para alcançá-los, está na origem dos compor-
pesquisa, mas não muda a natureza claramente etiológica desta.
tamentos desviantes”. E mais: “a cultura coloca, pois, aos mem-
Os estudos relativos à atuação do ambiente na criminalida-
bros dos estratos inferiores, exigências inconciliáveis entre si. Por
de são variegados, podendo-se mencionar alguns ramos a título
um lado, aqueles são solicitados a orientar a sua conduta para a
meramente exemplificativo: Geografia Criminal e Meio Natural,
perspectiva de um alto bem-estar; por outro, as possibilidades de
Metereologia Criminal, Higiene e Nutrição, Sistema Econômico, fazê-lo, com meios institucionais legítimos, lhes são, em ampla
Mal vivência, Ambiente familiar, Profissão, Guerra, Migração e medida, negados”.
Imigração, Prisão e contágio moral, Meios de Comunicação etc. Outro referencial importante é a denominada “Teoria da
Ainda no matiz sociológico deve-se dar atenção especial às Associação Diferencial”, produzida por Edwin H. Sutherland.
chamadas “Teorias Estrutural-Funcionalistas”, as quais podem Segundo essa construção teórica, a criminalidade, a exemplo de
ser tratadas como item apartado, tendo em vista suas peculiarida- qualquer outro modelo de comportamento humano, é aprendida
des. conforme as convivências específicas às quais o sujeito se expõe
As Teorias Estrutural-Funcionalistas afirmam que o crime é em seu ambiente social e profissional.
produzido pela própria estrutura social, inclusive exercendo uma Essa linha de pensamento possibilitou a formulação da conhe-
certa função no interior do sistema, de maneira que não deve ser cida “Teoria das Subculturas Criminais”, para a qual o sujeito
visto como uma anomalia ou moléstia social. aprenderia o crime de acordo com sua convivência em certos am-
A base teórica principal é ofertada por Emile Durkheim que bientes, assumindo as características de determinados grupos aos
dá ênfase para a normalidade do crime em toda e qualquer socie- quais estaria preso por uma aproximação voluntária, ocasional ou
dade. Aduz o autor em referência que “o crime é normal porque coercitiva.
uma sociedade isenta dele é completamente impossível”. Mas, o Afirma Sutherland que o processo de “associação diferencial”
autor vai além, chegando a reconhecer que o crime não somente propicia ao sujeito, de conformidade com seu convívio, aprender
é normal, mas também “é necessário” para a coesão social, sendo e apreender as condutas desviantes respectivas. Dessa forma, tal
uma sociedade sem crimes indicadora, esta sim, de deterioração teoria teria a vantagem de poder explicar a criminalidade das clas-
social. Durkheim indica o fenômeno criminal como reafirmador ses baixas tanto quanto a das classes altas. Nesse processo de con-
da ordem social violada e, portanto, legitimador de sua existência. vívio-aprendizado os infratores menos privilegiados praticariam
Toda vez que acontece um crime, a reação desencadeada contra usualmente os mesmos crimes, vez que estariam conectados ao
ele reafirma os liames sociais e ratifica a validade e a vigência das convívio de pessoas de seu nível social e só teriam oportunidade
normas legais. de aprender essas determinadas espécies de condutas delitivas, não

Didatismo e Conhecimento 9
CRIMINOLOGIA
sendo-lhes possibilitado o acesso a conhecimentos e condiciona- b) Negação da ilicitude — o criminoso interpreta suas atua-
mentos que os tornassem aptos a outras condutas mais sofisticadas. ções apenas como proibidas, mas não criminosas, imorais ou des-
De outra banda, os mais abastados teriam acesso ao aprendiza- trutivas, procurando redefini-las com eufemismos.
do de outras modalidades criminosas ligadas naturalmente ao seu c) Negação da vitimização — a vítima da ação delituosa é
meio social. apontada como merecedora do mal ou do prejuízo que lhe foi im-
Em razão disso também dificilmente incidiriam nas condu- pingido.
tas afetas às classes mais baixas. Há certo ponto de contato entre d) Condenação dos que condenam — atribuem-se quali-
a teoria de Merton e a de Sutherland, pois que a modalidade de dades negativas às instâncias oficiais responsáveis pela repressão
conduta atribuída aos indivíduos das classes pobres e abastadas criminal.
apresentaria uma distribuição em conformidade com os meios dis- e) Apelo às instancias superiores — sobrevalorização confe-
postos aos sujeitos para desenvolverem seus impulsos criminosos. rida a pequenos grupos marginais a que o desviado pertence, ade-
No entanto, a formulação de Sutherland tem a pretensão de ser rindo às suas normas e valores alternativos, em prejuízo das regras
mais ampla, fornecendo uma fórmula geral apta a explicar a crimi- sociais normais.
nalidade dos pobres e das classes altas. Para o autor sob comento, Note-se que a mais destacável “técnica de neutralização” é
qualquer conduta desviante seria “apreendida em associação direta
a própria criação de uma subcultura. Esta é a maior ensejadora
ou indireta com os que já praticaram um comportamento crimino-
de abrandamentos de consciência e defesas contra remorsos, na
so e aqueles que aprendem esse comportamento criminoso não têm
medida em que o apoio e aprovação por parte de outras pessoas
contatos frequentes ou estreitos com o comportamento conforme a
lei”. Dessa forma, uma pessoa torna-se ou não criminosa de acordo integrantes do grupo, ocasionam uma tranquilização e um senti-
“com o grau relativo de frequência e intensidade de suas relações mento de integração que não se poderia obter no seio da sociedade
com os dois tipos de comportamento” (legal e ilegal). Isso é o que calcada nas normas e valores oficiais.
se denomina propriamente de “associação diferencial”. Inobstante os avanços obtidos com as “Teorias Estrutural —
Essa maior abrangência da teoria preconizada por Sutherland Funcionalistas”, uma alteração verdadeiramente radical do modelo
a teria tornado mais completa do que aquela defendida por Merton. de pesquisa do fenômeno criminal somente adviria com o surgi-
Segundo a maioria dos críticos, as explicações de Merton seriam mento da chamada “Criminologia Crítica”. É com ela que se leva
bastante satisfatórias para a criminalidade dos pobres, mas não ser- a efeito o abandono da mais constante premissa da Criminologia
viriam para esclarecer por que pessoas dotadas de todos os meios Tradicional, qual seja, aquela de ser o crime uma realidade ontolo-
institucionais e legais para a consecução de seus objetivos sociais, gicamente reificada. A partir das ideias trazidas à tona pela revisão
mesmo assim, perpetrariam ações delituosas. Portanto, não é sem criminológica crítica, o crime passa a ser visto como uma realidade
motivo que o termo “crime de colarinho branco” ou “white collar meramente normativa, moldada pelo Sistema Social responsável
crime” foi cunhado e empregado originalmente por Edwin H. Su- pela edição, vigência e aplicação das leis penais.
therland, em data de 28.11.1939, durante uma conferência que se Por reflexo disso o criminoso deixa de ser encarado como um
passou na sede da “American Sociological Society”, com a finali- “anormal” e o crime como manifestação “patológica”.
dade de fazer referência a uma espécie de criminalidade praticada A explicação para a criminalidade é agora procurada no des-
por pessoas de nível social elevado, e em especial na sua atuação velar da atuação do Sistema Penal que a define e reage contra ela,
profissional. iniciando pelas normas abstratamente previstas, até chegar à efe-
Como derradeira representante da linha de pensamento estru- tiva atuação das agências oficiais de repressão e prevenção que
tural — funcionalista pode-se mencionar a chamada “Teoria das aplicam as leis. Vislumbra-se que a indicação de alguém como cri-
Técnicas de Neutralização”, cujos principais expoentes foram minoso é dependente da ação ou omissão das agências estatais res-
Gresham M. Sykes e David Matza. Trata-se de uma “correção da ponsáveis pelo controle social. Percebe-se que muitos indivíduos
Teoria das Subculturas Criminais”, mediante a complementação praticantes de atos desviantes não são tratados como criminosos,
implementada pelo acréscimo dos estudos das “técnicas de neutra-
até que sejam alcançados pela atuação das referidas agências, as
lização”. Estas seriam maneiras de promover a racionalização da
quais são pautadas por uma conduta e exercem um papel altamente
conduta marginal, as quais seriam apreendidas e usadas lado a lado
seletivo. Ser ou não ser criminoso é algo que não está ligado à pre-
com os modelos de comportamento e valores desviantes, de forma
a neutralizar a atuação eficaz dos valores e regras sociais, aos quais sença ou não de alguma doença ou anormalidade, mas sim ao fato
o delinquente, de uma forma ou de outra, adere. de haver ou não o indivíduo sido retido pelas malhas das agências
Na verdade, mesmo aquele indivíduo que vive mergulhado seletivas que agem baseadas em orientações normativas e sociais.
em uma subcultura criminal não perde totalmente o contato com Propõem as Teorias da Criminologia Radical o abandono do
a cultura oficial e, de alguma forma, sobre a influência e presta velho modelo etiológico, visando erigir uma inovadora abordagem
reconhecimento a algumas de suas regras. E desta constatação que crítica do Sistema Penal, inclusive propiciando um sério questio-
partem Sykes e Matza para lograrem expor os mecanismos usa- namento de sua legitimidade.
dos pelas pessoas para justificarem perante si mesmas e os demais, A Criminologia Crítica é caracterizada por certo matiz mar-
suas condutas desviantes, infringentes das normas oficiais impos- xista, pois parte da ideia de que o Sistema Punitivo é construído
tas pela sociedade. e funciona com apoio em uma ideologia da sociedade de classes.
São descritas algumas espécies básicas de “técnicas de neu- Dessa forma, seu principal objetivo longe estaria da defesa social
tralização”: ou da preocupação com a criação ou manutenção de condições
a) Exclusão da própria responsabilidade — o infrator se en- para um convívio harmônico entre as pessoas. O verdadeiro fim
xerga como vítima das contingências, surgindo muito mais como oculto de todo Sistema Penal seria a sustentação dos interesses
sujeito passivo quanto ao seu encaminhamento para o agir crimi- das classes dominantes. Qualquer instrumento repressivo de con-
noso. trole social revelaria a atuação opressiva de umas classes sobre as

Didatismo e Conhecimento 10
CRIMINOLOGIA
outras. Por isso seria o Direito Penal elitista e seletivo, recaindo minoso adquire importância central nos estudos, que não mais se
pesadamente sobre os pobres e raramente atuando contra os inte- reduzem às dogmáticas jurídicas. O segundo momento relevante
grantes das classes dominantes, os quais, aliás, seriam aqueles que foi o da mudança radical do referencial teórico da Criminologia,
redigem as leis e as aplicam. O Direito é visto como absolutamente propiciado pela emergência da chamada “Criminologia Crítica”.
despido de qualquer finalidade de transformação social. Ao con- Nessa oportunidade abandona-se o modelo de pesquisa etiológico
trário, é encarado como um instrumento de manutenção e reforço - profilático, mediante um consistente questionamento de um lon-
do “status quo” social, conservando e alimentando desigualdades go “processo de medicalização do crime”. O fenômeno criminal
pelo exercício de um poder de dominação e força. passa a ser perquirido como criação da própria organização social
Impõe-se uma conscientização da gigantesca diferença de in- e não mais como um ente pré-existente, passível de compreensão e
tensidade da atuação do Direito Penal sobre setores desvalidos da apreensão pela aplicação isolada do método das ciências naturais.
sociedade, enquanto apresenta-se bastante leniente e omisso pe- A virada epistemológica propiciada pela “Criminologia Crí-
rante condutas gravíssimas ligadas às classes dominantes. tica” não desmerece o conjunto dos estudos anteriores e nem re-
É nesse contexto que emerge a “Teoria do Labeling Approa- presenta um ponto final para a pesquisa criminológica. Tão so-
ch” ou “Teoria da Reação Social”. mente faz perceber que são possíveis explicações parciais para o
Enquanto o pensamento criminológico até então vigente ad- fenômeno criminal, mas jamais tal questão pode ser devidamente
vogava a tese de que o atributo criminal de uma conduta existia ob- desvendada de forma simplista e reducionista. A criminalidade e
jetivamente, como um ente natural e até era preexistente às normas a violência em geral são problemas complexos que somente per-
penais que o definiam num mero exercício de reconhecimento, o mitem uma visão ponderada através de um conjunto de saberes
qual, aliás, consistia em um certo acordo universal, um consenso e métodos de investigação, os quais, isolados, produzem noções
social; a “Teoria do Labeling Approach” virá para desmistificar fantasiosas e distorcidas. Não é por outro motivo que atualmente
todas essas equivocadas convicções. se fala numa “Criminologia Integrada”.
O “Labeling Approach” ou “etiquetamento” indica que um Neste item procedeu-se a uma retomada dessa evolução dos
fato só é tomado como criminoso após a aquisição desse “status” estudos criminológicos já anteriormente levada a efeito em outro
através da criação de uma lei que seleciona certos comportamentos trabalho com um objetivo bastante definido: pretendeu-se expor o
como irregulares, de acordo com os interesses sociais. Em seguida, mais clara e pormenorizadamente possível como se chegou à pon-
a atribuição a alguém da pecha de criminoso depende novamente derada e racional conclusão de que o “crime” em si não existe na
da atuação seletiva das agências estatais. natureza, tratando-se do resultado de normas humanas convencio-
Passa a ser objeto de estudo da Criminologia a descoberta dos nadas. O criminoso, portanto, é somente todo aquele que infringe
mecanismos sociais responsáveis pela definição dos desvios e dos tais normas e não o portador de anomalias. As pesquisas etiológi-
desviantes; os efeitos dessa definição e os atores que interagem co-profiláticas, que são o original impulso da Criminologia, são
nessas complexas relações. Deixa-se de lado a ilusão do crime impregnadas de um determinismo irreal porque baseadas em uma
como entidade natural pré- jurídica e do criminoso como portador noção ilusória do crime como ente natural pré-jurídico, que o Di-
de anomalias físicas ou psíquicas. reito Penal somente faz reconhecer e declarar, quando, na verdade,
Essa nova linha de reflexões produz uma derrocada no mito do o crime é uma criação do Direito, podendo inclusive modificar-se
Sistema Penal como recuperador dos desviados. Contrariamente, ao longo do tempo e das mudanças sociais.
entende-se que a atuação rotuladora do Sistema Penal exerce forte Ainda que certos eventos criminais possam ser validamente
pressão para a permanência do indivíduo no papel social (margi- explicados por meio de uma abordagem etiológica (o homicídio
nal e marginalizado) que lhe é atribuído. O sujeito estigmatizado perpetrado por um esquizofrênico que acredita estar esfaqueando
ao invés de se recuperar, ganharia um reforço de sua identidade um monstro), deve-se ter em mente que se trata de um critério
desviante. Na realidade, o Sistema Penal assim concebido passa válido somente de forma eventual e parcial. Além disso, mesmo
a ser entendido como um criador e reprodutor da violência e da sua validade eventual em nada atinge a conclusão inarredável de
criminalidade. que o crime é uma criação normativa, um filho do Direito e das
Finalmente cabe expor sumariamente a relação entre a “So- convenções e não um rebento da natureza. O retorno a uma noção
ciologia do Conflito” e a “Nova Criminologia”. equivocada a este respeito, devido a qualquer espécie de descober-
Como já visto, a Nova Criminologia põe em cheque a ideia de ta científica e novas possibilidades de intervenção, constitui um
que as normas de convívio social derivam de certo consenso em enorme retrocesso do pensamento criminológico com riscos de
torno de valores e objetivos comuns. terríveis consequências sociais e individuais.
Aí está o ponto de contato com a “Sociologia do Conflito”,
que apregoa ser uma tal concepção uma mera ficção erigida com CONDICIONANTES BIOLÓGICOS
a finalidade de legitimar a ordem social. Na realidade, essa ordem
social seria produto não de consenso, mas do conflito de interesses É habitual a questão do crime envolver uma série de refle-
de grupos antagônicos, prevalecendo a vontade daqueles que lo- xões e comentários que ultrapassam em muito o ato delituoso em
graram exercer maior dominação. si; são questões que resvalam na ética, na moral, na psicologia e
Com o esboço desse quadro evolutivo da ciência criminológi- na psiquiatria simultaneamente. Sempre há alguém atribuindo ao
ca, é possível determinar dois principais momentos de mudanças criminoso traços e características psicopatológicas ou sociológi-
conceituais e epistemológicas: o primeiro deles refere-se à transi- cas: porque Fulano cometeu esse crime? Estaria perturbado psi-
ção do Direito Penal Clássico para o nascimento da Criminologia, quicamente? Estaria encurralado socialmente? Seria essa a única
sob a égide do Positivismo, com as inaugurais pesquisas lombro- alternativa? Ou, ao contrário, seria ele simplesmente uma pessoa
sianas de Antropologia Criminal. Somente aí é que o homem cri- maldosa? Portadora de um caráter delituoso, etc.

Didatismo e Conhecimento 11
CRIMINOLOGIA
Atualmente, apesar da ciência não ter ainda algum consenso Os estudos parecem apontar na identificação das disfunções
definitivo sobre a questão, sabe-se, no mínimo, que qualquer abor- neuropsicológicas relacionadas ao comportamento violento estar
dagem isolada do ser humano corre enorme risco de errar. presente no lobo frontal e nos lobos temporais. O Lobo Frontal
se relaciona à regulação e inibição de comportamentos, a forma-
Fatores bioquímicos ção de planos e intenções, e a verificação do comportamento com-
Os estudos neste grupo causal procuram dosar algumas subs- plexo, suas alterações teriam como consequência dificuldades de
tância possivelmente envolvida com o comportamento violento, atenção, concentração e motivação, aumento da impulsividade e
como por exemplo, o colesterol, a glicose, hormônios e alguns da desinibição, perda do autocontrole, dificuldades em reconhecer
neurotransmissores. a culpa, desinibição sexual, dificuldade de avaliação das consequ-
Virkkunen, em 1987, procurou demonstrar a diminuição nos ências das ações praticadas, aumento do comportamento agressivo
níveis séricos de colesterol em pessoas com comportamento cri- e aumento da sensibilidade ao álcool (sintomas positivamente cor-
minoso, da mesma forma como também se associava os baixos relacionados com o comportamento criminoso), bem como inca-
níveis de glicose. pacidade de aprendizagem com a experiência (sintoma correlacio-
Como o álcool é frequentemente relacionado com o com- nado positivamente com a alta incidência de recidivas entre alguns
portamento violento, foi também estudada a sua associação com tipos de criminosos).
glicose e colesterol. Fisiologicamente se demonstra que, de fato, Os Lobos Temporais regulam a vida emocional, sentimentos,
o álcool diminui o açúcar na corrente sanguínea por inibição da instintos, comandam as respostas viscerais às alterações ambien-
produção de glucose hepática. Deste modo, o álcool ao fazer dimi- tais. Alterações nesses lobos resultam em inúmeras consequências
nuir a quantidade de açúcar no sangue pode ser apontado como um comportamentais, das quais se destacam a dificuldade de experi-
fator facilitador do crime. mentar algumas emoções, tais como o medo e outras emoções ne-
Quanto ao colesterol a situação é mais curiosa ainda. Virkku- gativas e, consequentemente, uma incapacidade em desenvolver
nen mostrou que a relação entre o colesterol e o álcool pode ter até sentimentos de medo das sanções, postura esta frequente em cri-
uma finalidade discriminante. Ele conseguiu isolar dois grupos de minosos. Esses estudos procuram associar o crime com alterações
pessoas envolvidas com o alcoolismo; um grupo representado por cerebrais especificas. (Cristina Queirós, A importância das aborda-
pessoas que ficam agressivas quando bebem e outro, por pessoas gens biológicas no estudo do crime).
que bebem mas não ficam agressivos. Os primeiros mostraram me-
Fatores psicofisiológicos
nor nível de colesterol do que os segundos. e, estes, menor nível
O enfoque psicofisiológico se baseia essencialmente na avalia-
ainda do que os sujeitos não delinqüentes, verificando-se que a
ção da função cerebral (fisiopatologia), como por exemplo a Ativi-
maior violência aparece associada a menor quantidade de coles-
dade Elétrica da Pele, o Eletroencefalograma e o Eletrocardiograma,
terol.
trabalhando sobretudo em contexto laboratorial. Falta, no momento,
No que diz respeito ao nível neuroendócrino, a hormônio mais
uma metanálise de outros tipos de investigação da função cerebral,
relacionado á agressividade é a testosterona. A pesquisa verifica os
como por exemplo, os estudos com PET e SPECT .
níveis desse hormônio tomando por base três comparações; entre
Os estudos demonstraram que, tanto a ativação tônica (reação
criminosos, entre criminosos e não criminosos (grupo controle) e global do sujeito na ausência de estimulação específica) quanto a
entre não criminosos relacionando-se com a agressividade e não ativação fásica (reação a estimulação específica), é menor nos cri-
agressividade. minosos. Também apresentam, os criminosos, uma média menor
Nas investigações entre pessoas não criminosas os resultados do ritmo cardíaco, menor nível de condutância da pele e maior
são muito variáveis e até contraditórios, concluindo-se por vezes tempo de resposta na atividade elétrica da pele, bem como regis-
que não há correlações entre testosterona e potencial para agressi- tros eletroencefalográficos com maior incidência de anormalida-
vidade (Rubin, 1987). Entre criminosos e não criminosos (Olweus, des (Fowles, 1980; Hemming, 1981; Satterfield, 1987; Volavka,
1987; Rubin, 1987; Schalling, 1987) os resultados são mais consis- 1987; Hodgins & Grunau, 1988; Milstein, 1988; Venables, 1988;
tentes, mas nem sempre são significativos. Alguns desses resulta- Buikhuisen, Eurelings-Bontekoe & Host, 1989; Patrick, Cuthbert
dos mostram criminosos apresentando maior nível de testosterona & Lang, 1994).
do que os não criminosos. Alguns estudos trabalharam também com crianças e adoles-
Sobre as influências neuroquímicas no comportamento agres- centes (Magnusson, 1988), e demonstraram que as crianças com
sivo, algumas das substâncias mais estudadas (Rubin, 1987; Mag- comportamentos considerados desviantes apresentam maior ativa-
nusson, 1988; Bader, 1994) são a serotonina, que existiria em ção do sistema nervoso. No entanto estudos longitudinais (Raine,
menor quantidade, o ácido fenilacético e a norepinefrina, que exis- Venables & Williams, 1990 e 1995) demonstraram que adolescen-
tiriam em maior quantidade nos criminosos. tes com comportamentos antissociais e que posteriormente vieram
Esses estudos procuram estabelecer uma correlação entre al- a cometer crimes apresentavam significativamente menor ativação
terações bioquímicas capazes de desencadear comportamentos cri- cardiovascular e eletrodérmica, do que os que não cometeram cri-
minosos, bem como as associações entre tais alterações, ingestão mes.
de álcool e criminalidade. Através da apresentação das quatro categorias citadas é possí-
vel constatar que foram realizados diferentes estudos. Apesar das
Fatores neurológicos metodologias utilizadas e dos resultados serem por vezes questio-
Esses estudos (Buikhuisen, 1987; Hare & Connolly, 1987; nados, a maior parte dos trabalhos podem ser considerados cien-
Nachshon & Denno, 1987; Pincus, 1993) associam desordens do tíficos e metodologicamente corretos, demonstrando que de fato,
comportamento com eventuais alterações cerebrais, essencialmen- podem existir fatores biológicos implicados no crime, sejam estes
te no hemisfério esquerdo. identificados como genes, hormônios, neurotransmissores, etc.

Didatismo e Conhecimento 12
CRIMINOLOGIA
Constata-se também que, apesar de alguns estudos não re- Na constituição da personalidade interferem ou atuam múl-
ferirem apenas as variáveis biológicas, mas também as variáveis tiplas variáveis de ordem biopsiquica (constituição biopsíquica)
psicológicas e contextuais, a divulgação dos seus dados é efetuada somadas às experiências vividas (integração). Como colocado por
segundo uma lógica reducionista e determinista, tentando estabe- odon ramos maranhão, constituição é o conjunto da estrutura do
lecer uma causalidade linear entre fatores biológicos e o crime e, organismo e do temperamento.
contribuindo deste modo para a rejeição das abordagens biológicas A estrutura da personalidade é integrada por:
no estudo do crime. - tipo morfológico: conformação básica;
Funcionando de acordo com esta perspectiva linear, se um su- - tipo temperamental: disposição emocional básica;
jeito cometeu um crime porque as suas características biológicas - caráter conjunto de experiências vividas.
assim o determinam, e se estas são fáceis de identificar (ex.: medir A personalidade apresenta particularidades, que são suas ba-
a quantidade de glicose, colesterol, EEG, etc), porque não prevenir ses fundamentais (maranhão), a saber:
o crime em pessoas, digamos, “de risco”. Avançando um pouco - unidade e identidade: que lhe permitem ser um todo coeren-
mais, porque não efetuar terapias genéticas no embrião para os te, organizado e resistente;
sujeitos que apresentam a este nível alterações identificadas como - vitalidade: caracterizando um conjunto animado e hierarqui-
características do criminoso? zado, com oscilações interiores (fatores endógenos) e estímulos
Perante estas questões levanta-se uma outra, que é do arbí- exteriores (fatores exógenos), que reage e responde;
trio individual, anulando esta liberdade através da certeza do com- - consciência: que mantém a informação sobre o si mesmo e
portamento ser desse jeito porque é determinado unicamente por o meio;
fatores biológicos. Essas questões são de primordial importância - relações com o meio ambiente: caracterizadas pela regulação
na Psiquiatria Forense porque dizem respeito à imputabilidade, entre o eu e o meio ambiente.
culpabilidade e responsabilidade. De qualquer forma, parece que
a idéia da biologia ser a única e/ou principal determinante do Personalidade Normal
comportamento é universalmente rejeitada. É difícil estabelecer um critério de personalidade normal.
Assim sendo, tentar explicar o comportamento e as atitudes Vários autores adotaram diversos critérios para atingir tal fim.
humanas, apenas a partir de fatores biológicos não parece ser um Exemplificamos duas classificações: a primeira, baseada no crité-
bom método, pois qualquer comportamento, incluindo o compor- rio biopsicológico e, a segunda, baseada em tipos somáticos.
tamento criminoso, é considerado como um conjunto de inúmeros
O critério biopsicológico, descrito por kretschmer, apresenta
processos em complexa interação. Em nosso caso, essa interação
três tipos somáticos:
se dá através do vocábulo tríplice; bio-psico-social.
a) Leptossômico: Alto, magro, pouco musculoso, rosto afila-
Segundo Cristina Queirós, a perspectiva biológica utilizada
do, encanece precocemente, é introvertido e oscila da insensibili-
pelos vários estudos descritos pode ser considerada como uma
dade á hipersensibilidade (esquizotímico).
“biologia das causas”. A alternativa a esta perspectiva mecanicis-
b) Pícnico: Baixo, gordo, com abdome volumoso, sem pes-
ta seria a “biologia dos processos”, que começa a ser utilizada
coço, com tendência à calvície, apresenta variações frequentes de
atualmente, através da abordagem bio-psico- social, a qual tenta
humor, da euforia à depressão (ciclotímico).
articular os fatores biológicos com os restantes níveis do compor-
tamento humano. c) Atlético: De aspecto trapezoidal, ombros largos, relevos
Na avaliação da biologia do crime, mesmo reconhecendo ser musculares evidentes, é explosivo e agressivo (epileptóide).
necessário perscrutar as bases biológicas do crime, esta deverá
considerar, obrigatoriamente, a interação com outros fatores en- Sheldon descreveu os tipos somáticos, com base embriológi-
volvidos (Farrington, 1987; Raine & Dunkin, 1990; Farrington, ca, englobando três tipos básicos: endomorfo, mesomorfo e ecto-
1991), não esquecendo que o todo o indivíduo é um ser biológico morfo.
em interação com o meio (Karli, 1990). Outras classificações de menor importância são baseadas em
Em suma, pode-se concluir que as abordagens biológicas, critérios filosóficos, sociológicos e psicanalíticos.
apesar de serem geralmente vistas como polêmicas e discricioná- O critério jurídico é definido pelos códigos:
rias, também são importantes no estudo e na compreensão do - Penal — dirige-se a entender o caráter do fato e a determi-
crime e do criminoso, não devendo nem ser negadas nem super- nar-se conforme esse entendimento.
valorizadas. - Civil, de acordo com Maranhão — presume capacidade geral
Interpretando os fatores biológicos como representantes da e faz restrições parciais e absolutas, considerando as capacidades
personalidade da pessoa, será possível articular este aspecto cons- de discernimento, intenção, consciência e juízo.
titucional com outros níveis da personalidade, bem como com os
níveis do ato transgressivo e com o significado deste. Personalidades Patológicas
Ante o exposto, mais uma vez baseado nos trabalhos do Pro-
CONDICIONANTES PSICOLÓGICOS fessor odon ramos maranhão, podemos considerar fazendo parte
das personalidades patológicas as seguintes perturbações:
Personalidade - do desenvolvimento e da continuidade, representadas pelos
Segundo Porot, personalidade é a síntese de todos os elemen- atrasos e infranormalidades — são as oligofrenias;
tos que concorrem para a conformação mental de uma pessoa, de - da senso-percepção, da ideação e do juízo crítico, represen-
modo a conferir-lhe fisionomia própria. Em termos gerais pode- tadas pelas psicoses (alienações) e pelas demências (deterioração
mos dizer que é o hardware da pessoa. mental);

Didatismo e Conhecimento 13
CRIMINOLOGIA
- da harmonia intrapsíquica, provocando sofrimentos cons- Os criminosos em série geralmente são psicopatas. Um termo
cientes de causa insconsciente, representadas pelas neuroses; usado para designar não somente doenças mentais. “Um psicopata
- do caráter, de base constitucional, representadas pelas perso- pode não ser exatamente um doente mental”, afirma a psicóloga
nalidades psicopáticas. Maria de Fátima Franco dos Santos professora de Psicologia Fo-
rense da Puc de Campinas - SP. São pessoas com personalidades
Oligofrenias de difícil relacionamento social. A personalidade é uma peça que
As oligofrenias, também denominadas atrasos ou debilidades começa a ser formada bem cedo no ser humano, desde a sua con-
mentais, são insuficiências congênitas, caracterizadas pelo não-de- cepção e termina por volta dos cinco anos de idade. Neste período,
senvolvimento da inteligência; diferem das demências, caracteri- a criança recebe os elementos necessários vão servir de base para
zadas por deterioração da inteligência normalmente desenvolvida. o seu comportamento pelo resto da vida. Daí grande parte dos cri-
São vários os critérios diagnósticos: minosos psicopatas serem frutos de famílias desestruturadas e de
a) Psicométrico lares violentos.
Baseado em medidas do quociente de inteligência, é o crité- Já os doentes mentais interagem com o mundo a partir de uma
rio mais conhecido, mas que por apresentar muitas deficiências, é realidade que eles mesmos criam. Os psicopatas, ao contrário, in-
atualmente muito combatido. Divide os deficientes em três grupos: terferem na realidade a partir de sua personalidade desajustada aos
- Idiotas: com Q.I. até 30, para alguns autores, e até 20 para padrões sociais. São assim alguns estupradores e assassinos de sé-
outros. rie, sendo estes últimos os casos mais graves.
- Imbecis: com Q.I. entre 30 e 60 segundo um critério e entre Veja algumas características deste tipo de criminoso:
20 e 40 em outro. - São em grande maioria psicopatas;
- Débeis: com Q.I. entre 60 e 90 segundo um critério e entre - Gostam de demonstrar poder (são narcisistas, onipotentes,
40 e 65 em outro. dominadores, machistas); - Sempre reincidentes, raramente come-
te o crime somente uma vez.;
b) Escolar - Sadismo, sentem prazer em assistir o sofrimento alheio;
Baseado no desenvolvimento e na cronologia, é o critério - Não assumem o crime, geralmente só confessam por deslizes
mais aceito e mais justo, dividindo as deficiências em ligeiras (dé-
movidos pelo prazer em reviver o momento do crime.
beis), médias e profundas (idiotas). Permite ainda um tipo deno-
- São levados ao crime por motivos diversos: uma homosse-
minado atrasados profundos, equivalentes aos idiotas do critério
xualidade latente pode levará violência contra a mulher, por ser a
psicométrico.
criatura odiada, ou à violência contra homens, em uma tentativa de
Outros critérios diagnósticos são o social e o clínico; porém,
atacar a morbidade encontrada em si mesmo.
são pouco utilizados. São inimputáveis.
Atenção: psicopatas não são tipos raros. Estima-se que 40%
Alienações da população seja formada por psicopatas, ou seja, pessoas que
Alienações ou psicoses são alterações psíquicas que tornam o sofrem de sérios distúrbios de personalidade a ponto de interferir
indivíduo impossibilitado de manter uma vida normal e de parti- em seu relacionamento social.
cipar da vida em sociedade (vida coletiva e social), resultando daí Como agem? - Modus Operandis
as designações alienação ou alienados. São os “loucos de todo o - Atacam em locais públicos; - Escolhem vítimas sozinhas;
gênero” do Código Civil e a “doença ou doente mental” do Código - Os ataques são, em sua maioria, noturnos e durante finais
Penal. São exemplos a psicose maníaco-depressiva (atual distúr- de semana;
bio bi-polar), as epilepsias, as senis, a esquizofrenia e as altera- - Abordam pedindo informação ou oferecendo algo atrativo;
ções decorrentes do alcoolismo, da sífilis, das drogas, da arterios-
clerose e dos traumatismos crânio- encefálicos. São inimputáveis, Personalidade Delinquente
via de regra. Os indivíduos com personalidade delinquente são portadores
de defeitos graves do caráter, quase sempre estruturados e geral-
Demências mente irreversíveis. Considerados delinquentes essenciais, primá-
De acordo com o pensamento de Seglas, as demências ou de- rios ou verdadeiros, são também conhecidos como portadores de
teriorações mentais são caracterizadas por um enfraquecimento personalidades dissociais.
(deterioração) intelectual progressivo, global e incurável. Podem De acordo com JERKINS, citado por MARANHÃO, o psi-
ser exemplificadas pelas senis (arteriosclerose, demência e Alzhei- copata (personalidade psicopática) apresenta falta de adequadas
mer) e pelos traumatismos. São inimputáveis, via de regra. inibições, o que o leva a desordens do comportamento e à ação an-
tissocial, enquanto a personalidade pseudo-social (delinquente) se
Personalidades Psicopáticas mostra capaz de se adaptar a grupos de comportamento desviado.
Personalidades psicopáticas ou antissociais são as determina-
das por conduta anormal, social ou não (reação antissocial). Neuroses
Segundo entendimento de Maranhão são indivíduos cronica- As neuroses manifestam-se por alterações frequentes, geral-
mente antissociais, sempre em dificuldades, que não tiram provei- mente sem base anatômica conhecida, que não alteram a persona-
to das experiências vividas, nem das punições sofridas e que não lidade. Caracterizam-se por perturbações afetivas, inadaptação à
mantém lealdade real a qualquer pessoa, grupo ou código. realidade e sensação de insuficiência afetiva e social, dentre outras.
Apresentam ausência de sentimentos, incluindo sentimento de São exemplificadas por distúrbios neuro-vegetativos (azia,
culpa, tendência à impulsividade, agressividade, falta de motiva- dor e/ou batedeira no peito etc.), doenças psicossomáticas (gastri-
ção e intolerância à frustração. Normalmente são religiosos. São te, colite etc.), fobias (“medo” de altura, de pontas, de aranha etc.),
semi-imputáveis, via de regra. histeria, angústia e compulsão, dentre outros.

Didatismo e Conhecimento 14
CRIMINOLOGIA
As pessoas portadoras de neuroses são pessoas capazes, pois a nais entre filho e pai, entre filho e mãe, assim como os dos pais entre
personalidade está preservada. si, são de hábito conturbados no caso de delinquentes, muito mais do
Incidente de Sanidade Mental que nos lares de onde provêm os jovens obsessivos fóbicos.
Quando há dúvida sobre a integridade psíquica do agente cri- Curiosamente, porém, assinalam alguns autores, não se veri-
minal, determina-se o “exame prévio”, nos termos dos arts. 149 e ficam diferenças de vulto no trato entre os irmãos, quer considere-
151 do Código de Processo Penal. Como complemento, apresen- mos um ou outro dos grupos comparados.
tamos, baseadas nos trabalhos de Maranhão, as diferenças mais A conduta leviana, incoerente, dos pais, influi de modo nocivo
significativas entre as neuroses e a personalidade delinquente. na estruturação da personalidade da criança que poderá vir a ser
um psicopata delinquente. Também importa mencionar aqui a pro-
porção de menores perturbados da conduta que foram amamenta-
Neuroses Personalidade delinquente dos pela mãe é insignificante e, quando o foram, o desmame se deu
precocemente. Com os conhecimentos que possuímos hoje acerca
Com conflito interno Sem conflito interno da formação da personalidade, é fácil compreender que esses fato-
Agressividade voltada à res negativos estão no núcleo dinâmico e genético do problema que
Agressividade voltada a si ora nos ocupa. A base de toda a situação psicopática-delinquente
sociedade
é um impulso, devido à carência das funções de adaptação alo-
Alivia tensões internas por plástica do ego. Entretanto, como a confusão é frequente, importa
Gratifica-se por fantasias
meio de ações criminosas salientar que impulso e compulsão são diferentes. A compulsão ca-
Admite seus impulsos e os Atribui seus impulsos ao racteriza o ato obsessivo, mandato interior para fazer algo sentido
reconhece como seus mundo exterior como desagradável, por doloroso, cruel ou repugnante. Na prática
Desenvolve relações Desenvolve defesas clínica, os atos compulsivos podem às vezes com fundir-se com os
emocionais positivas emocionais impulsos, principalmente se estes estão sobrecarregados de culpa.
A delinquência, que se impõe como expressão mais ostensiva
Socialmente ajustado Comportamento dissocial
da psicopatia, é um transtorno psíquico essencialmente evolutivo,
Reage à passividade e Procura negar a passividade que atinge o processo de personificação. Em consequência, há um
dependência com sofrimento, e a dependência com atitudes déficit do sentido de realidade, de sentimento de identidade, da
mas admite a situação. agressivas noção do esquema corporal e da capacidade de síntese do ego. A
adaptação à realidade, não obstante a fachada de lucidez, é uma
Caráter normal Caráter deformado (dissociai)
pseudo-adaptação, decorrente da falta de integração adequada no
nível afetivo e da inaptidão a aprender com a experiência. E sobre
As características psicológicas profundas da delinquência isso somem-se as deficiências de abstração, o que leva o psicopata
estão catalogadas, hoje, graças às investigações de autores muito delituoso a incorporar experiências concretas sem seu correspon-
sérios. dente valor simbólico. Portanto, se não vivencia o significado efe-
Os menores delinquentes, por exemplo, raramente apresentam tivo de muitas situações existenciais, importantes, consegue ape-
sintomas neuróticos. São de manejo difícil, mas procuram con- nas verbalizar suas emoções e tem extremamente comprometido
quistar a atenção e os sentimentos de pena dos circunstantes, assim o processo do pensamento. Com efeito, pensar implica retardar a
como só excepcionalmente apresentam dificuldade de aprendiza- ação, esperar o momento apropriado para a gratificação desejada.
gem escolar em relação a certas matérias, o que, no entanto é fre- Como explicar, então, as habilidades mentais e motoras que
quente, nas crianças neuróticas, devido à inibição intelectual de caracterizam a maioria dos delinquentes, a ponto de escaparem
causa afetiva. O que lhes é comum, a menores neuróticos e meno- impunes de inúmeros roubos, assassínios, embustes, etc.? E que,
res delinquentes, é a instabilidade da atenção. Consequentemente, como salientou Edgardo Rolla, esse “indivíduos fizeram de sua
atrasam-se na escola. O menor delinquente devaneia menos, pois forma de viver um tipo de especialização da coordenação motora
está dominado pelas tendências a dramatizar suas fantasias em estriada, e consequentemente da coordenação do pensamento, que
ações. Quanto à conduta sexual, as diferenças mais significativas lhes permite cometer com o máximo de impunidade as ações fun-
que se registram entre menores delinquentes e menores neuróticos damentais características do psicopata”.
dizem respeito às perversões manifestas, mais comumente obser- Acentua-se ainda que, na psicopatologia desses indivíduos, se
vadas naqueles. No referente à formação da personalidade, o que evidencia uma outra peculiaridade do psiquismo, que é a pertur-
se aponta com mais frequência nos delinquentes é a distorção do bação de função sintética do ego, da qual depende a integração
superego. dos impulsos e o seu aproveitamento para o desenvolvimento da
De ordinário, os menores delinquentes sofrem pressões am- personalidade. Daí o déficit de autocrítica, a desconsideração da
bientais mais traumatizantes que os neuróticos. E ainda ressalta realidade e a sempre possível eclosão criminosa.
o fato de terem passado, muitas vezes, um bom tempo de sua in- Um dos aspectos do nosso tema, que talvez seja o que mais
fância recolhidos a instituições, do gênero reformatório. Os neu- empolga no momento, é o da delinquência juvenil cujo substra-
róticos provêm de lares que aparentam uma relativa estabilidade, to psicopatológico pode consistir em qualquer tipo de psicopatia.
enquanto, entre delinquentes, o habitual é que provenham de lares Duas séries de fatores objetivos, convergindo para os sentimentos
totalmente destruídos. Os pais de menores delinquentes dão mos- da infância e seus privilégios, de um lado, e de outro, a expectativa
tras de instabilidade temperamental ou mesmo de tendências ou ansiosa do futuro, contribuem para o quadro complexíssimo que
atuações antissociais francas. Os pais de crianças rotuladas como configura a crise da adolescência. Nessa crise, de ação e de expres-
neuróticas são em geral neuróticos manifestos. Os laços emocio- são, o jovem corre atrás de suas definições: a sexual e a de identi-

Didatismo e Conhecimento 15
CRIMINOLOGIA
dade. As expressões fenomenológicas dessa etapa subordinam-se CONDICIONANTES SOCIAIS
às defesas antidepressivas. Nesse jogo defensivo, recorrem à men-
tira, à má-fé, às identificações projetivas maciças e, mais grave- Condição Social versus Violência
mente, às crises de despersonalização. A atividade desses jovens Há quem considere a violência uma característica contempo-
psicopatas, que facilmente caem no delito, tanto em casa como rânea, que emana da evolução do homem, da globalização, da ex-
na escola, no trabalho, nos locais de diversão, tende a ser predo- clusão e dos diversos níveis sociais.
minantemente negativa, tanto do ponto de vista da produtividade Ocorre que a violência, e por consequência a criminalidade,
quanto da ética. Procedem de lares carentes de figuras parentais não se encontram restritas a esse ambiente. Quem assim pensa
apropriadas para uma boa identificação. São pais de caráter muito só conhece da violência atual das megalópoles, e já se equivoca
infantil, desejosos de transformar os filhos em seus protetores, nos porquanto desde os primórdios a violência acompanha a conduta
diferentes níveis emocionais. O resultado de tal relacionamento humana, ou melhor, faz parte da natureza do homem independente
com os pais é desastroso. Sem modelos maduros, esses jovens são deste encontrar-se em ambiente urbano ou rural. Naquele sentido,
capazes de desenvolver as qualidades que levam naturalmente ao quando falamos de violência estaríamos deixando à margem aque-
equilíbrio adulto. Crescem, se é que se pode chamar a isso crescer, la violência do campo onde as contendas são resolvidas “na base
na dependência de mecanismos de repressão maciça e de negação do facão”, porquanto, ademais, não se revestem na degradação
dos instintos, o que os isola da realidade. Incrementando-lhes o lato sensu do homem.
narcisismo e as fantasias de onipotência, fonte de suas defesas an- Como anteriormente citado, alguns homens cometem crimes
tidepressivas. Como lhes faltam pais para uma relação interpessoal levados pela influência do meio em que vivem. Nesse passo, “con-
salutar, tampouco podem adquirir confiança em si mesmos, o que dição social” abarca uma gama de características, quais sejam:
constitui um pré-requisito indispensável para desenvolver o espíri- a) condição económica - renda insuficiente ou inexistente
to de independência e socialização. E que não puderam tornar pró- (oportunidade de trabalho);
prios, assimilados, os controles externos. E mais, para neutralizar a b) formação de caráter - estrutura familiar na qual foi criado e
angústia que lhes provoca essa impotência, negam seu valor como na qual vive atualmente, (educação - escola / creche);
norma de vida. Tudo isso interfere negativamente na compreensão c) condições dignas de moradia - habitação com infraestrutura
da realidade, que tentam manejar magicamente. O fracasso dessa adequada (ser humano);
defesa tem uma das primeiras manifestações na ansiedade que lhes
d) outras;
provoca a escolha profissional, devido à incapacidade para renun-
Não podemos olvidar, como consequência da falta de tais
ciar. Escolher então assume o significado, não de aquisição, mas
“condições mínimas de sobrevivência” a precária alimentação do
de perda de algo. Muitas de suas ações agressivas tomam aspectos
corpo que influi, ademais, na má formação “física, psíquica e bio-
de substitutivos de sintomas psíquicos. Haja vista a esfera de geni-
lógica” do homem, tornando-o “apto”, também, a delinquir; cuida-
talidade. Como a conduta genital se expressa em todas as ativida-
-se do louco criminoso que da patologia que possui - independente
des, o fracasso de identidade sexual no psicopata manifesta-se em
de sua fonte - acarreta o crime. Nesta esteira, cumpre-nos exami-
todos os campos da conduta humana.
nar:
A delinquência exprime o distúrbio da personalidade resul-
tante do conflito crônico com os pais, com as pessoas que são ou
representam autoridades, com a sociedade em geral. O comporta- A Influência da Educação nos Instintos Criminosos.
mento desses indivíduos atesta o fracasso mais flagrante da luta “...a educação não representa senão uma das influencias que
defensiva contra os impulsos, contra as premências reivindicantes. atuam nos primeiros anos da vida e que, como a hereditariedade e
A pesquisa das raízes do verdadeiro sentido desse distúrbio do a tradição, contribuem para a gênese do caráter. Mas, uma vez for-
existir levou os estudiosos do assunto a considerá-lo multidisci- mado, este subsiste, como a physionomia physica, perpetuamente
plinar, epigenético. Portanto, será um enfoque errôneo pôr dema- aquilo que é. De resto, é ainda duvidoso que um instinto moral
siada ênfase num só fator dominante da personalidade delituosa. definitivo possa criar-se pela educação na primeira infância”.
As séries complementares do desenvolvimento dos indivíduos - Como se verifica da citação de GAROFALO, a educação não
instintos, família, costumes comunitários, sistema socioeconômi- se reveste de critério determinante à formação dos criminosos, mas
co - todos amalgamados determinam vicissitudes de caráter e de deve ser considerado “um dos” fatores de influência em seu cará-
conduta dificilmente reversíveis. Temos aí, referidas de relance, ter. Vale dizer que o fato de um indivíduo possuir uma educação
as ciências básicas do homem: a Biologia, a Psicologia, a Eco- “exemplar” não resta definido seu futuro em face do cometimento
logia, a Antropologia, e a Sociologia. Quando ocorre uma falha futuro de crimes.
na interação dessas séries complementares, o que pode sobrevir é Vale sopesar que a educação que faz referência o tópico desde
o transtorno no engajamento pessoal, dificultando a colaboração título não se restringe tão somente ao sentido pedagógico; trata-se,
coletiva a favor das transformações do ambiente, que se faz através ademais, de uma série de influências externas, “de cenas continu-
das influências renovadoras. E então o indivíduo - ante a angústia amente vistas” pelas crianças e que são capazes de criar hábitos
de sentir-se ameaçado de marginalização, se a comunidade o aban- morais.
dona impiedosamente à sua imaturidade psicológica, deixando-o Fazendo um exercício hipotético de realidade, o que pode-
entregue à indigência de seus recursos naturais de aprendizagem mos esperar de duas crianças (um menino e uma menina) que são
para a vida - ou reagirá destrutivamente contra a sua organização criados em um lar aonde seu pai, depois de um longo e cansativo
comunitária ou se retrairá como unidade social e se apagará no au- dia de “vadiagem” chega em casa e prontamente passa a espancar
tismo. Noutras palavras: ou se extravia no crime, ou se desagrega sua esposa, a gritar com seus filhos, chegando - não raras vezes a
na psicose. violentá-los.

Didatismo e Conhecimento 16
CRIMINOLOGIA
- Não é difícil crer que aquele menino vai crescer com a figura A Influência Econômica nos Instintos Criminosos
de seus pais (ele violento e ela submissa) na mente, como uma “crêem os socialistas que, removidas certas instituições e
mancha negra indelével, tendo para si a certeza de que aquele é o atingido o ideal que eles proclamam, cessaria a maior parte dos
papel da esposa e do marido no casamento. delitos”.
De outra feita, a posição daquela menina frente à sociedade - Marginal é quem mora na favela!
conjugal que um dia possa vir a contrair fica desde logo afetada; Em tais locais, por exemplo, ademais do contato diário da vio-
não se poderá responsabilizá-la pelo medo e submissão da figura lência com os moradores, suas próprias condições refletem a falta
masculina que a acompanhará para sempre, ademais, caso venha absoluta de condições humanas de vida; as pessoas vivem ao lado
ela a ser violentada pelo futuro marido, nada de novo terá tal “bes- de esgotos, “moram em residências” sem o mínimo de estrutura,
tialidade” posto que na sua concepção de família esta conduta é sem falar da precariedade de subsistência frente sua condição so-
“legal”; não se cobrará dela sequer denunciá-lo. cial.
“a educação doméstica é uma continuação da herança; o que Tal realidade denota a falta de oportunidade de emprego e a
não é transmitido por geração, é-o, de um modo também quase ineficácia do seu ganho refletir em melhores condições de SO-
sempre inconsciente, pelos exemplos dos pais”. BREVIVÊNCIA.
- Uma questão se impõe: Podemos afirmar que o marido que Muitos acreditam que o aumento da desigualdade social é o
bate em sua esposa o faz porque sua mãe apanhava de seu pai? - responsável pela violência que impera hodiernamente. Ora, se as-
Não há exceção? sim o fosse, certo seria dizer que a violência se voltaria tão somen-
Torna-se equivocado (fazendo referência novamente à citação te contra os mais abastados; no entanto, o que se vê é a indiscrimi-
de Garofalo) dizer que tais “cenas” são determinantes no caráter nada violência, ou seja, o “não abastado”, ou mais, “o miserável”
criminoso de um homem. possui chances iguais de ser violentado em seus mais diversos
Do sentido de educação podemos extrair algumas considera- bens quanto aquele que ostenta boa situação econômica.
ções, o que impõe desde logo algumas indagações: O que ocorre - certamente - que a falta de condições econômi-
- Toda criança “mal educada” vai um dia cometer crime? - Al- cas refletem e geram outros maus; a desigual repartição da riqueza
guém com “boa educação” pode cometer um delito? condena uma parte da população à miséria, e com esta à falta de
- A educação (ou a falta dela) é “o” caráter definidor da condu- educação, de moradia, de alimento, de condições mínimas de so-
ta delituosa de um indivíduo? brevivência, de falta total de esperança num futuro pouco melhor.
Dados da Secretaria de Segurança Pública refletem as carac- Tal assertiva reveste-se da realidade conquanto os “ricos”
terísticas dos internos da FEBEM e nos dão certa ideia dos fatores também cometem crimes; há aqueles que não estão privados de
determinantes do crime; como se verá, a falsa ideia de que só o excelente moradia, educação pedagógica e familiar exemplar, mas
“pobre” comete crime não se funda na realidade. nem por isso deixam, absolutamente, de estarem “aptos” à delin-
Os menores infratores apontam como fatores que os levaram quência.
ao crime: exclusão social, uso de drogas e falta de estrutura familiar. Os abastados trazem consigo diferentes fatores que os levam
As palavras dos internos da FEBEM são o retrato da menta- ao crime. Algumas vezes, “o pobre” rouba visando o sustento de
lidade social: “nem todos que estão é um bicho como a imagem seus familiares, ou ainda, o faz em busca de melhores condições
nossa lá fora”. de vida. O “rico”, de outra feita, já dispõe de tudo que necessita
“O que fez eu entrar pro crime (...) foi as necessidades que porquanto se alimenta com dignidade, sua família detêm certas
eu encontrei e que estava passando... uma certa ambição também “regalias”, não possuindo, a priori “desculpa para roubar”.
de ter as coisas (...) andar do jeito que todo mundo anda, com di- Possui, todavia, o que o homem tratou chamar de ganância.
nheiro. A proposta que foi feita pra mim não foi a proposta de um Utópica e hipoteticamente refletindo, não podia ele dispor de
trabalho, de ter um trampo. A primeira proposta que teve pra mim seus bens em excesso a favor daquele que não os tem? - Assim não
foi pegar num revólver, foi vender uma droga”. sendo, necessita ainda de mais, e, sobretudo, precisa delinquir para
“não ter emprego, falta de estudo e não ter oportunidade pra alcançar este algo mais?
nós da periferia. Essa situação chegou a um ponto que na vida do O que diverge da antagônica realidade do “pobre” e do “rico”
crime a gente ganhava alguma coisa”. é o crime (meio) dos quais se utilizam para “saciar” seus desejos;
“eu costumava roubar para usar drogas e usar drogas para rou- O primeiro se vale do furto, do roubo, do sequestro; o segundo das
bar. Quando eu ia roubar eu gostava de cheirar cocaína porque ela falsificações e das fraudes de toda espécie, visando essencialmente
estimulava a violência, deixa você mais agressivo. Então, eu tinha a obtenção de mais riqueza (monetária). De certo que os crimes
mais apetite”. mais violentos estão ligados à camada mais baixa da sociedade,
“já tirei a vida de duas pessoas num assalta, mas, por mim não mas são, senão, variantes de um mesmo delito natural.
fez nem falta” Independente ou não das sua boa ou má-educação lato sensu
“o primeiro ato infracional que eu cometi na minha vida foi (como explicitado no tópico anterior) o abastado comete o delito e
esse homicídio. O que eu senti num primeiro momento foi a revol- não se frustra, igualmente, a novos crimes se necessário for.
ta. Eu até não queria mas a revolta foi trazendo tudo isso na minha Inserida assim a questão podemos asseverar que os fatores
cabeça e pelo ódio e pelas mágoas eu ajuntei tudo e cometi esse econômicos e educacionais não determinam, individualmente, o
crime”. caráter delinquente do homem. Devemos assim nos voltar para a
Sendo assim, em relação à educação podemos assegurar que base da formação que é a família e com igual razão ao Estado
não se trata de critério único e determinante na delinquência futura como garantidor de condições mínimas de humanidade. A família
do homem; há se levar em consideração outros fatores que, soma- por sua vez - berço de um futuro sólido - só se fortifica se o Estado
dos, PODEM criar uma personalidade criminosa. se coloca como sua base primária.

Didatismo e Conhecimento 17
CRIMINOLOGIA
Homem violento e criminoso: Fruto do meio social em que
vive? 3.4 VITIMOLOGIA
Qualquer motivo é idôneo para impulsionar alguém a ter ou
deixar de ter determinado comportamento, ainda que considerado
socialmente inadequado ou absurdo; na verdade, toda ação possui
uma lógica interna, orientada para a satisfação de uma necessidade
primordial de sobrevivência, de segurança ou de amadurecimento, Vitimologia pode ser definida como o estudo científico da ex-
tais como o amor, estima social, autoestima ou sensação de perten- tensão, natureza e causas da vitimização criminal, suas consequên-
cer a um grupo, qualquer que seja ele. cias para as pessoas envolvidas e as reações àquela pela sociedade,
É óbvio que as dificuldades econômicas pelas quais passam em particular pela polícia e pelo sistema de justiça criminal, assim
nosso país, refletem na população em geral, sobretudo nas cama- como pelos trabalhadores voluntários e colaboradores profissio-
das mais pobres, na grande parte miseráveis; contudo isso não im- nais.
porta necessariamente em que se tornem criminosos. A definição abrange tanto a vitimologia penal quanto a geral
Vários são os exemplos de que pobreza não implica em con- ou vitimologia orientada para a assistência.
duta criminosa, sendo o maior de todos, no nosso ponto de vista, O termo “vitimologia” foi utilizado por primeiro pelo psiquia-
aquele em que o indivíduo se coloca como um animal de carga e tra americano Frederick Wertham, mas ganhou notoriedade com
passa a puxar um carrinho no qual deposita papelão ou ferro velho, o trabalho de Hans von Hentig “The Criminal an his Victim”, de
para sustentar a si e à sua família. Tais pessoas preferem o caminho 1948. Hentig propôs uma abordagem dinâmica, interacionista, de-
mais difícil, ou seja, passar fome a cometer delitos. safiando a concepção de vítima como ator passivo. Salientou que
Os que o leva a não cometer crimes é difícil responder, mas poderia haver algumas características das vítimas que poderiam
sem dúvida, tal resposta se baseia, necessariamente, na sua perso- precipitar os fatos ou condutas delituosas. Sobretudo, realçou a ne-
nalidade (sentimento, valores, tendências e volições). cessidade de analisar as relações existentes entre vítima e agressor.
Exatamente por serem vários os exemplos, entendemos não A vitimologia é hoje um campo de estudo orientado para a
ser lícito ao criminoso escorar-se na condição social para justificar ação ou formulação de políticas públicas. A vitimologia não deve
seus atos violentos. Em sua maioria, aquele que comete crime por ser definida em termos de direito penal, mas de direitos huma-
passar fome, não usa da violência para cometê-los, opta no mais nos. Assim, a vitimologia deveria ser o estudo das consequências
das vezes por cometer pequenos furtos (chamado furto famélico). dos abusos contra os direitos humanos, cometidos por cidadãos
Também é verdade que podemos encontrar atitudes violentas ou agentes do governo. As violações a direitos humanos são hoje
e crimes violentos em todas classes sociais, do contrário como ex- consideradas questão central na vitimologia.
plicar crimes como o cometido pelo jornalista Pimenta Neves, o do A expressão “vítimas” significa pessoas que, individual ou
promotor de justiça Igor Ferreira que matou a esposa grávida de coletivamente, sofreram dano, incluindo lesão física ou mental,
oito meses, dentre tantos outros. sofrimento emocional, perda econômica ou restrição substancial
Contudo, não podemos nos apartar da realidade e negar que é dos seus direitos fundamentais, através de atos ou omissões que
no seio da população mais carente e miserável que a violência e os consistem em violação a normas penais, incluindo aquelas que
crimes violentos encontram campo propício para se desenvolver, proscrevem abuso de poder.
ademais dos motivos anteriormente expostos. As vítimas de atos ilícitos, especialmente de delitos, passaram
Nesse passo, os crimes violentos não se resumem em homi- por fases que, no dizer de Garcia-Pablos de Molina, correspondem
cídios, no entanto esse é um bom parâmetro para demonstrarmos a um protagonismo, neutralização, e redescobrimento.
nossa posição. Segundo dados fornecidos pela Secretaria de Se- O protagonismo correspondeu ao período da vingança priva-
gurança Pública, no tocante ao ano de 1999, podemos observar a da, em que os danos produzidos sobre uma pessoa ou seus bens
maior incidência de homicídios (100.000 habit.) no município de eram reparados ou punidos pela própria pessoa. As chamadas ciên-
São Paulo nas áreas dos Distritos Policiais em que se encontram as cias criminais - Ciência do Direito Penal, Criminologia e Política
populações mais carentes tais como Jardim Angela - 116,23; Cida- Criminal, “abandonaram” a vitima, quando sua atenção volta-se
de Ademar - 106,06; Iguatemi - 100,11; Parque São Rafael - 96,16 para o infrator.
e Grajaú - 95,62 ao passo que há uma menor incidência nas áreas A resposta ao delito assume critérios vingativos e punitivos,
dos Distritos Policiais em que se encontram populações de clas- quase nunca reparatórios. A ideia de neutralização da vítima en-
ses média e alta, tais como Moema - 4,11; Jardim Paulista - 8,22; tende que a resposta ao crime deve ser imparcial, desapaixonada,
Vila Mariana - 11,55; Perdizes - 14,73 e Alto de Pinheiros - 16,49 despersonalizando a rivalidade. O problema daí decorrente é que a
(Apêndice, p. VI e VII). linguagem simbólica do direito e formalismo transformaram víti-
Não podemos assim responder se o homem violento é pro- mas concretas em abstrações.
duto do meio em que vive ou se ele forja tal meio ao seu talante, Observe-se, ainda, que a punição serviria como prevenção
ou seja, se o meio é produto do homem; no entanto, com certeza, geral. Pouca preocupação havia com a reparação. O redescobri-
podemos dizer que a grande massa de miseráveis, principalmente mento da vítima é um fenômeno do pós 2ª Guerra Mundial. É uma
aqueles que coabitam em favelas, convivem no seu dia a dia com resposta ética e social ao fenômeno multitudinário da macrovitimi-
um alto grau de violência, comparável somente a Estados que se zação, que atingiu especialmente judeus, ciganos, homossexuais,
encontram em constante guerra. Diante das estatísticas e números e outros grupos vulneráveis. Esse redescobrimento não persegue
não há argumentos. nem retorno à vingança privada; nem quebra das garantias para os
delinquentes: a vítima quer justiça.

Didatismo e Conhecimento 18
CRIMINOLOGIA
A vitimologia vem, efetivamente, conferir novo status à víti- prevenção vitimaria exige adoção de políticas públicas sociais,
ma, contribuindo para redefinir suas relações com o delinquente; ensejando intervenção não penal. Finalmente, corresponsabiliza
com o sistema jurídico; com autoridades, etc. todos. O que é muito próprio, já que vivemos em uma sociedade
A propósito, o próprio conceito de vítima precisou ser revisto, de risco.
posto que já não corresponde apenas ao sujeito passivo (protago- Outro aspecto absolutamente relevante é que a vítima é fonte
nista) do fato criminoso. Exemplo de modo amplo de compreender de informações. Com efeito, as pesquisas de vitimização fornecem
vítima é trazido por Sue Moody, ao mencionar como o principal imensos subsídios a respeito de como os delitos ocorrem, em que
documento definidor de política pública para vítimas de delitos, circunstâncias de tempo e lugar, e por quais fatores desencade-
na Escócia, trata a questão: Vítima é qualquer pessoa que tenha antes. A partir da vítima, que é conhecida, e acessível de pronto,
sido sujeita a qualquer tipo de crime, como também sua família ou é possível identificar relações existentes ou não com a pessoa do
aqueles que gozam de uma posição equivalente à de família. agressor, e outros fatores relevantes.
Ao lado do conceito mais amplo de vítima, surgiu também O medo do delito e o medo coletivo de ser a próxima vítima
o de vitimização, que examina tanto a propensão para ser vítima são também objeto do estudo da vitimologia. O medo, percepção
quanto os vários mecanismos de produção de danos diretos e indi- e sentimento individual, mas com forte conteúdo de objetividade,
retos sobre a vítima. ajuda a reconhecer a presença do risco, e orientar a conduta para
Israel Charny entende que o processo de vitimização diz res- minimizá-lo ou mitigar seus efeitos. Mas também o medo aprisio-
peito a relações humanas, que podem ser compreendidas como na, e termina sendo, ele mesmo, fator de vitimização. A sensação
relações de poder. Fattah (1979) identificava no crime como que de insegurança coletiva, que enseja a adoção de políticas criminais
uma transação em que agressor e vítima desempenhavam papéis. fortemente repressoras, plenas de abusos de direitos, e destruição
Assim, a identificação de vulnerabilidade e de definibilidade da de prerrogativas dos cidadãos, encontra aí sua raiz.
vítima são essenciais no processo. Também o modo como a política criminal trata a vítima é
A vulnerabilidade da vítima decorre de diversos fatores (de tema de relevo. O modo tradicional tenta, quando o faz, uma res-
ordem física, psicológica, econômica e outras), o que faz com que socialização do delinquente. Mas raramente se percebe que tam-
o risco de vitimização seja diferencial, para cada pessoa e deli- bém a vítima precisa se encontrar, e ser reintroduzida ao convívio
to. Nesse sentido, o exame dos recursos sociais efetivos da vítima social. Não sendo percebida, torna-se esquecida em todas as fases
também deve ser levados em conta. das políticas criminais. A chave para sua inclusão está no respeito
a seus direitos, para evitar vitimização secundária. Esta termina
Kurt Vonnegut Jr., com uma certa ironia, afirma que “Os evan-
acontecendo quando se tem a lesão e sua não reparação; o crime
gelhos ensinaram, de fato, o seguinte:” Antes de matar alguém,
e sua impunidade; a vitimização e a ausência de investigação, de
certifique-se de que ele não é bem relacionado.”
processo e de condenação. Uma tendência que tem sido observada
Os judeus mataram Cristo. Mais de 2.000 anos depois, mais
é a introdução de programas de assistência à vítima, que incluem
de um bilhão de pessoas diariamente escutam, em todas as partes
assistência strictu sensu, reparação pelo infrator, programas de
do mundo, a narrativa de sua morte. “Não sabíamos que era o Filho
compensação, e programas especiais de assistência, quando a víti-
de Deus”, poderão responder. Como, em Brasília, os garotos que
ma for declarante.
brincaram de incendiários, e queimaram o índio Galdino Pataxó Talvez as maiores contribuições estejam sendo dadas a partir
disseram: “Não sabíamos que era um índio. Pensávamos que fosse das reflexões sobre as relações existentes entre a vítima e sistema
só um mendigo”. legal, e a vítima e a justiça penal.
O sistema legal costuma realizar perseguição aos delitos noti-
Contribuições da vitimologia ciados. Estudos revelam que há subnotificação. Ou seja, os delitos
praticados são em número superior às ocorrências registradas. Por
Os estudos de vitimologia tem dado imensa contribuição para que se subnotifica? Quem melhor pode responder é a vítima, e o
a compreensão do fenômeno da criminalidade, contribuindo para sistema não pode ser indiferente às suas percepções.
melhor enfrentamento, a partir da introdução do enfoque sobre as Ora, a alienação em relação ao sistema diz tanto quanto a
vítimas atingidas e os danos produzidos. O primeiro aspecto ob- afirmação de notificar. O certo é que a vivência da vítima, e suas
servado por Garcia-Pablos diz respeito à compreensão da dinâmi- características e atitudes são elementos e fatores relevantes para o
ca criminal, e da interação delinquente-vítima. Em que medida a adequado funcionamento do sistema penal.
vítima interfere para o desencadear da ação, ou sua precipitação. A relação existente entre crimes conhecidos ou esclarecidos
Em que medida suas ações ou reações condicionam ou direcionam pela Polícia, ou processados, e o papel desempenhado pela vítima.
as ações dos agressores. E em que delitos o papel da vítima é de Identificam que os crimes conhecidos ordinariamente resultam de
menor importância. uma proatividade da polícia, ou de uma reatividade. Na pro-ativi-
Análise sobre a vítima também se faz relevante para a pre- dade, a polícia seleciona suspeitos pelos estereótipos. Isso pode
venção do delito. A introdução da chamada “prevenção vitimaria”, implicar em procedimentos discriminatórios por parte da polícia,
que se contrapõe à prevenção criminal, realça a importância de se desde que há grupos antecipadamente considerados como mais
evitar que delitos aconteçam, a partir da reorientação às vítimas, e propensos à prática de delitos, e outros grupos imunes à suspeita,
aos próprios órgãos do estado, para que adotem condutas e pers- ou investigação.
pectivas distintas, que reduzam ou eliminem as situações de risco. Na reatividade, a denúncia da vítima desempenha papel vital.
A reflexão parte da constatação de que o crime é um fenômeno Mas eles advertem: nem toda vítima faz desencadear investiga-
seletivo, e que atinge os mais vulneráveis, no momento de maior ções. Só as capazes de se justificarem como tais. Ou seja, não é
vulnerabilidade. Assim, a prevenção é dirigida aos grupos mais toda vítima que consegue fazer com que a polícia inicie uma inves-
vulneráveis ou mais propensos à vitimização. Além disso, essa tigação. E é a polícia que define quem e o que investigar.

Didatismo e Conhecimento 19
CRIMINOLOGIA
As conclusões a que chegaram esses pesquisadores apontam “Pessoa que, individual ou coletivamente, tenha sofrido da-
no sentido de que a polícia não investiga quando a vítima se opõe nos, inclusive lesões físicas ou mentais, sofrimento emocional,
fortemente, nem quando o investigado é muito poderoso. Por outro perda financeira ou diminuição substancial de seus direitos fun-
lado, o ministério público também constrói seu perfil de vítima damentais, como consequências de ações ou omissões que violem
ideal. Esta deve ser aquela que pode ser uma boa testemunha. a legislação penal vigente, nos Estados–Membros, incluída a que
Finalmente, os estudos de vitimologia ajudam a melhor com- prescreve o abuso de poder”. (Resolução 40/34 da Assembléia Ge-
preender a interação existente entre a vítima e justiça penal. O mo- ral das Nações Unidas, de 29/11/85).
delo clássico, com efeito, tem a vítima como objeto, ou pretexto, Pensou-se no passado que a vítima era sempre inocente e o
para a investigação. Mas ordinariamente não leva em conta seus causador do delito o único e exclusivamente culpado. Com o tem-
interesses legítimos. Isso fez com que fossem identificados fato- po, as pesquisas, os estudos e segundo a designação de Benjamin
res que pudessem contribuir para mensurar a qualidade de uma Mendelsohn, a vítima pode ser inteiramente inocente na dinâmica
justiça criminal. Entre esses, são examinados como se concebe o do crime; pode ser tão culpada quanto o agente; mais culpada do
fato delitivo e o papel dos protagonistas; como ou se se satisfaz a que o agente; pode ser menos culpada de que o agente criminoso
expectativa dos protagonistas; qual o custo social; qual a atitude e ainda, poderá ser a única culpada do cometimento de um crime.
dos usuários da justiça. O vitimólogo fundamenta sua classificação na correlação da
O Conselho de Ministros da União Europeia publicou uma culpabilidade entre a vítima e o infrator. Vislumbrando, pois, em
Decisão Referencial sobre a Presença das Vítimas nos Procedi- primeira mão, a atitude da vítima relacionada à aplicação da pena.
mentos Criminais. Como padrão mínimo é incluído o dever de
informação sobre tipos de apoio disponíveis para a vítima; onde Vitimização: Vitimização, processo vitimizatório, ou vitima-
e como comunicar a queixa; os procedimentos criminais e o papel ção são termos neológicos, oriundos de “vítima”, e significam ação
da vítima; acesso a proteção e aconselhamento; elegibilidade para ou efeito de alguém vem a ser vítima de sua própria conduta ou da
compensação; resultado do julgamento e da sentença. Uma boa conduta de terceiro, ou fato da natureza.
comunicação com a vítima é exigida em todas as fases do processo
criminal. Classificação Vitimológica
Em linhas gerais, podemos definir vitimologia, como muito O vitimólogo israelita Benjamín Mendelsohn fundamenta
mais do que o estudo da influência da vítima na ocorrência do de-
sua classificação na correlação da culpabilidade entre a vítima e
lito, pois estuda os vários momentos do crime, desde a sua ocor-
o infrator. E o único que chega a relacionar a pena com a atitude
rência até as suas consequências. O Direito Penal desde a Escola
vitimal. Sustenta que há uma relação inversa entre a culpabilidade
Clássica sempre concentrou seus estudos no trinômio delinquente
do agressor e a do ofendido, a maior culpabilidade de uma é menor
– pena – crime, após trabalhos apresentados sobre a situação da
que a culpabilidade do outro.
vítima começaria a mudar, com a evolução do Direito Penal e os
estudos sobre o delito, o infrator e a vítima foi tendo importância
1 - Vítima completamente inocente ou vítima ideal: é a ví-
no mundo todo.
tima inconsciente que se colocaria em 0% absoluto da escala de
Percebe-se então, que no estudo da vitimologia há dois pon-
tos fundamentais: o estudo do comportamento da vítima de for- Mendelsohn. E a que nada fez ou nada provocou para desencadear
ma geral, sua personalidade, seu atuar na dinâmica do crime, sua a situação criminal, pela qual se vê danificada. Ex. incêndio
etiologia e relações com o agente criminoso e a reparação do dano
causado pelo delito. 2 - Vítima de culpabilidade menor ou vítima por ignorância:
Podemos dizer que no Brasil já tinha noções de vitimilogia, neste caso se dá um certo impulso involuntário ao delito. O sujeito
quando estudos demonstram que o Santo ofício da Inquisição agia por certo grau de culpa ou por meio de um ato pouco reflexivo
como uma espécie de jus punienti contra qualquer um que pudesse causa sua própria vitimização. Ex. Mulher que provoca um aborto
colaborar com ideias diferentes. Nunca se estabeleceu oficialmente por meios impróprios pagando com sua vida, sua ignorância.
um Tribunal no Brasil, embora tenha sempre agido em terras brasi-
leiras por intermédio das autoridades eclesiásticas locais e visita- 3 - Vítima tão culpável como o infrator ou vítima voluntá-
dores. Na primeira década do século XVIII a Inquisição fez prisões ria: aquelas que cometem suicídio jogando com a sorte. Ex. roleta
em massa, no auto de fé de 1711 havia 52 brasileiros, as persegui- russa, suicídio por adesão vítima que sofre de enfermidade incu-
ções e os confiscos de propriedades nesse ano levaram a uma para- rável e que pede que a matem, não podendo mais suportar a dor
lisação crescente na fabricação do açúcar, prejudicando seriamente (eutanásia) a companheira (o) que pactua um suicídio; os amantes
o comércio. Procurando resolver as demandas, necessita assim de desesperados; o esposo que mata a mulher doente e se suicida.
um engajamento do poder público, a fim de proporcionar melhores
condições de vida à população desprovida de recurso. 4 - Vítima mais culpável que o infrator:
- Vítima provocadora: aquela que por sua própria conduta in-
Vítima: Etmon: Victima ae = da vítima + logos = tratado, es- cita o infrator a cometer a infração. Tal incitação cria e favorece a
tudo = estudo da vítima. explosão prévia á descarga que significa o crime.
A palavra foi usada pela primeira vez, por Benjamim Mendel- - Vítima por imprudência: é a que determina o acidente por
son, advogado israelense, vítima da II Guerra mundial, em 1947, falta de cuidados. Ex. quem deixa o automóvel mal fechado ou
em palestra intitulada “The origins of the Doctrine of Victimolo- com as chaves no contato.
gy”.

Didatismo e Conhecimento 20
CRIMINOLOGIA
5 - Vítima mais culpável ou unicamente culpável: Proteção às Vítimas
- Vítima infratora: cometendo uma infração o agressor cai ví-
tima exclusivamente culpável ou ideal, se trata do caso de legitima A política criminal não pode continuar limitada à ideia de
defesa, em que o acusado deve ser absolvido. “tratamento”, deve-se tentar de todas as formas de intervenção
- Vítima simuladora: o acusador que premedita e irresponsa- destinadas a neutralizar as cargas de medo e frustração da vítima,
velmente joga a culpa ao acusado, recorrendo a qualquer manobra consolidando que se converta à vítima em fim autônomo da pró-
com a intenção de fazer justiça num erro. pria política criminal.
A inclusão real da vítima na investigação e no próprio proces-
Meldelsohn conclui que as vítimas podem ser classificadas em so criminal na condição de aliada ao trabalho do Ministério Públi-
3 grandes grupos para efeitos de aplicação da pena ao infrator: co, demonstram que, inúmeros delitos não ocorreriam se a vítima
1 - Primeiro grupo: vítima inocente: não há provocação nem não facilita-se, diretamente a ação do criminoso. A Lei 9.807 de
outra forma de participação no delito, mas sim puramente vitimal. 13 de Julho de 1.999 estabelece normas e programas para proteção
2 - Segundo grupo: estas vítimas colaboraram na ação nociva das vítimas, que tenham ou venham a ser ameaçadas pelos crimi-
e existe uma culpabilidade reciproca, pela qual a pena deve ser nosos.
menor para o agente do delito (vítima provocadora) Diferentemente de Vitimologia o campo de Direitos Humano
3 - Terceiro grupo: nestes casos são as vítimas as que co- tem pouco apelo de pesquisa acadêmica e científica e menos litera-
metem por si a ação nociva e o não culpado deve ser excluído de
tura examinando temas de Vitimização.
toda pena.
A Vitimologia pode oferecer aos Direitos Humanos a metodo-
logia e um conjunto de Teorias Vitimológicas e questões, sem con-
Direitos das vítimas
tar com dados comparativos e outras categorias de vítimas, como
Basicamente os direitos das vítimas consistem em tratamen- vítimas de crime. Com ênfase no crime, a Vitimologia pode auxi-
to justo e respeito à sua dignidade e privacidade; proteção contra liar os Direitos Humanos a teorizar mais claramente sobre “crimes
agressor; informação sobre a tramitação processual, e garantia de contra a humanidade”, ainda parcialmente operacionalizado. Pode
presença em corte; acesso ao acusador público; restituição das coi- também ajudar a melhor conceituar a Vitimização definida como
sas indevidamente tomadas ou apreendidas; informação sobre a Criminal, comparativamente às não consideradas Criminais, ape-
condenação, a sentença, a prisão e a libertação do agressor. sar de seus efeitos danosos.
A Declaração sobre os princípios fundamentais de justiça para O Direito Humano pode ajudar a examinar as fontes de Viti-
as vítimas de delitos e do abuso de poder, da ONU, deram a dire- mização e a relação entre causa da opressão. As vítimas de opres-
ção que foi seguida pela norma americana: garantia de ACESSO são terão uma responsabilidade funcional para com a Vitimização?
A JUSTIÇA E TRATAMENTO JUSTO; tratamento com compai- A que ponto as violações de Direitos Humanos emergem de me-
xão e respeito; Informação sobre seu papel e alcance; assistência canismos de controle social doméstico? Alguns grupos ou poucos
apropriada (legal, medica, psicológica); ressarcimento dos danos; poderiam Ter sido designados implícita ou explicitamente vítima
informação sobre a tramitação processual. alternadamente “legitimadas”, não lhes garantindo proteção efeti-
va? Paradoxalmente pode, se fornecer mais dados adotando pers-
Direitos Humanos e Vitimologia pectivas, mas amplas dos Direitos Humanos.

Direitos Humanos e vitimologia resultam de um novo olhar Fases do Inter Victimae, o crime precipitado pela vítima
sobre as vítimas, como consequência dos horrores da 2ª Guerra
e do nazi-fascismo. Não é obra do acaso o fato de o primeiro ins- - Intuição, “quando se planta na mente da vítima a ideia de ser
trumento vinculante, promulgado no âmbito da ONU, ter sido a prejudicado por um ofensor”.
Convenção contra o Genocídio, em 9 de dezembro de 1948, um - Atos preparatórios (conatus remotus), “momento em que
dia antes da promulgação da Declaração Universal de Direitos Hu- revela a preocupação de tomar as medidas preliminares para de-
manos. fender-se ou ajustar o seu comportamento”.
A vitimologia é uma espécie de “filha” da Criminologia, ou
- Início da execução (conatus proximus), “oportunidade em
parte dela. Integra com esta última os pilares das ciências criminais
que a vítima começa a operacionalização de sua defesa aproveitan-
(ciência do direito penal, criminologia e política criminal). Analisa
do a chance que dispõe para exercitá-la”.
o sistema de justiça e segurança. O seu objeto de estudo faz parte
(estando contido) no âmbito de atuação dos direitos humanos. O - Execução (executio), “resistência da vítima para evitar a
âmbito dos direitos humanos é mais amplo. Abrange os direitos todo custo, que seja atingida pelo resultado pretendido por seu
civis e políticos (como vida, liberdade, integridade física e mental, agressor”.
julgamento justo, propriedade, etc.), mas também acrescenta os - Consumação (consumatio), “quando a prática do fato de-
direitos econômicos, sociais e culturais, conhecidos como DESCs. monstrar que o autor não alcançou seu propósito (fins operantis)
Assim, vítimas de fome, despejos forçados e coletivos, desempre- em virtude de algum impedimento alheio à sua vontade, aí pode se
go, discriminação, doenças, etc, são sujeitos de direitos no direito classificar como tentativa de crime”.
internacional dos direitos humanos. O olhar solidário as enxerga, e
as traz para protagonizarem as lutas em defesa do reconhecimento Diante do que discorre o artigo 59, Caput do Código Penal,
e respeito de seus direitos. passou a ser do magistrado na dosimetria da pena, analisar o com-
Quanto ao modo de atuar, a interdisciplinaridade caracteriza portamento da vítima (antes e depois do delito) como circunstân-
tanto a criminologia e a vitimologia quanto os estudos de direitos cia judicial na individualização da pena imposta ao acusado. De
humanos. acordo com o professor Edmundo de Oliveira, “Inter Victimae”

Didatismo e Conhecimento 21
CRIMINOLOGIA
é o caminho, interno e externo, que segue um indivíduo para se Em consequência, as políticas de prevenção do crime, espe-
converter em vítima, o conjunto de etapas que se operam cronolo- cialmente aquelas propostas nas campanhas eleitorais visam me-
gicamente no desenvolvimento de Vitimização. nos reduzir e controlar o crime e as oportunidades de delinquir ou
aprofundar a eficiência de políticas de prevenção ao crime, mas
LEI 9.099/95 apenas diminuir o medo e a sensação de insegurança das classes.
Teóricos apontam ferminização dos processos migratórios,
Principais avanços gerais: milhares de mulheres deixam o Terceiro Mundo para tentar a sor-
- Concepção do delito como um fato histórico, inter pessoal, te em países industrializados e acabam se transformando na face
comunitário e social; feudal das ricas e modernas sociedades privilegiadas. Tráfico hu-
- Transformação da vítima em sujeito de direitos; mano, prostituição involuntária, casamentos forçados, são vários
- O fim da despersonalização do conflito; os métodos da escravidão moderna.
- A ponderação das várias expectativas geradas pelo crime; Para as vítimas desse tráfico humano moderno, o sonho de
- A comunicabilidade, possibilidade do diálogo entre infrator uma vida melhor quase sempre desmorona mais rápido do que o
e vítima; esperado. O aumento da discriminação e da violência contra os
- Resolutibilidade, que a decisão adotada pelo juiz criminal migrantes é uma das consequências de 11 de Setembro de 2001.
resolva o conflito, é dizer, permita a reparação do dano; O Departamento de Estado dos EUA, em relatório divulgado,
- A vítima passa a ser comunicada de todo o andamento do considera o Brasil, País fornecedor de vítimas para o tráfico do-
feito e de seus direitos; méstico e internacional de seres humanos. Além de uma falta de
- Evita-se a vulgarização da pena de prisão (última ratio) des- percepção do crime por vítimas, denunciantes, órgãos de defesa e
mistificando-se; operadores de direito, outros fatores negativos são as leis inade-
- A pretensão punitiva, na linha da “força do Direito”. quadas, a falta de conhecimento da legislação nacional, tanto de
brasileiros quanto estrangeiros. As embaixadas e consulados tam-
Reparação do dano: O tema remota a mais longínqua antigui- bém estão despreparados para proceder nos casos de diagnósticos
dade, vários monumentos legislativos da história demonstraram a de tráfico, processos e inquéritos sistematizados. É essencial haver
preocupação do legislador, da comunidade e do grupo social com enfrentamento do problema sob a ótica de responsabilização, au-
um todo, pela reparação do dano, exemplificando o Código de Ha-
mentando a capacidade institucional de investigação e incrementar
murabi datado do século XXIII a.C.
políticas de apoio às vítimas e testemunhas do tráfico.
Modernamente, há que se destacar a Lei n.º 9.099/95 que pre-
A legislação existente deve vigorar, não permitindo lacunas
ocupou-se com a reparação do dano à vítima. Comenta Luiz Flávio
ou incorreção legais. Aquele que “compra” a pessoa traficada deve
Gomes: “...a lei 9.099/95, no âmbito da criminalidade pequena
ser punido também, o tráfico não deve restringir à prostituição e
e média, introduziu no Brasil o chamado modelo consensual de
sim incluir outras modalidades estabelecendo uma figura autôno-
Justiça Criminal. A prioridade agora não é o castigo do infra-
ma com punição mais elevada, depois do tráfico de drogas e de
tor, senão sobretudo a indenização dos danos e prejuízo causa-
dos pelo delito em favor da vítima”. armas, o de pessoas é o ramo mais lucrativo do crime estabelecido.
Assim, a Lei propõe uma inversão, a pena privativa de liber- Propõe-se um novo modelo de Justiça Penal, em que o Estado dará
dade como exceção para casos especiais, e maior destaque para as resposta eficaz à população que exige um sistema adequado garan-
penas alternativas. tindo o ressarcimento do dano causado pela criminalidade.
A Lei enfoca a vítima direta ou indiretamente vária vezes com
o intuito de participação ativa desta no processo, visando, pois, Síntese Histórica
minorar os efeitos da vitimização secundária e, consequentemente,
atingir um dos objetivos da vitimologia, a reparação do dano. As escolas penais, tanto a Escola Clássica de Becaria e Fuer-
Há evidências disto quando do estudo dos novos institutos da bach, como a Escola Positiva de Lombroso, Ferri e Garofalo, esta-
Lei n.º 9.099/95, tais como, a composição civil que implica em vam centradas nos elementos delito/delinquente/pena. Não houve
renúncia da vítima ao direito de queixa ou representação; a am- grande preocupação com a vítima.
pliação do rol de crimes que dependem de representação; e a sus- Nesse sentido, Luiz Flávio Gomes e Antônio Garcia Pablos
pensão condicional do processo, institutos esses, que evidenciam, de Molina comentam: “O abandono da vítima do delito é um
repita-se, o incentivo à reparação do dano. fato incontestável que se manifesta em todos os âmbitos: no
Outros diplomas legais preocuparam-se com a vítima no to- Direito Penal (material e processual), na Política Criminal, na
cante a reparação do dano, citamos: a Lei n.º 8.078/90, Código de Política Social, nas próprias ciências criminológicas. Desde o
Defesa do Consumidor; a Lei n.º 9.503/98 que instituiu o Código campo da Sociologia e da Psicologia social, diversos autores,
de Trânsito; a Lei n.º 9.714/98 que deu  nova redação a vários têm denunciado esse abandono: o Direito Penal contemporâ-
artigos do Código Penal; e a Lei n.º 9.605/98 que regulamentou a neo, advertem, acha-se unilateral e equivocadamente voltado
prestação pecuniária nos crimes ambientais. para a pessoa do infrator, relegando a vítima a uma posição
marginal, no âmbito da previsão social e do Direto civil mate-
Mais do que em outros países do mundo, na América Lati- rial e processual”.
na, apesar das constituições democráticas e dos Códigos Penais, a Praticamente, só no final da Segunda Guerra Mundial, um
percepção de crime está diretamente influenciada pelo uso que as advogado de origem israelita chamado Benjamin Mendelsohn,
elites fazem dos aparelhos judiciais. Há uma confluência entre os também vítima da guerra, começou a pensar em sistematizar uma
alvos do medo, do crime das políticas judiciais e da percepção da nova ciência ou desenvolver um ramo da criminologia que foi a
mídia nas práticas criminosas que são os crimes comuns. vitimologia.

Didatismo e Conhecimento 22
CRIMINOLOGIA
Sua obra “Horizonte Novo na ciência Bio-psicosocial – A Vi- O surgimento repentino da vítima, a exemplo do que ocorrera
timologia”, publicada em 1956 passou a ser um marco no assunto, no passado com o criminoso, fez com que Mendelsohn propusesse
seguido posteriormente, de vários outros estudos iniciando uma à ONU que considerasse a vitimologia como uma ciência e não
fase de redescoberta da vítima, pois, até então não passava de um mais como um desdobramento da criminologia, o que foi objetado
subdesenvolvido sujeito passivo no crime ou no processo penal. por Pinatel sob o argumento de que criminoso e vítima são indis-
Importante ainda, ressaltar no processo evolutivo, a Resolu- sociáveis, sendo a criminologia e a vitimologia o estudo do fato
ção n.º 40/34 denominada Declaração Universal dos Direitos da criminoso como um todo, definindo a tese de Mendelsohn como
Vítima, promulgada pela ONU em 29 de novembro de 1985. abrangente.
Nesse sentido, Antônio Scarance Fernandes reconhece a im- Todavia, este argumento posteriormente fora refutado por
portância da vítima na história do Direito Criminal, citando três Mendelsohn, que ao ampliar seu conceito, considerando todas as
momentos distintos na história processual penal: o primeiro ainda categorias de vítimas na sociedade, inclusive as não decorrentes
à época da vingança Privada ou Justiça Privada, depois, correspon- de crimes, antecipou-se à concepção atual de vitimologia. É por
deria, a punição do culpado, a um dever sagrado exercido conjun- esta amplitude conceitual que transcende o estudo das vítimas cri-
tamente pela Igreja e Estado e, por último, o estágio atual onde o minais, que a vitimologia era considerada por Mendelsohn e hoje,
direito de punir é exclusivo do Estado. por vários outros estudiosos, como ciência autônoma.
A preocupação com a reparação causada injustamente como Essa consolidação da vitimologia como ciência independente,
medida de justiça remonta desde a antiguidade, embora sem a cla- veio a se confirmar com a Declaração dos Princípios Básicos de
reza científica da vitimologia atual, como podemos verificar atra- Justiça para as Vítimas de Delitos e Abuso de Poder, no 7° Con-
vés dos Códigos e Leis antigos, dentre eles o Código de Ur-Nam- gresso das Nações Unidas sobre a Prevenção do Crime e Trata-
mu, as Leis de Eshnunna, o Código de Hammurabi, o Alcorão, o mento do Delinquente, no ano de 1985, em Milão.
Código de Manu e a Lei das XII Tábuas. Nesse congresso firmou-se um conceito mundial de vítima,
A vitimologia nasceu após a segunda Guerra Mundial, mais como sendo o individuo ou coletividade que tenha sofrido lesões
especificamente em 1947, dois anos após seu término, em decor- de qualquer tipo (físicas ou psíquicas) em decorrência de violações
rência do sofrimento dos judeus pelo nazismo de Hitler que teve da legislação de cada Estado-Membro ou ainda de normas reco-
como resultado milhões de mortos, feridos e desaparecidos que nhecidas mundialmente, relativas a Direitos Humanos.
chocou o mundo e influenciou o Direito Penal na Europa.
No Brasil, temos como estudiosos do tema Edgard de Moura
Com isso, o estudo da vítima, que se encontrava esquecida
Bittencourt, Laércio Pelegrino e a professora Arminda Bergamini
desde a época da vingança privada, voltou a ter importância dei-
Miotto, que contribuíram para a difusão da vitimologia no país.
xando de ser o Direito Penal, o Direito dos Criminosos, como afir-
mou Carrara.
A aplicabilidade da Vitimologia no Brasil
Nos mostra Calhau que o estudo da vítima teve como seu pre-
cursor Benjamim Mendelsohn, Professor Emérito da Universidade
Atualmente temos o que podemos chamar de criminalidade
Hebraica de Jerusalém e também vítima da Guerra, quando falou
oculta vez que nem todos os delitos que ocorrem são levados a
em 1947 sobre o assunto na conferencia realizada na Universidade
de Bucareste. No ano seguinte o tema foi abordado por Hans Von conhecimento das autoridades policiais e judiciária (cifra negra)
Hentig ao divulgar sua pesquisa “O criminoso e sua vítima” na devido ao medo de represálias ou pela descrença na justiça penal,
universidade de Yale, onde traçou a importância da psicologia no fazendo com que as estatísticas oficiais não representem fielmente
estudo da vítima juntamente com seu ofensor. a real criminalidade.
Após estes estudiosos que deram o primeiro passo, outros Assim, as pesquisas de vitimização compostas por questioná-
vieram a discutir o tema, com destaque para Vasile Stanciu autor rios estruturados, direcionados às vítimas dos delitos, sem levar
de grandes obras sobre sociologia criminal, com enfoque para a em conta as estatísticas oficiais, como aponta Molinas, “permitem
vitimologia. avaliar cientificamente a criminalidade real, constituindo a técnica
A vitimologia se consagrou como disciplina criminológica em mais adequada para quantificá-la e identificar suas variáveis”. Per-
1956 quando o próprio Mendelsohn sistematizou vários estudos de mitem identificar variáveis como idade, nível econômico e sexo
sua autoria; começou a crescer, chegando em 1965 à América La- das vítimas em cada tipo de delito, facilitando os programas de
tina, com Jimenez de Asúa, sendo ali o primeiro jurista a se ocupar prevenção.
dela em seminário realizado na Faculdade de Direito de Buenos Nosso pais é recordista em analfabetismo, desigualdade social
Aires. Em seguida, chegou a Israel, onde foi realizado no ano de pela alta concentração de renda nas mão de poucos, desemprego,
1973, na cidade de Jerusalém, sob a supervisão de Israel Drapkin desnutrição infantil e falta de saneamento básico e água potável.
(diretor do Instituto de Criminologia da Faculdade de Direito da Esses fatores favorecem, e muito, o processo de vitimização da
Universidade Hebraica de Jerusalém), o I Congresso Internacional nossa população. Daí a necessidade de se dar maior importância à
de Vitimologia onde se discutiu as causas da vitimização e sua vitimologia, não só buscando a punição do infrator ou a reparação
prevenção e pesquisa. das consequências de sua conduta mas também orientando o Poder
Após este, vários outros simpósios foram organizados ao lon- Público na prevenção dessas causas de vitimização.
go dos anos pelo mundo: 1976 em Boston, Estados Unidos; 1979 O estudo da vítima, sob seus variados aspectos constitui um
em Münter, República Federal da Alemanha; 1982 em Tóquio e dos grande desafios das ciências criminais. O assunto reúne à ele-
Quioto, Japão; 1985 em Zagreb, Iugoslávia e os Congressos In- vação teórica uma significativa importância prática, isso concer-
ternacionais realizados em 1980 nos Estados Unidos e em 1982 nente ao comportamento da vítima no julgamento e aplicação da
na Itália. pena e quanto à reparação do dano.

Didatismo e Conhecimento 23
CRIMINOLOGIA
Podemos afirmar que a vítima foi, durante muito tempo esque- Nesse instrumento investigatório são produzidas provas que
cida, porém, modernamente, e com a edição da Lei n.º 9.099/95 visam elucidar a autoria e materialidade da infração objeto de in-
que trouxe importantes modificações, a tendência atual do direito vestigação, tais como depoimentos testemunhais, declarações de
penal, seguido por outros ramos do Direito, é a valorização da ví- vitimas, reconstituição de crimes, confissões de suspeitos, apre-
tima. ensão de instrumentos e/ou objetos e/ou produtos de crimes, exa-
Resta claro, pois, que ainda há muito a se explorar, porém, é mes de necrópsia, reconhecimento de pessoas, acareações, dentre
mister concluirmos pela ascensão do papel da vítima como ele- outras.
mento estrutural do Estado Democrático de Direito. Toda esta colheita probatória é presidida por profissional ba-
charel em Direito, previamente aprovado em concurso público de
provas e de títulos, denominado Delegado de Polícia, que tem por
3.5 MODELOS E SISTEMAS DE SEGURAN- finalidade gerenciar esta produção pluricientífica, com lastro na le-
ÇA PÚBLICA E DE JUSTIÇA CRIMINAL gislação em vigor e, principalmente, atento ao preceitos estatuídos
na Constituição Federal.
Confeccionado o caderno policial, a polícia judiciária, após o
delegado de polícia realizar a subsunção cognitiva do fato crimi-
O ordenamento jurídico brasileiro é composto por uma série noso à norma penal, dá por termo as investigações, indiciando for-
de micros-sistemas normativos, cada um voltado para disciplinar malmente o investigado, que passa então a figurar como indiciado.
determinada seara de atuação social. Concluídas as investigações o Inquérito Policial é remetido à
Assim temos os Direito Civil, Empresarial e Trabalhista (regu- “Justiça”, terminando-se assim a fase administrativa do Sistema
lam, em regra, as relações privadas), bem como os Direitos Cons- de Justiça Criminal. Na “Justiça” -Poder Judiciário -, inicia-se a
titucional, Administrativo, Tributário, Previdenciário, Processual, segunda fase, denominada judicial, onde a vitima e/ou seu repre-
Ambiental, dentre outros, que moldam as condutas sociais onde sentante legal, bem como o Ministério Público, possuem o direito
o interesse público estatal possui uma maior atenção em evitar o -para o parquet dever - de promover a ação penal contra o autor
descumprimento de tais preceitos. daquele delito apurado no Inquérito Policial. Ao Juiz cabe decidir
Ao conjunto de normas impostas coercitivamente pelo Estado pela absolvição ou condenação do acusado, conforme as provas
com a finalidade de manter a paz social, definindo crimes e impon-
dos autos.
do sanções ou medidas de segurança, denomina-se Direito Penal.
Tanto na fase administrativa como na judicial o acusado de
Esse ramo do Direito é chamado pelos penalistas modernos
um crime tem o seu direito à liberdade ameaçado. É para não ferir
como a “última razão”, ou seja, só deve atuar quando as outras for-
os Princípios da Igualdade Formal e da Dignidade da Pessoa Hu-
mas jurídicas de controle social, leia-se, outros ramos do Direito,
mana que as autoridades que presidem a colheita de provas de um
foram ineficazes em evitar uma conduta contrária ao ordenamento
determinado crime -Delegado de Polícia na fase administrativa, e
jurídico vigente.
Juiz, na fase judicial - devem assegurar a produção de todas aque-
Evidentemente que o Direito Penal não regula todos os com-
portamentos sociais, bem como nem pode, sob pena de cair em las que tenham alguma relação com o fato delituoso, sejam elas
descrédito. Reserva a esta Ciência o controle das atividades mais prejudiciais ou benéficas ao imputado.
nocivas que um ser humano pode praticar em sociedade - Princípio Tanto é assim que a doutrina e a jurisprudência brasileira é
do Direito Penal Mínimo. quase uníssona no sentido de que as únicas autoridades existen-
Contudo, a aplicação do Direito Criminal está jungida a uma tes no Sistema de Justiça Criminal são os Delegados de Polícia e
teia organizacional composta de vários órgãos chamada de Siste- os Juízes, pois estas devem se pautar pela imparcialidade quando
ma de Justiça Criminal. O Sistema de Justiça Criminal deve ser no desempenho de suas atribuições legais. Os outros órgãos esta-
considerado sob dois ângulos: “lato sensu” e “estricto senso”. O tais que por ventura venham a atuar na repressão criminal ou são
primeiro leva em consideração todas as medidas estatais preven- partes, tendo interesse em uma determinada decisão -Ministério
tivas da criminalidade, como a distribuição da renda, educação, Público, Exemplo: ou são testemunhas favoráveis ou contrárias
saúde, saneamento básico, emprego etc, em síntese, tem enfoque aos interesses do Estado acusador (policiais militares, bombeiros,
sociológico. O segundo é o que interessa no momento. agentes penitenciários, etc.).
Com o advento da Constituição Federal de 1988 instaurou-se Vários estudiosos do fenômeno da criminalidade e do Sistema
no Brasil um novo modelo de justiça criminal, cujo mecanismo de de Justiça Criminal consideram um equívoco a Polícia Judiciária
funcionamento é dividido em duas fases. A primeira é a adminis- pertencer à estrutura do Poder Executivo, pois é exatamente este
trativa, chamada pelos aplicadores do Direito como extrajudicial, Poder que exerce as atribuições de acusador na esfera criminal,
e que tem início com o trabalho ostensivo/preventivo da polícia através dos Promotores de Justiça, não sendo coerente que as au-
uniformizada, com escopo de impedir a prática de delitos. Nessa toridades que investigam, Delegados da Polícia Civil e Federal,
fase, quando o trabalho preventivo não é capaz de evitar o crime, pertençam à mesma estrutura que acusa. Assim, existem estudio-
cabe ao Estado, atendidas algumas exigências legais, o dever de sos que defendem a Polícia Judiciária pertencente à estrutura do
descobrir o autor do ilícito para que o mesmo seja submetido a Poder Judiciário.
julgamento, eis que é “vedado ao particular fazer justiça com as Durante a década de 1990, como os índices de criminalidades
próprias mãos”. na maior parte do Brasil atingiam níveis aceitáveis, não se deu a
A tarefa investigativa é consagrada nas Constituição da Repú- devida atenção ao Sistema de Justiça Criminal. Com o crescimen-
blica e dos estados-membros à Polícia Judiciária (Polícia Civil nos to da criminalidade nesta década as entidades políticas, principal-
Estados Membros e Federal, na União), através do procedimento mente a União e os Estados-Membros, sentiram a necessidade de
denominado Inquérito Policial. implementar medidas no campo da Justiça Criminal, pois os índi-

Didatismo e Conhecimento 24
CRIMINOLOGIA
ces atingiram níveis inaceitáveis. Depararam-se, no entanto, com o segundo estes dados, de apenas 0,026%, a comparação com outros
sucateamento do Sistema de Justiça Criminal (polícias judiciárias, países evidencia um grave problema de segurança pública no Bra-
estabelecimentos prisionais etc). sil. Outros crimes também preocupam. A Secretaria Nacional de
Percebeu-se que o “elo de ligação” entre as fases adminis- Segurança Pública (Ministério da Justiça) conseguiu reunir outros
trativa e judicial da persecução penal encontrava-se, no aspecto dados de vítimas de crime no país, relativos a 2005. Os números
estrutural (recursos humanos e materiais), em dissonância com a são os seguintes:
demanda social. - lesão corporal dolosa – 308.952 vítimas;
Algumas medidas já começaram a serem adotadas no sentido - tentativa de homicídio – 21.461;
de “recuperar o tempo perdido”, no que pertine ao aperfeiçoamen- - extorsão mediante sequestro – 617;
to do Sistema de Justiça Criminal. São políticas que apesar de tar- - roubo a transeunte – 202.577;
dias são bem vindas e necessárias, satisfazendo uma exigência da - estupro – 7.550;
população. Contudo, não se pode perder de vista os direitos consti- - atentado violento ao pudor – 7.172 vítimas.
tucionais assegurados aos cidadãos, sejam eles quem for, sob pena
de que na “ânsia de reduzirmos a criminalidade a qualquer custo”, Por fim, a ação da sociedade civil e a mídia têm também cha-
retornemos ao período da Inquisição. mado atenção para uma série de fenômenos: corrupção, violência
contra grupos vulneráveis (mulheres, crianças, idosos, GLBT, de-
fensores de direitos humanos, trabalhadores rurais), contrabando,
A segurança pública, nos últimos anos, tornou-se uma das áre-
tráfico de armas etc. Essa forte preocupação social, por sua vez,
as de políticas públicas de maior preocupação dos brasileiros. Isto
tem despertado na sociedade e no Estado (setores de saúde, educa-
pode ser notado em pesquisas de opinião pública realizadas recen- ção, urbanização, trabalho etc.) novas ações que contribuem para a
temente. A pesquisa CNT-Sensus trabalhou com três indicadores: melhora da situação ao atuar na prevenção da violência e do crime.
- a avaliação dos entrevistados sobre o controle da violência e No entanto, embora alguns estudos venham questionando a
da criminalidade pelas autoridades; ideia de prisão de criminosos como forma de intimidar o crime
- a forma de violência pela qual o entrevistado se sente mais e assegurar a ressocialização, a responsabilidade mais específica
ameaçado; sobre o problema, atribuída pela mídia e pelos atores políticos de
- a classificação da cidade como mais ou menos violenta, se- maneira geral, continua sendo do sistema de justiça criminal. O
gundo o entrevistado. objetivo deste estudo foi avaliar a atuação desse sistema de justiça
criminal. Duas são as perspectivas de avaliação: o respeito ao Es-
Os resultados mostram que, para 76,1% dos entrevistados, a tado Democrático de Direito e os resultados dos órgãos em relação
violência e a criminalidade estão fora do controle das autoridades. às infrações penais.
Para o segundo indicador, entre as opções apresentadas, o assalto
em casa ou na rua foi escolhido por 38,4% dos entrevistados como Desenho Institucional do Sistema de Justiça Criminal
a violência que mais ameaça. Os demais entrevistados escolheram:
- tráfico de drogas (31,7%); O sistema de justiça criminal abrange órgãos dos Poderes
- estupro (9%); Executivo e Judiciário em todos os níveis da Federação. O sis-
- sequestro (7%); tema se organiza em três frentes principais de atuação: seguran-
- violência na família (6,1%); ça pública, justiça criminal e execução penal. Ou seja, abrange a
- brigas em locais públicos (5,9%). atuação do poder público desde a prevenção das infrações penais
até a aplicação de penas aos infratores. As três linhas de atuação
Por último, a cidade onde mora o entrevistado foi considera- relacionam-se estreitamente, de modo que a eficiência das ativida-
da muito violenta por 14,7%, violenta por 16,9%, mais ou menos des da Justiça comum, por exemplo, depende da atuação da polí-
violenta por 29,7%, pouco violenta por 27,8%, e nada violenta por cia, que por sua vez também é chamada a agir quando se trata do
10,1% dos entrevistados. Os resultados dessa pesquisa revelam encarceramento, para vigiar externamente as penitenciárias e se
encarregar do transporte de presos, também à guisa de exemplo.
também, entre outros aspectos, que os entrevistados tendem a ser
A política de segurança pública, de execução penal e a ad-
críticos quanto à atuação das autoridades, mesmo aqueles que con-
ministração da Justiça são majoritariamente desenvolvidas pelos
sideram relativamente pouco violentas as cidades em que moram.
poderes estaduais. Os poderes públicos federal e municipal desem-
A percepção dos brasileiros sobre a situação de violência e penham papel de menor importância nesta área.
criminalidade é influenciada pela ampla cobertura que os meios de O objetivo desta seção é apresentar o desenho institucional de
comunicação de massa dão aos casos de violência. Em qualquer cada um dos subsistemas da Justiça criminal. Além dos órgãos en-
lugar do país, tem-se informação sobre crimes ocorridos em São volvidos em cada nível da Federação, busca-se aqui também mos-
Paulo, Rio de Janeiro, outras cidades de grande e médio porte, e trar a relação entre eles e as principais normas legais que regem a
também, embora mais raramente, em pequenos municípios. Isso atuação governamental na área, de modo a subsidiar a posterior
não quer dizer, no entanto, que não existam motivos reais para uma análise sobre o funcionamento do sistema, assim como permitir ao
grande preocupação com o tema. leitor uma maior familiaridade com o tema.
Em relação às mortes por agressão (homicídios ou latrocí-
nios), por exemplo, num conjunto de 80 países, o Brasil é o pri- Estrutura do Sistema de Segurança Pública
meiro em número absoluto de mortes, o quarto em taxa de mortos
por agressão por 100 mil habitantes (26,4), e o quarto na proporção O sistema de segurança pública no Brasil organiza-se com
entre as mortes por agressão sobre o total de mortes (4,8%). Em- base em órgãos do Poder Executivo Federal, estadual e munici-
bora o risco de morte por agressão do brasileiro em um ano seja, pal. A Constituição Federal (CF) de 1988 traz as diretrizes gerais

Didatismo e Conhecimento 25
CRIMINOLOGIA
para o sistema, prevendo o papel dos órgãos policiais e dos entes tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão
federativos em sua organização. No art. 144, a CF define a segu- uniforme”. Cabe, ainda, “prevenir e reprimir o tráfico ilícito de
rança pública como dever do Estado e responsabilidade de todos. entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho (...)”,
Define, ainda, que os órgãos responsáveis por sua manutenção são “exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de frontei-
a Polícia Federal as Polícias Rodoviária e Ferroviária Federais; as ras” e “exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária
Polícias Civis; as Polícias Militares; e os Corpos de Bombeiros da União” (CF, art. 144, § 1o, incisos I a IV).
Militares. Dessa forma, a Polícia Federal cumpre um importante papel
A seguir será traçada a estrutura do sistema, de acordo com os nas investigações que envolvem crimes contra o patrimônio da
papéis e a organização de cada nível da Federação: União, poder União, aí incluídos delitos cometidos por autoridades políticas,
estadual e poder municipal. no policiamento de fronteira, e no combate ao tráfico de drogas,
- Órgãos federais de segurança pública: No âmbito do go- atuando em todo o país por meio de suas unidades regionalizadas
verno federal, a segurança pública é assunto da área de competên- – 27 superintendências regionais e 81 delegacias, além de postos
cia do Ministério da Justiça, no qual se encontram vinculados os avançados, centros especializados, e delegacias de imigração, en-
seguintes órgãos: Secretaria Nacional de Segurança Pública (Se- tre outros. A Polícia Federal atua também na fiscalização nos aero-
nasp), Departamento de Polícia Federal, e Departamento de Po- portos, na emissão de passaportes e no registro de armas de fogo.
lícia Rodoviária Federal. Cabe mencionar, ainda, a existência de Seus principais órgãos centrais são: Comando de Operações Táti-
conselhos ligados ao Ministério da Justiça, tais como o Conselho cas, Academia Nacional de Polícia, Diretoria Técnico-Científica,
Nacional de Segurança Pública, que também exercem papel im- Coordenação-Geral de Polícia de Imigração, e Coordenação-Geral
portante para as definições e avaliações da política. de Controle de Segurança Privada.
A Senasp, criada em 1997, tem por principais atribuições: A Polícia Rodoviária Federal, que também tem suas atribui-
promover a integração dos órgãos de segurança pública; planejar, ções definidas constitucionalmente, deve exercer o patrulhamento
acompanhar e avaliar as ações do governo federal na área; estimu- das rodovias federais. Integram sua atuação: realizar patrulhamen-
lar a modernização e o reaparelhamento dos órgãos de segurança to ostensivo, inclusive operações relacionadas com a segurança
pública; estimular e propor aos órgãos estaduais e municipais a pública; exercer os poderes de autoridade de polícia de trânsito;
elaboração de planos integrados de segurança; e implementar e aplicar e arrecadar multas impostas por infrações de trânsito; exe-
manter o Sistema Nacional de Informações de Justiça e Segurança cutar serviços de prevenção, atendimento de acidentes e salvamen-
Pública (Infoseg), entre outras. to de vítimas; assegurar a livre circulação nas rodovias federais;
É a Senasp que gerencia o programa Sistema Único de Se- efetuar a fiscalização e o controle do tráfico de crianças e ado-
gurança Pública (Susp), bem como a administração dos recursos lescentes; colaborar e atuar na prevenção e repressão aos crimes
do Fundo Nacional de Segurança Pública, por meio do qual são contra a vida, os costumes, o patrimônio, o meio ambiente, o con-
apoiados projetos de estados e municípios. trabando, o tráfico de drogas e demais crimes.
O Fundo Nacional de Segurança Pública foi criado em 2000, Na espera do governo federal, cabe mencionar também a atu-
logo após o lançamento do Plano Nacional de Segurança Pública, ação do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da
e tem por objetivo apoiar projetos na área de segurança pública e República, que é o órgão de coordenação das atividades de inteli-
projetos sociais de prevenção à violência, tanto de estados quanto gência federal e, juntamente com outros doze, compõe o Sistema
de municípios, desde que atendam aos critérios estabelecidos. Brasileiro de Inteligência, cujo órgão central é a Agência Brasilei-
O Susp, lançado em 2003, é um programa criado para articu- ra de Inteligência (Abin), também responsável por atividades rela-
lar as ações federais, estaduais e municipais na área da segurança cionadas à segurança pública, e que atua muitas vezes em conjunto
pública e da Justiça criminal. A integração ao Susp se dá via as- com a Secretaria Nacional Anti-Drogas (Senad) e com a Polícia
sinatura de um protocolo de intenções entre o governo do estado Federal.
e o Ministério da Justiça, a partir do qual se institui no estado um A Senad, por sua vez, subordinada ao Gabinete de Segurança
Gabinete de Gestão Integrada, composto por representantes do Po- Institucional da Presidência da República, é “o órgão executivo
der Executivo estadual, das polícias e guardas municipais, Polícia das atividades de prevenção do uso indevido de substâncias entor-
Federal e Polícia Rodoviária Federal, além da cooperação do Mi- pecentes e drogas que causem dependência, bem como daquelas
nistério Público e do Poder Judiciário. O gabinete deve definir as relacionadas com o tratamento, recuperação, redução de danos e
ações a serem implementadas, e suas decisões são repassadas para reinserção social de dependentes”. A secretaria gerencia o Fundo
o Comitê Gestor Nacional. Este modelo já está em funcionamento Nacional Anti-Drogas e, junto ao Conselho Nacional Anti-Drogas,
em todos os estados da Federação, mas esbarra na dificuldade de atua na implementação da Política Nacional sobre as Drogas, lan-
falta de regulamentação por parte do Susp do ponto de vista nor- çada em 2005.
mativo. Finalmente, cumpre lembrar a recente instituição da Força
O papel da Senasp vem sendo sobretudo fomentar a discussão, Nacional de Segurança Pública, criada em novembro de 2004, por
delinear diretrizes gerais, especialmente na área de capacitação de meio do Decreto no 5.289, considerando “o princípio de solida-
recursos humanos, de informação e conhecimento, e manter o elo riedade federativa que orienta o desenvolvimento das atividades
entre governo federal e governos estaduais e municipais. do sistema único de segurança pública”, para exercer atividades
Ainda no âmbito do Ministério da Justiça, o Departamento de relacionadas com policiamento ostensivo no caso de solicitação
Polícia Federal cumpre uma função bem distinta. A norma consti- expressa de um governador de estado.
tucional define que cabe à Polícia Federal “apurar infrações penais Integram a Força Nacional servidores de órgãos de segurança
contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços pública estaduais e federais selecionados e treinados para traba-
e interesses da União (...) assim como outras infrações cuja prática lhar conjuntamente. Os estados podem aderir voluntariamente ao

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CRIMINOLOGIA
programa. O emprego da Força Nacional será determinado pelo Frequentemente há ainda, em separado, um estatuto, um re-
ministro da Justiça, sempre de forma episódica e planejada, e após gulamento disciplinar e um código de ética, todos publicados por
solicitação do governador de estado. Portanto, a Força Nacional lei estadual ou decreto governamental, embora seja mais comum
não possui sede própria nem contingente próprio, os policiais ca- que a lei orgânica aborde todos os aspectos relativos à organização
pacitados para integrá-la são convocados para missões específicas, da corporação, finalidades, atribuições, regime disciplinar, cargos
e tampouco funciona de maneira permanente. e carreiras etc.
O governador deve publicar em lei o número de cargos exis-
- Órgãos Estaduais de Segurança Pública: A Constituição tentes nas polícias, com base na proposta do comandante-geral da
Federal define o papel das Polícias Civil e Militar, que se subordi- corporação.
nam ao Poder Executivo estadual. A Polícia Militar deve realizar o Uma das possibilidades encontradas nos estados é a organi-
policiamento ostensivo e garantir a preservação da ordem pública. zação da Polícia Civil em departamentos e institutos, o que con-
A Polícia Civil tem como principal atribuição a investigação de tribui para uma especialização entre os policiais e das próprias
crimes. Nesse sentido, cumpre a função de polícia judiciária, de- delegacias, que se voltam para áreas como: homicídios e proteção
vendo apurar as infrações penais, com exceção das militares. à pessoa; narcóticos; crime organizado, além de departamento de
As Polícias Civil e Militar, o Corpo de Bombeiros e os órgãos polícia da capital e departamento de polícia do interior; e depar-
de perícia vinculam-se ao Poder Executivo estadual e organizam- tamento de inteligência, entre outros. Há ainda grupos ostensivos
-se, sob o princípio da norma constitucional, de acordo com a le- em alguns estados.
gislação local, havendo diferenças entre os estados brasileiros. São Normalmente ligado à unidade de perícias está o instituto de
as constituições estaduais que explicitam a organização das corpo- identificação, visto que cabe à Polícia Civil executar os serviços
rações policiais e da política de segurança pública local. de identificação civil e criminal. Outras unidades desta polícia são
Em geral, compõem as Secretarias Estaduais de Segurança corregedoria e academia, além de departamentos administrativos e
Pública: Polícia Civil, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, Polí- de apoio, órgãos colegiados ou equivalentes.
cia Técnico-Científica, quando separada da Polícia Civil, Departa- As carreiras da Polícia Civil também encontram diferenças
mento de Trânsito, conselhos comunitários, instituto de identifica- de um estado para outro, havendo necessariamente distinção entre
ção, além de Corregedoria e Ouvidoria de Polícia. carreira de delegado de polícia e de agente, além de carreiras es-
A Polícia Civil atende a população em delegacias ou distritos, pecíficas ligadas às atividades de perícia. O ingresso em todas as
carreiras se dá mediante concurso público, sendo necessário, para
nos quais são registradas as ocorrências de infrações. Em geral,
delegado, ser detentor de curso superior em Direito.
cada delegacia de polícia deve registrar e apurar os delitos de sua
Em alguns estados, a Polícia Científica, que trabalha nas ativi-
área de circunscrição. É o delegado de polícia que abre o inqué-
dades de perícia e medicina legal, constitui uma corporação espe-
rito policial para investigar os crimes e realiza os procedimentos
cífica, independente da Polícia Civil.
relacionados à investigação, como interrogatório de testemunhas,
A organização da Polícia Militar (PM) também difere entre
solicitação de perícias etc. Com vistas a subsidiar a investigação,
os estados, mas em geral é formada por batalhões e companhias.
entra em ação o trabalho da Polícia Científica, formada pelos espe-
Existem atualmente doze graus hierárquicos, de soldado a coronel
cialistas que atuam nos institutos de criminalística e institutos ou
– em reprodução à organização do Exército, à exceção do grau de
departamentos de medicina legal. general, inexistente na polícia. O comandante-geral da polícia no
Uma vez concluído, o inquérito policial (procedimento admi- estado deve ter a patente de coronel. Os integrantes das polícias
nistrativo anterior à ação penal) é encaminhado para o Judiciário, militares são denominados pela Constituição Militar dos estados,
que o remete ao Ministério Público. constituindo força auxiliar do Exército.
Este pode requerer seu arquivamento ou apresentar denúncia. O trabalho de mais visibilidade da PM é o policiamento os-
O Ministério Público tem competência privativa de promover a tensivo, caracterizado pela ação em que o agente é identificado
ação penal pública,15 fazendo a denúncia que dá início ao proces- pela farda, pelo equipamento e pela viatura, podendo ser: osten-
so criminal. Cabe lembrar, ainda, que as provas produzidas pela sivo geral, urbano e rural; de trânsito; florestal e de mananciais;
polícia, como os depoimentos, têm de ser refeitas no âmbito do Ju- rodoviário e ferroviário, nas vias estaduais; portuário; fluvial e la-
diciário, para que sejam respeitados os princípios do contraditório, custre; de radiopatrulha terrestre e aérea; e de segurança externa
da ampla defesa e do devido processo legal. dos estabelecimentos penais, entre outros.
O inquérito policial não é obrigatório. Se já há elementos para Cada corporação policial possui uma corregedoria-geral en-
propor a ação penal, ele se torna dispensável. No caso de infrações carregada de investigar infrações penais e transgressões discipli-
penais de menor potencial ofensivo, a polícia pode lavrar termo nares de seus agentes, assim como de realizar correições. Além da
circunstanciado,16 encaminhado ao Judiciário, no contexto dos corregedoria, quatorze estados já possuem também Ouvidorias de
procedimentos mais simplificados para a conclusão judicial. Polícia, tanto ligadas especificamente a cada corporação quanto
A relação da Polícia Civil com o Judiciário e o Ministério configuradas como ouvidorias únicas. A Ouvidoria de Polícia atua
Público se dá em diferentes circunstâncias, não somente ao lon- como controle externo da atividade policial, encaminhando denún-
go da instrução do inquérito policial e do processo criminal, mas cias e acompanhando seu andamento junto à Corregedoria, que se
também para cumprir mandados de prisão, de busca e apreensão, incumbe das apurações.
entre outros. No âmbito do Poder Executivo estadual, coordenam as ações
Cada estado organiza seu departamento de polícia civil de ma- relativas à segurança pública as secretarias estaduais (Secretarias
neira independente, sendo que, na maioria das vezes, tal organiza- de Segurança Pública e Secretarias de Defesa Social), que mui-
ção é normatizada por uma lei orgânica. tas vezes também têm como atribuição a fiscalização de trânsito

Didatismo e Conhecimento 27
CRIMINOLOGIA
urbano. Na verdade, o Código Nacional de Trânsito remeteu esta de vigilantes. O vigilante pode portar arma de fogo quando em
fiscalização aos municípios, mas ela ainda se encontra sob a res- serviço, sendo os calibres permitidos definidos na lei, e as armas
ponsabilidade dos governos estaduais na maioria dos casos, ou sob de propriedade das empresas têm de ser registradas junto à Polícia
responsabilidade compartilhada, por meio de convênios entre es- Federal. Como já apontava estudo de Musumeci (1998), o pessoal
tado e município. É a Polícia Militar a responsável, na maior parte ocupado na atividade de vigilância e guarda vem aumentando con-
dos estados, pela fiscalização de trânsito. sideravelmente ao longo dos anos. Em 2005, o número de pesso-
Pode-se concluir que a organização dual das forças policiais as ocupadas em serviços de segurança privada já alcançava 45%
no Brasil se explica pela seguinte divisão: a ação da Polícia Militar do total de ocupados na área de segurança, sendo que na região
se dá enquanto o crime ocorre ou para evitá-lo, ao passo que a ação Sudeste já alcançava 51,6% do total, ultrapassando o número de
da Polícia Civil se dá prioritariamente após a ocorrência do crime. ocupados em serviços de segurança pública. Esta expansão dos
serviços de segurança privada no Brasil engendra questionamentos
- Órgãos Municipais de Segurança Pública: A Constituição importantes relacionados até mesmo ao papel do Estado.
Federal de 1988, em seu art. 144, prevê que os municípios poderão A importância de garantir o monopólio estatal da coerção fí-
constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus bens, sica tem como pressuposto a proteção dos indivíduos e dos grupos
serviços e instalações. As guardas municipais são instituições de sociais, inclusive contra abusos do próprio Estado no exercício
caráter civil, que se encarregam não somente de zelar pelo patri- desta sua função. Diante da preocupação de que a expansão da
mônio público e cuidar da segurança coletiva em eventos públi- segurança privada colocaria em risco importantes conquistas da
cos, mas também atuam em rondas e assistência nas escolas, em democracia ocidental, cabe ressaltar a necessidade de o Estado
atividades de defesa civil, e na mediação de conflitos, entre outras permanecer com as atribuições de polícia e justiça criminal e com
atividades desenvolvidas, conforme levantamentos realizados pela o monopólio da delegação e regulação do uso da força, delimitan-
Senasp. Destaca-se o importante papel das guardas municipais na do as atribuições públicas e privadas (Musumeci).
prevenção da violência e da criminalidade, por meio da articulação
de projetos sociais e comunitários. Tem-se observado, ainda, a ex- Estrutura dos Órgãos de Justiça Criminal
pansão da atuação das guardas municipais no sentido de cumprir
papéis legalmente destinados às corporações policiais, o que vem A Constituição Federal delineia uma série de princípios e di-
retrizes relativos ao processo penal. Entre os princípios constitu-
sendo tema de debates e propostas no âmbito dos Poderes Execu-
cionais, destacam-se:
tivo e Legislativo.
- a presunção da inocência, ou da não-culpabilidade, como
Nesse sentido, uma importante questão reside na permissão
preferem alguns juristas;
para porte de armas de fogo pelos integrantes das guardas munici-
- o princípio do devido processo legal, contraditório e da am-
pais. A legislação federal determina que podem ter porte de arma
pla defesa;
de fogo os integrantes das guardas municipais das capitais e dos
- o da verdade real ou da busca da verdade;
municípios com mais de 500 mil habitantes, enquanto os integran-
- da irretroatividade da lei penal; v) o princípio da publicidade;
tes das guardas municipais de municípios com população entre 50 - do juiz natural – “ninguém será processado nem sentenciado
mil e 500 mil habitantes, e de municípios de regiões metropolita- senão pela autoridade competente” (CF, art. 5o, LIII).
nas, podem utilizar arma de fogo quando em serviço. Tal permis-
são está condicionada à existência de mecanismos de fiscalização e Os órgãos de Justiça criminal no Brasil organizam-se nos ní-
controle interno nas instituições, assim como de formação de seus veis federal e estadual: juízes federais, Tribunais Regionais Fede-
integrantes em estabelecimentos de ensino de atividade policial. rais, Ministério Público Federal e Defensoria Pública da União, no
Existem hoje no Brasil cerca de 400 guardas municipais, que primeiro caso, e juízes estaduais, Tribunais de Justiça, Ministérios
se reúnem por meio de uma associação denominada Conselho Públicos e Defensorias Públicas Estaduais, no último. As compe-
Nacional das Guardas Municipais. Diversos municípios, especial- tências de cada um destes órgãos são ditadas pela Constituição
mente os de maior porte e aqueles localizados em regiões metro- Federal e pelas legislações específicas, como as leis estaduais de
politanas, possuem também Secretarias Municipais de Segurança organização judiciária.
Pública. A seguir, serão apresentados brevemente os principais órgãos
de cada nível de governo, suas atribuições e os principais elemen-
Segurança Privada: Os serviços particulares de segurança e tos de organização institucional do sistema de justiça criminal.
vigilância são normatizados no Brasil desde a década de 1980,
quando foram estabelecidas as normas para a segurança de esta- - Órgãos Federais de Justiça Criminal: O Poder Judiciário no
belecimentos financeiros. A Lei nº 7.102, de 20 de junho de 1983, âmbito federal é composto pelas justiças especializadas, Justiça do
alterada posteriormente por leis de 1994, 1995 e 2001 e regula- Trabalho, eleitoral e militar, e Justiça comum, constituída pelos
mentada por portarias do Ministério da Justiça, estabelece, entre juízes federais e pelos Tribunais Regionais Federais.
outros, que o vigilante deve ter no mínimo 21 anos, ter concluído As competências da Justiça comum federal são definidas pela
até pelo menos a 4a série do ensino fundamental, ter concluído Constituição Federal, em seus artigos 108 e 109. Entre elas, no que
curso de formação em estabelecimento credenciado, não ter ante- diz respeito às competências criminais, destaca-se o julgamento:
cedentes criminais e ter sido aprovado em exames de saúde física - dos crimes políticos e das infrações penais praticadas em
e mental e psicotécnico. detrimento de bens, serviços ou interesse da União;
O Ministério da Justiça deve conceder autorização para o fun- - dos habeas corpus em matéria criminal de sua competência
cionamento das empresas especializadas em serviços de vigilân- ou quando o constrangimento provier de autoridade cujos atos não
cia, serviços de transporte de valores, e dos cursos de formação estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição;

Didatismo e Conhecimento 28
CRIMINOLOGIA
- dos crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves; A Carta Magna veta a pena de morte, a de caráter perpétuo, a
- dos crimes de ingresso ou permanência irregular de estran- de trabalhos forçados, a de banimento e as penas cruéis, e prevê os
geiro. direitos básicos do apenado.
O Código Penal (Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de
Enquanto os juízes federais constituem o primeiro grau de ju- 1940) divide-se em: parte geral, alterada pela Lei nº 7.209, de 11
risdição, os Tribunais Regionais Federais, cinco em todo o país, de julho de 1984, que prevê as normas não-incriminadoras, refe-
cada qual com sua área de jurisdição, constituem o segundo grau, rentes à aplicação da lei penal, crime, imputabilidade penal, penas
com a competência de julgar, em grau de recurso, as causas deci- e medidas de segurança, tipos de ação penal e extinção da punibi-
didas pelos juízes federais e pelos juízes estaduais no exercício da lidade; e parte especial, que prevê as normas incriminadoras, que
competência federal em sua área de jurisdição, além de processar descrevem uma conduta e impõem as respectivas penas.
e julgar mandados de segurança e habeas corpus contra ato do A legislação brasileira prevê dois tipos de infrações penais:
próprio tribunal ou de juiz federal, entre outras competências. crimes (ou delitos) e contravenções. Estas últimas são infrações
A Justiça federal em cada região está organizada em varas es- penais de menor impacto e estão tipificadas na Lei de Contraven-
pecializadas e nãoespecializadas, havendo varas federais criminais ções Penais (Decreto-Lei nº 3.688, de 3 de outubro de 1941).
em algumas comarcas, além dos Tribunais Regionais Federais e O Código Penal define, portanto, somente os crimes ou deli-
dos Juizados Especiais Federais. Cada tribunal atua por meio de tos, que podem ser cometidos por ação ou por omissão, podem ser
seu pleno, de seu órgão especial e de seções e/ou turmas especiali- dolosos ou culposos e, ainda, terem sido consumados ou caracteri-
zadas, entre as quais algumas se dedicam, exclusivamente ou não, zar-se como tentativa.
aos feitos de matéria penal. Os tipos de pena são: privativas de liberdade, restritivas de
Os Juizados especiais federais criminais julgam infrações direitos, e multa. As penas privativas de liberdade podem ser de
de menor potencial ofensivo de competência da Justiça federal, reclusão , cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto, ou
pautando sua atuação pelos princípios de oralidade, simplicidade, de detenção, cumprida em regime semi-aberto ou aberto.
informalidade, economia processual e celeridade, de acordo com Os regimes para cumprimento das penas privativas de liber-
a Lei nº 10.259/2001. dade são, portanto:
- Fechado, que por lei deveria ser cumprido em cela individu-
- Órgãos Estaduais de Justiça Criminal: Os juízes de direito, al, de no mínimo seis metros quadrados, com trabalho durante o
dia e isolamento à noite;
em primeira instância, e os Tribunais de Justiça, em segunda ins-
- Semi-aberto, cumprido em colônia agrícola, industrial ou
tância, integram o Poder Judiciário nos estados e se regem pelas
similar, em alojamento coletivo, com possibilidade de atividades
constituições estaduais e pelas normas específicas que organizam
externas sem vigilância, caso permitidas pelo juiz da execução;
suas unidades e atribuições.
- Aberto, no qual o preso trabalha sem vigilância e se recolhe à
Os Tribunais de Justiça Estaduais atuam por meio das varas cri-
casa de albergado para dormir e passar os dias de folga.
minais, Juizados Especiais Criminais e tribunais do júri. O número
Se a pena definida é superior a oito anos, inicia-se seu cum-
e a distribuição das varas criminais, das varas não-especializadas
primento em regime fechado; para penas maiores de quatro anos e
que tratam das causas relacionadas a crimes, das varas de execução
inferiores a oito, em regime semiaberto; e para as penas menores
penal e dos juizados especiais e tribunais do júri são determinados de quatro anos, no caso de réus primários, inicia-se em regime
pela lei de organização judiciária de cada estado, complementada aberto. Por regra, o cumprimento da pena deve ser progressivo. O
pelo regimento interno do Tribunal de Justiça Estadual. juiz da execução define o regime inicial e sua progressão ocorre
O fluxo de justiça criminal obedece a seqüências e ritos espe- com o tempo e de acordo com o comportamento do preso. Para
cíficos de acordo com alguns fatores relacionados à infração penal passar de um regime para outro mais brando, o condenado deve
cometida. A primeira distinção diz respeito ao tipo de ação penal, cumprir pelo menos um sexto da pena no regime anterior, sen-
pública ou privada, que determinará os procedimentos a serem do que a progressão depende de pareceres internos que avaliam o
adotados pela autoridade policial, pelo Ministério Público, assim comportamento e a recuperação do preso. Além disso, para passar
como os respectivos fluxos no âmbito do Poder Judiciário. para o regime aberto, é preciso comprovar trabalho ou promessa
O tipo de crime e a pena cominada no Código Penal definem de emprego. No caso de o condenado sofrer nova condenação ou
os ritos a serem seguidos no âmbito do Poder Judiciário para que desobedecer às exigências da execução, o regime penitenciário
sejam ouvidas as testemunhas, os acusados e, finalmente, para que pode regredir.
possa haver formação de convencimento pelo juiz e este profira a A Lei nº 8.072/90 previa, em seu art. 2º, § 1º, que a pena por
sentença. crimes hediondos, tráfico de drogas e terrorismo deveria ser cum-
O Código de Processo Penal prevê o procedimento comum e prida integralmente em regime fechado.
os especiais. Entre estes, cabe destacar os ritos do júri e dos Juiza- Contudo, no dia 23 de fevereiro de 2006, o Supremo Tribunal
dos Especiais Criminais. Federal julgou tal determinação inconstitucional, por violar o prin-
cípio constitucional da individualização da pena.
Estrutura do Sistema de Execução Penal Brasileiro O livramento condicional, por sua vez, se dá somente após
cumprimento de um terço da pena, se o condenado tem bons an-
A Constituição prevê diretrizes relativas à pena para o trans- tecedentes e não é reincidente em crime doloso. Se é reincidente,
gressor das leis: a pena é individual e pode ser de privação ou res- deve ter cumprido metade da pena. Para ter o livramento condi-
trição de liberdade, de perda de bens, de multa, de prestação social cional, deve comprovar bom comportamento, aptidão para prover
alternativa ou de suspensão ou interdição de direitos, entre outras. a subsistência e ter reparado o dano, se possível. Durante o livra-

Didatismo e Conhecimento 29
CRIMINOLOGIA
mento condicional, é preciso cumprir diferentes condições impos- A pena privativa de liberdade poderá ser reduzida pelo traba-
tas pelo juiz, como ter ocupação, voltar para casa em hora fixada e lho, à razão de um dia de pena por três dias de trabalho do preso.
não freqüentar determinados lugares. A legislação brasileira determina que ninguém pode permanecer
No caso de crimes hediondos, tráfico de drogas, tortura e preso por mais de trinta anos, mas ainda há controvérsias a respeito
terrorismo, se o condenado é primário, tem direito ao livramento das regras para progressão de regime e livramento condicional no
condicional somente após cumprir dois terços da pena em regime caso de penas superiores a trinta anos.
fechado. A Lei de Execução Penal, que regulamenta o cumprimento
A graça ou indulto individual, outro benefício concedido a das penas privativas de liberdade, especifica o princípio constitu-
presos que atendam a determinados critérios, é também vetada a cional de individualização da pena, ao determinar tanto que cabe
praticantes de crimes hediondos e assemelhados. A graça e o in- à Comissão Técnica de Classificação elaborar o programa indivi-
dulto são concedidos pelo presidente da República, por meio de dualizador da pena, como que devem ser separados nos estabeleci-
decreto que especifica todos os apenados sujeitos a ter suas penas mentos penais os presos provisórios dos condenados, e os primá-
perdoadas ou aliviadas – individual, no caso da graça, e coletivo, rios dos reincidentes.
no caso do indulto. É de fundamental importância ressaltar que a função da pena
A suspensão condicional da pena, ou sursis, é outro instituto no Brasil, de acordo com a legislação em vigor, é a reinserção so-
previsto no Código de Processo Penal e na Lei de Execução Penal cial do condenado. A exposição de motivos da nova parte geral
(LEP, Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984), por meio do qual se do Código Penal, reformulada em 1984, explicita e defende este
suspende uma pena de reclusão ou de detenção, desde que aten- princípio, que deve permear a atuação de todos os integrantes do
didos os critérios especificados na lei. A suspensão é condicional sistema de execução penal.
porque o condenado deve cumprir as condições estabelecidas pelo Nossa legislação estabelece que são penalmente inimputáveis
juiz para continuar tendo direito ao benefício. os menores de dezoito anos, os doentes mentais e os índios ditos
A Lei nº 10.792, de 1o de dezembro de 2003, alterou a Lei não-aculturados. No caso dos menores de dezoito anos, o Estatuto
de Execução Penal, ao prever o Regime Disciplinar Diferenciado da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990)
(RDD), que deve ser aplicado ao preso que cometer crime doloso, disciplina as chamadas medidas socioeducativas no caso de ato
ao preso que apresente “alto risco para a segurança do estabeleci- infracional; e no caso dos índios não-aculturados, o regime penal
mento penal ou da sociedade”, e ao preso suspeito de ligação com deve ser de semiliberdade, sob controle da Fundação Nacional do
o crime organizado. O RDD tem duração máxima de trezentos e Índio (Funai). Os doentes mentais que cometerem infrações deve-
rão cumprir medida de segurança em hospitais de custódia e trata-
sessenta dias e se caracteriza pelo recolhimento em cela individu-
mento psiquiátrico. Isto se aplica no caso de infratores com doença
al, visitas semanais de duas pessoas por no máximo duas horas,
ou deficiência mental no ato da infração e para presos com doença
e banho de sol de duas horas diárias, quando o preso sai da cela.
mental adquirida durante o cumprimento da pena. Para readquirir
Dessa forma, no RDD estende-se o prazo limite para as san-
liberdade, é preciso exame psiquiátrico específico, sendo a sanção
ções de isolamento, suspensão e restrição de direitos, previstas ori-
de tempo indeterminado, pois somente é aplicada se constatada
ginalmente na Lei de Execução Penal.
periculosidade.
A nova lei prevê, inclusive, a construção de estabelecimentos
Além das penas privativas de liberdade, existem as penas
penais destinados exclusivamente aos presos sujeitos ao regime restritivas de direitos, também chamadas penas alternativas, e as
disciplinar diferenciado. penas de multa. As penas restritivas de direito podem ser: pres-
A mesma norma que criou o RDD aboliu a necessidade de tação pecuniária, perda de bens e valores, prestação de serviços à
exame criminológico, previsto no Código de Processo Penal e na comunidade, interdição temporária de direitos e limitação de fim
Lei de Execução Penal, para a avaliação da progressão de regime, de semana. Estas penas são imputadas pelo juiz da execução, após
o que vem sendo objeto de grande controvérsia entre especialistas conversão da pena de prisão, se esta for inferior a quatro anos e se
da área. Alguns criminalistas acreditam que a ausência do exame o crime não tiver sido cometido com violência ou grave ameaça
dá mais dinamismo à execução penal e se justifica na medida em contra pessoa, e quando, qualquer que seja a pena, se tratar de
que o preso não é permanentemente acompanhado pelo Estado, crime culposo.
lacuna que não poderia ser preenchida por um exame realizado O condenado não pode ser reincidente em crime doloso, ape-
em condições pouco transparentes e em circunstâncias pontuais. nas excepcionalmente, e o juiz deve verificar se a substituição da
Muitos estudiosos, contudo, defendem que o exame criminológico pena de prisão por uma pena restritiva de direitos é suficiente para
embasa em grande medida a decisão do juiz e é fundamental por a reprovação do crime cometido.
contemplar aspectos referentes à personalidade do apenado, vida Dessa forma, a pena de prisão de até um ano pode ser substi-
pregressa, comportamento na prisão, percepção sobre o crime e so- tuída por pena restritiva de direitos ou multa, e a pena de prisão de
bre a pena, e possibilidade de reinserção social, entre outros. Após um a quatro anos pode ser convertida em pena restritiva de direitos
a mudança, com vistas a determinar a progressão de regime, a lei e multa ou em duas penas restritivas de direitos. Caso o condenado
se atém tão-somente ao bom comportamento carcerário, que deve não cumpra as medidas impostas, a pena converte-se em privativa
ser atestado pelo diretor do estabelecimento. No entanto, muitos de liberdade.
operadores do direito interpretam que a lei não aboliu o exame No caso de todas as infrações penais de menor potencial ofen-
criminológico, mas somente sua obrigatoriedade, interpretação sivo (contravenções penais e crimes cujas penas não ultrapassem
adotada pelo Superior Tribunal Federal (STF) e pelo Superior Tri- dois anos de privação de liberdade), admite-se a transação penal,
bunal de Justiça (STJ). Ou seja, quando da avaliação do pedido de isto é, se o acusado aceitar a pena restritiva de direitos ou de multa
progressão de regime, o juiz da execução pode solicitar a realiza- sem a instauração do processo e o julgamento da causa, não perde
ção do exame criminológico. a primariedade e o caso se extingue no Juizado Especial Criminal.

Didatismo e Conhecimento 30
CRIMINOLOGIA
A execução penal fica predominantemente a cargo dos esta- - Colaborar com as Unidades federativas na realização de cur-
dos, que organizam o sistema penitenciário de acordo com as leis sos de formação de pessoal penitenciário e de ensino profissionali-
nacionais e locais em vigor. No âmbito do governo federal, além zante do condenado e do internado;
dos órgãos do Poder Judiciário, existem os órgãos do Poder Exe- - Coordenar e supervisionar os estabelecimentos penais fede-
cutivo encarregados de definir a política penitenciária e fiscalizar rais.
sua aplicação nos estados. A seguir, serão tratados os dois níveis de
governo separadamente. Os estabelecimentos penitenciários federais já estavam pre-
vistos na Lei de Execução Penal, de 1984, para recolher condena-
- Órgãos Federais do Sistema Penal: Ligados ao Ministério dos em local distante da condenação caso isto seja necessário para
da Justiça, os principais órgãos do sistema penal na esfera federal, a segurança pública e a segurança do próprio condenado.
com finalidades definidas inclusive na Lei de Execução Penal, são Atualmente, dois presídios federais encontram-se em funcio-
o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNP- namento, um localizado em Catanduvas (PR) e outro em Campo
CP) e o Departamento Penitenciário Nacional (Depen). Somam- Grande (MS), e outras três unidades encontram-se em processo de
-se a estes o Ministério Público Federal, os presídios federais e os construção. Os presídios federais são de segurança máxima e pos-
órgãos da Justiça federal envolvidos na execução penal. suem, cada um, 208 celas padronizadas. Os presos ocupam celas
O CNPCP foi instalado em 1980 e é composto por treze mem- individuais, sendo a segurança monitorada por equipamentos de
bros designados pelo ministro da Justiça entre professores e pro- alta tecnologia.
fissionais da área de execução penal, bem como por representantes Os presídios vêm recebendo presos considerados de alta pe-
da comunidade e de ministérios da área social. O mandato de seus riculosidade e ligados ao crime organizado e ao tráfico de drogas,
integrantes é de dois anos, o colegiado se reúne ordinariamente além de presos que se encontrem em regime disciplinar diferen-
uma vez por mês, e vem atuando especialmente mediante a publi- ciado. O Conselho da Justiça Federal (CJF) determinou que os de-
cação de resoluções e de pareceres. tentos só podem permanecer nestes presídios pelo prazo máximo
Tal conselho tem como competências, entre outras: de um ano, que pode ser prorrogado se solicitado pelo juiz federal
- Propor diretrizes da política criminal quanto à prevenção do encarregado da execução.
crime, administração da Justiça criminal e execução das penas e No caso dos presídios federais, resolução do CJF estabeleceu
medidas de segurança; regras para a atuação dos juízes federais na execução penal. O Tri-
- Promover a avaliação periódica do sistema criminal, assim bunal Regional Federal de cada região deve designar o juízo com-
como estimular e promover a pesquisa criminológica; petente para a execução penal nas unidades.
- Elaborar programa nacional de formação e aperfeiçoamento A atuação do Ministério Público Federal (MPF) na execução
do servidor penitenciário; penal se assemelha à dos Ministérios Públicos Estaduais, sen-
- Estabelecer regras sobre a construção e reforma de estabele- do que, no caso do MPF, a atuação se refere aos crimes contra a
cimentos penais; União, a administração pública, aos chamados crimes federais, e
- Inspecionar e fiscalizar os estabelecimentos penais e infor- em relação aos presos nas penitenciárias federais.
mar-se acerca do desenvolvimento da execução penal nos estados;
- Representar ao juiz da execução ou autoridade administrati- - Órgãos Estaduais do Sistema Penal: Conforme determina a
va para instauração de sindicância ou procedimento administrativo Lei de Execução Penal (LEP), são órgãos da execução penal nos
em caso de violação das normas de execução penal; estados: o Juízo da Execução, o Ministério Público, o Conselho
- Representar à autoridade competente para a interdição de Penitenciário, o Conselho da Comunidade, o Patronato e os depar-
estabelecimento penal; tamentos penitenciários locais.
- Opinar sobre matéria penal, processual penal e execução pe- Cada Unidade da Federação possui uma legislação específica
nal submetida à sua apreciação; para a organização judiciária. É nestas normas que se explicitam
- Estabelecer os critérios e prioridades para aplicação dos as varas existentes em cada comarca e suas atribuições. Normal-
recursos do Fundo Penitenciário Nacional (Funpen – Decreto nº mente, nas comarcas maiores existem varas criminais e vara de
5.834, de 6 de julho de 2006). execução penal. O juiz da vara de execução penal é o responsável
por todas as determinações e acompanhamento relativos ao cum-
O Departamento Penitenciário Nacional, também vinculado primento da pena pelo condenado, tomando decisões referentes a:
ao Ministério da Justiça, é o órgão executivo da política penitenci- progressão e regressão de regimes, soma ou unificação de penas,
ária nacional. Deve zelar pela aplicação da legislação penal e das remição, livramento condicional, saídas temporárias, revogação de
diretrizes emanadas do Conselho Nacional de Política Criminal e medidas de segurança, conversão da pena privativa de liberdade
Penitenciária, o qual apóia administrativa e financeiramente. Tem em pena restritiva de direitos, inspeção periódica dos estabeleci-
como principais competências: mentos penais, entre outras competências delineadas na LEP. No
- Planejar e coordenar a política penitenciária nacional; caso de não haver vara específica de execução penal, a lei de or-
- Inspecionar e fiscalizar periodicamente os estabelecimentos ganização judiciária indica o juiz incumbido destas competências.
e serviços penais; A atuação do Ministério Público (MP) no que tange à exe-
- Assistir tecnicamente às Unidades federativas na implemen- cução penal está delineada na mesma lei. Seu papel é fiscalizar a
tação dos princípios e regras da execução penal; execução da pena e da medida de segurança, zelando pela regula-
- Colaborar com as Unidades federativas, mediante convê- ridade dos procedimentos e correta aplicação da medida de segu-
nios, na implantação de estabelecimentos e serviços penais e gerir rança e da pena. Entre outras competências, cabe ao MP requerer
os recursos do Funpen; a conversão de penas, a progressão ou regressão de regimes, e a

Didatismo e Conhecimento 31
CRIMINOLOGIA
revogação da medida de segurança. O MP deve fiscalizar men- de 13 de julho de 1990). O ECA estabelece que ao ato infracional
salmente os estabelecimentos penais e pode interpor recursos de cometido por criança, com até 12 anos de idade, correspondem
decisões proferidas pela autoridade judiciária. medidas de proteção como tratamento médico, psicológico ou psi-
O Conselho Penitenciário é órgão consultivo, deve emitir pa- quiátrico, inclusão em programa de auxílio à família, tratamento
receres sobre pedidos de indulto e de livramento condicional, e a alcoólatras ou toxicômanos, matrícula e frequência obrigatórias
fiscalizador da execução da pena, deve inspecionar os estabele- em escola, entre outras.
cimentos penais e supervisionar os patronatos e a assistência aos No caso de ato infracional praticado por adolescente, com ida-
egressos. Integrado por membros nomeados pelo governador de de entre doze e dezoito anos, podem ser adotadas, além das supra-
estado, entre professores e profissionais da área e representantes da citadas, as seguintes medidas, de acordo tanto com as circunstân-
comunidade, sua função primeira está relacionada ao livramento cias e a gravidade do ato como com as capacidades do adolescente:
condicional, sobre o qual não apenas deve obrigatoriamente emitir - advertência;
parecer, indispensável para a decisão do juiz, como pode protoco- - obrigação de reparar o dano;
lar diretamente o pedido. O Conselho Penitenciário de cada estado - prestação de serviços à comunidade;
encaminha anualmente relatório ao Conselho Nacional de Política - liberdade assistida;
Criminal e Penitenciária. Os conselhos penitenciários, criados ori- - inserção em regime de semiliberdade;
ginalmente em 1924, estão hoje presentes em todas as Unidades - internação em estabelecimento educacional.
da Federação.
O patronato é a instituição encarregada dos programas de as- A internação é medida excepcional, não pode ultrapassar três
sistência aos egressos e também aos albergados. De acordo com a anos, e deve ser aplicada somente no caso de ato infracional come-
LEP, pode ter caráter público ou privado, e tem também como atri- tido mediante grave ameaça ou violência a pessoa, por reiteração
buições orientar os condenados a penas alternativas, fiscalizar as no cometimento de outras infrações graves e/ou por descumpri-
penas de prestação de serviços à comunidade e de limitação de fim mento reiterado e injustificável de medida imposta anteriormente.
de semana, bem como colaborar na fiscalização do cumprimento O adolescente deve ser recolhido em estabelecimento específico
das condições da suspensão e do livramento condicional. Na maior para esse fim, que deve contar com atividades pedagógicas, educa-
parte dos estados, o patronato insere-se no sistema de execução cionais e profissionalizantes.
penal, enquanto órgão ligado ao Poder Executivo estadual. Mas
sua presença ainda é muito limitada: segundo apuração do Depar- O Estado de Direito e o Sistema de Justiça Criminal no Brasil
tamento Penitenciário Nacional (Depen), somente quatro estados
possuem patronatos atualmente. Para verificar o respeito ao Estado Democrático de Direito no
A LEP prevê, ainda, como um dos órgãos da execução penal, o Brasil pelos órgãos do sistema de justiça criminal é importante,
Conselho da Comunidade, que deve existir em cada comarca e ser primeiramente, debruçar-se sobre os fundamentos básicos para o
composto por representantes da sociedade civil. Incumbe ao Con- sistema. Na Constituição Federal está estabelecida uma série de
selho visitar pelo menos mensalmente os estabelecimentos penais direitos individuais e limites para o funcionamento do sistema de
existentes na comarca, entrevistar os presos, apresentar relatórios justiça criminal. São eles, entre outros:
ao Conselho Penitenciário e ao juiz da execução, e providenciar a - Direitos individuais e limites gerais: todos são iguais perante
obtenção de recursos materiais e humanos para melhor assistência a lei; são invioláveis os direitos à vida, à liberdade, à igualdade, à
ao preso. segurança e à propriedade; é proibida a tortura e o tratamento desu-
Alguns estados possuem ainda órgãos ligados ao Poder Exe- mano ou degradante; são invioláveis a intimidade, a vida privada,
cutivo encarregados da administração penitenciária, como é o caso a honra e a imagem das pessoas; toda lesão ou ameaça de direito
das Secretarias de Estado do Rio de Janeiro, São Paulo e Paraíba. sempre pode ser apreciada pelo Poder Judiciário; é proibido juízo
No caso dos estabelecimentos penais administrados pelos es- ou tribunal de exceção; crimes e penas devem ser estabelecidos em
tados, têm-se os seguintes tipos: lei e só serão reprimidos a partir dela; o preso será informado de
- Penitenciárias estaduais, destinadas à pena de reclusão em seus direitos; aos presos deve ser assegurada a integridade física e
regime fechado; moral; ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o
- Colônias agrícolas, industriais ou similares, destinadas ao devido processo legal; habeas corpus; as crianças e adolescentes
cumprimento da pena em regime semi-aberto; são inimputáveis e estão sujeitos à legislação especial;
- Casas do albergado, para os condenados em regime aberto e - Direitos individuais e limites para ação e abordagem po-
com pena de limitação de fim de semana; licial: a casa é asilo inviolável do indivíduo; ninguém será preso
- Centros de observação, onde são realizados exames gerais; senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de
- Cadeias públicas, para o recolhimento de presos provisórios, autoridade judiciária competente; a prisão de qualquer pessoa e o
a LEP determina que cada comarca tenha pelo menos uma; local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz
- Hospitais de custódia, destinados aos sentenciados para competente e à família do preso;
cumprir medida de segurança. - Direitos individuais e limites no processo penal: nenhuma
pena passará da pessoa do condenado; a lei regulará a individuali-
A Constituição Federal garante que crianças e adolescentes zação da pena; não haverá penas de morte, de caráter perpétuo, de
com menos de dezoito anos de idade são penalmente inimputáveis trabalhos forçados, de banimento e cruéis; nenhum brasileiro será
(art. 228). Diante disso, em caso de cometerem infração, crime extraditado; ninguém será processado nem sentenciado senão pela
ou contravenção penal, devem se adequar às normas estabelecidas autoridade competente; aos litigantes e aos acusados em geral são
pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA – Lei nº 8.069, assegurados o contraditório e ampla defesa; ninguém será conside-

Didatismo e Conhecimento 32
CRIMINOLOGIA
rado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condena- tura de correspondência e grampo telefônico sem autorização judi-
tória; são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios cial, desrespeito à inviolabilidade do domicílio, detenção de civis
ilícitos; o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos sem mandado judicial ou flagrante delito, a demora na comunica-
que comprovarem insuficiência de recursos; ção de prisões ao juiz e familiares, não informação ao detido sobre
- Direitos individuais e limites para o sistema penal: a pena seus direitos, vedação à assistência da família e de advogados ao
será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a na- detido etc. Tais violações são classificadas por Costa em sete ti-
tureza do delito, a idade e o sexo do apenado; às presidiárias serão pos de violência policial: abuso da força letal, tortura, detenções
asseguradas condições para que possam permanecer com seus fi- violentas, mortes sob custódia, controle violento de manifestações
lhos durante o período de amamentação. públicas, intimidação e vingança.
Dispõem-se de poucos dados sobre violência policial. Não há
No Brasil, em complemento à norma constitucional, está em pesquisas de vitimização nacionais que tenham dimensionado o
vigor um conjunto de atos multilaterais que estabelecem direitos fenômeno. Nas corregedorias de polícia (militares, civis, rodovi-
individuais, limites e diretrizes para a atuação do Estado e do sis- ária federal e federal) são registrados casos de violações come-
tema de justiça criminal: tidas por policiais, mas não há uma sistemática de coleta, análise
- A Declaração Universal dos Direitos Humanos; o Pacto In- e divulgação destas informações. Algumas ouvidorias de polícia
ternacional sobre Direitos Civis e Políticos; estaduais e secretarias de segurança pública divulgam números,
- O Protocolo Facultativo ao Pacto Internacional sobre Direi- e organizações da sociedade civil, como SOS Tortura e Comissão
tos Civis e Políticos; Teotônio Vilela, acompanham denúncias e colaboram na produção
- A Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de de relatórios, como o já citado do Núcleo de Estudos da Violência
São José da Costa Rica); da USP, além daqueles produzidos por relatores especiais da ONU
- A Convenção sobre os Direitos da Criança; (United Nations).
- A Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Num dos poucos estados com informações facilmente aces-
Cruéis, Desumanos ou Degradantes; síveis, São Paulo, registram-se fortes indícios de um constante
- O Protocolo Facultativo à Convenção contra a Tortura e ou- abuso da força letal. Neste estado, no período 1996-2006, morre-
tros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanas ou Degradantes; ram 5.447 pessoas em conflito com a polícia, estando os policiais
- O Protocolo Adicional à Convenção Americana sobre os Di- em serviço ou em folga, isto é, uma média de 495 pessoas mortas
reitos Humanos Relativo à Abolição da Pena de Morte; por ano (Governo do Estado de São Paulo). Além disso, morreram
- A Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura. 503 policiais em serviço. Assim, somente as mortes envolvendo
policiais (em serviço ou não) e não policiais respondem por apro-
Além deles, o Código Penal, o Código de Processo Penal e a ximadamente 4% das mortes por agressão31 no período 1996-
Lei de Execução Penal, entre outras leis, estabelecem os parâme- 2005. Neste caso, não fica configurado que as mortes de pessoas
tros e as bases para o funcionamento do sistema de justiça crimi- em conflito com policiais ocorreram de forma ilegal. No entanto,
nal, conforme descrito na seção anterior. mesmo que houvesse a certeza de que todos os casos atendem aos
Há uma vasta bibliografia no Brasil que trata do desrespeito requisitos da legítima defesa, surge o questionamento sobre se a
pelo Estado Brasileiro aos direitos individuais básicos na atuação operação policial respondeu da melhor maneira possível ao inci-
do sistema de justiça criminal. dente que a provocou, ou seja, procurando preservar a integridade
Recentemente foram publicados quatro documentos que reú- física de suspeitos, policiais e demais cidadãos, e respeitando os
nem uma extensa lista de casos de violações aos direitos humanos princípios do uso da força: necessidade, legalidade e proporcio-
cometidos por agentes dos órgãos pertencentes aos sistemas de nalidade (Comitê Internacional da Cruz Vermelha). Os indícios de
justiça criminal: abusos aumentam quando se consideram os registros de denúncias
- U.S. State Department, 2007; recolhidas pela Ouvidoria de Polícia do estado. O Relatório Anual
- Nev, 2007; de Prestação de Contas da Ouvidoria de Polícia do Estado de São
- Amnesty International, 2007; Paulo aponta que foram recebidas 3.809 denúncias de homicídios
- Human Rights Watch, 2007. que teriam sido cometidos por policiais de 1995 a 2006 (Governo
do Estado de São Paulo). No estado do Rio de Janeiro, a situação
Nestes documentos são citados casos recentes de violência também é grave: apenas entre janeiro e junho, foram registrados
policial e de péssimas condições de custódia em presídios. Além 652 autos de resistência (Instituto de Segurança Pública), que são,
de casos narrados, há críticas quanto à não-punição de responsá- na realidade, mortes de civis em intervenções policiais (Cano).
veis. Logo a seguir, serão tratados separadamente alguns proble- Um fato que chamou grande atenção da opinião pública foram
mas relativos à violência policial, ao acesso à defensoria pública e as mortes ocorridas no período dos ataques atribuídos ao Primeiro
à situação das prisões, enquanto indicadores do respeito ao Estado Comando Capital em São Paulo. Segundo notícia da Ouvidoria de
de Direito. Polícia do Estado de São Paulo, houve 87 vítimas em 52 casos de
execução sumária no período de 12 a 21 de maio daquele ano. Em
Violência Policial: Há uma ampla gama de direitos e de proi- onze casos, segundo a ouvidoria, há suspeitas de participação de
bições que podem ser violados na ação policial. Partindo apenas policiais (Governo do Estado de São Paulo).
dos direitos civis assegurados na CF, os suspeitos, os indiciados ou Além dos homicídios já citados, a Ouvidoria de Polícia rece-
uma pessoa qualquer podem ser alvos de vários tipos de excessos beu, desde 1995, denúncias de: abuso de autoridade sem classifica-
passíveis de serem cometidos por agentes policiais e que violem ção específica (2.159 casos); agressão (468); constrangimento ile-
sua integridade física e moral: tortura, violação da imagem, aber- gal (431); invasão de domicílio (136); prisão (69); ameaça (1.518);

Didatismo e Conhecimento 33
CRIMINOLOGIA
tortura (834); agressão (799); lesão corporal (444); tentativa de ho- No entanto, a avaliação da atuação da Justiça criminal tam-
micídio (274); maus tratos (177); abordagem com excesso (124); bém é prejudicada pela falta de informações. Faltam pesquisas que
maus tratos a presos (32); superlotação carcerária (26); entre ou- verifiquem a qualidade do acesso à justiça criminal ou que iden-
tras (Governo do Estado de São Paulo). tifiquem violações de direitos que possam estar sendo cometidas
A Ouvidoria de Polícia de São Paulo apresenta também nú- nesse atendimento. Não há informações, por exemplo, sobre uso
meros sobre os resultados dessas denúncias. De 1998 a 2006, de de provas ilícitas ou sobre a utilização de elementos produzidos
um total de 22.279 denúncias contra policiais, houve os seguintes no inquérito policial como provas, sem que tenham passado por
encerramentos (Governo do Estado de São Paulo): contraditório. Sem tal transparência o controle social fica muito
- 11.398 denúncias não confirmadas (51,16%); prejudicado.
- 3.992 denúncias procedentes (17,92%); Um dos poucos direitos sobre os quais há informações de
- 2.450 denúncias não apuradas (11,00%); acesso é em relação à assistência jurídica, mesmo que só em re-
- 1.848 denúncias improcedentes (8,29%); lação às Defensorias Públicas, órgãos responsáveis pela prestação
- 1.208 denúncias parcialmente procedentes (5,42%); de assistência jurídica integral e gratuita. Pesquisa realizada sobre
- 280 denúncias não encaminhadas para nenhum órgão a Defensoria Pública no Brasil (Ministério da Justiça) mostra que
(1,26%); cerca de 20% dos atendimentos realizados pelas defensorias são
- 84 denúncias retiradas a pedido do denunciante (0,38%); relativos à área criminal, o que corresponderia a um total aproxi-
- 68 denúncias encaminhadas a outros órgãos (0,31%); mado de 1 milhão e 300 mil atendimentos. As Defensorias Públi-
- 951 com outros encaminhamentos (4,27%). cas, também propuseram 275.422 ações criminais – sem contar
Ceará, Distrito Federal e a Defensoria Pública da União. Segundo
Aqui o maior problema são as denúncias que nem sequer fo- o estudo, no entanto, nem todas as comarcas têm acesso aos ser-
ram apuradas. Outra informação é que, de um total de 23.549 po- viços de defensoria. Entre os estados pesquisados que possuem
liciais denunciados à ouvidoria, 8.001 foram investigados e 4.923 defensoria pública, o grau de cobertura é de apenas 37,7% das co-
punidos (Governo do Estado de São Paulo). Infelizmente, não há marcas existentes.
informações mais detalhadas sobre as punições e os tipos de casos Além disso, em apenas seis Unidades da Federação todas as
mais punidos. comarcas são atendidas (AC, AP, DF, MS, PB e RR). A situação é
Alguns operadores do direito também apontam violações em ainda agravada pelo fato de a Defensoria Pública da União (DPU)
ações ordinárias das polícias. Em artigo, o juiz de Direito Sérgio estar presente em apenas 17,7% das comarcas.
Ricardo de Souza critica a falta de proteção à imagem, ao nome A pesquisa revelou também outras informações da capacidade
e à honra de suspeitos e indiciados em operações realizadas pela de atendimento atual das defensorias:
Polícia Federal. Segundo ele, (...) não há qualquer lei que autorize
- Presença nas varas de execução penal: nos estados em que
a autoridade policial a submeter o suspeito ou mesmo o indiciado
foi implantada, a Defensoria Pública está presente nas varas de
(investigado) ao constrangimento de ser filmado ou fotografado
execução penal, à exceção do Pará;
pelos profissionais ligados aos meios de comunicação jornalística
- Plantões regulares em delegacias de polícia: existente em
e, acha-se patente que esse investigado não perde a sua condição
apenas sete estados (AM, AP, CE, MS, PA, PI e RS). A DPU não
de ser humano e a proteção constitucional a sua honra e imagem
realiza tais plantões;
(CF, art. 5º, incisos V e X). Logo, quando a autoridade que mantém
- Plantões regulares em unidades prisionais: constituído em
a custódia dele vem a submetê-lo a tal constrangimento, age com
dezesseis Unidades da Federação (AL, BA, CE, DF, ES, MS, MT,
manifesto abuso de autoridade e em afronta à lei respectiva (...)
PA, PB, PE, PI, RJ, RO, RR, RS e SP). A DPU não realiza tais
(Souza).
Outro abuso de autoridade criticado é a utilização banal do plantões;
baculejo ou revista policial. Segundo artigo de Edison Miguel da - Plantões regulares em unidades de internação de adolescen-
Silva Júnior, procurador de Justiça em Goiás, a revista policial só tes: constituído em quatoze Unidades da Federação (AL, AP, BA,
seria legal se há fundada suspeita de que a pessoa oculte consigo DF, ES, MS, PA, PB, PE, PI, RJ, RO, RR e RS). A DPU não realiza
objeto fruto de crime, de porte proibido ou de interesse probatório. tais plantões;
Nessa perspectiva, as blitz policiais com revistas aleatórias seriam - Núcleos especializados no atendimento ao sistema prisional:
ilegais (Silva Júnior). existentes em quatro estados (AC, CE, RJ e SP).

Acesso à Defensoria Pública A situação nas Prisões: Para a avaliação do sistema de exe-
cução penal em relação ao respeito aos direitos civis previstos
Também considerando os parâmetros constitucionais, os ci- na Constituição Federal, é possível prever os seguintes tipos de
dadãos podem ser vítimas diante do Judiciário, entre outras, nas violações dentro de estabelecimentos penais: tortura; tratamento
seguintes situações: não poder submeter à apreciação do Judiciá- desumano ou degradante; violação de correspondência; exclusão
rio lesão ou ameaça de direito; não ter habeas corpus quando se de apreciação do Poder Judiciário de lesão ou ameaça de direito;
achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade restrições à assistência da família; ausência de assistência legal;
de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder; não ter acesso a violação da integridade física e moral; não separação de estabe-
contraditório e ampla defesa; ter provas contra si que foram obti- lecimentos penais segundo delito, idade e sexo; presidiárias cujos
das por meios ilícitos; não ter recursos para custear um advogado e filhos não permaneçam consigo em período de amamentação, en-
não dispor de assistência jurídica integral e gratuita. tre outros.

Didatismo e Conhecimento 34
CRIMINOLOGIA
A Lei de Execução Penal prevê ainda os seguintes direitos: A execução penal sofre ainda suspeita de violar as previsões
alimentação suficiente e vestuário; atribuição de trabalho e sua constitucionais por meio de um instituto relativamente recente: o
remuneração; previdência social; constituição de pecúlio; propor- regime disciplinar diferenciado (Lei nº 10.792/03). As conclusões
cionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, o descanso de parecer do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenci-
e a recreação; exercício das atividades profissionais, intelectuais, ária do Ministério da Justiça apontam que: Diante do quadro exa-
artísticas e desportivas, desde que compatíveis com a execução da minado, do confronto das regras instituídas pela Lei nº 10.792/03
pena; assistência material à saúde, jurídica, educacional, social e atinentes ao Regime Disciplinar Diferenciado, com aquelas da
religiosa; proteção contra qualquer forma de sensacionalismo; en- Constituição Federal, dos Tratados Internacionais de Direitos Hu-
trevista pessoal e reservada com o advogado; visita do cônjuge, da manos e das Regras Mínimas das Nações Unidas para o Tratamen-
to de Prisioneiros, ressalta a incompatibilidade da nova sistemática
companheira, de parentes e amigos em dias determinados; chama-
em diversos e centrais aspectos, como a falta de garantia para a
mento nominal; igualdade de tratamento salvo quanto às exigên-
sanidade do encarcerado e duração excessiva, implicando violação
cias da individualização da pena; audiência especial com o diretor à proibição do estabelecimento de penas, medidas ou tratamentos
do estabelecimento; representação e petição a qualquer autoridade, cruéis, desumanos ou degradantes, prevista nos instrumentos cita-
em defesa de direito; contato com o mundo exterior por meio de dos. Ademais, a falta de tipificação clara das condutas e a ausên-
correspondência escrita, da leitura e de outros meios de informa- cia de correspondência entre a suposta falta disciplinar praticada
ção que não comprometam a moral e os bons costumes; atestado e a punição decorrente, revelam que o RDD não possui natureza
de pena a cumprir, emitido anualmente, sob pena de responsabili- jurídica de sanção administrativa, sendo, antes, uma tentativa de
zação da autoridade judiciária competente. Apesar da escassez de segregar presos do restante da população carcerária, em condições
informações, é possível se formar um retrato da situação. não permitidas pela legislação (Ministério da Justiça).
Em termos de separação por idade e sexo, poucos são os es- Além desse parecer, o Regime Disciplinar Diferenciado
tados que possuem estabelecimentos separados para o sexo femi- (RDD) está sendo discutido na Justiça. O Ministério Público de
nino. Somente catorze contam com penitenciárias, dois possuem São Paulo, no final de 2006, ingressou com recurso especial no
colônia agrícola, industrial ou similar, três possuem casa do alber- Supremo Tribunal de Justiça e recurso extraordinário no STF para
gado, e nenhum possui cadeia pública ou hospital de custódia e que seja anulado um acórdão da 1a Câmara Criminal do Tribunal
tratamento psiquiátrico para mulheres. Por fim, estabelecimentos de Justiça de São Paulo que considerou inconstitucional o RDD.
para presos maiores de 60 anos, conforme estabelecido pela Lei nº Nesta seção, destacou-se que os casos de violência policial, os
9.460/97, são inexistentes. Com isso, o tratamento diferenciado a limites do acesso aos serviços da Defensoria Pública e a situação
nas prisões são indicadores importantes para demonstrar as falhas
estes grupos fica comprometido.
existentes no respeito ao Estado de Direito pelo sistema de justiça
Os estabelecimentos existentes também apresentam déficit de
criminal. Estas falhas não significam apenas desrespeito à Consti-
vagas. Segundo dados do Ministério da Justiça, no sistema peni- tuição ou aos direitos humanos: elas tendem a acentuar a desigual-
tenciário havia, 105.075 condenados submetidos a medidas de se- dade social, como a existente entre réus que podem contratar um
gurança, e presos provisórios além da capacidade do sistema, que advogado e os demais, a desconfiança na polícia e a certeza de que
é de 233.907. Este número já é maior que o déficit encontrado (Le- os presídios não têm capacidade de tratar os infratores. Assim, as
mgruber): 104.363 vagas. Além disso, indevidamente, há 58.721 violações ao Estado de Direito contribuem também para reduzir a
presos sob responsabilidade da Polícia Civil. Assim, o sistema credibilidade no sistema de justiça criminal e a sua própria eficá-
precisaria ampliar em 70% o número de vagas para zerar o déficit. cia. No entanto, não se pode deixar de reconhecer certos avanços
A consolidação dos relatórios com informações estatísticas do nos últimos anos.
sistema prisional das Unidades da Federação permite notar a situa- A criação de ouvidorias de Polícia, por exemplo, tem sido
ção de mais alguns quesitos para sua avaliação (Ministério da Jus- importante para aumentar o controle social sobre as polícias. Nos
tiça). No caso da saúde do preso, existiam 3,7 leitos ambulatoriais últimos anos, as Defensorias Públicas foram instaladas em mais
por estabelecimento penal, pois 921 estabelecimentos informaram estados e a Defensoria Pública da União também foi expandida,
que contavam com 3.417 leitos. Em termos do respeito ao direito permitindo aumento no atendimento aos cidadãos de baixa renda.
à vida, a situação é preocupante. Faleceram dezesseis pessoas por Na área de execução penal, a Lei nº 9.099/95 favoreceu a aplicação
motivo criminal (em 921 estabelecimentos penais). Estas mortes de penas alternativas à prisão, contribuindo para impedir um maior
aumento na superpopulação carcerária.
que ocorrem sob a custódia do Estado, além de constituírem uma
marca clara de sua incapacidade para fazer cumprir a lei, indicam
O Sistema de Justiça Criminal e a Prevenção
um clima de insegurança nos estabelecimentos que em nada cola-
bora para o objetivo de tratamento dos internos..39/ O segundo parâmetro de avaliação do sistema de justiça cri-
Uma pesquisa nacional realizada (Ministério da Justiça/FIR- minal está relacionado com seus objetivos finais, ou seja, a sua ca-
JAN/SESI/PNUD) identificou outros problemas à época: pacidade de garantir o direito “à vida, à liberdade, (...) à segurança
- 36% dos presos em delegacias eram condenados, contrarian- e à propriedade” (CF, art 5o, caput), e prevenir os crimes definidos
do as normas legais; na lei brasileira. Assim, o problema para a política pública pode
- 4.355 condenados a regimes semi-aberto e aberto cumpriam ser definido como a ocorrência de violações aos direitos à vida,
pena em delegacias policiais, sem poder usufruir de benefícios integridade física, liberdade, propriedade, e também enquanto
como trabalho externo e visita ao lar; toda uma gama de violências, como assédio moral, assédio sexual,
- apenas 70,6% dos presos recebiam visitas; aproximadamen- violência psicológica, violência de trânsito, violência doméstica,
te 48% dos sistemas penitenciários estaduais não dispunham de ameaças, crimes contra os direitos difusos (patrimônio histórico,
creches para os filhos pequenos de mulheres presas. meio ambiente etc.) e outros crimes definidos no Código Penal.

Didatismo e Conhecimento 35
CRIMINOLOGIA
Nesse sentido, pode-se partir do pressuposto de que o objetivo - Prevenção secundária: “estratégia de prevenção centrada em
final do sistema de justiça criminal é a prevenção. Mas antes de ações dirigidas a pessoas mais suscetíveis de praticar crimes e vio-
passar à avaliação da capacidade do sistema em fazê-lo, é preciso lências, mais especificamente aos fatores que contribuem para a
detalhar este pressuposto. vulnerabilidade e/ou resiliência dessas pessoas (...), bem como a
Considera-se que, por sua natureza, as ações do sistema de pessoas mais suscetíveis de ser vítimas de crimes e violências”;
justiça criminal podem ser analisadas sob a ótica da prevenção. No - Prevenção terciária: “estratégia de prevenção centrada em
caso da punição, por exemplo, buscam-se dois resultados, entre ações dirigidas a pessoas que já praticaram crimes e violências,
outros. Primeiro, defender e reforçar as leis, isto é, por meio das visando a evitar a reincidência e promover o seu tratamento, rea-
sanções negativas (penas) os infratores e a sociedade em geral são bilitação e reintegração familiar, profissional e social, bem como
informados de que as infrações às leis são reprovadas e de que o a pessoas que já foram vítimas de crime e violências, visando a
Estado se encarrega de puni-las, dissuadindo novos crimes. O se- evitar a repetição da vitimização e a promover seu tratamento, rea-
gundo resultado almejado é a reinserção na sociedade, ou seja, no bilitação e reintegração familiar, profissional e social”.
Brasil as penas visam ao tratamento do infrator, de maneira a que
sua vida em sociedade se guie pelo respeito às leis. A prevenção primária: Em termos de prevenção primária,
Ao se propor a prevenção aos crimes como objetivo, a avalia- pode-se dizer que o sistema de justiça criminal age basicamente de
ção da eficácia do sistema de justiça criminal é, no entanto, difi- três formas. Primeiro, por meio do policiamento ostensivo.
cultada. Os crimes são fenômenos sociais complexos e sua preven- O policiamento realizado nas ruas, rodovias, ferrovias, flores-
ção em vários aspectos está fora da governabilidade do sistema. tas, rios, aeroportos, rodoviárias, ferroviárias etc., a guarda de re-
O crime e a violência ocorrem num contexto em que os aspectos partições públicas, o policiamento de diversões públicas, a guarda
culturais e sociais devem ser considerados. Os valores culturais externa de estabelecimentos penais e a segurança de autoridades
ajudam a definir o que é violência e, no limite, quão reprováveis visam inibir a ocorrência de crimes e violências. Parte-se do pres-
são os crimes ou mesmo que grupos sociais são mais passíveis suposto de que a presença policial aumenta o risco para qualquer
de serem alvo do sistema. Nesse sentido, hoje em dia, por exem- pessoa que cometa infrações penais de ser presa em flagrante,
plo, o sistema é cada vez mais capaz de punir as lesões corporais assim como reduz a possibilidade de que uma briga ou tumulto
domésticas (violência doméstica), pois as mudanças culturais na resulte num dano mais sério. Assim, a ostensividade policial, por
exemplo, em áreas/situações de forte concentração de pessoas
sociedade brasileira colocaram em xeque o antigo padrão em que
(ruas movimentadas, eventos artísticos e esportivos, manifesta-
a violência interna familiar estava fora das preocupações do espa-
ções públicas) pode dissuadir a ocorrência de crimes. No entanto,
ço público. Também o crime e a violência podem ser favorecidos
é impossível garantir efetivos policiais em todos os lugares. De
pelas condições sociais existentes. Fortes desigualdades sociais,
qualquer forma, o patrulhamento policial é um claro indicativo de
consumo de drogas legais, baixa mobilidade social, fácil acesso a
que a população pode contar com o auxílio da polícia, como quan-
armas de fogo são fatores, entre outros, que podem ter influência
do um crime esteja ocorrendo, e que a área não é completamente
na ocorrência dos crimes. Há assim mudanças que têm lugar na
dominada por quadrilhas criminosas.
sociedade, provocadas diretamente pelo Estado ou não, que podem
Faltam, no entanto, informações públicas a respeito. Não há
auxiliar (ou prejudicar) na prevenção da violência (ou dos crimes um mapeamento no Brasil dos locais que podem contar com poli-
em geral) e que pouco têm a ver com o sistema de justiça criminal. ciamento ostensivo e ronda policial, tampouco sobre a qualidade
Além disso, a atuação da sociedade e do Estado vai muito deste policiamento.
além do que é feito pelo sistema de justiça criminal. Os investi- A segunda forma de atuação da prevenção primária se dá pela
mentos sociais (educação, saúde, moradia, cultura, emprego, ge- implementação e apoio aos programas educativos, como aqueles
ração de renda, saneamento básico etc.) e urbanos, o crescimento de prevenção do uso de drogas.
econômico, a atuação de ONGs (atendimento de vítimas, trabalho O trabalho educativo realizado por Polícias Militares Estadu-
com adolescentes em liberdade assistida, denúncia de violência ais junto a adolescentes, no âmbito do Programa Educacional de
policial etc.) e a resolução de conflitos pelas vias da justiça cível Resistência às Drogas e à Violência (Proerd), e o apoio a projetos
ou canais pacíficos alternativos (projetos de justiça comunitária, pela Secretaria Nacional Anti-Drogas são alguns exemplos. Fal-
por exemplo) podem ter um impacto positivo forte na prevenção tam, contudo, pesquisas avaliativas para tais ações.
da violência. Nesse sentido, tal sistema exerce um papel comple- O terceiro meio de atuação reside na própria capacidade do
mentar nesta prevenção e é muito difícil isolar o impacto que ele sistema de justiça criminal de punir. Aqui é a impunidade o pro-
produz, ao se tentar medi-lo, de outros provocados pelas ações dos blema. Considerando hipoteticamente que a punição dos crimes
demais atores, assim como das mudanças no contexto que podem fosse total, o risco para quem comete crimes seria da ordem de
contribuir para uma redução da criminalidade. 100%. No limite, só ocorreriam crimes nos casos de atos irracio-
De qualquer forma, este trabalho propõe-se a avaliar a atuação nais, desconhecimento ou desafio à lei, ou quando os efeitos po-
desse sistema em três níveis de prevenção: sitivos obtidos com o crime fossem considerados pelos infratores
- Prevenção primária: “estratégia centrada em ações dirigi- superiores às penas.
das ao meio ambiente físico e/ou social, mais especificamente aos
fatores ambientais que aumentam o risco de crimes e violências A prevenção secundária: A prevenção secundária se refere,
(fatores de risco) e que diminuem o risco de crimes e violências como se viu anteriormente, às ações dirigidas às pessoas mais
(fatores de proteção), visando a reduzir a incidência e/ou os efeitos suscetíveis a praticar crimes e violências, mais especificamente
negativos de crimes e violências” (Ministério da Justiça/FIRJAN/ aos fatores que contribuem para a vulnerabilidade e/ou resiliên-
SESI/PNUD); cia destas pessoas. Inscrevem-se na prevenção secundária ainda

Didatismo e Conhecimento 36
CRIMINOLOGIA
pessoas mais suscetíveis de serem vítimas de crimes e violências. A prevenção terciária: O foco maior de ação do sistema de
Os órgãos do sistema de justiça criminal podem atuar junto a gru- justiça criminal é a prevenção terciária, ou seja, as ações dirigidas
pos populacionais, nos quais a proporção de vítimas e infratores para pessoas que já praticaram crimes. O objetivo da ação do siste-
é superior à dos demais grupos da população. Há aí um primeiro ma é evitar a reincidência e promover o tratamento, reabilitação e
problema, qual seja, o de conhecer quais são esses grupos. Não há reintegração familiar, profissional e social do infrator. Nesse senti-
pesquisas de vitimização nacionais e nem registros administrativos do, para dar conta do fluxo crime-pena reinserção social, a atuação
tratados atualmente a ponto de permitir saber com foco e precisão do sistema será avaliada nos seguintes subsistemas: polícias, justi-
em quais grupos populacionais se concentram vítimas e agressores ça criminal e sistema de execução penal.
por cada um dos tipos penais. No entanto, pesquisa da Senasp (Mi-
nistério da Justiça), com dados de ocorrências policiais no Brasil, Polícias: A atuação das polícias no que diz respeito à pre-
indica, para alguns crimes, as faixas etárias e sexo de vítimas e venção terciária envolve principalmente o registro do crime, sua
agressores. Segundo a pesquisa, o grupo com maior número de apuração e as prisões.
agressores é o de homens entre 18 e 24 anos. Os números são:
- Homicídios dolosos – 36,7% dos infratores com sexo e faixa Registro de crimes: O conhecimento das ocorrências de crime
etária informada; não depende apenas da polícia. A polícia não conta com um siste-
- Lesão corporal dolosa – 28,7%; ma de vigilância que lhe permita identificar a ocorrência da maio-
- Tentativa de homicídio – 35,4%; ria dos crimes. Os crimes que ela pode conhecer sem o auxílio da
- Extorsão mediante sequestro – 40,9%; população são aquelas ocorrências identificadas pelo trabalho de
- Roubo a transeunte – 57,6%; patrulhamento policial, por um sistema de vigilância por câmeras
- Roubo de veículos – 48,6%; de vídeo que pertença à própria polícia ou aqueles que eventual-
- Estupro – 34,1%; mente sejam descobertos pelos policiais em serviço ou em folga.
- Atentado violento ao pudor – 19,6%; Uma maior coordenação de esforços com outros órgãos públi-
- Posse e uso de drogas – 42,1%; cos (Ibama, Receita Federal, Controladoria Geral da União, Minis-
- Tráfico de drogas – 32,2%. tério Público, conselhos, companhias de trânsito, penitenciárias,
hospitais, escolas, universidades etc.) e privados (bancos, conces-
Já o grupo com maior número de vítimas depende do crime: sionárias de rodovias, companhias de trânsito, empresas de segu-
- Homens entre 18 e 24 anos – no caso dos homicídios dolo- rança privada, ONGs etc.) pode também ajudar no conhecimento
sos (35,2%), tentativas de homicídio (31,1%), furto a transeunte de crimes. No entanto, o registro depende fundamentalmente de
(12,9%), roubo a transeunte (20,4%) e roubo de veículo (21,5%);
vítimas e testemunhas que acionem a polícia. Uma baixa colabo-
- Mulheres entre 18 e 24 anos – no caso de lesões corporais
ração dos cidadãos contribui para limitar a capacidade do sistema
dolosas (18,6%);
em punir.
- Mulheres entre 30 e 34 anos, no crime de extorsão mediante
Uma pesquisa aplicada nas cidades de São Paulo, Rio de Ja-
seqüestro (13%);
neiro, Recife e Vitória apontou que o registro de ocorrência pela
- Mulheres entre 12 e 17 anos – nos crimes de atentado violen-
população é baixo em geral (ILANUD/FIA/GSI). Com exceção
to ao pudor (19,3%) e estupro (44,4%).
dos crimes de roubo/furto de automóveis, para todos os crimes
Assim, fica claro que jovens, sejam como vítimas ou agres- pesquisados (roubo, furto de algo dentro do carro, furto, agressão
sores, e mulheres merecem uma atenção especial de políticas de física, agressão sexual, arrombamento e tentativa de arrombamen-
prevenção. to) não chegou a 40% a proporção de vítimas entrevistadas que
Um segundo problema é que o trabalho do sistema de justiça registrou o crime na polícia.
criminal pode ser altamente estigmatizador. O princípio da pre- No entanto, a baixa notificação pode ser em parte relacionada
venção, numa sociedade democrática de direito, não permite que ao próprio desempenho do sistema de justiça criminal. Se a vítima
determinados grupos populacionais (moradores de favela e peri- não registra o crime porque teme retaliação do infrator, porque não
ferias, jovens, famílias monoparentais, sem-teto, sem-terra, mora- acredita que haverá persecução penal e condenação e quer evitar
dores de rua, desempregados, apenados e egressos do sistema de ainda se submeter a algum desrespeito no distrito policial, porque
execução penal ou do sistema de medidas socioeducativas, entre não reconhece a importância dos registros para a política de segu-
outros) sejam alvos de um trabalho de vigilância policial especial. rança pública, e porque enfrenta resistência da autoridade policial
Ao fazê-lo, as vulnerabilidades sociais, antes existentes ou não, para o registro de um crime, entre outros possíveis motivos, é res-
podem se constituir ou se ampliar. O princípio prevê que se atue ponsabilidade do sistema enfrentar esses empecilhos.
sobre os fatores que contribuem para a vulnerabilidade e/ou resi- Áreas dominadas por quadrilhas de tráfico de drogas (Zaluar)
liência, e não que se os fortaleça pela colocação desses indivíduos e milícias parecem ser exemplos claros de que o sistema não gera
em suspeição. Nesse sentido, este tipo de prevenção parece poder a confiança necessária para que vítimas e testemunhas dos crimes
ser mais bem empreendido dentro de políticas sociais e por seus praticados por estes grupos venham a comunicá-los à polícia. Ape-
atores clássicos: agentes da saúde, assistentes sociais, educadores sar de existirem programas de proteção de vítimas e testemunhas,
etc. Há, porém, programas com características de prevenção se- os crimes cometidos por tais quadrilhas na maioria das vezes não
cundária e terciária e que envolvem ação policial e social. são notificados. Também a falta de confiança prejudica a notifica-
Um exemplo é o Fica Vivo, um programa de controle de ho- ção dos crimes.
micídios em territórios definidos, com ações de prevenção e con- Segundo pesquisa de opinião pública de agosto de 2005, 61%
trole da criminalidade, gerido pelo governo do estado de Minas dos entrevistados não confiavam na Polícia e 51% não confiavam
Gerais em Belo Horizonte (Andrade e Peixoto). no Poder Judiciário (IBOPE). No entanto, apesar desse quadro,

Didatismo e Conhecimento 37
CRIMINOLOGIA
duas inovações parecem estar tendo impacto na notificação de cri- A primeira fase de apuração pela Polícia Judiciária ocorre em
mes: as Ouvidorias de Polícia e os serviços de disque-denúncia. geral nos casos de comunicação de crimes pelo ofendido, seu re-
As ouvidorias estão em funcionamento em quatorze Unidades da presentante, uma pessoa do povo ou uma instituição (Receita Fe-
Federação. deral, por exemplo). Nestes casos, é do poder discricionário do
Elas parecem estar servindo para aproximar o sistema de jus- delegado de polícia a decisão de instaurar inquérito policial, ou
tiça criminal da população. Primeiro, por receberem denúncias produzir termo circunstanciado. Se crimes registrados não levarem
contra policiais e indicarem que a Secretaria de Segurança Pública a inquérito policial ou termo circunstanciado, a eficácia do sistema
está preocupada em punir os desvios. Segundo, porque a ouvidora estará sendo comprometida. No caso de São Paulo, por exemplo,
é mais um canal para notificação de crimes e para outras reclama- foram registrados 1.977.149 delitos. No mesmo ano, foram produ-
ções. A Ouvidoria de Polícia de São Paulo, por exemplo, recebeu zidos 295.316 termos circunstanciados e instaurados 313.457 in-
1.693 denúncias de falta de policiamento, 1.585 solicitações de quéritos policiais (Governo do Estado de São Paulo). Assim, numa
intervenção em pontos de droga, 1.041 comunicações de crimes, estimativa, um terço das infrações penais notificadas deram início
698 solicitações de policiamento, 154 denúncias de morosidade no a procedimentos administrativos, o que indica que a capacidade de
andamento de polícia judiciária, e 69 denúncias de falta de recur- apuração inicial das infrações penais é limitada.
sos materiais, entre outros (Governo do Estado de São Paulo). Os A segunda fase é a que se dá com o inquérito policial ins-
números são ainda baixos, talvez pela pouca confiança na polícia e taurado. Segundo o Código de Processo Penal (CPP), a polícia
reduzido conhecimento da existência da ouvidoria. deverá: garantir a preservação do local do crime; apreender os
O disque-denúncia é um exemplo de parceria entre o Estado objetos relacionados ao fato, depois de liberados pelos peritos; co-
e a sociedade. Ao garantir o anonimato do denunciante, o serviço lher todas as provas; ouvir o ofendido; ouvir o indiciado; proceder
parece contribuir para o aumento de notificações e mesmo para ou- ao reconhecimento de pessoas e coisas e realizar acareações; pro-
tras ações do sistema, favorecendo o melhor desempenho policial. ceder ao exame de corpo de delito e a quaisquer outras perícias;
No Rio de Janeiro, o disque-denúncia foi lançado em 1º de agosto ordenar a identificação do indiciado e juntar aos autos sua folha
de 1995 e é mantido numa parceria entre o Movimento Rio de de antecedentes; averiguar a vida pregressa do indiciado; produzir
Combate ao Crime e a Secretaria de Segurança Pública do estado. um relatório do que tiver sido apurado; e enviar os autos ao juiz
Segundo os responsáveis pelo projeto, o serviço atingiu, até 8 de competente, entre outras atribuições. Estes procedimentos não se
agosto de 2007, a cifra de 1.120.016 denúncias,40 e o projeto foi aplicam a todos os casos e podem variar conforme o tipo ou cir-
replicado em Pernambuco, Goiás, Espírito Santo, Ceará, São Pau- cunstância da infração. Para uma avaliação dessaapuração faltam
lo e Bahia. Em São Paulo, segundo o Instituto São Paulo contra a dados nacionais do número de inquéritos policiais que permitem
Violência, nos primeiros quatro anos de existência do serviço na o início da ação penal, mas há algumas pesquisas locais. Segundo
Região Metropolitana de São Paulo, houve 1,6 milhão de denún- uma delas, realizada em Recife, de 8.778 casos de homicídio ocor-
cias. ridos no triênio 1998-2000, apenas 356 casos foram encaminhados
O registro de crimes depende também de uma boa comunica- ao Ministério Público e, destes, apenas 262 foram transformados
ção entre a Polícia Militar e a Polícia Civil, pois os crimes iden- em denúncia. Embora possam existir mais alguns casos que te-
tificados nas chamadas ao serviço 190 da PM ou de outra forma nham sido levados adiante até os dias de hoje, estes números indi-
pelos policiais militares deveriam ser registrados nas delegacias cam que apenas 3% dos casos de homicídio chegaram à denúncia
de polícia. Nesse sentido, o desempenho policial é comprometido (Zaverucha). Outra pesquisa (Vargas), com 444 casos de estupros
se os todos os crimes registrados no sistema 190 ou em talões de registrados na Delegacia de Defesa da Mulher de Campinas (SP)
ocorrência da PM não forem registrados em boletins de ocorrência entre 1988 e 1992, mostrou que, até 2000, 71% dos boletins de
da Polícia Civil ou em termos circunstanciados produzidos pela ocorrência foram arquivados e apenas 55% dos inquéritos instau-
Polícia Militar. rados levaram à queixa-crime.
Uma análise mais conclusiva da capacidade da polícia de co-
nhecer os crimesdepende da comparação do número de registros Realização de prisões: Em relação ao trabalho de prender, a
com os resultados de pesquisas de vitimização. Contudo, atual- polícia pode efetuar a prisão em flagrante, cumprir os mandados de
mente, não há uma pesquisa de vitimização nacional disponível prisão expedidos pelas autoridades judiciárias e representar junto à
para se efetuar tal avaliação. Justiça criminal acerca das prisões preventivas e temporárias. Em
síntese, são dois trabalhos: apreender pessoas e realizar adequada-
Apuração dos crimes: O trabalho de apuração dos crimes en- mente os procedimentos formais para que a privação de liberdade
volve levantar informações sobre uma infração e sua autoria. A atenda aos requisitos legais.
Polícia Civil e a Polícia Federal realizam esta apuração como uma No caso de São Paulo, foram registradas 90.935 prisões e
rotina comum, e a Polícia Militar, somente em caráter excepcional, 7.980 apreensões, que resultou num total de 85.875 pessoas presas
como nos casos de crimes cometidos por policiais militares e para em flagrante, 42.260 presas por mandado, além de 10.845 adoles-
o registro de termos circunstanciados. centes apreendidos em flagrante e 1.478 adolescentes apreendidos
O desempenho policial pode ser medido pela proporção de por mandado (Governo do Estado de São Paulo). A proporção de
crimes registrados pelas polícias que chegam até a denúncia (ou prisões por total de ações com objetivo de prender e apreender
queixa-crime) nos procedimentos ordinários ou sumários da Jus- seria um bom indicador para avaliar o sucesso destas operações.
tiça criminal relativos aos casos de crimes comuns, ou até a audi- Não há, entretanto, no caso de São Paulo, registros de quantas ten-
ência preliminar de procedimento sumaríssimo nos casos de infra- tativas de prisão foram frustradas ou do total de ações destinadas
ção de menor potencial ofensivo. Quanto maior a proporção, mais a este fim. Verifica-se aqui um problema maior, porque em casos
eficaz a ação da polícia. Pode-se dividir a apuração em três fases: de crimes como o tráfico de drogas, a corrupção policial tende a
pré-inquérito, durante o inquérito, e após o inquérito. impedir tanto o registro do crime quanto a prisão em flagrante.

Didatismo e Conhecimento 38
CRIMINOLOGIA
Quanto ao cumprimento de mandados de prisão, indicadores Sistema de Execução Penal: O objetivo maior do sistema de
de desempenho seriam um baixo estoque de mandados de prisão a execução penal está em evitar a reincidência e promover o trata-
cumprir e um curto tempo para a realização da prisão. No entanto, mento, reabilitação e reintegração familiar, profissional e social
estas informações não estão disponíveis. dos apenados. Um importante indicador de resultado é a taxa de
O outro trabalho é a preparação dos documentos necessários reincidência, isto é, o número de apenados ou ex-condenados que
para representar junto ao Judiciário as prisões preventivas e tem- voltam a cometer um crime.
porárias. A avaliação deste trabalho dependeria, entre outros requi- Entretanto, não há números nacionais sobre a reincidência no
sitos, de se ter informações sobre a proporção de prisões sanciona- Brasil. O único número disponível é a proporção de reincidentes
das pelo Judiciário frente ao total de representações apresentadas. na população prisional, que estaria em torno de 42,3%.47 Assim, a
Tais dados são inexistentes atualmente. Em suma, deve-se avaliação do sistema pode passar pela verificação do seu desempe-
destacar que a eficácia do trabalho policial depende da ajuda da nho. Uma forma de fazê-lo é considerar se o apenado está cumprin-
população e de órgãos públicos ou privados. As informações dis- do a pena de acordo com os parâmetros estabelecidos pela política
ponibilizadas por vítimas, testemunhas e organizações são funda- de execução penal. Esta política está fortemente regulamentada e
mentais no registro e apuração de crimes e na detenção de infra- descrita na Lei de Execução Penal (LEP), que estabelece, entre ou-
tores. Um maior incentivo a esta colaboração depende da própria tras diretrizes, o tipo de tratamento que deve ser dado ao apenado,
polícia e do sistema de justiça criminal. A repressão à violência e à visando à sua reinserção social. Entre os seus instrumentos estão:
corrupção policial, uma maior aproximação com a comunidade e a - Estabelecimentos penais: penitenciária; colônia agrícola, in-
redução da impunidade podem aumentar a confiança da população dustrial ou similar; casa do albergado; centro de observação; hos-
nas instituições deste sistema. A implantação de ouvidorias de po- pital de custódia e tratamento psiquiátrico; e cadeia pública;
lícias nos últimos anos, as parcerias com ONGs em projetos como - Órgãos da execução penal: Conselho Nacional de Política
disque-denúncia e Fica Vivo, a maior divulgação das informações Criminal e Penitenciária, Juízo de Execução, Ministério Público,
sobre a ação policial, assim como a implantação de projetos de Conselho Penitenciário, Departamento Penitenciário, Patronato e
policiamento comunitário são iniciativas existentes em alguns es- Conselho da Comunidade;
tados que favorecem um melhor desempenho policial. - Assistência ao egresso (liberado definitivo e o liberado con-
dicional): orientação e apoio para reintegrá-lo à vida em liberdade,
Processo e Justiça Criminal: Neste item, o foco principal concessão de alojamento e alimentação por até quatro meses, au-
é a atuação do Ministério Público e do Poder Judiciário na área xílio para a obtenção de trabalho;
criminal. Em termos práticos, o desempenho ótimo do Ministério
- Assistência ao preso: material (alimentação, vestuário e ins-
Público estará em alcançar a condenação ou medida de segurança
talações higiênicas), à saúde (atendimento médico, farmacêutico e
no máximo de casos em que for proposta ação penal, para todos os
odontológico), jurídica, educacional (instrução escolar e formação
réus e na pena que foi pedida, e atuar com celeridade de forma a
profissional), social (recreação, orientação, amparo à família) e re-
evitar a prescrição de crimes.
ligiosa;
Já para o Poder Judiciário, o bom desempenho reside, por
- Trabalho: o trabalho deve ter finalidade educativa e produti-
exemplo, em impedir a prescrição de crimes, atuar rapidamente
va, objetivando a formação profissional do condenado. O produto
na resposta aos pedidos de autorização de ações policiais, e ter um
número reduzido de casos em que sejam reconhecidas nulidades da remuneração deverá atender: à indenização dos danos causados
formais em recursos a sentenças. pelo crime; à assistência à família; a pequenas despesas pessoais;
Há poucas pesquisas e dados sobre a matéria. Contudo, os ao ressarcimento ao Estado das despesas realizadas com a manu-
já existentes apresentam um quadro bastante preocupante. Uma tenção do condenado; e à constituição de pecúlio.
pesquisa recente (Cano) estimou que na cidade do Rio de Janei- A avaliação ficará concentrada na existência dos estabeleci-
ro, apenas 21% dos processos de homicídio que chegaram a uma mentos penais, na existência e atuação dos órgãos de execução
sentença em primeira instância resultaram em condenação. Nestes penal, na assistência ao preso, na quantidade de presos trabalhando
dois anos, de um total de 5.652 processos, 1.178 (20,8% do total) e na aplicação de penas alternativas.
resultaram em sentença condenatória. Segundo o autor, em todos Após 22 anos da sanção da LEP, há estados que ainda não pos-
os outros casos houve impunidade. Em outros 785 processos, por suem todos os estabelecimentos penais para os presos provisórios,
exemplo, a sentença foi absolutória (13,9%). Isto pode significar condenados à pena restritiva de liberdade ou submetidos à medida
que um inocente não foi punido, mas indica certamente que o cul- de segurança (penitenciária, cadeia pública, casa do albergado, co-
pado também não o foi. Fica então a suspeita de que o Ministério lônia agrícola, industrial ou similar, e hospital de custódia e trata-
Público possa ter despendido esforços num caso em que a mate- mento). Segundo dados do Ministério da Justiça, alguns estados
rialidade do delito ou a autoria não estavam claros, ou que o júri possuem apenas um tipo de estabelecimento penal: é o caso do
tenha, apesar de provas em contrário, optado pela absolvição. Acre e do Amapá.
Problema maior parece ser o que envolve os 770 casos Apenas cinco estados (AM, CE, PA, PE e RJ) possuem to-
(13,6%) em que o processo foi extinto por prescrição. Isto indica dos os estabelecimentos penais. Porém, nem todos eles cumprem
provavelmente uma incapacidade do Judiciário, do Ministério Pú- a exigência de uma cadeia pública e uma casa de albergado por
blico e da Polícia Civil de imprimir maior celeridade ao processo. comarca.49 A própria existência de instituições classificadas como
Segundo a pesquisa supracitada realizada em Recife, de 356 presídios no quadro produzido pelo Depen parece indicar que nes-
casos de homicídio e encaminhados ao Ministério Público, apenas ses locais há diversos tipos de internos.
262 foram transformados em denúncia, ou seja, 73,6% dos casos Em relação à existência de órgãos de execução penal, algumas
(Zaverucha), e isto não significa que houve ou haverá sentença informações disponíveis são de uma pesquisa já citada neste tex-
transitada em julgado para todos os casos. to (Ministério da Justiça). Segundo seus resultados, apenas 16,7%

Didatismo e Conhecimento 39
CRIMINOLOGIA
dos estados possuíam patronatos e 61% dos estados tinham con- constatamos a presença, naquele dia, de dois paraplégicos e de
selhos da comunidade. A inexistência de patronatos compromete duas auxiliares de enfermagem. O médico somente atende a uni-
a assistência aos albergados e egressos e a orientação aos conde- dade duas vezes por semana, não possuindo os referidos locais de
nados à pena restritiva de direitos, comprometendo a reinserção atendimento médico condições higiênicas mínimas. Ao revés. São
social. Além disso, sem o patronato, a própria aplicação de penas elas deploráveis. Ademais, não são realizados trabalhos de preven-
alternativas, suspensão de pena e livramento condicional também ção ou controle de doenças infecto-contagiosas e de doenças sexu-
fica comprometida, pois, segundo a lei, este órgão é responsável almente transmissíveis (DST). Sobreleva-se informar que não há
por fiscalizar o cumprimento das penas de prestação de serviço à atividades educacionais e a parte cultural é desenvolvida, tão-só,
comunidade e de limitação de fim de semana, e por colaborar na por grupos religiosos. (...) Na entrada do presídio encontramos três
fiscalização das condições da suspensão e do livramento condi- presos contidos num lugar que, a princípio, deveria ser destinado
cional.
unicamente ao guarda-volumes, mas, em razão da superpopulação
Quanto ao monitoramento das unidades prisionais, a pesquisa
carcerária, vem sendo utilizado como cela; bem como cerca de 25
constatou que os estados não contavam com a atuação de cada um
dos órgãos de execução penal: (vinte e cinco) presos na cela que, a rigor, só deveria ser de passa-
- os conselhos de comunidades atuavam em 52,2% dos estados; gem, mas que, pelas mesmas razões, vem sendo usada como cela.
- o Ministério Público da Vara de Execuções Penais, em Visitamos diversas galerias e celas nas quais constatamos, sem
87,5%; qualquer dificuldade, a precariedade do estabelecimento, sempre
- o Juízo da Vara de Execuções, em 91,7%; para falar o menos. A saber: solário sem grades; restos de alimen-
- o Conselho Penitenciário Estadual, em 79,2%; v) o Depen, tação com água para fermentar bebidas; celas com quatro beliches
em 56,5%; sem chuveiros; estoques; peças de ventiladores para potencializar
- o CNPCP, em 36,4%. os celulares; buracos de toda espécie, inclusive para vigiar os poli-
ciais; vergalhões que servem como armas; interligação de galerias
O mesmo estudo também trouxe resultados sobre a assistên- e alas; buracos no chão, que se comunicam com o pátio de visita;
cia ao preso. Segundo ele, apenas 17,3% dos presos estavam en- enfim, locais de toda espécie para esconder armas, drogas, baratas
volvidos em alguma atividade educacional, comprometendo a sua e roedores. Na área externa das galerias, vimos duas quadras de
futura reinserção social. futebol; ala de visitas com canos aparentes e locais alagados. Para
Além disso, com base nos questionários e visitas realizadas, visita íntima, que se dá aos sábados, não existe qualquer controle
concluiu-se que, apesar de 88% dos estados informarem que havia para DST, e as visitas familiares, que deveriam acontecer aos sá-
distribuição de material de higiene nos seus sistemas penitenciá- bados, ocorrem aos domingos, em local desapropriado e insalubre.
rios e 40% sustentarem que distribuíam vestuário e roupa de cama,
Enfim, um verdadeiro caos! (Ministério da Justiça).
tal distribuição, em geral, não era regular.
No que tange ao trabalho de presos, num total de 1.076 esta- No caso das penas alternativas, há pouca informação dispo-
belecimentos cadastrados pelo Sistema Integrado de Informações nível sobre a situação atual de aplicação dessas penas. Segundo
Penitenciárias, Infopen (Ministério da Justiça), mais de novecen- relatório de avaliação do Programa Modernização do Sistema Pe-
tos estabelecimentos penais informaram sobre o total de pessoas nitenciário Nacional, cerca de 170 mil penas e medidas alterna-
em programas de laborterapia, dentro ou fora do estabelecimento tivas estão sendo cumpridas, envolvendo 39 centrais de penas e
penal, somando um total de 77.030 pessoas em tais programas. medidas alternativas, 56 núcleos de apoio no interior dos estados,
Apesar de poder haver outros em laborterapia, nos mais de e sete varas judiciais especializadas (Ministério do Planejamento,
100 estabelecimentos que não informaram, este valor representa Orçamento e Gestão). Segundo o Ministério da Justiça, 527 mu-
apenas 18% do total da população em custódia. nicípios e o Distrito Federal desenvolvem trabalhos nesta área. O
Mesmo com os avanços produzidos pelo Depen na produção documento, no entanto, não apresenta a informação sobre se há
de informações, falta um diagnóstico nacional mais abrangente aplicação de penas e medidas alternativas em todas as comarcas.
dos estabelecimentos penais para demonstrar a situação do cum- Outra dúvida é se a aplicação destas penas e medidas está sendo
primento das penas restritivas de liberdade. Para trazer um dado comprometida pela falta de infraestrutura, como a falta de patrona-
atualizado sobre a situação em um desses estabelecimentos penais, tos mencionada anteriormente.
optou-se por citar trecho extraído do Relatório de Inspeção no Por fim, cabe ser analisado o trabalho com os egressos das
estado do Espírito Santo (Ministério da Justiça), no qual os con- penas restritivas de liberdade para verificar a sua eficácia na rein-
selheiros do CNPCP relatam a visita a um presídio de segurança
serção social do apenado. Segundo prevê a LEP, o egresso deve
máxima:
receber, se necessário, alojamento e alimentação pelo prazo de
Trata-se de prédio novo, com menos de 4 (quatro) anos de dois meses, e o serviço de assistência social deverá colaborar para
construção, que causou péssima impressão (...) porque pratica- que o egresso obtenha trabalho. Não há, no entanto, informações
mente destruído (para não falarmos destruído totalmente) em seu disponíveis sobre o número de egressos atendidos e nem sobre a
interior, conforme se vê nas fotografias e filmes em anexo. O esta- qualidade do atendimento.
belecimento de regime fechado é (...) destinado somente a homens.
Possui capacidade para 520 (quinhentos e vinte) presos, sendo que Procedimento no rito ordinário ou processo comum. Aplica-
a sua lotação, no dia da inspeção, era de 613 (seiscentos e treze) -se a crimes punidos com reclusão.
presos provisórios (sim, presos provisórios) e condenados. A uni-
dade não possui celas individuais, apresentando um consultório Oferecimento da denúncia ou queixa com rol de testemunhas
médico e uma enfermaria e uma área para isolamento de presos de acusação. → Recebimento da denúncia ou queixa; juiz designa
tuberculosos. Exclama-se que os presos-pacientes ficam no chão, data para interrogatório e manda citar o réu. → Citação do réu.
na ausência de acomodações apropriadas. Exclama-se, ainda, que → Interrogatório do acusado. → Defesa prévia com rol de teste-

Didatismo e Conhecimento 40
CRIMINOLOGIA
munhas. → Audiência das testemunhas de acusação. → Audiência Procedimento sumaríssimo. Aplica-se a infrações penais
das testemunhas de defesa. → Prazo para diligências das partes (crimes e contravenções) cuja pena não ultrapasse dois anos.
(24 horas para cada parte). → Alegações finais. → Diligências ex
officio. → Sentença. No caso de ação penal privada:

Procedimento no rito sumário. Aplica-se a crimes punidos 1) Audiência preliminar. Estando presentes o autuado e a
com detenção, prisão simples ou multa. vítima, ambos assistidos por seus advogados, haverá tentativa de
conciliação, conduzida pelo juiz, que consiste na composição dos
Oferecimento da denúncia ou queixa com rol de testemunhas danos sofridos pela vítima. → Havendo conciliação, a composição
de acusação (máximo de cinco). → Recebimento da denúncia pelo dos danos será reduzida a termo e homologada pelo juiz. → O
juiz, que designa data para interrogatório e manda citar o réu. → acordo homologado é irrecorrível e implica renúncia ao direito de
Citação do réu. → Interrogatório do réu. → Defesa prévia com rol queixa ou representação do ofendido. → Não havendo acordo, a
de testemunhas de defesa (máximo de cinco). → Audiência das vítima poderá oferecer a queixa oralmente, na própria audiência
testemunhas de acusação. → Despacho saneador. → Audiência preliminar, ou fazê-lo em outro momento, sendo, então, designada
das testemunhas de defesa, debates e julgamento. data para audiência de instrução e julgamento, devendo o acusado
ser citado pessoalmente. →
Procedimento nos crimes de competência do Tribunal do
2) Audiência de instrução e julgamento. Iniciada a audiência,
Júri Aplica-se aos crimes dolosos contra a vida, tentados ou con-
haverá nova tentativa de conciliação. → Não havendo conciliação,
sumados.
o defensor irá responder à acusação. → O juiz receberá a denúncia
ou queixa – caso o juiz não a receba, caberá apelação, no prazo de
1ª fase – Instrução criminal (Vara Auxiliar do Júri) dez dias, que será julgada pela Turma Recursal do JECrim. → Se-
rão ouvidas a vítima, as testemunhas de acusação e as testemunhas
Oferecimento da denúncia com rol de testemunhas de acusa- de defesa, nesta ordem. → Interrogatório do acusado. → Debates
ção. → Recebimento da denúncia pelo juiz, que designa data para orais, no prazo de vinte minutos, prorrogáveis por mais dez, para
interrogatório e manda citar o réu. → Citação do réu. → Interro- cada parte. → Sentença.
gatório do acusado. → Defesa prévia com rol de testemunhas. →
Audiência das testemunhas de acusação. → Audiência das teste- No caso de ação penal pública:
munhas de defesa. → Prazo para diligências das partes (24 horas
para cada parte). → Alegações finais. → Diligências ex officio – 1) Audiência preliminar
não poderão ser acrescidas novas provas. → Sentença do juiz: de
pronúncia, impronúncia, absolvição sumária ou desclassificação. a) Ministério Público propõe acordo:
- nos crimes apenados com multa ou cuja pena máxima não
No caso de pronúncia, o réu será submetido ao julgamento ultrapasse um ano → aplicação imediata da multa. Nos crimes cuja
pelo júri, que constitui a 2ª fase, descrita a seguir. Em caso de sen- pena mínima não exceda um ano → suspensão do processo pelo
tença de impronúncia (quando os indícios não forem suficientes período de dois a quatro anos. → O acusado aceita o acordo. A
para remeter o réu ao júri), o processo é encerrado. No entanto, aceitação do acordo não implica reconhecimento → de culpa nem
como não há um julgamento de mérito pelo juiz, caso surjam no- terá efeito para reincidência. → O juiz homologa o acordo
vas evidências, novo processo poderá ser instaurado. A sentença
de absolvição advém de um julgamento de mérito pelo juiz, à qual b) Se não houver proposta de acordo por parte do Ministério
cabe recurso pela acusação. A desclassificação ocorre quando o Público, o promotor fará denúncia oral, que será reduzida a termo.
juiz entende que não se trata de crime doloso contra a vida, não → O juiz marca data para audiência de instrução e julgamento. →
sendo portanto competência do júri. Neste caso, o processo é enca- Estando o acusado presente, receberá uma cópia da denúncia, →
minhado ao juiz competente. sendo considerado citado e cientificado da data da audiência. → Se
o acusado não estiver presente na audiência preliminar, deverá ser
citado pessoalmente. →
2ª fase – Tribunal do Júri (Plenário)
2) Audiência de instrução e julgamento – conforme procedi-
Libelo acusatório, com rol de testemunhas de acusação. →
mento da ação privada.
Contrariedade do libelo, com rol de testemunhas de defesa. → De-
saforamento (transferência do julgamento para outra comarca), se EXERCICIOS
necessário. → Determinação da data de julgamento e intimação
das testemunhas. → Convocação do júri. → Exortação (juramento 1. A criminologia é uma ciência que dispõe de leis
dos jurados). → Interrogatório do réu. → Relatório do juiz. → a) imutáveis e evolutivas.
Inquirição das testemunhas de acusação. → Acareação, se neces- b) inflexíveis e evolutivas.
sário. → Debates orais. → Elaboração e leitura dos quesitos. → c) permanentes e flexíveis.
Votação – dos quesitos pelos jurados, de forma secreta e sem in- d) flexíveis e restritivas.
tervenções das partes. → Sentença: absolutória, condenatória ou e) evolutivas e flexíveis.
desclassificatória.

Didatismo e Conhecimento 41
CRIMINOLOGIA
2. “L’uomo delinquente” ou “O homem delinquente” é uma 8. (MPE-SC - 2013 - MPE-SC - Promotor de Justiça) A
obra clássica da criminologia, de autoria de criminalização primária, realizada pelos legisladores, é o ato e o
a) Marquês de Beccaria. efeito de sancionar uma lei penal material que incrimina ou per-
b) Césare Lombroso. mite a punição de determinadas pessoas; enquanto a criminaliza-
c) Francesco Carrara. ção secundária, exercida por agências estatais como o Ministério
d) Pellegrino Rossi. Público, Polícia e Poder Judiciário, consistente na ação punitiva
e) Enrico Pessina. exercida sobre pessoas concretas, que acontece quando é detectado
uma pessoa que se supõe tenha praticado certo ato criminalizado
3. Segundo a teoria behaviorista, o homem comete um delito primariamente.
porque e seu comportamento
a) é uma resposta às causas ou fatores que o levam à prática a) VERDADEIRA
do crime. b) FALSA
b) decorre de sua própria natureza humana, independentemen-
te de fatores internos ou externos. 9. (MPE-SC - 2013 - MPE-SC - Promotor de Justiça) 129
c) é dominado por uma vontade insana de praticar um crime. Em sede de Política Criminal, o Direito Penal de segunda veloci-
d) não permite a distinção entre o bem e o mal. dade, identificado, por exemplo, quando da edição das Leis dos
e) impede-o de entender o caráter delituoso da ação praticada. Crimes Hediondos e do Crime Organizado, compreende a utiliza-
ção da pena privativa de liberdade e a permissão de uma flexibili-
4. (VUNESP - 2013 - PC-SP - Agente de Polícia) É correto zação de garantias materiais e processuais.
afirmar que a Criminologia contemporânea tem por objetos
(A) o delito, o delinquente, a vítima e o controle social. a) VERDADEIRA
(B) a tipificação do delito e a cominação da pena. b) FALSA
(C) apenas o delito, o delinquente e o controle social.
(D) apenas o delito e o delinquente. 10. (VUNESP - 2013 - PC-SP - Investigador de Polícia) A
(E) apenas a vítima e o controle social. atuação das polícias, do ministério público e da justiça criminal,
quando focada em determinados grupos ou setores da sociedade,
5. (VUNESP - 2013 - PC-SP - Agente de Polícia) O compor- por possuírem maior risco de praticar o crime ou de ser vitimados
tamento inadequado da vítima que de certo modo facilita, instiga
por este, constitui programa de prevenção
ou provoca a ação de seu verdugo é denominado
(A) secundária.
(A) vitimização terciária.
(B) quaternária.
(B) vitimização secundária.
(C) primária.
(C) periculosidade vitimal.
(D) quinária.
(D) vitimização primária.
(E) terciária.
(E) vitimologia.

6. (VUNESP - 2013 - PC-SP - Perito Criminal) Assinale a 11. (CESPE - 2013 - Polícia Federal - Delegado de Polícia)
alternativa correta. No que se refere à prevenção da infração penal, julgue os próximos
(A) No modelo clássico (tradicional) de Justiça Criminal, a itens.
vítima é encarada como mero objeto, pois dela se espera que cum-
pra seu papel de testemunha, com todos os inconvenientes e riscos Ações como controle dos meios de comunicação e ordenação
que isso acarreta. urbana, orientadas a determinados grupos ou subgrupos sociais,
(B) A Vitimologia não possui relação com a Sociologia. estão inseridas no âmbito da chamada prevenção secundária do
(C) A Vitimologia não estuda a vítima e suas relações com o delito.
infrator e com o sistema de persecução criminal.
(D) A Vitimologia não possui relação com a Criminologia. a) CERTO
(E) No modelo clássico (tradicional) de Justiça Criminal, a ví- b) ERRADO
tima é encarada como sujeito passivo da relação jurídica, pois dela
se espera que cumpra seu papel de ofendido, com todos os direitos 12. As modalidades preventivas nas quais se inserem os pro-
e deveres que isso acarreta. gramas de policiamento orientado à solução de problemas e de
policiamento comunitário, assim como outros programas de apro-
7. (MPE-SC - 2013 - MPE-SC - Promotor de Justiça) A po- ximação entre polícia e comunidade, podem ser incluídas na cate-
lítica criminal do Direito Penal Funcional sustenta, como moderni- goria de prevenção primária.
zação funcional no combate à “criminalidade moderna”, uma mu-
dança semântico-dogmática, tal como: “perigo” em vez de dano; a) CERTO
“risco” em vez de ofensa efetiva a um bem jurídico; “abstrato” em b) ERRADO
vez de concreto; “tipo aberto” em vez de fechado; e “bem jurídico
coletivo” em vez de individual. 13. Na terminologia criminológica, criminalização primária
equivale à chamada prevenção primária.
a) VERDADEIRA a) CERTO
b) FALSA b) ERRADO

Didatismo e Conhecimento 42
CRIMINOLOGIA
14. A prevenção terciária, considerada intervenção tardia e
parcial, destina-se exclusivamente à população carcerária, obje- ANOTAÇÕES
tivando evitar a reincidência, mas não atua nas condições gerais
que favorecem a ocorrência de episódios violentos.
a) CERTO
b) ERRADO

GABARITO: —————————————————————————
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1 E
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2 B
3 A —————————————————————————
4 A —————————————————————————
5 C
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6 A
7 A —————————————————————————
8 A —————————————————————————
9 B
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10 A
11 A —————————————————————————
12 B —————————————————————————
13 B —————————————————————————
14 A
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ANOTAÇÕES —————————————————————————
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Didatismo e Conhecimento 43
CRIMINOLOGIA

ANOTAÇÕES

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Didatismo e Conhecimento 44
CRIMINOLOGIA

ANOTAÇÕES

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Didatismo e Conhecimento 45
CRIMINOLOGIA

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Didatismo e Conhecimento 46
LÓGICA
LÓGICA
nos concursos públicos. Uma base sólida de matemática  será
4. LÓGICA suficiente para resolver pelo menos 50% dos problemas. Os outros
30% podem ser resolvidos pela aplicação direta dos métodos de
raciocínio lógico que estudarão.
Portanto veremos alguns conceitos sobre lógica e,
A Lógica é uma ciência com características matemáticas, mas posteriormente, alguns testes para avaliação do aprendizado. No
está fortemente ligada à Filosofia. Ela cuida das regras do bem mais, já servindo como dica, raciocínio lógico deve ser estudado,
pensar, ou do pensar correto, sendo, portanto, um instrumento do principalmente, através da prática, ou seja, resolução de testes.
pensar humano. Aristóteles, filósofo grego (384 – 322 a.C.) em sua Pode, à primeira vista, parecer complexa a disciplina “Raciocínio
obra “Órganon”, distribuída em oito volumes, foi o seu principal Lógico”. Entretanto, ela está ao alcance de toda pessoa que
organizador. George Boole (1815 – 1864), em seu livro “A Análise memorize as regras e exercite bastante. Portanto, mãos à obra.
Matemática da Lógica”, estruturou os princípios matemáticos da
lógica formal, que, em sua homenagem, foi denominada Álgebra
Booleana. No século XX, Claude Shannon aplicou pela primeira
4.1 CONCEITO DE PROPOSIÇÃO -
vez a álgebra booleana em interruptores, dando origem aos atuais
PROPOSIÇÕES SIMPLES E COMPOSTAS -
computadores. Desde 1996, nos editais de concursos já inseriam o
CONECTIVOS LÓGICOS
“Raciocínio Lógico” em suas provas.
Existem muitas definições para a palavra “lógica”, porém no
caso do nosso estudo não é relevante um aprofundamento nesse
ponto, é suficiente apenas discutir alguns pontos de vista sobre o Proposições ou Sentenças
assunto. Alguns autores definem lógica como sendo a “Ciência das
leis do pensamento”, e neste caso existem divergências com essa Uma proposição é uma afirmação que pode ser verdadeira ou
definição, pois o pensamento é matéria estudada na Psicologia, falsa. Ela é o significado da afirmação, não um arranjo preciso das
que é uma ciência distinta da lógica (ciência). Segundo Irving palavras para transmitir esse significado. Por exemplo, “Existe um
Copi, uma definição mais adequada é: “A lógica é uma ciência do número primo par maior que dois” é uma proposição (no caso,
raciocínio”, pois a sua ideia está ligada ao processo de raciocínio falsa). “Um número primo par maior que dois existe” é a mesma
correto e incorreto que depende da estrutura dos argumentos proposição, expressa de modo diferente. É muito fácil mudar
envolvidos nele. acidentalmente o significado das palavras apenas reorganizando-
“Lógica: Coerência de raciocínio, de ideias. Modo de as. A dicção da proposição deve ser considerada algo significante.
raciocinar peculiar a alguém, ou a um grupo. Sequência coerente, É possível utilizar a linguística formal para analisar e reformular
regular e necessária de acontecimentos, de coisas.” (dicionário uma afirmação sem alterar o significado.
Aurélio), portanto podemos dizer que a Lógica é a ciência do As sentenças ou proposições são os elementos que, na
raciocínio. Assim concluímos que a lógica estuda as formas linguagem escrita ou falada, expressam uma ideia, mesmo que
ou estruturas do pensamento, isto é, seu propósito é estudar e absurda. Considerar-se-ão as que são bem definidas, isto é, aquelas
estabelecer propriedades das relações formais entre as proposições. que podem ser classificadas em falsas ou verdadeiras, denominadas
declarativas. As proposições geralmente são designadas por letras
Dica: A esmagadora maioria das questões de raciocínio latinas minúsculas: p, q, r, s...
lógico exigidas em concursos públicos necessita de uma forma
ou de outra, de conhecimentos básicos de matemática. Este é o Considere os exemplos a seguir:
motivo para que façam paralelamente à matéria de raciocínio
lógico propriamente dito uma revisão dos principais tópicos p: Mônica é inteligente.
da matemática de nível secundário. Concomitantemente com a q: Se já nevou na região Sul, então o Brasil é um país europeu.
revisão mencionada, devem estudar todas as grandes famílias de r: 7 > 3
problemas consideradas de raciocínio lógico, e a maneira mais s: 8 + 2 ≠ 10
rápida de resolvê-los.
Muitas questões podem ser resolvidas pela simples intuição. Tipos de Proposições
Porém, sem o devido treinamento, mesmo os melhores terão
dificuldade em resolvê-las no exíguo tempo disponível nos Podemos classificar as sentenças ou proposições, conforme o
concursos. Grande parte dos problemas de Raciocínio Lógico, significado de seu texto, em:
como não poderia deixar de ser, serão do tipo “charada” ou
“quebra-cabeças”. Alguns problemas que caem nos concursos - Declarativas ou afirmativas: são as sentenças em que se
exigem muita criatividade, malícia e sorte, e, a não ser que o afirma algo, que pode ou não ser verdadeiro. Exemplo: Júlio César
candidato já tenha visto coisa similar, não podem ser resolvidos é o melhor goleiro do Brasil.
nos três a cinco minutos disponíveis para cada questão. - Interrogativas: são aquelas sentenças em que se questiona
Muitos candidatos, mesmo devidamente treinados não terão algo. Esse tipo de sentença não admite valor verdadeiro ou falso.
condições de resolvê-los. Nosso conselho é que não devem se Exemplo: Lula estava certo em demitir a ministra?
preocupar muito. Esses problemas irrespondíveis no tempo hábil - Imperativas ou ordenativas: são as proposições em que se
não passam de 20% das questões de Raciocínio Lógico exigidas ordena alguma coisa. Exemplo: Mude a geladeira de lugar.

Didatismo e Conhecimento 1
LÓGICA
Proposições Universais e Particulares - Algum S é P (particular afirmativa – I)

As proposições universais são aquelas em que o predicado P P=S S


refere-se à totalidade do conjunto. Exemplo:
S ou ou ou
P S P
“Todos os homens são mentirosos” é universal e simbolizamos
por “Todo S é P”

Nesta definição incluímos o caso em que o sujeito é unitário. - Algum S não é P (particular negativa – O)
S
S S P
Exemplo: “O cão é mamífero”. P

As proposições particulares são aquelas em que o predicado ou ou


P
refere-se apenas a uma parte do conjunto. Exemplo: “Alguns
homens são mentirosos” é particular e simbolizamos por “algum
S é P”.
Princípios
Proposições Afirmativas e Negativas - Princípio da não-contradição: Uma proposição não pode ser
verdadeira e falsa simultaneamente.
No caso de negativa podemos ter: - Princípio do Terceiro Excluído: Uma proposição só pode ter
dois valores verdades, isto é, é verdadeiro (V) ou falso (F), não
“Nenhum homem é mentiroso” é universal negativa e podendo ter outro valor.
simbolizamos por “nenhum S é P”. a) “O Curso Pré-Fiscal fica em São Paulo” é um proposição
verdadeira.
“Alguns homens não são mentirosos” é particular negativa e b) “O Brasil é um País da América do Sul” é uma proposição
simbolizamos por “algum S não é P”. verdadeira.
c) “A Receita Federal pertence ao poder judiciário”, é uma
No caso de afirmativa consideramos o item anterior. proposição falsa.
As proposições simples (átomos) combinam-se com outras,
Chamaremos as proposições dos tipos: “Todo S é P”, “algum ou são modificadas por alguns operadores (conectivos), gerando
S é P”, “algum S não é P” e “nenhum S é P”. novas sentenças chamadas de moléculas. Os conectivos serão
representados da seguinte forma:
Então teremos a tabela:


    corresponde a “não”
AFIRMATIVA NEGATIVA
∧ corresponde a “e”
corresponde a “ou”
UNIVERSAL Todo S é P (A) Nenhum S é P (E) ⇒ corresponde a “então”
PARTICULAR Algum S é P (I) Algum S não é P (O) ⇔ corresponde a “se somente se”
Diagrama de Euler Sendo assim, a partir de uma proposição podemos construir
uma outra correspondente com a sua negação; e com duas ou mais,
Para analisar, poderemos usar o diagrama de Euler. podemos formar:

- Todo S é P (universal afirmativa – A) ∧


- Conjunções: a ∧ b (lê-se: a e b)
- Disjunções: a b (lê-se: a ou b)
P P=S - Condicionais: a ⇒ b (lê-se: se a então b)
- Bicondicionais: a ⇔ b (lê-se: a se somente se b)
S ou
Exemplo

“Se Cacilda é estudiosa então ela passará no AFRF”


- Nenhum S é P (universal negativa – E)
Sejam as proposições:
p = “Cacilda é estudiosa”
S P q = “Ela passará no AFRF”

Daí, poderemos representar a sentença da seguinte forma:


Se p então q (ou  p ⇒ q)

Didatismo e Conhecimento 2
LÓGICA
Sentenças Abertas Para negação, tem-se

Existem sentenças que não podem ser classificadas nem p ~p


como falsas, nem como verdadeiras. São as sentenças chamadas
sentenças abertas. V F
F V
Exemplos Atenção: A sentença negativa é representada por “~”.

1. p( x) : x + 4 = 9 A sentença t:
“O time do Paraná resistiu à pressão do São Paulo” possui
A sentença matemática x + 4 = 9 é aberta, pois existem como negativa de t, ou seja, “~t”, o correspondente a: “O time do
infinitos números que satisfazem a equação. Obviamente, apenas Paraná não resistiu à pressão do São Paulo”.
um deles, x = 5 , tornando a sentença verdadeira. Porém, existem
infinitos outros números que podem fazer com que a proposição se Observação: Alguns matemáticos utilizam o símbolo “¬ O
torne falsa, como x = −5. Brasil possui um grande time de futebol”, que pode ser lida como
“O Brasil não possui um grande time de futebol”.
2. q( x) : x < 3
Proposições Simples e Compostas
Dessa maneira, na sentença x < 3 , obtemos infinitos valores
Uma proposição pode ser simples (também denominada
que satisfazem à equação. Porém, alguns são verdadeiros, como
atômica) ou composta (também denominada molecular).  As
x = −2 , e outros são falsos, como x = +7. proposições simples apresentam apenas uma afirmação. Pode-
se considerá-las como frases formadas por apenas uma oração.
Atenção: As proposições ou sentenças lógicas são As proposições simples são representadas por letras latinas
representadas por letras latinas e podem ser classificadas em minúsculas.
abertas ou fechadas.
A sentença s ( x ) : 2 + 2 = 5 é uma sentença fechada, pois a Exemplos
ela se pode atribuir um valor lógico; nesse caso, o valor de s (x )
é F, pois a sentença é falsa. (1) p: eu sou estudioso
A sentença p (x ) “Phil Collins é um grande cantor de música (2) q: Maria é bonita
pop internacional” é fechada, dado que possui um valor lógico e (3) r: 3 + 4 > 12
esse valor é verdadeiro.
Já a sentença e(x ) “O sorteio milionário da Mega-Sena” é Uma proposição composta é formada pela união de duas ou
uma sentença aberta, pois não se sabe o objetivo de falar do sorteio mais proposições simples. Indica-se uma proposição composta
da Mega-Sena, nem se pode atribuir um valor lógico para que por letras latinas maiúsculas. Se P é uma proposição composta das
e(x) seja verdadeiro, ou falso. proposições simples p, q, r, ..., escreve-se P (p, q, r,...). Quando
P estiver claramente definida não há necessidade de indicar as
Modificadores proposições simples entre os parênteses, escrevendo simplesmente
P.
A partir de uma proposição, podemos formar outra proposição
usando o modificador “não” (~), que será sua negação, a qual Exemplos:
possuirá o valor lógico oposto ao da proposição.
(4) P: Paulo é estudioso e Maria é bonita. P é composta das
Exemplo proposições simples p: Paulo é estudioso e q: Maria é bonita.
(5) Q: Maria é bonita ou estudiosa. Q é composta das
proposições simples p: Maria é bonita e q: Maria é estudiosa.
p: Jacira tem 3 irmãos.
(6) R: Se x = 2 então x2 + 1 = 5. R é composta das proposições
~p: Jacira não tem 3 irmãos.
simples p: x = 2 e q: x2 + 1 = 5.
(7) S: a > b se e somente se b < a. S é composta das proposições
É fácil verificar que: simples p: a > b e q: b < a.
1. Quando uma proposição é verdadeira, sua negação é falsa.
2. Quando uma proposição é falsa, sua negação é verdadeira. As proposições simples são aquelas que expressam “uma
única ideia”. Constituem a base da linguagem e são também
V ou F Sentença: p Negação: ~p V ou F chamadas de átomos da linguagem. São representadas por letras
latinas minúsculas (p, q, r, s, ...).
V 4∈ N 4∉ N F
As proposições composta são aquelas formadas por duas ou
12 não é divisível mais proposições ligadas pelos conectivos lógicos. São geralmente
F 12 é divisível por zero V
por zero. representadas por letras latinas maiúsculas (P, Q, R, S, ...). O
Para classificar mais facilmente as proposições em falsas ou símbolo P (p, q, r), por exemplo, indica que a proposição composta
verdadeiras, utilizam-se as chamadas tabelas-verdade. P é formada pelas proposições simples p, q e r.

Didatismo e Conhecimento 3
LÓGICA
Exemplos Observe-se que os valores lógicos V e F se alternam de dois
em dois para a primeira proposição p e de um em um para a
São proposições simples: segunda proposição q, e que, além disso, VV, VF, FV e FF são os
p: A lua é um satélite da terra. arranjos binários com repetição dos dois elementos V e F.
q: O número 2 é primo.
r: O número 2 é par.
Proposição Composta - 03 proposições simples
s: Roma é a capital da França.
t: O Brasil fica na América do Sul.
u: 2 + 5 = 3 . 4 No caso de uma proposição composta cujas proposições
simples componentes são p, q e r as únicas possíveis atribuições
São proposições compostas: de valores lógicos a p, a q e a r são:
P(q, r): O número 2 é primo ou é par.
Q(s, t): Roma é a capital da França e o Brasil fica na América p q r
do Sul.
R: O número 6 é par e o número 8 é cubo perfeito. V V V
V V F
Não são proposições lógicas: V F V
- Roma
- O cão do menino V F F
- 7+1 F V V
- As pessoas estudam F V F
- Quem é?
F F V
- Que pena!
F F F

Tabela Verdade Analogamente, observe-se que os valores lógicos V e F se


alternam de quatro em quatro para a primeira proposição p, de
Proposição Simples - Segundo o princípio do terceiro dois em dois para a segunda proposição q e de um em um para a
excluído, toda proposição simples p, é verdade ou falsa, isto é, tem
terceira proposição r, e que, além disso, VVV, VVF, VFV, VFF,
o valor lógico verdade (V) ou o valor lógico falso (F).
FVV, FVF, FFV e FFF sãos os arranjos ternários com repetição dos
dois elementos V e F.
p
V Notação: O valor lógico de uma proposição simples p indica-
F se por V(p). Assim, exprime-se que p é verdadeira (V), escrevendo:
V(p) = V. Analogamente, exprime-se que p é falsa (F), escrevendo:
Proposição Composta - O valor lógico de qualquer proposição V(p) = F.
composta depende unicamente dos valores lógicos das proposições
simples componentes, ficando por eles univocamente determinados. Exemplos
É um dispositivo prático muito usado para a determinação do valor
lógico de uma proposição composta. Neste dispositivo figuram p: o sol é verde;
todos os possíveis valores lógicos da proposição composta,
q: um hexágono tem nove diagonais;
correspondentes a todas as possíveis atribuições de valores lógicos
às proposições simples componentes. r: 2 é raiz da equação x² + 3x - 4 = 0
V(p) = F
Proposição Composta - 02 proposições simples V(q) = V
V(r) = F
Assim, por exemplo, no caso de uma proposição composta
cujas proposições simples componentes são p e q, as únicas Questões
possíveis atribuições de valores lógicos a p e a q são:
01. Considere as proposições p: Está frio e q: Está chovendo.
p q Traduza para linguagem corrente as seguintes proposições:
V V a) P ˅ ~q
b) p → q
V F
c) ~p ^ ~q
F V d) p ↔ ~q
F F e) (p ˅ ~q) ↔ (q ^~p)

Didatismo e Conhecimento 4
LÓGICA
02. Considere as proposições p: A terra é um planeta e q: 08. (CESPE - Papiloscopista) Sejam P e Q variáveis
Aterra gira em torno do Sol. Traduza para linguagem simbólica as proposicionais que podem ter valorações, ou serem julgadas
seguintes proposições: verdadeiras (V) ou falsas (F). A partir dessas variáveis, podem ser
a) Não é verdade: que a Terra é um planeta ou gira em torno obtidas novas proposições, tais como: a proposição condicional,
do Sol. denotada por P → Q, que será F quando P for V e Q for F, ou V,
b) Se a Terra é um planeta então a Terra gira em torno do Sol. nos outros casos; a disjunção de P e Q, denotada por P v Q, que
será F somente quando P e Q forem F, ou V nas outras situações;
c) É falso que a Terra é um planeta ou que não gira em torno
a conjunção de P e Q, denotada por P ^ Q, que será V somente
do Sol.
quando P e Q forem V, e, em outros casos, será F; e a negação de
d) A Terra gira em torno do Sol se, e somente se, a Terra não P, denotada por ¬P, que será F se P for V e será V se P for F. Uma
é um planeta. tabela de valorações para uma dada proposição é um conjunto de
e) A Terra não é nem um planeta e nem gira em torno do Sol. possibilidades V ou F associadas a essa proposição. A partir das
(Expressões da forma “não é nem p e nem q” devem ser vistas informações do texto, julgue os itens subsequentes.
como “não p e não q”) a) As tabelas de valorações das proposições P v Q e Q → ¬P
são iguais.
03. Dada a condicional: “Se p é primo então p = 2 ou p é b) As proposições (P v Q) → S e (P → S) v (Q → S) possuem
impar”, determine: tabelas de valorações iguais.
a) a contrapositiva
b) a recíproca 09. (CESPE - PF - Regional) Considere as sentenças abaixo.

I- Fumar deve ser proibido, mas muitos europeus fumam.


04.
II- Fumar não deve ser proibido e fumar faz bem à saúde.
a) Supondo V (p ^ q ↔ r ˅ s) = F e V (~r ^ ~s) = V, determine
III- Se fumar não faz bem à saúde, deve ser proibido.
V (p → r ^ s). IV- Se fumar não faz bem à saúde e não é verdade que muitos
b) Supondo V (p ^ (q ˅ r)) = V e V (p ˅ r → q) = F, determine europeus fumam, então fumar deve ser proibido.
V (p), V (q), V (r). V- Tanto é falso que fumar não faz bem à saúde como é falso
c) Supondo V (p → q) = V, determine V (p ^ r → q ^ r) e V (p que fumar deve ser proibido; consequentemente, muitos europeus
˅ r → q ˅ r). fumam.

05. Dê o conjunto-verdade em R das seguintes sentenças Considere também que P, Q, R e T representem as sentenças
abertas: listadas na tabela a seguir.
a) x² + x – 6 = 0 → x² - 9 = 0
b) x² ˃ 4 ↔ x² -5x + 6 = 0 P Fumar deve ser proibido.
Q Fumar de ser encorajado.
06. Use o diagrama de Venn para decidir quais das seguintes
afirmações são válidas: R Fumar não faz bem à saúde.
T Muitos europeus fumam.
a) Todos os girassóis são amarelos e alguns pássaros são Com base nas informações acima e considerando a notação
amarelos, logo nenhum pássaro é um girassol. introduzida no texto, julgue os itens seguintes.
b) Alguns baianos são surfistas. Alguns surfistas são louros.
Não existem professores surfistas. Conclusões: a) A sentença I pode ser corretamente representada por P ^
I- Alguns baianos são louros. (¬ T).
II- Alguns professores são baianos. b) A sentença II pode ser corretamente representada por (¬ P)
III- Alguns louros são professores. ^ (¬ R).
c) A sentença III pode ser corretamente representada por R
IV- Existem professores louros.
→ P.
d) A sentença IV pode ser corretamente representada por (R
07. (CESPE - PF - Regional) Considere que as letras P, Q, R ^ (¬ T)) → P.
e T representem proposições e que os símbolos ̚ , ^, ˅ e → sejam e) A sentença V pode ser corretamente representada por T →
operadores lógicos que constroem novas proposições e significam ((¬ R) ^ (¬ P)).
não, e, ou e então, respectivamente. Na lógica proposicional, cada
proposição assume um único valor (valor-verdade), que pode ser 10. Um agente de viagens atende três amigas. Uma delas é
verdadeiro (V) ou falso (F), mas nunca ambos. Com base nas loura, outra é morena e a outra é ruiva. O agente sabe que uma delas
informações apresentadas no texto, julgue os itens a seguir. se chama Bete, outra se chama Elza e a outra se chama Sara. Sabe,
a) Se as proposições P e Q são ambas verdadeiras, então a ainda, que cada uma delas fará uma viagem a um país diferente da
proposição ( ̚ P) ˅ ( ̚ Q) também é verdadeira. Europa: uma delas irá à Alemanha, outra irá à França e a outra irá
b) Se a proposição T é verdadeira e a proposição R é falsa, à Espanha. Ao agente de viagens, que queria identificar o nome e o
então a proposição R→ ( ̚ T) é falsa. destino de cada uma, elas deram as seguintes informações:
A loura: “Não vou à França nem à Espanha”.
c) Se as proposições P e Q são verdadeiras e a proposição R é
A morena: “Meu nome não é Elza nem Sara”.
falsa, então a proposição (P ^ R) → (¬ Q) é verdadeira. A ruiva: “Nem eu nem Elza vamos à França”.

Didatismo e Conhecimento 5
LÓGICA
O agente de viagens concluiu, então, acertadamente, que: 07.
a) A loura é Sara e vai à Espanha. a) Item ERRADO. Pela tabela do “ou” temos:
b) A ruiva é Sara e vai à França. (¬ P) v (¬ Q)
c) A ruiva é Bete e vai à Espanha. (¬ V) v (¬ V)
d) A morena é Bete e vai à Espanha. (F) v (F)
e) A loura é Elza e vai à Alemanha. Falsa
Respostas: b) Item ERRADO. A condicional regra que:
R → (¬ T)
01. F (¬ V)
a) “Está frio ou não está chovendo”. F (F)
b) “Se está frio então está chovendo”. Verdadeira
c) “Não está frio e não está chovendo”.
d) “Está frio se e somente se não está chovendo”.
c) Item CERTO. Obedecendo a conjunção e a condicional:
e) “Está frio e não está chovendo se e somente se está
(P ^ R) → (¬ Q)
chovendo e não está frio”.
(V ^ F) → (¬ V)
02. F F
a) ~(p ˅ q); Verdadeira
b) p → q
c) ~(p ˅ ~q) 08.
d) ~p ^ ~q a) Item ERRADO. Basta considerarmos a linha da tabela-
e) q ↔ ~p verdade onde P e Q são ambas proposições verdadeiras para
verificar que as tabelas de valorações de P v Q e Q → ¬P não são
03. iguais:
a) a contrapositiva: “Se p 2 e p é par, então p não é primo”.
b) a recíproca: “Se p = 2 ou p é ímpar, então p é primo”. P Q ¬P PvQ Q → ¬P
V V F V F
04.
a) Supondo V (p ^ q ↔ r ˅ s) = F (1) e V (~r ^ ~s) = V (2),
determine V (p → r ^ s). Solução: De (2) temos que V (r) = V (s) b) Item ERRADO. Nas seguintes linhas da tabela-verdade,
= F; Usando estes resultados em (1) obtemos: V (p) = V (q) = V, temos os valores lógicos da proposição (P v Q) → S diferente dos
logo, V (p → r ^ s) = F da proposição (P → S) v (Q → S):
b) Supondo V (p ^ (q ˅ r)) = V (1) e V (p ˅ r → q) = F (2),
determine V (p), V (q) e V (r). Solução: De (1) concluímos que V P Q S (P v Q) → S P→SvQ→S
(p) = V e V (q ˅ r) = V e de (2) temos que V (q) = F, logo V (r) = V V F F F V
c) Supondo V (p → q) = V, determine V (p ^ r → q ^ r) e V (p F V F F V
˅ r → q ˅ r). Solução: Vamos supor V (p ^ r → q ^ r) = F. Temos
assim que V (p ^ r) = V e V (q ^ r) = F, o que nos permite concluir 09.
que V (p) = V (r) = V e V (q) = F, o que contradiz V (p → q) = V.
a) Item ERRADO. Sua representação seria P ^ T.
Logo, V (p ˅ r → q ˅ r) = V. Analogamente, mostramos que V (p
b) Item CERTO. Apenas deve-se ter o cuidado para o que
˅ r → q ˅ r) = V.
diz a proposição R: “Fumar não faz bem à saúde”. É bom sempre
05. ficarmos atentos à atribuição inicial dada à respectiva letra.
a) R – {2} c) Item CERTO. É a representação simbólica da Condicional
b) [-2,2[ entre as proposições R e P.
d) Item CERTO. Proposição composta, com uma Conjunção
06. (R ^ ¬T) como condição suficiente para P.
a) O diagrama a seguir mostra que o argumento é falso: d) Item ERRADO. Dizer “...consequentemente...” é dizer
“se... então...”. A representação correta seria ((¬ R) ^ (¬ P)) → T.

10. Resposta “E”.


A melhor forma de resolver problemas como este é arrumar
as informações, de forma mais interessante, que possa prover uma
melhor visualização de todo o problema. Inicialmente analise o
b) O diagrama a seguir mostra que todos os argumentos são que foi dado no problema:
falsos: a) São três amigas
b) Uma é loura, outra morena e outra ruiva.
c) Uma é Bete, outra Elza e outra Sara.
d) Cada uma fará uma viagem a um país diferente da Europa:
Alemanha, França e Espanha.
e) Elas deram as seguintes informações:

Didatismo e Conhecimento 6
LÓGICA
A loura: “Não vou à França nem à Espanha”.
A morena: “Meu nome não é Elza nem Sara”.
A ruiva: “Nem eu nem Elza vamos à França”.

Faça uma tabela:

Cor dos cabelos Loura Morena Ruiva


Nem eu nem
Afirmação Não vou à França Meu nome não é Elza vamos à
nem a Espanha Elza nem Sara França
País Alemanha França Espanha
Nome Elza Bete Sara

Com a informação da loura, sabemos que ela vai para a Alemanha.


Com a informação da morena, sabemos que ela é a Bete.
Com a informação da ruiva sabemos que ela não vai à França e nem Elza, mas observe que a loura vai a Alemanha e a ruiva não vai à
França, só sobrando a Bete ir à França. Se Bete vai à França a ruiva coube a Espanha. Elza é a loura e Sara fica sendo a ruiva.

Conectivos

Para compor novas proposições, definidas como composta, a partir de outras proposições simples, usam-se os conectivos. Os conectivos
mais usados são: “e”(˄), “ou”(˅), “se... então”(→) e “se e somente se”(↔).

Exemplos
- Mônica é uma mulher bonita e o Brasil é um grande país.
- Professor Fábio é esperto ou está doente.
- Se eu comprar um carro, então venderei meu carro antigo.
- Um número é primo se e somente se for divisível apenas por 1 e por si mesmo.

Operação Conectivo Estrutura Lógica Exemplos


Negação ¬ Não p A bicicleta não é azul.
Conjunção ^ peq Thiago é médico e João é Engenheiro.
Disjunção
v p ou q Thiago é médico ou João é Engenheiro.
Inclusiva
Disjunção
v Ou p ou q Ou Thiago é Médico ou João é Engenheiro.
Exclusiva
Condicional → Se p então q Se Thiago é Médico então João é Engenheiro.
Bicondicional ↔ p se e somente se q Thiago é médico se e somente se João é Médico.

Conectivo “e” (˄)

Sejam os argumentos:
p: -3 é um número inteiro.
q: a cobra é um réptil.
Com os argumentos acima, podemos compôr uma sentença fechada, que expressa os dois argumentos: “-3 é um número inteiro e a cobra
é um réptil”. A sentença pode ser representada como p ˄ q, podemos receber um valor lógico, verdadeiro ou falso.

Conceito: Se p e q são duas proposições, a proposição p ˄ q será chamada de conjunção. Observe que uma conjunção p ˄ q só é
verdadeira quando p e q são verdadeiras. Para a conjunção, tem-se a seguinte tabela-verdade:

p q p˄q
V V V
V F F
F V F
F F F

Didatismo e Conhecimento 7
LÓGICA
Atenção: Os conectivos são usados para interligar duas ou mais Conceito: Se p e q são duas proposições, a proposição p→q
sentenças. E toda sentença interligada por conectivos terá um valor é chamada subjunção ou condicional. Considere a seguinte
lógico, isto é, será verdadeira ou falsa. Sentenças interligadas pelo subjunção: “Se fizer sol, então irei à praia”.
conectivo “e” possuirão o valor verdadeiro somente quando todas 1. Podem ocorrer as situações:
as sentenças, ou argumentos lógicos, tiverem valores verdadeiros. 2. Fez sol e fui à praia. (Eu disse a verdade)
3. Fez sol e não fui à praia. (Eu menti)
4. Não fez sol e não fui à praia. (Eu disse a verdade)
Conectivo “ou” (V) 5. Não fez sol e fui à praia. (Eu disse a verdade, pois eu não
disse o que faria se não fizesse sol. Assim, poderia ir ou não ir à
O conectivo “ou” pode ter dois significados: praia).

1. “ou” inclusivo: Elisabete é bonita ou Elisabete é inteligente. Observe que uma subjunção p→q somente será falsa quando
(Nada impede que Elisabete seja bonita e inteligente) a primeira proposição, p, for verdadeira e a segunda, q, for falsa.
Para a subjunção, tem-se a seguinte tabela-verdade:
2. “ou” exclusivo: Elisabete é paulista ou Elisabete é carioca.
(Se Elisabete é paulista, não será carioca e vice-versa) p q p→q
V V V
Atenção: Estudaremos o “ou” inclusivo, pois o elemento V F F
em questão pode possuir duas ou mais características, como o F F V
exemplo do item 1, em que Elisabete poderá possuir duas ou mais
qualidades ou características. Sejam: F V V

Existem outras maneiras de ler: p→q: “p é condição suficiente


p: 3 é um número inteiro. para q” ou, ainda, “q é condição necessária pra p”.
q: o Brasil é pentacampeão mundial de futebol.
A partir de p e q, podemos compor: Sejam:
p V q: 3 é um número inteiro ou o Brasil é pentacampeão p: 18 é divisível por 6.
mundial de futebol. q: 18 é divisível por 2.
Se p e q são duas proposições, a proposição p V q será chamada Podemos compor:
p→q: se 18 é divisível por 6, então 18 é divisível por 2, que
adjunção ou disjunção.
se pode ler:
- “18 é divisível por 6” é condição suficiente para “18 é
Observe que uma adjunção p V q é verdadeira quando uma divisível por 2” ou, ainda,
das proposições formadoras, p ou q, é verdadeira. Para a adjunção, - “18 é divisível por 2” é condição necessária para “18 é
tem-se a seguinte tabela-verdade: divisível por 6”.

p q pVq Atenção: Dizemos que “p implica q” (p→q) quando estamos


considerando uma relação entre duas proposições, compostas ou
V V V não, diferentemente do símbolo →, que denota uma operação entre
V F V duas proposições, resultando numa proposição.
F V V
Conectivo “Se e somente se” (↔)
F F F
Sejam:
Atenção: O conectivo V, “ou”, é utilizado para interligar dois p: 16 / 3 = 8
ou mais argumentos, resultando na união desses argumentos. O q: 2 é um número primo.
valor resultante da união de dois ou mais argumentos somente será A partir de p e q, podemos compor:
falso quando todos os argumentos ou proposições forem falsos. p↔q: 16 / 3 = 8 se e somente se 2 é um número primo.
Se p e q são duas proposições, a proposição p↔q1 é chamada
bijunção ou bicondicional, que também pode ser lida como: “p é
Conectivo “Se... então” (→) condição necessária e suficiente para q” ou, ainda, “q é condição
necessária e suficiente para p”.
Sejam as proposições abaixo:
p: 5.4 = 20 Considere, agora, a seguinte bijunção: “Irei à praia se e
q: 3 é um número primo. somente se fizer sol”. Podem ocorrer as situações:
A partir de p e q, podemos compor: 1. Fez sol e fui à praia. (Eu disse a verdade)
p→q: se 5.4 = 20, então 3 é um número primo. 2. Fez sol e não fui à praia. (Eu menti)
3. Não fez sol e fui à praia. (Eu menti)
4. Não fez sol e não fui à praia. (Eu disse a verdade)

Didatismo e Conhecimento 8
LÓGICA
Observe que uma bijunção só é verdadeira quando as 02. (Cespe - Analista do Seguro Social - INSS) Proposições
proposições formadoras são ambas falsas ou ambas verdadeiras. são sentenças que podem ser julgadas como verdadeiras (V) ou
Para a bijunção, tem-se a seguinte tabela-verdade: falsas (F), mas não como ambas. Se p e q são proposições, então a
proposição “Se p então q”, denotada por P → Q, terá valor lógico
p q p↔q F quando p for V e q for F, e, nos demais casos, será V. Uma
V V V expressão da forma ~p, a negação da proposição p, terá valores
lógicos contrários aos de p. (p v q, lida como “p ou q”, terá valor
V F F
lógico F quando p e q forem, ambas, F; nos demais casos, será V.
F V F Considere as proposições simples e compostas apresentadas
F F V abaixo, denotadas por A, B e C, que podem ou não estar de acordo
com o artigo 50 da Constituição Federal.
Devemos lembrar que p↔q é o mesmo que (p→q) ˄ (q→p).
Assim, dizer “Hoje é sábado e somente se amanhã é domingo” é o A: A prática do racismo é crime afiançável.
mesmo que dizer: “Se hoje é sábado, então amanhã é domingo e, B: A defesa do consumidor deve ser promovida pelo Estado.
se amanhã é domingo, então hoje é sábado”.
C: Todo cidadão estrangeiro que cometer crime político em
Atenção: Dizemos que “p equivale a q” (p→q) quando
território brasileiro será extraditado.
estamos considerando uma relação entre duas ou mais proposições,
diferentemente do símbolo ↔ , que denota uma operação entre
duas proposições, resultando numa nova proposição. Exemplos: De acordo com as valorações V ou F atribuídas corretamente
às proposições A, B e C, a partir da Constituição Federal, julgue o
1. Dar os valores lógicos das seguintes proposições compostas: item. Para a simbolização apresentada acima e seus correspondentes
a) p1 : 2 + 5 = 7 ou 2 + 5 = 6 Temos que p ˅ q, com p(V), valores lógicos, a proposição B = C é V. Certo ou Errado?
q(F); portanto, p1 (V)
b) p2 : se 2 + 4 = 8 se 2 + 4 = 8, então 2 = 6 = 9 Temos que 03. Roberta, Rejane e Renata são servidoras de um mesmo
p→q com p(F), q(F); portanto, p2 (V) órgão público do Poder Executivo Federal. Em um treinamento, ao
lidar com certa situação, observou-se que cada uma delas tomou
2. Estude os valores lógicos das sentenças abertas compostas: uma das seguintes atitudes:
“se x² - 14x + 48 = 0, então x – 2 = 4”. Como x² - 14x + 48 = 0 ↔ A1: deixou de utilizar avanços técnicos e científicos que
x = 6 ou x = 8 e x – 2 = 4 ↔ x = 6, tem-se: estavam ao seu alcance;
a) (VV) substituindo x por 6, temos o valor lógico V.
A2: alterou texto de documento oficial que deveria apenas ser
b) (VF) substituindo x por 8, temos o valor lógico F.
encaminhado para providências;
c) (FV) não se verifica.
d) (FF) substituindo x por qualquer número real diferente de 6 A3: buscou evitar situações procrastinatórias.
e 8, temos o valor lógico V.
Cada uma dessas atitudes, que pode ou não estar de acordo
3. Sejam as proposições: com o Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do
p: Joana é graciosa. Poder Executivo Federal (CEP), foi tomada por exatamente uma
q: Fátima é tímida. das servidoras. Além disso, sabe-se que a servidora Renata tomou
Dar as sentenças verbais para: p→~q a atitude A3 e que a servidora Roberta não tomou a atitude A1.
Se Joana é graciosa, então Fátima não é tímida. Essas informações estão comtempladas na tabela a seguir, em
~(~p ∨ q) cada célula, correspondente ao cruzamento de uma linha com
É falso que Joana não é graciosa ou que Fátima é tímida. uma coluna, foi preenchida com V(verdadeiro) ou F(falso) caso
contrario.
Atenção: O conectivo ↔ é usado quando se quer mostrar que
dois argumentos são equivalentes. Por exemplo, quando dizemos
que “todo número par é da forma 2n, n є N”, não é o mesmo que A1 A2 A3
dizer que “os números pares são divisíveis por 2”. Roberta F
Rejane
Questões
Renata V
01. (ICMS) Se você se esforçar então irá vencer. Assim sendo,
(A) mesmo que se esforce, você não vencerá. Com base nessas informações, julgue o item seguinte: Se
(B) seu esforço é condição necessária para vencer. p for a proposição “Rejane alterou texto de documento oficial
(C) se você não se esforçar então não irá vencer. que deveria apenas ser encaminhado para providências” e q for
(D) você vencerá só se se esforçar. a proposição” Renata buscou evitar situações procrastinatórias”,
(E) seu esforço é condição suficiente para vencer. então a proposição pq tem valor lógico V. Certo ou errado?

Didatismo e Conhecimento 9
LÓGICA
04. (FCC - Oficial de Justiça - TJ/PE) Suponha que exista p q p→q
uma pessoa que só fala mentiras as terças, quartas e quintas-
feiras, enquanto que, nos demais dias da semana, só fala a verdade. V V V
Nessas condições, somente em quais dias da semana seria possível V F F
ela fazer a afirmação “Eu menti ontem e também mentirei amanha”?
F V V
(A) Terça e quinta-feira.
(B) Terça e sexta-feira. F F V
(C) Quarta e quinta-feira.
(D) Quarta-feira e sábado. Poderíamos resumir a tabela verdade do conectivo “se então”
(E) Quinta-feira e domingo. pela seguinte regra: “A implicação p→q só será FALSA quando
p for VERDADEIRA e q for FALSA, nesta ordem”. Observe que
05. Na análise de um argumento, podem-se evitar estamos falando da segunda linha. Observe também que todos os
considerações subjetivas, por meio da reescrita das proposições demais valores lógicos de p→q que não se tratam da regra passam
a ser verdadeiros (1ª, 3ª e 4ª linhas).
envolvidas na linguagem da lógica formal. Considere que P, Q,
Agora por definição informamos que dado que p→q se
R e S sejam proposições e que “ ”, “ ∨ ”, “¬” e “→” sejam

verifica então também se verifica que ~q→~p. Para analisarmos
os conectores lógicos que representam, respectivamente, “e”,
esta afirmação devemos conhecer um novo conectivo, o conectivo
“ou”, “negação” e o “conector condicional”. Considere também “não” ou “negação”, cuja tabela verdade se verifica a seguir:
a proposição a seguir: Quando Paulo vai ao trabalho de ônibus ou
de metrô, ele sempre leva um guarda-chuva e também dinheiro
trocado. p ~p
Assinale a opção que expressa corretamente a proposição V F
acima em linguagem da lógica formal, assumindo que:
F V
P= “Quando Paulo vai ao trabalho de ônibus”;
Q= “Quando Paulo vai ao trabalho de metrô”; O “~” representa o conectivo “não” e a tabela verdade do
R= “ele sempre leva um guarda-chuva”; conectivo não é a inversão do valor lógico da proposição, vejamos,
S= “ele sempre leva dinheiro trocado”. se a proposição p é verdadeira, então ~p é falsa e viceversa, se
a proposição p é falsa, ~p é verdadeira. Desse modo vamos
(A) P→ (Q R)

comprovar o que foi afirmado logicamente, ou seja, dado que
(B) (P → Q) ∨ R p→q posso afirmar que negando a condição necessária eu nego a
(C) (P ∨ Q) (R S)

condição suficiente, observe através da tabela verdade:

(D) P ∨ (Q (R S))
∨ ∨

p q ~p ~q p→q ~q→~p
Respostas
V V F F V V
01. Resposta “E”. V F F V F F
Aqui estamos tratando de uma proposição composta (Se você
se esforçar então irá vencer) formada por duas proposições simples F V V F V V
(você se esforçar) (irá vencer), ligadas pela presença do conectivo F F V V V V
(→) “se então”. O conectivo “se então” liga duas proposições
simples da seguinte forma: Observe que para a mesma entrada de valores (V) ou (F) as
Se p então q, ou seja: colunas que representam os possíveis valores de p→q e de ~q→~p
→ p será uma proposição simples que por estar antes do então são exatamente iguais, o que equivale a afirmar que são expressões
é também conhecida como antecedente logicamente equivalentes. Sabendo um pouco mais a respeito do
→ q será uma proposição simples que por estar depois do “se então” vamos ao exercício:
então é também conhecida como consequente Se você se esforçar então irá vencer
→ Se p então q também pode ser lido como p implica em q → você se esforçar é a proposição p também conhecida como
→ p é conhecida como condição suficiente para que q ocorra, antecedente.
ou seja, basta que p ocorra para q ocorrer. → irá vencer é a proposição q também conhecida como
consequente.
→ q é conhecida como condição necessária para que p ocorra,
→ você se esforçar é a proposição p também conhecida como
ou seja, se q não ocorrer então p também não irá ocorrer.
condição suficiente para que ocorra q→ irá vencer é a proposição q
também conhecida como condição necessária para que ocorra q→.
Logo a seguir está a tabela verdade do “se então”. Tabela
Verdade é a forma de representar todas as combinações possíveis Dado p→q é uma equivalente lógica de: ~q→~p. Ou seja,
de valores verdadeiros ou falsos de determinadas proposições, Se você se esforçar então irá vencer é uma equivalente lógica de
sejam elas simples ou compostas. Observe que para quaisquer Se você não venceu então você não se esforçou. Observe que p
valores lógicos de p e q (na realidade uma combinação de valores e q podem ser quaisquer conjuntos de palavras ou símbolos que
de verdadeiros e falsos poderá ocorrer e está sendo estudada logo expressam um sentido completo, por mais absurdo que pareça
abaixo). O número de linhas de uma tabela verdade é dado por: 2n basta estar na forma do conectivo “se então” que as regras
onde n = número de proposições simples. Na tabela verdade são acima transpostas estão logicamente corretas. Vamos analisar as
duas proposições simples e ao todo 22 = 4 linhas. alternativas:

Didatismo e Conhecimento 10
LÓGICA
Se você se esforçar então irá vencer. Assim sendo, 04. Resposta “A”.
a) errada, a alternativa “A” encontra erro uma vez que você se
esforçar é a condição suficiente para que você vença, ou seja, basta Pelo enunciado, sabemos que a pessoa só fala mentiras as
que você se esforce que você irá vencer, e a afirmação nega isto. terças, quartas e quintas-feiras. Com o conectivo “e”, para se ter
b) errada, na forma p→q, o p é o antecedente e condição uma verdade, ambas as sentenças devem ser verdadeiras. Assim,
suficiente para que q ocorra. nesse problema, é preciso analisar dia a dia e procurar um em que
c) errada, esta afirmação sempre vai cair em prova. não ocorra contradição.
- Domingo, segunda, sexta, sábado: a sentença é falsa,
Cuidado: Sempre vai levar muitos candidatos ao erro, ao pois nesses dias a pessoa fala a verdade. Portanto, temos uma
afirmar: Se você se esforçar então irá vencer a única conclusão contradição.
possível é de que basta que você se esforce que você irá vencer, e - Terça e quinta: a sentença é falsa, mas como a pessoa sempre
se você não se esforçar, ora se não ocorreu a condição suficiente mente na terça e na quinta, não há contradição.
- Quarta: a sentença é verdadeira, mas como a pessoa mente
nada posso afirmar, se você não se esforçar você poderá ou não
na quarta, há contradição. Então, a alternativa “A” satisfaz ao
vencer. Na tabela verdade é possível comprovar que (Se você se
enunciado.
esforçar então irá vencer p→q) e (Se você não se esforçar então
não irá vencer ~p→~q) não são equivalentes lógicas. Observe que
05. Resposta “C”.
as proposições p→q e ~p→~q não apresentam os mesmos valores
lógicos, ou seja, afirmar uma não quer dizer afirmar a outra. A proposição composta original possui uma divisão principal,
que é o fato de Paulo trabalhar de ônibus ou metrô; outro aspecto
d) errada, você vencerá só se se esforçar, indica que seu esforço é o fato de ele levar guarda-chuva e dinheiro trocado. Portanto,
é condição necessária para você vencer, o que não é verdade. o conectivo

é o principal, interligando as duas partes da
e) correta, seu esforço (você se esforçar) é condição suficiente proposição. Na primeira parte da proposição, ou Paulo vai ao
para que você vença. trabalho de ônibus ou vai de metrô. Nesse caso, essa proposição é
interligada pelo conectivo “ou”: P ∨ Q.
02. Resposta “Errado”. Já na parte final da proposição, como ele sempre leva um
guarda-chuva e também dinheiro trocado, essa parte da proposição
Analisando as proposições: é interligada pelo conectivo “e”: R S. Reunindo então as duas

A: “A prática do racismo é crime afiançável”- é falsa partes da proposição original, obtém-se (P ∨ Q) ∨ (R ∨
B: “A defesa do consumidor deve ser promovida pelo Estado” - é S).
verdadeira;
C: “Todo cidadão estrangeiro que cometer crime político em
território brasileiro será extraditado” - é falsa. 4.2 NEGAÇÃO DE UMA PROPOSIÇÃO
SIMPLES
Então, a proposição composta “B - C” pode ser traduzida
em “V > F” e, pela regra do conectivo → (implica), a proposição
composta terá valor lógico F.
Dada uma proposição, por exemplo “O carro é verde”, todos
sabemos, na linguagem corrente, negá-la; no exemplo considerado
03. Resposta “Certo”.
seria “O carro não é verde”. Se a proposição “O carro é verde”
for verdadeira, então “O carro não é verde” é falsa; se “O carro é
Sabendo que cada uma das servidoras tomou apenas uma
verde” for falsa, então “O carro não é verde” é verdadeira.
das atitudes, basta completar a tabela de acordo com os dados do
Somos então levados a introduzir, na nossa linguagem
enunciado: matemática, além da afirmação a chamada operação de negação.
Seja p uma proposição qualquer; chamaremos negação de p a uma
A1 A2 A3 nova proposição, designada por ~p (leia-se “não p”), cujo valor
Roberta F V F lógico é diferente do de p. Assim, se p for verdadeira, ~p é falsa; se
p for falsa, ~p é verdadeira. A tabela do valor lógico da negação é,
Rejane V F F portanto muito simples:
Renata F F V
p ~p
Analisando a questão: Como (a proposição p) “Rejane alterou
texto de documento oficial que deveria apenas ser encaminhado V F
para providências” tem valor lógico F e (a proposição q) “Renata F V
buscou evitar situações procrastinatórias” tem valor lógico V, a
proposição “p → q” pode ser traduzida em “F → V” e, pela regra Por exemplo, são verdadeiras as proposições ~ 2 < 1, ~ (2 +
do conectivo → (implica), o valor lógico da proposição é V. 3)2 = 22 + 32, ~ 52 53 = 56, são falsas as proposições ~ 42 = 16, ~
2
√-27 = -3, ~ (52)3 = 56.

Didatismo e Conhecimento 11
LÓGICA
Voltemos a um diálogo... “O nosso Governo não é bom” cinema ou não vou ao teatro”. A intuição diz-nos que a negação
afirma, convicto, o Antero Gatinho, da oposição, sorvendo de uma conjunção é a disjunção das negações. De forma análoga,
lentamente a sua “bica pingada”; “Não é verdade que o nosso a negação de “Hoje como sopa ou carne”, é “Hoje não como sopa
Governo não seja bom” riposta, pressurosa, a Manuela Ferrada nem como carne”; a intuição sugere-nos que a negação de uma
Lamas (afeta ao partido do Governo) entre dois golos da sua disjunção é a conjunção das negações.
“italiana”. Não narrarei, por pudor, a continuação da história (nem O que acabamos de dizer leva-nos a considerar duas
o destino final da “bica pingada” e da “italiana”), mas gostaria de proposições p e q quaisquer e a tentar demonstrar rigorosamente
chamar a atenção para a frase da Manuela Ferrada Lamas; consiste as propriedades
ela na negação da frase do Antero Gatinho, frase essa que, por sua
(~ (p ∧ q)) ⇔ ((~ p) ∧ (~ q)) (6)
vez, era a negação de “O nosso Governo é bom”.
(~ (p ∧ q)) ⇔ ((~ p) ∧ (~ q)) (7)
Vemos assim que, na linguagem corrente (mesmo em situações
menos dramáticas do que a descrita) utilizamos por vezes a Claro que uma demonstração de (6) e (7) deverá ser feita à
negação de uma negação. Em termos matemáticos, e sendo p uma custa de tabelas de verdade convenientes:
proposição qualquer, a negação da negação de p escreve-se ~ (~p).

Qual o valor lógico desta proposição? É muito fácil determiná- p q ~p ~q p



q ~ (p

q) (~p)

(~q)
lo: ~p tem valor lógico contrário a p, ~ (~p) tem valor lógico
V V F F V F F
contrário a ~p, logo ~ (~p) e p têm o mesmo valor lógico.
V F F V F V V
Podemos portanto afirmar que ~ (~p) ⇔ p (1) F V V F F V V
F F V V F V V
Claro que a propriedade (1) poderia ter sido deduzida de uma
tabela de verdade conveniente:
p q ~p ~q p ∨
q ~ (p ∨
q) (~p)

(~q)
p ~p ~(~p) V V F F V F F
V F V V F F V V F F
F V F F V V F V F F
A propriedade (1) pode ser generalizada para mais do que F F V V F V V
duas negações. Tem-se, por exemplo, As propriedades (6) e (7) são usualmente conhecidas com o
nome de primeiras leis de De Morgan.
~ (~ (~ p)) ⇔ ~ p,
~ (~ (~ (~ p))) ⇔ p. Questões

Podemos agora pensar nas propriedades que ligam a negação 01. Dê a negação lógica de cada sentença:
com as operações já estudadas. Da análise das tabelas de verdade a) Nenhum aluno gosta de geometria.
para a equivalência ( ⇔ ) e para a não equivalência ( ⇔ b) Tudo o que é bom engorda.
) é imediato ver que a negação de uma equivalência é uma não c) Existe um país de língua portuguesa na Europa.
d) Comprei um CD e um livro.
equivalência e vice-versa. Por outras palavras, quaisquer que sejam
as proposições p e q, são verdadeiras as proposições seguintes: 02. Considere as afirmações seguintes:
(~ (p ⇔ q)) ⇔ (p ⇔ q) (2) (I) Se um político tem muito dinheiro, então ele pode ganhar
(~ (p ⇔ q)) ⇔ (p ⇔ q) (3) as eleições.
(II) Se um político não tem muito dinheiro, então ele não pode
Algo de análogo se passa com os símbolos de igualdade (=) e ganhar as eleições.
de desigualdade (≠); assim, sendo a e b dois entes quaisquer, são (III) Se um político pode ganhar as eleições, então ele tem
verdadeiras as seguintes proposições: muito dinheiro.
(IV) Se um político não pode ganhar as eleições, então ele não
(~ a = b) ⇔ (a ≠ b) (4) tem muito dinheiro.
(~ a ≠ b) ⇔ (a = b) (5) (V) Um político não pode ganhar as eleições, se ele não tem
muito dinheiro.
De uma forma geral, qualquer que seja o símbolo matemático
usado para construir uma certa proposição, uma barra “/” sobre a) Assumindo que (I) é verdadeira, quais das outras afirmações
esse símbolo corresponde à negação dessa proposição. são verdadeiras?
Vejamos agora as interligações entre a negação e as operações b) Qual é a negação de (I)?
c) A afirmação (I) é do tipo p → q. Como ficaria a afirmação q
de conjunção e de disjunção. Mais especificamente, qual o valor
→ p, chamada recíproca de (I)?
lógico da negação de uma conjunção? E de uma disjunção?
d) Como ficaria a afirmação ~q → ~p, chamada contra positiva
Suponhamos que eu digo: “Hoje vou ao cinema e ao teatro”;
de (I)?
intuitivamente, negar esta frase é dizer que “Hoje não vou ao

Didatismo e Conhecimento 12
LÓGICA
03. Escreva a negação das seguintes proposições numa d) Carlos é mais velho do que Pedro, e João é mais moço do
sentença o mais simples possível. que Pedro.
a) É falso que não está frio ou que está chovendo. e) Carlos não é mais velho do que Pedro, e Maria e Julia não
b) Se as ações caem aumenta o desemprego. tem a mesma idade.
c) Ele tem cabelos louros se e somente se tem olhos azuis.
d) A condição necessária para ser um bom matemático é saber 09. José quer ir ao cinema assistir ao filme “Fogo Contra
lógica. Fogo”, mas não tem certeza se o mesmo está sendo exibido. Seus
e) Jorge estuda física mas não estuda química. amigos, Maria, Luís e Júlio têm opiniões discordantes sobre se o
(Expressões da forma “p mas q” devem ser vistas como “p e filme está ou não em cartaz. Se Maria estiver certa, então Júlio está
q”) enganado. Se Júlio estiver enganado, então Luís está enganado. Se
Luís estiver enganado, então o filme não está sendo exibido. Ora,
04. (ESAF AFC-STN) A afirmação “Alda é alta, ou Bino não é ou o filme “Fogo contra Fogo” está sendo exibido, ou José não ira
baixo, ou Ciro é calvo” é falsa. Segue-se, pois, que é verdade que: ao cinema. Verificou - se que Maria está certa. Logo,
a) se Bino é baixo, Alda é alta, e se Bino não é baixo, Ciro a) O filme “Fogo contra Fogo” está sendo exibido.
não é calvo. b) Luís e Júlio não estão enganados.
b) se Alda é alta, Bino é baixo, e se Bino é baixo, Ciro é calvo. c) Júlio está enganado, mas Luís não.
c) se Alda é alta, Bino é baixo, e se Bino não é baixo, Ciro d) Luís está enganado, mas Júlio não.
não é calvo. e) José não irá ao cinema.
d) se Bino não é baixo, Alda é alta, e se Bino é baixo, Ciro é
calvo. 10. Sejam as declarações: Se ele me ama então ele casa
e) se Alda não é alta, Bino não é baixo, e se Ciro é calvo, Bino comigo. Se ele casa comigo então não vou trabalhar. Ora, se vou
não é baixo. ter que trabalhar podemos concluir que:
a) Ele é pobre, mas me ama.
05. Dê a negação das seguintes proposições: b) Ele é rico, mas é pão duro.
a) ( x ϵ A; p(x) ) ^ (Ǝ x ϵ A; q(x))
c) Ele não me ama e eu gosto de trabalhar.
b) (Ǝ x ϵ A; P(X) ) → ( X ϵ A; ̴q(x))
d) Ele não casa comigo e não vou trabalhar.
c) Existem pessoas inteligentes que não sabem ler nem
e) Ele não me ama e não casa comigo.
escrever.
d) Toda pessoa culta é sábia se, e somente se, for inteligente.
Respostas:
e) Para todo número primo, a condição suficiente para ser par
é ser igual a 2.
01.
a) p: Nenhum aluno gosta de geometria.
06. Dizer que a afirmação “todos os economistas são médicos”
é falsa, do ponto de vista lógico, equivale a dizer que a seguinte ~p: Existe algum aluno que gosta de geometria.
afirmação é verdadeira:
a) pelo menos um economista não é médico b) p: Tudo o que é bom engorda.
b) nenhum economista é médico ~p: Existe algo que é bom e não engorda.
c) nenhum médico é economista
d) pelo menos um médico não é economista c) p: Existe um país de língua portuguesa na Europa.
e) todos os não médicos são não economistas ~p: Qualquer país na Europa não é de língua portuguesa.

07. A negação da afirmação condicional “se estiver chovendo, d) p: Comprei um CD e um livro.


eu levo o guarda-chuva” é: ~p: Não comprei um CD ou não comprei um livro.
a) se não estiver chovendo, eu levo o guarda-chuva.
b) não está chovendo e eu levo o guarda-chuva. 02. Sejam:
c) não está chovendo e eu não levo o guarda-chuva. p: Um político tem muito dinheiro;
d) se estiver chovendo, eu não levo o guarda-chuva. q: Ele pode ganhar as eleições.
e) está chovendo e eu não levo o guarda-chuva.
As afirmações dadas podem ser então escritas na maneira
08. Se Carlos é mais velho do que Pedro, então Maria e Julia seguinte:
tem a mesma idade. Se Maria e Julia tem a mesma idade, então (I) p → q
João é mais moço do que Pedro. Se João é mais moço do que (II) ~p → ~q
Pedro, então Carlos é mais velho do que Maria. Ora, Carlos não é (III) q → p
mais velho do que Maria. Então: (IV) ~q → ~p
a) Carlos não é mais velho do que Leila, e João é mais moço (V) ~p → ~q
do que Pedro.
b) Carlos é mais velho que Pedro, e Maria e Julia tem a mesma a) Assumindo que (I) é verdadeira, apenas a afirmação (IV) é
idade. verdadeira.
c) Carlos e João são mais moços do que Pedro.

Didatismo e Conhecimento 13
LÓGICA
Para verificar esse fato, vamos examinar as tabelas-verdade: Escrevendo o enunciado em linguagem simbólica: p ˅ ~q ˅ r

p q ~p ~q p → q ~p → ~q q → p ~q → ~p ~p → ~q A afirmação dita no enunciado, representada por p ˅ ~q


˅ r, é falsa. Sabemos que na disjunção entre duas (ou mais)
proposições p e q, seu valor lógico será Falsidade somente
V V F F V V V V V quando p e q forem ambas falsas (ver tabela-verdade do “ou” que
V F F V F V V F V foi apresentada em tópicos anteriores). Na questão, temos não
duas, mas três proposições. Então p, q e ~r têm valores lógicos
F V V F V F F V F
falsidade. Entenderam? De uma outra maneira dizemos: para que
F F V V V V V V V a proposição p ˅ ~q ˅ r seja considerada falsa, temos que ter a
Observe que as duas únicas colunas iguais são aquelas em combinação F ˅ F ˅ F na respectiva tabela-verdade:
negrito.

b) A negação de (I) é ~(p → q): p q r ~q p ˅ ~q ˅ r


“Não é verdade que se um político tem muito dinheiro então V V V F V
ele pode ganhar as eleições”.
V V F F V
Podemos observar essa resolução com um pouco mais de V F F V V
detalhe.
F V V F V
Vejamos: a afirmação p → q é equivalente a ~p ∨ q. F F V V V
Logo, a afirmação ~ (p → q) é equivalente a ~ (~p ∨ q) que, F V F F F
por sua vez, é equivalente a p ∧ ~q. Vamos verificar essa última V F V V V
equivalência através da tabela-verdade:
F F F V V
Com isso, descobrimos que “Alda não é alta”, “Bino é baixo”
p q ~p ~q ~p ∨ q ~ (~p ∨ q) p ∧ ~q e “Ciro não é calvo”. A questão pede uma proposição composta
V V F F V F F com valor lógico verdade, a partir dos valores lógicos de p, q e r.
Escrevendo cada item em linguagem simbólica temos:
V F F V F V V
F V V F V F F a)
F F V V V F F q → p ^ ~q → ~r
Logo a equivalência entre ~ (p → q) e p ∧ ~q nos permite V→F^F→V
dizer que: F^V
“Existe um político que tem muito dinheiro e que não ganha Falsidade
às eleições”.
b)
c) A afirmação recíproca de (I), q → p, é a seguinte: p→q^q→r
Se ele pode ganhar as eleições, então ele tem muito dinheiro. F→V^V→F
V^F
d) A afirmação contra positiva de (I), ~q → ~p , é a seguinte: Falsidade
Se ele não pode ganhar as eleições, então ele não tem muito
dinheiro. c)
p → q ^ ~q → ~r
03. F→V^F→V
a) “Não está frio ou está chovendo”. V^V
b) “As ações caem e não aumenta o desemprego”. Verdade
c) “Ele tem cabelos louros e não tem olhos azuis ou ele tem
olhos azuis e não tem cabelos louros”. d)
d) A proposição é equivalente a “Se é um bom matemático ~q → p ^ q → r
então sabe lógica”. F→F^V→F
e) “Jorge não estuda lógica ou estuda química”. V^F
Falsidade
04. Resposta “C”.
A questão exige do candidato apenas conhecimentos das e)
operações lógicas fundamentais. Vamos representar as proposições ~p → ~q ^ r → ~q
simples: V→F^F→F
p: Alda é alta F^v
q: Bino é baixo Falsidade
r: Ciro é calvo

Didatismo e Conhecimento 14
LÓGICA
05. ∨ ∨
p q q q p↔q (p q) → (p ↔ q)
a) (Ǝ x ϵ A; ~p(x)) ˅ ( x ϵ A; ~q(x)
b) (Ǝ x ϵ A; P(X) ) ^ (Ǝ x ϵ A; q(x)) V V V V V
c) “Todas as pessoas inteligentes sabem ler ou escrever” V F F F V
d) “Existe pessoa culta que é sábia e não é inteligente ou que F V F F V
é inteligente e não é sábia”
e) “Existe um número primo que é igual a 2 e não é par” F F F V V

06. Aprendemos que a palavra TODOS é negada por PELO Contradição: é uma proposição cujo valor lógico é sempre
MENOS UM (=ALGUM). Daí, se o enunciado diz que é FALSA falso. Exemplo: A proposição (p Λ q) Λ (p Λ q) é uma contradição,
a sentença “Todos os economistas são médicos”, o que ela quer na pois o seu valor lógico é sempre F conforme a tabela-verdade. Que
verdade é que façamos a NEGAÇÃO desta frase! Ora, se é mentira significa que uma proposição não pode ser falsa e verdadeira ao
que todos os economistas são médicos, é fácil concluirmos que mesmo tempo, isto é, o princípio da não contradição.


pelo menos um economista não é médico! Alternativa “A”.
p ~p p q (~p)
07. Resposta “E”. O que a questão pede é a negação de uma
condicional. Ora, já aprendemos como se faz isso: mantém-se a V F F
primeira parte E nega-se a segunda. Daí, concluiremos o seguinte: F V F
“se estiver chovendo, eu levo o guarda-chuva” é igual a: “está
chovendo E eu não levo o guarda-chuva”. Contingência: quando uma proposição não é tautológica
nem contra válida, a chamamos de contingência ou proposição
08. Se Carlos não é mais velho do que Maria, então João não
contingente ou proposição indeterminada.
é mais moço que Pedro Se João não é mais moço que Pedro, então
Maria e Julia não tem a mesma idade Se Maria e Julia não tem a
Propriedades de Proposições
∨ ∨
mesma idade, então Carlos não é mais velho que Pedro. Logo, a
única opção correta é: e) Carlos não é mais velho do que Pedro, e
Maria e Julia não tem a mesma idade. I – Comutativa: p q ⇔ q p
p ∨ q ⇔ q ∨ p
09. Se Maria está certa, então Júlio está enganado. Se Júlio ∨ ∨ ∨ ∨
está enganado, então Luís está enganado. Se Luís estiver enganado, II – Associativa: p (q r) ⇔ (p q) r
então O Filme não está sendo exibido. Ora, ou o filme está sendo p ∨ (q ∨ r) ⇔ (p ∨ q) ∨ r
exibido ou José não irá ao cinema. Logo, concluímos que: José não ∨ ∨ ∨

irá ao cinema. Resposta “E”. III – Distributiva: p (q ∨ r) ⇔ (p q) ∨ (p r)
p ∨ (q r) ⇔ (p ∨ q) ∨ (p ∨ r)

10. Resposta “E”. Vou trabalhar, então, ele não casou comigo.

Ele não casou comigo, então, não me ama. Logo, ele não me ama IV – Morgan: ~(p q) ⇔ ~p ∨ ~q
e não casa comigo. ~(p ∨ q) ⇔ ~p ~q

V – Dupla negação: ~(~p) ⇔ p


4.3 TAUTOLOGIA, CONTRADIÇÃO
E CONTINGÊNCIA
Teorema Contra Recíproco

Toda proposição composta pelo conectivo “Se... então” pode


Tautologia ser reescrita em seu sentido contrário, mas com o uso da negação
nas duas proposições menores, que a compõem.
As proposições que apresentam a tabela verdade somente com
V são chamadas logicamente de verdadeiras ou de tautológicas. p→q equivale a ~q→p
Exemplo: a proposição p ∨ (~p) é uma tautologia, pois o seu valor
lógico é sempre V, conforme a tabela-verdade. Exemplo: “Se um número inteiro é par, então seu quádruplo
é par”, que equivale a: “Se o quádruplo de um número não é par,
p ~p p∨q então o número inteiro não é par”.

V F V Não podemos aplicar valores lógicos para sentenças abertas.


F V V Enquanto as sentenças se apresentam a tabela-verdade com todos os
valores V são chamadas de tautologia, as contradições apresentam,
Exemplo: A proposição (p Λ q) → (p → q) é uma tautologia, em sua tabela verdade, todos os valores com resultados iguais a F.
pois a última coluna da tabela-verdade só possui V.

Didatismo e Conhecimento 15
LÓGICA
QUESTÕES Os valores lógicos que completam a última coluna da tabela,
de cima para baixo, são:
01. Considere-se a conjunção “A vida tem sentido e a (A) V – F – V – V
felicidade é real”. (B) V – F – F – V
(A) Admitindo que a vida não tenha sentido, a conjunção é (C) F – V – F – V
verdadeira ou falsa? Por quê? (D) V – V – V – F
(B) Admitindo que a vida tenha sentido e que não sabemos se (E) F – F – V – V
a felicidade é real, é possível saber se a conjunção é verdadeira ou
falsa? Por quê? 09. Considere a seguinte tabela-verdade:


(C) Admitindo que a vida tenha sentido, a conjunção “A vida
não tem sentido e a felicidade é real” é verdadeira ou falsa? Por p q p q p∨ q
quê? V V V V
02. Por que razão a tabela verdade da negação tem apenas V F F V
duas filas e não quatro? F V F V
03. Considere-se a condicional “Se Deus existe, a vida tem F F F F


sentido”.
Podemos escrever:

(A) Admitindo que Deus não exista, a condicional é verdadeira
ou falsa? Por quê? (A) p∨q é verdade ↔ p q é verdade
(B) p q é verdade ↔ p∨q é verdade

(C) p∨q é verdade ↔ p∨q é verdade

04. Recorrendo as tabelas verdade e a exemplos de
proposições, explique por que razão a bicondicional é comutativa, (D) p∨q é falso ↔ p q é falso
mas a condicional não. (E) p q é falso ↔ p∨q é verdade

05. Considere-se a bicondicional “Deus existe se, e só se, a 10. A negação da sentença “Ana não voltou e foi ao cinema” é:
vida tem sentido”. (A) Ana voltou ou não foi ao cinema.
(A) Admitindo que Deus exista e que a vida não tem sentido, (B) Ana voltou e não foi ao cinema.
a bicondicional é verdadeira ou falsa? Por quê? (C) Ana não voltou ou não foi ao cinema.
(B) Admitindo que Deus não exista e que a vida não tem (D) Ana não voltou e não foi ao cinema.
sentido, a bicondicional é verdadeira ou falsa? Por quê? (E) Ana não voltou e foi ao cinema.
(C) Admitindo que a vida tenha sentido, mas que não sabemos
se Deus existe, é possível saber se a bicondicional é verdadeira ou Respostas
falsa? Por quê?
01.
06. Determine a forma argumentativa do seguinte argumento (A) É falsa porque uma conjunção só pode ser verdadeira se as
e teste a sua validade recorrendo a inspetores de circunstâncias: duas conjuntas que a formam forem verdadeiras. Admitindo que a
Ou o livre-arbítrio é possível ou a nossa vida é uma ilusão. vida não tenha sentido, “A vida tem sentido” é uma conjunta falsa,
O livre-arbítrio é impossível. o que torna a conjunção falsa.
Logo, a nossa vida é uma ilusão. (B) Não é possível porque uma conjunção só é verdadeira
quando as duas conjuntas que a formam são verdadeiras. Se
07. Formule proposições equivalentes às seguintes: admitirmos que a primeira conjunta seja verdadeira, mas não
(A) Se a felicidade é possível, a vida tem sentido. soubermos se a segunda é ou não verdadeira, não é possível saber
(B) Há felicidade e justiça. se a conjunção formada pelas duas é verdadeira ou falsa.
(C) É falsa porque admitindo que a vida tenha sentido, “A
08. Considere a tabela verdade abaixo, na qual as colunas vida não tem sentido” é uma proposição falsa e uma conjunção
representam os valores lógicos para as fórmulas A, B e A∨B. só pode ser verdadeira se as duas conjuntas que a formam forem
Sendo que o símbolo ∨ denota o conector ou, V denota verdadeira verdadeiras.
e F denota falsa.
02. Porque o operador de negação se aplica a uma só
A B A∨B proposição e não as duas; deste modo, só há duas possibilidades a
V V considerar no que respeita à proposição sem o operador.
V F
03. É verdadeira porque se a antecedente for falsa, como é o
F V caso, independente de a consequente ser verdadeira ou falsa, pela
F F lógica clássica, a condicional é verdadeira.

Didatismo e Conhecimento 16
LÓGICA
04. A condicional não é comutativa porque “Se o João está 07.
em Paris, está em França” não tem o mesmo valor de verdade em (A) Condicional: P→Q
todas as circunstâncias que “Se o João está em França, está em Proposição equivalente: ¬P Λ Q: A felicidade não é possível
Paris”: ou a vida tem sentido.
(B) Conjunção: PΛQ.
PQ P→Q Q→P Proposição equivalente: ¬ (¬P v ¬Q): Não é verdade que não
há felicidade ou não há justiça.
VV V V
VF F V ∨
08. Conceitua-se disjunção inclusiva de duas proposições A
FV V F e B a proposição representada por (A B) que só será falsa (F),
quando as duas componentes, ou seja, A e B forem falsas (F).

FF V V
09. Lembrando: Os conectivos mais usados são: “e”( ),
Todavia, a bicondicional é comutativa, porque em todas as “ou”(∨), “se... então”(→) e “se e somente se”(↔). Agora é só
∨ ∨
circunstâncias “Platão era grego se, e só se, nasceu na Grécia” tem interpretar: Alternativa “D” – p ou q serão falsos somente quando
o mesmo valor de verdade que “Platão nasceu na Grécia se, e só p q for falso, pois quando p q for verdadeiro, p e q também serão.
se, era grego”:
10. Resposta “A”.
P Q P↔Q Q↔P Em linguagem simbólica, a frase dada fica:
p: Ana voltou;
VV V V q: Ana foi ao cinema.

VF F F
FV F F Temos, portanto: ~p q .∨
A negação é: ~(~p q). Aplicando-se De Morgan, vem: p ∨
FF V V ~q, que, em linguagem corrente fica: “Ana voltou ou não foi ao
cinema”.
Contudo, dado que uma bicondicional é apenas a conjunção
de duas condicionais, poderá parecer estranho que a bicondicional Contradições
seja comutativa, quando a condicional não o é. Mas isso explica-se
analisando cuidadosamente a seguinte tabela de verdade: Contradição é uma proposição cujo valor lógico é sempre

falso. Exemplo: A proposição (p Λ q) Λ (p Λ q) é uma contradição,
PQ (P→Q) (Q→P) pois o seu valor lógico é sempre F conforme a tabela-verdade. Que
significa que uma proposição não pode ser falsa e verdadeira ao
VV V V V
mesmo tempo, isto é, o principio da não contradição.
VF F F V
FV V F F p ~p p Λ (~p)
FF V V V V F F
F V F
Como se vê, a conjunção das duas condicionais é comutativa
apesar da não comutatividade das condicionais componentes,
Diz-se que há contradição quando se afirma e se nega
porque é irrelevante qual das variáveis, P ou Q, é falsa: desde que
simultaneamente algo sobre a mesma coisa. O princípio da
uma delas o seja, a conjunção é falsa.
contradição informa que duas proposições contraditórias não
podem ser ambas falsas ou ambas verdadeiras ao mesmo tempo.
05.
Existe relação de simetria, não podem ter o mesmo valor de verdade.
(A) É falsa porque a bicondicional só é verdadeira quando as
Dessa forma, ocorre uma contradição quando uma afirmação é
duas proposições que a formam têm o mesmo valor de verdade.
falsa e a outra é verdadeira. Se forem ambas verdadeiras ou falsas,
Neste caso, a primeira é verdadeira e a segunda é falsa.
não existe contradição.
(B) É verdadeira porque neste caso as duas proposições que
Por exemplo, imaginando-se que se tem um conjunto de bolas,
formam a bicondicional têm o mesmo valor de verdade.
a afirmação “Toda Bola é Vermelha” e a afirmação “Alguma Bola
(C) Não é possível porque só temos conhecimento do valor de
não é Vermelha” formam uma contradição, visto que:
verdade de uma das proposições e numa condicional precisamos
- se “Toda Bola é Vermelha” for verdadeira, “Alguma Bola
saber o valor de verdade das duas proposições que a formam para
não é Vermelha” tem que ser falsa;
poder afirmar se ela é verdadeira ou falsa.
- se “Toda Bola é Vermelha” for falsa, “Alguma Bola não é
Vermelha” tem que ser verdadeira;
06.
- se “Alguma Bola não é Vermelha” for verdadeira, “Toda
Interpretação: P: O livre arbítrio é possível.
Bola é Vermelha” tem que ser falsa; e
Q: A nossa vida é uma ilusão.
- se “Alguma Bola não é Vermelha” for falsa, “Toda Bola é
Formalização: P v Q, ¬P ╞ Q
Vermelha” tem que ser verdadeira.

Didatismo e Conhecimento 17
LÓGICA
Por outro lado, a afirmação “Toda Bola é Vermelha” e Contingência: Quando uma proposição não é tautológica
a afirmação “Nenhuma Bola é Vermelha” não formam uma nem contra válida, a chamamos de contingência ou proposição
contradição, visto que: contingente ou proposição indeterminada.
- se “Toda Bola é Vermelha” for verdadeira, “Nenhuma Bola
é Vermelha” tem que ser falsa; mas
- se “Toda Bola é Vermelha” for falsa, “Nenhuma Bola é
4.4 IMPLICAÇÃO LÓGICA
Vermelha” pode tanto ser verdadeira quanto falsa; e
- se “Nenhuma Bola é Vermelha” for verdadeira, “Toda Bola
é Vermelha” tem que ser falsa; mas A proposição p implica a proposição q, quando a condicional p
- se “Nenhuma Bola é Vermelha” for falsa, “Toda Bola é → q for uma tautologia. O símbolo p → q (p implica q) representa
Vermelha” pode tanto ser verdadeira quanto falsa. a implicação lógica.

E, sendo uma negação total (em nível da quantidade e da Diferenciação dos símbolos → e ⇒
qualidade), a contraditória da afirmação “As contraditórias
das grandes verdades são grandes verdades” seria: “Algumas O símbolo → representa uma operação matemática entre as
contraditórias das grandes verdades não são grandes verdades”. proposições p e q que tem como resultado a proposição p → q,
A palavra significa: contra + dicção, ou seja, que diz contra algo, com valor lógico V ou F.
no caso, contra si mesma. Dessa forma, está relacionada dentro O símbolo ⇒ representa a não ocorrência de VF na tabela-
do campo da oratória também, da fala, do discurso. A linguagem, verdade de p → q, ou ainda que o valor lógico da condicional p →
q será sempre V, ou então que p → q é uma tautologia. Exemplo:
como veículo e universo específico, é paralógica ao raciocínio
convencional humano. A tabela-verdade da condicional (p Λ q) → (p ↔ q) será:
O conceito estende-se por áreas onde possivelmente não
encontraria suporte, mas apenas no momento em que entra em
confronto com a avaliação mental humana, já que, conforme p q pΛq p↔q (p Λ q) → (p ↔ q)
a psicanálise lacaniana enuncia, o “inconsciente é estruturado V V V V V
como linguagem” (Lacan) e suas figuras correspondem ao real V F F F V
humano. Por esse motivo, com rigor filosófico, a palavra é frágil
em aplicações matemáticas e físicas, por exemplo. Se um elétron, F V F F V
em sua definição probabilística, pode comportar-se como onda ou F F F V V
partícula, isso poderia ser uma contradição, pois o que é, é, em Portanto, (p Λ q) → (p ↔ q) é uma tautologia, por isso (p Λ
termos do senso comum. Não se podem ser duas coisas distintas q) ⇒ (p ↔q)
ao mesmo tempo. Mas, no universo quântico e astronômico, além
da física newtoniana, as contradições são matematicamente reais Relação lógica entre duas proposições p e q, expressa pela
e viáveis. Então pode-se dizer que: Uma coisa é o que é e não se fórmula lógica se p então q (p→q), em que se p é verdadeira então
confunde com nenhuma outra. q também tem que ser verdadeira, porque a informação contida
em Q está também incluída em p. De igual modo, se q é falsa, p
também deve ser falsa para que haja uma relação de implicação.
Para completar, vamos ver mais dois conceitos ligados à É um tipo de relação apenas centrado nos valores de verdade das
matéria: proposições. Como exemplos, considerem-se as frases seguintes:
I) Tareco é um gato.
Tautologia é uma proposição cujo valor lógico é sempre II) Tareco é um animal.
verdadeiro. Exemplo: A proposição p ∨ (~p) é uma tautologia, III) A tua camisola é azul.
pois o seu valor lógico é sempre V, conforme a tabela-verdade. IV) A tua camisola tem uma cor.

A proposição I implica a proposição II, assim como a


p ~p p ∨ p proposição III implica a proposição IV se ambas as proposições
V F V forem verdadeiras no mundo real ou possível em que se inserem.
Esta relação é assegurada pela relação de hiperonímia/ hiponímia
F V V estabelecida no plano lexical entre os lexemas gato (hipônimo) /
animal (hiperônimo) e azul (hipônimo) / cor (hiperônimo).
Exemplo: A proposição (p Λ q) → (p → q) é uma tautologia, Em semântica, este tipo de relação entre proposições
pois a última coluna da tabela-verdade só possui V. designa-se por implicação estrita, podendo ser definida pela
relação entre uma frase ou um grupo de frases (implicans) e
outra frase (implicatum) cujo sentido está implicado no conteúdo
p q qΛq p↔q (p Λ q) → (p ↔ q)
semântico da(s) outra(s) frase(s). Ou por outras palavras, p implica
V V V V V estritamente q se em todos os mundos em que p é verdadeira, q
V F F F V também é verdadeira. Um exemplo de implicação estrita pode ser
observado no raciocínio silogístico:
F V F F V V) Todos os homens são mortais.
F F F V V VI) Pedro é homem.
VII) Pedro é mortal.

Didatismo e Conhecimento 18
LÓGICA
A conclusão do silogismo (frase VII) é uma proposição Ao dizermos esta frase, na linguagem corrente, estamos a
verdadeira. Sendo as proposições anteriores também verdadeiras, admitir uma relação de causa a efeito entre a crise econômica e
podemos afirmar que V e VI implicam estritamente VII. o aumento dos salários. Do ponto de vista matemático esta frase
A implicação é uma relação entre proposições próxima da é uma implicação: “Estamos em crise econômica implica que
pressuposição. Na linguagem corrente usamos frequentemente os salários sobem abaixo da inflação”. Mas cuidado. Na lógica
frases condicionais, por exemplo, “Se hoje chover, então vou ao matemática não nos preocupamos com qualquer relação de causa
cinema”. Esta frase só é falsa se hoje chover e eu não for ao cinema; e efeito entre o antecedente e o consequente de uma implicação.
se hoje não chover a frase é verdadeira, tal como o é se hoje chover O que há é uma relação entre o valor lógico da implicação e os
e eu for ao cinema. A operação que traduz, em termos de Lógica valores lógicos do antecedente e do consequente. A frase “Estamos
Matemática, a ideia de uma frase condicional é a implicação. Trata- em crise econômica, logo os salários sobem abaixo da inflação” é
se de uma operação lógica de grande importância que é designada verdadeira porque o antecedente (“Estamos em crise econômica”)
por ⇒ . Sendo p e q duas proposições quaisquer, a proposição p ⇒ é verdadeiro e o consequente (“Os salários sobem abaixo da
q (leia-se “p implica q”) é falsa se p for verdadeira e q falsa e é
inflação”) é também verdadeiro.
verdadeira em todos os outros casos; por outras palavras, a tabela
Mas a frase “O Primeiro Ministro é astronauta, logo os
verdade para a implicação é, por definição, a seguinte:
salários sobem abaixo da inflação” também é verdadeira. Isto
porque o antecedente (“O Primeiro Ministro é astronauta”) é falso;
p q p⇒ q agora já é irrelevante o valor lógico do consequente porque, numa
V V V implicação, se o antecedente for falso, a implicação é verdadeira.
V F F Neste caso não há (ou, pelo menos, não parece haver) qualquer
relação de causa e efeito entre o Primeiro Ministro ser astronauta
F V V
e os salários subirem abaixo da inflação. Curiosamente a frase “O
F F V Primeiro Ministro é astronauta, logo os salários sobem acima da
inflação” também é verdadeira porque o Primeiro Ministro não é
Na implicação p ⇒ q chama-se antecedente à proposição p astronauta; o antecedente é falso, logo a implicação é verdadeira.
e consequente à proposição q. Repare-se que uma implicação só Passemos agora a exemplos matemáticos; são falsas as seguintes
é falsa se o antecedente for verdadeiro e o consequente for falso; proposições:
em todos os outros casos a implicação é verdadeira. Também por
vezes escreveremos q ← p (em vez de p ⇒ q) com o significado
2 > 1 ⇒ 2 > 4, 4 = 22 ⇒ √( 4 ) = −2, 3 + 2 = 5 ⇒ 100000 ≠
de “p implica q”.
10 102.
3
A implicação é muito importante na linguagem matemática
porque aparece sistematicamente nos teoremas que constituem
De fato, em cada uma das três implicações anteriores, o
as teorias matemáticas. Um teorema é uma proposição do tipo p
antecedente é verdadeiro e o consequente é falso. Nesta situação a
⇒ q, onde p é uma proposição verdadeira na teoria em questão.
Demonstrar um teorema não é mais do que provar que a proposição implicação é falsa; é, aliás, a única situação em que a implicação
p ⇒ q é verdadeira o que, atendendo a que p é verdadeira, é falsa (antecedente verdadeiro e consequente falso). As seguintes
é equivalente a dizer que q é verdadeira. Num teorema é usual proposições (todas elas implicações) são verdadeiras:
chamar hipótese à proposição p, antecedente da implicação p ⇒ q.
A proposição q, que é o consequente da implicação, designa-se por 2 > 0 ⇒ 2 > 1, 4 = 23 ⇒ √( 4 )= 2, 3 + 2 = 7 ⇒ 1000 ≠ 103.
tese. Um exemplo de um teorema é
Na primeira das implicações anteriores o antecedente é
Seja n um número natural. Então, se n é par, n também é par.
2 verdadeiro e o consequente também, pelo que a implicação
é verdadeira. Nas outras duas o antecedente é falso pelo que,
A hipótese é a proposição “n é par”; a tese é “n2 é par”. A independentemente do valor lógico do consequente, a implicação
demonstração deste teorema pode ser feita da forma que passamos é verdadeira. Construindo as tabelas de valores lógicos necessárias
a expor. Por definição de número par, sabemos que existe um é fácil provar as seguintes propriedades:
natural k tal que n = 2k; consequentemente n2 = (2k)2 = 22k2 =
4k2 = 2(2k2) = 2m, onde designamos por m o natural 2k2. Mas, 1- (p ⇒ q) ⇔ ((~ p) ∨ q)
novamente por definição de número par, e tendo em conta que n2 2- (~ (⇒p ⇒ q)) ⇔ (p ∧ (~ q))
= 2m, vemos que n2 é par. O teorema está demonstrado. Antes 3- ((p ⇒ q) ∧ (q ⇒ p)) ⇔ (p ⇔ q)
de darmos alguns exemplos de proposições onde a implicação 4- (p ⇒ q) ⇔ ((~ q) ⇒ (~ p))
intervém, queremos chamar a atenção para um fato importante. 5- ((p ⇒ q) ∧ (q ⇒ r)) ⇒ (p ⇒ r)
Consideremos a frase:
A título de exemplo demonstraremos a propriedade (5), que
“Estamos em crise econômica, logo os salários sobem abaixo é a transitividade da implicação, recorrendo à seguinte tabela de
da inflação”. verdade:

Didatismo e Conhecimento 19
LÓGICA

p q r p⇒ q q⇒ r (p ⇒ q) ∧ (q ⇒ r) p⇒ r (5)
V V V V V V V V
V V F V F F F V
V F V F V F V V
V F F F V F F V
F V V V V V V V
F V F V F F V V
F F V V V V V V
F F F V V V V V

Verificamos que o valor lógico de (5) é sempre V, independentemente dos valores lógicos de cada uma das proposições p, q e r; isto
significa que (5) é verdadeira. Embora não o façamos aqui, recomendamos vivamente que construa as tabelas verdade que permitem
demonstrar as propriedades (1), (2), (3) e (4).
Atenção à negação de uma implicação. Um erro frequente entre os estudantes é dizer que a negação de p ⇒ q é (~q) ⇒ (~p); falso,
como se depreende de (2). Outro erro frequente é dizer que a negação de p ⇒ q é q ⇒ p; igualmente falso. A negação de p ⇒ q, dada por
(2), é p ∧ (~q).
A proposição q ⇒ p é chamada proposição recíproca de p ⇒ q; a propriedade (3) mostra-nos que, se tanto p ⇒ q como a sua
recíproca forem verdadeiras, então p e q são equivalentes. A proposição (~q) ⇒ (~p) é chamada contra-recíproca de p ⇒ q; por essa razão
a propriedade (4) é conhecida como regra do contra-recíproco, vulgarmente utilizada em certo tipo de demonstrações onde, em vez de
demonstrarmos que p ⇒ q, provamos que (~q) ⇒ (~p). Para exemplificar demonstraremos que, fixado um número natural n, se o quadrado
de n for par, então n também é par. A proposição a demonstrar escreve-se, simbolicamente,

n2 é par ⇒ n é par.

Designando por p a proposição “n2 é par” e por q a proposição “n é par”, queremos mostrar que p ⇒ q (6)

Mas, atendendo a (4), esta última proposição é equivalente a ~q ⇒ ~p (7)

Vamos então demonstrar que n não é par ⇒ n2 não é par. Suponhamos então que o número natural n não é par; então n é ímpar e, por
definição de número ímpar, existe um natural k tal que n = 2k + 1. Consequentemente tem-se

n2 = (2k + 1)2 = 4k2 + 4k + 1 = 2(2k2 + 2k) + 1 = 2m + 1,

Onde designamos por m o número natural 2k2 + 2k. A igualdade anterior mostra-nos que o número natural n2 é ímpar (porque se escreve
na forma 2m + 1) e portanto não é par. Demonstramos assim que a proposição (7) é verdadeira e, como (6) é equivalente a (7), demonstramos
a proposição (6).
Um outro tipo de demonstração também muitas vezes utilizado é o chamado método de demonstração por redução ao absurdo. Neste
caso, para demonstrarmos que p ⇒ q, começamos por supor que a hipótese é verdadeira e que a tese é falsa, ou seja, que a proposição p ∧
(~q) é verdadeira. À custa desta proposição deduzimos uma outra proposição r que sabemos ser falsa na teoria em que estamos. Concluímos
então que a proposição r é simultaneamente verdadeira e falsa, o que é absurdo. Logo p ∧ (~q) é falsa e (porque p é verdadeiro, por ser a
hipótese do teorema) vem que ~q é falsa, ou seja, q é verdadeira.
Exemplificaremos este processo de demonstração tornando a provar (agora por redução ao absurdo) que, fixado um número natural n,
se tem n2 é par ⇒ n é par. Suponhamos, portanto que é verdadeira a proposição

n2 é par ∧ n não é par. (8)

Então existem dois números naturais k e m tais que n2 = 2k ∧ n = 2m + 1.

Tem-se assim n2 = (2m + 1)2 = 4m2 + 4m + 1, pelo que 4m2 + 4m + 1 = 2k.

Mas, na igualdade anterior, o primeiro membro é um número ímpar e o segundo membro é um número par; por outro lado sabemos
que não existe qualquer número natural simultaneamente par e ímpar. Concluímos, portanto que a proposição (8) é falsa, logo n é par.
Terminamos esta seção introduzindo uma notação. Sendo p e q duas proposições quaisquer, escreveremos p ⥼ q (leia-se p não implica q)
para negar que p implica q. Assim, p ⥼ q é, por definição, equivalente a ~(p ⇒ q). Por vezes, em vez de p ⥼ q, escrevemos q ⥼ p. Tem-se
então (p ⥼ q) ⇔ (q ⥼ p) ⇔ (~(p ⇒ q)) ⇔ (p ∧ (~q)).

Didatismo e Conhecimento 20
LÓGICA
Propriedades da implicação lógica: reflexiva e transitiva Podemos observar que {3} {-3, 3}. Portanto, podemos dizer
que a implicação é verdadeira, logo a sentença x – 3 = 0 ⇒ x2 =
São: 9 está correta.
- A condição necessária e suficiente para que uma implicação
p ⇒ q seja verdadeira é que uma condicional p → q seja uma Implicações Notáveis
tautologia;
- Propriedade reflexiva (R): p ⇒ p; Estas implicações são consideradas notáveis (ou clássicas),
- Propriedade transitiva (T): Se p ⇒ q e q ⇒ r, então p ⇒ r. pois são argumentos válidos fundamentais, usados para fazer
“inferências”, isto é, executar os “passos” de uma demonstração
Demonstração de implicação lógica, comparando-se tabelas- ou de uma dedução. Também chamadas de Regras de Inferência.
verdade
Adição
Verificar se p ⇒ q → p
p⇒ pVq
p q p→q q⇒ pVq
V V V
Organizando a tabela-verdade tem-se que:
V F V
F V F p q pVq
F F V V V V

Comparando os valores lógicos da coluna p com os valores V F V


lógicos da coluna q → p, verificamos que não ocorre “VF” em F V V
nenhuma linha, logo p ⇒ q → p é uma relação válida. F F F
Não há “VF”, logo p ⇒ p V q
Demonstração de implicação lógica, substituindo-se a relação
pelo conectivo
p q pVq
Verificar se p ⇒ q → p V V V
V F V
p q p→q p ⇒ q →p F V V
V V V V F F F
V F V V Não há “VF”, logo q ⇒ p V q
F V F V
Conjunção
F F V V
p∧q⇒pep∧q⇒q
Como a coluna de resultado final da tabela-verdade é uma q∧p⇒peq∧p⇒q
Tautologia, então a relação é verdadeira.
Simplificação
Implicação entre Sentenças Abertas p∧q⇒p
p∧q⇒q
Diz-se que uma sentença aberta implica uma outra sentença
Simplificação Disjuntiva
aberta quando o conjunto verdade de uma delas está contido no
conjunto verdade da outra. Exemplo: Julgar a sentença x – 3 = 0 (p V q) ∧ (p V ~q) ⇒ p
⇒ x2 = 9

Resolução: Determinando o conjunto-verdade da primeira Absorção


sentença aberta:
x–3=0
p → q ⇒ p → (p ∧ q)
temos que x = 3
logo, V1 = {3} Regra Modus Ponens

Determinando o conjunto-verdade da segunda sentença (p → q) ∧ p ⇒ q


aberta:
x2 = 9 Regra Modus Tollens
x=±3
logo, V2 = {-3, 3} (p → q) ∧ ~q ⇒ ~p

Didatismo e Conhecimento 21
LÓGICA
Regra do Silogismo Disjuntivo
(p V q) ∧ ~p ⇒ q
(p V q) ∧ ~q ⇒ p
Silogismo Hipotético

(p → q) ∧ (q → r) ⇒ p → r

Dilema Construtivo

((p → q) ∧ (r → s) ∧ (p V r)) ⇒ q V s

Dilema Destrutivo

((p → q) ∧ (r → s) ∧ (~p V ~s) ) ⇒ ~p V ~r


Teorema Contra-Recíproco

A proposição “p(x) ⇒ q(x)” é verdadeira se, e somente se “~q(x) ⇒ ~p(x)” é verdadeira. Assim, afirmar “Se p, então q” é o mesmo
que afirmar “se ~q, então ~p”. Portanto, “p(x) ⇒ q(x)” é equivalente a “~q(x) ⇒ ~p(x)”. Exemplo: A sentença “Se comeu, então matou a
fome” é equivalente a “Se não matou a fome, então não comeu”.

Relação entre Implicações

Implicações Recíprocas: p ⇒ q e q ⇒ p. Duas proposições recíprocas não são logicamente equivalentes, uma pode ser verdadeira sem
que a outra o seja.

Implicações Inversas: p ⇒ q e ~p ⇒ ~q. Duas proposições inversas não são logicamente equivalentes, uma pode ser verdadeira sem
que a outra o seja.

Implicações Contrapositivas: p ⇒ q e ~q ⇒ ~p. Duas proposições contrapositivas são logicamente equivalentes, sempre que uma é
verdadeira, a outra também será.

4.5 EQUIVALÊNCIA LÓGICA -


EQUIVALÊNCIAS NOTÁVEIS

Na lógica, as asserções p e q são ditas logicamente equivalentes ou simplesmente equivalentes, se p ╞ q e q ╞ p. Em termos intuitivos,
duas sentenças são logicamente equivalentes se possuem o mesmo “conteúdo lógico”. Do ponto de vista da teoria da demonstração, p e q são
equivalentes se cada uma delas pode ser derivada a partir da outra. Semanticamente, p e q são equivalentes se elas têm os mesmos valores
para qualquer interpretação. A notação normalmente usada para representar a equivalência lógica entre p e q é p ≡ q, p ⇔ q ou p q.

Exemplo: As seguintes sentenças são logicamente equivalentes:


1- Se hoje é sábado, então hoje é fim de semana.
2- Se hoje não é fim de semana, então hoje não é sábado.

Em símbolos:
d: “Hoje é sábado”. (d → f)
f: “Hoje é fim de semana”. ( f → d)

Sintaticamente, (1) e (2) são equivalentes pela Lei da Contraposição. Semânticamente, (1) e (2) têm os mesmos valores nas mesmas
interpretações.

Há equivalência entre as proposições p e q somente quando a bicondicional p ↔ q for uma tautologia ou quando p e q tiverem a mesma
tabela-verdade.

p ⇔ q (p é equivalente a q) é o símbolo que representa a equivalência lógica.

Didatismo e Conhecimento 22
LÓGICA

Diferenciação dos símbolos ↔ e ⇔

O símbolo ↔ representa uma operação entre as proposições p e q, que tem como resultado uma nova proposição p ↔ q com valor
lógico V ou F.
O símbolo ⇔ representa a não ocorrência de VF e de FV na tabela-verdade p ↔ q, ou ainda que o valor lógico de p ↔ q é sempre
V, ou então p ↔ q é uma tautologia. Exemplo:

A tabela da bicondicional (p → q) ↔ (~q → ~p) será:


p q ~q ~p p→q ~q → ~p (p → q) ↔ (~q → ~p)
V V F F V V V
V F V F F F V
F V F V V V V
F F V V V V V

Portanto, p → q é equivalente a ~q → ~p, pois estas proposições possuem a mesma tabela-verdade ou a bicondicional (p → q) ↔ (~q
→ ~p) é uma tautologia. Veja a representação: (p → q) ⇔ (~q → ~p)
Equivalências Notáveis
Nome Propriedade Dual
Dupla Negação (DN) ~~p ↔ p
Idempotente (IP) pVp↔p p∧p↔p
Comutativa (COM) pVq↔qVp p∧q↔q∧p
Associativa (ASS) p V (q V r) ↔ (p V q) V r p ∧ (q ∧ r) ↔ (p ∧ q) ∧ r
De Morgan (DM) ~(p V q) ↔ ~p ∧ ~q ~(p ∧ q) ↔ ~p V ~q
Distributiva (DIS) p ∧ (q V r) ↔ (p ∧ q) V (p ∧ r) p V (q ∧ r) ↔ (p V q) ∧ (p V r)
Absorção (ABS) p ∧ (p V q) ↔ p p V (p ∧ q) ↔ p
Reescrita da Condicional (COND) p → q ↔ ~p V q
Reescrita da Bicondicional (BI) p ↔ q ↔ (p → q) ∧ (q → p)
Elemento Neutro (EN) pVF↔p p∧V↔p
Elemento Absorvedor (EA) pVV↔V p∧F↔F
Complementares (COMPLE) p V ~p ↔ V p ∧ ~p ↔ F
F = contradição V = tautologia
As proposições p e q são chamadas de logicamente equivalentes (≡) se p ↔ q é uma tautologia. Exemplos:

Mostraremos que (p V q) e p ∧ q são logicamente equivalentes. Uma das leis de De Morgan. Solução:

(p V q) e p ∧ q

p q (p V q) ¬(p V q) ¬p ¬q p∧ q (p V q) ↔ p ∧ q

V V V F F F F V
V F V F F V F V
F V V F V F F V
F F F V V V V V

Mostraremos que (p → q) e p V q são logicamente equivalentes. Solução:

(p → q) e p V q

p q ¬p ¬p V q p→q (p → q) ↔ p V q

V V F V V V
V F F F F V
F V V V V V
F F V V V V

Didatismo e Conhecimento 23
LÓGICA
QUESTÕES (D) p ∧ q → r ⇔ p → (q → r)
p∧q→r⇔
01. Demonstre as relações abaixo utilizando as equivalências ~(p ∧ q) ∨ r ⇔ (reescrita da condicional)
~p ∨ ~q ∨ r ⇔ (De Morgan)
notáveis:
~p ∨ (~q ∨ r) ⇔ (associativa)
(A) p → q ∧ r ⇔ (p → q) ∧ (p → r)
~p ∨ (q → r) ⇔ (reescrita da condicional)
(B) p → q ∨ r ⇔ (p → q) ∨ (p → r) p → (q → r) (reescrita da condicional)
(C) p ∧ (r ∨ s ∨ t) ⇔ (p ∧ r) ∨ (p ∧ s) ∨ (p ∧ t)
(D) p ∧ q → r ⇔ p → (q → r) (E) ~(~p → ~q) ⇔ ~p ∧ q
~(~p → ~q) ⇔ ~p ∧ q
(E) ~(~p → ~q) ⇔
~(~~p ∨ ~q) ⇔ (reescrita da condicional)
02. Demonstre, utilizando as equivalências notáveis, que as ~(p ∨ ~q) ⇔ (dupla negação)
relações de implicação são válidas: ~p ∧ ~~q ⇔ (De Morgan)
~p ∧ q (dupla negação)
(A) Exemplo: Regra da simplificação: p ∧ q ⇒ q
Para provarmos uma relação de implicação temos que
02.
demonstrar que a condicional p ∧ q → q é tautológica, ou seja, (B) Regra da adição: p ⇒ p ∨ q
que a condicional p ∧ q → q ⇔ V p → p ∨ q ⇔ V (devemos demonstrar que a relação de
Desenvolvendo o lado esquerdo da equivalência, tem-se: implicação equivale a uma tautologia)
p ∧ q → q ≡ (aplicando-se a equiv. de reescrita da condicio- ~p ∨ (p ∨ q) ⇔ (condicional)
nal) ~p ∨ p ∨ q ⇔ (associativa)
~(p ∧ q) ∨ q ≡ (aplicando-se a Lei de Morgan) V ∨ q ⇔ (complementares ~p ∨ p )
~p ∨ ~q ∨ q ≡ (aplicando-se lei complementar, ~q ∨ q é uma V (identidade)
tautologia)
(C) Regra do Silogismo Disjuntivo: (p ∨ q) ∧ ~q ⇒ p
~p ∨ V ≡ (pela lei da identidade ~p ∨ V é um tautologia) (p ∨ q) ∧ ~q → p ⇔ V (devemos demonstrar que a relação
V Portanto, está provado que p ∧ q ⇒ q é uma tautologia de implicação equivale a uma tautologia)
(p ∧ ~q) ∨ (q ∧ ~q) → p ⇔ (distributiva)
(B) Regra da adição: p ⇒ p ∨ q (p ∧ ~q) ∨ F → p ⇔ (complementares)
(C) Regra do Silogismo Disjuntivo: (p ∨ q) ∧ ~q ⇒ p (p ∧ ~q) → p ⇔ (identidade)
(D) Regra de Modus Ponens: (p → q) ∧ p ⇒ q ~(p ∧ ~q) ∨ p ⇔ (condicional)
(E) Regra de Modus Tollens: (p → q) ∧ ~q ⇒ ~p ~p ∨ ~q ∨ p ⇔ (De Morgan)
(~p ∨ p) ∨ ~q ⇔ (associativa)
03. Usando as regras de equivalência, mostre a seguinte
V ∨ ~q ⇔ (complementares)
V (identidade)
tautologia: (p → q) → r ⇔ r ∨ (p ∧ ~q)
(D) Regra de Modus Ponens: (p → q) ∧ p ⇒ q
Respostas (p → q) ∧ p → q ⇔ V (devemos demonstrar que a relação
de implicação equivale a uma tautologia)
01. (~p ∨ q) ∧ q → q ⇔ (condicional)
(A) p → q ∧ r ⇔ (p → q) ∧ (p → r) (q ∧ ~p) ∨ (q ∧ q) → q ⇔ (distributiva)
p→q∧r⇔ (q ∧ ~p) ∨ q → q ⇔ (idempotente)
~p ∨ (q ∧ r) ⇔ (reescrita da condicional) ~((q ∧ ~p) ∨ q) ∨ q ⇔ (condicional)
(~(q ∧ ~p) ∧ ~q) ∨ q ⇔ (De Morgan)
(~p ∨ q) ∧ (~p ∨ r) ⇔ (distributiva)
((~q ∨ p) ∧ ~q) ∨ q ⇔ (De Morgan)
(p → q) ∧ (p → r) (reescrita da condicional) (~q ∧ ~q) ∨ (~q ∧ p) ∨ q ⇔ (distributiva)
~q ∨ (~q ∧ p) ∨ q ⇔ (idempotente)
(B) p → q ∨ r ⇔ (p → q) ∨ (p → r) (~q ∨ q) ∨ (~q ∧ p) ⇔ (associativa)
p→q∨r⇔ V ∨ (~q ∧ p) ⇔ (complementares)
~p ∨ (q ∨ r) ⇔ (reescrita da condicional) V (identidade)
~p ∨ q ∨ r ⇔ (associativa)
~p ∨ ~p ∨ q ∨ r ⇔ (idempotente, adicionei um ~p, (E) Regra de Modus Tollens: (p → q) ∧ ~q ⇒ ~p
pois ~p ∨ ~p ⇔ ~p) (p → q) ∧ ~q → ~p ⇔ V (devemos demonstrar que a
relação de implicação equivale a uma tautologia)
(~p ∨ q) ∨ (~p ∨ r) ⇔ (associativa)
(~p ∨ q) ∧ ~q → ~p ⇔ (De Morgan)
(p → q) ∨ (p → r) (reescrita da condicional) (~q ∧ ~p) ∨ (~q ∧ q) → ~p ⇔ (Distributiva)
(~q ∧ ~p) ∨ F → ~p ⇔ (Complementares)
(C) p ∧ (r ∨ s ∨ t) ⇔ (p ∧ r) ∨ (p ∧ s) ∨ (p ∧ t) (~q ∧ ~p) → ~p ⇔ (Identidade)
p ∧ (r ∨ s ∨ t) ⇔ ~(~q ∧ ~p) ∨ ~p ⇔ (condicional)
p ∧ (r ∨ (s ∨ t)) ⇔ (associativa em s ∨ t ) ~~q ∨ ~~p ∨ ~p ⇔ (De Morgan)
(p ∧ r) ∨ (p ∧ (s ∨ t)) ⇔ (distributiva) q ∨ p ∨ ~p ⇔ (Dupla Negação)
(p ∧ r) ∨ (p ∧ s) ∨ (p ∧ t) (distributiva) q ∨ V ⇔ (complementares)
V

Didatismo e Conhecimento 24
LÓGICA
03. Mostraremos que (p → q) → r ⇔ r ∨ (p ∧ ~q) é Exemplos:
uma tautologia, de fato:
01.
Se eu passar no concurso, então irei trabalhar.
Ordem Proposição Passei no concurso
1 (p → q) → r ⇔ ________________________
∴ Irei trabalhar
2 ⇔(~p ∨ q) → r ⇔
3 ⇔~(~p ∨ q) ∨ r ⇔
02.
4 ⇔ r ∨ ~(~p ∨ q)
Se ele me ama então casa comigo.
5 r ∨ (p ∧ ~q) Ele me ama.
__________________________
∴ Ele casa comigo.

4.6 SENTENÇAS ABERTAS E


QUANTIFICADORES 03.
Todos os brasileiros são humanos.
Todos os paulistas são brasileiros.
__________________________
∴ Todos os paulistas são humanos.
Esse conteúdo foi abordado anteriormente no tópico 4.1
Conceito de Proposição - Proposições Simples e Compostas -
04.
Conectivos Lógicos.
Se o Palmeiras ganhar o jogo, todos os jogadores receberão
o bicho.
Se o Palmeiras não ganhar o jogo, todos os jogadores
4.7 NEGAÇÃO DE PROPOSIÇÕES
receberão o bicho.
QUANTIFICADAS
__________________________
∴ Todos os jogadores receberão o bicho.

Observação: No caso geral representamos os argumentos


Esse conteúdo foi abordado anteriormente no tópico 4.2 escrevendo as premissas e separando por uma barra horizontal
Negação de uma Proposição Simples. seguida da conclusão com três pontos antes. Veja exemplo:

Premissa: Todos os sais de sódio são substâncias solúveis


em água.
4.8 ARGUMENTOS Todos os sabões são sais de sódio.
____________________________________
Conclusão: ∴ Todos os sabões são substâncias solúveis
em água.
Um argumento é “uma série concatenada de afirmações com
o fim de estabelecer uma proposição definida”. É um conjunto de Os argumentos, em lógica, possuem dois componentes
proposições com uma estrutura lógica de maneira tal que algumas básicos: suas premissas e sua conclusão. Por exemplo, em: “Todos
delas acarretam ou tem como consequência outra proposição. Isto os times brasileiros são bons e estão entre os melhores times do
é, o conjunto de proposições p1,...,pn que tem como consequência mundo. O Brasiliense é um time brasileiro. Logo, o Brasiliense
outra proposição q. Chamaremos as proposições p1,p2,p3,...,pn está entre os melhores times do mundo”, temos um argumento com
de premissas do argumento, e a proposição q de conclusão do duas premissas e a conclusão.
argumento. Podemos representar por: Evidentemente, pode-se construir um argumento válido a
partir de premissas verdadeiras, chegando a uma conclusão também
p1 verdadeira. Mas também é possível construir argumentos válidos a
p2 partir de premissas falsas, chegando a conclusões falsas. O detalhe
p3 é que podemos partir de premissas falsas, proceder por meio de
. uma inferência válida e chegar a uma conclusão verdadeira. Por
. exemplo:
.
pn Premissa: Todos os peixes vivem no oceano.
∴ q Premissa: Lontras são peixes.
Conclusão: Logo, focas vivem no oceano.

Didatismo e Conhecimento 25
LÓGICA
Há, no entanto, uma coisa que não pode ser feita: a partir de Conclusão: Finalmente se chegará a uma proposição que
premissas verdadeiras, inferirem de modo correto e chegar a uma consiste na conclusão, ou seja, no que se está tentando provar.
conclusão falsa. Podemos resumir esses resultados numa tabela Ela é o resultado final do processo de inferência e só pode ser
de regras de implicação. O símbolo A denota implicação; A é a classificada como conclusão no contexto de um argumento em
premissa, B é a conclusão. particular. A conclusão respalda-se nas premissas e é inferida a
partir delas.
Regras de Implicação
Premissas Conclusão Inferência A seguir está exemplificado um argumento válido, mas que
A B AàB pode ou não ser “consistente”.
1. Premissa: Todo evento tem uma causa.
Falsas Falsa Verdadeira
2. Premissa: O universo teve um começo.
Falsas Verdadeira Verdadeira 3. Premissa: Começar envolve um evento.
Verdadeiras Falsa Falsa 4. Inferência: Isso implica que o começo do universo envolveu
Verdadeiras Verdadeira Verdadeira um evento.
5. Inferência: Logo, o começo do universo teve uma causa.
- Se as premissas são falsas e a inferência é válida, a conclusão 6. Conclusão: O universo teve uma causa.
pode ser verdadeira ou falsa (linhas 1 e 2).
- Se as premissas são verdadeiras e a conclusão é falsa, a A proposição do item 4 foi inferida dos itens 2 e 3. O item 1,
inferência é inválida (linha 3). então, é usado em conjunto com proposição 4 para inferir uma
- Se as premissas e a inferência são válidas, a conclusão é nova proposição (item 5). O resultado dessa inferência é reafirmado
verdadeira (linha 4). (numa forma levemente simplificada) como sendo a conclusão.
Desse modo, o fato de um argumento ser válido não significa
Validade de um Argumento
necessariamente que sua conclusão seja verdadeira, pois pode ter
partido de premissas falsas. Um argumento válido que foi derivado
de premissas verdadeiras é chamado de argumento consistente. Conforme citamos anteriormente, uma proposição é verdadeira
Esses, obrigatoriamente, chegam a conclusões verdadeiras. ou falsa. No caso de um argumento diremos que ele é válido ou não
válido. A validade de uma propriedade dos argumentos dedutivos
Premissas: Argumentos dedutíveis sempre requerem certo que depende da forma (estrutura) lógica das suas proposições
número de “assunções-base”. São as chamadas premissas. É a (premissas e conclusões) e não do conteúdo delas. Sendo assim
partir delas que os argumentos são construídos ou, dizendo de outro podemos ter as seguintes combinações para os argumentos válidos
modo, é as razões para se aceitar o argumento. Entretanto, algo que dedutivos:
é uma premissa no contexto de um argumento em particular pode
ser a conclusão de outro, por exemplo. As premissas do argumento
a) Premissas verdadeiras e conclusão verdadeira. Exemplo:
sempre devem ser explicitadas. A omissão das premissas é
comumente encarada como algo suspeito, e provavelmente
reduzirá as chances de aceitação do argumento. Todos os apartamentos são pequenos. (V)
A apresentação das premissas de um argumento geralmente Todos os apartamentos são residências. (V)
é precedida pelas palavras “admitindo que...”, “já que...”, __________________________________
“obviamente se...” e “porque...”. É imprescindível que seu oponente ∴ Algumas residências são pequenas. (V)

concorde com suas premissas antes de proceder à argumentação.


Usar a palavra “obviamente” pode gerar desconfiança. Ela b) Algumas ou todas as premissas falsas e uma conclusão
ocasionalmente faz algumas pessoas aceitarem afirmações falsas verdadeira. Exemplo:
em vez de admitir que não entenda por que algo é “óbvio”. Não
se deve hesitar em questionar afirmações supostamente “óbvias”. Todos os peixes têm asas. (F)
Todos os pássaros são peixes. (F)
Inferência: Uma vez que haja concordância sobre as
premissas, o argumento procede passo a passo por meio do __________________________________
∴ Todos os pássaros têm asas. (V)
processo chamado “inferência”. Na inferência, parte-se de uma ou
mais proposições aceitas (premissas) para chegar a outras novas.
Se a inferência for válida, a nova proposição também deverá ser c) Algumas ou todas as premissas falsas e uma conclusão
aceita. Posteriormente, essa proposição poderá ser empregada em falsa. Exemplo:
novas inferências. Assim, inicialmente, apenas se pode inferir algo
a partir das premissas do argumento; ao longo da argumentação, Todos os peixes têm asas. (F)
entretanto, o número de afirmações que podem ser utilizadas Todos os cães são peixes. (F)
aumenta. Há vários tipos de inferência válidos, mas também alguns __________________________________
inválidos. O processo de inferência é comumente identificado ∴ Todos os cães têm asas. (F)
pelas frases “Consequentemente...” ou “isso implica que...”.

Didatismo e Conhecimento 26
LÓGICA
Todos os argumentos acima são válidos, pois se suas premissas Argumentos Dedutivos Válidos
fossem verdadeiras então as conclusões também as seriam.
Podemos dizer que um argumento é válido quando todas as suas Vimos então que a noção de argumentos válidos ou não
premissas são verdadeiras, acarreta que sua conclusão também é válidos aplica-se apenas aos argumentos dedutivos, e também
verdadeira. Portanto, um argumento será não válido se existir a que a validade depende apenas da forma do argumento e não dos
possibilidade de suas premissas serem verdadeiras e sua conclusão respectivos valores verdades das premissas. Vimos também que
falsa. Observe que a validade do argumento depende apenas da não podemos ter um argumento válido com premissas verdadeiras
estrutura dos enunciados. Exemplo: e conclusão falsa. A seguir exemplificaremos alguns argumentos
dedutivos válidos importantes.
Todas as mulheres são bonitas.
Todas as princesas são mulheres. Afirmação do Antecedente: O primeiro argumento dedutivo
__________________________ válido que discutiremos chama-se “afirmação do antecedente”,
∴ Todas as princesas são bonitas. também conhecido como modus ponens. Exemplo:

Observe que não precisamos de nenhum conhecimento Se José for reprovado no concurso, então será demitido do
aprofundado sobre o assunto para concluir que o argumento é serviço.
válido. Vamos substituir mulheres bonitas e princesas por A, B e C José foi aprovado no concurso.
respectivamente e teremos: ___________________________
∴ José será demitido do serviço.

Todos os A são B.
Todos os C são A. Este argumento é evidentemente válido e sua forma pode ser
________________ escrita da seguinte forma:
∴ Todos os C são B.

Se p, então q, p→q
Logo, o que é importante é a forma do argumento e não o p. ou p
conhecimento de A, B e C, isto é, este argumento é válido para ∴ q. ∴q
quaisquer A, B e C, portanto, a validade é consequência da forma
do argumento. O atributo validade aplica-se apenas aos argumentos
dedutivos. Outro argumento dedutivo válido é a “negação do
consequente” (também conhecido como modus tollens). Obs.:
Argumentos Dedutivos e Indutivos ( ) ( )
p → q é equivalente a ¬q → ¬p . Esta equivalência é
chamada de contra positiva. Exemplo:
O argumento será dedutivo quando suas premissas fornecerem
prova conclusiva da veracidade da conclusão, isto é, o argumento “Se ele me ama, então casa comigo” é equivalente a “Se ele
é dedutivo quando a conclusão é completamente derivada das não casa comigo, então ele não me ama”;
premissas. Exemplo:
Então vejamos o exemplo do modus tollens. Exemplo:
Todo ser humano tem mãe.
Todos os homens são humanos. Se aumentarmos os meios de pagamentos, então haverá
__________________________ inflação.
∴ Todos os homens têm mãe. Não há inflação.
______________________________
O argumento será indutivo quando suas premissas não ∴ Não aumentamos os meios de pagamentos.
fornecerem o apoio completo para retificar as conclusões.
Exemplo: Este argumento é evidentemente válido e sua forma pode ser
escrita da seguinte maneira:
O Flamengo é um bom time de futebol.
O Palmeiras é um bom time de futebol. Se p, então q, p→q
O Vasco é um bom time de futebol.
O Cruzeiro é um bom time de futebol. Não q. ou ¬q
______________________________ ∴ Não p. ∴ ¬p
∴ Todos os times brasileiros de futebol são bons.

Portanto, nos argumentos indutivos a conclusão possui


informações que ultrapassam as fornecidas nas premissas. Sendo Existe também um tipo de argumento válido conhecido pelo
assim, não se aplica, então, a definição de argumentos válidos ou nome de dilena. Geralmente este argumento ocorre quando alguém
não válidos para argumentos indutivos. é forçado a escolher entre duas alternativas indesejáveis. Exemplo:

Didatismo e Conhecimento 27
LÓGICA
João se inscreve no concurso de MS, porém não gostaria de Este argumento é uma falácia, podemos ter as premissas
sair de São Paulo, e seus colegas de trabalho estão torcendo por verdadeiras e a conclusão falsa.
ele. Eis o dilema de João:
Outra falácia que corre com frequência é a conhecida por
Ou João passa ou não passa no concurso. “falácia da negação do antecedente”. Exemplo:
Se João passar no concurso vai ter que ir embora de São Paulo.
Se João não passar no concurso ficará com vergonha diante Se João parar de fumar ele engordará.
dos colegas de trabalho. João não parou de fumar.
_________________________ ________________________
∴ João não engordará.
∴ Ou João vai embora de São Paulo ou João ficará com

vergonha dos colegas de trabalho.


Observe que temos a forma:
Este argumento é evidentemente válido e sua forma pode ser
escrita da seguinte maneira: Se p, então q, p→q

Não p. ou ¬p
p ou q. p∨ q
∴ Não q. ∴ ¬q
Se p então r p→ r
ou
q→s
Se p então s. Este argumento é uma falácia, pois podemos ter as premissas
∴r ∨ s
∴ r ou s verdadeiras e a conclusão falsa.

Os argumentos dedutivos não válidos podem combinar


verdade ou falsidade das premissas de qualquer maneira com a
Argumentos Dedutivos Não Válidos verdade ou falsidade da conclusão. Assim, podemos ter, por
exemplo, argumentos não válidos com premissas e conclusões
Existe certa quantidade de artimanhas que devem ser evitadas verdadeiras, porém, as premissas não sustentam a conclusão.
quando se está construindo um argumento dedutivo. Elas são Exemplo:
conhecidas como falácias. Na linguagem do dia a dia, nós
denominamos muitas crenças equivocadas como falácias, mas, na Todos os mamíferos são mortais. (V)
lógica, o termo possui significado mais específico: falácia é uma Todos os gatos são mortais. (V)
falha técnica que torna o argumento inconsistente ou inválido ___________________________
(além da consistência do argumento, também se podem criticar as ∴ Todos os gatos são mamíferos. (V)

intenções por detrás da argumentação).


Argumentos contentores de falácias são denominados Este argumento tem a forma:
falaciosos. Frequentemente, parecem válidos e convincentes,
às vezes, apenas uma análise pormenorizada é capaz de revelar Todos os A são B.
a falha lógica. Com as premissas verdadeiras e a conclusão falsa Todos os C são B.
nunca teremos um argumento válido, então este argumento é não _____________________
∴ Todos os C são A.
válido, chamaremos os argumentos não válidos de falácias. A
seguir, examinaremos algumas falácias conhecidas que ocorrem
Podemos facilmente mostrar que esse argumento é não válido,
com muita frequência. O primeiro caso de argumento dedutivo não
pois as premissas não sustentam a conclusão, e veremos então que
válido que veremos é o que chamamos de “falácia da afirmação do
podemos ter as premissas verdadeiras e a conclusão falsa, nesta
consequente”. Exemplo:
forma, bastando substituir A por mamífero, B por mortais e C por
cobra.
Se ele me ama então ele casa comigo.
Ele casa comigo. Todos os mamíferos são mortais. (V)
_______________________ Todas as cobras são mortais. (V)
∴ Ele me ama.
__________________________
∴ Todas as cobras são mamíferas. (F)
Podemos escrever esse argumento como:
Podemos usar as tabelas-verdade, definidas nas estruturas
Se p, então q, p→ q lógicas, para demonstrarmos se um argumento é válido ou falso.
Outra maneira de verificar se um dado argumento P1, P2, P3,
q ou q ...Pn é válido ou não, por meio das tabelas-verdade, é construir
∴p ∴p a condicional associada: (P1 ∧ P2 ∧ P3 ...Pn) e reconhecer se
essa condicional é ou não uma tautologia. Se essa condicional
associada é tautologia, o argumento é válido. Não sendo tautologia,
o argumento dado é um sofisma (ou uma falácia).

Didatismo e Conhecimento 28
LÓGICA
Tautologia: Quando uma proposição composta é 03. Ou Lógica é fácil, ou Artur não gosta de Lógica. Por outro
sempre verdadeira, então teremos uma tautologia. Ex: lado, se Geografia não é difícil, então Lógica é difícil. Daí segue-se
P (p,q) = ( p ∧ q) ↔ (p V q) . Numa tautologia, que, se Artur gosta de Lógica, então:
o valor lógico da proposição composta P (p,q,s) = a) Se Geografia é difícil, então Lógica é difícil.
{(p ∧ q) V (p V s) V [p ∧ (q ∧ s)]} → p será sempre verdadeiro. b) Lógica é fácil e Geografia é difícil.
c) Lógica é fácil e Geografia é fácil.
Há argumentos válidos com conclusões falsas, da mesma
d) Lógica é difícil e Geografia é difícil.
forma que há argumentos não válidos com conclusões verdadeiras.
e) Lógica é difícil ou Geografia é fácil.
Logo, a verdade ou falsidade de sua conclusão não determinam a
validade ou não validade de um argumento. O reconhecimento de
argumentos é mais difícil que o das premissas ou da conclusão. 04. Três suspeitos de haver roubado o colar da rainha foram
Muitas pessoas abarrotam textos de asserções sem sequer levados à presença de um velho e sábio professor de Lógica. Um
produzirem algo que possa ser chamado de argumento. Às vezes, dos suspeitos estava de camisa azul, outro de camisa branca e o
os argumentos não seguem os padrões descritos acima. Por outro de camisa preta. Sabe-se que um e apenas um dos suspeitos é
exemplo, alguém pode dizer quais são suas conclusões e depois culpado e que o culpado às vezes fala a verdade e às vezes mente.
justificá-las. Isso é válido, mas pode ser um pouco confuso. Sabe-se, também, que dos outros dois (isto é, dos suspeitos que
Para complicar, algumas afirmações parecem argumentos, são inocentes), um sempre diz a verdade e o outro sempre mente.
mas não são. Por exemplo: “Se a Bíblia é verdadeira, Jesus foi O velho e sábio professor perguntou, a cada um dos suspeitos,
ou um louco, ou um mentiroso, ou o Filho de Deus”. Isso não qual entre eles era o culpado. Disse o de camisa azul: “Eu sou o
é um argumento, é uma afirmação condicional. Não explicita as culpado”. Disse o de camisa branca, apontando para o de camisa
premissas necessárias para embasar as conclusões, sem mencionar azul: “Sim, ele é o culpado”. Disse, por fim, o de camisa preta:
que possui outras falhas.
“Eu roubei o colar da rainha; o culpado sou eu”. O velho e sábio
Um argumento não equivale a uma explicação. Suponha
que, tentando provar que Albert Einstein cria em Deus, alguém professor de Lógica, então, sorriu e concluiu corretamente que:
dissesse: “Einstein afirmou que ‘Deus não joga dados’ porque a) O culpado é o de camisa azul e o de camisa preta sempre
acreditava em Deus”. Isso pode parecer um argumento relevante, mente.
mas não é. Trata-se de uma explicação da afirmação de Einstein. b) O culpado é o de camisa branca e o de camisa preta sempre
Para perceber isso, deve-se lembrar que uma afirmação da forma mente.
“X porque Y” pode ser reescrita na forma “Y logo X”. O que c) O culpado é o de camisa preta e o de camisa azul sempre
resultaria em: “Einstein acreditava em Deus, por isso afirmou que mente.
‘Deus não joga dados’”. Agora fica claro que a afirmação, que d) O culpado é o de camisa preta e o de camisa azul sempre
parecia um argumento, está admitindo a conclusão que deveria diz a verdade.
estar provando. Ademais, Einstein não cria num Deus pessoal e) O culpado é o de camisa azul e o de camisa azul sempre
preocupado com assuntos humanos. diz a verdade.
QUESTÕES
05. O rei ir à caça é condição necessária para o duque sair
01. Se Iara não fala italiano, então Ana fala alemão. Se Iara fala do castelo, e é condição suficiente para a duquesa ir ao jardim.
italiano, então ou Ching fala chinês ou Débora fala dinamarquês. Por outro lado, o conde encontrar a princesa é condição necessária
Se Débora fala dinamarquês, Elton fala espanhol. Mas Elton fala e suficiente para o barão sorrir e é condição necessária para a
espanhol se e somente se não for verdade que Francisco não fala duquesa ir ao jardim. O barão não sorriu. Logo:
francês. Ora, Francisco não fala francês e Ching não fala chinês. a) A duquesa foi ao jardim ou o conde encontrou a princesa.
Logo, b) Se o duque não saiu do castelo, então o conde encontrou a
a) Iara não fala italiano e Débora não fala dinamarquês. princesa.
b) Ching não fala chinês e Débora fala dinamarquês. c) O rei não foi à caça e o conde não encontrou a princesa.
c) Francisco não fala francês e Elton fala espanhol. d) O rei foi à caça e a duquesa não foi ao jardim.
d) Ana não fala alemão ou Iara fala italiano. e) O duque saiu do castelo e o rei não foi à caça.
e) Ana fala alemão e Débora fala dinamarquês.
06. (FUNIVERSA - 2012 - PC-DF - Perito Criminal) Parte
02. Sabe-se que todo o número inteiro n maior do que 1
superior do formulário
admite pelo menos um divisor (ou fator) primo.Se n é primo, então
Cinco amigos encontraram-se em um bar e, depois de algumas
tem somente dois divisores, a saber, 1 e n. Se n é uma potência
de um primo p, ou seja, é da forma ps, então 1, p, p2, ..., ps são os horas de muita conversa, dividiram igualmente a conta, a qual
divisores positivos de n. Segue-se daí que a soma dos números fora de, exatos, R$ 200,00, já com a gorjeta incluída. Como se
inteiros positivos menores do que 100, que têm exatamente três encontravam ligeiramente alterados pelo álcool ingerido, ocorreu
divisores positivos, é igual a: uma dificuldade no fechamento da conta. Depois que todos
a) 25 julgaram ter contribuído com sua parte na despesa, o total colocado
b) 87 sobre a mesa era de R$ 160,00, apenas, formados por uma nota de
c) 112 R$ 100,00, uma de R$ 20,00 e quatro de R$ 10,00. Seguiram-se,
d) 121 então, as seguintes declarações, todas verdadeiras:
e) 169

Didatismo e Conhecimento 29
LÓGICA
Antônio: — Basílio pagou. Eu vi quando ele pagou. (A) é terça, ou quinta ou sexta-feira, ou Jane não fez o almoço.
Danton: — Carlos também pagou, mas do Basílio não sei (B) Pedro não teve aula de natação e não é segunda-feira.
dizer. (C) Carlos levou Pedro até a escolinha para Jane fazer o
Eduardo: — Só sei que alguém pagou com quatro notas de almoço.
R$ 10,00.
(D) não é segunda, nem quarta, mas Pedro teve aula de apenas
Basílio: — Aquela nota de R$ 100,00 ali foi o Antônio quem
colocou, eu vi quando ele pegou seus R$ 60,00 de troco. uma das modalidades esportivas.
Carlos: — Sim, e nos R$ 60,00 que ele retirou, estava a nota (E) não é segunda, Pedro não teve aulas, e Jane não fez o
de R$ 50,00 que o Eduardo colocou na mesa. almoço.

Imediatamente após essas falas, o garçom, que ouvira 10. (VUNESP - 2011 - TJM-SP) Parte superior do formulário
atentamente o que fora dito e conhecia todos do grupo, dirigiu-se Se afino as cordas, então o instrumento soa bem. Se o
exatamente àquele que ainda não havia contribuído para a despesa instrumento soa bem, então toco muito bem. Ou não toco muito
e disse: — O senhor pretende usar seu cartão e ficar com o troco bem ou sonho acordado. Afirmo ser verdadeira a frase: não sonho
em espécie? Com base nas informações do texto, o garçom fez a
acordado. Dessa forma, conclui-se que
pergunta a
(A) Antônio. (A) sonho dormindo.
(B) Basílio. (B) o instrumento afinado não soa bem.
(C) Carlos. (C) as cordas não foram afinadas.
(D) Danton. (D) mesmo afinado o instrumento não soa bem.
(E) Eduardo. (E) toco bem acordado e dormindo.

07. (ESAF - 2012 - Auditor Fiscal da Receita Federal) Parte Respostas


superior do formulário
Caso ou compro uma bicicleta. Viajo ou não caso. Vou morar
01.
em Passárgada ou não compro uma bicicleta. Ora, não vou morar
em Passárgada. Assim, (P1) Se Iara não fala italiano, então Ana fala alemão.
(A) não viajo e caso. (P2) Se Iara fala italiano, então ou Ching fala chinês ou
(B) viajo e caso. Débora fala dinamarquês.
(C) não vou morar em Passárgada e não viajo. (P3) Se Débora fala dinamarquês, Elton fala espanhol.
(D) compro uma bicicleta e não viajo. (P4) Mas Elton fala espanhol se e somente se não for verdade
(E) compro uma bicicleta e viajo. que Francisco não fala francês.
(P5) Ora, Francisco não fala francês e Ching não fala chinês.
08. (FCC - 2012 - TST - Técnico Judiciário) Parte superior do
formulário
Ao todo são cinco premissas, formadas pelos mais diversos
A declaração abaixo foi feita pelo gerente de recursos humanos
da empresa X durante uma feira de recrutamento em uma faculdade: conectivos (Se então, Ou, Se e somente se, E). Mas o que importa
“Todo funcionário de nossa empresa possui plano de saúde e para resolver este tipo de argumento lógico é que ele só será válido
ganha mais de R$ 3.000,00 por mês”. Mais tarde, consultando quando todas as premissas forem verdadeiras, a conclusão também
seus arquivos, o diretor percebeu que havia se enganado em sua for verdadeira. Uma boa dica é sempre começar pela premissa
declaração. Dessa forma, conclui-se que, necessariamente, formada com o conectivo e.
(A) dentre todos os funcionários da empresa X, há um grupo
que não possui plano de saúde. Na premissa 5 tem-se: Francisco não fala francês e Ching não
(B) o funcionário com o maior salário da empresa X ganha, no fala chinês. Logo para esta proposição composta pelo conectivo
máximo, R$ 3.000,00 por mês.
e ser verdadeira as premissas simples que a compõe deverão ser
(C) um funcionário da empresa X não tem plano de saúde ou
ganha até R$ 3.000,00 por mês. verdadeiras, ou seja, sabemos que:
(D) nenhum funcionário da empresa X tem plano de saúde ou
todos ganham até R$ 3.000,00 por mês. Francisco não fala francês
(E) alguns funcionários da empresa X não têm plano de saúde Ching não fala chinês
e ganham, no máximo, R$ 3.000,00 por mês.
Na premissa 4 temos: Elton fala espanhol se e somente se não
09. (CESGRANRIO - 2012 - Chesf - Analista de Sistemas) for verdade que Francisco não fala francês. Temos uma proposição
Parte superior do formulário composta formada pelo se e somente se, neste caso, esta premissa
Se hoje for uma segunda ou uma quarta-feira, Pedro terá
será verdadeira se as proposições que a formarem forem de mesmo
aula de futebol ou natação. Quando Pedro tem aula de futebol ou
natação, Jane o leva até a escolinha esportiva. Ao levar Pedro até valor lógico, ou ambas verdadeiras ou ambas falsas, ou seja, como
a escolinha, Jane deixa de fazer o almoço e, se Jane não faz o se deseja que não seja verdade que Francisco não fala francês e ele
almoço, Carlos não almoça em casa. Considerando-se a sequência fala, isto já é falso e o antecedente do se e somente se também terá
de implicações lógicas acima apresentadas textualmente, se Carlos que ser falso, ou seja: Elton não fala espanhol.
almoçou em casa hoje, então hoje

Didatismo e Conhecimento 30
LÓGICA
Da premissa 3 tem-se: Se Débora fala dinamarquês, Elton 03. Resposta “B”.
fala espanhol. Uma premissa composta formada por outras duas O Argumento é uma sequência finita de proposições lógicas
simples conectadas pelo se então (veja que a vírgula subentende iniciais (Premissas) e uma proposição final (conclusão). A validade
que existe o então), pois é, a regra do se então é que ele só vai ser de um argumento independe se a premissa é verdadeira ou falsa,
falso se o seu antecedente for verdadeiro e o seu consequente for observe a seguir:
falso, da premissa 4 sabemos que Elton não fala espanhol, logo,
para que a premissa seja verdadeira só poderemos aceitar um valor Todo cavalo tem 4 patas (P1)
lógico possível para o antecedente, ou seja, ele deverá ser falso, Todo animal de 4 patas tem asas (P2)
pois F Î F = V, logo: Débora não fala dinamarquês. Logo: Todo cavalo tem asas (C)

Da premissa 2 temos: Se Iara fala italiano, então ou Ching fala Observe que se tem um argumento com duas premissas,
chinês ou Débora fala dinamarquês. Vamos analisar o consequente P1 (verdadeira) e P2 (falsa) e uma conclusão C. Veja que este
do se então, observe: ou Ching fala chinês ou Débora fala argumento é válido, pois se as premissas se verificarem a conclusão
dinamarquês. (temos um ou exclusivo, cuja regra é, o ou exclusivo, também se verifica: (P1) Todo cavalo tem 4 patas. Indica que se
só vai ser falso se ambas forem verdadeiras, ou ambas falsas), no é cavalo então tem 4 patas, ou seja, posso afirmar que o conjunto
caso como Ching não fala chinês e Débora não fala dinamarquês, dos cavalos é um subconjunto do conjunto de animais de 4 patas.
temos: F ou exclusivo F = F. Se o consequente deu falso, então
o antecedente também deverá ser falso para que a premissa seja
verdadeira, logo: Iara não fala italiano.

Da premissa 1 tem-se: Se Iara não fala italiano, então Ana


fala alemão. Ora ocorreu o antecedente, vamos reparar no (P2) Todo animal de 4 patas tem asas. Indica que se tem 4 patas
consequente... Só será verdadeiro quando V Î V = V pois se o então o animal tem asas, ou seja, posso afirmar que o conjunto dos
primeiro ocorrer e o segundo não teremos o Falso na premissa que animais de 4 patas é um subconjunto do conjunto de animais que
é indesejado, desse modo: Ana fala alemão.
tem asas.
Observe que ao analisar todas as premissas, e tornarmos todas
verdadeiras obtivemos as seguintes afirmações:

Francisco não fala francês


Ching não fala chinês
(C) Todo cavalo tem asas. Indica que se é cavalo então tem
Elton não fala espanhol
Débora não fala dinamarquês asas, ou seja, posso afirmar que o conjunto de cavalos é um
Iara não fala italiano subconjunto do conjunto de animais que tem asas.
Ana fala alemão.

A única conclusão verdadeira quando todas as premissas


foram verdadeiras é a da alternativa (A), resposta do problema.

02. Resposta “B”. Observe que ao unir as premissas, a conclusão sempre se


O número que não é primo é denominado número composto. verifica. Toda vez que fizermos as premissas serem verdadeiras,
O número 4 é um número composto. Todo número composto pode a conclusão também for verdadeira, estaremos diante de um
ser escrito como uma combinação de números primos, veja: 70 é argumento válido. Observe:
um número composto formado pela combinação: 2 x 5 x 7, onde 2,
5 e 7 são números primos. O problema informou que um número
primo tem com certeza 3 divisores quando puder ser escrito da
forma: 1 p p2, onde p é um número primo.

Observe os seguintes números:


1 2 22 (4) Desse modo, o conjunto de cavalos é subconjunto do conjunto
1 3 3² (9) dos animais de 4 patas e este por sua vez é subconjunto dos
1 5 5² (25) animais que tem asas. Dessa forma, a conclusão se verifica, ou
1 7 7² (49) seja, todo cavalo tem asas. Agora na questão temos duas premissas
1 11 11² (121) e a conclusão é uma das alternativas, logo temos um argumento.
O que se pergunta é qual das conclusões possíveis sempre será
Veja que 4 têm apenas três divisores (1, 2 e ele mesmo) e o verdadeira dadas as premissas sendo verdadeiras, ou seja, qual a
mesmo ocorre com os demais números 9, 25, 49 e 121 (mas este conclusão que torna o argumento válido. Vejamos:
último já é maior que 100) portanto a soma dos números inteiros Ou Lógica é fácil, ou Artur não gosta de Lógica (P1)
positivos menores do que 100, que têm exatamente três divisores Se Geografia não é difícil, então Lógica é difícil. (P2)
positivos é dada por: 4 + 9 + 25 + 49 = 87. Artur gosta de Lógica (P3)

Didatismo e Conhecimento 31
LÓGICA
Observe que deveremos fazer as três premissas serem c) Lógica é fácil e Geografia é fácil. (V ^ F = F)
verdadeiras, inicie sua análise pela premissa mais fácil, ou seja, d) Lógica é difícil e Geografia é difícil. (F ^ V = F)
aquela que já vai lhe informar algo que deseja, observe a premissa e) Lógica é difícil ou Geografia é fácil. (F v F = F) a regra
três, veja que para ela ser verdadeira, Artur gosta de Lógica. Com do “ou” é que só é falso quando as proposições que o formarem
esta informação vamos até a premissa um, onde temos a presença forem falsas.
do “ou exclusivo” um ou especial que não aceita ao mesmo tempo
que as duas premissas sejam verdadeiras ou falsas. Observe a 04. Alternativa “A”.
tabela verdade do “ou exclusivo” abaixo: Com os dados fazemos a tabela:

p q pVq Camisa azul Camisa Branca Camisa Preta


V V F “sim, ele (de “Eu roubei o colar
V F V “eu sou culpado” camisa azul) é o da rainha; o culpado
culpado” sou eu”
F V V
F F F Sabe-se que um e apenas um dos suspeitos é culpado e que o
Sendo as proposições: culpado às vezes fala a verdade e às vezes mente. Sabe-se, também,
p: Lógica é fácil que dos outros dois (isto é, dos suspeitos que são inocentes), um
q: Artur não gosta de Lógica sempre diz a verdade e o outro sempre mente.
p v q = Ou Lógica é fácil, ou Artur não gosta de Lógica (P1)
I) Primeira hipótese: Se o inocente que fala verdade é o de
Observe que só nos interessa os resultados que possam tornar camisa azul, não teríamos resposta, pois o de azul fala que é
a premissa verdadeira, ou seja, as linhas 2 e 3 da tabela verdade. culpado e então estaria mentindo.
Mas já sabemos que Artur gosta de Lógica, ou seja, a premissa
q é falsa, só nos restando a linha 2, quer dizer que para P1 ser II) Segunda hipótese: Se o inocente que fala a verdade é o de
verdadeira, p também será verdadeira, ou seja, Lógica é fácil. camisa preta, também não teríamos resposta, observem: Se ele fala
Sabendo que Lógica é fácil, vamos para a P2, temos um se então. a verdade e declara que roubou ele é o culpado e não inocente.

Se Geografia não é difícil, então Lógica é difícil. Do se então III) Terceira hipótese: Se o inocente que fala a verdade é o
já sabemos que: de camisa branca achamos a resposta, observem: Ele é inocente
Geografia não é difícil - é o antecedente do se então. e afirma que o de camisa branca é culpado, ele é o inocente que
Lógica é difícil - é o consequente do se então. sempre fala a verdade. O de camisa branca é o culpado que ora fala
a verdade e ora mente (no problema ele está dizendo a verdade).
Chamando: O de camisa preta é inocente e afirma que roubou, logo ele é o
r: Geografia é difícil inocente que está sempre mentindo.
~r: Geografia não é difícil (ou Geografia é fácil)
p: Lógica é fácil O resultado obtido pelo sábio aluno deverá ser: O culpado é o
(não p) ~p: Lógica é difícil de camisa azul e o de camisa preta sempre mente (Alternativa A).

~r → ~p (lê-se se não r então não p) sempre que se verificar 05. Resposta “C”.
o se então tem-se também que a negação do consequente gera a Uma questão de lógica argumentativa, que trata do uso do
negação do antecedente, ou seja: ~(~p) → ~(~r), ou seja, p → r ou conectivo “se então” também representado por “→”. Vamos a um
Se Lógica é fácil então Geografia é difícil. exemplo:
Se o duque sair do castelo então o rei foi à caça. Aqui estamos
De todo o encadeamento lógico (dada as premissas tratando de uma proposição composta (Se o duque sair do castelo
verdadeiras) sabemos que: então o rei foi à caça) formada por duas proposições simples (duque
Artur gosta de Lógica sair do castelo) (rei ir à caça), ligadas pela presença do conectivo
Lógica é fácil (→) “se então”. O conectivo “se então” liga duas proposições
Geografia é difícil simples da seguinte forma: Se p então q, ou seja:
→ p será uma proposição simples que por estar antes do então
Vamos agora analisar as alternativas, em qual delas a é também conhecida como antecedente.
conclusão é verdadeira: → q será uma proposição simples que por estar depois do
a) Se Geografia é difícil, então Lógica é difícil. (V → F = F) a então é também conhecida como consequente.
regra do “se então” é só ser falso se o antecedente for verdadeiro e → Se p então q também pode ser lido como p implica em q.
o consequente for falso, nas demais possibilidades ele será sempre → p é conhecida como condição suficiente para que q ocorra,
verdadeiro. ou seja, basta que p ocorra para q ocorrer.
b) Lógica é fácil e Geografia é difícil. (V ^ V = V) a regra do → q é conhecida como condição necessária para que p ocorra,
“e” é que só será verdadeiro se as proposições que o formarem ou seja, se q não ocorrer então p também não irá ocorrer.
forem verdadeiras.

Didatismo e Conhecimento 32
LÓGICA
Vamos às informações do problema: Eduardo: - Só sei que alguém pagou com quatro notas de R$
1) O rei ir à caça é condição necessária para o duque sair do 10,00. Restam A, D, e E.
castelo. Chamando A (proposição rei ir à caça) e B (proposição Basílio: - Aquela nota de R$ 100,00 ali foi o Antônio. Restam
duque sair do castelo) podemos escrever que se B então A ou B → D, e E.
A. Lembre-se de que ser condição necessária é ser consequente no Carlos: - Sim, e nos R$ 60,00 que ele retirou, estava a nota
“se então”. de R$ 50,00 que o Eduardo colocou. Resta somente D (Dalton) a
2) O rei ir à caça é condição suficiente para a duquesa ir ao pagar.
jardim. Chamando A (proposição rei ir à caça) e C (proposição
duquesa ir ao jardim) podemos escrever que se A então C ou A → 07. Resposta “B”.
C. Lembre-se de que ser condição suficiente é ser antecedente no 1°: separar a informação que a questão forneceu: “não vou
“se então”. morar em passárgada”.
3) O conde encontrar a princesa é condição necessária e 2°: lembrando-se que a regra do ou diz que: para ser verdadeiro
suficiente para o barão sorrir. Chamando D (proposição conde
tem de haver pelo menos uma proposição verdadeira.
encontrar a princesa) e E (proposição barão sorrir) podemos
3°: destacando-se as informações seguintes:
escrever que D se e somente se E ou D ↔ E (conhecemos este
- caso ou compro uma bicicleta.
conectivo como um bicondicional, um conectivo onde tanto o
- viajo ou não caso.
antecedente quanto o consequente são condição necessária e
suficiente ao mesmo tempo), onde poderíamos também escrever E - vou morar em passárgada ou não compro uma bicicleta.
se e somente se D ou E → D.
4) O conde encontrar a princesa é condição necessária para a Logo:
duquesa ir ao jardim. Chamando D (proposição conde encontrar a - vou morar em pasárgada (F)
princesa) e C (proposição duquesa ir ao jardim) podemos escrever - não compro uma bicicleta (V)
que se C então D ou C → D. Lembre-se de que ser condição - caso (V)
necessária é ser consequente no “se então”. - compro uma bicicleta (F)
A única informação claramente dada é que o barão não sorriu, - viajo (V)
ora chamamos de E (proposição barão sorriu). Logo barão não - não caso (F)
sorriu = ~E (lê-se não E).
Dado que ~E se verifica e D ↔ E, ao negar a condição Conclusão: viajo, caso, não compro uma bicicleta.
necessária nego a condição suficiente: esse modo ~E → ~D (então
o conde não encontrou a princesa). Outra forma:
Se ~D se verifica e C → D, ao negar a condição necessária
nego a condição suficiente: ~D → ~C (a duquesa não foi ao jardim). c = casar
Se ~C se verifica e A → C, ao negar a condição necessária b = comprar bicicleta
nego a condição suficiente: ~C → ~A (então o rei não foi à caça). v = viajar
Se ~A se verifica e B → A, ao negar a condição necessária p = morar em Passárgada
nego a condição suficiente: ~A → ~B (então o duque não saiu do
castelo). Temos as verdades:
c ou b
Observe entre as alternativas, que a única que afirma uma v ou ~c
proposição logicamente correta é a alternativa C, pois realmente p ou ~b
deduziu-se que o rei não foi à caça e o conde não encontrou a
princesa.
Transformando em implicações:
~c → b = ~b → c
06. Resposta “D”.
~v → ~c = c → v
Como todas as informações dadas são verdadeiras, então
~p → ~b
podemos concluir que:
1 - Basílio pagou;
2 - Carlos pagou; Assim:
3 - Antônio pagou, justamente, com os R$ 100,00 e pegou ~p → ~b
os R$ 60,00 de troco que, segundo Carlos, estavam os R$ 50,00 ~b → c
pagos por Eduardo, então... c→v
4 - Eduardo pagou com a nota de R$ 50,00.
Por transitividade:
O único que escapa das afirmações é o Danton. ~p → c
~p → v
Outra forma: 5 amigos: A,B,C,D, e E.
Não morar em passárgada implica casar. Não morar em
Antônio: - Basílio pagou. Restam A, D, C e E. passárgada implica viajar.
Danton: - Carlos também pagou. Restam A, D, e E.

Didatismo e Conhecimento 33
LÓGICA
08. Resposta “C”. Sendo Je = Jane leva Pedro para a escolinha e ~Je = a negação,
ou seja Jane não leva Pedro a escolinha. Ainda temos que ~Ja =
A declaração dizia: Jane deixa de fazer o almoço e C = Carlos almoça em Casa e ~C =
“Todo funcionário de nossa empresa possui plano de saúde e Carlos não almoça em casa, temos:
ganha mais de R$ 3.000,00 por mês”. Porém, o diretor percebeu
que havia se enganado, portanto, basta que um funcionário não PF V PN → Je
tenha plano de saúde ou ganhe até R$ 3.000,00 para invalidar,
Je → ~Ja
negar a declaração, tornando-a desse modo FALSA. Logo,
~Ja → ~C
necessariamente, um funcionário da empresa X não tem plano de
saúde ou ganha até R$ 3.000,00 por mês.
Em questões de raciocínio lógico devemos admitir que todas
Proposição composta no conectivo “e” - “Todo funcionário de as proposições compostas são verdadeiras. Ora, o enunciado diz
nossa empresa possui plano de saúde e ganha mais de R$ 3.000,00 que Carlos almoçou em casa, logo a proposição ~C é Falsa.
por mês”. Logo: basta que uma das proposições seja falsa para a
declaração ser falsa. ~Ja → ~C

1ª Proposição: Todo funcionário de nossa empresa possui Para a proposição composta ~Ja → ~C ser verdadeira, então
plano de saúde. ~Ja também é falsa.
2ª Proposição: ganha mais de R$ 3.000,00 por mês. ~Ja → ~C

Lembre-se que no enunciado não fala onde foi o erro da Na proposição acima desta temos que Je → ~Ja, contudo
declaração do gerente, ou seja, pode ser na primeira proposição e
já sabemos que ~Ja é falsa. Pela mesma regra do conectivo Se,
não na segunda ou na segunda e não na primeira ou nas duas que
... então, temos que admitir que Je também é falsa para que a
o resultado será falso.
proposição composta seja verdadeira.
Na alternativa C a banca fez a negação da primeira proposição
e fez a da segunda e as ligaram no conectivo “ou”, pois no Na proposição acima temos que PF V PN → Je, tratando PF
conectivo “ou” tanto faz a primeira ser verdadeira ou a segunda V PN como uma proposição individual e sabendo que Je é falsa,
ser verdadeira, desde que haja uma verdadeira para o resultado ser para esta proposição composta ser verdadeira PF V PN tem que
verdadeiro. ser falsa.
Atenção: A alternativa “E” está igualzinha, só muda o Ora, na primeira proposição composta da questão, temos
conectivo que é o “e”, que obrigaria que o erro da declaração fosse que S V Q → PF V PN e pela mesma regra já citada, para esta
nas duas. ser verdadeira S V Q tem que ser falsa. Bem, agora analisando
individualmente S V Q como falsa, esta só pode ser falsa se as duas
A questão pede a negação da afirmação: Todo funcionário premissas simples forem falsas. E da mesma maneira tratamos PF
de nossa empresa possui plano de saúde “e” ganha mais de R$ V PN.
3.000,00 por mês.
Essa fica assim ~(p ^ q).
Representação lógica de todas as proposições:
A negação dela ~pv~q
S V Q → PF V PN
~(p^q) ↔ ~pv~q (negação todas “e” vira “ou”)
(f) (f) (f) (f)
A 1ª proposição tem um Todo que é quantificador universal, F F
para negá-lo utilizamos um quantificador existencial. Pode ser:
um, existe um, pelo menos, existem... PF V PN → Je
No caso da questão ficou assim: Um funcionário da empresa F F
não possui plano de saúde “ou” ganha até R$ 3.000,00 por mês. A
negação de ganha mais de 3.000,00 por mês, é ganha até 3.000,00. Je → ~Ja
F F
09. Resposta “B”.
~Ja → ~C
Sendo: F F
Segunda = S e Quarta = Q,
Pedro tem aula de Natação = PN e
Conclusão: Carlos almoçou em casa hoje, Jane fez o almoço
Pedro tem aula de Futebol = PF.
e não levou Pedro à escolinha esportiva, Pedro não teve aula de
V = conectivo ou e → = conectivo Se, ... então, temos: futebol nem de natação e também não é segunda nem quarta. Agora
S V Q → PF V PN é só marcar a questão cuja alternativa se encaixa nesse esquema.

Didatismo e Conhecimento 34
LÓGICA
10. Resposta “C”.

Dê nome: 4.9 PRINCÍPIO FUNDAMENTAL


A = AFINO as cordas; DA CONTAGEM
I = INSTRUMENTO soa bem; 4.10 PERMUTAÇÕES
T = TOCO bem; 4.11 ARRANJOS
S = SONHO acordado. 4.12 COMBINAÇÕES
Montando as proposições:
1° - A → I
2° - I → T
3° - ~T V S (ou exclusivo) Análise combinatória é uma parte da matemática que estuda,
ou melhor, calcula o número de possibilidades, e estuda os métodos
Como S = FALSO; ~T = VERDADEIRO, pois um dos termos de contagem que existem em acertar algum número em jogos de
deve ser verdadeiro (equivale ao nosso “ou isso ou aquilo, escolha azar. Esse tipo de cálculo nasceu no século XVI, pelo matemático
UM”).
italiano Niccollo Fontana (1500-1557), chamado também de
~T = V
T=F Tartaglia. Depois, apareceram os franceses Pierre de Fermat (1601-
I→T 1665) e Blaise Pascal (1623-1662). A análise desenvolve métodos
(F) que permitem contar, indiretamente, o número de elementos de um
conjunto. Por exemplo, se quiser saber quantos números de quatro
Em muitos casos, é um macete que funciona nos exercícios algarismos são formados com os algarismos 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7 e 9, é
“lotados de condicionais”, sendo assim o F passa para trás. preciso aplicar as propriedades da análise combinatória. Veja quais
Assim: I = F propriedades existem:
Novamente: A → I
(F)
- Princípio fundamental da contagem
O FALSO passa para trás. Com isso, A = FALSO. ~A = - Fatorial
Verdadeiro = As cordas não foram afinadas. - Arranjos simples
- Permutação simples
Outra forma: partimos da premissa afirmativa ou de conclusão; - Combinação
última frase: - Permutação com elementos repetidos
Não sonho acordado será VERDADE
Admita todas as frases como VERDADE Princípio fundamental da contagem: é o mesmo que a Regra
Ficando assim de baixo para cima do Produto, um princípio combinatório que indica quantas vezes
e as diferentes formas que um acontecimento pode ocorrer. O
Ou não toco muito bem (V) ou sonho acordado (F) = V
Se o instrumento soa bem (F) então toco muito bem (F) = V acontecimento é formado por dois estágios caracterizados como
Se afino as cordas (F), então o instrumento soa bem (F) = V sucessivos e independentes:

A dica é trabalhar com as exceções: na condicional só dá • O primeiro estágio pode ocorrer de m modos distintos.
falso quando a primeira V e a segunda F. Na disjunção exclusiva • O segundo estágio pode ocorrer de n modos distintos.
(ou... ou) as divergentes se atraem o que dá verdade. Extraindo as
conclusões temos que: Desse modo, podemos dizer que o número de formas diferente
Não toco muito bem, não sonho acordado como verdade. que pode ocorrer em um acontecimento é igual ao produto m . n
Se afino as corda deu falso, então não afino as cordas.
Se o instrumento soa bem deu falso, então o instrumento não
soa bem. Exemplo: Alice decidiu comprar um carro novo, e inicialmente
ela quer se decidir qual o modelo e a cor do seu novo veículo. Na
Joga nas alternativas: concessionária onde Alice foi há 3 tipos de modelos que são do
(A) sonho dormindo (você não tem garantia de que sonha interesse dela: Siena, Fox e Astra, sendo que para cada carro há
dormindo, só temos como verdade que não sonho acordado, pode 5 opções de cores: preto, vinho, azul, vermelho e prata. Qual é o
ser que você nem sonhe). número total de opções que Alice poderá fazer?
(B) o instrumento afinado não soa bem deu que: Não afino as
cordas. Resolução: Segundo o Principio Fundamental da Contagem,
(C) Verdadeira: as cordas não foram afinadas.
Alice tem 3×5 opções para fazer, ou seja,ela poderá optar por 15
(D) mesmo afinado (Falso deu que não afino as cordas) o
instrumento não soa bem. carros diferentes. Vamos representar as 15 opções na árvore de
(E) toco bem acordado e dormindo, absurdo. Deu não toco possibilidades:
muito bem e não sonho acordado.

Didatismo e Conhecimento 35
LÓGICA
2. Quando se diferir tanto pela natureza quanto pela ordem
de seus elementos, os problemas de contagem serão agrupados e
considerados distintos.
ac ≠ ca, neste caso os agrupamentos são denominados arranjos.

Pode ocorrer: O conjunto A é formado por algarismos e o


problema é contar os números por eles determinados.

Fatorial: Na matemática, o fatorial de um número natural n,


representado por n!, é o produto de todos os inteiros positivos
menores ou iguais a n. A notação n! foi introduzida por Christian
Kramp em 1808. A função fatorial é normalmente definida por:

Por exemplo, 5! = 1 . 2 . 3 . 4 . 5 = 120

Note que esta definição implica em particular que 0! = 1,


porque o produto vazio, isto é, o produto de nenhum número é 1.
Deve-se prestar atenção neste valor, pois este faz com que a função
Generalizações: Um acontecimento é formado por k estágios recursiva (n + 1)! = n! . (n + 1) funcione para n = 0.
sucessivos e independentes, com n1, n2, n3, … , nk possibilidades para Os fatoriais são importantes em análise combinatória. Por
cada. O total de maneiras distintas de ocorrer este acontecimento exemplo, existem n! caminhos diferentes de arranjar n objetos
é n1, n2, n3, … , nk distintos numa sequência. (Os arranjos são chamados permutações)
E o número de opções que podem ser escolhidos é dado pelo
Técnicas de contagem: Na Técnica de contagem não importa
coeficiente binomial.
a ordem.

Considere A = {a; b; c; d; …; j} um conjunto formado por 10


elementos diferentes, e os agrupamentos ab, ac e ca”.

ab e ac são agrupamentos sempre distintos, pois se diferenciam


pela natureza de um dos elemento. Arranjos simples: são agrupamentos sem repetições em que
ac e ca são agrupamentos que podem ser considerados um grupo se torna diferente do outro pela ordem ou pela natureza
distintos ou não distintos pois se diferenciam somente pela ordem dos elementos componentes. Seja A um conjunto com n elementos
dos elementos. e k um natural menor ou igual a n. Os arranjos simples k a k dos
n elementos de A, são os agrupamentos, de k elementos distintos
Quando os elementos de um determinado conjunto A forem cada, que diferem entre si ou pela natureza ou pela ordem de seus
algarismos, A = {0, 1, 2, 3, …, 9}, e com estes algarismos elementos.
pretendemos obter números, neste caso, os agrupamentos de 13
e 31 são considerados distintos, pois indicam números diferentes. Cálculos do número de arranjos simples:
Quando os elementos de um determinado conjunto A Na formação de todos os arranjos simples dos n elementos de
forem pontos, A = {A1, A2, A3, A4, A5…, A9}, e com estes
A, tomados k a k:
pontos pretendemos obter retas, neste caso os agrupamentos
são iguais, pois indicam a mesma reta.
n → possibilidades na escolha do 1º elemento.
Conclusão: Os agrupamentos... n - 1 → possibilidades na escolha do 2º elemento, pois um
deles já foi usado.
1. Em alguns problemas de contagem, quando os agrupamentos n - 2 → possibilidades na escolha do 3º elemento, pois dois
se diferirem pela natureza de pelo menos um de seus elementos, os deles já foi usado.
agrupamentos serão considerados distintos. .
ac = ca, neste caso os agrupamentos são denominados .
combinações. .
n - (k - 1) → possibilidades na escolha do kº elemento, pois
Pode ocorrer: O conjunto A é formado por pontos e o problema l-1 deles já foi usado.
é saber quantas retas esses pontos determinam.

Didatismo e Conhecimento 36
LÓGICA
No Princípio Fundamental da Contagem (An, k), o número total Se trocarmos os 3 elementos das 4 combinações obtemos
de arranjos simples dos n elementos de A (tomados k a k), temos: todos os arranjos 3 a 3:

An,k = n (n - 1) . (n - 2) . ... . (n – k + 1) abc abd acd bcd


(é o produto de k fatores)
acb adb adc bdc
Multiplicando e dividindo por (n – k)! bac bad cad cbd
bca bda cda cdb
cab dab dac dbc
cba dba dca dcb
(4 combinações) x (6 permutações) = 24 arranjos

Note que n (n – 1) . (n – 2). ... .(n – k + 1) . (n – k)! = n! Logo: C4,3 . P3 = A4,3

Podemos também escrever Cálculo do número de combinações simples: O número total


de combinações simples dos n elementos de A representados por C
Permutações: Considere A como um conjunto com n n,k
, tomados k a k, analogicamente ao exemplo apresentado, temos:
elementos. Os arranjos simples n a n dos elementos de A, são a) Trocando os k elementos de uma combinação k a k, obtemos
denominados permutações simples de n elementos. De acordo com Pk arranjos distintos.
b) Trocando os k elementos das Cn,k . Pk arranjos distintos.
a definição, as permutações têm os mesmos elementos. São os n
elementos de A. As duas permutações diferem entre si somente Portanto: Cn,k . Pk = An,k ou
pela ordem de seus elementos.
A
Cálculo do número de permutação simples: C n,k = n,k
Pk
O número total de permutações simples de n elementos Lembrando que:
indicado por Pn, e fazendo k = n na fórmula An,k = n (n – 1) (n – 2)
. … . (n – k + 1), temos:

Pn = An,n= n (n – 1) (n – 2) . … . (n – n + 1) = (n – 1) (n – 2)
. … .1 = n! Também pode ser escrito assim:

Portanto: Pn = n!

Combinações Simples: são agrupamentos formados com


os elementos de um conjunto que se diferenciam somente pela Arranjos Completos: Arranjos completos de n elementos, de k
a k são os arranjos de k elementos não necessariamente distintos.
natureza de seus elementos. Considere A como um conjunto com
Em vista disso, quando vamos calcular os arranjos completos,
n elementos k um natural menor ou igual a n. Os agrupamentos deve-se levar em consideração os arranjos com elementos distintos
de k elementos distintos cada um, que diferem entre si apenas (arranjos simples) e os elementos repetidos. O total de arranjos
pela natureza de seus elementos são denominados combinações completos de n elementos, de k a k, é indicado simbolicamente por
simples k a k, dos n elementos de A. A*n,k dado por: A*n,k = nk
Exemplo: Considere A = {a, b, c, d} um conjunto com Permutações com elementos repetidos
elementos distintos. Com os elementos de A podemos formar 4
combinações de três elementos cada uma: abc – abd – acd – bcd Considerando:

Se trocarmos ps 3 elementos de uma delas: α elementos iguais a a,


β elementos iguais a b,
Exemplo: abc, obteremos P3 = 6 arranjos disdintos. γ elementos iguais a c, …,
λ elementos iguais a l,
abc abd acd bcd Totalizando em α + β + γ + … λ = n elementos.
acb
Simbolicamente representado por Pnα, β, γ, …, λ o número
bac de permutações distintas que é possível formarmos com os n
bca elementos:
cab
cba

Didatismo e Conhecimento 37
LÓGICA
Combinações Completas: Combinações completas de 06. (MACKENZIE) – Numa empresa existem 10 diretores,
n elementos, de k a k, são combinações de k elementos não dos quais 6 estão sob suspeita de corrupção. Para que se analisem
necessariamente distintos. Em vista disso, quando vamos calcular as suspeitas, será formada uma comissão especial com 5 diretores,
as combinações completas devemos levar em consideração as na qual os suspeitos não sejam maioria. O número de possíveis
combinações com elementos distintos (combinações simples) e comissões é:
as combinações com elementos repetidos. O total de combinações (A) 66
completas de n elementos, de k a k, indicado por C*n,k (B) 72
(C) 90
(D) 120
(E) 124

QUESTÕES 07. (ESPCEX) – A equipe de professores de uma escola


possui um banco de questões de matemática composto de 5
01. Quantos números de três algarismos distintos podem ser questões sobre parábolas, 4 sobre circunferências e 4 sobre retas.
formados com os algarismos 1, 2, 3, 4, 5, 7 e 8? De quantas maneiras distintas a equipe pode montar uma prova
com 8 questões, sendo 3 de parábolas, 2 de circunferências e 3 de
02. Organiza-se um campeonato de futebol com 14 clubes, retas?
sendo a disputa feita em dois turnos, para que cada clube enfrente (A) 80
o outro no seu campo e no campo deste. O número total de jogos (B) 96
a serem realizados é: (C) 240
(A)182 (D) 640
(B) 91 (E) 1.280
(C)169
(D)196 08. Numa clínica hospitalar, as cirurgias são sempre assistidas
(E)160 por 3 dos seus 5 enfermeiros, sendo que, para uma eventualidade
qualquer, dois particulares enfermeiros, por serem os mais
03. Deseja-se criar uma senha para os usuários de um sistema, experientes, nunca são escalados para trabalharem juntos. Sabendo-
começando por três letras escolhidas entre as cinco A, B, C, D e se que em todos os grupos participa um dos dois enfermeiros mais
E, seguidas de quatro algarismos escolhidos entre 0, 2, 4, 6 e 8. Se experientes, quantos grupos distintos de 3 enfermeiros podem ser
entre as letras puder haver repetição, mas se os algarismos forem formados?
todos distintos, o número total de senhas possíveis é: (A) 06
(A) 78.125 (B) 10
(B) 7.200 (C) 12
(C) 15.000 (D) 15
(D) 6.420 (E) 20
(E) 50
09. Seis pessoas serão distribuídas em duas equipes para
04. (UFTM) – João pediu que Cláudia fizesse cartões com concorrer a uma gincana. O número de maneiras diferentes de
todas as permutações da palavra AVIAÇÃO. Cláudia executou formar duas equipes é
a tarefa considerando as letras A e à como diferentes, contudo, (A) 10
João queria que elas fossem consideradas como mesma letra. A (B) 15
diferença entre o número de cartões feitos por Cláudia e o número (C) 20
de cartões esperados por João é igual a (D) 25
(A) 720 (E) 30
(B) 1.680
(C) 2.420 10. Considere os números de quatro algarismos do sistema
(D) 3.360 decimal de numeração. Calcule:
(E) 4.320 a) quantos são no total;
b) quantos não possuem o algarismo 2;
05. (UNIFESP) – As permutações das letras da palavra PROVA c) em quantos deles o algarismo 2 aparece ao menos uma vez;
foram listadas em ordem alfabética, como se fossem palavras de d) quantos têm os algarismos distintos;
cinco letras em um dicionário. A 73ª palavra nessa lista é e) quantos têm pelo menos dois algarismos iguais.
(A) PROVA.
(B) VAPOR. Resoluções
(C) RAPOV.
(D) ROVAP. 01.
(E) RAOPV.

Didatismo e Conhecimento 38
LÓGICA
02. O número total de jogos a serem realizados é A14,2 = 14 . III) O número de possibilidades para se escolher 1 entre os 2
13 = 182. mais experientes é

03.

Algarismos IV) O número de possibilidades para se escolher 2 entre 3


restantes é

Letras

As três letras poderão ser escolhidas de 5 . 5 . 5 =125 maneiras. V) Assim, o número total de grupos que podem ser formados
Os quatro algarismos poderão ser escolhidos de 5 . 4 . 3 . 2 = é2.3=6
120 maneiras.
O número total de senhas distintas, portanto, é igual a 125 . 09.
120 = 15.000.
10.
04. a) 9 . A*10,3 = 9 . 103 = 9 . 10 . 10 . 10 = 9000
I) O número de cartões feitos por Cláudia foi b) 8 . A*9,3 = 8 . 93 = 8 . 9 . 9 . 9 = 5832
c) (a) – (b): 9000 – 5832 = 3168
d) 9 . A9,3 = 9 . 9 . 8 . 7 = 4536
e) (a) – (d): 9000 – 4536 = 4464
II) O número de cartões esperados por João era
4.13 EXPERIMENTOS ALEATÓRIOS
4.14 ESPAÇO AMOSTRAL
4.15 EVENTO
Assim, a diferença obtida foi 2.520 – 840 = 1.680 4.16 CONCEITO DE PROBABILIDADE -
PROBABILIDADE DE UM EVENTO
05. Se as permutações das letras da palavra PROVA forem ELEMENTAR - EVENTO
listadas em ordem alfabética, então teremos: COMPLEMENTAR - UNIÃO
P4 = 24 que começam por A E INTERSECÇÃO DE EVENTOS
P4 = 24 que começam por O 4.17 LEI DA SOMA – SITUAÇÕES
P4 = 24 que começam por P EXCLUDENTES
4.18 PROBABILIDADE
A 73.ª palavra nessa lista é a primeira permutação que começa CONDICIONAL - EVENTOS
por R. Ela é RAOPV. INDEPENDENTES - MULTIPLICAÇÃO DE
PROBABILIDADES
06. Se, do total de 10 diretores, 6 estão sob suspeita de
corrupção, 4 não estão. Assim, para formar uma comissão de 5
diretores na qual os suspeitos não sejam maioria, podem ser
escolhidos, no máximo, 2 suspeitos. Portanto, o número de Ponto Amostral, Espaço Amostral e Evento
possíveis comissões é
Em uma tentativa com um número limitado de resultados,
todos com chances iguais, devemos considerar:
Ponto Amostral: Corresponde a qualquer um dos resultados
possíveis.
Espaço Amostral: Corresponde ao conjunto dos resultados
possíveis; será representado por S e o número de elementos do
espaço amostra por n(S).
07. C5,3 . C4,2 . C4,3 = 10 . 6 . 4 = 240 Evento: Corresponde a qualquer subconjunto do espaço
amostral; será representado por A e o número de elementos do
08. evento por n(A).
I) Existem 5 enfermeiros disponíveis: 2 mais experientes e
outros 3. Os conjuntos S e Ø também são subconjuntos de S, portanto
II) Para formar grupos com 3 enfermeiros, conforme o são eventos.
enunciado, devemos escolher 1 entre os 2 mais experientes e 2 Ø = evento impossível.
entre os 3 restantes. S = evento certo.

Didatismo e Conhecimento 39
LÓGICA
Conceito de Probabilidade União de Eventos

As probabilidades têm a função de mostrar a chance Considere A e B como dois eventos de um espaço amostral S,
de ocorrência de um evento. A probabilidade de ocorrer um finito e não vazio, temos:
determinado evento A, que é simbolizada por P(A), de um espaço
amostral S ≠ Ø, é dada pelo quociente entre o número de elementos A
A e o número de elemento S. Representando:

B
S

Exemplo: Ao lançar um dado de seis lados, numerados de 1 a


6, e observar o lado virado para cima, temos:
- um espaço amostral, que seria o conjunto S {1, 2, 3, 4, 5, 6}.
- um evento número par, que seria o conjunto A1 = {2, 4, 6}
C S.
- o número de elementos do evento número par é n(A1) = 3.
Logo: P(A B) = P(A) + P(B) - P(A B)
- a probabilidade do evento número par é 1/2, pois
Eventos Mutuamente Exclusivos
A

Propriedades de um Espaço Amostral Finito e Não Vazio


B
S
- Em um evento impossível a probabilidade é igual a zero. Em
um evento certo S a probabilidade é igual a 1. Simbolicamente:
P(Ø) = 0 e P(S) = 1. Considerando que A ∩ B, nesse caso A e B serão denominados
mutuamente exclusivos. Observe que A ∩ B = 0, portanto: P(A
- Se A for um evento qualquer de S, neste caso: 0 ≤ P(A) ≤ 1.
B) = P(A) + P(B). Quando os eventos A1, A2, A3, …, An de S
- Se A for o complemento de A em S, neste caso: P(A) = 1 -
forem, de dois em dois, sempre mutuamente exclusivos, nesse
P(A). caso temos, analogicamente:

Demonstração das Propriedades P(A1 A2 A3 … An) = P(A1) + P(A2) + P(A3) + ... +


P(An)
Considerando S como um espaço finito e não vazio, temos:
Eventos Exaustivos

Quando os eventos A1, A2, A3, …, An de S forem, de dois em


dois, mutuamente exclusivos, estes serão denominados exaustivos
se A1 A2 A3 … An = S

Então, logo:

Portanto: P(A1) + P(A2) + P(A3) + ... + P(An) = 1

Didatismo e Conhecimento 40
LÓGICA
Probabilidade Condicionada Problema: Realizando-se a experiência descrita exatamente n
vezes, qual é a probabilidade de ocorrer o evento A só k vezes?
Considere dois eventos A e B de um espaço amostral S, finito
e não vazio. A probabilidade de B condicionada a A é dada pela Resolução:
probabilidade de ocorrência de B sabendo que já ocorreu A. É - Se num total de n experiências, ocorrer somente k vezes
representada por P(B/A). o evento A, nesse caso será necessário ocorrer exatamente n – k
vezes o evento A.
Veja: - Se a probabilidade de ocorrer o evento A é p e do evento A é
1 – p, nesse caso a probabilidade de ocorrer k vezes o evento A e
n – k vezes o evento A, ordenadamente, é:

- As k vezes em que ocorre o evento A são quaisquer entre as


n vezes possíveis. O número de maneiras de escolher k vezes o
Eventos Independentes evento A é, portanto Cn,k.
- Sendo assim, há Cn,k eventos distintos, mas que possuem
Considere dois eventos A e B de um espaço amostral S, finito a mesma probabilidade pk . (1 – p)n-k, e portanto a probabilidade
e não vazio. Estes serão independentes somente quando: desejada é: Cn,k . pk . (1 – p)n-k

P(A/N) = P(A) P(B/A) = P(B) QUESTÕES

Intersecção de Eventos 01. A probabilidade de uma bola branca aparecer ao se retirar


uma única bola de uma urna que contém, exatamente, 4 bolas
Considerando A e B como dois eventos de um espaço amostral brancas, 3 vermelhas e 5 azuis é:
S, finito e não vazio, logo:
(A) (B) (C) (D) (E)
02. As 23 ex-alunas de uma turma que completou o Ensino
Médio há 10 anos se encontraram em uma reunião comemorativa.
Várias delas haviam se casado e tido filhos. A distribuição das
mulheres, de acordo com a quantidade de filhos, é mostrada no
gráfico abaixo. Um prêmio foi sorteado entre todos os filhos dessas
ex-alunas. A probabilidade de que a criança premiada tenha sido
Assim sendo: um(a) filho(a) único(a) é

P(A ∩ B) = P(A) . P(B/A)


P(A ∩ B) = P(B) . P(A/B)

Considerando A e B como eventos independentes, logo


P(B/A) = P(B), P(A/B) = P(A), sendo assim: P(A ∩ B) = P(A) .
P(B). Para saber se os eventos A e B são independentes, podemos
utilizar a definição ou calcular a probabilidade de A ∩ B. Veja a
representação:

A e B independentes ↔ P(A/B) = P(A) ou


A e B independentes ↔ P(A ∩ B) = P(A) . P(B) (A) (B) (C) (D) (E)
Lei Binominal de Probabilidade 03. Retirando uma carta de um baralho comum de 52 cartas,
qual a probabilidade de se obter um rei ou uma dama?
Considere uma experiência sendo realizada diversas vezes,
dentro das mesmas condições, de maneira que os resultados de cada 04. Jogam-se dois dados “honestos” de seis faces, numeradas
experiência sejam independentes. Sendo que, em cada tentativa de 1 a 6, e lê-se o número de cada uma das duas faces voltadas para
ocorre, obrigatoriamente, um evento A cuja probabilidade é p ou o cima. Calcular a probabilidade de serem obtidos dois números
complemento A cuja probabilidade é 1 – p. ímpares ou dois números iguais?

Didatismo e Conhecimento 41
LÓGICA
05. Uma urna contém 500 bolas, numeradas de 1 a 500. Uma
bola dessa urna é escolhida ao acaso. A probabilidade de que seja 03. P(dama ou rei) = P(dama) + P(rei) =
escolhida uma bola com um número de três algarismos ou múltiplo
de 10 é 04. No lançamento de dois dados de 6 faces, numeradas de 1 a
(A) 10% 6, são 36 casos possíveis. Considerando os eventos A (dois números
(B) 12% ímpares) e B (dois números iguais), a probabilidade pedida é:
(C) 64%
(D) 82%
(E) 86% 05. Sendo Ω, o conjunto espaço amostral, temos n(Ω) = 500

06. Uma urna contém 4 bolas amarelas, 2 brancas e 3 bolas A: o número sorteado é formado por 3 algarismos;
vermelhas. Retirando-se uma bola ao acaso, qual a probabilidade A = {100, 101, 102, ..., 499, 500}, n(A) = 401 e p(A) = 401/500
de ela ser amarela ou branca?
B: o número sorteado é múltiplo de 10;
07. Duas pessoas A e B atiram num alvo com probabilidade B = {10, 20, ..., 500}.
40% e 30%, respectivamente, de acertar. Nestas condições, a
probabilidade de apenas uma delas acertar o alvo é: Para encontrarmos n(B) recorremos à fórmula do termo geral
(A) 42% da P.A., em que
(B) 45% a1 = 10
(C) 46% an = 500
(D) 48% r = 10
(E) 50% Temos an = a1 + (n – 1) . r → 500 = 10 + (n – 1) . 10 → n = 50
08. Num espaço amostral, dois eventos independentes A e B Dessa forma, p(B) = 50/500.
são tais que P(A U B) = 0,8 e P(A) = 0,3. Podemos concluir que o
valor de P(B) é: A Ω B: o número tem 3 algarismos e é múltiplo de 10;
(A) 0,5 A Ω B = {100, 110, ..., 500}.
(B) 5/7 De an = a1 + (n – 1) . r, temos: 500 = 100 + (n – 1) . 10 → n =
(C) 0,6 41 e p(A B) = 41/500
(D) 7/15
(E) 0,7 Por fim, p(A.B) =
09. Uma urna contém 6 bolas: duas brancas e quatro pretas. 06.
Retiram-se quatro bolas, sempre com reposição de cada bola antes Sejam A1, A2, A3, A4 as bolas amarelas, B1, B2 as brancas e V1,
de retirar a seguinte. A probabilidade de só a primeira e a terceira V2, V3 as vermelhas.
serem brancas é: Temos S = {A1, A2, A3, A4, V1, V2, V3 B1, B2} → n(S) = 9
(A) (B) (C) (D) (E) A: retirada de bola amarela = {A1, A2, A3, A4}, n(A) = 4
B: retirada de bola branca = {B1, B2}, n(B) = 2
10. Uma lanchonete prepara sucos de 3 sabores: laranja,
abacaxi e limão. Para fazer um suco de laranja, são utilizadas 3
laranjas e a probabilidade de um cliente pedir esse suco é de 1/3.
Se na lanchonete, há 25 laranjas, então a probabilidade de que,
para o décimo cliente, não haja mais laranjas suficientes para fazer
o suco dessa fruta é:
Como A B = , A e B são eventos mutuamente exclusivos;
(A) 1 (B) (C) (D) (E) Logo: P(A B) = P(A) + P(B) =

Respostas
07.
01. Se apenas um deve acertar o alvo, então podem ocorrer os
seguintes eventos:
02. (A) “A” acerta e “B” erra; ou
A partir da distribuição apresentada no gráfico: (B) “A” erra e “B” acerta.
08 mulheres sem filhos.
07 mulheres com 1 filho. Assim, temos:
06 mulheres com 2 filhos. P (A B) = P (A) + P (B)
02 mulheres com 3 filhos. P (A B) = 40% . 70% + 60% . 30%
P (A B) = 0,40 . 0,70 + 0,60 . 0,30
Como as 23 mulheres têm um total de 25 filhos, a probabilidade P (A B) = 0,28 + 0,18
de que a criança premiada tenha sido um(a) filho(a) único(a) é P (A B) = 0,46
igual a P = 7/25. P (A B) = 46%

Didatismo e Conhecimento 42
LÓGICA
08.
Sendo A e B eventos independentes, P(A B) = P(A) . P(B) e ANOTAÇÕES
como P(A B) = P(A) + P(B) – P(A B). Temos:
P(A B) = P(A) + P(B) – P(A) . P(B)
0,8 = 0,3 + P(B) – 0,3 . P(B)
0,7 . (PB) = 0,5
P(B) = 5/7.
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09. Representando por a —————————————————————————
probabilidade pedida, temos:
= —————————————————————————
=
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10. Supondo que a lanchonete só forneça estes três tipos de —————————————————————————


sucos e que os nove primeiros clientes foram servidos com apenas —————————————————————————
um desses sucos, então:
I- Como cada suco de laranja utiliza três laranjas, não é —————————————————————————
possível fornecer sucos de laranjas para os nove primeiros clientes,
pois seriam necessárias 27 laranjas. —————————————————————————
II- Para que não haja laranjas suficientes para o próximo
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cliente, é necessário que, entre os nove primeiros, oito tenham
pedido sucos de laranjas, e um deles tenha pedido outro suco. —————————————————————————
A probabilidade de isso ocorrer é:
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ANOTAÇÕES —————————————————————————
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Didatismo e Conhecimento 43
LÓGICA

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Didatismo e Conhecimento 44
LÓGICA

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Didatismo e Conhecimento 45
LÓGICA

ANOTAÇÕES

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Didatismo e Conhecimento 46
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Fixar navegador de internet e cliente de e-mail padrão no
5. NOÇÕES DE INFORMÁTICA menu Iniciar e na área de trabalho (programas podem ser fixados
5.1 MS-WINDOWS 7: CONCEITO DE manualmente).
PASTAS, DIRETÓRIOS, ARQUIVOS E Windows Photo Gallery, Windows Movie Maker, Windows
ATALHOS, ÁREA DE TRABALHO, ÁREA Mail e Windows
DE TRANSFERÊNCIA, MANIPULAÇÃO DE Calendar foram substituídos pelas suas respectivas contrapar-
ARQUIVOS E PASTAS, USO DOS MENUS, tes do Windows Live, com a perda de algumas funcionalidades.
PROGRAMAS E APLICATIVOS, INTERAÇÃO O Windows 7, assim como o Windows Vista, estará disponível
em cinco diferentes edições, porém apenas o Home Premium, Pro-
COM O CONJUNTO DE APLICATIVOS fessional e Ultimate serão vendidos na maioria dos países, restando
DO MS-OFFICE 2010 outras duas edições que se concentram em outros mercados, como
mercados de empresas ou só para países em desenvolvimento.
Cada edição inclui recursos e limitações, sendo que só o Ultimate
não tem limitações de uso. Segundo a Microsoft, os recursos para
O Windows 7 é um sistema operacional produzidos pela Mi- todas as edições do Windows 7 são armazenadas no computador.
crosoft para uso em computadores. O Windows 7 foi lançado para Um dos principais objetivos da Microsoft com este novo Win-
empresas no dia 22 de julho de 2009, e começou a ser vendido dows é proporcionar uma melhor interação e integração do siste-
livremente para usuários comuns dia 22 de outubro de 2009. ma com o usuário, tendo uma maior otimização dos recursos do
Diferente do Windows Vista, que introduziu muitas novida- Windows 7, como maior autonomia e menor consumo de energia,
voltado a profissionais ou usuários de internet que precisam in-
des, o Windows 7 é uma atualização mais modesta e direcionada
teragir com clientes e familiares com facilidade, sincronizando e
para a linha Windows, tem a intenção de torná-lo totalmente com- compartilhando facilmente arquivos e diretórios.
patível com aplicações e hardwares com os quais o Windows Vista
já era compatível. Comparando as edições
Apresentações dadas pela companhia no começo de 2008
mostraram que o Windows 7 apresenta algumas variações como O Windows 7 tem três edições diferentes de um mesmo siste-
uma barra de tarefas diferente, um sistema de “network” chamada ma operacional, que se adéquam as necessidades diárias de cada
de “HomeGroup”, e aumento na performance. usuário essas edições são o Home Premium, o Professional e Ul-
· Interface gráfica aprimorada, com nova barra de tarefas e timate.
suporte para telas touch screen e multi-táctil (multi-touch) Essas edições apresentam variações de uma para outra, como
o Home Premium, que é uma edição básica, mas de grande uso
· Internet Explorer 8;
para usuários que não apresentam grandes necessidades.
· Novo menu Iniciar; Os seus recursos são a facilidade para suas atividades diárias
· Nova barra de ferramentas totalmente reformulada; com a nova navegação na área de trabalho, o usuário pode abrir
· Comando de voz (inglês); os programas mais rápida e facilmente e encontrar os documentos
· Gadgets sobre o desktop; que mais usa em instantes.
· Novos papéis de parede, ícones, temas etc.; Tornar sua experiência na Web mais rápida, fácil e segura do
· Conceito de Bibliotecas (Libraries), como no Windows Me- que nunca com o Internet Explorer 8, assistir a muitos dos seus
dia Player, integrado ao Windows Explorer; programas de TV favoritos de graça e onde quiser, com a TV na
· Arquitetura modular, como no Windows Server 2008; Internet e criar facilmente uma rede doméstica e conectar seus
· Faixas (ribbons) nos programas incluídos com o Windows computadores a uma impressora com o Grupo Doméstico.
Já o Professional apresenta todos esses recursos adicionados
(Paint e WordPad, por exemplo), como no Office 2007;
de outros que o deixam mais completo como o usuário pode exe-
· Aceleradores no Internet Explorer 8; cutar vários programas de produtividade do Windows XP no Modo
· Aperfeiçoamento no uso da placa de vídeo e memória RAM; Windows XP, conectar-se a redes corporativas facilmente e com
· Home Groups; mais segurança com o Ingresso no Domínio e além do Backup e
· Melhor desempenho; Restauração de todo o sistema encontrado em todas as edições, é
· Windows Media Player 12; possível fazer backup em uma rede doméstica ou corporativa.
· Nova versão do Windows Media Center; O Ultimate também apresenta todos esses recursos acrescidos
· Gerenciador de Credenciais; de outros que tornam sua funcionalidade completa com todos os
· Instalação do sistema em VHDs; recursos disponíveis nessa versão do sistema operacional como
· Nova Calculadora, com interface aprimorada e com mais ajuda para proteger os dados do seu computador e de dispositivos
de armazenamento portáteis contra perda ou roubo com o BitLo-
funções;
cker e poder trabalhar no idioma de sua escolha ou alternar entre
· Reedição de antigos jogos, como Espadas Internet, Gamão 35 idiomas.
Internet e Internet Damas;
· Windows XP Mode; Recursos
· Aero Shake;
Apesar do Windows 7 conter muitos novos recursos o número Segundo o site da própria Microsoft, os recursos encontrados
de capacidades e certos programas que faziam parte do Windows no Windows 7 são fruto das novas necessidades encontradas pe-
Vista não estão mais presentes ou mudaram, resultando na remo- los usuários. Muitos vêm de seu antecessor, Windows Vista, mas
ção de certas funcionalidades. Mesmo assim, devido ao fato de existem novas funcionalidades exclusivas, feitas para facilitar a
ainda ser um sistema operacional em desenvolvimento, nem todos utilização e melhorar o desempenho do SO (Sistema Operacional)
os recursos podem ser definitivamente considerados excluídos. no computador.

Didatismo e Conhecimento 1
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Vale notar que, se você tem conhecimentos em outras versões Lista de Atalhos
do Windows, não terá que jogar todo o conhecimento fora. Ape-
nas vai se adaptar aos novos caminhos e aprender “novos truques” Novidade desta nova versão, agora você pode abrir diretamen-
enquanto isso. te um arquivo recente, sem nem ao menos abrir o programa que
você utilizou. Digamos que você estava editando um relatório em
Tarefas Cotidianas seu editor de texto e precisou fechá-lo por algum motivo. Quando
quiser voltar a trabalhar nele, basta clicar com o botão direito sob
Já faz tempo que utilizar um computador no dia a dia se tornou o ícone do editor e o arquivo estará entre os recentes.
comum. Não precisamos mais estar em alguma empresa enorme Ao invés de ter que abrir o editor e somente depois se preocu-
para precisar sempre de um computador perto de nós. O Windows par em procurar o arquivo, você pula uma etapa e vai diretamente
7 vem com ferramentas e funções para te ajudar em tarefas comuns para a informação, ganhando tempo.
do cotidiano.

Grupo Doméstico

Ao invés de um, digamos que você tenha dois ou mais compu-


tadores em sua casa. Permitir a comunicação entre várias estações
vai te poupar de ter que ir fisicamente aonde a outra máquina está
para recuperar uma foto digital armazenada apenas nele.
Com o Grupo Doméstico, a troca de arquivos fica simplificada
e segura. Você decide o que compartilhar e qual os privilégios que
os outros terão ao acessar a informação, se é apenas de visualiza-
ção, de edição e etc.

Tela sensível ao toque

O Windows 7 está preparado para a tecnologia sensível ao


toque com opção a multitoque, recurso difundido pelo iPhone.
O recurso multitoque percebe o toque em diversos pontos da
tela ao mesmo tempo, assim tornando possível dimensionar uma
imagem arrastando simultaneamente duas pontas da imagem na
tela.
O Touch Pack para Windows 7 é um conjunto de aplicativos e
jogos para telas sensíveis ao toque. O Surface Collage é um aplica-
tivo para organizar e redimensionar fotos. Nele é possível montar Exemplo de arquivos recentes no Paint.
slide show de fotos e criar papeis de parede personalizados. Essas
funções não são novidades, mas por serem feitas para usar uma Pode, inclusive, fixar conteúdo que você considere importan-
tela sensível a múltiplos toques as tornam novidades. te. Se a edição de um determinado documento é constante, vale a
pena deixá-lo entre os “favoritos”, visto que a lista de recentes se
modifica conforme você abre e fecha novos documentos.

Snap

Ao se utilizar o Windows por muito tempo, é comum ver vá-


rias janelas abertas pelo seu monitor. Com o recurso de Snap, você
pode posicioná-las de um jeito prático e divertido. Basta apenas
clicar e arrastá-las pelas bordas da tela para obter diferentes posi-
cionamentos.
O Snap é útil tanto para a distribuição como para a compara-
ção de janelas. Por exemplo, jogue uma para a esquerda e a outra
na direita. Ambas ficaram abertas e dividindo igualmente o espaço
pela tela, permitindo que você as veja ao mesmo tempo.

Windows Search

O sistema de buscas no Windows 7 está refinado e estendido.


Microsoft Surface Collage, desenvolvido para usar tela sen- Podemos fazer buscas mais simples e específicas diretamente do
sível ao toque. menu iniciar, mas foi mantida e melhorada a busca enquanto você
navega pelas pastas.

Didatismo e Conhecimento 2
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Menu iniciar

As pesquisas agora podem ser feitas diretamente do menu iniciar. É útil quando você necessita procurar, por exemplo, pelo atalho de
inicialização de algum programa ou arquivo de modo rápido.
“Diferente de buscas com as tecnologias anteriores do Windows Search, a pesquisa do menu início não olha apenas aos nomes de pastas
e arquivos.
Considera-se o conteúdo do arquivo, tags e propriedades também” (Jim Boyce; Windows 7 Bible, pg 770).
Os resultados são mostrados enquanto você digita e são divididos em categorias, para facilitar sua visualização.
Abaixo as categorias nas quais o resultado de sua busca pode ser dividido.
· Programas
· Painel de Controle
· Documentos
· Música
· Arquivos

Ao digitar “pai” temos os itens que contêm essas letras em seu nome.

Windows Explorer

O que você encontra pelo menu iniciar é uma pequena parte do total disponível.
Fazendo a busca pelo Windows Explorer – que é acionado automaticamente quando você navega pelas pastas do seu computador – você
encontrará uma busca mais abrangente.
Em versões anteriores, como no Windows XP, antes de se fazer uma busca é necessário abrir a ferramenta de busca. No Seven, precisa-
mos apenas digitar os termos na caixa de busca, que fica no canto superior direito.

Didatismo e Conhecimento 3
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Windows Explorer com a caixa de busca (Jim Boyce; Windows 7 Bible, pg 774).

A busca não se limita a digitação de palavras. Você pode aplicar filtros, por exemplo, buscar, na pasta músicas, todas as canções do
gênero Rock. Existem outros, como data, tamanho e tipo. Dependendo do arquivo que você procura, podem existir outras classificações
disponíveis.
Imagine que todo arquivo de texto sem seu computador possui um autor. Se você está buscando por arquivos de texto, pode ter a opção
de filtrar por autores.

Controle dos pais

Não é uma tarefa fácil proteger os mais novos do que visualizam por meio do computador. O Windows 7 ajuda a limitar o que pode
ser visualizado ou não. Para que essa funcionalidade fique disponível, é importante que o computador tenha uma conta de administrador,
protegida por senha, registrada. Além disso, o usuário que se deseja restringir deve ter sua própria conta.
As restrições básicas que o Seven disponibiliza:
· Limite de Tempo: Permite especificar quais horas do dia que o PC pode ser utilizado.
· Jogos: Bloqueia ou permite jogar, se baseando pelo horário e também pela classificação do jogo. Vale notar que a classificação já vem
com o próprio game.
· Bloquear programas: É possível selecionar quais aplicativos estão autorizados a serem executados.
Fazendo download de add-on’s é possível aumentar a quantidade de restrições, como controlar as páginas que são acessadas, e até
mesmo manter um histórico das atividades online do usuário.

Central de ações

A central de ações consolida todas as mensagens de segurança e manutenção do Windows. Elas são classificadas em vermelho (impor-
tante – deve ser resolvido rapidamente) e amarelas (tarefas recomendadas).
O painel também é útil caso você sinta algo de estranho no computador. Basta checar o painel e ver se o Windows detectou algo de
errado.

Didatismo e Conhecimento 4
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

A central de ações e suas opções.

- Do seu jeito
O ambiente que nos cerca faz diferença, tanto para nossa qualidade de vida quanto para o desempenho no trabalho. O computador é uma
extensão desse ambiente. O Windows 7 permite uma alta personalização de ícones, cores e muitas outras opções, deixando um ambiente
mais confortável, não importa se utilizado no ambiente profissional ou no doméstico.
Muitas opções para personalizar o Windows 7 estão na página de Personalização1, que pode ser acessada por um clique com o botão
direito na área de trabalho e em seguida um clique em Personalizar.
É importante notar que algumas configurações podem deixar seu computador mais lento, especialmente efeitos de transparência. Abaixo
estão algumas das opções de personalização mais interessantes.

Papéis de Parede

Os papéis de parede não são tamanha novidade, virou praticamente uma rotina entre as pessoas colocarem fotos de ídolos, paisagens
ou qualquer outra figura que as agrade. Uma das novidades fica por conta das fotos que você encontra no próprio SO. Variam de uma foto
focando uma única folha numa floresta até uma montanha.
A outra é a possibilidade de criar um slide show com várias fotos. Elas ficaram mudando em sequência, dando a impressão que sua área
de trabalho está mais viva.

Gadgets

As “bugigangas” já são conhecidas do Windows Vista, mas eram travadas no canto direito. Agora elas podem ficar em qualquer local
do desktop.
Servem para deixar sua área de trabalho com elementos sortidos, desde coisas úteis – como uma pequena agenda – até as de gosto mais
duvidosas – como uma que mostra o símbolo do Corinthians. Fica a critério do usuário o que e como utilizar.
O próprio sistema já vem com algumas, mas se sentir necessidade, pode baixar ainda mais opções da internet.

Didatismo e Conhecimento 5
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Com este novo recurso, dois computadores rodando Windows
7 podem compartilhar músicas através do Windows Media Player
12. É necessário que ambos estejam associados com um ID online,
como a do Windows Live.

Personalização

Você pode adicionar recursos ao seu computador alterando o


tema, a cor, os sons, o plano de fundo da área de trabalho, a pro-
teção de tela, o tamanho da fonte e a imagem da conta de usuário.
Você pode também selecionar “gadgets” específicos para sua área
de trabalho.
Ao alterar o tema você inclui um plano de fundo na área de
trabalho, uma proteção de tela, a cor da borda da janela sons e, às
vezes, ícones e ponteiros de mouse.
Você pode escolher entre vários temas do Aero, que é um vi-
sual premium dessa versão do Windows, apresentando um design
como o vidro transparente com animações de janela, um novo
menu Iniciar, uma nova barra de tarefas e novas cores de borda
de janela.
Gadgets de calendário e relógio. Use o tema inteiro ou crie seu próprio tema personalizado al-
terando as imagens, cores e sons individualmente. Você também
Temas pode localizar mais temas online no site do Windows. Você tam-
bém pode alterar os sons emitidos pelo computador quando, por
Como nem sempre há tempo de modificar e deixar todas as exemplo, você recebe um e-mail, inicia o Windows ou desliga o
configurações exatamente do seu gosto, o Windows 7 disponibiliza computador.
O plano de fundo da área de trabalho, chamado de papel de
temas, que mudam consideravelmente os aspectos gráficos, como
parede, é uma imagem, cor ou design na área de trabalho que cria
em papéis de parede e cores.
um fundo para as janelas abertas. Você pode escolher uma imagem
para ser seu plano de fundo de área de trabalho ou pode exibir uma
ClearType
apresentação de slides de imagens. Também pode ser usada uma
“Clear Type é uma tecnologia que faz as fontes parecerem
proteção de tela onde uma imagem ou animação aparece em sua
mais claras e suaves no monitor. É particularmente efetivo para
tela quando você não utiliza o mouse ou o teclado por determinado
monitores LCD, mas também tem algum efeito nos antigos mode-
período de tempo. Você pode escolher uma variedade de proteções
los CRT(monitores de tubo). O Windows 7 dá suporte a esta tec- de tela do Windows.
nologia” (Jim Boyce; Windows 7 Bible, pg 163, tradução nossa). Aumentando o tamanho da fonte você pode tornar o texto, os
ícones e outros itens da tela mais fáceis de ver. Também é possível
Novas possibilidades reduzir a escala DPI, escala de pontos por polegada, para diminuir
o tamanho do texto e outros itens na tela para que caibam mais
Os novos recursos do Windows Seven abrem, por si só, novas informações na tela.
possibilidades de configuração, maior facilidade na navega, dentre Outro recurso de personalização é colocar imagem de conta
outros pontos. Por enquanto, essas novidades foram diretamente de usuário que ajuda a identificar a sua conta em um computador.
aplicadas no computador em uso, mas no Seven podemos também A imagem é exibida na tela de boas vindas e no menu Iniciar. Você
interagir com outros dispositivos. pode alterar a imagem da sua conta de usuário para uma das ima-
gens incluídas no Windows ou usar sua própria imagem.
Reproduzir em E para finalizar você pode adicionar “gadgets” de área de tra-
balho, que são miniprogramas personalizáveis que podem exibir
Permitindo acessando de outros equipamentos a um computa- continuamente informações atualizadas como a apresentação de
dor com o Windows Seven, é possível que eles se comuniquem e slides de imagens ou contatos, sem a necessidade de abrir uma
seja possível tocar, por exemplo, num aparelho de som as músicas nova janela.
que você tem no HD de seu computador.
É apenas necessário que o aparelho seja compatível com o Aplicativos novos
Windows Seven – geralmente indicado com um logotipo “Compa-
tível com o Windows 7”. Uma das principais características do mundo Linux é suas
versões virem com muitos aplicativos, assim o usuário não precisa
Streaming de mídia remoto ficar baixando arquivos após instalar o sistema, o que não ocorre
com as versões Windows.
Com o Reproduzir em é possível levar o conteúdo do compu- O Windows 7 começa a mudar essa questão, agora existe uma
tador para outros lugares da casa. Se quiser levar para fora dela, serie de aplicativos juntos com o Windows 7, para que o usuário
uma opção é o Streaming de mídia remoto. não precisa baixar programas para atividades básicas.

Didatismo e Conhecimento 6
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Com o Sticky Notes pode-se deixar lembretes no desktop e
também suportar entrada por caneta e toque.
No Math Input Center, utilizando recursos multitoque, equa-
ções matemáticas escritas na tela são convertidas em texto, para
poder adicioná-la em um processador de texto.
O print screen agora tem um aplicativo que permite capturar
de formas diferentes a tela, como por exemplo, a tela inteira, partes
ou áreas desenhadas da tela com o mouse.

Calculadora: 2 novos modos.

Aplicativo de copiar tela (botão print screen).

O Paint foi reformulado, agora conta com novas ferramentas


e design melhorado, ganhou menus e ferramentas que parecem do
Office 2007.

WordPad remodelado

Requisitos

Apesar desta nova versão do Windows estar mais leve em


relação ao Vista, ainda é exigido uma configuração de hardware
(peças) relativamente boa, para que seja utilizado sem problemas
de desempenho.

Esta é a configuração mínima:


· Processador de 1 GHz (32-bit)
Paint com novos recursos. · Memória (RAM) de 1 GB
· Placa de Vídeo compatível com DirectX 9.0 e 32 MB de
O WordPad também foi reformulado, recebeu novo visual memória (sem
mais próximo ao Word 2007, também ganhou novas ferramentas, Windows Aero)
assim se tornando um bom editor para quem não tem o Word 2007. · Espaço requerido de 16GB
A calculadora também sofreu mudanças, agora conta com 2 · DVD-ROM
novos modos, programador e estatístico. No modo programador · Saída de Áudio
ela faz cálculos binários e tem opção de álgebra booleana. A esta-
tística tem funções de cálculos básicos. Se for desejado rodar o sistema sem problemas de lentidão e
Também foi adicionado recurso de conversão de unidades ainda usufruir derecursos como o Aero, o recomendado é a seguin-
como de pés para metros. te configuração.

Didatismo e Conhecimento 7
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Configuração Recomendada: Outras, como uma impressão, tem baixa prioridade pois são
· Processador de 2 GHz (32 ou 64 bits) naturalmente lentas e podem ser executadas “longe da visão” do
· Memória (RAM) de 2 GB usuário, dando a impressão que o computador não está lento.
· Espaço requerido de disco rígido: 16 GB Essa característica permite que o usuário não sinta uma lenti-
· Placa de vídeo com suporte a elementos gráficos DirectX 9 dão desnecessária no computador.
com 256 MB de memória (para habilitar o tema do Windows Aero) Entretanto, não se pode ignorar o fato que, com cada vez mais
· Unidade de DVD-R/W recursos e “efeitos gráficos”, a tendência é que o sistema operacio-
· Conexão com a Internet (para obter atualizações) nal se torne um forte consumidor de memória e processamento. O
Seven disponibiliza vários recursos de ponta e mantêm uma per-
Atualizar de um SO antigo formance satisfatória.

O melhor cenário possível para a instalação do Windows 7 é Monitor de desempenho


com uma máquina nova, com os requisitos apropriados. Entretan-
to, é possível utilizá-lo num computador antigo, desde que atenda Apesar de não ser uma exclusividade do Seven, é uma ferra-
as especificações mínimas. menta poderosa para verificar como o sistema está se portando.
Se o aparelho em questão possuir o Windows Vista instala- Podem-se adicionar contadores (além do que já existe) para colher
do, você terá a opção de atualizar o sistema operacional. Caso sua ainda mais informações e gerar relatórios.
máquina utilize Windows XP, você deverá fazer a re-instalação do
sistema operacional. Monitor de recursos
Utilizando uma versão anterior a do XP, muito provavelmen- Com o monitor de recursos, uma série de abas mostra infor-
te seu computador não atende aos requisitos mínimos. Entretanto, mações sobre o uso do processador, da memória, disco e conexão
nada impede que você tente fazer a reinstalação. à rede.
Atualização PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE AS VERSÕES
“Atualizar é a forma mais conveniente de ter o Windows 7 em
Windows 7 Starter
seu computador, pois mantém os arquivos, as configurações e os
programas do Windows Vista no lugar” (Site da Microsoft, http://
Como o próprio título acima sugere, esta versão do Windows
windows.microsoft.com/pt-
é a mais simples e básica de todas. A Barra de Tarefas foi comple-
BR/windows7/help/upgrading-from-windows-vista-to-win-
tamente redesenhada e não possui suporte ao famoso Aero Glass.
dows-7).
Uma limitação da versão é que o usuário não pode abrir mais do
É o método mais adequado, se o usuário não possui
que três aplicativos ao mesmo tempo.
conhecimento ou tempo para fazer uma instalação do método
tradicional. Optando por essa opção, ainda devesse tomar cuidado Esta versão será instalada em computadores novo apenas nos
com a compatibilidade dos programas, o que funciona no Vista países em desenvolvimento, como Índia, Rússia e Brasil. Disponí-
nem sempre funcionará no 7. vel apenas na versão de 32 bits.

Instalação Windows 7 Home Basic


Esta é uma versão intermediária entre as edições Starter e
Por qualquer motivo que a atualização não possa ser efetuada, Home Premium (que será mostrada logo abaixo). Terá também a
a instalação completa se torna a opção mais viável. versão de 64 bits e permitirá a execução de mais de três aplicativos
Neste caso, é necessário fazer backup de dados que se deseja ao mesmo tempo.
utilizar, como drivers e documentos de texto, pois todas as infor- Assim como a anterior, não terá suporte para o Aero Glass
mações no computador serão perdidas. Quando iniciar o Windows nem para as funcionalidades sensíveis ao toque, fugindo um pouco
7, ele vai estar sem os programas que você havia instalado e com da principal novidade do Windows 7. Computadores novos pode-
as configurações padrão. rão contar também com a instalação desta edição, mas sua venda
será proibida nos Estados Unidos.
Desempenho
De nada adiantariam os novos recursos do Windows 7 se ele Windows 7 Home Premium
mantivesse a fama de lento e paranóico, adquirida por seu anteces-
sor. Testes indicam que a nova versão tem ganhou alguns pontos Edição que os usuários domésticos podem chamar de “com-
na velocidade. pleta”, a Home Premium acumula todas as funcionalidades das
O Seven te ajuda automaticamente com o desempenho: “Seu edições citadas anteriormente e soma mais algumas ao pacote.
sistema operacional toma conta do gerenciamento do processador Dentre as funções adicionadas, as principais são o suporte à
e memória para você” (Jim Boyce; Windows 7 Bible, pg 1041, interface Aero Glass e também aos recursos Touch Windows (tela
tradução nossa). sensível ao toque) e Aero Background, que troca seu papel de pa-
Além disso, as tarefas recebem prioridades. Apesar de não rede automaticamente no intervalo de tempo determinado. Haverá
ajudar efetivamente no desempenho, o Windows 7 prioriza o que o ainda um aplicativo nativo para auxiliar no gerenciamento de redes
usuário está interagindo (tarefas “foreground”). wireless, conhecido como Mobility Center.

Didatismo e Conhecimento 8
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Esta edição será colocada à venda em lojas de varejo e também poderá ser encontrada em computadores novos.

Windows 7 Professional, voltado às pequenas empresas

Mais voltada para as pequenas empresas, a versão Professional do Windows 7 possuirá diversos recursos que visam facilitar a comuni-
cação entre computadores e até mesmo impressoras de uma rede corporativa.
Para isso foram desenvolvidos aplicativos como o Domain Join, que ajuda os computadores de uma rede a “se enxergarem” e consegui-
rem se comunicar. O Location Aware Printing, por sua vez, tem como objetivo tornar muito mais fácil o compartilhamento de impressoras.
Como empresas sempre estão procurando maneiras para se proteger de fraudes, o Windows 7 Professional traz o Encrypting File Sys-
tem, que dificulta a violação de dados. Esta versão também será encontrada em lojas de varejo ou computadores novos.
Windows 7 Enterprise, apenas para vários

Sim, é “apenas para vários” mesmo. Como esta é uma versão mais voltada para empresas de médio e grande porte, só poderá ser ad-
quirida com licenciamento para diversas máquinas. Acumula todas as funcionalidades citadas na edição Professional e possui recursos mais
sofisticados de segurança.
Dentre esses recursos estão o BitLocker, responsável pela criptografia de dados e o AppLocker, que impede a execução de programas
não-autorizados. Além disso, há ainda o BrachCache, para turbinar transferência de arquivos grandes e também o DirectAccess, que dá uma
super ajuda com a configuração de redes corporativas.

Windows 7 Ultimate, o mais completo e mais caro

Esta será, provavelmente, a versão mais cara de todas, pois contém todas as funcionalidades já citadas neste artigo e mais algumas.
Apesar de sua venda não ser restrita às empresas, o Microsoft disponibilizará uma quantidade limitada desta versão do sistema.
Isso porque grande parte dos aplicativos e recursos presentes na Ultimate são dedicados às corporações, não interessando muito aos
usuários comuns.

Didatismo e Conhecimento 9
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

O que são arquivos e pastas?

Um arquivo é muito parecido com um documento digitado que você poderia encontrar na mesa de alguém ou em um arquivo conven-
cional. É um item que contém um conjunto de informações relacionadas. Nessa classificação estariam, por exemplo, documentos de texto,
planilhas, imagens digitais e até músicas. Cada foto que você tira com uma câmera digital é um arquivo separado. Um CD de música pode
conter dezenas de arquivos de música individuais.
O computador usa ícones para representar arquivos. Basta olhar o ícone para saber o tipo de arquivo. Veja a seguir alguns ícones de
arquivo comuns:

Pela aparência do ícone, é possível dizer o tipo de arquivo que ele representa
Uma pasta é pouco mais que um contêiner no qual é possível armazenar arquivos. Se você colocasse milhares de arquivos em papel na
mesa de alguém, seria praticamente impossível encontrar um determinado arquivo quando precisasse. É por isso que as pessoas costumam
armazenar os arquivos em papel em pastas dentro de um arquivo convencional. A organização de arquivos em grupos lógicos torna fácil
localizar um determinado arquivo.
As pastas no computador funcionam exatamente da mesma forma. Esta é a aparência de um ícone de pasta típico:

Didatismo e Conhecimento 10
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
É possível abrir pastas comuns a partir do menu Iniciar
As pastas Documentos, Imagens e Música também podem ser
encontradas no menu Iniciar, logo abaixo da pasta particular.
Lembre-se que você pode criar subpastas dentro de qualquer
uma dessas pastas para ajudá-lo a organizar melhor os arquivos.
Na pasta Imagens, por exemplo, você pode criar subpastas para
organizar imagens por data, por evento, pelos nomes das pessoas
nas fotos ou por qualquer outro esquema que o ajude a trabalhar
com mais eficiência.

Compreendendo as partes de uma pasta


Uma pasta vazia (à esquerda); uma pasta contendo arquivos Quando você abre uma pasta na área de trabalho, aparece uma
(à direita) janela de pasta. Além de mostrar o conteúdo da pasta, uma janela
As pastas podem conter não só arquivos, mas também outras de pasta tem várias partes que foram criadas para ajudá-lo a na-
pastas. Uma pasta dentro de um pasta é chamada subpasta. Você vegar no Windows ou trabalhar mais facilmente com arquivos e
pode criar quantas subpastas quiser, e cada uma pode armazenar pastas. Veja a seguir uma pasta típica e cada uma de suas partes:
qualquer quantidade de arquivos e subpastas adicionais.

Como o Windows organiza os arquivos e as pastas


Quando se trata de organizar-se, você não precisa começar do
zero. O Windows vem com algumas pastas comuns que podem ser
usadas como âncora para começar a organizar os arquivos. Veja
a seguir uma lista de algumas das pastas mais comuns nas quais
você pode armazenar arquivos e pastas:
Documentos. Use esta pasta para armazenar arquivos de pro-
cessamento de texto, planilhas, apresentações e outros arquivos
comerciais.
Imagens. Use esta pasta para armazenar todas as suas imagens
digitais, sejam elas obtidas da câmera, do scanner ou de emails
recebidos de outras pessoas.
Música. Use esta pasta para armazenar todas as suas músicas
digitais, como as que você copia de um CD de áudio ou baixa da
Internet.
Vídeos. Use esta pasta para armazenar seus vídeos, como cli-
pes da câmera digital, da câmera de vídeo ou arquivos de vídeo
que você baixa da Internet.
Downloads. Use esta pasta para armazenar arquivos e progra-
mas que você baixa da Web.
Há muitas maneiras de localizar essas pastas. O método mais
fácil é abrir a pasta particular, que reúne todas as suas pastas co-
muns em um único lugar. O nome da pasta particular não é real-
mente “particular” — ela é rotulada com o nome de usuário que A pasta Documentos
você usou para fazer logon no computador. Para abri-la, clique no
botão Iniciar  e, em seguida, no seu nome de usuário na parte Parte da pasta / Função
superior do painel direito do menu Iniciar. Barra de endereços / Use a Barra de endereços para navegar
para outra pasta sem fechar a janela de pasta atual. Para obter mais
informações, consulte Navegar usando a Barra de endereços.

Botões Voltar e Avançar / Use os botões Voltar e Avançar para


navegar para outras pastas que você já abriu sem fechar a janela
atual. Esses botões funcionam em conjunto com a Barra de ende-
reços. Depois de usá-la para alterar pastas, por exemplo, você pode
usar o botão Voltar para retornar à pasta original.
A caixa Pesquisar / Digite uma palavra ou frase na caixa Pes-
quisar para procurar uma subpasta ou um arquivo armazenado na
pasta atual. A pesquisa inicia assim que você começa a digitar. As-
sim, quando você digita B, por exemplo, todos os arquivos com a
letra B aparecerão na lista de arquivos da pasta. Para obter mais
informações, consulte Localizar um arquivo ou uma pasta.

Didatismo e Conhecimento 11
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Barra de ferramentas / A barra de ferramentas permite execu-
tar tarefas comuns, como alterar a aparência de arquivos e pastas,
copiar arquivos para um CD ou iniciar uma apresentação de slides
de imagens digitais. Os botões da barra de ferramentas mudam
para mostram apenas os comandos que são úteis. Por exemplo,
se você clicar em um arquivo de imagem, a barra de ferramentas
mostrará botões diferentes daqueles que mostraria se você clicasse
em um arquivo de música.
Painel de navegação / Como a Barra de endereços, o Painel
de navegação permite alterar o modo de exibição para outras pas-
tas. A seção de links Favoritos torna fácil alterar para uma pasta
comum ou iniciar uma pesquisa salva anteriormente. Se você vai
com freqüência para a mesma pasta, pode arrastá-la para o Painel
de navegação e torná-la um de seus links favoritos. Para obter mais
informações, consulte Trabalhando com o Painel de navegação.
Lista de arquivos / É aqui que o conteúdo da pasta atual é exi-
bido. Se você digitou na caixa Pesquisar para localizar um arquivo,
aparecerão somente os arquivos que correspondam à sua pesquisa.
Para obter mais informações, consulte Dicas para localizar arqui- As opções do botão Modos de Exibição
vos.
Títulos de coluna / Use os títulos de coluna para alterar a for- Localizando seus arquivos
ma como os itens na lista de arquivos são organizados. É possível Quando você precisar localizar um determinado arquivo, já
classificar, agrupar ou empilhar os arquivos no modo de exibição sabe que ele deverá estar em alguma pasta comum como Docu-
atual. Para obter mais informações, consulte Dicas para localizar mentos ou Imagens. Infelizmente, localizar realmente o arqui-
arquivos. vo desejado pode significar navegar por centenas de arquivos e
Painel de detalhes / O Painel de detalhes mostra as proprieda- subpastas, o que não é uma tarefa fácil. Para poupar tempo e esfor-
des mais comuns associadas ao arquivo selecionado. Propriedades ço, use a caixa Pesquisar para localizar o arquivo.
do arquivo são informações sobre um arquivo, como o autor, a data
da última alteração e qualquer marca descritiva que você possa
ter adicionado ao arquivo. Para obter mais informações, consulte
Adicionar etiquetas ou outras propriedades a arquivos.
Painel de visualização / Use o Painel de visualização para ver
o conteúdo de vários tipos de arquivos. Se você selecionar uma A caixa Pesquisar
mensagem de email, um arquivo de texto ou uma imagem, por
exemplo, poderá ver seu conteúdo sem abri-lo em um programa. A caixa Pesquisar está localizada na parte superior de cada
O Painel de visualização não é exibido por padrão na maioria das pasta. Para localizar um arquivo, abra a pasta que contém o arqui-
pastas. Para vê-lo, clique no botão Organizar na barra de ferramen- vo que você está procurando, clique na caixa Pesquisar e comece a
tas, em Layout e em Painel de visualização. digitar. A caixa Pesquisar filtra o modo de exibição atual com base
no texto que você digitar. Os arquivos são exibidos como resulta-
Exibindo seus arquivos em uma pasta dos da pesquisa se o termo de pesquisa corresponder ao nome do
Ao abrir uma pasta e ver os arquivos, talvez você prefira íco- arquivo, a marcas ou a outras propriedades do arquivo. Os docu-
nes maiores (ou menores) ou uma organização que lhe permita ver mentos de texto são exibidos se o termo de pesquisa ocorrer em
tipos diferentes de informações sobre cada arquivo. Para fazer es- algum texto dentro do documento. Sua pesquisa aparece na pasta
ses tipos de alterações, use o botão Modos de Exibição na barra de atual, assim como em todas as subpastas.
ferramentas. Se você não tem idéia de onde procurar um arquivo, pode ex-
Toda vez que você clica nesse botão, a janela de pasta muda a pandir sua pesquisa para incluir o computador inteiro, e não ape-
forma como ela exibe os ícones de pastas e de arquivos, alternando nas uma única pasta.
entre ícones grandes, um modo de exibição de ícones menores cha-
mado Lado a lado e um modo de exibição chamado Detalhes que Copiando e movendo arquivos e pastas
mostra várias colunas de informações sobre o arquivo. De vez em quando, você pode querer alterar o local onde os
Se você clicar na seta ao lado do botão Modos de Exibição, arquivos ficam armazenados no computador. Por exemplo, mover
terá ainda mais opções. Arraste o controle deslizante para cima ou os arquivos para outra pasta ou copiá-los para uma mídia removí-
para baixo para ajustar o tamanho dos ícones das pastas e dos ar- vel (como CDs ou cartões de memória) a fim de compartilhar com
quivos. Você poderá ver os ícones alterando de tamanho enquanto outra pessoa.
move o controle deslizante. A maioria das pessoas copia e move arquivos usando um mé-
todo chamado arrastar e soltar. Comece abrindo a pasta que con-
tém o arquivo ou a pasta que deseja mover. Em seguida, abra a
pasta para onde deseja mover. Posicione as janelas de pasta na área
de trabalho de modo a ver o conteúdo de ambas.

Didatismo e Conhecimento 12
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
A seguir, arraste a pasta ou o arquivo da primeira pasta para a Mas nem sempre é o caso. O clique duplo em uma imagem di-
segunda. Isso é tudo. gital, por exemplo, abrirá um visualizador de imagens. Para editar
a imagem, você precisa usar um programa diferente. Clique com o
botão direito do mouse no arquivo, clique em Abrir com e no nome
do programa que deseja usar.

5.2 MS-WORD 2010: ESTRUTURA


BÁSICA DOS DOCUMENTOS, EDIÇÃO E
FORMATAÇÃO DE TEXTOS, CABEÇALHOS,
PARÁGRAFOS, FONTES, COLUNAS,
MARCADORES SIMBÓLICOS E NUMÉRI-
COS, TABELAS, IMPRESSÃO, CONTROLE
DE QUEBRAS E NUMERAÇÃO DE PÁGI-
NAS, LEGENDAS, ÍNDICES, INSERÇÃO DE
Para copiar ou mover um arquivo, arraste-o de uma pasta para OBJETOS, CAMPOS PREDEFINIDOS,
outra CAIXAS DE TEXTO
Ao usar o método arrastar e soltar, você poderá notar que al-
gumas vezes o arquivo ou a pasta é copiado, enquanto em outras
ele é movido. Por que isso acontece? Se você estiver arrastando
um item entre pastas que estão no mesmo disco rígido, os itens
serão movidos para que duas cópias do mesmo arquivo ou pasta O Word faz parte da suíte de aplicativos Office, e é considera-
não sejam criadas no disco rígido. Se você arrastar o item para um do um dos principais produtos da Microsoft sendo a suíte que do-
pasta que esteja em outro disco rígido (como um local de rede, por mina o mercado de suítes de escritório, mesmo com o crescimento
exemplo) ou para uma mídia removível (como um CD), o item de ferramentas gratuitas como Google Docs e Open Office.
será copiado. Dessa forma, o arquivo ou a pasta não será removido
do local original. Interface

Criando e excluindo arquivos


O modo mais comum de criar novos arquivos é usando um
programa. Por exemplo, você pode criar um documento de texto
em um programa de processamento de texto ou um arquivo de
filme em um programa de edição de vídeos.
Alguns programas criam um arquivo no momento em que são
abertos. Quando você abre o WordPad, por exemplo, ele inicia
com uma página em branco. Isso representa um arquivo vazio (e
não salvo). Comece a digitar e, quando estiver pronto para salvar o
trabalho, clique em Arquivo na barra de menus e em Salvar como.
Na caixa de diálogo exibida, digite um nome de arquivo que o aju-
dará a localizar o arquivo novamente no futuro e clique em Salvar.
Por padrão, a maioria dos programas salva arquivos em pastas
comuns como Documentos, Imagens e Música, o que facilita a No cabeçalho de nosso programa temos a barra de títulos do
localização dos arquivos na próxima vez. documento, que como é um novo documento apresenta como títu-
Quando você não precisar mais de um arquivo, poderá remo- lo “Documento1”.
vê-lo do disco rígido para ganhar espaço e impedir que o compu-
tador fique congestionado com arquivos indesejados. Para excluir Na esquerda temos a Barra de acesso rápido, que permite
um arquivo, abra a respectiva pasta e selecione-o. Pressione DE- acessar alguns comandos mais rapidamente como salvar, desfazer.
LETE e, na caixa de diálogo Excluir Arquivo, clique em Sim. Você pode personalizar essa barra, clicando no menu de contexto
Quando você exclui um arquivo, ele é armazenado tempora- (flecha para baixo) à direita dela.
riamente na Lixeira. Pense nela como uma pasta de segurança que
lhe permite recuperar pastas ou arquivos excluídos por engano. Barra de Titulo
De vez em quando, você deve esvaziar a Lixeira para recuperar o
espaço usado pelos arquivos indesejados no disco rígido.

Abrindo um arquivo existente Barra de acesso rápido


Para abrir um arquivo, clique duas vezes nele. O arquivo será
aberto no programa que você usou para criá-lo ou editá-lo. Se for
um arquivo de texto, por exemplo, será aberto no programa de
processamento de texto.

Didatismo e Conhecimento 13
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Mais a esquerda tem a ABA Arquivo.

Através dessa ABA, podemos criar novos documentos, abrir arquivos existentes, salvar documentos, imprimir, preparar o documento
(permite adicionar propriedades ao documento, criptografar, adicionar assinaturas digitais, etc.).

Vamos utilizar alguns destes recursos no andamento de nosso curso.

ABAS

Os comandos para a edição de nosso texto agora ficam agrupadas dentro destas guias. Dentro destas guias temos os grupos de ferra-
mentas, por exemplo, na guia Inicio, temos “Fonte”, “Parágrafo”, etc., nestes grupos fica visíveis para os usuários os principais comandos,
para acessar os demais comandos destes grupos de ferramentas, alguns destes grupos possuem pequenas marcações na sua direita inferior.

Didatismo e Conhecimento 14
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

O Word possui também guias contextuais quando determinados elementos dentro de seu texto são selecionados, por exemplo, ao sele-
cionar uma imagem, ele criar na barra de guias, uma guia com a possibilidade de manipulação do elemento selecionado.

Trabalhando com documentos

Ao iniciarmos o Word temos um documento em branco que é sua área de edição de texto. Vamos digitar um pequeno texto conforme
abaixo:

Didatismo e Conhecimento 15
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Salvando Arquivos Observe que o nome de seu arquivo agora aparece na barra
de títulos.
É importante ao terminar um documento, ou durante a digita-
ção do mesmo, quando o documento a ser criado é longo, salvar Abrindo um arquivo do Word
seu trabalho. Salvar consiste em armazenar se documento em for-
ma de arquivo em seu computador, pendrive, ou outro dispositivo Para abrir um arquivo, você precisa clicar na ABA Arquivo.
de armazenamento. Para salvar seu documento, clique no botão
salvar no topo da tela. Será aberta uma tela onde você poderá defi-
nir o nome, local e formato de seu arquivo.

Na esquerda da janela, o botão abrir é o segundo abaixo de


novo, observe também que ele mostra uma relação de documentos
recentes, nessa área serão mostrados os últimos documentos aber-
tos pelo Word facilitando a abertura.
Observe na janela de salvar que o Word procura salvar seus
Ao clicar em abrir, será necessário localizar o arquivo no local
arquivos na pasta Documents do usuário, você pode mudar o local
onde o mesmo foi salvo.
do arquivo a ser salvo, pela parte esquerda da janela. No campo
nome do arquivo, o Word normalmente preenche com o título do
documento, como o documento não possui um título, ele pega os
primeiros 255 caracteres e atribui como nome, é aconselhável co-
locar um nome menor e que se aproxime do conteúdo de seu texto.
“Em Tipo a maior mudança, até versão 2003, os documentos eram
salvos no formato”. DOC”, a partir da versão 2010, os documentos
são salvos na versão”. DOCX”, que não são compatíveis com as
versões anteriores.
Para poder salvar seu documento e manter ele compatível com
versões anteriores do Word, clique na direita dessa opção e mude
para Documento do Word 97-2003.

Caso necessite salvar seu arquivo em outro formato, outro lo-


cal ou outro nome, clique no botão Office e escolha Salvar Como.

Visualização do Documento

Podemos alterar a forma de visualização de nosso documento.


No rodapé a direta da tela temos o controle de Zoom.·. Anterior a
este controle de zoom temos os botões de forma de visualização
de seu documento, que podem também ser

acessados pela Aba Exibição.

Didatismo e Conhecimento 16
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Os cinco primeiros botões são os mesmos que temos em miniaturas no rodapé.

• Layout de Impressão: Formato atual de seu documento é o formato de como seu documento ficará na folha impressa.

• Leitura em Tela Inteira: Ele oculta as barras de seu documento, facilitando a leitura em tela, observe que no rodapé do documento
à direita, ele possui uma flecha apontado para a próxima página. Para sair desse modo de visualização, clique no botão fechar no topo à
direita da tela.

• Layout da Web: Aproxima seu texto de uma visualização na Internet, esse formato existe, pois muitos usuários postam textos pro-
duzidos no Word em sites e blogs na Internet.

• Estrutura de Tópicos: Permite visualizar seu documento em tópicos, o formato terá melhor compreensão quando trabalharmos com
marcadores.

• Rascunho: É o formato bruto, permite aplicar diversos recursos de produção de texto, porém não visualiza como impressão nem
outro tipo de meio.
O terceiro grupo de ferramentas da Aba exibição permite trabalhar com o Zoom da página. Ao clicar no botão Zoom o Word apresenta
a seguinte janela:

Onde podemos utilizar um valor de zoom predefinido, ou colocarmos a porcentagem desejada, podemos visualizar o documento em
várias páginas. E finalizando essa aba temos as formas de exibir os documentos aberto em uma mesma seção do Word.

Configuração de Documentos

Um dos principais cuidados que se deve ter com seus documentos é em relação à configuração da página. A ABNT (Associação Bra-
sileira de Normas Técnicas) possui um manual de regras para documentações, então é comum escutar “o documento tem que estar dentro
das normas”, não vou me atentar a nenhuma das normas especificas, porém vou ensinar como e onde estão as opções de configuração de
um documento.

Didatismo e Conhecimento 17
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
No Word 2010 a ABA que permite configurar sua página é a
ABA Layout da Página.

O grupo “Configurar Página”, permite definir as margens de A terceira guia dessa janela chama-se Layout. A primeira
seu documento, ele possui alguns tamanhos pré-definidos, como opção dessa guia chama-se seção. Aqui se define como será uma
também personalizá-las. nova seção do documento, vamos aprender mais frente como tra-
balhar com seções.
Ao personalizar as margens, é possível alterar as margens su-
perior, esquerda, inferior e direita, definir a orientação da página, Em cabeçalhos e rodapés podemos definir se vamos utilizar
se retrato ou paisagem, configurar a fora de várias páginas, como cabeçalhos e rodapés diferentes nas páginas pares e ímpares, e se
normal, livro, espelho. Ainda nessa mesma janela temos a guia quero ocultar as informações de cabeçalho e rodapé da primeira
Papel. página. Em Página, pode-se definir o alinhamento do conteúdo do
texto na página.
O padrão é o alinhamento superior, mesmo que fique um bom
espaço em branco abaixo do que está editado. Ao escolher a opção
centralizada, ele centraliza o conteúdo na vertical. A opção núme-
ros de linha permite adicionar numeração as linhas do documento.

Nesta guia podemos definir o tipo de papel, e fonte de alimen-


tação do papel.

Didatismo e Conhecimento 18
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Colunas Plano de Fundo da Página

Podemos adicionar as páginas do documento, marcas d’água,


cores e bordas. O grupo Plano de Fundo da Página possui três bo-
tões para modificar o documento.

Clique no botão Marca d’água.


Ao clicar em mais Colunas, é possível personalizar as suas
colunas, o Word disponibiliza algumas opções pré-definidas, mas
você pode colocar em um número maior de colunas, adicionar li-
nha entre as colunas, definir a largura e o espaçamento entre as
colunas.

Observe que se você pretende utilizar larguras de colunas di-


ferentes é preciso desmarcar a opção “Colunas de mesma largura”.
Atente também que se preciso adicionar colunas a somente uma
parte do texto, eu preciso primeiro selecionar esse texto.

Números de Linha
O Word apresenta alguns modelos, mais abaixo temos o item
É bastante comum em documentos acrescentar numeração Personalizar Marca D’água. Clique nessa opção.
nas páginas dos documentos, o Word permite que você possa fazer
facilmente, clicando no botão “Números de Linhas”.

Ao clicar em “Opções de Numeração de Linhas...”, abre-se a


janela que vimos em Layout.

Didatismo e Conhecimento 19
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Nesta janela podemos definir uma imagem como marca
d’água, basta clicar em Selecionar Imagem, escolher a imagem
e depois definir a dimensão e se a imagem ficará mais fraca (des-
botar) e clicar em OK. Como também é possível definir um texto
como marca d’água. O segundo botão permite colocar uma cor de
fundo em seu texto, um recurso interessante é que o Word verifica
a cor aplicada e automaticamente ele muda a cor do texto.

Este é um processo comum, porém um cuidado importante é


quando se copia texto de outro tipo de meio como, por exemplo,
da Internet.

Textos na Internet possuem formatações e padrões deferentes


dos editores de texto.

O botão Bordas da Página, já estudamos seu funcionamento Ao copiar um texto da Internet, se você precisa adequá-lo ao
ao clicar nas opções de Margens. seu documento, não basta apenas clicar em colar, é necessário cli-
car na setinha apontando para baixo no botão Colar, escolher Colar
Selecionando Textos Especial.

Embora seja um processo simples, a seleção de textos é indis-


pensável para ganho de tempo na edição de seu texto. Através da
seleção de texto podemos mudar a cor, tamanho e tipo de fonte,
etc.

Selecionando pelo Mouse

Ao posicionar o mouse mais a esquerda do texto, o cursor


aponta para a direita.
• Ao dar um clique ele seleciona toda a linha
• Ao dar um duplo clique ele seleciona todo o parágrafo.
• Ao dar um triplo clique seleciona todo o texto
Com o cursor no meio de uma palavra:
• Ao dar um clique o cursor se posiciona onde foi clicado
• Ao dar um duplo clique, ele seleciona toda a palavra.
• Ao dar um triplo clique ele seleciona todo o parágrafo Observe na imagem que ele traz o texto no formato HTML.
Podemos também clicar, manter o mouse pressionado e arras- Precisa-se do texto limpo para que você possa manipulá-lo, mar-
tar até onde se deseja selecionar. que a opção Texto não formatado e clique em OK.
O problema é que se o mouse for solto antes do desejado, é
preciso reiniciar o processo, ou pressionar a tecla SHIFT no tecla- Localizar e Substituir
do e clicar ao final da seleção desejada. Podemos também clicar
onde começa a seleção, pressionar a tecla SHIFT e clicar onde Ao final da ABA Inicio temos o grupo edição, dentro dela te-
termina a seleção. É possível selecionar palavras alternadas. Se- mos a opção Localizar e a opção Substituir. Clique na opção Subs-
lecione a primeira palavra, pressione CTRL e vá selecionando as tituir.
partes do texto que deseja modificar.

Copiar e Colar

O copiar e colar no Word funciona da mesma forma que qual-


quer outro programa, pode-se utilizar as teclas de atalho CTRL+C
(copiar), CTRL+X (Recortar) e CTRL+V(Colar), ou o primeiro
grupo na ABA Inicio.

A janela que se abre possui três guias, localizar, Substituir e


Ir para. A guia substituir que estamos vendo, permite substituir em
seu documento uma palavra por outra.

Didatismo e Conhecimento 20
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
A substituição pode ser feita uma a uma, clicando em substituir, ou pode ser todas de uma única vez clicando-se no botão Substituir
Tudo.

Algumas vezes posso precisar substituir uma palavra por ela mesma, porém com outra cor, ou então somente quando escrita em maiús-
cula, etc., nestes casos clique no botão Mais. As opções são:
• Pesquisar: Use esta opção para indicar a direção da pesquisa;
• Diferenciar maiúsculas de minúsculas: Será localizada exatamente a palavra como foi digitada na caixa localizar.
• Palavras Inteiras: Localiza uma palavra inteira e não parte de uma palavra. Ex: Atenciosamente.
• Usar caracteres curinga: Procura somente as palavras que você especificou com o caractere coringa. Ex. Se você digitou *ão o
Word vai localizar todas as palavras terminadas em ão.
• Semelhantes: Localiza palavras que tem a mesma sonoridade, mas escrita diferente. Disponível somente para palavras em inglês.
• Todas as formas de palavra: Localiza todas as formas da palavra, não será permitida se as opções usar caractere coringa e seme-
lhantes estiverem marcadas.
• Formatar: Localiza e Substitui de acordo com o especificado como formatação.
• Especial: Adiciona caracteres especiais à caixa localizar. A caixa de seleção usar caracteres curinga.

Formatação de texto

Um dos maiores recursos de uma edição de texto é a possibilidade de se formatar o texto. No Office 2010 a ABA responsável pela
formatação é a Inicio e os grupo Fonte, Parágrafo e Estilo.

Formatação de Fonte

A formatação de fonte diz respeito ao tipo de letra, tamanho de letra, cor, espaçamento entre caracteres, etc., para formatar uma palavra,
basta apenas clicar sobre ela, para duas ou mais é necessário selecionar o texto, se quiser formatar somente uma letra também é necessário
selecionar a letra.

No grupo Fonte, temos visível o tipo de letra, tamanho, botões de aumentar fonte e diminuir fonte, limpar formatação, negrito, itálico,
sublinhado, observe que ao lado de sublinhado temos uma seta apontando para baixo, ao clicar nessa seta, é possível escolher tipo e cor de
linha.

Ao lado do botão de sublinhado temos o botão Tachado – que coloca um risco no meio da palavra, botão subscrito e sobrescrito e o
botão Maiúsculas e Minúsculas.

Didatismo e Conhecimento 21
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Este botão permite alterar a colocação de letras maiúsculas e


minúsculas em seu texto. Após esse botão temos o de realce – que
permite colocar uma cor de fundo para realçar o texto e o botão de
cor do texto.

Podemos definir a escala da fonte, o espaçamento entre os


caracteres que pode ser condensado ou comprimido, a posição é
referente ao sobrescrito e subscrito, permitindo que se faça algo
como: .

Kerning: é o acerto entre o espaço dentro das palavras, pois al-


gumas vezes acontece de as letras ficaram com espaçamento entre
elas de forma diferente.

Uma ferramenta interessante do Word é a ferramenta pincel,


pois com ela você pode copiar toda a formatação de um texto e
aplicar em outro.

Formatação de parágrafos
Podemos também clicar na Faixa no grupo Fonte.
A principal regra da formatação de parágrafos é que indepen-
dente de onde estiver o cursor a formatação será aplicada em todo
o parágrafo, tendo ele uma linha ou mais. Quando se trata de dois
ou mais parágrafos será necessárioselecionar os parágrafos a se-
rem formatados.
A formatação de parágrafos pode ser localizada na ABA Ini-
cio, e os recuos também na ABA Layout da Página.

A janela fonte contém os principais comandos de formatação


e permite que você possa observar as alterações antes de aplica. No grupo da Guia Inicio, temos as opções de marcadores (bul-
Ainda nessa janela temos a opção Avançado. lets e numeração e listas de vários níveis), diminuir e aumentar
recuo, classificação e botão Mostrar Tudo, na segunda linha temos
os botões de alinhamentos: esquerda, centralizado, direita e justifi-
cado, espaçamento entre linhas, observe que o espaçamento entre
linhas possui uma seta para baixo, permitindo que se possa definir
qual o espaçamento a ser utilizado.

Didatismo e Conhecimento 22
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Na guia parágrafo da ABA Layout de Página temos apenas
os recuos e os espaçamentos entre parágrafos. Ao clicar na Faixa
do grupo Parágrafos, será aberta a janela de Formatação de Pará-
grafos.

Cor do Preenchimento do Parágrafo.

Bordas no parágrafo.

As opções disponíveis são praticamente as mesmas disponí-


veis pelo grupo.
Podemos trabalhar os recuos de texto também pelas réguas
superiores.

Marcadores e Numeração

Os marcadores e numeração fazem parte do grupo parágrafos,


mas devido a sua importância, merecem um destaque. Existem
dois tipos de marcadores: Símbolos e Numeração.

Didatismo e Conhecimento 23
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Onde você poderá escolher a Fonte (No caso aconselha-se a


utilizar fontes de símbolos como a Winddings, Webdings), e de-
pois o símbolo. Ao clicar em Imagem, você poderá utilizar uma
A opção vários níveis é utilizada quando nosso texto tenha imagem do Office, e ao clicar no botão importar, poderá utilizar
níveis de marcação como, por exemplo, contratos e petições. Os uma imagem externa.
marcadores do tipo Símbolos como o nome já diz permite adicio- Bordas e Sombreamento
nar símbolos a frente de seus parágrafos.
Se precisarmos criar níveis nos marcadores, basta clicar antes Podemos colocar bordas e sombreamentos em nosso texto.
do inicio da primeira palavra do parágrafo e pressionar a tecla TAB Podem ser bordas simples aplicadas a textos e parágrafos. Bordas
no teclado. na página como vimos quando estudamos a ABA Layout da Página
e sombreamentos.
Selecione o texto ou o parágrafo a ser aplicado à borda e ao
clicar no botão de bordas do grupo Parágrafo, você pode escolher
uma borda pré-definida ou então clicar na última opção Bordas e
Sombreamento.

Você pode observar que o Word automaticamente adicionou


outros símbolos ao marcador, você pode alterar os símbolos dos
marcadores, clicando na seta ao lado do botão Marcadores e esco-
lhendo a opção Definir Novo Marcador.

Ao clicar em Símbolo, será mostrada a seguinte janela:

Didatismo e Conhecimento 24
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Podemos começar escolhendo uma definição de borda (caixa,


sombra, 3D e outra), ou pode-se especificar cada uma das bordas
na direita onde diz Visualização. Pode-se pelo meio da janela es-
pecificar cor e largura da linha da borda.

A Guia Sombreamento permite atribuir um preenchimento de


fundo ao texto selecionado.
Ao clicar em Cabeçalho o Word disponibiliza algumas opções
Você pode escolher uma cor base, e depois aplicar uma textura de caixas para que você possa digitar seu texto. Ao clicar em Edi-
junto dessa cor. tar Cabeçalho o Word edita a área de cabeçalho e a barra superior
Cabeçalho e Rodapé passa a ter comandos para alteração do cabeçalho.

O Word sempre reserva uma parte das margens para o cabeça-


lho e rodapé. Para acessar as opções de cabeçalho e rodapé, clique
na ABA Inserir, Grupo Cabeçalho e Rodapé.

A área do cabeçalho é exibida em um retângulo pontilhado, o


restante do documento fica em segundo plano. Tudo o que for inse-
rido no cabeçalho será mostrado em todas as páginas, com exceção
se você definiu seções diferentes nas páginas.

Ele é composto de três opções Cabeçalho, Rodapé e Número


de Página.

Para aplicar números de páginas automaticamente em seu ca-

Didatismo e Conhecimento 25
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
beçalho basta clicar em Números de Página, apenas tome o cui-
dado de escolher Inicio da Página se optar por Fim da Página ele
aplicará o número da página no rodapé.
Podemos também aplicar cabeçalhos e rodapés diferentes a
um documento, para isso basta que ambos estejam em seções dife- Imagens
rentes do documento. O primeiro elemento gráfico que temos é o elemento Imagem.
O cuidado é ao aplicar o cabeçalho ou o rodapé, desmarcar a Para inserir uma imagem clique no botão com o mesmo nome no
opção Vincular ao anterior. grupo Ilustrações na ABA Inserir. Na janela que se abre, localize o
O funcionamento para o rodapé é o mesmo para o cabeçalho, arquivo de imagem em seu computador.
apenas deve-se clicar no botão Rodapé.

Data e Hora

O Word Permite que você possa adicionar um campo de Data


e Hora em seu texto, dentro da ABA Inserir, no grupo Texto, temos A imagem será inserida no local onde estava seu cursor.
o botão Data e Hora.
O que será ensinado agora é praticamente igual para todo os
elementos gráficos, que é a manipulação dos elementos gráficos.

Ao inserir a imagem é possível observar que a mesma enquan-


to selecionada possui uma caixa pontilhadas em sua volta, para
mover a imagem de local, basta clicar sobre ela e arrastar para o
local desejado, se precisar redimensionar a imagem, basta clicar
em um dos pequenos quadrados em suas extremidades, que são
chamados por Alças de redimensionamento.

Para sair da seleção da imagem, basta apenas clicar em qual-


quer outra parte do texto.

Ao clicar sobre a imagem, a barra superior mostra as configu-


rações de manipulação da imagem.

Basta escolher o formato a ser aplicado e clicar em OK. Se


precisar que esse campo sempre atualize data, marque a opção
Atualizar automaticamente.

Inserindo Elementos Gráficos O primeiro grupo é o Ajustar, dentre as opções temos Brilho e
Contraste, que permite clarear ou escurecer a imagem e adicionar
O Word permite que se insira em seus documentos arquivos ou remover o contraste. Podemos recolorir a imagem.
gráficos como Imagem, Clip-art, Formas, etc., as opções de inser-
ção estão disponíveis na ABA Inserir.

Didatismo e Conhecimento 26
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
No botão Efeitos de Sombra, você poderá escolher algumas
posições de sombra (Projetada, Perspectiva) e cor da sombra. Ao
lado deste botão é possível definir a posição da sombra e no meio a
opção de ativar e desativar a sombra. No grupo Organizar é possí-
vel definir a posição da imagem em relação ao texto.

Entre as opções de recolorir podemos colocar nossa imagem


em tons de cinza, preto e branco, desbotar a imagem e remover O primeiro dos botões é a Posição, ela permite definir em qual
uma cor da imagem. Este recurso permite definir uma imagem posição a imagem deverá ficar em relação ao texto.
com fundo transparente. A opção Compactar Imagens permite dei-
xar sua imagem mais adequada ao editor de textos. Ao clicar nesta
opção o Word mostra a seguinte janela:

Ao clicar na opção Mais Opções de Layout abre-se a jane-


la Layout Avançado que permite trabalhar a disposição da ima-
gem em relação ao bloco de texto no qual ela esta inserida. Essas
mesmas opções estão disponíveis na opção Quebra Automática
de Texto nesse mesmo grupo. Ao colocar a sua imagem em uma
disposição com o texto, é habilitado alguns recursos da barra de
imagens. Como bordas

Pode-se aplicar a compactação a imagem selecionada, ou a


todas as imagens do texto. Podemos alterar a resolução da ima-
gem. A opção Redefinir Imagem retorna a imagem ao seu estado
inicial, abandonando todas as alterações feitas. O próximo grupo
chama-se Sombra, como o próprio nome diz, permite adicionar
uma sombra a imagem que foi inserida.

Através deste grupo é possível acrescentar bordas a sua ima-


gem E no grupo Organizar ele habilita as opções de Trazer para
Frente, Enviar para Trás e Alinhar. Ao clicar no botão Trazer para
Frente, ele abre três opções: Trazer para Frente e Avançar, são uti-
lizadas quando houver duas ou mais imagens e você precisa mu-
dar o empilhamento delas. A opção Trazer para Frente do Texto
faz com que a imagem flutue sobre o Texto. Ao ter mais de uma
imagem e ao selecionar as imagens (Utilize a tecla SHIFT), você
poderá alinhar as suas imagens.

Didatismo e Conhecimento 27
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

O último grupo é referente às dimensões da imagem.

Neste grupo você pode cortar a sua imagem, ou redimensionar a imagem definindo Largura e Altura.

Os comandos vistos até o momento estavam disponíveis da seguinte forma, pois nosso documento esta salvo em.DOC – versão com-
patível com Office XP e 2003. Ao salvar o documento em .DOCX compatível somente com a versão 2010, acontecem algumas alterações
na barra de imagens.

No grupo Ajustar já temos algumas alterações, ao clicar no item Cor. Em estilos de imagem podemos definir bordas e sombreamentos
para a imagem.

Didatismo e Conhecimento 28
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Clique sobre a imagem a ser adicionada ao seu texto com o
botão direito e escolha Copiar (CTRL+C).

Clique em seu texto onde o Clip-Art deve ser adicionado e


clique em Colar (CTRL+V) As configurações de manipulação do
clip-art são as mesmas das imagens.

Formas

Podemos também adicionar formas ao nosso conteúdo do texto

Podemos aplicar também os Efeitos de Imagem

Clip Art

Clip-Art são imagens, porém são imagens que fazem parte


do pacote Office. Para inserir um clipart, basta pela ABA Inserir,
clicar na opção Clip-Art. Na direita da tela abre-se a opção de con-
sulta aos clip-Art. Para desenhar uma forma, o processo é simples, basta clicar
na forma desejada e arrastar o mouse na tela para definir as suas
dimensões. Ao desenhar a sua forma a barra passa a ter as proprie-
dade para modificar a forma.

O primeiro grupo chama-se Inserir Forma, ele possui a fer-


ramenta de Inserir uma forma. Ao lado temos a ferramenta Editar
Forma essa ferramenta permite trabalhar os nós da forma – Algu-
mas formas bloqueiam a utilização dessa ferramenta. Abaixo dela
temos a ferramenta de caixa de texto, que permite adicionar uma
caixa de texto ao seu documento. Estando com uma forma fecha-
da, podemos transformar essa forma em uma caixa de texto. Ao
lado temos o Grupo Estilos de Forma.

Didatismo e Conhecimento 29
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Os primeiros botões permitem aplicar um estilo a sua forma.

Ainda nesse grupo temos a opção de trabalharmos as cores,


contorno e alterar a forma.

Ao clicar em Mais Gradações, será possível personalizar a


forma como será o preenchimento do gradiente.

A opção Imagem preenche sua forma com alguma imagem. A


opção Gradação permite aplicar tons de gradiente em sua forma. Na guia gradiente, temos as opções de Uma cor, Duas cores e
Pré-definidas.

Didatismo e Conhecimento 30
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Ao escolher uma cor você pode escolher a cor a ser aplicada, A Guia Textura permite aplicar imagens como texturas ao
se quer ela mais para o claro ou escuro, pode definir a transparên- preenchimento, a guia Padrão permite aplicar padrões de preenchi-
cia do gradiente e como será o sombreamento. mento e imagem permite aplicar uma imagem Após o grupo Esti-
los de Forma temos o grupo sombra e após ele o grupo Efeitos 3D.

Ao clicar na opção Duas Cores, você pode definir a cor 1 e cor


2, o nível de transparência e o sombreamento.

Podemos aplicar efeitos tridimensionais em nossas formas.


Além de aplicar o efeitos podemos mudar a cor do 3D, alterar a
profundidade, a direção, luminosidade e superfície. As demais op-
ções da Forma são idênticas as das imagens.

SmartArt

O SmartArt permite ao você adicionar Organogramas ao seu


documento. Se você estiver usando o Office 2003 ou seu docu-
mento estiver salvo em DOC, ao clicar nesse botão, ele habilita a
seguinte janela:

Ao clicar em Pré-definidas, o Office possui algumas cores de


preenchimento prontas.

Basta selecionar o tipo de organograma a ser trabalhado e cli-


que em OK. Porém se o formato de seu documento for DOCX, a
janela a ser mostrada será:

Didatismo e Conhecimento 31
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Em hierarquia, escolha o primeiro da segunda linha e clique em OK.

Altere os textos conforme a sua necessidade. Ao clicar no topo em Ferramentas SmartArt, serão mostradas as opções de alteração do
objeto.

O primeiro botão é o de Adicionar uma forma. Basta clicar em um botão do mesmo nível do que será criado e clicar neste botão. Outra
forma de se criar novas caixas dentro de um mesmo nível é ao terminar de digitar o texto pressionar ENTER. Ainda no grupo Criar Gráfico
temos os botões de Elevar / Rebaixar que permite mudar o nível hierárquico de nosso organograma.

No grupo Layout podemos mudar a disposição de nosso organograma.

O próximo grupo é o Estilos de SmartArt que permite mudar as cores e o estilo do organograma.

Didatismo e Conhecimento 32
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

WordArt

Para finalizarmos o trabalho com elementos gráficos temo os WordArt que já um velho conhecido da suíte Office, ele ainda mantém a
mesma interface desde a versão do Office 97 No grupo Texto da ABA Inserir temos o botão de WorArt Selecione um formato de WordArt
e clique sobre ele.

Será solicitado a digitação do texto do WordArt. Digite seu texto e clique em OK. Será mostrada a barra do WordArt

O primeiro grupo é o Texto, nesse grupo podemos editar o texto digitado e definir seu espaçamento e alinhamentos. No grupo Estilos de
WordArt pode-se mudar a forma do WordArt, depois temos os grupos de Sombra, Efeitos 3D, Organizar e Tamanho.

Didatismo e Conhecimento 33
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Tabelas Ao desenhar a caixa que fará parte da tabela, você pode uti-
lizar o topo
As tabelas são com certeza um dos elementos mais importan-
tes para colocar dados em seu documento. Ferramentas de Tabela.
Use tabelas para organizar informações e criar formas de pá-
ginas interessantes e disponibilizar seus dados.
Para inserir uma tabela, na ABA Inserir clique no botão Ta-
bela.

Através do grupo Opções de Estilo de Tabela é possível defi-


nir células de cabeçalho. O grupo Estilos de Tabela permite aplicar
uma formatação a sua tabela e o grupo Desenhar Bordas permite
definir o estilo, espessura e cor da linha. O botão Desenhar Tabela
transforma seu cursor em um lápis para desenhar as células de sua
tabela, e o botão Borracha apaga as linhas da tabela.

Você pode observar também que ao estar com alguma célula


da tabela com o cursor o Word acrescenta mais uma ABA ao final,
chamada Layout, clique sobre essa ABA.

O primeiro grupo Tabela permite selecionar em sua tabela,


apenas uma célula, uma linha, uma coluna ou toda a tabela.

Ao clicar no botão de Tabela, você pode definir a quantidade


de linhas e colunas, pode clicar no item Inserir Tabela ou Desenhar
a Tabela, Inserir uma planilha do Excel ou usar uma Tabela Rápida
que nada mais são do que tabelas prontas onde será somente neces-
sário alterar o conteúdo.
Ao clicar na opção Propriedades será aberto uma janela com
as propriedades da janela.

Você pode criar facilmente uma tabela mais complexa, por


exemplo, que contenha células de diferentes alturas ou um número
variável de colunas por linha semelhante à maneira como você usa
uma caneta para desenhar uma tabela.

Didatismo e Conhecimento 34
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Nesta janela existem quatro Guias. A opção dividir células permite dividir uma célula. Ao clicar
A primeira é relativa à tabela, pode-se definir a largura da ta- nessa opção será mostrada uma janela onde você deve definir em
bela, o alinhamento e a quebra do texto na tabela. Ao clicar no quantas linhas e colunas a célula será dividida.
botão Bordas e Sombreamento abre-se a janela de bordas e som-
breamento estudada anteriormente. Ao clicar em Opções é possí-
vel definir as margens das células e o espaçamento entre as células.

A opção dividir tabela insere um parágrafo acima da célula


que o cursor está, dividindo a tabela. O grupo Tamanho da Célula
permite definir a largura e altura da célula. A opção AutoAjuste
tem a função de ajustar sua célula de acordo com o conteúdo den-
tro dela.

O grupo Alinhamento permite definir o alinhamento do con-


O segundo grupo é o Linhas e Colunas permite adicionar e teúdo da tabela. O botão Direção do Texto permite mudar a direção
remover linhas e colunas de sua tabela. de seu texto. A opção Margens da Célula, permite alterar as mar-
gens das células como vimos anteriormente.

O grupo Dados permite classificar, criar cálculos, etc., em sua


tabela.
Ao clicar na Faixa deste grupo ele abre uma janela onde é
possível deslocar células, inserir linhas e colunas. O terceiro grupo
é referente à divisão e mesclagem de células.

A opção classificar como o próprio nome diz permite classifi-


car os dados de sua tabela.

A opção Mesclar Células, somente estará disponível se você


selecionar duas ou mais células. Esse comando permite fazer com
que as células selecionadas tornem-se uma só.

Didatismo e Conhecimento 35
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Ele abre a seguinte janela e coloca sua primeira linha como a linha de cabeçalho, você pode colocar até três colunas como critérios de
classificação.

O botão Converter em Texto permite transformar sua tabela em textos normal. A opção fórmula permite fazer cálculos na tabela.

ABA Revisão

A ABA revisão é responsável por correção, proteção, comentários etc., de seu documento.

O primeiro grupo Revisão de Texto tem como principal botão o de ortografia e Gramática, clique sobre ele.

O objetivo desta ferramenta e verificar todo o seu documento em busca de erros.

Os de ortografia ele marca em vermelho e os de gramática em verde. É importante lembrar que o fato dele marcar com cores para veri-
ficação na impressão sairá com as cores normais. Ao encontrar uma palavra considerada pelo Word como errada você pode:

• Ignorar uma vez: Ignora a palavra somente nessa parte do texto.



• Ignorar Todas: Ignora a palavra quando ela aparecer em qualquer parte do texto.

• Adicionar ao dicionário: Adiciona a palavra ao dicionário do Word, ou seja, mesmo que ela apareça em outro texto ela não será
grafada como errada. Esta opção deve ser utilizada quando palavras que existam, mas que ainda não façam parte do Word.

• Alterar: Altera a palavra. Você pode alterá-la por uma palavra que tenha aparecido na caixa de sugestões, ou se você a corrigiu no
quadro superior.

• Alterar Todas: Faz a alteração em todas as palavras que estejam da mesma forma no texto.

Impressão

Para imprimir seu documento o processo é muito simples. Clique no botão

Office e ao posicionar o mouse em Imprimir ele abre algumas opções.

Didatismo e Conhecimento 36
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Podemos também se necessário criarmos nossos próprios esti-
los. Clique na Faixa do grupo Estilo.

Estilos

Os estilos podem ser considerados formatações prontas a se-


rem aplicadas em textos e parágrafos. O Word disponibiliza uma
grande quantidade de estilos através do grupo estilos.

Para aplicar um estilo ao um texto é simples. Se você clicar em


seu texto sem selecioná-lo, e clicar sobre um estilo existente, ele
aplica o estilo ao parágrafo inteiro, porém se algum texto estiver
selecionado o estilo será aplicado somente ao que foi selecionado.

Será mostrado todos os estilos presentes no documento em


uma caixa à direita. Na parte de baixo da janela existem três bo-
tões, o primeiro deles chama-se Novo Estilo, clique sobre ele.

Observe na imagem acima que foi aplicado o estilo Título2


em ambos os textos, mas no de cima como foi clicado somente no
texto, o estilo está aplicado ao parágrafo, na linha de baixo o texto
foi selecionado, então a aplicação do estilo foi somente no que
estava selecionado. Ao clicar no botão Alterar Estilos é possível
acessar a diversas definições de estilos através da opção Conjunto
de Estilos.

No exemplo dei o nome de Citações ao meu estilo, defini que


ele será aplicado a parágrafos, que a base de criação dele foi o
estilo corpo e que ao finalizar ele e iniciar um novo parágrafo o
próximo será também corpo.

Didatismo e Conhecimento 37
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Abaixo definir a formatação a ser aplicada no mesmo. Na par-
te de baixo mantive a opção dele aparecer nos estilos rápidos e que
o mesmo está disponível somente a este documento. Ao finalizar
clique em OK. Veja um exemplo do estilo aplicado:

Índices

Sumário
O Sumário ou Índice Analítico é o mais utilizado, ele normal-
mente aparece no inicio de documentos. A principal regra é que
todo parágrafo que faça parte de seu índice precisa estar atrelado a
um estilo. Clique no local onde você precisa que fique seu índice
e clique no botão Sumário. Serão mostrados alguns modelos de
sumário, clique em Inserir Sumário.

Será aberta outra janela, nesta janela aparecem todos os estilos


presentes no documento, então é nela que você define quais estilos
farão parte de seu índice.

No exemplo apliquei o nível 1 do índice ao estilo Título 1, o


nível 2 ao Título 2 e o nível 3 ao Título 3. Após definir quais serão
suas entradas de índice clique em OK.

Retorna-se a janela anterior, onde você pode definir qual será


o preenchimento entre as chamadas de índice e seu respectivo nú-
mero de página e na parte mais abaixo, você pode definir o Forma-
to de seu índice e quantos níveis farão parte do índice.

Ao clicar em Ok, seu índice será criado.

Quando houver necessidade de atualizar o índice, basta clicar


com o botão direito do mouse em qualquer parte do índice e esco-
lher Atualizar Campo.

Será mostrada uma janela de configuração de seu índice. Cli-


que no botão Opções. Na janela que se abre escolha Atualizar o índice inteiro.

Didatismo e Conhecimento 38
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Um arquivo do Excel ao iniciar com três guias de planilha,
5.3 MS-EXCEL 2010: ESTRUTURA BÁSI- estas guias permite que se possa em um único arquivo armazenar
CA DAS PLANILHAS, CONCEITOS DE mais de uma planilha, inicialmente o Excel possui três planilhas,
CÉLULAS, LINHAS, COLUNAS, PASTAS E e ao final da Plan3 temos o ícone de inserir planilha que cria uma
GRÁFICOS, ELABORAÇÃO DE TABELAS E nova planilha. Você pode clicar com o botão direito do mouse em
GRÁFICOS, USO DE FÓRMULAS, FUNÇÕES uma planilha existente para manipular as planilhas.
E MACROS, IMPRESSÃO, INSERÇÃO DE
OBJETOS, CAMPOS PREDEFINIDOS, CON-
TROLE DE QUEBRAS E NUMERAÇÃO DE
PÁGINAS, OBTENÇÃO DE DADOS EXTER-
NOS, CLASSIFICAÇÃO DE DADOS

O Excel é uma das melhores planilhas existentes no merca-


do. As planilhas eletrônicas são programas que se assemelham a
uma folha de trabalho, na qual podemos colocar dados ou valores
em forma de tabela e aproveitar a grande capacidade de cálculo e
armazenamento do computador para conseguir efetuar trabalhos
que, normalmente, seriam resolvidos com uma calculadora, lápis Na janela que é mostrada é possível inserir uma nova planilha,
e papel. A tela do computador se transforma numa folha onde po- excluir uma planilha existente, renomear uma planilha, mover ou
demos observar uma série de linhas (números) e colunas (letras). copiar essa planilha, etc...
A cada encontro de uma linha com uma coluna temos uma célula
onde podemos armazenar um texto, um valor, funções ou fórmula Movimentação na planilha
para os cálculos. O Excel oferece, inicialmente, em uma única Para selecionar uma célula ou torná-la ativa, basta movimen-
pasta de trabalho três planilhas, mas é claro que você poderá inse- tar o retângulo (cursor) de seleção para a posição desejada. A mo-
rir mais planilhas conforma sua necessidade. vimentação poderá ser feita através do mouse ou teclado.
Com o mouse para selecionar uma célula basta dar um clique
Interface em cima dela e observe que a célula na qual você clicou é mostrada
como referência na barra de fórmulas.
A interface do Excel segue o padrão dos aplicativos Office,
com ABAS, Botão Office, controle de Zoom na direita. O que
muda são alguns grupos e botões exclusivos do Excel e as guias de
planilha no rodapé à esquerda:

Se você precisar selecionar mais de uma célula, basta manter


pressionado o mouse e arrastar selecionando as células em sequ-
ência.

Guias de Planilha

Didatismo e Conhecimento 39
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Se precisar selecionar células alternadamente, clique sobre a Dê um nome ao seu arquivo, defina o local onde ele deverá ser
primeira célula a ser selecionada, pressione CTRL e vá clicando salvo e clique em Salvar, o formato padrão das planilhas do Excel
nas que você quer selecionar. 2010 é o xlsx, se precisar salvar em xls para manter compatibilida-
de com as versões anteriores é preciso em tipo definir como Pasta
de Trabalho do Excel 97 – 2003.
Para abrir um arquivo existente, clique no botão Office e de-
pois no botão Abrir, localize seu arquivo e clique sobre ele e depois
em abrir.

Podemos também nos movimentar com o teclado, neste caso


usamos a combinação das setas do teclado com a tecla SHIFT.

Operadores e Funções

A função é um método utilizado para tornar mais fácil e rápido


a montagem de fórmulas que envolvem cálculos mais complexos
Entrada de textos e números e vários valores.

Na área de trabalho do Excel podem ser digitados caracteres, Existem funções para os cálculos matemáticos, financeiros e
números e fórmulas. Ao finalizar a digitação de seus dados, você estatísticos. Por exemplo, na função: =SOMA (A1:A10) seria o
pode pressionar a tecla ENTER, ou com as setas mudar de célula, mesmo que (A1+A2+A3+A4+A5+A6+A7+A8+A9+A10), só que
esse recurso somente não será válido quando estiver efetuando um com a função o processo passa a ser mais fácil. Ainda conforme
cálculo. Caso precise alterar o conteúdo de uma célula sem preci- o exemplo pode-se observar que é necessário sempre iniciar um
sar redigitar tudo novamente, clique sobre ela e pressione F2, faça cálculo com sinal de igual (=) e usa-se nos cálculos a referência de
sua alteração e pressione ENTER em seu teclado. células (A1) e não somente valores.

Salvando e Abrindo Arquivos A quantidade de argumentos empregados em uma função de-


pende do tipo de função a ser utilizada. Os argumentos podem ser
Para salvar uma planilha o processo é igual ao feito no Word, números, textos, valores lógicos, referências, etc...
clique no botão Office e clique me Salvar.
Operadores

Operadores são símbolos matemáticos que permitem fazer


cálculos e comparações entre as células. Os operadores são:

Didatismo e Conhecimento 40
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Vamos montar uma planilha simples. Poderíamos fazer o seguinte cálculo =1*20 que me traria o re-
sultado, porém bastaria alterar o valor da quantidade ou o V. unitá-
rio que eu precisaria fazer novamente o cálculo. O correto é então
é fazer =A4*C4 com isso eu multiplico referenciando as células,
independente do conteúdo dela, ele fará a multiplicação, desde que
ali se tenha um número.

Observe que o conteúdo de algumas células é maior que a sua


largura, podemos acertar isso da seguinte forma.
Se precisar trabalhar a largura de uma coluna, posiciono o
mouse entre as colunas, o mouse fica com o formato de uma flecha Observe que ao fazer o cálculo é colocado também na barra
de duas pontas, posso arrastar para definir a nova largura, ou posso de fórmulas, e mesmo após pressionar ENTER, ao clicar sobre a
dar um duplo clique que fará com que a largura da coluna acerte- célula onde está o resultado, você poderá ver como se chegou ao
-se com o conteúdo. Posso também clicar com o botão direito do resultado pela barra de fórmulas.
mouse e escolher Largura da Coluna.

Para o cálculo do teclado é necessário então fazer o cálculo da


segunda linha A5*C5 e assim sucessivamente. Observamos então
que a coluna representada pela letra não muda, muda-se somente
o número que representa a linha, e se nossa planilha tivesse uma
grande quantidade de produtos, repetir o cálculo seria cansativo e
com certeza sujeita a erros. Quando temos uma sequência de cál-
culos como a nossa planilha o Excel permite que se faça um único
cálculo e ao posicionar o cursor do mouse no canto inferior direito
da célula o cursor se transforma em uma cruz (não confundir com
O objetivo desta planilha é calcularmos o valor total de cada a seta branca que permite mover o conteúdo da célula e ao pres-
produto (quantidade multiplicado por valor unitário) e depois o sionar o mouse e arrastar ele copia a fórmula poupando tempo).
total de todos os produtos.
Para o total de cada produto precisamos utilizar o operador de Para calcular o total você poderia utilizar o seguinte cálculo
multiplicação (*), no caso do Mouse temos que a quantidade está D4+D5+D6+D7+D8, porém isso não seria nada pratico em plani-
na célula A4 e o valor unitário está na célula C4, o nosso caçulo lhas maiores. Quando tenho sequências de cálculos o Excel per-
será feito na célula D4. mite a utilização de funções.

Didatismo e Conhecimento 41
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
No caso a função a ser utilizada é a função SOMA, a sua estrutura é =SOMA(CelIni:Celfim), ou seja, inicia-se com o sinal de igual (=),
escreve-se o nome da função, abrem-se parênteses, clica-se na célula inicial da soma e arrasta-se até a última célula a ser somada, este
intervalo é representado pelo sinal de dois pontos (:), e fecham-se os parênteses.

Embora você possa fazer manualmente na célula o Excel possui um assistente de função que facilita e muito a utilização das mesmas
em sua planilha. Na ABA Inicio do Excel dentro do grupo Edição existe o botão de função.

A primeira função é justamente Soma, então clique na célula e clique no botão de função.

Observe conforme a imagem que o Excel acrescenta a soma e o intervalo de células pressione ENTER e você terá seu cálculo.

Formatação de células

A formatação de células é muito semelhante a que vimos para formatação de fonte no Word, basta apenas que a célula onde será aplicada
a formatação esteja selecionada, se precisar selecionar mais de uma célula, basta selecioná-las.

As opções de formatação de célula estão na ABA Inicio.

Temos o grupo Fonte que permite alterar a fonte a ser utilizada, o tamanho, aplicar negrito, itálico e sublinhado, linhas de grade, cor de
preenchimento e cor de fonte. Ao clicar na faixa do grupo será mostrada a janela de fonte.

Didatismo e Conhecimento 42
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
A guia Alinhamento permite definir o alinhamento do conte-
údo da célula na horizontal e vertical, além do controle do texto.

A guia Bordas permite adicionar bordas a sua planilha, em-


bora a planilha já possua as linhas de grade que facilitam a identi-
ficação de suas células, você pode adicionar bordas para dar mais
destaque.

A guia mostrada nesta janela é a Fonte nela temos o tipo da le-


tra, estilo, tamanho, sublinhado e cor, observe que existem menos
recursos de formatação do que no Word.
A guia Número permite que se formatem os números de suas
células. Ele dividido em categorias e dentro de cada categoria ele
possui exemplos de utilização e algumas personalizações como,
por exemplo, na categoria Moeda em que é possível definir o sím-
bolo a ser usado e o número de casas decimais.

A guia Preenchimento permite adicionar cores de preenchi-


mento às suas células.

Didatismo e Conhecimento 43
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Vamos então formatar nossa planilha, inicialmente selecione O botão estilo de Célula permite que se utilize um estilo de
todas as células de valores em moeda. Você pode utilizar a janela cor para sua planilha.
de formatação como vimos antes, como pode também no grupo
Número clicar sobre o botão moeda.

Vamos colocar também a linha onde estão Quant, Produto


etc... em negrito e centralizado.

O título Relação de Produtos ficará melhor visualmente se es-


tiver centralizado entra a largura da planilha, então selecione desde A segunda opção Formatar como Tabela permite também apli-
a célula A1 até a célula D1 depois clique no botão Mesclar e Cen- car uma formatação a sua planilha, porém ele já começa a trabalhar
tralizar centralize e aumente um pouco o tamanho da fonte. com Dados.

Para finalizar selecione toda a sua planilha e no botão de bor-


das, selecione uma borda externa.

Ele acrescenta uma coluna superior com indicações de colu-


nas e abre uma nova ABA chamada Design
Estilos

Esta opção é utilizada par aplicar, automaticamente um for-


mato pré-definido a uma planilha selecionada.

Didatismo e Conhecimento 44
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

No grupo Opções de Estilo de Tabela desmarque a opção Linhas de Cabeçalho.


Para poder manipular também os dados de sua planilha é necessário selecionar as células que pretende manipular como planilha e no
grupo Ferramentas clique no botão Converter em Intervalo.

Auto Preenchimento das Células


Vimos no exemplo anterior que é possível copiar uma fórmula que o Excel entende que ali temos uma fórmula e faz a cópia. Podemos
usar este recurso em outras situações, se eu tiver um texto comum ou um número único, e aplicar este recurso, ele copia sem alterar o que
será copiado, mas posso utilizar este recurso para ganhar tempo.
Se eu criar uma sequência numérica, por exemplo, na célula A1 o número 1 e na célula A2 o número 2, ao selecionar ambos, o Excel
entende que preciso copiar uma sequência.
Se eu colocar na célula A1 o número 1 e na célula A2 o número 3, ele entende que agora a sequência é de dois em dois.

Esta mesma sequência pode ser aplicada a dias da semana, horas, etc...

Inserção de linhas e colunas


Para adicionar ou remover linhas e colunas no Excel é simples. Para adicionar, basta clicar com o botão direito do mouse em uma linha
e depois clicar em Inserir, a linha será adicionada acima da selecionada, no caso a coluna será adicionada à esquerda. Para excluir uma linha
ou uma coluna, basta clicar com o botão direito na linha ou coluna a ser excluída.

Este processo pode ser feito também pelo grupo Células que está na ABA inicio.

Didatismo e Conhecimento 45
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Através da opção Formatar podemos também definir a largura das linhas e colunas.

Congelar Painéis

Algumas planilhas quando muito longas necessitam que sejam mantidos seus cabeçalho e primeiras linhas, evitando-se assim a digita-
ção de valores em locais errados. Esse recurso chama-se congelar painéis e está disponível na ABA exibição.

No grupo Janela temos o botão Congelar Painéis, clique na opção congelar primeira linha e mesmo que você role a tela a primeira linha
ficará estática.

Ainda dentro desta ABA podemos criar uma nova janela da planilha Ativa clicando no botão Nova Janela, podemos organizar as janelas
abertas clicando no botão Organizar Tudo,

Didatismo e Conhecimento 46
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
O cálculo ficaria para o primeiro produto =D4/D9 e depois
bastaria aplicar a formatação de porcentagem e acrescentar duas
casas decimais.

Pelo grupo Mostrar / Ocultar podemos retirar as linhas de gra-


de, as linhas de cabeçalho de coluna e linha e a barra de formulas.

Trabalhando com Referências


Percebemos que ao copiar uma fórmula, automaticamente são
Porém se utilizarmos o conceito aprendido de copiar a célula
alteradas as referências, isso ocorre, pois trabalhamos até o mo-
E4 para resolver os demais cálculos na célula E5 à fórmula fica-
mento com valores relativos.
rá =D5/D10, porém se observarmos o correto seria ficar =D5/D9,
Porém, vamos adicionar em nossa planilha mais uma
pois a célula D9 é a célula com o valor total, ou seja, esta é a célula
coluna onde pretendo calcular qual a porcentagem cada produto
representa no valor total comum a todos os cálculos a serem feitos, com isso não posso
copiar a fórmula, pelo menos não como está.

Uma solução seria fazer uma a uma, mas a ideia de uma pla-
nilha é ganhar-se tempo.

A célula D9 então é um valor absoluto, ele não muda é tam-


bém chamado de valor constante.

A solução é então travar a célula dentro da formula, para isso


usamos o símbolo do cifrão ($), na célula que fizemos o cálculo
E4 de clique sobre ela, depois clique na barra de fórmulas sobre a
referência da célula D9.

Didatismo e Conhecimento 47
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
$D$9 - Absoluta, fixa a linha e a coluna.
Algumas outras funções
Vamos inicialmente montar a seguinte planilha

Pressione em seu teclado a tecla F4. Será então adicionado


o símbolo de cifrão antes da letra D e antes do número 9. $D$9.

Em nosso controle de atletas vamos através de algumas outras


funções saber algumas outras informações de nossa planilha.
O Excel possui muitas funções, você pode conhecer mais so-
bre elas através do assistente de função.

Pressione ENTER e agora você poderá copiar a sua célula.

No exemplo acima foi possível travar toda a células, existem


casos em que será necessário travar somente a linha e casos onde
será necessário travar somente a coluna.
As combinações então ficariam (tomando como base a célula
D9)

D9 - Relativa, não fixa linha nem coluna

$D9 - Mista, fixa apenas a coluna, permitindo a variação da Ao clicar na opção Mais Funções abre-se a tela de Inserir
linha. Função, você pode digitar uma descrição do que gostaria de saber
calcular, pode buscar por categoria, como Financeira,m Data Hora
D$9 - Mista, fixa apenas a linha, permitindo a variação da etc..., ao escolher uma categoria, na caixa central serão mostradas
coluna. todas as funções relativas a essa categoria.

Didatismo e Conhecimento 48
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Ao selecionar, por exemplo, a categoria Estatística e dentro Em nossa planilha clique na célula abaixo da coluna de ida-
do conjunto de funções desta categoria a função Máximo abaixo é de na linha de valores máximos E16 e monte a seguinte função
apresentado uma breve explicação da utilização desta função. Se =MIN(E4:E13). Com essa função está buscando no intervalo das
precisar de mais detalhes da utilização da função clique sobre o células E4 à E13 qual é valor máximo encontrado.
link Ajuda sobre esta função.

Para calcular os valores mínimos para o peso e a altura o pro-


cesso é o mesmo.

Média

Máximo Calcula a média aritmética de uma seleção de valores.


Vamos utilizar essa função em nossa planilha para saber os
Mostra o valor MAIOR de uma seleção de células. valores médios nas características de nossos atletas.
Em nossa planilha vamos utilizar essa função para saber é a Em nossa planilha clique na célula abaixo da coluna de ida-
maior idade, maior peso e a maior altura. de na linha de valores máximos E17 e monte a seguinte função
Em nossa planilha clique na célula abaixo da coluna de ida- =MEDIA(E4:E13). Com essa função estamos buscando no inter-
de na linha de valores máximos E15 e monte a seguinte função valo das células E4 à E13 qual é valor máximo encontrado.
=MAXIMO(E4:E13). Com essa função estamos buscando no in-
tervalo das células E4 à E13 qual é valor máximo encontrado.

Para o peso e a altura basta apenas repetir o processo


Vamos utilizar essa função em nossa planilha de controle de
atletas. Vamos utilizar a função nos valores médios da planilha,
deixaremos com duas casas decimais.
Vamos repetir o processo para os valores máximos do peso e
da altura. Vamos aproveitar também o exemplo para utilizarmos um re-
curso muito interessante do Excel que é o aninhamento de funções,
MIN ou seja, uma função fazendo parte de outra.
Mostra o valor mínimo de uma seleção de células. A função para o cálculo da média da Idade é =MÉDIA(E4:E13)
Vamos utilizar essa função em nossa planilha para saber os clique na célula onde está o cálculo e depois clique na barra de
valores mínimos nas características de nossos atletas. fórmulas.

Didatismo e Conhecimento 49
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Altere a função para =ARRED(MÉDIA(E4:E13);1) com isso Convertendo isso para a função e baseando-se que a idade do
fizemos com que caso exista números após a vírgula o mesmo primeiro atleta está na célula E4 à função ficará:
será arredonda a somente uma casa decimal. Caso você não queira =SE(E4<18;”Juvenil”;”Profissional”.)
casas decimais coloque após o ponto e vírgula o número zero.
Nesta situação deve-se ter uma atenção grande em relação aos
parênteses, observe que foi aberto uma após a função ARRED e
um a pós a função MÉDIA então se deve ter o cuidado de fechá-los
corretamente. O que auxilia no fechamento correto dos parênte-
ses é que o Excel vai colorindo os mesmos enquanto você faz o
cálculo.

Função SE Explicando a função.


Esta é com certeza uma das funções mais importantes do Ex- =SE(E4<18: inicio da função e teste lógico, aqui é verificado
cel e provavelmente uma das mais complexas para quem está ini- se o conteúdo da célula E4 é menor que 18.
ciando. “Juvenil”: Valor a ser apresentado como verdadeiro.
“Profissional”: Valor a ser apresentado como falso.
Esta função retorna um valor de teste_lógico que permite ava- )
liar uma célula ou um cálculo e retornar um valor verdadeiro ou Vamos incrementar um pouco mais nossa planilha, vamos
um valor falso. criar uma tabela em separado com a seguinte definição. Até 18
anos será juvenil, de 18 anos até 30 anos será considerado profis-
Sua sintaxe é =SE (TESTELÓGICO;VALOR sional e acima dos 30 anos será considerado Master.
VERDADEIRO;VALOR FALSO).
=SE - Atribuição de inicio da função; Nossa planilha ficará da seguinte forma.

TESTELÓGICO - Teste a ser feito par validar a célula;


VALOR VERDADEIRO - Valor a ser apresentado na célula
quando o teste lógico for verdadeiro, pode ser outra célula, um
caçulo, um número ou um texto, apenas lembrando que se for um
texto deverá estar entre aspas.
VALOR FALSO - Valor a ser apresentado na célula quando o
teste lógico for falso, pode ser outra célula, um caçulo, um número
ou um texto, apenas lembrando que se for um texto deverá estar
entre aspas.
Para exemplificar o funcionamento da função vamos acres-
centar em nossa planilha de controle de atletas uma coluna cha-
mada categoria. Temos então agora na coluna J a referência de idade, e na
coluna K a categoria.

Então agora preciso verificar a idade de acordo com o valor na


coluna J e retornar com valores verdadeiros e falsos o conteúdo da
coluna K. A função então ficará da seguinte forma:

=SE(E4<J4;K4;SE(E4<J5;K5;K6))
Temos então:
Vamos atribuir inicialmente que atletas com idade menor que =SE(E4<J4: Aqui temos nosso primeiro teste lógico, onde
18 anos serão da categoria Juvenil e acima disso categoria Profis- verificamos se a idade que consta na célula E4 é menor que o
sional. Então a lógica da função será que quando a Idade do atleta valor que consta na célula J4.
for menor que 18 ele será Juvenil e quando ela for igual ou maior K4: Célula definida a ser retornada como verdadeiro deste tes-
que 18 ele será Profissional. te lógico, no caso o texto “Juvenil”.

Didatismo e Conhecimento 50
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
SE(E4<J5: segundo teste lógico, onde verificamos se valor =AGORA( ) Retorna a data e à hora
da célula E4 é menor que 30, se for real retorna o segundo valor =DIA.DA.SEMANA(HOJE()) Retorna o dia da semana em
verdadeiro, é importante ressaltar que este teste lógico somente número
será utilizado se o primeiro teste der como falso. =DIAS360( ) Calcula o número de dias que há entre uma
K5: Segundo valor verdadeiro, será retornado se o segundo data inicial e uma data final.
teste lógico estiver correto. Para exemplificar monte a seguinte planilha.
K6: Valor falso, será retornado se todos os testes lógicos de-
rem como falso.
Permite contar em um intervalo de valores quantas vezes se
repete determinado item. Vamos aplicar a função em nossa plani-
lha de controle de atletas

Adicione as seguintes linhas abaixo de sua planilha

Em V.Diário, vamos calcular quantas horas foram trabalhadas


durante cada dia.
=B3-B2+B5-B4, pegamos a data de saída e subtraímos pela
data de entrada de manhã, com isso sabemos quantas horas foram
trabalhadas pela manhã na mesma função faço a subtração da saída
no período da tarde pela entrada do período da tarde e somo os dois
períodos.

Então vamos utilizar a função CONT.SE para buscar em nossa


planilha quantos atletas temos em cada categoria.

Repita o processo para todos os demais dias da semana, so-


mente no sábado é preciso apenas calcular a parte da manhã, ou
seja, não precisa ser feito o cálculo do período da tarde.

A função ficou da seguinte forma =CONT.SE(H4:H13;K4)


onde se faz a contagem em um intervalo de H3:H13 que é o
resultado calculado pela função
SE e retorna a célula K4 onde está a categoria juvenil de atle-
tas. Para as demais categorias basta repetir o cálculo mudando-se
somente a categoria que está sendo buscada.

Funções de Data e Hora


Podemos trabalhar com diversas funções que se baseiam na
data e hora de seu computador. As principais funções de data e Para calcular o V. da hora que o funcionário recebe coloque
hora são: um valor, no caso adicione 15 e coloquei no formato Moeda. Va-
=HOJE( ) Retorna a data atual. mos agora então calcular quanto ele ganhou por dia, pois temos
=MÊS(HOJE()) Retorna o mês atual quantas horas ele trabalhou durante o dia e sabemos o valor da
=ANO(HOJE()) Retorna o ano atual hora. Como temos dois formatos de números precisamos durante
=HORA(AGORA()) Retorna à hora atual o cálculo fazer a conversão.
=MINUTO(AGORA()) Retorna o minuto atual Para a segunda-feira o cálculo fica da seguinte forma:
=SEGUNDO(AGORA()) Retorna o segundo atual =HORA(B6)*B7+MINUTO(B6)*B7/60.

Didatismo e Conhecimento 51
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Inicialmente utilizamos a função HORA e pegamos como re- Crie um novo campo abaixo da Tabela e coloque V. a receber
ferência de hora o valor da célula B6, multiplicamos pelo valor que e faça a soma dos valores totais.
está em B7, essa parte calcula somente à hora cheia então precisa-
mos somar os minutos que pega a função MINUTO e multiplica a
quantidade de horas pelo valor da hora, como o valor é para a hora
o dividimos então por 60

Após isso coloque o valor em formato Moeda.

Planilhas 3D

O conceito de planilha 3D foi implantado no Excel na versão


5 do programa, ele é chamado dessa forma pois permite que se
Para os demais cálculos o V.Hora será igual há todos os dias façam referências de uma planilha em outra.
então ele precisa ser fixo para que o cálculo possa ser copiado, o
número 60 por ser um número não é muda. Posso por exemplo fazer uma soma de valores que estejam em
outra planilha, ou seja quando na planilha matriz algum valor seja
=HORA(B6)*$B$7+MINUTO(B6)*$B$7/60 alterado na planilha que possui referência com ela também muda.
Para sabermos quantas horas o funcionário trabalhou na sema-
na, faça a soma de todos os dias trabalhados. Vamos a um exemplo

Ao observar atentamente o valor calculado ele mostra 20:40,


porém nessa semana o funcionário trabalhou mais de 40 horas, Faremos uma planilha para conversão de valores, então na
isso ocorre pois o cálculo de horas zera ao chegar em 23:59:59, planilha 1 vamos ter um campo para que se coloque o valore em
então preciso fazer com que o Excel entenda que ele precisa con- real e automaticamente ele fará a conversão para outras moedas,
tinuar a contagem. Clique na faixa do grupo número na ABA monte a seguinte planilha.
Inicio, na janela que se abre clique na categoria Hora e escolha o
formato 37:30:55 esse formato faz com que a contagem continue. Vamos renomear a planilha para resultado.

Para isso dê um duplo clique no nome de sua planilha Plan1 e


digite o novo nome.

Salve seu arquivo e clique na guia Plan2 e digite a seguinte


planilha

Didatismo e Conhecimento 52
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
O ideal nesta planilha é que a única célula onde o usuário pos-
sa manipular seja a célula onde será digitado valor em real para a
conversão, então vamos bloquear a planilha deixando essa célula
desprotegia.
Clique na célula onde será digitado o valor em real depois na
ABA Inicio no grupo Fonte clique na faixa e na janela que se abre
clique na guia Proteção.
Desmarque a opção Bloqueadas, isso é necessário, pois esta
célula é a única que poderá receber dados.

Renomeie essa planilha para valores


Retorne a planilha resultado e coloque um valor qualquer no
campo onde será digitado valor.

Clique agora na ABA Revisão e no grupo Alterações clique no


botão Proteger Planilha.
Clique agora no campo onde será colocado o valor de compra
do dólar na
célula B4 e clique na célula onde está o valor que acabou de
digitar célula B2, adicione o sinal de divisão (/) e depois clique na
planilha valores ele vai colocar
o nome da planilha seguido de um ponto de exclamação (!) e
clique onde está
o valor de compra do dólar. A função ficará da seguinte forma
=B2/valores!B2.

Com isso toda vez que eu alterar na planilha valores o valor do


dólar, ele atualiza na planilha resultado.

Faça o cálculo para o valor do dólar para venda, a função fica-


rá da seguinte forma: =B2/valores!C2.
Para poder copiar a fórmula para as demais células, bloqueie a
célula B2 que é referente ao valor em real.

Didatismo e Conhecimento 53
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Será mostrada mais uma janela coloque uma senha (recomendável)

Ao tentar alterar uma célula protegida será mostrado o seguinte aviso

Se precisar alterar alguma célula protegida basta clicar no botão Desproteger Planilha no grupo Alterações.

Didatismo e Conhecimento 54
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Inserção de Objetos
A inserção de objetos no Excel é muito semelhante ao que aprendemos no Word, as opções de inserção de objetos estão na ABA Inserir.

Podemos inserir Imagens, clip-arts, formas, SmartArt, caixas de texto, WordArt, objetos, símbolos, etc.
Como a maioria dos elementos já sabemos como implementar vamos focar em Gráficos.

Gráficos
A utilização de um gráfico em uma planilha além de deixá-la com uma aparência melhor também facilita na hora de mostrar resultados.
As opções de gráficos, esta no grupo Gráficos na ABA Inserir do Excel

Para criar um gráfico é importante decidir quais dados serão avaliados para o gráfico. Vamos utilizar a planilha Atletas para criarmos
nosso gráfico, vamos criar um gráfico que mostre os atletas x peso.

Selecione a coluna com o nome dos atletas, pressione CTRL e selecione os valores do peso.

Ao clicar em um dos modelos de gráfico no grupo Gráficos você poderá selecionar um tipo de gráfico disponível, no exemplo cliquei
no estilo de gráfico de colunas.

Didatismo e Conhecimento 55
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Escolha no subgrupo coluna 2D a primeira opção e seu gráfico será criado.

Para mover o gráfico para qualquer parte de sua planilha basta clicar em uma área em branco de o gráfico manter o mouse pressionado
e arrastar para outra parte.

Na parte superior do Excel é mostrada a ABA Design (Acima dela Ferramentas de Gráfico).

Se você quiser mudar o estilo de seu gráfico, você pode clicar no botão Alterar Tipo de Gráfico.

Didatismo e Conhecimento 56
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Para alterar a exibição entre linhas e colunas, basta clicar no


botão Alterar Linha/Coluna.

Podemos também deixar nosso gráfico isolado em uma nova


planilha, basta clicar no botão Mover Gráfico.

Ainda em Layout do Gráfico podemos modificar a distribui-


ção dos elementos do Gráfico.

Dados

O Excel possui uma ABA chamada Dados que permite impor-


Podemos também modificar o estilo de nosso gráfico através tar dados de outras fontes, ou trabalhar os dados de uma planilha
do grupo Estilos de Gráfico do Excel.

Didatismo e Conhecimento 57
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Classificação

Vamos agora trabalhar com o gerenciamento de dados criados no Excel.

Vamos utilizar para isso a planilha de Atletas.

Classificar uma lista de dados é muito fácil, e este recurso pode ser obtido pelo botão Classificar e Filtrar na ABA Inicio, ou pelo grupo
Classificar e Filtrar na ABA Dados.

Vamos então selecionar os dados de nossa planilha que serão classificados.

Clique no botão Classificar.

Você precisa definir quais serão os critérios de sua classificação, onde diz

Classificar por clique e escolha nome, depois clique no botão Adicionar Nível e coloque Modalidade.

Didatismo e Conhecimento 58
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Antes de clicar em OK, verifique se está marcada a opção Meus dados contêm cabeçalhos, pois selecionamos a linha de títulos em nossa
planilha e clique em OK.

Você pode mudar a ordem de classificação sempre que for necessário, basta clicar no botão de Classificar.

Auto Filtro

Este é um recurso que permite listar somente os dados que você precisa visualizar no momento em sua planilha. Com seus dados sele-
cionados clique no botão Filtro e observe que será adicionado junto a cada célula do cabeçalho da planilha uma seta.

Estas setas permite visualizar somente os dados que te interessam na planilha, por exemplo caso eu precise da relação de atletas do sexo
feminino, basta eu clicar na seta do cabeçalho sexo e marcar somente Feminino, que os demais dados da planilha ficarão ocultos.

Didatismo e Conhecimento 59
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Posso ainda refinar mais a minha filtragem, caso precise saber dentro do sexo feminino quantos atletas estão na categoria Profissional,
eu faço um novo filtro na coluna Categoria.

Observe que as colunas que estão com filtro possuem um ícone em forma de funil no lugar da seta.

Para remover os filtros, basta clicar nos cabeçalhos com filtro e escolher a opção selecionar tudo.
Você também pode personalizar seus filtros através da opção Filtros de Texto e Filtro de número (quando conteúdo da célula for um
número).

Didatismo e Conhecimento 60
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Observe na esquerda que são mostrados os níveis de visuali-


zação dos subtotais e que ele faz um total a cada sequência do sexo
dos atletas.
Para remover os subtotais, basta clicar no botão Subtotal e na
janela que aparece clique em Remover Todos.

Impressão
Subtotais O processo de impressão no Excel é muito parecido com o que
Podemos agrupar nossos dados através de seus valores, vamos fizemos no Word.
inicialmente classificar nossa planilha pelo sexo dos atletas rela- Clique no botão Office e depois em Imprimir e escolha Visu-
cionado com a idade. alizar Impressão.

Depois clique no botão Subtotal.


Em A cada alteração em: coloque sexo e em Adicionar subto-
tal a deixe marcado apenas Peso, depois clique em OK.

No caso escolhi a planilha atletas, podemos observar que a


mesma não cabe em uma única página. Clique no botão Configurar
Página.

Didatismo e Conhecimento 61
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Marque a opção Paisagem e clique em OK. CTRL + Sinal de adição (+): quando você precisar inserir cé-
lulas, linhas ou colunas no meio dos dados, ao invés de clicar com
o mouse no número da linha ou na letra da coluna, basta pressionar
esse comando.
*Utilize o sinal de adição do teclado numérico ou a combina-
ção CTRL + SHIFT + Sinal de adição que fica à esquerda da tecla
backspace, pois ela tem o mesmo efeito.

CTRL + Sinal de subtração (-): para excluir células, linhas


ou colunas inteiras, pressione essas teclas. Esse comando funciona
tanto no teclado normal quanto no teclado numérico.

CTRL + D: você pode precisar que todas as células de deter-


minada coluna tenham o mesmo valor. Apertando CTRL + D, você
fará com que a célula ativa seja preenchida com o mesmo valor da
Teclas de atalho do Excel célula que está acima dela. Por exemplo: você digitou o número
5432 na célula A1 e quer que ele se repita até a linha 30. Selecione
CTRL + !: quando se está trabalhando com planilhas grandes, da célula A1 até a A30 e pressione o comando. Veja que todas as
quando os dados precisam ser apresentados a um gerente, ou mes- células serão preenchidas com o valor 5432.
mo só para facilitar sua vida, a melhor maneira de destacar certas
informações é formatar a célula, de modo que a fonte, a cor do tex- CTRL + R: funciona da mesma forma que o comando acima,
to, as bordas e várias outras configurações de formatação. Mas ter mas para preenchimento de colunas. Exemplo: selecione da célula
que usar o mouse para encontrar as opções de formatação faz você A1 até a E1 e pressione CTRL + R. Todas as células selecionadas
perder muito tempo. Portanto, pressionando CTRL + !, você fará terão o mesmo valor da A1.
com que a janela de opções de formatação da célula seja exibida.
Lembre-se que você pode selecionar várias células para aplicar a CTRL + ALT + V: você já deve ter cometido o erro de copiar
formatação de uma só vez. uma célula e colar em outro local, acabando com a formatação que
tinha definido anteriormente, pois as células de origem eram azuis
CTRL + (: muitas vezes você precisa visualizar dados que não e as de destino eram verdes. Ou seja, você agora tem células azuis
estão próximos uns dos outros. Para isso o Excel fornece a opção onde tudo deveria ser verde. Para que isso não aconteça, você pode
de ocultar células e colunas. Pressionando CTRL + (, você fará utilizar o comando “colar valores”, que fará com que somente os
com que as linhas correspondentes à seleção sejam ocultadas. Se valores das células copiadas apareçam, sem qualquer formatação.
houver somente uma célula ativa, só será ocultada a linha corres- Para não precisar usar o mouse, copie as células desejadas e na
pondente. Por exemplo: se você selecionar células que estão nas hora de colar utilize as teclas CTRL + ALT + V.
linhas 1, 2, 3 e 4 e pressionar as teclas mencionadas, essas quatro
linhas serão ocultadas. CTRL + PAGE DOWN: não há como ser rápido utilizando
Para reexibir aquilo que você ocultou, selecione uma célula o mouse para alternar entre as planilhas de um mesmo arquivo.
da linha anterior e uma da próxima, depois utilize as teclas CTRL Utilize esse comando para mudar para a próxima planilha da sua
pasta de trabalho.
+ SHIFT + (. Por exemplo: se você ocultou a linha 14 e precisa
reexibi-la, selecione uma célula da linha 13, uma da linha 15 e
CTRL + PAGE UP: similar ao comando anterior. Porém, exe-
pressione as teclas de atalho.
cutando-o você muda para a planilha anterior.
*É possível selecionar as planilhas que estão antes ou depois
CTRL + ): esse atalho funciona exatamente como o anterior,
da atual, pressionando também o SHIFT nos dois comando acima.
porém, ele não oculta linhas, mas sim COLUNAS. Para reexibir as
Teclas de função
colunas que você ocultou, utilize as teclas CTRL + SHIFT + ). Por
Poucas pessoas conhecem todo o potencial das teclas que fi-
exemplo: você ocultou a coluna C e quer reexibi-la. Selecione uma cam na mesma linha do “Esc”. Assim como o CTRL, as teclas de
célula da coluna B e uma da célula D, depois pressione as teclas função podem ser utilizadas em combinação com outras, para pro-
mencionadas. duzir comandos diferentes do padrão atribuído a elas. Veja alguns
deles abaixo.
CTRL + SHIFT + $: quando estiver trabalhando com valores F2: se você cometer algum erro enquanto está inserindo fór-
monetários, você pode aplicar o formato de moeda utilizando esse mulas em uma célula, pressione o F2 para poder mover o cursor do
atalho. Ele coloca o símbolo R$ no número e duas casas decimais. teclado dentro da célula, usando as setas para a direita e esquerda.
Valores negativos são colocados entre parênteses. Caso você pressione uma da setas sem usar o F2, o cursor será
movido para outra célula.
CTRL + SHIFT + Asterisco (*): esse comando é extremamen-
te útil quando você precisa selecionar os dados que estão envolta ALT + SHIFT + F1: inserir novas planilhas dentro de um ar-
da célula atualmente ativa. Caso existam células vazias no meio quivo do Excel também exige vários cliques com o mouse, mas
dos dados, elas também serão selecionadas. Veja na imagem abai- você pode usar o comando ALT + SHIFT + F1 para ganhar algum
xo um exemplo. A célula selecionada era a D6. tempo. As teclas SHIFT + F11 produzem o mesmo efeito.

Didatismo e Conhecimento 62
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
F8: use essa tecla para ligar ou desligar o modo de seleção
estendida. Esse pode ser usado da mesma forma que o SHIFT. Po-
rém, ele só será desativado quando for pressionado novamente,
diferente do SHIFT, que precisa ser mantido pressionado para que
você possa selecionar várias células da planilha.

Veja abaixo outros comandos úteis:


CTRL + Setas de direção: move o cursor para a última célula
preenchida. Se houve alguma célula vazia no meio, o cursor será
movido para a última célula preenchida que estiver antes da vazia.
END: pressione essa tecla uma vez para ativar ou desativar o
“Modo de Término”. Sua função é parecida com o comando ante-
rior. Pressiona uma vez para ativar e depois pressione uma tecla de
direção para mover o cursor para a última célula preenchida.
*Se a tecla Scroll Lock estiver ativada, pressionar END fará
com que o cursor seja movido para a célula que estiver visível no
canto inferior direito da janela.
CTRL + BARRA DE ESPAÇO: utilize essa atalho se você Uma imagem do PowerPoint 2010 no modo Normal que pos-
quiser selecionar a coluna inteira onde está o cursor. sui vários elementos rotulados.
SHIFT + BARRA DE ESPAÇOS: semelhante ao comando 1 No painel Slide, você pode trabalhar em slides individuais.
acima, porém, seleciona a linha inteira onde está o cursor. 2 As bordas pontilhadas identificam os espaços reservados,
onde você pode digitar texto ou inserir imagens, gráficos e outros
objetos.
5.4 MS-POWERPOINT 2010: 3 A guia Slides mostra uma versão em miniatura de cada slide
ESTRUTURA BÁSICA DAS APRESENTA- inteiro mostrado no painel Slide. Depois de adicionar outros slides,
ÇÕES, CONCEITOS DE SLIDES, ANOTA- você poderá clicar em uma miniatura na guia Slides para fazer com
ÇÕES, RÉGUA, GUIAS, CABEÇALHOS E que o slide apareça no painel Slide ou poderá arrastar miniaturas
RODAPÉS, NOÇÕES DE EDIÇÃO E FORMA- para reorganizar os slides na apresentação. Também é possível adi-
TAÇÃO DE APRESENTAÇÕES, INSERÇÃO cionar ou excluir slides na guia Slides.
DE OBJETOS, NUMERAÇÃO DE PÁGINAS, 4 No painel Anotações, você pode digitar observações sobre o
BOTÕES DE AÇÃO, ANIMAÇÃO E TRANSI- slide atual. Também pode distribuir suas anotações para a audiên-
ÇÃO ENTRE SLIDES cia ou consultá-las no Modo de Exibição do Apresentador durante
a apresentação.

Etapa 2: Começar com uma apresentação em branco


Por padrão, o PowerPoint 2010 aplica o modelo Apresentação
O PowerPoint 2010 é um aplicativo visual e gráfico, usado em Branco, mostrado na ilustração anterior, às novas apresenta-
principalmente para criar apresentações. Com ele, você pode criar, ções. Apresentação em Branco é o mais simples e o mais genérico
visualizar e mostrar apresentações de slides que combinam tex- dos modelos no PowerPoint 2010 e será um bom modelo a ser
to, formas, imagens, gráficos, animações, tabelas, vídeos e muito usado quando você começar a trabalhar com o PowerPoint.
mais. Para criar uma nova apresentação baseada no modelo Apre-
sentação em Branco, faça o seguinte:
Familiarizar-se com o espaço de trabalho do PowerPoint 1. Clique na guia Arquivo.
O espaço de trabalho, ou modo de exibição Normal, foi desen- 2. Aponte para Novo e, em Modelos e Temas Disponíveis,
volvido para ajudá-lo a encontrar e usar facilmente os recursos do selecione Apresentação em Branco.
Microsoft PowerPoint 2010. 3. Clique em Criar.
Este artigo contém instruções passo a passo para ajudá-lo a se
preparar para criar apresentações com o PowerPoint 2010 Etapa 3: Ajustar o tamanho do painel de anotações
Depois que você abre o modelo Apresentação em Branco, so-
Etapa 1: Abrir o PowerPoint mente uma pequena parte do painel Anotações fica visível. Para
Quando você inicia o PowerPoint, ele é aberto no modo de ver uma parte maior desse painel e ter mais espaço para digitar,
exibição chamado Normal, onde você cria e trabalha em slides. faça o seguinte:
1. Aponte para a borda superior do painel Anotações.
2. Quando o ponteiro se transformar em uma , arraste a
borda para cima a fim de criar mais espaço para as anotações do
apresentador, como mostrado na ilustração a seguir.

Didatismo e Conhecimento 63
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Principais recursos da Faixa de Opções

A Faixa de Opções exibida no lado esquerdo da guia Página


Observe que o slide no painel Slide se redimensiona automa- Inicial do PowerPoint 2010.
ticamente para se ajustar ao espaço disponível. 1 Uma guia da Faixa de Opções, neste caso a guia Página
Inicial. Cada guia está relacionada a um tipo de atividade, como
Etapa 4: Criar a apresentação inserir mídia ou aplicar animações a objetos.
Agora que preparou o espaço de trabalho para ser usado, você 2 Um grupo na guia Página Inicial, neste caso o grupo Fonte.
está pronto para começar a adicionar texto, formas, imagens, ani- Os comandos são organizados em grupos lógicos e reunidos nas
mações (e outros slides também) à apresentação. Próximo à parte guias.
superior da tela, há três botões que podem ser úteis quando você 3 Um botão ou comando individual no grupo Slides, neste
iniciar o trabalho: caso o botão Novo Slide.
• Desfazer , que desfaz sua última alteração (para
ver uma dica de tela sobre qual ação será desfeita, coloque o pon- Outros recursos da Faixa de Opções
teiro sobre o botão. Para ver um menu de outras alterações recentes
que também podem ser desfeitas, clique na seta à direita de Des-
fazer ).
• Você também pode desfazer uma alteração pressionando
CTRL+Z.
• Refazer ou Repetir , que repete ou refaz sua úl-
tima alteração, dependendo da ação feita anteriormente (para ver
uma dica de tela sobre qual ação será repetida ou refeita, coloque o
ponteiro sobre o botão). Você também pode repetir ou refazer uma
alteração pressionando CTRL+Y. Outros elementos que podem ser exibidos na Faixa de Opções
• A Ajuda do Microsoft Office PowerPoint , que abre são as guias contextuais, as galerias e os iniciadores de caixa de
o painel Ajuda do PowerPoint. Você também pode abrir a Ajuda diálogo.
pressionando F1.
 Uma galeria, neste caso a galeria de formas no grupo Dese-
Familiarizar-se com a Faixa de Opções do PowerPoint nho. As galerias são janelas ou menus retangulares que apresentam
2010 uma gama de opções visuais relacionadas.
Ao iniciar o Microsoft PowerPoint 2010 pela primeira vez,  Uma guia contextual, neste caso a guia Ferramentas
você perceberá que os menus e as barras de ferramentas do Power- de Imagem. Para diminuir a poluição visual, algumas guias são
Point 2003 e das versões anteriores foram substituídos pela Faixa mostradas somente quando necessárias. Por exemplo, a guia Fer-
de Opções. ramentas de Imagem será mostrada somente se você inserir uma
imagem a um slide e a selecionar.
O que é a Faixa de Opções?  Um Iniciador da Caixa de Diálogo, neste caso, um que
inicia a caixa de diálogo Formatar Forma.
A Faixa de Opções contém os comandos e os outros itens de
menu presentes nos menus e barras de ferramentas do PowerPoint Localização dos comandos conhecidos na Faixa de Opções
2003 e de versões anteriores. A Faixa de Opções foi projetada para Para encontrar a localização de comandos específicos em
ajudá-lo a localizar rapidamente os comandos necessários para guias e grupos, consulte os diagramas a seguir.
concluir uma tarefa.

Didatismo e Conhecimento 64
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
A guia Arquivo

A guia Arquivo é o local onde é possível criar um novo arquivo, abrir ou salvar um existente e imprimir sua apresentação.
1 Salvar como
2 Abrir
3 Novo
4 Imprimir

A guia Página Inicial

A guia Página Inicial é o local onde é possível inserir novos slides, agrupar objetos e formatar texto no slide.

1 Se você clicar na seta ao lado de Novo Slide, poderá escolher entre vários layouts de slide.
2 O grupo Fonte inclui os botões Fonte, Negrito, Itálico e Tamanho da Fonte.
3 O grupo Parágrafo inclui Alinhar Texto à Direita, Alinhar Texto à Esquerda, Justificar e Centralizar.
4 Para localizar o comando Agrupar, clique em Organizar e, em Agrupar Objetos, selecione Agrupar.
Guia Inserir

A guia Inserir é o local onde é possível inserir tabelas, formas, gráficos, cabeçalhos ou rodapés em sua apresentação.

1 Tabela

Didatismo e Conhecimento 65
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
2 Formas
3 Gráfico
4 Cabeçalho e Rodapé

Guia Design

A guia Design é o local onde é possível personalizar o plano de fundo, o design e as cores do tema ou a configuração de página na
apresentação.

1 Clique em Configurar Página para iniciar a caixa de diálogo Configurar Página.


2 No grupo Temas, clique em um tema para aplicá-lo à sua apresentação.
3 Clique em Estilos de Plano de Fundo para selecionar uma cor e design de plano de fundo para sua apresentação.

Guia Transições

A guia Transições é o local onde é possível aplicar, alterar ou remover transições no slide atual.

1 No grupo Transições para este Slide, clique em uma transição para aplicá-la ao slide atual.
2 Na lista Som, você pode selecionar entre vários sons que serão executados durante a transição.
3 Em Avançar Slide, você pode selecionar Ao Clicar com o Mouse para fazer com que a transição ocorra ao clicar.

Guia Animações

A guia Animações é o local onde é possível aplicar, alterar ou remover animações em objetos do slide.

1 Clique em Adicionar Animação e selecione uma animação que será aplicada ao objeto selecionado.
2 Clique em Painel de Animação para iniciar o painel de tarefas Painel de Animação.
3 O grupo Intervalo inclui áreas para definir o Página Inicial e a Duração.

Guia Apresentação de Slides

A guia Apresentação de Slides é o local onde é possível iniciar uma apresentação de slides, personalizar as configurações da apresenta-
ção de slides e ocultar slides individuais.

Didatismo e Conhecimento 66
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
1 O grupo Iniciar Apresentação de Slides, que inclui Do Começo e Do Slide Atual.
2 Clique em Configurar Apresentação de Slides para iniciar a caixa de diálogo Configurar Apresentação.
3 Ocultar Slide

Guia Revisão

A guia Revisão é o local onde é possível verificar a ortografia, alterar o idioma da apresentação ou comparar alterações na apresentação
atual com outra.

1 Ortografia, para iniciar o verificador ortográfico.


2 O grupo Idioma, que inclui Editando Idiomas, onde é possível selecionar o idioma.
3 Comparar, onde é possível comparar as alterações na apresentação atual com outra.

Guia Exibir

A guia Exibir é o local onde é possível exibir o slide mestre, as anotações mestras, a classificação de slides. Você também pode ativar
ou desativar a régua, as linhas de grade e as guias de desenho.
1 Classificação de Slides
2 Slide Mestre
3 O grupo Mostrar, que inclui Régua e Linhas de Grade.

Eu não vejo o comando de que preciso!    


Alguns comandos, como Recortar ou Compactar, são guias contextuais.
Para exibir uma guia contextual, primeiramente selecione o objeto que será trabalhado e verifique se uma guia contextual é exibida na
Faixa de Opções.

Localizar e aplicar um modelo


O PowerPoint 2010 permite aplicar modelos internos ou os seus próprios modelos personalizados e pesquisar vários modelos dispo-
níveis no Office.com. O Office.com fornece uma ampla seleção de modelos do PowerPoint populares, incluindo apresentações e slides de
design.
Para localizar um modelo no PowerPoint 2010, siga este procedimento:
Na guia Arquivo, clique em Novo.
Em Modelos e Temas Disponíveis, siga um destes procedimentos:
• Para reutilizar um modelo usado recentemente, clique em Modelos Recentes, clique no modelo desejado e depois em Criar.
• Para utilizar um modelo já instalado, clique em Meus Modelos, selecione o modelo desejado e clique em OK.
• Para utilizar um dos modelos internos instalados com o PowerPoint, clique em Modelos de Exemplo, clique no modelo desejado
e depois em Criar.
• Para localizar um modelo no Office.com, em Modelos do Office.com, clique em uma categoria de modelo, selecione o modelo
desejado e clique em Baixar para baixar o modelo do Office.com para o computador.

Didatismo e Conhecimento 67
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Salvar uma apresentação

Como com qualquer programa de software, é uma boa ideia


nomear e salvar a apresentação imediatamente e salvar suas altera-
Observação- Você também pode pesquisar modelos no Offi- ções com frequência enquanto você trabalha:
ce.com de dentro do PowerPoint. Na caixa Pesquisar modelos no 1. Clique na guia Arquivo.
Office.com, digite um ou mais termos de pesquisa e clique no bo- 2. Clique em Salvar como e siga um destes procedimentos:
• Para que uma apresentação só possa ser aberta no Po-
tão de seta para pesquisar.
werPoint 2010 ou no PowerPoint 2007, na lista Salvar como tipo,
selecione Apresentação do PowerPoint (*.pptx).
Criar uma apresentação • Para uma apresentação que possa ser aberta no Power-
1. Clique na guia Arquivo e clique em Novo. Point 2010 ou em versões anteriores do PowerPoint, selecione
2. Siga um destes procedimentos: Apresentação do PowerPoint 97-2003 (*.ppt).
• Clique em Apresentação em Branco e em Criar. 3. No painel esquerdo da caixa de diálogo Salvar como, cli-
• Aplique um modelo ou tema, seja interno fornecido com que na pasta ou em outro local onde você queira salvar sua apre-
o PowerPoint 2010 ou baixado do Office.com. sentação.
4. Na caixa Nome de arquivo, digite um nome para a apre-
Abrir uma apresentação sentação ou aceite o nome padrão e clique em Salvar.
1. Clique na guia Arquivo e em Abrir. De agora em diante, você pode pressionar CTRL+S ou pode
2. No painel esquerdo da caixa de diálogo Abrir, clique na clicar em Salvar, próximo à parte superior da tela, para salvar rapi-
unidade ou pasta que contém a apresentação desejada. damente a apresentação, a qualquer momento.
3. No painel direito da caixa de diálogo Abrir, abra a pasta Observação: Para salvar a apresentação em um formato di-
ferente de .pptx, clique na lista Salvar como tipo e selecione o
que contém a apresentação.
formato de arquivo desejado.
4. Clique na apresentação e clique em Abrir.
O Microsoft PowerPoint 2010 oferece uma série de tipos
 Observação   Por padrão, o PowerPoint 2010 mostra somente de arquivo que você pode usar para salvar; por exemplo, JPEGs
apresentações do PowerPoint na caixa de diálogo Abrir. Para exi- (.jpg), arquivos Portable Document Format (.pdf), páginas da Web
bir outros tipos de arquivos, clique em Todas as Apresentações do (.html), Apresentação OpenDocument (.odp), inclusive como ví-
PowerPoint e selecione o tipo de arquivo que deseja exibir. deo ou filme etc.
Também é possível abrir vários formatos de arquivo diferen-
tes com o PowerPoint 2010, como Apresentações OpenDocument,
páginas da Web e outros tipos de arquivos.

Adicionar, reorganizar e excluir slides


O único slide que é exibido automaticamente ao abrir o Po-
werPoint tem dois espaços reservados, sendo um formatado para
um título e o outro formatado para um subtítulo. A organização dos
espaços reservados em um slide é chamada layout. O Microsoft
PowerPoint 2010 também oferece outros tipos de espaços reserva-
dos, como aqueles de imagens e elementos gráficos de SmartArt.
Ao adicionar um slide à sua apresentação, siga este procedi-
mento para escolher um layout para o novo slide ao mesmo tempo:
1. No modo de exibição Normal, no painel que contém as
guias Tópicos e Slides, clique na guia Slides e clique abaixo do
único slide exibido automaticamente ao abrir o PowerPoint.

Didatismo e Conhecimento 68
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
2. Na guia Página Inicial, no grupo Slides, clique na seta • Um slide de resumo que repete a lista de pontos ou áreas
ao lado de Novo Slide. Ou então, para que o novo slide tenha o principais da sua apresentação
mesmo layout do slide anterior, basta clicar em Novo Slide em vez Usando essa estrutura básica, se você possui três pontos ou
de clicar na seta ao lado dele. áreas principais para apresentar, planeje ter um mínimo de seis: um
slide de título, um slide introdutório, um slide para cada um dos
três pontos ou áreas principais e um slide de resumo.

Será exibida uma galeria que mostra as miniaturas dos vários


layouts de slide disponíveis.
• O nome identifica o conteúdo para o qual cada slide foi
criado.
• Os espaços reservados que exibem ícones coloridos po-
dem conter texto, mas você também pode clicar nos ícones para
inserir objetos automaticamente, incluindo elementos gráficos
SmartArt e clip-art.
3. Clique no layout desejado para o novo slide.

Se houver uma grande quantidade de material para apresen-


tar sobre qualquer um dos pontos ou áreas principais, talvez você
queira criar um subagrupamento de slides para esse material, usan-
do a mesma estrutura de tópicos básica.
Dica: Pense em quanto tempo cada slide deve ficar visível na
tela durante a sua apresentação. Uma boa estimativa padrão é de
dois a cinco minutos por slide.
Aplicar um novo layout a um slide
Para alterar o layout de um slide existente, faça o seguinte:
• No modo de exibição Normal, no painel que contém as
guias Tópicos e Slides, clique na guia Slides e clique no slide ao
qual deseja aplicar um novo layout.
• Na guia Página Inicial, no grupo Slides, clique em Layout
e, em seguida, clique no novo layout desejado.
 Observação   Se você aplicar um layout que não possua tipos
de espaços reservados suficientes para o conteúdo que já existe no
slide, serão criados espaços reservados adicionais automaticamen-
te para armazenar esse conteúdo.
O novo slide agora aparece na guia Slides, onde está realçado Copiar um slide
como o slide atual, e também como o grande slide à direita no
painel Slide. Repita esse procedimento para cada novo slide que Se você deseja criar dois ou mais slides que tenham conteúdo
você deseja adicionar. e layout semelhantes, salve o seu trabalho criando um slide que
tenha toda a formatação e o conteúdo que será compartilhado por
Determinar quantos slides são necessários ambos os slides, fazendo uma cópia desse slide antes dos retoques
Para calcular o número de slides necessários, faça um rascu- finais em cada um deles.
nho do material que você planeja abordar e, em seguida, divida 1. No modo de exibição Normal, no painel que contém as
o material em slides individuais. Você provavelmente deseja pelo guias Tópicos e Slides, clique na guia Slides, clique com o botão
menos: direito do mouse no slide que deseja copiar e clique em Copiar.
• Um slide de título principal
2. Na guia Slides, clique com o botão direito do mouse onde
• Um slide introdutório que lista os pontos principais ou
você deseja adicionar a nova cópia do slide e clique em Colar.
áreas da sua apresentação
Você também pode usar esse procedimento para inserir uma
• Um slide para cada ponto ou área que esteja listada no
cópia de um slide de uma apresentação para outra.
slide introdutório

Didatismo e Conhecimento 69
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Reorganizar a ordem dos slides
No modo de exibição Normal, no painel que contém as guias Tópicos e Slides, clique na guia Slides, clique no slide que deseja mover
e arraste-o para o local desejado.

Para selecionar vários slides, clique em um slide que deseja mover, pressione e mantenha pressionada a tecla CTRL enquanto clica em
cada um dos outros slides que deseja mover.

Excluir um slide
No modo de exibição Normal, no painel que contém as guias Tópicos e Slides, clique na guia Slides, clique com o botão direito do
mouse no slide que deseja excluir e clique em Excluir Slide.

Adicionar formas ao slide


1. Na guia Início, no grupo Desenho, clique em Formas.

2. Clique na forma desejada, clique em qualquer parte do slide e arraste para colocar a forma.
Para criar um quadrado ou círculo perfeito (ou restringir as dimensões de outras formas), pressione e mantenha a tecla SHIFT pressio-
nada ao arrastar.

Exibir uma apresentação de slides

Para exibir a apresentação no modo de exibição Apresentação de Slides a partir do primeiro slide, siga este procedimento:

Na guia Apresentação de Slides, no grupo Iniciar Apresentação de Slides, clique em Do Começo (ou pressione F5).

Para exibir a apresentação no modo de exibição Apresentação de Slides a partir do slide atual, siga este procedimento(ou pressione
Shift+F5):

Na guia Apresentação de Slides, no grupo Iniciar Apresentação de Slides, clique em Do Slide Atual.

Imprimir uma apresentação


1. Clique na guia Arquivo e clique em Imprimir.

Didatismo e Conhecimento 70
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
2. Em Imprimir, siga um destes procedimentos:
• Para imprimir todos os slides, clique em Tudo.
• Para imprimir somente o slide exibido no momento, clique em Slide Atual.
• Para imprimir slides específicos por número, clique em Intervalo Personalizado de Slides e digite uma lista de slides individuais,
um intervalo, ou ambos.
Observação   Use vírgulas para separar os números, sem espaços. Por exemplo: 1,3,5-12.
3. Em Outras Configurações, clique na lista Cor e selecione a configuração desejada.
4. Ao concluir as seleções, clique em Imprimir.

• Criar e imprimir folhetos

Você pode imprimir as apresentações na forma de folhetos, com até nove slides em uma página, que podem ser utilizados pelo público
para acompanhar a apresentação ou para referência futura.
O folheto com três slides por página possui espaços entre as linhas para anotações.
Você pode selecionar um layout para os folhetos em visualização de impressão (um modo de exibição de um documento da maneira
como ele aparecerá ao ser impresso).
Organizar conteúdo em um folheto:
Na visualização de impressão é possível organizar o conteúdo no folheto e visualizá-lo para saber como ele será impresso. Você pode
especificar a orientação da página como paisagem ou retrato e o número de slides que deseja exibir por página.
Você pode adicionar visualizar e editar cabeçalhos e rodapés, como os números das páginas. No layout com um slide por página, você
só poderá aplicar cabeçalhos e rodapés ao folheto e não aos slides, se não desejar exibir texto, data ou numeração no cabeçalho ou no rodapé
dos slides.

Aplicar conteúdo e formatação em todos os folhetos:


Se desejar alterar a aparência, a posição e o tamanho da numeração, da data ou do texto do cabeçalho e do rodapé em todos os folhetos,
faça as alterações no folheto mestre. Para incluir um nome ou logotipo em todas as páginas do folheto, basta adicioná-lo ao mestre. As
alterações feitas no folheto mestre também são exibidas na impressão da estrutura de tópicos.
Imprimir folhetos:
1. Abrir a apresentação em que deseja imprimir os folhetos.
2. Clicar na aba Arquivo, clicar na seleção de layout de slides para impressão na seção ‘Configurações’ e escolher o modo de
impressão(aqui também podemos selecionar os modos ‘Anotações’ e ‘Estrutura de tópicos’)

Didatismo e Conhecimento 71
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Então basta começar a digitar.

Formatar texto
Para alterar um texto, é necessário primeiro selecioná-lo. Para
selecionar um texto ou palavra, basta clicar com o boto esquerdo
sobre o ponto em que se deseja iniciar a seleção e manter o botão
pressionado, arrastar o mouse até o ponto desejado e soltar o botão
esquerdo.

O formato Folhetos (3 Slides por Página) possui linhas para


anotações do público.

Para especificar a orientação da página, clicar na seta em


Orientação e, em seguida, clicar em Paisagem ou Retrato. 1 – Fonte
Clicar em Imprimir. Altera o tipo de fonte
2 – Tamanho da fonte
Inserir texto Altera o tamanho da fonte
3 – Negrito
Para inserir um texto no slide clicar com o botão esquerdo do Aplica negrito ao texto selecionado. Também pode ser acio-
mouse no retângulo (Clique para adicionar um título), após clicar nado através do comando Ctrl+N.
o ponto de inserção (cursor será exibido).

Didatismo e Conhecimento 72
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
4 – Itálico
Aplica Itálico ao texto selecionado. Também pode ser acionado através do comando Ctrl+I.
5 – Sublinhado
Sublinha o texto selecionado. Também pode ser acionado através do comando Ctrl+S.
6 – Tachado
Desenha uma linha no meio do texto selecionado.
7 – Sombra de Texto
Adiciona uma sombra atrás do texto selecionado para destacá-lo no slide.
8 – Espaçamento entre Caracteres
Ajusta o espaçamento entre caracteres.
9 – Maiúsculas e Minúsculas
Altera todo o texto selecionado para MAIÚSCULAS, minúsculas, ou outros usos comuns de maiúsculas/minúsculas.
10 – Cor da Fonte
Altera a cor da fonte.
11 – Alinhar Texto à Esquerda
Alinha o texto à esquerda. Também pode ser acionado através do comando Ctrl+Q.
12 – Centralizar
Centraliza o texto. Também pode ser acionado através do comando Ctrl+E.
13 – Alinhar Texto à Direita
Alinha o texto à direita. Também pode ser acionado através do comando Ctrl+G.
14 – Justificar
Alinha o texto às margens esquerda e direita, adicionando espaço extra entre as palavras conforme o necessário, promovendo uma apa-
rência organizada nas laterais esquerda e direita da página.
15 – Colunas
Divide o texto em duas ou mais colunas.

Limpar formatação
Para limpar toda a formatação de um texto basta selecioná-lo e clicar no botão , localizado na guia Início.

Inserir símbolos especiais


Além dos caracteres que aparecem no teclado, é possível inserir no slide vários caracteres e símbolos especiais.
1. Posicionar o cursor no local que se deseja inserir o símbolo.
2. Acionar a guia Inserir.

3. Clicar no botão Símbolo.


4. Selecionar o símbolo.

5. Clicar em Inserir e em seguida Fechar.

Didatismo e Conhecimento 73
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Marcadores e numeração
Com a guia Início acionada, clicar no botão , para criar parágrafos com marcadores. Para escolher o tipo de marcador clicar na
seta.

Com a guia Início acionada, clicar no botão , para iniciar uma lista numerada. Para escolher diferentes formatos de numeração clicar
na seta.

Inserir figuras

Para inserir uma figura no slide clicar na guia Inserir, e clicar em um desses botões:
• Imagem do Arquivo: insere uma imagem de um arquivo.
• Clip-art: é possível escolher entre várias figuras que acompanham o Microsoft Office.
• Formas: insere formas prontas, como retângulos e círculos, setas, linhas, símbolos de fluxograma e textos explicativos.
• SmartArt: insere um elemento gráfico SmartArt para comunicar informações visualmente. Esses elementos gráficos variam desde
listas gráficas e diagramas de processos até gráficos mais complexos, como diagramas de Venn e organogramas.
• Gráfico: insere um gráfico para ilustrar e comparar dados.
• WordArt: insere um texto com efeitos especiais.

Didatismo e Conhecimento 74
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Alterar plano de fundo Os quiosques podem ser configurados para executar apresen-
Para alterar o plano de fundo de um slide, basta clicar com o tações do PowerPoint de forma automática, contínua ou ambas).
botão direito do mouse sobre ele, e em seguida clicar em Formatar 1. Na guia Inserir, no grupo Ilustrações, clicar na seta abaixo
Plano de Fundo.
de Formas e, em seguida, clique no botão Mais .
2. Em Botões de Ação, clicar no botão que se deseja adicio-
nar.
3. Clicar sobre um local do slide e arrastar para desenhar a
forma para o botão.
4. Na caixa Configurar Ação, seguir um destes procedimentos:
• Para escolher o comportamento do botão de ação quando
você clicar nele, clicar na guia Selecionar com o Mouse.
• Para escolher o comportamento do botão de ação quando
você mover o ponteiro sobre ele, clicar na guia Selecionar sem o
Mouse.
5. Para escolher o que acontece quando você clica ou move
o ponteiro sobre o botão de ação, siga um destes procedimentos:
• Se você não quiser que nada aconteça, clicar em Nenhuma.
Depois escolher entre as opções clicar Aplicar a tudo para • Para criar um hiperlink, clicar em Hiperlink para e selecionar
aplicar a mudança a todos os slides, se for alterar apenas o slide o destino para o hiperlink.
atual clicar em fechar. • Para executar um programa, clicar em Executar programa
e, em seguida, clicar em Procurar e localizar o programa que você
deseja executar.
• Para executar um macro (uma ação ou um conjunto de ações
que você pode usar para automatizar tarefas. Os macros são grava-
dos na linguagem de programação Visual Basic for Applications),
clicar em Executar macro e selecionar a macro que você deseja
executar.
As configurações de Executar macro estarão disponíveis so-
mente se a sua apresentação contiver um macro.
• Se você deseja que a forma escolhida como um botão de
ação execute uma ação, clicar em Ação do objeto e selecionar a
ação que você deseja que ele execute.
As configurações de Ação do objeto estarão disponíveis so-
mente se a sua apresentação contiver um objeto OLE (uma tecno-
logia de integração de programa que pode ser usada para compar-
tilhamento de informações entre programas. Todos os programas
do Office oferecem suporte para OLE; por isso, você pode compar-
tilhar informações por meio de objetos vinculados e incorporados).
• Para tocar um som, marcar a caixa de seleção Tocar som e
selecionar o som desejado.
Animar textos e objetos
Para animar um texto ou objeto, selecionar o texto ou objeto, Criar apresentação personalizada
clicar na guia Animações, e depois em Animações Personalizadas,
Existem dois tipos de apresentações personalizadas: básica e
abrirá um painel à direita, clicar em Adicionar efeito. Nele se en-
com hiperlinks.
contram várias opções de animação de entrada, ênfase, saída e tra-
Uma apresentação personalizada básica é uma apresentação
jetórias de animação.
separada ou uma apresentação que inclui alguns slides originais.
Inserir botão de ação Uma apresentação personalizada com hiperlinks é uma forma
Um botão de ação consiste em um botão já existente que pode rápida de navegar para uma ou mais apresentações separadas.
ser inserido na apresentação e para o qual pode definir hiperlinks. 1 – Apresentação Personalizada Básica
Os botões de ação contêm formas, como setas para direita e para Utilizar uma apresentação personalizada básica para fornecer
esquerda e símbolos de fácil compreensão referentes às ações de apresentações separadas para diferentes grupos da sua organiza-
ir para o próximo, anterior, primeiro e último slide, além de exe- ção. Por exemplo, se sua apresentação contém um total de cinco
cutarem filmes ou sons. Eles são mais comumente usados para slides, é possível criar uma apresentação personalizada chamada
apresentações autoexecutáveis — por exemplo, apresentações que “Site 1” que inclui apenas os slides 1, 3 e 5. É possível criar uma
são exibidas várias vezes em uma cabine ou quiosque (um compu- segunda apresentação personalizada chamada “Site 2” que inclui
tador e monitor, geralmente localizados em uma área frequentada os slides 1, 2, 4 e 5. Quando você criar uma apresentação perso-
por muitas pessoas, que pode incluir tela sensível ao toque, som nalizada a partir de outra apresentação, é possível executá-la, na
ou vídeo. íntegra, em sua sequência original.

Didatismo e Conhecimento 75
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
1. Na guia Apresentações, no grupo Iniciar Apresentação de
Slides, clicar na seta ao lado de Apresentação de Slides Personali-
zada e, em seguida, clicar em Apresentações Personalizadas.
2. Na caixa de diálogo Apresentações Personalizadas, clicar
em Novo.
3. Em Slides na apresentação, clicar nos slides que você de-
seja incluir na apresentação personalizada principal e, em seguida,
clicar em Adicionar.
Para selecionar diversos slides sequenciais, clicar no primeiro
slide e, em seguida, manter pressionada a tecla SHIFT enquanto
clica no último slide que deseja selecionar. Para selecionar diver-
sos slides não sequenciais, manter pressionada a tecla CTRL en-
quanto clica em cada slide que queira selecionar.
4. Para alterar a ordem em que os slides são exibidos, em
Slides na apresentação personalizada, clicar em um slide e, em
1. Na guia Apresentações de Slides, no grupo Iniciar Apre-
seguida, clicar em uma das setas para mover o slide para cima ou
sentação de Slides, clicar na seta ao lado de Apresentação de Slides
para baixo na lista.
Personalizada e, em seguida, clicar em Apresentações Personali- 5. Digitar um nome na caixa Nome da apresentação de slides
zadas. e clicar em OK. Para criar apresentações personalizadas adicionais
2. Na caixa de diálogo Apresentações Personalizadas, clicar com quaisquer slides da sua apresentação, repetir as etapas de 1
em Novo. a 5.
3. Em Slides na apresentação, clicar nos slides que você de- 6. Para criar um hiperlink da apresentação principal para uma
seja incluir na apresentação personalizada e, em seguida, clicar em apresentação de suporte, selecionar o texto ou objeto que você de-
Adicionar. seja para representar o hiperlink.
Para selecionar diversos slides sequenciais, clicar no primeiro 7. Na guia Inserir, no grupo Vínculos, clicar na seta abaixo
slide e, em seguida, manter pressionada a tecla SHIFT enquanto de Hiperlink.
clica no último slide que deseja selecionar. Para selecionar diver- 8. Em Vincular para, clicar em Colocar Neste Documento.
sos slides não sequenciais, manter pressionada a tecla CTRL en- 9. Seguir um destes procedimentos:
quanto clica em cada slide que queira selecionar. • Para se vincular a uma apresentação personalizada, na lista
4. Para alterar a ordem em que os slides são exibidos, em Selecionar um local neste documento, selecionar a apresentação
Slides na apresentação personalizada, clicar em um slide e, em personalizada para a qual deseja ir e marcar a caixa de seleção
seguida, clicar em uma das setas para mover o slide para cima ou Mostrar e retornar.
para baixo na lista. • Para se vincular a um local na apresentação atual, na lista
5. Digitar um nome na caixa Nome da apresentação de slides Selecione um local neste documento, selecionar o slide para o qual
e clicar em OK. Para criar apresentações personalizadas adicionais você deseja ir.
com quaisquer slides da sua apresentação, repetir as etapas de 1 Para visualizar uma apresentação personalizada, clicar no
a 5. nome da apresentação na caixa de diálogo Apresentações Persona-
Para visualizar uma apresentação personalizada, clicar no lizadas e, em seguida, clicar em Mostrar.
nome da apresentação na caixa de diálogo Apresentações Persona-
lizadas e, em seguida, clicar em Mostrar. Transição de slides
As transições de slide são os efeitos semelhantes à animação
2 – Apresentação Personalizada com Hiperlink
que ocorrem no modo de exibição Apresentação de Slides quando
Utilizar uma apresentação personalizada com hiperlinks para
você move de um slide para o próximo.
organizar o conteúdo de uma apresentação. Por exemplo, se você
É possível controlar a velocidade de cada efeito de transição
cria uma apresentação personalizada principal sobre a nova orga-
de slides e também adicionar som.
nização geral da sua empresa, é possível criar uma apresentação
personalizada para cada departamento da sua organização e vincu- O Microsoft Office PowerPoint 2010 inclui vários tipos dife-
lá-los a essas exibições da apresentação principal. rentes de transições de slides, incluindo (mas não se limitando) as
seguintes:

1. Sem transição
2. Persiana Horizontal
3. Persiana Vertical
4. Quadro Fechar
5. Quadro Abrir

Didatismo e Conhecimento 76
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
6. Quadriculado na Horizontal o Para permitir que a audiência role por sua apresentação de
7. Quadriculado na Vertical auto execução a partir de um computador autônomo, marcar a cai-
8. Pente Horizontal xa de seleção Mostrar barra de rolagem.
9. Pente Vertical o Para entregar uma apresentação de auto execução execu-
tada em um quiosque (um computador e monitor, geralmente lo-
Para consultar mais efeitos de transição, na lista Estilos Rápi- calizados em uma área frequentada por muitas pessoas, que pode
dos, clicar no botão Mais, conforme mostrado no diagrama acima. incluir tela sensível ao toque, som ou vídeo. Os quiosques podem
• Adicionar a mesma transição de slides a todos os slides em ser configurados para executar apresentações do PowerPoint de
sua apresentação: forma automática, contínua ou ambas), clicar em Apresentada em
1. No painel que contém as guias Tópicos e Slides, clicar na um quiosque (tela inteira).
guia Slides. • Mostrar slides
2. Na guia Início, clicar na miniatura de um slide. Usar as opções na seção Mostrar slides para especificar quais
3. Na guia Animações, no grupo Transição para Este Slide, slides estão disponíveis em uma apresentação ou para criar uma
clicar em um efeito de transição de slides. apresentação personalizada (uma apresentação dentro de uma
4. Para consultar mais efeitos de transição, na lista Estilos apresentação na qual você agrupa slides em uma apresentação
Rápidos, clicar no botão Mais. existente para poder mostrar essa seção da apresentação para um
5. Para definir a velocidade de transição de slides, no grupo público em particular).
Transição para Este Slide, clicar na seta ao lado de Velocidade da o Para mostrar todos os slides em sua apresentação, clicar em
Transição e, em seguida, selecionar a velocidade desejada. Tudo.
6. No grupo Transição para Este Slide, clicar em Aplicar a o Para mostrar um grupo específico de slides de sua apresen-
Tudo. tação, digitar o número do primeiro slide que você deseja mostrar
• Adicionar diferentes transições de slides aos slides em sua na caixa De e digitar o número do último slide que você deseja
apresentação mostrar na caixa Até.
1. No painel que contém as guias Tópicos e Slides, clicar na o Para iniciar uma apresentação de slides personalizada que
guia Slides. seja derivada de outra apresentação do PowerPoint, clicar em
2. Na guia Início, clicar na miniatura de um slide. Apresentação personalizada e, em seguida, clicar na apresenta-
3. Na guia Animações, no grupo Transição para Este Slide,
ção que você deseja exibir como uma apresentação personalizada
clicar no efeito de transição de slides que você deseja para esse
(uma apresentação dentro de uma apresentação na qual você agru-
slide.
pa slides em uma apresentação existente para poder mostrar essa
4. Para consultar mais efeitos de transição, na lista Estilos
seção da apresentação para um público em particular).
Rápidos, clicar no botão Mais.
• Opções da apresentação
5. Para definir a velocidade de transição de slides, no grupo
Usar as opções na seção Opções da apresentação para especi-
Transição para Este Slide, clicar na seta ao lado de Velocidade da
ficar como você deseja que arquivos de som, narrações ou anima-
Transição e, em seguida, selecionar a velocidade desejada.
6. Para adicionar uma transição de slides diferente a outro ções sejam executados em sua apresentação.
slide em sua apresentação, repetir as etapas 2 a 4. o Para executar um arquivo de som ou animação continua-
• Adicionar som a transições de slides mente, marcar a caixa de opções Repetir até ‘Esc’ ser pressionada.
1. No painel que contém as guias Tópicos e Slides, clicar na o Para mostrar uma apresentação sem executar uma narração
guia Slides. incorporada, marcar a caixa de seleção Apresentação sem narra-
2. Na guia Início, clicar na miniatura de um slide. ção.
3. Na guia Animações, no grupo Transição para Este Slide, o Para mostrar uma apresentação sem executar uma animação
clicar na seta ao lado de Som de Transição e, em seguida, seguir incorporada, marcar a caixa de seleção Apresentação sem anima-
um destes procedimentos: ção.
• Para adicionar um som a partir da lista, selecionar o som o Ao fazer sua apresentação diante de uma audiência ao vivo,
desejado. é possível escrever nos slides. Para especificar uma cor de tinta, na
• Para adicionar um som não encontrado na lista, selecionar lista Cor da caneta, selecionar uma cor de tinta.
Outro Som, localizar o arquivo de som que você deseja adicionar
e, em seguida, clicar em OK. A lista Cor da caneta estará disponível apenas se Exibida por
4. Para adicionar som a uma transição de slides diferente, um orador (tela inteira) (na seção Tipo de apresentação) estiver
repetir as etapas 2 e 3. selecionada.
• Avançar slides
Configurar apresentação de slides
Usar as opções na seção Avançar slides para especificar como
• Tipo de apresentação
Usar as opções na seção Tipo de apresentação para especificar mover de um slide para outro.
como você deseja mostrar a apresentação para sua audiência. o Para avançar para cada slide manualmente durante a apre-
o Para fazer sua apresentação diante de uma audiência ao sentação, clicar em Manualmente.
vivo, clicar em Exibida por um orador (tela inteira). o Para usar intervalos de slide para avançar para cada slide
o Para permitir que a audiência exiba sua apresentação a partir automaticamente durante a apresentação, clicar em Usar interva-
de um disco rígido ou CD em um computador ou na Internet, clicar los, se houver.
em Apresentada por uma pessoa (janela).

Didatismo e Conhecimento 77
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
• Vários Monitores 1. Miniaturas dos slides que você pode clicar para pular um
É possível executar sua apresentação do Microsoft Office Po- slide ou retornar para um slide já apresentado.
werPoint 2010 de um monitor (por exemplo, em um pódio) en- 2. O slide que você está exibindo no momento para o pú-
quanto o público a vê em um segundo monitor. blico.
Usando dois monitores, é possível executar outros programas 3. O botão Finalizar Apresentação, que você pode clicar a
que não são vistos pelo público e acessar o modo de exibição Apre- qualquer momento para finalizar a sua apresentação.
4. O botão Escurecer, que você pode clicar para escurecer a
sentador. Este modo de exibição oferece as seguintes ferramentas
tela do público temporariamente e, em seguida, clicar de novo para
para facilitar a apresentação de informação:
exibir o slide atual.
o É possível utilizar miniaturas para selecionar os slides de 5. Avançar para cima, que indica o slide que o seu público
uma sequência e criar uma apresentação personalizada para o seu verá em seguida.
público. 6. Botões que você pode selecionar para mover para frente
o A visualização de texto mostra aquilo que o seu próximo cli- ou para trás na sua apresentação.
que adicionará à tela, como um slide novo ou o próximo marcador 7. O Número do slide (por exemplo, Slide 7 de 12)
de uma lista. 8. O tempo decorrido, em horas e minutos, desde o início
o As anotações do orador são mostradas em letras grandes e da sua apresentação.
claras, para que você possa utilizá-las como um script para a sua 9. As anotações do orador, que você pode usar como um
apresentação. script para a sua apresentação.
o É possível escurecer a tela durante sua apresentação e, de- Requisitos para o uso do modo de exibição Apresentador:
pois, prosseguir do ponto em que você parou. Por exemplo, talvez Para utilizar o modo de exibição Apresentador, faça o seguin-
você não queira exibir o conteúdo do slide durante um intervalo ou te:
o Certifique-se que o computador usado para a apresentação
uma seção de perguntas e respostas.
tem capacidade para vários monitores.
o Ativar o suporte a vários monitores
o Ativar o modo de exibição Apresentador.

Ativar o suporte a vários monitores:


Embora os computadores possam oferecer suporte a mais de
dois monitores, o PowerPoint oferece suporte para o uso de até
dois monitores para uma apresentação. Para desativar o suporte
a vários monitores, selecionar o segundo monitor e desmarcar a
caixa de seleção Estender a área de trabalho do Windows a este
monitor.

1. Na guia Apresentação de Slides, no grupo Monitores, clicar


No modo de exibição do Apresentador, os ícones e botões são em Mostrar Modo de Exibição do Apresentador.
2. Na caixa de diálogo Propriedades de Vídeo, na guia Con-
grandes o suficiente para uma fácil navegação, mesmo quando
figurações, clicar no ícone do monitor para o monitor do apresen-
você está usando um teclado ou mouse desconhecido. A seguin-
tador e desmarcar a caixa de seleção Usar este dispositivo como
te ilustração mostra as várias ferramentas disponibilizadas pelo monitor primário.
modo de exibição Apresentador. Se a caixa de seleção Usar este dispositivo como monitor pri-
mário estiver marcada e não disponível, o monitor foi designado
como o monitor primário. Somente é possível selecionar um mo-
nitor primário por vez. Se você clicar em um ícone de monitor
diferente, a caixa de seleção Usar este dispositivo como monitor
primário é desmarcada e torna-se disponível novamente.
É possível mostrar o modo de exibição Apresentador e executar
a apresentação de apenas um monitor — geralmente, o monitor 1.
3. Clicar no ícone do monitor para o monitor do público e
marcar a caixa de seleção Estender a área de trabalho do Windows
a este monitor.
Executar uma apresentação em dois monitores usando o
modo de exibição do Apresentador:
Após configurar seus monitores, abrir a apresentação que de-
seja executar e fazer o seguinte:
1. Na guia Apresentação de Slides, no grupo Configuração,
clicar em Configurar a Apresentação de Slides.
2. Na caixa de diálogo Configurar Apresentação, escolher as
opções desejadas e clicar em OK.

Didatismo e Conhecimento 78
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
3. Para começar a entrega da apresentação, na guia Exibir, no mo, a mensagem vai direto ao destinatário, não precisa passa de
grupo Modos de Exibição de Apresentação, clicar em Apresenta- mão-em-mão (funcionário do correio, carteiro, etc.), fica na sua
ção de Slides. caixa postal onde somente o dono tem acesso e, apesar de cada
• Desempenho pessoa ter seu endereço próprio, você pode acessar seu e-mail de
Usar as opções na seção Desempenho para especificar o nível qualquer computador conectado à Internet.
de clareza visual da apresentação. Bem, o e-mail mesclou a facilidade de uso do correio conven-
o Para acelerar o desenho de elementos gráficos na apresen- cional com a velocidade do telefone, se tornando um dos melhores
tação, selecionar Usar aceleração de elementos gráficos do har- e mais utilizado meio de comunicação.
dware.
o Na lista Resolução da apresentação de slides, clicar na reso- Estrutura e Funcionalidade do e-mail
lução, ou número de pixels por polegada, que você deseja. Quanto
mais pixels, mais nítida será a imagem, contudo mais lento será o Como no primeiro e-mail criado por Tomlinson, todos os en-
desempenho do computador. Por exemplo, uma tela de 640 x 480 dereços eletrônicos seguem uma estrutura padrão, nome do usuá-
pixels é capaz de exibir 640 pontos distintos em cada uma das 480 rio + @ + host, onde:
linhas, ou aproximadamente 300.000 pixels. Essa é a resolução
com desempenho mais rápido, contudo fornece a menor qualidade. » Nome do Usuário – é o nome de login escolhido pelo usuá-
Em contraste, uma tela com 1280 x 1024 pixels fornece as imagens rio na hora de fazer seu e-mail. Exemplo: sergiodecastro.
mais nítidas, mas com desempenho mais lento. » @ - é o símbolo, definido por Tomlinson, que separa o nome
do usuário do seu provedor.
» Host – é o nome do provedor onde foi criado o endereço
5.5 CORREIO ELETRÔNICO: eletrônico. Exemplo: click21.com.br .
USO DE CORREIO ELETRÔNICO, » Provedor – é o host, um computador dedicado ao serviço 24
PREPARO E ENVIO DE MENSAGENS, horas por dia.
ANEXAÇÃO DE ARQUIVOS
Vejamos um exemplo real: sergiodecastro@click21.com.br

A caixa postal é composta pelos seguintes itens:


Um Pouco de História
» Caixa de Entrada – Onde ficam armazenadas as mensagens
Foi em 1971 que tudo começou (na realidade começou antes,
recebidas.
com pesquisas), com um engenheiro de computação da BBN (Bolt
» Caixa de Saída – Armazena as mensagens ainda não
Beranek e Newman), chamado Ray Tomlinson. Utilizando um
enviadas.
programa chamado SNDMSG, abreviação do inglês “Send Messa-
» E-mails Enviados – Como o nome diz, ficam os e-mails que
ge”, e o ReadMail, Ray conseguiu enviar mensagem de um com-
foram enviados.
putador para outro. Depois de alguns testes mandando mensagens
» Rascunho – Guarda as mensagens que você ainda não
para ele mesmo, Ray tinha criado o maior e mais utilizado meio de
terminou de redigir.
comunicação da Internet, o correio eletrônico do inglês “eletronic
mail” ou simplesmente como todos conhecem e-mail. » Lixeira – Armazena as mensagens excluídas.
O símbolo @ foi utilizado por Tomlinson para separar o nome
do computador do nome do usuário, esta convenção é utilizada Ao redigir mensagem, os seguintes campos estão presentes:
até hoje. Como não poderia deixar de ser, o primeiro endereço de
e-mail foi criado por Tomlinson, tomlinson@bbn-tenexa. O sím- » Para – é o campo onde será inserido o endereço do
bolo @ (arroba) é lido no inglês com “at”, que significa em, algo destinatário.
como: o endereço tomlinson está no computador bbn-tenexa. » Cc – este campo é utilizado para mandar cópias da mesma
Durante um bom tempo, o e-mail foi usado, quase que exclu- mensagem, ao usar este campo os endereços aparecerão para todos
sivamente, por pesquisadores da área de computação e militares. os destinatários.
Foi com o desenvolvimento e o aumento de usuários da Internet, » Cco – sua funcionalidade é igual ao campo anterior, no en-
que o e-mail se popularizou e passou a ser a aplicação mais utiliza- tanto os endereços só aparecerão para os respectivos donos.
da na internet. Hoje, até mesmo pessoas que usam a Internet muito » Assunto – campo destinado ao assunto da mensagem.
pouco, tem um e-mail. » Anexos – são dados que são anexados à mensagem (imagens,
O correio eletrônico se parece muito com o correio tradicio- programas, música, arquivos de texto, etc.).
nal. Todo usuário tem um endereço próprio e uma caixa postal, o » Corpo da Mensagem – espaço onde será redigida a
carteiro é a Internet. Você escreve sua mensagem, diz pra quem mensagem.
que mandar e a Internet cuida do resto. Mas por que o e-mail se
popularizou tão depressa? A primeira coisa é pelo custo. Você não Alguns nomes podem mudar de servidor para servidor, porém
paga nada por uma comunicação via e-mail, apenas os custos de representando as mesmas funções. Além dos destes campos tem
conexão com a Internet. Outro fator é a rapidez, enquanto o correio ainda os botões para EVIAR, ENCAMINHAR e EXCLUIR as
tradicional levaria dias para entregar uma mensagem, o eletrônico mensagens, este botões bem como suas funcionalidades veremos
faz isso quase que instantaneamente e não utiliza papel. Por ulti- em detalhes, mais a frente.

Didatismo e Conhecimento 79
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Para receber seus e-mails você não precisa está conectado à In- » Criando seu e-mail
ternet, pois o e-mail funciona com provedores. Mesmo você não Fazer sua conta de e-mail é uma tarefa extremamente sim-
estado com seu computador ligado, seus e-mail são recebidos e ar- ples, eu escolhi o iBestMail, pois a interface deste WebMail não
mazenados na sua caixa postal, localizada no seu provedor. Quando tem propagandas e isso ajudar muito os entendimentos, no entanto
você acessa sua caixa postal, pode ler seus e-mail on-line (direta- você pode acessar qualquer dos endereços informados acima ou
mente na Internet, pelo WebMail) ou baixar todos para seu com- ainda qualquer outro que você conheça. O processo de cadastro
putador através de programas de correio eletrônico. Um programa é muito simples, basta preencher um formulário e depois você
muito conhecido é o Outlook Express, o qual detalhar mais a frente. terá sua conta de e-mail pronta para ser usada. Alguns provedores
A sua caixa postal é identificada pelo seu endereço de e-mail exigem CPF para o cadastro, o iBest e o iG são exemplos, já outros
e qualquer pessoa que souber esse endereço, pode enviar mensa- você informa apenas dados pessoais, o Yahoo e o Gmail são exem-
gens para você. Também é possível enviar mensagens para várias plos, este último é preciso ter um convite.
pessoas ao mesmo tempo, para isto basta usar os campos “Cc” e Vamos aos passos:
“Cco” descritos acima.
Atualmente, devido a grande facilidade de uso, a maioria das 1. Acesse a pagina do provedor (www.ibestmail.com.br) ou
pessoas acessa seu e-mail diretamente na Internet através do nave- qualquer outro de sua preferência.
gador. Este tipo de correio é chamado de WebMail. O WebMail é
2. Clique no botão “CADASTRE-SE JÁ”, será aberto um for-
responsável pela grande popularização do e-mail, pois mesmo as
mulário, preencha-o observando todos os campos. Os campos do
pessoas que não tem computador, podem acessar sua caixa postal
formulário têm suas particularidades de provedor para provedor,
de qualquer lugar (um cyber, casa de um amigo, etc.). Para ter um
no entanto todos trazem a mesma ideia, colher informações do
endereço eletrônico basta querer e acessar a Internet, é claro. Existe
quase que uma guerra por usuários. Os provedores, também, dispu- usuário. Este será a primeira parte do seu e-mail e é igual a este em
tam quem oferece maior espaço em suas caixas postais. Há pouco qualquer cadastro, no exemplo temos “@ibest.com.br”. A junção
tempo encontrar um e-mail com mais de 10 Mb, grátis, não era fácil. do nome de usuário com o nome do provedor é que será seu en-
Lembro que, quando a Embratel ofereceu o Click21 com 30 Mb, dereço eletrônico. No exemplo ficaria o seguinte: seunome@ibest.
achei que era muito espaço, mas logo o iBest ofereceu 120 Mb e com.br.
não parou por ai, a “guerra” continuo culminando com o anúncio de 3. Após preencher todo o formulário clique no botão “Aceito”,
que o Google iria oferecer 1 Gb (1024 Mb). A ultima campanha do pronto seu cadastro estará efetivado.
GMail, e-mail do Google, é de aumentar sua caixa postal constante- Pelo fato de ser gratuito e ter muitos usuários é comum que
mente, a ultima vez que acessei estava em 2663 Mb. muitos nomes já tenham sido cadastrados por outros usuários,
neste caso será exibida uma mensagem lhe informando do pro-
WebMail blema. Isso acontece porque dentro de um mesmo provedor não
pode ter dois nomes de usuários iguais. A solução é procurar outro
O WebMail, como descrito acima, é uma aplicação acessada nome que ainda esteja livre, alguns provedores mostram sugestões
diretamente na Internet, sem a necessidade de usar programa de como: seunome2005; seunome28, etc. Se ocorrer isso com você (o
correio eletrônico. Praticamente todos os e-mails possuem aplica- que é bem provável que acontecerá) escolha uma das sugestões ou
ções para acesso direto na Internet. É grande o número de prove- informe outro nome (não desista, você vai conseguir), finalize seu
dores que oferecem correio eletrônico gratuitamente, logo abaixo cadastro que seu e-mail vai está pronto para ser usado.
segue uma lista dos mais populares. » Entendendo a Interface do WebMail
» Hotmail – http://www.hotmail.com A interface é a parte gráfica do aplicativo de e-mail que nos
» GMail – http://www.gmail.com liga do mundo externo aos comandos do programa. Estes conheci-
» iBest Mail – http://www.ibestmail.com.br mentos vão lhe servir para qualquer WebMail que você tiver e tam-
» iG Mail – http://www.ig.com.br bém para o Outlook Express que é um programa de gerenciamento
» Yahoo – http://www.yahoo.com.br de e-mails, vamos ver este programa mais adiante.
» Click21 – http://www.click21.com.br
1. Chegou e-mail? – Este botão serve para atualizar sua caixa
de entrar, verificando se há novas mensagens no servidor.
Para criar seu e-mail basta visitar o endereço acima e seguir
2. Escrever – Ao clicar neste botão a janela de edição de e-
as instruções do site. Outro importante fator a ser observado é o
-mail será aberta. A janela de edição é o espaço no qual você vai
tamanho máximo permitido por anexo, este foi outro fator que au-
mentou muito de tamanho, há pouco tempo a maioria dos prove- redigir, responder e encaminhar mensagens. Semelhante à função
dores permitiam em torno de 2 Mb, mas atualmente a maioria já novo e-mail do Outlook.
oferecem em média 10 Mb. Porém tem alguns mais generosos que 3. Contatos – Abre a seção de contatos. Aqui os seus endere-
chegam a oferecer mais que isso, é o caso do Click21 que oferece ços de e-mail são previamente guardados para utilização futura,
21 Mb, claro que essas limitações são preocupantes quando se tra- nesta seção também é possível criar grupos para facilitar o geren-
ta de e-mail grátis, pois a final de contas quando pagamos o bolso ciamento dos seus contatos.
é quem manda. Além de caixa postal os provedores costumam ofe- 4. Configurações – Este botão abre (como o próprio nome já
recer serviços de agenda e contatos. diz) a janela de configurações. Nesta janela podem ser feitas di-
Todos os WebMail acima são ótimos, então fica a critério de versas configurações, tais como: mudar senha, definir número de
cada um escolher o seu, ou até mesmo os seus, eu, por exemplo, e-mail por página, assinatura, resposta automática, etc.
procuro aqueles que oferecem uma interface com o menor propa- 5. Ajuda – Abre, em outra janela do navegador, uma seção
ganda possível. com vários tópicos de ajuda.

Didatismo e Conhecimento 80
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
6. Sair – Este botão é muito importante, pois é através dele que MS OUTLOOK 2010
você vai fechar sua caixa postal, muito recomendado quando o uso O Microsoft Outlook 2010 oferece excelentes ferramentas de
de seu e-mail ocorrer em computadores de terceiros. gerenciamento de emails profissionais e pessoais para mais de 500
7. Espaço – Esta seção é apenas informativa, exibe seu ende- milhões de usuários do Microsoft Office no mundo todo. Com o
reço de e-mail; quantidade total de sua caixa posta; parte utilizada lançamento do Outlook 2010, você terá uma série de experiências
em porcentagem e um pequeno gráfico. mais ricas para atender às suas necessidades de comunicação no
8. Seção atual – Mostra o nome da seção na qual você está, no trabalho, em casa e na escola.
exemplo a Caixa de Entrada. Do visual redesenhado aos avançados recursos de organização
9. Número de Mensagens – Exibe o intervalo de mensagens de emails, pesquisa, comunicação e redes sociais, o Outlook 2010
que estão na tela e também o total da seção selecionada. proporciona uma experiência fantástica para você se manter pro-
10. Caixa de Comandos – Neste menu suspenso estão todos dutivo e em contato com suas redes pessoais e profissionais.
os comandos relacionados com as mensagens exibidas. Para usar
estes comandos, selecione uma ou mais mensagens o comando Adicionar uma conta de email
desejado e clique no botão “OK”. O botão “Bloquear”, bloqueia Antes de poder enviar e receber emails no Outlook 2010, você
precisa adicionar e configurar uma conta de email. Se tiver usado
o endereço de e-mail da mensagem, útil para bloquear e-mails in-
uma versão anterior do Microsoft Outlook no mesmo computador
desejados. Já o botão “Contas externas” abre uma seção para con-
em que instalou o Outlook 2010, suas configurações de conta serão
figurar outras contas de e-mails que enviarão as mensagens a sua
importadas automaticamente.
caixa postal. Para o correto funcionamento desta opção é preciso
Se você não tem experiência com o Outlook ou se estiver ins-
que a conta a ser acessada tenha serviço POP3 e SMTP. talando o Outlook 2010 em um computador novo, o recurso Con-
11. Lista de Páginas – Este menu suspenso exibe a lista de figuração Automática de Conta será iniciado automaticamente e
página, que aumenta conforme a quantidade de e-mails na seção. o ajudará a configurar as definições de suas contas de email. Essa
Para acessar selecione a página desejada e clique no botão “OK”. configuração exige somente seu nome, endereço de email e senha.
Veja que todos os comandos estão disponíveis também na parte Se não for possível configurar sua conta de email automaticamen-
inferior, isto para facilitar o uso de sua caixa postal. te, será necessário digitar as informações adicionais obrigatórias
12. Pastas do Sistema – Exibe as pastas padrões de um correio manualmente.
eletrônico. Caixa de Entrada; Mensagens Enviadas; Rascunho e 1. Clique na guia Arquivo.
Lixeira. Um detalhe importante é o estilo do nome, quando está 2. Em Dados da Conta e clique em Adicionar Conta.
normal significa que todas as mensagens foram abertas, porém 3.
quando estão em negrito, acusam que há uma ou mais mensagens
que não foram lidas, o número entre parêntese indica a quantidade.
Este detalhe funciona para todas as pastas e mensagens do correio.
13. Painel de Visualização – Espaço destinado a exibir as
mensagens. Por padrão, ao abrir sua caixa postal, é exibido o
conteúdo da Caixa de Entrada, mas este painel exibe também as
mensagens das diversas pastas existentes na sua caixa postal. A
observação feita no item anterior, sobre negrito, também é válida
para esta seção. Observe as caixas de seleção localizadas do lado
esquerdo de cada mensagem, é através delas que as mensagens são
selecionadas. A seleção de todos os itens ao mesmo tempo, tam- Sobre contas de email
bém pode ser feito pela caixa de seleção do lado esquerdo do título O Outlook dá suporte a contas do Microsoft Exchange, POP3
da coluna “Remetente”. O título das colunas, além de nomeá-las, e IMAP. Seu ISP (provedor de serviços de Internet) ou administra-
dor de emails pode lhe fornecer as informações necessárias para a
também serve para classificar as mensagens que por padrão estão
configuração da sua conta de email no Outlook.
classificadas através da coluna “Data”, para usar outra coluna na
Contas de email estão contidas em um perfil. Um perfil é com-
classificação basta clicar sobre nome dela.
posto de contas, arquivos de dados e configurações que especifi-
14. Gerenciador de Pastas – Nesta seção é possível adicio-
cam onde as suas mensagens de email são salvas. Um novo perfil
nar, renomear e apagar as suas pastas. As pastas são um modo de é criado automaticamente quando o Outlook é executando pela
organizar seu conteúdo, armazenando suas mensagens por temas. primeira vez.
Quando seu e-mail é criado não existem pastas nesta seção, isso Adicionar uma conta de email ao iniciar o Outlook 2010 pela
deve ser feito pelo usuário de acordo com suas necessidades. primeira vez
15. Contas Externas – Este item é um link que abrirá a seção Se você ainda não tem experiência com o Outlook ou se esti-
onde pode ser feita uma configuração que permitirá você acessar ver instalando o Outlook 2010 em um computador novo, o recurso
outras caixas postais diretamente da sua. O próximo link, como o Configuração Automática de Conta será iniciado automaticamente
nome já diz, abre a janela de configuração dos e-mails bloqueados e o ajudará a definir as configurações das suas contas de email.
e mais abaixo o link para baixar um plug-in que lhe permite fazer Esse processo exige somente seu nome, endereço de email e senha.
uma configuração automática do Outlook Express. Estes dois pri- Se não for possível configurar a sua conta de email automatica-
meiros links são os mesmos apresentados no item 10. mente, você precisará inserir as informações adicionais obrigató-
rias manualmente.

Didatismo e Conhecimento 81
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
1. Inicie o Outlook.
2. Quando solicitado a configurar uma conta de email, cli-
que em Avançar.

Se a tentativa inicial de configurar a conta falhar, uma segunda


tentativa poderá ser feita com o uso de uma conexão não crip-
tografada com o servidor de email. Se você vir essa mensagem,
clique em Avançar para continuar. Se a conexão não criptografada
3. Para adicionar uma conta de email, clique em Sim e de- também falhar, não será possível configurar a sua conta de email
pois em Avançar. automaticamente.
4. Insira seu nome, endereço de email e senha e clique em
Avançar.

Clique em Repetir ou marque a caixa de seleção Configurar


servidor manualmente.
Depois que a conta for adicionada com êxito, você poderá adi-
cionar mais contas clicando em Adicionar outra conta.
Observação: Quando o seu computador está conectado a um
domínio de rede de uma organização que usa o Microsoft Ex-
change Server, suas informações de email são automaticamente
inseridas. A senha não aparece porque a sua senha de rede é usada.
Um indicador de progresso é exibido à medida que a sua con-
ta está sendo configurada. O processo de configuração pode levar
vários minutos.

Didatismo e Conhecimento 82
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
5. Para sair da caixa de diálogo Adicionar Nova Conta, cli- 3. Em Informações do Usuário, faça o seguinte:
que em Concluir. • Na caixa Nome, digite seu nome da forma que aparecerá
Se você tiver adicionado uma conta do Exchange Server, de- para as outras pessoas.
verá sair e reiniciar o Outlook para que essa conta apareça e possa • Na caixa Endereço de Email, digite o endereço de email
ser usada no Outlook. completo atribuído por seu administrador de email ou ISP. Não se
 Observação: Se o seu perfil já tiver uma conta do Microsoft esqueça de incluir o nome de usuário, o símbolo @ e o nome do
Exchange Server e você quiser adicionar outra, será necessário domínio como, por exemplo, pat@contoso.com.
usar a Configuração Automática de Conta. Para configurar • Nas caixas Senha e Confirmar Senha, digite a senha atri-
manualmente uma conta adicional do Exchange Server, você deve buída ou criada por você.
sair do Outlook e depois usar o módulo Email no Painel de Con-  Dica: A senha poderá diferenciar maiúsculas de minúsculas.
trole. Verifique se a tecla CAPS LOCK foi pressionada durante a
inserção da sua senha.
Adicionar uma conta de email manualmente
4. Em Informações do Servidor, faça o seguinte:
Existem três maneiras de adicionar manualmente sua conta de
• Na caixa de listagem Tipo de Conta, escolha POP3 ou
email. A maioria das pessoas só possui um perfil e deverá usar a
IMAP.
seção Adicionar ao perfil em execução.
• Na caixa Servidor de entrada de emails, digite o nome
 Observação   A configuração manual de contas do Microsoft
Exchange não pode ser feita enquanto o Outlook estiver em completo do servidor fornecido pelo provedor de serviços de In-
execução. Use as etapas das seções Adicionar a um perfil existente ternet ou pelo administrador de email. Geralmente, é mail. seguido
ou Adicionar a um novo perfil. do nome de domínio, por exemplo, mail.contoso.com.
Adicionar ao perfil em execução • Na caixa Servidor de saída de emails (SMTP), digite o
1. Clique na guia Arquivo. nome completo do servidor fornecido pelo provedor de serviços
2. Na guia Info, em Informações da Conta, clique em Con- de Internet ou pelo administrador de email. Geralmente, é mail.
figurações de Conta. seguido do nome do domínio, por exemplo, mail.contoso.com.
3. Clique em Configurações de Conta. 5. Em Informações de Logon, faça o seguinte:
4. Clique em Adicionar Conta. • Na caixa Nome de Usuário, digite o nome do usuário
Adicionar a um perfil existente fornecido pelo provedor ou pelo administrador de email. Ele pode
1. Feche o Outlook. fazer parte do seu endereço de email antes do símbolo @, como
2. No Painel de Controle, clique ou clique duas vezes em pat, ou pode ser o seu endereço de email completo, como pat@
Email. contoso.com.
A barra de título da caixa de diálogo Configurar Email contém • Na caixa Senha, digite a senha fornecida pelo provedor
o nome do perfil atual. Para selecionar um perfil diferente já exis- ou pelo administrador de email ou uma senha que tenha sido criada
tente, clique em Mostrar Perfis, selecione o nome do perfil e, em por você.
seguida, clique em Propriedades. • Marque a caixa de seleção Lembrar senha.
3. Clique em Contas de Email.  Observação: Você tem a opção de salvar sua senha digitando-a
Adicionar a um novo perfil na caixa Senha e marcando a caixa de seleção Lembrar senha. Se
1. Feche o Outlook. você escolheu essa opção, não precisará digitar a senha sempre que
2. No Painel de Controle, clique ou clique duas vezes no acessar a conta. No entanto, isso também torna a conta vulnerável
módulo Email. a qualquer pessoa que tenha acesso ao seu computador.
3. Em Perfis, clique em Mostrar Perfis. Opcionalmente, você poderá denominar sua conta de email
4. Clique em Adicionar. como ela aparece no Outlook. Isso será útil caso você esteja usan-
5. Na caixa de diálogo Novo Perfil, digite um nome para o
do mais de uma conta de email. Clique em Mais Configurações.
perfil e, em seguida, clique em OK.
Na guia Geral, em Conta de Email, digite um nome que ajudará a
Trata-se do nome que você vê ao iniciar o Outlook caso confi-
identificar a conta, por exemplo, Meu Email de Provedor de Servi-
gure o Outlook para solicitar o perfil a ser usado.
ços de Internet Residencial.
6. Clique em Contas de Email.
A sua conta de email pode exigir uma ou mais das configura-
Configurar manualmente uma conta POP3 ou IMAP ções adicionais a seguir. Entre em contato com o seu ISP se tiver
Uma conta POP3 é o tipo mais comum de conta de email. dúvidas sobre quais configurações usar para sua conta de email.
Uma conta IMAP é um tipo avançado de conta de email que • Autenticação de SMTP     Clique em Mais Configura-
oferece várias pastas de email em um servidor de emails. As contas ções. Na guia Saída, marque a caixa de seleção Meu servidor de
do Google GMail e da AOL podem ser usadas no Outlook 2010 saída de emails requer autenticação, caso isso seja exigido pela
como contas IMAP. conta.
Se não souber ao certo qual é o tipo da sua conta, entre em • Criptografia de POP3     Para contas POP3, clique em
contato com o seu provedor de serviços de Internet (ISP) ou admi- Mais Configurações. Na guia Avançada, em Números das portas
nistrador de email. do servidor, em Servidor de entrada (POP3), marque a caixa de
1. Clique em Definir manualmente as configurações do ser- seleção O servidor requer uma conexão criptografada (SSL), caso
vidor ou tipos de servidor adicionais e em Avançar. o provedor de serviços de Internet instrua você a usar essa confi-
2. Clique em Email da Internet e em Avançar. guração.

Didatismo e Conhecimento 83
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
• Criptografia de IMAP     Para contas IMAP, clique em Remover uma conta de email
Mais Configurações. Na guia Avançada, em Números das portas 1. Clique na guia Arquivo.
do servidor, em Servidor de entrada (IMAP), para a opção Usar o 2. Em Informações da Conta, clique em Configurações de
seguinte tipo de conexão criptografada, clique em Nenhuma, SSL, Conta e depois em Configurações de Conta.
TLS ou Automática, caso o provedor de serviços de Internet ins-
trua você a usar uma dessas configurações.
• Criptografia de SMTP    Clique em Mais Configurações.
Na guia Avançada, em Números das portas do servidor, em Servi-
dor de saída (SMTP), para a opção Usar o seguinte tipo de conexão
criptografada, clique em Nenhuma, SSL, TLS ou Automática, caso
o provedor de serviços de internet instrua você a usar uma dessas
configurações.
Opcionalmente, clique em Testar Configurações da Conta
para verificar se a conta está funcionando. Se houver informações
ausentes ou incorretas, como a senha, será solicitado que sejam
fornecidas ou corrigidas. Verifique se o computador está conectado
com a Internet.
Clique em Avançar. 3. Selecione a conta de email que você deseja remover e
Clique em Concluir. clique em Remover.
4. Para confirmar a remoção da conta, clique em Sim.
Configurar manualmente uma conta do Microsoft Ex- Para remover uma conta de email de um perfil diferente, en-
change cerre e reinicie o Outlook com o outro perfil e siga as etapas an-
As contas do Microsoft Exchange são usadas por organizações teriores. Você também pode remover contas de outros perfis da
como parte de um pacote de ferramentas de colaboração incluindo seguinte forma:
mensagens de email, calendário e agendamento de reuniões e con- 1. Saia do Outlook.
trole de tarefas. Alguns provedores de serviços de Internet (ISPs) 2. No Painel de Controle, clique ou clique duas vezes em
também oferecem contas do Exchange hospedadas. Se não estiver Email.
certo sobre o tipo de conta que utiliza, entre em contato com o seu A barra de título da caixa de diálogo Configurar Email contém
ISP ou administrador de email.
o nome do perfil atual. Para selecionar um perfil diferente já exis-
A configuração manual de contas do Microsoft Exchange não
tente, clique em Mostrar Perfis, selecione o nome do perfil e, em
pode ser feita enquanto o Outlook estiver em execução. Para adi-
seguida, clique em Propriedades.
cionar uma conta do Microsoft Exchange, siga as etapas de Adi-
3. Clique em Contas de Email.
cionar a um perfil existente ou Adicionar a um novo perfil e siga
4. Selecione a conta e clique em Remover.
um destes procedimentos:
5. Para confirmar a remoção da conta, clique em Sim.
1. Clique em Definir manualmente as configurações do ser-
vidor ou tipos de servidor adicionais e em Avançar.
2. Clique em Microsoft Exchange e, em seguida, clique em Observações 
Avançar. • A remoção de uma conta de email POP3 ou IMAP não
3. Digite o nome atribuído pelo administrador de email para exclui os itens enviados e recebidos com o uso dessa conta. Se
o servidor executando o Exchange. você estiver usando uma conta POP3, ainda poderá usar o Arquivo
4. Para usar as Configurações do Modo Cache do Exchan- de Dados do Outlook (.pst) para trabalhar com os seus itens.
ge, marque a caixa de seleção Usar o Modo Cache do Exchange. • Se estiver usando uma conta do Exchange, seus dados
5. Na caixa Nome de Usuário, digite o nome do usuário permanecerão no servidor de email, a não ser que eles sejam mo-
atribuído ao administrador de email. Ele não costuma ser seu nome vidos para um Arquivo de Dados do Outlook (.pst).
completo.
6. Opcionalmente, siga um destes procedimentos: Criar uma mensagem de email
• Clique em Mais Configurações. Na guia Geral em Con- 1. Na guia Página Inicial, no grupo Novo, clique em Novo
ta de Email, digite o nome que ajudará a identificar a conta, por Email.
exemplo, Meu Email de Trabalho.
• Clique em Mais Configurações. Em qualquer uma das
guias, configure as opções desejadas.
• Clique em Verificar Nomes para confirmar se o servidor
reconhece o seu nome e se o computador está conectado com a
rede. Os nomes de conta e de servidor especificados nas etapas 3
e 5 devem se tornar sublinhados. Se isso não acontecer, entre em
contato com o administrador do Exchange.
7. Se você clicou em Mais Configurações e abriu a caixa de
diálogo Microsoft Exchange Server, clique em OK. Atalho do teclado  Para criar uma mensagem de email a partir
8. Clique em Avançar. de qualquer pasta do Outlook, pressione CTRL+SHIFT+M
9. Clique em Concluir. 2. Na caixa Assunto, digite o assunto da mensagem.

Didatismo e Conhecimento 84
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
3. Insira os endereços de email ou os nomes dos destina- Adicionar um anexo a uma mensagem de email
tários na caixa Para, Cc ou Cco. Separe vários destinatários por Arquivos podem ser anexados a uma mensagem de email.
ponto-e-vírgula. Além disso, outros itens do Outlook, como mensagens, contatos
Para selecionar os nomes dos destinatários em uma lista no ou tarefas, podem ser incluídos com as mensagens enviadas.
Catálogo de Endereços, clique em Para, Cc ou Cco e clique nos 1. Crie uma mensagem ou, para uma mensagem existente,
nomes desejados. clique em Responder, Responder a Todos ou Encaminhar.
4. Depois de redigir a mensagem, clique em Enviar. 2. Na janela da mensagem, na guia Mensagem, no grupo
Incluir, clique em Anexar Arquivo.
Responder ou encaminhar uma mensagem de email
Quando você responde a uma mensagem de email, o reme-
tente da mensagem original é automaticamente adicionado à caixa
Para. De modo semelhante, quando você usa Responder a Todos,
uma mensagem é criada e endereçada ao remetente e a todos os
destinatários adicionais da mensagem original. Seja qual for sua
escolha, você poderá alterar os destinatários nas caixas Para, Cc
e Cco.
Ao encaminhar uma mensagem, as caixas Para, Cc e Cco fi- Abrir e salvar anexos
cam vazias e é preciso fornecer pelo menos um destinatário. Anexos são arquivos ou itens que podem ser incluídos em
uma mensagem de email. As mensagens com anexos são identi-
Responder ao remetente ou a outros destinatários ficadas por um ícone de clipe de papel   na lista de mensagens.
Você poder responder apenas ao remetente de uma mensagem Dependendo do formato da mensagem recebida, os anexos são
ou a qualquer combinação de pessoas existente nas linhas Para e exibidos em um de dois locais na mensagem.
Cc. Pode também adicionar novos destinatários. • Se o formato da mensagem for HTML ou texto sem for-
1. Na guia Página Inicial ou na guia Mensagem, no grupo matação, os anexos serão exibidos na caixa de anexo, sob a linha
Responder, clique em Responder ou em Responder a Todos. Assunto.
 Observação: O nome da guia depende da condição da • Se o formato da mensagem for o formato menos comum
mensagem, se está selecionada na lista de mensagens ou se está RTF (Rich Text Format), os anexos serão exibidos no corpo da
aberta na respectiva janela. mensagem. Mesmo que o arquivo apareça no corpo da mensagem,
Para remover o nome das linhas Para e Cc, clique no nome ele continua sendo um anexo separado.
e pressione DELETE. Para adicionar um destinatário, clique na  Observação   O formato utilizado na criação da mensagem é
caixa Para, Cc ou Cco e especifique o destinatário. indicado na barra de título, na parte superior da mensagem.
2. Escreva sua mensagem.
3. Clique em Enviar. Abrir um anexo
 Dica   Seja cuidadoso ao clicar em Responder a Todos, Um anexo pode ser aberto no Painel de Leitura ou em uma
principalmente quando houver listas de distribuição ou um grande mensagem aberta. Em qualquer um dos casos, clique duas vezes
número de destinatários em sua resposta. Geralmente, o melhor é no anexo para abri-lo.
usar Responder e adicionar somente os destinatários necessários, Para abrir um anexo na lista de mensagens, clique com o botão
ou então usar Responder a Todos, mas remover os destinatários direito do mouse na mensagem que contém o anexo, clique em
desnecessários e as listas de distribuição. Exibir Anexos e clique no nome do anexo.
 Observações 
Encaminhar uma mensagem • Você pode visualizar anexos de mensagens HTML ou
Ao encaminhar uma mensagem, ela incluirá todos os anexos com texto sem formatação no Painel de Leitura e em mensagens
que estavam incluídos na mensagem original. Para incluir mais abertas. Clique no anexo a ser visualizado e ele será exibido no
anexos, consulte Anexar um arquivo ou outro item a uma mensa- corpo da mensagem. Para voltar à mensagem, na guia Ferramentas
gem de email. de Anexo, no grupo Mensagem, clique em Mostrar Mensagem. O
1. Na guia Página Inicial ou Mensagem, no grupo Respon- recurso de visualização não está disponível para mensagens RTF.
der, clique em Encaminhar. • Por padrão, o Microsoft Outlook bloqueia arquivos de
Observação: O nome da guia depende da condição da mensa- anexo potencialmente perigosos (inclusive os arquivos .bat, .exe,
gem, se está selecionada na lista de mensagens ou se está aberta na .vbs e .js), os quais possam conter vírus. Se o Outlook bloquear
respectiva janela. algum arquivo de anexo em uma mensagem, uma lista dos tipos
2. Especifique destinatários nas caixas Para, Cc ou Cco. de arquivos bloqueados será exibida na Barra de Informações, na
3. Escreva sua mensagem. parte superior da mensagem.
4. Clique em Enviar.
Dica: Se quiser encaminhar duas ou mais mensagens para os
mesmos destinatários, como se fossem uma só, em Email, clique
em uma das mensagens, pressione CTRL e clique em cada mensa-
gem adicional. Na guia Página Inicial, no grupo Responder, clique
em Encaminhar. Cada mensagem será encaminhada como anexo
de uma nova mensagem.

Didatismo e Conhecimento 85
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Salvar um anexo Adicionar uma assinatura
Após abrir e exibir um anexo, você pode preferir salvá-lo em • Em uma nova mensagem, na guia Mensagem, no grupo
uma unidade de disco. Se a mensagem tiver mais de um anexo, Incluir, clique em Assinatura e clique na assinatura desejada.
você poderá salvar os vários anexos como um grupo ou um de
cada vez.
Salvar um único anexo de mensagem
Execute um dos seguintes procedimentos:
• Se a mensagem estiver no formato HTML ou de texto
sem formatação     Clique no anexo, no Painel de Leitura, ou abra
a mensagem. Na guia Anexos, no grupo Ações, clique em Salvar
como. É possível clicar com o botão direito do mouse no anexo e
então clicar em Salvar como. Criar um compromisso de calendário
• Se a mensagem estiver no formato RTF     No Painel Compromissos são atividades que você agenda no seu calen-
de Leitura ou na mensagem aberta, clique com o botão direito do dário e que não envolvem convites a outras pessoas nem reserva
mouse no anexo e clique em Salvar como. de recursos.
Escolha uma local de pasta e clique em Salvar. • Em Calendário, na guia Página Inicial, no grupo Novo,
Salvar vários anexos de uma mensagem clique em Novo Compromisso. Como alternativa, você pode clicar
1. No Painel de Leitura ou na mensagem aberta, selecione com o botão direito do mouse em um bloco de tempo em sua grade
os anexos a serem salvos. Para selecionar vários anexos, clique de calendário e clicar em Novo Compromisso.
neles mantendo pressionada a tecla CTRL.
2. Execute um dos seguintes procedimentos:
• Se a mensagem estiver no formato HTML ou de texto
sem formatação     Na guia Anexos, no grupo Ações, clique em
Salvar como.
• Se a mensagem estiver no formato RTF     Clique com
o botão direito do mouse em uma das mensagens selecionadas e
depois clique em Salvar como.
3. Clique em uma local de pasta e clique em OK. Atalho do teclado: Para criar um compromisso, pressione
Salvar todos os anexos de uma mensagem CTRL+SHIFT+A.
1. No Painel de Leitura ou na mensagem aberta, clique em Agendar uma reunião com outras pessoas
um anexo. Uma reunião é um compromisso que inclui outras pessoas e
2. Siga um destes procedimentos: pode incluir recursos como salas de conferência. As respostas às
• Se a mensagem estiver no formato HTML ou de texto suas solicitações de reunião são exibidas na Caixa de Entrada.
sem formatação     Na guia Anexos, no grupo Ações, clique em • Em Calendário, na guia Página Inicial, no grupo Novo,
Salvar Todos os Anexos. clique em Nova Reunião.
• Se a mensagem estiver no formato RTF     Clique na guia
Arquivo para abrir o modo de exibição Backstage. Em seguida,
clique em Salvar anexos e depois em OK.
3. Clique em uma local de pasta e clique em OK.

Adicionar uma assinatura de email às mensagens


Você pode criar assinaturas personalizadas para suas mensa-
gens de email que incluem texto, imagens, seu Cartão de Visita
Eletrônico, um logotipo ou até mesmo uma imagem da sua assina- Atalho do teclado: Para criar uma nova solicitação de reunião
tura manuscrita. de qualquer pasta no Outlook, pressione CTRL+SHIFT+Q.
Criar uma assinatura
• Abra uma nova mensagem. Na guia Mensagem, no gru- Definir um lembrete
po Incluir, clique em Assinatura e em Assinaturas. Você pode definir ou remover lembretes para vários itens, in-
cluindo mensagens de email, compromissos e contatos.
Para compromissos ou reuniões
Em um item aberto, na guia Compromisso ou Reunião, no
grupo Opções, na lista suspensa Lembrete, selecione o período de
tempo antes do compromisso ou da reunião para que o lembrete
apareça. Para desativar um lembrete, selecione Nenhum.
Para mensagens de email, contatos e tarefas
• Na guia Página Inicial, no grupo Marcas, clique em
Acompanhar e em Adicionar Lembrete.

• Na guia Assinatura de Email, clique em Novo.

Didatismo e Conhecimento 86
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Criar uma anotação
Anotações são o equivalente eletrônico de notas adesivas em
papel. Use-as para rascunhar dúvidas, ideias, lembretes e qualquer
coisa que você escreveria em papel.
• Em Anotações, no grupo Novo, clique em Nova Anota-
ção.

Atalho do teclado: Para criar uma anotação, pressione


CTRL+SHIFT+N.
 Dica: Você pode sinalizar rapidamente mensagens de email
como itens de tarefas pendentes usando lembretes. Clique com o
botão direito do mouse na coluna Status do Sinalizador na lista de 5.6 INTERNET: NAVEGAÇÃO INTERNET,
mensagens. Ou, se a mensagem estiver aberta, na guia Mensagem, CONCEITOS DE URL, LINKS, SITES,
no grupo Controle, clique em Acompanhamento e, em seguida, BUSCA E IMPRESSÃO DE PÁGINAS
clique em Adicionar Lembrete.

Criar um contato
Contatos podem ser tão simples quanto um nome e endereço INTERNET
de email ou incluir outras informações detalhadas, como endereço “Imagine que fosse descoberto um continente tão vasto
físico, vários telefones, uma imagem, datas de aniversário e quais- que suas dimensões não tivessem fim. Imagine um mundo
quer outras informações que se relacionem ao contato. novo, com tantos recursos que a ganância do futuro não seria ca-
• Em Contatos, na guia Página Inicial, no grupo Novo, cli- paz de esgotar; com tantas oportunidades que os empreendedores
que em Novo Contato. seriam poucos para aproveitá-las; e com um tipo peculiar de
imóvel que se expandiria com o desenvolvimento.”
John P. Barlow
Os Estados Unidos temiam que em um ataque nuclear ficas-
sem sem comunicação entre a Casa Branca e o Pentágono.
Este meio de comunicação “infalível”, até o fim da década de
60, ficou em poder exclusivo do governo conectando bases milita-
res, em quatro localidades.
Nos anos 70, seu uso foi liberado para instituições norte-
-americanas de pesquisa que desejassem aprimorar a tecnologia,
Atalho do teclado: Para criar um contato de qualquer pasta no logo vinte e três computadores foram conectados, porém o padrão
Outlook, pressione CTRL+SHIFT+C. de conversação entre as máquinas se tornou impróprio pela quan-
tidade de equipamentos.
Criar uma tarefa Era necessário criar um modelo padrão e universal para
 Muitas pessoas mantêm uma lista de coisas a fazer  — em que as máquinas continuassem trocando dados, surgiu então o
papel, em uma planilha ou com uma combinação de papel e méto- Protocolo Padrão TCP/IP, que permitiria portanto que mais outras
dos eletrônicos. No Microsoft Outlook, você pode combinar várias máquinas fossem inseridas àquela rede.
listas em uma só, receber lembretes e controlar o andamento das Com esses avanços, em 1972 é criado o correio eletrônico, o
tarefas. E-mail, permitindo a troca de mensagens entre as máquinas que
• Em Tarefas, na guia Página Inicial, no grupo Novo, cli- compunham aquela rede de pesquisa, assim no ano seguinte a rede
que em Nova Tarefa. se torna internacional.
Na década de 80, a Fundação Nacional de Ciência do Brasil
conectou sua grande rede à ARPANET, gerando aquilo que co-
nhecemos hoje como internet, auxiliando portanto o processo de
pesquisa em tecnologia e outras áreas a nível mundial, além de
alimentar as forças armadas brasileiras de informação de todos os
tipos, até que em 1990 caísse no domínio público.
Com esta popularidade e o surgimento de softwares de nave-
gação de interface amigável, no fim da década de 90, pessoas que
Atalho do teclado: Para criar uma nova tarefa, pressione não tinham conhecimentos profundos de informática começaram a
CTRL+SHIFT+K. utilizar a rede internacional.

Didatismo e Conhecimento 87
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Acesso à Internet Assim, um link ou hiperlink, quando acionado com o mouse,
remete o usuário à outra parte do documento ou outro documento.
O ISP, Internet Service Provider, ou Provedor de Serviço de
Internet, oferece principalmente serviço de acesso à Internet, adi- Home Page
cionando serviços como e-mail, hospedagem de sites ou blogs, ou
seja, são instituições que se conectam à Internet com o ob- Sendo assim, home page designa a página inicial, principal do
jetivo de fornecer serviços à ela relacionados, e em função do site ou web page.
serviço classificam-se em: É muito comum os usuários confundirem um Blog ou Perfil
• Provedores de Backbone: São instituições que constroem e no Orkut com uma Home Page, porém são coisas distintas, aonde
administram backbones de longo alcance, ou seja, estrutura física um Blog é um diário e um Perfil no Orkut é um Profile, ou seja um
de conexão, com o objetivo de fornecer acesso à Internet para re- hipertexto que possui informações de um usuário dentro de uma
des locais;
comunidade virtual.
• Provedores de Acesso: São instituições que se conectam à
Internet via um ou mais acessos dedicados e disponibilizam acesso
à terceiros a partir de suas instalações; HTML, Hyper Text Markut language ou Linguagem de Mar-
• Provedores de Informação: São instituições que disponibili- cação de Hipertexto
zam informação através da Internet.
É a linguagem com a qual se cria as páginas para a web.
Endereço Eletrônico ou URL Suas principais características são:
• Portabilidade (Os documentos escritos em HTML devem ter
Para se localizar um recurso na rede mundial, deve-se conhe- aparência semelhante nas diversas plataformas de trabalho);
cer o seu endereço. • Flexibilidade (O usuário deve ter a liberdade de “customi-
Este endereço, que é único, também é considerado sua URL zar” diversos elementos do documento, como o tamanho padrão
(Uniform Resource Locator), ou Localizador de Recursos Univer- da letra, as cores, etc);
sal. Boa parte dos endereços apresenta-se assim: www.xxxx.com.br • Tamanho Reduzido (Os documentos devem ter um ta-
Onde: manho reduzido, a fim de economizar tempo na transmissão
www = protocolo da World Wide Web através da Internet, evitando longos períodos de espera e
xxx = domínio congestionamento na rede).
com = comercial
br = brasil Browser ou Navegador
WWW = World Wide Web ou Grande Teia Mundial
É o programa específico para visualizar as páginas da web.
É um serviço disponível na Internet que possui um conjunto O Browser lê e interpreta os documentos escritos em HTML,
de documentos espalhados por toda rede e disponibilizados a apresentando as páginas formatadas para os usuários.
qualquer um.
Estes documentos são escritos em hipertexto, que utiliza uma ARQUITETURAS DE REDES
linguagem especial, chamada HTML.
As modernas redes de computadores são projetadas de forma
Domínio altamente estruturada. Nas seções seguintes examinaremos com
algum detalhe a técnica de estruturação.
Designa o dono do endereço eletrônico em questão, e
onde os hipertextos deste empreendimento estão localizados. HIERARQUIAS DE PROTOCOLOS
Quanto ao tipo do domínio, existem:
.com = Instituição comercial ou provedor de serviço Para reduzir a complexidade de projeto, a maioria das redes é
.edu = Instituição acadêmica organizada em camadas ou níveis, cada uma construída sobre sua
.gov = Instituição governamental predecessora. O número de camadas, o nome, o conteúdo e a fun-
.mil = Instituição militar norte-americana ção de cada camada diferem de uma rede para outra. No entanto,
.net = Provedor de serviços em redes em todas as redes, o propósito de cada camada é oferecer certos
.org = Organização sem fins lucrativos
serviços às camadas superiores, protegendo essas camadas dos de-
talhes de como os serviços oferecidos são de fato implementados.
HTTP, Hyper Texto Transfer Protocol ou Protocolo de Trasfe-
rência em Hipertexto A camada n em uma máquina estabelece uma conversão com
É um protocolo ou língua específica da internet, responsável a camada n em outra máquina. As regras e convenções utilizadas
pela comunicação entre computadores. nesta conversação são chamadas coletivamente de protocolo da
Um hipertexto é um texto em formato digital, e pode le- camada n, conforme ilustrado na Figura abaixo para uma rede
var a outros, fazendo o uso de elementos especiais (palavras, com sete camadas. As entidades que compõem as camadas cor-
frases, ícones, gráficos) ou ainda um Mapa Sensitivo o qual leva respondentes em máquinas diferentes são chamadas de processos
a outros conjuntos de informação na forma de blocos de textos, parceiros. Em outras palavras, são os processos parceiros que se
imagens ou sons. comunicam utilizando o protocolo.

Didatismo e Conhecimento 88
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Na verdade, nenhum dado é transferido diretamente da cama- cada residência ou estabelecimento - que você recebe suas contas
da n em uma máquina para a camada n em outra máquina. Em vez de água, aquele produto que você comprou em uma loja on-line,
disso, cada camada passa dados e informações de controle para enfim.
a camada imediatamente abaixo, até que o nível mais baixo seja Na internet, o princípio é o mesmo. Para que o seu computa-
alcançado. Abaixo do nível 1 está o meio físico de comunicação, dor seja encontrado e possa fazer parte da rede mundial de com-
através do qual a comunicação ocorre. Na Figura abaixo, a comu- putadores, necessita ter um endereço único. O mesmo vale para
nicação virtual é mostrada através de linhas pontilhadas e a comu- websites: este fica em um servidor, que por sua vez precisa ter um
nicação física através de linhas sólidas. endereço para ser localizado na internet. Isto é feito pelo endereço
IP (IP Address), recurso que também é utilizado para redes locais,
como a existente na empresa que você trabalha, por exemplo.
O endereço IP é uma sequência de números composta de 32
bits. Esse valor consiste em um conjunto de quatro sequências de
8 bits. Cada uma destas é separada por um ponto e recebe o nome
de octeto ou simplesmente byte, já que um byte é formado por
8 bits. O número 172.31.110.10 é um exemplo. Repare que cada
octeto é formado por números que podem ir de 0 a 255, não mais
do que isso.

Entre cada par de camadas adjacentes há uma interface. A A divisão de um IP em quatro partes facilita a organização da
interface define quais operações primitivas e serviços a camada rede, da mesma forma que a divisão do seu endereço em cidade,
inferior oferece à camada superior. Quando os projetistas decidem bairro, CEP, número, etc, torna possível a organização das casas
quantas camadas incluir em uma rede e o que cada camada deve da região onde você mora. Neste sentido, os dois primeiros octetos
fazer, uma das considerações mais importantes é definir interfaces de um endereço IP podem ser utilizados para identificar a rede, por
limpas entre as camadas. Isso requer, por sua vez, que cada camada exemplo. Em uma escola que tem, por exemplo, uma rede para
desempenhe um conjunto específico de funções bem compreendi- alunos e outra para professores, pode-se ter 172.31.x.x para uma
das. Além de minimizar a quantidade de informações que deve ser rede e 172.32.x.x para a outra, sendo que os dois últimos octetos
passada de camada em camada, interfaces bem definidas também são usados na identificação de computadores.
tornam fácil a troca da implementação de uma camada por outra Classes de endereços IP
implementação completamente diferente (por exemplo, trocar to- Neste ponto, você já sabe que os endereços IP podem ser utili-
das as linhas telefônicas por canais de satélite), pois tudo o que é zados tanto para identificar o seu computador dentro de uma rede,
exigido da nova implementação é que ela ofereça à camada supe- quanto para identificá-lo na internet.
rior exatamente os mesmos serviços que a implementação antiga Se na rede da empresa onde você trabalha o seu computador
oferecia. tem, como exemplo, IP 172.31.100.10, uma máquina em outra rede
O conjunto de camadas e protocolos é chamado de arquitetura pode ter este mesmo número, afinal, ambas as redes são distintas
de rede. A especificação de arquitetura deve conter informações e não se comunicam, sequer sabem da existência da outra. Mas,
suficientes para que um implementador possa escrever o programa como a internet é uma rede global, cada dispositivo conectado nela
ou construir o hardware de cada camada de tal forma que obedeça precisa ter um endereço único. O mesmo vale para uma rede local:
corretamente ao protocolo apropriado. Nem os detalhes de imple- nesta, cada dispositivo conectado deve receber um endereço único.
mentação nem a especificação das interfaces são parte da arquite- Se duas ou mais máquinas tiverem o mesmo IP, tem-se então um
tura, pois esses detalhes estão escondidos dentro da máquina e não problema chamado “conflito de IP”, que dificulta a comunicação
são visíveis externamente. Não é nem mesmo necessário que as in- destes dispositivos e pode inclusive atrapalhar toda a rede.
terfaces em todas as máquinas em uma rede sejam as mesmas, des- Para que seja possível termos tanto IPs para uso em redes
de que cada máquina possa usar corretamente todos os protocolos. locais quanto para utilização na internet, contamos com um es-
quema de distribuição estabelecido pelas entidades IANA (Inter-
O endereço IP net Assigned Numbers Authority) e ICANN (Internet Corporation
Quando você quer enviar uma carta a alguém, você... Ok, for Assigned Names and Numbers) que, basicamente, divide os
você não envia mais cartas; prefere e-mail ou deixar um recado endereços em três classes principais e mais duas complementares.
no Facebook. Vamos então melhorar este exemplo: quando você São elas:
quer enviar um presente a alguém, você obtém o endereço da pes- Classe A: 0.0.0.0 até 127.255.255.255 - permite até 128 redes,
soa e contrata os Correios ou uma transportadora para entregar. É cada uma com até 16.777.214 dispositivos conectados;
graças ao endereço que é possível encontrar exatamente a pessoa Classe B: 128.0.0.0 até 191.255.255.255 - permite até 16.384
a ser presenteada. Também é graças ao seu endereço - único para redes, cada uma com até 65.536 dispositivos;

Didatismo e Conhecimento 89
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Classe C: 192.0.0.0 até 223.255.255.255 - permite até - A: N.H.H.H;
2.097.152 redes, cada uma com até 254 dispositivos; - B: N.N.H.H;
Classe D: 224.0.0.0 até 239.255.255.255 - multicast; - C: N.N.N.H.
Classe E: 240.0.0.0 até 255.255.255.255 - multicast reservado. N significa Network (rede) e H indica Host. Com o uso de
As três primeiras classes são assim divididas para atender às máscaras, podemos fazer uma rede do N.N.H.H se “transformar”
seguintes necessidades: em N.N.N.H. Em outras palavras, as máscaras de sub-rede per-
- Os endereços IP da classe A são usados em locais onde são mitem determinar quantos octetos e bits são destinados para a
necessárias poucas redes, mas uma grande quantidade de máqui- identificação da rede e quantos são utilizados para identificar os
nas nelas. Para isso, o primeiro byte é utilizado como identificador dispositivos.
da rede e os demais servem como identificador dos dispositivos Para isso, utiliza-se, basicamente, o seguinte esquema: se um
conectados (PCs, impressoras, etc); octeto é usado para identificação da rede, este receberá a máscara
- Os endereços IP da classe B são usados nos casos onde a de sub-rede 255. Mas, se um octeto é aplicado para os dispositivos,
quantidade de redes é equivalente ou semelhante à quantidade de seu valor na máscara de sub-rede será 0 (zero). A tabela a seguir
dispositivos. Para isso, usam-se os dois primeiros bytes do ende- mostra um exemplo desta relação:
reço IP para identificar a rede e os restantes para identificar os
dispositivos; Identifica-
- Os endereços IP da classe C são usados em locais que reque- Identifica- Máscara de
Classe Endereço IP dor do com-
rem grande quantidade de redes, mas com poucos dispositivos em dor da rede sub-rede
putador
cada uma. Assim, os três primeiros bytes são usados para identifi-
A 10.2.68.12 10 2.68.12 255.0.0.0
car a rede e o último é utilizado para identificar as máquinas.
Quanto às classes D e E, elas existem por motivos especiais: B 172.31.101.25 172.31 101.25 255.255.0.0
a primeira é usada para a propagação de pacotes especiais para a C 192.168.0.10 192.168.0 10 255.255.255.0
comunicação entre os computadores, enquanto que a segunda está
reservada para aplicações futuras ou experimentais. Você percebe então que podemos ter redes com máscara
Vale frisar que há vários blocos de endereços reservados para 255.0.0.0, 255.255.0.0 e 255.255.255.0, cada uma indicando uma
fins especiais. Por exemplo, quando o endereço começa com 127, classe. Mas, como já informado, ainda pode haver situações onde
geralmente indica uma rede “falsa”, isto é, inexistente, utilizada há desperdício. Por exemplo, suponha que uma faculdade tenha
para testes. No caso do endereço 127.0.0.1, este sempre se refere à que criar uma rede para cada um de seus cinco cursos. Cada curso
própria máquina, ou seja, ao próprio host, razão esta que o leva a possui 20 computadores. A solução seria então criar cinco redes
ser chamado de localhost. Já o endereço 255.255.255.255 é utili- classe C? Pode ser melhor do que utilizar classes B, mas ainda
zado para propagar mensagens para todos os hosts de uma rede de haverá desperdício. Uma forma de contornar este problema é criar
maneira simultânea. uma rede classe C dividida em cinco sub-redes. Para isso, as más-
caras novamente entram em ação.
Endereços IP privados Nós utilizamos números de 0 a 255 nos octetos, mas estes, na
Há conjuntos de endereços das classes A, B e C que são pri- verdade, representam bytes (linguagem binária). 255 em binário
vados. Isto significa que eles não podem ser utilizados na internet, é 11111111. O número zero, por sua vez, é 00000000. Assim, a
sendo reservados para aplicações locais. São, essencialmente, estes: máscara de um endereço classe C, 255.255.255.0, é:
-Classe A: 10.0.0.0 à 10.255.255.255; 11111111.11111111.11111111.00000000
-Classe B: 172.16.0.0 à 172.31.255.255; Perceba então que, aqui, temos uma máscara formada por 24
-Classe C: 192.168.0.0 à 192.168.255.255. bits 1: 11111111 + 11111111 + 11111111. Para criarmos as nossas
Suponha então que você tenha que gerenciar uma rede com sub-redes, temos que ter um esquema com 25, 26 ou mais bits,
cerca de 50 computadores. Você pode alocar para estas máquinas conforme a necessidade e as possibilidades. Em outras palavras,
endereços de 192.168.0.1 até 192.168.0.50, por exemplo. Todas precisamos trocar alguns zeros do último octeto por 1.
elas precisam de acesso à internet. O que fazer? Adicionar mais um Suponha que trocamos os três primeiros bits do último octeto
IP para cada uma delas? Não. Na verdade, basta conectá-las a um (sempre trocamos da esquerda para a direita), resultando em:
servidor ou equipamento de rede - como um roteador - que receba 11111111.11111111.11111111.11100000
a conexão à internet e a compartilhe com todos os dispositivos Se fizermos o número 2 elevado pela quantidade de bits “tro-
conectados a ele. Com isso, somente este equipamento precisará cados”, teremos a quantidade possível de sub-redes. Em nosso
de um endereço IP para acesso à rede mundial de computadores. caso, temos 2^3 = 8. Temos então a possibilidade de criar até oito
sub-redes. Sobrou cinco bits para o endereçamento dos host. Fa-
Máscara de sub-rede zemos a mesma conta: 2^5 = 32. Assim, temos 32 dispositivos em
As classes IP ajudam na organização deste tipo de endereça- cada sub-rede (estamos fazendo estes cálculos sem considerar li-
mento, mas podem também representar desperdício. Uma solução mitações que possam impedir o uso de todos os hosts e sub-redes).
bastante interessante para isso atende pelo nome de máscara de 11100000 corresponde a 224, logo, a máscara resultante é
sub-rede, recurso onde parte dos números que um octeto destina- 255.255.255.224.
do a identificar dispositivos conectados (hosts) é “trocado” para Perceba que esse esquema de “trocar” bits pode ser empre-
aumentar a capacidade da rede. Para compreender melhor, vamos gado também em endereços classes A e B, conforme a necessi-
enxergar as classes A, B e C da seguinte forma: dade. Vale ressaltar também que não é possível utilizar 0.0.0.0 ou
255.255.255.255 como máscara.

Didatismo e Conhecimento 90
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
IP estático e IP dinâmico
IP estático (ou fixo) é um endereço IP dado permanentemente
a um dispositivo, ou seja, seu número não muda, exceto se tal ação
for executada manualmente. Como exemplo, há casos de assina-
turas de acesso à internet via ADSL onde o provedor atribui um
IP estático aos seus assinantes. Assim, sempre que um cliente se
conectar, usará o mesmo IP.
O IP dinâmico, por sua vez, é um endereço que é dado a um
computador quando este se conecta à rede, mas que muda toda
vez que há conexão. Por exemplo, suponha que você conectou seu
computador à internet hoje. Quando você conectá-lo amanhã, lhe
será dado outro IP. Para entender melhor, imagine a seguinte situa-
ção: uma empresa tem 80 computadores ligados em rede. Usan-
do IPs dinâmicos, a empresa disponibiliza 90 endereços IP para O IPv6 não consiste, necessariamente, apenas no aumento da
tais máquinas. Como nenhum IP é fixo, um computador receberá, quantidade de octetos. Um endereço do tipo pode ser, por exemplo:
quando se conectar, um endereço IP destes 90 que não estiver sen- FEDC:2D9D:DC28:7654:3210:FC57:D4C8:1FFF
do utilizado. É mais ou menos assim que os provedores de internet Finalizando
trabalham. Com o surgimento do IPv6, tem-se a impressão de que a es-
O método mais utilizado na distribuição de IPs dinâmicos é o pecificação tratada neste texto, o IPv4, vai sumir do mapa. Isso até
protocolo DHCP (Dynamic Host Configuration Protocol). deve acontecer, mas vai demorar bastante. Durante essa fase, que
podemos considerar de transição, o que veremos é a “convivência”
IP nos sites entre ambos os padrões. Não por menos, praticamente todos os
Você já sabe que os sites na Web também necessitam de um IP. sistemas operacionais atuais e a maioria dos dispositivos de rede
Mas, se você digitar em seu navegador www.infowester.com, por estão aptos a lidar tanto com um quanto com o outro. Por isso, se
exemplo, como é que o seu computador sabe qual o IP deste site ao você é ou pretende ser um profissional que trabalha com redes ou
ponto de conseguir encontrá-lo? simplesmente quer conhecer mais o assunto, procure se aprofundar
Quando você digitar um endereço qualquer de um site, um nas duas especificações.
servidor de DNS (Domain Name System) é consultado. Ele é A esta altura, você também deve estar querendo descobrir qual
quem informa qual IP está associado a cada site. O sistema DNS o seu IP. Cada sistema operacional tem uma forma de mostrar isso.
possui uma hierarquia interessante, semelhante a uma árvore (ter- Se você é usuário de Windows, por exemplo, pode fazê-lo digi-
mo conhecido por programadores). Se, por exemplo, o site www. tando cmd em um campo do Menu Iniciar e, na janela que surgir,
infowester.com é requisitado, o sistema envia a solicitação a um informar ipconfig /all e apertar Enter. Em ambientes Linux, o co-
servidor responsável por terminações “.com”. Esse servidor loca- mando é ifconfig.
lizará qual o IP do endereço e responderá à solicitação. Se o site
solicitado termina com “.br”, um servidor responsável por esta ter-
minação é consultado e assim por diante.

IPv6
O mundo está cada vez mais conectado. Se, em um passado
não muito distante, você conectava apenas o PC da sua casa à in-
ternet, hoje o faz com o celular, com o seu notebook em um serviço
de acesso Wi-Fi no aeroporto e assim por diante. Somando este
aspecto ao fato de cada vez mais pessoas acessarem a internet no
mundo inteiro, nos deparamos com um grande problema: o núme-
ro de IPs disponíveis deixa de ser suficiente para toda as (futuras)
aplicações.
A solução para este grande problema (grande mesmo, afinal, Perceba, no entanto, que se você estiver conectado a partir
a internet não pode parar de crescer!) atende pelo nome de IPv6, de uma rede local - tal como uma rede wireless - visualizará o IP
uma nova especificação capaz de suportar até - respire fundo - 340. que esta disponibiliza à sua conexão. Para saber o endereço IP do
282.366.920.938.463.463.374.607.431.768.211.456 de endereços, acesso à internet em uso pela rede, você pode visitar sites como
um número absurdamente alto! whatsmyip.org.

Provedor

O provedor é uma empresa prestadora de serviços que oferece


acesso à Internet. Para acessar a Internet, é necessário conectar-se
com um computador que já esteja na Internet (no caso, o prove-
dor) e esse computador deve permitir que seus usuários também
tenham acesso a Internet.

Didatismo e Conhecimento 91
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
No Brasil, a maioria dos provedores está conectada à Embra- WWW -> (World Wide Web) Grande rede mundial
tel, que por sua vez, está conectada com outros computadores fora pelotas -> empresa ou organização que mantém o site
do Brasil. Esta conexão chama-se link, que é a conexão física que .com -> tipo de organização
interliga o provedor de acesso com a Embratel. Neste caso, a Em- ......br -> identifica o país
bratel é conhecida como backbone, ou seja, é a “espinha dorsal”
da Internet no Brasil. Pode-se imaginar o backbone como se fosse Tipos de Organizações:
uma avenida de três pistas e os links como se fossem as ruas que
estão interligadas nesta avenida. .edu -> instituições educacionais. Exemplo: michigam.edu
Tanto o link como o backbone possui uma velocidade de .com -> instituções comerciais. Exemplo: microsoft.com
transmissão, ou seja, com qual velocidade ele transmite os dados. .gov -> governamental. Exemplo: fazenda.gov
Esta velocidade é dada em bps (bits por segundo). Deve ser feito .mil -> instalação militar. Exemplo: af.mil
um contrato com o provedor de acesso, que fornecerá um nome de .net -> computadores com funções de administrar redes.
usuário, uma senha de acesso e um endereço eletrônico na Internet. Exemplo: embratel.net
.org -> organizações não governamentais. Exemplo: care.org
URL - Uniform Resource Locator

Tudo na Internet tem um endereço, ou seja, uma identificação Home Page


de onde está localizado o computador e quais recursos este com-
putador oferece. Por exemplo, a URL: Pela definição técnica temos que uma Home Page é um arqui-
http://www.novaconcursos.com.br vo ASCII (no formato HTML) acessado de computadores rodando
Será mais bem explicado adiante. um Navegador (Browser), que permite o acesso às informações em
um ambiente gráfico e multimídia. Todo em hipertexto, facilitando
Como descobrir um endereço na Internet? a busca de informações dentro das Home Pages.
O endereço de Home Pages tem o seguinte formato:
Para que possamos entender melhor, vamos exemplificar. http://www.endereço.com/página.html
Você estuda em uma universidade e precisa fazer algumas Por exemplo, a página principal da Pronag:
pesquisas para um trabalho. Onde procurar as informações que http://www.pronag.com.br/index.html
preciso?
Para isso, existem na Internet os “famosos” sites de procura, PLUG-INS
que são sites que possuem um enorme banco de dados (que contém
o cadastro de milhares de Home Pages), que permitem a procura Os plug-ins são programas que expandem a capacidade do
por um determinado assunto. Caso a palavra ou o assunto que foi Browser em recursos específicos - permitindo, por exemplo, que
procurado exista em alguma dessas páginas, será listado toda esta você toque arquivos de som ou veja filmes em vídeo dentro de
relação de páginas encontradas. uma Home Page. As empresas de software vêm desenvolvendo
A pesquisa pode ser realizada com uma palavra, referente ao plug-ins a uma velocidade impressionante. Maiores informações e
assunto desejado. Por exemplo, você quer pesquisar sobre amor- endereços sobre plug-ins são encontradas na página:
tecedores, caso não encontre nada como amortecedores, procure http://www.yahoo.com/Computers_and_Internet/Software/
como autopeças, e assim sucessivamente. Internet/World_Wide_Web/Browsers/Plug_Ins/Indices/
Atualmente existem vários tipos de plug-ins. Abaixo temos
Barra de endereços uma relação de alguns deles:
- 3D e Animação (Arquivos VRML, MPEG, QuickTime, etc.).
- Áudio/Vídeo (Arquivos WAV, MID, AVI, etc.).
- Visualizadores de Imagens (Arquivos JPG, GIF, BMP, PCX,
A Barra de Endereços possibilita que se possa navegar em pá- etc.).
ginas da internet, bastando para isto digitar o endereço da página. - Negócios e Utilitários
Alguns sites interessantes: - Apresentações
• www.diariopopular.com.br (Jornal Diário Popular)
• www.ufpel.tche.br (Ufpel) FTP - Transferência de Arquivos
• www.cefetrs.tche.br (Cefet)
• www.servidor.gov.br (Informações sobre servidor público) Permite copiar arquivos de um computador da Internet para o
• www.siapenet.gog.br (contracheque) seu computador.
• www.pelotas.com.br (Site Oficial de Pelotas) Os programas disponíveis na Internet podem ser:
• www.mec.gov.br (Ministério da Educação) • Freeware: Programa livre que pode ser distribuído e uti-
lizado livremente, não requer nenhuma taxa para sua utilização, e
Identificação de endereços de um site não é considerado “pirataria” a cópia deste programa.
• Shareware: Programa demonstração que pode ser uti-
Exemplo: http://www.pelotas.com.br lizado por um determinado prazo ou que contém alguns limites,
http:// -> (Hiper Text Tranfer Protocol) protocolo de comu- para ser utilizado apenas como um teste do programa. Se o usuário
nicação gostar ele compra, caso contrário, não usa mais o programa. Na

Didatismo e Conhecimento 92
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
maioria das vezes, esses programas exibem, de tempos em tem- Depois disto, várias outras companhias passaram a produzir
pos, uma mensagem avisando que ele deve ser registrado. Outros browsers que deveriam fazer concorrência ao Mosaic. Mark An-
tipos de shareware têm tempo de uso limitado. Depois de expirado dreesen partiu para a criação da Netscape Communications, cria-
este tempo de teste, é necessário que seja feito a compra deste dora do browser Netscape.
programa. Surgiram ainda o Cello, o AIR Mosaic, o SPRY Mosaic, o
Microsoft Internet Explorer, o Mozilla Firefox e muitos outros
Navegar nas páginas browsers.

Consiste percorrer as páginas na internet a partir de um docu- Busca e pesquisa na web


mento normal e de links das próprias páginas.
Os sites de busca servem para procurar por um determinado
Como salvar documentos, arquivos e sites assunto ou informação na internet.
Alguns sites interessantes:
Clique no menu Arquivo e na opção Salvar como. • www.google.com.br
• http://br.altavista.com
Como copiar e colar para um editor de textos • http://cade.search.yahoo.com
• http://br.bing.com/
Selecionar o conteúdo ou figura da página. Clicar com o botão
direito do mouse e escolha a opção Copiar. Como fazer a pesquisa

Digite na barra de endereço o endereço do site de pesquisa.


Por exemplo:
www.google.com.br

Abra o editor de texto clique em colar

Navegadores

O navegador de WWW é a ferramenta mais importante para


o usuário de Internet. É com ele que se podem visitar museus, ler
revistas eletrônicas, fazer compras e até participar de novelas inte-
rativas. As informações na Web são organizadas na forma de pági-
nas de hipertexto, cada um com seu endereço próprio, conhecido
como URL. Para começar a navegar, é preciso digitar um desses Em pesquisar pode-se escolher onde será feita a pesquisa.
endereços no campo chamado Endereço no navegador. O software
estabelece a conexão e traz, para a tela, a página correspondente.
O navegador não precisa de nenhuma configuração especial
para exibir uma página da Web, mas é necessário ajustar alguns pa-
râmetros para que ele seja capaz de enviar e receber algumas men-
sagens de correio eletrônico e acessar grupos de discussão (news).
O World Wide Web foi inicialmente desenvolvido no Centro
de Pesquisas da CERN (Conseil Europeen pour la Recherche Nu- Os sites de pesquisa em geral não fazem distinção na pesquisa
cleaire), Suíça. Originalmente, o WWW era um meio para físicos com letras maiúsculas e minúsculas e nem palavras com ou sem
da CERN trocar experiências sobre suas pesquisas através da exi- acento.
bição de páginas de texto. Ficou claro, desde o início, o imenso
potencial que o WWW possuía para diversos tipos de aplicações, Opções de pesquisa
inclusive não científicas.
O WWW não dispunha de gráficos em seus primórdios, ape-
nas de hipertexto. Entretanto, em 1993, o projeto WWW ganhou
força extra com a inserção de um visualizador (também conhecido Web: pesquisa em todos os sites
como browser) de páginas capaz não apenas de formatar texto, mas Imagens: pesquisa por imagens anexadas nas páginas. Exem-
também de exibir gráficos, som e vídeo. Este browser chamava-se plo do resultado se uma pesquisa.
Mosaic e foi desenvolvido dentro da NCSA, por um time chefiado
por Mark Andreesen. O sucesso do Mosaic foi espetacular.

Didatismo e Conhecimento 93
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
O resultado da pesquisa

O resultado da pesquisa é visualizado da seguinte forma:

Grupos: pesquisa nos grupos de discussão da Usenet. Exem-


plo:
5.7 COMPUTADORES PESSOAIS
(DESKTOPS, TABLETS, NOTEBOOKS E
NOÇÕES GERAIS E OPERAÇÕES)

HISTÓRICO

Diretórios: pesquisa o conteúdo da internet organizados por Os primeiros computadores construídos pelo homem foram
assunto em categorias. Exemplo: idealizados como máquinas para processar números (o que conhe-
cemos hoje como calculadoras), porém, tudo era feito fisicamente.
Existia ainda um problema, porque as máquinas processavam
os números, faziam operações aritméticas, mas depois não sabiam
o que fazer com o resultado, ou seja, eram simplesmente máquinas
de calcular, não recebiam instruções diferentes e nem possuíam
uma memória.
Até então, os computadores eram utilizados para pouquíssi-
mas funções, como calcular impostos e outras operações. Os com-
Como escolher palavra-chave putadores de uso mais abrangente apareceram logo depois da Se-
gunda Guerra Mundial. Os EUA desenvolveram ― secretamente,
• Busca com uma palavra: retorna páginas que incluam a durante o período ― o primeiro grande computador que calculava
palavra digitada. trajetórias balísticas. A partir daí, o computador começou a evoluir
• “Busca entre aspas”: a pesquisa só retorna páginas que num ritmo cada vez mais acelerado, até chegar aos dias de hoje.
incluam todos os seus termos de busca, ou seja, toda a sequência
de termos que foram digitadas. Código Binário, Bit e Byte
• Busca com sinal de mais (+): a pesquisa retorna páginas
que incluam todas O sistema binário (ou código binário) é uma representação
• as palavras aleatoriamente na página. numérica na qual qualquer unidade pode ser demonstrada usando-
• Busca com sinal de menos (-): as palavras que ficam an- -se apenas dois dígitos: 0 e 1. Esta é a única linguagem que os
tes do sinal de computadores entendem.
• menos são excluídas da pesquisa. Cada um dos dígitos utilizados no sistema binário é chamado
• Resultado de um cálculo: pode ser efetuado um cálculo de Binary Digit (Bit), em português, dígito binário e representa a
em um site de pesquisa. menor unidade de informação do computador.
Os computadores geralmente operam com grupos de bits. Um
Por exemplo: 3+4 grupo de oito bits é denominado Byte. Este pode ser usado na re-
Irá retornar: presentação de caracteres, como uma letra (A-Z), um número (0-9)
ou outro símbolo qualquer (#, %, *,?, @), entre outros.
Assim como podemos medir distâncias, quilos, tamanhos etc.,
também podemos medir o tamanho das informações e a velocidade
de processamento dos computadores. A medida padrão utilizada é
o byte e seus múltiplos, conforme demonstramos na tabela abaixo:

Didatismo e Conhecimento 94
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
DESKTOPS

São os computadores mais comuns. Geralmente dispõem de


teclado, mouse, monitor e gabinete separados fisicamente e não
são movidos de lugar frequentemente, uma vez que têm todos os
componentes ligados por cabos.
MAINFRAMES São compostos por:
• Monitor (vídeo)
• Teclado
• Mouse
• Gabinete: Placa-mãe, CPU (processador), memórias, dri-
ves, disco rígido
(HD), modem, portas USB etc.

PORTÁTEIS

Os computadores portáteis possuem todas as partes integradas


num só conjunto. Mouse, teclado, monitor e gabinete em uma úni-
ca peça. Os computadores portáteis começaram a aparecer no iní-
cio dos anos 80, nos Estados Unidos e hoje podem ser encontrados
nos mais diferentes formatos e tamanhos, destinados a diferentes
tipos de operações.

LAPTOPS
Os computadores podem ser classificados pelo porte. Basica-
Também chamados de notebooks, são computadores portáteis,
mente, existem os de grande porte ― mainframes ― e os de pe-
leves e produzidos para serem transportados facilmente. Os lap-
queno porte ― microcomputadores ― sendo estes últimos dividi-
tops possuem tela, geralmente de Liquid Crystal Display (LCD),
dos em duas categorias: desktops ou torres e portáteis (notebooks,
teclado, mouse (touchpad), disco rígido, drive de CD/DVD e por-
laptops, handhelds e smartphones).
tas de conexão. Seu nome vem da junção das palavras em inglês
Conceitualmente, todos eles realizam funções internas idênti-
lap (colo) e top (em cima), significando “computador que cabe no
cas, mas em escalas diferentes. colo de qualquer pessoa”.
Os mainframes se destacam por ter alto poder de processa-
mento, muita capacidade de memória e por controlar atividades NETBOOKS
com grande volume de dados. Seu custo é bastante elevado. São
encontrados, geralmente, em bancos, grandes empresas e centros São computadores portáteis muito parecidos com o notebook,
de pesquisa. porém, em tamanho reduzido, mais leves, mais baratos e não pos-
suem drives de CD/ DVD.
CLASSIFICAÇÃO DOS COMPUTADORES
PDA
A classificação de um computador pode ser feita de diversas
maneiras. Podem ser avaliados: É a abreviação do inglês Personal Digital Assistant e também
• Capacidade de processamento; são conhecidos como palmtops. São computadores pequenos e,
• Velocidade de processamento; geralmente, não possuem teclado. Para a entrada de dados, sua tela
• Capacidade de armazenamento das informações; é sensível ao toque. É um assistente pessoal com boa quantidade
• Sofisticação do software disponível e compatibilidade; de memória e diversos programas para uso específico.
• Tamanho da memória e tipo de CPU (Central Processing
Uni), Unidade SMARTPHONES
Central de Processamento.
São telefones celulares de última geração. Possuem alta ca-
TIPOS DE MICROCOMPUTADORES pacidade de processamento, grande potencial de armazenamento,
acesso à Internet, reproduzem músicas, vídeos e têm outras fun-
Os microcomputadores atendem a uma infinidade de aplica- cionalidades.
ções. São divididos em duas plataformas: PC (computadores pes-
soais) e Macintosh (Apple). Sistema de Processamento de Dados
Os dois padrões têm diversos modelos, configurações e op-
cionais. Além disso, podemos dividir os microcomputadores em Quando falamos em “Processamento de Dados” tratamos de
desktops, que são os computadores de mesa, com uma torre, tecla- uma grande variedade de atividades que ocorre tanto nas organi-
do, mouse e monitor e portáteis, que podem ser levados a qualquer zações industriais e comerciais, quanto na vida diária de cada um
lugar. de nós.

Didatismo e Conhecimento 95
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Para tentarmos definir o que seja processamento de dados te- Identificaremos as partes internas do computador, localizadas
mos de ver o que existe em comum em todas estas atividades. Ao no gabinete ou torre:
analisarmos, podemos perceber que em todas elas são dadas certas
informações iniciais, as quais chamamos de dados. • Motherboard (placa-mãe)
E que estes dados foram sujeitos a certas transformações, com • Processador
as quais foram obtidas as informações. • Memórias
O processamento de dados sempre envolve três fases essen- • Fonte de Energia
ciais: Entrada de Dados, Processamento e Saída da Informação. • Cabos
Para que um sistema de processamento de dados funcione ao • Drivers
contento, faz-se necessário que três elementos funcionem em per- • Portas de Entrada/Saída
feita harmonia, são eles:
MOTHERBOARD (PLACA-MÃE)
Hardware

Hardware é toda a parte física que compõe o sistema de pro-


cessamento de dados: equipamentos e suprimentos tais como:
CPU, disquetes, formulários, impressoras.

Software

É toda a parte lógica do sistema de processamento de dados.


Desde os dados que armazenamos no hardware, até os programas
que os processam.

Peopleware
É uma das partes mais importantes do computador. A
Esta é a parte humana do sistema: usuários (aqueles que usam motherboard é uma placa de circuitos integrados que serve de
a informática como um meio para a sua atividade fim), progra- suporte para todas as partes do computador.
madores e analistas de sistemas (aqueles que usam a informática Praticamente, tudo fica conectado à placa-mãe de alguma ma-
como uma atividade fim). neira, seja por cabos ou por meio de barramentos.
Embora não pareça, a parte mais complexa de um sistema A placa mãe é desenvolvida para atender às características
de processamento de dados é, sem dúvida o Peopleware, pois por especificas de famílias de processadores, incluindo até a possibi-
mais moderna que sejam os equipamentos, por mais fartos que se- lidade de uso de processadores ainda não lançados, mas que apre-
jam os suprimentos, e por mais inteligente que se apresente o sof- sentem as mesmas características previstas na placa.
tware, de nada adiantará se as pessoas (peopleware) não estiverem A placa mãe é determinante quanto aos componentes que po-
devidamente treinadas a fazer e usar a informática. dem ser utilizados no micro e sobre as possibilidades de upgrade,
O alto e acelerado crescimento tecnológico vem aprimoran- influenciando diretamente na performance do micro.
do o hardware, seguido de perto pelo software. Equipamentos que Diversos componentes integram a placa-mãe, como:
cabem na palma da mão, softwares que transformam fantasia em • Chipset
realidade virtual não são mais novidades. Entretanto ainda temos Denomina-se chipset os circuitos de apoio ao microcomputa-
em nossas empresas pessoas que sequer tocaram algum dia em um dor que gerenciam praticamente todo o funcionamento da placa-
teclado de computador. -mãe (controle de memória cache, DRAM, controle do buffer de
Mesmo nas mais arrojadas organizações, o relacionamento dados, interface com a CPU, etc.).
entre as pessoas dificulta o trâmite e consequente processamento O chipset é composto internamente de vários outros peque-
da informação, sucateando e subutilizando equipamentos e softwa- nos chips, um para cada função que ele executa. Há um chip con-
res. Isto pode ser vislumbrado, sobretudo nas instituições públicas. trolador das interfaces IDE, outro controlador das memórias, etc.
Existem diversos modelos de chipsets, cada um com recursos bem
POR DENTRO DO GABINETE diferentes.
Devido à complexidade das motherboards, da sofisticação dos
sistemas operacionais e do crescente aumento do clock, o chipset é
o conjunto de CIs (circuitos integrados) mais importante do micro-
computador. Fazendo uma analogia com uma orquestra, enquanto
o processador é o maestro, o chipset seria o resto!

• BIOS

O BIOS (Basic Input Output System), ou sistema básico de


entrada e saída, é a primeira camada de software do micro, um pe-
queno programa que tem a função de “iniciar” o microcomputador.

Didatismo e Conhecimento 96
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Durante o processo de inicialização, o BIOS é o responsável pelo (setup), acessados no momento do BOOT. Estes dados são atri-
reconhecimento dos componentes de hardware instalados, dar o buídos na montagem do microcomputador refletindo sua configu-
boot, e prover informações básicas para o funcionamento do sis- ração (tipo de winchester, números e tipo de drives, data e hora,
tema. configurações gerais, velocidade de memória, etc.) permanecendo
O BIOS é a camada (vide diagrama 1.1) que viabiliza a uti- armazenados na CMOS enquanto houver alimentação da bateria
lização de Sistemas Operacionais diferentes (Linux, Unix, Hurd, interna. Algumas alterações no hardware (troca e/ou inclusão de
BSD, Windows, etc.) no microcomputador. É no BIOS que estão novos componentes) podem implicar na alteração de alguns desses
descritos os elementos necessários para operacionalizar o Hardwa- parâmetros.
re, possibilitando aos diversos S.O. acesso aos recursos independe Muitos desses itens estão diretamente relacionados com o pro-
de suas características específicas. cessador e seu chipset e portanto é recomendável usar os valores
default sugerido pelo fabricante da BIOS. Mudanças nesses pa-
râmetros pode ocasionar o travamento da máquina, intermitência
na operação, mau funcionamento dos drives e até perda de dados
do HD.
• Slots para módulos de memória
Na época dos micros XT e 286, os chips de memória eram
encaixados (ou até soldados) diretamente na placa mãe, um a um.
O agrupamento dos chips de memória em módulos (pentes), ini-
cialmente de 30 vias, e depois com 72 e 168 vias, permitiu maior
versatilidade na composição dos bancos de memória de acordo
com as necessidades das aplicações e dos recursos financeiros dis-
poníveis.
Durante o período de transição para uma nova tecnologia é
comum encontrar placas mãe com slots para mais de um modelo.
Atualmente as placas estão sendo produzidas apenas com módulos
O BIOS é gravado em um chip de memória do tipo EPROM de 168 vias, mas algumas comportam memórias de mais de um
(Erased Programmable Read Only Memory). É um tipo de memó- tipo (não simultaneamente): SDRAM, Rambus ou DDR-SDRAM.
ria “não volátil”, isto é, desligando o computador não há a perda • Clock
das informações (programas) nela contida. O BIOS é contem 2 Relógio interno baseado num cristal de Quartzo que gera um
programas: POST (Power On Self Test) e SETUP para teste do pulso elétrico. A função do clock é sincronizar todos os circuitos
sistema e configuração dos parâmetros de inicialização, respecti- da placa mãe e também os circuitos internos do processador para
vamente, e de funções básicas para manipulação do hardware uti- que o sistema trabalhe harmonicamente.
lizadas pelo Sistema Operacional. Estes pulsos elétricos em intervalos regulares são medidos
Quando inicializamos o sistema, um programa chamado pela sua frequência cuja unidade é dada em hertz (Hz). 1 MHz é
POST conta a memória disponível, identifica dispositivos plug- igual a 1 milhão de ciclos por segundo. Normalmente os proces-
-and-play e realiza uma checagem geral dos componentes instala- sadores são referenciados pelo clock ou frequência de operação:
dos, verificando se existe algo de errado com algum componente. Pentium IV 2.8 MHz.
Após o término desses testes, é emitido um relatório com várias
informações sobre o hardware instalado no micro. Este relatório PROCESSADOR
é uma maneira fácil e rápida de verificar a configuração de um
computador. Para paralisar a imagem tempo suficiente para con-
seguir ler as informações, basta pressionar a tecla “pause/break”
do teclado.
Caso seja constatado algum problema durante o POST, serão
emitidos sinais sonoros indicando o tipo de erro encontrado. Por
isso, é fundamental a existência de um alto-falante conectado à
placa mãe.
Atualmente algumas motherboards já utilizam chips de me-
mória com tecnologia flash. Memórias que podem ser atualizadas
por software e também não perdem seus dados quando o compu-
tador é desligado, sem necessidade de alimentação permanente.
As BIOS mais conhecidas são: AMI, Award e Phoenix. 50%
dos micros utilizam BIOS AMI.
O microprocessador, também conhecido como processador,
• Memória CMOS consiste num circuito integrado construído para realizar cálculos
e operações. Ele é a parte principal do computador, mas está longe
CMOS (Complementary Metal-Oxide Semicondutor) é uma de ser uma máquina completa por si só: para interagir com o usuá-
memória formada por circuitos integrados de baixíssimo consumo rio é necessário memória, dispositivos de entrada e saída, conver-
de energia, onde ficam armazenadas as informações do sistema sores de sinais, entre outros.

Didatismo e Conhecimento 97
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
É o processador quem determina a velocidade de O aumento da velocidade de barramento da placa-mãe pode criar
processamento dos dados na máquina. Os primeiros modelos problemas caso algum periférico (como memória RAM, cache L2,
comerciais começaram a surgir no início dos anos 80. etc.) não suporte essa velocidade.
• Clock Speed ou Clock Rate Quando se faz um overclock, o processador passa a trabalhar
É a velocidade pela qual um microprocessador executa a uma velocidade maior do que ele foi projetado, fazendo com que
instruções. Quanto mais rápido o clock, mais instruções uma CPU haja um maior aquecimento do mesmo. Com isto, reduz-se a vida
pode executar por segundo. útil do processador de cerca de 20 para 10 anos (o que não chega
Usualmente, a taxa de clock é uma característica fixa do pro- a ser um problema já que os processadores rapidamente se tornam
cessador. Porém, alguns computadores têm uma “chave” que per- obsoletos). Esse aquecimento excessivo pode causar também fre-
mite 2 ou mais diferentes velocidades de clock. Isto é útil porque quentes “crashes” (travamento) do sistema operacional durante o
programas desenvolvidos para trabalhar em uma máquina com alta seu uso, obrigando o usuário a reiniciar a máquina.
velocidade de clock podem não trabalhar corretamente em uma Ao fazer o overclock, é indispensável a utilização de um coo-
máquina com velocidade de clock mais lenta, e vice versa. Além ler (ventilador que fica sobre o processador para reduzir seu aque-
disso, alguns componentes de expansão podem não ser capazes de cimento) de qualidade e, em alguns casos, uma pasta térmica espe-
trabalhar a alta velocidade de clock. cial que é passada diretamente sobre a superfície do processador.
Assim como a velocidade de clock, a arquitetura inter- Atualmente fala-se muito em CORE, seja dual, duo ou quad,
na de um microprocessador tem influência na sua performance. essa denominação refere-se na verdade ao núcleo do processador,
Dessa forma, 2 CPUs com a mesma velocidade de clock não onde fica a ULA (Unidade Aritmética e Lógica). Nos modelos
necessariamente trabalham igualmente. Enquanto um processador DUAL ou DUO, esse núcleo é duplicado, o que proporciona uma
Intel 80286 requer 20 ciclos para multiplicar 2 números, um Intel execução de duas instruções efetivamente ao mesmo tempo, em-
80486 (ou superior) pode fazer o mesmo cálculo em um simples bora isto não aconteça o tempo todo. Basta uma instrução precisar
ciclo. Por essa razão, estes novos processadores poderiam ser 20 de um dado gerado por sua “concorrente” que a execução paralela
vezes mais rápido que os antigos mesmo se a velocidade de clock torna-se inviável, tendo uma instrução que esperar pelo término
fosse a mesma. Além disso, alguns microprocessadores são supe- da outra. Os modelos QUAD CORE possuem o núcleo quadru-
rescalar, o que significa que eles podem executar mais de uma ins- plicado.
trução por ciclo. Esses são os processadores fabricados pela INTEL, empresa
Como as CPUs, os barramentos de expansão também têm a que foi pioneira nesse tipo de produto. Temos também alguns con-
sua velocidade de clock. Seria ideal que as velocidades de clock da correntes famosos dessa marca, tais como NEC, Cyrix e AMD;
CPU e dos barramentos fossem a mesma para que um componente sendo que atualmente apenas essa última marca mantém-se fazen-
não deixe o outro mais lento. Na prática, a velocidade de clock dos do frente aos lançamentos da INTEL no mercado. Por exemplo,
barramentos é mais lenta que a velocidade da CPU. um modelo muito popular de 386 foi o de 40 MHz, que nunca
• Overclock foi feito pela INTEL, cujo 386 mais veloz era de 33 MHz, esse
Overclock é o aumento da frequência do processador para que processador foi obra da AMD. Desde o lançamento da linha Pen-
ele trabalhe mais rapidamente. tium, a AMD foi obrigada a criar também novas denominações
A frequência de operação dos computadores domésticos é de- para seus processadores, sendo lançados modelos como K5, K6-2,
terminada por dois fatores: K7, Duron (fazendo concorrência direta à ideia do Celeron) e os
• A velocidade de operação da placa-mãe, conhecida também mais atuais como: Athlon, Turion, Opteron e Phenom.
como velocidade de barramento, que nos computadores Pentium
pode ser de 50, 60 e 66 MHz. MEMÓRIAS
• Um multiplicador de clock, criado a partir dos 486 que
permite ao processador trabalhar internamente a uma velocidade
maior que a da placa-mãe. Vale lembrar que os outros periféricos
do computador (memória RAM, cache L2, placa de vídeo, etc.)
continuam trabalhando na velocidade de barramento.
Como exemplo, um computador Pentium 166 trabalha com
velocidade de barramento de 66 MHz e multiplicador de 2,5x. Fa-
zendo o cálculo, 66 x 2,5 = 166, ou seja, o processador trabalha a
166 MHz, mas se comunica com os demais componentes do micro
a 66 MHz.
Tendo um processador Pentium 166 (como o do exemplo aci-
ma), pode-se fazê-lo trabalhar a 200 MHz, simplesmente aumen-
tando o multiplicador de clock de 2,5x para 3x. Caso a placa-mãe
permita, pode-se usar um barramento de 75 ou até mesmo 83 MHz
(algumas placas mais modernas suportam essa velocidade de bar-
ramento). Neste caso, mantendo o multiplicador de clock de 2,5x,
o Pentium 166 poderia trabalhar a 187 MHz (2,5 x 75) ou a 208
MHz (2,5 x 83). As frequências de barramento e do multiplicador Vamos chamar de memória o que muitos autores denominam
podem ser alteradas simplesmente através de jumpers de configu- memória primária, que é a memória interna do computador, sem a
ração da placa-mãe, o que torna indispensável o manual da mesma. qual ele não funciona.

Didatismo e Conhecimento 98
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
A memória é formada, geralmente, por chips e é utilizada para DRIVERS
guardar a informação para o processador num determinado mo-
mento, por exemplo, quando um programa está sendo executado.
As memórias ROM (Read Only Memory - Memória Somen-
te de Leitura) e RAM (Random Access Memory - Memória de
Acesso Randômico) ficam localizadas junto à placa-mãe. A ROM
são chips soldados à placa-mãe, enquanto a RAM são “pentes” de
memória.

FONTE DE ENERGIA

São dispositivos de suporte para mídias - fixas ou removíveis


- de armazenamento de dados, nos quais a informação é gravada
por meio digital, ótico, magnético ou mecânico.
Hoje, os tipos mais comuns são o disco rígido ou HD, os
drives de CD/DVD e o pen drive. Os computadores mais antigos
ainda apresentam drives de disquetes, que são bem pouco usados
devido à baixa capacidade de armazenamento. Todos os drives são
ligados ao computador por meio de cabos.
É um aparelho que transforma a corrente de eletricidade
alternada (que vem da rua), em corrente contínua, para ser PORTAS DE ENTRADA/SAÍDA
usada nos computadores. Sua função é alimentar todas as
partes do computador com energia elétrica apropriada para seu
funcionamento.
Fica ligada à placa-mãe e aos outros dispositivos por meio de
cabos coloridos com conectores nas pontas.

CABOS

São as portas do computador nas quais se conectam todos os


periféricos. São utilizadas para entrada e saída de dados. Os com-
putadores de hoje apresentam normalmente as portas USB, VGA,
FireWire, HDMI, Ethernet e Modem.
Veja alguns exemplos de dispositivos ligados ao computador
por meio dessas Portas: modem, monitor, pen drive, HD externo,
scanner, impressora, microfone, Caixas de som, mouse, teclado
etc.
Obs.: são dignas de citação portas ainda bastante usadas,
como as portas paralelas (impressoras e scanners) e as portas
Podemos encontrar diferentes tipos de cabos dentro do gabi- PS/2(mouses e teclados).
nete: podem ser de energia ou de dados e conectam dispositivos,
como discos rígidos, drives de CDs e DVDs, LEDs (luzes), botão
liga/desliga, entre outros, à placa-mãe.
Os tipos de cabos encontrados dentro do PC são: IDE, SATA,
SATA2, energia e som.

Didatismo e Conhecimento 99
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
MEMÓRIAS E DISPOSITIVOS DE ARMAZENAMEN- Random Access Memory (RAM) - Memória de acesso alea-
TO tório onde são armazenados dados em tempo de processamento,
isto é, enquanto o computador está ligado e, também, todas as in-
Memórias formações que estiverem sendo executadas, pois essa memória é
mantida por pulsos elétricos. Todo conteúdo dela é apagado ao
Memória ROM desligar-se a máquina, por isso é chamada também de volátil.
O módulo de memória é um componente adicionado à placa-
-mãe. É composto de uma série de pequenos circuitos integrados,
chamados chip de RAM. A memória pode ser aumentada, de acor-
do com o tipo de equipamento ou das necessidades do usuário. O
local onde os chips de memória são instalados chama-se SLOT de
memória.
A memória ganhou melhor desempenho com versões mais
poderosas, como DRAM (Dynamic RAM - RAM dinâmica), EDO
No microcomputador também se encontram as memórias de- (Extended Data Out - Saída Estendida Dados), entre outras, que
finidas como dispositivos eletrônicos responsáveis pelo armaze- proporcionam um aumento no desempenho de 10% a 30% em
namento de informações e instruções utilizadas pelo computador. comparação à RAM tradicional. Hoje, as memórias mais utilizadas
Read Only Memory (ROM) é um tipo de memória em que são do tipo DDR2 e DDR3.
os dados não se perdem quando o computador é desligado. Este
tipo de memória é ideal para guardar dados da BIOS (Basic Input/ Memória Cache
Output System - Sistema Básico de Entrada/Saída) da placa-mãe
e outros dispositivos.
Os tipos de ROM usados atualmente são:

• Electrically-Erasable Programmable Read-Only Memo-


ry (Eeprom)
É um tipo de PROM que pode ser apagada simplesmente com
uma carga elétrica, podendo ser, posteriormente, gravada com
novos dados. Depois da NVRAM é o tipo de memória ROM mais
utilizado atualmente.
• Non-Volatile Random Access Memory (Nvram)
Também conhecida como flash RAM ou memória flash, a
NVRAM é um tipo de memória RAM que não perde os dados
quando desligada. Este tipo de memória é o mais usado atualmen- A memória cache é um tipo de memória de acesso rápido
te para armazenar os dados da BIOS, não só da placa-mãe, mas utilizada, exclusivamente, para armazenamento de dados que pro-
de vários outros dispositivos, como modems, gravadores de CD- vavelmente serão usados novamente. Quando executamos algum
-ROM etc. programa, por exemplo, parte das instruções fica guardada nesta
É justamente o fato do BIOS da placa-mãe ser gravado em memória para que, caso posteriormente seja necessário abrir o pro-
memória flash que permite realizarmos upgrades de BIOS. Na grama novamente, sua execução seja mais rápida.
verdade essa não é exatamente uma memória ROM, já que pode Atualmente, a memória cache já é estendida a outros dispo-
ser reescrita, mas a substitui com vantagens. sitivos, a fim de acelerar o processo de acesso aos dados. Os pro-
• Programmable Read-Only Memory (Prom) cessadores e os HDs, por exemplo, já utilizam este tipo de arma-
É um tipo de memória ROM, fabricada em branco, sendo zenamento.
programada posteriormente. Uma vez gravados os dados, eles
não podem ser alterados. Este tipo de memória é usado em vários DISPOSITIVOS DE ARMAZENAMENTO
dispositivos, assim como em placas-mãe antigas.
Disco Rígido (HD)
Memoria RAM

Didatismo e Conhecimento 100


NOÇÕES DE INFORMÁTICA
O disco rígido é popularmente conhecido como HD (Hard DVD, DVD-R e DVD-RW
Disk Drive - HDD) e é comum ser chamado, também, de memó-
ria, mas ao contrário da memória RAM, quando o computador é O Digital Vídeo Disc ou Digital Versatille Disc (DVD) é hoje
desligado, não perde as informações. O disco rígido é, na verdade, o formato mais comum para armazenamento de vídeo digital. Foi
o único dispositivo para armazenamento de informações indispen- inventado no final dos anos 90, mas só se popularizou depois do
sável ao funcionamento do computador. É nele que ficam guar- ano 2000. Assim como o CD, é composto por quatro camadas,
dados todos os dados e arquivos, incluindo o sistema operacional. com a diferença de que o feixe de laser que lê e grava as informa-
Geralmente é ligado à placa-mãe por meio de um cabo, que pode ções é menor, possibilitando uma espiral maior no disco, o que
ser padrão IDE, SATA ou SATA2. proporciona maior capacidade de armazenamento.
Também possui as versões DVD-R e DVD-RW, sendo R de
HD Externo gravação única e RW que possibilita a regravação de dados. A
capacidade dos DVDs é de 120 minutos de vídeo ou 4,7 GB de
dados, existindo ainda um tipo de DVD chamado Dual Layer, que
contém duas camadas de gravação, cuja capacidade de armazena-
mento chega a 8,5 GB.

Blu-Ray

O Blu-Ray é o sucessor do DVD. Sua capacidade varia entre


25 e 50 GB. O de maior capacidade contém duas camadas de
gravação.
Seu processo de fabricação segue os padrões do CD e DVD
Os HDs externos são discos rígidos portáteis com alta capa- comuns, com a diferença de que o feixe de laser usado para leitu-
cidade de armazenamento, chegando facilmente à casa dos Tera- ra é ainda menor que o do DVD, o que possibilita armazenagem
bytes. Eles, normalmente, funcionam a partir de qualquer entrada maior de dados no disco.
USB do computador. O nome do disco refere-se à cor do feixe de luz do leitor ótico
As grandes vantagens destes dispositivos são: que, na verdade, para o olho humano, apresenta uma cor violeta
• Alta capacidade de armazenamento; azulada. O “e” da palavra blue (azul) foi retirado do nome por
• Facilidade de instalação; fins jurídicos, já que muitos países não permitem que se registre
• Mobilidade, ou seja, pode-se levá-lo para qualquer lugar comercialmente uma palavra comum. O Blu-Ray foi introduzido
sem necessidade de abrir o computador. no mercado no ano de 2006.

CD, CD-R e CD-RW Pen Drive

O Compact Disc (CD) foi criado no começo da década de 80


e é hoje um dos meios mais populares de armazenar dados digi-
talmente.
Sua composição é geralmente formada por quatro camadas:
• Uma camada de policarbonato (espécie de plástico),
onde ficam armazenados os dados
• Uma camada refletiva metálica, com a finalidade de re-
fletir o laser
• Uma camada de acrílico, para proteger os dados
• Uma camada superficial, onde são impressos os rótulos
É um dispositivo de armazenamento de dados em memória
Na camada de gravação existe uma grande espiral que tem flash e conecta-se ao computador por uma porta USB. Ele
um relevo de partes planas e partes baixas que representam os bits. combina diversas tecnologias antigas com baixo custo, baixo
Um feixe de laser “lê” o relevo e converte a informação. Temos consumo de energia e tamanho reduzido, graças aos avanços
hoje, no mercado, três tipos principais de CDs: nos microprocessadores. Funciona, basicamente, como um HD
externo e quando conectado ao computador pode ser visualizado
1. CD comercial como um drive. O pen drive também é conhecido como thumbdri-
(que já vem gravado com música ou dados) ve (por ter o tamanho aproximado de um dedo polegar - thumb),
2. CD-R flashdrive (por usar uma memória flash) ou, ainda, disco removí-
(que vem vazio e pode ser gravado uma única vez) vel.
3. CD-RW Ele tem a mesma função dos antigos disquetes e dos CDs, ou
(que pode ter seus dados apagados e regravados) seja, armazenar dados para serem transportados, porém, com uma
Atualmente, a capacidade dos CDs é armazenar cerca de 700 capacidade maior, chegando a 256 GB.
MB ou 80 minutos de música.

Didatismo e Conhecimento 101


NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Cartão de Memória Touchpad

Assim como o pen drive, o cartão de memória é um tipo de


dispositivo de armazenamento de dados com memória flash, muito
encontrado em máquinas fotográficas digitais e aparelhos celulares
smartphones.
Nas máquinas digitais registra as imagens capturadas e nos
telefones é utilizado para armazenar vídeos, fotos, ringtones, en-
dereços, números de telefone etc. Existem alguns modelos diferentes de mouse para notebooks,
O cartão de memória funciona, basicamente, como o pen dri- como o touchpad, que é um item de fábrica na maioria deles. É
ve, mas, ao contrário dele, nem sempre fica aparente no dispositivo uma pequena superfície sensível ao toque e tem a mesma funcio-
e é bem mais compacto. nalidade do mouse. Para movimentar o cursor na tela, passa-se o
Os formatos mais conhecidos são: dedo levemente sobre a área do touchpad.
• Memory Stick Duo
• SD (Secure Digital Card) Teclado
• Mini SD
• Micro SD

OS PERIFÉRICOS

Os periféricos são partes extremamente importantes dos com-


putadores. São eles que, muitas vezes, definem sua aplicação.

Entrada
São dispositivos que possuem a função de inserir dados ao
computador, por exemplo: teclado, scanner, caneta óptica, leitor
de código de barras, mesa digitalizadora, mouse, microfone, joys-
tick, CD-ROM, DVD-ROM, câmera fotográfica digital, câmera de
vídeo, webcam etc. É o periférico mais conhecido e utilizado para entrada de
dados no computador.
Mouse Acompanha o PC desde suas primeiras versões e foi pouco
alterado. Possui teclas representando letras, números e símbolos,
bem como teclas com funções específicas (F1... F12, ESC etc.).

Câmera Digital

É utilizado para selecionar operações dentro de uma tela


apresentada. Seu movimento controla a posição do cursor na tela
e apenas clicando (pressionando) um dos botões sobre o que você
precisa, rapidamente a operação estará definida.
O mouse surgiu com o ambiente gráfico das famílias Macin-
tosh e Windows, tornando-se indispensável para a utilização do
microcomputador.

Didatismo e Conhecimento 102


NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Câmera fotográfica moderna que não usa mais filmes foto- É um dispositivo utilizado para interpretar e enviar à memória
gráficos. As imagens são capturadas e gravadas numa memória do computador uma imagem desenhada, pintada ou fotografada.
interna ou, ainda, mais comumente, em cartões de memória. Ele é formado por minúsculos sensores fotoelétricos, geralmente
O formato de arquivo padrão para armazenar as fotos é o distribuídos de forma linear. Cada linha da imagem é percorrida
JPEG (.jpg) e elas podem ser transferidas ao computador por meio por um feixe de luz. Ao mesmo tempo, os sensores varrem (per-
de um cabo ou, nos computadores mais modernos, colocando-se o correm) esse espaço e armazenam a quantidade de luz refletida por
cartão de memória diretamente no leitor. cada um dos pontos da linha.
A princípio, essas informações são convertidas em cargas elé-
Câmeras de Vídeo tricas que, depois, ainda no scanner, são transformadas em valores
numéricos. O computador decodifica esses números, armazena-os
e pode transformá-los novamente em imagem. Após a imagem ser
convertida para a tela, pode ser gravada e impressa como qualquer
outro arquivo.

Existem scanners que funcionam apenas em preto e branco e


outros, que reproduzem cores. No primeiro caso, os sensores pas-
sam apenas uma vez por cada ponto da imagem. Os aparelhos de
fax possuem um scanner desse tipo para captar o documento. Para
capturar as cores é preciso varrer a imagem três vezes: uma regis-
tra o verde, outra o vermelho e outra o azul.
Há aparelhos que produzem imagens com maior ou menor
definição. Isso é determinado pelo número de pontos por polegada
As câmeras de vídeo, além de utilizadas no lazer, são também (ppp) que os sensores fotoelétricos podem ler. As capacidades
aplicadas no trabalho de multimídia. As câmeras de vídeo digitais variam de 300 a 4800 ppp. Alguns modelos contam, ainda, com
ligam-se ao microcomputador por meio de cabos de conexão e per- softwares de reconhecimento de escrita, denominados OCR.
mitem levar a ele as imagens em movimento e alterá-las utilizando Hoje em dia, existem diversos tipos de utilização para os
um programa de edição de imagens. Existe, ainda, a possibilidade scanners, que podem ser encontrados até nos caixas de supermer-
de transmitir as imagens por meio de placas de captura de vídeo, cados, para ler os códigos de barras dos produtos vendidos.
que podem funcionar interna ou externamente no computador.

Webcam

É uma câmera de vídeo que capta imagens e as transfere


instantaneamente para o computador. A maioria delas não tem
Scanner alta resolução, já que as imagens têm a finalidade de serem
transmitidas a outro computador via Internet, ou seja, não podem
gerar um arquivo muito grande, para que possam ser transmitidas
mais rapidamente.
Hoje, muitos sites e programas possuem chats (bate-papo)
com suporte para webcam. Os participantes podem conversar e
visualizar a imagem um do outro enquanto conversam. Nos lap-
tops e notebooks mais modernos, a câmera já vem integrada ao
computador.

Saída

São dispositivos utilizados para saída de dados do computa-


dor, por exemplo: monitor, impressora, projetor, caixa de som etc.

Didatismo e Conhecimento 103


NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Monitor Os primeiros monitores tinham um tamanho de, geralmente,
13 ou 14 polegadas. Com profissionais trabalhando com imagens,
É um dispositivo físico (semelhante a uma televisão) que tem cores, movimentos e animações multimídia, sentiu-se a necessida-
a função de exibir a saída de dados. de de produzir telas maiores.
A qualidade do que é mostrado na tela depende da resolução Hoje, os monitores são vendidos nos mais diferentes formatos
do monitor, designada pelos pontos (pixels - Picture Elements), e tamanhos. As televisões mais modernas apresentam uma entrada
que podem ser representados na sua superfície. VGA ou HDMI, para que computadores sejam conectados a elas.
Todas as imagens que você vê na tela são compostas de cen-
tenas (ou milhares) de pontos gráficos (ou pixels). Quanto mais Impressora Jato de Tinta
pixels, maior a resolução e mais detalhada será a imagem na tela.
Uma resolução de 640 x 480 significa 640 pixels por linha e 480
linhas na tela, resultando em 307.200 pixels.
A placa gráfica permite que as informações saiam do compu-
tador e sejam apresentadas no monitor. A placa determina quantas
cores você verá e qual a qualidade dos gráficos e imagens apre-
sentadas.
Os primeiros monitores eram monocromáticos, ou seja, apre-
sentavam apenas uma cor e suas tonalidades, mostrando os textos
em branco ou verde sobre um fundo preto. Depois, surgiram os
policromáticos, trabalhando com várias cores e suas tonalidades.
A tecnologia utilizada nos monitores também tem acompa-
nhado o mercado de informática. Procurou-se reduzir o consumo
de energia e a emissão de radiação eletromagnética. Outras ino-
vações, como controles digitais, tela plana e recursos multimídia Atualmente, as impressoras a jato de tinta ou inkjet (como
contribuíram nas mudanças. também são chamadas), são as mais populares do mercado. Silen-
Nos desktops mais antigos, utilizava-se a Catodic Rays Tube ciosas, elas oferecem qualidade de impressão e eficiência.
(CRT), que usava o tubo de cinescópio (o mesmo princípio da TV), A impressora jato de tinta forma imagens lançando a tinta di-
em que um canhão dispara por trás o feixe de luz e a imagem é retamente sobre o papel, produzindo os caracteres como se fossem
mostrada no vídeo. Uma grande evolução foi o surgimento de contínuos. Imprime sobre papéis especiais e transparências e são
uma tela especial, a Liquid Crystal Display (LCD) - Tela de Cristal bastante versáteis. Possuem fontes (tipos de letras) internas e acei-
Líquido. tam fontes via software. Também preparam documentos em preto
A tecnologia LCD troca o tubo de cinescópio por minúsculos e branco e possuem cartuchos de tinta independentes, um preto e
cristais líquidos na formação dos feixes de luz até a montagem dos outro colorido.
pixels. Com este recurso, pode-se aumentar a área útil da tela.
Os monitores LCD permitem qualidade na visibilidade da Impressora Laser
imagem - dependendo do tipo de tela ― que pode ser:
• Matriz ativa: maior contraste, nitidez e amplo campo de
visão
• Matriz passiva: menor tempo de resposta nos movimen-
tos de vídeo
Além do CRT e do LCD, uma nova tecnologia esta ganhando
força no mercado, o LED. A principal diferença entre LED x LCD
está diretamente ligado à tela. Em vez de células de cristal líquido,
os LED possuem diodos emissores de luz (Light Emitting Diode)
que fornecem o conjunto de luzes básicas (verde, vermelho e azul).
Eles não aquecem para emitir luz e não precisam de uma luz bran-
ca por trás, o que permite iluminar apenas os pontos necessários na
tela. Como resultado, ele consume até 40% menos energia.
A definição de cores também é superior, principalmente do As impressoras a laser apresentam elevada qualidade de im-
preto, que possui fidelidade não encontrada em nenhuma das de- pressão, aliada a uma velocidade muito superior. Utilizam folhas
mais tecnologias disponíveis no mercado. avulsas e são bastante silenciosas.
Sem todo o aparato que o LCD precisa por trás, o LED tam- Possuem fontes internas e também aceitam fontes via soft-
bém pode ser mais fina, podendo chegar a apenas uma polegada de ware (dependendo da quantidade de memória). Algumas possuem
espessura. Isso resultado num monitor de design mais agradável e um recurso que ajusta automaticamente as configurações de cor,
bem mais leve. eliminando a falta de precisão na impressão colorida, podendo
Ainda é possível encontrar monitores CRT (que usavam o atingir uma resolução de 1.200 dpi (dots per inch - pontos por po-
tubo de cinescópio), mas os fabricantes, no entanto, não deram legada).
continuidade à produção dos equipamentos com tubo de imagem.

Didatismo e Conhecimento 104


NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Impressora a Cera BARRAMENTOS – CONCEITOS GERAIS

Categoria de impressora criada para ter cor no impresso com Os barramentos, conhecidos como BUS em inglês, são con-
qualidade de laser, porém o custo elevado de manutenção aliado ao juntos de fios que normalmente estão presentes em todas as placas
surgimento da laser colorida fizeram essa tecnologia ser esquecida. do computador.
A ideia aqui é usar uma sublimação de cera (aquela do lápis de Na verdade existe barramento em todas as placas de produtos
cera) para fazer impressão. eletrônicos, porém em outros aparelhos os técnicos referem-se aos
barramentos simplesmente como o “impresso da placa”.
Plotters Barramento é um conjunto de 50 a 100 fios que fazem a comu-
nicação entre todos os dispositivos do computador: UCP, memó-
ria, dispositivos de entrada e saída e outros. Os sinais típicos en-
contrados no barramento são: dados, clock, endereços e controle.
Os dados trafegam por motivos claros de necessidade de se-
rem levados às mais diversas porções do computador.
Os endereços estão presentes para indicar a localização para
onde os dados vão ou vêm.
O clock trafega nos barramentos conhecidos como síncronos,
pois os dispositivos são obrigados a seguir uma sincronia de tempo
para se comunicarem.
O controle existe para informar aos dispositivos envolvidos
na transmissão do barramento se a operação em curso é de escrita,
leitura, reset ou outra qualquer. Alguns sinais de controle são bas-
tante comuns:
Outro dispositivo utilizado para impressão é a plotter, que é • Memory Write - Causa a escrita de dados do barramento de
dados no endereço especificado no barramento de endereços.
uma impressora destinada a imprimir desenhos em grandes dimen-
• Memory Read - Causa dados de um dado endereço especi-
sões, com elevada qualidade e rigor, como plantas arquite-
ficado pelo barramento de endereço a ser posto no barramento de
tônicas, mapas cartográficos, projetos de engenharia e grafismo, ou
dados.
seja, a impressora plotter é destinada às artes gráficas, editoração
• I/O Write - Causa dados no barramento de dados serem en-
eletrônica e áreas de CAD/CAM.
viados para uma porta de saída (dispositivo de I/O).
Vários modelos de impressora plotter têm resolução de 300
• I/O Read - Causa a leitura de dados de um dispositivo de I/O,
dpi, mas alguns podem chegar a 1.200 pontos por polegada, per-
os quais serão colocados no barramento de dados.
mitindo imprimir, aproximadamente, 20 páginas por minuto (no • Bus request - Indica que um módulo pede controle do barra-
padrão de papel utilizado em impressoras a laser). mento do sistema.
Existe a plotter que imprime materiais coloridos com largura • Reset - Inicializa todos os módulos
de até três metros (são usadas em empresas que imprimem grandes Todo barramento é implementado seguindo um conjunto de
volumes e utilizam vários formatos de papel). regras de comunicação entre dispositivos conhecido como BUS
STANDARD, ou simplesmente PROTOCOLO DE BARRAMEN-
Projetor TO, que vem a ser um padrão que qualquer dispositivo que queira
ser compatível com este barramento deva compreender e respeitar.
É um equipamento muito utilizado em apresentações Mas um ponto sempre é certeza: todo dispositivo deve ser único
multimídia. no acesso ao barramento, porque os dados trafegam por toda a
Antigamente, as informações de uma apresentação eram im- extensão da placa-mãe ou de qualquer outra placa e uma mistura
pressas em transparências e ampliadas num retroprojetor, mas, de dados seria o caos para o funcionamento do computador.
com o avanço tecnológico, os projetores têm auxiliado muito nesta Os barramentos têm como principais vantagens o fato de ser
área. o mesmo conjunto de fios que é usado para todos os periféricos,
Quando conectados ao computador, esses equipamentos re- o que barateia o projeto do computador. Outro ponto positivo é a
produzem o que está na tela do computador em dimensões amplia- versatilidade, tendo em vista que toda placa sempre tem alguns
das, para que várias pessoas vejam ao mesmo tempo. slots livres para a conexão de novas placas que expandem as pos-
sibilidades do sistema.
Entrada/Saída A grande desvantagem dessa idéia é o surgimento de engarra-
famentos pelo uso da mesma via por muitos periféricos, o que vem
São dispositivos que possuem tanto a função de inserir dados, a prejudicar a vazão de dados (troughput).
quanto servir de saída de dados. Exemplos: pen drive, modem,
CD-RW, DVD-RW, tela sensível ao toque, impressora multifun- Dispositivos conectados ao barramento
cional, etc.
IMPORTANTE: A impressora multifuncional pode ser clas- • Ativos ou Mestres - dispositivos que comandam o acesso ao
sificada como periférico de Entrada/Saída, pois sua principal ca- barramento para leitura ou escrita de dados
racterística é a de realizar os papeis de impressora (Saída) e scan- • Passivos ou Escravos - dispositivos que simplesmente obe-
ner (Entrada) no mesmo dispositivo. decem à requisição do mestre.

Didatismo e Conhecimento 105


NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Exemplo: O primeiro AGP (1X) trabalhava a 133 MHz, o que proporcio-
- CPU ordena que o controlador de disco leia ou escreva um na uma velocidade 4 vezes maior que o PCI. Além disso, sua taxa
bloco de dados. de transferência chegava a 266 MB por segundo quando operando
A CPU é o mestre e o controlador de disco é o escravo. no esquema de velocidade X1, e a 532 MB quando no esquema de
velocidade 2X. Existem também as versões 4X, 8X e 16X. Geral-
Barramentos Comerciais mente, só se encontra um único slot nas placas-mãe, visto que o
AGP só interessa às placas de vídeo.
Serão listados aqui alguns barramentos que foram e alguns
que ainda são bastante usados comercialmente. PCI Express
ISA – Industry Standard Architeture Na busca de uma solução para algumas limitações dos bar-
ramentos AGP e PCI, a indústria de tecnologia trabalha no barra-
Foi lançado em 1984 pela IBM para suportar o novo PC-AT. mento PCI Express, cujo nome inicial era 3GIO. Trata-se de um
Tornou-se, de imediato, o padrão de todos os PC-compatíveis. Era padrão que proporciona altas taxas de transferência de dados entre
um barramento único para todos os componentes do computador,
o computador em si e um dispositivo, por exemplo, entre a placa-
operando com largura de 16 bits e com clock de 8 MHz.
-mãe e uma placa de vídeo 3D.
A tecnologia PCI Express conta com um recurso que permite
PCI – Peripheral Components Interconnect
o uso de uma ou mais conexões seriais, também chamados de la-
PCI é um barramento síncrono de alta performance, indicado nes para transferência de dados. Se um determinado dispositivo
como mecanismo entre controladores altamente integrados, plug- usa um caminho, então diz-se que esse utiliza o barramento PCI
-in placas, sistemas de processadores/memória. Express 1X; se utiliza 4 lanes , sua denominação é PCI Express 4X
Foi o primeiro barramento a incorporar o conceito plug-and- e assim por diante. Cada lane pode ser bidirecional, ou seja, recebe
-play. e envia dados. Cada conexão usada no PCI Express trabalha com 8
Seu lançamento foi em 1993, em conjunto com o processador bits por vez, sendo 4 em cada direção. A freqüência usada é de 2,5
PENTIUM da Intel. Assim o novo processador realmente foi re- GHz, mas esse valor pode variar. Assim sendo, o PCI Express 1X
volucionário, pois chegou com uma série de inovações e um novo consegue trabalhar com taxas de 250 MB por segundo, um valor
barramento. O PCI foi definido com o objetivo primário de estabe- bem maior que os 132 MB do padrão PCI. Esse barramento traba-
lecer um padrão da indústria e uma arquitetura de barramento que lha com até 16X, o equivalente a 4000 MB por segundo. A tabela
ofereça baixo custo e permita diferenciações na implementação. abaixo mostra os valores das taxas do PCI Express comparadas às
taxas do padrão AGP:
Componente PCI ou PCI master
É importante frisar que o padrão 1X foi pouco utilizado e,
Funciona como uma ponte entre processador e barramento devido a isso, há empresas que chamam o PC I Express 2X de PCI
PCI, no qual dispositivos add-in com interface PCI estão conec- Express 1X.
tados. Assim sendo, o padrão PCI Express 1X pode representar tam-
bém taxas de transferência de dados de 500 MB por segundo.
- Add-in cards interface A Intel é uma das grandes precursoras de inovações tecnoló-
gicas.
Possuem dispositivos que usam o protocolo PCI. São geren- No início de 2001, em um evento próprio, a empresa mostrou
ciados pelo PCI master e são totalmente programáveis. a necessidade de criação de uma tecnologia capaz de substituir o
padrão PCI: tratava-se do 3GIO (Third Generation I/O – 3ª gera-
AGP – Advanced Graphics Port
ção de Entrada e Saída). Em agosto desse mesmo ano, um grupo
de empresas chamado de
Esse barramento permite que uma placa controladora gráfica
PCI-SIG (composto por companhias como IBM, AMD e Mi-
AGP substitua a placa gráfica no barramento PCI. O Chip con-
trolador AGP substitui o controlador de E/S do barramento PCI. crosoft) aprovou as primeiras especificações do 3GIO.
O novo conjunto AGP continua com funções herdadas do PCI. O Entre os quesitos levantados nessas especificações, estão os
conjunto faz a transferência de que se seguem: suporte ao barramento PCI, possibilidade de uso
dados entre memória, o processador e o controlador ISA, de mais de uma lane, suporte a outros tipos de conexão de plata-
tudo, simultaneamente. formas, melhor gerenciamento de energia, melhor proteção contra
Permite acesso direto mais rápido à memória. Pela porta grá- erros, entre outros.
fica aceleradora, a placa tem acesso direto à RAM, eliminando a Esse barramento é fortemente voltado para uso em subsiste-
necessidade de uma VRAM (vídeo RAM) na própria placa para mas de vídeo.
armazenar grandes arquivos de bits como mapas e textura.
O uso desse barramento iniciou-se através de placas-mãe que Interfaces – Barramentos Externos
usavam o chipset i440LX, da Intel, já que esse chipset foi o primei-
ro a ter suporte ao AGP. A principal vantagem desse barramento é Os barramentos circulam dentro do computador, cobrem toda
o uso de uma maior quantidade de memória para armazenamento a extensão da placa-mãe e servem para conectar as placas meno-
de texturas para objetos tridimensionais, além da alta velocidade res especializadas em determinadas tarefas do computador. Mas
no acesso a essas texturas para aplicação na tela. os dispositivos periféricos precisam comunicarem-se com a UCP,

Didatismo e Conhecimento 106


NOÇÕES DE INFORMÁTICA
para isso, historicamente foram desenvolvidas algumas soluções Um detalhe importantíssimo é que hubs USB 1.1 não conse-
de conexão tais como: serial, paralela, USB e Firewire. Passan- guem estabelecer conexões a 480 Mbps para periféricos conec-
do ainda por algumas soluções proprietárias, ou seja, que somente tados a eles. Nesse caso, estes hubs atuam como gargalos de co-
funcionavam com determinado periférico e de determinado fabri- nexão. Sempre que puder escolher, dê preferência a dispositivos
cante. USB 2.0.
Outro fato interessante também é o padrão do cabo USB, mais
Interface Serial precisamente de seus conectores. É fato que alguns fabricantes de
câmeras e outros dispositivos podem tentar criar conectores pro-
Conhecida por seu uso em mouse e modems, esta interface prietários para suas interfaces USB, sempre respeitando a ponta
no passado já conectou até impressoras. Sua característica fun- que se liga no computador.
damental é que os bits trafegam em fila, um por vez, isso torna Portanto, o cabo daquela câmera que foi esquecido em uma
a comunicação mais lenta, porém o cabo do dispositivo pode ser viagem pode facilmente ser substituído agora, basta respeitar o
mais longo, alguns chegam até a 10 metros de comprimento. Isso tipo de conector usado no produto.
é útil para usar uma barulhenta impressora matricial em uma sala
separada daquela onde o trabalho acontece. Firewire
As velocidades de comunicação dessa interface variam de 25
bps até 57.700 bps (modems mais recentes). Na parte externa do O barramento firewire, também conhecido como IEEE 1394
gabinete, essas interfaces são representadas por conectores DB-9 ou como i.Link, é um barramento de grande volume de transfe-
ou DB-25 machos. rência de dados entre computadores, periféricos e alguns produtos
eletrônicos de consumo. Foi desenvolvido inicialmente pela Apple
Interface Paralela como um barramento serial de alta velocidade, mas eles estavam
muito à frente da realidade, ainda mais com, na época, a alternati-
Criada para ser uma opção ágil em relação à serial, essa inter- va do barramento USB que já possuía boa velocidade, era barato
face transmite um byte de cada vez. Devido aos 8 bits em paralelo e rapidamente integrado no mercado. Com isso, a Apple, mesmo
existe um RISCo de interferência na corrente elétrica dos conduto- incluindo esse tipo de conexão/portas no Mac por algum tempo,
res que formam o cabo. Por esse motivo os cabos de comunicação a realidade “de fato”, era a não existência de utilidade para elas
desta interface são mais curtos, normalmente funcionam muito
devido à falta de periféricos para seu uso. Porém o desenvolvi-
bem até a distância de 1,5 metro, embora exista no mercado cabos
mento continuou, sendo focado principalmente pela área de vídeo,
paralelos de até 3 metros de comprimento. A velocidade de trans-
que poderia tirar grandes proveitos da maior velocidade que ele
missão desta porta chega até a 1,2 MB por segundo.
oferecia.
Nos gabinetes dos computadores essa porta é encontrada na
Suas principais vantagens:
forma de conectores DB-25 fêmeas. Nas impressoras, normalmen-
• São similares ao padrão USB;
te, os conectores paralelos são conhecidos como interface centro-
• Conexões sem necessidade de desligamento/boot do micro
nics.
(hot-plugable);
USB – Universal Serial Bus • Capacidade de conectar muitos dispositivos (até 63 por por-
ta);
• Permite até 1023 barramentos conectados entre si;
O USB Implementers Forum (http://www.usb.org), que é o • Transmite diferentes tipos de sinais digitais:
grupo de fabricantes que desenvolveu o barramento USB, já de- vídeo, áudio, MIDI, comandos de controle de dispositivo, etc;
senvolveu a segunda versão do USB, chamada USB 2.0 ou High- • Totalmente Digital (sem a necessidade de conversores analó-
-speed USB. Essa nova versão do USB possui uma taxa máxima gico-digital, e portanto mais seguro e rápido);
de transferência de 480 Mbps (aproximadamente 60 MB/s), ou • Devido a ser digital, fisicamente é um cabo fino, flexível,
seja, uma taxa maior que a do Firewire 1.0 e muito maior do que barato e simples;
a versão anterior do USB, chamada 1.1, que permite a conexão de • Como é um barramento serial, permite conexão bem facilita-
periféricos usando taxas de transferência de 12 Mbps (aproxima- da, ligando um dispositivo ao outro, sem a necessidade de conexão
damente 1,5 MB/s) ou 1,5 Mbps (aproximadamente 192 KB/s), ao micro (somente uma ponta é conectada no micro).
dependendo do periférico. A distância do cabo é limitada a 4.5 metros antes de haver
A porta USB 2.0 continua 100% compatível com periféricos distorções no sinal, porém, restringindo a velocidade do barramen-
USB 1.1. to podem-se alcançar maiores distâncias de cabo (até 14 metros).
Ao iniciar a comunicação com um periférico, a porta tenta co- Lembrando que esses valores são para distâncias “ENTRE PERI-
municar-se a 480 Mbps . Caso não tenha êxito, ela abaixa a sua ve- FÉRICOS”, e SEM A UTILIZAÇÃO DE TRANSCEIVERS (com
locidade para 12 Mbps. Caso a comunicação também não consiga transceivers a previsão é chegar a até 70 metros usando fibra ótica).
ser efetuada, a velocidade é então abaixada para 1,5 Mbps. Com O barramento firewire permite a utilização de dispositivos de
isso, os usuários não devem se preocupar com os periféricos USB diferentes velocidades (100, 200, 400, 800, 1200 Mb/s) no mesmo
que já possuem: eles continuarão compatíveis com o novo padrão. barramento.
Os computadores com interfaces USB aceitam até 127 dis- O suporte a esse barramento está nativamente em Macs, e em
positivos conectados. Às vezes as placas têm de 2 a 6 conectores PCs através de placas de expansão específicas ou integradas com
USB. Para resolver isso são vendidos os hubs USB. placas de captura de vídeo ou de som.

Didatismo e Conhecimento 107


NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Os principais usos que estão sendo direcionados a essa inter- Tipos de dispositivos de armazenamento:
face, devido às características listadas, são na área de multimídia, Por meios magnéticos. Exemplos: Disco Rígido, disquete.
especialmente na conexão de dispositivos de vídeo (placas de Por meios ópticos. Exemplos: CD, DVD.
captura, câmeras, TVs digitais, setup boxes, home theather, etc). Por meios eletrônicos (SSDs) - chip - Exemplos: cartão de
memória, pen drive.
PROCESSADORES Frisando que: Memória RAM é um dispositivo de armazena-
Os processadores (ou CPU, de Central Processing Unit  - Uni- mento temporário de informações.
dade Central de Processamento) são chips responsáveis pela exe-
cução de cálculos, decisões lógicas e instruções que resultam em Dispositivos de armazenamento por meio magnético
todas as tarefas que um computador pode fazer. Por este motivo, Os dispositivos de armazenamento por meio magnético são os
são também referenciados como “cérebros” destas máquinas. mais antigos e mais utilizados atualmente, por permitir uma gran-
Apesar de não haver um número muito grande de fabricantes de densidade de informação, ou seja, armazenar grande quantidade
- a maior parte do mercado está concentrada nas mãos da Intel e de dados em um pequeno espaço físico. São mais antigos, porém
da AMD, com companhias como Samsung e Qualcomm  se desta- foram se aperfeiçoando no decorrer do tempo.
cando no segmento móvel -, existe uma grande variedade de pro- Para a gravação, a cabeça de leitura e gravação do dispositivo
cessadores, para os mais variados fins. gera um campo magnético que magnetiza os dipolos magnéticos,
representando assim dígitos binários (bits) de acordo com a pola-
DISPOSITIVOS DE ARMAZENAMENTO ridade utilizada. Para a leitura, um campo magnético é gerado pela
Dispositivo de armazenamento é um dispositivo capaz de ar- cabeça de leitura e gravação e, quando em contato com os dipolos
mazenar informações (dados) para posterior consulta ou uso. Essa magnéticos da mídia verifica se esta atrai ou repele o campo mag-
gravação de dados pode ser feita praticamente usando qualquer nético, sabendo assim se o polo encontrado na molécula é norte
forma de energia, desde força manual humana como na escrita, ou sul.
passando por vibrações acústicas em gravações fonográficas até Como exemplo de dispositivos de armazenamento por meio
modulação de energia eletromagnética em fitas magnéticas e dis- magnético, podemos citar os Discos Rígidos.
cos ópticos. Os dispositivos de armazenamento magnéticos que possuem
Um dispositivo de armazenamento pode guardar informação, mídias removíveis normalmente não possuem capacidade e confia-
processar informação ou ambos. Um dispositivo que somente bilidade equivalente aos dispositivos fixos, pois sua mídia é frágil
guarda informação é chamado mídia de armazenamento. Disposi- e possui capacidade de armazenamento muito pequena se compa-
tivos que processam informações (equipamento de armazenamen- rada a outros tipos de dispositivos de armazenamento magnéticos.
to de dados) podem tanto acessar uma mídia de gravação portátil
ou podem ter um componente permanente que armazena e recu- Dispositivos de armazenamento por meio óptico
pera dados. Os dispositivos de armazenamento por meio óptico são os
Armazenamento eletrônico de dados é o armazenamento que mais utilizados para o armazenamento de informações multimí-
requer energia elétrica para armazenar e recuperar dados. A maio- dia, sendo amplamente aplicados no armazenamento de filmes,
ria dos dispositivos de armazenamento que não requerem visão e música, etc. Apesar disso também são muito utilizados para o ar-
um cérebro para ler os dados se enquadram nesta categoria. Dados mazenamento de informações e programas, sendo especialmente
eletromagnéticos podem ser armazenados em formato analógico utilizados para a instalação de programas no computador.
ou digital em uma variedade de mídias. Este tipo de dados é consi- Exemplos de dispositivos de armazenamento por meio óptico
derado eletronicamente codificado, sendo ou não armazenado ele- são os CD-ROMs, CD-RWs, DVD-ROMs, DVD-RWs etc.
tronicamente em um dispositivo semicondutor (chip), uma vez que A leitura das informações em uma mídia óptica se dá por meio
certamente um dispositivo semicondutor foi utilizado para gravá-la de um feixe laser de alta precisão, que é projetado na superfície da
em seu meio. A maioria das mídias de armazenamento processadas mídia. A superfície da mídia é gravada com sulcos microscópicos
eletronicamente (incluindo algumas formas de armazenamento de capazes de desviar o laser em diferentes direções, representando
dados de computador) são considerados de armazenamento per- assim diferentes informações, na forma de dígitos binários (bits).
manente (não volátil), ou seja, os dados permanecem armazenados A gravação das informações em uma mídia óptica necessita de
quando a energia elétrica é removida do dispositivo. Em contraste, uma mídia especial, cuja superfície é feita de um material que pode
a maioria das informações armazenadas eletronicamente na maio- ser “queimado” pelo feixe laser do dispositivo de armazenamento,
ria dos tipos de semicondutores são microcircuitos memória volá- criando assim os sulcos que representam os dígitos binários (bits).
til, pois desaparecem com a remoção da energia elétrica.
Com exceção de Códigos de barras e OCR, o armazenamen- Dispositivos de armazenamento por meio eletrônico
to eletrônico de dados é mais fácil de se revisar e pode ser mais (SSDs)
econômico do que métodos alternativos, devido à exigência menor Este tipo de dispositivos de armazenamento é o mais recente
de espaço físico e à facilidade na troca (re-gravação) de dados na e é o que mais oferece perspectivas para a evolução do desempe-
mesma mídia. Entretanto, a durabilidade de métodos como im- nho na tarefa de armazenamento de informação. Esta tecnologia
pressão em papel é ainda superior à muitas mídias eletrônicas. As também é conhecida como memórias de estado sólido ou SSDs
limitações relacionadas à durabilidade podem ser superadas ao se (solid state drive) por não possuírem partes móveis, apenas circui-
utilizar o método de duplicação dos dados eletrônicos, comumente tos eletrônicos que não precisam se movimentar para ler ou gravar
chamados de cópia de segurança ou back-up. informações.

Didatismo e Conhecimento 108


NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Os dispositivos de armazenamento por meio eletrônico po- (C) janelas.
dem ser encontrados com as mais diversas aplicações, desde Pen (D) imagens.
Drives, até cartões de memória para câmeras digitais, e, mesmo os (E) programas.
discos rígidos possuem uma certa quantidade desse tipo de memó-
ria funcionando como buffer. Comentários: O Windows Explorer, mostra de forma bem cla-
A gravação das informações em um dispositivo de armazena- ra a organização por meio de PASTAS, que nada mais são do que
mento por meio eletrônico se dá através dos materiais utilizados compartimentos que ajudam a organizar os arquivos em endereços
na fabricação dos chips que armazenam as informações. Para cada específicos, como se fosse um sistema de armário e gavetas.
dígito binário (bit) a ser armazenado nesse tipo de dispositivo exis- Resposta: Letra B
tem duas portas feitas de material semicondutor, a porta flutuante e
a porta de controle. Entre estas duas portas existe uma pequena ca- 3- Um item selecionado do Windows XP pode ser excluído
mada de óxido, que quando carregada com elétrons representa um permanentemente, sem colocá-Lo na Lixeira, pressionando-se si-
bit 1 e quando descarregada representa um bit 0. Esta tecnologia é multaneamente as teclas
semelhante à tecnologia utilizada nas memórias RAM do tipo di- (A) Ctrl + Delete.
nâmica, mas pode reter informação por longos períodos de tempo, (B) Shift + End.
por isso não é considerada uma memória RAM propriamente dita. (C) Shift + Delete.
Os dispositivos de armazenamento por meio eletrônico tem (D) Ctrl + End.
a vantagem de possuir um tempo de acesso muito menor que os (E) Ctrl + X.
dispositivos por meio magnético, por não conterem partes móveis.
O principal ponto negativo desta tecnologia é o seu custo ainda Comentário: Quando desejamos excluir permanentemente um
muito alto, portanto dispositivos de armazenamento por meio ele- arquivo ou pasta no Windows sem enviar antes para a lixeira, bas-
trônico ainda são encontrados com pequenas capacidades de arma- ta pressionarmos a tecla Shift em conjunto com a tecla Delete. O
zenamento e custo muito elevado se comparados aos dispositivos Windows exibirá uma mensagem do tipo “Você tem certeza que
magnéticos. deseja excluir permanentemente este arquivo?” ao invés de “Você
tem certeza que deseja enviar este arquivo para a lixeira?”.
Questões Comentadas Resposta: C

1- Com relação ao sistema operacional Windows, assinale a 4- Qual a técnica que permite reduzir o tamanho de arquivos,
opção correta. sem que haja perda de informação?
(A) A desinstalação de um aplicativo no Windows deve ser (A) Compactação
feita a partir de opção equivalente do Painel de Controle, de modo (B) Deleção
a garantir a correta remoção dos arquivos relacionados ao aplicati- (C) Criptografia
vo, sem prejuízo ao sistema operacional. (D) Minimização
(B) O acionamento simultâneo das teclas CTRL, ALT e DE- (E) Encolhimento adaptativo
LETE constitui ferramenta poderosa de acesso direto aos diretó-
rios de programas instalados na máquina em uso. Comentários: A compactação de arquivos é uma técnica am-
(C) O Windows oferece acesso facilitado a usuários de um plamente utilizada. Alguns arquivos compactados podem conter
computador, pois bastam o nome do usuário e a senha da máquina extensões ZIP, TAR, GZ, RAR e alguns exemplos de programas
para se ter acesso às contas dos demais usuários possivelmente compactadores são o WinZip, WinRar, SolusZip, etc.
cadastrados nessa máquina. Resposta: A
(D) O Windows oferece um conjunto de acessórios disponí-
veis por meio da instalação do pacote Office, entre eles, calculado- 5- A figura a seguir foi extraída do MS-Excel:
ra, bloco de notas, WordPad e Paint.
(E) O comando Fazer Logoff, disponível a partir do botão Ini-
ciar do Windows, oferece a opção de se encerrar o Windows, dar
saída no usuário correntemente em uso na máquina e, em seguida,
desligar o computador.

Comentários: Para desinstalar um programa de forma segura


deve-se acessar Painel de Controle / Adicionar ou remover pro-
gramas  
Resposta – Letra A Se o conteúdo da célula D1 for copiado (Ctrl+C) e colado
(Ctrl+V) na célula D3, seu valor será:
2- Nos sistemas operacionais como o Windows, as informa- (A) 7
ções estão contidas em arquivos de vários formatos, que são arma- (B) 56
zenados no disco fixo ou em outros tipos de mídias removíveis do (C) 448
computador, organizados em: (D) 511
(A) telas. (E) uma mensagem de erro
(B) pastas.  

Didatismo e Conhecimento 109


NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Comentários: temos que D1=SOMA(A1:C1). Quando copia- A questão cita o Yahoo Mail, mas este é um WEBMAIL, ou
mos uma célula que contém uma fórmula e colamos em outra célu- seja, não é instalado no computador local. Logo, é o gabarito da
la, a fórmula mudará ajustando-se à nova posição. Veja como saber questão.
como ficará a nova fórmula ao ser copiada de D1 para D3: Resposta: B.
 
7- Sobre os conceitos de utilização da Internet e correio ele-
trônico, analise:
I. A URL digitada na barra de Endereço é usada pelos navega-
dores da Web (Internet Explorer, Mozilla e Google Chrome) para
localizar recursos e páginas da Internet (Exemplo: http://www.
google.com.br).
II. Download significa descarregar ou baixar; é a transferência
de dados de um servidor ou computador remoto para um compu-
tador local.
III. Upload é a transferência de dados de um computador local
para um servidor ou computador remoto.
Agora é só substituir os valores: A fórmula diz para somar IV. Anexar um arquivo em mensagem de e-mail significa mo-
todas as células de A3 até C3(dois pontos significam ‘até’), sendo vê-lo definitivamente da máquina local, para envio a um destinatá-
assim teremos que somar A3,  , B3, C3 obtendo-se o resultado 448. rio, com endereço eletrônico.
Resposta: C. Estão corretas apenas as afirmativas:
A) I, II, III, IV
6- “O correio eletrônico é um método que permite compor, B) I, II
enviar e receber mensagens através de sistemas eletrônicos de co- C) I, II, III
municação”. São softwares gerenciadores de email, EXCETO: D) I, II, IV
A) Mozilla Thunderbird. E) I, III, IV
B) Yahoo Messenger. Comentários: O URL é o endereço (único) de um recurso na
C) Outlook Express. Internet. A questão parece diferenciar um recurso de página, mas
D) IncrediMail. na verdade uma página é um recurso (o mais conhecido, creio) da
E) Microsoft Office Outlook 2003. Web. Item verdadeiro.
É comum confundir os itens II e III, por isso memorize: down
Comentários: Podemos citar vários gerenciadores de e-mail = baixo = baixar para sua máquina, descarregar. II e III são ver-
(eletronic mail ou correio eletrônico), mas devemos memorizar dadeiros.
que os sistemas que trabalham o correio eletrônico podem fun-
cionar por meio de um software instalado em nosso computador
local ou por meio de um programa que funciona dentro de um
navegador, via acesso por Internet. Este programa da Internet, que
não precisa ser instalado, e é chamado de WEBMAIL, enquanto o
software local é o gerenciador de e-mail citado pela questão.
Principais Vantagens do Gerenciador de e-mail:
• Pode ler e escrever mensagens mesmo quando está des-
conectado da Internet;
• Permite armazenar as mensagens localmente (no com-
putador local);
• Permite utilizar várias caixas de e-mail ao mesmo tempo;
Maiores Desvantagens: No item IV encontramos o item falso da questão, o que nos
• Ocupam espaço em disco; leva ao gabarito – letra C. Anexar um arquivo em mensagem de
• Compatibilidade com os servidores de e-mail (nem sem- e-mail significa copiar e não mover!
pre são compatíveis). Resposta: C.
A seguir, uma lista de gerenciadores de e-mail (em negrito os
mais conhecidos e utilizados atualmente): 8- A respeito dos modos de utilização de aplicativos do am-
Microsoft Office Outlook biente MS Office, assinale a opção correta.
Microsoft Outlook Express; (A) Ao se clicar no nome de um documento gravado com a
Mozilla Thunderbird; extensão .xls a partir do Meu Computador, o Windows ativa o MS
IcrediMail Access para a abertura do documento em tela.
Eudora (B) As opções Copiar e Colar, que podem ser obtidas ao
Pegasus Mail se acionar simultaneamente as teclas CTRL + C e CTRL +
Apple Mail (Apple) V,respectivamente, estão disponíveis no menu Editar de todos os
Kmail (Linux) aplicativos da suíte MS Office.
Windows Mail

Didatismo e Conhecimento 110


NOÇÕES DE INFORMÁTICA
(C) A opção Salvar Como, disponível no menu das aplicações letra E – Incorreto – Um servidor é um sistema de computação
do MS Office, permite que o usuário salve o documento corren- que fornece serviços a uma rede de computadores. E não necessa-
temente aberto com outro nome. Nesse caso, a versão antiga do riamente armazena nomes de usuários e/ou restringe acessos.
documento é apagada e só a nova versão permanece armazenada Resposta: D
no computador.
(D) O menu Exibir permite a visualização do documento aber- 10- Com relação à Internet, assinale a opção correta.
to correntemente, por exemplo, no formato do MS Word para ser (A) A URL é o endereço físico de uma máquina na Internet,
aberto no MS PowerPoint. pois, por esse endereço, determina-se a cidade onde está localizada
(E) Uma das vantagens de se utilizar o MS Word é a elabora- tal máquina.
ção de apresentações de slides que utilizem conteúdo e imagens de (B) O SMTP é um serviço que permite a vários usuários se co-
maneira estruturada e organizada. nectarem a uma mesma máquina simultaneamente, como no caso
de salas de bate-papo.
Comentários: O menu editar geralmente contém os comandos (C) O servidor Pop é o responsável pelo envio e recebimento
universais dos programas da Microsoft como é o caso dos atalhos de arquivos na Internet.
CTRL + C, CTRL + V, CTRL + X, além do localizar. (D) Quando se digita o endereço de uma página web, o termo
Em relação às outras letras: http significa o protocolo de acesso a páginas em formato HTML,
Letra A – Incorreto – A extensão .xls abre o aplicativo Excel por exemplo.
e não o Access (E) O protocolo FTP é utilizado quando um usuário de correio
Letra C – Incorreto – A opção salvar como, cria uma cópia do eletrônico envia uma mensagem com anexo para outro destinatário
arquivo corrente e não apaga a sua versão antiga. de correio eletrônico.
Letra D – Incorreto – O menu exibir mostra formas de exibi- Comentários: Os itens apresentados nessa questão estão rela-
ção do documento dentro do contexto de cada programa e não de cionados a protocolos de acesso. Segue abaixo os protocolos mais
um programa para o outro como é o caso da afirmativa. comuns:
Letra E – Incorreto – O Ms Word não faz apresentação de - HTTP(Hypertext Transfer Protocol) – Protocole de carrega-
slides e sim o Ms Power Point. mento de páginas de Hipertexto –  HTML
Resposta: B
- IP (Internet Protocol) – Identificação lógica de uma máquina
na rede
9- Com relação a conceitos de Internet e  intranet, assinale a
- POP (Post Office Protocol) – Protocolo de recebimento de
opção correta.
emails direto no PC via gerenciador de emails
(A) Domínio é o nome dado a um servidor que controla a en-
- SMTP (Simple Mail Transfer Protocol) – Protocolo padrão
trada e a saída de conteúdo em uma rede, como ocorre na Internet.
de envio de emails
(B) A intranet só pode ser acessada por usuários da Internet
- IMAP(Internet Message Access Protocol) – Semelhante ao
que possuam uma conexão http, ao digitarem na barra de endere-
ços do navegador: http://intranet.com. POP, no entanto, possui mais recursos e dá ao usuário a possibili-
(C) Um modem ADSL não pode ser utilizado em uma rede dade de armazenamento e acesso a suas mensagens de email direto
local, pois sua função é conectar um computador à rede de tele- no servidor.
fonia fixa. - FTP(File Transfer Protocol) – Protocolo para transferência
(D) O modelo cliente/servidor, em que uma máquina denomi- de arquivos
nada cliente requisita serviços a outra, denominada servidor, ainda Resposta: D
é o atual paradigma de acesso à Internet.
(E) Um servidor de páginas web é a máquina que armazena 11- Quanto ao Windows Explorer, assinale a opção correta.
os nomes dos usuários que possuem permissão de acesso a uma (A) O Windows Explorer é utilizado para gerenciar pastas e
quantidade restrita de páginas da Internet. arquivos e por seu intermédio não é possível acessar o Painel de
Comentários: O modelo cliente/servidor é questionado em ter- Controle, o qual só pode ser acessado pelo botão Iniciar do Win-
mos de internet pois não é tão robusto quanto redes P2P pois, en- dows.
quanto no primeiro modelo uma queda do servidor central impede (B) Para se obter a listagem completa dos arquivos salvos em
o acesso aos usuários clientes, no segundo mesmo que um servidor um diretório, exibindo-se tamanho, tipo e data de modificação,
“caia” outros servidores ainda darão acesso ao mesmo conteúdo deve-se selecionar Detalhes nas opções de Modos de Exibição.
permitindo que o download continue. Ex: programas torrent, Emu- (C) No Windows Explorer, o item Meus Locais de Rede ofere-
le, Limeware, etc. ce um histórico de páginas visitadas na Internet para acesso direto
Em relação às outras letras: a elas.
letra A – Incorreto – Domínio é um nome que serve para loca- (D) Quando um arquivo estiver aberto no Windows e a opção
lizar e identificar conjuntos de computadores na Internet e corres- Renomear for acionada no Windows Explorer com o botão direito
ponde ao endereço que digitamos no navegador. do mouse,será salva uma nova versão do arquivo e a anterior con-
letra B – Incorreto – A intranet é acessada da mesma forma tinuará aberta com o nome antigo.
que a internet, contudo, o ambiente de acesso a rede é restrito a (E) Para se encontrar arquivos armazenados na estrutura de
uma rede local e não a internet como um todo. diretórios do Windows, deve-se utilizar o sítio de busca Google,
letra C – Incorreto – O modem ADSL conecta o computador pois é ele que dá acesso a todos os diretórios de máquinas ligadas
a internet, como o acesso a intranet se faz da mesma forma só que à Internet.
de maneira local, o acesso via ADSL pode sim acessar redes locais.

Didatismo e Conhecimento 111


NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Comentários: Na opção Modos de Exibição, os arquivos são Comentários: Claro que, para se enviar arquivos pelo correio
mostrados de várias formas como Listas, Miniaturas e Detalhes. eletrônico deve-se recorrer ao uso de anexação, ou seja, anexar o
Resposta: B arquivo à mensagem. Quando colocamos os endereços dos desti-
natários no campo Cco, ou seja, no campo “com cópia oculta”, um
Atenção: Para responder às questões de números 12 e 13, destinatário não ficará sabendo quem mais recebeu aquela mensa-
considere integralmente o texto abaixo: gem, o que atende a segurança solicitada no enunciado.
Todos os textos produzidos no editor de textos padrão deverão Resposta: A
ser publicados em rede interna de uso exclusivo do órgão, com
tecnologia semelhante à usada na rede mundial de computadores. 14. (Caixa Econômica Federal - Técnico Bancário Novo -
Antes da impressão e/ou da publicação os textos deverão ser CESGRANRIO/2012) Usado para o manuseio de arquivos em
verificados para que não contenham erros. Alguns artigos digita- lotes, também denominados scripts, o shell de comando é um
dos deverão conter a imagem dos resultados obtidos em planilhas programa que fornece comunicação entre o usuário e o sistema
eletrônicas, ou seja, linhas, colunas, valores e totais. operacional de forma direta e independente. Nos sistemas ope-
Todo trabalho produzido deverá ser salvo e cuidados devem racionais Windows XP, esse programa pode ser acessado por
ser tomados para a recuperação em caso de perda e também para meio de um comando da pasta Acessórios denominado
evitar o acesso por pessoas não autorizadas às informações guar- (A) Prompt de Comando
dadas. (B) Comandos de Sistema
Os funcionários serão estimulados a realizar pesquisas na in- (C) Agendador de Tarefas
ternet visando o atendimento do nível de qualidade da informação (D) Acesso Independente
prestada à sociedade, pelo órgão. (E) Acesso Direto
O ambiente operacional de computação disponível para rea- Resposta: “A”
lizar estas operações envolve o uso do MS-Windows, do MS-Offi- Comentários
ce, das ferramentas Internet Explorer e de correio eletrônico, em Prompt de Comando é um recurso do Windows que oferece
português e em suas versões padrões mais utilizadas atualmente. um ponto de entrada para a digitação de comandos do MSDOS
Observação: Entenda-se por mídia removível disquetes, CD’s (Microsoft Disk Operating System) e outros comandos do com-
e DVD’s graváveis, Pen Drives (mídia removível acoplada em por- putador. O mais importante é o fato de que, ao digitar comandos,
tas do tipo USB) e outras funcionalmente semelhantes. você pode executar tarefas no computador sem usar a interface
gráfica do Windows. O Prompt de Comando é normalmente usado
12- As células que contêm cálculos feitos na planilha eletrô- apenas por usuários avançados.
nica,
(A) quando “coladas” no editor de textos, apresentarão resul- 15. (Caixa Econômica Federal - Técnico Bancário Novo
tados diferentes do original. - CESGRANRIO/2012) Seja o texto a seguir digitado no apli-
(B) não podem ser “coladas” no editor de textos. cativo Word. Aplicativos para edição de textos. Aplicando-se
(C) somente podem ser copiadas para o editor de textos dentro a esse texto o efeito de fonte Tachado, o resultado obtido será
de um limite máximo de dez linhas e cinco colunas.
(D) só podem ser copiadas para o editor de texto uma a uma.
(E) quando integralmente selecionadas, copiadas e “coladas”
no editor de textos, serão exibidas na forma de tabela.
 
Comentários: Sempre que se copia células de uma planilha
eletrônica e cola-se no Word, estas se apresentam como uma tabe-
la simples, onde as fórmulas são esquecidas e só os números são
colados. Resposta: “C”
Resposta: E Comentários:
Temos 3 itens com a formatação taxado aplicada: c, d, e. En-
13- O envio do arquivo que contém o texto, por meio do cor- tretanto, temos que observar que na questão os itens d, e, além de
reio eletrônico, deve considerar as operações de receberem taxado, também ficaram em caixa alta. O único que re-
(A) anexação de arquivos e de inserção dos endereços eletrô- cebe apenas o taxada, sem alterar outras formatações foi o item c.
nicos dos destinatários no campo “Cco”.
(B) de desanexação de arquivos e de inserção dos endereços 16. (Caixa Econômica Federal - Técnico Bancário Novo -
eletrônicos dos destinatários no campo “Para”. CESGRANRIO/2012) O envio e o recebimento de um arquivo
(C) de anexação de arquivos e de inserção dos endereços ele- de textos ou de imagens na internet, entre um servidor e um
trônicos dos destinatários no campo “Cc”. cliente, constituem, em relação ao cliente, respectivamente, um
(D) de desanexação de arquivos e de inserção dos endereços (A) download e um upload
eletrônicos dos destinatários no campo “Cco”. (B) downgrade e um upgrade
(E) de anexação de arquivos e de inserção dos endereços ele- (C) downfile e um upfile
trônicos dos destinatários no campo “Para”. (D) upgrade e um downgrade
  (E) upload e um download
Resposta: “E”.

Didatismo e Conhecimento 112


NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Comentários: 19- (SPPREV – Técnico – Vunesp/2011 – II)
 Up – Cima / Down – baixo  / Load – Carregar;
Upload – Carregar para cima (enviar).
Download – Carregar para baixo (receber ou “baixar”)

17- (TJ/SP – Escrevente Téc. Jud. – Vunesp/2011) Assinale


a alternativa que contém os nomes dos menus do programa
Microsoft Word XP, em sua configuração padrão, que, respec-
tivamente, permitem aos usuários: (I) numerar as páginas do
documento, (II) contar as palavras de um parágrafo e (III) adi-
cionar um cabeçalho ao texto em edição.
a) Janela, Ferramentas e Inserir.
b) Inserir, Ferramentas e Exibir.
c) Formatar, Editar e Janela. a) 1
d) Arquivo, Exibir e Formatar. b) 2
e) Arquivo, Ferramentas e Tabela. c) 3
Resposta: “B” d) 4
Comentário: e) 5
• Ação numerar - “INSERIR” Resposta: “D”
• Ação contar paginas - “FERRAMENTAS” Comentário:
• Ação adicionar cabeçalho - “EXIBIR” Passo 1
A célula A1 contém a fórmula =B$1+C1
18- (TJ/SP – Escrevente Téc. Jud. – Vunesp/2011)

Passo 2
que foi propagada pela alça de preenchimento para A2 e A3

a) 3, 0 e 7.
b) 5, 0 e 7.
c) 5, 1 e 2.
d) 7, 5 e 2.
e) 8, 3 e 4.
Resposta: “C”
Comentário:
Expressão =MÉDIA(A1:A3)
São somadas as celular A1, A2 e A3, sendo uma média é divi-
dido por 3 (pois tem 3 células): (8+3+4)/3 = 5
Expressão =MENOR(B1:B3;2) Click na imagem para melhor visualizar
Da célula B1 até a B3, deve mostrar o 2º menor número, que Passo 3
seria o número 1. Para facilitar coloque esses números em ordem Assim, a célula com interrogação (A3) apresenta, após a pro-
crescente. pagação, o resultado
Expressão =MAIOR(C1:C3;3)
Da célula C1 até a C3, deve mostrar o 3º maior número, que
seria o número 2. Para facilitar coloque esses números em ordem
decrescente.

Didatismo e Conhecimento 113


NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Assinale a alternativa que contém apenas os indicadores


de tabulação.
(A) II, III, IV e V.
(B) III e VI.
(C) I, IV e V.
(D) III, IV e V.
20- (SPPREV – Técnico – Vunesp/2011 - II) No PowerPoint (E) I, II e VI.
2007, a inserção de um novo comentário pode ser feita na guia Resposta: D
a) Geral. Comentário:
b) Inserir.
c) Animações.
d) Apresentação de slides.
e) Revisão.
Resposta: “E”
Comentário:

Você pode usar a régua para definir tabulações manuais no


lado esquerdo, no meio e no lado direito do documento.
Obs.: Se a régua horizontal localizada no topo do documento
não estiver sendo exibida, clique no botão Exibir Régua no topo
21- (SPPREV – Técnico – Vunesp/2011 - II) No âmbito da barra de rolagem vertical.
das URLs, considere o exemplo: protocolo://xxx.yyy.zzz.br. O É possível definir tabulações rapidamente clicando no seletor
domínio de topo (ou TLD, conforme sigla em inglês) utilizado de tabulação na extremidade esquerda da régua até que ela exiba
para classificar o tipo de instituição, no exemplo dado acima, o tipo de tabulação que você deseja. Em seguida, clique na régua
éo no local desejado.
a) protocolo. Uma tabulação Direita define a extremidade do texto à direi-
b) xxx. ta. Conforme você digita, o texto é movido para a esquerda.
c) zzz. Uma tabulação Decimal alinha números ao redor de um pon-
d) yyy. to decimal. Independentemente do numero de dígitos, o ponto de-
e) br. cimal ficará na mesma posição.
Resposta: “C” Uma tabulação Barra não posiciona o texto. Ela insere uma
Comentários: barra vertical na posição de tabulação.
a) protocolo. protocolo HTTP
b) xxx. o nome do domínio 23. (TJ/SP – Escrevente Téc. Jud. – Vunesp/2012) Uma
c) zzz. o tipo de domínio planilha do Microsoft Excel, na sua configuração padrão, pos-
d) yyy. subdomínios sui os seguintes valores nas células: B1=4, B2=1 e B3=3. A fór-
e) br. indicação do país ao qual pertence o domínio mula =ARRED(MÍNIMO(SOMA (B1:B3)/3;2,7);2) inserida
na célula B5 apresentará o seguinte resultado:
22. (TJ/SP – Escrevente Téc. Jud. – Vunesp/2012) Analise a (A) 2
régua horizontal do Microsoft Word, na sua configuração pa- (B) 1,66
drão, exibida na figura. (C) 2,667
(D) 2,7
(E) 2,67
Resposta: E
Comentário:

Didatismo e Conhecimento 114


NOÇÕES DE INFORMÁTICA

24. (TJ/SP – Escrevente Téc. Jud. – Vunesp/2012) O arqui-


vo zaSetup_en se encontra
(A) no disquete.
(B) no DVD.
(C) em Meus documentos.
(D) no Desktop.
(E) na raiz do disco rígido.
Resposta: E
Comentário:
No Windows Explorer, você pode ver a hierarquia das pastas
em seu computador e todos os arquivos e pastas localizados em
cada pasta selecionada. Ele é especialmente útil para copiar e
mover arquivos.
Ele é composto de uma janela dividida em dois painéis: O
painel da esquerda é uma árvore de pastas hierarquizada que
mostra todas as unidades de disco, a Lixeira, a área de trabalho
ou Desktop (também tratada como uma pasta); O painel da direita
exibe o conteúdo do item selecionado à esquerda e funciona de
maneira idêntica às janelas do Meu Computador (no Meu Com-
putador, como padrão ele traz a janela sem divisão, as é possível
dividi-la também clicando no ícone Pastas na Barra de Ferra-
mentas)
Nesta questão, foram colocadas várias funções, destrincha-
das no exemplo acima (arredondamento, mínimo e somatório) em 25. (TJ/SP – Escrevente Téc. Jud. – Vunesp/2012) Ao se
uma única questão. A função ARRED é para arredondamento e
pertence a mesma família de INT(parte inteira) e TRUNCAR (par-
te do valor sem arredondamento). A resposta está no item 2 que in- clicar em , localizado abaixo do menu Favoritos, será
dica a quantidade de casas decimais. Sendo duas casas decimais,
não poderia ser letra A, C ou D. A função SOMA efetua a soma fechado
das três células (B1:B3->B1 até B3). A função MÍNIMO descobre (A) o Meu computador.
o menor entre os dois valores informados (2,66666 - dízima pe- (B) o Disco Local (C:).
riódica - e 2,7). A função ARRED arredonda o número com duas (C) o painel Pastas.
casas decimais. (D) Meus documentos.
Considere a figura que mostra o Windows Explorer do Mi- (E) o painel de arquivos.
crosoft Windows XP, em sua configuração original, e responda Resposta: C
às questões de números 24 e 25. Comentário:

Didatismo e Conhecimento 115


NOÇÕES DE INFORMÁTICA

ANOTAÇÕES

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Este botão, contido na barra de ferramentas, exibe/ oculta o
painel PASTAS. —————————————————————————
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ANOTAÇÕES
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Didatismo e Conhecimento 116


NOÇÕES DE INFORMÁTICA

ANOTAÇÕES

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NOÇÕES DE INFORMÁTICA

ANOTAÇÕES

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