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APRESENTAÇÃO

Caro(a) Aluno(a),

A preparação para concursos públicos exige profissionalismo, métrica e


inteligência. Cada minuto despendido deve ser bem gasto! Por isso, uma
preparação direcionada, focada nos pontos com maior probabilidade de
cobrança no seu certame, pode representar a diferença entre aprovação e
reprovação.

Ciente disso, a Ad Verum Suporte Educacional, empresa do Grupo CERS


ONLINE, concebeu o curso INTELIGÊNCIA PDF – CARREIRAS JURÍDICAS,
que tem por premissa fundamental “atacar” os pontos nucleares de cada matéria,
com vistas a antecipação dos temas com maiores chances de cobrança em sua
prova.

Fazer isso não é tarefa fácil! É necessário um árduo esforço de pesquisa,


levando-se em consideração fatores como banca examinadora e respectivos
membros (sempre que possível), retrospecto do concurso, recorrência temática
dentro de cada disciplina, importância de cada tema, momento da segurança
pública do país, dentre tantos outros, aliados a experiência de Professores de
projeção nacional, com larguíssima experiência na análise do perfil dos mais
diferentes certames.

Para tornar tudo isso uma realidade, a Ad Verum investiu muito em seu Método
de Aceleração de Aprendizagem (MAVAA). Hoje, contamos com um SETOR DE
INTELIGÊNCIA, responsável por ampla coleta de dados e informações das mais
diferentes fontes relacionadas ao universo de cada concurso e/ou exame
profissional, de modo, a partir do processamento dos dados coletados, oferecer
aos seus alunos uma experiência diferenciada quando comparada a tudo que
ele conhece em matéria de preparação para carreiras públicas.

Racionalizar o estudo do aluno é mais que um objetivo para Ad Verum, trata-se


de uma obsessão.

Estude inteligente, estude Ad Verum!

Francisco Penante
CEO Ad Verum Suporte Educacional
SUMÁRIO

1. TEORIA GERAL DA CONSTITUIÇÃO .......................................................... 3


1.1 Direito Constitucional ................................................................................ 3
1.2 Constitucionalismo .................................................................................... 3
1.3 Neoconstitucionalismo .............................................................................. 4
1.4 Conceito de Constituição .......................................................................... 5
1.5 Concepções sobre o que é a Constituição ................................................ 5
1.5.1 Concepções Clássicas........................................................................ 5
1.5.2 Concepções modernas ....................................................................... 7
1.6 Classificação das Constituições ................................................................ 9
1.6.1 Quanto ao conteúdo: .......................................................................... 9
1.6.2 Quanto à forma: ................................................................................ 10
1.6.3 Quanto à origem: .............................................................................. 10
1.6.4 Quanto à estabilidade: ...................................................................... 10
1.6.5 Quanto à extensão:........................................................................... 10
1.6.6 Quanto à finalidade: .......................................................................... 11
2. EFICÁCIA E APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS: ..... 13
3. PODER CONSTITUINTE: ............................................................................ 15
3.1 Titularidade do Poder Constituinte .......................................................... 16
3.2 Poder Constituinte Originário .................................................................. 16
3.3 Poder Constituinte Derivado ................................................................... 17
3.3.1 Poder Constituinte Derivado Reformador ......................................... 17
3.3.2 Poder Constituinte Derivado Decorrente .......................................... 17
3.3.3 Limitações ao Poder Constituinte Derivado ...................................... 17
4. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS: ............................................ 21
4.1 Eficácia dos Direitos Fundamentais ........................................................ 22
4.1.1 Eficácia Vertical dos Direitos Fundamentais ..................................... 22
4.1.2 Eficácia Horizontal dos Direitos Fundamentais ................................. 22
4.1.3 Eficácia Diagonal .............................................................................. 22
4.1.4 Eficácia Irradiante ............................................................................. 22
4.2 Incorporação de Tratados de Direitos Humanos ..................................... 23
4.3 Caráter relativo dos Direitos Fundamentais ............................................ 23

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4.4 Incidente de deslocamento de competência ........................................... 23
5. DIREITOS SOCIAIS, NACIONALIDADE e DIREITOS POLÍTICOS:........... 26
6. PODER LEGISLATIVO: FUNDAMENTO, ATRIBUIÇÕES E GARANTIAS
DE INDEPENDÊNCIA ...................................................................................... 30
7. PROCESSO LEGISLATIVO: FUNDAMENTO E GARANTIAS DE
INDEPENDÊNCIA, CONCEITO, OBJETOS, ATOS E PROCEDIMENTOS .... 37
8. PODER EXECUTIVO ................................................................................... 42
8.1 Forma e sistema de governo................................................................... 42
8.2 Atribuições e responsabilidades do Presidente da República ................. 43
9. PODER JUDICIÁRIO ................................................................................... 47
9.1 Disposições gerais .................................................................................. 47
9.2 Supremo Tribunal Federal....................................................................... 47
9.3 Superior Tribunal de Justiça.................................................................... 49
9.4 Tribunais regionais federais e juízes federais ......................................... 49
9.5 Tribunais e juízes dos estados ................................................................ 50
9.6 Funções essenciais à justiça................................................................... 50
10. ORGANIZAÇÃO DO ESTADO .................................................................. 54
10.2 Intervenção ........................................................................................... 61
10.3 Repartição de Competências: ............................................................... 63
11. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE ............................................. 65
11.1 Espécies de Controle de Constitucionalidade: ...................................... 65
11.2 Sistema de Controle de Constitucionalidade adotado no Brasil: ........... 65
11.3 Ações do Controle Concentrado: .......................................................... 67
11.3.1. Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) ................................... 67
11.3.2. Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC) .......................... 69
11.3.3. Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO) ............ 69
11.3.4. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) .. 70

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1. TEORIA GERAL DA CONSTITUIÇÃO

1.1 Direito Constitucional

Segundo José Afonso da Silva, o “Direito” é fenômeno histórico-cultural,


realidade ordenada ou ordenação normativa da conduta segundo uma conexão
de sentido. Consiste num sistema normativo. O direito constitucional é um ramo
do direito público que busca estudar toda a teoria que envolve as constituições,
como também o direito constitucional positivo. Trata-se de ciência encarregada
de estudar a Teoria das Constituições e o ordenamento positivos dos Estados
(BULOS, 2010, p. 56).

O direito constitucional configura-se como Direito Público Fundamental por


referir-se diretamente à organização e funcionamento do Estado, à articulação
dos elementos primários do deste e ao estabelecimento das bases da
estrutura política. Segundo José Afonso da Silva, trata-se do ramo do Direito
Público que expõe, interpreta e sistematiza os princípios e normas
fundamentais do Estado.

A doutrina comumente costuma dividir o direito constitucional em 03 ramos


diversos:

a) Direito Constitucional Positivo: neste ponto, visa-se o estudo dos


princípios e normas de uma Constituição em pleno vigor, com ênfase em seu
texto positivo.
b) Direito Constitucional Comparado: busca-se o estudo dos diversos
diplomas constitucionais espalhados pelo globo, tendo por escopo realizar
comparações entre os diversos textos normativos.
c) Direito Constitucional Geral: trata-se da estipulação de princípios e
diversos conceitos aplicáveis a diversas Constituições, buscando-se classificá-
los e sistematizá-los.

1.2 Constitucionalismo

O constitucionalismo trata-se de movimento que busca principalmente a


limitação do poder estatal. André Ramos Tavares sintetiza que “numa primeira
acepção, emprega-se a referência ao movimento político-social com origens
históricas bastante remotas, que pretende, em especial, limitar o poder
arbitrário. Numa segunda acepção, é identificado com a imposição de que haja
cartas constitucionais escritas. Tem-se utilizado, numa terceira acepção
possível, para indicar os propósitos mais latentes e atuais da função e posição
das constituições nas diversas sociedades. Numa vertente mais restrita, o

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constitucionalismo é reduzido a evolução histórico-constitucional de um
determinado Estado”.1

O Constitucionalismo está alicerçado em três pilares fundamentais:


a) Garantia de direitos;
b) Separação de poderes;
c) Governo limitado.

1.3 Neoconstitucionalismo

O fenômeno em epígrafe fora desencadeado após a Segunda Grande Guerra


Mundial, havendo uma reflexão sobre tudo o que aconteceu durante o conflito
global, passando-se a dar ênfase à questão da dignidade da pessoa humana,
colocando o ser humano no centro dos planos do Estado, tendo em vista que
não é um objeto mas, sim, titular de direitos e garantias que são inerentes à
condição humana que titularizam.

Neste período pós conflito, houve uma reaproximação entre o direito e a moral,
tendo em vista que, durante o conflito armado, o positivismo vigorava e tornava
o direito um fim em si mesmo, não se admitindo nenhuma espécie de influência
externa, pois o direito deve ser puro.

As constituições que surgiram no pós-guerra são marcadas por um alto grau de


teor axiológico, tendo em vista a incidência principiológica que passou a
imperar. Outra característica de tais diplomas magnos é a abertura e a
indeterminação semântica, devendo o Poder Judiciário utilizar-se de métodos
hermenêuticos para a aplicação de suas normas.

As principais características do Neoconstitucionalismo são: a) valorização dos


princípios; b) adoção de métodos ou estilos mais abertos e flexíveis na
hermenêutica jurídica, com destaque para a ponderação; c) abertura da
argumentação jurídica à moral; d) reconhecimento e defesa da
constitucionalização do direito; e) papel de destaque do Judiciário na agenda
de concretização dos valores constitucionais.

1
TAVARES, André Ramos. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Editora Saraiva, 2006.

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1.4 Conceito de Constituição

A Constituição trata-se do documento máximo de um Estado que visa


estabelecer e organizar os seus órgãos e poderes, além de fixar um rol de
direitos e garantias fundamentais.

Do ponto de vista jurídico, a Constituição é o documento que estabelece e


disciplina o conjunto de elementos essenciais do Estado. Logo, na formação do
Estado, dever-se-á tratar de seus elementos: humano – povo, físico – território
e político – soberania ou governo. Há doutrinadores que acrescentam um 4º
elemento que é a finalidade. Todos estes elementos do Estado serão tratados
pela Constituição.

1.5 Concepções sobre o que é a Constituição

A Constituição do Estado, considerada sua lei fundamental, é o documento que


organiza os seus elementos essenciais: um sistema de normas jurídicas,
escritas ou costumeiras, que regula a forma de Estado, a forma de seu
governo, o modo de aquisição e o exercício do poder, o estabelecimento de
seus órgãos, os limites de sua ação, os direitos fundamentais do homem e as
respectivas garantias. Em síntese, a constituição é o conjunto de normas que
organiza os elementos constitutivos do Estado. 2

1.5.1 Concepções Clássicas

a) Concepção Sociológica- Ferdinand Lassale

A Constituição é, em essência, a soma dos fatores reais de poder que regem


um determinado Estado. A Constituição não é um mero produto da razão, algo
inventado pelo homem, mas, sim, o resultado concreto do relacionamento entre
as forças sociais. Nesta concepção, observa-se que, caso a Constituição não
materialize as forças que dominam a sociedade, tal documento não passará de
uma mera “folha de papel”, algo sem importância.

As características do enfoque sociológico são: 1) a Constituição é vista mais


como fato do que como norma, pois prioriza-se a perspectiva do ser e não a
do dever-ser; 2) A Constituição não está sustentada numa normatividade
superior transcendente (como seria o direito natural), mas baseada nas
práticas desenvolvidas na sociedade.

2
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo: Malheiros, 2015.

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b) Concepção Política – Carl Schmitt

A Constituição significa a decisão política fundamental. Logo, há diferença


entre Constituição e lei constitucional. A Constituição resulta da manifestação
de um poder constituinte que, por intermédio de uma decisão política
fundamental, crie e organize o Estado.

A Constituição limitar-se-ia, portanto, a disciplinar a forma de Estado, a forma


de governo, o sistema de governo, o regime de governo, a organização e
divisão dos poderes e o rol de direitos individuais.

As leis constitucionais, por sua vez, são todas aquelas normas inscritas na
Constituição, mas que não têm a natureza de decisão política fundamental.
Estas só se tornam constitucionais em virtude do documento em que estão
inseridas. As matérias tratadas por elas poderiam ser disciplinadas pela
legislação ordinária.

Na concepção política, o conteúdo próprio da Constituição é simplesmente


aquilo que diga respeito à estrutura básica do Estado, à sua conformação
fundamental.

DPF - CESPE| 2013: No que se refere à CF e ao poder


constituinte originário, julgue o item subsequente. No sentido
V sociológico, a CF reflete a somatória dos fatores reais do poder
em uma sociedade.

c) Concepção Jurídica – Hans Kelsen

Em seu livro “Teoria Pura do Direito”, Kelsen afirma que a Constituição é norma
pura, é um dever, não havendo fundamento sociológico ou político, é pura
norma. Neste enfoque, há dois sentidos à palavra constituição:

a) Jurídico-Positivo: direito positivo é norma escrita ou posta pelo homem


(pirâmide das leis – princípio da compatibilidade vertical entre as normas
inferiores e superiores). No topo da pirâmide há uma norma suprema que
impõe a compatibilidade para todas as inferiores: a Constituição;
b) Lógico-Jurídico: a norma inferior encontra seu fundamento de validade na
norma que lhe for superior. A Constituição encontra o seu fundamento de
validade, não no direito posto, mas, no plano pressuposto lógico, ou seja, a
norma hipotética fundamental, que é a constituição no sentido lógico-jurídico.

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Hans Kelsen idealizou o direito como um fim em si mesmo, não admitindo
influências de outras ciências (sociologia, filosofia, etc), e buscou desenvolver
uma teoria pura do direito, afastada de conceitos e enfoques não exatos, como
é o caso da moral. Ocorre que esta teoria fora a base para o firmamento do
regime Nazista comandado por Hitler, que deu margem a diversas atrocidades
perpetradas no âmbito da Segunda Grande Guerra Mundial.

1.5.2 Concepções modernas

a) Teoria da Força Normativa da Constituição – Konrad Hesse

Trata-se de resposta à concepção sociológica de Ferdinand Lassale. A


Constituição escrita não necessariamente será a parte mais fraca no embate,
pode ser que a Constituição escrita seja capaz de redesenhar a soma dos
fatores reais de poder, podendo modificar o conjunto de forças da sociedade, 6
modificando a sociedade. Não existe interpretação constitucional desvinculada
dos problemas concretos.

b) Constitucionalização Simbólica – Marcelo Neves

Trata-se da utilização da norma constitucional como símbolo. O legislador


constituinte quando elabora o texto detinha a real intenção de concretizar o que
escrevia ou a intenção era somente entregar um símbolo à sociedade? Na
verdade, o escopo justamente é de retirar a efetividade da Constituição, sendo
esta apenas um símbolo produzido pelo Estado.

c) Constituição Aberta – Paulo Bonavides

O objeto da Constituição é sempre dinâmico. A Constituição deve ser o


documento dinâmico que não será enclausurado em si mesmo. As
necessidades sociais vão se espalhar por outros ramos, sob pena de ficar
ultrapassada e ser condenada à morte. Está repleta de conceitos abertos.

Trata-se de movimento que busca principalmente a


limitação do poder estatal. O Constitucionalismo está
alicerçado em três pilares fundamentais:
Constitucionalismo a) Garantia de direitos;
b) Separação de poderes;
c) Governo limitado.

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a) Sociológica (Ferdinad Lassale): A Constituição é, em
essência, a soma dos fatores reais de poder que regem
um determinado Estado.
b) Política (Carl Schmitt): A Constituição significa a
decisão política fundamental. Logo, há diferença entre
Constituição e lei constitucional.
c) Jurídica (Hans Kelsen): A Constituição é norma pura,
é um dever, não havendo fundamento sociológico ou
político, é pura norma.
Concepções de d) Força Normativa da Constituição (Konrad Hesse):
Constituição A Constituição escrita não necessariamente será a parte
mais fraca no embate, pode ser que a Constituição
escrita seja capaz de redesenhar a soma dos fatores
reais de poder.
e) Constitucionalização Simbólica (Marcelo Neves):
Trata-se da utilização da norma constitucional como
símbolo.
f) Constituição Aberta (Paulo Bonavides): O objeto da
Constituição é sempre dinâmico.

Ano: 2017 Banca: IBADE Cargo: Delegado de Polícia


Civil – PCAC.

De acordo com uma das concepções sobre a Constituição,


ela “consigna a norma fundamental hipotética não positiva,
pois sobre ela embasa-se o primeiro ato legislativo não
determinado por nenhuma norma superior de direito
positivo” (BULOS, Uadi Lammêgo, Curso de Direito
Constitucional, 2015, p. 103).

O trecho acima destacado:

a) remete aos fatores reais de poder enunciados por


Lassale em sua concepção sociológica.
b) alude a ideia de que a "essência da Constituição" advém
da realidade social em que o texto constitucional estiver
inserido.
c) tem por base a linha decisionista que funda a concepção
política de Schimitt.
d) sustenta a concepção de que as leis constitucionais
podem conter diversos elementos que não sejam
propriamente constitucionais.
e) refere-se ao aspecto lógico-juridico da concepção
jurídica de Kelsen.

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GABARITO COMENTADO:

(A) INCORRETA: O enunciado trata da concepção jurídica


de constituição, idealizada por Hans Kelsen, onde trata a
Constituição como uma norma pura.
(B) INCORRETA: Trata-se da concepção sociológica de
constituição, onde caso esta não reflita as forças
dominantes e detentoras do poder no âmbito da
sociedade, tal texto normativo não passará de um mero
pedaço de papel inútil.
(C) INCORRETA: O enunciado retrata a concepção
keseniana de constituição em seu sentido lógico-jurídico.
(D) INCORRETA: Como já explicitado, o enunciado trata
da concepção jurídica de constituição.
(E) CORRETA: Trata-se da Concepção Jurídica ou
concepção puramente normativa da Constituição. A
Constituição é puro dever ser, norma pura, não devendo
buscar seu fundamento na filosofia, na sociologia ou na
política, mas na própria ciência jurídica. Logo, é puro
"dever-ser". A Constituição deve poder ser entendida no
sentido: a) lógico-jurídico: norma fundamental hipotética:
fundamental porque é ela que nos dá o fundamento da
Constituição; hipotética porque essa norma não é posta
pelo Estado é apenas pressuposta. b) jurídicopositivo: A
Constituição equivale à norma positiva suprema, que
fundamenta e dá validade para todo o restante do
ordenamento jurídico. Conjunto de normas que regula a
criação de outras normas, lei nacional no seu mais alto
grau; este sentido representa a norma positivada.

1.6 Classificação das Constituições

A doutrina apresenta várias classificações distintas:

1.6.1 Quanto ao conteúdo:

a) Materiais: são as normas constitucionais escritas ou costumeiras, inseridas


ou não num documento escrito, que regulam a estrutura do Estado, a
organização de seus órgãos e os direitos fundamentais.

b) Formais: escritas, estabelecidas de modo solene pelo poder constituinte


originário e somente modificável por processos e formalidades especiais nela
própria estabelecidos. Estabelece o peculiar modo de existir do Estado. As
normas constitucionais, independentemente do seu conteúdo, possuem
supremacia em relação à lei ordinária.

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1.6.2 Quanto à forma:

a) Escritas ou Dogmáticas: fruto de um trabalho racional ou sistemático,


aplicando-se racionalmente os dogmas da sociedade.
b) Codificadas: um único texto que engloba todas as normas constitucionais.
c) Não-Codificadas: também chamadas de esparsa ou legal, quando as
normas constitucionais estão previstas em dois ou mais textos normativos.
d) Não-Escrita: também chamadas de costumeiras, consuetudinárias ou
históricas, baseiam-se nos costumes e na jurisprudência, podendo ter texto
escrito. Especificamente no caso da constituição inglesa há texto escrito,
tratando-se de textos históricos que se incorporam à Constituição.

1.6.3 Quanto à origem:

a) Democráticas: também chamadas de Populares ou Promulgadas, são


aquelas elaboradas por representantes do povo, ou seja, são fruto de uma
assembleia constituinte que foi criada para este fim. No Brasil, as constituições
de 1891, 1934, 1946 e 1988.
b) Outorgadas: também chamadas de “Impostas”, são aquelas impostas pela
força, sem participação popular. No Brasil, as constituições de 1824, 1937,
1967 e 1969.
c) Pactuadas: quando o poder constituinte não está nas mãos do seu titular: o
povo. Mas, quando houver a divisão entre os dois (o povo e o poder
constituinte), a constituição será pactuada.
d) Cesaristas: também chamadas de “Plebiscitárias”, havendo a consulta
popular depois da elaboração do texto escrito, tratando-se em verdade de um
referendo - e não de um plebiscito, que é anterior à tomada de decisão e à
elaboração do texto.

1.6.4 Quanto à estabilidade:

a) Rígidas: nessas constituições, o processo de elaboração das emendas é


diferente dos processos de elaboração da lei. Na Constituição Federal de 1988
são dois turnos. São pilares do direito constitucional: Supremacia
Constitucional, Rigidez Constitucional e Controle de Constitucionalidade.
Somente se pode falar em controle se houver supremacia e rigidez.
b) Flexíveis: a lei ordinária tem a mesma natureza jurídica de emenda
constitucional, não havendo divergência entre os procedimentos de uma e
outra.
c) Semi-rígidas: parte é rígida e parte é flexível. Na parte rígida, há um
procedimento mais dificultoso para a alteração do texto normativo. Já na parte
flexível, as alterações obedecem ao procedimento da legislação
infraconstitucional.

1.6.5 Quanto à extensão:

a) Concisas ou Sintéticas: preveem somente princípios e normas gerais, não


se preocupando em definir todos os efeitos. São típicas do Estado Liberal,
visando à menor intervenção estatal, em prol da liberdade dos cidadãos.

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b) Longa, Analítica ou Prolixa: a extensão do texto constitucional é bastante
ampla. São constituições típicas do Estado do Bem-Estar Social.

1.6.6 Quanto à finalidade:

a) Negativas ou Garantistas: equivale às constituições concisas.


b) Dirigentes ou Programáticas: estabelecem programas e definem os limites
e a extensão de seus direitos, equivalem às constituições analíticas.
c) Constituições Balanço: de conotação socialista, representam um estágio
no desenvolvimento das forças produtivas, porque são essas forças
econômicas que moldam o arcabouço jurídico. Inspirada na teoria dos “fatores
reais de poder”, de Lassale, ela deve registrar a organização estabelecida em
determinado momento histórico.

A Constituição Federal de 1988 é classificada como: FORMAL, ESCRITA,


DOGMÁTICA, PROMULGADA, RÍGIDA e ANALÍTICA

1) Quanto ao conteúdo: a) materiais; e b) formais.


2) Quanto à forma: a) escritas ou dogmáticas; b)
codificada; c) não-codificada; d) não-escrita.
Classificação 3) Quanto à origem: a) democráticas; b) outorgadas; c)
das pactuadas; d) cesaristas.
Constituições 4) Quando à estabilidade: a) rígidas; b) flexíveis; c) semi-
rígidas.
5) Quanto à extensão: a) concisas ou sintéticas; b) longa,
analítica ou prolixa.
6) Quanto à finalidade: a) negativas ou garantistas; b)
dirigentes ou programáticas; c) constituições balanço.
Classificação FORMAL, ESCRITA, DOGMÁTICA, PROMULGADA,
da CF/88 RÍGIDA e ANALÍTICA.

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Banca: FUNCAB Órgão: PCPA Cargo: Delegado de
Polícia Civil – 2016.
No que concerne à classificação das normas
constitucionais, é correto afirmar que:

a) a Constituição brasileira de 1988 tem induvidosa


propensão estatutária (constituição-garantia).
b) todas as normas contidas na Constituição de 1988 são
materialmente constitucionais.
c) existem normas formalmente constitucionais que não
estão na Constituição.
d) a participação do povo em seu processo de elaboração
define uma Constituição como outorgada.
e) a Constituição brasileira de 1988 é do tipo rígido.

GABARITO COMENTADO:

(A) INCORRETA: A Constituição Federal de 1988 é


classificada como Constituição-Dirigente, pois mediante
normas programáticas traça planos sociais e políticas
públicas a serem implementadas pelo governo. No
entanto, há doutrina que entende que a nossa Carta
Magna pode ser classificada como Constituição-Garantia,
pois tem limitar o poder político e garantir as liberdades
públicas, tratando-se do chamado absenteísmo.

(B) INCORRETA: Normas constitucionais materiais são


aquelas que disciplinam a organização do Estado e dos
poderes, bem como estabelecem direitos fundamentais.
Desta forma, nem toda norma prevista na Constituição
Federal é considerada materialmente constitucional.
Exemplo disso é o previsto no art. 242, §2º da CF/88, in
verbis: “O Colégio Pedro II, localizado na cidade do Rio de
Janeiro, será mantido na órbita federal.

(C) INCORRETA: A classificação formal das normas


constitucionais, considera como tais apenas aquelas
positivadas nos Texto Magno. Logo, o que não estiver
contido no texto da Constituição Federal não é norma
constitucional-formal, podendo ser considerada norma
constitucional material.

(D) INCORRETA: Outorgada é a Constituição imposta


unilateralmente. Promulgada é a Constituição com
legitimidade popular e editada por uma Assembléia

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Nacional Constituinte.

(E) CORRETA: A doutrina majoritária defende que a


Constituição Federal de 1988 é rígida, tendo em vista o
seu processo dificultoso de alteração e reforma.
(DPE – SC FUNDATEC/2018) Em relação à classificação
das Constituições, analise as seguintes assertivas:

I. Quanto à forma, são materiais ou formais.


II. Quanto ao modo de elaboração, são dogmáticas,
históricas ou sistemáticas.
III. Quanto à estabilidade, podem ser superrigidas, rígidas,
flexíveis ou semirrígidas.
Quais estão corretas?
a) Apenas I.
b) Apenas II.
c) Apenas III.
d) Apenas II e III.
e) I, II e III.
(A) INCORRETA: Quanto ao conteúdo que as
Constituições são materiais ou formais.
(B) INCORRETA: Quanto ao modo de elaboração são
dogmáticas ou históricas.
(C) CORRETA: Quanto à estabilidade, podem ser
superrígidas, rígidas, flexíveis ou semirrígidas.
(D) INCORRETA: A assertiva II está incorreta. Vide
explicação acima.
(E) INCORRETA: As assertivas I e II estão incorretas. Vide
explicação acima.

2. EFICÁCIA E APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS:

Classificação de José Afonso da Silva: as normas podem ser de eficácia


plena, contida ou limitada.

Norma de eficácia plena e aplicabilidade direta, imediata e


integral é aquela que, no momento que entra em vigor,
NORMA DE está apta a produzir todos os seus efeitos,
EFICÁCIA independente de norma integrativa infraconstitucional. Na
PLENA doutrina americana são chamadas de self-executing
(normas autoaplicáveis).
A norma de eficácia contida ou prospectiva tem
aplicabilidade direta e imediata, mas possivelmente não
NORMA DE integral. Tem condição de produzir todos os seus efeitos
EFICÁCIA logo que entra em vigor, mas poderá haver redução de
CONTIDA sua abrangência. A restrição pode ser feita por lei ou por
outras normas constitucionais. Podem ser chamadas de
normas de eficácia restringível ou reduzível.

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No momento da sua entrada em vigor não estão aptas a
produzir todos os seus efeitos, precisando de uma lei
integrativa infraconstitucional ou de emenda à constituição.
NORMA DE São divididas em dois grupos:
EFICÁCIA Normas de princípio institutivo ou organizativo:
LIMITADA contêm esquemas gerais ou iniciais de estruturação de
instituições, órgãos ou entidades.
Normas de princípios programáticos: veiculam
programas a serem implementados pelo Estado, visando a
realização de fins sociais.

Normas definidoras de direitos e garantias fundamentais, de acordo com o


art. 5º, §1º, da CRFB, têm aplicabilidade imediata. Para José Afonso da
Silva, significa que são dotadas de todos os meios e elementos necessários à
sua pronta incidência aos fatos, situações, condutas ou comportamentos que
regulam. A regra é que as normas definidoras de direitos e garantias
individuais sejam de aplicabilidade imediata. Mas as definidoras de direitos
sociais, culturais ou econômicos nem sempre o são, pois geralmente precisam
de complementação.

Eficácia e aplicabilidade das As normas podem ser de eficácia


normas plena, contida ou limitada.
Normas definidoras de direitos e Aplicabilidade imediata
garantias fundamentais

(VUNESP - DPE-MS – 2014) No que se refere à eficácia e


aplicabilidade das normas constitucionais, é correto afirmar
que:
A) as normas definidoras dos direitos e garantias
fundamentais têm aplicação mediata, vez que não há
direito fundamental absoluto.
B) os direitos e garantias expressos na Constituição
excluem outros dos Tratados Internacionais em que a

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República Federativa do Brasil seja parte.
C) as normas definidoras dos direitos e garantias
fundamentais têm aplicação imediata
D) as normas definidoras dos direitos e garantias
fundamentais têm aplicação mediata e direta.

Comentário:

a) ERRADO. Art. 5º, § 1º, da CRFB: As normas definidoras


dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação
imediata.
b) ERRADO. O art. 5º, da CRFB, estabelece um rol mínimo
de direitos e garantias fundamentais. Não exclui outros
direitos. Estabelece o § 2º, do referido artigo, que os
direitos e garantias expressos nesta Constituição não
excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por
ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a
República Federativa do Brasil seja parte.
c) CORRETO. Art. 5º, § 1º, da CRFB: As normas
definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm
aplicação imediata.
d) ERRADO. Possuem aplicabilidade imediata e direta.

ALTERNATIVA: C

3. PODER CONSTITUINTE:

Inicialmente, o surgimento do poder constituinte está intimamente ligado com a


Teoria de SIEYÈS, através do seu livro “O que é o Terceiro Estado” (A
Constituinte Burguesa). No livro, ele defende que a manifestação do poder
constituinte deve ser feita pelos representantes do Povo, tratando-se do
exercício da soberania popular.

Para Emmanuel Joseph SIÈYES, a soberania popular consiste


essencialmente no poder constituinte da nação. Atualmente, a ideia de nação
cedeu lugar ao poder do povo.

Assim, é o povo que delega os seus poderes aos órgãos especiais do Estado
(Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário). Importante ressaltar que SIEYÈS
distinguiu o Poder Constituinte do Poder Constituído. O primeiro se trata do
poder de elaborar a estrutura do Estado, dividir o poder e garantir os direitos
individuais. O segundo consiste nos poderes reconhecidos pela Constituição
Federal: Legislativo, Executivo e Judiciário.

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3.1 Titularidade do Poder Constituinte

O titular do Poder Constituinte é o povo, que o exerce através de


representantes eleitos ou diretamente. Manifestações do Poder Constituinte: a)
referendos constitucionais (democracia direta); b) representantes do povo
(democracia representativa).

Titular do Poder Constituinte – POVO


Exercício do Poder Constituinte – REPRESENTANTES DO POVO (REGRA)

O poder constituinte subdivide-se em ORIGINÁRIO e DERIVADO.

3.2 Poder Constituinte Originário

O Poder Constituinte Originário (também denominado por Genuíno, Primário


ou de Primeiro Grau) cria a primeira Constituição do Estado, tratando-se da
fonte primária do constitucionalismo positivo.

São características deste Poder Genuíno:

a) Inicial: não existe outro poder superior ou anterior a ele;


b) Autônomo: determina a estrutura da nova Constituição;
c) Ilimitado: tem autonomia para escolher o direito que irá viger, não se
subordinando a nenhuma ideia jurídica anterior;
d) Incondicionado: na criação da nova Constituição, é dotado de liberdade
quanto aos procedimentos adotados, pois não se vincula a nenhuma
formalidade preestabelecida.
e) Permanente: não se esgota com a edição da nova Constituição,
permanecendo em estado de latência, podendo se manifestar em caso de nova
ruptura com a ordem constitucional vigente.

A manifestação do Poder Constituinte Originário ocorre em um momento de


ruptura da sociedade, quando uma nova ordem constitucional precisa ser
escrita. Essa ruptura pode ser: a) Revolução: trata-se do uso da força, é a
tomada do poder por quem não está no poder; b) Golpe de Estado: é tomada
do poder por quem já está no exercício de uma parcela deste poder; c)
Transição Constitucional: ocorre quando uma colônia tem a
suaindependência preparada pelo colonizador.

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3.3 Poder Constituinte Derivado

As Constituições obedecem ao princípio da IMUTABILIDADE RELATIVA, ou


seja, não são eternas, mas, por outro lado, não podem ser modificadas de
forma contumaz.

O Poder Constituinte Derivado subdivide-se em REFORMADOR e


DECORRENTE.

3.3.1 Poder Constituinte Derivado Reformador


Também denominado Secundário, de Segundo Grau, Instituído,
Constituído ou de Reforma. É responsável pela reforma constitucional. No
Brasil, manifesta-se através das Emendas Constitucionais ou da incorporação
de tratados internacionais de direitos humanos.

3.3.2 Poder Constituinte Derivado Decorrente

É o poder exercido pelos estados-membros na elaboração de suas


Constituições Estaduais (art. 25 da CF/88).

3.3.3 Limitações ao Poder Constituinte Derivado

a) Temporais: durante um determinado período a Constituição não pode ser


modificada. A Carta Magna de 1988 não prevê nenhuma limitação temporal,
havendo estabilidade do texto constitucional.
b) Circunstanciais: em momentos de extrema gravidade não será possível a
modificação da Constituição: Estado de Defesa, Estado de Sítio e Intervenção
Federal a impedem (art. 60, §1º da CF/88).
c) Procedimentais/Formais:
c.1) Formal Subjetiva: há legitimados específicos para a propositura de
Emendas Constitucionais;
c.2) Formal Objetiva: quórum qualificado de três quintos, em dois turnos, em
cada Casa do Congresso Nacional, com promulgação pelas mesas do Senado
Federal e da Câmara dos Deputados.

De acordo com o art. 60 da CF/88, tem legitimidade para propor emendas


constitucionais: a) 1/3, no mínimo, dos membros da Câmara dos
Deputados OU do Senado Federal; b) Presidente da República; c) mais de
1/2 das Assembléias Legislativas das unidades da Federação,
manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus
membros.

d) Materiais/Substanciais: são as chamadas cláusulas pétreas. Estão


previstas no art. 60, §4º, da CF/88, in verbis: “Não será objeto de deliberação a

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proposta de emenda tendente a abolir: a forma federativa de Estado; o voto
direto, secreto, universal e periódico; a separação dos Poderes e os direitos e
garantias individuais”.

1 – As cláusulas pétreas estão dispostas no art. 60, §4º, da CF: I – a forma


federativa de Estado; II – o voto direto, secreto, universal e periódico; III – a
separação dos Poderes; IV – os direitos e garantias individuais. Não será
objeto de deliberação a proposta de emenda constitucional tendente a aboli-
las.
2 – O STF entende que os direitos e garantias individuais considerados
cláusulas pétreas pela CF não se restringem àqueles expressos no elenco do
art. 5º, admitindo interpretação extensiva para a definição de direitos análogos
(ADI 939).
3 – As cláusulas pétreas têm como escopo prevenir a erosão da
Constituição Federal, inibindo a tentativa de abolir o projeto constitucional
deixado pelo constituinte.
4 – O poder constituinte de reforma não pode criar novas cláusulas pétreas, ou
seja, não pode ampliar as hipóteses do art. 60, §4º, da CF/88.
5 - Poderá haver uma ampliação no catálogo dos direitos fundamentais
criado pelo poder constituinte originário, notadamente dos direitos e garantias
individuais protegidos pelo art. 60, §4º, IV, da CF.
6 – O sistema constitucional brasileiro admite a existência de cláusulas
pétreas implícitas, a exemplo da forma republicana de governo, conforme
jurisprudência do STF (ADI 829).
7 – A proteção especial dada às normas amparadas por cláusulas pétreas
sobreleva seu status político ou sua carga valorativa, com importantes
repercussões hermenêuticas, mas não lhes atribui superioridade jurídica. 3

e) Implícitas: vedam a alteração das regras pertinentes ao processo para


modificação da Constituição.

Conceito: Trata-se do poder de criar, modificar, revisar,


revogar ou adicionar algo à Constituição.
Titularidade: O povo, que o exerce por meio dos seus
Poder representantes (Assembleia Nacional Constituinte).
Constituinte Espécies: a) Originário: É aquele capaz de estabelecer
uma nova ordem constitucional, isto é, de dar conformação
nova ao Estado, rompendo com a ordem constitucional

3
BARROSO, Luis Roberto. Curso de Direito Constitucional Contemporâneo. São Paulo: Saraiva, 2009, p.
167.

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anterior. b) Derivado: É o poder de modificar uma
Constituição. Subdivide-se em: b.1)

Reformador: visa reformular as normas constitucionais.


b.2) Decorrente: é o poder de que foram investidos os
estados-membros para elaborar a própria Constituição
(capacidade de autoorganização).

Banca: CESPE Órgão: PC-PE Prova: Delegado de


Polícia - 2016

Acerca do poder de reforma e de revisão constitucionais e


dos limites ao poder constituinte derivado, assinale a
opção correta.
a) Além dos limites explícitos presentes no texto
constitucional, o poder de reforma da CF possui limites
implícitos; assim, por exemplo, as normas que dispõem
sobre o processo de tramitação e votação das propostas
de emenda não podem ser suprimidas, embora inexista
disposição expressa a esse respeito.
b) Emendas à CF somente podem ser apresentadas por
proposta de um terço, no mínimo, dos membros do
Congresso Nacional.
c) Emenda e revisão constitucionais são espécies do
gênero reforma constitucional, não havendo, nesse
sentido, à luz da CF, traços diferenciadores entre uma e
outra.
d) Não se insere no âmbito das atribuições do presidente
da República sancionar as emendas à CF, mas apenas
promulgá-las e encaminhá-las à publicação.
e) Se uma proposta de emenda à CF for considerada
prejudicada por vício de natureza formal, ela poderá ser
reapresentada após o interstício mínimo de dez sessões
legislativas e ser apreciada em dois turnos de discussão e
votação.

GABARITO COMENTADO:

(A) CORRETA: Trata-se da vedação a chamada dupla


revisão (ou dupla reforma), sendo este um limite implícito.
Existem outros limites implícitos que decorrem do regime
adotado, da estrutura e dos princípios constitucionais, mas
não estão previstos no Texto Magno, são: impossibilidade
de alteração do titular do Poder Constituinte Originário (o

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povo); impossibilidade de alteração do Processo
Legislativo Especial de Reforma da Constituição;
Impossibilidade de criação de uma nova revisão
constitucional. Impossibilidade de criação de uma nova
revisão constitucional.
(B) INCORRETA: 1/3 dos membros da Câmara dos
Deputados ou do Senado Federal, além de outros
legitimados. Muito cuidado! As questões costumam falar
do Congresso Nacional, não caia nessa pegadinha!
(C) INCORRETA: São espécies do gênero Poder
Constituinte Derivado Reformador, tratando-se de institutos
diferentes: Revisão (art. 3º ADCT): Turno único de
votação; Unicameral (Congresso); Quorum de maioria
absoluta para a aprovação; Global – pode tratar de vários
assuntos simultaneamente. Emenda (art. 60 da CF/88):
Dois turnos de discussão e votação; Bicameral (Câmara
dos Deputados e Senado Federal); Quorum de 3/5 para
aprovação; Pontual – trata de assuntos específicos.
(D) INCORRETA: A participação do Presidente da
República nos processos legislativos de Emenda se
restringe à fase de iniciativa, ou seja, ele apenas tem
legitimidade para a proposição da PEC. A promulgação
caberá às MESAS do Senado e da Câmara dos
Deputados.
(E) INCORRETA: A proposta de emenda rejeitada ou
havida por prejudicada não pode ser objeto de nova
proposta na mesma sessão legislativa (ou seja, mesmo
“ano”). Ressalte-se que uma legislatura, em regra, abarca
quatro sessões legislativas.
(TÉCNICO JUDICIÁRIO – TRE-PR FCC/2017) À luz do
direito vigente, as emendas à Constituição Federal,
aprovadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado
Federal, são atos normativos que decorrem do poder
(A) constituinte originário, podendo alterar a Constituição
sem encontrar limites jurídicos para tanto, uma vez que o
poder constituinte, cujo titular é o povo, é soberano e
ilimitado.
(B) constituinte derivado, podendo alterar a Constituição
desde que sejam respeitados os limites jurídicos nela
originariamente previstos.
(C) constituinte originário, podendo alterar a constituição
desde que sejam respeitados os limites nela previstos.
(D) legislativo, mas não do poder constituinte, uma vez que
os parlamentares que as aprovam não são especialmente
eleitos para o fim de alterarem a Constituição, motivo pelo
qual as emendas constitucionais são hierarquicamente
inferiores às normas constitucionais originariamente
editadas pelo poder constituinte.
(E) legislativo, estando sujeitas aos mesmos limites
jurídicos que devem ser observados no processo de

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elaboração das leis
complementares e ordinárias.

GABARITO COMENTADO:

(A) INCORRETA: As emendas à constituição são


manifestação do poder constituinte derivado de reforma.
Esse poder não é absoluto. O próprio poder constituinte
originário estabeleceu os limites para o exercício do poder
constituinte derivado.
(B) CORRETA: As emendas à constituição são
manifestação do poder constituinte derivado de reforma. O
próprio poder constituinte originário estabeleceu os limites
para o exercício do poder constituinte derivado, agrupados
pela doutrina em 3 grupos: limitações formais; limitações
materiais; limitações circunstanciais.
(C) INCORRETA: As emendas à constituição são
manifestação do poder constituinte derivado de reforma.
(D) INCORRETA: As emendas à constituição são
manifestação do poder constituinte derivado de reforma.
(E) INCORRETA: As emendas à constituição são
manifestação do poder constituinte derivado de reforma.

4. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS:

Os direitos e garantias fundamentais estão descritos de forma expressa nos


artigos 5º a 17 da Constituição Federal.

Há doutrina que diferencia direitos humanos e direitos fundamentais. Direitos


humanos seriam aqueles previstos na ordem jurídica internacional (tratados,
convenções e acordos internacionais). Direitos fundamentais são aqueles
positivados na ordem jurídica interna dos estados, como em suas constituições.

A doutrina classifica os direitos fundamentais em gerações ou dimensões. A


primeira geração é composta pelos direitos civis e políticos, tratando-se de
direitos negativos, pois consagram a não-intervenção estatal na vida privada,
por isso chamados de direitos de liberdade. Os direitos econômicos, sociais
e culturais são os de segunda geração ou dimensão, caracterizados como
direitos de igualdade. Nesta dimensão, buscava-se uma maior intervenção
estatal, tendo em vista o abismo social criado pelo período do Estado Liberal
vivenciado durante a primeira geração, com isso instaurandose o Estado do
Bem-Estar Social (Welfare State).

Por fim, os direitos de solidariedade e fraternidade, sendo estes de terceira


geração ou dimensão, formando um conjunto harmônico de direitos
fundamentais, não havendo hierarquia entre eles.

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Efeito cliquet e vedação do retrocesso: o efeito cliquet consiste na
aplicação do princípio da vedação do retrocesso. Ou seja, uma vez garantido
um direito, não poderá mais ser revogado. Sua aplicação é evidente nos
direitos humanos.

4.1 Eficácia dos Direitos Fundamentais

Há quatro pontos a serem destacados: eficácia vertical, horizontal, diagonal e


irradiante.

4.1.1 Eficácia Vertical dos Direitos Fundamentais

Trata-se da aplicação dos direitos fundamentais nas relações entre Estado e


particulares. O Estado deve proteger os direitos humanos fundamentais através
de instrumentos de concretização de tais preceitos, com isso, efetivando-os e
materializando o princípio da dignidade da pessoa humana.

4.1.2 Eficácia Horizontal dos Direitos Fundamentais

Trata-se da aplicação dos direitos fundamentais nas relações privadas. O STF


reconheceu a eficácia horizontal em alguns casos: a) Exclusão de Cooperado:
cooperados não poderiam ter sido excluídos sem que fosse respeitado o
devido processo legal (STF, RE 158.215); b) Caso Air France: os franceses
não poderiam conceder aumento salarial apenas aos seus funcionários
franceses, discriminando os brasileiros que exerciam as mesmas funções
(STF, RE 161.243); c) Expulsão de Associado: associado não poderia ter sido
expulso na União Brasileira de Compositores sem que lhe fosse garantida a
ampla defesa (STF, RE 201.819).

4.1.3 Eficácia Diagonal

Trata-se da aplicação dos direitos humanos fundamentais nas relações


privadas demarcadas por patente desequilíbrio fático e visível desproporção
entre as partes. Como exemplo tem-se a relação de emprego travada entre
empregador e empregado.

4.1.4 Eficácia Irradiante

A eficácia irradiante dos direitos fundamentais é o atributo que confere caráter


eminentemente objetivo a esses direitos, como critérios para o exercício das
funções executiva, legislativa e judiciária do Estado, em claro afastamento da
concepção privada e individualista do direito civil.4
4
SARMENTO, Daniel. Direitos fundamentais e relações privadas. Rio de janeiro: Ed. Lumen Juris, 2004.

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Cláusula de Expansividade: O §2º do art. 5º da Constituição Federal prevê
que os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros
decorrentes do regime do regime dos princípios por ela adotados, ou dos
tratados internacionais dos quais a República Federativa do Brasil seja parte.
4.2 Incorporação de Tratados de Direitos Humanos

Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem


aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três
quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas
constitucionais, nos termos do art. 5º, §3º, da Constituição Federal, incluído
pela EC 45/04.

Sem prejuízo da supremacia da Constituição sobre os tratados e convenções


internacionais, a norma internacional em vigor e aplicável no Brasil e que
disponha acerca de direitos humanos, não tendo sido objeto de processo
legislativo que a equiparasse a emenda constitucional (art. 5º, §3º, da CF), tem
força jurídico-normativa suficiente para restringir a eficácia e indiretamente
obstar a aplicabilidade da norma constitucional paradigma, gozando de status
supralegal.5

4.3 Caráter relativo dos Direitos Fundamentais

Os direitos e garantias individuais não têm caráter absoluto. Não há, no


sistema constitucional brasileiro, direitos ou garantias que se revistam de
caráter absoluto, mesmo porque razões de relevante interesse público ou
exigências derivadas do princípio da convivência das liberdades legitimam,
ainda que excepcionalmente, a adoção, por parte dos órgãos estatais, de
medidas restritivas das prerrogativas individuais ou coletivas, desde que
respeitados os termos estabelecidos pela própria Constituição.6
4.4 Incidente de deslocamento de competência

Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador Geral


da República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações
decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil
seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em
qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de
competência para a Justiça Federal (art. 109, §5º, da CF/88).

5
RE 466.343, julgado em 2008 e relatado pelo Ministro Cezar Peluso.
6
MS nº 23.452, julgado no ano 2000 e relatado pelo Ministro Celso de Mello.

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Gerações/dimensões de direitos humanos
fundamentais:
Direitos e 1) Primeira geração: direitos civis e políticos. Direitos
Garantias negativos e de liberdade.
Fundamentais 2) Segunda geração: direitos econômicos, culturais e
sociais. Direitos positivos e de igualdade.
3) Terceira geração: direitos de solidariedade e
fraternidade. Ênfase aos direitos fundamentais.
Eficácia dos direitos fundamentais:
1) Eficácia Vertical: envolve as relações entre o Estado e
Eficácia dos os particulares.
Direitos 2) Eficácia Horizontal: envolve as relações privadas.
Fundamentais 3) Eficácia Diagonal: envolve nas relações privadas
demarcadas por patente desequilíbrio fático e visível
desproporção entre as partes.
4) Eficácia Irradiante: confere caráter eminentemente
objetivo a esses direitos, como critérios para o exercício
das funções estatais.

Órgão: PC-AC Banca: IBADE Prova: Delegado de Polícia


- 2017
No que se refere aos direitos e garantias fundamentais,
assinale a alternativa correta.
a) Para os idealistas, os direitos do homem são faculdades
outorgadas pela lei e reguladas por ela.
b) Os direitos fundamentais são irrestritos, tendo em vista
a proibição pelo poder constituinte originário de reserva
legal no âmbito dos direitos e garantias fundamentais.
c) A teoria da eficácia diagonal dos direitos fundamentais
consiste na incidência e observância dos direitos
fundamentais nas relações entre o Estado e o particular
hípossuficiente.
d) O reconhecimento da validade jurídica das uniões
homoafetivas pelo STF acarretou o crescimento de vozes
favoráveis, na via política, ao Estatuto da Família. Tal
fenômeno é ligado ao efeito backlash.
e) O princípio da proibição de proteção deficiente, é uma
das vertentes do princípio da proporcionalidade e remete à
ideia de que os direitos fundamentais são meros direitos
subjetivos negativos.

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GABARITO COMENTADO:

(A) INCORRETA: Para os idealistas, os direitos humanos


são indissociáveis ao homem, existindo
independentemente de o Estado reconhecê-los.
(B) INCORRETA: Os direitos e garantias individuais não
têm caráter absoluto, podendo sofrer limitações de ordem
jurídica, destinadas, de um lado, a proteger a integridade
do interesse social e, de outro, a assegurar a coexistência
harmoniosa das liberdades.
(C) INCORRETA: A teoria da eficácia diagonal trata da
aplicação dos direitos fundamentais nas relações privadas
demarcadas por patente desequilíbrio fático e visível
desproporção entre as partes.
(D) CORRETA: O efeito backlast é uma reação política ao
ativismo judicial, perceptível nos grupos conservadores,
com risco de retrocesso em determinados temas.
(E) INCORRETA: O princípio da proibição de proteção
deficiente emana diretamente do princípio da
proporcionalidade, uma espécie de garantismo positivo,
adquire importância na aplicação dos direitos fundamentais
de proteção. Dupla face do princípio da proporcionalidade:
da proibição de excesso e a proibição de proteção
deficiente.
(DEFENSOR – SC FCC/2017) No julgamento do Recurso
Extraordinário n° 201.819/RJ, a Segunda Turma do
Supremo Tribunal Federal, sob a relatoria para o acórdão
do Ministro Gilmar Mendes, decidiu acerca da
impossibilidade de exclusão de sócio, por parte da União
Brasileira de Compositores, sem garantia da ampla defesa
e do contraditório. O caso em questão representa um
leading case inovador da nossa Corte Constitucional
atinente ao seguinte ponto da Teoria Geral dos Direitos
Fundamentais:

(A) Princípio da proibição de excesso.


(B) Núcleo essencial dos direitos fundamentais.
(C) Limites e restrições aos direitos fundamentais.
(D) Princípio da proibição de proteção insuficiente.
(E) Eficácia dos direitos fundamentais nas relações
privadas.
GABARITO COMENTADO:
(A) INCORRETA: O princípio da proibição do excesso é
um desdobramento do princípio da proporcionalidade e
impede que o legislador atue além do necessário e
adequado.
(B) INCORRETA: Vide comentário da letra E.
(C) INCORRETA: Vide comentário da letra E.
(D) INCORRETA: O princípio da proibição da proteção

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deficiente é um desdobramento do princípio da
proporcionalidade e impede que o legislador atue de forma
a desproteger os bens jurídicos fundamentais.
(E) CORRETA: O RE 201.819/RJ representou o grande
marco do reconhecimento da eficácia dos direitos
fundamentais nas relações privadas, também chamada
pela doutrina de eficácia horizontal dos direitos
fundamentais.

5. DIREITOS SOCIAIS, NACIONALIDADE e DIREITOS POLÍTICOS:


Direitos sociais

Estão previstos no art. 6º da CRFB: “são direitos sociais a educação, a saúde,


a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a
previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados, na forma desta Constituição”.
109
Os direitos sociais são desdobramento de um Estado Social de Direito.
Segundo José Afonso da Silva, esses direitos disciplinam situações subjetivas
pessoais ou grupais de caráter concreto, sendo que os direitos econômicos
são pressupostos dos direitos sociais, pois sem uma política econômica
orientada para a participação e intervenção do Estado na economia não se
comporão as premissas necessárias para sua instalação.

São direitos de segunda dimensão, manifestando por prestações positivas


do estado, com vistas a concretizar a isonomia substância e social.

Nacionalidade

Conceito: a nacionalidade é o vínculo jurídico-político que liga um indivíduo a


determinado Estado, fazendo que o indivíduo passe a integrar o povo desse
estado, podendo assim desfrutar de direitos e submeter-se a obrigações.

É imposta de maneira unilateral, independentemente da


vontade do indivíduo, pelo estado, no momento do
NACIONALIDADE nascimento. Alguns Estados adotam o critério ius
PRIMÁRIA sanguinis (sangue, filiação, ascendência) outros adotam
o critério do iussolis ou da territorialidade (local do
nascimento).
É a que se adquire por vontade própria, depois do
NACIONALIDADE nascimento, normalmente pela naturalização, a qual
SECUNDÁRIA poderá ser requerida por estrangeiros ou por apátridas.

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Quem são os brasileiros natos?

Regra gral, o Brasil adotou o critério do iussolisart. 12, I, a, da CRFB: “os


nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros,
desde que estes não estejam a serviço de seu país”.
Ius sanguinis+ serviço do Brasilart. 12, I, b, da CRFB: “os nascidos na
República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que
estes não estejam a serviço de seu país”.
Ius sanguinis+ registroart. 12, I, c, 1ª parte, da CRFB: “os nascidos no
estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados
em repartição brasileira competente”.
Ius sanguinis+ opção confirmatóriaart. 12, I, c, 2ª parte, da CRFB: “os
nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que
venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer
tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira”.

A CRFB estabeleceu como forma de aquisição da nacionalidade secundária a


naturalização, a qual pode ser de dois tipos:

Art. 12, II, a: “os que, na forma da lei (Estatuto do


NATURALIZAÇÃO Estrangeiro), adquiram a nacionalidade brasileira,
ORDINÁRIA exigidas aos originários de países de língua portuguesa
apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade
moral”.
Art. 12, II, b: “os estrangeiros de qualquer nacionalidade,
NATURALIZAÇÃO residentes na República Federativa do Brasil há mais de
EXTRAORDINÁRIA quinze anos ininterruptos e sem condenação penal,
desde que requeiram a nacionalidade brasileira”.
Aos portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade
em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro,
salvo os casos previstos nesta Constituição– é o que se chama de quase
nacionalidade.

A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados,


salvo os casos previstos na própria Constituição. Assim, no art. 12,§ 3º, a
CRFB diz que são privativos de brasileiro nato os cargos: I – de Presidente e
Vice-Presidente da República;II - de Presidente da Câmara dos Deputados;III -
de Presidente do Senado Federal;IV - de Ministro do Supremo Tribunal
Federal;V - da carreira diplomática;VI - de oficial das Forças Armadas.VII - de
Ministro de Estado da Defesa.

São hipóteses de perda da nacionalidade: o cancelamento da naturalização,


por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional e a
aquisição outra nacionalidade, salvo nos casos: a) de reconhecimento de
nacionalidade originária pela lei estrangeira; e b) de imposição de
naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em estado
estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o
exercício de direitos civis.

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Direitos políticos

Os direitos políticos são os instrumentos por meio dos quais a CRFB garante o
exercício da soberania popular. A constituição adotou a democracia semidireta
ou participativa, caracterizada pela participação popular no poder por meio de
um processo (plebiscito, referendo, iniciativa popular e por meio da ação
popular).

O núcleo dos direitos políticos é o direito de sufrágio, ou seja, pela


capacidade eleitoral ativa (direito de votar) e passiva (ser votado).

O alistamento eleitoral e o voto são obrigatórios para os maiores de 18


(dezoito) anos e facultativos para os analfabetos, os maiores de 70 (setenta)
anos e para os maiores de 16 (dezesseis) e menores de 18 (dezoito) anos.

Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o período


do serviço militar obrigatório, os conscritos.

São condições de elegibilidade a nacionalidade brasileira, o pleno exercício


dos direitos políticos, o alistamento eleitoral, o domicílio eleitoral na
circunscrição e a filiação partidária. Além disso, a constituição estabelece as
seguintes idades mínimas como condição de elegibilidade:

35 (trinta e cinco) anos para Presidente e Vice-Presidente da República e


Senador.
30 (trinta) anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito
Federal.
21 (vinte e um) anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital,
Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz.
18 (dezoito) anos para Vereador.

São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos.

O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal,


os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos
poderão ser reeleitos para um único período subseqüente.

Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da República, os


Governadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar
aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito.

São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes


consangüíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da
República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal,
de112Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses
anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à
reeleição.

O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes condições:se contar menos


de dez anos de serviço deverá afastar-se da atividade.Porém, se contar mais

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de dez anos de serviço, será agregado pela autoridade superior e, se eleito,
passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade.

Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de


sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para
exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a
normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder
econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na
administração direta ou indireta.

O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Justiça Eleitoral no prazo de


quinze dias contados da diplomação, instruída a ação com provas de abuso do
poder econômico, corrupção ou fraude. A ação de impugnação de mandato
tramitará em segredo de justiça, respondendo o autor, na forma da lei, se
temerária ou de manifesta má fé.

São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o


trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a
DIREITOS previdência social, a proteção à maternidade e à infância,
SOCIAIS a assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição.
NACIONALIDADE Pode ser primária (estabelecida pelo Estado no qual
ocorreu o nascimento) ou secundária (naturalização).
DIREITOS O Brasil adora a democracia semidireta ou participativa,
POLÍTICOS exercida através de plebiscito, referendo, iniciativa popular
e ação popular.

(FCC – DPE-SC – 2017) -Sobre o tema da nacionalidade


na Constituição Federal de 1988, é correto afirmar:

A) Aos portugueses com residência permanente no País,


ainda que não houver reciprocidade em favor de
brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao
brasileiro, salvo os casos previstos na Constituição.
B) São brasileiros naturalizados os estrangeiros de
qualquer nacionalidade, residentes na República
Federativa do Brasil há mais de cinco anos ininterruptos e
sem condenação penal, desde que requeiram a
nacionalidade brasileira.
C) É privativo de brasileiro nato o cargo de Ministro do

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Superior Tribunal de Justiça.
D) Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro
que tiver cancelada sua naturalização, por sentença
judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse
nacional.
NACIONALIDADE E) São brasileiros natos nascidos na República Federativa
do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, mesmo que
estes estejam a serviço de seu país.

Comentário:

a) ERRADO. É preciso que haja reciprocidade.


b) ERRADO. É necessária a residência há mais de 15
anos.
c) ERRADO. São privativos de brasileiro nato os cargos:I -
de Presidente e Vice-Presidente da República;II - de
Presidente da Câmara dos Deputados;II - de Presidente
do Senado Federal;IV – de Ministro do Supremo Tribunal
Federal;V - da carreira diplomática;VI - de oficial das
Forças Armadas.VII – de Ministro de Estado da Defesa.
d) CORRETO. Art. 12, parágrafo 4º, I, da CRFB.
e) ERRADO. É preciso que não estejam a serviço do seu
país.
ALTERNATIVA: D

6. PODER LEGISLATIVO: FUNDAMENTO, ATRIBUIÇÕES E GARANTIAS


DE INDEPENDÊNCIA
É relevante o estudo da teoria da tripartição dos poderes. O nascimento da
noção teórica dessa teoria é atribuído a Aristóteles, com a publicação da obra
“Política”. No entanto, reinava nesse contexto a ideia de centralização política,
sendo o governo exercido por uma única pessoa, que detinha poderes
ilimitados e incontrastáveis. Ainda assim, Aristóteles conseguiu enxergar a
existência de três funções distintas exercidas pelo poder soberano: a função
legislativa, a função administrativa e a função judicante.

Mais tarde, nos séculos XVII e XVIII, no bojo do movimento conhecido como
Iluminismo, começou-se a se desenvolver a ideia de necessidade de impor
limites ao exercício do poder, de forma a evitar abusos. A partir dessa
premissa, Charles de Montesquieu publicou a obra “Do Espírito das Leis”, que
combatia o absolutismo e defendia o exercício do poder por órgãos distintos e
autônomos entre si.

Na atualidade, se percebe, todavia, que a divisão rígida dos poderes não


garante, por si só, a ausência de autoritarismo. Por isso, passou-se a defender
a necessidade de coordenação e harmonia entre os poderes. Ademais, os
poderes não só passaram a desempenhar suas funções típicas como também
desempenham funções atípicas.

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Assim, essa nova feição da teoria da separação dos poderes é denominada
sistema de freios e contrapesos “checks and balances”. A grosso modo, essa
teoria consagra o entendimento da necessidade do equilíbrio e garantia entre
os três poderes, estabelecendo mecanismos de interferências legitimas de um
poder sobre o outro, nos limites estabelecidos na Constituição.

Por exemplo, o Poder Legislativo tem a função de elaborar as leis, mas o


procedimento de criação de uma lei apenas é aperfeiçoado após a sanção do
outro poder, no caso, o Executivo. Ademais, o Poder Judiciário ainda pode
exercer o controle de constitucionalidade, afastando a incidência da lei ou
determinado sua exclusão do ordenamento jurídico.

Pois bem. No Brasil, sabemos que ao Poder Legislativo, incumbe,


precipuamente, a função de elaborar as leis e de fiscalizar o Executivo. De
forma atípica, o Poder Legislativo também exerce a função administrativa, bem
como exerce a função judicante.

FUNÇÃO Elaboração de leis e fiscalização contábil, financeira,


TÍPICA orçamentária, operacional e patrimonial do Poder
Executivo (CF, art. 70).
Dispor sobre sua organização interna; Realizar licitações
FUNÇÃO para contratação de obras e serviços; prover seus cargos
ATÍPICA públicos por meio de concurso; dispor sobre nomeação,
(administrativa) exoneração e demissão de seus servidores.
Julgar autoridades da República (Presidente e Vice-
FUNÇÃO Presidente nos crimes de responsabilidade; e, nos crimes
ATÍPICA conexos com estes, Ministros de Estado e os
(judicante) Comandantes da Marinha, do Exército e Aeronáutica ).

O Poder Legislativo brasileiro é bicameral, porque composto por duas câmeras,


a Câmera dos Deputados e o Senado Federal. A Câmera dos Deputados
compõe-se de representantes do povo, eleitos pelo sistema proporcional, em
cada Estado, Distrito Federal e Território. O Senado Federal, por sua vez,
compõe-se de representantes dos Estados e Distrito Federal, eleitos segundo o
princípio majoritário.

As competências do Senado, da Câmera e do Congresso estão elencadas nos


artigos 48 a 52 da Constituição Federal, e você deve realizar uma leitura atenta
de tais dispositivos.

O Congresso Nacional e suas Casas terão comissões permanentes e


temporárias, constituídas na forma e com as atribuições previstas no respectivo
regimento ou no ato de que resultar sua criação. As comissões parlamentares
de inquérito, por exemplo, constituem tipo de comissão temporária.

A Constituição prevê que as CPI’s terão poderes de investigação próprios das


autoridades judiciais, além de outros previstos nos regimentos das respectivas
Casas. Ademais, serão criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado
Federal, em conjunto ou separadamente, mediante requerimento de um terço
de seus membros, para a apuração de fato determinado e por prazo certo,

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sendo suas conclusões, se for o caso, encaminhadas ao Ministério Público,
para que promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores.

Com relação à exigência estabelecida pelo texto constitucional, de


requerimento por pelo menos 1/3 dos membros da Câmera, do Senado, ou do
Congresso em caso de CPI mista, o STF já permitiu, em um caso concreto, a
criação de uma CPI com base no fundamento do direito subjetivo da minoria,
sedimentando o entendimento no sentido de que a maioria no Congresso
Nacional não pode frustrar o exercício da prerrogativa investigatória pela
minoria.

Nesse contexto, também é importante destacar entendimentos jurisprudenciais


acerca dos poderes e competência das comissões parlamentares de inquérito.
Como sabemos, o texto constitucional prevê que as CPI’s possuem poderes de
investigações próprios das autoridades judiciais. Todavia, tais poderes são
ilimitados e não alcançam todos os poderes atribuídos ao Poder Judiciário.

Assim, a jurisprudência dos tribunais superiores elenca determinados limites à


atuação das CPI’s. Por exemplo, a CPI deve respeitar o direito ao silêncio, bem
como o sigilo profissional.

Ademais, as comissões parlamentares não possuem competência para intervir


em direitos fundamentais protegidos pela cláusula da reserva de jurisdição,
como por exemplo a inviolabilidade de domicílio; o sigilo das comunicações
telefônicas7; a decretação de prisão que não seja de flagrante; a decretação de
medidas acautelatórias.36

Tema muito importante relacionado ao Poder Legislativo diz respeito às


imunidades formais e materiais cuja finalidade é assegurar a liberdade
necessária para o exercício do mandato. A imunidade material afeta o direito
material e exclui a responsabilidade civil, penal e administrativa dos
congressistas por opiniões, palavras e votos.

Para fazer uso dessa prerrogativa, deve-se perquirir se as manifestações foram


proferidas no desempenho da função, sob pena de não se aplicar a imunidade.

Assim, o membro do Congresso Nacional, mesmo que fora do recinto da


respectiva Casa, poderá se valer da imunidade material desde que suas
manifestações guardem pertinência com o exercício de suas funções. Assim,
ele poderá invocar essa prerrogativa quando, por exemplo, conceder entrevista
jornalística, realizar declarações nas redes sociais, etc. A mesma prerrogativa
estende-se aos deputados estaduais e distritais. Com relação aos vereadores,
todavia, o STF tem entendimento no sentido de que a inviolabilidade material
se limita ao exercício do mandato na circunscrição do Município.

7
Não confunda. A CPI não pode determinar interceptação telefônica e quebra de sigilo de
correspondência, mas pode quebrar sigilo bancário, fiscal e de dados (inclusive telefônico, ou seja,
extrato de conta).

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A imunidade formal, por outro lado, afeta o direito processual, e, como
consequência, embora não exclua o crime, protege o parlamentar em relação à
prisão e ao processo penal. A imunidade concede tais privilégios desde a
expedição do diploma, que é ato solene anterior a posse. O vereador não
possui direito a imunidade formal. Trata-se de prerrogativa exclusiva dos
parlamentares federais e estaduais.

Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não


poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os
autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa respectiva, para
que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão. Recebida
a denúncia contra o Senador ou Deputado, por crime ocorrido após a
diplomação, o Supremo Tribunal Federal dará ciência à Casa respectiva, que,
por iniciativa de partido político nela representado e pelo voto da maioria de
seus membros, poderá, até a decisão final, sustar o andamento da ação.

As imunidades de Deputados ou Senadores subsistirão durante o estado de


sítio, só podendo ser suspensas mediante o voto de dois terços dos membros
da Casa respectiva, nos casos de atos praticados fora do recinto do Congresso
Nacional, que sejam incompatíveis com a execução da medida.

Há necessidade de prévia autorização da Assembleia Legislativa para


que o STJ receba denúncia ou queixa e instaure ação penal contra
Governador de Estado, por crime comum. Comentários: No
F julgamento das ADI’s 4798, 4764 e 4797, o Plenário do STF concluiu
que as unidades federativas não têm competência para editar normas
que exijam autorização da Assembleia Legislativa para que o STJ
instaure ação penal contra Governador.
Tema importante se refere à perda do mandato em caso de condenação
criminal definitiva. De acordo com o texto constitucional, em caso de
condenação criminal em sentença transitada em julgado, a perda do mandato
será decidida pela Câmara dos Deputados ou pelo Senado Federal, por
maioria absoluta, mediante provocação da respectiva Mesa ou de partido
político representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa.

O entendimento do STF era no sentido de que a condenação criminal definitiva


de parlamentar ocasionava a subsequente perda de mandato eletivo dada a
inafastável suspensão dos direitos políticos. Por isso o entendimento era de
que nesses casos não haveria espaço para o exercício de juízo político ou de
conveniência da Casa Legislativa8.

Posteriormente, no julgamento da Ação Penal 470 (Caso do Mensalão), o STF


decidiu que a perda do mandato não é automática, e deve ser decidida pela
Casa Parlamentar respectiva. Este entendimento foi posteriormente mantido no
julgamento da Ação Penal 565.Entretanto, recentemente foram publicados dois
informativos pelo STF: Info 863 e 866. Em síntese:

8
NOVELINO, Marcelo. Curso de direito constitucional. Salvador: Ed. JusPodivm, 2017.

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A perda do mandato será automática?

Depende.
Se o Deputado ou Senador for condenado a mais de 120 dias em regime
fechado: a perda do cargo será uma consequência lógica da condenação.
Neste caso, caberá à Mesa da Câmara ou do Senado apenas declarar que
houve a perda (sem poder discordar da decisão do STF), nos termos do artigo
55, III e parágrafo 3 da CF/88.
Se o Deputado ou Senador for condenado a uma pena em regime aberto
ou semiaberto: a condenação criminal não gera a perda automática do cargo.
O Plenário da Câmara ou Senado irá deliberar, nos termos do artigo 55,
parágrafo 2, se o condenado deverá ou não perder o mandato. STF: 1 Turma,
AP 694/MT (Info 863) STF: 1 Turma, AP 863/SP (Info 866)

Funções Típicas: Legislar e fiscalizar.


Atípica – Administrar e julgar.
Composta por representantes do povo eleitos pelo sistema
Câmera dos proporcional. Devem ser maiores de 21 anos. Nenhum
Deputados Estado ou DF poderá tem menos de 8 ou mais de 70
deputados.
Composta por representantes dos Estados eleitos pelo
Senado sistema majoritário. Devem ser maiores de 35 anos. Cada
Federal Estado e DF terá 3 senadores.
Material- inviolabilidade civil e penal por quaisquer
opiniões, palavras ou votos que tenham relação com a
função parlamentar. No caso de vereador a jurisprudência
do STF entende que a imunidade está circunscrita ao
Imunidades respectivo município.
Formal- desde a expedição do diploma, os membros do
Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em
flagrante delito. Os autos serão automaticamente
remetidos para a respectiva Casa para que resolva sobre a
prisão em 24 horas. A imunidade formal não se aplica aos
vereadores.
- Criação- 1/3 da Câmara ou do Senado, ou 1/3 do
Congresso no caso de CPI mista. São sempre temporárias
e são criadas para apurar fato determinado.
- Tem natureza inquisitiva. Não se aplica os princípios do
contraditório e da ampla defesa. Suas conclusões devem
ser encaminhadas ao MP para adoção das medidas penais
e civis cabíveis.

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- As CPI’s possuem poderes típicos das autoridades
CPI judiciais. As comissões podem: quebrar sigilo bancário,
fiscal, telefônico e de dados; realizar exames periciais;
promover condução forçada para depoimentos; busca e
apreensão de documentos, etc...
- A CPI não pode invadir domicílios; promover
interceptação telefônica; efetuar prisão, salvo em flagrante.
São matérias submetidas à reserva de jurisdição9.

(Analista – RS FCC/2017): No curso de investigações


relativas ao suposto desvio de verbas públicas no âmbito
da Administração federal, o Presidente de Comissão
Parlamentar de Inquérito − CPI instaurada na Câmara dos
Deputados determina que seja realizada busca e
apreensão de equipamentos de informática de uso pessoal
no domicílio de servidor público investigado. Nesse caso, à
luz da Constituição Federal, a busca e apreensão foi
determinada de maneira
(A) irregular, uma vez que a inviolabilidade de domicílio é
matéria sujeita à reserva jurisdicional, estando a medida
sujeita a questionamento mediante habeas corpus de
competência originária do Supremo Tribunal Federal.
(B) irregular, uma vez que a inviolabilidade de domicílio é
matéria sujeita à reserva jurisdicional, estando a medida
sujeita a questionamento mediante mandado de segurança
de competência originária do Supremo Tribunal Federal.
(C) irregular, uma vez que a inviolabilidade de domicílio é
matéria sujeita à reserva jurisdicional, estando a medida
sujeita a questionamento mediante mandado de segurança
de competência originária do Superior Tribunal de Justiça.
(D) irregular, uma vez que a inviolabilidade de domicílio é
matéria sujeita à reserva jurisdicional, estando a medida
sujeita a questionamento mediante habeas corpus de
competência originária do Superior Tribunal de Justiça.
(E) regular, uma vez que as Comissões Parlamentares de
Inquérito possuem os mesmos poderes de investigação
das autoridades judiciais.

GABARITO COMENTADO:

(A) INCORRETA: A inviolabilidade de domicílio é matéria


sujeita à reserva jurisdicional. Caso haja descumprimento
por parte da CPI, cabe o manejo de Mandado de

9
NOVELINO, Marcelo. Curso de direito constitucional. Salvador: Ed. JusPodivm, 2017.

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Segurança (e não habeas corpus) perante o STF.
(B) CORRETA: A inviolabilidade de domicílio é matéria
QUESTÃO 1: sujeita à reserva jurisdicional, que pode desafiar o manejo
de mandado de segurança perante o STF.
(C) INCORRETA: A competência para apreciar remédios
constitucionais em face das Comissões Parlamentares é
do STF.
(D) INCORRETA: A competência para apreciar remédios
constitucionais em face das Comissões Parlamentares é
do STF.
(E) INCORRETA: Embora as CPI’s possuam os mesmos
poderes de investigação das autoridades judiciais, a
jurisprudência impôs limites à atuação das Comissões, no
sentido de que algumas matérias estão sujeitas à reserva
de jurisdição.
(DELEGADO PC – PA FUNCAB/2016): Assinale a
alternativa correta no que concerne à responsabilidade do
Presidente da República.
(A) Nas infrações penais comuns, admitida a acusação
contra o Presidente da República, por dois terços da
Câmara dos Deputados, será ele submetido a julgamento
perante o Supremo Tribunal Federal.
(B) Se, decorrido o prazo de cento e vinte dias, o
julgamento não estiver concluído, cessará o afastamento
do Presidente, sem prejuízo do regular prosseguimento do
processo.
(C) Nos crimes de responsabilidade, o Presidente ficará
suspenso de suas funções se recebida a denúncia ou
queixa-crime pelo Supremo Tribunal Federal.
(D) No crime de responsabilidade, admitida a acusação
contra o Presidente da República, por um terço da Câmara
dos Deputados, será ele submetido a julgamento perante o
Senado Federal.
(E) Nas infrações penais comuns, o Presidente ficará
suspenso de suas funções após a instauração do processo
QUESTÃO 2: pelo Senado Federal.

GABARITO COMENTADO:

(A) CORRETA: Reproduz o artigo 86 da Constituição


Federal.
(B) INCORRETA: O prazo é de cento e oitenta e não de
cento e vinte dias (artigo 86, parágrafo segundo da
Constituição Federal).
(C) INCORRETA: Nos crimes de responsabilidade, o
Presidente ficará suspenso das suas funções após a
instauração do processo pelo Senado Federal (artigo86,
parágrafo primeiro da Constituição Federal).
(D) INCORRETA: O quórum é de dois terços (artigo 86,
caput).

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(E) INCORRETA: O Presidente ficará suspenso de suas
funções, nas infrações penais comuns, se recebida a
denúncia ou queixa-crime pelo STF.

7. PROCESSO LEGISLATIVO: FUNDAMENTO E GARANTIAS DE


INDEPENDÊNCIA, CONCEITO, OBJETOS, ATOS E PROCEDIMENTOS
É o conjunto de atos ordenados, cuja finalidade é a produção das seguintes
espécies normativas: Emenda à Constituição, Lei Complementar, Lei Ordinária,
Lei Delegada, Medida Provisória, Decreto Legislativo e Resolução.

As espécies normativas primárias são aquelas que inovam no ordenamento


jurídico. Um decreto regulamentador, por exemplo, seria ato secundário, pois
não inova no ordenamento jurídico, guardando apenas conformidade com a lei.

A doutrina ensina que, do ponto de vista material, os atos normativos são


dotados de generalidade; abstração; imperatividade e autonomia. Generalidade
significa que o ato não tem destinatário predefinido, a destinação é genérica.
Abstração significa que trata de situações abstratas e não concretas.
Imperatividade é o poder de imposição. O ato normativo primário é autônomo,
pois não depende de nenhuma outra norma, salvo a Constituição. Encontra
nesta o seu fundamento de validade.

As fases do procedimento legislativo são: 1) introdutória; 2) constitutiva e 3)


complementar. Na fase introdutória, o processo legislativo é deflagrado por
um dos legitimados. Existem hipóteses em que a inciativa é comum, pois não é
atribuída com exclusividade a um titular. Já, em outros casos, a iniciativa é
exclusiva porque se atribui a apenas um legitimado a competência para iniciar
o procedimento legislativo. Nesse sentido, cabe ressaltar que a iniciativa
vinculada das leis somente se legitima quando expressamente consagrada no
texto constitucional. E, nesse caso, adota-se o princípio da simetria, isto é, tais
normas são de observância obrigatória por parte dos Estados e Municípios.
Outrossim, o vício de origem é insanável e não se convalida com a sanção do
Chefe do Poder Executivo.

A fase constitutiva compreende a discussão, votação, aprovação e sanção do


projeto de lei. Via de regra a discussão acontece no plenário de ambas as
Casas, mas existem casos em que o Regimento Interno pode dispensar a
competência desse. Nesses casos, a votação será feita nas Comissões.
Todavia, por meio de recurso de um décimo dos membros da Casa, a votação
poderá ser submetida ao Plenário.

Para instalação da sessão, o quórum mínimo é de maioria absoluta. O quórum


de aprovação de uma lei ordinária é de maioria relativa. Isto é leva-se em
consideração os presentes na respectiva sessão. Já para aprovação de uma lei
complementar, exige-se aprovação da maioria absoluta, isto é, leva-se em
consideração não a quantidade dos presentes, mas o número de membros
pertencentes a respectiva casa. Caso o projeto seja considerado aprovado, ele
será encaminhado para

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O Princípio da Irrepetibilidade consagra que a matéria constante de projeto
de lei rejeitado somente poderá constituir objeto de novo projeto, na mesma
sessão legislativa, mediante proposta da maioria absoluta dos membros de
qualquer das Casas do Congresso Nacional. Aplica-se também às PEC’s (art.
60, §5º) e às MP’s (art. 62, § 10). No entanto, nesses casos não há exceção
(ou seja, a irrepetibilidade é absoluta).

A sanção do Chefe do Executivo pode ser expressa ou tácita. Sancionar


significa concordar. Uma vez encaminhado o projeto de lei para sanção, o
Presidente da República tem o prazo de 15 dias para expor suas razões.
Decorrido o prazo de 15 dias, o silêncio importará em sanção tácita.

Por outro lado, o Presidente do Executivo poderá vetar, no todo ou em parte,


projeto de lei que considerar inconstitucional (veto jurídico) ou contrário ao
interesse público (veto político). Todavia, o veto do PR não põe fim ao
processo legislativo pois o veto será apreciado pelo Congresso Nacional, em
sessão conjunta, dentro do prazo de 30 dias a contar do seu recebimento,
podendo ser rejeitado pelo voto da maioria absoluta dos membros do Senado e
da Câmera, em escrutínio secreto.

Por fim, temos a fase complementar que compreende a promulgação e a


publicação da lei. A promulgação é o ato solene que atesta o nascimento da lei.
Já a publicação é o ato por meio do qual a lei se torna conhecida, e,
consequentemente, obrigatória. Geralmente a promulgação e a publicação
acontecem concomitantemente, mas não se confundem.

As Emendas à Constituição constituem tipo de espécie normativa que exigem


o procedimento mais solene para sua criação. Isso acontece porque nossa
Constituição é do tipo rígida. Ademais, para se emendar a Constituição é
preciso proposta de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos
Deputados ou do Senado Federal; ou do Presidente da República; ou de mais
da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federação,
manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros.

Com relação as espécies normativas lei complementar e lei ordinária é


importante esclarecer que o STF já deixou assente o entendimento de que não
existe hierarquia entre tais espécies normativas. A diferença que existe é tão
somente o quórum de aprovação que, no caso de lei complementar, é mais
solene. Existem algumas matérias que apenas podem ser veiculadas por meio
de lei complementar.

Caso a Constituição nada fale a respeito, é porque aquela matéria pode ser
tratada por lei ordinária. Consequentemente, se há uma lei complementar com
uma parte que trata de matéria de lei ordinária, neste ponto a lei será
formalmente lei complementar, mas materialmente lei ordinária, de modo que
poderá ser revogada por esta, dada a inexistência de hierarquia entre essas
espécies normativas como já citado. Também é importante destacar que a
constituição estadual só pode exigir lei complementar para as mesmas
matérias que a Constituição Federal exige.

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As leis delegadas serão elaboradas pelo Presidente da República, que deverá
solicitar a delegação ao Congresso Nacional. O instrumento pelo qual o Poder
Legislativo autoriza a elaboração de lei delegada é a resolução. A delegação
pode ser do tipo típica ou atípica. Na delegação típica ou própria, o Presidente
da República poderá promulgar o projeto de lei e determinar sua publicação,
não sendo necessário o retorno ao Congresso Nacional para aprovação. Por
outro lado, caso conste na resolução que o projeto de lei elaborado deverá
retornar ao Legislativo para apreciação, a delegação é denominada de atípica
ou imprópria.

Neste caso, o projeto deverá retornar ao Legislativo e será apreciado em


votação única, vedada a apresentação de qualquer emenda. Existem várias
teses que tentam explicar a natureza da medida provisória (ato administrativo;
ato político; projeto de lei com força cautelar de lei, ato legislativo sob condição
resolutiva, etc). Prevalece o entendimento de que a medida provisória se trata
de ato normativo primário, pois busca seu fundamento de validade na
Constituição, inovando na ordem jurídica.

O texto constitucional estabelece que em caso de relevância e urgência, o


Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei,
devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional. Existem algumas
matérias que não podem ser veiculadas por meio de MP, como por exemplo
direito penal, processual penal e processual civil. Recomendamos uma leitura
atenta ao que dispõe o texto constitucional sobre tais vedações.

As medidas provisórias, perderão eficácia, desde a edição, se não forem


convertidas em lei no prazo de sessenta dias, prorrogável, uma vez por igual
período, devendo o Congresso Nacional disciplinar, por decreto legislativo, as
relações jurídicas delas decorrentes. É importante destacar que as medidas
provisórias terão sua votação iniciada sempre na Câmara dos Deputados.

Se é proposta ADI contra uma medida provisória e, antes de a ação


ser julgada, a MP é convertida em lei, esta ADI perde o objeto.
Comentários: Como o texto da MP foi mantido, não há que se falar
F em prejudicialidade do pedido. Isso porque não há a convalidação de
eventuais vícios existentes na norma, motivo pelo qual permanece a
possibilidade de o STF realizar o juízo de constitucionalidade (STF –
Plenário, ADI 1055/DF).
Com relação ao decreto legislativo e as resoluções é importante destacar
que ambos são atos normativos primários: independem de sanção presidencial
e a promulgação é realizada pela Respectiva Mesa.

A doutrina costuma estabelecer a seguinte diferença: Decreto Legislativo tem


geralmente efeitos externos e é editado pelo Congresso Nacional; Resolução
tem efeitos internos. Editada pelo Congresso Nacional, Senado Federal ou
Câmara dos Deputados. No caso de lei delegada, a Constituição estabelece
que a delegação ao Presidente da República terá a forma de resolução do
Congresso Nacional, que especificará seu conteúdo e os termos de seu
exercício. Já as medidas provisórias não convertidas em lei poderão ter as

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relações jurídicas dela decorrentes disciplinadas por meio de decreto
legislativo.

É o conjunto de atos ordenados, cuja finalidade é a produção


Procedimento das seguintes espécies normativas: Emenda à Constituição;
Legislativo Lei Complementar; Lei Ordinária; Lei Delegada; Medida
Provisória; Decreto Legislativo e Resolução.
Fases do 1- introdutória (apresentação no projeto de lei pelo
Processo legitimado); 2- constitutiva (discussão; votação; aprovação e
Legislativo sanção) e 3- Complementar (promulgação e publicação da
lei).
Projeto de lei rejeitado somente poderá constituir objeto de
novo projeto, na mesma sessão legislativa, mediante
Princípio da proposta da maioria absoluta dos membros de qualquer das
irrepetibilidade Casas do Congresso Nacional. No caso de MP rejeitada, só
pode haver nova proposta na próxima sessão
I. Emenda à Constituição;
II. Lei Complementar;
Espécies
normativas III. Lei Ordinária;
IV. Lei Delegada;
V. Medida Provisória;
VI. Decreto Legislativo;
VII. Resolução.

(Analista – BA CESPE/2017): No O Projeto de lei aprovado


pelo Congresso Nacional é enviado ao presidente da
República, que pode vetá-lo ou sancioná-lo. Considera-se o
veto do presidente um ato
(A) supressivo ou aditivo, já que pode determinar a retirada
ou a inclusão de dispositivos no projeto de lei.
(B) retratável, por ser suscetível de posterior alteração pelo
próprio presidente da República.
(C) político, pois não há necessidade de que seja motivado.
(D) absoluto, pois encerra definitivamente o processo
legislativo em relação aos dispositivos vetados.
(E) expresso, pois deve resultar de manifestação efetiva do
chefe do Executivo.

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GABARITO COMENTADO:

QUESTÃO 1: (A) INCORRETA: O veto é considerado supressivo, mas


nunca será aditivo.
(B) INCORRETA: O veto não admite retratação.
(C) INCORRETA: O veto poder ser jurídico (fundado em
razão de inconstitucionalidade) ou jurídico (fundado em
razões de interesse público). De qualquer modo, o veto será
obrigatoriamente motivado.
(D) INCORRETA: O veto não encerra de forma definitiva o
processo legislativo. A doutrina o considera relativo,
suspensivo ou superável. Isso porque os dispositivos
vetados pelo Chefe do Executivo poderão ser restabelecidos
por deliberação do Congresso Nacional.
(E) CORRETA: Ao contrário da sanção que pode ser tácita
ou expressa, o veto sempre será expresso.
(DELEGADO PC – DF FUNDAÇÃO UNIVERSA/2015): No
que se refere ao processo legislativo, assinale a alternativa
correta segundo previsão da CF.
(A) As leis delegadas podem tratar de matérias reservadas à
Lei Complementar.
(B) Um projeto de lei que tratava de matéria X foi rejeitado.
Nesse caso, essa mesma matéria X pode ser objeto de
outro projeto na mesma sessão legislativa, desde que
proposta pela maioria absoluta dos membros de qualquer
das casas do Congresso Nacional.
(C) Suponha-se que um senador tenha proposto projeto de
lei, dispondo acerca da criação de uma nova taxa. Nesse
caso, esse projeto será inconstitucional, visto que compete
privativamente ao Presidente da República a iniciativa de
propor projeto de lei que disponha acerca de matéria
tributária.
(D) Suponha-se que o Presidente da República encaminhe
ao Congresso Nacional medida provisória que trate da
chamada “reforma eleitoral”, dispondo a respeito de direitos
QUESTÃO 2: políticos, partidos políticos e direito eleitoral. Nesse caso,
não haverá qualquer obstáculo constitucional à conversão
dessa medida provisória em lei.
(E) As medidas provisórias terão início na Câmara dos
Deputados ou no Senado, devendo a outra casa funcionar
como revisora.

GABARITO COMENTADO:

(A) INCORRETA: As matérias reservadas à lei


complementar não podem ser tratadas por lei delegada.
(B) CORRETA: É o que determina o artigo 67 da CF.
(C) INCORRETA: As matérias de competência privativa do
Presidente estão previstas no artigo 61 da CF.
(D) INCORRETA: É proibida a edição de MP sobre

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nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos
e direito eleitoral.
(E) INCORRETA: Quem as edita é o Presidente da
República e iniciam-se na Câmara dos Deputados.

8. PODER EXECUTIVO

8.1 Forma e sistema de governo.

Caro aluno, é importante enfatizar que o sistema de governo escolhido por um


Estado consiste na maneira como se dá a relação entre os Poderes. A forma
de governo pode ser República ou Monarquia, enquanto a forma de Estado
pode ser Unitário ou Federado. O Sistema de Governo pode ser classificado
em Presidencialismo ou Parlamentarismo.

A história do Presidencialismo iniciou-se desde a Constituição norte-americana


de 1787 e vem sendo aprimorada até os dias de hoje 110. Nesse contexto o
Executivo tanto administra a coisa pública, exercendo função típica, como
também legisla e julga, no contencioso administrativo, exercendo as funções
atípicas.

Assim, destaca-se que são características básicas do presidencialismo:

a) ser um sistema de governo surgido com o modelo clássico da separação de


poderes indicado por Montesquieu; b) consagrar a unipessoalidade na Chefia
do Estado e Chefia de Governo; c) garantir a independência entre o Executivo
e o Legislativo; d) possibilidade de responsabilização do Presidente da
República, penal, e politicamente por crimes de responsabilidade 11. A título de
exemplo do sistema presidencialista é possível indicar o Brasil e os EUA,
enquanto exemplo do sistema parlamentarista podemos citar a Inglaterra.

Destaca-se que uma das mais relevantes características do presidencialismo


consiste na unipessoalidade na Chefia do Estado e na Chefia do Governo. Tal
característica é fundamental para diferenciar o presidencialismo do
parlamentarismo. No sistema presidencialista o Presidente da República
acumula todas as funções executivas, como a função de Chefe do Estado, na
qual representa o país nas relações exteriores e a função de Chefe de Governo
quando conduz a Administração Pública e as políticas públicas do Estado.

No que tange ao parlamentarismo, é certo que tem suas origens na Inglaterra e


possui algumas características que o diferenciam do presidencialismo. São
elas: 1) o Chefe de Estado e o Chefe de Governo são pessoas distintas; 2)
Interdependência entre os Poderes Executivo e Legislativo; 3) Mandato por
prazo indeterminado, isso significa que o Primeiro-Ministro (Chefe de Governo)
ocupa o cargo por tempo indeterminado, bastando que possua apoio do
Parlamento.

10
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional- 28.ed.- São Paulo: Atlas, 2012.p. 488.
11
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional- 28.ed.- São Paulo: Atlas, 2012.p. 488.

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O Brasil adotou: a) como forma de Estado: a Federação; b) como Regime
Político: a Democracia; c) como Forma de Governo: a República; d) como
Sistema de Governo: o Presidencialismo.

8.2 Atribuições e responsabilidades do Presidente da República

A Constituição Federal no seu art. 84 apresenta um rol com as atribuições do


Presidente da República, embora essa lista não seja taxativa, pois existem em
outras partes da Carta Magna outras atribuições do Presidente da República.

Dentre as atribuições do Presidente citadas pela Constituição Federal, é de


grande importância a competência prevista no inciso VI, do art. 84, da CF/88
que atribui competência ao Presidente da República para editar decretos
autônomos. No entanto, é importante enfatizar que essa competência é
delegável aos Ministros de Estado, bem como ao Procurador-Geral da
República e ao Advogado- Geral da União.

O decreto autônomo foi inserido na CF/88 por meio da EC nº 32/2001 com a


função de auxiliar na organização da Administração Pública Federal. Esse
decreto é equiparado aos atos normativos primários, por retirar da Constituição
seu fundamento de validade12.

Nesse contexto, prezado aluno, é importante ressaltar quais atos o Presidente


pode dispor por meio de Decreto Autônomo: i) organização e funcionamento da
administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem criação
ou extinção de órgãos públicos. ii) extinção de funções ou cargos públicos,
quando vagos. Destaca-se que a extinção das funções e cargos públicos
apenas será objeto de Decreto autônomo quando estiverem vagos, todavia
quando não estiver vago dependerá de lei.

Para que o Presidente exerça sua função com independência faz-se


necessário lhe atribuir algumas prerrogativas e imunidades. As imunidades são
classificadas em formal e material. A imunidade formal relaciona-se ao
processo, pois o Presidente somente poderá ser processado por crimes
comuns ou de responsabilidade após o juízo de admissibilidade da Câmara dos
Deputados, que depende do voto de 2/3 de seus membros para autorizar o
seguimento do processo. Ademais, o Presidente não poderá ser preso quando
se tratar de infrações comuns, enquanto não sobrevier sentença condenatória,
conforme dispõe o art. 86, §3º, da CF/88.
A imunidade material se refere a inviolabilidade civil e penal por palavras e
opiniões proferidas no exercício da função ou em razão dela. Ademais, vale

12
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional- 28.ed.- São Paulo: Atlas, 2012.p. 498.

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ressaltar que o Presidente é relativamente irresponsável, uma vez que não
poderá ser responsabilizado por atos estranhos praticados no exercício de
suas funções.

Desse modo, extrai-se do Texto Constitucional que existem dois tipos de


infrações que podem ser praticadas pelo Presidente da República. São os
crimes comuns e os crimes de responsabilidade. Os crimes de
responsabilidade estão previstos em um rol exemplificativo no art. 85, da CF/88
e são infrações político-administrativas cometidas durante o desempenho da
função e que afrontam o livre exercício dos Poderes, a segurança interna do
país, a probidade administrativa, o exercício dos direitos políticos, individuais e
sociais, dentre outros.

No que diz respeito aos crimes comuns, observa-se que são infrações penais
previstas no Código Penal ou em leis especiais penais. Nesses crimes o
Presidente será processado pelo STF, após autorização da Câmara dos
Deputados.

É vedado às unidades federativas instituírem normas que condicionem a


instauração de ação penal contra o governador por crime comum à
prévia autorização da casa legislativa, cabendo ao STJ dispor sobre a
aplicação de medidas cautelares penais, inclusive o afastamento do
cargo. STF. Plenário. ADI 4777/BA, ADI 4674/RS, ADI 4362/DF, rel. Orig. Min.
Dias Toffoli, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 09/08/2017
(informativo 872)

Nos crimes de responsabilidade o Presidente ficará suspenso de suas funções


a partir da instauração do processo pelo Senado Federal. Nos crimes comuns,
o Presidente ficará suspenso desde o recebimento da queixa-crime ou
denúncia pelo STF.

Em relação aos governadores de Estado e do Distrito Federal é pacificado o


entendimento de que pode existir imunidade formal em relação ao processo,
desde que haja previsão na Constituição Estadual de necessidade de
autorização por parte da Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa.

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Características básicas do presidencialismo:
a) ser um sistema de governo surgido com o modelo
clássico da separação de poderes indicado por
Montesquieu;
b) consagrar a unipessoalidade na Chefia do Estado e
Presidencialismo Chefia de Governo.
c) Garantir a independência entre o Executivo e o
Legislativo.
d) A possibilidade de responsabilizar o Presidente da
República, penal, e politicamente por crimes de
responsabilidade.
Características do parlamentarismo:
a) o Chefe de Estado e o Chefe de Governo são pessoas
distintas;
b) Interdependência entre os Poderes Executivo e
Parlamentarismo Legislativo;
c) Mandato por prazo indeterminado, isso significa que o
Primeiro-Ministro (Chefe de Governo) ocupa o cargo por
tempo indeterminado, desde que possua apoio do
Parlamento.
Essa imunidade refere-se ao processo, pois o Presidente
somente poderá ser processado por crimes comum ou de
Imunidade responsabilidade após o juízo de admissibilidade da
Formal Câmara dos Deputados, que depende do voto de 2/3 de
seus membros para autorizar o seguimento do processo.
Ademais, o presidente não sofrerá prisões cautelares, mas
só poderá ser preso após o trânsito em julgado da
sentença condenatória.
Essa imunidade protege o Presidente por palavras e
opiniões proferidas no exercício da função e só poderá ser
Imunidade punido por atos praticados no exercício de sua função.
Material Nesse caso, suspende-se a prescrição até o fim do
mandato, quando poderá ser proposta ação penal.

(DELEGADO PC – PE CESPE/2016): Com base na


disciplina constitucional acerca dos tratados internacionais,
da forma e do sistema de governo e das atribuições do
presidente da República, assinale a opção correta.

(A) Insere-se no âmbito das competências privativas do

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Senado Federal resolver definitivamente sobre tratados,
acordos ou atos internacionais que acarretem encargos
ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional.

(B) O sistema presidencialista de governo adotado no


Brasil permite que o presidente da República, na condição
de chefe de Estado, decrete o estado de defesa e o estado
de sítio, independentemente de autorização do Congresso
Nacional.
(C) Da forma republicana de governo adotada pela CF
decorre a responsabilidade política, penal e administrativa
dos governantes; os agentes públicos, incluindo-se os
detentores de mandatos eletivos, são igualmente
responsáveis perante a lei.
(D) Na condição de chefe de governo, cabe ao presidente
da República editar atos administrativos que criem e
provejam órgãos públicos federais, na forma da lei.
(E) Tratados e convenções internacionais sobre direitos
humanos, para que sejam equivalentes a emendas
constitucionais, deverão ser aprovados em cada Casa do
Congresso Nacional, por maioria absoluta de votos, em
dois turnos de discussão e votação.
QUESTÃO 1:
PODER GABARITO COMENTADO:
EXECUTIVO
(A) INCORRETA: Trata-se de competência exclusiva do
Congresso Nacional, conforme se extrai do Art. 49, da
CF/88: “É da competência exclusiva do Congresso
Nacional: I - resolver definitivamente sobre tratados,
acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou
compromissos gravosos ao patrimônio nacional”.
(B) INCORRETA: Apesar de ser competência privativa do
Presidente da República decretar o estado de defesa e o
estado de sítio (art. 84, IX, CF/88), percebe-se que o Art.
49 da CF/88 dispõe que: “É da competência exclusiva do
Congresso Nacional: IV - aprovar o estado de defesa e a
intervenção federal, autorizar o estado de sítio, ou
suspender qualquer uma dessas medidas”.
(C) CORRETA: é sabido que da forma republicana de
governo adotada pela CF decorre a responsabilidade
política, penal e administrativa dos governantes; os
agentes públicos, incluindo-se os detentores de mandatos
eletivos que são igualmente responsáveis perante a lei.
(D) INCORRETA: Sabe-se que segundo o art. 48, XI, da
CF/88, é competência do Congresso Nacional coma
sanção do Presidente da República a criação e extinção de
Ministérios e órgãos da administração pública. Enquanto
que a organização e funcionamento da administração
federal - quando não implicar aumento de despesa nem
criação ou extinção de órgãos públicos - é de competência

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privativa do Presidente da República, o qual deverá dispor
sobre o assunto mediante decreto autônomo, nos termos
do art. 84, VI, CF/88.
(E) INCORRETA: Conforme art. 5º, §3º, CF/88, os tratados
e convenções internacionais sobre direitos humanos que
forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional,
em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos
membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.

9. PODER JUDICIÁRIO
9.1 Disposições gerais

O Poder Judiciário exerce suas funções de forma autônoma e independente.


Para isso, a Constituição Federal atribui aos magistrados algumas autonomias
funcionais elencadas no art. 95, da CF/88. São elas: a) vitaliciedade, que, no
primeiro grau, só será adquirida após dois anos de exercício, dependendo a
perda do cargo, nesse período, de deliberação do Tribunal a que o juiz estiver
vinculado, e, nos demais casos, de sentença judicial transitada em julgado; b) -
inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público; c) irredutibilidade de
subsídio.

O ingresso na Magistratura pode se dá no primeiro grau ou nos Tribunais, por


meio do quinto constitucional. Essa regra é utilizada na composição dos
Tribunais Regionais Federais, Tribunais dos Estados, Distrito Federal e
Territórios, segundo a qual um quinto dos lugares desses tribunais será
reservado para os membros do Ministério Público com mais de 10 anos de
carreira e advogados de notório saber jurídico e reputação ilibadas, com mais
de 10 anos de efetiva atividade profissional, conforme dispõe o artigo 94, caput,
e parágrafo único. Todavia, a regra do quinto constitucional não alcança os
Tribunais Superiores.

Nesse contexto, também é relevante enfatizar as vedações dirigidas aos


magistrados como: a) exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou
função, salvo uma de magistério; b) receber, a qualquer título ou pretexto,
custas ou participação em processo; c) dedicar-se à atividade políticopartidária;
d) receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas
físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em
lei; e) exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de
decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou
exoneração.

9.2 Supremo Tribunal Federal

A Constituição Federal, no art. 101, prevê que o STF é composto por 11 (onze)
ministros, escolhidos dentre os cidadãos com mais 35 anos (trinta e cinco) e
menos de 65 (sessenta e cinco) anos de idade, além de possuir notável saber
jurídico e reputação ilibada. Para assumir uma vaga no STF é necessário ser
brasileiro nato. A nomeação do ministro do STF é competência do Presidente
da República após aprovação pela maioria absoluta do Senado Federal. O STF

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é o órgão de cúpula do Poder Judiciário bem como é o guardião da
Constituição Federal.

O STF pode ser acionado diretamente, ocasião em que exercerá a


competência originária, ou pode ser provocado por intermédio de recursos
ordinários e extraordinários, exercendo a competência recursal. As
competências do STF estão arroladas no art. 102, da CF/88, e recomendamos
uma leitura atenta de tais dispositivos.

Um tema muito importante se refere às sumulas vinculantes. A súmula


vinculante pode ser definida como resultado de reiteradas decisões do
Supremo Tribunal Federal a respeito de determinada matéria, após o
consentimento de dois terços dos seus membros, tornando-se de observância
obrigatória por todos os órgãos do Poder Judiciário e da Administração Pública
direta e indireta de todas as esferas da federação, a partir de sua publicação na
imprensa oficial. Assim, percebe-se que nesse contexto o único Poder que não
se vincula a decisão do STF é o Poder Legislativo, em razão da liberdade da
atividade normativa.

Destaca-se que a finalidade principal da súmula vinculante é declarar um


posicionamento em relação à validade, eficácia e interpretação de questões
constitucionais, em que exista controvérsia entre órgãos do Poder Judiciário ou
entre ele e o Poder Administrativo, provocando intensa insegurança jurídica.

Para que um entendimento venha a ser sumulado faz-se necessário atender


aos seguintes requisitos: a) que a matéria tenha sido apreciada em reiteradas
decisões; b) tenha por objetivo discutir a validade, eficácia e interpretação de
normas determinadas; c) haja controvérsia atual entre órgãos do Poder
Judiciário ou entre ele e o da Administração Pública; d) insegurança jurídica e
multiplicação de processos sobre questões idênticas; e) observação do quórum
de dois terços de votação; f) discussão sobre matéria exclusivamente
constitucional.13

Ainda, é importante ressaltar que possuem legitimidade para proposição de


enunciado sumular: a) Presidente da República; b) Mesa do Senado Federal; c)
Mesa da Câmara dos Deputados; d) Mesa da Assembléia Legislativa do
Distrito Federal; e) Governador do Estado e do Distrito Federal; f) Procurador-
Geral da República; g)Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; h)
Partido Políticos com representação no Congresso Nacional; i)Confederação
sindical ou entidade de classe de âmbito nacional; j) Defensor Público- Geral
da União; k) Tribunais superiores, Tribunais de Justiça de estados ou DF e
Territórios, TRF, TER e Tribunais Militares. Destaca-se que os entes municipais
não possuem legitimidades ativa para propor edição, revisão ou cancelamento
de enunciado sumular vinculante.14

Desse modo, quando a decisão judicial ou ato administrativo contrariar o


conteúdo sumulado, ou negar-lhe vigência ou for aplicado indevidamente o

13
AGRA, Walber de Moura. Curso de Direito Constitucional. 7ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012.p. 587.
14
AGRA, Walber de Moura. Curso de Direito Constitucional. 7ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012.p. 586

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meio de impugnação cabível será a reclamação. Esse instrumento poderá ser
cabível quando houver a não aplicação da súmula; quando lhe for negada a
vigência, ou quando for aplicada em desacordo com o estabelecido pelo STF 15.

9.3 Superior Tribunal de Justiça

O Superior Tribunal de Justiça compõe-se de, no mínimo, trinta e três


Ministros, nomeados pelo Presidente da República, dentre brasileiros com mais
de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos, de notável saber jurídico e
reputação ilibada, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do
Senado Federal, sendo composto de um terço dentre juízes dos Tribunais
Regionais Federais e um terço dentre desembargadores dos Tribunais de
Justiça, indicados em lista tríplice elaborada pelo próprio Tribunal. E também,
um terço, em partes iguais, dentre advogados e membros do Ministério Público
Federal, Estadual, do Distrito Federal e Territórios, alternadamente, indicados
na forma do art. 94. Destaca-se que, como o STF é o guardião da Constituição,
o STJ é o guardião do ordenamento jurídico federal 16.

O STJ possui competências originárias que são aquelas em que o Tribunal é


provocado diretamente e as competências recursais por meio do recurso
ordinário constitucional e recurso especial. Confira o art. 105 do texto
constitucional.

Caro aluno é importante atentar para a possibilidade incidente de


deslocamento de competência quando houver hipóteses de grave violação de
direitos humanos. Desse modo, o Procurador-Geral da República, com a
finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados
internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá
suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito
ou processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça
Federal, nos termos do art. 109, §5º da CF/88.

9.4 Tribunais regionais federais e juízes federais

Os Tribunais Regionais Federais e os juízes federais são órgãos da Justiça


Federal. Os TRF compõem-se de, no mínimo, sete juízes, recrutados, quando
possível, na respectiva região e nomeados pelo Presidente da República
dentre brasileiros com mais de trinta e menos de sessenta e cinco anos, sendo
que um quinto será escolhido dentre advogados com mais de dez anos de
efetiva atividade profissional e membros do Ministério Público Federal com
mais de dez anos de carreira e os demais, mediante promoção de juízes
federais com mais de cinco anos de exercício, por antiguidade e merecimento,
alternadamente.

A competência da Justiça Federal está prevista no art. 108 seguintes da CF/88,


cujo rol é taxativo. A competência da justiça estadual, por sua vez, é residual.

15
AGRA, Walber de Moura. Curso de Direito Constitucional. 7ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012.p. 587
16
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional- 28.ed.- São Paulo: Atlas, 2012.p. 586.

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9.5 Tribunais e juízes dos estados

A Justiça Estadual é composta pelos Tribunais de Justiça – TJ`s e Juízes de


Direito. A estrutura das suas atividades será elaborada pelo Estatuto de
organização Judiciária de iniciativa do respectivo Tribunal de Justiça.

O número de desembargadores do TJ é fixado por lei de iniciativa do próprio


TJ, que deve observar a regra do quinto constitucional na composição dos seus
membros. Ressalta-se que nos Tribunais com número superior a vinte cinco
desembargadores poderão ser criado órgão especial, com o mínimo de onze
e máximo de vinte cinco membros para execução de atividades administrativas
e jurisdicionais.17

Destaca-se que o Tribunal de Justiça funciona como segunda instância das


decisões dos juízes estaduais e a terceira e a quarta instâncias tramitam no
âmbito federal.

9.6 Funções essenciais à justiça

As funções essências à justiça são atividades que podem ser consideradas


públicas ou privadas e necessárias à propulsão da jurisdição. Assim, em razão
da jurisdição ter com característica a inércia, é preciso que seja provocada para
que atue. Disso resulta a importância dos titulares das funções essenciais à
justiça como o Ministério Público, a Advocacia Pública, o profissional da
advocacia e a Defensoria Pública (rol taxativo elencado pela CF/88). Destaca-
se que esses órgãos não fazem parte do Poder judiciário, mas são, conforme já
citado, essencialmente necessários ao êxito da função judicial.

Assim, a inércia da jurisdição é compensada pelo dinamismo dos protagonistas


das funções essenciais à justiça, e a importância desses sujeitos é realçada
ainda mais, pois atuam em defesa dos interesses do Estado enquanto
comunidade, e não do Estado como pessoa.

Ministério Público é uma instituição permanente, essencial à função


jurisdicional do Estado, encarregado de defender a ordem jurídica, guardião do
regime democrático e defensor dos interesses sociais e individuais
indisponíveis (artigo 127, CF/88). Os princípios que regem o Ministério Público
são: a unidade que considera o MP como instituição única, sendo a divisão
meramente funcional; a indivisibilidade que consiste na possibilidade de um
membro do MP substituir outro sem causar qualquer implicação prática; e a
independência funcional que é a autonomia de convicção dos membros do
MP, livres que são de qualquer ingerência hierárquica. Todos esses princípios
estão previstos na CF/88 em seu artigo 127, §1º.

Ainda é assegurada ao Ministério Público a autonomia funcional que garante


que o membro do MP não se submeterá a qualquer outro Poder seja

17
AGRA, Walber de Moura. Curso de Direito Constitucional. 7ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012.p. 634.

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Legislativo, Executivo ou Judiciário. Também é assegurada autonomia
administrativa, que corresponde a capacidade de direção por si próprio; bem
como é garantida a autonomia financeira que é a capacidade de elaborar a sua
proposta orçamentária.

É de suma importância destacar as garantias constitucionais concedidas aos


membros do MP: vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de subsídios.
Essas garantias são denominadas pela doutrina como “garantias de liberdade”,
pois há também as “garantias de imparcialidade”, que são as seguintes
vedações: recebimento de honorários, percentagens e custas; o exercício da
advocacia; participação em sociedade comercial; o exercício de qualquer outra
função pública, salvo a de magistério; o exercício de atividade político
partidária, bem como receber auxílios e contribuições e advogar no
juízo/tribunal do qual se afastou antes de três anos.18

O Ministério Público compreende o Ministério Público da União - MPU e os


Ministérios Públicos dos Estados – MPE. O Ministério Público da União (MPU)
abrange: a) O Ministério Público Federal (MPF); b) O Ministério Público do
Trabalho (MPT); c) O Ministério Público Militar (MPM); d) O Ministério Público
do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). É importante destacar que o
Ministério Público Eleitoral (MP Eleitoral), que não possui estrutura
independente, mas é composto por membros do MPE e do MPF.

O Chefe do Ministério Público da União (MP Federal, MP do Trabalho, MP


Militar e MP do DF e territórios) é o Procurador Geral da República - PGR,
nomeado pelo Presidente da República dentre os integrantes da carreira,
maiores de 35 anos, após a aprovação de seu nome pela maioria absoluta do
Senado Federal, para mandato de 2 anos, podendo ser mais de uma
recondução, sem qualquer limite. Assim, PGR pode ser destituído pelo próprio
Presidente da República, dependendo de autorização prévia da maioria
absoluta do Senado Federal.

Para a escolha dos Procuradores Gerais dos Ministérios Públicos estaduais e


do DF e Territórios, é formada uma lista tríplice dentre os integrantes da
carreira, dentre os quais um será nomeado pelo Governador, para um mandato
de 2 anos, permitida uma única recondução. Todavia, a destituição de tais
membros deverá ser precedida de autorização do Legislativo por maioria
absoluta.

O Conselho Nacional do Ministério Público-CNMP é composto por 14


membros, sendo 8 oriundos do MP (PGR, 4 do MPU e 3 do MP dos Estados); 2
do Poder Judiciário, indicados um pelo STF e o outro pelo STJ; 2 da advocacia
e 2 cidadãos (indicados pelo Senado Federal e o outro pela Câmara dos
Deputados). Cabe ao Presidente da República nomear os integrantes do
Conselho após a aprovação da escolha pela maioria absoluta do Senado
Federal. Esse órgão tem a competência de controlar a atuação administrativa e

18
MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 28.ed.- São Paulo: Atlas, 2012.pp. 649-650.

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financeira do Ministério Público, bem como o cumprimento funcional de seus
membros.

A Advocacia Pública é a instituição responsável pela defesa jurídica dos entes


Federativos. O chefe da AGU é o Advogado-Geral da União que atua no
âmbito federal. É nomeado livremente pelo Presidente da República, escolhido
dentre cidadãos maiores de trinta e cinco anos, de notável saber jurídico e
reputação ilibada (art. 131, §1º, CF). Destaca-se que a AGU integra o Poder
Executivo e o ingresso em sua carreira se dá através de concurso público de
provas e títulos.

A representação judicial e a consultoria jurídica das unidades federativas serão


exercidas pelos Procuradores dos Estados e do Distrito Federal. O ingresso na
carreira dependerá de concurso público de provas e títulos, com a participação
da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as suas fases conforme o art.
132, capu”, da CF. A estabilidade é adquirida após três anos de efetivo
exercício, mediante avaliação de desempenho perante os órgãos próprios,
após relatório circunstanciado das corregedorias.

Em relação à Defensoria Pública sabe-se que é também uma instituição


essencial à função jurisdicional, cabendo-lhe a orientação e defesa dos
necessitados. O ingresso na carreira se dá por meio de concurso público de
provas e títulos, sendo vedado o exercício da advocacia fora das atribuições
institucionais. Os seus integrantes serão remunerados através de subsídio e
terão direito à garantia da inamovibilidade. Ademais, a Defensoria possui
autonomia funcional e administrativa, bem como o direito de elaborar sua
proposta orçamentaria dentro dos limites estabelecidos pela lei de diretrizes
orçamentária.

Poder Conjunto de órgãos aos quais a Constituição Federal


Judiciário incumbiu a função jurisdicional.
I - exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou
função, salvo uma de magistério;
II - receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou
Vedações participação em processo;
dirigidas aos III - dedicar-se à atividade político-partidária.
magistrados IV - receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou
contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou
privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei;
V - exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se
afastou, antes de decorridos três anos do afastamento do
cargo por aposentadoria ou exoneração.
Conjunto de órgãos e entidade aos quais a Constituição
Funções Federal estabeleceu atribuições próprias. Tais órgãos e
essenciais à entidades não exercem função jurisdicional. Podem integrar
justiça algum Poder, a exemplo da Defensoria Pública que integra

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o Poder Executivo, ou ser considerado uma instituição
independente e autônoma, a exemplo do Ministério Público.
O Ministério Público é instituição permanente, essencial à
Ministério função jurisdicional do Estado, incumbindo lhe a defesa da
Público ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses
sociais e individuais indisponíveis.
A Advocacia Pública é a instituição que, diretamente ou
através de órgão vinculado, representa o Estado, judicial e
Advocacia extrajudicialmente, cabendo-lhe, nos termos da lei
Pública complementar que dispuser sobre sua organização e
funcionamento, as atividades de consultoria e
assessoramento jurídico do Poder Executivo.
É formada por bacharéis em Direito, devidamente inscritos
Advocacia nos quadros da Ordem dos Advogados do Brasil. O
Privada advogado é indispensável à administração da justiça, sendo
inviolável por seus atos e manifestações no exercício da
profissão, nos limites da lei.
A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à
função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como
expressão e instrumento do regime democrático,
Defensoria fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos
Pública direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e
extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma
integral e gratuita, aos necessitados.

(ESCRIVÃO PC – PE CESPE/2016): Acerca do Poder


Judiciário e das competências de seus órgãos, assinale a
opção correta.
(A) Compete aos juízes de direito do juízo militar processar
e julgar, singularmente, os crimes militares cometidos
contra civis.
(B) A disputa sobre direitos indígenas será processada e
julgada perante a justiça estadual.
(C) Os crimes contra a organização do trabalho serão
processados e julgados perante a justiça do trabalho.
(D) Não é necessário que decisões administrativas dos
tribunais do Poder Judiciário sejam motivadas.
(E) Compete ao Conselho Nacional de Justiça apreciar, de
ofício, a legalidade dos atos administrativos praticados por
servidores do Poder Judiciário.

GABARITO COMENTADO:

(A) CORRETA: está correta nos termos do art. 125, § 5º,


CF/88, “Compete aos juízes de direito do juízo militar

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processar e julgar, singularmente, os crimes militares
cometidos contra civis e as ações judiciais contra atos
disciplinares militares, cabendo ao Conselho de Justiça,
sob a presidência de juiz de direito, processar e julgar os
demais crimes militares”.
QUESTÃO 1 (B) INCORRETA: Conforme art. 109, XI, CF/88, “Aos
juízes federais compete processar e julgar: XI - a disputa
sobre direitos indígenas”.
(C) INCORRETA: Trata-se de competência da justiça
federal, segundo o art. 109, VI, CF/88, “Aos juízes federais
compete processar e julgar: VI - os crimes contra a
organização do trabalho e, nos casos determinados por lei,
contra o sistema financeiro e a ordem econômico-
financeira”.
(D) INCORRETA: Nos termos do art. 93, X, CF/88, “as
decisões administrativas dos tribunais serão motivadas e
em sessão pública, sendo as disciplinares tomadas pelo
voto da maioria absoluta de seus membros”.
(E) INCORRETA: Conforme art. 103-B, § 4º, CF/88
“Compete ao Conselho o controle da atuação
administrativa e financeira do Poder Judiciário e do
cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, cabendo-
lhe, além de outras atribuições que lhe forem conferidas
pelo Estatuto da Magistratura: II - zelar pela observância
do art. 37 e apreciar, de ofício ou mediante provocação, a
legalidade dos atos administrativos praticados por
membros ou órgãos do Poder Judiciário, podendo
desconstituí-los, revê-los ou fixar prazo para que se
adotem as providências necessárias ao exato cumprimento
da lei, sem prejuízo da competência do Tribunal de Contas
da União.

10. ORGANIZAÇÃO DO ESTADO


Pessoal, aqui, teremos que memorizar mesmo, porque cai em prova, certo?!

Forma de Estado: unitário ou composto (federação);

Confederação: tem direito Federação: descentralização


de secessão. É uma pessoa política/repartição de
jurídica de direito público. Em competências/constituição rígida/inexistência
regra, são unidos por do direito de secessão (intervenção federal,
Tratados internacionais. A art. 34,I, da CF)/soberania do Estado
nacionalidade dos cidadãos Federal/intervenção/auto-organização dos
é a do Estado ao qual Estados-membros/órgão representativo do
pertencem. Estados (Senado)/guardião da Constituição
(STF)/repartição das receitas. Princípio da
indissolubilidade do vínculo federativo. Forma
federativa de Estado como limite material ao
poder de emenda (art. 60, §4º, I, CF). É um

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Estado, cuja união é estabelecida por uma
constituição.

Forma de governo: República ou monarquia.


Sistema de governo: Presidencialismo. Os principais sistemas são:
parlamentarismo, presidencialismo e semipresidencialismo.

- Divisão do Poder Executivo. Chefe de Estado >


Monarca ou Presidente da República; Chefe de
Governo: Primeiro Ministro.
Parlamentarismo - Não há prazo fixo para o exercício do cargo de
Primeiro Ministro.
- Responsabilidade do Primeiro Ministro frente ao
Parlamento.
- Chefe de Estado e Chefe de Governo: mesma
Presidencialismo pessoa.
- Independência em relação aos demais Poderes.
- Prazo de mandato fixo.
- Divisão do Poder Executivo: o Chefe de Estado é
Semipresidencialismo sempre o Presidente, que escolhe o Primeiro
Ministro.
Requisitos para manutenção da Federação:
- Constituição rígida;
- Imutabilidade da forma federativa de estado;
- Controle de constitucionalidade.

Art. 18. § 3º Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou


desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou
Territórios Federais, mediante aprovação da população diretamente
interessada, através de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei
complementar.
§ 4º A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de Municípios,
far-se-ão por lei estadual, dentro do período determinado por Lei
Complementar Federal, e dependerão de consulta prévia, mediante
plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após divulgação
dos Estudos de Viabilidade Municipal, apresentados e publicados na
forma da lei.

"Segundo a jurisprudência do STF, a expressão "população diretamente


interessada" constante do § 3, do art. 18, da CF, não deve ser entendida
como somente a população da área a ser destacada, mas, sim, como toda a
população do estado-membro, tanto da área desmembrada, quanto da área
remanescente". ADI 2650/DF, REL. MIN. DIAS TOFFOLI, 24.08.2011.

Federalismo por agregação (associação) ou centrípeto e federalismo por


desagregação (segregação) ou centrífugo: o centrífugo é o federalismo
impróprio, o que aconteceu no Brasil em 1891, formando os Estados Unidos do
Brasil, pela união das antigas províncias. São Estados imperfeitos
(segregação).

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Federalismo de 3º grau (atípico, tridimensional, tripartite): federação que
confere autonomia aos Municípios. No Brasil, só se deu a partir de 1988.
Interesses central, regional e local.

Federalismo de 2º grau (típico, bidimensional, bipartite).

Federalismo simétrico e assimétrico:


Simétrico: homogeneidade da língua, de cultura, desenvolvimento etc. Ex.:
EUA.
Assimétrico: diferença de língua, cultura, desenvolvimento. Ex.: suíça,
com 4 grupos étnicos diferentes e o Canadá, bilíngue e multicultural.

CARACTERÍSTICAS DO FEDERALISMO SIMÉTRICO:


- Intervenção Federal nos Estados;
- Poder judiciário dual (Federal e Estadual);
- Poder legislativo bicameral;
- Poder constituinte originário e poder constituinte decorrente.

UNIÃO X REPÚBLICA: a União tem dupla personalidade (interna e externa).


Interna = pessoa jurídica de direito público interno, parte da Federação,
autônoma. Capacidade de auto-organização, autogoverno, autolegislação e
autoadministração, configurando autonomia financeira, administrativa e política
(FAP). Internacionalmente: a União é representada pela República, que tem a
soberania.
Federalismo orgânico: Estado = organismo. Os estados-membros seria
simples reflexo do poder central. Séc. XX. Homogeneidade, centralista.
Objetivos ditatoriais de governos federais socialistas e da América Latina.
Federalismo de integração: sobreposição do governo central. Meramente
formal. Forte assimetria, é quase um estado unitário descentralizado.
Federalismo de 2º grau: tríplice estrutura do Estado Brasileiro. 3 ordens:
união, estado, municípios e DF. Poder de auto-organização dos Municípios
observando 2 graus: a CF e a CE.
Federalismo dual: separação rígida de competências, não havia cooperação.

ATENÇÃO: séc. XX, com o Estado do bem-estar social (Estado providência),


surge o federalismo de cooperação, de equilíbrio entre forças contraditórias, a
unidade e a diversidade, o localismo e o centralismo, entre a União e os
Estados-membros autônomos. Entes atuando em conjunto, de modo
concorrente, harmonia, forte e ampla dependência.

Brasil: centrífugo, de dentro para fora, era um Estado Unitário se


descentralizando, por segregação ou desagregação. Com a proclamação da
República, na constituição de 1891.

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Ano: 2017. Banca: Vunesp. Cargo: Juiz de Direito do
TJ-SP)

A instituição de região metropolitana para o fim de integrar


a organização, planejamento e execução de funções de
interesse público de interesse comum, autorizada pela
Constituição Federal, depende
A) de iniciativa de qualquer dos municípios que
componham a região, uma vez obtida a anuência dos
entes limítrofes, a ser instituída por Consórcio.
B) de iniciativa dos Estados-membros, desde que conte
com a anuência dos municípios limítrofes, a ser instituída
por Convênio.
C) de iniciativa dos Estados-Membros, por meio de Lei
Complementar.
D) de iniciativa dos Estados-membros, por meio de lei
ordinária.

GABARITO: C. Pura letra da lei. Vejamos:

Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas


Constituições e leis que adotarem, observados os
princípios desta Constituição.
§ 1º São reservadas aos Estados as competências que
não lhes sejam vedadas por esta Constituição.
§ 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante
concessão, os serviços locais de gás canalizado, na forma
da lei, vedada a edição de medida provisória para a sua
regulamentação. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 5, de 1995)
§ 3º Os Estados poderão, mediante lei complementar,
instituir regiões metropolitanas, aglomerações
urbanas e microrregiões, constituídas por
agrupamentos de municípios limítrofes, para integrar a
organização, o planejamento e a execução de funções
públicas de interesse comum.

(Ano: 2017. Banca: FCC: Cargo: Juiz de Direito do


TJSC)

A União editou Lei federal estabelecendo normas de


segurança e mecanismos de fiscalização de atividades que
envolvam organismos geneticamente modificados, tendo
também prescrito que:

Na comercialização de alimentos e ingredientes

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alimentares destinados ao consumo humano ou animal
que contenham ou sejam produzidos a partir de
organismos geneticamente modificados, com presença
ORGANIZAÇÃO acima do limite de um por cento do produto, o consumidor
DO ESTADO deverá ser informado da natureza transgênica desse
produto, podendo esse percentual ser reduzido por
decisão da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança
− CTNBio.

O direito do consumidor à informação sobre produto


geneticamente modificado foi, posteriormente, disciplinado
por Lei estadual que assim dispôs:

Na comercialização de alimentos e ingredientes


alimentares destinados ao consumo humano ou animal
que contenham ou sejam produzidos a partir de
organismos geneticamente modificados, o consumidor
deverá ser informado da natureza transgênica desse
produto, qualquer que seja sua representação quantitativa
nos alimentos e ingredientes alimentares.

Nesse contexto, e considerando o disposto na Constituição


Federal e a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, o
Estado

A) não poderia ter legislado na matéria, visto que compete


privativamente à União dispor sobre consumo, ainda que
esteja no âmbito da competência legislativa concorrente da
União, Estados e Distrito Federal matéria relativa à
responsabilidade por dano ao consumidor, podendo a
norma estadual inconstitucional ser objeto de ação direta
de inconstitucionalidade perante o Supremo Tribunal
Federal.
B) não poderia ter editado norma específica na matéria,
que se insere no âmbito da competência dos Municípios
para suplementar a legislação federal para atender ao
interesse local, podendo a norma estadual inconstitucional
ser objeto de ação direta de inconstitucionalidade perante
o Supremo Tribunal Federal.
C) poderia ter legislado na matéria, que se insere dentre as
competências legislativas concorrentes entre União,
Estados e Distrito Federal, cabendo à União a edição de
normas gerais e aos Estados e Distrito Federal a edição de
normas específicas. No entanto, ainda que se entendesse
que o Estado extrapolou sua competência e dispôs
indevidamente sobre normas gerais, a norma estadual não
poderia ser objeto de ação direta de inconstitucionalidade
perante o Supremo Tribunal Federal, uma vez que o ato
normativo estadual ofenderia apenas indiretamente a
Constituição Federal.

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D) poderia ter legislado na matéria, que se insere dentre as
competências legislativas concorrentes entre União,
Estados e Distrito Federal, cabendo à União a edição de
normas gerais e aos Estados e Distrito Federal a edição de
normas específicas. Caso se entenda que o Estado
extrapolou sua competência e dispôs indevidamente sobre
normas gerais, a norma estadual poderia ser objeto de
ação direta de inconstitucionalidade perante o Supremo
Tribunal Federal, uma vez que o ato normativo estadual,
nessa hipótese, violaria as normas constitucionais que
dispõem sobre a repartição de competências entre os
entes federados.
E) poderia ter legislado na matéria, que se insere dentre as
competências legislativas concorrentes entre União,
Estados e Distrito Federal, cabendo à União a edição de
normas gerais e aos Estados e Distrito Federal a edição de
normas específicas. No entanto, ainda que se entendesse
que o Estado extrapolou sua competência e dispôs
indevidamente sobre normas gerais, a norma estadual não
poderia ser objeto de ação direta de inconstitucionalidade
perante o Supremo Tribunal Federal, mas apenas de
arguição de descumprimento de preceito fundamental, por
ofensa ao pacto federativo.

GABARITO: D

Lei 14.861/2005 do Estado do Paraná. Informação


quanto à presença de organismos geneticamente
modificados em alimentos e ingredientes alimentares
destinados ao consumo humano e animal. Lei federal
11.105/2005 e Decretos 4.680/2003 e 5.591/2005.
Competência legislativa concorrente para dispor sobre
produção, consumo e proteção e defesa da saúde. Art.
24, V e XII, da CF. (...) Ocorrência de substituição – e não
suplementação – das regras que cuidam das exigências,
procedimentos e penalidades relativos à rotulagem
informativa de produtos transgênicos por norma estadual
que dispôs sobre o tema de maneira igualmente
abrangente. Extrapolação, pelo legislador estadual, da
autorização constitucional voltada para o
preenchimento de lacunas acaso verificadas na
legislação federal. Precedente: ADI 3.035, rel. min.
Gilmar Mendes, Plenário, DJ de 14-10-2005. [ADI 3.645,
rel. min. Ellen Gracie, j. 31-5-2006, P, DJ de 1º-9-2006.
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito
Federal legislar concorrentemente sobre:
V - produção e consumo;
XII - previdência social, proteção e defesa da saúde;
§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a
competência da União limitar-se-á a estabelecer

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normas gerais.
§ 2º A competência da União para legislar sobre
normas gerais não exclui a competência suplementar
dos Estados.

(Ano: 2017. Banca: Cespe. Cargo: Juiz de Direito do


TJ-PR)
Considerando a jurisprudência do STF sobre a
organização e estrutura dos poderes na CF e o modelo
federativo, assinale a opção correta.
A) Não violará a competência privativa da União para
legislar sobre propaganda a aprovação, por câmara
municipal, de lei que proíba a realização de eventos
patrocinados por distribuidoras de bebidas alcoólicas ou
cigarros em imóveis do município.
B) Segundo o STF, embora seja da União a competência
legislativa pertinente aos serviços de telecomunicações e
energia elétrica, não será inconstitucional lei estadual que
impeça a cobrança da tarifa de assinatura básica pelas
prestadoras do serviço.
C) Tornar-se-á dispensável o parecer do tribunal de contas
do estado na apreciação das contas anuais prestadas
pelos prefeitos que não for oferecido no prazo de cento e
oitenta dias.
D) Por tratar de segurança pública, norma estadual que
discipline bloqueadores de sinal para telefones celulares
em zonas de presídios não invadirá competência
legislativa da União sobre telecomunicações.

GABARITO: A. Bastava o conhecimento da jurisprudência


recente.

a) CERTA. Não houve ofensa ao art. 22, XXIX, da CF/88.


A Lei municipal em questão não limita a veiculação de
propagandas comerciais por distribuidoras de cigarro e de
bebidas alcoólicas, mas apenas proíbe a realização, em
imóveis do Município, de eventos patrocinados por
empresas envolvidas no comércio dessas substâncias.
Dessa forma, a lei local impõe restrição que recai sobre a
Administração Pública municipal e não sobre as empresas
comercializadoras de cigarros e bebidas alcoólicas. Logo,
esta lei encontra-se no âmbito de competência do
Poder Legislativo local. STF. 2ª Turma. RE 305470/SP,
rel. orig. Min. Ellen Gracie, rel. p/ o ac. Min. Teori Zavascki,
julgado em 18/10/2016 (Info 844).
b) ERRADO. A competência para legislar sobre serviços
de telecomunicações é privativa da União. Logo, é
inconstitucional lei estadual que proíba a cobrança de
assinatura mensal pelas concessionárias de serviços de
telecomunicações. STF. Plenário. ADI 4369/SP, Rel. Min.

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Marco Aurélio, julgado em 15/10/2014 (Info 763).
C) ERRADO. Esta previsão é inconstitucional por violar
o art. 31, § 2º, da CF/88. Pela leitura desse dispositivo, a
elaboração do parecer prévio é sempre necessária e a
Câmara Municipal somente poderá dele discordar se
houver manifestação de, no mínimo, 2/3 dos Vereadores.
STF. Plenário. ADI 3077/SE, Rel. Min. Cármen Lúcia,
julgado em 16/11/2016 (Info 847).
d) ERRADO. Lei estadual que disponha sobre
bloqueadores de sinal de celular em presídio invade a
competência da União para legislar sobre
telecomunicações. Normas estaduais que interfiram
diretamente na prestação da atividade desempenhada
pelas concessionárias de serviços de telecomunicação são
formalmente inconstitucionais considerando que, por
envolverem questões relacionadas ao interesse geral ou
nacional, devem ser tratadas de maneira uniforme no País
inteiro. A disciplina dos serviços públicos que funcionam
em todo o território cabe à União. Pela teoria da
prevalência do interesse, quando a matéria transcender os
interesses locais e regionais, a competência para dispor
sobre o assunto é da União. A instalação de bloqueadores
de sinal nas proximidades dos presídios pode afetar
diretamente a qualidade da prestação do serviço para a
população circundante, de forma que este tema deve ser
discutido e disciplinado de maneira uniforme em todo o
País. Essas leis estaduais não estão relacionadas com
peculiaridades locais. Além disso, o STF não concordou
com o argumento dos Estados de que tais leis tratariam
sobre direito penitenciário.STF. Plenário. ADI 3835/MS,
Rel. Min. Marco Aurélio, ADI 5356/MS, red. p/ o acórdão
Min. Marco Aurélio, ADI 5253/BA, Rel. Min. Dias Toffoli,
ADI 5327/PR, Rel. Min Dias Toffoli, ADI 4861/SC, Rel. Min.
Gilmar Mendes, julgados em 3/8/2016 (Info 833).

10.2 Intervenção

A competência para decretar intervenção é do Presidente da República e, por


simetria, do Governador de Estado.

A intervenção poderá ser espontânea (decretada de ofício) ou provocada


(depende de provocação). Por sua vez, a provocação poderá ser feita por meio
de solicitação ou requisição. Nessa não há discricionariedade (é obrigado a
decretar), naquela há discricionariedade (não obrigado a decretar).

INTERVENÇÃO PROVOCADA:

- Para garantir o livre exercício de qualquer dos poderes (Executivo, Legislativo


e Judiciário) nas unidades da federação, se a coação for ao EXECUTIVO ou
LEGISLATIVO, cabe ao próprio poder coacto requerer a intervenção,

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mediante SOLICITAÇÃO ao Presidente da República. Por sua vez, se a
coação for contra o JUDICIÁRIO, a provocação será do STF, mediante
REQUISIÇÃO ao Presidente;

- Para prover a execução de ordem ou decisão judicial, a provocação será


sempre mediante REQUISIÇÃO: a) se a ordem ou decisão for da Justiça
Eleitoral, requisição do TSE; b) se do STJ, caberá a ele a requisição; (c) se
descumprimento de ordem ou decisão judicial do STF, Justiça do Trabalho ou
Justiça Militar, a requisição caberá ao STF; (d) se da Justiça Federal ou
Justiça Estadual, a requisição caberá ao STJ para questões
INFRACONSTITUCIONAIS e ao STF para matérias de índole
CONSTITUCIONAIS;

- Para garantir a execução de lei federal e no caso de ofensas aos princípios


sensíveis (forma republicana, sistema representativo e regime democrático;
direitos da pessoa humana; autonomia municipal; prestação de contas da
administração direta e indireta; aplicação do mínimo em saúde e educação),
nesses casos, o Procurador-Geral da República deverá representar junto ao
STF. Dado provimento, o Presidente terá até 15 dias para expedir o decreto
interventivo.

APRECIAÇÃO DO DECRETO INTERVENTIVO PELO CONGRESSO


NACIONAL

O decreto interventivo deverá ser submetido à apreciação do Congresso


Nacional no prazo de 24 horas. Não há necessidade de submeter o decreto
interventivo à apreciação do Congresso seguintes casos:

- prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial;


- assegurar a observância dos princípios sensíveis.

Art. 34. Intervenção da União nos Estados para:


I - manter a integridade nacional;
II - repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em outra;
III - pôr termo a grave comprometimento da ordem pública;
IV - garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da
Federação;
V - reorganizar as finanças da unidade da Federação que:
a) suspender o pagamento da dívida fundada por mais de dois anos
consecutivos, salvo motivo de força maior;
b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fixadas nesta
Constituição, dentro dos prazos estabelecidos em lei;
VI - prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial;
VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais:
a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático;
b) direitos da pessoa humana;
c) autonomia municipal;
d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta.

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e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais,
compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e
desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde.

Art. 35. O Estado não intervirá em seus Municípios, nem a União nos
Municípios localizados em Território Federal, exceto quando:
I - deixar de ser paga, sem motivo de força maior, por dois anos consecutivos,
a dívida fundada;
II - não forem prestadas contas devidas, na forma da lei;
III – não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita municipal na
manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de
saúde; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)
IV - o Tribunal de Justiça der provimento a representação para assegurar a
observância de princípios indicados na Constituição Estadual, ou para
prover a execução de lei, de ordem ou de decisão judicial.

Art. 36 § 3º, CF. Nos casos do art. 34, VI e VII, ou do art. 35, IV, dispensada a
apreciação pelo Congresso Nacional ou pela Assembléia Legislativa, o decreto
limitar-se-á a suspender a execução do ato impugnado, se essa medida bastar
ao restabelecimento da normalidade.

10.3 Repartição de Competências:

- A repartição de competência é orientada pelo princípio da predominância de


interesses. São 4 os critérios para a distribuição de competências:

a) Campos específicos de competências legislativas e administrativas: a)


horizontais: quando não há hierarquia entre as competências, pois não há
concorrência entre os entes federados; b) vertical: quando há competência
legislativa concorrente, pois cabe à União legislar de maneira geral, enquanto
os Estados e Municípios devem legislar de acordo com o interesse regional e o
local, respeitando as normais gerais da União.

Possibilidade de delegação: art. 22, p.ú, da CF. Delegação da União aos


Estados, através de Lei Complementar.

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:


Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre
questões específicas das matérias relacionadas neste artigo.

b) Competências comuns (art. 23, da CF): é a competência administrativa,


que compete a todos os entes da Federação.
73
c) Competências concorrentes (art. 24, da CF): é a competência legislativa
atribuída à União, aos Estados e ao DF. Também é chamada de condomínio
legislativo, competência vertical, não cumulativa.

Art. 24. § 1º - No âmbito da legislação concorrente, a competência da União


limitar-se-á a estabelecer normas gerais.

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§ 2º - A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a
competência suplementar dos Estados.
§ 3º - Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a
competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades.
§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia
da lei estadual, no que lhe for contrário.

(Ano: 2017. Banca: Vunesp. Cargo: Juiz de Direito do


TJ-SP)

Nos termos do artigo 34 da Constituição Federal, a


intervenção da União nos Estados e Distrito Federal tem
caráter excepcional. Na hipótese de intervenção para
garantir ordem ou decisão judicial, será ela

A) provocada e vinculada e dependerá de requisição do


Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça
ou do Tribunal Superior Eleitoral.
B) provocada e vinculada e dependerá de requisição do
Supremo Tribunal Federal.
C) discricionária e dependerá de solicitação do Supremo
Tribunal Federal.
D) provocada e vinculada e dependerá de solicitação do
INTERVENÇÃO Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça
ou do Tribunal Superior eleitoral.

GABARITO: A. Trata-se, basicamente, de conhecer a letra


da lei e saber que é hipótese de intervenção vinculada.

Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito


Federal, exceto para:
VI - prover a execução de lei federal, ordem ou decisão
judicial;

Art. 36. A decretação da intervenção dependerá:


II - no caso de desobediência a ordem ou decisão
judiciária, de requisição do Supremo Tribunal Federal, do
Superior Tribunal de Justiça ou do Tribunal Superior
Eleitoral;
III - de provimento, pelo Supremo Tribunal Federal, de
representação do Procurador-Geral da República, na
hipótese do art. 34, VII, e no caso de recusa à execução
de lei federal. (Redação dada pela Emenda Constitucional
nº 45, de 2004)

Nos casos de solicitação, o Chefe do Executivo não está

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obrigado a decretar a intervenção. No entanto, diante de
requisição, o Chefe do Poder Executivo não dispõe de
discricionariedade, estando obrigado a decretar a
intervenção. A provocação por requisição está prescrita
nos seguintes dispositivos constitucionais: art. 34, IV
(requisição do STF), art. 34, VI (requisição do STF, STJ ou
TSE), e art. 34, VII (requisição do STF).
11. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

11.1 Espécies de Controle de Constitucionalidade:

O controle de constitucionalidade pode ser feito em razões de vícios formais ou


materiais. A inconstitucionalidade formal ocorre em razão de
irregularidades no processo legislativo ou na competência, ao passo que a
inconstitucionalidade material decorre da contrariedade às demais normas
constitucionais.

A doutrina divide a inconstitucionalidade formal em subjetiva, quando o vício


se dá na iniciativa ou na competência para legislar, e objetiva, quando a
irregularidade se dá nos outros atos do processo legislativo ou por violação ao
procedimento adequado.

A inconstitucionalidade pode se dar, ainda, de forma total, quando ocorre em


relação a toda a espécie normativa, ou parcial, quando é apenas sobre parte
do texto (artigo, inciso, alínea). É possível que apenas uma palavra seja
julgada inconstitucional, desde que a sua retirada não prejudique o sentido do
texto.

Importante destacar que o STF entende que a inconstitucionalidade só


pode ser declarada de forma originária, ou seja, a norma deve ser analisada
conforme os parâmetros da Constituição vigente no momento da sua edição.
Assim, não se adota a inconstitucionalidade superveniente no Brasil, mas
o que pode ocorrer é a recepção ou não de determinada espécie normativa.
Assim, a recepção é um instituto de direito intertemporal e material, razão pela
qual se analisa apenas o conteúdo e não as questões formais. Caso uma lei
anterior à Constituição vigente não seja recepcionada, ela será revogada, e
não tida como inconstitucional. Grande exemplo disso é o CTN, que foi
recepcionado pela CF/88 como lei complementar, apesar de ser lei ordinária.

O controle de constitucionalidade ainda pode ser judicial, quando feito por


órgão do Judiciário, ou político, quando feito pelos demais poderes (ex.: veto
do Presidente da República). Além disso, também pode ser repressivo ou
preventivo.

11.2 Sistema de Controle de Constitucionalidade adotado no Brasil:

O Brasil adota um modelo misto de controle de constitucionalidade,


abrangendo os sistemas difuso e concentrado.

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O modelo difuso (ou concreto) pode ser exercido por qualquer juiz ou
tribunal, inclusive o STF. Caso o julgamento seja feito no tribunal, deve-se
respeitar a cláusula de reserva de plenário, estabelecida no art. 97 da CF/88,
que dispõe que a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder
Público apenas pode ser declarada pelo voto da maioria absoluta dos membros
do tribunal ou pelos membros do seu órgão especial. Essa regra pode ser
excepcionada caso o STF já tenha se posicionado pela inconstitucionalidade
do dispositivo ou pela o afastamento de sua incidência.

Quanto aos efeitos, a regra é que a decisão tenha eficácia inter partes. A
posição tradicional do STF sempre foi a de que, no modelo difuso, suas
decisões produziriam efeitos inter partes até que o Senado Federal, por meio
de resolução irrevogável, atribuísse caráter erga omnes (art. 52, X, CF/88).

Contudo, o julgamento das ADIs 3.406/RJ e 3.470/RJ sinalizou uma mudança


de entendimento da Corte acerca da eficácia pessoal das decisões do
Supremo e do papel do Senado Federal no controle difuso.

Na ocasião, o Supremo Tribunal Federal entendeu ser constitucional a lei


estadual impugnada nas ADIs, julgando improcedente o pedido formulado.
Proferida em sede de controle abstrato, a decisão produz efeitos erga omnes
(art. 102, §2.º, da CRFB/88).

Todavia, na mesma oportunidade, a Corte declarou, incidentalmente, a


inconstitucionalidade de lei federal que não tinha figurado como objeto nas
ADIs, e entendeu que, de modo a evitar anomias e fragmentação da unidade,
deveriam ser atribuídos à decisão proferida em sede de controle
incidental os memos efeitos da decisão prolatada em controle abstrato,
ou seja: erga omnes e vinculante. Desse modo, o Senado teria o papel
apenas de conferir publicidade à decisão do Supremo, de modo que os efeitos
erga omnes decorreriam da própria decisão, o que representa verdadeira
mutação constitucional do art. 52, X, da CRFB/88 (STF, Plenário, ADI 3406/RJ
e ADI 3470/RJ, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em 29/11/2017).

Embora o STF, na ocasião, tenha acolhido o que preconiza a teoria da


abstrativização do controle concreto (segundo a qual as decisões do
Supremo em controle incidental teriam os efeitos típicos do controle principal
independente da atuação do Senado), o julgado não fez menção expressa ao
termo.

Atenção! A teoria da abstrativização do controle concreto acima indicada não


se confunde com a teoria da transcendência dos motivos determinantes.
De acordo com esta teoria, os motivos determinantes (ratio decidendi) da
decisão também seriam vinculantes, assim como o dispositivo. Porém, no
julgamento da Rcl 22012/RS, a Corte reforçou o não cabimento de
reclamação fundada na transcendência dos motivos determinantes do
acórdão com efeito vinculante (STF, Plenário, Rcl 8168/SC, rel. orig. Min.
Ellen Gracie, red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, j. 19/11/2015 e STF, 2ª
Turma, Rcl 22012/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, red. p/ ac. Min. Ricardo
Lewandowski, j. 12/9/2017).

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Portanto, não cabe reclamação com base na violação dos fundamentos
expostos na decisão, ainda que esta seja vinculante, pois apenas a parte
dispositiva do acórdão tem esse caráter (vinculante).

O modelo concentrado (ou abstrato) é o exercido apenas pelo STF, através


de ações específicas para esse fim. Nesses casos, os efeitos serão erga
omnes, não se admite desistir das ações e haverá sempre a atuação do
Ministério Público como fiscal da lei. Tais ações serão estudadas de forma
mais detalhada a seguir.

(MPE-PB/2011): A eficácia “erga omnes” da decisão que


declara a inconstitucionalidade em controle concentrado e
V abstrato de constitucionalidade não fica condicionada à iniciativa
do Senado Federal de suspender a execução da lei ou ato
normativo.

No âmbito estadual, os Tribunais de Justiça serão competentes para o


julgamento da Representação de Inconstitucionalidade (ou ADI Estadual),
que terá como parâmetro de controle a Constituição Estadual, inclusive as
normas de observância obrigatória da CF. Seus legitimados também serão
definidos pela Constituição do Estado, sendo vedada a legitimação a um
único órgão.

(MPE-GO | 2016): Quando o parâmetro de controle for a


Constituição Estadual, a decisão do Tribunal de Justiça será
F irrecorrível, ainda que se trate de norma de reprodução
obrigatória da Constituição Federal.

11.3 Ações do Controle Concentrado:

11.3.1. Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI)

A Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) é regulamentada pela Lei nº


9.868/99 e será cabível contra leis ou atos normativos federais ou estaduais, o
que abrange as espécies normativas previstas no art. 59 da CF/88, as
emendas constitucionais federais, estaduais ou distritais, os decretos
autônomos do Presidente da República, resoluções do CNJ e do TSE e até
mesmo regimentos internos de Tribunais de Justiça.

Os legitimados para a propositura dessa ação estão elencados no rol taxativo


do art. 103 da Constituição Federal. São eles: (i) o Presidente da República; (ii)
a Mesa do Senado Federal; (iii) a Mesa da Câmara dos Deputados; (iv) a Mesa
da Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal; (v) o
Governador de Estado ou do Distrito Federal; (vi) o Procurador-Geral da
República; (vii) o Conselho Federal da OAB; (viii) partido político com
representação no Congresso Nacional; e (ix) confederação sindical ou entidade
de classe de âmbito nacional.

Dentre os legitimados acima elencados, as Mesas da Assembléia Legislativa


ou da Câmara Legislativa do DF, o Governador do Estado ou do DF e as

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confederações sindicais ou entidades de classe de âmbito nacional são
considerados legitimados especiais, razão pela qual deverão demonstrar a
pertinência temática para o ajuizamento da ação, ou seja, deverão mostrar a
sua ligação com o objeto da demanda. Além disso, apenas os partidos
políticos e as confederações sindicais ou entidades de classe de âmbito
nacional precisarão contratar advogado para a propositura da ADI.

Sobre os partidos políticos é interessante mencionar que sua representação


no Congresso Nacional será constatada pela existência de pelo menos um
Deputado Federal ou Senador, o que deve ser averiguado no momento do
ajuizamento da ação, não havendo qualquer conseqüência caso a
representação se perca durante o processo. Ademais, os partidos deverão
estar representados por seus diretórios nacionais.

Em relação às confederações sindicais, elas são formadas por, no mínimo,


três federações sindicais. O STF não reconhece a legitimidade de sindicatos,
federações ou centrais sindicais (ex.: CUT). Sobre as entidades de classe, o
STF entende que elas devem representar classes profissionais, razão pela qual
não permitiu o ajuizamento de ADI pela União Nacional dos Estudantes (UNE).
Ademais, será considerada de âmbito nacional aquela entidade com presença
em, no mínimo, nove estados.
63
Apesar do art. 103, § 3º, da CF/88 mencionar a necessidade de manifestação
da Advocacia-Geral da União, o STF entende que há exceções a essa regra
nas seguintes situações: (i) caso o próprio STF já tenha decidido pela
inconstitucionalidade em sede de controle difuso; (ii) caso a lei seja contrária ao
interesse da União; e (iii) caso a lei tenha sido proposta pelo Presidente da
República. A lei ainda prevê a possibilidade de intervenção de amicus
curiae (art. 7º, § 2º) e a possibilidade de pedido de tutela de urgência (arts. 10
a 12), que deverá ser concedida pela maioria absoluta dos Ministros e terá
efeitos erga omnes e ex nunc, podendo ter efeitos repristinatórios, isto é, a lei
anterior voltará a vigorar no lugar da norma afastada, a fim de que não existam
lacunas, contudo, o STF pode afastar esses efeitos.

A decisão definitiva, por sua vez, terá efeitos vinculantes para os demais
órgãos do Judiciário e da Administração Pública (não alcança o Legislativo!)
e terá efeitos erga omnes e ex tunc, ou seja, será aplicada para todos de forma
retroativa. No entanto, o STF, pela decisão de 2/3 dos seus membros, poderá
fazer uma modulação temporal dos efeitos da decisão. Os efeitos
repristinatórios também poderão ocorrer, na mesma forma como dito alhures.

Importante destacar que, no caso de ajuizamento simultâneo de ADIs perante


o STF e o TJ, o recebimento da ação federal suspende o julgamento da ação
estadual. Caso aquela seja julgada procedente, essa será extinta sem
resolução do mérito por perda do objeto; se improcedente, a ação estadual
poderá prosseguir.

(MPE-GO | 2016): Em razão de a ação declaratória de


F constitucionalidade ter surgido com a Emenda Constitucional nº
3/1993, estará ela impedida de ter por objeto, por exemplo, lei

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editada anteriormente à data da promulgação da referida
emenda, ainda que posterior ao parâmetro constitucional
invocado.

Por fim, merece ser ressaltado que, de acordo com o STF, se a lei impugnada
é alterada antes do julgamento da ADI, o requerente deverá aditar a petição
inicial, com a indicação de que a nova redação dada ao dispositivo também
viola a Constituição da República, sob pena de o pedido ser julgado
prejudicado em razão da perda superveniente do objeto (STF, Plenário, ADI
1.931/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 7/2/2018).

Nessa linha, a revogação ou substancial alteração do complexo normativo


impõe ao autor o ônus de apresentar eventual pedido de aditamento, caso
considere subsistir a inconstitucionalidade na norma que promoveu a alteração
ou revogação (STF, Plenário, ADI 2.595 AgR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j.
18/12/2017).

11.3.2. Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC)

A Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC) também é regulamentada


pela Lei nº 9.868/99 e tem como objeto apenas leis e atos normativos
federais. Seu procedimento segue as mesmas orientações expostas quanto à
ADI, inclusive sobre os legitimados ativos e sobre os efeitos da decisão
definitiva.

Em relação à decisão da tutela provisória, por sua vez, caso seja procedente,
irá suspender os processos em curso que dependam da análise de
constitucionalidade da lei objeto da ADC, no período máximo de 180 dias.
Importante destacar, ainda, o caráter ambivalente da ADI e da ADC, isto é,
caso existam duas destas ações com o mesmo objeto, a procedência de uma
acarreta na improcedência da outra.

11.3.3. Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO)

A Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO) também é


regulamentada pela Lei nº 9.868/99 e foi criada com o intuito de reduzir a
inefetividade das normas constitucionais, sendo possível seu ajuizamento
para omissões totais ou parciais. Seu procedimento segue as disposições
aplicáveis à ADI e à ADC.

Em relação aos seus efeitos, o STF adotava até 2007 a posição não
concretista geral, em que apenas declarava a mora do poder omisso. Contudo,
desde 2007 a Corte vem mudando seu entendimento, admitindo uma posição
mais concretista. No julgamento da ADI 3682, por exemplo, que tinha
conteúdo de ADO, foi fixado o prazo de 18 meses para que o Congresso
editasse a norma, enquanto que na ADO 25 trouxe alternativas caso a
elaboração da lei não fosse cumprida, como a aplicação analógica de outras
leis.

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(MPE-PR | 2016): Reconhecida a inconstitucionalidade por
omissão de medida para tornar efetiva norma da Constituição do
Estado do Paraná, a decisão será comunicada ao poder
V competente para adoção das providências necessárias à prática
do ato ou início do processo legislativo, e, em se tratando de
órgão administrativo, para emiti-lo em trinta dias, sob pena de
responsabilidade.

11.3.4. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF)

A Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) está prevista


no art. 102, § 1º, da CF/88, e é regulamentada pela Lei nº 9.882/99. No
julgamento da ADPF 33 o STF estabeleceu um rol exemplificativo do que
viria a ser “preceito fundamental”, em que se incluem os princípios
fundamentais (arts. 1º a 4º, CF), os direitos fundamentais (arts. 5º a 17, CF),
os princípios sensíveis (art. 34, VII, CF), os princípios da Administração
Pública (art. 37, caput, CF) e as cláusulas pétreas (art. 60, § 4º, CF).

Essa ação tem caráter subsidiário, ou seja, somente será cabível quando não
for possível o ajuizamento das demais ações do controle concentrado, razão
pela qual pode ter como objeto leis municipais, leis distritais de natureza
municipal, normas pré-constitucionais e normas infralegais, como portarias e
circulares. Sua decisão será com efeitos erga omnes, vinculantes e ex tunc,
com possibilidade de modulação temporal. Os legitimados são os mesmos
das demais ações do controle concentrado.

Obs.: Em recente decisão, o STF entendeu ser possível a celebração de


acordo no âmbito de um processo objetivo, quando no bojo da ação houver
notável conflito intersubjetivo que comporte solução por meio de acordo
apresentado para homologação (STF, Plenário, ADPF 165/DF, Rel. Min.
Ricardo Lewandowski, j. 1º/3/2018).

Ao homologar o acordo, o STF não chancela nenhuma interpretação dada à lei.


Ou seja, a homologação não alcança nem legitima as teses jurídicas
veiculadas, abrangendo apenas as disposições patrimoniais firmadas no
âmbito de disponibilidade das partes. Desse modo, a homologação apenas
soluciona um incidente processual, para dar maior efetividade à prestação
jurisdicional.

QUESTÃO INÉDITA
Assinale a alternativa correta

A) Uma lei, editada em 1975, previa a possibilidade de tortura durante os


inquéritos policiais. Tendo em vista a ordem constitucional inaugurada pela
Constituição Federal de 1988, a referida lei deve ser considerada

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inconstitucional.
B) Uma emenda constitucional foi aprovada após ser proposta pela iniciativa
popular. Assim, essa emenda deve ser considerada inconstitucional em
decorrência de vício material.
C) O Brasil adota um modelo misto de controle de constitucionalidade, já que
há um modelo abstrato, exercido por todos os juízes e tribunais, e um controle
concreto, exercido apenas pelo STF.
D) De acordo com o posicionamento do Supremo Tribunal Federal, a CUT –
Central Única dos Trabalhadores não pode ajuizar Ação Direta de
Inconstitucionalidade, pois não está inclusa em nenhum dos legitimados
previstos na Constituição.
E) Os partidos políticos, ao ajuizarem ADI, devem ter representação no
Congresso Nacional e precisam demonstrar a pertinência temática.

Comentário: A alternativa A é incorreta, pois a lei é anterior à CF/88, razão


pela qual não será recepcionada, não havendo que se falar em
inconstitucionalidade superveniente. A letra B também está errada, pois o vício
está na iniciativa e não no conteúdo, razão pela qual a inconstitucionalidade é
formal. A letra C é incorreta, pois o controle abstrato é exercido apenas pelo
STF, enquanto que o concreto é exercido por qualquer juiz ou tribunal. A letra
D está certa, pois a CUT é uma central sindical e não uma confederação
sindical, razão pela qual não pode ajuizar qualquer ação do controle
concentrado. A letra E está errada, pois os partidos políticos são legitimados
universais e, portanto, não precisam demonstrar pertinência temática.

Gabarito: D

ESPÉCIES DE CONTROLE A inconstitucionalidade pode ser formal ou


DE material, total ou parcial, originária ou
CONSTITUCIONALIDADE superveniente, judicial ou política, repressiva
ou preventiva.
O Brasil adota um modelo misto de controle
SISTEMA DE CONTROLE de constitucionalidade, abrangendo os
DE sistemas difuso (exercido por qualquer juiz ou
CONSTITUCIONALIDADE tribunal, respeitada a cláusula de reserva de
ADOTADO NO BRASIL plenário) e concentrado (exercido pelo STF
através das ações específicas para esse fim).
AÇÃO DIRETA DE A Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI)
INCONSTITUCIONALIDADE é regulamentada pela Lei nº 9.868/99 e será
(ADI) cabível contra leis ou atos normativos
federais ou estaduais.
AÇÃO DECLARATÓRIA DE A Ação Declaratória de Constitucionalidade
CONSTITUCIONALIDADE (ADC) é regulamentada pela Lei nº 9.868/99
(ADC) e tem como objeto apenas as leis e atos
normativos federais.

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A Ação Direta de Inconstitucionalidade por
Omissão (ADO) também é regulamentada
AÇÃO DIRETA DE pela Lei nº 9.868/99 e foi criada com o intuito
INCONSTITUCIONALIDADE de reduzir a inefetividade das normas
POR OMISSÃO (ADO) constitucionais, sendo possível seu
ajuizamento para omissões totais ou parciais.
Seu procedimento segue as disposições
aplicáveis à ADI e à ADC.
A Arguição de Descumprimento de Preceito
Fundamental (ADPF) tem caráter subsidiário.
ARGUIÇÃO DE O STF estabeleceu um rol exemplificativo do
DESCUMPRIMENTO DE que viria a ser “preceito fundamental”, em que
PRECEITO FUNDAMENTAL se incluem os princípios fundamentais, os
(ADPF) direitos fundamentais, os princípios sensíveis,
os princípios da Administração Pública e as
cláusulas pétreas.

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APRESENTAÇÃO

Caro(a) Aluno(a),

A preparação para concursos públicos exige profissionalismo, métrica e


inteligência. Cada minuto despendido deve ser bem gasto! Por isso, uma
preparação direcionada, focada nos pontos com maior probabilidade de
cobrança no seu certame, pode representar a diferença entre aprovação e
reprovação.

Ciente disso, a Ad Verum Suporte Educacional, empresa do Grupo CERS


ONLINE, concebeu o curso INTELIGÊNCIA PDF – CARREIRAS JURÍDICAS,
que tem por premissa fundamental “atacar” os pontos nucleares de cada matéria,
com vistas a antecipação dos temas com maiores chances de cobrança em sua
prova.

Fazer isso não é tarefa fácil! É necessário um árduo esforço de pesquisa,


levando-se em consideração fatores como banca examinadora e respectivos
membros (sempre que possível), retrospecto do concurso, recorrência temática
dentro de cada disciplina, importância de cada tema, momento da segurança
pública do país, dentre tantos outros, aliados a experiência de Professores de
projeção nacional, com larguíssima experiência na análise do perfil dos mais
diferentes certames.

Para tornar tudo isso uma realidade, a Ad Verum investiu muito em seu Método
de Aceleração de Aprendizagem (MAVAA). Hoje, contamos com um SETOR DE
INTELIGÊNCIA, responsável por ampla coleta de dados e informações das mais
diferentes fontes relacionadas ao universo de cada concurso e/ou exame
profissional, de modo, a partir do processamento dos dados coletados, oferecer
aos seus alunos uma experiência diferenciada quando comparada a tudo que
ele conhece em matéria de preparação para carreiras públicas.

Racionalizar o estudo do aluno é mais que um objetivo para Ad Verum, trata-se


de uma obsessão.

Estude inteligente, estude Ad Verum!

Francisco Penante
CEO Ad Verum Suporte Educacional
SUMÁRIO

PARADIGMA DA EVOLUÇÃO DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO


ADOLESCENTE ................................................................................................ 2

NORMAS INTERNACIONAIS: .......................................................................... 7

PRINCÍPIOS E DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE: ................. 10

COLOCAÇÃO EM FAMÍLIA SUBSTITUTA: GUARDA, TUTELA E ADOÇÃO


......................................................................................................................... 13

MEDIDAS DE PROTEÇÃO .............................................................................. 25

MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS ..................................................................... 31

APURAÇÃO DE ATOS INFRACIONAIS, RECURSOS, IMPUGNAÇÕES E


EXECUÇÃO ..................................................................................................... 38

CONSELHO TUTELAR ................................................................................... 43

LEI Nº 12.594/12 – SINASE ............................................................................. 46

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PARADIGMA DA EVOLUÇÃO DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE

A base do estudo ligado à criança e ao adolescente é a absoluta prioridade e a


proteção integral, que é dever do Estado e de todos os cidadãos.

Atualmente, há diversos diplomas legais, em âmbito interno e internacional,


relativos a esses direitos. Porém, nem sempre foi assim, já que, para alcançar
o padrão de proteção atual, houve uma evolução no sistema, que ocorre da
seguinte forma:

EVOLUÇÃO DOS DIREITOS DA CRIANÇA


FASE DA ABSOLUTA INDIFERENÇA (Séc. XVIII): não havia nenhuma
norma específica sobre o direito da criança e do adolescente. Era indiferente a
idade do sujeito, tanto para fins de direitos, quanto para responsabilização
penal.
FASE DA MERA IMPUTAÇÃO CRIMINAL (final do século XVIII e início do
século XIX): preocupação com a necessidade de se estabelecer regras
acerca da prevenção ou repressão de ilícitos causados pelos sujeitos menores
de idade. Não havia um viés protetivo como objetivo legislativo, mas apenas
sancionatório.

Marcos: ordenações filipinas e afonsinas.



DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR: o Estado começou a perceber
que a proteção dos menores deveria ser valorizada.

- Código Mello de Matos (1927): 1º Código Sistemático de Menores do País


e da América Latina. O Estado assume a responsabilidade legal pela tutela da
criança órfã e abandonada. A criança desamparada fica institucionalizada e
recebe orientação e oportunidade para trabalhar. Marco referencial e papel
histórico. Apesar de apresentar certa evolução, por buscar proteger o menor,
mostrou-se insuficiente; sendo criado, portanto, o Código de Menores de 1979.
- Código de Menores (1979): baseada no mesmo paradigma do menor em
situação irregular da legislação anterior. As crianças eram objeto de tutela,
voltado à assistência, proteção e vigilância. Porém, a preocupação era restrita
aos menores que se encontravam em situação irregular, incentivando a
internação como “solução”, tanto para os problemas de menores carentes,
quanto para os de menores delinquentes. A segregação era vista como única
forma de proteção.

Doutrina da Situação Irregular:


- Buscava proteger o menor, mesmo que suprimisse seus direitos;
- As crianças eram objeto de proteção ou de tutela;
- Falava-se em judicialização ou institucionalização do menor;
- Trabalhava apenas com medidas de recuperação, aplicáveis a situações
irregulares, ainda que não fossem crimes;
- Não cuidava de todas as crianças, mas apenas daquelas em situação

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irregular, ou seja, as crianças pobres. Eram medidas de higienização;
- Discriminatória: as políticas desta doutrina não atingiam crianças de
famílias em melhores condições econômicas;
- Binômio carência/delinquência: criminalização da infância pobre;
- Os juízes de menores tinham amplos poderes (alguns hoje ainda acham que
têm): além da função judicial, eles tinham função normativa, editando até
portarias com toque de recolher.
- Afastamento da criança de sua família por questões meramente financeiras:
hoje, isto é vedado, segundo o ECA, que garante do direito de convivência
familiar e comunitárias;
- Os adultos tinham direitos mais amplos do que os das crianças: hoje, é o
contrário. As crianças gozam de todos os direitos dos adultos, mais os que
concernem à sua peculiar condição de pessoa em desenvolvimento;

Tendo em vista o objetivo de segregar, ao invés de proteger, o termo menor


tomou uma conotação discriminatória. Isto porque, perante a sociedade, o
menor é automaticamente relacionado às crianças e aos adolescentes que se
encontram em situação desfavorável, o que tem de ser superado.

Assim, em provas da Defensoria Pública, nunca devemos nos referir às


crianças e aos adolescentes como menores, e sim utilizando os termos
inicialmente citados, ou infantes.

CR/88: “Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à
criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida,
à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além
de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão.”.

Estatuto da Criança e do Adolescente (1990): modelo da proteção integral
e princípio da prioridade absoluta. É superada a ideia de crianças como objeto
de tutela, sendo consideradas sujeitos de direitos, com previsão de direitos e
deveres, conferidos ao Estado e a toda a sociedade.

Paradigma da proteção integral:


- Consagrada na Convenção sobre os Direitos da Criança, de 1989. No Brasil,
consta do art. 227, da CF/88;
- Interesse maior/superior da criança;
- Proteção integral;
- As crianças têm todos os direitos dos adultos, além daqueles referentes à
sua peculiar condição de pessoa em desenvolvimento;
- Desjudicialização da criança; - Os juízes têm, agora, menos poderes;
- Responsabilidade primária e solidária do Poder Público, intervenção precoce,
intervenção mínima, responsabilidade parental, prevalência da família;
- Absoluta prioridade;
- Sem discriminação, abandono da expressão menor.

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Devemos tomar muito cuidado quanto ao princípio do maior interesse, pois, no
código de menores, a proteção integral era fundamento para a
institucionalização e segregação dos infantes desamparados. Assim, o maior
interesse dos infantes deve prevalecer, mas de forma a proteger os direitos, e
não para justificar sua restrição. Sempre cumular a aplicação do princípio ao
direito de convivência familiar e comunitária.

(Ano: 2013. Banca: FCC. Órgão: DPE-SP)

Analisando-se os paradigmas legislativos em matéria de


infância e juventude, pode-se afirmar que antes da edição
do Código de Mello Mattos, em 1927, vigorava o modelo.

A) higienista
B) da situação irregular.
C) penal indiferenciado.
D) da proteção integral.
E) da institucionalização para a proteção.

R: C.
QUESTÃO 1:
PARADIGMAS Pessoal, a resposta exigia certo conhecimento doutrinário
DO DIREITO DA sobre as fases do direito da criança e do adolescente. Este
CRIANÇA E DO é o comecinho do estudo da matéria e, como vocês vêem,
ADOLESCENTE não podemos negligenciar.

FASES
1) Absoluta Indiferença – não havia previsão dos direitos
da criança e do adolescente!
2) Imputação Criminal - Ordenações (Filipenas/
Afonsinas); Código Criminal do Império (1930) e Código
Penal.
3) Tutela (menor em situação irregular)- Código Melo
Matos (1927) e Código de Menores (1979).
4) Proteção Integral - CF/88 e ECA (1990).

Embora a questão tenha tratado da fase criminal, isto é,


quando não havia diferença de tratamento entre os adultos

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e as crianças, as fases mais mencionadas em provas são
as do menor em situação irregular e a proteção integral.

a e b)A característica higienista não é bem um modelo do


direito da criança, e sim como se dava tutela do menor em
situação irregular, pois, à época, a criança era vista como
objeto de intervenção do Estado e, sob a desculpa de
proteção, era possível prender a criança, para interná-la,
retirá-la do poder familiar, dando amplo poder ao juiz. No
entanto, havia um tratamento para as crianças mais pobres
(em situação irregular) e outro para mais abastadas. Estas
últimas não eram internadas junto com outros, promíscuos,
prostitutas, pessoas em situação de rua.

d) o modelo da proteção integral começou com a


Convenção de Direitos da Criança e do Adolescente, de
1989. No entanto, as sementes deste novo modelo foram
lançadas desde a Declaração dos Direitos da Criança, em
1959. No Brasil, este modelo foi adotado pela CF/88 e pelo
ECA.

e) quanto à institucionalização para a proteção, este era


um dos instrumentos do paradigma do menor em situação
irregular e consiste na internação e acolhimento
institucional das crianças e adolescentes. No entanto, o
ECA visa a romper com a institucionalização, prevendo o
direito à convivência familiar e seu desenvolvimento no
seio de sua comunidade.
(Ano: 2012. Banca: Cespe. Órgão: DPE-ES)
QUESTÃO 2:
PARADIGMAS Foi a partir da Proclamação da República que os menores
DO DIREITO DA passaram a ser detentores dos direitos fundamentais de
CRIANÇA E DO liberdade.
ADOLESCENTE
R: errado. Na proclamação da República, em 1889,
vigorava a absoluta indiferença
(Ano: 2012. Banca: Cespe. Órgão: DPE-SE)

Com relação aos direitos fundamentais da criança e do


adolescente, assinale a opção correta.

A) O conceito de família extensa não abrange a figura da


madrasta ou do padrasto.
B) A doutrina da situação irregular vigorou no ordenamento
pátrio até a promulgação do ECA.
C) É assegurado à gestante, por meio do Sistema Único
de Saúde, o atendimento pré-natal, devendo a parturiente
ser obrigatoriamente atendida pelo médico que a tenha

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acompanhado durante o período pré-natal.
D) O direito à liberdade conferido à criança e ao
adolescente pelo ECA compreende o de buscar refúgio,
sendo a eles garantido o acesso às diversões e
espetáculos públicos classificados como adequados à sua
faixa etária; crianças menores de dez anos somente
poderão ingressar e permanecer nos locais de
apresentação ou exibição de espetáculos quando
acompanhadas dos pais ou responsáveis.
E) Em face da aprovação do novo Código Civil, segundo o
qual a maioridade civil é obtida aos dezoito anos de idade,
não se aplica mais, no ordenamento brasileiro, a
denominação jovem adulto, presente no ECA, sendo
considerada criança a pessoa com até catorze anos de
idade e adolescente, a que tenha entre quinze e dezoito
anos de idade.

R: D. As crianças e adolescentes gozam, no mínimo, de


todos os direitos conferidos aos adultos, acrescentando-se
QUESTÃO 3: os direitos decorrentes de sua situação peculiar de pessoa
PARADIGMAS em desenvolvimento e de sua prioridade absoluta.
DO DIREITO DA
CRIANÇA E DO Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os
ADOLESCENTE direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem
prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei,
assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as
oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o
desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social,
em condições de liberdade e de dignidade.

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade


em geral e do poder público assegurar, com absoluta
prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à
saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária.

Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes


aspectos:
VII - buscar refúgio, auxílio e orientação.

Art. 75 ECA. Toda criança ou adolescente terá acesso às


diversões e espetáculos públicos classificados como
adequados à sua faixa etária.
Parágrafo único. As crianças menores de dez anos
somente poderão ingressar e permanecer nos locais de
apresentação ou exibição quando acompanhadas dos pais
ou responsável.

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a) família extensa inclui todas as pessoas ligadas por um
vínculo de afeto, com as quais as crianças convivam.

Art. 25. Entende-se por família natural a comunidade


formada pelos pais ou qualquer deles e seus
descendentes. Parágrafo único. Entende-se por família
extensa ou ampliada aquela que se estende para além da
unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formada por
parentes próximos com os quais a criança ou adolescente
convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade.

b) o ECA é de 1990 e foi a CF/88 que instituiu o novo


paradigma da proteção integral.

c) Art. 8o É assegurado a todas as mulheres o acesso aos


programas e às políticas de saúde da mulher e de
planejamento reprodutivo e, às gestantes, nutrição
adequada, atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao
puerpério e atendimento pré-natal, perinatal e pós-natal
integral no âmbito do Sistema Único de Saúde. (Redação
dada pela Lei nº 13.257, de 2016)

e) excepcionalmente, aplica-se o ECA até os 21 anos.

NORMAS INTERNACIONAIS:

Em âmbito internacional, diversos tratados e convenções, apresentam normas


de proteção às crianças. A Convenção sobre os Direitos da Criança e do
adolescente é o tratado internacional com maior número de ratificações no
mundo. Os principais diplomas internacionais sobre os direitos da criança são:

Convenções da OIT – 1919: quanto à utilização de mão de obra infantil.
Criada no auge da revolução industrial, as indústrias se valiam do menor preço
para justificar a contratação de crianças, que eram tratadas da mesma forma
que os adultos, com mesma jornada de trabalho, sem análise das
peculiaridades limitativas de idade. Assim, a Convenção da Organização
Internacional do Trabalho, criou convenções sobre a regulação de jornada de
trabalho, limite de idade e proibições sobre a contratação de trabalho infantil.

Declaração de Genebra de 1924: soft law. Proteção das crianças órfãs da
guerra.

Declaração dos Direitos da Criança de 1959: foi com este documento que a
criança deixou de ser objeto de tutela, para se tornar sujeito de direitos. Com
forte influência na Declaração Universal dos Direitos do Homem.

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Convenção sobre os direitos da criança da ONU (Convenção de NY -
1989): documento internacional com maior aderência no mundo. Traz diversas
regras e compromissos a serem adotados pelos países que a ratificarem.
Levam em conta a dignidade da criança, o direito a um ambiente familiar
saudável como essencial ao seu desenvolvimento, humano e intelectual. Não
fez distinção entre criança e adolescente, sendo criança toda pessoa até os 18
anos, salvo se, pela lei do país, a maioridade seja alcançada antes.

Protocolo facultativo sobre os direitos da criança referente à venda de
criança, à prostituição infantil e à propaganda infantil (2000): compromisso
dos Estados em garantir a proteção contra a venda de crianças, a prostituição
infantil e a pornografia infantil e a exploração econômica de trabalhos infantis
que possam comprometer o desenvolvimento digno e saudável da criança.

Protocolo facultativo à convenção sobre os direitos da criança relativos


ao envolvimento de crianças em conflitos armados: compromisso de os
Estados lutarem pela promoção e proteção dos direitos da criança, pelo
reconhecimento de que os conflitos armados geram consequências prejudiciais
e duradouras à personalidade da criança. Para tanto, os Estados deverão
assegurar que nenhum menor de 18 anos seja admitido de forma involuntária
nas forças armadas e, se manifestado o interesse, que seja impedido de
participar diretamente de hostilidades.

Convenção sobre os aspectos civis do sequestro internacional de
crianças (1980): regras a serem adotadas no caso de sequestro internacional
e trata da transferência irregular de crianças, mesmo que efetivada por um dos
genitores.

Regras de Beijing: trata das regras mínimas das nações unidas para a
administração da justiça da infância e juventude. Possui caráter soft law, de
mera recomendação.

Diretrizes de Riad: diretrizes das nações unidas para a prevenção da
delinquência juvenil. Também possui caráter de mera recomendação, soft law.

Convenção relativa à proteção das crianças e cooperação em matéria
de adoção internacional;

Resolução 113, do CONANDA.

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(Ano: 2017. Banca: FCC. Órgão: DPE-PR)

Dentre diversas novidades, o Estatuto da Criança e do


Adolescente passou a prever a possibilidade de remissão
ao adolescente que viesse a praticar ato infracional. Esta
previsão decorreu de compromissos assumidos pelo
Brasil no âmbito internacional, havendo expressa
recomendação para adoção da remissão
A) no Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos.
B) na Declaração dos Direitos da Criança − Assembléia
das Nações Unidas, 1959.
C) nas Regras Mínimas das Nações Unidas para a
Administração da Justiça, da Infância e da Juventude −
Regras de Beijing.
QUESTÃO 1: D) nas Diretrizes das Nações Unidas para Prevenção da
NORMAS Delinquência Juvenil − Diretrizes de Riad.
INTERNACIONAIS E) no Pacto de San José da Costa Rica.

R: C

Pessoal, sobre as normas internacionais acerca de


direitos da criança e do adolescente, são importantes três
documentos:

1) Diretrizes de Riad - prevenção do crime


2) Regras de Beijing/Pequim - processo e julgamento
3) Regras de Toquio - penas alternativas

A remissão é um instituto recomendado pelas Nações


Unidas em um documento internacional chamado de
"Regras mínimas das Nações Unidas para administração
da Justiça da Infância e da Juventude" (Regras de
Beijing). Essa recomendação existe porque se entende
que, sempre que possível, deve-se evitar que o
adolescente seja submetido a uma ação socioeducativa
na qual ele passaria pelo estigma de ter sido submetido a
um processo judicial infracional.

Na versão original das Regras de Beijing, escrita em


inglês, a expressão utilizada para o instituto foi "diversion"
que acabou sendo traduzido como "remissão". A doutrina
especializada, no entanto, critica esta tradução e afirma
que remissão é chamada no inglês de "remission"
(perdão). Logo, a tradução mais correta de "diversion"

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seria algo como "encaminhamento diferente do original".
(ROSSATO, Luciano Alves; LÉPORE, Paulo Eduardo;
CUNHA, Rogério Sanches. Estatuto da Criança e do
Adolescente. Comentado artigo por artigo. 6. ed. São
Paulo: RT, 2014, p. 385).

PRINCÍPIOS E DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE:

Princípios:

a) Da proteção integral (arts. 227, da CF/88, e 2º e 3º do ECA): criança como


sujeito de direitos1, que goza, sem discriminação de todas as normas de
proteção tanto internacional, quanto nacional.

b) Do superior interesse da criança: deve-se dar primazia ao superior


interesse da criança, quando da avaliação de qualquer situação na qual ela
esteja envolvida.

c) Da prioridade absoluta (art. 4º do ECA): dever da família e do Estado de


priorizar o atendimento dos direitos da criança e adolescente, sobre qualquer
outro.

d) Do reconhecimento da criança e do adolescente como pessoas em


desenvolvimento (art. 6º do ECA): as crianças são sujeitos hipervulneráveis.

Direitos:

a) À vida e à saúde (arts. 7º e 14, do ECA): atenção às recentes alterações


legislativas, que acrescentaram a proteção desde a concepção, garantindo
atendimento pré-natal, perinatal e pós-natal, entre outros direitos;

b) Direito à liberdade e respeito à dignidade (arts. 15 a 18-B, do ECA):


valorização da criança e reconhecimento de sua condição de sujeito de
direitos. Atenção aos conceitos de castigos físicos e de tratamento cruel e
degradante

c) Direito à convivência familiar e comunitária (arts. 19 a 24 do ECA): é o


direito da criança e do adolescente de ser criado no âmbito de sua família
natural ou extensa e, excepcionalmente, numa família substituta, além da
garantia de convivência comunitária, garantindo-se seu desenvolvimento
integral.

1
Vejam a diferença: na doutrina da situação irregular, o menor era OBJETO DE DIREITOS; já,
na doutrina da proteção integral, a criança é SUJEITO DE DIREITOS. Por isso, antes, na
doutrina da situação irregular, falava-se em ‘menor’, o que, atualmente, na doutrina da proteção
integral, não se considera mais adequado.

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- O poder familiar será exercido em igualdade de condições pelos pais, salvo
decisão judicial em contrário.
- As crianças ou adolescentes sujeitos a programa de acolhimento institucional,
é garantido o direito a ter sua situação reavaliada no prazo máximo de seis
meses.
- A manutenção ou a reintegração de criança ou adolescente à sua família terá
preferência em relação a qualquer outra providência.
- É garantida a convivência da criança ou adolescente com os pais que,
eventualmente, estejam privados de liberdade, independente de autorização
judicial. Nestes casos, as visitas serão promovidas pelo responsável ou, na
hipótese de acolhimento, pela entidade responsável.
- A condenação criminal do pai ou da mãe não implica a destituição do poder
familiar, exceto na hipótese de condenação por crime doloso, sujeito a pena de
reclusão, contra o próprio filho ou filha.
- A falta ou carência de recursos materiais não é motivo suficiente para a perda
ou suspensão do poder familiar. Assim, não existindo outro motivo para
justificar a medida, a família deverá ser incluída em programas oficiais de
proteção, apoio e promoção.

d) Direito à educação, cultura, lazer e esporte (arts. 53 a 69):


- Atendimento em creche e pré-escola: crianças de 0 a 5 anos;
- Educação básica obrigatória e gratuita, dos 4 aos 17 anos, é direito público
subjetivo;
e) Direito à profissionalização e à proteção ao trabalho (arts. 60 a 69): é
proibido qualquer trabalho a menor de quatorze anos de idade, salvo na
condição de aprendiz.

(Ano: 2016. Banca: Vunesp. Cargo: Juiz de Direito do


TJM-SP)

Nos termos preconizados pela Lei no 8.069, de 13 de julho


de 1990, a criança e o adolescente têm direito à liberdade,
ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em
processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos
civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas
leis. E, ainda, estabelece que o direito ao respeito consiste

A) em buscar refúgio, auxílio e orientação, bem como


crença e culto religioso.
B) na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral
da criança e do adolescente.
C) na participação da vida política, na forma da lei, como
também da vida familiar e comunitária, sem discriminação.

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D) em ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços
comunitários, ressalvadas as restrições legais.
E) em ser criado e educado no seio de sua família e,
excepcionalmente, em família substituta.

PRINCÍPIOS E GABARITO: B. Pura letra da lei.


DIREITOS DA
CRIANÇA E DO Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade
ADOLESCENTE da integridade física, psíquica e moral da criança e do
adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da
identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças,
dos espaços e objetos pessoais. (original sem destaque).

(Ano: 2016. Banca: Cespe. Cargo: Juiz de Direito do


TJDFT)

A respeito dos direitos das crianças e dos adolescentes,


assinale a opção correta.
A) Os atos de alienação parental descritos na Lei n.º
12.318/2010 foram estabelecidos de forma taxativa,
numerus clausus, não admitindo interpretação extensiva.

B) Na mesma linha das diretrizes impostas pelo ECA


quanto ao direito à saúde, a Convenção dos Direitos da
Criança determina que a criança tem direito de gozar do
melhor padrão possível de saúde e dos serviços
destinados ao tratamento das doenças e à recuperação da
saúde, mediante adoção pelos Estados-Partes dos
esforços no sentido de assegurar que nenhuma criança se
veja privada de seu direito de usufruir desses serviços
sanitários.

C) O ECA relaciona obrigações que devem ser cumpridas


pelos hospitais e demais estabelecimentos públicos e
particulares de atenção à saúde de gestantes, dentre elas
a de manter registro das atividades desenvolvidas, até de
prontuários individuais, pelo prazo de cinco anos, sob pena
de cometimento de infração administrativa, punida com
multa, além de outras sanções administrativas.

D) O regime de capacidade civil gera reflexos no Estatuto,


de forma que deve haver ponderação dos direitos
positivados pelo ECA em caso de emancipação civil do
adolescente.

E) O programa de acolhimento institucional caracteriza-se


pela permanência de criança ou de adolescente junto a
uma entidade governamental ou não governamental, pelo

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prazo máximo de três anos, prorrogável por igual período,
a critério da autoridade judiciária.

GABARITO: B.

a) ERRADO. Segundo a Lei 12.318/00, art. 2º, p.ú, as


formas de alienação parental são exemplificativas,
cabendo ao juiz avaliar o caso concreto.

b) CERTO. ECA Art. 7º A criança e o adolescente têm


direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação
de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e
o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições
dignas de existência.

c) ERRADO. Art. 10, do ECA: Os hospitais e demais


estabelecimentos de atenção à saúde de gestantes,
públicos e particulares, são obrigados a:
I - manter registro das atividades desenvolvidas, através
de prontuários individuais, pelo prazo de dezoito anos;

d) ERRADO. Não existe essa previsão legal.


Art. 2º, do ECA: Considera-se criança, para os efeitos
desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e
adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.
Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se
excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito
e vinte e um anos de idade.

e) ERRADO. A emancipação é um instituto que só gera


efeitos patrimoniais. Art. 19. § 2º, do ECA: A permanência
da criança e do adolescente em programa de acolhimento
institucional não se prolongará por mais de 2 (dois) anos,
salvo comprovada necessidade que atenda ao seu
superior interesse, devidamente fundamentada pela
autoridade judiciária.

COLOCAÇÃO EM FAMÍLIA SUBSTITUTA: GUARDA, TUTELA E ADOÇÃO

ATENÇÃO: a adoção sofreu algumas mudanças, tendo em vista a recente


publicação da Lei 13.509, de 22 de novembro de 2017, que altera o ECA e a
CLT, bem como o Código Civil, dispondo sobre entrega voluntária, destituição
do poder familiar, acolhimento, apadrinhamento, guarda e adoção de crianças
e adolescentes, estendendo, ainda, as garantias trabalhistas aos adotantes e
acrescentando uma nova possibilidade de destituição do poder familiar.

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Vamos, primeiramente, conceituar os tipos de família que são tratados no
Estatuto da Criança e do Adolescente:

Família natural: a comunidade formada pelos pais e seus descendentes ou


por um dos pais e seus descendentes (família monoparental). Tem a
preferência legal para a criação da criança ou do adolescente, sendo
excepcionais as hipóteses de colocação em família substituta (art. 19).

Família extensa ou ampliada: a comunidade que se estende para além da


unidade pais e filhos ou do casal, alcançando parentes próximos com os quais
a criança ou adolescente conviva e mantenha vínculos de afinidade e
afetividade.

Família substituta: caráter subsidiário. É resultante de guarda, tutela e


adoção, sempre visando ao melhor interesse da criança e do adolescente.
Segundos os §§ 1º e 2º, do art. 28, do ECA, quando da colocação em família
substituta, a criança deverá ser ouvida e ter sua opinião levada em
consideração, respeitando-se seu grau de desenvolvimento e compreensão.

Os adolescentes, no entanto, devem consentir, em audiência especialmente


designada para este fim, a sua colocação em família substituta.

A colocação em família substituta é medida excepcional, que só deve ser


adotada, quando esgotadas todas as possibilidades de tentativas de
manutenção da criança ou do adolescente no seio de sua família natural.

Como critérios a serem considerados em caso de colocação em família


substituta, constam do ECA a afinidade, a afetividade e o grau de parentesco.

Deve-se, ainda, priorizar a permanência dos irmãos juntos, salvo se houver


comprovada existência de risco, abuso ou outra situação que excepcione a
medida. Quando a colocação em família substituta for de criança ou
adolescente pertencente à comunidade indígena ou quilombola, serão
preferencialmente mantidas no seio de sua comunidade, devendo ser
respeitada a sua cultura e identidade social, os seus costumes e tradições.
Deverá haver participação do órgão federal responsável pela política
indigenista ou antropológica.

A colocação em família substituta estrangeira, apenas será autorizada na


modalidade adoção e como forma excepcional. É aquela conferida à pessoa
não residente no Brasil. Logo, o critério não é a nacionalidade do adotante,
mas sim o país de residência.

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Reconhecimento do filho:

Natureza jurídica: ato jurídico em sentido estrito. É irrevogável, ainda que feito
em testamento (art. 1610, do CC/02).

Art. 26. Os filhos havidos fora do casamento poderão ser reconhecidos pelos
pais, conjunta ou separadamente, no próprio termo de nascimento, por
testamento, mediante escritura ou outro documento público, qualquer que
seja a origem da filiação. (original sem destaque).

Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o nascimento do filho ou


suceder-lhe ao falecimento, se deixar descendentes.

Natureza jurídica do reconhecimento do estado de filiação: ato personalíssimo,


imprescritível e indisponível, podendo ser exercido contra os pais ou seus
herdeiros.

Art. 27. O reconhecimento do estado de filiação é direito personalíssimo,


indisponível e imprescritível, podendo ser exercitado contra os pais ou seus
herdeiros, sem qualquer restrição, observado o segredo de Justiça.

GUARDA (artigos 33 à 35 do ECA)


- É a forma mais corriqueira de colocação em família substitua e consiste na
regularização de uma situação de fato, podendo ser deferida liminarmente nos
processos de tutela ou adoção. Consiste no dever de quem possui a guarda
prestar assistência material, moral e educacional.
- A guarda não é incompatível com o poder familiar, mas pode impor restrições
aos direitos dos pais.
- A guarda também poderá ser deferida, de forma excepcional, fora dos casos
de tutela ou adoção, para suprir eventual falta dos pais, autorizando o direito
de representação para determinadas situações.
- Ponto importante, que recentemente foi solucionado refere-se aos direitos
previdenciários do menor sujeito a guarda. Isto porque o artigo 33, §4º do
ECA, confere à criança ou adolescente a proteção previdenciária, como
dependentes do guardião. Porém, a redação do § 2º do art. 16, da Lei nº
8.213/91, excluiu o menor sob guarda do rol de dependentes.

Para solucionar a controvérsia, o STJ assim decidiu que: “Ao menor sob
guarda deve ser assegurado o direito ao benefício da pensão por morte
mesmo se o falecimento se deu após a modificação legislativa promovida pela
Lei nº. 9.528/97 na Lei nº. 8.213/91. O artigo 33, § 3º do ECA deve prevalecer
sobre a modificação legislativa promovida na lei geral da previdência, em

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homenagem ao princípio da proteção integral e preferência da criança e do
adolescente (artigo 227 da CF/88).”Dessa forma, atualmente não há mais
discussão: a guarda confere à criança a condição de dependente para todos
os fins, inclusive previdenciários.

- O detentor da guarda pode opor-se a terceiros, inclusive aos pais. Porém,


regra geral, o fato de a criança ou o adolescente estar sob guarda, não impede
o convívio com os pais. Porém, este será vedado toda vez que houver
expressa determinação judicial o proibindo ou quando a medida for aplicada
como preparação para a adoção.
- A guarda não retira dos pais o dever de prestar alimentos.
- A União pode fomentar serviços de acolhimento em família substituta
(modalidade de guarda preferencial ao acolhimento institucional) em família
acolhedora, como política pública.

TUTELA (artigos 36 a 38 do ECA)


- Caracteriza-se quando uma pessoa, maior de idade, assume o dever de
prestar assistência material, moral, educacional e de administração de bens, a
criança ou ao adolescente, que não esteja sob o poder familiar de seus pais.
- Diferente da guarda, a tutela é incompatível com o poder familiar, implica
necessariamente o dever de guarda.
- Aos pais, é conferido o direito de dispor em testamento sobre quem
gostariam que fosse o tutor de seus filhos, na eventualidade de morte. Nesses
casos, o tutor indicado deverá, no prazo de 30 dias, ingressar com o pedido
de formalização. O juiz irá avaliar o ato e, se restar comprovado que a
nomeação é mais vantajosa ao menor, não existindo outra pessoa em
melhores condições, formalizará a tutela.

ADOÇÃO (artigos 39 a 52-D)


- Adoção é um ato jurídico solene e que importará no rompimento dos vínculos
familiares existentes, salvo impedimentos matrimoniais, com a inserção do
adotado em família substituta. Tem natureza jurídica de medida de proteção e
ato jurídico em sentido estrito.
- É ato excepcional, personalíssimo, sendo vedada a adoção por procuração.
- É essencial o consentimento dos pais biológicos, salvo nos casos de pais
desconhecidos ou que tenham sido destituídos do poder familiar.
- O adotando deve ter, no máximo, 18 anos na data do pedido, salvo se já
estiver sob a guarda dos adotantes. O Código Civil dispõe sobre as regras de
adoção de pessoas maiores de idade, porém, as regras do ECA acabam se
aplicando, pois a lei civil o utiliza como norma de reenvio.
- A diferença entre adotante de adotado deve ser de, no mínimo, 16 anos, com
o objetivo de estabelecer uma relação de maturidade e respeito, característica
das relações entre pais e filhos.
- O ECA proíbe a adoção de irmãos e de ascendentes. Porém, de maneira
excepcional e levando em conta o absoluto interesse do menor, já foi

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autorizada a adoção entre ascendentes e seu neto, na seguinte situação: o
casal adotou uma criança de oito anos de idade que estava grávida, em
decorrência de abusos sofridos. Desde que a criança nasceu, mesmo sabendo
que sua mãe era a filha do casal, ela sempre a tratou como irmã e aos avós
como pais. Esta vedação serve para preservar as crianças de eventual
confusão mental e material. Porém, no caso relatado, não havia risco de
confusão, pois por toda a vida o tratamento foi de filha e irmãs.
- O prazo máximo para a conclusão da ação de adoção é de 120 dias,
prorrogável, uma única vez, por igual período.

- Modalidades de adoção:
Conjunta: é indispensável (regra geral) que seja realizada por pessoas
casadas ou em união estável, independente de se tratar de casal hétero ou
homossexual. Porém, excepcionando a regra do art. 42, o STJ já autorizou
que dois irmãos adotassem conjuntamente uma criança, levando em conta as
peculiaridades do caso e o melhor interesse da criança.
Unilateral: quando o cônjuge ou companheiro decide adotar o filho de seu
parceiro. É unilateral, pois o poder familiar permanece com um dos pais e
altera em relação ao outro. Importante destacar que, nesta modalidade, é
essencial a autorização do genitor que irá perder o poder familiar, salvo nos
casos de falta, quando não é possível consentir. Consiste em uma das formas
em que pode ser desconsiderado o cadastro de adotantes.

Outra exceção foi quanto ao maior de idade que sofreu abandono afetivo e
assim entendeu o STJ: Ante o abandono do adotando pelo pai biológico e
o estabelecimento de relação paterno-filial (vínculo afetivo) entre
adotante e adotando, a adoção de pessoa maior de idade não pode ser
refutada sem apresentação de justa causa por parte do pai biológico.

Post mortem: quando, no curso do processo de adoção, o adotante vem a


falecer, porém já havia manifestado de forma inequívoca o desejo de adotar.
Há decisão do STJ que deferiu a adoção mesmo tendo o adotante falecido
antes de iniciado o procedimento, mas havia manifestação de forma
inequívoca no sentido da adoção.

Adoção nacional: caracterizada pelo domicílio dos adotantes. Assim, sempre


que forem domiciliados no Brasil, a adoção será nacional. O estágio é
obrigatório pelo período que o juiz o fixar. O estágio poderá ser dispensado se
o adotando já estiver sob a tutela ou guarda legal por tempo suficiente para
que seja possível avaliar a existência de laços de afinidade e afetividade. A
guarda de fato não dispensa o estágio de convivência. O prazo máximo será
de 90 dias, prorrogável por igual período, mediante decisão fundamentada da
autoridade judiciária.

Adoção internacional: quando os adotantes são domiciliados no exterior. O


estágio não pode ser dispensado pelo juiz. O seu prazo mínimo será de 30
dias e máximo de 45, prorrogável, uma única vez, por igual período. O estágio
necessariamente deve ser cumprido em território nacional, preferencialmente,

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na comarca de residência da criança ou adolescente, ou, a critério do juiz, em
cidade limítrofe, respeitando-se a competência do juízo da comarca de
residência da criança.

Adoção à brasileira: quando a pessoa registra filho que não é seu, como se
fosse tendo plana consciência do ato. Normalmente, era utilizada como forma
de proteção, diante das peculiaridades da gravidez. Sobre o tema, decidiu o
STJ que: É possível o reconhecimento da paternidade biológica e a anulação
do registro de nascimento na hipótese em que isso for pleiteado pelo filho que
foi registrado conforme prática conhecida como “adoção a brasileira”.
Caracteriza violação da dignidade humana cercear o direito de conhecimento
da origem genética, respeitando-se, por conseguinte, a necessidade
psicológica de se conhecer a verdade biológica.

Novidade legislativa: Lei 13.509 de 22 de novembro de 2017

“Art. 19-A. A gestante ou mãe que manifeste interesse em entregar seu filho
para adoção, antes ou logo após o nascimento, será encaminhada à Justiça
da Infância e da Juventude.
§ 1o A gestante ou mãe será ouvida pela equipe interprofissional da Justiça da
Infância e da Juventude, que apresentará relatório à autoridade judiciária,
considerando inclusive os eventuais efeitos do estado gestacional e puerperal.
§ 2o De posse do relatório, a autoridade judiciária poderá determinar o
encaminhamento da gestante ou mãe, mediante sua expressa concordância, à
rede pública de saúde e assistência social para atendimento especializado.
§ 3o A busca à família extensa, conforme definida nos termos do parágrafo
único do art. 25 desta Lei, respeitará o prazo máximo de 90 (noventa) dias,
prorrogável por igual período.
§ 4o Na hipótese de não haver a indicação do genitor e de não existir outro
representante da família extensa apto a receber a guarda, a autoridade
judiciária competente deverá decretar a extinção do poder familiar e
determinar a colocação da criança sob a guarda provisória de quem estiver
habilitado a adotá-la ou de entidade que desenvolva programa de acolhimento
familiar ou institucional.
§ 5o Após o nascimento da criança, a vontade da mãe ou de ambos os
genitores, se houver pai registral ou pai indicado, deve ser manifestada na
audiência a que se refere o § 1 o do art. 166 desta Lei, garantido o sigilo sobre
a entrega.
§ 6o (VETADO).
§ 7o Os detentores da guarda possuem o prazo de 15 (quinze) dias para
propor a ação de adoção, contado do dia seguinte à data do término do
estágio de convivência.
§ 8o Na hipótese de desistência pelos genitores - manifestada em audiência ou
perante a equipe interprofissional - da entrega da criança após o nascimento,
a criança será mantida com os genitores, e será determinado pela Justiça da
Infância e da Juventude o acompanhamento familiar pelo prazo de 180 (cento
e oitenta) dias.
§ 9o É garantido à mãe o direito ao sigilo sobre o nascimento, respeitado o

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disposto no art. 48 desta Lei.
§ 10. (VETADO).”

Art. 39, § 3o Em caso de conflito entre direitos e interesses do adotando e de


outras pessoas, inclusive seus pais biológicos, devem prevalecer os direitos e
os interesses do adotando.” (NR)

“Art. 46. A adoção será precedida de estágio de convivência com a criança ou


adolescente, pelo prazo máximo de 90 (noventa) dias, observadas a idade da
criança ou adolescente e as peculiaridades do caso.
§ 2o-A. O prazo máximo estabelecido no caput deste artigo pode ser
prorrogado por até igual período, mediante decisão fundamentada da
autoridade judiciária.
§ 3o Em caso de adoção por pessoa ou casal residente ou domiciliado fora do
País, o estágio de convivência será de, no mínimo, 30 (trinta) dias e, no
máximo, 45 (quarenta e cinco) dias, prorrogável por até igual período, uma
única vez, mediante decisão fundamentada da autoridade judiciária.
§ 3o-A. Ao final do prazo previsto no § 3o deste artigo, deverá ser apresentado
laudo fundamentado pela equipe mencionada no § 4 o deste artigo, que
recomendará ou não o deferimento da adoção à autoridade judiciária.
§ 5o O estágio de convivência será cumprido no território nacional,
preferencialmente na comarca de residência da criança ou adolescente, ou, a
critério do juiz, em cidade limítrofe, respeitada, em qualquer hipótese, a
competência do juízo da comarca de residência da criança.” (NR)

“Art. 47. ..................................................................


§ 10. O prazo máximo para conclusão da ação de adoção será de 120 (cento
e vinte) dias, prorrogável uma única vez por igual período, mediante decisão
fundamentada da autoridade judiciária.” (NR)

“Art. 50. ..................................................................


§ 10. Consultados os cadastros e verificada a ausência de pretendentes
habilitados residentes no País com perfil compatível e interesse manifesto pela
adoção de criança ou adolescente inscrito nos cadastros existentes, será
realizado o encaminhamento da criança ou adolescente à adoção
internacional.
..................................................................................
§ 15. Será assegurada prioridade no cadastro a pessoas interessadas em
adotar criança ou adolescente com deficiência, com doença crônica ou com
necessidades específicas de saúde, além de grupo de irmãos.” (NR)

“Art. 51. Considera-se adoção internacional aquela na qual o pretendente


possui residência habitual em país-parte da Convenção de Haia, de 29 de
maio de 1993, Relativa à Proteção das Crianças e à Cooperação em Matéria
de Adoção Internacional, promulgada pelo Decreto no 3.087, de 21 junho de
1999, e deseja adotar criança em outro país-parte da Convenção.
§ 1o .............................................................
I - que a colocação em família adotiva é a solução adequada ao caso

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concreto;
II - Que foram esgotadas todas as possibilidades de colocação da criança ou
adolescente em família adotiva brasileira, com a comprovação, certificada nos
autos, da inexistência de adotantes habilitados residentes no Brasil com perfil
compatível com a criança ou adolescente, após consulta aos cadastros
mencionados nesta Lei;

“Art. 100
Parágrafo único.
X - Prevalência da família: na promoção de direitos e na proteção da criança e
do adolescente deve ser dada prevalência às medidas que os mantenham ou
reintegrem na sua família natural ou extensa ou, se isso não for possível, que
promovam a sua integração em família adotiva;

Sobre o programa de apadrinhamento:


“Art. 19-B. A criança e o adolescente em programa de acolhimento
institucional ou familiar poderão participar de programa de apadrinhamento.
§ 1o O apadrinhamento consiste em estabelecer e proporcionar à criança e ao
adolescente vínculos externos à instituição para fins de convivência familiar e
comunitária e colaboração com o seu desenvolvimento nos aspectos social,
moral, físico, cognitivo, educacional e financeiro.
§ 2o (VETADO).
§ 3o Pessoas jurídicas podem apadrinhar criança ou adolescente a fim de
colaborar para o seu desenvolvimento.
§ 4o O perfil da criança ou do adolescente a ser apadrinhado será definido no
âmbito de cada programa de apadrinhamento, com prioridade para crianças
ou adolescentes com remota possibilidade de reinserção familiar ou colocação
em família adotiva.
§ 5o Os programas ou serviços de apadrinhamento apoiados pela Justiça da
Infância e da Juventude poderão ser executados por órgãos públicos ou por
organizações da sociedade civil.
§ 6o Se ocorrer violação das regras de apadrinhamento, os responsáveis pelo
programa e pelos serviços de acolhimento deverão imediatamente notificar a
autoridade judiciária competente.”

JURISPRUDÊNCIA

PROCESSUAL CIVIL. CIVIL. RECURSO ESPECIAL. ADOÇÃO UNILATERAL.


REVOGAÇÃO. POSSIBILIDADE. 1. A adoção unilateral, ou adoção por
cônjuge, é espécie do gênero adoção, que se distingue das demais,
principalmente pela ausência de ruptura total entre o adotado e os pais
biológicos, porquanto um deles permanece exercendo o Poder Familiar sobre
o menor, que será, após a adoção, compartilhado com o cônjuge adotante.
2. Nesse tipo de adoção, que ocorre quando um dos ascendentes biológicos
faleceu, foi destituído do Poder Familiar, ou é desconhecido, não há consulta
ao grupo familiar estendido do ascendente ausente, cabendo tão-só ao
cônjuge supérstite decidir sobre a conveniência, ou não, da adoção do filho

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pelo seu novo cônjuge/companheiro.
3. Embora não se olvide haver inúmeras adoções dessa natureza positivas,
mormente quando há ascendente - usualmente o pai - desconhecidos, a
adoção unilateral feita após o óbito de ascendente, com o conseqüente
rompimento formal entre o adotado e parte de seu ramo biológico, por vezes,
impõe demasiado sacrifício ao adotado.
4. Diante desse cenário, e sabendo-se que a norma que proíbe a revogação
da adoção é, indisfarçavelmente, de proteção ao menor adotado, não pode
esse comando legal ser usado em descompasso com seus fins teleológicos,
devendo se ponderar sobre o acerto de sua utilização, quando
reconhecidamente prejudique o adotado. 5. Na hipótese sob exame, a
desvinculação legal entre o adotado e o ramo familiar de seu pai biológico, não
teve o condão de romper os laços familiares preexistentes, colocando o
adotado em um limbo familiar, no qual convivia intimamente com os parentes
de seu pai biológico, mas estava atado, legalmente, ao núcleo familiar de seu
pai adotivo.
6. Nessas circunstâncias, e em outras correlatas, deve preponderar o melhor
interesse da criança e do adolescente, que tem o peso principiológico
necessário para impedir a aplicação de regramento claramente desfavorável
ao adotado - in casu, a vedação da revogação da adoção - cancelando-se,
assim, a adoção unilateral anteriormente estabelecida.
7. Recurso provido para para, desde já permitir ao recorrente o
restabelecimento do seu vínculo paterno-biológico, cancelando-se, para todos
os efeitos legais, o deferimento do pedido de adoção feito em relação ao
recorrente. (REsp 1545959/SC, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS
CUEVA, Rel. p/ Acórdão Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,
julgado em 06/06/2017, DJe 01/08/2017)

RECURSO ESPECIAL. ADOÇÃO EM CONJUNTO. MORTE DE UM DOS


CÔNJUGES. DESISTÊNCIA PELO SUPÉRSTITE. ADOÇÃO POST
MORTEM. DEMONSTRAÇÃO DA VONTADE CLARA E INEQUÍVOCA. NÃO
OCORRÊNCIA. ADOÇÃO ISOLADA. 1. A adoção de pessoa maior e
plenamente capaz é questão que envolve interesse individual e disponível,
não dependente do consentimento dos pais biológicos do adotando.
2. Para a adoção conjunta, nos termos do § 4° do art. 42 do Estatuto da
Criança e do Adolescente, é indispensável que os adotantes sejam casados
civilmente ou mantenham união estável, comprovada a estabilidade da família.
Se um dos interessados (candidatos a pai/mãe) desiste da ação, a adoção
deve ser indeferida, mormente se o outro vem a morrer antes de manifestar-se
sobre a desistência.
3. Recurso especial conhecido e provido.
(REsp 1421409/DF, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, TERCEIRA
TURMA, julgado em 18/08/2016, DJe 25/08/2016) ESTATUTO DA CRIANÇA
E DO ADOLESCENTE. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE ADOÇÃO C/C
DESTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR MOVIDA PELOS ASCENDENTES
QUE JÁ EXERCIAM A PATERNIDADE SOCIOAFETIVA. SENTENÇA E
ACÓRDÃO ESTADUAL PELA PROCEDÊNCIA DO PEDIDO. MÃE
BIOLÓGICA ADOTADA AOS OITO ANOS DE IDADE GRÁVIDA DO

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ADOTANDO. ALEGAÇÃO DE NEGATIVA DE VIGÊNCIA AO ART. 535 DO
CPC. AUSÊNCIA DE OMISSÃO, OBSCURIDADE OU CONTRADIÇÃO NO
ACÓRDÃO RECORRIDO. SUPOSTA VIOLAÇÃO DOS ARTS. 39, § 1º, 41,
CAPUT, 42, §§ 1º E 43, TODOS DA LEI N.º 8.069/90, BEM COMO DO ART.
267, VI, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. INEXISTÊNCIA. DISCUSSÃO
CENTRADA NA VEDAÇÃO CONSTANTE DO ART. 42, § 1º, DO ECA.
COMANDO QUE NÃO MERECE APLICAÇÃO POR DESCUIDAR DA
REALIDADE FÁTICA DOS AUTOS. PREVALÊNCIA DOS PRINCÍPIOS DA
PROTEÇÃO INTEGRAL E DA GARANTIA DO MELHOR INTERESSE DO
MENOR. ART. 6º DO ECA. INCIDÊNCIA. INTERPRETAÇÃO DA NORMA
FEITA PELO JUIZ NO CASO CONCRETO. POSSIBILIDADE. ADOÇÃO
MANTIDA. RECURSO IMPROVIDO. 1. Ausentes os vícios do art. 535, do
CPC, rejeitam-se os embargos de declaração. 2. As estruturas familiares estão
em constante mutação e para se lidar com elas não bastam somente as leis. É
necessário buscar subsídios em diversas áreas, levando-se em conta
aspectos individuais de cada situação e os direitos de 3ª Geração. 3. Pais que
adotaram uma criança de oito anos de idade, já grávida, em razão de abuso
sexual sofrido e, por sua tenríssima idade de mãe, passaram a exercer a
paternidade socioafetiva de fato do filho dela, nascido quando contava apenas
9 anos de idade. 4. A vedação da adoção de descendente por ascendente,
prevista no art. 42, § 1º, do ECA, visou evitar que o instituto fosse
indevidamente utilizado com intuitos meramente patrimoniais ou assistenciais,
bem como buscou proteger o adotando em relação a eventual "confusão
mental e patrimonial" decorrente da "transformação" dos avós em pais. 5.
Realidade diversa do quadro dos autos, porque os avós sempre exerceram e
ainda exercem a função de pais do menor, caracterizando típica filiação
socioafetiva. 6. Observância do art. 6º do ECA: na interpretação desta Lei
levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem
comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da
criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento. 7. Recurso
especial não provido. (REsp 1448969/SC, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO,
TERCEIRA TURMA, julgado em 21/10/2014, DJe 03/11/2014)

Adoção por pessoa homoafetiva: É possível a inscrição de pessoa


homoafetiva no registro de pessoas interessadas na adoção (art. 50 do ECA),
independentemente da idade da criança a ser adotada. STJ. 3ª Turma. REsp
1.540.814-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 18/8/2015
(Info 567).

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(Ano: 2017. Banca: Vunesp. Cargo: Juiz de Direito do
TJ-SP)

Assinale a alternativa correta.


A) O deferimento da tutela não pressupõe a decretação da
perda ou da suspensão do poder familiar.
B) A criança ou o adolescente colocado em família
substituta pode ser transferido a terceiros ou a entidades
governamentais ou não governamentais, desde que
mediante autorização judicial.
C) A criança ou o adolescente colocado sob guarda fica
sob a dependência material e moral do detentor, exceto
para efeitos previdenciários.
D) A revogação da guarda exige o esgotamento do duplo
grau de jurisdição, a elaboração de parecer pelo Conselho
Tutelar e a oitiva do Ministério Público.

GABARITO: B

a) ERRADO. Art. 36. Parágrafo único. O deferimento da


tutela pressupõe a prévia decretação da perda ou
suspensão do poder familiar e implica necessariamente o
dever de guarda.
COLOCAÇÃO b) CERTO. Art. 30. A colocação em família substituta não
EM FAMÍLIA admitirá transferência da criança ou adolescente a
SUBSTITUTA terceiros ou a entidades governamentais ou não
governamentais, sem autorização judicial.
c) ERRADO. Art. 33. § 3º A guarda confere à criança ou
adolescente a condição de dependente, para todos os fins
e efeitos de direito, inclusive previdenciários.
ATENÇÃO: foi objeto de jurisprudência recente.
d) ERRADO. Art. 35. A guarda poderá ser revogada a
qualquer tempo, mediante ato judicial fundamentado,
ouvido o Ministério Público.

(ANO: 2017. Banca: FCC. Cargo: Juiz de Direito do TJ-


SC)

Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, são


regras que devem ser observadas para a concessão da
guarda, tutela ou adoção,
A) o consentimento do adolescente, colhido em audiência,
exceto para a guarda.
B) a opinião da criança que, sempre que possível, deve

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ser colhida por equipe interprofissional e considerada pela
autoridade judiciária competente.
C) a prevalência das melhores condições financeiras para
os cuidados com a criança ou adolescente.
D) a prioridade da tutela em favor de família extensa
quando ainda coexistir o poder familiar.
E) a preferência dos pais ou responsável por algum dos
eventuais pretendentes à guarda, tutela ou adoção.

GABARITO: B.

a) ERRADO. Em qualquer caso, sem exceção. Art. 28. A


colocação em família substituta far-se-á mediante guarda,
tutela ou adoção, independentemente da situação jurídica
da criança ou adolescente, nos termos desta Lei.
§ 2o Tratando-se de maior de 12 (doze) anos de idade,
será necessário seu consentimento, colhido em audiência.

b) CERTO. Art. 28. § 1º Sempre que possível, a criança ou


o adolescente será previamente ouvido por equipe
interprofissional, respeitado seu estágio de
desenvolvimento e grau de compreensão sobre as
implicações da medida, e terá sua opinião devidamente
considerada

c) ERRADO. Não é este o critério. Art. 23. A falta ou a


carência de recursos materiais não constitui motivo
suficiente para a perda ou a suspensão do poder familiar. §
1º Não existindo outro motivo que por si só autorize a
decretação da medida, a criança ou o adolescente será
mantido em sua família de origem, a qual deverá
obrigatoriamente ser incluída em serviços e programas
oficiais de proteção, apoio e promoção.

d) ERRADO. Art. 36. Parágrafo único. O deferimento da


tutela pressupõe a prévia decretação da perda ou
suspensão do poder familiar e implica necessariamente o
dever de guarda.

e) ERRADO. Art. 28. § 3º Na apreciação do pedido levar-


se-á em conta o grau de parentesco e a relação de
afinidade ou de afetividade, a fim de evitar ou minorar as
consequências decorrentes da medida.

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MEDIDAS DE PROTEÇÃO

Elas estão previstas nos arts. 98 a 102, do ECA, e materializam o princípio da


proteção integral.

São ações ou programas de caráter assistencial, aplicadas isolada ou


cumulativamente, quando a criança ou o adolescente estiver em situação de
risco ou quando da prática de ato infracional por criança.

O rol de medidas protetivas constante do art. 101, do ECA, não é exaustivo, e


sim exemplificativo, ao contrário do que acontece com as medidas
socioeducativas, estas sim são previstas exaustivamente. São medidas
aplicáveis, conforme art. 98, do ECA, sempre que os direitos das crianças ou
adolescentes forem violados ou ameaçados: (I) por ação ou omissão da
sociedade ou do Estado; (II) por falta, omissão, ou abuso dos pais ou
responsável; (III) em razão de sua conduta.

As medidas previstas no dispositivo são: (i) encaminhamento aos pais ou


responsável, mediante termo de responsabilidade; (ii) orientação, apoio e
acompanhamento temporários; (iii) matrícula e frequência obrigatórias em
estabelecimento oficial de ensino fundamental; (iv) inclusão em programa
comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao adolescente; (v)
requisição de tratamento médico, em regime hospitalar ou ambulatorial; (vi)
inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento
a alcoólatras e toxicômanos; (vii) acolhimento institucional; (viii) inclusão me
programa de acolhimento familiar; (ix) colocação em família substituta.

Algumas dessas medidas protetivas podem ser aplicadas diretamente pelo


Conselho Tutelar e são elas as medidas previstas do inciso I ao VII, do art. 101,
do ECA, acima mencionadas. O Conselho Tutelar não pode, portanto,
determinar o acolhimento familiar, nem a colocação em família substituta.

ATENÇÃO: o acolhimento institucional a ser determinado pelo CT é medida


excepcional, em caso de emergência, comunicando-se, dentro de 24h, o juiz da
infância.

§ 2o Sem prejuízo da tomada de medidas emergenciais para proteção de


vítimas de violência ou abuso sexual e das providências a que alude o art. 130
desta Lei, o afastamento da criança ou adolescente do convívio familiar é de
competência exclusiva da autoridade judiciária e importará na deflagração, a
pedido do Ministério Público ou de quem tenha legítimo interesse, de
procedimento judicial contencioso, no qual se garanta aos pais ou ao
responsável legal o exercício do contraditório e da ampla defesa. (Incluído pela
Lei nº 12.010, de 2009)

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Princípios que regem a aplicação de medidas de proteção (art. 100, p.ú., do
ECA):

a) condição da criança e do adolescente como sujeitos de direitos;


b) proteção integral e prioritária: este princípio guia a interpretação de todas
as normas e ações do Poder Público;
c) responsabilidade primária e solidária do poder público (art. 227 CF e
arts. 4º e 86 ECA). Responsabilidade primária e solidária das 3 (três) esferas
de governo, além da municipalização do atendimento e da possibilidade da
execução de programas por entidades não governamentais
d) interesse superior da criança e do adolescente;
e) privacidade (art. 5º, X CF, arts. 17 e 143 ECA, art. 16 Convenção da ONU):
Toda demanda envolvendo criança e adolescente deve correr em segredo de
justiça, especialmente nos casos de ato infracional, inclusive quando da
aplicação de medida protetiva. O descumprimento desta regra leva à
responsabilização administrativa.
f) intervenção precoce (art. 227 CF, arts. 4º, 93 e 259 ECA): intervenção
rápida e imediata, evitando dano maior. Deve ser lido com o princípio da
intervenção mínima.
g) intervenção mínima: intervenção menos danosa, adequada e proporcional,
respeitando-se os demais direitos da criança e do adolescente.
h) proporcionalidade e atualidade: o juiz deve analisar as circunstâncias do
caso e as condições peculiares da criança ou adolescente no momento da
decisão, e não no momento dos fatos, pois pode ser que hoje a medida não
seja mais necessária ou adequada.
i) responsabilidade parental (arts. 227 e 229, CF; arts. 4º, 22, 129, IV, e 249,
ECA, arts. 3º, n.2, 5º e 18, n. 2, Convenção da ONU): ainda que haja
intervenção, os pais devem assumir os seus deveres em relação à criança e ao
adolescente.
j) prevalência da família (art. 19, §3º, ECA; arts. 7°, n. 1, 9º e 20, Convenção
da ONU): deve-se tentar, por todos os meios possíveis, a manutenção na
família natural. E, havendo acolhimento institucional, na entidade, deve haver
visitas dos pais e a instituição deve fortalecer a manutenção dos vínculos, salvo
decisão judicial em sentido contrário.
l) obrigatoriedade da informação (arts. 5º e 29, Convenção da ONU): são
devidas às crianças e aos adolescentes, informações sobre os procedimentos
nos quais sejam partes.
m) oitiva obrigatória e participação (art. 12, Convenção da ONU; arts. 16, II,
28, §1º, 100, p.ú, XII, 124 e 161, §3º, ECA; arts. 43, 48, 49, 52, 53 e 59,
SINASE; art. 2, § 4º, Res. 113, CONANDA): criança de tenra idade > equipe
técnica. Já a participação do adolescente deve ser direta. ATENÇÃO:
depoimento sem dano e protagonismo juvenil.

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Acolhimento institucional x Acolhimento familiar:

- São medidas provisórias e excepcionais, sendo utilizadas como forma de


transição, seja para a reintegração familiar, ou para a colocação em família
substituta.
- Proporcionam atendimento individual, são fiscalizadas pelo Juiz da Infância e
da Juventude, ao qual remetem relatórios.
- Segundo o art. 19, §2º, do ECA, o acolhimento institucional tem o prazo
máximo de 18 meses, salvo em casos excepcionais, com autorização do juiz.
Este prazo de 18 meses é só para o acolhimento institucional, reavaliando-se
a situação a cada 6 meses. A doutrina, por analogia, estende o prazo ao
acolhimento familiar. Será garantida a convivência integral da criança com a
mãe adolescente que estiver em acolhimento institucional.
- Nunca poderão ser consideradas privação de liberdade, já que são medidas
de proteção, e não medidas socioeducativas.
- O programa de acolhimento familiar é um meio de garantir às crianças e
adolescentes o direito à convivência familiar e comunitária, evitando-se a
institucionalização, combinando a convivência com a família acolhedora e a
convivência com a família de origem.
- A família acolhedora interessada deve se cadastrar para receber a criança
por um certo período de tempo.
- No período de acolhimento, a família acolhedora detém a guarda da criança,
devendo cuidar e educar. Não é ato preparatório para a adoção.
- São medidas aplicadas exclusivamente pelo Juiz da Infância e da Juventude.
- O acolhimento institucional se dá em instituições de acolhimento,
governamentais ou não-governamentais, cujo dirigente detém a guarda
daqueles que estão sob seus cuidados.
- O acolhimento institucional também depende de decisão judicial. Emite-se
guia de acolhimento.
- Como são medidas excepcionais e provisórias, de transição para a
reintegração familiar, ou colocação em família substituta, conforme o §7º, do
art. 101, do ECA, estas medidas devem ser ocorrer em local mais próximo à
residência dos pais ou responsável.

Audiências concentradas: Provimento 32, da Corregedoria Geral de Justiça.

ATENÇÃO: a proibição de visitas dos pais nas entidades de acolhimento só se


dará por determinação do Juiz. O direito de visita é a regra.

Procedimento verificatório:

É um resquício da doutrina menorista, mas vamos lá! Quando o Juiz da


Infância e da Juventude tem notícia, através de uma repartição policial ou de
alguma entidade de atendimento, de uma situação de risco, determina de

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ofício a instauração de um procedimento verificatório, para decidir sobre a
aplicação de alguma das medidas previstas nos artigos 101 e 129 do ECA.

É um procedimento informal, sem regramento próprio, que termina,


geralmente, com a decisão de acolhimento institucional compulsório, ou com a
negativa de desacolhimento.

Em conformidade com o provimento 32 da corregedoria geral de justiça, o


juízo da vara da infância e da juventude deverá, em cada semestre,
preferencialmente nos meses de abril e outubro, realizar as denominadas
audiências concentradas, com a presença dos atores do sistema de
garantia, com a finalidade de reavaliar cada uma das medidas protetivas de
acolhimento, em vista de seu caráter provisório e excepcional.

(Ano: 2015. Banca: FCC. Cargo: Juiz de Direito do TJ-


GO.)

O acolhimento institucional e o acolhimento familiar são


medidas específicas de proteção com as seguintes
características:

A) provisórias e excepcionais, utilizáveis como forma de


transição para reintegração familiar ou, não sendo esta
possível, para colocação em adoção, implicando na
privação de liberdade cautelar.
B) excepcionais, utilizáveis como forma de transição para
colocação em família substituta, não implicando privação
de liberdade.
C) provisórias ou definitivas, utilizáveis como forma de
MEDIDAS transição para reintegração familiar ou, não sendo esta
PROTETIVAS possível, para colocação em família substituta, implicando
restrição da liberdade em razão da institucionalização.
D) provisórias e excepcionais, utilizáveis como forma de
transição para reintegração familiar ou, não sendo esta
possível, para colocação em adoção, não implicando
privação de liberdade.
E) provisórias e excepcionais, utilizáveis como forma de
transição para reintegração familiar ou, não sendo esta
possível, para colocação em família substituta, não
implicando privação de liberdade.

GABARITO: E.

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Conforme já explicado acima, o acolhimento institucional e
o familiar são medidas excepcionais e provisórias, de
transição para a reintegração familiar, ou para a colocação
em família substituta, caso a primeira hipótese não seja
possível. Não se restringe à adoção, ou à guarda, ou à
tutela, podendo ser qualquer dessas formas de colocação
em família substituta. Ademais, como se trata de medida
de proteção, jamais poderá ser considerada como privativa
de liberdade.

(Ano: 2015. Banca: FCC. Cargo: Juiz de Direito do TJ-


SC)

Paulo tem 8 anos e João,16. Ambos são filhos de Natália,


usuária problemática de álcool e drogas e que se encontra
longe do lar há várias semanas. A paternidade não foi
declarada. Eles não têm contato com outros parentes e,
com o sumiço da mãe, permaneceram morando em sua
residência, desacompanhados de outros adultos. Contam
com a ajuda de uma vizinha para auxiliá-los. Nenhum dos
dois está frequentando escola, mas João trabalha.
Segundo as regras e princípios da legislação vigente,

A) caso sejam acolhidos, deve o respectivo serviço de


acolhimento, elaborar imediatamente o Plano Individual de
Atendimento, que deve prever, entre outras providências, a
preservação do vínculo dos irmãos com a vizinha, a busca
pela genitora e seu encaminhamento para tratamento,
além da procura por familiares extensos.
B) caso a Justiça decrete a perda do poder familiar de
Natália sobre os filhos, ainda que ela se recupere do
quadro de dependência de drogas, eles não mais poderão
voltar a viver em sua companhia.
C) conhecido o caso pelas autoridades de proteção, tanto
João quanto Paulo devem ser obrigatoriamente
encaminhados a serviços de acolhimento institucional,
desde que, no caso de Paulo, haja expressa anuência à
medida, colhida em audiência judicial na presença do
Promotor de Justiça.
D) por se tratar de dois irmãos, com vínculo entre si, em
nenhuma hipótese podem ser acolhidos em serviços
distintos, nem é possível, sem que ambos concordem, o
encaminhamento de Paulo para adoção separadamente de
João.
E) a vizinha, por não ser parente, não pode pleitear a
guarda judicial dos irmãos, exceto se a genitora concordar
com o pedido.

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GABARITO: A. Todas as alternativas são respondidas a
partir dos seguintes dispositivos do ECA e da mencionada
jurisprudência:

Art. 19, do ECA: Toda criança ou adolescente tem direito a


ser criado e educado no seio da sua família e,
excepcionalmente, em família substituta, assegurada a
convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da
presença de pessoas dependentes de substâncias
entorpecentes.

Art. 92. As entidades que desenvolvam programas de


acolhimento familiar ou institucional deverão adotar os
seguintes princípios: (Redação dada pela Lei nº 12.010,
de 2009) Vigência
(...)
V - não desmembramento de grupos de irmãos;

Art. 100. Na aplicação das medidas levar-se-ão em conta


as necessidades pedagógicas, preferindo-se aquelas que
visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e
comunitários.
Art. 101, § 4º Imediatamente após o acolhimento da
criança ou do adolescente, a entidade responsável
pelo programa de acolhimento institucional ou familiar
elaborará um plano individual de atendimento, visando
à reintegração familiar, ressalvada a existência de ordem
escrita e fundamentada em contrário de autoridade
judiciária competente, caso em que também deverá
contemplar sua colocação em família substituta,
observadas as regras e princípios desta Lei. A Defensoria
Pública do Rio Grande do Sul conseguiu que uma mãe
recuperasse seu poder familiar:

APELAÇÃO CÍVEL. ECA. AÇÃO DE RESTITUIÇÃO DO


PODER FAMILIAR. POSSIBILIDADE JURÍDICA DO
PEDIDO. PROTEÇÃO INTEGRAL E PRIORITÁRIA DOS
DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE.
DESCONSTITUIÇÃO DA SENTENÇA EXTINTIVA.

1. A atenta e sistemática leitura dos artigos do Estatuto da


Criança e do Adolescente permite concluir que apenas a
adoção tem caráter irrevogável, porque expressamente
consignado no § 1º do art. 39. Diante do silêncio da lei
acerca do restabelecimento do poder familiar, também se
pode concluir, a contrário senso, pela possibilidade da
reversão da destituição do poder familiar, desde que
seja proposta ação própria para tanto, devendo restar

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comprovada a modificação da situação fática que
ensejou o decreto de perda do poder familiar. Desse
modo, impõe-se a desconstituição da sentença que
extinguiu o processo por impossibilidade jurídica do
pedido. 2. À luz da doutrina da proteção integral e
prioritária dos direitos da criança e do adolescente
preconizada pelo ECA, a intervenção do Estado deve
atender prioritariamente aos superiores interesses dos
menores, nos termos do art. 100, inc. II e IV, do ECA, de
modo que, caso o retorno dos menores ao convívio
materno se mostre a medida que melhor atenda aos
seus interesses, não há motivos para que se obste tal
retorno, com a restituição do poder familiar pela genitora,
mormente porque os menores não foram encaminhados à
adoção. 3. Trata-se, no caso, de uma relação jurídica
continuativa, sujeita, portanto, à ação do tempo sobre seus
integrantes (tal qual ocorre com as relações jurídicas que
envolvem o direito a alimentos). Logo, a coisa julgada,
formal e material, que antes se tenha produzido, fica
preservada desde que as condições objetivas
permaneçam as mesmas (cláusula rebus sic stantibus). No
entanto, modificadas estas, outra poderá ser a decisão,
sem que haja ofensa à coisa julgada. DERAM
PROVIMENTO. UNÂNIME. (TJRS, Apelação Cível Nº
70058335076, Oitava Câmara Cível, Relator: Luiz Felipe
Brasil Santos, Julgado em 22/05/2014).

MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

Além da leitura do Estatuto da Criança e do Adolescente, é importante que


vocês leiam a Lei do Sinase.

Importante lembrar que os menores de 12, ainda quando da prática de fato


previsto como crime no Código Penal, isto é, de ato infracional, não se
submetem às medidas socioeducativas, mas apenas às medidas protetivas
tratadas no item anterior. Ademais, os menores de 18 são inimputáveis, não se
submetendo ao processo penal, e sim às normas de proteção ou às medidas
socioeducativas.

Os maiores de 12 anos estão sujeitos, tanto à aplicação de medida protetiva,


quanto socioeducativa, sendo esta última excepcional, aplicada apenas quando
a medida protetiva não seja suficiente, observando o princípio da brevidade. As
medidas socioeducativas estão previstas no art. 112, do ECA e são as
seguintes:
ADVERTÊNCI
A

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Admoestação verbal para casos de menor abrangência;
ADVERTÊNCIA Aplicada pelo Juiz;
Requisitos: comprovação da materialidade e indícios
suficientes de autoria.
OBRIGAÇÃO DE Ato praticado gera reflexos patrimoniais;
REPARAR O Ressarcimento da vítima;
DANO 
Período máximo de 6 meses;
Realização de tarefas gratuitas;
PRESTAÇÃO DE Máxima de 8h semanais;
SERVIÇOS À Aos sábados, domingos e feriados, ou em dias úteis,
COMUNIDADE desde que não prejudique a frequência à escola ou à
jornada normal de trabalho.
Acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente;
Prazo mínimo de 6 meses;
A qualquer tempo, pode ser prorrogada, revogada ou
substituída, ouvidos o orientador, o Ministério Público e o
defensor.
Encagos:
LIBERDADE - Promoção social do adolescente e de sua família, através
ASSISTIDA de programa oficial ou comunitário de auxílio ou
assistência social;
- Supervisão da frequência e do aproveitamento escolar do
adolescente, com a promoção, inclusive, de sua matrícula;
- Buscar a profissionalização do adolescente e sua
inserção no mercado de trabalho.
Pode ser determinado desde o início, ou como forma de
transição para o meio aberto;
Atividades externas independentemente de autorização
SEMILIBERDADE judicial;
É obrigatória a escolarização e a profissionalização;
Não tem prazo determinado. Aplica-se o prazo da
internação.
MEDIDA PRIVATIVA DE LIBERDADE;
Medida excepcional, só aplicável quando as outras não
forem suficientes;
Princípios: brevidade, excepcionalidade e respeito à
condição peculiar de pessoa em desenvolvimento;
Admite-se atividades externas a critério da equipe
técnica, salvo expressa determinação judicial em sentido
contrário;
INTERNAÇÃO Não há prazo determinado, mas a sua manutenção deve
ser reavaliada, no máximo, a cada 6 meses.
A internação não pode exceder a 3 anos;
Atingidos os 3 anos, o adolescente será liberado,
colocado em regime de semiliberdade ou de liberdade

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assistida;
Liberação compulsória: aos 21 anos de idade;
Em qualquer hipótese, a desinternação será precedida
de autorização judicial, ouvido o MP;
Hipóteses restritas de aplicação da internação:
- Ato infracional cometido com grave ameaça ou violência
a pessoa;
- Reiteração no cometimento de outras infrações graves;
- Descumprimento reiterado e injustificável da medida
anteriormente imposta;
No caso de descumprimento reiterado de medida
anteriormente imposta, a internação não excederá a 3
meses, devendo ser decretada judicialmente, após o
devido processo legal > internação sanção.

Objetivos das medidas socioeducativas:

Art. 1º, § 2o, , da Lei 12.594/12: Entendem-se por medidas socioeducativas as


previstas no art. 112 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da
Criança e do Adolescente), as quais têm por objetivos:

I - a responsabilização do adolescente quanto às consequências lesivas do ato


infracional, sempre que possível incentivando a sua reparação;
II - a integração social do adolescente e a garantia de seus direitos individuais
e sociais, por meio do cumprimento de seu plano individual de atendimento; e
III - a desaprovação da conduta infracional, efetivando as disposições da
sentença como parâmetro máximo de privação de liberdade ou restrição de
direitos, observados os limites previstos em lei.

Princípios da execução das medidas socioeducativas:

Lei do Sinase.
Art. 35. A execução das medidas socioeducativas reger-se-á pelos seguintes
princípios:

I - legalidade, não podendo o adolescente receber tratamento mais gravoso do


que o conferido ao adulto;
II - excepcionalidade da intervenção judicial e da imposição de medidas,
favorecendo-se meios de autocomposição de conflitos;
III - prioridade a práticas ou medidas que sejam restaurativas e, sempre que
possível, atendam às necessidades das vítimas;
IV - proporcionalidade em relação à ofensa cometida;

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V - brevidade da medida em resposta ao ato cometido, em especial o respeito
ao que dispõe o art. 122 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da
Criança e do Adolescente);
VI - individualização, considerando-se a idade, capacidades e circunstâncias
pessoais do adolescente;
VII - mínima intervenção, restrita ao necessário para a realização dos objetivos
da medida;
VIII - não discriminação do adolescente, notadamente em razão de etnia,
gênero, nacionalidade, classe social, orientação religiosa, política ou sexual,
ou associação ou pertencimento a qualquer minoria ou status; e
IX - fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários no processo
socioeducativo.

Unificação de medidas socioeducativas:

Consoante determina o art. 45, §1º, da Lei do Sinase, todas as medidas


socioeducativas eventualmente aplicadas ao mesmo adolescente, em
procedimentos diversos, deverão ser reunidas num único processo de
execução, ficando cada modalidade de medida sujeita aos prazos máximos de
duração previstos em lei.

Art. 45. Se, no transcurso da execução, sobrevier sentença de aplicação de


nova medida, a autoridade judiciária procederá à unificação, ouvidos,
previamente, o Ministério Público e o defensor, no prazo de 3 (três) dias
sucessivos, decidindo-se em igual prazo.

§ 1o É vedado à autoridade judiciária determinar reinício de cumprimento de


medida socioeducativa, ou deixar de considerar os prazos máximos, e de
liberação compulsória previstos na Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990
(Estatuto da Criança e do Adolescente), excetuada a hipótese de medida
aplicada por ato infracional praticado durante a execução.
§ 2o É vedado à autoridade judiciária aplicar nova medida de internação, por
atos infracionais praticados anteriormente, a adolescente que já tenha
concluído cumprimento de medida socioeducativa dessa natureza, ou que
tenha sido transferido para cumprimento de medida menos rigorosa, sendo
tais atos absorvidos por aqueles aos quais se impôs a medida socioeducativa
extrema.

SÚMULAS

Súmula 265, STJ: É necessária a oitiva do menor infrator antes de decretar-


se a regressão da medida socioeducativa.
Súmula 338, STJ: A prescrição penal é aplicável nas medidas
socioeducativas.
Súmula 342, STJ: No procedimento para aplicação de medida socioeducativa,
é nula a desistência de outras provas em face da confissão do adolescente.
Súmula 383, STJ: A competência para processar e julgar as ações conexas
de interesse de menor é, em princípio, do foro do domicílio do detentor de sua

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guarda.
Súmula 492, STJ: O ato infracional análogo ao tráfico de drogas, por si só,
não conduz obrigatoriamente à imposição de medida socioeducativa de
internação do adolescente.

Súmula 500, STJ: A configuração do crime do art. 244-B do ECA independe


da prova da efetiva corrupção do menor, por se tratar de delito formal.

JURISPRUDÊNCIA

A decisão judicial que impõe à Administração Pública o restabelecimento do


plantão de 24 horas em Delegacia Especializada de Atendimento à Infância e
à Juventude não constitui abuso de poder, tampouco extrapola o controle do
mérito administrativo pelo Poder Judiciário. STJ. 1ª Turma. REsp 1612931-MS
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - ECA. HABEAS CORPUS.
ATO INFRACIONAL EQUIPARADO AO CRIME DE ROUBO MAJORADO.
DESCUMPRIMENTO DA MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE LIBERDADE
ASSISTIDA. MANDADO DE BUSCA E APREENSÃO. ILEGALIDADE.
INOCORRÊNCIA. MEDIDA NECESSÁRIA. HABEAS CORPUS DENEGADO.
1. É entendimento pacífico desta Corte Superior que a expedição de mandado
de busca e apreensão para localizar adolescente que descumpriu medida
socioeducativa de liberdade assistida não configura constrangimento ilegal,
nem mesmo contraria o enunciado da Súmula n. 265 do STJ. Precedentes. 2.
Não há que se falar em ilegalidade na determinação de continuidade da
medida socioeducativa de liberdade assistida quando necessária para
proteção do menor em situação de risco. 3. Habeas corpus denegado. (HC
381.127/SP, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em
14/03/2017, DJe 22/03/2017) A falta de entrevista pessoal do adolescente
antes da audiência de apresentação importa em nulidade, ante a ofensa ao
princípio da ampla defesa, se evidenciado prejuízo à defesa do adolescente.
STJ. 5ª Turma. HC 345390/DF, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 17/11/2016.
NÃO são necessárias 3 reiterações de atos infracionais: À luz do princípio da
legalidade, deve-se afastar da quantificação de infrações, devendo, portanto, a
imposição da medida socioeducativa pautar-se em estrita atenção às nuances
que envolvem o quadro fático da situação em concreto. Modificação de
orientação deste Colegiado para comungar da perspectiva proveniente da
doutrina e da majoritária jurisprudência da Pretória Corte e da Quinta Turma
deste Tribunal da Cidadania, de modo que a reiteração pode resultar do
próprio segundo ato e, por conseguinte, a depender das circunstâncias do
caso concreto, poderá vir a culminar na aplicação da medida de internação.
Habeas corpus denegado. (HC 347.434/SP, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO,
Rel. p/ Acórdão Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA,
julgado em 27/09/2016, DJe 13/10/2016)
É possível o cumprimento imediato da internação fixada na sentença ainda
que tenha havido recurso: Invocam-se os artigos 198 do ECA e 520 do CPC
para se concluir pela possibilidade de conferir efeito meramente devolutivo à
sentença que impõe medida socioeducativa em confirmação ao que se
denomina "antecipação dos efeitos da tutela", i.e., a anterior internação

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provisória do adolescente no processo por ato infracional. (HC 346.380/SP,
Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, Rel. p/ Acórdão Ministro
ROGERIO SCHIETTI CRUZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 13/04/2016, DJe
13/05/2016)

OBRI

(Ano: 2017. Banca: FCC. Cargo: Juiz de Direito do


TJ-SC)

Mário, 15 anos de idade, encontrava-se em


cumprimento de medida socioeducativa de liberdade
assistida. Durante o curso desta, Mário teve contra si
nova apuração de ato infracional, praticado no curso da
execução anterior, que resultou em decisão judicial que
lhe impôs nova medida, a de semiliberdade.

O juiz competente pelo acompanhamento do processo


de execução, então, proferiu decisão, a qual impôs-lhe
o cumprimento de uma única medida, a de
semiliberdade. Nesta decisão, nos termos da Lei
Federal n° 12.594/12, o juiz competente aplicou o
instituto da
MEDIDAS
SOCIOEDUCATIVAS A) cumulação.
B) unificação.
C) suspensão.
D) alteração.
E) substituição.

GABARITO: B. Trata-se da letra pura da lei.


Lei 12.594/2012 (SINASE), Art. 45. Se, no transcurso
da execução, sobrevier sentença de aplicação de
nova medida, a autoridade judiciária procederá à
unificação, ouvidos, previamente, o Ministério
Público e o defensor, no prazo de 3 (três) dias
sucessivos, decidindo-se em igual prazo.

§ 1º É vedado à autoridade judiciária determinar


reinício de cumprimento de medida socioeducativa, ou
deixar de considerar os prazos máximos, e de liberação
compulsória previstos na Lei no 8.069, de 13 de julho
de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente),
excetuada a hipótese de medida aplicada por ato
infracional praticado durante a execução.

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§ 2º É vedado à autoridade judiciária aplicar nova
medida de internação, por atos infracionais praticados
anteriormente, a adolescente que já tenha concluído
cumprimento de medida socioeducativa dessa
natureza, ou que tenha sido transferido para
cumprimento de medida menos rigorosa, sendo tais
atos absorvidos por aqueles aos quais se impôs a
medida socioeducativa extrema.

(Ano: 2017. Banca: Cespe. Cargo: Juiz de Direito do


TJ-PR)

Assinale a opção correta a respeito do Sistema


Nacional de Atendimento Socioeducativo.

A) Comprovação da existência de estabelecimento


educacional com instalações adequadas e em
conformidade com as normas de referência é um dos
requisitos específicos para a inscrição de programas de
regime de semiliberdade ou internação.
B) É princípio que rege a execução das medidas
socioeducativas a imprescindibilidade da intervenção
judicial, favorecendo-se meios de autocomposição de
conflitos.
C) Ao adolescente que já tenha cumprido medida
socioeducativa de internação pode ser aplicada nova
medida dessa natureza em razão de ato infracional por
ele praticado anteriormente.
D) Na definição das estratégias para a gestão de
conflitos entre adolescentes sob o regime de
internação, é lícita a imposição de sanção disciplinar de
isolamento cautelar como incentivo ao convencimento
do adolescente.

GABARITO: A. Ainda que seja da banca Cespe, para


resolver a questão, bastava a letra da lei. Lei do
SINASE:

a) CERTO: Art. 15. São requisitos específicos para a


inscrição de programas de regime de semiliberdade ou
internação:
I - a comprovação da existência de estabelecimento
educacional com instalações adequadas e em
conformidade com as normas de referência;
II - a previsão do processo e dos requisitos para a
escolha do dirigente;
III - a apresentação das atividades de natureza coletiva;
IV - a definição das estratégias para a gestão de

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conflitos, vedada a previsão de isolamento cautelar,
exceto nos casos previstos no § 2o do art. 49 desta Lei;
V - a previsão de regime disciplinar nos termos do art.
72 desta Lei.

b) ERRADO. Art. 35. A execução das medidas


socioeducativas reger-se-á pelos seguintes princípios:
II - excepcionalidade da intervenção judicial e da
imposição de medidas, favorecendo-se meios de
autocomposição de conflitos;

c) ERRADO. Art. 45. § 2º: É vedado à autoridade


judiciária aplicar nova medida de internação, por atos
infracionais praticados anteriormente, a adolescente
que já tenha concluído cumprimento de medida
socioeducativa dessa natureza, ou que tenha sido
transferido para cumprimento de medida menos
rigorosa, sendo tais atos absorvidos por aqueles aos
quais se impôs a medida socioeducativa extrema.

d) ERRADO. Art. 48, § 2º É vedada a aplicação de


sanção disciplinar de isolamento a adolescente interno,
exceto seja essa imprescindível para garantia da
segurança de outros internos ou do próprio adolescente
a quem seja imposta a sanção, sendo necessária ainda
comunicação ao defensor, ao Ministério Público e à
autoridade judiciária em até 24 horas.

COMUNIDAD
APURAÇÃO DE ATOS INFRACIONAIS, RECURSOS, IMPUGNAÇÕES E
EXECUÇÃO

Para se aplicar qualquer medida socioeducativa a um adolescente, é


necessária a observância do devido processo legal, garantindo-se a defesa do
adolescente e seu efetivo acesso à justiça. A exceção consiste na remissão
concedida pelo MP, que importa na exclusão do processo.

Quanto à competência, o ECA, em seus arts. 146 c/c 147, I e II, prescreve que
esta será do domicílio dos pais ou responsável, ou, em sua falta, no lugar em
que se encontre a criança ou o adolescente. Trata-se de competência de
natureza absoluta.

O adolescente que pratica um ato infracional será apreendido por ordem


judicial, ou em flagrante, sendo, imediatamente, encaminhado à autoridade
policial competente. Se, no caso do flagrante, a infração tiver sido cometida
mediante violência ou grave ameaça, a autoridade policial deverá:

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- Lavrar auto de apreensão, ouvindo as testemunhas e o adolescente;
- Apreender os produtos e o instrumento da infração;
- Requisitar os exames ou as perícias, necessários à comprovação da
materialidade e da autoria.

Nas demais hipóteses de apreensão, o auto pode ser substituído por boletim
de ocorrência circunstanciado.

Ainda, comparecendo qualquer dos pais ou responsável, o adolescente será


prontamente liberado, sob termo de compromisso e responsabilidade de
apresentação deste adolescente ao MP, no mesmo dia ou no primeiro dia útil
imediato, sendo impossível naquele. No entanto, pela gravidade do ato
infracional e sua repercussão social, poderá ser necessária a permanência do
adolescente sob internação, para garantia de sua segurança pessoal ou
manutenção da ordem pública.

Neste último caso, a autoridade policial deverá encaminhar o adolescente ao


MP com a cópia do auto de apreensão ou boletim de ocorrência. Não sendo
possível a apresentação imediata, a autoridade policial deve encaminhar o
adolescente a uma entidade de atendimento, que apresentará o adolescente
ao MP, no prazo de 24h.

ATENÇÃO: onde não houver entidade de atendimento, a própria autoridade


policial fará a apresentação. Ainda, na falta de repartição policial especializada,
o adolescente aguardará a apresentação em dependência separada dos
maiores, não podendo exceder o prazo de 24h.
40
O adolescente deverá ser ouvido informal e imediatamente, quando da sua
apresentação ao MP e, se possível, ouvir-se-ão seus pais ou responsável e as
testemunhas.

O MP poderá adotar as seguintes medidas:

- Promover o arquivamento;
- Conceder remissão;
- Representar à autoridade judiciária, para a aplicação de medida
socioeducativa.

Nos casos de arquivamento ou de remissão, os autos serão encaminhados à


autoridade judiciária competente, para homologação. ATENÇÃO: no caso de
remissão proposta pelo MP, o juiz não pode modificá-la. Ele pode não
homologar, mas não modificar.

RECURSO ESPECIAL. LEI N. 8.069/1990. REMISSÃO PRÉ-PROCESSUAL.


INICIATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO. DIVERGÊNCIA TOTAL OU PARCIAL.
APLICAÇÃO DO ART. 181, § 2°, DO ECA. RECURSO PROVIDO. 1. É
prerrogativa do Ministério Público, como titular da representação por ato
infracional, a iniciativa de propor a remissão pré-processual como forma de

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exclusão do processo, a qual, por expressa previsão do art. 127 do ECA, já
declarado constitucional pelo Supremo Tribunal Federal, pode ser cumulada
com medidas socioeducativas em meio aberto, as quais não pressupõem
a apuração de responsabilidade e não prevalecem para fins de
antecedentes, possuindo apenas caráter pedagógico. 2. O Juiz, no ato da
homologação exigida pelo art. 181, § 1°, do ECA, se discordar da remissão
concedida pelo Ministério Público, fará remessa dos autos ao Procurador-Geral
de Justiça e este oferecerá representação, designará outro promotor para
apresentá-la ou ratificará o arquivamento ou a remissão, que só então estará a
autoridade judiciária obrigada a homologar. 3. Em caso de discordância parcial
quanto aos termos da remissão, não pode o juiz modificar os termos da
proposta do Ministério Público no ato da homologação, para fins de excluir
medida em meio aberto cumulada com o perdão. 4. Recurso especial provido
para anular a homologação da remissão e determinar que o Juízo de primeiro
grau adote o rito do art. 181, § 2°, do ECA. (REsp 1392888/MS, Rel. Ministro
ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 30/06/2016, DJe
01/08/2016)

O prazo máximo e improrrogável para a conclusão do procedimento, quando o


adolescente estiver internado provisoriamente, é de 45 dias. Se a internação
for a medida cabível, o adolescente não poderá cumpri-la em estabelecimento
prisional e, inexistindo entidade apropriada, o adolescente será transferido para
a localidade mais próxima. Ainda, sendo impossível a pronta transferência, o
adolescente deve aguardar na repartição policial, isolado dos adultos e em
condições apropriadas. De qualquer forma, o prazo máximo é de 5 dias.

Instaurado o processo perante a autoridade judiciária, ela também pode decidir


pela remissão, que poderá ser aplicada em qualquer fase do procedimento,
desde que antes da sentença.

A defesa tem o prazo de 3 dias para realizar a defesa prévia, oferecendo o rol
de testemunhas, contado da audiência de apresentação.

A autoridade judiciária não aplicará qualquer medida, desde que reconheça na


sentença: estar provada a inexistência do fato; não haver prova da existência
do fato; não constituir o fato ato infracional; não existir prova de ter o
adolescente concorrido para o ato infracional.
A intimação da sentença que aplicar medida de internação ou regime de
semiliberdade será feita: ao adolescente e ao seu defensor; quando não for
encontrado o adolescente, a seus pais ou responsável, sem prejuízo do
defensor.

Sendo outra a medida aplicada, a intimação far-se-á unicamente na pessoa do


defensor. Recaindo a intimação na pessoa do adolescente, deverá este
manifestar se deseja ou não recorrer da sentença.

Aos procedimentos afetos à Justiça da Infância e Juventude, inclusive aqueles


relativos à execução das medidas socioeducativas, quanto ao sistema recursal,

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adota-se o CPC, e, quanto ao procedimento comum, adota-se o CPP. Porém,
quando o ECA estabelecer prazo especial, este será observado. Assim, todos
os recursos serão interpostos em um prazo de 10 dias (artigo 198, II).

- O prazo máximo de julgamento de recursos afetos à Justiça da Infância e


Juventude é de 60 dias.

- Os procedimentos da infância e juventude possuem prioridade de tramitação


(artigo 198, III). Pessoal, na 2ª fase, é essencial mencionar isto.

- A sentença que deferir a adoção produz efeito desde logo, embora sujeita à
apelação, que será recebida exclusivamente no efeito devolutivo, salvo se
tratar de adoção internacional ou se houver perigo de dano irreparável ou de
difícil reparação ao adotando.

SÚMULAS

Súmula 342, STJ: No procedimento para aplicação de medida sócio-


educativa, é nula a desistência de outras provas em face da confissão do
adolescente.
Súmula 338, STJ: A prescrição penal é aplicável nas medidas
socioeducativas.

JURISPRUDÊNCIA

A falta de entrevista pessoal do adolescente antes da audiência de


apresentação importa em nulidade, ante a ofensa ao princípio da ampla
defesa, se evidenciado prejuízo à defesa do adolescente. STJ. 5ª Turma. HC
345390/DF, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 17/11/2016.

(Ano: 2015. Banca: FCC. Cargo: Juiz de Direito do TJ


PR)

Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n°


8.069/90), sob pena de responsabilidade,
A) não poderá o adolescente a quem se atribua autoria de
ato infracional ser algemado ou transportado em
compartimento fechado de veículo policial.
B) deverá a autoridade judiciária transferir a criança
disponível à adoção para serviço de acolhimento
institucional sediado na comarca de residência dos
pretendentes habilitados conforme indicação do cadastro
nacional.

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C) deverão as entidades que mantenham programa de
acolhimento comunicar ao Conselho Tutelar, até o
segundo dia útil imediato, o acolhimento de criança ou
adolescente realizado em caráter excepcional sem prévia
determinação da autoridade competente.
D) não poderá ser ultrapassado o prazo máximo de cinco
dias para remover, para entidade adequada, adolescente
internado provisoriamente que se encontre recolhido em
APURAÇÃO DE
seção isolada dos adultos dentro de repartição policial.
FALTA GRAVE E) deverá o juiz examinar a possibilidade de internação
imediata, em estabelecimento educacional, de criança ou
adolescente autores de ato infracional que vivenciem
condição peculiar de vulnerabilidade pessoal e social
decorrente do abandono familiar.

GABARITO: D. Letra da lei. TUDO do ECA.

a) ERRADO. A lei não fala nada sobre algemas. Art. 178.


O adolescente a quem se atribua autoria de ato infracional
não poderá ser conduzido ou transportado em
compartimento
fechado de veículo policial, em condições atentatórias à
sua
dignidade, ou que impliquem risco à sua integridade física
ou
mental, sob pena de responsabilidade.
b) ERRADO. Art.101 (...) § 7º O acolhimento familiar ou
institucional ocorrerá no local mais próximo à residência
dos pais ou do responsável e, como parte do processo de
reintegração familiar, sempre que identificada a
necessidade, a família de origem será incluída em
programas oficiais de orientação, de apoio e de promoção
social, sendo facilitado e estimulado o contato com a
criança ou com o adolescente acolhido.
c) ERRADO. Art. 93. As entidades que mantenham
programa de acolhimento institucional poderão, em caráter
excepcional e de urgência, acolher crianças e
adolescentes sem prévia determinação da autoridade
competente, fazendo comunicação do fato em até 24 (vinte
e quatro) horas ao Juiz da Infância e da Juventude, sob
pena de responsabilidade.
d) CERTO. Art. 184 (...) §2º Sendo impossível a pronta
transferência, o adolescente aguardará sua remoção em
repartição policial, desde que em seção isolada dos
adultos e com instalações apropriadas, não podendo
ultrapassar o prazo máximo de cinco dias, sob pena de
responsabilidade.
e) Não existe essa previsão.

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(Ano: 2015. Banca: FCC. Cargo: Juiz de Direito do TJ
GO)

O juiz da infância e da juventude poderá conceder a


remissão ao adolescente, autor de ato infracional,

A) apenas como forma de suspensão do processo.


B) como forma de suspensão ou extinção do processo.
C) como forma de exclusão, suspensão ou extinção do
processo.
D) apenas como forma de exclusão do processo.
E) apenas como forma de extinção do processo.

GABARITO: B

Art. 148. A Justiça da Infância e da Juventude é


competente para:
(...)
II - conceder a remissão, como forma de suspensão ou
extinção do processo;

CONSELHO TUTELAR

É órgão permanente e autônomo, integrante do Poder Executivo municipal, não


possui natureza jurisdicional, devendo existir em cada Município e em cada
Região Administrativa do DF, pelo menos, 1 Conselho Tutelar, composto por 5
membros, eleitos pela população local, para um mandato de 4 anos, permitida
uma recondução, por nova eleição.

São requisitos para ser conselheiro tutelar:

Idade mínima de 21 anos;


Residir no município;
Possuir idoneidade moral.

Não podem funcionar no mesmo conselho tutelar: marido e mulher; ascendente


e descendente; sogro e genro ou nora; irmãos; cunhados, durante o cunhadio;
tio e sobrinho; padrasto, madrasta e enteado.

Aos conselheiros tutelares são garantidos direito a: cobertura previdenciária,


férias anuais remuneradas, acrescidas de 1/3; licença maternidade,
paternidade; gratificação natalina.

O ECA prevê a solidariedade entre o Poder Judiciário e o Conselho Tutelar


quanto à competência para determinar medidas de proteção às crianças e
adolescentes, bem como aos pais e responsáveis.

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Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade
competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas:
I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de
responsabilidade;
II - orientação, apoio e acompanhamento temporários;
III - matrícula e freqüência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino
fundamental;
IV - inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança
e ao adolescente;
V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime
hospitalar ou ambulatorial;
VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e
tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
VII - abrigo em entidade;
VIII - colocação em família substituta.

Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar:


I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses previstas nos arts. 98 e
105, aplicando as medidas previstas no art. 101, I a VII;
II - atender e aconselhar os pais ou responsável, aplicando as medidas
previstas no art. 129, I a VII;
III - promover a execução de suas decisões, podendo para tanto:
a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação, serviço social,
previdência, trabalho e segurança;
b) representar junto à autoridade judiciária nos casos de descumprimento
injustificado de suas deliberações.
IV - encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que constitua infração
administrativa ou penal contra os direitos da criança ou adolescente;
V - encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua competência;
VI - providenciar a medida estabelecida pela autoridade judiciária, dentre as
previstas no art. 101, de I a VI, para o adolescente autor de ato infracional;
VII - expedir notificações;
VIII - requisitar certidões de nascimento e de óbito de criança ou adolescente
quando necessário;
IX - assessorar o Poder Executivo local na elaboração da proposta
orçamentária para planos e programas de atendimento dos direitos da criança
e do adolescente;
X - representar, em nome da pessoa e da família, contra a violação dos direitos
previstos no art. 220, § 3º, inciso II, da Constituição Federal;
XI - representar ao Ministério Público para efeito das ações de perda ou
suspensão do poder familiar, após esgotadas as possibilidades de manutenção
da criança ou do adolescente junto à família natural. (Redação dada pela Lei
nº 12.010, de 2009) Vigência
XII - promover e incentivar, na comunidade e nos grupos profissionais, ações
de divulgação e treinamento para o reconhecimento de sintomas de maus-
tratos em crianças e adolescentes. (Incluído pela Lei nº 13.046, de 2014)
Parágrafo único. Se, no exercício de suas atribuições, o Conselho Tutelar
entender necessário o afastamento do convívio familiar, comunicará

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incontinenti o46 fato ao Ministério Público, prestando-lhe informações sobre os
motivos de tal entendimento e as providências tomadas para a orientação, o
apoio e a promoção social da família. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)

(Ano: 2017. Banca: Vunesp. Cargo: Juiz de Direito do


TJSP)

Compete ao Conselho Tutelar

A) exortar os dirigentes de estabelecimentos de ensino


fundamental à realização de recenseamento periódico dos
educandos.
B) promover a oitiva informal do adolescente apreendido
em flagrante de ato infracional e em seguida encaminhá-lo
à autoridade policial competente.
C) receber as comunicações dos dirigentes de
estabelecimento de ensino fundamental a respeito de
maus-tratos envolvendo alunos e encaminhá-las ao
Ministério Público.
D) colocar em família substituta a criança ou o adolescente
que se encontre abandonado ou em situação de perigo.

GABARITO: C. questão de letra da lei.


CONSELHO
TUTELAR a) ERRADO. art. 54 §3º Compete ao poder público
recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-lhes
a chamada e zelar, junto aos pais ou responsável, pela
frequência à escola.

b) ERRADO. Art. 179. Apresentado o adolescente, o


representante do Ministério Público, no mesmo dia e à
vista do auto de apreensão, boletim de ocorrência ou
relatório policial, devidamente autuados pelo cartório
judicial e com informação sobre os antecedentes do
adolescente, procederá imediata e informalmente à sua
oitiva e, em sendo possível, de seus pais ou responsável,
vítima e testemunhas.

c) CERTO. Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos


de ensino fundamental comunicarão ao Conselho
Tutelar os casos de: I - maus-tratos envolvendo seus
alunos; Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar:
(...) IV - encaminhar ao MP notícia de fato que constitua

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infração administrativa ou penal contra os direitos da
criança ou adolescente

d) ERRADO. Art. 28. A colocação em família substituta far-


se-á mediante guarda, tutela ou adoção,
independentemente da situação jurídica da criança ou
adolescente, nos termos desta
Lei. > SÓ pode ser determinada pelo juiz.

LEI Nº 12.594/12 – SINASE

PRINCIPAIS TÓPICOS SOBRE SINASE – LEI Nº 12.594/12


 SINASE é o conjunto de regras, princípios e critérios ligados à
execução de medidas socioeducativos, incluindo-se, por adesão, os
sistemas estaduais, distritais e municipais, bem como todos os planos,
políticas e programas que visam a atender adolescentes em conflito
com a lei.
 Programa: é a organização e o funcionamento, por unidade, das
condições para o cumprimento da medida.
 Unidade: é a base física para a organização e o funcionamento de
programa de atendimento.
 Entidade de atendimento: pessoa jurídica de direito público ou
privado que instala e mantém as unidades de atendimento e os
recursos.
 É vedada a instituição de unidades socioeducativas em espaços
contíguos, anexos ou de qualquer forma integrados a estabelecimentos
penais.
 O SINASE será organizado pela União e integrado pelos sistemas
estaduais, distritais e municipais, que serão responsáveis pela
implementação dos programas de atendimento. É vedado o
desenvolvimento e a oferta de programas próprios de atendimento.

EXECUÇÃO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS:

 Será regida pelo princípio da legalidade. Não poderá o adolescente


receber tratamento mais gravoso que o conferido ao adulto.
 É obrigatória a atuação da defesa e do Ministério Público em todo o
procedimento de execução de medida socioeducativa, sob pena de
nulidade.
 Compete ao Estado criar, desenvolver e manter programas para a
execução das medidas socioeducativas de semiliberdade e internação;
 Compete ao município criar e manter programas de atendimento para a
execução das medidas socioeducativas em meio aberto;
 Serão executadas nos próprios autos do processo de conhecimento as
medidas de proteção, de advertência e de reparação de danos;

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 Para aplicar medida de prestação de serviços à comunidade, liberdade
assistida, semiliberdade ou internação será constituído processo de
execução para cada adolescente. O mesmo ocorrerá na remissão,
aplicada como forma de suspensão do processo.
 A reavaliação da medida pode ser solicitada, a qualquer tempo, a
pedido da direção do estabelecimento, do Ministério Público, do
defensor, do adolescente ou seus pais e responsáveis.
 Para a execução de medida socioeducativa, é essencial a constituição
de um Plano Individual de Atendimento, que será a base de
composição das metas e objetivos a serem seguidos pelo adolescente.
 Se tratando de medida de semiliberdade ou internação, o PIA será
elaborado em um prazo máximo de 45 dias do início da medida. Se
prestação de serviço à comunidade ou liberdade assistida, o prazo
será de 15 dias.
 No PIA, haverá a participação dos pais, que têm o dever de contribuir
com o processo de ressocialização do adolescente. O plano é
elaborado com a participação do adolescente e de sua família,
representados por seus pais ou responsáveis.
 É vedado à autoridade judiciária determinar o reinício de cumprimento
de medida socioeducativa ou deixar de considerar os prazos máximos e
de liberdade compulsória. Excepcionalmente, será admitido o reinício
da medida se aplicada a ato infracional praticado no curso da execução
de outra já em andamento.
 Em se tratando de ato infracional praticado antes do início da execução
do procedimento que está em curso, a autoridade judiciária não poderá
aplicar nova medida de internação. Entende-se que os atos anteriores
foram absolvidos pelo já em curso.

(Ano: 2018. Banca: FCC. Órgão: DPE-AM. Prova:


Defensor Público)

Dentre aqueles previstos na Lei n° 12.594/2012 (Lei do


Sinase), é princípio que rege a execução das medidas
socioeducativas

A) a prioridade a práticas ou medidas que sejam


ressocializadoras em detrimento daquelas que atendam às
necessidades das vítimas.
B) proporcionalidade em relação à ofensa cometida.
C) legalidade e especialidade, vedada a aplicação, aos
adolescentes, de quaisquer dispositivos da legislação
penal ou processual dos adultos.

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D) definição do grau de controle e vigilância conforme
avaliação de periculosidade do adolescente.
E) atendimento das necessidades socioassistenciais do
adolescente e sua família conforme parâmetros fixados na
QUESTÃO: sentença.
SINASE
GABARITO: B.

Art. 35, SINASE. A execução das medidas socioeducativas


reger-se-á pelos seguintes princípios:

I - legalidade, não podendo o adolescente receber


tratamento mais gravoso do que o conferido ao adulto;
(Alternativa C)
II - excepcionalidade da intervenção judicial e da imposição
de medidas, favorecendo-se meios de autocomposição de
conflitos;
III - prioridade a práticas ou medidas que sejam
restaurativas e, sempre que possível, atendam às
necessidades das vítimas;
IV - proporcionalidade em relação à ofensa cometida;
V - brevidade da medida em resposta ao ato cometido, em
especial o respeito ao que dispõe o art. 122 da Lei no
8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do
Adolescente);
VI - individualização, considerando-se a idade,
capacidades e circunstâncias pessoais do adolescente;
VII - mínima intervenção, restrita ao necessário para a
realização dos objetivos da medida;
VIII - não discriminação do adolescente, notadamente em
razão de etnia, gênero, nacionalidade, classe social,
orientação religiosa, política ou sexual, ou associação ou
pertencimento a qualquer minoria ou status; e
IX - fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários
no processo socioeducativo.

JURISPRUDÊNCIA

ATO INFRACIONAL. É possível que o adolescente infrator inicie o imediato


cumprimento da medida socioeducativa de internação que lhe foi imposta na
sentença, mesmo que ele tenha interposto recurso de apelação e esteja
aguardando seu julgamento. O adolescente infrator, em regra, não tem direito
de aguardar em liberdade o julgamento da apelação interposta contra a
sentença que lhe impôs a medida de internação. STJ. (Info 583).

INTERNAÇÃO: O ECA não estipulou um número mínimo de atos infracionais


graves para justificar a internação do menor infrator com fulcro no art. 122, II,

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do ECA (reiteração no cometimento de outras infrações graves). Logo, cabe
ao magistrado analisar as peculiaridades de cada caso e as condições
específicas do adolescente a fim de aplicar ou não a internação. A depender
das particularidades e circunstâncias do caso concreto, pode ser aplicada,
com fundamento no art. 122, II, do ECA, medida de internação ao adolescente
infrator que antes tenha cometido apenas uma outra infração grave. Está
superado o entendimento de que a internação com base nesse dispositivo
somente seria permitida com a prática de no mínimo 3 infrações. STF. 1ª
Turma. HC 94447, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 12/04/2011. STJ. 5ª Turma.
HC 332.440/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em
24/11/2015. STJ. (Info 591).

CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA. É inconstitucional a expressão “em horário


diverso do autorizado” contida no art. 254 do ECA. “Art. 254. Transmitir,
através de rádio ou televisão, espetáculo em horário diverso do autorizado ou
sem aviso de sua classificação: Pena - multa de vinte a cem salários de
referência; duplicada em caso de reincidência a autoridade judiciária poderá
determinar a suspensão da programação da emissora por até dois dias.” O
Estado não pode determinar que os programas somente possam ser exibidos
em determinados horários. Isso seria uma imposição, o que é vedado pelo
texto constitucional por configurar censura. O Poder Público pode apenas
recomendar os horários adequados. A classificação dos programas é
indicativa (e não obrigatória). STF. (Info 837).

LEI 13.436/2017: Altera o art. 10, IV, da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990
(Estatuto da Criança e do Adolescente), para garantir o direito a
acompanhamento e orientação à mãe com relação à amamentação (VI -
acompanhar a prática do processo de amamentação, prestando orientações
quanto à técnica adequada, enquanto a mãe permanecer na unidade
hospitalar, utilizando o corpo técnico já existente).

LEI 13.438/2017: Altera o ECA e prevê que: Nas consultas pediátricas de


crianças até os primeiros 18 meses de vida é obrigatório que os profissionais
de saúde adotem protocolos clínicos para investigar e identificar se existem
risco para o desenvolvimento psíquico da criança (art. 14 (...) § 5º É obrigatória
a aplicação a todas as crianças, nos seus primeiros dezoito meses de vida, de
protocolo ou outro instrumento construído com a finalidade de facilitar a
detecção, em consulta pediátrica de acompanhamento da criança, de risco
para o seu desenvolvimento psíquico).

LEI 13.441/2017: Altera o ECA (acrescentando art. 190-A e seguintes),


prevendo a infiltração de agentes de polícia na internet com o fim de investigar
crimes contra a dignidade sexual de criança e de adolescente.

CONTROLE DOS ATOS ADMINISTRATIVOS: A decisão judicial que impõe à


Administração Pública o restabelecimento do plantão de 24 horas e Delegacia
Especializada de Atendimento à Infância e à Juventude não constitui abuso de
poder, tampouco extrapola o controle do mérito administrativo pelo Poder

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Judiciário. STJ. 1ª Turma. REsp 1.612.931-MS, Rel. Min. Napoleão Nunes
Maia Filho, julgado em 20/6/2017 (Info 609). Assim, o STJ considerou que, ao
não se oferecer plantão 24 horas na Delegacia especializada de apuração dos
atos infracionais, houve violação à CF/88, ao art. 172 do ECA e também ao
item 12.1 das Regras de Beijing considerando que, fora do horário de
funcionamento da Delegacia, os jovens infratores serão submetidos às
unidades policiais comuns, onde estarão expostos ao contato com presos
maiores de idade. A decisão governamental de encerrar o plantão na
Delegacia não é uma escolha aceitável do Estado sob os aspectos moral e
ético, representando induvidosa preterição de uma prioridade imposta pela
Constituição Federal, além de conduta contrária à lei e ao tratado
internacional, constituindo, portanto, hipótese na qual se admite que o Poder
Judiciário intervenha legitimamente no caso mesmo em se tratando de um ato
discricionário.

SÚMULAS

Súmula 594-STJ: O Ministério Público tem legitimidade ativa para ajuizar ação
de alimentos em proveito de criança ou adolescente independentemente do
exercício do poder familiar dos pais, ou do fato de o menor se encontrar nas
situações de risco descritas no art. 98 do Estatuto da Criança e do
Adolescente, ou de quaisquer outros questionamentos acerca da existência ou
eficiência da Defensoria Pública na comarca.

Súmula 383, STJ: A competência para processar e julgar as ações conexas


de interesse do menor é, em princípio, do foro do domicílio do detentor de sua
guarda.

Súmula 265, STJ: É necessária a oitiva do menor infrator antes de decretar-se


a regressão da medida socioeducativa.

Súmula 338, STJ: A prescrição penal é aplicável nas medidas


socioeducativas.

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APRESENTAÇÃO

Caro(a) Aluno(a),

A preparação para concursos públicos exige profissionalismo, métrica e


inteligência. Cada minuto despendido deve ser bem gasto! Por isso, uma
preparação direcionada, focada nos pontos com maior probabilidade de
cobrança no seu certame, pode representar a diferença entre aprovação e
reprovação.

Ciente disso, a Ad Verum Suporte Educacional, empresa do Grupo CERS


ONLINE, concebeu o curso INTELIGÊNCIA PDF – CARREIRAS JURÍDICAS,
que tem por premissa fundamental “atacar” os pontos nucleares de cada matéria,
com vistas a antecipação dos temas com maiores chances de cobrança em sua
prova.

Fazer isso não é tarefa fácil! É necessário um árduo esforço de pesquisa,


levando-se em consideração fatores como banca examinadora e respectivos
membros (sempre que possível), retrospecto do concurso, recorrência temática
dentro de cada disciplina, importância de cada tema, momento da segurança
pública do país, dentre tantos outros, aliados a experiência de Professores de
projeção nacional, com larguíssima experiência na análise do perfil dos mais
diferentes certames.

Para tornar tudo isso uma realidade, a Ad Verum investiu muito em seu Método
de Aceleração de Aprendizagem (MAVAA). Hoje, contamos com um SETOR DE
INTELIGÊNCIA, responsável por ampla coleta de dados e informações das mais
diferentes fontes relacionadas ao universo de cada concurso e/ou exame
profissional, de modo, a partir do processamento dos dados coletados, oferecer
aos seus alunos uma experiência diferenciada quando comparada a tudo que
ele conhece em matéria de preparação para carreiras públicas.

Racionalizar o estudo do aluno é mais que um objetivo para Ad Verum, trata-se


de uma obsessão.

Estude inteligente, estude Ad Verum!

Francisco Penante
CEO Ad Verum Suporte Educacional
SUMÁRIO

1. DIREITO ADMNISTRATIVO: CONCEITO, SISTEMAS, TENDÊNCIAS E


FONTES. ............................................................................................................ 4
1.1 CONCEITO ............................................................................................... 4
1.2 SISTEMAS ADMINISTRATIVOS .............................................................. 4
1.3 TENDÊNCIAS DO DIREITO ADMINISTRATIVO ...................................... 5
1.4 FONTES DO DIREITO ADMINISTRATIVO .............................................. 5
2. PRINCÍPIOS DO DIREITO ADMINISTRATIVO ............................................. 8
2.1 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE (JURIDICIDADE) ...................................... 8
2.2 PRINCÍPIO DA IMPESSOALIDADE ......................................................... 9
2.3 PRINCÍPIO DA MORALIDADE (art. 37 da CF/88) .................................. 10
2.4 PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE ............................................................... 11
2.5 PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA ................................................................... 12
2.6 PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E DA PROPORCIONALIDADE ...... 12
2.7 PRINCÍPIO DA SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO SOBRE O
PRIVADO ...................................................................................................... 12
2.8 PRINCÍPIO DA INDISPONIBILIDADE DO INTERESSE PÚBLICO ........ 13
2.9 PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE DO SERVIÇO PÚBLICO.................... 13
2.10 PRICÍPIO DA AUTOTUTELA ................................................................ 14
2.11 PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA ................. 15
3. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E TERCEIRO SETOR .................................. 16
3.1 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA BRASILEIRA ............................................ 16
3.2 CONCENTRAÇÃO E DESCONCENTRAÇÃO. CENTRALIZAÇÃO E
DESCENTRALIZAÇÃO ................................................................................. 17
3.3 ADMINISTRAÇÃO DIRETA .................................................................... 19
3.3.1 Órgãos Públicos................................................................................ 19
3.4. ADMINISTRAÇÃO INDIRETA ................................................................ 21
3.4.1. Entidades da Administração Indireta ............................................... 22
3.5. TERCEIRO SETOR ............................................................................... 25
4. PODERES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ............................................. 30
4.1 Poder vinculado ...................................................................................... 30

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1
4.2 Poder discricionário ................................................................................. 30
4.3 Poder disciplinar...................................................................................... 31
4.4 Poder hierárquico .................................................................................... 32
4.5 Poder de polícia ...................................................................................... 33
4.6 Poder regulamentar ................................................................................ 34
5. ATOS ADMINISTRATIVOS ......................................................................... 38
5.1. CONCEITO ............................................................................................ 38
5.2. ATOS VINCULADOS E DISCRICIONÁRIOS......................................... 38
5.3. ATOS DE IMPÉRIO E DE GESTÃO ...................................................... 38
5.4. MOTIVAÇÃO DOS ATOS ADMINISTRATIVOS .................................... 39
5.5. ATRIBUTOS DOS ATOS ADMINISTRAVOS ......................................... 39
5.6. EXTINÇÃO DOS ATOS ADMINISTRATIVOS........................................ 40
5.7. CONVALIDAÇÃO DOS ATOS ADMINISTRATIVOS.............................. 42
6. INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE .................................... 44
6.1. SERVIDÃO ADMINISTRATIVA .............................................................. 44
6.2. REQUISIÇÃO......................................................................................... 45
6.3. OCUPAÇÃO TEMPORÁRIA .................................................................. 45
6.4. LIMITAÇÕES ADMINISTRATIVAS ........................................................ 45
6.5. TOMBAMENTO ..................................................................................... 45
6.6. DESAPROPRIAÇÃO ............................................................................. 47
7. AGENTES PÚBLICOS ................................................................................. 51
7.1. REGIME JURÍDICO DOS SERVIDORES PÚBLICOS CIVIS FEDERAIS:
LEI Nº 8.112/90 ............................................................................................. 51
7.2. PROVIMENTO, VACÂNCIA, REMOÇÃO, REDISTRIBUIÇÃO E
SUBSTITUIÇÃO............................................................................................ 52
7.3. DIREITOS E VANTAGENS .................................................................... 56
7.4. REGIME DISCIPLINAR.......................................................................... 59
7.5. PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR (PAD) ......................... 61
7.6. SEGURIDADE SOCIAL DO SERVIDOR E REFORMA PREVIDENCIÁRIA
...................................................................................................................... 63
8. LICITAÇÕES E CONTRATOS ADMINISTRATIVOS................................... 66
8.1 LICITAÇÕES PÚBLICAS ........................................................................ 66
8.1.1. INTRODUÇÃO ................................................................................. 66

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2
8.1.2. FASES DO PROCEDIMENTO LICITATÓRIO ................................. 68
8.1.3. MODALIDADES DE LICITAÇÃO ..................................................... 69
8.1.4. TIPOS DE LICITAÇÃO .................................................................... 71
8.1.5. INEXIGIBILIDADE E DISPENSA DE LICITAÇÃO ........................... 72
8.2 CONTRATOS ADMINISTRATIVOS: ....................................................... 74
8.2.1. INTRODUÇÃO ................................................................................. 74
8.2.2. CLÁUSULAS EXORBITANTES ....................................................... 75
8.2.3. EQUAÇÃO ECONÔMICO-FINANCEIRA ......................................... 79
8.2.4. PRAZO DE DURAÇÃO E PRORROGAÇÃO DOS CONTRATOS
ADMINISTRATIVOS .................................................................................. 80
8.2.5. EXTINÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS ..................... 81
9. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA ............................................................ 83
9.1 ATOS DE IMPROBIDADE: MODALIDADES .......................................... 84
9.2 SUJEITOS ATIVOS E PASSIVOS DOS ATOS DE IMPROBIDADE ....... 87
9.3. ATOS DE IMPROBIDADE: SANÇÕES .................................................. 88
10. SERVIÇOS PÚBLICOS ............................................................................. 91
10.1 INTRODUÇÃO ...................................................................................... 91
10.2 PRINCÍPIOS ......................................................................................... 92
10.3 REMUNERAÇÃO .................................................................................. 93
10.4 CONCESSÃO E PERMISSÃO DE SERVIÇO PÚBLICOS. ................... 93
10.4.1. CONCESSÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS.................................... 93
10.4.2. PERMISSÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS ..................................... 95
10.5 PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADAS ..................................................... 96
11. RESPONSABILIDADE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: ....................... 99
12. CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ....................................... 102
12.1 Conceito .............................................................................................. 102
12.2 Tipos e formas de controle .................................................................. 102
12.3 Controle Administrativo ....................................................................... 103
12.4 Controle parlamentar .......................................................................... 105
13. PROCESSO ADMINISTRATIVO ............................................................. 109

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3
1. DIREITO ADMNISTRATIVO: CONCEITO, SISTEMAS, TENDÊNCIAS E
FONTES.

1.1 CONCEITO

O surgimento do Direito Administrativo está relacionado aos ideais da Revolução


Francesa de 1789 e ao nascimento do Estado de Direito. O poder estatal passa
a ser limitado, sendo o Direito Administrativo o ramo do direito responsável
por limitar as relações que envolvem o Estado e o exercício das atividades
administrativas.

Cabe destacar que, em momento anterior, já existiam documentos de limitação


ao poder estatal, como, por exemplo, a Magna Carta de João Sem Terra de
1215. Sendo que a sistematização do Direito administrativo vai ocorrer após a
Revolução Francesa e a Norte Americana. Esse momento é marcado pela
limitação do poder estatal e pelo surgimento de meios de proteção ao
cidadão em face do Estado. Algumas conquistas revolucionárias podem
exemplificar: a) a submissão do Estado à lei (princípio da legalidade); b) a não
concentração do poder nas mãos de um mesmo órgão (princípio da separação
dos poderes); c) a declaração dos direitos do homem e do cidadão.

Em momento anterior, não era possível encontrar um Direito Administrativo, pois


não havia limites a atuação do estado, também não havia proteção ao cidadão
em face dos atos do poder estatal.

Tendo em vista estes apontamentos, passaremos a expor alguns conceitos


doutrinários de Direito Administrativo. Vejamos:

“O Direito Administrativo é o ramo do Direito Público que tem por objeto as regras
e os princípios aplicáveis à atividade administrativa preordenada à satisfação
dos direitos fundamentais.” OLIVEIRA, RAFAEL CARVALHO REZANDE.
CURSO DE DIREITO ADMINISTRATIVO. São Paulo, MÉTODO, 2017. p.3.

“O Direito Administrativo é o conjunto de normas e princípios que, visando


sempre ao interesse público, regem as relações jurídicas entre as pessoas e
órgãos do Estado e entre estes e as coletividades a que devem servir.”
CARVALHO FILHO, JOSÉ DOS SANTOS. MANUAL DE DIREITO
ADMINISTRATIVO. São Paulo: ATLAS, 2016. p. 8.

1.2 SISTEMAS ADMINISTRATIVOS

O sistema administrativo significa a forma de controle jurisdicional que é feito


sobre atividade administrativa. Existem dois sistemas mais abordados pela
doutrina:

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4
Adotado na França. Existem dois
SISTEMA DE DUALIDADE DE tipos de jurisdição: a exercida pelo
JURISDIÇÃO OU SISTEMA DO Poder Judiciário sobre os atos dos
CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO particulares em geral e a
administrativa, exercida pro juízes e
tribunais administrativos.
Adotado na Inglaterra e nos EUA. O
Poder Judiciário decide de maneira
SISTEMA DE JURISDIÇÃO UNA definitiva sobre atos praticados por
particulares e pela administração
pública.

O Brasil adota o SISTEMA DA JURISDIÇÃO UNA, de origem inglesa. Isso


decorre do princípio da inafastabilidade do controle do Poder Judiciário – art.
5º, XXXV, da CF/88.

1.3 TENDÊNCIAS DO DIREITO ADMINISTRATIVO

O Direito administrativo, assim como todo o direito pátrio, tem passado por
profundas mudanças e seguido determinadas tendências. Podemos citar
algumas delas:

Constitucionalização e o princípio da juridicidade: com a conseqüente
normatividade primária dos princípios constitucionais (juridicidade) e a
centralidade dos direitos fundamentais.
Relativização de formalidades e ênfase nos resultados: a efetivação de
direitos fundamentais tem relativizado formalidades desproporcionais.
Publicização do Direito Civil e privatização do Direito Administrativo:
tendência de transferir atividades do setor público para o setor privado.

1.4 FONTES DO DIREITO ADMINISTRATIVO

São fontes do Direito Administrativo: LEI, DOUTRINA, JURISPRUDÊNCIA,


CONSTUMES E PRECEDENTES ADMINITRATIVOS.

Deve ser considerada em sentido amplo, abrangendo


normas constitucionais, legislação infraconstitucional,
LEI os regulamentos administrativos (ex: decretos) e os
tratados internacionais. Esse conceito está relacionado
à ideia de juridicidade (o administrador deve respeitar
a lei e o direito como um todo).

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5
DOUTRINA Fonte material. Não tem força vinculante.
Decisões reiteradas dos tribunais. Tem importância se
JURISPRUDÊNCIA levarmos em conta a judicialização do direito e nova
tendência de vinculação dos precedentes.
(fonte polêmica). Trata-se da repetição de condutas
com convicção de sua obrigatoriedade. Podem ser
secundum legem, praeterlegem ou contra legem.
COSTUMES Podem derivar de comportamento reiterado da
administração (praxe administrativa).
Norma jurídica retirada de decisão administrativa
anterior. Após decidir um caso concreto a norma será
PRECEDENTES aplicada aos casos futuros semelhantes. Decorre da
ADMINISTRATIVOS necessidade
de segurança jurídica e da vedação a arbitrariedades.
O precedente pode ser afastado em caso de
constatação de ilegalidade e quando houver,
motivadamente, alteração no entendimento
administrativo.

O CESPE tem considerado o DECRETO (abrangido no conceito de lei em


sentido amplo) fonte PRIMÁRIA do Direito Administrativo.

“O Direito Administrativo é o ramo do Direito Público


Conceito de que tem por objeto as regras e os princípios aplicáveis
Direito à atividade administrativa preordenada à satisfação
Administrativo dos direitos fundamentais.” OLIVEIRA, RAFAEL
CARVALHO REZANDE. CURSO DE DIREITO
ADMINISTRATIVO. São Paulo, MÉTODO, 2017. p.3.
Sistema de dualidade de jurisdição ou sistema
do contencioso administrativo: adotado na França.
Existem dois tipos de jurisdição: a exercida pelo Poder
Judiciário sobre os atos dos particulares em geral e a
Sistemas administrativa, exercida pro juízes e tribunais
Administrativos administrativos.
Sistema de jurisdição una: adotado na
Inglaterra e nos EUA. O Poder Judiciário decide de

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6
maneira definitiva sobre atos praticados por
particulares e pela administração pública.
O Brasil adota o sistema de JURISDIÇÃO UNA,
de origem inglesa.
Tendências do Constitucionalização e o princípio da juridicidade
Direito Relativização de formalidades e ênfase nos
Administrativo resultados
Publicização do Direito Civil e privatização do
Direito Administrativo
Fontes do Lei em sentido amplo
Direito Doutrina
Administrativo Jurisprudência
Costumes
Precedentes administrativos

(CESPE – 2016) - O chefe do Poder Executivo federal


expediu decreto criando uma comissão nacional para
estudar se o preço de determinado serviço público
delegado estaria dentro dos padrões internacionais,
tendo, na ocasião, apontado os membros componentes
da referida comissão e sua respectiva autoridade
superior. Nesse decreto, instituiu que a comissão
deveria elaborar seu regimento interno, efetuar ao
menos uma consulta pública e concluir a pesquisa no
prazo de cento e vinte dias e que não poderia gerar
despesas extraordinárias aos órgãos de origem de cada
servidor integrante da referida comissão.

A partir dessa situação hipotética, assinale a opção


Princípios do correta no que se refere a atos administrativos e seu
Direito controle judicial.
Administrativo A) O decreto federal é uma fonte primária do direito
administrativo, haja vista o seu caráter geral, abstrato e
impessoal.
B) Uma vez instituído o referido decreto, não poderá o
chefe do Poder Executivo revogá-lo de ofício.
C) O Poder Judiciário, em sede de controle judicial,
poderá revogar o referido decreto por motivos de
oportunidade e conveniência.
D) O referido ato presidencial é inconstitucional, pois é
vedado instituir comissões nacionais que visem à
promoção de estudo de preços públicos mediante
decreto do chefe do Poder Executivo federal.

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7
E) A expedição do decreto é ato vinculado do chefe do
Poder Executivo federal.

Justificativas:
a) CORRETO. O decreto está abrangido no conceito de
lei em sentido amplo. A lei em sentido amplo é fonte
primária do Direito Administrativo. Portanto, o decreto é
fonte primária do Direito Administrativo.
b) ERRADO. O Chefe do executivo possui a
prerrogativa de instituir decretos para a fiel execução da
lei. Em caso de conveniência e oportunidade é possível
revogá-lo.
c) ERRADO. O Poder Judiciário não pode revogar atos
administrativos. A revogação é feita por questões de
conveniência e oportunidade (mérito administrativo) só
podendo ser feita pela própria administração pública. O
Poder judiciário poderá anular o ato administrativo em
caso de ilegalidade.
d) ERRADO. Não existe qualquer previsão da referida
vedação.
e) ERRADO. A expedição de decretos é ato
discricionário.

Alternativa correta: A

2. PRINCÍPIOS DO DIREITO ADMINISTRATIVO

As normas jurídicas podem ser divididas em duas categorias: as regras e os


princípios. No sistema jurídico brasileiro, os princípios constitucionais possuem
normatividade primária.

Além da Constituição Federal, a legislação esparsa também elenca alguns


princípios administrativos, como faz a Lei 9.784/1999, em seu art. 2º, o qual cita
os princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade,
proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança
jurídica, interesse público e eficiência.

A doutrina não trata de maneira uniforme os princípios do Direito Administrativo.


Assim, abordaremos os princípios considerados mais importantes e os mais
abordados em provas de concurso público.

2.1 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE (JURIDICIDADE)

O princípio da legalidade está expresso no art. 37 da CF/88. Possui dois


desdobramentos:

a) Supremacia da lei: a lei deve prevalecer sobre atos da administração. Ideia


de vinculação negativa: a lei representa uma limitação para a atuação do

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administrador. No caso de ausência de lei, poderia o administrador agir com
maior liberdade para atingir o interesse público.
b) Reserva legal: doutrina da vinculação positiva. A atuação dos agentes
públicos está condicionada à prévia autorização legal.

Tem prevalecido na doutrina clássica e na prática jurídica brasileira a idéia da


vinculação positiva da administração à lei. Uma doutrina mais moderna,
como Rafael Oliveira, prega a reinterpretação do princípio da legalidade a
partir do fenômeno constitucionalização do Direito Administrativo, com a
relativização da concepção de vinculação positiva do administrador à lei. A
atuação da administração deve se pautar não apenas na lei, mas também nos
princípios que decorrem diretamente da CF/88. Exige-se a adequação da
atuação da administração pública não apenas a lei, mas a um “bloco de
legalidade”. Daí surge a ideia de juridicidade. O princípio da juridicidade
confere importância ao direito como um todo. O administrador ao agir deve
respeitar a lei e o direito.

2.2 PRINCÍPIO DA IMPESSOALIDADE

O princípio da impessoalidade está consagrado de forma expressa no art. 37 da


CF/88. Possui duas vertentes:

a) Isonomia: a Administração Pública deve tratar os particulares de maneira


impessoal e isonômica. Lembramos que a isonomia deve ser
substancial/material, sendo vedada a discriminação desproporcional. Exemplo:
concursos públicos, licitações.
b) Proibição da promoção pessoal dos agentes públicos: os atos da
Administração Pública não são atos pessoais dos agentes públicos, ao contrário,
são atos do Poder Público, não podendo ser atribuído a um ou a alguns agentes
públicos. O ato deve ser imputado ao ente público ou ao órgão que o praticou
(teoria do órgão). Essa é a interpretação que deve ser dada ao art.37, § 1º, da
CF/88, segundo o qual “a publicidade dos atos, programas, obras, serviços e
campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de
orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que
caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos.”

PRINCÍPIO DA INTRANSCENDÊNCIA: relacionado ao princípio da


impessoalidade. O princípio da intranscendência subjetiva das sanções vem
sendo consagrado pelo STF, impedindo a aplicação de sanções aos entes

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9
federados por atos de gestões anteriores. Segundo o Min. Luiz Fux, do STF,
“não se pode inviabilizar a administração de quem foi eleito democraticamente
e não foi responsável diretamente pelas dificuldades financeiras que
acarretaram a inscrição combatida”. Ainda, é necessária a observância da
garantia do devido processo legal, em especial, do contraditório e da ampla
defesa, relativamente à inscrição de entes públicos em cadastros federais de
inadimplência. Assim, a União, antes de incluir Estados-membros ou
Municípios nos cadastros federais de inadimplência (exs: CAUC, SIAF) deverá
assegurar o devido processo legal, o contraditório e a ampla defesa. STF.
Plenário. ACO 1995/BA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 26/3/2015 (Info
779). STF. 1ª Turma. ACO 732/AP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
10/5/2016 (Info 825).

2.3 PRINCÍPIO DA MORALIDADE (art. 37 da CF/88)

A atuação da Administração Pública deve, além de respeitar a lei, atender aos


ditames da ética, da lealdade e ser séria. Tal princípio também está previsto na
Lei 9.784/1999, em seu art. 2º, parágrafo único, IV o qual fala que “nos processos
administrativos serão observados, entre outros, os critérios de atuação segundo
padrões éticos de probidade, decoro e boa-fé.”

Exemplo: vedação ao nepotismo (Súmula Vinculante 13). Podemos destacar


como instrumentos de controle da moralidade administrativa: a ação de
improbidade administrativa, a ação popular, a ação civil pública, a Lei
12.846/2013 (Lei Anticorrupção).

Súmula vinculante 13: A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em


linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade
ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia
ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança, ou,
ainda, de função gratificada na Administração Pública direta e indireta em
qualquer dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a
Constituição Federal.

A vedação ao nepotismo não alcança cargos providos por concurso público
– STF, ADI 524/ES, 2015.
A Súmula Vinculante 13, que trata sobre o nepotismo, não se aplica aos
cargos políticos – STF, Rext 579.951/RN, informativo n. 516.
Não há nepotismo na nomeação de servidor para ocupar o cargo de
assessor de controle externo do Tribunal de Contas mesmo que seu tio
(parente em linha colateral de 3º grau) já exerça o cargo de assessor-chefe de
gabinete de determinado Conselheiro, especialmente pelo fato de que o cargo

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10
do referido tio não tem qualquer poder legal de nomeação do sobrinho. A
incompatibilidade da prática enunciada na SV 13 com o art. 37 da CF/88 não
decorre diretamente da existência de relação de parentesco entre pessoa
designada e agente político ou servidor público, mas de presunção de que a
escolha para ocupar cargo de direção, chefia ou assessoramento tenha sido
direcionado à pessoa com relação de parentesco com quem tenha potencial
de interferir no processo de seleção. STF. 2ª Turma. Rcl 18564/SP, rel. orig.
Min. Gilmar Mendes, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, julgado em 23/2/2016
(Info 815).
É inconstitucional lei estadual que excepciona a vedação da prática do
nepotismo, permitindo que sejam nomeados para cargos em comissão ou
funções gratificadas de até dois parentes das autoridades estaduais, além do
cônjuge do Governador. STF. Plenário. ADI 3745/GO, rel. Min. Dias Toffoli,
15/5/2013 (Info 706).

2.4 PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE (art. 37 da CF/88 e no art. Art. 2º da Lei


9784/1999).

Estabelece o dever de a Administração Pública divulgar/exteriorizar seus atos,


tendo em vista que a transparência dos atos administrativos está intimamente
ligada ao princípio democrático (art. 1º da CF/88). A publicidade dos atos do
Poder Público torna possível o controle social sobre os mesmos A doutrina
elenca alguns instrumentos que viabilizam a publicidade, tais como: o direito de
petição, o direito de obter certidões em repartições públicas, o mandado de
injunção e o habeas data. A transparência depende do direito à informação,
sendo o sigilo exceção no ordenamento jurídico brasileiro. O direito à informação
foi regulamentado pela Lei 12.527/2013 – Lei de Acesso à Informação – LAI.

A Lei 12.527/2013 estabelece que a divulgação de informações de interesse


público independe de solicitação.
A Lei 12.527/2013 diz ainda que qualquer interessado, devidamente
identificado, independentemente de motivação, pode solicitar informações
de interesse público perante entidades públicas ou privadas.
Exceções à publicidade: a) informações classificadas como sigilosas; b)
informações pessoais relacionadas à intimidade, vida privada, honra e
imagem.
É legítima a publicação, inclusive em sítio eletrônico mantido pela
Administração Pública, dos nomes de seus servidores e do valor dos
correspondentes vencimentos e vantagens pecuniárias. STF. Plenário. ARE
652777/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 23/4/2015 (repercussão
geral) (Info 782)

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11
2.5 PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA

Não constava no texto original da constituição. Tal princípio foi incluído na


CF/88 através da EC 19/1988, tendo como objetivo substituir uma administração
burocrática (focada na formalidade) por uma administração gerencial (focada
nos resultados).

Exemplos de previsões normativas que prestigiam o princípio da eficiência:


duração razoável do processo, os contratos de gestão feitos pela administração
pública com seus órgãos ou com organizações sociais (OS).

A eficiência deve ser analisada em conjunto com outros princípios e valores


constitucionais, pois a eficiência não é o único princípio que a administração
deve observar. Deve ser analisada em conjunto com a legalidade, com a
qualidade do serviço etc.

O princípio da eficiência está relacionado à ideia de “maior satisfação com os


menores custos possíveis”.

2.6 PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E DA PROPORCIONALIDADE

Decorrem da cláusula do devido processo legal, de sua vertente substantiva.


Não está previsto de forma expressa na CF/88, mas podem ser encontrados no
art. 2º da Lei 9784/1999.

Há divergência na doutrina sobre a existência ou não de diferença entre os dois


princípios. Entretanto, tem prevalecido a tese da fungibilidade entre os
mesmos.

O princípio da proporcionalidade pode ser divido em três subprincípios:


Adequação
Necessidade
Proporcionalidade em sentido estrito (ponderação entre ônus e benefícios)

2.7 PRINCÍPIO DA SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO SOBRE O


PRIVADO

É um dos pilares do Direito Administrativo. Pode ser dividido em:



Interesse público primário: necessidade de satisfação das necessidades
coletivas.
Interesse público secundário: é o interesse do próprio Estado enquanto
sujeito de direitos. Liga-se a ideia de erário.

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12
A doutrina mais moderna tem falado que inexiste uma supremacia abstrata do
interesse público sobre o privado, sendo necessária uma ponderação no caso
concreto. O fundamento seria a dignidade da pessoa humana,
proporcionalidade, concordância prática dos princípios constitucionais etc.

2.8 PRINCÍPIO DA INDISPONIBILIDADE DO INTERESSE PÚBLICO

Os bens e interesses do Poder Público não pertencem ao administrador,


portanto, este não possui livre atuação. O princípio da indisponibilidade do
interesse público serve para limitar a atuação dos agentes públicos.

Regime jurídico administrativo =


Supremacia do interesse público sobre o privado
+
Indisponibilidade do interesse público.

2.9 PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE DO SERVIÇO PÚBLICO

Está relacionado à prestação de serviço público e à necessidade permanente de


satisfação de direitos fundamentais. Como consequência da continuidade da
prestação dos serviços públicos, exige-se a sua prestação regular. Os serviços
públicos devem ser prestados na medida da necessidade da população,
podendo a necessidade ser relativa ou absoluta.

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13
 É possível a interrupção dos serviços em caso de inadimplemento
dos usuários e por razoes de ordem técnica – art. 6º, parágrafo 3º,
da Lei 8987/1995. Esta regra é especial e prevalece sobre o art. 22 do
CDC.
 É reconhecido o direito de greve aos servidores estatutários, com
aplicação análoga da Lei 7783/1989.
 Inviabilidade da exceptio non adimpleti contractus nos contratos
de concessão de serviço público, decorre do princípio da
continuidade.
 Em regra, o serviço público deverá ser prestado de forma contínua, ou
seja, sem interrupções (princípio da continuidade do serviço público).
Excepcionalmente, será possível a interrupção do serviço público nas
seguintes hipóteses previstas no art. 6º, § 3º da Lei n.º 8.987/95: a) Em
caso de emergência (mesmo sem aviso prévio); b) Por razões de ordem
técnica ou de segurança das instalações, desde que o usuário seja
previamente avisado; c) Por causa de inadimplemento do usuário,
desde que ele seja previamente avisado. A divulgação da suspensão
no fornecimento de serviço de energia elétrica por meio de emissoras
de rádio, dias antes da interrupção, satisfaz a exigência de aviso prévio,
prevista no art. 6º, § 3º, da Lei nº 8.987/95. STJ. 1ª Turma. REsp
1270339-SC, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 15/12/2016 (Info
598).

2.10 PRICÍPIO DA AUTOTUTELA

A Administração deve anular seus próprios atos, quando eivados de vício de


legalidade, e pode revogá-los por motivo de conveniência ou oportunidade,
respeitados os direitos adquiridos. A autotutela encontra limites na segurança
jurídica e na boa-fé dos administrados.

O direito da Administração de anular os atos administrativos de que decorram


efeitos favoráveis para os destinatários decai em 5 (cinco) anos, contados da
data em que foram praticados, salvo comprovada má-fé.

Súmula 473-STF: A administração pode anular seus próprios atos, quando


eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos;
ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os
direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.
Súmula 346-STF: A administração pública pode declarar a nulidade dos seus
próprios atos.
Súmula 6-STF: A revogação ou anulação, pelo Poder Executivo, de
aposentadoria, ou qualquer outro ato aprovado pelo Tribunal de Contas, não

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14
produz efeito não produz efeitos antes de aprovada por aquele tribunal,
ressalvada a competência revisora do Judiciário.

2.11 PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA

A Administração Pública pode anular seus próprios atos quando estes forem
ilegais. No entanto, se a invalidação do ato administrativo repercute no campo
de interesses individuais, faz-se necessária a instauração de procedimento
administrativo que assegure o devido processo legal e a ampla defesa. Assim, a
prerrogativa de a Administração Pública controlar seus próprios atos não
dispensa a observância do contraditório e ampla defesa prévios em âmbito
administrativo. Plenário. MS 25399/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
15/10/2014 (Info 763).

PRINCÍPIO DA LEGALIDADE (JURIDICIDADE)


PRINCÍPIO DA IMPESSOALIDADE
PRINCÍPIO DA MORALIDADE
PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE
PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA
PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E DA
Princípios da PROPORCIONALIDADE
Administração PRINCÍPIO DA SUPREMACIA DO INTERESSE
Pública PÚBLICO SOBRE O PRIVADOPRINCÍPIO DA
INDISPONIBILIDADE DO INTERESSE PÚBLICO
PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE DO SERVIÇO
PÚBLICO
PRICÍPIO DA AUTOTUTELA
PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA
DEFESA

(CESPE – 2016) -Quando a União firma um convênio


com um estado da Federação, a relação jurídica
envolve a União e o ente federado e não a União e
determinado governador ou outro agente. O governo
se alterna periodicamente nos termos da soberania
popular, mas o estado federado é permanente. A
mudança de comando político não exonera o estado
das obrigações assumidas. Nesse sentido, o

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15
Supremo Tribunal Federal (STF) tem entendido que a
inscrição do nome de estado-membro em cadastro
federal de inadimplentes devido a ações e(ou)
omissões de gestões anteriores não configura ofensa
ao princípio da administração pública denominado
princípio do(a)
A) intranscendência
PRINCÍPIOS B) contraditório e da ampla defesa
C) continuidade do serviço público
D) confiança legítima
E) moralidade.

Justificativas:
a) CORRETO. O princípio da intranscendência
subjetivadas sanções vêm sendo consagrado pelo
STF. Por ele, impede-se a aplicação de sanções aos
entes federados por atos de gestões anteriores.
b) ERRADO. Observar justificativa da alternativa A.
c) ERRADO. Observar justificativa da alternativa A.
d) ERRADO. Observar justificativa da alternativa A.
e) ERRADO. Observar justificativa da alternativa A.

Alternativa correta: A.

3. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E TERCEIRO SETOR

3.1 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA BRASILEIRA

A Administração Pública é toda atividade desenvolvida pelo Estado através de


seus órgãos públicos destinados a executar atividades de interesse coletivo.
Quando tocamos no assunto administração pública, de forma bem direta e
objetiva, logo pensamos em um Estado previsto na Constituição Federal de 1988
e composto por entidades estatais, ou seja, com autonomia política,
administrativa e financeira.
De acordo com o nosso ordenamento jurídico, a administração pública é
composta exclusivamente pelos órgãos e agentes que integram as entidades
estatais ou aquelas que fazem parte do sistema federativo (União, Estados-
Membros, Distrito Federal e os Municípios), fazendo estes parte da
administração pública direta, e também os que fazem parte da administração
pública indireta, que são pessoas jurídicas com o dever de execução da função
administrativa: autarquias, fundações públicas, empresas públicas e
sociedades de economia mista.

Contudo, não podemos conceituar administração pública só de forma objetiva e


direta: devemos buscar um sentido mais amplo para melhor entendermos.
Administração pública é composta de duas palavras distintas: a primeira é

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16
Administração, que, no nosso dicionário, significa gerir, zelar, dentre outras
classificações; já o adjetivo da pública está ligado não só à figura do poder
público, mas também à coletividade e ao poder público em geral.

Podemos, então, melhor compreender que administração pública significa


zelar ou gerir os recursos públicos de forma correta, devendo o gestor, seja
através de prestações dos serviços públicos, seja na sua organização interna ou
a intervenção na propriedade privada, sempre observar e respeitar os princípios
que norteiam a boa administração pública, para melhor satisfazer as demandas
da sociedade, sempre procurando a segurança e o bem-estar social.

3.2 CONCENTRAÇÃO E DESCONCENTRAÇÃO. CENTRALIZAÇÃO E


DESCENTRALIZAÇÃO

O Estado, para realizar a sua função administrativa, que consiste em atender


concretamente os interesses da coletividade, pode organizar-se
administrativamente da forma e modo que melhor lhe aprouver, sujeito apenas
às limitações e princípios constitucionais.

Entretanto, é da tradição do Direito Administrativo Brasileiro adotar uma


organização administrativa do Estado a partir da divisão de sua Administração
Pública em duas:

Administração Direta (composta de órgãos públicos despersonalizados), e;


Administração Indireta (composta de entidades jurídicas dotadas de
personalidade jurídica própria).
Desse modo, na organização de sua Administração, o Estado pode adotar
basicamente as seguintes formas de realização da função administrativa:
“centralização”, “descentralização”, “concentração” e “desconcentração”.

A função administrativa é realizada de forma centralizada quando ela é


desempenhada diretamente pela própria entidade estatal (União, Estados,
Distrito Federal e Municípios), por meio de seus vários órgãos e agentes
públicos. Nessa forma de atuação, temos a Administração Pública direta, que
é o próprio Estado.

A função administrativa, por outro lado, é realizada de forma descentralizada


quando a entidade estatal a exerce, não diretamente, mas de forma indireta, por
meio de entidades administrativas que cria para esse fim específico e que
integrarão a sua Administração Pública indireta (são as autarquias, fundações
governamentais, empresas públicas, sociedade de economia mista e consórcios
públicos).

Todavia, na concentração, a função administrativa é exercida no âmbito interno


de cada entidade (política ou administrativa), por apenas um órgão público,
sem qualquer divisão.

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E na desconcentração, a função administrativa é exercida também no âmbito
interno de cada entidade (política ou administrativa), porém por mais de um
órgão público, que divide competências. Reitere-se, há uma divisão interna de
competências ou funções, no interior do próprio Estado ou das entidades de
direito público que cria.

É importante deixar claro que a "descentralização" não se confunde com a


“desconcentração”. Tanto uma quanto outra, é verdade, são formas de
distribuição de competências. Contudo, na descentralização essa distribuição
se dá externamente, ou seja, de uma entidade para outra, pressupondo,
portanto, duas pessoas jurídicas distintas, a estatal (entidade política) e a
pessoa jurídica por ela criada (entidade meramente administrativa). Já na
desconcentração, a distribuição de competências ocorre internamente,
dentro da própria entidade com competência para desempenhar a função,
entre os seus próprios órgãos.

A desconcentração cuida-se de uma técnica de administração, destinada a


desafogar o exercício da função administrativa, haja vista que, podendo uma
determinada entidade pública exercer sua atividade por meio de um único órgão
público, ou seja, “concentradamente”, ela pode, para facilitar o desempenho
dessa atividade, exercê-la por mais de um órgão, o que o faz
“desconcentradamente”.

A desconcentração - explica com propriedade Celso Antônio Bandeira de Mello


(Curso de Direito Administrativo, 2010, p. 140) - pode ocorrer em:
Em razão da matéria ou do assunto (por exemplo, entre os Ministérios da
Justiça, da Saúde, da Fazenda, da Educação);
Em razão do grau de hierarquia (por exemplo, entre a Presidência da
República e os Ministérios de Estado; a Diretoria de Departamentos e a Diretoria
de Divisões; Chefias de Seção e Encarregados de Setor), e;
Em razão do território (por exemplo, as Delegacias Regionais do Trabalho
e da Receita Federal na Bahia, em Sergipe, Pernambuco, Alagoas, etc.).

No que tange à descentralização, que é repassar a execução e a titularidade,


ou só a execução de uma pessoa para outra, não havendo hierarquia, não há
unanimidade na classificação das suas espécies, mas a mais usual é a descrita
por Maria Sylvia Zanella Di Pietro:
a) descentralização política: realizada diretamente pela Constituição Federal e
cada ente federado possui capacidade política, com fonte direta no texto
constitucional. Também é chamada de descentralização vertical.
b) descentralização administrativa: as atribuições da pessoa jurídica não
surgem diretamente da Constituição, mas são distribuídas pelo ente federado,
quer dizer, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, com base na

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competência política que receberam, distribuem competências para outras
pessoas jurídicas. A descentralização administrativa pode ser subdividida em: •
territorial ou geográfica: é criada uma pessoa jurídica de direito público,
com área geográfica delimitada e com capacidade administrativa genérica;
são exemplos, no Brasil, os territórios federais; • por serviços, funcional ou
técnica: a pessoa política cria outra pessoa jurídica, de direito público ou de
direito privado, para exercer determinada atividade. São exemplos as
autarquias, as fundações públicas, as empresas públicas, as sociedades de
economia mista e os consórcios públicos. É essa descentralização que dá
origem à administração indireta;
• por colaboração: a pessoa política transfere a execução de um serviço
público para uma empresa do setor privado como é o caso das
concessionárias de serviço público e das permissionárias de serviço público.
Elas não passam a integrar a Administração Pública e continuam
pertencendo à iniciativa privada, mas, em razão da descentralização realizada,
podem desempenhar um serviço público.

3.3 ADMINISTRAÇÃO DIRETA

A Administração Direta corresponde à prestação dos serviços públicos


diretamente pelo próprio Estado e seus órgãos. Assim, quando a União, os
Estados-membros, Distrito Federal e Municípios, prestam serviços públicos por
seus próprios meios, diz que há atuação da Administração Direita.

Na esfera federal, a Administração Direta ou Centralizada, atividade exercida


diretamente pelos entes estatais, é composta por órgãos subordinados à
Presidência da República e aos Ministérios, como o Departamento da Polícia
Federal, Secretaria do Tesouro Nacional ou Corregedoria-Geral da União. Ao
contrário da administração indireta, na administração direta o Estado não
delega a prossecução das suas atividades e funções em pessoas jurídicas
separadas.

3.3.1 Órgãos Públicos

Segundo Hely Lopes Meirelles, “Órgãos Públicos são centros de


competências instituídos para o desempenho de funções estatais, através
de seus agentes, cuja atuação é imputada à pessoa jurídica a que
pertencem”.

Cada órgão, como centro de competência governamental ou administrativa, tem


necessariamente funções, cargos e agentes, mas é distinto desses elementos,
que podem ser modificados, substituídos ou retirados sem supressão da
unidade orgânica. Isso explica porque a alteração de funções, a vacância dos
cargos, ou a mudança de seus titulares não acarreta a extinção do órgão.

A criação e a extinção de órgãos da administração pública dependem de lei de


iniciativa privativa do chefe do executivo, assim como preceitua o art. 48, XI, e

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o art. 61, § 1º, ambos da CF/88.

Os órgãos públicos integram a estrutura do Estado e das demais pessoas


jurídicas e não possuem personalidade jurídica, mas na área de suas
atuações e nos limites de sua competência funcional expressam a vontade da
entidade a que pertencem e a vinculam por seus atos, manifestados através
de seus agentes (pessoas físicas). Assim, como exemplo, temos o Ministério
Público, Secretaria de Educação, Tribunal de Justiça, Presidência da República,
Ministério da Fazenda. São, pois, unidades de ação com atribuições específicas
na organização estatal e que, como centro de competência governamental ou
administrativa, possuem funções, cargos e agentes.

Classificação dos órgãos públicos:

Quanto à Posição Estatal:

Órgãos Autônomos:
São os subordinados diretamente à cúpula da Administração. Têm grande
autonomia administrativa, financeira e técnica, caracterizando-se como órgãos
diretivos, com funções de planejamento, supervisão, coordenação e controle das
atividades que constituem sua área de competência.
Seus dirigentes são, em geral, agentes políticos nomeados em comissão.
São os Ministérios e Secretarias, bem como a AGU (Advocacia-Geral da União),
Ministério Público, Defensoria Pública e as Procuradorias dos Estados e
Municípios.
Órgãos Superiores:
Possuem poder de direção, controle, decisão e comando dos assuntos de sua
competência específica. Representam as primeiras divisões dos órgãos
independentes e autônomos. Ex.: Gabinetes, Coordenadorias, Departamentos,
Divisões, etc.
Órgãos Subalternos:
São aqueles que se acham subordinados hierarquicamente a órgãos superiores
de decisão, exercendo principalmente funções de execução, como as realizadas
por seções de expediente, de pessoal, de material, de portaria, zeladoria, seções
de expediente, etc.
Órgãos Independentes:
Representam os Poderes do Estado. Não são subordinados hierarquicamente e
somente são controlados uns pelos outros. Ex.: Congresso Nacional, Câmara
dos Deputados, Senado Federal, Chefias do Executivo, Tribunais e Juízes e
Tribunais de Contas.

Atenção! A classificação dos órgãos públicos quanto à posição estatal é a mais


cobrada em concursos públicos. Por isso, é importante que você memorize
esse critério.

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Desta forma, os órgãos são classificados “ASSIN”:
Autônomos
Superiores
Subalternos
Independentes
Quanto à Estrutura:
Órgãos Simples ou Unitários:
São aqueles constituídos por um único centro de atribuições, sem subdivisões
internas, como ocorre com as seções integradas em órgãos maiores.
Órgãos Compostos:
São órgãos constituídos por vários outros órgãos. Eles compreendem órgãos
menores e que se subdividem até o nível de órgãos unitários, que não mais
comportam divisões internas. Como exemplo, podemos citar os Ministérios de
Estado, as Secretarias Estaduais e Municipais.
Quanto à Composição:
Órgãos Singulares ou Unipessoais:
Também conhecidos como unipessoais, os órgãos singulares são aqueles
integrados por um único agente público. Como exemplos desses órgãos,
podemos citar: Presidência da República; Promotoria de Justiça; Diretoria de
uma escola etc.
Órgãos Colegiados ou Coletivos:
Também conhecidos como coletivos ou “pluripessoais”, os órgãos colegiados
são constituídos por vários agentes públicos. Consequentemente, as decisões
são tomadas por deliberação coletiva. Como exemplos, podemos citar o
Conselho Nacional de Justiça, órgão do Poder Judiciário, e as Juntas
Administrativas e de Recursos e Infrações, que julgam recursos contra
penalidades de trânsito.
Quanto a Esfera de Atuação:
Órgãos Centrais.
São órgãos que exercem atribuições em todo o território nacional, estadual ou
municipal, conforme o caso específico. Por exemplo, os Ministérios de Estado
têm atribuição em todo o território nacional. As Secretarias Estaduais atuam em
todo o território do Estado e as Secretarias Municipais atuam em todo o território
do Município.
Órgãos Locais:
São aqueles que têm atuação apenas sobre uma parte do território, como as
Delegacias Regionais da Receita Federal, as Delegacias de Polícia, os Postos
de Saúde.

3.4. ADMINISTRAÇÃO INDIRETA

A administração Indireta é o serviço prestado por pessoa jurídica criada pelo


poder público para exercer tal atividade. Quando se cria autarquias, fundações,
sociedades de economia mista ou empresas públicas e lhes repassa serviços
públicos, haverá Administração Indireta.
Chama-se, por sua vez, descentralizada, á a atividade delegada (por contrato),
ou outorgada (por lei), para as entidades da Administração Indireta.

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3.4.1. Entidades da Administração Indireta

Autarquia:
A palavra autarquia tem como significado autogoverno, ou seja, um “governo”
com direção própria. São serviços autônomos, com personalidade jurídica
de direito público, patrimônio e receita própria, criadas por lei, com
capacidade de autoadministração, representam, basicamente, um braço, ou
prolongamento da Administração direta, uma vez que possuem natureza de
direito público e podem realizar atividades típicas de Estado. Portanto, podem
atuar de forma semelhante à Administração centralizada, porém com maior
autonomia e especialização, dada a sua própria personalidade jurídica. Com
efeito, anota-se que é comum chamar as autarquias de serviço público
personificado, justamente porque são criadas por meio da descentralização de
um serviço público específico, ao qual é atribuída a personalidade jurídica
própria. Por exemplo: o INSS é uma autarquia criada para realizar atividades
relacionadas ao serviço de previdência social.
Existem autarquias de regime especial, que possuem, graças à sua lei criadora,
privilégios específicos que aumentam seu poder de autonomia, para
conseguirem desempenhar suas atividades. Outros exemplos de autarquias são:
Banco Central e Conselho Administrativo de Defesa Econômica.

Fundação pública:
As fundações públicas são denominadas pela doutrina brasileira especializada
como fundações governamentais, são entidades sem fins lucrativos,
constituídas para um fim específico de interesse público (educação, saúde,
cultura e pesquisa, por exemplo). Elas podem assumir personalidade jurídica de
direito público ou de direito privado. As fundações públicas de direito público
são criadas por lei e as fundações públicas de direito privado são constituídas
mediante autorização legal, nos termos da legislação civil.
As fundações públicas possuem autonomia administrativa, patrimonial,
financeira e orçamentária, contraindo direitos e obrigações em nome
próprio. Segundo o STF na ADI 191/RS: "A distinção entre fundações públicas
e privadas decorre da forma como foram criadas, da opção legal pelo regime
jurídico a que se submetem, da titularidade de poderes e também da natureza
dos serviços por elas prestados.". E mesmo as fundações de direito privado
seguem algumas regras de direito público, tais como prestação de contas ao
Tribunal de Contas.

Empresa pública (EP):
É a entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado, que tem como
principal objetivo a prestação de atividades industriais ou econômicas de
interesse estatal.
É importante frisar que, apesar de serem pessoas jurídicas de direito privado,
elas nem sempre são regidas pelo direito privado, sendo que existem
possibilidades de serem aplicadas algumas normas de direito público,
como por exemplo, a obrigatoriedade de realizarem licitações nas contratações
de serviços.

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O capital das empresas públicas é inteiramente do Estado, não pertencendo
necessariamente à apenas uma pessoa pública, podendo haver participações
de outras pessoas da Administração Pública Direta ou Indireta, dando origem à
classificação:
Empresas públicas unipessoais: o capital pertence a uma pessoa pública.
Empresas públicas pluripessoais: o capital pertence a várias pessoas
públicas.
As empresas públicas podem adotar qualquer tipo societário previsto em lei.
Exemplos de empresas públicas: Empresa Brasileira de Infraestrutura
Aeroportuária (INFRAERO) e a Caixa Econômica Federal (CEF).
Ademais, desde que a maioria do capital votante permaneça em propriedade do
ente político, será admitida, no capital da empresa pública, a participação de
outras pessoas jurídicas de direito público interno, bem como de entidades da
administração indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios (Lei 13.303/16).

Sociedade de Economia Mista:
É a entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado, criada por lei
para a exploração de atividade econômica, sob a forma de sociedade
anônima, cujas ações com direito a voto pertençam em sua maioria à União ou
a entidade da Administração Indireta. (Lei 13.303/16).

SEMELHANÇAS:
Empresa Pública (EP) = Sociedade de Economia Mista (SEM):
Objeto: prestação de serviço público (ex.: Correios) ou exploração de
atividade econômica (ex.: Petrobrás);
São pessoas jurídicas de direito privado;
Regime jurídico híbrido, ou seja, possuem regras mescladas do direito
público e do direito privado;
Regime de pessoal: CLT, empregados públicos;
Não se sujeitam à falência;
Não são paraestatais;
Contratam por concurso público e compram por meio de licitações.

DIFERENÇAS:
Empresa Pública (EP) x Sociedade de Economia Mista (SEM):
As empresas públicas somente admitem capital público, ao passo que as
sociedades de economia mista admitem a conjugação de capital público e
privado, desde que o ente instituidor mantenha a maioria do capital votante;
As empresas públicas podem ser constituídas sob qualquer forma prevista
em direito, enquanto as sociedades de economia mista admitem apenas a
forma de sociedade anônima (S.A.).
No âmbito federal as empresas públicas federais possuem foro na justiça
federal, ao passo que as sociedades de economia mista federais possuem
foro na justiça estadual. Lembrando que essa é a regra, mas que é
excepcionada por alguns casos específicos, como as competências das justiças
especializadas (exemplo: causas trabalhistas dos empregados públicos, das
duas entidades, são resolvidas na justiça do trabalho.

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23
É aplicável o regime dos precatórios às sociedades de economia mista
prestadoras de serviço público próprio do Estado e de natureza não
concorrencial.
STF. Plenário. ADPF 387/PI, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 23/3/2017
(Info 858).

Para encerrarmos esse ponto, alertamos que a nova lei das estatais pode ser
objeto de questionamentos por parta da banca examinadora, por se tratar de
matéria legislativa nova. Por isso, recomendamos a leitura da Lei 13.306/2016.

Consórcio Público
O consórcio público é uma pessoa jurídica criada por lei com a finalidade de
executar a gestão associada de serviços públicos, onde os entes
consorciados, que podem ser a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios, no todo em parte, destinarão pessoal e bens essenciais à execução
dos serviços transferidos.
A figura dos consórcios públicos no Direito Administrativo brasileiro surgiu com
a Emenda Constitucional nº 19/98, que alterou o art. 241 da Constituição da
República Federativa do Brasil, dando-lhe a seguinte redação:
"A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios disciplinarão por meio
de lei os consórcios públicos e os convênios de cooperação entre os entes
federados, autorizando a gestão associada de serviços públicos, bem como a
transferência total ou parcial de encargos, serviços, pessoal e bens essenciais à
continuidade dos serviços transferidos."
A lei 11.107/2005 - ou lei do consórcio público - portanto, supostamente
apoiada pelo artigo 241, cria, por via transversa, uma nova entidade da
administração indireta, ao lado da autarquia e da sociedade de economia mista
instituída por lei. E ainda inventou uma nova expressão.
“Art. 1º. Esta Lei dispõe sobre normas gerais para a União, os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios contratarem consórcios públicos para a realização de
objetivos de interesse comum e dá outras providências.
§ 1o O consórcio público constituirá associação pública ou pessoa jurídica
de direito privado (...)
Art. 6o O consórcio público adquirirá personalidade jurídica:
I – de direito público, no caso de constituir associação pública, mediante a
vigência das leis de ratificação do protocolo de intenções;
II – de direito privado, mediante o atendimento dos requisitos da legislação civil.
§ 1o O consórcio público com personalidade jurídica de direito público integra
a administração indireta de todos os entes da Federação consorciados.”
Portanto, o consórcio público será uma entidade associativa, que tanto pode
ser de direito público como de direito privado, o que ofende o significado
jurídico da palavra consórcio no direito pátrio, significado este que devem ter tido
em vista os redatores do Art. 241 supracitado.

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24
3.5. TERCEIRO SETOR

O Primeiro Setor consiste nas instituições estatais comandadas pelo governo


municipal, estadual e federal, que administram os bens e serviços públicos e
representam, portanto, as ações do Estado.
36
O Segundo Setor, por sua vez, corresponde as empresas e ao capital privado,
cujos recursos são empregados em benefício próprio, visando alcançar fins
lucrativos.

O Terceiro Setor é um termo sociológico utilizado para definir organizações de


iniciativa privada, sem fins lucrativos e que prestam serviços de caráter
público. Tal Setor não é público nem privado, mas sim uma junção do setor
estatal e do setor privado para uma finalidade maior, suprir as falhas do Estado
e do setor privado no atendimento às necessidades da população, numa relação
conjunta. A sua composição é lastreada por organizações sem fins lucrativos,
criadas e mantidas pela participação voluntária, de natureza privada, não
submetidas ao controle direto do Estado, dando continuidade às práticas
tradicionais da caridade, da filantropia, trabalhando para realizar objetivos
sociais ou públicos, proporcionando à sociedade a melhoria na qualidade de
vida, atendimento médico, eventos culturais, campanhas educacionais, entre
tantas outras atividades.

Características das Organizações do Terceiro Setor:


Formalmente constituídas;
Estrutura básica não governamental;
Gestão própria;
Sem fins lucrativos;
Uso significativo de mão de obra voluntária.

Principais Entidades do Terceiro Setor:


Serviço Social Autônomo – “Sistema S”
As entidades do serviço social autônomo são o chamado “Sistema S” (SESC,
SESI, SENAI), criadas mediante autorização de lei (mas ainda assim são
particulares), e atuam no auxílio, fomento e capacitação de determinadas
categorias profissionais. Os serviços sociais autônomos atuam sem finalidade
lucrativa e, portanto, recebem dinheiro público, cobrando tributos. Eles gozam
de “parafiscalidade”, ou seja, atuam do lado do fisco, cobrando tributos (o
Sistema S não CRIA tributos, pois isso é privativo do Estado, mas cobra
contribuições de natureza tributária com caráter coercitivo).
Eles estão sujeitos ao controle do Tribunal de Contas, e embora não tenham que
licitar, precisam fazer procedimento simplificado para contratação com
particulares, respeitando-se a impessoalidade.

Organizações Sociais – “OSs”
As Organizações Sociais (OSs) são pessoas jurídicas de direito privado, sem
finalidade lucrativa, criadas para prestar serviços sociais não-privativos do

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Poder Público, mas por ele incentivadas e fiscalizadas, e assim qualificadas
após o ajuste de um contrato de gestão.
A legislação não estabelece o conceito exato das Organizações Sociais, mas o
art. 1º da Lei nº 9.637/1998 traz algumas de suas características:
Art. 1º. O Poder Executivo poderá qualificar como organizações sociais pessoas
jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, cujas atividades sejam
dirigidas ao ensino, à pesquisa científica, ao desenvolvimento tecnológico, à
proteção e preservação do meio ambiente, à cultura e à saúde, atendidos aos
requisitos previstos nesta Lei.
A instituição das entidades como Organizações Sociais deve obedecer às
condições da Lei n.º 9.637/98, que prevê, dentre outros: as atividades de
interesse público que poderão ser prestadas, como supramencionado no
artigo 1º : ensino, pesquisa científica, desenvolvimento tecnológico, proteção e
preservação do meio ambiente, cultura e saúde; a discricionariedade do ato
de qualificação da entidade (art. 2º, II); a desnecessidade de preexistência
da pessoa jurídica para que receba essa qualificação (art. 2º, I); a existência
de Conselho de Administração, com participação de representantes do Estado
(art. 3º, I, a); e o ajuste do contrato de gestão, onde são definidas as formas
de incentivo do Poder Público (arts. 5º a 7º e 11 a 15).

Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público- “OSCIPs”
Em 1999, a Lei Federal n.º 9.790, de 23 de março, instituiu as Organizações da
Sociedade Civil de Interesse Público –OSCIP, na esfera Federal de Governo, a
qual propôs "a qualificação de pessoas jurídicas de direito privado, sem fins
lucrativos, como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, e
institui e disciplina o Termo de Parceria", de maneira semelhante ao contrato de
gestão firmado entre o Poder Público e a entidade qualificada como Organização
Social. Contudo, com finalidades absolutamente distintas.
Segundo Maria Sylvia Zanella Di Pietro, não se deve confundir esses “dois tipos
de entidades atendem a objetivos bem diferentes. As OS foram idealizadas para
gerir serviços públicos por delegação do ente federativo, enquanto as
OSCIPs foram idealizadas para prestar atividade social de interesse público,
sem fins lucrativos, com a ajuda do poder público.”
Pois bem, a Lei estabeleceu que "podem qualificar-se como Organizações da
Sociedade Civil de Interesse Público as pessoas jurídicas de direito privado, sem
fins lucrativos, desde que os respectivos objetivos sociais e normas estatutárias
atendam aos requisitos" da Lei.
Entre alguns dos "objetivos sociais" que estão previstos nos treze incisos do
art. 3 da lei, estão a promoção da assistência social, da cultura, defesa e
conservação do patrimônio histórico e artístico, da educação, da saúde, da
segurança alimentar e nutricional; entre outros direitos.
Tais atividades devem ser desenvolvidas mediante a execução direta de
projetos, programas, planos de ações correlatas, por meio da doação de
recursos físicos, humanos e financeiros, ou ainda, pela prestação de serviços
intermediários de apoio a outras organizações sem fins lucrativos e a órgãos do
setor público que atuem em áreas afins.

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Entidades de Apoio
As entidades de apoio podem ser fundações, associações ou cooperativas,
desde que privadas. Elas normalmente atuam ao lado de hospitais e
universidades públicas, auxiliando no exercício das atividades dessas entidades,
sem finalidades lucrativas. Ex: Fundação Euclides da Cunha na UFF.

O vínculo é a celebração de um convênio, que qualifica essas entidades privadas


como entidades de apoio. Essas entidades também recebem dinheiro público,
através da destinação de valores, e até mesmo da cessão de bens e servidores,
admitida pela doutrina. Também são controladas pelo Tribunal de Contas e,
embora não precisem fazer licitação, precisam realizar procedimento
simplificado sempre que quiserem celebrar um contrato, como forma de garantir
a impessoalidade.

Sistema S OS OSCIP Entidades de


apoio
Vínculo Criadas por Lei Contrato de Termo de Convênio
Gestão Parceria

Licitação Procedimento Não Sim Procedimento


Simplificado (dispensa Simplificado
expressa no
art.24, inc.
XXIV, da Lei
8.666/93)
Dinheiro Através da Dotação Destinação de Destinação
Público parafiscalidade, Orçamentária valores, sem de
cobrança de específica, especificidade, valores, e a
tributos cessão de não admite doutrina
bens cessão de admite a
e servidores servidores e cessão de
bens bens e
servidores

Em relação ao regime jurídico das empresas estatais, de


acordo com o ordenamento jurídico e a doutrina de Direito

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27
Administrativo, as empresas públicas e as sociedades de
economia mista:
A) Integram a Administração Indireta, ostentando
personalidade jurídica de direito público, e são criadas com
a finalidade de prestar serviços públicos ou exploração de
determinadas atividades econômicas de interesse da
QUESTÃO 1 sociedade;
B) Têm seus empregados regidos pela Consolidação das
Leis do Trabalho, com vínculo empregatício por meio de
relação contratual de emprego, mas se submetem a
algumas restrições aplicáveis aos servidores públicos em
geral;
C) Remuneram seus empregados com vencimentos,
proventos, pensões ou outra espécie remuneratória,
incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra
natureza, que não podem exceder, em qualquer caso, o
subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo
Tribunal Federal;
D) Têm seu pessoal contratado mediante prévio concurso
público de provas ou de provas e títulos, mas não se aplica
a vedação constitucional de acumulação de cargos e
empregos públicos a seus agentes;
E) Concedem a estabilidade constitucional a seus
empregados aprovados mediante concurso público após
três anos de efetivo exercício, que somente poderão perder
o emprego em virtude de sentença judicial transitada em
julgado ou processo administrativo em que lhe seja
assegurada ampla defesa.
GABARITO COMENTADO: Letra B
a) INCORRETA: São pessoas jurídicas de direito privado
arts. 3º e 4º, L. 13.303/16);
b) CORRETA: Os empregados das EP/SEM submetem-se
à CLT, mas como se enquadram na categoria de agentes
públicos, encontram-se submetidos às normas
constitucionais, tais como o concurso e proibição de
cumulação de cargos (OLIVEIRA, Rafael C.R. Curso de
Direito Administrativo, 2013, p. 113-114);
c) INCORRETA: A remuneração dos empregos na EP/SEM
não se sujeita ao teto constitucional, exceto se receberem
recursos públicos para pagamento de despesas de pessoal
ou de custeio geral (MAZZA, Alexandre. Manual de Direito
Administrativo. 4ª ed. 2014, p. 188);

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28
d) INCORRETA: Aplica-se a vedação de acumulação de
cargos e empregos (art. 37, XVII, CF);
e) INCORRETA: Os empregados públicos não possuem
estabilidade, salvo os admitidos antes da EC nº 19/98 (STF,
RE 589.998/PI, Min. Rel. Ricardo Lewandowski, j. em
20/03/2013) - Atenção: o STF, contudo, entende que a
dispensa deve ser motivada, a fim de evitar a quebra do
postulado da impessoalidade

(DELEGADO – PC/DF – FUNIVERSA – 2015) No que diz


respeito à organização da administração pública e das
entidades paraestatais, assinale a alternativa correta.
A) A CF assegura aos serviços sociais autônomos
autonomia administrativa, não estando sujeitos ao controle
do tribunal de contas.
B) Diante do recebimento de dinheiro público, os serviços
sociais autônomos estão submetidos às regras de concurso
público para contratação de seus funcionários, os quais
serão regidos pela consolidação das leis trabalhistas (CLT).
QUESTÃO 2
C) As organizações sociais qualificadas no âmbito da União
podem ser contratadas com dispensa de licitação para
execução de contrato de gestão firmado com a União.
D) Suponha-se que João seja responsável pela fiscalização
de contrato de gestão firmado com certa organização social.
Nesse caso, ao tomar conhecimento de qualquer
regularidade na utilização de recursos públicos pela
fiscalizada, João deverá dar ciência do fato ao TCU, sob
pena de multa, mas não de responsabilidade solidária.
E) Uma instituição religiosa, desde que seja sem fins
lucrativos e que tenha por objeto social as atividades
descritas na referida lei, pode ser qualificada como
organização da sociedade civil de interesse público.

GABARITO COMENTADO:
A) INCORRETA. Tais entidades estão sujeitas ao controle
do tribunal de contas.
B) INCORRETA. Tais entidades não estão diretamente
submetidas à obrigatoriedade da realização de concurso
público e licitação (STF, RE 789.874/DF), o que não exclui
o dever de agirem de forma proba, devendo criar processos
seletivos e de contratação que estejam de acordo com os
princípios da impessoalidade, moralidade e da eficiência.
C) CORRETA. Artigo 24, XXIV da Lei 8.666/93.

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29
D) INCORRETA. O artigo 9 da Lei 9.637/98 estabelece que
a responsabilidade é solidária.
E) INCORRETA. As entidades religiosas não podem ser
qualificadas como OSCIPs (art. 2, III, Lei 9790/99).

4. PODERES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Constituem as prerrogativas que a ordem jurídica confere aos agentes


administrativos para alcançar o interesse público. De fato, são instrumentos
conferidos ao poder público para a persecução do interesse público e devem ser
feitos em conformidade com a lei, sob pena de incidir em abuso de poder.

Sobre abuso de poder, tema recorrente em provas, devemos nos atentar


para a seguinte classificação:

ABUSO DE PODER – gênero que se divide em: Excesso de poder: administrador


ultrapassa os limites de sua competência. Desvio de poder: agente atua nos
limites da competência definida em lei, mas visando finalidade diversa da
inicialmente prevista.
Ultrapassada essa análise sobre abuso de poder, vamos proceder ao estudo
detalhado dos poderes da administração pública, vejamos:

4.1 Poder vinculado

A execução dos atos vinculados está definida em lei, de modo que não admitem
juízo de oportunidade e conveniência por parte do administrador público. Trata-
se de um dever que obriga ao agente público a se portar rigorosamente em
conformidade com os parâmetros legais.

4.2 Poder discricionário

Tendo em vista que a lei é incapaz de prever todas as situações, ao


administrador público cabe a prerrogativa de praticar atos discricionários, nos
quais existe um juízo de oportunidade e conveniência para alcançar o interesse
público. Exemplo disso pode ser encontrado no art. 37, III, CF, no qual é atribuída
à administração o poder discricionário de prorrogar o prazo de validade de um
concurso público.

Sendo assim, percebemos claramente que através do poder discricionário, ao


agente público é facultado praticar atos e também revogá-los, casos inoportunos
e inconvenientes1. Devemos lembrar, no entanto, que a escolha por parte do
administrador público não pode contrariar a lei, sob pena de incorrer em
arbitrariedade e ser anulada pelo Judiciário ou pela própria Administração. Ao

1
O CESPE considerou correta a seguinte assertiva: (Cespe – CNJ 2013) O exercício do poder discricionário
pode concretizar-se tanto no momento em que o ato é praticado, bem como posteriormente, como no
momento em que a administração decide por sua revogação.
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mesmo tempo, a escolha deve obedecer aos princípios administrativos explícitos
e implícitos.

A prática de atos ilegais enseja a sua anulação, enquanto que a prática de


atos inoportunos e inconvenientes importa sua revogação.

TCE – PE/ CESPE 2017: Na revogação, o ato é extinto por


C oportunidade e conveniência, ao passo que, na anulação, ele é
desfeito por motivo(s) de ilegalidade

Atenção ainda para o controle judicial dos atos discricionários: sabemos que, em
virtude do princípio da inafastabilidade da jurisdição (adotamos o sistema inglês),
os atos podem ser levados à apreciação do poder Judiciário. Porém, o juízo de
mérito acerca da oportunidade e conveniência do ato administrativo não pode
ser apreciado pelo Judiciário, de modo que o controle judicial se restringe aos
aspectos vinculados do ato.

4.3 Poder disciplinar

Inicialmente, vejamos a lição de Matheus Carvalho sobre o tema: “o Poder


Disciplinar trata da atribuição pública de aplicação de sanções àqueles que
estejam sujeitos à disciplina do ente estatal. Com efeito, é o poder de aplicar
sanções e penalidades, apurando infrações dos servidores ou outros que são
submetidos à disciplina da Administração, ou seja, a todos aqueles que tenham
vínculo de natureza especial com o Estado, como é o exemplo daqueles
particulares que celebraram contratos com o Poder Público”2.

Desse modo, percebemos que não apenas os servidores públicos se submetem


ao poder disciplinar, mas também determinados particulares, a exemplo dos que
firmam contratos com o Poder Público. Através do poder disciplinar, o Poder
Público controla a conduta interna e responsabiliza pelas faltas cometidas3.

2
CARVALHO, Matheus. Manual de Direito Administrativo. 3. Ed. Salvador: JusPodivm, 2016, p. 122.

3
Sobre o tema, devemos ter em mente que deve haver um vínculo especial para que o particular seja
penalizado por meio do poder disciplinar. Vejamos uma questão do CESPE em que fica caracterizado o
vínculo específico entre o poder público e o particular, de modo a ensejar a punição:
(TCE-PE, CESPE, 2017) Uma aluna de um colégio estadual, maior de dezoito anos de idade, foi flagrada
depredando o mobiliário da escola. Em razão disso, o diretor do colégio aplicou a ela uma penalidade de
suspensão por três dias, na forma do regimento da instituição. A respeito dessa situação hipotética, julgue
os itens que se seguem, considerando os poderes da administração pública e os princípios de direito
administrativo. O ato do diretor do colégio é exemplo de exercício do poder disciplinar da administração
pública.
Gabarito: Correto.

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31
É certo que o poder disciplinar da Administração Pública é distinto do poder
punitivo estatal, o qual tem o claro objetivo de reprimir crimes, contravenções
e demais infrações de natureza cível e penal previstos em lei. Isso porque, o
poder punitivo estatal incide sobre todos que infrinjam a lei e incidam nas
tipificações legais. Enquanto isso, o poder disciplinar, conforme dissemos,
incide tão somente em face daqueles que possuem vínculo jurídico específico
com a Administração Pública

Por fim, não esqueçamos que a aplicação de sanções deve ser motivada e é
imprescindível que se garanta o devido processo legal.

4.4 Poder hierárquico

Sobre o tema, assevera Matheus Carvalho: “a hierarquia é característica que


integra a estrutura das pessoas jurídicas da Administração Pública, sejam os
entes da Administração Direta ou da Administração Indireta. Trata-se de
atribuição concedida ao administrador para organizar, distribuir e principalmente
escalonar as funções de seus órgãos, sendo o Poder que a Administração tem
de se estruturar internamente determinando uma relação de
hierarquia e subordinação entre seus órgãos e agentes”4.

Trata-se, pois, de uma estruturação interna da Administração Pública.


Lembremo-nos de um tema recorrente em provas: o poder hierárquico não se
manifesta entre pessoas jurídicas distintas!

São decorrências do poder hierárquico, de acordo com Matheus Carvalho: “o


poder de fiscalizar, o dever de obediência às ordens superiores, o controle sobre
a atividade dos órgãos inferiores para verificar a legalidade de seus atos,
podendo anular os ilegais e, até mesmo, revogar os inoportunos ou
inconvenientes, bem como as atribuições de delegar e avocar competências, nos
moldes autorizados por lei”5.

Além disso, é certo que o dever de obediência é imposto aos subordinados de


forma geral, exceto quando as ordens forem manifestamente ilegais. O controle
hierárquico pode ocorrer de ofício ou por provocação dos interessados.

Vejamos ainda nesse tópico a delegação de competências, tema importante,


bastante explorado pelas bancas: a delegação é ato discricionário, revogável a

4
CARVALHO, Matheus. Manual de Direito Administrativo. 3. Ed. Salvador: JusPodivm, 2016., p. 120.

5
CARVALHO, Matheus. Manual de Direito Administrativo. 3. Ed. Salvador: JusPodivm, 2016, p. 120 e
121.

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qualquer tempo, transfere-se o mero exercício de uma competência, de modo
que a sua titularidade permanece com a autoridade delegante6. Há, ainda,
competências indelegáveis, a exemplo dos atos políticos.

Tenham cuidado também para não confundir a delegação com a avocação de


competências. A avocação caracteriza-se por ser ato discricionário, temporário,
por meio do qual o superior o hierárquico atrai para si o exercício de determinada
competência exercida por um subordinado. Aqui, o subordinado fica desonerado
da responsabilidade pelo ato avocado pelo superior. Ademais, as atribuições não
podem ser de competência exclusiva do órgão subordinado.

Tanto a delegação quanto a avocação de competência são vedadas nos


seguintes casos:

- Competência exclusiva definida em lei;


- Decisão de recurso hierárquico;
- Edição de atos normativos;

Para encerrarmos esse tópico, lembremos que não há hierarquia entre os


poderes da República (art. 2º, CF), tampouco entre a Administração e os seus
administrados, vistos de forma genérica.

4.5 Poder de polícia

O poder de polícia está definido no art. 78 do CTN e de acordo com Matheus


Carvalho, consiste em uma decorrência da supremacia geral da Administração
Pública e se aplica a todos os particulares, sem a necessidade de demonstração
de qualquer vínculo de natureza especial. Trata-se, pois, da restrição ao
exercício de garantias privadas na busca do interesse público.

Não confundir poder de polícia administrativa com a polícia judiciária. A polícia


judiciária tem a finalidade de reprimir ilícitos penais, incide sobre pessoas,
sendo, portanto, estudada detalhadamente no Direito Processual Penal.
Alertamos ainda que a polícia administrativa incide tão somente sobre bens e
direitos. Mas atenção, apesar dos conceitos não se confundirem, a CESPE
entende que o poder de polícia administrativa pode ser exercido por órgão que
também exerça o poder de polícia judiciária.

O poder de polícia se manifesta, por exemplo, através de uma interdição de


estabelecimento pela vigilância sanitária, assim como nas fiscalizações de
trânsito. Além disso, é certo que o poder de polícia pode se dar de forma
preventiva ou repressiva. No poder de polícia preventivo, o particular necessita

6
Sobre o assunto, devemos nos atentar ainda para a Súmula 510, STF: praticado o ato por autoridade,
no exercício de competência delegada, contra ela cabe mandado de segurança ou a medida judicial.
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de uma anuência prévia por parte da Administração para utilizar bens ou exercer
tarefas, sendo formalizado por licença7 ou autorização8. O instrumento formal
pode ser alvará, carteira, declaração, certificado, dentre outros.

Por sua vez, o poder de polícia repressivo ocorre quando se aplica sanção
administrativa a particulares que descumpram normas de ordem pública. A título
de exemplo, devemos considerar: multas administrativas, interdição de
estabelecimentos comerciais e demolição de construções irregulares.

Atenção ainda para o ciclo de polícia! É formado por quatro fases e consiste em
uma sequência de atividades, quais sejam: legislação, consentimento,
fiscalização e sanção. A legislação é a fase que institui os limites e
condicionamentos ao exercício de atividades privadas, o consentimento é a
anuência da Administração para a prática de atividades (licenças e
autorizações), a fiscalização, por sua vez, caracteriza-se por ser a atividade em
que a Administração verifica se o particular está cumprindo as regras e, por fim,
em caso de infração à ordem de polícia ou aos requisitos consubstanciados na
licença ou autorização, aplica-se a sanção (medida repressiva), nos limites da
lei de regência. Devemos nos lembrar ainda que a legislação e a fiscalização são
as únicas fases que sempre existirão no ciclo de polícia.

O prazo prescricional para a aplicação de sanções de polícia está previsto no


art. 1º da Lei 9.873/99 e consiste em cinco já. Admite-se ainda a prescrição
intercorrente de três anos, diante da inércia da Administração Pública no
julgamento do processo administrativo, conforme expresso no art. 1º, §1º da
referida lei.

4.6 Poder regulamentar

Por fim, vamos proceder à análise do poder regulamentar. Trata-se de uma


faculdade dos chefes do Poder Executivo de editar atos administrativos
normativos.

Nessa seara, temos os decretos de execução ou regulamentares previstos no


art. 84, IV, CF, que possibilitam a fiel execução das leis (não podem inovar a
ordem jurídica, limita-se a explicar dispositivos legais). Temos ainda os decretos
autônomos, previstos no art. 84, VI, CF, que são considerados atos primários e,
por isso, dispensam a lei prévia para existir.

Alertamos que poderá haver decreto autônomo tão somente nos casos previstos
no art. 84, VI, CF.

7
Ato administrativo VINCULADO e DEFINITIVO, de modo que ao preencher os requisitos para usufruir
determinado direito, a Administração deve reconhecer o direito ao particular, a exemplo da Carteira
Nacional de Habilitação e licença para o exercício de profissão.

8
Ato administrativo DISCRICIONÁRIO E PRECÁRIO, no qual a Administração autoriza o particular a exercer
determinada atividade de seu interesse, a exemplo do uso especial de bem público, interdição de rua para
festividades e o porte de arma de fogo.

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34
30
Sugerimos ainda a leitura do art. 84, §único, que apresenta a possibilidade de
delegação dessa competência para os Ministros de Estado, Procurador Geral da
República ou Advogado-Geral da União. Pela leitura desses dispositivos
constitucionais, podemos perceber claramente que a competência para editar
decretos autônomos pode ser delegada, enquanto que a competência para
editar decretos de execução não pode sofrer delegação.

Outrossim, caso o Executivo extrapole os limites do exercício do poder


regulamentar, o Congresso Nacional pode sustar os atos normativos, conforme
art. 49, V, CF. Há ainda os regulamentos autorizados, nos quais o Executivo por
expressa autorização em lei, completa as disposições dela constantes,
especialmente em matérias de natureza técnica, a exemplo das normas editadas
pelas agências reguladoras. Trata-se de ato administrativo secundário
que deriva de lei, além de ser vedada a utilização de regulamentos autorizados
para tratar de matérias constitucionalmente reservada às leis.

Cientes de que o entendimento pacificado dos Tribunais tem sido objeto de


prova, recomendamos a leitura atenta das Súmulas 346, 419, 473, 645, 646 e
649 do STF. Não esqueçam ainda do Informativo 793 do STF.

VINCULADO: execução dos atos definida em lei, não


comporta juízo de oportunidade e conveniência por
parte do administrador público.
DISCRICIONÁRIO: há juízo de oportunidade e
conveniência do administrador público, mas sempre
respeitando o disposto em lei, sob pena de incorrer em
abuso de poder. O controle judicial dos atos
discricionários (princípio da inafastabilidade do
PODERES DA controle jurisdicional) restringe-se aos aspectos de
ADMINISTRAÇÃO legalidade e legitimidade.
PÚBLICA
DISCIPLINAR: aplicação de sanções àqueles que
estão sob a disciplina do ente estatal. Com isso,
controla-se a conduta interna e responsabilizam-se os
infratores pelas faltas cometidas.

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HIERÁRQUICO: não se manifesta entre pessoas
jurídicas distintas. Atribuição conferida ao
administrador para organizar, distribuir e escalonar as
funções entre os órgãos. Estrutura interna,
determinando relação de hierarquia e subordinação
entre os órgãos e agentes.
POLÍCIA: art. 78, CTN. Aplica-se aos particulares, em
geral, consiste na restrição ao exercício de garantias
privadas, na busca do interesse público.
REGULAMENTAR: faculdade concedida aos chefes
do Executivo para editar atos administrativos
normativos.

(CESPE, PC-GO, DELEGADO DE POLÍCIA, 2017)


De acordo com a legislação e a doutrina pertinentes, o
poder de polícia administrativa
a) pode manifestar-se com a edição de atos normativos
como decretos do chefe do Poder Executivo para a fiel
regulamentação de leis.
b) é poder de natureza vinculada, uma vez que o
administrador não pode valorar a oportunidade e
conveniência de sua prática, estabelecer o motivo e
escolher seu conteúdo.
c) pode ser exercido por órgão que também exerça o
poder de polícia judiciária.
d) é de natureza preventiva, não se prestando o seu
exercício, portanto, à esfera repressiva.
e) é poder administrativo que consiste na possibilidade
QUESTÃO 1 de a administração aplicar punições a agentes públicos
que cometam infrações funcionais.
GABARITO COMENTADO:
(A) INCORRETA: a edição de atos normativos como
decretos do chefe do Poder Executivo para a fiel
regulamentação de leis é sinônimo do poder
regulamentar.

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(B) INCORRETA: O poder de polícia é, em regra,
discricionário (motivo e objeto de polícia). No entanto,
a Administração não pode ficar inerte,
tem que exercê-lo e decidir a respeito dos pedidos do
administrado. Há alguns atos vinculados, a exemplo
das licenças. (C) CORRETA: Já analisamos que,
apesar da distinção entre o poder de polícia
administrativa e o poder de polícia judiciária, a CESPE
entende que o poder de polícia administrativa pode ser
exercido por órgão que também exerça o poder de
polícia judiciária.
(D) INCORRETA: Conforme visto, o poder de polícia
pode ser repressivo ou preventivo.
(E) INCORRETA: a possibilidade de a administração
aplicar punições a agentes públicos que cometam
infrações funcionais é sinônimo do
poder disciplinar.

(DELEGADO PC/MA – CESPE/2018) Com relação


aos poderes administrativos, a prerrogativa da
administração pública de editar atos normativos para
ordenar a atuação de órgãos subordinados decorre do
exercício do poder
a) discricionário.
b) disciplinar.
c) de polícia.
d) regulamentar.
e) hierárquico.
GABARITO COMENTADO:
QUESTÃO 2 E) CORRETO.
Poder que a Administração Pública tem de editar atos
normativos para dar fiel execução às leis exaradas pelo
Poder Legislativo - PODER REGULAMENTAR.
Poder que a Administração Pública tem de editar atos
normativos com o fim de limitar o interesse individual
em
prol do coletivo - PODER DE POLÍCIA.
Poder que a Administração Pública tem de editar atos
normativos com o fim de disciplinar a atuação de seus
órgãos subordinados - PODER HIERÁRQUICO.

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5. ATOS ADMINISTRATIVOS

5.1. CONCEITO

É a exteriorização da vontade da administração pública ou de particulares


delegatários, sob regime de direito público, que tem a capacidade de produzir
efeitos jurídicos, com a finalidade de atender ao interesse público.

Os atos administrativos não se confundem com atos políticos ou de governo,


sendo esses considerados atos da administração em sentido amplo (qualquer
ato oriundo da Administração Pública com prerrogativa pública ou não). Como
exemplo de atos da administração em sentido amplo: iniciativa de leis,
celebração de tratados internacionais, decretação de estado de sítio, etc.

(MPE-MS | 2015 | FAPEC): O ato praticado por concessionário de


serviço público, ainda que no exercício de prerrogativas públicas,
F não caracteriza ato administrativo.

(MPE-GO | 2014 | MPE-GO): A entrega de extraditando, desde que


autorizada pelo Supremo Tribunal Federal, é ato de exclusiva
F competência do Presidente da República, constituindo
desempenho de uma atividade encartada na Chefia de Governo,
resultando daí sua qualidade de ato administrativo, sindicável, em
toda a extensão de seus elementos, pelo Poder Judiciário.

5.2. ATOS VINCULADOS E DISCRICIONÁRIOS

Os atos vinculados são aqueles que a administração pratica sem qualquer


margem de liberdade, tendo em vista que a lei previamente estabeleceu o
comportamento cabível à determinada situação. No caso, o administrador estará
vinculado a todos os elementos dos atos administrativos (competência,
finalidade, forma, objeto e motivo). Ex: concessão de licença paternidade ao
servidor público quando preenchido os requisitos.
Já, os atos discricionários são aqueles que o administrador pode atuar com
certa liberdade de escolha, nos termos e limites da lei. Neste caso, a valoração
recairá sobre o motivo, objeto, bem como a oportunidade e conveniência.
Ex.: licença de servidor para tratar de interesses particulares.

(MPE-MT | 2014 | UFMT): É possível o controle judicial da


V discricionariedade administrativa, respeitados os limites que são
assegurados pela lei à atuação da Administração Pública.

5.3. ATOS DE IMPÉRIO E DE GESTÃO

Os atos de império são os que dotam de poder de coerção, sendo irrelevante a


vontade dos administrados para a sua prática. Possuem como fundamento o
princípio da supremacia do interesse público. Ex.: embargo de obra.

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Já os atos de gestão, são praticados pela administração na qualidade de
gestora de seus bens e serviços, sem a característica de coerção. Apesar de
não terem fundamento no princípio da supremacia do interesse público, tais atos
estão sujeitos ao princípio da indisponibilidade do interesse público. Ex.:
autorização ou permissão de uso de bem público.

(MPE-MS | 2015 | FAPEC): Ao praticar atos de gestão, a


F Administração Pública utiliza a sua supremacia sobre os
destinatários.
(MPE-MS | 2015 | FAPEC): Os atos administrativos de gestão são
V os que a Administração Pública pratica sem usar da sua
supremacia sobre os destinatários.

5.4. MOTIVAÇÃO DOS ATOS ADMINISTRATIVOS

De início, é válido ressaltar que a motivação dos atos administrativos difere


do motivo. O primeiro faz parte do elemento forma do ato. Portanto, ocorrendo
vício ocorrerá vício quanto à forma. Nesse sentido, podemos considerar que a
motivação consiste na declaração escrita do motivo ensejador do ato. Tem
como base o princípio da transparência. Ex.: Na demissão de um servidor, a
administração discorre por escrito o que levou a praticar tal ato.
A administração pública está sujeita ao controle administrativo e judicial (controle
de legalidade ou legitimidade) em relação à existência e à pertinência ou
adequação dos motivos que ela enquadrou como causa para a prática do ato.
Estamos diante da chamada Teoria dos Motivos Determinantes, a qual se
aplica a atos vinculados e a atos discricionários. Tem aplicação mesmo
quando a administração faz a motivação em casos facultativos, como, por
exemplo, motivação de exoneração de servidor de cargo em comissão.

(MPE-MT | 2014 | UFMT): A Teoria dos Motivos Determinantes


aplica-se à exoneração ad nutum, desde que a Administração
V Pública declare o motivo do ato administrativo.

5.5. ATRIBUTOS DOS ATOS ADMINISTRAVOS

Consistem nas características dos atos administrativos. São eles: presunção de


legitimidade, imperatividade, autoexecutoriedade e tipicidade. Esses dois
últimos atributos só se apresentam em determinados atos administrativos.

a) Presunção de legitimidade: Presume-se que o ato emanado pela


administração pública não possui vício, fazendo efeito desde logo, bem
como autorizando a sua imediata execução. Trata-se de uma presunção
relativa, ou seja, é cabível que o administrado prove que aquele ato possui
vício.

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(MPE-SC | 2014 | MPE-SC): É atributo do ato administrativo a
presunção de legalidade. Não se exige da Administração, ao
editá-lo, a comprovação de que está conforme a lei. A
V presunção, contudo, é relativa, podendo ser contestada,
perante a própria Administração, o Tribunal de Contas, o Poder
Judiciário ou o órgão de controle competente.

b) Imperatividade: possibilita a administração pública criar, unilateralmente,


obrigações ou restrições aos administrados. Só está presente nos atos
em que implicam obrigação.

(MPE-SP | 2013 | MPE-SP (adaptada)): A imperatividade,


F como maior atributo do ato administrativo, é a ele essencial e
inerente, sem exceção.

c) Autoexecutoriedade: permite a execução, de imediato, do ato


administrativo sem a intervenção do Poder Judiciário. Ex.: demolição de
obra com risco de desabamento.
d) Tipicidade: decorrente do princípio da legalidade, impõe que a
administração pública pratique atos nos termos da lei, ou seja, para cada
finalidade deve existir um ato típico definido em lei.

(MPE-SC | 2016 | MPE-SC): A concessão de licença para o


particular construir é ato administrativo e, por consequência,
F ela é dotada de presunção de legitimidade, de imperatividade,
de exigibilidade e de autoexecutoriedade.

5.6. EXTINÇÃO DOS ATOS ADMINISTRATIVOS

A extinção dos atos administrativos, poderá ser ocasionada por vício na sua
formação, desnecessidade e inoportunidade ou inconveniência e imposição de
ato sancionatório em que o particular descumpriu as condições para a
manutenção do ato. Nesse sentido temos a revogação, anulação e cassação.
a) Anulação: decorre de vício relativo à legalidade ou legitimidade do ato.
Consiste em um controle de legalidade do ato, não controle de mérito. É
um pode-dever da administração. Produz efeito ex tunc, todavia,
resguarda-se os efeitos produzidos à terceiros de boa-fé. Pode ser feita
pela própria administração pública ou pelo Poder Judiciário. O art. 54, da
Lei 9.784/99 estabelece o prazo de 5 (cinco) anos para a realização da
anulação, salvo comprovada a má-fé. Caso a anulação afete interesse
do administrado desfavoravelmente, deve ser instaurado procedimento
administrativo com as garantias de contraditório e ampla defesa. Todavia,
tal garantia não precisa ser observada no julgamento, por parte do TCU,

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de legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria (Súmula
Vinculante nº 03).

(MPE-BA | 2015 | CEFET-BA): Os atos administrativos ilegais


dos quais decorram efeitos favoráveis ao administrado deverão
V ser invalidados no prazo de 5 (cinco) anos, contados da data
em que forem praticados, salvo comprovada má-fé.
(MPE-MT | 2014 | UFMT): No julgamento de legalidade de ato
administrativo de concessão inicial de aposentadoria, fica
V afastada a necessidade de observância dos institutos do
contraditório e da ampla defesa pelo Tribunal de Contas da
União.

b) Revogação: instrumento pelo qual a administração pública faz a retirada de


um ato por motivos de conveniência e oportunidade. Só produz efeitos ex
nunc. Destaque-se que os atos vinculados não são passíveis de revogação.
Como esse instrumento é de caráter definitivo, não gera efeito repristinatório, ou
seja, não ressuscita ato revogado pela renúncia do ato revogador. A retirada do
ato só poderá ser realizada por quem a praticou.

Segundo o STJ, quando o ato depende, para sua edição, da reunião de vontades
de mais de um órgão da Administração (ato complexo), a revogação só será
possível com a concordância de todos os órgãos envolvidos na prática do ato
(MS 14.731/DF).
Além dos atos vinculados, são insuscetíveis de revogação: atos
consumados, atos que geraram direitos adquiridos e atos que integram
procedimento administrativo.

V (MPE-BA | 2015 | CEFET-BA): Os atos vinculados não são


passíveis de revogação.
(MPE-PA | 2014 | FCC): os atos gerais e abstratos, como os
V regulamentos, são revogáveis a qualquer tempo, enquanto
vigentes.
(MPE-PA | 2014 | FCC): os atos que geram direitos adquiridos
F estão sujeitos à revogação, em razão da supremacia do
interesse público.
(MPE-SC | 2014 | MPE-SC): Segundo jurisprudência
consolidada do Supremo Tribunal Federal, a Administração
pode anular seus próprios atos, quando maculados por
V defeitos que os façam ilegais, com eficácia, em geral, ex tunc.
Pode ainda revogá-los, atenta a pressupostos de conveniência
ou oportunidade, sem prejuízo dos direitos adquiridos, com
efeitos ex nunc.

b) Cassação: ocorre quando o beneficiário do ato administrativo deixa de


atender aos requisitos para a manutenção do ato. Ex.: cassação de
licença para construir.

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(MPE-BA | 2015 | CEFET-BA): A cassação do ato
F administrativo pressupõe a prévia declaração da sua nulidade
pela Administração Pública.
A caducidade também é uma forma de extinção dos atos administrativos,
todavia a sua diferença é que não resulta da manifestação do administrador ou
do Poder Judiciário. Nesse sentido ela ocorre com a superveniência de norma
incompatível com o ato praticado, tornando-o inviável. Ex.: permissão de uso de
bem público, ao que posteriormente é editada uma norma que proíbe o uso.

(MPE-SC | 2016): A retirada é uma das formas de extinção dos


atos administrativos e pode dar-se por anulação, revogação,
F cassação e caducidade. A caducidade ocorre quando o
beneficiado do ato administrativo deixa de cumprir os requisitos
de quando teve o ato deferido.

5.7. CONVALIDAÇÃO DOS ATOS ADMINISTRATIVOS


É o instituto que a administração utiliza para aproveitar os atos administrativos
com vícios sanáveis.

(MPE-SP | 2013): Se apresentar defeito sanável, pode ser


convalidado pela própria Administração, evidenciada a
V ausência de lesão ao interesse público ou de prejuízo a
terceiros.

QUESTÃO INÉDITA

No que se refere aos atos administrativos, é INCORRETO afirmar:


A) O ato revogatório não retroage para atingir efeitos pretéritos do ato
revogado, apenas impede que este continue a produzir efeitos.
B) A administração pública é obrigada anular ato administrativo que contenha
vício sanável e não acarrete lesão ao interesse público nem prejuízo a
terceiros.
C) A regra constante do art. 54, da Lei 9.784/99 não é aplicável em casos em
que há flagrante afronta em face da Constituição Federal.
D) No Direito Administrativo, o ato administrativo já revogado não se restaura,
automaticamente, pela revogação do seu ato revogador.
E) Ao administrado deve ser destinada a garantia prévia da ampla defesa e
contraditório diante da anulação de um ato administrativo que venha repercutir
de maneira desfavorável na sua esfera de interesse.

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Comentário: a) VERDADEIRO - a revogação do ato administrativo produz
efeito ex nunc, diferentemente da anulação, que produz efeito ex tunc; b)
FALSO - Apesar da anulação ser um poder-dever, a Administração Pública,
no caso em comento, não estará obrigada a realizá-la, já que pode convalidálo,
pois se trata de vício sanável e não acarreta lesão ao interesse público nem a
terceiros. Este é o gabarito da questão; c) VERDADEIRO - o STF entende que
nessas situações o ato poderá ser anulado a qualquer tempo; d)
VERDADEIRO - proibição da repristinação no âmbito da Administração
Pública; e) VERDADEIRO - entendimento do STF constante no Informativo
641.

Exteriorização da vontade da administração pública ou de


Conceito de
particulares (delegatários da administração), sob regime de
ato
direito público, com a finalidade de atender ao interesse
administrativo
público. Difere dos atos políticos ou de governo.
Atos
Ato vinculado: a administração pratica sem margem de
vinculados
liberdade, em virtude de lei. Ato discricionário: o
e
administrador pode atuar com margem de escolha, nos
discricionários
termos e limites da lei.

Atos de império: dotam de poder de coerção, sendo


Atos de
irrelevante a vontade dos administrados. Atos de gestão:
império
praticados pela administração na qualidade de gestora de
e de gestão
seus bens e serviços, assemelhando-se aos atos
praticados por particulares.

Consiste na declaração escrita do motivo ensejador do ato


Motivação dos
administrativo. Não se confunde com o motivo, elemento do
atos
ato administrativo. Teoria dos Motivos Determinantes: a
administrativos
Administração está sujeita ao controle administrativo e
judicial em relação à existência e à pertinência ou
adequação dos motivos para a prática do ato.

Presunção de legitimidade: presume-se que o ato emanado


pela administração pública não possui vício.
Atributos imperatividade: possibilita a administração pública criar,
unilateralmente, obrigações ou restrições aos
administrados. Autoexecutoriedade: permite a execução,
do ato administrativo sem a intervenção do Poder
Judiciário. Tipicidade: impõe que a administração pública
pratique atos nos termos da lei.

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43
Anulação: decorre de vício de legalidade ou legitimidade,
produzindo efeito ex tunc. Revogação: a Administração
pode fazer a retirada de um ato por motivos de
Extinção conveniência e oportunidade, produzindo efeitos ex
nunc. Cassação: beneficiário do ato administrativo deixa de
atender aos requisitos para a manutenção do ato.
Caducidade: a superveniência de norma incompatível com
o ato praticado.

Possibilita a administração aproveitar os atos


Convalidação
administrativos com vícios sanáveis.

6. INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE

Podemos considerar intervenção do Estado na propriedade toda a atuação


estatal que, consoante lei, vise ajustar a propriedade aos moldes da sua função
social. Nesse sentido, a CF/88 ao mesmo tempo que garante o direito de
propriedade (art. 5º, XXII), condiciona a manutenção deste ao atendimento da
função social, sob pena de intervenção do Estado (art. 5º, XXIII). Além disso, a
CF prevê a desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por
interesse social (art. 5º, XXIV) e autoriza a intervenção em caso de iminente
perigo público (art. 5º, XXV).
3.2. MODALIDADES
Inicialmente, podemos apontar duas formas básicas de intervenção, quais sejam
a intervenção restritiva e a supressiva. Na intervenção restritiva, o Estado
impõe restrições na propriedade, mas sem retirá-la de seu dono. Na supressiva,
o Estado retira coercitivamente a propriedade de terceiro e a transfere para si.
A partir dessa consideração, apontemos os seguintes meios e intervenção do
Estado: a servidão administrativa, requisição, ocupação temporária,
limitação administrativa, tombamento e desapropriação.

6.1. SERVIDÃO ADMINISTRATIVA

Autoriza o Estado usar a propriedade imóvel de particular para permitir a


execução de obras e serviços de interesse coletivo. Constitui um direito real
público, devendo ser inscrita no Registro de Imóveis para produzir eficácia erga
omnes. Ex.: instalação de redes elétricas em terreno privado. Por inexistir perda
da propriedade, a indenização somente será cabível em caso de danos ou
prejuízos ao imóvel, cabendo o ônus da prova ao proprietário.

(MPE-SP | 2015): A servidão administrativa constitui direito


V real de uso sobre coisa alheia, em favor de entidade pública
ou delegada, com finalidade pública.
. (MPE-SP | 2015): A servidão administrativa retira a
F propriedade do particular.

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44
6.2. REQUISIÇÃO
É a modalidade de intervenção estatal, através da qual o Poder Público utiliza
bens móveis, imóveis e serviços particulares em situação de perigo público
iminente, podendo servir para fins civis e militares (art. 5º, XXV, da CF). Ex.:
epidemias, catástrofes, conflito armado, etc.

6.3. OCUPAÇÃO TEMPORÁRIA


Consiste em forma de intervenção estatal, pela qual o Estado usa,
temporariamente, imóveis privados, como meio de apoio à execução de obras e
serviços públicos. Ex.: ocupação temporária de terrenos de particulares
contíguos a estradas em construção para alocação de equipamentos para a
execução da obra.

(MPE-GO | 2016): Requisição é a modalidade de intervenção


estatal na propriedade, através da qual o Estado utiliza,
F transitoriamente, imóveis privados, como meio de apoio à
execução de obras e serviços públicos.

6.4. LIMITAÇÕES ADMINISTRATIVAS

São determinações de caráter geral, por meio das quais o Estado impõe a
proprietários indeterminados obrigações positivas (ex.: imposição de limpeza de
terreno), negativas (ex.: limitação na construção de um determinado número de
andares de um prédio) ou permissivas (ex.: para sujeitar as propriedades à
função social. É salutar mencionar que diversas limitações administrativas
possuem origem em leis e atos de natureza urbanística, como, por exemplo, os
arts. 182 e 183 da CF e a Lei nº 10.257 (Estatuto da Cidade). Dentre essas
limitações, é válido destacar o direito de preempção municipal, pelo qual é
assegurada ao Município a preferência para aquisição de imóvel urbano objeto
de alienação onerosa entre particulares (art. 25 do Estatuto da Cidade), direito,
este, que será exercido diante das necessidades dispostas no art. 26 da
mencionada lei.

(MPE-MG | 2017 | FUNDEP (adaptada)): É correto afirmar que


V
o direito à preempção municipal é uma limitação administrativa.

6.5. TOMBAMENTO

Através deste que o Poder Público visa proteger o patrimônio cultural brasileiro,
podendo recair sobre bairros, cidades, bens imóveis ou bens móveis. Encontra-
se expressamente previsto no art. 216, §1º, da CF. O tombamento pode ser
voluntário ou compulsório, provisório ou definitivo. O tombamento
voluntário ocorre quando o proprietário consente com o tombamento, enquanto
que o compulsório ocorre quando o Poder Público realiza o tombamento com
a resistência do proprietário. Por sua vez, o tombamento provisório ocorre

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45
quando o procedimento administrativo de tombamento está em curso, já o
definitivo ocorre após a conclusão do processo.

(MPE-RO | 2017 | FMP Concursos): O tombamento só dá causa


F à obrigação de conservação da coisa pelo proprietário quando se
dê em caráter definitivo, após sua inscrição em livro próprio.

O tombamento gera uma série de efeitos no que tange ao uso e à alienação do


bem: a) vedação ao proprietário, ou o usuário, destruir, demolir ou mutilar o bem;
b) o proprietário somente poderá reparar, pintar ou restaurar após a devida
autorização do Poder Público; c) obrigação de conservar o bem e, não dispondo
de recursos, deverá comunicar ao órgão competente para executar as medidas
necessárias para conservação; d) o Poder Público pode, independentemente de
autorização, tomar a iniciativa de fazer obras de execução em caso de urgência;
e) em caso de alienação, o Poder Público possui o direito de preferência; f) não
há obrigatoriedade do Poder Público indenizar o proprietário do imóvel, exceto
quando o proprietário comprovar que o tombamento causou-lhe prejuízo; g) em
relação aos bens móveis, estes só poderão sair do país com autorização do
Poder Público, por curto prazo, sem transferência do domínio e com fins de
intercâmbio cultural.

As coisas tombadas, que pertençam à União, aos Estados ou aos Municípios,


inalienáveis por natureza, só poderão ser transferidas de uma à outra das
referidas entidades (art. 11 do Decreto-Lei nº 25/37).

F (MPE-RO | 2017 | FMP Concursos): O reparo de bens tombados


dependerá apenas de notificação à autoridade competente.

(MPE-RO | 2017 | FMP Concursos): A proibição de destruição,


demolição ou mutilação de bens tombados implica restrições ao
F
direito de propriedade, que podem ser afastadas apenas com
autorização administrativa específica.

(MPE-RO | 2017 | FMP Concursos): O tombamento, quando


F
compulsório, dá causa ao direito de indenização do proprietário da
coisa tombada.

(MPE-RR | 2017 | CESPE (adaptada): O bem de propriedade


particular tombado pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico
F
Nacional poderá sair do país se houver transferência de domínio.

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(MPE-GO | 2016): As coisas tombadas, que pertençam à União,
aos Estados ou aos Municípios, podem ser alienadas a
F
particulares, desde que autorizado judicialmente.

6.6. DESAPROPRIAÇÃO
Procedimento pelo qual o Poder Público transfere para si a propriedade de
terceiro, em razão de utilidade pública (conveniência do Estado), necessidade
pública (situações de emergência) ou de interesse social (relativo à função
social da propriedade), mediante, via de regra, o pagamento de indenização¸
vide art. 5º, XXIV, da CF.

Além da previsão constitucional mencionada, a Carta Magna dispõe de


previsões específicas de desapropriações, sendo elas a desapropriação
urbanística (art. 182, § 4º, III), a desapropriação rural (art. 184) e a
desapropriação confiscatória (art. 204). A desapropriação urbanística
possui caráter sancionatório ao proprietário que não promove o aproveitamento
adequado de sua propriedade e é indenizável mediante títulos da dívida pública.
Já, a desapropriação rural incide sobre imóveis rurais destinados à reforma
agrária, sendo o expropriante exclusivo a União, e é indenizável mediante
títulos da dívida agrária. Por último, a desapropriação confiscatória decorre da
constatação de culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou exploração de
trabalho escravo, sendo incabível qualquer tipo de indenização.

(MPE-GO | 2016): Os Estados-membros e os Municípios, em


situações excepcionais, devidamente justificadas, dispõem do
F
poder de desapropriar imóveis rurais, por interesse social, para
efeito de reforma agrária, especialmente quando para fins de
implementação de projetos de assentamento rural ou de
estabelecimento de colônias agrícolas.
(MPE-MS | 2015 | FAPEC): A desapropriação em nenhuma
F
hipótese pode se dar sem justa indenização.
.
Em sede infraconstitucional, devemos dar destaque, também, a desapropriação
por zona (art. 4º do Decreto-Lei nº 3.365/41). Ela abrange áreas contíguas
necessárias ao desenvolvimento da obra realizada pela Administração, bem
como aquelas que se valorizaram extraordinariamente em
virtude dessa obra.

(MPE-SC | 2016): A desapropriação por zona em razão da


valorização extraordinária dos terrenos vizinhos se configura
F como especulação imobiliária, contrária ao atual texto
constitucional que, para esses casos, estabelece o dever de o
Poder Público valer-se da contribuição de melhoria.

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Em regra, a desapropriação pode ter como objeto bem móvel ou imóvel (art. 2º
do Dec. lei nº 3365/41), dotado de valoração patrimonial, pelas entidades da
federação. Inclusive, bens públicos podem ser desapropriados, desde que a
intervenção ocorra pelo ente federativo de maior abrangência territorial para o
menos abrangente e desde que exista lei, editada pelo ente que providenciará o
ato (art. 2º, §2º).

(MPE-MS | 2015 | FAPEC): Havendo interesse público


F predominante, os Estados poderão desapropriar bens públicos
federais, e os Municípios poderão desapropriar os Estaduais

O procedimento administrativo de desapropriação é composto emduas


grandes fases: a declaratória, na qual o Poder Público manifesta a sua vontade
de desapropriar; e a fase executória, na qual são adotadas as providencias para
a transferência do bem. A fase declaratória começa com a “declaração
expropriatória”. A declaração ocorre por meio de decreto do Chefe do
Executivo, também se admitindo a iniciativa pelo Poder Legislativo (art. 8º do
Decreto-Lei 3.365/1941). Com a publicação do decreto, as autoridades
administrativas estão autorizadas a penetrar nos prédios; tem-se o início da
contagem do prazo para a caducidade do ato; e indicação do estado do bem
para fins de futura indenização. Em relação à caducidade, o prazo em caso de
declaração de utilidade pública é de 5 (cinco) anos e por interesse social é
de 2 (dois) anos. Por sua vez, na fase executória, a transferência pode ocorrer
na via administrativa se houver acordo entre o Poder Público e o
proprietário. Não ocorrendo acordo, a via judicial poderá ser utilizada, na qualsó
se poderá discutir se houve vício no processo ou impugnar o valor da
indenização.

(MPE-MS | 2015 | FAPEC): A desapropriação por utilidade


pública deverá efetivar-se mediante acordo ou intentar-se
F judicialmente, dentro de dois anos, contados da data da
expedição do respectivo decreto, e findos os quais este caducará.

Caso não subsistam os motivos que provocaram a iniciativa do processo


expropriatório, pode o Poder Público desistir da desapropriação, inclusive no
curso da ação judicial. O expropriado não pode opor-se à desistência, mas terá
direito à indenização por todos os prejuízos causados pelo expropriante. Outro
ponto que merece destaque é a chamada Desapropriação indireta. É o fato
administrativo por meio do qual o Estado se apropria de bem particular, sem
observância dos requisitos da declaração e da indenização prévia. Ex.:
apropriação de áreas privadas pela administração pública para a abertura de
estradas sem processo pertinente e sem o prévio pagamento de indenização.
Nesse caso, mesmo sendo nulo o processo de desapropriação o proprietário não
terá direito ao retorno do bem ao seu patrimônio, só podendo postular em juízo
a reparação pelas perdas e danos (art. 35 do Dec.-Lei).

(MPE-MS | 2015 | FAPEC): A denominada “desapropriação


indireta”, muito comum em nosso país, é uma espécie de
F

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desapropriação de fato, permitida pela legislação brasileira,
indenizável em até cinco anos.

Outra figura importante é a tredestinação. Ocorre quando o Poder Público


expropriante dá ao bem desapropriado uma destinação diferente da prevista
inicialmente. Pode ser lícita ou ilícita. A primeira ocorre quando há a
manutenção do interesse público. Ex.: desapropriação para a construção de
uma escola e no lugar é construído um hospital. Já, a segunda ocorre quando
há o desvio de finalidade e a não observância ao interesse público, ao que a
desapropriação será considerada nula com direito a reintegração do bem. Por
fim, a retrocessão é a reversão do procedimento expropriatório devolvendo-se
o bem ao antigo dono, pelo preço atual, se não lhe for atribuída
uma destinação pública, vide art. 519 do Código Civil.

(MPE-MG | 2017 | CESPE (adaptada)): Concluído determinado


processo de desapropriação, com o pagamento integral do valor
e a incorporação do bem ao patrimônio do poder público, este
decidiu devolver o bem expropriado ao antigo dono, por não lhe
V ter sido atribuída a destinação prevista no decreto expropriatório
nem qualquer outra destinação pública.
Essa reversão do procedimento expropriatório é denominada
retrocessão.

QUESTÃO INÉDITA

No que se refere às modalidades de intervenção na propriedade privada,


é correto afirmar:
A) Nas servidões administrativas, o Poder Público deverá sempre indenizar o
proprietário do imóvel.
B) A servidão administrativa produzirá efeito erga omnes mesmo sem a
inscrição no Registro e Imóveis.
C) Através da limitação administrativa, o Poder Público impõe a proprietários
determinados obrigação de fazer ou de não fazer, com o fim de que a
propriedade atenda a sua função social.
D) Antes de alienar o bem tombado, o proprietário deve notificar o Estado e o
Município para exercerem, dentro de vinte dias, seu direito de preferência.
E) Constatada a desapropriação indireta, o ex-proprietário não poderá reaver
o seu patrimônio, apenas postular em juízo reparação pelas perdas e danos
causados pelo expropriante.

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Comentários:
a) FALSO – a indenização só será devida pelos danos ou prejuízos que o uso
por parte do Poder Público efetivamente causar;
b) FALSO – por constituírem direito real de uso em favor do Estado, devem
ser inscritas no Registro de Imóveis para produção de efeitos erga omnes;
c) FALSO – as limitações administrativas consistem em determinações de
caráter geral destinadas a proprietários indeterminados;
d) FALSO – o proprietário que pretende alienar o bem também deve notificar
a União. Além disso, o prazo para exercício do direito de preferência é de trinta
dias;
e) VERDADEIRO

Intervenção do
Toda a atuação estatal que, consoante lei, vise ajustar a
Estado na
propriedade aos moldes da sua função social.
Propriedade
Privada

Autoriza o Estado usar a propriedade imóvel de particular


Servidão
para permitir a execução de obras e serviços de interesse
Administrativa
coletivo. Constitui um direito real público.

Autoriza o Poder Público utilizar bens móveis, imóveis e


Requisição
serviços particulares em situação de perigo público
iminente.
Ocupação O Estado usa, temporariamente, imóveis privados, como
Temporária meio de apoio à execução de obras e serviços públicos.
Limitações
Determinações de caráter geral, por meio das quais o
Administrativas
Estado impõe a proprietários indeterminados obrigações

Através deste que o Poder Público visa proteger o


Tombamento
patrimônio cultural brasileiro, podendo recair sobre
bairros, cidades, bens imóveis ou bens móveis.

Procedimento pelo qual o Poder Público transfere para si


a propriedade de terceiro, em razão de utilidade pública,
necessidade pública ou de interesse social mediante,
via de regra, o pagamento de indenização¸ vide art. 5º,
XXIV, da CF.
Desapropriação

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Desapropriação urbanística: possui caráter
sancionatório ao proprietário que não promove o
aproveitamento adequado de sua propriedade.
Desapropriação rural: incide sobre imóveis rurais
destinados à reforma agrária ou fim compatível com a
política agrícola e fundiária.
Desapropriação confiscatória: decorre da constatação
de culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou exploração
de trabalho escravo.

7. AGENTES PÚBLICOS

7.1. REGIME JURÍDICO DOS SERVIDORES PÚBLICOS CIVIS FEDERAIS:


LEI Nº 8.112/90

Os agentes públicos são pessoas físicas incumbidas de uma função estatal, de


maneira transitória ou definitiva, com ou sem remuneração. O conceito é amplo,
abrange todas as pessoas que de uma maneira ou de outra prestam um
serviço público, ou seja, desde os titulares dos poderes do Estado até pessoas
que se vinculam contratualmente com o Poder Público como é o caso dos
concessionários.
Espécies de Agentes Públicos:
Agentes Políticos: exercem atribuições constitucionais. Ocupam os cargos
dos órgãos independentes (que representam os poderes do Estado) e dos
órgãos autônomos (que são os auxiliares imediatos dos órgãos independentes).
Exercem funções e mandatos temporários. Não são funcionários nem servidores
públicos, exceto para fins penais, caso cometam crimes contra a Administração
Pública; (Ex.: Presidente, Governador, Deputado, Senador, membros do
Ministério Público e membros do Tribunal de Contas etc.).
Agentes Administrativos: são os agentes públicos que se vinculam à
Administração Pública Direta ou às Autarquias por relações profissionais.
Sujeitam-se à hierarquia funcional.
Agentes Delegados: são os particulares que exercem funções delegadas
da Administração Pública, e que são os serviços concedidos, permitidos e
autorizados. Respondem criminalmente como funcionários públicos pelos crimes
que cometerem no exercício de sua função; A Administração Pública responde
pelos danos causados a terceiros, por este agente, voltando-se, depois, contra
o agente público delegado. (Ex.: concessionários, permissionários, cartorários,
leiloeiros, tradutores, etc.).
Agentes Honoríficos: são os agentes convocados ou nomeados para
prestarem serviços de natureza transitória, sem vínculo empregatício, e, em
geral, sem remuneração. Constituem os munus publicos (serviços relevantes).
Enquanto exercerem a função; Submetem-se à hierarquia e são considerados
funcionários públicos para fins penais. (Ex.: jurados, comissários de menores,
mesários eleitorais, etc.).

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51
Servidores Públicos: São todas as pessoas físicas que mantêm relação de
trabalho com a Administração Pública, direta, indireta, autárquica e fundacional.
Os servidores Públicos constituem uma espécie de Agentes Públicos.
Espécies de Servidores Públicos:
Estatutários (Funcionários Públicos) - possuem CARGOS
Empregados Públicos (Celetistas) - possuem EMPREGOS
Servidores Temporários - possuem FUNÇÃO
Cargos - são as mais simples e indivisíveis unidades de competência a serem
expressas por um agente público, previstos em número certo, com determinação
própria e remunerados por pessoas jurídicas de direito público, devendo ser
criados por Lei.
Empregos - são núcleos de encargo de trabalho a serem preenchidos por
agentes contratados para desempenhá-los sob uma relação trabalhista
(celetista). Sujeitam-se a uma disciplina jurídica que embora sofra algumas
influências, basicamente são aquelas aplicadas aos contratos trabalhistas em
geral.
Função - é a atribuição ou conjunto de atribuições que a Administração confere
a cada categoria profissional, ou comete individualmente a determinados
servidores para a execução de serviços eventuais ou temporários.

7.2. PROVIMENTO, VACÂNCIA, REMOÇÃO, REDISTRIBUIÇÃO E


SUBSTITUIÇÃO

DO PROVIMENTO
Segundo o artigo 5º da Lei nº 8.112/90, a qual dispõe sobre o regime jurídico
dos Servidores Públicos Civis Federais, são requisitos básicos para investidura
em cargo público:
I – a nacionalidade brasileira;
II – o gozo dos direitos políticos;
III – a quitação com as obrigações militares e eleitorais;
IV – o nível de escolaridade exigido para o exercício do cargo;
V – a idade mínima de dezoito anos;
VI – aptidão física e mental.
Vale lembrar que há 20% (vinte por cento) de reserva de vaga para portadores
de deficiência, bem como que a investidura em cargo público ocorrerá com a
posse.
São formas de provimento de cargo público (Art. 8º):
Nomeação
Promoção
Readaptação
Reversão
Aproveitamento
Reintegração
Recondução

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52
Nomeação
A nomeação se dá em caráter efetivo, quando se tratar de cargo isolado de
provimento efetivo ou de carreira, ou em comissão, inclusive na condição de
interino, para cargos de confiança vagos. Quando a nomeação é para cargo
de carreira ou cargo isolado de provimento efetivo depende de prévia
habilitação em concurso público de provas ou de provas e títulos, obedecidos
a ordem de classificação e o prazo de sua validade. Lembrando que o concurso
público terá validade de até 2 (dois) anos, podendo ser prorrogado uma única
vez, por igual período.

- Da Posse e do Exercício
A posse dar-se-á pela assinatura do respectivo termo, no qual deverão
constar as atribuições, os deveres, as responsabilidades e os direitos inerentes
ao cargo ocupado, que não poderão ser alterados unilateralmente, por qualquer
das partes, ressalvados os atos de ofício previstos em lei. Só poderá ser
empossado aquele que for julgado apto física e mentalmente para o exercício do
cargo.
A promoção não interrompe o tempo de exercício, que é contado no novo
posicionamento na carreira a partir da data de publicação do ato que promover
o servidor.
Ao entrar em exercício, o servidor nomeado para cargo de provimento efetivo
ficará sujeito a estágio probatório por período de 24 (vinte e quatro) meses,
durante o qual a sua aptidão e capacidade serão objeto de avaliação para o
desempenho do cargo, observados os seguintes fatores (art. 20 da Lei nº
8.112/90):
I – assiduidade;
II – disciplina;
III – capacidade de iniciativa;
IV – produtividade;
V- responsabilidade.
O servidor não aprovado no estágio probatório será exonerado ou, se
estável, reconduzido ao cargo anteriormente ocupado, observado o disposto no
parágrafo único do art. 29. Vale salientar que, segundo a Súmula nº 686 do
STF, só por lei se pode sujeitar a exame psicotécnico a habilitação de candidato
a cargo público.

- Da Estabilidade
Conforme o art. 41 da Constituição Federal, com a redação dada pela Emenda
Constitucional nº 19, de 4-6-1998, “são estáveis após três anos de efetivo
exercício os servidores nomeados para cargo de provimento efetivo em virtude
de concurso público”. Segundo a Súmula nº 20 do STF, o servidor estável só
perderá o cargo em virtude de sentença judicial transitada em julgado ou de
processo administrativo disciplinar no qual lhe seja assegurada ampla defesa.

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53
Promoção
Segundo o artigo 29 da Lei nº 3.780/60, “Promoção é a elevação do
funcionário, pelos critérios de merecimento e antiguidade, à classe
superior dentro da mesma série de classes (…)”.
Ou seja, é a passagem do servidor de um último padrão de uma classe ou
categoria para o primeiro padrão da classe ou categoria que se encontra
imediatamente superior a sua Carreira Funcional, mediante avaliação de
desempenho, observado o interstício mínimo de 02 (dois) anos de efetivo
exercício no cargo em relação à progressão imediatamente anterior.

Readaptação
Readaptação é a investidura do servidor em cargo de atribuições e
responsabilidades compatíveis com a limitação que tenha sofrido em sua
capacidade física ou mental verificada em inspeção médica. Se julgado
incapaz para o serviço público, o readaptando será aposentado.

Reversão
Reversão, segundo o art. 25 da Lei nº 8.112/90, é o retorno à atividade de
servidor aposentado:
I – por invalidez, quando junta médica oficial declarar insubsistentes os motivos
da aposentadoria;
II – no interesse da administração
a) tenha solicitado a reversão;
b) a aposentadoria tenha sido voluntária; c) estável quando na atividade; d) a
aposentadoria tenha ocorrido nos cinco anos anteriores à solicitação;
e) haja cargo vago.
A reversão far-se-á no mesmo cargo ou no cargo resultante de sua
transformação, e não poderá reverter o aposentado que já tiver completado
70 (setenta) anos de idade.

Aproveitamento
O retorno à atividade de servidor em disponibilidade far-se-á mediante
aproveitamento obrigatório em cargo de atribuições e vencimentos
compatíveis com o anteriormente ocupado (art. 30 da Lei nº 8.112/90).
O órgão Central do Sistema de Pessoal Civil determinará o imediato
aproveitamento de servidor em disponibilidade em vaga que vier a ocorrer nos
órgãos ou entidades da Administração Pública Federal (art. 31 da Lei nº
8.112/90).
Será tornado sem efeito o aproveitamento e cassada a disponibilidade se o
servidor não entrar em exercício no prazo legal, salvo doença comprovada por
junta médica oficial (art.32 da Lei nº 8.112/90).

Reintegração
A reintegração, segundo o art. 28 da Lei nº 8.112/90, é a “reinvestidura” do
servidor estável no cargo anteriormente ocupado, ou no cargo resultante de
sua transformação, quando invalidada a sua demissão por decisão

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54
administrativa ou judicial, com ressarcimento de todas as vantagens. Na
hipótese de o cargo ter sido extinto, o servidor ficará em disponibilidade.
Encontrando-se provido o cargo, o seu eventual ocupante será reconduzido ao
cargo de origem, sem direito à indenização ou aproveitado em outro cargo, ou,
ainda, posto em disponibilidade.

Recondução
Recondução é o retorno do servidor estável ao cargo anteriormente
ocupado e decorrerá de (art. 29):
I – inabilitação em estágio probatório relativo a outro cargo;
II – reintegração do anterior ocupante.
Encontrando-se provido o cargo de origem, o servidor será aproveitado em outro.

DA VACÂNCIA
Art. 33 (Lei nº: 8.112/90): A vacância do cargo público decorrerá de:
I – exoneração;
II – demissão;
III – promoção;
IV – readaptação;
V – aposentadoria;
VI – posse em outro cargo inacumulável;
VII – falecimento.
A exoneração de cargo efetivo dar-se-á a pedido do servidor, ou de ofício.
Sendo, de ofício (art.34):
I – quando não satisfeitas as condições do estágio probatório;
II – quando, tendo tomado posse, o servidor não entrar em exercício no prazo
estabelecido.
A exoneração de cargo em comissão e a dispensa de função de confiança
dar-se-á (art.35):
I – a juízo da autoridade competente;
II – a pedido do próprio servidor.

DA REMOÇÃO
Remoção, de acordo com o art. 36 (Lei nº: 8.112/90): é o deslocamento do
servidor, a pedido ou de ofício, no âmbito do mesmo quadro, com ou sem
mudança de sede.
Modalidades de remoção:
I – de ofício, no interesse da Administração;
II – a pedido, a critério da Administração;
III – a pedido, para outra localidade, independentemente do interesse da
Administração:
a) para acompanhar cônjuge ou companheiro, também servidor público
civil ou militar, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, que foi deslocado no interesse da Administração;
(Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
b) por motivo de saúde do servidor, cônjuge, companheiro ou dependente
que viva às suas expensas e conste do seu assentamento funcional,

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55
condicionada à comprovação por junta médica oficial; (Incluído pela Lei nº 9.527,
de 10.12.97)
c) em virtude de processo seletivo promovido, na hipótese em que o número
de interessados for superior ao número de vagas, de acordo com normas
preestabelecidas pelo órgão ou entidade em que aqueles estejam lotados.
(Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)

DA REDISTRIBUIÇÃO
Redistribuição segundo o art. 37 (Lei nº: 8.112/90): é o deslocamento de cargo
de provimento efetivo, ocupado ou vago no âmbito do quadro geral de pessoal,
para outro órgão ou entidade do mesmo Poder, com prévia apreciação do
órgão central do SIPEC, observados os seguintes preceitos:
I – interesse da administração;
II – equivalência de vencimentos;
III – manutenção da essência das atribuições do cargo;
IV – vinculação entre os graus de responsabilidade e complexidade das
atividades;
V – mesmo nível de escolaridade, especialidade ou habilitação profissional;
VI – compatibilidade entre as atribuições do cargo e as finalidades institucionais
do órgão ou entidade. A redistribuição ocorrerá ex officio para ajustamento de
lotação e da força de trabalho às necessidades dos serviços, inclusive nos
casos de reorganização, extinção ou criação de órgão ou entidade (em que
o servidor estável que não for redistribuído será colocado em disponibilidade, até
seu aproveitamento na forma dos arts. 30 e 31).

DA SUBSTITUIÇÃO
Os servidores investidos em cargo ou função de direção ou chefia e os
ocupantes de cargo de Natureza Especial terão substitutos indicados no
regimento interno ou, no caso de omissão, previamente designados pelo
dirigente máximo do órgão ou entidade.
O substituto assumirá automática e cumulativamente, sem prejuízo do
cargo que ocupa, o exercício do cargo ou função de direção ou chefia e os de
Natureza Especial, nos afastamentos, impedimentos legais ou regulamentares
do titular e na vacância do cargo, hipóteses em que deverá optar pela
remuneração de um deles durante o respectivo período.
O substituto fará jus à retribuição pelo exercício do cargo ou função de
direção ou chefia ou de cargo de Natureza Especial, nos casos dos
afastamentos ou impedimentos legais do titular, superiores a trinta dias
consecutivos, paga na proporção dos dias de efetiva substituição, que
excederem o referido período.

7.3. DIREITOS E VANTAGENS

VENCIMENTO E REMUNERAÇÃO
Vencimento é a retribuição pecuniária pelo exercício de cargo público, com valor
fixado em lei.

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O vencimento do cargo efetivo, acrescido das vantagens de caráter
permanente, é irredutível, e é assegurada a isonomia de vencimentos para
cargos de atribuições iguais ou assemelhadas do mesmo Poder, ou entre
servidores dos três Poderes, ressalvadas as vantagens de caráter individual e
as relativas à natureza ou ao local de trabalho.
Remuneração é o vencimento do cargo efetivo, nunca inferior ao salário
mínimo, acrescido das vantagens pecuniárias permanentes estabelecidas em
lei.

Salvo por imposição legal ou mandado judicial, nenhum desconto


incidirá sobre a remuneração ou provento, porém, mediante autorização do
servidor, poderá haver consignação em folha de pagamento a favor de
terceiros, a critério da administração e com reposição de custos, na forma
definida em regulamento.
O vencimento, a remuneração e o provento não serão objetos de arresto,
sequestro ou penhora, exceto nos casos de prestação de alimentos
resultante de decisão judicial.

VANTAGENS
Além do vencimento, poderão ser pagas ao servidor as seguintes vantagens:
Indenizações, Gratificações e Adicionais.
As indenizações não se incorporam ao vencimento ou provento para
qualquer efeito, enquanto as gratificações e os adicionais incorporam-se ao
vencimento ou provento, nos casos e condições indicados em lei.
Indenizações: ajuda de custo, diárias, vale-transporte, auxílio-moradia.
Gratificações e adicionais: Retribuição pelo exercício de chefia, gratificação
natalina, adicional insalubre, adicional pela prestação de serviço extraordinário,
adicional noturno, adicional de férias, gratificação por encargo de curso ou
concurso, outros (relativos ao local ou natureza do trabalho).

O art. 229 da Lei 8.112/90 prevê a concessão de auxílio-reclusão para os


dependentes dos servidores públicos federais que estiverem presos. Ao
contrário do auxílio-reclusão do RGPS, previsto no art. 201, IV, da CF/88, o
auxílio-reclusão da Lei 8.112/90 não exige que o servidor público preso seja
enquadrado como pessoa de baixa renda. O art.13 da EC 20/98 traz uma regra
para que o segurado seja considerado de "baixa renda" para fins de
pagamento do auxílio-reclusão. Essa regra, contudo, somente vale para
servidores públicos que forem vinculados ao RGPS. Assim, para a concessão

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do auxílio-reclusão da Lei 8.112/90 não se aplica aos servidores públicos
estatutários ocupantes de cargos efetivos a exigência de baixa renda prevista
no art. 13 da EC 20/98. Dessa forma, conclui-se que o art. 13 da EC 20/98 não
afeta a situação jurídica dos servidores ocupantes de cargo público de
provimento efetivo, mas apenas dos servidores vinculados ao RGPS, isto é,
empregados públicos, contratados temporariamente e ocupantes de cargos
exclusivamente em comissão. (STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.510.425-RJ,
Rei. Min. Humberto Martins, julgado em 16/4/2015 {lnfo 560).

FÉRIAS
O servidor fará jus a 30 (trinta) dias de férias, que podem ser acumuladas,
até o máximo de dois períodos, no caso de necessidade do serviço,
ressalvadas as hipóteses em que haja legislação específica. Para o primeiro
período aquisitivo de férias serão exigidos 12 (doze) meses de exercício, e é
vedado levar à conta de férias qualquer falta ao serviço (art. 77 da Lei nº
8.112/90).
As férias poderão ser parceladas em até três etapas, desde que assim
requeridas pelo servidor, e no interesse da administração pública e o pagamento
da remuneração das férias será efetuado até 2 (dois) dias antes do início do
respectivo período.

As férias somente poderão ser interrompidas por motivo de calamidade


pública, comoção interna, convocação para júri, serviço militar ou eleitoral, ou
por necessidade do serviço declarada pela autoridade máxima do órgão ou
entidade.
O servidor que opera direta e permanentemente com Raios X ou
substâncias radioativas gozará 20 (vinte) dias consecutivos de férias, por
semestre de atividade profissional, proibida em qualquer hipótese a
acumulação.

A administração pública deve proceder ao desconto dos dias de paralisação


decorrentes do exercício do direito de greve pelos servidores públicos,
em virtude da suspensão do vínculo funcional que dela decorre. É
permitida a compensação em caso de acordo. O desconto será, contudo,
incabível se ficar demonstrado que a greve foi provocada por conduta
ilícita do Poder Público. (STF. Plenário. RE 693456/RJ, Rei. Min. Dias Toffoli,
julgado em 27/10/2016 (repercussão geral) (lnfo 845).)

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LICENÇAS
Conceder-se-á ao servidor licença por motivo de doença em pessoa da
família (vedado exercício de atividade remunerada nesse período), por motivo
de afastamento do cônjuge ou companheiro, para o serviço militar, para
atividade política, para capacitação, para tratar de interesses particulares
e para desempenho de mandato classista.

7.4. REGIME DISCIPLINAR

DEVERES DO SERVIDOR
Os deveres consistem em um conjunto de regras comportamentais impostas.
São obrigações pessoais inafastáveis de fazer aquilo que se deve. O art. 116 da
Lei 8.112/90, estabelece que são deveres do servidor:
- o zelo e a lealdade;
- a observação das normas e regulamentos;
- o cumprimento de ordens superiores (desde que não ilegais);
- a atuação com presteza; a comunicação de irregularidades ao superior; o zelo
pelo patrimônio público;
- o sigilo sobre assuntos das repartições; a assiduidade e a pontualidade; a
conduta compatível com a moralidade administrativa;
- e a representação contra ilegalidade e abuso de poder, e o tratamento urbano
com as pessoas.

PROIBIÇÕES AO SERVIDOR
As proibições são justamente o oposto, ou seja, o dever de não agir. São normas
que prescrevem a proibição da prática de determinadas condutas.
Todavia, as duas formas normativas têm a mesma essência, pois são aplicadas
quando há o descumprimento de uma obrigação. Por sua vez, o art. 117 da Lei
8.112/90, enumera as proibições ao servidor público:
- se ausentar durante o expediente e tirar documentos da repartição, sem
autorização;
- praticar usura (avareza, mesquinhez);
- receber propina em razão de suas atribuições;
- manter sob sua chefia imediata, em cargo ou função de confiança, cônjuge,
companheiro ou parente até o segundo grau civil;
- utilizar pessoal ou recursos materiais da repartição em serviços ou atividades
particulares;
- aproveitar-se do cargo para ganho ou proveito;
- participar de gerencia ou administração de empresa privada, na forma da lei;
- exercer quaisquer atividades que sejam incompatíveis com o exercício do cargo
ou função e com o horário de trabalho;
- acumular, remuneradamente, vários cargos públicos.

ACUMULAÇÃO
Ressalvados os casos previstos na Constituição, é vedada a acumulação
remunerada de cargos públicos. A proibição de acumular estende-se a cargos,

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empregos e funções em autarquias, fundações públicas, empresas públicas,
sociedades de economia mista da União, do Distrito Federal, dos Estados, dos
Territórios e dos Municípios. A acumulação de cargos, ainda que lícita, fica
condicionada à comprovação da compatibilidade de horários.
O servidor vinculado ao regime da Lei 8.112/90, que acumular licitamente
dois cargos efetivos, quando investido em cargo de provimento em
comissão, ficará afastado de ambos os cargos efetivos, salvo na hipótese
em que houver compatibilidade de horário e local com o exercício de um deles,
declarada pelas autoridades máximas dos órgãos ou entidades envolvidas.

Nos casos autorizados constitucionalmente de acumulação de cargos,


empregos e funções, a incidência do art. 37, XI da Constituição Federal
pressupõe consideração de cada um dos vínculos formalizados, afastada a
observância do teto remuneratório quanto ao somatório dos ganhos do agente
público. STF. Plenário. RE 612975 MT e RE 602043/MT, Rel. Min. Marco
Aurélio, julgados em 26 e 27/04/2017 (repercussão geral) (Info 862).

RESPONSABILIDADES
O servidor responde civil, penal e administrativamente pelo exercício irregular de
suas atribuições (art. 121 da Lei 8.112/90).
A responsabilidade civil decorre de ato omissivo ou comissivo, doloso ou
culposo, que resulte em prejuízo ao erário ou a terceiros. Tratando-se de dano
causado a terceiros, responderá o servidor perante a Fazenda Pública, em ação
regressiva. A obrigação de reparar o dano estende-se aos sucessores e contra
eles será executada, até o limite do valor da herança recebida.
A responsabilidade penal abrange os crimes e contravenções imputadas ao
servidor, nessa qualidade. A responsabilidade civil-administrativa resulta de ato
omissivo ou comissivo praticado no desempenho do cargo ou função. As
sanções civis, penais e administrativas poderão cumular-se, sendo
independentes entre si.
A responsabilidade administrativa do servidor será afastada no caso de
absolvição criminal que negue a existência do fato ou sua autoria.

. PENALIDADES
São penalidades disciplinares: advertência, suspensão, demissão, cassação
de aposentadoria ou disponibilidade, destituição de cargo em comissão,
destituição de função comissionada.
Na aplicação das penalidades serão consideradas a natureza e a gravidade
da infração cometida, os danos que dela provierem para o serviço público,
as circunstâncias agravantes ou atenuantes e os antecedentes funcionais.
Quando houver conveniência para o serviço, a penalidade de suspensão
poderá ser convertida em multa, na base de 50% (cinquenta por cento) por dia

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60
de vencimento ou remuneração, ficando o servidor obrigado a permanecer em
serviço. A demissão será aplicada nos casos de crime contra a administração
pública, abandono de cargo, inassiduidade habitual, improbidade administrativa,
incontinência pública e conduta escandalosa, na repartição, insubordinação
grave em serviço, ofensa física, em serviço, a servidor ou a particular, salvo em
legítima defesa própria ou de outrem, aplicação irregular de dinheiros públicos,
revelação de segredo do qual se apropriou em razão do cargo, lesão aos cofres
públicos e dilapidação do patrimônio nacional, corrupção, acumulação ilegal de
cargos, empregos ou funções públicas, transgressão dos incisos IX a XVI do art.
117 da Lei 8.112/90. Será cassada a aposentadoria ou a disponibilidade do
inativo que houver praticado, na atividade, falta punível com a demissão.
Não poderá retornar ao serviço público federal o servidor que for demitido ou
destituído do cargo em comissão (crime contra a administração pública,
improbidade administrativa, aplicação irregular de dinheiros públicos, lesão aos
cofres públicos e dilapidação do patrimônio nacional e corrupção).

É possível a demissão de servidor por improbidade administrativa em processo


administrativo disciplinar. Infração disciplinar grave que constitui ato de
improbidade é causa de demissão do servidor, em processo
administrativo, independente de processo judicial prévio. (STJ. 3ª
Seção.MS 14.140-DF, Rei. Min. Laurita Vaz, julgado em 26/9/2012.)

As penalidades disciplinares serão aplicadas:

Pelo Presidente da República, pelos Presidentes das Casas do Poder


Legislativo e dos Tribunais Federais e pelo Procurador-Geral da República,
quando se tratar de demissão e cassação de aposentadoria ou
disponibilidade de servidor vinculado ao respectivo Poder, órgão ou
entidade.
Pelas autoridades administrativas de hierarquia imediatamente inferior
àquelas mencionadas no inciso anterior quando se tratar de suspensão
superior a 30 (trinta) dias.

Pelo chefe da repartição e outras autoridades na forma dos respectivos


regimentos ou regulamentos, nos casos de advertência ou de suspensão de
até 30 (trinta) dias. Pela autoridade que houver feito a nomeação, quando se
tratar de destituição de cargo em comissão.

7.5. PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR (PAD)

Fundamentado pelos artigos 143 a 182 da Lei nº 8.112/90, o processo


administrativo disciplinar é o instrumento destinado a apurar
responsabilidade de servidor público por infração praticada no exercício

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de suas atribuições, ou que tenha relação com as atribuições do cargo em
que se encontre investido, em caso de ilícitos que ensejam penalidades mais
severas do que a suspensão por trinta dias, incluindo demissão, cassação de
aposentadoria ou disponibilidade, e destituição de cargo em comissão.

Em resumo, o processo administrativo apresenta uma tríplice face: é


instrumento de exercício do poder, é instrumento de controle, e, por fim, é
instrumento de proteção dos direitos e garantias dos administrados.

Podendo ser dividido em três fases:


Instauração, com a publicação do ato que constituir a comissão;
Inquérito administrativo, que compreende instrução, defesa e relatório; e,
Julgamento, realizado pela autoridade instauradora.

O prazo para a conclusão do PAD não excederá 60 (sessenta) dias, contados


da data de publicação do ato que constituir a comissão, admitida a sua
prorrogação por igual prazo, quando as circunstâncias o exigirem.

Respeitados todos os aspectos processuais relativos à suspeição e


impedimento dos membros da Comissão Processante previstos pelas Leis
8.112/90 e 9.784/99, não há qualquer impedimento ou prejuízo material na
convocação dos mesmos servidores que anteriormente tenham integrado
Comissão Processante, cujo relatório conclusivo foi posteriormente anulado
(por cerceamento de defesa), para comporem a segunda Comissão de
Inquérito. Assim, não há qualquer impeditivo legal de que a comissão de
inquérito em processo administrativo disciplinar seja formada pelos
mesmos membros de comissão anterior que havia sido anulada. (STF.1ª
Turma. RMS 28774/DF, Rei. Orig. Min. Marco Aurélio, Red. p/ acórdão Min.
Roberto Barroso, julgado em 9/8/2016 (lnfo 834). STJ.1ª Seção.MS 16.192/DF,
Rei. Min. Mauro Campbell Marques. Julgado em 10/04/2013.)

A prova colhida mediante autorização judicial e para fins de investigação


ou processo criminal pode ser utilizada para instruir procedimento
administrativo punitivo. Assim, é possível que as provas provenientes de
interceptações telefônicas autorizadas judicialmente em processo criminal
sejam emprestadas para o processo administrativo disciplinar. (STF. 1ªTurma.
RMS 28774IDF, Rei. Orig. Min. Marco Aurélio, Red. pi acórdão Min. Roberto
Barroso, julgado em 91812016 (lnfo 834). STJ. 1'ª Seção. MS 16.146-DF, Rei.
Min. Eliana Calmon).

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7.6. SEGURIDADE SOCIAL DO SERVIDOR E REFORMA PREVIDENCIÁRIA

Seguridade social consiste num conjunto de ações e políticas sociais que


visam promover o estabelecimento de uma sociedade mais igualitária e
justa, auxiliando os cidadãos e suas famílias em determinadas situações, como
a velhice, o desemprego e a doença.

A seguridade social (ou segurança social) age como um sistema de proteção


social, assegurando às pessoas alguns direitos básicos relativos à três pilares
fundamentais (subsistemas, ou espécies):
Previdência: é especificamente encarregada pelo pagamento de
aposentadorias, pensões e benefícios;
Assistência Social: é o subsistema da seguridade composto por programas
do governo de apoio à hipossuficientes;
Saúde.

A seguridade social, de acordo com o texto constitucional, é custeada por


contribuições, as quais possuem natureza tributária. Isso vale também para a
seguridade do servidor, ou seja, o sistema da seguridade é custeado pelo
pagamento de tributos de pagamento compulsório, como ocorre com todo
tributo.

Então os servidores recolhem contribuições, sendo que estas custeiam o


sistema da seguridade e os seus três subsistemas.
Dessa forma, fica claro que quem goza de direitos previdenciários pela Lei
8.112/90 disciplinados, são os agentes públicos que ocupam cargo e
emprego efetivo junto a Administração Pública.

Outros que ficam excluídos, ainda que temporariamente, do plano de


Seguridade Social do servidor público, são os servidores efetivos afastados
ou licenciados que não recebem remuneração.

A Seguridade Social visa dar cobertura aos riscos a que estão sujeitos o servidor
e sua família, isto é, os beneficiários, tendo as seguintes finalidades (art. 184, da
8.112/90):
Garantir os meios de subsistência diante dos eventos: doença, velhice,
acidente em serviço, inatividade, falecimento e reclusão;
É como um seguro, pois cobre alguns riscos;
Proteção à maternidade, adoção e paternidade;
Assistência à saúde.

Dessa forma, os benefícios consistem em prestações pecuniárias pagas pela


Previdência Social aos segurados ou aos seus dependentes de forma a atender
a cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada;
maternidade e adoção; salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes
dos segurados de baixa renda; e pensão por morte do segurado, homem ou
mulher, ao cônjuge ou companheiro e dependentes.

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Conforme o Art. 185 e seguintes da Lei 8.112/90, os benefícios consistem em
prestações pecuniárias pagas pela Previdência Social aos segurados ou aos
seus dependentes de forma a atender a cobertura dos eventos de doença,
invalidez, morte e idade avançada; maternidade e adoção; salário-família e
auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda; e pensão
por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e
dependentes.

Quanto a Gratificação de desempenho de atividade da seguridade social


(GDASS), o STF fixou o entendimento de que o termo inicial para o pagamento
diferenciado das gratificações de desempenho entre os servidores ativos e
inativos é a data da homologação dos resultados das avaliações (RE nº
662.406/AL-RG). - Acórdão citado: (GRATIFICAÇÃO DE DESEMPENHO,
TERMO INICIAL E FINAL) RE 662406 RG, ARE 763627 AgR (1ªT), ARE
881402 AgR (2ªT), RE 691640 AgR-ED (1ªT). Número de páginas: 11. Análise:
18/01/2016, MJC. O Plano Para Seguridade Social (PSS) é verba de
natureza transitória e precária, com validade de até 4 anos, que não se
incorpora aos proventos de aposentadoria do servidor público. Segundo
o STF, adicional de qualificação por treinamento não corresponde a fato
gerador ou base de cálculo para contribuição previdenciária do regime próprio
de previdência social. Tributo indevido. (Re nº 883273 Agr / SC, rel. Min.
Cármen Lúcia)

AGENTES PÚBLICOS
AGENTES POLÍTICOS:
Membros de Poder; detentores de mandato eletivo; auxiliares do Chefe do
Poder Executivo nas três esferas de governo (Ministros de Estado,
Secretários Estaduais e Municipais)
MEMBROS DE CARREIRAS ESPECIAIS:
Magistrados; Membros do Ministério Público, do Tribunal de Contas, da
Defensoria Pública, da Advocacia Geral da União, dentre outros.
AGENTES ADMINISTRATIVOS:
a) Servidores Estatutários (efetivos ou comissionados) — ocupam cargo
público — seguem o Estatuto dos Servidores Públicos
b) Empregados Públicos — ocupam emprego público — seguem o
regime trabalhista, CLT

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64
c) Contratados Temporários — exercem “função pública” — seguem
regime administrativo especial — casos de excepcional interesse público
(calamidade, epidemia, censo)
PARTICULARES EM COLABORAÇÃO COM A ADMINISTRAÇÃO:
a) Honoríficos — mesários e jurados
b) Delegados
c) Credenciados
AGENTES MILITARES:
Desde a EC n. 18/98, não se incluem mais na categoria de servidores
públicos em sentido estrito.

Assinale a opção correta a respeito de servidor público,


agente público, empregado público e das normas do regime
estatutário e legislação correlata.
A) O processo administrativo disciplinar somente pode ser
instaurado por autoridade detentora de poder de polícia.
B) Nomeação, promoção e ascensão funcional são formas
válidas de provimento de cargo público.
C) Empregado público é o agente estatal, integrante da
administração indireta, que se submete ao regime
estatutário.
D) A vacância de cargo público pode decorrer da
exoneração de ofício de servidor, quando não satisfeitas as
condições do estágio probatório.
E) Para os efeitos de configuração de ato de improbidade
administrativa, não se considera agente público o
QUESTÃO 1 empregado de empresa incorporada ao patrimônio público
municipal que não seja servidor público.

GABARITO COMENTADO: Letra D


a) INCORRETA: Qualquer autoridade administrativa poderá
instaurar o processo administrativo disciplinar, desde que
esteja legalmente investida de tal competência. Ademais,
frise-se que o PAD não está ligado ao exercício do poder de
polícia, e sim do poder disciplinar.
b) INCORRETA: Nomeação e promoção, de fato, são
formas válidas de provimento de cargo público, mas
ascensão funcional não é. Tal forma de provimento foi

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considerada inconstitucional pelo STF, pois representava
afronta à exigência de concurso público para o acesso a
cargos públicos.
c) INCORRETA: Empregado público se submete ao regime
celetista, e não ao estatutário.
d) CORRETA: De acordo com o art. 33 da Lei 8.112/90, a
exoneração é uma forma de vacância. Já o art. 34 da
mesma lei diz o seguinte:
Art. 34. A exoneração de cargo efetivo dar-se-á a pedido do
servidor, ou de ofício.
Parágrafo único. A exoneração de ofício dar-se-á:
I – quando não satisfeitas as condições do estágio
probatório;
II – quando, tendo tomado posse, o servidor não entrar em
exercício no prazo estabelecido.
e) INCORRETA: A resposta está nos art. 1º e 2º da Lei
8.429/92 (Lei de Improbidade Administrativa):
Art. 1° Os atos de improbidade praticados por qualquer
agente público, servidor ou não, contra a administração
direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da
União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, de
Território, de empresa incorporada ao patrimônio público ou
de entidade para cuja criação ou custeio o erário haja
concorrido ou concorra com mais de cinquenta por cento do
patrimônio ou da receita anual, serão punidos na forma
desta lei. (…)
Art. 2° Reputa-se agente público, para os efeitos desta lei,
todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem
remuneração, por eleição, nomeação, designação,
contratação ou qualquer outra forma de investidura ou
vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades
mencionadas no artigo anterior.

8. LICITAÇÕES E CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

8.1 LICITAÇÕES PÚBLICAS


7.1. LICITAÇÕES PÚBLICAS
8.1.1. INTRODUÇÃO
Licitação é um procedimento administrativo, de observância obrigatória pelas
entidades governamentais, em que, observada a igualdade entre os
participantes, deve ser selecionada a melhor proposta dentre as apresentadas

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pelos interessados para a celebração de contrato administrativo para realização
de obras, serviços, concessões, permissões, compras, alienações ou locações
(art. 37, XXI, e art. 175, ambos da CF).

Um dos princípios que rege a licitação é o princípio da publicidade dos atos,


o qual determina que a licitação será pública e acessível ao público, salvo
quanto ao conteúdo das propostas, até a respectiva abertura (art. 3º, §3º, da Lei
8.666/93). Desse modo, qualquer cidadão terá direito a acompanhar o
desenvolvimento do certame, incluindo o direito à fiscalização (art. 4º).

(MPE-RS | 2014): As licitações não terão caráter sigiloso, salvo


quanto ao conteúdo das propostas que vierem a ser
V
apresentadas e, apenas, até a respectiva abertura.

(MPE-GO | 2014): Todos quantos participem de licitação


promovida pelos órgãos ou entidades da Administração
Pública têm direito público subjetivo à fiel observância do
pertinente procedimento provindo das normas jurídicas que
V
regulam as licitações e os contratos da Administração Pública,
podendo qualquer cidadão acompanhar o seu
desenvolvimento, desde que não interfira de modo a perturbar
ou impedir a realização dos trabalhos.

Outro princípio que se destaca é o da isonomia (art. 3º da Lei 8.666/93), o qual


determina que os participantes do procedimento devem ser tratados
isonomicamente, não sendo aceitas discriminações injustificadas no julgamento
das propostas, devendo ser dada oportunidade de participação nas licitações em
geral a qualquer interessado que tenha condições de cumprir com o contrato a
ser celebrado. Nesse sentido, a legislação pátria admite tratamento
diferenciado à alguns particulares, p. ex. as microempresas e empresas de
pequeno porte, objetivando a promoção do desenvolvimento econômico social
no âmbito municipal e regional, a ampliação da eficiência das políticas públicas
e o incentivo à inovação tecnológica (art. 47 da Lei Complementar 123/2006).

(MPE-SP | 2015): As normas de licitações e contratos devem


V privilegiar o tratamento diferenciado e favorecido às
microempresas e empresas de pequeno porte na forma da lei.

A competividade também é um princípio norteador das licitações, em que estes


devem ter obrigatoriamente caráter competitivo, evitando a manipulação de
preços e assegurando à administração a obtenção da proposta mais vantajosa
para a consecução de seus fins.

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O fato de comparecer apenas um interessado na participação do certame
licitatório, não viola o caráter de competitividade do procedimento.

(MPE-MS | 2015 | FAPEC (adaptada)): O princípio da


competitividade é peculiar à licitação, pois a competição
favorece a obtenção da melhor proposta. Se à licitação
comparecer apenas um interessado, o licitante deverá apurar a
V habilitação normalmente e, se considerado habilitado o
interessado, a proposta deverá ser examinada como se outros
disputantes houvessem.

8.1.2. FASES DO PROCEDIMENTO LICITATÓRIO

Sucintamente, o procedimento licitatório ordinário pode ser dividido em duas


fases, a interna e a externa.

Na interna, iniciada dentro do órgão ou da entidade que realizará a licitação, há


a abertura de processo administrativo, contendo a autorização e a indicação
sucinta de seu objeto e do recurso para a despesa (art. 38 da Lei 8.666/93).

Na externa existe, via de regra9, as seguintes etapas: a) abertura; b) habilitação,


onde ocorre a verificação da documentação e de requisitos pessoais dos
licitantes; c) classificação (julgamento), onde ocorrerá o confronto das ofertas e
a classificação e a determinação do vencedor; d) homologação, em que será
exercido o controle de legalidade do procedimento licitatório 10; e) adjudicação,
em que se atribuirá ao vencedor o objeto da licitação.

(MPE-AC | 2014 | CESPE): Para fim de habilitação nas


V licitações, a administração pública não deve exigir dos licitantes
a apresentação de certidão de quitação de obrigações fiscais,
mas a mera prova de sua regularidade.

9
Adota-se como referência o procedimento na modalidade de concorrência, que é a mais
complexa.
10
Caso o vício seja sanável, a autoridade competente não homologará e devolverá o processo
à comissão para a correção das falhas. Por outro lado, se tratar de vício insanável o
procedimento será anulado, pelo menos a partir o ato ilegal.

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68
(MPE-AC | 2014 | CESPE): Segundo entendimento do STJ,
deve-se reconhecer a nulidade, em processo licitatório, do
F julgamento de recurso administrativo por autoridade
incompetente, ainda que tenha havido posterior homologação
do certame pela autoridade competente.
(MPE-MA | 2014): Na contratação dos serviços de publicidade,
faculta-se a adjudicação do objeto da licitação a mais de uma
V agência de propaganda, sem a segregação em itens ou contas
publicitárias, mediante justificativa no processo de licitação;

Obs.: A Lei 13.500, publicada em 26 de outubro de 2017, incluiu o §5.º ao art.


40, dispondo que a Administração Pública poderá, no edital de licitação, exigir
que a contratada tenha um percentual mínimo de mão de obra oriunda ou
egressa do sistema prisional, com a finalidade de ressocialização do
reeducando.

8.1.3. MODALIDADES DE LICITAÇÃO

A Lei 8.666/1993 prevê as modalidades de concorrência, tomada de preços,


convite, concurso e leilão (art. 22). Ademais, existem, ainda, o pregão (Lei
10.520/2002) e a consulta.

É salutar registrar que o Estatuto das Licitações veda a criação de outras


modalidades de licitação ou a combinação das modalidades nela contidas (art.
22, § 8º). Todavia, nada impede que a União crie uma nova modalidade, desde
que ocorra por meio de lei.

As três primeiras modalidades mencionadas são hierarquizadas com base na


complexidade de seus procedimentos e do aspecto dos contratos a serem
celebrados, principalmente no que tange aos valores (art. 23, § 4º e art. 23,
incisos I e II).

MODALIDADE LICITATÓRIA VALOR DO CONTRATO


Obras e serviços de engenharia
acima de R$ 3,3 (três milhões e
Concorrência trezentos mil reais) e aquisição de
bens e serviços acima de R$ 1,43
milhão.
Obras e serviços de engenharia de R$
Tomada de preços 330 mil até R$ 3,3 milhões e aquisição
de bens e serviços acima de R$ 176
mil até R$ 1,43 milhão.
Obras e serviços de engenharia até
Convite de R$ 330 mil e aquisição de bens e
serviços de até R$ 176 mil.

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69
É imprescindível a leitura dos dispositivos legais atinentes a essas três
modalidades principais de licitação para verificação de todas as hipóteses de
cabimento de uma e de outra.

(MPE-GO | 2016): Embora o art. 22, § 8º, da Lei n. 8.666/93


vede a criação de outras modalidades licitatórias ou a
combinação daquelas referidas no mesmo artigo, a mesma Lei
V n. 8.666/93 não esgotou a competência da União para legislar
sobre normas gerais. Por essa razão, segundo a doutrina, nada
impede que o legislador crie novas modalidades licitatórias por
meio de outra lei, com natureza de normas gerais.
(MPE-SP | 2015): São modalidades de licitação: a)
F concorrência; b) tomada de preços; c) convite; d) praça; e) leilão.

Não confundir modalidades de licitação com tipos de licitação. Esses últimos


são: menor preço, melhor técnica, técnica e preço e maior lance ou oferta.

(MPE-PR | 2014): Segundo a Lei nº 8.666/93, são tipos de


F licitação: concorrência, tomada de preços, convite, concurso e
leilão.

O concurso é voltado, para quaisquer interessados, para escolha de trabalho


técnico, científico ou artístico, mediante a instituição de prêmios ou remuneração
aos vencedores, conforme critérios constantes de edital publicado na imprensa
oficial com antecedência mínima de· 45 dias (art. 22, § 3.º, da Lei 8.666/1993).
Leva em conta, portanto, a natureza do objeto.

Por sua vez, o leilão é destinado a qualquer interessado, para a venda, a quem
oferecer o maior lance, igual ou superior ao valor da avaliação, de bens móveis
inservíveis para administração; produtos legalmente apreendidos ou
penhorados; e bens imóveis da administração pública, cuja aquisição haja
derivado de procedimentos judiciais ou de dação em pagamento (art. 22, § 5º,
da Lei 8.666/93).

(MPE-SP | 2015): Leilão é a modalidade de licitação entre


quaisquer interessados para a venda de bens móveis inservíveis
F para a administração ou de produtos legalmente apreendidos ou
penhorados, a quem oferecer o maior lance, igual ou superior ao
valor da avaliação.
(MPE-SP | 2015): Praça é a modalidade de licitação entre
quaisquer interessados para a venda de bens imóveis
F inservíveis para a administração, a quem oferecer o maior lance,
igual ou superior ao valor da avaliação.

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70
Já, o pregão é modalidade facultativa de uso por todos os entes federativos
para a aquisição de bens e serviços comuns, qualquer que seja o valor
estipulado da contratação, sempre adotando como critério o menor preço (Lei
10.520/02). O prazo fixado para a apresentação das propostas, após a
convocação dos interessados, não será inferior a 8 (oito) dias úteis, contado a
partir da publicação do aviso (art. 4º, V).

(MPE-PR | 2016): Para aquisição de bens e serviços comuns,


ou seja, aqueles cujos padrões de desempenho e qualidade
F possam ser objetivamente definidos pelo edital, por meio de
especificações usuais no mercado, deverá ser adotada a
licitação na modalidade de pregão
(MPE-SC | 2016): O pregão é a modalidade de licitação adotada
para aquisição de bens e serviços comuns. Entendem-se como
tais aqueles que podem ser fornecidos por interessados
F devidamente cadastrados ou que atenderem a todas as
condições exigidas para cadastramento até o terceiro dia
anterior à data do recebimento das propostas, observada a
necessária qualificação.
(MPE-GO | 2016): Quando o critério para a escolha da
V modalidade licitatória for a natureza do objeto, sendo, portanto,
indiferente o valor, é possível a utilização do pregão, do
concurso e do leilão.
V (MPE-GO | 2016): Vedou-se expressamente a utilização do
pregão para as locações imobiliárias.
(MPE-GO | 2016): No pregão, para o julgamento e classificação
das propostas, será adotado o critério de menor preço, com
F exceção das contratações de serviços de engenharia de baixa
complexidade, para as quais o pregão deverá observar,
obrigatoriamente, o critério “melhor técnica e preço”.

8.1.4. TIPOS DE LICITAÇÃO

Estão previstos no § 1º do art. 45 da Lei 8.666/93, quais sejam: menor preço,


melhor técnica, técnica e preço e maior lance ou oferta.
No de menor preço, a proposta decorre de verificação objetiva. No de melhor
técnica, incialmente os candidatos se submetem a uma valorização de suas
propostas, ao que posteriormente o candidato que ofereceu a proposta vitoriosa
só celebrará o contrato se aceitar a execução do objeto pelo preço mínimo
oferecido pelos participantes (art. 46, § 1º, I e II). Por sua vez, o de técnica e
preço se dá pela média ponderada das valorizações das propostas técnicas e
de preço, consoante os critérios preestabelecidos no instrumento convocatório
(art. 46, § 2º, I e II).

(MPE-BA | 2015 | CEFET-BA): Nas licitações do tipo “melhor


técnica”, a classificação dos proponentes far-se-á de acordo
F com a média ponderada das valorizações das propostas

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71
técnicas e de preço, de acordo com os pesos preestabelecidos
no instrumento convocatório.

8.1.5. INEXIGIBILIDADE E DISPENSA DE LICITAÇÃO

A Constituição Federal prevê a possibilidade de a lei estabelecer hipóteses em


que a licitação não ocorrerá ou poderá não ocorrer. Assim, temos as situações
de inexigibilidade e de dispensa de licitação.

A inexigibilidade ocorre sempre que houver impossibilidade jurídica de


competição. Ex.: elaboração de um parecer de um renomado jurista. O art. 25
da lei 8.666/93 levanta hipóteses exemplificativas de inexigibilidade, quais
sejam: aquisição de bens singulares de fornecedor exclusivo; contratação de
serviços técnicos de natureza singular; e contratações de artistas consagrados.

(MPE-PR | 2016): Não se exige licitação para contratação


realizada por empresa pública ou sociedade de economia mista
F com suas subsidiárias e controladas, para a aquisição ou
alienação de bens, prestação ou obtenção de serviços, desde
que o preço contratado seja compatível com o praticado no
mercado.
(MPE-SC | 2014): É inexigível licitação para a celebração de
contratos de prestação de serviços com as organizações
sociais, qualificadas no âmbito das respectivas esferas de
F governo, para atividades contempladas no contrato de gestão.

(MPDFT | 2015): Na hipótese de inexigibilidade de licitação,


tem-se notória especialização quando há a caracterização de
V que determinada licitante desempenha trabalho essencial e
indiscutivelmente mais adequado à plena satisfação do objeto
almejado pela Administração Pública.
(MPE-BA | 2015 | CEFET-BA): É inexigível a licitação na
hipótese de não ter havido interessados em participar do
F procedimento licitatório anterior, desde que a Administração
demonstre, justificadamente, a inexistência de prejuízo para os
cofres públicos.
(MPE-SP | 2015): Em face da natureza singular do serviço, a
contratação de escritório de advocacia para acompanhamento
F das causas trabalhistas do Município enquadra-se no conceito
de notória especialização, o que torna inexigível a licitação.

Por sua vez, a dispensa de licitação abrange situações em que há a viabilidade


jurídica de competição, todavia a lei autoriza a celebração direta do contrato ou
determina a não realização do procedimento. No primeiro caso, dizemos que ela
é dispensável, já no segundo dizemos que ela é dispensada.

As hipóteses de licitação dispensável encontram-se taxativamente expostas no


art. 24 da Lei 8.666/93. Ex.: casos de guerra ou de grave perturbação da ordem.

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72
Por outro lado, as situações de licitação dispensada encontram-se previstas no
art. 17, as quais basicamente se referem à alienação de bens e direitos pela
administração. Nesse sentido, é essencial que o candidato tenha em mente as
hipóteses previstas nos mencionados dispositivos!
Atenção! A Lei 13.500, publicada em 26 de outubro de 2017, previu uma nova
hipótese de licitação dispensável, acrescentando ao art. 24 o inc. XXXV
(construção, ampliação, reforma e aprimoramento de estabelecimentos
penais, desde que configurada situação de grave e iminente risco à
segurança pública).

Ademais, a Lei também alterou a redação do art. 26, parágrafo único, inc. I, para
prever que o processo de dispensa deverá ser instruído com a caracterização do
grave e iminente risco à segurança pública (trecho incluído pela Lei
13.500/17) que justifica a dispensa.

(MPE-SP | 2014): É dispensável a licitação para contratar


serviços de publicidade e divulgação, em virtude da
F impossibilidade de julgamento das propostas com base em
critérios objetivos.
(MPE-SP | 2014): É meramente exemplificativo o rol dos casos
F de dispensa ou inexigibilidade de licitação prevista na lei
respectiva.
(MPE-GO | 2014): O bem singular inviabiliza a competição, ao
V passo que nem toda singularidade no serviço afasta a
necessidade de licitação.
(MPE-PA | 2014 | FCC (adaptada): O Estado do Pará pretende
se utilizar da área total de um terreno pertencente a empresa
V pública federal, com a finalidade de nele instalar um
estabelecimento escolar. Nesse caso, é possível a realização de
contrato de compra e venda entre as partes envolvidas, após
prévia avaliação do imóvel, sendo dispensada a licitação.
(MPE-SC | 2014): É dispensável a licitação para a compra de
imóvel destinado ao atendimento das finalidades precípuas da
V administração, cujas necessidades de instalação e localização
condicionem a sua escolha, desde que o preço seja compatível
com o valor de mercado, segundo avaliação prévia.
(MPE-SP | 2015): A Câmara Municipal pode contratar
F diretamente, sem a devida licitação, o fornecimento ou
suprimento de serviços de telefonia com empresa especializada.

(MPE-GO | 2014): É dispensável o certame licitatório, para o


escopo de celebração de contratos de prestação de serviços
V com as organizações sociais, para atividades contempladas no
contrato de gestão firmado entre o Poder Público e as entidades
assim qualificadas no âmbito das respectivas esferas de
governo.

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73
8.2 CONTRATOS ADMINISTRATIVOS:

8.2.1. INTRODUÇÃO

É o ajuste entre a administração pública, na qualidade de poder público, e


particulares, firmado nos termos estipulados pela administração contratante,
com consonância com o interesse público e com regência predominante de
direito público. Como decorrência do direito público, há a existência de
prerrogativas (cláusulas exorbitantes), situando a administração em posição de
supremacia nos contratos, caracterizando a verticalidade na relação jurídica em
face do particular.

(MPE-MG | 2014): Admitem a existência ou o estabelecimento


V de prerrogativas especiais em prol da administração pública.

(MPE-MG | 2017 | FUNDEP): São características do contrato


V administrativo, entre outras: o formalismo, a comutatividade, a
confiança recíproca e a bilateralidade.

Em regra, os contratos administrativos são formais, onerosos, bilaterais,


comutativos e celebrados intuitu personae11

Quanto ao formalismo, os contratos administrativos devem ser formais e


escritos, sendo nulo contrato verbal, salvo o de pequenas compras de pronto
pagamento, feitas em regime de adiantamento (art. 60, parágrafo único, da
Lei 8.666/93). Ademais, o resumo de instrumento do contrato deve ser publicado
na imprensa oficial, sob pena do contrato não produzir efeitos (art. 61, parágrafo
único).

(MPE-SP | 2014): A publicação do contrato administrativo em


órgão oficial de imprensa da entidade pública contratante é
formalidade dispensável, bastando para sua eficácia o registro
F e o arquivamento na repartição administrativa pertinente.

Conforme o art. 62 da Lei 8.666/93, o instrumento de contrato é obrigatório


nas modalidades de concorrência e tomada de preços, bem como nas
dispensas e inexigibilidade, nas quais os preços estejam compreendidos no valor
das mencionadas modalidades de licitação.

Todavia, na hipótese de ser dispensado o instrumento de contrato, a


administração deverá substituí-lo por outros instrumentos hábeis. Ex.: carta-
contrato.

11
Devem, a princípio, ser executados pelos contratados, não se admitindo a livre
subcontratação.
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74
(MPE-PR | 2016): O instrumento de contrato somente é
obrigatório nos casos de concorrência, de tomada de preços e
convite, bem como nas dispensas e inexigibilidades cujos
preços estejam compreendidos nos limites destas duas
F modalidades de licitação, e facultativo nos demais em que a
Administração puder substituí-lo por outros instrumentos hábeis,
tais como carta-contrato, nota de empenho de despesa,
autorização de compra ou ordem de execução de serviço;
(MPE-PA | 2014 | FCC): É dispensável a formalização do ajuste
por instrumento de contrato, em contratações cujo valor não
exceda o limite máximo para realização da modalidade convite,
V podendo ser substituído por outros instrumentos hábeis, tais
como carta-contrato, nota de empenho de despesa, autorização
de compra ou ordem de execução de serviço.

8.2.2. CLÁUSULAS EXORBITANTES

As principais cláusulas exorbitantes estão listadas no art. 58 da Lei 8.666/93,


quais sejam a alteração unilateral do contrato, possibilidade de rescisão
unilateral, fiscalização da execução do contrato, aplicação direta de
sanções e ocupação temporária. Além dessas existem as restrições à
exceção do contrato não cumprido pelo contratado (art. 78, XV), a exigência
de garantia pela administração (art. 56). Nesse sentido, vamos abordar pontos
específicos de algumas dessas cláusulas.

A alteração unilateral do contrato tem como finalidade a sua melhor


adequação às finalidades de interesse público, devendo ser respeitados,
principalmente, a observância dos limites legais de alteração por parte da
administração e o direito ao restabelecimento do equilíbrio econômico
financeiro originalmente estabelecido. As hipóteses de cabimento e os limites
de alteração contratual unilateral encontram-se previstos no art. 65 da Lei
8.666/93.

(MPE-MG | 2017 | FUNDEP): A Administração Pública poderá


alterar unilateralmente os contratos regidos pela Lei nº 8.666/93,
V quando houver modificação do projeto ou das especificações,
para melhor adequação técnica aos seus objetivos.
(MPDFT | 2015): A Constituição Federal limita os poderes
exorbitantes da Administração Pública nos contratos
administrativos, seja para alterar unilateralmente cláusulas
F econômico-financeiras, seja para alterar a forma de execução
do objeto contratado.
(MPE-BA | 2015 | CEFET): O contratado é obrigado a aceitar,
nas mesmas condições contratuais, os acréscimos que se
fizerem no caso particular de reforma de edifício ou de
V equipamento, até o limite de 50% (cinquenta por cento) do valor
inicial atualizado do contrato.

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75
As situações de alteração unilateral do contrato não constituem o chamado
“fato da administração”. Fato da administração é uma causa justificadora de
inadimplemento do contrato em razão de uma ação ou omissão do poder
público, especificamente relacionada ao contrato, que impede ou retarda a
sua execução. Ele pode ensejar a rescisão judicial ou amigável do contrato,
ou paralisação de sua execução até a normalização da situação. As hipóteses
mais comuns então previstas no art. 78, XIV, XV e XVI, da Lei 8.666/93.

(MPE-PA | 2014 | FCC): A alteração unilateral do contrato


administrativo constitui o chamado “fato da administração” que
F justifica o reequilíbrio da equação econômica financeira do
contrato.

Diferentemente da seara privada, a administração pública contratante poderá


rescindir unilateralmente o contrato, ou seja, antes do prazo, sem necessidade
de recorrer ao Poder Judiciário ou obter consentimento do particular contratado.
Em regra, essa rescisão ocorre diante de situações em que acontece
inadimplemento contratual inescusável pelo particular e até mesmo em razão
de interesse público, sem que tenha havido qualquer descumprimento por
parte do particular.

Atenção candidato! As causas de rescisão do contrato por ato unilateral e


escrito da Administração são aquelas enumeradas nos incisos I a XII, XVII e
XVIII do art. 78 da lei 8.666/93.

(MPE-MS | 2015 | FAPEC): De acordo com a legislação


pertinente, há situações em que os contratos administrativos
V podem ser rescindidos unilateralmente, mesmo que o
contratado esteja cumprido fielmente as suas obrigações.

Como já afirmado, a administração pública possui a prerrogativa de aplicar


sanções diretas ao contratado, desde que lhe assegure o exercício do
contraditório e ampla defesa prévios, no âmbito de processo administrativo,
independentemente de prévia manifestação do Poder Judiciário. As sanções
previstas na Lei 8.666/93 são as seguintes: a) multa de mora, por atraso na
execução do contrato (art. 86); b) advertência ( art. 87, I); c) multa, na forma do
instrumento convocatório ou do contrato, por inexecução total ou parcial do
contrato (art. 87, II); d) suspensão temporária da possibilidade de participação
em licitação e impedimento de contratar com a administração, por prazo não
superior a dois anos (art. 87, III); e) declaração de inidoneidade para licitar ou
contratar com a administração pública (art. 87, IV).

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76
Tanto a multa de mora quanto a multa decorrente de inexecução total ou
parcial de contrato podem ser aplicadas cumulativamente entre si ou com
as demais sansões (art. 86, § 1º, e art. 87, § 2º). Outro ponto de destaque, é
que a multa aplicada pela administração pode ser diretamente descontada da
garantia prestada pelo contratado e, caso a multa aplicada supere o valor da
garantia o contratado responderá também pela diferença a ser descontada dos
pagamentos devidos ao contratado (art. 86, §§ 2º e 3º, e art. 87, § 1º).

(MPE-SP | 2015): A multa de mora por atraso injustificado na


execução do contrato será descontada da garantia prestada
F pelo contratado, independentemente de processo
administrativo.
(MPE-SP | 2015): A lei não permite a cumulação da multa de
F mora com a multa pela inexecução total ou parcial do contrato
administrativo.
(MPE-SP | 2015): Dependem de sentença judicial a aplicação
das sanções previstas na Lei n. 8.666/93, pela Administração
F Pública, em caso de irregularidades do particular na execução
do contrato.
(MPE-SP | 2015): A declaração de inidoneidade perante um
V ente da Federação surtirá efeito para os demais entes da
Federação, diferentemente do caso de suspensão.

Em relação ao impedimento de licitar e contratar com a Administração, de acordo


com posicionamento do STJ, a divulgação do Cadastro Nacional de Empresas
Inidôneas e Suspensas/CEIS – mantido pelo Ministério da Transparência,
Fiscalização e Controladoria-Geral da União, e que elenca as pessoas jurídicas
que sofreram sanções que restringem o direito de participar de licitações e
celebrar contratos com a Administração Pública – tem mero caráter
informativo, não sendo determinante para que os entes federativos impeçam a
participação, em licitações, das empresas ali constantes.

A inclusão das empresas no CEIS decorre do fato de estas terem sido punidas
pela Administração, e não tem o condão de impedi-las de participar de licitação
e contratar. O impedimento é decorrente da sanção aplicada, e não do fato de a
empresa constar no CEIS.

Portanto, eventual exclusão de uma empresa da participação de licitações por


determinado ente da Federação poderá ser por ela questionada em face do ente
que a impediu de licitar e contratar, não do Ministro Chefe da CGU, uma vez que
o CEIS é um mero banco de dados, que apenas noticia as empresas que
sofreram tais sanções restritivas (STJ, 1ª Seção, MS 21.750- DF, Rel. Min.
Napoleão Nunes Maia Filho, j. 25/10/2017).

No âmbito dos contratos administrativos, o contratado só poderá suspender a


execução do contrato após o atraso superior a noventa dias dos pagamentos
devidos pela administração decorrentes de obras, serviços ou fornecimento, ou
parcelas destes (art. 78, XV, da Lei 8.666/93). Tal hipótese poderá, inclusive,
constituir motivo para rescisão do contrato.

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Ressalte-se que nos casos dos contratos de concessão e de permissão de
serviços públicos não é cabível a suspensão da execução do contrato pela
concessionária ou permissionária. Em tais contratos, a rescisão por iniciativa
do particular só poderá ser feita com autorização judicial (art. 39 da Lei
8.987/95).

(MPE-PR | 2017): Constitui motivo para a rescisão do contrato


o atraso superior a 60 (sessenta) dias dos pagamentos devidos
pela Administração, decorrentes de obras, serviços ou
fornecimento, ou parcelas destes, já recebidos ou executados,
salvo em caso de calamidade pública, grave perturbação da
F ordem interna ou guerra, assegurado ao contratado o direito de
optar pela suspensão do cumprimento de suas obrigações até
que seja normalizada a situação.
(MPE-BA | 2015 | CEFET-BA): No contrato de concessão de
serviço público, a concessionária poderá interromper os serviços
contratados, independentemente de autorização judicial, após
F 90 (noventa) dias de atraso dos pagamentos devidos pelo ente
concedente.
(MPE-MS | 2015 | FAPEC): Em situação de normalidade, se a
Administração não pagar a parcela vencida em determinado
mês, após trinta dias da data, está o contratado autorizado a
F paralisar o serviço objeto do contrato, alegando em seu favor a
exceção de contrato não cumprido.
(MPE-MS | 2015 | FAPEC): Em caso de se verificar atraso nos
pagamentos devidos pela Administração, somente se este
superar o prazo de noventa dias, em situação de normalidade,
V poderá o contratado optar pela suspensão da execução do
contrato ou pela sua rescisão.

A exigência de garantia perante os particulares contratados visa assegurar o


adequado adimplemento do contrato, ou, na hipótese de inexecução, facilitar o
ressarcimento dos prejuízos sofridos pela administração.

O contratado poderá escolher a modalidade de garantia, quais sejam a


caução em dinheiro ou títulos da dívida pública, seguro-garantia e fiança
bancária (art. 56, § 1º, da Lei 8.666/93).

(MPE-PR | 2016): Ao critério da autoridade competente, em


cada caso, e desde que prevista no instrumento convocatório,
poderá ser exigida prestação de garantia nas contratações de
F obras, serviços e compras, cabendo ao contratante optar por
uma das seguintes modalidades: caução em dinheiro ou em
títulos da dívida pública, devendo estes ter sido emitidos sob a

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78
forma escritural, mediante registro em sistema centralizado de
liquidação e de custódia autorizado pelo Banco Central do Brasil
e avaliados pelos seus valores econômicos, conforme definido
pelo Ministério da Fazenda, seguro-garantia ou fiança bancária;
(MPE-PR | 2017): Caberá ao contratado optar por uma das
V seguintes garantias: caução, seguro-garantia e fiança bancária.
(MPE-PR | 2014): São cláusulas necessárias em todo contrato,
V dentre outras, as que estabeleçam o objeto e seus elementos
característicos e as garantias oferecidas para assegurar sua
plena execução, quando exigidas.

8.2.3. EQUAÇÃO ECONÔMICO-FINANCEIRA

Consiste na relação de adequação entre o objeto e o preço no contrato


administrativo, a qual pode haver certa variação. Em virtude dessa variação, as
partes poderão restabelecer o equilíbrio toda vez que ele for rompido ou rescindir
o contrato diante da impossibilidade desse restabelecimento.

Uma das formas de manutenção do equilíbrio econômico financeiro é o reajuste,


que preserva os contratados, periodicamente, dos efeitos do regime inflacionário
ou do poder aquisitivo da moeda, seguindo índices determinados, consoante
estabelecido em contrato (art. 55, III, da Lei 8.666/93).

Outra forma de manutenção é a revisão, a qual deriva da ocorrência de um fato


superveniente. Diferentemente do reajuste, a revisão independe de previsão
expressa no contrato.

(MPE-MG | 2017 | FUNDEP): O direito à revisão e o reajuste do


preço são formas de reequilíbrio contratual; a primeira
independe de previsão contratual e tem origem em fato
V superveniente ao contrato, enquanto o segundo é pactuado
entre as partes já no momento do contrato, com a finalidade de
preservar o poder aquisitivo da moeda.
(MPE-BA | 2015 | CEFET-BA): As cláusulas de reajuste dos
contratos administrativos podem ser unilateralmente alteradas
F pela Administração Pública, desde que demonstrado o interesse
público.
(MPE-PA | 2014 | FCC): A revisão dos contratos administrativos
deve ser realizada periodicamente, na data-base e pelos índices
F previamente estabelecidos no instrumento convocatório e no
contrato administrativo.
(MPE-MG | 2014): A garantia do contratado ao equilíbrio
V econômico financeiro do contrato administrativo não pode ser
afetado nem mesmo por força de lei.

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79
8.2.4. PRAZO DE DURAÇÃO E PRORROGAÇÃO DOS CONTRATOS
ADMINISTRATIVOS

Em regra, a duração dos contratos administrativos é limitada à vigência dos


respectivos créditos orçamentários (art. 57, caput, da Lei 8.666/93).

Todavia, há que se destacar algumas exceções previstas pela Lei de Licitações:


a) os contratos relativos aos projetos cujos produtos estejam contemplados nas
metas estabelecidas pelo Plano Plurianual, os quais poderão ser prorrogados,
se houver interesse da administração e desde que previsto no ato convocatório
(art. 57, I); b) os contratos de prestação de serviços executados em caráter
contínuo, os quais poderão ser prorrogados por iguais e sucessivos períodos,
limitado a setenta meses (art. 57, II) e, em caráter excepcional, justificada e
autorizada pela autoridade superior, em mais doze meses (art. 57, § 4º); c)
contratos de aluguel de equipamentos e utilização de programas de informática,
os quais poderão ser prorrogados em até quarenta e oito meses (art. 57, IV); d)
contratos celebrados nas hipóteses de licitação dispensável dispostas nos
incisos IX, XIX, XXVIII e XXXI do art. 24, os quais poderão ter vigência por até
cento e vinte meses, caso haja interesse da administração (art. 57, V).

(MPE-PR | 2014): A duração dos contratos regidos pela Lei nº


8.666/93 ficará adstrita à vigência dos respectivos créditos
orçamentários, exceto quanto aos relativos, dentre outros, aos
V projetos cujos produtos estejam contemplados nas metas
estabelecidas no Plano Plurianual, os quais poderão ser
prorrogados se houver interesse da Administração e desde que
isso tenha sido previsto no ato convocatório;
(MPE-PA | 2014 | FCC): Os contratos de prestação de serviços
a serem executados de forma contínua podem ter a sua duração
prorrogada por iguais e sucessivos períodos, com vistas à
F obtenção de preços e condições mais vantajosas para a
administração, limitada tal prorrogação a quarenta e oito meses.

Ademais, a lei enumera, no § 1º do art. 57 da Lei 8.666/93, as situações que dão


azo à prorrogação dos prazos de início de execução, de conclusão e de
entrega dos contratos administrativos, devendo ser mantidas as demais
cláusulas do contrato, bem como o equilíbrio econômico financeiro.

São elas: a) alteração do projeto ou especificações, pela Administração; b)


superveniência de fato excepcional ou imprevisível que altere fundamentalmente
as condições de execução do contrato; c) interrupção da execução do contrato
ou diminuição do ritmo de trabalho por ordem e no interesse da Administração;
d) aumento das quantidades inicialmente previstas no contrato; e) impedimento
de execução do contrato por fato ou ato de terceiro reconhecido pela
Administração contemporaneamente à sua ocorrência; f) omissão ou atraso de
providências a cargo da Administração, inclusive quanto aos pagamentos
previstos de que resulte, diretamente, impedimento ou retardamento na
execução do contrato, sem prejuízo das sanções legais aplicáveis aos

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responsáveis. Ressalte-se que toda prorrogação de prazo deve ser
justificada por escrito e previamente autorizada pela autoridade
competente para celebrar o contrato (art. 57, § 2º).

(MPE-MG | 204): Somente o prazo de entrega do contrato


F administrativo adite prorrogação e, mesmo assim, quando
expressamente justificada e autorizada

8.2.5. EXTINÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

A extinção dos contratos administrativos poderá ocorrer em virtude da


conclusão do objeto do contrato ou do término de seu prazo de duração12,
ou decorrer de anulação ou de rescisão de contrato. As duas últimas formas
de extinção dependerão da atuação da administração pública ou do Poder
Judiciário, ou de acordo entre as partes.

A anulação do contrato ocorre quando há ilegalidade na sua celebração,


podendo ser realizada pela própria administração pública, de ofício ou mediante
provocação, ou pelo Poder Judiciário. A anulação do contrato também poderá
ocorrer por vício na licitação que o procedeu (art. 49, § 2º da Lei 8.666/93). A
declaração de nulidade do contrato possui efeito retroativo (ex tunc), bem
como não exonera a Administração de indenizar o contratado pelo o que houver
executado e, caso a nulidade não tenha ocorrido por parte do contratado, de
outros prejuízos desde que regularmente comprovados (art. 59).

Em relação à rescisão, além da possibilidade da rescisão unilateral, já


abordado neste capítulo, temos outras situações que podem ensejar a rescisão
judicial ou rescisão amigável, causas essas que se encontram listadas no art.
78, incisos XIII a XVI. DICA: as situações listadas abrangem aquelas em que há
descumprimento contratual por parte da administração!

(MPE-GO | 2014): Apesar de a declaração de nulidade de


contrato administrativo operar efeitos ex tunc, tal circunstância
V não exonera a Administração Pública de desembolsar valores
concernentes a contrato de serviço já prestado, por parte da
obra já executada ou pelos produtos já entregues, porque, do
contrário, haveria enriquecimento sem causa.
(MPE-MG | 2014 (adaptada)): Os contratos administrativos
V admitem sua extinção unilateral nos casos admitidos em lei.

12
Formas ordinárias de extinção.

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81
QUESTÃO INÉDITA

Nos termos da lei nº 8.666/93:


I- Os órgãos e entidades da Administração Pública que realizem
frequentemente licitações deverão manter registros cadastrais para efeito de
habilitação, válidos, por no máximo, um ano.
II- A anulação do procedimento licitatório por motivo de ilegalidade não gera
obrigação de indenizar, exceto se o contratado já houver executado parte do
objeto até momento da invalidação.
III- Uma vez classificadas as propostas técnicas, o candidato vencedor só
celebrará o contrato se aceitar a execução do objeto pelo preço médio
oferecido pelos participantes.
IV- A prestação de garantia poderá ser exigida nas contratações de obras,
serviços e compras, independentemente de previsão no instrumento
convocatório.
V- A publicação resumida do instrumento de contrato ou de seus aditamentos
na imprensa oficial é condição indispensável para sua eficácia
Está correto apenas o contido em:
A) I, II e V.
B) II.
C) II, III, IV e V.
D) I, III, IV e V.
E) Todos os itens estão corretos.
Comentários:
I. VERDADEIRO – art. 34 da Lei 8.666/93; II. VERDADEIRO – art. 49, § 1º c/c
art. 59; III. FALSO – preço mínimo (art. 46, § 1º, I e II); IV. FALSO – deve haver
previsão no instrumento convocatório (art. 56); V. VERDADEIRO – art. 61,
parágrafo único. Gabarito: A

Conceito: Procedimento administrativo, de observância


pelas entidades governamentais, em que, observada a
igualdade entre os participantes, deve ser selecionada a

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melhor proposta dentre as apresentadas pelos
interessados para a celebração de contrato
administrativo para a realização de obras, serviços,
concessões, permissões, compras, alienações ou
locações.
Princípios: além dos princípios que regem o Direito
Licitação pública Administrativo, podemos destacar a publicidade,
isonomia e competitividade.
Fases (externa): abertura, habilitação, classificação,
homologação e adjudicação.
Modalidades: concorrência, tomada de preços,
convite, concurso, leilão, pregão e consulta.
Tipos: menor preço, melhor técnica, técnica e preço e
maior lance ou oferta.
Inexigibilidade (rol exemplificativo) e dispensa
(hipóteses taxativas).

Conceito: Ajuste entre a administração pública, na


qualidade de poder público, e particulares, firmado nos
termos estipulados pela administração contratante, com
consonância com o interesse público e com regência
predominante de direito público. Características: formal,
Contratos oneroso, bilateral, comutativo e intuito personae.
administrativos
Cláusulas Exorbitantes: alteração unilateral, rescisão
unilateral, fiscalização, aplicação de sanção e
ocupação temporária.
Manutenção do equilíbrio econômico financeiro: reajuste
e revisão.
Extinção: conclusão do objeto do contrato, término do
prazo de duração, anulação e rescisão (unilateral,
judicial ou de acordo entre as partes).

9. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

A improbidade administrativa é definida como uma conduta inadequada,


praticada por agentes públicos ou outros envolvidos, que cause danos à
administração pública. Previstas na Lei n. 8.429/1992, conhecida como Lei de
Improbidade Administrativa (LIA).

Toda conduta ilegal é um ato de improbidade administrativa?


NÃO. Há distinção entre conduta ilegal e conduta ímproba imputada a agente
público ou privado.

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A ilegalidade e a improbidade não são situações ou conceitos
intercambiáveis, cada uma delas tendo o seu significado.

A improbidade é uma ilegalidade qualificada pelo intuito malsão (nocivo) do


agente, atuando com desonestidade, malícia, dolo ou culpa grave. Em outras
palavras, nem todas as vezes que o agente praticar um ato ilegal, ele terá
cometido um ato ímprobo. Para que o ato ilegal seja considerado ímprobo, exige-
se um “plus”, que é o intuito de atuar com desonestidade, malícia, dolo ou culpa
grave.

A confusão entre os dois conceitos existe porque o art. 11 da Lei nº 8.429/92,


prevê, como supramencionado, como ato de improbidade qualquer conduta que
ofenda os princípios da Administração Pública, entre os quais se inscreve o da
legalidade (art. 37 da CF). Mas isso não significa que toda ilegalidade é
ímproba.

A conduta do agente não pode ser considerada ímproba analisando-se a questão


apenas do ponto de vista objetivo, o que iria gerar a responsabilidade
objetiva.

Quando não se faz distinção conceituai entre ilegalidade e improbidade,


corre-se o risco de adotar-se a responsabilidade objetiva.
(STJ. 1ª Turma. REsp 1.193.248-MG, Rei. Min. Napoleão Nunes Maia Filho,
julgado em 24/4/2014 (lnfo 540).

9.1 ATOS DE IMPROBIDADE: MODALIDADES

A Lei nº 8.429/92 não apresentou um conceito específico para a improbidade


administrativa, limitando-se a distinguir as espécies de atos de improbidade em
três categorias distintas, conforme os resultados provocados para a
Administração, a saber: atos de improbidade que importam em enriquecimento
ilícito, que causam prejuízos ao erário e os que atentam contra os princípios da
Administração. Portanto, as ações de improbidade podem se manifestar em três
formas de atuação:

Enriquecimento Ilícito
Os atos de improbidade administrativa que importam enriquecimento ilícito estão
elencados no art. 9º da Lei nº 8.429/92 e consistem naquelas condutas
comissivas que resultam na obtenção de vantagem patrimonial indevida, ilícita,
em razão do cargo, mandato, função ou emprego público ou da função pública
em geral.

De acordo com a Lei de Improbidade, não há necessidade de que tais condutas


acarretem danos ao erário, sendo suficiente o recebimento de vantagem
indevida que não decorra da contraprestação legal pelos serviços prestados.

O enquadramento de determinado ato nas hipóteses previstas no dispositivo


acima mencionado depende da comprovação da existência do elemento

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subjetivo do agente, ou seja, depende da intenção de auferir vantagem indevida
(dolo), não se admitindo a punição nos casos em que o enriquecimento ilícito
decorra de conduta culposa.

Não se admite, também, a punição da tentativa da prática de atos que importem


enriquecimento ilícito, pois somente haverá a improbidade no caso de
consumação da conduta.

A tentativa da prática desses atos poderá, no entanto, ser considerada como


afronta aos princípios da Administração pública, passível de ser enquadrada na
tipologia do art. 11 da Lei nº 8.429/92.

Atos que causem Prejuízo ao Erário

Os atos de improbidade administrativa que causam prejuízo ao erário, por sua


vez, são as ações e omissões dolosas ou culposas causadoras de perda
patrimonial, desvio, apropriação ou malversação dos bens públicos
pertencentes às entidades públicas descritas no art. 1º da Lei nº 8.429/92, ou
seja, são a perda dos recursos financeiros da União, através de atitudes como
o uso de recursos públicos para fins particulares, a aplicação irregular de verba
pública ou a facilitação do enriquecimento de terceiros à custa do dinheiro
público.

Da leitura do art. 5º, combinada com caput do art. 10 da Lei de Improbidade,


constata-se a intenção do legislador, diversamente das hipóteses que
configuram enriquecimento ilícito, de punir as lesões ao patrimônio público
decorrentes de condutas culposas do agente público, consubstanciadas nas
ações ou omissões na aplicação das regras de gestão dos recursos, bens e
direitos que formam o patrimônio público.

O legislador pátrio conferiu um sentido amplo à expressão patrimônio público


para que ela resguarde a proteção de outros bens e valores jurídicos
pertencentes à Administração Pública, além do patrimônio econômico-financeiro,
notadamente bens de natureza moral, econômica, ambiental, estética, artística,
histórica, turística e cultural.

Da mesma forma, o legislador também objetivou conferir uma interpretação


ampla à palavra erário para que seja punida qualquer lesão que afete o
patrimônio das entidades da Administração direta e indireta, bem como daquelas
pessoas jurídicas de direito privado para as quais o erário haja concorrido nos
percentuais definidos no art.1º, caput e parágrafo único da Lei nº 8.429/92.

Por ora, cabe registrar que a configuração de atos de improbidade como


causadores de danos ao erário independe da ocorrência de enriquecimento
ilícito do agente. Assim, a ação ou omissão pode provocar lesão ao
patrimônio público sem que haja enriquecimento indevido de algum agente
público, como ocorre no caso em que o agente realiza operação financeira sem
a observância das normas aplicáveis (art. 10, inciso VI).

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85
Ademais, a configuração de lesão ao patrimônio também não depende da
comprovação de redução do patrimônio da entidade, haja vista a existência
de diversas hipóteses de lesividade presumida na legislação.
Atos que violem os princípios da Administração Pública

Os atos de improbidade que atentam contra os princípios da Administração


Pública, ao seu turno são as ações e omissões violadoras dos deveres de
honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade às instituições públicas
e estão descritos no também art. 11 da Lei nº 8.429/92.

É de conhecimento geral que as atividades dos agentes administrativos estão


necessariamente subordinadas à observância dos princípios regentes da
atividade estatal, em razão da expressa determinação prevista no art.37 da
Constituição Federal.

Neste diapasão, o art 4º da Lei nº 8.429/92 estipula que todos aqueles que atuam
em nome da Administração estão obrigados a seguir, no desempenho de suas
atribuições, os princípios constitucionais da legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência.

Com efeito, a Lei nº 8.429/92 considerou como atos de improbidade as


condutas dos agentes públicos que afrontem os princípios da
Administração Pública e violem os deveres de honestidade,
imparcialidade, legalidade e lealdade às entidades e órgãos que
representem.

À semelhança dos atos que ensejam enriquecimento ilícito, exige-se a


presença do elemento subjetivo dolo para o enquadramento da conduta como
sendo violadora aos princípios da Administração Pública, não se podendo
penalizar o agente que, por meio de conduta imprudente, negligente ou imperita,
violou tais princípios.

Portanto, os aplicadores de direito devem, então, agir com muita prudência na


tipificação das condutas dos agentes públicos nas hipóteses de improbidade
previstas no art. 11 da Lei nº 8.429/92, para evitar a classificação errônea de
atos administrativos que não passam de meras irregularidades, passíveis de
correção na via administrativa, podendo se utilizar da aplicação do princípio
da razoabilidade e da proporcionalidade.

A situação de tortura praticada por policiais, além das repercussões nas


esferas penal, civil e disciplinar, configura também ato de improbidade
administrativa, porque, além de atingir a pessoa-vítima, alcança
simultaneamente interesses caros à Administração em geral, às instituições
de segurança pública em especial, e ao próprio Estado Democrático de Direito.

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86
Dessa forma, a tortura de preso custodiado em delegacia praticada por policial
constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da
administração pública. STJ. 1ª Seção. REsp 1.177.910-SE, Rel. Ministro
Herman Benjamin, julgado em 26/8/2015 (Info 577).

Não configura ato de improbidade a conduta do agente político de intervir


na liberação de preso. Para comparecimento em enterro de sua avó, uma
vez que não está presente dolo, ou seja, a manifesta vontade, omissiva ou
comissiva, de violar princípio constitucional regulador da Administração
Pública. A conduta do agente, apesar de ilegal, teve um fim até mesmo
humanitário, pois se conduziu no sentido de liberar provisoriamente o preso
para que este pudesse comparecer ao enterro de seu avo, não consistindo,
portanto, em ato de improbidade, em razão da ausência do elemento subjetivo
do tipo, o dolo. (STJ. 1ª Turma. REsp 1414933/RJ, Rei. Min. Napoleão Nunes
Maia Filho julgado em 26/11/2013.)

A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência de ação de


improbidade administrativa está sujeita ao reexame necessário, com base na
aplicação subsidiária do CPC e por aplicaçãoo analógica da primeira parte do
art. 19 da Lei n. 4.717/65. (STJ.1a Seção. EREsp. 1.220.667-MG, Rel. Min.
Hermann Benjamin, julgado em 24/5/2017) (info 607).

9.2 SUJEITOS ATIVOS E PASSIVOS DOS ATOS DE IMPROBIDADE

Os sujeitos passivos dos atos de improbidade administrativa foram


elencados no art.1º da Lei nº 8.429/92 e correspondem às pessoas jurídicas
titulares do patrimônio público violado ou lesado pelo ato de improbidade
administrativa, sejam elas pertencentes à administração direta ou indireta de
qualquer dos poderes da União, Estados ou Municípios, ou, ainda, empresa
incorporada ao patrimônio público ou de entidade para cuja criação ou custeio o
erário haja concorrido ou concorra com mais de 50% do patrimônio ou da receita
anual.

De acordo com o parágrafo único do art.1º da supramencionada Lei, também


estão sujeitos às penas da lei os atos de improbidade praticados contra o
patrimônio da entidade que receba subvenção, benefício ou incentivo fiscal ou
creditício de órgão público, bem como daquelas para cuja criação ou custeio o
erário haja concorrido ou concorra com menos de 50% do patrimônio, restando

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87
restrita a sanção patrimonial nestes casos, à repercussão do ilícito sobre a
contribuição dos cofres públicos.

Emerson Garcia e Rogério Pacheco Alves ensinam que a identificação do sujeito


passivo deve ser a primeira medida a ser tomada, precedendo, então, a análise
da condição do agente passivo, pois somente serão considerados atos de
improbidade, para os fins da Lei nº 8.429/92, os praticados em detrimento das
pessoas jurídicas elencadas no caput e parágrafo único do referido dispositivo
(2008.p.183).

Por outro lado, os sujeitos ativos dos atos de improbidade, ou seja, os


responsáveis pelas condutas lesivas à Administração Pública são os agentes
públicos ou terceiros.

De leitura do art. 2º da Lei de Improbidade Administrativa, observa-se a


preocupação do legislador em definir e especificar o agente público, como
sendo todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração,
por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de
investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades
públicas da Administração Direta e Indireta.

Da mesma forma, a Lei nº 8.429/92 teve o cuidado de apresentar a definição dos


terceiros que estão sujeitos às suas disposições ao asseverar, em seu art.3º,
como tal todos àqueles que, mesmo não sendo agentes públicos, induzam ou
concorram para a prática do ato ímprobo ou dele se beneficiem sob qualquer
forma direta ou indireta.

Com relação à responsabilização de terceiros por atos de improbidade


administrativa, vale registrar o entendimento de José dos Santos Carvalho Filho
no sentido de que o terceiro somente poderá ser responsabilizado por ato
de improbidade administrativa se tiver ciência da origem ilícita da
vantagem, jamais podendo ser responsabilizado por conduta culposa
(2009, p. 466).

9.3. ATOS DE IMPROBIDADE: SANÇÕES

No que concerne às sanções aplicáveis aos responsáveis pelos atos de


improbidade administrativa, vale consignar que o art. 12 da Lei nº 8.429/92,
com redação dada pela Lei nº 12.120, de 15 de dezembro de 2009, prevê a
aplicação de diversas sanções aos agentes ímprobos que variam conforme a
tipologia do ato de improbidade levado a termo e podem ser aplicadas isolada
ou cumulativamente.

Independentemente da categoria do ato de improbidade, a Lei nº 8429/92


estipulou as seguintes cominações: perda dos bens ou valores acrescidos
ilicitamente ao patrimônio; ressarcimento integral do dano, quando houver; perda
da função pública; suspensão dos direitos políticos, pagamento de multa civil e

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88
proibição de contratar com o poder público ou de receber benefícios fiscais ou
creditícios.

A fixação das sanções cabíveis dentre as previstas no art. 12 da Lei nº 8.429/92


ficará a cargo do juízo competente para a apreciação e julgamento da ação de
improbidade administrativa que, deverá, de acordo com o parágrafo único desse
dispositivo, considerar a extensão do dano causado, assim como o proveito
material obtido pelo agente.

Dessa forma, atos de improbidade administrativa têm natureza de ilícito civil e


político, uma vez que podem implicar na suspensão dos direitos políticos, na
indisponibilidade dos bens e no ressarcimento dos danos causados ao
erário consoante o art. 37, § 4º, da Constituição Federal de 1988.

Conquanto, não obsta que um ato de improbidade administrativa possa ter


consequências na esfera criminal e administrativa, sem prejuízo, assim, da ação
cabível.

Dessa forma, a pena aplicada dependerá do tipo de improbidade cometida e


da extensão do dano causado, além do tamanho do ganho patrimonial
obtido indevidamente, sendo que nem todos os atos contidos na Lei nº 8.429,
de 2 de junho de 1992, incorrem em todas ou nas mesmas sanções.

Qualquer pessoa pode denunciar suspeitas de improbidade à autoridade


competente, para que seja instaurada investigação e apuração dos atos.
A denúncia pode ser apresentada também ao Ministério Público, que atuará
como parte, quando inicia o procedimento, ou como fiscal da fiel execução da
lei. Art. 8° O sucessor daquele que causar lesão ao patrimônio público ou se
enriquecer ilicitamente está sujeito às cominações desta lei - Lei nº 8.429 - até
o limite do valor da herança. É vedado acordar, transacionar ou conciliar
nas ações judiciais para apuração de eventual prática de improbidade
administrativa. Art. 19. Constitui crime a representação por ato de
improbidade contra agente público ou terceiro beneficiário, quando o autor
da denúncia o sabe inocente. Para a configuração dos atos de improbidade
administrativa que atentam contra os princípios da administração
pública (art. n da Lei 8.429/1992), é DISPENSÁVEL a comprovação de efetivo
prejuízo aos cofres públicos. (STJ. 1ª Turma. REsp 1.192.758-MG, Rei. Orig.
Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rei. para acórdão Min. Sérgio Kukina,
julgado em 4/9/2014 (lnfo 547).

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Em relação à improbidade administrativa, assinale a opção
correta.
A) A ação de improbidade administrativa apresenta prazo
de proposição decenal, qualquer que seja a tipicidade do
ilícito praticado pelo agente público.
B) Se servidor público estável for condenado em ação de
improbidade administrativa por uso de maquinário da
QUESTÃO 1 administração em seu sítio particular, poderá ser-lhe
aplicada pena de suspensão dos direitos políticos por
período de cinco a oito anos.
C) O particular que praticar ato que enseje desvio de verbas
públicas, sozinho ou em conluio com agente público,
responderá, nos termos da Lei de Improbidade
Administrativa, desde que tenha obtido alguma vantagem
pessoal.
D) Enriquecimento ilícito configura ato de improbidade
administrativa se o autor auferir vantagem patrimonial

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indevida em razão do cargo, mandato, função, emprego ou
atividade, mesmo que de forma culposa.
E) Caso um servidor público federal estável, de forma
deliberada, sem justificativa e reiterada, deixar de praticar
ato de ofício, poderá ser-lhe aplicada multa civil de até cem
vezes o valor da sua remuneração, conforme a gravidade
do fato.
GABARITO COMENTADO: Letra E.
a) INCORRETA: O prazo para propositura da Ação de
Improbidade Administrativa é de 05 (CINCO) anos, variando
apenas o marco inicial de tal contagem.
b) INCORRETA: Uso de maquinário público em proveito
próprio configura ato de improbidade tipificado no art. 9º, IV,
da Lei 8.429/92 (enriquecimento ilícito), estando, pois,
sujeito à pena de " perda da função pública, suspensão dos
direitos políticos de OITO a DEZ anos, pagamento de multa
civil de até três vezes o valor do acréscimo patrimonial e
proibição de contratar com o Poder Público ou receber
benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou
indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica
da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de dez anos"
c) INCORRETA: Particular NUNCA poderá sozinho praticar
ato de improbidade administrativa, o que pressupõe
participação de agente público (ainda que por equiparação)
d) INCORRETA: O ato de improbidade na modalidade
enriquecimento ilícito apenas admite a modalidade
DOLOSA.
e) CORRETA: Trata-se da hipótese prevista no art. 11, inc.
II, da Lei 8.429/92.

10. SERVIÇOS PÚBLICOS

10.1 INTRODUÇÃO
5.1. INTRODUÇÃO
Serviço público é a atividade prestada pelo Estado ou por seus delegados, sob
regime total ou parcial de direito público, com vistas à satisfação de
necessidades essenciais e secundárias da coletividade.

Sob a ótica federativa, podemos considerar os serviços públicos como federais,


estaduais, distritais e municipais. Nesse sentido, podem-se dividir em
privativos e comuns. Os privativos são aqueles atribuídos a um dos entes
federativos. Ex.: serviço postal, privativo da União (art. 21, X, CF); serviço de
distribuição de gás canalizado, privativo dos Estados (art. 25, § 2º, CF);
transporte coletivo intramunicipal, conferido aos Municípios (art. 30, III e V, CF).
Deve ser observada, também, a competência legislativa dos entes para dispor
sobre determinado serviço, como é o caso da competência da União para dispor
sobre bingos e loterias (art. 22, XX, CF). Os comuns, por sua vez, são aqueles

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91
que podem ser prestados por mais de um ente da federação. A CF, no art. 23,
enumerou alguns. Ex.: serviço de saúde pública (inciso II).

(MPE-SP | 2015): A União detém o monopólio sobre os serviços


V da Loteria Federal e da Loteria Esportiva.

(MPE-MG | 2014 (adaptada): De acordo com a Constituição


Federal, existem atividades e/ou serviços sobre os quais o Estado
não possui titularidade exclusiva; assim, independente de
V tratarem de um dever do Estado, é permitido que particulares os
executem, desde que observada a legislação aplicável, a exceção
de Defesa Nacional.

10.2 PRINCÍPIOS

Os serviços públicos devem obediência aos princípios de Direito


Administrativo, sejam estes implícitos ou explícitos.

Dentre os principais, podemos apontar o da generalidade, continuidade,


eficiência e modicidade. O da generalidade indica que os serviços devem ser
prestados para beneficiar a maior quantidade possível de indivíduos, além de
serem prestados isonomicamente entre os destinatários. Segundo o princípio da
continuidade os serviços não devem sofrer interrupção para evitar danos à
coletividade. Conexo com o princípio anterior, a eficiência exige que os serviços
sejam céleres e com menor dispêndio possível, devendo o Poder Público se
atualizar com novas tecnologias. Por fim, a modicidade significa que os serviços
devem ser remunerados sem onerar excessivamente os beneficiários, a fim de
abranger o maior número possível de pessoas.

(MPE-PR | 2016): Serviço público adequado ao pleno


atendimento dos usuários é aquele que satisfaz as condições de
V regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade,
generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade das
tarifas, conforme preceitua a Lei n. 8.987/1995.
(MPE-PR | 2017): Segundo a Lei nº 8.987/95 (Lei das
Concessões e Permissões), considera-se serviço adequado
aquele que atende condições de continuidade, eficiência,
V regularidade, segurança, atualidade, generalidade, modicidade
das tarifas e cortesia na sua prestação.

(MPE-PE | 2014 | FCC (adaptada): Em relação ao princípio da


continuidade dos serviços públicos, a legislação brasileira prevê
que nos contratos de parcerias público-privadas, é admissível
V cláusula que preveja a transferência do controle da sociedade
de propósito específico para os seus financiadores, com o
objetivo de promover a sua reestruturação financeira e
assegurar a continuidade da prestação dos serviços.

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92
10.3 REMUNERAÇÃO
Os serviços públicos podem ser gratuitos ou remunerados. Os gratuitos
possuem cunho social, levando em conta fatores singulares de indivíduos ou
comunidades. Ex.: assistência médica. Já os remunerados obrigam
pecuniariamente os indivíduos como contraprestação do serviço prestado.
No tocante à forma de remuneração, alguns serviços são remunerados por taxas
(art. 145, II, CF), que se dá, via de regra, quando o serviço é imposto aos
administrados, sendo devida ainda que o usuário não utilize o serviço. O serviço
deve ser específico e divisível. Ex.: coleta de lixo individual e regular dos
resíduos sólidos. Por outro lado, os serviços facultativos são remunerados por
tarifa, devida apenas quando o usuário utiliza o serviço. Ex.: transporte público
urbano. Concomitantemente, temos os impostos, os quais destinam-se à
execução de serviços gerais do Estado, e as contribuições de melhoria, que
visa reembolsar o Estado por despesas efetuadas com obras e a valorização de
imóveis em decorrência delas (art. 145, III, CF). Mais detalhes no material de
Direito Tributário.

Em virtude de política pública com objetivos previamente estabelecidos, é


possível adotar parâmetros diferenciados de cobrança de remuneração pelo
serviço. Ex.: no caso de abastecimento de água, pode-se considerar na
cobrança a categoria dos usuários e as faixas de consumo.

(MPDFT | 2015): A legislação definidora da tarifa não pode


estabelecer diferenciação de valores cobrados entre distintas
F faixas de consumo em homenagem ao princípio da isonomia dos
usuários diante de serviços públicos.

10.4 CONCESSÃO E PERMISSÃO DE SERVIÇO PÚBLICOS.

10.4.1. CONCESSÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS

Podemos dividir a concessão de serviço público em duas modalidades, a


concessão simples e a concessão precedida de obra pública. A simples
consiste no contrato administrativo pelo qual a Administração transfere à pessoa
jurídica ou ao consórcio de empresas a execução de atividade de interesse
coletivo, remunerada através de tarifas pagas pelos usuários. Por sua vez, a
precedida de obra pública é o contrato administrativo através do qual o Poder
Público ajusta com pessoa jurídica ou consórcio de empresas a execução de
obra pública, por sua conta e risco, delegando ao construtor, após a conclusão,
sua exploração por determinado prazo.

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93
MPE-RS | 2014): As concessões de serviço público devem ser
outorgadas por tempo determinado, podendo seu prazo máximo
V ser fixado em lei dos Estados-membros, do Distrito Federal e dos
Municípios.

Para ambas as modalidades, é obrigatória a realização de licitação (art. 175


da CF), na modalidade de concorrência (arts. 2º, II e III, e 14).

(MPE-PR | 2014): Concessão de serviço público: a delegação de


sua prestação, feita pelo poder concedente, mediante licitação,
na modalidade de concorrência, à pessoa jurídica ou consórcio
V de empresas que demonstre capacidade para seu desempenho,
por sua conta e risco e por prazo determinado;

O concessionário do serviço possui direito subjetivo à fixação das tarifas em


montante suficiente para a devida e adequada prestação do serviço. Nesse
sentido, é admitida a diferenciação das tarifas quando são distintos os
seguimentos de usuários do serviço, inclusive podendo se levar em conta a
técnica do serviço e os custos necessários ao atendimento dos setores de
usuários (art. 13 da Lei nº 8.987/95).

(MPE-PA | 2014 | FCC): Na prestação de serviços públicos em


regime de concessão ou permissão, as tarifas poderão ser
V diferenciadas em função das características técnicas e dos custos
específicos provenientes do atendimento aos distintos segmentos
de usuários.

O Poder Público concedente pode valer-se da intervenção nos casos em que o


concessionário não está conseguindo cumprir os requisitos do contrato.
Podemos conceituar tal instrumento, como a intromissão direta na prestação
do serviço delegado para manter o serviço adequado a sua finalidade e
garantir o fiel cumprimento das normas legais, regulamentares e
contratuais de concessão. Inicialmente, a intervenção é realizada por decreto
do Chefe do Executivo da entidade concedente, que indicará os limites, prazos
e objetivos. Após a decretação, é instaurado procedimento administrativo para
apuração da responsabilidade no prazo de 180 dias. Concluído pela
inadequação do concessionário para prestar o serviço, ocorrerá a extinção da
concessão; ou se não constatada qualquer irregularidade, há a restauração da
plena eficácia do contrato.

(MPE-SC | 2016): Cessada a intervenção na concessão de


serviço público, quando a concessão não for extinta, a
V administração do serviço será devolvida à concessionária,
precedida de prestação de contas pelo interventor, que
responderá pelos atos praticados durante a sua gestão.

A extinção do contrato de concessão pode ocorrer por termo final do prazo


(extinção natural, produz efeitos ex nunc), anulação (vício de legalidade, produz

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94
efeito ex tunc), rescisão (descumprimento, pelo concedente, das normas legais,
regulamentares ou contratuais), caducidade (descumprimento, pelo
concessionário), encampação (concedente deseja retomar o serviço) e falência
e extinção da concessionária. Especificamente no que tange à rescisão, é
válido destacar que surgindo conflito de interesses entre o concessionário e o
concedente, incumbirá ao Judiciário decidir pelo desfazimento do pacto de
concessão, bem como pela reparação dos prejuízos causados pelo Poder
Público. Ressalte-se que os serviços não poderão ser interrompidos ou
paralisados até a decisão judicial transitada em julgado (art. 39, parágrafo único,
da Lei 8.987/95).

(MPE-PA | 2014 | FCC): A sentença de procedência proferida em


ação promovida pela concessionária, para rescisão do contrato
de concessão em face do descumprimento das normas
F contratuais pelo poder concedente, produz efeitos imediatos,
desobrigando o particular à prestação do serviço, que deve ser
assumido pelo poder concedente.

Importante anotar que, conforme entendeu o STF, não há direito líquido e certo
do concessionário à renovação do contrato de concessão.

A discricionariedade da prorrogação é uma marca do contrato administrativo.


Assim, o advento de uma nova lei que, por exemplo, vincule a prorrogação do
contrato de concessão a determinadas condições, repercute sobre os contratos
assinados antes de sua vigência. Assim, a necessidade de aceitação das novas
exigências legais como condição para a renovação desses contratos aplica-se
às suas futuras prorrogações (ocorridas após o advento da nova lei), de modo
que não há que se falar em direito líquido e certo à prorrogação nos termos do
regime jurídico anterior, em vigor quando o contrato foi celebrado (STF, 2ª
Turma, RMS 34.203/DF e AC 3.980/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 21/11/2017).

10.4.2. PERMISSÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS

É a delegação, a título precário, mediante licitação, da prestação de serviços


públicos, feita pelo poder concedente à pessoa física ou jurídica que
demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco (art. 2º, IV).

(MPE-SC | 2014 (adaptada)): Segundo a literalidade do art.


175 da Constituição Federal, ao Poder Público incumbe a
F prestação dos serviços públicos, diretamente ou sob regime de
concessão, sempre através de licitação.
(MPE-PR | 2014): Permissão de serviço público: a delegação,
a título precário, mediante licitação, da prestação de serviços
F públicos, feita pelo poder concedente exclusivamente à pessoa
física que deposite caução equivalente ao tempo de duração
da atividade delegada.

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95
A permissão é precedida de licitação, todavia, diferentemente da concessão,
inexiste exigência de modalidade específica.

(MPE-PA | 2014 | FCC): É dispensável a licitação para outorga


de permissão de serviço público a particular, desde que a
F exploração de tal serviço se dê por prazo inferior a 12 (doze)
meses e para atender a relevante interesse público.

10.5 PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADAS


Segundo José dos Santos Carvalho Filho, é o acordo firmado entre a
Administração Pública e a pessoa do setor privado com o objetivo de
implantação ou gestão de serviços públicos com eventual execução de obras ou
fornecimento de bens, mediante financiamento do contratado, contraprestação
pecuniária do Poder Público e compartilhamento dos riscos e dos ganhos
entre os pactuantes.

(MPE-MS | 2015 | FAPEC (adaptada)): É correto afirmar que


F constitui característica própria das parcerias público privadas a
ausência de compartilhamento de risco do parceiro público
com o parceiro privado.

Consiste em um contrato administrativo de concessão, admitindo-se as


modalidades de concessão patrocinada e a administrativa (art. 2º da Lei
11.079/04). A primeira caracteriza-se pelo fato de o concessionário perceber
recursos do pagamento das tarifas pelos usuários, e outra, de caráter adicional,
da concedente (art. 2º, § 1º). A administrativa consiste em prestação de serviço
na qual a Administração Pública é a usuária direta ou indireta, ainda que envolva
execução de obra ou fornecimento e instalação de bens (art. 2º, § 2º).

(MPE-SC | 2016): São modalidades de parceria público-


privada a concessão patrocinada, definida como concessão
comum, assim entendida a concessão de serviços públicos ou
de obras públicas de que trata a Lei n. 8.987/95 (Concessão e
Permissão), quando não envolver contraprestação pecuniária
F do parceiro público ao parceiro privado, e a concessão
administrativa, definida como contrato de prestação de
serviços de que a Administração Pública seja a usuária direta
ou indireta, ainda que envolva execução de obra ou
fornecimento e instalação de bens.

A contratação de parcerias público-privadas será sempre precedida de


licitação na modalidade concorrência (art. 10 da Lei 11.079/04).

(MPE-MS | 2015 | FAPEC (adaptada): É correto afirmar que


F constitui característica própria das parcerias público privadas:
A possibilidade de dispensa de licitação.

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96
O art. 13 da Lei 11.079/04 estabelece que o edital de licitação poderá prever
a inversão da ordem das fases de habilitação e julgamento. Ademais, é
admissível a apresentação de propostas escritas, seguidas de lances em viva
voz (art. 12, III, da mencionada lei).
(MPE-MS | 2015 | FAPEC (adaptada)): É correto afirmar que
constitui característica própria das parcerias público privadas,
no procedimento licitatório instaurado para selecionar o
V parceiro privado, o julgamento das propostas anteriormente à
habilitação, além de se prever a possibilidade de oferecimento
de lances em viva voz.

QUESTÃO INÉDITA

Analise as assertivas abaixo e escolha a alternativa:


I. A concessão administrativa se caracteriza pelo fato de o concessionário
perceber recursos de duas fontes, uma decorrente do pagamento das
respectivas tarifas pelos usuários, e outra, de caráter adicional, oriunda de
contraprestação pecuniária devida pelo poder concedente ao particular
contratado;
II. Os serviços públicos devem ser prestados com a maior amplitude possível,
vale dizer, deve beneficiar o maior número possível de indivíduos;
III. É de competência exclusiva da União a promoção de programas de
construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais de
saneamento básico;
IV. As permissões de serviço público devem ser precedidas de licitação,
todavia não há determinação legal de modalidade específica.
A) Todas as assertivas são corretas;
B) Apenas a III é correta;
C) As assertivas I e III são falsas;
D) Apenas as assertivas I e IV são falsas;
E) Todas as assertivas são incorretas.
Comentários:

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97
I. FALSO – conceito de concessão patrocinada; II. VERDADEIRO – princípio
da generalidade; III. FALSO – competência comum da União, estados, Distrito
Federal e municípios (art. 23, IX, CF); IV. VERDADEIRO. Gabarito: C

Serviço público é a atividade prestada pelo Estado ou por


Conceito
seus delegados, sob regime total ou parcial de direito
público, com vistas à satisfação de necessidades
essenciais e secundárias da coletividade.
Princípios Generalidade, Continuidade, Eficiência e Modicidade.

Taxas: cabível quando o serviço, específico e divisível, é


imposto aos administrados.
Remuneração Tarifa: devida apenas quando o usuário utiliza o serviço.
Impostos: os quais destinam-se à execução de serviços
gerais do Estado
Contribuições de melhoria: que visa reembolsar o
Estado por despesas efetuadas com obras e a valorização
de imóveis em decorrência delas.
Concessão de
Contrato administrativo pelo qual a Administração
Serviço transfere à pessoa jurídica ou a consórcio de empresas
Público
a execução de atividade de interesse coletivo.
Concessão de
Contrato administrativo através do qual o Poder Público
Serviço Público ajusta com pessoa jurídica ou consórcio de empresas
Precedida de
a execução de obra pública, por sua conta e risco,
Obra Pública
delegando ao construtor, após a conclusão, sua
exploração por determinado prazo
Permissão de É a delegação, a título precário, mediante licitação, da
Serviço
prestação de serviços públicos, feita pelo poder
Público concedente à pessoa física ou jurídica que demonstre
capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco.
Parceria
É a concessão de serviços públicos ou de obras públicas,
Público-
quando envolver, adicionalmente à tarifa cobrada dos
Privada
usuários contraprestação pecuniária do parceiro público
Patrocinada
ao parceiro privado.
Parceria
É o contrato de prestação de serviços de que a
Público-
Administração Pública seja a usuária direta ou indireta,

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98
Privada ainda que envolva execução de obra ou fornecimento e
Administrativa instalação de bens.

11. RESPONSABILIDADE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA:

O Poder Público responde por danos causados aos direitos de terceiros


decorrentes de sua atuação, lícita ou ilícita. A responsabilidade civil
extracontratual está relacionada aos danos causados por atuações estatais
voltadas aos cidadãos em geral, possuindo fundamento constitucional no art. 37,
parágrafo 6º.

Nos termos da CF/88, as pessoas jurídicas de direito público e as de direito


privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus
agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de
regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

A responsabilidade do Poder público é objetiva, estando assegurado o direito


de regresso aos agentes públicos nos casos de dolo ou culpa. Ocorre que, nos
casos de omissão a doutrina entende que a responsabilidade civil do estado por
danos extracontratuais é subjetiva.

Entretanto, se o Estado possuía um dever legal e específico de cuidado, a


responsabilidade será objetiva, independentemente de o dano ter sido causado
por ação ou omissão. É o caso do detento que está sob custódia e proteção do
Estado.

A responsabilidade civil extracontratual do Poder Público tem fundamento na


teoria do risco administrativo, a qual admite as excludentes de ilicitude.

Em casos específicos, a jurisprudência e a própria constituição federal admitem


a adoção da teoria do risco integral (que não admite excludentes de ilicitude).
Essa teoria é aplicada aos danos relacionados ao direito ambiental e aos danos
nucleares.

JURISPRUDÊNCIA

Considerando que é dever do Estado, imposto pelo sistema normativo, manter


em seus presídios os padrões mínimos de humanidade previstos no
ordenamento jurídico, é de sua responsabilidade, nos termos do art. 37, § 6º,
da Constituição, a obrigação de ressarcir os danos, inclusive morais,
comprovadamente causados aos detentos em decorrência da falta ou
insuficiência das condições legais de encarceramento. STF. Plenário. RE
580252/MS, julgado em 16/2/2017 (repercussão geral) (Info 854).

Em caso de inobservância de seu dever específico de proteção previsto no


art. 5º, inciso XLIX, da CF/88, o Estado é responsável pela morte de detento.

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99
STF. Plenário. RE 841526/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 30/3/2016
(repercussão geral) (Info 819).

É prescritível a ação de reparação de danos à Fazenda Pública decorrente de


ilícito civil. STF. Plenário. RE 669069 ED/MG, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado
em 16/6/2016 (Info 830).

É prescritível a ação de reparação de danos à Fazenda Pública decorrente de


ilícito civil. Dito de outro modo, se o Poder Público sofreu um dano ao erário
decorrente de um ilícito civil e deseja ser ressarcido ele deverá ajuizar a ação
no prazo prescricional previsto em lei. STF. Plenário. RE 669069/MG, Rel. Min.
Teori Zavascki, julgado em 03/02/2016 (repercussão geral).

RESPONSABILIDADE DO ESTADO: A fixação do prazo prescricional de 5


anos para os pedidos de indenização por danos causados por agentes de
pessoas jurídicas de direito público e de pessoas jurídicas de direito privado
prestadoras de serviços públicos, constante do art. 1º-C da Lei 9.494/97, é
constitucional. STF. (Info 824).

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO: Considerando que é dever do


Estado, imposto pelo sistema normativo, manter em seus presídios os padrões
mínimos de humanidade previstos no ordenamento jurídico, é de sua
responsabilidade, nos termos do art. 37, § 6º, da Constituição, a obrigação de
ressarcir os danos, inclusive morais, comprovadamente causados aos
detentos em decorrência da falta ou insuficiência das condições legais de
encarceramento. STF. (Info 854).

Por ação: objetiva


Responsabilidade Por omissão: subjetiva
civil Nos casos de dever legal específico (seja o dano
Extracontratual causado por ação ou omissão): objetiva
Em regra, é adotada a teoria do risco administrativo
(admite excludentes de ilicitude)

(FCC – DPE-PR – 2017) - Conforme o estudo da


responsabilidade civil do estado e dos agentes públicos,
na hipótese de dano causado a particular por agente

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100
público no exercício de sua função, os tribunais
superiores assentaram a possibilidade de ajuizamento
pelo lesado de ação de reparação de danos diretamente
contra o autor do fato, devendo nesse caso, ser perquirida
apenas a conduta, nexo causal e os prejuízos.
A) na hipótese de posse em cargo público determinada
por decisão transitada em julgado, em regra, não fará jus
o servidor aos salários que deixou de receber, mas
apenas a equitativa compensação, sob o fundamento de
que deveria ter sido investido em momento anterior.
B) constitui caso de concorrência de culpa o suicídio de
detento ocorrido dentro de estabelecimento prisional do
estado, devendo haver redução proporcional do valor da
indenização.
C) afastada a responsabilidade criminal do servidor por
inexistência daquele fato ou de sua autoria, restará
automaticamente repelida a responsabilidade
administrativa.
D) aplica-se o prazo prescricional quinquenal previsto no
Decreto n° 20.910/1932 às ações indenizatórias
QUESTÃO 1 ajuizadas contra Fazenda Pública, afastando-se a
incidência do prazo trienal previsto no Código Civil em
razão do critério da especialidade normativa.

Justificativas:
a) ERRADO. Não cabe indenização sob o fundamento de
que deveria ter sido investido em momento anterior.
b) ERRADO. A relação estabelecida entre o Estado e o
Detento é decorrente de um dever específico de cuidado.
É cabível a responsabilidade objetiva do estado em caso
de suicídio de detento. É possível a utilização por parte
do estado das excludentes de ilicitude (teoria do risco
administrativo).
c) ERRADO. É possível que haja alguma conduta punível
administrativamente fora do enquadramento penal. É
preciso verificar se há alguma questão remanescente
para ser analisada na seara administrativa.
d) CORRETA. A jurisprudência do STJ firmou-se no
sentido de que a prescrição contra a Fazenda Pública é
quinquenal, mesmo em ações indenizatórias, uma vez
que é regida pelo Decreto 20.910/32, norma especial que
prevalece sobre lei geral.
ALTERNATIVA CORRETA: D

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101
12. CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

12.1 Conceito

Consiste na fiscalização exercida sobre as pessoas, órgãos, departamentos, a


fim de avaliar a observância dos padrões e normas preestabelecidas. A matéria
tem amparo constitucional e está regulamentada por leis infraconstitucionais.

De acordo com o art. 6º, V do Decreto-Lei 200/1967, o controle é um princípio


fundamental a que as atividades da Administração Federal devem obediência.
Matheus Carvalho ao conceituar o controle administrativo o entende como “o
conjunto de instrumentos definidos pelo ordenamento jurídico a fim de permitir a
fiscalização da atuação estatal por órgãos e entidades da própria Administração
Pública, dos Poderes Legislativo e Judiciário, assim como pelo povo
diretamente, compreendendo ainda a possibilidade de orientação e revisão da
atuação administrativa de todas as entidades e agentes públicos, em todas as
esferas de poder”13.

12.2 Tipos e formas de controle

Para estudarmos esse tema, vamos proceder observar a seguintes


classificações:

Quanto à natureza do órgão controlador:


Controle legislativo: executado diretamente pelo Poder Legislativo (controle
parlamentar direto) ou com o auxílio do Tribunal de Contas. Vide art. 70, CF.
Controle judicial: realizado pelo Poder Judiciário, mediante a provocação de
interessado que tenha seus direitos lesados. Restringe-se aos aspectos de
legalidade dos atos administrativos, adentrando no mérito do ato administrativo
apenas em caso de ilegalidade ou ilegitimidade. Em regra, é um controle
posterior.
Controle administrativo: decorrência do poder de autotutela da Administração
Pública (fiscalização e revisão dos atos administrativos, mediante provocação
ou, ainda, de ofício)

Quanto à extensão do controle:


Interno: exercido dentro de um mesmo poder (vide art. 74, CF)14.
Externo: exercido por um poder em relação aos atos administrativos
praticados por outro poder do Estado (vide art. 71, CF). Há ainda o controle
popular, exercido pelos cidadãos (vide art. 37, §3º, da CF/88).

Quanto ao âmbito de atuação:

13
CARVALHO, Matheus. Manual de Direito Administrativo. 3. Ed. Salvador: JusPodivm, 2016, p. 368.
14
O controle interno tem o dever de comunicar ao Tribunal de Contas qualquer irregularidade ou
ilegalidade de que tenham conhecimento, sob pena de responsabilidade SOLIDÁRIA (vide art. 74,
§1º, CF).

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102
Por subordinação: entre órgãos e agentes de uma mesma pessoa jurídica,
realizado por órgão hierarquicamente superior.
Por vinculação: realizado pela Administração Direta em relação às entidades
descentralizadas.

Quanto ao momento do exercício:


Prévio: realizado quando o ato está em formação ou, ainda, quando o ato
está prestes a ser praticado.
Concomitante: realizado durante a execução do ato.
Posterior: verifica a regularidade dos atos já praticados.

Quanto à iniciativa:
Controle de ofício: independe da provocação da parte interessada.
Controle provocado: realiza-se a partir da provocação da parte interessada.

12.3 Controle Administrativo

Decorrência do poder de autotutela da Administração Pública (Súmula 473,


STF), pode ocorrer de forma prévia, concomitante ou posterior à realização do
ato a ser controlado. Fundamenta-se na legalidade e nos aspectos de
conveniência e oportunidade.

De acordo com Matheus Carvalho, o controle administrativo possui as seguintes


finalidades:

“Avaliar o cumprimento das metas e projeções definidas na lei do plano


plurianual, assim como a execução dos programas definidos pelo governo e dos
orçamentos da União Federal; comprovar a legalidade e avaliar os resultados,
quanto à eficácia e eficiência, da gestão orçamentária, financeira e patrimonial
nos órgãos públicos e nas entidades da administração (CF/88) pública federal,
bem como da aplicação de recursos públicos por entidades de direito privado;
exercer o controle das operações de crédito, avais e garantias, bem como dos
direitos e haveres da União; apoiar o controle externo no exercício de sua missão
institucional”15.
O controle administrativo é uma vertente do controle interno, exercido pelo
Executivo e pelos órgãos administrativos do Legislativo e Judiciário.

A anulação de atos que geram efeitos favoráveis ao administrado decai em


cinco anos, salvo comprovada má fé. Em caso de irregularidades internas ou

15
CARVALHO, Matheus. Manual de Direito Administrativo. 3. Ed. Salvador: JusPodivm, 2016, p. 396.

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103
condutas abusivas da Administração Pública, a denúncia deve ser feita por
REPRESENTAÇÃO. Para manifestar discordância com relação a ato
praticado
pela Administração que afete diretamente o interesse individual, o
administrado deve se utilizar da RECLAMAÇÃO.

Ademais, é importante que saibamos que o controle administrativ pode ser


provocado pelos administrados, por intermédio do direito de petição.
Destacamos a representação, a reclamação, o pedido de reconsideração e o
recurso, vejamos:

 Representação: denúncia formal, que leva ao conhecimento da


Administração uma irregularidade. Pode ser assinada por um servidor (nesse
caso, a representação é um dever, vide art. 116 da Lei 8.112/90) ou por um
particular (representação é entendida como um direito). Deve reportar
irregularidades internas ou condutas abusivas da Administração Pública.

 Reclamação: utiliza-se para manifestar discordância com relação


a ato praticado pela Administração que afete diretamente o interesse individual.

 Pedido de reconsideração: dirigida à autoridade que expediu o ato, para


que ela o aprecie novamente e, em caso de reconsideração do
entendimento anterior, proceda à sua invalidação ou modificação (vide
art. 56, §1º da Lei 9.784/99).
 Recursos administrativos: o objetivo é submeter determinada matéria a
reapreciação por autoridade distinta daquela que proferiu a decisão
original.

É inconstitucional a exigência de depósito (dinheiro ou bens) para apresentar


recurso administrativo. Sobre o tema, vejamos questão da CESPE: (TCE-PE,
ANALISTA, 2017) Para a interposição de recurso administrativo no caso de
indeferimento de pedido protocolado em determinado órgão público, poderá
ser exigido depósito prévio de dinheiro ou bem se a causa tratar de questões
patrimoniais.
GABARITO: Errado.

Os recursos administrativos podem ser hierárquicos próprios e hierárquicos


impróprios. Os recursos hierárquicos próprios serão encaminhados à mesma
autoridade que tenha proferiu a decisão administrativa inicial. Já os recursos
hierárquicos impróprios serão interpostos em face de autoridade que não possua
relação hierárquica com a autoridade ou órgão que editou o ato a ser impugnado
(em virtude da ausência de hierarquia, só é cabível nas hipóteses previstas em
lei).

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104
12.4 Controle parlamentar

O controle parlamentar direto é decorrência do sistema de freios e contrapesos


(vide art. 49, V, IX, X e art. 50, CF). Pode ser verificado também nas hipóteses
em que o Senado Federal processa e julga, nos crimes de responsabilidade, o
Presidente da República, o Vice Presidente da República e os Ministros de
Estado, os comandantes da Marinha, Exército, Aeronáutica nos crimes da
mesma natureza conexos com aqueles (art. 52, I, CF).

Assim como os Ministros do STF, os membros do CNJ e CNMP, o Procurador-


Geral da República e o Advogado Geral da União (art. 52, II, CF). No mesmo
sentido, as hipóteses previstas no art. 52, III, CF representam o controle
parlamentar direto. Além disso, temos as Comissões Parlamentares de Inquérito
(CPI), previstas no art. 58, §3º, CF, com poderes de investigação próprios de
autoridades judiciais, para apuração de fato determinado e por prazo certo. As
conclusões da CPI devem ser levadas ao conhecimento do Ministério Público, a
quem compete promover a responsabilização civil ou criminal dos infratores.
Destacamos ainda como manifestação do controle parlamentar a Comissão
Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização (CMO), prevista no art.
166, §1º, CF. Temos ainda, de acordo com o art. 71, CF, o controle externo
praticado pelo Congresso Nacional com o auxílio do Tribunal de Contas da
União. A doutrina entende que o TCU é um órgão administrativo que não está
subordinado à estrutura do Poder Legislativo (nem a outro Poder, lembre-se
disso, é recorrente em provas!). O TCU é um órgão colegiado composto por nove
Ministros (art. 73, CF), que possui autonomia funcional, administrativa,
financeira, orçamentária e quadro próprio de pessoal. Seus ministros equiparam-
se aos Ministros do STJ (art. 73, §3º, CF). As competências do Tribunal de
Contas da União estão previstas no art. 71, CF, vejamos:

I - apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presidente da República,


mediante parecer prévio que deverá ser elaborado em sessenta dias a
contar de seu recebimento; Lembre-se de que o TCU não julga as contas
anuais do Presidente, pois o julgamento compete ao Congresso Nacional (art.
49, IX, CF), e a tomada de contas compete à Câmara dos Deputados (art. 51, II,
CF). O Tribunal de Contas limita-se a apresentar parecer prévio conclusivo, mas
meramente opinativo (no entanto, nos municípios, o parecer prévio só deixa de
prevalecer por decisão de dois terços dos membros da Câmara Municipal, vide
art. 31, §2º, CF).

II - julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por


dinheiros, bens e valores públicos da administração direta e indireta, 80
incluídas as fundações e sociedades instituídas e mantidas pelo Poder
Público federal, e as contas daqueles que derem causa a perda, extravio ou
outra irregularidade de que resulte prejuízo ao erário público; Na hipótese
desse inciso, o TCU efetivamente realiza o julgamento, decidindo se as contas
são regulares, regulares com ressalvas ou irregulares.

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105
III - apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de admissão de
pessoal, a qualquer título, na administração direta e indireta, incluídas as
fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público, excetuadas as
nomeações para cargo de provimento em comissão, bem como a das
concessões de aposentadorias, reformas e pensões, ressalvadas as
melhorias posteriores que não alterem o fundamento legal do ato
concessório;

IV - realizar, por iniciativa própria, da Câmara dos Deputados, do Senado


Federal, de Comissão técnica ou de inquérito, inspeções e auditorias de
natureza contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial, nas
unidades administrativas dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário,
e demais entidades referidas no inciso II;

V - fiscalizar as contas nacionais das empresas supranacionais de cujo


capital social a União participe, de forma direta ou indireta, nos termos do
tratado constitutivo;

VI - fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos repassados pela União


mediante convênio, acordo, ajuste ou outros instrumentos congêneres, a
Estado, ao Distrito Federal ou a Município;

VII - prestar as informações solicitadas pelo Congresso Nacional, por


qualquer de suas Casas, ou por qualquer das respectivas Comissões,
sobre a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e
patrimonial e sobre resultados de auditorias e inspeções realizadas;

VIII - aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa ou


irregularidade de contas, as sanções previstas em lei, que estabelecerá,
entre outras cominações, multa proporcional ao dano causado ao erário;

IX - assinar prazo para que o órgão ou entidade adote as providências


necessárias ao exato cumprimento da lei, se verificada ilegalidade;

X - sustar, se não atendido, a execução do ato impugnado, comunicando a


decisão à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal;

XI - representar ao Poder competente sobre irregularidades ou abusos


apurados.

§ 1º No caso de contrato, o ato de sustação será adotado diretamente pelo


Congresso Nacional, que solicitará, de imediato, ao Poder Executivo as
medidas cabíveis.
81
§ 2º Se o Congresso Nacional ou o Poder Executivo, no prazo de noventa
dias, não efetivar as medidas previstas no parágrafo anterior, o Tribunal
decidirá a respeito.

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106
§ 3º As decisões do Tribunal de que resulte imputação de débito ou multa
terão eficácia de título executivo.
§ 4º O Tribunal encaminhará ao Congresso Nacional, trimestral e
anualmente, relatório de suas atividades.

A responsabilidade pelo controle externo será definida a depender da origem


orçamentária primária dos recursos.

Instrumento para fiscalizar a atuação estatal. Exercida


por órgãos e entidades da própria Administração Pública,
dos Poderes Legislativo e Judiciário, assim como pelo
povo diretamente.

Classificação:
CONTROLE DA Quanto à natureza do órgão controlador:
ADMINISTRAÇÃO Controle legislativo: art. 70, CF.
PÚBLICA Controle judicial;
Controle administrativo: decorrência do poder de
autotutela da Administração Pública. Vide Súmula 473,
STF.
Quanto à extensão do controle:
Interno;
Externo.
Quanto ao âmbito de atuação:
Por subordinação;
Por vinculação.
Quanto ao momento do exercício:
Prévio;
Concomitante;
Posterior.
Quanto à iniciativa:
Controle de ofício;
Controle provocado.
Competência do TCU: art. 71, CF.

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107
(PC-AC, DELEGADO DE POLÍCIA, 2017) Quanto ao
Controle da Administração Pública, é correto afirmar:
a) Quanto aos sistemas de controle da Administração
Pública, o ordenamento brasileiro filiou-se ao sistema
francês ou de dualidade de jurisdição, na medida em que
vários órgãos colegiados administrativos possuem a
função atípica de julgamento de recursos administrativos.
b) A Administração pode anular seus próprios atos,
quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque
deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo
de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos
adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a
apreciação judicial.
c) Por inexistir hierarquia entre a administração direta e a
administração indireta, veda-se o controle administrativo
desta por aquela. Neste norte de ideias, caso a
administração direta discorde da atuação da
administração indireta, o caso controvertido deve ser
judicializado.
d) Como regra, para que um ato da Administração Pública
seja controlado pelo Poder Judiciário, deve o interessado
QUESTÃO 1 esgotar a via administrativa percorrendo todas as suas
instâncias.
e) Os Tribunais de Contas dos Estados integram o Poder
Judiciário estadual e exercem controle externo da
Administração Pública.

GABARITO COMENTADO:
(A) INCORRETA: Conforme mencionado em momento
oportuno, o ordenamento brasileiro adotou o sistema de
jurisdição uma (sistema inglês), de forma que as decisões
administrativas podem ser revisadas pelo Poder
Judiciário (princípio da inafastabilidade da jurisdição).
(B) CORRETA: Expressa o entendimento previsto na
Súmula 473, STF.
(C) INCORRETA: A assertiva trata do controle finalístico,
o qual é admitido pelo ordenamento jurídico brasileiro.
(D) INCORRETA: é desnecessário o prévio esgotamento
da via administrativa para que um ato da Administração
Pública seja apreciado pelo Poder Judiciário, salvo nos
casos expressamente previstos no ordenamento jurídico.

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108
(E) INCORRETA: Os Tribunais de Contas dos Estados
exercem o controle externo, mas não pertence a nenhum
dos Poderes.

13. PROCESSO ADMINISTRATIVO

Recomendamos o estudo do tema com a Lei 9.784/1999 em mãos!


Trata-se de uma lei federal, cuja aplicação restringe-se ao âmbito da
Administração federal direta e indireta (vide art. 1º da Lei) 16. Além disso, caso
existam leis próprias disciplinando determinados processos administrativos, a
aplicação desse diploma legal será subsidiária (vide art. 69 da Lei). Nos termos
do art. 2º, a Administração Pública está obrigada a seguir os princípios da
legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade,
ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.
Além desses, a doutrina admite a aplicação dos seguintes princípios:
oficialidade, gratuidade (vide art. 2º, §único, XI), razoável duração do processo
(vide art. 5º, LXXVIII, CF) e publicidade (art. 37, CF).
A seguir, temos no art. 3º da Lei os direitos dos administrados, quais sejam: Ser
tratado com respeito pelas autoridades e servidores, que deverão facilitar o
exercício de seus direitos e o cumprimento de suas obrigações; Ter ciência da
tramitação dos processos administrativos em que tenha a condição de
interessado, ter vista dos autos, obter cópias de documentos neles contidos e
conhecer as decisões proferidas; Formular alegações e apresentar documentos
antes da decisão, os quais serão objeto de consideração pelo órgão competente;
Fazer-se assistir, facultativamente, por advogado, salvo quando obrigatória a
representação, por força de lei. Sobre o tema, temos ainda a Súmula Vinculante
nº 5, segundo a qual, a falta de defesa técnica por advogado no processo
administrativo disciplinar não ofende a constituição.
O art. 4º da Lei aborda os deveres dos administrados, quais sejam: Expor os
fatos conforme a verdade; Proceder com lealdade, urbanidade e boa-fé; Não agir
de modo temerário; Prestar as informações que lhe forem solicitadas e colaborar
para o esclarecimento dos fatos.

Nos termos do art. 69-A, Lei 9.784/1999, haverá prioridade na tramitação


processual, em qualquer órgão ou instância nos processos administrativos nos
quais figure como parte ou interessado:
Pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos;

16
Apesar disso, o STJ entende que a Lei 9.784/1999 pode ser aplicada subsidiariamente aos estados e
municípios que não disponham de legislação própria sobre processo administrativo. No Distrito Federal,
a Lei Distrital 2.834/20014 afirma que serão aplicadas neste ente federativo, no que couber, as
disposições da Lei Federal 9.784/1999.

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109
Pessoa portadora de deficiência, física ou mental;
Pessoa portadora de tuberculose ativa, esclerose múltipla, neoplasia
maligna, hanseníase, paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia grave,
doença de Parkinson, espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave,
hepatopatia grave, estados avançados da doença de Paget (osteíte
deformante), contaminação por radiação, síndrome de imunodeficiência
adquirida, ou outra doença grave, com base em conclusão da medicina
especializada, mesmo que a doença tenha sido contraída após o início do
processo.

No que se refere à instauração do processo administrativo, o art. 5º da Lei, afirma


que poderá se iniciar de ofício ou a requerimento do interessado (art. 9º da Lei)
e, no segundo caso, deve obediência aos requisitos propostos pelo art. 6º. Ao
mesmo tempo, o art. 6º, §único aduz que é vedada à Administração a recusa
imotivada de recebimento de documentos, devendo o servidor orientar o
interessado quanto ao suprimento de eventuais falhas. Com o escopo de facilitar
os pedidos dos interessados, os órgãos e entidades administrativas deverão
elaborar modelos ou formulários padronizados para assuntos que importem
pretensões equivalentes. São impedidos de atuar no processo administrativo o
servidor ou autoridade que tenha interesse direto ou indireto na matéria, haja
participado ou venha a participar como perito, testemunha ou representante, ou
se tais situações ocorrem quanto ao cônjuge, companheiro ou parente e afins
até o terceiro grau ou, ainda, esteja litigando judicial ou administrativamente com
o interessado ou respectivo cônjuge ou companheiro (art. 18 da Lei). Caso o
servidor ou a autoridade não comuniquem o impedimento, incorrerão em falta
grave, nos termos do art. 19 do mesmo diploma legal. A suspeição, por sua vez,
está prevista no art. 20 da Lei e pode ser arguida em caso de amizade íntima ou
inimizade notória da autoridade ou servidor com algum dos interessados ou com
os respectivos cônjuges, companheiros, parentes e afins até o terceiro grau.

No que se refere à delegação de competências, o art. 14 da Lei 9.784/1999


apresenta as suas formalidades, quais sejam: ato de delegação e sua
revogação deverão ser publicados em meio oficial; o ato de delegação deve
especificar as matérias e poderes transferidos, os limites da atuação do
delegado, a duração e os objetivos da delegação e o recurso cabível, podendo
conter ressalva de exercício da atribuição delegada. Não podem ser objeto
de delegação: a edição de atos de caráter normativo; a decisão de recursos
administrativos; e as matérias de competência exclusiva do órgão ou
autoridade. Já a avocação (art. 15 da Lei), é permitida em caráter excepcional
e por motivos relevantes devidamente justificados. Não haverá avocação
quando a competência for exclusiva do subordinado.
Os atos processuais, em regra, não possuem forma, mas a lei poderá exigir
expressamente algumas formalidades (art. 22 da Lei). Devem ser produzidos por

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110
escrito, em língua portuguesa, com data, local de realização e assinatura da
autoridade responsável. A autenticidade dos documentos exigidos em cópia
poderá ser realizada pelo órgão administrativo, dispensando o reconhecimento
em cartório (art. 22, §3º da Lei). O reconhecimento de firma, salvo imposição
legal, só poderá ser exigido quando houver dúvida de autenticidade, conforme
preleciona o art. 22, §2º da Lei. Os atos processuais devem ocorrer em dias
úteis, em horário de funcionamento das repartições. Poderão ser concluídos
depois do horário normal os atos já iniciados, cujo andamento prejudique o curso
regular do procedimento ou cause danos ao interessado ou à Administração
(vide art. 23 da Lei).

A comunicação dos atos processuais será feita por intimação (art. 28 da Lei).
Quando exigido o comparecimento do interessado, a intimação deve ocorrer
obedecendo a antecedência mínima de três dias úteis (art. 26, §2º). Além disso,
importante notar que o art. 27 da Lei afasta a possibilidade de a Administração
considerar como verdadeiros os fatos pelo simples motivo de o interessado
desatender a intimação. Sendo assim, não há preclusão do direito de defesa. A
instrução processual destina-se a averiguar e comprovar os dados necessários
à tomada de decisão, realizam-se de ofício ou mediante impulsão do órgão
responsável pelo processo, sem prejuízo do direito dos interessados de propor
atuações probatórias (art. 29 da Lei).

Além disso, são inadmissíveis as provas ilícitas. No que se refere ao ônus da


prova, a Lei determina que cabe ao interessado a prova dos fatos que tenha
alegado, sem prejuízo do dever atribuído ao órgão competente para a instrução
(art. 36). Durante a fase instrutória e antes da tomada de decisão, o interessado
poderá juntar documentos e pareceres, requerer diligências e perícias, bem
como aduzir alegações referentes à matéria objeto do processo (art. 38).
Somente poderão ser recusadas, mediante decisão fundamentada, as provas
propostas pelos interessados quando sejam ilícitas, impertinentes,
desnecessárias ou protelatórias (art. 38, §2º). Encerrada a instrução, o
interessado terá o direito de manifestar-se no prazo máximo de dez dias, salvo
se outro prazo for legalmente fixado (art. 44). Em caso de risco iminente, a
Administração Pública poderá motivadamente adotar providências
acauteladoras sem a prévia manifestação do interessado (art. 45).

O art. 32 da Lei admite a possibilidade de realização de audiência pública para


debates sobre a matéria do processo, antes da tomada de decisão, a juízo da
autoridade, diante da relevância da questão (arts. 32 e 33 da Lei).

A Administração tem o dever de decidir nos processos administrativos e sobre


solicitações ou reclamações, em matéria de sua competência (art. 48), no prazo
de até trinta dias após a conclusão da instrução do processo administrativo, salvo

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111
prorrogação por igual período expressamente motivada (art. 49). Os atos devem
ser devidamente motivados (art. 50). O interessado poderá, mediante
manifestação escrita, desistir total ou parcialmente do pedido formulado ou,
ainda, renunciar a direitos disponíveis (art. 51). Havendo vários interessados, a
desistência ou renúncia atinge somente quem a tenha formulado (art. 51, §1º).
O órgão competente poderá declarar extinto o processo quando exaurida sua
finalidade ou o objeto da decisão se tornar impossível, inútil ou prejudicado por
fato superveniente (art. 52).

Por fim, temos os recursos administrativos e a revisão. O recurso caberá em


face de razões de mérito e legalidade (vide art. 56), será dirigido à autoridade
que proferiu a decisão que poderá se reconsiderar no prazo de cinco dias. Não
havendo reconsideração no aludido prazo, o recurso será encaminhado para a
autoridade superior (art. 56, §1º). A interposição de recurso administrativo
independerá de caução, salvo exigência legal (art. 56, §2º), no mesmo sentido,
Súmula Vinculante nº 21.

Além disso, se o recorrente alegar que a decisão administrativa contraria


enunciado da Súmula Vinculante, caberá à autoridade prolatora da decisão
impugnada, se não a reconsiderar, explicitar, antes de encaminhar o recurso à
autoridade superior, as razões da aplicabilidade ou inaplicabilidade da Súmula,
conforme o caso (art. 56, §3º).

O art. 58 apresenta o rol de legitimados para apresentar o recurso administrativo,


quais sejam: os titulares de direitos e interesses que forem parte no processo,
aqueles cujos direitos ou interesses forem indiretamente afetados pela decisão
recorrida, as organizações e associações representativas, no tocante a direitos
e interesses coletivos e os cidadãos ou associações, quanto à direitos ou
interesses difusos. O prazo para a interposição do recurso administração é, em
regra, 10 dias (art. 59). Salvo disposição legal em contrário, o recurso não tem
efeito suspensivo (art. 61). Havendo justo receio de prejuízo de difícil ou i certa
reparação decorrente da execução, a autoridade recorrida ou a imediatamente
superior poderá, de ofício ou a pedido, dar efeito suspensivo ao recurso (art. 61,
§1º). Nos termos do art. 64, O órgão competente para decidir o recurso poderá
confirmar, modificar, anular ou revogar, total ou parcialmente, a decisão
recorrida, se a matéria for de sua competência. É permitido ainda no recurso, a
reformatio in pejus, a qual deverá ser cientificada para que formule suas
alegações antes da decisão (art. 64, §único).

Com relação ao instituto da revisão, temos que os processos administrativos de


que resultem sanções poderão ser revistos a qualquer tempo, a pedido ou de
ofício, quando surgirem fatos novos ou circunstâncias relevantes suscetíveis de
justificar a inadequação da sanção aplicada. A revisão não poderá agravar a
sanção, de modo que a lei permite a reformatio in pejus apenas nos recursos
administrativos e veda expressamente no caso de revisão de processos que
resultem sanções. No que se refere às sanções, estabelece o art. 68 que
deverão ser aplicadas por autoridade competente, terão natureza pecuniária ou
consistirão em obrigação de fazer ou de não fazer, assegurada a ampla defesa.

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112
É permitida a “prova emprestada” no processo administrativo
C disciplinar, desde que devidamente autorizada pelo juízo
competente e respeitados o contraditório e a ampla defesa.

Súmula 591- STJ: É permitida a “prova emprestada” no processo


administrativo disciplinar desde que devidamente autorizada pelo juízo
competente e respeitados o contraditório e a ampla defesa. (STJ, 1a Seção.
Aprovada em 13/09/2017).

Recomendamos o estudo aprofundado da Lei


9.784/1999.
Princípios: legalidade, finalidade, motivação,
razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla
defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse
público e eficiência.
Direitos e deveres dos administrados: arts. 3º e 4º da Lei.
Prioridade na tramitação processual: art. 69-A da Lei.
PROCESSO
ADMINISTRATIVO Processo administrativo poderá ser iniciado de ofício ou
a requerimento do interessado.
Delegação e avocação de competências: arts. 14 e 15
da Lei.
Não podem ser objeto de delegação: a edição de atos
de caráter normativo; a decisão de recursos
administrativos; e as matérias de competência exclusiva
do órgão ou autoridade.
Cabe ao interessado a prova dos fatos que tenha
alegado, sem prejuízo do dever atribuído ao órgão
competente para a instrução (art. 36).
Atenção ainda para as hipóteses de cabimento de
recurso administrativo (art. 56) e revisão.
A revisão não poderá agravar a sanção, mas nos
recursos administrativos é admitida a reformatio in pejus.

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113
(PC-DF, DELEGADO DE POLÍCIA, 2015) Com base na
Lei n.º 9.784/1999, que trata do processo administrativo
no âmbito da União, assinale a alternativa correta.
a) O princípio da vedação da reformatio in pejus não se
aplica ao recurso administrativo previsto na Lei n.º
9.784/1999.
b) Diante do princípio do dispositivo e da imparcialidade,
o ônus da prova incumbe a quem alega, sendo vedado à
administração juntar, de ofício, aos autos do processo
documentos indicados pelo interessado.
c) Diante do princípio da asserção, o processo
administrativo somente pode ser iniciado pela parte
interessada, não podendo o servidor orientar o
interessado quanto ao suprimento de eventuais falhas,
sob pena de infração disciplinar.
d) São legitimados como interessados no processo
administrativo as pessoas jurídicas ou associações,
legalmente constituídas há pelo menos um ano, na
defesa de interesses difusos.
e) Suponha-se que a lei determine que certa autoridade
QUESTÃO 01 tem competência para regulamentar uma norma legal
com caráter normativo. Nesse caso, essa competência
poderá ser delegada.
GABARITO COMENTADO:
(A) CORRETA: Conforme dissemos, nos recursos
administrativos pode haver a reformati o in pejus. Sendo
assim, segundo o art. 64 da Lei 9.784/1999, o órgão
competente para decidir o recurso poderá confirmar,
modificar, anular ou revogar, total ou parcialmente, a
decisão recorrida, d esde que se trate de matéria da sua
competência. É possível, inclusive, que a autoridade s do
recorrente, ou seja, agravando a sua situação inicial.
(B) INCORRETA: De acordo com o art. 36 da Lei
9.784/1999, cabe ao interessado a prova dos fatos que
tenha alegado, sem prejuízo do dever atribuído ao órgão
competente para a instrução.
(C) INCORRETA: O processo administrativo pode ser
iniciado de ofício, conforme visto. Além disso, o art. 6º,

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114
§único dispõe que o servidor deve orientar o interessado
quanto ao suprimento de eventuais falhas.
(D) INCORRETA: Nos termos do art. 9º da Lei 9.784/99,
as pessoas ou as associações legalmente constituídas
são legitimadas no processo administrativo, quanto a
direitos ou interesses difusos, não havendo na lei
ressalva quanto ao tempo de constituição da entidade.
(E) INCORRETA: Dispõe o art. 13 da Lei 9.784/99 que a
competência para editar atos de caráter normativo não
pode ser delegada.

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115
APRESENTAÇÃO

Caro(a) Aluno(a),

A preparação para concursos públicos exige profissionalismo, métrica e


inteligência. Cada minuto despendido deve ser bem gasto! Por isso, uma
preparação direcionada, focada nos pontos com maior probabilidade de
cobrança no seu certame, pode representar a diferença entre aprovação e
reprovação.

Ciente disso, a Ad Verum Suporte Educacional, empresa do Grupo CERS


ONLINE, concebeu o curso INTELIGÊNCIA PDF – CARREIRAS JURÍDICAS,
que tem por premissa fundamental “atacar” os pontos nucleares de cada matéria,
com vistas a antecipação dos temas com maiores chances de cobrança em sua
prova.

Fazer isso não é tarefa fácil! É necessário um árduo esforço de pesquisa,


levando-se em consideração fatores como banca examinadora e respectivos
membros (sempre que possível), retrospecto do concurso, recorrência temática
dentro de cada disciplina, importância de cada tema, momento da segurança
pública do país, dentre tantos outros, aliados a experiência de Professores de
projeção nacional, com larguíssima experiência na análise do perfil dos mais
diferentes certames.

Para tornar tudo isso uma realidade, a Ad Verum investiu muito em seu Método
de Aceleração de Aprendizagem (MAVAA). Hoje, contamos com um SETOR DE
INTELIGÊNCIA, responsável por ampla coleta de dados e informações das mais
diferentes fontes relacionadas ao universo de cada concurso e/ou exame
profissional, de modo, a partir do processamento dos dados coletados, oferecer
aos seus alunos uma experiência diferenciada quando comparada a tudo que
ele conhece em matéria de preparação para carreiras públicas.

Racionalizar o estudo do aluno é mais que um objetivo para Ad Verum, trata-se


de uma obsessão.

Estude inteligente, estude Ad Verum!

Francisco Penante
CEO Ad Verum Suporte Educacional
SUMÁRIO

I - TEORIA GERAL DO DIREITO EMPRESARIAL ........................................... 4


1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 4
EVOLUÇÃO DO DIREITO EMPRESARIAL (FASES) ....................................... 4
1.1. Fase das corporações de ofício: .............................................................. 4
1.2. Fase da teoria dos atos de comércio: ...................................................... 4
1.3. Fase da teoria da empresa: ..................................................................... 5
2. EMPRESÁRIO E EMPRESA ......................................................................... 6
3. EXCEÇÕES À CARACTERIZAÇÃO COMO EMPRESÁRIO ........................ 7
3.1. Exercentes de atividade civil: ................................................................... 7
3.2. Cooperativas: ........................................................................................... 7
3.3. Empresário Rural: .................................................................................... 7
3.4. Profissão intelectual ................................................................................. 7
4. EMPRESÁRIO INDIVIDUAL .......................................................................... 7
5. EMPRESÁRIO CASADO E SÓCIOS CASADOS .......................................... 9
6. EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA .................. 9
7. REGISTRO NA JUNTA COMERCIAL ......................................................... 10
8. ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL ....................................................... 11
8.1. Aviamento .............................................................................................. 12
8.2. Ponto empresarial, clientela e freguesia ................................................ 12
9. PREPOSTOS ............................................................................................... 13
10. ESCRITURAÇÃO....................................................................................... 14
11. NOME EMPRESARIAL .............................................................................. 15
11.1. Firma ou razão ..................................................................................... 16
11.2. Denominação ....................................................................................... 17
11.3. Nome e tipo empresarial ...................................................................... 17
11.4. Inalienabilidade do nome empresarial .................................................. 19
11.5. Perda automática do nome empresarial............................................... 19
12. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA ....................... 19
II – DIREITO SOCIETÁRIO .............................................................................. 20
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 20
2. SOCIEDADES EMPRESÁRIAS E SOCIEDADES SIMPLES ...................... 21

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3. TIPOS SOCIETÁRIOS EMPRESÁRIOS ...................................................... 22
3.1 Sociedade em nome coletivo .................................................................. 22
3.2 Sociedade em comandita simples........................................................... 22
3.3 Sociedade Limitada ................................................................................. 23
3.4 Sociedade em Comandita por Ações ...................................................... 28
3.5 Sociedade Anônima ................................................................................ 28
4. SOCIEDADES NÃO PERSONIFICADAS .................................................... 30
4.1. Sociedade em comum: .......................................................................... 30
4.2. Sociedade em conta de participação: .................................................... 30
5. DA CLASSIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES ................................................. 32
5.1. Quanto ao ato constitutivo:..................................................................... 32
5.2. Quanto à responsabilidade dos sócios: ................................................. 32
5.3. Quanto às condições para alienação da participação societária:........... 33
III – DIREITO CAMBIÁRIO .............................................................................. 37
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 37
2. CLASSIFICAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITO ........................................ 37
2.1. Quanto ao modelo.................................................................................. 37
2.2. Quanto à estrutura ................................................................................. 38
2.3. Quanto à circulação ............................................................................... 38
2.4. Quanto à emissão .................................................................................. 38
3. TÍTULOS DE CRÉDITO EM ESPÉCIE ........................................................ 39
3.1. Letra de câmbio ..................................................................................... 39
3.1.1. Requisitos formais da letra de câmbio: ............................................ 39
3.1.2. Aceite: .............................................................................................. 39
3.1.3. Aval: ................................................................................................. 41
3.1.4. Endosso: .......................................................................................... 42
3.1.5. Prescrição: ....................................................................................... 43
3.1.6. Protesto extrajudicial:....................................................................... 43
3.2. Nota promissória .................................................................................... 44
3.3. Cheque:.................................................................................................. 44
3.4. Duplicata: ............................................................................................... 45
IV - DIREITO FALIMENTAR ............................................................................ 47
4.1. NATUREZA JURÍDICA E PRINCÍPIOS RELEVANTES ......................... 48

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4.2. PRESSUPOSTOS DA FALÊNCIA ......................................................... 48
4.3. PROCEDIMENTO PARA DECRETAÇÃO DE FALÊNCIA ..................... 48
4.4. AGENTES EXCLUÍDOS DO REGIME FALIMENTAR ........................... 48
4.5. AGENTES QUE PODEM REQUERER A FALÊNCIA ............................ 49
4.6. FORO COMPETENTE PARA O PEDIDO DE FALÊNCIA ..................... 49
4.7. CRITÉRIOS DE DETERMINAÇÃO DA INSOLVÊNCIA DO DEVEDOR 49
4.8. DECRETAÇÃO DA FALÊNCIA .............................................................. 50
4.9. EFEITOS COM RELAÇÃO AO DEVEDOR............................................ 51
4.10. EFEITOS COM RELAÇÃO AOS CREDORES DO FALIDO ................ 51

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I - TEORIA GERAL DO DIREITO EMPRESARIAL

1. INTRODUÇÃO

EVOLUÇÃO DO DIREITO EMPRESARIAL (FASES)


1.1. Fase das corporações de ofício: Antes da fase das corporações de ofício
(entidades de classe dos comerciantes), não era feita divisão entre o direito
empresarial e o direito civil (segundo ASCARELLI sempre existiram regras
sobre matéria mercantil, inclusive em normatizações antigas, como o Código
de Hamurabi, embora não tenha existido um conjunto ordenado de normas
sobre o assunto).1

A fase das corporações de ofício na idade média (segunda metade do século


XII) traz o marco inicial do direito comercial, especialmente, em decorrência da
expansão marítima. Diante da ausência de uma regulamentação adequada, as
corporações de ofício começaram a regulamentar a atuação comercial da
época com base nos seus usos e costumes, facilitando-a.2 Durante a fase das
corporações de ofício, pode-se vislumbrar três subfases/caracterísicas: a)
Inicialmente, adotava-se o sistema subjetivo, já que para ser comerciante era
necessário o registro nas corporações de ofício, registro este que tinha
natureza constitutiva (só com o registro o indivíduo tornava-se comerciante). O
direito comercial era aplicado apenas a quem fosse comerciante registrado nas
corporações de ofício (o comerciante não registrado se sujeitava ao direito
comum/civil). Era um sistema fechado e protetivo do comerciante registrado. 3
b) Em um segundo momento, marcado pela ascensão da burguesia, que se
tornou o governo da sociedade urbana (expressão de Arnoldo Wald), as leis
comerciais passaram a ser aplicadas a outras pessoas, ainda que não
registrados.c) Com o início da idade moderna, surgiram leis estatais e Tribunais
próprios a incidir sobre as relações de comércio. Na França ainda existe um
Tribunal de Especializado de Comércio, o que ratifica a autonomia deste Ramo
do Direito.

1.2. Fase da teoria dos atos de comércio: Também conhecido como sistema
francês, teve início na Revolução Francesa, tendo como principal legislação o
Código Comercial Francês de 1808 (Código Comercial Napoleônico). Passou a
utilizar um sistema objetivo, considerando o indivíduo como comerciante não
em razão de seu registro, mas da atividade por ele exercida (se exercer ato de
comércio, a pessoa será comerciante, independentemente de ser registrado
em determinada corporação).4

1
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016. pp. 33.
2
PENANTE JR, Francisco. Resumos para concursos, vol. 37, Direito Empresarial, 2ª
edição. São Paulo: Editora jus podivm, 2017. p.14.
3
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016. pp. 33.
4
MAMEDE, Gladston. Manual de direito empresarial. São Paulo: Atlas, 2017. pp. 2-3.

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É a teoria utilizada até então na França, dividindo os sujeitos como civis ou
comerciais. Por se basear em um rol de atividades distintas que a lei quis
considerar como atos de comércio, REQUIÃO diz que a teoria dos atos de
comércio não se reveste de consistência científica. 2
O Direito Brasileiro, inicialmente, utilizou a teoria dos atos de comércio. O
Código Comercial de 1850 foi baseado no Code de Commerce de 1808
(Código Mercantil Napoleônico) e também nos Códigos Espanhol e Português.
Atualmente, ainda está em vigor o Código Comercial em relação ao Direito
Marítimo. O Código Comercial Brasileiro destoou do Código Comercial Francês
ao não elencar o rol de atos de comércio no próprio diploma, ficando a cargo
do Regulamento 737 de 1850 estabelecer a abrangência destes atos no Brasil.

O marco inicial do Direito Comercial Brasileiro é a Lei de Abertura dos Portos


às Nações Amigas de 1808. A teoria dos atos de comércio sempre foi criticada
ao deixar de fora importantes atividades econômicas. Por exemplo, no
Regulamento 737 havia a previsão do vendedor de bens móveis como
comerciante, mas silenciava em relação a quem vendesse bens imóveis. A
teoria dos atos de comércio também não considerava comerciante o prestador
de serviços, já que não exercia atos de intermediação (entre a indústria e o
consumidor). Nisso, importantes atividades econômicas não teriam os
benefícios dados aos comerciantes, como a possibilidade de requerer
concordata preventiva (hoje substituída pela recuperação judicial). A França,
que manteve a teoria dos atos de comércio, passou a prever que,
independentemente da atividade que exerçam, se submetem à jurisdição
comercial as sociedades anônimas, as sociedades limitadas, as sociedades em
nome coletivo e as sociedades em comandita, o que aproxima o regime ao
sistema italiano.5

1.3. Fase da teoria da empresa: Também conhecida como sistema italiano,


teve como berço o Códice Civile (Código Civil Italiano) de 1942, unificando o
direito privado da Itália. A teoria da empresa acarretou uma ampliação da
abrangência do Direito Comercial (agora Direito Empresarial). É o sistema
utilizado pelo Código Civil de 2002. Com esta teoria, surgem as idéias de
empresa e de empresário. Contam com a proteção das normas de direito
empresarial aqueles que praticarem empresa (atividade econômica, exercida
profissionalmente e organizada para a produção ou circulação de bens ou de
serviços).

Considera-se empresa a atividade, cuja marca essencial é a obtenção de


lucros com o oferecimento ao mercado de bens ou serviços, gerados estes
mediantes a organização dos fatores de produção (força de trabalho/mão de
obra, matéria-prima, capital e tecnologia). ASQUINI dividia a expressão
empresa em quatro perfis. Em um perfil subjetivo, empresa seria sinônimo de
empresário. Em um perfil funcional, empresa seria a atividade (utilizado pela
teoria da empresa). Em um perfil objetivo, empresa seria sinônimo de
patrimônio aziendal ou estabelecimento. Por fim, em um perfil corporativo,

5
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016. pp. 32-36.

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empresa é instituição, na medida em que reúne pessoas com propósitos
comuns (empresário e empregados).6

Saliente-se que, conforme entendimento majoritário, o Código Civil de 2002


não unificou o direito privado, mas apenas o direito dos contratos e das
obrigações. O Direito Empresarial permanece autônomo, apesar de o Código
Comercial ter sido derrogado pelo referido diploma (revogado parcialmente, já
que a parte sobre comércio marítimo permanece vigente).
Segundo doutrina majoritária, as fontes do moderno Direito Empresarial podem
ser primárias (ou imediatas) ou secundárias (ou mediatas). A fonte primária do
Direito Empresarial é a lei, ao passo que a fonte secundária abarca os usos, a
analogia e os princípios gerais de Direito. Jurisprudência e doutrina não são
fontes do Direito Empresarial.7

2. EMPRESÁRIO E EMPRESA
O Código Civil de 2002, em seu art. 966, caput, nos traz o conceito de
empresário como sendo aquele que exerce, profissionalmente, atividade
econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de
serviços. A essa atividade exercida se dá o nome de “empresa”. Assim, é
possível concluir que a empresa (ou atividade empresarial), para o direito
brasileiro, é entendida como aquela atividade econômica (busca o lucro)
exercida de forma profissional (com habitualidade) e organizada (mediante
organização dos fatores de produção) e direcionada à produção ou à
circulação de bens ou serviços.
Os fatores de produção que acarretam a organização da atividade empresária
são capital, insumos/matéria-prima, mão de obra e tecnologia. A ausência
de qualquer um desses fatores implica dizer que a atividade não é organizada
e, por consequência, não pode ser considerada empresa (será, pois, atividade
civil).8
Evidente, pois, que, desse somatório de elementos exsurge a ideia de
habitualidade na prática desta função, podendo-se afirmar que somente a
atividade praticada com certa constância pode ser reconhecida como de
natureza profissional. (REsp 1.539.154 de 25/11/2015)
A expressão empresário pode ser concebida em sentido amplo para abarcar o
empresário pessoa física (empresário individual) e o empresário pessoa
jurídica (sociedade empresária ou empresa individual de responsabilidade
limitada - EIRELI). Em sentido estrito, empresário é a pessoa física que exerce
empresa.
Importante salientar que a própria sociedade é empresária, e não os seus
sócios. Sócio de sociedade empresária não é considerado empresário.
Certas pessoas, como membros do MP e magistrados, não podem ser
empresários individuais, mas podem ser sócias de sociedade empresária,

6
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016. pp. 36-40.

7
FAZZIO JUNIOR, WALDO. Manual de direito comercial. São Paulo: Atlas, 2017. p.10
8
PENANTE JR, Francisco. Resumos para concursos, vol. 37, Direito Empresarial, 2ª
edição. São Paulo: Editora jus podivm, 2017. pp. 18-19.

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desde que não exerçam administração. Se exercerem, apesar da proibição,
serão responsabilizados pelas obrigações. No mesmo sentido, as pessoas
impedidas de ser empresários podem ser titulares de EIRELI, desde que não a
administrem.

3. EXCEÇÕES À CARACTERIZAÇÃO COMO EMPRESÁRIO

De forma didática, pode-se resumir os principais sujeitos que não são


considerados empresários. São eles:
3.1. Exercentes de atividade civil: Valendo-se da ideia de exclusão, não
estando presentes os elementos da empresa, a atividade exercida será civil.
3.2. Cooperativas: Apesar de registradas na Junta Comercial (art. 18 da Lei nº
5.764/71), as Cooperativas são sempre sociedades simples, exercendo
atividade civil por força de lei (art. 982 do CC/02).
3.3. Empresário Rural: Tem a faculdade de se registrar ou não perante o
Registro Público de Empresas Mercantis. Se não for registrado, não é
considerado empresário, exercendo atividade civil. Se optar pelo registro na
Junta Comercial, equiparar-se-á a empresário para todos os fins (art. 971 do
CC/02). Este registro terá natureza jurídica constitutiva, sendo exceção à regra
de que o registro do empresário na Junta Comercial tem natureza meramente
declaratória (uma vez que, via de regra, considera-se empresário em razão da
atividade exercida, e não em decorrência de registro). O empresário rural só
pode pedir recuperação e falir se for registrado, já que são institutos restritos
aos exercentes de empresa.
3.4. Profissão intelectual (de natureza científica, literária ou artística): Nos
termos do parágrafo único do art. 966 do Código Civil, em regra, não são
empresários os que exercem atividade intelectual (aquela de natureza
científica, literária ou artística), ainda que com o concurso de auxiliares.

A profissão intelectual será considerada empresária se o seu exercício


constituir elemento de empresa (quando a atividade intelectual for
absorvida pela organização dos fatores de produção, sendo apenas mais um
dos elementos da empresa). A ideia não se aplica à advocacia, sempre
atividade civil (art. 15 do Estatuto da OAB).

4. EMPRESÁRIO INDIVIDUAL
Trata-se de pessoa natural que exerce empresa, tendo responsabilidade
ilimitada (todo o seu patrimônio responde por todas as obrigações, tenha ou
não relação com o exercício da atividade). O fato de ser pessoa natural não
impede que o empresário individual seja inserido no Cadastro Nacional das
Pessoas Jurídicas - CNPJ para fins tributários.

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Apesar de ter responsabilidade ilimitada, a doutrina entende que o empresário
individual deve responder primeiro com os bens afetados à exploração da
empresa e, apenas subsidiariamente, com os bens não afetados. Nesse
sentido, é o Enunciado 5 da I Jornada de Direito Comercial.
Há idade mínima para iniciar a atividade como empresário individual (16 anos,
sendo o exercício da empresa causa de emancipação nos termos do art. 5º,
parágrafo único, inciso V, do Código Civil). Não há, contudo, idade mínima para
dar continuidade a uma empresa anteriormente iniciada por seus pais (que
faleceram) ou pelo autor da herança, devendo o menor ser representado ou
assistido (princípio da preservação da empresa). No mesmo sentido, pode o
empresário continuar a empresa por ele exercida enquanto capaz no caso de
incapacidade superveniente.
5
Em tais hipóteses, será necessária AUTORIZAÇÃO JUDICIAL, após exame
das circunstâncias e dos riscos da empresa, bem como da conveniência em
continuá-la, podendo a autorização ser revogada pelo juiz, ouvidos os pais,
tutores ou representantes legais do menor ou do interdito, sem prejuízo dos
direitos adquiridos por terceiros.
Como forma de proteção ao incapaz, não ficam sujeitos ao resultado da
empresa os bens que ele já possuía, ao tempo da sucessão ou da interdição,
desde que estranhos ao acervo da empresa, devendo tais fatos constar do
alvará que conceder a autorização.
Não se exige idade mínima para ser sócio ou titular de EIRELI (por analogia às
sociedades limitadas), mas este sócio menor deverá integralizar todo o capital,
não poderá ser administrador e deve estar assistido ou representado.

IDADE MÍNIMA
EMPRESÁRIO 16 anos para iniciar (causa de emancipação). Não há
INDIVIDUAL idade mínima para continuar. Deve estar representado
ou assistido
SÓCIO OU TITULAR Não há idade mínima. O menor deve estar
DE EIRELI representado ou assistido, não pode ser administrador,
todo o capital da sociedade deve ser integralizado. Se
o menor for emancipado, tem plena capacidade de ser
sócio.
IDADE MÍNIMA
Podem exercer a atividade de empresário os que estiverem em pleno gozo da
capacidade civil [os que não forem incapazes] e não forem legalmente
impedidos [falido não reabilitado, magistrados, membros do MP, etc.].
A pessoa legalmente impedida de exercer atividade própria de empresário, se
a exercer, responderá pelas obrigações contraídas.
Se o representante ou assistente do incapaz for pessoa que, por disposição de
lei, não puder exercer atividade de empresário, nomeará, com a aprovação do
juiz, um ou mais gerentes. Por exemplo, caso um menor de 16 anos herde a
empresa antes exercida por seus pais e o seu tutor seja impedido de exercer
empresa (por ser ele um Promotor de Justiça, por exemplo), ele deverá, com
aprovação do juiz, nomear gerente. Do mesmo modo, será nomeado gerente
em todos os casos em que o juiz entender ser conveniente. Contudo, a
aprovação do juiz não exime o representante ou assistente do menor ou do
interdito da responsabilidade pelos atos dos gerentes nomeados.

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A prova da emancipação e da autorização do incapaz e a de eventual
revogação desta serão INSCRITAS OU AVERBADAS NO REGISTRO
PÚBLICO DE EMPRESAS MERCANTIS.
O uso da nova firma caberá, conforme o caso, ao gerente; ou ao representante
do incapaz; ou a este, quando puder ser autorizado.

5. EMPRESÁRIO CASADO E SÓCIOS CASADOS


Corrente majoritária entende que o art. 978 é especial em relação ao art. 1.647,
I, do CC/02, podendo o empresário individual casado, sem necessidade de
outorga conjugal, em qualquer que seja o regime de bens, alienar os imóveis
que integrem o patrimônio da empresa ou gravá-los de ônus real. Segunda
corrente entende que deveria ser feita uma averbação no Cartório de Registro
de Imóveis e na Junta Comercial afetando o bem ao exercício da atividade,
autorizando a sua alienação ou que seja posto ônus real.
É possível que marido e mulher figurem como sócios na mesma sociedade,
desde que não sejam casados na comunhão universal ou separação
obrigatória de bens. Há dispensa de outorga conjugal para alienar ou gravar de
ônus reais os imóveis da empresa.
Além de no Registro Civil, serão arquivados e averbados, no Registro Público
de Empresas Mercantis, os pactos e declarações antenupciais do empresário,
o título de doação, herança, ou legado, de bens clausulados de
incomunicabilidade ou inalienabilidade.
A sentença que decretar ou homologar a separação judicial do empresário e o
ato de reconciliação não podem ser opostos a terceiros, antes de arquivados e
averbados no Registro Público de Empresas Mercantis.

6. EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA


A EIRELI não é uma sociedade, mas sim pessoa jurídica de direito privado
diversa (art. 44, VI, do CC/02). No Direito Brasileiro, as únicas sociedades
unipessoais existentes são a Sociedade Unipessoal de Advogado e a
Subsidiária Integral da Sociedade Anônima. A EIRELI não é sociedade.
A EIRELI será constituída por uma única pessoa, física ou jurídica (Instrução
Normativa nº 38/2017 do Departamento de Registro Empresarial e Integração -
DREI), titular da totalidade do capital social, devidamente integralizado, que
não será inferior a 100 (cem) vezes o maior salário-mínimo vigente no País.
A pessoa natural que constituir EIRELI, contudo, somente poderá figurar em
uma única empresa dessa modalidade.
O nome empresarial deverá ser formado pela inclusão da expressão "EIRELI"
após a firma ou a denominação social
A empresa individual de responsabilidade limitada também poderá resultar da
concentração das quotas de outra modalidade societária num único sócio,
independentemente das razões que motivaram tal concentração. Em regra,
uma sociedade se dissolve quando ocorrer a falta de pluralidade de sócios, não
reconstituída no prazo de 180 dias. Não ocorrerá a dissolução, contudo, se o
sócio remanescente requerer a transformação para empresário individual ou
para EIRELI. Poderá ser atribuída à empresa individual de responsabilidade
limitada constituída para a prestação de serviços de qualquer natureza a
remuneração decorrente da cessão de direitos patrimoniais de autor ou de

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imagem, nome, marca ou voz de que seja detentor o titular da pessoa jurídica,
vinculados à atividade profissional.
Aplicam-se à empresa individual de responsabilidade limitada, no que couber,
as regras previstas para as sociedades limitadas.

7. REGISTRO NA JUNTA COMERCIAL


O empresário individual deve se registrar no Registro Público de Empresas
Mercantis, a cargo da Junta Comercial da sua sede, antes do início da sua
atividade. Ele preenche a firma de declaração de empresário individual e deve
indicar seu nome, nacionalidade, domicílio, estado civil e regime de bens se
casado, bem como a firma individual (nome empresarial) que adotará, o objeto,
a sede da empresa e o capital. Igualmente, as sociedades empresárias e a
EIRELI devem ter seus atos constitutivos levados a registro na Junta
7 Comercial. As sociedades simples devem se registrar no Registro Civil das
Pessoas Jurídicas, a cargo do Cartório de Registro de Pessoas Jurídicas. As
cooperativas, apesar de simples, têm seu registro na Junta Comercial por
expressa previsão legal.
O registro é elemento que atribui regularidade à atividade empresária, não se
confundindo com os seus elementos caracterizadores. Se presentes os
requisitos do art. 966 do CC/02, a ausência do registro não lhe retira a
condição de empresário. Sem embargo, se registrada, estaremos diante de
atividade empresária exercida de modo regular, ao passo que, quando não, de
atividade empresária irregular. Portanto, a ausência do registro, como regra,
implica em situação de irregularidade ou clandestinidade, fato que leva a
inúmeras limitações, exceto em relação ao empresário rural, conforme tópico
4.3.9
São três as principais espécies de registro, regulamentadas no art. 32 da Lei
8.934/94. A primeira espécie de registro é a matrícula. Os auxiliares do
comércio (leiloeiros, trapicheiros...) devem ser matriculados para que possam
exercer a sua atividade, funcionando as Juntas Comerciais como espécie de
órgãos de classe.
A segunda espécie é o arquivamento, que nada mais é senão o nome dado
ao registro requerimento do empresário individual e do ato constitutivo da
sociedade empresária, da EIRELI e da cooperativa nas Juntas Comerciais,
bem como as posteriores alterações, dissoluções ou mesmo extinção destes.
Ademais, denomina-se averbação à espécie de arquivamento das alterações
que são anotadas à margem do registro do empresário.
Somente serão arquivados os atos constitutivos visados por um advogado,
conforme ensina o art. 1º, §2º, da Lei 8.906/94 – Estatuto da Ordem dos
Advogados do Brasil. Todavia, não se aplica às microempresas e às empresas
de pequeno porte o disposto no §2º do art. 1º da Lei nº 8.906/94. O
requerimento do empresário individual e os atos constitutivos das pessoas
jurídicas devem ser apresentados para arquivamento no órgão competente
dentro do prazo de 30 dias, a contar de sua lavratura (elaboração e assinatura).

9
PENANTE JR, Francisco. Resumos para concursos, vol. 37, Direito Empresarial, 2ª
edição. São Paulo: Editora jus podivm, 2017. p.31.

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Se apresentado tempestivamente, o registro retroage à data da sua lavratura
(efeitos ex tunc), mas se apresentado fora do prazo o registro não retroagirá
(efeitos ex nunc).

Há sociedade desde o momento em que os sócios assinam o ato constitutivo,


mas a personalidade jurídica será adquirida apenas com o registro.

A terceira espécie de registro é a autenticação, que é o registro dos


instrumentos de escrituração contábil da empresa, como livros empresariais e
cópias de documentos.
Algumas sociedades dependem de autorização do Poder Público para
funcionar. Assim, as Juntas Comerciais só poderão registrá-las uma vez
apresentada a respectiva autorização (sobre o tema, vale analisar os arts.
1.123 a 1.141 do CC/02).

8. ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL
O Código Civil de 2002 conceituou estabelecimento empresarial como o
complexo de bens organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou
por sociedade empresária. A alienação do estabelecimento empresarial ocorre
pelo contrato de trespasse, implicando mudança de titularidade. O trespasse
não se confunde com a cessão de cotas sociais, já que a cessão de cotas não
tem o condão de alterar o titular do estabelecimento empresarial (que continua
sendo a mesma sociedade empresária, só que passa a ser constituída por
outros sócios).
Com relação a terceiros, o trespasse só produzirá efeitos depois de averbado à
margem da inscrição do empresário na Junta Comercial e de publicado na
imprensa oficial.

A microempresa e a empresa de pequeno porte, nos termos do art. 71 da Lei


Complementar nº 123/06, ficam dispensadas da publicação de qualquer ato
Societário.

O trespasse, se não restarem bens suficientes para solver o passivo do


empresário, só terá eficácia com o consentimento dos credores, de modo
expresso ou tácito (considera-se como dado de forma tácita o consentimento
se os credores permanecerem em silêncio por 30 dias depois de notificados). A
falência pode ser decretada se o empresário transfere o estabelecimento a
terceiro, credor ou não, sem o consentimento de todos os credores e sem ficar

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com bens suficientes para solver seu passivo (art. 94, III, c, Lei de Falências). A
referida conduta se constitui, pois, em ato de falência.
No que tange à sucessão das obrigações do alienante, o adquirente do
estabelecimento responde pelo pagamento dos débitos anteriores à
transferência, desde que regularmente contabilizados, continuando o devedor
primitivo solidariamente obrigado pelo prazo de um ano, a partir, quanto
aos créditos vencidos, da publicação, e, quanto aos outros, da data do
vencimento. A mudança na propriedade ou na estrutura jurídica da empresa
não afetará os contratos de trabalho dos respectivos empregados (art. 448 da
CLT). No caso de trespasse na falência, o objeto da alienação estará livre de
qualquer ônus e não haverá sucessão do arrematante nas obrigações do
devedor, inclusive as de natureza tributária.
Antes do Código Civil de 2002, ao invés da expressão estabelecimento
empresarial, diversos autores utilizavam a expressão fundo de comércio.

8.1. Aviamento
É possível que se ofereça pela empresa valor superior ao simples somatório
dos bens que a integram, estimando a importância que se dá à organização do
complexo de bens e à forma como é empregada na busca do lucro 10. Assim,
entende-se por aviamento (ou fundo de comércio) a aptidão do
estabelecimento de gerar lucros. É o seu valor organizacional, o seu capital
intelectual. O estabelecimento empresarial e o seu aviamento são institutos
atávicos, ou seja, são elementos indissociáveis.11

8.2. Ponto empresarial, clientela e freguesia


Segundo aponta melhor doutrina, o ponto empresarial constitui um dos bens
incorpóreos que compõem o estabelecimento empresarial. É o local no qual o
empresário desenvolve a sua atividade. O efetivo exercício da empresa dota
determinado imóvel de um atributo que antes não possuía, acrescentando-lhe
valor imaterial de ponto empresarial12
Segundo a doutrina protege-se o ponto empresarial em especial para garantir o
exercício da empresa com a facilitação de transações entre o empresário e os
clientes e fregueses. Cliente é quem adquire um produto ou contrata um
serviço em razão de sua qualidade. Freguês, a seu turno, seria aquele que
adquire um produto ou contrata um serviço em razão de sua localização, por
facilidade no momento13.
A importância de proteção ao ponto empresarial se destaca em razão da
freguesia e da clientela que o empresário possui, mas não apenas em razão
disto. É igualmente importante para garantir acesso a fornecedores, mão
deobra, etc. O empresário pode exercer sua atividade em imóvel próprio ou

10
MAMEDE, Gladston. Manual de direito empresarial. São Paulo: Atlas, 2017. p. 240.

11
PENANTE JR, Francisco. LAURINDO, Felipe. Prática empresarial. Recife: Armador, 2016.
p.54.
12
PENANTE JR, Francisco. LAURINDO, Felipe. Prática empresarial. Recife: Armador, 2016.
p.55.
13
MAMEDE, Gladston. Manual de direito empresarial. São Paulo: Atlas, 2017. p. 242.

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não. Ainda que seja locado, o imóvel no qual o empresário exerce sua
atividade se constitui em seu ponto empresarial, merecendo proteção jurídica.
Nesse sentido, a Lei de Locações (Lei nº 8.245/91), nos seus arts. 51 a 57 e 71
a 75, estabelece a possibilidade de renovação compulsória do contrato de
locação de imóvel não residencial, através da chamada “ação renovatória”.
ESTABELECIMENO
ERESARIAL
ESTABELECIMENTO Complexo de bens organizado para exercício
EMPRESARIAL da empresa.

AVIAMENTO Valor organizacional do estabelecimento.


Aptidão do estabelecimento de gerar lucros.
PONTO EMPRESARIAL Local onde o empresário exerce sua atividade.

CLIENTE Quem adquire um produto ou contrata um


serviço em razão de sua qualidade.
FREGUÊS Quem adquire um produto ou contrata um serviço
em razão de sua localização, por facilidade no
momento.
NTONTO EMPRESARIALCLIENTFREGUÊ
9. PREPOSTOS
De forma simples, preposto é aquele que dirige ou pratica negócio empresarial
por incumbência de outrem, que é o preponente.14
O preposto não pode, sem autorização escrita, fazer-se substituir no
desempenho da preposição, sob pena de responder pessoalmente pelos atos
do substituto e pelas obrigações por ele contraídas.
O preposto, salvo autorização expressa, não pode negociar por conta própria
ou de terceiros, nem participar, embora indiretamente, de OPERAÇÃO DO
MESMO GÊNERO DA QUE LHE FOI COMETIDA, sob pena de responder por
perdas e danos e de serem retidos pelo preponente os lucros da operação.
Considera-se perfeita a entrega de papéis, bens ou valores ao preposto,
encarregado pelo preponente, se os recebeu sem protesto, salvo nos casos em
que haja prazo para reclamação.
Os assentos lançados nos livros ou fichas do preponente, por qualquer dos
prepostos encarregados de sua escrituração, produzem, salvo se houver
procedido de má-fé, os mesmos efeitos como se o fossem por aquele.
No exercício de suas funções, os prepostos são pessoalmente responsáveis,
perante os preponentes, pelos atos culposos; e, perante terceiros,
solidariamente com o preponente, pelos atos dolosos.
Os preponentes são responsáveis pelos atos de quaisquer prepostos,
praticados NOS SEUS ESTABELECIMENTOS E RELATIVOS À ATIVIDADE
DA EMPRESA, ainda que não autorizados por escrito. Quando tais atos
forem praticados fora do estabelecimento, somente obrigarão o preponente nos
limites dos poderes conferidos por escrito, cujo instrumento pode ser suprido
pela certidão ou cópia autêntica do seu teor.

14
MAMEDE, Gladston. Manual de direito empresarial. São Paulo: Atlas, 2017. p. 289.

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Considera-se gerente o preposto permanente no exercício da empresa, na
sede ou em sucursal, filial ou agência. O gerente pode estar em juízo em nome
do preponente, pelas obrigações resultantes do exercício da sua função.
Quando a lei não exigir poderes especiais, considera-se o gerente autorizado a
praticar todos os atos necessários ao exercício dos poderes que lhe foram
outorgados.
Na falta de estipulação diversa, consideram-se solidários os poderes conferidos
a dois ou mais gerentes. As limitações contidas na outorga de poderes, para
serem opostas a terceiros, dependem do arquivamento e averbação do
instrumento no Registro Público de Empresas Mercantis, salvo se provado
serem conhecidas da pessoa que tratou com o gerente.
Para o mesmo efeito e com idêntica ressalva, deve a modificação ou
revogação do mandato ser arquivada e averbada no Registro Público de
Empresas Mercantis. O preponente responde com o gerente pelos atos que
este pratique em seu próprio nome, mas à conta daquele.

10. ESCRITURAÇÃO
O Código Civil trata da escrituração do empresário, da EIRELI e da sociedade
empresária entre os seus artigos 1.179 e 1.195.
Escrituração nada mais é do que é o processo pelo qual se lançam
cronologicamente, em livros próprios, conjunto de fichas, conjunto de folhas
contínuas ou microfilms, todas as operações do empresário, fazendo um
balanço geral de seu ativo e passivo.15
Os agentes fiscais e previdenciários têm livre acesso aos livros empresariais,
limitado o exame aos pontos objeto da investigação (súmula 439 do Supremo
Tribunal Federal).
O processo de escrituração fica a cargo de um contabilista legalmente
habilitado, a menos que na localidade da empresa não exista nenhum, ocasião
na qual o empresário deverá contratar profissional que entenda competente
para a tarefa de escrituração de seus livros.16
O empresário deve seguir um sistema de contabilidade, mecanizado ou não,
com base na escrituração uniforme de seus livros, em correspondência com a
documentação respectiva, e a levantar anualmente o balanço patrimonial e o
de resultado econômico.
Os livros empresariais podem ser facultativos ou obrigatórios. Os livros
obrigatórios podem ser comuns (obrigatórios a todos os empresários, sendo
que atualmente o único livro obrigatório comum é o livro diário) ou especiais
(obrigatórios apenas para determinada atividade ou tipo societário).
O empresário não sofrerá sanção pela não escrituração dos livros facultativos,
uma vez que funcionam apenas como instrumentos para auxílio daqueles que
exercem atividade empresária.
Os livros empresariais devidamente autenticados servem como instrumento de
defesa do empresário, servindo como meio de prova. Nesse sentido, temos o
art. 418 do Código de Processo Civil, ao prever que os livros empresariais que

15
MAMEDE, Gladston. Manual de direito empresarial. São Paulo: Atlas, 2017. p. 209.

16
PENANTE JR, Francisco. Resumos para concursos, vol. 37, Direito Empresarial, 2ª
edição. São Paulo: Editora jus podivm, 2017. p.37.

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preencham os requisitos exigidos por lei provam a favor de seu autor no litígio
entre empresários.
Contudo, o Código de Processo Civil prevê, no seu art. 487, que os livros
empresariais também provam contra seu autor, sendo lícito ao empresário,
todavia, demonstrar, por todos os meios permitidos em direito, que os
lançamentos não correspondem à verdade dos fatos.
Ademais, apesar da importância, os livros empresariais não foram
considerados pelo art. 784 do Código de Processo Civil como títulos
executivos.

11. NOME EMPRESARIAL


O nome empresarial serve para identificar o empresário, a sociedade
empresária e a EIRELI no desenvolvimento da empresa. O nome empresarial é
regido pelos princípios da novidade (o nome empresarial a ser registrado deve
ser um nome novo) e da veracidade (o nome empresarial deve retratar a
veracidade acerca dos sócios e do objeto da empresa).
O nome de empresário deve distinguir-se de qualquer outro já inscrito no
mesmo registro. Se o empresário tiver nome idêntico ao de outros já inscritos
(homonímia), deverá acrescentar designação que o distinga. O mesmo deve
ocorrer em relação a nomes cuja pronúncia soe similar a outro já registrado
(homofonia).17

O nome de sócio que vier a falecer, for excluído ou se retirar, não pode ser
conservado na firma social. Se houver óbito, exclusão ou retirada de sócio cujo
nome civil integrava a firma, esta precisa ser alterada, sob pena de o espólio ou
o ex-sócio continuar a ter a mesma responsabilidade pelas obrigações sociais
que tinha quando era membro do quadro social.
Se a sociedade for formada por irmãos ou parentes com o mesmo sobrenome,
e a forma social contiver tal patronímico (sobrenome), o óbito de um deles não
obriga a sua modificação, salvo se o de cujus deixou manifestação expressa
em contrário. Nas hipóteses de óbito, exclusão ou retirada do fundador de uma
sociedade anônima, seu nome não precisará ser suprimido da firma social,
desde que ele não tenha oferecido oposição e que a sociedade resolva manter
inalterada a denominação.18

A proteção do nome empresarial decorre do registro do ato constitutivo na


Junta Comercial, pelo que fica restrita ao respectivo Estado-membro. Para se
conferir proteção do nome a nível nacional, é preciso fazer o registro nas
demais Juntas Comerciais. Diferentemente, a proteção à marca para
determinado ramo de atividade, a nível nacional, se dá com o seu registro no
Instituto Nacional da Propriedade Industrial - INPI.

O art. 1.166, p. ú, do CC, prevê que pode-se atribuir proteção a nível nacional
ao nome empresarial se registrado nos termos da lei especial. Ocorre, todavia,
17
PENANTE JR, Francisco. LAURINDO, Felipe. Prática empresarial. Recife: Armador, 2016.
p.70
18
PENANTE JR, Francisco. Resumos para concursos, vol. 37, Direito Empresarial, 2ª
edição. São Paulo: Editora jus podivm, 2017. p. 68.

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que a referida lei ainda não foi editada, razão pela qual o empresário que
desejar ter proteção a nível nacional do seu nome empresarial deve registrá-lo
em todas as Juntas Comerciais do país.

O nome empresarial não se confunde com o título do estabelecimento/nome


fantasia, que o signo distintivo do estabelecimento empresarial. Por exemplo,
Banco Santander S.A. é o nome empresarial, ao passo que “Banco Santander”
é o título do estabelecimento/nome fantasia.

Equipara-se ao nome empresarial, para os efeitos da proteção da lei, a


denominação das sociedades simples, associações e fundações. Cabe ao
prejudicado, a qualquer tempo, ação para anular a inscrição do nome
empresarial feita com violação da lei ou do contrato. Assim, é imprescritível a
pretensão de anulação de inscrição do nome empresarial. A inscrição do nome
empresarial será cancelada, a requerimento de qualquer interessado, a)
quando cessar o exercício da atividade para que foi adotado ou b) quando
ultimar-se a liquidação da sociedade que o inscreveu. São duas as espécies de
nome empresarial: firma ou denominação.

11.1. Firma ou razão

A firma é o nome empresarial constituído a partir de nome civil de um, alguns


ou todos os sócios, em sua forma completa ou abreviada (desde que não
comprometa a identificação). Como exemplo de firma, pode-se citar a
sociedade formada por Pedro Torres, Carlos Almeida e Francisco Terrão, que
pode ter como nome empresarial “Pedro Torres, Carlos Almeida e Francisco
Terrão” ou “Torres, Almeida e Terrão”.

A firma poderá, facultativamente, ser seguida da designação mais precisa de


sua pessoa ou do gênero da atividade empresarial exercida, como “Torres,
Almeida e Terrão Materiais de Construção”. Se na firma não possuir o nome de
todos os sócios, adita-se ao final a expressão “& Companhia” ou a sua
abreviação “& Cia.”, como “Torres & Cia. Materiais de Construção”. A
expressão deve constar ao final (só se admite no começo ou no meio do nome
empresarial se estivermos diante de sociedade anônima). Na formatação do
nome empresarial, não é admissível à adoção exclusiva de alcunhas, tais como
Lica, Poca e Dico, ou de hipocorísticos, como Zé eTião.

Em regra, ficam solidária e ilimitadamente responsáveis pelas obrigações


contraídas sob a firma social, todos aqueles cujos nomes civis figurarem no
nome empresarial e, no que concerne a identificação o administrador assina o
nome da firma, e não seu nome civil.19

19
PENANTE JR, Francisco. Resumos para concursos, vol. 37, Direito Empresarial, 2ª
edição. São Paulo: Editora jus podivm, 2017. pp. 56-58.

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11.2. Denominação

A denominação é o nome empresarial construído a partir de elemento fantasia,


podendo assim formar-se por qualquer palavra ou expressão fantasia, desde
que atenda ao princípio da novidade e não contrarie ordem pública ou gere
confusão. Diferentemente da firma, a denominação tem obrigatoriamente que
vir acompanhada do gênero ou ramo da atividade desenvolvida, como “Valmed
Cosméticos”. Na denominação, diferentemente do que acontece com a firma, o
administrador deve assinar utilizando o seu nome civil.

11.3. Nome e tipo empresarial

Para o empresário, EIRELI e cada um dos tipos societários há regras


específicas no que se refere ao nome empresarial que poderá ser adotado.

a) Empresário individual: Deve usar firma, obrigatoriamente. Exemplo:


“Francisco Penante” ou “Francisco Penante Confecções”.
b) Empresa individual de responsabilidade limitada: Pode usar firma ou
denominação acrescida ao final a expressão “EIRELI”. Exemplo (firma):
“Francisco Penante EIRELI” ou “Francisco Penante Confecções EIRELI”.
Exemplo (denominação): “Confecções Astral EIRELI”.
c) Sociedade em nome coletivo: Deve usar firma, obrigatoriamente.
Exemplo: “Francisco Penante, Bruno Viana e Matheus Carvalho” ou “Penante,
Viana e Carvalho Confecções” ou “Penante & Cia.”.
d) Sociedade em comandita simples: Como é formada por duas categorias
de sócios, os comanditados (que respondem ilimitadamente) e os
comanditários (que respondem limitadamente), deve operar sob firma na qual
conste apenas o nome de sócios comanditados com a expressão “& Cia.” Ao
final para se referir aos sócios comanditários, cujos nomes civis ficaram de fora
da firma. Exemplo: “Francisco Penante [sócio comanditado] & Cia [sócios
comanditários].” Se um sócio comanditário tiver seu nome civil expresso na
firma social, responderá ele ilimitada e solidariamente, como se fosse sócio
comanditado.
e) Sociedade limitada: Pode adotar firma ou denominação, acrescida ao final
da expressão “limitada” ou da sua abreviatura “LTDA”. Exemplo (firma):
“Francisco Penante, Bruno Viana e Matheus Carvalho LTDA” ou “Penante,
Viana e Carvalho Confecções LTDA” ou “Penante & Companhia Limitada”.
Exemplo (denominação): “Astral Confecções LTDA”.
f) Sociedade em comandita por ações: Pode adotar firma ou denominação,
acrescidas ao final da expressão “em comandita por ações” ou de sua
abreviatura “C/A”. Como é formada por duas categorias de sócios, os sócios
diretores (que respondem ilimitadamente) e os sócios comuns (que respondem
limitadamente), ao operar sob firma deve fazer constar apenas o nome de
sócios diretores com a expressão “& Cia.” ao final para se referir aos sócios
comuns, cujos nomes civis ficaram de fora da firma, acrescido da expressão
“em comandita por ações” ou de sua abreviatura “C/A”. Exemplo (firma):
“Francisco Penante [sócio diretor] & Cia [sócios comuns] em comandita por
ações” ou “Penante & Companhia C/A”. Exemplo (denominação): “Astral
Confecções em comandita por ações”.

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g) Sociedade anônima: Deve adotar, necessariamente, denominação,
integrada pela locução “sociedade anônima” ou sua abreviatura “S.A.” em
qualquer parte do nome empresarial, ou ainda expressão “Companhia” ou sua
abreviatura “Cia.” no começo ou no meio do nome empresarial, trazendo
obrigatoriamente o gênero da atividade. Exemplo: “Companhia Astral de
Confecções” ou “Astral Confecções S.A.”. Eventualmente, a denominação
também poderá utilizar um nome civil, que nesse caso, será considerado como
elemento fantasia (art. 3º da Lei 6.404/76), como “Barbosa Cosméticos S.A.”.20
Nos atos e publicações referentes à companhia em constituição, sua
denominação deverá ser aditada da cláusula "em organização" (art. 91, Lei
6.404/76).
h) Cooperativas: As cooperativas adotam denominação integrada da palavra
“cooperativa” antes da especificação de sua atividade ou objeto (art. 5º, caput,
Lei 5.764/71), sendo vedado o uso da expressão “Banco”. Exemplo:
“Cooperativa Agropecuária de Barretos”.
i) Microempresa e empresa de pequeno porte: As microempresas
(faturamento anual até R$360.000,00) e as empresas de pequeno porte (até
R$3.6000,00) acrescentarão à sua firma ou denominação as expressões
“Microempresa” ou “Empresa de Pequeno Porte”, ou suas respectivas
abreviações “ME” ou “EPP”, sendo facultativa a inclusão do objeto da
sociedade.
j) Sociedades em conta de participação: A sociedade em conta de
participação, diante de sua natureza secreta, está proibida de adotar nome
empresarial. A atividade desenvolvida pela sociedade em conta de participação
é realizada pelo sócio ostensivo, em seu nome próprio e sob sua própria e
exclusiva responsabilidade (art. 1.162, CC/02).

TIPOS RESPONSABILIDADE NOME EMPRESARIAL

TIPOS RESPONSABILIDADE NOME EMPRESARIAL


Empresário Ilimitada Firma
individual
EIRELI Limitada Denominação/firma
Nome coletivo Ilimitada Firma
Comandita Limitada Firma
Simples Ilimitada
LTDA Limitada Denominação/Firma
Comandita por Limitada Firma/Denominação
ações Ilimitada
S.A. Limitada Denominação

20
PENANTE JR, Francisco. LAURINDO, Felipe. Prática empresarial. Recife: Armador, 2016.
p.68.

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11.4. Inalienabilidade do nome empresarial

O nome empresarial, por tratar-se de direito integrado à personalidade do


empresário, não poderá ser objeto de alienação (art. 1.164, caput, CC/02). Na
hipótese de trespasse (alienação do estabelecimento empresarial), aliena-se o
estabelecimento, mas não o nome empresarial. Contudo, o adquirente do
estabelecimento empresarial poderá utilizar o nome do alienante, precedido do
seu próprio com a qualificação de sucessor, desde que haja autorização
contratual para tanto (art. 1.164, parágrafo único, CC), por exemplo “Penante,
Ferreira & Cia., sucessores de Albuquerque Silva & Companhia.”21

11.5. Perda automática do nome empresarial

Se a sociedade foi celebrada por tempo determinado, a expiração do lapso


temporal gera a perda automática da proteção ao nome empresarial (art. 59 da
Lei nº 8.934/94). Para que isso não ocorra, a sociedade que desejar prosseguir
com a empresa deve averbar a prorrogação do ato constitutivo na junta
comercial antes do término do prazo anteriormente convencionado.

A ausência de qualquer arquivamento pelo período de 10 anos consecutivos,


sem qualquer comunicação à Junta Comercial do interesse de continuidade da
empresa levará a presunção de sua inatividade. Nesses casos, deve a junta
promover o cancelamento do registro, o que implicará na perda da proteção do
nome empresarial, conforme prevê o art. 60, §3º, da Lei nº 8;934/94.

12. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

Também chamada de teoria da penetração, teoria da superação e disregard of


legal entity doctrine, busca afastar, temporariamente, a personalidade da
pessoa jurídica para atingir o patrimônio das pessoas físicas que a integram.
Existem, em síntese, duas teorias que buscam a sua aplicação, quais sejam a
teoria maior e a teoria menor. A Teoria Maior, adotada pelo art. 50 do Código
Civil, dispõe ser possível a desconsideração quando houver abuso da
personalidade jurídica, seja pelo desvio de finalidade (teoria maior subjetiva,
como quando a personalidade jurídica tem sido utilizada para fins diversos,
como para esconder patrimônio dos sócios), seja pela confusão patrimonial
(teoria maior objetiva, como quando os sócios utilizam os bens sociais como se
seus fossem). A Teoria Menor, adotada pelo art. 28 do Código de Defesa do
Consumidor, pelo art. 4º da Lei nº 9.605/98 (Lei dos Crimes Ambientais) e pelo
art. 34 da Lei nº 12.529/2011 (Lei de Defesa da Concorrência e da Ordem
Econômica), prevê que a desconsideração pode ocorrer bastando a simples
inexistência de ativos. Fala-se, ainda, em desconsideração inversa, que ocorre
quando a pessoa física passa os seus bens para a pessoa jurídica para se
livrar de dívidas particulares, sendo possível desconsiderar a personalidade da
pessoa jurídica de forma inversa, para buscar os bens integrantes da pessoa
jurídica.

21
PENANTE JR, Francisco. Resumos para concursos, vol. 37, Direito Empresarial, 2ª
edição. São Paulo: Editora jus podivm, 2017. p. 67.

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(VUNESP – TJ/SP – 2017) - Quais dos elementos
indicados a seguir são considerados indispensáveis
para a existência de uma empresa?
A) Lucro, sociedade e aviamento.
B) Produção racional, comercialização dos produtos e
função social.
Teoria Geral do C) Eficiência, registro no órgão competente e
Direito Empresarial estabilidade.
D) Atividade, empresário e estabelecimento.
GABARITO COMENTADO: Alternativa “D”.
Conforme art. 966 do Código Civil e melhor doutrina,
empresa é a atividade profissional organizada para a
produção ou circulação de bens ou de serviços. Essa
atividade é exercida pelo empresário, que se vale do
estabelecimento empresarial para fazê-lo (complexo
de bens).

II – DIREITO SOCIETÁRIO

1. INTRODUÇÃO

As sociedades são pessoas jurídicas de direito privado, nos termos do art. 44,
II, do Código Civil. Conforme art. 981 do Código Civil, celebram contrato de
sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens
ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos
resultados.

As sociedades podem ter ou não personalidade jurídica. As sociedades


dotadas de personalidade jurídica (sociedades personificadas) são aquelas
cujos atos constitutivos foram objeto de registro nos órgãos competentes e, por
força de lei, são consideradas pessoas jurídicas. A sociedade existe desde o
momento em que há o acordo de vontades, mas a personalidade jurídica é
adquirida apenas com o registro dos atos constitutivos da sociedade no
respectivo órgão.

Às sociedades com personalidade jurídica são atribuídas as autonomias


negocial (capacidade da sociedade para, em nome próprio, celebrar os
negócios jurídicos necessários ao desenvolvimento de seu objeto social),
processual (capacidade da sociedade para, em nome próprio, defender seus
interesses em juízo) e patrimonial (capacidade da sociedade para, em nome

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próprio, ser titular de patrimônio. Permite a separação entre o patrimônio da
sociedade e o patrimônio pessoal dos sócios.).

A sociedade em conta de participação, ainda que tenha seu ato constitutivo


levado a registro, não terá personalidade jurídica (art. 993 do Código Civil).

2. SOCIEDADES EMPRESÁRIAS E SOCIEDADES SIMPLES

A Sociedade empresária desenvolve empresa (atividade empresária). As


sociedades simples são personificadas para o exercício de atividades civis (não
empresárias), como no caso, por exemplo, de uma sociedade de advogados.

As sociedades simples têm como ato constitutivo um contrato social (art. 997
do CC) e têm a sua inscrição requerida ao Registro Civil de Pessoas Jurídicas
nos trinta dias subsequentes a sua celebração (art. 998 do Código Civil), com
vistas ao nascimento de sua personalidade jurídica. Embora contem com
regime próprio (arts. 997 a 1.038 do Código Civil), as sociedades simples
podem adotar tipos societários empresários, exceto os tipos por ações
(conforme arts. 983 e 982, parágrafo único, do Código Civil).

As sociedades simples, regidas por suas normas próprias, são


doutrinariamente conhecidas como sociedades simples puras, ao passo que
aquelas que optam por um dos tipos societários empresários possíveis (nome
coletivo, em comandita simples ou limitada), são nominadas sociedades
simples impuras e serão regidas pelas regras do tipo societário adotado,
havendo a aplicação subsidiária das normas da sociedade simples. 22

Importante ressaltar que a adoção de um tipo societário empresário por uma


sociedade simples não a converte em sociedade empresária. Nas sociedades
simples, pode haver a contribuição de sócio apenas a partir de prestação de
serviço, devendo o sócio dedicar-se exclusivamente à atividade exercida pela
sociedade, sob pena de ser privado de seus lucros e dela excluído (art. 1.006,
CC).

A diferença básica entre as sociedades simples e as empresárias está no modo


de exploração do seu objeto social, ou seja, na qualificação ou não da atividade
exercida como empresária. Se essa exploração for feita com organização
profissional dos fatores de produção, será empresária, se não, será simples.

22
PENANTE JR, Francisco. Resumos para concursos, vol. 37, Direito Empresarial, 2ª edição. São
Paulo: Editora jus podivm, 2017. p. 80.

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As cooperativas, por previsão em lei específica, são registradas nas Juntas
Comerciais, mas são consideradas sociedades simples. As sociedades por
ações (sociedade anônima e sociedade em comandita por ações) são
consideradas sempre empresárias, conforme art. 982, parágrafo único, do
Código Civil.

3. TIPOS SOCIETÁRIOS EMPRESÁRIOS

3.1 Sociedade em nome coletivo

Regida pelo Código Civil (art. 1.039 ao 1.044), aplicando-se subsidiariamente


as normas da sociedade simples (art. 997 ao 1.038). Trata-se de sociedade de
pessoas físicas, que tem como ato constitutivo um contrato social.

Conta com o benefício de ordem (art. 1.024, do Código Civil), respondendo


primeira e ilimitadamente o patrimônio social. Depois, poderá ser acionado o
patrimônio pessoal dos sócios, que responderá subsidiária e ilimitadamente
pelas obrigações sociais. Sua administração pode ser exercida apenas por
quem for sócio.

No caso de falecimento de sócio, se o contrato social da sociedade não


dispuser a respeito, opera-se a liquidação das quotas do de cujus. Para que os
sucessores do sócio falecido possam ingressar na sociedade, ainda que contra
a vontade dos sobreviventes, será indispensável expressa previsão no contrato
social.

3.2 Sociedade em comandita simples

Regida pelo Código Civil (art. 1.045 ao 1.051), aplicando-se subsidiariamente


as normas da sociedade em nome coletivo (1.039 ao 1.044). Trata-se de
sociedade de pessoas, que tem como ato constitutivo um contrato social,
sendo formada por duas classes de sócios: a dos sócios comanditados (que
respondem ilimitadamente pelas obrigações sociais) e a dos sócios
comanditários (que respondem limitadamente pelas obrigações sociais).

Os sócios comanditados devem ser pessoas físicas, entrando com trabalho e


capital, assumindo a administração da sociedade e, portanto, respondendo de
forma ilimitada pelas obrigações sociais. Os sócios comanditários, por sua
vez, podem ser pessoas físicas ou jurídicas, não exercendo função de
administração e, portanto, respondendo apenas pela integralização das quotas
adquiridas (ou seja, de forma limitada).

Apenas os sócios comanditados podem ser administradores das sociedades


em comandita simples. Não obstante, os sócios comanditários poderão receber

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poderes especiais por meio de procuração para a realização de negócios
determinados. Conta com o benefício de ordem (art. 1.024, CC). Os sócios
comanditários são responsáveis apenas pelo valor das suas quotas. Da mesma
forma que os sócios comanditados, os sócios comanditários têm o direito de
participar da distribuição dos lucros da sociedade, na medida de suas
respectivas quotas. Têm, ainda, o direito de participar das deliberações da
sociedade, assim como o direito de fiscalizar a sua administração.

No caso de falecimento de um sócio comanditado, dar-se-á a dissolução


parcial da sociedade, salvo previsão no contrato social que autorize o ingresso
de sucessores. No caso de falecimento de um sócio comanditário, a princípio,
não haverá dissolução.

3.3 Sociedade Limitada

Aplica-se subsidiariamente as normas da sociedade simples (arts. 997 a 1.038


do Código Civil) ou, se o contrato tiver previsão expressa, as disposições da
Lei 6.404/76 (Lei das Sociedades Anônimas), conforme consta do art. 1.053 do
Código Civil.

Trata-se de uma sociedade contratual personificada, podendo assumir a forma


de sociedade de pessoas ou de capital (natureza híbrida), circunstância que
deverá ser aclarada por seu contrato social.

A flexibilidade para livre circulação de quotas, como no caso da existência de


cláusula autorizando a entrada de terceiros estranhos à sociedade, sem a
necessidade de aquiescência dos demais sócios, indica tratar-se de uma
sociedade de capital.

Já o controle quanto à entrada de novos sócios indica tratar-se de uma


sociedade de pessoas. Na ausência de qualquer indicativo no contrato social
que permita qualificá-la como sociedade de pessoas ou de capital, deve
considerar-se a limitada como sociedade de pessoas, afinal, trata-se de
sociedade contratual e é da essência das sociedades contratuais a forma das
sociedades de pessoas.

Na sociedade limitada, via de regra, apenas o patrimônio social responde pelas


dívidas da pessoa jurídica. O patrimônio dos sócios poderá ser atingido apenas
nos casos de desconsideração da personalidade jurídica e pela integralização
do capital restante. Ainda, deliberando de modo contrário ao disposto em lei ou
no contrato, responderão de forma ilimitada os sócios que a aprovaram (os
sócios dissidentes ou ausentes, apenas vincular-se-ão às decisões tomadas de
acordo com a lei e o contrato social).

Cada sócio responde pelo capital que subscrever. Entretanto, haverá


solidariedade entre os sócios até o limite do capital total subscrito e não
integralizado. Sendo assim, caso o total subscrito já tenha sido integralizado, a
princípio, o patrimônio pessoal dos sócios da sociedade limitada não poderá
ser alcançado.

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O capital social da sociedade limitada é dividido em quotas, iguais ou
desiguais, devendo todos os sócios contribuir para a sua formação com bens,
dinheiro ou crédito, não sendo admitida a contribuição que consista
exclusivamente em prestação de serviços.

Havendo contribuição com bens, será necessária uma avaliação dos sócios ou
de terceiros, para que possam ser valorados. Nesse caso, pela exata
estimação atribuída aos bens entregues para a formação do capital social,
responderão solidariamente todos os sócios, pelo prazo de 5 anos, a contar da
data do registro da sociedade.

Como os sócios respondem solidariamente pela integralização do capital


social, não integralizada a quota por um sócio (sócio remisso), os outros
podem, sem prejuízo da responsabilização pelo dano emergente da mora e da
possibilidade de optar a maioria dos demais sócios pela redução da quota ao
montante integralizado, tomá-la para si ou transferi-la a terceiros, excluindo o
primitivo titular e devolvendo-lhe o que houver pago, deduzidos os juros da
mora, as prestações estabelecidas no contrato mais as despesas.

A quota é indivisível em relação à sociedade, salvo para efeito de transferência,


quando, sendo omisso o contrato social, o sócio pode ceder sua quota, total ou
parcialmente, a quem seja sócio, independentemente de audiência dos outros,
ou a estranho, se não houver oposição de titulares de mais de 1/4 (um quarto)
do capital social, tendo eficácia a cessão a partir da averbação do respectivo
instrumento, subscrito pelos sócios anuentes.

Ao se tratar do capital social, embora não se possa ignorar o princípio da


intangibilidade do capital social (ou princípio da integridade do capital social),
pelo qual se protege os interesses dos credores da sociedade ao impedir a
distribuição de lucros fictícios, com o desfalque do capital social, para
concessão de benefício aos sócios, mostra-se importante destacar a
possibilidade de aumento ou redução do capital social, conforme ensinam os
arts. 1.081 a 1.084 do CC. Sendo assim, o princípio em comento não visa
impedir a redução do capital social, mas sim garantir que só poderão ser
distribuídos entre os sócios valores que correspondam a lucros reais.

O aumento do capital social pode ocorrer, com a respectiva alteração no


contrato social aprovada por assembleia, desde que todas as quotas já tenham
sido integralizadas. Até trinta dias após a deliberação pelo aumento do capital,
terão os sócios preferência para participar do aumento, na proporção das
quotas de que sejam titulares. A redução do capital social, a seu turno, se
restringe às hipóteses de perdas irreparáveis uma vez integralizado o capital
social ou se excessivo em relação ao objeto social.

Na sociedade limitada, o controle ou poder de decisão da sociedade é exercido


por aquele que detiver o maior número de quotas. Na eventualidade de
empate, a definição se dará a partir da quantidade de sócios. Persistindo o
empate, caberá ao juiz resolver.

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A sociedade limitada pode ser administrada por uma ou mais pessoas, sócios
ou não sócios, constantes do contrato social ou de ato em separado. O
administrador, nomeado por instrumento em separado, deve averbá-lo à
margem da inscrição da sociedade, e, pelos atos que praticar, antes de
requerer a averbação, responde pessoal e solidariamente com a sociedade. Os
poderes conferidos a administrador sócio são irrevogáveis (desde que previstos
no contrato social, excetuada a justa causa), mas os atribuídos a administrador
não sócio são revogáveis (art. 1.019 do Código Civil).

A designação de administradores não sócios dependerá de aprovação de todos


os sócios (enquanto o capital não estiver integralizado) e de, no mínimo, 2/3
dos sócios após a integralização. Ademais, importante destacar que, se a
administração da sociedade limitada for atribuída no contrato social a todos os
sócios, a condição de administrador não se estenderá aos que posteriormente
adquirirem essa qualidade (quem ingressar depois na sociedade).

No silêncio do contrato, os administradores podem praticar todos os atos


pertinentes à gestão da sociedade; não constituindo objeto social, a oneração
ou a venda de bens imóveis depende do que a maioria dos sócios decidir. O
administrador deve atuar na medida dos interesses da sociedade, sempre
pautando a sua conduta no cuidado e diligência que todo homem ativo e probo
costuma empregar na administração de seus próprios negócios (art. 1.011,
CC). Nesse sentido, ao respeitar o limite dos poderes que lhe foram
regularmente conferidos, os atos do administrador obrigam a pessoa jurídica
(art. 47, CC). No entanto, se contrariamente, ao praticar atos de gestão, o
administrador vier a violar os poderes a ele conferidos pelo contrato social, tais
atos não poderão ser imputados à sociedade. É a “teoria ultra vires
societatis” (além do conteúdo da sociedade), que visa à proteção da pessoa
jurídica. Desse modo, a sociedade ficará isenta de qualquer responsabilidade
frente a terceiros pelos atos ultra vires, a menos que tenha se beneficiado com
a prática deles.

O excesso por parte dos administradores somente pode ser oposto a terceiros
se ocorrer pelo menos uma das seguintes hipóteses:

I – se a limitação de poderes do administrador estiver inscrita ou averbada no


registro próprio da sociedade;
II – provando-se que a limitação dos poderes do administrador era conhecida
do terceiro;
III – tratando-se de operação evidentemente estranha aos negócios da
sociedade.

Segundo o Enunciado 219 da III Jornada de Direito Civil do Conselho de


Justiça Federal, não se aplica a teoria ultra vires societatis às sociedades por
ações, em razão da existência de regra específica traçada pelo art. 158, II da
Lei 6.404/76.

Não podem ser administradores, além das pessoas impedidas por lei especial,
os condenados à pena que vede, ainda que temporariamente, o acesso a
cargos públicos; ou por crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno,

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concussão, peculato; ou contra a economia popular, contra o sistema financeiro
nacional, contra as normas de defesa da concorrência, contra as relações de
consumo, a fé pública ou a propriedade, enquanto perdurarem os efeitos da
condenação.

Se o contrato social for silente quanto à pessoa do administrador da sociedade


limitada, suas funções serão exercidas por cada um dos sócios
separadamente. Sem embargo, o administrador que realizar operações,
sabendo ou devendo saber que estava agindo em desacordo com a maioria,
responderá por perdas e danos perante a sociedade.

As decisões em uma sociedade limitada serão tomadas em reunião ou em


assembleia, as quais serão convocadas pelos administradores nos casos
previstos em lei ou no contrato. Nas sociedades limitadas compostas por mais
de dez sócios, as deliberações deverão ocorrer obrigatoriamente através de
assembleia. Quando os administradores retardarem a convocação por mais de
sessenta dias, a reunião ou assembleia poderá também ser convocada por
sócio, ou por titulares de mais de 20% do capital social, quando não atendido,
no prazo de oito dias, pedido de convocação fundamentado.

O quórum para decisão nas sociedades limitadas pode ser resumido da


seguinte forma:

1. Decisão sobre a dissolução da sociedade por


UNANIMIDADE prazo determinado; 2. Designação de administrador
não sócio se o capital não estiver integralizado.
¾ 1. Alteração do contrato social; 2. Aprovação de
fusão, incorporação e dissolução.
1. Destituição de sócio administrador designado pelo
2/3 contrato social; 2. Designação de administrador não
sócio se o capital estiver integralizado.
Maioria absoluta 1. Designação de administrador sócio realizada em
(mais da metade do ato separado; 2. Definir a remuneração de
capital social) administrador; 3. Determinar a exclusão de sócio por
justa causa.
Maioria simples 1. Aprovação da prestação de contas de
(mais da metade do administrador; 2. Demais casos previstos em lei ou
capital social dos contrato.
sócios presentes)

Aos sócios da sociedade limitada é garantido o direito de fiscalizar a sua


administração. Nesse sentido, o conselho fiscal, órgão de formação
facultativa, composto de três ou mais membros e respectivos suplentes, sócios
ou não, residentes no país e eleitos em assembleia, uma vez constituído, tem
como atribuições as previstas no art. 1.069 do Código Civil, que se indica uma
leitura atenta e minuciosa.

Restando demonstrado que um ou mais sócios estão pondo em risco a


sobrevivência da empresa, pela prática de atos que vão de encontro à lei ou
aos objetivos sociais, estes poderão ser excluídos da sociedade pela vontade

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da maioria dos sócios, representativa de mais da metade do capital social,
cumpridos os requisitos legais do art. 1.085 do CC/02).

Trata-se de hipótese de exclusão extrajudicial, que não pode ser confundida


com a exclusão judicial prevista no art. 1.030 do Código Civil. Nesta, a
exclusão poderá operar-se mediante iniciativa da maioria dos sócios, não se
levando em consideração o volume da participação deles no capital social.

Não é possível a exclusão de sócio majoritário de forma extrajudicial, dada a


redação do art. 1.085 do Código Civil, mas é possível que ela ocorra
judicialmente uma vez demonstrada a prática de ato de inegável gravidade de
que fala o art. 1.030 do CC/02.

O simples rompimento da affectio societatis (vontade de permanecer em


sociedade) não é razão capaz de ensejar a exclusão de sócio. A dissolução da
sociedade pode ser total ou parcial. A dissolução total implica a
desconstituição da sociedade, culminando na desvinculação de todos os
sócios. Já na dissolução parcial, há desvinculação de algum sócio do quadro
social, o que não gera a desconstituição da sociedade, que prossegue com
suas atividades. Assim, na dissolução parcial, a sociedade não se extingue,
nem mesmo perde a sua personalidade.23

As hipóteses de dissolução total e parcial são as seguintes:

DISSOLUÇÃO TOTAL DISSOLUÇÃO PARCIAL


Consenso unânime dos sócios; Morte de sócio;
Fim do prazo de duração; Exclusão de sócio;
Deliberação dos sócios, por maioria Retirada de sócio.
absoluta, se de prazo indeterminado;
Falência;
Impossibilidade de execução do
objeto social;
Falta de pluralidade de sócios, não
reconstituída no prazo legal de 180
dias;
Extinção da autorização para
funcionar;
Por determinação judicial;
A requerimento de qualquer dos
sócios;
Anulação de sua constituição;
Exaurimento do fim social;
Outras causas previstas no contrato.

23
PENANTE JR, Francisco. Resumos para concursos, vol. 37, Direito Empresarial, 2ª edição. São
Paulo: Editora jus podivm, 2017. p. 91.

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3.4 Sociedade em Comandita por Ações

Regulamentada pelos arts. 280 a 284 da Lei nº 6.404/76 e pelos arts. 1.090 a
1.092 do Código Civil, trata-se de uma sociedade empresária personificada,
com capital social dividido em ações. É uma sociedade de capital, sendo livre o
ingresso de terceiros estranhos ao seu quadro social. Portanto, há livre
circulação de ações.

Tem como ato constitutivo um estatuto social, sendo formada por duas
classes de sócios. Os sócios diretores são os que exercem cargo de
administração, respondendo de forma subsidiária (dado o benefício de ordem)
e ilimitada pelas obrigações sociais, e os sócios comuns, que não exercem
cargo de administração e respondem de forma limitada pelas obrigações
sociais.

Somente sócio ou acionista podem ocupar cargo de administração nas


sociedades em comandita por ações. Os diretores serão nomeados no ato
constitutivo da sociedade, sem limitação de tempo, e somente poderão ser
destituídos por deliberação dos acionistas que representem no mínimo 2/3 do
capital social. O diretor destituído ou exonerado continua, durante dois anos,
responsável pelas obrigações sociais contraídas sob sua administração.

Os acionistas, reunidos em Assembleia geral, não podem (mesmo com


aprovação assemblear), sem o consentimento dos diretores da sociedade,
mudar o objeto social, prorrogar o prazo de duração da sociedade, aumentar
ou diminuir o capital social nem criar debêntures ou partes beneficiárias.

Em que pese às sociedades em comandita por ações seguirem as disposições


concernentes às sociedades anônimas, a elas não se aplicam as regras sobre
o Conselho de Administração, a autorização estatutária de aumento de capital,
e a emissão de bônus de subscrição.

3.5 Sociedade Anônima

Aplica-se subsidiariamente as disposições do Código Civil, uma vez que sua


principal regulamentação é a Lei nº 6.404/76. Trata-se de uma sociedade
personificada, sempre empresária, consoante o disposto pelo art. 982,
parágrafo único, do Código Civil e art. 2º, § 1º da Lei nº 6.404/76.

A sociedade anônima é uma sociedade de capital, que tem como ato


constitutivo um estatuto social e capital social dividido em ações. Nela, é livre
o ingresso de estranhos ao quadro social, com livre circulação de ações.
Nenhuma companhia poderá funcionar sem que seja arquivado e publicado o
seu estatuto social (arts. 94 e 98 da Lei nº 6.404/76).

Os seus sócios respondem de forma limitada, inexistindo solidariedade entre


eles em razão do capital subscrito e não integralizado. Desse modo, cada sócio
ou acionista obriga-se exclusivamente pelo preço de emissão das ações que

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subscrever ou adquirir, não respondendo assim pelos valores não
integralizados por sócio remisso.

A sociedade anônima deverá contar com, no mínimo, dois sócios, salvo nos
casos de subsidiária integral (sociedade anônima formada por um único sócio,
sendo este uma pessoa jurídica) ou de pluralidade não reconstituída no prazo
legal.

Valores mobiliários são títulos de investimento, emitidos pela sociedade


anônima para captação de recursos no mercado. Ou seja, diante da
necessidade de obter recursos financeiros, a companhia devidamente
autorizada, pode emitir debêntures, bônus de subscrição, comercial papper,
etc. Desse modo, ela atrai os recursos necessários à realização do seu objeto
social. São os principais valores mobiliários podem ser assim resumidos:

Órgão máximo da companhia, com poderes para


ASSEMBLEIA GERAL decidir todos os negócios relativos ao objeto da
companhia e tomar as resoluções que julgar
convenientes à sua defesa e desenvolvimento.
Órgão colegiado, de formação facultativa, que
CONSELHO DE responde pela orientação geral dos negócios,
ADMINISTRAÇÃO selecionando as matérias que serão objeto de
deliberação pela assembléia geral.
Órgão executivo das companhias (executa as
DIRETORIA deliberações da Assembleia Geral e do Conselho
de Administração), responsável pela representação
legal da companhia.
CONSELHO FISCAL Órgão incumbido da fiscalização e controle da
administração da Sociedade Anônima.

A dissolução das companhias, tratada nos arts. 206 e 207 da Lei nº 6.404/76,
pode ser total ou parcial. A dissolução total pode ocorrer nos casos de fim do
prazo de duração, por decisão judicial (na falência) ou por decisão de
autoridade administrativa. Na cisão total, na incorporação (em relação à
empresa incorporada) e na fusão (em relação às duas empresas fundidas). A
dissolução parcial nas sociedades anônimas, a priori, ocorreria apenas na
hipótese de reembolso de acionista dissidente. Entretanto, a moderna
jurisprudência do STJ tem entendido como possível a dissolução parcial de
sociedades de capital, uma vez presentes nestes atributos próprios das
sociedades de pessoas. É o que ocorre, a título de exemplo, com as
sociedades anônimas de capital fechado de cunho familiar.

A companhia dissolvida conserva a sua personalidade jurídica até a sua


extinção, com fim de proceder à liquidação (art. 207, Lei 6.404/76). Finalmente,
importante destacar a possibilidade de realização de operações societárias,
assim sintetizadas:

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Uma sociedade é absorvida pela outra, restando
INCORPORAÇÃO apenas a primeira, que assume o passivo e o ativo
da que foi extinta.
FUSÃO Duas ou mais sociedades se fundem para formar
uma terceira sociedade.
Uma sociedade transfere parcela do seu capital
CISÃO para outra sociedade, se extinguindo (se a cisão for
total) ou dividindo o capital (se a cisão for parcial).
TRANSFORMAÇÃO A mudança de um tipo societário para outro.

4. SOCIEDADES NÃO PERSONIFICADAS

As sociedades sem personalidade jurídica, que podem ser sociedade em


comum ou sociedade em conta de participação, são representadas em juízo
pela pessoa a que couber a administração de seus bens (art. 75, inciso IX, do
Código de Processo Civil).

4.1. Sociedade em comum:

Não possui ato constitutivo devidamente registrado. A sociedade será em


comum enquanto o ato constitutivo não for arquivado, exceto em relação às
sociedades por ações que estão em fase de organização (que são sempre
sociedades empresárias, mesmo que o ato constitutivo ainda não tenha sido
arquivado). Aplicam-se às sociedades em comum, de modo subsidiário, a
disciplina das sociedades simples. A doutrina considera sociedade em
comum irregular aquela que o ato constitutivo não foi levado a registro e
sociedade em comum de fato a que sequer conta com ato constitutivo.

A prova da existência da sociedade por terceiros, se dá de qualquer modo, mas


entre os sócios entre si ou com os terceiros se dá apenas por meio
documental. O patrimônio especial da sociedade em comum é o conjunto de
bens afetados ao exercício da atividade, do qual são titulares todos os sócios.

Os bens sociais respondem pelos atos de gestão praticados por qualquer dos
sócios, salvo pacto expresso limitativo de poderes, que somente terá eficácia
contra o terceiro que o conheça ou deva conhecer.
Todos os sócios respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações
sociais, excluído do benefício de ordem, previsto no art. 1.024, aquele que
contratou pela sociedade.

4.2. Sociedade em conta de participação:

Ainda que registrada, permanece se personalidade jurídica. Diante de sua


natureza secreta, nunca possuirá nome empresarial. Aplicam-se
subsidiariamente as regras das sociedades simples.

Sócio ostensivo aporta capital e administra. O Sócio participante somente


aporta capital, permanecendo oculto. Responderão frente a terceiros apenas os

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sócios ostensivos, respondendo os sócios participantes se praticarem ato de
gestão.

A sociedade em conta de participação não pode ser declarada falida, sem


embargo, os sócios ostensivos e participantes podem falir. Como ela não
possui personalidade jurídica, a sociedade em conta de participação
igualmente não possui autonomia patrimonial. Interessante notar que, ainda
que conte com um ato constitutivo e este seja levado a registro, ainda assim
não irá contar com personalidade jurídica. O registro da sociedade em conta de
participação terá o condão de, unicamente, formalizar a sua constituição e
dirimir eventuais dúvidas em relação ao conteúdo da convenção social.

Ademais, a existência de um contrato social da sociedade em conta de


participação produzirá efeitos unicamente entre os seus signatários. A
sociedade em conta de participação independe de qualquer formalidade para
sua constituição, bastando a existência da affectio societatis (vontade de
formar sociedade), podendo provar-se por todos os meios de direito.

A sociedade em conta de participação é integrada por duas classes de sócios:


a dos sócios ostensivos e dos sócios participantes (ou ocultos), podendo ser
constituída por pessoa jurídica. Na conta de participação, o sócio ostensivo é
o empreendedor que entra com capital e capacidade laboral, enquanto o sócio
participante tem atuação restrita à entrega do capital para a consecução do
fim social, participando ao final dos resultados correspondentes.

Desse modo, a partir da contribuição das duas classes de sócios, forma-se o


patrimônio especial da sociedade, que é exatamente o fundo social constituído
para o desenvolvimento da atividade.

Em matéria de responsabilidade pelos negócios jurídicos da sociedade, obriga-


se perante terceiros tão somente o sócio ostensivo e, exclusivamente perante
este, o sócio participante (limitada ou ilimitadamente, dependendo do que
dispuser a convenção). Isto porque, considerando não estarem dotadas de
personalidade jurídica, as sociedades em conta de participação não podem
assumir obrigações em nome próprio, exercendo unicamente o sócio ostensivo
(em seu nome individual), a atividade constitutiva do objeto social,
respondendo direta e ilimitadamente pelas obrigações sociais (apenas os
sócios ostensivos podem exercer a atividade constitutiva do objeto social).
Sem embargo, se porventura houver participação conjunta de sócios
ostensivos e participantes na celebração de negócios, todos serão
solidariamente responsáveis perante o terceiro com quem efetivaram contrato
em nome da sociedade.

Ainda que investido de poder para condução da sociedade, ao sócio ostensivo


é vedado admitir novo sócio sem o consentimento expresso dos demais, salvo
disposição em contrário. Enquanto a sua liquidação rege-se sociedade em
conta de participação pelas normas relativas à prestação de contas.

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No que concerne à falência, cumpre destacar que, uma vez decretada a
falência de sócio ostensivo, haverá a dissolução da sociedade e a liquidação
da respectiva conta, cujo saldo constituirá crédito quirografário.

Por outro lado, na hipótese de falência de sócio participante, o contrato social


ficará sujeito às normas que regulem os efeitos da falência nos contratos
bilaterais do falido.

5. DA CLASSIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES

5.1. Quanto ao ato constitutivo:

As sociedades podem ser contratuais ou estatutárias (também conhecidas


como institucionais). São contratuais as sociedades constituídas por contrato
social, o qual se caracteriza pela existência de um duplo vínculo (um vínculo
dos sócios entre si e outro vínculo dos sócios para com a sociedade). Seu
capital social é dividido em quotas, sendo os titulares denominados cotistas.

São sociedades contratuais as sociedades em nome coletivo, em comandita


simples e limitada. São estatutárias as sociedades constituídas por estatuto
social, o qual se caracteriza pela existência de um único vínculo (dos sócios
para com a sociedade), não havendo vínculos dos sócios entre si. Seu capital
social está dividido em ações, sendo os titulares denominados acionistas. São
sociedades estatutárias as sociedades anônimas e as em comandita simples.

5.2. Quanto à responsabilidade dos sócios:

Os sócios podem responder de forma limitada ou ilimitada, a depender do tipo


societário empresário adotado. É de destacar-se também que, em relação às
sociedades personificadas, como regra, o patrimônio pessoal será alcançado
apenas diante da impossibilidade do patrimônio social solver as obrigações
sociais, respondendo de forma subsidiária, respeitados os parâmetros legais.

Sendo ilimitada a responsabilidade, o patrimônio pessoal dos sócios responde


subsidiária. Sendo limitada a responsabilidade, o patrimônio pessoal dos
sócios não será atingido, salvo hipótese excepcional de desconsideração da
personalidade jurídica e na integralização das quotas do sócio remisso na
sociedade limitada.

Há ainda sociedades nas quais parte dos sócios responde LIMITADAMENTE


pelas obrigações sociais e parte ILIMITADAMENTE (responsabilidade
mista), nos casos das sociedades em comandita.

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5.3. Quanto às condições para alienação da participação societária:

As sociedades podem ser classificadas em sociedades de pessoas e


sociedades de capital, com as especificações constantes do quadro abaixo.

SOCIEDADES DE PESSOAS SOCIEDADES DE CAPITAL

Foco nos atributos pessoais dos Foco na contribuição financeira dos


Sócios (Foco nas pessoas) sócios (Foco no capital) .
Como regra, o ingresso de terceiros Basta à subscrição para o ingresso de
no quadro social depende de terceiros no quadro social. Acionistas
autorização unânime dos sócios. não podem opor-se a entrada de
Atenção: Na sociedade limitada, não outros sócios (prevalece princípio da
dispondo o contrato social sobre a livre circulação de ações).
possibilidade de cessão de quotas,
será possível cedê-las a terceiros
estranhos, desde que não haja
oposição por parte de sócios que
representem mais de ¼ do capital
social, nos termos do art. 1.057, CC.
Dado seu caráter pessoal, não há
livre circulação de quotas.

Reunião de pessoas Reunião de bens e valores


São sociedades de pessoas: N/C e São sociedades de capital: C/A e S/A
C/S.

A doutrina admite apenas a penhora dos direitos patrimoniais resultantes das


quotas, como lucros e haveres, mas não a transferência da cota em si. Com a
morte de um sócio, na sociedade de pessoas haverá a dissolução das quotas
correspondentes entre os sócios, no caso dos sócios sobreviventes não
concordarem com o ingresso do sucessor. Na sociedade de capital a sucessão
ocorrerá normalmente, independentemente da aquiescência dos demais
sócios.

A sociedade limitada é um tipo societário híbrido, ou seja, poderá assumir tanto


a forma de sociedade de pessoas, como a de sociedade de capital, devendo tal
opção estar refletida no contrato social. Sem embargo, na ausência de cláusula
contratual expressa indicando tratar-se de uma sociedade de pessoas ou de
capital, algumas cláusulas poderão indicar se a LTDA assumiu uma ou outra
forma. Na hipótese de silêncio do contrato sobre a questão, a limitada deverá
ser tratada como uma sociedade de pessoas, afinal, é da essência das
sociedades contratuais a condição de sociedade de pessoas.

Embora, como regra geral, o ingresso de terceiro estranho nas sociedades de


pessoas dependa de autorização unânime dos sócios, nas sociedades
limitadas, diante da omissão do contrato, poderá o sócio ceder sua quota a
outro sócio sem a anuência dos demais ou a terceiro estranho, se não houver

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oposição de titulares de mais de ¼ (ou seja, de mais de 25%) do capital social
(art. 1.057, caput do CC). 24

Sociedade empresária exerce empresa, ao


passo que sociedade simples exerce
Sociedades Empresárias e atividade civil. As sociedades simples
Sociedades Simples podem ou não adotar um dos tipos
societários empresariais, sendo chamadas
de sociedades simples impuras ou puras,
respectivamente.
Conta com benefício de ordem
Administração apenas por sócio
Sociedade em nome coletivo Falecimento do sócio: liquidação das cotas
do de cujus
Contrato social

Sociedades personificadas
Contrato social
Sócios comanditados e sócios
Sociedade em Comandita comanditários
simples Falecimento do comanditado: dissolução
parcial da sociedade
Falecimento do comanditário: sem
dissolução
Contrato social
Sociedade de pessoas ou de capital
Sociedade limitada Autoriza a entrada de terceiros estranhos à
sociedade por meio da venda de quotas
Apenas o patrimônio social responde
Estatuto social
Sociedade em comandita por Sócios diretores: exercem administração
ações Sócios comuns: respondem de forma
limitada
Só sócio acionista pode ser administrador
Estatuto social
Sociedade de capital
Sociedade Anônima Casa sócio responde pelo preço da
emissão das ações que adquiriu.
Valores mobiliários: títulos de
investimentos emitidos pela S.A
(debêntures, partes beneficiadas, bônus de

24
FAZZIO JUNIOR, WALDO. Manual de direito comercial. São Paulo: Atlas, 2017. p. 147.

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subscrição e comercial paper)
A sociedade será em comum enquanto o
ato constitutivo não for arquivado, exceto
em relação às sociedades por ações que
Sociedade em comum estão em fase de organização. A doutrina
considera sociedade em comum irregular
aquela que o ato constitutivo não foi levado
a registro e sociedade em comum de fato
a que sequer conta com ato constitutivo.
Ainda que registrada, permanece se
personalidade jurídica. Diante de sua
natureza secreta, nunca possuirá nome
empresarial. Aplicam-se subsidiariamente as
Sociedade em conta de regras das sociedades simples. Possui duas
participação categorias de sócios: sócio ostensivo (que
negocia em seu nome individual) e os sócios
ocultos (com atuação restrita a entrega de
capital).
Contratuais: constituídas por contrato
social – capital social dividido em quotas
Quanto ao ato constitutivo Estatutárias: constituídas por estatuto
social – capital social dividido em ações.
Sendo ilimitada a responsabilidade, o
patrimônio pessoal dos sócios responde
subsidiária. Sendo limitada a
Quanto à Responsabilidade responsabilidade, o patrimônio pessoal dos
dos sócios sócios não será atingido, salvo hipótese
excepcional de desconsideração da
personalidade jurídica e na integralização
das quotas do sócio remisso na sociedade
limitada.
Na sociedade de pessoas, como regra, o
Quanto às condições para ingresso de terceiro depende de autorização
alienação da participação unânime dos sócios. Na sociedade de
societária capital, basta à subscrição para o ingresso
de terceiros no quadro social.

FUNCAB – 2016 – PC/PA: Com relação às


sociedades e à responsabilidade dos sócios,
assinale a alternativa correta.
a) Na sociedade limitada, os condôminos de quota
QUESTÃO 1 indivisa não respondem solidariamente pelas
prestações necessárias à sua integralização.
b) Na sociedade limitada, a responsabilidade de

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cada sócio é restrita ao valor de suas quotas, assim
com o a responsabilidade pela integralização do
capital social.
c) Somente pessoas físicas podem tomar parte na
sociedade em nome coletivo, respondendo todos os
sócios, solidária e ilimitadamente, pelas obrigações
sociais.
d) O sócio admitido em sociedade já constituída não
responde pelas dívidas sociais anteriores à sua
admissão.
e) A distribuição de lucros ilícitos ou fictícios
acarreta responsabilidade solidária apenas dos
administradores que a realizarem.

GABARITO COMENTADO:
Como fora abordado, na sociedade limitada todos
os sócios respondem solidariamente pela
integralização do capital social. Não há motivo para
excepcionar o condômino de cota indivisível, motivo
pelo qual a alternativa “A” e a alternativa “B” estão
incorretas. A alternativa “C” está correta, nos termos
do art. 1.039 do Código Civil. O sócio, admitido em
sociedade já constituída, não se exime das dívidas
sociais anteriores à admissão, nos moldes do art.
1.025 do Código Civil, pelo que a alternativa “D”
está incorreta. A distribuição de lucros ilícitos ou
fictícios acarreta responsabilidade
solidária dos administradores que a realizarem e
dos sócios que os receberem, conhecendo ou
devendo conhecer-lhes a ilegitimidade, nos moldes
do art. 1.009 do Código Civil, motivo pelo qual a
alternativa “E” está incorreta.
(Delegado/ PE – 2016 – CESPE) Assinale a opção
que apresenta, respectivamente, as espécies
societárias que somente podem ser consideradas, a
primeira, como sociedade empresária e, a segunda,
como sociedade simples, em razão de expressa
imposição legal.

(a) Sociedade comandita por ações/ sociedade


QUESTÃO 2 comandita simples
(b) Sociedade anônima/ sociedade cooperativa
(c) Sociedades estatais/associações
(d) Sociedade anônima/ sociedade limitada
(e) Sociedade em nome coletivo/sociedade limitada.
GABARITO COMENTADO: Nos termos do artigo
982, parágrafo único do CC, independentemente de
seu objeto social, considerar-se-á empresaria a
sociedade anônima e simples a cooperativa. B
CORRETA.

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III – DIREITO CAMBIÁRIO

1. INTRODUÇÃO

Ramo do Direito Empresarial que disciplina os títulos de crédito. Também


conhecidos como cártula, os títulos de crédito constituem documentos
representativos de uma obrigação pecuniária, necessários ao exercício de um
direito literal e autônomo, que têm como principal função a circulação de
riquezas.

O rol dos títulos de crédito é taxativo (numerus clausus) e está definido em lei
(princípio da tipicidade), embora haja a possibilidade de criação de títulos de
crédito atípicos e inominados.

As principais características dos títulos de crédito são a negociabilidade


(capacidade de circulação) e executividade (constituem título executivo).
Títulos de crédito têm natureza jurídica de coisas móveis. Os requisitos
fundamentais dos títulos de crédito são cartularidade (ou incorporação,
significando que o direito de crédito dependerá da apresentação do título, via
de regra), literalidade (os títulos de crédito são documentos escritos e literais)
e autonomia (o portador do título tem um direito autônomo em relação à
relação de que se originou).

Do requisito da autonomia advêm os da abstração (o título de crédito passa a


circular sem qualquer vinculação com a causa que lhe deu origem) e da
Inoponibilidade de exceções pessoais aos terceiros de boa-fé (eventual
vício que tenha atingido a relação jurídica que deu causa ao título não pode
ser oposta a terceiro de boa-fé, como um endossatário de um cheque, já que
exerce direito próprio, embora a ele possam ser opostos vícios formais). Há
ainda autores que tratam do princípio da independência, segundo o qual são
independentes os títulos de crédito que não dependem de qualquer
documento para a sua efetividade e não independentes, por sua vez, aqueles
que dependem.25

2. CLASSIFICAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITO

2.1. Quanto ao modelo


• De modelo livre – não contam com padrão legal predefinido. São exemplos
de títulos de modelo livre a letra de câmbio e a nota promissória.

25
PENANTE JR, Francisco. Resumos para concursos, vol. 37, Direito Empresarial, 2ª
edição. São Paulo: Editora jus podivm, 2017. p. 140.

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• De modelo vinculado – devem seguir padrão previamente fixado por lei, do
que depende a sua válida produção de efeitos, como o cheque.

2.2. Quanto à estrutura


• Ordem de pagamento – respondem pela formação de três posições
jurídicas: a do sacador (emitente do título), a do sacado (contra quem se emite
o título) e a do tomador (favorecido do título). É o caso da letra de câmbio e do
cheque. Mas podem formar também duas posições jurídicas: a do sacador
(emitente/credor) e a do sacado (contra quem se emite o título/devedor). A
letra, o cheque e a duplicata, são ordens de pagamento.
• Promessa de pagamento – forma duas posições jurídicas: a do promitente-
sacador (emitente do título que promete pagar valor determinado) e a do
tomador (beneficiário do título). É o caso da nota promissória.

2.3. Quanto à circulação


• Ao portador: é aquele que não indica a pessoa a quem se transfere, sendo
transmitido, portanto, pela simples tradição (entrega). A Lei 8.021/90 e o
Código Civil proibiram a emissão de títulos ao portador. No entanto, a regra
está excepcionada pela Lei 9.069/95, ao permitir a emissão de cheques ao
portador, desde que com valor igual ou inferior a R$ 100,00 (cem reais).
• Nominativo: é aquele que indica ou nomina a pessoa do credor, operando-se
a transferência mediante a escrituração do nome daquele em livro próprio do
devedor, que só terá a obrigação de pagar o título à pessoa nominada.
• À ordem: são aqueles emitidos em favor de pessoa determinada, mas que
podem ser transferidos por endosso. Não se confundem com os nominativos,
uma vez que sua transferência não está subordinada a escrituração,
dependendo apenas do endosso.
• Não à ordem: embora emitidos em favor de pessoa determinada, em razão
da existência de cláusula “não à ordem”, não podem ser endossados, sendo
transferidos apenas através de cessão civil de crédito.

2.4. Quanto à emissão

• Causais: são aqueles que só podem ser emitidos quando da ocorrência de


fatos determinados por lei como causas para a sua emissão. Nesse sentido, a
duplicata trata-se de título causal, uma vez que só pode ser emitida a partir de
uma compra e venda mercantil ou prestação de serviço.
• Não causais: são aqueles que podem ser emitidos a partir de qualquer
evento, considerando que a lei não determina causas específicas ensejadoras
de sua emissão. É o caso da letra de câmbio, da nota promissória e do cheque.

QUANTO AO LIVRE Não tem um padrão


definido em lei.
MODELO VINCULADO Deve seguir um padrão
definido em lei.
AO PORTADOR Não indica a pessoa a
quem se transfere

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QUANTO À NOMINATIVO Indica o credor.
Transfere-se por
escrituração.
CIRCULAÇÃO À ORDEM Indica a quem se
transfere. Cabe endosso
NÃO À ORDEM Indica a quem se
transfere. Não cabe
endosso.
QUANTO À ORDEM Dá uma ordem para que
outrem pague.
ESTRUTURA PROMESSA Caracteriza uma
promessa de
pagamento.
QUANTO À CAUSAL Só pode ser emitido em
determinada hipótese.
EMISSÃO NÃO CAUSAL Pode ser emitido a partir
de qualquer evento.

3. TÍTULOS DE CRÉDITO EM ESPÉCIE

3.1. Letra de câmbio


Ou simplesmente letra, é título de crédito “à ordem”, criado mediante “saque”
(emissão), que responde pela formação de três posições jurídicas: sacador
(emitente do título), sacado (aquele contra quem se emite o título) e tomador
(o beneficiário do título). O sacador dá uma ordem ao sacado para que pague o
valor constante do título ao tomador. Nada obsta, entretanto, que uma mesma
pessoa ocupe duas posições nessa relação, sendo, assim, sacador e sacado
ou sacador e tomador simultaneamente. A letra transfere-se por endosso,
completa-se pelo aceite (facultativo na letra de câmbio) e garante-se pelo aval.

3.1.1. Requisitos formais da letra de câmbio: Os requisitos formais da letra


de câmbio estão previstos no art. 1º do Decreto-Lei nº 57.663/66 (Lei Uniforme
de Genebra), cuja leitura atenta se aconselha.

Se a indicação da quantia a satisfazer se achar feita por extenso e em


algarismos, havendo divergência entre uma e outra, prevalece a que estiver
feita por extenso. Se a indicação da quantia se achar feita por mais de uma
vez, quer por extenso, quer por algarismo, e houver divergência entre as
diversas indicações, prevalecerá a que se achar feita pela quantia inferior.
Segundo a Súmula 387 do STF que “A cambial emitida ou aceita com
omissões, ou em branco, pode ser completada pelo credor de boa-fé antes da
cobrança ou do protesto”. No mesmo sentido o art. 891 do Código Civil.

3.1.2. Aceite: Ao receber das mãos do sacador a letra de câmbio, o tomador


deve procurar o sacado para apresentar-lhe o título e consultá-lo sobre a
aceitação da ordem. Aceitando a letra, o sacado se compromete a pagar o

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valor constante do título ao seu beneficiário na data do vencimento. Assim, a
declaração do aceite torna o sacado/aceitante devedor principal.

Observe-se que o sacado não se encontra obrigado a pagar o título contra a


sua vontade. Ao contrário. Na verdade, enquanto aquele (sacado) não
manifestar a sua concordância por meio do aceite, não terá qualquer obrigação
cambial. Sendo assim, fica claro que a letra de câmbio é passível de aceite,
mas que ele é um ato facultativo. A recusa do aceite na letra de câmbio pode
ensejar o vencimento antecipado do título contra o sacador (emitente).

O vencimento antecipado da letra de câmbio contra o sacador depende do


protesto, que deverá ser promovido pelo tomador no primeiro dia útil
subsequente a recusa de aceite por parte do sacado. Logo, se o sacado não
aceitar o título, haverá o seu vencimento antecipado apenas se observado
tempestivamente o protesto, podendo assim o tomador cobrar do sacador e
dos demais coobrigados cambiários (endossantes e respectivos avalistas), se
houverem, o valor constante da letra. Não promovido o protesto tempestivo,
perderá o tomador o direito de acionar, antecipadamente, o sacador e demais
coobrigados cambiários. Se a letra de câmbio contiver a cláusula “sem
protesto” ou “sem despesas”, ficará o portador do título dispensado do protesto
para que possa cobrar o seu valor dos coobrigados cambiários.

Em termos práticos, o aceite decorre da simples assinatura do sacado no


anverso (frente) da letra de câmbio. O aceite deve ser puro e simples, ou seja,
incondicionado, mas pode ser parcial. Nesse caso, o sacado fica obrigado nos
termos do seu aceite (até o limite e no prazo que aceitou), não estando
impedido, todavia, que o tomador proceda ao protesto pela parte não aceita,
uma vez que o aceite parcial equivale à recusa do aceite (embora vincule o
aceitante parcialmente), como forma de garantir seu direito de acionar os
demais coobrigados cambiários pela totalidade do débito. Se, como visto, na
letra de câmbio o aceite é facultativo, ou seja, se o sacado pode recusar-se a
aceitar o pagamento do valor total da letra, ele também poderá recusar-se de
forma parcial. Assim, o aceite pode ser:

•Aceite limitativo: O sacado reduz o valor da obrigação que assume.


•Aceite modificativo: O sacado introduz mudança nas condições de
pagamento da letra, postergando o seu vencimento, por exemplo.

Considerando que nas duas espécies de recusa parcial do aceite está


caracterizada a negativa do sacado (ainda que parcial), poderá operar-se o
vencimento antecipado da cártula (desde que promovido o seu protesto
tempestivo), fato que irá gerar no tomador o direito de executá-la, de imediato e
pela totalidade, contra o sacador.

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Para evitar a antecipação provocada pela recusa do aceite, a lei possibilita ao
sacador a introdução da cláusula “não aceitável” ou expressão equivalente.
Inserida a cláusula “não aceitável", o tomador somente poderá apresentar o
título ao sacado na data designada para o seu vencimento, protegendo assim o
sacador e demais coobrigados cambiários contra o risco de vencimento
antecipado do título. Contudo, ainda que presente a cláusula “não aceitável”,
caso o sacado aceite a letra antes do seu vencimento, este será válido. A
cláusula “não aceitável” não exonera a responsabilidade do sacador, que
responderá sempre pela ordem, evitando apenas o vencimento antecipado da
cártula.

3.1.3. Aval: O pagamento de título de crédito pode ser garantido por aval, que
é uma garantia cambial firmada por um avalista (que pode ser um terceiro
estranho ao título ou mesmo alguém a este já atrelado) ao avalizado (pessoa
cuja obrigação é garantida), garantindo o pagamento do título.

O aval será escrito na própria letra ou em uma folha anexa e, se não indicada a
pessoa por quem se dá, ou seja, em prol de quem se presta o aval (aval em
branco), entende-se que foi dado a favor do sacador (aval em branco = aval
em favor do sacador). Chama-se aval em preto o que indica o favorecido.

Admite-se o aval parcial em relação à letra de câmbio, nota promissória e


cheque, dada a previsão nas leis específicas, mas não se permite em relação
à duplicata e demais títulos, aplicando-se a regra geral que o veda.

AVAL FIANÇA

Garante títulos de crédito (garantia Garante contratos (garantia civil)


cambial)

Constitui-se pela simples assinatura Constituição depende de cláusula


no título contratual.

Obrigação autônoma Obrigação acessória

Responsabilidade solidária Responsabilidade subsidiária

Não admite exceções pessoais Admite exceções pessoais

O aval pode ser aposto antes ou após o vencimento do título, produzindo, em


ambos os casos, o mesmo efeito. A simples assinatura do dador aposta na

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face anterior da letra, salvo se trata das assinaturas do sacado ou do sacador,
considera-se como aval.

A menos que o regime matrimonial seja o de separação total de bens, a


constituição do aval dependerá de outorga conjugal.

3.1.4. Endosso: forma de transferência do direito ao valor constante do título,


a partir da assinatura do seu possuidor no próprio título (embora na letra de
câmbio o endosso possa ser lançado no próprio título ou em uma declaração
anexa, quando falte espaço na cártula). O endosso responde pela formação de
duas posições jurídicas: a do endossante (pessoa que transfere o título) e a do
endossatário (pessoa para a qual o título é transferido).

É vedado o endosso parcial, ou seja, aquele que diga respeito apenas a uma
parte do valor constante do título. Se lançada cláusula nesse sentido, será
nula. Com o endosso, ocorre a transferência integral do crédito contido no
título.

Ademais da propriedade do título, o endosso transfere também a garantia do


seu adimplemento. Por isso, diz-se que o endosso normalmente produz dois
efeitos: transfere o título ao endossatário (1º efeito) e vincula o endossante ao
seu pagamento (2º efeito). Contudo, se não for intuito do endossante assumir a
responsabilidade pelo pagamento do título, e com isso concordar o
endossatário, poderá operar-se a exoneração de sua responsabilidade através
da cláusula “sem garantia”, que apenas o endosso admite. Toda letra de
câmbio, ainda que não traga expressa a cláusula “à ordem”, é endossável, uma
vez que é da própria natureza da letra a capacidade de circulação. Se houver a
intenção de impedir o endosso, deve ser lançada no título a cláusula “não à
ordem”. Nesta hipótese, a letra só será transmissível pela forma e com os
efeitos de uma cessão civil de créditos, não estando sua circulação sujeita ao
regime jurídico-cambial, mas sim ao Direito Civil.26
ENDOSSO CESSÃO CIVIL
Confere direito autônomo ao Confere direito derivado ao
endossatário. cessionário.
Endossante é codevedor solidário do Cedente não é codevedor solidário
título (salvo cláusula “sem garantia”). do título.

Da mesma forma, o endosso realizado após o protesto do título produz


apenas efeitos de uma cessão civil de crédito. É o chamado endosso tardio ou
póstumo. O endosso pode ser em preto (completo) ou em branco
(incompleto). Será em preto quando trouxer a indicação do beneficiário
(endossatário) do crédito que se transfere, ou em branco quando trouxer a
simples assinatura do endossante, sem a indicação do beneficiário do crédito,
hipótese na qual se cria a possibilidade de livre circulação do título (o converte
em título ao portador).

26
PENANTE JR, Francisco. Resumos para concursos, vol. 37, Direito Empresarial, 2ª
edição. São Paulo: Editora jus podivm, 2017. p. 155.

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Outra forma de endosso é o endosso impróprio, do qual são espécies o
endosso-mandato e o endosso-caução (ou endosso-garantia ou
endossopignoratício). O endosso-mandato é aquele através do qual o credor
do título pode constituir um representante (endossatário-mandatário) para o
exercício dos direitos que dele emanam, ou seja, para que este possa realizar
a cobrança do título em nome do endossante (credor). O endosso-caução, por
sua vez, é aquele no qual o título é usado como garantia de uma obrigação
assumida pelo endossante.27

3.1.5. Prescrição: Os prazos prescricionais na letra de câmbio são:

• As ações contra o aceitante da letra de câmbio prescrevem em 3 (três)


anos, a contar do seu vencimento;
• As ações contra os endossantes e contra o sacador prescrevem em 1
(um) ano, a contar da data do protesto tempestivo ou da data do
vencimento (letra com cláusula “sem protesto”).
• As ações dos endossantes uns contra os outros e contra o sacador
prescrevem em 6 (seis) meses, a contar do dia em que o endossante pagou
a letra ou em que ele próprio foi acionado (ação de regresso).

A interrupção da prescrição só produz efeito em relação à pessoa para quem a


interrupção foi feita

3.1.6. Protesto extrajudicial: ato formal e solene através do qual se apresenta


publicamente o título ao devedor, para que este promova o seu pagamento ou
o aceite, servindo como prova da inadimplência o descumprimento de
obrigação originada em títulos (como uma letra de câmbio) ou outros
documentos de dívida (como um contrato de aluguel), (art. 1º da Lei
9.492/1997 – Lei de Protesto de Títulos e outros documentos de dívida). O
protesto é realizado pelo tabelião de protesto de títulos, a requerimento do
portador do título, do seu credor ou respectivo procurador.

O protesto por falta de aceite somente poderá ser efetuado antes do


vencimento da obrigação e após o decurso do prazo legal para o aceite ou a
devolução. Após o vencimento, o protesto sempre será efetuado por falta de
pagamento. Já o protesto por falta de devolução se dará quando o sacado
retiver a letra de câmbio ou a duplicata enviada para aceite, não procedendo a
sua devolução no prazo legal. Nesse caso, o protesto poderá operar-se com
base na segunda via da letra ou nas indicações da duplicata. Os títulos
poderão ser protestados a qualquer tempo, haja vista não constituir obrigação

27
PENANTE JR, Francisco. Resumos para concursos, vol. 37, Direito Empresarial, 2ª
edição. São Paulo: Editora jus podivm, 2017. p. 156.

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do tabelião de protesto examinar os prazos prescricionais dos títulos. Nos
termos do art. 202, III, do CC, o protesto interrompe a prescrição.

3.2. Nota promissória: promessa de pagamento, a partir da qual uma pessoa


se compromete a pagar quantia determinada a outra. Seu saque gera duas
posições jurídicas: a do sacador (emitente, subscritor, promitente), que se
compromete a pagar quantia determinada ao tomador (beneficiário, favorecido
do título, também chamado “sacado”).

Não é passível de aceite, afinal, não se emite a nota promissória para o


pagamento por um terceiro. No que concerne ao endosso, direito de ação por
falta de pagamento, aval, prescrição, e demais elementos apontados pelo art.
77 da Lei Uniforme, são aplicáveis à nota promissória, desde que compatíveis
com sua natureza, às disposições relativas às letras de câmbio.

Prescrição da nota promissória: do portador contra emitente e avalista


prescreve em 3 anos a contar do vencimento; do portador contra endossantes
e respectivos avalistas prescreve em 1 ano, a contar da data do protesto
tempestivo ou da data do vencimento (nota com cláusula “sem protesto”); e dos
endossantes, uns contra os outros, ou seus avalistas prescreve em 6 meses, a
contar do dia em que o endossante pagou o título ou em que ele foi acionado.

3.3. Cheque: ordem de pagamento em dinheiro e à vista (natureza do cheque),


sacada contra um banco ou instituição financeira. Título padronizado, válido
apenas quando emitido por um banco ou instituição financeira com a forma
determinada.

Tem como vantagem de sua utilização a possibilidade de substituição de


moeda (dinheiro “vivo”) pelo papel representativo do cheque, possibilitando
assim o pagamento à distância sem a necessidade de transporte de numerário.
O saque do cheque, tal como na letra de câmbio, dá origem a três posições
jurídicas distintas: a do sacador (emitente, subscritor), que dá uma ordem de
pagamento à vista contra o sacado (que será sempre um banco ou instituição
financeira), para que este pague a quantia referida no cheque ao beneficiário
ou tomador do título, que pode ser um terceiro ou o próprio sacador.

No cheque, o banco ou instituição financeira (sacado) não possui qualquer


obrigação cambial, visto que não garante o pagamento da cártula, não
podendo ser responsabilizado ou mesmo executado pelo credor, em razão da
falta ou insuficiência de fundos, atuando como mero intermediador na relação.
O cheque possui seus requisitos formais previstos no art. 1º da Lei 7.357/85,
cuja leitura se aconselha.

Considera-se como não escrita a cláusula inserida no cheque para pagamento


em forma que não seja à vista. A espécie cheque pós-datado, muito utilizado
na prática comercial brasileira, não encontra respaldo na Lei do Cheque.

Assim, se um cheque é apresentado em data anterior à indicada como “boa


para pagamento”, ele deverá ser pago imediatamente pelo banco ou instituição
financeira, afinal, tem a natureza de uma ordem de pagamento à vista.

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Portanto, fica patente que a apresentação futura do cheque, decorrente de
acordo neste sentido (cheque pós-datado), dependerá sempre do cumprimento
do acordo pelo portador do cheque.A Súmula 370 do STJ reconhece a
ocorrência de dano moral quando da apresentação de cheque em data anterior
a data convencionada pelas partes.

A Súmula 388 do STJ aduz que a simples devolução indevida de cheque


caracteriza dano moral, independentemente de prova do prejuízo sofrido pela
vítima (dano in re ipsa).

- Cheque cruzado: o emitente, mediante a colocação de dois traços paralelos


e transversais no anverso (frente) do título, faz com que o cheque só possa ser
pago mediante crédito em conta.
- Cheque visado é aquele cuja suficiência de fundos para cobertura foi
atestada pelo banco sacado.
- Cheque administrativo é o emitido e liquidado pelo próprio banco. Os
cheques são transmitidos por endosso, que pode ser feito pelo próprio sacador
(emitente) ou por terceiro. Poderá ser feito em preto ou em branco.

O cheque também poderá ser garantido, no todo ou em parte, por aval. O único
que não pode ser avalista é o sacado. O aval poderá ser em branco ou em
preto. O aval em preto é aquele que indica o avalizado. O aval em branco é
aquele que não o indica e, neste caso, considerar-se-á avalizado o emitente.

A execução fundada em cheque prescreve no prazo de 6 meses, do portador


contra o sacador, endossantes e respectivos avalistas, contados da expiração
do seu prazo de apresentação, que poderá ser de 30 dias (quando o cheque
houver de ser pago na mesma cidade em que foi emitido) ou 60 dias (quando o
cheque houver de ser pago em cidade diferente daquela de emissão).

A ação de enriquecimento ilícito contra o emitente ou outros obrigados, que se


locupletaram injustamente com o não pagamento do cheque prescreve em 2
anos, contados do dia em que se consumar o prazo prescricional da execução
fundada em cheque.

Prescritas a ação executiva e de enriquecimento ilícito, é possível ainda o


oferecimento de ação monitória, cabível para cobrança de documentos que
perderam a sua força executiva. Nesse sentido, a Súmula 299 do STJ
estabelece que caberá ação monitória nos casos de cheque prescrito.

Segundo a súmula 531 do STJ, “Em ação monitória fundada em cheque


prescrito ajuizada contra o emitente, é dispensável a menção ao negócio
jurídico subjacente à emissão da cártula.”

3.4. Duplicata: Trata-se de título de crédito causal (diferentemente da letra de


câmbio, da nota promissória e do cheque), pois só pode ser emitida na compra
e venda mercantil ou na prestação de serviços.

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Em todo o contrato de compra e venda mercantil, entre partes domiciliadas no
Brasil, com prazo não inferior a 30 dias, contado da data de entrega ou
despacho das mercadorias, emitirá o vendedor a respectiva fatura para
apresentação ao comprador. No ato de emissão da fatura, dela poderá ser
extraída duplicata para circulação (duplicata mercantil) (arts. 1º e 2º, Lei
5.474/68). As empresas, individuais ou coletivas, fundações ou sociedades
civis, que se dediquem à prestação de serviços, poderão, também, emitir fatura
e duplicata (duplicata de serviços) (art. 20, Lei 5.474/68).

A duplicata responde pela formação de 2 posições jurídicas, o sacador


(emitente, credor, vendedor ou prestador de serviço) e o sacado (devedor,
comprador ou tomador do serviço).

Extraída a duplicata, esta deverá ser apresentada ao devedor no prazo de 30


dias a contar de sua emissão, devendo o devedor, quando a duplicata não for à
vista, devolvê-la ao apresentante no interregno de 10 dias, contados da data de
sua apresentação, devidamente assinada ou acompanhada de declaração, por
escrito, contendo as razões da falta do aceite (art. 7º, Lei 5.474/68).

Na grande maioria dos casos, o sacador negocia suas duplicatas com


instituições financeiras, recebendo adiantado uma quantia um pouco menor. Na
data do vencimento das duplicatas, as instituições financeiras recebem o valor
do sacado (considerando a pontualidade no pagamento).

A duplicata está submetida às disciplinas do endosso, aceite e aval, na medida


em que se transmite pelo endosso, completa-se pelo aceite e garante-se pelo
aval. Como regra, o aceite na duplicata é obrigatório, de modo que a sua falta
sem justo motivo enseja no credor o direito de protestá-la (art. 2º, §1º, VIII, Lei
das Duplicatas).

Neste sentido, para que seja possível a sua execução, deverá estar
acompanhada do comprovante de entrega das mercadorias ou da prestação
dos serviços (art. 15, Lei 5.474/68).

Não obstante a regra da obrigatoriedade do aceite, o comprador pode deixar de


aceitar a duplicata por motivo de (art. 8º, Lei 5.474/68) avaria ou não
recebimento das mercadorias, quando não expedidas ou não entregues por
sua conta e risco; vícios, defeitos, e diferenças na qualidade ou na quantidade
das mercadorias, devidamente comprovados; ou divergências nos prazos ou
nos preços ajustados.

Conforme súmula 248 do STJ, “Comprovada a prestação dos serviços, a


duplicata não aceita, mas protestada, é título hábil para instruir pedido de
falência”. A duplicata é protestável por falta de aceite, de devolução ou de
pagamento. A falta de devolução do título pelo devedor permite que o credor
emita triplicata e realize o protesto por simples indicações. O portador que não
tirar o protesto da duplicata, em forma regular e dentro do prazo de 30 dias,
contado da data de seu vencimento, perderá o direito de regresso contra os
coobrigados (endossantes e avalistas). Os requisitos formais da duplicata estão
no art. 2º, §1º, da Lei nº 5.474/68, cuja leitura se indica.

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A pretensão à execução da duplicata prescreve contra o sacado e respectivos
avalistas, em 3 anos, contados da data do vencimento do título; contra
endossante e seus avalistas, em 1 ano, contado da data do protesto; e de
qualquer dos coobrigados contra os demais, em 1 ano, contado da data em
que haja sido efetuado o pagamento do título.

TÓPICO SÍNTESE

LETRA DE NOTA CHEQUE DUPLICATA


CÂMBIO PROMISSÓRIA

ACEITE X - - X

ENDOSSO X X X X

AVAL X X X X

TÍTULO À X X - X
ORDEM

ORDEM DE X - X X
PAGAMENTO

ABSTRAÇÃO X X X -

(CESPE – TJ/PR – 2017): O ato cambiário pelo qual o


credor transmite a outrem seus direitos sobre título
nominal à ordem é denominado
A) aceite.
Direito Cambiário B) aval.
C) endosso.
D) cessão civil de crédito.

GABARITO COMENTADO: Alternativa C. Chama-se


endosso o ato cambial pelo qual o credor transmete a
outrem seus direitos sobre título nominal à ordem.

IV - DIREITO FALIMENTAR
3.1. CONCEITO, CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS E PRINCÍPIOS
Em síntese, podemos conceituar a falência como uma forma especial de
execução, onde todos os credores deverão se concentrar em um único
processo para promover a execução conjunta do devedor. Almeja, pois,

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concretizar a isonomia no tratamento dos credores. Todavia, não é qualquer
devedor que fica sujeito ao regime falimentar: somente o devedor empresário
é que usufrui de tal sistemática.

4.1. NATUREZA JURÍDICA E PRINCÍPIOS RELEVANTES

Diante da coexistência de regras processuais e materiais. prevalece o


entendimento de que sua natureza jurídica é híbrida. Ademais, ao teor do art.
75 da Lei de Falências, destacam-se como princípios princípio da
preservação da empresa e o da maximização de ativos. Busca-se, de início,
através da Recuperação Judicial, a manutenção da atividade empresária,
maximizando os ativos existentes, de forma que o maior número possível de
credores tenha as suas pretensões devidamente satisfeitas.

4.2. PRESSUPOSTOS DA FALÊNCIA

a) Pressuposto material subjetivo: Somente o devedor empresário se sujeita


ao rito falimentar;
b) Pressuposto material objetivo: Caracterizado pela insolvência do devedor;
c) Pressuposto formal: Somente é decretada por sentença.

4.3. PROCEDIMENTO PARA DECRETAÇÃO DE FALÊNCIA

Basicamente o rito falimentar é constituído por duas fases: a pré-falimentar, a


qual consiste no pedido de falência e análise, pelo magistrado, do
preenchimento da qualidade de empresário do devedor e de seu estado de
insolvência; e a sentença, que acolherá ou rejeitará o pedido de falência,
dando início, ou não, à execução especial do devedor falido.
32
4.4. AGENTES EXCLUÍDOS DO REGIME FALIMENTAR

Conforme aqui já mencionado, somente o empresário encontra-se sujeito às


regras do direito falimentar. Neste viés, as sociedades cooperativas, por
sempre serem simples em decorrência de expressa previsão legal nesse
sentido, não podem requerer recuperação judicial nem ter sua falência
requerida/decretada. Esse é o entendimento que prevalece no Superior
Tribunal de Justiça. De igual modo, a Lei de Falências, em seu art. 2º, I,
também determinou de forma expressa a exclusão das Empresas Públicas e
das Sociedades de Economia Mista do regime falimentar, independentemente
de serem prestadoras de serviço público ou exploradoras de atividade
econômica.

(MPE-SC | 2016): Nos termos da Lei de Falência e Recuperação de


Empresas, a sociedade de economia mista, por ser pessoa jurídica
F de direito privado, criada mediante autorização legal, sob a forma de
sociedade anônima, está sujeita à recuperação judicial e à falência.

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4.5. AGENTES QUE PODEM REQUERER A FALÊNCIA

Elenca o artigo 97 da Lei 11.101/05 os agentes que podem requerer a falência


do devedor empresário. São eles: a) o próprio devedor; b) o cônjuge
sobrevivente, qualquer herdeiro do devedor ou o inventariante; c) o
cotista, acionista do devedor ou de ato constitutivo da sociedade; d)
qualquer credor. Neste viés, depreende-se que, diferentemente de quem
pode se sujeitar ao regime falimentar, que somente pode ser o empresário, o
sujeito ativo do pedido de falência pode ser empresário ou não.

Atenção! É importante que o candidato saiba que o Superior Tribunal de


Justiça possui firme entendimento no sentido de que a Fazenda Pública não
possui legitimidade, nem interesse de agir, para pedir a falência do devedor,
já que goza de instrumento específico para a cobrança de seus créditos, qual
seja, a Lei de Execuções Fiscais (Lei 6.830/80). Inclusive, esse é o teor do
Enunciado 56 da I Jornada de Direito Comercial.

4.6. FORO COMPETENTE PARA O PEDIDO DE FALÊNCIA

Estabelece a legislação regente que o foro competente para homologar o plano


de recuperação extrajudicial, deferir a recuperação judicial ou decretar a
falência é o juízo do local do principal estabelecimento do devedor ou da
filial de empresa que tenha sede fora do Brasil. Mas o que define o principal
estabelecimento do devedor?.

Entende o STJ que tal expressão pode significar: a) o centro vital das principais
atividades do devedor; b) o local onde o devedor mantém suas atividades
principais e seu principal estabelecimento; ou c) o local onde a atividade se
mantém centralizada. Nesse sentido, também é o Enunciado 465 do CJF.

4.7. CRITÉRIOS DE DETERMINAÇÃO DA INSOLVÊNCIA DO DEVEDOR

São dois os sistemas adotados pela Lei 11.101/05 para caracterizar a


insolvência do devedor: o da impontualidade e o da enumeração legal. A
respeito da impontualidade injustificada, a Lei de Falências determina, em seu
art. 94, I, que pode haver a decretação de falência se o empresário, sem
relevante motivo, não paga, no vencimento, obrigação líquida materializada em
título(s) executivo(s) protestado(s) cuja soma ultrapasse a 40 salários
mínimos na data do pedido de falência.

Neste viés, é importante que o candidato saiba que a lei de falências


possibilita que credores formem litisconsórcio para somar os seus respectivos
créditos e alcançar o referido limite, de modo que possam pedir a falência do
devedor. Outro requisito que a lei impõe para a decretação de falência com
base na impontualidade injustificada é o protesto obrigatório do título; caso o
título em comento não comporte protesto, deve ser tirado o protesto especial
para fins de falência.

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Além da impontualidade injustificada, elenca a lei os chamados atos de
falência, em rol taxativo, a saber:

a) Execução frustrada;
b) Realiza ou, inequivocamente, tenta realizar, com o objetivo de retardar
pagamentos ou fraudar credores, negócio simulado ou alienação de parte ou
da totalidade de seu ativo a terceiro, credor ou não;
c) Transfere estabelecimento a terceiro, credor ou não, sem o consentimento
de todos os credores e sem ficar com bens suficientes para solver seu passivo;
d) Simula a transferência de seu principal estabelecimento com o objetivo de
burlar a legislação ou a fiscalização ou para prejudicar credor;
e) Dá ou reforça garantia a credor por dívida contraída anteriormente sem ficar
com bens livres e desembaraçados suficientes para saldar seu passivo;
f) Ausenta-se sem deixar representante habilitado e com recursos suficientes
para pagar os credores, abandona estabelecimento ou tenta ocultar-se de seu
domicílio, do local de sua sede ou de seu principal estabelecimento;
g) Deixa de cumprir, no prazo estabelecido, obrigação assumida no plano de
recuperação judicial.
34
4.8. DECRETAÇÃO DA FALÊNCIA

Caso o pedido de falência seja julgado procedente e não tenha sido realizado
o depósito elisivo (consistente no depósito, em juízo, do valor da dívida
reclamada no pedido falimentar, devidamente corrigido e acrescido de juros e
honorários) será decretada a falência do devedor. A respeito da natureza
jurídica dessa sentença declaratória, a doutrina majoritária defende a sua
natureza constitutiva, vez que é ela que constitui o devedor em estado
falimentar e instaura o regime de execução especial.

Com efeito, ao sentenciar acolhendo o pedido de falência, uma das medidas


mais importantes a ser tomada pelo magistrado é a fixação do termo legal de
falência, o qual não pode retroagir por mais de 90 dias. A grande finalidade
desse termo legal é estabelecer um espaço de tempo imediatamente anterior à
decretação de falência, dentro do qual os atos eventualmente praticados pelo
agora falido serem considerados suspeitos de fraude, podendo vir a ser
declarados ineficazes em relação à massa falida.

É importante também a notificação da Junta Comercial no que se refere à


decretação da falência, para que seja devidamente anotada nos autos
constitutivos do devedor. É também na sentença que o juiz designa a figura do
administrador judicial, sujeito responsável por, dentre diversas outras
atribuições, representar legalmente a massa falida.

Por fim, outro ponto relevante sobre a sentença que versar sobre o pedido de
falência consiste acerca de qual será o recurso cabível: contra a sentença que
decretar a falência, caberá agravo; já aquela que denegar o pedido, caberá
apelação.
3.2. A PARTICIPAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO PROCESSO DE

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Esse é um ponto importante para você, candidato(a), ao cargo de Promotor(a)
de Justiça. Isto porque a atual legislação falimentar trouxe mudanças
consideráveis a respeito da atuação do Parquet no processo de falência, o qual
possuía grande participação na legislação anterior. Atualmente, a atuação do
Ministério Público no processo falimentar se restringe aos casos em que a lei
expressamente autorizar, a exemplo dos casos de indícios de
responsabilidade penal do devedor, ou então quando for determinada a
alienação de seus bens. Inclusive, esse entendimento é comungado pelo
Superior Tribunal de Justiça, conforme é possível de se conferir nos autos do
REsp 1.230.431/SP.
3.3. EFEITOS DA FALÊNCIA
4.9. EFEITOS COM RELAÇÃO AO DEVEDOR

Dissolução da sociedade – Trata-se do primeiro e principal efeito da falência.


Com efeito, caso se trate de uma sociedade com responsabilidade ilimitada dos
sócios, eles também serão considerados falidos; caso se trate de sociedade
de responsabilidade limitada, em tese, os sócios não se sujeitam aos efeitos da
falência, já que quem faliu foi tão somente a sociedade.

Inabilitação empresarial – Conforme o próprio nome do efeito sugere, o falido


ficará inabilitado para o exercício de qualquer atividade empresarial desde a
data de decretação da falência até a sentença extintiva de suas
obrigações. Salienta-se que se a falência atingir um empresário individual,
será ele, pessoa física, quem suportará esse efeito; caso se trate de uma
sociedade empresária, será ela quem não poderá exercer a empresa. Uma vez
decretada a falência, trata-se de efeito automático. Caso o falido venha a ser
condenado por crime falimentar, a inabilitação somente se encerrará após
cinco anos da extinção da punibilidade.

Perda do direito de administração dos bens – Ocorre desde a decretação da


falência, podendo o falido, no entanto, fiscalizar a administração da falência,
requerer as providências necessárias, bem como intervir nos processos em
que a massa falida seja parte ou interessada.

Efeitos sobre os contratos do falido – Os contratos do devedor falido não


são extintos de pleno direito em decorrência da decretação da falência. Isso
porque muitas vezes é vantajosa para a massa a manutenção de determinados
contratos, já que eles podem funcionar como fonte de renda que será
posteriormente utilizada para o pagamento de seus credores.

4.10. EFEITOS COM RELAÇÃO AOS CREDORES DO FALIDO

Instauração do juízo universal da falência – Uma vez decretada a falência,


cria-se o juízo universal da falência, que terá força para atrair quase todas as
ações que envolvam o falido – isso porque as ações trabalhistas, fiscais, as
ilíquidas, as que possuam como parte a União ou Entidade Federal e as
demais não reguladas pela Lei 11.101/05 não são atraídas por esse juízo.

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Nesse sentido, o STJ recentemente entendeu que a competência para
processar e julgar demandas cíveis com pedidos ilíquidos contra massa
falida, quando em litisconsórcio passivo com pessoa jurídica de direito
público (exemplo: ação de indenização por danos morais em face de uma
sociedade empresária e do Município), é do juízo cível no qual for proposta a
ação de conhecimento que, de acordo as normas de organização judiciária,
seja competente para julgar ações contra a Fazenda Pública (STJ, 1ª
Seção, REsp 1.643.856-SP, Rel. Min. Og Fernandes, j. 13/12/2017).

Portanto, as ações que dizem respeito a cobrança de quantias ilíquidas podem


ser proposta ou prosseguir no juízo cível competente, e não no juízo universal
da falência. Embora o art. 6.º, §1.º, da Lei 11.101 faça alusão apenas ao
“prosseguimento” da ação que demanda quantia ilíquida (logo, ajuizada antes
da decretação da falência), mesmo que a ação seja proposta após a
decretação da falência não se submeterá à regra do juízo universal, sendo
distribuída conforme as regras gerais de competência.

Entretanto, todas as ações envolvendo o falido, inclusive aquelas que não


tramitem no juízo universal, deverão intimar a pessoa do administrador
judicial para representar a massa falida, sob pena de nulidade do processo.

Ademais, mesmo a não atração, pelo juízo universal, de todas as ações e


execuções, estas deverão ser comunicadas ao juízo falimentar assim que
possível.

Suspensão da prescrição e das ações e execuções contra o falido – Regra


expressa da Lei 11.101/05, mais precisamente a do seu art. 76, determina que
a decretação da falência suspende o curso da prescrição e de todas as ações
e execuções em face do devedor, inclusive aquelas dos credores particulares
do sócio solidário. Entretanto, um ponto que merece atenção do candidato, é o
fato de o STJ entender que a expressão “sócio solidário” não alcança os
sócios que, por acaso, assumam a condição de fiadores ou avalistas da
sociedade em determinados negócios jurídicos, mas tão somente aos
sócios de responsabilidade ilimitada. o Enunciado 43 da I Jornada de Direito
Comercial do CJF.

Suspensão das ações que demandem quantia ilíquida e as reclamações


trabalhistas – As ações ilíquidas e as reclamações trabalhistas não são
suspensas pela decretação da falência. As ações que demandem quantia
ilíquidas se mostram incompatíveis com o rito falimentar, de modo que não são
suspensas e nem atraídas pelo juízo da falência.

É importante que o candidato saiba sobre o teor do Enunciado 73 da II


Jornada de Direito Comercial do CJF, responsável por determinar que o crédito
trabalhista para fins de habilitação seja calculado até a data do pedido da
recuperação judicial ou da decretação da falência.
37
Obs.: Recentemente, o STJ entendeu ser desnecessária a apresentação de
Certidão de Dívida Ativa (CDA) para habilitação, em processo de falência,
de crédito previdenciário resultante de decisão judicial trabalhista (STJ, 3ª

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Turma. REsp 1.591.141-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j.
05/12/2017).

Execuções Fiscais – O STJ possui firme entendimento de que a execução


fiscal contra a massa falida, a exemplo do que ocorre na recuperação judicial,
não se suspende, ainda que o juízo falimentar seja em outra
circunscrição. Trata-se de interpretação extensiva do art. 6º, §7º da Lei
11.101/05.

Arrecadação de todos os bens do devedor – O efeito em tela constitui a


massa falida objetiva, a qual corresponde ao ativo que será sujeito à
execução concursal falimentar. É importante ter em mente que a arrecadação
não se restringe ao patrimônio que o falido possuía no momento em que
sua falência foi decretada. Isso porque existe a possibilidade de o devedor,
vislumbrando um futuro quadro de quebra, se desfazer de alguns bens
com o objetivo de que eles não sejam arrecadados no rito falimentar.

É justamente por isso que é de extrema importância a determinação do termo


de falência, o qual será responsável por estabelecer um lapso temporal em que
serão investigados determinados atos praticados pelo falido, para averiguar se
eles foram praticados com o intuito de prejudicar o processo falimentar.
Confirmando-se tal escopo, os atos serão declarados ineficazes perante a
massa, permitindo, portanto, que tais bens sejam incorporados àquela.
Inclusive, a Lei elenca (incisos I a VII do art. 129), taxativamente, atos que,
uma vez praticados, consideram-se objetivamente ineficazes,
independentemente da demonstração de fraude por parte do devedor.

Por seu turno, são subjetivamente ineficazes todos aqueles que sejam
praticados com a intenção de prejudicar os credores, devendo haver a prova
de tal intenção. Entretanto, diferentemente dos atos objetivos, aqueles não
podem ser declarados de ofício pelo magistrado, devendo haver a
propositura de ação nesse sentido, a Ação Revocatória, a qual poderá ser
proposta por qualquer credor ou pelo Ministério Público, no prazo de 3 (três)
anos contados da decretação da falência.

Observe que a arrecadação de bens abrange tanto os bens que efetivamente


pertençam ao devedor como aqueles que estão tão somente em sua posse.
Destarte, para que seja efetuada a correta definição do ativo alvo de futura
execução concursal, é preciso que haja a restituição de alguns bens aos
seus reais proprietários. É o chamado Pedido de Restituição.
3.4. PAGAMENTO DOS CREDORES
Após a realização do ativo e a consequente arrecadação de recursos, haverá o
pagamento dos credores. No entanto, como o processo de falência almeja a
satisfação, principalmente, do princípio da isonomia, existe uma ordem de
preferência para cada crédito. Ocorre que, antes mesmo de serem efetuados
os pagamentos dos credores, a massa poderá efetuar pagamentos de outras
despesas autorizadas por lei, ocorridas durante a arrecadação dos bens e
levantamento de finanças, bem como essenciais para o andamento do próprio
rito falimentar. São os créditos extraconcursais, os quais devem ser pagos
com antecedência a qualquer outro. Inclusive, importante que o candidato

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saiba que os créditos trabalhistas estritamente salariais, vencidos nos
últimos 3 (três) meses anteriores à decretação de falência, até o limite de 5
(cinco) salários mínimos por trabalhador, deverão ser pagos tão logo haja
disponibilidade pecuniária.

Além desse, são consideradas verbas extraconcursais, devendo ser pagas com
antecedência de qualquer outra:

1) Remunerações devidas ao administrador judicial e seus auxiliares, e créditos


derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho
relativos a serviços prestados após a decretação da falência;
2) Quantias fornecidas à massa pelos credores;
3) Despesas com arrecadação, administração, realização do ativo e
distribuição do seu produto, bem como custas do processo de falência;
4) Custas judiciais relativas às ações e execuções em que a massa falida tenha
sido vencida;
5) Obrigações resultantes de atos jurídicos válidos praticados durante a
recuperação judicial, ou após a decretação da falência, e tributos relativos a
fatos geradores ocorridos após a decretação da falência, respeitada a ordem
estabelecida no art. 83 da Lei 11.101/05.

Após o pagamento dos créditos extraconcursais, a lei de falências estabelece,


em seu artigo 83, a ordem de preferência de pagamento dos créditos
concursais, a saber:

1) Créditos derivados da legislação do trabalho, limitados a 150 (cento e


cinquenta) salários-mínimos por credor, e os decorrentes de acidentes de
trabalho;
2) Créditos com garantia real até o limite do valor do bem gravado;
3) Créditos tributários, independentemente da sua natureza e tempo de
constituição, excetuadas as multas tributárias;
4) Créditos com privilégio especial;
5) Créditos com privilégio geral;
6) Créditos quirografários;
7) Multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis penais ou
administrativas, inclusive as multas tributárias;
8) Créditos subordinados.

(MPE-PR | 2017): Os créditos tributários precedem aos créditos


F
decorrentes de acidentes de trabalho.

Importante salientar que o fato de o processo de falência ter encerrado não


significa, automaticamente, a extinção das obrigações do falido. A lei de
falências, em seu art. 158, tratou de elencar em quais situações essa última
ocorrerá, bem como através de qual meio isso se dará, qual seja, a sentença.
Assim, ocorrendo qualquer uma das situações elencadas pelo referido artigo
legal, poderá ser requerido ao juízo a prolação de sentença para declarar a
extinção das obrigações do devedor falido.
3.6. CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL

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Em síntese, preleciona o artigo 47 da Lei de Falências que a recuperação
judicial tem como objetivo principal a viabilização de a empresa superar
situação de crise financeira, permitindo a sua preservação, função social e
estímulo à atividade econômica.

Em regra, costuma ser a recuperação judicial requerida antes de uma


situação de irreversibilidade; todavia, nada impede que isso ocorra após o
pedido de falência por parte de algum credor. É possível, pois, o pedido
incidental de recuperação judicial ao pedido de falência.
Quanto às demais características da recuperação judicial, podemos destacar
as seguintes:

Foro competente para o pedido de Recuperação Judicial – Tal como na


falência, é o foro do principal estabelecimento do devedor. Ademais, sobre
esse ponto, há a Súmula 480 do STJ, que diz: “O juízo da recuperação judicial
não é competente para decidir sobre a constrição de bens não abrangidos pelo
plano de recuperação da empresa”.

Do deferimento do processamento da Recuperação Judicial – Estando a


petição inicial de acordo com as regras legais, o juiz deferirá o processamento
da Recuperação Judicial, fato este que não se confunde com a concessão
da recuperação judicial. A respeito desse ponto, merece destaque o Enunciado
54 da I Jornada de Direito Comercial do CJF: “O deferimento do
processamento da recuperação judicial não enseja o cancelamento da
negativação do nome do devedor nos órgãos de proteção ao crédito e nos
tabelionatos de protestos”. Contra a decisão que defere o processamento da
recuperação judicial, cabe agravo de instrumento; ademais, a decisão de
deferimento acarreta também na suspensão de todas as ações ou execuções
contra o devedor, pelo prazo improrrogável de 180 (cento e oitenta) dias. No
entanto, o STJ vem mitigando essa regra, permitindo a extrapolação desse
prazo. Outra regra importante consiste na impossibilidade de desistência do
pedido de recuperação judicial após o seu deferimento, salvo aprovação em
sentido contrário pela assembléia geral de credores.

Apresentação do plano de Recuperação Judicial – Uma vez publicada a


decisão deferindo o processamento do pedido de recuperação, o devedor
deverá apresentar em juízo, no prazo de 60 (sessenta) dias, seu plano de
recuperação. Caso não haja a apresentação do plano no referido prazo, será
decretada a falência do devedor.

Credores excluídos do processo de Recuperação Judicial – A lei de


Falências exclui expressamente o credor titular da posição de proprietário
fiduciário de bens móveis ou imóveis, de arrendador mercantil, proprietário ou
promitente vendedor de imóvel e de credores bancários dos efeitos do
processo de Recuperação Judicial.

Além disso, há a conservação, por parte dos credores, de todos os seus


direitos e privilégios contra os coobrigados, fiadores e obrigados de regresso,
bem como as obrigações anteriores à recuperação continuarão sujeitas às

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suas condições originais, com ressalva para previsão em sentido contrário
estabelecida no plano de recuperação judicial.

(MPE-SP | 2015): Estão sujeitos à recuperação judicial o proprietário


F
fiduciário e o arrendador mercantil.

Verificação e habilitação dos créditos – Caso esteja sujeito aos efeitos da


recuperação, deve o credor proceder com a habilitação no processo de
recuperação, com o intuito de possibilitar a sua participação na assembleia
geral de credores.
Análise do plano de recuperação – Na atual legislação, os credores decidem
e o juiz homologa (cabe, entretanto, controle de legalidade) o plano de
recuperação judicial, concedendo a recuperação, caso o plano tenha sido
aprovado, ou decretando a falência, caso tenha ocorrido a rejeição pela
assembleia. Eventual objeção ao plano deve ser apresentada ao juiz no prazo
de trinta dias, o qual convocará a assembleia geral de credores para
deliberarem a respeito. Com efeito, a incumbência de apreciar as objeções é
exclusiva da assembleia, não podendo o juiz analisá-la ou julgá-la.

Contudo, a Lei de Falências prevê a situação excepcional de a recuperação


judicial ser concedida pelo juiz, não obstante tenha ocorrido a rejeição do
plano pela Assembleia Geral. Para tanto, deverão estar preenchidos os
seguintes requisitos, cumulativamente:

1) Voto favorável de credores que representem mais da metade do valor de


todos os créditos presentes à assembleia, independentemente de classes;
2) Aprovação de 2 (duas) das classes de credores ou, caso haja somente
(duas) classes com credores votantes, a aprovação de pelo menos 1 (uma)
delas;
3) Na classe que o houver rejeitado, o voto favorável de mais de 1/3 (um terço)
dos credores, computados na forma dos §§ 1º e 2º do art. 45 da Lei 11.101/05.

Concedida a recuperação, o plano implica na novação dos créditos anteriores


ao pedido, e obriga todos os credores a ele sujeitos; com efeito, diferentemente
do que ocorre com a falência, a empresa sujeita à recuperação judicial não
perde, em regra, a administração da empresa.

Encerramento do processo de Recuperação Judicial – Uma vez cumpridas


as obrigações dentro dos prazos legais, o juiz decretará, por sentença, o
encerramento da recuperação judicial. No entanto, o art. 61 da Lei de Falências
prevê que a recuperação deverá durar até o cumprimento das obrigações
previstas no plano que tiverem vencimento no período de até dois anos após a
concessão da recuperação pelo juiz. Ocorrendo o descumprimento de qualquer
obrigação prevista no plano de recuperação após o prazo de 2 anos contados
da concessão da recuperação, o prejudicado poderá requerer a execução
específica, ou então a convolação da recuperação judicial em falência.
3.7. RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL – ASPECTOS PRINCIPAIS
Para fazer jus à recuperação extrajudicial, o devedor deverá preencher os
mesmos requisitos exigidos para a concessão da recuperação judicial. Além
desses requisitos, também não poderá o devedor requerer a homologação de

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plano extrajudicial se houver pendência de pedido de recuperação judicial ou
homologação de outro pedido de recuperação extrajudicial há menos de dois
anos. Inclusive, a homologação judicial é mera faculdade conferida ao
devedor. Ademais, estão excluídos da recuperação extrajudicial os credores
tributário, trabalhista e aqueles previstos nos arts. 49, §3º e 86, inciso II do
caput, todos da Lei 11.101/05.

QUESTÃO INÉDITA
Sobre o Processo de Falência, Recuperação Judicial e Recuperação
Extrajudicial, marque a alternativa correta:
A) O foro competente para o processamento da falência é o do domicílio do
devedor.
B) O proprietário fiduciário encontra-se sujeito aos efeitos da Recuperação
Judicial.
C) O pedido de homologação da recuperação extrajudicial é ato obrigatório,
acarretando em nulidade a inobservância desse procedimento.
D) Os créditos trabalhistas estritamente salariais, vencidos nos últimos 3 (três)
meses anteriores à decretação de falência, até o limite de 5 (cinco) salários
mínimos por trabalhador, deverão ser pagos tão logo haja disponibilidade
pecuniária.

Comentários:
Alternativa A: Incorreta, pelo fato de o foro competente para o processamento
da falência ser o do principal estabelecimento, e não o do domicílio do
devedor;
Alternativa B: Incorreta, já que, por expressa previsão legal, o proprietário
fiduciário é excluído dos efeitos da Recuperação Judicial;
Alternativa C: A homologação da Recuperação Extrajudicial é mera
faculdade, e não obrigatoriedade do devedor, não havendo nulidade alguma
se não houver o seu pedido;
Alternativa D: Correta, conforme previsto no art. 151 da Lei 11.101/05.

É uma forma especial de execução, onde todos os


credores deverão se concentrar em um único
Conceito de Falência processo, para promover uma execução conjunta do
devedor. Almeja, pois, a concretizar a isonomia no
tratamento dos credores.

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Pressuposto material subjetivo:
Somente o devedor empresário se sujeita ao rito
Pressupostos da falimentar;
Falência Pressuposto material objetivo:
Caracterizado pela insolvência do devedor;
Pressuposto formal: Somente é decretada por
sentença.
-Deferimento do processamento da Recuperação
Judicial
Recuperação Judicial - Apresentação do plano de Recuperação
– Judicial
Etapas Principais - Verificação e habilitação dos créditos
- Análise do plano de recuperação
- Encerramento do processo de Recuperação
Judicial
- Devedor deverá preencher os mesmos requisitos
exigidos para a concessão da recuperação judicial.
- Não poderá o devedor requerer a homologação de
Recuperação plano extrajudicial se houver pendência de pedido
Extrajudicial - de recuperação judicial ou homologação de outro
Aspectos Principais pedido de recuperação extrajudicial há menos de
dois anos
- Homologação judicial é mera faculdade conferida
ao devedor.
- Estão excluídos da recuperação extrajudicial os
credores tributário, trabalhista e aqueles previstos
nos arts. 49, §3º e 86, inciso II do caput, todos da
Lei 11.101/05.

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APRESENTAÇÃO

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Francisco Penante
CEO Ad Verum Suporte Educacional
SUMÁRIO

I – PARTE GERAL:............................................................................................ 4
1. INTRODUÇÃO E PRINCÍPIOS: .................................................................. 4
1.1. Conceito: .................................................................................................. 4
1.2. Natureza Jurídica: .................................................................................... 4
1.3. Princípio da Intervenção Mínima: ............................................................. 4
1.4. Princípio da Adequação Social: ............................................................... 5
1.5. Princípio da lesividade: ............................................................................ 5
1.6. Princípio da legalidade: ............................................................................ 6
1.7. Princípio da Humanidade das Penas: .................................................... 10
1.8. Princípio da Intranscendência: ............................................................... 11
1.9 Princípio da Insignaficância:.................................................................... 12
A LEI PENAL: .................................................................................................. 15
2.1 Hermenêutica e Interpretação ................................................................. 15
2.2 Lei Penal no Tempo ................................................................................ 16
2.3 Concurso aparente de Normas Penais ................................................... 17
2.4 Tempo do Crime ..................................................................................... 18
2.5 Lugar do Crime ....................................................................................... 19
2.6 Lei Penal no Espaço ............................................................................... 19
2.7 Extraterritorialidade ................................................................................. 20
2.8 Princípios Aplicáveis na Solução do Aparente Conflito Internacional de
Normas ......................................................................................................... 21
TEORIA GERAL DO CRIME: .......................................................................... 23
3.1 Relação de Causalidade (art. 13, do CP) ................................................ 23
3.2 Tentativa: ................................................................................................ 27
3.3 Culpabilidade: ......................................................................................... 27
3.4 Erro de Tipo e Erro de Proibição: ............................................................ 29
3.4.1 Descriminantes putativas .................................................................. 29
3.5 Concurso de Pessoas: ............................................................................ 32
3.5.1 Teorias sobre a autoria ..................................................................... 33
3.5.2 Teorias da acessoriedade: punição do partícipe............................... 34
TEORIA JURÍDICA DO DELITO: ILICITUDE E CULPABILIDADE ................ 36

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4.1 Ilicitude (ou Antijuridicidade): .................................................................. 36
4.1.1. Causas de Exclusão da Ilicitude: ..................................................... 37
4.2 Culpabilidade: ......................................................................................... 40
4.2.1. Imputabilidade:................................................................................. 40
4.2.2. Potencial Consciência da Ilicitude:................................................... 41
4.2.3. Exigibilidade de Conduta Diversa: ................................................... 42
5. SANÇÃO PENAL:....................................................................................... 44
5.1 Fixação do regime inicial ......................................................................... 44
5.2 Aplicação das penas privativas de liberdade .......................................... 46
5.3 Pena de multa ......................................................................................... 55
5.4 Concurso de crimes ................................................................................ 58
5.4.1 Concurso formal................................................................................ 58
5.4.2 Pontos relevantes sobre concurso de crimes ................................... 59
5.5 Livramento condicional ........................................................................... 62
5.6 Prescrição ............................................................................................... 63
5.6.1 Jurisprudência relacionada à prescrição ........................................... 67
II – PARTE ESPECIAL: ................................................................................... 70
1. Crimes contra a Pessoa (arts. 121 a 154-B, do CP) ................................. 70
2. Crimes contra a Liberdade Pessoal:......................................................... 74
3. Crimes contra o Patrimônio (arts. 155 a 183, do CP) .............................. 78
4. Crimes contra a Dignidade Sexual (arts. 213 a 216-A, do CP) ................ 83
5. Crimes de Perigo Comum (arts. 250 a 259, do CP).................................. 86
6. Crimes contra a Paz Pública (arts. 286 a 288-A, do CP).......................... 88
III – LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL ........................................................... 90
1. Lei 8.072/90 - Crimes Hediondos............................................................... 90
2. Lei 11.343/06 – Lei de Drogas .................................................................... 93
2.2 Da associação para o tráfico ................................................................... 96
2.3 Financiamento ao tráfico ......................................................................... 96
2.4 Informante Colaborador .......................................................................... 96
3. Lei 9455/97 – Da Tortura ............................................................................ 97
3.1 Omissão perante a tortura....................................................................... 98
4. Lei 9.613/98 – Lavagem de Dinheiro ......................................................... 99
5. Lei 9.296/96 – Da Interceptação Telefônica ............................................ 102

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6. Lei 10.826/03 – Estatuto do Desarmamento ........................................... 104
6.1 Porte ilegal de Arma de Fogo de uso permitido: ................................... 106
6.2 Da Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito: ................... 107
6.3 Comércio ilegal de arma de fogo: ......................................................... 108
6.4 Tráfico internacional de arma de fogo: .................................................. 108
7. Lei 4.898/65 – Dos Crimes de Abuso de Autoridade ............................. 109
8. Lei 12.850/13 – Organização Criminosa ................................................. 109
9. Lei 8.137/90 - Dos Crimes Contra a Ordem Tributária ........................... 110
10. Lei nº 11.340/06 – Lei Maria da Penha .................................................. 112

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I – PARTE GERAL:

1. INTRODUÇÃO E PRINCÍPIOS:

1.1. Conceito:

Podemos conceituar “Direito Penal” como um conjunto de normas jurídicas


(regras e princípios) que visa coibir as infrações penais (crimes e
contravenções) mediante a imposição de sanção penal (pena aos imputáveis e
medida de segurança aos inimputáveis).

O direito de punir (jus puniendi) é exclusivo do Estado? Não! De acordo com o


art.57 da Lei nº 6.001/73 (Estatuto do Índio), o Estado tolera a aplicação, pelos
grupos tribais, de sanções penais ou disciplinadoras contra os seus membros,
desde que não revistam caráter cruel ou infamante, proibida, em qualquer
caso, a pena de morte.

DPC-PA | 2009 | MOVENS: Será tolerada a aplicação, pelos grupos


tribais, de acordo com as instituições próprias, de sanções penais ou
F disciplinares contra os seus membros, inclusive, em casos
devidamente justificados, da pena de morte.

1.2. Natureza Jurídica:

Também conhecida como “taxinomia”, a natureza jurídica do Direito Penal é


ramo do Direito Público, haja vista ser composto de regras indisponíveis e
obrigatoriamente impostas a todas as pessoas.

DPC-RN | 2009 | CESPE: O direito penal é ramo do direito público e


F privado, pois protege bens que pertencem ao Estado, assim como
aqueles de propriedade individualizada.

1.3. Princípio da Intervenção Mínima:

Sustenta-se a ideia de que o Direito Penal é a exceção, não a regra. Direito


Penal como a última ratio.

DPC-PI | 2009 | UESPI: Segundo o princípio da intervenção mínima, o


F direito penal deve atuar como regra e não como exceção.

Podemos enxergar o princípio da intervenção mínima à luz de dois


subprincípios:

a) Princípio da Fragmentariedade: o Direito Penal só pode ser chamado


para tutelar fragmentos do ordenamento jurídico, isto é, somente aquelas
condutas sociais que afetem os bens jurídicos mais importantes.

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DPC-RN | 2009 | CESPE: O direito penal tem natureza fragmentária,
V ou seja, somente protege os bens jurídicos mais importantes, pois os
demais são protegidos pelos outros ramos do direito.

DPC-SP | 2011 | PCSP: A ideia de que o Direito Penal deve tutelar os


V valores considerados imprescindíveis para a sociedade, e não todos
os bens jurídicos, sintetiza o princípio da fragmentariedade.

b) Princípio da Subsidiariedade: nem sempre o bem jurídico tutelado pela


norma penal deve merecer a tutela do Direito Penal no caso concreto,
principalmente quando outros ramos do Direito já punem a conduta
praticada.

1.4. Princípio da Adequação Social:

Sustenta-se que não se pode considerar penalmente típico o comportamento


humano que não afronta o sentimento social de Justiça, que é aceito ou
tolerado pela sociedade. Entretanto, o STJ já decidiu que o princípio da
adequação social não prevalece em face dos crimes de violação de direito
autoral (Súmula 502)1, casa de prostituição (REsp 1.435.872-MG) e
contravenção penal do jogo do bicho (REsp 1.464.860-SP).

1.5. Princípio da lesividade:

Sinônimos: ofensividade, alteridade e transcendentalidade. Sustenta-se que


não há crime quando a conduta do agente não ofender, de fato, um bem
jurídico tutelado pela lei penal.

DPC-RJ | 2009 | CEPERJ: Por força do princípio da lesividade


V não se pode conceber a existência de qualquer crime sem
ofensa ao bem jurídico protegido pela norma penal.

Este princípio busca afastar a criminalização de:

 Atitudes internas (nullum crimen sine actio): não se pune o simples


ato de pensar ou cogitar a prática criminosa (cogitationis poenam nemo
patitur). Falase em “direito à perversão”, “direito de ser mal”. É por isso
que ser pedófilo não é crime; crime é praticar pedofilia.

V DPC-RJ | 2009 | CEPERJ: O princípio da lesividade (ou


ofensividade) proíbe a incriminação de uma atitude interna.

b) atitudes que não excedam o âmbito do próprio autor, mesmo que


socialmente ou moralmente desviadas (nullum crimen sine injuria): assim

1
STJ, Súmula 502: Presentes a materialidade e a autoria, afigura-se típica, em
relação ao crime previsto no artigo 184, parágrafo 2º, do Código Penal, a
conduta de expor à venda CDs e DVDs piratas.

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sendo, o Direito Penal não pode punir condutas como autolesão corporal,
tentativa de suicídio, auto-prostituição, etc.

DPC-GO | 2013 | UEG: Ana, menor de 17 anos de idade, contrariando


proibição de seus pais, procura Júlio para que este realize uma
tatuagem no seu ombro com aproximadamente 15 centímetros de
V diâmetro. Ainda que presente a tipicidade formal, poderá ser aplicado o
Princípio da Alteridade porque não houve lesão a bem jurídico de
terceiro.

É neste particular que se discute a constitucionalidade dos chamados “crimes


de perigo abstrato”, que são aqueles em que a lei presume o perigo de
determinada conduta, dispensando, assim, que bem jurídico alheio seja lesado
para que o crime se consume. Ex: embriaguez ao volante, porte ilegal de arma
de fogo, porte de drogas para consumo próprio, etc. Parte da doutrina defende
que a tipificação de tais delitos viola o princípio da lesividade, uma vez que o
agente, por não expor efetivamente a perigo bem jurídico alheio, não poderia
ser punido, porquanto sua atitude não excede o seu próprio âmbito. De toda
sorte, a jurisprudência do STF se mostra pacífica quanto à constitucionalidade
de tais delitos, argumentando que os bens jurídicos tutelados por estes tipos
penais são supraindividuais, como a segurança pública, a saúde pública, etc.,
razão pela qual seria lícito ao legislador antecipar a criminalização dessas
condutas antes que elas afetem efetivamente um bem jurídico alheio.

c) simples estados ou condições existenciais: ninguém pode ser punido por


questões exclusivamente pessoais, sob pena de configurar o Direito Penal do
Autor. Neste sentido, infrações penais como a de vadiagem (LCP, art.59)
deveriam ser extintas.

DPC-RJ | 2009 | CEPERJ: No direito penal democrático só se punem


V
fatos. Ninguém pode ser punido pelo que é, mas apenas pelo que faz.

1.6. Princípio da legalidade:

Sustenta-se que o Estado só pode criar um crime e cominar uma pena


mediante uma lei estrita, prévia, escrita e certa. Referido princípio encontra-se
positivado nos seguintes dispositivos:

CRFB, art. 5º, XXXIX: “Não há crime sem lei anterior que o defina, nem
pena sem prévia cominação legal”.
CP, art. 1º: “Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem
prévia cominação legal”.

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DPC-RJ | 2009 | CEPERJ: O conteúdo essencial do princípio da
V legalidade se traduz em que não pode haver crime, nem pena que não
resultem de uma lei prévia, escrita, estrita e certa.
DPC-RS | 2009 | PCRS: Quanto à forma de tipificação de condutas
V criminosas, o princípio da legalidade determina que haja lei prévia e lei
escrita.

Vamos estudar agora cada um destes requisitos para a incriminação:

a) Lei Estrita / Lex Stricta | Princípio da Legalidade Estrita | Princípio da


Reserva Legal: o Estado só pode incriminar uma conduta mediante lei. Esta
“lei” a que se referem o art. 5º, XXXIX, da CRFB e o art. 1º do CP é a “lei em
sentido estrito”. Lei em sentido estrito é a lei ordinária e a lei complementar
(CRFB, art. 59, II e III). Ou seja, somente uma lei ordinária ou complementar
pode ser utilizada para criar um tipo penal. A lei em sentido estrito submete-se
à garantia constitucional da lex populi2.

DPC-PA | 2009 | MOVENS: A exigência de lei criando tipos penais


V para permitir a aplicação de sanção é garantia constitucional.

Todavia, no tocante às normas penais não incriminadoras, é perfeitamente


possível que outra fonte normativa trate da matéria. Ex: normas penais
explicativas, excludentes de crime, excludentes de punibilidade, etc.

DPC-RJ | 2009 | CEPERJ: O princípio da legalidade estrita não cobre,


V segundo a sua função e o seu sentido, toda a matéria penal, mas
apenas a que se traduz em fixar, fundamentar ou agravar a
responsabilidade do agente.

O exemplo mais cobrado em provas é o da Medida Provisória. É bem verdade


que o art. 62, § 1º, b, da CRFB, veda expressamente a possibilidade de edição
de uma MP dispondo sobre matéria penal.

DPC-CE | 2015 | VUNESP: De acordo com o art. 62 da Constituição da


V República de 1988, não é permitida a edição de Medida Provisória em
matéria Penal. (ADAPTADA).

E é bem verdade também que, em razão da reserva legal (CRFB, art. 5º,
XXXIX e CP, art. 1º) e da lex populi (CRFB, arts. 22, I c/c 84, IV) Medida
Provisória não pode criar tipos penais, somente lei em sentido estrito pode.

DPF | 2002 | CESPE: Por ter força de lei, não viola o princípio da
F legalidade a medida provisória que define crimes e comina sanções
penais

2
Compete privativamente ao Poder Legislativo Federal dispor sobre direito penal
(CRFB, art. 22, I) e privativamente ao Presidente da República sancionar, promulgar e
fazer publicar as leis penais (CRFB, art. 84, IV).

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DPC-PA | 2009 | MOVENS: É válida a descrição de conduta típica
F penal por medida provisória.
DPC-PI | 2009 | UESPI: O princípio da legalidade permite a criação de
F tipos penais incriminadores através da edição de medidas provisórias.
DPC-RO | 2014 | FUNCAB: Medida provisória não pode instituir crime
V oufixar pena

Mas atenção: segundo o STF, é possível que Medida Provisória trate de norma
penal não incriminadora. No RE 254.818-PR, a Corte considerou válida a MP
1.571/97 que permitiu o parcelamento de débitos tributários e previdenciários
como efeito extintivo da punibilidade.

Outra importante garantia que deriva do princípio da legalidade estrita é a


proibição da analogia in malam partem. Analogia (ou aplicação analógica) é
uma técnica de integração legislativa, em que o intéprete, ao perceber uma
lacuna legislativo-involuntária que o impossibilita resolver determinado caso
concreto, procura uma lei que regule um caso bastante semelhante, e a utiliza
naquele, de modo "emprestado", pois ubi eadem ratio, ubi idem ius (onde
existe a mesma razão, existe o mesmo direito).

É possível analogia em Direito Penal? Segundo a doutrina e jurisprudência


majortárias, não é possível analogia in malam partem em nenhuma hipótese,
mesmo em se tratando de norma penal não incriminadora. Analogia em Direito
Penal só se for in bonam partem. Neste sentido: (i) O crime de associação para
o tráfico não integra a listagem legal de crimes equiparados a hediondos, razão
pela qual é impossível analogia in malam partem com o fito de considerá-lo
crime dessa natureza (STJ, HC 117.220-RJ);

(ii) A união estável é reconhecida como entidade familiar, podendo se aplicar a


analogia in bonam partem para o “companheiro” quando o art. 181, I, do CP,
diz “cônjuge” (TJ-MG, APR 1.0446.08.009115-5/001); (iii) A norma do art. 327,
§ 1º, do CP , deve ser interpretada restritivamente, para equiparar o
terceirizado ao funcionário público somente quando este é o sujeito ativo do
delito. pois a aplicação de analogia in malam partem é vedada (TJ-RJ, APR
0002130- 36.2013.8.19.0055).

DPC-RS | 2006 | FAURGS: Com base no postulado nullum crimen


F nulla poena sine lege stricta, é vedada qualquer forma de recurso à
analogia em matéria criminal.
DPC-GO | 2008 | UEG: As normas penais que definem o injusto
F culpável e estabelecem as suas conseqüências jurídicas são passíveis
de aplicação analógica.
DPC-RJ | 2009 | CEPERJ: Face ao fundamento, à função e ao sentido
F do princípio da legalidade, a proibição de analogia vale relativamente a
todos os tipos penais, inclusive os permissivos.
DPC-RS | 2009 | PCRS: Relativamente à interpretação da lei penal, é
corolário do princípio da legalidade que a lei penal seja stricta, com o
F que fica vedado, de qualquer modo, o uso da analogia em Direito
Penal.

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Por fim, é preciso diferenciar “analogia / aplicação analógica” de “interpretação
analógica”. Interpretação analógica não é uma forma de integração do Direito
(como a analogia é), mas sim uma forma de interpretação deste. A
interpretação analógica ocorre quando um dispositivo legal traz uma cláusula
genérica após uma enumeração casuística – ex: CP, art.121, § 2º, I: “Se o
homicídio é cometido: mediante paga ou promessa de recompensa, ou por
outro motivo torpe” – perceba que primeiro o legislador definiu um caso que
seria considerado motivo torpe (paga ou promessa de recompensa), e depois
trouxe a cláusula genérica (ou por outro motivo torpe).

Assim sendo, é perfeitamente possível considerar torpe o homicídio praticado


com a intenção de receber herança, embora esta circunstância não esteja
expressamente prevista no Código Penal. É pacífico na doutrina e
jurisprudência o entendimento pela possibilidade da interpretação analógica em
toda norma penal, inclusive incriminadoras.

DPC-PE | 2006 | IPAD: No Direito Penal Brasileiro, segundo a doutrina


F majoritária, a aplicação da analogia é o mesmo que interpretação
analógica.
DPC-GO | 2008 | UEG: A interpretação analógica é aquela que abarca
F os casos análogos, conforme uma fórmula casuística gravada no
dispositivo legal, não sendo admitida em direito penal.
DPC-RS | 2009 | PCRS: Analogia e interpretação analógica se
F equivalem, sendo que ambas são vedadas em Direito Penal, dada a
primazia absoluta da lei como sua fonte.

b) Lei Prévia / Lex Praevia | Princípio da Anterioridade: reza que uma


pessoa só pode ser punida por um crime se, no momento em que ela praticou
a conduta, esta já era tipificada na lei penal. Ex: se você hoje acender um
cigarro dentro de um restaurante, estará cometendo um crime? Não, pois não
existe uma lei penal tipificando esta conduta, logo, como não há crime sem lei
anterior que o defina, então o fato é atípico em razão do princípio da
anterioridade.

DPC-RS | 2009 | PCRS: Lei prévia significa que a lei incriminadora


V seja anterior à data da prática do fato ou conduta nela previsto; trata-se
da exigência da anterioridade da lei penal.

c) Lei Escrita / Lex Scripta: nosso Direito Penal pertence à família do “civil
law”, e não à do “commom law”, isto é, entre nós o que vale é o Direito Penal
escrito, especialmente aquele relativo a normas penais incriminadoras. Ou
seja, ninguém pode ser punido por algo que não está escrito na lei penal. Por
esta razão, não se admite que um costume possa fundamentar a punição de
alguém3. Pegadinha de concurso: confundir os termos “lex stricta” (lei estrita)
ou “lex scripta” (lei escrita).

3
Mas isto não significa que os costumes não possam ser utilizados como fontes formais
secundárias. Ex: termos do Código Penal como "ato obsceno" e "repouso norturno"
são retirados dos costumes do local em que foi praticado o delito.

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F DPC-RS | 2006 | FAURGS: O postulado nullum crimen nulla poena
sine lege scripta não proíbe a criação de tipos penais incriminadores
por meio de costumes.
V DPC-RS | 2009 | PCRS: A lex scripta exclui a admissibilidade dos
costumes como criadores de normas penais.
F DPC-SP | 2011 | PCSP: A lei estrita, desdobramento do princípio da
legalidade, veda o emprego de costumes.

d) Lei Certa / Lex Certa / Princípio da Taxatividade: a lei penal,


principalmente a incriminadora, deve ser indiscutível em seus termos, não
podendo descrever o crime de forma vaga, aberta, imprecisa ou lacunosa, pois
isso vai de encontro com a segurança jurídica. É necessário que o legislador
seja taxativo quanto ao preceito primário e secundário de tipos penais, ainda
que minimamente. Exemplo de dispositivo penal que viola o referido princípio:
art.9º da Lei de Segurança Nacional "Tentar submeter o território nacional, ou
parte dele, ao domínio ou à soberania de outro país".

DPC-RS | 2006 | FAURGS: Pode-se afirmar que o postulado nullum


crimen nulla poena sine lege certa não tem qualquer distinção do
F princípio da reserva legal, sendo empregados como sinônimos.

DPC-RS | 2009 | PCRS: O princípio da legalidade impõe que as leis


penais sejam certas, ou seja, que a descrição tipológica não pode
deixar margens à dúvida quanto à significação, devendo ser evitados
V os tipos incriminadores genéricos. É o que alguns doutrinadores
denominam de taxatividade ou determinação taxativa da lei penal
(ADAPTADA).

1.7. Princípio da Humanidade das Penas:

Em razão do princípio da dignidade da pessoa humana (fundamento da


República Federativa do Brasil), não se pode conceder tratamento indigno ao
preso.

Referido princípio encontra-se positivado nos seguintes dispositivos:



CRFB, art. 5º, XLVII: “Não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de
guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX; b) de caráter perpétuo; c) de
trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis”.
CRFB, art. 5º, XLIX: “É assegurado aos presos o respeito à integridade física
e moral”.
CRFB, art. 5º, L: “Às presidiárias serão asseguradas condições para que
possam permanecer com seus filhos durante o período de amamentação”.
CP, art. 38: “O preso conserva todos os direitos não atingidos pela perda da
liberdade, impondo-se a todas as autoridades o respeito à sua integridade
física e moral”.
CP, art. 39: “O trabalho do preso será sempre remunerado, sendo-lhe
garantidos os benefícios da Previdência Social”.

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DPC-AM | 2001 | PCAM: Não poderá haver penas cruéis, de
F banimento, de trabalhos forçados, de caráter perpétuo e de morte.

DPC-PI | 2009 | UESPI: O princípio da humanidade das penas proíbe,


F em qualquer hipótese, a pena de morte no ordenamento jurídico
brasileiro.
DPC-CE | 2015 | VUNESP: A Constituição da República de 1988 (art.
5º, XLVII) veda expressamente a existência de pena de morte (salvo
F em caso de guerra declarada), além de vedar as penas de caráter
perpétuo; de trabalhos forçados; de banimento; infamantes e cruéis.

Um desdobramento do princípio da humanidade das penas é o princípio da


individualização das penas, que exige um tratamento customizado para cada
detento. Um exemplo disto encontra-se no art. 5º, XLVIII, da CRFB: “A pena
será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do
delito, a idade e o sexo do apenado”.

DPC-AM | 2001 | PCAM: A pena será cumprida em estabelecimentos


V distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do
apenado, sendo assegurado aos presos o respeito à integridade física
e moral.
DPC-PA | 2009 | MOVENS: As penas serão cumpridas em
F estabelecimentos prisionais, diferençados apenas em relação ao sexo
do apenado.
DPC-PA | 2013 | UEPA: Dispondo sobre os direitos e garantias
fundamentais dos brasileiros e estrangeiros residentes no país, a
Constituição de 1988, em seu art. 5º, XLVIII, determina que “a pena
será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a
V natureza do delito, a idade e o sexo do apenado”. Esta norma garante
o princípio da individualização da pena, porque impõe ao Estado o
dever de classificar os apenados a partir de características pessoais
concretas, prevenindo problemas como o da “contaminação
carcerária”.

1.8. Princípio da intranscedência:

Ninguém pode responder pela sanção penal aplicada ao outro, pois não há que
se falar em responsabilidade solidária, subsidiária ou sucessiva no Direito
Penal. Mas isso não significa que, em caso de morte do culpado, os efeitos
civis da sentença condenatória não possam atingir a herança deixada por ele.

CRFB, art. 5º, XLV: “Nenhuma pena passará da pessoa do condenado,
podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens
ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas,
até o limite do valor do patrimônio transferido”.

DPC-AM | 2001 | PCAM: Nenhuma pena passará da pessoa do


condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do
F perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores
e contra eles executadas, até o limite do valor patrimônio destes.

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DPC-TO | 2008 | CESPE: Prevê a Constituição Federal que nenhuma
pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de
reparar o dano e a decretação de perdimento de bens ser, nos termos
V da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o
limite do valor do patrimônio transferido. Referido dispositivo
constitucional traduz o princípio da intranscendência
DPC-PI | 2009 | UESPI: Segundo o princípio da intranscedência, a
V pena não pode passar da pessoa do condenado.
DPC-AC | 2017 | IBADE: É correto afirmar que responsabilização de
F terceiros pela conduta de alguém viola o princípio penal denominado
Inderrogabilidade.

Atenção: condenação à pena de multa (CP, art. 49) não se confunde com
efeitos civis da condenação penal!

DPF | 2013 | CESPE: A multa aplicada cumulativamente com a pena


de reclusão pode ser executada em face do espólio, quando o réu vem
F a óbito no curso da execução da pena, respeitando-se o limite das
forças da herança.

1.9 Princípio da Insignificância:

Incorporado no Direito Penal pelo estudos de Claus Roxin, o princípio da


insignificância defende que condutas formalmente típicas que causem
inexpressiva legal ao bem jurídico devem ser consideradas irrelevantes penais,
sob pena de causar um desnecessário congestionamento da Justiça Penal.

Referido princípio possui natureza jurídica de causa supralegal de exclusão da


tipicidade material.

V DPC-RJ | 2009 | CEPERJ: O princípio da insignificância revela uma


hipótese de atipicidade material da conduta.
F DPC-PI | 2009 | UESPI: O princípio da insignificância exclui a ilicitude.

A jurisprudência dos Tribunais Superiores adota os seguintes requisitos para


sua aplicação:

a) Requisitos Objetivos: Mínima ofensividade da conduta; Ausência/Nenhuma


de periculosidade social da ação; Reduzido/Reduzidíssimo grau de
reprovabilidade do comportamento; e Inexpressividade da lesão jurídica
provocada. Dica: M.A.R.I.

DPC-RJ | 2012 | FUNCAB: O princípio da insignificância, decorrência


do caráter fragmentário do Direito Penal, tem base em uma orientação
utilitarista, tem origem controversa, encontrando, na atual
V jurisprudência do STF, os seguintes requisitos de configuração: a
mínima ofensividade da conduta do agente; nenhuma periculosidade
social da ação; o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do
comportamento; e a inexpressividade da lesão jurídica provocada.

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 Requisitos Subjetivos: embora a análise deva ser feita no caso
concreto, podemos observar na jurisprudência a inaplicabilidade do
princípio quando o agente é reincidente, possui maus antecedentes ou é
criminoso habitual.

PRINCÍPIO DA IRRELEVÂNCIA
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA PENAL DO FATO / PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA IMPRÓPRIO
Infração Bagatelar Própria. Infração Bagatelar Imprópria.
Sem previsão legal CP, art. 59, in fine
Exclui-se a tipicidade material Exclui-se a punibilidade
Ex: furto de uma fruta Ex: pagamento do tributo nos crimes
contra a ordem tributária torna a pena
desnecessária

STJ, Súmula 589: “É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou


contravenções penais praticados contra a mulher no âmbito das relações
domésticas”.

O Direito Penal só pode ser usado para tipificar condutas


Princípio da que afetem os bens jurídicos mais importantes
Intervenção (fragmentariedade); mesmo que o fato seja tipificado pelo
Mínima Direito Penal, ele só deve ser acionado quando a conduta
não for suficientemente punida por outro ramo do Direito
(subsidiariedade).
Princípio da O Direito Penal não deveria punir condutas aceitas ou
Adequação toleradas pela sociedade; STJ, Súmula 502.
Social
O Direito Penal não pode punir atitudes internas, atitudes
Princípio da que não excedam o âmbito do próprio autor e simples
Ofensividade estados ou condições existenciais.
O indivíduo somente poderá responder por um crime se
houver uma lei estrita, prévia, escrita e certa; somente lei
Princípio da em sentido estrito (ordinária ou complementar) pode criar
Legalidade crimes e cominar penas; medida provisória não pode criar
crimes nem cominar penas; é proibida a analogia in malam
partem; é permitida a analogia in bonam partem; é
permitida a interpretação analógica.
Não haverá pena de morte, salvo em caso de guerra
Princípio da declarada; não haverá penas perpétuas, de trabalhos
Humanidade das forçados, de banimento ou cruéis; se o preso quiser
Penas trabalhar, ele será remunerado e beneficiado com a
Previdência Social; o princípio da individualização das
penas sustenta que a pena deve ser customizada.

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Princípio da A pena (privativa, restritiva, multa) não pode passar da
Intranscendência pessoa do infrator, porém, os efeitos civis podem atingir a
herança no caso de morte.
São requisitos de aplicação: (M)ínima ofensividade da
conduta; (A)usência/Nenhuma de periculosidade social da
ação; (R)eduzido/Reduzidíssimo grau de reprovabilidade
Princípio da do comportamento; e (I)nexpressividade da lesão jurídica
Insignificância provocada; Não se confunde com o Princípio da
Irrelevância Penal do Fato; STJ, Súmula 589.

Questão Inédita
Assinale a alternativa que corresponde com as lacunas:

I. O pai de um adolescente não pode responder pelo crime praticado pelo filho
em razão do princípio _______.
II. Aquele que confessa a um policial que está indo cometer um crime, ainda
não pode ser punido em razão do princípio _______.
III. Aquele que furar uma fila de banco não pode ser punido criminalmente em
razão do princípio _______.
IV. Aquele que é flagrado vendendo um DVD “pirata” não poderia ser punido
criminalmente em razão do princípio _______.
V. Aquele que, pela primeira vez, subtrai um pacote de miojo de um
supermercado não pode ser punido em razão do princípio _______.
VI. O agente que ultrapassar sinal vermelho, incorrendo na contravenção do
art. 32 da LCP, não deve sofrer sanção penal, mas sim administrativa (multa),
em razão do princípio _______.

a) instranscendência; lesividade; legalidade; adequação social; insignificância;


subsidiariedade.
b) transcendentalidade; insignificância; fragmentariedade; adequação social;
intervenção mínima.
c) alteridade; lesividade; reserva legal; bagatela imprópria; subsidiariedade;
taxatividade.
d) intranscendência; ofensividade; anterioridade; adequação social; bagatela
própria; fragmentariedade.

Comentário: o candidato atento ficaria na dúvida entre a assertiva a) e d),


embora a correta seja a alternativa a) pois o mais acertado no caso é a
subsidiariedade, não a fragmentariedade, embora ambos sejam ramificações
de um mesmo princípio (intervenção mínima). Obs: fique ligado nos sinônimos
dos princípios!

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A LEI PENAL:

Para compreender esse tópico iremos conceituar e classificar as Fontes do


Direito Penal. Incialmente cabe destacar que fontes são a origem das normas
jurídicas, podendo ser elencadas em:

Materiais, substanciais ou de produção: asseveram o responsável pela
produção das normas. De acordo com ordenamento pátrio, é função exclusiva
da União a competência legislativa para elaboração das normais penais (CF,
ART.22, I). Os estados-membros, os municípios e o Distrito Federal não
possuem autonomia para editar normas penais em sentido estrito. Atenção:
normas em sentido estrito são aquelas que não podem criar ou revogar
infrações penais, prever penas, aumentá-las ou diminuí-las.

Formais de conhecimento ou de cognição: determina as espécies
normativas que podem conter normas penais (incriminadoras ou não). São
subdivididas em:

- Imediatas (primárias): somente a lei em sentido estrito pode servir como


fonte primária e imediata do Direito penal, em face do princípio constitucional
da reserva legal, presente no art.5ºXXXIX, da CF e também no art.1ºdo CP.
- Mediatas (secundárias): são os costumes, os princípios gerais do direito e a
analogia in bonam partem. Essas fontes somente podem servir como base
para normas penais de caráter permissivo, jamais se estendendo como
fundamento de criação ou agravamento de normas penais incriminadoras.

2.1 Hermenêutica e Interpretação

Esses dois conceitos não se confundem, pois hermenêutica trata-se da


ciência que sistematiza os métodos e os elementos da interpretação jurídica ao
passo que a Interpretação é a ação de investigação efetuada pelo aplicador
do direito em busca do real alcance e efetivação das normas jurídicas. Com
isso, deve-se atentar para as seguintes divisões no tocante à interpretação:

Quanto à origem:

- Autêntica ou legislativa: Concebida pelo próprio legislador, ou seja, do


órgão que provém a regra, tendo natureza obrigatória. Ex: o conceito de
funcionário público previsto no art.327 do CP.
- Doutrinária: é efetuada pelos pesquisadores do Direito. Ex: Manual de Direito
Penal.
- Judicial ou jurisprudencial: decorre dos membros do Poder Judiciário na
análise do caso concreto. Ex: Súmulas Vinculantes.

Quanto ao método:

- Gramatical ou literal: se baseia na análise semântica dos vocábulos


utilizados no texto, ou seja, no sentido literal das palavras. Esse método é visto
como o mais precário, em uma visão garantista pois se restringe apenas à

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análise da norma, desprezando os demais modos de interpretação e dando
margem a uma interpretação imperfeita.
- Teleológico: visa desvendar a genuína vontade da lei, sendo considerada a
interpretação mais próxima da real finalidade da norma.
- Histórico: busca depreender o sentido da lei por meio de uma análise do
contexto em quem foi elaborada. Considera de forma significativa o
antecedente social que motivou sua gênese.
- Sistemático: analisa a lei de forma devidamente harmonizada com todo o
sistema jurídico. Visa o todo e não somente as partes.

Quanto ao resultado:

- Declaratória: provém da perfeita harmonia entre a norma prescrita e a


vontade do legislador.
- Restritiva: busca minimizar o alcance da norma legal, quando a lei disse mais
do que desejava.
- Extensiva: ao contrário da restritiva, ocorre quando a lei disse menos do que
se esperava dizer. Essa interpretação amplia o alcance da norma legal
demasiadamente restrita. Ex: a doutrina cita o crime de extorsão mediante
sequestro tipificado no art.159 do CP também abrange o cárcere privado.
- Analógica: a norma apresenta em seu texto uma fórmula genérica logo após
a presença de uma fórmula casuística. Ex: homicídio qualificado mediante
paga, promessa ou outro motivo torpe. A norma demonstra que a paga e a
promessa de recompensa são exemplos de motivo torpe.

2.2 Lei Penal no Tempo

Quando o tema recorrido se tratar da norma penal no tempo, a primeira palavra


que deve vir à sua cabeça é a extra-atividade da lei penal, pois compreender
a conceituação de como a lei penal, mesmo depois de revogada pode
continuar a regular os acontecimentos ocorridos durante sua vigência, ou
retroagir para alcançar aqueles que aconteceram anteriormente à sua entrada
em vigor é fundamental. Assim, primeiramente cabe destacar:

- Princípio da continuidade das leis: após entrar em vigor no ordenamento


jurídico brasileiro, uma lei apenas pode ser revogada por outra lei. Essa
revogação pode ser dar: revogação total conhecida como ab-rogação ou
revogação parcial denominada também de derrogação. A revogação ainda
pode ser classificada quanto ao Modo:

Expressa: o próprio texto normativo aponta os dispositivos revogados.


Tácita: a nova lei não menciona qualquer revogação, no entanto, revela-se
incompatível com a anterior.

Conflito de Leis Penais no Tempo

Ocorre quando há duas ou mais leis penais que tratam da mesma matéria de
forma distinta e se sucederam no tempo. Dessa forma, se faz necessário
estabelecer em qual lei o caso concreto deverá ficar acomodado, ou seja, se

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deve ficar amoldado aquela norma vigente ao tempo de sua prática, ou se
outra, já revogada ou que lhe é posterior.

Assim, faz-se necessário compreender:



Abolitio criminis: encontra respaldo no (art.2º, caput), significa a lei
supressiva de incriminação, ou seja, a nova lei não mais considera crime
determinado comportamento, o que antes era crime ou contravenção penal
torna-se insignificativo penalmente. Sua natureza jurídica é de causa de
extinção da punibilidade. Por ser nitidamente mais benéfica, retroagirá
alcançando os fatos passados, mesmo que acobertado pela coisa julgada.
Extingue todos os efeitos penais da sentença condenatória, persistindo apenas
os efeitos civis da condenação.

Novatio legis in mellius: compreende nova lei penal que dá ao fato
tratamento mais brando. Sempre será retroativa, sendo aplicada aos fatos
ocorridos anteriormente à sua vigência, ainda que tenham sido acobertados
pelo manto do trânsito em julgado.

Novatio legis in pejus: trata-se de uma lei nova que passa a tratar uma lei
antiga de forma mais grave, ex: lei que amplia o rol das circunstâncias
agravantes. Essa não retroage para alcançar aquele que praticou o delito.

Lei Excepcional ou Temporária: A fundamentação legal está no art.3º do
CP. Lei Temporária: aquela elaborada com o objetivo de incidir sobre os fatos
ocorridos apenas durante certo período de tempo. A lei temporária traz
expressamente em seu texto normativo o dia do início e do término de sua
vigência. Ex: lei 12.663/2012, vulga Lei da Copa. Em contrapartida, a Lei
Excepcional é aquela elaborada para incidir sobre situações anormais,
durante certas circunstâncias específicas, tais como situações de crise social,
econômica, calamidade pública.

2.3 Concurso aparente de Normas Penais

Denomina-se conflito de normas quando, para determinado fato,


aparentemente existem duas ou mais normas que poderão ser aplicadas. Esse
aparente conflito deverá ser sanado com base nos seguintes princípios:

Princípio da Especialidade: lex specialis derrogat gerali, ou seja, norma
especial afasta a aplicação de norma geral. Assim, será especial e, portanto,
sobressairá a norma que estabelecer todos os elementos de outra (geral), além
de mais alguns, de natureza subjetiva ou objetiva, tido como especializantes.

Porém, atenção: existe uma celeuma em relação ao “interrogatório do acusado


por tráfico de drogas, se esse deve ocorrer no início da instrução como
assegura o art.57 da Lei 11.343/06 consagrando o princípio da especialidade
ou ao final do rito como assegura o artigo 400 do CPP”. Desta forma, você

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deve se atentar para o seguinte: o STJ pelo julgamento do HC 127.9004 vinha
decidindo com base no princípio da especialidade, no qual Lei de Drogas por
ser especial, prevalecia sobre o art. 400 do CP. No entanto, o próprio STJ
decidiu no HC 397.382/SC, DJe 14/08/2017 ( muito recente), por meio da sua
6º turma, que o interrogatório do acusado por tráfico de drogas deve ser no
final da instrução, não no início como estabelece o rito especial.

Princípio da Subsidiariedade: apontado como o “soldado de reserva”, ou
seja, na ausência ou impossibilidade de aplicação da lei principal mais grave,
aplica-se norma subsidiária menos grave, contemplando a expressão lex
primaria derrogat legi subsidiariae. Destaque-se que a subsidiariedade pode
ser tácita ou expressa. Por subsidiariedade expressa pode se entender quando
a própria lei faz a sua ressalva, deixando demonstrado seu caráter subsidiário.

Ex: art. 132 do CP. Já a subsidiariedade tácita, é aquela quando um tipo penal
é previsto como elementar ou circunstância legal de outro crime. Ex: art.311
CTB.

Princípio da Consunção: decorre quando um crime é meio necessário ou
normal fase de preparação ou de execução de outro crime, ou nos casos de
antefato e pós-fato impuníveis. Assim, compreende-se sempre9 que se
apresentar, entre os atos praticados pelo agente, a relação consuntiva, isto é,
de meio e fim, ou seja, consumação absorve a tentativa e esta absorve o
incriminado ato preparatório, o crime de lesão absorve o correspondente crime
de perigo, etc.

Princípio da Alternatividade: voltado para as infrações penais de ação
múltipla, também denominados de crimes plurinucleares, ou seja, aqueles tipos
penais que possuem diversos núcleos (verbos), separados pela conjunção
“ou”. Ex: art. 33 da Lei 11.343/06.

2.4 Tempo do Crime

Visa delimitar a responsabilidade penal e a melhor norma a ser aplicada de


acordo com o momento do crime. Sua fundamentação está no art.4º do CP. Há
três teorias que discutem o tratamento do tema:

a) Teoria da Atividade: é significativo o momento da conduta


b) Teoria do Resultado: é significativo o momento do resultado
c) Teoria da Ubiquidade: ambos os momentos são significativos, tanto o
resultado como a conduta.

ATENÇÃO: a teoria adota pelo Código Penal é a ATIVIDADE. Para você que
vai detonar a banca do concurso para Delta da PF, memorize a Súmula 711 do
STF. “A Lei Penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime
permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da
permanência.”
4
Recomenda-se muito a leitura desse HC, pois certamente a banca do seu concurso, no qual você irá
ser aprovado, cobrará esse novo entendimento.

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2.5 Lugar do Crime

Sua fundamentação está no art.6º do CP. No entanto, se faz necessário citar


as teorias que disputam o tratamento desse tema:

a) Teoria da Atividade: é significativo o lugar da ação ou omissão


b) Teoria do Resultado: é significativo o resultado da ação ou omissão
c) Teoria da Ubiquidade: define como significativo tanto o lugar do crime, bem
como onde se produziu ou deveria se produzir o resultado.

ATENÇÃO: a teoria adota pelo Código Penal é a da Ubiquidade.

Teoria do tempo e do lugar do crime (LUTA)


LUGAR-UBIQUIDADE (LU)
TEMPO- ATIVIDADE (TA)

2.6 Lei Penal no Espaço

Define o art. 5º, caput, do CP, “aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de
convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no
território nacional”. Pela redação do mencionado artigo, constata-se que no
Brasil não se optou por uma teoria absoluta da territorialidade, mas uma teoria
conhecida como Temperada, visto que o Estado, mesmo soberano, em
determinadas situações abre mão da aplicação da sua legislação, em virtude
de convenções, tratados etc.

ATENÇÃO:

- Considera-se território físico - solo e subsolo


- Território por extensão – embarcações ou aeronaves a serviço do brasil.
- Não se considera território do Brasil – as embaixadas brasileiras no exterior.

DESTAQUE:

A Territorialidade é a regra e sua definição está art. 5º, caput, CP (lei aplicável
é a brasileira). Extraterritorialidade é a exceção, prevista no art.7º, CP (lei
aplicável é a brasileira). Intraterritorialidade também é exceção, prevista no
art.5º, caput, CP (lei aplicável é a lei estrangeira. Ex: Imunidade diplomática).

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Direito de Passagem Inocente:
- Diante da passagem inocente será aplicada a lei da Bandeira da
embarcação, caso ocorra algum crime abordo.
- No silêncio da lei, segundo Rogério Sanches e Luís Flávio Gomes, aplica-se
o direito de passagem inocente também em relação as aeronaves, quando
não há qualquer contato com nossa sociedade e influência sobre a população.
- STF entende que apesar de invioláveis, as embaixadas não são extensão do
território que representam.

2.7 Extraterritorialidade

É forma pela qual se aplica a lei brasileira às infrações penais cometidas além
de nossas fronteiras. É dividida em duas espécies:
11
a) Extraterritorialidade Incondicionada: se aplica a lei brasileira,
independentemente de qualquer condição, topograficamente estão
localizadas no inciso I do art.7º do Código Penal.

Na hipótese da extraterritorialidade incondicionada, existe uma regra em


relação à computação da pena– essa regra está contida no art.8º do CP, e
ensina que se as penas aplicadas no Brasil e no estrangeiro forem idênticas,
deverão ser computadas. Ao passo se forem diversas devem ser atenuadas.

MACETE: palavra CIDA

CI computa se for idêntica


DA atenua se for diversa

Você tem que lembrar – apesar de existir claro “bis in idem” no trato da
extraterritorialidade incondicionada, no entanto, esse passa a ser tolerado pelo
ordenamento como exceção, fundamentado na soberania dos países.

b) Extraterritorialidade condicionada: a aplicação da lei brasileira,


depende do concurso de diversas condições. Fundamentada no art. 7º,
II, e parágrafo 2º e 3º. Atente-se: Não se aplica a extraterritorialidade
da lei Penal às contravenções penais.

c) Intraterritorialidade: trata-se da exceção, quando a lei penal


estrangeira entra no território brasileiro. Vide o art. 5º caput do CP.
Exemplo quando o crime for cometido por diplomata estrangeiro.

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OBSERVAÇÃO: a escolha de qual lei deve ser aplicada não é privilégio da
pessoa, mas prerrogativa da sua função, não se admitindo a renúncia por parte
do diplomata, mas o Estado acreditante pode renunciar expressamente a
imunidade. Fundamentação legal art. 32 da Convenção de Viena.

2.8 Princípios Aplicáveis na Solução do Aparente Conflito Internacional


de Normas

Princípio da Territorialidade: aplica-se a lei penal do local do crime, não
importando a nacionalidade do agente, da vítima ou bem jurídico tutelado.
Princípio da Nacionalidade Ativa: aplica-se a lei penal da nacionalidade do
agente.
Princípio da Nacionalidade Passiva: aplica-se a lei penal da nacionalidade
da vítima.
Princípio da Defesa ou da Proteção: aplica-se a lei penal da nacionalidade
do bem jurídico tutelado.
Princípio da Justiça Universal ou Cosmopolita: o agente criminoso fica
sujeito à lei penal do país em que ele for encontrado. Não é significativo o local
do crime, a nacionalidade dos envolvidos ou nacionalidade do bem jurídico
tutelado.
Princípio da Representação ou da Bandeira: aplica-se nos crimes
cometidos a bordo de embarcações brasileiras ou aeronaves privadas, quando
ocorrido no exterior. No entanto, exige-se que o crime não tenha sido julgado
no estrangeiro para efeito de se aplicar a lei brasileira, a qual assume caráter
subsidiário.

Eficácia da Sentença Estrangeira

Está disciplinada no art. 9 do CP, confirmando que a sentença estrangeira em


regra, não precisa ser homologada no Brasil para produzir seus efeitos, no
entanto está previsto duas exceções em que devem ser homologadas pelo
STJ, nos termos do art.105, I,i, da CF, com redação da ECn.45. São essas:

Para produzir efeitos civis, reparação a restituições, desde que haja
requerimento do interessado e que nossa lei preveja os mesmos efeitos na
situação abordada pela sentença estrangeira.
No âmbito penal para aplicar medida de segurança, nesse caso, a lei
brasileira preveja os mesmos efeitos para hipótese tratada.

Se atente à súmula 420 STF – não se homologa sentença proferida no


estrangeiro sem prova do transito em julgado. - para fins de reincidência, não
precisa de homologação do STJ. Basta somente a prova do transito em
julgado.

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O conceito de Direito Penal está atado ao ramo do
Direito Público, que visa estudar os valores fundamentais
para se manter a boa convivência e a paz social, os fatos
que os violam e o conjunto de normas jurídicas reservadas
a proteger tais valores, usando para tal fim uma
penalidade.
Política Criminal é vinculado ao aspecto do controle
penal que dita a relação com o poder que tem o Estado de
definir um conflito social como fato criminal ou não.
Lembrar do Princípio da Insignificância.
As Fontes do Direito Penal são divididas em: Materiais,
Substanciais ou de produção Regra: União Exceção:
Estados e o Distrito Federal. Formais, Cognição,
Conhecimento Primárias: Lei. Secundárias: costumes, os
princípios gerais de direito e a analogia in bonam partem
Hermenêutica é a ciência que se ocupa de sistematizar
Direito Penal: os métodos e os elementos da interpretação jurídica.
conceitos e Interpretação busca o alcance e o sentido das regras
princípios jurídicas, não se confundindo com a hermenêutica.
Tempo do crime é aquele em que o sujeito pratica a
ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do
resultado. Destaque para a Teoria da Atividade.
Dica: para efeito de contagem da prescrição, vale o
momento em que ocorrer a consumação do crime, vide o
art.111,I, do CP
Lugar do Crime considera tanto o lugar da conduta,
quanto o lugar em que se produziu ou deveria se produzir-
se o resultado. Destaque Teoria da Ubiquidade.
Eficácia da Sentença Estrangeira – lembrar das duas
exceções que necessitam ser homologadas pelo STJ para
que produza efeitos no Brasil. No caso: reparação de
dano, restituições e outros efeitos civis.

Em relação ao conflito aparente de normas penais, aponte


a alternativa que indica os princípios responsáveis pela
sua solução:

a) Insignificância, consunção, subsidiariedade e alteridade


b) Insignificância, alteridade, consunção e alternatividade
c) Especialidade, alteridade, consunção e subsidiariedade

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d) Especialidade, insignificância, subsidiariedade,
consunção
e) Especialidade, consunção, subsidiariedade,
alternatividade

GABARITO COMENTADO:

O gabarito correto é a letra “E”.

a) O candidato atento descartaria essa opção de imediato,


pois a insignificância e a alteridade tratam-se de princípios
ligados ao Direito Penal, mas não voltado a solução do
conflito de normas.
QUESTÃO 1 b) Novamente a questão coloca dois princípios que não
estão vinculados a resolução do conflito aparente de
normas, que são a Insignificância e alteridade. Lembre-se
candidato que o princípio da insignificância exclui a
tipicidade material da conduta delituosa, não se
enquadrando na resolução de conflitos da lei penal.
c) Nessa alternativa, temos três princípios que regem o
conflito de normas, exceto o princípio da alteridade que é
um princípio do Direito Penal Constitucional. No entanto,
atenção o avaliador procurou confundir você concurseiro,
pois caso não esteja atentado pode vir a confundir
alteridade com alternatividade
d) Aqui mais uma vez aponta três alternativas corretas,
sendo somente o princípio da insignificância incorreto
e) A letra E é alternativa correta pois os quatro princípios
se amoldam na relação da solução do conflito aparente de
normas penais. Destacamos, que todos os princípios foram
exaustivamente abordados no material.

TEORIA GERAL DO CRIME:

3.1 Relação de Causalidade (art. 13, do CP)

A causalidade é um dos elementos do fato típico. Fato típico é o fato humano


(ou o fato praticado por pessoa jurídica no caso dos crimes ambientais) que se
enquadra com perfeição aos elementos descritos pelo tipo penal. São quatro os
elementos do fato típico: conduta, resultado naturalístico, relação de
causalidade e tipicidade. Esses elementos estão presentes,
simultaneamente, nos crimes materiais consumados. Já na tentativa e nos
crimes formais e de mera conduta, os componentes do fato típico são a
conduta e a tipicidade.

Importante destacar que nos crimes de mera conduta jamais haverá resultado
naturalístico, razão pela qual se subtrai a relação de causalidade, enquanto nos
crimes formais o resultado naturalístico pode ocorrer, mas não é necessário
para a consumação.

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- Teorias da relação de causalidade

São destacadas três teorias: equivalência dos antecedentes, causalidade


adequada e imputação objetiva. A teoria da equivalência dos antecedentes é
também chamada de teoria da equivalência das condições, teoria da
condição simples, teoria da condição generalizadora ou teoria da conditio
sine qua non. Para essa teoria, causa é todo fato humano sem o qual o
resultado não teria ocorrido, quando ocorreu e como ocorreu. Essa foi a teoria
adotada, como regra, pelo Código Penal, em seu art. 13, caput. No entanto, há
vozes no sentido de que essa teoria seria “cega”, considerando que permitiria a
regressão ao infinito (regressus ad infinitum).

Já a teoria da causalidade adequada (teoria da condição qualificada ou


teoria individualizadora) revela que causa é o antecedente, não só
necessário, mas adequado à produção do resultado. Para que se possa atribuir
um resultado a determinada pessoa, é necessário que ela, além de praticar um
antecedente indispensável, realize uma atividade adequada à sua
concretização. A conduta é adequada quando é idônea a gerar o efeito. Não
basta contribuir de qualquer modo para o resultado, a contribuição deve ser
eficaz. O CP adota, excepcionalmente, a teoria da causalidade adequada, em
seu art. 13, § 1º.

Por fim, para a teoria da imputação objetiva, desenvolvida por Claus Roxin, o
sistema finalista, ao limitar o tipo objetivo à relação de causalidade, de acordo
com a teoria da equivalência dos antecedentes, não resolve todos os
problemas inerentes à imputação. Veja o exemplo apresentado por Claus
Roxin: imaginemos que “A” venda heroína a “B”. Os dois sabem que a injeção
de certa quantidade de tóxico gera perigo de vida, mas assumem o risco de
que a morte ocorra. “A” o faz porque o que lhe interessa é principalmente o
dinheiro, e “B”, por considerar sua vida já estragada e só suportável sob estado
de entorpecimento. Deve “A” ser punido por homicídio cometido com dolo
eventual, na hipótese de “B” realmente injetar o tóxico e morrer? A causalidade
de “A” para a morte de “B”, bem como o seu dolo eventual, encontram-se fora
de dúvida. E se considerarmos a causalidade suficiente para a realização do
tipo objetivo, tem-se que concluir pela punição de “A”. Desta forma, para
resolver o caso narrado, a teoria da imputação objetiva insere duas novas
elementares – criação de um risco proibido e realização do risco no
resultado – no tipo objetivo. Então, para esta teoria, a relação de causalidade
só estaria caracterizada quando ultrapassada três etapas: 1ª) teoria da
equivalência dos antecedentes; 2ª) imputação objetiva; e 3ª) dolo ou culpa.

Não confundir teoria da imputação objetiva com responsabilidade penal


objetiva. O objetivo da teoria é totalmente diversa, qual seja, limitar a
responsabilidade penal, tendo em vista que a atribuição de um resultado a um
agente não é determinado pela relação de causalidade, mas é necessário

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outro nexo, de forma que esteja presente a realização de um risco proibido
pela norma. O mais apropriado seria falar em teoria da não imputação
objetiva, considerando que a sua função é evitar a atribuição indevida e
objetiva de um resultado típico a alguém. Essa teoria é aplicável
exclusivamente aos crimes materiais.

Importante analisar os pressupostos da imputação objetiva:

 Criação ou o aumento de um risco: podem ser consideradas como


“risco” aquelas ações que, por meio de uma prognose póstuma
objetiva, geram uma possibilidade de lesão ao bem jurídico. Prognose
se refere à situação do agente no momento da ação; póstuma, porque
será feita pelo magistrado depois da prática do fato; e objetiva, porque
parte do conhecimento de um homem prudente na mesma hipótese
analisada. Não há ação perigosa quando o risco for juridicamente
irrelevante (a ação não gera uma possibilidade real de dano); ou
quando há uma diminuição do risco, avaliado pelo agente antes da
ação.

 O risco criado deve ser proibido pelo Direito: nem toda ação perigosa
é proibida pelo Direito. A doutrina aponta como causas de exclusão do
risco proibido: comportamento exclusivo da vítima em situação de
perigo; as contribuições socialmente neutras (exemplo de Jakobs:
padeiro vende o pão ao autor, consciente de que este o usará para
envenena alguém); os comportamentos socialmente adequados
(princípio da adequação social); proibição de regresso (não haveria
criação de um risco proibido nos casos em que a ação não dolosa de
alguém precedesse a ação dolosa de um terceiro. Exemplo: aquele que
esquece a sua arma, que vem a ser encontrada por outrem
posteriormente e utilizada para a prática de um crime de homicídio, não
seria responsabilizado).

 O risco foi realizado no resultado: só haverá realização do risco se a


proibição da conduta for justificada para evitar a lesão de determinado
bem jurídico por meio de determinado curso causal, os quais venham
efetivamente a ocorrer. É o fim de proteção da norma. No entanto,
haverá exclusão da imputação: na lesão ou curso causal sem relação
com o risco proibido; nos danos tardios, relacionados à lesão anterior
causada ao bem jurídico (exemplo: vítima de lesões corporais, alguns
anos depois, perde o equilíbrio em razão da lesão nunca ter sido
completamente curado e cai, sofrendo novas lesões); nos danos
causados a outrem, resultantes de choque causado pelo fato criminoso
praticado (exemplo: pai cardíaco morre ao saber que o filho fora
assassinado); nas ações perigosas de salvamento (exemplo: “A” ateia
fogo na casa de “B” na ausência deste, mas “B” entra para salvar uma
coleção de CDs de playstation, vindo então a falecer); no
comportamento indevido posterior de um terceiro (exemplo: vítima de
lesões que, necessitando de uma cirurgia, vem a falecer em razão de
erro médico grosseiro).

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Ano: 2015. Banca: FCC. Órgão: TJ-RR. Prova: Juiz
Substituto)

No que toca à relação de causalidade, é correto afirmar


que:
A) é normativa nos crimes omissivos impróprios.
B) a superveniência de causa relativamente
independente exclui a imputação quando, por si só,
produziu o resultado, não se podendo imputar os fatos
anteriores a quem os praticou.
C) a previsão legal de que a omissão é penalmente
relevante quando o omitente devia e podia agir para
evitar o resultado, se tinha por lei obrigação de cuidado,
proteção ou vigilância, é aplicável aos crimes omissivos
próprios.
D) se adota em nosso sistema a teoria da conditio sine
qua non, distinguindo-se, porém, causa de condição ou
concausa.
E) a teoria da imputação objetiva estabelece que somente
pode ser objetivamente imputável um resultado causado
por uma ação humana quando a mesma criou, para o seu
objeto protegido, uma situação de perigo juridicamente
relevante, ainda que permitido, e o perigo se materializou
no resultado típico.

CORRETA: Letra A.

A relação de causalidade ou nexo causal está prevista no


art. 13 do CP. No §2º do art. 13, tem-se a teoria
normativa da omissão, com a relação dos crimes
omissivos impróprios em suas alíneas. Desta forma, a
relação de causalidade é normativa nos crimes omissivos
IMPRÓPRIOS.

INCORRETAS:

B) Nos termos do §1º do art. 13, do CP, os fatos


anteriores imputam-se a quem os praticou.
C) Essa previsão é do crime omissivo impróprio (art. 13,
§2º).
D) Não há distinção entre causa, condição e concausa.
Elas são equivalentes.
E) Caso o perigo seja permitido, não há falar em
imputação objetiva.

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3.2 Tentativa:

- Teorias

Dentre as diversas teorias que buscam fundamentar a punibilidade da tentativa,


quatro se destacam:

a) Teoria subjetiva, voluntarística ou monista: Ocupa-se exclusivamente da


vontade criminosa. O sujeito é punido por sua intenção, pois o que importa é o
desvalor da ação, sendo irrelevante o desvalor do resultado.

b) Teoria sintomática: É idealizada pela Escola Positiva de Ferri, Lombroso e


Garofalo e sustenta a punição em razão da periculosidade subjetiva, isto é, do
perigo revelado pelo agente. Possibilita a punição de atos preparatórios, pois a
mera manifestação de periculosidade já pode ser enquadrada como tentativa,
em consonância com a finalidade preventiva da pena.

c) Teoria objetiva, realística ou dualista: a tentativa é punida em face do


perigo proporcionado ao bem jurídico tutelado pela lei penal. Sopesam-se o
desvalor da ação bem como o do resultado: a tentativa deve receber punição
inferior à do crime consumado, pois o bem jurídico não foi atingido
integralmente. O CP acolheu, como regra, a teoria objetiva ao determinar
que a pena da tentativa deve ser correspondente à pena do crime consumado,
diminuída de 1 a 2/3. No entanto, há casos em que o crime consumado e o
crime tentado comportam igual punição. São os chamados delitos de
atentado ou de empreendimento que temos como exemplo: a) evasão
mediante violência contra a pessoa (art. 352, CP); b) art. 309, do Código
Eleitoral, no qual se sujeita a igual pena o eleitor que vota ou tenta votar mais
de uma vez, ou em lugar de outrem.

d) Teoria da impressão ou objetivo-subjetiva: Essa teoria representa um


limite à teoria subjetiva. Aqui, a punibilidade da tentativa só é admitida quando
a atuação da vontade ilícita do agente seja adequada para comover a
confiança na vigência do ordenamento normativo e o sentimento de segurança
jurídica dos que tenham conhecimento da conduta
criminosa.

3.3 Culpabilidade:

- Teorias

a) teoria psicológica: desenvolveu-se segundo a concepção clássica


(positivistanaturalista) do delito. O delito constitui-se de elementos objetivos
(fato típico e ilicitude) e subjetivos (culpabilidade). A ação humana é tida como
um movimento26 corporal voluntário que produz uma modificação no mundo
exterior. Integram a ação: a vontade, o movimento corporal e o resultado. A
vontade é despida de conteúdo (finalidade/querer-interno e esse conteúdo
figura na culpabilidade. Pra essa teoria, a culpabilidade é vista como um nexo
psíquico entre o agente e o fato criminoso. O dolo e a culpa são espécies da

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culpabilidade e não seus elementos. A imputabilidade é tratada como
pressuposto da culpabilidade, senão vejamos:

CULPABILIDADE
FATO TÍPICO ILICITUDE (TEORIA
PSICOLÓGICA)
1. CONDUTA ___________ 1.IMPUTABILIDADE
2. RESULTADO (PRESSUPOSTO)
3. NEXO CAUSAL 2. DOLO NORMATIVO
4. TIPICIDADE OU CULPA

Obs: nessa perspectiva, o dolo constitui-se dos seguintes elementos: 1.


consciência da conduta, resultado e nexo causal; 2. vontade de praticar a
conduta e produzir resultado; 3. consciência REAL e ATUAL da ilicitude do fato
(elemento normativo). Em razão da consciência da ilicitude ser elemento do
dolo, este é conhecido como dolo normativo.

b) Teoria normativa ou psicológico-normativa: base neokantista e é


fundamentada na doutrina causal-valorativa de Frank. A culpabilidade é vista
como um juízo de valor que necessita de uma avaliação simultânea do vínculo
psicológico do autor (dolo ou culpa) e da reprovação social, o que a torna
psicológico-normativa. O novo elemento da culpabilidade é de natureza
normativa (exigibilidade de conduta diversa). Assim, a culpabilidade passou a
conter os seguintes elementos: i) imputabilidade; ii) dolo ou culpa; iii)
exigibilidade de conduta diversa.

CULPABILIDADE
FATO TÍPICO ILICITUDE (TEORIA
PSICOLÓGICA)
1.CONDUTA ___________ 1.IMPUTABILIDADE
2. RESULTADO 2. DOLO OU CULPA
3. NEXO CAUSAL 3. EXIGIBILIDADE DE
4. TIPICIDADE CONDUTA DIVERSA

c) Teoria normativa pura: tem como fundamento a teoria finalista da ação


(Hans Welzel). Para Welzel, a ação humana não pode ser considerada de
forma dividida (aspecto objetivo e subjetivo), considerando que toda ação
voluntária é finalista, ou seja, traz consigo o querer-interno. Dessa forma, a
ação típica deve ser concebida como um ato de vontade com conteúdo
(finalidade/querer interno).

Aqui, o dolo e a culpa são retirados da culpabilidade e passam a integrar o


fato típico. Com isso, a conduta típica passa a ser dolosa ou culposa. Retira
se do dolo seu aspecto normativo (consciência da ilicitude). Esta, que agora é
potencial, para a figurar como elemento da culpabilidade. A culpabilidade,
então, fica composta apenas de elementos normativos:

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CULPABILIDADE
FATO TÍPICO ILICITUDE (TEORIA
PSICOLÓGICA)
1. CONDUTA (DOLO ___________ 1. IMPUTABILIDADE
OU CULPA COMO 2. POTENCIAL
ASPECTO) CONSCIÊNCIA DA
2. RESULTADO ILICITUDE
3. NEXO CAUSAL 3. EXIGIBILIDADE DE
4. TIPICIDADE CONDUTA DIVERSA

Obs: não é necessário que o agente tenha a real e atual consciência da


ilicitude, basta a possibilidade e conhecê-la.

3.4 Erro de Tipo e Erro de Proibição:

3.4.1 Descriminantes putativas

Descriminante é a causa que exclui o crime, retirando o caráter ilícito do fato


típico praticado. Essa palavra é sinônima, portanto, de causa de exclusão da
ilicitude. Putativa é algo imaginário, erroneamente suposto. Assim, é a causa
de exclusão da ilicitude que não existe concretamente, mas apenas na mente
do autor do fato. Também é chamada de descriminante erroneamente
suposta ou descriminante imaginária.

- Espécies de descriminantes putativas

a) Erro relativo aos pressupostos de fato de uma causa de exclusão


da ilicitude: é o caso daquele que, ao encontrar seu desafeto, e
notando que tal pessoa coloca a mão no bolso, saca de seu revólver e o
mata. Descobre, depois, que a vítima fora acometida por cegueira, por
ele desconhecida, e não poderia sequer ter visto o seu agressor. Está
ausente, portanto, um dos requisitos da legítima defesa: agressão
injusta.

b) Erro relativo à existência de uma causa de exclusão da ilicitude: é o


caso do sujeito que, depois de encontrar sua esposa com o amante,
mata a ambos, por crer que assim possa agir acobertado pela legítima
defesa da honra. Nesse caso, o agente errou quanto à existência dessa
discriminante, que não é acolhida em no ordenamento jurídico em vigor.

c) Erro relativo aos limites de uma causa de exclusão da ilicitude: tem-


se como exemplo o fazendeiro que reputa adequado matar todo e
qualquer posseiro que invada a sua propriedade. Trata-se da figura do
excesso, pois a defesa da propriedade não permite esse tipo de reação.

- Natureza jurídica

Quanto ao erro relativo à existência de uma causa de exclusão da ilicitude e ao


erro relativo aos limites de uma causa de exclusão da ilicitude, é pacífico o

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entendimento de que se trata de uma modalidade de erro de proibição. Trata-
se, portanto, do erro de proibição indireto (descriminante putativa por erro
de proibição). Subsiste o dolo e também a culpa, excluindo-se a culpabilidade
se o erro for inevitável ou escusável. Se o erro for evitável ou inescusável, não
se exclui a culpabilidade e o agente responde por crime doloso, diminuindo-se
a pena de 1/6 a 1/3 (CP, art. 21, caput).

Quanto ao erro relativo aos pressupostos de fato de uma causa de exclusão da


ilicitude, a natureza jurídica da descriminante putativa depende da teoria da
culpabilidade adotada. Para a teoria limitada da culpabilidade, constitui-se
em erro de tipo permissivo. Nesse caso, se escusável o erro, exclui-se o dolo
e a culpa, o que gera a atipicidade do fato. Por outro lado, se inescusável o
erro, afasta-se o dolo, mas subsiste a responsabilidade por crime culposo, se
houver previsão legal (CP, art. 20, § 1º). O item 19 da Exposição de Motivos da
Parte Geral do CP acolheu esta concepção.

Já para a teoria normativa pura da culpabilidade, em sua vertente extrema


ou estrita, trata-se de hipótese de erro de proibição. Dessa forma, constitui
descriminante putativa por erro de proibição, com os efeitos do art. 21, caut, do
CP.

(Ano: 2013. Banca: VUNESP. Órgão: TJ-SP. Prova: Juiz


Substituto)

Conforme o disposto no art. 14, parágrafo único, do Código


Penal, “Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa
com a pena correspondente ao crime consumado,
diminuída de um a dois terços”. O critério de diminuição da
pena levará em consideração:

A) a motivação do crime.
B) a intensidade do dolo.
C) o iter criminis percorrido pelo agente.
D) a periculosidade do agente.

CORRETA: Letra C.

O critério de diminuição de pena concentra-se na análise


do iter criminis, ou seja, quanto mais o agente se
aproximar da consumação, menor deve ser a diminuição;
quanto mais distante da consumação, maior a diminuição,
dentro do prudente critério do juiz.

(Ano: 2015. Banca: FCC. Órgão: TJ-PI. Prova: Juiz


Substituto)

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A análise da culpabilidade do agente não constitui
requisitos legal para a:

A) progressão de regime prisional.


B) fixação da pena de cada concorrente no caso de
concurso de pessoas.
C) determinação do regime inicial de cumprimento da pena
privativa de liberdade.
D) substituição da pena privativa de liberdade por restritiva
de direitos.
E) suspensão condicional da pena

CORRETA: Letra A.

O art. 112, da LEP dispõe que a pena privativa de


liberdade será executada em forma progressiva com a
transferência para regime menos rigoroso, a ser
determinada pelo juiz, quando preso estiver cumprido ao
menos 1/6 da pena no regime anterior e ostentar bom
comportamento carcerário, comprovado pelo diretor do
estabelecimento, respeitadas as normas que vedam a
progressão. Aqui, não há se falar em análise da
culpabilidade.

INCORRETAS:

B) Art. 29, do CP.


C) Art. 59, do C
D) art. 44, III, do CP.
E) Art. 77, II, do CP.

(Ano: 2015. Banca: FCC. Órgão: TJ-AL. Prova: Juiz


Substituto )

O erro inescusável sobre


A) a ilicitude do fato constitui causa de diminuição da pena.
B) elementos do tipo permite a punição da título de culpa,
se acidental.
C) elementos do tipo isenta de pena.
D) elementos do tipo exclui o dolo e a culpa, se essencial.
E) a ilicitude do fato exclui a antijuridicidade da conduta.

CORRETA: Letra A.

Art. 21, do CP: “O desconhecimento da lei é inescusável.


O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de
pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um
terço”.

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3.5 Concurso de Pessoas:

- Conceito

É a colaboração empreendida por duas ou mais pessoas para a realização de


um crime ou de uma contravenção penal.

- Requisitos

a) Pluralidade de agentes culpáveis: depende de ao menos duas


condutas penalmente relevantes, que podem ser principais, no caso da
coautoria, ou uma principal e outra acessória. Os coautores ou partícipe,
entretanto, devem ser culpáveis.

Vale recordar que nos crimes plurissubjetivos, plurilaterais ou de


concurso necessário, ou seja, aqueles em que o tipo penal exige a
realização da conduta por dois ou mais agentes, a culpabilidade de todos os
coautores é PRESCINDÍVEL (DISPENSÁVEL). Nesses crimes, admite-se a
presença de um único agente culpável, podendo os demais coautores
enquadrar-se em categoria diversa. De fato, não se faz necessária a utilização
da norma de extensão do art. 29, caput, do CP, uma vez que a presença de
duas ou mais pessoas é garantida pelo próprio tipo penal. Exemplo: crime de
rixa (CP, art. 137); associação criminosa (CP, art. 288). Da mesma forma, nos
crimes eventualmente plurissubjetivos – aqueles geralmente praticados por
uma única pessoa, mas que têm a pena aumentada quando praticados em
concurso, a capacidade de culpa de um dos envolvidos é dispensável.
Exemplo: furto praticado por um maior de idade na companhia de um
adolescente incide a qualificadora do art. 155, §4º, IV, do CP. Em tais crimes,
há, portanto, um pseudoconcurso, concurso impróprio, ou concurso aparente
de pessoas. Já no CONCURSO DE PESSOAS conclui-se que não basta a
mera pluralidade de agentes, mas também que sejam todos culpáveis.

b) Relevância causal das condutas para a produção do resultado: a


conduta deve ser relevante, pois sem ela a infração penal não teria
ocorrido quando e como ocorreu. Deve a conduta individual influir
efetivamente no resultado. A contribuição deve ser prévia ou
concomitante à execução, isto é, anterior à consumação. A concorrência
posterior configura crime autônomo, mas não concurso de pessoas.
No caso de concurso de pessoas, a contribuição pode até ser
concretizada após a consumação, mas desde que tenha sido ajustada
anteriormente.

c) Vínculo subjetivo (concurso de vontades): nexo psicológico, pois,


caso contrário, não haverá um crime praticado em concurso, mas vários

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crimes simultâneos. Os agentes devem revelar vontade homogênea,
visando à produção do mesmo resultado (princípio da convergência).
Logo, não é possível contribuição dolosa para um crime culposo, nem a
concorrência culposa para um delito doloso. Sem esse requisito, tem-se
a figura da autoria colateral. O vínculo subjetivo não depende de prévio
ajuste entre os envolvidos (pactum sceleris), pois basta a ciência por
parte de um agente no tocante ao fato de concorrer para a conduta de
outrem (scientia sceleris ou scientia maleficii), chamada pela doutrina de
“consciente e voluntária cooperação”; “vontade de participar”;
“concorrência de vontades”.

d) Unidade de infração penal para todos os agentes: O art. 29, caput, do


CP adotou, como regra, a teoria unitária ou monista (quem concorre
para um crime, por ele responde). Todos os coautores e partícipes se
sujeitam a um único tipo penal. Excepcionalmente, o CP abre espaço
para a teoria pluralista, pela qual se separam as condutas com a
criação de tipos penais diversos para os agentes que buscam um mesmo
resultado. Temos como exemplo o crime de abordo provocado por
terceiro com o consentimento da gestante (o terceiro responde pelo
art. 126, CP e a gestante pelo art. 124); bigamia (quem já é casado
pratica a conduta do art. 235, caput, do CP, ao passo que o outro, não
sendo casado, mas contrai casamento com pessoa casada, conhecendo
essa circunstância incide na figura do §1º, do art. 235); corrupção ativa
e passiva (o funcionário público pratica corrupção passiva – art. 317 e o
particular, corrupção ativa – art. 333).

A doutrina ainda aponta duas outras teorias: dualista e mista. Para a teoria
dualista, no caso de pluralidade de agentes e de condutas diversas,
provocando um mesmo resultado, há dois crimes distintos: um para o
coautores e outro para os partícipes. E para a teoria mista, “o delito concursal
é uma soma de delitos singulares, cada um dos quais pode ser chamado delito
em concurso. Entre o delito em concurso e o concursal, há a mesma diferença
que existe entre a parte e o todo. E o traço característico do primeiro reside
em que ele não constitui uma entidade autônoma, mas elemento de um delito
complexo que é o concursal” (Francesco Carnelutti).

3.5.1 Teorias sobre a autoria

a) Teoria subjetiva ou unitária: não há diferença entre autor e partícipe.


Autor é aquele que de qualquer modo contribui para a produção de um
resultado penalmente relevante. Seu fundamento repousa na teoria da
equivalência dos antecedentes ou conditio sine qua non, pois qualquer
colaboração para o resultado, independente do seu grau, a ele deu
causa.

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b) Teoria extensiva: também não distingue autor e partícipe, porém é mais
leve, pois admite causas de diminuição da pena para estabelecer
diversos graus de autoria. Aparece a figura do cúmplice, ou seja, o autor
que concorre de modo menos importante para o resultado.
c) Teoria objetiva ou dualista: há distinção entre autor e partícipe.
Subdivide-se em outras três teorias: c.1) teoria objetivo-formal: autor é
quem realiza o núcleo do tipo penal e partícipe é quem de qualquer
modo concorre para o crime, sem praticar o núcleo do tipo (exemplo:
quem efetua disparos de revólver em alguém, matando-o, é autor do
crime de homicídio, porém aquele que emprestou a arma de fogo para
essa finalidade é partícipe). Pra essa teoria, o autor intelectual seria
partícipe e não autor, pois não executa o núcleo do tipo penal; c.2)
teoria objetivo-material: autor é quem presta a contribuição objetiva
mais importante para a produção do resultado, e não necessariamente
aquele que realiza o núcleo do tipo penal, e o partícipe é quem concorre
de forma menos relevante, ainda que realize o núcleo do tipo; c.3) teoria
do domínio do fato (Hans Welzel): autor é quem possui controle sobre
o domínio final do fato, domina o trâmite do crie e decide acerca da sua
prática, suspensão, condições, interrupção, ainda que não realize o
núcleo do tipo penal. É aquele que tem a capacidade de fazer continuar
e de impedir a conduta penalmente ilícita. Por corolário, o conceito de
autor compreende o autor propriamente dito (o que pratica o núcleo do
tipo penal); o autor intelectual (aquele que planeja mentalmente a
empreitada criminosa); autor mediato (é aquele que se vale de um
inculpável ou de pessoa que atua sem dolo ou culpa para cometer a
conduta criminosa); os coautores (o núcleo do tipo penal é realizado por
dois ou mais agentes. Essa teoria também admite a figura do partícipe
que, no campo da teoria do domínio do fato, é aquele que concorre para
o crime, mas não realiza o núcleo do tipo penal e não possui o controle
final do fato.

O CP, em seu art. 29, caput, adotou a teoria restritiva, no prisma objetivo-
formal, diferenciando autor e partícipe. Porém, tal teoria deve ser
complementada pela teoria da autoria mediata.

3.5.2 Teorias da acessoriedade: punição do partícipe

A conduta do partícipe tem natureza acessória, pois ele não realiza o núcleo do
tipo penal e há diversas teorias acerca da acessoriedade, formuladas com base
em seus graus, senão vejamos:

a) Acessoriedade mínima: para a punição do partícipe é suficiente que


tenha o autor praticado um fato típico;
b) Acessoriedade limitada: é suficiente para a punição do partícipe, tenha
autor praticado um fato típico e ilícito. É a posição defendida pela
doutrina.
c) Acessoriedade máxima ou extrema: o autor tem que praticar um fato
típico, ilícito e culpável;

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d) Hiperacessoriedade: é necessário que o autor pratique um fato típico,
ilícito, culpável e que ele seja efetivamente punido para então haver a
punição do partícipe.

- Jurisprudência relacionada ao concurso de pessoas

Autoria colateral – concurso de pessoas – distinção: “Não é possível


considerar como distinta a responsabilidade jurídico-penal de acusados que
participaram de disputa automobilística ilícita, que ocasionou a morte de
transeunte, na hipótese em que restou amplamente comprovado nos autos o
vínculo subjetivo entre os agentes. Isso porque, no caso, não houve autoria
colateral, na qual, embora os agentes se voltem contra o mesmo bem jurídico,
um não tem conhecimento da ação do outro, mas sim concurso de pessoas,
tendo em vista que ambos os réus, por estarem participando do chamado
“pega”, tinham a consciência e vontade de participar da mesma ação que
resultou na morte da vítima. Assim, tratando-se de concurso de pessoas, em
razão da unidade de desígnios e do resultado naturalístico único e indivisível,
conforme a teoria monista, a análise e o julgamento das condutas não pode se
dar de forma autônoma e isolada, já que não se pode romper o elemento
subjetivo em relação aos agentes. (STJ: REsp 1.306.731/RJ, 5ª Turma, j.
02.05.2002).

Crimes culposos – coautoria – possibilidade: “A doutrina majoritária admite


a coautoria em crime culposo. Para tanto, devem ser preenchidos os requisitos
do concurso de agentes: a) pluralidade de agentes; b) relevância causal das
várias condutas; c) liame subjetivo entre os agentes; d) identidade de infração
penal”. (STJ: HC 235.827/SP, 5ª Turma, j. 03.09.2013)

Cooperação dolosamente distinta: “Se a intenção do agravante era a praticar


o crime de furto, sendo que o emprego de grave ameaça por um dos corréus
ocorreu fora do âmbito de sua atuação na prática criminosa, uma vez que
estava em local diverso quando houve a aludida ameaça, não lhe pode ser
estendida esta elementar, mas deve responder na medida de sua
culpabilidade, segundo a cooperação dolosamente distinta prevista no art. 29,
§2º, do Código Penal. Situação concreta em que, segundo expresso no
acórdão recorrido, a intenção dos coautores, entre eles o agravante, era a de
praticar um crime de furto. Quando da execução do crime, o agravante não
entrou no local de onde foram subtraídos os bens, mas ficou aguardando,
numa motocicleta, para que pudessem empreender fuga. No curso da ação
criminosa perpetrada diretamente pelos outros dois corréus, um deles, ao se
deparar com a caseira, no interior da propriedade, utilizou-se de grave ameaça
para garantir a detenção das coisas subtraídas. Hipótese em que deve incidir a
causa de aumento prevista no referido dispositivo, tendo em vista a afirmação,
contida no julgado combatido, de que, em razão da presença de uma pessoa
na propriedade, onde estavam os bens a serem subtraídos, era previsível a
possibilidade de ocorrência de resultado mais grave”. (STJ: AgRg no REsp
1.245.570/SP, 6ª Turma, j. 20.03.2014).

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(Ano: 2017. Banca: FCC. Órgão: TJ-SC. Prova: Juiz
Substituto)

A moderna teoria do domínio do fato de Claus Roxin


procura solucionar alguns problemas de autoria e,
expressamente, já foi adotada em nossos tribunais. Além
das previsões legais sobre autoria mediata, existe a
possibilidade de autoria no âmbito de uma organização.
Para que esta seja configurada devem estar presentes
alguns requisitos, EXCETO

A) poder efetivo de mando.


B) fungibilidade do autor imediato.
C) desvinculação do aparato organizado do ordenamento
jurídico.
D) o prévio acerto entre o comandante e os demais
comandados.
E) disponibilidade consideravelmente elevada por parte do
executor.

CORRETA: Letra D.

O prévio ajuste entre o comandante e os demais


comandados não é requisito para a configuração do
concurso de pessoas nem no domínio do fato. São
requisitos: o poder efetivo de mando; fungibilidade do
aparato organizado do ordenamento jurídico; fungibilidade
do autor imediato (o executor é mero instrumento, podendo
ser trocado por outro.; disponibilidade consideravelmente
elevada por parte do executor.

TEORIA JURÍDICA DO DELITO: ILICITUDE E CULPABILIDADE

4.1 Ilicitude (ou Antijuridicidade):

Ilicitude é a relação de contrariedade entre o fato humano e as exigências


do ordenamento jurídico (caráter formal da ilicitude), de modo a revelar o
caráter antissocial do comportamento, que põe em risco os fins almejados pelo
Direito (caráter material ou substancial da ilicitude).

A tipicidade é ratio cognoscendi da ilicitude, razão pela qual a conduta típica é,


em princípio, ilícita. Contudo, o art. 23 do Código Penal traz, de modo não
exaustivo, causas excludentes da ilicitude e, consequentemente do crime,
quais sejam: a) estado de necessidade; b) legítima defesa; c) estrito

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cumprimento do dever legal e exercício regular do direito. Além das causas
legais, figura como causa supralegal de exclusão da ilicitude o consentimento
do ofendido.

No ponto, vale destacar que o agente, caso extrapole os limites estabelecidos


por quaisquer das causas justificadoras, responderá pelo excesso a que der
causa (art. 23, p. único).

4.1.1. Causas de Exclusão da Ilicitude:

Também conhecidas como causas de justificação da conduta, pautam-se


tanto em elementos objetivos quanto em elementos subjetivos. Os elementos
objetivos referem-se ao aspecto exterior do fato e com a aparência de atuação
sob causa justificativa. Contudo, não basta parecer que o agente pratica o fato
típico de modo justificado, sendo também necessário que aja com animus
defendendi (elemento subjetivo), isto é, com conhecimento de que atua sob
justificante, bem como vontade guiada por este conhecimento.

4.1.1.1. Estado de Necessidade:

“Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de


perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo
evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era
razoável exigir-se” (art. 24, caput, do CP).

Há, no estado de necessidade, uma colisão entre dois bens jurídicos distintos,
e um prevalecerá sobre o outro, mediante a efetivação de um juízo de
ponderação perante o caso concreto. Não há valores preestabelecidos para os
aludidos bens jurídicos.

Nosso CP adota a teoria unitária ou monista objetiva do estado de


necessidade, em que este, quando existente, figura sempre como causa de
justificação. Por outro lado, o Código Penal Militar (CPM), em seus arts. 39 e
43, acolhe a teoria diferenciadora, a qual distingue entre estado de
necessidade exculpante, que exclui a culpabilidade e ocorre quando o bem
jurídico sacrificado possui valor maior ou igual ao bem jurídico preservado, e
estado de necessidade justificante, quando o bem protegido possui valor
maior ao sacrificado, de modo a excluir a ilicitude.

(MPE-PR | 2014): Para a teoria diferenciadora, se o bem jurídico


sacrificado tiver valor igual àquele protegido na situação de
F necessidade, estaremos diante do chamado estado de necessidade
justificante.

São requisitos do estado de necessidade:

a) perigo atual e inevitável: é o perigo concreto, presente, imediato, com real


probabilidade de dano. É o perigo que impulsiona o agente a sacrificar

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determinado bem jurídico em detrimento de outro, podendo advir de atividade
humana ou de acontecimentos naturais negativos;
b) perigo não provocado pela vontade do agente: o agente que invoca o
estado de necessidade não pode, voluntariamente (por dolo ou culpa, embora
haja divergência doutrinária quanto à última), ter criado a situação de risco;
c) ameaça a direito próprio ou alheio: a necessidade pode ser própria
(estado de necessidade próprio) ou de terceiros (estado de necessidade de
terceiro);
d) inexistência do dever legal de enfrentar o perigo: conforme o art. 24, §1º,
do CP: “não pode alegar o estado de necessidade quem tinha o dever legal de
enfrentar o perigo”. Dever legal, na hipótese, deve ser entendido como dever
jurídico, e abrange o dever contratual, o dever legal e a situação de ingerência,
previstas no art. 13, §2º, do CP;
e) inevitabilidade do perigo por outro modo: o sacrifício realizado deve ser
absolutamente imprescindível para a preservação do bem jurídico;
f) proporcionalidade: o bem jurídico preservado deve ser de valor igual ou
superior ao bem jurídico sacrificado. Se, diante das circunstâncias, era razoável
exigir o sacrifício do bem preservado, não restará excluída a ilicitude, mas se
reduzirá a pena de um a dois terços (art. 24, §2º, do CP).

4.1.1.2. Legítima Defesa:

“Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios


necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de
outrem” (art. 25 do CP).

A legítima defesa não pressupõe uma colisão entre bens jurídicos, mas sim um
direito de repelir agressão injusta contra estes, em razão da impossibilidade de
atuação tempestiva e onisciente do Estado.

São requisitos da legítima defesa:

a) injusta agressão: injusta é a agressão ilícita, dolosa ou culposa, contrária


ao Direito. Consiste exclusivamente em comportamento humano. Os animais,
quando utilizados como instrumentos para a agressão humana, dão azo à
legítima defesa;

b) agressão atual ou iminente: atual é a agressão presente que, iniciada,


ainda não se encerrou; iminente, a que ainda não se iniciou, mas está prestes
a tornar-se atual.
33
c) agressão a direito próprio ou alheio: quando se defende bens jurídicos de
sua propriedade, concretiza-se a legítima defesa própria; quando o bem
jurídico protegido é de outrem, dá-se a legítima defesa de terceiro.

d) uso moderado dos meios necessários: envolve-se juízo de ponderação


dos meios eleitos e do seu uso. Meio necessário é o que o agente dispõe para
repelir a injusta agressão; utilizá-los moderadamente, por sua vez, corresponde
ao emprego destes na medida suficiente para afastar a agressão injusta.

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Atenção! A legítima defesa pressupõe uma agressão injusta, contrária ao
Direito. Disto resulta que é incabível argüir legítima defesa real contra legítima
defesa real ou legítima defesa real contra estado de necessidade real, pois, em
tais casos, a conduta é juridicamente autorizada. Por outro lado, é
perfeitamente cabível a legítima defesa nos casos de excesso, ocasião em que
será denominada legítima defesa sucessiva, e nos de legítima defesa
putativa, imaginária.

F (MPE-PR | 2013): Cabe legítima defesa real contra estado de


necessidade real.
V (MPE-PR | 2013): Cabe legítima defesa real contra legítima defesa
putativa.
V (MPE-PR | 2013): Cabe legítima defesa real contra quem age com
excesso derivado de legítima defesa real.

4.1.1.3. Estrito Cumprimento do Dever Legal:

À medida que o agente cumpre estritamente o que a lei o determina, não é


possível haver a sua conduta por ilícita. Trata-se de situação abarcada pela
lógica da não contradição: se determinado fato é lícito, não pode, ao mesmo
tempo, ser ilícito. Exemplo: o dispêndio da força necessária para a prisão em
flagrante não caracteriza crime de lesão corporal.

4.1.1.4. Exercício Regular do Direito:

Na mesma esteira do estrito cumprimento do dever legal, a solução encontra-


se na lógica da não contradição. Se o exercício de determinado direito é
facultado ao agente, não pode a conduta do agente, desde que exercida de
forma regular, ser tida por ilícita. Exemplo: o médico que empreende cirurgia
estética exerce um direito que lhe é facultado.

4.1.1.5. Consentimento do Ofendido:

É causa supralegal de exclusão da ilicitude e configura-se desde que: (i) o


ofendido tenha capacidade para consentir; (ii) o ofendido tenha manifestado
sua concordância livremente (sem qualquer vício de vontade) e de forma
expressa; (iii) o ofendido esteja em condições de compreender as
consequências de sua aquiescência; (iv) o objeto do consentimento seja
disponível (patrimônio, lesões ínfimas à integridade física); (v) o
consentimento seja anterior ou, ao menos, simultâneo à prática da conduta.

Exemplo: o tatuador amador que faz tatuagem em seu amigo, com o


consentimento deste, não pratica o crime de lesão corporal. Há hipóteses em
que o consentimento do ofendido opera não na ilicitude, mas sim na tipicidade.
Tal fato ocorre quando o dissenso integra o próprio tipo penal, expressa ou
tacitamente.

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4.2 Culpabilidade:

É o juízo de reprovabilidade individual, de censura, que recai sobre a conduta


típica e ilícita praticada pelo agente. Valoram-se, na culpabilidade, todos os
aspectos internos e externos ao agente.

O nosso CP adota a teoria limitada da culpabilidade, compondo-a com os


seguintes elementos: (i) imputabilidade; (ii) potencial consciência da ilicitude; e
(iii) exigibilidade de conduta diversa.

4.2.1. Imputabilidade:

Imputabilidade é a plena capacidade de entender e de querer, bem como,


consequentemente, de responder criminalmente pelos seus atos. O juízo de
inimputabilidade, adversamente, valora o sujeito como incapaz de ser
responsabilizado.

Os menores de 18 anos são penalmente inimputáveis, submetendo-se às


normas da legislação especial (art. 27 do CP). Trata-se de presunção absoluta
(juris et de jure), motivada pela adoção excepcional pelo CP do critério
biológico de imputabilidade.

(MPE-MT | 2008 | FMP Concursos): A impunidade do menor de 18


F
anos atende ao critério biopsicológico.

Em regra, no entanto, o CP acolhe o critério biopsicológico, segundo o qual


para que haja inimputabilidade, devem existir, concomitantemente, causa
biológica e, como sua consequência, incapacidade de entendimento do caráter
ilícito do fato ou de determinação conforme esse entendimento.

(MPE-BA | 2015 | CEFET-BA): O Código Penal Brasileiro adotou o


V critério biológico em relação à inimputabilidade em razão da idade e o
critério biopsicológico em relação à inimputabilidade em razão de
doença mental

Neste sentido, é inimputável o agente que, por doença mental ou


desenvolvimento mental incompleto ou retardado era, ao tempo da
conduta, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se conforme esse entendimento (art. 26, caput, do CP). Ademais, é
também inimputável o agente que, por embriaguez completa, proveniente de
caso fortuito ou força maior, era, ao tempo da conduta, inteiramente incapaz
de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se conforme esse
entendimento (art. 28, §1º, do CP).

Se, por outro lado, o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou


desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente
capaz de entender o caráter ilícito do fato ou determinar-se conforme esse
entendimento, a sua pena será reduzida de um a dois terços (art. 26, p. único,
do CP). O mesmo ocorre quando essa incapacidade relativa decorre de

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embriaguez, proveniente também de caso fortuito ou força maior (art. 28,
§2º, do CP). A essas hipóteses dá-se o nome de semiimputabilidade.

O inimputável maior de 18 anos recebe sentença absolutória imprópria e


submete-se a medida de segurança, enquanto o semi-imputável é
regularmente condenado, porém faz jus a uma causa de diminuição de pena.

Atenção, candidato(a)! Medida de segurança é espécie de sanção penal que


atende a um fim curativo, e não retributivo, razão pela qual não se confunde
com a pena. O indivíduo não pode sofrer, pelo mesmo fato, pena e medida de
segurança. Diz-se, com isso, que o nosso CP adotou o sistema vicariante.
Ressalte-se que, conforme a Súmula 527 do STJ, a duração da medida de
segurança “não deve ultrapassar o limite máximo da pena abstratamente
cominada ao delito praticado”.

Não excluem a imputabilidade (art. 28 do CP):

a) Emoção e paixão: emoção é o sentimento intenso e passageiro que


altera o estado psicológico do agente, enquanto a paixão (ou
emoçãosentimento) é a ideia permanente ou crônica por algo.;

b) Embriaguez não acidental: entende-se na embriaguez não acidental as


hipóteses de embriaguez culposa, isto é, aquela em que o estado de
ebriedade decorrente da ingestão das substâncias era previsível pelo
sujeito; embriaguez voluntária, quando o estado de embriaguez é
desejado pelo agente, sem haver, necessariamente, o intuito de praticar
crimes; embriaguez preordenada, caso o sujeito deliberadamente se
coloque em estado de ebriedade a fim de praticar algum delito. A
embriaguez preordenada constitui circunstância agravante (art. 61, II,
“l”, do CP).

O fundamento da imputabilidade no estado de embriaguez não acidental é a


adoção, pelo nosso CP, da teoria da ação livre na causa (actio libera in
causa), pela qual é imputável o agente que se colocou voluntariamente
(culposamente, voluntariamente em sentido estrito ou preordenadamente) em
estado de embriaguez. Por esta, a verificação da imputabilidade é
transferida do momento do fato para o momento anterior ao estado de
embriaguez voluntária. A maior crítica à referida teoria é que abarca uma
hipótese de responsabilidade penal objetiva, por fazer presumir, nas
hipóteses elencadas, a culpa do agente.

(MPE-PA | 2014 | FCC): O direito brasileiro, ao fundar a imputação na


V actio libera in causa, enseja situações de responsabilização penal
estritamente objetiva

4.2.2. Potencial Consciência da Ilicitude:

Se a culpabilidade é o juízo de reprovação que recai sobre a conduta típica e


ilícita, é evidente que o autor, para ser repreendido, deve ter, ao menos, um
mínimo de potencial de entender o aspecto criminoso do seu comportamento.

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Não se exige que o autor, efetivamente, entenda o caráter ilícito de seu fato,
mas tão somente que tenha a possibilidade de compreendê-lo.

4.2.3. Exigibilidade de Conduta Diversa:

Se a culpabilidade é a reprovabilidade pessoal da conduta típica e ilícita, é


indispensável que se possa exigir do autor comportamento diverso do que teve,
pois o conteúdo da reprovabilidade é, justamente, o fato de que o autor devia e
podia adotar uma resolução de vontade conforme ao ordenamento jurídico e,
deliberadamente, não o fez. As circunstâncias que tornam a conduta diversa
inexigível excluem a culpabilidade.

São causas que excluem a culpabilidade, por inexigibilidade de conduta diversa


(art. 22 do CP):

a) Coação moral irresistível (art. 22, 1ª parte, do CP) - Trata-se da coação


moral proveniente de grave ameaça (vis compulsiva), a qual influencia de modo
tão preponderante na liberdade do agente que a conduta por este praticada
sequer merece reprovabilidade. Exemplo: gerente de banco é instruído por
associação criminosa que sequestrou sua família a subtrair numerários da
agência;

b) Obediência hierárquica (art. 22, 2ª parte, do CP): é a ordem que, nas


circunstâncias concretas, não despertaria, na mente do obediente, qualquer
dúvida acerca de sua correção. Nestas hipóteses, supõe-se: (i) ordem proferida
por um superior hierárquico, em relação de Direito Público, sendo o
executor competente para a concreção da ordem; (ii) não manifesta
ilegalidade da ordem; (iii) atenha-se o sujeito aos estritos limites da ordem.

(MPE-MT | 2013 | UFMT): São causas de inexigibilidade de conduta


V diversa: a coação moral irresistível e a obediência hierárquica.

Ainda que fora das hipóteses legais acima elencadas, constatada a


inexigibilidade da conduta diversa, esta opera como causa supralegal de
exclusão da culpabilidade.

Questão Inédita
Assinale a alternativa INCORRETA:

A) A inimputabilidade penal, segundo a sistemática adotada pelo nosso CP,


rege-se precipuamente pelo critério biopsicológico, que conjuga, em uma
relação de causa e consequência, causa biológica e incapacidade de
entendimento do caráter ilícito do fato ou de determinação conforme esse
entendimento. Em se tratando dos menores de 18 (dezoito) anos, o critério

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adotado é o biológico, o qual gera uma presunção absoluta de
inimputabilidade penal.
B) É possível arguir legítima defesa real contra legítima defesa putativa ou
contra quem age com excesso derivado de legítima defesa real.
C) Pela teoria da actio libera in causa, a verificação da imputabilidade há que
ser transferida do momento do fato para o momento anterior ao estado de
embriaguez voluntária, assim entendida a culposa, a voluntária em sentido
estrito e a preordenada.
D) A inexigibilidade de conduta diversa é causa supralegal de exclusão da
culpabilidade e se verifica quando, no caso concreto, percebe-se que o agente
não tinha outra opção senão praticar a conduta tida por típica e ilícita.
E) Francisco, ao passar por um matagal, encontra seu desafeto, Matheus
praticando conjunção carnal, mediante violência, com Ana. Percebendo se
tratar da perfeita oportunidade para livrar-se de Matheus, Francisco -
indiferente a Ana - dispara contra aquele, que vem a óbito. No caso, Francisco
agiu em legítima defesa de terceiro, e não responderá por crime algum.

Comentário:

Está incorreta a assertiva “E”. No caso, como vimos, as causas excludentes da


ilicitude possuem não só elementos objetivos (aparência), mas também
elemento subjetivo, consistente no animus defendendi, isto é, a vontade de
resguardar determinado bem jurídico. In casu, Francisco viu naquela
oportunidade a chance perfeita para matar Matheus, agindo tão somente com
animus necandi, isto é, vontade de matar. Não houve elemento subjetivo de
excludente de ilicitude e, portanto, Francisco responderá pelo homicídio
praticado.

Ilicitude é a relação de contrariedade entre o fato


ILICITUDE humano e as exigências do ordenamento jurídico. A
conduta típica é, em princípio, ilícita, a menos que
concorra causa excludente da ilicitude.
São o Estado de Necessidade, a Legítima Defesa, o
Estrito Cumprimento do Dever legal, o Exercício Regular
CAUSAS DE de Direito e o Consentimento do Ofendido (causa
EXCLUSÃO DA supralegal). Submetem-se tanto a requisitos objetivos,
ILICITUDE relacionados às circunstâncias em que praticada a
conduta, quanto a requisito subjetivo, a vontade de
defender determinado bem jurídico.
É o juízo de reprovabilidade individual que recai sobre a
conduta típica e ilícita praticada pelo agente. Valoram-se
CULPABILIDADE os aspectos internos e externos a ele relacionados.
Compõe-se de: imputabilidade, potencial consciência da
ilicitude e exigibilidade de conduta diversa

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É a plena capacidade de entender e de querer e,
consequentemente, responder criminalmente pelos atos
praticados. Para a inimputabilidade, o nosso CP adota,
ordinariamente, o critério biopsicológico e,
IMPUTABILIDADE excepcionalmente, em relação aos menos de 18 anos, o
critério biológico. A emoção e a paixão, bem como a
embriaguez, em regra, não excluem a imputabilidade. A
semiimputabilidade diminui a pena.
POTENCIAL É a possibilidade de o agente, no momento da conduta,
CONSCIÊNCIA conhecer o caráter ilícito do fato. É meramente potencial,
DA não se exigindo a real consciência.
ILICITUDE

Para que a ação do agente seja reprovável, é


indispensável que se lhe possa exigir comportamento
EXIGIBILIDADE diverso do que teve. Neste sentido, a coação moral
DE irresistível e a obediência hierárquica excluem a
CONDUTA culpabilidade por inexigibilidade de conduta diversa.
DIVERSA Outrossim, tal causa também pode figurar como causa
supralegal de exclusão da culpabilidade, desde que
presentes seus pressupostos.

5. SANÇÃO PENAL:

5.1 Fixação do regime inicial

O juiz, no momento da sentença condenatória, após analisar as circunstâncias


judicias, as circunstâncias atenuantes e agravantes, bem como as causas de
diminuição e de aumento, estabelecerá: as penas aplicáveis dentre as
cominadas; a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos; o
regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade; e a substituição
da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie de pena, se cabível,
conforme art. 59 c/c art. 68, do CP).

O art. 33, §2º, do CP, assim dispõe:


Art. 33 - (...)
§ 2º - As penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma
progressiva, segundo o mérito do condenado, observados os seguintes
critérios e ressalvadas as hipóteses de transferência a regime mais rigoroso:

a) o condenado a pena superior a 8 (oito) anos deverá começar a cumpri-la em


regime fechado;
b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e
não exceda a 8 (oito), poderá, desde o princípio, cumpri-la em regime semi-
aberto;
c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro)
anos, poderá, desde o início, cumpri-la em regime aberto.

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O §3º do art. 33 ainda dispõe que a determinação do regime inicial de
cumprimento de pena far-se-á com observância dos critérios previstos no art.
59, do CP:

Art. 33 - (...)
§ 3º - A determinação do regime inicial de cumprimento da pena far-se-á com
observância dos critérios previstos no art. 59 deste Código.

Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social,


à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do
crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja
necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime:

I - as penas aplicáveis dentre as cominadas;


II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos;
III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade;
IV - a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie de
pena, se cabível.

Dessa forma, o regime inicial será fixado em observância aos seguintes


critérios: quantidade e espécie de pena, reincidência e análise das
circunstâncias judiciais.
38
Devem, ainda, ser observadas as seguintes regras:

a) pena superior a 8 anos: i) o condenado a pena de reclusão, reincidente ou


não, e independentemente das circunstâncias judiciais, deverá começar a
cumpri-la em regime fechado; ii) o condenado a pena de detenção,
reincidente ou não, iniciará no regime semiaberto. Obs: a pena de detenção
não se iniciará no regime fechado, mesmo se a quantidade da pena for
superior a 8 anos, porém, é possível a transferência para o regime fechado
quando no curso da execução.

b) pena superior a 4 anos e não excedente de 8 anos: i) o condenado a


pena de reclusão e não reincidente, poderá, desde o princípio, cumpri-la em
regime semiaberto. Obs: o juiz poderá fixar o regime fechado quando da
análise das circunstâncias judiciais, mas desde que haja motivação idônea; ii) o
condenado a pena de reclusão e reincidente deverá cumpri-la em regime
fechado; iii) o condenado a pena de detenção, reincidente ou não, deverá
cumpri-la em regime semiaberto.

Vale destacar as súmulas dos tribunais superiores no sentido de que não


constitui motivação idônea a mera opinião do juiz sobre a gravidade em
abstrato do crime:

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Súmula 719 do STF: A imposição do regime de cumprimento mais severo do
que a pena aplicada permitir exige motivação idônea.
Súmula 718 do STF: A opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do
crime não constitui motivação idônea para a imposição de regime mais severo
do que o permitido segundo a pena aplicada.
Súmula 440 do STJ: Fixada a pena-base no mínimo legal, é vedado o
estabelecimento de regime prisional mais gravoso do que o cabível em razão
da sanção imposta, com base apenas na gravidade abstrata do delito.

c) pena igual ou inferior a 4 anos: i) o condenado a pena de reclusão ou


detenção e não reincidente poderá, desde o início, cumpri-la em regime
aberto; ii) o condenado a pena de reclusão e reincidente cumprirá em regime
fechado, porém a jurisprudência é no sentido de que poderá iniciar no regime
semiaberto, se favoráveis as circunstâncias judiciais, conforme súmula 269 do
STJ; iii) o condenado a pena de detenção e reincidente cumprirá em regime
semiaberto.

- Regime inicial na legislação especial:

De acordo com o texto original da Lei nº 8.072/90, que dispõe sobre os crimes
hediondos, a pena prevista para os crimes hediondos e equiparados (tortura,
tráfico de entorpecentes e drogas afins e terrorismo) deveria ser cumprida
integralmente em regime fechado, conforme art. 2º, §1º, independentemente
da quantidade da pena fixada na sentença. Entretanto, o Plenário do STF
reconheceu a inconstitucionalidade desse artigo (HC 82.959/SP). O legislador,
então, editou a Lei nº 11.464/07 para dar nova redação ao art. 2º da Lei n.
8.072/90, prevendo que a pena será cumprida inicialmente em regime
fechado. O STF, em controle incidental, declarou a inconstitucionalidade da
nova redação do art. 2º, §1º, dada pela Lei 11.464/07. Assim, atualmente, o
regime inicial pode ser diverso do fechado.

A Lei 9.455/97, que define os crimes de tortura, por sua vez, estabelece que o
condenado por crime de tortura, ressalvada a hipótese do §2º do art. 1º, iniciará
o cumprimento da pena em regime fechado (art. 1º, §7º). No entanto, o STF
decidiu pela inconstitucionalidade da obrigatoriedade de regime inicial
fechado para os crimes hediondos e equiparados.

5.2 Aplicação das penas privativas de liberdade

O art. 68 do CP adotou o critério ou sistema trifásico, três fases distintas e


sucessivas, que devem ser fundamentadas pelo julgador, senão vejamos:

- Pena-base (1ª fase): o juiz fixará a pena-base dentro dos limites legais e
segundo as circunstâncias judiciais.

Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta


social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e
conseqüências do crime, bem como ao comportamento da vítima,
estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e
prevenção do crime (...). (grifos)

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A culpabilidade deve ser compreendida como o juízo de reprovabilidade,
como o juízo de censura que recai sobre o responsável por um crime ou
contravenção penal, no intuito de desempenhar o papel de pressuposto de
aplicação da pena.

Correto conceito de culpabilidade, princípio da não-culpabilidade e


vedação ao bis in idem

Determinado réu foi condenado por furto qualificado por rompimento de


obstáculo (art. 155, § 4º, I, do CP). O STF considerou incorreta a sentença do
juiz que, na 1ª fase da dosimetria da pena, aumentou a pena-base com
fundamento em três argumentos: a) Culpabilidade. O magistrado afirmou que
era patente a culpabilidade do réu considerando que ele tinha plena
consciência da ilicitude de seu ato. O juiz confundiu os conceitos. Para fins de
dosimetria da pena, culpabilidade consiste na reprovação social que o crime e
o autor do fato merecem. Essa culpabilidade de que trata o art. 59 do CP não
tem nada a ver com a culpabilidade como requisito do crime (imputabilidade,
potencial consciência da ilicitude do fato e exigibilidade de conduta diversa). b)
Antecedentes. O juiz aumentou a pena pelo fato de o agente já responder a
quatro outros processos criminais. A jurisprudência entende que, em face do
princípio da presunção de não culpabilidade, os inquéritos policiais e ações
penais em curso não podem ser considerados maus antecedentes (Súmula
444- STJ e STF RE 591054/SC). c) Circunstâncias do crime. O julgador
considerou que as circunstâncias do crime eram negativas porque o crime foi
praticado com rompimento de obstáculo à subtração da coisa. Aqui, o erro do
magistrado foi utilizar como circunstância judicial (1ª fase da dosimetria) um
elemento que ele já considerou como qualificadora (inciso I do § 4º do art.
155). Houve, portanto, bis in idem (dupla punição pelo mesmo fato). STF. 2ª
Turma. HC 122940/PI, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 13/12/2016 (Info
851).

Os antecedentes, por sua vez, são os dados atinentes à vida pregressa do réu
na seara criminal. Todos os fatos e acontecimentos que envolvem o seu
passado criminal, bons ou ruins. Todos os demais fatores que envolvem a vida
pretérita do agente, que não os indicados na folha de antecedentes, devem ser
analisados no âmbito da conduta social. A Súmula 444 do STJ assim dispõe:
“É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para
agravar a pena-base”. Desta forma, exige-se o trânsito em julgado da
condenação, em respeito ao princípio constitucional da presunção de não
culpabilidade. Para a caracterização dos maus antecedentes basta a existência
de uma condenação penal definitiva, pouco importando o momento de sua
concretização, ou seja, embora exista um crime anterior, o trânsito em julgado
da condenação pode ser anterior ou posterior à prática do novo delito, no qual
será considerada a circunstância judicial desfavorável.

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Após o prazo de 5 anos, não poderá mais ser considerado reincidente.
Contudo, essa condenação anterior poderá ser valorada como maus
antecedentes? (FONTE: DIZER O DIREITO)

SIM. Posição do STJ Precedentes recentes do STF


Para o entendimento pacificado no A existência de condenação anterior,
STJ, mesmo ultrapassado o lapso ocorrida em prazo superior a 5 anos,
temporal de cinco anos, a contado da extinção da pena, também
condenação anterior transitada em não poderá ser considerada como
julgado pode ser considerada como maus antecedentes. Após o prazo de
maus antecedentes, nos termos do 5 anos previsto no art. 64, I, do CP,
art. 59 do CP. cessam não apenas os efeitos
decorrentes da reincidência, mas
também qualquer outra valoração
negativa por condutas pretéritas
praticadas pelo agente. Ora, se essas
condenações não mais servem para o
efeito da reincidência, com muito
maior razão não devem valer para fins
de antecedentes criminais.
“Apesar de desaparecer a condição “O homem não pode ser penalizado
de reincidente, o agente não eternamente por deslizes em seu
readquire a condição de primário, que passado, pelos quais já tenha sido
é como um estado de virgem, que, condenado e tenha cumprido a
violado, não se refaz. A reincidência é reprimenda que lhe foi imposta em
como o pecado original: desaparece, regular processo penal. Faz ele jus ao
mas deixa sua mancha, servindo, por denominado ‘direito ao
exemplo, como antecedente criminal esquecimento’, não podendo perdurar
(art. 59, caput)” (BITENCOURT, indefinidamente os efeitos nefastos de
Cezar Roberto. Código Penal uma condenação anterior, já
Comentado. São Paulo: Saraiva, regularmente extinta.”
2007, p. 238). (Min. Dias Toffoli).
Reincidência: sistema da Tanto a reincidência como os maus
temporariedade. antecedentes obedecem ao sistema
Maus antecedentes: sistema da da temporariedade
perpetuidade
STJ. 5ª Turma. HC 238.065/SP, Rel. STF. 1ª Turma. HC 119200, Rel. Min.
Min. Marilza Maynard (Des. Conv. Dias Toffoli, julgado em 11/02/2014.
TJ/SE), j. em 18/04/2013. STJ. 6ª STF. 2ª Turma. HC 110191, Rel. Min.
Turma. HC 240.022/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
Maria Thereza de Assis Moura, j. em 23/04/2013.
11/03/2014.

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Já a conduta social (antecedentes sociais) é o estilo de vida do réu perante a
sociedade, sua família, ambiente de trabalho, círculo de amizades e vizinhança
etc. Não confundir a conduta social com os maus antecedentes, os quais se
limitam ao passado do réu no âmbito criminal.

Quanto à personalidade do agente, esta é o perfil subjetivo do réu, nos


aspectos moral e psicológico, pelo qual se analisa se o agente tem ou não o
caráter voltado à prática de infrações penais.

Os motivos do crime são os fatores psíquicos que levam a pessoa a praticar o


crime ou a contravenção penal. Atenção: essa circunstância somente tem
cabimento quando a motivação não caracterizar elementar o delito,
qualificadora, causa de diminuição ou de aumento de pena, ou atenuante ou
agravante genérica. Ex: o motivo fútil é uma qualificadora do homicídio e
agravante genérica para os demais crimes. Destarte, se o fútil o motivo, será
utilizado como qualificadora ou agravante genérica, conforme o caso, e não
como circunstância judicial desfavorável, evitando-se o bis in idem.

As circunstâncias do crime são os dados acidentais, secundários, relativos à


infração penal, mas que não integram a sua estrutura, tais como o modo de
execução do crime, os instrumentos empregados em sua prática, as condições
de tempo e local em que ocorreu o ilícito penal, o relacionamento entre o
agente e o ofendido etc.

Por sua vez, as consequências do crime envolvem o conjunto de efeitos


danosos provocados pelo crime, em desfavor da vítima, de seus familiares ou
da coletividade.

Por fim, o comportamento da vítima diz respeito à sua atitude, que tem o
condão de provocar ou facilitar a prática do crime. Cuida-se de circunstância
judicial ligada à vitimologia, ou seja, ao estudo da participação da vítima e dos
males a ela produzidos por uma infração penal.

- Jurisprudência relativa às circunstâncias judiciais

Comportamento da vítima – ausência de contribuição ao resultado: “O fato


de a vítima não ter contribuído para o delito é circunstância judicial neutra e
não implica o aumento da sanção” (STJ: HC 217.819/BA, 6ª Turma, j.
21.11.2013, informativo 532).
43
Comportamento da vítima – circunstância judicial favorável ao réu: “O
comportamento da vítima apenas deve ser utilizado em benefício do réu,
devendo tal circunstância ser neutralizada no caso de não interferência do
ofendido na prática do crime” (STJ: HC 284.951/MG, 5ª Turma, j. 08.04.2014).

Culpabilidade – policial civil – utilização para exasperar a pena-base em


crime de concussão – possibilidade: “É legítima a utilização da condição
pessoal de policial civil como circunstância judicial desfavorável para fins de
exasperação da pena base aplicada a acusado pela prática do crime de
concussão. Com base nessa orientação, a Primeira Turma, por maioria,

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conheceu e denegou a ordem de habeas corpus em que pleiteado o
reconhecimento do “bis in idem”. A Turma afirmou que seria possível no que se
refere à culpabilidade (CP, art. 59), promover, em cada caso concreto, juízo de
reprovabilidade maior tendo em consideração a condição de policial civil do
agente(...). Dentro do Estado Democrático de Direito e do país que se almeja
construir, o fato de uma autoridade pública – no caso, uma autoridade policial –
obter vantagem indevida de alguém que esteja praticando um delito
comprometeria de maneira grave o fundamento de legitimidade da autoridade,
que seria atuar pelo bem comum e pelo bem público. Portanto, aquele que
fosse investido de parcela de autoridade pública – fosse juiz, membro do
Ministério Público ou autoridade policial – deveria ser avaliado, no desempenho
da sua função, com escrutínio mais rígido(...).”(STH: HC 132.990/PE, 2ª Turma,
j. 06.08.2016, informativo 835).

Conduta social: “O fato de o réu ser usuário de drogas não pode ser
considerado, por si só, como má-conduta social para o aumento da pena-base.
A dependência toxicológica é, na verdade, um infortúnio. (STJ. 6ª Turma. HC
201.453-DF, j. 02/02/2012).

Falta de motivos para o crime não é circunstância judicial desfavorável:


“A simples falta de motivos para o delito não constitui fundamento idôneo para
o incremento da pena-base ante a consideração desfavorável da circunstância
judicial, que exige a indicação concreta de motivação vil para a prática
delituosa. (STJ. 6ª Turma. HC 289.788/TO, j. 24/11/2015).

“Lucro fácil” não pode ser usado como argumento para aumentar a pena
da concussão: “Em caso de condenação do réu por concussão, não pode
aumentar a pena-base sob o argumento de que o réu tinha por objetivo o lucro
fácil. O lucro fácil, argumento utilizado pelo magistrado para aumentar a pena
base, é sempre existente na concussão e consiste na própria “vantagem
indevida”, que é uma das elementares do tipo”. (STF. 2ª Turma. RHC 117488
AgR/RJ, j. 01/10/2013).

- Circunstâncias agravantes e atenuantes (2ª fase): São dados que não


alteram o crime, e sim a pena. Estão previstas no art. 61 a 66 do CP e somente
serão aplicadas se não forem utilizadas como elementares do crime ou como
forma qualificada (qualificadoras e causas de aumento de pena) ou
privilegiadas (privilegiadoras e causas de diminuição). Importante conhecer o
rol das agravantes e atenuantes:

Circunstâncias agravantes

Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não


constituem ou qualificam o crime:
I - a reincidência;
II - ter o agente cometido o crime:
a) por motivo fútil ou torpe;
b) para facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou
vantagem de outro crime;

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c) à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação, ou outro recurso que
dificultou ou tornou impossível a defesa do ofendido;
d) com emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou outro meio insidioso ou
cruel, ou de que podia resultar perigo comum;
e) contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge;
f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações domésticas, de
coabitação ou de hospitalidade, ou com violência contra a mulher na forma da
lei específica;
g) com abuso de poder ou violação de dever inerente a cargo, ofício, ministério
ou profissão;
h) contra criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou mulher grávida;
i) quando o ofendido estava sob a imediata proteção da autoridade;
j) em ocasião de incêndio, naufrágio, inundação ou qualquer calamidade
pública, ou de desgraça particular do ofendido;
l) em estado de embriaguez preordenada.

Circunstâncias atenuantes

Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena:


I - ser o agente menor de 21 (vinte e um), na data do fato, ou maior de 70
(setenta) anos, na data da sentença;
II - o desconhecimento da lei;
III - ter o agente:
a) cometido o crime por motivo de relevante valor social ou moral;
b) procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o crime,
evitar-lhe ou minorar-lhe as conseqüências, ou ter, antes do julgamento,
reparado o dano;
c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de
ordem de autoridade superior, ou sob a influência de violenta emoção,
provocada por ato injusto da vítima;
d) confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime;
e) cometido o crime sob a influência de multidão em tumulto, se não o
provocou.

Art. 66 - A pena poderá ser ainda atenuada em razão de circunstância


relevante, anterior ou posterior ao crime, embora não prevista expressamente
em lei.

- O rol das circunstâncias agravantes é taxativo (numerus clausus);


- Predomina o entendimento de incidirem as agravantes somente nos crimes
dolosos, SALVO A REINCIDÊNCIA, que poderá ser considerada nos crimes
culposos;
- Há discussão acerca da incidência das agravantes no crime preterdoloso. O
STJ já admitiu ser possível a aplicação da agravante genérica do art. 61, II,
“c”, do CP nos crimes preterdolosos, como o delito de lesão corporal seguida

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de morte (CP, art. 129, §3º). REsp 1.254.749/SC, j. 06/05/2014. Informativo
541.
- A gravidade abstrata do crime não é circunstância agravante. Isto porque o
legislador já a considerou no momento da cominação das penas mínima e
máxima.

- Jurisprudência relativa às agravantes e atenuantes

Compatibilidade entre a agravante do art. 62, I, do CP e a condição de


mandante do delito: “A incidência da agravante do art. 62, I, do CP é
compatível com a autoria intelectual do delito (mandante). No entanto, o
mandante do crime somente deverá ser punido com a agravante se, no caso
concreto, houver elementos que sirvam para caracterizar a situação descrita
pelo inciso I do art. 62, ou seja, é necessário que fique demonstrado que ele
promoveu, organizou o crime ou dirigiu a atividade dos demais agentes. Em
outras palavras, o mandante poderá responder pela agravante do inciso I do
art. 62 do CP, mas isso nem sempre acontecerá, dependendo das
circunstâncias do caso concreto”. (STJ. 5ª Turma, j. 10/03/2016 – Info 580).

Réu confessou no inquérito e se retratou em juízo; magistrado utiliza a


confissão – incidência da atenuante: “Se a confissão do agente é utilizada
pelo magistrado como fundamento para embasar a condenação, a atenuante
prevista no art. 65, III, “d”do CP deve ser aplicada em favor do réu, não
importando que, em juízo, este tenha se retratado e negado o crime.” (STJ. 5ª
Turma. HC 176.405/RO, j. 23/04/2013).

Bons antecedentes não configuram atenuante inominada: “Não caracteriza


circunstância relevante anterior ao crime (art. 66, do CP) o fato de o condenado
possuir bons antecedentes criminais. Isso porque os antecedentes criminais
são analisados na 1ª fase da dosimetria da pena, na fixação da pena-base,
considerando que se trata de uma circunstância judicial do art. 59, do CP. (STJ.
6ª Turma. REsp 1405989/SP, j. 18/08/2015 – Info 569).

Compensação entre a atenuante da confissão espontânea e a agravante


de violência contra a mulher: “Segundo decidiu o STJ, compensa-se a
atenuante da confissão espontânea (art. 65, III, “d”, do CP) com a agravante de
ter sido o crime praticado com violência contra a mulher (art. 61, II, “f”, do CP)”.
(STJ. 6ª Turma, AgRg no AREsp 689.064/RJ, j. 06/08/2015 – Info 568).

Compensação da atenuante da confissão espontânea com a agravante da


promessa de recompensa: É possível compensar a atenuante da confissão
espontânea (art. 65, III, “d”, do CP) com a agravante da promessa de
recompensa (art. 62, IV).

- Causas de aumento e de diminuição (3ª fase): Na terceira fase da


dosimetria da pena, estão as causas de aumento (majorantes) e de diminuição
(minorantes), que são circunstâncias obrigatórias ou facultativas de aumento e
de diminuição da pena, previstas na Parte Geral ou na Parte Especial do CP e,
ainda, na legislação especial, em quantidade fixa ou variável. Incidem sobre o
montante resultante da segunda-fase de aplicação de pena (agravantes e

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atenuantes genéricas) e não sobre a pena-base. Podem levar a pena acima do
máximo legal, ou trazê-la baixo do mínimo abstratamente cominado, uma vez
que o legislador aponta os limites de aumento e/ou de diminuição. As causas
de aumento e de diminuição se dividem em genéricas, quando definidas na
Parte Geral do CP, e específicas, se contidas na sua Parte Especial ou na
legislação extravagante.

- Duas ou mais causas de aumento ou de diminuição previstas na Parte


Geral: ambas deverão ser aplicadas, desde que obrigatórias;
- Duas ou mais causas de aumento ou de diminuição previstas na Parte
Especial ou na legislação extravagante: o juiz pode limitar-se a um só
aumento ou a uma só diminuição, ainda que obrigatórias, prevalecendo, nesse
caso, a causa que mais aumente ou mais diminua. Trata-se de faculdade
judicial;
- Uma causa de aumento e uma causa de diminuição, simultaneamente:
ambas deverão ser aplicadas, desde que obrigatórias. Em primeiro lugar, o
magistrado aplica as causas de aumento, e depois as de diminuição. Não
pode a sentença fazê-las recair ao mesmo tempo, compensando-as;
- Duas causas de aumento ou duas causas de diminuição, previstas na
Parte Geral e outra na Parte Especial ou legislação extravagante: todas
elas serão aplicáveis. Incidem inicialmente as causas de aumento e de
diminuição da Parte Especial ou da legislação especial e, depois as
majorantes ou minorantes da Parte Geral.

- Jurisprudência relacionada às causas de aumento e de diminuição


Inaplicabilidade da causa de aumento descrita no art. 302, §1º, I, do CTB
em virtude de CNH vencida: O fato de o autor de homicídio culposo na
direção de veículo automotor estar com a CNH vencida não justifica a
aplicação da causa especial de aumento de pena descrita no §1º, I, do art. 302,
do CTB. (STJ: HC 226.128/TO. 2016 – Info 581).

Aplicação de causa de aumento de pena da lei de drogas ao crime de


associação para o tráfico de drogas com criança e adolescente: A
participação do menor pode ser considerada para configurar o crime de
associação para o tráfico (art. 35) e, ao mesmo tempo, para agravar a pena
como causa de aumento do art. 40, VI, da Lei 11.343/2006, (STJ: HC
250.455/RJ. 2016. Info 576).

Aplicação de causa de aumento de pena da Lei de Drogas acima do


patamar mínimo: O fato de o agente ter envolvido um menor na prática do
tráfico e, ainda, tê-lo retribuído com drogas, para incentivá-lo à traficância ou ao
consumo e dependência, justifica a aplicação, em patamar superior ao mínimo,
da causa de aumento de pena do art. 40, VI, da Lei 11.343/2006, ainda que
haja fixação de pena-base no mínimo legal. (STJ: HC 250/455/RJ. 2016. Info
576)

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Aplicação da mesma causa de aumento de pena da Lei de Drogas a mais
de um crime: a causa de aumento de pena do art. 40, VI, da Lei 11.343/2006
pode ser aplicada tanto para agravar o crime de tráfico de drogas (art. 33)
quanto para agravar o de associação para o tráfico (art. 35) praticados no
mesmo contexto. (STJ: HC 250.455/RJ. 2016. Info 576)

Morte instantânea da vítima e omissão de socorro como causa de


aumento de pena: No homicídio culposo, a morte instantânea da vítima não
afasta a causa de aumento de pena prevista no art. 121, §4º, do CP – deixar de
prestar imediato socorro à vítima – a não ser que o óbito seja evidente, isto é,
perceptível por qualquer pessoa. (STJ. HC 269.038/RS. 2015. Info 554).

(Ano: 2017. Banca: VUNESP. Órgão: TJ-SP. Prova: Juiz


Substituto)

Na aplicação da pena,

A) é vedada a utilização de inquéritos policiais e ações


penais em curso para agravar a pena-base, configurando-
se, porém, na má antecedência se o acusado ostentar
condenação por crime anterior, transitada em julgado após
o novo fato.
B) a incidência de circunstância atenuante não pode
conduzir à redução da pena abaixo do mínimo legal, a não
ser que utilizada a confissão para a formação do
convencimento do julgador, hipótese em que o réu fará jus
à diminuição, ainda que aquém do piso.
C) O desconhecimento da lei constitui circunstância
atenuante, podendo ainda a pena ser atenuada em razão
de fato relevante, embora não previsto em lei, desde que
necessariamente anterior ao crime.
D) A reincidência não pode ser considerada como
circunstância agravante e, simultaneamente, como
circunstância judicial, não prevalecendo a condenação
anterior, contudo, se entre a data do trânsito em julgado
para a acusação da condenação anterior e a infração
posterior tiver ocorrido período de tempo superior a 5
(cinco) anos.

CORRETA: Letra A.

De fato, é vedada a utilização de inquéritos policiais e


ações penais em curso para agravar a pena-base e esta é
a redação da Súmula 444 do STJ. Dentro do critério de
antecedentes do art. 59, do CP, são considerados como

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maus antecedentes apenas as condenações definitivas
que não caracterizam a agravante da reincidência, em
homenagem ao princípio da presunção de inocência.

INCORRETAS:

B) Do mesmo modo que as circunstâncias judiciais, as


atenuantes e agravantes não podem reduzir a pena abaixo
do mínimo legal, ou extravasá-la para além do máximo,
ficando o julgador adstrito aos limites em abstrato do
preceito secundário. A confissão não tem o poder de
mitigar esta regra.
C) A primeira parte da assertiva encontra-se correta. O
erro, porém, reside na segunda: a chamada atenuante
inominada, que se dará em razão de circunstância
relevante, embora não prevista em lei, poderá ser anterior
ou posterior ao crime, e não apenas anterior.
D) O lapso de 5 anos da contagem se dará do
cumprimento ou extinção da pena, e não do trânsito em
julgado para a acusação da condenação anterior (art. 64, I,
do CP).

5.3 Pena de multa

Consiste no pagamento ao Fundo Penitenciário de certa quantia em dinheiro,


fixada na sentença e calculada em dias-multa. Será, no mínimo, de 10 (dez) e,
no máximo, de 360 (trezentos e sessenta) dias-multa.

- Aplicação da pena de multa

Sistema bifásico: 1ª fase – número de dias-multa (10 a 360). Para encontrar


esse número, o magistrado utiliza as circunstâncias judiciais, as agravantes e
atenuantes genéricas e as causas de aumento e de diminuição da pena; 2ª
fase – valor de cada dia-multa, que não pode ser inferior a um trigésimo do
maior salário mínimo mensal vigente ao tempo do fato, nem superior a cinco
vezes o maior salário mínimo. Leva-se em conta a situação econômica do réu
(art. 60, caput, do CP).

Pode ocorrer de o magistrado reputar que, em face do elevado poder


econômico do réu, a sanção pecuniária, embora aplicada no máximo legal, é
ineficaz. Neste caso, se reserva a faculdade de aumentar o seu valor até o
triplo.

ATENÇÃO: nos crimes contra a propriedade industrial (art. 197, parágrafo


único, da Lei n. 9.279/96) e nos crimes previstos nos arts. 33 a 39 da Lei da
Drogas (art. 43, parágrafo único da Lei n. 11.343/06), o valor da pena de multa
pode ser aumentado até o décuplo. Por sua vez, nos crimes contra o sistema
financeiro nacional, o valor do dia-multa pode ser estendido até o décuplo (art
33, Lei n. 7.492/86).

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É possível, ainda, a redução da pena de multa quando a situação econômica
do réu assim a recomendar. O art. 76, §1º, da Lei 9.099/95 autoriza o juiz, as
hipóteses em que a pena de multa seja a única aplicável, a reduzi-la até a
metade.

Por sua vez, o art. 197, parágrafo único, da Lei. 9.279/96 (crimes contra a
propriedade industrial) autoriza a redução da pena de multa em até 10 vezes,
dependendo das condições pessoais do agente e da vantagem auferida no
caso concreto.

Importante destacar, ainda, a multa irrisória, que é aquela de valor


extremamente reduzido. Não há uma definição legal acerca do seu montante.

Há controvérsia quanto à necessidade de sua cobrança pelo Estado. Existem


dois posicionamentos: 1) a multa irrisória não deve ser executada em juízo, já
que o Poder Público arcará em sua cobrança com valor superior ao que será
ao final arrecadado, e o condenado sequer suportará o caráter retributivo da
pena; 2) a cobrança em juízo é obrigatória, pouco importando o valor. A multa é
pena e incidem sobre ela os princípios da imperatividade de sua aplicação e da
inderrogabilidade de seu cumprimento. É o entendimento dominante.

- Pena de multa na Lei de Drogas: para o crime do art. 28, da Lei n.


11.343/06, o juiz fixará o número de dias-multa em quantidade nunca inferior a
40 nem superior a 100, atendendo à reprovabilidade da conduta, e o valor do
dia-multa em conformidade com a capacidade econômica do agente,
atribuindo a cada um deles o valor de 1/30 (um trinta avos) até 3 vezes o valor
do salário mínimo (art. 29, caput). Ademais, os valores serão arrecadados
para o Fundo Nacional Antidrogas (art. 29, parágrafo único). Já para os crimes
inerentes à produção não autorizada e ao tráfico de drogas (arts. 33 a 39), o
número de dias-multa é previsto particularmente para cada delito, e será
dosado levando-se em conta, com preponderância sobre o previsto no art. 59,
do CP, a natureza e a quantidade da substância ou do produto, a
personalidade e a conduta social do agente. Em seguida, o valor do dia-multa
deve ser calculado com base nas condições econômicas do réu, não inferior a
1/30 nem superior a 5 vezes o salário mínimo (art. 43, caput).
- Pena de multa e violência doméstica e familiar contra a mulher: o art. 17,
da Lei 11.340/06, veda a aplicação de penas de cesta básica ou outras de
prestação pecuniária, bem como a substituição de pena que implique o
pagamento isolado de multa.

- Jurisprudência relacionada à pena de multa

Súmula 521 – STJ: A legitimidade para execução fiscal de multa pendente de


pagamento imposta em sentença condenatória é exclusiva da Procuradoria da
Fazenda Pública.

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Legitimidade do MP para promover medida que garanta o pagamento de
multa penal: O Ministério Público tem legitimidade para promover medida
assecuratória que vise à garantia do pagamento de multa imposta por sentença
penal condenatória. É certo que, com a edição da Lei 9.268/96, que deu nova
redação ao art. 51 do CP, a legitimidade para cobrança da pena de multa
passou a ser da Fazenda Pública. No entanto, a pena de multa continua tendo
natureza jurídica de sanção penal e, no caso em tela, não se está discutindo a
legitimidade do MP para cobrança de pena de multa, mas sim promover
medida assecuratória, providência que está assegurada pelo art. 142, do CPP
e pela própria CF/88, quando esta prevê que o MP é titular da ação penal.
Enquanto não há trânsito em julgado da condenação, a Fazenda Pública não
pode tomar qualquer providência relacionada com a cobrança da pena de
multa. Assim, se não fosse permitido que o MP atuasse nesse caso, ninguém
mais teria legitimidade para essas medidas acautelatórias, já que a atuação da
Fazenda Pública na execução da multa penal só ocorre muito mais tarde, após
o trânsito em julgado. (STJ. 6ª Turma. REsp 1.275.834/PR, j. 17/03/2015. Info
558).

Extinção da punibilidade independentemente do adimplemento da pena


de multa: nos casos em que haja condenação a pena privativa de liberdade e
multa, cumprida a primeira (ou a restritiva de direitos que eventualmente a
tenha substituído), o inadimplemento da sanção pecuniária não obsta o
reconhecimento da extinção da punibilidade. Com outras palavras, o que
importa para a extinção da punibilidade é o cumprimento da pena privativa de
liberdade ou da restritiva de direitos. Cumpridas tais sanções, o fato de o
apenado ainda não ter pago a multa não interfere na extinção da punibilidade.
Isso porque a pena de multa é considerada dívida de valor e, portanto, possui
caráter extrapenal, de modo que sua execução é de competência exclusiva da
Procuradoria da Fazenda Pública. (STJ. 3ª Seção.REsp 1.519.777/SP, j.
26/08/2015. Recurso Repetitivo. Info 568).

(Ano: 2015. Banca: FCC. Órgão: TJ-SC. Prova: Juiz


Substituto)

O critério judicial legalmente estabelecido para a fixação


da pena pecuniária, a Parte Geral do Código Penal, vincula
o juiz à observância, preponderantemente quanto

A) aos danos sociais provocados pelo crime.


B) à situação econômica do réu.
C) à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à
personalidade do agente e aos motivos, às circunstâncias
e consequências do crime.
D) à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à
personalidade do agente e ao prejuízo sofrido pela vítima.

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E) às consequências do crime para a vítima

CORRETA: Letra B.

O art. 60 do CP assim dispõe: “Na fixação da pena de


multa o juiz deve atender, principalmente, à situação
econômica do réu.

5.4 Concurso de crimes

5.4.1 Concurso formal (ou ideal): é aquele em que o agente, mediante uma
única conduta, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não. Da leitura do art.
70, caput, do CP, destacam-se dois requisitos: unidade de conduta (uma só
ação ou omissão) e pluralidade de resultados (dois ou mais crimes).

O concurso formal pode ser homogêneo ou heterogêneo, e perfeito ou


imperfeito:

a) Concurso formal homogêneo e heterogêneo: quando os crimes são


idênticos. Diz-se, por sua vez, heterogêneo o concurso formal quando os
delitos são diversos.
b) Concurso formal perfeito e imperfeito: é perfeito ou próprio quando o
agente realiza a conduta típica, que produz dois ou mais resultados, sem
atuar com desígnios autônomos. Pode-se concluir, portanto, que o
concurso formal perfeito ou próprio ocorre entre crimes culposos, ou
então entre um crime doloso e um crime culposo; imperfeito ou impróprio
é a modalidade de concurso formal que se verifica quando a conduta
dolosa do agente e os crimes concorrentes derivam de desígnios
autônomos. Existem, portanto, dois crimes dolosos.

No que diz respeito às teorias sobre concurso formal, tem-se a teoria


subjetiva, na qual exige-se unidade de desígnios na conduta do agente para a
configuração do crime formal; e a teoria objetiva, que bastam a unidade de
conduta e a pluralidade de resultados para a caracterização do concurso
formal. O CP adotou a teoria objetiva.

- Aplicação da pena no concurso formal próprio ou perfeito:

Sistema da exasperação, aplicando-se a pena de qualquer dos crimes, se


idênticos, ou então a mais grave, aumentada, em qualquer caso, de um sexto
até a metade, variando, exclusivamente, devido ao número de crimes
cometidos pelo agente. No caso de serem perpetrados sete ou mais crimes,
deve-se aplicar o montante máximo de aumento, qual seja, a metade,
relativamente a seis crimes, ao passo que os demais devem ser considerados
como circunstâncias judiciais desfavoráveis para a dosimetria da pena-base,
nos termos do art. 59, caput, do CP. O concurso formal perfeito é causa de
aumento da pena, e incide, por corolário, na terceira fase de aplicação da pena.

- Aplicação da pena no concurso formal impróprio ou imperfeito:

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O art. 70, caput, 2ª parte, do CP, consagrou o sistema do cúmulo material.
Assim como no concurso material, serão somadas as penas de todos os crimes
produzidos pelo agente.

- Concurso material benéfico:

O art. 70, em seu parágrafo único, dispõe que “não poderá a pena exceder a
que seria cabível pela regra do art. 69 deste Código”. O concurso formal
próprio ou perfeito, no qual se adota o sistema da exasperação para aplicação
da pena, foi criado para favorecer o réu, afastando o rigor do concurso material
nas hipóteses em que a pluralidade de resultados não deriva de desígnios
autônomos. Assim, quando o sistema de exasperação for prejudicial ao
acusado, deve ser excluído, para o fim de incidir o sistema do cúmulo material.

5.4.2 Pontos relevantes sobre concurso de crimes

- Competência do Juizado Especial Criminal: “é pacífica a jurisprudência


desta Corte de que, no caso de concurso de crimes, a pena considerada para
fins de fixação da competência do Juizado Especial Criminal será o resultado
da soma, no caso de concurso material, ou a exasperação, na hipótese de
concurso formal ou crime continuado, das penas máximas cominadas ao delito;
destarte, se desse somatório resultar um apenamento superior a 2 anos fica
afastada a competência do Juizado Especial”. (HC 143.500/PE, 5ª Turma, j.
31/05/2011).

- Suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei 9.99/95): “o benefício


da suspensão do processo não é aplicável em relação às infrações penais
cometidas em concurso material, concurso formal ou continuidade delitiva,
quando a pena mínima cominada, seja pelo somatório, seja pela incidência da
majorante, ultrapassar o limite de 1 ano”. (Súmula 243 do STJ).

- Concurso de concurso de crimes: “1. Segundo orientação deste Superior


Tribunal de Justiça quando configurada a concorrência de concurso formal e
crime continuado, aplica-se somente um aumento de pena, o relativo à
continuidade delitiva. Precedentes. 2. Ocorre bis in idem quando há majoração
da reprimenda primeiramente em razão do concurso formal, haja vista o
cometimento de um delito de roubo contra duas vítimas diferentes num mesmo
contexto fático, e, em seguida, em função do reconhecimento do crime
continuado em relação ao terceiro assalto cometido”. (HC 163.591/SP, 1ª
Turma, j. 24/05/2011)

- Jurisprudência relacionada ao concurso de crimes

- Roubo praticado em ônibus contra o patrimônio de vários passageiros:


o sujeito entra no ônibus e, com arma em punho, exige que oito passageiros
entreguem seus pertencem (dois desses passageiros eram marido e mulher).
O agente irá responder oito roubos majorados (art. 157, §2º, I, do CP) em
concurso formal (art. 70). Não se trata, portanto, de crime único. Ocorro
concurso formal quando a agente, mediante uma ação pratica crimes de roubo

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contra vítimas diferentes, ainda que da mesma família, eis que caracterizada a
violação a patrimônio distintos. (STJ. 5ª Turma. HC 207.543/SP, j. 17/04/2012).

- Crime continuado: não há continuidade delitiva entre os crimes de roubo e


de extorsão, ainda que praticados em conjunto. Isso porque, nos termos da
pacífica jurisprudência do STJ, os referidos crimes, conquanto de mesma
natureza, são de espécies diversas, o que impossibilita a aplicação da regra do
crime continuado, ainda quando praticados em conjunto. (STJ. 6ª Turma. HC
77.467/SP, j. 02/10/2014. Info 549).

- Crime continuado: não há continuidade delitiva entre os crimes do art. 6º da


Lei 7.492/86 (Lei dos Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional) e os crimes
do art. 1º da Lei. 9.613/98 (Lei dos Crimes de Lavagem de Dinheiro), pois não
são da mesma espécie. (STJ. 6ª Turma. REsp 1405989/SP, j. 18/08/2015. Info
569).

- Unidade de desígnio - teoria objetivo-subjetiva (teoria mista): de acordo


com a teoria mista, adotada pelo CP, mostra-se imprescindível, para a
aplicação da regra do crime continuado, o preenchimento de requisitos não
apenas de ordem objetiva – mesmas condições de tempo, lugar e forma de
execução – como também de ordem subjetiva – unidade de desígnios ou
vínculo subjetivo entre os eventos. (STJ. 6ª Turma. HC 245.156/ES, j.
15/10/2015).

- Aumento de pena no máximo pela continuidade delitiva em crime


sexual: mesmo quando não for possível trazer para os autos o número exato
de crimes sexuais que foram praticados, como, por exemplo, o caso de um
padrasto que mora há meses ou anos com sua enteada e contra ela pratica
constantemente estupro de vulnerável, o juiz poderá aumentar a pena acima de
1/6 e, dependendo do período de tempo, até chegar ao patamar máximo.
Assim, constatando-se a ocorrência de diversos crimes sexuais durante longo
período de tempo, é possível o aumento da pena pela continuidade delitiva no
patamar máximo de 2/3 (art. 71, do CP), ainda que sem a quantificação exata
do número de eventos criminosos. (STJ. 5ª Turma. HC 311.146/SP, j.
17/03/2015. Info 559).

- Impossibilidade de aplicação concomitante da continuidade delitiva


comum e específica: se reconhecida a continuidade delitiva específica entre
estupros praticados contra vítimas diferentes, deve ser aplicada
exclusivamente a regra do art. 71, parágrafo único, do CP, mesmo que, em
relação a cada uma das vítimas, especificamente, também tenha ocorrido a
prática de crime continuado. (STJ. 6ª Turma. REsp. 1.471.651/MG, j.
13/10/2015. Info 573).

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(Ano: 2017. Banca: VUNESP. Órgão: TJ-SP. Prova: Juiz
Substituto)

Quanto ao concurso de crimes, é correto afirmar:

A) há concurso formal próprio quando o agente, mediante


uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes,
idênticos ou não, aplicando-se a mais grave das penas
cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas
aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços,
considerando o número de infrações cometidas.
B) Há concurso formal impróprio ou imperfeito quando a
ação ou omissão, dolosa ou culposa, resultar de desígnios
autônomos, hipótese em que a pena será aplicada pela
regra do concurso material.
C) Nos crimes dolosos cometidos com violência ou grave
ameaça contra a mesma vítima, poderá o juiz,
considerando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta
social e a personalidade do agente, bem como os motivos
e as circunstâncias, aumentar a pena de um só dos
crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o
triplo.
D) No crime continuado comum, aplica-se a pena de um só
dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas,
aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços,
considerado o número de infrações cometidas, incidindo a
extinção da punibilidade sobre a pena de cada um,
isoladamente.

CORRETA: Letra D.

A assertiva está de acordo com o art. 71 do CP: “Quando


o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica
dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições
de tempo, lugar, maneira de execução e outras
semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como
continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só
dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas,
aumentada, em qualquer caso, de um sexo a dois
terços. Também estando de acordo com o art. 119, do
CP: “no caso de concurso de crimes, a extinção da
punibilidade incidirá sobre a pena de cada um,
isoladamente”.

INCORRETAS:

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A) a pena será aumentada de 1/6 até metade. (art. 70,
CP);
B) somente se ação ou omissão é dolosa. (art. 70,
segunda parte, do CP);
C) contra vítimas diferentes. (art. 71, parágrafo único do
CP).

5.5 Livramento condicional

- Requisitos (art. 83 do CP)



Requisitos objetivos - incisos I, II, IV e V do art. 83 do CP:

1) Espécie da pena: deve ser privativa de liberdade (reclusão, detenção ou


prisão simples);
2) Quantidade da pena: igual ou superior 2 anos, admitindo-se a soma das
penas por infrações diversas.
3) Parcela da pena já cumprida: o montante depende das condições do
condenado e da natureza do crime por ele praticado, senão vejamos:

a) condenado não reincidente em crime doloso e com bons antecedentes


(inciso I): cumprimento de mais de 1/3 da pena (livramento condicional
simples);
b) reincidente em crime doloso (inciso II): cumprimento de mais da metade
da pena (livramento condicional qualificado);
c) condenado pela prática de crimes hediondos ou equiparados a
hediondos ou, ainda, tráfico de pessoas (inciso V): cumprimento de mais de
2/3 da pena, desde que não seja reincidente específico em crimes dessa
natureza.

4) Reparação do dano: esse requisito é dispensado quando comprovada a


efetiva impossibilidade do condenado em atendê-lo (art. 83, IV, do CP). Pode
ainda ser dispensado quando a vítima não for encontrada para ser indenizada,
bem como quando renunciar a dívida ou mostrar-se desinteressada em ser
ressarcida.

Requisitos subjetivos:

1) comportamento satisfatório durante a execução da pena: deve ser


comprovado pelo diretor do estabelecimento prisional, levando em conta o
modo de agir do condenado após o início da execução da pena, desprezando-
se seu comportamento pretérito.
2) Bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído: o preso não é
forçado a trabalhar, mas se não o fizer, será vedado o benefício da liberdade
antecipada. Esse requisito deve ser desprezado quando, em face de problemas
do estabelecimento prisional, nenhum trabalho foi atribuído ao condenado.
3) Aptidão para prover à própria subsistência mediante trabalho honesto:
aqui, exige-se unicamente prova da aptidão para o exercício de trabalho

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honesto, e não de emprego certo e garantido após a saída do estabelecimento
prisional.
4) Para o condenado por crime doloso, cometido com violência ou grave
ameaça à pessoa, a constatação de condições pessoais que façam
presumir que o liberado não voltará a delinquir (parágrafo único do art. 83,
do CP): deve ser constatado pela Comissão Técnica de Classificação,
responsável pela elaboração e fiscalização do programa de individualização da
execução penal (arts. 5º a 9º da LEP). Faz-se um juízo de prognose, com o
propósito de constatar se, em razão de suas condições pessoais, é provável a
reincidência pelo condenado. Em caso positivo, nega-se o benefício.

- Jurisprudência relacionada ao livramento condicional

Tráfico privilegiado e crime hediondo: o crime de tráfico privilegiado de


drogas não tem natureza hedionda. Por conseguinte, não são exigíveis
requisitos mais severos para o livramento condicional (Lei n. 11.343/2006, art.
44, parágrafo único) e tampouco incide a vedação à progressão de regime (Lei
8.072/90, art. 2º, § 2º) para os casos em que aplicada a causa de diminuição
prevista no art. 33, § 4º, da Lei 11.343/06. (STF: HC 118533/MS. 2016. Info
831).
58
Livramento condicional no crime de associação para o tráfico: o
condenado por associação para o tráfico (art. 35, da Lei 11.343/2006), caso
não seja reincidente específico, deve cumprir 2/3 da pena para fazer jus ao
livramento condicional. (STJ: HC 311.656/RJ. 2015. Info 568).

Prática de falta grave e livramento condicional. Recurso Repetitivo. A


prática de falta grave não interrompe o prazo para obtenção de livramento
condicional. (STJ. REsp 1.364.192/RS. 2015. Info 546).

Prática de crime durante o livramento condicional: o cometimento de crime


durante o período de prova do livramento condicional não implica a perda dos
dias remidos. (STJ. HC 271.907-SP. 2014. Info 539).

Condição subjetiva para livramento condicional: para a concessão de


livramento condicional, a avaliação da satisfatoriedade do comportamento do
executado não pode ser limitada a um período absoluto e curto de tempo. (STJ.
REsp 1.325.182-DF. 2014. Info 535).

5.6 Prescrição

- Espécies

1) prescrição da pretensão punitiva;


2) prescrição da pretensão executória.

A linha divisória entre elas é o trânsito em julgado da condenação: na


prescrição da pretensão punitiva não há trânsito em julgado nem para a
acusação, nem para a defesa, ao contrário do que se dá na prescrição da

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pretensão executória, na qual a sentença penal condenatória já transitou em
julgado para o MP ou para o querelante, e também para a defesa.

A prescrição da pretensão punitiva obsta o exercício da ação penal, seja na


fase administrativa (inquérito policial) ou na fase judicial (ação penal). Não há
interesse apto a legitimar a intervenção estatal, autorizando-se a rejeição da
denúncia ou queixa nos termos do art. 395, II, do CPP. Se já foi instaurada a
persecução penal, por outro lado, a prescrição da pretensão punitiva impede a
sua continuação. Ademais, apaga todos os efeitos de eventual sentença
condenatória já proferida, principal ou secundários, penais ou extrapenais. Não
servirá como pressuposto de reincidência, nem como maus antecedentes e,
ainda, não constituirá título executivo no juízo civil. Seu reconhecimento é da
competência do membro do Poder Judiciário a quem estiver afeta a ação
penal: juízo de 1ª instância ou tribunais, em grau de recurso ou no caso de
infrações penais que sejam de sua competência originária. É subdividida em
três espécies:

a) Prescrição da pretensão punitiva propriamente dita ou prescrição


da ação penal (art.109, do CP): não há trânsito em julgado para
acusação nem para a defesa. É calculada com base no máximo da pena
abstratamente cominada ao delito.
b) Prescrição intercorrente, superveniente ou subsequente: se verifica
entre a publicação da sentença condenatória recorrível (ou acórdão
condenatório recorrível) e seu trânsito em julgado para a defesa.
Depende do trânsito em julgado para a acusação no tocante à pena
imposta, seja pela não interposição de recurso, seja pelo seu
improvimento. É calculada com base na pena concreta (Súmula 146 do
STF). Pode ocorrer por dois motivos: i) demora para intimar o réu da
sentença (ultrapassa-se o prazo prescricional e o réu ainda não foi dela
intimado); ou ii) demora no julgamento do recurso da defesa (o réu foi
intimado, recorreu, superou-se o prazo prescricional e o Tribunal ainda
não apreciou o seu recurso).
c) Prescrição retroativa: é calculada pela pena concreta. Depende do
trânsito em julgado da sentença condenatória para a acusação no
tocante à pena imposta, seja pela não interposição de recurso, seja pelo
seu improvimento. É “retroativa” pelo fato de ser contada da sentença ou
acórdão condenatórios para trás. Nos crimes em geral, a prescrição
retroativa pode ocorrer entre a publicação da sentença ou acórdão
condenatórios e o recebimento da denúncia ou queixa; já nos crimes de
competência do Tribunal do Júri, a prescrição retroativa pode se
verificar: i) entre a publicação da sentença ou acórdão condenatório e a
decisão confirmatória da pronúncia; ii) entre a decisão confirmatória da
pronúncia e a pronúncia; iii) entre a pronúncia e o recebimento da
denúncia ou queixa.

Por sua vez, a prescrição da pretensão executória é calculada com base na


pena concreta, pois já existe trânsito em julgado da sentença penal
condenatória para acusação e para defesa. Assim, compete ao juízo da
execução reconhecê-la e declarar a extinção da punibilidade, depois de ouvido
o MP, comportando essa decisão recurso de agravo, sem efeito suspensivo

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(arts. 66, II e 197 da LEP). Extingue somente a pena (efeito principal),
mantendo-se todos os demais efeitos secundários da condenação, penais e
extrapenais. Subsiste a condenação, ou seja, não rescinde a sentença penal,
que funciona como pressuposto da reincidência dentro do período depurador
do art. 64, I do CP. Desta forma, a condenação caracteriza antecedente
negativo e serve como título executivo no juízo civil.

No caso de reincidência, devidamente reconhecida na sentença ou no


acórdão, o prazo prescricional aumenta-se de 1/3 (art. 110, caput, do CP).
Esse aumento é aplicável exclusivamente à prescrição da pretensão
executória, conforme Súmula 220 do STJ: “A reincidência não influi no prazo da
prescrição da pretensão punitiva”.

Já no caso de evasão do condenado ou de revogação do livramento


condicional, nos termos do art. 113 do CP, a prescrição será regulada pelo
tempo que resta da pena. Esse dispositivo consagra o princípio penal segundo
o qual “pena cumprida é pena extinta”. Assim, se o condenado já cumpriu parte
da pena correspondente à infração por ele cometida, o Estado não tem mais o
poder de executá-la, razão pela qual não pode esse período ser computado no
cálculo prescricional.

- Reincidência como causa interruptiva

O art. 117, VI, do CP, refere-se à reincidência como causa interruptiva da


prescrição. É importante redobrar a atenção. A reincidência antecedente, ou
seja, aquela que já existia por ocasião da condenação, aumenta 1/3 o prazo da
prescrição da pretensão executória (art. 110, caput, CP), como já visto acima;
já a reincidência subsequente, posterior à condenação transitada em julgado,
interrompe o prazo prescricional já iniciado. Opera-se a interrupção com a
prática do crime, embora condicionado ao trânsito em julgado da condenação.

Assim, o réu será considerado reincidente quando passar em julgado a


condenação pelo segundo crime, mas o momento da interrupção da prescrição,
relativamente à condenação anterior, é o dia da prática do novo crime, e não a
data da respectiva sentença. A eficácia desta retroage, para esse efeito, à data
em que se verificou o segundo delito. Se o réu, porém, for absolvido pelo crime
posterior, não será interrompida a prescrição da pretensão executória.

- Prescrição das medidas de segurança

A medida se segurança, qualquer que seja sua espécie, pode ser aplicada aos
inimputáveis (art. 26, caput, do CP), ou aos semi-imputáveis (art. 26, parágrafo
único, do CP), quando comprovada a periculosidade e o condenado necessitar
de especial tratamento curativo. Submetem-se, em qualquer hipótese, ao
instituto da prescrição.

No caso dos semi-imputáveis, a prescrição segue a sistemática inerente às


penas privativas de liberdade, uma vez que leva em conta a pena diminuída
aplicada com a condenação e depois substituída por medida de segurança (art.
98 do CP). Já com relação aos inimputáveis, há duas posições: 1ª) é possível

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somente a prescrição da pretensão punitiva, com base na pena máxima em
abstrato, e jamais a prescrição da pretensão executória, porque esta última
exige a imposição de pena concreta, o que não se dá na medida de segurança
aplicada ao inimputável. Depois de atribuída a medida de segurança, se o
inimputável não for encontrado imediatamente, mas só depois de superado o
prazo mínimo, o correto é analisar se subsiste ou não a periculosidade do
agente que legitimou a sanção penal; 2ª) podem ocorrer ambas as espécies de
prescrição, calculando as duas em conformidade com a pena máxima em
abstrato. Essa última posição é aceita pelo STF.

- Prescrição e ECA

ATENÇÃO: Súmula 338 do STJ: “A prescrição penal é aplicável nas medidas


socioeducativas”. Calcula-se a prescrição com base na pena máxima em
abstrato cominada ao crime ou contravenção penal correspondente ao ato
infracional, reduzida pela metade pelo fato de tratar-se de pessoa menos de 21
anos de idade. Essa posição é acolhida pelo STF.

- Prescrição das penas restritivas de direitos:

Seguem os mesmos prazos das penas substituídas

- Prescrição da multa

A pena de multa ocorrerá (art. 114, CP): I – em 2 anos, quando a multa for a
única cominada ou aplicada; II – no mesmo prazo estabelecido para prescrição
da pena privativa de liberdade, quando a multa for alternativa ou
cumulativamente cominada ou cumulativamente aplicada. Esse dispositivo é
aplicado quando a sanção pecuniária ainda não transitou em julgado
(prescrição da pretensão punitiva). Ademais, incidem as causas impeditivas e
interruptivas previstas no arts. 116, I e II, e 117, I a IV, CP.

Em relação à prescrição da pretensão executória, as causas suspensivas e


interruptivas são as previstas na legislação relativa à dívida ativa da Fazenda
Pública, isto é, na Lei 6.830/80. No tocante ao prazo prescricional, há dois
posicionamentos: 1º) é de 5 anos, pois a Lei 9.268/96, ao alterar o art. 51 do
CP, determinou que, para fins de execução, a pena de multa fosse considerada
dívida de valor; 2º) é o mesmo prazo da pena privativa de liberdade, se
aplicada conjuntamente com esta, em obediência ao art. 118 do CP, pelo qual
as penas mais leves prescrevem com as mais graves. E se for a única imposta
ao condenado, a pena de multa prescreve em 2 anos. Importante destacar que,
qualquer que seja a posição adotada, a reincidência, embora devidamente
reconhecida na sentença, não aumenta em 1/3 o prazo da prescrição da
pretensão executória da pena de multa (Súmula 604 do STF: “A prescrição
pela pena em concreto é somente da pretensão executória da pena privativa de
liberdade”).

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5.6.1 Jurisprudência relacionada à prescrição

Não se admite a denominada prescrição em perspectiva (prescrição


virtual): a prescrição virtual ocorre quando o juiz, verificando que já se
passaram muitos anos desde o dia em que o prazo prescricional voltou a
correr, entende que mesmo que o inquérito ou o processo continue, ele não
terá utilidade porque muito provavelmente haverá a prescrição pela pena em
concreto. Para isso, o juiz analisa a possível pena que aplicaria para o réu se
ele fosse condenado, e a partir daí, examina se, entre os marcos interruptivos
presentes no processo, já se passaram mais anos do que o permitido pela lei.
A prescrição virtual é também chamada de prescrição “em perspectiva”; “por
prognose”; “projetada”; ou “antecipada”. O STF e o STJ afirmam que é
inadmissível a prescrição virtual por dois motivos principais: a) ausência de
previsão legal; b) representa uma afronta ao princípio da presunção de não-
culpailidade. (STF. 1ª Turma. Inq 3574 AgR/MT, j. 02/06/2015. Info 788).

A prescrição é interrompida no dia da sessão do julgamento do acórdão


condenatório: a prescrição da pretensão punitiva do Estado, em segundo grau
de jurisdição, se interrompe na data da sessão de julgamento do recurso e não
na data da publicação do acórdão. Para efeito de configuração do marco
interruptivo do prazo prescricional a que se refere o art. 117, IV, do CP,
considera-se como publicado o “acórdão condenatório recorrível” na data da
sessão pública de julgamento, e não na data de sua veiculação no Diário da
Justiça, ou meio de comunicação congênere. A publicação do acórdão nos
veículos de comunicação oficial deflagra o prazo recursal, mas não influencia
na contagem do prazo da prescrição. (STJ. HC 233.594/SP, j. 16/04/2013. Info
521 / STF. 1ª Turma. RHC 125078/SP, j. 3/3/2015. Info 776)

Acórdão que confirma ou reduz a pena não interrompe a prescrição: o art.


117, V, do CP estabelece que o curso da prescrição interrompe-se pela
publicação da sentença ou acórdão recorríveis. Para o STJ e o STF, se o
acórdão apenas CONFIRMA a condenação ou então REDUZ a pena do
condenado, ele não terá o condão de interromper a prescrição. (STF. 1ª Turma.
RE 751394/MG, j. 28/05/2013. Info 708).

Interrupção de prescrição de pretensão punitiva em crimes conexos: no


caso de crimes conexos que sejam objeto do mesmo processo, havendo
sentença condenatória para um dos crimes e acórdão condenatório para o
outro delito, tem se que a prescrição punitiva de ambos é interrompida a cada
provimento jurisdicional (art. 117, §1º, do CP). (STJ. 5º Turma. RHC
40.177/PR, j. 25/08/2015. Info 568).

Redução do prazo prescricional para os condenados maiores de 70 anos


e momento de aferição: para que incida a redução do prazo prescricional
prevista no art. 115, do CP, é necessário que, no momento da sentença, o
condenado possua mais de 70 anos. Se ele só completou a idade após a
sentença, não terá direito ao benefício, mesmo que isso tenha ocorrido antes
do julgamento da apelação interposta contra a sentença. Existe, no entanto,
uma situação em que o condenado será beneficiado pela redução do art. 115,
do CP mesmo tendo completado 70 anos após a sentença: isso ocorre quando

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o condenado opõe embargos de declaração contra a sentença/acórdão
condenatórios e esses embargos são conhecidos. Nesse caso, o prazo
prescricional será reduzido pela metade se o réu completar 70 anos até a data
do julgamento dos embargos. (STF. Plenário. AP 516 ED/DF, j. 05/12/2013.
Info 731).

Crimes de responsabilidade de prefeito e os efeitos da prescrição: a pena


de inabilitação para exercício de cargo/função pública, prevista no art. 1º, §2º,
do Decreto-Lei 201/67, é extinta, necessariamente, se houver prescrição da
pena privativa de liberdade. Assim, conforme a jurisprudência do STF, do STJ
e do TSE, extinta a pena privativa de liberdade pela prescrição da pretensão
punitiva, também terá o mesmo fim a pena dela decorrente de inabilitação para
o exercício de cargo ou função pública. (STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp
1.381.728/SC, j. 17/12/2013.Info 533).

(Ano: 2016. Banca: CESPE. Órgão: TJ-DFT. Prova: Juiz)

No tocante à jurisprudência sumulada pelo STJ quanto ao


direito penal, assinale a opção correta:

A) A extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão


punitiva, com fundamento em pena hipotética é admitida,
independentemente da existência ou do resultado do
processo penal.
B) Fixada a pena-base no mínimo legal, a decisão,
fundamentada na gravidade abstrata do delito poderá
estabelecer ao sentenciado regime prisional mais gravoso
do que o cabível em razão da sanção imposta.
C) A contagem do prazo para progressão de regime de
cumprimento de pena será interrompida pela prática de
falta grave e se reiniciará a partir do cometimento dessa
infração.
D) A falta grave interrompe o prazo para a obtenção de
livramento condicional.
E) A prática de falta grave interrompe o prazo para o fim de
comutação de pena ou indulto.

CORRETA: Letra C.

Súmula 534, do STJ: “a prática de falta grave interrompe


a contagem do prazo para a progressão de regime de
cumprimento de pena, a qual se reinicia a partir do
cometimento dessa infração”.

INCORRETAS:

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A) Súmula 438, do STJ: “é inadmissível a extinção da
punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva com
fundamento em pena hipotética, independentemente da
existência ou sorte do processo penal”.

B) Súmula 440, do STJ: “Fixada a pena-base no mínimo


legal, é vedado o estabelecimento de regime prisional mais
gravoso do que o cabível em razão da sanção imposta,
com base apenas na gravidade abstrata do delito”.

D) Súmula 441, do STJ: “A falta grave não interrompe o


prazo para obtenção de livramento condicional”.

E) Súmula 535, do STJ: “A prática de falta grave ao


interrompe o prazo para fim de comutação depena ou
indulto”.
(Ano: 2015. Banca: FCC. Órgão: TJ-PE. Prova: Juiz
Substituto)

A prescrição retroativa,

A) Modalidade de prescrição executória, é regulada pela


pena aplicada, não podendo ter por termo inicial data
anterior à da denúncia ou queixa.

B) Modalidade de prescrição da pretensão executória, é


regulada pelo máximo da pena privativa de liberdade
cominada ao crime e pode ocorrer entre o recebimento da
denúncia e a publicação da sentença condenatória
transitada em julgado para a acusação.

C) Modalidade de prescrição da pretensão executória, é


regulada pelo máximo da pena privativa de liberdade
combinada ao crime e pode ocorrer entre o recebimento da
denúncia e a publicação da sentença condenatória
transitada em julgado para a acusação.

D) Antes prevista como forma de prescrição da pretensão


punitiva, foi abolida por recente reforma legislativa.

E) Modalidade de prescrição da pretensão punitiva, é


regulada pela pena aplicada e pode ocorrer entre o
recebimento da denúncia e a publicação da sentença
condenatória transitada em julgado para a acusação.

CORRETA: Letra E.

Art. 110, §1º, do CP: “A prescrição, depois da sentença


condenatória com trânsito em julgado para a acusação ou

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depois de improvido seu recurso, regula-se pela aplicada,
não podendo, em nenhuma hipótese, ter por termo
inicial data anterior à denúncia ou queixa.” (prescrição
retroativa).

II – PARTE ESPECIAL:

Assim como a Parte Geral, vamos abordar os pontos que mais foram cobrados
nas últimas provas
.
1. Crimes contra a Pessoa (arts. 121 a 154-B, do CP)

- Homicídio privilegiado (art. 121, §1º, do CP)

Cuida-se de causa de diminuição de pena. As hipóteses legais de privilégio


apresentam caráter subjetivo, não se comunicando aos coautores e partícipes,
são elas: a) motivo de relevante valor social: relacionado ao interesse da
coletividade, e não apenas do agente individualmente considerado; b) motivo
de relevante valor moral: interesse particular do agente, aprovado pela
moralidade média e considerado nobre e altruísta (exemplo: eutanásia); c)
domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da
vítima: aspecto psicológico do agente que, dominado pela emoção violenta,
não se controla, tendo sua culpabilidade reduzida.

Não confundir com a atenuante prevista no art. 65, III, “c” do CP (sob a
influência de violenta emoção). Domínio pressupõe imediatidade (reação logo
em seguida). Isso não tem na influência. “Logo em seguida” é incompatível
com premeditação. Domínio é aplicado na segunda fase (causa de diminuição
de pena); influência é aplicada na terceira (atenuante).

- Feminicídio (art. 121, §2º, VI, do CP)

É o homicídio doloso contra a mulher por razões do sexo feminino. Em


princípio, não se admite concurso de pessoas, exceto quando o coautor ou
partícipe igualmente atuar impulsionado por tais razões. Envolve violência
doméstica e famíliar e/ou menosprezo ou discriminação à condição de mulher
(art. 121, §2º-A, do CP). Quanto à primeira (violência doméstica e familiar), há
duas posições quanto à sua natureza jurídica, mas prevalece que ela é
subjetiva; a segunda tem natureza subjetiva (entendimento amplamente
majoritário). Seria possível o feminicídio privilegiado? Não, por causa de sua
natureza subjetiva (que é a que prevalece). O homicídio qualificado-privilegiado
somente é possível quando as qualificadoras forem de ordem objetiva.

No caso de morte de transexual não há se falar em feminicídio, pois a vítima


biologicamente não ostenta o sexo feminino, tanto que jamais poderá

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reproduzir-se, pela ausência dos órgãos internos. Essa situação é mantida
ainda que a pessoa tenha sido beneficiada pela alteração do registro civil
(mudança de nome). Com efeito, entendimento diverso seria prejudicial ao
agente, constituindo-se em inquestionável analogia in malam partem. Também
pode ocorrer de uma mulher ser submetida à cirurgia para readequação ao
sexo masculino. Nesse caso, se a pessoa for vítima de homicídio, e o crime for
praticado por razões do sexo feminino, será cabível a qualificadora prevista no
art. 121, §2º, VI, do CP. Em síntese, admite-se o feminicídio, pois
biologicamente a vítima continua ostentando o sexo feminino.

Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio (art. 122, do CP)



Sujeito passivo

Qualquer pessoa que possua o mínimo de capacidade de resistência e de


discernimento, pois, em caso contrário, não havendo resistência, estaria
caracterizado o crime de homicídio. Prevalece que a idade mínima considerada
é 14 anos, por analogia aos arts. 217-A, 218 e 218-A, do CP. Assim, no caso
de vítima menor de 14 anos, o crime será de homicídio.

Consumação e tentativa

A consumação ocorre com a morte da vítima ou com a produção de lesão


corporal de natureza grave (abrange lesão grave e gravíssima). Por sua vez,
prevalece que não cabe tentativa no crime de induzimento, instigação ou
auxílio ao suicídio, pois a lei só pune o crime se o suicídio se consuma, ou se
da tentativa de suicídio resulta lesão de natureza grave. Trata-se de crime
condicionado, ou seja, a consumação está condicionada a um determinado
resultado naturalístico: momento da morte ou no momento da lesão grave.

- Infanticídio (art. 123, do CP)



Influência do estado puerperal

Estado puerperal é o conjunto de alterações físicas e psíquicas que acometem


a mulher em decorrência das circunstâncias relacionadas ao parto e que
afetem sua saúde mental. Não é imprescindível a perícia para sua constatação,
pois é efeito normal e inerente ao parto (presunção iuris tantum).

Importante destacar aqui a Lei 13.434 de 2017 que veda o uso de algemas em
mulheres grávidas durante o parto e em mulheres durante a fase de puerpério
imediato.

Sujeito ativo e sujeito passivo

O sujeito ativo é a mãe (crime próprio). Admite coautoria e participação (todos


os terceiros que concorrem para um infanticídio por ele também respondem –
art. 30 do CP). O sujeito passivo, por sua vez, é o nascente (durante o parto)
ou o recém-nascido (ou neonato, logo após o parto).

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Erro no infanticídio

Se a mãe, influenciada pelo estado puerperal e logo após o parto, mata outra
criança acreditando ser seu filho, responderá por infanticídio (infanticídio
putativo); se, porém, nas mesmas condições, matar um adulto, o crime será de
homicídio.

Anencefalia
67
Se a mãe, sob o estado puerperal, praticar alguma conduta visando a morte do
filho, nascente ou recém-nascido, acometido por anencefalia, estará
caracterizado crime impossível, em razão da impropriedade absoluta do objeto
material, nos termos do art. 17, do CP, conforme entendimento do STF no
julgamento a ADPF nº 54/DF.

- Aborto e hipóteses autorizativas (art. 128, do CP)

O art. 128 do CP traz duas situações em que o aborto não será punido: i) se
não há outro médio de salvar a vida da gestante; ii) se a gravidez resulta de
estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando
incapaz, de deu representante legal. Prevalece que são duas causas
especiais de exclusão da ilicitude. Em ambas, o aborto deve ser praticado
por médico. Ademais, é desnecessária autorização judicial para o aborto.

Aborto eugênico ou eugenésico

O direito brasileiro não contempla regra permissiva do aborto nas hipóteses em


que a criança nascerá com graves deformidades físicas ou psíquicas. O
fundamento dessa opção é a tutela da vida humana no mais amplo sentido.

Interrupção de gravidez de feto anencéfalo

No julgamento da ADPF 54/DF, ajuizada pela Confederação Nacional dos


Trabalhadores na Saúde, o Plenário do STF declarou a inconstitucionalidade
da interpretação segundo a qual a interrupção da gravidez de feto anencéfalo
seria conduta tipificada nos arts. 124, 126 e 128, incisos I e II, do CP. Desta
forma, a Corte reconheceu o direito da gestante de submeter-se à antecipação
terapêutica de parto no caso de anencefalia, previamente diagnosticada por
profissional, sem estar compelida a apresentar autorização judicial ou qualquer
outra forma de permissão do Estado. Fundamentos do STF: laicidade do
Estado brasileiro; dignidade humana; usufruto da vida; liberdade a
autodeterminação; saúde e o pleno reconhecimento dos direitos individuais,
especialmente os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres.

Aborto no primeiro trimestre de gestação

Tem decisão da 1ª Turma do STF (HC 124306 – 29/11/2016) no sentido de que


a interrupção da gravidez no primeiro trimestre não seria crime. Como
fundamentos da decisão, o Ministro Relator Roberto Barroso invocou os
seguintes: violação à autonomia da mulher; violação do direito à integridade

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física e psíquica; violação aos direitos sexuais e reprodutivos da mulher;
violação à igualdade de gênero; discriminação social e impacto desproporcional
sobre mulheres pobres.

- Jurisprudência relacionada aos crimes contra a pessoa

Entrega de veículo automotor a pessoa embriagada e inexistência de


homicídio doloso: o STF considerou que não havia homicídio doloso na
conduta de um homem que entregou seu carro a uma mulher embriagada para
que esta dirigisse o veículo, tendo havido acidente por conta do excesso de
velocidade e da embriaguez, resultando na morte da condutora (STF. 2ª
Turma. HC 113598/PE, j. 15/12/2015. Info 812).
68
Hipótese de inexistência de motive fútil em homicídio decorrente da
prática de “racha”: não incide a qualificadora de motive fútil (art. 121, §2º, II,
do CP) na hipótese de homicídio supostamente praticado por agente que
disputava “racha”, quando o veículo por ele conduzido – em razão do choque
com outro automóvel também participante do “racha”- tenha atingido o veículo
da vítima, terceiro estranho à disputa automobilística. (STJ. 6ª Turma. HC
307.617/SP, j. 19/04/2016. Info 583).

A qualificadora do motive fútil é compatível com o homicídio praticado


com dolo eventual? 1ª corrente: SIM. O fato de o réu ter assumido o risco de
produzir o resultado morte (dolo eventual), não exclui a possibilidade de o
crime ter sido praticado por motivo fútil, uma vez que o dolo do agente, direto
ou indireto, não se confunde com o motive que ensejou a conduta. (STJ. 5ª
Turma. REsp 912.904/SP, j. 06/03/2012). 2ª corrente: NÃO. A qualificadora de
motive fútil é incompatível com o dolo eventual, tendo em vista a ausência de
element volitivo. (STJ. 6ª Turma. HC 307.617/SP, j. 19/04/2016).

Dolo eventual não é compatível com qualificadora de traição, emboscada,


dissimulação: o dolo eventual não se compatibiliza com a qualificadora do art.
121, §2º, IV do CP. (STF. 2ª Turma. HC 111.442/RS, j. 28/08/2012. Info 667).

Interrupção da gravidez no primeiro trimestre da gestação: a interrupção


da gravidez no primeiro trimestre da gestação provocada pela própria gestante
(art. 124) ou com seu consentimento (art. 126) não é crime. É preciso conferir
interpretação conforme a Constituição aos arts. 124 a 126 do CP – que
tipificam o crime aborto – para excluir do seu âmbito de incidência a interrupção
voluntária da gestação efetivada no primeiro trimestre. A criminalização, nessa
hipótese, viola diversos direitos fundamentais da mulher, bem como o princípio
da proporcionalidade. (STF. 1ª Turma. HC 124306, j. 29/11/2016. Info 849).

Qualificadora da deformidade permanente e posterior cirurgia plástica


reparadora: a qualificadora “deformidade permanente” do crime de lesão
corporal (art. 129, §2º, IV do CP) não é afastada por posterior cirurgia estética
reparadora que elimine ou minimize a deformidade na vítima. Isso porque, o
fato criminoso é valorado no momento de sua consumação, não o afetando
providências posteriores, notadamente quando não usuais (pelo risco ou pelo
custo, como cirurgia plástica ou de tratamentos prolongados, dolorosos ou

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geradores do risco de vida) e promovidas a critério exclusivo da vítima. (STJ. 6ª
Turma. HC 306.677/RJ, j. 19/05/2015. Info 562).

Perda de dois dentes configura lesão grave (e não gravíssima): a lesão


que provoca na vítima a perda de dois dentes tem natureza grave (art. 129,
§1º, III do CP) e não gravíssima (art. 129, §2º, IV do CP). A perda de dois
dentes pode até gerar uma debilidade permanente (§1º, III), ou seja, uma
dificuldade maior da mastigação, mas não configura deformidade permanente
(§2º, IV). (STJ. 6ª Turma. REsp 1.620.158/RJ, j. 13/09/2016. Info 590).

(Ano: 2015. Banca: FCC. Órgão: TJ-GO. Prova: Juiz


Substituto)

O homicídio privilegiado

A) pode levar a pena abaixo do mínimo legal.


B) É aquele e que o agente comete o crime sob o domínio
de violenta emoção, logo em seguida a injusta agressão da
vítima.
C) Pode ocorrer com as qualificadoras subjetivas.
D) Pode ser identificado pelo juiz na decisão de pronúncia.
E) É crime hediondo, segundo pacificado entendimento
jurisprudencial.

CORRETA: Letra A.

Sendo o homicídio privilegiado (art. 121, §1º, do CP) causa


de diminuição de pena, pode-se levar a pena abaixo do
mínimo legal.

INCORRETAS:
B) No caso seria injusta PROVOCAÇÃO da vítima (art.
121, §1º, CP) e não agressão.
C) só pode incidir em qualificadora de ordem objetiva.
D) É competência do Tribunal do Júri.
E) Não é crime hediondo.

2. Crimes contra a Liberdade Pessoal:

- Constrangimento ilegal (art. 146, do CP)

Pode ocorrer em duas hipóteses: a) quando a vítima é compelida a fazer


alguma coisa (conduta comissiva ou positiva); b) quando a vítima é compelida
a deixar de fazer algo (conduta omissiva ou negativa), que também engloba a
situação em que ela é coagida a permitir que o agente faça alguma coisa. O

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agente precisa impor a vítima um comportamento certo e determinado e o
constrangimento há de ser ilegal (deve estar em desconformidade com a
legislação em vigor). Trata-se de crime material e instantâneo.

O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa (crime comum), porém se for
funcionário público, e o fato for cometido no exercício de suas funções,
responderá por abuso de autoridade, nos termos dos arts. 2º e 3º da Lei
4.898/65. Por sua vez, sujeito passivo do delito de constrangimento ilegal
também pode ser qualquer pessoa, mas desde que dotada de capacidade de
autodeterminação.

Lei 10.741/2003 – Estatuto do Idoso: pune com reclusão, de 2 a 5 anos


aquele que coage, de qualquer modo, o idoso a doar, contratar, testar ou
outorgar procuração (art. 107).
Lei 7.170/1983 – Crimes contra a Segurança Nacional: sujeita à pena de
reclusão, de 4 a 12 anos, a conduta de atentar contra a liberdade pessoal do
Presidente da República, do Senado Federal, da Câmara dos Deputados ou
do Supremo Tribunal Federal (art. 28).
Lei 8.078/90 – Código de Defesa do Consumidor: prevê a pena de
detenção, de 3 meses a 1 ano, e multa, para quem utilizar, na cobrança de
dívidas, de ameaça, coação, constrangimento físico ou moral, afirmações
falsas, incorretas ou enganosas, ou de qualquer outro procedimento que
exponha o consumidor, injustificadamente, a ridículo ou interfira com seu
trabalho, descanso ou lazer. (art. 71).

Constrangimento ilegal e Lei de Tortura

Se o agente constrange alguém com emprego de violência ou grave ameaça,


causando-lhe sofrimento físico ou mental, para provocar ação ou omissão de
natureza criminosa, responde pelo crime praticado em concurso material com
tortura (Lei 9.455/97, art. 1º, I, “b”). Se a violência ou grave ameaça dirigir-se à
prática de contravenção penal, estará caracterizado o concurso material entre a
contravenção cometida e o crime de constrangimento ilegal, pois a Lei de
Tortura refere-se apenas à coação para a prática de crime.

- Ameaça (art. 147, do CP)

A liberdade da pessoa humana é o bem jurídico tutelado pela lei penal,


especialmente no que diz respeito à paz de espírito, ao sossego, à
tranquilidade, e ao sentimento de segurança.

Sua consumação dar-se-á no momento em que a vítima toma conhecimento da


ameaça, não importando sua efetiva intimidação e a real intenção do autor em
fazer valer sua promessa. O crime é formal, de consumação antecipada ou de
resultado cortado, ou seja, basta que queira o agente intimidar e sua ameaça
tenha capacidade para fazê-lo.

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A tentativa, por sua vez, é admissível nas hipóteses de ameaça escrita,
simbólica ou por gestos, mas é incompatível nos casos de ameaça verbal.

Ameaça e Lei Maria da Penha: se o crime envolver relação doméstica e


familiar, e for praticado contra mulher, estará caracterizada uma situação de
violência psicológica, definida pelo art. 7º, II da Lei 11.340/2006.
Ameaça e constrangimento ilegal: tais crimes não se confundem, pois o
delito de constrangimento ilegal (art. 146, do CP) deseja-se uma conduta
positiva ou negativa da vítima.
Ameaça e Código de Defesa do Consumidor: a ameaça na cobrança de
dívida caracteriza crime contra relações de consumo, em face do princípio da
especialidade (art. 71, Lei 8.078/90).

- Sequestro e cárcere privado (art. 148, do CP)

É crime permanente e material; sua consumação se prolonga no tempo, sendo


possível a prisão em flagrante a qualquer momento, enquanto subsistir a72
eliminação da liberdade da vítima. É também possível a sua tentativa. Atenção
para as qualificadoras elencadas nos parágrafos 1º e 2º do art. 148, do CP.

Lei de tortura: resta configurado o crime de tortura (art. 1º, §4º, III da Lei
9.455/97) quando o sequestro é cometido com o fim de obter informação,
declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa, para provocar ação
ou omissão de natureza criminosa ou em razão de discriminação racial ou
religiosa.

- Redução a condição análoga à de escravo (art. 149, do CP)

A consumação do delito previsto no art. 149, do CP se dá quando o agente


reduz a vítima à condição análoga à de escravo. A vítima é privada de sua
liberdade de autodeterminação, de forma não transitória. Esta pode ser
qualquer pessoa, não importando o sexo, raça, idade ou cor, desde que ligada
a uma relação de trabalho, não tendo relevância se a vítima é civilizada ou não.

Quanto à competência, em regra, é da Justiça Comum Estadual (quando o


crime for cometido contra uma única pessoa, ou então no tocante a poucas
pessoas); porém será de competência da Justiça Comum Federal (art. 109, VI,
da CF) quando o interesse for tutelar a organização do trabalho. Assim, sendo
o delito praticado contra um grupo de trabalhadores, será competente a Justiça
Federal.

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(Ano: 2015. Banca: FCC. Órgão: TJ-PI. Prova: Juiz
Substituto)

No que se refere aos crimes contra a liberdade pessoal, é


correto afirmar:

A) A intervenção médica ou cirúrgica, sem o


consentimento da vítima ou de seu representante legal,
não exclui, em qualquer situação, o constrangimento ilegal.
B) O crime de constrangimento ilegal não se reveste de
subsidiariedade em relação a outros delitos.
C) Constitui figura equiparada à de redução análoga à de
escravo o ato de cercear o uso de qualquer meio de
transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no
local de trabalho.
D) O crime de cárcere privado é permanente e formal, não
admitindo a tentativa.
E) O crime de ameaça, se praticado no contexto de
violência doméstica e familiar contra a mulher, é de ação
penal pública incondicionada.

CORRETA: Letra C.
A assertiva está de acordo com o art. 149, do CP.

INCORRETAS:

A) A intervenção médica sem consentimento, quando em


risco de vida à vítima, constitui situação configuradora do
estado de necessidade de terceiro, o que exclui a ilicitude
do fato.
B) O delito de constrangimento ilegal é subsidiário. Logo,
só irá restar caraterizado se não estiverem presentes as
elementares dos demais crimes mais graves, como, por
exemplo, o crime de estupro.
D) O crime do art. 148 do CP é, em regra, material e
admite a tentativa.
E) O crime de lesão corporal (leve, grave ou culposa) no
âmbito familiar e doméstico é que é de ação pública
incondicionada. Súmula 542,do STJ.

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3. Crimes contra o Patrimônio (arts. 155 a 183, do CP)
- Furto
Tentativa

É possível em todas as modalidades de furto: simples, privilegiado e


qualificado.

Tentativa de furto e crime impossível – distinções

Na tentativa há início de execução de um crime que somente não se consuma


por circunstâncias alheias à vontade do agente. No crime impossível não há
incidência do Direito Penal (inexiste crime), uma vez que, por ineficácia
absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, jamais se chegará à
consumação. Nesse caso, o fato é atípico. O art. 17 do CP acolheu, no tocante
ao crime impossível, a teoria objetiva temperada ou intermediária: para a
configuração do crime impossível e, por corolário, para o afastamento da
tentativa, os meios empregados e o objeto material do crime devem ser
absolutamente inidôneos a produzir o resultado idealizado pelo agente. Se a
inidoneidade for relativa, haverá tentativa.

Assim, dispositivos antifurto inseridos em veículos automotores não


caracterizam crime impossível, e sim tentativa de furto. A existência de sistema
de vigilância por câmeras ou agentes de segurança em supermercado e
estabelecimentos comerciais torna mais difícil, mas não impossível, a
consumação de furto ali praticados. Caracterizando, portanto, a tentativa.

Entendimento este que está consolidado na Súmula 567 do STJ: “Sistema de


vigilância realizado por monitoramento eletrônico ou por existência de
segurança no interior de estabelecimento comercial, por si só, não torna
impossível a configuração do crime de furto”.

Consumação
No STF e no STJ prevalece a teoria da amotio (ou apprehensio), na qual a
consumação do furto se dá com a posse de fato da res furtiva, ainda que por
breve espaço de tempo e seguida de perseguição ao agente, sendo
prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada do bem.

Cuida-se de crime material: somente se consuma com a efetiva diminuição


patrimonial da vítima. Em regra, é crime instantâneo, pois se aperfeiçoa em
momento determinando, sem continuidade no tempo. Excepcionalmente, será
permanente, a exemplo do que se dá na subtração duradoura de energia
elétrica, autorizando a prisão em flagrante a qualquer tempo, enquanto não
encerrada a permanência.

- Roubo (art. 157, do CP)

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Roubo impróprio (art. 157, §1º, do CP)

É também chamado de roubo por aproximação e é classificado como roubo


simples, uma vez que a mesma pena prevista no caput é a ele cominada.
Somente se caracteriza quando o sujeito já se apoderou de algum bem da
vítima, utilizando-se de violência à pessoa ou grave ameaça “logo depois de
subtraída a coisa”. A expressão “logo depois” deve ser compreendida como
“após a subtração, mas antes de consumado o furto que o agente desejava
praticar”.

Ademais, é imprescindível que haja o propósito de assegurar a impunidade do


crime ou a detenção da coisa, para si ou para terceiro, ao empregar a violência.
O roubo impróprio consuma-se no momento em que o sujeito utiliza a violência
à pessoa ou grave ameaça, ainda que não tenha êxito em sua finalidade de
assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa subtraída para si ou
para terceiro. Trata-se de crime formal, de resultado cortado ou de
consumação antecipada.

No tocante à tentativa, há duas posições: a) impossibilidade da tentativa


(entendimento dominante); b) a segunda defende ser cabível a tentativa, nas
hipóteses em que o sujeito, depois da subtração da coisa, tenta empregar
violência à pessoa ou grave ameaça para assegurar a impunidade do crime ou
a detenção da coisa, mas não consegue fazê-lo por circunstâncias alheias à
sua vontade.

Roubo qualificado pela morte ou latrocínio (art. 157, §3º, parte final)

O latrocínio é crime complexo, ou seja, resulta da fusão dos delitos de roubo


(crime-fim) e homicídio (crime-meio) e é pluriofensivo, pois ofende o patrimônio
e a vida humana. Ademais, o roubo seguido de morte, ou latrocínio,
consumado ou tentado é crime hediondo.

Como é crime complexo, envolvendo subtração (roubo) e morte (homocídio), é


possível que uma delas se aperfeiçoe e a outra não. Assim, quatro situações
podem ocorrer: a) subtração e morte consumada = latrocínio consumado; b)
subtração e morte tentada = latrocínio tentado; c) subtração tentada e morte
consumada = latrocínio consumado; d) subtração consumada e morte tentada
= latrocínio tentado. Vale destacar a Súmula 610 do STF: “Há crime de
latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainds que não realize o agente a
subtração de bens da vítima”.

Importante, ainda, lembrar que, se no contexto de um roubo, voltado contra um


único patrimônio, duas ou mais pessoas são mortas, há um só crime de
latrocínio, pois trata-se de crime contra o patrimônio e não de delito contra a
vida.

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Roubo e latrocínio: concurso material ou crime continuado?

Não basta para caracterização da continuidade delitiva a tipificação das


condutas no mesmo dispositivo legal. Os crimes, para serem de igual espécie,
devem possuir semelhante modo de execução, além de apresentarem a
mesma estrutura jurídica. E, nesse ponto, roubo e latrocínio não se
confundem. O roubo viola o patrimônio e a integridade física (quando praticado
com violência) ou liberdade individual (se cometido com grave ameaça); já o
latrocínio ofende o patrimônio e a vida humana. Tais crimes pertencem ao
mesmo gênero, mas não são da mesma espécie. Desta forma, ausentes os
requisitos do art. 71, caput, do CP, não há se falar em crime continuado entre
roubo e latrocínio, e sim concurso material.

- Extorsão (art. 158, do CP)



Consumação

A extorsão é crime formal, de consumação antecipada ou de resultado


cortado. É o que se extrai da Súmula 96 do STJ: “o crime de extorsão
consuma-se independentemente da obtenção da vantagem indevida”. É
também crime instantâneo, ou seja, consuma-se no momento em que a vítima,
depois de sofrer a violência ou grave ameaça, realiza o comportamento
desejado pelo criminoso, ainda que em razão de sua conduta o agente não
obtenha a indevida vantagem econômica. Se obter, estará caracterizado o
exaurimento.

Tentativa

A tentativa é possível, pois nada obstante seu aspecto formal, a extorsão é, em


regra, crime plurissubsistente. Como a extorsão se consuma quando a vítima
realiza o comportamento desejado pelo criminoso, somente será correto falar
em tentativa na hipótese em que a vítima, devidamente constrangida pela
violência física ou moral, não efetuar a conduta comissiva ou omissiva
determinada pelo agente, por circunstâncias alheias à sua vontade.
- Receptação (art. 180, do CP)

Receptação qualificada (art. 180, §1º)

O art. 180, em seu parágrafo primeiro, fundamenta a elevação da pena pelo


fato de o sujeito praticar o crime no exercício de atividade comercial ou
industrial, acentuando o desvalor da conduta, pois o agente se vale do seu
trabalho para praticar o crime de receptação. Nesse caso, o comerciante ou
industrial encontra grande facilidade para repassar os produtos de origem
criminosa a terceiros de boa-fé. Vê-se, pela análise do tipo penal, que a

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finalidade precípua do legislador foi combater com maior rigor o comércio ilegal
de veículos automotores e de suas peças.

Importante destacar que não se exige regularidade ou licitude no desempenho


da atividade comercial ou industrial. O legislador instituiu uma norma penal
explicativa ou complementar no §2º do art. 180, do CP, com o objetivo de
equiparar à atividade comercial, para fins de receptação qualificada, qualquer
foma de comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercício em residência.

A incidência da qualificadora reclama habitualidade no desempenho do


comércio ou da indústria pelo sujeito ativo.

Vale ressaltar, ainda, o questionamento acerca da expressão “deve saber” do


dispositivo em comento. Existem três posições acerca do assunto: a primeira
entende que “deve saber” caracteriza o dolo eventual, mas também abrange o
dolo direto. Se a lei pune mais gravemente o comportamento daquele que
“deve saber” da origem criminosa da coisa (dolo eventual), consequentemente
também responde pelo mais aquele que efetivamente conhece tal circunstância
(dolo direto). Cuida-se de interpretação meramente declaratória da extensão da
expressão “deve saber”, que inclui o “sabe”, razão pela qual não há falar em
ofensa ao princípio da proporcionalidade. Esse é o entendimento consolidado
no âmbito do STF; a segunda posição entende que a expressão “deve saber”
diz respeito exclusivamente ao dolo eventual; e a terceira, por sua vez, explica
que o “deve saber” é elemento normativo do tipo e não elemento subjetivo,
indicativo de dolo direto ou eventual. Sua missão é estabelecer a graduação da
maior ou menor censura da conduta punível.

Perdão judicial (art. 180, §5º, 1ª parte)

O instituto do perdão judicial incide unicamente na receptação culposa. É


necessário cumular dois requisitos: a) primariedade do agente; b) as
circunstâncias do crime deve indicar que o fato não se revestiu de especial
gravidade. Quando presentes tais requisitos, o juiz está obrigado a reconhecer
o perdão judicial, pois trata-se de direito subjetivo do réu.

- Jurisprudência relacionada aos crimes contra o patrimônio

Subtrair objeto do interior do automóvel mediante quebra de vidro: furto


qualificado. A conduta de violar o automóvel, mediante a destruição do vidro
para que seja subtraído bem que se encontre em seu interior – no caso, um
aparelho de som automotivo – configura o tipo penal de furto qualificado pelo
rompimento de obstáculo à subtração da coisa previsto no art. 155, §4º, I, do
CP. (STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1.364.606-DF, j. 22/10/2013. Info 532).

Causa de aumento incidente no caso de a vítima estar em serviço de


transporte de valores: o inciso III do art. 157, do CP, prevê que a pena do
delito de roubo é majorada se a vítima estava em serviço de transporte de
valores e o agente conhecia essa circunstância. Quando o dispositivo fala em
“transporte de valores” não se restringe a dinheiro em espécie, abrangendo
outros bens e produtos que possuam expressão econômica. No caso concreto,

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o STJ reconheceu que incide a majorante prevista no inciso III do §2º do art.
157 do CP, na hipótese em que o autor praticou roubo ciente de que as
vítimas, funcionários dos Correios, transportavam grande quantidade de
produtos cosméticos de expressivo valor econômico e liquidez. (STJ. 5ª Turma.
REsp 1.309.966/RJ, j. 26/08/2014. Info 548).

Latrocínio e cooperação dolosamente distinta: em regra, o coautor que


participa de roubo armado responde pelo latrocínio ainda que o disparo tenha
sido efetuado só pelo comparsa. Essa é a jurisprudência do STJ e do STF.
Entretanto, se um dos agentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á
aplicada a pena deste. Logo, se o coautor que não atirou não queria participar
do latrocínio, não responderá por esse crime mais grave. (STF. 1ª Turma. HC
109151/RJ, j. 12/06/2012. Info 670).

Ameaça de causar prejuízo econômico a vítima: se o agente ameaça


causar um prejuízo econômico à vítima, ainda assim haverá extorsão? A
grave ameaça prevista no art. 158 pode ser econômica? SIM. O STJ
decidiu que a extorsão pode ser feita mediante ameaça de causar um prejuízo
econômico. Assim, não se exige que a ameaça se dirija apenas contra a
integridade física ou moral da vítima. No caso concreto julgado, o agente
estava com o carro da vítima e exigiu que ela fizesse o pagamento a ele de
determinada quantia em dinheiro. Caso o pedido não fosse atendido, ele
prometeu destruir o veículo. Dessa forma, o STJ decidiu que pode configurar o
crime de extorsão a existência de pagamento em troca da devolução do veículo
furtado, sob a ameaça de destruição do bem. (STJ. 5ª Turma. REsp
1.207.155/RS, j. 07/11/2013. Info 531).

Incide a majorante do §1º do art. 158 do CP no caso da extorsão


qualificada pela restrição da liberdade da vítima (§3º): o §1º do art. 158 do
CP, prevê que se a extorsão é cometida por duas ou mais pessoas, ou com
emprego de arma, a pena deverá ser aumentada de um terço até metade. Essa
causa de aumento prevista no §1º do art. 158 do CP pode ser aplicada tanto
para a extorsão simples (caput, do art. 158), como também para o caso de
extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima (§3º). Assim, é
possível que o agente seja condenado por extorsão pela restrição da liberdade
da vítima (§3º) e, na terceira fase da dosimetria, o juiz aumente a pena de 1/3
até ½ se o crime foi cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de
arma (§1º). (STJ. 5ª Turma. REsp 1.353.693/RS, j. 13/09/2016. Info 590).

(Ano: 2017. Banca: CESPE. Órgão: TJ-PR. Prova: Juiz


Substituto)

Considerando a jurisprudência do STJ a respeito dos


crimes patrimoniais, assinale a opção correta.

A) Constitui crime impossível a tentativa de furto em loja

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comercial dotada de sistema de monitoramento por
câmeras de vídeo, por impossibilidade de sua
consumação.
B) A prisão em flagrante do suspeito de crime de
receptação na posse da res furtiva, com registro de furto
ou de roubo, comprova a materialidade do delito.
C) A utilização de arma de fogo desmuniciada para
intimidar a vítima caracteriza a elementar “grave ameaça”
e acarreta a aplicação da majorante prevista na lei.
D) Os crimes de furto e de roubo só se consumam quando
o agente detém a posse tranquila do bem subtraído.

CORRETA: Letra B.

A prisão em flagrante do suspeito de crime de receptação


na posse da res furtiva, com registro de furto ou de roubo,
comprova a materialidade do delito, segundo entendimento
dos Tribunais Superiores (HC 360.590/SC. 2017)

INCORRETAS:

A) Súmula 567 do STJ.


C) Considerando a jurisprudência do STJ, o emprego de
arma de fogo desmuniciada tem o condão de configurar a
grave ameaça e tipificar o crime de roubo, no entanto, não
é suficiente para caracterizar a majorante do emprego de
arma pela ausência de potencialidade lesiva no momento
da prática do crime. Porém, o STF tem entendimento em
sentido diverso, no qual é irrelevante o fato de estar ou não
municiada para que se configure a majorante do roubo.
Deve tomar cuidado com o enunciado da questão!!!
D) Súmula 582, do STJ. Não é imprescindível posse
mansa, pacífica ou desvigiada.

4. Crimes contra a Dignidade Sexual (arts. 213 a 216-A, do CP)

- Estupro (art. 213, do CP)



Alterações promovidas pela Lei nº 12.015/2009:

Na redação original do CP existiam dois crimes sexuais cometidos com


emprego de violência ou grave ameaça, definidos entre os “crimes contra os
costumes”: estupro e atentado violento ao pudor. Em tais delitos, o núcleo era
“constranger”, mediante emprego de violência ou grave ameaça. Enquanto no
estupro buscava-se a conjunção carnal, no atentado violento ao pudor, o
objetivo do agente era qualquer outro ato libidinoso. Importante destacar que
nos dois crimes a pena era de reclusão de 6 a 10 anos.

Com o advento da Lei 12.015/2009, houve uma fusão, em um único delito, dos
crimes em comento. O tipo penal do estupro fora ampliado. Assim, atualmente,

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o estupro (art. 213, do CP) representa a junção dos antigos delitos de estupro e
de atentado violento ao pudor, permanecendo com a mesma pena. Não há
falar em abolitio criminis em relação ao crime de atentado violento ao pudor,
pois este não deixou de existir, apenas houve um deslocamento do antigo
atentado violento ao pudor para o atual delito de estupro. Fala-se no princípio
da continuidade normativa ou princípio da continuidade típico-normativa.

Reflexos na pena no caso da vítima ser maior de 14 e menor de 18


anos:

Dependendo da idade da vítima, e desde que não se apresente qualquer outra


causa diversa de vulnerabilidade, 3 situações podem ocorrer: a) vítima com
idade igual ou superior a 18 anos: estupro simples (art. 213, caput, do CP); b)
vítima menor de 18 e maior de 14 anos: estupro qualificado (art. 213, §1º, do
CP); vítima menor de 14: estupro de vulnerável (art. 217-A, caput, do CP).

Se, porém, a vítima for estuprada no dia de seu aniversário, restará


configurado estupro simples (art. 213, caput do CP), ou seja, não se trata de
pessoa vulnerável e não vai incidir a qualificadora. Tem-se, aqui, uma situação
injusta, tendo em vista que quem estupra vítima de 14 anos responde por
estupro na sua forma simples, enquanto quem estupra vítima maior de 14 e
menor de 18 anos responde pelo estupro na sua forma qualificada.

- Rufianismo (art. 230, do CP)

O rufianismo é crime material ou causal, ou seja, consuma-se com o efetivo


proveito obtido pelo agente em decorrência da prostituição alheia. Exige-se a
habitualidade, pois a finalidade da lei é punir o comportamento de quem faz da
exploração da prostituição alheia seu modo de vida. Ademais, não é
imprescindível que seja do agente a iniciativa da atividade – o crime subsiste
na hipótese de oferecimento espontâneo da prostituta para ser explorada em
sua renda.

- Jurisprudência relacionada aos crimes contra a dignidade sexual

Configuração do crime de estupro de vulnerável. Recurso Repetitivo. Para


a caracterização do crime de estupro de vulnerável previsto no art. 217-A,
caput, do CP, basta que o agente tenha conjunção carnal ou pratique qualquer
ato libidinoso com pessoa menor de 14 anos; o consentimento da vítima, sua
eventual experiência sexual anterior ou a existência de relacionamento
amoroso entre o agente e a vítima não afastam a ocorrência do crime. (STJ.
REsp 1.480.881/PI. 2015. INFO 569).

Consumação do crime de atentado violento ao pudor mediante violência


presumida: considera-se consumado o delito de atentado violento ao pudor
cometido por agente que, antes da vigência da Lei 12.015/2009, com o intuito
de satisfazer sua lascívia, levou menor de 14 anos a um quarto, despiu-se e
começou a passar as mãos no corpo da vítima enquanto lhe retirava as roupas,
ainda que esta tenha fugido do local antes da prática de atos mais invasivos.
(STJ. REsp 1.309.394/RS. 2015. Info 555).

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Configuração do tipo de favorecimento da prostituição de adolescente: o
cliente que conscientemente se serve da prostituição de adolescente, com ele
praticando conjunção carnal ou outro ato libidinoso, incorre no tipo previsto no
inciso I do §2º do art. 218-B do CP (favorecimento da prostituição ou de outra
forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável), ainda
que a vítima seja atuante na prostituição e que a relação sexual tenha sido
eventual, sem habitualidade (STJ. HC 288.374/AM. 2014. Info 543).

Crime sexual praticado contra menor de 14 anos e redução da pena-base


pautada no comportamento da vítima: em se tratando de crime sexual
praticado contra menor de 14 anos, a experiência sexual anterior e a eventual
homossexualidade do ofendido não servem para justificar a diminuição da
pena-base a título de comportamento da vítima. (STJ. REsp 897.734/PR. 2015.
Info 555).

Aplicação retroativa da Lei 12.015/2009: o condenado por estupro e atentado


violento ao pudor, praticados no mesmo contexto fático e contra a mesma
vítima, tem direito à aplicação retroativa da Lei 12.015/2009, de modo a ser
reconhecida a ocorrência de crime único, devendo a prática de ato libidinoso
diverso da conjunção carnal ser valorada na aplicação da pena-base referente
ao crime de estupro. (STJ. HC 212.305/DF. 2014. Info 543).

Contato físico entre autor e vítima não é indispensável para configurar o


delito: a conduta de contemplar lascivamente, sem contato físico, mediante o
pagamento, menor de 14 anos desnuda em motel pode permitir a deflagração
da ação penal para a apuração do delito de estupro de vulnerável. Segundo a
posição majoritária na doutrina, a simples contemplação lasciva já configura o
“ato libidinoso” descrito nos arts. 213 e 217-A do CP, sendo irrelevante, para a
consumação dos delitos, que haja contato físico entre ofensor e ofendido. (STJ.
5ª Turma. RHC 70.976/MS. 2016. Info 587).

Beijo roubado em contexto de violência física pode caracterizar estupro: o


agente abordou de forma violenta e sorrateira a vítima com a intenção de
satisfazer sua lascívia, o que ficou demonstrado por sua declarada intenção de
“ficar” com a jovem - adolescente de 15 anos – e pela ação de impingir-lhe, à
força, um beijo após ela ser derrubada no solo e mantida subjugada pelo
agressor, que a imobilizou pressionando o joelho sobre seu abdômen. Tal
conduta configura o delito do art. 213, §1º, do CP. (STJ. 6ª Turma. REsp
1.611.910/MT. 2016. Info 592).

(Ano: 2016. Banca: VUNESP. Órgão: TJ-SP. Prova: Juiz


Substituto)

Com o ingresso da Lei 12.015/2009, os crimes sexuais


sofreram significativa mudança. A respeito dessas

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alterações, assinale a alternativa correta.

A) Os crimes contra a dignidade sexual, a partir do ano de


2009, em regra, são processáveis mediante ação penal
pública incondicionada.
B) Os processos que envolvem crimes contra a dignidade
sexual, por expressa determinação legal, são sigilosos.
C) A figura da presunção de violência foi substituída pela
figura da presunção de vulnerabilidade, inexistindo tipo
penal autônomo de crime contra a dignidade sexual para
sujeito passivo em situação de vulnerabilidade.
D) A prática de conjunção carnal com alguém menor de 18
anos e maior de 14 anos, em situação de prostituição, não
é conduta típica.
E) Com a revogação do antigo artigo 214 do CP, que
previa o crime de atentado violento ao pudor, houve
abolitio criminis das condutas que o caracterizavam.

CORRETA: Letra B.

É o teor do art. 234-B, do CP.

INCORRETAS:

A) Art. 225, CP.


C) Art. 217-A (Estupro de vulnerável).
D) Art. 218-B, §2º, I, do CP.
E)Não houve abolitio criminis, mas sim aplicação do
princípio da continuidade normativo típica.

5. Crimes de Perigo Comum (arts. 250 a 259, do CP)

Nos delitos de perigo, é importante deixar claro que não é necessária a efetiva
lesão do bem jurídico, bastando apenas sua exposição a uma situação
perigosa, evidenciada pela provável ocorrência de dano.

- Incêndio (art. 250, do CP)

O sujeito ativo do delito de incêndio pode ser qualquer pessoa (crime comum),
inclusive o proprietário do bem incendiado, desde que a conduta resulte perigo
comum, pois não há crime na conduta de danificar o próprio patrimônio. Por
sua vez, o sujeito passivo é a sociedade (crime vago), bem como as pessoas
diretamente atingidas pelo incêndio, as quais tiveram seus bens jurídicos
ameaçados ou até mesmo ofendidos.

A sua consumação se dá no momento em que o incêndio provocado pelo


agente expõe perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de pessoas
indeterminadas. Trata-se de crime de perigo concreto, pois é indispensável a
prova da efetiva ocorrência da situação perigosa. A tentativa, por sua vez, é
cabível, em face do caráter plurissubsistente do delito.

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Causas de aumento da pena (art. 250, §1º, do CP)

As causas de aumento previstas no §1º do art. 250 incidem apenas no incêndio


doloso, majorando a pena em até 1/3 na terceira etapa da dosimetria da pena.
São elas: a) intuito de obter vantagem pecuniária em proveito próprio ou
alheio (inciso I): pressupõe a presença de um especial fim de agir (elemento
subjetivo específico), consistente no propósito do sujeito ativo de obter
vantagem pecuniária, em proveito próprio ou alheio, não importando se o lucro
indevido venha ou não a ser efetivamente alcançado; b) circunstâncias que
justificam tratamento mais rigoroso: b.1) pela possibilidade de o incêndio
envolver um maior número de pessoas no local, aumentando o perigo de dano;
b.2) pelo fato de o risco da propagação do incêndio ser mais elevado.

Incêndio culposo (art. 250, §2º, do CP)

Caracteriza-se o incêndio culposo quando alguém, agindo com imprudência,


negligência ou imperícia, viola o dever objetivo de cuidado a todos imposto,
expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outras
pessoas, mediante a provocação de incêndio que, embora objetivamente
previsível, não tenha sido previsto no caso concreto. A pena é de detenção de
6 meses a 2 anos.

Formas qualificadas pelo resultado (art. 258, do CP)

Se do incêndio, provocado dolosamente pelo agente, resultar lesão corporal de


natureza grave (ou gravíssima), a pena aumentar-se-á pela metade; resultando
morte, a pena será aplicada em dobro. Por outro lado, se o incêndio for culposo
e daí resultar lesão corporal, qualquer que seja sua natureza, a pena será
aumentada pela metade; se resultar morte, a pena será a cominada ao
homicídio culposo, aumentada de 1/3. Aqui, tem-se um crime culposo
qualificado por resultado de igual natureza.

(Ano: 2015. Banca: CESPE. Órgão: TJ-PB. Prova: Juiz


Substituto)

Constitui causa de aumento de pena o fato de o crime de


incêndio ser praticado

A) Mediante a utilização de explosivos.


B) Em situação de violência doméstica ou familiar contra a
mulher.
C) Em estaleiro, fábrica ou oficina.
D) Em canteiro de obras em área de grande densidade
demográfica e populacional.
E) Por motivo fútil ou torpe.

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CORRETA: Letra C.

Art. 250 – Causar incêndio, expondo a perigo a vida, a


integridade física ou o patrimônio de outrem: Pena –
reclusão, de três a seis anos, e multa.

Aumento de pena

§1º - As penas aumentam-se de um terço:


I – se o crime é cometido com intuito de obter vantagem
pecuniária em proveito próprio ou alheio;
II – se o incêndio é:
a) em casa habitada ou destinada a habitação;
b) em edifício público ou destinado a uso público ou a obra
de assistência social ou de cultura;
c) em embarcação, aeronave, comboio ou veículo de
transporte coletivo;
d) em estação ferroviária ou aeródromo;
e) em estaleiro, fábrica ou oficina;
f) em depósito de explosivo, combustível ou inflamável;
g) em poço petrolífico ou galeria de mineração;
h) em lavoura, pastagem, mata ou floresta.

6. Crimes contra a Paz Pública (arts. 286 a 288-A, do CP)

- Associação criminosa (art. 288 do CP)

Na redação original do art. 288 do CP eram contemplados dois crimes:


quadrilha e bando. Com a entrada em vigor da Lei 12.850/2013 (Lei do Crime
Organizado), o nomen iuris do delito foi alterado para associação criminosa.
Sendo a Lei 12.850/2013 norma penal mais gravosa, só é aplicável a fatos
futuros, pois bastam três pessoas para a configuração do delito de associação
criminosa, enquanto na quadrilha e no bando exigiam-se ao menos quatro
indivíduos.

No art. 288 do CP, é imprescindível o vínculo associativo, revestido de


estabilidade e permanência, entre os seus integrantes. Essa é a
característica que diferencia a associação criminosa do concurso de pessoas
(coautoria e participação) para a prática dos delitos em geral. Ademais, vale
destacar que, na associação criminosa, pouco importa se os delitos para os
quais foi constituída venham ou não a ser praticados, ou seja, o crime do art.
288 do CP tem natureza formal, consumando-se apenas com a simples
associação estável e permanente de três ou mais pessoas para a prática de
crimes.

Ainda é preciso lembrar da sua natureza permanente, pois a consumação se


prolonga no tempo, enquanto perdurar a união pela vontade de seus
integrantes. Isto quer dizer que é possível a qualquer tempo a prisão em
flagrante; a prescrição da pretensão punitiva tem como termo inicial a data da
cessação da permanência, a teor da regra inscrita no art. 111, inciso III, do CP;

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e se, qualquer dos delitos for cometido no território de duas ou mais comarcas,
a competência será firmada pelo critério da prevenção, nos termos do art. 83,
do CPP.

Causas de aumento da pena (art. 288, parágrafo único)

Estão previstas no art. 288, parágrafo único do CP, quais sejam: associação
armada ou se houver participação de criança ou adolescente.

No que diz respeito à associação armada, a lei não faz restrição quanto ao tipo
de arma, ou seja, incidirá o aumento da pena tanto na hipótese de arma própria
(revólver, pistola, etc.) quanto no caso de arma imprópria (barra de ferro, taco
de beisebol, etc.). A arma branca (faca, espada, machado, etc.) também vai
ensejar o aumento da pena.

Já na participação de criança ou adolescente, basta o envolvimento do menor


de 18 anos na associação criminosa, dispensando a participação nos delitos
eventualmente praticados pelo grupo. Ademais, importante anotar que a
participação de criança ou adolescente na associação criminosa caracteriza
também o delito de corrupção de menores previsto no art. 244-B da Lei
8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente), que é crime de natureza
formal, pois independe de prova da efetiva corrupção do menor, conforme
Súmula 500 do STJ: “A configuração do crime previsto no artigo 244-B do
Estatuto da Criança e do Adolescente independe da prova da efetiva corrupção
do menor, por se tratar de delito formal”.

- Jurisprudência relacionada ao crime de associação criminosa

Associação para o tráfico de drogas – estabilidade e permanência: “o


delito previsto no art. 35 da Lei 11.343/2006 não se configura diante de
associação eventual, mas apenas quando estável e duradoura, não se
confundindo com a simples coautoria. Precedentes. No caso dos autos, em
nenhum momento foi feita referência ao vínculo associativo permanente
porventura existente entre os agentes, mas apenas àquele que gerou a
acusação pelo tráfico em si. Inviável, pois, manter a condenação pela
associação, pois meramente eventual”. (STJ. 6ª Turma. HC 149.330/SP, j.
06/04/2010. Info. 429).

Autonomia: “o tipo do artigo 288 do Código Penal é autônomo, prescindindo


quer do crime posterior, com maior razão, do anterior”. (STF. HC 95.086/SP.
2009).

(Ano: 2015. Banca: FCC. Órgão: TJ-PI. Prova: Juiz


Substituto)

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Segundo a nova redação do art. 288 do Código Penal,
conferida pela Lei nº 12.850/13, o crime de associação
criminosa

A) deve ter a pena aumentada até o dobro, se houver a


participação de criança ou adolescente.
B) consiste na associação de mais de três pessoas para o
fim específico de cometer crimes.
C) Deve ter a pena aumentada até a metade, se houver
participação de criança ou adolescente, não retroagindo tal
disposição.
D) Conduz à aplicação da pena em dobro, se a associação
é armada.
E) Deve ter a pena aumentada até a metade, se a
associação é armada, não retroagindo tal disposição.
CORRETA: Letra C.

Art. 288. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o


fim específico de cometer crimes:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.
Parágrafo único. A pena aumenta-se até a metade, se a
associação é armada ou se houver a participação de
criança ou adolescente.
Obs: a antiga redação do parágrafo único já previa a
causa de aumento relativa à associação armada. Nesse
caso, em virtude do princípio da continuidade normativo
típica, aplica-se o novo dispositivo mesmo aos fatos
ocorridos antes de 2013.

III – LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

1. Lei 8.072/90 - Crimes Hediondos

A lei de Crimes Hediondos teve sua gênese baseado na necessidade de


penalizar com maior gravidade determinados crimes apontados pela sociedade
como funestos. Assim, encontrando fundamento no mandado de criminalização
constitucional, presente no art. 5º, XLIII, da Constituição Federal, o qual dispõe
que “a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a
prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo
e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os
executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem”. A CF/88, portanto,
estabeleceu restrições em relação a essas infrações penais mais gravosas,
vedando benefícios àqueles que estejam sendo processados por tais crimes —
proibição de fiança — e aos condenados por tais delitos — vedação à graça e
à anistia. Concomitantemente, determinou a elaboração de lei federal para
definir os crimes de natureza hedionda.

Assim, para o seu concurso é necessário você compreender a seguinte


classificação:

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Sistema de classificação
Sistema Legal Sistema Judicial Sistema Misto
Os crimes hediondos O juiz possui ampla A lei não descreve quais
são previstos de forma liberdade para julgar se crimes são hediondos,
taxativa, se não estiver aquele crime em mas traz um conceito
descrito na lei, não pode específico deve ser legal da natureza
ser considerado considerado hediondo hedionda, para que o
hediondo. Esse sistema ou não. juiz no caso concreto
contempla o princípio da realize um juízo de valor
legalidade, sendo e decida o fato
adotado pelo criminoso se encaixa ou
ordenamento jurídico não nesse conceito.
pátrio.

Dessa forma, é necessário memorizar o seguinte rol dos crimes hediondos,


para não ser surpreendido pela banca do seu concurso.

ROL DOS CRIMES HEDIONDOS TENTADOS OU CONSUMADOS


I – homicídio (art.121), quando praticado em atividade típica de grupo de
extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado
(art.121,§2º, incisos I, II,III,IV,V,VI e VII);
I-A – lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (art.129,§2º) e lesão
corporal seguida de morte ( art.129,§3º), quando praticadas contra autoridade
ou agente descrito nos art.142 e 144 da CF/88, integrantes do sistema
prisional e da Força Nacional, no exercício da função ou em decorrência dela,
ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consangüíneo até terceiro
grau, em razão dessa condição;
II – latrocínio (art.157,§3º,in fine) ;
III- extorsão qualificada pela morte (art.158,§2º) Parágrafo único - Consideram-
se também hediondos o crime de genocídio previsto nos arts. 1o, 2o e 3o da Lei
no 2.889/56, e o de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito,
previsto no art. 16 da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003, todos
tentados ou consumados. (Redação dada pela Lei nº 13.497, de 2017);
IV – extorsão mediante sequestro e na forma qualificada (art.159,caput,
e§§1º,2º,3º);
V- estupro ( art.213, caput e §§ 1º e 2º);
VI- estupro de vulnerável ( art.217-A, caput e §§1º,2º,3º,4º);
VII – epidemia com resultado morte (art.267, §1º);
VII-B- falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a
fins terapêuticos ou medicinais( art. 273, caput, caput e §§1º, 1ª e 1B;
VIII- favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de
criança ou adolescente ou de vulnerável ( art.218 –B, caput, e §§1º e 2º).

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- Atenção com o parágrafo único da Lei 8.072/90, pois com a alteração dada
pela Lei nº 13.497/17 devido a imprecisão legislativa ocorreu a seguinte
celeuma: a nova redação abrange apenas a conduta narrada no caput do
artigo 16 do Estatuto do Desarmamento, ou também das figuras equiparadas
do parágrafo único do mesmo artigo? Assim, para tentar dirimir essa celeuma
citaremos o embate doutrinário entre duas posições distintas. A primeira é
capitaneada por Fontes e Hoffmann5, que apontam para a não hediondez do
parágrafo único do art.16 do Estatuto do Desarmamento, já que esse não foi
mencionado expressamente, ou seja, se o legislador tivesse optado pela
etiquetação desse crime faria de forma expressa, como nos outros crimes
elencados no rol taxativo no art.1º da Lei 8.072/90. Uma segunda posição é
norteada por Sanches6, essa compreende que o parágrafo único do art.16 do
Estatuto Desarmamento, no qual descreve as condutas equiparadas está
incluído e deve ser etiquetado como crime hediondo, mesmo sem ser descrito
expressamente no texto legal, essa posição acredita estar implícito sua
abrangência. - Destarte ficar atento a essa discussão, pois ainda não existe
uma posição majoritária.

Porém, não basta somente memorizar essas tabelas, mas sim, para completar
seu estudo é necessário compreender as seguintes peculiaridades inerentes
aos Crimes hediondos. Assim, citaremos os seguintes tópicos:

Crimes Hediondos e equiparados: trata-se do famoso 3T, ou seja,
Tortura, o Tráfico de Drogas e o Terrorismo são equiparados a crimes
hediondos, isto é, embora não estejam no rol taxativo do art.1º, terão o mesmo
tratamento dos crimes hediondos.

Anistia, Graça e Indulto: de acordo com o art.5º XLIII, CF/88, é vedada a
concessão de anistia e graça aos crimes hediondos e equiparados. A Lei
8.072/90 vai além para vedar também a concessão de indulto. Parcela
minoritária da doutrina entende que vedar o indulto é inconstitucional. No
entanto, prevalece o entendimento de que essa proibição é constitucional, pois
a diferença básica entre a graça e o indulto é aquela que se refere a um
indivíduo em específico, enquanto que esta é de natureza coletiva.

Direito de apelar em liberdade: não existe nenhuma limitação a esse
direito, a regra é o direito de responder em liberdade, a não ser quando
estejam presentes os pressupostos e requisitos da prisão preventiva.

5
https://www.conjur.com.br/2017-out-30/opiniao-figura-equiparada-porte-arma-uso-restrito
naohedionda

6
http://meusitejuridico.com.br/2017/10/28/lei-13-49717-torna-hediondo-o-crime-de-posse-ou-
portede- arma-de-fogo-de-uso-restrito/

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Vedação à fiança: nos crimes hediondos é proibido a concessão de fiança.
Porém, é cabível a liberdade provisória com ou sem a aplicação das medidas
cautelaras diversas da prisão.

Regime de cumprimento de pena: a primeira redação da Lei 8.072/90
definia o cumprimento de pena em regime fechado de forma integral, não
permitindo progressão de regime. Porém, o STF no julgamento do HC
82.959/SP declarou a inconstitucionalidade do regime integralmente fechado
em razão da violação ao princípio da individualização da pena e da dignidade
da pessoa humana. Assim, ficou estabelecido que a progressão de regime
ocorrerá com o cumprimento da pena em 2/5 se primário e 3/5 se reincidente.
Foi também declarado a inconstitucionalidade da obrigatoriedade do regime
inicial fechado baseado somente na letra da lei, sendo fulcral a fundamentação
por parte do juiz.

Súmula 471 STJ: memorizar essa súmula, “ os condenados por crimes
hediondos ou assemelhados cometidos antes da vigência da Lei nº 11.464/07
sujeitam-se ao disposto no art.112 da Lei nº 7.210/84 para progressão de
regime prisional, ou seja, progridem com 1/6 do cumprimento da pena e bom
comportamento.

Prisão temporária: via de regra o prazo é de 5 dias, prorrogável por igual
período em caso de extrema e comprovada necessidade. Já nos crimes
hediondos e equiparados, esse prazo é de 30 dias, prorrogável por igual
período em caso de extrema necessidade.

2. Lei 11.343/06 – Lei de Drogas

Com o advento da Lei 11.343/06 as Leis 6.368/76 e 10.409/2002, que tratavam


do tema foram expressamente revogadas. No âmbito criminal, as principais
inovações foram o tratamento diferenciado em relação ao usuário, a tipificação
de crime específico para a cessão de pequena quantia de droga para consumo
conjunto, o agravamento da pena do tráfico, a criação da figura do tráfico
privilegiado, a tipificação do crime de financiamento ao tráfico, bem como a
regulamentação de novo rito processual.

Nesse contexto, cabe destaque ao art.28 da referida lei que não prevê pena
privativa de liberdade ao usuário, inovando ao tratar o consumo pessoal de
drogas mais como um problema de saúde pública, apesar de ainda criminalizá-
lo.

A Lei de Drogas, não apresenta no seu tipo penal um conceito de drogas, trata-
se de uma norma penal em branco, pois o seu preceito secundário é completo,
mas o preceito primário exige complemento por outra lei, decreto, portaria etc.

Assim, a lei 11.343/06 busca o conceito de substância ilícita na Portaria nº344


da Anvisa. Em relação ao art.28 da Lei 11.343/06 temos os seguintes
apontamentos:

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Art.28 da Lei 11.343/06
Objeto jurídico Saúde pública
Sujeito Passivo Coletividade
Tipo misto alternativo Tipifica mais de uma conduta: adquirir, guardar,
trazer consigo, ter em depósito, transportar
Medidas coercitivas Admoestação verbal ou multa
Prescrição 2 anos
Apesar de existir divergência, prevalece o
Princípio da entendimento nos Tribunais Superiores que não
insignificância cabe esse princípio, pois o crime é de perigo
abstrato

2.1 Tráfico ilícitos de Drogas

O crime de tráfico de drogas, previsto na atual Lei de Drogas, é praticamente


idêntico ao antigo crime apontado no art. 12, caput, da Lei n. 6.368/76.
Objetividade jurídica é saúde pública, colocada em risco pela disseminação de
substâncias que provocam dependência e expõem a risco a saúde física e
mental dos usuários.

Em relação do sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. Trata-se de crime


comum. A coautoria e a participação são possíveis em todas as condutas
descritas no tipo penal. Se o agente comete o crime prevalecendo-se de função
pública ou no desempenho de função de educação, poder familiar, guarda ou
vigilância, a pena será aumentada de um sexto a dois terços (art. 40, II), devido
à maior gravidade da conduta. Já o sujeito passivo é coletividade.

A lei define ao todo dezoito condutas típicas, não sendo possível em nenhuma
dessas condutas a aplicação do princípio da insignificância. Cabe ainda
destacar, que se trata de crime do tipo misto alternativo, pois o agente que no
mesmo contexto prática mais de uma conduta prevista no tipo penal responde
apenas por um crime. Note que essa lei não exige a intenção de lucro para sua
caracterização.

Da pena

A pena prevista no art. 33, caput, da Lei n. 11.343/2006 é de reclusão de cinco


a quinze anos e pagamento de quinhentos a mil e quinhentos dias-multa.
Essas penas foram aumentadas em relação àquelas previstas na Lei n.
6.368/76. Assim, atente-se ao art. 42 que o juiz, na fixação das penas,
considerará, com preponderância sobre o previsto no art. 59 do Código Penal,
a natureza e a quantidade da substância ou do produto, a personalidade e a
conduta social do agente.

Dessa forma, com esse dispositivo e com o art. 43, o juiz fixará o montante da
pena privativa de liberdade e o número de dias-multa de acordo com os
critérios ali mencionados, sendo evidente, portanto, que a pessoa presa ao
vender uma pequena porção de maconha deve sofrer uma punição muito
menor que aquela flagrada na posse de uma tonelada de cocaína.

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No que tange à pena de multa, o art. 43 dispõe que o juiz estabelecerá, para
cada dia-multa, valor não inferior a um trinta avos nem superior a cinco vezes o
maior salário mínimo. Para tanto, deverá levar em conta as condições
econômicas dos acusados.

Em relação ao concurso de crimes, as penas de multa serão impostas sempre


cumulativamente, ou seja, ainda que se trate de crime continuado ou concurso
formal, as penas de multa serão somadas.

Aqui, no entanto, atente-se, pois, o art. 2º, § 1º, da Lei n. 8.072/90, asseverou o
regime inicial para o crime de tráfico deve ser necessariamente o fechado,
independentemente do montante da pena aplicada e de ser o réu primário ou
reincidente. Acontece que o Plenário do Supremo Tribunal Federal, em 27 de
junho de 2012, declarou, por oito votos contra três, a inconstitucionalidade
deste art. 2º, § 1º, da Lei n. 8.072/90, por entender que a obrigatoriedade de
regime inicial fechado para penas não superiores a 8 anos fere o princípio
constitucional da individualização da pena (art. 5º, XLVI, da Constituição
Federal).

Sendo assim, mesmo para crimes hediondos, tráfico de drogas, terrorismo e


tortura, o regime inicial só poderá ser o fechado (quando a pena fixada na
sentença não for maior do que 8 anos), se o acusado for reincidente ou se as
circunstâncias do caso concreto indicarem uma gravidade diferenciada daquele
crime específico, o que deverá constar expressamente da fundamentação da
sentença. Essa decisão ocorreu no julgamento do HC 111.840/ES.

- “Marchas da maconha” – o art.287 do CP prevê o tipo penal de “ apologia


ao crime ou criminoso” criminalizando a conduta de “ fazer, publicamente
apologia de fato criminoso ou de autor de crime”. Em razão disso, as
chamadas “marchas da maconha” foram proibidas diversas vezes pelo Poder
Judiciário, pois a reunião de pessoas em manifestações públicas pedindo a
legalização da maconha caracterizaria apologia ao crime. Sucede, que na
ADPF 187 o STF deu interpretação conforme à CF em relação ao art.287 do
CP, para excluir qualquer interpretação que criminalizasse as referidas
manifestações. Cabe também citar o julgamento da ADI nº 4.274/DF o STF
voltou a enfrentar o assunto, para excluir qualquer possibilidade de proibição
de manifestações e debates públicos acerca da descriminalização ou
legalização do uso de drogas.

- Causa de diminuição da pena – art.33, §4º: a pena para os crimes de


tráfico será diminuída de 1/6 a 2/3 se o agente: for primário, possuir bons
antecedentes; não se dedicar a atividades criminosas e não integrar
organização criminosa.

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2.2 Da associação para o tráfico

Trata-se de crime formal, que se consuma com a mera união dos envolvidos,
ou seja, no momento em que se associam. Desta forma, ainda que sejam
detidos antes da prática do primeiro tráfico de entorpecentes, já estarão
incursos no tipo penal. Por sua vez, haverá concurso material com o crime de
tráfico quando, após a associação, vierem efetivamente a cometer qualquer
dos crimes dos arts. 33, caput e § 1º, e 34 da Lei. Em relação aos sujeitos,
temos o sujeito ativo qualquer pessoa e o sujeito passivo que é coletividade.

Cabe ainda destacar que, os Tribunais Superiores compreendem que o crime


de associação para o tráfico não é equiparado a hediondo por não ter sido
mencionado no art. 1º, parágrafo único, da Lei n. 8.072/90. Sendo assim, os
condenados por esse crime terão direito à progressão de regime de acordo
com as regras comuns do Código Penal.

2.3 Financiamento ao tráfico

Existe divergência na doutrina quanto à necessidade de habitualidade no


financiamento ou custeio dos crimes de tráfico de drogas. Parte da doutrina
aponta que quem financia o tráfico de forma eventual responde pelo crime do
art.33, c.c. art.40,VII.

2.4 Informante Colaborador

Esse tipo penal asseverado pelo art.37 da lei de drogas, o informante não é
integrante da associação, mas colabora com o grupo, organização ou
associação voltados para o tráfico. Ex: O fogueteiro que avisa a chegada dos
policiais. No entanto, se o informante for integrante de um grupo, com atuação
específica visando com seus atos reiterados praticar conduta que seja mais
que a mera informação, corroborando nas atividades desse grupo criminoso na
empreitada criminosa, esse responderá por associação ao tráfico, pois trata de
conduta mais gravosa.

- Rito especial: a lei 11.343/06 prevê um procedimento diferenciado para os


crimes previstos nos artigos 33 a 39.
- O prazo para conclusão do inquérito é de 30 dias, se o indiciado estiver
preso, e de 90 dias se solto. Esses prazos podem ser duplicados pelo juiz,
ouvido o Ministério Público, mediante pedido justificado da autoridade de
polícia judiciária.
- Prazo do Ministério público: 10 dias para adotar uma das seguintes
providências: I – requerer o arquivamento; II- requisitar as diligências que
entender necessária; III – oferecer denúncia, arrolar até 5 testemunhas e
requerer as demais provas que entender pertinentes (art.54)

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- Defesa prévia o acusado possui o prazo de 10 dias a contar da notificação
para apresentar sua defesa.
- Competência: o tráfico doméstico é de competência da Justiça Estadual,
enquanto o tráfico internacional é da competência da Justiça Federal.
- Súmula 528 STJ: tratando-se de crime de tráfico internacional de droga
remetida do exterior pela via postal, a competência para o processo e
julgamento será do juiz federal do local da apreensão da droga.
- Súmula 607 do STJ: A majorante do tráfico transnacional de drogas se
configura com a destinação internacional de drogas, ainda que não
consumada a transposição de fronteiras.

3. Lei 9455/97 – Da Tortura

A Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis,


Desumanos ou Degradantes, adotada pela Assembleia Geral das Nações
Unidas, ocorreu em 10 de dezembro de 1984, sendo assinada pelo Brasil em
1985 e ratificada em 1989, determinou, em seu art. 2º, que “cada Estado-Parte
tomará medidas eficazes de caráter legislativo, administrativo, judicial ou de
outra natureza, a fim de impedir a prática de atos de tortura em qualquer
território sob sua jurisdição”. Além disso, em seu art. 4º, enfatizou que “cada
Estado-Parte assegurará que todos os atos de tortura sejam considerados
crime segundo a sua legislação penal”. No mesmo sentido, a Convenção
Americana sobre Direitos Humanos, conhecida como Pacto de São José da
Costa Rica, de 1969.

No ordenamento pátrio, a Constituição Federal, em seu art. 5º, XLIII,


determinou que a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça
ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o
terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os
mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem.

Esse tipo penal contém três figuras caracterizadoras do crime de tortura.


Sendo, três espécies delituosas sob o mesmo nomen juris, sendo, em razão
disso, necessária a adoção de outras designações para diferenciá-las (tortura
prova, tortura para a prática de crime e tortura discriminatória). No entanto,
quanto à objetividade jurídica, meios de execução, sujeitos ativo e passivo,
consumação, tentativa e ação penal, as regras são as mesmas para todas elas,
que, dessa forma, se diferenciam apenas no que se refere à motivação do
agente torturador.

Objetividade jurídica é incolumidade física e mental das pessoas. Tanto que, a


lei estabelece como formas de execução desses crimes de tortura: a violência
e a grave ameaça.

Tortura Prova Tortura para a prática Tortura


de crime discriminatória
Obter informações Obrigar a vítima a Discriminar a vítima em
declaração ou confissão praticar um crime. Se o razão de sua ração ou
da vítima ou de terceiro crime for praticado, o religião
agente responde pela

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tortura em concurso
material com o crime
praticado. Já a pessoa
torturada não responde
pelo crime, pois sofreu
coação moral irresistível

Consumação: esses crimes com o sofrimento provocado por meio da prática


da violência ou grave ameaça.
Tentativa: é possível na hipótese em que há violência ou grave ameaça, mas
que não provoca o sofrimento na vítima.

Tortura Castigo Tortura do preso ou de pessoa


Art.1º.caput sujeito a medida de segurança
Art.1º§1º
Provocar intenso sofrimento físico ou Para a caracterização desse crime, é
mental como forma de castigo ou necessário que o agente submeta a
medida de caráter preventivo. vítima presa ou sob medida de
segurança a ato não previsto em lei,
que lhe cause intenso sofrimento.
Sujeito ativo: crime próprio – sendo Sujeito ativo: pode ser qualquer
necessário que o agente possua a pessoa, embora normalmente o sejam
condição de guarda, poder ou o carcereiro, o agente penitenciário,
autoridade em relação a vítima. etc. O tipo penal, ao contrário de
outros desta Lei, não exige que a
vítima esteja sob a guarda ou
autoridade do agente, embora muito
dificilmente possa ocorrer o delito sem
o envolvimento direto ou a conivência
de um desses agentes públicos.
Sujeito Passivo: aquele que está sob Sujeito passivo: preso ou pessoa
poder, guarda ou autoridade de sujeita a medida de segurança.
outrem.

3.1 Omissão perante a tortura

Em relação a omissão, o § 2º do art. 1º da Lei n. 9.455/97 somente será


aplicável àquele que tem o dever jurídico de apurar a conduta delituosa e não o
faz. Como tal dever jurídico incumbe às autoridades policiais e seus agentes,
torna-se evidente a impossibilidade de aplicação do aumento do § 4º, I, do art.
1º da lei (crime cometido por agente público), já que isso constituiria bis in
idem.

Atente-se a que esse delito, apesar de previsto na Lei n. 9.455/97, não constitui
crime de tortura. Saliente-se, por fim, que, pelo fato de a pena mínima não
exceder um ano, é, em tese, cabível o benefício da suspensão condicional do
processo, desde que presentes os demais requisitos do art. 89 da Lei n.
9.099/95.

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- Causas de aumento da pena
§4º, aumenta-se a pena de um sexto até um terço:
I – se o crime é cometido por agente público
II- se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de deficiência,
adolescente ou maior de 60 anos
III- se o crime é cometido mediante seqüestro.

- Extraterritorialidade da lei: O disposto nesta lei aplica-se ainda quando


crime não tenha sido cometido em território nacional, sendo a vítima brasileira
ou encontrando-se o agente em local sob jurisdição brasileira.

4. Lei 9.613/98 – Lavagem de Dinheiro

Esse tipo penal surgiu a partir do compromisso assumido pelo Brasil no plano
internacional, ao firmar a Convenção de Viena, a Convenção de Palermo (art.
6º) e a Convenção de Mérida (art. 14). A Lavagem de Dinheiro pode ser
definida como atividade de desvinculação ou afastamento do dinheiro da sua
origem ilícita para que possa ser aproveitado. A criação desse tipo penal parte
do pressuposto de que o agente que busca proveito econômico na prática
criminosa precisa disfarçar a origem dos valores, ou seja, desvincular o
dinheiro da sua procedência delituosa e conferir-lhe uma aparência lícita a fim
de poder aproveitar os ganhos ilícitos, considerado que o móvel de tais crimes
é justamente a acumulação material.

Começaremos compreendendo a celeuma que existe no trato ao objeto


jurídico. Pois, há divergência entre três correntes:

1ª corrente: o mesmo bem jurídico protegido pela infração penal cometida
anteriormente, pois com a lavagem há uma nova lesão ao mesmo bem jurídico.
2ª corrente: a Administração da Justiça uma vez que a lavagem dificulta
ação da Justiça.
3ª corrente: a ordem econômica ou socioeconômica, pois a lavagem é feita
frequentemente por meio de operações no sistema financeiro, cuja
credibilidade é afetada, afastando o interesse de investimentos lícitos.

Sendo essa a prevalecente.

Nessa toada, é necessário ainda que você memorize as seguintes definições:

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Fases da Lavagem de Dinheiro
Colocação ou Dissimulação Integração
introdução (layering) (integration ou
(placement) recycling)

Trata-se da separação Seria a lavagem no É o momento no qual o


física entre o agente e o sentido literal da produto do crime é
produto do crime, com o palavra, pois é a fase empregado de forma
objetivo de complicar a em que as operações lícita em operações,
identificação da origem para ocultar a origem negócios, compra de
ilícita do produto. ilícita são realizadas em bens, visando aumentar
larga escola por meio de a complexidade de
diversas contas ou rastreamento da sua
pessoas físicas origem verdadeira.
disfarçadas, objetivando
impedir a identificação
da origem do produto
ilegal.

Sujeito Ativo: qualquer pessoa, podendo ser cometido pelo mesmo agente
que praticou o crime anterior ou por outra pessoa
Sujeito Passivo: de forma primária, a coletividade ou o Estado. Secundário,
eventual pessoa que possa ter sofrido prejuízo.

Gerações da Lei de Lavagem


1ª geração 2ª geração 3ª geração
Apenas o crime de As infrações penais são Qualquer infração Penal
tráfico de drogas é previstas em rol taxativo antecedente é admitida
previsto como infração (redação original da lei (art.1, redação dada
penal antecedente. 9.613/98). pela lei 12.683/12).

Em relação à consumação, tanto o tipo básico, do caput, quanto aqueles dos


§§ 1º e 2º são considerados mistos alternativos, configurando-se com a prática
de qualquer das condutas referidas, não sendo exigida para a consumação,
portanto, necessariamente, a conversão em ativos lícitos (TRF3, AC
200661020013088, 5ª T., u., 13/06/2011), que é uma das modalidades do
crime.

Sendo assim, no tipo básico as modalidades adquirir, trocar, movimentar e


transferir são consideradas instantâneas de efeitos permanentes, enquanto são
consideradas permanentes as condutas de guardar, ter em depósito e ocultar
(TRF3, HC 19990300016717-9, Suzana Camargo, 5ª T., u., 15/02/2000; TRF4,
AC 19997103001155-3, Germano, 1ª T., u., 18/12/2000).

Já no STF, não há, ainda, posição firmada a respeito do tema (STF, Inq. 2.471,
Lewandowski, Pl., 29/09/2011). Ao contrário do crime do caput, que é material,
o delito do § 1º é formal, como resulta claro pelo emprego da expressão para
ocultar ou dissimular. Trata-se de um tipo antecipado, que se consuma mesmo
que não ocorra efetiva ocultação ou dissimulação, bastando para a

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consumação a mera conversão em ativos lícitos, ou a prática de qualquer das
condutas dos incisos.

Peculiaridades da Lei n° 9.613/98



Teoria da cegueira Deliberada ou Teoria do Avestruz: essa teoria possui
origem americana e assevera a possibilidade de imputação do crime de
lavagem de dinheiro, ao sujeito que de forma deliberada se coloca uma
condição de cegueira, ou seja, embora não saiba diretamente da origem
criminosa do produto, “fecha os olhos” para a evidente situação de ilicitude, se
beneficiando em razão disso. A Teoria do Avestruz surgi justamente em razão
do fato deste animal enterrar sua cabeça na terra para não ver a situação de
perigo que o rodeia.

Teoria dos Honorários Maculados: Não adotada no Brasil, assevera que
incorre em crime de lavagem de dinheiro o advogado que, a título de
honorários, recebe de seu cliente valores sabidamente – ou que é possível
inferir – de origem criminosa.

Delação premiada: a Lei n. 12.683/2012, assegura que os benefícios
poderão ser reconhecidos a qualquer tempo, ou seja, mesmo após o
recebimento da denúncia ou mesmo durante a execução. A alteração é
bastante discutida por permitir ao acusado que manobre, somente colaborando
após a sua condenação, diante da falta de outra perspectiva. A LOC, por ser
posterior e tratar do campo específico da criminalidade organizada, deve ser
aplicada à colaboração premiada sempre que se tratar de organização
criminosa, ou, de forma subsidiária, quanto ao procedimento, ainda que não se
trate de organização.

A apuração do crime de lavagem de dinheiro é autônoma e independe do
processamento da ação penal e da condenação em crime antecedente.

O delito de lavagem de dinheiro não absorve a infração penal antecedente,
pois trata-se de delito autônomo.

Medidas assecuratórias: O juiz, de ofício, a requerimentos do MP ou
diante de representação do Delta, ouvido o MP em 24horas, poderá decretar
medidas assecuratórias de bens, direitos ou valores do investigado ou
acusado. Visa com essa medida devolver o bem, valor ou direito a seu legitimo
dono.

Competência Federal: serão julgados pela Justiça Federal – quando
praticados contra sistema financeiro e a ordem econômico-financeira, ou em
detrimento de bens, serviços ou interesses da União, ou de suas entidades
autárquicas ou empresas públicas – quando a infração penal antecedente for
de competência Federal.

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- Lavagem de dinheiro e crimes contra a ordem tributária: verificar a
súmula vinculante nº24. Pois, essa assegura que só será possível falar em
lavagem de dinheiro proveniente de crime contra a ordem tributária após o
lançamento definitivo do tributo.
- Da mesma forma, que ocorre nas investigações relativas a organizações
criminosas (LOC, arts. 8º e 9º) e nos crimes de tráfico ilícito de drogas (Lei n.
11.343/2006, art. 53, II), também na lavagem de dinheiro existe a possibilidade
de ação controlada, na qual, embora ciente da ocorrência do crime, a polícia
ou agência investigatória retarda a ação para o momento mais conveniente,
como se vê da leitura do art. 4º-B.

5. Lei 9.296/96 – Da Interceptação Telefônica

A lei 9.296/96 tem por objetivo a regulamentação e limites para a realização da


interceptação telefônica como meio de prova na persecução criminal. Seu
fundamento constitucional está no art.5º XII da CF. Assim se faz necessário
saber:

Interceptação de correspondência de presos: o Supremo Tribunal
Federal considerou válida a ação da administração penitenciária, que com
fundamento em razoes de segurança pública e de forma excepcional, nos
termos do art.42 da Lei 7.210/84, ou seja, intercepta correspondência remetida
pelos sentenciados, uma vez que o sigilo não pode constituir instrumento de
salvaguardas de práticas ilegais. Vide o HC 70.814/SP.

Cabe destacar a distinção entre as diferentes formas de captação na


persecução penal. Destaque que essa diferenciação vem sendo recorrente nos
concursos. Assim:

Espécies de Captação
Trata-se da captação de conversa feita por um
Interceptação terceiro, sem o conhecimento dos interlocutores, que
Telefônica depende de ordem judicial, nos termos do inciso XII
do artigo 5º da CF, regulamentado pela Lei n.
9.296/1996.
Gravação A gravação Clandestina consiste em uma gravação
Clandestina ambiental, pessoal ou telefônica feita por um dos
interlocutores sem o conhecimento dos demais.
Escuta telefônica é a captação de conversa feita por
Escuta Telefônica um terceiro, com o conhecimento de apenas um dos
interlocutores.
a)Interceptação Ambiental: é captação da
Comunicação comunicação do próprio ambiente sem consentimento
ambiental é aquela dos interlocutores
realizada b) Escuta ambiental: seria a captação da conversa

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diretamente realizada no ambiente, feita por terceiro com o
no meio ambiente consentimento de um dos comunicados
sendo: c) Gravação ambiental: é captação no ambiente feita
por um dos comunicadores sem o consentimento do
outro.

No entanto, cabe destacar que parte da doutrina compreende que o art.1º


desta lei se aplica apenas aos casos de interceptação telefônica e escuta
telefônica. Outra parte sustenta que o art.1º só se aplica aos casos de
interceptação telefônica, ou seja, as demais formas de captação não estão
abrangidas por esta lei, mas sim pela proteção à intimidade e a vida privada
(art.5º X da CF).

Em relação a natureza jurídica, as comunicações telefônicas são meio de


prova. Assim, a interceptação telefônica é uma medida cautelar processual que
funcional como meio para obtenção da prova.

Destaca-se ainda que o sigilo de dados telefônicos, são os registros que


dispõem as empresas telefônicas, ou seja, data, horário, duração. Esses não
estão acobertados pelo manto da Lei 9.296/96, podendo ser autorizada quando
houver justa causa.

- Registros de Chamadas: O STJ por meio da sua 5ª Turma no HC 66.368/PA


já definiu não compreender prova ilícita quando a autoridade policial verifica as
chamadas telefônicas registradas nos aparelhos dos suspeitos. No entanto,
essa decisão só vale para os registros e não para conteúdo que possa ser
aferido em conversas por meio de aplicativos.
- Do contraditório: com o objetivo de assegurar a eficácia da medida invasiva,
o investigado não pode tomar conhecimento da existência dessa
interceptação. Assim, o contraditório é adiado para o momento posterior, ou
seja, quando concluída a diligência. Dessa forma, a defesa não possui acesso
às interceptações no momento em que são realizadas, mas tão logo após
concluídas.

Por fim, atente-se para os requisitos para interceptação telefônica:



Ordem fundamentada da autoridade judicial competente: em tese
quem tem competência para processar e julgar ação principal. Sendo
necessário, a fundamentação da decisão invasiva sob pena de nulidade e
reconhecimento de nulidade.

Indícios razoáveis de autoria ou participação: a interceptação telefônica
tem natureza de medida cautelar, isto é só deve ser autorizada se presentes o
fumus comissi delitci e o periculum in mora.

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Se a prova não puder ser feita por outros meios disponíveis. A
intimidade e a vida privada são direitos fundamentais. Como a interceptação
telefônica acarreta a violação a esses direitos, a interceptação telefônica deve
ser utilizada de forma excepcional, quando não houver outra forma de produzir
a prova.

Infração penal punida com penal de reclusão: exclui os crimes como
ameaça e injúria, bem como a contravenção penal.

Delimitação do objeto e sujeito passivo: a decisão judicial deve indicar
claramente a qualificação do investigado e o objeto da investigação, salvo
impossibilidade de fazê-lo.

- Sigilo Profissional do Advogado: é garantido ao advogado o sigilo de suas


comunicações telefônicas vide o art.7º, II, da Lei 9.906/94, portanto é ilícita a
interceptação da comunicação telefônica entre cliente e advogado. Porém,
como o sigilo visa resguardar a função do advogado e não sua pessoa, caso
haja indícios de que advogado tem participação na prática criminosa, não há
que se falar no sigilo.
- Legitimidade para o pedido: De ofício pelo juiz (na fase investigatória ou
processual, no entanto há controvérsia); pelo MP (na fase investigatória ou
processual); e pela autoridade policial (nas investigações).
- Renovação da interceptação: existe duas correntes, a primeira defende
que deve ocorrer a renovação por apenas uma vez (15+15). Já a segunda
corrente defende a tese da renovação sempre que comprovada a
indispensabilidade (sendo essa a mais aceita)

6. Lei 10.826/03 – Estatuto do Desarmamento

Dos crimes e Das Penas

Ao que tange a essa lei, é importante a compreensão acerca dos seguintes


tópicos:

Da posse irregular de arma de fogo de uso permito: presente no Art. 12. E
define a seguinte redação: “Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo,
acessório ou munição, de uso permitido, em desacordo com determinação
legal ou regulamentar, no interior de sua residência ou dependência desta, ou,
ainda no seu local de trabalho desde que seja o titular ou o responsável legal
do estabelecimento ou empresa: Pena — detenção, de um a três anos, e
multa”. Nesse tipo penal, temos como objeto jurídico a incolumidade pública e o
controle de armas de fogo.

Da competência: Justiça Estadual, em regra, salvo se houver interesse da
União, caso em que a competência será delegada a Justiça Federal. O

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SINARM, órgão do Ministério da Justiça, ou seja, órgão federal, por si só não
caracteriza o interesse da União. Atente-se ao crime de tráfico de armas
presente no art.18 é de competência da Justiça Federal.

Arma de fogo: Trata-se de instrumentos que mediante a utilização da
energia proveniente da pólvora, lançam a distância e com grande velocidade os
projéteis. Possuem várias espécies, como, por exemplo, revólveres, pistolas,
garruchas, espingardas, metralhadoras, granadas etc. Veja-se, contudo, que
esse crime do art. 12 do Estatuto do Desarmamento só abrange as armas de
fogo de uso permitido.

Armas de uso permitido: são aquelas em que a utilização é permitida as
pessoas físicas em geral e também as pessoas jurídicas, de acordo com a
legislação normativa art.3º, XVII, do Decreto 3.6665/00.

Acessório de arma: instrumento que, acoplado a uma arma, possibilita a
melhoria do desempenho do atirador, a modificação de um efeito secundário do
tiro ou a modificação do aspecto visual da arma.

Munição: artefato completo, pronto para carregamento e disparo de uma
arma, cujo efeito desejado pode ser a destruição, iluminação ou ocultamento
do alvo; efeito moral; exercício; manejo, outros efeitos especiais.

Norma penal em branco: o Estatuto não define o que seria arma de fogo,
acessório ou munição, de uso permitido. Entretanto, é necessário o
complemento dos decretos 3.665/2000 e 5.123/2004 complementam para
definir em que consistem essas elementares.

Posse x Porte: a posse trata-se na manutenção da arma no interior da
residência ou local de trabalho, enquanto que o porte consiste na conduta de
levar a arma em local diverso da residência ou ambiente de trabalho.

Em relação à Omissão de cautela que está situada topograficamente no


art.13 desse estatuto, temos como elemento subjetivo a culpa, na modalidade
negligência.

No que tange, os sujeitos ativo e passivo, o primeiro pode ser qualquer pessoa
que possua arma de fogo. Caso não possua registro da arma, responde
também pelo tipo do art.12. Já o segundo, seria a coletividade e o menor de 18
anos ou pessoa portadora de deficiência mental que se apodere de arma de
fogo.

Por fim, para a ocorrer a consumação não basta a omissão do agente, é


necessário que o menor de 18 anos ou pessoa com deficiência mental se
apodere da arma. Destaque, pois trata-se também de crime de perigo abstrato.
Não cabe a tentativa, já que se trata de um crime culposo.

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6.1 Porte ilegal de Arma de Fogo de uso permitido:

É um crime que possui tipo misto alternativo, ou seja, aquele no qual o agente
pratica mais de uma conduta no mesmo contexto, porém responde por um
único crime. Destarte, trata-se de crime de perigo abstrato, isto é, a lei presume
de forma absoluta que a mera conduta de portar arma de fogo coloca em risco
a incolumidade pública, motivo pelo qual é desnecessário comprovar que o
agente praticou outra conduta que tenha sido capaz de colocar em risco a
integridade corporal ou a vida de alguém em perigo.

Em tese, é possível a tentativa na modalidade adquirir arma de fogo. Assim:


“Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar,
ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua
guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, sem
autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar:

Pena — reclusão, de dois a quatro anos, e multa.


Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável, salvo quando a
arma de fogo estiver registrada em nome do agente”.

Dessa forma, se faz necessário saber algumas peculiaridades em relação a


esse tipo penal:

Arma quebrada e incapaz de efetuar disparos x arma com defeito, mas
capaz de efetuar disparos: Em relação à arma incapaz de efetuar disparos
constitui crime impossível, em razão da ineficácia absoluta do meio, que é
incapaz de causar lesão ao bem tutelado. Já a arma capaz de efetuar o
disparo, configura crime, visto que a ineficácia relativa do meio não afasta a
tipicidade da conduta.

Porte de arma sem munição: existe divergência nesse ponto, pois alguns
entendem no sentido que tal comportamento não ofende nenhum bem jurídico
e sua criminalização estaria ofendendo o princípio da lesividade. No entanto, o
que prevalece nos Tribunais Superiores é de que existe o crime, pois a arma
de fogo não se destina tão somente a disparar projeteis, mas é capaz causar
significativo poder de intimidação.

O art.14 tipifica tanto o porte de arma de fogo, como de munição.

Porte de arma de brinquedo ou réplica: fato atípico, porém são vedadas


a fabricação, a venda, a comercialização e a importação de brinquedos,
réplicas e simulacros de armas de fogo.

Porte de mais de uma arma de fogo: o agente responde por crime único,
no entanto, nada impede que esse fato possa ser considerado no momento da
dosimetria da pena.
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6.2 Da Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito:

Tem por objetivo também proteger a incolumidade pública, no sentido de se


evitar que sejam expostos a risco a vida, a integridade física e o patrimônio dos
sujeitos.

Em relação as condutas típicas são possuir, deter, portar, adquirir, fornecer,


receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente,
emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar. Destarte,
tratando-se de arma de fogo de uso proibido ou restrito, o crime é sempre o
mesmo, quer a arma esteja no interior de residência sem ser registrada
(posse), quer esteja na cintura do agente em uma via pública (porte). Se a
arma fosse de uso permitido, a posse configuraria o crime do art. 12, e o porte
tipificaria aquele do art. 14.

No que tange as armas de fogo de uso restrito, nos termos do art. 11 do


Decreto n. 5.123/2004, são aquelas de uso exclusivo das Forças Armadas, de
instituições de segurança pública e de pessoas físicas ou jurídicas habilitadas,
devidamente autorizadas pelo Comando do Exército, de acordo com a
legislação específica.

São exemplos de armas restritas: armas de fogo com longas rajadas, cuja
munição comum tenha, na saída do cano, energia superior a mil libras. Vide o
fuzil 7.62.

- Proibição da liberdade provisória: art. 21 do referido Estatuto definia como


insuscetíveis de liberdade provisória os crimes dos arts. 16, 17 e 18, porém
esse dispositivo foi declarado inconstitucional pelo STF, uma vez que a
proibição de liberdade provisória por força da lei ofende o princípio da
presunção de inocência.

Atenção às inovações trazidas pela Lei 13.497/2017, que, alterando o parág.


Único do art. 1º da lei 8.072/90, acrescentou o delito de posse ou porte ilegal
de arma de fogo de uso restrito no rol dos crimes hediondos, de sorte que,
muito em breve, será objeto de questionamento em provas de concurso.

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6.3 Comércio ilegal de arma de fogo:

“Art. 17. Adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em


depósito, desmontar, montar, remontar, adulterar, vender, expor à venda, ou de
qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade
comercial ou industrial, arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização
ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:

Pena — reclusão de quatro a oito anos, e multa. Parágrafo único. Equipara-se


à atividade comercial ou industrial, para efeito deste artigo, qualquer forma de
prestação de serviços, fabricação ou comércio irregular ou clandestino,
inclusive o exercido em residência”.

O art.17 é composto por alternativo misto, isto é, quem pratica mais de uma
conduta prevista no tipo penal responde apenas por um crime. Trata-se de
crime próprio, pois somente pode praticar o crime o sujeito que está no
exercício de atividade comercial ou industrial.

Por fim, o elemento normativo do tipo está contido na expressão “sem


autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar. ”

6.4 Tráfico internacional de arma de fogo:

Esse tema, deve merecer atenção especial futuro Delta federal. Assim, saiba
que o objeto jurídico tutelado aqui é a incolumidade pública, no sentido de
evitar o comércio internacional de armas de fogo, acessórios ou munições.

As elementares do tipo são: importar é fazer entrar a arma, acessório ou


munição no território nacional, e exportar é fazer sair. Essa lei também pune
quem favorece tal entrada ou saída, de modo que o agente é considerado
autor, e não partícipe do crime. O dispositivo não faz distinção entre importação
e exportação de arma de uso permitido ou restrito, entretanto o art. 19 da Lei
determina que a pena será aumentada em metade no último caso.

O delito em análise é também crime de perigo abstrato e de mera conduta,


porque dispensa prova de que pessoa determinada tenha sido exposta a
efetiva situação de risco, bem como a superveniência de qualquer resultado.

No que tange aos sujeitos, o ativo pode ser qualquer pessoa. Trata-se de crime
comum. Se o delito for cometido por qualquer das pessoas elencadas nos arts.
6º, 7º e 8º da Lei, a pena será elevada em metade. Não se tratando de uma
dessas pessoas, mas sendo o agente funcionário público, responderá também
por crime de corrupção passiva, caso tenha recebido alguma vantagem para
facilitar a entrada ou saída da arma no território nacional. Já o sujeito passivo é
a coletividade.

Por fim, a consumação ocorre quando o objeto material entra ou sai do


território nacional. No caso de importação, se o agente entra com a arma no
Brasil e é preso na alfândega, o crime já está consumado.

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7. Lei 4.898/65 – Dos Crimes de Abuso de Autoridade

A presente lei foi criada com o objetivo de incriminar os abusos genéricos ou


inominados de autoridade, isto é, para abranger os fatos não previstos como
crime no CP ou em leis especiais, tendo em conta que vários dos crimes
funcionais, como o peculato, a corrupção, a concussão, os crimes de
prefeitos87 ou aqueles previstos na Lei de Licitações podem consubstanciar-se
em abuso —mau uso ou uso excessivo — da autoridade do funcionário público.

Seu objeto jurídico tutelado, é os direitos e garantias fundamentais da pessoa e


o regular funcionamento da Administração Pública. Os sujeitos ativo e passivo
são: ativo a autoridade pública, sendo considerado crime próprio, já sujeito
passivo pode ser primário o Estado e secundário é a vítima do abuso de
autoridade.

A competência é da Justiça comum, em regra a Justiça Estadual, no entanto se


o abuso de autoridade viole bens, interesses ou serviços da União Federal, a
competência será da Justiça Federal, porém o simples fato de agente ser
funcionário da União não é determinante para estabelecer a competência da
Justiça Federal.

Dessa forma, atente-se as seguintes peculiaridades dessa lei:



Crime praticado por Militar: competência da justiça comum, pois se trata de
crime comum e não de crime militar. Vide a Súmula 172 do STJ.

Natureza Jurídica da Representação: a representação a que se refere o


art.2º não deve ser entendida como a condição objetiva de procedibilidade dos
crimes de ação penal condiciona à representação do agente. Mas sim, a
representação aqui deve ser compreendida como o direito de petição.

Crime de tortura: caso a autoridade abuse de seu poder, vindo a torturar


alguém com intuito de obter informação, declaração ou confissão, o agente
responde pelo crime previsto no art.1°, I, “a” da Lei nº 9455/97 que afasta o
crime de abuso de autoridade pela aplicação do princípio da especialidade.

Concurso de pessoas: o particular que age em concurso de pessoas com a


autoridade também responde pelo crime de abuso de autoridade, pois a
elementar “autoridade” se comunica ao particular (art.30, CP).

8. Lei 12.850/13 – Organização Criminosa

A partir do advento desta lei em 2013, a existência de uma organização


criminosa poderá produzir as seguintes consequências: afastamento da causa
de diminuição da pena no tráfico; imposição do Regime Disciplinar Diferenciado
o conhecido RDD; formação de colegiado a fixação da competência em vara
especializada para processar e julgar os delitos envolvendo atividades de
organizações criminosas.

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No entanto para caracterização da Organização criminosa se faz necessário:
Associação de 4(quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenadas
Divisão de tarefas
Vantagem de qualquer natureza
Práticas de infrações penais superiores a 4 anos ou que sejam de caráter
transnacional.

Essa Lei apresenta como objeto jurídico primário a paz pública; e de forma
secundária o bem atingindo pela organização criminosa. O sujeito ativo pode
ser qualquer pessoa, o passivo é coletividade. E as condutas tipificadas são o
promover, constituir, financiar e integrar. O elemento subjetivo é o dolo, e a
consumação ocorre por se tratar de crime formal, com prática de qualquer uma
das condutas típicas (tipo misto alternativo), não exigindo a produção de um
resultado material. Haverá de acordo com art.2º, caput, concurso material entre
a pena desse crime com a dos crimes efetivamente cometidos.

LEI Nº12.850/13
Colaboração premiada: é o acordo celebrado entre o investigado ou acusado
e o Estado, no qual o agente delituoso se compromete a prestar informações
relevantes em troca de um benefício (perdão judicial, redução da pena ou
substituição da pena privativa de liberdade
Beneficiário: integrante da organização criminosa objeto de investigação ou
ação penal.
Perdão Judicial: Trata-se de ação declaratória da extinção da punibilidade
vide Súmula 18 do STJ
Colaboração posterior à sentença: geralmente, a colaboração é feita na
fase de investigação ou durante a ação penal. Porém existe a possibilidade da
colaboração após a sentença, hipótese em que os benefícios poderão ser:
redução da pena até metade ou progressão do regime.
Ação Controlada: denominada também de flagrante retardado, diferido ou
postergado, consiste na possibilidade de a autoridade policial não prender em
flagrante o agente que se encontra nessa situação, a fim de intervir em outro
momento mais oportuno, com o objetivo de prender mais integrantes.
Infiltração de agentes: consiste no ingresso de um policial em organização
criminosa, com o objetivo de conhecer melhor o seu funcionamento e
corroborar nas investigações.
Responsabilidade pelos excessos: a infiltração de agente não é um
passaporte para cometimento de infrações penais. Sendo assim, qualquer
excesso que constitua infração penal será punida. Atenção ao parágrafo único
do art.13 que possui a excludente de culpabilidade por inexigibilidade de
conduta diversa.

9. Lei 8.137/90 - Dos Crimes Contra a Ordem Tributária

Os crimes contra a ordem tributária são espécie de crimes econômicos, ao lado


dos crimes contra a economia popular, contra o sistema financeiro nacional,
contra o consumidor e as relações de consumo contra a ordem econômica.

Assim, são espécies de crime econômico os seguintes:


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Crime Tributário Aduaneiro: tem por objeto tributos externos, decorrentes de
exportação ou importação.

CP, art. 334, segunda figura (Descaminho).

Sonegação (condutas fraudulentas)

Lei n. 8.137/90, art. 1º (Sonegação Fiscal);
Lei n. 8.137/90, art. 2º, I, III, IV e V (Correlatos) — CP, art.337- A
(Sonegação de Contribuição Previdenciária).

Apropriação Indébita (consiste na omissão do repasse de tributo devido por
terceiro, descontado ou cobrado).

CP, art. 168-A(Apropriação Indébita Previdenciária);
Lei n. 8.137/90, art. 2º, II (Apropriação Indébita Tributária).

Crimes Funcionais (são crimes próprios de servidores públicos fazendários ou
encarregados da repressão a delitos aduaneiros)

Lei n. 8.137/90, art. 3º (Extravio, Sonegação ou Inutilização de Documento,
Corrupção, Concussão e Advocacia Administrativa);
CP, art. 316, § 1º (Excesso de Exação);
CP, art. 318 (Facilitação de Contrabando ou Descaminho).

Falsidades (formas específicas de crimes contra a fé pública)

CP, art. 293, I e V (Falsificação de papéis públicos). O bem jurídico tutelado
nesses casos é a ordem tributária, entendida como o interesse do Estado na
arrecadação dos tributos, para a consecução de seus fins. Secundariamente,
protegem-se a Administração Pública, a fé pública, o trabalho e a livre-
concorrência, consagrada pela CF como um dos princípios da ordem
econômica (art. 170, IV), uma vez que os agentes econômicos que não
recolhem regularmente os tributos poderão ter preços melhores do que aquele
que recolhe seus tributos, caracterizando uma verdadeira concorrência desleal.

Deve ser lembrado que o Estado arrecada para cumprir certas finalidades, de
interesse coletivo, nomeadamente a concretização de políticas públicas que
demandam recursos financeiros.

Em relação aos sujeitos do crime, temos o sujeito ativo que pode ser qualquer
pessoa, pois os crimes contra a ordem tributária são considerados comuns,
uma vez que não é exigida a qualidade de contribuinte ou responsável (CTN,
art. 121) do sujeito ativo do delito. Assim, muitas vezes, o delito é cometido no
âmbito de uma pessoa jurídica, que é a contribuinte, mas a responsabilidade
penal recairá sobre os seus administradores.

Já o sujeito passivo, é a pessoa jurídica titular do direito de cobrar o respectivo


tributo, podendo ser a União, o Estado ou o Município. Se for a União ou
Autarquia Federal, a competência será da JF. Nos termos do art. 119 do CTN:

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“Sujeito ativo da obrigação é a pessoa jurídica de direito público titular da
competência para exigir o seu cumprimento”.

O pagamento do débito tributário, a qualquer tempo, até mesmo após o


advento do trânsito em julgado da sentença penal condenatória, é causa de
extinção da punibilidade do acusado. STJ. 5 Turma. HC 362.478-SP, Rel. Min.
Jorge Mussi, julgado em 14/9/2017 (Info 611).

10. Lei nº 11.340/06 – Lei Maria da Penha

A Lei Maria da Penha define que todo o caso de violência doméstica e intra
familiar é crime, deve ser apurado através de inquérito policial e ser remetido
ao Ministério Público. Esses crimes são julgados nos Juizados Especializados
de Violência Doméstica contra a Mulher, criados a partir dessa legislação, ou,
nas cidades em que ainda não existem, nas Varas Criminais. Essa lei também
torna típico as situações de violência doméstica, proíbe a aplicação de penas
pecuniárias aos agressores, amplia a pena de um para até três anos de prisão
e determina o encaminhamento das mulheres em situação de violência, assim
como de seus dependentes, a programas e serviços de proteção e de
assistência social. A Lei n. 11.340, publicada em 7 de agosto de 2006, passou
a ser chamada Lei Maria da Penha em homenagem à mulher cujo marido
tentou matá-la duas vezes e que desde então se dedica à causa do combate à
violência contra as mulheres.

O art.5º da referida lei apresenta em seus incisos algumas palavras chaves
a saber:

- Unidade doméstica: composta pelas pessoas que convivem de forma habitual


em um local. Não há necessidade de vínculos familiares.
- Família: pessoas que se consideram parentes. Abrange o casamento, união
estável, adoção, filiação socioafetiva etc.
- Relação intima de afeto: amizade, namoro noivado etc..

Atendimento policial especializado: o art.8º, IV, estabelece a política
pública de implementação de atendimento policial especializado para mulheres,
em particular nas Delegacias de Atendimento à Mulher como forma de coibir a
violência doméstica e familiar contra a mulher.

Retratação de representação: apesar do dispositivo descrever “em
renúncia à representação”, o correto é retratação da representação. Tem por
finalidade identificar se a manifestação da vontade da vítima não está viciada.

Limite Temporal: a retratação deve ser feita antes do recebimento da
denúncia.

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Concessão de ofício pelo juiz: existe divergência, uma parte da doutrina
defende que a concessão de medida cautelar sem provocação das partes
ofende o sistema acusatório. Mas a doutrina prevalecente admite que o juiz
conceda de ofício a medida cautelar.

Audiência das partes: tendo em vista a urgência dos casos de violência, o
legislador dispensou a oitiva do agressor e do Ministério Público, com o
objetivo de não frustrar a eficácia da medida. Nada impede a ulterior
manifestação das partes.

Descumprimento da medida: A partir da publicação da Lei 13.641/18, foi
criado o artigo 24-A, que institui o crime de descumprimento de medidas
protetivas de urgência. A existência do crime independe da competência civil
ou criminal do juiz que deferiu as medidas, e não afasta a aplicação de outras
sanções cabíveis, por exemplo a imposição de prisão preventiva.

Por fim, os crimes descritos na lei 11.340/06 ficam excluídos das medidas
despenalizadoras como a composição civil dos danos, transação penal,
representação e suspensão condicional do processo. Assim, também cabe
destaque a Súmula 542 do STJ “ A ação penal relativa ao crime de lesão
corporal resultado de violência doméstica contra a mulher é pública
incondicionada”.

Súmula 589 – STJ: É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou


contravenções penais praticados contra a mulher no âmbito das relações
domésticas.

Súmula 600 – STJ: Para a configuração da violência doméstica e familiar


prevista no artigo 5 da Lei 11.340/06 (Lei Maria da Penha) não se exige a
coabitação entre autor e vítima.

Crimes hediondos:

- Homicídio qualificado privilegiado, não possui natureza


hedionda. Ocorre no caso em que existe a presença de
uma qualificadora de natureza objetiva e outra subjetiva.
- É proibida a concessão de fiança a quem comete crime
hediondo ou equiparado, todavia é possível a concessão
de liberdade provisória sem estipulação da fiança.

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- Prazo da prisão em regra é de 5 fias, no entanto para
crimes hediondos e equiparados o prazo é 30 dias
prorrogável por mais 30 provado extrema e comprovada
necessidade.

Lei de Drogas:

- A vedação à liberdade provisória foi declarada


inconstitucional pelo STF.
- O STF vem decidindo que é dispensável o mandado de
busca apreensão quando se trata de flagrante de crime
permanente, podendo –se realizar as medidas sem que se
fale em ilicitude das provas obtidas.
- A condenação por associação para o tráfico impede a
incidência da causa de diminuição da pena, uma vez que o
agente se dedica ao tráfico de drogas de forma reiterada.

Lavagem de Dinheiro

- A criminalização das condutas de lavagem decorre, no


Legislação plano internacional, da Convenção de Viena, Convenção
Penal de Palermo e Convenção de Mérida, todas ratificadas pelo
Extravagante Brasil.
- Crime acessório: o crime de lavagem possui natureza
acessória, pois depende da existência de uma infração
penal (crime ou contravenção) anterior.
- Delação premiada: a lei prevê esses benefícios ao agente
que colabora com a Justiça, de forma a apurar
materialidade e autoria, bem como a localização do
produto do crime.

Crime de Abuso de Autoridade

- Crime praticado por Militar: competência da Justiça


Comum, pois se trata de crime comum e não de crime
militar, vide a súmula 172 STJ.
- Ação penal: os crimes de abuso de autoridade são de
ação penal pública incondicionada, isto é, não dependem
de representação do ofendido.
- Concurso de pessoas: o particular que age em concurso
de pessoas com a autoridade também responde pelo crime
de abuso de autoridade, pois elementar “autoridade” se
comunica ao particular (art.30 CP).

Estatuto do Desarmamento

- Porte de arma de brinquedo ou réplica: fato atípico.


Entretanto, são vedadas a fabricação, a venda, a
comercialização e a importação de brinquedos réplicas e
simulacros de armas de fogo, que com estas se possam

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confundir. Excetuam-se da proibição, as réplicas e os
simulacros destinados à instrução, ao adestramento, ou à
coleção de usuário autorizado.
- Disparo de arma de fogo: objeto jurídico é a segurança
pública. Condutas típicas – disparar e acionar munição –
pena de reclusão de 2 a 4 anos . Investigação criminal pelo
Delegado de Polícia
- Polícia judiciária: voltada ás atividades de caráter
repressivo praticadas em auxílio ao Poder Judiciário.
- Inquérito policial: procedimento administrativo inquisitório
e preparatório, presidido pela autoridade policial, composto
pelo conjunto de diligências, elementos de informação e
outras fontes de prova da materialidade e autoria da
infração.

Lei de Organização Criminosa

- Associação de 4 ou mais pessoas estruturalmente


ordenada, divisão de tarefas, vantagem de qualquer
natureza, prática de infrações penais cuja a penas
máximas sejam superior a 4 anos, crime transnacional
previsto em tratado.
- Condenação: a sentença condenatória não pode se
basear apenas nas informações prestadas pelo
colaborador.

Assinale a assertiva correta:

a) De acordo com entendimento hoje unânime nas duas


turmas de competência criminal do Superior Tribunal de
Justiça, o descumprimento de ordem judicial imposta sob o
título de medida protetiva no âmbito da Lei n° 11.340/2006
(Lei Maria da Penha) não implica a prática das condutas
típicas de desobediência dispostas nos artigos 330 ou 359
do Código Penal.
b) Segundo entendimento hoje vigente no âmbito do
Supremo Tribunal Federal, o tráfico de drogas cometido na
vigência da Lei n° 8.072/1990, em qualquer de suas
versões, é crime assemelhado a hediondo.
c) Constante na jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça, a consumação do roubo reclama a posse pacífica
e indisputada da coisa pelo agente.
d) A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal não
admite a aplicação do chamado princípio da insignificância

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penal para o crime de descaminho.
e) Segundo a jurisprudência assentada no âmbito da 3ª
Seção do Superior Tribunal de Justiça, não subsiste o
crime de desacato tipificado no artigo 331 do Código Penal
no ordenamento jurídico brasileiro, posto que incompatível
com o direito de liberdade de expressão e crítica.
QUESTÃO 01
Gabarito Letra: A

Comentários:
a) Conforme foi estudado, é pacífico na jurisprudência que
não implica a prática das condutas típicas de
desobediência dispostas nos artigos 330 ou 359 do Código
Penal no caso de não cumprimento de medida protetiva na
lei 11.340/06.
b) Não, pois houve o realinhamento da posição
jurisprudencial, contrariando a Súmula 512 do STJ,
asseverando que tráfico privilegiado não constitui crime de
natureza hedionda.
c) Não existe jurisprudência nesse sentido, pois essa
jurisprudência corresponde ao crime de furto.
d) Como já citado, apesar da divergência entre STF e STJ
quanto ao tanto do valor a ser considerado no crime de
descaminho como insignificante, ambos admitem a
aplicação desse princípio. Lembrando STF entende ser
significante até o valor de 20 mil reais e STJ até 10 mil
reais.
e) Apesar de toda divergência doutrinária e jurisprudencial
acerca do tema, ainda se constitui crime, ou seja, não
ocorreu a despenalização e muito menos a sua supressão
do Código Penal.

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APRESENTAÇÃO

Caro(a) Aluno(a),

A preparação para concursos públicos exige profissionalismo, métrica e


inteligência. Cada minuto despendido deve ser bem gasto! Por isso, uma
preparação direcionada, focada nos pontos com maior probabilidade de
cobrança no seu certame, pode representar a diferença entre aprovação e
reprovação.

Ciente disso, a Ad Verum Suporte Educacional, empresa do Grupo CERS


ONLINE, concebeu o curso INTELIGÊNCIA PDF – CARREIRAS JURÍDICAS,
que tem por premissa fundamental “atacar” os pontos nucleares de cada matéria,
com vistas a antecipação dos temas com maiores chances de cobrança em sua
prova.

Fazer isso não é tarefa fácil! É necessário um árduo esforço de pesquisa,


levando-se em consideração fatores como banca examinadora e respectivos
membros (sempre que possível), retrospecto do concurso, recorrência temática
dentro de cada disciplina, importância de cada tema, momento da segurança
pública do país, dentre tantos outros, aliados a experiência de Professores de
projeção nacional, com larguíssima experiência na análise do perfil dos mais
diferentes certames.

Para tornar tudo isso uma realidade, a Ad Verum investiu muito em seu Método
de Aceleração de Aprendizagem (MAVAA). Hoje, contamos com um SETOR DE
INTELIGÊNCIA, responsável por ampla coleta de dados e informações das mais
diferentes fontes relacionadas ao universo de cada concurso e/ou exame
profissional, de modo, a partir do processamento dos dados coletados, oferecer
aos seus alunos uma experiência diferenciada quando comparada a tudo que
ele conhece em matéria de preparação para carreiras públicas.

Racionalizar o estudo do aluno é mais que um objetivo para Ad Verum, trata-se


de uma obsessão.

Estude inteligente, estude Ad Verum!

Francisco Penante
CEO Ad Verum Suporte Educacional
SUMÁRIO

1. LIMITAÇÕES AO PODER DE TRIBUTAR .................................................... 3

1.1 FUNÇÃO E CONCEITO DO DIREITO TRIBUTÁRIO ............................... 3


1.2 PRINCÍPIOS ............................................................................................. 3
1.2.1. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE ........................................................... 3
1.2.2. PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE .................................................... 6
1.2.3. PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE NONAGESIMAL ......................... 7
1.2.4. PRINCÍPIO IRRETROATIVIDADE..................................................... 8
1.2.5. PRINCÍPIO DA CAPACIDADE CONTRIBUTIVA ............................... 9
1.2.6. PRINCÍPIO DAVEDAÇÃO AO CONFISCO ....................................... 9
1.2.7. PRINCÍPIO DA NÃO LIMITAÇÃO AO TRÁFEGO ........................... 10
1.2.8. PRINCÍPIO DA UNIFORMIDADE GEOGRÁFICA ........................... 10
1.2.9. PRINCÍPIO DA NÃO DISCRIMINAÇÃO BASEADA NA
PROCEDÊNCIA OU DESTINO ................................................................. 10
1.3 IMUNIDADE TRIBUTÁRIA: ..................................................................... 11
2. COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA .................................................................... 16

3. OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA ........................................................................ 22

3.1 RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA ...................................................... 23


3.1.1. RESPONSABILIDADE DOS SUCESSORES .................................. 23
3.1.2. RESPONSABILIDADE DE TERCEIROS ......................................... 23
3.1.3. RESPONSABILIDADE POR INFRAÇÕES ...................................... 23
4. CRÉDITO TRIBUTÁRIO .............................................................................. 25

4.1 CONSTITUIÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO: ...................................... 26


4.1.1. MODALIDADES DE LANÇAMENTO ............................................... 26
4.2 SUSPENSÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO: ........................................... 26
4.2.1. MORATÓRIA ................................................................................... 27
4.2.2. DEPÓSITO DO MONTANTE INTEGRAL ........................................ 28
4.2.3. PARCELAMENTO ........................................................................... 28
4.3 EXTINÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO: ............................................... 28
4.3.1. PAGAMENTO .................................................................................. 29
4.3.2. DEMAIS MODALIDADES ................................................................ 29

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1
4.4 EXCLUSÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO:.............................................. 31
4.4.1. ISENÇÃO ......................................................................................... 31
4.4.2. ANISTIA ........................................................................................... 32
5. TRIBUTOS: .................................................................................................. 33

5.1 IMPOSTO:............................................................................................... 34
5.2 TAXAS: ................................................................................................... 34
5.3 CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA: .......................................................... 34
5.4 CONTRIBUIÇÕES ESPECIAIS: ............................................................. 35
6. ESPÉCIES TRIBUTÁRIAS .......................................................................... 36

6.1 IMPOSTOS FEDERAIS: ......................................................................... 36


6.2 IMPOSTOS ESTADUAIS E DISTRITAIS: ............................................... 40
6.3 IMPOSTOS MUNICIPAIS E DISTRITAIS: .............................................. 41

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2
1. LIMITAÇÕES AO PODER DE TRIBUTAR

Esse assunto, apesar de bem introdutório, é bastante cobrado nas provas de


direito tributário. Não o subestime. Apesar de parecer um assunto simples, ele
é recheado de detalhes (normalmente exceções) e que são justamente os
pontos mais abordados pelas bancas. Ora, para que se possa compreender
quais as limitações ao poder de tributar e qual a razão da existência delas, tem-
se, primeiro, que saber qual o conceito e a efetiva função do direito tributário,
então, se liga.

1.1 FUNÇÃO E CONCEITO DO DIREITO TRIBUTÁRIO

O Direito tributário é um ramo do direito público, definido, por Hugo de Brito


Machado, da seguinte forma: “ramo do direito que se ocupa das relações entre
fisco e as pessoas sujeitas a imposições tributárias de qualquer espécie,
limitando o poder de tributar e protegendo o cidadão contra os abusos desse
poder”.

Pois bem, essa definição nos interessa bastante, ao passo que introduz o
assunto da limitação ao poder de tributar. Ora, é dizer que o direito tributário
não cuida apenas de representar o poder do Estado, mas, também, o dever de
respeito a certos limites.

A título de exemplo, a Fundação Carlos Chagas já cobrou esse conceito de


forma mais simples, dizendo, por exemplo, que o direito tributário é “o conjunto
de normas que regula o comportamento das pessoas de levar dinheiro aos
cofres públicos”. Isto está certo, beleza? O direito tributário serve justamente
para regular esse comportamento dos cidadãos, com deveres e garantias.

Ótimo. Para ajudar a se organizar seus estudos, vamos dividir esse assunto em
duas partes: primeiro, os princípios do direito tributário e, depois, os casos de
imunidades. Partiu?

1.2 PRINCÍPIOS

Você provavelmente já conhece alguns dos mais importantes princípios do


nosso ramo do direito. No entanto, em análise às anteriores dos concursos nos
quais você será aprovado, percebemos que os casos em que existem
exceções aos princípios são os mais cobrados pelas bancas. Então, façamos o
seguinte: vou dar um breve conceito para cada um deles e, depois, ao final de
cada conceito, vamos cair de cara nas exceções! Você vai detonar, confia!

1.2.1. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

O princípio “mãe” do direito tributário, por assim dizer, é aquele mais


fundamental nesse ramo do direito. De acordo com esse princípio,
constitucionalmente descrito pelo art. 150, I, CF/88, os entes federativos não
podem instituir ou aumentar tributos sem que seja por meio de lei.

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3
Certo, então vamos lá para algumas cascas de banana:
Os entes federativos podem diminuir tributos sem que haja lei
autorizando? Sim! Lembra que a função do princípio da legalidade é a
proteção ao contribuinte. Se a ação do governo beneficia o sujeito passivo da
relação tributária, não há razão para que o princípio da legalidade entre em
cena, beleza?

Outra questão importante: o conceito de lei trazido pela CF/88 no inciso acima
mencionado é no sentido amplo ou estrito? Estrito. Apenas pode haver
instituição ou majoração de tributo mediante lei strictu senso, pegou?

Não é só isso. Existem algumas exceções ao princípio da legalidade. Mas


professor, você não disse que esse princípio era a “mãe” do direito tributário?
Disse sim! Perceba que, se até esse princípio comporta exceções, a grande
maioria dos outros também admitirá! Isso é importante para a sua prova.

Vamos mergulhar nas principais exceções e garantir uma questão correta?


Essencialmente, existem três ordens de exceções para o princípio da
legalidade, cada uma delas com suas próprias fundamentações. Vejamos:

Necessidade de Lei Complementar


Aqui, o legislador constitucional resolveu atribuir, para a instituição ou
majoração de impostos em casos específicos, uma burocracia ainda maior.
Segundo a literalidade do texto constitucional, são eles as Contribuições
Social-previdenciárias Residuais (art. 195, §4º c/c art. 154, I, ambos da CF),
os Empréstimos Compulsórios (art. 148, I e II), o Imposto sobre Grandes
Fortunas – IGF (previsto no art. 153, VII), e os Impostos Residuais (art. 154,
I).Bizu: CEGI.

Acerca dos impostos residuais, a Constituição dispõe que a União poderá criar
novos impostos, ainda não previstos na Constituição, mediante Lei
Complementar, “desde que sejam não-cumulativos e não tenham fato gerador
ou bases de cálculos próprios dos discriminados na Constituição”.

Só para ver se você está ligado: essa parte destacada acima, em itálico, serve
para quê? Para se evitar o fenômeno do bis in idem. Beleza? Deixa esse
celular de lado e continua aqui comigo!

Medida Provisória
Atenção aqui que isso pega muita gente! Pode haver aumento de tributo por
MP? Críticas doutrinárias a parte, após a EC 32 de 2001 a resposta é que, em
alguns casos, pode sim!

Essa previsão está contida no novo art.62, §2º, da CF, mas depende
essencialmente de dois critérios: urgência E relevância. Note que não basta
haver a presença de um dos critérios: é uma exigência cumulativa.

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4
Por fim, perceba que as matérias reservadas à LC, ou seja, “CEGI”, não
podem ser alvo de MP! Logo, desde que o referido imposto possa ser criado
por meio de lei ordinária (art. 62, §1º, III, CF), faz-se possível sua criação ou
majoração por MP. Ademais, para que o imposto seja exigido no próximo
exercício financeiro, a MP deverá ser convertida em lei até o final do exercício
financeiro no qual foi editada. No entanto, há cinco exceções à regra. Têm
aplicação imediata, isto é, sem necessidade de conversão em lei, os mesmos
impostos que não observam a regra da anterioridade (veremos a seguir), são
eles: a) Imposto extraordinário guerra (art. 154, II, CF); b) IOF; c) II; e d) IE. Por
seu turno, a criação ou majoração do IPI não necessita da conversão da MP
em lei, mas deve observar a anterioridade nonagesimal (também estudado na
sequência).

Vou só te fazer mais uma perguntinha para saber se você está atento: pode o
Estado aumentar tributo por meio de Decreto quando presentes a urgência e a
relevância? Não pode! Você leu Medida Provisória, não Decreto. Se liga!

Ademais, não se admite a redução de um tributo ou sua exclusão por meio


de decreto, devendo, portanto, ser realizada por meio de lei. Assim, o próprio
CTN dispõe nesse sentido (art. 97, CTN). Acrescenta-se que o STF já decidiu
que o rol do artigo 97 do CTN é taxativo, de modo que aquilo que não estiver
previsto em seu texto, pode ser alvo de alteração mediante decreto, como, por
exemplo, o prazo de pagamento de tributo.

Impostos Extrafiscais
Em primeiro lugar: você já sabe o que são os impostos extrafiscais? Ainda
não? Então memoriza! Os impostos dessa natureza são aqueles cuja principal
função não é propriamente a arrecadação, mas sim uma função econômica,
mais ligada às atividades mercantis, ou seja, de intervenção do estado na
medida de incentivar ou desestimular determinados comportamentos.

Pergunta-se: os impostos extrafiscais têm função de arrecadação? Atenção!


Eles têm função de arrecadação (fiscal) sim! Apenas, como eu falei, não é a
preponderante. Ok?

Os impostos extrafiscais são, essencialmente: II (Imposto de Importação); IE


(Imposto de Exportação); IOF (Imposto sobre Operações Fiscais) e IPI
(Imposto sobre Produtos Industrializados). Sobre cada um deles, com mais
detalhes, estudaremos mais adiante, certo? Por enquanto só preciso que você
saiba que eles representam uma exceção ao princípio da legalidade tributária.

A exceção aqui mencionada reside no art. 153, §1º da CF. De acordo com
esse dispositivo, é facultado ao Poder Executivo alterar as alíquotas dos
impostos extrafiscais (os listados acima). Atenção: esse permissivo
constitucional vale apenas para alteração (para mais, inclusive) das
alíquotas e não para a instituição de impostos.

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5
(MPE-AP| 2012|FCC): A regra da legalidade impede que o
F Chefe do Poder Executivo majore, por decreto, as alíquotas do
Imposto sobre Produtos Industrializados.

Tranquilo até aqui? Te aconselho a pegar o art. 153 da nossa Constituição e dá


umas três ou quatro lidas. É um artigo um pouco extenso e que costuma cair
na sua prova!

1.2.2. PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE

Candidato, vamos focar aqui! Se você largar esse celular, pegar a sua
Constituição Federal e abrir no art. 150, III, “a”, você vai encontrar o princípio
da anterioridade tributária ali positivado.

O dispositivo constitucional afirma que é vedado, ou seja, proibido, para


qualquer ente da federação cobrar tributos no mesmo exercício financeiro
em que haja sido publicada a lei que o instituiu (criou) ou aumentou. Muito
cuidado com isso aqui!

Veja a seguinte situação que pode constar na sua prova: o Ente Federativo X
aumentou, em julho de 2017, o Imposto Y (que já havia sido instituído há vários
anos) por meio da Lei Z. Esse imposto poderá ser cobrado em agosto? Olhe,
olhe! Ele poderá ser cobrado em agosto sim, mas a alíquota aplicada deverá
ser a antiga, não a majorada. Entendeu? Cuidado com a forma com que a sua
questão vai aparecer!

Outro caso seria se, o mesmo Ente Federativo X, instituísse um Imposto W, em


julho de 2017. Esse imposto, portanto, só poderia ser cobrado no exercício
fiscal de 2018. Certinho? Logicamente, querido(a) futuro(a) aprovado(a), há
exceções! Vamos mergulhar nelas novamente!

O mesmo art. 150, agora em seu §1º já é bem claro quanto às exceções: “A
vedação do inciso III, b, não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I,
153, I, II, IV e V; e 154, II”. E meu futuro Promotor, para facilitar sua vida, os
tributos mencionados são os seguintes:

(Art. 148, I) – Empréstimo compulsório guerra e calamidade pública, nos


seguintes termos: “para atender a despesas extraordinárias, decorrentes de
calamidade pública, de guerra externa ou sua iminência”. Ora, é óbvio que em
uma situação de emergência não há como se aguardar pelo próximo exercício
fiscal, isso faria com que o tributo perdesse sua razão de existir.

(Art. 153, I, II, IV e V) – II, IE, IPI e IOF. Pessoal, também tem haver com a
extrafiscalidade característica desses tributos!

(Art. 154, II) – Imposto extraordinário guerra, nos termos da CF: “na
iminência ou no caso de guerra externa, impostos extraordinários,
compreendidos ou não em sua competência tributária, os quais serão
suprimidos, gradativamente, cessadas as causas de sua criação.” A

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6
justificativa, portanto, é a mesma que a apresentada para os casos do art. 148,
I.

Outros são os exemplos, mais específicos, de tributos que não precisam


respeitar a anterioridade:
- CIDE – Combustíveis (art. 149, §2º, II c/c art. 177, §4º, I, b, CF) – reduzir e
restabelecer as alíquotas;
- ICMS – Combustíveis (art. 155, §4º, IV, c, CF)– reduzir e restabelecer as
alíquotas;
- Contribuições da Seguridade Social (art.195, §6º, CF).

(MPE-CE| 2011|FCC): Salvo exceções, a lei que cria ou majora


V tributo terá eficácia no exercício financeiro seguinte ao da sua
publicação, como expressão da anterioridade tributária.

Vamos em frente? Toma um cafezinho e vamos juntos!

1.2.3. PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE NONAGESIMAL

Estamos diante de outra face do princípio da anterioridade! Esse princípio vem


descrito pelo art. 150, III, “c”, também da Constituição Federal. Segundo o
dispositivo, temos que não pode ser cobrado tributo sem que haja decorrido ao
menos noventa dias desde a publicação da Lei que o instituiu ou majorou. É
também chamado de princípio da noventena.

Perceba que o dispositivo não se resume a isso: sua parte final afirma que,
ademais, deve ser respeitada a regra da alínea “b”, qual seja, a regra da
anterioridade tributária, em relação ao exercício fiscal! Esses dois últimos
princípios que vimos, portanto, andam quase sempre de mãos dadas, mas há
exceções! Significa dizer que haverá casos em que o tributo se sujeitará à
apenas uma das anterioridades, bem como casos em que não respeitará
nenhuma, por isso, analise caso a caso.

As Contribuições para a Seguridade Social, por exemplo, respeitam a


noventena, mas, como vimos, não precisam respeitar a anterioridade do
exercício fiscal.

Vamos fazer um quadrinho para te ajudar!

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7
Empréstimo compulsório Guerra e
Exceções aos Calamidade Pública;
dois princípios II;
da anterioridade IE;
IOF;
IEG.
Exceção à IPI;
Anterioridade Contribuições Sociais;
Anual (respeita Redução e restabelecimento de CIDE
apenas a Combustível e ICMS Combustível
Anterioridade
Nonagesimal)
Exceções a IR;
Anterioridade Base de cálculo do IPVA e do IPTU
Nonagesimal
(respeitam
apenas a
Anterioridade
Anual)

E se o instrumento que majorou o tributo foi uma Medida Provisória


posteriormente convertida em Lei? A partir de quando começo a contar o
prazo para efeito dos princípios da anterioridade fiscal e nonagesimal? Bem, aí
temos que dar atenção ao que o STF nos diz, de maneira que aquilo que não
foi alterado na conversão da MP em Lei, deve ter o prazo contato a partir da
própria MP. Por outro lado, se foi alterado o conteúdo de parte da MP, a parte
alterada só entra em vigor contados os 90 dias da publicação da Lei ou do
próximo exercício financeiro, o que vier depois (RE 595.541/SC).

1.2.4. PRINCÍPIO IRRETROATIVIDADE

Sabemos que esse princípio vem positivado, em nossa Constituição, antes das
duas faces da anterioridade, posto que presente ainda na alínea a, do inciso
III do Art. 150. No entanto, achamos mais fácil te explicar, primeiro, os dois
princípios retro. Vamos ver o motivo da nossa escolha!

Ora, se a autoridade tributária não pode te cobrar o tributo, via de regra, dentro
de um prazo de no mínimo 90 dias, mais todo aquele restante para o final do
exercício fiscal, como ela poderia ter cobrar um tributo com base em um fato
gerador que ocorreu antes da publicação da Lei que criou ou majorou o
determinado tributo? Essa possibilidade não faz sentido, certo?

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8
É com base nesse raciocínio que se formula o princípio da irretroatividade,
também inserido no contexto de proteção ao contribuinte e na garantia da ideia
de segurança jurídica.

Mas, querido candidato, há exceção? Olhe, olhe! Se até a legalidade tem...


Pense direitinho... Mas, eu não achei exceção nenhuma na minha
Constituição...Realmente, na sua CF você não vai encontrar nenhuma exceção
ao princípio da irretroatividade, mas abra seu Código Tributário no art.106!
Veja lá que existem, portanto, duas exceções:

Art. 106. A lei aplica-se a ato ou fato pretérito (ou seja, retroage):
I - em qualquer caso, quando seja expressamente interpretativa, excluída a
aplicação de penalidade à infração dos dispositivos interpretados; (primeira
exceção)
II - tratando-se de ato não definitivamente julgado (segunda exceção):
a) quando deixe de defini-lo como infração;
b) quando deixe de tratá-lo como contrário a qualquer exigência de ação ou
omissão, desde que não tenha sido fraudulento e não tenha implicado em falta
de pagamento de tributo;
c) quando lhe comine penalidade menos severa que a prevista na lei vigente
ao tempo da sua prática (grifo nosso).

Saiba uma coisa: a grande maioria das tuas questões de princípios vai estar
relacionada aos que vimos acima. Não arrisque, se garanta! Vamos ver mais
alguns princípios que podem derrubar teus concorrentes, mas não você!

1.2.5. PRINCÍPIO DA CAPACIDADE CONTRIBUTIVA

Pessoal, esse princípio se relaciona com a questão da justiça social, tão


conectada aos objetivos (teóricos, ao menos) do direito tributário. Ele significa,
de forma simples, que o contribuinte deve arcar com a carga tributária
compatível com seu poder econômico, em outras palavras, quem deve pagar
mais é quem recebe mais.

Na prática, esse princípio é bem questionado em nosso país. Exemplo de sua


aplicação é no caso do Imposto de Renda, cuja alíquota sobe na medida em
que a contribuinte muda de “faixa” salarial, apesar de ainda ser uma aplicação
bem questionada e mitigada. Por outro lado, em casos como os impostos
“embutidos” nos valores dos produtos (ICMS, por exemplo) não há qualquer
aplicação desse princípio. Ambos, ricos e pobres, quando vão comprar a
camisa da seleção brasileira ou um pacote de arroz pagam a mesma alíquota.

1.2.6. PRINCÍPIO DAVEDAÇÃO AO CONFISCO

Esse princípio, pode-se dizer, é um desdobramento do anterior e se encontra


positivado em nosso art. 150, IV, CF. É bem simples, significa que o tributo não
pode ser utilizado com função, efeito, de confisco. O tributo, portanto, não é
uma pena ou algo do gênero.

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1.2.7. PRINCÍPIO DA NÃO LIMITAÇÃO AO TRÁFEGO

Esse princípio, que nos parece bem auto-explicativo, no entanto, tem um


detalhe que você deve se ligar e que pode cair na sua prova. Inicialmente, ele
assevera, basicamente, que o imposto não pode invadir a esfera do seu direito
constitucional de ir e vir, a sua liberdade de locomoção.

O princípio acima se encontra no art. 150, V, CF. Veja como esse art. 150 é
recorrente. Se eu fosse você começava a colar uns post it pela casa com a
redação desse dispositivo.

O detalhezinho que eu mencionei se encontra na própria redação do artigo,


mas eu destaco: a cobrança de pedágios de utilização de vias administradas
pelo poder público não vai contra esse princípio, beleza? Ao menos assim diz
nossa Carta Magna.

1.2.8. PRINCÍPIO DA UNIFORMIDADE GEOGRÁFICA

Atenção aqui! Esse princípio se encontra positivado no art. 151, I, CF e


estabelece, basicamente, que a União deverá criar tributos de maneira
uniforme em todo o território brasileiro, ou seja, com as mesmas alíquotas de
tributos federais. Simples, beleza?

No entanto, a própria CF estipula que um dos objetivos da Carta é o de reduzir


as desigualdades regionais, conforme você já deve ter visto se já passou pelos
estudos de Direito Constitucional. Como fazer isso, então, sem que se
conceda, por exemplo, um incentivo fiscal? Exemplo dessa estratégia foi a
criação da Zona Franca de Manaus, pelo ADCT, em sede constitucional.

O que entendem os Tribunais então? Conforme entendimento do STF


plasmado no RE 344.331/PR, não fere a isonomia aquilo que o legislador
achou por conveniente e oportuno fazer, em prol do objetivo de reduzir as
desigualdades regionais.

1.2.9. PRINCÍPIO DA NÃO DISCRIMINAÇÃO BASEADA NA PROCEDÊNCIA


OU DESTINO

Vamos fechar esse papo de princípios? A sua redação, estampada na própria


Constituição Federal é já bastante didática, senão vejamos:

“É vedado aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios estabelecer


diferença tributária entre bens e serviços, de qualquer natureza, em razão de
sua procedência ou destino”.

Essa definição está no art. 152 e decorre do princípio federativo. Sua função é
acabar com as chamadas Guerras Fiscais ou tributárias. Nesse passo, não é
legítimo à entidade política prever quaisquer elementos discriminatórios,

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10
independentemente da denominação (redutores, adicionais, etc.), levando em
consideração a procedência ou o destino do bem.

Nesse campo, apenas a União está legitimada a estabelecer discriminações,


desde que se traduzam em incentivos fiscais destinados a promover o
equilíbrio socioeconômico entre as diferentes regiões do Brasil, consoante o
art. 151, I, da CF.

1.3 IMUNIDADE TRIBUTÁRIA:


Com os nossos estudos até o momento, você já deve acertar uma questão da
prova, no mínimo! Então se anima e vamos juntos garantir as demais!

Antes de começarmos, perceba que as imunidades são, também, parte do


assunto de Limitações ao Poder de Tributar, então, realmente, não deixe de
ler e reler essa parte da sua CF, em especial o art. 150.

As imunidades são consideradas por alguns doutrinadores como espécie de


não incidência e, por outros, como exoneração de determinada carga tributária.
Elas representam, na prática, uma delimitação negativa da competência do
Estado em tributar aquele que, teoricamente, seria sujeito passivo de uma
relação tributária em face de determinado ato que poderia ser considerado
como fato gerador. No entanto, o legislador constitucional, pelos motivos que
vamos explorar, decidiu por afastar a incidência, em casos especiais.

Antes de seguirmos, lembre-se que, ao interpretar as imunidades, você deve


ter em mente os objetivos que o legislador visou atingir com as suas
instituições!

Assim, as imunidades, que em uma primeira vista podem parecer injustiças ou


contradições ao princípio de isonomia, na verdade, não são. Elas visam o
exercício pleno de algumas atividades em prol dos direitos e da melhor
qualidade de vida dos cidadãos.

Para facilitar didaticamente os nossos estudos, dividiremos as imunidades em


duas ordens, em dois grandes grupos.

1) Imunidades entre os entes federativos (União, Estados, Municípios e


DF) em função da isonomia federativa - está descrita no art. 150, VI, “a”, da
CF e engloba: patrimônio, renda e serviços uns dos outros!
12
2) Imunidades para proteção de valores sociais e políticos protegidos
pela Constituição Federal– No mesmo art. 150, VI, agora nas alíneas “b” e
“c”, constam as imunidades de entes desse outro “grupo”: a) templos de
qualquer culto (liberdade religiosa); b)Partidos Políticos (democracia); c)
Entidades sindicais dos trabalhadores (proteção ao trabalhador); e d)
Instituições de educação e assistência social sem fins lucrativos (valores
sociais). Observe, contudo, que para além das imunidades relacionadas aos
sujeitos de direito, conforme vimos até agora nos dois grupos, temos também,

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em atenção aos valores sociais, alguns itens que gozam da imunidade
tributária, a saber: a) livros, jornais e periódicos e o papel destinado a sua
impressão (alínea “d”); b) fonogramas e videofonogramas musicais
produzidos no Brasil contendo obras musicais ou literomusicais de autores
brasileiros e/ou obras em geral interpretadas por artistas brasileiros bem como
os suportes materiais ou arquivos digitais que os contenham, salvo na etapa de
replicação industrial de mídias ópticas de leitura a laser (alínea “e”).

Um detalhezinho que pode te ajudar nas provas: a diferença básica entre


imunidade e outro termo que colocam para te “enganar”, isenção, reside no
fato das imunidades, como nós já vimos, estarem previstas na CF, ao passo
que as isenções se encontram em Lei, beleza? A fórmula é simples:

→ Imunidade: CF
→ Isenção: Lei

A despeito das diretrizes positivadas no texto constitucional, o examinador


costuma dar muita atenção a entendimentos jurisprudenciais específicos nos
certames para Ministério Público Estadual, haja vista que esse é um tema
também muito desenvolvido nessas bases.

Desse modo, vale colacionar alguns entendimentos firmados na jurisprudência


do STF que já foram objeto de questões de prova, a fim de que você tente
memorizar para o Dia “D”. Infelizmente, é um pouco decoreba mesmo, mas é o
caminho da aprovação. Vamos juntos!

Súmula 724, STF: Ainda quando alugado a terceiros, permanece imune ao


IPTU o imóvel pertencente a qualquer das entidades referidas pelo art. 150, VI,
"c", da Constituição, desde que o valor dos aluguéis seja aplicado nas
atividades essenciais de tais entidades.

Súmula 730, STF: A imunidade tributária conferida às instituições de


assistência social sem fins lucrativos pelo art. 150, VI, "c", da Constituição,
somente alcança as entidades fechadas de previdência social privada se não
houver contribuição dos beneficiários.

Entendimentos não sumulados do STF:


1) A prestação de ações e serviços de saúde por sociedades de economia
mista corresponde à própria atuação do Estado, desde que a empresa estatal
não tenha por finalidade a obtenção de lucro. As sociedades de economia
mista prestadoras de ações e serviços de saúde, cujo capital social seja
majoritariamente estatal, gozam da imunidade tributária prevista na alínea “a”
do inciso VI do art. 150 da Constituição Federal.

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12
2) É aplicável a imunidade tributária recíproca às autarquias e empresas
públicas que prestem inequívoco serviço público. O Serviço Autônomo de Água
e Esgoto é imune à tributação por impostos (art. 150, VI, a e § 2º e § 3º da
Constituição)” (RE 399.307-AgR, 16/3/2010).
3) As pessoas que exercem atividade notarial não são imunes à tributação,
porquanto a circunstância de desenvolverem os respectivos serviços com
intuito lucrativo invoca a exceção prevista no art. 150, § 3º da Constituição.
(ADI 3.089, de 01/08/2008).
4) Os álbuns de figurinhas e os respectivos cromos adesivos estão alcançados
pela imunidade tributária prevista no artigo 150, VI, d, da Constituição Federal –
imunidade cultural – (RE 179.893, de 15/04/2008).
5) A imunidade tributária constante do art. 150, VI, “d”, da Constituição Federal
(CF), aplica-se ao livro eletrônico (“e-book”), inclusive aos suportes
exclusivamente utilizados para fixá-lo (RE 330817/RJ), decidido em sede de
repercussão geral, objeto do Informativo 856. Importante, este entendimento é
bastante recente, então é muito provável que seja alvo do examinador no seu
exame! É primordial que você leia atentamente o artigo 150 da CF, várias e
várias vezes! Outra coisa: faça muitas questões, torne a dinâmica da coisa
natural para o dia da prova!

Antes de finalizarmos com a verificação de aprendizagem e nosso quadro de


revisão, entendemos como fundamental comentarmos uma questão elaborada
pela FCC para o concurso de Promotor de Justiça do Ceará em 2011.
Vejamos:
Sobre a imunidade, analise os itens a seguir:
I. As imunidades tributárias vêm fixadas na Constituição Federal ou em
lei complementar federal.
R: Não caia nessa! As imunidades são fixadas pela Constituição. O que pode
acontecer é que a própria CF preveja casos em que a imunidade seja
regulamentada por Lei Complementar. Falsa a afirmativa, portanto.
II. As imunidades alcançam apenas os impostos.
R: Cuidado! Jurisprudência também cai na sua prova e pode fazer a diferença!
O STF já pacificou que as imunidades podem se estender a outras espécies
de tributos, a depender do caso concreto. Falsa também!
III. O patrimônio, a renda e os serviços relacionados às finalidades
ssenciais dos templos de qualquer culto são imunes de impostos.
R: Agora sim! Tudo certo! Perceba que é preciso que estejam, de fato,
relacionados às finalidades essenciais, já vimos isso!
IV. A previsão de que o cidadão ficará isento de custas judiciais na ação
popular é hipótese de imunidade de taxa.
R: Olha aí a jurisprudência atacando de novo. O STF já se posicionou no
sentido de que as custas e emolumentos judiciais, no caso, são espécies de
TAXA. Assim, também foi além e considerou essa uma hipótese de isenção.

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Essa questão já caiu até em prova de Juiz Substituto também. Certo o item,
art. 5º, LXXIII, CF.
V. As imunidades somente terão eficácia após regulamentação por lei
complementar.
R: O que nós conversamos no primeiro item? Apenas aquelas que a CF
expressamente prever. Muitas imunidades já possuem plena eficácia a partir
do texto constitucional. Errada a afirmativa.

QUESTÃO INÉDITA
Analise as assertivas abaixo:
I – Em respeito ao princípio da legalidade tributária, não pode o Presidente
majorar tributo por meio de Decreto;
II – Em atenção ao princípio da anterioridade, o instrumento legal que majore
alíquota de IPI somente pode ser aplicado no exercício fiscal seguinte;
III – De acordo com o princípio da capacidade contributiva, as modalidades
tributárias são cobradas sempre de forma proporcional ao poder aquisitivo do
contribuinte;
IV – As imunidades tributárias relacionadas aos valores culturais, protegidos
e tutelados pela CF, se estendem aos livros, CDs de DVDs de produções
originais de artistas estrangeiros;
V – A imunidade tributária conferida às instituições de assistência social
também vale para aquelas que cobram valores populares de seus assistidos.
Quais das alternativas acima estão corretas?
A) Apenas os itens I e IV;
B) Apenas os itens I, II e V;
C) Nenhuma das alternativas;
D) II, III e IV;
E) Apenas o item I.
Comentários:
I – Verdadeira. Pessoal, a exceção é por medida provisória! De fato, o
Presidente não pode majorar tributo por Decreto.
II – Falsa. Lembra do nosso quadrinho? O IPI é uma exceção ao princípio da
anterioridade fiscal, ele só respeita a nonagesimal.
III – Falsa. Apesar da ideia poder até ser essa, na prática, vários impostos não
seguem esse princípio, como o exemplo do qual falamos: o ICMS.
IV – Falsa. Cuidado! Em relação aos livros, não há qualquer distinção entre
autores nacionais ou estrangeiros. Já no caso de CDs e DVDs há sim!
V – Falsa. O entendimento jurisprudencial nos diz que não pode haver
cobrança aos assistidos, para que se tenha direito à imunidade.

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Conceito de Direito Tributário (Hugo Machado): “ramo do
direito que se ocupa das relações entre fisco e as pessoas
sujeitas a imposições tributárias de qualquer espécie,
limitando o poder de tributar e protegendo o cidadão
contra os abusos desse poder.”
Princípios:
→ Legalidade: necessidade de Lei em sentido estrito.
Algumas exceções importantes:
Necessidade de Lei Complementar
Medida Provisória
Impostos Extrafiscais
→ Anterioridade: vedado para qualquer ente da federação
cobrar tributos no mesmo exercício financeiro em que haja
sido publicada a lei que instituiu (criou) ou aumentou
tributo. E as exceções?
Princípios do Tributos e Extraordinários;
Direito Impostos de Importação e Exportação, IPI e IOF
Tributário Outros importantes exemplos
→Princípio da Anterioridade Nonagesimal: proibição
constitucional de cobrança de tributo com menos de 90
dias da publicação da Lei que o instituiu ou majorou.
→ Princípio da Irretroatividade: Não se pode aplicar tributo
a fato gerador ocorrido antes da publicação da Lei que o
instituiu ou majorou.
→ Outros princípios importantes que vimos:
Princípio da Capacidade Contributiva;
Princípio da Vedação ao Confisco;
Princípio da Não Limitação ao Tráfego;
Princípio da Uniformidade Geográfica;
Princípio da Não Discriminação Baseada na
Procedência ou Destino;
Conceito: Elas representam, na prática, uma
incompetência do Estado em tributar aquele que,
teoricamente, seria sujeito passivo de uma relação
tributária em face de determinado ato que poderia ser
considerado como fato gerador.
Imunidades Primeiro grupo: lembra de três palavrinhas mágicas:
patrimônio, renda e serviços. São aquilo que não podem
ser tributados entre os entes federativos, beleza?
Segundo grupo: Templos de qualquer natureza; partido
políticos; sindicatos de trabalhadores; organizações sem
fins lucrativos para assistência social e educação.

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2. COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA

A competência para legislar sobre direito tributário é o poder


constitucionalmente atribuído para editar leis que versem sobre tributos e
relações jurídicas a eles pertinentes. Por outro lado, a competência tributária
é o poder constitucionalmente atribuído de editar leis que instituam tributos.

COMPETÊNCIA A competência para legislar sobre direito tributário é


PARA CONCORRENTE da União, Estados e DF.
LEGISLAR Art. 24 da CF/88. Compete à União, aos Estados e ao
SOBRE Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
DIREITO I - direito tributário.
TRIBUTÁRIO:
Compete a União editar normas gerais de observância
obrigatória para todos os entes tributantes.
União Art. 24, § 1º No âmbito da legislação concorrente, a
competência da União limitar-se-á a estabelecer normas
gerais
Possuem a competência suplementar. Se a União não
editar as normas gerais, os Estados e o DF exercerão a
competência legislativa plena para atender as suas
peculiaridades.
Art. 24, § 2º A competência da União para legislar sobre
normas gerais não exclui a competência suplementar dos
Estados e Estados.
Distrito § 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados
Federal exercerão a competência legislativa plena, para atender
a suas peculiaridades.
§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais
suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for
contrário.

O CTN é norma geral em matéria tributária. Foi editado na época da


Constituição de 1946 a qual não previa a figura da lei complementar. Pouco
tempo depois entrou em vigor a Constituição Federal de 1967 a qual criou no
direito brasileiro a lei complementar. Por isso, o CTN tem força de lei
complementar desde 15 de março de 1967, quando foi recepcionado pela
Constituição Federal, que entrou em vigor naquela data. O CTN manteve o
mesmo status com o advento da CF/88.

Observe algumas matérias que devem ser tratadas por Lei Complementar:

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Art. 146. Cabe à lei complementar:
I - dispor sobre conflitos de competência, em matéria tributária, entre a
União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
II - regular as limitações constitucionais ao poder de tributar;
III - estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária,
especialmente sobre:
a) definição de tributos e de suas espécies, bem como, em relação aos
impostos discriminados nesta Constituição, a dos respectivos fatos geradores,
bases de cálculo e contribuintes;
b) obrigação, lançamento, crédito, prescrição e decadência tributários;
c) adequado tratamento tributário ao ato cooperativo praticado pelas
sociedades cooperativas.
d) definição de tratamento diferenciado e favorecido para as microempresas e
para as empresas de pequeno porte, inclusive regimes especiais ou
simplificados no caso do imposto previsto no art. 155, II, das contribuições
previstas no art. 195, I e §§ 12 e 13, e da contribuição a que se refere o art.
239.
Parágrafo único. A lei complementar de que trata o inciso III, d, também
poderá instituir um regime único de arrecadação dos impostos e contribuições
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, observado que:

I - será opcional para o contribuinte;


II - poderão ser estabelecidas condições de enquadramento diferenciadas
por Estado;
III - o recolhimento será unificado e centralizado e a distribuição da parcela de
recursos pertencentes aos respectivos entes federados será imediata, vedada
qualquer retenção ou condicionamento;
IV - a arrecadação, a fiscalização e a cobrança poderão ser compartilhadas
pelos entes federados, adotado cadastro nacional único de contribuintes.

A Constituição Federal não cria tributos, apenas outorga competência para que
os entes políticos o façam por meio de leis próprias. Assim, podemos definir a
competência tributária como o poder constitucionalmente atribuído de editar
leis para a instituição de tributos. O exercício do poder atribuído é uma
faculdade, não uma imposição constitucional.

A Lei de Responsabilidade Fiscal estabelece, em seu art. 11, que constituem


requisitos essenciais da responsabilidade na gestão fiscal a instituição,
previsão e efetiva arrecadação de todos os tributos da competência
constitucional do ente da Federação. Diz ainda que é vedada a realização de
transferências voluntárias para o ente que não observe a determinação do art.
11, no que se refere aos impostos. Trata-se de uma verdadeira sanção
institucional. Outra importante característica da competência tributária é a
indelegabilidade, conforme o art. 7º do CTN:

Art. 7º A competência tributária é indelegável, salvo atribuição das funções de


arrecadar ou fiscalizar tributos, ou de executar leis, serviços, atos ou decisões
administrativas em matéria tributária, conferida por uma pessoa jurídica de
direito público a outra, nos termos do § 3º do artigo 18 da Constituição.

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§ 1º A atribuição compreende as garantias e os privilégios processuais que
competem à pessoa jurídica de direito público que a conferir.
§ 2º A atribuição pode ser revogada, a qualquer tempo, por ato unilateral da
pessoa jurídica de direito público que a tenha conferido.
§ 3º Não constitui delegação de competência o cometimento, a pessoas de
direito privado, do encargo ou da função de arrecadar tributos.

Atenção para a exceção prevista no próprio dispositivo legal! A competência


tributária é indelegável, porém a capacidade tributária ativa (parcela
meramente administrativa da competência tributária) é delegável.

COMPETENCIA TRIBUTÁRIA Indelegável


(política)

CAPACIDADE TRIBUTÁRIA ATIVA Delegável a outra pessoa jurídica de


(administrativa) direito público.

O legislador constituinte optou por repartir a competência tributária de maneira


distinta, em se tratando de tributos vinculados ou não vinculados. Nos tributos
vinculados, a regra foi atribuir a competência ao ente que realizar a atividade
com base na qual o fato gerador é definido, o que se relaciona a competência
comum. Por outro lado, nos tributos de natureza não vinculada, a ausência de
atividade estatal na definição do fato gerador implicou na necessidade de a
Constituição escolher o ente a quem seria deferida a competência, o que se
relaciona com a competência privativa. Por isso, os impostos, que são tributos
não vinculados por definição, tiveram sua competência para a instituição
deferida pela CF/88 de maneira privativa.

Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre:


I - importação de produtos estrangeiros; II
II - exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou nacionalizados; IE
III - renda e proventos de qualquer natureza; IR
IV - produtos industrializados; IPI
V - operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores
mobiliários; IOF
VI - propriedade territorial rural; ITR
VII - grandes fortunas, nos termos de lei complementar. IGF

Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre:
I - transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens ou direitos; ITCMD

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II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de
serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda
que as operações e as prestações se iniciem no exterior; ICMS
III - propriedade de veículos automotores. IPVA

Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre:

I - propriedade predial e territorial urbana; IPTU


II - transmissão "inter vivos", a qualquer título, por ato oneroso, de bens
imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis,
exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição; ITBI
III - serviços de qualquer natureza, não compreendidos no art. 155, II, definidos
em lei complementar. ISSQN

Em relação aos Estados, DF e município, as listas são exaustivas. A lista dos


impostos federias não é, contudo, absolutamente exaustiva, uma vez que a
União possui a competência residual para a instituição, mediante Lei
Complementar, de novos impostos, desde que não sejam cumulativos e não
tenham fato gerador ou base de calculo próprios dos discriminados na CF/88. A
União possui ainda a competência extraordinária para criar, na iminência ou
no caso de guerra externa, impostos extraordinários, compreendidos ou não na
sua competência.

Art. 154. A União poderá instituir:


I - mediante lei complementar, impostos não previstos no artigo anterior,
desde que sejam não-cumulativos e não tenham fato gerador ou base de
cálculo próprios dos discriminados nesta Constituição;
II - na iminência ou no caso de guerra externa, impostos extraordinários,
compreendidos ou não em sua competência tributária, os quais serão
suprimidos, gradativamente, cessadas as causas de sua criação.
Também são privativas as competências para instituir:

Empréstimos compulsórios – privativa da União
Contribuições Especiais – privativa da União, ressalvadas dos Estados, do
DF e dos Municípios para instituírem a cobrança da contribuição previdenciária
dos servidores.
Contribuição de Iluminação Pública (COSIP) – privativa dos Municípios e
DF.

Os fatos geradores dos tributos vinculados (taxas e contribuições de melhoria)


são atividades do Estado. Assim, o ente que prestar o serviço público
específico e divisível ou exercer o poder de polícia cobra a respectiva taxa. Ou
ainda, aquele responsável pela realização de obra pública da qual decorra
valorização do imóvel de particular tem competência para instituir a
contribuição de melhoria. Por isso, é da competência tributária comum
instituir taxas e contribuições de melhoria.

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Por fim, a competência tributária cumulativa está prevista no art. 147 da
CF/88:

Art. 147. Competem à União, em Território Federal, os impostos estaduais e,


se o Território não for dividido em Municípios, cumulativamente, os impostos
municipais; ao Distrito Federal cabem os impostos municipais.

Ocorre bitributação quando entes diversos exigem do


mesmo sujeito passivo tributos decorrentes do mesmo
fato gerador.
A bitributação é proibida, tendo em vista a repartição de
competências prevista na CF/88.
Existem, contudo, duas situações em que a bitributação é
Bitributação legítima:
O imposto extraordinário de guerra – a União pode
instituir imposto compreendido ou não da sua
competência. A União poderia instituir um novo ICMS, por
exemplo.
Nos casos que envolvem Estados-nações diversos para
a tributação da renda.
Ocorre bis in idem quando o mesmo ente tributante edita
diversas leis instituindo múltiplas exigências tributárias,
Bis in idem decorrentes do mesmo fato gerador. Não há, na CF/88,
uma genérica vedação expressa. Exemplo de bis in idem:
COFINS e PIS.

Atenção! Conforme entendimento do STF o uso compartilhado de base de


cálculo própria de imposto pelas contribuições não se revela bitributação.
Somente podem ser qualificados como bitributação ou bis in idem os casos em
que o segundo tributo incidente sobre a riqueza é exatamente da mesma
espécie do primeiro.

Competência
para legislar É CONCORRENTE da União, Estados e Distrito Federal.
sobre direito
tributário
PRIVATIVA: de cada ente para a instituição dos impostos
previstos na CF/88.
COMUM: taxas e contribuição de melhoria

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20
Competência RESIDUAL: da União para a instituição de impostos.
tributária EXTRAORDINÁRIA: da União para os impostos no caso
de guerra externa.
CUMULATIVA: Competem à União, em Território Federal,
os impostos estaduais e, se o Território não for dividido em
Municípios, cumulativamente, os impostos municipais; ao
Distrito Federal cabem os impostos municipais.

(CESPE – 2017 - TJ-PR – Juiz substituto)


O município de Curitiba – PR instituiu, por lei ordinária,
taxa de coleta e remoção de lixo para os imóveis urbanos
situados em seu território, estabelecendo como base de
cálculo do tributo a área construída do imóvel, que,
multiplicada pelo valor de R$ 2, resultaria no valor do
tributo devido pelo contribuinte. Acerca dessa situação
hipotética e dos preceitos constitucionais pertinentes ao
poder de tributar, assinale a opção correta.

A) A utilização da área construída do imóvel como parte da


base de cálculo do tributo em questão, por também
compor a base de cálculo do IPTU, torna inconstitucional a
instituição do mencionado tributo.
B) A restrição constitucional para que haja identidade da
base de cálculo atinge apenas as contribuições, e não as
taxas, sendo, portanto, constitucional o tributo em questão.
C) O serviço de coleta e remoção de lixo em questão pode
adotar um dos elementos de base de cálculo de impostos,
desde que não haja identidade completa e o valor pago
pelo contribuinte seja proporcional ao serviço que lhe é
prestado.
D) A coleta e remoção de lixo é serviço público
inespecífico e indivisível, por beneficiar toda a coletividade,
sendo, portanto, inconstitucional a instituição da referida
taxa.

Justificativas:

Súmula Vinculante 29: É constitucional a adoção, no


cálculo do valor de taxa, de um ou mais elementos da base
de cálculo própria de determinado imposto, desde que não
haja integral identidade entre uma base e outra.
"Além disso, no que diz respeito ao argumento da

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utilização de base de cálculo própria de impostos, o
Tribunal reconhece a constitucionalidade de taxas que, na
apuração do montante devido, adote um ou mais dos
elementos que compõem a base de cálculo própria de
determinado imposto, desde que não se verifique
identidade integral entre uma base e a outra. (...) O que a
Constituição reclama é a ausência de completa identidade
com a base de cálculo própria dos impostos e que, em seu
cálculo, se verifique uma equivalência razoável entre o
valor pago pelo contribuinte e o custo individual do serviço
que lhe é prestado." (RE 576321 RG-QO, Relator Ministro
Ricardo Lewandowski, Tribunal Pleno, julgamento em
4.12.2008, DJe de 13.2.2009)

RESPOSTA: C

3. OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA

A obrigação tributária, candidato(a), decorre sempre de um fato gerador, como


se pode extrair do artigo 113, CTN.

(MPE-RR | 2017 | CESPE): A obrigação principal e sua


F obrigação acessória devem decorrer de um mesmo fato
gerador.

Os fatos geradores são distintos. O fato gerador da obrigação acessória pode


ser, por exemplo, o preenchimento de determinado livro empresarial. Destaca-
se, ademais, que os fatos geradores podem ser de origem fática ou jurídica,
conforme previsão do art. 116, do CTN. A obrigação acessória pode se
converter em principal, não se esqueça disso.

(MPE-RS | 2011): Salvo disposição de lei em contrário,


V considera-se ocorrido o fato gerador, em se tratando de situação
jurídica, desde o momento em que esteja definitivamente
constituída, nos termos de direito aplicável.
(MPE-RS | 2017): Somente autoridade judicial poderá
F desconsiderar atos ou negócios jurídicos praticados com a
finalidade de dissimular a ocorrência do fato gerador do tributo.

No caso retratado pela assertiva acima, a autoridade competente seria a


autoridade administrativa, ok? Vamos em frente! Toda obrigação tributária
pressupõe a existência de sujeito ativo (Pessoa Jurídica de Direito Público)
e sujeito passivo (Contribuinte ou Responsável).

Os sujeitos passivos podem estar sujeitos ao fenômeno da solidariedade,


que você encontra nos artigos 124 e 125 do CTN, importante que se faça a
leitura pormenorizada, certo? Outros artigos que devem ser lidos são os de
capacidade e domicílio tributário (arts. 126 e 127, do CTN).

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(MPE-AC | 2014 | CESPE): O princípio da autonomia do
estabelecimento deve ser aplicado quando há várias filiais de
uma mesma empresa, o que ocorre, via de regra, na cobrança
V de ICMS, cujos domicílios tributários devem ser considerados
individualmente, ou seja, cada estabelecimento será
considerado unidade autônoma para os fins fiscais.
ESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA
3.1 RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA

3.1.1. RESPONSABILIDADE DOS SUCESSORES

A responsabilidade dos sucessores ocorre quando há transferência de


direitos e obrigações tributárias, seja por determinação legal, seja por
vontade das partes (quando cabível) a terceiros não originalmente vinculados à
determinada relação tributária. Aqui a obrigação se transfere para o outro
devedor em virtude do “desaparecimento do devedor original”, podendo ocorrer
diante de situações de cunho: comercial, falimentar, imobiliário, ou até
causa mortis. Há um vínculo entre o sucedido e o sucessor.

Dispõe o CTN que os créditos tributários relativos a impostos cujo fato gerador
seja a propriedade, o domínio útil ou a posse de bens imóveis, e bem assim os
relativos a taxas pela prestação de serviços referentes a tais bens, ou a
contribuições de melhoria, subrogam-se na pessoa dos respectivos
adquirentes, salvo quando conste do título a prova de sua quitação (art. 130,
CTN).

Em síntese, pode-se afirmar que o sucessor assume todos os débitos tributário


do sucedido, relativos a fatos geradores ocorridos antes da data do ato ou fato
que demarcou a sucessão, sendo irrelevante o andamento da constituição
definitiva do crédito, posto que regulado pelo fator gerador.

3.1.2. RESPONSABILIDADE DE TERCEIROS

A lei pode atribuir de modo expresso a responsabilidade pelo crédito tributário a


terceira pessoa, vinculada ao fato gerador da respectiva obrigação, excluindo a
responsabilidade do contribuinte ou atribuindo-a a este em caráter supletivo do
cumprimento total ou parcial da referida obrigação. Esta responsabilidade não
se prende à transmissão patrimonial, mas no dever de zelo, legal ou
contratual, que certas pessoas devem ter com relação ao patrimônio de
outrem, geralmente pessoas naturais incapazes ou entes despidos de
personalidade jurídica (espólio e massa falida).

3.1.3. RESPONSABILIDADE POR INFRAÇÕES

Perceba que o assunto é todo bem conectado. “Salvo disposição de lei em


contrário, a responsabilidade por infrações da legislação tributária independe
da intenção do agente ou do responsável e da efetividade, natureza e extensão
dos efeitos do ato” (art. 136, CTN), ou seja, a responsabilização por infrações

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independe do elemento volitivo, de maneira que a responsabilidade não é
elidida quando provada a ausência de culpa ou dolo do agente.

Observe que há casos de responsabilização pessoal presentes em face de: i)


infrações conceituadas por lei como crimes ou contravenções, salvo quando
praticadas no exercício regular de administração, mandato, função, cargo ou
emprego, ou no cumprimento de ordem expressa emitida por quem de direito;
ii) infrações em cuja definição o dolo específico do agente seja elementar; iii)
infrações que decorram direta e exclusivamente de dolo específico.

Além disso, a responsabilidade por infração pode ser afastada diante de


denúncia espontânea de contribuinte, caso ele pague o tributo com os
devidos juros (ou aceite o valor indicado pela administração tributária, se for
preciso apuração) e, cumulativamente, caso a denúncia espontânea se dê
antes de qualquer procedimento de investigação da conduta do contribuinte.

QUESTÃO INÉDITA
Diante das assertivas abaixo, indique a verdadeira.
A) As obrigações tributárias principais e acessórias decorrem de fatos
geradores distintos, que podem ser de ordem jurídica ou fática, e, por isso, a
obrigação acessória jamais pode se transformar em obrigação principal:
B) Ao comprar um imóvel “X”, em 2017, com débitos de IPTU relativos ao
exercício de 2016, o adquirente não é responsável pela quitação desse débito
com o fisco.
C) O exercício de atividade comercial clandestina por uma pessoa jurídica “A”,
diante da qual não se pagou devidamente o ICMS, pode gerar
responsabilidade por infração aos seus sócios-administradores, mas, em
nenhuma hipótese, aos seus contadores.
D) A denúncia espontânea do contribuinte, quando realizada antes de
qualquer procedimento investigativo por parte da autoridade fiscal sobre
aquele determinado tributo e quando acompanhada de pagamento adequado,
afasta a figura da responsabilidade de terceiro.

Comentários:

a) Pessoal, a questão está errada por um detalhe que não pode passar batido.
Conforme já visto, a obrigação acessória pode sim vir a se transformar em
principal. Falsa.
b) Preste atenção! Está-se diante de caso de responsabilidade de sucessor e,
portanto, o ITPU será devido pelo novo proprietário. Falsa.
c) Essa questão comete um erro ao afastar, por completo, a possibilidade de
responsabilidade do contador. Já foi visto que isso sim é possível, havendo,
por exemplo, o dolo. Falsa.

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d) Resposta correta, conforme visto no tópico de responsabilidade por infração
e nas hipóteses legais de denúncia voluntária. Correta.

Obrigação tributária: decorre sempre de um fato gerador


e é anterior ao crédito tributário, posto que dela pode advir
o lançamento. O fato gerador pode ser de ordem fática ou
Obrigação jurídica e é distinto para as duas ordens de obrigações
Tributária tributárias: principais e acessórias. Toda obrigação
tributária pressupõe: sujeito ativo x sujeito passivo.
Sobre a responsabilidade desse sujeito passivo ou de
quem se coloque em seu lugar fala o CTN, conforme
visto.
Foram estudadas as três espécies de responsabilização
previstas no CTN:
- Responsabilidade dos sucessores: os casos
relacionados são os de cunho comercial, falimentar ou
imobiliário, além de causa mortis.
- Responsabilidade de terceiros: a lei pode atribuir de
Responsabilidade modo expresso a responsabilidade pelo crédito
Tributária tributário a terceira pessoa, vinculada ao fato gerador
da respectiva obrigação, excluindo a responsabilidade do
contribuinte ou atribuindo-a a este em caráter supletivo do
cumprimento total ou parcial da referida obrigação.
- Responsabilidade por infração: Ocorre no caso de
responsabilização pessoal diante de casos de
contravenções e dolo, típico em casos que envolvem
pessoas jurídicas e sócios, administradores, contadores,
etc.

4. CRÉDITO TRIBUTÁRIO

O crédito tributário representa a obrigação tributária exigível, ou seja, já


devidamente materializada, individualizada e com valor apurado. Veja-se
como esse conceito é trazido, de forma mais ampla, por Hugo de Brito
Machado: “o vínculo jurídico, de natureza obrigacional, por força do qual o
Estado (sujeito ativo) pode exigir do particular, o contribuinte ou responsável
(sujeito passivo), o pagamento do tributo ou da penalidade pecuniária (o objeto
da relação obrigacional)”.

Daí já se extrai algumas importantes características do crédito tributário:


primeiro, tem-se que ele é uma obrigação líquida e, segundo, que ele também
engloba os valores de penalidades pecuniárias.

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4.1 CONSTITUIÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO:

A base legal para esse assunto está compreendida entre o art. 142 e o art. 150
do CTN. Perceba que saímos um pouco da CF, tão presente no assunto
anterior, agora nosso foco é o Código Tributário Nacional (CTN).

A constituição do crédito tributário ocorre através do LANÇAMENTO. O


lançamento é sempre um ato administrativo, ou seja, é sempre proveniente
do Estado. Enquanto ato administrativo, classifica-se como vinculado e é,
logicamente, obrigatório. Nesse sentido, perceba duas coisas importantes: i) o
servidor público que, responsável pelo lançamento, assim não procede, pode
incorrer em improbidade administrativa, nos termos do Art. 10, x, Lei
8.429/92 (Lei de Improbidade Administrativa); ii) a administração não pode se
negar a fornecer Certidão Negativa de Débitos de natureza tributária (CND)
diante da existência de valores eventualmente devidos ainda não lançados,
justamente pelos motivos que acabamos de ver. Antes do lançamento não
existe a obrigação (posicionamento do STJ).

4.1.1. MODALIDADES DE LANÇAMENTO

O lançamento do crédito é tipicamente decorrente de ato oficioso da


administração pública, necessários ou não que sejam prestadas informações
pelo contribuinte, de acordo com as possibilidades presentes nos art. 147 a 149
do CTN. Por outro lado, importa destacar o chamado lançamento por
homologação. Embora possa aparentar, nesses casos o lançamento não é
feito pelo contribuinte!

4.2 SUSPENSÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO:


Candidato(a), a suspensão da exigibilidade do crédito tributário representa a
paralisação do curso do processo, ou seja, há uma pausa na contagem dos
prazos, que, ao final da situação de suspensão, retornam do ponto do que
pararam. Cuidado: não há “suspensão” para as obrigações acessórias,
conforme previsto no parágrafo único do art. 151 do CTN.

(MPE-RO | 2017 | FMP): A suspensão da exigibilidade do


F crédito tributário dispensa o cumprimento das obrigações
acessórias por parte do beneficiado e também de terceiros que
sejam responsáveis pela retenção do tributo.
(MPE-PB| 2011): A suspensão da exigibilidade do crédito
tributário atinge apenas a obrigação principal, não estando o
V devedor desobrigado da obrigação acessória, salvo se a norma
expressamente a esta se referir.

As causas que suspendem o crédito tributário estão elencadas no art. 151 do


CTN, a saber: i) moratória; ii) o depósito do seu montante integral; iii) as
reclamações e os recursos, nos termos das leis reguladoras do processo
tributário administrativo; iv) a concessão de medida liminar em mandado de

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segurança; v) a concessão de medida liminar ou de tutela antecipada, em
outras espécies de ação judicial; vi) o parcelamento.

Bizu: DEMORE a LIMPAR

DEpósito;
MOratória;
REclamações e recursos;
LIMinares;
PARcelamento de débito;

4.2.1. MORATÓRIA

Conquanto o CTN não conceitue o instituto, é possível afirmar que a moratória


é uma dilatação legal de pagamento de tributos e, portanto, deve se submeter
ao princípio da estrita legalidade. Existem duas ordens de moratória que
podem ser concedidas no âmbito da obrigação ligada ao crédito tributário: de
caráter geral ou individual. Veja o quadro a seguir:

GERAL INDIVIDUAL
I - Pessoa jurídica de
direito público
competente para instituir
o tributo;

II - União, quanto a I – Autoridade


tributos de competência administrativa, desde
Quem concede? dos Estados, do Distrito que autorizada por lei
Federal ou dos nas condições do inciso
Municípios, quando anterior.
simultaneamente
concedida quanto aos
tributos de competência
federal e às obrigações
de direito privado.
Não: “a concessão da
moratória em caráter
individual não gera
direito adquirido e será
revogado de ofício,
Gera direito adquirido? Sim. sempre que se apure
que o beneficiado não
satisfazia ou deixou de
satisfazer as condições
ou não cumprira ou
deixou de cumprir os
requisitos para a
concessão do favor.”

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Salvo disposição de lei em contrário, a moratória somente abrange os créditos
definitivamente constituídos à data da lei ou do despacho que a conceder, ou
cujo lançamento já tenha sido iniciado àquela data por ato regularmente
notificado ao sujeito passivo. Ademais, não podem ser dela beneficiários os
contribuintes que agirem com dolo ou fraude!

Por fim, observe que a lei concessiva de moratória pode circunscrever


expressamente a sua aplicabilidade à determinada região do território da
pessoa jurídica de direito público que a expedir, ou a determinada classe ou
categoria de sujeitos passivos. Tudo bem até aqui? Vamos em frente!

(MPE-PB | 2011): A lei que concede a moratória não poderá


F restringir sua área de abrangência, quer geograficamente, quer
por condição pessoal dos sujeitos a serem atingidos.

4.2.2. DEPÓSITO DO MONTANTE INTEGRAL

Como características do depósito do montante integral, temos que: i) pode ser


anterior ou posterior à constituição definitiva do crédito tributário; ii) não é
obrigatório, tratando-se de uma faculdade do contribuinte que deseje,
essencialmente, suspender o acúmulo de juros e multas enquanto discute o
pagamento definitivo do valor em questão; iii) pode ser realizado nos autos do
processo principal; iv) não constitui, em princípio, receita para os cofres
públicos, posto que o valor fica indisponível, pode, no entanto, ser convertido
em pagamento definitivo, caso o contribuinte não consiga reverter a
situaçãocontestada.

4.2.3. PARCELAMENTO

O parcelamento segue as regras da moratória, quando não houver Lei


específica que o regule. No entanto, é interessante a observância de certos
aspectos: i) salvo disposição de lei em contrário, o parcelamento do crédito
tributário não exclui a incidência de juros e multas. ii) o parcelamento se
destina aos valores vencidos e não pagos, a moratória, por outro lado, pode
valer também para valores vincendos.

4.3 EXTINÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO:

Esse conceito é bem simples. Basicamente, a extinção do crédito tributário


representa a quitação da obrigação tributária ao crédito vinculada

Até rimou! É bom que você grava bem!

As hipóteses de extinção do crédito tributário estão elencadas no art. 156,


CTN, e, dada sua pertinência, colacionamos a seguir: i) o pagamento; ii) a
compensação; iii) a transação; iv) remissão; v) a prescrição e a decadência;
vi) a conversão de depósito em renda; vii) o pagamento antecipado e a
homologação do lançamento nos termos do disposto no artigo 150 e seus §§ 1º

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e 4º; viii) a consignação em pagamento, nos termos do disposto no § 2º do
artigo 164; ix) a decisão administrativa irreformável, assim entendida a
definitiva na órbita administrativa, que não mais possa ser objeto de ação
anulatória; x) a decisão judicial passada em julgado; xi) a dação em
pagamento em bens imóveis, na forma e condições estabelecidas em lei.

4.3.1. PAGAMENTO

Candidato(a), você vai encontrar esse assunto no seu CTN, entre os artigos
156 e 174, vai lá, abre seu Código e vamos juntos!

O pagamento é a modalidade clássica de extinção do crédito tributário, por ser,


naturalmente, a mais comum. No silêncio da lei, o prazo é de 30 (trinta) dias
após a notificação do lançamento. Inclusive, a legislação tributária pode
conceder desconto pela antecipação do pagamento, nas condições que
estabeleça.

Existindo simultaneamente dois ou mais débitos vencidos do mesmo sujeito


passivo para com a mesma pessoa jurídica de direito público, relativos ao
mesmo ou a diferentes tributos ou provenientes de penalidade pecuniária ou
juros de mora, a autoridade administrativa competente para receber o
pagamento determinará a respectiva imputação, obedecidas as seguintes
regras, na ordem em que enumeradas: i) em primeiro lugar, aos débitos por
obrigação própria, e em segundo lugar aos decorrentes de responsabilidade
tributária; ii) primeiramente, às contribuições de melhoria, depois às taxas e por
fim aos impostos; iii) na ordem crescente dos prazos de prescrição; iv) na
ordem decrescente dos montantes. É importante memorizar essa ordem.

No que toca à consignação em pagamento, o art. 164 do CTN aponta para o


seu cabimento quando houver: i) recusa de recebimento, ou subordinação
deste ao pagamento de outro tributo ou de penalidade, ou ao cumprimento de
obrigação acessória; ii) subordinação do recebimento ao cumprimento de
exigências administrativas sem fundamento legal; iii) exigência, por mais de
uma pessoa jurídica de direito público, de tributo idêntico sobre um mesmo fato
gerador (bitributação).

A consignação, destaca-se, opera apenas sobre o valor que o sujeito passivo,


contribuinte, assume dever/deseja pagar. É, inclusive, uma situação muito
comumente realizada para se evitar incorrer em juros e multa sobre aquela
parcela dita incontroversa durante o curso do processo. Perceba que a
consignação só extingue o crédito tributário se for convertida em renda, após
ser julgado procedente o pedido de consignação.
27
4.3.2. DEMAIS MODALIDADES

É de se destacar que alguns autores chamam atenção para o fato deque esse
rol possa ser meramente exemplificativo, diante da existência de outras figuras
de extinção de obrigações, no CC, como o caso da confusão.

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Iremos nos ater apenas a algumas modalidades mais pertinentes.

Compensação (art. 170, CTN) – O conceito dessa modalidade se encontra no


art. 170, CTN e pode ser resumido na possibilidade de acerto de contas entre o
contribuinte e o Estado, ou seja, ocorre a compensação de créditos tributários
com créditos líquidos e certos, vencidos ou vincendos, do sujeito passivo
contra a Fazenda Pública.

Apesar da redação do CTN dar a entender que a abrangência da compensação


é mais ampla, a lei ordinária que regula a matéria estipulou a que a
compensação ocorra somente com tributos da mesma natureza (Art.66, Lei
8.383/1991). Além disso, é vedada a compensação mediante o aproveitamento
de tributo, objeto de contestação judicial pelo sujeito passivo, antes do trânsito
em julgado da respectiva decisão judicial.

Entendimento do STF: Para o supremo, tributos da mesma natureza são, por


exemplo: imposto x imposto; taxa x taxa; etc. (RE n.º 148.754-2)

Transação (art. 171, CTN) – No direito tributário, pode ocorrer apenas após
iniciado o litígio e nos limites legais. A transação, de fato, é uma série de
concessões, de ambas as partes, para dirimir a questão (art. 171, CTN).

Remissão (art. 172, CTN) – A lei pode autorizar a autoridade administrativa a


conceder, por despacho fundamentado (não gera direito adquirido), remissão
total ou parcial do crédito tributário, atendendo: i) à situação econômica do
sujeito passivo; ii) ao erro ou ignorância excusáveis do sujeito passivo, quanto
a matéria de fato; iii) à diminuta importância do crédito tributário; iv) a
considerações de eqüidade, em relação com as características pessoais ou
materiais do caso; v) a condições peculiares a determinada região do território
da entidade tributante.

Muito cuidado! A remissão pode parecer uma figura muito semelhante à


anistia (que veremos logo adiante). Vamos acabar com qualquer dúvida?

REMISSÃO ANISTIA
Extinção Exclusão
Após o lançamento Antes do lançamento
Penalidade já aplicada Penalidade ainda não aplicada

(MPE-AC| 2014| CESPE): A remissão é um benefício fiscal e


deve, no caso do ICMS, ser autorizada pelo CONFAZ antes de
V sua concessão por lei estadual, dado que o citado tributo
submete-se a regramento nacional.

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(MPE-AC| 2014| CESPE): Para a concessão da remissão, a
interpretação da legislação de referência deve ser feita por
V método integrativo, visto que o objetivo é beneficiar o
contribuinte.

4.4 EXCLUSÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO:

Futuro(a) aprovado(a), note que a isenção e a anistia são normas


desonerativas de deveres patrimoniais do contribuinte inviabilizando a
constituição do crédito tributário, atingindo-se o tributo, no caso de uma lei
isentante ou a multa no caso de uma lei anistiadora. Grave: isenta-se o
tributo, anistia-se a multa!

4.4.1. ISENÇÃO

A isenção, regulamentada pelos artigos 176 a 179 do CTN, “ainda quando


prevista em contrato, é sempre decorrente de lei que especifique as condições
e requisitos exigidos para a sua concessão, os tributos a que se aplica e, sendo
o caso, o prazo de sua duração”.

(MPE-RO | 2017 | FMP (adaptada)): A isenção é extensiva,


F salvo disposição de lei em contrário, às taxas e contribuições de
melhoria e aos tributos instituídos posteriormente à sua
concessão.
F (MPE-RO | 2017 | FMP (adaptada)): A isenção dispensa o
cumprimento de obrigações acessórias.

Entendimento do STF: Atenção para a relação entre o art. 178, CTN


(revogabilidade das isenções) e a súmula 544 do STF, que diz o
seguinte:“Isenções tributárias concedidas, sob condição onerosa, não podem
ser livremente suprimidas”. É, pois, um limite aos ditames do artigo
mencionado.

(MPE-SC | 2014): A jurisprudência firmada no âmbito do STF e


do STJ, no sentido da legitimidade de isenção tributária
concedida por meio de Tratado do qual a República Federativa
do Brasil é signatária, na hipótese em que contempla com esse
V favor o similar nacional e subscrito pelo Presidente da República
Federativa do Brasil na qualidade de Chefe de Estado, aplica-se
inclusive a tributos de competência Estadual e
Municipal, o que descaracteriza a existência de uma isenção
heterônoma, vedada pelo art. 151, III, da CF.
(MPE-MA | 2014): A isenção decorre de disposição expressa de
uma lei específica, editada, obrigatoriamente, pela pessoa
política que tem competência tributária em relação ao respectivo
tributo, ressalvada a possibilidade de ser prevista por convênios
V entre os Estados e o Distrito Federal, em relação ao Imposto
sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e

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31
Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e
Intermunicipal e de Comunicação;

4.4.2. ANISTIA

Regulada pelos artigos 180, 181 e 182, do CTN, a anistia é uma causa de
exclusão do crédito tributário, consistente no perdão legal das penalidades
pecuniárias antes da ocorrência do lançamento da multa.

(MPE-CE | 2011 | FCC): Enquanto a anistia é perdão da


V infração, afastando a constituição do crédito tributário
relativamente à multa, a remissão é perdão do crédito tributário,
extinguindo-o.

Não pode ser concedida anistia: i) aos atos qualificados em lei como crimes ou
contravenções e aos que, mesmo sem essa qualificação, sejam praticados com
dolo, fraude ou simulação pelo sujeito passivo ou por terceiro em benefício
daquele; ii) salvo disposição em contrário, às infrações resultantes de conluio
entre duas ou mais pessoas naturais ou jurídicas.

QUESTÃO INÉDITA

A _______ é causa de extinção do crédito tributário e pode ser concedida


após o lançamento.

O termo que completa adequadamente a frase acima é:

A) Remissão
B) Moratória
C) Anistia
D) N.D.R

Comentários:

A resposta correta para a questão é a alternativa “a”, remissão. Lembre-se da


tabela comparativa com a anistia e das características expostas. Não
confunda extinção com exclusão e atente-se para o momento de concessão,
se anterior ou posterior ao lançamento.

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32
O crédito tributário é a materialização da obrigação
tributária. Surge somente após o lançamento e é, portanto,
individualizado e com valor indicado.
Lançamento: sempre ato vinculado da administração
pública, mesmo na hipótese por homologação.

Nesse ponto, três ordens de situações foram destacas:


casos de suspensão; extinção e exclusão do crédito
tributário.

Crédito Suspensão: Bizu - DEMORE a LIMPAR


Tributário
Extinção: Foram analisadas as diversas modalidades de
extinção, dentre as quais a natural é o pagamento que
pode ocorrer de forma indevida e gerar o direito de
restituição, nos casos previstos, conforme analisado.

Se ligue: os casos com mais exemplos, possibilidades, são


os de extinção. Na falta de tempo, decore os outros e vá
por eliminação.
Exclusão: Apenas dois casos: anistia (veja novamente o
quadro que a diferencia da remissão) e isenção (difere da
imunidade pela questão formal, já que a isenção é matéria
de Lei).

5. TRIBUTOS:

Prezado aluno(a), essa é uma matéria básica e de grande incidência n seu


certame, seja de maneira direta, seja indireta. Nesse tópico, vamos fazer de um
jeito um pouco diferente, mas que vai atacar as questões da sua prova.
Primeiro, vamos ter um quadro comparativo, com as principais características e
diferenças de cada espécie de tributo, depois, vamos ver cada uma delas, com
foco nos diversos entendimentos dos tribunais superiores que podem aparecer
para você, certo?

Vinculado Destinação Divisível Específico


legal
Imposto Não Não Não Não
Taxa Sim Sim Sim Sim
Contribuição Sim Não Sim Sim
de melhoria
Contribuições Sim Sim
especiais

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5.1 IMPOSTO:
“Imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação
independente de qualquer atividade estatal específica, relativa ao
contribuinte” (art. 16, do CTN). Significa, pois, que o imposto serve para
manutenção do orçamento público e da máquina do Estado. É importante
destacar, ainda, que os impostos estão limitados àquelas espécies
constitucionalmente previstas, conforme reza o art. 17, também do CTN. Sobre
as espécies de imposto, veremos mais adiante.

(MPE-SC | 2012): A lei federal pode cometer aos Estados, ao


Distrito Federal ou aos Municípios o encargo de arrecadar os
V impostos de competência da União cujo produto lhes seja
distribuído no todo ou em parte.

5.2 TAXAS:
Podemos assinalar as taxas como um dos tributos de maior pertinência para a
sua prova, principalmente pela vasta jurisprudência existente. Diz-se que as
taxas são cobradas ao destinatário de uma atividade estatal de polícia
(fiscalização, por exemplo) ou de algum serviço público específico e divisível.
(art. 145, CF e art. 77, CTN).

(MPE-MG | 2012): A taxa não pode ter como fato gerador a


F utilização apenas potencial de serviço público específico e
divisível posto à disposição do contribuinte (grifamos).
Esses entendimentos são recorrentes em provas:

Informativo 750, STF: “O pedágio cobrado pela efetiva utilização de rodovias


não tem natureza tributária, mas de preço público, consequentemente, não
está sujeito ao princípio da legalidade estrita”.

Súmula Vinculante 29: “É constitucional a adoção, no cálculo do valor de taxa,


de um ou mais elementos da base de cálculo própria de determinado imposto,
desde que não haja integral identidade entre uma base e outra”.

STF RE nº 588.322/RO (RG): “A regularidade do exercício do poder de


polícia é imprescindível para a cobrança da taxa de localização e fiscalização”.

5.3 CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA:

A contribuição de melhoria cobrada pela União, pelos Estados, pelo DF ou


pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, é instituída para
fazer face ao custo de obras públicas de que decorra valorização imobiliária,
tendo como limite total a despesa realizada e como limite individual o
acréscimo de valor que da obra resultar para cada imóvel beneficiado.

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5.4 CONTRIBUIÇÕES ESPECIAIS:
As contribuições são tributos destinados ao financiamento de gastos
específicos, sobrevindo no contexto de intervenção do Estado no campo social
e econômico, sempre no cumprimento dos ditames da política de governo.

Adiantamos que não é um tema que costuma ser cobrado, no entanto,


recomendamos a leitura do art. 149 da CF.

QUESTÃO INÉDITA
Sobre as diversas espécies tributárias, aponte a resposta correta:
A) Os impostos, enquanto tributos não-vinculados, são exclusivamente
aqueles previstos no texto da Constituição Federal, mesmo que, em certos
casos, possam vir a ser regulados por leis de outros entes. Assim, ademais, os
impostos só podem ser cobrados por quem tem competência para os
instituírem.
B) As taxas são tributos vinculados e, para sua cobrança, deve haver,
ademais, a divisibilidade dos serviços prestados ou, ao menos, postos à
disposição do contribuinte.
C) São exemplos de taxas cujas instituições são abalizadas pelo entendimento
do STF: taxa de coleta de resíduos sólidos; taxa de iluminação pública e
pedágio.
D) É inconstitucional a adoção, no cálculo do valor de taxa, de um ou mais
elementos da base de cálculo própria de determinado imposto, desde que não
haja integral identidade entre uma base e outra.

Comentários:

a) Perceba que a questão estava correta até a segunda oração. Lembre que
os impostos de competência da União, quando houver previsão de repasse de
verbas provenientes desse imposto para outros entes, eles podem ser
cobrados pelos respectivos entes. Falsa.
b) Questão correta e também de acordo com jurisprudência pacífica dos
tribunais. Correta.
c) Cuidado, pessoal! Iluminação pública e pedágio não podem ser
consideradas espécies de taxas, pelas jurisprudências já colacionadas,
beleza? Falsa.
d) Atenção: coloquei essa questão para que você não escorregue em uma
casca de banana na hora da prova. É constitucional, contanto que a base de
cálculo não seja integralmente igual, é o teor da Súmula Vinculante 29. Falsa.

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Imposto: São os tributos, por excelência, não vinculados.
Servem à manutenção do orçamento público, da máquina
estatal. As espécies de impostos devem ser aquelas
previstas na CF, mesmo que dependam de legislação
regulamentar infra-constitucional.

Taxas: Tenha cuidado, são os tributos mais controvertidos,


pela vasta polêmica jurisprudencial que os envolvem.
Observe, portanto, as jurisprudências colacionadas ao
material e treine com muitas questões. Importante destacar
que diferem dos chamados preços públicos ou tarifas. São
Tributos vinculados; divisíveis e específicos, mas a atividade que
custeiam pode ser meramente posta à disposição do
contribuinte.

Contribuições de melhoria: O que mais costuma cair


sobre a matéria versa sobre os limites individuais e
coletivos dos valores possivelmente cobrados, conforme
visto. Além disso, perceba que o sujeito passivo deve ter,
necessariamente, se beneficiado de uma atividade do
estado que não se voltou para toda a comunidade.

Contribuições especiais: Assunto que pouco aparece em


provas, mas deve ser visto o Art. 149, CF.

6. ESPÉCIES TRIBUTÁRIAS

6.1 IMPOSTOS FEDERAIS:

O Imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação
independente de qualquer atividade estatal específica, relativa ao
contribuinte, por isso não se confunde com as taxas. Nessa esteira, segundo o
Art. 18 do CTN Compete:

I - à União, instituir, nos Territórios Federais, os impostos atribuídos aos


Estados e, se aqueles não forem divididos em Municípios, cumulativamente, os
atribuídos a estes;
II - ao Distrito Federal e aos Estados não divididos em Municípios, instituir,
cumulativamente, os impostos atribuídos aos Estados e aos Municípios.

Várias são as modalidades de impostos descritas tanto na CF como no CTN,


quais impostos são esses? A CF descreve:

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36
União Estados/DF Municípios
Art. 153. Compete à Art. 155. Compete aos Art. 156. Compete aos
União instituir impostos Estados e ao Distrito Municípios instituir
sobre: Federal instituir impostos sobre:
impostos sobre:
I - importação de I - propriedade predial e
produtos estrangeiros; I - transmissão causa territorial urbana;
II - exportação, para o mortis e doação, de II - transmissão "inter
exterior, de produtos quaisquer bens ou vivos", a qualquer título,
nacionais ou direitos; por ato oneroso, de
nacionalizados; II - operações relativas à bens imóveis, por
III - renda e proventos circulação de natureza ou acessão
de qualquer natureza; mercadorias e sobre física, e de direitos reais
IV – produtos prestações de serviços sobre imóveis, exceto os
industrializados; de transporte de garantia, bem como
V - operações de interestadual e cessão de direitos a sua
crédito, câmbio e intermunicipal e de aquisição;
seguro, ou relativas a comunicação, ainda que III - serviços de qualquer
títulos ou valores as operações e as natureza, não
mobiliários; prestações se iniciem no compreendidos no art.
VI – propriedade exterior; 155, II, definidos em lei
territorial rural; III - propriedade de complementar.
VII - grandes fortunas, veículos automotores.
nos termos de lei
ncomplementar.

Em resumo:

União Estados DF Municípios


II ICMS ICMS IPTU
IE IPVA IPVA ITBI
IMPOSTO ITR ITCMD ITCMD ISS
IR IPTU
IPI ITBI
IOF ISS
IGF

Atenção! Observe que o DF acumula alguns impostos que seriam de


competência dos municípios, isso em virtude de sua natureza híbrida.
Passaremos agora a demonstrar algumas das principais espécies de
impostos da União, a saber:

I. Impostos sobre a Importação (II)


Que é um imposto de competência da União, que recai sobre a importação
de produtos estrangeiros e tem como fato gerador a entrada destes no
território nacional.

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37
Esse imposto é uma exceção à anterioridade e noventena, de modo que o ato
do Poder executivo que determine a modificação de suas alíquotas terá efeitos
imediatos.

Sua base de cálculo terá como base:


a) alíquota específica: a unidade de medida adotada pela lei tributária
(quantidade de mercadoria);
b) alíquota ad valorem: o valor aduaneiro que o produto, ou seu similar,
alcançaria, ao tempo da importação, em uma venda em condições de livre
concorrência, para entrega no porto ou lugar de entrada do produto no País;
c) quando se trate de produto apreendido ou abandonado, levado a leilão, o
preço da arrematação.

Sendo contribuinte do imposto:


a) o importador ou quem a lei a ele equiparar;
b) o arrematante de produtos apreendidos ou abandonados.

II. Imposto sobre a Exportação (IE)

Também de competência da União, recai sobre a exportação, para o


estrangeiro, de produtos nacionais ou nacionalizados e tem como fato gerador
a saída destes do território nacional.

Também é uma exceção aos princípios da Anterioridade e Noventena. É um


imposto extrafiscal, pois se refere a política econômica e comércio
internacional.

Sua base de cálculo será:


a) quando a alíquota seja específica, a unidade de medida adotada pela lei
tributária;
b) quando a alíquota seja ad valorem, o preço normal que o produto, ou seu
similar, alcançaria, ao tempo da exportação, em uma venda em condições de
livre concorrência.

No mais, os efeitos elencados na alíquota ad valorem, se materializam com a


entrega efetuada no porto ou lugar da saída do produto, deduzidos os tributos
diretamente incidentes sobre a operação de exportação e, nas vendas
efetuadas a prazo superior ao corrente no mercado internacional o custo do
financiamento. Por fim, o contribuinte do imposto será o exportador ou quem a
lei a ele equiparar.

III. Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural

De competência da União, o presente imposto tem como fato gerador a


propriedade, o domínio útil ou a posse de imóvel por natureza, como definido
na lei civil, localização fora da zona urbana do Município.

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38
Sua base de cálculo é o valor fundiário do bem. E o seu contribuinte será o
proprietário do imóvel, o titular de seu domínio útil, ou o seu possuidor a
qualquer título.

IV. Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza

Trata-se de um imposto de competência da União, recaindo sobre a renda e os


proventos de qualquer natureza e tem como fato gerador a aquisição da
disponibilidade econômica ou jurídica. Nesse sentido, renda passa a ser
entendida como o produto do capital, do trabalho ou da combinação de ambos.

Enquanto que os proventos se materializam nos acréscimos patrimoniais não


compreendidos no conceito de renda. Descrevendo o § 1º do art. 43 do CTN
que; § 1o A incidência do imposto independe da denominação da receita ou do
rendimento, da localização, condição jurídica ou nacionalidade da fonte, da
origem e da forma de percepção.

Nessa esteira, volte ao Item 1.2.1 e reveja o princípio da pecúnia non olet.
Ademais, a base de cálculo do imposto é o montante, real, arbitrado ou
presumido, da renda ou dos proventos tributáveis. E o seu contribuinte é o
titular da disponibilidade da renda e/ou proventos.

Esses foram os principais impostos elencados por nós, remetemos o Futuro


delta análise de demais tributos dessa espécie presente no CTN.
Agora vamos analisar as demais modalidades tributárias.

V. Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI)

O IPI é um tributo de função predominantemente fiscal (arrecadatória), mas


também possui função extrafiscal na medida em que suas alíquotas são
selecionadas a partir do produto, de modo que o governo busca baratear ou
onerar produtos de acordo com a sua importância social e econômica. Constitui
exceção aos princípios da Anterioridade e Legalidade, respeitando o princípio
da Noventena.

O IPI é lançado por homologação, cabendo ao sujeito passivo antecipar o


pagamento do imposto. Suas alíquotas são variáveis e não cumulativas (não
há efeito cascata).

O fato gerador do IPI se encontra descrito no art. 46 do CTN (ler as hipóteses).

VI. Imposto sobre Operações Financeiras (IOF)

O imposto em tela recai sobre operações de crédito, câmbio, seguro, valores


imobiliários. Há no IOF um predomínio da função extrafiscal, apesar de
representar uma boa ajuda na formação do orçamento federal.

O IOF é exceção aos princípios da Legalidade tributária, Anterioridade e


Noventena, posto ser um tributo de cobrança imediata. A forma como seus

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39
valores são lançados é por homologação. O fato gerador está previsto no art.
63, CTN (leitura obrigatória) e recai, como já ressaltado, sobre operações de
crédito, de seguro, títulos e valores imobiliários.

VII. Imposto sobre Grandes Fortunas

É outro imposto de competência da União. Por questões políticas o referido


tributo não foi criado, apesar de existir expressa previsão no texto
Constitucional (art. 153, VII da CRFB). É necessário Lei complementar para
sua eventual criação e o IGF deve submeter-se à Anterioridade e Noventena.

O fato gerador é o acumulo de riquezas, detalhes estes que deverão estar


previstos na lei que futuramente o criará (se um dia for criado) rsrs!

6.2 IMPOSTOS ESTADUAIS E DISTRITAIS:

Vamos agora analisar os impostos dos Estados e do DF:

VIII. Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doações (ITCMD)

É de competência dos Estados e do Distrito Federal instituir o “imposto da


herança”. O fato gerador é a transmissão de bens móveis ou imóveis em
decorrência da morte. Ocorre também o fato gerador do ITCMD na transmissão
entre vivos por meio de doação. O contribuinte do imposto é o herdeiro ou
legatário, ou seja, a pessoa que se beneficia com a doação. A renúncia ao bem
ou a doação afasta o fato gerador do renunciante.

IX. Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS)

É de competência dos Estados e do DF é um tributo essencialmente fiscal


(função arrecadatória). O lançamento do crédito se dá por homologação.
49
O ICMS poderá ser seletivo em razão das mercadorias e serviços oferecidos.

Os fatos geradores do imposto em tela estão previstos no art. 155, II e são: I)


operações relativas à circulação de mercadorias; II) prestação de serviços de
transporte interestadual e intermunicipal; III) prestação de serviços de
comunicação. A base de cálculo é o valor da operação no momento da saída
da mercadoria ou do preço do serviço.

Atenção! Leitura das seguintes súmulas: Súmula Vinculante 32 do STF;


Súmulas 536, 570, 572, 573, 574, 576, 577, 660, 661, 662 do STF. Além das
Súmulas 68, 94, 95, 135, 155, 163, 166, 167, 198, 334, 350, 391, 395, 431,
432, 433, 457 do STJ.

X. Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA)

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40
É imposto de competência dos Estados e DF, tem função arrecadatória, tendo
como único objetivo a obtenção de recursos públicos para o custeio da
Administração. O lançamento se dá por homologação. O fato gerador é a
propriedade de veículo automotor (carros, motos, ônibus, caminhões).
Portanto, se considera ocorrido o fato gerador na data da aquisição do veículo
pelo consumidor final.

Atenção! O STF entende que não incide IPVA sobre a propriedade de


embarcações e aeronaves (RE 134. 509 e RE 255.111)

6.3 IMPOSTOS MUNICIPAIS E DISTRITAIS:

Por fim vamos aos tributos Municipais e do Distrito Federal, agora você
entende a natureza híbrida do DF né mesmo? Vamos lá!

XI. Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana

Trata-se de um imposto de competência dos Municípios, que recai sobre a


propriedade predial e territorial urbana e tem como fato gerador a propriedade,
o domínio útil ou a posse de bem imóvel por natureza ou por acessão física,
como definido na lei civil, localizado na zona urbana do Município.

O lançamento é feito de ofício pelo Fisco na medida em que a autoridade


administrativa utiliza das informações cadastradas do contribuinte, sobre
imóvel, valor venal etc. O IPTU se sujeita apenas à anterioridade anual, mas
não a Noventena. O fato gerador do IPTU é a propriedade urbana, o art. 32 do
CTN define o que vem a ser zona urbana (façam a leitura do presente artigo).

Atenção! Apesar de punível pela LRF, o Município não está obrigado


constitucionalmente a criar e arrecadar o IPTU. Terá o mesmo a base de
cálculo aferível em razão do valor venal do imóvel. Por fim, o seu contribuinte
será o proprietário do imóvel, o titular do seu domínio útil, ou o seu possuidor a
qualquer título.
XII. Imposto sobre a Transmissão Inter vivos de bens imóveis
(ITBI)

É um tributo de competência municipal e distrital. Possui função


exclusivamente fiscal (arrecadatória) na medida que a única finalidade é obter
recursos para custear despesas municipais.

O ITBI não incide sobre a transmissão de bens a pessoa jurídica. O fato


gerador está prevista no art. 156, II do CTN (leitura obrigatória do dispositivo).

Por sua vez, o fato gerador não ocorre sobre registro em cartório de hipoteca,
compromisso de compra e venda simples e usucapião.

Por fim a base cálculo do ITBI é o valor venal dos bens ou direitos
transmitidos e não do preço do negócio celebrado. XIII. Imposto sobre
Serviços de qualquer natureza (ISS)

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41
É tributo de competência municipal e distrital nos termos de lei complementar
federal. O ISS é cobrado com finalidade essencialmente arrecadatória,
instituído somente para obter receitas públicas ao município e distrito federal.

Compete a LC federal i) instituir as alíquotas; II) excluir da sua incidência


exportações e serviços e III) regular a forma e condições de isenções,
incentivos, benefícios fiscais.

O fato gerador é amplo e incide sobre serviços de qualquer natureza. O


imposto é devido, em regra, no local em que o estabelecimento prestador se
encontra.

Atenção! A locação não gera ISS, pois não possui o objeto essencial a
prestação de serviços.

ESPÉCIES TRIBUTÁRIAS
Impostos Federais, Estaduais, Distritais e Municipais

O Imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador


uma situação independente de qualquer atividade
estatal específica, relativa ao contribuinte, por isso não se
confunde com as taxas.

Os tributos
Os Tributos Imposto de Exportação (IE);
Imposto de Importação (II);
Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR);
Imposto de Renda (IR);
Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI);
Impostos sobre Operações Financeiras (IOF);
Impostos sobre Grandes Fortunas (IGF);
Impostos sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços
(ICMS);
Impostos sobre a Propriedade de Veículos AutomotoIPVA);
Impostos sobre a Transmissão Causa Mortis e Doações
(ITCMD)
Impostos sobre a Propriedade Territorial Urbana;
Impostos sobre a Transmissão Inter vivos de bens
imóveis (ITBI);
Impostos sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS)
01 Direito Tributário Conceito de Tributo e Espécies
Tributárias Ano: 2017 Banca: CONSULPLAN Órgão:
TRE-RJ Prova: Analista Judiciário - Área Judiciária

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988


preveu, em seu Artigo 148, o empréstimo compulsório
como uma das espécies tributárias. Esse tributo tem como
particularidade a previsão de resgate do valor arrecadado
pelo contribuinte, nos termos do parágrafo único, Artigo 15

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42
do CTN – Código Tributário Nacional. Assinale a
alternativa correta em termos constitucionais acerca do
instituto.

a) Somente a União poderá institui-lo.


b) Além de lei complementar, principal veículo normativo
da espécie, poderá ser instituído através de medida
provisória.
c) O valor arrecadado com o tributo poderá ser utilizado
para o pagamento de qualquer despesa da entidade
tributante instituidora.
d) Possui como fatos geradores de sua incidência
despesas extraordinárias decorrentes de calamidade
pública, de guerra externa ou sua iminência; e, ainda,
investimento público de caráter urgente e de relevante
interesse nacional.

Gabarito: Letra A

Comentários: Letra A. Correta.

Art. 148. A União, mediante lei complementar, poderá


instituir empréstimos compulsórios:
I - para atender a despesas extraordinárias, decorrentes de
calamidade pública, de guerra externa ou sua iminência;
II - no caso de investimento público de caráter urgente e de
relevante interesse nacional, observado o disposto no art.
150, III, "b".

Parágrafo único. A aplicação dos recursos provenientes de


empréstimo compulsório será vinculada à despesa que
fundamentou sua instituição.

02 Direito Tributário Conceito de Tributo e Espécies


Tributárias Ano: 2017 Banca: CONSULPLAN Órgão:
TRE-RJ Prova: Analista Judiciário - Área Judiciária

Nos termos do Artigo 16, do CTN, “imposto é o tributo cuja


obrigação tem por fato gerador uma situação independente
de qualquer atividade estatal específica, relativa ao
contribuinte”. Assinale a alternativa correta em termos
constitucionais acerca do instituto.

a) Ao Distrito Federal cabem os impostos municipais.


Serão de competência da União, em Território Federal, em
qualquer hipótese, os impostos estaduais municipais.
b) A União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal
poderão instituir, mediante lei, impostos não previstos na
Constituição da República Federativa do Brasil, desde que

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43
sejam não cumulativos e não tenham fato gerador ou base
de cálculo próprios dos discriminados, naquele normativo.
c) Cabem aos Estados e ao Distrito Federal, os impostos
sobre operações relativas à circulação de mercadorias e
sobre prestações de serviços de transporte interestadual e
Perguntas intermunicipal e de comunicação; sobre propriedade de
veículos automotores; e sobre transmissão inter vivos, a
qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis, por
natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre
imóveis, exceto os de garantia, bem como cessão de
direitos a sua aquisição.
d) No que tange à matéria tributária, a União, em caso de
guerra, poderá se utilizar de duas competências previstas
na Constituição: a instituição de empréstimos
compulsórios e, especificamente na área de impostos, a
utilização da competência extraordinária de guerra (através
da qual a União poderá instituir impostos extraordinários,
compreendidos ou não em sua competência tributária, os
quais serão suprimidos, gradativamente, cessadas as
causas de sua criação).

Gabarito: Letra D

Comentário:

Art. 148. A União, mediante lei complementar, poderá


instituir empréstimos compulsórios:
I - para atender a despesas extraordinárias, decorrentes de
calamidade pública, de guerra externa ou sua iminência;

Art. 154. A União poderá instituir:


II - na iminência ou no caso de guerra externa, impostos
extraordinários, compreendidos ou não em sua
competência tributária, os quais serão suprimidos,
gradativamente, cessadas as causas de sua criação.

03 Direito Tributário Conceito de Tributo e Espécies


Tributárias Ano: 2017 Banca: CESPE Órgão: DPU
Prova: Defensor Público

A respeito das espécies tributárias existentes no sistema


tributário brasileiro, julgue o item que se segue. No cálculo
do valor de determinada taxa, pode haver elementos da
base de cálculo de algum imposto, desde que não haja
total identidade entre uma base e outra.

Gabarito: Certo

Súmula Vinculante 29 É constitucional a adoção, no

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44
cálculo do valor de taxa, de um ou mais elementos da base
de cálculo própria de determinado imposto, desde que não
haja integral identidade entre uma base e outra.
04 Direito Tributário Conceito de Tributo e Espécies
Tributárias Ano: 2017 Banca: CONSULPLAN Órgão: TJ-
MG Prova: Titular de Serviços de Notas e de Registros

A partir da definição legal de tributo, considerando-se o art.


3º e outras disposições constantes do Código Tributário
Nacional, é correto afirmar:
a) Tributo é toda prestação pecuniária, podendo constituir
sanção de ato ilícito.
b) Tributo é prestação em moeda ou cujo valor nela se
possa exprimir, sendo vedado o uso de unidades fiscais
para indexação.
c) Tributo é pagável em dinheiro, mas também em bens
imóveis, nos termos da lei.
d) A característica de ser prestação compulsória denota a
natureza de receita originária do tributo.

Gabarito: Letra C.

Comentários:

Letra A) Errado, o tributo não pode constituir sanção por


ato ilícito;
Letra B) Errado, é possível o uso de unidades fiscais de
indexação;
Letra C) Correta.
Letra D) Errado. É receita derivada.

05 Direito Tributário Conceito de Tributo e Espécies


Tributárias Ano: 2017 Banca: CONSULPLAN Órgão: TJ-
MG Prova: Titular de Serviços de Notas e de Registros

Relativamente às taxas, assinale a alternativa correta:

a) A Constituição Federal menciona quais as taxas que


são de competência das entidades tributantes,
obedecendo-se ao critério de repartição de atribuição
administrativa para a prestação do serviço.
b) A taxa de serviço público específico e divisível possui,
como fato gerador, a utilização efetiva ou potencial desse
mesmo serviço, podendo ainda ser instituída para repartir
os custos de serviço estatal efetivamente existente ou para
angariar recursos para a sua implantação.
c) O serviço de iluminação pública pode ser remunerado
mediante taxa.
d) A taxa cobrada exclusivamente em razão dos serviços

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45
públicos de coleta, remoção e tratamento ou destinação de
lixo ou resíduos provenientes de imóveis, não viola o art.
145, II, da Constituição Federal.

Gabarito: Letra D

Comentários:

A) A CRFB menciona apenas os fatos geradores das


taxas, mas não a atribuição administrativa das entidades
tributantes;
B) Errada. Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal
e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos:

II - taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou


pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos
específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou
postos a sua disposição;
C) Errada. Súmula Vinculante nº 14;
D) Correta. Súmula Vinculante nº 19.

06 Direito Tributário Conceito de Tributo e Espécies


Tributárias Ano: 2017 Banca: CONSULPLAN Órgão: TJ-
MG Prova: Titular de Serviços de Notas e de Registros

Dado que o fato gerador significa um evento e a base de


cálculo, a grandeza que o dimensiona numericamente,
considerando-se os impostos e as taxas, é correto afirmar:

a) A base de cálculo dos impostos deve ser a grandeza


que dimensiona a manifestação de riqueza, sendo também
totalmente idônea para regular a taxa, que guarda relação
com a contraprestação estatal.
b) É constitucional a adoção, no cálculo do valor de taxa,
de um ou mais elementos da base de cálculo própria de
determinado imposto, desde que não haja integral
identidade entre uma base e outra.
c) Não viola a garantia constitucional de acesso à
jurisdição a taxa judiciária calculada sem limite sobre o
valor da causa.
d) O Supremo Tribunal Federal entendeu pela
inconstitucionalidade da taxa de fiscalização dos mercados
de títulos e valores mobiliários, cobrada pela Comissão de
Valores Mobiliários, cujos montantes, em moeda corrente,
são determinados em faixas que variam de acordo com o
patrimônio líquido da sociedade ou fundo de investimento
sujeito à fiscalização.

Gabarito: Letra B

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46
Comentário: Correta. Súmula Vinculante 29 – É
constitucional a adoção, no cálculo do valor de taxa, de um
ou mais elementos da base de cálculo própria de
determinado imposto, desde que não haja integral
identidade entre uma base e outra.

07 Direito Tributário Conceito de Tributo e Espécies


Tributárias Ano: 2017 Banca: CONSULPLAN Órgão: TJ-
MG Prova: Titular de Serviços de Notas e de Registros

Relativamente aos empréstimos compulsórios, é certo


dizer:
a) São de competência da União e do Distrito Federal.
b) São instituídos, via de regra, por lei complementar.
c) A guerra externa ou sua iminência, a calamidade pública
ou ainda o investimento público de caráter urgente e de
relevante interesse nacional constituem fato gerador do
empréstimo compulsório.
d) A aplicação dos recursos arrecadados é vinculada às
despesas que fundamentaram sua instituição.

Gabarito: Letra D.

Comentários:

Letra A) São de Competência apenas da União;


Letra B) Não há exceção, é sempre instituído por LC;
Letra C) Errado, pois deve haver despesas extraordinárias
para a constituição do Empréstimo Compulsório.
Letra D) Correto. Art. 148, parágrafo único da CRFB.

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47
APRESENTAÇÃO

Caro(a) Aluno(a),

A preparação para concursos públicos exige profissionalismo, métrica e


inteligência. Cada minuto despendido deve ser bem gasto! Por isso, uma
preparação direcionada, focada nos pontos com maior probabilidade de
cobrança no seu certame, pode representar a diferença entre aprovação e
reprovação.

Ciente disso, a Ad Verum Suporte Educacional, empresa do Grupo CERS


ONLINE, concebeu o curso INTELIGÊNCIA PDF – CARREIRAS JURÍDICAS,
que tem por premissa fundamental “atacar” os pontos nucleares de cada
matéria, com vistas a antecipação dos temas com maiores chances de
cobrança em sua prova.

Fazer isso não é tarefa fácil! É necessário um árduo esforço de pesquisa,


levando-se em consideração fatores como banca examinadora e respectivos
membros (sempre que possível), retrospecto do concurso, recorrência temática
dentro de cada disciplina, importância de cada tema, momento da segurança
pública do país, dentre tantos outros, aliados a experiência de Professores de
projeção nacional, com larguíssima experiência na análise do perfil dos mais
diferentes certames.

Para tornar tudo isso uma realidade, a Ad Verum investiu muito em seu Método
de Aceleração de Aprendizagem (MAVAA). Hoje, contamos com um SETOR
DE INTELIGÊNCIA, responsável por ampla coleta de dados e informações das
mais diferentes fontes relacionadas ao universo de cada concurso e/ou exame
profissional, de modo, a partir do processamento dos dados coletados, oferecer
aos seus alunos uma experiência diferenciada quando comparada a tudo que
ele conhece em matéria de preparação para carreiras públicas.

Racionalizar o estudo do aluno é mais que um objetivo para Ad Verum, trata-se


de uma obsessão.

Estude inteligente, estude Ad Verum!

Francisco Penante
CEO Ad Verum Suporte Educacional

1
SUMÁRIO

DIREITO INTERTEMPORAL ............................................................................. 4


DA JURISDIÇÃO, DA AÇÃO E DA COMPETÊNCIA ....................................... 6
DA COMPETÊNCIA: ..................................................................................... 10
DA COMPETÊNCIA INTERNA: .................................................................... 12
COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA MATÉRIA, PESSOA, DO VALOR CAUSA
E TERRITÓRIO. ........................................................................................ 12
DA COMPETÊNCIA ABSOLUTA OU RELATIVA: ..................................... 13
DISPOSIÇÕES GERAIS SOBRE A COMPETÊNCIA................................ 14
DA MODIFICAÇÃO DE COMPETÊNCIA: ..................................................... 14
TUTELA PROVISÓRIA .................................................................................... 20
CONCEITO: .................................................................................................. 20
CLASSIFICAÇÃO: ........................................................................................ 21
QUANTO AO FUNDAMENTO: URGÊNCIA X EVIDÊNCIA ....................... 21
QUANTO AO TEMPO DA URGÊNCIA ...................................................... 22
TUTELA DE URGÊNCIA: ............................................................................. 22
CLASSIFICAÇÃO DAS TUTELAS DE URGÊNCIA ................................... 23
TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA DE NATUREZA ANTECIPADA .. 23
TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA DE NATUREZA CAUTELAR: ..... 25
TUTELA DE EVIDÊNCIA .............................................................................. 27
LITISCONSÓRCIO........................................................................................... 30
INTERVENÇÃO DE TERCEIROS ................................................................... 31
PROCEDIMENTO COMUM ............................................................................. 35
IMPROCEDÊNCIA LIMINAR DO PEDIDO: .................................................. 36
AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO:........................................... 37
CONTESTAÇÃO: ............................................................................................ 40
REVELIA .......................................................................................................... 40
JULGAMENTO ANTECIPADO DO MÉRITO: ................................................. 43
DECISÃO DE SANEAMENTO: ....................................................................... 45
PROVAS: ......................................................................................................... 45
ÔNUS DA PROVA: ....................................................................................... 45
SENTENÇA: .................................................................................................... 48

2
REEXAME NECESSÁRIO: ........................................................................... 50
COISA JULGADA E QUESTÕES PREJUDICIAIS: ....................................... 50
LIQUIDAÇÃO: ............................................................................................... 51
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA (ARTIGOS 513 a 538) ............................ 52
DOS RECURSOS ............................................................................................ 56
TEORIA GERAL DOS RECURSOS: ............................................................. 56
DA TÉCNICA DE JULGAMENTO EM ACÓRDÃO NÃO UNÂNIME: ............ 57
RECURSOS EM ESPÉCIE: .......................................................................... 58
AÇÃO RESCISÓRIA: ...................................................................................... 71
RECLAMAÇÃO ............................................................................................... 74
EXECUÇÃO: .................................................................................................... 75

3
DIREITO INTERTEMPORAL

O começo do estudo de um novo código deve ser feito sempre de trás para
frente, pois é essencial saber as disposições finais e transitórias. Sendo assim,
abaixo serão expostos os principais artigos marcos à aplicação do Novo
Código.

Atualmente, não há mais divisão entre procedimento sumário e ordinário,


sendo o procedimento do CPC/15 denominado de comum. Porém, de acordo
com o §1º, do artigo 1.046, as ações que foram distribuídas antes da vigência
do novo código, sob o rito sumário ou dos procedimentos especiais, tramitarão
sob esses procedimentos, até que seja proferida da sentença.

Porém, quando da abertura do prazo para a interposição de recurso, surge um


novo direito para a parte – o direito subjetivo ao recurso-, e por isso é
perfeitamente possível, a partir daí, sejam impostas as regras do CPC sobre
recursos e seu processamento.

O Fórum de Processualistas Civis entende que o mesmo se aplica aos


procedimentos cautelares:

En. 568 FPPC – Também se proposta cautelar antes da vigência do novo


código esta ação também se enquadra na hipótese do parágrafo primeiro do
artigo 1046.

Artigo 1046. A norma processual quando entra em vigor atinge todos os atos
vigentes.

§ 1º - Nas ações de procedimento sumário e procedimentos especiais que


forem revogadas, serão aplicadas às ações propostas e não sentenciadas até
o início da vigência do novo código, as regras dos procedimentos previstas no
antigo CPC.

No que tange às provas, o marco será a data do requerimento da prova, de


maneira que, se requerida na vigência do CPC/73, este será aplicado mesmo
que a decisão que a defira tenha sido proferida após a vigência do CPC/15.

Art. 1.047. As disposições de direito probatório adotadas neste Código


aplicam-se apenas às provas requeridas ou determinadas de ofício a partir
da data de início de sua vigência.

Com relação aos recursos, de acordo com o STJ, a lei vigente à época da
prolação da decisão que se pretende reformar é que rege o cabimento e a
admissibilidade do recurso.

4
Publicar a sentença é torná-la pública, de forma que não se confunde
publicação com intimação. Neste sentido, a publicação ocorrerá em audiência,
quando a decisão é proferida neste ato. No processo físico, a publicação ocorre
quando a decisão é juntada aos autos e, no caso de processo eletrônico, a
decisão é considerada publicada quando disponibilizada na plataforma do PJE.
Por fim, com relação ao acórdão, sua publicação se dá na sessão de
julgamento.

(Ano: 2016. Banca: FCC. Órgão: DPE-BA)

Sobre o direito processual intertemporal, o novo Código de Processo Civil:

A) retroage porque a norma processual é de natureza cogente.

B) torna aplicáveis a todas as provas as disposições de direito probatório


adotadas, ainda que requeridas antes do início de sua vigência.

C) vige desde o dia de sua publicação, porque a lei processual é de natureza


cogente e possui efeito imediato.

D) extinguiu o procedimento sumário, impondo a extinção de todas as ações


ajuizadas sob este procedimento, incluindo as anteriores à sua entrada em
vigor.

E) não possui efeito retroativo e se aplica, em regra, aos processos em curso,


respeitados os atos processuais praticados e as situações jurídicas
consolidadas sob a vigência da norma revogada.

GABARITO COMENTADO

CORRETA: letra “e”, nos termos do artigo 14 do CPC/25.

INCORRETAS:

a) A norma penal não retroagirá e será aplicável imediatamente aos


processos em curso, respeitados os atos processuais praticados e as
situações jurídicas consolidadas sob a vigência da norma revogada.

5
b) Incorreta, pois nos termos do artigo 1047, às provas requeridas antes da
entrada em vigor do NCPC, será aplicado o CPC/73.

c) Nos termos do artigo 1045, houve vacatio legis de um ano, a partir da


publicação da Lei 13.105/15. Neste sentido, o novo código entrou em vigor no
dia 18 de março de 2016.

d) Conforme o §1º, do artigo 1.046, houve a extinção do procedimento sumário


e ordinário, porém, às ações distribuídas antes da entrada em vigor da Lei
13.105/15, aplica-se o procedimento sumário até a prolação da
sentença.

DA JURISDIÇÃO, DA AÇÃO E DA COMPETÊNCIA

Este é um ponto fundamental no estudo dos demais institutos do Direito


Processual Civil. Entendidos estes pontos, já se constrói uma base
relevantíssima para os demais temas de Processo Civil, de modo que estes
conceitos iniciais possuem importância fulcral.
1.1. DA JURISDIÇÃO E DA AÇÃO
Pois bem, comecemos, então, com o conceito de Jurisdição. Jurisdição,
candidato(a), pode ser conceituada como o poder de aplicar (dizer) o direito em
um determinado caso concreto, posto à apreciação do Poder Judiciário. Ou
seja, é o poder-dever de que é dotado o Estado para a solução de
conflitos, decidindo-os com caráter de definitividade e de acordo com os
parâmetros legais. A doutrina elenca alguns princípios centrais aplicáveis à
jurisdição, os quais serão apresentados a seguir:

a) Princípio da Inafastabilidade da Jurisdição: a jurisdição, no Brasil, é


inafastável, de modo que, via de regra, todo e qualquer conflito pode ser
deduzido em juízo, pleiteando-se uma decisão judicial sobre o tema. Este
princípio possui fundamento legal, conforme o art. 3º, do CPC, e constitucional,
nos termos do art. 5º, XXXV, da Constituição Federal.

Por ter sido a inafastabilidade da jurisdição incorporada ao


ordenamentojurídico, pode-se dizer que o Brasil adotou o sistema da
unicidade da jurisdição, também denominado sistema inglês. Com este
sistema, apenas as decisões judiciais possuem a aptidão para produzir a
denominada coisa julgada material, de modo que apenas a decisão
jurisdicional torna-se indiscutível após dela não caber mais recurso. A decisão
administrativa, ainda que proferida em última instância, não formará a
denominada coisa julgada material, podendo a matéria ser objeto
rediscussão perante o Poder Judiciário.

Diferentemente, por exemplo, ocorre no sistema francês, denominado de


contencioso administrativo, em que há uma dualidade de jurisdições: os
conflitos que envolvem a Administração Pública estão sujeitos a uma jurisdição

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especial do contencioso administrativo, sendo julgados por tribunais
administrativos. Há, assim, no sistema francês, dois tipos distintos de
jurisdição: a jurisdição administrativa e a jurisdição comum.

Ressalte-se, ainda, que o princípio da inafastabilidade da jurisdição não


implica proibição da arbitragem, no Brasil. Muito pelo contrário, a
arbitragem é lícita, expressamente prevista no art. 3º, §1º, do CPC, e, em caso
de ter sido pactuada a arbitragem em um contrato escrito, cujo objeto seja
passível de disposição pelas partes, a cláusula de arbitragem valerá,
impedindo o conhecimento da causa pelo Poder Judiciário se for alegada
por uma das
partes.

b) Princípio da Inércia: a jurisdição é inerte. Isto significa que, para a atuação


jurisdicional, é necessária a provocação por uma das partes envolvidas no
litígio, sendo vedada a instauração, de ofício, pelo juiz, de uma ação, sem
qualquer tipo de provocação prévia.

A inércia da jurisdição foi consagrada para se preservar o princípio da


imparcialidade do juiz, tendo em vista que, se fosse possível a instauração de
ofício de uma ação pelo juiz, ele já estaria previamente condicionado a julgar a
demanda em determinado sentido, estando sua capacidade de analisar as
provas e as circunstâncias de modo isento, imparcial, totalmente viciada.

Como dito, para que se possa dizer o direito aplicável a um determinado caso,
é necessário que a jurisdição seja provocada, ou seja, é necessário que o
conflito seja levado por uma das partes ao juízo competente. E quais os
requisitos para que alguém possa levar o conflito à apreciação jurisdicional? No
NCPC, são dois: a legitimidade e o interesse. Preste atenção, pois o CPC
antigo, além destas duas condições, elencava também a possibilidade jurídica
do pedido, a qual no NCPC, como se verá tornou-se matéria meritória, e não
condição da ação.

A legitimidade e o interesse são aferidos de acordo com a teoria da asserção.


E sobre o que trata essa teoria? Segundo a teoria da asserção, as condições
para a ação são aferidas estaticamente, segundo o disposto na petição inicial,
independentemente da procedência ou da improcedência do direito material
deduzido em juízo.

Isto parece um pouco complicado, mas nós vamos passar à análise dos
conceitos de interesse e legitimidade e depois trabalharemos com exemplos,
de modo que a matéria ficará mais clara.

Legitimidade para a causa (ad causam): para que alguém se afigure legítimo
para uma causa, é necessário, em regra, que seja ele titular do direito deduzido
em juízo e diretamente envolvido na relação conflituosa. Quando as partes
legítimas para a causa forem diretamente envolvidas no conflito posto à
apreciação jurisdicional, teremos caso de legitimação ordinária para a causa.

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Por exemplo, se Juca celebra um contrato de compra e venda de um carro com
Beto, paga o preço, mas Beto não lhe entrega o carro no prazo acordado, caso
Juca decida levar o conflito à análise do Poder Judiciário, serão legítimos para
a causa Juca (como autor) e Beto (como réu). Não há dificuldade neste ponto,
certo? Haverá legitimidade ordinária, ainda, nos casos em que houver
representação ou assistência processual, pois o assistente ou representante,
nestes casos, atuam em juízo defendendo direito alheio em nome alheio, ou
seja, atuam em nome de outrem.

Há casos, no entanto, em que a lei permite que pessoas alheias ao litígio


atuem no processo como parte, atuando em nome próprio na defesa de
direitos alheios. Há, nestes casos, o que se chama de legitimidade
extraordinária. Um exemplo clássico de legitimidade extraordinária é a
possibilidade de sindicatos atuarem na defesa dos direitos da classe que
representa. Suponha-se que o sindicato de servidores públicos ajuíze ação
pleiteando o pagamento de determinada verba indenizatória em favor de 500
funcionários públicos. Ora, note que o direito pleiteado não é, propriamente, do
sindicato, mas sim dos 500 funcionários. No entanto, a lei, neste caso, permite
a SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL, de modo que o sindicato atue em nome
próprio defendendo direito alheio.

(MPE-SC | 2016): O novo Código de Processo Civil admite a figura da


legitimidade extraordinária, que é atribuída por lei a quem não é sujeito
da relação jurídica deduzida no processo, mas que atua em nome de
terceiros, não ocorrendo, portanto, o fenômeno da substituição
processual nesses casos. Assertiva FALSA.

Interesse de agir ou interesse processual: há interesse processual quando a


via judicial afigura-se necessária, útil e adequada. A necessidade da via
judicial dá-se com a violação de um direito, sem que haja outro modo
juridicamente possível de fazer valer o direito. Observe-se, assim, o caso em
que Beto emprestou dinheiro à Maria, sendo acordado que a devolução do
valor emprestado ocorreria no dia 30/10/2017. No dia 20/10/2017, porém, sem
qualquer motivo justo (sem indício de que Maria se tornaria insolvente ou não
cumpriria a obrigação, por qualquer motivo) Beto ingressou em juízo pleiteando
a devolução imediata do valor emprestado. Ora, não houve, no caso, a violação
do direito, a qual só ocorreria caso o pagamento não fosse realizado até o dia
30/10/2017, de modo que a via judicial mostrou-se, neste caso, desnecessária.

Seria o caso, portanto, de extinção do processo sem resolução do mérito.


Ademais, a demanda jurisdicional pleiteada deve ser útil, ou seja, deve ser
hábil a fazer cessar a violação ao direito deduzida em juízo. Imagine-se que, no
exemplo acima, Maria não tivesse pago o valor no dia 30/10/2017, de modo
que Beto viu-se obrigado a propor a ação cabível para que pudesse obter a
devolução do dinheiro. Beto, então, ao propor a ação, pleiteia que Maria seja
condenada a construir um muro na casa de Beto. Veja, não há qualquer
relação entre a violação do direito e o pedido deduzido em juízo. O pedido
deveria ser que Maria fosse condenada a pagar a quantia emprestada. A
construção do muro não é hábil a reparar a violação do direito, entende? Não

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há qualquer correlação entre a relação jurídica deduzida em juízo e o pedido
jurisdicional realizado.

Por fim, é necessário que a via judicial eleita seja adequada. A adequação
significa que a via judicial deve ser aquela prevista por lei para a solução da
demanda. Por exemplo, suponha que, no exemplo do empréstimo de Beto a
Maria, o contrato de empréstimo tenha sido assinado pelo devedor e por duas
testemunhas, configurando-se um título executivo extrajudicial (art. 784, III, do
CPC). Assim, Beto, em vez de ajuizar a devida ação de execução de título
extrajudicial, ajuíza uma ação de mandado de segurança (ação constitucional
prevista para os casos em que há violação de direito líquido e certo do
impetrante, praticado pelo Poder Público ou por quem lhe faça as vezes.). Ora,
a via judicial eleita é completamente inadequada, de modo que deve ser o feito
extinto sem resolução do mérito.

Explicados o interesse de agir e a legitimidade, passa-se, neste ponto, a


análise destes requisitos nos termos da teoria da asserção (segundo a qual
condições para a ação são aferidas estaticamente, segundo o disposto na
petição inicial).

Ainda na temática do interesse processual, tem-se que este pode limitar se à


declaração de existência, inexistência ou modo de ser (forma como se
interpreta) determinada relação jurídica, além de poder limitar-se à
declaração de falsidade ou autenticidade do documento. Ou seja, a ordem
jurídica pátria consagra a possibilidade da ação meramente declaratória. E esta
é cabível ainda que já tenha ocorrido a violação do direito, ou seja, é cabível
até mesmo nos casos em que já se poderia pleitear, desde logo, a condenação
do réu, e não apenas uma declaração.

O interesse de agir e a legitimidade ad causam devem ser aferidos de um


modo estático, independentemente do direito material. Observe os seguintes
exemplos:

a) Márcio foi flagrado por um radar eletrônico trafegando em seu veículo acima
do limite de velocidade. Foi notificado para que pudesse apresentar defesa,
mas optou por não fazê-lo. Tempos depois, recebeu a correspondência em sua
casa que determinava o pagamento de uma multa de trânsito. Inconformado
com a multa, Márcio ingressa em Juízo, por meio de uma ação anulatória,
pleiteando a nulidade da multa, afirmando que não estava acima do limite de
velocidade e que não foi notificado para apresentar defesa. A ação de Márcio
pode ser conhecida em Juízo? Estão atendidos os requisitos do interesse e da
legitimidade para agir? A resposta para ambas as perguntas é SIM!!!

Observe: Márcio não está com a razão, sua ação provavelmente será
IMPROCEDENTE, mas será, sim, conhecida, pois estão atendidos os
requisitos da legitimidade (já que ele está diretamente relacionado ao conflito,
sendo a multa impugnada a ele imputada) e interesse de agir (o provimento
jurisdicional é necessário, o pedido realizado é útil a resolver o problema

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deduzido em juízo e a via processual eleita é adequada). Isto porque as
condições para o exercício do direito de ação estão atendidas na petição inicial

b) Agora, imagine que foi a Dona Rosane, mãe de Márcio, que trafegou acima
do limite de velocidade. Notificada para apresentar defesa, ela deixou
transcorrer o prazo. Após, recebeu a correspondência que determinava o
pagamento da multa. Márcio, então, inconformado, decide ajuizar uma ação
para sua mãe não ter que pagar a multa. Ajuíza, assim, uma ação de habeas
corpus.
Há o atendimento dos requisitos legais para que a ação seja conhecida? NÃO!!
Márcio não é parte legítima para a ação, já que quem figura na relação jurídica
é sua mãe, a Dona Rosane. Ademais, a via processual eleita afigura-se
completamente inadequada, já que não há violação ou ameaça à liberdade
apta a ensejar o habeas corpus.

c) Princípio da inevitabilidade da jurisdição: Este princípio é de


entendimento muito simples. Do mesmo modo que a jurisdição é inafastável
para o autor, que tem o direito a que sua causa seja julgada pelo Poder
Judiciário, ela é inevitável em relação ao réu, de modo que ele não pode,
simplesmente, querer fugir à aplicação da vontade da jurisdição. Não pode o
réu simplesmente dizer: “eu não me sujeito a esta decisão”. Isto é impossível.
Se fosse possível, todo réu o faria, fugindo da aplicação do direito, o que
esvaziaria a necessidade da existência do Poder Judiciário.

d) Princípio da territorialidade ou da aderência ao território: segundo este


princípio, a jurisdição deve ser exercida pelos juízes dentro de um determinado
território. A jurisdição brasileira, com efeito, é exercida em todo o
territórionacional, pelos juízes e tribunais. Deste princípio decore o que
chamamos de competência, próximo tópico do nosso material e que é
fundamental para qualquer prova de concurso público.

DA COMPETÊNCIA:

A competência é a medida da jurisdição. Versa sobre os casos em que


é possível exercer-se a jurisdição. O juízo a que incumbe o julgamento da
causa é o juízo competente para a causa.

Para que achemos o juízo competente para a causa, devemos, primeiro,


avaliar se a causa deve, ou não, ser julgada por um juiz do Brasil. Em não o
sendo, não há o que fazer, simplesmente a causa não poderá ser conhecida pó
um juiz brasileiro. Em sendo o caso de competência nacional, passa-se à
análise de critérios como matéria, pessoa, hierarquia e território.

Seguindo a ordem acima mencionada, começaremos com a análise dos casos


em que a autoridade judiciária brasileira terá competência para proferir
julgamento. Dentre estes casos, há aqueles em que SOMENTE,
EXCLUSIVAMENTE, a autoridade judiciária brasileira poderá proferir decisões
e aqueles em que há uma competência internacional concorrente, em que o

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processo tanto pode ser conhecido por autoridade brasileira, quanto por
estrangeira.

Podem ser propostas tanto perante autoridade judiciária brasileira quanto


perante autoridade estrangeira as ações previstas nos artigos 21 e 22, do CPC.
Por outro lado, compete EXCLUSIVAMENTE à autoridade judiciária
brasileira as seguintes ações:

a) relativas a bens imóveis situados no Brasil, isto porque os imóveis são


considerados partes integrantes do território nacional, ou seja, dizem respeito,
diretamente, à soberania nacional, de modo que as ações sobre eles devem
ser julgadas pelas autoridades brasileiras, com exclusão de qualquer outra;
b) em matéria de sucessão hereditária, proceder à confirmação de
testamento particular e ao inventário e à partilha de bens situados no Brasil,
ainda que o autor da herança seja de nacionalidade estrangeira ou tenha
domicílio fora do território nacional;
c) em divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável,
proceder à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o titular seja de
nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional.
Você pode se questionar: “o CPC enumera as causas em que a autoridade
judiciária brasileira poderá exercer a jurisdição, mas e o CPC traz alguma
hipótese em que seja vedado o exercício da jurisdição por autoridade judiciária
brasileira?”. Respondemos, sim, há! O CPC, no seu artigo 25, veda que a
autoridade judiciária brasileira julgue uma causa quando as partes, em
contrato internacional, estabelecerem, por vontade comum, foro exclusivo
estrangeiro, desde que o réu levante a matéria em sua defesa. Caso não o
faça (não levante a incompetência da autoridade brasileira em sua
defesa), considerar-se-á aceita a jurisdição brasileira.

Questionam-se, agora os efeitos do ajuizamento de ação no estrangeiro,


perante a jurisdição brasileira. Simplificadamente: o ajuizamento de ação no
estrangeiro impede a propositura de ação aqui no Brasil? E o julgamento
daquela no estrangeiro, torna a coisa decidida para efeitos da jurisdição
brasileira?

Ora, se a ação for de competência exclusiva da autoridade brasileira, não


há nem o que se questionar: a ação no estrangeiro não produz qualquer
efeito no Brasil, já que só a autoridade brasileira pode julgar aquela ação. E
se a ação puder se intentada tanto no Brasil quanto no estrangeiro (sendo caso
de competência internacional concorrente)? Neste caso, o art. 24, do CPC,
dispõe que a ação proposta perante tribunal estrangeiro não induz
litispendência e não obsta a que a autoridade judiciária brasileira conheça
da mesma causa.

(MPE-RS | 2017): A ação proposta perante tribunal estrangeiro não induz


litispendência e não obsta a que a autoridade judiciária brasileira conheça da
mesma causa e das que lhe são conexas, ressalvadas as disposições em
contrário de tratados internacionais e acordos bilaterais em vigor no Brasil.
Assertiva VERDADEIRA.

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“E se a decisão estrangeira foi homologada no Brasil? É possível intentar a
mesma ação aqui no Brasil?” Aí não, porque a decisão de homologação gera
coisa julgada emanada de autoridade judiciária brasileira. Ademais, se dois
processos iguais tramitam, um perante juiz brasileiro e outro no
estrangeiro, e este acaba primeiro, a existência de processo pendente no
Brasil sobre a matéria impede a homologação, pelo STJ, da decisão
daquele? NÃO!! Será possível a homologação normalmente!!!

Pois bem, vimos que existem causas que serão, obrigatoriamente, julgadas
pela jurisdição brasileira, causas que podem ou não serem julgadas pela
jurisdição brasileira e causas que não serão julgadas por autoridade judiciária
brasileira. Quanto àquelas que serão julgadas no Brasil, seja porque é
competência exclusiva, seja porque a parte assim o quis, devemos estudar em
que ponto ou tribunal do território nacional a causa será julgada. É o estudo,
assim, da competência interna.

DA COMPETÊNCIA INTERNA:

Iniciamos o estudo da competência dentro do território nacional. Antes de


entrarmos nas disposições do CPC acerca da matéria, devemos proceder à
análise de duas classificações extremamente relevantes para fins de prova e,
inclusive, para a prática forense. São elas: a) a classificação que divide a
competência em razão da matéria, da pessoa, do valor da causa e do território;
b) a classificação que divide a competência em absoluta ou relativa. Ambas as
classificação estão intrinsecamente ligadas, conforme se demonstrará.

COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA MATÉRIA, PESSOA, DO VALOR CAUSA E


TERRITÓRIO.

Estes são, com efeito, critérios utilizados para definir a competência para uma
determinada causa. A competência em razão da matéria é aquela que leva em
consideração, para a sua caracterização, a natureza do direito material
discutido em juízo. Assim, se o conflito versar sobre direito indígena, por
exemplo, a competência será da Justiça Federal (art. 109, XI, da CF). Ou se
opedido versar sobre a inconstitucionalidade abstrata de uma lei ou de um ato
normativo, a competência será do STF (art. 102, I, a, da CF).

A competência em razão da pessoa leva em conta a existência de uma


pessoa, em um dos polos da ação, que, por sua natureza ou pela função que
ocupe, levará o julgamento para determinado ramo ou tribunal da justiça
brasileira. Assim, nos casos em que a União, suas autarquias, fundações
públicas e empresas públicas (o dispositivo NÃO abrange as sociedades de
economia mista federais), o julgamento incumbirá à Justiça Federal, nos
termos do art. 109, I, da CF. Ademais, as ações contra o CNJ e o CNMP
serão processadas e julgadas pelo STF.

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Ainda no tema da competência em razão da pessoa ou da função, devemos
ressaltar o caso das Ações de Improbidade Administrativa, por ser o tema
muito relevante para fins de concurso de Promotor de Justiça. Para o STJ, os
agentes políticos, com exceção do Presidente da República, estão sujeitos à
ação de improbidade administrativa, ainda que também respondam por crime
de responsabilidade.

Ademais, a CF estabeleceu foro por prerrogativa de função, em caso de crimes


comuns e de responsabilidade, para diversos detentores de cargos políticos.
Questiona-se: o foro por prerrogativa de função seria aplicável à ação de
improbidade administrativa? A jurisprudência nacional caminha pacífica no
sentido de que o foro privilegiado NÃO será aplicável nesses casos, de modo
que devem ser julgadas no 1º grau de jurisdição as ações de improbidade
administrativa, ainda que ajuizadas em face de Governadores,
Desembargadores e membros do MPU que oficiem perante tribunais
(autoridades que, nos casos de crime comum, seriam julgadas pelo STJ). Só
há uma ressalva a este entendimento da inaplicabilidade do foro privilegiado à
ação de improbidade: o caso de o réu ser Ministro do STF. Neste caso, a
competência originária será do STF (Pet 3211/DF). A competência em razão do
valor da causa, por sua vez, define se a ação será proposta perante o juízo
comum ou perante os juizados especiais. No âmbito dos juizados especiais
federais, é possível o ajuizamento de ações cujo valor não ultrapasse 60
salários mínimos. No âmbito dos juizados especiais dos estados, este limite é
de 40 salários mínimos.
Por fim, temos a competência territorial, a qual definirá em qual ponto
do território nacional será julgada a ação.

DA COMPETÊNCIA ABSOLUTA OU RELATIVA:

A competência absoluta é caracterizada pelo fato de não poder ser alterada


pela vontade das partes, e não se prorrogar em caso de inércia do réu na
sua alegação.

Via de regra, a competência em razão da matéria ou da pessoa é absoluta.


Mas, como veremos adiante, há casos de competência territorial ou em razão
do valor da causa que configuram hipóteses de competência absoluta.

A competência relativa, por sua vez, é aquela suscetível de disposição pelas


partes e, não sendo oportunamente alegado o vício pelo réu, considera-se
prorrogada, podendo a causa ser julgada por juízo, inicialmente, incompetente.

A competência territorial e a competência em razão do valor da causa, em


geral, constituem competência relativa. Há casos, no entanto, em que a
competência territorial será absoluta: quando envolver direitos como
propriedade, vizinhança, servidão, divisão e demarcação de terras e de
nunciação de obra nova. Estas ações só poderão ser julgadas no foro da
situação do bem imóvel. Ademais, também é absoluta a ação possessória
imobiliária, que será julgada no foro da situação da coisa.

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Não obstante, temos casos de competência em razão do valor da causa que
são classificados como competência absoluta. É o caso dos Juizados Especiais
Federais. A ação cujo valor da causa esteja no limite dos JEF’s deverá perante
estes serem propostas, não podendo ser proposta perante a Justiça Federal
Comum.

DISPOSIÇÕES GERAIS SOBRE A COMPETÊNCIA

A competência é determinada, nos termos do art. 43, do CPC, no momento do


registro ou da distribuição. Modificações de fato ou de direito ocorridas
após a definição da competência serão, em regra, irrelevantes para fins de
competência. Esta apenas será afetada caso a modificação implique
mudança de competência absoluta ou extinção de órgão judiciário.

Ademais, há outra causa que pode gerar a modificação da competência


inicialmente fixada: a intervenção, no processo, da União, suas autarquias,
empresas públicas ou fundações públicas. Havendo tal intervenção, os autos
deverão ser remetidos à Justiça Federal, salvo se versarem sobre causa de
falência, recuperação judicial, insolvência civil, trabalhista, acidentária
trabalhista ou eleitoral. Havendo, posteriormente, a exclusão do ente federal da
lide, o processo será remetido ao juízo estadual inicialmente competente. Via
de regra, no Brasil, as ações têm como foro competente o domicílio do
réu, quando as ações forem fundadas em direito pessoal ou direito real
mobiliário, nos termos do art. 46, do CPC. Se o réu possui mais de um
domicílio, será competente o foro de qualquer deles. Se o domicílio do réu é
incerto ou desconhecido, abrem-se dois caminhos: será competente o foro
do local onde ele for encontrado ou o foro do domicílio do autor. Se o réu
reside no estrangeiro, é competente o foro do local de domicílio do autor. Se
este também residir no estrangeiro, a ação poderá ser proposta em qualquer
ponto do território nacional.

Falemos, agora, das causas que envolvem a União ou os Estados. Nas


causas em que a União ou os Estados forem autores, será competente o
foro do domicílio do réu. Já nas causas em que tais entes forem réus, ação
poderá ser proposta no foro do domicílio do autor, no local do ato ou fato,
no foro de situação da coisa ou no DOMICÍLIO DO ENTE PÚBLICO
(lembrando que, nos termos do art. 75, do Código Civil, o domicílio da União é
o Distrito Federal, enquanto o domicílio do Estado é a respectiva capital). Para
complementação deste tópico, recomendamos fortemente a leitura dos artigos
48, 49, 50 e 53, do CPC.

DA MODIFICAÇÃO DE COMPETÊNCIA:

Antes de adentrarmos, propriamente, o tema da modificação de competência,


falaremos sobre os institutos da conexão e da continência.

Conexão: há conexão entre duas ou mais causas quando lhes for comum o
pedido ou a causa de pedir. Ou seja, quando qualquer dos elementos objetivos

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da demanda, ou ambos, forem comuns a duas causas, entre elas darse- á o
fenômeno da conexão. Exemplo de causas conexas: Parte do teto de um
estabelecimento comercial desabou, gerando danos a 10 pessoas, as quais
ajuizaram, isoladamente, ações contra o estabelecimento, pleiteando, todas,
indenização. No caso, as ações comungam do mesmo pedido (indenização) e
da mesma causa de pedir (danos gerados em virtude do desabamento). Para
evitar que existam decisões conflitantes, causadoras de insegurança jurídica,
as ações conexas são reunidas para julgamento conjunto.

Pergunta-se: esta reunião pode acontecer a qualquer tempo? NÃO! O CPC


estabeleceu um limite temporal para a reunião de causas conexas: a
sentença em um dos processos. Se um deles já houver sido sentenciado, o
outro correrá normalmente no juízo para o qual foi distribuído, sem
necessidade de reunião para julgamento conjunto e sem que o primeiro
julgamento influa naquele que ainda será proferido. Isto é aplicável à execução
de título extrajudicial, à ação de conhecimento relativa ao mesmo ato jurídico e
às execuções fundadas no mesmo título executivo.

O CPC consagrou, ainda, uma nova hipótese de julgamento conjunto,


independentemente da configuração de conexão entre as causas: serão
reunidos para julgamento conjunto os processos que possam gerar risco de
prolação de decisões conflitantes ou contraditórias caso decididos
separadamente. Frise-se: este dispositivo é aplicável ainda que NÃO HAJA
CONEXÃO ENTRE AS CAUSAS.

Continência: temos a continência quando duas ações tiverem partes iguais e


idênticas causa de pedir, diferenciando-se uma da outra em razão do pedido de
uma (ação continente) que, por ser mais abrangente, engloba o pedido da
outra (ação contida).

Um exemplo clarificará a questão: imagine que Lucas, domiciliado em Brasília,


tenha firmado um contrato de adesão com a seguradora X, domiciliada em São
Paulo, existindo, neste contrato, cláusula de eleição de foro no Rio de Janeiro.
Posteriormente, Lucas percebe que foi ignorada formalidade essencial para a
assinatura do contrato, de modo que este se reveste de nulidade. Assim, Lucas
ingressa em juízo pleiteando a declaração da nulidade de todo o contrato.
Após, Lucas decide impugnar, por ação autônoma, a cláusula de eleição de
foro, afirmando que esta se reveste de abusividade. Note: as partes são
idênticas nas ações (Lucas x Seguradora X) e as causas de pedir também
coincidem (contrato firmado entre as partes). Mas o pedido de nulidade de todo
o contrato engloba o pedido de declaração de nulidade de uma cláusula
contratual, de modo que a primeira ação é a ação continente, enquanto a
última é a ação contida.

Quando houver continência entre duas ou mais causas, a solução


dependerá da ordem em que foram propostas as ações: se a ação
continente for proposta primeiro, e posteriormente for ajuizada a ação contida,
esta será extinta sem resolução do mérito, já que seu pedido será analisado
quando do julgamento da ação continente (mais abrangente). Se, por outro

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lado, primeiro é proposta a ação contida (menor) e, depois, é ajuizada a ação
continente (mais ampla), as ações serão reunidas para julgamento conjunto.
Nota-se, assim, que a existência de conexão ou continência entre ações é
capaz de alterar a competência, atraindo-se o processo para determinado
juízo. Mas esta atração para julgamento conjunto se dará sempre, em qualquer
caso? NÃO! Guarde bem isso: a competência relativa é que se altera pela
vontade das partes, conexão ou continência. Esta modificação de
competência não existe no caso de competência absoluta.

E você poda estar questionando neste momento: “entendi que as ações são
reunidas para julgamento conjunto, em caso de conexão ou continência
(quando a ação continente é proposta posteriormente), mas elas vão ser
reunidas onde? Perante que juízo?”. Elas vão ser reunidas perante o juízo
prevento!! Juízo prevento é aquele em que houve o primeiro registro ou o
primeiro juízo para o qual foi distribuída a ação. Seguimos no tema da
competência: suponha que Lauro possui uma imensa propriedade rural, que se
inicia no Estado de Pernambuco e se estende até o Estado da Bahia. Em que
juízo será proposta a ação que tiver por objeto esta propriedade? E o juiz de
um estado vai poder exercer jurisdição sobre território do outro? Ou o Juiz da
Bahia vai julgar a causa que envolver a parte da Bahia, e o de Pernambuco vai
julgar a causa que envolver a parte pernambucana? O CPC deu uma simples
solução ao caso: qualquer dos juízos será competente para julgar a causa, e a
jurisdição do juízo prevento se estenderá para a totalidade da área do imóvel,
ainda que situada em outro Estado.

Outra regra de direito processual relevante é a regra segundo a qual a ação


acessória será proposta no juízo competente para a ação principal. A ação
acessória é aquela que depende da existência da ação principal para poder
existir, ou seja, não tem existência autônoma.

Por fim, mencione-se a possibilidade da cláusula de eleição de foro, prevista


no art. 63, do CPC. Segundo este dispositivo, as partes podem modificar a
competência TERRITORIAL ou EM RAZÃO DO VALOR DA CAUSA, desde
que o acordo conste em instrumento escrito e se refira, especificamente, a um
determinado negócio jurídico. Veja: as partes NÃO podem acordar que toda e
qualquer causa que as envolva será julgada no foro da cidade X. Isto viola o
texto legal. O que as partes podem fazer é, por meio de instrumento escrito,
acordar que, qualquer ação que envolva um determinado negócio jurídico por
elas praticados (compra e venda, contrato de prestação de serviços, etc.) seja
julgada no foro da cidade X. Antes da citação, o juiz poderá controlar a eficácia
da cláusula de eleição de foro, reputando-a ineficaz se considerá-la abusiva, de
modo que os autos serão remetidos ao juiz competente, seguindo as regras
normais de competência (regra geral: foro de domicílio do réu, etc.). Se, no
entanto, a cláusula de eleição passar despercebida pelo juiz e a citação for
realizada, a partir deste momento o juiz não poderá mais controlar a sua
eficácia de ofício, dependendo de requerimento expresso do réu, sob pena de
preclusão (perda da oportunidade da prática do ato processual).

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Por fim, analisaremos, agora, o caso da INCOMPETÊNCIA. A incompetência
se configura quando há um desrespeito às normas legais de competência. Se é
transgredida uma norma atinente à competência absoluta, aincompetência é
absoluta. Se o caso é de violação a uma norma de competência relativa, a
incompetência é relativa.

Para esclarecer: Se Juca ajuíza uma ação indenizatória em face da União


perante o foro da justiça estadual de seu município, será o caso de
incompetência absoluta, já que a competência em razão da pessoa possui
caráter absoluto e, por determinação legal e constitucional, a União será
processada perante a Justiça Federal. Por outro lado, suponha que Juca ajuíza
ação indenizatória em face de Pedro, seu colega de faculdade que espalhou
informações falsas a seu respeito. Juca é residente em Olinda, enquanto Pedro
é residente em Recife. Para sua maior comodidade, Juca ajuíza a ação perante
o foro de Olinda. Há, no caso, incompetência relativa, cujas consequências
serão analisadas a seguir.

A incompetência absoluta é de ordem pública, representa uma afronta à


ordem jurídica, de modo que pode ser conhecida de ofício ou alegada pela
parte, a qualquer tempo e em qualquer grau de jurisdição. Não há preclusão
para a arguição da incompetência absoluta.

A incompetência relativa, por sua vez, é de ordem privada: não pode ser
conhecida de ofício pelo juiz e deve ser alegada pelo réu em preliminar de
CONTESTAÇÃO ou pelo Ministério Público, quando lhe couber intervir no
feito. Não arguida oportunamente a incompetência relativa, haverá preclusão
e, consequentemente, prorrogação de competência (o juízo que era, antes,
incompetente, passa a ser competente).

Atente-se! Você sabe o que acontece em caso de declaração de


incompetência? “Sei, professor, os autos são remetidos ao juízo competente...”
Isso mesmo! Muito bem! Mas e os atos decisórios proferidos até o
reconhecimento da incompetência? Como é que ficam? São retirados do
mundo jurídico ou continuam produzindo efeito? Este ponto representa grande
inovação do CPC: o novo Código de Processo Civil adotou a teoria do
translatio iudicii, ou seja, conservar-se-ão os efeitos de decisão proferida pelo
juízo incompetente até que outra seja proferida, se for o caso, pelo juízo
competente. Ou seja, a decisão proferida por juízo incompetente permanece
válida e eficaz, salvo decisão judicial em sentido diverso.

Concluindo: reconhecida a incompetência, os autos são remetidos ao juízo


competente. E se este juízo, considerado competente, se declarar
incompetente? Ocorrerá uma das hipóteses de conflito de competência. Neste
caso, o conflito será negativo, pois dois juízes se declaram incompetentes.
Pode ocorrer, também, de dois juízes se considerarem competentes, o que
também é uma hipótese de conflito de competência. Neste caso, há o que se
chama de conflito de competência positivo. Por fim, uma outra hipótese legal
de conflito de competência é quando surge competência, entre dois ou mais
juízes, acerca da reunião ou separação de processos. O conflito de

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competência deverá ser suscitado pelo juiz que declinou o recebimento dos
autos, perante o tribunal competente, segundo os ditames constitucionais.

Questão inédita:

Julgue as assertivas a seguir sobre o tema da competência, segundo o


disposto no Código do Processo Civil.
I. A ação possessória imobiliária será proposta no foro de situação da coisa,
cujo juízo tem competência relativa.
II. Ainda que não haja conexão entre eles, poderão ser reunidos para
julgamento conjunto os processos que possam gerar risco de prolação de
decisões conflitantes ou contraditórias.
III. Quando houver continência e a ação continente tiver sido proposta
anteriormente, no processo relativo à ação contida será proferida sentença com
resolução de mérito, caso contrário, as ações serão necessariamente reunidas.
IV. A ação fundada em direito sobre bens imóveis será proposta, em regra,
no foro do domicílio do réu.

Comentários:
I. FALSA. O foro competente para a ação possessória é o foro da
situação da coisa, e esta competência é absoluta.
II. VERDADEIRA. Art. 55, §3º, do CPC.
III. FALSA. A sentença será de extinção SEM resolução do mérito, já
que o conteúdo da ação contida já será julgado quando do
julgamento da ação continente, anteriormente ajuizada.
IV. FALSA. Nos casos de ação real imobiliária, a regra é que a causa
seja proposta no foro de situação da coisa.
Gabarito: Alternativa E.

Princípios Infastabilidade da Jurisdição, Inércia,


Inevitabilidade da jurisdição e Territorialidade

Para que alguém se afigure legítimo para uma


causa, é necessário, via de regra, que seja ele
Legitimidade para a causa titular do direito deduzido em juízo em
diretamente envolvido na relação conflituosa.
Pode ser: ordinária (quando se pleitear, em nome

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próprio, direito próprio) ou extraordinária (quando
se pleitear, em nome próprio, direito alheio)

Interesse processual Há interesse processual quando a via judicial


afigura-se necessária, útil e adequada.

Competência Internacional Apenas uma autoridade judiciária brasileira


exclusiva poderá decidir sobre o tema. Geralmente, está
intrinsecamente ligada à soberania nacional.

Competência internacional A ação pode ser proposta no Brasil ou no


concorrente exterior.

Ordem pública, inderrogável, cognoscível a


qualquer tempo e em qualquer grau de jurisdição,
Competência absoluta inclusive de ofício. Engloba a competência em
razão da matéria, da pessoa ou da função.

Ordem privada, derrogável pela vontade das


Competência relativa partes, não pode ser conhecida de ofício pelo juiz
e se sujeita à preclusão.

Há conexão entre duas ou mais causas quando


Conexão lhes for comum o pedido ou a causa de pedir.

Duas ações tiverem partes iguais e idênticas


Continência causa de pedir, diferenciando-se uma da outra
em razão do pedido de uma (ação continente)
que, por ser mais abrangente, engloba o pedido
da outra (ação contida).

juízo para o qual primeiro for distribuído o


Juízo Prevento processo ou em que primeiro ocorreu o registro

As partes podem modificar a competência


Cláusula de eleição de foro territorial ou em razão do valor da causa, desde
que o acordo conste em instrumento escrito e se
refira, especificamente, a um determinado
negócio jurídico

Translato Iudicii Conservar-se-ão os efeitos de decisão proferida


pelo juízo incompetente até que outra seja
proferida, se for o caso, pelo juízo competente

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TUTELA PROVISÓRIA

Agora, trataremos sobre um tema fundamental no Novo CPC e que tem caído
reiteradamente em provas, tendo em vista sua importância fulcral na prática
jurídica e a profunda modificação introduzida pelo tema com o CPC/2015.

O tema é o DA TUTELA PROVISÓRIA, presente no Livro V do CPC e que vai


do art. 294 até o art. 311.

CONCEITO:
3.1. CONCEITO
Comecemos, então, conceituando o instituto da Tutela Provisória. Tutela
provisória é a tutela jurisdicional, fruto de uma cognição sumária, dotada
de precariedade, que visa a resguardar o direito deduzido em juízo ou que
objetiva conferir o direito em litígio a quem demonstre possuí-lo.

É jurisdicional, pois deriva de uma decisão judicial, é proferida por um Juiz, que
deve ser competente e imparcial. Ressalte-se, neste ponto, que a tutela
provisória é, via de regra (mas não sempre), decidida por decisão
interlocutória, de modo a ser recorrível por agravo de instrumento (art. 1015,
I, CPC). Contudo é possível, sim, que a decisão sobre tutela provisória seja
proferida na Sentença, quando será recorrível por apelação, que, neste caso,
não terá efeito suspensivo (art. 1012, §1º, V). Ademais, sendo uma decisão
judicial, está submetida ao princípio da motivação das decisões judiciais, de
modo que a sua concessão, revogação, modificação ou o seu indeferimento
devem ser motivados (art. 298, CPC).

É fruto de uma cognição sumária, pois a decisão é, via de regra, proferida


antes da Sentença, ato judicial pelo qual o Juiz efetivamente decide a lide. Ou
seja, o Juiz ainda não tem certeza de que o direito efetivamente pertence à
parte beneficiada pela concessão da tutela provisória, mas esta parte trouxe
aos autos elementos suficientes que permitiram ao Juiz chegar ao juízo de
probabilidade do direito. Ou seja, mesmo antes da Sentença, o direito da parte
é tão provável que em favor dela deve ser proferida uma sentença judicial que
lhe confira o direito deduzido em juízo, ou ao menos o resguarde.
Por fim, é precária. Justamente por ser fruto de uma cognição sumária, de um
juízo de probabilidade, o Juiz pode notar que errou ao proferir a decisão, pode
perceber que é mais provável, na verdade, que o direito pertença à outra parte,
de modo que é possível, A QUALQUER TEMPO, na pendência do processo, a
revogação da tutela provisória, nos termos do art. 296, do CPC.

Nota-se, assim, que as tutelas provisórias são formas de INVERSÃO DO


ÔNUS TEMPORAL NO PROCESSO. Em geral, o ônus do transcurso do
tempo, no curso do processo, é do autor, ele que fica sem o direito pleiteado
enquanto o processo passa por seu trâmite regular. Por meio da tutela
provisória, o direito lhe é concedido, do modo precário, ou ao menos o direito
passa a ser acautelado, antes do fim do processo, de modo que o ônus passa
a ser do Réu.

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Por fim, ressalte-se que a efetivação da tutela provisória seguirá as normas do
cumprimento provisório da sentença, sendo lícito ao juiz determinar as medidas
que considerar adequadas à efetivação. Mencione-se, ainda, que o
cumprimento da tutela provisória corre por conta e risco do requerente, de
modo que este responde OBJETIVAMENTE (ou seja, independentemente de
culpa) pelos danos causados em razão da efetivação da tutela provisória.

CLASSIFICAÇÃO:
3.2. CLASSIFICAÇÃO
Neste ponto, cabe adentrar na classificação das tutelas provisórias, algo
relevantíssimo no NCPC. Peço que você, caro aluno, se concentre neste ponto,
pois tem sido recorrente sua cobrança em provas.

QUANTO AO FUNDAMENTO: URGÊNCIA X EVIDÊNCIA

As tutelas provisórias podem ser de URGÊNCIA ou de EVIDÊNCIA.

As tutelas provisórias de URGÊNCIA exigem dois requisitos: a


PROBABILIDADE DO DIREITO (requisito presente em toda e qualquer forma
de tutela provisória) + o PERIGO DE DANO ou RISCO AO RESULTADO ÚTIL
DO PROCESSO.

Ou seja, estes requisitos devem estar presentes CUMULATIVAMENTE. Trarei


dois exemplos para clarificar hipóteses em que é possível a concessão de
tutela provisória de urgência.

1. Zezinho, dono de um estabelecimento comercial totalmente regular


perante as autoridades municipais, estaduais e federais, é notificado de
que seu estabelecimento será interditado no dia seguinte, sem qualquer
processo administrativo prévio, em virtude da falta de licenciamento
ambiental. No outro dia, conforme a notificação, o estabelecimento é
interditado. Zezinho, imediatamente, ajuíza a ação anulatória de ato
administrativo competente e pleiteia, na exordial, que o ato
administrativo seja suspenso. Junta, nos autos, toda a documentação
relativa ao licenciamento ambiental (probabilidade do direito) e
demonstra que a interdição de seu estabelecimento tem-lhe gerado
graves danos, dificultando, inclusive, sua subsistência (perigo de dano).
Há, aí, caso de Tutela de urgência ANTECIPADA.

2. Zezinho litiga com Juquinha por uma garrafa de vinho caríssima, fruto de
uma safra especial que, segundo estudos, só ocorrerá de novo em 70 anos. A
garrafa de vinho é, assim, neste caso, um bem infungível. A garrafa de vinho
está com Juquinha, que se nega a devolver a garrafa. Juquinha, inclusive,
pretende beber o vinho em um jantar com toda a sua família dentro de 10 dias.
Zezinho, ao saber das intenções de Juquinha, ajuíza ação pleiteando a
devolução do bem, junta aos autos documentos que sugerem ser ele o
proprietário da garrafa e pleiteia que o Juiz sequestre a garrafa objeto de litígio.

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O Juiz defere o pedido e a garrafa fica sob custódia judicial. Há, aí, típico caso
de Tutela de urgência CAUTELAR.

QUANTO AO TEMPO DA URGÊNCIA

Esta classificação se aplica apenas às tutelas provisórias de Urgência.

Quando a urgência é contemporânea ao ajuizamento da ação, o CPC garante


ao autor um procedimento próprio, mais célere, de modo a ser possível o pleito
em caráter ANTECEDENTE.

Quando a urgência surge ao longo da ação, ou seja, no curso do processo,


deve-se formular o pedido incidental da tutela provisória, que nada mais é do
que o pleito em simples petição dirigido ao Juiz da causa, explicitando a
urgência, a probabilidade do direito e o pedido. A tutela provisória de urgência
de caráter incidental deve ser requerida ao próprio juiz da causa. Quando for
requerida em caráter antecedente, como será o primeiro ato do processo,
obviamente não haverá juiz designado, ainda, para a causa, de modo que o
pedido deve ser formulado perante o juízo competente, estando sujeito à
distribuição. Se requerida em tribunal, seja em razão de recurso ou de
competência originária, será competente para decidir o pedido o órgão
competente para a apreciação do mérito da causa, ressalvada disposição legal
em contrário.

Ressalte-se que, por ser pleiteada por simples petição, a tutela de urgência
(antecipada ou cautelar, tanto faz) requerida em caráter incidental independerá
do pagamento de custas, tendo em vista já ter havido pagamento de custas
quando da propositura da ação.

TUTELA DE URGÊNCIA:
3.3. TUTELA DE URGÊNCIA
Como mencionado, a tutela de urgência é aquela que exige, além da
demonstração da probabilidade do direito, um juízo de perigo de dano, ou de
risco ao resultado útil do processo, caso a medida pleiteada não seja efetivada.

Ademais, restou consignado que a tutela provisória se baseia em um juízo


sumário de probabilidade. Não há definitividade ou certeza no provimento
judicial que concede ou denega a tutela provisória. Justamente por isto, é
possível que o juiz, ao conceder a tutela provisória, exija caução real ou
fidejussória, de modo a restar garantida a reparação dos danos sofridos pela
outra parte em caso de revogação da decisão que concedeu a tutela.
Importante ressaltar que a imposição de caução NÃO é obrigatória, cabendo
ao juiz analisar a sua necessidade em cada caso, e que a caução NÃO
subsiste caso o requerente da tutela provisória demonstre ser hipossuficiente.

Relevante mencionar, ainda, que a tutela de urgência, nos termos do artigo


300, §2º, do CPC, pode ser concedida liminarmente ou após justificação
prévia da outra parte. Caberá ao juiz analisar a urgência que acomete a

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causa para que decida se é razoável proferir, desde logo, a decisão,
independentemente de manifestação da parte contrária. A possibilidade de
concessão da tutela de urgência liminarmente está prevista, ainda, no art. 9º,
parágrafo único, I, do CPC.

(MPE-PR | 2016): Como é norma fundamental do processo civil a


impossibilidade de se proferir decisão contrária a uma das partes sem que ela
seja previamente ouvida, as tutelas provisórias não podem ser concedidas
liminarmente e dependem de justificação prévia. Assertiva FALSA.

CLASSIFICAÇÃO DAS TUTELAS DE URGÊNCIA

Chegamos, agora, a um tema fundamental da nossa aula! Saiba que, se você


conseguir entender bem o cerne desta classificação, estará à frente de muitos
concorrentes e ganhará, certamente, valiosos pontos em sua prova, pois este
tema é extremamente frequente.

Como já afirmamos, as tutelas de urgência são as tutelas provisórias que


exigem, além do requisito da probabilidade do direito, o requisito do perigo de
dano ou risco ao resultado útil do processo. Isto se aplica tanto à tutela de
urgência antecipada, quanto à cautelar. Por isto, é correto afirmar que o NCPC
promoveu a unificação das tutelas de urgência, extinguindo a Ação Cautelar,
que na ordem processual pretérita era uma ação autônoma. Promoveu-se,
assim, o chamado SINCRETISMO das tutelas de urgência.

Apesar disto, não houve a extinção da distinção entre tutela antecipada e tutela
cautelar. Com efeito, o pedido, a forma de tutela pleiteada, ainda será hábil a
determinar se a tutela é ANTECIPADA ou CAUTELAR. Destaque-se, ainda,
que esta classificação não é meramente teórica, de modo que a classificação
ensejará uma mudança no procedimento de requerimento da tutela provisória
requerida em caráter ANTECEDENTE.

(MPE-SC | 2016): Nos termos do novo Código de Processo Civil, a tutela de


urgência e de evidência podem ser requeridas apenas no curso do
procedimento em que se pleiteia a providência principal. Assertiva FALSA.

TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA DE NATUREZA ANTECIPADA

A tutela de urgência de natureza antecipada tem caráter SATISFATIVO. Ela


busca, de certa forma, adiantar os efeitos da tutela final pleiteada no processo.
Equivale a uma antecipação dos efeitos da sentença. O pedido de suspensão
liminar de ato administrativo em uma ação anulatória, por exemplo, tem como
objetivo antecipar os efeitos da sentença final, de modo que o ato, desde já,
pare de produzir seus efeitos. Outro exemplo de tutela antecipada se configura
quando se pleiteia, em ação que busque o fornecimento de medicamentos por
determinado ente público, a concessão dos medicamentos antes da sentença.

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Note-se que, em ambos os casos, busca-se uma antecipação dos efeitos da
própria sentença. É uma antecipação do próprio pedido. Consigne-se, no
entanto, que a tutela de urgência de natureza antecipada NÃO poderá ser
concedida quando houver perigo de irreversibilidade da decisão (art. 300,
§3º, do CPC). Como assim? Isso significa que, apesar de sua natureza
satisfativa, se o retorno da parte ao estado de coisas vigente antes da prolação
da decisão interlocutória for impossível ou muito difícil, a tutela não poderá ser
concedida. Exemplo: Imagine que João publica em rede social uma notícia
sobre Maria, a qual sente sua honra violada pela publicação. Maria, então,
ajuíza a ação competente, pleiteando a concessão do benefício da justiça
gratuita, e requerendo tanto a exclusão da postagem quanto a indenização por
danos morais no valor de R$10.000,00 (dez mil reais). Antecipadamente,
pleiteia a retirada imediata da publicação da rede social E o pagamento integral
do valor pleiteado. Ora, é razoável exigir-se a retirada provisória da publicação
na pendência do processo? Sim! Esta decisão é irreversível? Não! Caso a
sentença seja de improcedência total, basta o retorno da publicação à rede
social. E quanto ao pedido do pagamento do valor? Há, no caso, clara
possibilidade de irreversibilidade dos efeitos da decisão. Ora, Maria é
beneficiária da justiça gratuita, não possui condição de prestar caução real ou
fidejussória ao juízo e, caso receba os R$10.000,00 e a sentença seja de
improcedência, será muito difícil o retorno da quantia ao réu. Assim, no caso, a
tutela de urgência de natureza antecipada apenas poderia ser parcialmente
concedida.

Procedimento da Tutela Antecipada Requerida em Caráter Antecedente

O NCPC estabeleceu um procedimento próprio para se pleitear a tutela


antecipada quando a urgência é simultânea à propositura da ação. Neste
procedimento, o autor deve apresentar o que chamaremos, aqui, para meros
efeitos didáticos, uma “mini petição inicial”, a qual conterá o requerimento de
tutela antecipada, a indicação da tutela final, a exposição da lide, do direito que
se busca realizar e da urgência, indicando que pretende valer-se deste
procedimento. Ressalte-se que, já nesta “mini petição”, o autor deve indicar o
valor FINAL da causa, sobre o qual incidirão as custas processuais.

O juiz, ao receber a peça, terá dois caminhos. O primeiro deles é o


indeferimento da tutela antecipada, caso em que será determinada a emenda
da petição inicial, para que atenda a todos os requisitos do artigo 319, do CPC,
no prazo de 5 (cinco) dias, sob pena de indeferimento da petição inicial e,
consequentemente, extinção do feito sem resolução de mérito.

O segundo caminho é a concessão da tutela antecipada. Neste caso, será


concedido um prazo pelo juiz, que será, no mínimo, de 15 dias, para a emenda
da petição inicial, ocorrendo a complementação da argumentação, a juntada de
novos documentos e a confirmação do pedido de tutela final. A partir daí o
processo seguirá o procedimento comum, sendo o réu citado para
comparecimento na audiência de mediação ou conciliação e, não havendo
autocomposição, será iniciado o prazo para contestação. Se o autor não fizer a

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complementação da petição inicial, o processo será extinto sem resolução do
mérito.

Concedida a tutela antecipada requerida em caráter antecedente, se não


houver a interposição do respectivo recurso (agravo de instrumento), a
decisão que a conceder se tornará ESTÁVEL, sendo o processo extinto sem
resolução do mérito. Note-se bem, a decisão NÃO faz coisa julgada, mas
torna-se estável. Esta estabilidade, com efeito, pode ser impugnada por ação
autônoma, proposta por qualquer das partes (inclusive pela parte beneficiada
pela concessão da tutela antecipada, caso queira, por exemplo, a revisão da
decisão para melhorar sua situação), no prazo de 2 anos.

Neste momento, você se pergunta: mas, professor, como assim não faz coisa
julgada, se esta decisão será estável e só pode ser revista por ação autônoma,
não mais cabendo recurso em face da decisão? Respondemos: não faz coisa
julgada!!! A coisa julgada só pode ser atacada pela via da Ação Rescisória, que
tem procedimento próprio e é julgada por tribunal. A ação autônoma de que
trata o artigo 304, do CPC, não é ação rescisória, e será julgada perante o juízo
que concedeu a tutela antecipada.

TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA DE NATUREZA CAUTELAR:

Diferentemente da tutela antecipada, que visa a antecipar os efeitos do


provimento jurisdicional final, a tutela de urgência de natureza cautelar tem
como finalidade ACAUTELAR, PRESERVAR, PROTEGER, o objeto do
processo que se encontre sob o risco de perecimento. Assim, se Lucas litiga
com Fábio por um objeto que está em posse deste último, e descobre que
Fábio deseja vender o objeto litigioso, é possível o pleito da medida cautelar de
registro de protesto contra a alienação do bem, por exemplo. Ou se João litiga
com Maria pela posse de um objeto infungível e esta ameaça destruir o objeto,
é cabível o pleito cautelar de sequestro.

Note, candidato: a tutela de urgência cautelar NÃO busca antecipar o


provimento final do feito, não busca conferir ao autor um direito, ainda que
precário, mas sim proteger o objeto do processo.

O CPC adotou a atipicidade dos meios cautelares: são possíveis o arresto, o


sequestro, o arrolamento de bens, o registro de protesto contra alienação de
bem e qualquer medida idônea para a asseguração do direito.

(MPE-PR | 2016): A tutela cautelar do Código de Processo Civil de 2015 se


define pela natureza do pedido formulado, considerando-se cautelar apenas os
pedidos de arresto, sequestro, arrolamento de bens e registro de protesto
contra alienação de bem. Assertiva FALSA.

A tutela cautelar também pode ser formulada de modo antecedente ou


incidental, tendo o CPC previsto um procedimento próprio para o pedido
antecedente.

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Procedimento da Tutela Cautelar Requerida em Caráter Antecedente

Primeiramente, devo ressalvar que o CPC adotou o princípio da


FUNGIBILIDADE entre as tutelas cautelares e antecipadas. Assim, caso o
autor formule pedido de tutela cautelar em caráter antecedente, e o juiz
entenda ser caso de tutela antecipada, o juiz observará o procedimento desta,
e vice-versa.

Neste procedimento, indicará a lide e seu fundamento, a exposição sumária do


direito que se objetiva assegurar e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil
do processo. O réu será, então, citado, para, no prazo de 5 (cinco) dias,
apresentar contestação. Caso o réu não apresente contestação, serão
presumidos aceitos por ele os fatos alegados pelo autor. Apresentada a
contestação, será aplicado o procedimento comum.

O juiz, então, decidirá, abrindo-se dois caminhos. O primeiro deles é o


indeferimento da medida cautelar: neste caso, não será obstada ao autor a
formulação do pedido principal, e o julgamento deste não sofrerá qualquer
influência por parte do julgamento do pedido cautelar, salvo se o motivo do
indeferimento for prescrição ou decadência. Isto porque o pedido cautelar
busca acautelar o objeto do processo, não tem caráter material. Assim, o fato
do juiz entender que o objeto do processo não está sob risco de perecimento
não quer dizer que o juiz entenda que a parte não possui o direito.

Apenas não há, naquele momento, fundamento que justifique a inversão o


ônus temporal do processo. A situação muda de figura quando o juiz verifica e
ocorrência de prescrição ou decadência e, por isso, denega a tutela cautelar.
Isto porque houve uma constatação de ordem material que atinge a pretensão
do autor (no caso da prescrição) ou o próprio direito (no caso da decadência).

Outro caminho é o deferimento da tutela cautelar. Neste caso, o autor terá o


prazo de 30 DIAS para efetivar a tutela concedida. Não o fazendo, cessará a
eficácia da medida. Após a efetivação (não é do proferimento da decisão
que concede, é da efetivação da tutela cautelar), o autor terá de formular o
pedido principal, nos mesmos autos e independentemente do pagamento de
novas custas. Neste momento, também poderá haver aditamento da causa de
pedir, não ficando restrito ao pedido. Formulado o pedido principal e aditada, se
for o caso, a causa de pedir, as partes serão intimadas para comparecimento
na audiência de mediação ou conciliação e, não havendo autocomposição,
será iniciado o prazo para nova contestação (agora em relação ao pedido
principal, não mais em relação ao pedido cautelar). Se o autor não deduzir o
pedido principal do prazo de 30 dias da efetivação da cautelar, cessará a
eficácia da medida cautelar.

Até aqui, foram apresentadas 2 hipóteses de cessação da eficácia da medida


cautelar: 1) quando o autor não deduzir o pedido principal no prazo de 30 dias
da efetivação da cautelar; e 2) quando a tutela cautelar não for efetivada dentro
de 30 (trinta) dias. Há, ainda, uma outra hipótese, qual seja: 3) o juiz julgar
improcedente o pedido principal formulado pelo autor ou extinguir o processo

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sem resolução de mérito. E, ocorrendo qualquer destas situações, será vedado
à parte renovar o pedido cautelar, salvo sob novo fundamento.

TUTELA DE EVIDÊNCIA:

Como já explicitado, a tutela de evidência diferencia-se da tutela de urgência


por exigir apenas um requisito para a sua concessão, qual seja: a
demonstração da probabilidade do direito, nos termos legais. Independe,
portanto, da demonstração do perigo de dano ou risco ao resultado útil do
processo. Mas a demonstração da probabilidade do direito está sujeita aos
requisitos legais. É necessária a configuração de uma das hipóteses previstas
no artigo 311 do CPC, quais sejam:

Art. 311. A tutela da evidência será concedida, independentemente da


demonstração de perigo de dano ou de risco ao resultado útil do processo,
quando:

I - ficar caracterizado o abuso do direito de defesa ou o manifesto propósito


protelatório da parte;
II - as alegações de fato puderem ser comprovadas apenas documentalmente
e houver tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em súmula
vinculante;
III - se tratar de pedido reipersecutório fundado em prova documental
adequada do contrato de depósito, caso em que será decretada a ordem de
entrega do objeto custodiado, sob cominação de multa;
IV - a petição inicial for instruída com prova documental suficiente dos fatos
constitutivos do direito do autor, a que o réu não oponha prova capaz de gerar
dúvida razoável.

O parágrafo único do artigo 311, do CPC, possibilita que a tutela de evidência


seja deferida liminarmente, ou seja, independentemente da manifestação da
parte contrária, nos casos dos incisos II e III. Isto decorre da lógica processual,
observe-se:

a) No caso do inciso I, é exigido o abuso do direito de defesa ou o manifesto


propósito protelatório. Ora, para que alguém abuse do direito de se defender ou
possa ter a intenção de atrasar o processo, é necessário que já tenha
participado do processo!! Por isso, não é cabível a liminar, neste caso;
b) No caso do inciso IV, exige-se que os fatos constitutivos do direito do autor
sejam comprovados por documentos instrutórios da petição inicial, aos quais o
réu não oponha prova capaz de gerar dúvida razoável. Ora, para que a prova
juntada pelo réu não gere dúvida razoável, ela necessita, primeiro, ser juntada
aos autos, de modo que não é cabível a liminar nestes casos.

Por isso, somente nos casos dos incisos II e III, supracolacionados, admite-se
a tutela de evidência liminar.
Por fim, traz-se à baila uma questão relevante: é cabível a tutela de evidência
requerida em caráter antecedente? Esta questão tem sido debatida na doutrina
processual, tendo-se uma inclinação para considerar impossível a tutela de

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evidência em caráter antecedente, principalmente em razão de dois motivos,
quais sejam: 1) ausência de urgência: como se disse, a tutela de evidência não
requer a demonstração da urgência, e as tutelas de urgência (antecipada ou
cautelar) requeridas em caráter antecedente foram pensadas para atender à
urgência na tutela ou na proteção do direito. 2) ausência de previsão legal, não
tendo sido previsto qualquer procedimento próprio neste sentido.

(MPE-PR | 2016): Para o Código de Processo Civil de 2015, a tutela de


evidência compreende hipóteses de antecipação dos efeitos da tutela
pretendida sem os requisitos de perigo de dano ou de risco ao resultado útil do
processo. Assertiva VERDADEIRA.

(MPE-PR | 2016): A tutela de evidência pode ser concedida, nos termos do


Código de Processo Civil, quando as alegações de fato puderem ser
comprovadas apenas documentalmente e houver entendimento favorável do
juízo em casos idênticos. Assertiva FALSA.

Questão inédita:

Sobre o regime da tutela provisória do Código de Processo Civil de 2015,


assinale a alternativa correta:

A) A tutela provisória tem como espécies as tutelas de urgência e de evidência,


e dentre as tutelas de urgência verificam-se as tutelas antecipadas e os
procedimentos especiais.
B) Para a efetivação da tutela provisória, há restrição legal que permite apenas
o emprego dos dispositivos relacionados ao cumprimento provisório da
sentença.
C) Nos casos em que a urgência for contemporânea à propositura da ação, a
petição inicial pode limitar-se ao requerimento da tutela antecipada e à
indicação do pedido de tutela final, com a exposição da lide, do direito que se
busca realizar e do perigo de dano ou do risco ao resultado útil do processo.
Concedida a tutela antecipada, o autor deverá aditar a petição inicial, com a
complementação de sua argumentação, a juntada de novos documentos e a
confirmação do pedido de tutela final, em 15 (quinze) dias ou em outro prazo
maior que o juiz fixar.
D) A tutela de urgência de natureza cautelar torna-se estável se da decisão que
a conceder não for interposto o recurso cabível.
E) As hipóteses de concessão de tutela de evidência dependem
exclusivamente das provas produzidas pelo autor, de modo que todas podem
ser concedidas em caráter liminar pelo juiz, quando da apreciação da petição
inicial.

28
Comentários:
a) FALSA. São espécies de tutelas de urgência a tutela antecipada e a tutela
cautelar.
b) FALSA. Não existe esta limitação no CPC, o juiz pode tomar qualquer
medida indutiva, coercitiva, mandamental ou sub-rogatória que considerar
adequada ao caso.
c) CORRETA. Art. 303, do CPC.
d) FALSA. A decisão que se estabiliza se dela não for interposto o respectivo
recurso é a concessiva de tutela de urgência de natureza antecipada, nunca a
de natureza cautelar.
e) FALSA. Apenas em algumas hipóteses poderá ser concedida em caráter
liminar. Nos demais casos, a própria concessão da tutela de evidência depende
de atuação da parte contrária.

Gabarito: Alternativa C.

Tutela jurisdicional, fruto de uma


cognição sumária, dotada de
Tutela Provisória precariedade, que visa a resguardar o
direito deduzido em juízo ou que
objetiva conferir o direito em litígio a
quem demonstre possuí-lo

Exigem dois requisitos: a


Tutelas Provisórias de Urgência probabilidade do direito + o perigo de
dano ou risco ao resultado útil do
processo.

Tutelas Provisórias de Urgência Quando a urgência é simultânea à


Requerida em Caráter Antecedente lide

Urgência Requerida em Caráter Quando a urgência surge após a


Incidental propositura da ação.

Tutela provisória de urgência de A tutela de urgência de natureza


natureza antecipada antecipada tem caráter satisfativo. Ela
busca, de certa forma, adiantar os
efeitos da tutela final pleiteada no
processo.

Tutela de urgência de natureza Tem como finalidade acautelar,


Cautelar preservar, proteger, o objeto do

29
processo que se encontre sob o risco
de perecimento
Exige apenas um requisito para a sua
Tutela Provisória De Evidência concessão, qual seja: a demonstração
da probabilidade do direito, nos
termos legais. Pode ser concedida em
caráter liminar.

LITISCONSÓRCIO

O litisconsórcio se relaciona ao elemento subjetivo da relação processual, ou


seja, às partes que a compõem, seja no polo ativo ou no polo passivo. Dessa
forma, de acordo com a melhor doutrina, litisconsórcio é considerado a
pluralidade de sujeitos em um ou nos dois polos da demanda que se reúnem
para litigar em conjunto, podendo ser facultativo ou necessário e, ainda,
unitário.

- Litisconsórcio (artigos 113 e seguintes do CPC)


O artigo 113 aborda as hipóteses de litisconsortes facultativos. Assim, duas ou
mais pessoas podem litigar, no mesmo processo, em conjunto, ativa ou
passivamente quando:

Entre eles houver comunhão de direitos e de obrigações relativos à LIDE;
Entre elas houver conexão pelo pedido ou pela causa de pedir;
Houver afinidade de questões por ponto comum de fato ou de direito.

• Litisconsórcio facultativo multitudinário (plúrimo):

É aquele que tem número excessivo de litisconsórcios, hipótese em que o juiz


poderá determinar o desmembramento do processo, seja por decisão de ofício
ou a requerimento das partes. Caso seja requerido, poderá ser suscitado tanto
na fase de conhecimento, quanto na liquidação de sentença ou, ainda, na
execução, sendo que o requerimento interrompe o prazo para manifestação
ou resposta.

Enunciado. 10 FPPC: Em caso de desmembramento do litisconsórcio


multitudinário, a interrupção da prescrição retroagirá à data de propositura da
demanda original.

• Litisconsórcio necessário: será necessário por disposição de lei ou quando,


pela natureza da relação jurídica controvertida, a eficácia da sentença
depender da citação de todos que devam estar em litisconsórcio (artigo 114
NCPC).

Se há litisconsórcio necessário unitário, uma sentença proferida sem a


participação de todos será nula e caberá, inclusive, ação rescisória. No caso

30
de litisconsórcio necessário simples, a decisão proferida sem a citação de
todos será ineficaz em relação ao que não participa do processo.

O litisconsórcio será unitário quando, pela natureza da ação, o juiz deve decidir
o mérito de maneira uniforme para todos os litisconsortes. Os litisconsortes
serão considerados litigantes distintos, salvo no caso de litisconsorte unitário,
caso em que os atos e as omissões de um não prejudicarão os outros, mas
poderão beneficiá-los.

Importante alteração foi quanto a não haver mais prazo em dobro por
litisconsortes representados por procuradores diferentes quando os autos
forem eletrônicos, conforme § 2o, do artigo 229. O STJ já vinha se
manifestando nesse sentido, de forma que, se colocarem na prova que tal
dispositivo vem em contradição com antigo entendimento do STJ, estará
errado.

INTERVENÇÃO DE TERCEIROS

a. Assistência
Ocorre quando um terceiro intervém de forma voluntária no procedimento
quando possui interesse jurídico no julgamento da causa.
- Assistência simples: atua, por não estar defendendo direito próprio, como
um simples assistente da parte. Se o assistido for revel ou de qualquer modo
omisso, o assistente será considerado seu substituto processual.
- Assistente litisconsorcial: está em juízo defendendo direito próprio. Será
considerado assistente litisconsorcial sempre que a sentença puder interferir na
relação jurídica entre ele e o adversário do assistido.

b. Denunciação da lide
A denunciação da LIDE deixa de ser obrigatória, sendo admissível nas
hipóteses previstas no artigo 125, quais sejam:
Ao alienante imediato, no processo relativo à coisa cujo domínio foi
transferido ao denunciante, a fim de que possa exercer os direitos que da
evicção lhe resulta.
Aquele que estiver obrigado por lei ou por contrato a indenizar em ação
regressiva o prejuízo. A alteração quanto à desnecessidade da denunciação
fica mais clara no parágrafo primeiro, do artigo 125, que expõe que o direito
regressivo será exercido em ação autônoma quando a denunciação for
indeferida. Outra modificação expressiva é quanto à proibição da denunciação
sucessiva, permitida apenas uma denunciação da lide quanto ao sucessor
imediato; proibida, portanto, a denunciação “per saltum”.
Súmula 537 STJ: em ação de reparação de danos, a seguradora denunciada,
se aceitar a denunciação ou contestar o pedido do autor, pode ser condenada,
direta e solidariamente junto com o segurado, ao pagamento da indenização
devida à vítima, nos limites contratados na apólice.
Se o pedido for procedente, pode o autor, se for o caso, requerer o
cumprimento de sentença também contra o denunciado, nos próprios autos da

31
demanda principal. Se o denunciante for vencido, o juiz passará a julgar a
denunciação da LIDE.
No que tange às verbas de sucumbência, se o denunciante for vencedor, a
denunciação da LIDE fica prejudicada, mas não haverá prejuízo da
sucumbência em favor do advogado do denunciado. Se o denunciante for
vencido e a denunciação da LIDE for acolhida, quem arca com a sucumbência
é o denunciado.

c. Chamamento ao processo
Quanto ao tema, não houve mudança significativa. O presente instituto é
cabível, quando o réu, devedor solidário e citado, chama ao processo os outros
devedores. É permitida também quando o réu for fiador e chama o devedor
principal ou outro fiador para que componha a relação de coobrigados.

d. - Incidente de desconsideração da personalidade jurídica


Pode ser instaurado a pedido da parte ou do Ministério Público, quando lhe
couber intervir no processo, de maneira que, para desconsiderar a
personalidade jurídica, é necessária a citação do sócio para se manifestar em
15 dias, suspendendo-se o processo, quando instaurado o incidente.
Pode ser apresentado em qualquer fase do processo, conforme menciona o
artigo 134, do CPC, e é cabível, inclusive, nos juizados especiais (artigo 1.062);
sendo, portanto, exceção à regra de impossibilidade de intervenção de
terceiros nos procedimentos previstos na lei 9099/95.
O pedido de desconsiderar a personalidade jurídica deve observar os requisitos
previstos em lei, levando-se em conta as regras do Código Civil, notadamente
o artigo 50, bem como as regras consumeristas, segundo as quais, nessas
relações, a mera situação de insolvência autoriza a desconsideração.
É autorizada a desconsideração inversa da personalidade jurídica, conforme o
parágrafo segundo, do artigo 133, do CPC. Nesses casos, uma pessoa
transfere bens particulares à pessoa jurídica, a fim de fraudar uma relação
pessoal.
Ao decidir o incidente, será proferida decisão interlocutória, contra a qual cabe
agravo de instrumento (artigo 1.015, IV). Porém, se decidido por relator, o
recurso cabível é o Agravo Interno.

Acolhida a desconsideração da personalidade jurídica, a oneração ou a


alienação que foi havida em fraude à execução será ineficaz em relação ao
adquirente. Neste sentido, para preservar os direitos da parte requerente, a
fraude à execução é verificada a partir da citação da personalidade que se
pretende desconsiderar, ou seja, do réu originário. Isto porque, caso fosse do
segundo interessado, não haveria tanta eficácia, tendo em vista que o
patrimônio poderia ser transferido a outra pessoa no curso da primeira citação.
Assim dispõe o Enunciado 52 da EFAN: A citação a que se refere o artigo

32
792, parágrafo terceiro, é a do executado originário, e não aquela prevista para
o incidente de desconsideração da personalidadejurídica.
Não é extinta a denunciação da lide apresentada intempestivamente pelo réu
nas hipóteses em que o denunciado contesta apenas a pretensão de mérito da
demanda principal.

e. Amicus Curie:

por decisão irrecorrível, de ofício ou a requerimento das partes ou de quem


pretenda manifestar-se, solicitar ou admitir a participação de pessoa natural ou
jurídica, órgão ou entidade especializada, com representatividade adequada,
no prazo de 15 (quinze) dias de sua intimação.
Ao amicus curiae são permitidas a oposição de embargos de declaração
e a interposição de recurso de decisão que julgar o incidente de resolução
de demandas repetitivas.
STF: a admissão de terceiro, na condição de amicus curiae, no processo
objetivo de controle normativo abstrato, qualifica-se como fator de legitimação
social das decisões da suprema corte, enquanto tribunal constitucional, pois
viabiliza, em obsequio ao postulado democrático a abertura do processo de
fiscalização concentrada de constitucionalidade, em ordem a permitir que nele
se realiza, sempre sob uma perspectiva eminentemente pluralista, a
possibilidade de participação formal de entidades e de instituições que
efetivamente representam os interesses gerais da coletividade ou que
expressem os valores essenciais e relevantes de grupos, classes ou
extrassociais
A atuação do amicus curiae pode ser entendida como um viés do princípio da
cooperação. Em qualquer causa, se houver relevância da matéria,
repercussão social da demanda ou a especificidade do tema requerer,
será autorizado o amicus curiae, sendo alternativos os referidos requisitos.

Não há mais possibilidade de nomeação à autoria, como intervenção de


terceiros. Porém, os artigos 338 e 339, do CPC, estabeleceram procedimento
semelhante, ao possibilitar que a parte alegue sua ilegitimidade, quando da
resposta à petição inicial. No que tange à oposição, esta deixou de ser
intervenção de terceiros e passa a ser uma ação de procedimento especial,
corroborando entendimento antigo da doutrina e jurisprudência, que sempre a
reconheceram como ação autônoma.

33
Questão nº01: LITISCONSÓRCIO E INTERVENÇÃO DE TERCEIRO

(Ano: 2017. Banca: CESPE. Órgão: TJ-PR. Prova: Juiz Substituto)


Com referência ao litisconsórcio e à intervenção de terceiros, assinale a opção
correta.
A) No incidente de desconsideração da personalidade jurídica, estará sempre
presente interesse público que torne obrigatória a intervenção do MP como
fiscal da ordem jurídica.
B) O magistrado deve indeferir o requerimento de ingresso de amicus curiae
em processo que esteja em primeira instância, porque essa hipótese de
intervenção de terceiro somente pode ocorrer em causa que tramite no tribunal.
C) Na hipótese de desmembramento do litisconsórcio multitudinário, a
interrupção da prescrição deve retroagir à data de propositura da demanda
original, inclusive para os autores que forem compor um novo processo.
D) A sentença de mérito, quando proferida sem a integração do contraditório
pelo litisconsorte necessário, será nula de pleno direito, não importando que o
litisconsórcio seja simples ou unitário.

GABARITO COMENTADO:
CORRETA: Letra C. A alternativa se refere à hipótese em que a lei permite, no
caso de litisconsórcio facultativo, que o juiz limite o número de sujeitos que o
formam, quando há excessividade que possa comprometer o bom andamento
do processo, primando pelo princípio da razoável duração. Nestes casos, o
litisconsórcio é conhecido como multitudinário e a declaração da limitação tem
o efeito de interromper o prazo para manifestação ou resposta para todos os
sujeitos. É o teor do artigo 113 do CPC:
"Art. 113 do CPC. § 1o O juiz poderá limitar o litisconsórcio facultativo quanto
ao número de litigantes na fase de conhecimento, na liquidação de sentença ou
na execução, quando este comprometer a rápida solução do litígio ou dificultar
a defesa ou o cumprimento da sentença.
§ 2o O requerimento de limitação interrompe o prazo para manifestação ou
resposta, que recomeçará da intimação da decisão que o solucionar."

INCORRETAS:
A) O incidente processual da desconsideração da personalidade jurídica foi
regulamentado pelo CPC como uma das formas de intervenção de terceiros. O
erro da questão está em afirmar que o Ministério Público será parte legítima em
todo e qualquer procedimento de desconsideração da personalidade jurídica.
Isto porque a legitimidade do órgão ministerial está limitada às hipóteses em
que participa como autor, não lhe sendo oportuno requerer o incidente quando
atua como fiscal da lei. Sobre o tema: "Art. 133 do CPC. O incidente de
desconsideração da personalidade jurídica será instaurado a pedido da
parte ou do Ministério Público, quando lhe couber intervir no processo."

34
B) A questão aborda a temática sobre o amicus curiae, outra hipótese em que
a Lei 13.105/15 incluiu expressamente uma nova modalidade de intervenção
de terceiros. O "amigo da corte" possui extrema relevância em casos que
justifiquem a sua intervenção, pois possuem o propósito de melhorar a
qualidade da tutela jurisdicional, ampliando o conhecimento dos magistrados
que, em não raras hipóteses, precisam de auxílio técnico específico para
analisar determinado tema. O erro da alternativa está em afirmar que a figura
do amicus curiae está restrita às ações que tramitem no tribunal, já que a lei
expressamente previu a figura tanto em primeira instância, quanto no âmbito
dos tribunais: "Art. 138 do CPC. O juiz ou o relator, considerando a relevância
da matéria, a especificidade do tema objeto da demanda ou a repercussão
social da controvérsia, poderá, por decisão irrecorrível, de ofício ou a
requerimento das partes ou de quem pretenda manifestar-se, solicitar ou
admitir a participação de pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade
especializada, com representatividade adequada, no prazo de 15 (quinze) dias
de sua intimação."
D natureza do litisconsórcio é relevante para saber se a ausência da parte gera
a nulidade ou a ineficácia da decisão. Caso a demanda tenha como partes
litisconsortes unitários, será nula a decisão proferida sem a presença de todos.
Porém, se for simples, a falta de um dos litisconsortes gera a ineficácia da
decisão em relação a este, tornando-se plena e eficaz em relação aos outros
sujeitos que participaram do procedimento em contraditório. Sobre o tema: "Art.
115 do CPC. A sentença de mérito, quando proferida sem a integração do
contraditório, será:
I - nula, se a decisão deveria ser uniforme em relação a todos que deveriam ter
integrado o processo;
II - ineficaz, nos outros casos, apenas para os que não foram citados.
Parágrafo único. Nos casos de litisconsórcio passivo necessário, o juiz
determinará ao autor que requeira a citação de todos que devam ser
litisconsortes, dentro do prazo que assinar, sob pena de extinção do processo.

PROCEDIMENTO COMUM

TÓPICOS SOBRE O PROCEDIMENTO COMUM

1) O NCPC extinguiu a divisão entre procedimento sumário e ordinário,


sendo todos os atos, atualmente, praticados segundo procedimento
comum, salvo legislação especial.
2) Na petição inicial, o autor deverá informar se deseja ou não que seja
realizada audiência de conciliação ou de mediação (artigo 334).
3) Quando não preenchidos os requisitos da petição inicial, ou
apresentando irregularidades capazes de dificultar o julgamento do
mérito, o juiz intimará o autor para que emende a petição inicial, em um
prazo de 15 dias, conforme artigo 321, sendo o descumprimento causa
de indeferimento da inicial. É dever do juiz, ao proferir o despacho de
intimação, especificar o que deve ser emendado.

35
4) Nas ações que tenham por objeto revisão de obrigação decorrente de
empréstimo de financiamento ou de alienação do bem, é dever do autor,
pena de inépcia da petição inicial, quantificar o valor incontroverso.
5) A petição inicial será indeferida quando: for inepta; faltar-lhe pedido ou
causa de pedir; quando o pedido for indeterminado, ressalvadas as
hipóteses legais em que se permite pedido genérico; quando da
narração dos fatos não decorrer conclusão lógica; quando tiver pedidos
incompatíveis entre si.
6) A impossibilidade jurídica do pedido deixou de ser condição da ação;
não sendo mais, portanto, hipótese de inépcia da petição inicial.
7) Do indeferimento da petição inicial, é cabível o recurso de apelação,
podendo o juiz se retratar no prazo de cinco dias.

IMPROCEDÊNCIA LIMINAR DO PEDIDO:

Com a jurisprudencialização do processo civil, houve um efeito muito claro


com relação ao pedido, sendo este liminarmente rejeitado quando:
Contrariar enunciado de súmula do STF ou do STJ;
Contrariar acórdão proferido pelo STF ou STJ em julgamento de recurso
repetitivo;
Contrariar entendimento firmado em incidente de resolução de demanda
repetitiva ou de assunção de competência;
Contrariar enunciado de súmula de tribunal de justiça local.
O reconhecimento da prescrição ou decadência também é causa de rejeição
liminar do pedido.
Da decisão de rejeição liminar do pedido é cabível apelação, no prazo de 15
dias, com efeito regressivo. Sendo assim, poderá o juiz em cinco dias
retratarse da decisão proferida.

(Ano: 2016. Banca: FCC. Órgão: DPE-BA)


Sobre a petição inicial e seu indeferimento e a improcedência liminar do pedido
é correto:
A) Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz, independentemente da
citação do réu, julgará liminarmente improcedente o pedido que contrariar
enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de
Justiça.
B) Depois da citação, o autor não poderá aditar ou alterar o pedido, ainda que
haja consentimento do réu.
C) Se o juiz verificar que a petição inicial não preenche os requisitos legais,
deverá determinar a intimação do autor para que, no prazo de dez dias, a
emende ou a complete, não cabendo ao Magistrado apontar qual o erro.

36
D) O pedido deve ser certo, nele estando compreendidos os juros legais, a
correção monetária e as verbas de sucumbência, mas a fixação de honorários
advocatícios depende de pedido expresso.
E) Indeferida a petição inicial, o autor poderá interpor agravo de instrumento,
facultado ao juiz, no prazo de cinco dias, retratar-se.

GABARITO COMENTADO:
CORRETA: Letra A, conforme expressa previsão do artigo 332, I do CPC;

INCORRETAS:
B) Após a citação, desde que haja consentimento do réu, poderá o autor aditar
o decisão de saneamento, conforme menciona o artigo 329, II do CPC;
C) De fato, não preenchidos os requisitos da petição inicial, o juiz intimará o
autor para que a emende ou complete. O erro da questão foi informar que o
prazo para o aditamento será de 10 dias, já que, conforme o artigo 321 do
CPC, o prazo é de 15 dias.
D) A fixação dos honorários será determinada, independente de pedido
expresso na petição inicial, nos termos do §1º, do artigo 322, do CPC.
E) Do indeferimento da petição inicial é cabível o recurso de apelação, por se
tratar de sentença terminativa, expressa no inciso I, do artigo 485 do CPC, que
deve ser lido conjuntamente com o artigo 331, do mesmo código.

AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO:

Seguindo o objetivo primordial de promover a resolução extrajudicial dos


conflitos, a audiência de conciliação ou mediação surge como instrumento de
efetivação da autocomposição. Recebida a petição inicial, será designada
audiência de conciliação ou mediação, com antecedência mínima de trinta
dias, devendo o réu ser citado em, no máximo, vinte dias antes do ato.
Conforme exposto em tópico anterior, ao instruir a petição inicial o autor
informará se tem interesse na realização da audiência. Isto ocorre porque, na
eventualidade de o réu também manifestar o desinteresse na audiência, ela
não se realizará. Neste caso, com antecedência de dez dias da realização da
audiência, deverá o réu se manifestar sobre o seu desinteresse, contando, a
partir do protocolo desta manifestação, o início do prazo para a contestação.
Neste sentido, o artigo 334, parágrafo 4º, descreve as hipóteses em que a
audiência não será realizada, sendo estas: quando ambas as partes
manifestarem o desinteresse e quando o direito pleiteado não permitir a
autocomposição. Havendo litisconsórcio, a audiência só não será realizada se
a manifestação pelo desinteresse for dada por todos, ou seja, basta que um
dos litisconsórcios manifeste interesse pelo ato, que ele ocorrerá. Na hipótese
de não ser realizada a audiência, o prazo de contestação começará a correr
para cada um dos réus, da data do respectivo pedido de cancelamento. As
partes devem comparecer obrigatoriamente acompanhadas de seus
advogados, de maneira que o não comparecimento constitui ato atentatório à
dignidade da justiça, com a aplicação de multa de até 2% da vantagem
econômica pretendida ou do valor da causa.
Realizada a audiência, o prazo para contestar começará a correr da data

37
de sua realização. Fiquem atentos, pois se trata de assunto recorrentemente
cobrado em prova!

(Ano: 2016. Banca: FCC. Órgão: DPE-ES)


Sobre conciliação e mediação, diante dos conceitos e regras do novo Código
de Processo Civil:
A) N injustificado do réu à audiência de conciliação ou mediação gera a sua
revelia e impõe o pagamento de multa.
B) A audiência prévia de conciliação ou mediação somente não será realizada
se o autor ou o réu manifestarem, expressamente, desinteresse na
composição.
C) A conciliação seria o método mais adequado para a solução consensual
para uma ação ajuizada como divórcio litigioso.
D) Na sua atuação, o mediador deverá sugerir soluções para o litígio, sendo
vedada a utilização de qualquer tipo de constrangimento ou intimidação para
que as partes conciliem.
E) O conciliador e o mediador, assim como os membros de suas equipes, não
poderão depor acerca de fatos ou elementos oriundos da conciliação ou da
mediação.

GABARITO COMENTADO:
CORRETA: Letra E, nos termos do artigo 166, §2º, em preservação ao
princípio da confidencialidade, exposto no caput do referido artigo, devendo os
mediadores e conciliadores manter sigilo acerca dos atos realizados.
INCORRETAS:
a) O não comparecimento do réu à audiência de conciliação não importa na
aplicação dos efeitos da revelia, tendo em vista que o prazo para contestar
apenas começa a contar após a realização da audiência ou do protocolo da
petição de desistência do ato. Neste sentido, o não comparecimento à
audiência, importa em ato atentatório à dignidade da justiça, sancionado com
multa de até 2%, nos termos do §8º do artigo 334 do CPC.
b) As hipóteses em que não será realizada a audiência de conciliação estão
previstas no §4º, do artigo 334, havendo dois erros na alternativa. O primeiro
se refere ao termo “ou”, que muitas vezes é colocado na questão para
confundir o candidato desatento. Conforme comentado acima, a audiência não
será realizada se ambas as partes manifestarem o desinteresse. Além disso, o
mesmo parágrafo complementa as hipóteses de não realização da audiência,
ao afirmar que não será possível quando se tratar de direito que não permite a
autocomposição.
c) A conciliação é o método usado, preferencialmente, quando as partes não
possuam um vínculo afetivo anterior ao litígio, podendo o conciliador buscar,
junto a elas, a melhor solução ao caso. Assim, tendo em vista que nas ações
de divórcio há vínculo afetivo anterior entre as partes, o método adequado é o
da mediação (artigos 165, §§ 2º e 3º).

38
d) A alternativa trouxe as atribuições conferidas ao conciliador, já que,
conforme §3º do artigo 165, ao mediador compete o auxílio às partes para que
estas compreendam as questões litigiosas e busquem juntas uma solução
satisfativa. O mediador não propõe solução à LIDE.

(Ano: 2018. Banca: FCC. Órgão: DPE-AP. Prova: Defensor Público)

Em relação à conciliação e à mediação,


A) as partes podem escolher, de comum acordo o conciliador e o mediador,
desde que estejam cadastrados no registro do tribunal competente.
B) o conciliador atuará somente nos casos em que não houver vínculo anterior
entre as partes, podendo sugerir soluções para o litígio, mas não impor a
conciliação.
C) em razão do dever de sigilo inerente às suas funções, o conciliador e o
mediador não poderão divulgar os fatos ou elementos oriundos da conciliação
ou da mediação, mas deverão depor se notados pelo juiz, pelo dever de
colaboração para com o judiciário.
D) o mediador, que atuará preferencialmente nos casos em que houver vínculo
anterior entre as partes, auxiliará aos a compreender as questões e os
interesses em conflito, de modo que eles possam, pelo restabelecimento da
comunicação, identificar, por si próprios, soluções consensuais que gerem
benefícios mútuos.
E) os conciliadores e mediadores judiciais devidamente registrados no cadastro
do Tribunal de Justiça, se advogados, não terão qualquer restrição ou
impedimento para o exercício de suas atividades, uma vez que as atividades
de solução consensual dos conflitos caracterizam múnus público e de interesse
social.

GABARITO: D. Letra da lei pura. § 1o O conciliador ou mediador escolhido


pelas partes poderá ou não estar cadastrado no tribunal.
B) ERRADO. § 2o O conciliador, que atuará preferencialmente nos casos em
que não houver vínculo anterior entre as partes, poderá sugerir soluções para o
litígio, sendo vedada a utilização de qualquer tipo de constrangimento ou
intimidação para que as partes conciliem.
C) ERRADO. Art 166. § 2o Em razão do dever de sigilo, inerente às suas
funções, o conciliador e o mediador, assim como os membros de suas equipes,
não poderão divulgar ou depor acerca de fatos ou elementos oriundos da
conciliação ou da mediação.
D) CERTO. ART. 165 § 3o O mediador, que atuará preferencialmente nos
casos em que houver vínculo anterior entre as partes, auxiliará aos
interessados a compreender as questões e os interesses em conflito, de modo
que eles possam, pelo restabelecimento da comunicação, identificar, por si
próprios, soluções consensuais que gerem benefícios mútuos.
E) ERRADO. Art. 172. O conciliador e o mediador ficam impedidos, pelo prazo
de 1 (um) ano, contado do término da última audiência em que atuaram, de
assessorar, representar ou patrocinar qualquer das partes.

39
CONTESTAÇÃO:

A contestação será oferecida em um prazo de 15 dias, incumbindo ao réu


alegar toda a sua matéria de defesa, expondo as razões de fato ou de direito
com que impugna o pedido do autor e especificando as provas que serão
produzidas.
Quando o réu apresentar qualquer fato que possa modificar, impedir ou
extinguir o direito do autor, este será intimado para apresentar impugnação
contestação, no prazo também de 15 dias.
O artigo 337, do CPC, prevê as hipóteses de alegações preliminares à
contestação, sendo que, por ter incluído diversas novas hipóteses, que antes
eram alegadas por meio de exceção, é um assunto recorrentemente cobrado
em prova. Assim, o candidato deve ter conhecimento claro sobre todo o rol de
preliminares, de maneira que abaixo serão expostas as inovações, por se tratar
dos incisos mais cobrados pelos examinadores:
II - Incompetência absoluta ou relativa;
III - Incorreção ao valor da causa;
XI - Ausência de legitimidade ou de interesse processual.
A cobrança se volta ao fato de o inciso ter sido alterado para a retirada da
impossibilidade jurídica do pedido, já que não se trata mais de condição da
ação.
XIII - Indevida concessão do benefício da justiça gratuita.
As matérias preliminares são de ordem pública, devendo ser reconhecidas de
ofício pelo juiz, salvo as hipóteses de convenção de arbitragem e
incompetência relativa.

RECONVENÇÃO

A reconvenção será alegada em um tópico específico da própria contestação,


intimando-se, da alegação, o advogado do autor para apresentar resposta em
quinze dias.
Com o advento da Lei 13.105/15, não há mais necessidade da apresentação
de contestação para reconvir, podendo a reconvenção ser proposta:
Contra o autor e um terceiro, chamada de ampliação subjetiva da
reconvenção.
Pelo réu em litisconsórcio com um terceiro;
Independente de contestação.

REVELIA

Não apresentada a resposta do réu, este será considerado repossuindo o


referido instituto dois efeitos: processual, que consiste na não intimação do
réu para os atos seguintes do processo, e outro material. Poderá intervir em
qualquer momento, mas receberá o processo no estado em que se encontrar.
O efeito material consiste na presunção de veracidade aos fatos alegados na
inicial, não se aplicando quando:

40
Houver pluralidade de réus e um deles contestar a ação;
O litígio versar sobre direito indisponível;
A petição inicial não estiver acompanhada de instrumento que a lei considera
indispensável à prova do ato;
As alegações formuladas pelo autor forem inverossímeis ou estiverem em
contradição com a prova por ele produzida.

(Ano: 2016. Banca: FCC. Órgão: DPE-BA)


Sobre as respostas do réu, é correto afirmar:
A) Na contestação, é lícito ao réu propor reconvenção para manifestar
pretensão própria, ainda que não conexa com a ação principal nem com o
fundamento da defesa.
B) Para o réu propor reconvenção é necessário que apresente contestação.
C) Se o réu, na contestação, deixar de alegar incompetência absoluta ou
relativa, o juiz conhecerá de tais matérias de ofício.
D) Havendo alegação de incompetência relativa ou absoluta, a contestação
poderá ser protocolada no foro de domicílio do réu.
E) A desistência da ação ou a ocorrência de causa extintiva que impeça o
exame de seu mérito obsta o prosseguimento do processo quanto à
reconvenção.

GABARITO COMENTADO:

CORRETA: Letra d, por previsão expressa do artigo 340.


Após o protocolo da petição, o fato será comunicado ao juiz da causa, de forma
eletrônica, preferencialmente.
INCORRETAS:
1. Ao réu é dada a possibilidade de apresentar reconvenção, em tópico
específico da contestação, porém a matéria deve, necessariamente, ter
conexão com a ação principal ou com a matéria de defesa, conforme exposto
no artigo 343.
2. Uma das novidades trazidas pelo NCPC é a possibilidade de a parte ré
apresentar reconvenção, independente de apresentar contestação; estando,
portanto, errada a alternativa, nos termos do artigo 343, §6º.
3. A incompetência relativa não pode ser reconhecida de ofício pelo juiz. Assim,
caso não seja alegada em preliminar de contestação, haverá prorrogação da
competência (artigo 65). Por outro lado, por se tratar de matéria de ordem
pública, a incompetência absoluta poderá ser alegada a qualquer tempo e grau
de jurisdição, inclusive de ofício pelo juiz (artigo 64, §1º).
4. Mesmo que haja desistência da ação ou que ocorra causa extintiva sem
julgamento de mérito, se o réu apresentou reconvenção, está será analisada,
vide previsão do artigo 343, §2º.

41
(Ano: 2018. Banca: FCC. Órgão: DPE-AM. Prova: Defensor Público)

Considere as seguintes situações abaixo, retratando decisões havidas em três


processos diferentes:
I. Antes da citação do demandando, o juiz julga liminarmente improcedente o
único pedido feito pelo autor, em razão de contrariar súmula do Superior
Tribunal de Justiça.
II. Após a apresentação de contestação, o juiz julga parcialmente o mérito, para
o fim de acolher um dos pedidos feitos pelo autor em razão de sua
incontrovérsia.
III. O juiz não acolhe a contradita de uma testemunha arrolada pela parte
adversa, toma o compromisso e colhe o depoimento da testemunha.
IV. O juiz decide antecipadamente o mérito, julgando parcialmente procedente
o único pedido feito pelo autor, concedendo a pretensão em menor medida
daquela postulada na inicial.

Considere as sistemáticas recursais abaixo:


1. Não há recorribilidade imediata, devendo a questão ser objeto de preliminar
de apelação.
2. Cabe apelação, com a possibilidade de juízo de retratação.
3. Cabe apelação, sem a possibilidade de juízo de retratação.
4. Cabe agravo de instrumento.
A correta correspondência entre as decisões e o sistema recursal aplicável está
APENAS em

A) I-2; II-4; III-1; IV-3.


B) I-3; II-4; III-1; IV-2.
C) I-2; II-1; III-4; IV-3.
D) I-4; II-4; III-1; IV-4.
E) I-2; II-3; III-4; IV-4.

GABARITO: A.
I. 2. Cabe apelação, com a possibilidade de juízo de retratação.

Art. 332. Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz,


independentemente da citação do réu, julgará liminarmente improcedente o
pedido que contrariar:
I - enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal ou
do Superior Tribunal de Justiça; (...)
§ 3o Interposta a apelação, o juiz poderá retratar-se em
5 (cinco) dias.

II 4. Cabe agravo de instrumento


Art. 356. O juiz decidirá parcialmente o mérito quando um ou mais dos pedidos
formulados ou parcela deles:
I - mostrar-se incontroverso;
(...)

42
§ 5o A decisão proferida com base neste artigo é impugnável por agravo
de instrumento.
III 1. Não há recorribilidade imediata, devendo a questão ser objeto de
preliminar de apelação.
Trata-se de uma decisão de natureza interlocutória, conforme disposição dos
seguintes artigos:

Art. 203. Os pronunciamentos do juiz consistirão em sentenças, decisões


interlocutórias e despachos.
§ 1o Ressalvadas as disposições expressas dos procedimentos especiais,
sentença é o pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos
arts. 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem como
extingue a execução.
§ 2o Decisão interlocutória é todo pronunciamento judicial de natureza
decisória que não se enquadre no § 1o.

Art. 1.009. Da sentença cabe apelação.

§ 1o As questões resolvidas na fase de conhecimento, se a decisão a seu


respeito não comportar agravo de instrumento, não são cobertas pela
preclusão e devem ser suscitadas em preliminar de apelação,
eventualmente interposta contra a decisão final, ou nas contrarrazões.

IV. 3. Cabe apelação, sem a possibilidade de juízo de retratação.


Trata-se de uma decisão de mérito a respeito de um único pedido, por isso,
não sendo uma decisão parcial, o recurso cabível é uma apelação, caindo na
regra geral mesmo.

Art. 1.009. Da sentença cabe apelação.

JULGAMENTO ANTECIPADO DO MÉRITO:

O juiz julgará antecipadamente o mérito quando não houver necessidade de


produção de outras provas ou quando reconhecer os efeitos da revelia ao réu
revel e não houver requerimento de provas.

Novidade interessante e muito cobrada é a possibilidade de julgamento


antecipado parcial do mérito. Assim, quando o pedido se mostrar incontroverso
ou quando parcela da decisão estiver em condições de imediato julgamento, o
juiz poderá julgar parcialmente o mérito.

Referida decisão será líquida ou ilíquida, sendo permitida a execução imediata,


podendo ocorrer em autos apartados, independente de caução, por se tratar
de decisão de mérito, ainda que haja recurso. Transitada em julgada a decisão,
a execução passa a ser definitiva.

43
Da decisão que julga parcialmente o mérito, caberá o recurso de agravo de
instrumento, nos termos do parágrafo 5º, do artigo 356, do CPC, cumulado
com o artigo 1.015, II, do mesmo código.

(Ano: 2016. Banca: FCC. Órgão: DPE-ES. Prova: Defensor Público)

Em uma ação proposta com pedido de condenação a indenização por danos


materiais e danos morais, após a apresentação de contestação, o magistrado
entende que o primeiro pedido restou incontroverso, e, por isso, condenou o
réu ao pagamento dos danos materiais comprovados e, no mesmo ato,
determinou o prosseguimento da ação somente em relação aos danos morais.
Esta decisão tem natureza jurídica de:

A) sentença final de mérito e, portanto, desafia recurso de apelação.


B) julgamento antecipado parcial de mérito e, portanto, desafia recurso de
agravo de instrumento.
C) julgamento antecipado parcial de mérito e, portanto, desafia recurso de
apelação.
D) tutela provisória incidental de urgência e, portanto, desafia recurso de
agravo de instrumento.
E) tutela provisória incidental da evidência, mas não apresenta recorribilidade
imediata, pois não comporta recurso de agravo de instrumento, mas apenas
apelação após a sentença final.

GABARITO: B

Art. 355. O juiz julgará antecipadamente o pedido, proferindo sentença com


resolução de mérito, quando:
I - não houver necessidade de produção de outras provas;
II - o réu for revel, ocorrer o efeito previsto no art. 344 e não houver
requerimento de prova, na forma do art. 349.

Art. 356. O juiz decidirá parcialmente o mérito quando um ou mais dos


pedidos formulados ou parcela deles:
I - mostrar-se incontroverso;
II - estiver em condições de imediato julgamento, nos termos do art. 355.

Art.356 § 5o A decisão proferida com base neste artigo é impugnável por


agravo de instrumento.

44
DECISÃO DE SANEAMENTO:

A decisão de saneamento consiste no ato de organização do processo, em que


o juiz resolve questões preliminares pendentes, delimita as questões fáticas,
especificando os meios de prova permitidos, define o ônus da prova, delimita
as questões de direitos relevantes à decisão e, se necessário, designa
audiência de instrução e julgamento.

A decisão de saneamento é uma decisão interlocutória, que desafia agravo de


instrumento. Esta decisão pode ser proferida pelo juiz sozinho, ou em conjunto
com as partes, como se verá adiante.

Se, na decisão de saneamento, o juiz determinar a produção de prova oral, da


data de intimação da decisão, inicia-se o prazo de quinze dias, para que as
partes apresentem o rol de testemunhas.

O número de testemunhas não poderá ser superior a dez, sendo, no máximo,


três para a prova de cada fato. Levando-se em consideração o grau de
complexidade da demanda, o magistrado tem a faculdade de limitar o número
de testemunhas a serem ouvidas. Determinada a produção de prova pericial, o
juiz nomeará perito especializado e fixará de imediato o prazo para a entrega
do laudo, tendo as partes quinze dias, a contar da intimação da decisão, para
arguir suspeição e impedimento do perito, apresentar quesitos e indicar
assistente técnico.

Relativamente ao saneamento do processo, o NCPC trouxe algumas


novidades que podem ser cobradas em prova, como o saneamento consensual
e o compartilhado/em cooperação.
Nesta decisão, o juiz resolverá as questões processuais pendentes, delimitar
as questões de fato sobre as quais deverão recair a atividade probatória e os
meios de prova admitidos, poderá também distribuir o ônus da prova, delimitar
as questões de direito relevantes e designar audiência de instrução e
julgamento.

Quanto às questões de fato e de direito, as partes podem delimitar


consensualmente (art. 357, §2º), devendo esse acordo ser homologado. No
entanto, havendo complexidade sobre a matéria de fato ou de direito, o juiz
pode designar uma audiência para realizar o saneamento com a cooperação
das partes (art. 357, §3º).

PROVAS:

ÔNUS DA PROVA:

O ônus da prova será delimitado na decisão de saneamento, mas, ao fixá-lo, o


juiz deve observar uma peculiaridade trazida no artigo 373. Isto porque, apesar
de mantido o sistema estático de ônus da prova como regra (incumbe ao autor

45
a prova do fato constitutivo de seu direito e ao réu, a existência de fato
impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor), o parágrafo primeiro
inovou ao possibilitar a distribuição dinâmica do ônus da prova.

A exceção (distribuição dinâmica da prova) ocorrerá quando as peculiaridades


da causa impossibilitem ou dificultem excessivamente a produção da prova por
aquele quem em regra deveria fazê-la. Também será possível quando a parte
contrária tiver maior facilidade na obtenção da prova.

O juiz irá avaliar qual parte está em melhores condições de produzir a prova e,
por decisão fundamentada, decidirá o ônus. Outra possibilidade é a inversão
convencional da prova, que será admitida quando o direito recair sobre direito
disponível e que não gere à outra parte uma prova diabólica, ou seja,
excessivamente difícil de ser produzida.

- Tópicos a respeito da produção de prova:

A produção antecipada de prova, que não mais consiste em uma ação


cautelar, será admitida não apenas para fundamentar pedido em ação
principal, quando há fundado receio em seu perecimento (inciso I), de maneira
que, o artigo 381 também autoriza a prova antecipada quando: seu resultado
puder viabilizar a autocomposição do conflito ou outro meio.

Possibilidade de solução de conflito (inciso II) ou, quando do prévio


conhecimento dos fatos, possa justificar ou evitar o ajuizamento da ação
(inciso III).

Na produção antecipada de provas serão citados todos os interessados em


sua produção, porém é inadmissível a apresentação de
defesa ou recurso, salvo se houver indeferimento total do pedido. Isto porque
o procedimento visa apenas à produção de prova, que será instrumentalizado
no processo principal, momento em que se possibilitará o contraditório.

A produção antecipada da prova é da competência do foro onde esta deve ser


produzida ou do foro de domicílio do réu, porém o ato não previne o juízo para
o julgamento da ação que será posteriormente proposta. É vedado ao juiz se
manifestar sobre a produção de provas, devendo, ao fim do procedimento, dar
fim ao processo, que ficará disponível em secretaria por um mês, para a
providência das partes.

A ata notarial (artigo 384) consiste na manifestação do tabelião sobre a


existência e o modo de existir de algum fato, a requerimento do interessado.
Não se confunde com a escritura pública e tem ampla utilidade nos dias
atuais, notadamente, para atestar questões expostas na rede mundial de
computadores, pela efemeridade de sua existência.

Ao advogado compete a intimação da testemunha para a audiência de

46
instrução e julgamento, por meio de carta com aviso de recebimento. A carta
deverá ser juntada aos autos, em um prazo máximo de três dias antes da
audiência. A juntada é importante, pois a intimação da testemunha poderá ser
feita judicialmente quando ela tiver sido intimada nos moldes acima descritos,
mas não compareceu ao ato.

O primeiro ato da audiência de instrução e julgamento será a tentativa


do magistrado de promover a conciliação entre as partes, tentativa esta que
pode ser renovada a qualquer tempo. Finalizada a AIJ, caso não sejam
apresentados memoriais de forma oral em audiência, o autor e, após,
sucessivamente, o réu, terão o prazo de 15 dias para apresentar as alegações
finais.

(Ano: 2017. Banca: FCC. Órgão: DPE-PR)


O Novo Código de Processo Civil
A) exige do juiz, sempre que inverter o ônus da prova, que dê oportunidade à
parte para se desincumbir do ônus que lhe tenha atribuído.
B) prevê que a distribuição diversa do ônus da prova também pode ocorrer por
convenção das partes, desde que celebrada durante o processo.
C) extingue a ação cautelar de produção antecipada de provas, não sendo
mais possível a dilação probatória em caráter antecedente.
D) adota com exclusividade a distribuição dinâmica do ônus da prova.
E) admite a utilização de prova produzida em outro processo, devendo o juiz,
contudo, atribuir a ela o mesmo valor dado no processo originário.

GABARITO COMENTADO:
CORRETA: Letra A, nos termos do §1º, do artigo 373, que determina ao juiz a
obrigação de possibilitar a parte de se desincumbir do ônus da prova que lhe
foi conferido, sempre que este for atribuído de modo diverso.

INCORRETAS:
B) A distribuição do ônus da prova por convenção das partes não possui a
obrigatoriedade de ser realizada durante o processo, pois, de acordo com o
artigo 373, §§ 3º e 4º, a convenção poderá ser realizada tanto antes, quanto
durante o processo.
C) De fato, houve a extinção da ação cautelar de produção antecipada de
provas, mas ainda há a possibilidade de as provas serem produzidas em
caráter antecedente ao processo principal, por procedimento expresso nos
artigos 381 a 383, do CPC.
D) Por mais que o NCPC tenha trazido a possibilidade de distribuição dinâmica
do ônus da prova, esta não foi a regra exclusiva trazida pela legislação

47
processual. É importante que o candidato saiba que a distribuição estática do
ônus da prova ainda é a regra no processo civil, sendo a dinâmica
possibilitada, em determinados casos, por decisão fundamentada do juiz ou por
convenção das partes.
E) A utilização de prova emprestada é ato expressamente autorizado pelo
NCPC, conforme previsão do artigo 372. O erro da alternativa foi em afirmar
que o juiz deve conferir à prova emprestada o mesmo valor conferido ao
processo original. Isto porque, a prova emprestada apenas se torna possível se
garantido a parte o direito ao contraditório, sendo que o juiz deverá dar a ela o
valor que considerar adequado, não se vinculando ao processo original.

SENTENÇA:

A sentença consiste no pronunciamento por meio do qual o juiz, com


fundamento nos artigos 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do procedimento
comum, bem como extingue a execução.

Com relação à sentença, o candidato deve ter atenção às hipóteses previstas


no artigo 485, que dizem respeito à sentença que não resolve o mérito
(sentenças terminativas). Atenção à previsão dos incisos II e III, já que, nas
hipóteses de abandono da causa, antes da extinção do processo sem
resolução de mérito, as partes serão intimadas pessoalmente para suprir a
falta, em um prazo de cinco dias.

Somente após o decurso deste prazo, se mantida a inércia, haverá a extinção


do processo sem resolução de mérito. A apelação da sentença que extingue o
processo sem resolução de mérito é dotada de efeito regressivo; podendo,
portanto, o juiz em um prazo de cinco dias retratar-se de sua decisão.

No que tange à sentença que resolve o mérito, os examinadores costumam


cobrar a literalidade do artigo 487, devendo o candidato ter conhecimento de
todas as hipóteses. Atenção especial ao inciso II, pois, para que se reconheça
a prescrição ou decadência, salvo nas hipóteses de rejeição liminar do pedido,
deve o juiz conceder à parte prejudicada o direito ao contraditório, antes de
proferir a decisão.

Necessário saber as hipóteses de sentenças ilíquidas, pois a regra é a


sentença líquida (art. 491). Atentar, igualmente, para o art. 495, que dispõe
sobre a sentença condenatória vale como título constitutivo de hipoteca
judiciária, quando a condenação consistir em prestação em dinheiro, ou que
tenha convertido as obrigações de fazer, não fazer ou de dar coisa, em
prestação pecuniária.

Ainda, o candidato deve ter atenção aos elementos da fundamentação e,


consequentemente, quando a sentença não é considerada fundamentada (art.
489, §1º). Atenção ao enunciado 10, do ENFAM:

48
A fundamentação sucinta não se confunde com a ausência de fundamentação
e não acarreta a nulidade da decisão se forem enfrentadas todas as questões
cuja resolução, em tese, influencie a decisão da causa.

(Ano: 2017. Banca: CESPE. Órgão: DPE-AC. Prova:


Defensor Público)
Por determinação legal, o juiz não pode proferir decisão de teor diverso
daquele do pedido feito pelo autor, tampouco condenar em quantidade superior
ou em objeto diverso do que lhe foi demandado. A partir desse entendimento,
assinale a opção correta.

A) É licito ao juiz proferir sentença condicional.


B) A sentença extra petita é aquela em que há majoração ilícita de algo
requerido na inicial.
C) A sentença ultra petita é aquela em que é conferido direito não requerido na
inicial.
D) Sentença fundamentada em razões diversas daquelas presentes no recurso
não é considerada extra petita.
E) Se o pedido de correção monetária não for formulado pelo autor, o juiz não
poderá se pronunciar sobre a questão.

GABARITO: D.
Vamos, primeiramente, estudar os conceitos de sentença abordados na
questão.

Sentença citra petita: julga menos do que foi pedido.


Sentença ultra petita: julga a mais do que foi pedido.
Sentença extra petita: julga diferente do que foi pedido.

a) ERRADO. Art. 492, Parágrafo único. A decisão deve ser certa, ainda que
resolva relação jurídica condicional.
b) ERRADO. A alternativa definiu a sentença ultra petita.
c) ERRADO. A alternativa definiu a extra petita.
d) CERTO. O juiz não está vinculado aos fundamentos usados pelo autor.
e) ERRADO. Hipóteses de pedido implícito:

(1) despesas e custas processuais (art. 322, § 1º, CPC);


(2) honorários advocatícios (art. 322, § 1º, CPC);
(3) correção monetária (art. 404 do CC e art. 322, § 1º, CPC);
(3) prestações vincendas e inadimplidas na constância do processo em caso
de contratos de trato sucessivo (art. 323, CPC);
(4) os juros legais/moratórios (arts. 404 e 406, CC) – não sendo considerados
pedidos implícitos os juros convencionais ou compensatórios.

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REEXAME NECESSÁRIO:

Trata-se de prerrogativa da Fazenda Pública que, com a Lei 13.105/15, foi


atenuada, havendo a modificação dos valores bases para que haja a remessa
necessária. É uma CONDIÇÃO DE EFICÁCIA da sentença proferida contra o
Poder Público. Para fins de prova, deve o candidato atentar aos valores
determinados para cada ente federativo, de forma que não haverá reexame
necessário quando a decisão condenar:

A União e suas respectivas autarquias e fundações ao pagamento de até 1.000


(mil) salários mínimos;
Os Estados, ao Distrito Federal, suas autarquias e fundações de direito
público ou aos municípios que constituam capital de Estado ao pagamento de
até 500 (quinhentos) salários mínimos;
Os demais municípios e suas respectivas autarquias e fundações públicas, ao
pagamento de até 100 (cem) salários mínimos.

- Também caberá a remessa necessária à decisão que julgar procedente, no


todo ou em parte, os embargos à execução fiscal;
- A hipótese prevista no artigo 496, §3º, somente dispensará o reexame
necessário se a decisão tiver valor certo e líquido. Se a questão informar que a
decisão foi ilíquida, necessariamente haverá a remessa.
- Também não estará sujeita ao duplo grau de jurisdição, independente do
valor, se a decisão condenatória estiver em consonância com súmula de
tribunal superior; acórdão proferido pelo STF ou STJ em julgamento de
recursos repetitivos; entendimento firmado em incidente de resolução de
demandas repetitivas ou assunção de competência; entendimento coincidente
com orientação vinculante firmada no âmbito administrativo do próprio ente
público, consolidada em manifestação, parecer ou súmula administrativa.
- É proibida a reformatio in pejus em reexame necessário.

COISA JULGADA E QUESTÕES PREJUDICIAIS:

A coisa julgada material é a autoridade que torna imutável e indiscutível a


decisão de mérito que não está mais sujeita a recurso. A decisão que julga total
ou parcialmente o mérito tem força de lei, nos limites da questão principal
expressamente decidida.

Apreciação das questões prejudiciais: As questões prévias podem ser:


preliminares, que são questões processuais que o juiz tem que apreciar para
saber se vai analisar o mérito. Também podem ser prejudiciais, que se

50
materializam quando o réu contesta o fundamento jurídico do pedido. Neste
caso, compete ao juiz apreciá-las e decidir, com base nestas alegações, como
deverá julgar o mérito.

EXEMPLO: Em uma ação de cobrança, a questão prejudicial será o


fundamento jurídico apresentado em contestação que diz respeito
especificamente à ação. Já a preliminar seria o caso da alegação de nulidade
do contrato que fundamentou o pedido.

Sobre a questão prejudicial, o candidato deve saber que, mesmo que ela seja
decidida de forma incidental à sentença, haverá a aplicação do artigo 503, do
CPC, de maneira que será julgado o mérito da prejudicial, se:

- Da resolução da questão prejudicial depender o julgamento do mérito;


- A seu respeito estiver havido o contraditório prévio e efetivo, não se aplicando
em caso de revelia;
- Se o juiz tiver competência, em razão da matéria e da pessoa para resolvê-la
como questão principal.

LIQUIDAÇÃO:

Liquidação da sentença
A liquidação será feita quando a sentença condenar a parte sucumbente ao
pagamento de quantia ilíquida, podendo ser requerida tanto pelo credor quanto
pelo devedor.

MODALIDADES DE LIQUIDAÇÃO

LIQUIDAÇÃO POR SIMPLES CÁLCULO: quando a apuração depender


apenas de cálculo aritmético, poderá o credor promover, desde logo o
cumprimento de sentença, não sendo necessário um pedido específico de
liquidação. O CNJ deverá disponibilizar um programa de atualização de
cálculos, a fim de auxiliar as partes (artigo 509, §3º). Não consiste mais em
uma forma específica de liquidação, sendo simples ato contínuo ao
cumprimento de sentença.

LIQUIDAÇÃO POR ARBITRAMENTO (Artigo, 509, I e 510): será utilizada


quando for necessário conhecimento técnico para elaborar a memória de
cálculo, se, após a intimação das partes para apresentação de pareceres ou
documentos elucidativos, persistir a necessidade de nomeação de perito
especializado para a quantificação do valor.

LIQUIDAÇÃO POR PROCEDIMENTO COMUM (Artigo 509, II e 511):


Substituiu a antiga liquidação “por artigos” e é utilizada quando para a
apuração do quantum debeatur for necessária à análise de fatos novos. Nesta
modalidade, será iniciado um novo procedimento comum, sendo intimado o
devedor para, no prazo de 15 dias, contestar a liquidação.

51
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA (ARTIGOS 513 a 538)

PRINCIPAIS TEMAS SOBRE CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

a) Regra geral, a intimação do devedor para o cumprimento de sentença


será feita pelo diário de justiça eletrônico, na pessoa de seu advogado.
Com relação aos devedores que são assistidos pela defensoria pública
ou quando não tiver procurador constituído nos autos, a intimação será
pessoal, por meio de carta com aviso de recebimento.
b) Se o requerimento de cumprimento de sentença ocorrer após um ano do
trânsito em julgado da decisão, a intimação será pessoal, por meio de
carta com aviso de recebimento, sendo vedada que seja feita na pessoa
do advogado.
c) O cumprimento de sentença não poderá ser promovido em face do
fiador, do coobrigado ou corresponsável que não tiver participado da
fase de conhecimento.
d) Quando o juiz decidir relação sujeita a condição ou termo, o
cumprimento de sentença dependerá da demonstração da ocorrência do
termo ou do cumprimento da condição.
e) No artigo 515, há a descrição dos títulos executivos judiciais, trazendo
duas importantes novidades, considerando títulos executivos judiciais:
os créditos de auxiliar de justiça, quando as custas, emolumentos ou
honorários tiverem sido aprovados por decisão judicial, bem como a
decisão interlocutória estrangeira, após a concessão de exequatur à
carta rogatória, conferido pelo STJ.
f) No cumprimento de sentença, poderá o exequente optar pelo juízo do
executado ou pelo juízo onde se encontram os bens sujeitos a
execução, solicitando a remessa dos autos ao juízo de origem.
g) Transcorrido o prazo de 15 dias para o pagamento voluntário, poderá o
exequente apresentar em cartório certidão com o teor da decisão e
protestar o título. Também há a possibilidade da inclusão do nome do
devedor no cadastro de restrição ao crédito, que pode ser feito,
inclusive, pelo próprio juiz por meio do sistema SERASAJUD.
h) O artigo 518 trata do tema da normatização das exceções de pré
executividade.

Todas as questões relativas à validade do procedimento de cumprimento de


sentença e dos atos executivos subsequentes, poderão ser alegadas nos
próprios autos. Trata-se de uma defesa atípica, sendo possível a alegação de
matérias conhecíveis de ofício e que não demandam dilação probatória.

i) No cumprimento provisório de sentença, são devidas as multas e


honorários advocatícios.
j) No cumprimento provisório de sentença, poderá ser dispensada a
caução, quando se tratar de créditos de natureza alimentar ou quando
se tratar de parte hipossuficiente econômica, garantindo o direito ao
acesso à justiça (artigo 521).
k) No cumprimento definitivo da sentença, o devedor será intimado para
pagar o débito no prazo de 15 dias. Não ocorrendo o pagamento

52
voluntário, haverá o acréscimo de multa no valor de 10%, bem como de
honorários advocatícios, também em 10%.
l) O mandado de penhora e avaliação independe do requerimento da
parte, podendo o juiz determinar o ato de ofício.
m) Passados os 15 dias para o pagamento voluntário inicia-se o prazo,
independente de nova intimação, também de 15 dias, para que o
executado apresente impugnação ao cumprimento de sentença.

O artigo 525 lista o rol de matérias que podem ser arguidas em impugnação ao
cumprimento de sentença, rol bastante amplo que deve ser conhecido pelo
candidato.

n) Desde que haja garantia do juízo, poderá o juiz conceder efeito


suspensivo à impugnação, desde que o executado demonstre a
presença dos requisitos do artigo 300 do CPC (fumus boni iuris e
periculum in mora).
o) No cumprimento de decisão que condena o réu ao pagamento de
alimentos, é permitido o protesto do título, de ofício pelo juiz, bem como
a inscrição do nome do devedor no cadastro de restrição ao crédito.

Neste caso, a requerimento do exequente, o juiz intimará o executado


para, no prazo de três dias, pagar o débito, provar que o fez ou justificar
a impossibilidade. O credor poderá optar pelo procedimento do artigo
528, que possibilita a prisão do devedor, pelo prazo de um a três meses,
pelo inadimplemento das três últimas parcelas executadas, bem como
pelas vincendas durante o procedimento (súmula 309 STJ). Caso não
tenha interesse no pedido de prisão, poderá ser requerido o
cumprimento de sentença pelo procedimento comum de expropriação.

p) É permitido o pedido de desconto do pagamento de verba alimentar


diretamente da folha de pagamento do executado ou dos seus
rendimentos, sendo que este desconto não pode ser superior a 50% dos
ganhos líquidos do devedor (artigo 529, §3º).
q) No cumprimento de sentença em face da fazenda pública, o credor
deverá apresentar a memória do cálculo atualizado do valor devido, não
sendo devida a multa de 10% pela involuntariedade do pagamento. Isto
porque a Fazenda Pública não é intimada para pagar o crédito, mas sim
para, querendo, apresentar defesa.
r) No cumprimento de sentença de obrigação de fazer, não fazer e
entregar, poderá o juiz converter a obrigação em perdas e danos, a
requerimento do autor, se houver impossibilidade do cumprimento
específico ou quando o juiz conceder o resultado prático equivalente.
s) A decisão que fixa astreintes é passível de cumprimento provisório,
todavia o levantamento dos valores apenas será possível após o transito
em julgado da decisão favorável à parte.

53
JURISPRUDÊNCIA

LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA: É possível ao julgador, na fase de liquidação


de sentença por arbitramento, acolher as conclusões periciais fundadas em
presunções e deduções para a quantificação do prejuízo sofrido pelo credor a
título de lucros cessantes. A utilização de presunções não pode ser afastada de
plano, uma vez que esta espécie de prova é utilizada pelo direito processual
nacional como forma de facilitação de provas difíceis, desde que razoáveis. Na
apreciação de lucros cessantes, o julgador não pode se afastar de forma
absoluta de presunções e deduções, porquanto deverá perquirir acerca dos
benefícios legítimos que não foram realizados por culpa da parte ex adversa.
Exigir prova absoluta do lucro que não ocorreu, seria impor ao lesado o ônus
de prova impossível (prova diabólica). STJ. (Info 590).

CUMPRIMENTO DE SENTENÇA: Na fase de cumprimento de sentença, é


incabível a rejeição do seguro garantia judicial pelo exequente, salvo por
insuficiência, defeito formal ou inidoneidade da salvaguarda oferecida. (Info
615, STF).

CUMPRIMENTO DA SENTENÇA: Se o devedor for assistido da Defensoria, o


prazo do art. 475-J do CPC/1973 deverá ser contado em dobro. Se o devedor
for assistido da Defensoria Pública, o prazo do art. 475-J do CPC/1973 deverá
ser contado em dobro, ou seja, o executado terá 30 dias para o débito. A
prerrogativa da contagem em dobro dos prazos tem por objetivo compensar as
peculiares condições enfrentadas pelos profissionais que atuam nos serviços
de assistência judiciária do Estado, que enfrentam deficiências de material,
pessoal e grande volume de processos. A intimação para o cumprimento da
sentença gera ônus para o representante da parte vencida, que deverá
comunicá-la do desfecho desfavorável da demanda e alertá-la de que a
ausência de cumprimento voluntário implica imposição de sanção processual.
Logo, deve ser aplicado o prazo em dobro nesta situação. STJ. (Info 594).

CUMPRIMENTO DE SENTENÇA: Na execução, a fiança bancária e o seguro


garantia judicial produzem os mesmos efeitos jurídicos que o dinheiro para
fins de garantir o juízo, não podendo o exequente rejeitar a indicação, salvo por
insuficiência, defeito formal ou inidoneidade. (Info 615).

SÚMULAS
Súmula 318, STJ: Formulado pedido certo e determinado, somente o autor
tem interesse recursal em arguir o vício da sentença ilíquida.
Súmula 344, STJ: A liquidação por forma diversa da estabelecida na sentença
não ofende a coisa julgada.

54
(Ano: 2018. Banca: FCC. Órgão: DPE-AP. Prova: Defensor Público)

No cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de


fazer ou de não fazer,
A) o executado incidirá nas penas de litigância de má-fé quando
injustificadamente descumprir a ordem judicial, prejudicada a responsabilização
por crime de desobediência.
B) o mandado de busca e apreensão de pessoas e coisas será cumprido por
dois oficiais de justiça, defeso o arrombamento.
C) o juiz poderá, de ofício ou a requerimento, modificar o valor ou a
periodicidade da multa vincenda, ou excluí-la, caso verifique que se tornou
insuficiente ou excessiva e que o obrigado demonstrou cumprimento parcial
superveniente.
D) a multa depende de requerimento da parte e poderá ser aplicada em
qualquer fase do processo, de conhecimento, em tutela provisória ou em fase
de execução.
E) a decisão que fixa a multa não é passível de cumprimento provisório, só se
permitindo sua execução com o trânsito em julgado da sentença favorável à
parte.

GABARITO: C. Letra da lei. A seguir, vocês devem ler os artigos do CPC que
explicam todas as alternativas.

Art. 536. No cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de


obrigação de fazer ou de não fazer, o juiz poderá, de ofício ou a requerimento,
para a efetivação da tutela específica ou a obtenção de tutela pelo resultado
prático equivalente, determinar as medidas necessárias à satisfação do
exequente.
§ 1o Para atender ao disposto no caput, o juiz poderá determinar, entre outras
medidas, a imposição de multa, a busca e apreensão, a remoção de pessoas e
coisas, o desfazimento de obras e o impedimento de atividade nociva,
podendo, caso necessário, requisitar o auxílio de força policial.
§ 2o O mandado de busca e apreensão de pessoas e coisas será cumprido por
2 (dois) oficiais de justiça, observando-se o disposto no art. 846, §§ 1o a 4o, se
houver necessidade de arrombamento.
§ 3o O executado incidirá nas penas de litigância de má-fé quando
injustificadamente descumprir a ordem judicial, sem prejuízo de sua
responsabilização por crime de desobediência.

Art. 537. A multa independe de requerimento da parte e poderá ser aplicada na


fase de conhecimento, em tutela provisória ou na sentença, ou na fase de
execução, desde que seja suficiente e compatível com a obrigação e que se
determine prazo razoável para cumprimento do preceito.

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§ 1o O juiz poderá, de ofício ou a requerimento, modificar o valor ou a
periodicidade da multa vincenda ou excluí-la, caso verifique que:
I - se tornou insuficiente ou excessiva;
II - o obrigado demonstrou cumprimento parcial superveniente da obrigação ou
justa causa para o descumprimento.
§ 2o O valor da multa será devido ao exequente.
§ 3º A decisão que fixa a multa é passível de cumprimento provisório, devendo
ser depositada em juízo, permitido o levantamento do valor após o trânsito em
julgado da sentença favorável à parte.

DOS RECURSOS

Sobre os recursos, o candidato deve saber que, em todas as provas, ao menos


uma questão sobre o tema será cobrada. Para tanto, abaixo serão listadas as
informações mais relevantes e recorrentemente cobradas em concursos pelos
examinadores. Não há muito aprofundamento sobre o tema nas questões
objetivas, de maneira que normalmente o objeto da pergunta se refere a texto
literal de lei, reitera-se, assim, a importância sobre a leitura e conhecimento da
lei seca para as provas objetivas.

São cabíveis os seguintes recursos:


1) Apelação
2) Agravo de instrumento
3) Agravo interno
4) Embargos de declaração
5) Recurso ordinário constitucional
6) Recurso especial
7) Recurso ordinário
8) Agravo em recurso especial ou extraordinário
9) Embargos de divergência

TEORIA GERAL DOS RECURSOS:

• Artigos 995 e seguintes do CPC.


Os recursos não têm efeito suspensivo, como regra geral, salvo disposição
legal (ope legis) ou judicial (ope judices) em sentido contrário. Sendo requisitos
para a concessão do efeito suspensivo: o risco de dano grave ou de difícil
reparação e a probabilidade de provimento do recurso.

RECURSO ADESIVO: quando houver sucumbência recíproca – vencidos


autor e réu – é possível que seja interposto recurso adesivo na hipótese de
uma das partes não ter recorrido. Será cabível na apelação, no recurso
extraordinário e no recurso especial.
O recorrente poderá desistir do recurso a qualquer tempo, independente da
anuência da parte contrária ou dos litisconsortes. De acordo com o parágrafo
único, do artigo 998, a desistência do recurso não impede a análise de recurso

56
que tenha repercussão geral conhecida ou daquele objeto de recurso
extraordinário ou especial repetitivos.

Tempestividade: Com exceção dos Embargos de Declaração, que será


interposto no prazo de cinco dias, todos os outros recursos serão interpostos
no prazo de 15 dias.
Compete ao recorrente comprovar a ocorrência de feriado local, no ato de
interposição do recurso.

Preparo: A parte deverá comprovar o recolhimento do preparo no momento da


interposição do recurso. Será dispensável o recolhimento de remessa e retorno
dos autos de processo eletrônico. O recorrente que não comprovar o
recolhimento do preparo no momento da interposição do recurso será intimado
para pagá-lo, que, neste caso, será feito em dobro, sob pena de deserção. Na
hipótese de recolhimento insuficiente, a parte será intimada para completar o
preparo, no prazo de 05 dias.

É vedada a complementação se houver insuficiência parcial do preparo,


inclusive de porte de remessa e retorno, no recolhimento realizado após a
aplicação da sanção em dobro pelo não recolhimento do preparo no momento
da interposição do recurso. Há a possibilidade de se provar que o preparo não
foi recolhido no momento oportuno, desde que por motivo justo. Nesse caso, a
parte terá que comprovar o preparo no prazo de 05 dias.
O equívoco do preenchimento de guia de custas não implica deserção. Dessa
forma, deverá o relator, no caso de dúvida, intimar o recorrente para sanar o
vício no prazo de 05 dias.

DA TÉCNICA DE JULGAMENTO EM ACÓRDÃO NÃO UNÂNIME:

Os embargos infringentes não existem mais no NCPC. Porém, a técnica de


julgamento em acórdão não unânime é situação parecida e prevista no novo
código. De acordo com o artigo 942, quando o resultado da apelação for não
unânime, o julgamento terá continuidade em outra sessão a ser designada.

Serão indicados novos desembargadores em número suficiente a possibilitar a


reversão do julgamento.
IMPORTANTE! Basta o acórdão ser não unânime. É indiferente se a decisão é
para reformar ou manter a antes prolatada.

A técnica é automática, independe de pedido, podendo, na sessão de


julgamento, as partes sustentar oralmente suas razões. De acordo com o CPC,
caso seja possível, poderá, na mesma sessão, ser dado prosseguimento ao
julgamento.

Essa técnica de julgamento se aplica também em:


1. Ação rescisória, quando o resultado for a rescisão da sentença;
2. Agravo de instrumento, quando houver reforma da decisão que julgar
parcialmente o mérito. Para o agravo de instrumento só vai ser aplicada essa

57
técnica se o acórdão reformar a decisão e se a decisão julgar o mérito da
demanda.

O parágrafo 4º do artigo 942 estabelece hipóteses em que não cabe essa


técnica:

1. Do incidente de assunção de competência e ao de resolução de demandas


repetitivas;
2. Da remessa necessária;
3. Ao julgamento não unânime proferido pelo pleno ou pela corte especial.

RECURSOS EM ESPÉCIE:

- APELAÇÃO
• Previsão legal: artigo 1009 a 1014 do CPC.
• Prazo de interposição: 15 dias.
• Cabimento: da sentença cabe apelação.
• Efeito: suspensivo ope legis, salvo as hipóteses previstas no §1º do artigo
1.012, sendo a mais cobrada em prova a decisão que condena ao pagamento
de alimentos (inciso II).

Será concedido efeito suspensivo à apelação, nas hipóteses do §1º, do artigo


1.012, desde que demonstrada a probabilidade de provimento do recurso ou
se, sendo relevante a fundamentação, houver risco de dano grave ou de difícil
reparação.
• Com o fim do agravo retido, as questões resolvidas no curso do procedimento
que não comportam agravo de instrumento, não serão cobertas de preclusão,
devendo ser suscitadas em preliminar de apelação ou em contrarrazões;
• A petição será dirigida ao juiz de primeiro grau. Porém, importante alteração é
no que tange ao juízo de admissibilidade do recurso. Isto porque, o juízo a quo
não faz mais juízo de admissibilidade, sendo que recebido encaminhará ao
juízo ad quem. O relator poderá decidir monocraticamente, indeferindo ou
dando provimento, quando: Não conhecer do recurso inadmissível,
prejudicado ou que não tenha impugnado especificamente os fundamentos da
decisão recorrida.
Negará provimento ao recurso quando for contrário a:

- Súmula do STF, súmula do STJ ou do próprio tribunal local.


- Quando o recurso for contrário a acórdão do STF ou STJ em sede de recurso
repetitivo;
- Quando houver entendimento firmado em incidente de resolução de demanda
repetitiva ou incidente de assunção de competência.

58
A teoria da causa madura (artigo 1013, §3º) permite que o tribunal julgue o
mérito do processo, se este estiver em condições de imediato julgamento
quando:
Reformar sentença fundamentada no artigo 485, do CPC;
Decretar a nulidade da sentença por não ser ela congruente com o pedido ou
a causa de pedir;
Constatar a omissão no exame de um dos pedidos, hipótese em que poderá
julgá-lo;
Decretar a nulidade de sentença por falta de fundamentação;

No NCPC, decretada a nulidade por sentença citra ou extra petita, poderá o


tribunal, desde logo, julgá-la, não necessitando que seja devolvido ao juízo de
origem para nova decisão.

Na hipótese de se reconhecer que há decadência ou prescrição e for interposta


apelação, o Tribunal julgará as outras parcelas do mérito, se estiver em
condições de imediato julgamento, no caso de o tribunal afastar a prescrição ou
a decadência.

II – AGRAVO DE INSTRUMENTO

• Previsão legal: artigo 1.015 A 1.020 do CPC.


• Prazo de interposição: 15 dias.
• Cabimento: cabe agravo de instrumento das decisões interlocutórias que
versarem sobre as matérias previstas no rol do artigo 1.015, do CPC, que é um
dos artigos mais exigidos em prova, quanto se trata de recurso. É
indispensável o conhecimento de todas, quais sejam: tutelas provisórias,
mérito do processo, rejeição da alegação de convenção de arbitragem,
incidente de desconsideração de personalidade jurídica; rejeição do pedido de
gratuidade de justiça ou acolhimento do pedido de sua revogação; exibição ou
posse de documento ou coisa; exclusão de litisconsortes; admissão ou
inadmissão de intervenção de terceiros; concessão, modificação ou revogação
do efeito suspensivo aos embargos à execução; redistribuição do ônus da
prova e outros casos previstos em lei e, por fim, das decisões interlocutórias
proferidas na fase de liquidação de sentença, no processo de execução e no
processo de inventário.

• Efeito: devolutivo, podendo ser atribuído o efeito suspensivo, conforme artigo


1.019.

59
O agravo de instrumento será interposto diretamente ao tribunal, com as peças
que formarão o instrumento, nos termos do artigo 1.017, do CPC, salvo no
caso de autos de processo eletrônico, pois já acompanham o ato.

Interposto o recurso, se não for o caso de processo eletrônico, o agravante


deverá comunicar ao juízo a quo a prática do ato, em um prazo de três dias.
Por ser dotado de efeito regressivo, o juiz poderá rever sua decisão para
reforma-la e, reformando, se tornará prejudicado o agravo.

III – AGRAVO INTERNO

• Previsão legal: artigo 1.021 do CPC.


• Prazo de interposição: 15 dias.
• Cabimento: Contra decisão proferida pelo relator, caberá agravo interno para
o respectivo órgão colegiado, observadas, quanto ao processamento, as regras
do regimento interno do tribunal.

Por ser recurso cabível contra decisão proferida por relator, alguns artigos
passam a ser muito importantes para a análise do cabimento do referido
recurso. Um deles é o artigo 932, pois especifica os poderes do relator, sendo
também relevante o incido I, do artigo 1.019, diante da competência conferida
ao relator de atribuir efeito ao agravo de instrumento.

• Na decisão de agravo, o recorrente deverá impugnar especificamente os


fundamentos do agravo, materializando o princípio da dialeticidade.

Súmula 181 STJ. Não basta reiterar manifestações anteriores, é indispensável


que demonstre o motivo pelo qual está sendo agravada a decisão.

• O agravo interno, a partir de agora, é um recurso que tem o contraditório,


devendo o agravado ser intimado para se manifestar, no prazo de 15 dias,
sobre o recurso interposto.

• É vedado ao relator limitar-se à reprodução dos fundamentos da decisão


agravada para rejeitar o agravo interno. Com a proibição da fundamentação
referencial (per relatione), há entendimento superado do STJ, que antes
defendia a utilização de tal método de decisão.

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• Quando o agravo interno for manifestamente inadmissível ou manifestamente
improcedente, o que será reconhecido em votação unânime da câmara, poderá
ser aplicada multa, no valor de 1% a 5% do valor da causa, sendo o depósito
da multa indispensável para a interposição de outros recursos.

• De acordo com o STJ, não será aplicável a multa do agravo interno, se esse
recurso foi utilizado com o objetivo de exaurir a instância ordinária, para fins de
interposição de RE e RESP.

IV – EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
•Previsão legal: artigo 1.022 A 1.026 do CPC.

• Prazo de interposição: 5 dias.

• Cabimento: Os embargos de declaração serão cabíveis contra qualquer


decisão. São vícios que desafiam Embargos de Declaração: obscuridade,
contradição, omissão ou erro material.

• Efeitos: os embargos não possuem efeito suspensivo, porém interrompem o


prazo para a interposição de outros recursos, inclusive, em âmbito dos juizados
especiais.

• Embargos de declaração com efeitos infringentes: o juiz intimará os


embargos, para, querendo, manifestarem-se em 05 dias sobre os embargos
opostos, caso a decisão proferida nos embargos interpostos possa alterar o
conteúdo da decisão recorrida.

•Fungibilidade: o órgão julgador poderá conhecer dos embargos de


declaração como agravo interno, se entender ser esse o recurso cabível. Já se
tratava de um entendimento do STJ e agora o NCPC traz a hipótese expressa.
Esse ato poderá ocorrer, desde que se intime o recorrente para, no prazo de 05
dias, complementar suas razões recursais.

•Princípio da complementaridade: caso o acolhimento dos embargos de


declaração implique modificação da decisão embargada, o embargado que já
tiver interposto outro recurso contra a decisão originária tem o direito de
complementar ou alterar suas razões recursais, no prazo de 15 dias.
Importante destacar que a complementação será feita nos exatos limites da
modificação. Não poderá o recorrente se aproveitar da situação para abordar
outros temas omissos ou alterar fundamentos que não estão ligados à decisão
modificada. Se, na mesma situação descrita acima, os embargos de
declaração forem rejeitados ou não alterarem os fundamentos da decisão
anterior, o recurso interposto pela outra parte, antes da publicação do
julgamento dos embargos de declaração, será processado e julgado
independentemente de ratificação.

• Prequestionamento: o prequestionamento é extraído da Constituição da


República. Os Embargos de declaração, para fins de prequestionamento, têm
por objetivo suprir a omissão de órgão ordinário no que diz respeito a alguma

61
matéria alegada pela parte. Isto porque, para fins de interposição de RE e
RESP, é necessário que a matéria tenha sido analisada pela instância
ordinária.

• Multa: quando manifestamente protelatórios os embargos de declaração, o


juiz ou tribunal, por decisão fundamentada, condenará o embargante a pagar
multa não excedente a 2% por cento sobre o valor atualizado da causa. Na
reiteração de interposição de embargos de declaração protelatórios, a multa
poderá ser elevada até 10% sobre o valor atualizado da causa e a interposição
de qualquer outro recurso ficará condicionada ao pagamento da multa.

V – EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA

Previsão legal: ARTIGOS 1.043 e 1.044 do CPC

• Prazo de interposição: 15 dias.

• Cabimento: É embargável o acórdão de órgão fracionário do tribunal que:


Em recurso extraordinário ou especial, divergir do julgamento de qualquer outro
órgão do mesmo tribunal, sendo os acórdãos embargados e paradigmas ser de
mérito. Em recurso extraordinário ou em recurso especial, divergir do
julgamento de qualquer outro órgão do mesmo tribunal, sendo um acórdão de
mérito e outro que não tenha conhecido do recurso, embora tenha apreciado a
controvérsia. Poderão ser confrontadas teses jurídicas contidas em julgamento
de recursos e de ações em competência originária.

• A divergência que autoriza a interposição dos embargos de divergência pode


ser analisada tanto no que diz respeito ao direito material quanto ao direito
processual.
• Excepcionalmente, caberão embargos de divergência quando o embargo
paradigma foi proferido na mesma turma que julga o da parte interessada,
porém houve uma alteração na composição em mais da metade de seus
membros.
• A interposição de embargos de divergência no STJ interrompe o prazo para a
interposição de recurso extraordinário por qualquer das partes.

VI – RECURSO ORDINÁRIO

Previsão legal: Artigo 1.027 e 1.028 do CPC,


É chamado de recurso ordinário constitucional, pois tem sua previsão expressa
na Constituição da República, nos artigos 102, II e 105, II, da CR.
ROC para STF:
É cabível quando temos Mandado de Segurança, Habeas Data e Mandado de

62
Injunção, que tenham sido decididos pelos em única instância pelos tribunais
superiores, quando denegatória a decisão.
ROC para STJ:
I – É cabível quando o Mandado de Segurança for decidido em única instancia
pelos tribunais regionais federais ou tribunais estaduais quando a decisão for
denegatória.
II – Em processos nos quais forem partes, de um lado estado estrangeiro ou
organismo internacional e da outra parte município ou pessoa residente no
país.

A competência para o processo e julgamento desse conflito é da JF, artigo 109,


II, da CR. O juiz federal profere nesse caso uma sentença. Dessa sentença,
caberá recurso ordinário para o STJ. Na hipótese do julgamento desse caso,
para as decisões interlocutórias caberá agravo de instrumento, que será
dirigida ao STJ, conforme §1º, do artigo 1.028.

Os recursos serão interpostos perante o tribunal de origem, excluída a hipótese


da alínea b, do inciso II, do artigo 1.027, cabendo ao presidente ou vice-
presidente determinar a intimação do recorrido para, em 15 dias, apresentar
contrarrazões. Importante lembrar que também no ROC não há mais juízo de
admissibilidade.

VII – RECURSO EXTRAORDINÁRIO E RECURSO ESPECIAL

Previsão legal: Artigos 1.029 e seguintes do CPC.

• Prazo de interposição: 15 dias.

• Efeito: devolutivo, podendo ser requerido o efeito suspensivo, observado o


§5º do artigo 1.029.

• Cabimento: hipóteses previstas na Constituição, artigos 102, III e 105, III.


Compete ao STF julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas
em única ou última instância, quando a decisão recorrida:
a) contrariar dispositivo desta Constituição;
b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;
c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta
Constituição.
d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal.

63
Compete ao STJ, - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única
ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos
Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida:
a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência;
b) julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal;
c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro
tribunal.

• O recurso será recebido pela secretaria do Tribunal, que intimará o recorrido


para apresentar contrarrazões, no prazo de 15 dias. Percebe-se que houve
mitigação à regra do NCPC acerca da extinção do juízo de admissibilidade pelo
órgão a quo, sendo que, no caso de RESP e RE, permanece a necessidade de
duplo juízo de admissibilidade.
• Recebido o recurso, o presidente ou vice-presidente do tribunal poderá
selecionar o recurso como representativo de controvérsia constitucional ou
infraconstitucional, nos termos do parágrafo 6º, do artigo 1.036, na hipótese de
multiplicidade de ações sobre o mesmo tema. Nesse caso, o tribunal
selecionará um ou dois recursos para servirem de paradigma representativo e
encaminhará para o STF ou STJ para julgamento do incidente. O recurso
selecionado como paradigma tem que ser admissível e deve conter abrangente
argumentação para apreciação e análise da matéria, ou seja, devem ser
escolhidos os melhores recursos.
• Se interposto Recurso Especial para o STJ e o tribunal entende que a
questão é constitucional, deve ser concedido o prazo de 15 dias ao recorrente
para que ajuste seu recurso às características do recurso extraordinário,
abordando as questões da repercussão geral e, ainda, manifestando-se sobre
a questão constitucional que o STJ entendeu existir, e após, remeterá ao STF.

•Repercussão geral em Recurso Extraordinário: trata-se de requisito


específico de interposição do Recurso Extraordinário, conforme artigo 1.035.
Para reconhecimento de repercussão geral, é necessário que a parte
demonstre a transcendência das questões do processo. Deve-se demonstrar a
relevância da questão do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico,
sendo permitida a participação de amicus curiae para a análise da
repercussão.
O novo código não exige mais a preliminar formal para suscitar a repercussão
geral, podendo a repercussão geral ser deduzida no teor do recurso, sendo
dispensável tópico específico. A repercussão geral é presumida: quando o
acórdão impugnado contrariar súmula ou jurisprudência dominante do STF ou
quando o acórdão reconhecer a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;
Reconhecida a repercussão geral, o STF determinará a suspensão de todos os
processos pendentes no território nacional que tratam sobre a matéria a ser
julgada.

64
RE E RESP REPETITIVOS (artigos 1.036 a 1.041): Existindo no Tribunal de
Justiça multiplicidade de recursos com fundamentos em uma mesma questão
de direito esses recursos serão julgados com base nos recursos repetitivos. O
Tribunal Local irá selecionar dois ou mais recursos, que serão os recursos
representativos da controvérsia ou paradigmas, para que sejam encaminhados
ao STF ou ao STJ, suspendendo todos os processos correspondentes ao
tema, no Estado ou na região.

Selecionados os recursos e encaminhado à Brasília o relator irá proferir a


decisão de afetação, que determinará:

Identificará com precisão a questão a ser submetida a julgamento;


Determinar a suspensão do processamento de todos os processos no
território nacional que tenham fundamento na mesma questão de direito;
Poderá requisitar aos presidentes ou vice dos tribunais de justiça ou TRF´s de
outros Estados e regiões recurso representativo da matéria discutida. Serão
pedidos para subsidiar o julgamento.

Contra a decisão de suspensão, havendo no entendimento da parte distinção


do seu caso quanto aos recursos suspensos, caberá requerimento de
prosseguimento, que será dirigido ao:

Juiz, se o processo estiver em primeiro grau; (desafia agravo de instrumento);


Ao relator, se o processo sobrestado estiver no tribunal de origem; (desafia
agravo interno);
Ao relator de acórdão recorrido, se for sobrestado recurso especial ou recurso
extraordinário no tribunal de origem; (desafia agravo interno);
108
Ao relator no tribunal superior, de recurso especial ou de recurso
extraordinário cujo processamento houver sido sobrestado; (desafia agravo
interno). O relator, no tribunal superior, poderá ouvir amicus curiae, designar
audiência pública, requisitar informações aos tribunais inferiores, ouvir o
Ministério Público. A decisão deverá ser proferida em 01 ano, com preferência
de julgamento, ressalvados os casos de réu preso e pedido de habeas corpus.
Após a decisão e a publicação do acórdão paradigma deverá:
O presidente ou vice-presidente do tribunal de origem negará seguimento aos
recursos especiais ou extraordinários sobrestados na origem, se o acórdão
recorrido coincidir com a orientação do tribunal superior.
o órgão que proferiu o acórdão recorrido, na origem, reexaminará o processo
de competência originária, a remessa necessária ou o recurso anteriormente
julgado, se o acórdão recorrido contrariar a orientação do Tribunal Superior.
Suspensos em primeiro grau de jurisdição, o processo retomará o seu curso
para julgamento e aplicação da tese firmada pelo tribunal superior.
Se os recursos paradigmas versarem sobre questão relativa à prestação de
serviços públicos, a decisão deverá ser comunicada ao órgão competente que
fiscalize o cumprimento dessa decisão.

65
AGRAVO EM RE E RESP (artigo 1.042 do CPC)

Quando o juízo de admissibilidade for negativo, caberá o agravo em RE e


RESP, salvo quando a decisão é fundada na aplicação de precedente de
repercussão geral e de recurso especial repetitivo.

O recurso será dirigido ao presidente ou vice do tribunal local, independe do


pagamento de custas e despesas postais, e, ainda na origem, será permitido o
contraditório, de forma que será o recorrido será intimado para, em 15 dias,
apresentar contrarrazões.

Será interposto um agravo para cada recurso inadmitido e, havendo


interposição conjunta, o recurso será encaminhado primeiramente ao STJ e,
após a conclusão do julgamento, independente de pedido, os autos serão
remetidos ao STF para apreciação do agravo a ele dirigido, salvo se estiver
prejudicado.

JURISPRUDÊNCIA

RECURSOS: Admite-se a aplicação da teoria da causa madura (art. 515, § 3º,


do CPC/1973 / art. 1.013, § 3º do CPC/2015) em julgamento de agravo de
instrumento. Ex: o MP ingressou com ação de improbidade contra João, Paulo
e Pedro pedindo a indisponibilidade dos bens dos requeridos. O juiz deferiu a
medida em relação a todos eles, no entanto, na decisão não houve
fundamentação quanto à autoria de Pedro. Diante disso, ele interpôs agravo de
instrumento. O Tribunal, analisando o agravo, entendeu que a decisão
realmente é nula quanto a Pedro por ausência de fundamentação. No entanto,
em vez de mandar o juiz exarar nova decisão, o Tribunal decidiu desde lodo o
mérito do pedido e deferiu a medida cautelar de indisponibilidade dos bens de
Pedro, apontando os argumentos pelos quais este requerido também praticou,
em tese, ato de improbidade. STJ. (Info 590).

AGRAVO. MULTA DO ART. 557, §2º: O § 2º do art. 557 do CPC 1973 (§ 4º do


art. 1.021 do CPC 2015) prevê que, quando manifestamente inadmissível ou
improcedente o agravo, o tribunal condenará o agravante a pagar ao agravado
multa de 1% a 10% do valor corrigido da causa (CPC 1973)• 1% a 5% do valor
atualizado da causa (CPC 2015).• Essa multa é aplicada também para o
beneficiário da justiça gratuita? SIM. No entanto, há uma diferença de
tratamento no caso: • CPC 1973: a parte beneficiária da justiça gratuita não
está isenta do pagamento da multa do art. 557, § 2º do CPC 1973. Porém, o
recolhimento da multa ficará suspenso por 5 anos para ver se a parte
conseguirá melhorar sua condição econômica e auferir recursos para pagar a
sanção, conforme prevê o art. 12 da Lei nº 1.060/50. Nesse sentido, decidiu o
STF, 1ª Turma. RE 775685 AgR-ED/BA, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em
17/11/2015 (Info 808). Na prática, ela quase nunca irá pagar. • CPC 2015: o
novo CPC prevê no art. 98, § 4º que a concessão de gratuidade não afasta o
dever de o beneficiário pagar, ao final, as multas processuais que lhe sejam
impostas. STF. (Info 808).

66
RECURSOS. JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE. NOVO CPC: O prazo de 5 dias
previsto no parágrafo único do art. 932 do CPC/2015 só se aplica aos casos
em que seja necessário sanar vícios formais, como ausência de procuração ou
de assinatura, e não à complementação da fundamentação. Assim, esse
dispositivo não incide nos casos em que o recorrente não ataca todos os
fundamentos da decisão recorrida. Isso porque, nesta hipótese, seria
necessária a complementação das razões do recurso, o que não é permitido.
STF. (Info 829).
110
RECURSOS. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. HONORÁRIOS
SUCUMBENCIAIS: É possível condenar a parte sucumbente em honorários
advocatícios na hipótese de o recurso de embargos de declaração, interposto
perante Tribunal, não atender os requisitos previstos no art. 1.022 e tampouco
se enquadrar em situações excepcionais que autorizem a concessão de efeitos
infringentes. Obs: a doutrina entende que, mesmo com o novo CPC, não
cabem honorários advocatícios no julgamento de embargos de declaração,
seja em 1ª instância, seja nos Tribunais STF. (Info 829).

HONORÁRIOS RECURSAIS. É cabível a fixação de honorários recursais,


prevista no art. 85, § 11, do CPC/2015, mesmo quando não apresentadas
contrarrazões ou contraminuta pelo advogado da parte recorrida. STF. (Info
841).

RECURSOS: Admite-se a aplicação da teoria da causa madura (art. 515, § 3º,


do CPC/1973 / art. 1.013, § 3º do CPC/2015) em julgamento de agravo de
instrumento. Ex: o MP ingressou com ação de improbidade contra João, Paulo
e Pedro pedindo a indisponibilidade dos bens dos requeridos. O juiz deferiu a
medida em relação a todos eles, no entanto, na decisão não houve
fundamentação quanto à autoria de Pedro. Diante disso, ele interpôs agravo de
instrumento. O Tribunal, analisando o agravo, entendeu que a decisão
realmente é nula quanto a Pedro por ausência de fundamentação. No entanto,
em vez de mandar o juiz exarar nova decisão, o Tribunal decidiu desde lodo o
mérito do pedido e deferiu a medida cautelar de indisponibilidade dos bens de
Pedro, apontando os argumentos pelos quais este requerido também praticou,
em tese, ato de improbidade. STJ. 6 (Info 590).

RECURSOS. FUNDAMENTAÇÃO: É vedado ao relator limitar-se a reproduzir


a decisão agravada para julgar improcedente o agravo interno. O novo CPC
proibiu expressamente esta forma de decidir o agravo interno (art.1.021, § 3º).
STJ. (Info 592).

RECURSOS: É possível o requerimento de antecipação dos efeitos da tutela


em sede de sustentação oral. STJ. (Info 608).

RECURSO EXTRAORDINÁRIO: Determinado indivíduo ingressou com pedido


de registro para concorrer às eleições de Prefeito sem estar filiado a partido
político (candidatura avulsa). O pedido foi indeferido em todas as instâncias e a
questão chegou até o STF por meio de recurso extraordinário. Ocorre que,
quando o STF foi apreciar o tema, já haviam sido realizadas as eleições

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municipais. Diante disso, suscitou-se que o recurso estava prejudicado. O STF
reconheceu que, na prática, realmente havia uma prejudicialidade do recurso
tendo em vista que as eleições se encerraram. No entanto, o Tribunal decidiu
superar a rejudicialidade e atribuir repercussão geral à questão constitucional
discutida dos autos. Isso significa que o STF admitiu o processamento do
recurso e em uma data futura irá examinar o mérito do pedido, ou seja, se
podem ou não existir candidaturas avulsas no Brasil. Entendeu-se que o mérito
do recurso deveria ser apreciado tendo em vista sua relevância social e
política. STF. Plenário. ARE 1054490 QO/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso,
julgado em 5/10/2017 (Info 880)

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA: Cabem embargos de divergência no âmbito


de agravo que não admite recurso especial com base na Súmula 83/STJ para
dizer que, no mérito, o acórdão impugnado estaria em sintonia com o
entendimento firmado por esta Corte Superior. STJ. (Info 610).

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO: Não cabem embargos de declaração contra


a decisão de presidente do tribunal que não admite recurso extraordinário. Por
serem incabíveis, caso a parte oponha os embargos, estes não irão suspender
ou interromper o prazo para a interposição do agravo do art. 1.042 do
CPC/2015. Como consequência, a parte perderá o prazo para o agravo. Nas
palavras do STF: os embargos de declaração opostos contra a decisão de
presidente do tribunal que não admite recurso extraordinário não suspendem
ou interrompem o prazo para interposição de agravo, por serem incabíveis.
STF. (Info 886).

RECURSOS: É possível interpor agravo de instrumento contra decisão que


não concede efeito suspensivo aos embargos à execução.

Importante!!!

As hipóteses em que cabe agravo de instrumento estão previstas art. 1.015 do


CPC/2015, que traz um rol taxativo, mas é possível que sejam lidas de forma
ampla, interpretação extensiva.
Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que
versarem sobre:
X - concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos
à execução; (Info 617).
Art. 919. Os embargos à execução não terão efeito suspensivo.
§ 1º O juiz poderá, a requerimento do embargante, atribuir efeito suspensivo
aos embargos quando verificados os requisitos para a concessão da tutela
provisória e desde que a execução já esteja garantida por penhora,
depósito ou caução suficientes.
Apesar de não previsto expressamente no rol do art. 1.015 do CPC/2015, cabe
agravo de instrumento contra a decisão interlocutória relacionada à definição
de competência. Isso com base em uma interpretação analógica ou 112
extensiva da norma contida no inciso III do art. 1.015 do CPC/2015, já que
ambas possuem a mesma ratio -, qual seja, afastar o juízo incompetente para a
causa, permitindo que o juízo natural e adequado julgue a demanda. STJ. 4ª

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Turma. REsp 1679909/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
14/11/2017.

RECURSOS. COMPETÊNCIA: É cabível agravo de instrumento contra decisão


interlocutória relacionada à definição de competência, a despeito de não
previsto expressamente no rol do art. 1.015 do CPC/2015. A decisão
interlocutória que acolhe ou rejeita a alegação de incompetência desafia
recurso de agravo de instrumento, por uma interpretação analógica ou
extensiva da norma contida no inciso III do art. 1.015 do CPC/2015, já que
ambas possuem a mesma ratio -, qual seja, afastar o juízo incompetente para a
causa, permitindo que o juízo natural e adequado julgue a demanda. STJ. (Info
618)

SÚMULAS
SÚMULA 579-STJ: Não é necessário ratificar o recurso especial interposto na
pendência do julgamento dos embargos de declaração, quando inalterado o
resultado anterior. (CORTE ESPECIAL, julgado em 01/07/2016, DJe
01/08/2016)
Súmula 641, STJ: Não se conta em dobro o prazo para recorrer, quando só
um dos litisconsortes haja sucumbido.
Súmula 484, STJ: Admite-se que o preparo seja efetuado no primeiro dia útil
subsequente, quando a interposição do recurso ocorrer após o encerramento
do expediente bancário.

RECURSOS.

(Ano: 2017. Banca: FCC. Órgão: DPE-PR)


A respeito da disciplina do agravo de instrumento, segundo o Código de
Processo Civil,

A) não caberá agravo de instrumento contra decisão terminativa que diminui


objetivamente a demanda.
B) caberá agravo de instrumento da decisão sobre a competência absoluta ou
relativa.
C) as decisões interlocutórias não impugnáveis por agravo de instrumento
tornam-se irrecorríveis, não podendo ser impugnadas em nenhum outro
momento processual.
D) caberá agravo de instrumento da decisão que indefere a produção de prova
pericial.
E) caberá agravo de instrumento da decisão que redistribui o ônus da prova.

GABARITO COMENTADO

69
CORRETA: Letra E, nos termos do artigo 1.015, XI. Conforme exposto, quando
do estudo do Agravo de Instrumento, é recorrente a cobrança de questões
sobre a literalidade do rol de cabimento do recurso, sendo indispensável o
conhecimento da integralidade do artigo.

INCORRETAS:
A) Nesta alternativa, o examinador tentou confundir o candidato, pois dispôs da
hipótese do artigo 1.015, II, contudo, utilizando termos que demandam uma
interpretação mais ampla. Isto porque deve o candidato saber que a decisão
que diminui objetivamente a demanda é parcial de mérito, pois, se fosse
integral, haveria a extinção do processo por sentença terminativa, ou seja, sem
resolução de mérito.
B e D: Em que pese entendimentos contrários, a maior parte da doutrina e
jurisprudência entende ser o rol do artigo 1.015 taxativo, informação que deve
ser levada pelo candidato, ao menos, em provas objetivas. Assim, como não há
previsão expressa sobre o cabimento de Agravo de Instrumento de decisão
sobre a competência absoluta ou relativa, bem como sobre a decisão que
rejeita a prova pericial, as alternativas são incorretas.
C) Quando as decisões interlocutórias proferidas no processo não são
impugnáveis por meio de Agravo de Instrumento, não haverá preclusão sobre a
discussão da matéria, que deverá ser apresentada como preliminar de
apelação, na eventualidade de ser interposto o recurso ou, em contrarrazões,
se prejudicial à parte que não recorreu, conforme artigo 1.009, §1º do CPC.

(Ano: 2018. Banca: FCC. Órgão: DPE-AP. Prova:


Defensor Público)
A sustentação oral nos agravos de instrumento,
A) será cabível nas decisões interlocutórias que versem sobre tutelas
provisórias de urgência, bem como nas decisões sobre o mérito da causa.
B) passou a ser cabível de qualquer decisão interlocutória, desde que tenha
causado gravame à parte recorrente.
C) não é cabível em nenhuma situação, por não caber sustentação oral de
decisões interlocutórias.
D) passou a ser cabível de decisões interlocutórias que versem somente sobre
o mérito da causa.
E) só é cabível nas decisões interlocutórias que versem sobre tutelas
provisórias de urgência ou da evidência.

GABARITO: E
CPC Art. 937. Na sessão de julgamento, depois da exposição da causa pelo
relator, o presidente dará a palavra, sucessivamente, ao recorrente, ao
recorrido e, nos casos de sua intervenção, ao membro do Ministério Público,
pelo prazo improrrogável de 15 (quinze) minutos para cada um, a fim de
sustentarem suas razões, nas seguintes hipóteses, nos termos da parte final do
caput do art. 1.021:
I - no recurso de apelação;
II - no recurso ordinário;
III - no recurso especial;

70
IV - no recurso extraordinário;
V - nos embargos de divergência;
VI - na ação rescisória, no mandado de segurança e na reclamação;
VII - (VETADO);
VIII - no agravo de instrumento interposto contra decisões interlocutórias que
versem sobre tutelas provisórias de urgência ou da evidência;
IX - em outras hipóteses previstas em lei ou no regimento interno do tribunal.

AÇÃO RESCISÓRIA:

A ação rescisória possui natureza jurídica de ação, não se confundindo com


nenhuma espécie de recurso. É considerada como um sucedâneo recursal
externo e utilizada como um meio de impugnação de decisões judiciais em
ação autônoma, sendo possível ser pleiteada a rescisão de toda a decisão ou
apenas de determinado capítulo dela (artigo 966, §3º).
O artigo 966 lista as hipóteses em que é permitida a utilização de ação
rescisória como forma de desconstituir a coisa julgada. O elemento inicial
essencial à propositura do sucedâneo recursal é o trânsito em julgado da
demanda que se pretende a decisão. É possível a rescisória das decisões em
que:

Se verificar que foi proferida por força de prevaricação, concussão ou


corrupção do juiz;
For proferida por juiz impedido ou absolutamente incompetente;
Quando a decisão resultar de dolo ou coação da parte vencedora em
detrimento da parte vencida ou, ainda, de simulação ou colusão entre as partes
a fim de fraudar a lei.
Ofender a coisa julgada.
Violar manifestamente norma jurídica.
Se a decisão transitada em julgado é baseada no em enunciado de súmula,
precedente e, embora baseada nesse precedente, não considerou a existência
de distinção entre a situação concreta e o padrão decisório que lhe deu
fundamento.
Nesses casos, caberá ao autor, sob pena de inépcia, demonstrar, de forma
fundamentada e particularizada, que a situação concreta é distinta ou que a
questão jurídica não examinada precisa que seja imposta outra situação
jurídica.
Falsidade de prova;
Quando o autor obtiver, posteriormente ao trânsito em julgado, prova nova,
cuja existência ignorava ou de que não pode fazer uso capaz, por si só, de lhe
assegurar pronunciamento favorável.
For fundado em erro de fato verificável no exame dos autos.
Em que pese o artigo 966 afirmar expressamente que será cabível ação
rescisória das decisões de mérito, a Lei 13.105/15 trouxe novidade ao
estabelecer também a possibilidade do instituto em face de decisões
terminativas, desde que comprovado que:

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a. A decisão, mesmo que terminativa, impeça nova propositura da demanda;
b. Que a decisão impeça a admissibilidade do recurso correspondente.
O órgão competente para o julgamento das ações rescisórias são os Tribunais,
devendo a petição a ele ser dirigida. A petição inicial deve cumprir os requisitos
expostos no artigo 319 do CPC, devendo o autor:
Cumular o pedido da rescisão e, se for o caso, o de novo julgamento do
processo;
Depositar a importância de 5% sobre o valor da causa, que se converterá em
multa caso a ação seja, por unanimidade de votos, declarada inadmissível ou
improcedente.

O requisito do depósito de cinco por cento do valor da causa será dispensado


se a ação tiver como parte as pessoas jurídicas de direito público, o Ministério
Público, a Defensoria Pública e as partes em que foi concedido o benefício da
justiça gratuita.
O depósito de cinco por cento do valor da causa se limita à mil salários
mínimos, de forma que, alcançado esse valor, independentemente do valor da
causa, não será exigido depósito excedente.
O ajuizamento de ação rescisória não impede o cumprimento da decisão
rescindenda, ao menos que seja obtida uma tutela provisória na ação
rescisória.
O relator ordenará a citação do réu, designando-lhe prazo nunca inferior a 15
dias e nem superior a 30 dias para, querendo, apresente resposta. Se os fatos
alegados pelas partes demandarem a produção de prova, serão os autos
remetidos ao juízo que proferiu a decisão rescindenda, fixando o prazo de um a
três meses para a devolução dos autos.
57
O prazo para interpor a Ação Rescisória é decadencial de 02 anos e será
contado do trânsito em julgado da última decisão proferida no processo,
havendo prorrogação para o primeiro dia útil subsequente à data do término, na
eventualidade de o termo final do prazo ocorrer em dia que não haja
expediente forense.
Se a ação for fundada em prova nova o termo inicial do prazo será o da
descoberta da prova nova, porém, deve-se observar o prazo máximo de cinco
anos, contados do trânsito em julgado da última decisão proferida no processo,
para que se inicie o prazo de dois anos.
Se a ação rescisória se der em virtude de simulação ou colusão das partes, o
prazo começará a contar para o terceiro interessado e ao MP a partir do m
limite temporal, mas deverá ser proposta no prazo de 02 anos do
descobrimento.

TÓPICOS SOBRE AÇÃO RESCISÓRIA

A decisão do Supremo Tribunal Federal que declara a constitucionalidade ou


reforma ou rescisão das decisões anteriores que tenham adotado
entendimento diferente. Para que haja essa reforma ou rescisão, será
indispensável a interposição do recurso próprio ou, se for o caso, a propositura

72
de ação rescisória própria, nos termos do artigo 485, V do CPC, observado o
respectivo prazo decadencial.
Não cabe ação rescisória de acórdão que à época de sua prolação, estiver
em conformidade com a jurisprudência dominante do STF.
Havendo conflito de coisas julgadas, prevalecerá a que se formou por último,
enquanto não desconstituída mediante ação rescisória.
O falido tem capacidade para propor ação rescisória para desconstituir a
sentença transitada em julgado que decretou sua falência.
O princípio da irrepetibilidade das verbas de natureza alimentar não é
absoluto e, no caso, deve ser flexibilizado para viabilizar a restituição dos
honorários de sucumbência já levantados, tendo em vista que, com o
provimento parcial da ação rescisória, não mais subsiste a decisão que lhe deu
causa. Devem ser aplicados os princípios da vedação ao enriquecimento sem
causa, da razoabilidade e da máxima efetividade das decisões judiciais.
A ação rescisória, quando busca desconstituir sentença condenatória que
fixou honorários sucumbenciais, deve ser proposta não apenas contra o titular
do crédito principal formado em juízo, mas também contra o advogado em
favor de quem foi fixada a verba honorária.
Nos casos em que se admite a relativização da Súmula 343 do STF, não é
cabível a propositura da ação rescisória com base em julgados que não sejam
de observância obrigatória. Não há como autorizar a propositura de ação
rescisória – medida judicial excepcionalíssima – com base em julgados que
não sejam de observância obrigatória, sob pena de se atribuir efeito vinculante
a acórdão que, por lei, não o possui.
Nas ações julgadas pelos Tribunais de Justiça e Tribunais Federais, após o
advento do CPC/15, foi eliminada a figura do revisor em caso de ação
rescisória. Porém, processadas e julgadas originariamente no STJ, mesmo
pós o advento do CPC/15, continua existindo a figura do revisor. Isso porque,
existe previsão específica no artigo 40, I da Lei nº. 8.038/90, que continua em
vigor.
Súmula 401 STJ: O prazo decadencial da ação rescisória só se inicia quando
não for cabível qualquer recurso do último pronunciamento judicial.
Súmula 514 STF: Admite-se ação rescisória contra sentença transitada em
julgado, ainda que contra ela não se tenham esgotados todos os recursos.
Súmula 515 STF: A competência para a ação rescisória não é do Supremo
Tribunal Federal, quando a questão federal, apreciada no recurso
extraordinário ou no agravo de instrumento, seja diversa da que foi suscitada
no pedido rescisório.
Súmula 249 STF: É competente o Supremo Tribunal Federal para a ação
rescisória quando, embora não tenha conhecido do recurso extraordinário, ou
avendo negado provimento ao agravo, tiver apreciado a questão federal
controvertida.
Súmula 252 STF: Na ação rescisória, não estão impedidos juízes que
participaram do julgamento rescindendo.
Súmula 264 STF: Verifica-se a prescrição intercorrente pela paralisação da
ação rescisória por mais de cinco anos.

73
RECLAMAÇÃO

A reclamação é instituto jurídico que possui previsão constitucional (artigos


102, I, “l” e 105, I, “f”) e, neste diploma, foi instituído como instrumento
competente para a preservação da competência dos tribunais superiores, bem
como sendo forma de garantia da autoridade de suas decisões. Outra lei que
prevê o instituto da reclamação é a Lei 11.417/06, que a prevê como meio de
impugnação, quando uma decisão judicial ou um ato administrativo contrariar,
negar vigência ou aplicar indevidamente entendimento consagrado em súmula
vinculante.

Ampliando o rol de cabimento do instituto, o Código de Processo Civil de 2015


trouxe capítulo específico acerca da reclamação, criando novas hipóteses para
a sua aplicação. Neste sentido, de acordo com o artigo 988, do CPC, é cabível
reclamação para:

Preservar a competência do tribunal;


Garantir a autoridade das decisões do tribunal;
Garantir a observância de enunciado de súmula vinculante e de decisão do
Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade;59
Garantir a observância de acórdão proferido em julgamento de incidente de
resolução de demandas repetitivas ou de incidente de assunção de
competência; A reclamação poderá ser cabível no âmbito de qualquer juízo ou
tribunal, sendo a competência para o julgamento do órgão, cuja competência
se busca preservar ou das decisões que se busca garantir. Por outro lado, o
parágrafo quinto, do artigo 966, estabelece as hipóteses em que será vedada a
utilização da reclamação. Assim, não será admissível reclamação:
Proposta após o trânsito em julgado da decisão reclamada;
Proposta para garantir a observância de acórdão de recurso extraordinário
com repercussão geral reconhecida ou de acórdão proferido em julgamento de
recursos extraordinário ou especial repetitivos, quando não esgotadas as
instâncias ordinárias.
A inadmissibilidade ou o julgamento de recurso interposto contra a decisão
proferida pelo órgão reclamado não prejudica a reclamação, ou seja, o uso da
reclamação não está condicionado ao recurso eventualmente interposto contra
a decisão.
É cabível reclamação no âmbito dos Juizados Especiais, competentes os
Tribunais de Justiça para o julgamento de reclamações contra decisões de
Turmas Recursais dos Juizados Especiais, aplicando-se, no que couber, o que
estabelece o Código de Processo Civil.
Não é cabível reclamação, tampouco pedido de uniformização de
jurisprudência ao STJ contra acórdão de Turma Recursal dos Juizados
Especiais da Fazenda Pública sob a alegação de que a decisão impugnada
diverge de orientação fixada em precedente do STJ.
Não há prazo processual para o ingresso da reclamação, mas o Supremo
Tribunal Federal já pacificou o entendimento de que não cabe reclamação
contra decisão transitada em julgado, não se admitindo que a reclamação
assuma natureza rescisória. Esse é o teor da Súmula 734 STF: “Não cabe

74
reclamação quando já houver transitado em julgado o ato judicial que se alega
tenha desrespeitado decisão do Supremo Tribunal Federal.” Julgada
procedente a reclamação, o tribunal cassará a decisão e determinará que outra
adequada seja proferida.

A reclamação não tem caráter preventivo, de modo que não serve para impedir
a eventual prática de decisão judicial ou ato administrativo. O ajuizamento da
reclamação pressupõe a existência de um ato que efetivamente já tenha
usurpado a competência do Tribunal, violado a autoridade de alguma de suas
decisões que possua efeito vinculante ou incidido em alguma das outras de
suas hipóteses de cabimento.

EXECUÇÃO:

O artigo 784, do CPC, lista o rol de títulos executivos extrajudiciais, trazendo
como novidades os incisos X e XI, devendo o candidato ter atenção especial a
eles. Neste sentido, também são considerados títulos executivos extrajudiciais:
os créditos referentes às contribuições ordinárias ou extraordinárias de
condomínio edilício e a certidão expedida por serventia notarial ou de registro
relativa a valores de emolumentos e demais despesas.
A existência de título executivo extrajudicial não impede que a parte obtenha,
por meio de processo de conhecimento, o título judicial (artigo 785, do CPC).
Para o reconhecimento de fraude à execução, a parte interessada deverá
averbar a execução no registro do bem objeto, constituindo a averbação
premonitória. Isto porque, com o NCPC, a responsabilidade de pesquisa
relativa à constrição de bens, passa a ser da parte adquirente, de maneira que,
havendo averbação, há presunção relativa de fraude à execução, sendo ônus
do adquirente do bem a comprovação de que não agiu de má-fé.
No processo de execução, instruindo o exequente a petição inicial com os
documentos exigidos pelo artigo 798, ao despachar a inicial, o juiz determinará,
desde logo, o pagamento de honorários advocatícios em um montante de 10%.
Porém, caso o devedor pague integralmente o valor da dívida, em um prazo de
três dias, o valor dos honorários será reduzido pela metade (artigo 827).

Averbação premonitória: distribuída a execução, poderá o exequente obter


certidão para a averbação premonitória de bens suficientes para cobrir a
execução. Formalizada a penhora, compete ao exequente cancelar a
averbação quanto aos bens excedentes ao valor devido, no prazo de 10 dias.
Na eventualidade de não ser cumprida referida determinação, o devedor terá
direito à indenização, que será apurada em autos apartados.
Na execução por quantia certa, o executado será citado para pagar a dívida
no prazo de três dias, contados da citação. Do próprio mandado de citação, já

75
constará a ordem de penhora e avaliação, a ser efetivada se não cumprido o
pagamento no prazo legal, conforme artigo 829.
Arresto executivo: ocorrerá quando o oficial de justiça não encontrar o
executado para que seja promovida a citação, podendo arrestar tantos bens
quanto forem necessários à garantia da execução. Formalizado o arresto nos
10 dias subsequentes, o oficial procurará o executado por duas vezes e,
havendo suspeita de ocultação, realizará a citação com hora certa.
Aperfeiçoada a citação e transcorrido o prazo para pagamento, o arresto
converter-se-á em penhora, independente de termo.
Nas execuções para a entrega de coisa, o executado será citado, para, em 15
dias, satisfazer a obrigação, podendo o juiz fixar multa por dia de
descumprimento.
É exceção à impenhorabilidade de verbas salariais (artigo 833) a dívida de
natureza alimentar ou quando o montante recebido pelo devedor é superior a
50 salários mínimos, podendo ser penhorada a importância excedente a esta.
Uma importante alteração no NCPC ocorreu sobre a ordem de penhora, pois
o §1º, do artigo 835, estabelece a prioridade da penhora em dinheiro.
Neste sentido, havendo dinheiro a ser penhorado, o juiz deve necessariamente
formalizá-la, de maneira que poderá alterar a ordem de preferência apenas
com relação às demais espécies de penhora.
De acordo com o artigo 854, será permitido que o juiz, a requerimento do
exequente, sem dar ciência prévia do ato ao executado, determine que as
instituições financeiras tornem os valores indisponíveis. Trata-se de ato anterior
a penhora, que visa à eficiência da medida, sendo o executado ouvido
posteriormente.
O executado, independente da garantia do juízo, poderá propor embargos à
execução, no prazo de 15 dias contados da data da juntada do mandado 68 de
citação aos autos, sendo expresso no artigo 917 as matérias passíveis de
serem alegadas. Nos termos do §1º, artigo 919, poderá a parte requerer ao
juízo o efeito suspensivo aos embargos, desde que comprovado o
preenchimento dos requisitos previstos no artigo 300, do CPC, bem como
efetivada a garantia do juízo.
Moratória legal: no prazo dos embargos, poderá o executado depositar 30%
do valor da execução, acrescidos de custas e honorários advocatícios, e
requerer que o restante seja pago em até seis prestações, acrescido de juros
de 1% ao mês, bem como correção monetária. A informação mais importante
com relação ao artigo 916 é a de que a moratória legal apenas é cabível ao
processo de execução, não sendo possível quando se tratar de cumprimento
de sentença.
Em execução de título extrajudicial, o credor deve ser intimado para opor fato
impeditivo à incidência da prescrição intercorrente antes de sua decretação de
ofício. Esse dever de prévia intimação do credor para a decretação da
prescrição intercorrente não era previsto expressamente no CPC/73, sendo
aplicado pelo STJ com base na incidência analógica do artigo 40, §§4º e 5º, da
Lei 6.830/80 (Lei de Execução Fiscal). O CPC/15, contudo, resolve a questão e
prevê expressamente a prévia oitiva das partes: Art. 921 (...) §5º O juiz, depois
de ouvidas as partes, no prazo de 15 dias, poderá, de ofício, reconhecer a
prescrição de que trata o §4º e extinguir o processo.

76
Arrematado bem imóvel, o Juízo da execução que conduziu a arrematação
não pode determinar o cancelamento automático de constrição determinados
por outros juízos de mesma hierarquia e registrados na matrícula do bem,
mesmo que o edital de praça e o auto de arrematação tenham sido silentes
quanto à existência dos referidos gravames.
A sentença que declara a insolvência civil do devedor tem eficácia imediata,
produzindo efeitos na data de sua prolação, tanto para o devedor como para o
credor, independente do trânsito em julgado. A declaração de insolvência faz
com que a execução dos débitos que o insolvente possua tenha que ser feita
por meio de concurso universal de todos os credores, inclusive com garantia
real, não sendo possível a propositura de ações de execução individual.
A execução dos créditos deverá ser realizada perante o juízo da insolvência.
Diante disso, é nula a arrematação de bens do devedor realizada em ação de
execução proposta por credor individual, após a declaração de insolvência civil
do devedor, em foro diverso do juízo universal da insolvência.
Em se tratando de conta-corrente conjunta solidária, na ausência de
comprovação dos valores que integram o patrimônio de cada um, presumese a
divisão do saldo em partes iguais, de forma que os atos praticados por demais
correntistas.
Na fase de cumprimento de sentença, é incabível a rejeição do seguro
garantia judicial pelo exequente, salvo por insuficiência, defeito formal ou
inidoneidade da salvaguarda oferecida.

77
APRESENTAÇÃO

Caro(a) Aluno(a),

A preparação para concursos públicos exige profissionalismo, métrica e


inteligência. Cada minuto despendido deve ser bem gasto! Por isso, uma
preparação direcionada, focada nos pontos com maior probabilidade de
cobrança no seu certame, pode representar a diferença entre aprovação e
reprovação.

Ciente disso, a Ad Verum Suporte Educacional, empresa do Grupo CERS


ONLINE, concebeu o curso INTELIGÊNCIA PDF – CARREIRAS JURÍDICAS,
que tem por premissa fundamental “atacar” os pontos nucleares de cada matéria,
com vistas a antecipação dos temas com maiores chances de cobrança em sua
prova.

Fazer isso não é tarefa fácil! É necessário um árduo esforço de pesquisa,


levando-se em consideração fatores como banca examinadora e respectivos
membros (sempre que possível), retrospecto do concurso, recorrência temática
dentro de cada disciplina, importância de cada tema, momento da segurança
pública do país, dentre tantos outros, aliados a experiência de Professores de
projeção nacional, com larguíssima experiência na análise do perfil dos mais
diferentes certames.

Para tornar tudo isso uma realidade, a Ad Verum investiu muito em seu Método
de Aceleração de Aprendizagem (MAVAA). Hoje, contamos com um SETOR DE
INTELIGÊNCIA, responsável por ampla coleta de dados e informações das mais
diferentes fontes relacionadas ao universo de cada concurso e/ou exame
profissional, de modo, a partir do processamento dos dados coletados, oferecer
aos seus alunos uma experiência diferenciada quando comparada a tudo que
ele conhece em matéria de preparação para carreiras públicas.

Racionalizar o estudo do aluno é mais que um objetivo para Ad Verum, trata-se


de uma obsessão.

Estude inteligente, estude Ad Verum!

Francisco Penante
CEO Ad Verum Suporte Educacional
SUMÁRIO

1. PRINCÍPIOS PROCESSUAIS PENAIS PROPRIAMENTE DITOS ................ 5


1.1 Princípio da busca da verdade real ou material ........................................ 5
1.2 Princípio da oralidade e princípios consequenciais da concentração, da
imediatidade e da identidade física do juiz ...................................................... 5
1.3 Princípio da individualização da ação penal privada (art. 48, do CPP) ..... 6
1.4 Princípio da comunhão ou aquisição da prova.......................................... 6
1.5 Princípio do impulso oficial ........................................................................ 6
1.6 Princípio da lealdade processual .............................................................. 6
2. INQUÉRITO POLICIAL .................................................................................. 9
2.1. Conceito ................................................................................................... 9
2.2 Características do Inquérito Policial ........................................................ 10
2.3. Atribuição à Presidência do Inquérito Policial ........................................ 12
2.4. Investigação criminal conduzida pelo Ministério Público ........................ 13
2.5. Detetive Particular e a Investigação Criminal ......................................... 13
2. 6. Formas de Instauração de Inquérito Policial ......................................... 14
2. 7. Notitia Criminis ...................................................................................... 15
2.8. Indiciamento ........................................................................................... 16
2.9. Conclusão do Inquérito Policial .............................................................. 17
2.10. Arquivamento de Inquérito Policial ....................................................... 18
2.11. Inquérito Policial e controle externo ..................................................... 20
2. 12. Princípio da Insignificância e o Delegado de Polícia ........................... 21
2.13. As modificações trazidas pela Lei 13.344/2016 ................................... 21
3. AÇÃO PENAL .............................................................................................. 28
3.1 Ação penal pública incondicionada ......................................................... 28
3.2 Ação penal pública condicionada ............................................................ 28
3.2.1 Natureza jurídica da representação .................................................. 28
3.2.2 Legitimidade para o oferecimento da representação ........................ 29
3.3 Ação penal de iniciativa privada .............................................................. 30

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1
3.4 Ação penal popular ................................................................................. 30
3.5 Ação penal adesiva ................................................................................. 31
3.6 Ação de prevenção penal........................................................................ 31
3.7 Ação penal secundária ............................................................................ 31
3.8 Jurisprudência relacionada à ação penal ................................................ 31
4 JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA ................................................................. 34
4.1 COMPETÊNCIA TERRITORIAL (RATIONE LOCI) ................................. 35
4.2 COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA MATÉRIA (RATIONE MATERIAE) OU
PELA NATUREZA DA INFRAÇÃO (ART. 74 CPP) ...................................... 37
4.3 A DISTRIBUIÇÃO COMO ALTERNATIVA À COMPETÊNCIA
CUMULATIVA SUPLETIVA (ART. 75 CPP).................................................. 40
4.4 A COMPETÊNCIA POR CONEXÃO E CONTINÊNCIA - ALTERAÇÃO DE
COMPETÊNCIA (ARTS. 76 E 77 CPP) ........................................................ 40
4.5 FORO PREVALENTE (ART. 78 CPP) .................................................... 42
4.6 SEPARAÇÃO OBRIGATÓRIA DE PROCESSOS (ART. 79 CPP) .......... 44
4.7 SEPARAÇÃO FACULTATIVA DE PROCESSOS (ART. 80 CPP) .......... 44
4.8 PERPETUAÇÃO DA JURISDIÇÃO - PERPETUATIO JURISDICTIONIS
(ART. 81 CPP) .............................................................................................. 44
4.9 AUTORIDADE DA JURISDIÇÃO PREVALENTE (ART. 82 CPP) ........... 45
4.10 A PREVENÇÃO COMO CRITÉRIO RESIDUAL DE FIXAÇÃO DA
COMPETÊNCIA (ART. 83 CPP) ................................................................... 45
4.11 COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA PRERROGATIVA DE FORO
(RATIONE PERSONAE) ............................................................................... 46
4.12 REGRAS DE APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL NO ESPAÇO
(ARTS. 88 A 91 CPP) ................................................................................... 48
5 QUESTÕES E PROCESSOS INCIDENTES ................................................. 48
5.1 QUESTÕES PREJUDICIAIS (ARTS. 92 A 94 CPP) ............................... 48
5.2 EXCEÇÕES (ARTS. 95 A 111 CPP) ....................................................... 50
5.3 INCOMPATIBILIDADES E IMPEDIMENTOS (ART. 112 CPP) ............... 52
5.4. CONFLITO DE JURISDIÇÃO (ARTS. 113 A 1 17 CPP) ........................ 52
5.5 RESTITUIÇÃO DAS COISAS APREENDIDAS (ARTS. 1 18 A 124 CPP)
...................................................................................................................... 52

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2
5.6 MEDIDAS ASSECURATÓRIAS (ARTS. 125 A 144 CPP) ...................... 53
5.7 INCIDENTE DE FALSIDADE (ARTS. 145 A 148 CPP) .......................... 53
5.8 INSANIDADE MENTAL DO ACUSADO (ARTS. 149 A 154 CPP) .......... 53
6. PROVA......................................................................................................... 54
6.1. Introdução .............................................................................................. 54
6.2. Exceções à prova produzida em juízo ................................................... 54
6.3. Sistema de Avaliação da Prova adotado ............................................... 56
6.4. Prova Emprestada ................................................................................. 57
6.5. Prova Inominada, Atípica, Anômala e Irritual ......................................... 57
6.6. Distribuição do ônus da prova ................................................................ 57
6.7. Prova ilegal ............................................................................................ 58
6.8. Provas em Espécie ................................................................................ 60
6.9. Prova à luz da jurisprudência ................................................................. 60
7 PRISÃO ......................................................................................................... 68
7.1 CONCEITO ............................................................................................. 68
7.2 FORMALIDADES DE EXECUÇÃO ......................................................... 69
7.3 PRISÃO EM FLAGRANTE ...................................................................... 70
7.4 PRISÃO TEMPORÁRIA .......................................................................... 72
7.5 PRISÃO PREVENTIVA ........................................................................... 73
7.6 LIBERDADE PROVISÓRIA E FIANÇA ................................................... 74
8. PROCEDIMENTO ........................................................................................ 75
8.1 Procedimento Especial do Tribunal do Júri ............................................. 75
8.1.1 Pronúncia .......................................................................................... 75
8.2 Impronúncia e provas novas ................................................................... 78
8.3 Desclassificação ..................................................................................... 78
8.3.1 Infração conexa ................................................................................ 78
8.4 Suspeição, impedimento e incompatibilidade dos jurados ...................... 79
8.5 Jurisprudência relacionada ao Tribunal do Júri ....................................... 79
9. SENTENÇA.................................................................................................. 81
9.1 Emendatio Libelli ..................................................................................... 81
9.2 Mutatio libelli x discordância do Ministério Público.................................. 83

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3
9.3 Intimação da sentença e fluência do prazo recursal ............................... 83
9.4 Princípio da identidade física do juiz e mitigações .................................. 84
9.5 Decretação (ou manutenção) da prisão preventiva ou das medidas
cautelares diversas da prisão na sentença condenatória ............................. 85
9.6 Jurisprudência relacionada à sentença ................................................... 85
10. RECURSOS EM GERAL ........................................................................... 88
10.1 Dos recursos em espécie: ..................................................................... 90
10.1.1 Apelação ......................................................................................... 90
10.1.2 Recurso em Sentido Estrito ............................................................ 91
11. EXECUÇÃO PENAL – LEI 7.210/84.......................................................... 94
11.1 Do trabalho do preso ............................................................................. 96
11.2 Dos deveres e da disciplina .................................................................. 97
11.3 Permissão de saída e saída temporária ................................................ 99
11.4 Remissão de pena .............................................................................. 100
12. LEI 9.099/95 – JUIZADOS ESPECIAIS: .................................................. 104

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4
PRINCÍPIOS PROCESSUAIS PENAIS PROPRIAMENTE DITOS

1.1 Princípio da busca da verdade real ou material

No processo penal, há a necessidade de busca da verdade real ou material dos


fatos, a verdade do mundo real, a verdade objetiva, daí porque o juiz passa a
ter maior iniciativa probatória, nos termos do art., 156, I e II, do CPP, o qual
permite ao magistrado ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a
produção antecipada de provas urgentes e relevantes, observando a
necessidade, adequação e proporcionalidade da medida (inciso I), bem como
determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização
de diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante (inciso II).

Além do art. 156, do CPP, há outros dispositivos legais com previsão


semelhante: art. 196, do CPP (dispõe que o juiz poderá proceder a novo
interrogatório de ofício ou a pedido fundamentado de qualquer das partes); art.
209 (o juiz, quando julgar necessário, poderá ouvir outras testemunhas, além
das indicadas pelas partes); art. 616 (poderá o tribunal, câmara ou turma
proceder novo interrogatório do acusado, reinquirir testemunhas ou determinar
outras diligências.

1.2 Princípio da oralidade e princípios consequenciais da concentração,


da imediatidade e da identidade física do juiz

O princípio da oralidade ganhou destaque com a Lei 11.719/08, pois toda a


instrução probatória é produzida em uma só audiência de instrução e
julgamento (arts. 400, §1º, e 411, §2º, do CPP), na qual as alegações finais
são, em regra, orais, podendo a sentença ser prolatada também oralmente.

Ademais, o art. 405, §§1º e 2º, do CPP, permite que os atos processuais sejam
registrados apenas por meio audiovisual, sem necessidade de transcrição.

Tal princípio dá origem a outros 3 princípios: concentração; imediatidade;


identidade física do juiz. No que diz respeito ao princípio da concentração, toda
a colheita de prova e o julgamento devem ocorrer em uma única audiência ou
ao menos no menor número de audiências. Já a imediatidade significa que o
juiz deve ter contato direto com a prova produzida para formar mais facilmente
sua convicção.

Por sua vez, o princípio da identidade física do juiz revela que o juiz que
preside a instrução do processo, colhendo as provas, é o que deverá julgar o
feito (art. 399, §2º, do CPP).

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5
1.3 Princípio da individualização da ação penal privada (art. 48, do CPP)

Este princípio significa que o ofendido não pode escolher contra qual agente
oferecerá ação privada. Somente tem aplicação na ação penal privada, na qual
prevalece o princípio da oportunidade. O STF tem entendimento no sentido de
que a ação penal pública é regida pelo princípio da divisibilidade, pois o MP
poderia até a sentença final incluir novos agentes delitivos por meio do instituto
do aditamento à denúncia ou até mesmo oferecer contra estes nova ação
penal, caso já tenha sido proferida a sentença.
1.4 Princípio da comunhão ou aquisição da prova

A prova, uma vez produzida, pertence ao juízo, podendo ser utilizada por
qualquer das partes e pelo juiz, ajudando na busca da verdade real, ainda que
tenha sido requerida por apenas uma das partes. Por força deste princípio, o
art. 401, §2º do CPP, que permite que a parte desista da oitiva da testemunha
por ela arrolada, deve ser lido com cautela, pois se a parte contrária insistir no
seu depoimento, a referida testemunha terá que ser ouvida.
1.5 Princípio do impulso oficial

Uma vez iniciada a ação penal, o juiz tem o dever de promover seu andamento
até a sua etapa final, de acordo com o procedimento previsto em lei, proferindo
decisão.

Não se permite, portanto, a paralisação indevida e gratuita da ação penal. Tal


princípio encontra-se previsto no art. 251, do CPP. Também é válido para a
ação penal privada, não admitindo a paralisação injustificada do processo, sob
pena de perempção (art. 60 do CPP).

1.6 Princípio da lealdade processual

Tal princípio consiste no dever de verdade, proibindo o emprego de meios


fraudulentos. O STF já decidiu no sentido de que viola o princípio da lealdade
processual a atitude de um advogado de formular 13 pedidos totalmente
improcedentes, em sede de agravo regimental, nos quais se sustentava a
existência de inúmeras nulidades que teriam causado prejuízo ao exercício da
ampla defesa e contaminado todo o processo, desde os interrogatórios dos
réus, com a finalidade de impedir o trâmite regular do processo.

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6
(Ano: 2016. Banca: VUNESP. Órgão: TJM-SP.
Prova: Juiz de Direito Substituto)

A respeito dos princípios processuais penais, é


correto afirmar:

A) a ausência de previsão de atividade instrutória do


juiz em nosso ordenamento processual penal
brasileiro decorre do princípio da imparcialidade do
julgador.

B) o direito ao silêncio, que está previsto na


Constituição da República, em conformidade com a
interpretação sedimentada, só se aplica ao acusado
preso.

C) o princípio da motivação das decisões e das


QUESTÃO 1: sentenças penais se aplica a todas as decisões
PRINCÍPIOS NO proferidas em sede de direito processual penal,
PROCESSO PENAL inclusive no procedimento do Tribunal de Júri.

D) o princípio do contraditório restará violado se entre


a acusação e a sentença inexistir correlação.

E) o princípio da verdade real constitui princípio


supremo no processo penal, tendo valor absoluto,
inclusive para conhecimento e para valoração das
provas ilícitas.

GABARITO COMENTADO:

CORRETA: Letra D.
Sobre o tema dissertou Gustavo Badaró: 'toda
violação da regra de correlação entre acusação e
sentença implica um desrespeito ao princípio do
contraditório. O desrespeito ao contraditório poderá
trazer a violação do direito de defesa, quando
prejudique as posições processuais do acusado, ou
estará ferindo a inércia da jurisdição, com a
correlativa exclusividade da ação penal conferida ao
Ministério Público, quando o juiz age de ofício. Em
suma, sempre haverá violação do contraditório, sejam

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7
suas implicações com a defesa ou com a acusação.”
(MOREIRA, Rômulo de Andrade. A emendatio libelli e
o contraditório – a posição do STF. In: Âmbito
Jurídico, Rio Grande, XV, n. 106, nov 2012.

INCORRETAS:

A) Em que pese ser medida excepcional, em


determinados casos o juiz tem poder instrutório, como
é a hipótese prevista no artigo 156 do CPP: Art. 156.
A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo,
porém, facultado ao juiz de ofício:

I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a


produção antecipada de provas consideradas
urgentes e relevantes, observando a necessidade,
adequação e proporcionalidade da medida;
II – determinar, no curso da instrução, ou antes de
proferir sentença, a realização de diligências para
dirimir dúvida sobre ponto relevante.

B) O direito ao silêncio é garantia constitucional a


todos os acusados, sem restrição se preso ou solto,
nos termos do artigo 186 do CPP. Vale frisar,
inclusive, que a falta de conhecimento acerca do
direito ao silêncio pode ocasionar a nulidade do ato,
como decidiu o STF: "8) O direito do réu ao silêncio é
regra jurídica que goza de presunção de
conhecimento por todos, por isso que a ausência de
advertência quanto a esta faculdade do réu não gera,
por si só, uma nulidade processual a justificar a
anulação de um processo penal, especialmente na
hipótese destes autos em que há dez volumes e os
depoimentos impugnados foram acompanhados por
advogados”.
"Art. 186. Depois de devidamente qualificado e
cientificado do inteiro teor da acusação, o acusado
será informado pelo juiz, antes de iniciar o
interrogatório, do seu direito de permanecer calado e
de não responder perguntas que lhe forem
formuladas. (Redação dada pela Lei nº 10.792, de
1º.12.2003)".
Parágrafo único. O silêncio, que não importará em
confissão, não poderá ser interpretado em prejuízo da
defesa.

C) No procedimento do Tribunal do Júri, o magistrado

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8
deverá somente fundamentar a sentença em relação
a aplicação de pena e medidas de segurança pois o
mérito da decisão é alcançado pela votação dos
jurados, pautados pela íntima convicção, não se
aplicando a eles o princípio da livre convicção
motivada.

E) A doutrina atual vem defendendo que no Processo


Penal não mais vigora o principio da verdade real,
mas sim o da busca da verdade. O princípio, também
conhecido como princípio da imparcialidade do juiz da
direção da prova foi assim abordado por Renato
Brasileiro:
(...)
Importante ressaltar que essa busca da verdade no
processo penal está sujeita a algumas restrições.
Com efeito, é a própria Constituição Federal que diz
que são inadmissíveis, no processo, as provas
obtidas por meios ilícitos (art. 5º, LVI). O Código de
Processo Penal também estabelece outras situações
que funcionam como óbice à busca da verdade:
impossibilidade de leitura de documentos ou exibição
de objetos em plenário do júri, se não tiverem sido
juntados aos autos com antecedência mínima de 3
(três) dias úteis, dando-se ciência à outra parte (CPP,
art. 479), as limitações ao depoimento de
testemunhas que têm ciência do fato em razão do
exercício de profissão, ofício,
função ou ministério (CPP, art. 207), o descabimento
de revisão criminal contra sentença absolutória com
trânsito em julgado (CPP, art. 621), ainda que surjam
novas provas contra o acusado. Fonte: Renato
Brasileiro de Lima – Manual de Direito Processual
Penal (2016).

INQUÉRITO POLICIAL

2.1. Conceito
Segundo conceituação de Rogério Sanches Cunha, trata-se de “procedimento
administrativo que tem por objetivo reunir elementos necessários à apuração
da prática de uma infração penal e sua autoria a fim de propiciar a propositura
da denúncia ou queixa”.

Assim, temos que eventuais vícios constantes do Inquérito policial não


contaminam o processo a que der origem, salvo casos de prova ilícita.

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9
Podemos acrescentar ainda que se trata de um procedimento presidido pela
autoridade de polícia judiciária, tendo caráter instrumental/preparatório.
2.2 Características do Inquérito Policial
a. Escrito: segundo dispõe o art. 9, do CPP, trata-se de procedimento escrito.
Em que pese essa informação, há doutrina no sentido de que, por analogia ao
art. 405, §1º, do CPP, que seria aplicado subsidiariamente ao inquérito policial,
poderá haver gravação dos depoimentos e declarações ali colhidos, até para
se conseguir maior fidedignidade dos elementos apurados.

“Aviso de Miranda” ou “Miranda Rights”: de origem norte-americana, diz


respeito ao direito fundamental do acusado a permanecer calado e não
produzir prova contra si mesmo “(“nemo tenetur se detegere”). Nesse sentido,
é ilícita a gravação de conversa informal entre policiais e o conduzido ocorrida
quando da lavratura do auto de prisão em flagrante, se não houver prévia
comunicação do direito de permanecer em silêncio (STJ, HC 244.977/SC).

b. Dispensável: Embora a prática revele que a imensa maioria das ações


penais é precedida do referido instrumento, caso o titular da ação penal
disponha de elementos de informação suficientes oriundos de procedimento
investigatório diverso, o Inquérito Policial será dispensável. É a inteligência dos
artigos. 27 e 39, §5º do CPP.

c. Sigiloso: Como se sabe, muitas vezes, a eficácia da investigação criminal


está diretamente ligada à surpresa. Portanto, segundo o art. 20, do CPP, a
autoridade policial assegurará o sigilo necessário à elucidação do fato ou
exigido pelo interesse da sociedade. Tal sigilo não se impõe aos membros do
Poder Judiciário e do Ministério Público, tampouco ao advogado, que tem
direito de examinar os autos, conforme art. 7º, III, do Estatuto da Advocacia
(Lei 8.906/94). Acerca do tema, vale ressaltar o teor da súmula vinculante nº
14, do Supremo Tribunal Federal, na qual dispõe que “é direito do defensor, no
interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já
documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com
competência de polícia judiciária, diga respeito ao exercício do direito de
defesa”.

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10
A Lei 13.245/2016 acompanhou o citado enunciado sumular e alterou o
estatuto da OAB, garantindo ao advogado, ainda que sem procuração, “o
exame de auto de flagrante e de investigações de qualquer natureza” (salvo
quando decretado o sigilo do procedimento), podendo, inclusive, extrair cópias
ou fazer apontamentos do material examinado. Em caso de procedimento que
esteja sob sigilo, é facultado ao delegado de polícia limitar o acesso do
advogado às diligências em andamentos e que não estejam ainda
documentadas nos autos.

Sobre o tema, remetemos o aluno à leitura do art. 7º, XIV, XXI e §§ 10, 11 e 12
do Estatuto da OAB.

d. Discricionário: Confere-se ao delegado de polícia certa liberdade de


atuação, devendo este determinar o rumo das diligências de acordo com as
peculiaridades do caso concreto.

Discricionariedade não quer dizer arbitrariedade, mas sim liberdade de


atuação dentro dos limites da lei e, segundo nossos Tribunais, não possui
caráter absoluto. Há diligências que, conforme decidido pelo STJ (HC nº
69.405/08), devem ser obrigatoriamente realizadas, tais como exame de corpo
de delito nos crimes que deixam vestígios e oitiva do investigado.

e. Oficioso: quando se tratar de crime de ação penal pública incondicionada, a


autoridade policial é obrigada a agir de ofício, independentemente de
provocação da vítima. Nos demais casos (ação penal pública condicionada à
representação e ação penal privada), é necessário prévio requerimento do
ofendido ou de seu representante legal. Quanto à representação, vigora o
informalismo. Não é necessário, pois, ser reduzida a termo e pode ser provada
por qualquer meio.

f. Indisponível: uma vez instaurado o inquérito policial, o Delegado não poderá


arquivar, segundo dicção do art. 17, do CPP. O procedimento de arquivamento
do inquérito policial será tratado mais adiante.

g. Temporário: em se tratando de investigado solto, a doutrina entende que o


prazo para a conclusão do inquérito pode ser sucessivamente prorrogado. E,
em sendo o caso de investigado preso, deve-se obediência estrita aos prazos
previstos em lei e que será objeto de nosso estudo mais adiante.

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11
Aqui nos cabe fazer um alerta no sentido que há entendimento dos tribunais
superiores de que a investigação criminal também está sujeita à garantia
constitucional da razoável duração do processo. Quanto ao tema,
recomenda-se a leitura do artigo científico de lavra do jurista e delegado de
polícia Ruchester Marreiros Barbosa, sob o título “Investigação criminal
também deve cumprir prazo de duração razoável”, que pode ser acessado
pelo link a seguir: <www.conjur.com.br/2015-nov-03/academia-
policiainvestigacao- criminal-também-cumprir-prazo-duracao-razoavel>.

2.3. Atribuição à Presidência do Inquérito Policial


A atribuição à presidência de inquérito policial é da autoridade policial: o
Delegado de Polícia, civil ou federal. No entanto, segundo dicção do parágrafo
único do art. 4º, do CPP, a existência do inquérito policial não esgota a
possibilidade de um fato criminoso vir a ser apurado em outra esfera da
administração. Vejamos o seguinte quadro sinóptico:

Crimes de competência da Justiça


Militar da União: Polícia Judiciária
Militar, através do Inquérito Policial
Militar, presidido pelo chamado
Crime militar “Encarregado”. Crimes de
competência da Justiça Militar dos
Estados: A própria Polícia Militar ou
Corpo de Bombeiros

Crimes de competência da Investigado pela Polícia Federal


Justiça Federal (art. 144, § 1º, CF)

Investigado, via de regra, pela


Polícia Federal. No entanto, há
julgados do TSE no sentido de que,
Crime de competência da Justiça caso não exista na comarca a
Eleitoral Polícia Federal, o Inquérito poderá
ser presidido pela Polícia Civil.

Crime de competência da Justiça Investigado pela Polícia Civil e


Estadual Polícia Federal.

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12
A investigação de crimes de competência da Justiça Estadual, regra geral, é
conduzida pela Polícia Civil. No entanto, há situações que autorizam que a
Polícia Federal também esteja à frente das investigações. Tal hipótese é
tratada no art. 144, § 1º, I, CF: “A polícia federal, instituída por lei como órgão
permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira,
destina-se a apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em
detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades
autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática
tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme,
segundo se dispuser em lei”.

2.4. Investigação criminal conduzida pelo Ministério Público

Este tema trouxe um verdadeiro embate doutrinário acerca da possibilidade ou


não do Parquet realizar diligências de caráter penal, a fim de instruir
investigações de seu interesse. Divergências de lado, o Supremo Tribunal
Federal, no julgamento do RE 593.727-MG, julgado em 14.05.2015, de relatoria
do Min. Gilmar Ferreira Mendes, sedimentou o entendimento segundo o qual “o
Ministério Público dispõe de competência para promover, por autoridade
própria, e por prazo razoável, investigações de natureza penal, desde que
respeitados os direitos e garantias que assistem a qualquer indiciado ou a
qualquer pessoa sob investigação do Estado, observadas, sempre, por seus
agentes, as hipóteses de reserva constitucional de jurisdição e, também, as
prerrogativas profissionais de que se acham investidos, em nosso País, os
Advogados (Lei nº 8.906/94, art. 7º, notadamente os incisos I, II, III, XI, XIII, XIV
e XIX), sem prejuízo da possibilidade, sempre presente no Estado democrático
de Direito, do permanente controle jurisdicional dos atos, necessariamente
documentados (Súmula Vinculante nº 14)”.

2.5. Detetive Particular e a Investigação Criminal


Muita atenção para este tema, pois se trata de recente edição legislativa e deve
despencar nos próximos concursos. Em abril de 2017, foi editada a Lei 13.432,
que regulamentou a profissão de detetive particular. Para os fins da lei,
segundo seu art. 2º, se considera detetive particular o profissional que,
habitualmente, por conta própria ou na forma de sociedade civil ou empresarial,
planeje e execute coleta de dados e informações de natureza não criminal, com
conhecimento técnico e utilizando recursos e meios tecnológicos permitidos,
visando ao esclarecimento de assuntos de interesse privado do contratante.

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13
A atuação do detetive particular é primordialmente extrapenal. No entanto,
sistematizando o que dispõe referido dispositivo com o teor do art. 5º da
mesma lei, segundo nos ensina Rogério Sanches, “o que a Lei 13.432/17
permite, no seu art. 5º, é o detetive particular colaborar com a investigação
policial em curso, desde que expressamente autorizado por contrato e aceito
pelo delegado de polícia, que poderá rejeitá-lo a qualquer tempo. O diploma,
contudo, proíbe o detetive colaborador de participar diretamente das
diligências policiais (art. 10, inc. IV), o que ocorreria, por exemplo, caso
cumprisse um mandado de busca e apreensão”1.

2. 6. Formas de Instauração de Inquérito Policial

A instauração do inquérito policial, nos moldes do art. 5º, do CPP, poderá ser
feita: de ofício; mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério
Público, ou a requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para
representá-lo;
a. Crimes de Ação Penal Pública Incondicionada
Quando estivermos diante de um crime de ação penal pública incondicionada,
a autoridade policial instaurará o inquérito policial de ofício, ocasião em que
será inaugurado através da lavratura de uma Portaria. Poderá ainda ser
instaurado mediante requisição do Juiz ou do Ministério Público. Nesses
casos, a própria requisição servirá como peça inaugural do procedimento
investigativo.

Há entendimento no sentido de que não seria cabível a requisição do juiz


visando a instauração de inquérito policial, sob pena de ofensa à
imparcialidade para julgamento das ações penais, o que só se admitia nos
tempos do chamado “procedimento judicialiforme”. Assim, sustenta-se que a
medida ideal por parte do magistrado seria a remessa da documentação ao
Ministério Público, a quem caberia a referida requisição. O procedimento
investigativo pode ainda ser instaurado mediante requerimento do ofendido

1
1 CUNHA, Rogério Sanches. Código de Processo Penal e Lei de Execução penal comentados
por artigos / Rogério Sanches Cunha, Ronaldo Batista Pinto – Salvador: JusPodivm, 2017: pág.
23.

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14
ou de seu representante legal. Nesse item, vale lembrar que, em se tratando
de requerimento, o delegado poderá indeferir tal pedido, do qual caberá
recurso ao chefe de polícia (art. 5º, §2º, do CPP).

Por fim, poderá o inquérito policial ser instaurado através do Auto de Prisão
em Flagrante (APF), ocasião em que a peça inaugural é o próprio APF.

Formas de Instauração de IPL em Crimes de Ação Penal Pública


Incondicionada
- De ofício

- Mediante requisição do juiz ou Ministério Público

- Mediante Requerimento do Ofendido ou de seu representante legal

- Auto de Prisão em Flagrante

b. Crimes de Ação Penal Pública Condicionada e Ação Penal Privada

Nessa situação, a instauração de inquérito se dará apenas através de


requerimento do ofendido ou de seu representante legal (art. 5, §4º, do CPP).
Caso haja a instauração sem a observância de tal formalidade, será possível a
impetração de habeas corpus para trancamento. Quanto a isso, um cuidado:
Se o inquérito policial for instaurado através de portaria do delegado, eventual
Habeas Corpus deve ser conhecido pelo juiz de primeira instância, figurando a
autoridade policial como coatora; em sendo instaurado através de requisição
do Parquet, a autoridade coatora será o Membro do Ministério Público e a
instância conhecedora do remédio heróico será o respectivo Tribunal ad quem.
2. 7. Notitia Criminis

Notitia Criminis pode ser conceituada como o conhecimento, espontâneo ou


provocado, por parte da autoridade policial acerca de um determinado fato
delituoso.
Assim, podemos dizer que ela pode ser:
a. De cognição imediata: também chamada de espontânea ou informal se dá
quando a autoridade policial toma conhecimento do fato criminoso por meio de
suas atividades funcionais;
b. De cognição mediata: também conhecida como mediata ou formal, ocorre
quando a polícia judiciária toma conhecimento do fato delituoso por meio de um
expediente. Assim, quando Ministério Público, alguém do povo ou a própria
vítima leva a notícia do evento delituoso à autoridade policial, temos uma
hipótese de notitia criminis de cognição mediata.
c. De cognição coercitiva: nesta hipótese, o conhecimento do fato delituoso
decorre da prisão em flagrante.

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15
a. Delatio Criminis
A delatio criminis nada mais é que uma espécie de notitia criminis
caracterizada pela comunicação feita à autoridade policial por qualquer do
povo.

Fiquemos atentos à Notitia Criminis Inqualificada, popularmente chamada


de “denúncia anônima”. Segundo entendimento sedimentado no STF, uma
denúncia anônima, por si só, não pode servir para fundamentar a
INSTAURAÇÃO de inquérito policial. Porém, permite-se, a partir dela, que a
autoridade policial determine a realização de diligências preliminares para
confirmar a credibilidade da “denúncia”, ou seja, verificar a procedência das
informações. Em se confirmando que a “denúncia anônima” possui aparência
mínima de procedência, pode-se, então, instaurar inquérito policial (HC nº
106.152, STF).

2.8. Indiciamento
a. Conceito e sua atribuição
O indiciamento consiste em apontar alguém como provável autor de um delito,
ou seja, havendo indícios de que determinada pessoa perpetrou o crime objeto
da investigação, caberá ao delegado de polícia proceder ao indiciamento.

Guardem esta informação: O indiciamento é ato privativo da autoridade


policial e dar-se-á por ato fundamentado, mediante análise
técnicojurídica do fato, que deverá indicar autoria, materialidade e suas
circunstâncias (art. 2º, §6º, da Lei 12.830/13). Com base nessa informação,
temos que, v.g., o magistrado não poderá requisitar que o delegado de polícia
proceda com tal ato (HC 115.015/SP, STF). No entanto, na hipótese de,
mesmo diante da fragilidade da prova, a autoridade policial proceder ao
indiciamento, caracterizando constrangimento ilegal, é possível a impetração
de Habeas Corpus visando à suspensão do ato ou o seu “desindiciamento”.

b. Momento do Indiciamento
Segundo entendimento sedimentado no STF e STJ, o indiciamento é ato
típico de inquérito policial. Com base nessa premissa, a jurisprudência tem
caminhado no sentido de que, uma vez recebida a denúncia e iniciada a ação
penal, não é mais cabível a sua realização (HC 293623/SP, STJ).

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c. Indiciamento e Autoridade com foro por prerrogativa de função Via de
regra, qualquer pessoa pode ser indiciada, inclusive autoridade com foro por
prerrogativa de função. No entanto, por expressa previsão legal, NÃO
podem ser indiciados: a) Magistrados (art. 33, parág. Único, da LC 35/79);
b) Membros do Ministério Público (art. 40, parág. único, da Lei nº
8.625/93). Salvo as citadas hipóteses legais, é possível o indiciamento de
autoridade com foro por prerrogativa de função. Mas, nesse caso, segundo
entendimento do STF, é indispensável que a autoridade policial obtenha uma
autorização do Tribunal competente para julgar esta autoridade (HC 133835,
STF). Lembrem: o indiciamento é ato privativo do delegado de polícia: ele
quem indicia, mas, para tanto, está condicionado à pertinente autorização.
2.9. Conclusão do Inquérito Policial
Via de regra, o prazo para a conclusão de inquérito policial é de dez dias
quando o indiciado estiver preso e trinta dias quando solto. No entanto, há
legislações extravagantes que dispõem de prazo diferenciado. Vamos ao
quadro sinóptico:

Preso Solto
Código de Processo 10 dias (*) 30 dias (**)
Penal (artigo 10)

Justiça Federal 15 dias + 15 dias 30 dias

Inquérito Policial 20 dias 40 dias


Militar

Lei de Drogas (Lei nº 30 dias + 30 dias 90 dias + 90 dias


11.343/2006)

Lei dos crimes contra 10 dias 10 dias


a economia popular
(Lei 1.521/51)

Prisão temporária 5 dias + 5

Prisão temporária na 30 dias + 30


lei dos crimes
hediondos

(*) Entende-se que esse prazo de dez dias não pode ser prorrogado.
(**) Em se tratando de indivíduo solto, esse prazo pode ser prorrogado
sucessivamente, respeitada a razoável duração da investigação, tema já
enfrentado oportunamente.

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Quanto à natureza desse prazo, há divergência doutrinária. Em se tratando de
indivíduo solto, o prazo de 30 dias é de natureza processual penal. Até aqui,
tudo bem! Porém, a celeuma reside na hipótese de indivíduo preso. Segundo
Guilherme Nucci, o prazo é de natureza penal. Já Júlio Mirabete entende que
se trata de prazo de natureza processual. Isso implica diretamente na forma de
contagem do prazo. Em se considerando prazo penal, incide a regra do art. 10
do CP2, ao passo que, entendendo ser de natureza processual, a contagem se
iniciaria a partir do primeiro dia útil subseqüente.

a. Relatório da autoridade Policial: Esse relatório deve ter caráter descritivo,


ou seja, a autoridade policial deve descrever as diligências realizadas e
eventualmente aquelas que não foram feitas e seus motivos.

Na Lei de Drogas, a autoridade policial deverá indicar as razões pelas quais se


realizou o enquadramento da conduta do indiciado em determinado tipo penal,
ou seja, deve o delegado de polícia realizar um juízo de valor sob a conduta
investigada, para, por exemplo, realizar a adequação típica no crime de tráfico
ou mero uso de entorpecentes (art. 52, I, Lei nº 11.343/06).

b. Destinatário dos autos do IP: Segundo dicção do art. 10, §1º, do CPP, os
autos do procedimento investigativo são enviados ao Poder Judiciário. Aqui,
nos cabe chamar a atenção acerca de entendimento jurisprudencial sobre a
hipótese: Segundo o STF, é INCONSTITUCIONAL lei estadual que preveja
tramitação DIRETA do inquérito policial entre a polícia judiciária e o membro do
parquet (STF, ADI 2886/RJ, informativo 741).
2.10. Arquivamento de Inquérito Policial

Conforme dispõe o art. 28, do CPP, que é de leitura obrigatória, o


arquivamento do Inquérito é realizado mediante decisão judicial. O Ministério
Público, em entendendo ser hipótese de arquivamento, encaminha a promoção
ao judiciário, que homologa ou, caso entenda diferentemente, remete os autos
ao Procurador-Geral, que decidirá.

a. Fundamentos do Arquivamento
O inquérito policial poderá ser arquivado por: a) ausência de pressupostos
processuais ou condições da ação; b) falta de justa causa (lastro probatório
mínimo quanto à prática do delito); c) atipicidade formal ou material da conduta
delituosa; d) existência de manifesta excludente da ilicitude; e) existência de

2
Art. 10 - O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e os
anos pelo calendário comum

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causa excludente da culpabilidade, salvo inimputabilidade do art. 26, CP
(nesses casos, a denúncia deve vir acompanhada com pedido de absolvição
imprópria); f) causa extintiva da punibilidade
b. Coisa Julgada na Decisão de Arquivamento
A princípio temos que, embora o arquivamento seja feito através de uma
decisão judicial, o seu desarquivamento é de natureza administrativa, bastando
o surgimento de novas provas. Assim, uma vez arquivada a investigação e com
o surgimento de novas provas aptas a alterar o contexto probatório, é possível
o delegado de polícia retomar as diligências a fim de oportunizar ao Ministério
Público o oferecimento da denúncia (este é o teor da súmula 524, STF).

Tema que há divergência entre os tribunais superiores diz respeito à


(im)possibilidade de desarquivamento de inquérito, que tenha sido arquivado
com base em excludente de ilicitude. Segundo entendimento do STJ, NÃO é
possível se retomar as investigações (REsp 791.471/RJ, informativo 554). Já o
STF, sob o argumento de que tal decisão não faz coisa julgada material,
admite tal possibilidade (HC 125.101/SP, informativo 796; e HC 87395/PR -
Informativo 858).

Quanto às demais hipóteses, há entendimento pacificado: quando se tratar de


ausência de pressuposto processual ou de condição da ação penal; e falta de
justa causa: é possível o desarquivamento. Já quando se tratar de atipicidade;
existência manifesta de causa excludente da culpabilidade e existência 14
manifesta de causa extintiva da punibilidade, NÃO é possível se proceder ao
desarquivamento. Vamos ao quadro sinóptico para melhor visualização:

MOTIVO DO ARQUIVAMENTO DESARQUIVAMENTO É


POSSÍVEL?

Ausência de pressuposto processual SIM


ou condição da ação penal

Falta de Justa causa para ação SIM


penal

Existência manifesta de causa STJ: NÃO


excludente de ilicitude STF: SIM

Existência manifesta de causa NÃO


excludente da culpabilidade

Aticipidade da conduta NÃO

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Existência manifesta de causa NÃO (*)
Extintiva da punibilidade

(*) Atenção a esta última hipótese (arquivamento com base em causa extintiva
da punibilidade), porque aqui reside uma exceção: diz respeito à hipótese de
decisão que extingue a punibilidade fundamentada na morte do agente e
baseada em certidão de óbito falsa: Tanto o STF quanto o STJ já se
manifestaram pela possibilidade, haja vista que tratar-se-ia de decisão
inexistente.

c. Arquivamento implícito: Chamamos de arquivamento implícito a hipótese


do MP, ao oferecer a denúncia, não incluir algum corréu ou algum fato
delituoso, ficando silente quanto ao arquivamento. Nessa situação, caso o juiz
não se valha da regra disposta no art. 28 do CPP, sustentam alguns que ter
seia existido o arquivamento implícito. Tal hipótese é rechaçada por nossa
jurisprudência, que também inadmite o oferecimento de ação penal
privada subsidiária da pública. Assim, cabe ao Parquet o aditamento da peça
acusatória ou oferecimento de outra denúncia contra o corréu ou outro fato
delituoso.

d. Arquivamento Indireto: na hipótese de existir pedido do Ministério Público


no sentido do declínio da competência e o juiz não concordar
(entendendo-se competente para processamento e julgamento da ação penal),
estamos diante de um pedido indireto de arquivamento, a implicar, por
analogia, a regra do art. 28, CPP.
2.11. Inquérito Policial e controle externo
Quanto ao tema, devo alertar a vocês dois pontos que envolvem entendimento
firmado no âmbito do STJ:

a) Segundo o STJ, o Parquet, no exercício do controle externo da atividade


policial, pode ter acesso a ordens de missão policial (OMP). No entanto,
quando se tratar de atuação investigativa decorrente de cooperação
internacional exclusiva da Polícia Federal, tal acesso se dará a posteriori.
(REsp 1.439.193/RJ, informativo 587)
b) No mesmo julgado, o STJ sedimentou entendimento no sentido de que o
controle externo da atividade policial não confere ao Ministério Público acesso
irrestrito a todos os relatórios de inteligência produzidos pela Diretoria de
Inteligência, mas somente aos de natureza persecutório-penal (aqueles

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relacionados com a atividade de investigação criminal), devendo tal
controle ser circunscrito à atividade de polícia judiciária.

2. 12. Princípio da Insignificância e o Delegado de Polícia

Seria possível o delegado de polícia civil deixar de instaurar Inquérito Policial


ou não ratificar uma prisão em flagrante tendo por base os vetores do princípio
da insignificância?
A princípio, é de se dizer que é majoritário o entendimento no sentido de que
cabe à autoridade policial a análise apenas da tipicidade formal, não lhe
cabendo aplicar o princípio da insignificância. Porém, algumas bancas de
concurso, caso da FUNCAB, atentas à notória valorização paulatina da
carreira, inclusive, já tem adotado o entendimento minoritário, porém
crescente. Acerca do tema, remetemos o leitor ao artigo científico publicado no
conjur, sob o título “Delegado de Polícia pode e deve aplicar o princípio da
insignificância”, de lavra do professor e Delegado de Polícia Henrique
Hoffman Monteiro de Castro3.

2.13. As modificações trazidas pela Lei 13.344/2016


Não podemos deixar de tecer comentários sobre a Lei 13.344/2016, que dispôs
sobre o tráfico de pessoas cometido no território nacional contra vítima
brasileira ou estrangeira e no exterior contra vítima brasileira. Dentre as
modificações legislativas, destacamos o acréscimo dos arts. 13-A e 13-B ao
Código de Processo Penal (que são de leitura obrigatória). São inovações
importantíssimas, que inexoravelmente serão objeto de questionamento pelas
bancas de concurso.

Segundo o citado art. 13-A, nos crimes de sequestro e cárcere privado,


redução à condição análoga de escravo, tráfico de pessoas, seqüestro
relâmpago, extorsão mediante sequestro e envio de criança ou adolescente ao
exterior, o delegado de polícia civil, assim como também o membro do
Ministério Público, poderá requisitar de quaisquer órgãos do poder público
ou de empresas da iniciativa privada, dados e informações cadastrais da
vítima ou de suspeitos. Tal requisição deve ser atendida no prazo de 24
(vinte e quatro) horas e deverá conter o nome da autoridade requisitante, o
número do inquérito policial a que se refere e a identificação da unidade de
polícia judiciária responsável pela investigação.

3
Disponível em: http://www.conjur.com.br/2015-ago-18/academia-policia-delegado-
aplicarprincipio-
insignificancia. acessado em 05 de set de 2017.

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O delegado de polícia e o Parquet poderão ainda, mediante autorização
judicial, requisitar às empresas prestadoras de serviço de telecomunicações
e/ou telemática que disponibilizem IMEDIATAMENTE os meios técnicos
adequados que permitam a localização da vítima ou dos suspeitos de
delito em curso.

Notem que tal autorização diz respeito apenas à localização geográfica da


vítima ou suspeitos e não permitirá acesso ao conteúdo da comunicação de
qualquer natureza e será fornecida por prazo não superior a 30 (trinta) dias,
renovável uma única vez. Não se trata, pois, de novas hipóteses de
interceptação telefônica ou quebra de sigilo de dados propriamente dita
(situações em que demandam também autorização judicial e têm regramento
próprio). Caso haja necessidade de requisição a período superior ao acima
citado, será necessária a obtenção de ordem judicial. IMPORTANTE: a
autorização para localização da vítima e/ou suspeitos poderá preceder a
instauração de inquérito policial, o qual deverá ocorrer no prazo máximo de 72
(setenta e duas) horas, contado do registro da respectiva ocorrência policial.
Caso não haja manifestação judicial no prazo de 12 (doze) horas, a autoridade
competente fará a pertinente requisição imediatamente, acompanhada de
comunicação ao juiz.

Acerca do tema “inquérito policial”, é imprescindível a leitura dos arts. 4º ao 23,


do CPP.

É ilícita a gravação de conversa informal entre policiais


e o conduzido ocorrida quando da lavratura do auto de
Avisos de Miranda
prisão em flagrante, se não houver prévia comunicação
do direito de permanecer em silêncio.

Embora o inquérito tenha caráter discricionário quanto


às diligências a serem levadas a cabo pela autoridade
Diligências policial, há diligências que, conforme decidido pelo STJ
obrigatórias (HC nº 69.405/08), devem ser obrigatoriamente
realizadas, tais como exame de corpo de delito nos
crimes que deixam vestígios e oitiva do investigado.

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22
Razoável duração A investigação criminal também está sujeita à garantia
da constitucional da razoável duração do processo.

investigação

A atuação do detetive particular é primordialmente


extrapenal. No entanto, sistematizando o que dispõe
referido dispositivo com o teor do art. 5º da mesma lei,
segundo nos ensina Rogério Sanches, “o que a Lei
13.432/17 permite, no seu art. 5º, é o detetive particular
Detetive particular colaborar com a investigação policial em curso, desde
que expressamente autorizado por contrato e aceito
pelo delegado de polícia, que poderá rejeitá-lo a
qualquer tempo. O diploma, contudo, proíbe o detetive
colaborador de participar diretamente das diligências
policiais (art. 10, inc. IV), o que ocorreria, por exemplo,
caso cumprisse um mandado de busca e apreensão”.

Popularmente chamada de “denúncia anônima”.


Segundo entendimento sedimentado no STF, uma
denúncia anônima, por si só, não pode servir para
fundamentar a INSTAURAÇÃO de inquérito policial.
Porém, permite-se, a partir dela, que a autoridade
Notitia Criminis policial determine a realização de diligências
preliminares para confirmar a credibilidade da
Inqualificada
“denúncia”, ou seja, verificar a procedência das
informações. Em se confirmando que a “denúncia
anônima” possui aparência mínima de procedência,
pode-se, então, instaurar inquérito policial (HC nº
106.152, STF).

O indiciamento é ato privativo da autoridade policial e


dar-se-á por ato fundamentado, mediante análise
técnico-jurídica do fato, que deverá indicar autoria,
materialidade e suas circunstâncias (art. 2º, §6º, da Lei
12.830/13). Com base nessa informação, temos que,
Indiciamento v.g., o magistrado não poderá requisitar que o delegado
de polícia proceda com tal ato (HC 115.015/SP, STF),
sendo incabível também após o recebimento da
denuncia. Por expressa previsão legal, NÃO podem ser
indiciados: a) Magistrados (art. 33, parág. Único, da LC
35/79); b) Membros do Ministério Público (art. 40, parág.

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único, da Lei nº 8.625/93). Nas demais hipóteses de
autoridade com foro por prerrogativa de função é
indispensável que a autoridade policial obtenha uma
autorização do Tribunal competente para julgar esta
autoridade.

Segundo entendimento do STJ, NÃO é possível se


retomar as investigações na hipótese de arquivamento
Desarquivamento
de inquérito policial baseado em excludente de ilicitude
de de Inquérito (REsp 791.471/RJ, informativo 554). Já o STF, sob o
com base em argumento de que tal decisão não faz coisa julgada
excludente de material, admite tal possibilidade (HC 125.101/SP,
ilicitude informativo 796; e HC 87395/PR - Informativo 858).

É majoritário o entendimento no sentido de que cabe à


autoridade policial a análise apenas da tipicidade formal,
Princípio da não lhe cabendo aplicar o princípio da insignificância.
Insignificância
Porém, algumas bancas de concurso, caso da
FUNCAB, atentas à notória valorização paulatina da
carreira, inclusive, já tem adotado o entendimento
minoritário, porém crescente.

(Questão Inédita) Sobre o tema Inquérito Policial, e


levando em conta a legislação penal pertinente e o
entendimento dos tribunais superiores, bem como da
doutrina pátria, podemos afirmar que estão corretas as
assertivas abaixo, exceto:
Questão 1:
Inquérito Policial A) As funções de polícia judiciária e a apuração de
infrações penais exercidas pelo delegado de polícia são
de natureza jurídica, essenciais e exclusivas de Estado.
Assim, sendo o delegado de polícia o “primeiro garantidor
dos direitos fundamentais”, lhe é franqueada a aplicação
do princípio da insignificância.

B) A Lei 13.432/2017 disciplinou a carreira de detetive


particular, que poderá auxiliar a investigação policial,

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24
desde que aceito pelo Delegado de Polícia, sendo-lhe
vedado, no entanto, a participação em diligências
policiais.

C) Na hipótese de ocorrência de um crime de extorsão


mediante sequestro, o Delegado de polícia poderá
requisitar diretamente às empresas de serviço de
telecomunicação e telemática que disponibilizem
imediatamente os meios técnicos adequados que
permitam a localização da vítima ou suspeitos, na
hipótese do juiz não se manifestar, no prazo de 12 (doze)
horas, sobre tal pedido.

D) Segundo o STJ, o controle externo da atividade policial


não confere ao Ministério Público acesso irrestrito a todos
os relatórios de inteligência produzidos pela Diretoria de
Inteligência.

E) Segundo entendimento do STF, não é possível a


retomada das investigações objeto de inquérito policial
arquivado sob o argumento de manifesta causa
excludente de ilicitude.

GABARITO COMENTADO:

(A) CORRETA: este tema foi, inclusive, objeto de questão


de recente prova para Delegado de Polícia do Acre, que
considerou como correta a seguinte assertiva: “Diante da
subtração de um pedaço da carne da alcatra no valor de
R$ 16,00 (dezesseis reais), poderá o delegado de polícia
deixar de lavrar o auto de prisão em flagrante,
procedendo apenas com o registro de ocorrência,
decidindo fundamentadamente que não se trata de crime
por ausência de tipicidade material, em razão de concluir
sua análise técnico-jurídica no sentido de ter incidido no
caso o princípio da insignificância.”

(B) CORRETA: como vimos, as funções do detetive


particular são primordialmente extrapenais e, conforme o
art. 5º da Lei 13.432/17, poderá ele colaborar com as

investigações policiais, sendo-lhe vedado, no entanto,


participar de diligências policiais.

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(C) CORRETA: é exatamente o que dispõe o §4º do art.
13-B do CPP: “Não havendo manifestação judicial no
prazo de 12 (doze) horas, a autoridade competente
requisitará às empresas prestadoras de serviço de
telecomunicações e/ou telemática que disponibilizem
imediatamente os meios técnicos adequados – como
sinais, informações e outros – que permitam a localização
da vítima ou dos suspeitos do delito em curso, com
imediata comunicação ao juiz”.

(D) CORRETA: É o que se extrai da ementa do REsp


1.439.193/RJ, trazido no informativo 587, no qual o STJ
sedimentou entendimento no sentido de que o controle
externo da atividade policial não confere ao Ministério
Público acesso irrestrito a todos os relatórios de
inteligência produzidos pela Diretoria de Inteligência, mas
somente aos de natureza persecutório-penal (aqueles
relacionados com a atividade de investigação
criminal), devendo tal controle ser circunscrito à
atividade de polícia judiciária.

(E) INCORRETA: Na verdade, o STF admite tal


possibilidade. Neste tema, há divergência de
entendimento jurisprudencial e quem rechaça essa
possibilidade de desarquivamento é o STJ.

(Questão inédita) Sobre o inquérito policial, é correto


afirmar que:

A) O indiciamento é ato exclusivo do Delegado de Polícia


e dar-se-á por ato fundamentado, mediante análise
Questão 2: técnico jurídica do fato, que deverá indicar autoria,
Inquérito Policial materialidade e suas circunstâncias. Não é possível,
inclusive, que o Ministério Público requisite que a
autoridade policial realize tal ato, ficando a cargo desta a
sua realização no inquérito policial ou na ação penal.

B) Logo que tiver conhecimento da prática de um crime, o


delegado de polícia deverá, dentre outras diligências,
colher informações sobre a existência de filhos,
respectivas idades e se possuem alguma deficiência e o
nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados

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26
dos filhos, indicado pela pessoa presa.

C) Segundo dispõe o artigo 9 do Código de Processo


Penal, o inquérito policial é um procedimento
eminentemente escrito, não se franqueando, pois, ao
delegado de polícia a gravação dos depoimentos das
testemunhas e interrogatório do indiciado.

D) O Inquérito Policial é conduzido mediante a


discricionariedade da autoridade policial, que determinará
as diligências que entender necessárias diante do caso
concreto, ficando ao seu critério, dentre outras
providências, a colheita das declarações do investigado.

E) Por se tratar de fase pré-processual, o inquérito policial


não está sujeito ao princípio constitucional da razoável
duração do processo.

GABARITO COMENTADO:

(A) INCORRETA: o indiciamento é sim ato exclusivo da


autoridade policial, conforme determina o art. 2º, §6º, da
Lei 12.830/13, não cabendo ao Parquet ou magistrado a
requisição à autoridade policial para se proceder a tal ato.
No entanto, é ato típico do inquérito policial, não podendo
ser realizado quando já fora recebida a denúncia.

(B) CORRETA: é exatamente o que dispõe o inciso X do


art. 6º do CPP, introduzido pela Lei 13.257/2016.

(C) INCORRETA: Em que pese ser um procedimento


escrito, há doutrina no sentido de que, por analogia ao
art. 405, §1º, do CPP, que seria aplicado
subsidiariamente ao inquérito policial, poderá haver
gravação dos depoimentos e declarações ali colhidos, até
para se conseguir maior fidedignidade dos elementos
apurados.

(D) INCORRETA: A discricionariedade não tem caráter


absoluto. Há algumas diligências que devem ser
OBRIGATORIAMENTE realizadas, conforme assentado
pelo STJ (HC nº 69.405/08), tais como exame de corpo
de delito nos crimes que deixam vestígios e oitiva do

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27
investigado.

(E) INCORRETA: Muito pelo contrário. Vimos que o


inquérito policial também se sujeita a tal princípio de
ordem constitucional.

3. AÇÃO PENAL

3.1 Ação penal pública incondicionada


O titular da ação penal pública incondicionada é o Ministério Público, nos
termos no art. 129, I, da CR/88 e sua peça inaugural é a denúncia. É
denominada incondicionada porque a atuação do MP não depende da
manifestação da vontade da vítima ou de terceiros.

Funciona a ação penal pública incondicionada como regra geral em nosso


ordenamento jurídico (art. 100, caput, do CP). Convém destacar que ela pode
ser proposta enquanto não tiver ocorrido a extinção da punibilidade, ao
contrário da ação penal de iniciativa privada, que está sujeita ao prazo
decadencial de 6 meses.

Importante, ainda, ressaltar, o teor do art. 5º, LIX da CR/88, que prevê que será
admitida ação privada nos crimes de ação púbica, se esta não for intentada no
prazo legal. É a chamada ação privada subsidiária da pública, também
denominada de ação penal acidentalmente privada, cujo cabimento está
condicionado à inércia do Ministério Público.
3.2 Ação penal pública condicionada
3.2.1 Natureza jurídica da representação
Em regra, a representação funciona como uma condição específica da ação
penal, ou seja, a lei impõe o implemento dessa condição para que o Ministério
Público possa promover a ação penal. Desta forma, caso o processo penal
ainda não tenha tido início, e a atuação do MP dependa de representação, esta
funcionará como condição específica de procedibilidade, sem a qual não é
possível a instauração do processo. Caso, porém, o processo já esteja em
andamento e a lei venha a condicionar seu prosseguimento à representação,
esta funcionará como condição de prosseguibilidade. Foi o que ocorreu em
relação ao art. 91 da Lei 9.099/95 nos processos relativos aos crimes de lesão
corporal leve e culposa que estavam em andamento quando a Lei dos Juizados
Especiais Criminais entrou em vigor (26/11/1995), tendo esta condicionado o
prosseguimento do feito à representação no prazo de 30 dias, sob pena de
decadência.

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28
3.2.2 Legitimidade para o oferecimento da representação
A legitimidade para o oferecimento da representação possui o mesmo regime
jurídico da titularidade da queixa-crime. Desta forma, o que for analisado aqui,
se aplica também à ação penal exclusivamente privada e à ação penal privada
subsidiária da pública. O direito de representação, nos termos do art. 39 do
CPP, poderá ser exercido pessoalmente ou por procurador com poderes
especiais, não precisando este ser um profissional da advocacia.

Há situações específicas que merecem destaque:

a) ofendido com 18 anos de idade, que não seja mentalmente enfermo ou


retardado mental: tem capacidade plena para exercer o direito de
representação.
b) Ofendido com menos de 18 anos, mentalmente enfermo o retardado: o
direito de representação será exercido por seu representante legal. Por não
haver necessidade de formalismo na representação, os tribunais entendem que
qualquer pessoa que de alguma forma seja responsável pelo menor, poderá
oferecê-la (irmãos, avós, etc.).
c) Ofendido menor de 18 anos, mentalmente enfermo, ou retardado
mental, que não tenha representante legal, ou havendo colidência de
interesses: o direito de queixa ou de representação poderá ser exercido por
curador especial que será nomeado de ofício ou a requerimento do MP, pelo
juiz competente.
d) Pessoa jurídica: as fundações, associações ou sociedades legalmente
constituídas poderão exercer seu direito de representação, devendo ser
representadas por quem os respectivos contratos ou estatutos designarem ou,
no silêncio destes, pelos seus diretores ou sócios-gerentes.
e) Ofendido maior de 16 anos e menor de 18 anos casado: entende-se que
este ainda não é dotado de capacidade para oferecer queixa ou representação.
Como ele não pode exercer o seu direito pessoalmente, não possuindo
representante legal por conta da emancipação, há duas possibilidades: i)
nomeação de curador especial; ii) aguardar até atingir a idade de 18 anos,
quando então poderá exercer seu direito. Aqui, não há falar em decadência,
pois o prazo decadencial não corre para aquele que não pode exercer seu
direito por conta da incapacidade.
f) Morte da vítima: o direito de oferecer queixa ou representação ou de
prosseguir na ação penal de iniciativa privada passará ao cônjuge, ascendente,
descendente ou irmão (sucessão processual), nos termos dos arts. 24, §1º e
31, do CPP. Lembrando que aqui há uma ordem de preferência: primeiro
cônjuge, depois ascendente e assim sucessivamente. Convém destacar, no
entanto, que na sucessão processual em queixa-crime, qualquer um dos
sucessores poderá prosseguir no processo já instaurado, caso o querelante
(por exemplo, o cônjuge) desista o abandone a instância (art. 36, do CPP).

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3.3 Ação penal de iniciativa privada

São 3 as espécies de ação penal de iniciativa privada:

a) Ação penal exclusivamente privada ou propriamente dita: é a regra.


Ocorre quando o ofendido, seu representante legal (no caso de menoridade),
seus sucessores (caso de morte ou ausência do ofendido) ou seu curador
especial (hipóteses do art. 33, do CPP) podem ingressar com a ação penal.
b) Ação penal privada personalíssima: o direito de ação só pode ser exercido
pelo ofendido. Não há intervenção de eventual representante legal, de curador
especial, tampouco haverá sucessão processual no caso de morte ou ausência
da vítima. Há apenas um exemplo de crime de ação penal privada
personalíssima no CP, qual seja, o de induzimento a erro essencial e ocultação
de impedimento ao casamento, previsto no art. 236.
c) Ação penal privada subsidiária da pública: como já dito acima, essa ação
será admitida quando a ação penal pública não for intentada no prazo legal.
Sua previsão no art. 5º da CR/88 denota que se trata de um direito
fundamental, verdadeira cláusula pétrea, funcionando como importante forma
de fiscalização do exercício da ação penal pública pelo Ministério Público.
Convém destacar que o6 Ministério Público continua podendo propor a ação
penal pública, sendo possível fazê-lo inclusive após propositura da queixa,
caso opte por repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva (art. 29, do CPP). A
inércia do MP não transforma a natureza da ação penal, que continua sendo
pública.

3.4 Ação penal popular

A doutrina aponta a existência da ação penal popular no ordenamento jurídico


brasileiro nas seguintes hipóteses:

a) Habeas corpus: esse remédio constitucional qualifica-se como típica ação


penal popular, o que legitima o seu ajuizamento por qualquer pessoa, qualquer
que seja a instância judiciária competente. A legitimidade ativa do HC reveste-
se de caráter universal, uma vez que pode ser impetrado por qualquer pessoa,
em seu favor ou de outrem, bem como pelo Ministério Público.

b) Faculdade de qualquer cidadão oferecer denúncia por crime de


responsabilidade, contra determinados agentes políticos, perante a
Câmara dos Deputados (PR e Ministro de Estado); o Senado Federal
(Ministros do STF e PGR); ou a Assembleia Legislativa (Governador), nos
termos dos arts. 14, 41 e 75 da Lei 1.079/50. Na esfera municipal, o Decreto-lei
201/67 também autoriza qualquer eleitor a propor ação de cassação do
prefeito, mediante denúncia a ser encaminhada à Câmara de Vereadores.

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3.5 Ação penal adesiva

Ocorre quando o MP ingressa com ação penal pública mesmo em relação aos
crimes sujeitos à ação penal privada, desde que divise um interesse público.
Isso é permitido no ordenamento jurídico alemão. Quando isso ocorrer, o
ofendido poderá constituir-se em parte acessória, acusador subsidiário ou
acusador acessório, equivalente ao instituto brasileiro do assistente do MP,
como se fosse uma ação penal acessória ou uma ação penal adesiva.

3.6 Ação de prevenção penal

É aquela ajuizada com a intenção de se aplicar ao inimputável do art. 26,


caput, do CP, exclusivamente, medida de segurança. Verificando-se que o
acusado, em virtude de doença mental ou de desenvolvimento mental
incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou omissão, absolutamente
incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com
esse entendimento, deve o inimputável ser absolvido, aplicando-se a ele
medida de segurança. Nesse contexto, surge a ação de prevenção penal, cuja
finalidade é a aplicação de medida de segurança (internação ou tratamento
ambulatorial).
3.7 Ação penal secundária

Ocorre quando a lei estabelece uma ação penal para determinado crime,
porém, em virtude do surgimento de circunstâncias especiais, passa a prever,
secundariamente, uma nova espécie de ação penal para essa infração. Ex:
crime contra a honra que, em regra, é ação penal de iniciativa privada (art. 145,
CP), porém se cometido crime contra a honra de injúria racial (art. 140, §3º, do
CP), a ação penal será pública condicionada à representação (art. 145,
parágrafo único, CP).

3.8 Jurisprudência relacionada à ação penal


Queixa-crime e indivisibilidade da ação penal: não oferecida a queixa-crime
contra todos os supostos autores ou partícipes da prática delituosa, há afronta
ao princípio da indivisibilidade da ação penal, a implicar renúncia tácita ao
direito de querela, cuja eficácia extintiva da punibilidade estende-se a todos
quantos alegadamente hajam intervindo no cometimento da infração penal.
(STF. Inq-3526. 2016. Info 813).

Inaplicabilidade do princípio da indivisibilidade em ação pública: na ação


penal pública, o MP não está obrigado a denunciar todos os envolvidos no fato
tido por delituoso, não se podendo falar em arquivamento implícito em relação
a quem não foi denunciado. (STJ. RHC 34-233-SP. 2014. Info 540).

Inépcia da denúncia que não descreve de forma clara e precisa a conduta


do agente: é inepta denúncia que, ao descrever a conduta do acusado como

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31
sendo dolosa, o faz de forma genérica, a ponto de ser possível enquadrá-la
tanto como culpa consciente quanto como dolo eventual. (STJ. RHC
39.627/RJ. 2014. Info 538).

Honorários advocatícios sucumbenciais em ação penal privada extinta


sem julgamento de mérito: é possível condenar o querelante em honorários
advocatícios sucumbenciais na hipótese de rejeição de queixa-crime por
ausência de justa causa. (STJ. EREsp 1.218.726/RJ. 2016. Info 586).

(Ano: 2016. Banca: VUNESP. Órgão: TJ-RJ.


Prova: Juiz Substituto)

A, casada com B, durante uma discussão de casal,


levou um soco, sendo ameaçada de morte. Diante
dos gritos e ameaças, os vizinhos acionaram a
Polícia que, ao chegar ao local, conduziu todos à
Delegacia. A, inicialmente, prestou depoimento na
Delegacia e manifestou o desejo de que o marido
fosse processado criminalmente pelos crimes de
lesão corporal leve e ameaça. Entretanto,
encerradas as investigações policiais e remetidos os
QUESTÃO 1: AÇÃO autos ao Fórum, em sede de audiência preliminar, A
PENAL informou o Juízo que havia se reconciliado com B,
não desejando que o marido fosse processado por
ambos os crimes. Diante da nova manifestação de
vontade de A, é correto afirmar
que o procedimento:
A) deverá ser arquivado, vez que a ação penal, seja
para o crime de ameaça, seja para o de lesão
corporal de natureza leve, é condicionada à
representação da vítima, e a retratação de A obsta o
prosseguimento do feito.

B) terá seguimento quanto ao crime de lesão


corporal, visto que a ação penal é pública
incondicionada, por ter se dado em âmbito
doméstico. Já quanto ao crime de ameaça, a
retratação de A obsta o prosseguimento, visto que a
ação penal continua condicionada à representação,
ainda que praticada em âmbito
doméstico.

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32
C) terá seguimento, tanto para o crime de ameaça
quanto para o crime de lesão corporal, pois em se
tratando de crimes ocorridos no âmbito doméstico, a
ação penal é pública incondicionada, pouco
importando a retratação de A.

D) terá seguimento, tanto para o crime de ameaça


quanto para o crime de lesão corporal. Todavia, é
possível ao órgão de acusação, desde logo, ofertar
a transação penal.

E) será arquivado quanto ao crime de ameaça, já


que a ação é condicionada à representação da
vítima. Quanto ao crime de lesão corporal, ocorrida
em âmbito doméstico, o procedimento terá
seguimento, por tratar-se de ação penal pública
incondicionada. Todavia, é possível ao órgão de
acusação, desde logo, ofertar a transação penal
.
GABARITO COMENTADO:

CORRETA: Letra B. A questão é interessante, pois


traz situação que pode trazer certa confusão aos
candidatos. Importante decisão, com o intuito de
proteção às mulheres quanto a violência doméstica
e familiar, foi a de tornar pública incondicionada as
ações referentes às lesões corporais, mesmo que
de natureza leve, no âmbito do procedimento da Lei
11.343/06, neste sentido é a Súmula do STJ:
Súmula 542 STJ: A ação penal relativa ao crime de
lesão corporal resultante de violência doméstica
contra a mulher é pública incondicionada.”. Porém, é
incorreto o raciocínio que afirma que qualquer dos
crimes previstos na Lei Maria da Penha são de ação
pública incondicionada, já que a decisão abordou o
crime de lesão corporal. Assim, quanto a ameaça, a
ação é condicionada à representação aplicando o
artigo 16 que afirma que a retratação poderá ser
revogada até o recebimento da denúncia: "Art. 16.
Nas ações penais públicas condicionadas à
representação da ofendida de que trata esta Lei, só
será admitida a renúncia à representação perante o
juiz, em audiência especialmente designada com tal
finalidade, antes do recebimento da denúncia e
ouvido o Ministério Público."

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33
4 JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA

A jurisdição é o poder soberano do Estado de dizer o direito no caso concreto,


resolvendo conflitos, em substituição à vontade das partes. A substitutividade é
a característica mais marcante desse poder. Outras características são: inércia;
existência de lide; atuação do direito; imutabilidade. E regido pelos princípios
da: investidura; indeclinabilidade; inevitabilidade ou irrecusabilidade;
improrrogabilidade; indelegabilidade; juiz natural; inafastabilidade; devido
processo legal; e o princípio da unidade. Já a competência é a medida da
jurisdição, o espaço dentro do qual o poder jurisdicional pode ser exercido.
Todo juiz possui Jurisdição, mas competência não.

No processo penal, a competência poderá ser absoluta ou relativa. A


competência absoluta é aquela que não permite prorrogação, por envolver
interesse público, e pode ser arguida a qualquer tempo e em qualquer grau de
jurisdição, inclusive de ofício, sob pena de nulidade absoluta de todos os atos
praticados no feito (decisórios ou instrutórios). Há três hipóteses de
competência absoluta:

- Competência em razão da matéria (ratione materiae): é a que leva em


conta a natureza da infração a ser julgada;
- Competência por prerrogativa de função (ratione personae): leva em
conta o cargo público ocupado por determinada pessoa que cometeu a infração
penal, o que implica em um foro por prerrogativa de função;
- Competência funcional: leva em conta a distribuição dos atos processuais
praticados. E envolve três critérios: 1. Fase do processo: quando dois juízes
atuam em fases distintas do feito, a exemplo do juiz que instrui e sentencia a
causa criminal e daquele responsável pela fase de execução penal, art. 65 da
LEP; 2. Objeto do juízo: quando há distribuição de tarefas dentro de um mesmo
processo, a exemplo do que ocorre no Tribunal do Júri, em que o juizpresidente
é incumbido da resolução das questões de direito, da prolação da sentença e
da dosimetria da pena, enquanto que aos jurados compete a votação dos
quesitos; 3. Grau de jurisdição (ou competência funcional vertical): resulta no
duplo grau de jurisdição, com o oferecimento de recursos, ou na competência
originária dos Tribunais, em casos de foro por prerrogativa de função.

Já a competência relativa permite prorrogação, caso não seja argüida a


tempo a incompetência do foro. O desrespeito às normas de competência
relativa, conforme a doutrina prevalente, leva apenas à nulidade relativa dos
atos decisórios (não são anulados os atos instrutórios, art. 567 do CPP). É
hipótese de competência relativa no Processo Penal a competência territorial
(ratione loci). Não esqueçam que no Processo penal a competência territorial
pode ser reconhecida de ofício pelo juiz, por isso a Súmula n° 33 do STJ só
tem aplicabilidade no Processo Civil. Atenção para o fato de que segundo a
doutrina, o magistrado só pode declarar-se de ofício incompetente até a
absolvição sumária, art. 397 do CPP, enquanto que a defesa deve alegar a

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34
matéria até o prazo final de apresentação da resposta escrita à acusação, que
é de 10 dias (art. 396 do CPP), sob pena de preclusão.
33
Assim, para se alcançar o juiz competente para julgar determinado processo
penal, devem ser seguidos os critérios que determinam a competência e estão
dispostos no art. 69 do CPP, quais sejam, o lugar da infração, o domicílio ou
residência do réu, a natureza da infração, a distribuição, a conexão ou
continência, a prevenção e a prerrogativa de função, os quais passam a ser
analisados adiante.

O STF vem mitigando as diferenças entre competência absoluta e relativa.


“Assim, por exemplo, ao reconhecer a incompetência (absoluta) da justiça
militar em hipótese de crime que deveria ser julgado pela justiça federal,
entendeu que caberia a este tribunal somente anular a decisão condenatória”.
E que “se deveria deixar ao juízo que o Supremo estaria a considerar
competente a decisão de anular, ou não, os demais atos do processo, pois, do
contrário, haveria um salto jurisprudencial”. Destacou também, “caber ao juiz
federal decidir acerca da subsistência, ou não, dos atos já praticados”. E que
“atualmente, a divisão de competência em absoluta ou relativa deveria ter
como única consequência remeter os autos ao juízo competente, pois a
jurisdição seria uma. Registrou-se tratar-se de tendência decorrente da
translatio ludicii (reassunção do processo e remessa dos autos ao Juízo
competente, nos casos em que é declarada a incompetência do juízo –
absoluta ou relativa)” (ALVES, 2016, p.247-248). Concluindo que o Juízo
competente, ao receber o processo, absorveria a causa e a julgaria e, se
entendesse necessário, poderia renovar os atos processuais (Informativo nº
755 do STF).

4.1 COMPETÊNCIA TERRITORIAL (RATIONE LOCI)

- Lugar da infração penal como regra geral (art. 70 CPP) Teoria do resultado
(local do resultado).
Se, porém, for incerto o limite territorial entre duas ou mais jurisdições, ou
quando incerta a jurisdição por ter sido a infração consumada ou tentada nas
divisas de duas ou mais jurisdições, a competência será estabelecida pela
prevenção, art. 70, § 3°, do CPP (temos aqui, a adoção excepcional da teoria
da ubiquidade ou mista ou eclética -local da ação ou omissão ou local do
resultado -), e aplicável também no caso de infração continuada ou
permanente, praticada em território de duas ou mais jurisdições, art. 71 do CPP

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35
(teoria da ubiquidade), e no crime à distância 4 (a ação ou omissão ocorre em
um país e o resultado em outro).34
Assim, nos casos em que se permite a aplicação da lei penal brasileira, embora
para crimes cometidos no estrangeiro (extraterritorialidade da lei penal
brasileira, art.7° do CP), será competente o juízo do local que tocar por último o
território nacional, não importa se é o local da ação ou omissão ou do
resultado.

Os crimes plurilocais (que são aqueles em que a ação ou omissão se em um


lugar e o resultado em outro, desde que ambos os locais se encontrem dentro
do mesmo território nacional, enquanto que os crimes à distância envolvem
sempre países distintos, onde a ação ou omissão ocorre em um país e o
resultado em outro) se aplica a teoria do resultado, art. 70, caput do CPP.
Porém há entendimento jurisprudencial (Informativos n° 489 do STJ e 715 do
STF) no sentido de que, no caso de homicídio, deve prevalecer o juízo da
ação ou omissão (teoria da atividade), como forma de privilegiar a verdade
real.

Nos crimes preterdolosos ou qualificados pelo resultado também se aplica o


art. 70, caput do CPP, aplicando a teoria do resultado (Nucci é contra,
afirmando ser aplicável a teoria da atividade, 2008, p. 253).

- Competência em hipóteses de crimes de estelionato: No crime de


estelionato praticado pela emissão de cheque sem fundo (art. 171, § 2°, VI,
CP), o juízo competente é o do local onde houver a recusa do pagamento do
cheque, Súmula n° 521 STF e Súmula n° 244 STJ. Já na hipótese de
estelionato praticado mediante falsificação de cheque é competente o local da
obtenção da vantagem ilícita, nos termos da Súmula nº 48 STJ.
Conforme a 3º Seção do STJ, compete ao Juízo do foro onde se encontra
localizada a agência bancária por meio da qual o suposto estelionatário
recebeu o proveito do crime processar a persecução penal, Informativo nº 565.

- Competência em crime de contrabando e descaminho: Nesses casos (art.


334, 334-A, CP), o juízo competente é definido pela prevenção do Juízo
Federal do lugar da apreensão dos bens, nos termos da Súmula n° 151 do
STJ.

4
De acordo art. 70, § 2 °, CPP, quando o último ato de execução for praticado fora do território
nacional, será competente o juiz do lugar em que o crime, mesmo que parcialmente, tenha
produzido ou devia produzir seu resultado

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- Infrações de menor potencial ofensivo, art. 63 da Lei n° 9.099/95, será
competente para o seu julgamento o local onde foi praticada a infração, que,
pelo entendimento majoritário, é o local da ação ou omissão, adotando a teoria
da atividade (local da ação ou omissão).

- Competência na lei de imprensa: Nos crimes de imprensa, apesar do art. 42


da Lei n° 5.250/67 (Lei de Imprensa), o critério de fixação de competência lá
previsto não mais subsiste, tendo em vista que o STF, no julgamento da ADPF
nº 130/DF, julgou pela não recepção ou revogação de toda essa lei, de modo
que nesse caso aplicará a regra geral do art. 70, caput,do CPP.

- O domicílio ou residência do réu como foro supletivo (art. 72, CPP): Se o


réu tiver mais de um domicílio ou residência, a competência será firmada pela
prevenção (art. 72, § 1°, do CPP). E se não tiver residência certa ou for
ignorado o seu paradeiro, será competente o juiz que primeiro tomar
conhecimento do fato (art.72, § 2°, do CPP).

- Ação penal exclusivamente privada (art. 73 CPP): Mesmo que conhecido o


local da infração, o querelante pode optar pelo foro do domicílio ou residência
do réu.

4.2 COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA MATÉRIA (RATIONE MATERIAE) OU

PELA NATUREZA DA INFRAÇÃO (ART. 74 CPP)

- Competência do Tribunal do Júri


Envolve o julgamento dos crimes dolosos contra a vida, que são os previstos
entre os artigos 121 e 127 do CP, consumados ou tentados (art. 74,§1°, do
CPP), é competente também para o julgamento dos crimes conexos ou
continentes aos crimes dolosos contra a vida.
As hipóteses de desclassificação deste delito para outro que não seja doloso
contra a vida, de competência do juiz singular, e indicação do órgão
jurisdicional que passará a ter a competência para o seu julgamento, ocorrem:

1. Se a desclassificação do crime doloso contra a vida é feita pelo juiz no


momento da análise da pronúncia do réu, os autos devem ser remetidos ao
juízo competente (art. 74, § 3°, CPP). Se houver alteração fática, o juiz
competente deve determinar que o autor da ação penal adite a inicial (mutatio
libelli, art. 384 do CPP);

2. Se a desclassificação é feita pelo Conselho de Sentença em plenário, o juiz-


presidente do Tribunal do Júri é quem vai julgar singularmente o feito, não o
remetendo ao juízo competente, por economia processual (arts. 74, § 3°, e 492,
§ 1°, CPP).

- Competência da Justiça Eleitoral

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37
Tem competência para o julgamento dos crimes eleitorais e aqueles que lhes
são conexos ou continentes. Arts. 118 a 121 da CF. A 3ª Seção do STJ já
decidiu que compete à Justiça Federal processar e julgar o crime caracterizado
pela destruição de título eleitoral de terceiro, quando não houver qualquer
vinculação com pleitos eleitorais e o intuito for, tão somente, impedir a
identificação pessoal (Informativo nº 555).

Conexão entre crime eleitoral e crime doloso contra a vida: Segundo a


doutrina dominante, havendo a conexão entre esses crimes, deve ser operada
a disjunção (separação) dos mesmos, vindo o crime eleitoral a ser julgado pela
Justiça Eleitoral e o crime doloso contra a vida pelo Tribunal do Júri.

- Competência da Justiça Militar


Prevista no art. 125 da CF. É importante a leitura das Súmulas 53, 75, 78, 90 e
172 do STJ.

- Competência da Justiça Federal


A competência da JF é sempre expressa e taxativa, enquanto que a da Justiça
Estadual é residual. Havendo conexão ou continência entre crime de
competência da JF e crime de competência da JE, prevalece a competência da
JF, Súmula nº 122 do STJ. OBS: O STF consagra a aplicação da teoria do
juízo aparente (Informativo nº 701).

As hipóteses de competência da Justiça Federal de primeiro grau estão


previstas nos incisos IV, V, V-A5 c/c § 5°, VI, VII, IX, X, XI e § 3° do art. 1096 da
CF.

5
Incidente de deslocamento de competência (também conhecido como federalização dos
crimes envolvendo direitos humanos) tem como objetivo assegurar e preservar a competência
da JF (competência absoluta) para processar e julgar crimes que envolvam grave violação a
direitos humanos (ex. chacina) previstos em tratados internacionais dos quais o Brasil seja
signatário, caso os magistrados e delegados de polícia estaduais não declinem de ofício,
respectivamente, de sua competência e atribuição ou não reconheçam (os juízes) a
procedência da exceção de incompetência do juízo oferecida pela parte. Quem pode suscitar
esse incidente é apenas o Procurador-Geral da República, perante exclusivamente ao STJ e
pode ser suscitado em qualquer fase do inquérito ou do processo. Caso o STJ acate o pedido
formulado, a causa tramitará perante a Justiça Federal.

6
16 Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem
interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as
de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho;
II - as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa
domiciliada ou residente no País;
III - as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo
internacional;
IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou
interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as
contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;
V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no
País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;

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38
Exceções: Súmula n° 38 do STJ7; Informativo 511 do STJ (é da competência
da justiça estadual o julgamento de contravenções penais, mesmo que
conexas com delitos de competência da Justiça Federal; Súmula n° 42 do STJ
(infração penal praticada em detrimento de bens, serviços ou interesse de
sociedade de economia mista, a competência será da Justiça Comum
Estadual).

Lembre-se que o simples fato de um réu ser servidor público federal (delegado
da polícia federal, p.ex.) não atrai a competência da Justiça Federal, já que
para fins de definição desta competência, é preciso, além disso, que o crime
viole bens, serviços ou interesses da União e de suas autarquias públicas ou
empresas públicas, conforme Informativo nº 430 do STJ.

Ademais, contra a decisão proferida pelo juiz federal em processo envolvendo


crime político caberá o recurso ordinário constitucional, que é dirigido
diretamente ao STF, com base no art. 102, II, b, da CF.

Outras Súmulas do STJ importantes sobre esse tema são as Súmulas nº 62,
73, 104, 140, 147, 165, 200, 208 ("Compete à Justiça Federal processar e
julgar prefeito municipal por desvio de verba sujeita a prestação de contas
perante órgão federal"), 209 ("Compete à Justiça Estadual processar e julgar
prefeito por desvio de verba transferida e incorporada ao patrimônio
municipal"), 522, 528; e os informativos 527 e 744 e a SV nº 36 do STF.

Compete à Justiça Federal processar e julgar o crime ambiental de caráter


transnacional que envolva animais silvestres, ameaçados de extinção e
espécimes exóticas ou protegidas por compromissos internacionais assumidos
pelo Brasil. STJ, 3 Seção, CC 139.197 – RS, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik,
julgado em 25/10/2017 (Info 615).

V-A as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo; (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 45, de 2004);
VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o
sistema financeiro e a ordem econômico-financeira;
VII - os habeas corpus, em matéria criminal de sua competência ou quando o constrangimento
provier de autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição;
VIII - os mandados de segurança e os habeas data contra ato de autoridade federal,
excetuados os casos de competência dos tribunais federais;
IX - os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça
Militar;

7
"Compete à justiça Estadual Comum, na vigência da Constituição de 1988, o processo por
contravenção penal, ainda que praticada em detrimento de bens, serviços ou interesse da
União ou de suas entidades".

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39
O STJ entende que o crime de redução à condição análoga à de escravo
(art. 249 do CP) é de competência da Justiça Federal, por haver violação
tanto da atividade do trabalhador em si como da dignidade humana do
trabalhador (CC n° 113428/MG)8.

- Competência em crimes de lavagem de dinheiro (art. 2°, IlI, da Lei nº


9.613/98)
Em regra, os crimes de lavagem de dinheiro previstos nessa lei são de
competência da Justiça Estadual. Mas, nas hipóteses do art. 2°, inciso IlI,
passam a ser julgados pela justiça Federal: a) quando praticados contra o
sistema financeiro e a ordem econômico-financeira, ou em detrimento de bens,
serviços ou interesses da União, ou de suas entidades autárquicas ou
empresas públicas; b) quando a infração penal antecedente for de competência
da justiça Federal.

4.3 A DISTRIBUIÇÃO COMO ALTERNATIVA À COMPETÊNCIA


CUMULATIVA SUPLETIVA (ART. 75 CPP)
A distribuição (sorteio) fixará a competência quando, em um mesmo juízo,
existirem juízes igualmente competentes para o julgamento de determinada
infração penal (art. 75, caput, do CPP). Ademais, a distribuição realizada para o
efeito da concessão da fiança ou da decretação da prisão preventiva ou de
qualquer diligência anterior à denúncia ou queixa (exs: dilação do prazo de
conclusão do inquérito policial; interceptação telefônica; comunicação de
flagrante etc.) prevenirá a da ação penal. Nesse caso, a ação penal já vai ser
distribuída por meio da distribuição por dependência (é direta, sem sorteio).

4.4 A COMPETÊNCIA POR CONEXÃO E CONTINÊNCIA - ALTERAÇÃO DE


COMPETÊNCIA (ARTS. 76 E 77 CPP)
Na verdade, a conexão e a continência não são critérios de definição da
competência e sim de alteração. Em virtude delas, há o deslocamento do feito
de um juiz competente para outro que passa a ser o legitimamente competente.
Todavia, se houver violação dos critérios de conexão e continência, haverá
nulidade meramente relativa do feito (dependente da demonstração de
prejuízo).

8
É o mesmo posicionamento do STF, firmado no julgamento do RE n° 398.041/PA, embora, no
julgamento do RE n° 459510/MT (Informativo n° 573), o relator Ministro Cezar Peluso tenha se
manifestado em sentido contrário, estando o julgamento deste recurso suspenso.

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40
A conexão é o vínculo entre duas ou mais infrações penais, que, em regra,
enseja a união entre os feitos para facilitar a produção da prova e para evitar
decisões contraditórias. Mas ela não determina a reunião dos processos se um
deles já foi julgado (Súmula n° 235 do STJ). O mesmo vale em relação à
continência.

A princípio, a conexão permite a reunião apenas de processos, não de


inquéritos policiais. Assim, em tese, para cada infração haverá um inquérito
policial tramitando na respectiva circunscrição em que ela se consumou. Mas, a
doutrina alerta para o fato de que, havendo utilidade, pode-se determinar a
reunião dos inquéritos em uma mesma delegacia, desde que exista autorização
judicial nesse sentido, ouvido o Ministério Público (TÁVORA, 2016, p. 222). As
espécies de conexão estão dispostas no art. 76 do CPP:

1. Conexão intersubjetiva (art. 76, I, CPP): duas ou mais infrações,


interligadas, são praticadas necessariamente por duas ou mais pessoas.
Dividida nas seguintes subespécies:

A) Conexão intersubjetiva por simultaneidade (art. 76, I, 1ª parte, CPP): se,


ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido praticadas, ao mesmo
tempo, por várias pessoas reunidas; não há prévio ajuste entre os agentes. Ex:
saque simultâneo a um mesmo estabelecimento comercial, cometido por várias
pessoas, que sequer se conhecem; vários torcedores, sem estarem
previamente combinados, depredam um estádio de futebol.
B) Conexão intersubjetiva por concurso (art. 76, I, 2ª parte, CPP): se,
ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido praticadas por várias
pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o lugar. É hipótese de
concurso de agentes dilatado no tempo e há prévio ajuste entre os agentes. Ex:
A pratica um furto de um documento, B o falsifica futuramente e C, com esse
documento, pratica futuramente estelionato; um grupo de pessoas que comete
vários delitos em uma mesma cidade,mas em bairros diferentes.
C) Conexão intersubjetiva por reciprocidade (an. 76, I, 3ª parte, CPP): se,
ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido praticadas por várias
pessoas, umas contra as outras. Ex: lesões corporais recíprocas. O crime de
rixa não é exemplo desta espécie de conexão, por ser um crime único.

2. Conexão objetiva ou material ou consequencial ou lógica ou teleológica


ou finalista (art. 76, lI, CPP): se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem
sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as outras, ou para conseguir
impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas. Essa conexão· difere
da conexão intersubjetiva por concurso porque, naquela, não há prévio ajuste
entre os agentes, enquanto que nesta há. Ex: A mata B, mas C presencia toda
a execução do crime. A informa para D, seu irmão, a respeito do testemunho
feito por C. D, por conta própria, sem comunicar A, mata C. A conexão objetiva
exige a presença de mais de um agente, diferente da conexão instrumental.

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41
3. Conexão instrumental ou probatória ou processual ou ocasional (art.
76, IlI, CPP) : quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas
circunstâncias elementares influir na prova de outra infração. Ex: A pratica
furto, repassando a res furtiva para B, que, com isso, comete receptação.

A conexão instrumental pode envolver apenas um agente, ex: A mata B e


depois vem a ocultar seu cadáver (arts. 121 e 211 CP).

Já a continência (art. 77 do CPP) ocorre quando um fato criminoso engloba


outro fato desta natureza. As espécies são:
1. Continência em razão do concurso de pessoas ou por cumulação
subjetiva (art. 77, I, CPP): quando duas ou mais pessoas forem acusadas pela
mesma infração.Ex: coautoria em crime de homicídio.
2. Continência em razão do concurso formal de crimes ou por cumulação
objetiva (art. 77, II, CPP}. Quando a infração for cometida nas condições dos
arts. 70, 73, 2ª parte, e 74,2ª parte, do CP (concurso formal de crimes).

Havendo conexão ou continência entre infração de menor potencial ofensivo e


outra infração qualquer, inclusive crime doloso contra a vida, deve haver a
junção dos feitos no juízo comum ou no Tribunal do Júri (e não no Juizado
Especial Criminal), embora, no juízo competente, seja possível a aplicação
dos institutos da transação penal e da composição civil dos danos, nos termos
do art. 60, pu., Lei n° 9.099/95. Segundo posicionamento majoritário da
jurisprudência, esse artigo é constitucional, já que a competência do Juizado
Especial Criminal é competência territorial (e não material), assim, relativa,
que, se desrespeitada, gera nulidade relativa do feito (dependente da
demonstração e prejuízo); esse é o entendimento do STF, já o STJ acredita
ser competência absoluta.

4.5 FORO PREVALENTE (ART. 78 CPP)

Havendo conexão ou continência, impõe-se a junção dos feitos para facilitar a


prova e evitar decisões contraditórias. Na regra geral, se houver duas infrações
conexas ou continentes, cada uma com competência distinta prevista na CF,
será o caso de disjunção do feito, agora, havendo uma infração sem
competência prevista na CF e outra com competência nela prevista, ocorrerá a
junção dos feitos e ambas serãojulgadas neste último foro (foro de atração).

As regras de fixação do foro prevalente estão contidas no art. 78 do CPP:

1. Competência prevalecente do Júri (art. 78, 1, CPP).

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42
2. Jurisdição da mesma categoria (art. 78, lI, CPP): Magistrados da mesma
categoria são os aptos a julgar o mesmo tipo de causa (ex: ambos os juízes
são de primeiro grau). No concurso de jurisdições de mesma categoria,
preponderará a do:

A) Foro onde foi cometida a infração mais grave (art. 78, lI,"a", CPP).
B) Foro onde foi cometido o maior número de infrações (art. 78, lI, "b", CPP): é
aplicada caso a gravidade das infrações seja a mesma.
C) Foro residual estabelecido pela prevenção (art. 78, lI, "c", CPP): na hipótese
de a gravidade e o número de infrações serem os mesmos.

3. Jurisdição de categoria diversa (art. 78, IlI, CPP): Envolve a distinção


entre jurisdição superior (tribunais que podem rever as decisões de outras
cortes e também de juízes monocráticos) e jurisdição inferior (tribunais que não
podem rever as decisões de outras cortes). Prevalece a jurisdição superior ou
de maior graduação. Ex: crime praticado por quem tem prerrogativa de foro em
concurso com quem não tem - o crime será julgado pelo foro por prerrogativa
de função.

A Súmula n° 704 do STF diz: "Não viola as garantias do juiz natural, da ampla
defesa e do devido processo legal a atração por continência ou conexão do
processo do corréu ao foro por prerrogativa de função de um dos
denunciados". Agora, segundo a doutrina (TÁVORA; ALENCAR, 2016, p. 223),
se os dois agentes possuírem foro por prerrogativa de função previsto na CF
deveria ocorrer à disjunção do feito. Mas o STF (Informativo n° 529) entende
diferente, onde nesta hipótese, ambos os agentes devem ser julgados por um
órgão da jurisdição superior. Assim, se um Governador (foro por prerrogativa
de função no STJ) comete crime em concurso com um magistrado federal (foro
por prerrogativa de função no TRF), ambos deverão ser julgados no STJ. E se
um Governador (foro por prerrogativa de função no STJ) comete crime em
concurso com um Senador (foro por prerrogativa de função no STF), ambos
deverão ser julgados igualmente no STF. A posição do STF é a que deve
prevalecer.

O STF em julgado mais recente, entendeu que compete a este tribunal decidir
quanto à conveniência de desmembramento de procedimento de investigação
ou persecução penal, quando houver pluralidade de investigados e um deles
tiver prerrogativa de foro perante a Corte (Informativo nº 750). Por exemplo, se
um agente com prerrogativa de função prevista na CF cometer um crime de
competência do Júri em concurso com quem não tem prerrogativa ocorrerá à
disjunção (JSTF 175/346).

4. Jurisdição comum e especial (art. 78, IV, CPP): A jurisdição comum tem
competência residual. A especial (eleitoral e militar) tem competência expressa.
No caso de concurso entre a jurisdição comum e a especial, prevalece a
especial. Se houver um crime eleitoral e um crime comum, ambos serão

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julgados na Justiça Eleitoral, até porque esta tem competência para o
julgamento dos crimes eleitorais e aqueles que lhes são conexos ou
continentes. Mas essa regra não se aplica para a Justiça Militar, já que
somente julga crimes militares, havendo crime militar em concurso com crime
comum, haverá a disjunção do feito.
4.6 SEPARAÇÃO OBRIGATÓRIA DE PROCESSOS (ART. 79 CPP)

Aqui temos as exceções à regra do art. 78 do CPP. As situações são:

1. Jurisdição comum e jurisdição militar (art. 79, I, CPP): Haverá a disjunção


dos processos. Observar a Súmula 90 do STJ.
2. Justiça comum e Justiça da Infância e Juventude (art. 79, lI, CPP)
3. Superveniência de doença mental (art. 79, § 1º, CPP): exige-se que haja a
suspensão do processo até que se recupere e possa acompanhar a instrução
(art. 152 do CPP).
4. Fuga de um dos réus (art. 79, § 2°, CPP): se um dos réus estiver foragido e
não for possível seu julgamento à revelia9, não haverá a junção dos feitos,
ocorrendo à disjunção ou desmembramento dos processos.
4.7 SEPARAÇÃO FACULTATIVA DE PROCESSOS (ART. 80 CPP)

Situações podem ser arguidas pelas partes ou reconhecidas de ofício pelo juiz:
1. Separação facultativa em caso de tempo ou lugar diferenciado (art. 80, 1ª
parte, CPP)
2. Separação facultativa em virtude do excessivo· número de acusados (art. 80,
2ª parte, CPP)
3. Separação facultativa em face de motivo relevante (art. 80, 3ª parte, CPP).
4.8 PERPETUAÇÃO DA JURISDIÇÃO - PERPETUATIO JURISDICTIONIS

(ART. 81 CPP)

Em regra, o STF entende que deverá haver o desmembramento dos


processos houver corréus sem prerrogativa. Em outras palavras, permanece
no STF apenas a apuração do investigado com foro por prerrogativa de função
e os demais serão julgados em 1ª instância.

9
A situação em que o réu não pode ser julgado à revelia é a “crise de instância”. É a hipótese
p revista, p.ex., no art. 366 do CPP, onde o réu revel citado por edital que não comparecer aos
autos nem constituir advogado não poderá ser julgado, devendo o processo ficar suspenso; a
impossibilidade de julgamento no plenário do Tribunal do Júri de réu preso, salvo se ele e seu
defensor pedirem a dispensa da presença daquele (art. 457, § 2°, do CPP).

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44
No caso de junção dos feitos, se constatada a incompetência do juízo que
exerceu a força atrativa (por absolvição ou desclassificação); por questões de
economia processual (por a prova já ter sido produzida), o crime conexo ou
continente será julgado também pelo juízo de atração, art. 81, caput, do CPP, o
que constitui a perpetuação da jurisdição (perpetuatio jurisdictionis).

Assim, sendo criada uma nova vara criminal em uma determinada comarca, os
processos que versem sobre infração penal que passa a ser de competência
da nova vara não devem ser remetidas para esta, permanecendo na vara
anterior. É bom fazer a leitura do informativo nº 783 do STF, galera!

As exceções a essa regra ocorrem no Tribunal do Júri. Se o juiz singular


profere decisão de absolvição sumária, impronúncia ou desclassificação do
crime doloso contra vida para crime que não é doloso contra a vida, não deve
julgar tal crime e nem o crime conexo ou continente, devendo remeter os autos
ao juízo competente para o seu julgamento (art. 81, pu, do CPP). Outra
hipótese no Júri ocorre se a desclassificação do crime doloso contra a vida é
feita pelo Conselho de Sentença. Nesse caso, igualmente o crime doloso
contra a vida e o crime conexo ou continente deverão ser julgados pelo juiz
presidente (não pelo juiz competente ou pelos jurados), art. 492, § 2°, do CPP.

Agora, se o Conselho de Sentença julga pela absolvição do réu pelo crime


doloso contra a vida, será o próprio Conselho de Sentença que continuará
julgando o crime conexo ou continente.
4.9 AUTORIDADE DA JURISDIÇÃO PREVALENTE (ART. 82 CPP)

Se, apesar da conexão ou continência, forem instaurados processos diferentes,


o juízo prevalente pode avocar os processos instaurados em outros juízos,
desde que não tenha ocorrido sentença definitiva10. Não sendo possível a
reunião dos feitos por já ter sido prolatada sentença definitiva, a unidade dos
processos ocorrerá ulteriormente, para o efeito de soma ou unificação de
penas na fase de execução penal, pelo próprio juiz da execução (art. 66, IlI, a,
da Lei n° 7.210/84 - LEP).
4.10 A PREVENÇÃO COMO CRITÉRIO RESIDUAL DE FIXAÇÃO DA
COMPETÊNCIA (ART. 83 CPP)

A prevenção é critério residual de fixação da competência aplicada quando dois


ou mais juízes poderiam conhecer do caso. Por força dela, deve-se escolher o
juiz que primeiro tomar conhecimento do caso, o que implica naquele que
primeiro tomou algum ato decisório, ainda que essa decisão tenha sido
proferida em sede de inquérito policial (art. 75, pu, CPP), como o decreto de
prisão preventiva.
10
Sentença definitiva é aquela que encerrou a primeira fase processual, mas pode ainda ser
passível de recurso.

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45
Entretanto, as decisões proferidas por magistrados de plantão em dias não
úteis ou relacionadas ao julgamento de habeas corpus interposto contra ato
praticado pelo delegado na fase de inquérito policial não firmam o juízo
prevento para o julgamento da ação penal principal.
4.11 COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA PRERROGATIVA DE FORO (RATIONE
PERSONAE)

É competência que, ao menos em tese, visa privilegiar o cargo ocupado, nunca


a pessoa propriamente dita que o exerce, e só persiste enquanto permanecer
nele.

Se praticou uma infração penal antes de exercer o cargo, terá direito a ser
julgado pelo foro por prerrogativa de função, e se, a ação penal for ajuizada em
1º grau, os autos deverão ser encaminhados ao foro por prerrogativa de
função, sendo válidos todos os atos processuais praticados naquele juízo,
incluído o recebimento da denúncia, não necessitando de ratificação desses
atos no novo juízo criminal (informativo nº 556 do STJ), mas ao encerrar o
cargo, os autos devem retornar ao juízo singular.

ATENÇÃO!!!! Nos autos da Ação Penal 937 ocorreu uma mutação


constitucional, tendo o STF passado a considerar que a prerrogativa de foro do
parlamentar federal limitar-se-á às infrações penais cometidas no exercício do
cargo e em razão dele.

Questão controversa na jurisprudência do STF diz respeito ao efeito que a


renúncia ao cargo público causaria nessa competência. Como regra geral, o
entendimento é de que a renúncia determina o término da competência por
prerrogativa de foro, mas há exceções a essa regra, como pode ser observado
na Ação Penal nº 396/RO e nº 536//MG e nos debates dos informativos nº740 e
754 do STF.

Sempre que a autoridade que possua foro por prerrogativa de função praticar
infração penal, ainda que esteja fora da jurisdição territorial do respectivo
tribunal, deverá ser julgada pelo tribunal de origem. É o caso, p.ex., de um Juiz
de Direito do Estado de Minas Gerais que pratica crime na Bahia - será julgado
pelo TJMG.

Com relação à jurisdição política (julgamento perante órgãos do Poder


Legislativo), vale a pena ler o art. 52, I e lI, da CF (julgamento perante o
Senado Federal); art. 78, § 3°, da Lei n° 1.079/50 (julgamento perante Tribunal
Especial, constituído por 5 deputados estaduais, escolhidos pela Assembleia
Legislativa, e 5 desembargadores, sorteados pelo presidente do Tribunal de
Justiça, que também o presidirá, art. 78, § 3°, da Lei nº 1.079/50); art. 4º do
Decreto-Lei no 201/67 (Julgamento perante a Câmara Municipal).

Algumas situações especiais merecem destaques:

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46
- Os prefeitos, em regra, são julgados pelos TJ (art. 29, X, CF), ainda que
cometam crime doloso contra a vida. Mas, se cometem crime de competência
da JF, são julgados pelos TRFs. E se cometem crime de competência da
Justiça Eleitoral, são julgados pelos TREs, de acordo com a Súmula n° 702 do
STF. Ainda, de acordo com o STF, o mesmo regramento aplicável ao prefeito
em matéria de foro de prerrogativa de função deve prevalecer para a figura do
deputado estadual (STF, HC n° 72207/PA, Pleno. Rei. Min. Néri da Silveira,
DJ 3/3/2000, p. 60). Ocorrendo desvio de verbas públicas por parte dos
prefeitos, o juízo competente é apontado pelas Súmulas 208("Compete à JF
processar e julgar prefeito municipal por desvio de verba sujeita a prestação de
contas perante órgão federal") e 209 do STJ ("Compete à Justiça Estadual
processar e julgar prefeito por desvio de verba transferida e incorporada ao
patrimônio municipal").

- No caso de crime cometido por magistrados e membros do MP, tais


autoridades são sempre julgadas pelo Tribunal a que estão vinculados,
ressalvada apenas a competência da Justiça Eleitoral (art. 96, IIl, CF), estas
autoridades serão julgadas pelo respectivo foro por prerrogativa de função na
hipótese de cometimento de crime doloso contra a vida e não pelo Tribunal do
Júri.
No concurso entre competência por prerrogativa de função e competência do
Tribunal do Júri, como ambas têm sede constitucional, mas aquela
competência é especializada, deve prevalecer sobre esta. Se a competência
por prerrogativa de função é estabelecida pela Constituição estadual,
praticando o agente crime doloso contra a vida, deverá ser julgado pelo
Tribunal do Júri, cuja competência está na CF, Súmula n° 721 do STF. Assim,
se um Secretário de Estado, Vice-governador ou Defensor Público comete
crime de homicídio doloso, será julgado pelo Tribunal do Júri.

- A Perpetuação da jurisdição em caso de foro privilegiado (art. 84, § 1º, CPP)


foi declarado inconstitucional pelo STF no julgamento da ADIN de n. 2.797-2-
DF.

- A extensão do foro privilegiado às ações de improbidade administrativa foi


julgado inconstitucional pelo STF no julgamento da ADIN de n. 2.797-2-DF.

- A exceção da verdade (art. 85 CPP), que é cabível apenas no crime de


calúnia (art. 138, § 3°, CP), segundo o STF, quando interposta contra agente
com foro privilegiado, deverá ser processada em tal foro. Porém, de acordo
com o STJ, o juízo de admissibilidade desta exceção da verdade pode ser feito
pelo juízo da ação penal de origem, que está autorizado a inadmiti-la caso
verificada a ausência dos requisitos de admissibilidade para o processamento
do incidente (Informativo n° 522).

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47
4.12 REGRAS DE APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL NO ESPAÇO

(ARTS. 88 A 91 CPP)

Nas hipóteses de crimes praticados no exterior, sendo caso de aplicação da lei


penal brasileira (extraterritorialidade do art. 7º do CP), será competente o juízo
da capital do Estado onde houver por último residido o acusado. Se nunca tiver
residido no Brasil, será competente o juízo da capital da República (art. 88 do
CPP).

Os crimes praticados a bordo de navios ou aeronaves, inicialmente são de


competência da JF, art. 109, IX, da CF. Todavia, para definição do local em
que tais delitos serão processados, devem ser observadas as regras previstas
nos artigos 89 a 91 do CPP.

Se uma embarcação estrangeira está apenas passando por águas territoriais


brasileiras, caso venha a ocorrer um crime em seu interior, sem reflexos
externos, ou seja, não atingindo a paz, a segurança e a boa ordem brasileira,
mesmo reconhecendo que a infração ocorreu no território nacional, o Brasil
não irá julgá-la, em atenção a o direito de passagem inocente, resguardado no
art. 3° da Lei n° 8.617/1993.

5 QUESTÕES E PROCESSOS INCIDENTES


5.1 QUESTÕES PREJUDICIAIS (ARTS. 92 A 94 CPP)
Questão prejudicial é toda questão relacionada ao mérito da causa, que
necessita ser julgada antes deste. Difere da questão preliminar.

QUESTÃO PREJUDICIAL QUESTÃO PRELIMINAR


Refere-se ao mérito da causa e Refere-se ao próprio processo
necessita ser julgada antes dele.
e seu regular desenvolvimento.

A decisão dessa questão pode A decisão da questão preliminar tem o


interferir no julgamento do mérito da único efeito de impedir o julgamento
causa. do mérito da causa, se reconhecida
pelo magistrado. Não sendo
reconhecida, não interfere no mérito.

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48
É autônoma, pode ser objeto de É absolutamente dependente, já que
processo distinto e ser julgada ou não depende da existência da questão
pelo juízo penal. principal, e julgada pelo juízo penal.

No que diz respeito às questões prejudiciais, o Brasil adota o sistema eclético


ou misto, já que diferencia questões prejudiciais homogêneas (ou não
devolutivas ou impróprias ou imperfeitas) e questões prejudiciais heterogêneas
(ou devolutivas ou próprias ou perfeitas). As questões prejudiciais homogêneas
são as que pertencem e podem ser resolvidas na mesma jurisdição, ou no
mesmo ramo do Direito, referindo-se à matéria da causa principal, que é de
natureza penal, como a decisão sobre a exceção da verdade nos crimes de
calúnia (art. 138, § 3°, CP). Já as questões prejudiciais heterogêneas referem-
se se a outras áreas do direito, devendo ser decididas por outro juízo que não o
penal, como a “decisão sobre a posse, na esfera cível, antes de decidir a
respeito do esbulho, previsto no art. 161, § 1°, lI, CP" (NUCCI, 2008, p. 272).

O Código de Processo Penal trata expressamente da questão prejudicial


obrigatória e da questão prejudicial facultativa. A questão prejudicial obrigatória
(sistema da prejudicialidade obrigatória), art. 92 do CPP, é aquela que impõe a
suspensão do processo penal até que haja decisão prolatada por juízo cível. A
questão deve dizer respeito à existência da infração e não a circunstâncias do
crime, como uma circunstância agravante.

Atenção! A questão prejudicial obrigatória determina apenas a suspensão


do feito criminal, não havendo suspensão do andamento do inquérito
policial. Essa suspensão tem duração indefinida, até que haja decisão
transitada em julgado no juízo cível a respeito da questão controversa.
Há aqui verdadeira crise de instância e o curso do prazo prescricional ficará
suspenso (art. 116, I, do CP).
Essa decisão judicial que determina a suspensão do processo penal está
sujeita a recurso em sentido estrito (art. 581, XVI, do CPP). Já a decisão que
não decreta a suspensão é irrecorrível, cabendo, no entanto, habeas corpus
(TÁVORA; ALENCAR, 2016, p. 257) ou até mesmo correição parcial
(GRINOVER; GOMES FILHO; FERNANDES, 2009, p. 139). Ademais, a
decisão definitiva proferida pelo juízo cível faz coisa julgada no juízo penal.
A questão prejudicial facultativa (prejudicialidade facultativa), art. 93 do CPP, é
a que permite ao juiz criminal, de acordo com seu critério, suspender o
processo, aguardando solução de determinada questão em outra esfera. E ela
somente pode ser decretada após a inquirição de todas as testemunhas
arroladas pelas partes e realizadas outras provas de natureza urgente. Se for
decretada essa suspensão, a decisão pode ser atacada mediante recurso em
sentido estrito (art. 581, XVI, do CPP). A decisão que não decreta a suspensão
é irrecorrível, cabendo, todavia, habeas corpus (TÁVORA; ALENCAR, 2016, p.
257).

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49
O curso do prazo prescricional ficará suspenso (art. 116, I, do CP) e a decisão
definitiva proferida pelo juízo cível faz coisa julgada no juízo penal. O juiz
marcará o prazo da suspensão, que poderá ser razoavelmente prorrogado, se
a demora não for imputável à parte. Expirado o prazo, sem que o juiz cível
tenha proferido decisão, o juiz criminal fará prosseguir o processo, retomando
sua competência para resolver, de fato e de direito, toda a matéria da acusação
ou da defesa (art.93, § 1º, CPP). Consoante o art. 93, § 2°, CPP, do despacho
que denegar a suspensão não caberá recurso.
Tanto no caso da questão prejudicial obrigatória, como na facultativa, a
suspensão do curso da ação penal será decretada pelo juiz, de ofício
(princípio do impulso oficial) ou a requerimento das partes (art. 94 do
CPP).
Por fim, existe ainda a figura da questão prejudicial total e da questão
prejudicial parcial. Será questão prejudicial total se "a solução da questão
prejudicial tiver o condão de fulminar a existência do crime, como, por exemplo,
o reconhecimento da invalidade do casamento anterior fará com o crime de
bigamia"(TÁVORA; ALENCAR, 2016, p. 254-255). E será questão prejudicial
parcial quando a questão prejudicial se limitar "ao reconhecimento de 48
circunstâncias (agravantes, atenuantes, qualificadoras, etc.), deixando
incólume a existência do crime" (TÁVORA; ALENCAR, 2016, p. 255).
5.2 EXCEÇÕES (ARTS. 95 A 111 CPP)
Exceção é a "defesa indireta apresentada por qualquer das partes, com o
intuito de prolongar o trâmite processual, até que uma questão processual
relevante seja resolvida, ou com a finalidade de estancar, definitivamente, o
seu curso, porque processualmente incabível o prosseguimento da ação"
(NUCCI, 2008, p. 277).
O CPP prevê, no art. 95, cinco espécies de exceções: a de suspeição, a de
incompetência de juízo, de litispendência, de ilegitimidade de parte (tanto a
ilegitimidade ad causam como a ilegitimidade ad processum) e de coisa
julgada. Elas deverão ser processadas em autos apartados e, como regra
geral, não suspenderão o andamento da ação penal (art. 111 do CPP).
As exceções podem ser peremptórias (proporcionam a extinção do processo
sem julgamento do mérito, chamada de absolvição de instância, ocorre com as
exceções de litispendência e de coisa julgada) ou dilatórias (proporcionam o
prosseguimento do feito, procrastinando-o, ocorre com as exceções de
suspeição, incompetência do juízo e de ilegitimidade de parte).
A arguição da exceção de suspeição precede qualquer outra, salvo quando
fundada em motivo superveniente (art. 96 do CPP). E as hipóteses de
suspeição do juiz estão previstas no art. 254 do CPP. Havendo a atuação de
juiz suspeito, o feito estará eivado de nulidade relativa.
A suspeição do juiz pode ser arguida espontaneamente pelo próprio
magistrado (de ofício) ou a requerimento das partes. E não cabe recurso contra
a decisão que acolhe a exceção de suspeição, art. 581, III, do CPP. Mas, é
possível o oferecimento de habeas corpus ou de mandado de segurança, se
estiver em jogo, respectivamente, a liberdade de locomoção do réu ou o direito
líquido e certo diverso da liberdade.

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50
A exceção de incompetência (ou declinatioria fori) é a defesa indireta
apresentada pela parte para que seja reconhecida a incompetência relativa
(territorial) do foro onde está tramitando o feito criminal. Pode ser oferecida
inclusive pela acusação, conforme entendimento doutrinário predominante.
Nada impede que a parte se utilize desta exceção para impugnar também a
incompetência absoluta, ela pode apontar o descumprimento de regra de
competência desta natureza em qualquer outra peça processual, inclusive, no
caso do réu, na resposta escrita à acusação.
Não esqueçam que a competência penal é matéria de ordem pública e pode
ser reconhecida de ofício pelo juiz, não se aplicando para o processo penal a
Súmula n° 33 do STJ ("A incompetência relativa não pode ser declarada de
ofício"), que incide apenas no processo civil. Todavia, a doutrina entende que o
magistrado só poderá declarar-se de ofício incompetente até o momento da
absolvição sumária (art. 397, CPP).
Ademais, a exceção de incompetência poderá ser oposta, verbalmente ou por
escrito, no prazo de defesa, sob pena de preclusão (art. 108, caput, do CPP), e
não suspende o curso do processo principal. Antes de o juiz decidir, o MP deve
ser ouvido.49
Contra a decisão que reconhece a incompetência do juízo ou julga procedente
a exceção de incompetência cabe o recurso em sentido estrito, art. 581, lI e III,
do CPP. Já a decisão que julga improcedente a exceção é irrecorrível, podendo
ser impugnada por habeas corpus ou mandado de segurança criminal, a
depender do direito em jogo, ou ainda ser a pontada como preliminar de futura
apelação (TÁVORA; ALENCAR, 2016, p. 261).
Atentem ainda para o fato de que a litispendência, a ilegitimidade de parte e a
coisa julgada podem ser reconhecidas de ofício pelo juiz, por se tratarem de
matérias de ordem pública. E que a decisão que rejeita a exceção de
litispendência é irrecorrível, podendo ser atacada apenas por habeas corpus,
enquanto que a decisão que acolhe esta exceção, devidamente oferecida pela
parte, deve ser combatida por recurso em sentido estrito (art. 581, III do CPP).
Se a litispendência for reconhecida de ofício pelo juiz, o recurso cabível é a
apelação (art. 593, lI do CPP).
A decisão que acolhe a exceção de ilegitimidade de parte pode ser combatida
por recurso em sentido estrito (art. 581, III do CPP). Mas não há recurso
previsto para atacar o não acolhimento desta exceção ou ainda o
reconhecimento da ilegitimidade de parte de ofício pelo juiz, sendo autorizado,
porém, o manejo do habeas corpus ou do mandado de segurança em matéria
criminal, a depender do direito em jogo, bem como inserir tal matéria como
preliminar do recurso de apelação.
Por último, a decisão que acolhe a exceção de coisa julgada (exceptio rei
judicatae) pode ser combatida pelo recurso em sentido estrito (art. 581, III do
CPP). Se a coisa julgada for reconhecida de ofício pelo juiz, o recurso cabível é
a apelação (art. 593, lI do CPP). E se a exceção de coisa julgada não for
acolhida, não há recurso previsto em lei, autorizando-se o oferecimento de
habeas corpus, bem como a arguição desta matéria como preliminar do
recurso de apelação.

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51
5.3 INCOMPATIBILIDADES E IMPEDIMENTOS (ART. 112 CPP)
Marcellus Polastri Lima diz que enquanto a suspeição vem do vínculo ou
relação do juiz com as partes do processo, o impedimento revela o interesse do
juiz em relação ao objeto da demanda, e a incompatibilidade, via de regra, tem
guarida nas Leis de Organização Judiciária, e suas causas estão amparadas
CPP, as incompatibilidades estão no art. 112 do CPP e compreenderão todas
as demais situações que possam interferir na imparcialidade do julgador e que
não estejam arroladas entre as hipóteses de uma e outra. “É o que ocorre em
relação às razões de foro íntimo, não previstas na casuística da lei, mas
suficientes para afetar a imparcialidade do julgador" (OLIVEIRA, 2008, p. 260).
As causas de impedimento estão contidas no art. 252 do CPP e as de
suspeição no art. 254 do CPP.
Contra a decisão judicial que não reconhece a incompatibilidade ou o
impedimento, não há recurso previsto em lei, podendo ser oferecido o habeas
corpus ou o mandado de segurança em matéria criminal, a depender do direito
que esteja em jogo.
5.4. CONFLITO DE JURISDIÇÃO (ARTS. 113 A 1 17 CPP)
Quando o CPP se refere ao conflito de jurisdição está querendo fazer menção
ao conflito de competência. O art. 113 do CPP afirma que as questões
referentes à competência resolver-se-ão não só pela exceção de
incompetência, mas também pelo conflito de jurisdição (conflito de
competência). Esse conflito pode ser positivo (quando dois ou mais órgãos
jurisdicionais afirmam a sua competência para julgar determinado caso) ou
negativo (quando dois ou mais órgãos jurisdicionais negam a sua competência
para julgar determinado caso).
O art. 114 do CPP estabelece que haverá conflito de jurisdição:
I - quando duas ou mais autoridades judiciárias se considerem competentes
(conflito positivo) ou incompetentes (conflito negativo) para conhecer do
mesmo fato criminoso;
lI - quando entre elas surgir controvérsia sobre unidade de juízo, junção ou
separação de processos (em decorrência de conexão e continência).
Relacionado ao tema, o STJ editou as Súmulas 22 e 59: "Não há conflito de
competência entre o Tribunal de Justiça e Tribunal de Alçada do mesmo
Estado-membro" (Súmula n° 22, sendo que o art. 4º da EC n° 45/04 extinguiu
os Tribunais. de Alçada); "Não há conflito de competência se já existe sentença
com trânsito em julgado, proferida por um dos juízos conflitantes" (Súmula n°
59). Além da Súmula n° 428 STJ: "Compete ao Tribunal Regional Federal
decidir os conflitos de competência entre juizado especial federal e juízo federal
da mesma seção judiciária ".
5.5 RESTITUIÇÃO DAS COISAS APREENDIDAS (ARTS. 1 18 A 124 CPP)
Com relação às coisas apreendidas durante a fase investigatória ou até mesmo
judicial para facilitar o esclarecimento do crime e de sua autoria, vale a regra
geral de que, antes de transitar em julgado a sentença final, elas não poderão
ser restituídas enquanto interessarem ao processo (art. 118 do CPP).

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52
Contudo, os bens que serão perdidos em favor da União por efeito da
condenação (art. 91, lI do CP) não poderão ser restituídos, mesmo depois de
transitar em julgado a sentença final, salvo se pertencerem ao lesado ou a
terceiro de boa fé (art. 119 do CPP).
A restituição, quando cabível, poderá ser determinada pela própria autoridade
policial ou pelo juiz, mediante termo nos autos (art. 120 do CPP).
5.6 MEDIDAS ASSECURATÓRIAS (ARTS. 125 A 144 CPP)
As medidas assecuratórias são as providências tomadas, no processo criminal,
para garantir a futura indenização ou reparação à vítima da infração penal, o
pagamento das despesas processuais ou penas pecuniárias ao Estado ou
evitar que o acusado obtenha lucro com a prática criminosa. As espécies de
medidas são: o sequestro, a hipoteca legal e o arresto.
O sequestro (arts. 125 a 133 CPP) consiste em "reter os bens imóveis e móveis
do indiciado ou acusado, ainda que em poder de terceiros, quando adquiridos
durante o curso da ação penal, a fim de se viabilizar a indenização da vítima ou
impossibilitar ao agente que tenha lucro com a atividade criminosa" (NUCCI,
2008, p. 314).
Caberá o sequestro de bens móveis apenas se não couber a medida de busca
e a preensão do art. 240 do CPP (art. 132 do CPP), ou seja, quando esses
bens "não forem produto direto do crime, mas sim proventos do mesmo"
(TÁVORA; ALENCAR, 2016, p. 274). Para o sequestro de bens móveis é
aplicado, no que for com patível, o regramento do sequestro de bens imóveis.
A hipoteca legal (arts. 134 e 135 CPP) é a medida que tem por objetivo
assegurar a indenização do ofendido pela prática do crime e o pagamento das
custas e despesas processuais. Não se trata de confisco, "nem se destina o
apurado pela eventual venda do imóvel à União" (NUCCI, 2008, p. 319). A
especialização da hipoteca legal recai sobre bens imóveis de origem lícita.
Arresto (arts. 236 a 244 CPP) é a medida que visa tornar indisponível bem de
origem lícita, para garantia de futura indenização ao ofendido ou ao Estado.
5.7 INCIDENTE DE FALSIDADE (ARTS. 145 A 148 CPP)
É um incidente voltado à constatação da autenticidade de um documento,
inclusive os produzidos eletronicamente (art. 11, caput e § 2°, Lei 11.419/2006),
inseridos nos autos do processo criminal principal, sobre o qual há
controvérsia. É possível o reconhecimento da falsidade de ofício pelo juiz (art.
147 do CPP). Qualquer que seja a decisão, não fará coisa julgada em prejuízo
de ulterior processo penal ou civil (art. 148 do CPP).
5.8 INSANIDADE MENTAL DO ACUSADO (ARTS. 149 A 154 CPP)
É um procedimento instaurado para apurar a inimputabilidade ou a
semiimputabilidade do acusado, levando em conta a sua capacidade de
compreensão do ilícito ou de determinação de acordo com esse entendimento,
à época da infração penal, ou seja, nos casos do art. 26 do CP.
Autoriza-se a instauração do procedimento quando houver dúvida sobre a
integridade mental do acusado. Ela pode ser feita de ofício pelo juiz ou a
requerimento do MP, do defensor, do curador, ascendente, descendente, irmão

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53
ou cônjuge do acusado (art. 149, caput, do CPP).
É possível ainda a instauração na fase do inquérito policial, por meio de
representação da autoridade policial ao juiz competente (art. 149, § 1°, do
CPP). O procedimento deve ser instaurado por meio de portaria do juiz e, em
regra, o agente não pode se recusar a se submeter ao incidente de insanidade
mental.

6. PROVA
6.1. Introdução
As provas objetivam demonstrar a realidade dos fatos, denotando um tríplice
significado: prova como atividade probatória; prova como resultado; e por fim,
prova como meio. O primeiro consiste no complexo de atos tendentes a formar
a convicção do juiz da causa sobre a existência ou não dos fatos em
discussão; a segunda diz respeito exatamente a convicção formada pelo
magistrado sobre os fatos que lhes foram postos. Por último, a prova é tida
como instrumento probatório para formar a pretendida convicção.
Precisamos, nesse primeiro momento, realizar a distinção do que vem a ser
prova e o que seria “elementos de convicção”.
Na esteira do art. 155 do CPP, prova seria aquela em regra produzida em juízo,
sob o crivo do contraditório e da ampla defesa, supervisionada pelo
magistrado. Já os elementos informativos são aqueles colhidos na fase
investigatória, inexistindo contraditório e ampla defesa, só existindo a atuação
do magistrado quando for efetivamente provocado. Estes têm por finalidade
subsidiar medidas cautelares e auxiliar na convicção do titular da ação penal
sobre a opinio delicti.
Os elementos informativos isoladamente considerados não podem
fundamentar uma decisão condenatória. No entanto, podem acrescer à prova
produzida em juízo e servir como mais um elemento de formação da convicção
do juiz.
6.2. Exceções à prova produzida em juízo
Nosso ordenamento jurídico prevê três possibilidades de provas que
dispensam reprodução sob o crivo do contraditório. São aquelas que, por sua
natureza, são produzidas extrajudicialmente (na maioria das vezes, no inquérito
policial): provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.
As provas cautelares são aquelas em que há um risco de desaparecimento do
objeto da prova em razão do decurso do tempo, em relação às quais o 58
contraditório será diferido. Assim, uma vez realizadas, resta impossibilitado de
realização mais adiante, em juízo. Exemplos: busca e apreensão,
Interceptação telefônica.
As provas não repetíveis são aquelas que não têm como ser coletadas ou
produzidas novamente em razão do desaparecimento da fonte probatória. Sua
reprodução não depende de prévia autorização judicial, sendo
determinada pela própria autoridade policial. O contraditório também será
diferido. Temos aqui a hipótese, v.g., do exame pericial em relação às infrações
penais cujos vestígios possam desaparecer.

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54
Por fim, as provas antecipadas são aquelas produzidas com a observância do
contraditório real, realizado perante a autoridade judiciária, porém, em virtude
de situação de urgência e relevância, em momento processual distinto daquele
legalmente previsto, muitas vezes até mesmo antes do início do processo.
Exemplos: arts. 225 e 366 do CPP.

“A decisão que determina a produção antecipada de provas com base no


artigo 366 do CPP deve ser concretamente fundamentada, não a justificando
unicamento o mero decurso do tempo”.

E quanto às testemunhas policiais? Sabendo que estes lidam diariamente


com inúmeras ocorrências e, com o decurso do tempo, tendem a esquecer dos
fatos, nesse caso, se autoriza o depoimento antecipado? Aqui, temos
divergência jurisprudencial:

O STJ, sob o argumento de que a Para o STF, é incabível a produção


proximidade temporal com a antecipada fundamentada na simples
ocorrência dos fatos pode possibilidade de esquecimento dos
proporcionar uma maior fidedignidade fatos, sendo necessária a
das declarações, além de permitir o demonstração do risco de
registro oficial da versão dos fatos vi perecimento da prova a ser
enciados pelo policial, ADMITIU seu produzida, não servindo a simples
depoimento antecipado (RHC alegação da testemunha ser policial
51.232/DF – informativo 549 e RHC que participou da prisão do acusado
48.073/DF).
(HC 130.038/DF – informativo 806).

Vale a pena conferir os argumentos trazidos pelo STJ, no informativo 595:


segundo o Tribunal Superior, é justificável a colheita antecipada da prova
testemunhal de que trata o art. 366, quando as testemunhas forem policiais
pelo fato de atuarem no constante combate à criminalidade, expondo-os a
inúmeras situações conflituosas com nosso ordenamento jurídico, de modo que
as peculiaridades de cada caso acabam se perdendo na memória pela
frequência com que ocorrem ou pela própria similitude dos fatos. (STJ. 3ª
Seção. RHC 64.086-DF, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel. para acórdão Min.
Rogério Schietti Cruz, julgado em 23/11/2016 (Info 595).

Quanto ao tema, fiquem de olho em recente decisão do STF: “A antecipação


da prova testemunhal prevista no art. 366 do CPP pode ser justificada

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55
como medida necessária pela gravidade do crime praticado e
possibilidade concreta de perecimento, haja vista que as testemunhas
poderiam se esquecer de detalhes importantes dos fatos em decorrência
do decurso do tempo. Além disso, a antecipação da oitiva das
testemunhas não traz nenhum prejuízo às garantias inerentes à defesa.
Isso porque quando o processo retomar seu curso, caso haja algum
ponto novo a ser esclarecido em favor do réu, basta que seja feita nova
inquirição”. STF. 2ª Turma. HC 135386/DF, rel. orig. Min. Ricardo
Lewandowski, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 13/12/2016 (Info
851).

Muito cuidado com esse julgado, pois numa leitura apressada pode-se levar à
conclusão equivocada de que o STF teria entendido no sentido de que a mera
possibilidade de esquecimento dos fatos poderia justificar a antecipação da
prova testemunhal. Não é isso que diz o julgado. No caso, O STF entendeu
que haveria, além do decurso do tempo, outros dados concretos a fundamentar
a decisão, tais como dificuldade de localização das testemunhas e ausência de
endereços residenciais. Portanto, não houve mudança de entendimento por
parte da Suprema Corte, pois a decisão estaria fundamentada em dados
concretos.

6.3. Sistema de Avaliação da Prova adotado

Nosso ordenamento jurídico adotou, regra geral, o Sistema do Livre


Convencimento motivado (ou Persuasão Racional), segundo o qual o
magistrado tem ampla liberdade na valoração da prova constante dos autos.
Aqui, há a necessidade de fundamentação do convencimento, tendo as provas,
pelo menos no plano abstrato, o mesmo valor. É o que se extrai do art. 93, IX
da CF.

Há situações em nosso ordenamento, no entanto, em que vemos resquícios


de outros sistemas de avaliação da prova, são elas:
- Sistema da Íntima Convicção do Magistrado: aqui, o magistrado não está
obrigado a fundamentar seu convencimento e tem ampla discricionariedade
para apreciar as provas, inclusive aquelas que não estejam constantes nos
autos. É o sistema adotado na Segunda fase do procedimento do Tribunal do
Júri, em relação aos jurados.
- Sistema da Prova Tarifada: nesse sistema, determinados meios de prova
têm valor probatório fixado em abstrato pelo legislador, cabendo ao
magistrado tão somente apreciar o conjunto probatório e a ele atribuir o valor
conforme fixado em lei. Visualizamos esse sistema na regra do art. 158 do

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56
CPP (exame de corpo de delito em relação às infrações penais que deixam
vestígios); em relação ao estado das pessoas, em que deverão ser
observadas as restrições estabelecidas na lei civil (exemplos: art. 62 e art.
155, ambos do CPP). Nesse sentido, a Súmula 74, STJ. “Para efeitos penais,
o reconhecimento da menoridade do réu requer prova por documento hábil”.

6.4. Prova Emprestada


Consiste na possibilidade de utilização de prova em processo distinto daquele
em que foi produzida. É sempre realizada pela forma documentada e tem o
mesmo valor daquela originalmente produzida.

Só é possível a utilização da prova emprestada se ela for utilizada contra


acusado que participou do processo original, lá exercendo o contraditório e a
ampla defesa. Assim, já decidiu o STF no sentido da possibilidade de
utilização, através do compartilhamento da prova, de uma interceptação
telefônica autorizada para apuração de determinada infração penal em
processo criminal diverso (STF, HC 128.102/SP). Também já está pacificado o
entendimento segundo o qual os dados obtidos em interceptação telefônica
regularmente autorizada em investigação ou processo criminal, podem ser
usados em processo administrativo a título de prova emprestada.

6.5. Prova Inominada, Atípica, Anômala e Irritual


A prova inominada seria aquela não prevista no ordenamento jurídico. No
entanto, em face do princípio da busca da verdade real que norteia o processo
penal, é possível a sua utilização, desde que não seja ilícita ou imoral.

Por sua vez, prova atípica diz respeito àquela que não tem seu procedimento
previsto em lei. É o caso, v.g., da reconstituição, disposta no art. 7º do CPP. Já
a prova anômala é aquela utilizada para fins diversos daqueles que lhe são
próprios. Aqui, há ofensa ao contraditório e a ampla defesa, eis que não
obedece aos meios legais à obtenção de tal elemento. Há preterição da prova
típica em favor do meio anômalo de obtenção. Do mesmo modo, a prova irritual
é aquela colhida sem a observância do modelo previsto em lei, tratando-se,
pois de prova ilegítima, passível de reconhecimento de sua nulidade.

6.6. Distribuição do ônus da prova


Sintetizando a distribuição do ônus da prova, temos que:

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Ônus da prova da acusação Ônus da prova da defesa
- Existência de fato típico; - Causas excludente da Ilicitude ou
autoria/participação; nexo causal e culpabilidade; causa extintiva da
dolo/culpa. punibilidade ou álibi.

A acusação precisa provar suas alegações de maneira suficiente à produção


de uma CERTEZA na convicção do julgado. Já a defesa, lhe incumbe à
produção de uma DÚVIDA na convicção do magistrado.

6.7. Prova ilegal

A prova ilegal é gênero do qual sobressaem duas espécies: provas obtidas por
meios ilícitos e provas obtidas por meios ilegítimos. Nesse sentido, “a prova é
ilegal toda vez que sua obtenção caracterize violação de normas legais ou de
princípios gerais do ordenamento, de natureza processual ou material. Quando
a proibição for colocada por uma lei processual, a prova será ilegítima (ou
ilegitimamente produzida); quando, pelo contrário, a proibição for de natureza
material a prova será ilicitamente obtida”11.

Prova ilícita Prova ilegítima

Violação à norma de natureza Violação á norma de natureza


material processual

Prova ilícita por derivação: possui inspiração na teoria americana da


chamada “Fruits of the poisonous tree” (Ou Teoria dos frutos da árvore
envenenada), segundo a qual também serão inadmitidas no processo penal
as provas derivadas das ilícitas.

11
GRINOVER, Ada Peregrini et AL. As nulidades no processe penal, RT: São Paulo, 1995, p.
115.

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58
a. Limitações às provas Ilícitas por Derivação
a. Teoria da Fonte Independente: prevista no §1º do art. 157, caso a segunda
prova seja obtida por uma fonte independente da primeira, ou seja, caso não
guarde qualquer relação de dependência com a prova ilícita originária, deve ser
admitida no processo.

Muito embora o §2º do art. 157 do CPP traga expressa menção à teoria da
fonte independente, o conceito ali inserido, na verdade, é o da “Teoria da
Descoberta Inevitável”.

b. Teoria da descoberta inevitável: quando se demonstrar que a prova


derivada da ilícita seria produzida de qualquer maneira, independentemente da
prova ilícita originária, tal prova será admitida. Em outras palavras, será
admitida aquela prova que, por si só, seguindo os trâmites típicos e de praxe,
próprios da investigação ou instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato
objeto da prova.
c. Teoria do Encontro Fortuito de Provas: na hipótese de, no cumprimento
de diligência relativa a um delito, casualmente sejam encontradas provas
pertinentes a outro crime que não esteja na linha de desdobramento normal da
investigação, poderá ser admitida no processo penal.

O encontro fortuito de provas pode ser chamado de “serendipidade”. O


próprio STJ, no HC 282.097/SP, adotou tal nomenclatura. Ademais, “é lícita a
apreensão, em escritório de advocacia, de drogas e armas de fogo, em tese
pertencentes a advogado, na hipótese em que outro advogado tenha
presenciado o cumprimento da diligência por solicitação de policiais, ainda que
o mandado de busca e apreensão tenha sido expedido para apreender arma
de fogo supostamente pertencente a estagiário do escritório – e não ao
advogado – e mesmo que no referido mandado não haja expressa indicação
de representante da OAB local para acompanhamento da diligência”. (STJ,
RHC 39.412/SP – informativo 557).

“CRIME ACHADO”: Fiquem atentos a esta expressão, que é utilizada pelo Min.
Alexandre de Morais em seu Curso de Direito Constitucional e encontrada em
recente decisão, trazida no informativo 869. “Crime achado” nada mais é que
serendipidade ou encontro fortuito das provas. “[...] O Colegiado afirmou que
a hipótese dos autos é de crime achado, ou seja, infração penal

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59
desconhecida e não investigada até o momento em que se descobre o
delito. A interceptação telefônica, apesar de investigar tráfico de drogas,
acabou por revelar crime de homicídio. Assentou que, presentes os requisitos
constitucionais e legais, a prova deve ser considerada lícita. Ressaltou, ainda,
que a interceptação telefônica foi autorizada pela justiça, o crime é apenado
com reclusão e inexistiu o desvio de finalidade”. [...] HC 129678/SP, rel. orig.
Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, 13.6.2017. (HC-
129678)
64
d. Teoria ou Limitação da Mancha Purgada (Limitação dos Vícios Sanados
ou da Tinta Diluída): rechaça-se a aplicação da Teoria da Prova Ilícita por
Derivação caso o nexo causal entre a prova primária e secundária seja
atenuado em virtude do decurso do tempo, de circunstâncias supervenientes
na cadeia probatória ou da vontade de um dos envolvidos em colaborar com as
investigações. Em que pese inexistir precedentes em nosso ordenamento
jurídico, alguns doutrinadores sustentam estar ela prevista no §1º do art. 157
do CPP.

6.8. Provas em Espécie


No que diz respeito às provas em espécie, deve-se proceder a uma leitura
atenta dos artigos 158 ao 250 do código de Processo Penal.

6.9. Prova à luz da jurisprudência


Visto a legislação pertinente, vamos agora fazer os apontamentos
jurisprudenciais mais importantes acerca da matéria:

a. Conversas de whatsapp: O STJ tem entendido pela necessidade de


autorização judicial para se ter acesso às conversas de whastapp mantidas no
celular do suspeito:

5ª Turma do STJ 6ª Turma do STJ

Na ocorrência de autuação de crime Sem prévia autorização judicial, são


em flagrante, ainda que seja nulas as provas obtidas pela polícia
dispensável ordem judicial para a por meio da extração de dados e de
apreensão de telefone celular, as conversas registradas no WhatsApp
mensagens armazenadas no aparelho presentes no celular do suposto autor
estão protegidas pelo sigilo telefônico, de fato delituoso, ainda que o
que compreende igualmente a aparelho tenha sido apreendido no
transmissão, recepção ou emissão de momento da prisão em flagrante. STJ.
símbolos, caracteres, sinais, escritos, 6ª Turma. RHC 51.531-RO, Rel. Min.
imagens, sons ou informações de Nefi Cordeiro, julgado em 19/4/2016

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60
qualquer natureza, por meio de (Info 583).
telefonia fixa ou móvel ou, ainda, por
meio de sistemas de informática e
telemática. STJ. 5ª Turma. RHC
67.379-RN, Rel. Min. Ribeiro Dantas,
julgado em 20/10/2016 (Informativo
593).

b. Corréu advogado: se houver mais de um acusado, cada um dos réus não


terá direito de acompanhar o interrogatório dos corréus. Assim, ainda que o réu
seja advogado e esteja atuando em causa própria, deverá ser aplicada a regra
do art. 191 do CPP, segundo a qual os interrogatórios deverão ser realizados
separadamente (STF, HC. 101.021/SP).
c. Depoimento sem dano: consiste em um procedimento “especial” de oitiva
de criança ou adolescente supostamente vítima de crimes contra a dignidade
sexual. Para tanto, a criança ou adolescente é colocada uma sala reservada,
sendo o depoimento colhido por um técnico (psicólogo ou assistente social),
que faz as perguntas de forma indireta, por meio de uma conversa em tom
mais informal e gradual, à medida que se vai estabelecendo uma relação de
confiança entre ele e a vítima. De outro lado, as partes do processo
acompanham, em tempo real, o depoimento em outra sala por meio de um
sistema audiovisual. Até então sem previsão legal, foi incluído pela Lei
13.431/17, em seu artigo segundo.
d. E-mails baixados no computador: não há que se falar em violação do
sigilo de correspondência eletrônica se há autorização para apreensão e
perícia em computador, no qual estejam armazenados e-mails do investigado,
que são lidos e examinados. Assim, a proteção constitucional se refere à
comunicação de dados e não dos “dados em si mesmos”, ainda que
armazenados em computados (STF, RHC 132.062/RS – informativo 849). e.
Computador de órgão público: não há nulidade se, em mandado de busca e
apreensão, o titular do órgão entrega voluntariamente para ser periciado pela
Polícia o computador utilizado pela chefia e, após esse fato, antes de ser a
perícia iniciada, o magistrado autoriza a diligência na máquina apreendida
(STF, RHC 132.062 – informativo 849).
f. Inobservância da ordem de inquirição de testemunhas: a inobservância
da ordem de inquirição de testemunhas é causa de nulidade relativa e, para
seu reconhecimento, é necessária a arguição em momento oportuno e
comprovação de prejuízo (STJ, HC 212.618/RS).
g. Direito de ficar calado x qualidade de testemunha: caso determinada
pessoa seja convocada para prestar depoimento na qualidade de testemunha
em uma investigação policial e, durante seus esclarecimentos, confessa a
prática de um crime, tal confissão só será válida se a autoridade que presidia o
ato advertiu previamente de que ele não era obrigado a produzir prova contra si

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61
mesmo, tendo o direito de permanecer calado (STF, RHC 122.279/RJ –
informativo 754).
h. Busca veicular: a busca em veículo, via de regra, é equiparada à busca
pessoal, de sorte que não demanda autorização judicial para sua realização,
desde que haja fundada suspeita de que em seu interior estão escondidos
elementos necessários à elucidação dos fatos investigados. No entanto, o
veículo destinado à habitação do indivíduo, v.g., trailers, cabines de caminhão,
barcos etc., são inseridos no conceito jurídico de domicílio, hipótese na qual
será imprescindível a obtenção de mandado judicial para realização da busca
(STF, RHC 117.767/DF – informativo 843).
i. Gravação telefônica realizada pela genitora: na apuração de suposto crime
sexual contra adolescente absolutamente incapaz, admite-se a utilização de
prova extraída de gravação telefônica efetivada a pedido da genitora da vítima,
em seu terminal telefônico, ainda que com o auxílio de técnico de detetive
particular para captação das conversas (STJ, REsp 1.026.605/ES – informativo
543).
j. Interceptação telefônica: ainda que haja posterior consentimento de um dos
interlocutores, não é válida interceptação telefônica realizada sem prévia
autorização judicial (STJ, HC 161.053/SP). Há de ser considerada lícita a
interceptação telefônica autorizada por magistrado “aparentemente
competente” ao tempo da decisão (STF, HC 110.496/RJ – informativo 701).
Ainda, considerando o seu caráter subsidiário, é considerada ilegal a
interceptação telefônica determinada apenas com base em denúncia anônima
(STF HC 108.147/PR).

Provas cautelares, não Nosso ordenamento jurídico prevê três


repetíveis e possibilidades de provas que dispensam
antecipadas reprodução sob o crivo do contraditório, eis
que, por sua natureza, são produzidas
extrajudicialmente: provas cautelares, não
repetíveis e antecipadas.

O STJ, sob o argumento de que a


Testemunha policial e proximidade temporal com a ocorrência dos
antecipação de prova fatos pode proporcionar uma maior
fidedignidade das declarações, além de
permitir o registro oficial da versão dos fatos
vivenciados pelo policial, ADMITIU seu

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62
depoimento antecipado. Para o
STF, é incabível a produção antecipada
fundamentada na simples possibilidade de
esquecimento dos fatos, sendo necessária a
demonstração do risco de perecimento da
prova a ser produzida, não servindo a
simples alegação da testemunha ser policial
que participou da prisão do acusado.

A acusação precisa provar suas alegações


Ônus da prova de maneira suficiente à produção de uma
CERTEZA na convicção do julgado.
Já a defesa, lhe incumbe à produção de uma
DÚVIDA na convicção do magistrado.

Possui inspiração na teoria americana da


Prova ilícita por chamada “Fruits of the poisonous tree” (Ou
derivação Teoria dos frutos da árvore envenenada),
segundo a qual também serão inadmitidas no
processo penal as provas derivadas das
ilícitas.

Serendipidade ou Crime Infração penal desconhecida e não


Achado ou investigada até o momento em que se
Encontro Fortuito descobre o delito.

O STJ tem entendido pela necessidade de


Whatsapp autorização judicial para se ter acesso às
conversas de whastapp mantidas no celular
do suspeito

Consiste num procedimento “especial” de


Depoimento sem dano oitiva de criança ou adolescente
supostamente vítima de crimes contra a
dignidade sexual.

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63
(Questão Inédita): Quanto às provas no Processo Penal e
levando em conta os conhecimentos doutrinários e
jurisprudenciais sobre a matéria, tem-se que está correta a
assertiva:

A) É franqueado o “direito de entrevista” entre o acusado e


seu defensor antes do início da audiência para inquirição
de testemunhas.
B) O ofendido que, em suas declarações prestadas em
juízo, venha a apresentar versões inverídicas acerca do
fato objeto da ação penal não poderá ser responsabilizado
QUESTÃO 1: pelo crime de falso testemunho.
Prova C) Ao acusado é dado o direito ao silêncio, de modo que
este poderá se negar a responder as perguntas
relacionadas à sua pessoa.
D) A confissão qualificada, entendida como aquela em que
o acusado, embora confesse a prática do crime, alega, por
exemplo, ter agido em legítima defesa, não pode ser
utilizada aplicação da atenuante genérica da confissão,
segundo entendimento sedimentado no STJ.

GABARITO COMENTADO:
(A) INCORRETA: O réu tem o direito de conversar
reservadamente com seu advogado antes de seu
interrogatório. No entanto, tal possibilidade não está
contemplada em nossa legislação quando se tratar da
inquirição de testemunhas. Nesse sentido, já foi decidido
pelo STF, no julgamento do HC 112.225/DF – informativo
711.
(B) CORRETA: Muito cuidado aqui, meus amigos! O
ofendido não é ouvido na qualidade de testemunha, mas
sim de declarante. Assim, não responderá pelo crime de
falso testemunho, mas, a depender do caso, pelo crime de
denunciação caluniosa. Nesse sentido, STJ - AgRg no
REsp 1125145/RJ. Inclusive, prevalece o entendimento
segundo o qual a testemunha tem direito ao silêncio.
(C) INCORRETA: o interrogatório é ato dividido em duas
fases: a primeira destina-se a perguntas que dizem

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respeito à pessoa do acusado (sua qualificação de modo
geral). Na segunda fase, pergunta-se sobre assuntos
relacionados ao fato. O direito ao silêncio está reservado a
esse segundo momento.
(D) INCORRETA: Segundo o STJ, a confissão qualificada
poderá ser utilizada para aplicação da atenuante. Nesse
sentido, o HC 283.620/RS, julgado em 20/02/2014.

(Questão Inédita): Quanto às provas em espécie no


Processo Penal, é correto afirmar que:
A) Na impossibilidade de realização do exame de corpo de
delito, por haverem desaparecido os vestígios, a prova
testemunhal poderá suprir-lhe a falta, situação em que a
doutrina convencionou chamar de exame de corpo de
delito
indireto.
B) Na ausência de perito oficial, a perícia técnica pode ser
feita por pessoa idônea, portadora de curso superior
preferencialmente na área específica relacionada à
QUESTÃO 2: natureza do exame.
Prova C) Regra geral, a autópsia deverá ser realizada
imediatamente após o óbito.
D) O interrogatório do réu pode ser visto sob dois
enfoques: é considerado tanto meio de prova, quanto meio
de defesa do réu.
E) Vigora em nosso ordenamento jurídico o sistema
presidencialista quanto à prova testemunhal.

GABARITO COMENTADO:

(A) INCORRETA: A parte inicial está correta (art. 167 do


CPP). No entanto, embora haja doutrina no sentido de que
a regra do citado dispositivo traz a hipótese do exame de
corpo de delito indireto, majoritariamente entende-se que
tal hipótese se dará diante da existência de um laudo,
firmado por perito, atestando a ocorrência do crime, ainda
que realizado sem contato direto com os vestígios da
infração penal.
(B) INCORRETA: na verdade, a perícia técnica é realizada
por um perito oficial e, na sua ausência, por dois peritos,
que prestarão compromisso legal (art. 159 do CPP).

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65
(C) INCORRETA: Segundo o art. 162 do CPP, “a autópsia
será feita pelo menos seis horas depois do óbito, salvo se
os peritos, pela evidência dos sinais de morte, julgarem
que possa ser feita antes daquele prazo, o que declararão
no auto”.
(D) CORRETA: Esse é o atual entendimento quanto à
natureza do interrogatório do réu.
(E) INCORRETA: o sistema presidencialista vigora quando
do interrogatório do réu. . No que diz respeito à prova
testemunhal, adota-se o “Sistema Direto e Cruzado (“Direct
and Cross Examination”), no qual a parte que arrolou a
testemunha será o primeiro a realizar as perguntas
diretamente à testemunha, depois a parte adversa e, por
fim, o juiz, que complementará a inquirição quanto aos
pontos não esclarecidos.

(Questão Inédita): Considere a seguinte situação


hipotética: em uma ação penal, dois indivíduos foram
denunciados sob a acusação de, em coautoria, terem
cometido dois crimes de roubo. Nessas condições,
estão corretas as assertivas, exceto:
A) Poderá o Ministério Público arrolar até 32 testemunhas
na denúncia.
B) Não se computa ao número máximo de testemunhas da
acusação a testemunha referida.
C) Os pais da vítima são ouvidos na qualidade de
declarantes e, portanto, não são prestam o compromisso
legal de dizer a verdade.
D) A inobservância da ordem de inquirição de testemunhas
QUESTÃO 3: é causa de nulidade relativa.
PROVA
E) Não configura quebra de sigilo bancário e fiscal o
acesso do Ministério Público a comprovantes de depósitos
bancários entregues pela ex-esposa de um dos acusados,
que haviam sido confiados à sua pessoa e que demonstra
a destinação do produto das infrações penais.

GABARITO COMENTADO:
(A) CORRETA: quando tratamos de ação penal, vimos que
no procedimento ordinário, o número máximo de
testemunha é de 08 (oito). No entanto, na hipótese de
coautoria, o número de testemunhas será fixado de acordo
com a quantidade de acusados, bem como pela

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quantidade de fatos criminosos dispostos na denúncia.
Assim, sendo dois acusados e dois fatos criminosos,
temos que o Parquet poderá arrolar, nesta hipótese, até 32
(trinta e duas testemunhas).
(B) CORRETA: Testemunha referida é aquela que não foi
arrolada por nenhuma das partes no processo criminal,
mas foi citada em algum depoimento e, em decorrência
disso, foi determinada sua inquirição pelo juiz. Esta
categoria não entra na contagem do número máximo.
(C) INCORRETA: Muito cuidado! Segundo dispõe o art.
208 do CPP, o compromisso de dizer a verdade não se
deferirá em relação aos menores de 14 anos, doentes
mentais e parentes do acusado (aqueles previstos no art.
206 do CPP) e não dos parentes da vítima.
(D) CORRETA: Este tema já é pacificado na doutrina (STJ,
HC 212.618/RS).
(E) CORRETA: É exatamente o que decidiu o STJ no
julgamento do RHC 34.799/PA.

(Questão Inédita): Assinale a alternativa correta:


A) O depoimento sem dano consiste num procedimento
“especial” de oitiva de criança ou adolescente
supostamente vítima de crimes contra a dignidade sexual e
tem encontrado aceitação pelos tribunais superiores.
B) Segundo entendimento do STF, na hipótese de
acusado que, citado por edital, não apresentar resposta à
acusação ou constituir advogado, é possível que o
magistrado, ao suspender o curso do processo e do prazo
prescricional determine a antecipação do depoimento dos
policiais arrolados na denúncia, responsáveis pela prisão
em flagrante do réu.
C) A prova anômala é aquela que não tem seu
procedimento regulamentado por lei, como é o caso da
QUESTÃO 4: reconstituição do crime, porém tem ampla aceitação
PROVA doutrinária e jurisprudencial.
D) Ocorrerá a serendipidade na hipótese de se demonstrar
que a prova derivada da ilícita seria produzida de qualquer
maneira, independentemente da prova ilícita originária, de
tal modo que deverá ser admitida pelo magistrado.
E) Caso determinada pessoa, na qualidade de
testemunha, quando de seu depoimento prestado perante
o delegado de polícia, confesse a prática de um crime, tal
confissão será válida ainda que não tenha sido advertida

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acerca do seu direito ao silêncio.
GABARITO COMENTADO:
(A)CORRETA: O conceito de depoimento sem dano está
correto e, em que pese não ter previsão legal, o STJ,
levando em conta a condição especial de pessoa em
desenvolvimento, tem admitido essa possibilidade (STJ,
RHC 45.589/MT – informativo 556).
(B) INCORRETA: É exatamente o contrário. O STF
inadmite tal possibilidade. Já o STJ, divergindo da
suprema corte, tem aplicado a antecipação da prova no
que serefere ao depoimento dos policiais.
(C) INCORRETA: A prova que não tem seu procedimento
previsto em lei é a prova irritual. Já a prova anômala é
aquela utilizada para fins diversos daqueles que lhe são
próprios, havendo ofensa ao contraditório e a ampla
defesa e, portanto, é inadmitida em nosso ordenamento.
(D) INCORRETA: Como vimos, serendipidade é sinônimo
de encontro fortuito de provas, que também pode ser
chamado de “crime achado”, denominação do Min.
Alexandre de Morais. A assertiva, no entanto, traz o
conceito da Teoria da Descoberta Inevitável.
(E) INCORRETA: caso determinada pessoa seja
convocada para prestar depoimento na qualidade de
testemunha em uma investigação policial e, durante seus
esclarecimentos, confessa a prática de um crime, tal
confissão só será válida se a autoridade que presidia o ato
advertiu previamente de que ele não era obrigado a
produzir prova contra si mesmo, tendo o direito de
permanecer calado.

7 PRISÃO
Pessoal, importante a leitura de todos os artigos referentes a prisão. Aqui,
destacaremos alguns aspectos.
7.1 CONCEITO
A prisão é o cerceamento da liberdade de locomoção, é o encarceramento.
Pode advir de decisão condenatória transitada em julgado, que é a chamada
prisão pena, regulada pelo CP, com o respectivo sistema de cumprimento, que
é verdadeira prisão satisfativa, em resposta estatal ao delito ocorrido, tendo por
título a decisão judicial definitiva. Mas, no transcorrer da persecução penal, é
possível que se faça necessário o encarceramento do indiciado ou do réu,
mesmo antes do marco final do processo.

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7.2 FORMALIDADES DE EXECUÇÃO
- Mandado de prisão:
Em regra, é o título a viabilizar a realização da prisão. Deve atender aos
seguintes requisitos: ser lavrado pelo escrivão e assinado pela autoridade
competente; designar a pessoa que tiver de ser presa pelo nome, alcunha ou
sinais característicos; indicar o valor da fiança; ser dirigido ao responsável pela
execução da prisão.
Será feito em duas vias, uma entregue ao preso (informando dia, hora e o local
da diligência), e a outra fica com a autoridade (devidamente assinada pelo
preso).
Considera-se realizada a prisão em virtude de mandado quando o executor,
identificando-se, apresenta o mandado e intima a pessoa a acompanhá-lo. A
captura poderá ser requisitada, à vista de mandado judicial, por qualquer meio
de comunicação, tomadas pela autoridade, a quem se fizer a requisição, as
precauções necessárias para averiguar a autenticidade desta (art. 299, CPP),
sendo o preso imediatamente apresentado à autoridade que tenha expedido a
ordem.
Buscando ainda maior efetividade à ordem de prisão, o juiz deverá providenciar
o registro do respectivo mandado no banco de dados do Conselho Nacional de
Justiça a ser criado com essa finalidade, conforme o art. 289-A do CPP. O
registro do mandado no banco de dados do CNJ facilitará o cumprimento da
prisão por qualquer agente policial, mesmo fora da jurisdição do juiz
processante, possibilitando ampla publicidade ao mandado e segurança à fonte
de informação sobre a decisão judicial prisional (autenticidade presumida).
- Restrição de horário e inviolabilidade domiciliar: A prisão pode ser
realizada durante o dia ou noite, respeitando-se as restrições relativas à
inviolabilidade domiciliar. Havendo a necessidade de realização da prisão com
ingresso domiciliar, seja a casa de terceiro ou da própria pessoa a ser presa, o
morador será intimado a entregar o preso ou a entregar-se, à vista da ordem de
prisão.
-Prisão em perseguição: É possível que o capturando fuja para ilidir a
diligência, ou para evitar a realização do flagrante, dando início a perseguição.
Nesses casos (art. 290, § 1º, CPP), permite-se que a prisão seja realizada em
outro Município ou Estado. Em caso de flagrante, a autoridade do lugar da
prisão procederá à lavratura do auto, remetendo o mesmo ao juiz local, para
aferição de sua legalidade. Só após, os autos e o preso serão remetidos à
comarca de origem.
-Prisão em território diverso da atuação judicial: Se o infrator estiver fora do
país, a realização da prisão deve atender às leis ou tratados que dizem
respeito à extradição. Já se o mesmo se encontra no território nacional, em
local diverso da jurisdição da autoridade judicial que expediu o mandado,
poderá ser deprecada a sua prisão, devendo constar na precatória o inteiro teor
do mandado. Havendo urgência, pode-se dispensar a expedição de precatória,

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art. 289, § 1º do CPP, podendo o juiz requisitar a prisão por qualquer meio de
comunicação, do qual deverá constar o motivo da prisão, bem como o valor da
fiança se arbitrada.
-Prisão especial: Algumas pessoas, em razão da função desempenhada,
terão direito a recolhimento em quarteis ou a prisão especial, enquanto
estiverem na condição de presos provisórios. O jurado que tenha exercido a
função de forma efetiva não tem mais a prerrogativa de prisão especial, em
face da Lei nº 12.403/2011.
-Emprego de força e uso de algemas: A autoridade policial deve garantir o
cumprimento do mandado de prisão, ou a efetivação da prisão em flagrante. O
uso da força, bem como de algemas, deve ser evitado, salvo quando
indispensável no caso de resistência ou tentativa de fuga do preso. (Deem uma
olhada na súmula vinculante n. 11 do STF).
-Emprego de força e uso de instrumentos não letais (Lei nº 13.060/2014):
Está sob o rótulo “instrumentos de menor potencial ofensivo”, o conjunto de
munições, armas e equipamentos desenvolvidos com o objetivo de preservar
vidas e reduzir, tanto quanto possível, os danos causados à integridade das
pessoas. São instrumentos diversos da arma de fogo, como as algemas, o gás
lacrimogêneo, as bombas de efeito moral, os disparos com paint ball ou com
festim, escudos, cassetetes, entre outros equipamentos e armas que
representem menor potencial de lesividade à integridade do agente de delito.
-Regime disciplinar diferenciado: Inserido pela Lei nº 10.792/2003, tem
cabimento, tanto aos presos provisórios como definitivos.
a) Cabimento: crime doloso constituindo falta grave e ocasionando a subversão
da ordem ou da disciplina interna do estabelecimento; presos que apresentem
alto risco para a segurança do estabelecimento penal ou da sociedade;
fundadas suspeitas de envolvimento ou participação, a qualquer título, em
organizações criminosas, quadrilha ou bando.
b) Consequências: recolhimento em cela individual; visitas semanais de duas
pessoas, sem contar as crianças, com duração de duas horas; saída da cela
por duas horas diárias para banho de sol.
c) Duração: 360 dias, sem prejuízo de repetição da sanção em caso de falta
grave da mesma espécie, respeitado o limite de 1/6 da pena aplicada. Admite-
se o isolamento preventivo do preso faltoso pelo prazo de até 10 dias. É o que
impropriamente se tem chamado de RDD cautelar.
7.3 PRISÃO EM FLAGRANTE
A prisão em flagrante é aquela que ocorre no momento e no local do crime,
como o nome já diz (que vem do termo em latim “flagrare” que significa
queimar/arder), é o crime que está “queimando”, que acabou de ser cometido
ou está sendo. Por isso, essa prisão é uma medida restritiva de liberdade, de
natureza cautelar e processual, com eminente caráter administrativo, que
independe de ordem escrita do juiz.

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70
Com base no art. 290, caput, do CPP, via de regra, a autoridade competente
para a lavratura do auto de prisão em flagrante é a que exerce suas funções no
local em que foi efetuada a prisão, e não a do local em que ocorreu a
consumação da infração penal. Não tendo autoridade no lugar em que se
efetuar a prisão, o preso será apresentado à do lugar mais próximo (aquele
lugar que mais rapidamente se consiga chegar), com fulcro no art. 308 do CPP.
Ressalta-se que o fato de o auto de prisão em flagrante ser lavrado por
autoridade diversa daquela que efetivou a custódia, por si só, não torna a
prisão em flagrante ilegal.

Nos termos do art. 301 do Código de processo Penal “Qualquer do povo


poderá e as autoridades policiais e seus agentes deverão prender quem quer
que seja encontrado em flagrante delito”.
No crime permanente, enquanto não cessar a permanência, a prisão em
flagrante pode ser realizada a qualquer tempo, mesmo que para tanto seja
necessário o ingresso domiciliar.
Nos crimes de ação penal privada e pública condicionada, para a lavratura do
auto de prisão em flagrante, deverá haver a manifestação de vontade do
respectivo legitimado. Se a vítima não puder imediatamente ir à delegacia para
se manifestar, por ter sido conduzida ao hospital ou por qualquer motivo
relevante, poderá fazê-lo no prazo de entrega da nota de culpa. Caso a vítima
não emita autorização, deve a autoridade policial liberar o ofensor, sem
nenhuma formalidade, documentando o ocorrido em boletim de ocorrência,
para efeitos de praxe.
Nas infrações de menor potencial ofensivo, ao invés da lavratura do auto de
flagrante, temos a realização do termo circunstanciado, desde que o infrator
seja imediatamente encaminhado aos juizados especiais criminais ou assuma
o compromisso de comparecer, quando devidamente notificado. Caso
contrário, o auto será lavrado, recolhendo-se o mesmo ao cárcere, salvo se for
admitido a prestar fiança, nas infrações que a comportem, ou se for adequada
aplicação de medida cautelar diversa da prisão, artigos 282 e 319 do CPP.

O sujeito passivo é aquele que foi detido em situação de flagrância, pode ser
qualquer pessoa. As exceções são:
a) o Presidente da República somente poderá ser preso com o advento de
sentença condenatória transitada em julgado;
b) os diplomatas estrangeiros podem desfrutar da possibilidade de não ser
presos em flagrante, a depender dos tratados e convenções internacionais12;

12
O diplomata estrangeiro, em território nacional, não pode ser sujeito passivo da prisão em
flagrante. A imunidade dos diplomatas obsta a aplicação da lei brasileira, em homenagem à
soberania do seu país de origem (Estado acreditante). A imunidade se estende aos familiares
do diplomata que com ele convivam e desde que não sejam nacionais do estado acreditado.
No que concerne aos seus funcionários, que tenham nacionalidade do país de origem
(empregados natos), haverá limitação da jurisdição brasileira toda vez que tal implicar
interferência demasiada no “desempenho das funções da Missão”. O cônsul tem imunidade
restrita aos crimes funcionais no exercício de suas atribuições consulares (TÁVORA;
ALENCAR, 2016, p. 1301).

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c) os membros do Congresso Nacional só podem ser presos em flagrante por
crime inafiançável. O informativo nº 135 do STF que entende que há perda da
imunidade parlamentar para congressista que se afasta para exercer cargo no
Poder Executivo;
d) os magistrados só poderão ser presos em flagrante por crime inafiançável,
devendo a autoridade fazer a imediata comunicação e apresentação do
magistrado ao Presidente do respectivo Tribunal;
e) os membros do MP só poderão ser presos em flagrante por crime
inafiançável, devendo a autoridade fazer em 24 horas a comunicação e
apresentação do membro do MP ao respectivo Procurador-Geral;
f) os advogados somente poderão ser presos em flagrante, por motivo de
exercício da profissão, em caso de crime inafiançável, sendo necessária a
presença de representante da OAB, nas hipóteses de flagrante em razão do
exercício profissional, para a lavratura do auto, sob pena de nulidade;
g) “Nenhum adolescente será privado de sua liberdade senão em flagrante de
ato infracional ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária
competente” (art. 106, Lei nº 8.069/1990);
h) o motorista que presta pronto e integral socorro à vítima de acidente de
trânsito não será preso em flagrante, nem lhe será exigida fiança (art. 301,
CTB).

Por fim, a audiência de custódia é a providência que decorre da imediata


apresentação do preso ao juiz. Deve-se seguir imediatamente após à
efetivação da providência cerceadora de liberdade. É “interrogatório de
garantia” que torna possível ao autuado informar ao juiz suas razões sobre o
fato a ele atribuído. Serve como meio de controle judicial acerca da licitude das
prisões.

Sem previsão no CPP, a audiência de custódia encontra amparo em diplomas


internacionais ratificados no Brasil (Pacto de São José da Costa Rica) e
destina-se especialmente ao preso em flagrante, para que seja apresentado ao
juiz competente, dentro do prazo de 24 horas. Cabível também para os casos
de prisão temporária e preventiva.

7.4 PRISÃO TEMPORÁRIA


É disciplinada na lei nº 7960/89 e cabível apenas no inquérito policial, tem
natureza cautelar. Decretada pelo juiz, mediante requerimento do MP ou
representação da autoridade policial, não pode ser decretada de ofício pelo
juiz, pressupondo provocação.
Prazo determinado: até 5 dias, prorrogáveis por mais 5 dias em caso de
comprovada e extrema necessidade. No caso de crimes hediondos e
assemelhados, quais sejam, tráfico, terrorismo e tortura (parágrafo 4º, art. 2º,
Lei nº 8.072/1990): o prazo é de 30 dias, prorrogáveis por mais 30 dias, em
caso de comprovada e extrema necessidade.

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É essencial a presença do fumus commissi delicti e do periculum libertatis para
que a medida seja decretada, aplicando-se o critério de proporcionalidade
estampado nos incisos I e II, do art. 282, do CPP. O art. 1º da Lei nº
7.960/1989 trata da matéria, admitindo a temporária nas seguintes hipóteses:
- Imprescindibilidade para as investigações do inquérito policial (inciso I).
-Indiciado não tem residência fixa ou não fornece elementos para sua
identificação (inciso II).
- Quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova admitida na
legislação penal, de autoria ou participação do indiciado nos seguintes crimes
relacionados (inciso III) (homicídio doloso; sequestro ou cárcere privado; roubo;
extorsão; extorsão mediante sequestro; estupro; atentado violento ao pudor;
rapto violento; epidemia com resultado de morte; envenenamento de água
potável ou substância alimentícia ou medicinal qualificado pela morte; quadrilha
ou bando; genocídio, em qualquer de suas formas típicas; tráfico de drogas;
crimes contra o sistema financeiro; os crimes hediondos e assemelhados, quais
sejam, tráfico, tortura e terrorismo, mesmo os não contemplados no rol do art.
1º da Lei nº 7.960/1989, por força do § 4º do art. 2º da Lei nº 8.072/1990 (Lei
de Crimes Hediondos), são suscetíveis de prisão temporária).
7.5 PRISÃO PREVENTIVA
A natureza jurídica é de medida cautelar de natureza pessoal. Os pressupostos
(art. 282 e 312 do CPP) são fumus comissi delicti (prova da existência do crime
+ indícios suficientes de autoria) e o periculum libertatis (art. 312, caput). A
prisão preventiva é movida pela cláusula rebus sic stantibus, assim, se a
situação das coisas se alterar, revelando que a medida não é mais necessária,
a revogação é obrigatória, podendo, se adequado e necessário, aplicar medida
cautelar em substituição, de acordo com o autorizativo do § 5º, do art. 282,
CPP (redação da Lei nº 12.403/2011). Deve o magistrado revogar a medida, de
ofício, ou por provocação, sem a necessidade de oitiva prévia do Ministério
Público.
Não há prazo determinado e, o indeferimento do pedido de prisão preventiva
cabe recurso em sentido estrito (art. 581, V, CPP) e a decretação de prisão
preventiva é irrecorrível, cabendo, entretanto, Habeas Corpus (art. 647 do
CPP).
As hipóteses de decretação são:
• Garantia da ordem pública
• Garantia da ordem econômica
• Conveniência da instrução criminal
• Assegurar a aplicação da lei penal
• Descumprimento de medida cautelar pessoal anteriormente imposta (arts.
312, pu, e 282, § 4º, CPP).
• Magnitude da lesão causada (art. 30, Lei nº 7.492/86).
As infrações que comportam a prisão preventiva (art. 313 do CPP) são:
• Crimes dolosos com pena máxima cominada maior que 4 anos (inc. I)
• Quando houver dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta não
fornecer elementos suficientes para esclarecê-la (art. 313. p.u, CPP)
• Reincidente em crime doloso, respeitado o período depurador (inc. II)

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• Em caso de violência doméstica e familiar contra a mulher, criança,
adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a
execução das medidas protetivas de urgência (inc. III).

O Marco Legal da Primeira Infância (Lei n. 13.257/16), ao alterar as hipóteses


autorizadoras da concessão de prisão domiciliar, permite que o juiz substitua a
prisão preventiva pela domiciliar quando o agente for gestante ou mulher com
filho até 12 anos de idade incompletos (artigo 318, IV e V, CPP). STF. 1
Turma. HC 136408/SP.

7.6 LIBERDADE PROVISÓRIA E FIANÇA

A liberdade provisória é um estado de liberdade, circunscrito em condições e


reservas, que impede ou substitui a prisão cautelar, atual ou iminente.

Espécies:
- Liberdade provisória obrigatória: Suplantada pela Lei nº 12.403/2011, a
liberdade provisória obrigatória constituía-se em direito incondicional do infrator
nos crimes em que a lei previa que ele “se livrasse solto”.
- Liberdade provisória permitida: É admitida quando não estiverem presentes
os requisitos de decretação da preventiva, e quando a lei não vedar
expressamente e terá seu cabimento de acordo com a reforma do CPP (Lei nº
12.403/11).
- Liberdade provisória vedada: É vedada quando couber prisão preventiva e
nas hipóteses que a lei estabelecer expressamente a proibição.
Agora, em tese, todo delito é afiançável. Só não o será nas hipóteses da
seletividade expressa de proibição para sua concessão, como ocorre em
alguns crimes (racismo, tortura, tráfico, terrorismo, hediondos, delitos
cometidos por grupos armados civis ou militares e contra o Estado Democrático
de Direito – art. 323, CPP) ou nos caso em que, embora não haja previsão de
inafiançabilidade, o não cabimento da fiança decorre de impedimento legal a
sua concessão, seja por motivos de quebra da fiança, de prisão civil ou militar,
seja quando presentes os requisitos da preventiva (art. 324, CPP).

É possível ainda a concessão de liberdade provisória sem fiança e sem


qualquer obrigação, segundo o sistema do CPP instituído pela Lei nº
12.403/2011. Trata-se da possibilidade de o juiz entender desnecessária ou
inadequada a imposição de qualquer medida cautelar do art. 319, CPP, ou a
imposição de outra obrigação, concedendo a liberdade provisória simples, não
vinculada a qualquer condição.

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Há ainda a liberdade provisória sem fiança e com vinculação (a obrigações ou
a outras medidas cautelares não prisionais do art. 319, CPP), é a liberdade
provisória condicionada, apesar de não exigir fiança. O infrator permanecerá
em liberdade, submetendo-se às exigências legais.
A fiança é uma caução, uma prestação de valor, para acautelar o cumprimento
das obrigações do afiançado. Já a liberdade provisória mediante fiança é o
direito subjetivo do beneficiário, que atenda aos requisitos legais e assuma as
respectivas obrigações, de permanecer em liberdade durante a persecução
penal. Pode haver cumulação, inclusive, com as demais medidas cautelares
diversas da prisão (art. 319, CPP).
Busca-se com a fiança obter a presença do agente a todos os atos da
persecução penal, evitando-se os efeitos deletérios do cárcere preliminar. Se
houver condenação, objetiva-se também garantir a execução da pena. Ocorrida
condenação, o valor prestado (dinheiro ou objetos dados em garantia) ainda vai
servir para um nobre papel, que é a indenização da vítima, o pagamento das
custas processuais, da prestação pecuniária e de eventual multa, caso o réu
seja condenado (art. 336, caput, CPP). Mesmo que ocorra a prescrição da
pretensão executória (art. 110 do CP), o valor da fiança seguirá este destino
(parágrafo único). Ela pode ser prestada de duas maneiras: por depósito ou por
hipoteca, desde que inscrita em primeiro lugar. O depósito pode ser de
dinheiro, pedras, objetos ou metais preciosos, e títulos da dívida federal,
estadual ou municipal (art. 330, CPP). Já os bens dados em hipoteca estão
definidos no art. 1.473 do Código Civil. O valor da fiança é:
a) de 1 a 100 salários mínimos, quando se tratar de infração cuja pena privativa
de liberdade, no grau máximo, não for superior a 4 anos;
b) de 10 a 200 salários mínimos, quando o máximo da pena privativa de
liberdade cominada for superior a 4 anos.

Ademais, é bom ficar ciente que:


Súmula 697, STF:A proibição de liberdade provisória nos processos por crimes
hediondos não veda o relaxamento da prisão processual por excesso de prazo.
STJ HC 239544-PI - "Conforme entendimento pacífico do Superior Tribunal de
Justiça, a eventual ilegalidade da prisão cautelar por excesso de prazo para
conclusão da instrução criminal deve ser analisada à luz do princípio da
razoabilidade, sendo permitido ao juízo, em hipóteses excepcionais, a
extrapolação dos prazos previstos na lei processual penal".

8. PROCEDIMENTO

8.1 Procedimento Especial do Tribunal do Júri


8.1.1 Pronúncia
O art. 413, caput, do CPP, dispõe que, estando convencido da materialidade do
fato e da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação, deve o
magistrado pronunciar o acusado fundamentadamente.

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A decisão de pronúncia encerra um juízo de admissibilidade da acusação de
crime doloso contra a vida, permitindo o julgamento pelo Tribunal do Júri
apenas quando houver alguma viabilidade de haver condenação do acusado.
Há na pronúncia um mero juízo de prelibação, por meio do qual o juiz admite
ou rejeita a acusação, sem qualquer valoração acerca do mérito.

Para que o acusado seja pronunciado, deve o juiz estar convencido da


materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de autoria ou de
participação. Quanto à materialidade, portanto, necessita-se de um juízo de
certeza. Já quanto à autoria, há necessidade indícios suficientes, ou seja, ainda
que não venha a ser exigido um juízo de certeza, é necessária a presença de,
no mínimo, algum elemento de prova, ainda que indireto, que possa autorizar
pelo menos um juízo de probabilidade acerca da autoria ou da participação do
agente no fato delituoso. Apesar de não exigir certeza, exige-se certa
probabilidade e não apenas mera possibilidade.

Vale relembrar que a pronúncia tem natureza jurídica de decisão


interlocutória mista não terminativa, isto é, ela não julga o mérito (não
condena nem absolve), apenas põe fim a uma fase procedimental e não
encerra o processo.

8.1.1.1 Excesso de linguagem e anulação da pronúncia


Deve o juiz, quando da decisão de pronúncia, ter extrema cautela para que não
o faça nos mesmos moldes de uma sentença condenatória, ou seja, deve o
magistrado se limitar a apontar a prova da existência do crime e os indícios
suficientes de autoria ou participação, valendo-se de termos sóbrios e
comedidos, para que não venha a influenciar os jurados, tendo em vista que a
estes será entregue cópia da decisão de pronúncia quando do Conselho de
Sentença, conforme art. 472, parágrafo único, do CPP.
Quando o juiz abusa da linguagem, proferindo a pronúncia sem moderação,
temos a chamada “eloquência acusatória”, que é causa de nulidade absoluta
da decisão, acarretando o seu desentranhamento dos autos e a necessidade
de proferir uma nova decisão de pronúncia. Esse é o entendimento dos
Tribunais Superiores:

DIZER O DIREITO
Anulação da pronúncia por excesso de linguagem
A sentença de pronúncia deve ser fundamentada. No entanto, é necessário
que o juiz utilize as palavras com moderação, ou seja, valendo-se de termos
sóbrios e comedidos, a fim de se evitar que fique demonstrado na decisão que
ele acredita firmemente que o réu é culpado pelo crime Se o magistrado

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exagera nas palavras utilizadas na sentença de pronúncia, dizemos que houve
um “excesso de linguagem, também chamado de “eloquência acusatória”.
O excesso de linguagem é proibido, porque o CPP afirma que os jurados irão
receber uma cópia da sentença de pronúncia e das decisões posteriores que
julgaram admissível a acusação e do relatório do processo (art. 472, parágrafo
único, do CPP). Assim, o se juiz se excede nos argumentos empregados na
sentença de pronúncia, o jurado irá ler essa decisão e certamente será
influenciado pela opinião do magistrado.
Havendo excesso de linguagem, o que o Tribunal deve fazer?
Deverá ANULAR a sentença de pronúncia e os consecutivos atos
processuais, determinando-se que outra seja prolatada.
Em vez de anular, o Tribunal pode apenas determinar que a sentença seja
desentranhada (retirada do processo) ou seja envelopada (isolada)? Isso já
não seria suficiente, com base no princípio da economia processual?
NÃO. Não basta o desentranhamento e envelopamento. É necessário anular a
sentença e determinar que outra seja prolatada. Isso porque, como já dito
acima, a lei determina que a sentença de pronúncia seja distribuída aos
jurados. Logo, não há como desentranhar a decisão, já que uma cópia dela
deverá ser entregue aos jurados. Se essa cópia não for entregue, estará
sendo descumprido o art. 472, parágrafo único, do CPP. STF. 1ª Turma. RHC
127522/BA. 2015. Info 795. STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1.442.002/AL.
2015. Info 561.

8.1.1.2 Intimação da pronúncia


De acordo com o art. 420, do CPP, a intimação da decisão de pronúncia será
feita: I - pessoalmente ao acusado, ao defensor nomeado e ao MP; II – ao
defensor constituído, ao querelante e ao assistente do MP, por publicação no
órgão incumbido da publicidade dos atos judiciais da comarca, ou, em sua
ausência, diretamente pelo escrivão, por mandado, ou via postal com
comprovante de recebimento, ou por qualquer outro meio idôneo.
Já o art. 420, em seu parágrafo único, dispõe que será intimado por edital o
acusado solto que não for encontrado. Desta forma, se o acusado, intimado por
edital, não comparecer, será declarada sua revelia e o processo seguirá 9
normalmente o seu curso, sendo plenamente possível a realização do
julgamento sem a sua presença, conforme art. 457, caput, do CPP.

DIZER O DIREITO

Decisão de pronúncia e intimação do réu por edital


O art. 420, parágrafo único, do CPP, com a redação dada pela Lei
11.689/2008, estabeleceu a possibilidade de a intimação da decisão de

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pronúncia ser feita por edital ao acusado que não for encontrado.
De acordo com o STJ, aludido dispositivo, por ter índole processual, deve ser
aplicado imediatamente, mesmo nos crimes ocorridos antes de sua vigência.
No entanto, tal norma processual penal, não pode ser aplicada aos fatos
anteriores à Lei 9.271/1996, em que foi decretada a revelia do réu, uma vez
que tal compreensão implicaria a sua submissão a julgamento pelo Tribunal do
Júri sem que sequer se tenha certeza da sua ciência acerca da acusação que
pesa sobre si.
Assim, não é admitido que a intimação da decisão de pronúncia seja realizada
por edital quando o processo houver transcorrido desde o início à revelia do
réu
que também fora citado por edital.
STJ. 6ª Turma. HC 226.285/MT. 2014. Info 537)

8.2 Impronúncia e provas novas


O art. 414, do CPP, o acusado deve ser impronunciado pelo juiz quando este
não se convencer da materialidade do fato ou da existência de indícios
suficientes de autoria ou de participação. Trata-se de decisão interlocutória
mista terminativa, pois não aprecia o mérito; põe fim a uma fase procedimental,
bem como acarreta a extinção do processo antes do final do procedimento.
Desta forma, vale lembrar que enquanto não ocorrer a extinção da punibilidade,
poderá ser formulada nova denúncia ou queixa se houver prova nova (art. 414,
parágrafo único, do CPP).
As provas novas que são capazes de autorizar o oferecimento de nova
denúncia são aquelas que produzem alteração no panorama probatório.
Existem duas espécies: i) substancialmente novas: são as inéditas;
desconhecidas até então; ii) formalmente novas: são aquelas que já são
conhecidas e até mesmo já foram utilizadas, porém ganharam uma nova
versão. Ex: testemunha que tinha sido ameaçada quando do primeiro
depoimento e depois altera sua versão. Caso venham a surgir novas provas,
será necessária nova peça acusatória e instauração de novo processo criminal
contra o acusado, devendo tramitar no mesmo juízo, visto que este estará
prevento.
8.3 Desclassificação
8.3.1 Infração conexa
O art. 81, em seu parágrafo único, do CPP, dispõe que, se o juiz vier a
desclassificar a infração ou impronunciar ou absolver sumariamente o acusado,
de maneira que exclua a competência do júri, remeterá o processo ao juízo
competente. É uma exceção a regra da perpetuatio jurisdictionis do art. 81, em
seu caput, uma vez que ao juiz não caberá o processo e julgamento do crime
conexo quando impronunciar, absolver sumariamente ou desclassificar a
infração de sua competência, devendo encaminhar ao juízo competente.

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8.4 Suspeição, impedimento e incompatibilidade dos jurados
O CPP, em seu art. 448, enumera as pessoas que são impedidas de servir no
mesmo Conselho. Importante destacar que se aplica aos jurados os
impedimentos, a suspeição e as incompatibilidades dos juízes togados. O art.
499, do CPP, por sua vez, dispõe que também não poderá servir o jurado que:
a) tiver funcionado em julgamento anterior do mesmo processo,
independentemente da causa determinante do julgamento posterior
(Súmula 206 do STF: “É nulo o julgamento ulterior pelo júri com a participação
de jurado que funcionou em julgamento anterior do mesmo processo”); b) no
caso do concurso de pessoas, houver integrado o Conselho de Sentença
que julgou o outro acusado; c) tiver manifestado prévia disposição para
condenar ou absolver o acusado. Convém, ainda, mencionar, que os jurados
que forem excluídos por impedimento, suspeição ou incompatibilidade serão
considerados para a constituição do número legal exigível para a realização da
sessão, qual seja, 15 jurados. (art. 463, CPP).
8.5 Jurisprudência relacionada ao Tribunal do Júri
Possibilidade de extensão de decisão de desclassificação adotada por
júri em favor de corréu: ocorrido o desmembramento da ação penal que
imputava aos coacusados a prática de homicídio doloso tentado decorrente da
prática de “racha”, a desclassificação em decisão do Tribunal do Júri do crime
de homicídio doloso tentado para o delito de lesões corporais graves ocorrida
em benefício do correu (causador direto da colisão da que decorreram os
ferimentos suportados pela vítima) é extensível, independentemente de recurso
ou nova decisão do Tribunal Popular, a outro corréu (condutor do outro
veículo), investido de igual consciência e vontade de participar da mesma
conduta e não responsável direto pelas citadas lesões. (STJ. 6ª Turma. RHC
67.383/SP. 2016. Info 583).

Leitura decisão de pronúncia durante os debates no júri e argumento de


autoridade: o art. 478, I, do CPP afirma que, durante os debates, as partes
não poderão, sob pena de nulidade, fazer referências à decisão de pronúncia
ou às decisões posteriores que julgaram admissível a acusação como
argumento de autoridade para beneficiar ou prejudicar o acusado. Isso não
significa, contudo, que qualquer referência ou leitura da decisão acarretará,
obrigatoriamente, a nulidade do julgamento. Na verdade, somente haverá
nulidade se a leitura ou as referências forem feitas como argumento de
autoridade para beneficiar ou prejudicar o acusado.
Assim, por exemplo, não haverá nulidade se o MP simplesmente ler, no
Plenário, trecho da decisão do Tribunal que manteve a sentença de pronúncia
contra o réu, sem fazer a utilização do artifício do “argumento de autoridade”.
(STF. 2ª Turma. RHC 120598/MT. 2015. Info 779).

Referência ou leitura de sentença prolatada em desfavor do corréu: a


leitura, pelo Ministério Público, da sentença condenatória de corréu proferida
em julgamento anterior não gera nulidade de sessão de julgamento pelo
conselho de sentença.

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79
Segundo decidiu o STF, o art. 478, I, não proíbe que se leia a sentença
condenatória de corréu no mesmo processo. Logo, não é possível falar que
houve descumprimento da regra prevista nesse dispositivo. (STF. 1ª Turma.
RHC 118006/SP. 2015. Info 774).

Desclassificação de crime pelo conselho de sentença: a desclassificação


do crime doloso contra a vida para outro de competência do juiz singular
promovida pelo Conselho de Sentença em plenário do Tribunal do Júri,
mediante o reconhecimento da denominada cooperação dolosamente distinta
(art. 29, §2º, do CP), não pressupõe a elaboração de quesito acerca de qual
infração menos grave o acusado quis participar. Afastada pelos jurados a
intenção do réu em participar do delito doloso contra a vida em razão da
desclassificação promovida em plenário, o juiz natural da causa não é mais o
Tribunal do Júri, não competindo ao Conselho de Sentença o julgamento do
delito, e sim ao juiz presidente do Tribunal do Júri, nos termos do que preceitua
o art. 492, §1º, primeira parte do CPP. (STJ. 6ª Turma. REsp 1.501.270/PR.
2015. Info 571).

(Ano: 2016. Banca: CESPE. Órgão: TJ-AM. Prova:


Juiz Substituto)

Com base no entendimento pacificado dos tribunais


superiores, é correto afirmar que o excesso de
linguagem comprovadamente existente na decisão de
pronúncia ocasiona:

A) a proibição da entrega de cópia da decisão de


pronúncia aos jurados que eventualmente a
requisitarem.
B) a nulidade absoluta da decisão de pronúncia e dos
atos processuais subsequentes, independentemente
de demonstração de prejuízo causado ao réu.
QUESTÃO 1: C) a nulidade relativa da decisão de pronúncia e dos
PROCEDIMENTO DO atos processuais subsequentes, se demonstrado
TRIBUNAL DO JÚRI prejuízo ao réu.
D) a proibição da leitura da decisão de pronúncia pela
acusação durante o julgamento no plenário do júri,
para evitar que os jurados sejam influenciados.
E) o desentranhamento e envelopamento da decisão
de pronúncia, providência adequada e suficiente para
cessar a ilegalidade e contemplar o princípio da
economia processual.

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80
GABARITO COMENTADO:
CORRETA: Letra B. O comentário da alternativa
correta responde todas as outras. A questão trata
sobre o tema da eloquência acusatória, que ocorre
quando o juiz, na decisão de pronúncia, usa termos
imoderados, imparciais. Quando o juiz abusa da
linguagem, proferindo a pronúncia sem moderação,
temos a chamada “eloquência acusatória”, que é
causa de nulidade absoluta da decisão, acarretando o
seu desentranhamento dos autos e a necessidade de
proferir uma nova decisão de pronúncia. Esse é o
entendimento dos Tribunais Superiores: "Não basta o
desentranhamento e envelopamento. É necessário
anular a sentença e determinar que outra seja
prolatada. Isso porque, como já dito acima, a lei
determina que a sentença de pronúncia seja
distribuída aos jurados. Logo, não há como
desentranhar a decisão, já que uma cópia dela
deverá ser entregue aos jurados. Se essa cópia não
for entregue, estará sendo descumprido o art. 472,
parágrafo único, do CPP."

9. SENTENÇA
9.1 Emendatio Libelli
De acordo com o art. 383, do CPP, o juiz, sem modificar a descrição do fato
contida a denúncia ou queixa, poderá atribuir-lhe definição jurídica diversa,
ainda que, em consequência, tenha de aplicar pena mais grave. Da mesma
forma, o art. 418 do CPP, aplicável a pronúncia, dispõe que o juiz poderá dar
ao fato definição jurídica diversa da constante da acusação, embora o acusado
fique sujeita à pena mais grave.
Na emendatio libelli, o juiz apenas corrige uma classificação mal formulada, ou
seja, altera a capitulação feita pelo autor quando da inicial acusatória,
mantendo inalterada a base fática da imputação.
Há três formas de emendatio libelli:
a) Por defeito de capitulação: o juiz profete sentença condenatória ou
decisão de pronúncia em conformidade exata com o fato descrito na peça
acusatória, porém reconhecendo a subsunção do fato delituoso à classificação
distinta daquela que constou na inicial.
b) Por interpretação diferente: a imputação fática constante da peça
acusatória também não é alterada por ocasião da sentença ou pronúncia,
porém o juiz faz interpretação diversa daquela feita pelo MP ou pelo querelante
acerca da tipificação do fato delituoso. Ex. MP entende que é estelionato; juiz
entende ser furto qualificado pela fraude.

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c) Por supressão de elementar ou circunstância: aqui, o magistrado atribui
nova capitulação ao fato imputado, em razão de a instrução probatória revelar
a ausência de elementar ou circunstância descrita na peça acusatória.
Observa-se que haverá certa alteração fática, mas não para acrescentar (como
na mutatio libelli), mas sim para subtrair elementares e/ou circunstâncias do
fato descrito. Ex. processo penal referente ao crime de furto qualificado pelo
emprego de chave falsa. Tal circunstância não resta comprovada. Assim, é
possível que o magistrado condene o acusado por furto simples, sem que
possa arguir qualquer violação à correlação entre acusação e defesa.
O entendimento dominante é que, em regra, a emendatio libelli deve ser feita
pelo juiz na fase da sentença. Assim, o recebimento da inicial acusatória não é
o momento adequado para a apreciação do verdadeiro dispositivo legal
violado, até mesmo porque o magistrado não fica vinculado à classificação do
crime feita na denúncia.

DIZER O DIREITO

Momento processual em que deve ser realizada a emendatio libelli


Segundo a jurisprudência majoritária do STF e do STJ, é a sentença o
momento processual oportuno para a emendatio libelli, a teor do art. 383, do
CPP. Vale destacar, contudo, que existe importante corrente doutrinária e
jurisprudencial que afirma ser possível, excepcionalmente, a correção do
enquadramento típico logo no ato de recebimento da denúncia ou queixa em
dois casos:
para beneficiar o réu;
para permitir a correta fixação da competência ou do procedimento a ser
adotado. O órgão jurisdicional (juiz ou Tribunal) não tem competência para
substituir-se ao Ministério Público, titular da ação penal pública, e retificar
(consertar) a classificação proposta na denúncia.
Por esse motivo, o entendimento dominante é que, em regra, o momento
adequado para a emendatio libelli é na prolação da sentença e não no
recebimento da denúncia. Isso se justifica, ainda, pela posição topográfica do
art. 383, do CPP (que está no título que trata sobre sentença) e pelo fato de
que o acusado se defende dos fatos imputados, e não da classificação que lhe
atribuem. De forma excepcional, jurisprudência e doutrina afirmam que é
possível antecipar o momento da emendatio libelli nas hipóteses em que a
inadequada subsunção típica: macular a competência absoluta; o adequado
procedimento ou restringir benefícios penais por excesso de acusação. STJ.
5ª Turma. HC 258.581. 2016.

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82
O art. 420, parágrafo único, do CPP, com a redação dada pela Lei
11.689/2008, estabeleceu a possibilidade de a intimação da decisão de
pronúncia ser feita por edital ao acusado que não for encontrado.
De acordo com o STJ, aludido dispositivo, por ter índole processual, deve ser
aplicado imediatamente, mesmo nos crimes ocorridos antes de sua vigência.
No entanto, tal norma processual penal, não pode ser aplicada aos fatos
anteriores à Lei 9.271/1996, em que foi decretada a revelia do réu, uma vez
que tal compreensão implicaria a sua submissão a julgamento pelo Tribunal do
Júri sem que sequer se tenha certeza da sua ciência acerca da acusação que
pesa sobre si.
Assim, não é admitido que a intimação da decisão de pronúncia seja realizada
por edital quando o processo houver transcorrido desde o início à revelia do réu
que também fora citado por edital. STJ. 6ª Turma. HC 226.285/MT. 2014. Info
537)
9.2 Mutatio libelli x discordância do Ministério Público
A mutatio libelli ocorre quando, durante o curso da instrução processual, surge
prova de elementar ou circunstância não contida na peça acusatória. Aqui,
haverá uma alteração da base fática da imputação, havendo a necessidade de
aditamento da peça acusatória, com posterior oitiva da defesa e renovação da
instrução processual. Assim dispõe o art. 384, caput, do CPP: encerrada a
instrução probatória, se entender cabível nova definição jurídica do fato, em
consequência de prova existente nos autos de elemento ou circunstância da
infração penal não contida na acusação, o Ministério Público deverá aditar a
denúncia ou queixa, no prazo de 5 dias, se em virtude desta houver sido
instaurado o processo em crime de ação pública, reduzindo-se a termo o
aditamento, quando feito oralmente. O art. 384, §1º, por sua vez, dispõe que,
não procedendo o órgão do Ministério Público ao aditamento, aplica-se o art.
28 do CPP (encaminhamento dos autos à Chefia do Ministério Público).

Remetidos os autos ao PGJ pelo magistrado, duas são as possibilidades: a) se


o PGJ oferecer aditamento (ou designar outro órgão do MP para oferece-lo), o
processo seguirá seu curso normal, com a conseqüente oitiva da defesa no
prazo de 5 dias e ulterior juízo de admissibilidade do aditamento; b) havendo
insistência do PGJ em não proceder ao aditamento, ao juiz nada restará fazer
senão julgar o acusado pela imputação originária que constou da denúncia.

9.3 Intimação da sentença e fluência do prazo recursal

Art. 392. A intimação da sentença será feita:


I - ao réu, pessoalmente, se estiver preso;
II - ao réu, pessoalmente, ou ao defensor por ele constituído, quando se livrar
solto, ou, sendo afiançável a infração, tiver prestado fiança;
III - ao defensor constituído pelo réu, se este, afiançável, ou não, a infração,
expedido o mandado de prisão, não tiver sido encontrado, e assim o certificar o
oficial de justiça;

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83
IV - mediante edital, nos casos do no II, se o réu e o defensor que houver
constituído não forem encontrados, e assim o certificar o oficial de justiça;
V - mediante edital, nos casos do no III, se o defensor que o réu houver
constituído também não for encontrado, e assim o certificar o oficial de justiça;
VI - mediante edital, se o réu, não tendo constituído defensor, não for
encontrado, e assim o certificar o oficial de justiça.
§ 1o O prazo do edital será de 90 dias, se tiver sido imposta pena privativa de
liberdade por tempo igual ou superior a um ano, e de 60 dias, nos outros casos.
§ 2o O prazo para apelação correrá após o término do fixado no edital, salvo se,
no curso deste, for feita a intimação por qualquer das outras formas
estabelecidas neste artigo.

Em regra, o acusado deve ser intimado pessoalmente da sentença. Se estiver


preso em outra unidade da federação, caberá ao juiz expedir carta precatória,
sendo vedada a intimação por edital. Portanto, a intimação por edital somente
será feita na hipótese de não ter sido possível sua localização. Lembrando que
o prazo desse edital será de 90 dias (se tiver sido imposta pena privativa de
liberdade por tempo igual ou superior a 1 ano) e de 60 dias (nos demais
casos).
Se houver necessidade de intimação do acusado por edital, o prazo para
apelação correrá somente ao término do prazo fixado no edital, salvo se, no
curso deste, for feita intimação pessoal (art. 392, §2º, do CPP).
Apesar de ser obrigatória a intimação do acusado, não há disposição no
sentido de haver necessidade de a intimação da sentença condenatória vir
acompanhada de um termo de apelação. Nesse sentido, é o STJ: “no momento
da intimação pessoal do acusado acerca da sentença condenatória ou de
pronúncia, a não apresentação do termo de recurso ou de renúncia não gera
nulidade do ato. Essa exigência não está prescrita em lei, de modo que a sua
ausência não pode ser invocada como hábil a anular o ato de intimação. Dessa
forma, a ausência desse documento não é causa de nulidade, especialmente
quando há advogado constituído que, embora regularmente cientificado, não
interpôs o recurso voluntário”. (5ª Turma. RHC 61.365/SP. Info 579).

9.4 Princípio da identidade física do juiz e mitigações


O art. 329, §2º, do CPP, dispõe que o juiz que presidir a instrução deverá
proferir sentença. Esse princípio proporciona o indispensável contato entre o
acusado e o juiz, assim como a colheita imediata da prova por aquele que,
efetivamente, irá proferir a decisão. O CPP não fez ressalvas quanto à
aplicação desse dispositivo.

No entanto, pensa-se ser possível a aplicação subsidiária do CPC (art. 132,


CPC/73), no sentido de que esse princípio será ressalvado quando o
magistrado estiver convocado, licenciado, afastado por qualquer motivo,
promovido ou aposentado, casos em que os autos passarão ao seu sucessor.

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84
Pois bem, o Novo CPC não contemplou o princípio da identidade física do juiz.
E, diante da iminente revogação do art. 132, do CPC/73 e o silêncio do Novo
CPC acerca das hipóteses que autorizam a mitigação ao princípio em comento,
questiona-se se tais ressalvas continuam válidas para o processo penal.
Parece que, sem embargo da iminente revogação do art. 132, do CPC, as
ressalvas à aplicação do princípio da identidade física do juiz continuam
plenamente válidas, pois em todas elas, há a cessação de sua competência
para o julgamento dos feitos por ele anteriormente instruídos. Desta forma,
ante o afastamento do magistrado responsável pela instrução, é perfeitamente
possível que seu sucessor, se entender necessário, determine a repetição das
provas já produzidas.
Ademais, convém destacar que o princípio da identidade física do juiz não
impede a realização de atos instrutórios por meio de carta precatória ou por
videoconferência.
9.5 Decretação (ou manutenção) da prisão preventiva ou das medidas
cautelares diversas da prisão na sentença condenatória

Com as mudanças introduzidas pela Lei 11.719/2008 e pela Lei 12.403/11, a


prisão como efeito automático da sentença condenatória encontra-se revogada,
logo, o recolhimento à prisão não é mais efeito da sentença condenatória
recorrível e que a apelação não mais poderá ser declarada deserta se o
condenado fugir depois de haver apelado.
De acordo com o art. 387, §1º do CPP, na sentença condenatória, o juiz
decidirá fundamentadamente sobre a manutenção ou, se for o caso, imposição
de prisão preventiva ou de outra medida cautelar, sem prejuízo do
conhecimento da apelação que vier a ser interposta.
Observe-se que continua sendo possível a decretação da prisão preventiva ou
a imposição de medida cautelar diversa da prisão no momento da sentença
condenatória recorrível, porém deve o magistrado fundamentar a presença de
seus pressupostos, tanto quando mantém a medida anteriormente decretada,
como quando a determina no momento da sentença.
9.6 Jurisprudência relacionada à sentença

Mutatio libelli e desclassificação do tipo penal doloso para a forma


culposa do crime. Quando na denúncia não houver descrição sequer implícita
de circunstância elementar da modalidade culposa do tipo penal, o magistrado,
ao proferir a sentença, não pode desclassificar a conduta dolosa do agente –
assim descrita na denúncia – para a forma culposa do crime, sem a
observância do regramento previsto no art. 384, caput, do CPP. (STJ. REsp
1.388.440/ES. 2015. Info 557).

Limites à fundamentação per relationem. É nulo o acórdão que se limita a


ratificar a sentença e a adotar o parecer ministerial, sem sequer transcrevê-los,
deixando de afastar as teses defensivas ou de apresentar fundamento próprio.
(STJ. HC 214.049/SP. 2015. Info 557).

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Irretroatividade do art. 387, IV, do CPP, com a redação dada pela Lei
11.719/2008. A regra do art. 387, IV, do CPP, que dispõe sobre a fixação, na
sentença condenatória, de valor mínimo para reparação civil dos danos
causados ao ofendido, aplica-se somente aos delitos praticados depois da
vigência da Lei 11.719/2008, que deu nova redação ao dispositivo. (STJ. REsp
1.193.083/RS. 2013. Info 528).

Reexame necessário de sentença absolutória sumária em procedimento


do tribunal do júri após entrada em vigor da Lei 11.689/2008. Após a
entrada em vigor da Lei 11.689/2008, em 8 de agosto de 2008, o reexame
necessário de decisão absolutória proferida em procedimento do Tribunal do
Júri que estiver
pendente de apreciação não deve ser examinado pelo Tribunal ad quem,
mesmo
que o encaminhamento da decisão absolutória à instância superior tenha
ocorrido
antes da entrada em vigor da referida lei. (STJ. HC 278.124/PI. 2015. Info 574).

Princípio da identidade física do juiz. O princípio da identidade física do juiz


não é absoluto. Este princípio deve ser analisado à luz das regras específicas
do art. 132, do CPC/73. Por conseguinte, nos casos de convocação, licença,
promoção ou outro motivo que impeça o juiz que tiver presidido a instrução de
sentenciar o feito, os autos passarão ao sucesso do magistrado. (STJ. 6ª
Turma. HC 219.482/SC. 2012).

Nulidade da intimação por edital de réu preso. Preso o réu durante o curso
do prazo da intimação por edital da sentença condenatória, essa intimação fica
prejudicada e deve ser efetuada pessoalmente. Se o réu está preso durante o
prazo do edital, ele deverá er intimado pessoalmente da sentença
condenatória, na forma do art. 392, I, do CPP, restado prejudicada a intimação
editalícia. (STJ. 6ª Turma. RHC 45.584/PR. 2016. Info 583).

(Ano: 2015. Banca: CESPE. Órgão: TJ-DFT.


Prova: Juiz de Direito Substituto)

No que diz respeito à nulidade, à sentença e à coisa


julgada no processo penal, assinale a opção correta.
A) A homologação de transação penal realizada no
QUESTÃO 1: âmbito de juizado especial criminal faz coisa julgada
SENTENÇA material, motivo pelo qual o descumprimento de
suas cláusulas impossibilita o oferecimento de
denúncia.

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B) A sentença penal absolutória que reconhece a
extinção da punibilidade em razão da decadência
não faz coisa julgada no juízo cível.
C) Proferida sentença determinando a extinção de
processo pelo reconhecimento da perempção, é
prevista na legislação a possibilidade de intentar
nova ação penal pelo mesmo fato no prazo de até
seis meses, contados do dia em que o querelante
tomar conhecimento de quem seja o autor do crime.
D) Não é possível arguir nulidade de sessão de
julgamento do tribunal do júri em que o advogado do
acusado abandone o plenário após a sustentação
oral firmada pela acusação.
E) Anulado o julgamento do tribunal do júri em razão
de a decisão ser manifestamente contrária às
provas dos autos, jurados da sessão anterior
poderão participar da sessão ulteriormente
convocada.

GABARITO COMENTADO:
CORRETA: Letra B, responde também à alternativa
C. A questão correta trouxe a literalidade do artigo
67 do CPP, que assim dispõe:

Art. 67 CPP. Não impedirão igualmente a


propositura da ação civil:
I - o despacho de arquivamento do inquérito ou das
peças de informação;
II - a decisão que julgar extinta a punibilidade;
III - a sentença absolutória que decidir que o fato
imputado não constitui crime.

INCORRETAS:
A) A questão é incorreta e viola, inclusive, o texto de
súmula vinculante. Isto porque, a sentença que
homologa a transação penal não faz coisa julgada,
conforme afirma a alternativa. “Súmula Vinculante
35: A homologação da transação penal prevista no
artigo 76 da Lei 9.099/1995 não faz coisa julgada
material e, descumpridas suas cláusulas, retoma-se
a situação anterior, possibilitando-se ao Ministério
Público a continuidade da persecução penal
mediante oferecimento de denúncia ou requisição
de inquérito policial.”.
D) No processo penal a defesa técnica é
indispensável, sob pena de nulidade absoluta.
Nestes termos: “Súmula 523 STF: No processo

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penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta,
mas a sua deficiência só o anulará se houver prova
de prejuízo para o réu.”.
E) É entendimento sumulado do STF que a
participação de jurado que participou da sessão
anterior é causa de nulidade, sob pena de violação
ao princípio da imparcialidade: “Súmula 206 STF: É
nulo o julgamento ulterior pelo júri com a
participação de jurado que funcionou em julgamento
anterior do mesmo processo.”.

10. RECURSOS EM GERAL


Os recursos são considerados como meio de desdobramento do direito de
ação, que consistem em ato voluntário de impugnação das decisões judiciais,
na mesma relação processual, e possuem o objetivo de esclarecer, integrar,
reformar ou requerer a nulidade de uma decisão.

Os recursos são pautados pelo princípio da voluntariedade, de maneira que a


parte decide sobre a interposição se assim lhe convier. Porém, a lei processual
penal excepciona a regra, afirmando que caberá a remessa necessária, em
que o juiz interporá os recursos de ofício, nos seguintes casos:

I - da sentença que conceder habeas corpus;


II - da que absolver desde logo o réu com fundamento na existência de
circunstância que exclua o crime ou isente o réu de pena, nos termos do art.
411.
Sobre o tema é a súmula 160 STF: “É nula a decisão do tribunal que acolhe,
contra o réu, nulidade não arguida no recurso da acusação, ressalvados os
casos de recurso de ofício.”
Não serão prejudicados os recursos que, por erro, falta ou omissão dos
funcionários, não tiverem seguimento ou não forem apresentados dentro do
prazo.

O Ministério Público não poderá desistir de recurso que haja interposto. O


recurso poderá ser interposto pelo Ministério Público, ou pelo querelante, ou
pelo réu, seu procurador ou seu defensor.

No processo penal, os recursos são amparados pelo princípio da fungibilidade,


de maneira que, salvo comprovada a má-fé, um recurso interposto de forma
inadequada não prejudicará o seu conhecimento, em respeito à
instrumentalidade das formas.

Sobre o tema o STJ firmou a seguinte tese: “aplica-se o princípio da


fungibilidade à apelação interposta quando cabível o recurso em sentido estrito,
desde que demonstrada a ausência de má-fé, de erro grosseiro, bem como a
tempestividade do recurso.”

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88
Além disso, em recursos interpostos exclusivamente pela defesa, vigora o
princípio da non reformatio in pejus, não podendo ser piorada a situação do
recorrente na decisão do tribunal. Neste sentido, os tribunais superiores
afirmam que é possível que o Tribunal, no julgamento de um recurso contra a
sentença, faça emendatio libelli. No entanto, se o recurso era exclusivo da
defesa, o tribunal não pode causar uma piora na situação do réu, já que isso
significa reformatio in pejus.

Porém, não caracteriza reformatio in pejus a decisão de Tribunal que, ao julgar


recurso de apelação exclusivo da defesa, mantém a reprimenda aplicada pelo
magistrado de primeiro grau, porém com fundamento diverso daqueles
adotados na sentença.

Requisitos de admissibilidade (juízo de prelibação): os pressupostos


recursais devem ser preenchidos no momento da interposição do recurso e, no
âmbito processual penal, continua vigorando o juízo de admissibilidade tanto
em primeiro, quanto em segundo grau. Assim, são requisitos de
admissibilidade:

Cabimento: o recurso deve estar prescrito em lei. Decorrente do princípio da


Legalidade, é a lei que determina a possibilidade ou não de impugnar-se uma
determinada decisão.

Adequação: o recurso deve ser adequado à decisão que se pretende reformar.


É importante ressaltar, quanto à adequação do recurso interposto, que, de
acordo com o princípio da fungibilidade recursal, interpondo o recurso
inadequado, mas estando o próprio recurso no prazo daquele que seria o
correto, não havendo a má-fé e não havendo erro grosseiro, o recurso é
conhecido.

Tempestividade: a interposição do recurso deve ser feita dentro do prazo


previsto em lei. A tempestividade é comprovada no do protocolo do recurso,
nos termos da súmula 428 do STF: Não fica prejudicada a apelação entregue
em cartório no prazo legal, embora despachada tardiamente.

Interesse Jurídico: Interesse em recorrer significa dizer que a lesão ou


ameaça ao direito que não foi reparada pela decisão somente poderá ser
convalescida se houver, novamente, intervenção do juiz, agora, em segundo
grau de jurisdição.

Jurisprudência sobre recursos:


A execução provisória de acórdão penal condenatório proferido em
julgamento de apelação, ainda que sujeito a recurso especial ou extraordinário,
não compromete o princípio constitucional da presunção de inocência.
No âmbito do STJ, mesmo após a vigência do CPC/15, em controvérsias que
versem sobre matéria penal ou processo penal, a contagem do prazo para a

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89
interposição de agravo contra decisão monocrática de relator continua sendo
feita de forma contínua (artigo 798 do CPP).
No âmbito de recurso exclusivo de defesa, o Tribunal não pode agravar a
reprimenda imposta ao condenado, ainda que reconheça equívoco aritmético
ocorrido no somatório das penas aplicadas.
É cabível a interposição de habeas corpus para que seja analisada a
legalidade de decisão que determina o afastamento de prefeito do cargo,
quando a medida for imposta conjuntamente com a prisão.
É exigível procuração com poderes especiais para que seja oposta exceção
de suspeição por réu representado pela Defensoria Pública, mesmo que o
acusado esteja ausente do distrito da culpa.
O tribunal pode, a qualquer momento e de ofício, desconstituir acórdão de
revisão criminal que, de maneira fraudulenta, tenha absolvido o réu, quando, na
verdade, o posicionamento que prevaleceu na sessão de julgamento foi pelo
indeferimento do pleito revisional.
A ausência de interposição de recurso pelo defensor, por si só, não é
suficiente para comprovar eventual prejuízo sofrido pelo réu com conseqüente
nulidade processual.
10.1 Dos recursos em espécie:
10.1.1 Apelação
A apelação é recurso, expresso nos artigos 593 e seguintes do Código de
Processo Penal, que possui a função de rescindir a sentença proferida, no caso
de erro in judicando, ou anulá-la, nos casos de erro in procedendo. O recurso é
cabível nas hipóteses de:
I- Sentença definitiva de condenação ou absolvição proferida por juiz singular;
II- Das decisões definitivas, ou com força de definitivas, proferidas por juiz
singular nos casos em que não é cabível Recurso em Sentido Estrito;
III- Das decisões do tribunal do júri quando: ocorrer nulidade posterior à
pronúncia; for a sentença do juiz presidente contrária à lei expressa ou à
decisão dos jurados; houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou
da medida de segurança; quando a decisão dos jurados for manifestamente
contrária a prova dos autos.
O recurso também é cabível nas hipóteses de absolvição sumária e
impronúncia, no procedimento do tribunal do júri (artigo 416 do CPP), bem
como nas sentenças proferidas nas ações que tramitam sob o rito da Lei
9.099/95 (artigo 89). A apelação será interposta no juízo a quo, no prazo de
cinco dias, tendo após a assinatura do termo o prazo de oito dias para
oferecer as razões, que serão encaminhadas ao Tribunal. Nos processos que
envolvem contravenção penal, as razões devem ser oferecidas em um prazo
de três dias.
Quanto ao prazo para apresentação de razões, os tribunais superiores
entendem ser dilatório, não se aplicando a hipótese de não conhecimento de
recurso por isso. Neste sentido, é a jurisprudência do STJ: “Este Superior
Tribunal de Justiça tem entendimento firmado, em consonância com o
Supremo Tribunal Federal, que a apresentação das razões da apelação fora

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90
do prazo constitui mera irregularidade que não obsta o conhecimento do
apelo.”.
No caso de divergência entre o condenado e o seu defensor quanto ao desejo
de recorrer, deve prevalecer a vontade de quem detém os conhecimentos
técnicos e visualiza a viabilidade recursal, prestigiando o princípio do duplo
grau de jurisdição e da ampla defesa.

A apelação pode ser interposta em face de toda a decisão ou apenas de parte


dela, nos termos do artigo 599 do CPP. Na eventualidade de a parte não limitar
a matéria pelo qual está impugnando, presume-se que recorreu de toda a
decisão, salvo nos procedimentos do tribunal do júri, pois, de acordo com a
Súmula 713 do STF, possuem limitação: a apelação do júri tem função
vinculada e o Tribunal não pode fugir do dispositivo normativo aplicado no
preâmbulo pelo apelante.

Neste sentido, de acordo com o STJ, o efeito devolutivo amplo da apelação


criminal autoriza o Tribunal de origem a conhecer de matéria não ventilada nas
razões recursais, desde que não agrave a situação do condenado.

É direito de todas as partes a escolha do defensor que irá formular sua defesa
técnica. Neste sentido, é dever do juízo intimar o acusado sempre que o seu
defensor renunciar ao mandato, sob pena de violação ao direito de escolha.
Esse é o teor da Súmula 708 do STF: “É nulo o julgamento da apelação se,
após a manifestação nos autos da renúncia do único defensor, o réu não foi
previamente intimado para constituir outro.”.

Súmula 347 STJ: o conhecimento de recurso de apelação do réu independe


de sua prisão.
Súmula 709 STF: salvo quando nula a decisão de primeiro grau, o acórdão
que provê o recurso contra a rejeição da denúncia vale, desde logo, pelo
recebimento dela.
Súmula 705 STF: a renúncia do réu ao direito de apelação, manifestada sem a
assistência do defensor, não impede o conhecimento da apelação por este
interposta.
Súmula 431 STF: é nulo o julgamento de recurso criminal, na segunda
instância, sem prévia intimação, ou publicação da pauta, salvo em habeas
corpus.

10.1.2 Recurso em Sentido Estrito


É o meio de impugnação das decisões judiciais com caráter de interlocutórias
e, excepcionalmente, se sentenças, com previsão no artigo 581 do CPP. O
interposto no prazo de cinco dias, e, após a interposição, o recorrente terá
dois dias para a apresentação de razões.

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91
Referido recurso permite ao próprio juiz prolator da decisão impugnada rever
sua decisão. Dessa forma, interposto o recurso o juiz terá o prazo de dois dias
para reformar a sua decisão ou sustentar as razões pela qual ela se mantém.

Em que pese a redação original do art. 581, algumas ressalvas merecem ser
feitas. Inicialmente, o termo “despacho” é equivocado, já que como dito acima o
RESE é cabível contra decisões interlocutórias e, eventualmente, contra
sentenças. Além disso, alguns dos incisos do artigo citado não mais são
impugnáveis por meio do referido recurso, pois as decisões proferidas no
âmbito da execução penal são atacáveis por meio de agravo em execução.
Dessa forma, foram revogados pela Lei de Execução Penal os incisos: XI, XII,
XIII, XIX, XX, XI, XX, XXIII e XIV.

Art. 581. Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença:


I - que não receber a denúncia ou a queixa;
II - que concluir pela incompetência do juízo;
III - que julgar procedentes as exceções, salvo a de suspeição;
IV – que pronunciar o réu; (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
V - que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar inidônea a fiança, indeferir
requerimento de prisão preventiva ou revogá-la, conceder liberdade provisória
ou relaxar a prisão em flagrante; (Redação dada pela Lei nº 7.780, de
22.6.1989)
VI - (Revogado pela Lei nº 11.689, de 2008)
VII - que julgar quebrada a fiança ou perdido o seu valor;
VIII - que decretar a prescrição ou julgar, por outro modo, extinta a punibilidade;
IX - que indeferir o pedido de reconhecimento da prescrição ou de outra causa
extintiva da punibilidade;
X - que conceder ou negar a ordem de habeas corpus;
XI - que conceder, negar ou revogar a suspensão condicional da pena;
XII - que conceder, negar ou revogar livramento condicional;
XIII - que anular o processo da instrução criminal, no todo ou em parte;
XIV - que incluir jurado na lista geral ou desta o excluir;
XV - que denegar a apelação ou a julgar deserta;
XVI - que ordenar a suspensão do processo, em virtude de questão prejudicial;
XVII - que decidir sobre a unificação de penas;
XVIII - que decidir o incidente de falsidade;
XIX - que decretar medida de segurança, depois de transitar a sentença em
julgado;
XX - que impuser medida de segurança por transgressão de outra;
XXI - que mantiver ou substituir a medida de segurança, nos casos do art. 774;
XXII - que revogar a medida de segurança;
XXIII - que deixar de revogar a medida de segurança, nos casos em que a lei
admita a revogação;
XXIV - que converter a multa em detenção ou em prisão simples.

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92
A decisão do juiz singular que encaminha recurso em sentido estrito sem
antes proceder ao juízo de retratação é mera irregularidade e não enseja
nulidade absoluta.
A ausência de contrarrazões ao recurso em sentido estrito interposto contra
decisão que rejeita a denúncia enseja nulidade absoluta do processo desde o
julgamento pelo Tribunal de origem.

A Lei de Execuções Penais estabelece em seu artigo 197 que as decisões


proferidas no âmbito da execução penal serão impugnáveis por meio de
agravoem execução. Ocorre que, não há um procedimento específico acerca
do recurso, o que fez com que a doutrina e jurisprudência decidissem pela
aplicação do procedimento específico do Recurso em Sentido Estrito. Por esta
razão, o seu prazo é de 5 dias para a petição de interposição e 2 dias para a
apresentação de razões ou contrarrazões. Desta forma, o endereçamento da
petição de interposição é para o próprio Juiz da Vara de execuções que
proferiu a decisão a ser recorrida, devendo haver, assim como no recurso em
sentido estrito, um pedido de retratação (o chamado efeito regressivo). Por
sua vez, as razões do Agravo em Execução serão endereçadas ao Tribunal de
Justiça ou Tribunal Regional Federal, a depender do caso se a decisão for
proferida por juiz das execuções penais da alçada da Justiça Estadual ou
Justiça Federal, respectivamente.

(Ano: 2017. Banca: VUNESP. Órgão: TJ-SP. Prova:


Juiz Substituto)
Quanto aos recursos em matéria criminal, é correto
afirmar que:

A) o efeito devolutivo da apelação contra decisões do


QUESTÃO 1: Júri não fica adstrito aos fundamentos da sua
RECURSOS interposição.
B) a renúncia do réu ao direito de apelação,
manifestada com ou sem a assistência do defensor,
obsta o conhecimento da apelação por este
interposta.
C) não constitui nulidade a falta de intimação do
denunciado para oferecer contrarrazões ao recurso
interposto da rejeição da denúncia, se nomeado

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93
defensor dativo para tanto.
D) o acórdão que provê o recurso contra a rejeição da
denúncia vale, desde logo, pelo recebimento dela, a
não ser que nula a decisão de primeiro grau.
GABARITO COMENTADO: o objetivo do examinador
na presente questão foi testar o conhecimento do
candidato acerca das súmulas dos tribunais
superiores, sendo todas as alternativas relacionadas
ao tema.

CORRETA: Letra D. É o teor da Súmula 709 do STF:


Salvo quando nula a decisão de primeiro grau, o
acórdão que provê o recurso contra a rejeição da
denúncia vale, desde logo, pelo recebimento dela.

INCORRETAS:
A) Conforme mencionado no tópico do recurso de
apelação, as matérias impugnadas no âmbito do
procedimento do tribunal do júri se limitam ao recurso
apresentado. Por este motivo a alternativa está
incorreta, pois afirmou não haver limitação. Neste
sentido é a Súmula 713 do STF: “O efeito devolutivo
da apelação contra decisões do Júri é adstrito aos
fundamentos da sua interposição.”.
B) A regra geral é que prevalece o interesse da parte
que7 manifestou a vontade de recorrer, pois, se a
defesa técnica entendeu por bem apresentar o
recurso este será conhecido, independente do
desinteresse da parte que o aproveita. Neste sentido
é a Súmula 705 do STF: “A renúncia do réu ao direito
de apelação, manifestada sem a assistência do
defensor, não impede o conhecimento da apelação
por este interposta.”
C) A nomeação de defensor dativo não supre a falta
de intimação do denunciado, é o teor da Súmula 707
do STF: “Constitui nulidade a falta de intimação do
denunciado para oferecer contra-razões ao recurso
interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo a
nomeação de defensor dativo.”.

11. EXECUÇÃO PENAL – LEI 7.210/84


A Lei de Execuções Penais possui a função de regular a execução das penas e
medidas de segurança impostas em virtude de condenação penal e tem como
objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar
condições para a harmônica integração sócia do condenado e do internado.

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São princípios reguladores da execução penal:

Legalidade: preza pela observância, na execução da pena, de todos os


direitos não atingidos pela sentença ou pela lei.
Igualdade: na execução da pena, não são concedidas restrições ou privilégios
de modo indiscriminado, por origem social, política, de raça, cor, sexo etc.
Individualização da pena: os condenados são classificados, segundo os seus
antecedentes e personalidade, para orientar a individualização da execução
penal.
Jurisdicionalidade: o processo de execução será conduzido por um juiz de
direito, responsável por todos os incidentes da execução penal. Todo
condenado ficará sujeito à jurisdição comum, isto é, jurisdição ordinária (federal
ou estadual), mesmo que o condenado pela justiça militar ou eleitoral
(jurisdição especial), bem como o preso provisório.

Súmula 716 STF: admite-se a progressão de regime da pena ou a aplicação


imediata de regime menos severo nela determinada, antes do trânsito em
julgado da sentença condenatória.
Súmula 717 STF: não impede a progressão de regime de execução da
pena, fixada em sentença não transitada em julgado, o fato de o réu se
encontrar em prisão especial.
Súmula 192 STJ: compete ao juízo das Execuções Penais do Estado a
execução das penas impostas a sentenciados pela Justiça Federal, Militar ou
Eleitoral, quando recolhidos a estabelecimentos sujeitos à administração
estadual.

Os condenados serão classificados, segundo seus antecedentes e


personalidade, para orientar a individualização da execução penal. Sobre o
exame criminológico é importante fazer uma distinção entre o exame genérico
e o exame específico. O exame genérico será o feito com o objetivo de orientar
o modo de cumprimento da pena, envolvendo aspectos da personalidade,
antecedentes, vida social, etc.

Já o exame criminológico específico busca construir um prognóstico de


periculosidade do reeducando, envolvendo questões sobre psicologia e
psiquiatria, atestando a maturidade do condenado, sua disciplina e capacidade
de suportar frustrações. O exame criminológico específico era considerado
obrigatório na execução da pena no regime fechado, mas o entendimento que
prevalece hoje nos tribunais superiores é de que é um exame facultativo, sendo
inconstitucional a obrigatoriedade. Sobre o tema:

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Súmula vinculante 26: para efeito de progressão de regime no cumprimento
de pena imposta por crime hediondo, ou equiparado, o juízo da execução
observará a inconstitucionalidade do artigo 2º da Lei 8.072/90, sem prejuízo de
avaliar se condenado preenche, ou não, os requisitos objetivos e subjetivos do
benefício, podendo determinar, para tal fim, de modo fundamentado, a
realização de exame criminológico.

Súmula 439 STJ: admite-se o exame criminológico pelas peculiaridades do


caso, desde que em decisão motivada.
11.1 Do trabalho do preso
O artigo 28 da LEP dispõe sobre o trabalho do preso, que é um dos principais
meios de ressocialização do condenado, sendo dever social e condição da
dignidade humana e terá finalidade educativa e produtiva. O trabalho do preso
será remunerado, mas ao trabalho não se aplicam ás regras da CLT.

Ainda, vale frisar que as penas de prestação de serviço à comunidade não são
consideradas como trabalho.

Art. 29. O trabalho do preso será remunerado, mediante prévia tabela, não
podendo ser inferior a 3/4 (três quartos) do salário mínimo.

§ 1° O produto da remuneração pelo trabalho deverá atender:


a) à indenização dos danos causados pelo crime, desde que determinados
judicialmente e não reparados por outros meios;
b) à assistência à família;
c) a pequenas despesas pessoais;
d) ao ressarcimento ao Estado das despesas realizadas com a manutenção do
condenado, em proporção a ser fixada e sem prejuízo da destinação prevista
nas letras anteriores.
§ 2º Ressalvadas outras aplicações legais, será depositada a parte restante
para constituição do pecúlio, em Caderneta de Poupança, que será entregue
ao condenado quando posto em liberdade.

A Lei de Execuções Penais prevê que o condenado à pena privativa de


liberdade é obrigado a trabalhar (artigo 31 e 39, V). Caso o preso se recuse,
injustificadamente, realizar trabalho obrigatório, ele comete falta grave (artigo
50, VI), podendo ser punido.

A jornada de trabalho normal não será inferior a seis horas e nem superior a
oito, com descanso aos domingos e feriados. Porém, se o preso, ainda que
sem autorização do juízo ou da direção do estabelecimento prisional,
efetivamente trabalhar nos domingos e feriados, esses dias deverão ser
considerados no cálculo da remição da pena.

O trabalho externo será admissível para os presos em regime fechado somente

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em serviço ou obras públicas realizadas por órgãos da Administração Direta ou
Indireta, ou entidades privadas, desde que tomadas as cautelas contra a fuga e
em favor da disciplina. O limite máximo do número de presos será de 10% (dez
por cento) do total de empregados na obra.

A prestação de trabalho externo será autorizada pela direção do


estabelecimento, dependendo de aptidão, disciplina e responsabilidade, além
do cumprimento de 1/6 da pena. Porém, de acordo com os tribunais superiores,
a exigência objetiva do artigo 37 de que o condenado tenha cumprido no
mínimo 1/6 da pena, para fins de trabalho externo, aplica-se apenas aos
condenados que se encontrem no regime fechado. Assim, o trabalho externo é
permitido aos apenados que estejam no regime semiaberto ou aberto mesmo
que ainda não tenham cumprido 1/6 da pena.

Súmula 40 STJ: para obtenção dos benefícios de saída temporária e trabalho


externo, considera-se o tempo de cumprimento de pena no regime fechado. O
fato de o irmão do apenado ser um dos sócios da empresa empregadora não
constitui óbice à concessão do benefício de trabalho externo, ainda que se
argumente sobre o risco de ineficácia da realização do trabalho externo devido
à fragilidade na fiscalização.

11.2 Dos deveres e da disciplina


Muito cobrados em prova, os deveres e disciplina dos presos são matérias em
que as bancas cumulam a literalidade da lei com a jurisprudência dos tribunais
superiores, notadamente quanto aos aspectos ligados à falta grave. Assim, são
considerados deveres dos presos, provisórios e definitivos:

Comportamento disciplinado e cumprimento fiel da sentença;
Obediência ao servidor e respeito a qualquer pessoa com quem deva
relacionar-se;
Urbanidade e respeito no trato com os demais condenados;
Conduta oposta aos movimentos individuais ou coletivos de fuga ou de
subversão à ordem ou à disciplina;
Execução do trabalho, das tarefas e das ordens recebidas;
Submissão à sanção disciplinar imposta;
Indenização à vitima ou aos seus sucessores;
Indenização ao Estado, quando possível, das despesas realizadas com a sua
manutenção, mediante desconto proporcional da remuneração do trabalho;
Higiene pessoal e asseio da cela ou alojamento;
Conservação dos objetos de uso pessoal.
Quanto à disciplina, a lei é expressa ao afirmar que não haverá sanção sem
previsão legal anterior e expressa, sendo vedadas: as sanções que coloquem
em perigo a integridade física e moral do condenado; o emprego em cela
escura, bem como as sanções de caráter coletivo.

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97
As faltas disciplinares serão classificadas em graves, médias e leves, sendo
competência da legislação local classificar as duas últimas e da Lei de
Execuções Penais classificar as faltas graves aplicáveis aos presos definitivos
e provisórios, que são:
Incitar ou participar de movimento para subverter a ordem ou a disciplina;
Fugir;
Possuir, indevidamente, instrumento capaz de ofender a integridade física de
outrem;
Provocar acidente de trabalho;
Descumprir, no regime aberto, as condições impostas;
Inobservar os deveres previstos nos incisos II e V, do artigo 39, desta Lei.
Tiver em sua posse, utilizar ou fornecer aparelho telefônico, de rádio ou
similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente
externo.

Quanto aos condenados à Pena Restritiva de Direitos, são consideradas faltas


graves:

Descumprir, injustificadamente, a restrição imposta;


Retardar, injustificadamente, o cumprimento da obrigação imposta;
Inobservar os deveres previstos nos incisos II e V, do artigo 39, desta Lei.

Regime disciplinar diferenciado: é uma forma especial de cumprimento da


pena no regime fechado, que consiste na permanência do presidiário
(provisório ou condenado) em cela individual, com limitações ao direito de
visita e do direito de saída da cela. Será aplicado quando o preso praticar fato
previsto como crime doloso e, quando ocasione subversão da ordem ou
disciplina internas, sujeita o preso provisório, ou condenado, sem prejuízo da
sanção penal.

Também se aplica aos condenados, nacionais ou estrangeiros, que


apresentem alto risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal
ou da sociedade, bem como aos que recaiam fundadas suspeitas de
envolvimento ou participação, a qualquer título, em organizações criminosas,
quadrilha ou bando.

Terá duração máxima de trezentos e sessenta dias, sem prejuízo de repetição


da sanção, quando cometida nova falta grave da mesma espécie, até o limite
de 1/6 da pena aplicada.

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98
O preso será recolhido em cela individual, com visitas semanais de duas
pessoas, não computadas as crianças, com duração de duas horas. Além
disso, terá direito à saída da cela por duas horas diárias para banho de sol.

11.3 Permissão de saída e saída temporária


Os dois institutos não se confundem, mas muitas vezes são colocados em
prova com os conceitos alternados para provocar a confusão do candidato, que
deve ter atenção redobrada quanto a essas questões.

Permissão de saída: Os condenados que cumprem pena em regime fechado


ou semi-aberto e os presos provisórios poderão obter permissão para sair do
estabelecimento, mediante escolta, quando ocorrer um dos seguintes fatos:
falecimento ou doença grave do cônjuge, companheira, ascendente,
descendente ou irmão; necessidade de tratamento médico (parágrafo único do
artigo 14). A permissão de saída será concedida pelo diretor do
estabelecimento onde se encontra o preso.

Saída temporária: Os condenados que cumprem pena em regime semi-aberto


poderão obter autorização para saída temporária do estabelecimento, sem
vigilância direta, nos seguintes casos: visita à família; frequência a curso
supletivo profissionalizante, bem como de instrução do 2º grau ou superior, na
Comarca do Juízo da Execução; participação em atividades que concorram
para o retorno ao convívio social.

A ausência de vigilância direta não impede a utilização de equipamento de


monitoração eletrônica pelo condenado, quando assim determinar o juiz da
execução.

A autorização será concedida por ato motivado do Juiz da execução, ouvidos o


Ministério Público e a administração penitenciária e dependerá da satisfação
dos seguintes requisitos:

Comportamento adequado;
Cumprimento mínimo de 1/6 (um sexto) da pena, se o condenado for
primário, e 1/4 (um quarto), se reincidente;
Compatibilidade do benefício com os objetivos da pena.

A autorização será concedida por prazo não superior a sete dias, podendo ser
renovada por mais quatro vezes durante o ano, ou seja, no total, regra geral,
poderá ser concedida cinco saídas temporárias ao ano, sendo o limite mínimo
de dias, entre uma e outra, de quarenta e cinco dias. A informação é
importante, pois da leitura do artigo o candidato pode achar que são quatro
saídas ao ano, mas percebe-se que a lei é clara ao dizer “mais quatro vezes”,
acrescida da primeira.

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99
O tema das saídas temporárias é constantemente discutido no âmbito dos
tribunais superiores, que estão atualizando a jurisprudência para interpretar a
LEP de forma ampliativa. Neste sentido, as principais teses formadas são: 3

Respeitado o limite anual de 35 dias, estabelecido pelo artigo 124 da LEP, é


cabível a concessão de maior número de saídas temporárias de curta duração.
As autorizações de saída temporária para visita à família e para a
participação em atividades que concorram para o retorno ao convívio social, se
limitadas a cinco vezes durante o ano, deverão observar o prazo mínimo de 45
dias de intervalo entre uma e outra. Na hipótese de maior número de saídas
temporárias de curta duração, já intercaladas durante os meses do ano e
muitas vezes sem pernoite, não se exige o intervalo previsto no artigo 124, §3º
da LEP.
O calendário prévio de saídas temporárias deverá ser fixado,
obrigatoriamente, pelo juízo das execuções, não se lhe permitindo delegar à
autoridade prisional a escolha das datas específicas nas quais o apenado irá
usufruir os benefícios.
É recomendável que cada autorização de saída temporária do preso seja
precedida de decisão judicial motivada. Entretanto, se a apreciação individual
do pedido estiver, por deficiência exclusiva do aparato estatal, a interferir no
direito subjetivo do apenado e no escopo ressocializador da pena, deve ser
reconhecida, excepcionalmente, a possibilidade de fixação de calendário anual
de saída temporária por ato único, observadas as hipóteses de revogação
automática do artigo 125 da LEP.
11.4 Remissão de pena
O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderá
remir, por trabalho ou por estudo, parte do tempo de execução da pena,
contados da seguinte forma:
Um dia de pena a cada doze horas de frequência escolar - atividade de
ensino fundamental, médio, inclusive profissionalizante, ou superior, ou ainda
de requalificação profissional - divididas, no mínimo, em 3 (três) dias;
Um dia de pena a cada três dias de trabalho.

O preso impossibilitado, por acidente, de prosseguir no trabalho ou nos estudos


continuará a beneficiar-se com a remição. O tempo a remir em função das
horas de estudo será acrescido de 1/3 (um terço) no caso de conclusão do
ensino fundamental, médio ou superior durante o cumprimento da pena, desde
que certificada pelo órgão competente do sistema de educação.

Em caso de falta grave, o juiz poderá revogar até 1/3 (um terço) do tempo
remido, observado o disposto no art. 57, recomeçando a contagem a partir da
data da infração disciplinar. A prática de falta grave impõe a decretação da
perda de até 1/3 dos dias remidos, devendo a expressão “poderá”, contida no
artigo 127 da LEP, ser interpretada como verdadeiro poder-dever do

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100
magistrado, ficando no juízo de discricionariedade do julgador apenas a fração
da perda, que terá como limite máximo 1/3 dos dias remidos.
4
É possível a remição de parte do tempo de pena quando o condenado, em
regime fechado ou semiaberto, desempenha atividade labor ativa extramuros.
A atividade de leitura pode ser considerada para fins de remição de parte do
tempo de execução da pena.

Súmula 341 STJ: Na freqüência a curso de ensino formal é causa de


remição de parte do tempo de execução de pena sob regime fechado ou
semiaberto.

Para a concessão de livramento condicional, a avaliação da satisfatoriedade


do comportamento do executado (requisito subjetivo do livramento) não pode
ser limitada a um período absoluto e curto de tempo.

A condição de reincidente, uma vez adequada pelo sentenciado, estende-se


sobre a totalidade das penas somadas, não se justificando a consideração
isolada de cada condenação tampouco a aplicação de percentuais diferentes
para cada uma das reprimendas.

PRINCIPAIS SÚMULAS SOBRE A EXECUÇÃO PENAL


Súmula 192 STJ: compete ao juízo das execuções penais do Estado a
execução das penas impostas a sentenciados pela Justiça Federal, Militar
ou Eleitoral, quando recolhidos a estabelecimentos sujeitos à
administração estadual.

Súmula 471 STJ: Nos condenados por crimes hediondos ou


assemelhados cometidos antes da vigência da Lei nº. 11.464/07 sujeitam-
se ao disposto no artigo 112 da Lei 7.210/84 para a progressão de regime.

Súmula 533 STJ: para o reconhecimento da prática de falta disciplinar


no âmbito da execução de procedimento administrativo pelo diretor do
estabelecimento prisional, assegurado o direito de defesa, a ser realizado
por advogado constituído ou defensor público nomeado.

Súmula 526 STJ: o reconhecimento de falta disciplinar decorrente do


cometimento de fato definido como crime doloso no cumprimento da pena
prescinde do trânsito em julgado da sentença penal condenatória no
processo penal instaurado para apuração do fato.

Súmula 441 STJ: a falta grave não interrompe o prazo para obtenção do
livramento condicional.

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101
Súmula 534 STJ: a prática de falta grave interrompe a contagem para a
progressão de regime de cumprimento de pena, o qual se reinicia a partir
do cometimento da infração.

Súmula 535 STJ: a prática de falta grave não interrompe o prazo para
fim de

comutação de pena ou indulto.

Súmula 715 STF: a pena unificada para atender ao limite de trinta anos
de cumprimento, determinado pelo artigo 75 do Código Penal, não é
considerada

para a concessão de outros benefícios como o livramento condicional ou


regime mais favorável de cumprimento de pena.

Súmula 491 STJ: é vedada a chamada progressão per saltum de


regime prisional.

Súmula 493 STJ: é inadmissível a fixação de pena substitutiva (artigo


44 do CP) como condição especial ao regime aberto.

Súmula 700 STF: é de cinco dias o prazo para interposição de agravo


contra decisão do juiz da execução penal.

(Ano: 2017. Banca: FCC. Órgão: TJ-SC. Prova:


Juiz Substituto)

Sobre o trabalho externo do preso, é correto afirmar


que:
A) é possível na realização de serviços e obras
QUESTÃO 1: LEI DE públicas prestados por entidades privadas.
EXECUÇÃO PENAL B) só é possível em entidades públicas.
C) a autorização será revogada com a prática de
qualquer infração penal.
D) somente poderá ser concedida após o
cumprimento de 1/3 da pena.
E) o limite máximo de presos será de 20% do total de
empregados.

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102
GABARITO COMENTADO:
CORRETA: Letra A. A Lei de Execução Penal admite
expressamente o trabalho externo, mesmo que em
entidades privadas. Este é o teor do artigo 36: "O
trabalho externo será admissível para os presos em
regime fechado somente em serviço ou obras
públicas realizadas por órgãos da Administração
Direta ou Indireta, ou entidades privadas, desde que
tomadas as cautelas contra a fuga e em favor da
disciplina."

INCORRETAS:
B) No mesmo sentido exposto na alternativa A que
justifica o erro da B.
C) O erro está na generalidade da questão, pois a lei
afirma que haverá a revogação da autorização do
trabalho externo quando houver o cometimento de
crime, não computando, portanto, as contravenções
penais. Assim dispõe o artigo 37, parágrafo único:
"Parágrafo único. Revogar-se-á a autorização de
trabalho externo ao preso que vier a praticar fato
definido como crime, for punido por falta grave, ou
tiver comportamento contrário aos requisitos
estabelecidos neste artigo."
D) O objetivo do examinador na presente alternativa
foi confundir os institutos da execução penal, pois
muitas são as frações apresentadas na lei que
definem o quantum de pena deverá ser cumprido
para a obtenção de determinado benefício. No caso
do trabalho externo, o apenado deverá cumprir 1/6 da
pena, não 1/3 como afirmou o examinador. Além
disso, vale lembrar a jurisprudência de que este
quantum de pena se aplica apenas aos presos em
regime fechado, podendo os presos em regime
aberto ou semiaberto trabalhar imediatamente.
E) O erro está no limite exposto, já que a lei
estabelece como limite máximo de presos de 10%
dos trabalhadores da obra: "Art. 36. (...) § 1º O limite
máximo do número de presos será de 10% (dez por
cento) do total de empregados na obra.".

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103
12. LEI 9.099/95 – JUIZAD

OS ESPECIAIS:

TÓPICOS SOBRE OS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS


O processo orientar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade,
informalidade, economia processual e celeridade, buscando, sempre que
possível, a conciliação ou a transação.

Os Juizados Especiais Criminais são competentes para o julgamento das


infrações de menor potencial ofensivo, que são aquelas cujo a lei comine pena
máxima de dois anos, cumulada ou não com multa, respeitadas as regras de
conexão e continência.

No âmbito dos Juizados Especiais Criminais, foi adotada a teoria da


atividade, sendo que a competência do Juizado será determinada pelo lugar
em que foi praticada a infração penal.

Aplica-se o princípio da instrumentalidade das formas aos procedimentos da


Lei 9.099/95.

As nulidades serão pronunciadas apenas se comprovado prejuízo às partes.

Os atos processuais são públicos e podem ser praticados em qualquer dia
da semana ou em horário noturno, conforme as normas de organização
judiciária do estado.

Não será cabível a citação por edital. Logo, caso o réu não seja encontrado,
os autos serão encaminhados à justiça comum, para que haja o regular
prosseguimento do feito.

A autoridade policial que tomar conhecimento do feito lavrará Termo


Circunstanciado de Ocorrência e o encaminhará imediatamente ao juizado,
com os autos do fato e a vítima.

Ao autor que imediatamente comparecer ao juizado ou se comprometer a


comparecer, não se imporá prisão em flagrante nem fiança.

No procedimento sumaríssimo, a denúncia é realizada com base no termo


circunstanciado de ocorrência, logo não é feito inquérito policial. Caso a
materialidade do delito esteja aferida no boletim médico ou em prova
equivalente, não será necessária a elaboração de Termo Circunstanciado de

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104
OCORRÊNCIA.

Composição civil dos danos: Nos casos em que a vítima tenha sofrido
prejuízos com o delito praticado pelo infrator, pode haver uma indenização
mediante o pagamento de determinada quantia em dinheiro. A composição é
sempre possível nos delitos em que a lei exige representação ou queixa da
vítima.

Nos casos de ação penal pública incondicionada, caso não haja o


arquivamento do feito, o Ministério Público poderá propor, desde logo, a
aplicação de Pena Restritiva de Direitos ou multa, desde que: o réu não tenha
sido condenado, por sentença definitiva, pela prática de crime sujeito à pena
privativa de liberdade; não tenha sido beneficiado com o instituto no prazo de
cinco anos; que sejam favoráveis a conduta social, os antecedentes, bem
como as medidas que justifiquem tal medida.

Quando aplicada apenas a pena de multa o juiz poderá reduzi-la até a


metade.

Aceita a proposta, o juiz aplicará a Pena Restritiva de Direito ou a multa. Tais


condenações não implicarão em reincidência, são registradas apenas para
impedir a concessão do mesmo benefício no prazo de cinco anos. Desta
decisão caberá o recurso de apelação, nos termos do artigo 82 da Lei
9.099/95.

Tratando-se de ação privada ou ação penal pública condicionada a


representação, o acordo homologado acarretará a renúncia ao direito de
queixa ou representação.

Caso não haja audiência preliminar a composição civil dos danos, será
oportunizado ao ofendido o direito de representar pelo crime. O não
oferecimento da representação na audiência não implica decadência, mas
deverá ser apresentada no prazo de seis meses, sob pena de decair no
direito.

Quando por conexão ou continência houver a reunião de processos na


justiça comum ou no Tribunal do Júri, os juízes deverão observar os institutos
da transação penal e da composição civil dos danos.

Além das hipóteses previstas no Código Penal, dependem de representação


as ações penais relativas à lesão corporal leve e lesão corporal culposa.

Suspensão Condicional do Processo: os crimes em que a pena mínima


for igual ou inferior a um ano (abrangidos ou não pela Lei 9.099/95) o

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105
Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão
condicional do processo. A suspensão será de dois a quatro anos e poderá ser
concedida, desde que, o acusado não esteja sendo processado ou não tenha
sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos previstos no
artigo 77 do Código Penal.

A suspensão do Processo pode submeter o condenado a período de prova,


podendo o juiz estabelecer determinadas condições. Durante a suspensão não
correrá o prazo prescricional.

A suspensão condicional do processo será revogada se no curso do prazo o


beneficiário vier a ser processado por outro crime ou, sem motivo justo, não
efetuar a reparação do dano. Também poderá ser revogada se o acusado for
processado por contravenção penal ou descumprir as medidas impostas.

Das sentenças e da decisão de rejeição de denúncia ou queixa proferidas


nos procedimentos da Lei 9.099/95 caberá apelação, que será interposta no
prazo de dez dias, contados da data da ciência da sentença. O recurso
poderá ser julgado por três juízes de primeiro grau, reunidos no juizado.

A sentença proferida no juizado criminal não possui efeitos civis, de forma
que cabe ao interessado, se desejar, acionar o juízo cível.

No rito sumaríssimo, quando não houver a aplicação de pena por ausência
do autor do fato, o Ministério Público oferecerá ao juiz a denúncia oral, no caso

de não haver necessidade de outras diligências.

Súmula 35 STF: a homologação da transação penal prevista no artigo 76 da


Lei 9.099/95 não faz coisa julgada material e, descumpridas suas cláusulas,
retomam-se a situação anterior, possibilitando-se ao Ministério Público a
continuidade da persecução penal mediante oferecimento de denúncia ou
requisição de inquérito policial.

As consequências jurídicas extrapenais previstas no artigo 91 do Código


Penal são decorrentes de sentença condenatória. Tal não ocorre, portanto,
quando há transação penal, cuja sentença tem natureza meramente
homologatória, sem qualquer juízo sobre a responsabilidade criminal do
aceitante. As consequências geradas pela transação penal são
essencialmente aquelas estipuladas por modo consensual no respectivo
instrumento de acordo.

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106
(Ano: 2015. Banca: CESPE. Órgão: TJ-PB. Prova:
Juiz Substituto)
Com relação ao instituto da suspensão condicional
do processo, previsto na Lei n.º 9.099/1995,
assinale a opção correta.

A) De acordo com o STF, no caso de réu que tenha


condenação anterior transitada em julgado, é
possível a propositura da suspensão condicional do
processo se já houver transcorrido mais de cinco
anos entre a extinção da punibilidade pelo delito da
condenação e a prática do novo fato criminoso.
B) Presentes os demais requisitos para a concessão
do sursis processual, o MP poderá propor, ao
QUESTÃO 1: oferecer a denúncia, a referida suspensão, ainda
JUIZADOS ESPECIAIS que o acusado esteja sendo processado por outro
CRIMINAIS – LEI crime.
9.099/95 C) Se, durante o período de suspensão do
processo, o acusado for processado por outro crime
ou contravenção penal, o benefício poderá ser
revogado por meio de decisão fundamentada do
juízo.
D) A aceitação da suspensão condicional do
processo levará à interrupção do prazo prescricional
E) Dado que, conforme a jurisprudência do STJ, o
sursis processual é um direito subjetivo do réu, na
ação penal privada, a lei obriga o querelante a
formular proposta de suspensão condicional do
processo.

GABARITO COMENTADO:
CORRETA: Letra A. Os tribunais superiores
entendem plenamente aplicável, por analogia, à
suspensão condicional do processo, o artigo 64 do
Código Penal, na medida em que nele lei penal
comum considerou ser o intervalo de cinco anos, a
partir do trânsito em julgado da condenação
anterior, capaz de apagar o estigma desta. Este foi
o entendimento do STF no HC 86646SP:

“Suspensão condicional. Transação penal.


Admissibilidade. Maus antecedentes.

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107
Descaracterização. Reincidência. Condenação
anterior. Pena cumprida há mais de 5 (cinco) anos.
Impedimento inexistente. HC deferido. Inteligência
dos arts. 76, § 2º, III, e 89 da Lei nº 9.099/95.
Aplicação analógica do art. 64, I, do CP. O limite
temporal de cinco anos, previsto no art. 64, I, do
Código Penal, aplica-se, por analogia, aos requisitos
da transação penal e da suspensão condicional do
processo.”

INCORRETAS:
B) A alternativa é incorreta, por expressa disposição
da Lei 9.099/95, que impede a concessão do
benefício mesmo nos casos em que o acusado
esteja sendo processado por outro delito, assim
dispõe: “Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima
cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas
ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer
a denúncia, poderá propor a suspensão do
processo, por dois a quatro anos, desde que o
acusado não esteja sendo processado ou não tenha
sido condenado por outro crime, presentes os
demais requisitos que autorizariam a suspensão
condicional da pena.”
C) A alternativa está incorreta, pois na hipótese
relatada não se trata de uma opção do magistrado,
mas consiste em caso de revogação obrigatória do
benefício. Neste sentido, é o parágrafo terceiro do
artigo 89 da Lei 9.099/95: “§ 3º A suspensão será
revogada se, no curso do prazo, o beneficiário vier a
ser processado por outro crime ou não efetuar, sem
motivo justificado, a reparação do dano.”
§ 4º A suspensão poderá ser revogada se o
acusado vier a ser processado, no curso do prazo,
por contravenção, ou descumprir qualquer outra
condição imposta.
D) Um pequeno detalhe tornou a alternativa
incorreta, devendo o candidato ter atenção a este
tipo de alternativa. Isto porque não se trata de
hipótese de interrupção, mas sim de suspensão do
prazo prescricional, nos termos do artigo 88,
parágrafo 6º: Não correrá a prescrição durante o
prazo de suspensão
do processo.
E) O Superior Tribunal de Justiça não entende que a
concessão do sursis é direito subjetivo do acusado.
De acordo com a Corte Cidadã, o Ministério Público,

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108
ao não ofertar a suspensão condicional do
processo, deve fundamentar adequadamente a sua
recusa. Se a recusa do MP foi concretamente
fundamentada não há que se falar em ilegalidade
sob o aspecto formal.

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109
APRESENTAÇÃO

Caro(a) Aluno(a),

A preparação para concursos públicos exige profissionalismo, métrica e


inteligência. Cada minuto despendido deve ser bem gasto! Por isso, uma
preparação direcionada, focada nos pontos com maior probabilidade de
cobrança no seu certame, pode representar a diferença entre aprovação e
reprovação.

Ciente disso, a Ad Verum Suporte Educacional, empresa do Grupo CERS


ONLINE, concebeu o curso INTELIGÊNCIA PDF – CARREIRAS JURÍDICAS,
que tem por premissa fundamental “atacar” os pontos nucleares de cada matéria,
com vistas a antecipação dos temas com maiores chances de cobrança em sua
prova.

Fazer isso não é tarefa fácil! É necessário um árduo esforço de pesquisa,


levando-se em consideração fatores como banca examinadora e respectivos
membros (sempre que possível), retrospecto do concurso, recorrência temática
dentro de cada disciplina, importância de cada tema, momento da segurança
pública do país, dentre tantos outros, aliados a experiência de Professores de
projeção nacional, com larguíssima experiência na análise do perfil dos mais
diferentes certames.

Para tornar tudo isso uma realidade, a Ad Verum investiu muito em seu Método
de Aceleração de Aprendizagem (MAVAA). Hoje, contamos com um SETOR DE
INTELIGÊNCIA, responsável por ampla coleta de dados e informações das mais
diferentes fontes relacionadas ao universo de cada concurso e/ou exame
profissional, de modo, a partir do processamento dos dados coletados, oferecer
aos seus alunos uma experiência diferenciada quando comparada a tudo que
ele conhece em matéria de preparação para carreiras públicas.

Racionalizar o estudo do aluno é mais que um objetivo para Ad Verum, trata-se


de uma obsessão.

Estude inteligente, estude Ad Verum!

Francisco Penante
CEO Ad Verum Suporte Educacional
SUMÁRIO
1. Introdução ao Direito Civil ........................................................................... 5
1.1 Vigência da Lei.......................................................................................... 5
1.1.1 Vigência Extraterritorial da Lei Brasileira ............................................ 6
1.1.2 Princípio da Obrigatoriedade da Lei ou da Não Ignorância da Lei ...... 6
1.1.3 Hipóteses de Cessação de Vigência das Leis (art. 2º da LINDB) ....... 6
1.2 Integração e Interpretação da Lei ............................................................. 7
1.3 Conflito das Leis no Tempo....................................................................... 8
1.4 Eficácia da Lei no Espaço ......................................................................... 9
2. Parte Geral .................................................................................................. 10
2.1 Da pessoa natural: .................................................................................. 10
2.1.1 DA PERSONALIDADE JURÍDICA .................................................... 10
2.1.2 CAPACIDADE DE DIREITO E DE FATO E LEGITIMIDADE ............ 11
2.1.3 EMANCIPAÇÃO ............................................................................... 13
2.1.4 EXTINÇÃO DA PESSOA NATURAL ................................................ 14
2.1.5 DA AUSÊNCIA.................................................................................. 15
2.1.6 DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE ........................................... 17
2.1.6.1 Características dos Direitos da Personalidade ........................... 18
2.1.6.2 Classificação dos Direitos da Personalidade .............................. 19
2.2 Da Pessoa Jurídica: ................................................................................ 25
2.3 Teoria Geral do Negócio Jurídico:........................................................... 28
2.3.1 FATOS JURÍDICOS.......................................................................... 28
2.3.2 ATOS JURÍDICOS ............................................................................ 29
2.3.3. DO NEGÓCIO JURÍDICO................................................................ 30
2.3.3.1. Elementos Constitutivos do Negócios Jurídicos ........................ 30
2.3.3.2. Vícios ou Defeitos do Negócio Jurídico ..................................... 33
2.3.3.3. Teoria das Nulidades do Negócio Jurídico ................................ 37
2.4 Da Prescrição e da Decadência: ............................................................. 42
2.4.1 DA PRESCRIÇÃO ............................................................................ 42
2.4.1.1 Requisitos e Espécies ................................................................ 43
2.4.1.2 Pretensões Imprescritíveis ......................................................... 44
2.4.1.3 Das Causas que Impedem ou Suspendem a Prescrição ........... 45
2.4.1.4. Das Causas que Interrompem a Prescrição .............................. 46

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2.4.2. DA DECADÊNCIA ........................................................................... 48
2.4.2.1. Conceito e Espécies .................................................................. 48
2.4.3 DIFERENÇAS ENTRE A PRESCRIÇÃO E A DECADÊNCIA........... 49
3. DIREITO DAS OBRIGAÇÕES ..................................................................... 52
3.1 CONCEITOS BÁSICOS .......................................................................... 52
3.1.1. CONCEITO DE OBRIGAÇÃO E ELEMENTOS ............................... 52
3.2 CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES: ................................................. 53
3.2.1. DAS OBRIGAÇÕES DE DAR COISA CERTA ................................. 53
3.2.2. DAS OBRIGAÇÕES SOLIDÁRIAS .................................................. 55
3.3 ADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES (TEORIA DO PAGAMENTO): .. 56
3.4 INADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES (RESPONSABILIDADE CIVIL
CONTRATUAL)............................................................................................. 57
4. CONTRATOS............................................................................................... 59
4.1 Disposições gerais .................................................................................. 60
4.2 Contratos em espécie ............................................................................. 61
4.2.1 Contrato de compra e venda ............................................................ 61
4.2.2 Contrato de doação .......................................................................... 63
4.2.3 Outros contratos ............................................................................... 64
5. RESPONSABILIDADE CIVIL ...................................................................... 67
5.1 CONCEITOS BÁSICOS:. ........................................................................ 67
5.1.1. RESPONSABILIDADE CONTRATUAL E EXTRACONTRATUAL ... 67
5.2 RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL OU AQUILIANA ............ 67
5.2.1. ATO ILÍCITO E ABUSO DE DIREITO .............................................. 67
5.2.2. ELEMENTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL .............................. 68
5.2.2.1. DANO: ....................................................................................... 68
5.2.3. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA E SUBJETIVA ................. 70
5.3 EXCLUDENTES DO DEVER DE INDENIZAR ........................................ 71
5.3.1. EXCLUDENTES DE ILICITUDE ...................................................... 71
5.3.2. EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE ................................... 71
6. DIREITO DAS COISAS................................................................................ 73
6.1 CONCEITOS BÁSICOS .......................................................................... 73
6.1.1. DIREITOS REAIS ............................................................................ 73
6.2 POSSE (ARTIGOS 1.196 A1224 DO CC):.............................................. 74

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6.2.1. CLASSIFICAÇÃO E DESDOBRAMENTOS DA POSSE ................. 74
6.2.2. EFEITOS DA POSSE ...................................................................... 75
6.2.3. AQUISIÇÃO, TRANSMISSÃO E PERDA ........................................ 76
6.2 PROPRIEDADE (ARTIGOS 1.228 A 1.368-B, CC)................................. 76
6.3.1. CONCEITO E ATRIBUTOS ............................................................. 76
6.3.1.1. FUNÇÃO SOCIAL E SOCIOAMBIENTAL DA PROPRIEDADE 77
6.3.2. CLASSIFICAÇÃO ............................................................................ 77
6.3.3. EXTENSÃO E FORMAS DE AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE ...... 77
6.3.3.1. USUCAPIÃO: ............................................................................ 78
6.3.4. PERDA DA PROPRIEDADE:........................................................... 79
7. DIREITO DE FAMÍLIA ................................................................................. 81
7.1 CONCEITOS BÁSICOS: ......................................................................... 81
7.1.1. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS: ...................................................... 81
7.2 DO CASAMENTO (ARTIGOS 1511 A 1590, CC) ................................... 82
7.2.1. ASPECTOS GERAIS DO CASAMENTO ......................................... 82
7.2.2. REGIME DE BENS .......................................................................... 84
7.2.2.1. PACTO ANTENUPCIAL (ART. 1653 a 1657 DO CC) ............... 84
7.2.2.1.1. REGIME DA COMUNHÃO PARCIAL (ARTS. 1658 a 1666
DO CC) ............................................................................................... 85
7.2.2.1.2. REGIME DA COMUNHÃO UNIVERSAL (ART. 1667 a 1671,
CC) ...................................................................................................... 85
7.2.2.1.3. REGIME DA PARTICIPAÇÃO FINAL DOS AQUESTOS
(ARTS. 1672 a 1686 DO CC) .............................................................. 85
7.2.2.1.4. REGIME DA SEPARAÇÃO DE BENS (ARTS. 1687 e 1688
DO CC) ............................................................................................... 86
7.2.4. DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE CONJUGAL (ART. 1571 a 1582,
CC) ............................................................................................................ 86
7.3 RELAÇÕES DE PARENTESCO (ARTIGOS 1591 A 1638 DO CC) ........ 87
7.3.1. ESPÉCIES ....................................................................................... 87
7.3.2. FILIAÇÃO (ARTS. 1596 a 1606 DO CC) ......................................... 87
7.3.2.1. NATUREZA JURÍDICA .............................................................. 87
7.3.2.2. PROVA DA FILIAÇÃO ............................................................... 88
7.3.2.3. ADOÇÃO ................................................................................... 89
7.3.2.4. AÇÃO INVESTIGATÓRIA ......................................................... 90

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7.3.3. PODER FAMILIAR (ARTS. 1630 a 1638 DO CC) ........................... 91
7.3.3.1. GUARDA (ARTS. 1583 a 1590 DO CC) .................................... 92
7.4 DIREITO ASSISTENCIAL DE FAMÍLIA .................................................. 92
7.4.1. TUTELA (ARTS. 1728 a 1766 DO CC) E CURATELA (ARTS. 1767 a
1783 DO CC) ............................................................................................. 93
7.5 ALIMENTOS (ARTIGOS 1694 A 1710 DO CC): ..................................... 93
7.5.1. CONCEITO E PRESSUPOSTOS .................................................... 93
7.5.2. CARACTERÍSTICAS ....................................................................... 94
7.5.3. CLASSIFICAÇÃO DOS ALIMENTOS .............................................. 95
7.5.4. EXONERAÇÃO................................................................................ 97
8. DIREITO DAS SUCESSÕES ..................................................................... 100
8.1 CONCEITOS BÁSICOS E PRINCÍPIOS ............................................... 100
8.1.1. MODALIDADES DE HERDEIROS ................................................. 100
8.1.2. PRINCÍPIO DE SAISINE E VEDAÇÃO AO PACTA DE CORVINA 100
8.2 ABERTURA DA SUCESSÃO ................................................................ 101
8.2.1. VOCAÇÃO HEREDITÁRIA ............................................................ 101
8.2.2. ACEITAÇÃO E RENÚNICA DA HERANÇA (ARTS. 1804 A 1813,
CC) .......................................................................................................... 103
8.3 SUCESSÃO LEGÍTIMA:........................................................................ 103
8.3.1. SUCESSÃO DOS DESCENDENTES (ART. 1829 DO CC) ........... 103
8.3.2. SUCESSÃO DOS ASCENDENTES (ART. 1829, II C/C 1836 DO CC)
................................................................................................................. 104
8.3.3. SUCESSÃO DO CÔNJUGE SOBREVIVENTE E REGRAS DE
CONCORRÊNCIA (ART. 1829, III C/C 1838 DO CC) ............................. 105
8.3.3.1. SUCESSÃO CONCORRENTE ................................................ 105
8.3.3.2. DIREITO REAL DE HABITAÇÃO ............................................ 106
8.3.4. SUCESSÃO DO COMPANHEIRO ................................................. 106
8.3.5. SUCESSÃO DOS COLATERAIS................................................... 107
8.4 SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA: .......................................................... 107
8.4.1. ESPÉCIES DE TESTAMENTO...................................................... 108

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1. Introdução ao Direito Civil

1.1 Vigência da Lei

Em termos jurídicos, vigência é o atributo da norma jurídica que, em um


determinado tempo e espaço, é destinada a produzir efeitos no mundo jurídico,
de modo cogente. “A vigência, portanto, é uma qualidade temporal da norma: o
prazo com que se delimita o seu período de validade. Em sentido estrito,
vigência designa a existência específica da norma em determinada época,
podendo ser invocada para produzir, concretamente, efeitos, ou seja, para que
tenha eficácia”1.

Desse conceito pode-se extrair que a vigência está delimitada por um lapso
temporal, isto é, por um “prazo de validade” da norma jurídica. Esse prazo
inicia-se com a sua publicação (ou com o término do período da vacatiolegis) e
se encerra com a revogação da lei ou com o término do prazo/condição
estipulado na legislação (leis temporárias/excepcionais). Vale dizer que toda lei
(sentido lato) é criada, promulgada, publicada e entra em vigência até a sua
extinção pela revogação.

O período de tempo entre a publicação e a vigência da lei é o que chamamos


de vacatio legis. Nesse período ela ainda não tem obrigatoriedade nem
eficácia, embora já exista no ordenamento jurídico.

Diante do exposto, importante observar o que diz o Art. 1o. DA LINDB: “Salvo
disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco
dias depois de oficialmente publicada.”

Desse modo, a menos que a própria lei estabeleça outro termo para início de
sua vigência, ela passa a vigorar depois de transcorridos quarenta e cinco dias
da data de edição do Diário Oficial em que ela foi publicada.

Ocorre que, às vezes, no curso da vacatio legis, o Congresso Nacional resolve


republicar o texto da lei para corrigir eventuais equívocos, erros gramaticais ou
suprir omissões. Quando esse fenômeno acontece o prazo devacatioirá zerar e
recomeça a correr da nova publicação. É o que nos informa o Art. 1º § 3º DA
LINDB:

“Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto,
destinada a correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores
começará a correr da nova publicação. “Importante salientar também que se a
lei já está em vigor e ocorre alteração do seu texto, considera-se lei nova. Ou,
nas palavras de Costa Machado: “Implica existência de lei nova que revogará a
anterior, incorreta”2.

1
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Parte geral. 8. Ed. São Paulo: Saraiva,
2010, Vol. 1. P. 59.
2
Costa Machado, Código Civil Interpretado, ed. Manole, 5ª ed. pág. 4.

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Observe o § 4º do art. 1º da LINDB:
“As correções a texto de lei já em vigor consideram-se Lei nova.”
9
1.1.1 Vigência Extraterritorial da Lei Brasileira

De acordo com o § 1º do art. 1 da LINDB, quando a obrigatoriedade da


Lei brasileira for admitida em Estados estrangeiros, esta se inicia 3 (três)
meses depois de oficialmente publicada. Vejamos:

“Art.1º §1. Nos Estados estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira,


quando admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada”.

1.1.2 Princípio da Obrigatoriedade da Lei ou da Não Ignorância da Lei

O Princípio da Obrigatoriedade da Lei ou da Não Ignorância de Lei Vigente


encontra-se exposto no Art. 3º. da LINDB. Vejamos: “Ninguém se escusa de
cumprir a lei, alegando que não a conhece. “Sendo assim, deve-se entender
que a lei se aplica a todos, em todo o território nacional, não podendo ser
alegado o seu desconhecimento.

1.1.3 Hipóteses de Cessação de Vigência das Leis (art. 2º da LINDB)

A doutrinadora Maria Helena Diniz3elenca três hipóteses de perda da vigência


das leis:
1. Advento de termo final: existem leis que são criadas para vigorar por um
determinado período, ou seja, têm prazo de duração (vigência temporária). Ex:
Leis Orçamentárias
2. Advento de uma lei modificativa: é a que modifica o conteúdo de uma lei
anterior.
3. Advento de uma lei revogadora: é a que expulsa a lei anterior do
ordenamento jurídico.

Sobre esse tema, o caput do artigo 2º da LINDB nos informa:

“Não se destinando a vigência temporária, a Lei terá vigor até que outra a
modifique ou revogue. “A revogação de uma lei (perda da obrigatoriedade)
pode ser:
1.Total: todo o texto da lei é revogado (ab-rogação)
2. Parcial: Parte do texto da lei é revogado (derrogação)
Além disso, existem duas maneiras de se processar a revogação das leis:
1.Revogação Expressa: Lei nova declara expressamente a revogação da
antiga;
2.Revogaçao Tácita: A lei nova é incompatível com a anterior OU a lei nova
regula toda a matéria tratada na lei anterior.

Vejamos o que diz o art. 2º, §1º da LINDB:

3
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil 1, 28 ed.

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“A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja
com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava
alei anterior”.

Lembre-se, ainda, que a simples criação de uma lei com o mesmo assunto de
uma já existente não revoga a eficácia da lei antiga, Art. 2º. § 2º: “A lei nova,
que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não
revoga nem modifica a lei anterior. “A Lei Geral é a que traz disposições
genéricas sobre determinado instituto. Por exemplo: contrato de compra e
venda. Já a Lei Especial é a que também enfoca um instituto tratado na lei
geral, mas adiciona elementos novos. Por exemplo: O Código de Defesa do
Consumidor trata do contrato de compra e venda porém aplicado às relações
de consumo.

O § 3º do art. 2º da LINDB trata do que chamamos de repristinação, ou seja,


restaurar o valor obrigatório de uma lei que foi anteriormente revogada.
Observe: “Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter
a lei revogadora perdido a vigência”.

Como observa-se através da leitura do parágrafo retro mencionado, nosso


ordenamento jurídico não aceita a repristinação, exceto se houver disposição
em contrário.

Para entender o que é a repristinação, imagine que existam três leis: A,B e C.
A lei “B” revogou a Lei “A” e depois surgiu a Lei “C” que revogou a “B”.
Entretanto a Lei “C” além de revogar a “B”, diz: “fica restaurada a vigência da
Lei “A”. Nesse caso, a Lei “A” volta a vigorar (exceção), pois há uma
determinação expressa que a ordene (repristinação).

Lembrando que o fato da Lei “C” revogar a Lei “B”, isso por si só não faz com
que a Lei “A” volte a vigorar (Princípio da Não Repristinação, que é a regra). No
exemplo mencionado acima, a Lei “A “só voltou a vigorar pois houve uma
determinação expressa nesse sentido (repristinação).

1.2 Integração e Interpretação da Lei

Uma lei após ser criada deve aplicada. Ocorre que, muitas vezes, ela pode não
trazer as soluções para os casos concretos. Portanto, a função do juiz será a
de preencher as lacunas através da Integração Normativa, que é um conjunto
de técnicas que visam suprir eventuais lacunas do texto da Lei. Pois o juiz não
pode se recusar a analisar e julgar uma causa alegando a omissão da lei. É o
que se depreende da leitura do artigo 4º da LINDB: “Quando a lei for omissa, o
juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios
gerais do direito”.

Os meios de integração que devem ser utilizados pelo juiz estão expressos no
artigo 4º da LINDB, e devem ser utilizados na ordem hierárquica prevista na
norma, qual seja:

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1º ANALOGIA
2º COSTUMES
3º PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO
11
1.ANALOGIA: Para suprir a lacuna que se apresenta, o juiz utilizará uma norma
aplicada a um caso semelhante. Por exemplo, as regras aplicáveis à União
Estável foram aplicadas por analogia à União Homoafetiva uma vez que não
existe uma norma objetiva e direta aplica à União Homoafetiva.
2.COSTUMES: práticas sociais reiteradas, constantes, públicas e gerais de
determinado ato com a certeza de ser ele obrigatório. Ex: respeitar uma fila.
3.PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO: são valores que consagram o
ordenamento jurídico, que servem como norte de inspiração para as suas
normas. Ex: Princípio da Boa-fé, da Função Social, da Dignidade da Pessoa
Humana.

Quanto à interpretação o Código Civil adota a Interpretação Sociológica, que


assemelha-se à busca da vontade da lei. Focando o presente, tenta verificar o
sentido das palavras imprecisas analisando-se os costumes e os valores atuais
da sociedade. Após determinar-se um significado válido para a norma e
encontrarem-se os fatos a que se refere, resta mostrar que sua aplicação
concretizará seus fins sociais e levará ao bem comum, como determina o art.
5° da LINDB: “Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se
dirige e as exigências do bem comum”.

1.3 Conflito das Leis no Tempo

A atuação da lei no tempo é o que denominamos Direito Intertemporal, o qual


podemos observar através da leitura do artigo 6º da LINDB. Observe:

“Art. 6º. A lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico
perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.

§ 1º. Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao


tempo em que se efetuou.
§ 2º. Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém
por ele, possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo
pré-fixo, ou condição preestabelecida inalterável, a arbítrio de outrem.
§ 3º. Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial deque já não
caiba recurso.”

Da leitura do artigo temos que lei nova tem efeito imediato e geral, atingindo
somente os fatos pendentes e os futuros realizados sob sua vigência, não
abrangendo fatos passados.

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1.4 Eficácia da Lei no Espaço

Como visto anteriormente, preceitua o artigo 1º da LINDB: “Salvo disposição


contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois
de oficialmente publicada.”

Da leitura do dispositivo legal temos que a lei deve ser aplicada ao mesmo
tempo em todo o território nacional (Sistema da Obrigatoriedade Simultânea ou
Sincrônica). Ou seja, quando uma lei é criada, ela passa a ter validade
obrigatoriedade dentro do território nacional (Princípio da Territorialidade).

É importante salientar que o Brasil adotou a Territorialidade Mitigada ou


Moderada ou Temperada, pois em determinadas situações permite-se que
sejam aplicadas no Brasil leis e sentenças de outros Estados
soberanos(extraterritorialidade), mas desde que estejam de acordo com a
ordem pública, com os bons costumes e não ofendam a soberania nacional.

No conflito de leis no espaço a regra é que seja aplicado o direito pátrio. O


direito estrangeiro só pode ser aplicado em casos excepcionais e desde que
expressamente determinado pela legislação interna de um país.

As regras da execução de sentenças proferidas no estrangeiro estão dispostas


nos artigos 15 e 17 da LINDIB, cuja leitura se faz importante.

Ademais, importante registrar que a LINDB tem como base a “lei do domicílio”,
sendo assim, são por ela regidas as regras sobre começo e o fim da
personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família (art.7º); as regras
quanto aos bens móveis trazidos ou destinados ao transporte para outro
lugar(art. 8º § 1); sucessões (art.10) e a competência da autoridade
judiciaria(art.12).

Quanto aos bens e às obrigações, a legislação brasileira tem por base o


Princípio da Territorialidade, portanto se o bem estiver situado no Brasil,
aplicam-se as leis do Brasil. Igualmente, constituindo-se obrigações no Brasil,
também se aplicam as leis brasileiras. Em contrapartida, se o bem se situar no
exterior, aplicam-se as leis do exterior. A exceção no caso dos bens é quanto
aos bens móveis trazidos ou destinados a transporte para outros lugares, pois
nesse caso aplica-se a Lei do Domicílio. Essas informações estão contidas nos
artigos 8º e 9º da LINDB, cuja leitura se faz necessária.

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Atenção para a alteração legislativa: A lei 13.655/2018, de 26/04/2018, incluiu
na LINDB os artigos 20 a 30 que estabeleceram regras sobre a eficiência na
criação e na aplicação do direito público, além de segurança jurídica. Com
exceção do artigo 29, que tem uma vacatiode 180 dias, os demais dispositivos
já estão produzindo efeitos. É interessante conjugar a leitura deles com o
estudo das regras de Direito Administrativo.

2. PARTE GERAL

2.1 Da pessoa natural:

2.1.1 DA PERSONALIDADE JURÍDICA

A personalidade jurídica é o status no qual um sujeito torna-se sujeito de


direito, sendo a ele referenciado direitos e obrigações (art. 1/10, CC/02).

A aquisição da personalidade jurídica de acordo com nosso ordenamento


ocorre no momento em que o recém-nascido respira, nascimento com vida (art.
2ºCC/02), iniciado o funcionamento do aparelho cardiorrespiratório a pessoa
adquire personalidade jurídica, de acordo com a “teoria natalista” adotada por
nossos legisladores.

Devendo a mesma ser registrada em cartório de nascimento com o prazo de


até 15 dias, em caso de residir com distância maior que 30 km do cartório de
registro esse prazo é aumentado para 90 dias.

Do Nascituro:

O tema que discute sobre a personalidade jurídica do nascituro é alvo de


grande entusiasmos nos centros acadêmicos. Para efeitos de legislação o
nosso ordenamento no seu Art. 2º CC/02 protege o nascituro, dizendo: "A
personalidade civil da pessoa começa com o nascimento com vida; mas a lei
põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro".

A teoria da personalidade condicional onde o nascituro possui direito sob


condições suspensivas isso quer dizer que os direitos do ser humano são
resguardados, como direito a vida, alimentação, mas os direitos civis ou a
personalidade jurídica ainda não existe, neste caso em termos de direito à
herança o nascituro não tem participação.

Já a teoria concepcionista, diz que os direitos do nascituro são adquiridos


desde o momento de sua concepção, assim sendo eles teriam todos os direitos
como pessoa.

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O STJ decidiu que, se uma gestante envolve-se em acidente de carro e,
em virtude disso, sofre um aborto, ela terá direito de receber a
indenização por morte do DPVAT, nos termos do art. 3º, 1, da Lei
6.194/74.O DPVAT é um seguro obrigatório contra danos pessoais
causados por veículos automotores de via terrestre, ou por sua carga, a
pessoas, transportadas ou não. Em outras palavras, qualquer pessoa que
sofrer danos pessoais causados por um veículo automotor, ou por sua carga,
em vias terrestres, tem direito a receber a indenização do DPVAT. Isso
abrange os motoristas, os passageiros, os pedestres ou, em caso de morte, os
seus respectivos herdeiros. O art. 3º, I, da Lei 6.194/74 afirma que deverá ser
paga indenização do DPVAT aos herdeiros do falecido no caso de morte no
trânsito.

2.1.2 CAPACIDADE DE DIREITO E DE FATO E LEGITIMIDADE

Dizer que uma pessoa tem a capacidade jurídica de direito é o mesmo de


conceder a está pessoa personalidade jurídica, mas exercer essa
personalidade jurídica de forma pessoal nem sempre é possível para todos, a
exemplos dos organicamente impossíveis ou dos mentalmente impossíveis,
dessa forma temos a distinção da capacidade jurídica de Fato e de Direito.

Capacidade jurídica de Direito é herdada desde o nascituro como visto


anteriormente, já a capacidade jurídica de Fato, esta é condicionada ao fato de
o dotado do direito poder exercer seus direitos.

Capacidade não pode ser confundida com legitimidade, dizer que uma pessoa
tem legitimidade para exercer tal ato só é possível se seu ato e esta pessoa
estiverem de acordo com o ordenamento jurídico, assim sendo um pai que
herda uma herança de sua mulher não pode vende-la se não fizer antes um
inventário com seus filhos, logo aquele mesmo pai que tem capacidade
jurídica de fato e de direito, passa a não ter legitimidade nesta sua ação.

Incapacidade Absoluta:

Diz a teoria da incapacidade absoluta que a pessoa jurídica fica impossibilitada


permanentemente de realizar qualquer negócio jurídico. É importante ressaltar
que o incapaz não fica impossibilitado de responder por seus atos, sendo ele
responsável e devendo ele responder quando o seu responsável direito não
tiver obrigação ou quando não for possível.

Após a criação da Lei nº 13.146, de 6 de Julho de 2015, que instituiu a Lei


Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, chamada de Estatuto da

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Pessoa com Deficiência, apenas são absolutamente incapazes de exercer
pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos.

A lei revoga parcialmente a capacidade absoluta, tendo agora apenas uma


hipótese de incapacidade absoluta: o menor de 16 anos. Não mais subsistirão
as hipóteses de incapacidade absoluta por motivos psíquicos. Se a gravidade é
de tal grandeza que a pessoa enferma ou com deficiência não possa exprimir
sua vontade sobre o objeto de deliberação, não poderá praticar o ato. Deverá
ser nomeado curador.

As pessoas que, nas causas transitórias puderem exprimir sua vontade,


poderão praticar os atos da vida civil, desde que possam deliberar diretamente
sobre o ato.

Em suma, não há mais presunção de absoluta incapacidade para os que, por


enfermidade ou deficiência mental, tiverem o necessário discernimento para a
prática desses atos e os que, mesmo por causa transitória, puderem exprimir a
sua vontade.

O artigo 180 do Código Civil impede o ocultamento doloso da incapacidade,


prevendo a responsabilização do incapaz pelas obrigações assumidas sempre
que, ao entabular um negócio, o menor declarar-se maior ou ocultar a
menoridade de forma dolosa.

Incapacidade Relativa:

Os relativamente incapazes são todos os que por algum motivo temporário


fiquem impossibilitados de responder por seus atos jurídicos, mas que logo for
considerado apto ele pode praticar novamente os atos. Segundo o artigo 4º, do
Código Civil de 2002, com as alterações pela Lei Brasileira de Inclusão da
Pessoa com Deficiência, de julho de 2015:

Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os


exercer:

I – os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;


II – os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e osque, por deficiência mental,
tenham o discernimento reduzido;
III – os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo;
IV – os pródigos.

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Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação
especial.

Em relação aos relativamente incapazes, revogou-se a hipótese das pessoas


com deficiência mental com discernimento reduzido e dos excepcionais sem
desenvolvimento completo.

Tais situações foram substituídas pela nova redação do inciso III, ou seja,
considerar-se-ão relativamente incapazes aqueles que, por causa transitória ou
permanente, não puderem exprimir a sua vontade. Isso significa que, não
podendo exprimir a sua vontade, não poderão praticar os atos da vida civil
(verart. 6º Lei nº 13.146/2015).

As pessoas com discernimento reduzido e com desenvolvimento mental


incompleto ou completo que puderem exprimir a sua vontade poderão praticar
os atos da vida civil.
17
Assim sendo, não há mais a presunção de relativa incapacidade para os
que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido e os
excepcionais, sem desenvolvimento mental completo, mas que possam
exprimir a sua vontade.

2.1.3 EMANCIPAÇÃO

A menor idade cessar ao dezoito anos completos salvo alguns casos em que
poderá ocorrer se o agente tiver atingido a idade de dezesseis anos, porém é
importante ressaltar que a emancipação não exclui os pais da responsabilidade
solidária.

Casos da Emancipação de acordo com o Art. 5º, Parágrafo único, Incisos: I, II,
III,IV e V, CC/02.

Emancipação voluntária dos pais


Pelo casamento
Pelo exercício de emprego público
Pela colação de conclusão de curso de grau superior
Pelo estabelecimento de relações civis ou comerciais

Na emancipação voluntária dos pais, os pais, voluntariamente, podem


reconhecer a emancipação de seus filhos desde que este tenha dezesseis
anos completos e seja reconhecida em cartório (Art. 5º, Parágrafo único, Inc. I,
CC/02),neste caso é um ato irrevogável, ou seja, não pode depois os pais se
arrependerem. Ainda se faz possível a emancipação judicial, na qual o juiz
ouvindo o tutor pode conceder (Art. 5º, Parágrafo único, Inc. I, segunda parte).

A hipótese de casamento é a primeira que temos como hipótese legal, ou


seja, é um reconhecimento legal do código de que o menor passa a ser
emancipado. Neste caso não existe motivo para deixar uma nova família sob
custódia de outra, então o legislador entender que a nova família tem total

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liberdade jurídica e maturidade suficiente (Art. 5º, Parágrafo único, Inc. II,
CC/02).

Ainda é importante ressaltar que o casamento só ocorrerá com devida


autorização dos pais, o que por si só já é um reconhecimento voluntário de
emancipação, ainda temos um entrave no quadro das núpcias, neste caso o
dispositivo (Art. 1.520 do CC/02) faz essa concessão.

Bem como é importante frisar que em caso de rompimento do casamento o


menor não volta a ser tutelado pelos pais, isso só ocorre se o casamento não
ocorreu de maneira voluntária.

O entendimento de exercício em cargo público não quer dizer que tal pessoa
seja necessariamente um funcionário público concursado, basta que ele
mantenha um vínculo público efetivo a hipótese de emancipação já deve ser
considerada, porém dificilmente encontra-se concursos aos menores de
dezoito anos, então essa hipótese é vagamente utilizada (Art. 5º, Parágrafo
único, Inc. III,CC/02).

Colação de grau em curso de ensino superior, com amparo legal no(Art. 5º,
Parágrafo único, Inc. IV, CC/02), esta modalidade dificilmente será utilizada,
uma vez que exceto os excepcionais, dificilmente alguém concluirá um curso
superior antes dos dezoito anos completos.

No caso de estabelecimento civil ou comercial, ou a existência de relação


de emprego, desde que, o menor com dezesseis anos completos tenha
economia própria, o amparo legal está no Art. 5º, Parágrafo único, Inc.
V,CC/02 e, neste caso aquele que for menor de dezoito anos e tiver
estabelecimento civil ou comercial de forma que ele tenha economia própria,
será considerado emancipado mesmo que contra a vontade dos pais, situação
essa muito remota uma vez que o código comercial não considera comerciante
aquele que tem menos de dezoito anos.

Já para os casos de emancipação por via de relação de emprego é mais


aceitável e corriqueira. Como exemplo, existem os casos dos jogadores de
futebol, neste caso a legislação assegura a emancipação somente se
combinada com a independência econômica do menor.

Além disso é preciso que esta relação de trabalho seja por meio de assinatura
na CTPS (carteira de trabalho), assim sendo os contratos não são
reconhecidos como ato significante para emancipação. Em caso de
rompimento do trabalho e jovem que assinou sua CTPS não retorna a condição
de dependente.

2.1.4 EXTINÇÃO DA PESSOA NATURAL

A extinção da pessoa natural acaba com a morte (Art. 6º, do


CC/02),somente um especialista dotado de equipamentos médicos poderá
atestar o óbito sempre com testemunhas, abrindo nestes casos alguns direitos

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post mortem, assim como: a extinção do poder familiar, a dissolução do vínculo
conjugal, a abertura da sucessão, a extinção de contrato personalíssimo, etc.

A morte civil acontece em alguns casos em que a pessoa ficará


impossibilitada de exercer atividade civil e não se enquadra como incapaz,
vejamos o caso dos que tem prisão perpétua declarada, ou os indignos do
oficialato.

A morte presumida só pode ser decretada em casos que a lei autoriza a


abertura da sucessão definitiva (Art. 6º, CC/02).

Porém temos alguns casos que a declaração de morte presumida não depende
da situação de ausência, como prevista no Art. 7º, Inc. I e II, CC/02,vejamos:

I. se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida.


II. se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for
encontrado até dois anos após o término da guerra.

Essa declaração de morte presumida só pode ser emitida em casos queforem


esgotadas as buscas.

A morte do interditando no curso da ação de interdição não implica, por


isso, a extinção do processo sem resolução de mérito da ação de exigir
contas por ele ajuizada mediante seu curador provisório, tendo o espólio
legitimidade para prosseguir com a ação de exigir contas.(STJ. 3"Turma. REsp
1.444.6n-SP, Rei. Min. João Otávio de Noronha. Julgado em 3/5/2016 (lnfo
583).

2.1.5 DA AUSÊNCIA

A ausência é um estado de fato em que a pessoa simplesmente desaparece de


seu domicilio, o antigo código tratava este como absolutamente incapazes de
exercer atos na vida civil, o que se demonstrou como grande equívoco uma vez
que a pretensão é de tutela dos bens (art. 22/39, CC/02).

A ausência passa a ser reconhecida como morte presumida (Art. 6º,CC/02) a


partir do momento que se abre o processo de sucessão definitiva e como
prescreve os artigos 22 ao 39 do mesmo código, fazendo uma série de
estágios antes da consagração de tal sucessão.

Na curadoria dos bens, com a intenção de preservar os bens do ausente, o


juiz irá decretar seu curador seguindo de forma não discricionária, ou seja,
respeitando o que a legislação prescreve, sendo inicialmente o cônjuge se não

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for divorciado judicialmente ou de fato até dois anos antes da decretação de
ausência, os pais, os descendentes sendo o mais próximo, qualquer outra
pessoa.

A sucessão provisória dará início, após decorrido um ano da arrecadação dos


bens do ausente, ou se por acaso ele tiver deixado procurador, será de três
anos.

A abertura da sucessão provisória é o reconhecimento de um possível


falecimento do ausente, neste caso poderá solicitar sua abertura (Art. 27,
CC/02):

I. Os cônjuges não separados judicialmente


II. Os herdeiros presumidos, legítimos ou testamentários;
III. Os que tiverem sobre os bens do ausente direito dependente de sua morte;
IV. Os credores de obrigações vencidas e não pagas.

Ainda partindo do pressuposto que o ausente não está falecido o legislador deu
garantias de que seus bens permanecerão como ele deixou, dessa forma aos
que interessarem a posse provisória dos bens só far-se-á mediante pagamento
de garantias de valor igual ao bem que for tutelado para si (Art. 30, CC/02).

Só terá direito de ter a posse provisória aqueles que fizerem pagamento de


quinhão equivalente ao valor do bem, em caso de não poderem pagar, será
considerado excluído e o bem ficará a controle do curador, ou de outro
herdeiro que possa prestar conta de sua parte (Art. 30, § 1.º, CC/02), nos
casos de ser o ascendente, descendente e ou cônjuge, estes não fazem
obrigado a pagar parte de seu quinhão (Art. 30, § 2.º, CC/02).

Com relação aos rendimento estes em caso de descendentes, ascendentes e


ou cônjuges, estes ficarão com sua totalidade, mas em caso de demais
sucessores, estes só terão parte a metade do quinhão, ficando obrigado de
prestarem contas ao juiz anualmente (Art. 33, CC/02), caso o excluído como
citado anteriormente não tiver condições, este ainda pode reclamar metade da
metade do quinhão que lhe couber caso outro herdeiro resolva assumir sua
parte(Art. 34, CC/02).

Caso o ausente seja declarado como morto durante a posse provisória, esta
será convertida em definitiva, considerando-se aberta na data comprovada, em
favor dos herdeiros que o eram àquele tempo (Art. 35, CC/02).

Se após declarada a posse provisória o ausente aparecer ou for prova da sua


existência, cessarão logo todas as vantagens dos sucessores nelas imitidos e
estes devem devolver seus bens (Art. 36, CC/02).

Após declarada abertura da posse provisória o ausente tem o prazo de cento e


oitenta dias para declarar sua presença (Art. 28, CC/02).

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Caso o ausente apareça após declarada posse provisória e este não tenha
uma justificativa, todos os rendimentos de seus bens ficarão com os
sucessores(Art. 33, Parágrafo único, CC/02).

A sucessão definitiva acontece uma vez que não existe mais esperança de
que o ausente esteja vivo, para isso são esperados dez anos após o início da
sucessão provisória (Art. 37, CC/02), ou ainda, em casos que o ausente
tenha oitenta anos de idade e cinco anos sem dar notícias (Art. 38,
CC/02),poder-se-á requerer a abertura da sucessão definitiva de imediato,
desde que de cinco anos datem as suas últimas notícias.

Se num prazo de dez anos o ausente aparecer ou um de seus herdeiros, ou


seja, se houver o retorno do ausente, este poderá reclamar ao juiz o seu bem
da forma que o deixou, assim sendo as melhorias devem ser pagas (Art. 39,
CC/02), mas se passado dez anos e o ausente não retornar nem ninguém
impetrar sucessão definitiva, os bens passarão para o município e distrito
federal (Art. 39, parágrafo único, CC/02).

Justificação do óbito: O Ministério Público poderá intervir para justificar a


morte de alguém quando nos casos previstos no (Art. 88, LRP).A comoriência
ou morte simultânea é definida quando não se pode presumir o horário exato
da morte de mais de uma pessoa, ela tem grande relevância principalmente
nos direitos post mortem como a herança por exemplo.

2.1.6 DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE

Os direitos da personalidade representam uma grande conquista por parte da


pessoa natural no ordenamento jurídico, uma vez que antes o código
preocupava-se mais com os bens pessoais e agora assume uma postura de
preocupação com o indivíduo enquanto pessoa, entre os direitos da
personalidade encontra-se aqueles relativos as condições psíquicas, físicas e
morais das pessoas (Art. 11/21, CC/02).

Temos dentro do direito da personalidade duas correntes que discutem sobre


tais direitos, a primeira é chamada de corrente positivista e a segunda
corrente jusnaturalista, a primeira defende que os direitos fundamentais só
devem ser reconhecidos se for pelo Estado e somente este daria força jurídica
para tal, não aceitando a ideia de origem nata, já a segunda diz que os direitos
fundamentais são naturais, ou seja, estão ligados a condição humana e caberia
ao Estado reconhecê-los.

A discussão sobre a extensão dos direitos da personalidade teve um grande


entrave no que diz respeito ao reconhecimento deste as pessoas jurídicas,
sendo alvo de grandes debates, uma vez que a pessoa jurídica não é ser
humano, mas acontece que são providos de personalidade e assim sendo o
reconhecimento de seus direitos foi incorporado no novo código no Art.
52,CC/02.

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Súmula 227-STJ: A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.

2.1.6.1 Características dos Direitos da Personalidade

Sendo os direitos da personalidade voltados para a moral e condições


psíquicas das pessoas, este é dotado de diversas características peculiares.

Absolutos;
Gerais;
Extrapatrimoniais;
Indisponíveis;
Imprescritíveis;
Impenhoráveis;
Vitalícios.

Caráter absoluto: Esta característica do direito da personalidade defende que


este seja presente em todos os campos e impõe a coletividade o dever de
respeitá-los.

Generalidade: Esta característica diz que os direitos da personalidade são


estendidos a todas as pessoas somente pelo fato delas existirem.

Extrapatrimonialidade: Nesta característica o direito da personalidade ratifica


mais uma vez sua preocupação com a pessoa humana e não com seus bens,
dessa forma o direito da personalidade proíbe que seja matéria de seu
ordenamento as relativas aos dinheiros, bens, etc., não ficando livre de
serem mensuradas em caso de sua violação.

Indisponibilidade: Esta característica garante ao direito da personalidade que


este seja intransmissível e irrenunciável, ou seja, a irrenunciabilidade diz
que este direito não é facultativo a pessoa, sendo ele irrenunciável, mesmo os
casos de suicídio não sendo punível. Já a intransmissibilidade define que
este não pode ser modificado subjetivamente, seja de forma gratuita ou
onerosa(inalienabilidade), exceto nos casos que a lei prevê como os casos de
uso de imagem, neste momento a pessoa não está transmitindo seu direito e
sim autorizando seu uso.

Imprescritibilidade: Esta característica garante a pessoa que seu direito da


personalidade é imprescritível, ou seja, não tem data ou prazo de término, o
que se difere da prescritibilidade em relação a uma ação de danos, uma vez
ocorrido o dano começa-se a contar daquela data três anos até a prescrição de
tal fato (Art. 206, § 3.º, Inc. V, CC/02).

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Impenhorabilidade: Esta característica tem uma atenção especial, uma vez
que a impenhorabilidade garante que o direito da personalidade não possa ser
objeto de penhora, diferente dos lucros resultantes pelo uso da imagem por
exemplo.

Vitaliciedade: Por fim a característica de vitaliciedade garante que o direito da


personalidade existe com a pessoa desde seu nascimento até sua inexistência,
mas em alguns casos este direito existe mesmo depois da morte, como é o
caso do direito ao corpo morto (cadáver) ou direito a imagem do morto.

Outro ponto importante é que o direto personalíssimo independe da execução


forçada, ou seja, eles independem do pronunciamento do juiz sobre o mesmo,
o fazendo só em casos que seja necessário reparar algum dano.

2.1.6.2 Classificação dos Direitos da Personalidade

As classificações obedecem a critérios específicos de cada autor, adotemos a


classificação dos direitos da personalidade pelas categorias
corpo/mente/espírito, assim sendo temos:

Vida e integridade física (corpo vivo, cadáver)
Integridade psíquica e criações intelectuais (liberdade, criações intelectuais,
privacidade, segredo)
Integridade moral (honra, imagem, identidade pessoal)

Direito à vida: Não existe muito o que se escrever sobre o direito à vida,uma
vez que é entendido como fundamental e faz parte da personalidade humana,
sendo inclusive garantido aos nascituros.

Direito à integridade física: Esse direito garanti as pessoas a proteção de seu


maior bem, o corpo, quando este estiver ameaçado de seu funcionamento
correto, vejamos mais sobre isso:

Temos o caso trazido pelo Art. 15, CC/02 que diz: "Ninguém pode ser
constrangido a submeter-se, com o risco de vida, a tratamento médico ou
intervenção cirúrgica", o código é claro, salvo em casos que apresenta risco
iminente de vida, o médico não poderá obrigar o paciente a passar por
procedimento médico, como exemplo temos o caso das pessoas que se
recusam a receber sangue através da transfusão por convicção religiosa ou
filosófica.

Ainda no campo da integridade física temos aqueles que se submetem a


esportes ou profissões de risco, neste caso fica assegurado a responsabilidade
ao seu chefe imediato nos casos de profissão e nos casos de esporte o direito
penal resguardar sobre a ótica do princípio da adequação social.

Direito ao corpo humano: O direto ao corpo aparece como um


direitofundamental relacionado ao direito à integridade física, este divide-se em
corpovivo ou morto.

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Corpo Vivo: Neste momento que se aborda sobre o corpo vivo a maior
preocupação do legislador é com a mutilação para fins lucrativos, o que é
totalmente inaceitável, mas é possível que o corpo possa ser modificado sobre
situação cirúrgica respeitando alguns casos. Nos casos de transplantes de
órgãos, é necessário que o doador deixe por escrito sua vontade e tenha ainda
duas testemunhas e o parecer do médico deque aquele procedimento é
necessário, feito isso é preciso ter autorização judicial, salvo nos casos de
medula óssea, assim como o consentimento do receptor.

Corpo Morto: O direito ao corpo morto faz parte do direito da personalidade,


dessa forma fica protegido o corpo do morto de qualquer ato que o difame
assim como a seu nome, salvo os casos que a família autorizar a doação de
órgãos e em casos de investigação criminal, assim como na autópsia para
designar a causa da morte. A exumação só deve ocorrer com ordem judicial
expressa e seus órgãos só podem ser doados em caso de transplante ou
científicos, com a devida autorização dos familiares e sem fins lucrativos.

Direito à voz: Fica assegurado também o direito a voz, esta surge como parte
fundamental da personalidade da pessoa assim como a imagem.

Direito à integridade psíquica: O direito a integridade psíquica visa proteger


um dos maiores bem do ser humano que é os atributos do campo psíquico
(liberdade, intimidade, segredo), dessa forma ele surge no direito da
personalidade uma vez que é no campo da mente que se define a
personalidade do homem.

Direito à liberdade: O direito à liberdade está assegurado na nossa


constituição e é reconhecido pelo código civil como parte da personalidade do
cidadão, assim sendo deve ser um bem protegido, o maior dilema desse direito
é a definição de liberdade do ponto de vista jurídico.

Direito à liberdade de pensamento: No direito à liberdade de pensamento


temos uma preocupação do legislador com as crenças do homem, assim este
direito se divide em dois: liberdade ao foro íntimo e liberdade de
consciência e crença, a liberdade ao foro íntimo defende que ninguém será
constrangido apensar deste ou daquele modo e a liberdade de consciência e
crença defende que todos tem o direito de ter suas convicções políticas,
filosóficas e religiosas, devendo a lei resguardar também os locais de culto e
das liturgias.

Direito às criações intelectuais (autoria científica, artística e literária): Este


momento o direito visa proteger a propriedade intelectual dos cidadãos,
fazendo uma separação do direito autorais morais e patrimoniais, quando
uma pessoa transmite a outra os direitos autorais, ela na verdade transmite os
direitos patrimoniais sobre o autor, já os morais este não podem ser
transmitidos.

Direito à privacidade: O direito à privacidade aparece como um grande pilar


no direito da personalidade, uma vez que todo cidadão tem o direito demanter

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sua vida privada no mais alto sigilo. O direito à privacidade aparece em nosso
ordenamento jurídico (Art. 21, CC/02) resguardando a todos o direito inviolável,
fazendo com que o juiz aja de forma a impedir sua violação a pedido do
interessado. Há vários elementos que compreendem o direito à privacidade,
como o lar, correspondência, este que nos últimos anos vêm sendo alvo de
constantes infrações.

Direito ao segredo pessoal, profissional e doméstico: Este se divide em


três: segredo das comunicações, doméstico e profissional.

Direito à integridade moral:


Direito à honra: O direito a honra aparece de duas formas: objetiva e
subjetiva, a honra objetiva é aquela que reflete a reputação da pessoa, seu
nome, sua fama já a honra subjetiva é aquela que cuida do íntimo, por exemplo
temos a tristeza, angústia, sofrimento todos podem ser mensurados e
reparados seus respectivos danos.

Direito à imagem: O direito à imagem visa resguarda em um primeiro


momento a imagem da pessoa perante a sociedade assim como o seu retrato
propriamente dito, seus aspectos físicos (Art. 20, CC/02).

Direito à identidade: Art. 16/19, CC/02

É possível que sentença condenatória que condenou o réu em danos morais


determine a sua divulgação nos mesmos veículos de comunicação em que foi
cometida a ofensa à honra, desde que fundamentada em dispositivos legais
diversos da Lei de Imprensa. STJ. 2a Seção. AR 4.490-DF, Rei. Min. Villas
Bôas Cueva, julgada em24/10/2012.)

O direito dos transexuais à retificação do prenome e do sexo/gênero no


registro civil não é condicionado à exigência de realização da cirurgia de
transgenitalização. STJ. 4 Turma. REsp. 1.626.739-RS, Rel. Luís Felipe
Salomão, julgado em9/5/2017 (Info 608).

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“A personalidade civil da pessoa começa com o
Personalidade
nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a
Jurídica concepção, os direitos do nascituro” (Art. 2º, CC/02).
Capacidade jurídica de Direito é herdada desde o
Capacidade nascituro, já a capacidade jurídica de Fato, esta
De Direito E
condicionada ao fato de o dotado do direito poder exercer
De Fato
seus direitos.
Casos da Emancipação de acordo com o Art.
5º,Parágrafo único, Incisos: I, II, III, IV e V, CC/02
Emancipação Emancipação voluntária dos pais
Pelo casamento
Pelo exercício de emprego público
Pela colação de conclusão de curso de grau superior
Pelo estabelecimento de relações civis ou comerciais
Extinção Da A extinção da pessoa natural acaba com a morte (Art. 6º,
Pessoa do CC/02)
Natural
A ausência é um estado de fato em que a pessoa
simplesmente desaparece de seu domicilio, o antigo
Ausência
código tratava este como absolutamente incapazes de
exercer atos na vida civil, o que se demonstrou como
Sendo os direitos da personalidade voltados para a moral
condições psíquicas das pessoas, este é dotado de
diversas características peculiares.
Absolutos;
Gerais;
Direitos Da Extrapatrimoniais;
Personalidade Indisponíveis;
Imprescritíveis;
Impenhoráveis;
Vitalícios.
As classificações obedecem a categorias como exemplo
corpo/mente/espírito:
Vida e integridade física (corpo vivo, cadáver)
Integridade psíquica e criações intelectuais(liberdade,

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criações intelectuais, privacidade, segredo)
Integridade moral (honra, imagem, identidade
pessoal)

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O artigo 2º do Código Civil dispõe que a personalidade civil
da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põea
salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. Porsua
vez, o artigo 3º do Código Civil dispõe que são
absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos
da vida civil os menores de 16 anos. De acordo com o
Código Civil,

a) a personalidade civil inicia-se com 16 anos completos,


embora a lei resguarde os direitos não patrimoniais a partir
do nascimento com vida.
b) a personalidade inicia-se com o nascimento com vida,
mas até os 16 anos a pessoa não tem capacidade para
praticar os atos da vida civil, devendo ser representada.
c) o ordenamento adotou a teoria concepcionista, que atribui
personalidade civil ao nascituro, sob condição suspensiva.
d) como o ordenamento adotou a teoria natalista, admite-se,
como regra, o aborto, pois a personalidade se inicia apenas
com o nascimento com vida.
e) a capacidade dos menores de 16 anos equipara-se à dos
que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o
necessário discernimento para a prática dos atos da vida
civil.

QUESTAO 1: GABARITO COMENTADO: Letra B


DA PESSOA
a) INCORRETA: A Capacidade Civil plena, em regra,
NATURAL
começa aos 18 anos completos, e a Personalidade Civil
começa com o nascimento com vida.
b) CORRETA: Somente são representados os
absolutamente incapazes, conforme a inteligência dos
artigos abaixo:

Art. 2o A personalidade civil da pessoa começa do


nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a
concepção, os direitos do nascituro
Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer
pessoalmente os atos da vida civil os menores de
16(dezesseis) anos.

c) INCORRETA: houve troca de conceitos entre as teorias.


A teoria da personalidade condicional estabelece que o
nascituro tem determinados direitos, mas que estes estão
sujeitos a uma condição suspensiva, qual seja, o
nascimento deste com vida. Por outro lado, a teoria

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concepcionista diz que a personalidade civil da pessoa
natural já existe no nascituro (concepção), sem necessidade
do preenchimento de nenhum outro requisito (como o
nascimento com vida, por exemplo).
d) INCORRETA: Ainda que o CC tenha adotado a teoria
natalista, o ordenamento jurídico em geral converge na
teoria concepcionista do nascituro para casos em que se
discute dano moral devido ao nascituro, dessa forma, o
aborto é proibido e é considerado um crime contra a vida, de
acordo com o CP. O ordenamento jurídico como um todo– e
não apenas o Código Civil de 2002 – alinhou-se mais à
teoria concepcionista para a construção da situação jurídica
do nascituro, conclusão enfaticamente sufragada pela
majoritária doutrina contemporânea (STJ 1.415.727-SC)
e) INCORRETA: Errado, o primeiro é absolutamente
incapaz, e o segundo, deixou de ser relativamente incapaz,
por força da lei 13.146 de 2015.

2.2 Da Pessoa Jurídica:

TÓPICOS SOBRE PESSOA JURÍDICA

As pessoas jurídicas podem se constituir pelo agrupamento de


pessoas(universitaspersonarum) ou de um patrimônio com destinação
específica(universitasbonorum).São pessoas jurídicas de direito público
interno: União, Estados, Distrito Federal e Municípios, bem como suas
respectivas autarquias, inclusive associações públicas e as demais entidades
de caráter público criadas por lei. Entes despersonalizados: sociedade de fato,
condomínio edilício, massa falida, herança jacente/vacante.

Pessoas de direito público externo: Estados estrangeiros e todas as pessoas


que forem regidas pelo direito internacional público.

Pessoas de direito público privado: associações, fundações, organizações


religiosas, partidos políticos e empresa individual de responsabilidade limitada.

A existência da pessoa jurídica de direito privado começa com a sua inscrição


no respectivo registro (Cartório de Pessoas Jurídicas ou Junta
Comercial),precedida, quando necessário, da autorização ou aprovação do
poder executivo. Decai em três anos o direito de anular constituição de
pessoa jurídica de direito privado.

Desconsideração da personalidade jurídica: o Código Civil adota a teoria


maior de desconsideração da personalidade jurídica, sendo essencial o
cumprimento dos requisitos para que seja declarada. Dessa maneira, será
desconsiderada a personalidade jurídica no caso de abuso da personalidade,
sempre que caracterizar desvio de finalidade ou confusão patrimonial.

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Associações: agrupamento de pessoas, cujo objetivo é a realização de
atividades sociais (fins não econômicos), sem visar à distribuição de lucros.
Associação poderá ter lucro, mas não será distribuído, e sim investido na
associação.
- Não há entre os associados direitos e obrigações recíprocos;
- Os associados devem ter iguais direitos, mas o estatuto pode estabelecer
categorias com vantagens especiais.
- A qualidade de associado é intransmissível, salvo disposição contrária do
estatuto.
- Assembleia-Geral: destituição dos administradores e alteração do estatuto.
- Exclusão de associado: só havendo justa causa. Eficácia horizontal dos
direitos fundamentais.
- Patrimônio residual: entidade de fins não econômicos designada no estatuto,
ou à instituição municipal, estadual ou federal de fins idênticos ou
semelhantes, por deliberação dos associados, no caso de omissão do
estatuto.

Fundações: patrimônio afetado a uma finalidade. o candidato deve atentar às


hipóteses previstas no rol do parágrafo único, do artigo 62, que estabelece os
fins pelo qual poderão ser constituídas fundações, pois é recorrentemente
cobrado em prova. As hipóteses são para fins de: assistência social; cultura,
defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico; educação; saúde;
segurança alimentar e nutricional; defesa preservação e conservação do meio
ambiente e promoção do desenvolvimento sustentável; pesquisa cientifica,
desenvolvimento tecnológico, modernização de sistemas de gestão, produção
e divulgação de informações e conhecimentos técnicos e científicos; promoção
da ética, da cidadania, da democracia, e dos direitos humanos; atividades
religiosas. São 4 as fases de constituição da fundação: a) instituição
fundacional: por instrumento público ou testamento; b) elaboração do
estatuto; c)aprovação do estatuto; e d) registro em cartório.
ₒ Se o estatuto da fundação não for elaborado no prazo descrito pelo
instituidor, ou, não havendo prazo, caberá ao Ministério Público elaborá-lo,
em180 dias.
ₒ O quórum para alterar o estatuto da fundação é de 2/3 das pessoas
competentes para gerir e representa-la. A alteração deverá ser aprovada pelo
Ministério Público, em um prazo de 45 dias, que, se não cumprido, ou, se
denegada a alteração, poderá o juiz supri-la, a requerimento dos interessados.

Teoria da Aparência: Trata-se da juridicização de uma situação fática, em


virtude da proteção da boa-fé. Ex.: citação da pessoa jurídica na pessoa do
gerente ou do empregado que aparente ter poderes de receber a citação.
Ex2.: representação aparente.

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JURISPRUDÊNCIA

RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA: O STF entendeu que


é admissível a condenação de pessoa jurídica pela prática de crime ambiental,
ainda que absolvidas as pessoas físicas ocupantes de cargo de presidência ou
de direção do órgão responsável pela prática criminosa. (Info714).

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. ASSOCIAÇÃO


CIVIL.PERSONALIDADE JURÍDICA.
DESCONSIDERAÇÃO.RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA. ART. 1.023 DO
CC/02. NÃOAPLICÁVEL.
1. Recurso especial interposto em 15/08/2012 e atribuído a este gabinete em
25/08/2016.
2. Associações civis são caracterizadas pela união de pessoas que se
organizam para a execução de atividades sem fins lucrativos. Sociedades
simples são formas de execução de atividade empresária, com finalidade
lucrativa.
3. Art. 1.023 do CC/02 aplicável somente às sociedades simples.
4. Recurso especial a que se nega provimento.(REsp 1398438/SC, Rel.
Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 04/04/2017, DJe
11/04/2017)

A respeito de direitos da personalidade, pessoas jurídicas e


personalidade, julgue o item a seguir, de acordo com a
jurisprudência do STJ. Caso determinada rede de rádio, por
informações veiculadas em sua programação, atinja a honra e
a imagem do próprio Estado, será admitida, nessa hipótese,
QUESTÃO ação indenizatória por dano moral pelo ente federativo em
1: PESSOA desfavor da empresa de radiodifusão, devendo o locutor
JURÍDICA responder regressivamente se tiver agido com dolo ou culpa.
Nesse caso, se o locutor for economicamente hipossuficiente,
deverá a DP atuar na defesa dele.

ERRADO: Pessoa Jurídica de direito público não pode pleitear


indenização por dano moral contra particular, por violação ao
direito de imagem ou da honra.

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2.3 Teoria Geral do Negócio Jurídico:

2.3.1 FATOS JURÍDICOS

As Pessoas (Naturais ou Jurídicas) ao desenvolverem suas atividades na


sociedade podem com suas atitudes gerar consequências jurídicas. Essas
atitudes juridicamente relevantes são denominados Fatos Jurídicos.

Os Fatos Jurídicos em sentido amplo podem ser divididos em:


Fatos Jurídicos Naturais (fatos jurídicos em sentido estrito)
Fatos Jurídicos Humanos (atos jurídicos em sentido amplo).

Os Fatos Jurídicos Humanos, ou atos jurídicos em sentido amplo, são, as


situações juridicamente relevantes que tem origem em uma vontade humana,
que as criam, modificam, transferem ou extinguem direitos, subdividem-se em:

Lícitos
Ilícitos

Os Fatos Jurídicos Lícitos são os que a lei defere os efeitos almejados pelo
agente. Praticados conforme determina o Ordenamento Jurídico, produzindo
efeitos voluntários, queridos pelo agente. Denominados pela Professora Maria
Helena Diniz (2003, p. 246) de voluntários (lícitos) e involuntários (ilícitos).

Os atos jurídicos em sentido amplo lícitos ainda são divididos em atos


jurídicos em sentido estrito ou meramente lícitos e negócios jurídicos,
sendo que alguns autores ainda disciplinam uma terceira categoria o ato-fato
jurídico.

Todas as ações das pessoas que são juridicamente relevantes para o Direito
são consideradas como Fatos Jurídicos e, por isso, são também denominados
Fatos Jurídicos em sentido amplo.

Caio Mário da Silva Pereira clarifica que dois fatores constituem o fato jurídico:
um fato, isto é uma eventualidade que atue sobre o direito subjetivo; e uma
declaração da norma jurídica que confere efeitos jurídicos àquele fato. Maria
Helena Diniz (2003, p. 248) salienta: “É o acontecimento, previsto em norma
jurídica, em razão do qual nascem, se modificam, subsistem e se extinguem
relações jurídicas.”

Os Fatos Jurídicos Naturais, por sua vez, também denominados Fatos


Jurídicos em sentido estrito, são as situações sociais juridicamente relevantes
que decorrem, em regra, da própria natureza, sem intervenção humana,
subdividem-se em:

Ordinários
Extraordinários

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Os Fatos Naturais Ordinários são os fatos naturais “previsíveis” ou “comuns”,
como o nascimento, maioridade, morte, decurso do tempo, aluvião, avulsão.

Os Fatos Naturais Extraordinários são os fatos naturais que decorrem de


“eventos não previsíveis” ou “especiais”, tais como terremoto, maremoto, raio,
tempestade destruidoras, ou seja, casos fortuitos ou força maior. Podem ser
classificados em:
Caso Fortuito
Força Maior
"Factum Principis"
Os dois primeiros são configurados como fatos capazes de alterar os fatos
jurídicos já existentes ou ainda criar novas relações jurídicas. O "factum
principis" tem a mesma similaridade com os dois supracitados, no entanto,
distingue-se uma vez que essa modificação acontece devido à presença do
Estado intervindo para que isso ocorra.
2.3.2 ATOS JURÍDICOS

Os atos jurídicos dividem-se em:


Ato Jurídico em sentido estrito ou Ato Lícito
Atos-fatos Jurídicos ou Atos Ilícitos

Tais atos são alicerçados ou não no consentimento da pessoa jurídica ou física


em sua ação sistematizada da vontade que lhes dá existência imediata e
consequentemente efeitos jurídicos.

Ato Jurídico em sentido estrito ou Ato Lícito

O Ato Jurídico em Sentido Estrito, ou meramente lícito, é um ato praticado pelo


agente, com manifestação de vontade, predeterminado pela norma, sem que o
agente possa qualificar diferente a sua vontade. A ação humana resume-se a
uma mera intenção de praticar o ato prescrito na lei, por isso é que nem
todos os princípios do Negócio Jurídico aplicam-se aos Atos Jurídicos em
Sentido Estrito.

É o que diz Maria Helena Diniz, (2003, 267) acerca do ato jurídico: “Ato Jurídico
strictu sensu que surge como mero pressuposto de efeito jurídico, preordenado
pela lei, sem função e natureza de auto regulamento”.

Diante disso, o ato jurídico pode ser entendido como sendo na verdade um
acontecimento oriundo da vontade de uma pessoa física ou jurídica, que
produz efeitos de ordem jurídica.

Mas é importante frisar que para tal aplicação da vontade se faz imprescindível
que tenha-se a ocorrência de um acontecimento lícito fundado em direito, que
não esteja em desacordo com o nosso então ordenamento jurídico.

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São exemplos de atos jurídicos: notificação para constituir mora do devedor;
reconhecimento de filho; ocupação; uso de coisa; perdão; confissão; tradição;
etc.

Atos-fatos Jurídicos ou Atos Ilícitos

O ato ilícito é derivado da manifestação da vontade humana, sendo praticado


em desacordo com a ordem jurídica, violando direito subjetivo. Dessa forma, é
a conduta realizada juntamente com a infração de um dever legal previamente
estipulado, resultando dano, prejuízo para outrem, o que gera o dever de
ressarcimento a vítima.

O ato ilícito produz efeitos jurídicos, sendo estes por sua vez não desejados
pelo agente, mas impostos pela lei, conforme os artigos 186 e 187 do CC/2002:

“Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete
ato ilícito.

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo,
excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social,
pela boa-fé ou pelos bons costumes.”

Contudo, não causam direitos, mas sim deveres, como o dever de reparar o
dano: “Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (artigos. 186 e 187), causar dano a
outrem, fica obrigado a repará-lo.”

Vale frisar que boa parte da nossa doutrina vigente não recepciona como
jurídico o ato ilícito, por se apresentar de forma contraria ao dispositivo
normativo, embora este produza efeitos que ensejam responsabilidade civil.

Porém, hoje se admite que estes atos integrem a categoria dos atos jurídicos,
tomando como base os efeitos que eles geram ou produzem.

2.3.3. DO NEGÓCIO JURÍDICO

Sua existência só é possível em decorrência da vontade das partes envolvidas.


Isto é, consiste na declaração vontade privada, diferindo dos fatos já que não é
um mero acontecimento, destinados a produzir efeitos que o agente pretende e
o Direito reconhece. A vontade própria do Estado só se manifesta em
determinadas situações que se faz necessário a fim da exigência de uma
obrigação ou para que algo seja cumprido.

2.3.3.1. Elementos Constitutivos do Negócios Jurídicos



Elementos Essenciais Comuns ou Gerais dos Negócios Jurídicos:

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Conforme é descrito no Código Civil, para que um negócio jurídico seja
considerado pleno, é necessário que ele reúna três fatores: vontade, objeto
lícito, determinado e possível e agente capaz (Pinto et Alli, 2007, pág. 271).

Tal fato é perceptível no artigo 104, incisos I e II do Código Civil, determinando


que "Art. 104 – A validade do negócio jurídico requer: I – agente capaz; II –
objeto lícito, possível, determinado ou determinável".

Vontade: segundo é apresentado por Gama (2006, pág. 386), a vontade
consiste na manifestação do anseio ou do desejo de uma das partes ou de
ambas as partes. É dividida em uma tríade:

- Vontade Expressa: consiste na manifestação escrita ou mesmo identificada


a partir de um gesto que possibilite a concordância ou discordância. Essa
forma ainda estende-se ao comportamento e inclui a linguagem que é utilizada
por uma das partes.
- Vontade Tácita: é passível de ser identificada, tendo como base a forma de
agir de um indivíduo.
- Vontade Presumida: inclui todos os comportamentos que estão descritos ou
ainda enquadrados no texto da legislação.

Não obstante, carece ainda salientar que a Declaração de Vontade pode


configurar em duas formas distintas: Declaração Direta: consiste na
declaração mediante a informação de consentimento ou não para que o
negócio jurídico para que o Negócio jurídico ocorra, por parte de um ou de
ambos os envolvidos. Declaração Indireta: é caracterizada quando há a
utilização de algum instrumento ou meio – podendo incluir desde SEDEX e AR
até mesmo a utilização de um procurador. Já no que tange a situação de
absolutamente capazes, admite-se representante já que o representado na
esfera judicial não existe por si só. Quanto à questão dos relativamente
incapazes, há uma dicotomia, caso ele se manifeste será considerada direta e
ao passo que for representado por terceiros, será considerado indireto.

Objeto – em conceituação, é aquilo sobre o que incide um direito ou uma


obrigação. Pode ser classificado em duas espécies distintas:
- Objeto Jurídico – é o que está estabelecido por um indivíduo como matéria
sobre qual versará o negócio jurídico. A guisa de exemplificação, as prestações
de um serviço ou um comportamento que o obrigue.
- Objeto Material – são os bens sobre as quais incidem os poderes de uma
relação jurídica iniciada. Faz-se mister ainda discorrer acerca dos requisitos
necessários para que um objeto seja qualificado para ser matéria de um

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negócio jurídico, conforme estabelecido pela legislação. São elencados três
(03) condições: licitude, determinável, possível.
- Objeto Lícito: é aquele que não contraria nenhuma predeterminação
estabelecida em lei, estando em conformidade aos bons costumes, à ordem
pública e à moral. Caso a matéria em questão seja ilícita, o negócio jurídico
será considerado nulo e não produz nenhum efeito na esfera jurídica.
- Objeto Determinado ou Determinável: durante a celebração de um negócio
deve ser determinado o objeto sobre o qual será versado, devendo ser
descriminado o gênero e a quantidade.
- Objeto Possível: durante o negócio jurídico, o objeto sobre o qual é tratado
carece ser possível juridicamente ou fisicamente. Vedando, dessa forma,
exacerbações e exageros impossíveis de serem realizados.

Agente Capaz ou Capacidade – o Direito Civil estabelece que o agente
capaz deva ser uma pessoa dotada de consciência e vontade, sendo
reconhecida pelo Ordenamento Pátrio como apta para exercer todos e
quaisquer atos da vida civil. Logo, o indivíduo que celebra o negócio jurídico
tem que atender ao requisito mínimo para ser considerado plenamente capaz,
na esfera civil, ou seja, maior de dezoito (18) anos e sem nenhuma restrição
determinada pela legislação.

Quando é praticada por absolutamente incapaz (menor de dezesseis


(16)anos), o negócio será configurado como nulo, já se for praticado pelos
indivíduos considerados relativamente capazes – idade entre dezesseis (16) e
dezoito (18) -,estará sujeito à anulação.

- Fator Legitimidade: é relativo à titularidade que possibilita que o indivíduo


determine as diretrizes sobre específico bem, de modo a tornar verdadeiro o
ato pactuado. Isto é, se objeto é dono ou não para transacionar o objeto.
- Fator Legalidade: se fundamenta na premissa que o objeto ou ato do
negócio sofre ou não alguma restrição judicial, como, por exemplo, é a situação
de hipotecas ou alienação. Nesses casos há uma restrição legal uma vez que a
comercialização de determinado bem foi dada como garantia para o
pagamento de dívida contraída.

Elementos Particulares:

Apesar de não ser um elemento elencado entre os elementos necessários a


forma, é a materialização da vontade como se constitui o negócio jurídico, é
determinado no artigo 104, inciso III, como um requisito para a validade ou não

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(Pinto et Alli, 2007, pág. 271). "Art. 104 – A validade do negócio jurídico requer:
III – forma prescrita ou não defesa em lei".

- Forma – não se pode fazer de forma aleatória já que depende de alguns


requisitos pré-determinados seja pela formalidade seja pelo que a legislação
determinada (tipificação).No que tange a formalidade, pode ser público ou
particular. O primeiro se fundamenta nos moldes emitidos pela legislação,
podendo ser tanto pelo Estado quanto por um de seus funcionários. Ao passo
que a particular não necessita da interferência de um funcionário do Estado,
tendo que salientar que ambos seguirão a formalidade de contrato particular.

Elementos Naturais:

Abrangem todos os efeitos que decorrem da celebração do negócio jurídico,


não se fazendo necessário qualquer menção expressa, já que a própria
legislação determina as consequências na esfera jurídica.

Elementos Acidentais:

São as estipulações ou cláusulas acessórias, que ambas as partes podem


adicionar em seu negócio a fim de modificar alguma das consequências
naturais. A ramificação civil da Ciência Jurídica elenca: condição, termo e modo
ou encargo.

2.3.3.2. Vícios ou Defeitos do Negócio Jurídico



Vícios de Consentimento

Os vícios de consentimentos estão relacionados à formação e declaração da


vontade da pessoa. Pode-se dizer que eles surgem no negócio jurídico em que
o declarante está viciado, havendo fatos, anomalias que fazem com que a
vontade seja manifestada de uma forma que não era a real pretensão da
pessoa.
Os vícios de consentimento, de acordo com o Código Civil de 2002, são:

- Erro ou Ignorância
- Dolo
- Coação
- Lesão
- Estado de perigo
- Erro ou Ignorância

O erro consiste falsa ideia da realidade, do real estado ou situação das coisas.
A pessoa supõe que é uma coisa, mas na verdade se trata de outra, podendo
tornar o negócio anulável. Neste caso, o agente erra sozinho, não sendo
induzido a errar, pois se fosse, caracterizar-se-ia como dolo.

A atual codificação, diz em seu artigo 138, que são anuláveis os negócios
celebrados com erro, desde que este seja substancial. Nesse sentido, o erro é

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substancial quando interessar à natureza do negócio (error in negotio), sendo
aquele em a pessoa ao manifestar sua vontade pretendendo praticar certo ato
acaba praticando outro, ou seja, erro quanto à espécie de negócio; quando
interessar ao objeto principal da declaração (errorin corpore) ou a alguma das
qualidades a ele essenciais (error in substantia). O primeiro diz respeito ao
objeto da negociação. Surge quando o agente supõe que está adquirindo certo
objeto ou coisa e, entretanto adquire outro objeto. Já outro (error in substantia)
diz respeito à característica, qualidade do objeto da negociação, característica
essa que o torna único; quando interessar à identidade ou qualidade da pessoa
(error in persona) seria quando interessar às qualidades da pessoa em torno da
declaração de vontade. Somente nestes casos de erro, que se consegue a
anulação do negócio celebrado.

Um exemplo simples de erro é quando uma pessoa vai a uma relojoaria com o
intuito de comprar um relógio de ouro, mas ao chegar à loja não especifica, não
diz à vendedora que deseja e um relógio de ouro. Então compra um relógio
acreditando que é de ouro maciço, mas que na verdade é folheado a ouro.

- Dolo

O dolo define-se como a indução maliciosa a cometer o erro. Nota-se neste


que neste caso, o agente declarante da vontade não erra sozinho, o erro não é
espontâneo, ele é induzido a praticar ato que não seja de sua real
vontade.

O dolo consiste em sugestões ou manobras maliciosamente levadas a efeito


por uma parte, a fim de conseguir da outra uma emissão de vontade que lhe
traga proveito, ou a terceiro.

Quanto aos tipos de dolo, o código civil trata de duas classificações: dolo
principal e dolo acidental. Entretanto, no artigo 145 do CC, diz que o negócio
jurídico só é anulado por dolo quando este for a sua causa, isto é, o negócio só
é anulável se este foi celebrado em consequência de que o agente foi induzido
pela outra parte.

Dolo Principal (dolus causans dans contratui): é aquele em que é a causa


determinante da confirmação do negócio jurídico. Configura-se quando o
negócio é realizado e uma das partes utiliza-se de artifícios maliciosos para
fazer que a outra parte erre e realize o negócio normalmente. Em síntese, o
agente é enganado acerca da real situação e persuadido, fazendo com que
acreditasse que aquele ato esteja certo, e se não fosse induzido, não teria
realizado o negócio.

Dolo Acidental: como diz o artigo 146 do Código Civil de 2002: “O dolo
acidental só obriga à satisfação das perdas e danos, e é acidental quando, a
seu despeito, o negócio seria realizado, embora por outro modo”. Portanto, defines
como aquele dolo que não é causa daquele ato (dolus incidens). Neste caso, o
agente realizaria o negócio em benefício próprio e independente da ação
maliciosa de outrem, porem o comportamento desta outra pessoa acaba

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influenciando nas condições estipuladas. Essa espécie de dolo não torna o
negócio anulável, apenas obriga a parte que enganou a satisfazer a vítima por
perdas e danos.

Dolo por Terceiro: é outro tipo de dolo, mas não muito importante, que ocorre
quando a parte que se aproveitar da outra tiver ciência ou não dos fatos. Se o
autor do dolo tinha conhecimento acerca dos fatos, o negócio torna-se
anulável, mas se não tiver conhecimento, o negócio não é anulável, entretanto
aparte prejudicada poderá requer perdas e danos.

- Coação

É conceituada como sendo a pressão física ou psicológica que é usada


contra o negociante a fim de obriga-lo a realizar atos que não lhe
interessam que não são do seu querer. A princípio a pessoa não tinha
desejo, intensão de realizar certo negócio, mas ela é forçada por outrem que se
utiliza de algum motivo ou fato a celebrar tal negócio. Neste caso, não há
manifestação de vontade, que é o elemento mais essencial para a efetivação
do negócio. Em geral, existem as seguintes espécies de coação:

Coação absoluta: que surge quando há violência física, isto é, o coator utiliza
de força física para obrigar uma pessoa a realizar certo ato ou negócio jurídico,
e, portanto, não possui nenhum consentimento da vítima, tornando o negócio
ou ato nulo, invalido.

Coação relativa ou moral: surge quando há uma violência, uma pressão,


psicológica ou moral. Nesta, o coator faz ameaças a vítima e a deixa escolhas,
ou seja, a pessoa realiza certo ato ou sofrerá as consequências da ameaça.
Um exemplo que pode ser usado, é quando uma pessoa que está portando
arma de fogo, ameaça outra pessoa, dizendo que se ela não realize certo
negócio, ela irá morrer.

- Estado de Perigo

O estado de perigo consiste em uma situação que o agente esta, como o


próprio nome diz, em perigo de vida. Constitui-se como a situação em que o
negociante, temeroso de grave estado de perigo, seja seu ou de sua família,
assume obrigação desproporcional e excessiva, e, sendo esta necessidade
conhecida pela outra parte por quem salva.

- Lesão

A lesão está preconizada, no Código Civil de 2002, em seu artigo 157.Para que
haja a lesão numa relação jurídica, é preciso que existam dois requisitos,
sendo um objetivo e o outro subjetivo.

O requisito objetivo diz respeito à onerosidade da prestação de uma parte da


relação, isto é, ao sacrifício, ao gasto que a pessoa irá ter em seu patrimônio
econômico. Portanto, a onerosidade deverá ser excessiva, ao tanto que a

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tornará desproporcional à outra prestação, e consequentemente fazendo com o
indivíduo perca o interesse em manter o vínculo.

No que diz respeito ao requisito subjetivo, está relacionado com a pessoa


que compõe a relação jurídica. É a situação pessoal do indivíduo formador da
relação jurídica, sendo esta situação de premente necessidade ou por
inexperiência em celebrar negócios.

Vícios Sociais

Nos denominados vícios sócias do negócio jurídico, ocorre o contrário dos


vícios do consentimento, pois enquanto este o defeito se encontra na
declaração de vontade de umas das partes da relação processual, aquele se
caracteriza pelo fato de o defeito se encontrar na intenção do indivíduo em
manifestar a sua vontade, em que esta intenção é voltada para o fim de
prejudicar o meio social, ou seja, para enganar a sociedade, para enganar
terceiros. Os vícios são:
- Fraude Contra Credores
- Simulação

- Da Fraude Contra Credores

“É todo artificio malicioso que uma pessoa emprega com intenção de transgredir
direito ou prejudicar interesses de terceiros” (Venosa, 2004, p. 49).

Nesses casos, o devedor quer fraudar, prejudicar interesses de terceiros ou


ainda burlar a lei. Entende-se que fraudar credores é o ato praticado pelo
devedor, que já está insolvente, ou que por praticar este ato, se torna
insolvente causando prejuízos aos credores.

É importante deixar claro que insolvente, é aquela pessoa que já não possui
patrimônio, condições econômicas de adimplir, de pagar o que deve. Dessa
forma, caracteriza-se pelo fato de o devedor, de um ou mais credores, que
assume obrigações com estes, mas não tem como cumprir a prestação, ou
quando possui condições, se desfaz de seu patrimônio, tornando-se insolvente,
e, portanto, não tendo como cumprir com a prestação que lhe cabe.
Observa-se então que existem dois requisitos, sendo o primeiro a má-fé do
devedor, ou seja, a malícia, o fato deste manifestar a sua vontade com o
planejamento de causar prejuízo para com o credor. O segundo requisito, diz
respeito à intenção do devedor de prejudicar o credor, tendo a consciência
de que está produzindo um dano. Esses requisitos, como se pode ver, são
ambos de ordem subjetiva.

Esta modalidade de vício do negócio jurídico, está prevista legalmente nos


artigos 158 a 165 do Código Civil de 2002. Preceitua, nesse contexto, o
mencionado artigo 158 do CC/02, o qual cita quais as hipóteses que podem
ocorrer à fraude contra credores, in verbis:

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Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, se os
praticar o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda
quando o ignore, poderá ser anulado pelos credores quirografários, como
lesivos dos seus direitos.”
§ 1o Igual direito assiste aos credores cuja garantia se tornar insuficiente.
§ 2o Só os credores que já o eram ao tempo daqueles atos podem pleitear a
anulação deles.

Pela leitura do caput do art. 158 do Código Civil, observa-se que


consequentemente o negócio se tornará anulável.

- Da Simulação

Esta espécie de vicio social do negócio jurídico, está estabelecida noartigo 167
do Código Civil Brasileiro de 2002, que diz:

“É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá oque se dissimulou se


válido for na substância e naforma”.
§ 1º Haverá simulação nos negócios jurídicos quando:
I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às
quais realmente se conferem, ou transmitem;
II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira;
III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados.
§ 2º Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes
do negócio jurídico simulado.

Preliminarmente, simulação, significa enganar, iludir. Tal ilusão se configura


no fato de a manifestação da vontade das partes, se diverge da real intenção
destas ao celebrar o pacto jurídico. Nesse contexto, há o conluio das partes,
que intencionalmente celebram o negócio manifestando a falsa vontade, a falsa
realidade, mas o real querer delas é intrinsicamente divergente do que foi
declarado.

Em resumo, há a manifestação da vontade das partes em pactuar e produzir os


efeitos inerentes ao negócio jurídico, mas no plano dos fatos, estes efeitos
existem para iludir, enganar terceiros que não estejam envolvidos na relação,
sobre a real situação que está acontecendo entre as partes, sendo o conteúdo
do pacto inverídico.

2.3.3.3. Teoria das Nulidades do Negócio Jurídico

A Nulidade do negócio jurídico é a sanção imposta pela norma jurídica que


determina a privação dos efeitos jurídicos do negócio praticado em
desobediência ao que prescreve.

A Nulidade Absoluta é uma penalidade que, ante a gravidade do atentado à


ordem jurídica, consiste na privação da eficácia jurídica que teria o negócio,
caso fosse conforme a lei; um ato que resulta em nulidade é como se nunca
tivesse existido desde sua formação, pois a declaração de sua invalidade

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produz efeito extunc; são nulos os atos negociais inquinados por vícios
essenciais, não podendo ter obviamente, qualquer eficácia jurídica, por
exemplo, quando lhe faltar qualquer elemento essencial, ou seja, se for
praticado por pessoa absolutamente incapaz; se tiver objeto ilícito ou
impossível; se não se revestir de forma prescrita em lei; quando for praticado
com infração à lei e os bons costumes, mesmo tendo os elementos
essenciais; e quando a leita ativamente o declarar nulo ou lhe negar efeito.

Já a Nulidade Relativa ou Anulabilidade refere-se a negócios que se acham


inquinados de vício capaz de lhes determinar a ineficácia, mas que poderá
ser eliminado, restabelecendo-se a sua normalidade; gera efeitos exnunc,
de modo que o negócio produz efeitos até esse momento; serão anuláveis os
atos negociais: se praticados por pessoa relativamente incapaz, sem a devida
assistência; se viciados por erro, dolo, coação, simulação ou fraude; se a leias
sim o declarar, tendo em vista a situação particular em que se encontra
determinada pessoa.

Distinções entre nulidade e anulabilidade:


- A absoluta é decretada no interesse da coletividade, tendo eficácia erga
omnes; a relativa, no interesse do prejudicado, abrangendo apenas as
pessoas que alegaram;
- A nulidade pode ser arguida por qualquer interessado, pelo MP e pelo juiz de
ofício; a anulabilidade só poderá ser alegada pelos prejudicados ou seus
representantes, não podendo ser decretada de ofício pelo juiz;
- A absoluta não pode ser suprida pelo juiz, nem ratificada; a relativa pode ser
suprida e ratificada;
- A nulidade, em regra, não prescreve; a anulabilidade é prescritível em prazos
mais ou menos exíguos.

Vale salientar que a Convalidação é a transformação de ato anulável em ato


plenamente válido, enquanto que a Ratificação é a aprovação, a confirmação
ou a homologação de ato jurídico praticado pela parte contrária, ou de ato
anulável, pela própria parte.

Ato jurídico inexistente é aquele que contém grau de nulidade tão relevante,
que nem chega a entrar no mundo jurídico, independendo de ação para ser
declarado como tal; é inconvalidável.

Ato jurídico ineficaz é o ato jurídico perfeito, válido somente entre as partes,
mas que não produz efeitos perante terceiros (ineficácia relativa) ou então não
produz efeito perante ninguém (ineficácia absoluta).

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Os Fatos Jurídicos em sentido amplo podem ser
divididos em:
Fatos Jurídicos Naturais (fatos jurídicos em sentido
estrito)
Fatos Jurídicos Humanos (atos jurídicos em sentido
Fatos amplo).
Jurídicos Os Fatos Jurídicos Humanos, ou atos jurídicos em
sentido amplo, são, as situações juridicamente relevantes
que tem origem em uma vontade humana, que as criam,
modificam, transferem ou extinguem direitos, subdividem
se em:
Lícitos
Ilícitos

Os atos jurídicos dividem-se em:


Atos Jurídicos Ato Jurídico em sentido estrito ou Ato Lícito
Atos-fatos Jurídicos ou Atos Ilícitos
De acordo com o Art. 104, Incisos: I, II, CC/02:
Negócio "Art. 104 – A validade do negócio jurídico requer:
Jurídico I – agente capaz;
II – objeto lícito, possível, determinado ou determinável".
Os vícios de consentimento, são:
Erro ou Ignorância
Vícios ou Dolo
Defeitos do Coação
Negócio Lesão
Jurídico Estado de perigo
Os vícios sócias são:
Fraude Contra Credores
Simulação
A nulidade do negócio jurídico é a sanção imposta pela
norma jurídica que determina a privação dos efeitos
Nulidade Do jurídicosdo negócio praticado em desobediência ao que
Negócio prescreve.Pode ser:
Jurídico Nulidade Absoluta
Nulidade Relativa ou Anulabilidade

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4

Defeitos Vício Efeito


Erro Vontade Anulável
Dolo Vontade Anulável
Coação Vontade Anulável
Lesão Vontade Anulável
Estado de perigo Vontade Anulável
Fraude contra Credores Social Anulável
Simulação Social Nulo

4
Teoria Geral do Fato Jurídico. Disponível em:<https://fborsonaro.wordpress.com/2016/06/15/teoria-geral-do-fato-
juridico/> Acesso em: 29 de Dezembro de 2017.
5
Direito Civil – Negócio Jurídico. Disponível em:<https://www.youtube.com/watch?v=bImvWWt8HOA> Acesso em: 29
de Dezembro de 2017.

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6

Considere as seguintes afirmativas sobre o tema dos


negócios jurídicos no âmbito do Código Civil.
I - A incapacidade relativa de uma das partes pode ser
invocada pela outra em benefício próprio, aproveitando
aos co-interessados capazes, exceto quando, neste caso,
for indivisível o objeto do direito ou da obrigação comum.
II - Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia
interpretam-se estritamente.
III - São anuláveis os negócios jurídicos, quando as
declarações de vontade emanarem de erro substancial
que poderia ser percebido por pessoa de diligência
normal, em face das circunstâncias do negócio.
IV - É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá
oque se dissimulou, se válido for na substância e na
forma.

Estão CORRETAS apenas as alternativas


QUESTÃO 1: a) I e II.
b) II e III.
Teoria Geral do c) II e IV.
Negócio Jurídico d) I, III e IV.
e) II, III e IV.

GABARITO COMENTADO: Letra E


I - A incapacidade relativa de uma das partes pode ser
invocada pela outra em benefício próprio,

6
Invalidade do negócio jurídico. Disponível em: <http://www.ambitojuridico.
com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=8611> Acesso em: 29 de Dezembro de 2017.

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aproveitando aos co-interessados capazes, exceto
quando, neste caso, for indivisível o objeto do direito
ou da obrigação comum. Comentários: Item Errado. O
examinador inverteu tudo. Art.105, CC: "A incapacidade
relativa de uma das partes não pode ser invocada pela
outra em benefício próprio, nem aproveita aos co-
interessados capazes, salvo se, neste caso, for indivisível
o objeto do direito ou da obrigação comum."
II - Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia
interpretam-se estritamente.
Comentários: Item Correto. Art. 114, CC: ”Os negócios
jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se
estritamente."
III - São anuláveis os negócios jurídicos, quando as
declarações de vontade emanarem de erro
substancial que poderia ser percebido por pessoa de
diligência normal, em face das circunstâncias do
negócio.
Comentários: Item Correto. Art. 138, CC: "São anuláveis
os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade
emanarem de erro substancial que poderia ser percebido
por pessoa de diligência normal, em face das
circunstâncias do negócio."
IV - É nulo o negócio jurídico simulado, mas
subsistirá oque se dissimulou, se válido for na
substância e na forma.
Comentários: Item Correto. Art. 167, CC: "É nulo o
negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se
dissimulou, se válido for na substância e na forma.”

2.4 Da Prescrição e da Decadência:


2.4.1 DA PRESCRIÇÃO

A prescrição está elencada entre os artigos 189 e 206 do Código Civil. É tida
como uma das formas de extinção de direitos. Na concepção de Maria Helena
Diniz (2003, v.1: 335):

“[...] este instituto foi criado como medida de ordem pública para proporcionar
segurança às relações jurídicas, que seriam comprometidas diante da
instabilidade oriunda do fato de se possibilitar o exercício da ação por prazo
indeterminado [...]”.

Em suma, o que caracteriza a Prescrição é seu ânimo de extinguir a pretensão


de um sujeito alegar em juízo um direito por meio de uma ação. Vale ressaltar,
que muito se foi discutido acerca da prescrição, para alguns o que se extingue
é o direito material, para outros, a pretensão de reivindicar o direito, entretanto,
a doutrina moderna, em sua grande parte, está de acordo que, o que
prescreve, na realidade, é a pretensão.

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Pretensão é o poder de exigir de outrem coercitivamente o cumprimento de
um determinado dever jurídico. Ou seja, é o que você pretende em juízo. No
sentido de exigir de outrem uma obrigação de dar, receber, fazer e de não
fazer para que seu direito seja reparado.

2.4.1.1 Requisitos e Espécies

Para que se configure a prescrição, imprescindível será a ocorrência de quatro


requisitos:
Existência de uma pretensão, que possa ser em juízo alegada por meio de
uma ação exercitável, que é seu objeto, em virtude da violação do direito, que
ela tem por fim remover.
Inércia do titular da ação (em sentido material) pelo seu não exercício, que é
a sua causa eficiente, mantendo-se em passividade ante a violação que sofreu
em seu direito, deixando que ela permaneça.
Continuidade dessa inércia durante um certo lapso de tempo.
Ausência de algum fato ou ato a que a lei confere eficácia impeditiva,
suspensiva ou interruptiva de curso prescricional, que é o seu fator
neutralizante.

O Superior Tribunal de Justiça adota a teoria da actio nata, pela qual prazo
deve ter início a partir do conhecimento da violação ou lesão ao direito
subjetivo. A Súmula 287 do mesmo STJ diz: O termo inicial do prazo
prescricional, na ação indenizatória, é a data em que o segurado teve ciência
inequívoca da incapacidade laboral. No artigo 27 do Código de Defesa do
Consumidor, pelo qual, havendo acidente de consumo, o prazo prescricional
de cinco anos tem início do conhecimento do dano e de sua autoria.

Espécies de Prescrições:

Extintiva - Será extintiva quando a pessoa perde a pretensão ao direito sobre


um bem. Presente no artigo 189 e seguintes do CC, especialmente o artigo205,
que se refere ao prazo, dez anos, via de regra, quando a lei não especificar
prazo prescricional.

Aquisitiva- Ocorre a aquisitiva pela não manifestação de outrem pelo seu


direito, tendo como consequência você adquirindo a titularidade originalmente
do bem. Como exemplo, existe o instituto da Usucapião, previsto nos artigos

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1.238à 1.244 do CC, que, além do tempo (quinze anos, art. 1.238 CC, via de
regra),ocorre pela inércia do proprietário cumulada a posse do interessado.

Intercorrente - É a prescrição extintiva que ocorre no decurso do processo, ou


seja, já tendo o autor provocado a tutela jurisdicional por meio da ação.

Ordinária - Prazo prescricional é o lapso temporal entre o termo inicial e o


termo final. A prescrição ordinária é aquela cujo prazo é genericamente
previsto em lei. O artigo 205 do CC traz um prazo geral, de dez anos, que se
aplica a todos os dispositivos que não tragam prazo em contrário.
Especial - São aqueles prazos prescricionais pontualmente previstos no
Código. Estes prazos podem ser anuais, trienais, quatrienais e quinquenais
(CC, art. 206 § 1º a 5º). São exemplos de prazos prescricionais especiais:

- A pretensão de credores não pagos contra sócios ou acionistas e os


liquidantes, contado o prazo da publicação da ata de encerramento da
liquidação da sociedade – 1 ano (CC, art. 206, § 1º, V)
- A pretensão de reparação de dano moral – 3 anos (CC, art. 206, § 3, V)
- A pretensão relativa a tutela, a contar da data de aprovação das contas – 4
anos(CC, art. 206, § 4º)
- A pretensão dos advogados, para recebimento de honorários – 5 anos (CC,
art.206, § 5º, II)

2.4.1.2 Pretensões Imprescritíveis

Em regra, todas as ações são prescritíveis; a imprescritibilidade é a exceção.


Nesse sentido, aponta a doutrina uma classificação de quais pretensões não
prescreveriam, permanecendo disponíveis perpetuamente. Maria Helena Diniz
(2002, v. 1. p. 348), nesse sentido, elucida que: “A prescrição alcança todas as
pretensões ou ações (em sentido material)patrimoniais, reais ou pessoais,
estendendo-se aos efeitos patrimoniais de ações imprescritíveis”. A mesma
traz um rol taxativo em sua obra de pretensões imprescritíveis:

Direitos de personalidade, como a vida, a liberdade, o nome, as obras
literárias, artísticas ou científicas etc., pois não se extinguem pelo seu não uso,
nem seria possível impor prazos para sua aquisição ou defesa.
O estado da pessoa, como filiação e condição conjugal, cidadania, salvo os
direitos patrimoniais dele decorrentes, como o reconhecimento da filiação para
receber herança (Súmula 149 do STF);
Os bens públicos de qualquer natureza, que são imprescritíveis;
O direito de família no que concerne à questão inerente ao direito à pensão
alimentícia, à vida conjugal, ao regime de bens;
A pretensão do condômino de a qualquer tempo exigir a divisão de coisa
comum, ou a meação de muro divisório.
A exceção de nulidade. Ex. art. 1.860, parágrafo único, CC, é nulo o
testamento feito por menor, com idade inferior a 16 anos, seja qual for o tempo
decorrido da realização do ato até sua apresentação em juízo; sempre será
possível pleitear sua invalidade por meio da exceção de
nulidade.

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A ação de anulação de inscrição de nome empresarial feita com violação de
lei ou contrato.

Importante lembrar que a prescrição, embora não atinja os direitos


imprescritíveis, atinge as vantagens econômicas advindas dele. Dessa forma,
malgrado imprescritível o direito da personalidade à imagem, é prescritível a
pretensão de obter danos morais por sua violação.

De acordo com a dicção da súmula 149 do STF, é imprescritível a ação de


investigação de paternidade, mas não a de petição de herança.

2.4.1.3 Das Causas que Impedem ou Suspendem a Prescrição

Segundo Maria Helena (Curso de Direito Civil, 2003, p. 341): as causas


impeditivas da prescrição são as circunstancias que impedem que seu
curso inicie e, as suspensivas, as que paralisam temporariamente o seu
curso; superado o fato suspensivo, a prescrição continua a correr, computado
o tempo decorrido antes dele.

Os artigos 197, I a III, 198, I e 199, I e II, todos, do CC estabelecem as


causas impeditivas da prescrição.

De acordo com Maria Helena (Curso de Direito Civil, 2003, p. 341) as causas
impeditivas da prescrição se fundam no: status da pessoa, individual ou
familiar, atendendo razões de confiança, amizade e motivos de ordem moral.

Primeiramente, não corre prescrição no caso dos cônjuges, na constância do


matrimônio. A propositura de ação judicial por um contra o outro seria fonte de
invencível desarmonia conjugal. É provável que a influência do cônjuge
impedisse seu consorte de ajuizar a ação, o que levaria à extinção pela
prescrição (CC, art.197, I).

Também não há prescrição no pátrio poder do filho sobre influenciados


pais, que o representam quando impúbere e assistem quando púbere. Não
sendo certo, deixar que preservem seus direitos, se vissem os filhos obrigados
ação judicial, sob pena de prescrição (CC, art.197, II).

Ademais, não corre há prescrição entre tutela e curatela. O tutor e o curador


devem zelar pelos interesses de seus representados. Sendo que, a lei
suspende o curso da prescrição das ações que uns podem ter contra os outros,
para evitar que descuidem dos interesses, quando conflitarem com esses
(CC,art.197, III).

O artigo 198 do CC também estabelece que não corre prescrição contra: os


absolutamente incapazes (CC, art,198, I). Sendo, uma maneira de os

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proteger. O prazo só começa a fluir depois que ultrapassarem a incapacidade
absoluta.

Outrossim, não corre prescrição contra os que estiverem a serviço público


da União, dos Estados e Municípios, estão fora do Brasil (CC,art.198, II) e
contra os que estiverem incorporados às Forças Armadas, em tempo de
guerra. Supõe-se que estes estejam ocupados com os negócios do País, não
tendo tempo para cuidar dos próprios (CC, art.198, III).O artigo 199 do CC
igualmente determina que não corre prescrição pendendo condição suspensiva
(CC, art.199, I), não estando vencido o prazo(CC, art.199, II), pendendo
ação de evicção (CC, art.199, III).

Já o artigo 200 do CC estabelece que não correrá a prescrição antes da


respectiva sentença definitiva, quando a ação originar de fato que deva ser
apurado no juízo criminal. Isso serve para evitar decisões contrapostas. O
artigo 201 do CC determina que é suspensa a prescrição em favor deum dos
credores solidários, só aproveitando os outros caso a obrigação seja
indivisível.

O código Civil prevê a suspensão do prazo prescricional para a ação de


reparação civil (ação de indenização} se o fato estiver sendo apurado no
juízo criminal. Veja: “Art. 200. Quando a ação se originar de fato que deva ser
apurado no juízo criminal, não correrá a prescrição antes da respectiva
sentença definitiva”. Segundo a jurisprudência do STJ, só deve ser
aplicado o art. 200 do CC se já foi instaurado inquérito policial ou
proposta ação penal. Se o fato não será apurado no juízo criminal, não há
sentido do prazo prescricional da ação cível ficar suspenso, até mesmo porque
ficaria para sempre suspenso, já que, se não há ação penal, não haverá nunca
sentença penal.(STJ. 3ª Turma. REsp 1.180.237-MT, Rei. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, julgado em 19/6/2012 (lnfo 500).

2.4.1.4. Das Causas que Interrompem a Prescrição

Segundo Maria Helena (Curso de Direito Civil, 2003, p. 339) as causas que
interrompem a prescrição são: as que inutilizam a prescrição iniciada, de
modo que o seu prazo recomeça a correr da data do ato que a
interrompeu ou do último ato do processo que a interromper.

O artigo 202 do Código Civil apresenta seis atos que interrompem a


prescrição. O primeiro caso que interrompe a prescrição ocorre através do
despacho do juiz, mesmo sendo incompetente, que ordenar a citação, caso
o interessado a promover no prazo e na forma da lei (CC, art.202, I).

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O segundo caso é pelo despacho que a ordena e não a citação
propriamente dita, que tem o condão de interromper a prescrição. Sua
eficácia fica dependendo de a citação efetuar-se no prazo determinado pela lei.

A lei admite que tal efeito se alcance ainda que a citação seja ordenada por juiz
incompetente. A regra não beneficia alguém que de última hora queria se
salvar da prescrição que está quase consumada, devido a sua negligência,
requerendo que a prescrição seja interrompida perante o primeiro juiz que
achar. A citação deve interromper a prescrição que se revista de validade
intrínseca, pois a prescrição não se interrompe com a citação nula por vício
deforma ou por achar perempta a instância ou a ação. A terceira hipótese que
interrompe a prescrição é através do protesto nas condições do primeiro inciso
(CC, art.202, II). Quando a lei diz: “nas condições do inciso anterior”, entende-
se que o legislador está se referindo ao protesto judicial e não o protesto
comum de título cambial. Esta solução, no começo, incerta na Jurisprudência,
foi contestada em julgado unânime da 1ª Turma do Suprem Tribunal Federal.

Ademais, interrompe a prescrição pelo protesto cambial (CC, art.202, III),pela


apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em concurso
de credores (CC, art.202, IV). Também revelando a solércia do credor,
interessado em defender sua prerrogativa. Bem como por qualquer ato judicial
que constitua em mora o devedor (CC, art.202, V) e por qualquer ato
inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe o reconhecimento do direito
pelo devedor (CC, art.202, VI). Aqui se prescinde de um comportamento ativo
do credor, sendo este, desnecessário dado o procedimento do devedor. Se
este reconhece, inequivocamente, sua obrigação, seria estranho que o credor
se apressasse em procurar tornar ainda mais veemente tal reconhecimento.

Sendo um exemplo, a hipótese se configura quando o devedor faz pagamento


por conta da dívida, solicita ampliação do prazo, paga juros vencidos, outorga
novas garantias, e outros.

A prescrição interrompida também pode correr da data do último ato do


processo para a interromper (CC, art.202, parágrafo único).

O artigo 203 mostra que a prescrição pode ser interrompida por qualquer
interessado, sendo que o 204 do CC determina que a interrupção da prescrição
por um credor não aproveita aos outros; e a interrupção operada contra o
codevedor, ou seu herdeiro, não prejudica aos coobrigados.

A interrupção por um dos credores solidários aproveita aos outros; sendo


como, a interrupção efetuada contra o devedor solidário envolve os demais e
seus herdeiros (CC, art.204, parágrafo primeiro).

A interrupção operada contra um dos herdeiros do devedor solidário não


prejudica os outros herdeiros ou devedores, somente quando se tratar de
obrigações e direitos indivisíveis (CC, art.204, parágrafo segundo).

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A interrupção produzida contra o principal devedor prejudica o fiador
(CC,art.204, parágrafo terceiro).

2.4.2. DA DECADÊNCIA

2.4.2.1. Conceito e Espécies

A origem da palavra decadência vem do verbo latino cadere, que significa cair.
A decadência atinge diretamente o direito em razão também da desídia do
titular durante certo lapso temporal. Portanto, a decadência é a extinção do
direito pela inércia do titular, quando a eficácia desse direito estava
originalmente subordinada ao exercício dentro de determinado prazo, que se
esgotou, sem o respectivo exercício. O tempo age, no caso de decadência,
como um requisito do ato.

O objeto da decadência, portanto, é o direito que nasce, por vontade da lei ou


do homem, subordinado à condição de seu exercício em limitado lapso de
tempo.

Se tratando de prazos decadenciais no Direito Civil, Maria Helena Diniz(Código


Civil Comentado, 2010, p. 231) afirma que: “a decadência é a extinção do
direito potestativo pela falta de exercício dentro do prazo prefixado, atingindo
indiretamente a ação, enquanto a prescrição extingue a pretensão, fazendo
desparecer, por via obliqua, o direito por ela tutelado que não tinha tempo
fixado para ser exercido.”

Espécies de Decadência:
Legal - Quando é prevista em lei, sendo reconhecida de ofício pelo juiz, ainda
que se trate de direitos patrimoniais; de acordo com o arts. 210 do Código Civil
de 2002. Lembrando que o prazo decadencial legal é irrenunciável, segundo o
art. 209 do Código Civil de 2002.
Convencional - Estipulada pelas partes, somente a parte beneficiada poderá
alegá-la, sendo vedado ao juiz de Direito suprir a alegação da parte, consoante
o art. 211 do Código Civil de 2002. O prazo decadencial convencional pode ser
renunciado, a teor do art. 209 do Código Civil de 2002, a contrário sensu.

 Ação pedindo apenas a desconstituição do reconhecimento de


filiação: prazo decadencial de 4 anos estabelecido no art. 1.614do
CC/2002.
 Ação pedindo a investigação de paternidade e a consequente
desconstituição do reconhecimento de filiação: imprescritível.(STJ.4ª
Turma. Ag Rg no REsp 1.259.703-MS, Re1. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado
em 24/02/2015 (lnfo 556).

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De acordo com o enunciado 74 do FONAJE, que substituiu o enunciado 69, a
prescrição e a decadência não impedem a homologação da composição civil.

2.4.3 DIFERENÇAS ENTRE A PRESCRIÇÃO E A DECADÊNCIA

Segundo Maria Helena Diniz (Curso de Direito Civil Brasileiro, 2003, p. 364)a
diferenças básicas entre decadência e prescrição são as seguintes:

A decadência extingue o direito e indiretamente a ação; a prescrição


extingue a ação e por via obliqua o direito; o prazo decadencial é
estabelecido por lei ou vontade unilateral ou bilateral; o prazo prescricional
somente por lei; a prescrição supõe uma ação cuja origem seria diversa da do
direito; a decadência requer uma ação cuja origem é idêntica à do direito; a
decadência corre contra todos; a prescrição não corre contra aqueles que
estiverem sob a égide das causas de interrupção ou suspensão previstas em
lei; a decadência decorrente de prazo legal pode ser julgada, de oficio, pelo
juiz, independentemente de arguição do interessado; a prescrição das ações
patrimoniais não pode ser, ex oficio, decretada pelo magistrado; a decadência
resultante de prazo legal não pode ser enunciada; a prescrição, após sua
consumação, pode sê-lo pelo prescribente; só as ações condenatórias sofrem
os efeitos da prescrição; a decadência só atinge direitos sem prestação que
tendem à modificação doestado jurídico existente.

A doutrina e jurisprudência pátrias adotaram inúmeros métodos para diferenciar


os institutos da prescrição e da decadência, já que ambos envolvem efeitos do
decurso do tempo nas relações jurídicas, sendo muitas vezes confundidos.

De modo geral, as principais diferenças entre ambos os institutos


jurídicos, são:
A decadência começa a correr, como prazo extintivo, desde o momento em
que o direito nasce. Enquanto a prescrição não tem seu início com o
nascimento do direito, mas a partir de sua violação, porque é nesse momento
que nasce a ação contra a qual se volta a prescrição.
Diversa é a natureza do direito que se extingue, pois, a decadência supõe
um direito que, embora nascido, não se efetivou por falta de exercício, ao
passo que a prescrição supõe um direito nascido e efetivo, mas que pereceu
por ausência de proteção pela ação, contra a violação sofrida.
A decadência, como regra geral, não é suspensa nem interrompida e só é
impedida pelo exercício do direito a ela sujeito. A prescrição pode ser suspensa
ou interrompida pelas causas expressamente colocadas em lei.
A decadência pode ser fixada pela lei ou pela vontade das partes
bilateralmente ou unilateralmente. Enquanto a prescrição só se estabelece por
lei.

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A decadência legal pode ser reconhecida de ofício pelo juiz e independe da
arguição do interessado. Porém a prescrição poderá ser reconhecida de ofício
apenas nos casos de interesses de absolutamente incapazes, conforme art.
194 do Código Civil de 2002.
A prescrição admite renúncia depois de consumada, não sendo admitida
antes ou no curso do prazo, porque é instituto de ordem pública, decorrente da
lei, a decadência legal não pode ser renunciada.
A decadência opera contra todos, salvo contra absolutamente
incapazes(exemplo do art. 208 do Código Civil de 2002), enquanto que a
prescrição não opera para determinadas pessoas elencadas pelo art. 198 do
Código Civil de 2002.

O Código Civil de 2002 foi mais prático, ao determinar serem os prazos de


prescrição, apenas e exclusivamente, os taxativamente discriminados na Parte
Geral, nos arts. 205 (regra geral, prazo de 10 anos) e 206 (regras
especiais),sendo de decadência todos os demais, estabelecidos como
complemento de cada artigo que rege a matéria, tanto na Parte Geral como na
Especial. Essa foi uma das principais inovações trazidas pelo Código Civil em
vigor.

Enfim, para evitar a discussão sobre se a ação prescreve ou não, adotou-se a


tese da prescrição da pretensão, por ser considerada a mais condizente como
direito processual contemporâneo, afastando a possibilidade de envolver o
direito subjetivo público abstrato de ação.

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7

Considere as seguintes afirmativas sobre os temas da


prescrição e da decadência no âmbito do Código Civil.
Assinale a alternativa CORRETA.
QUESTÃO 1:
a) Os prazos de prescrição podem ser alterados por acordo
das partes.
DA
b) A prescrição iniciada contra uma pessoa continua acorrer
PRESCRIÇÃO
contra o seu sucessor.
E DA
DECADÊNCIA c) Corre a prescrição, ainda que pendente ação de evicção.
d) A interrupção da prescrição por um credor aproveita aos
outros.

7
Prescrição e Decadência. Disponível em: <http://slideplayer.com.br/slide/11047637/> Acesso em: 29 de Dezembro de
2017.

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e) A prescrição ocorre em vinte anos, quando a lei não lhe
haja fixado prazo menor.

GABARITO COMENTADO: Letra B.

a) INCORRETA. JAMAIS o prazo de prestação pode ser


alterado por acordo das partes. Art. 192, CC: "Os prazos de
prescrição não podem ser alterados por acordo das partes."
b) CORRETA. Art. 196, CC: "A prescrição iniciada contra uma
pessoa continua a correr contra o seu sucessor."
c) INCORRETA. Pendente ação de evicção não corre
prescrição. Art. 199, III, CC: "Não corre igualmente a
prescrição: pendendo a ação de evicção."
d) INCORRETA. Exatamente o contrário. Art. 204, primeira
parte, CC: "A interrupção da prescrição por um credor não
aproveita aos outros; semelhantemente, a interrupção
operada contra o codevedor, ou seu herdeiro, não prejudica
aos demais coobrigados.
e) INCORRETA. Quando a lei não fixar prazo menor, a
prescrição corre em 10 anos. Art. 205, CC: "A prescrição
ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo
menor."

3. DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

3.1 CONCEITOS BÁSICOS


2.1. CONCEITOS BÁSICOS
O assunto de Obrigações é, juntamente com os Contratos, um dos principais
institutos que regulam o Direito Privado, de modo que vocês não poderão
negligenciar os conceitos básicos que permeiam as relações obrigacionais.
Preparados? Vamos juntos!

3.1.1. CONCEITO DE OBRIGAÇÃO E ELEMENTOS

De acordo com Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald, obrigação é


uma “relação jurídica transitória, estabelecendo vínculos jurídicos entre duas
diferentes partes (denominadas credor e devedor, respectivamente),cujo objeto
é uma prestação pessoal, positiva ou negativa, garantido o cumprimento, sob
pena de coerção judicial”.

Desse modo, podemos verificar a existência de três elementos constitutivos da


obrigação: 1) subjetivos/pessoal; 2) objetivos/material e 3) vínculo
jurídico/imaterial, virtual ou espiritual.

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3.2 CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES:

Dentre as classificações das obrigações, devemos destacar as seguintes:

1) Relativamente à natureza: a) dar – o sujeito passivo se comprometia


entregar alguma coisa, sendo essencial à constituição ou transferência do
direito real sobre a coisa. A obrigação de dar pode ser: a.1) dar coisa certa – o
seu objeto é certo e determinado, sendo dever do devedor entregar uma coisa
individuada; ou de a.2) dar coisa incerta – caso em que o objeto é indicado
apenas de modo genérico no início da relação, devendo ser determinado
mediante um ato de escolha, por ocasião do adimplemento da obrigação; b)
fazer– aquela que vincula o devedor à prestar um serviço ou ato, por terceiro
(fungível) ou de maneira individual (infungível), ao próprio credor ou pessoa
indicada por ele; c) não fazer – assume-se o compromisso de se abster de
praticar um ato, que poderia ser praticado com liberdade;

2) Reciprocamente consideradas: a) principal – é aquela que existe de per si,


de forma abstrata ou concreta, sem se sujeitar a qualquer outra relação
jurídica; e b) acessória – sua existência decorre da principal, sendo diretamente
vinculadas. Atenção! Princípio da Gravitação Jurídica – trata de uma regra
que o acessório segue o principal (acessorium sequitur principale).

Nesse momento, é importante que você faça uma leitura integral do Código
Civil, no que diz respeito às regras das modalidades das obrigações, pois, aqui,
só iremos tratar dos aspectos mais importantes. Portanto, passem um pente
fino na lei e vamos em frente!

3.2.1. DAS OBRIGAÇÕES DE DAR COISA CERTA

Essa modalidade de obrigação, abrange os acessórios dela, mesmo que não


mencionados no momento da consolidação da obrigação(lembre-se do
Princípio da Gravitação!), salvo disposições em contrário. Para otimizar os
estudos, vamos esquematizar algumas regras importantes:

1) Princípio da Equivalência da Prestação – o credor não é obrigado a


receber outra coisa, ainda que mais valiosa. (art. 313 do CC c/c Informativo n.
465 do STJ);

2) Transferência da titularidade – com a tradição se for bens móveis ou com


o registro, se imóveis;

3) Consequências do inadimplemento:

OBRIGAÇÃO DE DAR
SEM CULPA COM CULPA
RESOLVE A VALOR EQUIVALENTE
PERDA OBRIGAÇÃO PARA AS + PERDAS E DANOS
PARTES

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RESOLVER A VALOR EQUIVALENTE
OBRIGAÇÃO OU + PERDAS E DANOS
DETERIORAÇÃO ACEITAR A COISA (em qualquer dos casos)
COM ABATIMENTO DO
PREÇO

OBRIGAÇÃO DE RESTITUIR
SEM CULPA COM CULPA
PERDA RESOLVE A VALOR EQUIVALENTE
OBRIGAÇÃO PARA AS + PERDAS E DANOS
PARTES
DETERIORAÇÃO CREDOR RECEBE A VALOR EQUIVALENTE
COISA NO ESTADO EM OU ACEITAR A COISA
QUE SE ENCONTRAR COM ABATIMENTO DO
PREÇO + PERDAS E
DANOS (em qualquer
dos casos)

4) Cômodos obrigacionais – até a tradição, tratando-se de obrigação dedar


coisa certa, pertence ao devedor a coisa, com seus melhoramentos e
acrescidos, podendo exigir o aumento do preço. Contudo, se o credor não
anuir, o devedor pode resolver a obrigação.

5) Princípio da “coisa perece para o dono”– na obrigação de restituir, se


sobrevier melhoramento ou acréscimo à coisa, sem qualquer despesa ou
trabalho do devedor, o credor irá lucra-las, ficando desobrigado do pagamento
da indenização. Assim, se houve despesa ou trabalho, o caso será de
benfeitorias de possuidor de má-fé ou boa-fé, a depender do caso concreto.
Veda-se, nesse caso, o enriquecimento sem causa. Revisite a tabela acima.

(MPE-PA | 2014 | FCC): Carlos obrigou-se a entregar uma


bicicleta a Paulo. Antes da tradição, porém, Carlos se acidentou,
por dirigir negligentemente, causando danos à bicicleta. Paulo
V poderá aceitar a bicicleta no estado em que se encontra, ou o
equivalente em dinheiro, mais indenização por perdas e danos,
em um ou em outro caso.

OBRIGAÇÃO DE DAR COISA INCERTA - uma obrigação genérica, uma vez


que tem como objeto uma coisa indeterminada pelo gênero ou quantidade. A
concentração (escolha) cabe ao devedor, em regra e aplica-se o Princípio da
Equivalência da Prestação, porém, poderá ocorrer a novação objetiva
sehouver o consentimento do credor. Ademais, na sua prova, você deve

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lembrar que GÊNERO NÃO PERECE (genus nunquam perit), ainda que
ocorra caso fortuito ou força maior! Assim, apenas após a individualização da
coisa é que poderá ocorrer a perda ou deterioração dela, pois nesse caso,
seguirá as regras das obrigações de dar coisa certa.

3.2.2. DAS OBRIGAÇÕES SOLIDÁRIAS

As obrigações solidárias são aquelas que possuem mais de um


credor(obrigação complexa subjetiva ativa), mais de um devedor (obrigação
complexa subjetiva passiva), ou mista/recíproca. Vejamos as seguintes regras:

1) Respondem como se fossem um só sujeito – qualquer um dos credores


pode exigir a dívida por inteiro a qualquer um dos devedores, que têm o dever
de pagar a dívida toda, a qualquer um dos credores, havendo solidariedade em
ambos os polos da relação;
2) Não presunção da solidariedade – a solidariedade só pode resultar da LEI
(solidariedade legal) ou da AUTONOMIA DA VONTADE(solidariedade
convencional);
3) Pagamento integral extingue a dívida – se for realizado por qualquer um
dos credores, extingue-se até o valor que foi pago. Assim, caso haja o
pagamento parcial, o credor poderá cobrar o restante da dívida a qualquer um
dos devedores, inclusive do devedor já pagante;
4) Não transmissão da solidariedade por herança nas obrigações
divisíveis – nesse caso, os credores/devedores que falecerem deixando
herdeiros, cada um deles só poderá exigir e receber/pagar a quota do crédito
correspondente ao seu quinhão hereditário. (Lembre-se que a legitimidade dos
herdeiros está sempre ligada ao quinhão hereditário).
Essa regra não se aplica quando se tratar de obrigação indivisível, pois, em
se tratando de obrigação indivisível, lembre-se que não há como fracionar a
prestação e, portanto, deve-se cumpri-la de maneira integral. Ex.: a obrigação é
de entregar um animal. Nesse caso, não pode ser dividida em relação às
quotas da herança, devendo qualquer um deles cumprir a prestação na
integralidade (entregar o animal).
5) Conversão em perdas e danos – permanece a solidariedade para todos os
efeitos, ao contrário das obrigações indivisíveis, que perderão tal característica,
tornando-se divisíveis.
6) Remissão da dívida – aquele credor que perdoou ficará responsável em
pagar, aos demais credores, o valor de suas quotas correspondentes; e aquele
que obteve o perdão não extingue aos demais, que deverão pagar o valor
restante, caso o pagamento tenha sido parcial;
7) Não oponibilidade das exceções pessoais – as defesas de mérito
existentes contra determinado sujeito apenas vinculam a este, ou seja, são
personalíssimas, não podendo abranger os demais. Nesse sentido, as
exceções que podem abranger os demais são aquelas comuns a todos, a
exemplo da prescrição da dívida;
8) Princípio da relatividade dos efeitos contratuais - impossibilidade de
agravar a posição dos credores/devedores sem o consentimento dos demais,
gerando efeitos apenas inter partes;

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9) Culpa na impossibilidade de cumprimento da obrigação – subsiste para
todos os devedores solidários o encargo de pagar o equivalente, mas apenas o
DEVEDOR CULPADO será obrigado a pagar as perdas e danos;
10) Renúncia à solidariedade – a solidariedade pode ser renunciada de
maneira parcial, em favor de apenas um devedor, por exemplo, subsistindo em
relação às demais; ou total, de modo a exonera-los da solidariedade;

(MPE-RO | 2017 | FMP): A, B, C e D eram devedores solidários


de E da quantia de R$ 120.000,00. B faleceu, deixando F e G
V como herdeiros, cada um, de 50% do seu patrimônio. E
exonerou C da solidariedade. Assim, é correto que caso A
pague R$ 90.000,00 para E, poderá cobrar $30.000,00 de D,
R$15.000,00 de F e R$15.000,00 de G.

ATENÇÃO! Ao contrário do que ocorre na solidariedade, na indivisibilidade,


apesar de cada devedor ser obrigado a realizar a prestação por inteiro. Assim,
ocorrerá a sub-rogação no direito de credor em relação aos demais devedores.
O pagamento integral NÃO extingue a dívida a remissão da dívida não atinge
os demais, de modo que os credores que não perdoaram têm o direito de
cobrar o restante do valor (não objeto de perdão) e perde a indivisibilidade
coma conversão em perdas e danos.

(MPE-SC | 2016): As condições da obrigação solidária são


indivisíveis, ou seja, não se pode estabelecer condição, prazo
F ou pagamento em local diferente somente para um ou alguns
dos co-credores ou co-devedores.

3.3 ADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES (TEORIA DO PAGAMENTO):

O adimplemento poderá ser divido da seguinte forma:

1) Pagamento direto: Quem deve pagar (solvens): a) Regra: devedor;


b)Exceção: b.1) qualquer interessado de forma patrimonial (art. 304 do CC),
que se sub-rogará nos direitos de credor para com o devedor. b.2)terceiro não
interessado – se em seu próprio nome, tem direito ao reembolso, mas não se
sub-roga nos direitos do credor. Feito por terceiro, com desconhecimento ou
oposição do devedor, não obriga a reembolsar aquele que pagou, se o devedor
tinha meios para ilidir a ação; A quem se deve pagar (accipiens): a) Regra:
credor; b)Exceção: representante, com poderes específicos para receber o
pagamento ou, se sem, após ratificação do credor; sucessores.

1.1) Objeto e prova do pagamento – lembre-se, nesse ponto, do Princípio


Equivalência da Prestação ou Identidade Física em relação ao objeto e, quanto
à prova, da quitação total ou parcial.
1.2) Lugar do pagamento: a) Regra: Obrigação quesível, no domicílio do
devedor; b) Exceção: Obrigação portável ou portable,no domicílio do credor ou
de terceiros.
1.3) Tempo do pagamento – instantâneas, de execução diferida (de uma vez
só, mas no futuro) e execução periódica/trato sucessivo.

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2) Formas especiais de pagamento: Pagamento em consignação, Imputação
ao pagamento, Sub-rogação, Dação em pagamento, Novação, Compensação,
Confusão, Remissão.

3.4 INADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES (RESPONSABILIDADE CIVIL


CONTRATUAL)
Quando uma obrigação não é satisfeita acarreta a responsabilidade civil
contratual, nos termos dos arts. 389 e 391 do CC. Acerca da Teoria da
Responsabilidade Civil, teremos um capítulo específico para tal, porém, nesse
momento, é necessário que você tenha em mente a relação a seguir:

Obrigação + inadimplemento = responsabilidade contratual.

Nesse sentido, o inadimplemento poderá ocorrer de forma parcial ou total. No


primeiro caso, tem-se a MORA, cujo tratamento está disposto nos arts. 394 a
401 do CC e, no segundo caso, conforme o art. 389 do CC, o devedor ficará
obrigado a responder pelo valor correspondente à prestação, acrescidos de
perdas e danos (art. 402 a 405 do CC), juros compensatórios, cláusula penal –
se tiver sido acordada –, atualização monetária, custas e honorários
advocatícios.

(MPE-SC | 2016 | MPE-SC): de acordo com o código civil, o


inadimplemento da obrigação, positiva e líquida, no seu
F termo, constitui de pleno direito em mora o devedor, o que
a doutrina classifica como mora exore, mesmo não havendo
fato ou omissão que lhe seja imputável.

QUESTÃO INÉDITA
Sobre direito das obrigações, assinale a alternativa correta:
A) Nas obrigações solidárias, sub-roga-se o devedor quando do pagamento da
dívida a qualquer um dos credores.
B) Nas obrigações de dar coisa incerta, não poderá o devedor, antes da
escolha, alegar a perda ou deterioração da coisa, exceto se por força maior ou
caso fortuito.
C) Havendo acordo de entregar determinado bem a João, Maria, de forma
negligente, causou a perda do bem objeto de prestação. Nesse caso, João
não terá direito a nada, pois, até a tradição, a coisa perece para o credor.
D) Caso João acorde com Maria em entregar um celular da marca X, não
poderá entregar celular de marca Y, ainda que mais valiosa, em razão do
Princípio da Equivalência das Prestações.
Comentário:
a) FALSO – a sub-rogação ocorrerá nas obrigações indivisíveis, assim, haverá

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a formação de uma nova relação jurídica obrigacional entre um antigo devedor
e os demais devedores, enquanto que nas obrigações solidárias, o pagamento
integral por um dos devedores, extingue a relação obrigacional;
b) FALSO – gênero não perece, mesmo que em caso fortuito ou de força
maior;
c) FALSO – nas obrigações de dar, havendo a perda do bem, com culpa,
caberá ao credor receber o valor equivalente do bem juntamente com as
perdas e danos;
d) VERDADEIRO – art. 313 do CC c/c Informativo n. 465 do STJ;

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Obrigação de Dar A obrigação já foi individualizada, assim, no momento do
Coisa Certa pagamento, o devedor deve entregar o bem acordado

Obrigação de Dar A escolha do bem só ocorre posteriormente, assim, após


Coisa Incerta a individualização, aplicar-se-ão as regras concernentes à
obrigação de dar coisa certa.
Consiste na obrigação em que, na sujeição ativa,
encontra-se mais de um credor ou, na sujeição passiva,
Obrigações mais de um devedor, ou, ainda, mais de um credor ou
solidárias devedor ao mesmo tempo. Não é presumida, depende de
convenção ou disposição legal.

Se difere da solidariedade. Trata-se de obrigação em que


o pagamento integral por um dos devedores não extingue
Obrigações a dívida. Na verdade, ocorre uma sub-rogação legal.
indivisíveis Ainda, perderá seu caráter indivisível com a conversão da
obrigação em perdas e danos.
Em regra, quem deve pagar é o devedor; quem deve
receber é o credor; prova-se a obrigação através da
Teoria do quitação; o local do pagamento é o domicílio do
Adimplemento devedor(obrigação quesível).

Formas especiais Pagamento em consignação, imputação ao pagamento,


de dação em pagamento, sub-rogação, novação,
compensação, confusão, remissão (perdão).
Pagamento
Inadimplemento parcial – multa
Inadimplemento total - valor correspondente à prestação,
Inadimplemento acrescidos de perdas e danos (art.402 a 405 do CC),
das juros compensatórios, cláusula penal – se tiver sido
Obrigações acordada –,atualização monetária, custas e honorários
advocatícios.
4. CONTRATOS

É ato jurídico lícito, realizado entre duas ou mais pessoas, que cria, modifica ou
extingue relações jurídicas de natureza patrimonial. Possui repercussão
pessoal e socioeconômica, visam a atender desejos ou necessidades
individuais ou coletivas, em busca da satisfação pessoal, assim promovendo
dignidade humana.

É um negócio jurídico que requer, para que seja válido, a observância dos
requisitos legais: agente capaz, objeto lícito e forma prescrita ou não defesa em
lei (artigo 104 do Código Civil).

Quanto à forma dos contratos, em regra, prevalece a liberdade de forma,


celebrando-se o contrato pelo livre consentimento das partes contratantes,
salvo se houver forma específica expressa em lei. Também é autorizado que
as partes estipulem contratos atípicos, aplicando a eles as normas gerais sobre
contratos presentes na legislação civil.

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Buscando proteger as partes vulneráveis da relação contratual, quando o
contrato for de adesão e houver nele cláusulas ambíguas, estas serão
interpretadas em benefício do aderente, conforme expõe o artigo 423 do
Código Civil.

Requisitos subjetivos para a formação dos contratos: capacidade,


consentimento e pluralidade de partes.
Requisitos objetivos para a formação do contrato: possibilidade jurídica do
estipulado, determinação do objeto do contrato e economicidade, ou seja, que
tenha valor econômico.

4.1 Disposições gerais

Princípio da função social do contrato: expresso no artigo 421 do Código


Civil, é princípio a ser observado em toda e qualquer relação contratual e
determina que a liberdade de contratar deva observar a probidade e a boa-fé
objetiva.

Os ditames do referido princípio são baseados na superação do modelo


individualista previsto no Código Civil de 1916, que se preocupava apenas
coma relação individual gerada no contrato. A nova ordem constitucional de
1988passou a exigir que todo e qualquer ramo do direito passe por uma
“filtragem constitucional”, ou seja, deverão sempre ser observados os princípios
fundamentais expressos na Constituição.

Assim, com a irradiação dos princípios constitucionais, o Direito Civil passa a


definir em suas disposições uma preocupação com o coletivo, limitando a
autonomia da vontade sempre que ela possa ferir algum direito fundamental. A
função social do contrato possui dois âmbitos de incidência: em âmbito interno,
exige que as partes respeitem a boa-fé objetiva, que consiste em princípio que
determina a todas as partes contratantes uma atuação pautada pela ética,
moralidade e respeito à coletividade. Em âmbito externo, a função social deve
observar a vertente da socialidade, exposta na teoria tridimensional de Miguel
Reale. Dessa forma, nenhuma disposição contratual pode violar direito de
terceiro, tampouco as garantias da coletividade. A função social do contrato é
corolário da Dignidade Humana, abrangendo o direito de todas as pessoas.

Boa-fé objetiva: padrão de conduta esperado nas relações jurídicas que,


impõe às partes o agir com ética e probidade, prezando pela confiança que é
depositada pelo outro, quando da celebração do ato. Não se confunde com a
boa-fé subjetiva, que se relaciona com as crenças internas do sujeito de estar
agindo corretamente.

Venire Contra Factum Proprium: vedação à parte agir contraditório ao


previamente combinado.
Supressioe Surrectio: são figuras correlacionadas, já que a supressio
consiste na perda de um direito pelo decurso do tempo, obstando o seu
exercício, em razão da boa-fé. Por outro lado, se uma parte perde o direito, a

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outra ganha, já que depositou confiança na aceitação do outro quanto à forma
de cumprimento da obrigação, mesmo que diversa do que previamente
estabelecido.
Tu quoque: não se confunde com o venire contra factum propium e consiste
na vedação à parte de exigir algo quando ela também foi inadimplente. O
indivíduo não pode aplicar valoração distinta à obrigação decorrente do mesmo
ato, aplicação do referido princípio ocorre na exceptio non adimplementi
(exceção do contrato não cumprido), por exemplo.
Duty to mitigaty the loss: conforme mencionado, a boa-fé deve ser observada
por todas as partes do contrato, mesmo pelo credor que se depara com uma
obrigação inadimplida. Neste caso, é necessário que o credor atue, levando-se
em conta as circunstâncias, para tomar medidas que diminuam as perdas
decorrentes do inadimplemento. Assim, se tiver ciência do descumprimento
deum contrato e não tomar as medidas cabíveis, com o intuito de receber mais
juros decorrentes da omissão, por exemplo, está agindo contra a boa-fé
essencial nas relações jurídicas.
Exceção do contrato não cumprido: nos contratos bilaterais, nenhum dos
contraentes, antes de cumprida a sua obrigação, poderá exigir o implemento
dado outro. Se, depois de concluído o contrato, sobrevier a uma das partes
contratantes diminuição em seu patrimônio capaz de comprometer ou tornar
duvidosa a prestação pela qual se obrigou, pode a outra recusar-se à
prestação que lhe incumbe, até que aquela satisfaça a que lhe compete ou dê
garantia bastante de satisfazê-la.
Cláusula solve et repete: o termo significa “pague e depois reclame”, e
consiste em uma renúncia acordada entre as partes de poder alegar a exceção
do contrato não cumprido (artigos 476 e 477 do Código Civil), uma vez que, se
convencionada, o contratante estará renunciando à defesa, podendo ser
compelido a pagar, independentemente do cumprimento da prestação da outra
parte. Em alguns contratos a cláusula solve et repet não tem validade, como
por exemplo, no artigo 424 do Código Civil (contratos de adesão).

4.2 Contratos em espécie

4.2.1 Contrato de compra e venda

Neste contrato, o vendedor se compromete a transmitir ao comprador a


propriedade de certo objeto, mediante o recebimento de soma em dinheiro, que
se denomina preço. Trata-se de contrato típico, consensual, oneroso, bilateral,
podendo ser de execução imediata ou futura, a depender do que seja acordado
entre as partes.

A compra e venda é contrato translativo, não sendo meio de transmissão da


propriedade, que se ocorre apenas com a tradição, quando se tratar de bens
móveis ou pelo registro, quando relacionada a bens imóveis. A fixação do
preço poderá ser deixada ao arbítrio de terceiro, que os contratantes logo
designarem ou prometerem designar. Se o terceiro não aceitar a incumbência,
ficará sem efeito o contrato, salvo quando acordarem os contratantes em
designar outra pessoa.

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É nulo o contrato de compra e venda quando se deixar o arbítrio do preço a
apenas uma das partes. Não sendo a venda a crédito, não é obrigado o credor
a entregar a coisa antes de receber o preço. Não pode o condômino em coisa
indivisível vender a sua parte a estranhos, se outro consorte a quiser, tanto por
tanto. O condômino, a quem não se der conhecimento da venda, poderá,
depositando o preço, haver para sia parte vendida a estranho, se o requerer no
prazo de 180 dias, sob pena de decadência.

Do direito de preferência: estipulada a cláusula de preferência, ao comprador


compete oferecer ao vendedor a coisa, se decidir vendê-la, para que este,
usando do se direito de preferência, decida se a quer. PRAZO: 180 dias,
sendo a coisa móvel; dois anos, se imóvel.

STJ: O direito de preferência previsto no artigo 504 do CC aplica-se ao


contrato de compra e venda celebrado entre condômino e terceiro, e não
àquele ajustado entre condôminos (Resp. 1.137.176 – PR). Neste sentido, se a
coisa for oferecida à condômino, o outro não poderá exercer seu direito de
preferência, pois este só é cabível se a venda é feita a terceiro.

TÓPICOS SOBRE O CONTRATO DE COMPRA E VENDA


Venda com reserva de domínio: na venda de coisa móvel, poderá o
vendedor reservar para si a propriedade, até que o preço seja integralmente
pago.
Venda feita a ascendentes: é essencial a autorização dos demais
descendentes e do cônjuge do vendedor, sob pena de anulação, que poderá
ser pleiteada no prazo de dois anos, a contar da data do ato.
Venda ad corpus: nos contratos de imóveis se o bem for vendido como
corpo individualizado, sendo a metragem questão secundária.
Venda ad mensuram: ocorrerá quando as dimensões do imóvel forem
essenciais para a venda do bem. Nestes casos, se não conferirem exatamente
a realidade, o comprador poderá, por meio de ação exempto, exigir a
complementação da área e, não sendo possível, a resolução do contrato ou o
abatimento proporcional do preço. Decai do direito de propor as ações
previstas no artigo antecedente o vendedor ou o comprador que não fizer no
prazo de um ano, a contar do registro do título.
Retrovenda: é a cláusula pela qual o vendedor se reserva o direito de
readquirir a coisa do comprador, restituindo-lhe o preço pago mais as
despesas, sendo possível apenas nos contratos de bens imóveis. O prazo de
validade é de no máximo três anos, de forma que, se ultrapassado, a cláusula
é considerada não escrita. Na eventualidade de o comprador se recusar a
revender a coisa, o vendedor poderá depositar o preço judicialmente.
Direito de preferência (preempção): é cláusula adjetiva à compra e venda,
pela qual o comprador se compromete a oferecer a coisa ao vendedor, se
algum dia ele decidir vendê-la, devendo ser expressa para que tenha validade.
Inexistindo prazo estipulado, o direito de preempção caducará, se a coisa for
móvel, não se exercendo nos três dias, e, se for imóvel, não se exercendo nos
sessenta dias subsequentes à data em que o comprador tiver notificado o
vendedor. O prazo para exercer o direito de preferência não poderá exceder a
cento e oitenta dias, se a coisa for móvel, ou a dois anos, se imóvel.

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4.2.2 Contrato de doação

É o contrato em que uma pessoa, por liberalidade, transfere de seu patrimônio


bens ou vantagens para o de outra, que os aceita. É contrato típico, unilateral,
consensual ou formal (a depender do valor da doação), podendo ser gratuito ou
oneroso.

É composto de elementos objetivos e subjetivos, sendo que os elementos


subjetivos são: o consentimento e a liberalidade, também conhecida como
animus donandi. Por outro lado, como elemento objetivo há a transferência de
valores ou vantagens do patrimônio do doador para o patrimônio do donatário.

Além da intenção do doador, de ceder o bem a outro, é necessária a aceitação


do donatário, podendo ser expressa ou tácita, no caso de doação pura, e
expressa no caso de doação onerosa. Por ser negócio jurídico benéfico, nos
termos do artigo 114 do CC, a interpretação do contrato é feita de forma
restritiva.

Doação pura: nada é exigido do donatário, que recebe o bem doado sem
qualquer condição ou encargo.
Doação condicional: subordinada a evento futuro e incerto, ou seja, ao
implemento de condição, que pode ser suspensiva ou resolutiva.
Doação com encargo: sujeita o donatário à realização de certa tarefa, para
que lhe seja transferido o bem. O donatário é obrigado a cumprir os encargos
da doação, caso forem a benefício do doador, de terceiro, ou do interesse
geral.
Doação inoficiosa: atinge a legítima dos herdeiros necessários. Será nula
aparte da doação que ultrapasse a metade dos bens do de cujos, sendo
possível o ajuizamento de ação de redução, no prazo de 10 anos. Importante
frisar que, de acordo com o STJ, a análise sobre o excesso da doação é
apurada levando-se em conta o patrimônio do doador ao tempo da doação, e
não na data da abertura da sucessão.8
O ato será feito por meio de escrito público ou particular, mas será permitida
adoção verbal, quando a coisa a ser doada se tratar de bem móvel de pequeno
valor.

A doação feita a descendente importa adiantamento de herança, devendo este,


no curso do inventário, colacionar o bem dado em doação, sob pena de
caracterizar sonegação (artigo 2.002 do CC/02).

A doação pode ser revogada por ingratidão do donatário, ou por inexecução do


encargo. Podem ser revogadas por ingratidão as doações:

Se o donatário atentou contra a vida do doador ou cometeu crime de
homicídio doloso contra ele;

8
STJ. AR 3.493 - PE36

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Se cometeu contra ele ofensa física;
Se o injuriou gravemente ou o caluniou;
Se, podendo ministrá-los, recusou ao doador os alimentos de que este
necessitava.

Se quem sofreu os atos citados for cônjuge, ascendente, descendente ou irmão


do doador, também poderá ser revogada a doação. Morrendo o donatário,
transmitem-se os bens aos seus herdeiros, de maneira que a partir deste
momento a doação não pode mais ser revogada.

Ainda sobre o tema, insta frisar que não estão sujeitas à revogação as doações
remuneratórias, as indenizatórias, as feitas para determinado casamento, bem
como as que tiveram objetivo de cumprir obrigação natural.

É inválida a doação realizada por meio de procurador se o instrumento
procuratório concedido pelo proprietário do bem não mencionar o donatário,
sendo insuficiente a declaração de poderes gerais na procuração.
A cláusula de incomunicabilidade imposta a um bem transferido por doação
ou testamento só produz efeitos enquanto viver o beneficiário, sendo que, após
morte deste, o cônjuge sobrevivente poderá se habilitar como herdeiro do
referido bem, observada a ordem de vocação hereditária.
Na hipótese em que o autor da herança tenha promovido em vida a partilhada
integralidade de seus bens em favor de seus descendentes e herdeiros
necessários, por meio de escritura pública de doação nas quais ficou
consignado o consentimento de todos eles e, ainda, a dispensa de colação
futura, a alegação de eventual prejuízo à legítima em decorrência da referida
partilha deve ser pleiteada pela via anulatória apropriada.
O filho do autor da herança tem direito de exigir de seu irmão a colação dos
bens que receberam via doação a título de adiantamento da legítima, ainda que
sequer tenha sido concebido ao tempo da liberalidade.
O herdeiro que cede seus direitos hereditários possui legitimidade para
pleitear a declaração de nulidade inoficiosa (artigo 549 do Código
Civil)realizada pelo autor da herança em benefício de terceiro.
No regime de comunhão parcial de bens, não integra a meação o valor
recebido por doação na constância do casamento – ainda que inexistente
cláusula de incomunicabilidade – e utilizado para a quitação de imóvel
adquirido sem a contribuição do cônjuge não donatário.

4.2.3 Outros contratos

PRINCIPAIS TEMAS SOBRE CONTRATOS


Contrato de seguro:
1. O fato de o beneficiário de seguro de vida em grupo ter sido reformado pelo
exército em razão de incapacidade total para sua atividade habitual não
implica, por si só, o direito à percepção de indenização securitária em seu grau
máximo quando a apólice do seguro estipula que esse grau máximo é devido
no caso de invalidez total permanente para qualquer atividade laboral.

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2. Ainda que o sinistro tenha ocasionado a perda total do bem, a indenização
securitária deve ser calculada com base no prejuízo real suportado pelo
segurado, sendo o valor previsto na apólice, salvo expressa disposição em
contrário, mero teto indenizatório.
3. O proprietário de automóvel furtado não terá direito a indenização
securitária se a proposta de seguro de seu veículo somente houver sido
enviada à seguradora após a ocorrência do furto.
4. Contratado apenas o seguro de acidentes pessoais (garantia por morte
acidental), não há que se falar em obrigação da seguradora em indenizar o
beneficiário quando a morte do seu segurado decorre de causa natural, a
exemplo da doença conhecida como acidente vascular cerebral.
5. A ação de cobrança do seguro obrigatório (DPVAT) prescreve em três anos.
(Súmula n. 405/STJ)
6. Nos casos de invalidez permanente, o termo inicial do prazo prescricional
da ação de cobrança do seguro obrigatório (DPVAT) é a data em que o
segurado teve ciência inequívoca da incapacidade laboral.
7. A verificação da data em que o segurado teve ciência inequívoca da
incapacidade laboral, para fins de contagem do prazo prescricional da ação de
cobrança do seguro obrigatório (DPVAT), demanda reexame fático probatório,
o que é vedado em sede de Recurso Especial.
8. O pedido do pagamento de indenização à seguradora suspende o prazo
prescricional da ação de cobrança do seguro obrigatório (DPVAT) até que o
segurado tenha ciência da decisão.
9. A seguradora não pode se eximir do dever de indenizar, alegando omissão
de doenças preexistentes por parte do segurado, se dele não exigiu exames
clínicos prévios, salvo quando restar comprovado que ele agiu de má-fé.
10. O simples atraso no pagamento de prestação do prêmio do seguro não
importa em desfazimento automático do contrato, sendo necessária, ao
menos, a prévia constituição em mora do contratante pela seguradora,
mediante interpelação.
11. A ocorrência do suicídio antes do prazo bienal previsto no art. 798, caput,
do CC/2002 não exime, por si só, a seguradora do dever de indenizar, sendo
imprescindível a comprovação da premeditação por parte do segurado, ônus
que recai sobre a seguradora.
12. O pedido do pagamento de indenização à seguradora suspende o prazo
de prescrição até que o segurado tenha ciência da decisão. (Súmula
n.229/STJ)
13. Ressalvada a hipótese de efetivo agravamento do risco, a seguradora não
se exime do dever de indenizar em razão da transferência do veículo sema
sua prévia comunicação. (Súmula n. 465/STJ)
14. Em ação de reparação de danos, a seguradora possui legitimidade para
figurar no polo passivo da demanda em litisconsórcio com o segurado,
apontado causador do dano.
Contrato de fiança:
1. O prazo decadencial para herdeiro do cônjuge prejudicado pleitear a
anulação da fiança firmada sem a devida outorga conjugal é de dois anos,
contados a partir do falecimento do consorte que não concordou com a
referida garantia.
2. É lícita a cláusula em contrato de mútuo bancário que reveja expressamente

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que a fiança prestada prorroga-se automaticamente com a prorrogação do
contrato.
3. Ainda que a união estável esteja formalizada por meio de escritura pública,
é válida a fiança prestada por um dos conviventes sem a autorização do outro.
4. Havendo expressa e clara previsão contratual da manutenção da fiança
prestada em contrato de mútuo bancário em caso de prorrogação do contrato
principal, o pacto acessório também é prorrogado automaticamente.

(Ano: 2015. Banca: FCC. Órgão: TJ-PE. Prova: Juiz


Substituto)

Considere o seguinte texto de Miguel Maria de Serpa


Lopes: Da estrutura jurídica da EXCEPTIO
NONADIMPLETI CONTRACTUS - Como a própria
denominação o indica, a exceptio non ad. Contractus
constitui uma das modalidades das exceções substanciais.
Pertence à classe das exceções dilatórias, segundo uns,
embora outros a entendam pertinente à categoria das
exceções peremptórias. Como quer que seja, convém
assinalar, antes de tudo, que a ex. n. ad. Contractus
paralisa a ação do autor ante a alegação do réu de não ter
recebido a contraprestação que lhe é devida, estando o
cumprimento de sua obrigação, a seu turno, dependente
doadimplemento da prestação do demandante (in
ExceçõesSubstanciais: Exceção de contrato não cumprido
(Exceptionon adimpleticontractus) -p. 135 - Livraria Freitas
BastosS/A, 1959).

Por isso, o autor pode concluir que ela só encontra e


sópode encontrar clima propício,

QUESTÃO 1: A) em qualquer modalidade de contrato consensual.


CONTRATOS B) onde não existir uma vinculação bilateral.
C) onde houver uma vinculação sinalagmática.
D) nos contratos unilaterais.
E) nos contratos reais.

GABARITO COMENTADO
CORRETA: Letra C.

As obrigações sinalagmáticas são obrigações típicas


ouprincipais, que implicam as mesmas partes, ainda que
umaocupe a posição de credor e a outra de devedor e

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nascemnecessariamente do mesmo negócio. Trata-se
deobrigações bilaterais, que obriga reciprocamente as
partes.Nos contratos relativos a obrigações
sinalagmáticas,nenhuma parte poderá exigir o
cumprimento da obrigaçãoda outra se não houver
cumprido a sua, nos termos doartigo: " Art. 476. Nos
contratos bilaterais, nenhum doscontratantes, antes de
cumprida a sua obrigação, podeexigir o implemento da do
outro."Assim, o instituto do exceptio non
adipletcontractussó seaplica quando há reciprocidade de
obrigações, correta,portanto a alternativa C, que responde
todas as outrasincorretas.

5. RESPONSABILIDADE CIVIL

5.1 CONCEITOS BÁSICOS:.1. CONCEITOS BÁSICOS

A responsabilidade civil surge em razão da existência de umdescumprimento


de um dever jurídico, assim, é considerada pela doutrinatradicional como um
dever jurídico sucessivo.

5.1.1. RESPONSABILIDADE CONTRATUAL E EXTRACONTRATUAL

A responsabilidade contratual está vinculada ao inadimplemento de


umaobrigação e se regulamenta pelo art. 389 e ss. c/c art. 395 e ss. Nesse
caso, oônus da prova incube ao devedor, cabendo ao credor apenas
demonstrar que a obrigação assumida fora descumprida. Assim, caso o
devedor não demonstre a existência de causas excludentes de ilicitude, não se
eximirá do dever deindenizar. Por sua vez, a responsabilidade extracontratual,
também chamadade aquiliana, está disciplinada nos arts. 186 a 188 c/c arts.
927 a 954 do CC. O que ocorre, nesse caso, é a violação de um dever que não
está previsto em umcontrato, decorrendo, portanto de ato ilícito (art. 186, CC),
ou então, de umabuso de direito (art. 187).

5.2 RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL OU AQUILIANA

Vamos aprofundar os estudos referentes a esse tipo deresponsabilidade!

5.2.1. ATO ILÍCITO E ABUSO DE DIREITO

O ato ilícito, de acordo com o art. 186 do CC é “Aquele que, por ação
ouomissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e
causardano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”.
Assim, deacordo com Tartuce, é o ato praticado em desacordo com a ordem
jurídica,violando direitos e causando prejuízos a outrem. O abuso de direito,
por suavez, conforme o art. 187 do CC, se caracteriza como uma espécie de
ato ilícito,pela qual um titular de um direito, ao exercê-lo, excede

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manifestamente oslimites impostos pelo seu fim econômico e social, pela
boa-fé ou pelosbons costumes. Assim, o diploma legal consagra a Teoria do
Abuso do Direitoou Teoria dos Atos Emulativos: o ato é praticado em exercício
irregular dodireito (Enunciado n. 413 da V Jornada de Direito Civil).

5.2.2. ELEMENTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL

1) Conduta humana: a) Regra: ação (conduta positiva); b) Exceção:omissão


(conduta negativa). Trata-se de uma exceção, pois énecessário que haja o
dever jurídico específico determinado pela lei(omissão genérica) ou a prova de
que a conduta não fora realizada(omissão específica). Ademais, mister a
demonstração de que odano poderia ter sido evitado caso a conduta tivesse
sido realizada;

2) Culpa lato sensu: a) Dolo: há a intenção de se realizar a condutapara


prejudicar alguém. Assim, há a voluntariedade; b) Culpastricto sensu: b.1)
negligência – é a conduta omissiva com a falta decuidado devido (ex.:
responsável que deixa a criança brincar perto dajanela acarretando a queda de
um objeto no carro de uma pessoa);b.2) imprudência – trata-se de conduta
comissiva com a falta dodever de cuidado (ex.: dirigir em alta velocidade); b.3)
imperícia –decorre da falta de habilidade técnica (ex.: pilotar avião quando
nãotem habilitação para tanto);

3) Nexo de causalidade – é o elemento imaterial, sendo a relação decausa e


efeito entre a conduta realizada e o dano ocorrido. O diplomalegal, em seu art.
944 e 945 adotou a Teoria da causalidadeadequada e, no art. 403, a Teoria do
dano direto e imediato.
a) Excludentes do nexo causal: a.1) culpa exclusiva da vítima oude terceiros;
a.2) caso fortuito (fato totalmente imprevisível porcausa humana ou natural) e
força maior (evento previsível, masinevitável ou irresistível por causa humana
ou natural), devendo-severificar, contudo, se o evento tem ou não relação com
o riscoproveito,ou seja, atividade desenvolvida pelo supostoresponsável;

4) Dano – pode ser tanto patrimonial quanto extrapatrimonial, pois, emregra,


não há responsabilidade civil sem dano e, normalmente, deveser efetivo.

Sobre esse tema, vamos desenvolvê-lo em tópicoespecífico a seguir.

(MPE-RR | 2012 | CESPE): Segundo a jurisprudência do STJ,


V não épossível a responsabilidade civil por dano incerto.

5.2.2.1. DANO:
Podemos dividir o dano em dois grandes grupos: tradicionais (materiaise
morais) e contemporâneos (estéticos, morais, coletivos, sociais e perda deuma
chance).

1) Danos materiais – são prejuízos (perdas e danos) que atingem o


patrimônio de algum indivíduo, causando sua diminuição ou

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impedindoque aumente. (art. 402, CC). a) Dano emergente (danos
positivos) – éaquilo que se efetivamente perdeu; b) Lucros cessantes
(danosnegativos) – é o que razoavelmente deixou de lucrar.
2) Danos morais – a CF em seu art. 5º, incisos V e X, prevê
areparabilidade do dano moral. O dano moral se vincula a uma lesão
aosdireitos da personalidade e busca reparar uma dor ou sofrimento,
pormeio de atenuação, e não o ressarcimento do prejuízo, como ocorre
nosdanos materiais. Nesse sentido, é incorreto dizer que o dano moral
visaacrescer patrimonialmente um sujeito, pelo contrário, na verdade,
háapenas a natureza compensatória. Em razão dessa natureza, não
équalquer aborrecimento do cotidiano (mero dissabor) que
implicarádanos de ordem material. Tem, ainda, caráter reparatório
+pedagógico, pois visa disciplinar a outra parte a não cometer o
mesmoato ensejador de dano.
1.1) Coletivos (art. 6º, VI, CDC) – é a lesão extrapatrimonial aosdireitos
individuais homogêneos ou coletivos em sentidoestrito, ou seja, de um grupo,
ao menos, determinável (danosmorais somados ou acrescidos).
3) Danos estéticos – previsto no art. 949 do CC, decorrente de
qualqueralteração morfológica permanente do indivíduo,
abrangendodeformidades ou deformações, marcas e defeitos, ainda que
mínimos.(Súmula 387 do STJ: “É lícita a cumulação das indenizações
de danoestético e dano moral”).
4) Danos sociais – são lesões à sociedade, ou seja, de um grupo
indeterminado, não podendo medir a quantidade de pessoas que
foramlesionadas. Assim, ao contrário do dano coletivo, que abrange a
esferamoral, os sociais podem repercutir tanto na ordem moral
quantomaterial. Assim, trata-se de direitos difusos e a indenização é
destinadaa um fundo de proteção ou instituição de caridade;
5) Por perda de uma chance – ocorre quando uma pessoa vê
frustradauma expectativa, que, dentro das condições normais, poderia
ocorrer.Contudo, para que essa teoria seja aplicada, é necessário que a
chancedeva ser séria e real. Nesse sentido, a doutrina entende que
aprobabilidade da oportunidade deve ser superior a 50%.
Julgadosimportantes sobre o tema: Informativo n. 466/11 do STJ,
Programa doShow do Milhão STJ (REsp 788.459/BA).

(MPE-SC | 2014): A responsabilidade civil pela perda de


chance não selimita à categoria de danos extrapatrimoniais,
V pois, conforme ascircunstâncias do caso concreto, a chance
perdida pode apresentartambém a natureza jurídica de dano
patrimonial.

Atenção! Súmulas do STJ importantes no estudo das diversas espécies


dedanos: 37, 227, 370, 385, 387, 388, 403, 420.

Em relação à Súmula 227, vale destacar que, conforme entende o STJ(REsp


1.564.955-SP, 3.ª Turma, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 06/02/2018), odano
moral sofrido pela pessoa jurídica não se configura in reipsa.

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Contudo, isso não obsta que a comprovação do dano moral ocorra por
meiode presunções e regras de experiência no julgamento desses pedidos
(deindenização por danos morais sofridos por pessoa jurídica).

Por fim, cabe destacar que, de acordo com o entendimento do STJ, aSúmula
403 é inaplicável às hipóteses de divulgação de imagem vinculada afato
histórico de repercussão social (STJ, 3.ª Turma, REsp 1.631.329-RJ, Rel.Min.
Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi, j. 24/10/2017).

F (MPE-MS | 2015 | FAPEC): Não se cumulam as indenizações


por dano moral e dano material oriundos do mesmo fato.

5.2.3. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA E SUBJETIVA

1) Responsabilidade subjetiva (teoria da culpa) – é a regra doordenamento,


sendo necessária a comprovação da culpa do agentepara que haja a
responsabilização do mesmo. Caso não se comprove odolo ou a culpa em
sentido estrito, não haverá dever de indenizar.
2) Responsabilidade objetiva (teoria do risco) – de acordo com o art.927 do
CC, haverá a responsabilização do agente independentementeda
demonstração de sua culpa nos casos expressamente previstosem lei (ex.:
fornecedores de produtos e serviços) e em caso deatividade de risco
(cláusula geral de responsabilidade objetiva), ouseja, quando a atividade
normalmente desenvolvida pelo agente implicaônus maior do que aos demais
membros da coletividade.
2.1) Casos legais previstos no CC/02: a) Por fato de outrem (art.923): são
pessoas responsáveis pelos atos de terceiros(responsabilidade indireta), de
modo que é necessário comprovara culpa daqueles pelos quais são
responsáveis; b) Por fato doanimal (art. 936): o dono ou detentor do animal se
responsabilizará por ele, exceto em caso de culpa da vítima ouforça maior; c)
Por danos causados por prédios em ruínas (art.937): o dono do edifício ou da
construção responde pelos danosdecorrentes da ruína, desde que provenha da
falta de reparos; d)Por objetos jogados/coisas lançadas/defenestramento (art.
938):o morador de uma casa é responsável pelos danos decorrentesdos
objetos que de lá forem lançados ou caírem,independentemente de líquidas ou
sólidas. Em caso decondomínio, se não for possível identificar de qual
apartamentofoi lançada, a responsabilidade será subsidiária do
condomínio(Teoria da pulverização dos danos).

(MPE-PA | 2014 | FCC): Internada às pressas no Hospital Frei


Vicentepara tratamento de dores abdominais agudas, Eliana foi
submetida a umacirurgia de emergência executada pelo médico
plantonista Lourenço. Dias depois, faleceu por infecção
contraída durante a cirurgia, a qual tevecomo causa as más
condições de higiene do hospital. Visando aorecebimento de
V compensação pelo falecimento da mãe, a filha de Eliana,menor
impúbere representada pelo pai, ajuizou ação em que requereu
acondenação do Hospital Frei Vicente e do médico Lourenço.

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Haveráresponsabilidade independentemente de comprovação
de culpa, no casodo hospital, e apenas se comprovada culpa,
no caso do médico.

5.3 EXCLUDENTES DO DEVER DE INDENIZAR


Se dividem em excludentes de ilicitude (art. 188 do CC) e excludentesde
responsabilidade (arts. 929 e 930 do CC). Vejamos.

5.3.1. EXCLUDENTES DE ILICITUDE

Afastam a ilicitude da conduta, mas não o dever de indenizar:


1) Legítima defesa (inciso I) – desde seja repelida de forma moderadauma
injusta agressão atual e iminente, a si ou a outra pessoa. Ex.:legítima defesa
da posse (ameaça ou turbação);
2) Estado de necessidade (inciso II) – a deterioração ou destruição dacoisa
alheia ou lesão a uma pessoa, para remover perigo iminente,quando as
circunstâncias não autorizarem outra conduta. Ainda, deveser realizada de
forma moderada, contendo excessos;
3) Exercício regular do direito (inciso I, 2º parte) – o ato praticado noexercício
regular de um direito reconhecido legalmente. O estrito cumprimento do dever
legal não está previsto na lei civil, mas deve serconsiderado como uma espécie
do exercício regular do direito.

5.3.2. EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE

Atingem diretamente o nexo de causalidade, afastando o dever de


indenizar. Assim:
1) Culpa exclusiva da vítima – a culpa concorrente NÃO exclui
aresponsabilidade, havendo apenas a fixação da culpa com base na conduta
de ambas as partes;
2) Culpa exclusiva de terceiro;
3) Caso fortuito ou força maior;
4) Cláusula de não indenizar – é a cláusula de irresponsabilidade,possuindo
aplicação bastante restrita, alcançando, apenas, aresponsabilidade contratual,
sem dolo, não pode excluir danos morais, nem pode incidir em relações de
consumo, contratos de adesão,transporte e de guarda em geral (ex.:
estacionamento).

QUESTÃO INÉDITA
Marque a alternativa correta:
A) Aresponsabilidade civil independe sempre da criminal e, em razão
disso,não se pode mais questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre
quemseja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no

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juízocriminal;
B) a culpa concorrente exclui a responsabilidade, pois trata-se de
excludentede ilicitude da conduta;
C) de acordo com a Teoria da pulverização dos danos no caso
deresponsabilização por objetos jogados de condomínio, se não for
possívelidentificar de qual apartamento foi lançada, a responsabilidade
serásubsidiária do daquele.
D) a responsabilidade civil prevista na legislação independe de culpa,
pois,para o Direito Civil, não importa se o agente teve a intenção de causar
dano,uma vez que haverá sempre presunção do risco do negócio (Teoria do
risco)

Comentário:
a) FALSO – em regra, não há vinculação de instâncias, assim, elas
sãoindependentes.
b) FALSO – a culpa concorrente não exclui a responsabilidade, havendo
aaferição proporcional em relação a conduta do outro sujeito.
c) VERDADEIRO – em caso de defenestramento o morador da casa será
oresponsável pelos danos decorrentes dos objetos jogados, porém, se
ocorrerem condomínio, se não for possível identificar de qual apartamento
foilançada, a responsabilidade dele será subsidiária.
d) FALSO – regra geral, a responsabilidade é subjetiva. Assim, apenas
emcasos específicos na lei é que a responsabilidade será objetiva, ou
seja,independentemente da comprovação da culpa.

Responsabilidade É aquela extracontratual.


civil aquiliana
Elementos da Conduta, culpa em sentido amplo, nexo causale o dano.
Responsabilidade
Civil
Conduta É a ação ou omissão.
Abrande tanto a o dolo, quanto a culpa emsentido estrito:
Culpa negligência, imprudência ouimperícia.
É relação de causa e efeito entre a condutarealizada e o
dano ocorrido. Adotou-se aTeoria da causalidade
adequada (art. 944 e945, CC) e a Teoria do dano direto e
imediato(no art. 403, CC).São excludentes do nexo
causal: culpaexclusiva da vítima ou de terceiros,
Nexo de casofortuito, ou seja, fato totalmente imprevisívelpor
causalidade causa humana ou natural e força maior,que é o evento
previsível, mas inevitável ouirresistível por causa humana
ou natural.
Podem ser morais, materiais, estéticos,coletivos, sociais,

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Dano da perda de uma chance, inreipsa. Vide Súmulas 37, 227,
370, 385, 387,388, 403, 420 do STJ.
Responsabilidade Depende da comprovação da culpa do agentee se
Civil constitui como a regra no ordenamentocivil.
Subjetiva
Responsabilidade Independe da comprovação de culpa e oscasos estão
Civil regulados em lei. Trata-se daresponsabilidade indireta.
Objetiva
Excludentes de Afastam a ilicitude da conduta, mas não odever de
Ilicitude indenizar: legítima defesa, estado denecessidade e
exercício regular do direito.
Atingem diretamente o nexo de causalidade,afastando o
Excludentes de dever de indenizar: culpaexclusiva da vítima, culpa
Responsabilidade exclusiva deterceiro, caso fortuito ou força maior,
cláusulade não indenizar.

6. DIREITO DAS COISAS

6.1 CONCEITOS BÁSICOS


Direito das Coisas, de acordo com Carlos Roberto Gonçalves, é “oconjunto de
normas reguladoras das relações jurídicas, de caráter econômico,entre as
pessoas, relativamente a coisas corpóreas, capazes de satisfazer àssuas
necessidades e suscetíveis de apropriação, dentro do critério da utilidadee da
raridade”.

6.1.1. DIREITOS REAIS

Adota-se a Teoria realista ou clássica pela qual se constitui como umpoder


imediato que a pessoa exerce sobre determinada coisa, com eficáciaerga
omnes. Ademais, os direitos reais estão diretamente relacionados com
oconceito de propriedade.

Quanto às suas características, pode-se citar: oponibilidade ergaomnes


(princípio do absolutismo), direito de sequela, rol taxativo (princípioda
tipicidade dos direitos reais), tradição como forma de transferência
detitularidade dos bens móveis e registro, dos imóveis (princípio da
publicidadedos atos).

O princípio da tipicidade dos direitos reais está regulamentado no art.1.225 do


CC. Assim, são direitos reais:

1) Propriedade – sobre esse direito real, vamos tratá-lo maisespecificamente


em tópico próprio, porém, não deixe de conferir osartigos referentes ao direito
de vizinhança (art. 1.277 a 1.313, CC),condomínio (art. 1.314 a 1.358, CC),
propriedade resolúvel (art. 1.359 e1.360, CC) e propriedade fiduciária (art.
1.361 a 1.368, CC)
2) Direitos reais sobre coisas alheias (de fruição) – ocorre semprequando
houver desmembramento dos poderes inerentes à propriedade:superfície (art.

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1.369 a 1.377, CC), servidão (art. 1.378 a 1.389, CC),usufruto (art. 1.390 a
1.411, CC), uso (art. 1.412, CC), habitação (art.1.414, CC), direito do
promitente comprador do imóvel (art. 1.417 e 1.418, CC), concessão de uso
especial para fins de moradia (Lei11.481/07), concessão de direito real de uso
(Lei 11.481/07);
3) Direitos reais de garantia sobre a coisa alheia: penhor (art. 1.431 a1.472,
CC), hipoteca (art. 1.473 a 1.505, CC), anticrese (art. 1.506 a1.510, CC);
4) Laje – o mais novo direito real que fora incluída pela Lei nº 13.456 de2017.

6.2 POSSE (ARTIGOS 1.196 A1224 DO CC):

O Código Civil de 2002 adotou, em seu art. 1.196, a Teoria objetiva deRudolf
von Iheringpela qual basta que um indivíduo disponha fisicamente dacoisa ou
tenha a mera possibilidade de exercer esse contato, que a posseestará
constituída, assim, dispensa-se a intenção (animus) de ser dono. Ainda,a
posse NÃO É UM DIREITO REAL, pois, conforme explicado acima, o rol
dosdireitos reais é taxativo. Desta forma, a posse é a exteriorização
(iuspossessionis) da propriedade em razão de ser titular de algum dos
poderesda propriedade (GOZAR, REAVER, USAR E DISPOR).

(MPE-MG | 2017 | FUNDEP): A posse é o exercício pleno dos


F poderes inerentes à propriedade.

6.2.1. CLASS

IFICAÇÃO E DESDOBRAMENTOS DA POSSE

Todo proprietário é possuidor (iuspossidendi), porém, a recíproca não é


verdadeira em razão dos desdobramentos da posse. Vejamos:
1) Desdobramentos da posse (art. 1197, CC) – quem possui essas duas
espécies, possuirá a posse plena, portanto, ambas espécies coexistem
epodem ser desmembradas sucessivamente. Ex.: locação, sublocação.
1.1) Direta/imediata – exercida por quem tem a coisa materialmente (poder
físico imediato). Ex.: depositário
1.2) Indireta/mediata – há o exercício de direito, o que decorre, normalmente
do direito de propriedade. Ex.: depositante

2) Vícios objetivos (art. 1200, CC) – efeitos inter partes


2.1) Justa – é aquela não violenta, clandestina ou precária, ou seja, é
umaposse limpa;
2.2) Injusta – basta a presença de apenas UM dos critérios a seguir e ainda
que possua essas características, pode ser objeto de ações
possessóriascontra terceiro.
a) Violenta: obtida por meio da violência, física (força) ou moral (coação),
ouseja, por esbulho. Pode ser convalidada;
b) Clandestina: às escondidas, sem qualquer violência, podendo ser
convalidada;

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c) Precária: decorrente de um abuso de confiança, pois se nega a devolver
acoisa que recebeu por meio de um contrato/confiança;

3) Boa-fé subjetiva ou intencional (art. 1201, CC) – efeitos inter partes


3.1) Boa-fé – o possuidor ignora os vícios que impedem a aquisição da
coisa(real) ou ele possui um justo título (presumido) que fundamente a sua
posse;
3.2) Má-fé – tem conhecimento do vício da coisa, mas quer exercer o
domíniode fato da coisa, independentemente disso, não possuindo, portanto,
um justotítulo. Contudo, não perde o direito de ajuizar ação possessória contra
umterceiro;

4) Quanto ao tempo
4.1) Nova – menos de 1 ano e 1 dia (até um ano);
4.2) Velha – pelo menos 1 ano e 1 dia;

5) Quanto aos efeitos


5.1) ad interdicta– é a regra geral, de modo que a posse pode ser
defendidatanto pelas ações possessórias diretas quanto pelos interditos
possessórios;5.2) ad usucapionem– trata-se de exceção pela qual se adquire
apropriedade pela usucapião, espécie de prescrição aquisitiva. Seus
requisitossão: posse mansa, pacífica, duradoura (prazo legal), ininterrupta,
animusdomini(Teoria de Savgny), justo título e boa-fé.

DETENÇÃO X MERA PERMISSÃO X TOLERÂNCIA – o primeiro exerce


aposse em nome do verdadeiro possuidor, ou seja, a mera custódia física
dacoisa, sendo denominado de fâmulo da posse; o segundo é a
concessãoexpressa do possuidor sem renunciar a posse e o terceiro, por sua
vez, é ocomportamento passivo do possuidor, mas sem renunciá-la.
COMPOSSE –duas ou mais pessoas exercem de maneira simultânea os
poderespossessórios sobre uma mesma coisa (condomínio de posses).

(MPE-SC | 2016 | MPE-SC): Considera-se possuidor de boa-fé


F aqueleque ignora o vício, ou o obstáculo que impede a
aquisição da coisa.Também se presume, em qualquer hipótese,
ser possuidor de boa-fétodo aquele que possui justo título.

6.2.2. EFEITOS DA POSSE

A posse produz efeitos, vejamos de modo esquematizado:


1) Quanto aos frutos, benfeitorias e responsabilidade (art. 1.214 a 1.222):

POSSUIDOR FRUTOS BENFEITORIAS RESPONSABILIDADE


BOA FÉ EXCETO ÚTEIS,

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PENDENTES NECESSÁRIAS
E LEVANTAR SUBJETIVA
AS
VOLUPTUÁRIAS
MÁ FÉ NÃO NECESSÁRIAS OBJETIVA, AINDA
INDENIZAÇÃO QUE POR ACIDENTE

2) Quanto aos interditos possessórios e formas de autotutela (art. 1210):

ESBULHO (perda) TURBAÇÃO AMEAÇA


REINTEGRAÇÃO MANUTENÇÃO INTERDITO
PROIBITÓRIO
DESFORÇO LEGÍTIMA DEFESA LEGÍTIMA DEFESA
IMEDIATO

(MPE-RO | 2017 | FMP): O possuidor de má-fé responde pela


F perda, oudeterioração da coisa, ainda que acidentais, mesmo
que prove que deigual modo se teriam dado, estando ela na
posse do reivindicante.
(MPE-RS | 2017 | MPE-RS): Luís tem a posse de um terreno de
F 830 m²(oitocentos e trinta metros quadrados). Certo dia, a área
de 310 m²(trezentos e dez metros quadrados) desse terreno foi
invadida. A açãocabível no caso é a de manutenção de posse.
6.2.3. AQUISIÇÃO, TRANSMISSÃO E PERDA

1) Aquisição – as formas de aquisição da posse constituem um


rolexemplificativo, de modo que não estão positivadas pelo CC/02. Ex.:tradição
(mais importante);
2) Transmissão (art. 1.206, CC) – aos herdeiros ou legatários, incidindo
oPrincípio da continuidade do caráter da posse, pelo qual a posse manterá os
mesmos atributos a que fora adquirida, quando datransmissão;
3) Perda da posse (art. 1.223 e 1.224, CC) – ocorre quando cessa algumdos
atributos da propriedade, constituindo um rol exemplificativo.

(MPE-AM | 2015 | FMP): os direitos reais sobre coisas móveis,


F quandoconstituídos, ou transmitidos por atos entre vivos, só se
adquirem com oregistro no respectivo cartório.

6.2 PROPRIEDADE (ARTIGOS 1.228 A 1.368-B, CC)


6.3.1. CONCEITO E ATRIBUTOS

Trata-se de um direito fundamental (art. 5º, XXII, CF), limitado pelafunção


social. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor dacoisa, e o
direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente apossua ou
detenha.

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6.3.1.1. FUNÇÃO SOCIAL E SOCIOAMBIENTAL DA PROPRIEDADE

Conforme o parágrafo 1º do art. 1.228, a limitação ao direito depropriedade não


ocorre apenas quanto à propriedade rural, mas tambémurbana. Ademais,
consagrou-se a função socioambiental da propriedade,visando proteger o
ambiente natural e cultural. Em consequência, veda-se oexercício irregular do
direito de propriedade, abuso de propriedade ou atoemulativo civil.

6.3.2. CLASSIFICAÇÃO

Em razão de seus atributos, a propriedade pode ser classificada como:


1) Plena – possui todos os atributos de forma unitária, sem que nenhumterceiro
tenha algum direito sobre a coisa;
2) Limitada – incide algum ônus (direito real de coisa alheia), a exemplo
dahipoteca, da propriedade resolúvel, etc. Desse modo, alguns
atributospassam a ser de um terceiro.
a) Nua propriedade – é a titularidade do domínio, assim, o sujeitopossui o bem
em seu nome e é proprietário dele;
b) Domínio útil – não possui o poder de reaver a coisa, apenas o deusar,
gozar e dispor; ex.: usufrutuário.

6.3.3. EXTENSÃO E FORMAS DE AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE

De acordo com o art. 1.229 do CC, a propriedade do solo abrange:espaço


aéreo e o subsolo, com altura e profundidade úteis ao seu exercício.Assim, a
extensão está limitada à parte utilizável da propriedade, de modo que,não
poderá se opor a utilização de um terceiro de áreas que ultrapassem
taislimitações.

(MPE-AM | 2015 | FMP): A propriedade do solo abrange a do


espaçoaéreo e subsolo correspondentes, em altura e
V profundidade úteis ao seuexercício, não podendo o proprietário
opor-se a atividades que sejamrealizadas, por terceiros, a uma
altura ou profundidade tais, que nãotenha ele interesse legítimo
em impedi-las.

Ao contrário da posse, o Código Civil previu formas de aquisição das


propriedades IMÓVEIS: 1) Originárias: a) Acessões (art. 1.248, CC): a.1)Ilhas
(art. 1.249, CC); a.2) Aluvião (art. 1.250, CC) – própria ou imprópria;
a.3)Avulsão (art. 1.251, CC); a.4) Abandono de álveo (art. 1.252, CC);
a.5)Plantações ou construções (art. 1.253 a 1.259, CC); b) Usucapião (art.
1.238 a 1.244, CC) – é a aquisição da propriedade pelo decurso do tempo
(prescriçãoaquisitiva) e 2) Derivadas: a) Registro imobiliário (art. 1.245 a
1.247, CC) – éa principal forma de transmissão entre vivos e, assim, o novo
proprietário éresponsável pelas dívidas que recaem sobre a coisa, ex.: tributos;
b) Sucessão hereditária (art. 1.784, CC).

Em relação à propriedade MÓVEL, são formas de aquisição: 1)Originárias: a)


Ocupação (art. 1.263, CC); b) Achado do tesouro (art.1.264, CC) – ocorre

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quando alguém acha um tesouro dentro de umapropriedade privada; c)
Usucapião (art. 1.260 e 1.261, CC) e 2) Derivadas: a)Especificação (art.
1.269 a 1.271, CC); b) Confusão real; c) Comistão; d)Adjunção; e) Tradição
(art. 1.267, CC); f) Sucessão (art. 1.275, CC).

6.3.3.1. USUCAPIÃO:

Trata-se de posse ad usucapionem (sobre as características


respectivas,retome o ponto 5.2.2 em que tratamos sobre as espécies de
posse). Éimportantíssimo conhecer suas diversas modalidades e, nos casos
em que nãoseja previsto a necessidade de justo título e boa-fé, estas são
presumidas (iureet de iure), vejamos:

1) Extraordinária (art. 1.238, CC) – basta a posse mansa e pacífica por


15anos e, caso seja por posse-trabalho, o prazo cai para 10 anos;
2) Ordinária (art. 1.242, CC) – é necessária a posse mansa e pacífica por
10anos, justo título e boa-fé subjetiva. Porém, em caso de usucapião
porposse-trabalho, o prazo cai para 5 anos se o imóvel tiver sido
adquiridoonerosamente;
3) Especial rural (art. 1.239, CC c/c art. 191, CF/88 e Lei 6.969/81) –
étambém denominada de usucapião constitucional e a área a ser usucapida
nãopode ser superior a 50ha, devendo ser de zona rural, pela posse mansa
epacífica por 5 anos. Ademais, o imóvel deve ter finalidade pro
labore(subsistência) e o pretendente não pode ter outro imóvel, seja rural
ouurbano;
a) Indígena (art. 33, Lei 6001/73) – além de área de no máximo 50ha, deve
oíndio exercer a posse mansa e pacífica por 10 anos;
4) Especial urbana (art. 1.240, CC c/c art. 183, CF/88 e art. 9º, Lei10.257/01)
– é a pro misero (moradia), também constitucional, de modo que aárea a ser
usucapida não pode ser superior a 250m², pela posse mansa epacífica por 5
anos, não podendo ser proprietário de outro imóvel, seja elaurbana ou
rural. Ademais, só pode ser deferida uma única vez;
a) Coletiva (art. 10 da Lei 10.257/01) – é prevista no Estatuto da Cidade
e,além dos requisitos acima, deve haver, no local, famílias de baixa renda e
aimpossibilidade de identificação da área de cada possuidor;
b) Familiar (art. 1.240-A, CC) – decorre do abandono do lar de um
doscônjuges/companheiros, acarretando na posse mansa e pacífica por 2 anos
noimóvel com área de 250m² cuja propriedade era dividida com o
excônjuge/companheiro. Ademais, tem o fim pro misero e não pode ter
outroimóvel rural ou urbano. Sobre a Usucapião Especial Familiar,
mistercolacionar o teor do Enunciado n. 500 da V Jornada de Direito Civil:
“Amodalidade de usucapião prevista no art. 1.240ª do Código Civil pressupõe
apropriedade comum do casal e compreende todas as formas de família
ouentidades familiares, inclusive homoafetivas”.

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USUCAPIÃO DE BENS MÓVEIS – a) ordinária (art. 1.260, CC): possemansa
e pacífica por 3 anos, com justo título (qualquer ato jurídico hábil atransferir a
propriedade independentemente de registro, conforme o Enunciado n. 86, I
Jornada de Direito Civil e boa-fé; b) extraordinária (art. 1.261, CC): basta
apenas a posse mansa e pacífica por 5 anos.

(MPE-RR | 2017 | CESPE): Pedro reside com a sua família, por


mais dequinze anos, sem interrupção nem oposição, em um
imóvel, de trezentosmetros quadrados, de propriedade de João.
V Mesmo sem comprovar boa-fé quanto à posse, Pedro ajuizou
ação por meio da qual pleiteia que seja julgado procedente seu
pedido de propriedade do imóvel. Nessa situaçãohipotética,
observa-se um caso de usucapião extraordinária.

Importante! Na ação de usucapião, o autor deverá requerer a citação dos


confinantes do imóvel, conforme expressamente dispõe o art. 246, §3.º, do
CPC, e a Súmula 391, do STF. Todavia, segundo o entendimento do STJ, a
ausência de citação dos confinantes e respectivos cônjuges na ação
deusucapião enseja nulidade relativa, caso se constate o efetivo prejuízo
(STJ,4ª Turma, REsp 1.432.579-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j.
24/10/2017).

6.3.4. PERDA DA PROPRIEDADE:

Perde-se a propriedade com a alienação a renúncia e o abandono,


Perecimento da coisa – é a perda do objeto; Desapropriação.

QUESTÃO INÉDITA
Julgue as seguintes assertivas:
I. São espécies de direitos reais: propriedade, superfície, servidão,
uso,habitação, direito do promitente comprador, concessão de uso especial
parafins de moradia, concessão de direito real de uso, posse, penhor,
hipoteca,anticrese e laje, entre outros.
II. A classificação da posse em de boa-fé ou má-fé, justa ou injusta, não
trazconsequências práticas para as relações de direito real, sendo apenas
umaexplicação meramente doutrinária. Assim, havendo o esbulho, entende-
seque o titular poderá ingressar com qualquer tipo de ação que vise retomar
asua posse.

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III. A usucapião é uma forma de aquisição da propriedade em razão dodecurso
do tempo. Em razão disso, é denominada de prescrição aquisitiva
dapropriedade. Assim, em relação à usucapião de bens móveis, apenas com
odecurso do prazo de 2 anos é que o titular poderá propor ação de usucapião.
IV. Na usucapião ordinária, prescinde o justo título e boa-fé para aquisição
datitularidade.

Comentário: TODOS OS ITENS ESTÃO INCORRETOS.


I. A posse não é um direito real, mas sim, uma forma de exercício de
algumdos poderes da propriedade. Ademais, incide o Princípio da Tipicidade
dosdireitos reais, assim, o rol é taxativo.
II. A posse de boa-fé e má-fé são importantíssimas para analisar seus
efeitosperante o caso concreto, pois, verificar-se-á em relação aos efeitos
dosfrutos, benfeitorias e responsabilidades delas decorrentes. No mesmo
sentidoé em relação à posse justa ou injusta, pois, além de incidir diretamente
nausucapião, verifica-se seus efeitos quanto ao esbulho (reintegração de
posse), turbação (manutenção) e ameaça (interdito proibitório).
III. Na usucapião de bens móveis, regra geral, o prazo prescricional é de
3anos, ou então, 5 anos, em caso de usucapião de bem móvel extraordinária.
IV. É imprescindível o justo título e boa-fé, além do prazo de 10 anos deposse
mansa, pacífica e ininterrupta.

Propriedade, superfície, servidão, uso,habitação, direito do


Direitos Reais promitente comprador,concessão de uso especial para fins
demoradia, concessão de direito real de uso,penhor,
hipoteca, anticrese e laje.
Posse e seus Direta ou indireta, justa ou injusta, de boa-féou de má-fé,
desdobramentos nova ou velha, ad interdictaouas usucapionem.
Possuidor de boa-fé: quanto aos frutos, temdireito a todos,
exceto os pendentes; quantoàs benfeitorias, tem direito às
úteis enecessárias e levantar as
voluptuárias;responsabilidade subjetiva.
Efeitos da posse Possuidor de máfé:não tem direitos aos frutos, as
benfeitorias,apenas as necessárias para indenização e
aresponsabilidade é objetiva.

Esbulho – reintegração da posse;


Turbação – manutenção da posse;
Ameaça – interdito proibitório.
Propriedade O proprietário possui a faculdade de GOZAR,REAVER,
USAR E DISPOR da coisa.

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É a aquisição da propriedade pelo decurso dotempo.
Quanto aos bens imóveis, pode ser:extraordinária,
Usucapião ordinária, especial rural,indígena, especial urbana, coletiva
e familiar.Quanto aos bens móveis, ordinária e
extraordinária.

7. DIREITO DE FAMÍLIA

7.1 CONCEITOS BÁSICOS:


Assunto de grande relevância, sobretudo para a carreira do Ministério Público!
Isso porque o direito de família se constitui comonorma de ordem pública, que
envolve interesse de incapazes e outrassituações em que a intervenção do
Parquet como custos iuris é imprescindível.Vamos juntos?!

7.1.1. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS:

1) Proteção da dignidade da pessoa humana (art.1º, III, CF/88) –deve ser


analisada a partir da realidade do ser humano em seucontexto social;

2) Solidariedade familiar (art. 3º, I, CF/88) – é objetivo fundamentalprevista na


CF/88, assim, nas relações familiares, há aresponsabilidade solidária, tanto em
âmbito afetivo, quanto social,moral, patrimonial, etc; ex.: alimentos necessários
(art. 1694, §2º,CC)

3) Igualdade: a) Entre filhos (art. 227, §6º, CF/88 c/c art. 1596, CC) –
juridicamente, todos os filhos são iguais perante a lei, mesmo quedecorrentes
de relações matrimoniais ou não. Esse regramento sedifere do previsto no
ordenamento anterior, que privilegiada aqueleshavidos dentro do casamento;
b) Entre cônjuges e companheiros (art.226, §5º, CF/88 c/c art. 1511, CC) – há
igualdade em relação àsociedade conjugal e à convivência. Assim, é
equivocado falar empátrio poder, devendo ser chamado de poder familiar, pois
a chefiada família pode ser de qualquer uma das partes;

4) Não intervenção ou liberdade familiar (art. 1513, CC) – oplanejamento


familiar é de livre decisão do casal, sendo vedado qualquer forma de coerção
ou interferência estatal nesse sentido;

5) Maior interesse da criança/adolescente (art. 227, CF/88 c/c art; 1538 e


1584, CC) – deve-se haver a proteção integral dos menores,com vistas a
favorecer o seu melhor interesse. A exemplo disso,pode-se citar o instituto da
guarda compartilhada em que o filhoconvive com ambos os pais, sem qualquer
restrição a direito devisita, etc;

6) Afetividade – sob a ótica contemporânea, e como bem explica


MariaBerenice Dias, deve-se ser levado, cada vez mais, o afeto nasrelações
familiares, em vez de critérios biológicos ou patrimonialistas.

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Ex.: parentalidadesocioafetiva, pela qual se considerada existente ovínculo de
filiação através do afeto de um indivíduo por outro e não simplesmente por ser
filho biológico;

7) Função social da família (art. 226, CF/88) – as relações familiaresdevem


ser analisadas em relação ao contexto social de cada regiãoou local. Assim, a
família deixou de ser um fim em si mesmo; 43

8) Boa-fé objetiva – pois não basta a mera intenção das partes (boa-
fésubjetiva), devendo haver a lealdade entre as partes;

9) Família plural – nas sociedades contemporâneas, é equivocadodizer que a


família só é constituída por homem e mulher através docasamento. Em razão
da evolução social, ao longo do tempo, foramsurgindo novas concepções de
família. Assim, prevalece na doutrinae jurisprudência do STF e STJ que o rol
constitucional familiar é exemplificativo. Isso sugere que são admitidas
outras formas demanifestações familiares, a exemplo da união estável,
concubinato,homoafetiva (Informativo n. 625, ADPF 132/RJ e AI 4277/DF),
monoparental, anaparental (família sem pais, só entre irmãos, porexemplo),
pluriparental (decorrentes de vários casamentos,relacionamentos afetivos,
uniões estáveis), eudemonista.

7.2 DO CASAMENTO (ARTIGOS 1511 A 1590, CC)

De acordo com Tartuce, o casamento é uma “união de duas pessoas,


reconhecida e regulamentada pelo Estado, formada com o objetivo de
constituição de uma família e baseado em um vínculo de afeto” (affectio
maritalis). Atualmente, o Brasil admite o casamento entre pessoas do mesmo
sexo, conforme dispõe o Enunciado n. 601, VII Jornada de Direito Civil/2015.

7.2.1. ASPECTOS GERAIS DO CASAMENTO

É imprescindível passar um pente fino na legislação! Vejamos:

1) Capacidade para o casamento (arts. 1517 a 1250, CC) – a) Regra: idade


núbil é de 16 anos, necessitando da autorização de ambos os pais. Com o
advento do Estatuto da Deficiência (Lei 13.146/15), não cabe mais aos
curadores autorizar o casamento do deficiente; b) Exceção: menor de 16 anos
para evitar imposição de cumprimento de pena criminal ou em caso de
gravidez;

2) Impedimentos (art. 1521 e 1522, CC) – trata-se de rol taxativo que


impossibilita a realização de casamento, acarretando, em caso de sua
ocorrência, a NULIDADE do matrimônio. Ainda, são questões de interesse
público e, em razão disso, podem ser arguidos por qualquer pessoa
interessada ou pelo Ministério Público, sendo uma ação imprescritível;

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3) Causas suspensivas (art. 1523, CC) – são situações em que, apesar de a
lei apenas recomenda a não realização do casamento, porém, se assim o
fizer, acarretará mero ônus legal: adoção do regime legal obrigatório, o
Regime de Separação Legal/Obrigatória (art. 1641, I, CC). Diferentemente do
que ocorre nos impedimentos matrimoniais, por não se tratarem de questões
de interesse público, os legitimados para arguir a existência de causas
suspensivas são apenas os parentes em linha reta de um dos cônjuges,44
consanguíneos ou afins, e colaterais em segundo grau, consanguíneos ou
afins;

4) Espécies de casamento – quanto à celebração, as regras estão previstas


nos arts. 1533 a 1542 do CC. Porém, há casos em que ocorre formas especiais
de celebração em razão de alguma situação específica dos nubentes.
Vejamos:
a) Moléstia grave (art. 1539, CC) – o casamento será celebrado onde se
encontrar a pessoa impedida perante duas testemunhas;
b) Nuncupativo (art. 1540, CC) – também denominado de em viva voz, in
extremis vitae momentis ou in articulo mortis, trata-se de situação em que um
dos nubentes se encontra em iminente perigo de vida, não havendo,
portanto, tempo para a celebração do casamento conforme as solenidades;
c) Por procuração (art. 1542, CC) – deve ser realizada por instrumento
público com poderes especiais, possuindo, a procuração, eficácia de 90
dias, sendo revogável até o momento da celebração;
d) Diplomático ou consular (art. 7º, §2º, LINDB) – o casamento dos
estrangeiros poderá ser celebrado perante autoridades diplomáticas ou
consulares do país de ambos os nubentes;
e) Religioso com efeitos civis (art. 1515 e 1516, CC) – se precedido processo
de habilitação, deve ser registrado em 90 dias, após esse prazo, necessitará
de nova habilitação. Em contrapartida, se não foi precedido de habilitação, terá
efeitos civis apenas se for registrado no registro civil a requerimento do casal
por meio de prévia habilitação à autoridade competente, respeitando-se,
também, o prazo de 90 dias (efeito extunc);

5) Invalidade do casamento (art. 1548 a 155649, CC) – a) Nulo (art. 1549,


CC) – após o advento do Estatuto da Deficiência, o único caso em que
implicará a nulidade, de acordo com a lei, será com o infringência das regras
de impedimento; b) Anulável (art. 1550 a 1560, CC) – são hipóteses taxativas
em que acarretará a nulidade relativa do casamento, dependendo da arguição
dentro dos prazos decadenciais legais; c) Casamento putativo (art. 1561, CC) –
embora nulo/anulável, foi contraído de boa-fé por ambos os cônjuges ou só um
deles, reconhecendo-lhes efeitos legais. Porém, ainda que de má-fé, se por
apenas um dos cônjuges, o de boa-fé e os filhos estarão sujeitos aos efeitos
legais, e, inclusive, se ambos estiverem de má-fé, os efeitos recairão apenas
nos filhos;

(MPE-GO | 2016): há impedimento para o casamento entre os


V afins em linha reta, permanecendo-se a afinidade ainda que
ocorra a dissolução do casamento ou da união estável.

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UNIÃO ESTÁVEL (art. 1723 a 1727, CC) – é a relação formada entre um
homem e uma mulher de forma convivência pública e notória (publicidade),
contínua, duradoura e com objetivo de constituir família. Assim, nota-se
que o tempo, prole e coabitação (Súmula 382, STF) não são condições
sinequa non para constituição de uma União Estável. Isso significa que apesar
de, no caso concreto, poderem auxiliar na constatação dessa relação, não são
imprescindíveis. Ademais, o STF já decidiu, nos autos da ADI 4277 e ADPF
132 que se aplica aos casais homoafetivos. Importante ressaltar, também, que
não se confunde com namoro qualificado, pelo qual há um objetivo de família
futura, enquanto que na união estável, já há uma família (STJ, REsp
1.454.643/RJ 3.ª Turma, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 03.03.2015, DJe
10.03.2015). Outro aspecto a ser considerado é que não se confunde com
concubinato, pois não se apresenta como uma entidade familiar, mas sim
mera sociedade de fato constituída por pessoas casadas não separadas (o
inciso VI do art. 1521 não se aplica à união estável) ou com impedimentos
matrimoniais. Por fim, as causas suspensivas também não impedirão a
constituição da União Estável e há o dever de lealdade e não, fidelidade.

7.2.2. REGIME DE BENS

Trata-se do estatuto patrimonial dos cônjuges, aplicável a outras entidades


familiares, a exemplo da união estável. É regido pela autonomia privada, pela
indivisibilidade (regime único para ambos), pela variedade de regimes e
mutabilidade justificada (é possível a alteração de regime de bens, desde que
por meio judicial, de forma motivada por ambos os cônjuges, ressalvado direito
de terceiros). Existem três formas de incidência do regime de bens: a) os
cônjuges estão livres para escolher o regime que lhe bem entenderem através
do pacto antenupcial), b) regime legal quando não realizarem o pacto e c)
regime obrigatório legal.

(MPE-SP | 2015): O Código Civil alterou o ordenamento jurídico


F brasileiro para impor o princípio da imutabilidade absoluta do
regime matrimonial de bens.

7.2.2.1. PACTO ANTENUPCIAL (ART. 1653 a 1657 DO CC)

É um negócio jurídico pessoal, solene (escritura pública), nominado e típico,


que regulamenta as questões patrimoniais do matrimonio. Assim, deve existir
sempre que os nubentes adotarem regime de bens diversos do regime legal
e desde que não seja o obrigatório, visto que, nesse caso, não se leva em
consideração a vontade deles. A sua nulidade de alguma cláusula não atinge o
todo o pacto, em razão princípio da conservação dos negócios jurídicos.

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7.2.2.1.1. REGIME DA COMUNHÃO PARCIAL (ARTS. 1658 a 1666 DO CC)

Como já explicado anteriormente, é o regime legal aplicado sempre que os


cônjuges não escolherem outro por meio do pacto antenupcial. Nesse regime,
regra geral, comunicam-se todos os bens (bens comuns) havidos durante o
casamento, exceto se forem incomunicáveis. Assim, forma-se duas massas
patrimoniais: bens comuns (art. 1658, 1660, 1662, CC) e bens particulares (art.
1659 e 1661, CC).

A administração dos bens cabe a qualquer dos conjugues, exceto se houver


malversação dos bens, caso em que o juiz irá determinar a administração à
apenas um deles. Ademais, as dívidas contraídas em relação aos bens
particulares em benefício destes, não obrigam os bens comuns. Por fim, deve-
se ressaltar o teor do Enunciado n. 340 do CJF/STJ: “No regime da
comunhão parcial de bens é sempre indispensável a autorização do cônjuge,
ou seu suprimento judicial, para atos de disposição sobre bens imóveis”.

7.2.2.1.2. REGIME DA COMUNHÃO UNIVERSAL (ART. 1667 a 1671, CC)

Nesse regime, comunicam-se todos os bens do casal, independentemente da


aquisição anterior à celebração do casamento (art. 1667, CC). Assim, forma-se
uma única massa patrimonial. Contudo, apesar de tal regra geral, o Código
Civil elencou hipóteses em que tal comunicabilidade não é absoluta, havendo
bens que não se comunicam (art. 1668, CC).

Quanto à administração, aplica-se as regras do regime legal, cabendo a ambos


e, findo a comunhão, encerra-se a responsabilidade solidária.

7.2.2.1.3. REGIME DA PARTICIPAÇÃO FINAL DOS AQUESTOS (ARTS. 1672 a 1686 DO


CC)

Trata- se de regime inspirado em ordenamento jurídico de outros países e


bastante complexo, que possibilita a formação de até 5 massas patrimoniais,
em dois momentos distintos do regime: na constância do casamento e na sua
dissolução, cada um possuindo seu regramento específico. Assim, durante o
casamento, haverá uma separação convencional dos bens, com bens
particulares de cada cônjuge, e no momento da sua dissolução, uma
comunhão parcial de bens em que se extrairá os aquestos
(participação/esforço) da colaboração de cada um dos cônjuges nos bens
onerosos adquiridos durante a união.

Nesse sentido, os aquestos não se confundem com a meação, pois este


independe da comprovação do esforço comum. Ora, na dissolução, os bens
adquiridos durante o casamento, que eram considerados particulares, se
tornarão comuns, fazendo cada cônjuge jus aos bens particulares + aquestos
daqueles bens, excluindo aqueles anteriores ao casamento ou sub-rogados,
herdados ou doados ou as dívidas destes.

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7.2.2.1.4. REGIME DA SEPARAÇÃO DE BENS (ARTS. 1687 e 1688 DO CC)

O regime de separação de bens pode ser tanto convencional quanto legal. No


primeiro caso, os nubentes escolhem por adotar tal regime e, no segundo caso,
é obrigatório por determinação legal. Nesse regime, só há bens particulares,
pois não ocorre comunicabilidade dos bens.

O regime obrigatório (art. 1641, CC) será aplicado sempre que: casarem sob
causas suspensivas, com pessoa maior de 70 anos ou dependerem de
suprimento judicial para casar. Ainda, incide o teor da Súmula 377 do STF a
qual determina que “No regime de separação legal de bens, comunicam-se os
adquiridos na constância do casamento”, formando, assim, duas massas
patrimoniais no mesmo sentido que no regime de comunhão parcial.

Nesse sentido, o prêmio de loteria, recebido por ex-cônjuge (ou


excompanheiro) septuagenário durante a relação de casamento (ou união
estável), deve ser objeto de meação entre o casal. Embora o regime de bens,
na hipótese, seja o da separação obrigatória (art. 1.641, II, CC), o prêmio é
considerado bem comum do casal, comunicável independentemente da
aferição do esforço de cada um. Isso porque a loteria ingressa na comunhão
sob a rubrica de "bens adquiridos por fato eventual, com ou sem o concurso de
trabalho ou despesa anterior" (art. 1.660, II, CC). Desse modo, havendo a
dissolução do casamento (ou união estável), o valor do prêmio deverá ser
partilhado igualmente entre os consortes (STJ, 4ª Turma, REsp 1.689.152-SC,
Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 24/10/2017).

(MPE-RO | 2017 | FMP): É obrigatório o regime da separação


V de bens no casamento de todos os que dependerem, para
casar, de suprimento judicial.

7.2.4. DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE CONJUGAL (ART. 1571 a 1582, CC)

Em razão da EC 66/2010, em tese, não é mais viável juridicamente a


separação de direito (judicial ou extrajudicial), apesar de os dispositivos legais
respectivos no Código Civil não terem sido expressamente revogados. Assim,
de acordo com o art. 1571 do CC, o casamento poderá ser dissolvido: morte,
invalidade do casamento e pelo divórcio (Lei nº 6515/77), que pode ser
consensual ou litigioso ou, ainda, extrajudicial por meio de cartório. Porém,
apesar do entendimento acima, conforme Informativo 604 do STJ, a sua 4ª
Turma decidiu que a EC 66/2010 não revogou os artigos do Código Civil
que tratam da separação judicial, assim, define que separação judicial ainda
é opção à disposição dos cônjuges. Portanto, fique atento à pergunta de sua
prova! Se for uma questão objetiva que pergunte se houve revogação expressa
de tais dispositivos, a resposta é NÃO! Se a pergunta for relativa ao
entendimento do STJ, siga o explicado alhures e se for em uma prova
discursiva, trata-se de divergência interessante para agregar à sua resposta.

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(MPE-MG | 2017 | FUNDEP): A alienação parental, praticada
V durante a conjugalidade, pode configurar causa inespecífica da
separação judicial culposa

7.3 RELAÇÕES DE PARENTESCO (ARTIGOS 1591 A 1638 DO CC)


Devido à evolução social, atualmente, fala-se em multiparentalidade, ou seja,
admite-se o estabelecimento simultâneo de dois vínculos de parentesco:
biológico e o socioafetivo.

7.3.1. ESPÉCIES

1) Consanguíneo ou natural – decorre do vínculo biológico originados de um


mesmo tronco comum;
2) Por afinidade – resultante do casamento ou união estável, gerando a
relação entre um cônjuge/companheiro e os parentes do outro, comportando a
linha reta (infinita e permanente) e a colateral, que se extingue com o término
do casamento;
3) Civil – resultante de outra origem que não seja as anteriores, sendo,
normalmente, decorrente do processo de adoção. Atualmente, em razão da
evolução tecnológica, a jurisprudência vem admitindo mais duas espécies
desse tipo de parentesco: reprodução heteróloga(material genético de
terceiro) e a socioafetiva(Enunciado n. 256 do CJF/STJ, III Jornada de
Direito Civil: “A posse do estado de filho (parentalidade socioafetiva) constitui
modalidade de parentesco civil”);

7.3.2. FILIAÇÃO (ARTS. 1596 a 1606 DO CC)

Conforme preceitua Tartuce, trata-se de “relação jurídica existente entre


ascendentes e descendentes de primeiro grau, ou seja, entre pais e filhos”.
Ademais, como já tratamos anteriormente, rege-se pelo Princípio da igualdade
de filiação.

7.3.2.1. NATUREZA JURÍDICA

1) Biológico – é a genética ou por consanguinidade


1.1) Reprodução humana natural – ocorre pela fecundação;
1.2) Reprodução humana assistida – substitui a concepção natural por métodos
clínicos: a) Concepção homóloga: manipulação de gametas masculinos e
femininos do próprio casal, sem necessidade de autorização pelos genitores,
exceto se falecidos;
b) Concepção heteróloga: doação de sêmen de um terceiro, desde que tenha
concordância do cônjuge, de modo que o doador é anônimo e se afasta da
paternidade. Assim, gera uma presunção iure et de iurede filiação.

2) Socioafetivo(critério não biológico) – corresponde à verdade aparente


decorre do próprio direito de filiação. 2.1) Posse do Estado de filiação –
a aparência faz com que todos acreditem na existência de uma filiação,

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assim, independe do critério biológico, de modo que é necessário a
verificação de alguns requisitos: a) Estado (tractatus): quando o filho é
tratado como tal pelos pais; b) Nome (nominativo): usa o nome de
família e assim se apresenta perante a sociedade; c) Fama (respeitatio):
é assim conhecido notoriamente 2.2) Adoção – é uma relação de
parentesco civil que decorre da socioafetividade visto que, por ser um
ato jurídico em sentido estrito, se constitui como um parentesco eletivo
mediante um ato de vontade.

Sobre a adoção, em razão de sua importância, vamos tratar detalhadamente


em tópico próprio;

3) Presunções jurídicas – têm por finalidade de atribuir a paternidade ou


maternidade a alguém em razão de alguns indícios determinados pela
lei; 3.1) Concebidos na constância do casamento (art. 1597, CC) –
cabem prova em contrário (regra: juris tantum): a) 180 dias após o início
da convivência; b) 300 dias após a dissolução da sociedade conjugal; c)
Fecundação artificial homóloga (RHA); d) Embriões excedentários
decorrentes de RHA; e) Inseminação artificial hieróloga – presunção iure
et de iure 3.2) Impotência para gerar (art. 1599, CC) – à época da
concepção, afasta a presunção de paternidade; 3.3) Presunção de
paternidade e adultério da mulher (art. 1600, CC) – a quebra do dever
de fidelidade não é suficiente para impedir o vínculo de paternidade;50
3.4) Imprescritibilidade da ação negatória de paternidade (pater es est)
pelo marido (art. 1601, CC) - despreza a teoria da socioafetividade e
conforme o Enunciado n. 339 do CJF/STJ, aprovado na IV Jornada de
Direito Civil, deve ser vedado o rompimento da paternidade socioafetiva
em detrimento do melhor interesse do filho. Ainda, conforme o art. 1602,
não basta a confissão da mulher para excluir a paternidade; 3.5) Mater
in jure semper certa est (art. 1608, CC) – a mãe registral tem
legitimidade para impugnar a maternidade desde que comprovado a
falsidade da declaração registral;
4) Reconhecimento de filhos (arts. 1601 a 1617, CC) – o filho havido fora
do casamento (filiação extramatrimonial) poderá ser reconhecido
pelos pais, antes do nascimento ou post mortem, de forma conjunta ou
separada, inexistindo a expressão filho ilegítimo/legítimo. Ademais, é
irrevogável, podendo ser realizado por: a) Registro de nascimento; b)
Escritura pública ou particular; c) Testamento, legado ou codicilo, ainda
que incidentalmente; d) Manifestação direta e expressa em processo
judicial, podendo ser ação investigatória de paternidade/maternidade,
que será tratada em tópico específico, ou então, em qualquer outro tipo
de processo judicial, mesmo que sem a intenção de constituir estado de
filiação;

7.3.2.2. PROVA DA FILIAÇÃO

Ocorre através do registro de nascimento, que, em regra, não cabe quebra,


exceto quando o registro tiver sido realizado por meio de erro ou falsidade.
Contudo, não poderá afastar a parentalidade socioafetiva, incluindo-se,

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inclusive, o pai biológico no registro de nascimento, para todos os fins jurídicos,
em virtude da possibilidade da multiparentalidade.

(MPE-MS | 2015 | FAPEC): O registro espontâneo e consciente


da paternidade – mesmo havendo sérias dúvidas sobre a
ascendência genética – gera a paternidade socioafetiva, que
F somente pode ser desconstituída em razão de comprovada
inexistência de vínculo genético, em razão do primado da
verdade biológica.
7.3.2.3. ADOÇÃO
Trata-se de forma tradicional de parentesco civil cujos regramentos estão
dispostos no ECA, que se constitui como um ato jurídico em sentido estrito, de
natureza complexa, dependendo de homologação judicial, independentemente
se for adoção de menores ou de maiores. É medida excepcional, irrevogável
e definitiva, pois se deve adotar apenas quando estiverem esgotados os
recursos de manutenção da criança ou adolescente na família natural
(comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes) ou
extensa (se estende para além da unidade pais e filhos/casal, formada por
parentes próximos com os quais a criança ou adolescente conviva e mantém
vínculos de afinidade e afetividade).

Aos adotados, estão assegurados os mesmos direitos e qualificações dos filhos


havidos ou não durante o matrimônio, pois a origem da filiação é única e se
apaga quando do processo de adoção. Desse modo, desliga-se de qualquer
vínculo com os pais biológicos, salvo quanto aos impedimentos para
casamento.
Quanto aos requisitos para a adoção, existem: a) idade: maior de 18 anos; b)
diferença de idade entre o adotante e o adotado: 16 anos; c) oitiva do menor: a
partir dos 12 anos, sendo obrigatória; d) irmãos: devem ser colocados para
adoção na mesma família, priorizando a manutenção do convívio familiar pré-
estabelecido.

Tipos de adoção: a) Unilateral; b) Conjunta – realizada por duas pessoas,


casadas civilmente ou que mantenham união estável, comprovando a
estabilidade familiar e podendo ser, inclusive, decorrente de relação
homoafetiva conforme o Informativo n. 432 do STJ; c) Divorciados – é
excepcional, desde que o processo de adoção já tenha sido instaurado antes
do divórcio, assim, o adotado já se encontrava integrado à convivência familiar.

Portanto, a lei é clara ao determinar que já tenha tido estágio de convivência


prévio ou já houver criado vínculos afetivos e de afinidade; d) Póstuma – por
ser concebida desde que o adotante venha a falecer no curso do processo de
adoção, assim, o efeito da sentença retroagirá à data do óbito,
excepcionalmente, já que a regra é que a sentença produza efeitos a partir do
seu trânsito em julgado (ex nunc). O adotado, nesse caso, deverá ser
totalmente integrado à família do de cujus.

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Veda-se a adoção por procuração, pois se trata de ato de caráter
personalíssimo, e, também, adoção por irmãos ou por ascendentes. Sobre
esse último aspecto, vide Informativo n. 551 do STJ/14 que, por situações
excepcionais do caso concreto, permitiu a adoção de descendentes por
ascendentes (ex.: avó que quer adotar o neto).

(MPE-BA | 2015 | CEFET-BA): Os filhos, havidos ou não da


relação de casamento ou por adoção, terão os mesmos direitos
V e qualificações, proibidas quaisquer designações
discriminatórias relativas à filiação

7.3.2.4. AÇÃO INVESTIGATÓRIA

A ação investigatória de paternidade ou maternidade é uma forma de


reconhecimento judicial de filhos, cujo procedimento, de acordo com o NCPC é
comum. Visa-se, mediante tal processo, a comprovação da verdade real ou
biológica da parentalidade. Possui natureza declaratória e envolve o estado de
pessoas e a dignidade humana, assim, é imprescritível (art. 27, ECA c/
Súmula 149, STF). O foro competente dependerá se foi proposta isoladamente
ou cumulada com outros pedidos, devendo ser observado o regramento de
competências do NCPC.

Quanto à legitimidade ativa para a ação, ela é personalíssima do filho, em


regra, porém, se ele for menor de idade, poderá haver o instituto da
representação, se menor de 16 anos, ou, assistência, se possuir entre 16 e
18 anos. Ademais, o Ministério Público possui legitimidade extraordinária e
pode atuar como substituito processual. Quanto à legitimidade passiva, em
regra, será contra o suposto pai/mãe, porém, em caso de falecimento destes,
poderá ser proposta contra os herdeiros (não é contra o espólio, pois é uma
ação de caráter pessoal) ou, caso não existam, contra o Estado que receberá
os bens vagos, ou, ainda, contra o avô/avó, caso em que a ação se
denominará ação avoenga.

Sobre essa ação, duas súmulas são muito importantes: Súmula 301 do STJ:
“Em ação investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se ao exame de
DNA induz presunção juris tantum de paternidade” e Súmula 277 do STJ que
“Julgada procedente a investigação de paternidade, os alimentos são devidos a
partir da citação”.

O adotado não possui legitimidade para ingressar com a ação de investigação,


visto que a ação tem o condão de constituir o estado de filiação através do
critério biológico. Assim, caso o adotado tenha a necessidade de conhecer
suma origem genética, deve-se pretendê-la por meio de outra ação ordinária.
Essa situação se aplica, também, àquele que possui pai registral, pois, como

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sabemos, havendo o registro e ciência de que não é seu filho, presume-se a
parentalidade e, mesmo que não tivesse esse conhecimento, aplicar-se-ia a
parentalidade socioafetiva no caso concreto.

(MPE-SC | 2016): A sentença que julgar procedente a ação de


investigação de paternidade produzirá os mesmos efeitos do
V reconhecimento, podendo o Juiz ordenar que o filho se crie e
eduque fora da companhia do progenitor que contestou essa
qualidade.

7.3.3. PODER FAMILIAR (ARTS. 1630 a 1638 DO CC)

Anteriormente, o poder familiar era denominado de pátrio poder, o que remonta


à era da família patriarcal, hoje, totalmente superada. Nesse sentido, o poder
familiar decorre do vínculo jurídico de filiação, sendo exercido por ambos os
pais quanto aos filhos (colaboração familiar).

Assim, é um poder-dever irrenunciável, intransferível (delegável para


terceiros), inalienável, imprescritível de obrigações personalíssimas. Sobre
esse tema, vejamos mais características:
1) Sujeitos (art. 1630, CC) – se submetem ao poder familiar todos filhos
menores e incapazes (0-18 anos);
2) Exercício (art. 1634, CC): extinção (art. 1635, CC) que tem caráter efetivo e
não quebra o vínculo de parentesco; suspensão (art. 1636, CC) que se trata de
medida menos grave e, inclusive, facultativa, podendo o juiz deixar de aplicá-
las ou, se superadas as caudas que a provocaram, cancelá-las, sempre
observando o melhor interesse da criança. São legitimados qualquer parente
ou o próprio Ministério Público; e destituição (art. 1638, CC) que tem caráter
temporário e não tem o condão de, por si só, quebrar a relação de parentesco.
É imposta por sentença judicial de forma imperativa.

(MPE-RS | 2017): Haverá a suspensão do poder familiar da mãe


condenada por sentença transitada em julgado a pena de três
V anos de reclusão por tráfico de entorpecentes. A perda do poder
familiar ocorrerá se o pai adotivo deixar o filho adotado em
abandono ou reiteradamente abusar de sua autoridade.

3) Efeitos patrimoniais (arts. 1689 a 1693, CC) – cabem aos pais o uso e
administração dos bens do menor, sendo desnecessária a prestação de
contas. Porém, apesar disso, não poderão se apropriar de todos os
rendimentos do filho, a não ser que necessária para despesas comuns da
família em prol do melhor interesse do filho. Ainda, é um direito concedido a
ambos os pais, em conjunto, e, em caso de divergência de vontade, será
possível o suprimento judicial. Ressalta-se que os valores recebidos e os bens
adquiridos pelo filho maior de 16 anos são reservados, ou seja, caso tenham
sido obtidos por meio de atividade laboral adequada, não se sujeitarão à
administração dos genitores.

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Dessa forma, atingindo a maioridade, os bens lhe serão entregues, juntamente
com os acréscimos respectivos, não sendo exigida qualquer prestação de
contas ou remuneração;

3.1) Vedação (art. 1691, CC) – os pais não poderão alienar ou gravar ônus os
imóveis dos filhos, nem contrair, em nome deles, obrigações que ultrapassem
os limites da simples administração, salvo se interesse da prole através de
autorização judicial;
3.2) Exclusão (art. 1693, CC) – bens adquiridos pelos filhos extramatrimoniais
antes do reconhecimento, valores aferidos pelos filhos maiores de 16 anos, no
exercício da atividade profissional e bens deles decorrentes, os bens que foram
deixados ou doados ao filho, sob a condição de não serem usufruídos ou
administrados pelos pais e os bens que cabem aos filhos por herança, quando
os pais tiverem sido excluídos (atos de indignação ou deserdação) da
sucessão;

7.3.3.1. GUARDA (ARTS. 1583 a 1590 DO CC)

Trata-se de direito-dever dos pais de terem consigo seus filhos a fim de


garantir-lhes pleno desenvolvimento. Ela poderá ser deferida a ambos, a um
deles ou a alguém que os substituam, verificando, sempre, o melhor interesse
do menor. São espécies de guarda:
1) Unilateral – apenas um dos genitores exerce a guarda, enquanto que ao
outro, permanece o direito de visita, a ser acordado por meio do processo
judicial, sem perder o poder familiar em razão disso;
2) Alternada – o tempo de convivência do filho é divido entre os pais,
passando a viver alternadamente, de acordo com o que for ajustado, residindo
juntamente com um e com o outro (residências alternadas). Nesse caso, a
melhor doutrina afirma que deve ser excepcional, pois não preenche os
requisitos essenciais da guarda compartilhada, que deve ser fomentada;
3) Compartilhada – é a guarda conjunta por meio da convivência simultânea,
corresponsabilidade do exercício do poder familiar e com definição da
residência preferencial do filho. Nesse caso, ocorre a participação plena no
processo de desenvolvimento dos filhos, visando minorar os efeitos do divórcio.
Assim, deve ser preferencial às demais, mesmo que não tiver acordo entre os
pais sobre isso, exceto se um deles declarar que não quer ter a guarda do
menor;
4) De fato – consolidada pela convivência e cuidado do responsável para com
o menor. Ademais, outro aspecto a ser ressaltado é que quando a guarda for
deferida a terceiros, ou enquanto a criança for colocada em família substituta,
não se extingue o poder familiar dos pais, que não ficam livres de outras
responsabilidades, a exemplo da prestação de alimentos.

(MPE-PR | 2016): Na guarda compartilhada, o tempo de


F convívio com os filhos deve ser dividido de forma idêntica entre
a mãe e com o pai.

7.4 DIREITO ASSISTENCIAL DE FAMÍLIA

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Visa-se, através dos institutos da tutela e curatela, a defesa dos interesses dos
incapazes, possibilitando a realização de atos civis em seu nome. A tutela
objetiva resguardar interesses de menores não emancipados, não sujeitos ao
poder familiar e a curatela, por sua vez, dá assistência nos interesses de
maiores incapazes, interditados. Ambos possuem dever de prestação de
contas, ao contrário do que ocorre com os pais no uso e administração do bens
do filho.

7.4.1. TUTELA (ARTS. 1728 a 1766 DO CC) E CURATELA (ARTS. 1767 a 1783 DO CC)

A tutela pode ser realizada através da representação ou da assistência, desde


que não estejam submetidos ao poder familiar, premissa principal desse
instituto. Ela pode ser testamentária, legítima ou dativa e quando houver irmãos
órfãos, apenas um tutor será nomeado, em razão do Princípio da unicidade da
tutela.

Quanto à curatela, com o advento do Estado da Pessoa com Deficiência, esse


instituto incide apenas em relação aos maiores relativamente incapazes: ébrios
habituais, viciados em tóxicos, as pessoas que por causa transitória ou
definitiva não puderem exprimir vontade e os pródigos (art. 1767, CC), sendo
esse rol taxativo. A incapacidade não se presume, portanto, deve ser declarada
judicialmente e assim, o curador, em ordem de preferência, serão o
cônjuge/companheiro, pai/mãe, descendente mais apto ou, então, curador
dativo. É possível, ainda, determinar curador ao nascituro, quando o pai falecer
e a mulher estiver grávida, mas não tiver mais o poder familiar e, ainda, se ela
já estiver interditada, o curador dela será o mesmo para o nascituro.

(MPE-MG | 2017 | FUNDEP): Em caso de necessidade, a


V pessoa capaz, com deficiência, pode sujeitar-se à curatela
relativamente aos atos patrimoniais e negociais.

TOMADA DE DECISÃO APOIADA (ART. 1783-A DO CC) – é uma das


novidades mais importantes do Código Civil, em razão da vigência do Estatuto
da Pessoa com Deficiência e consiste em possibilitar que a pessoa com
deficiência, que se presume capaz para todos os atos da vida civil, eleja pelo
menos 2 pessoas idôneas, com vínculos e de confiança para que lhe apoie
na tomada de algumas decisões.

7.5 ALIMENTOS (ARTIGOS 1694 A 1710 DO CC):


7.5.1. CONCEITO E PRESSUPOSTOS

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São prestações devidas pelo alimentante para a satisfação das necessidades
pessoais daquele, alimentado, que não pode provê-las por meio do trabalho
próprio, em razão do dever de mútua assistência, que existe durante a
convivência e persiste mesmo com a sua dissolução. Nesse sentido, são
pressupostos da prestação de alimentos: a) Vínculo de parentesco,
casamento/união estável; b) Necessidade do alimentando; e c) Possibilidade
do alimentante.

Obs.: As Turmas do STJ divergem quanto ao fato de os valores recebidos pelo


devedor a título de participação nos lucros e resultados integrarem, ou não,
a base de cálculo dos alimentos. Para a 4.ª Turma, a participação nos lucros
ou resultados configura rendimento, logo deve ser considerada na base de
cálculo para se aferir o quantum devido a título de alimentos, estabelecidos em
porcentagem fixa do salário líquido do alimentante. Portanto, deve ser
reconhecida a natureza salarial/remuneratória da verba em questão, que
implica inegavelmente um acréscimo na variável possibilidade do
alimentante. Nesse sentido: REsp n. 1.332.808/SC, DJe 24/02/2015; AgInt no
AREsp 1.070.204/SE, j. 19/09/2017; REsp 1.561.097-RJ, j. 06/02/2018).

De outro lado, entende a 3.ª Turma que os valores recebidos a título de


participação nos lucros e resultados não se incorporam à verba alimentar
devida ao menor. Tratando-se de parcela que não se relaciona com o salário
ou com a remuneração percebida pelo alimentante, não há que se falar em
incorporação automática da bonificação aos alimentos prestados, salvo nos
casos em que as necessidades do alimentado não foram inicialmente
satisfeitas ou sofreram alterações supervenientes que justificam a readequação
do valor (STJ, 3ª Turma, REsp 1.465.679-SP, j. 09/11/2017).

Nos termos da Súmula 594 do STJ, o Ministério Público tem legitimidade


ativa para ajuizar ação de alimentos em proveito de criança ou
adolescente independentemente do exercício do poder familiar dos pais, ou do
fato de o menor se encontrar nas situações de risco descritas no art. 98 do
Estatuto da Criança e do Adolescente, ou de quaisquer outros
questionamentos acerca da existência ou eficiência da Defensoria Pública na
comarca.
57
7.5.2. CARACTERÍSTICAS

1) Personalíssimo – em razão do caráter intuito personae, não se transmitindo


aos herdeiros do credor;
2) Reciprocidade – entre cônjuges e companheiros, pais e filhos, estendendo-
se a todos os ascendentes. Nesse sentido, há uma ordem sucessória:
ascendente do grau mais próximo que exclui o mais remoto, os descendentes
nesse mesmo sentido e os irmãos, com preferência aos bilaterais e, depois,
unilaterais;
3) Irrenunciabilidade – veda-se a renúncia de alimentos, porém, a doutrina e
jurisprudência majoritárias entendem possível a renunciá-los em caso de
separação/divórcio (Enunciado n. 263 do CJF/STJ, da III Jornada de Direito
Civil);

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4) Obrigação divisível (complementariedade/responsabilidade subsidiária) –
sendo várias pessoas obrigadas a prestar alimentos, todas devem concorrer na
proporção de seus recursos. Ex.: alimentos avoengos. Como exceção, há a
solidariedade em caso do idoso, em razão do que dispõe o Estatuto do Idoso,
em seu art 12;
5) Imprescritibilidade – pois envolve estado de pessoas e dignidade humana,
porém, se foi fixada em sentença ou em ato voluntário, prescreverá em 2 anos
a partir da data de vencimento, conforme regra específica de prescrição
prevista no art. 206, § 2º do CC;
6) Inalienabilidade – não pode ser objeto de cessão gratuita ou onerosa, nem
de crédito, não podendo, também, alienados de qualquer forma;
7) Incompensáveis – veda-se que os alimentos sejam objetos de
compensação;
8) Impenhoráveis – em razão de ser personalíssima e inalienável;
9) Irrepetível– é uma obrigação moral, assim não é passível de repetição. Isso
significa dizer que se trata de obrigação satisfativa pela qual não cabe pedir a
devolução do que se prestou caso não sejam mais devidas. Assim, a exemplo
dos alimentos provisórios, caso, ao final do processo o juiz determine que os
alimentos não são mais cabíveis, não podem ser devolvidos, pois, à época,
eram legítimos. Contudo, em se tratando de má-fé do credor, evitar-se-á o
enriquecimento ilícito, podendo haver a sua devolução;
10) Não admite transação – pois não se trata de um direito patrimonial de
caráter privado, não podendo ser objeto de compromisso ou arbitragem;
11) Transmissível – aos herdeiros do devedor, prevalecendo o entendimento
de que ocorre nos limites da herança (Enunciado n. 343 do CJF/STJ, da IV
Jornada de Direito Civil);
12) Mutabilidade – é a principal característica dos alimentos, pois pode ser
alterado a qualquer tempo em razão da alteração fática do binômio
necessidade x disponibilidade, fazendo apenas coisa julgada formal.

(MPE-RR | 2017 | CESPE): O direito de obter, judicialmente, a


fixação de pensão alimentícia não prescreve; no entanto, há
V prazo prescricional para a execução de valores inadimplidos
correspondentes ao pagamento da pensão.
58
7.5.3. CLASSIFICAÇÃO DOS ALIMENTOS

1) Quanto à fonte – a) Legais – também denominados de familiares, são


aqueles que decorrem da disposição legal, relativamente ao casamento, união
estável ou das relações de parentesco. Em caso de não pagamento, cabe
prisão civil do devedor (art. 5º, LXVII, CF/88) nos moldes do NCPC; b)
Convencionais – decorrem de norma contratual, testamento ou legado; c)
Indenizatórios – são devidos em razão da prática de um ato ilícito que
acarretou dano para o credor;
2) Quanto à extensão – a) Civis (regra) – destinados a manter a qualidade de
vida do credor, de modo a preservar o mesmo padrão e status social do
alimentante. Assim, afirma-se que os alimentos devem, na verdade, ter o
condão de manter o padrão de vida (art. 1694, CC); b) Naturais (exceção) –

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visa a mera subsistência (art. 1694, § 2º c/c art. 1695, CC) e ocorre quando o
cônjuge por culpado da própria penúria ou em caso de separação judicial
quando houver o binômio legal, não houver nenhum outro parente para prestar
e tiver inaptidão para o trabalho;
3) Quanto ao tempo – a) Pretéritos – já prestados, não podendo ser mais
pleiteados em razão do princípio da atualidade que rege o instituto dos
alimentos; b) Presentes – estabelecido naquele momento e que podem ser
pleiteados; c) Futuros – estão pendentes mas poderão, em momento oportuno,
ser pleiteados;
4) Quanto à forma de pagamento – a) Próprios – também conhecido como in
natura, são pagos em espécie através de alimentos, sustento, hospedagem,
entre outros. De acordo com a premissa 7, publicada na Edição 65 da
ferramenta Jurisprudência em Teses do STJ: “é possível a modificação da
forma da prestação alimentar (em espécie ou in natura), desde que
demonstrada a razão pela qual a modalidade anterior não mais atende à
finalidade da obrigação, ainda que não haja alteração na condição financeira
das partes nem pretensão de modificação do valor da pensão; b) Impróprios –
decorrentes da pensão alimentícia, que vai ser determinada de acordo com o
caso concreto, pelo juiz, variante entre 10-40% com base no salário do devedor
ou então em salários mínimos;

(MPE-GO | 2016): Face a vedação constitucional do uso do


salário mínimo como fator de indexação obrigacional, a pensão
F alimentícia não pode ser fixada pelo juiz com base no salário-
mínimo, seguindo ao orientação da Súmula Vinculante 4 do
STF.
5) Quanto à finalidade – a) Definitivos – por meio de acordo das partes ou por
sentença judicial transitada em julgado. Contudo, conforme visto anteriormente,
não formam coisa julgada material, mas sim formal, podendo ser alterado a
qualquer tempo, a depender do binômio legal; b) Provisórios – são aqueles
fixados antes da sentença de alimentos, conforme Lei. 5478/68 (Lei de
Alimentos). Assim, exige prova préconstituída do parentesco (certidão de
nascimento) ou casamento e tem natureza de tutela de urgência satisfativa,
pois antecipada os efeitos da sentença; c) Provisionais – decorrem de outras
ações que não sejam regidas pela Lei de Alimentos, com objetivo de
manutenção do padrão de vida da parte que os pleiteia. Ocorre por meio de
tutela antecipada, antecipando os efeitos finais do processo, ou liminar, em
caso de medida cautelar de separação de corpos, e, ao contrário da anterior,
não precisa ser através de prova pré-constituída; d) Compensatórios – é a
divisão dos frutos e rendimentos dos bens do casal, a título de ressarcimento
pela não imissão imediata dos bens da meação a que o cônjuge faz jus, com
fim de restabelecer uma igualdade na relação familiar em razão do
desequilíbrio no momento da partilha dos bens; e) Transitórios – de acordo
com recente entendimento jurisprudencial do STJ, são os fixados por
determinado período de tempo, a favor de ex-cônjuge/companheiro, antes do
termo final (até que obtenha autonomia financeira). Sobre o tema, vide
premissa 14, edição 65 da ferramenta Jurisprudência em Teses do STJ:
“os alimentos devidos entre ex cônjuges devem ter caráter excepcional,
transitório e devem ser fixados por prazo determinado, exceto quando um dos

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cônjuges não possua mais condições de reinserção no mercado do trabalho ou
de readquirir sua autonomia financeira” e Informativo 444, STJ.

(MPE-SC | 2014): Conforme estipula a Lei n. 8.560/92, que


regula a investigação de paternidade de filhos havidos fora do
V casamento, sempre que na sentença de primeiro grau se
reconhecer a paternidade, nela se fixarão os alimentos
provisionais ou definitivos do reconhecido que deles necessite.

SÚMULA 309, STJ: “O débito alimentar que autoriza a prisão civil do


alimentante é o que compreende as três prestações anteriores ao ajuizamento
da execução e as que se vencerem no curso do processo”. Premissa 6,
Jurisprudência em Teses do STJ/16: “o atraso de uma só prestação
alimentícia, compreendida entre as três últimas atuais devidas, já é hábil a
autorizar o pedido de prisão do devedor, nos termos do art. 528, §3º do
NCPC”, e, em caso de devedor contumaz, também não há necessidade de
completar os três meses de inadimplemento.

7.5.4. EXONERAÇÃO

1) Morte do credor – pois, como anteriormente visto, trata-se de obrigação


intuito personae;
2) Alteração substancial ou desaparecimento do binômio legal – nesse
caso, deve-se ingressar com ação revisional ou exoneração de alimentos a
depender do caso;
3) Atingimento da maioridade, se for menor – contudo, não ocorre de forma
automática, sendo necessário o ingresso da ação de exoneração de alimentos,
pois, acaba o poder familiar mas permanece o dever de mútua assistência.
Assim, conforme preceitua a Súmula 358 do STJ “o cancelamento de pensão
alimentícia de filho que atingiu a maioridade está sujeito à decisão judicial,
mediante contraditório, ainda que nos próprios atos”. Ainda sobre o tema,
conforme entendimento consolidado deste mesmo Tribunal, caso seja filho
universitário, os alimentos se estendem até o término dos estudos (Informativo
n. 484; STJ/11, premissa 4 da Edição 65, Jurisprudência em teses;
Enunciado n.344 do CJF/STJ)
4) Dissolução do casamento/união estável – porém, de acordo com o art.
1709, CC, admite-se que haja a fixação de alimentos após o divórcio e,
portanto, o novo casamento do cônjuge devedor não extingue a obrigação
estabelecida por sentença. Porém, poderá haver alteração do binômio legal,
caso em que ensejará ação de alteração de alimentos. No mesmo sentido,
caso o devedor obtenha novo casamento, união estável ou concubinato, dar-
se-á por encerrada a obrigação, desde que, neste último caso, se demonstre a

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possibilidade de assistência material pelo concubino (Enunciado n.256,
CJF/STJ);
5) Comportamento indigno do credor – conforme o Enunciado n.264,
CJF/STJ, aplica-se as mesmas regras do art. 1814, incisos I e II do CC. Em
contrapartida, ressalte-se o Enunciado n.345 do CJF/STJ que estabeleceu
que pode ensejar exoneração ou mera redução se, nesse último caso,
permanecer a necessidade do devedor em receber os alimentos, que serão
reduzidos à quantidade indispensável à sobrevivência dele.

QUESTÃO INÉDITA
Marque a alternativa correta:
A) para o ingresso de ação de execução de alimentos com pedido de prisão
civil por inadimplemento de pensão alimentícia só poderá ser requerido após o
inadimplemento de três parcelas pelo alimentante.
B) doação de sêmen de um terceiro, desde que tenha concordância do
cônjuge, de modo que o doador é anônimo e se afasta da paternidade. Assim,
gera uma presunção absoluta de filiação.
C) de acordo com Código Civil, aquele idoso que tiver 65 anos, nos termos do
Estatuto do Idoso, deverá utilizar-se do regime obrigatório de bens, sendo
necessário que haja a feitura do pacto antenupcial em razão de ter sido
escolhido regime diverso do regime de comunhão parcial de bens;
D) com o advento do Estatuto da Pessoa com Deficiência, passou-se a admitir
nova espécie de direito assistencial de família: toma de decisão apoiada.
Nesse caso, o juiz determinará duas pessoas idôneas e de sua confiança para
acompanhar a pessoa com deficiência nos atos da vida civil, auxiliando-o nas
decisões que vier a tomar, de modo que sua ausência implicará nulidade de
tais atos.

Comentário:
a) FALSO – Premissa 6, Jurisprudência em Teses do STJ/16: “o atraso de
uma só prestação alimentícia, compreendida entre as três últimas atuais
devidas, já é hábil a autorizar o pedido de prisão do devedor, nos termos do
art. 528, §3º do NCPC”, e, em caso de devedor contumaz, também não há
necessidade de completar os três meses de inadimplemento.
b) VERDADEIRO – pois o pai registral terá conhecimento de que o filho não
tem sua origem biológica, prevalecendo a teoria da socioafetividade.
c) FALSO – o regime de separação total será obrigatório para aquele acima
de 70 anos e prescinde de pacto antenupcial ante à prescrição legal.
d) FALSO – a tomada de decisão apoiada é FACULTATIVA, assim, não cabe
ao juiz decidir ou impô-la.

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“É a união de duas pessoas, reconhecida e regulamentada
pelo Estado, formada com o objetivo de constituição de
uma família e baseado em um vínculo de afeto” (affectio
Casamento maritalis). Está sujeito a causas impeditivas, que acarreta
nulidade e suspensivas, que, por sua vez, implica a
adoção do regime obrigatório de bens.
É a relação formada com convivência pública e notória
(publicidade), contínua, duradoura e com objetivo de
União Estável constituir família, que prescinde de tempo mínimo, prole
e coabitação.
É o estatuto patrimonial dos cônjuges, aplicável a outras
entidades familiares. O próprio Código civil estabelece o
regime legal (comunhão parcial de bens), mas os nubentes
Regime de bens poderão escolher qualquer outro tipo de regime (comunhão
universal, separação de bens e participação final dos
aquestos) mediante o pacto antenupcial (mutável). Em
outras hipóteses, incidirá o regime obrigatório (separação
obrigatória).
Dissolução da Divórcio, separação judicial (Informativo 604 do STJ),
sociedade morte.
conjugal

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Consanguíneo/natural (aspecto biológico), civil (posse do
Relação de estado de filiação e aspecto socioafetivo) e por afinidade.
parentesco Atualmente, fala-se em multiparentalidade e a prevalência
das relações socioafetivas.
É poder-dever irrenunciável, intransferível (delegável para
terceiros), inalienável, imprescritível de obrigações
Poder familiar personalíssimas. Pode ser extinto, desconstituído ou
suspenso
Personalíssimo, recíproco, irrenunciável, complementar,
imprescritível, inalienável, incompensáveis, impenhoráveis,
Alimentos irrepetível, não admite transação, transmissível,
mutável.

8. DIREITO DAS SUCESSÕES

8.1 CONCEITOS BÁSICOS E PRINCÍPIOS:

A sucessão é a transferência total ou parcial de herança, em razão morte de


alguém, a um ou mais herdeiros. Assim, quando ocorre a morte, não só o
patrimônio, mas também os direitos e obrigações do falecido se transmite a
outrem.

8.1.1. MODALIDADES DE HERDEIROS

1) Necessários – são aqueles que tem direito à legítima, ou seja, metade do


patrimônio do autor da herança. Esse valor é obtido através do montante dos
bens existentes na abertura da sucessão, abatido das dívidas e despesas com
funeral e, esse resultado é somado aos valores sujeitos à colação. Assim, são
os descendentes, ascendentes, cônjuges e companheiros, conforme
equiparação sucessória realizada pelo STF por meio do Rext 878.694/MG, Rel.
Min. Luís Roberto Barroso, j. 31.08.2016;
2) Facultativos – são aqueles diversos dos necessários: colaterais (irmãos,
tios, sobrinhos, primos);
3) Legítimos – irão dispor da herança de acordo com o que for estabelecido em
lei. Assim, parentes em linha reta, colaterais até o 4º grau, cônjuge e
companheiro dispõem de legitimidade para suceder;
4) Testamentários – o falecido/testador deixou a parte disponível do seu
patrimônio ou uma fração desta

8.1.2. PRINCÍPIO DE SAISINE E VEDAÇÃO AO PACTA DE CORVINA

Com primeiro princípio, visa evitar que o patrimônio do de cujus fique sem
titular por muito tempo, assim, estabelece a imediata transferência ficta de
pleno direito dos bens do falecido, para seus herdeiros com capacidade
sucessória, quando da abertura da sucessão. Nota-se, portanto, que dispensa
qualquer manifestação de vontade acerca da aceitação da herança. Conforme
visto anteriormente em capítulo próprio, o Código Civil veda o Pacto de
Corvina, contrato realizado com objeto herança de pessoa viva.

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8.2 ABERTURA DA SUCESSÃO:

1) Conceito – é o momento em que ocorre a transferência da titularidade do


acervo patrimonial do falecido, de forma automática, em razão do Princípio de
saisine, abrangendo o domínio e a posse da herança. Porém, não existindo
herdeiros, não ocorre a abertura da sucessão, assim, se transformará em
herança jacente (sem dono) e, após determinado período de tempo, vacante,
momento em que os bens passarão ao domínio do ente público do município
onde se encontram situados;

2) Foro competente – segue as regras de competência do art. 48 do NCPC;

3) Lei material aplicável para regular a sucessão – lei vigente no momento


do óbito do falecido;

4) Lei que regula a capacidade sucessória – lei vigente no momento do


óbito;

5) Administração da herança - por ser considerada como conjunto de bens do


de cujus, ela forma o espólio, que constitui um ente despersonalizado,
havendo, portanto, uma universalidade de direito. Desse modo, com a morte,
deve-se abrir inventário cuja administração cabe ao inventariante, porém, até
que ele realize seu compromisso, a administração da herança caberá ao
administrador ad hoc que deverão ser escolhidos, sucessivamente e
taxativamente, entre: cônjuge/companheiro, desde que convivam juntos ao
tempo da abertura da sucessão; herdeiro que estiver na posse e administração
dos bens, ou então, o mais velho destes; testamenteiro ou pessoa de confiança
do juiz, se faltarem ou escusarem ou, ainda, quando afastados por motivo
grave de conhecimento do magistrado;

6) Herança negativa – ocorre quando as dívidas deixadas pelo falecido são


maiores do que a própria herança, assim, não haverá sobras, acarretando a
herança negativa, o que não obriga o inventário mas, se for feito, será
inventário negativo.

V (MPE-PR: | 2016 | MPE-PR): A sucessão é regulada pela lei


vigente ao tempo de sua abertura;

8.2.1. VOCAÇÃO HEREDITÁRIA

1) Capacidade sucessória - de acordo com o art. 1798 do CC, aquelas


pessoas nascidas ou já concebidas, desde que assim estejam no momento da
abertura da sucessão (delação);
a) Nascituro – apesar de a personalidade civil iniciar apenas com o nascimento
com vida, a lei resguarda dos direitos do nascituro desde a concepção. Nesse
sentido, ele tem capacidade sucessória, de modo que, quando vier a receber
os bens, deverá ser nomeado um administrador (curador) de seus bens.
Porém, a aquisição está relacionada com a ocorrência da condição suspensiva

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“nascimento com vida”, assim, caso não ocorra tal evento, não adquirirá a
condição de herdeiro, retornando a herança ao acervo para nova divisão;
2) Capacidade testamentária (art. 1799, CC) - a apuração se faz ao momento
da morte do autor da herança, sem retroagir à data em que fora lavrado o
testamento. Assim, terão capacidade: prole eventual, pessoas jurídicas pré-
constituídas ou então, sob forma de fundação;
3) Impedidos de herdar/legar (art. 1801, CC) – aquele que escreveu o
testamento, a mando do testador, abarcando, também, o cônjuge/companheiro,
ascendentes e irmãos daquele; testemunhas do testamento, em razão da
necessidade de sua imparcialidade; o concubino do testador casado, exceto se
estiver separado de fato por 5 anos, não se estendendo à união estável
(Enunciado n. 269 CJF/STJ) e nem ao filho decorrente desse relacionamento, e
o aquele que realizar o testamento (tabelião civil ou militar, comandante ou o
escrivão). Assim, em qualquer dos casos, serão nulas as disposições
testamentárias;
4) Excluídos da sucessão (art. 1814, 1961 e 1963, CC) – pode ser por meio
da vontade do falecido ou então por imposição judicial, podendo atingir tanto os
herdeiros quanto os legatários, constituindo-se como normas de natureza
punitiva;
1.1) Deserdação (art. 1961 e 1963, CC) – são atos de indignidade e ingratidão,
ocorrendo, unicamente, na sucessão testamentária. Assim, é o afastamento
do direito sucessório, restrita aos herdeiros necessários, de forma motivada,
apenas podendo ocorrer se tais atos tiverem ocorrido antes de sua morte,
estando sujeita à análise pelo juiz no processo de inventário; 1.2) Indignidade
(art. 1814, CC) – tem caráter punitivo individual, que pode atingir todas as
classes de herdeiros, sem excluir os descendentes do indigno (direito de
representação) os quais não poderão transmiti-lo os bens recebidos por
herança. Está condicionada à iniciativa de qualquer dos herdeiros (direito
potestativo) ou pelo Ministério Público (vide observação), devendo ocorrer
dentro do prazo decadencial de 4 anos a partir da abertura da sucessão, por
ação própria.

Assim, só perderá sua condição de herdeiro após o trânsito e julgado da


sentença, que possui efeitos extunc, como se a transmissão nunca tivesse
ocorrido. O rol previsto no artigo respectivo é taxativo e que servem, também,
em caso de deserdação. Ademais, pode haver a reabilitação do indigno, por
meio do perdão (personalíssimo e irretratável) mediante testamento ou ato
autêntico subscrito por duas testemunhas.

No que toca à legitimidade do Ministério Público para ajuizar ação de


indignidade, é importante que você esteja atualizado com a Lei nº
13.532/2017. A doutrina majoritária, mesmo antes do advento legislativo em
comento, já defendia o entendimento de que o Promotor de Justiça tem
legitimidade para propor ação visando a declaração de indignidade de herdeiro

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ou legatário, desde que presente o interesse público, consoante enunciado
116 da Jornada de Direito Civil. No Código Civil, no entanto, não havia
previsão expressa conferindo tal legitimidade ao Parquet. Contudo, a Lei nº
13.532/2017 acrescentou um parágrafo ao art. 1.815, prevendo
expressamente a legitimidade do Ministério Público nas hipóteses
previstas no inciso I do art. 1.814, CC. Assim, de acordo com a atual
redação do Código Civil, o MP pode demandar a exclusão de herdeiro ou
legatário, caso ele tenha sido autor, coautor ou partícipe de homicídio doloso
(consumado ou tentado) praticado contra o autor da herança, seu cônjuge,
companheiro, ascendente ou descendente.

8.2.2. ACEITAÇÃO E RENÚNICA DA HERANÇA (ARTS. 1804 A 1813, CC)

A aceitação é o ato do herdeiro mediante o qual confirma a transmissão da


herança, assim, não é através da aceitação que ocorrerá a transferência dos
bens do de cujus, pois isso ocorre devido ao Princípio de saisine. Quando
assim se manifestar, torna-se definitiva a transmissão. São tipos de aceitação:

a) Expressa – declaração escrita por meio de instrumento público ou particular;


b) Tácita – atos próprios da qualidade de herdeiro;
c) Presumida – o interessado pode declarar se aceita ou não aceita e, em 20
dias após a abertura da sucessão, requerer ao juiz prazo razoável, não
superior a este, para se pronunciar. Caso não se pronuncie, presume-se aceita.

Renúncia da herança é o ato de transferência realizada por um herdeiro a


todos os demais, sendo ele excluído da sucessão, acarretando retorno dos
bens ao acervo hereditário (efeito extunc). A capacidade para renunciar é do
agente capaz, não podendo ocorrer por representante legal do herdeiro. Assim:

1) Características – negócio unilateral abdicativa, não está sujeita ao


pagamento de tributos, não é condicionada à concordância dos demais, não
pode ser sujeita à condição/termo, deve ser sempre expressa em instrumento
público ou termo judicial, atinge direito de representação de seus herdeiros,
exceto se ele for o único herdeiro;
2) Espécies – abdicativa e translativa, pela qual o herdeiro cede seus direitos
em favor de determinada pessoa, incidindo, nesse caso, imposto de
transmissão inter vivos.

(MPE-RS | 2017): Os atos de aceitação ou de renúncia da


V herança são irrevogáveis, todavia, viável alegação de erro, dolo
e demais vícios do ato ou negócio jurídico visando sua
invalidade.

8.3 SUCESSÃO LEGÍTIMA:

8.3.1. SUCESSÃO DOS DESCENDENTES (ART. 1829 DO CC)

Vejamos as regras da sucessão dos descendentes:

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1) Proximidade entre os graus – o mais próximo exclui os mais remotos. Ex.:
os filhos excluem os netos na sucessão;
2) Divisão por cabeça – todos que se encontram no mesmo grau de
parentesco recebe por partes iguais. Ex.: o falecido deixou dois filhos, ambos
recebem o mesmo valor; Exceção: caso o descendente for pré morto, cabe
direito de representação, assim, a divisão será por estirpe;
3) Cabe direito de representação - é uma exceção à regra da proximidade
dos graus, que só ocorre na linha de parentesco descendente ou então na
relação de colateralidade até o 3º grau (sobrinhos). Assim, ocorre quando são
convocados herdeiros de graus diferentes, uns herdando por cabeça, e outros,
por estirpe, nos casos de pré-morto ou excluído da sucessão. Ex.: João falece
deixando 2 filhos, um deles, Pedro, é pré-morto e deixou 2 filhos, Artur e Bruno
(netos de João), assim, incidirá o direito de representação, pelo qual o valor
que Pedro receberia por cabeça será novamente divido igualmente entre Artur
e Bruno, e a outra metade que sobrou, será do outro filho de João.
4) Concorrência com o cônjuge sobrevivente – apenas ocorrerá a
concorrência se o sobrevivente tiver casado com o falecido sob o regime da
comunhão parcial de bens, se existir bens particulares, participação final nos
aquestos e separação convencional de bens.

8.3.2. SUCESSÃO DOS ASCENDENTES (ART. 1829, II C/C 1836 DO CC)

Na falta dos descendentes, serão chamados os ascendentes, denominados


herdeiros de segunda classe. Vejamos características dessa forma de
sucessão:

1) Proximidade entre os graus;


2) Divisão por linhas – os pais herdam em partes iguais, excluindo todos os
demais em graus superiores porventura existentes. Ademais, havendo
igualdade de graus e diversidade de linha (materna ou paterna), cada linha
receberá metade do valor total. Contudo, sobrevivendo apenas um ascendente
(pai, por exemplo), este receberá por inteiro. Ex.: se deixou pai e mãe, não
havendo descendente, receberão na mesma proporção em razão da linha de
ascendência; não deixou pais, mas deixou avós paternos e maternos, assim, a
herança será dividida inicialmente em duas partes, uma para cada linha e,
posteriormente, será dividida entre os avós de cada grupo em quotas iguais.
3) Não cabe direito de representação;
4) Multiparentalidade– nesse caso, a divisão da herança será proporcional ao
número de linhas ascendentes existentes. Ex.: dois pais e uma mãe, a linha
paterna receberá metade do valor, na mesma proporção da linha materna,
porém, dentro da linha, um pai receberá metade do que fora recebido por linha
e outro pai, a outra metade;
5) Concorrência com o cônjuge sobrevivente – não há qualquer
interferência o regime de bens adotado, conforme Enunciado n. 609 da VII
Jornada de Direito Civil de 105, havendo concorrência sempre que existir
cônjuge sobrevivente.

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8.3.3. SUCESSÃO DO CÔNJUGE SOBREVIVENTE E REGRAS DE CONCORRÊNCIA (ART.
1829, III C/C 1838 DO CC)

O cônjuge é o terceiro na ordem de sucessão e poderá suceder de forma


concorrente com os descendentes e ascendentes ou, então, isoladamente e,
nesse último caso, esse direito é reconhecido independentemente do regime
de bens adotado no casamento com o de cujus e desde que tenha persistido
até o falecimento do de cujus, ou seja, isso significa dizer que a separação de
fato subtrai, ao viúvo, a condição de herdeiro.

8.3.3.1. SUCESSÃO CONCORRENTE

A sucessão concorrente vai ocorrer juntamente com a sucessão dos


descendentes ou dos ascendentes. Nesses casos, o cônjuge terá direito de
concorrência com os demais herdeiros no valor da herança em razão do
montante dos bens particulares do falecido, pois, conforme já explicado
anteriormente, se houver bens comuns, ele será meeiro e onde há meação,
não há sucessão.

Vejamos as regras de acordo com cada regime de bens e concorrência:


1) Com os descendentes – onde há meação, não há sucessão
1.1) Comunhão universal – inexiste direito de concorrência, de modo que o
cônjuge sobrevivente terá direito à meação de todo o acervo patrimonial,
pois só há bens comuns. Assim, a meação ora pertencente ao de cujus será
dividia entre seus descendentes, não havendo sucessão do sobrevivente sob
esses valores. Contudo, cabível cláusula de incomunicabilidade dos vens, caso
em que sequer meação ocorrerá;
1.2) Comunhão parcial – haverá direito de concorrência apenas se existirem
bens comuns, pois, nesse caso, o cônjuge sobrevivente será meeiro dos bens
adquiridos na constância do casamento e a outra metade será dividida
igualmente entre os descendentes. Ademais, havendo bens particulares, estes
serão divididos por cabeça entre o cônjuge e descendente. Assim, há meação
quanto aos bens comuns e sucessão quanto aos bens particulares. Ex.:
Jorge e Carla casaram pelo regime legal possuem dois filhos, Ana e Paulo, e
Jorge, com sua morte, deixou R$ 1.800.000,00 de bens comuns e R$
600.000,00 de bens particulares. Nesse caso, Carla terá direito a R$
900.000,00 à título de meação e R$ 200.000,00 a título de sucessão, pois os
600 mil foram divididos igualmente entre ela, Ana e Paulo, totalizando R$
900.000,00. Assim, Ana e Paulo receberão, cada um, R$ 450.000,00 da
meação que Jorge teria direito e R$ 200.000,00 a título de sucessão,
totalizando R$ 650.000,00.

a) Concorrência com filho apenas do falecido – nesse caso, o cônjuge terá


direito à metade do total do valor recebido à título de sucessão pelos
descendentes. Ex.: Jorge e Carla casaram pelo regime legal possuem dois
filhos, Ana e Paulo, e Jorge, com sua morte, deixou R$ 1.800.000,00 de bens
comuns e R$ 500.000,00 de bens particulares. Nesse caso, Carla terá direito a
R$ 900.000,00 à título de meação e Ana e Paulo receberão, cada um, R$
450.000,00. Assim, quanto aos bens particulares, Ana e Paulo receberão, cada

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um, R$ 200.000,00, enquanto que Carla, R$ 100.000,00 (metade), totalizando
R$ 1.000.000,00 para Carla e R$ 650.000,00 para cada filho.
b) Concorrência com vários filhos que sejam comuns – haverá uma quota
mínima para divisão, que será de ¼ do valor da herança, enquanto que os
descendentes, receberão o restante, valor este a ser divido entre eles por
cabeça.

1.3) Separação de bens – nesse caso, não existe meação, uma vez que só
há bens particulares, assim divide-se por cabeça todo o patrimônio do de
cujus.
a) Separação Obrigatória de bens – atenção à Súmula 377 do STF que no
regime de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constância
do casamento. Assim, produz efeito da sucessão com base no regime de
comunhão parcial de bens.
1.4) Participação final dos aquestos – se assemelha à comunhão parcial, de
modo que haverá a meação dos bens comuns e sucessão dos bens
particulares.

2) Com os ascendentes – se for de 1º grau (pai ou mãe), o cônjuge terá


direito a 1/3, porém, se for apenas um ascendente ou de maior grau (ex.:
bisavô), terá direito à metade da herança;

(MPE-MS | 2015 | FAPEC): Quando casado no regime de


comunhão universal de bens, na hipótese da existência de
V descendentes, o cônjuge sobrevivente não terá o direito à
herança, uma vez que não é herdeiro concorrente com os
descendentes.

8.3.3.2. DIREITO REAL DE HABITAÇÃO

Além dos direitos assegurados sobre o acervo sucessório, a lei garante ao


cônjuge sobrevivente o direito real de habitação, persistindo na posse do bem
que servia de residência à família, independentemente do regime de bens. Que
deve ser estendido ao companheiro, conforme o Enunciado n. 117, CJF/STJ da
I Jornada de Direito Civil.

(MPE-MS | 2015 | FAPEC): Ao cônjuge sobrevivente, qualquer


F que seja o regime de bens, será assegurado o usufruto do
imóvel destinado à residência da família, desde que seja o único
daquela natureza a inventariar.

8.3.4. SUCESSÃO DO COMPANHEIRO

Com o Recurso Extraordinário 878.694/MG, Tribunal Pleno, Rel. Min. Luís


Roberto Barroso, j. 31.08.2016 do STF (Informativo 864 do STF), a sucessão
do companheiro foi equiparada ao do cônjuge, declarando a
inconstitucionalidade do art. 1790, CC, apesar de o julgamento não ter sido
ainda concluído em razão do pedido de vistas do Ministro Dias Toffoli, assim,
passou a ser considerado como herdeiro necessário.

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8.3.5. SUCESSÃO DOS COLATERAIS

Estão na última classe na ordem de vocação hereditária, apenas tendo direito


quando não possuir os demais herdeiros e nem cônjuge sobrevivente, pois não
há concorrência entre cônjuge e colateral. Assim, serão herdeiros os irmãos,
tios, sobrinhos, primos, tios-avós e sobrinhos-netos (4º grau).

Vejamos:

1) Proximidade entre os graus, ressalvado o direito de representação;


2) Sucessão entre irmãos (art. 1841, CC) – se forem irmãos bilaterais,
receberão igualmente, porém, há um tratamento desigual quando se tratar de
irmão bilateral e unilateral, de modo que o primeiro receberá o dobro que
caberá ao segundo. Ex.: Ana, Luiz, Hugo e José são irmãos, sendo que Luiz é
fruto de outro relacionamento, enquanto que Ana, Hugo e José são frutos do
casamento de sua mãe com Jorge. Assim, Ana falece e deixa R$ 500.00,00 à
título de herança, que será dividida da seguinte forma: Luiz, por ser irmão
bilateral, receberá R$ 100.000,00 e os demais, R$ 200.000,00 cada.
3) Sucessão entre colaterais em terceiro grau (art. 1843, CC) – na falta de
irmãos, herdará os sobrinhos (filhos deles) e, na falta destes, os tios. Os
sobrinhos têm preferência sobre os tios, apesar de serem do mesmo grau de
parentesco. Nesse caso, se aplica a regra anterior da bilateralidade de
parentesco.
4) Sucessão entre colaterais em quarto grau – entre eles não existe ordem de
preferência, recebendo todos em igual valor por cabeça, sempre em direito
próprio. Assim, se o morto deixou um primo, um tio-avô e um sobrinho-neto,
apenas, todos receberão herança por cabeça.

(MPE-PE | 2014 | FCC): Roberto e Renata, casados sob o


regime da comunhão universal de bens faleceram, em acidente
aéreo, sem que se pudesse estabelecer quem morreu primeiro,
e não deixaram testamento. Não tinham descendentes nem
ascendentes, mas Roberto deixou um tio paterno (José) e um
V sobrinho (João), filho de uma irmã pré-morta. Renata deixou um
irmão (Joaquim) e dois sobrinhos (Romeu e Beatriz), filhos de
outro irmão pré-morto. Nesse caso, a herança de Roberto será
atribuída integralmente a João e a herança de Renata será
partilhada à razão de 50% para Joaquim, 25% para Romeu e
25% para Beatriz.

8.4 SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA:

A sucessão testamentária visa preservar o patrimônio de uma pessoa aos seus


familiares e por isso é fundada na autonomia da vontade, através de um ato
unilateral realizado em vida (ato de última vontade). De acordo com Maria
Helena Diniz, trata-se de ato personalíssimo e revogável pelo qual alguém, em
conformidade com a lei, não só dispõe, para depois de sua morte, no todo ou
em parte, do seu patrimônio, mas também faz outras estipulações”. Assim,
poderá ter disposições patrimoniais ou extrapatrimonais.

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Nesse sentido, o testamento possui alguns requisitos: a) Pessoa capaz de
dispor de seus bens para depois da morte – o maior de 16 anos possui
capacidade para testar e a superveniência da capacidade não torna o
testamento válido; b) Pessoa capaz de receber os bens testados; c)
Declaração de vontade na forma exigida em lei; d) Observância dos limites ao
poder de testar – havendo herdeiros necessários, o testador só poderá testar
sobre a parte disponível (metade dos seus bens), podendo determinar de
forma individualizada o valor dos quinhões.

(MPDFT: | 2013 | MPDFT): Os maiores de dezesseis anos têm


capacidade testamentária ativa e outorgarão o testamento sem
V assistência do representante legal, no caso, age direta e
pessoalmente, pois não pode o testador ficar sujeito à
assistência, autorização ou anuência de quem quer que seja.

8.4.1. ESPÉCIES DE TESTAMENTO

A lei determina formas possíveis para testar, admitindo formas ordinárias e


especiais, de modo que, entre eles, não existe qualquer hierarquia, possuindo,
portanto, igual valor, porém, havendo sua coexistência, são revogáveis entre si.
Sobre essas espécies, é imprescindível a leitura da legislação, vejamos:

1) Ordinários (art. 1862, CC) – é de livre escolha do testador, devendo ser


observadas as solenidades para tanto:

1.1) Público (art. 1864 a 1867, CC) – é sigiloso, pois somente é aberto com o
falecimento do testador, possui fé-pública e só pode ser revogado por outro
testamento. Ainda, com o falecimento do testador, o juiz notificará todos os
cartórios da circunscrição para se manifestarem acerca da existência ou não do
instrumento.
Assim, é solene, devendo preencher os seguintes requisitos:
a) Escrito por tabelião ou seu substituto legal no livro de notas;
b) Lavado instrumento, que deve ser lido em voz alta pelo tabelião ao testador
e duas testemunhas, de uma só vez, ou então pelo testador, se o quiser, na
presença das testemunhas e do oficial do tabelionato;
c) Assinatura do instrumento por todos os envolvidos na lavratura do
testamento;

1.2) Cerrado (místico) (art. 1868 a 1875, CC) – é secreto, pois não se sabe
qual o seu conteúdo, que permanece em segredo até a morte do testador. Ele
permanece na posse deste, cabendo ao tabelião, unicamente, declarar sua
autenticidade. Pode ser escrito ou à rogo, desde que assinado, possuindo,
inclusive, forma híbrida. É aberto perante o juiz que irá verificar as cláusulas e
divisão de bens;

1.3) Particular (hológrafo/ológrafo) (art. 1876 a 1888, CC) – trata-se da forma


mais simples e acessível para testar, sendo realizado pelo próprio testador de
manifestação de próprio punho ou mediante processo mecânico. Quando do

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seu falecimento, deve-se publicar em juízo com a citação dos herdeiros
legítimos;

2) Especiais (art. 1886, CC) – são casos especificados em lei que dizem
respeito a acontecimentos emergenciais, que sujeitam pessoas à situações de
perigo. Trata-se de rol taxativo, conforme preceitua o art. 1887 do CC e estão
sujeitos à prazos de caducidade, findo os quais perderão sua eficácia.

2.1) Marítimo e Aeronáutico (art. 1888 a 1892, CC) – qualquer pessoa


(tripulante, passageiro e comandante) poderá testar desde que se encontrem
em navio nacional, de guerra ou mercante, podendo ser realizado tanto nos
moldes do testamento cerrado quanto do público e, em ambos os casos, será
realizado pelo comandante no próprio diário de bordo. Independentemente de o
testador falecer ou não durante a viagem, o comandante deve entregar o
documento no primeiro porto nacional que atracar. Possui validade de 90 dias;

2.2) Militar (art. 1893 a 1896, CC) – é uma faculdade concedida não só aos
militares, mas também a todas as pessoas que estejam à serviço das Forças
Armadas. Pode ser levado nos moldes do testamento público, cerrado ou
nuncupativo, desde que não beneficie aquele que realiza o testamento
(superior direto). Possui validade de 90 dias, deve ser realizado em caso de
guerra, interrompidas as comunicações e se não houver tabelião ou afim.

(MPE-SP | 2015): Não obstante a deficiência auditiva do


V testador, o auto de aprovação do testamento cerrado deverá ser
lido na presença dele e das testemunhas.

Interpretação do testamento – em regra, em favor do testamento, mas a lei


traz regras proibitivas (art. 1898, art. 1900, incisos I e II, art. 1801 e 1802 do
CC) em que serão nulas quando ocorrerem, pois visam preservar o
testamento; causas permissivas (art. 1897 e 1911, CC) e demais regras
interpretativas/integrativas (art. 1902, 1903, 1904, 1905, 1907 e 1908, CC).

QUESTÃO INÉDITA
Marque a alternativa correta:
A) no ordenamento jurídico brasileiro, no que se refere às disposições
sucessórias, a sucessão entre irmãos sempre será feita de forma igualitária,
em razão do Princípio da Igualdade que permeia a ordem constitucional e
familiar, visto que não se podem haver discriminações quanto a origem de
filiação;

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B) o companheiro se equipara ao cônjuge para todos os fins legais, seja nas
relações familiares, seja nas relações de direito sucessório. Assim, aplicam-se
as mesmas disposições de Direito das Sucessões ao companheiro, sendo
este, inclusive, considerado como herdeiro necessário.
C) a renúncia da herança implica exclusão do herdeiro da sucessão,
acarretando retorno dos bens ao acervo hereditário (efeito extunc) e, em razão
disso, permite que os filhos do renunciante retornem ao acervo para
receberem suas quotas como se fosse em nome do renunciante.
D) João e Lucas são amigos e resolveram realizar um contrato com uma
cláusula condicional. De acordo com o que fora acordado, João ficaria
obrigado a entregar o imóvel que irá receber do seu pai quanto este vier a
falecer. Nessa perspectiva, trata-se de contrato plenamente válido de acordo
com a ótica jurídica.

Comentário:
a) FALSO – quando se tratar de irmão bilateral e unilateral, de modo que o
primeiro receberá o dobro que caberá ao segundo não há necessidade de
completar os três meses de inadimplemento e, de acordo com a doutrina
majoritária, esse dispositivo não viola qualquer nuance da igualdade de filiação
pois, quando se fala em sucessão, trata-se de tratamento proporcional ao
vínculo de parentesco (“irmão duas vezes);
b) VERDADEIRO – Informativo 864 do STF
c) FALSO – a renúncia atinge direito de representação, assim, os filhos do
renunciante não poderão reingressar na sucessão para obter quotas
equivalentes ao que o renunciante poderia receber antes do ato.
d) FALSO – é vedada o Pacta de Corvina, sendo as disposições contratuais
consideradas NULAS.

Modalidades de Necessários: descendentes, ascendentes cônjuge e


herdeiros companheiro, facultativos: colaterais até o 4º grau,
legítimos e testamentários.
Sucessão Ocorre em razão do inventário e pode ocorrer de diversas
legítima formas.
Sucessão dos Será dividido por cabeça entre os descendentes, podendo
descendentes concorrer com o cônjuge. Os mais próximos excluem os
mais remotos, podendo haver direito de representação.
Receberão por linhas e podem concorrer com o cônjuge.
Sucessão dos Só receberão se não houver descendentes e os mais
ascendentes próximos excluem os mais remotos. Não cabe direito de
representação.
O cônjuge e companheiros, consoante entendimento do
Sucessão do STF, equiparam-se em direitos sucessórios. Assim, podem
cônjuge e suceder de forma isolada ou concorrente, havendo
companheiro descendentes ou ascendentes, dependendo, também, do

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regime de bens adotado ao tempo da relação conjugal.
Os colaterais são a última classe da ordem de vocação
Sucessão dos hereditária, assim, ocorrerá apenas quando não existirem
colaterais os demais herdeiros e nem cônjuge sobrevivente, pois não
há concorrência entre cônjuge e colateral. Ademais, pode
ocorrer direito de representação (exceção art. 1853, CC).
Ato personalíssimo e revogável pelo qual alguém, em
Sucessão conformidade com a lei, não só dispõe, para depois de sua
testamentária morte, no todo ou em parte, do seu patrimônio, mas
também faz outras estipulações”. Assim, poderá ter
disposições patrimoniais ou extrapatrimonais.
Espécies de Ordinário: público, particular e cerrado.
testamento Especiais: marítimo, aeronáutico e militar.

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