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TEORIA GERAL DA RELAÇÃO JURÍDICA ADMINISTRATIVA

A actividade administrativa manifesta-se de duas formas principais cujo objectivo é de


estabelecer e materializar um Estado de Direito:
 através de uma actividade jurídica que consiste na aprovação dos regulamentos e;
 através de uma actividade material.

Relação Jurídica administrativa é uma relação da vida social disciplinada pelo direito
mediante a atribuição a uma pessoa de um direito subjectivo e a correspondente
imposição a outra pessoa de um dever ou de uma sujeição. Este conceito coincide com o
conceito civilista da relação jurídica em geral.

Para Marcello Caetano, relação jurídica administrativa vincula duas pessoas, uma que
tem o poder de exigir e outra que tem o dever de cumprir.

Quanto a Estrutura Interna, esta articula-se entre um Direito Subjecto e um dever ou


sujeição.

DIFERENÇA ENTRE RELAÇÃO JURÍDICA CIVIL E RELAÇÃO JURÍDICA


ADMINISTRATIVA
A distinção reside na estrutura externa da relação, tais como:
a) Sujeitos da relação jurídica administrativa;
b) Objecto da relação jurídica administrativa;
c) Facto da relação jurídica administrativa;
d) Garantia da relação jurídica administrativa.

SUJEITO DA RELAÇÃO JURÍDICA ADMINISTRATIVA


O Sujeito original da relação jurídica administrativa é a Administração Pública no sentido
amplo do termo.

OBJECTO DA RELAÇÃO JURÍDICA ADMINISTRATIVA


Resulta duma transformação do modelo civilista. Isto significa que, é aquilo sobre que
incide o direito subjectivo, ou poderes em que esse direito se analisa. Se reconduz
fundamentalmente a teoria das coisas (coisas públicas e coisas não públicas). Conforme a
teoria das coisas, existem coisas públicas comuns e coisas públicas particulares.

Todas as coisas de uma forma geral fazem parte do negócio jurídico. Podem ser matéria
de prestação na relação jurídica administrativa. Somente as coisas públicas constituem
objecto de um estudo específico pela doutrina porque estas estão sujeitas ao regime do
direito público.

A Constituição da República de Moçambique, apresenta no seu artigo 98, o rol das coisas
que fazem parte do domínio público do Estado.

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O FACTO DA RELAÇÃO JURÍDICA ADMINISTRATIVA
Facto jurídico são todos acontecimentos da vida sicial com consequências jurídicas, isto
é, que influenciam na criação, transmissão e extinção do direito (que produzem efeitos
para o direito).

Dentro dos factos jurídicos, a modalidade mais importante é a dos actos jurídicos da
administração pública. Estes podem ser objecto de várias especificações. E, dentro das
especificações a de modo de formação ou criação é a mais importante. Assim, distingue-
se o acto jurídico unilateral que é resultado de uma entidade e acto jurídico plurilateral
que é resultado de várias vontades.

O Acto Unilateral, no Direito Administrativo, ocupa um lugar muito importante do que


no Direito Privado. E o mesmo será estudado sob a forma de Decisão Administrativa ou
sob a forma de Procedimento Contratual (Contrato Administrativo). O agente
administrativo encarregue de praticar actos jurídicos administrativos é estabelecido pela
lei e, assim surge a questão da Competência.

NOÇÃO DE COMPETÊNCIA
A competência de um agente administrativo é uma aptidão que lhe é conferida para
praticar actos jurídicos em nome de uma colectividade administrativa. Ou seja, a
competência constitui o conjunto dos poderes estritamente necessários para a prossecução
de uma determinada atribuição.

A competência estabelece uma relação entre a ordem jurídica e a pessoa investida do


poder jurídico. A principal consequência é de que a ordem jurídica só vai considerar
como relevante os actos jurídicos praticados por um agente revestido de competências.

A atribuição de uma pessoa colectiva de direito público constitui os fins ou interesses que
a lei incumbe as pessoas colectivas públicas de prosseguir. A sua concretização é através
das competências. Na sua relação com as atribuições a competência é uma capacidade de
acção jurídica composta por poderes jurídicos que permitem realizar os fins das pessoas
colectivas públicas.

NOTA: Assim, as atribuições são os fins ou interesses a prosseguir enquanto que as


competências são os poderes de efectivar aqueles fins ou interesses.

ELEMENTOS DA COMPETÊNCIA
1. Competência Material – consiste na aptidão conferida a uma autoridade
administrativa para prática de um determinado tipo de acto administrativo. A Lei
estabelece entre os órgãos da mesma pessoa colectiva pública uma repartição das
aptidões para prática de actos administrativos. Cada órgão ou autoridade
administrativa pode actuar unicamente com as competências que lhe foram
atribuídas, sob pena de praticar actos ilegais.

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2. Competência Territorial – esta determina o espaço físico nos limites do qual
uma autoridade administrativa pode exercer os seus poderes. O exercício desta
competência é limitado.

3. Competência Temporal – esta determina o momento em que uma autoridade


administrativa pode praticar um acto administrativo.

O REGIME JURÍDICO DA COMPETÊNCIA


O regime jurídico da competência tem a ver com duas questões fundamentais:
 A determinação da competência;
 Princípios fundamentais do regime da competência.

A DETERMINAÇÃO DA COMPETÊNCIA
Para determinar a competência é preciso ter em conta as seguintes fontes:
 A consagração legal da competência.
 A não presunção da competência.

Determinação legal da competência – os textos constitucionais e regulamentos


legislativos contém várias disposições que por um lado designam as autoridades
administrativas e, por outro lado, as suas competências.

Determinação da competencia fora dos textos legais – os textos não regulamentam


todos problemas relativos a competência. E, para a resolução deste problema, recorre-se
aos seguintes princípios:
1. Princípio do Paralelismo da Competência – quando uma autoridade
administrativa é competente para praticar um acto jurídico, esta mesma autoridade
tem a competência de declarar a cessação de funções. Sendo que, a autoridade
administrativa despida do poder de nomeação tem a competência para determinar
a cessação das funções.

2. Princípio da Continuidade do Serviço Público – este permite em casos de


urgência ou situação excepcional que a autoridade administrativa pratique um
acto administrativo que não devia praticar na situação em que se encontra.

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO REGIME DA COMPETỆNCIA


Os princípios fundamentais relativos as regras da competência podem assumir:
a) Carácter geral da competência;
b) Carácter impessoal da competência;
c) Carácter permanente da competência;
d) Carácter estrito da competência ou princípio da prescrição;
e) Carácter não presumível das regras da competência;
f) Carácter imodificável da competência;
g) Carácter irrenunciável e inalienável das regras da competência.

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CARÁCTER IMPESSOAL DA COMPETÊNCIA
Significa que é para todos os agentes investidos no mesmo emprego. É independente do
indivíduo que ocupou este emprego. Isto significa que, o funcionário público é só um
meio para implementar a competência. Aqui está patente o fenómeno da imputação. O
funcionário não pode renunciar de executar a sua competência. Pois, trata-se de uma
verdadeira imposição.

CARÁCTER PERMANENTE DA COMPETÊNCIA


A competência é permanente, não se esgota com o seu exercício.

CARÁCTER ESTRITO DAS REGRAS DA COMPETÊNCIA


A regra da competência impõe à administração pública de uma forma restrita. O
desrespeito pelas regras da competência constitui ilegalidade da administração pública. O
Juiz pode oficiosamente levantar questões da competência quando uma certa autoridade
não tem competências para praticar certos actos o que leva a nulidade dos actos.

CARÁCTER NÃO PRESUMÍVEL DA COMPETÊNCIA


Significa que a competência quanto a regulamentação deve ser inequívoca. Isto é, a Lei
ou Regulamento deve prever de forma expressa a competência.

CARÁCTER IMODIFICÁVEL DA COMPETÊNCIA


Nem a administração pública nem os particulares podem alterar o conteúdo ou
legalização pública da competência estabelecida na lei ou no regulamento vigente. Isto
devido a uma questão de bom senso, segurança e certeza jurídica.

CARÁCTER IRRENUNCIÁVEL DA COMPETÊNCIA


Significa que os órgãos administrativos não podem em caso algum praticar actos pelos
quais renunciam os poderes ou os tramitam para outros órgãos da administração ou
entidades privadas.

RELAÇÃO ENTRE O PRINCÍPIO DA LEGALIDADE E A COMPETÊNCIA


Por via de regra que regula o funcionamento do Direito Administrativo é que um agente
administrativo não pode praticar um acto jurídico em nome da colectividade se ele não
for previamente investido da competência. Isto significa que, uma autoridade
administrativa que for a praticar um acto administrativo no âmbito dos poderes que lhe
são conferidos constitui a base de qualquer ordem administrativa. Isto equivale a dizer
que, qualquer competência deve ter uma base legal que constitui uma garantia e que não
deve ser tida de forma arbitrária.

AS DERROGAÇÕES DAS REGRAS DA COMPETÊNCIA


Apesar da rigidez, as regras da competência podem ser alteradas para permitir que outra
pessoa possa exercer a competência. Essa alteração pode ocorrer por quatro vias:
1. AS DELEGAÇÕES – estas permitem atribuir o exercício de uma competência a
um outro órgão que não é o titular normal. As regras da competência têm a sua
fundamentação no princípio da legalidade que constitui a garantia dos
particulares.

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O regime da delegação da competência foi concedido de maneiras a dar garantias
equivalentes ao próprio regime da competência. A delegação da competência deve ser
prevista por um texto existente. Há dois tipos de delegação de competências:
a) A Delegação de assinatura – consiste na atribuição por uma autoridade
administrativa a um subordinado o poder de praticar actos que continuam a
depender da autoridade administrativa. Isto significa que, o delegante atribui
ao delegado a possibilidade de praticar actos somente de maneira formal
através da assinatura sem que haja materialmente substituição de
competências. Isto equivale a dizer que, a delegação de assinatura não
modifica a ordem da competência. Pois, a competência atribuída ao delegado
continua a pertencer ao delegante.

b) A Delegação de poderes – verifica-se, uma verdadeira transferência de


competência que passa a ser de uma outra autoridade administrativa. O titular
normal da competência vai transferir as suas competências a uma outra
autoridade administrativa. Há que realçar que em nenhum caso um superior
hierárquico pode praticar um acto jurídico no lugar do seu subordinado
enquanto este não tomou a própria decisão, sob pena de ocorrer o vício de
usurpação de poderes.

A decisão dada pelo superior hierárquico seria assim ferida de incompetência. O


delegado pode revogar a sua competência e depois praticar a decisão. As duas
delegações de competências têm requisitos comuns:
a) as duas são válidas se forem previstas na lei;
b) as delegações devem ser publicadas no Boletim da República;
c) as delegações devem ser parciais, isto significa que, há questões que uma
autoridade administrativa não pode delegar.

2. A SUBSTITUIÇÃO – visa assegurar o funcionamento dos serviços públicos em


casos em que uma autoridade administrativa é impedida de exercer as suas
competências, por exemplo, em casos de gozo da licença disciplinar (férias).
Verifica-se uma transferência provisória de competências a uma outra autoridade.

3. A INTERINIDADE – consiste no mecanismo segundo o qual, uma pessoa é


provisoriamente encarregada de substituir quer entre a cessação das suas funções,
quer durante uma ausência e a tomada de posse do seu sucessor. A diferença entre
a substituição e a interinidade reside teoricamente no facto de que no caso de
interinidade a mudança não é automática e pressupõe a intervenção de uma outra
autoridade. No direito moçambicano, a distinção entre as duas figuras incide
sobre a natureza do impedimento. Quanto ao Presidente da República, no caso em
que o impedimento do ausente é temporária a técnica jurídica usada é a da
substituição, em caso de ser permanente a técnica usada é a da interinidade. Vide
artigos 150 e 151 da CRM.

4. CIRCUNSTÂNCIAS EXCEPCIONAIS – em certos casos, os agentes da


administração pública podem encontrar-se em circunstâncias excepcionais,

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diferentes daquelas em função das quais tinham sido elaborados os factos que
previam as competências. Por exemplo, situações da guerra, de emergência,
calamitosas, entre outras.

Os agentes da administração pública podem actuar fora do quadro das competências


quando circunstâncias excepcionais têm por efeito tornar impossível o bom
funcionamento dos serviços públicos. E, o juiz administrativo deve verificar se a
prática da competência por agente incompetente está justificada. Caso não haverá
responsabilização à autoridade pública ou agente praticante do acto.

NOÇÃO DE DECISÃO ADMINISTRATIVA


É um acto jurídico pelo qual uma autoridade administrativa modifica ou altera o
ordenamento jurídico pré-existente à prática do acto.

Temos um sistema jurídico composto por vários elementos e que é alterado por uma
decisão administrativa. Pressupõe a existência de quatro elementos fundamentais:
1. A Decisão Administrativa é um acto jurídico na medida em que é uma
manifestação de vontade que tem por fim produzir efeitos jurídicos. Distingue-se,
assim, das operações materiais.

2. Decisão Administrativa é um acto unilateral na medida em que resulta de uma


única vontade. No processo de elaboração podem intervir vários órgãos, mas o
poder de decisão compete só a um deles, exemplo, Diploma Interministerial.

3. A Decisão Administrativa é um acto de uma autoridade administrativa, isto


significa que a decisão administrativa emana de um órgão que exerce um poder
administrativo.

4. A Decisão Administrativa é o acto que altera, modifica e afecta o ordenamento


jurídico. Isto significa que, não só modifica, há casos em que não há alteração
nem modificação do ordenamento jurídico quando dá uma decisão negativa.

DELIMITAÇÃO DA DECISÃO ADMINISTRATIVA E OUTRAS DECISÕES NÃO


ADMINISTRATIVAS
Dentro da actuação da Administração Pública encontramos limites da jurisdição do
Tribunal Administrativo. Por’em, existem actos que não estão sujeitos ao controlo do Juiz
administrativo, tais como:
- Os praticados no exercício da função política e responsabilidade pelos danos
decorrentes desse exercício;
- Normas Legislativas e responsabilidade pelos danos decorrentes do exercício da função
legislativa;
- Relativos à instrução criminal e ao exercício da acção penal;
- Quetões de direito privado;
- Actos cuja apreciação pertence por lei à competência de outros tribunais.

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A Decisão Administrativa é o que relaciona o Juiz administrativo e as entidades
administrativas.

. Decisão de Natureza Política – a iniciativa de uma proposta de lei é decisão política e a


aprovação ou impugnação pela Assembleia da República também é decisão política. Por
exemplo, Governo e Parlamento.

Actos praticados na função legislativa não são sujeitos ao controlo do Juiz administrativo
e isto não quer dizer que todos os actos praticados por esta entidade não são sujeitos ao
controlo.

Os particulares não têm competências de praticar decisões administrativas e são


excluídos do controlo do Juiz administrativo.

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