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NEIGHBOURS, DE LÍLIA MOMPLÉ:

PELOS CAMINHOS DISSIPADOS DA


HISTÓRIA NA MEMÓRIA

Adenize A. Franco (DELET/PPGL-UNICENTRO)


1. Justificativa/contexto da pesquisa

A questão dos estudos sobre memória na sociedade contemporânea e sua inscrição


em textos ficcionais demonstram a importância de discuti-la ou rediscuti-la
considerando o fato de fazermos parte de um espaço social, histórico e cultural que
evoca muito mais o esquecimento do que a lembrança.
1. Justificativa/contexto da pesquisa

“não há nada que tenha mantido a lembrança tanto tempo em funcionamento quanto
a catástrofe da destruição e do esquecimento que teve lugar em meados do século
XX” (Assmann, 2011, p. 22).
2. Objeto (s) de pesquisa:

Neighbours (2008), de Lília Momplé, inscreve-se como uma narrativa que discute
o passado histórico recente de Moçambique. Obra inscrita no projeto “A memória
em dissipação: estórias de memórias de mulheres no romance contemporâneo”
destaca a relação entre memória e história de um país que se desvincula de um
governo colonial mas adentra numa guerra civil.
2. Objeto (s) de pesquisa:
2. Objeto (s) de pesquisa: Autora Lília Momplé

Nasceu em 1935, na Ilha de Moçambique. É licenciada em Serviço Social. Depois


de viver algum tempo em Inglaterra e no Brasil, regressou definitivamente a
Moçambique, em 1971. Tem representado o seu país em vários eventos
internacionais e integrou o Conselho Executivo da UNESCO em Paris, de 2001 a
2005. É membro de honra da Associação dos Escritores Moçambicanos, onde já
exerceu os cargos de Presidente e Secretária-Geral.
(Fonte: https://www.portoeditora.pt/noticias/neighbours-de-lilia-momple/3081)
2. Objeto (s) de pesquisa: romance Neighbours

Publicado em 1995 (Da autora/2008; Editora Porto/2012), o romance descreve “o


que se passa em Maputo, em três casas diferentes, desde as 19 horas de um dia de
maio de 1985 até às 8 horas da manhã seguinte”.
As casas de: Narguiss e suas filhas/ Leia e Januário/ Mena e Dupont
Nos horários: 19 hrs/ 21 hrs/ 23hrs/ 1 h/ 8hrs
3. Linhas de discussão: temáticas
1) História de Moçambique - Nampula, Maputo/Lourenço Marques, FRELIMO (Frente
de Libertação de Moçambique), CNA (Congresso Nacional Africano), Apartheid,
Revolução dos Cravos (1974), Independência de Moçambique (25/06/1975), RENAMO
(Resistência Nacional Moçambicana), Guerra Civil Moçambicana (1975-1992)
2) Autoria feminina/personagens femininas
3) Regimes totalitários – (Violência contra minorias (negros, mulheres)/divergências
políticas)
4) Memória – recuperação das situações históricas para sua rediscussão, sua
representatividade, das vozes discursivas
3. Linhas de discussão: teóricas
Estudos pós-coloniais
A perspectiva teórica centra-se nos estudos sobre 1) literatura e crítica pós-colonial
(BONICCI), 2) sobre memória (ASSMANN, BENJAMIN, BOSI) e 3)sobre
literatura contemporânea e as novas vozes (mulheres).
-»“experiência de colonização” e, em relação à crítica pós-colonial, esta se revela
como “uma abordagem alternativa para compreender o imperialismo e suas
influências, como um fenômeno mundial e, em menor grau, como um fenômeno
localizado” (BONICCI, 1998).
3. Linhas de discussão: teóricas
Estudos sobre memória
“[…] mais nos pedem para lembrar, no rastro da explosão da informação e da
comercialização da memória, mais nos sentimos no perigo do esquecimento e mais
forte é a necessidade de esquecer” (Huyssen, 2000, p. 20).

Estudos sobre literatura contemporânea


Dalcastagne
4. Análise inicial
“Vinham da Matola para os seus empregos ainda de madrugada, sujeitos a encontrar
algum grupo armado mais retardário, dos que diariamente infestam aquela zona,
saqueando e assassinando gente indefesa. E, para chegarem pontualmente ao
serviço, tinham que gastar quase tudo o que ganhavam nos “chapa cem” visto que
o machimbombos obedecem a um horário imprevisível, chegando a passar dias
seguidos sem dar sinal. Em casa da mãe de Leia o ambiente foi também, desde o
início, carregado de pequenas tensões.” (MOMPLÉ, 2008, p.16, Leia e Januário,
19hrs)
(Matola – distrito moçambicano / chapa cem – transporte semicoletivo (vans)
4. Análise inicial

“Filha de indianos mestiços, Fauzia pertence àquele número de moçambicanos que


foram apanhados desprevinidos pela independência do país. Perfeitamente adaptada
à sua condição de colonizada com alguns privilégios, a idéia de Pátria é demasiado
ampla para encontrar eco no seu horizonte estreito, onde só cabe o pequeno círculo
de familiares e amigos.” (MOMPLÉ, 2008, p.30, Em casa de Narguiss, 21 hrs)
4. Análise inicial
“Há muito que Januário sabia que uma guerra se alastrava pela colónia. Alguns de
seus colegas falavam-lhe também de um movimento nacionalista, chamado
FRELIMO, que lutava nas matas. E o próprio aparato bélico que a cidade de
Nampula ostentava, com tropa e carros militares circulando a toda hora, só podia ser
compreendido como a retaguarda de uma guerra. Porém, neste dia memorável em
que brancos enfurecidos forçaram a expulsão de outro branco tão importante como
o bispo de Nampula, Januário teve, pela primeira vez, a percepção de que algo
irreversível estava para acontecer na sua terra.” (MOMPLÉ, 2008, p.40, Em casa de
Leia e Januário, 21 hrs).
4. Análise inicial
“Assim, quando logo após o golpe de 25 de Abril em Portugal, a FRELIMO se
apresentou reclamando a independência de Moçambique, Rui, nem por um
momento, tomou a sério tais falácias. Só começou a aperceber-se de que afinal não
se tratava de falácias quando o governo português, depois de várias manobras
dilatórias, concordou em encetar conversações sobre o assunto. Então, por uns
tempos, Rui mergulhou numa espécie de torpor, consciente apenas de uma constante
sensação de desamparo e irrealidade.” (MOMPLÉ, 2008, p.40, Em casa de Mena e
Dupont, 23 hrs).
5. Referências bibliográficas:

ASSMANN, Aleida. Espaços da recordação: Formas e transformações da memória cultural. trad. Paulo
Soethe (org.) Campinas, SP: Editora Unicamp, 2011.
BONNICI, T. Introdução ao estudo das literaturas pós-coloniais. Mimesis, Bauru, v. 19, n. 1, p. 07-23, 1998.
BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: Lembranças dos Velhos. 3ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.
DALCASTGNE, DALCASTAGNÉ, Regina. Literatura brasileira contemporânea: Um território
contestado. Vinhedo: Editora Horizonte, 2012.
HUYSSEN, Andreas. Seduzidos pela memória: arquitetura, monumentos, mídia. Trad. Sérgio Alcides. Rio
de Janeiro: Aeroplano, 2000.
MOMPLÉ, Lídia. Neighbours. 3ªed. Maputo: Edição da autora, 2008.
SALGADO, Maria Teresa. neighbours: de violências, mulheres, mudanças...e homens. Revista Diadorim,
Rio de Janeiro, Volume 9, Julho 2011, p. 173 - 182.

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