Terceira Civilização - Edição 407 - 01/07/2002 - pág.

4 - Diálogo Sobre Religião Humanística

Terceira Civilização - Diálogo Sobre Religião Humanística

(1) O Gosho é a escritura budista para os

Últimos Dias da Lei
Esta é a continuação da primeira parte da série brilha com radiância naqueles que se
“Diálogo sobre a religião humanística” publicada na dedicam em concretizar esta nobre causa
revista de estudo mensal da Soka Gakkai, em meio à dura realidade da sociedade.
Daibyakurengue. Neste diálogo, o presidente da Soka Saito: O brilho da eternidade brilha no
Gakkai Internacional, Daisaku Ikeda, e o coordenador caráter da pessoa.
do Departamento de Estudo de Budismo da Soka
Gakkai, Katsuji Saito, enfocam vários fatos “Deixem que os deuses me
relacionados à história do budismo e à vida de Nitiren abandonem”
Daishonin de forma abrangente e profunda. Com
Pres. Ikeda: Se é o Sutra de Lótus que
certeza, este artigo contribuirá para facilitar a
realmente expõe a existência do “Buda
compreensão dos ensinamentos budistas e da filosofia
eterno”, então aqueles que devotam a vida
humanística que cada vez mais atrai a atenção das
a cumprir esse grandioso juramento do
pessoas do mundo inteiro.
Buda são os verdadeiros devotos do Sutra
de Lótus.
Saito: Sakyamuni dedicou essa duração de
tempo incalculável desde que atingiu a
No Gosho “Abertura dos Olhos”, Daishonin
iluminação ao cumprimento de sua
esclarece que ele é o verdadeiro devoto
promessa.
do Sutra de Lótus e o Buda dos Últimos
Dias da Lei. Esse é um escrito de imensa
Pres. Ikeda: O Buda do ensino essencial do
benevolência que revela o grande desejo
Sutra de Lótus é o Buda que está
de propagação mundial que surge na vida
constantemente expondo a Lei e
de Daishonin. A essência desse Gosho
conduzindo as pessoas à iluminação no
encontra-se na passagem que começa
mundo real, e que fez isso por incontáveis
com as seguintes palavras: “Deixem que os
aeons. Isso o diferencia dos budas que
deuses me abandonem. Deixem que todas
aparecem nos outros sutras, os quais, após
as perseguições me assolem. Ainda assim
terem atingido a iluminação, partem do
darei minha vida pela Lei.” (The Writings of
mundo real e nunca mais retornam, ou que
Nichiren Daishonin [WND], pág. 280.)
vivem pacificamente num mundo
totalmente diferente.
Saito: Sim, essa passagem diz: “Deixem
que os deuses me abandonem. Deixem
O Sutra de Lótus fala do Buda eterno que
que todas as perseguições me assolem.
habita o mundo saha, de acordo com sua
Ainda assim darei minha vida pela Lei.
promessa. Ele é o Buda que sempre se
Shariputra praticou o caminho do
esforça para conduzir todas as pessoas à
bodhisattva por sessenta kalpas, mas ele
iluminação no momento presente. Em
abandonou o caminho por não suportar a
outras palavras, a vida eterna do Buda

Maria Antonieta Ross de Albuquerque (12651-9) / pág. 1.

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provação do brâmane que suplicou por
seus olhos. Dos que receberam as
sementes do estado de Buda no distante
passado e dos que as receberam dos
filhos do Buda Grande Sabedoria e
Excelência Universal, muitos abandonaram
as sementes e sofreram no inferno por
longos períodos de incontáveis kalpas de
partículas de pó de um sistema de mundo
maior e por kalpas de partículas de pó de
sistemas de mundo maior,
respectivamente, pois eles seguiam más
companhias.
“Seja tentada pelo bem ou ameaçada pelo
mal, se a pessoa abandonar o Sutra de
Lótus, seu destino será o inferno. Eu farei
aqui um grande juramento. Mesmo que o
governo do Japão me seja oferecido se eu
abandonar o Sutra de Lótus, aceitar os
ensinos do Sutra da Meditação e ansiar
pelo renascimento na Terra Pura, mesmo
que me digam que meu pai e minha mãe
serão decapitados se eu não recitar a
Nembutsu — sejam quais forem os
obstáculos que eu encontrar, enquanto as
pessoas de sabedoria não conseguirem
provar que meus ensinos são falsos, eu
jamais cederei! Todos os outros problemas
nada mais são para mim que poeira jogada
no vento.
“Eu serei o pilar do Japão. Eu serei os olhos
do Japão. Eu serei a grande nau do Japão.
Este é meu juramento e eu nunca o
renunciarei!” (WND, págs. 280-281.)
Pres. Ikeda: Observamos aqui o “espírito de
luta” de Daishonin de abnegada dedicação
à propagação da Lei sem poupar a própria
vida. Ele também afirma que é seu “grande
juramento” que sustenta esse espírito. Os
conceitos de “espírito de luta” e “grande
juramento” são a essência do Sutra de
Lótus e a base do Budismo Nitiren.
Saito: Referindo-se a esse ponto específico
no Gosho, Daishonin examina
detalhadamente a questão de ele ser ou
não o devoto do Sutra de Lótus à luz do
sutra para sanar as dúvidas daqueles que
questionam o porquê, se ele é o devoto,
de não receber a proteção dos deuses
budistas que o sutra descreve.
Pres. Ikeda: O objetivo de Daishonin
também é revelar o que na realidade
significa ser o devoto do Sutra de Lótus.
Saito: Sua conclusão para essa questão é
que, dado o fato de ele ter sido perseguido
pelos três poderosos inimigos e passado
por vários outros obstáculos preditos no
sutra, Daishonin é sem dúvida o devoto do
Sutra de Lótus.
Mas há ainda questionamentos: se ele é
realmente o devoto do sutra, por que não
desfruta paz e segurança nesta vida? Qual
é a razão da fé se não leva a uma
existência pacífica e segura? Por que o
devoto do Sutra de Lótus deve ser
perseguido e sofrer? E por que esses
perseguidores não são punidos? Daishonin
fala dessas preocupações nessa escritura.
Pres. Ikeda: Sua profunda compreensão
dessas questões revela o elevado nível da
filosofia do budismo. Então, assim como o
sol do alvorecer, ele começa com a
passagem que diz: “Deixem que os deuses
me abandonem...”.
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O título desse Gosho refere-se à abertura
dos olhos. Quando lemos a passagem
citada anteriormente, nossos “olhos” não
podem deixar de abrir-se para o grande
juramento de Daishonin. O significado
fundamental de “Abertura dos Olhos” é
portanto “abrir os olhos das pessoas para o
grande juramento de Daishonin”.
As pessoas dos Últimos Dias que dedicam
a vida ao mesmo juramento que o Buda
dos Últimos Dias da Lei são os próprios
devotos do Sutra de Lótus. Se a pessoa
recebe proteção dos deuses budistas ou
não é uma questão secundária.
Saito: A essência do grande juramento de
Daishonin encontra-se nesta declaração:
“Eu serei o pilar do Japão. Eu serei os olhos
do Japão. Eu serei a grande nau do Japão.”
Pres. Ikeda: Como já confirmamos
anteriormente, o “grande desejo” é o
infinito juramento do Buda exposto no
Sutra de Lótus; é o desejo do Buda de
capacitar todas as pessoas a atingirem a
iluminação. E o juramento de Daishonin é
propagar a grande Lei para concretizar
esse desejo. Sua promessa de ser o “pilar
do Japão”, e assim por diante, está
totalmente de acordo com o juramento do
Buda do capítulo “Revelação da Vida
Eterna do Buda”.
Saito: Há pessoas que interpretam essas
declarações como uma indicação de que
Daishonin dava importância especial ao
Japão. Mas isso é um equívoco.
Pres. Ikeda: Daishonin não dispensou ao
Japão um significado especial. De fato, o
uso freqüente do termo “Jambudvipa”, que
sugere o mundo todo, significa que o
maravilhoso benefício concedido pelo
Budismo Nitiren não está de forma alguma
limitado ao povo do Japão. A referência
específica que Daishonin faz ao Japão é
como uma representação típica de uma
“terra dos Últimos Dias”, como indica
também qual o significado de conduzir as
pessoas desta época à iluminação. Em
outras palavras, a iluminação do povo do
Japão equivale à iluminação de todos os
povos dos Últimos Dias. Além do mais, é
exatamente por causa de sua abnegada
determinação de ajudar as pessoas
sofredoras que se encontram em meio às
duras realidades da sociedade que ele fala
especificamente do Japão, o país onde
reside. Observamos com isso o verdadeiro
caráter do Budismo de Nitiren Daishonin
como um ensino vivo preocupado com a
vida das pessoas no presente.
O grande desejo do Buda revelado no
Sutra de Lótus é o de que todos os seres
vivos atinjam a iluminação. Partindo dessa
premissa, Daishonin promete conduzir as
pessoas à genuína felicidade na época e
no local onde vivem.
Saito: Há também aqueles que dizem que
o objetivo de Daishonin era a segurança da
nação japonesa e que interpretam seu
ensino como nacionalista.
Pres. Ikeda: O único objetivo de Daishonin
era concretizar a paz e a segurança para
todos os povos. Ele queria acima de tudo
levar-lhes a felicidade. Portanto, é natural
que se preocupasse com as práticas do
Estado e das pessoas de poder que tinham
nas mãos o destino das pessoas. Para
assegurar a paz e a estabilidade para o
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povo, ele tinha como meta a estabilidade
do Estado. Podemos verificar com isso a
visão verdadeiramente revolucionária que
Daishonin possuía a respeito do povo e do
Estado.
Quando Daishonin fala do Japão, ele se
refere acima de tudo à terra onde as
pessoas vivem e à sociedade em que
convivem. Seu foco principal não é o
Estado como uma entidade controlada por
aqueles que detêm o poder.
A determinação de Gandhi
Saito: Em termos das três virtudes de
soberano, mestre e pais, “pilar do Japão” é
tradicionalmente entendido como um
correspondente para a virtude do
soberano; “os olhos do Japão” refere-se à
virtude do mestre, e “grande nau do
Japão”, à virtude dos pais.
Pres. Ikeda: Essas são as três virtudes do
Buda. Como o grande desejo de Daishonin
ressoa com o juramento do Buda de
conduzir todas as pessoas à iluminação,
isso naturalmente quer dizer que está de
acordo com as virtudes do Buda.
No entanto, ao fazer essa declaração,
Daishonin não está se vangloriando de ser
Buda. Ao contrário, ao revelar seu próprio
grande juramento, ele está mostrando aos
seus discípulos o caminho para a vitória.
Eis por que fazer um grande juramento cria
uma forte personalidade. E, além do mais,
o compromisso de trabalhar em prol de
um nobre objetivo nos capacita a superar
nossas fraquezas e torna-se um sólido
apoio que nos ajuda a desafiar quaisquer
dificuldades.
Saito: Gandhi também fez um juramento.
Quando ele era um jovem advogado na
África do Sul, foi apresentada uma lei que
discriminava rudemente os indianos. Em
um comício de protesto, Gandhi declarou
que se os participantes fossem fazer um
juramento, que cada um fizesse assumindo
o compromisso de conquistar a máxima
vitória mesmo que alguma outra pessoa
abandonasse a causa. Ele chegou a ponto
de afirmar que um juramento feito com
pouca vontade nunca deveria ser feito.
Gandhi disse:
“Se não tiver vontade nem capacidade de
permanecer firme mesmo quando estiver
totalmente isolado, você não apenas não
deve assumir o compromisso como
também deve manifestar sua oposição
antes de tomar uma decisão... Todos
devem ser fiéis ao seu compromisso
mesmo na morte, independentemente do
que os outros façam.”1
Esse acontecimento tornou-se o ponto de
partida para a luta que Gandhi
empreendeu por toda a vida em prol da
justiça social.
Pres. Ikeda: Em qualquer empreendimento,
fazer um juramento é a base para alcançar
algo grandioso. Se por qualquer motivo a
pessoa desistir no meio do caminho ou
retroceder, seu comprometimento não
estava fundamentado em um juramento. O
desejo sem entusiasmo não equivale a um
juramento.
Daishonin declara: “Todos os outros
problemas nada mais são para mim que
poeira jogada no vento.” A verdadeira paz e
segurança existem numa forte
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personalidade. É quando forjamos essa pessoas a viverem uma existência de

personalidade fazendo um grande verdadeira dignidade na era maligna dos
juramento que o caminho para a genuína Últimos Dias da Lei, tão maculada pelas
paz e segurança nesta vida abre-se diante cinco impurezas.3
de nós. Mas Daishonin adverte com
rigorosidade: “Seja tentada pelo bem ou
ameaçada pelo mal, se a pessoa
abandonar o Sutra de Lótus, seu destino
será o inferno.” A personalidade fraca que
é derrotada pelas funções malignas e
pelos obstáculos internos, e que desiste
antes de alcançar seu objetivo, é uma
manifestação do estado de Inferno. Viver é
vencer. E budismo também é vencer.
Vencer significa concretizar a paz e a
verdadeira felicidade.

Saito: Em “Abertura dos Olhos”, Daishonin

esclarece qual é o benefício obtido com o
ato de devotar a própria vida ao grande
juramento da ampla propagação, a base
do Budismo Nitiren. Esse benefício
constitui-se de amenizar o efeito cármico e
atingir a iluminação nesta existência.

Pres. Ikeda: Na passagem que começa

com “Eu e meus discípulos...”,2 Daishonin
diz com clareza que ao dedicarmos nossa
vida a esse grande juramento, podemos
nos tornar budas nesta existência, mesmo
sem termos buscado ativamente esse
estado.

Viver para cumprir um juramento é a

essência de nossa humanidade. Quando
vivemos com base no grande juramento
do Buda, independentemente dos revezes
que enfrentarmos, seremos protegidos e
nossa vida brilhará com uma esplêndida
radiância. O poder que emerge quando se
vive de acordo com esse juramento é
fundamental para capacitar todas as

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