Terceira Civilização - Edição 411 - 01/11/2002 - pág.
4 - Diálogo Sobre Religião Humanística
Terceira Civilização - Diálogo Sobre Religião Humanística
(3) O estabelecimento do ensino de
Daishonin: nasce uma religião para toda a
humanidade
Esta é a terceira parte da série “Diálogo sobre a religião
humanística” publicada na revista de estudo mensal da
Soka Gakkai, Daibyakurengue, edição de março de
2002. Neste diálogo, o presidente da Soka Gakkai
Internacional, Daisaku Ikeda, e o coordenador do
Departamento de Estudo de Budismo da Soka Gakkai,
Katsuji Saito, enfocam vários fatos relacionados à
história do budismo e à vida de Nitiren Daishonin de
forma abrangente e profunda. Com certeza, este artigo
contribuirá para facilitar a compreensão
ensinamentos budistas e da filosofia humanística que
cada vez mais atrai a atenção das pessoas do mundo
inteiro.
Katsuji Saito: No próximo dia 28 de abril,
vamos comemorar o 750o aniversário do
estabelecimento do ensino de Nitiren
Daishonin [de acordo com o sistema de
contagem de anos tradicional do Japão].
Essa significativa data será comemorada
por membros da SGI de 180 países e
territórios.1
Presidente Daisaku Ikeda: A difusão
mundial do Nam-myoho-rengue-kyo é a
vontade de Daishonin, exatamente como
está indicado pelas referências em seus
escritos à “transmissão do budismo para o
Oeste” e à ampla propagação da Lei
Mística”.2 A SGI é a única organização que
está colocando esse desejo de Daishonin
em prática e tornando-o realidade. Esse é
um fato solene e também uma prova de
que a SGI é a herdeira legítima da vontade
e do decreto do Buda. Sem dúvida,
Daishonin está aplaudindo nossos
esforços!
Saito: Há cinqüenta anos, quando foi
comemorado o 700º aniversário do
estabelecimento do ensino de Daishonin, o
número de famílias da Soka Gakkai era de
aproximadamente dez mil. No curto
espaço de tempo decorrido desde então,
tivemos um crescimento astronômico. Fico
profundamente emocionado ao pensar
dos nisso.
Em uma recente reunião de dirigentes de
regional, o senhor falou sobre visualizar
cinqüenta anos adiante, dizendo: “Daqui a
cinqüenta anos (em 2052),
comemoraremos os oitocentos anos do
estabelecimento do ensino de Daishonin.
Quanto teremos impulsionado o
movimento pelo Kossen-rufu até essa
ocasião? Confio tudo aos nossos membros
da Divisão dos Jovens e da Divisão do
Futuro. Conto com vocês!” Estas palavras
também me deixaram muito emocionado.
Pres. Ikeda: Quando Nitiren Daishonin
estabeleceu seu ensino, fez uma
declaração pela felicidade de todas as
pessoas dos dez mil anos e mais dos
Últimos Dias da Lei. O juramento de
sempre objetivar o futuro, no
empreendimento para conduzir as pessoas
do mundo inteiro à felicidade, é, portanto,
a essência dos ensinos de Daishonin.
Anunciar o aniversário da declaração de
Daishonin com o espírito de se empenhar
em prol do Kossen-rufu e cheios de
Maria Antonieta Ross de Albuquerque (12651-9) / pág. 1.
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esperança no futuro é realmente a melhor
maneira de comemorar essa data
auspiciosa. Esse é o espírito dos membros
da SGI.
A proclamação pública do ensino de
Daishonin foi também uma expressão de
seu grande juramento de concretizar a
felicidade para todas as pessoas e,
fundamentalmente, aliviar o sofrimento
nos Últimos Dias da Lei. Sem entender
isso, não conseguimos compreender a
verdadeira intenção de Daishonin ao
refutar de forma tão veemente as várias
escolas budistas de sua época.
Quando se comemorou o 700o aniversário,
com certeza a Soka Gakkai era uma
organização bem menor que é nos dias de
hoje. Mas isso não impediu o presidente
Toda de levantar-se só e de firmar um
compromisso pessoal com a concretização
do Kossen-rufu.
Os olhos do presidente Toda fixavam
unicamente a felicidade de toda a
humanidade. Ele não pensava apenas em
expandir a religião. Seu estado de vida
estava demasiado elevado para isso. Ainda
posso ouvir as palavras ditas por ele há
tantos anos (em 7 de abril de 1952):
“‘Eu serei o pilar do Japão’ refere-se à
função do soberano. ‘Eu serei os olhos do
Japão’ indica a função do líder — o mestre
— da nação. ‘Eu serei a grande nau do
Japão’ corresponde à função dos pais.
Com apenas um milionésimo desse
espírito de Nitiren Daishonin, que possuía
as três virtudes de soberano, mestre e pais,
vamos nos empenhar para levar a
felicidade a todas as pessoas do Japão.”3
Dirigindo-se aos jovens presentes, o Sr.
Toda falou de seus planos de concretizar o
Kossen-rufu na Ásia e no mundo todo.
Tudo começa com o juramento de
conduzir as pessoas à felicidade. A
apaixonada determinação do Sr. Toda de
alcançar isso transformou a Soka Gakkai no
que ela é atualmente.
Saito: Hoje, gostaria de discutir sobre o
significado do estabelecimento do ensino
de Daishonin no dia 28 de abril de 1253,
verificando sob perspectivas tais como as
deliberações de Daishonin antes de fazer
sua declaração, as circunstâncias que
envolveram sua proclamação e o
significado da refutação das principais
escolas budistas da época.
Os pensamentos de Daishonin antes
de declarar o estabelecimento de seu
ensino
Saito: Comecemos examinando as
atividades de Daishonin que levaram ao
estabelecimento de seu ensino. A partir de
seus escritos, fica claro que ele considerou
seriamente a questão e se engajou em
uma profunda reflexão antes de chegar a
uma conclusão.
Pres. Ikeda: Nos escritos “Abertura dos
Olhos” e “Retribuição aos Débitos de
Gratidão”, ele descreve seus pensamentos
em detalhes.4
Saito: Em uma passagem de “Abertura dos
Olhos”, lê-se: “Eu, Nitiren, sou a única
pessoa em todo o Japão a compreender
isso. Mas se eu proferir ainda que uma
única palavra a respeito, então pais, irmãos
Maria Antonieta Ross de Albuquerque (12651-9) / pág. 2.
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e mestres certamente me criticarão, e as
autoridades governamentais tomarão
providências contra mim. Por outro lado,
estou plenamente ciente de que se nada
disser, não estarei sendo benevolente.
Tenho pensado sobre o que devo fazer à
luz dos ensinos dos Sutras de Lótus e do
Nirvana. Se permanecer calado, poderei
escapar das perseguições nesta existência,
mas certamente cairei no inferno de
incessante sofrimento na próxima vida. Se
falar, estou plenamente ciente de que terei
de enfrentar os três obstáculos e as quatro
maldades. Desses dois caminhos,
certamente o último é o que deve ser
escolhido.
“Não obstante, se for para eu fraquejar em
minha determinação diante das
perseguições do soberano, então seria
melhor nem falar. Pensando nisso, recordei
os ensinos do capítulo ‘O Surgimento da
Torre de Tesouro’ sobre os seis atos
difíceis e nove fáceis. Pessoas como eu, de
insignificante força, poderiam ainda
levantar o Monte Sumeru e atirá-lo longe;
pessoas como eu, sem poderes
sobrenaturais, poderiam carregar um fardo
de feno nas costas e ainda ficar sem se
queimar nas chamas do final do kalpa da
destruição; e pessoas como eu, destituídas
de sabedoria, poderiam ainda ler e
memorizar tantos sutras quanto os grãos
de areia do Ganges. Entretanto,
aprendemos que tais atos não são difíceis
quando comparados com a dificuldade de
crer mesmo em uma única frase ou verso
do Sutra de Lótus nos Últimos Dias da Lei.
Assim, jurei munir-me com um poderoso e
inabalável desejo de salvar todos os seres
e jamais esmorecer em meus esforços.”
(The Writings of Nichiren Daishonin [WND],
págs. 239–240.)
Esta passagem esclarece o profundo
sentimento de Daishonin por trás do
estabelecimento de seu ensino.
Pres. Ikeda: Nitiren Daishonin está se
referindo a uma grande batalha contra as
funções malignas que permeiam o
universo, o que também pode ser
considerado como a batalha espiritual
mais fundamental do budismo. Ele sabia
que somente vencendo decididamente
essa batalha é que o budismo começaria a
se propagar. O mesmo aconteceu com
Sakyamuni — se ele falasse, enfrentaria
grandes perseguições. Se ficasse calado,
seria falta de benevolência de sua parte.
Os sutras afirmam com clareza que as
pessoas devem dizer o que deve ser dito
para conduzir as demais à iluminação. Foi
nisso que Daishonin embasou seu
juramento, determinando que uma vez que
falasse, jamais deveria retroceder,
independentemente das grandes
perseguições que sofresse. Foi como se
ele tivesse se lançado ao mar sozinho no
meio de uma tormenta. Mas ele tinha de ir.
Ele tinha de resgatar os náufragos de um
barco que havia afundado pelas águas
agitadas da sociedade.
Uma “grande nau” é portanto crucial para
nosso empreendimento; em outras
palavras, devemos nos basear num grande
juramento. Esse juramento encontra-se na
determinação de vencer a batalha contra
as funções malignas. E essa determinação
deve ser o ponto de partida.
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Saito: Daishonin faz seu juramento após
recordar os seis atos difíceis e nove atos
fáceis5 descritos no 11o capítulo do Sutra
de Lótus, “Surgimento da Torre de
Tesouro”.
Pres. Ikeda: O Buda Sakyamuni expôs os
seis atos difíceis e nove atos fáceis para a
assembléia de bodhisattvas para que eles
compreendessem que deveriam herdar o
grande desejo do Buda e se empenharem
para concretizá-lo, por piores que fossem
as perseguições que tivessem de
enfrentar. Em outras palavras, a ordem
final que ele lhes deu foi: “Quero que vocês
concretizem o grande desejo do Buda,
completamente cientes de que
enfrentarão enormes perseguições.”
De toda forma, o correto ensino do
budismo existe atualmente porque Nitiren
Daishonin começou a expor a Lei Mística.
Ele abriu um grandioso caminho para as
pessoas de todo o mundo tornarem-se
felizes. Esse foi o primeiro passo
fundamental rumo ao Kossen-rufu
mundial.
Com a finalidade de gravar o espírito de
Daishonin em nossa vida, vamos nos
aprofundar na passagem anteriormente
citada de “Abertura dos Olhos”. Em
primeiro lugar, no trecho que diz “Eu,
Nitiren, sou a única pessoa em todo o
Japão a compreender isso”, é importante
entendermos a que se refere o termo
“isso”.
Saito: O escrito “Abertura dos Olhos” é
referido como o “ensino” do conceito de
“ensino, prática e prova” exposto no
Budismo de Daishonin.6 Nesse tratado,
Daishonin utiliza a comparação quíntupla7
para esclarecer que a doutrina dos três mil
mundos num único momento da vida,
encontrada nas profundezas do 16º
capítulo do Sutra de Lótus, “Revelação da
Vida Eterna do Buda”, é o ensino essencial
para que todas as pessoas dos Últimos
Dias da Lei atinjam o estado de Buda.8
Mas ele também diz que, na verdade,
muitas pessoas abandonam a fé no Sutra
de Lótus por causa de influências
negativas, e acabam caindo nos caminhos
do mal.
Pres. Ikeda: Quanto a essas influências
negativas, Daishonin faz uma alusão
específica aos bonzos “que, de fato,
estavam dominados por funções
malignas”. (WND, pág. 239.)
Saito: Esses bonzos, diz ele, são
extremamente astutos em seus esforços
para impedir as pessoas em sua prática do
Sutra de Lótus. Assim, as pessoas são
enganadas e acabam abandonando o
Sutra de Lótus para adotar os ensinos
provisórios. Elas então descartam os
ensinos provisórios, trocando-os pelos
ensinos Hinayana, e por fim passam para
os ensinos não-budistas. No final, explica
Daishonin, elas caem nos maus caminhos
da existência. (cf. WND, pág. 239.)
Pres. Ikeda: Resumindo, Daishonin
denuncia com coragem essa situação
absurda em que os bonzos, que por certo
deveriam atuar como “bons amigos” ou
“influências positivas”, na verdade se
tornam “maus amigos” ou “influências
negativas” e destroem a bondade na vida
das pessoas. Influenciados por esses
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bonzos insensatos, muitos abandonaram a
fé no Sutra de Lótus. Esse é o padrão
básico.
Nitiren Daishonin foi a única pessoa em
todo o Japão que percebeu essa
contradição fundamental dentro do
budismo. Foi por isso que ele levantou-se
só para combater a natureza maligna que
havia dominado o budismo e as pessoas.
Seu sentimento é expresso na frase “Eu,
Nitiren, sou a única pessoa...”.
Saito: Pensando se deveria ou não falar
sobre essa questão, Daishonin consulta os
sutras.
Pres. Ikeda: Falar seria confrontar as
funções malignas. Não falar seria fugir da
luta. As palavras eram a força motriz por
trás da batalha de Daishonin. À luz dos
sutras, ele conclui naturalmente que sua
única opção era falar.
Saito: Além do mais, ele percebe que ao
falar não apenas traria a censura contra ele
e seus “pais, irmãos e mestres” como
também faria com que seus entes
queridos o reprovassem. Ele compreende
ainda que essa ação seguramente causaria
a perseguição do governante da nação.
Mas, se não falasse, seria falta de
benevolência da parte dele. Assim como
ensinam os Sutras de Lótus e do Nirvana,
se ele não usasse a voz, ainda poderia
desfrutar uma existência pacífica e segura,
mas com certeza cairia no inferno na
próxima existência. Mas os sutras também
mostram com clareza que falar
definitivamente significaria enfrentar
perseguição. Isto porque ele estaria
abrindo o caminho para todas as pessoas
atingirem o estado de Buda. Daishonin
conclui assim que, à luz do Gosho, ele não
tinha outra escolha a não ser falar.
Pres. Ikeda: “Desses dois caminhos,
certamente o último é o que deve ser
escolhido” — esse julgamento estava
claramente embasado nos sutras. Os
sutras são as palavras do Buda. São um
espelho no qual o espírito do Buda se
reflete. Para nós, os escritos de Daishonin
cumprem a mesma função.
Daishonin declara ter chegado a essa
decisão graças a sua investigação do Sutra
de Lótus. Não se tratava de uma questão
superficial de assegurar uma posição
social nem de proteger a si próprio, mas
sim uma questão que ele considerava
profundamente — cair no cruel inferno de
incessante sofrimento ou seguir o difícil
caminho de envolver todas as pessoas
num caloroso abraço de benevolência,
enfrentando ao mesmo tempo a
perseguição. Naturalmente que, à luz dos
sutras, o último caminho era o correto.
No entanto, não seria uma questão fácil
combater as funções malignas. Assim,
Daishonin esforçou-se para firmar ainda
mais seu juramento.
Não é uma tarefa fácil propagar os ensinos
do budismo na realidade. Se não tivermos
nenhum interesse, então seria melhor não
fazê-lo. Essas eram as considerações de
Daishonin.
Saito: Sim. Por isso ele conclui que se não
estiver disposto a aceitar a perseguição do
Estado, então seria melhor desistir da idéia
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de estabelecer seu ensino. Isso o levou a
uma profunda reflexão.
Pres. Ikeda: Daishonin explica que nesse
momento recordou do ensino dos seis atos
difíceis e nove atos fáceis do Sutra de
Lótus. Foi então que ele derrotou de uma
vez por todas a natureza maligna de sua
própria vida.
Saito: A respeito dos nove atos fáceis, ele
diz:
“Pessoas como eu, de insignificante força,
poderiam ainda levantar o Monte Sumeru e
atirá-lo longe; pessoas como eu, sem
poderes sobrenaturais, poderiam carregar
um fardo de feno nas costas e ainda ficar
sem se queimar nas chamas do final do
kalpa da destruição; e pessoas como eu,
destituídas de sabedoria, poderiam ainda
ler e memorizar tantos sutras quanto os
grãos de areia do Ganges.” (WND, pág.
239.)
Seria totalmente impossível para uma
pessoa comum manifestar o
conhecimento, a força física e até mesmo
poderes sobrenaturais para conseguir
fazer algo como atirar longe o Monte
Sumeru. Seria como tentar calcular a órbita
de um foguete espacial utilizando uma
calculadora de bolso!
Mas há tarefas ainda mais difíceis que
essas; isto é, os seis atos difíceis. Em outras
palavras, continuar a aceitar uma
passagem ou frase do Sutra de Lótus nos
Últimos Dias da Lei é o mais difícil dos
desafios.
Pres. Ikeda: Manter a fé no Sutra de Lótus
nesta era maligna dos Últimos Dias é um
feito de dificuldade sem paralelo. E
propagar o Sutra é o empreendimento
mais difícil de todos.
Num mundo manchado pelas cinco
impurezas, manter o supremo espírito de
que todas as pessoas são budas e
capacitar os outros a perceberem seu
potencial, e ainda empenhar-se para
expandir a rede de pessoas que se
dedicam com esse espírito, é sem dúvida
um empreendimento de extrema
dificuldade. Embora os nove atos fáceis
pareçam impossíveis, há uma chance de
que os avanços da ciência e da tecnologia
criem condições sob as quais esses atos
possam tornar-se possíveis. Mas,
independentemente do quanto a ciência
progredir, mudar o coração humano será
sempre a tarefa mais difícil.
Saito: Daishonin iniciou sozinho o desafio
incrivelmente difícil de propagar seu
ensino nos Últimos Dias da Lei.
Pres. Ikeda: É por isso que ele é o Buda dos
Últimos Dias da Lei. Devemos nos orgulhar
do fato de nós, membros da SGI,
organização dedicada ao Kossen-rufu,
tomarmos ações concretas seguindo este
caminho de suprema nobreza.
Por essa razão, quando vemos os
companheiros da SGI esforçando-se com o
mesmo nobre espírito do Buda, devemos
reverenciá-los como se fossem o próprio
Daishonin. Com a firme convicção de que
as pessoas comuns são budas, os
membros da SGI estão se empenhando
todos os dias em meio às vicissitudes da
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realidade, realizando sua prática budista e
compartilhando com os outros os ensinos
de Daishonin. Suas ações são dignas do
máximo respeito.
Saito: Assim, em essência, o ensino dos
seis atos difíceis e nove atos fáceis indica
apenas o quanto é difícil aceitar o Sutra de
Lótus numa era maligna, como é grandioso
o fato de aceitá-lo e o quanto são nobres
aqueles que o aceitam.
Pres. Ikeda: Exatamente. O Buda
Sakyamuni encoraja firmemente seus
ouvintes a abraçarem e a propagarem o
Sutra de Lótus após seu falecimento. E ele
faz isso ao mesmo tempo em que lhes
conta o quanto essa tarefa é difícil e
extraordinária. Esse ponto é muito
significativo.
Profundamente comovido pelo espírito e
pelo grandioso juramento do Buda,
Daishonin conseguiu derrotar totalmente
as forças malignas que agiam em seu
coração e se levantar para conduzir todos
os seres humanos à felicidade nos Últimos
Dias. Em outras palavras, ele venceu sua
própria natureza maligna, fazendo assim
com que o estado de Buda brotasse em
sua vida, dando origem a um grande
juramento de concretizar o Kossen-rufu.
Ele transmite isso, dizendo: “Jurei
munir-me com um poderoso e inabalável
desejo de salvar todos os seres e jamais
esmorecer em meus esforços.” (WND, pág.
240.) Essa é uma manifestação do
juramento que Daishonin fez na época do
estabelecimento de seu ensino, do ponto
de vista de ele ter derrotado as funções
malignas.
Porém, embora a famosa passagem de
“Abertura dos Olhos” que diz que “Eu serei
o pilar do Japão. Eu serei os olhos do
Japão. Eu serei a grande nau do Japão”
(WND, págs. 280-281.), possa ser
considerada como uma declaração de seu
juramento, indica também a concretização
máxima desse juramento.
Daishonin manteve firme seu juramento
feito na época em que estava com 32 anos,
em seu exílio em Sado e até quando sua
vida chegou ao fim. Ele não mudou nem
um pouco. Um juramento somente pode
ser chamado de juramento quando é
mantido até o fim. O budismo genuíno e
vivo somente pode ser encontrado na
incessante batalha.
Para ilustrar, tomemos como exemplo uma
flecha e seu alvo. Assim que se solta a
corda do arco, a flecha dispara em direção
ao objetivo. Mas, se a flecha for mau
projetada logo no início, ou se não for
lançada com força suficiente, ela perderá o
impulso e errará o alvo. Em outras
palavras, não se pode deter uma pessoa
que se levanta com profunda
determinação.
Saito: No Ongui Kuden (Registro dos
Ensinos Orais), Daishonin declara:
“Agora que Nitiren recita o
Nam-myoho-rengue-kyo, está
capacitando todos os seres vivos a
atingirem o estado de Buda nos dez mil
anos dos Últimos Dias da Lei. Não é
correto dizer, portanto, que ‘o que há muito
aguardo foi agora concretizado’?
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“‘Foi agora’ refere-se ao Daimoku, que foi
recitado pela primeira vez no dia 28 de
abril do quarto mês do quinto ano da era
Kentyo (1253). Portanto, podemos
considerar isso como algo que já havia
ocorrido. (Gosho Zenshu, pág. 270.)
O Nam-myoho-rengue-kyo, que Daishonin
recitou pela primeira vez no dia em que
proclamou o estabelecimento de seu
ensino, é a grande Lei que permite a todas
as pessoas dos dez mil anos e mais a
atingirem o estado de Buda. Em outras
palavras, o grande desejo do Kossen-rufu
já havia sido concretizado quando
Daishonin estabeleceu seu ensino.
A declaração de uma religião
humanística que combate as
tendências destrutivas da vida
Pres. Ikeda: O estabelecimento do ensino
de Daishonin foi o primeiro rugido do leão
que ressoaria pela vida de todas as
pessoas pelos dez mil anos e mais dos
Últimos Dias da Lei. Sem dúvida alguma,
seu juramento implícito continuará a
iluminar intensamente a humanidade por
toda a eternidade. Daishonin declarou: “É
certo que o Kossen-rufu será concretizado
em todo o mundo.” (Gosho Zenshu, pág.
816.) O estabelecimento de seu ensino
acendeu a chama do Kossen-rufu que
iluminará para sempre a escuridão que
encobre a humanidade. Daishonin fez sua
declaração ao meio-dia e seu ensino é
apropriadamente chamado de “luz que
dispersa a escuridão”. Também é digno de
nota que niti, de Nitiren, significa “sol” ou
“dia”.
Saito: Ao meio-dia de 28 de abril de 1253,
Daishonin posicionou-se no lado sul do
salão das imagens, no Shobutsu-bo do
templo Seityoji e proferiu um sermão
refutando a escola Nembutsu. Em sua
audiência estavam o reverendo Joen-bo e
vários sacerdotes do templo, desde os
recém-ordenados aos de hierarquia.9
Pres. Ikeda: A declaração de Daishonin
começou com uma severa refutação dos
ensinos errôneos. A Nembutsu era
amplamente praticada entre reverendos e
leigos. Daishonin atacou essa religião de
frente. Mais tarde, ele escreveria a respeito
dos pensamentos que ocuparam sua
mente nessa ocasião.
Saito: Ele diz, por exemplo: “Com
pensamentos como esses que me vieram
à mente, decidi que deveria começar a
falar.” (WND, pág. 727.); “Tomei a decisão
de falar” (WND, pág. 607.); e “Determinado
a suportar o que viesse contra mim,
comecei a falar” (WND, pág. 828.). E ele
falou porque, na época, um número muito
grande de pessoas recitavam a Nembutsu
[isto é, o nome do Buda Amida, a prática da
escola budista Terra Pura].
1. Atualmente a SGI é composta por 183 países e territórios. 2. Daishonin declara: “A Lua
se movimenta do Oeste para o Leste; este é um sinal de que o budismo da Índia, a terra
da Lua, será propagado para o Leste. O Sol se levanta no Leste; este é um presságio de
que o budismo do Japão, a terra do Sol, retornará para a Índia.” (Gosho Zenshu, pág.
589.) Ele também diz: “É certo que a ampla propagação [da Lei] será conseqüentemente
concretizada em todo o mundo.” (Gosho Zenshu, pág. 816.) 3. Jossei Toda, Toda Josei
Zenshu (Coletânea de Escritos de Jossei Toda). Tóquio, Seikyo Shimbunsha, 1983, vol. 3,
pág. 472. 4. Em “Retribuição aos Débitos de Gratidão”, Daishonin diz: “O que farei? Se eu
falar, enfrentarei a temerosa oposição de todo o mundo. Mas, se permanecer em silêncio,
dificilmente posso escapar da condenação por não ter dado atenção à rigorosa
advertência do Buda. Para frente e para trás, meu caminho está bloqueado. “No entanto,
isso já era esperado. Pois, assim como consta no Sutra de Lótus, ‘Como o ódio e a inveja
a este sutra proliferam mesmo quando Aquele que Chegou à Verdade está no mundo,
quão pior será após seu falecimento?’ E em outro trecho consta: ‘Enfrentarei muita
hostilidade no mundo e será difícil acreditar’.” (WND, pág. 695.) 5. Seis atos difíceis e nove
atos fáceis: Os seis atos difíceis são propagar o Sutra de Lótus amplamente, copiá-lo,
recitá-lo, ensiná-lo mesmo que seja para uma única pessoa, ouvir sobre o sutra e
perguntar sobre seu significado e manter a fé nele. Os nove atos fáceis incluem façanhas
Maria Antonieta Ross de Albuquerque (12651-9) / pág. 8.
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tais como caminhar em meio ao fogo carregando um fardo de feno nas costas sem se

queimar, chutar um sistema maior de mundos para outro quadrante do universo com um

dedo do pé, ou erguer o Monte Sumeru e arremessá-lo pelo universo por cima de

incontáveis terras do Buda. Apesar de os nove atos fáceis parecerem impossíveis, são no

entanto fáceis quando comparados com a extrema dificuldade de aceitar e propagar o

Sutra de Lótus na era maligna que Sakyamuni prognosticou que se seguiria após seu

falecimento. 6. Ensino, prática e prova: O ensino do Buda, a prática do ensino e a prova

real resultante da prática do ensino. O 26o sumo prelado Nitikan Shonin disse que o

escrito “Abertura dos Olhos” esclarece o “ensino”, “O Objeto de Devoção para a

Observação da Mente” elucida a “prática” e “A Entidade da Lei Mística”, a “prova”. 7.

Comparação quíntupla: Cinco níveis sucessivos de comparação estabelecidos por Nitiren

Daishonin para demonstrar a superioridade do Nam-myoho-rengue-kyo sobre todos os

outros ensinos budistas. São: 1- Budismo versus ensinos não-budistas; 2- Mahayana

versus Hinayana; 3- Mahayana verdadeiro versus Mahayana provisório; 4- Ensino

essencial do Sutra de Lótus versus ensino teórico; 5- Budismo da Semeadura (a Lei do

Nam-myoho-rengue-kyo) versus Budismo da Colheita (ensino essencial revelado na

segunda metade do Sutra de Lótus). 8. Daishonin declara: “A doutrina dos três mil

mundos num único momento da vida é encontrada em um único lugar, oculta nas

profundezas do capítulo ‘Revelação da Vida Eterna do Buda’ do ensino essencial do

Sutra de Lótus. Nagarjuna e Vasubandhu estavam cientes disso mas não a revelaram.

Somente Tient’ai Chih-che aceitou-a e sempre a teve em mente.” (WND, pág. 224.) 9. Em

“Carta aos Bonzos do Seityoji”, Daishonin escreveu: “No vigésimo oitavo dia do quarto

mês do quinto ano de Kentyo (1253), apontei os erros de várias escolas pela primeira vez

para um bonzo chamado Joen-bo e para algumas pessoas no lado sul do salão das

imagens, na ala de Dozembo no templo Seityoji, na Vila Tojo, Província de Awa. Nesses

mais de vinte anos que se passaram desde então, tenho falado o que deve ser dito

incansavelmente.” (WND, pág. 651.)

Maria Antonieta Ross de Albuquerque (12651-9) / pág. 9.