Terceira Civilização - Edição 421 - 01/09/2003 - pág.
04 - Diálogo Sobre Religião Humanística
Terceira Civilização - Diálogo Sobre Religião Humanística
[7] Diferentes corpos, uma única mente: A
vitória da solidariedade dos companheiros
dedicados a um juramento eterno
Esta é a continuação da sétima parte da série "Diálogo
sobre a religião humanística" publicada na revista de
estudo mensal da Soka Gakkai, Daibyakurengue,
edição de julho de 2002. Neste diálogo, o presidente da
Soka Gakkai Internacional, Daisaku Ikeda,
coordenador e o vice-coordenador do Departamento
de Estudo de Budismo da Soka Gakkai, Katsuji Saito e
Masaaki Morinaka, enfocam vários fatos relacionados
à história do budismo e à vida de Nitiren Daishonin de
forma abrangente e profunda. Com certeza, este artigo
contribuirá para facilitar a compreensão
ensinamentos budistas e da filosofia humanística que
cada vez mais atrai a atenção das pessoas do mundo
inteiro.
Katsuji Saito: Não só no trecho mencionado
anteriormente de "A herança da Lei última
da vida", mas em todos os seus escritos,
nota-se claramente a importância que
Daishonin atribuía à organização
harmoniosa de praticantes. O caminho para
atingir o estado de Buda nos Últimos Dias
da Lei não se encontra em nenhum outro
lugar a não ser integrar um grupo de
pessoas que se dedicam à realização do
Kossen-rufu.
Presidente da SGI Daisaku Ikeda: Fico
imaginando como seria o relacionamento
entre os seguidores de Daishonin naquela
época. Acredito que os laços entre eles
eram muito mais profundos do que
costumamos pensar. Quando lemos os
escritos de Daishonin, podemos perceber
como eram profundos os laços que uniam
a todos.
Saito: Um exemplo famoso disso consta na
carta "Sobre o prolongamento da vida",
endereçada à monja leiga Toki, esposa de
Toki Jonin. A monja Toki encontrava-se
o doente e parecia ter desistido de lutar
contra a enfermidade. Daishonin a encoraja
vigorosamente a não ser derrotada.
Os laços entre companheiros de fé
dos Masaaki Morinaka: Shijo Kingo, que era
médico, preocupava-se já havia algum
tempo com o estado de saúde da monja
Toki, e conversou sobre o assunto com
Nitiren Daishonin que, por sua vez,
transmitiu a ela as palavras de Shijo Kingo,
aconselhando-a a tratar-se com ele.
Daishonin disse à monja Toki: "[Shijo Kingo]
também falou que Toki Jonin depende da
senhora como uma estaca ou um pilar para
se apoiar. [Shijo Kingo], preocupa-se muito
com a senhora. É um homem que jamais
se entrega à derrota e que preza seus
amigos mais do que tudo." (The Writings of
Nichiren Daishonin [WND], pág. 955.)
Pres. Ikeda: Shijo Kingo e Toki Jonin eram
figuras centrais entre os seguidores de
Daishonin que haviam lutado ao seu lado
desde o início como companheiros de fé.
Por essa razão, Shijo Kingo compreendia
perfeitamente a preocupação de Toki
Jonin por sua esposa, como se o problema
estivesse ocorrendo com ele próprio. As
palavras de Daishonin nesta carta refletem
claramente seus sentimentos.
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Há também algo excepcional na forma
como Dai- shonin transmite seu
sentimento diretamente ao coração de
Shijo Kingo. O encorajamento sincero dos
companheiros, quando alguém está
enfermo, pode ser mais eficaz que dez mil
remédios. Saber que todos estão nos
apoiando e recitando Daimoku pela nossa
recuperação nos brinda com uma ilimitada
força.
Obviamente, isto não se aplica somente à
doença. Uma pessoa que luta contra seu
carma sente-se muito mais sozinha do que
se possa imaginar. O apoio dos
companheiros, em momentos como esse,
é uma fonte de força inimaginável. Não há
nada mais maravilhoso do que ser rodeado
de amigos sinceros, como ocorre na Soka
Gakkai.
Morinaka: Tenho a impressão de que os
seguidores de Daishonin se conheciam
entre si, e que se comunicavam
diariamente. No final da carta
"Oferecimento de um robe de verão",
sobre a qual o senhor discorreu em uma
outra ocasião, Daishonin disse: "Reúna-se
sempre com a esposa de Toshiro e leiam
juntas esta carta." (Gosho Zenshu, pág.
1515.) Embora não se saiba ao certo quem
é a recebedora da carta, sabe-se que a
esposa de Toshiro era amiga de Shijo
Kingo e de sua mulher.
Pres. Ikeda: Por ter dito "Reúna-se sempre
com...", podemos deduzir que a destinatária
da carta e Toshiro mantinham contato
freqüente e que, provavelmente,
costumavam dialogar sobre assuntos da
vida e da prática da fé. Havia também
outros seguidores para os quais Daishonin
dizia: "Vocês três são como eles
[Chudapanthaka1]." (WND, pág. 199.)
Saito: Esses três seguidores eram Ota
Saemon-no-jo, o sacerdote leigo Soya
Kyoshin e Kimbara Hokkyo (Ponte do
Darma). Daishonin escreve na carta:
"Havia dois irmãos chamados
Chudapanthaka. Quando alguém chamava
por esse nome, os dois respondiam. Vocês
três, seguidores, são assim. Quando
qualquer um dos três vem me visitar, sinto
como se todos estivessem aqui comigo."
(WND, pág. 199.)
Daishonin escreveu essa carta depois da
Perseguição de Tatsunokuti (que ocorreu
em 12 de setembro de 1271), quando se
encontrava em Eti, Província de Sagami
(atual Kanagawa). Havia decorrido um mês
desde que as autoridades tentaram
decapitá-lo, e a situação era muito tensa.
Nessas circunstâncias, Daishonin
encorajou esses seguidores dizendo-lhes
que o companheirismo que havia entre
eles era como o dos irmãos
Chudapanthaka.
Morinaka: Na carta escrita à monja leiga de
Ko, que vivia na Ilha de Sado, Daishonin a
instrui a lê-la junto com a monja leiga
Senniti.2 Parece que essas duas mulheres
e seus maridos mantinham uma relação
muito próxima. Pres. Ikeda: Abutsu-bo e
sua esposa tinham um filho de forte e
sólida fé. Tudo indica que o sacerdote
leigo de Ko e sua esposa não podiam ter
filhos. Embora suas circunstâncias
diferissem, as cartas de Daishonin instruem
ambos os casais a unir seus esforços em
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prol do Kossen-rufu. Daishonin sempre
incentivava seus discípulos a manterem
um bom relacionamento e a apoiarem-se
mutuamente. Com base em um outro
escrito, "O devoto do Sutra de Lótus
enfrentará perseguições", podemos
deduzir que os seguidores de Daishonin se
reuniam com freqüência para ler suas
cartas, estudar os ensinos e debater o
significado de atingir o estado de Buda
nesta existência ou sobre como
impulsionar o movimento pelo
Kossen-rufu. Esses encontros se pareciam
muito com as nossas reuniões de
planejamento e de palestra.
Saito: Daishonin expõe: "Toki [Jonin],
Saburo Saemon-no-jo [Shijo Kingo],
Kawanobe, Acharya Yamato e todos os
senhores, homens distintos e sacerdotes,3
devem ler esta carta em voz alta uns para
os outros. Nesta era corrupta, reúnam-se
sempre para dialogar e jamais deixem de
orar por sua próxima existência." (WND,
pág. 499.) Acredito que sua alusão a esta
"era corrupta" é muito significativa.
Pres. Ikeda: Correto. Por vivermos em uma
"era corrupta", precisamos encorajar uns
aos outros enquanto avançamos em nosso
caminho. A prática budista não é algo que
podemos realizar sozinhos, pois, conforme
Daishonin afirma, "os ventos da fama e da
fortuna sopram com violência, e a
lamparina da prática budista se apaga com
facilidade" (WND, pág. 1027). É vital que
nos encorajemos e nos apoiemos
mutuamente, e que sejamos "bons amigos"
uns para os outros.
Morinaka: No escrito "Três mestres
Tripitaka oram por chuva", Daishonin fala
da importância dos bons amigos.4
Pres. Ikeda: A prática budista é uma
batalha constante contra os obstáculos e
as funções malignas. Nós estamos sempre
praticando em meio às más influências e
às más amizades.
Pode até ser possível realizar a prática
budista isolados nas montanhas, longe das
influências negativas e da sociedade e
sem contato com as más amizades, como
fez o Grande Mestre Tient'ai da China.
Porém, para as pessoas dos dias de hoje,
comprometidas com a sociedade, que
realizam sua prática budista paralelamente
às diversas atividades cotidianas, o
caminho para o estado de Buda reside nos
esforços para fazer brilhar seu humanismo
mesmo em meio às influências
perniciosas, da mesma forma que "a flor de
lótus desabrocha no pântano" (The Lotus
Sutra [LS], 15º capítulo, pág. 222). Por fim,
estar rodeado de bons amigos é uma
condição indispensável para realizarmos
nossa prática.
Além disso, a dificuldade de praticar o
budismo nos Últimos Dias da Lei é muito
maior do que se possa imaginar. Isto
porque é uma era em que há um grande
número de ideologias e ensinos errôneos,
em que proliferam os falsos mestres que
enganam as pessoas. Em sua "Tese sobre
o estabelecimento do ensino correto para
a paz da nação", Daishonin diz: "É
lamentável pensar que, no espaço de
poucas décadas, centenas, milhares,
dezenas de milhares de pessoas foram
iludidas por esses ensinos malignos e, em
muitos casos, ficaram confusas quanto ao
verdadeiro ensino do budismo." (Os
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Escritos de Nitiren Daishonin [END], vol. 1, de que estamos em luta contínua contra
pág. 32.) essas forças.

Morinaka: Poucas décadas depois de Morinaka: Parece estranho que pessoas

Honen5 ter propagado a Nembutsu, muitas dedicadas ao bem tenham tanta
pessoas começaram a ficar confusas. dificuldade para unir-se, ao passo que as
Embora almejassem a felicidade, eram más o façam tão facilmente.
enganadas sem dar-se conta disso.
Pres. Ikeda: Fazendo uma analogia, é fácil
Saito: Vivemos em um mundo em que os acumular água nas depressões que se
maus são muitos, e os bons são poucos. formam no solo. Como as pessoas más
Porém, se as pessoas de bem se deixam têm objetivos superficiais, elas se reúnem
derrotar, os Últimos Dias serão uma era de sem demora atraídas por interesses e
eterna escuridão. ambições em comum.

A união é a chave para destruir as Por isso é muito importante ter união
funções malignas embasada em um objetivo nobre. A
preciosa organização do Kossen-rufu não
Pres. Ikeda: Por essa razão, a união de
deve ser destruída jamais. A contrução
"diferentes corpos, uma única mente" é tão
requer um esforço tenaz e esmerado,
importante. Daishonin diz: "Embora as
enquanto a destruição leva um instante.
maldades sejam muitas, não prevalecerão
sobre uma única grande verdade." (WND,
Saito: Mesmo as relações de confiança
pág. 618.) Para triunfar sobre as forças
cultivadas ao longo de muitos anos podem
combinadas do mal, as pessoas de bem
ser arruinadas, subitamente, por uma força
devem se fortalecer e se unir. Se as
divisória. Essa é a natureza temível das
pessoas de bem não prevalecerem, o
funções malignas e, por esse motivo,
mundo será governado por aqueles de
devemos saber enxergá-las.
más intenções.

Pres. Ikeda: Um exemplo disso pode ser

A formação de uma organização de
observado na luta dos irmãos Ikegami,
pessoas dedicadas ao bem e à luta contra
Munenaka e Munenaga. É um fato bem
a injustiça é uma conseqüência natural do
conhecido que seu pai, Yasumitsu, havia
desejo de expandir o bem nos Últimos Dias
deserdado o filho mais velho, Munenaka
da Lei e possibilitar que um mundo de paz,
[por causa de sua fé nos ensinos de
estabilidade e felicidade seja uma
Daishonin], e que essa decisão havia sido
realidade para todos.
instigada pelo sacerdote Ryokan do
templo Gokurakuji.6
Em essência, as funções malignas
procuram criar divisões dentro das
Depois de deserdar o filho mais velho,
organizações de pessoas dedicadas ao
Yasumitsu valeu-se de várias estratégias
bem. As pessoas más aliam-se com
para persuadir o mais novo a sucedê-lo
facilidade. Jamais devemos nos esquecer

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como chefe do clã da família. Munenaga
viu-se numa situação conflitante: deveria
aceitar a proposta do pai ou seguir o
caminho da fé? No final, recebeu
encorajamento de Daishonin e decidiu
atuar junto com seu irmão mais velho.
Saito: As funções malignas interfiriram para
erguer uma barreira divisória entre os
irmãos.
Morinaka: Se os dois irmãos tivessem sido
deserdados desde o início, sem dúvida
teriam tomado a firme decisão de somar
forças para persuadir o pai da veracidade
do ensino de Daishonin.
Saito: Esta é a verdadeira natureza do mal.
As funções malignas procuram sempre
destruir a união.
Morinaka: Da mesma forma, Nikken, na
tentativa de criar dúvidas entre os
membros, primeiro excomungou somente
o presidente Ikeda. Essa foi realmente uma
obra do que chamamos de "Demônio do
Sexto Céu". Porém, o plano do
inescrupuloso Nikken acabou em fracasso
total. Ele será lembrado para sempre como
o sumo prelado caluniador da Lei.
Saito: Em síntese, Nikken perdeu
totalmente a fé comprometida com a
realização do Kossen-rufu. Ele falhou em
não compreender a relação que deve
existir entre os companheiros de fé, que
compartem a missão de realizar o grande
desejo de Daishonin. Pode-se dizer que foi
nesse ponto que ele se enganou.
Pres. Ikeda: Daishonin percebeu que a
chave para os irmãos Ikegami vencerem o
desafio era a união. Ele ensinou que a
forma para derrotar as funções da
maldade era unir-se às esposas e atuar
embasados nessa união. Em "Carta aos
Irmãos" Daishonin conclui instruindo-os a
criarem uma forte união.
Em todo agrupamento de pessoas, sempre
haverá aquelas com quem temos afinidade
e as que não temos. Assim,
inevitavelmente se fará sentir o peso da
compatibilidade. De certo modo, é natural
que existam essas emoções humanas, e
por isso não precisamos nos preocupar
com essas coisas. Mas, ao mesmo tempo,
é tolice deixar-se manipular por afinidades
e aversões, por gostar ou não gostar de
algumas pessoas e, em virtude disso,
afetar negativamente a prática budista.
Esse tipo de atitude abre as portas para as
funções da maldade e nos torna suas
presas.
Por isso, Daishonin advertia rigorosamente
seus seguidores a não falarem mal uns dos
outros. Ele dizia, por exemplo: "Por mais
desagradável que isso lhe pareça, deve
relacionar-se com eles amigavelmente"
(WND, págs. 849-850); "Mesmo que seus
irmãos tenham errado em algum ponto,
não devem se prender a isso" (Gosho
Zenshu, pág. 1176); e "Deve relacionar-se
bem com as pessoas que acreditam neste
ensino. Não fique vendo, ouvindo nem
apontando algo nelas que o deixe
aborrecido" (WND, pág. 907).
Em "As Quatorze Calúnias", há algumas
orientações muito rigorosas de Daishonin
sobre o ato de caluniar os companheiros.7
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Morinaka: Daishonin ensina em um dos
trechos que caluniar uma pessoa que
abraça o Sutra de Lótus é uma ofensa
maior do que caluniar Sakyamuni durante
um kalpa inteiro. Ele diz também que, pelo
fato de todas as pessoas que mantêm a fé
correta no Sutra de Lótus serem budas,
sem exceção, denegrir esses seguidores é
o mesmo que denegrir o Buda.
Pres. Ikeda: Todos nós somos budas.
Portanto, quando criticamos os outros
estamos criticando o Buda. Como todos
somos entidades dotadas do estado de
Buda, devemos nos respeitar mutuamente.
Na Soka Gakkai deve predominar o espírito
descrito no trecho: "Deve levantar-se e
cumprimentá-lo de longe, com o mesmo
respeito que demonstraria ao Buda." (LS
28, 324.)
Daishonin vai mais além dizendo que,
quando as pessoas adquirem o hábito de
criticar os outros, "nunca se livram dessa
atitude errônea e, dessa forma, condenam
a si próprias aos maus caminhos" (WND,
pág. 757). Por essa razão ele diz: "Devem
respeitar uns aos outros" como budas.
(Ibidem.) Ele declara também que
devemos ser gentis com os outros, como
Sakyamuni e Muitos Tesouros, que
conforme consta no capítulo "Torre de
Tesouro", sentam-se juntos, dividindo o
mesmo assento [nesta Torre].8
Morinaka: Para ser sincero, não dá para
imaginar os dois budas brigando!
Pres. Ikeda: O mais importante é a fé
direcionada à realização do Kossen-rufu.
Se estivermos lutando sinceramente pelo
Kossen-rufu, não teremos tempo para
intrigas. Daishonin por várias vezes adverte
que é tolice os companheiros discutirem
entre si na frente do inimigo, comparando
o comportamento ao da "gaivota e o
marisco", que foram apanhados pelo
pescador porque estavam absortos
demais numa discussão.
Saito: Essa história consta em uma carta
endereçada a Hyoe no Sakan. Daishonin
diz:
"Se os senhores brigarem entre si,
acabarão como a gaivota e o marisco da
parábola chinesa. Da mesma forma, seus
inimigos se aproveitarão de sua desunião.
Recitem o Nam-myoho-rengue-kyo e
observem sua conduta a todo momento."
(Gosho Zenshu, pág. 1108.)
Pres. Ikeda: É vital que nos levantemos
juntos, com uma mesma aspiração e que
dialoguemos abertamente uns com os
outros.
Seja qual for a situação, o diálogo é uma
iniciativa frutífera. Ele cria solidariedade e
união. A rejeição às pessoas traz
conseqüências negativas, pois provoca a
desunião e conduz à destruição. O
importante é encontrar-se com as pessoas
para dialogar. É natural que algumas vezes
as opiniões divirjam. Mas o diálogo gera
confiança mesmo nesses casos. Na
sociedade, o diálogo é também a base
para a paz, ao passo que a rejeição é a
porta para a guerra.
Morinaka: Presidente Ikeda, acredito que
seus esforços para formar no mundo
inteiro uma rede de pessoas de
consciência, são um esteio para a paz
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mundial. Refiro-me especificamente às
contribuições para a restauração das
relações diplomáticas entre o Japão e a
China, como também para a para melhor, qual seria o sentido da nossa
reaproximação da China e União Soviética.
Hoje também há elevadas expectativas por
parte das pessoas de que seus diálogos
ajudem a estender uma ponte entre os
mundos islâmico e cristão.
Pres. Ikeda: Daishonin sempre pedia a seus
seguidores que dialogassem e cultivassem
a união de "diferentes corpos, uma única
mente". Ele costumava dizer: "Mesmo um
desconhecido é capaz de dar a vida por
você se abrir seu coração para ele." (WND,
pág. 444); e "Por favor, diga às pessoas de
Suruga que devem se unir por um mesmo
propósito" (Gosho Zenshu, pág. 1435).
Daishonin também dizia: "Devem sempre
conversar com os outros para
libertarem-se dos sofrimentos do
nascimento e da morte e chegar à terra
pura do Pico da Águia, onde poderão se
cumprimentar e conversar com base em
uma mesma perspectiva." (WND, pág. 909.)
Nos escritos de Daishonin há muitas
passagens desse tipo.
Afinal, os laços que unem os
companheiros da fé, que se dedicam a
realizar o Kossen-rufu, são eternos. Há
ocasiões em que podem pensar: "Para
mim, viver uma só existência com essa
pessoa já é o suficiente!" Porém, o mais
importante é nos dedicarmos com essa
pessoa com o intuito de transformar
fundamentalmente nossa condição de
vida. Daishonin diz: "O senhor uniu-se a um
amigo na sala da orquídea e ficou de pé
como a artemísia que cresce entre o
cânhamo."9 (Os Escritos de Nitiren
Daishonin [END], vol. 1, pág. 55.) Com base
nessas palavras, o importante é que as
pessoas mudam. Porém, se não mudarmos
prática budista? Daishonin também
declara: "O pombo transformou-se em
falcão e o pardal num marisco."10 (Ibidem.)
Saito: Se juntos nos empenharmos pelo
Kossen-rufu até o fim da nossa vida,
quando chegarmos ao Pico da Águia,
teremos feito uma revolução humana tão
grande, que não sobrará nenhum conflito
pessoal para ser resolvido.
Pres. Ikeda: Em todas as situações é vital
que haja respeito mútuo entre
companheiros que recitam a Lei Mística.
Precisamos encorajar uns aos outros
enquanto avançamos juntos pelo longo e
árduo caminho do Kossen-rufu.
Precisamos avançar com união de
"diferentes corpos, uma única mente",
sempre como bons amigos uns para os
outros.
O mundo magnífico do tempo sem
início
Saito: Após o falecimento do presidente
Toda, o sumo prelado Nitijun (1898-1959)
elogiou a postura dos membros da Soka
Gakkai, que juraram avançar unidos com o
senhor, presidente Ikeda. Ele observou:
"Acredito que esta organização [a Soka
Gakkai] representa realmente a
"assembléia no Pico da Águia que continua
a existir em sua forma solene e que ainda
não se dispersou". Em outras palavras, esta
organização é a verdadeira terra pura do
Pico da Águia. É a grande assembléia dos
budas, e merece meu mais profundo
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respeito."11
Pres. Ikeda: A Soka Gakkai é, de fato, a
manifestação da "assembléia no Pico da
Águia que continua a existir em sua forma
solene e que ainda não se dispersou". É
uma nobre organização de pessoas
dedicadas ao Kossen-rufu. Além da Soka
Gakkai não existe assembléia de
Bodhisattvas da Terra que tenha aparecido
para cumprir o juramento eterno de
permitir a todas as pessoas dos Últimos
Dias da Lei atingirem a iluminação. Somos
eternos companheiros do tempo sem
início.
O presidente Toda escreveu:
"Nitiren Daishonin é o Buda Original do
tempo sem início. O fato de nos honrar
chamando-nos de seus seguidores e
discípulos, significa que já eramos seus
seguidores nesse tempo, no remoto
passado, e que vivíamos com absoluta
liberdade como seres dos nove mundos,
em um estado completamente natural,
sem artifícios e não criado, às vezes, cheios
de ira justificada, outras vezes, cheios de
alegria.(...)
"Nós, que um dia habitamos este mundo
maravilhoso, emergimos agora deste
mundo saha cheio de conflitos. Em
retrospecto, parece que foi ontem que
vivemos nessa terra pura e agradável.
Como podemos nos esquecer desse lugar
magnífico? Como podemos nos esquecer
dos amigos com quem vivíamos cheios de
alegria e liberdade absoluta? Como
podemos nos esquecer do juramento que
fizemos juntos na assembléia em que o
Sutra de Lótus foi exposto?
"Este mundo saha também foi
originalmente habitado por pessoas de
bem, que desfrutavam uma existência
pura, brilhante e feliz, e que viviam em
harmonia umas com as outras. Portanto,
não é lamentável e triste que, tendo sido
obrigados a beber o veneno da avareza, ira
e estupidez oferecido pelos proponentes
do Mahayana provisório, do Hinayana e
dos ensinos não-budistas, tenhamos nos
tornado como crianças enlouquecidas e
nos esquecido do remoto passado?"12
Saito: Sua referência a um mundo
"originalmente habitado por pessoas de
bem, que desfrutam uma existência pura,
brilhante e feliz, e que vivem em harmonia
umas com as outras" descreve, sem dúvida
alguma, um mundo de "diferentes corpos,
uma única mente".
Pres. Ikeda: Esse mundo se tornará
realidade quando todos nós nos
levantarmos com base no grande
juramento que abrigamos em nossa
própria vida desde o tempo sem início, ou
seja, o juramento de atingirmos nossa
própria felicidade e possibilitar a outras
pessoas serem felizes também. Este é o
propósito da Soka Gakkai, uma
organização dedicada a realizar o desejo e
o decreto do Buda. Relembrando nosso
eterno juramento, vamos expandir juntos o
mundo de suprema nobreza que é o
Kossen-rufu, mediante a união de
"diferentes corpos, uma única mente",
enquanto estreitamos os laços de amizade
e aprofundamos o respeito entre todos
nós.
1. Chudapanthaka (Surihandoku, em japonês): Dois irmãos de uma família brâmane dos
dias de Sakyamuni que tinham o mesmo nome. Dessa forma, ao ouvirem o nome, ambos
Maria Antonieta Ross de Albuquerque (12651-9) / pág. 8.
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respondiam ao chamado. Daishonin compara a união dos irmãos a dos três seguidores

da Província de Shimosa (parte das atuais províncias de Tiba e Ibaraki). 2. Em "Carta à

monja leiga de Ko", Daishonin diz: "Recebi trezentas moedas da esposa de Abutsu-bo.

Visto que as duas compartilham o mesmo espírito, peça que alguém leia esta carta para

ambas e ouçam-na juntas." (WND, pág. 595.) 3. Acredita-se que Kawanobe tenha sido um

sacerdote leigo que foi preso na mesma época da Perseguição de Tatsunokuti e

encarcerado em um calabouço subterrâneo. Não há informações específicas sobre

Acharya Yamato. 4. Daishonin escreve: "Uma árvore transplantada não tombará mesmo

que soprem ventos violentos, se tiver uma firme estaca para mantê-la em pé. Porém,

mesmo uma árvore que cresceu em um lugar adequado pode tombar se suas raízes

forem fracas. Uma pessoa fraca não sucumbirá se aqueles que a apóiam forem fortes,

mas uma pessoa de considerável força, quando só, poderá tropeçar num terreno

irregular." (WND, pág. 598.) 5. Honen (1133-1212): Conhecido também como Guenku.

Fundador da Escola Terra Pura (Jodo) no Japão. Em sua obra Escolha Exclusiva da

Nembutsu, Honen exorta às pessoas a "descartar, encerrar, ignorar e abandonar" os

sutras, incluindo o Sutra de Lótus, e a abraçar a fé na Terra Pura. Na "Tese sobre o

estabelecimento do ensino correto para a paz da nação", Daishonin denuncia duramente

a Nembutsu como o "único mal" causador de vários desastres. 6. Em "Um pai adquire fé",

Daishonin diz: "Sacerdotes dominados por um demônio celestial, como Ryokan e outros,

enganaram seu pai, Saemon no Tayu [Yasumitsu] e tentaram destruir você e seu irmão."

(WND, pág. 845.) 7. Daishonin escreve: "No quarto volume do Sutra de Lótus consta: 'Se

proferir uma única palavra depreciativa às pessoas leigas ou aos sacerdotes e monjas

que seguem e pregam o Sutra de Lótus, então essa ofensa será ainda mais grave do que

maldizer do Buda Sakyamuni durante o período de um kalpa'. No Sutra de Lótus

também consta: '[Se uma pessoa vê alguém que aceita e proclama este sutra e procura

expor suas falhas e defeitos], não importa se o que diz é verdade ou mentira, [sofrerá de

lepra branca nesta existência].' Considerem com seriedade estes ensinos e lembrem-se

sempre que os seguidores do Sutra de Lótus não devem absolutamente insultar uns aos

outros." (WND, pág. 756.) 8. "Não importa se ele é um demônio ou um animal, se uma

pessoa recita um único verso ou frase do Sutra de Lótus, o senhor deve respeitá-la como

se fosse o próprio Buda. A isso se refere a passagem do sutra: 'Deve levantar-se e

cumprimentá-lo de longe, com o mesmo respeito que demonstraria ao Buda.' Devem

respeitar-se mutuamente como fizeram Sakyamuni e Muitos Tesouros na cerimônia

descrita no capítulo 'Torre de Tesouro'." (cf. WND, 757.) 9. "Um amigo na sala da

orquídea" indica uma pessoa de virtude e denota que a companhia de uma pessoa

virtuosa age como uma boa influência, da mesma forma que ocorre quando uma pessoa

entra na sala da orquídea e fica impregnada com a fragrância das flores. Dizem que a

artemísia apoiada no cânhamo cresce reta. 10. Expressões extraídas da literatura

chinesa antiga, que indicam uma mudança drástica. 11. Do discurso proferido na 18ª

Reunião de Dirigentes da Soka Gakkai, em Nitijun Shonin Zenshu (Obras completas de

Nitijun Shonin), Tokio Nitiren Shoshu Bussho Kankokai, 1960, pág. 359. 12. Toda Josei

Zenshu (Obras completas de Jossei Toda). Tóquio Seikyo Shimbunsha, pág. 1985, vol. 1,

pág. 342.

Maria Antonieta Ross de Albuquerque (12651-9) / pág. 9.