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Projeto de um ciclo de refrigeração cascata

utilizando CO2 como refrigerante para


atender um supermercado.

Luis Felipe Chilicaua Barbosa

Projeto de Graduação apresentado ao Curso


de Engenharia Mecânica da Escola
Politécnica, Universidade Federal do Rio de
Janeiro, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do título de
Engenheiro,

Orientador: Nísio de Carvalho Lobo Brum

Rio de Janeiro

Setembro 2016
Barbosa, Luis Felipe Chilicaua

Projeto de um ciclo de refrigeração cascata utilizando CO2


como refrigerante para atender um supermercado/ Luis Felipe
Chilicaua Barbosa – Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica,
2016.

X, 50 p.: il: 29,7 cm

Orientador: Nísio de Carvalho Lobo Brum

Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/


Departamento de Engenharia Mecânica, 2016.

Referências Bibliográficas p. 48-50

1. Ciclo de refrigeração CO2. 2. Refrigerante CO2. 3.


Refrigerante R744. 4. Cálculo de COP de um ciclo de
refrigeração. 4. Seleção de equipamentos para um ciclo de
refrigeração CO2. 5. Análise do consumo energético de um ciclo
de refrigeração. I. Brum, Nísio de Carvalho Lobo. II. Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Departamento de
Engenharia Mecânica. III. Projeto de um ciclo de refrigeração
cascata utilizando CO2 como refrigerante para atender um
supermercado.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos meus professores e principalmente a meu orientador desse
trabalho final, Professor Nísio Brum, pela proposta do tema, atenção, conselhos,
compartilhar conhecimento e especialmente pela paciência e compreensão com a
minha trajetória profissional.

Também a toda minha família por todo apoio durante a graduação,


especialmente Pai (Luis Noronha), Mãe (Leila Paz) e Avó (Flor Paz) que sempre
acreditaram no meu potencial.

E por fim, a todos os amigos que ao longo dos anos somam à minha vida.

Não conseguiria sem a força de vocês.

Obrigado a todos.

i
RESUMO
O objetivo deste projeto é analisar e definir a melhor opção de um ciclo de
refrigeração por compressão a vapor utilizando como fluido refrigerante o dióxido de
carbono (CO2, R744) para um estabelecimento de carga térmica já estipulada.
Inicialmente, será apresentada a evolução histórica da aplicação do CO2 como
refrigerante, até o contexto tecnológico e de impactos ambientais da atualidade. Serão
esclarecidos os pontos operacionais positivos do refrigerante que justificam a
motivação para o atual crescimento de instalações bem como as diversas maneiras de
operação e comportamento do fluido no ciclo de refrigeração. Duas diferentes
configurações serão comparadas por cálculos manuais e simuladas em softwares para
que conclua-se qual desses ciclos é o mais viável para implantação no supermercado
considerando eficiência térmica para, posteriormente, serem selecionados os
principais equipamentos mais adequados, utilizando catálogos ou softwares de
fabricantes, e por fim comparação de consumo e custo energético do sistema.

ii
ABSTRACT
The objective of this project is to analyze and define the best option of a vapor
compression refrigeration cycle using carbon dioxide as the refrigerant (CO2, R744) for
a thermal load of establishment already stipulated. Initially, the historical evolution of
the application of CO2 as a refrigerant will be presented to the technological context
and environmental impacts of today. Positive operating points of the refrigerant will be
clarified to justify the motivation for the current growth of plants and the various ways of
operation and flow behavior in the refrigeration cycle. Two different configurations will
be compared by manual calculations and simulated in software to the conclusion which
of these cycles is the most feasible for implementation in the supermarket considering
thermal efficiency for later major equipment best suited to select, using catalogs or
software of manufactures, and finally comparison of energy consumption and cost of
the system.

iii
SUMÁRIO
1 – INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 1

2 – ASPECTOS AMBIENTAIS ...................................................................................... 2

2.1 Protocolo de Kyoto.................................................................................................. 2

2.2 Aquecimento global e efeito estufa ......................................................................... 3

2.3 Protocolo de Montreal ............................................................................................. 3

2.4 Camada de Ozônio ................................................................................................. 5

3 – HISTÓRICO DE APLICAÇÃO ................................................................................. 8

3.1 Propriedades e características ................................................................................ 8

3.2 Comportamento e fases do CO2 ........................................................................... 10

3.3 Segurança ............................................................................................................ 11

4 – CICLOS DE REFRIGERAÇÃO UTILIZANDO CO2................................................ 13

4.1 Ciclo transcrítico ................................................................................................... 13

4.2 Ciclo subcrítico ..................................................................................................... 15

5 – CARGA TÉRMICA ................................................................................................ 17

6 – CICLOS PARA ANÁLISE ...................................................................................... 18

6.1 Ciclo 1; R134a – R744 .......................................................................................... 19

6.1.1 R744 no ciclo 1 ( Tc = -10ºC ; Te = -35ºC ) ........................................................ 19

6.1.1.1 Cálculos e resultados ...................................................................................... 21

6.1.2 R134a no ciclo 1 ( Tc = 40ºC ; Te = -5ºC ) ......................................................... 23

6.1.2.1 Cálculos e resultados ...................................................................................... 24

6.2 Ciclo 2; R404a – R744 .......................................................................................... 26

6.2.1 R404a no ciclo 2 ( Tc = 45ºC ; Te = -15ºC ) ....................................................... 27

6.2.1.1 Cálculos e resultados ...................................................................................... 27

iv
6.3 Cálculo do coeficiente de performance (COP) ...................................................... 28

6.3.1 Cálculo do COP R134a-R744 ............................................................................ 28

6.3.2 Cálculo do COP R404a-R744 ............................................................................ 29

6.4 Seleção do ciclo .................................................................................................... 29

7 – SELEÇÃO DE EQUIPAMENTOS ......................................................................... 30

7.1 Compressores ..................................................................................................... 30

7.1.1 R134a ................................................................................................................ 30

7.1.2 R744 .................................................................................................................. 31

7.1.3 R404a ................................................................................................................ 32

7.2 Evaporadores ....................................................................................................... 33

7.2.1 Evaporadores em LT para congelados .............................................................. 34

7.2.2 Evaporadores em MT para resfriados ................................................................ 35

7.3 Condensador ........................................................................................................ 35

7.4 Válvulas de expansão ........................................................................................... 39

7.4.1 VExp para R134a............................................................................................... 39

7.4.2 VExp para R744................................................................................................. 40

7.5 Trocador de calor .................................................................................................. 41

8 – CONSUMO ENERGÉTICO ................................................................................... 42

9 – CONCLUSÃO ....................................................................................................... 47

10 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 48

v
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 2.1 - Consumo de CFCs no Brasil de 1992 até 2014 (eCycle, 2015) ................ 4

Figura 2.2 - Consumo de HCFCs no Brasil de 1992 até 2014 (eCycle, 2015) ............... 4

Figura 2.3 - Ciclo de Chapman ..................................................................................... 6

Figura 2.4 - Reações no ciclo de Chapman .................................................................. 6

Figura 2.5 - Ciclo do cloro (MMA, 2014)........................................................................ 7

Figura 3.1 - Tensão superficial do CO2 comparativo com outros fluidos (Ladeira,
Filho, 2005)................................................................................................................... 9

Figura 3.2 - Densidade do CO2 de acordo com a variação de temperatura (Souza,


Antunes, Filho, 2012) .................................................................................................. 10

Figura 3.3 - Diagrama de fases do CO2 (Ladeira, Filho, 2005) .................................. 11

Figura 4.1 - Diagrama Pxh do CO2 (Souza, Antunes, Filho, 2012) .............................. 13

Figura 4.2 - Variação da capacidade térmica do CO2 no processo isobárico (Ladeira,


Filho, 2005)................................................................................................................. 14

Figura 4.3 - Ciclo transcrítico CO2 (CoolPack) ............................................................ 15

Figura 4.4 - Ciclo subcrítico do CO2 (CoolPack) ......................................................... 16

Figura 6.1 - Layout ciclo 1 ........................................................................................... 19

Figura 6.2 - Diagrama Pxh do CO2 no ciclo 1 (CollPack) ............................................ 21

Figura 6.3 - Diagrama Pxh do R134a no ciclo 1 (CoolPack) ....................................... 23

Figura 6.4 - Layout ciclo 2 ........................................................................................... 26

Figura 6.5 - Diagrama Pxh do R404a no ciclo 2 (CoolPack) ....................................... 27

Figura 7.1 - Compressor para R134a com maior capacidade frigorífica no software
BITZER ....................................................................................................................... 30

Figura 7.2 – Compressor para R134a selecionado pelo software BITZER.................. 31

Figura 7.3 – Compressor para R744 selecionado pelo software BITZER.................... 32

vi
Figura 7.4 - Compressor para R404a com maior capacidade frigorífica no software
BITZER ....................................................................................................................... 33

Figura 7.5 – Compressor para R404a selecionado pelo software BITZER.................. 33

Figura 7.6 – Válvula selecionada pelo ExV da Carel para R134a ............................... 39

Figura 7.7 – Válvula selecionada pelo ExV da Carel para R744 ................................. 40

Figura 7.8 – Trocador de calor cascata SWEP B400 .................................................. 41

Figura 8.1 – Configuração ciclo subcrítico cascata CO2 no PACK CALCULATION .... 42

Figura 8.2 – Gráfico do consumo energético PACK CALCULATION ........................ 44

Figura 8.3 – Sistema de bandeira tarifárias de energia no Brasil (CPFL, 2016) .......... 45

vii
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 2.1 - Cronograma de eliminação do CFC no Brasil (MMA, 2014) .................... 5

Tabela 2.2 - Cronograma de eliminação do HCFCs no Brasil (MMA, 2014) .................. 5

Tabela 5.1 – Relação carga térmica (Silva, Euzébio, 2013) ........................................ 17

Tabela 6.1 – Estados do R744 no ciclo 1 .................................................................... 21

Tabela 6.2 – Estados do R134a no ciclo 1 .................................................................. 24

Tabela 6.3 – Estados do R404a no ciclo 2 .................................................................. 27

Tabela 7.1 – Tabela de capacidades catálogo comercial MIPAL ................................ 34

Tabela 7.2 – Catálogo comercial MIPAL ..................................................................... 36

Tabela 7.3 – Catálogo comercial MIPAL ..................................................................... 36

Tabela 7.4 – Catálogo comercial MIPAL ..................................................................... 37

Tabela 7.5 – Catálogo comercial MIPAL ..................................................................... 37

Tabela 7.6 – Catálogo comercial MIPAL ..................................................................... 37

Tabela 7.7 – Catálogo comercial MIPAL ..................................................................... 38

Tabela 7.8 – Catálogo comercial MIPAL ..................................................................... 38

Tabela 8.1 – Relação de equipamentos no ciclo subcrítico CO2 no PACK


CALCULATION........................................................................................................... 43

Tabela 8.2 – Consumo energético PACK CALCULATION .......................................... 44

Tabela 8.3 – Tarifa de fornecimento de energia elétrica


(AES ELETROPAULO, 2016) ..................................................................................... 45

Tabela 8.4 – Sistema de bandeira tarifárias de energia no Brasil (CPFL, 2016) ......... 45

Tabela 8.5 – Economia Anual ..................................................................................... 46

viii
1 – INTRODUÇÃO
A necessidade de controlar as condições do ambiente ocupado para realização
de atividades restritas a determinada temperatura ou para conforto foi a motivação
para a aplicação e desenvolvimento do ciclo de refrigeração por compressão a vapor.

Na tentativa de sempre melhorar o ciclo para melhor atender o homem, as


variações para aumento da eficiência térmica dos sistemas seguiram sendo aplicadas
desenfreadamente à medida que eram descobertas até que os impactos sobre o
ambiente passassem a ser impossíveis de ignorar. Com a legislação restringindo o
uso de refrigerantes com elevado ODP (Ozone Deplation Potential – Potencial de
Destruição da Camada de Ozônio) e GWP (Global Warming Potential – Potencial de
Aquecimento Global) surge então a necessidade inquestionável de adequação para
utilização dos refrigerantes alternativos chamados de naturais. Nesse contexto que é
novamente apresentado o Dióxido de carbono - CO2 (R744) que já fora utilizado com
frequência no fim do século XIX até a década de 40 do século seguinte e depois
substituído pelos CFC’s e HCFC’s por diversos motivos cabíveis naquela época.

Evidentemente mais amistoso para o ambiente, o R744 já é muito comum nos


países de primeiro mundo do continente europeu, o que leva o Brasil caminhar para
popularização desse sistema já que é um dos signatários do protocolo de Montreal,
que visa eliminação das substâncias degradantes da camada de Ozônio, e também
um signatário do protocolo de Kyoto, que propõe redução da emissão de gases estufa.
Com toda a progressão tecnológica acumulada e precauções estabelecidas para
questões ambientais, hoje é possível dizer que o CO2 apresenta eficiência e
viabilidade maiores do que quando foi retirado de operação.

Neste estudo considera-se um estabelecimento de supermercado e de acordo


com sua carga térmica estipulada e localização geográfica analisa-se a aplicação de
dois ciclos de refrigeração por compressão a vapor utilizando CO2, avalia-se a
eficiência térmica através do cálculo do coeficiente de performance (COP) para definir
o melhor ciclo e assim selecionar seus principais equipamentos através de sofwares
freewares e catálogos de fabricantes além da estimativa de consumo e custo
energético do sistema.

1
2 - ASPECTOS AMBIENTAIS
Com as constantes preocupações com impactos ambientais e climáticos
intensificaram-se discussões para reduzir a degradação no planeta, nesse contexto
foram estabelecidos acordos em congressos para diminuir a destruição da camada de
ozônio e o aumento do aquecimento global que visaram restringir utilização de
refrigerantes sintéticos contribuintes com qualquer um dos dois problemas citados ou
ambos no mundo inteiro. Devido às exigências estabelecidas, iniciaram-se e
retomaram-se estudos para que fluidos refrigerantes CFC’s, HCFC’s e HFC’s com
elevadíssimos ODP e GWP possam ser substituídos por refrigerantes naturais com
menor potencial de impacto ambiental. A seguir serão esclarecidos os dois protocolos
que regem o processo de preservação ambiental do planeta quanto à fluidos de
refrigeração.

2.1 Protocolo de Kyoto

Idealizado inicialmente na “Toronto Conference on the Changing


Atmosphere” em Toronto no Canadá em 1988 e posteriormente criado em Kyoto no
Japão em 1997, este tratado internacional visa reduzir as emissões de gases
poluentes responsáveis pelo aquecimento global e elevação do efeito estufa e entrou
em vigor oficialmente em 16 de fevereiro de 2005 tendo o Brasil como signatário. O
objetivo de reduzir em 5% a emissão de gases poluentes entre 2008 e 2012 não foi
alcançado o que fez com que estabelecessem novas metas para 2020. Dados
divulgados em fevereiro de 2015 apontam que entre os anos de 2005 e 2012 houve
um aumento da emissão mundial destes gases em 16% mas apesar dos números se
não houvesse o Protocolo de Kyoto as emissões de gases do efeito estufa e impactos
no planeta teriam sido maiores. (Lima, 2011)

Especialistas acreditam que com o cumprimento das medidas a temperatura


global possa diminuir entre 1,5ºC e 5,8ºC até o final do século XXI. Com isso,
substâncias como HFC’s, CFC’s e HCFC’s utilizados na refrigeração com elevados
GWP foram condenadas à substituição e o número de projetos apresentados nas
conferências anuais estão aumentando consideravelmente com tendência a continuar
crescendo por incentivo das indústrias devido à viabilidade financeira. (Ladeira, Filho,
2005).

2
2.2 Aquecimento Global e efeito estufa

O aquecimento na Terra essencial para a existência da vida e manutenção da


água líquida é proporcionado graças à atmosfera no planeta responsável pelo efeito
estufa. A energia irradiada pelo Sol à Terra é parte absorvida pela superfície terra,
parte refletida também pela superfície terrestre e parte refletida pela atmosfera. A
radiação infravermelha (comprimento de onda entre 4 mm e 100 mm) emitida pela
terra parte passa pela atmosfera ao espaço e parte é absorvida e reemitida pela
atmosfera de volta ao planeta em direções aleatórias pelas moléculas dos gases
estufa, fazendo com que a temperatura da superfície e atmosfera baixa do planeta
mantenham-se ideais para sobrevivência. Caso os gases estufa estejam com elevadas
emissão e concentração fora de controle esse fenômeno pode elevar a temperatura
média do planeta causando danos aos seres humanos, plantas, animais e alterações a
outros fatores essenciais.

2.3 Protocolo de Montreal

A convenção de Viena 1985 promovia “Proteção da Camada de Ozônio” e


contribuiu para o surgimento do protocolo de Montreal que passou a regular a
produção e o consumo de substâncias que destroem a camada de ozônio, tendo entre
elas os HCFC’s e CFC’s com elevadíssimos ODP e entrou em vigor em 1989. O Brasil
como signatário criou o plano de eliminação para CFC’s (tabela 2.1) que já fora
eliminado em 100% em 2010 (figura 2.1) e plano de eliminação para HCFC’s que
mostra uma previsão para eliminação total em 2040 (tabela 2.2) segundo o Ministério
do Meio Ambiente (MMA). Com isso, mais um acordo ambiental sugere a substituição
de refrigerantes sintéticos utilizados na refrigeração por possuírem elevado ODP.

3
Figura 2.1 - Consumo de CFC’s
CFC no Brasil de 1992 até 2014 (eCycle, 2015)

Figura 2.2 - Consumo de HCFC’s


HCFC s no Brasil de 1992 até 2014 (eCycle, 2015)

4
Tabela 2.1 - Cronograma de eliminação do CFC no Brasil (MMA, 2014)
SDOs Linha base 01/07/1999 01/01/2002 01/01/2003 01/01/2005 01/01/2007 01/01/2010 01/01/2015
CFC 1995-1997 Congelada 50% 85% 100%
Halon 1995-1997 Congelada 50% 100%
Brometo de metila 1995-1998 Congelada 20% 100%
Meticloroformo 1998-2000 Congelada 30% 70% 100%
Tetracloreto de carbono 1998-2000 85% 100%

Tabela 2.2 - Cronograma de eliminação do HCFC no Brasil (MMA, 2014)


Linha Base Congelamento 2010 2015 2020 2025 2030 2040
Países em desenvolvimento Consumo: média 2009/2010
2013 10% 35,0% 68% 98% 100%
(artigo 5 protocolo Montreal) Produção: média 2009/2010
Consumo de HCFC em 1989 +2,8% do consumo de
CFC em 1989
Países desenvolvidos
Produção média da produção de HCFC de 1989 1996 75% 90% 99,5% 100%
(artigo 2 protocolo Montreal)
+2,8% da produção de CFC em 1989 +2,8% do
consumo de CFC em 1989

2.4 Camada de ozônio

A camada de ozônio, também chamada de ozonosfera, está concentrada com


cerca de 90% das moléculas na estratosfera (cerca de 20km a 35km de altitude) e os
outros 10% na troposfera (cerca de 10km a 16km de altitude). O ozônio troposférico é
considerado poluente e contribui para o aquecimento global, já o estratosférico tem
como função proteger dos raios ultravioleta tipo B (UV-B) oriundos da radiação solar
evitando a proliferação de câncer de pele em humanos e preservando estágios da vida
animal sendo vital para todo planeta.

Em 1930, o cientista Sydney Chapman propôs que o ozônio é produzido através


da fotólise de O2 na estratosfera. Na parte mais alta da estratosfera o oxigênio
diatômico (O2) reage com radiação ultravioleta tipo C (UV-C) com comprimento de
onda menor que 242nm tendo como produto 2 átomos de oxigênio (O) que por sua
vez unem-se com sua forma diatômica encontrada mais abaixo na estratosfera, em
que a radiação solar é menos intensa, formando assim o ozônio (O3) que
posteriormente interage com radiação UV-B com comprimento de onda entre 240nm e
320nm desassociando-se em 1 átomo de oxigênio (O) e 1 oxigênio diatômico (O2),
fazendo assim um controle natural e equilibrado de produção de ozônio. O ciclo
ilustrado na figura 2.3 leva o nome do cientista britânico responsável por sua
idealização e é o que garante a filtragem das radiações UV-B e UV-C.

5
Figura 2.3 - Ciclo de Chapman

Figura 2.4 – Reações no ciclo de Chapman

Quando CFC’s e HCFC’s chegam à estratosfera sofrem fotólise com a ação da


radiação UV e liberam radicais livres, no caso um átomo de cloro (Cl), que reage com
o ozônio (O3) para dissociá-lo produzindo uma molécula de oxigênio (O2) e uma
molécula de óxido de cloro (ClO). Segundo o MMA brasileiro (2014), um radical livre
de cloro (Cl) tem potencial para destruir 100 mil moléculas de ozônio (O3) e além de
catalisar a destruição impede a sua formação de acordo com o ciclo de Chapman, já
que o óxido de cloro (ClO) possui vida muito curta e reage novamente com um átomo
de oxigênio (O) que resultará em um átomo de cloro (Cl) e uma molécula de oxigênio
(O2). Todo esse processo tem como consequência o buraco na camada de ozônio
altamente prejudicial ao processo de filtragem de raios UV-B (Molina, Rowland, 1974).

6
Figura 2.5 - Ciclo do cloro (MMA, 2014)

7
3 - HISTÓRICO DE APLICAÇÃO
Apesar da atual crescente de projetos, aplicações e estudos envolvendo o
dióxido de carbono, CO2 ou R744, a utilização do mesmo como fluido refrigerante vem
desde 1850 quando o inventor britânico Alexander Twining propôs usa-lo em um ciclo
de refrigeração de compressão a vapor. Seu auge de utilização foi nas décadas de 20
e 30 do século XX e era muito comum em grandes embarcações. Com o surgimento
dos CFC’s e depois os HCFC’s como refrigerantes considerados mais seguros na
época, a rápida perda de capacidade térmica e os altos valores de pressão em altas
temperaturas eram argumentos para a redução e substituição do R744. Após estudos
revelarem os crescentes impactos ambientais no planeta e os acordos mundiais com
exigências que desencadeiam a busca por alternativas naturais, ressurge então a
proposta de aplicação do R744 como fluido de refrigeração através do Professor
Gustav Lorentzen em aplicações subcríticas e transcríticas em um cenário mais
avançado tecnologicamente e mais responsável com o planeta. (Silva, 2009)

3.1 Propriedades e características

O CO2 é um fluido refrigerante alternativo totalmente natural e facilmente


encontrado na atmosfera, aproximadamente 0,04% em volume (400 ppm), sendo
gerado por atividades naturais, como a respiração animal e decomposição ou
combustão da matéria animal e vegetal (Silva, 2009), e por atividades industriais,
como subproduto em que pode até ser armazenado no sistema de refrigeração ao
invés de despejado diretamente na atmosfera. Possui GWP baixo e igual a 1 sendo
referência para medição de potencial para todos os outros gases, seu ODP é nulo, não
existe nenhuma regulamentação da comunidade mundial para recolhimento,
recuperação, destruição ou reciclagem como existe para refrigerantes sintéticos, não é
um gás tóxico e não é inflamável, fazendo valer seu rótulo de refrigerante
ecologicamente correto com baixíssimo TEWI (Total Equivalent Warming Impact =
Impacto total equivalente de aquecimento).

No que diz respeito à parte operacional o CO2 possui alta densidade de vapor
comparada com outros refrigerantes, possui capacidade volumétrica de refrigeração a
0ºC de 22545 kJ/m³ (expressa o potencial de refrigeração em 1m³ aspirado pelo
compressor), o que possibilita que equipamentos, tubulação e componentes sejam
fisicamente menores, destacando-se os compressores que ao succionarem maior
quantidade de vapor em um espaço menor irão trabalhar com maior eficiência
operacional e energética e menor quantidade de carga total de refrigerante do sistema

8
utilizando o R744 ao invés de um refrigerante com menor capacidade volumétrica
(Souza, Antunes, Filho, 2012).

O CO2 ainda é imiscível aos óleos lubrificantes o que facilita a separação e


reduz o arraste no sistema e desta forma aumenta a transferência de calor nos
evaporadores e nos condensadores.

Possui a menor tensão superficial (σ) dentre os refrigerantes. Esta tensão


influencia na formação de bolhas e quanto menor ela for menor será a nucleação e o
crescimento de bolhas, preservando inteiramente a capacidade operacional da válvula
de expansão de forma que não haja a diminuição da quantidade de fluido refrigerante
chegando ao evaporador (Ladeira, Filho, 2005).

Figura 3.1 - Tensão superficial do CO2 comparativo com outros fluidos


(Ladeira, Filho, 2005)

Sistemas com CO2 operam com altas pressões de trabalho, bem maiores que
os refrigerantes sintéticos e foi um dos motivos para cair em desuso por falta de
segurança na década de 40. Porém com o avanço tecnológico e estudos já existem
alternativas para equiparar as pressões com alguns fluidos padrões no mercado, como
o R410a, além de também termos disponíveis atualmente uma maior variedades de
equipamentos, componentes e mecanismos de segurança para suportar elevadas
pressões incentivando mais ainda a aplicação deste fluido natural na refrigeração.

9
Dentro do contexto ambiental, considerando suas propriedades e
características, CO2 já seria uma ótima alternativa para refrigeração e isso se enfatiza
mais ainda por seu comportamento operacional no ciclo de refrigeração por
compressão a vapor totalmente favorável à aplicação, superando os refrigerantes
sintéticos na atualidade.

3.2 Comportamento e fases do CO2

Todas as substâncias que existem nos estados sólido, líquido e vapor possuem
um ponto onde a determinada temperatura e pressão esses três estados coexistem.
Este ponto é chamado de ponto triplo. No R744 este ponto está a pressão 5,2 bar e a
temperatura -56,6ºC, valores de temperatura e pressão mais elevados do que os
demais refrigerantes. Outro ponto importante é o ponto crítico equivalente a pressão
de 73,6 bar e temperatura de 31ºC onde as densidades de vapor e líquido têm valores
bem aproximados. Acima desse ponto não é possível distinguir líquido e vapor pois
possuem a mesma densidade e aparência, situação representada graficamente na
figura 3.2 (Silva, 2009).

Figura 3.2 - Densidade do CO2 de acordo com a variação de temperatura


(Souza, Antunes, Filho, 2012)

No diagrama de fases do CO2 da figura 3.3 podemos visualizar o ponto crítico, o


ponto triplo e cada fase, possibilitando assim saber o estado físico da substância de

10
acordo com sua temperatura e pressão. As curvas apresentadas determinam os
pontos onde coexistem 2 fases, exceto para o ponto triplo. Nesse mesmo diagrama
podemos determinar a fase com os valores de temperatura e pressão do CO2 através
de sua localização. Também é possível explicar graficamente o fenômeno bastante
conhecido de sublimação do CO2 em estado sólido, chamado de “gelo seco” e
formado em pressão atmosférica de 1,0 bar e abaixo de temperatura de -78,4ºC, no
qual este último passa direto para estado de vapor.

Figura 3.3 - Diagrama de fases do CO2 (Ladeira, Filho, 2005)

3.3 Segurança

O R744 trabalha com temperaturas muito baixas, tão baixas que podem causar
queimaduras no contato com a pele. Se houver um acidente desse tipo, deve-se
aquecer a área da queimadura criogênica muito bem com água na temperatura
próxima a do nosso corpo. Para reduzir a possibilidade desse tipo de acidente é
recomendável que não haja contato com válvulas e tubulações do circuito que se
encontrem muito frias.

Para locais com pouca ventilação é necessário ficar atento quanto a


vazamentos de R744 do sistema pois ele não tem efeito tóxico, é inodoro e não
inflamável e então torna-se imperceptível apesar de influenciar negativamente no
processo respiratório. Esse efeito não é exclusivo do R744, qualquer gás inserido em

11
um espaço fechado será uma ameaça ao processo respiratório por deslocamento do
O2 na mesma proporção de inserção do gás.

A concentração de CO2 na atmosfera é de 0,04% (400 ppm), caso chegue entre


1% e 4% o volume respiratório será maior, passando de 4% a periculosidade é alta
mesmo por poucos minutos pois a respiração ficará muito debilitada além da
manifestação física como dores de cabeça e perda de consciência.

A instalação deve conter mecanismo de exaustão para que em caso de


vazamento possa eliminar o refrigerante para o ambiente externo de maneira que seu
acionamento seja por monitores e sensores de concentração de CO2 que devem ser
instalados no ponto mais baixo do ambiente.

Os procedimentos para prestar socorro no caso de sinistro com inalação de


grande quantidade e concentração são simples. O primeiro passo é encaminhar o
acidentado para local muito bem arejado rapidamente, aplicar respiração artificial se
houver parada respiratória e na dificuldade para respirar solicitar que um profissional
ministre oxigênio. Treinamento para manusear aparelhos de respiração autônoma
deve ser obrigatório para profissionais que trabalhem com equipamentos de dióxido de
carbono de acordo com a NBR 12543 que trata do assunto.

É imprescindível o uso de EPI pela equipe de O&M, tanto para executar serviço
quanto para inspeção técnica, além de a realização de avaliação preliminar de risco
(APR) que mapeará os possíveis eventos, acidentes ou incidentes bem como suas
freqüência, conseqüências, probabilidade, sequência e risco calculado.

12
4 - CICLOS DE REFRIGERAÇÃO
UTILIZANDO CO2
As instalações que utilizam o R744 podem operar com 2 tipos de ciclos. Quando
o ciclo trabalha com a pressão de compressão ótima acima dos pontos triplo e crítico,
na fase supercrítica, é chamado de transcrítico e o ciclo que opera com suas pressões
entre os pontos crítico e triplo denomina-se subcrítico. Na figura 4.1 é possível
visualizar as fases e a zona supercrítica do R744.

Figura 4.1 - Diagrama Pxh do CO2 (Souza, Antunes, Filho, 2012)

4.1 Ciclo transcrítico

Neste ciclo o refrigerante R744 é comprimido até uma pressão ótima acima do
ponto crítico denominada zona supercrítica, onde é impossível realizar a condensação
do fluido sendo possível apenas resfriá-lo. A pressão no lado de alta (HP) chega a
valores entre 10 Mpa e 15 Mpa e por esta razão são necessários equipamentos, como
compressores e trocadores de calor, fabricados e projetados especificamente para
suportar essas pressões bem elevadas. A pressão no lado de baixa (LP), também é

13
elevada, chega à 7 Mpa e não menos importante é a necessidade de equipamentos,
evaporadores por exemplo, que também suportem esse nível de pressão. (Silva, 2009)

Devido à impossibilidade de condensação do fluido não há condensador, então


ele é substituído por um trocador de calor resfriador gasoso na descarga também
conhecido como “gas cooler”. Durante a redução da temperatura com a dissipação de
calor outras propriedades do refrigerante variam rapidamente durante o processo
isobárico de troca de calor como sua capacidade térmica conforme observado na
figura 4.2 na temperatura da zona supercrítica. (Ladeira, Filho, 2005).

Figura 4.2 - Variação da capacidade térmica do CO2 no processo isobárico


(Ladeira, Filho, 2005)

14
Figura 4.3 - Ciclo transcrítico do CO2 (CoolPack)

4.2 Ciclo Subcrítico

Neste ciclo o R744 é comprimido até uma pressão ótima abaixo do ponto crítico,
diferentemente do ciclo transcrítico, e acima do ponto triplo. As características do
refrigerante são diferentes do ciclo que opera com alta pressão na zona supercrítica.
Mesmo com pressões de operação mais elevadas do que ciclos convencionais de
simples estágio, possui relação de pressão menor no compressor o que contribui para
a eficiência mecânica e energética do sistema.

Para resolver as condições impostas pelas elevadas pressões e temperaturas


existem arranjos para transformar o ciclo em um sistema de multiestágios e são eles:
sistema booster ou sistema cascata.

Sistema booster é composto por 2 ou mais compressores de simples estágio


conectados em série com sucessivas etapas de compressão do fluido. Vale destacar o
tanque intermediário (intercooler) que opera como condensador para os compressores
LP e evaporador para compressores HP, fazendo assim o resfriamento do vapor,
desuperaquecimento, entre os estágios de compressão para evitar elevadas
temperaturas de descarga do vapor e superaquecimento dos compressores no estágio
de alta. O ponto negativo desta alternativa é que existe só um sistema para fazer tudo
já que todos estão conectados em série e caso haja um vazamento por sinistro toda a

15
carga do sistema poderá ser perdida e portanto é aconselhável adotar para
instalações grandes onde a eficiência deve superar o potencial de perda de gás (Silva,
2009).

O sistema cascata ou binário opera com 2 refrigerantes confinados


separadamente com cada um operando em sua mais adequada faixa de temperatura
e pressão e interagindo termicamente através de um trocador de calor com dois
circuitos de refrigerante independentes que fará a função de condensador para o
estágio de alta e de evaporador para o estágio de baixa, de maneira que o primeiro
absorve o calor do segundo. Este trocador também é chamado de condensador
cascata. O ganho na eficiência é devido à possibilidade de utilizar ambos os
refrigerantes em sua melhor faixa de operação.

Para o estágio de baixa o R744 é o mais indicado pois possui densidade,


pressão de sucção e taxa de fluxo de massa elevadas e consequentemente exige
menor deslocamento volumétrico do compressor contribuindo para a compactação do
equipamento, eficiência mecânica e eficiência energética do sistema. Já para o estágio
de alta não é apropriado pois as pressões serão muito altas, como visto no ciclo
transcrítico, e o calor gerado na compressão também será elevado, conforme visto no
sistema booster. Para o estágio de alta os refrigerantes mais utilizados são R404a e
R134a (Silva, 2009).

Figura 4.4 - Ciclo subcrítico do CO2 (CoolPack)

16
5 - CARGA TÉRMICA
Para possibilitar o seguimento do trabalho escolheremos o cenário e carga
térmica considerando a tabela 1 do artigo de Silva, Euzébio, 2013, “Uma visão geral
da experiência obtida da aplicação do CO2 na refrigeração de supermercados no
Brasil” representada a seguir com diversos supermercados do Brasil em que existem
ou existirão sistemas de refrigeração em que o dióxido de carbono será ou é aplicado
como refrigerante. A tabela disponibiliza diversas cargas térmicas para os estágios de
média temperatura e baixa temperatura além de outras informações.

O cenário escolhido foi o da linha número 11 em Castelo Branco SBC – SP


correspondente a um supermercado com carga térmica de baixa temperatura LT de
23 KW e média temperatura MT 127 KW pois é o mais próximo das alternativas de
faixas de localizações geográficas no PACK CALCULATION e assim adequar a
simulação de custo e consumo energético do software mais próxima possível da
realidade.

Tabela 5.1 – Relação carga térmica (Silva, Euzebio, 2013)

17
6 – CICLOS PARA ANÁLISE
Conforme apresentado anteriormente o ciclo subcrítico é o mais utilizado em
instalações para supermercados e também é o sugerido para a carga térmica proposta
para a análise, portanto foi escolhido com o intuito de resultados mais próximos da
realidade.

Na sequência da escolha anterior, considerando os arranjos descritos no


capítulo 4, será considerado o sistema com configuração cascata. A escolha justifica-
se pela possibilidade de utilização de dois tipos de refrigerantes em suas melhores
faixas de temperaturas o que maximiza o aproveitamento do R744 pois é mais
adequado para o estágio de baixa com densidade, pressão de sucção e taxa de fluxo
de massa elevadas do que no estágio de alta onde suas pressões são elevadíssimas.
Os refrigerantes mais indicados para completar o ciclo do CO2 em um estabelecimento
de supermercado no estágio de alta temperatura são o R404a e o R134a e serão
esses os utilizados para fins de simulação, cálculos e comparação de COP. O R404a
é uma mistura quase azeotrópica de gases refrigerantes HFC (sem cloro), ODP nulo,
não inflamável, é substituto dos refrigerantes R502 e R22 e é utilizado em
equipamentos novos com refrigeração a médias e baixas temperaturas. O R134a foi o
primeiro fluido refrigerante HFC (sem cloro) testado, possui ODP nulo, é inflamável, é
substituto do R12 e do R22 e é utilizado para sistemas de condicionamento de ar e
refrigeração a médias e altas temperaturas.

18
6.1 - Ciclo 1; R134a – R744

Figura 6.1 – Layout ciclo 1

Neste ciclo o R744 será o fluido que realiza a absorção de calor do ambiente
interno nos evaporadores de média e baixa temperaturas e o R134a será o fluido
responsável pela rejeição de calor para o ambiente externo através dos
condensadores. Calor este que é transferido de um refrigerante para o outro através
do trocador de calor cascata que une os circuitos e terá função de condensador para o
R744 e de evaporador para o R134a.

6.1.1 R744 no ciclo 1 ( Tc = -10 ºC ; Te = -35ºC )

Para explicar todo o circuito do CO2 tomarei como ponto inicial a saída do fluido
do trocador de calor cascata. O CO2 sai do trocador cascata subresfriado de 10K

19
(ponto 1) depois de rejeitar calor para o circuito primário encarregado de trocar a
energia térmica com o ambiente externo, e sua vazão se divide, não igualmente, parte
para atender a demanda térmica do evaporador de média temperatura (ponto 2) e
parte para atender a demanda térmica do evaporador de baixa temperatura (ponto 3).
Para o evaporador de média existe uma bomba para o CO2 que irá circular a vazão
mássica de fluido necessária para atender a demanda térmica da média temperatura,
absorvendo o calor desse primeiro ambiente. Para atender a demanda térmica da
baixa temperatura, a outra parcela da vazão do CO2 segue para válvula de expansão
termostática responsável por reduzir apropriadamente pressão e temperatura do fluido
através do processo de expansão. Com sua pressão reduzida (ponto 4) e em estado
bifásico (líquido + vapor) o refrigerante segue para o separador de líquido (tanque de
baixa ou tanque de flash) onde o mesmo se encarrega de garantir que apenas CO2 no
estado líquido saturado armazenado no equipamento na temperatura de evaporação
vá para os evaporadores de baixa temperatura através de uma bomba de circulação
de CO2 (ponto 5), pela chamada linha de sucção úmida, onde absorverá o calor do
ambiente pela evaporação do fluido e sairá do equipamento como vapor saturado
retornando ao tanque de baixa (ponto 6). O papel do separador de líquido para os
evaporadores é preencher a tubulação apenas com líquido o que consequentemente
aumenta a eficiência térmica deste trocador reduzindo o efeito “flash gás” e assim
proporcionar o chamado evaporador inundado. Pela absorção por evaporação possuir
uma capacidade muito grande de absorção de calor, a quantidade de refrigerante para
manter o efeito de resfriamento é reduzida drasticamente (Silva, 2009). Outra
vantagem do separador de líquido é garantir a não entrada de refrigerante líquido nos
compressores, o que comprometeria a mecânica do equipamento, substituindo assim
o processo de superaquecimento que também impede a entrada de líquido no
compressor. O vapor saturado é succionado do separador de líquido para o
compressor pela linha de sucção fisicamente instalada acima do nível de líquido por
segurança (ponto 7). No processo de compressão o CO2 tem pressão e temperaturas
elevadas até seus respectivos valores de condensação (ponto 8) para após a
descarga do compressor seguir o circuito se unindo com a parcela de fluido que deixa
o evaporador de média temperatura na mesma pressão de condensação (ponto 9).
Por fim o fluido segue para realizar a transferência de calor no trocador cascata para o
fluido do circuito responsável por trocar o calor com ambiente externo (ponto 10) e
depois o R744 reiniciará todo o processo (ponto 1).

O diagrama P x h que ilustra os estados do R744 em todo o processo e a tabela


com os valores de pressão, temperatura e entalpia em cada ponto do ciclo são

20
apresentados a seguir. Ambos foram gerados a partir dos resultados da simulação no
software COOLPACK.

Figura 6.2 – Diagrama pressão x entalpia do CO2 no ciclo 1 (CoolPack)

Tabela 6.1 - Estados do R744 no ciclo 1

R744
Ponto T [ °C ] P [ bar ] h [ KJ/Kg ]
1 -20,00 26,50 154,95
2 -20,00 26,50 154,95
3 -20,00 26,50 154,95
4 -35,00 26,50 154,95
5 -35,00 12,05 123,43
6 -35,00 12,05 436,11
7 -35,00 12,05 436,11
8 17,09 26,50 469,31
9 -10,00 26,50 435,16
10 -5,00 26,50 440,44

6.1.1.1 Cálculos e resultados

Sabendo que a carga térmica nos evaporadores de baixa temperatura é de

= 23 23 KW e nos evaporadores de baixa temperatura é de =


127 127 KW calcularemos os valores de potência do compressor e quantidade de
calor de condensação do fluido no condensador cascata. Assim é necessário
sabermos as vazões mássicas do fluido nos pontos e suas respectivas entalpias.

= ℎ − ℎ

21
= 0,45 Kg/s

Com o separador de líquido como volume de controle e pela primeira lei da


termodinâmica:

ℎ + ℎ = ! ℎ! + " ℎ"

= " ; ! =

ℎ" − ℎ = ! ℎ − ℎ! =

! = 0,07 Kg/s

= $ = 0,08 Kg/s

Pelo princípio da conservação de massa:

& = + $

& = 0,53Kg/s

Com todas as vazões mássicas conhecidas então podemos calcular a potência


do compressor:

'" = " ℎ" − ℎ = $ ℎ" − ℎ

'" = 2,72

Assim podemos calcular pela primeira lei da termodinâmica o calor rejeitado


para o circuito primário:

( '" = '" + '" + '"

( '" = 152,72 KW

Para sabermos a temperatura do ponto 10 calcularemos sua entalpia e


graficamente conseguimos chegar a seu valor aproximado.

( '" = & ℎ&* − ℎ&

ℎ&* = 440,41 KJ/Kg

A temperatura no ponto 10 é de aproximadamente - 5 ºC.

22
6.1.2 R134a no ciclo 1 ( Tc = 40ºC ; Te = -5ºC )

Novamente iniciando pelo término da condensação, o refrigerante R134a deixa


o condensador subresfriado de 10K pois rejeitou o calor para o ambiente externo
(ponto 1), na sequência o fluido segue para a válvula de expansão termostática onde
ocorre a redução da pressão e temperatura através da expansão (ponto 2). Temos
também um separador de líquido no circuito nessa etapa com o mesmo objetivo citado
anteriormente no item 6.1.1 de garantir a não entrada de refrigerante líquido nos
compressores e a inundação da tubulação do evaporador, que nesse caso é o
trocador cascata. Para sair do separador de líquido uma bomba de circulação
encaminhará o fluido em estado líquido saturado (ponto 3) para o trocador cascata que
absorverá energia térmica através da evaporação do fluido refrigerante para depois
retornar ao separador de líquido como vapor saturado (ponto 4). A sucção do
compressor é feita direto do separador de líquido e a tubulação responsável está
fisicamente instalada de maneira que só se succione vapor saturado, isto é, acima do
nível do líquido saturado (ponto 5). Então o fluido é succionado pelo compressor
apenas como vapor saturado e comprimido para elevação da temperatura e da
pressão até os valores de condensação do ciclo (ponto 6) para que finalmente chegue
ao condensador (ponto 7), dissipe o calor para o ambiente externo e reinicie todo
processo (ponto 1).

O diagrama P x h que ilustra os estados do R134a em todo o processo e a


tabela com os valores de pressão, temperatura e entalpia em cada ponto do ciclo são
apresentados abaixo. Ambos foram gerados a partir dos resultados da simulação no
software COOLPACK

Figura 6.3 – Diagrama pressão x entalpia do R134a no ciclo 1 (CoolPack)

23
Tabela 6.2 - Estados do R134a no ciclo 1

R134a
Ponto T [ °C ] P [ bar ] h [ KJ/Kg ]
1 40,00 13,18 256,16
2 -5,00 2,43 256,16
3 -5,00 2,43 193,42
4 -5,00 2,43 394,28
5 -5,00 2,43 394,28
6 55,37 13,18 429,23

6.1.2.1 Cálculos e resultados

Já que o trocador de calor cascata é para o fluido primário, no caso R134a, um


evaporador e para o fluido secundário, no caso R744, condensador, o calor dissipado
do circuito secundário será igual ao calor absorvido pelo circuito primário em
condições ideais de troca. Sendo assim podemos calcular a potência do compressor e
calor dissipado para o ambiente externo quando obtivermos os valores das vazões
mássicas.

( '" = '&$ , = $ ℎ − ℎ$

$ = 0,76 Kg/s

Com o separador de líquido como volume de controle e pela primeira lei da


termodinâmica:

ℎ + ℎ = $ ℎ$ + ! ℎ!

$ = ; ! =

ℎ! − ℎ = $ ℎ − ℎ$ = '&$ ,

= 1,11 Kg/s

Sabendo todas as vazões mássicas agora podemos calcular a potência do


compressor:

'&$ , = ! ℎ − ℎ!

'&$ , = 38,66

24
Pela primeira lei da termodinâmica podemos então encontrar o calor dissipado
para o ambiente externo:

( '&$ , = '&$ , + '&$ ,

( '&$ , = 191,38 KW

25
6.2 Ciclo 2; R404a – R744

Figura 6.4 - Layout ciclo 2

O segundo ciclo escolhido para comparação utiliza o R404a como fluido


primário para rejeição de calor nos condensadores e, assim como no ciclo anterior, o
R744 realizará a absorção de calor nos evaporadores de média e baixa temperaturas.
Basicamente a alteração é o fluido primário que não será mais o R134a e passará a
ser o R404a. Mesmo não alterando o layout do ciclo a simulação e os cálculos
proporcionarão resultados diferentes para análise comparativa para seleção da melhor
alternativa de um ciclo de refrigeração cascata utilizando CO2 através do seu COP.

26
6.2.1 R404a no ciclo 2 ( Tc = 45 ºC ; Te = -15ºC )

Dito isto, o diagrama P x h que ilustra os estados do R404a em todo o processo


e a tabela com os valores de pressão, temperatura e entalpia em cada ponto do ciclo
são apresentados abaixo. Ambos foram gerados a partir dos resultados da simulação
no software COOLPACK.

Figura 6.3 – Diagrama pressão x entalpia do R404a no ciclo 2 (CoolPack)

Tabela 6.3 - Estados do R404a no ciclo 2

R404a
Ponto T [ °C ] P [ bar ] h [ KJ/Kg ]
1 34,77 20,45 254,29
2 -14,91 3,64 254,29
3 -14,91 3,64 178,71
4 -14,91 3,64 359,65
5 -14,91 3,64 159,65
6 51,60 20,45 394,15

6.2.1.1 Cálculos e resultados

Já que o trocador de calor cascata é para o fluido primário, no caso R404a, um


evaporador e para o fluido secundário, no caso R744, condensador, o calor dissipado
do circuito secundário será igual ao calor absorvido pelo circuito primário em
condições ideais de troca. Sendo assim podemos calcular a potência do compressor e
calor dissipado para o ambiente externo quando obtivermos os valores das vazões
mássicas.

( '" = * , = $ ℎ − ℎ$

27
$ = 0,84 Kg/s

Com o separador de líquido como volume de controle e pela primeira lei da


termodinâmica:

ℎ + ℎ = $ ℎ$ + ! ℎ!

$ = ; ! =

ℎ! − ℎ = $ ℎ − ℎ$ = ' * ,

= 1,45 Kg/s

Sabendo todas as vazões mássicas agora podemos calcular a potência do


compressor:

' * , = ! ℎ − ℎ!

' * , = 50,03

Pela primeira lei da termodinâmica podemos então encontrar o calor dissipado


para o ambiente externo:

( ' * , = ' * , + ' * ,

( * , = 202,75 KW

6.3 Cálculo do coeficiente de performance (COP)

A Soma de todas as cargas térmicas dos evaporadores MT e LT dividida pela


soma dos trabalhos dos compressores é o coeficiente de performance do ciclo. Isto
quer dizer de maneira mais informal que o cálculo do COP é a soma d o objetivo do
ciclo, que é a absorção da carga térmica do ambiente interno, dividida pela soma do
que é necessário para que alcançar o objetivo, que é o trabalho dos compressores.
Quanto maior for o COP, mais eficiente será o ciclo.

6.3.1 Cálculo COP R134a - R744

23,4 '" + '"


/01 = =
23,4 '" + '&$ ,

/01 = 3,63

28
6.3.2 Cálculo COP R404a – R744

23,4 '" + '"


/01 = =
23,4 '" + ' * ,

/01 = 2,84

6.4 Escolha do ciclo

Com os cálculos para cada ciclo e comparando os resultados percebe-se que a


maior eficiência é do ciclo R134a – R744 pois possui maior COP e assim será a
escolha para seguir a diante com seleção de equipamento e cálculo de consumo
energético.

29
7 - SELEÇÃO DE EQUIPAMENTOS
7.1 Compressores

Com o auxílio do software da BITZER poderemos selecionar o modelo do


compressor adequado para a instalação fornecendo os seguintes dados: carga térmica
(KW), temperatura de evaporação (ºC), temperatura de condensação (ºC),
subresfriamento (K), superaquecimento (que deve ser no mínimo 5K), tensão e
frequência elétrica.

Superaquecimento será considerado 5K por restrições de valores mínimos para


que o software possa selecionar o compressor, mas a influência sobre os valores que
foram calculados e considerados no item 6 para fins de análise e comparação seria
mínima.

7.1.1 R134a

Para o R134a selecionando um compressor semi hermético para uma carga


térmica de 153 KW, temperatura de evaporação –5ºC, temperatura de condensação
40ºC, subresfriamento de 10K, superaquecimento de 5K, para uma freqüência de
60 Hz o compressor com a maior capacidade frigorífica do catálogo no software é o
8FE-70Y-40P com 109,9 KW (figura 7.1), valor que não atende a demanda do nosso
cenário. Sendo assim mudamos para a idéia de dois compressores em paralelo no
sistema R134a e serão eles dois compressores do modelo 6FE-40Y-40P que junstos
possuem capacidade frigorífica total de 164,3 KW.

Figura 7.1 – Compressor para R134a com maior capacidade frigorífica no


software Bitzer.

30
Figura 7.2 – Compressor para R134a selecionado pelo software BITZER.

O resultado está na figura 7.2 com as informações do compressor. Destacando-


se a potência absorvida e o gráfico com as limitações de uso de acordo com as
temperaturas de condensação e evaporação.

7.1.2 R744

Utilizando o software da BITZER para o R744 selecionando um compressor


semi hermético para uma carga térmica de 23 KW, temperatura de
evaporação -35ºC, temperatura de condensação -10ºC, subresfriamento de 10K,
superaquecimento de 5K, para uma freqüência de 60 Hz o modelo do compressor
selecionado é 2CSL–6K-40S. A figura 7.3 mostra seus dados e um gráfico com suas
limitações.

31
Figura 7.3 – Compressor para R744 selecionado pelo software BITZER.

7.1.3 R404a

Visando o cálculo comparativo do consumo energético dos dois ciclos no


capítulo 8, será selecionado o compressor para o R404a também.

Para o R404a no software da BITZER selecionando um compressor semi


hermético para uma carga térmica de 153 KW, temperatura de evaporação 45ºC,
temperatura de condensação –15ºC, subresfriamento de 10K, superaquecimento de
5K, para uma freqüência de 60 Hz o modelo do compressor com maior carga térmica é
8FE-70Y-40P e tem capacidade frigorífica de 107,1 KW que é menor do que a carga
térmica, portanto será necessário utilizar dois compressores para o circuito de R404a.
O modelo dos compressores selecionados será 6FE-44Y-40P que juntos somam
potência frigorífica total de 161 KW. A seguir a figura 7.5 mostra seus dados e um
gráfico com suas limitações.

32
Figura 7.4 – Compressor para 404a com maior capacidade frigorífica no
software BITZER.

Figura 7.5 – Compressor para R404a BITZER.

7.2 Evaporadores

No ciclo definido os evaporadores estão no circuito do R744 e visando a


seleção desse equipamento o catálogo comercial da empresa MIPAL será utilizado
como auxílio.

Os evaporadores serão utilizados em câmaras de congelados ou ilhas de


congelados na seção de LT e câmaras de resfriados na seção de MT. A carga térmica

33
para cada seção de acordo com o capítulo 5 é para LT igual a 23 KW e para MT igual
a 127 KW.

Para seguir com a seleção foram feitas as considerações abaixo:

• Temperatura interna da câmara de congelados de -30ºC;

• Temperatura interna da câmara de resfriados de -5ºC;

• 10 câmaras de congelados;

• 15 câmaras de resfriados.

Abaixo a tabela 7.1 é a base para consulta do modelo mais adequado ao


projeto. Nela observamos na esquerda DT1 que corresponde à diferença do ar que
entra no evaporador e a temperatura de evaporação do refrigerante. Já que não existe
insuflamento de ar para o interior da câmara e então temos que a temperatura do ar
de entrada no evaporador é a mesma temperatura interna da câmara. Logo teremos
DT1 = 5K para resfriados da diferença entre -5ºC e -10ºC e para congelados
DT1 = 5K para congelados da diferença entre -30ºC e -35ºC, valores próximos do
catalogado.

Tabela 7.1 – Tabela de capacidades do catálogo comercial MIPAL

7.2.1 Evaporadores em LT para congelados

Para as 10 câmaras de congelados a carga térmica total é de 23 KW e


individualmente é de 2,300 KW. A temperatura de evaporação do refrigerante em cada

34
evaporador é de –35ºC. Logo, de acordo com a tabela 7.1 serão necessários dez
evaporadores da série Mi modelo 031 com capacidade frigorífica de 2,692KW.

7.2.2 Evaporadores em MT para resfriados

Com 15 câmaras de resfriados com carga térmica total de 127 KW, individual
de 8,467 KW e temperatura de evaporação do refrigerante em cada evaporador de
–10ºC serão necessários quinze evaporadores da série Mi modelo 094 com
capacidade frigorífica de 9,421 KW de acordo com a tabela 7.1.

7.3 Condensador

No ciclo 1 R134a - R744 temos um condensador no circuito R134a e assim


como na seleção dos evaporadores o catálogo comercial da MIPAL para
condensadores nos auxiliará para definirmos a melhor opção. Porém para
condensadores realiza-se a correção de capacidades térmica para condições reais de
operação para depois podermos entrar com os dados na tabela para seleção
apropriada. O método do cálculo de correção segue abaixo:

56 =7 58 + 9 : ∗ <(8 ∗ <& ∗ < ∗ <$ ∗ <

Onde:

56 = =>?@A BCBDEF> BGDB ABHBED>I@ G@ =@GIBGJ>I@A;

(8 = =>K>=EI>IB CAEL@AíCE=> I@ =@ KABJJ@A;

9 = =>?@A KA@IMNEI@ G@ @D@A I@ =@ KABJJ@A;

<(8 = <>D@A IB =@AABçã@ K>A> =@ KABJJ@ABJ;

<& = <>D@A AB?>DEF@ >@ OP;

< = <>D@A AB?>DEF@ >@ ABCAELBA>GDB;

<$ = <>D@A AB?>DEF@ à DB KBA>DMA> IB BGDA>I> I@ >A;

< = <>D@A AB?>DEF@ à >?DMA> I> EGJD>?>çã@.

Para nosso caso, (8 = '&$ , = 152,72 e 9 = '&$ , = 38,66 .

35
A tabela 7.2 permite acharmos o valor de FRS entrando com os dados do
refrigerante de temperatura de evaporação, 40ºC, e temperatura de condensação,
-5ºC. Sendo assim FRS = 1,3.

Tabela 7.2 – Catálogo comercial MIPAL

Da tabela 7.3 encontramos <& através do valor de DT que corresponde à


diferença entre as temperaturas de condensação do refrigerante e temperatura
entrada do ar externo no condensador. Sabendo que para São Paulo as temperaturas
ultrapassam os valores de 30 ºC para bulbo seco e 22,1 ºC para de bulbo úmido em
apenas 2% do total de horas no ano segundo a norma ABNT NBR 16401-1, iremos
utilizar o valor do pior cenário com o máximo de temperatura de bulbo seco para
cálculo de DT. Assim teremos:

DT = 40 ºC – 30 ºC

DT = 10 ºC

Entrando com o valor de DT na tabela 7.3 temos <& = 1.

36
Tabela 7.3 – Catálogo comercial MIPAL

O fator < é relativo ao refrigerante. Então para o R134a < = 1,01 segundo a
tabela 7.4.

Tabela 7.4 – Catálogo comercial MIPAL

A tabela 7.5 auxilia para encontrarmos <$ de acordo com a temperatura de


entrada do ar no condensador que como considerado anteriormente será de 30 ºC.
Logo teremos <$ = 0,98.

Tabela 7.5 – Catálogo comercial MIPAL

Considerando que o condensador será instalado no mesmo nível da planta, ou


seja, altitude de 0 m, teremos < = 1 de acordo com a tabela 7.6.

Tabela 7.6 – Catálogo comercial MIPAL

Sabendo todos os fatores e variáveis para correção então:

56 =7 58 + 9 : ∗ <(8 ∗ <& ∗ < ∗ <$ ∗ <

56 = 152,72 + 38,66 ∗ 1,3 ∗ 1 ∗ 1,01 ∗ 0,98 ∗ 1

56 = 246,26

Para entrada de nível de ruído a 10m a correção é feita de acordo com o valor
do nível sonoro máximo admissível e adotaremos 56 Dba a 15m para nosso cenário.
Assim, seguindo a tabela 7.7 do fator de correção teremos:

37
Nível de ruído a 10m = Nivel de ruído a 15m – 4

Nível de ruído a 10m = 52 Dba

Tabela 7.7 – Catálogo comercial da MIPAL

Após a correção temos todos os dados de entrada para podermos selecionar o


equipamento mais adequado a instalação com o auxílio da tabela 7.8.

Tabela 7.8 – Catálogo comercial da MIPAL

O condensador selecionado é o CdrF 228 com capacidade total de 256,45 KW


e 4 ventiladores.

38
7.4 – Válvulas de expansão

Buscando selecionar as válvulas de expansão para ambos os ciclos foi


inicialmente consultado o Procedimento de Seleção de Válvulas Eletrônicas de
Expansão ExV da fabricante Carel. Porém, não estão disponíveis as tabelas de
seleção de acordo com a temperatura de evaporação para o R134a em -5ºC e R744
em -35 ºC, portanto será utilizado para seleção de ambas o aplicativo de seleção de
válvulas Exv Selection disponibilizado pela Carel para celular em que os dados de
entrada são: refrigerante, temperatura de evaporação, temperatura de condensação e
capacidade frigorífica. Assim o programa, utilizando o mesmo princípio das tabelas do
documento citado anteriormente, sugere a válvula mais adequada para o processo de
expansão adiabática.

7.4.1 VExp para R134a

Utilizando como dados de entrada no aplicativo os valores do refrigerante


R134a no ciclo 1 a válvula de expansão selecionada será de modelo E4V95 para
desempenhar uma queda de pressão de aproximadamente 11 bar.

Figura 7.6 - Válvula selecionada pelo ExV selection da Carel para R134a

39
7.4.2 VExp para R744

Além dos dados de entrada comuns à seleção anterior, para o caso específico
do R744 é adicionada a entrada para grau de subresfriamento. Utilizando como dados
de entrada no aplicativo os valores do refrigerante R744 no ciclo 1 a válvula de
expansão selecionada será de modelo E2V24 para desempenhar uma queda de
pressão de aproximadamente 15 bar.

Figura 7.7 - Válvula selecionada pelo ExV selection da Carel para R744

40
7.5 – Trocador de calor

Para trocador de calor cascata, que atua como condensador para o R744 e
evaporador para o R134a, a melhor opção é utilizarmos o trocador tipo placa devido às
altas pressões de operação do ciclo subcrítico do CO2 além de também possuírem
maior eficiência térmica do que um trocador casca e tubo, por exemplo.

Para selecionarmos o modelo, consultamos o catálogo comercial voltado para


trocadores para CO2 da fabricante SWEP. Nele temos modelos dedicados tanto para
performances subcríticas quanto para transcríticas divididos por classes de acordo
com as pressões de operações suportadas, sendo para instalações subcríticas os
modelos da classe E que tem limite de pressão e temperatura até 56 bar e 100ºC
respectivamente, enquadrando-se no nosso cenário operacional em que temos valores
abaixo destes.

Sendo assim, com o auxílio do catálogo do fabricante, o escolhido para nosso


ciclo será o trocador de calor tipo placas modelo B400 tipicamente aplicado a sistemas
de refrigeração de supermercados operados em cascata utilizando R744 que cobre
capacidades de 500 KW, vazões mássicas de 80 m³/h e comporta até 280 placas.

Figura 7.8 – Trocador de calor cascata SWEP B400

41
8 - CONSUMO ENERGÉTICO
O cálculo do consumo energético das instalações será realizado pelo software
PACK CALCULATION que nos possibilitará também chegar a valores de custo
energético por estimativa de preço da concessionária fornecedora regional e ainda a
economia de consumo comparando os dois ciclos.

Para isso são necessários dados de entrada como arranjo do ciclo, refrigerante,
temperatura de evaporação do fluido secundário em LT e MT, temperatura de
condensação do fluido primário, localização geográfica, cargas térmicas de LT e MT e
diferencial de temperatura no trocador cascata. Porém o mais importante é o modelo e
quantidade de compressores a serem utilizados conforme seleção no capítulo 7, já
que esses são os responsáveis pelo maior consumo energético no ciclo de
refrigeração.

Figura 8.1 – Configuração ciclo subcrítico cascata CO2 no


PACK CALCULATION

42
Tabela 8.1 – Relação de equipamentos na configuração
ciclo subcrítico CO2 no PACK CALCULATION

Nº Equipamento
1 Compressores
2 Trocador de calor interno
3 Válvula de expansão
4 Compressores
5 Trocador de calor interno
6 Válvula de expansão
7 Evaporador LT
8 Bomba de succção separador de líquido
9 Separador de líquido (tanque flash)
10 Evaporador MT
11 Bomba circulação CO2 para MT
12 Trocador de calor tipo placas
13 Bomba de succção separador de líquido
14 Separador de líquido (tanque flash)
15 Condensador

As considerações para ambos os ciclos foram feitas com o objetivo de viabilizar


o estudo comparativo energético como carga térmica de LT e MT constantes,
efetividade para os trocadores de calor interno igual a 0%, diferença de temperatura
do trocador cascata igual a 5K, temperatura do ambiente refrigerado igual a -5ºC para
resfriados e -30ºC para congelados e custos de energia de acordo com a
concessionária responsável por fornecimento em São Paulo. Para as bombas, taxa de
circulação do fluido máxima igual 2, by-pass 15%, eficiência da bomba igual a 1,
pressão da bomba para fluido primário igual a 0,1 bar, pressão para fluido secundário
MT e pressão para fluido secundário LT iguais a 1 bar. Além disso o sistema do
supermercado irá operar de segunda a segunda, durante 16h ao dia, de 7h às 23h.

Com tudo isso apresentado e aplicado ao PACK CALCULATION visando


estudar o consumo energético do sistema tivemos como resultado comparativo entre
os 2 ciclos ao longo de 1 ano:

43
Tabela 8.2 - Consumo energético PACK CALCULATION

Figura 8.2 – Gráfico do consumo energético PACK CALCULATION

Para obtermos o custo energético do sistema no cenário atual foi necessário


pesquisar a tarifa do fornecimento de energia pela concessionária em SP para a
bandeira tarifária vigente, que desde abril de 2016 é a bandeira verde. Temos também
a elevação da tarifa no horário de ponta (17:30 às 20:30 no horário normal e 18:30 às
21:30 no horário de verão). Considerando o supermercado um cliente de alta e média
tensão de fornecimento e subgrupo A3a, segundo tabela 8.3 temos a tarifa de energia
(TE), com valor na ponta de 0,32356 R$/KWh e fora de ponta de 0,21497 R$/KWh, e
temos a tarifa de utilização do sistema de distribuição (TUSD), valor na ponta de
0,36894 R$/KWh e fora de ponta de 0,05815 R$/KWh. Como o sistema ficará ligado
de 7h às 23h, para fins de cálculos estimativos será calculada e atribuída uma tarifa
diária média de custo de energia que será de 0,32928 R$/KWh. Assim estimaremos o
custo do consumo energético do nosso ciclo de refrigeração.

44
Tabela 8.3 - Tarifa de fornecimento de energia elétrica
(AES Eletropaulo, 2016)

Tabela 8.4 - Sistema de bandeira tarifárias de energia no Brasil (CPFL, 2016)

Bandeira Operação Acréscimo


Verde Hidrelétricas operam normalmente 0,000 R$/KWh
Amarela Usinas térmicas ativadas 0,015 R$/KWh
Vermelha patamar 1 Usinas térmicas ativadas e alta demanda 0,030 R$/KWh
Vermelha patamar 2 Usinas térmicas ativadas e altíssima demanda 0,045 R$/KWh

45
Tabela 8.5 - Economia anual

Ciclo 2 Ciclo 1
(R404a - R744) (R134a-R744)
Consumo de energia total no ano (KWh) 370012 297002
Tarifa de energia (R$/KWh) 0,32928 0,32928
Custo de energia total no ano (R$) 121837,55 97796,82
Economia anual de consumo de energia (KWh) 73010,00
Economia anual de custo de energia (R$) 24040,73
Economia anual (%) 19,73%

Após simulação e cálculos de custo energético do sistema concluímos que o


ciclo 1 em relação ao ciclo 2 proporciona uma economia energética anual de
aproximadamente 20%, o que equivale a economia anual de R$ 24040,73 atualmente,
reafirmando que é o ciclo mais viável para a instalação assim como demonstrado no
comparativo de COP conforme cálculo no capítulo 6.

46
9 – CONCLUSÃO
Inicialmente apresentamos e explicamos as questões ambientais legais
abrangidas pelo Protocolo de Kyoto e Protocolo de Montreal que motivaram o retorno
da utilização de refrigerantes naturais substituindo refrigerantes com alto potencial de
degradação da camada de ozônio (ODP) e potencial de aquecimento global (GWP).
Também relatamos o histórico de aplicação do CO2 para refrigeração junto com suas
características, propriedades e comportamento que justificam o retorno na aplicação
como fluido refrigerante no contexto tecnológico e ambiental atual. Em seguida
esclarecemos os dois possíveis ciclos de refrigeração utilizando R744, subcrítico e
transcrítico, ilustrando graficamente no diagrama P x h e apresentando as principais
características operacionais de cada um visando a escolha do ciclo mais adequado.

Para seleção de cenário e carga térmica estabelecida foi utilizado como


referência dados do estudo de Silva, Euzébio, 2013, “Uma visão geral da experiência
obtida da aplicação do CO2 na refrigeração de supermercados no Brasil” de acordo
com a viabilidade para simulação. Com isso, sugerimos 2 ciclos subcríticos cascata de
iguais arranjos, sendo o ciclo 1 R134a – R744 e o ciclo 2 R404a – R744, para cálculos
manuais e análise comparativa de coeficiente de performance (COP) auxiliados pelos
dados gerados através da simulação do ciclo no software Coolpack. O ciclo escolhido
foi o ciclo 1 R134a – R744 por possuir o maior COP.

Foram selecionados modelos dos principais equipamentos que compõem o ciclo


subcrítico cascata através dos dados obtidos e calculados para análise comparativa
junto com o uso de softwares ou catálogos de fabricantes. Sendo eles: evaporadores,
trocador de calor, compressores, válvulas de expansão e condensador.

Por fim, realizado o estudo comparativo do consumo e custo energético entre os


2 ciclos para apresentarmos qual é a economia energética e financeira, de acordo com
a tarifa de consumo de energia atual, que obteríamos selecionando adequadamente o
ciclo1 R134a – R744 ao invés do ciclo 2 R404a – R744 para instalação no cenário
sugerido. A economia seria de aproximadamente 20%.

47
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