You are on page 1of 7

FERNANDES, Magali Oliveira.

Vozes do Céu – Os primeiros momentos do impresso kardecista


no Brasil. São Paulo : Edições Mandacaru, 2003.

[Sinopse]
A publicação Vozes do céu – os primeiros momentos do impresso kardecista no Brasil traz aos
leitores a exposição de um conjunto interessante de documentos raros do mundo da edição,
produzidos na forma de folhetos e periódicos em Salvador/Bahia, na segunda metade do
século XIX. Também, oferece o registro de uma discussão singular, realizada entre alguns
intelectuais a respeito de espiritismo, naquela época, quando o catolicismo era a religião do
Estado. A figura central deste livro é o Luiz Olympio Telles de Menezes: um editor especial que,
durante o período de 1865 a 1874, fervorosamente se lançou em prol do espiritismo, cujos
preceitos, ele acreditava, podiam reformar a humanidade. Trata-se de uma obra que mostra,
em síntese, o que significou o ideário kardecista no início para os brasileiros via edição, e, ao
mesmo tempo, é uma oportunidade para a reflexão sobre o que venha a ser fenômeno
editorial espírita, em pleno vigor, nos dias de hoje.

FICHAMENTO

Introdução
“Luiz Olympio Telles de Menezes [...] Por meio dessa figura baiana, pudemos compreender no
que teria consistido o ideário espírita no Brasil, desde o século XIX, observando como se
realizou uma “tradução” editorial e cultural, no mínimo bastante curiosa” (p. 14)

“[...] pioneiro do espiritismo no país na segunda metade do século XIX, até o tentar
compreender, por seu intermédio, essa “impressão de mundo” kardecista revelando-se; por
um lado, como fenômeno de cultura e memória e, por outro, como registro de um imaginário
formatado em folhetos, periódicos e livros.” (p. 14)

Capítulo I – A viagem

“O iniciador da edição dessas obras no país foi Luiz Olympio Telles de Menezes, natural da
Bahia, Freguesia de São Pedro Velho, nascido em 26 de julho de 1825. No século XIX, mais
precisamente de 1866 a 1874, um período de quase uma década, cuidou na Bahia da
publicação e divulgação de vários textos espíritas e do primeiro periódico kardecista em língua
portuguesa, determinando, assim, a introdução do kardecismo entre o público brasileiro.” (p.
18)

“A imprensa baiana, inaugurada no princípio do século, tinha por esse período como jornais
principais; jornal da Bahia (1853), Diário da Bahia (1856), Alabama (1863), Gazeta Médica da
Bahia (1866), O óculo Mágico (1866) e Bahia Ilustrada (1867) (Silva, 1975)” (p. 19)

“[...] o de maior circulação era o Diário da Bahia. E foi nele que li pela primeira vez um artigo
crítico à doutrina de Allan Kardec, escrito pelo francês Amedée Déchambre, autor na França
também da obra Dictionnaire des Sciences Médicales.” (p. 19)

“É importante que se diga, de início, que a publicação do artigo do autor francês contra o
kardecismo não teria acontecido de forma aleatória, ao contrário, muito provavelmente havia
toda uma discussão nesse sentido entre os intelectuais na época.” (p. 20)
“Ubiratan Machado, referindo-se aos baianos na década de 1860, afirmou: “Salvador conheceu
uma explosão espírita de que não há paralelo no Brasil. As obras de Kardec, lidas em francês,
eram discutidas apaixonadamente nas classes cultas.” (Machado, 1983, p. 81)” (p. 20)

“[...] Luiz Olympio traduz pra o português muitos textos da doutrina de kardecista, que até
então eram lidos somente em edições na língua original, o Francês.” (p. 20)

“[...] o exercício de recuperar informações, relacionadas ao tema e a esse personagem especial,


ocorreu como um mergulho nos textos organizados por ele, procurando estabelecer uma
aproximação ao que teria sido o espiritismo, na segunda metade do século XIX para um editor
na Bahia.” (p. 20)

“[...] na época dos primeiros momentos do kardecismo no Brasil, ainda não existiam casas
editoriais com linhas específicas de publicações e catálogos definidos, como acontece hoje.” (p.
21)

“Havia somente tipografias, sem nenhuma definição quanto às linhas editoriais. Isto é, uma
tipografia editava tanto no jornal Diário da Bahia ou um folheto espírita quanto uma obra
produzida por autoridades da igreja católica, sem nenhum tipo de problema ou
constrangimento; sua função era imprimir textos unicamente.” (p. 21)

“[...] pode-se compreender o papel de Luiz Olympio como editor intelectual das ideias
kardecistas, organizador dos materiais que lhe chegavam às mãos para que ele pudesse
traduzir, compilar, colar, criar e recriar cada um deles, elaborando um texto final, que se
definiria, no conjunto, como o ideário espírita nos seus começos.” (p. 21)

“A propaganda da doutrina de Allan Kardec entre os brasileiros, “da Bahia para o resto do
mundo”, como Luiz Olympio escreveu em um de seus textos, foi um empreendimento
exclusivamente seu, particular, sem auxílio financeiro de nenhum órgão ou pessoa.” (p. 22)

“Realizou esse trabalho paralelamente ao exercício de sua profissão, que se dividia entre:
taquígrafo na Assembléia Legislativa, bibliotecário, tesoureiro do Instituto Histórico da Bahia,
jornalista e professor.” (p. 22)

“O dicionário Blake (1899, o. 444-445) divulgaria seu nome acompanhado das seguintes
informações, além das tratadas aqui anteriormente: “(...) capitão reformado da Guarda
Nacional, oficial aposentado da Biblioteca Pública e sócio do instituto Geográfico e Histórico
daquela cidade [Salvador]”.” (p. 22)

“[...] Luiz Olympio era fundador na Bahia da Associação Espírita Brasileira e dela presidente
honorário, colaborando para revistas e jornais, como a Época Literária e o Diário da Bahia.” (p.
22-23)

“Nesse sentido, Luiz Olympio poderia ser visto como um editor das “vozes do céu”, dos
espíritos que, segundo ele, queriam anunciar a Terceira Revelação para a reforma do mundo:
“A lei do Antigo Testamento está personalizada em Moisés; a do Novo Testamento o está em
Jesus Cristo; o espiritismo é a Terceira Revelação da Lei de Deus, mas não personificada em
nenhum indivíduo, por que é ela o produto do ensino, dado não por um homem, mas pelos
espíritos, que são as Vozes do Céu sobre todos os pontos da Terra, e por uma multidão
inumerável de intermediários; é de alguma maneira um ser coletivo, compreendendo o
complexo dos seres do mundo espiritual, vindo cada qual trazer aos homens o tributo de suas
luzes, para lhes fazer conhecer este mundo, e a sorte, que os opera”.” (p. 24)
“Com uma lista integrando autores vivos (do mundo visível) e autores mortos (do mundo
invisível), inaugurava-se em território brasileiro, por Luiz Olympio Telles de Menezes, um
segmento original, no mínimo considerável, no que diz respeito ao mundo do livro: a edição do
fenômeno espírita e, em especial, o da psicografia.” (p. 24)

“[...] pretende-se compreender o que teriam significado a edição e o ideário kardecista em sua
fase inicial. E com base nesses registros, datados a partir de 1865, discutir, num plano mais
amplo, memória editorial num dos segmentos da edição popular brasileira no século XIX.” (p.
24)

Capítulo II – Luiz Olympio Telles de Menezes e o espaço kardecista

“No período em que Luiz Olympio iniciou a edição dos textos espíritas, a religião do Estado era
o catolicismo, portanto não se permitia no país, por lei, adesão a outras crenças. O divulgador
da doutrina de Allan Kardec – talvez, por isso mesmo – não deixara de afirmar em seus
pronunciamentos ser um “católico apostólico romano”. Pelo espiritismo, ele dizia defender a
necessidade de renovação dos preceitos cristãos, promovidos pela igreja católica. Esse
argumento ocorreu quando a discussão sobre espiritismo e catolicismo estava em
efervescência.” (p. 25)

“Em 26 de setembro de 1865, o Diário da Bahia apresentou um artigo em uma de seus


colunas: “Doutrina Espirítica I”; no dia seguinte, em 27 de setembro, “Doutrina Espirítica II”, e
em 6 de outubro, “Doutrina Espirítica III”. Esses artigos indicavam uma mesma autoria:
Amedée Déchambre. Todos eram traduzidos de um jornal francês: Gazette Hebdomadaire de
Médecine, e referiam-se às práticas espíritas, em voga, e ao espiritismo de Allan Kardec, na
França.” (p. 25-26)

“Déchambre mostrava-se preocupado ao ver a França, “gênio intelectual e moral” entretida


com esses “extremos do supernaturalismo religioso”, servindo até de “propagadora com a
mesma superioridade com que o é das ideias sociais e das descobertas físicas”. Repugnava-lhe
o fato de pensar que seu país, a França, pudesse ser a sede do espiritismo, como Allan Kardec o
afirmava.” (p. 26-27)

“Para esse crítico francês, O Livro dos Espíritos de Allan Kardec não significava mais do que uma
repetição das obras de autores do “décimo sexto ao décimo sétimo séculos”. Na sua opinião,
não havia diferença entre o kardecismo e as crenças que perpetuaram “através das mil
superstições da Idade Média”.” (p. 36)

“Esses artigos divulgados para o público baiano no Diário da Bahia, muito provavelmente,
chegaram até o Luiz Olympio que, discordando do francês e, talvez, inflamado com tal
arguição, resolveu contra-atacar. Lançando em Salvador, em fevereiro de 1866 – quase seis
meses depois do artigo de Déchambre – Philosophia spiritualista. O spiritismo. Introdução ao
studo d’a doutrina spiritica, extrahida d’o livro d’os spiritos, publicado por mr. Allan Kardec, e
traduzida d’o francez sobre a décima terceira edicção por Luiz-Olympio-Telles-de-Menezes.
Membro d’o Instituto-Historico d’a Bahia. Typ. De Camillo de Lellis Masson & C., rua de Santa
Barbara, 1866.” (p. 36)

“[...] o leitor deparava-se com um texto introdutório assinado pelo próprio Luiz Olympio que,
de forma imperativa o intitulava: “Lede”. Tratava-se de um chamamento à doutrina kardecista,
à doutrina dos novos tempos, apresentada pelo baiano: “Cumprimos um legítimo dever,
iniciando a maioria de nossos patrícios na leitura dos novos princípios, que rápida e
eficazmente, têm de conduzir a humanidade ao apogeu da perfectibilidade.” (p. 37)

“Ao que parece, o livro era, para Luiz Olympio, um instrumento a serviço do mundo superior e
espiritual. A informação impressa seria em prol do aperfeiçoamento e da felicidade no
processo evolutivo da humanidade, concentrando o registro da comunicação entre o plano
visível e o invisível.” (p. 40)

“Uma espécie de ciência divina a manifestar-se por intermédio dos homens” (p. 40)

“[...] segundo Luiz Olympio, a doutrina viria a ser uma ciência ideal, equilibrando sentimento e
razão, ordem e progresso, com o fim de regenerar as pessoas e a sociedade como um todo.” (p.
40-41)

“No entanto, essa novidade que o espírita defendia vinha ao encontro de uma “visão de
mundo” pré-renascentista, que tinha o plano espiritual como uma força da natureza.” (p. 43)

Capítulo III – A polêmica: catolicismo e espiritismo

“A partir de 1865, com o episódio Déchambre no Diário da Bahia e, em seguida, 1866, com o
lançamento da primeira obra espírita produzida por Luiz Olympio, abriu-se uma discussão
sobre espiritismo.” (p. 45)

“Entraram em cena personalidades baianas, dentre elas o arcebispo da Bahia, Dom Manoel
Joaquim da Silveira, que lançou em 1867 uma Carta Pastoral, “presumindo os seus diocesanos
contra os erros perniciosos do espiritismo.” (p. 45)

[Troca de mensagem entre Luiz Olympio com membros da igreja e editores de jornais da
época]

Capítulo IV – Nas páginas do Écho

“Tantos pronunciamentos contrários ao espiritismo, em vez de inibirem o editor baiano,


serviram para incentivá-lo a publicar o primeiro periódico kardecista brasileiro, denominado O
Écho d’Além-Túmulo – Montor d’o Spiritismo n’o Brazil.” (p. 61)

“Para uma publicação desse teor, num século em que as condições editoriais no país eram
paupérrimas, quase inexistentes, o resultado foi tremendamente positivo, no que diz respeito à
qualidade e à duração do periódico bimestral, de 1869 a 1871. (p. 61)

Dos seis primeiros números impressos na tipografia do Diário da Bahia, Luiz Olimpio chegou a
fazer um compêndio, equivalente a um livro, como resultado do primeiro ano de sua
publicação, correspondendo ao período de julho de 1869 a maio de 1870, compondo um total
de 304 páginas. (p. 61)

Todavia, um dos textos que igualmente, vinha traduzido do francês para a nossa língua e me
pareceu bem singular, foi assinado por um autor de nome A. Desliens, representante do
Comitê de Administração, da “Societé Anonyme à parts d’intérêt à Capital variable de La Caisse
générale et centrale du Spiritisme”. Tratava-se de uma correspondência vinda de Paris e datada
de 11 de outubro de 1860, endereçada a “Monsieur Luiz-Olympio – à Bahia, Largo do Desterro,
n.2 – (Brésil)”. (p. 64)
Os dizeres eram bem claros desde as linhas iniciais; primeiramente, agradecia-se o primeiro
número do periódico kardecista brasileiro enviado àquela sociedade parisiense: “Temos a
honra de acusar-vos a recepção da carta que vos dignastes dirigir-nos, datada de 26 de agosto
último, bem como do 1º número d’ – O Écho d’Além-Túmulo, que tivestes a amabilidade de
dedicar-nos.” (p. 75)

Num outro trecho, o autor Desliens tecia elogio ao empreendimento editorial em terras
brasileiras com as seguintes observações: “Permite-nos, caro senhor, desde já vivamente
felicitar-vos por vossa generosa e corajosa iniciativa”. Efetivamente era preciso uma grande
coragem, ele dizia, “para publicar, em um país quase absorvido pelos interesses matérias,
como é o Brasil, um jornal espirítico destinado a popularizar nossos ensinos.” (p. 75)

Mais no final do artigo, viriam as críticas, da sociedade francesa, em relação a determinados


procedimentos assumidos por Luiz Olympio e seus companheiros de divulgação da doutrina:
“(...) devemos, porém, confessar que não ficamos tão satisfeitos acerca de certas passagens,
umas relativas aos dogmas religiosos e outras atacando os ensinos dos reformadores Calvino,
Lutero, João Hus etc.” Logo em seguida afirmava o francês: “Em nossa opinião o Espiritismo
não deve adstringir-se a nenhuma forma religiosa determinada; é, e deve permanecer uma
filosofia progressiva e tolerante, abrindo seus braços a todos os deserdados, qualquer que seja
a nacionalidade e a crença religiosa a que eles pertençam”. (p. 76)

Como se podia comprovar nas páginas do Écho, a postura que o espírita da Bahia assumia era a
de católico, até porque não podia agir diferente naquela ocasião, quando ser adepto à igreja
católica era uma questão de cumprimento da lei. Portanto, para Luiz Olympio considerar os
dogmas do catolicismo era a maneira de continuar seu trabalho de edição do kardecismo no
Brasil. (p. 76)

nesse sentido já se poderia identificar, por meio dele e daquele seu discurso em formatação no
século XIX, alguns indícios de um espiritismo adaptado à realidade brasileira, na sua tradução
cultural possível em registro. (p. 76)

a sociedade de Paris dava crédito aos membros da sociedade de Salvador autorizando a


reprodução das matérias que desejassem da revista espírita francesa, sem nenhuma restrição
dessa ordem; e assim confirmava o autor: “Temos muita satisfação em renovarvos a
autorização de extrair da Reveu Spirite todos os artigos que vos parecerem capazes de
interessar vossos leitores. (p. 77)

Em outras passagens nas páginas de O Écho, referenciaria também um artigo intitulado “O


Espiritismo no Brasil”, de autoria de Ignácio José d’a Cunha, nele podendo ler-se um
depoimento deste autor a respeito de sua experiência quando do primeiro contato coma obra
kardecista. Ele procurava transmitir com emoção aos leitores que se tratava de algo
revolucionário: “Quando atraído pela novidade do assunto, demo-nos à leitura das primeiras
obras espiríticas, que nos chegaram às mãos, dissemos para conosco: - isto é sublime, isto é
maravilhoso; mas de quanto perigo não está cercado! Que revolução profunda não prepara a
sociedade.!”. (p. 77-78)

[transcrição de comunicações espíritas] (p. 79)

Em 17 de setembro de 1874,tem-se registrado o último pronunciamento do editor espírita


baiano em documento de nome: Relatório d’a Associação-Spiritica-Brazileira, apresentada em
sua sessão-magna. Bahia, Typ.de Francisco Queirolo, 1874. (p. 83)
Lembrando do Rio de Janeiro, Luiz Olympio enfocava que aí o espiritismo, sim, estaria
progredindo aceleradamente: “A vulgarização, portanto, das obras fundamentais é de uma
importância capital para a propagação dessa sublime filosofia, regeneradora por excelência; e o
movimento no Rio de Janeiro tem-se tornado tão pronunciado que o Sr. Garnier, rido editor da
corte do império, e que valiosos serviços tem prestado às letras no Brasil, acaba de obter
autorização para a tradução em português as importantíssimas obras de Allan Kardec. (p. 84)

A igreja católica, no combate ao espiritismo, igualmente no ano de1869, instrumentalizara-se


com a edição de seu primeiro periódico católico para os baianos, com o seguinte título:
Chronica Religiosa – periódico consagrado aos interesses da religião sob os auspícios do Exmo.
E Revmo. Arcebispo Conde de S. Salvador. Essa obra, sob responsabilidade do Cônego Juliano
José de Miranda – o mesmo padre que havia publicado um folheto, em 1867, contra o
espiritismo em apoio ao arcebispo da Bahia -, deve ter batido de frente com a propaganda da
doutrina levada por Luiz Olympio. (p. 84)

Aos poucos, o editor espírita foi tornando-se cada vez mais solitário. É o que se pode pressentir
pelos vários registros que documentam seu afastamento nos órgãos de Salvador que, até
então, o mantinham vinculado. (p. 85)

Da última fala de Luiz Olympio aos adeptos espíritas conclui-se que ele estava prevendo o
deslocamento da doutrina para outras instâncias, que não o espaço baiano. No Rio de Janeiro,
especialmente, ele enfatizava um espiritismo próspero, com a tradução de suas obras básicas –
as de Allan Kardec.

Logo depois desse episódio, que marca a despedida de Luiz Olympio em Salvador, pôde-se
saber que ele embarcou para o Rio de Janeiro. (p. 85)

Permaneceu durante onze anos no anonimato, levando adiante somente sua profissão como
taquígrafo no Senado Federal; cargo que abandonaria definitivamente em 1892,
impossibilitado pela nefrite aguda que o acometia. (p. 85)

A Federação Espírita Brasileira – FEB – construída, por volta de 1884, com sede no Rio de
Janeiro, não mencionava seu nome entre os fundadores e colaboradores da instituição. Não foi
encontrado nenhum indício desse espírita baiano nessa movimentação kardecista na capital
carioca. (p. 87)

Parece que a doutrina começava a tomar um rumo diferente do de Salvador. O enfoque baiano
se alterava. O espiritismo no Rio parecia identificar-se com outra realidade, mais definida e
aproximada das questões republicanas. (p. 87)

Bezerra de Menezes, deputado pela província do Rio de Janeiro (nos anos 1867-1870, 1878-
1881 e 1882-1885) teria sido um dos mais importantes propagadores do kardecismo aos
cariocas, e um dos fundadores da Federação Espírita Brasileira (mais tarde, a primeira casa
editorial kardecista no país). Escrevia aos domingos no jornal O País, dirigido por Quintino
Bocaiúva. (p. 87)

No Rio de Janeiro, as condições sociais de vida da população urbana mostravam-se mais


apropriadas a essa outra mensagem espírita, favorecendo sua expansão, que vinha ao
encontro de uma luta ideológica muito mais definida, organizada e consistente: a de uma
classe média em formação. (p. 87-88)
No livro As Religiões no Rio, do jornalista Paulo Barreto, mais conhecido como João do Rio, são
bem evidentes as suas considerações de respeitabilidade feitas em relação ao kardecismo que
se instituía como Federação Espírita Brasileira – FEB – na cidade carioca. (p. 88)

Num dos comentários de João do Rio, no capítulo de nome: “O espiritismo entre os sinceros”,
diz o jornalista sobre a doutrina: “Já não se conta o número de espíritos ortodoxos, conta-se a
atração dos nossos cérebros mais lúcidos pela ciência da revelação. A marinha, o exército, a
advocacia, a medicina, o professorado, o grande mundo, a imprensa, o comércio têm milhares
de espíritas. Há homens que não fazem mistério de sua crença. Os generais Girard e Piragiba, o
major Ivo do Prado, o almirante Manães Barreto, Quintino Bocaiuva (...) proclamam a pureza
da sua fé. A Federação tem 800 sócios e ainda no ano passado expediu 48 mil receitas”. (p. 88)

Mesmo sabendo que o livro não tenha sido escrito por um espírita nem por um opositor dessa
doutrina, vê-se que ele regitrava uma situação nova e mais favorável do espiritismo na
sociedade da capital brasileira. (p. 89)

Obras sugeridas pelo autor:


CAMARGO, Cândido Procópio Ferreira de. Kardec e Umbanda, 1961.
[“objetivo de compreender o papel e as funções desempenhadas por essas religiões, o autor lidou com o conceito de continuum
mediúnico, que abarcaria vários modelos existentes no movimento dessas doutrinas, “desde formas mais africanistas da umbanda
até o kardecismo mais ortodoxo.” (p. 13)]

CAVALCANTI, Maria Laura Viveiros de Castro. O mundo invisível – cosmologia, sistema ritual e
noção de pessoa no espiritismo, 1983.
[“propõe uma nova discussão sobre o estudo de Camargo, pois, segundo a autora, a relação entre espiritismo e umbanda deveria
ser pensada não com um processo de “continuidade a partir de categorias que são externas às formas religiosas em questão”, mas,
sim, como uma relação das características internas. Nesse sentido, a experiência mediúnica, ponto central em ambas as religiões,
“ganharia em cada uma delas formas qualitativamente distintas”, envolvendo concepções particulares.” (p. 13)]

LAPLANTINE, Fraçois; AUBRÉE, Marion. La Table, Le Livre et les Esprits, 1989.


[“Uma obra que trato do nascimento, da evolução e traz dados mais recentes do espiritismo entre Fraça e Brasil.” (p. 13)]

You might also like