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Superior Tribunal de Justiça

HABEAS CORPUS Nº 36.118 - RJ (2004/0082279-1)

RELATORA : MINISTRA LAURITA VAZ


IMPETRANTE : ANDRÉ LUIZ DE FELICE SOUZA - DEFENSOR PÚBLICO
IMPETRADO : SEGUNDA CÂMARA CRIMINAL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA
DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
PACIENTE : FREDSON CORREIA DA CRUZ
EMENTA
HABEAS CORPUS . DIREITO PENAL. ADULTERAÇÃO DE
ARMA DE FOGO E RECEPTAÇÃO. CRIMES AUTÔNOMOS. CONDUTA
E DOLO DISTINTOS. PRECEDENTES DO STJ. ARMA DE FOGO COM O
NÚMERO DE SÉRIE RASPADO. CRIME DE RECEPTAÇÃO.
TIPICIDADE. DESCLASSIFICAÇÃO PARA A MODALIDADE CULPOSA.
1. A conduta de portar uma arma de fogo, com o número de
identificação totalmente raspado, não se esgota no tipo penal estatuído no art. 10,
caput , da Lei n.º 9.437/97, uma vez que, em tese, também pode se subsumir no
delito descrito no art. 180 do Código Penal, pois se tratam de crimes autônomos.
2. Ao contrário do que alega o Impetrante, embora as instâncias
ordinárias, soberanas na análise do material fático-probatório, não tenham
encontrado condições de atestar que a arma em questão constituiu-se, de fato, em
produto de crime, as circunstâncias descritas na sentença, as quais foram
ratificadas pelo acórdão, geram para o adquirente ou detentor, no mínimo, uma
presunção de ilicitude quanto à origem. E essa presunção, apesar de insuficiente
para a caracterização do tipo do art. 180, caput , do Código Penal – que exige a
certeza quanto à origem criminosa do bem (em nenhum momento evidenciada nos
autos) –, basta para configurar a infração em sua modalidade capitulada no § 3.º,
denominada na doutrina de receptação culposa.
3. Ordem denegada e, de ofício, concedido habeas corpus para,
mantida a condenação pelo crime de porte ilegal de arma (art. 10, caput , da Lei
n.º 9.437/97), desclassificar o delito previsto no art. 180, caput , para o estatuído
no art. 180, § 3.º, do Código Penal, nos termos do voto.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma
do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por
unanimidade, denegar a ordem, concedendo "Habeas Corpus" de ofício, nos termos do voto da
Sra. Ministra Relatora. Os Srs. Ministros Arnaldo Esteves Lima e Felix Fischer votaram com a
Sra. Ministra Relatora.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Gilson Dipp.
Brasília (DF), 09 de agosto de 2005 (Data do Julgamento)

MINISTRA LAURITA VAZ


Relatora

Documento: 566956 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 05/09/2005 Página 1 de 9
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HABEAS CORPUS Nº 36.118 - RJ (2004/0082279-1)

RELATÓRIO

A EXMA. SRA. MINISTRA LAURITA VAZ:


Trata-se de habeas corpus , sem pedido liminar, impetrado pela DEFENSORIA
PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, em favor de FREDSON CORREIA DA
CRUZ, em face da Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de
Janeiro.
Consta dos autos que o Paciente foi condenado pelo Juízo de Direito da Vara
Única da Comarca de Iguaba Grande/RJ como incurso no art. 10, caput , da Lei n.º 9.437/97 e
art. 180 do Código Penal, por haver sido preso em flagrante, portando arma de fogo com a
numeração raspada.
Irresignado, interpôs apelação perante o Tribunal de Justiça fluminense que, ao
desprover o recurso defensivo, manteve a sentença condenatória, em acórdão assim ementado:
"APELAÇÃO CRIMINAL - DIREITO PENAL - LEGISLAÇÃO
ESPECIAL - CRIME CONTRA A INCOLUMIDADE PÚBLICA - CRIME
CONTRA O PATRIMÔNIO - PORTE DE ARMA E RECEPTAÇÃO - ART. 10
DA LEI 9.437/97 - ART. 180 DO CP - CÚMULO MATERIAL DE
INFRAÇÕES PENAIS - MATERIALIDADE E AUTORIA DELITIVAS
DEVIDAMENTE COMPROVADAS - CONHECIMENTO DO APELO,
NEGANDO-LHE PROVIMENTO - Tese exculpatória relativa ao delito
patrimonial que se conclui inverossímil. Juízo de censura que se infere
escorreito pela eficiente avaliação constante dos autos - Reprimendas
minimamente consideradas bem aplicadas - Substituição por restritivas de
direitos - Pena de reclusão pelo crime de porte de armas denota erro
material - Pena de detenção apropriada." (fl. 40)

No presente writ, o Impetrante alega, em suma, que a condenação imposta ao


Paciente pelo art. 180 do Código Penal foi ilegalmente mantida, porquanto o Tribunal a quo
entendeu, equivocadamente, que o porte de arma com número de identificação raspado –
tipificado no art. 10, caput , da Lei n.º 9.437/97 – caracterizaria também o crime de receptação.
Requer, assim, a anulação da sentença condenatória quanto ao crime do
art. 180 do Código Penal.
Por estarem os autos devidamente instruídos, foram dispensadas as informações
da Autoridade Impetrada.
A Douta Subprocuradoria-Geral da República opinou pela denegação da ordem
nos termos da seguinte ementa:
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"Processual Penal. Habeas Corpus. art. 10, caput, da Lei n.º
9.437/97 e art. 180 do CP. Alegação de inexistência de 'animus lucrandi' e
de 'prova da ciência' de que a arma havia sido produto de crime, não se o
podendo inferir apenas e tão-somente pelo dado objetivo de aquela se
encontrar com numeração raspada. Desnecessidade de que o 'animus
lucrandi' constitua proveito financeiro. (HUNGRIA) Boa-fé não
demonstrada na aquisição da arma que autoriza a conclusão de presença
de dolo eventual.
O parecer é pela denegação da Ordem." (fl. 52)

É o relatório.

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EMENTA
HABEAS CORPUS . DIREITO PENAL. ADULTERAÇÃO DE
ARMA DE FOGO E RECEPTAÇÃO. CRIMES AUTÔNOMOS. CONDUTA
E DOLO DISTINTOS. PRECEDENTES DO STJ. ARMA DE FOGO COM O
NÚMERO DE SÉRIE RASPADO. CRIME DE RECEPTAÇÃO.
TIPICIDADE. DESCLASSIFICAÇÃO PARA A MODALIDADE CULPOSA.
1. A conduta de portar uma arma de fogo, com o número de
identificação totalmente raspado, não se esgota no tipo penal estatuído no art. 10,
caput , da Lei n.º 9.437/97, uma vez que, em tese, também pode se subsumir no
delito descrito no art. 180 do Código Penal, pois se tratam de crimes autônomos.
2. Ao contrário do que alega o Impetrante, embora as instâncias
ordinárias, soberanas na análise do material fático-probatório, não tenham
encontrado condições de atestar que a arma em questão constituiu-se, de fato, em
produto de crime, as circunstâncias descritas na sentença, as quais foram
ratificadas pelo acórdão, geram para o adquirente ou detentor, no mínimo, uma
presunção de ilicitude quanto à origem. E essa presunção, apesar de insuficiente
para a caracterização do tipo do art. 180, caput , do Código Penal – que exige a
certeza quanto à origem criminosa do bem (em nenhum momento evidenciada nos
autos) –, basta para configurar a infração em sua modalidade capitulada no § 3.º,
denominada na doutrina de receptação culposa.
3. Ordem denegada e, de ofício, concedido habeas corpus para,
mantida a condenação pelo crime de porte ilegal de arma (art. 10, caput , da Lei
n.º 9.437/97), desclassificar o delito previsto no art. 180, caput , para o estatuído
no art. 180, § 3.º, do Código Penal, nos termos do voto.

VOTO

A EXMA. SRA. MINISTRA LAURITA VAZ (Relatora):


A impetração, tal como apresentada, não merece acolhida.
Com efeito, a teor do entendimento jurisprudencial deste Superior Tribunal de
Justiça, a conduta de portar uma arma de fogo, com o número de identificação totalmente
raspado, não se esgota no tipo penal estatuído no art. 10, caput , da Lei n.º 9.437/97, uma vez que,
em tese, também pode se subsumir no delito descrito no art. 180 do Código Penal, pois se
tratam de crimes autônomos.
Observe-se que o delito do art. 10, caput , da Lei n.º 9.437/1997, não contém os
mesmos elementos do tipo especializadores tutelados no art. 180 do Código Penal, atingindo,
inclusive, objetividades jurídicas distintas, daí a possibilidade de cúmulo material.
Nesse sentido, confiram-se os seguintes precedentes:
"RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PORTE ILEGAL
DE ARMA E RECEPTAÇÃO . ARGÜIÇÃO DE INÉPCIA DA DENÚNCIA.
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IMPROCEDÊNCIA. CONCURSO APARENTE DE NORMAS. INEXISTÊNCIA.
CRIMES AUTÔNOMOS . SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO.
ART. 89 DA LEI N.º 9.099/95. INAPLICABILIDADE.
1. A adquisição uma arma de fogo na conhecida "feira do rolo"
com o número de identificação do armamento totalmente raspado sugere, em
princípio, a ocorrência do crime descrito no art. 180, caput, do Código
Penal. Argüição de inépcia da denúncia afastada.
2. Não há falar em concurso aparente de normas, uma vez que se
trata de crimes completamente autônomos, conforme precedentes desta
Egrégia Corte.
[...]
4. Recurso desprovido." (RHC 14.814/SP, 5ª Turma, de minha
relatoria, DJ de 01/12/2003.)

"HC SUBSTITUTIVO. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO


PROCESSO. PROPOSTA QUE INCUMBE AO MINISTÉRIO PÚBLICO, AO
VERIFICAR A POSSIBILIDADE E AS CONDIÇÕES PARA O BENEFÍCIO.
ENDEREÇO DO RÉU NÃO INFORMADO À ÉPOCA DA PROPOSTA.
SUPERVENIÊNCIA DE ADITAMENTO DA DENÚNCIA. PORTE ILEGAL DE
ARMAS E RECEPTAÇÃO. DELITOS AUTÔNOMOS.
[...]
Porte ilegal de armas e delito de receptação são infrações
autônomas. Portar arma de fogo sem autorização e em desacordo com
determinação legal ou regulamentar não implica que o paciente não
responda ao delito de receptação caso seja efetivamente provado que a
arma, portada ilegalmente, tenha sido adquirida como produto de crime.
Ordem denegada." (HC 17.343/RJ, 5ª Turma, Rel. Min. JOSÉ
ARNALDO DA FONSECA, DJ de 25/02/2002.)

Todavia, ao examinar a sentença condenatória, bem como o acórdão que a


manteve, no que diz respeito ao delito de receptação, verifica-se um equívoco quanto à
fundamentação utilizada para ajustar a conduta praticada ao tipo previsto no caput do art. 180, do
Código Penal, como se vê, respectivamente:
"De plano deve-se afastar a tese de atipicidade do crime de
receptação - art. 180 do CP. A numeração da arma foi raspada como se
denota do Auto de Apresentação, Apreensão e Entrega (fls. 10), o que
impossibilitou a descoberta em nome de quem estaria registrada a arma
como consta de ofício encaminhado pelo DFAE às fls. 27. A simples
supressão da numeração da arma constitui crime tipificado no inciso I do §
3.º art. 10 da Lei n.º 9.437/97.
Assim, considerando não ser possível alegar o conhecimento da lei,
o Acusado sabia ou devia saber que a arma era objeto de crime, este
consistente na supressão de sua numeração. Deste modo, o Acusado
consumou o tipo previsto na primeira parte do art. 180 do CP, qual seja, o
crime de receptação própria.
A existência do fato criminoso consubstancia-se na materialidade,

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comprovada através do Auto de Apresentação e Apreensão e de Entrega de
fls. 10 e pelo Laudo de exame pericial na arma apreendida às fls. 67/68.
Quanto à autoria, uma vez comprovado o crime de porte e sendo a
arma de numeração raspada como atesta o Auto de apresentação,
apreensão e entrega de fls. 10, naturalmente configura-se a consumação do
crime de receptação." (sentença - fl. 15)

"No caso do delito de receptação, encontramos apenas em suas


palavras a idéia de que a referida arma não lhe pertencia, mas um tanto sim
a parente seu que, por acaso, já falecera. Nada crível, no entanto. A
razoabilidade pugna pelo contrário. A arma lhe pertencia, constituindo
objeto de crime. Sua numeração raspada caracteriza o delito preconizado
na Lei 9.437/97, em seu art. 10, parágrafo 3.º, inciso I.
Ad argumentandum tantum, mesmo que verossímeis as palavras fo
recorrente, quanto ao fato de não lhe pertencer a arma, não é possível que
esta fosse do falecido, Por certo seu parente a legou para ele, assumindo do
recorrente, assim, sua propriedade derivada de um crime, o do artigo retro
citado." (acórdão - fl. 43)

Note-se que, em ambas as decisões, ocorreu nítida confusão entre os conceitos


de produto de crime e objeto material do crime, que possuem significados absolutamente
diversos.
Ora, o simples fato de uma arma ter seu número de identificação raspado não a
torna automaticamente produto de crime. O delito de raspagem da identificação recai, por
óbvio, na arma, mas esta é meramente o objeto material do crime previsto no art. 10, § 3.º,
inciso I, da Lei n.º 9.437/97 (hoje, no art. 16, parágrafo único, inciso I, da Lei n.º 10.826/2003,
inaplicável por ser mais gravosa). E, nessa condição, sua origem não passa a ser,
necessariamente, criminosa, o que evidencia a impropriedade do raciocínio esposado pelas
instâncias ordinárias para subsumir a conduta no tipo insculpido no art. 180, caput , do Código
Penal, tendo em conta a possibilidade de que tal objeto tenha sido adquirido de forma legal, sendo,
posteriormente, por razões outras, certamente inidôneas, ocultado o número de série.
Contudo, também não se pode cogitar, na espécie, de atipicidade da conduta, já
que, ao contrário do que alega o Impetrante, embora as instâncias ordinárias, soberanas na
análise do material fático-probatório, não tenham encontrado condições de atestar que a arma em
questão constituiu-se, de fato, em produto de crime, as circunstâncias descritas na sentença, as
quais foram ratificadas pelo acórdão, geram para o adquirente ou detentor, no mínimo, uma
presunção de ilicitude quanto à origem. E essa presunção, apesar de insuficiente para a
caracterização do tipo do art. 180, caput , do Código Penal – que exige a certeza quanto à
origem criminosa do bem (em nenhum momento evidenciada nos autos) –, basta para
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configurar a infração em sua modalidade capitulada no § 3.º, denominada na doutrina de
receptação culposa. Confira-se:
"Art. 180. Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em
proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime , ou influir
para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
[...]
§ 3.º Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela
desproporção entre o valor e o preço, ou pela condição de quem a oferece,
deve presumir-se obtida por meio criminoso :
Pena - detenção, de 1 (um) mês a 1 (um) ano, ou multa, ou ambas as
penas." (grifos não originais)

Por essa razão, é impossível o atendimento do pleito de absolvição por atipicidade


da conduta vindicado pelo Impetrante, diante da existência de expressa previsão legal que se
adequa perfeitamente ao comportamento do agente, contentando-se com a mera existência de
dúvida quanto à origem criminosa do bem, inegavelmente presente no caso vertente, nos exatos
termos consignados pelas instâncias ordinárias.
Nesse sentido é o entendimento do Supremo Tribunal Federal acerca da matéria:
"RECEPTAÇÃO CULPOSA - ARTIGO 180, PAR-1. DO CÓDIGO
PENAL. AUSENTE O JUÍZO DE CERTEZA QUANTO A SER COISA
PRODUTO DE CRIME, E SUBSTITUÍDO PELA PRESUNÇÃO, OU DÚVIDA
QUANTO A SUA ORIGEM, DESCARACTERIZA-SE A RECEPTAÇÃO DE
DOLOSA PARA CULPOSA. RECURSO EXTRAORDINÁRIO CONHECIDO E
PROVIDO." (RE 96929/MG, 1ª Turma, Rel. Min. NÉRI DA SILVEIRA, DJ de
10/05/1985.)

No caso em tela, conquanto o Paciente alegue total desconhecimento quanto à


origem da arma (não comprovadamente criminosa), é certo que, sendo a supressão do número de
série aferível primo ictu oculi, no mínimo, agiu descurando-se da observância do dever jurídico
de cuidado ou mesmo com dolo eventual – que, como visto, também se amolda à figura descrita
no § 3.º do art. 180 do Código Penal –, já que presumível a origem ilícita do bem.
Assim, evidenciado que a conduta perpetrada pelo Paciente se subsume
perfeitamente ao delito de receptação culposa, procedo à desclassificação, excepcionalmente
cabível na espécie, haja vista que seu exame não requer análise do material cognitivo
fático-probatório carreado aos autos, cuidando-se, apenas, do cotejo entre o que restou apurado
pelas instâncias ordinárias e o tipo penal em questão.
O Juiz sentenciante, ao realizar a dosimetria da reprimenda, aduziu serem todas as
circunstâncias judiciais favoráveis ao réu, inexistindo agravantes ou atenuantes, nem mesmo
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causas de aumento ou diminuição (fl. 16), razão pela qual fixou a pena no mínimo legal. Pelos
mesmos parâmetros, fixo-a também no patamar mínimo, qual seja, 1 (um) mês de detenção, em
regime aberto. Mantida a substituição da pena privativa de liberdade por uma restritiva de direito,
nos moldes implementados na sentença.
Ante o exposto, DENEGO a ordem, mas, de ofício, concedo habeas corpus ,
para, mantida a condenação pelo crime de porte ilegal de arma (art. 10, caput , da Lei n.º
9.437/97), desclassificar o delito previsto no art. 180, caput , para o estatuído no art. 180, § 3.º,
ambos do Código Penal, nos termos acima consignados.
É como voto.

MINISTRA LAURITA VAZ


Relatora

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUINTA TURMA

Número Registro: 2004/0082279-1 HC 36118 / RJ


MATÉRIA CRIMINAL
Números Origem: 185601 200305004373

EM MESA JULGADO: 09/08/2005

Relatora
Exma. Sra. Ministra LAURITA VAZ
Presidenta da Sessão
Exma. Sra. Ministra LAURITA VAZ
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. BRASILINO PEREIRA DOS SANTOS
Secretário
Bel. LAURO ROCHA REIS

AUTUAÇÃO
IMPETRANTE : ANDRÉ LUIZ DE FELICE SOUZA - DEFENSOR PÚBLICO
IMPETRADO : SEGUNDA CÂMARA CRIMINAL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO
DO RIO DE JANEIRO
PACIENTE : FREDSON CORREIA DA CRUZ

ASSUNTO: Penal - Crimes contra o Patrimônio (art. 155 a 183) - Receptação (art.180 a 183)

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"A Turma, por unanimidade, denegou a ordem, concedendo "Habeas Corpus" de ofício,
nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora."
Os Srs. Ministros Arnaldo Esteves Lima e Felix Fischer votaram com a Sra. Ministra
Relatora.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Gilson Dipp.

Brasília, 09 de agosto de 2005

LAURO ROCHA REIS


Secretário

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