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Arg. Apadec, 4(2):jul.de., 2000
A IMPORTANCIA DA ALIMENTACAO NA
VIDA DO TRABALHADOR COM IMPLICACOES
NO AMBIENTE DE TRABALHO
Jacira Reami dos Santos!
Maria Raquel Marcal Natali2
SANTOS, J. R. dos; NATALI, M. R. M. A importincia da alimentagio na vida do trabalhador com implica-
ges no ambiente de trabalho. Arg. Apadec, 4(2), 2000
RESUMO: Apresentamos neste trabalho um diagndstico dos hébitos alimentares de trés classes de trabae
Ihadores da Universidade Estadual de Maringé com nivel salarial de até trés salarios 1
inimos. Esta andlise foi
feita através de questiondrio adaptado do cadastto do servidor, dando-se Enfase ao tipo de alimento didtio
ingerido, frequéncia de dores durante o perfodo de trabalho, gastos com alimentagao e remédios, periodo de
maior produtividade do trabalhador, consumo de protefna animal, café da manha deficiente e reduzida ingestio
de frutas e verduras. Estes foram alguns dos pontos levantados, que nos levaram a concluir a necessidade de
uma educagio alimentar eo conhecimento do valor de cada nutriente, bem como o aproveitamento deles de
forma correta através de receitas alternativas. Consideramos que esta readequagio melhoraria a condigio
nutricional do trabalhador, seu desempenho no trabalho e sua resisténcia as doencas.
Palavras Chaye: Alimentacio do trabalhador ~ Educagio Alimentar — Rendimento no trabalho.
INTRODUGAO
O que nos deixa doentes? A alimentagiio era-
da, a poluico, as drogas quimicas, os venenos agri-
colas, a falta de exercicio fisico, as preocupagdes
constantes, a falta de contato do homem coma ter-
ra, a falta de informagao, etc.
Hoje vemos com maior freqiiéncia as doengas
da civilizago como: doengas cardiovasculares
(infarto, hipertensao, etc.) arteriosclerose, diabe-
tes, varios tipos de cncer, constipagao intestinal,
cdlculo de vesicula, varizes, doengas articulares,
obesidade, etc., que acometem principalmente pes-
soas de mais de 30 anos (BRANDAO e
BRANDAO, 1997).
Diante de determinadas doengas os cuidados
alimentares devem ser redobrados. O estado emo-
cional alterado pela depressio e 0 estresse, por
exemplo, pode interferir diretamente na absorgaio
de alimentos, podendo inclusive ocorrer queda na
resisténcia fisica (AZEVEDO, 2000).
Trés tipos de alimentos: carboidratos, lipideos
€ proteinas so digeridos e absorvidos no trato
gastrointestinal para serem usados pelo corpo. Sub-
seqiientemente, sio utilizados como fonte de ener-
gia paraa realizagiio de trabalho, manutengdo das
fungdes vitais, produgio de calor, promogdio do
crescimento e restauracao ou substituicao de teci-
dos do corpo consumidos por desgaste natural ou
por doenga (CULCLASURE, 1973).
As proteinas respondem pela renovagio e
crescimento das células. A falta de proteinas na di-
eta de uma pessoa acarretara um enfraquecimento
geral do organismo, Sio elas também que nos de-
fendem das infecges e participam da formagio de
horménios e enzimas responsdveis pela digestiio dos
alimentos e aproveitamento dos seus nutrientes. As
protefnas de origem vegetal podem ser encontrada
nas leguminosas (feijao, ervilha, lentilha, gro-de-
bico esoja). As protefnas de origem animal podem
serencontradas no leite ou em seus derivados (quei-
jo, iogurte), carnes (boi, aves, peixe) e ovos
(CULCLASURE, 1973).
Os lipidios so fontes de energia, porém res-
pondem por outras fungées importantes no orga-
nismo, tais como: tansportar vitaminas (A, D, Ee
K) pelo sangue, formar a gordura do corpo que
protege os drgdos, miisculos, nervos ¢ ossos con-
{ra traumas, manter estével a temperatura corpérea,
auxiliar as fungdes orgdnicas formar o colesterol
(fundamental para a formacao de alguns horm6nios)
epré-vitamina D (que se transforma em vitamina
D pela aco dos raios solares) e evitar a evapora-
do da gua pela pele. Apesar de tantos benefici-
_Especialistaem Morfofisiologia Aplicada a Organizagio do Ambiente Escolar e do Trabalho, Email jrdsantos@uem.be- UEM
*Professora Dr* do Departamento de Ciéneias Morfofisioldgicas/UEMArg. Apadec, 4(2): jul.dez.,2000
6s, a gordura no deve estar em excesso na ali-
mentagio, principalmente a de origem animal que
pode desencadear doengas do coragdo. Deve se
dar preferéncia as gorduras de origem vegetal e,
mesmo assim, moderadamente. As gorduras de
origem animal sdio encontradas na manteiga, cre-
me de leite, banha, gordura aparente de carnes e
embutidos, peles de aves e peixes e maionese. As
gorduras de origem vegetal podem se encontradas
nos éleos (soja, arroz, milho, girassol, gergelim,
canola, oliva) margarina, gordura de coco, azeito-
na, amendoim, noz, castanha, améndoa e avela
(CULCLASURE, 1973).
Os carboidratos sao responsdveis pelo forne-
cimento de energia ao organismo. Quando digeri-
dos, geram glicose (alimento energético) que de-
sempenha todas as fungdes orgainicas, desde a ati-
vidade das células, do funcionamento dos érgaos
até o trabalho muscular, podendo ser encontradas
no acticar refinado e mascavo, mel, melado, rapa-
dura, garapa, doces, balas, cereais (grdios que dao
em espigas), arroz, trigo, centeio, cevada, milho,
aveia, tubérculos (batata, mandioca),
(CULCLASURE, 1973).
Além dos nutrientes acima citados, destaca-se
anecessidade da ingestao continua das fibras, ve-
getais, vitaminas e minerais.
As fibras sfio apenas 0 meio de transporte
dos nutrientes e nao sdio absorvidas pelo orga-
nismo, Nao sendo digeridas nem absorvidas pelo
organismo, elas aumentam a quantidade de re-
siduos no intestino e aumentam 0 bolo fecal. Sua
passagem pela digestio proporciona maior tem-
po na mastigacdo, favorecendo a limpeza dos
dentes e diminuindo a incidéncia de cries, pro-
yoca a sensaciio de saciedade e prevencao de
doengas de estémago. Como as fibras alimen-
tares tém a propriedade de absorver 4gua, as
fezes ficam mais macias e a movimentagao in-
testinal fica facilitada (BRANDAO e
BRANDAO, 1997).
Além de prevenir as doengas gastrointestinais,
as fibras ajudam também a reduzir 0 nivel de
colesterol no sangue e reduz o risco das doengas
cardiovasculares.
As maiores fontes de fibras sao encontradas
naaméndoa, coco, aveia, trigo, castanha do paré,
amendoim, centeio, espinafre, azeitona, ervilhae
feijio (BRANDAO e BRANDAO, 1997).
‘As vitaminas e minerais participam do meta-
bolismo e ajudam na absorgio e aproveitamento dos
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nutrientes para o organismo. Sao encontrados nas
frutas, hortaligas (principalmente cruas), cereais in-
tegrais nozes e sementes (BRANDAO e
BRANDAO, 1997).
CHAVES, 1978, ressaltava que a satide fi-
sicae mental dependem essen-cialmente do es-
tado nutricional do individuo, que ao encontrar-
se desnutrido e faminto, constitui um problema
social sob varios aspectos. O desnutrido tem
maior predisposigao as doengas infecciosas, por-
tanto adoece mais seguidamente, e a evolugao
das doengas é mais répida, assumindo maior gra-
vidade do que nas pessoas cujo estado
nutricional € normal, acabando por tornar-se
mais oneroso para o Estado. Por conseguinte, a
nutrigio adequada em quantidade e qualidade
esté diretamente relacionada a imunidade, &
morbidade e a mortalidade.
estado nutricional do individuo, portanto, é
em grande parte respons4vel pelo processo de
actimulo de capital, seja aumentando a produgao,
seja diminuindo os gastos com acidentes de traba-
Iho, seja garantindo a futura forga de trabalho (CHA-
VES, 1978).
estado nutricional é o grau pelo qual ane-
cessidade fisiolégica de nutri-entes do individuo esta
sendo atendida através do alimento que ingere. V-
rios estudos sobre o estado nutricional econdigoes
de vida dos trabalhadores e suas familias foram re-
alizados a partir de 1930, sendo aprovada a rela-
cao direta entre alimentagao adequada e satide, ren-
dae rendimentos no trabalho fisico (SILVA, 1998).
Nos Estados Unidos, 32 voluntérios foram sub-
metidos, durante 24 semanas, a uma dieta que con-
tinha 1.800 cal/dia e quotas muito reduzidas de pro-
tefnas e de outros nutrientes. Como resultado hou-
ve diminuigao da forga musculare da resisténcia fi-
sica, bem como perda de peso no final do perfodo
de observacao. A diminuigao da forga muscular foi
da ordem de 30% e da preciso dos movimentos
de 15 a 20% (CHAVES, 1978).
Ha uma relagao direta entre nutrigao eo rendi-
mento do trabalho fisico. Pesquisas atuais atestam
que 0 desnutrido produz pouco, tem menor resis-
téncia fisica e que os individuos em estado
hipoglicémico estio mais predispostos aos aciden-
tes de trabalho. E possivel que a capacidade de tra~
balho de adultos desnutridos esteja muito reduzida
e que seus potenciais, como sustentéculo da familia
e responsdvel pela reprodugio da forga de traba-
Iho, estejam afetados (SILVA, 1998).‘Arg. Apadec, 4(2): jul.dez., 2000
RESULTADOS E DISCUSSAO,
Foramentrevistados 30 servidores da Universida-
de Estadual de Maring4, 20 servidores do sexo mascu-
Tinoe 10 servidores do sexo feminino, coma faixaetaria
de 21 4 68 anos. Dos entrevistados, 21 servidores
(70%) eram casados, 4 (13,33%) eram solteiros, 3
(10%) eram vitivos e 2 (6,66%) eram divorciados.
Considerando a amostra total, a média obtida
para o nimero de filhos foi de 2,6. Quanto ao grau
de instrugdo dos entrevistados verificamos que 13,
servidores (43,33%) possuem o 1° grau incomple-
toe que 4 servidores (13,33%) tinham concluido 1°
‘grau, | servidor (3,33%) tém 0 2° grau incompleto
OL
¢ 12 servidores (40%) concluiram 0 2° grau.
Com relagiio ao tempo de servigo, 8 servido-
res (26,66%) trabalham na instituigao entre 1 eS
anos, 7 servidores (23,33%) entre 5 e 10 anos e
com tempo de servico mais que 10 anos foram en-
contrados 15 servidores (50%).
Avaliando as condigdes de moradia constata-
mos que 15 (50%) moram em casa prépria quita~
da, que 7 (23,33%) moram em casa alugada, 6
(20,%) moram em casa prépria financiada e que 2
(6,66%) moram em casa emprestada. Os resulta-
dos referentes as despesas com alimentagio, com
remédios e a despesa mensal total so apresenta-
dos na Tabela 1.
‘TABELA 1 - Despesas referentes & alimentagiio, remédios e despesa geral mensal.
Alimentagao Variagdo de R$ 100,00 a R$200,00 24 80,%
Variagao de R$ 200,00 a R$400,00 06 20,0%
Remédios Sim 28 93,33%
Nio 02. 6,66%
Despesa Até R$ 450,00 22 73,33%
Mensal Acima de R$ 450,00 08 26,66%
Com relagdo a questo de exercicio pelo
servidor de outra atividade remunerada, 4
(13,33%) responderam que sim e 26 (86,66%)
informaram nao executar outra atividade fora do
hordrio de trabalho, até porque, muitos fazem
escalas de trabalho nos seus setores nos finais,
de semana.
Quanto a existéncia de outras fontes de renda,
verificamos que 5 (16,66%) recebem pensio ali-
menticia, ou outro tipo de ajuda, e 25 (83,33%)
nao tem outra fonte de renda.
O grafico 1 apresenta os dados relacionados
{as despesas com alimentago e remédios, despesa
geral e renda familiar total.
GRAFICO 1 - Despesas mensais com alimentago, remédios, despesas geral e renda familiar total.
+1800,00
1600.00
+1400,00
+1200,00