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O LÚDICO COMO INSTRUMENTO DE INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

EM APRENDENTES COM DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIDADE (TDAH)

Andreya Alves Almeida

Cristiane de Souza Amaral ²

RESUMO

O presente trabalho aborda as contribuições do lúdico nas intervenções


psicopedagógicas para alunos com TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e
Hiperatividade). Nesta perspectiva, a questão-problema consistiu em investigar
em que medida o lúdico contribui na intervenção psicopedagógica em
Aprendentes com TDAH, com a pretensão de apresentar tal instrumento como
facilitador nas modificações das funções executivas mentais destes sujeitos.
Desta forma, para fornecer subsídios para tal questionamento, o percurso
metodológico foi fundamentado no método dedutivo, com abordagem qualitativa,
utilizando-se de pesquisa bibliográfica através da técnica de fichamento
inspiradas em Barros (2002), Bassedas (1996), Brenelli (1996) e Santos (2009).
Conclui - se que a intervenção psicopedagógica, utiliza-se de instrumentos como
jogos de estratégias, que trabalham a concentração e a memória, são sugestões
que auxiliam no desenvolvimento do processo de ensino da aprendizagem e a
superação das dificuldades que os aprendentes com TDAH enfrentam
diariamente em diversos contextos sociais, a citar no espaço escolar inclusivo.
Palavras-chave: Lúdico, intervenção psicopedagógica, TDAH, aprendentes.

Introdução

O lúdico ocupa um espaço importante na intervenção psicopedagógica


especialmente aos aprendentes com TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e
Hiperatividade) que apresentam três subtipos, dos quais distintamente
caracterizam a predominância como o desatento, o inquieto e o combinado,
fazendo os aprendentes a conviverem com dificuldades na aprendizagem e na
vida social.

Conforme Rohde e Benczik (1999), Cerca de 25 a 30% das crianças e


adolescentes com TDAH apresentam problemas de aprendizagem secundários
ou associados ao transtorno. Quanto a Bonadio e Mori (2013), estes esclarecem
que crianças com TDAH evitam atividades como leitura, jogos e brincadeiras que
exigem atenção, persistência e organização para concluí-las, pois ruídos e
estímulos desconhecidos por outras crianças atraem a atenção delas, o que faz
com que interrompam as atividades que estavam sendo desenvolvida, nesses
casos a intervenção psicopedagógica é essencial.

O lúdico para o aprendente com TDAH, implicitamente revela sua relação afetiva
consigo e com o mundo. Desta forma, apresenta – se a função do lúdico no
desenvolvimento das funções executivas, possibilitando experiências
significativas e lógicas, logo que o lúdico desenvolve funções terapêuticas
composta de infinitas possibilidades e descobertas. Considerando a introdução
da terapia por medicamento aos casos em que a distorção do comportamento
impeça o sucesso do sujeito e que seja por meio do mapeamento minucioso do
mesmo. Para Piaget (1971):
A ação direta do aluno sobre os objetos do conhecimento, com o equilíbrio das
estruturas cognitivas é o que gera aprendizagem, pois esta é sustentada pelo
desenvolvimento cognitivo. Portanto, ao jogar, a criança passa a ser um sujeito
ativo na construção de seu conhecimento. Além de possibilitar a construção
ativamente em seu aprendizado.

Neste momento, o brincar ou o aprender brincando, estabelece com o


aprendente uma relação de atenção e o pensar, ambos necessários para que a
aprendizagem aconteça. A ludicidade oportunizará a estratégia e o raciocínio
lógico para desenvolver as regras, além de promover as atenções: sustentada,
dividida e seletiva, mantendo-os envolvidos no processo de ensino e da
aprendizagem.

A intervenção psicopedagógica concomitante no espaço que respeita as


diferenças e uma equipe pedagógica que compreenda as causas e implicações
desta disfunção neurobiológica favorecerá o desenvolvimento e a ativação dos
neurotransmissores, de inúmeras funcionalidades entre elas cognitivas, de
raciocínios, noções lógicas, atenção, tipos de memórias, pensamento, etc.
Confirmando teorias bibliográficas revisadas que aplicadas a prática, os
resultados são percebidos mediante os objetivos apontados, que se deseja
alcançar, a partir das atitudes, procedimentos e conceitos das estratégias
aplicadas.

Realizar estudos discutindo a importância do lúdico na intervenção


psicopedagógica foi um determinante neste período, considerando o número de
aprendentes com TDAH nas escolas em que atuamos durante a nossa trajetória
profissional, tanta na Sala Comum do ensino regular, quanto nas Salas de
Recursos Multifuncionais. Percebemos as dificuldades dos professores em lidar
com esta dinâmica cada vez mais comum nas instituições educativas, buscando
através deste aprofundamento descobrir formas, estratégias e possibilidades de
reduzir as implicações sintomáticas dos aprendentes incluindo os devidamente
no espaço escolar inclusivo e reforçando a orientação metodológica dos
educadores.

O que se pode entender por TDAH: suas causas e implicações no processo de


aprendizagem.

Segundo a ABDA (Associação Brasileira do Déficit de Atenção), TDAH é um


transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância e
frequentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida. É caracterizado por
sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade. Em alguns casos
apresenta – se paralelo a outros transtornos como o transtorno de conduta e o
transtorno opositor desafiante, depressão, ansiedade, hiperatividade exagerada,
impulsividade e desatenção.

Para Relvas (2011) o TDAH não é um transtorno de Aprendizagem (TA), mas os


sintomas são desatenção, impulsividade que afetam secundariamente a
aprendizagem. Nesta perspectiva destaca – se que a aprendizagem depende da
maturidade neurológica, a atenção e o interesse, além da funcionabilidade
adequada para captar os estímulos no processo de ensino e da aprendizagem.

Mesmo que existam todas as características acima citadas, cabe analisar a


história do indivíduo, pois o Manual de Transtornos Mentais (DSM IV), a partir de
predominâncias e variações classifica o TDAH em três subtipos:

• Predomínio de sintomas de desatenção, tais como: não enxergar detalhes ou


cometer erros por descuido em atividades escolares e de trabalho; apresentar
dificuldade para manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas; perder
objetos necessários para determinadas ações, etc.

• Predomínio de sintomas de hiperatividade/impulsividade: agitar as mãos ou os


pés ou se remexer na cadeira; correr ou escalar em demasia, em situações nas
quais se espera que permaneça sentado; dar respostas precipitadas antes das
perguntas terem sido concluídas; interromper ou se meter em assuntos dos
outros, etc.

• TDAH combinado: caracteriza-se pela combinação dos dois tipos anteriores,


contudo está mais fortemente associado aos sintomas de oposição e de desafio,
além disso, apresenta um maior prejuízo no funcionamento global do sujeito.

Para Saul Cypel (2007) TDAH é compreendido como um transtorno que afeta
principalmente o funcionamento do lobo frontal do cérebro, responsável, entre
outras atividades, pelas funções executivas (FE) e de funções como: a atenção;
a capacidade que o indivíduo possui de auto estimular-se; conseguir planejar-
se, traçando objetivos e metas; controle dos impulsos; controle das emoções e
a memória que depende da atenção, pois, o cérebro da pessoa que possui
hiperatividade gera novas estimulações, mantendo sempre a pessoa em estado
de alerta.
Por meio das ações expostas para Farrel (2008) é provável que o aluno com
TDAH seja capaz de responder às atividades propostas com mais autonomia e
atinja o objetivo de finalizá-las integralmente, crianças com TDAH gostam muito
de novidades, de explorar o seu cotidiano.

Considerado uma das condições clinicas mais diagnosticada e estudada quando


comparadas a outros transtornos, o TDAH é de origem genética (em 80% dos
casos) e afeta entre 3 e 5% em idade escolar. Segundo Saul Cypel (2007), o
TDAH é compreendido como um transtorno que compromete principalmente o
funcionamento do lobo frontal do cérebro.

O indivíduo com TDAH apresenta dificuldades para concluir ou até mesmo


começar suas atividades escolares. Isto é um dos inúmeros motivos de rotulação
(aluno insuficiente) e até mesmo de brigas no âmbito familiar. Dificuldades com
a leitura (dislexia), com a matemática (discauculia) e com a escrita
(disortografia), explicam situações que frequentemente podem ocorrer com
crianças com esse transtorno.

É importante ressaltar que a maioria das crianças e adolescentes com TDAH são
diagnosticadas tardiamente e infelizmente já existem lacunas de aprendizagem
que necessitam ser sinalizada por meio de um trabalho de reconstrução de
habilidades e conteúdos.

Portanto, Rohde e Benczik (1999) sugerem que as reconstruções dessas


habilidades devem ser feitas por um profissional especializado (psicopedagogo
ou fonoaudiólogo), pois o tratamento sintomatológico ou de reforço de conteúdo
não resolve as sequelas de aprendizagem que ficaram para trás.

O TDAH é uma das dificuldades mais comuns enfrentadas por alunos e


professores no espaço escolar. Além da abordagem de um trabalho
multidisciplinar, pode – se recorrer o uso de medicamentos específicos em
aprendentes a partir dos seis anos de idade. Embora no Brasil o metilfenidato
seja considerado extremamente eficaz ao mesmo tempo torna–se polêmico.
Alega – se que o metilfenidato é semelhante à anfetamina, logo que ambas as
substancias causam os mesmos problemas de que deveriam tratar:
hiperatividade, compulsão e desatenção.

As pesquisas realizadas nesta linha levantam também hipóteses que as


substâncias citadas agem no cérebro como a cocaína, acreditando na
toxicodependência do que aqueles que não fazem uso da medicação. A
substância assim como a cocaína altera todo o perfil biodinâmico dos usuários
causando os mesmos efeitos devastadores do entorpecente.
Considerando as análises dos estudos realizados em torno do metilfenidato,
para Olivier (2011) é necessária muita analise antes de ser aconselhado ou
prescrito a um aprendente. Entretanto, é necessário compreender que o uso do
medicamento tem sua indicação em casos nos quais a alteração de
comportamento é intensa, e as orientações dadas aos pais, à escola e as
medidas psicoterápicas não se mostraram eficientes.

Quanto ao uso de remédios, é importante a individualização de cada caso, para


se definir precisamente quais as condições, quais os vários fatores que
participam da determinação da distorção de seu comportamento e, a partir daí,
opta – se pelo tratamento mais conveniente. Isso significa a importância de um
mapeamento minucioso do aprendente para investigar a autenticidade da
medicalização no controle propriamente dito com o objetivo de controlar ou
amenizar as dificuldades do aprendente observadas nesse processo.

A questão do lúdico na intervenção psicopedagógica

Na história da humanidade desde as primeiras civilizações, o ser humano


estabelece relações lúdicas consigo mesmo e com os outros. Desde as batalhas
as conquistas, festejos, jogos olímpicos e cerimoniais os cenários são dotados
de muita arte.
O lúdico tem sua origem na palavra latina "ludus" que quer dizer "jogo”. Se
achasse limitado a sua origem, o termo lúdico estaria se referindo apenas ao
jogar, ao brincar, ao movimento espontâneo. Porém, o lúdico passou a ser
reconhecido como traço essencial de psicofisiologia do comportamento humano.
De modo que a definição deixou de ser o simples sinônimo de jogo. As
implicações da necessidade lúdica superaram os limites do brincar espontâneo.
Para o psicanalista Winnicott (1975):

É a brincadeira que é universal e que é própria da saúde: o brincar facilita o


crescimento e, portanto, a saúde; o brincar conduz aos relacionamentos grupais.
O jogo está presente como um papel de fundamental importância na educação.
Jogando, a criança entra em contato com outras crianças, aprende a respeitar
os diferentes pontos de vistas, e isso irá favorecer a saída de seu egocentrismo
original. Raciocinar de forma lógica, lidar com regras, questões de associação,
socialização e apropriação, solucionar problemas, construir hipóteses, ter
personalidade ativa e desenvolver as variadas formas de linguagem entre as
crianças, são algumas possibilidades de desenvolver habilidades durante
atividades lúdicas.

Atividades lúdicas proporcionam valores específicos para todas as fases da vida


humana, seja na infantil ou na adolescência a finalidade é essencialmente
pedagógica além de apresentar um importante papel para a saúde mental do ser
humano.
Trata-se de um espaço que merece atenção dos pais e educadores, pois é o
espaço para expressão mais genuína do ser, é o espaço e o direito de toda a
criança para o exercício da relação afetiva com o mundo, com as pessoas e com
os objetos, permitindo o estudo da relação da criança com o mundo externo,
agregando estudos específicos sobre a sua importância na formação da
personalidade. É através da atividade lúdica e do jogo, que a criança forma
conceitos, seleciona ideias, estabelece relações lógicas, integra percepções, faz
estimativas compatíveis com o crescimento físico e desenvolvimento e, o que é
mais importante interage com outras crianças e com o conhecimento.

O lúdico tem sua função terapêutica, pois através do brincar a criança libera suas
angústias, medos, stress, possibilitando maior contato social entre o grupo, e
experiências significativas entre os sujeitos, visto que estas se sentem mais
seguras e estimuladas para explorar e construir uma aprendizagem mais
significativa no ambiente escolar, pois sentem prazer em “descobrir o
conhecimento” brincando.

É comum que psicopedagogos como educadores, estruturem suas práticas


voltadas mais para o coletivo que para o individual apostando em técnicas
lúdicas para favorecer o foco de suas atuações, pois além de ter sua riqueza na
natureza das relações grupais que caracteriza – se por ser um contexto propício
para utilização dessas atividades para o desenvolvimento cognitivo, social,
cultural e psicológico do aprendente.
Para Silva (2004), usar os recursos lúdicos não significa apenas brincar e sim
desenvolver nas crianças a criticidade, criatividade, consciência e torná-las
transformadoras, e construam prazerosamente o conhecimento e ainda seres
capazes de vivenciar atitudes de vida coletiva, solidária e de participação
democrática.

Quando o aprendente brinca, ele está lidando com sua realidade interior,
representando um fator na socialização dele, pois é brincando que o indivíduo
torna – se apto a viver uma ordem social num mundo culturalmente simbólico,
utilizando o poder da concentração durante uma significativa parte do tempo,
estimulando a iniciativa e o interesse, influenciando ainda o processo educativo
no intelecto, emocional e a consciência corporal do aprendente. Desta forma, o
brinquedo estimula a representação, a expressão de imagens, que evocam
aspectos da realidade. Pontes e Magalhães (2002) no diz que:

Cada brincadeira, em cada cultura, possui uma estrutura peculiar que a define.
A estrutura da brincadeira, no geral determina o desenrolar dos acontecimentos
no jogo, prevendo padrões, estratégias e sanções típicas. Assim, pode-se
observar que através do jogo a criança tende a desenvolver a sua moralidade,
ou seja, os seus valores morais perante a sociedade na qual se encontra. Então,
a brincadeira não é inata, pois a partir dos recursos que a criança irá encontrar
em seu ambiente, é que ela irá brincar, assim, a brincadeira pressupõe uma
aprendizagem social, ou seja, de valores sociais.
Estes aspectos e características interferem diretamente no desempenho escolar,
nas relações sociais e interpessoais. A criança que apresenta o TDAH é capaz
de desenvolver suas funções psicológicas superiores.

A criança com problema de atenção tem seu aparato orgânico preservado, o que
torna possível o desenvolvimento da atenção; para isso, o professor deve
assumir seu papel de organizador, não só do conteúdo escolar, mas de toda a
dinâmica da sala de aula. Exigir e prender a atenção do aluno no momento da
explicação ou realização das atividades escolares e evitar a distração é tarefa
do professor, as quais o auxiliarão no desenvolvimento da atenção voluntária.
(Bonadio e Mori, 2013, p. 148.)

Desta forma Bonadio e Mori ressaltam que cabe ao professor despertar o


interesse imediato do aluno, quanto o trabalho de promover a atenção voluntária,
na qual é preciso manter a atenção em atividades que não são de imediato
interessante.

Portanto, os professores, ao compreender a situação do aprendente, a


elaboração de rotinas para a execução das tarefas escolares, aulas de reforço,
reestruturação dos horários, atividades não acadêmicas e o aumento do tempo
para concluir as atividades e provas, é importante para favorecer a
aprendizagem dos alunos com TDAH. Eles aprendem melhor visualmente,
sendo assim, escrever palavras-chave ao mesmo tempo em que fala sobre o
assunto, resulta no sucesso da prática pedagógica em relação à fixação do
conteúdo pelo estudante.

O TDAH não é um sintoma que aparece isolado, mas sim acompanhado por
outras manifestações, com uma baixa capacidade de manter a atenção é
também chamada de Distúrbio Déficit de Atenção (DDA). Isto significa que a
criança não consegue se concentrar e, por isso, a memorização fica prejudicada,
afetando o resultado final do seu aprendizado. Contudo, atividades com jogos e
brincadeiras contribuem para o desenvolvimento da criança com TDAH. Assim
Vygotsky (1984) afirma que:

O ato de brincar, que apresenta um importante papel na construção do


conhecimento, ressalta que, através da brincadeira as crianças revelam seus
estados cognitivo, visual, auditivo, tátil e motor. Considerando essas afirmações,
é essencial que seja proporcionado as pessoas com TDAH constante situações
de aprendizagem, utilizando diferentes tipos de linguagem e garantindo de forma
dinâmica a aquisição de competências e habilidades.
Visto que o aprendente é um ser sociável e interage com o meio, a brincadeira
e o ato de brincar se tornará um momento viabilizado na perspectiva de estimular
diversas áreas do conhecimento, mas, em especial criar situações constantes
de aprendizagem com articulações variadas que o desafie e proporcione
descobertas.

Segundo Piaget (1998), o lúdico atua nas atividades intelectuais da criança, o


que se torna indispensável para a prática de um contexto educativo. Brincando
que a criança adquire aprendizado e explora o mundo que a rodeia, tomando
cada vez mais conhecimento do que está a sua volta.

Nesta perspectiva, o jogo vai ajudá-lo a lidar com limites e disciplina em sua vida
social. Favorecendo as relações intra e interpessoais logo que, aprendentes com
TDAH são imediatistas e ora inconsequentes com tendência da maioria não
concluir um projeto com êxito.

Segundo Lopes (2000), o pensamento de Piaget que quando se usa o jogo como
prática pedagógica, ele se torna um elemento enriquecedor para promover a
aprendizagem e contribuir com o desenvolvimento de muitas habilidades.

As atividades lúdicas proporcionam aprendizagens significativas para as


crianças com dificuldades de aprendizagem, bem como o prazer em alguns
casos, pois, a criança estará aprendendo no seu ritmo, criando hipótese,
chegando à conclusão e organizando suas regras. Acertando e errando com
seus próprios erros e retomando para acertar novamente. Assim, sua
aprendizagem será significativa e levará consigo um aprendizado que nunca se
esquecerá.

Segundo Cunha apud Barros (2002), através dos jogos e brincadeiras grupais,
a criança desempenhará seu senso de respeito às normas grupais e sociais. O
jogo é um caminho para a aprendizagem das habilidades sociais. É por isso que
se enfatiza a necessidade do indivíduo com TDAH aprenderem a jogar.

Nesta perspectiva o autor valoriza a importância do aprendente participar de


atividades lúdicas que também potencializam sua participação grupal logo que a
impulsividade do TDAH acaba por excluí-lo das mesmas. Outro aspecto
valorizado além da atenção é o desenvolvimento da memória de trabalho,
aliviando os níveis de estresse e mantém o cérebro treinado.

É preciso reconhecer que as crianças ditas normais possuem maiores


habilidades no que se refere às atividades lúdicas e recreativas, apresentando
um comportamento mais persistente, paciente e com maior nível de
concentração, enquanto as com TDAH, pela dificuldade que apresentam em
manter atenção em tarefas ou mesmo em atividades lúdicas, demonstram um
comportamento lúdico dispersivo. Portanto, o papel do jogo, como intervenção
no aluno com TDAH, é o de contribuir para melhores condições de
desenvolvimento e não como forma de tratamento.
Em situações em que o jogo exija um grau elevado da capacidade de atenção,
concentração e paciência, o comportamento lúdico das crianças consideradas
hiperativas certamente será comprometido, pois essas crianças possuem menos
intensidade de jogo do que as crianças normais. Dessa forma, seu
comportamento poderá ser diferente do das outras crianças. (BARROS, 2002
p.63)

Entretanto, ao utilizar os jogos como estratégia pedagógica, o professor precisa


considerar características da criança com TDAH, bem como as condições sob
as quais deverá realizar as atividades, objetivando auxiliar o aprendente a
desenvolver as habilidades necessárias para um bom desempenho social,
emocional e cognitivo.

O ambiente inclusivo e a intervenção psicopedagógica: trabalhando juntos em


prol do Aprendente com TDAH
As crianças com TDAH encontram muitas dificuldades na vida, em casa, na rua
e na escola, porém a equipe escolar precisa desenvolver a consciência dessas
dificuldades e principalmente deve ter um planejamento, uma estrutura e uma
organização dentro do ambiente escolar especialmente na sala de aula que seja
voltado para esses alunos e esses são os maiores obstáculos, pois muitos dos
professores também não estão preparados para receberem alunos com estes
casos, e isso torna o processo inclusivo difícil.

Segundo Sena (2007) a escola deve ser um ambiente onde a criança sinta-se
bem, seja ela com deficiência. Porém, em se tratando de uma criança com
TDAH, este precisa de alguns requerimentos especiais para que a criança
enquanto aluno possa desempenha melhor seu papel, pois, ela precisa ter
autonomia em tempo, direções determinadas e em ritmo compatível com as
situações sociais e educativas que irão conviver diariamente.

É importante ressaltar que apesar da semelhança entre crianças com TDAH e


crianças com Transtornos de Aprendizagem, a criança com TDAH não
caracteriza - se necessariamente como uma criança com Transtornos de
Aprendizagem. Pode atribuir suas dificuldades a métodos pedagógicos que não
atraiam a atenção da criança para a atividade na qual ela não se desenvolve
bem ou que não disponibilizam tempo a mais do necessário, isso faz com que a
criança acabe perdendo também a atratividade pela mesma.
O educador que aceita o desafio de uma sala que contém aprendente com TDAH
precisa ter a consciência que é preciso redobrar a atenção e a cada dia deixar
claro algumas regras e limites, porém sem o intuito de constranger ou castigar.
Pois, para que o processo de aprendizagem desses aprendentes venha
alavancar cada vez mais, é essencial também que o educador enquanto sujeito
mediador conheça o universo de um aprendente com TDAH e suas dificuldades.

Parafraseando Sena (2007), é importante que o educador conheça o universo


do TDAH e suas implicações, reconheça os seus próprios limites para lidar com
o problema e não tenha constrangimento em pedir ajuda quando necessária.

Conhecendo as peculiaridades de um aprendente com TDAH, torna – se mais


viável experimentar metodologias e estratégias na condução desse processo e
vincular possíveis alterações na rotina.

Um espaço de ensino e aprendizagem que tem como objetivo incluir aprendentes


com TDAH, necessariamente além de ser mediador do conhecimento precisa
interiorizar que estes só serão completamente incluídos no processo quando a
escola compreender que a falta de atenção e a hiperatividade serão sempre
parceiros destes alunos. (RELVAS, 2011, p. 89).
O encaminhamento psicopedagógico, pela família ou pela escola é de
fundamental importância na avaliação do aprendente com TDAH, pois, as
implicações sintomáticas no processo de ensino e da aprendizagem, o
psicopedagogo evita ingênuas e precipitadas avaliações, além de proporcionar
a reposição do aprendente nos aspectos emocional, cognitivo e acadêmico.

Este encaminhamento e a permanência no atendimento também garante o apoio


terapêutico necessário durante seu trabalho escolar atuando sobre dificuldades
escolares apresentadas, suprindo a defasagem e auxiliando na assimilação e
acomodação dos conceitos abordados na sala de aula, assim possibilitando ao
aprendente condições para novas aprendizagens.

Como este profissional estará atuando em suas dificuldades específicas, criando


espaços e situações para desenvolvê-las, ele também realizará intervenções
necessárias junto à família e a escola a fim de que ambas venham complementar
a terapia psicopedagógica realizada.

O profissional pode focalizar dificuldades específicas da criança, em termos de


habilidades sociais, criando um espaço e situações para desenvolvê-las, por
meio da interação com a criança por intermédio de qualquer atividade lúdica.
(BENCZIK, 2006, pg. 92)
A intervenção psicopedagógica e os métodos lúdicos faz com que desenvolve -
se o espaço para o aprendente pensar. Estas estratégias podem também serem
utilizadas no espaço onde acontece a inclusão escolar, logo que utiliza – se jogos
e brincadeiras não apenas como fonte de divertimento, mas, especialmente
como forma de promover a aprendizagem e modificarem ações diversas.

Brenelli (2011) reforça que o jogo tanto na vertente da psicoterapia, orientando


o psicodiagnóstico e tratamento das dificuldades de ordem emocional, como na
psicopedagogia, orientando o diagnóstico e a intervenção das dificuldades de
aprendizagem, ou seja, jogo na intervenção nos permite conhecer a realidade da
criança.

Consideramos que os aprendentes com TDAH que não possuem comorbidades


de suas limitações com outras dificuldades de aprendizagem, são crianças ou
adultos sem comprometimento cognitivo que desenvolvem várias competências
e habilidades, o que podemos considerar capazes de desenvolver inteligências
múltiplas.

Assim, estes aprendentes precisam de aprendizagem em geral e da ajuda do


mediador para modificar comportamentos e ações que facilitem este processo,
de maneira que psicopedagogos e pedagogos busquem estratégias lúdicas para
promover esta modalidade para aprendentes com TDAH ou não.

Como o foco é psicopedagógico, as intervenções lúdicas promoverão nos


aprendentes a ativação dos neurotransmissores sem uso de medicação, que
consequentemente desenvolvem a memória seletiva, a memória sustentada e a
memória dividida, logo que exigirá dos mesmos o pensamento, a atenção e a
estratégia para manuseio e socialização da proposta do jogo.

Ao mesmo tempo em que, resgata nestes sujeitos a motivação, a autoestima,


seu interesse e ainda o aprimoramento e a construção do conhecimento. Todos
estes aspectos influenciam no processo de ensino e aprendizagem destes
aprendentes, que a todo instante são rotulados ou sofrem bullyng por parte de
professores ou colegas no espaço escolar, em que nada contribui para o
desenvolvimento dos mesmos.

Brenelli (1996), conclui após inúmeras pesquisas tendo o jogo como estratégia
de intervenção, que, as situações-problema engendradas pelo jogo durante a
intervenção constituíram um ‘espaço para pensa’, no qual o pensamento da
criança foi desafiado e sua atividade espontânea, responsável pelo
desenvolvimento da inteligência, foi desencadeada da maneira a construir novos
esquemas que ampliaram as suas possibilidades adaptativas.
Contudo, neste contexto as possibilidades adaptativas que são estimuladas
pelas metodologias utilizadas no processo promovem a aprendizagem e são de
grande importância em sua interação com a sociedade e seu desenvolvimento
integral, pois, a criança foi solicitada a agir no momento da consigna e suas
ações desencadearam nas suas habilidades adquiridas, além de manifestar a
seu modo sentimentos e atitudes diferentes.

A intervenção psicopedagógica de modo lúdico ainda contribui no processo de


mediação do psicopedagogo que promove o desenvolvimento e a aprendizagem
e este vínculo modifica no aprendente os aspectos afetivos, logo que ele precisa
lidar com frustração da perda e do fracasso, a empolgação e o sucesso do
ganhar e além de modificar as relações sócio-afetivas de maneira positiva e o
mais importante sem uso abusivo da medicação, como métodos simples e
acessíveis a todos, o lúdico e a mediação de forma correta.

Considerações finais

O lúdico, em suas diferentes formas é um recurso complementar e que oferece


um direcionamento as intervenções psicopedagógicas e a educação em
aprendentes com TDAH, mas, as possibilidades não encerram – se no jogo, e
sim no contexto em que o aprendente é inserido favoravelmente no lúdico pois,
oferece indicadores a respeito da estruturação cognitiva, favorece a construção
de raciocínios, nas noções lógicas, favorece a construção do conhecimento no
processo de intervenção destes e dificuldades de aprendizagens, objetivando a
análise de procedimentos, a resolução de situações – problemas, possibilitando
o uso de diferentes sistemas simbólicos, e ainda refletir sobre tudo e como
encontra – se estruturado. Faz-nos refletir Almeida (2004):

A educação lúdica, além de contribuir e influenciar na formação da criança e do


adolescente, possibilitando um crescimento sadio, um enriquecimento
permanente, integra-se ao mais alto espírito de uma prática democrática
enquanto investe em uma produção séria do conhecimento. Sua prática exige a
participação franca, criativa, livre, crítica, promovendo a interação social e tendo
em vista o forte compromisso de transformação e modificação do meio.

Quando impostas as situações diretivas que os fazem reviver os fracassos


experienciados, as técnicas lúdicas neutralizam as tais situações desenvolvendo
as ações positivas impostas pela intervenção lúdica, pois, os aspectos afetivo-
sociais e morais estão implícitos nos jogos, pelo fato de exigir relações de
reciprocidade, cooperação e respeito mútuo.

A psicopedagogia na vida de um aprendente com TDAH consiste na construção


e desconstrução do conhecimento, oportunizando o individuo a ampliar o que se
sabe, valorizando as metodologias utilizadas no espaço inclusivo e
oportunizando a interação da família no processo sem subestimá lo ou torná lo
vítima de suas dificuldades e assim resgatar o prazer nas situações de
aprendizagem e no ato de aprender, pois, o profissional sabe que para aprender
o sujeito precisa de condições cognitivas, afetivas, criativas e associativas.
Ressalta Barbosa (2001):
Quando dizemos que a Psicopedagogia se preocupa com o ser completo, que
aprende, não podemos esquecer que faz parte da compleitude deste ser a
capacidade de aprender em interação com aquilo ou aquele que ensina; e que a
ação de ensinar não é sempre exercida pelo professor, assim como a de
aprender não é de responsabilidade somente do aluno.

Por fim, as intervenções lúdicas servem de interesse a todas as idades,


ultrapassando barreiras com o avanço da idade que são impostas ao brincar,
vindo a contribuir no desenvolvimento e na aprendizagem de modo geral e ainda
subjetiva a aprendentes de diversos níveis evolutivos, que estão caracterizados
no desenvolvimento da criatividade, sociabilidade e inteligências múltiplas, a
participação ativa, o enriquecimento do relacionamento entre os colegas, a
aquisição de novas habilidades, o aprender a lidar com os resultados
independentemente das ocorrências e frustrações, lidando e respeitando as
regras, realizando suas próprias descobertas por meio do brincar, além de
desenvolver e enriquecer sua personalidade tornando o participativo,
espontâneo, mais interativo e integrativo com autoconfiança e concentração.

Referências

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