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O modo como espontaneamente nos aproximamos das coisas, designado por senso comum, é
considerado um conhecimento subjetivo, ou seja, é particular do indivíduo que conhece. Este
permite-nos uma adaptação ao meio envolvente, a resolução de problemas do dia-a-dia e
fornece um razoável grau de orientação para a vida. Porém, não nos dá uma explicação e uma
compreensão da verdadeira natureza da realidade, por ser elaborado a partir das informações
sensoriais e da experiência acumulada e transmitida (passa de geração em geração), dando a
esta uma grande importância.
Enquanto o conhecimento vulgar se limita a constatar o que existe sem se preocupar com
explicações e é formulado numa linguagem corrente, originando ambiguidades, o
conhecimento científico descreve e explica fenómenos, expressando-se numa linguagem
específica, mais técnica e exata, o que evita a ambiguidade. Enquanto o conhecimento vulgar é
ametódico, acrítico, subjetivo e assistemático, o conhecimento científico é metódico, crítico,
objetivo e sistemático.
Além disso, é formal (cujo objeto de estudo não é correto) e empírico, com base na
experiência, em que a sua finalidade (ciência empírica) é explicar as regularidades dos
fenómenos, a partir de leis (generalizações com elevado grau de segurança, que permitem
previsões dos factos e que podem ser testadas). Pág.198 ver
O método científico é o conjunto dos procedimentos que as diversas ciências seguem para
investigar o seu objeto de estudo. Existem dois modelos: método indutivo e método
hipotético-dedutivo. Além disso, este método (científico) contribui para a eficácia da
investigação, dando credibilidade aos seus resultados. Não obstante, serve para validar uma
proposta resultante de uma observação. Portanto, consiste em etapas que todo o cientista
realiza para chegar a uma conclusão acerca de um facto e, após a observação deste,
experiências são realizadas para a compreensão da problemática gerada e chegar, assim, a
uma conclusão.
O método indutivo não chega a teorias universais seguras pois parte do particular para o
universal, no entanto poupa tempo e é funcional. Este método depende muito da observação
e é precisamente aí que começa, devendo ser imparcial, rigorosa e neutra.
Na realidade, a observação nunca é imparcial, pois o cientista tem que saber o que é quer ver /
observar, sendo portanto, seletiva. Seguidamente dever-se-á formular hipóteses, que serão
verificadas ou refutadas após a experimentação (por se basear na experimentação este
método é sempre uma generalização). Superada esta, a hipótese poderá ser considerada uma
lei, podendo-se, a partir dela, chegar a novas conclusões.
Poderá prever-se o futuro e se os dados futuros não concordarem com as previsões, a lei terá
de ser alterada.
Utilizando este método, os cientistas partem dos factos particulares observados, inferindo
indutivamente conclusões gerais- hipóteses teóricas-, que posteriormente são sujeitas a
verificação experimental. Se confirmadas, as hipóteses tornam-se leis ou teorias científicas.
Etapas:
Hipótese é algo que serve de base, é uma tentativa de fundamentar uma teoria. O primeiro
passo nesta fase é portanto, a suposição, à qual se segue a tentativa de explicação (que
antecipa um modelo de explicação). O levantamento de hipóteses não deriva diretamente da
observação, pois nesse caso todos os cientistas verificam o mesmo (levantariam as mesma
hipóteses). A hipótese é sempre diferente da ficção; enquanto esta não tem de ser plausível,
não tem limites, não está limitada pelo fenómeno e fala do futuro, a hipótese tem de ser
plausível e fala do presente. O cientista tem de ser criativo a levantar hipóteses, já Einstein
dizia: “ o cientista é obrigado a inventar coisas “. Um bom exemplo de um cientista de ficção é
Júlio Verne que se dedicou a escrever livros sobre viagens, máquinas e aventuras impossíveis
(algumas delas impossíveis apenas para a altura em que o autor vivia).
Esclarece a noção de falsificacionismo na perspetiva de Karl Popper
O falsificacionismo é uma teoria sobre a construção da ciência, desenvolvida por Karl Popper.
Para o falsificacionismo, a observação é guiada pela teoria (antes de observar, o cientista já
sabe o que vai observar).
Popper não assume uma postura verificacionista numa teoria científica. Este filósofo recusa o
indutivismo, afirmando que o cientista não começa pela observação de factos particulares,
mas sim por identificar um problema e formular uma hipótese para o solucionar, assim, a
teoria deve preceder a observação. Além disso, a indução não nos permite justificar as teorias,
uma vez que chega a conclusões mais gerais do que o que foi afirmado nas premissas, não
garantindo, assim, a cientificidade das teorias. Este autor critica a indução pois considera que
não há rigor naquilo que o cientista está a investigar.
Segundo este filósofo, os cientistas devem submeter as suas teorias a testes que visem
falsificá-las (refutá-las), e não verificá-las (confirmá-las). A lógica subjacente à falsificação de
um enunciado universal é dedutiva e não indutiva. Vejamos porquê. Pensemos no enunciado
geral «todos os peixes têm escamas». É possível verificá-lo?
Não, pois isso implicaria observar todos os peixes, sem exceção. Contudo, sabemos que se
todos os peixes têm escamas, então não existem peixes sem escamas. Imaginemos que somos
confrontados com um peixe sem escamas. Daqui deriva, necessariamente, que é falso que
todos os peixes tenham escamas. Este exemplo mostra que é possível, recorrendo a
inferências puramente dedutivas, concluir acerca da falsidade de enunciados universais: S
implica P; não acontece P; logo, não acontece S.
Para Popper, a verdade é um ideal regulador da ciência e uma meta a atingir bem como a
correspondência das proposições científica à realidade dos factos. A verdade consiste em fazer
coincidir as nossas ideias com a realidade, de forma exata- e acreditava (Popper) que essa
verdade é, em princípio, possível. Porém, nunca se pode ter a certeza de se ter chegado à
verdade, mas sim uma aproximação cada vez mais precisa a um entendimento da realidade:
sempre mais perto, mas nunca absolutamente seguro de que se a tenha encontrado.
Na medida em que se afasta progressivamente do erro e dado que possuímos um método que
nos permite comparar teorias e afirmar que a teoria X está mais próxima da verdade do que a
teoria Y. A objetividade advém do método utilizado e não, por exemplo, da forma como são
elaboradas as hipóteses.
III. A crise provocada pela acumulação de anomalias pode originar alterações na prática
científica, entrando-se num período de ciência extraordinária. Aqui, os cientistas
procuram encontrar soluções para as anomalias, uns dentro do paradigma vigente
(ciência normal), outros fora desse modelo (ciência extraordinária). A ciência
extraordinária é, portanto, a prática científica que acontece à margem do paradigma
dominante e, pode levar a uma revolução científica.
IV. Antes de o paradigma estar devidamente constituído, não existe ainda ciência
propriamente dita. Os investigadores encontram-se num período de pré-ciência.
Kuhn considera que a diferença de paradigmas é de tal modo radical que eles não se podem
comparar. Este facto revela que existe uma incomensurabilidade entre paradigmas. Deste
modo, estamos perante uma das teses mais controversas defendidas por Kuhn, a qual nos leva
a concluir que é impossível determinar se um paradigma é superior ou mais verdadeiro do que
outro.
O conceito de verdade é, segundo Kuhn, sempre relativo a um paradigma, ou seja, aquilo que é
verdade num paradigma pode não ser noutro.
Para Thomas Kuhn, as transições em ciência acontecem segundo um processo cíclico, em que
se alternam três fases sucessivas: fase normal, fase crítica e fase revolucionária.
Descrever o processo de evolução da ciência segundo K. Popper e segundo T. Kuhn
Popper
Popper defende que há progresso em ciência e que o erro é o motor desse progresso. Sempre
que sujeitamos uma teoria a testes e descobrimos que ela inclui erros ou está efetivamente
errada eliminamos os erros e, assim, aproximamo-nos da verdade. Podemos estar seguros de
alguma vez termos alcançado a verdade? Não, mas, de eliminação de erro em eliminação de
erro, caminhamos na sua direção.
A ciência progride por conjeturas e refutações, eliminando erros e visando falsificar as teorias
em vez de as verificar. De cada vez que se eliminam erros, aproximamo-nos da verdade,
embora não tenhamos forma de saber se alguma vez a alcançaremos. Popper estabelece,
neste ponto, uma analogia com o evolucionismo e a ideia de seleção natural, em que depois
de uma seleção rigorosa, sobrevivem as melhores ideias.
Kuhn
É ultrapassado o período pré-científico quando surge uma teoria mais poderosa e consensual.
Esta irá ajudar a fundar um paradigma. Um paradigma assume-se como um modelo de
investigação através do qual os cientistas desenvolvem a sua atividade.
Num período de ciência normal, os cientistas não procuram refutar ou criticar a teoria central
do paradigma. Pelo contrário, tentam aumentar a credibilidade dessa teoria e aumentar o
maior número de explicações fornecido pelo paradigma. O período é sempre indefinido. Ao
longo do período de ciência normal, podem surgir enigmas que não se conseguem resolver. É
assim que surge uma anomalia.
Quando estamos perante uma anomalia, há algo na natureza que não acontece de acordo com
a explicação apresentada pelo paradigma. Quando as anomalias colocam verdadeiramente em
causa os fundamentos do paradigma estão reunidas as condições para a emergência de uma
crise.
Uma crise é um período de insegurança em que a confiança no paradigma é abalada por sérias
anomalias. O paradigma entra em crise porque se descobrem cada vez mais fenómenos que
não estão de acordo com o paradigma.
No entanto, a instauração de um novo paradigma não é tarefa fácil. Para que seja possível o
seu aparecimento, é preciso que surja primeiro uma nova teoria. Quando isto acontece, afirma
Kuhn, dá-se o passo decisivo para a ocorrência de uma revolução científica.
Contrapor a posição de T. Kuhn sobre a evolução da ciência e a objetividade do
conhecimento científico à posição de K. Popper sobre a evolução da ciência e a
objetividade do conhecimento científico
Evolução da ciência
Popper acredita que o conhecimento científico evolui, progredindo em direção à verdade. Esta
ganha assim os contornos de um ideal regulador, que funciona como meta que os cientistas
procuram alcançar. Neste sentido, sempre que um cientista falsifica ou refuta uma teoria está
a dar um passo em frente no progresso científico, pois ao eliminar o erra está a contribuir para
a aproximação da verdade. O progresso da ciência acontece pelas sucessivas melhorias nas
teorias existentes, pela capacidade de detetar erros e pela capacidade de falsificar teorias
existentes (realiza-se por meio da falsificação de teorias).
Objetividade científica
Kuhn irá rejeitar uma série de lugares comuns acerca da ciência. Contesta a ideia de que uma
teoria seja melhor do que outra por representar mais fielmente a realidade.