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APRENDER-MATEMÁTICA-COM-VIDEOAULAS: ESTUDO DE CASO

DE UM FENÔMENO DO YOUTUBE

Andréa Thees1

Resumo: O trabalho apresentado resume as ideias de uma tese em andamento, que investiga por que
videoaulas de matemática são consideradas um fenômeno educativo no YouTube. Para isso, foram
selecionadas videoaulas produzidas por um professor de matemática para serem assistidas e analisadas
dentro de metodologia e critérios determinados. O referencial teórico selecionado busca a convergência
de três eixos temáticos e embasa as reflexões acerca da influência da (i) sociedade em rede e da cultura
da convergência (CASTELLS, 2000; JENKINS, 2009), das (ii) possibilidades educacionais do YouTube
(ALLOCCA, 2018; LANGE, 2014) e da (iii) Teoria Cognitiva de Aprendizagem Multimídia (MAYER, 2010)
em relação a aprender matemática com videoaulas. A metodologia da pesquisa segue uma abordagem
qualitativa e, por convergir para um fenômeno atual e único, distingue-se como um estudo de caso. Os
dados estão sendo coletados exclusivamente em mídias digitais e ambientes virtuais, estabelecendo um
viés netnográfico. Alguns resultados preliminares apontaram para a defasagem de uma década entre o
início das pesquisas sobre videoaulas em Educação Matemática e a criação do YouTube, dentro de um
cenário ainda pouco explorado, conforme os resultados da revisão de literatura realizada. Sendo assim,
pretende-se realizar um estudo do fenômeno aprender-matemática-com-videoaula, contribuir com futuras
investigações acerca do YouTube para fins educacionais e fomentar o debate sobre a temática, em
especial, na Educação Matemática.

Palavras-chave: Educação Matemática. Youtubologia. Videoaula.

Introdução: do que trata essa pesquisa?

Na virada do século XX para o século XXI, a maioria das redes de comunicação


existentes ainda não estava conectada, mas sustentavam suas identidades e
mantinham regras próprias de comportamento. A internet expandiu a interação social
daquelas pessoas que têm acesso a um mundo tecnologicamente desenvolvido,
através do surgimento de comunidades virtuais. Atualmente, a rede cobre praticamente
todas as áreas de convivência humana, da política à religião, sendo a coluna vertebral
da sociedade em rede (CASTELLS, 2005).
Enquanto o rádio levou cerca de três décadas para se popularizar entre os
muitos milhões de ouvintes e a televisão alcançou esse nível de difusão entre os
telespectadores na metade do tempo, após a criação da teia mundial, a internet o fez
em apenas três anos. Segundo Castells (2000, p. 439), o índice de penetração da

1
Mestre em Educação, Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro – PPGEdu\Unirio e docente do Departamento de Didática do
Centro de Ciências Humanas e Sociais da Unirio, andreathees@gmail.com
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internet é o mais veloz da história dos meios de comunicação. Mas, ao contrário do
rádio e da televisão, os consumidores da internet também são os seus produtores, pois
fornecem conteúdo e dão forma à rede. Neste cenário, de acordo com os registros
fornecidos pela história da internet, os responsáveis pela produção de tecnologia e pela
criação de conteúdo foram, em grande parte, os seus primeiros milhares de usuários.
Para Castells (2005), conhecimento e informação sempre foram centrais nas
sociedades historicamente conhecidas e não seria diferente agora, na sociedade
emergente. Este é o motivo do autor não concordar em usar as terminologias
sociedade da informação ou sociedade do conhecimento, pois “o que é novo é o fato
de serem de base microeletrônica, através de redes tecnológicas que fornecem novas
capacidades a uma velha forma de organização social: as redes” (ibidem, p. 17).
No início do milênio as redes sociais virtuais – RSV tornaram a comunicação
bastante dinâmica e, logo em seguida, passaram a servir também para o lazer e
entretenimento. Atualmente, nós as utilizamos para praticamente tudo. Em especial,
destaca-se a plataforma de compartilhamento de vídeos denominada YouTube, que se
constituiu em uma das redes sociais virtuais mais acessadas, caracterizada pela
enorme variedade de utilizações. Estes usos vão desde a gravação de vídeos caseiros,
momentos em família, opiniões pessoais, registros cotidianos até programas
jornalísticos, documentários, clipes musicais, shows, filmes, novelas, partidas
esportivas, cursos, debates, palestras, aulas, tutoriais, entre outros. Ou seja,
praticamente todo material audiovisual existente, produzido de forma amadora ou
profissional, pode ser encontrado no YouTube.

Youtubologia: apenas um neologismo ou conjunto de estudos sobre o YouTube?

Jenkins (2009) criou o neologismo youtubologia e utilizou-o, simplesmente, para


intitular uma relação de vídeos (ibidem, p. 370). Refletindo sobre a composição da
expressão youtubologia (youtube + logia) e sua acepção nova, considerei a
possibilidade de apropriar-me dela, não tendo encontrado referências anteriores.
Sendo assim, permito-me certa liberdade, pois estarei atendendo youtubologia como o
conjunto de estudos relacionados ao YouTube.

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Dentre todas as opções de páginas na internet, o Google e o YouTube são as
duas mais acessadas no Brasil e no mundo, segundo os dados do controlador de
tráfego Alexa2.
Quadro 1: Os 5 sites mais acessados no Brasil e no Mundo

Fonte: Elaborado pela autora

Talvez seja esse o motivo da Google Brasil ter investido R$ 700 milhões no país
nos últimos 15 meses, fato este, anunciado durante o evento Google For Brasil,
ocorrido em junho de 2018 (GHEDIN, 2018). Parte desse investimento financiou a
criação de um canal educativo, com conteúdos dos Ensinos Fundamental e Médio.
Batizada de YouTube EDU e com acesso gratuito, a função educacional da plataforma
promete videoaulas para complementar os estudos. Segundo Lisa Gevelber, vice-
presidente de marketing da GoogleLLC, a curadoria do conteúdo é de responsabilidade
da Fundação Lemann, também considerada a maior parceira da Google Brasil em sua
missão de expandir o alcance da educação no Brasil (IBIDEM).
Esse compromisso com a educação brasileira e com o crescimento do país
parece esconder a existência de intenções mercadológicas, quando analisamos o
comentário de Fabio Coelho, presidente da Google Brasil, sobre as últimas tendências
tecnológicas, como o machine learning. Para o executivo, o Brasil tem 139 milhões de

2
O Sistema Alexa monitora e calcula o tráfego na internet com base na combinação das médias diárias
de visitantes e visualizações de páginas do mês anterior. A classificação dos sites é baseada nesses
parâmetros. Disponível em: <https://www.alexa.com/topsites/countries/BR>. Acesso em 02 mai 2018.
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pessoas online, estando entre as cinco maiores populações digitais do mundo e em
segundo lugar em horas assistidas no YouTube.
De acordo com os dados publicados no Relatório YouTube Insights 20173, uma
publicação que reúne dados de algumas das principais categorias da plataforma de
vídeos, o portal da Google é um sucesso absoluto no mundo todo e está cada vez mais
presente na vida dos brasileiros. Entre quem usa a internet por aqui, o YouTube é
quase uma unanimidade, sendo acessado por 95% da população online brasileira, o
que significa 98 milhões de pessoas conectadas pelo menos uma vez por mês.
Este relatório levantou um dado que nos interessa em particular. Cada vez mais
o YouTube está deixando de ser, pura e simplesmente, um depósito de vídeos para se
tornar uma ampla fonte de informação. Isso porque 59% dos usuários de internet
pesquisados preferem se atualizar pelo YouTube a ver notícias nos meios tradicionais,
rádio ou televisão, enquanto 31% consideraram a plataforma um local de aprendizado.
Desses, 96% têm idades entre 18 e 35 anos. Considerando que, nesta faixa etária, o
acesso ao video on demand significa economia de tempo, podemos inferir que o
interesse dos jovens em buscar vídeos educativos no YouTube tende a crescer. Além
disso, 79% dos entrevistados concordaram que aprendem melhor e mais rápido
assistindo aos vídeos disponíveis na plataforma, do que lendo textos escritos.
Facilidade e mobilidade foram duas características que também ficaram evidentes nos
dados dessa mesma pesquisa. A maioria de 87% concordou que o YouTube permite o
consumo de qualquer tipo de conteúdo em vídeo, quando e onde quiser, sendo que
96% dos participantes da pesquisa responderam que acessam a internet diariamente
por meio do smartphone (82%) e do computador (66%).
Estes números podem nos dar pistas de como foram planejadas as políticas
altruístas de inclusão digital do Google, pela via da educação, enquanto o verdadeiro
alvo da empresa seria a existência de um nicho de mercado ainda inexplorado. Nele
estariam os brasileiros sem condições financeiras de possuir um smartphone e sem
possibilidades de conexão e, por isso, excluídos digitalmente. Todavia, os futuros
usuários e prováveis consumidores precisam ter acesso às redes sociais virtuais.
Afinal, Google e YouTube são os dois buscadores mais acessados mundialmente e
pretendem manter esta posição a todo custo.

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Dados disponíveis na internet em www.thinkwithgoogle.com.
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Todo esse protagonismo fez o YouTube ganhar evidência enquanto rede social
virtual. Aos poucos, o simples depósito de vídeos sem sentido se tornou uma ampla
fonte de informação e conhecimento. Talvez, de ensino e aprendizagem. A facilidade
com que se cria uma conta no YouTube fez surgir diversos canais de videoaulas.
Aqui no Brasil, os canais de videoaulas começaram a surgir por volta de 2010 e
se popularizaram a partir de 2015. Deste então, videoaulas sobre vários assuntos são
produzidas, postadas e vistas diariamente por milhões de pessoas na internet,
indicando que essa tendência veio para ficar. Particularmente, meu interesse principal
nesse tema está em entender por que, segundo a maioria dos comentários postados
por usuários, aprender-matemática-com-videoaulas no YouTube parece ser mais fácil,
mais rápido e mais eficaz.

Para quem interessa as possibilidades educacionais do YouTube?

Aprendi no YouTube (ALLOCCA, 2018), é uma frase ouvida e repetida com


bastante frequência e nota-se, sem nenhum alarde, o crescimento dessa tendência.
Em geral, para uma pergunta simples, parecemos estar acostumados com a
possibilidade de obter várias respostas, inclusive em vídeo.
A questão que se coloca, então, para pensar as particularidades do processo de
aprender e ensinar matemática, não é apenas pensar no que se faz ou deixa de fazer
nos espaços escolares. Tampouco é descrever as ações e práticas dos sujeitos
envolvidos nesses processos, suas técnicas, procedimentos ou metodologias, tentando
entender suas rotinas e cotidianos nas salas de aula. É olhar para esses indivíduos,
para sua condição humana e, sobretudo, entender como o mundo os está influenciando
em todos os sentidos. É perceber a existência de novas relações de aprender e
ensinar, de outras formas de comunicação inusitadas, de coletivos nunca pensados
antes, de conexões que se estabelecem independente da distância e do momento
(LANGE, 2014). É também considerar que as tecnologias digitais deveriam estar cada
dia mais e mais presentes nos processos de ensinar e de aprender matemática.
Entretanto, atuando como professora e pesquisadora, mas também no papel de
mãe e cidadã comum, vejo a instituição escola como Sibilia (2012): um local destinado
à produção de conhecimento, mas que aos poucos foi se tornando incompatível com os
corpos e as subjetividades dos sujeitos de hoje. Os componentes e modos de
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funcionamento da escola parecem como uma “máquina antiquada” (p. 13), que não
entra sintonia, nem atende às expectativas das crianças e jovens do século XXI.
A maioria dos indivíduos em idade escolar, atualmente, pertence a uma geração
que nunca viveu sem celulares, tablets ou computadores pessoais, consequentemente,
sem acesso à internet. A chamada Geração Millenium possui hábitos peculiares e esse
coletivo de nativos digitais vem fazendo com que as instituições escolares repensem
suas estratégias de ensino e seus modos de atuar. Estamos presenciando, a cada dia,
mais e mais sujeitos ansiosos para integrar as tecnologias às práticas pedagógicas,
buscando inovar o processo de ensino e aprendizagem, sem que essas tentativas de
inovação se transformem em apenas mais um modismo.
Ou seja, a aquisição de desenvolvimento tecnológico, o acesso à internet e a
chegada à sociedade em rede não são garantia de transformação de uma realidade
social para melhor. Castells afirma que
É por isso que difundir a Internet ou colocar mais computadores nas escolas,
por si só, não constituem necessariamente grandes mudanças sociais. Isso
depende de onde, por quem e para quê são usadas as tecnologias de
comunicação e informação. O que nós sabemos é que esse paradigma
tecnológico tem capacidades de performance superiores em relação aos
anteriores sistemas tecnológicos. Mas para saber utilizá-lo no melhor do seu
potencial, e de acordo com os projetos e as decisões de cada sociedade,
precisamos conhecer a dinâmica, os constrangimentos e as possibilidades
desta nova estrutura social que lhe está associada: a sociedade em rede.
(CASTELLS, 2005, p. 19)

Por outro lado, a proliferação de aparelhos móveis de comunicação e


informação, tais como os telefones celulares e os computadores portáteis com acesso
à internet, tem ditado os modos de ser tipicamente contemporâneos dos chamados
nativos digitais. Para essa geração, o matemático Salman Khan4 mereceu, por
exemplo, ser reconhecido como o “melhor professor do mundo” por ter transformado a
aprendizagem em algo mais atraente, satisfatório, interessante e produtivo,
conseguindo revolucionar a velha e tediosa rotina escolar com seu canal no YouTube.
Criado em 2006 com o objetivo de hospedar videoaulas de matemática, a plataforma
Khan Academy acabou inspirando o surgimento de outros canais de videoaulas pelo
mundo. Sal Khan nunca defendeu a substituição das aulas presenciais com mediação

4
WEINBERG, Monica. Entrevista “O melhor professor do mundo”. Revista Veja. Edição Especial.
n.2254, São Paulo, 01 fev 2012.
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de professores por aulas gravadas ou online. Para ele, videoaulas estariam apenas
reforçando o excelente trabalho realizado em sala de aula.
Infelizmente, suas ideias acabaram sendo deturpadas e continuam, muitas
vezes, sendo usadas para justificar a aprovação de políticas públicas que flexibilizam
as regras de fiscalização da educação online e a distância. Geralmente, são medidas
bastante elogiadas por fundações e empresários com interesse no setor educacional
privado como, por exemplo, a Fundação Lemann, doadora vitalícia da Khan Academy,
após a doação de, no mínimo, US$10.000.0005.

Por que videoaulas de matemática são consideradas um fenômeno do YouTube?

A partir de critérios definidos para uma escolha assertiva, selecionei um canal no


YouTube de um professor de matemática a fim de assistir suas videoaulas. Tendo se
transformado em um fenômeno das videoaulas de matemática (THEES, MACHADO e
FANTINATO, 2017), o canal conta com aproximadamente um milhão e quatrocentos
mil inscritos e com um acervo de quase dois mil videoaulas, atualmente.
Inicialmente, foram coletados dados de 150 videoaulas que representam,
aproximadamente, 10% do conteúdo do canal. Somadas, essas videoaulas totalizaram
quase 9 horas de gravação. Após constatar que a coleta do restante dos dados de
aproximadamente 1.350 videoaulas, estaria comprometida devido à escassez de
tempo, foi necessário realizar alguns ajustes e adequações na metodologia da
pesquisa.
Através da parceria firmada com o Grupo de Apoio Estatístico, vinculado ao
Departamento de Métodos Quantitativos, do Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas
da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, o professor Steven Dutt Ross
prestou consultoria à pesquisa. Para substituir a coleta manual de dados das
videoaulas foi desenvolvido um aplicativo que permite extrair automaticamente
determinados dados de uma videoaula, sem necessitar obrigatoriamente acessá-la.
Após esta etapa, os dados foram inseridos em uma planilha, para serem organizados e
classificados conforme as demandas analíticas surgirem. Como resultados, os gráficos

5
A partir de 10 milhões de dólares, o valor doado não é informado ao público. Disponível em:
<https://pt.khanacademy.org/about/our-supporters>. Acesso em: 30 out 2018.
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a seguir representam o conjunto de todas as videoaulas com suas respectivas
visualizações e a média anual de visualizações por videoaula.

Gráfico 1: Frequência de Visualizações Total

Fonte: GAE Consultoria – Unirio, com dados de 16/10/2018

Gráfico 2: Média Anual de Visualizações por Videoaula

Fonte: GAE Consultoria – Unirio, com dados de 16/10/2018

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Destaco o fato de que as três videoaulas com mais de um milhão de
visualizações, são de conteúdos da matemática elementar. A videoaula “Polêmica:
80% das pessoas erram o valor de 2+5x3+4”, postada em 23/05/2014, obteve
3.088.285 visualizações; a videoaula “Truque: raiz quadrada em 3 segundos”, postada
em 10/02/2016, obteve 1.832.297 visualizações; e a videoaula “Como decorar a
tabuada? Propriedade distributiva”, postada em 17/05/2014, obteve 1.150.351
visualizações.
Constatar que as três videoaulas mais visualizadas por internautas, em um
universo de aproximadamente 1.500 videoaulas de matemática, pode estar
evidenciando sintomas de que a escola em tempos de dispersão (SIBILIA, 2012) não
consegue estar em sintonia com a sociedade em rede (CASTELLS, 2005). Surgem,
então, algumas perguntas como: O que faz com que conteúdos de matemática
elementar sejam os mais procurados? Quando têm oportunidade de acesso, o que faz
com que os internautas busquem majoritariamente aulas expositivas, no estilo
tradicional? São perguntas ainda sem respostas. Ou seja, na pesquisa qualitativa,
pode-se até traçar um plano de investigação, mas deve-se ter flexibilidade para
incorporar novos questionamentos à pergunta inicial, a qual deu origem ao trabalho.

Próximas etapas da pesquisa

Para responder à questão da pesquisa, aos questionamentos anteriores e aos


que certamente irão surgir, os critérios para análise das videoaulas postadas no canal
selecionado para a coleta de dados, serão baseados nos doze princípios da Teoria
Cognitiva de Aprendizagem Multimídia (MAYER, 2010). Eles estão organizados em três
grupos distintos, sendo: Grupo A – Princípios para reduzir o processamento de
conteúdo supérfluo: coerência (1), sinalização (2), redundância (3), proximidade
espacial (4) e proximidade temporal (5); Grupo B – Princípios para garantir o
entendimento fundamental: segmentação (6), conhecimento prévio (7) e formato (8);
Grupo C – Princípios para promover o entendimento gerado: multimídia (9),
personalização (10), voz (11) e imagem (12).
Considero que algumas ideias advindas da Teoria Cognitiva de Aprendizagem
Multimídia (MAYER, 2010) facilitarão o entendimento de como videoaulas podem estar
contribuindo para proliferação da aprendizagem fastfood e individualizada,
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multiplicando a crença de que aprender sozinho, longe da sala de aula, parecer ser
mais eficaz e mais rápido do que aprender coletivamente nos espaços escolares.

Considerações preliminares

Não fez parte deste recorte, mas caberia ainda informar que foi realizada uma
extensa e aprofundada revisão de literatura. Finda a tarefa, constatei a escassez de
pesquisas sobre a temática, a defasagem de tempo entre o lançamento do YouTube,
em 2005, e o início das pesquisas envolvendo algum conteúdo do YouTube, em 2015.
Ainda foi possível ter acesso a uma grande quantidade de publicações científicas
internacionais, cujos pressupostos consideravam o uso educacional do YouTube. Este
fato pode estar apontando para a relevância, ainda não instituída no Brasil, de se
desenvolver mais pesquisas sobre aprender-matemática-com-videoaulas e as
possibilidades educacionais do YouTube em relação à Educação Matemática.
As leituras realizadas também indicaram, entre outros temas, que empresas
privadas e fundações, como a Google Brasil e o Grupo Lemann investem, cada dia
mais, em ações mercadológicas e parcerias que priorizam ações descabidas e
aligeiradas, imputando ao uso de tecnologias digitais a solução para problemas
estruturais da Educação brasileira. Enquanto educadores, nosso foco necessita estar
na investigação de produtos rotulados como educativos, em como são produzidos e por
quem os disponibiliza. Nosso investimento carece ser em pesquisas que analisem e
reflitam sobre as novas práticas desenvolvidas nesses espaços de/com videoaulas,
sobre as relações de ensino e aprendizagem, ainda pouco investigadas, que emergem
nas redes sociais virtuais como o YouTube.
Por fim, ainda está muito cedo para esboçar alguma conclusão acerca da
investigação em curso, contudo espera-se que essa pesquisa impulsione e contribua
com novas investigações, frente ao avanço do fenômeno aprender-matemática-com-
videoaula.

Referências Bibliográficas

ALLOCCA, K. Videocracy. Londres: Bloomsbury, 2018.

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CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede – Volume I. 8 ed. São Paulo: Paz e Terra.
2000. 574 p.

______. A Sociedade em Rede: do conhecimento à política. In: CASTELLS, Manuel;


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Conferência promovida pelo Presidente da República. Centro Cultural de Belém. p. 17-
30. Imprensa Nacional – Casa da Moeda. 2005. Disponível em:
<http://escoladeredes.net/group/bibliotecamanuelcastells>. Acesso em: 21 jun 2018.

JENKINS, Henry. Cultura da Convergência. 2 ed. São Paulo: Aleph, 2015. 432 p.

GHEDIN, R. “Nossa crença no Brasil é de longo prazo”. Gazeta do Povo, São Paulo, 08
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<https://www.gazetadopovo.com.br/economia/nova-economia/nossa-crenca-no-brasil-
e-de-longo-prazo-diz-presidente-do-google-brasil-1a552xuduwz2s4g96p8bpr1zt>.
Acesso em: 04 jul 2018.

LANGE, Patricia G. Kids on YouTube: Technical identities and digital literacies. São
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MAYER, Richard E. Multimedia learning. 2 ed. Nova Iorque: Cambridge, 2010. 304 p.

SIBILIA, Paula. Redes ou Paredes: a escola em tempos de dispersão. Rio de Janeiro:


Contraponto, 2012. 222 p.

THEES, A.; MACHADO, M. A. D; FANTINATO, M. C. Saberes e práticas de um


professor de matemática youtuber. In: Jornada de Pós-Graduação da UNIRIO, 3,
Anais... Disponível em: <http://ocs.unirio.br/index.php/jpg/jpgunirio/paper/view
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