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FACULDADE UNINASSAU – PARNAÍBA

A SOCIOLOGIA DE ÉMILE DURKHEIM

Durkheim se apresenta como um dos principais nomes na formação da sociologia enquanto saber
científico e empreendeu grandes esforços para sistematizar o conhecimento sociológico principalmente no
âmbito acadêmico. Seus estudos estão situados principalmente em estabelecer um objeto e métodos próprios para
a análise dos fenômenos sociais. As temáticas abordadas por esse autor são das mais variadas indo desde
discussões acerca da divisão social do trabalho, suicídio, religião até formas de classificação e educação. Os
esforços em estabelecer a sociologia enquanto disciplina científica partem de tentativa de “isolar” o objeto da
sociologia e afastar-se da análise dos fenômenos sociais dos determinismos externos como da análise
psicológica. Nesse sentido empreende grande empresa ao determinar o objeto de estudo da sociologia em sua
natureza coletiva, afastando-se das perspectivas individualistas que pouco ou nada conseguem propor
generalizações. A partir desse empreendimento Durkheim possibilita a análise da sociologia tendo como base
pressupostos da ciência positivista tais como a busca de regularidades nos fenômenos da sociedade,
sistematização e classificação dessas regularidades. A ciência da sociedade proposta então pelo autor tem base na
regularidade dos fenômenos sociais e a possibilidade de gerar conceitos a partir das generalizações
.

Método da Sociologia .

Segundo Durkheim o estudo da sociologia enquanto ciência está no esforço de desmitificar e


desnaturalizar as realidades sociais, desnudando assim os fenômenos sociais de suas aparências individuais.
Desse modo as ciências da sociedade deve-se afastar-se dos julgamentos de valores e das noções pré-concebidas
que circundam os fenômenos sociais. Nesse sentido o empreendimento metodológico da sociologia estaria em
buscar regularidades nos fenômenos sociais a partir da observação criteriosa e sistemática de tais fenômenos.
Para tanto a ciência da sociedade deveria se aproximar das ciências naturais já constituídas e amadurecidas. Ao
aproximar-se do modelo das ciências da natureza o autor entende que assim como no reino natural há leis que
regem seu funcionamento a sociedade também teria suas próprias leis que regularizam os fenômenos sociais,
bastaria então ao estudioso debruçar-se sobre os fenômenos sociais, tendo como ponto de partida a observação
sistemática e exaustiva do mesmo para então observar aquilo que lhe é comum e repetido podendo então chegar a
racionalização do fenômeno e determinar suas regras de funcionamento .

Indivíduo e Sociedade .

Uma das principais discussões que permeiam os estudos da sociedade desde a sua fase pré-científica,
passando por sua fase de sistematização até os dias atuais está quanto a abordagem relativa a análise do
fenômeno social, a saber se a análise do fenômeno parte das ações individuais ou das energias coletivas.
Durkheim postula a respeito dessa discussão que só é possível entender os fenômenos sociais a partir do que eles
têm em comum para só então compreender suas regras de funcionamento. Nesse sentido a análise sociológica
durkheimiana parte da abordagem da sociedade. Grosso modo, para o autor o indivíduo tem um papel reduzido
nos fenômenos sociais e, portanto, negligenciável. Na verdade, o autor entende que a entidade individual é uma
parcela quase inexistente uma vez que a sociedade se impõe intermitentemente sobre os indivíduos. Nesse
sentido o indivíduo apenas seguiria a vontade expressa pela coletividade. De acordo com o autor a sociedade se
impõe irresistivelmente sobre os indivíduos não deixando espaço para suas manifestações particulares. Os
indivíduos por si só expressam o reino do caos e a sociologia durkheimiana está preocupada em estabelecer
regularidades nos fenômenos sociais o que só seria possível a partir da análise coletivista. A abordagem
preferencial da análise sobre a sociedade marca toda a teoria, método e objeto sociológico na obra de Durkheim e
se apresenta como elemento fundamental e fundante na compreensão da obra do autor. Vale lembrar que o autor
tem contato com a obra de Sant-Simon e Conte e, portanto, recebe influência positiva tanto no método como na
compreensão do estudo a partir da entidade sociedade.
Tendo em vista essa abordagem da sociedade Durkheim assim como aqueles que lhe influenciou postula o
pressuposto de que a sociedade é um todo ordenado composto por partes, comparável a um organismo
fisiológico. A metáfora do “corpo social” extraído da biologia traz à tona a perspectiva durkheimiana sobre a
sociedade como forma de organização ordenada, cujos órgãos (instituições) estão em pleno funcionamento
(ordem) para garantir a estabilidade orgânica.

O Objeto da Sociologia .

A partir da análise sociológica com bases na sociedade, levando em consideração que a sociologia está
preocupada em buscar regularidades e generalidades nos fenômenos sociais, Durkheim talha o objeto da
sociologia que a distingue de outras disciplinas e a certifica cientificamente, a saber, o Fato Social.
Como vimos anteriormente a sociedade se impõe sobre os indivíduos de modo irresistível aos indivíduos. Essa
ideia expressa exatamente o Fato Social que é conceituado pelo autor como: toda maneira de fazer, fixa ou não,
suscetível de exercer sobre os indivíduos uma coerção exterior; ou ainda, toda maneira de fazer que é geral
na extensão de uma sociedade dada e, ao mesmo tempo, possui uma existência própria, independente de suas
manifestações individuais .
O conceito de Fato Social dado pelo autor é de extrema importância para compreender os conceitos
subsequentes. Passemos então a entender os principais elementos que constituem o objeto da sociologia

1. toda maneira de fazer, fixa ou não, suscetível de exercer sobre os indivíduos uma coerção exterior: tudo
o que fazemos, não fazemos por impulsos, ou porque é natural, ou porque é instintivo, ao contrário tudo o que
fazemos, o fazemos de algum jeito, ou seja, tem uma regra. Desde as coisas mais simples como escovar os dentes
ou dormir até as coisas mais complexas como operações de crédito, o fazemos guiados por regras. Ora essas
regras são fixadas, ou seja, oficializadas, ora não são fixadas, não possuem regras bem claras ou estabelecidas. O
importante é perceber que o modo como fazemos as coisas não o fazemos porque queremos ou por impulsos
como dito de início e sim guiados por regras que não é o indivíduo que cria ou deseja, ou seja, é exterior a nossa
vontade indivídua, é uma força social que nos obriga (coerção) a fazer as coisas de uma determinada forma.
2. toda maneira de fazer que é geral na extensão de uma sociedade dada: esse segundo postulado não se
distancia do primeiro, pois, afirma que não é o bastante haver uma regra que dite o como fazer as coisas se essa
regra não seja extensa a toda sociedade. Nesse sentido o fato social é observado a partir da possibilidade de um
fenômeno se estender a todas a sociedade e não isolado em seu caráter individual.
3. e, ao mesmo tempo, possui uma existência própria, independente de suas manifestações individuais:
esse enunciado apresenta outra característica marcante do fato social, a saber sua existência fora do indivíduo. Ou
seja, o fato social é a expressão da força impositiva que o corpo social com suas regras, valores e normas tem
sobre o indivíduo.

O fato social enquanto objeto da sociologia durkheimiana se caracteriza por ser expressamente exterior
aos indivíduos e exercer sobre os mesmo uma força coercitiva que os obriga a agir, pensar e sentir de modos
determinados pelo conjunto das regras, valores e normas presentes no corpo da sociedade, além de ser regular em
sua extensão da sociedade .

Alguns conceitos importantes na obra de Durkheim .

Como vimos anteriormente Durkheim privilegia uma abordagem a partir dos que os fenômenos sociais
possuem de universal (Sociedade) em detrimento daquilo que eles possuem de particulares (indivíduo). Nesse
sentido o autor compreende a existência de duas consciências, a saber a consciência coletiva que representa o
conjunto de normas, regras e valores da sociedade habitando em nós; e a consciência individual que é aquilo
que temos de particular e distinto. Visto por essa ótica coabita em nós esses dois seres que juntos formam o Ser
Social. Segundo o autor a quanto mais é acentuada a consciência coletiva numa sociedade maior é o grau de
coesão social e a solidariedade entre os entes coletivos. No entanto, em sociedades com maior grau de
desenvolvimento da divisão social do trabalho maior a possibilidade de acentuar-se as consciências individuais, o
que não compromete a coesão social visto que há necessidade de uma maior solidariedade entre os entes da
sociedade.
O autor entende por solidariedade a aceitação e a conformação com as regras, normas e valores
presentes na sociedade por parte dos indivíduos. A solidariedade é, portanto, um elo que une todos os indivíduos
para garantir a coesão e a manutenção da sociedade. Segundo o autor existe dois tipos de solidariedade, a saber:
1. Solidariedade mecânica: é característica de sociedades onde os indivíduos não se diferem nitidamente
uns dos outros; onde os valores as normas e as regras são compartilhadas por todos indistintamente; ou seja, onde
os níveis de concordância com as normas sociais são mais unânimes. A exemplo disso podemos citar as relações
familiares mais tradicionais, pequenos povoados rurais, onde as relaçõe são de maior proximidade, permeada por
afetos e intimidade. Esse tipo de solidariedade é chamado por tipo coletivo uma vez que não há espaço para a
atenuação da consciência coletiva e, portanto, das individualidades .

2. Solidariedade orgânica: é o conceito utilizado por Durkheim para explicar a coesão social na
sociedade moderna, caracterizada pela divisão do trabalho e pelo individualismo. Nesse sentido, há maior
acentuação da individualidade e a consciência coletiva continua a se impor sobre as consciências individuais de
modo a garantir a coesão da sociedade moderna. A exemplo disso podemos observar as relações que mantemos
com os serviços e produtos frutos da divisão social do trabalho, visto que nas sociedades modernas ainda que nem
todos se conheçam todos mantém relação de dependência uns com os outros – o passageiro depende do trabalho
do motorista, a refeição matinal depende do funcionamento da padaria; o estudante depende do exercício da
função do professor. Visto assim todos os membros da sociedade ainda que tenham acentuada individualização,
por força coletiva dependem um dos outros para manter o corpo social funcionamento solidário e coeso.

Alguma teoria para o direito .

A abordagem durkheimiana acerca da busca de regularidades na sociedade, que os fatos sociais são
constituídos de regras que se impõem aos indivíduos, que a solidariedade é um acordo e uma aceitação coletiva de
regras, normas e valores para garantir a coesão e, portanto, o bom funcionamento do corpo social, já seriam
contribuições suficientemente plausíveis da sociologia durkheimiana para o estudo do Direito e a compreensão
das leis e sua relação com a sociedade. Durkheim, no entanto, vai mais além e para conceituar solidariedade
acessa o conhecimento jurídico e o funcionamento das leis em seu tempo. Além disso, o autor também se
preocupa com os fenômenos sociais relativos ao rompimento com as leia, a saber, o crime nas sociedades.
Para Durkheim a sociedade assemelhada a um organismo natural possui funções e sua saúde depende do
pleno funcionamento de seus órgãos. Portanto, o que garante a saúde ou normalidade dentro de uma sociedade é
exatamente a capacidade de a consciência coletiva se impor sobre as consciências individuais. Quanto mais os
indivíduos são conduzidos pela observância das regras e normas sociais mais é acentuada a coesão social e,
portanto, a saúde da sociedade. A esse estado de sociedade o autor entende como sendo “Normal”, ou seja, os
elos da sociedade estão bem conservados, o conjunto da sociedade está consensuada em relação às normas e as
regras da sociedade, a coesão social está garantida exatamente pelo fato das consciências individuais estarem
preenchidas pela consciência coletiva .

No entanto, assim como um organismo natural o corpo social também sofre com situações que o levam a
doença e a crise. A esse estado o autor denomina patológico. No entanto, esses momentos ditos patológicos não
costumam durar toda a vida e sim serem sanados levando a sociedade novamente a suas formas normais. Nesse
sentido esses estados patológicos nos fatos sociais seria exatamente um sinal do rompimento de algum elo dentro
da sociedade que precisa ser restaurado e reordenado. Os estados patológicos estão para o rompimento da
solidariedade entre os indivíduos, ou seja, as regras, normas e valores não conseguem se impor consensualmente
sobre a totalidade dos indivíduos, em outras palavras, há uma acentuação e exacerbação das consciências
individuais a um ponto não suportado pela sociedade. Para sanar os estados patológicos as instituições se
esforçam em impor com maior força suas regras e normas para fazer os indivíduos retornarem a condição coletiva
e, portanto, acentuar a força da consciência coletiva sobre a totalidade da sociedade
.
Para compreender melhor essa ideia relativa a estados Normais e Patológicos da sociedade utilizemos o
crime enquanto um fato social, ou seja, objeto de estudo da sociologia. O crime por si só não é um estado
patológico dentro de uma dada sociedade, ao contrário ele faz parte da existência social. No entanto, é
importante frisar que o crime provoca a ruptura nos elos de solidariedade e sua reprovação pela sociedade
serva para confirmar e vivificar valores e sentimentos comuns. Segundo o próprio autor “o crime consiste
num ato que ofende certos sentimentos coletivos dotados de uma energia e de uma clareza particular. Para
que, numa dada sociedade, os atos reputados, criminosos pudessem deixar de ser cometidos, seria preciso
que os sentimentos que lhes ferem se verificassem em todas as consciências individuais sem exceção e com
grau de força necessário para conter os sentimentos contrários” .

As sociedades possuem taxas aceitáveis por serem continuas de crimes, ou seja, o crime é um fenômeno
intrínseco e esperado, portanto, normal. No entanto, quando as taxas de crimes aumentam numa dada sociedade o
fenômeno é compreendido enquanto patológico, visto que há rompimento da solidariedade o que compromete a
coesão social, em outras palavras, estabelece-se a desordem dentro da sociedade. O crime nesse sentido é visto
sobre uma ótica universal, suas causas não estão no indivíduo, mas devem ser buscadas no interior da sociedade.
Visto por esse lado as causas do crime só podem ser compreendidas a partir da relação que o fenômeno possui
com a totalidade da sociedade. O crime em Durkheim é apresentado enquanto uma categoria
particularmente paradoxal, uma vez que pode ser classificado enquanto normal e patológico. Nesse sentido
o crime é um fenômeno universal e, portanto, classificável como normal em condições de funcionamento
padrão das sociedades, de modo que ele se apresenta enquanto patológico a partir do momento em que
atinge índices exagerados.

Coerção
coerção
funções Quadro Teórico

FISIOLOGIA SOCIAL

MORAL RELIGIÃO

CONSCIENCIA REPRESENTAÇÕES
COLETIVA COLETIVAS

ANOMIA
MECÂNICA DIREITO
REPRESSIVO
SOLIDARIEDADE SOCIAL

SOCIEDADE
(complexo
integrado de
fatos sociais)

DIREITO
ORGÂNICA RESTITUTIVO

INDIVÍDUO GRUPOS E
INSTITUIÇÕE
Coerção
DIVISÃO
DO
TRABALHO

MORFOLOGIA SOCIAL

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