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A escrita Musical
A falta de uma escrita adequada à música, criou problemas à sua divulgação, já que esta transmi-
tindo-se oralmente não permitia uma uniformidade na sua reprodução e interpretação. Os gregos já
utilizavam uma escrita alfabética que atingiu os 300 signos.
No séc. IX, o monge Hucbaldo (840-930) criou uma espécie de estenografia musical
– a escrita Neumática (termo já usado pelos gregos e que significa ar ou sinal) –
onde 15 símbolos representavam não só a acentuação musical como o movimento
ascendente ou descendente dos sons. Mais tarde foi acrescentada uma linha verme-
lha, que representava o Fá, e depois uma amarela, para o Dó. E outras duas foram
acrescentadas mais tarde.
Com a polifonia, e consequente complexidade musical, foi necessário desenvolver a
forma de escrita. Segundo a tradição, foi atribuída a Guido de Arezzo (séc. XI),
monge beneditino, a pauta de 5 linhas (como actualmente) onde a posição da nota
ou do texto, colocada sobre a linha ou no espaço entre elas, indicava a sua altura
exacta. Também foi o responsável pela nomenclatura actual das notas – dó (ut), ré,
mi, etc.
A escrita Quadrata, característica dos escritos gregorianos, surgiria no séc. XII, onde a pauta pos-
suía 4 linhas e as notas eram geralmente quadradas. No início também se colocou uma clave, sím-
bolo que indica a altura do som naquela linha. Os livros com o cantochão eram reproduzidos pelos
monges copistas dos mosteiros e difundiram-se pela Europa e foram sendo profundamente orna-
mentados com Iluminuras.
As Formas Musicais
CANTO GREGORIANO – ou Cantochão, é uma monodia (uma voz) cantada pelos monges e
clero em Latim durante as cerimónias religiosas. Esta designação deve-se ao papa Gregório I que
organizou e disciplinou os cantos religiosos no séc. VIII. A linha melódica do canto Gregoriano é
muito “melancólica”, não existindo intervalos (“saltos”) muitos acentuados, havendo momentos de
impulso (arsis) e de repouso (thesis). Nor-
malmente, a cada nota corresponde a uma
sílaba (canto Silábico) como em Te lúcis
ante términum ou a 2 a 4 notas (canto
Neumático) como em Cantate Dómino, os
cantos Melismáticos são mais floreados,
correspondendo a cada sílaba várias notas,
como no Alleluia. O manuscrito mais anti-
go que se conhece, um hino à Santíssima
Trindade, é do séc. III.
ORGANUM – termo que evidencia a analogia à música para Órgão, é na Catedral de Nôtre-
Dame de Paris que Léonin, com base no canto gregoriano, sobrepõe a uma voz silábica uma voz
ornamentada e acima (mais aguda) da outra. Pérotin seria ainda mais “audaz” ao sobrepor 2 ou 3
vozes à voz mais grave. A sonoridade e o ritmo são agrestes aos ouvidos actuais pelo facto de se
cantar frequentemente em intervalos de segunda, de quarta ou de quinta e o tempo forte ser mais
curto que o fraco (ritmo sincopado).
CONDUCTUS – peça composta para acompanhar o percurso dos sacerdotes do altar às grades
do coro, difere do organum nas diferentes vozes terem um ritmo semelhante ou igual. Por outro
lado, as composições eram totalmente originais, não se baseando no cantochão. Por vezes existiam
espaços livres que podiam ser preenchidos com obras originais – as Cláusulas.
MOTETE – derivado do Organum e da Cláusula, a voz mais grave – o tenor – tinha duas ou três
ou mesmo uma palavra, enquanto a voz mais aguda – o motete (do francês,mot) – executava várias
palavras. Acrescentada uma terceira voz – o triplum – o texto podia ser diferente da segunda voz.
Os Motetes seculares seriam escritos com textos profanos.
MISSA – como obra musical completa, surge no séc. XIV com Machault, sendo habitualmente
composta de Kyrie, Gloria, Credo, Sanctus e Agnus Dei.
VIRELAIS – eram canções, com 3 estrofes e estribilho para solista e
coro em versos de 8 sílabas, onde se referia o amor cortesão.
ESTAMPIE – era uma dança, muito comum na Idade Média, oriunda
da Sequência litúrgica.
CHACE ou CACCIA – era escrita em forma canónica (cânon é uma
forma musical em que um tema é tocado ou cantado por todas as vozes,
que entram em compassos diferentes) a 3 vozes (na caccia) ou a 4 (na
chace). Como o nome indica, os textos descrevem cenas de caça, ou
batalhas ou incêndios, ou mesmo de pesca.
Instrumentos de Percussão
CASTANHOLAS, TIMBALES, TAMBOR e o TÍMPANO eram semelhantes aos actuais.
CÍMBALOS e CRÓTALOS – em forma de chapas ou de pequenos pratos de metal, em número
de dois que se percutem um contra ou outro.
SINOS – de dimensão diferentes e em grupos de 7 ou 8, formam um carrilhão e eram tocados com
um martelo.
Curiosidades
A nomenclatura actual das notas musicais deve-se a Guido de Arezzo que, para facilitar a sua
memorização, atribuiu o nome a cada nota a partir da primeira sílaba do texto:
Utqueant laxis
Resonare fibris
Mira gestorum
Famuli tuorum
Solve polluti
Labi reatum
Sancte Ioannes
(mais tarde a denominação ut seria convertida em dó e a de sa em si). Para faci-
litar a noção da diferença de altura do som (intervalo) desenhou uma mão em
que cada articulação corresponde a um Intervalo da escala musical.
Este método, o Solfeggio, foi um sucesso e rapidamente se difundiu pela Europa
até aos nossos dias.