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INSTITUTO DE PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TEORIA
PSICANALÍTICA
Rio de Janeiro
2017
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RESUMO
LIBERDADE TRANSCENDENTAL
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Como encontramos em seu artigo O que é o Esclarecimento (1783), está nas mãos
do próprio homem a saída de sua minoridade, a qual pode ser definida como a
incapacidade de se servir de seu próprio entendimento sem a tutela de outro (Kant, 1783).
A superação de sua minoridade se daria pelo ato, pela determinação a utilizar a faculdade
da razão. O alcance da maioridade estaria, portanto, na dependência de um ato de coragem
para assumir tal tarefa.
Com isso, podemos vislumbrar o que será debatido por Kant no que ele nomeia
de Mal radical. Pois, apesar de estar presente em cada homem a consciência moral
necessária para aceder ao Imperativo Categórico, bem como ser a disposição ao Bem a
disposição original do homem, existirá, sempre, intrinsecamente à experiência moral, a
tendência a que seus atos se desviem desta disposição moral Boa.
Algumas considerações devem ser feitas acerca dos motivos para que se dê tal
desvio em relação à ação moralmente Boa. Em primeiro lugar, devemos nos remeter à
Crítica da Razão Prática para compreender as condições de possibilidade para que um
ato seja moralmente Bom, condições estas que podem ser subsumidas ao seguimento do
que Kant chama Imperativo Categórico.
Em suma, Kant propõe nesta obra estabelecer uma Lei universal da ação moral, e,
para tanto, conclui que devem dela estar excluídos quaisquer traços da ordem dos afetos
ou da subjetividade, ordem esta que nomeou como o âmbito do patológico. O
mandamento moral, em nome de sua universalidade, deve independer tanto do sujeito que
o siga como do objeto sobre o qual recaia, de forma a ser aplicado independentemente de
circunstâncias. Seguindo estas considerações, elabora, então, a fórmula da Lei da ação
moral como o que nomeia Imperativo Categórico, que segue: “Age de tal modo que a
máxima de tua vontade possa valer sempre como princípio de uma legislação universal”
(Kant, 2011, p. 44).
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moral em si como a priori, e porque o ordenamento do imperativo categórico deve ser
igualmente válido para todos. Por fim, ela pressupõe a liberdade, uma vez que uma
vontade livre é aquela que pode determinar-se apenas pela razão
Os homens, como um todo, teriam por princípio não somente a racionalidade, mas
também o que Kant chama de imputabilidade, que seria a faculdade de determinar o
arbítrio de forma incondicionada. Assim sendo, todos os homens contêm em si, de forma
inata, a faculdade da razão, de forma a terem todos a possibilidade de conceberem estas
formas e fazerem com que seus atos guiem-se aos moldes do Imperativo Categórico,
sendo então seus atos moralmente Bons.
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Bem, porque a todo momento vemos seus atos não seguirem esta tendência, redundando
em mal?
Não chegamos a responder esta questão, mas apenas podemos apontar sua
reflexão de que o mal, assim como o bem, é fruto de uma ação calcada em uma máxima.
As máximas, por sua vez, tem origem na própria faculdade da razão, e não na natureza.
São inatas pois existem como potencialidade e todos os homens, não sendo, portanto,
causadas por fator externo algum. Desta forma, haveria uma máxima a qual estaria na
origem do ato mal, e haveria, na origem deste ato, algo que Kant localiza como uma
escolha insondável, por uma máxima ou outra.
AUTONOMIA E TUTELA
Em A religião nos limites da simples razão, Kant inicia suas reflexões acerca da
perspectiva que as pessoas costumam ter sobre a história. Diz ele, é curioso como a
maioria das pessoas, seguindo o pensamento religioso, parece inclinada a dizer que teria
havido, em um passado remoto, um estado de harmonia perdido, de forma que a história
estaria rumando em direção à sua decadência. Por outro lado, haveriam alguns, filósofos
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em sua maioria, e, dentre eles, o próprio Kant, que advogaria que a história nos encaminha
rumo à um estado melhor de coisas, confiando, para isso, no acréscimo de razão que a
humanidade estaria colocando em marcha com o advento da ciência.
Em suma, uma das grandes conclusões de Foucault seria a de que Kant teria
embutido, em seu conceito de Esclarecimento, o empreendimento de sua própria Crítica.
Se a Crítica consistia em questionar as condições de possibilidade e os limites do
conhecimento, era este conhecimento acerca do conhecimento que nos forneceria uma
resposta acerca das potencialidades de sua aplicação como ordenadora da vida prática dos
homens – em especial, a razão como ordenadora da vida política dos homens.
Vemos, em A religião nos limites da simples razão, que o principal foco de críticas
por parte de Kant seriam as instituições religiosas. Foucault contextualiza que houvera,
nos séculos precedentes ao de Kant, o desenvolvimento por parte da tradição eclesiástica
o que podemos chamar da arte do “governo dos homens”. Diz Foucault, “E eu proporia
então, como uma primeira definição da crítica, esta caracterização geral: a arte de não ser
de tal forma governado” (Foucault, 1990 (1978), p. 4). O autor fornece, então, alguns
pontos de ancoragem históricos para a compreensão da proposta kantiana:
1. O governo dos homens tem origem eclesiástica. Não querer ser governado
tinha o sentido de retornar às Escrituras, ter acesso direto a elas, e mesmo
questionar se era ela verdadeira.
2. O direito natural. Na esfera política, não querer ser governado implicou a
construção de leis universais e imprescindíveis que todos, inclusive
governantes, devem se submeter. São os limites da função de governar.
3. O problema da verdade em face do argumento de autoridade.
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detrimento da Lei maior da verdade da razão, qual seja, o Imperativo Categórico. No
estado de fatos que encontrava naquele momento, o pensamento estaria sendo tutelado
por estas instituições, de forma a perder sua potencialidade de campo próprio da
liberdade.
Este estado de coisas levaria, ainda, a uma inversão repudiada por Kant: o de
reproduzir o que seria um ato moralmente bom (mesmo que ainda sob a égide da tutela)
como meio para a obtenção de alguma recompensa – em termos religiosos, a graça divina.
Kant chamou esta espécie de paródia de meios de graça, e advertiu:
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A submissão à autoridade da Igreja, na opinião de Kant, portanto, propagava este
tipo de inversão da lógica acerca da moralidade e esta espécie de farsa indolente,
materializada no puro procedimentalismo do fetichismo. A convocação ao esclarecimento
tinha o horizonte político de superação desta autoridade eclesiástica, responsável por
fazer, de forma autoritária, a manutenção da minoridade, fornecendo aos homens leis
heterônomas às quais estes não teriam meios de questionar (Foucault, 1990 (1978), p. 5).
Essa incapacidade de questionar pode ser definida, portanto, como uma correlação
entre, de uma lado, um excesso de autoridade, e, de outro, uma falta de coragem. O artigo
O que é o Esclarecimento não trata, assim, de uma mera descrição histórica. Trata-se,
para Foucault, de uma
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simplesmente obedecer aos comandos externos, advindos de instituições eclesiásticas,
como era o foco principal de sua crítica em A religião nos limites da simples razão.
Passaríamos a obedecer de forma autônoma, pois obedeceríamos, em última instância, ao
Imperativo Categórico, lei autônoma da razão por excelência. Assim, se é por um ato de
coragem de acederíamos à maioridade, podemos conceber que a verdadeira coragem de
saber consistiria em reconhecer os limites do conhecimento (Foucault, 1990 (1978), p. 7)
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BIBLIOGRAFIA
Kant, I. (2008 (1793)). A religião nos limites da simples razão. Covilhã: Lusosofia -
Universidade da Beira Interior.
Lacan, J. ((1963) 1998). Kant com Sade. Em J. Lacan, Escritos. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar.
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