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A região da Campanha, no RS, tem sido afligida ano após ano com prolongados períodos
de estiagem. Trata-se de um intercurso climático que se mostra reincidente em todo grande
espaço do Bioma Pampa, em especial nos locais onde há maior degradação ambiental. Ali,
muitas famílias tem sofrido com a escassez de recursos hídricos, sendo inclusive privadas de
condições ideais de acesso à água para o consumo humano. A equipe técnica do Instituto
Cultural Padre Josimo (ICPJ), desafiada pelo Consórcio Público Intermunicipal de
Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental da Bacia do Rio Jaguarão (CIDEJA), buscou
exemplos no Nordeste do país e trouxe de lá a experiência de uma tecnologia social de acesso à
água.
- Sempre foi um desafio para a região buscar alternativas para abastecimento de água
da população -, explica o prefeito de Candiota e presidente do CIDEJA, Adriano Castro dos
Santos. “Nós estamos em uma região que sofre com secas cíclicas, com períodos prolongados
sem chuvas de tempos em tempos, levando grande parte da nossa população a sofrer
intensamente com a falta de água”, relembrou. “Hoje temos só a agradecer às equipes de
operários que tem se dedicado às construções das cisternas e ao Instituto Cultural Padre Josimo
que se empenhou em pesquisar, adaptar e desenvolver a técnica de construção da maneira mais
adequada aos nossos municípios”, arrematou.
A maior parte dos lençóis subterrâneos que podem ser acessados vertem água salobra,
imprópria para o consumo humano. Os cursos de água, açudes e reservatórios na superfície, por
sua vez, são sujeitos aos períodos de seca, além de não contemplarem acesso a todos os que de
fato tem necessidade. Tal situação faz com que não seja surpresa encontrar a região fronteiriça
entre Brasil e Uruguai o mesmo tipo de caminhões pipa que percorrem as regiões mais áridas
do nordeste para levar água até os habitantes locais.
O técnico do ICPJ, Sérgio Ferrarez, que coordena uma das equipes responsáveis pela
construção das Cisternas, resume o sentimento dos envolvidos na ação: “A gente sabe o quanto
as pessoas aqui na região sofrem quando vem a seca, então é uma satisfação muito grande
poder participar e ajudar com nosso trabalho para que todos tenham acesso garantido a água
com abundância e boa qualidade”. Muitos dos beneficiados, conforme explicou Ferrarez, sequer
tem acesso a poços ou redes de água, tendo que subtrair de açudes até mesmo a água para
consumo da família. O projeto contempla a construção da cisterna – que fica parcialmente
enterrada ao lado da unidade habitacional -, a instalação de calhas coletoras da água da chuva
junto ao telhado, um sistema intermediário de limpeza que garante que o primeiro volume de
precipitação que limpa o telhado não se misture com a água potável, uma bomba manual de
sucção desenvolvida pela própria equipe do ICPJ e um filtro de barro onde são aplicadas
pastilhas de cloro para o tratamento final da água a ser consumida pela família.
- A gente chegava a beber água do açude -, lembra dona Flávia da Luz, residente na
comunidade de Companheiros de João Antônio, município de Candiota. “Não precisava ser
muito grande a estiagem, a água raleava e a gente tinha que bombear do açude para tomar e
fazer comida”, relembra. “Hoje é diferente, a água que fica na cisterna é boa, nós usamos dela
para todas as necessidades da família”, conta a dona de casa. “Esse projeto nem tem muito o
que dizer de tão bom que é, mudou a vida da gente!”, arremata. Casos como o de dona Flávia
somam-se às centenas na região, ficando famílias inteiras submetidas por longos períodos ao
consumo de água imprópria.