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1 INTRODUÇÃO
Dentro do contexto histórico e epistemológico a geografia vem se desenvolvendo
como ciência e incorporando em sua evolução diferentes métodos de análise e
pesquisa.
A geografia constitui em uma ciência em que seus métodos têm como base outras
ciências associadas, pois o seu objeto de estudo se relaciona com a expressão de
valores que são aplicados ao espaço terrestre. Uma variabilidade de orientações auxilia
na pesquisa geográfica.
A unidade geográfica, segundo George (1972), caracteriza a geografia como ciência
das relações que implicam em um pensamento específico. Ela tem como ponto de
partida a descrição, que irá culminar em uma observação analítica, na detecção das
correlações e na busca das relações de causalidade.
O objeto da geografia é o estudo das relações de fatos e de movimentos cujo
conhecimento específico é da alçada de uma outra ciência. Para poder reivindicar um
objeto próprio, a geografia deverá colocar no centro dessas relações a preocupação e a
existência dos homens. (GEORGE, 1972, p. 15).
A geografia em seu contexto epistemológico apresenta a necessidade de acesso a
uma grande variedade de conhecimentos específicos que dêem conta da delimitação
de uma determinada área de estudo, para a partir daí, propor a sua caracterização ou
qualificação por meio de dados e informações de determinado espaço em uma
determinada escala de estudo.
Um dos principais instrumentos utilizados para expressar os resultados adquiridos
na pesquisa em geografia é o mapa, que segundo Martinelli (2003), é uma
representação gráfica que em seu contexto insere o objetivo da comunicação visual.
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tradicional, trazendo a tona uma discussão referente à relação dialética entre sujeito-
objeto, entrelaçando o trabalho realizado em gabinete e o trabalho de campo, para
que o resultado da pesquisa incorpore tanto a questão natural, social e econômico de
forma a envolver todo o seu complexo.
O termo geossistema surgiu na escola russa, tendo como precursor Sotchava (1977)
que em 1963 remete a discussão em torno deste método, sendo que sua análise
geossistêmica esta associada aos sistemas territoriais naturais que se distinguem no
contexto geográfico, constituídos de componentes naturais intercondicionados e inter-
relacionados no tempo e no espaço, como parte de um todo, que possui sua estrutura
influenciada pelos fatores social e econômico. Na visão de Sotchava relatado por DIAS
e SANTOS (2007): “O geossistema é o resultado da combinação de fatores geológicos,
climáticos, geomorfológicos, hidrológicos e pedológicos associados a certo(s) tipo(s) de
exploração biológica. Tal associação expressa a relação entre o potencial ecológico e a
exploração biológica e o modo como esses variam no espaço e no tempo, conferindo
uma dinâmica ao geossistema. Por sua dinâmica interna, o geossistema não apresenta
necessariamente homogeneidade evidente. Na maior parte do tempo, ele é formado
de paisagens diferentes, que representam os diversos estágios de sua evolução.”
(DIAS; SANTOS, 2007).
Segundo Monteiro (2001), a aplicação do método geossistêmico auxilia nas
estruturas dos chamados subsistemas, através de uma hierarquia da dinâmica espacial
e ambiental e também natural e social, que apresentam caráter vertical e horizontal,
desempenhando a análise geográfica de forma estruturada e hierárquica.
Para este autor, o tratamento geossistêmico visa, a priori, à integração por uma
etapa de análise das variáveis naturais e antrópicas, juntamente com a segunda etapa,
de integração, em que se fundem os recursos, os usos e os problemas, que são
configurados na etapa de síntese em unidades homogêneas, que conduz assim, para a
etapa conclusiva de aplicação, no qual se esclarece a real qualidade do meio ambiente,
resultando em uma análise tempo-espacial integrada das inter-relações sociedade-
ambiente na construção da paisagem.
Contudo, Bertrand resgata o conceito de geossistema criado por Sotchava (1963),
incorporando a ele a dimensão da ação antrópica, sendo assim uma categoria espacial
de componentes relativamente homogêneos, cuja dinâmica resulta da interação entre
o potencial ecológico, a exploração biológica e a ação antrópica.
Ecossistema e Geossistema são conceitos diferentes na ótica bertrandiana, o
primeiro diz respeito ao ambiente vivido de uma espécie animal, em que esse
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As unidades superiores são definidas como zona, que é reservado aos conjuntos de
primeira grandeza, definidos primeiramente pelo seu clima e biomas; como domínio,
conjunto de segunda grandeza; e região natural, denominadas de terceira e quarta
grandeza.
Já as unidades inferiores são classificadas em geossistema, definidos como unidades
fisionômicas homogêneas, sendo um complexo geográfico e a dinâmica do conjunto;
as geofácies que representa uma subdivisão destas unidades com seus aspectos
fisionômicos; e o geótopo, a menor unidade geográfica homogênea classificada e o
último nível de escala espacial.
Para melhor compreensão sobre as relações das unidades de paisagem no âmbito
do geossistema, Bertrand e Bertrand (2007) apresentam um diagrama em que se
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representa a associação dos elementos e suas relações, como pode ser visto na Figura
1.
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3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A abordagem geossistêmica em geografia auxilia na produção do diagnóstico e na
realização da análise ambiental do objeto de pesquisa, contribuindo também para o
planejamento territorial e como instrumento de gestão ambiental.
A metodologia bertrandiana apresenta uma perspectiva dinâmica, que com seus
métodos de análise e suas subdivisões das unidades inferiores, geossistema, geofácieis
e geótopos possibilitam um maior entendimento da estrutura e da dinâmica das
unidades de paisagem.
Entender a complexidade dos sistemas ambientais é um desafio, no qual as
metodologias propostas com a visão sistêmica e geossistêmica contribuem para um
entendimento completo de todos os elementos e variáveis representados na escala do
geossistema.
A metodologia geossistêmica proporciona uma visão global em que permite aplicá-
la em diferentes escalas, buscando assim entender o funcionamento dos ambientes e
suas interrelações.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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