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A IMPORTÂNCIA DA LEITURA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E SÉRIES

INICIAIS COMO INSTRUMENTO DE INFORMAÇÃO,


APRENDIZAGEM E LAZER.

Temática: Uso e impacto de las TCI en la Educación, la Ciencia y la Cultura

Elaine De Paula – Profª Especialista


Creche Municipal Joel Rogério de Freitas – Fpolis - SC
Giovani De Paula – Capitão Profº Especialista
Núcleo de Pesquisa, Inovação e Tecnologia em Segurança Pública - NuPITEC
José Luiz Gonçalves da Silveira – Capitão Prof. Doutorando
Núcleo de Pesquisa, Inovação e Tecnologia em Segurança Pública - NuPITEC

Endereço para correspondência:


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Florianópolis – Santa Catarina - Brasil
CEP: 88.450-070
gonsalves@matrix.com.br

1 INTRODUÇÃO

As exigências educativas da sociedade contemporânea são crescentes


e estão relacionadas às diferente dimensões da vida das pessoas: ao trabalho,
à participação social e política, à vida familiar e comunitária, às oportunidades
de lazer e desenvolvimento cultural.
O mundo passa atualmente por uma revolução tecnológica que está
alterando profundamente as formas de trabalho e de interação, onde, numa
economia cada vez mais globalizada, a competitividade desponta como
necessária à subsistência humana. No afã de auto-superar o homem moderno
terminou o século XX em desarmonia consigo mesmo, sem reflexão crítica
sobre as suas reais necessidades, as quais deveriam permear o próximo
milênio.
Sobre este prisma, torna-se oportuna a discussão sobre as formas de
lidar com os novos tempos e, portanto, emergir o discurso sobre a qualidade de
ensino na escola, atentando para a ascensão no nível de educação de toda
população e detectando os fatores que possam atender às novas exigências
educativas que a própria vida cotidiana impõe de maneira crescente no meio
social.
Neste sentido, um dos instrumentos imprescindíveis para uma formação
geral e que possibilite cidadãos críticos, autônomos e atuantes, nesta
sociedade em constante mutação, seria a prática de leituras variadas que
promovam, de maneira direta ou indireta, uma reflexão sobre o contexto social
em que estão inseridas, uma vez que o movimento dialético da leitura deve
inserir o leitor na história deste milênio e o constituir como agente produtor de
seu próprio futuro.
O exercício da leitura, tal qual se encontra atualmente legitimado nas
escolas, não vai além de mera decodificação de signos gráficos, os quais são
permeados de fragmentos de livros didáticos, para não fugir à regra imposta
coativamente ao longo dos tempos da história do ensino em nosso país,
servindo como fonte de disseminação de uma ideologia, a ideologia que vai ao
encontro dos interesse dos detentores do poder: a massificação e formatação
do conhecimento humano.
Tal postura transforma o ato de ler enfadonho, acrítico, mecânico e,
dessa forma, distante de uma categoria que una o ato de ler ao prazer, que
permita a leitura como fonte de lazer.
As fracas experiências com a leitura afasta o leitor do contexto social e
cultural, faz com que desconheça o que de mais profundo o homem pensou e
escreveu sobre si, alienando-se das informações e, conseqüententemente
obsta sua participação ativa e efetiva na sociedade em que está inserido.
Por esta perspectiva, obvia-se a necessidade da formação de leitores,
pois se percebe que sua participação no contexto social depende de sua visão
de mundo, de seus valores, de seus conhecimentos, de sua reflexão e visão
crítica, enfim, da leitura como instrumento do conhecimento.
Diante dos impasses tecnológicos e culturais do final do milênio, a
Escola se revela como uma das instituições mais ameaçadas pelos novos
rumos da sociedade. Espaço privilegiado do saber, a Escola mantém a escrita
da palavra como texto básico no ensino, embora o mundo das imagens virtuais
já faça parte da realidade de muitos alunos.
A velocidade das novas linguagens invadiram o cotidiano, atropelando o
ritmo harmônico do aprendizado, e ao pretender uma atualização, a Escola
assimila o novo sem a devida reflexão. Ou seja, persiste num ritmo de leitura
pouco apropriado à formação do pensamento crítico, com as informações e
novidades sendo incorporadas de maneira aleatória, sem uma visão científica
necessária para a construção do conhecimento.
Na pressa de estar em sintonia com as inovações, a Escola
desconsidera o processo formador de aprendizagem, limitando-se a investir na
circulação de imagens e deixando de observar a qualidade dos textos que
oferece a seus alunos como fonte de leitura, promovido no seu espaço.
Priorizando a substituição do conhecimentos por informação, a Escola se
descompassa e, sem formar leitores críticos ou incutir o hábito da leitura,
prepara mal o cidadão que escreverá o “texto futuro”, que escreverá e
perpetuará a nossa história.
Nesta perspectiva, o exercício da leitura transcende, em muito, a
utilização de materiais, muitas vezes empregados como modismos em sala de
aula. A formação do leitor impõe-se como prioridade a ser seguida,
pressupondo a figura do professor como interlocutor ativo no diálogo da leitura,
a fim de instigar e promover leitores que estejam à procura de respostas às
suas próprias indagações e a desconfiar dos sentidos das letras impostas por
textos insignificantes para, desta forma, encontrar nos livros, a fonte de sua
sabedoria e inspiração, resgatando a história do conhecimento, tão necessária
nos novos tempos, em que as mudanças são rápidas e atropelam o próprio
“saber humano”.
O desafio se encontra na necessidade da busca e implementação de
mecanismos que propiciem a atração pela leitura na mais tenra idade, na fase
da infância, em que a criança está descobrindo seu microcosmo, seu mundo,
está despertando para a realidade subjacente e tentando participar desta
realidade com suas novas fantasias e descobertas.
Oportuno citar o que, já no século XVII, afirmava o filósofo John Locke:

“(...) deve ser dado à criança algum livro fácil e agradável,


adequado à sua capacidade, a fim de que o entretenimento que ela busca
a motive e recompense.”

A Escola insere-se neste contexto como instrumento hábil a implementar


a leitura na Educação Infantil e Séries Iniciais, motivando os jovens leitores
através de uma mudança de concepção, ou seja, transformando a leitura como
algo agradável, fonte não apenas de informação, mas principalmente de lazer.

É o que se pretende ao longo deste trabalho monográfico de pesquisa


bibliográfica, através da escrita demonstrar aos leitores a relevância do
educador na formação de novos leitores, numa concepção de que, sem
rupturas no processo ensino-aprendizagem, a leitura pode ser empregada
como mecanismo de lazer, cultura e formação.

2 A LEITURA

“A leitura é sempre apropriação,


invenção, produção de significados. (...)
Apreendido pela leitura, o texto não tem
de modo algum – ou ao menos
totalmente - o sentido que lhe atribui seu
autor, seu editor ou seus comentadores.
Toda história da leitura supõe, em seu
princípio, esta liberdade do leitor que
desloca e subverte aquilo que o livro lhe
pretende impor.”

2.1 Origem e Importância da Leitura

Desde os primórdios da civilização o homem busca habilidades que lhe


tornem mais útil a vida em sociedade e que lhe possam tornar mais feliz. A
criação de mecanismos que possibilitassem a disseminação de seu
conhecimento tornava-se um imperativo de saber/poder, que ensejava respeito
e admiração pelos companheiros de tribo.
Daí o surgimento das inscrições rupestres, simbologia, posteriormente e
num estágio mais avançado das civilizações, os hieróglifos e as esculturas que
denotavam sua própria e mais nobre conquista: a conquista de ser.
Nesse contexto surge a escrita e a leitura como imanentes à própria
história da civilização.
A criação dessa disponibilidade, que chamamos escrita e leitura, cria
outras disponibilidades, pois ela é a básica, dela provém as demais. Através da
leitura e da escrita o homem conseguiu estreitar os laços de afetividade com
seus semelhantes, harmonizar os interesses, resolver os seus conflitos e se
organizar num estágio atual da civilização, com a abstração a que nominamos
“Estado”. O homem se organizou politicamente.
Mas voltando-nos ao campo do conhecimento humano, que é o que por ora
nos interessa, o mito poético que sempre embalou o homem, a fantasia dos
deuses, descortinaram as portas do saber, originando a busca da informação,
do saber humano, do seu prazer.
Com o desenvolvimento da linguagem, a força das mensagens humanas
aperfeiçoou-se a tal ponto ser imprescindível à sua própria existência. A busca
do conhecimento tornou-se imperativa para novas conquistas e para o
estabelecimento do homem como ser social, como centro de convergência de
todos os outros interesses.
Na busca desse conhecimento, que se perpetua ao longo da história da
civilização, percebe-se que quanto mais cedo o homem iniciar, mais cedo
germinará bons f resultados. Ou seja, a infância como uma fase especial de
evolução e formação do ser, deve despertar-lhe para este mundo, o mundo da
simbologia, o mundo da leitura.
No dizer de Bárbara Vasconcelos de Carvalho:

“O conto infantil é uma chave mágica que


abre as portas da inteligência e da
sensibilidade da criança, para sua
formação integral. O que fez andersen o
grande escritor universal e imortal foram
as estórias ouvidas quando criança.”

Por outras palavras, a imaginação humana é imperiosa para a


construção do conhecimento, e conhecimento também é arte, daí a importância
da Educação Infantil para enriquecer essa imaginação da criança, oferecendo-
lhe condições de liberação saudável, ensinando-lhe a libertar-se no plano
metafísico, pelo espírito, levando-a a usar o raciocínio e a cultivar a liberdade e
o hábito da leitura.
Nessa caminhada na construção do conhecimento humano, não é de se
olvidar a relatividade da importância dos livros didáticos, muitas vezes o único
acesso disponível para a maioria do público infantil, sobre o que passaremos a
discorrer nas próximas linhas.

2.2 Escola e Leitura

No que se refere à Escola e aos objetivos da leitura ou ao “Para que


ler na escola?”, pode-se afirmar que ainda não existe nos currículos
conhecidos e analisados, uma concretização de um pressuposto geral básico,
qual seja, o da articulação entre a função social da leitura e o papel da escola
na formação do leitor. Se dimensionarmos essa função social como sendo a
necessidade do conhecimento e a apropriação de bens culturais, a leitura
funciona, em certa medida, um meio e não um fim em si mesma. Daí a
importância do papel da escola em relação à leitura, que é o de oferecer aos
alunos mecanismos e situações em que eles “aprendam a ler e, lendo,
aprendam algo”.
Oportuna a citação:
“ A escola precisa ser um espaço mais
amplamente aberto a todos os aspectos culturais
do povo, e ir além do ensinar a ler e a fazer as
quatro operações. Precisa investir em bons
livros, considerando que a cultura de um povo
se fortalece muito pelo prazer da leitura; e a
escola representa a única oportunidade de ler
que muitas crianças têm. É necessário propiciar
nas salas de aula e na biblioteca a dinamização
da cultura viva, diversificada e criativa, que
representa o conjunto de formas de pensar, agir
e sentir do povo brasileiro.” (BRAGA,1985,P.7)

O conceito básico de leitura, nesse contexto, passa ser então a


“produção de sentido”. Essa produção de sentido, por consegüinte, é
determinada pelas condições socioculturais do leitor, com os seus objetivos,
seus conhecimentos de mundo e de língua, que lhe possibilitarão a leitura.
Nesse sentido, a construção do conhecimento, segundo entendimento
de alguns autores como elemento principal, se efetivará pelo hábito da leitura,
uma vez inserida e enfatizada no contexto escolar. Afinal, é principalmente
através da leitura que os alunos poderão encontrar respostas aos seus
questionamentos, dúvidas e indagações, mormente no que concerne aos
caminhos por onde permeiam na construção do seu conhecimento, e não
apenas vinculados e adstritos a uma metodologia tradicional.

3 A LEITURA NA ESCOLA: COMPROMISSO DE TODAS AS ÁREAS?

“Com as palavras não aprendemos


senão palavras; antes, o som e o
ruído das palavras, porque, se o que
não é sinal não pode ser palavra, não
sei também como possa ser palavra,
aquilo que ouvi pronunciado como
palavra enquanto não lhe conhecer o
significado. Só depois de conhecer as
coisas se consegue, portanto, o
conhecimento completo das
palavras.”
(Sto. Agostinho: De
Magistro)

Como já salientado em outras linhas, as exigências educativas da


sociedade contemporânea são crescentes e estão relacionadas às diferentes
dimensões da vida das pessoas: ao trabalho, à participação social e política, à
vida familiar e comunitária, às oportunidades de lazer e desenvolvimento
cultural, dentre outros aspectos.
O mundo, atual passa por uma revolução tecnológica que está alterando
profundamente as formas de trabalho e de interação entre as pessoas e as
entidades, num contexto cada vez mais globalizado.
Em sua constante e ansiosa busca de auto superação, o homem
moderno fecha o século XX em desarmonia com o tempo de reflexão e da
crítica que, numa nova concepção humanista, deveriam permear o momento
contemporâneo em que vivemos, considerado por muitos como conditio sine
qua nom para o desenvolvimento.
Sob esse prisma, torna-se salutar discutir as diferentes formas de lidar
com esses “novos tempos” e, dentro deste contexto, encontra-se inserido de
maneira inarredável, a necessidade de se fazer emergir a discussão sobre a
qualidade de ensino nas escolas, atentando para a ascenção no nível de
educação de toda a população, em especial da Educação Infantil e Séries
Iniciais em razão de sua importância na formação inicial do futuro cidadão, o
qual, cônscio de seus direitos e obrigações, participará de maneira efetiva do
“pacto social”, ou seja, do momento político-social e cultural em que se
encontrar, não será um “excluído”. Indiscutivelmente, esta é, senão a única,
provavelmente uma das mais relevantes maneiras com que se possa atender
às novas exigências educativas que o cotidiano impõe de maneira sistemática
e crescente nas relações sociais: A discussão crítica e aberta da educação.
Trilhando por essa linha de pensamento, a instituição escolar deve se
constituir num espaço que produza conhecimento; todo e qualquer processo
de construção deve estar engajado numa prática democrática, onde educador
e educando sejam vistos como agentes e sujeitos simultâneos nas relações de
ensino e aprendizagem, delineando papéis desprendidos da mitificação
unilateral ou seja, valorando a iniciativa à pesquisa, e a superação dos limites
em prol de uma atuação positiva, acompanhando a evolução da sociedade em
constante mutação.
Dessa forma, apenas para exemplificar, referindo-se especificamente as
aulas de língua portuguesa, constata-se, na atual prática pedagógica, a
legitimação das diferenças entre os grupos sociais, ocasionados,
principalmente, pela dicotomia formada pela língua padrão que é utilizada na
instituição escolar, e aquela normalmente utilizada pelos alunos de classes
populares, historicamente estigmatizadas como sendo inadequadas.
Por este viés , o ensino tradicional de língua portuguesa pode ser
caracterizado por seu feitio predominantemente normativo e conceitual,
privilegiando-se um modelo ancorado na visão da língua como um código
fechado e estático. Neste, o ápice do processo ensino aprendizagem resulta na
memorização de regras e conceitos dissociados das práticas cotidianas da
língua falada dos alunos, submetendo-os à rígida formalidade gramatical
Tais elucubracões nos induzem a repensar quais as maneiras mais
adequadas para abordar a língua portuguesa na Educação Infantil e Séries
Iniciais.
A transformação das condições de reprodução desse processo, que vem
se perpetuando ao longo das gerações, passa necessariamente por uma
revisão na concepção de linguagem que encaminha o ensino da língua
portuguesa de forma holística, percebendo-a como uma forma de interação
entre sujeitos, de maneira a concebê-los como produtores do discurso em
contextos sócio histórico determinados, sendo imprescindível tal postura na
formação inicial do futuro leitor.
Nesse sentido, a leitura e a escrita são componentes dinâmicos,
vinculados a um contexto social que não pode ser reduzido a um aprendizado
técnico lingüístico e entendido como um fato neutro e linear, que resulta
apenas em palavras e frases desconexas e sem sentido aparente para o leitor.
Muito além disso, ler e produzir textos nas escolas deve estar associado
a ação simbólica sobre o mundo, onde o aluno consiga constituir-se como um
sujeito que pensa, sente e dialoga pois segundo LAJOLO apud GERALDI,
(1985, p.91):

“Ler não é decifrar, como num jogo de


adivinhações, o sentido de um texto. É , a
partir do texto, ser capaz de atribuir-lhe
significado, conseguir relacioná-lo a todos os
outros textos significativos para cada um,
reconhecer nele o tipo de leitura que seu
autor pretendia e dono da própria
vontade, de entregar-se a essa leitura, ou
rebelar-se contra ela, propondo outra não
prevista.”

Assim, ler é produzir sentido, é estar contextualizado no texto,


interpretando-o e atribuindo-lhe algum significado. Portanto, torna-se
importante a criação de situações para que o exercício da leitura e escrita
produzam reações, interação, e construção de subjetividade e conhecimento,
não servindo apenas como uma atividade meramente de cópia ou de
decodificação dos sinais gráficos, alienando os alunos do contexto em estão
inseridos.
Aliado à essa interação com o meio, as relações no processo de
construção da linguagem devem seguir algumas técnicas que tornarão o
ensino mais agradável e produtivo, dentre as quais citamos algumas como:
trabalho com imagens, produção de textos, caminhada de leitura, atividades
com rótulos, texto coletivo, notícias de jornal, jogo de rimas, música, etc., .
Sob este prisma, leitura e escrita como processo discursivo e de
produção de sentido, se percebe que devem englobar todas as disciplinas e
todos os níveis de ensino, onde através da apropriação do conhecimento
historicamente constituído, o aluno esteja inserido nessa construção e
produção do conhecimento como elemento nuclear.
Dessa forma, não convém obrigar o público infantil a reproduzir
exercícios de fixação, mas sim, proporcionar práticas de leitura e escrita em
contextos significativos que estabeleçam uma estreita familiarização com todo
um suporte de materiais escritos disponíveis: livros, jornais, revistas,
publicidades, dentre outros recursos, de maneira a facilitar e permitir que o
aluno observe, explore, questione, analise, critique, com base nos vários meios
da escrita e leitura existentes na realidade circundante.
É na leitura, escrita e reescrita de textos significativos, que ocorre a
apreensão dos alunos das normas convencionais, sem que ocorra necessidade
de memorização de uma infinidade de regras e exceções, próprias de nossa
língua portuguesa.
Através de materiais e contextos significativos, o paradigma de que o
aluno precisa escrever para que o professor corrija precisa ser transformado
na instituição de uma escrita que sirva de mecanismo de prática e interação,
interlocução e inferências, tendo como base suas vivências e expectativas,
libertando-o de axiomas preconcebidos, enfim, fazendo com que o aluno “dê
asas à sua imaginação” sem os exageros dos pruridos da lógica formal de
nossa língua.
Com essa concepção, a leitura, por exemplo, não pode estar associada
somente ao livro de literatura, e muito menos ao livro didático, que
tradicionalmente transmite um conhecimento fragmentado, alienado e alheio à
realidade dos alunos, mas também a textos cotidianos, como os conhecidos
“gibis”, que estabelecem uma estreita ligação com o leitor através do repertório
comum e de uma linguagem coloquial. Outros textos, como crônicas, músicas,
poesias, charges, transformam-se numa leitura prazerosa e natural, além de
levá-los a refletir sobre as intenções subjacentes de cada palavra.
Este aspecto, o de despertar a atenção e o interesse do aluno pela
leitura, é a essência da questão. Nas palavras de Roger Chartier (pg. 103-104,
2000):

“(...) Aqueles que são considerados não


leitores lêem, mas lêem coisa diferente
daquilo que o cânone escolar define
como uma leitura legítima. O problema
não é tanto o de considerar como não-
leitura estas leituras selvagens que se
ligam a objetos escritos de fraca
legitimidade cultural, mas é o de tentar
apoiar-se sobre estas práticas
incontroladas e disseminadas para
conduzir esses leitores, pela escola, mas
também sem dúvida por múltiplas outras
vias, e encontrar outraas leituras. É
preciso utilizar aquilo que a norma
escolar rejeita como um suporte para dar
acesso à leitura na sua plenitude, isto é,
ao encontro de textos densos e mais
capazes de transformar a visão do
mundo, as maneiras de sentir e de
pensar.”

A concretização positiva na escola está no desafio dos professores em


olhar para as produções dos alunos com uma visão não somente crítica e que
busque os seus erros, ou ainda que atente apenas para a linearidade da
escrita, mas sim almejando o significado das suas formas de construção,
estimulando o aluno a empenhar-se na realização consciente e divertida de um
trabalho lingüístico que lhe faça muito mais sentido. Pois se ler é produzir
sentido, tal só ocorrerá se houver interesse, do latim “ inter esse”, que significa
“estar entre” , ou seja, estar engajado, envolvido, empenhado.
Assim, com olhar ativo e crítico, através da multiplicidade de linguagem,
será possível auxiliar o aluno na construção do conhecimento, que o faça
entender-se não apenas como produto, mas, acima de tudo, como partícipe da
construção da história da coletividade, e também como agente de
transformação de uma realidade que não é estática, mas dinâmica e suscetível
`a constantes mudanças.
Na criação e formação de sua própria identidade, o público da educação
infantil e séries iniciais precisa ser estimulado. Criando-se fantasias,
despertando o seu potencial imaginativo, aflorando seu pensamento infantil e
sua capacidade intuitiva para a realidade circundante. Neste diapasão, convém
que recorramos às palavras de Denise Fernandes Tavares:

“O sorriso, a alegria duma criança que lê,


que ouve estórias, que brinca, compensa
a luta que possamos ter, para que aquele
sorriso e aquela alegria existam. E
compensa, ainda, a sua certeza íntima
que estamos abrindo novos horizontes e
possibilidades para centenas de
crianças, através da leitura. Estaremos
ensinando quanto vale o livro; dando-
lhes o hábito da leitura, fazendo-as amar
o livro estaremos assimilando
responsabilidades e cumprindo o nosso
dever com as gerações que formarão os
homens de amanhã.”

Nessa caminhada na construção do conhecimento humano, não é de se


olvidar a relatividade da importância dos livros didáticos, muitas vezes o único
acesso disponível para a maioria do público infantil, sobre o que passaremos a
discorrer nas próximas linhas.

4 ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO E SUA RELEVÂNCIA NA FORMAÇÃO DO


LEITOR

"(...) A ideologia contida no livro didático


serve para consolidar a hegemonia da
classe dominante e, com ela, as relações
de produção.(...)"
FREITAG.

O livro didático vêm despertando a atenção dos mais variados


segmentos da pedagogia moderna.
Atenção investigativa e descritiva, pesquisas sobre conteúdos
programáticos, aspectos psicopedagógicos e metodológicos, conteúdos
ideológicos, são fatores com os quais talvez se possa entender as polêmicas
em curso no nosso sistema educacional: Manter ou rejeitar o livro didático?
Defendê-lo ou condená-lo? O que é, afinal, um livro de qualidade?
Apesar das grandes mudanças que a escola tem experimentado ao
longo dos tempos, dos diferentes modelos pelos quais tem pautado
sucessivamente suas concepções e práticas pedagógicas, uma característica é
mantida, característica esta que parece constituir sua própria essência: “a
Escola é uma instituição burocrática, portanto, fundamentalmente ortodoxa:
nela se ordenam e se hierarquizam ações e tarefas, se organizam e se
distribuem em categorias alunos e professores, divide-se e controla-se o
tempo, regula-se e avalia-se o trabalho; sobretudo, seleciona-se no campo da
cultura, dos conhecimentos, das ciências, das práticas sociais, os saberes e as
competências a serem ensinados, aprendidos e avaliados.
Assim, na Escola, a transmissão do saber, o ensino, a aprendizagem, a
avaliação, sofrem um processo de fragmentação e seleção, pois organizam de
maneira sistemática com seqüências progressivas e antipedagógicas o ensino
torna-se em síntese didatizado e meramente escolarizado, com pouca ou
nenhuma inovação.
Nesse sentido, o livro didático institui-se, historicamente, bem antes que o
estabelecido em Programas e Currículos, como instrumento para assegurar a
aquisição dos saberes escolares, isto é, daqueles saberes e competências
julgados indispensáveis à inserção das novas gerações na sociedade,
induzindo à crença de que a ninguém é permitido ignorar o conhecimento, no
entanto persiste o ensino, parcelado, estanque e controlado ou manipulado.
Assim, o propósito inicial do livro didático é subsidiar a prática educativa de
forma que se assegurem informações suficientes para modelar o conhecimento
a ser adquirido pela grande maioria da população, ou seja, disseminar uma
ideologia: a ideologia daqueles que detêm os Fatores de Poder.
Em contraposição à essa realidade, o livro didático pode ser, na prática
pedagógica, um meio de enriquecer as aulas, e não um fim em si mesmo,
quando funciona como um veiculo único de informações com suas verdades
absolutas e incontestáveis. Daí a responsabilidade, principalmente do
professor, de fazer a escolha certa dos livros a serem usados e discernir sobre
quais as informações relevantes e que estará transmitindo em sala de aula.
Tendo a consciência de que o livro didático é, muitas vezes, o único
instrumento de leitura que a grande camada da população escolar têm à sua
disposição, o professor acaba sendo um referencial, muitas vezes também
único, para a disseminação de idéias que, mal empregadas, poderão se
transformar em uma ferramenta de dominação.
Respaldando a argumentação, fizemos a constatação de que os livros
didáticos são os mais lidos em todo país, conforme pode ser observado na
pesquisa constante no ANEXO I, extraída da revista VEJA de nº ......... 7 de
fevereiro de 2001.
Atualmente, a escolha do livro didático evoluiu no que concerne às
práticas pedagógicas, eis que com o surgimento do guia do Livro Didático,
elaborado pela Secretaria do Ensino fundamental do Ministério da Educação
(MEC), que tem como objetivo analisar e selecionar os principais livros que
merecem integrar o catálogo de compras do governo, destacou os erros
conceituais, idéias desatualizadas, dentre outros aspectos, fazendo com que os
autores e editores negligentes sejam mais cuidadosos nas revisões de seus
exemplares, atentando principalmente para a qualidade dos conteúdos.
Tais iniciativas são de grande ousadia e relevância, pois vasculham em
interesses de grandes editores que, movidos, em sua grande maioria, por
motivos econômicos, não atentam para a imprescindível qualidade que deve
existir nos livros didáticos.
As críticas aos livros didáticos e a intervenção do governo na sua
revisão, nos dão indicativos de melhoria nas práticas que se direcionam na
busca de uma melhor qualidade na educação, no entanto, não se pretende
mascarar a precariedade educacional com um discurso dogmático que releve
apenas as publicações didáticas de má qualidade, pois outros aspectos
subjacentes devem ser considerados nessa avaliação.
Cumpre ressaltar que o grande responsável pelo bom uso do livro
continuará sendo o professor que, conhecendo a realidade de seus alunos,
através da investigação de suas necessidades e interesses, respaldará sua
escolha nos livros que pretenda utilizar. Pouco adiantaria mudar o conteúdo se
o professor continuasse adotando uma prática tradicional de ensino, fazendo
com que seus alunos se limitassem a copiar e a memorizar textos, sem
discussões e reflexões a respeito. Tal metodologia comprometeria
sobremaneira o desenvolvimento intelectual das futuras gerações.
Destarte, o professor como sendo grande responsável pelo processo
ensino aprendizagem dos alunos e pela adoção da leitura que estes fazem em
sala de aula, deve atentar também para a qualidade de suas aulas, através de
práticas criativas e dinâmicas, em que se torne interessante incentivar e
implementar a pesquisa dos alunos de mais de um livro didático. Tal ação fará
com que estes se tornem construtores de seu próprio espaço- conhecimento.
Por esta mesma linha de pensamento, a articulação dos conteúdos dos livros
didáticos, de maneira a que ocorra uma interação com situações de seu
cotidiano, estimulará os alunos a refletirem sobre a realidade circundante de
modo a que percebam, com uma leitura critica, os significados subjacentes de
cada texto ou situação.

5 A IMPORTÂNCIA DA ESCOLA NA FORMAÇÃO DE LEITORES

Numerosos estudos nos fazem supor que os livros preparados para a


infância remontam ao final do século XVII. Antes disso, as crianças, vistas
como adultos em miniatura, participavam desde a mais tenra idade , da vida
adulta.
Naqueles tempos não havia histórias dirigidas especificamente ao
público infantil, pois a infância, enquanto período de desenvolvimento humano,
com particularidades que deveriam ser respeitadas, inexistia.
As profundas transformações ocorridas no âmbito social e econômico,
principalmente com o advento do Capitalismo e da Supremacia burguesa,
fizeram com que surgisse uma nova organização familiar e educacional, na
qual a criança passou a ocupar um espaço privilegiado. Com intuito de
capacitar cidadãos a fim de enfrentar um mercado de trabalho tão competitivo
já naquela época, tornava-se imperioso o preparo eficiente das crianças para o
trabalho e, consequentemente, para um desenvolvimento social sustentável.
Nesse sentido, reorganiza-se a Escola para que a atenda às novas
exigências, repensando-se todos os produtos culturais destinados a infância e,
dentre eles, especialmente o livro.
A Escola há que estar atenta para a formação do leitor, conforme Eriche
Fromm “o elemento básico da cultura, a linguagem, é a precondição de
qualquer realização humana”. Nesse desiderato a Escola deve estar atenta à
esta concepção da leitura como fonte do conhecimento e de sua
responsabilidade na formação do leitor.
Bamberger nos dá alguns indicativos que podem ser aplicados pela
Escola para induzir o hábito da leitura aos seus alunos. Senão , vejamos:

“O desenvolvimento de interesses e
hábitos permanentes de leitura é um
processo constante, que principia no lar,
aperfeiçoa-se sistematicamente na escola
e continua pela vida afora através das
influências da atmosfera cultural geral e
dos esforços conscientes da educação e
bibliotecas públicas.”

Surge assim a Literatura Infantil, criada com uma concepção ideológica


compro metida com um destinatário específico: a criança, embora persistissem
resquícios ideológicos amalgamados à transmissão de valores da sociedade
então vigente.
Com o passar dos tempos e com o surgimento de novos autores, os livro
infantis vão gradativamente sofrendo transformações e promovendo, através
da disseminação de uma leitura prazerosa e ao mesmo tempo vinculada à
construção do conhecimento, um alargamento vivencial para as crianças.
Nesta direção, a Escola, como espaço socializador do conhecimento,
fica com a tarefa primordial de assegurar aos seus alunos o aprendizado da
leitura, devendo fazer circular em seu meio uma diversidade de materiais, com
conteúdos ricos e variados, que promovam a formação de leitores livres.
Concebe-se assim, a prática da leitura, não como habilidades lingüísticas, mas
como um processo de descoberta e de atribuição de sentidos que venha
possibilitar a interação leitor-mundo. Conforme FREIRE (1996): “(...) O ato de
ler não se esgota na decodificação pura da palavra escrita (...) A leitura do
mundo precede a leitura da palavra.”
Sob este prisma, o professor precisa estar capacitado e preparado para
provocar em sala de aula, a partir de leituras diversificadas, discussões que
conduzam os alunos ao estabelecimento de elos com outras realidades,
permitindo assim, a efetivação do real sentido do que está sendo lido, em
consonância com o discurso de STÜBIE (1997): “A leitura na escola, tem a
função de desacomodar o aluno, despertar-lhe o senso crítico, romper
com a alienação(...) já que ler não é apenas decodificar signos gráficos.”
Por esta perspectiva, é oportuno reforçar a assertiva de que o professor
deve selecionar diferentes tipos de textos, literários ou não, que projetem a vida
contemporânea do local onde os alunos estão inseridos, bem como de outros
lugares e tempos, os diversos pontos de vistas, estimulando discussões,
reflexões e confrontos entre os alunos.
De se considerar:

“Se educar é preparar para a vida,


despertar a consciência, compreender e
transformar a realidade, então a leitura só
pode ser compreendida numa
perspectiva crítica.Ler criticamente é
admitir pluralidade de intrpretação,
desvelar significados ocultos, resgatar a
consciência do mundo, estasbelecendo,
por meio dela, uma relação dialética com
o texto..” ( INDURSKY e ZINN. 1985, p 23 )

Com a virada do milênio a escola, visando incentivar o hábito da leitura,


busca construir mecanismos eficientes a fim de competir com o advento dos
recursos visuais, auditivos e multimídia, a que alguns poucos alunos já têm
acesso.
O desenvolvimento intelectual da população representa um fator político-
social básico para o alcance do progresso e aspiração de toda a sociedade.
Por exemplo, aqueles que irão representar os interesses nacionais no plano
internacional hão de estar plenamente capacitados para esse mister, o que
promoverá a consolidação da sustentação de um país que intitula-se como um
Estado Democrático de Direito e que tem como um dos seus fundamentos
constitucionais básicos a educação como “direito de todos e dever do
Estado e da família (...)”. A amplitude que enseja a formação desses agentes
se inicia na Educação Infantil e Séries Iniciais, e esta não pode estar à margem
da modernidade.
Numa visão holística e, por que não dizer metafísica da importância da
leitura e do saber humano, façamos uma reflexão sobre as palavras de
Rabindranath Tagore-Gitanjali:
“Onde o espírito vive sem medo e a fronte se mantém erguida;
Onde o saber é livre;
Onde o mundo não foi dividido em pedaços por estreitas paredes
domésticas;
Onde as palavras brotam do fundo da verdade;
Onde o esforço incansável estende os braços para a perfeição;
Onde a clara fonte da razão não perdeu o veio no triste deserto de
areia do hábito rotineiro;
Onde o espírito é levado à Tua Presença, em pensamento e ação
sempre crescentes;
Dentro desse céu de liberdade, ó meu Pai, deixa que se erga minha
pátria.
(...) Para que possam crescer felizes as crianças.”

Nesta ótica, não há como negar os avanços tecnológicos, no entanto, a


Escola deve estar atenta ao uso que se faz dos recursos eletrônicos e definir
com clareza quais objetivos a serem atingidos com o seu uso. A utilização
inadequada desses meios induzem seus “leitores” a uma mera assimilação de
fatos, ao invés de serem sujeitos de sua própria leitura e criação, tornando-os
seres passivos e distantes de sua realidade fática circunstancial.
A utilização inadequada dos meios eletrônicos como mecanismo básico
do ensino e leitura induzem a formatação do conhecimento, ao contrário do que
ocorre na leitura do livro, quando o tempo da reflexão assegura um diálogo em
que as experiências de vida são compartilhadas.

“(...) O livro desempenha um papel


importante na vida e na formação do ser
humano, pois através dele nos tornamos
mais sensíveis ao mundo e capazes de
entender nossas próprias reações. O
livro incrementa a missão de educar, pois
fornece as crianças informações, lazer,
cultura, propiciando ao leitor elaborar
seu próprio conhecimento, enriquecer
seu vocabulário, facilitar a escrita,
agilizar o raciocínio e aguçar a
imaginação. Assim, ao incentivarmos a
leitura, estamos deflagrando um
movimento para desenvolver pessoas
críticas, participativas, criativas e
preparadas para construir a nação do
futuro.”
( www.cidadelivro.com.
br)

A Escola, incumbida então da função de promover a formação do leitor,


terá que rever as condições, muitas vezes restrita, a que impõe a leitura aos
seus alunos.
Partindo então do pressuposto que o incentivo à leitura ainda consiste
numa das maiores dificuldades para os professores e para as escolas, cabe
salientar alguns fatores relevantes na tentativa de solucionar essas
dificuldades:

1- Fator pessoal: representado pelo professores, pois sua postura frente ao


livro é fundamental para a formação do hábito de ler na criança. O
entusiasmo contagia, mas quem não sabe apreciar o livro pode
desestimular o aluno, mesmo de forma inconsciente;
2- Ambiente físico: o espaço da leitura deve ser agradável, acolhedor e
informal, seja na sala de aula, seja na biblioteca, o que importa é a criança
sentir-se a vontade para ali permanecer para entregar-se à leitura com
prazer e familiarizar-se com o livro;
3- Livro acesso aos livros: ao livros devem estar dispostos de forma a permitir
à criança fácil manuseio. Às vezes a organização formal das prateleiras
constitui barreira para o aluno, que se sente inibido e receoso de tocar nas
obras;
4- Acervo da biblioteca: é importante a atualização da biblioteca, tendo em
vista o atendimento dos interesses e a fase do desenvolvimento dos
usuários.

Dessa forma reportando-nos exclusivamente às Educação Infantil e às


séries iniciais, pode-se constatar que na maioria da escolas não existem
critérios para o incentivo à leitura, e que os livros considerados didáticos, são
muitas vezes o único material de leitura que os alunos dispõe para ler,
resultando na absorção de um conhecimento parcial e limitado, o que pouco
contribui para a formação de leitores que estão a procura de respostas às suas
infinitas indagações. Tal fato faz com que as aulas de leitura culminem em
apenas mais uma das atividade da rotina em sala de aula, permeadas
unicamente por textos fragmentados e insignificantes.
Em contraposição a essas condições, faz-se necessário nas escolas o
redimensionamento de todo o trabalho, partindo da seleção de materiais,
garantia de espaço para discussões, mudança de postura de alguns
profissionais e, principalmente, admissão de resultados convergentes em
relação a confrontos existentes durante o processo da leitura.
Com as inovações propostas a prática da leitura se fará constante,
buscando-se o auxílio pelo emprego de livros, jornais, revistas, quadrinhos,
rótulos, listas, tabelas, placas, publicidade, etc., que forneçam subsídios aos
professores nas tarefas de tornarem seus alunos , verdadeiros leitores.
Por esta direção citamos STÜBE (1997, p 32) :

“Tudo o que faz parte do contexto em


que o homem vive é possível de leitura; o
processo de atribuição de sentidos
mostra-se mais amplo que a mera
decodificação(...)”

Assim, ao professor incumbe não ficar adstrito ao espaço fechado da


sala de aula, mas sim encarar o trabalho de leitura com seriedade, munindo-se
de embasamento teórico sobre a ciência da leitura, o que lhe dará auxílio no
direcionamento de sua prática, pois segundo BRAGA (1985): “Só ensinamos
bem o que conhecemos e acreditamos”.
O professor deverá ser capaz de escolher livros de acordo com os
interesses do leitor, disponibilizar vários tipos de leitura, conhecer o interesse e
o nível de desenvolvimento e contexto social da criança com a qual trabalha;
citando BRAGA : “A falta de adequação entre a obra e o interesse do
aluno, poderá acabar com a motivação do pequeno leitor”.
Por derradeiro, o professor poderá utilizar vários recursos metodológicos
para despertar o prazer de ler em seus alunos:

“ A literatura é um grande desafio ao


educador da atualidade. A escola se
organizou muito centradamente no
aspecto cognitivo e se esqueceu, quase
que completamente, da arte (em suas
diversas manifestações) do prazer, do
lúdico, do agradável...da literatura.Fato
lamentável numa época de poluição, de
famílias desestruturadas, de massacre do
homem em função da máquina e do
progresso.”
(BRAGA, 1995,p.36)

No atual contexto social faz-se mister que os professores estejam


comprometidos com a literatura, que também tenham ou adotem o salutar
hábito da leitura pois, no dizer de Fombeure: “É lendo que nos tornamos
leitores”. Então, que leiam por prazer e acompanhem o desenvolvimento dos
seus alunos, incentivem o pensamento reflexivo e crítico, capacitando-os a
reconhecer os valores subjacentes nas relações sociais, culturais, políticas e
econômicas da sociedade, descritas, muito provavelmente, nas entrelinhas da
maioria dos bons livros.
Necessário também é a existência de consenso entre professores e
alunos no sentido de que a literatura é objeto de lazer e compreensão do
mundo que, respeitados os interesses e crenças do leitor, propicia prazer,
emociona, alegra, engaja o ser por inteiro na leitura e se transforma em
atividade lúdica e cognitiva. Portanto, não é de se pensar em literatura como
instrumento de transmissão de normas lingüisticas ou comportamentais. Ela
poderá oferecer um vasto horizonte à criatividade e fantasia, levar o leitor ao
âmago de suas emoções, mas não deverá ser usada como simples recurso
para a aprendizagem de conteúdos educativos.
Tornar o livro um objeto “amigo” do aluno, oportunizando o contato com
o belo, com o imaginário e com a arte da palavra, são condições que reforçarão
o estabelecimento do hábito de ler por prazer e entretenimento. Alcançados
tais objetivos, os demais propósitos referentes a relevância da leitura, virão
como conseqüência.

6 LEITURA COMO FONTE DE INFORMAÇÃO E PRAZER

A escola, espaço que convencionamos como sendo específico e


privilegiado do saber, no que concerne à leitura , precisa rever suas práticas,
mormente diante de leituras impostas em salas de aulas onde faz imperar um
dualismo: de um lado algumas escolas que, ao pretenderem uma rápida
atualização com o presente, assimilam o novo sem a devida reflexão utilizando
inadequadamente instrumentos modernos de ensino e tornando seus leitores
passivos diante de imagens efêmeras. Em contraposição, outras escolas
utilizam textos fragmentados de manuais didáticos como único meio auxiliar
para a leitura, objetivando o trabalho de unidades curriculares como mera
fixação e memorização de conteúdos, quase sempre aleatórias à realidade dos
alunos.
Esta antinomia existente em tais práticas de leitura estão longe de
resgatar a história do conhecimento humano, de estimular o pensamento ou
induzir o aluno ao prazer em ler.
Neste sentido, esta ambigüidade da prática educativa tornam os alunos
alheios a realidade que os circundam, tornando-os vulneráveis a dominação
de uma minoria que pensa e se mantêm bem informados. Parte-se então do
pressuposto que a prática da leitura significa a possibilidade de domínio
através de um instrumento de poder, chamado linguagem formal, pois é desta
forma que estão escritas as leis que regem nosso país, e assim perceber os
direitos que se tem, o direito das elites que, com um discurso ideológico em
prol da liberdade e da justiça, os mantêm na condição de detentores do Poder
Manter grande parte da população escolar perto do alcance desta
linguagem formal, este é o grande desafio, a fim de que, com uma visão crítica
e reflexiva e através do discernimento, não se permita a perpetuação de sua
condição de dominados.
Neste sentido torna-se oportuno citar FOUCAMBERT (1994,p. 121):

“(...) a leitura aparece também como um


instrumento de conquista de poder por
outros atores, antes de ser meio de lazer
ou evasão. O “acesso a leitura” de novas
camadas sociais implica que leitura e
produção de texto se tornem ferramentas
de pensamento de uma expreriência
social renovada; ela supõe a busca de
novos pontos de vista sobre uma
realidade mais ampla, que a escrita ajuda
a conceber e a mudar, a invenção
simultânea e recíproca de novas
relações, novos escritos e novos leitores.
Nesse sentido torna-se leitor pela
transformação da situação que faz que
não se o seja.”

Assim, a leitura como prática social faz a diferença para aqueles que
dominam, tornando-os distintos cultural e socialmente.
Faz-se mister que as escolas revejam as condições restritas impostas ao
ensino da leitura. Entretanto mudar as condições de produção da leitura na
escola não significa apenas alterar os instrumentos de sua codificação e
decodificação, vai muito mais além:
Conforme Paulo Freire (1997, p. 11):

“(...) o ato de ler não se esgota da


decodificação pura da palavra escrita ou
da linguagem escrita, mas que se
antecipa e se alonga na inteligência do
mundo. A leitura do mundo precede a
leitura da palavra(...) linguagem e
realidade se prendem dinamicamente.”

Exige-se da escola, principalmente, o redimensionamento de todo o


trabalho educativo que engloba: ousadia, seleção de materiais variados,
espaço para socialização, respeito a opiniões divergentes, enfim novas
propostas de trabalhos pedagógicos com leituras críticas e variadas.
Reafirmamos que o exercício e prática da leitura transcende ao uso de
materiais como meios auxiliares de ensino, empregados como modismos em
sala de aula ou como atividade ligada a lição e a intenção didática instrucional.
Além da leitura como informação e, conseqüentemente, como fonte de
acesso ao conhecimento e ao poder , o mais importante é a capacidade de se
aliar isso ao prazer e entretenimento, pois é de se deduzir, por essa linha de
pensamento que, a contrário sensu, o prazer na prática da leitura levará
automaticamente o leitor ao conhecimento.
Assim, a leitura singular dos livros didáticos devem ceder espaço aos
livros de literatura infantil, jornais, revistas, gibis, bulas de remédios, receitas
caseiras, etc., que fazem parte dos objetos de uso cotidiano, articulado a uma
leitura significativa e, portanto, compreensiva e mais agradável como processo
pedagógico.
Leitura é conhecimento, e o conhecimento é um processo de construção
em que o protagonista é o aluno, e respaldando tal assertiva é oportuno citar
Paulo Freire:

“Uma educação que procura desenvolver


a tomada de consciências e a atitude
crítica, graças à qual o homem escolhe e
decide, liberta-o em lugar de submetê-lo,
de domesticá-lo, de adaptá-lo, como faz
com muita freqüência a educação em
vigor num grande número de países do
mundo, educação que tende a ajustar o
indivíduo à sociedade em lugar de
promovê-lo em sua própria linha.”

Com essa ideologia na prática pedagógica, poderá se propor nas


escolas alternativas de promoção de leitura, objetivando despertar o interesse
e a vontade de ler por parte dos alunos através, por exemplo, das seguintes
ações:
a) Substituição dos livros didáticos por livros de literatura;
b) Dramatizações com a participação dos alunos;
c) Atividades com ORIGAMI, arte japonesa que constitui na dobradura
artística de papéis, criando personagens das histórias;
d) Manipulação de argila e construção de maquetes, fundamentados na
releitura das histórias;
e) Realização de atividades com bulas de remédios. Com a troca de
informações, experiências e conselhos;
f) Criação de caixinhas de remédios e elaboração de bulas com base
em algum medicamento natural conhecido;
g) Exploração de receitas culinárias;
h) Trabalho com jornais;
i) Leitura de histórias em quadrinhos:
As histórias em quadrinhos têm um efeito surpreendente como
mecanismo de incentivo à leitura. Tais histórias atraem os alunos
pela identificação que estes fazem com alguns personagens,
semelhante ao mundo fático. A fantasia transforma a leitura em
modalidade de ensino e de prazer.
j) Feira de leitura: conforme poderá ser verificado nas fotos
consignadas no ANEXO 2.

A realização destas propostas pedagógicas, como alternativas e


complementares, poderá estimular nos alunos a vontade e o prazer da leitura.
Há muito a se discutir, refletir e pesquisar para que se consiga
concretizar de maneira efetiva, nas salas de aula, esta audaciosa proposta.
Para isso, se faz mister uma mudança na postura dos educadores e também
da consciência de que, como enfatizamos nos capítulos iniciais, exigirá a
quebra de alguns paradigmas no processo educativo.
Trata-se de um primeiro passo e de um grande desafio: romper barreiras
para melhor ensinar, visando, sobretudo, uma educação que permita ao aluno
o exercício pleno de sua cidadania e o seu desenvolvimento como pessoa
humana através do hábito de ler, não apenas como fonte de conhecimento,
mas também como informação e prazer!

7 LITERATURA INFANTIL

Algumas publicações nos dão conta de que os primeiros livros para


crianças tenha sido o trabalho de Comenius : Orbis Sensualium Pictus (1658),
criado com o intuito de ensinar latim através de gravuras constituindo, pois, um
antepassado , talvez dos atuais livros didáticos ilustrados para crianças. Antes
dessa época não havia nada que pudesse ser tratado como literatura infantil,
pois é o que se deduz da falta de registros a respeito.
Posteriormente, surge a literatura infantil, com moldes ideológicos
comprometidos com um destinatário específico, a criança, contudo eivado de
valores que objetivavam a transmissão de valores da sociedade então vigente.
Somente com o passar dos tempos e com a verificação da realidade
mutante, que os textos infantis vêm a sofrer adaptações, promovendo o
alargamento vivencial do leitor infantil, incitando-o a participar de problemas e
buscar soluções refletidas.
Nessa linha de desdobramento evolutivo, a literatura infantil passa a
abranger um público específico, passando a ser entendida como agente
emancipatório e capaz de projetar a criança para além do seu universo
cotidiano, recriando a vida como ela ainda poderia ser vivida, ainda que
houvesse uma fantasia subjacente, despertando o seu raciocínio.
Sob esta ótica, os livros ofereciam às crianças, de maneira sistemática,
lúdica e prazerosa um "modelo" capaz de ampliar e produzir seus próprios
conhecimentos, haja visto a diversidade de opções a que se deparava. Essa é
a atual conjuntura da literatura infantil no mundo contemporâneo, sobre a qual
passaremos também a discorrer frente à realidade nacional.

7.1 A Literatura Infantil no Brasil


Até o início do século XIX, a escola não existia , ao menos da forma tal
qual a conhecebemos hoje, institucionalizada e seriada. Não haviam
professores formados e com capacitação adequadas, sendo que muito menos
cogitava-se o livro em sala de aula.
Foi a partir da chegada da família Real ao Brasil com D João VI, que a
educação até então oferecida pelos Jesuítas com intenção religiosa, tomava
novos rumos, redimensionando o ensino. Uma das importantes emancipações
foi a formação de professores e o nascimento do livro-texto, emergindo a
possibilidade de se pensar num livro recreativo e consequentemente na
literatura infantil.
A partir de 1808 criaram-se colégios por todo o país, de Minas Gerais ao
Rio de Janeiro, Bahia etc. A partir desse momento a educação, garantida
posteriormente na Constituição de 1824, declara “gratuito a todos a
instrução primária” . Com isso garantia-se a instrução popular, em paralelo à
excelência da educação dos colégios particulares. Deflagra-se a criação de
instituições de imprensa que fazem circular vários jornais infanto-juvenis,
permitindo-nos admitir como a primeira fase da literatura específica para
crianças no Brasil, pois o valor dos jornais que circulavam na época,
principalmente os folhetins infantis, despertavam nas crianças o interesse pela
informação e cultura.
A literatura infantil no Brasil, portanto, ao esboçar-se no final do século
XIX, denota uma preocupação educacional, tornando o ensino menos teórico e
fatigante. Alguns nomes emergem como merecedores de destaque desta “nova
pedagogia”: Rui Barbosa, Teodoro Morais e, em nossos dias, podemos
ressaltar, dentre vários outros, Anísio Teixeira e Lourenço Filho , precursores
da Escola Nova no Brasil.
Por razões evidentes, não poderíamos deixar de também fazer alusão a
um dos maiores nomes da literatura infantil: Monteiro Lobato.
Monteiro Lobato tornou-se o maior clássico da literatura brasileira.; Não
escreveu apenas livros para crianças, mas sim criou um novo universo para
elas. Foi original em seus escritos, embora utilizasse o rico acervo da literatura
clássica infantil de todo o mundo. Sua maior fonte de inspiração foi a própria
criança: os ingredientes de sua vivência, suas fantasias, suas aventuras, seus
jogos e brinquedos, e tudo que povoasse sua imaginação.
Bárbara Vasconcelos, em sua obra “A literatura Infantil”, retrata bem a
importância da obra de Monteiro Lobato:

“É importante que a criança viva em seu


mundo, sem ser perturbada, para que ela
seja criança enquanto for criança. Lobato
realizou uma obra onde a criança,
desinibida e autêntica, é livre para ser
criança. E é isso que é importante. Ele
não mente à criança, mas não lhe impõe
os problemas. A criança merece beleza e
respeito, sem precocidade vulgares, sem
permissividades, porque o nosso
objetivo é dar-lhes condições de crescer.
É isso que faz a obra de Lobato.”
A criação literária de Monteiro Lobato contribuiu sobremaneira para a
educação, inspirando as novas gerações para o hábito da leitura, num mundo
cheio de fantasia e beleza, fazendo com que sua presença fique viva nos lares,
nas escolas e, principalmente, nos corações das crianças.
Sua obra infantil tem servido de inspiração para educadores e homens
de teatro no Brasil e no exterior, motivo de orgulho nacional.

8 A LITERATURA E A CRIANÇA

“Um livro infantil, para o quarto de uma


criança, é um objeto tão importante e
mais indispensável do que o berço”
Friedrich Bertuch

Uma das formas de recreação mais importante para a criança,


principalmente no que se refere ao seu desenvolvimento e crescimento
intelectual, psicológico, afetivo e espiritual é a leitura.
A literatura infantil, como meio de comunicação e modalidade da leitura,
também é um dos mais eficientes mecanismos de recreação e lazer, servindo
como um método prático de terapia educacional.
Os condicionamentos impingidos pela vida moderna, tais como a
massificação da informação pela televisão, os programas televisivos
inadequados, a comunicação via ciberespaço, os filmes infantis instigando à
violência, dentre outros aspectos, despejam sobre a criança informações que
cerceam a sua capacidade imaginativa, culminando num alheamento de
perspectiva crítica.
A literatura desempenha papel fundamental na vida da criança, não
apenas pelo seu conteúdo recreativo que desempenha, mas também pela
riqueza de motivações, sugestões e de recursos que oferece ao seu
desenvolvimento.
Em seu descobrimento da vida, a criança está ávida por descobrir e
entender a realidade circundante, deslumbrando os mistérios que a aproximam
do mundo exterior através dos símbolos, da leitura infantil. Nessa curiosidade e
deslumbramento deverá encontrar estímulos sadios e enriquecedores que
serão a tônica de sua motivação e crescimento como pessoa humana.
Portanto, deve-se estimular e propiciar ao alcance das crianças os livros
infantis, dos Contos de Fadas, poesias, os mitos, folclore, fábulas, teatro,
permitindo-lhe penetrar em seu universo mágico dos sonhos. É o caminho não
apenas de sua descoberta, mas também um dos mais completos meios de
enriquecimento e desenvolvimento de sua personalidade.
Com a leitura e os livros a criança e o jovem encontrarão caminhos,
crescerão e se desenvolverão na busca de soluções para as suas inquietações
e problemas de ordem intelectual, social, afetiva, ética e moral.
Diz Erich Fromm: “ o elemento mais básico da cultura, a linguagem,
é a precondição de qualquer realização humana.”
A leitura infantil é um dos fatores básicos para a criança buscar a sua
realização como pessoa humana, incumbindo às novas gerações uma grande
responsabilidade quanto à mudança de concepção ideológica, de maneira a
que o hábito da leitura seja propugnado desde a mais tenra idade, contribuindo
em sua formação sob todos os aspectos.

9 CONCLUSÃO

Ao longo dessas linhas buscou-se inspiração, sobretudo, na crença e


firme convição como educadora, de que o futuro está na educação,
principalmente na Educação Infantil e Séries Iniciais.
O desfio do novo educador, daquele adequado ao mundo
contemporâneo, está justamente em fazer frente às ideologias dominantes que
insistem em práticas educativas tradicionais e descomprometidas com o
objetivo máximo da educação, centro para onde deveriam convergir todos os
interesses: o aluno.
Nesse desiderato, comprometidos com o amanhã e com o futuro de
nossos filhos, de nossa história, e porque não dizer de nossa própria
existência, incumbe-nos, através de um discurso pragmático e não meramente
dogmático, persuadir o público que tem compromisso com a educação, na
realidade da família ao professor, da Escola ao próprio Estado, a implementar
ações voltadas para a formação do futuro cidadão, sendo a incultação do
hábito da leitura o mais ideal dos instrumentos para essa conquista.
Que as vicissitudes do cotidiano nos permita avançar através da
leitura, rumo a uma Sociedade Livre, Justa e Igualitária, valores supremos
de qualquer nação!

"Ouvir historias é o início de


aprendizagem para ser leitor"

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