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Duração: 90 minutos
Teste de avaliação de Português, 12º ano
GRUPO I
A
Lê o texto que se segue com atenção e responde às questões que se seguem. Se necessário,
consulta o vocabulário em rodapé.
VICENTE
Senhores! Senhores! Ontem à noite entraram mais de dez pessoas em casa
de...
5 D. MIGUEL
Cuidado!
VICENTE
(Atrapalhado. Olhando à sua volta)
Entraram mais de dez pessoas na casa que fui incumbido de vigiar...
10 D. MIGUEL
Conhece-lhes os nomes?
VICENTE
Só de sete, senhor.
D. MIGUEL
15 (Para Vicente)
Está bem. Continue.
(D. Miguel, depois de Vicente ter saído pela esquerda do palco, prossegue,
para os governadores)
D. MIGUEL
20 A questão que temos de resolver, Excelência, é, portanto, bem simples.
Consiste apenas em chegarmos a acordo acerca da pessoa que mais nos
convém que tenha sido o chefe da conjura.
A ingenuidade do
PRINCIPAL SOUSA principal Sousa não é
Não me agrada a condenação de um inocente. verdadeira. Este
prelado defende-se,
sempre, tentando
25 BERESFORD
mostrar-se alheio à
1
Está nas suas mãos, Reverência, evitar que seja condenado um inocente... política e às decisões
em que intervém.
PRINCIPAL SOUSA
Como?
BERESFORD
30 (Sorrindo)
Nomeando quem tenha na alma a semente do jacobinismo 1... Se peca quem
não acata a palavra de Deus, mais peca, com certeza, quem não aceite ou
discuta a Sua autoridade... V. Reverência ainda há pouco disse que a
autoridade dos reis provinha de Deus...
35 PRINCIPAL SOUSA
Na verdade...
BERESFORD
(Rindo-se)
Até os mercenários sabem teologia... São eles, aliás, que mais vezes carecem
dela. A consciência humana, Reverência, satisfaz-se com meia dúzia de
40 artifícios mentais.
PRINCIPAL SOUSA
Lá está Vª Exª brincando outra vez!
(Pausa)
Digam-me: já pensaram em alguém?
45
D. MIGUEL
O problema é delicado.
BERESFORD
(Levanta-se e passeia dum lado para o outro do palco)
A minha missão consiste em reorganizar o exército e é meu inimigo,
50 portanto, quem me dificulte esta missão. Beresford fala sozinho.
2
Não devo esquecer-me de que estou rodeado de inimigos: o clero odeia-me Estaca. A última frase
60 porque não sou da sua seita; a nobreza, porque lhe não concedo privilégios; é proferida no tom de
o povo, porque me identifica com a nobreza, e todos, sem exceção, porque quem já pensou no
sou estrangeiro... assunto.
O próprio D. Miguel só vê em mim uma limitação ao seu poder...
Neste país de intrigas e de traições, só se entendem uns com os outros para
destruir um inimigo comum e eu posso transformar-me nesse inimigo
65 comum, se não tiver cuidado.
(Pausa)
Não é prudente ainda dizê-lo aos outros, mas não há dúvida de que existe
um português capaz de me destronar...
1. Localiza a ação na estrutura interna e externa da obra e refere a importância do excerto para o
desenrolar da ação.
2. Atenta nas notas à margem e reflete sobre a sua utilidade neste excerto.
3
"Ganharás o pão com o suor do teu rosto"
15 Assim nos foi imposto
E não:
"Com o suor dos outros ganharás o pão"
Ó vendilhões do templo
Ó construtores
20 Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito
Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem
Sophia de Mello Breyner, in Livro Sexto, 1962
4. Neste poema de forte crítica social, Sophia denuncia certos comportamentos. Justifica esta
afirmação fazendo uso de expressões textuais.
GRUPO II
(Exame Nacional de 2009, 1ª fase-com adaptações)
Onde Miguel Torga desembestou1 mais furiosamente foi contra a política salazarista. Prova
disso é o poema Cântico do Homem, as prisões nos aljubes 2 da PIDE 3 e o embargo de algumas
obras. (…)
A escalada dos grandes fascismos europeus coincidiu com a maturidade física e intelectual
5 de Miguel Torga. Mussolini marchava sobre Roma, bombardeara a Abissínia e, mais tarde, atacara
a França pelas costas, para comprazer ao parceiro, Adolfo Hitler. Implantada no coração da Europa,
a «pata rugosa» do nazismo hitleriano ia atirar o mundo para os horrores da Segunda Guerra
Mundial. Franco, disposto a fuzilar meia Espanha, se tanto fosse necessário, fuzilava e decapitava
«rojos»4 em série. Em Portugal, Salazar, que, para Torga, era um homem dotado do «conhecimento
10 satânico do preço dos homens», transforma-se, aos olhos do poeta do Diário, num enorme «pulmão
de aço» pelo qual obrigava todo o país a respirar.
Foi nesta data que Torga se meteu a viajar pelo Velho Mundo. O resultado dessa viagem foi
o seu primeiro livro em prosa, O Quarto Dia da Criação do Mundo . Um alarme aos homens do seu
tempo e um violento desafio a todos os que reputava seus tiranos. Imediatamente preso pela PIDE,
15 foi encarcerado no Aljube 5 .
4
Ainda em França, e antes desta prisão, fora convidado a exilar-se. Mas, se Torga diz que «ser
escritor em Portugal é como estar dentro dum túmulo a garatujar na tampa», pensa também que
«é preciso pagar a liberdade». E a liberdade estava em Portugal! No estrangeiro, perde-se o que é
nosso e não se adquire o alheio… (…)
20 Torga tem consciência de que, apesar da bruteza ingénita 6 do meio em que nasceu e dos
trambolhões que pela vida levou, foi privilegiado em relação aos seus conterrâneos. «Dos meus
companheiros de classe, alguns finos como corais, poucos assinam hoje o nome. A mão moldou-
se de tal maneira à enxada, foi tanta a negrura e a fome que os rodeou, que esqueceram de todo
que havia letras e pensamento». Valeu a pena lutar!
António Freire, Lendo Miguel Torga, Porto, Edições Salesianas, 1990
VOCABULÁRIO
1 desembestou: reagiu com violência.
2 aljubes: prisões subterrâneas, cárceres.
3 PIDE: Polícia Internacional e de Defesa do Estado.
4 «rojos»: vermelhos; nome aplicado, em Espanha, a militantes de partidos de esquerda, nomeadamente aos
comunistas.
5 Aljube: prisão, em Lisboa, onde ficavam os presos que estavam a ser interrogados na sede da PIDE.
6 ingénita: que nasceu com o indivíduo; inata.
Seleciona, em cada um dos itens de 1 a 7, a única alternativa que permite obter uma afirmação
adequada ao sentido do texto.
Escreve, na folha de respostas, o número de cada item, seguido da letra que identifica a alternativa
correta.
1. A utilização das expressões «‘conhecimento satânico do preço dos homens’» (linha 8) e «‘pulmão de aço’»
(linha 9) constitui, da parte de Torga, uma
(A) crítica severa à atuação de Salazar.
(B) análise neutra da política salazarista.
(C) censura suave ao papel de Salazar.
(D) reflexão objetiva sobre a governação salazarista.
4. Em «para comprazer ao parceiro, Adolfo Hitler.» (linha 5), o constituinte «Adolfo Hitler» desempenha
a função de
(A) sujeito.
5
(B) modificador do nome.
(C) vocativo.
(D) complemento indireto.
7. Em «‘que esqueceram de todo’» (linha 21), a conjunção «‘que’» estabelece uma relação de
(A) substituição.
(B) retoma.
(C) consequência.
(D) comparação.
9. Transcreve, do segundo parágrafo (linhas 3-9), uma oração subordinada adverbial final.
10. Refere a classe e a subclasse da palavra sublinhada no enunciado “se Torga diz que «ser escritor em
Portugal” (linhas 14-15).
GRUPO III
SELECIONA UM TEMA:
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C) Diz um velho provérbio que “A união faz a força”.
Num texto bem estruturado, entre 180 e 240 palavras, disserta sobre o poder da união entre os
homens, tanto para desempenhar o bem como o mal.
Fundamenta o teu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos e ilustra cada um
deles com, pelo menos, um exemplo significativo.
observ ações:
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo quando
esta integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única palavra, independentemen te
dos algarismos que o constituam (ex.: /2014/).
2. Um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do texto produzido; − um
texto com extensão inferior a oitenta palavras é classificado com zero pontos.
COTAÇÕES:
GRUPO I- 100 pontos GRUPO II- 50 pontos GRUPO III
1. 2. 3. 4. B. 1 a 10 50 pontos
5 cada 50
20 20 20 20 20 ETD-30
(C12+F8) (C12+F8) (C12+F8) (C12+F8) (C12+F8) CL-20
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PROPOSTA DE CORREÇÃO
Cenários de resposta:
1. O excerto corresponde a um momento do primeiro ato em que os governadores, representantes do poder
político, religiosos e militar, e também um delator, Vicente, que pretende melhorar a sua condição
económica e social, se encontram reunidos para, como diz D. Miguel, chegarem “a acordo acerca da pessoa
que mais […] convém que tenha sido o chefe da conjura” (linhas 20-21)”, isto é, pretendem selecionar um
chefe para a “conjura” de que se fala ou, no fundo, para selecionar um rival cujo desaparecimento lhes seja
conveniente. O evoluir do encontro ditará o acordo em torno do nome de Gomes Freire de Andrade como
alvo a eliminar, pelo que é neste ponto da peça que se prepara o desfecho trágico da ação: a prisão e a morte
do general. Assim, o texto revela uma situação crucial da ação, evidenciando o caráter arbitrário de todo o
processo de condenação de Gomes Freire.
2. Neste excerto, as notas à margem pretendem, sobretudo, fornecer explicações sobre as personagens
Beresford e principal Sousa. Na primeira nota, realça-se a hipocrisia do regente que representa o poder
religioso. Este finge não ter grande poder de decisão nas opções da regência, como forma de não se
comprometer com as decisões arbitrárias que se estão a tomar naquele preciso momento, para se inocentar
de qualquer responsabilidade. As outras duas notas à margem concernem a Beresford e à preocupação
meramente mercenária de quem só está em Portugal a fim de ganhar bastante dinheiro, mas sem se
preocupar com o destino do país ou do povo. Assim, durante o monólogo, demonstra que há algum tempo
se apercebeu de que poderá perder a sua posição privilegiada e economicamente favorável que o está a
enriquecer.
3. A relação que os três regentes mantêm entre si é de conveniência, uma vez que não se suportam
mutuamente, mas, em nome dos interesses comuns, conspiram para escolher um possível chefe da conjura
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a sacrificar e, assim, acabar com a revolta antes de esta assumir contornos preocupantes. Beresford é claro
quando, no seu monólogo, afirma que nem a nobreza nem o clero o suportam. Sabe que D. Miguel vê nele
“uma limitação ao seu poder” (linha 59) e conclui dizendo que está rodeado de traidores, pelo que deve
“cuidado” (linha 62) se não quiser perder os seus privilégios.
4. Neste poema escrito durante o Estado Novo, Sophia critica fortemente a hipocrisia e o cinismo daqueles que
“cheios de devoção e de proveito” (v. 21) vivem “Com o suor dos outros” (v. 17), isto é, critica o rico que
explora o pobre e a miséria deste. Critica ainda os “vendilhões do templo” (v. 18), a falsa devoção de quem
se diz cristão, mas não respeita os preceitos da fé católica, baseados no amor e na solidariedade, mas que,
pelo contrário, se dedicam exclusivamente ao seu próprio proveito. Denuncia, portanto, a opressão do Estado
Novo e todos aqueles que exploram o povo miserável e trabalhador.
5. Sugestões: Podemos referir a ironia presente na primeira estrofe, em que Sophia critica “As pessoas sensíveis”
(v. 1) que não matam galinhas, mas que não têm pejo em comê-las, isto é, os hipócritas que exploram aqueles
que não se podem defender e que se alimentam da miséria alheia.
Temos, na referência bíblica aos “vendilhões do templo” (v. 18), quer a apóstrofe, quer a metáfora. Assim, a
apóstrofe é usada para que a poetisa possa interpelar diretamente aqueles a quem se dirige e que critica, isto
é, os falsos religiosos, hipócritas e que não respeitam a lei de Deus. Já a referência bíblica põe em destaque
a falta de consciência e a falsidade dos que se dizem cristãos, mas são ambiciosos e não têm integridade
moral.
No verso 20 presenciamos a dupla adjetivação que caracteriza as estátuas, que são “balofas e pesadas”, usada
de modo pejorativo para caracterizar aqueles que exploram o trabalho alheio e constroem riqueza graças ao
trabalho duro, pesado, penoso e mal pago do povo.
GRUPO III
Cenário de resposta
Dada a natureza deste item, não é apresentado cenário de resposta.
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