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Análise Psicológica (1996), 4 (XIV): 417-434

História da educação: Percursos de uma


disciplina (*)

ANTÓNIO NÓVOA (**)

O mínimo que se exige de um historiador é educativa: trata-se, no primeiro caso, de aceitar


que seja capaz de reflectir sobre a história da sua que o objecto do historiador «não é o passado
disciplina, de interrogar os sentidos vários do em si próprio, mas sim tudo o que nos vestígios
trabalho histórico, de compreender as razões deixados por este passado pode responder às
que conduziram à profissionalização do seu questões que ele coloca e que lhe são sugeridas
campo académico. O mínimo que se exige de um pelo mundo em que vive» (Burguière, 1986, p.
educador é que seja capaz de sentir os desafios VIII); trata-se, no segundo caso, de romper com
do tempo presente, de pensar a sua acção nas uma visão «natural» ou «racional» que oculta a
continuidades e mudanças do trabalho pedagógi- historicidade da reflexão pedagógica e impede a
co, de participar criticamente na construção de compreensão da forma como se construíram os
uma escola mais atenta às realidades dos diver- discursos científicos na arena educativa em si-
sos grupos sociais. multâneo com o desenvolvimento de grupos
A História da Educação só existe a partir profissionais e de sistemas especializados de
desta dupla possibilidade, que implica novos conhecimento.
entendimentos do trabalho histórico e da acção
1. GÉNESE E DESENVOLVIMENTO DA
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO (SÉCULOS XIX-XX)
(*) Este texto, baseado no relatório História da Edu-
cação que apresentei em 1994 no âmbito das provas «Quando se trata de física ou de química,
de agregação na Universidade de Lisboa, insere-se a história destas ciências no passado não é
numa reflexão teórica e metodológica mais vasta, a mais do que um assunto de erudição e de
qual deu origem à produção de vários ensaios, nomea-
damente: «On History, History of Education, and
curiosidade. [...] Na ciência da educação,
History of Colonial Education» (1995), «Profession- pelo contrário, como em todas as ciências
nalisation des enseignants et Sciences de l´Education» filosóficas, a história é a introdução neces-
(em publicação na revista Paedagogica Historica), «A sária, a preparação para a própria ciência»
Educação Nacional (1930-1974): Análise histórica e (Compayré, 1911, p. 1546).
historiográfica» (conferência proferida no 2.º Encon-
tro Ibérico de História de Educação, Zamora, 1995), Gabriel Compayré marcou uma época. E um
«Histoire de l´Education: regards de l´Amérique»
(em publicação na revista Histoire de l´Education).
estilo. O seu trabalho serviu de modelo a grande
(**) Professor Catedrático, Faculdade de Psicologia parte das histórias da educação escritas e ensina-
e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa. das nos séculos XIX e XX. A sua obra ilustra,

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talvez melhor do que qualquer outra, a impor- A História da Educação vive uma situação
tância da História da Educação como disciplina idêntica. Os ataques crescem na proporção di-
fundadora das Ciências da Educação. A citação recta da sua influência institucional. Desde mea-
em epígrafe lembra a formulação kantiana: «A dos do século XIX que, pela voz de Théodore
teoria sem a história é vazia; a história sem a teo- Barrau, se denuncia esta «ciência laboriosamente
ria é cega.» inútil» que dá pelo nome de história da pedago-
Nanine Charbonnel demonstrou que, no final gia (ou da pedagógica): «Um jovem professor
do século XIX, a invenção da Pedagogia como não poderia fazer uma pior utilização do seu
Ciência da Educação teve como elemento estru- tempo do que empregá-lo na leitura deste tipo de
turante a descoberta de uma história prévia, sus- livros» (1857, p. 4).
ceptível de legitimar os novos grupos e ambições A construção disciplinar da História da Edu-
de cientificidade: «Pedagogia e História da cação deve ser vista à luz de três processos si-
Pedagogia sustentam-se mutuamente; somos le- multâneos: a estatização do ensino, a institucio-
vados a crer que a primeira existe porque a se- nalização da formação de professores e a cienti-
gunda partiu à procura das suas origens» (1988, ficação da pedagogia.
p. 127). A consolidação dos sistemas de ensino em
As ciências humanas são históricas, por na- sintonia com a formação dos novos Estados-Na-
tureza, tanto pelos seus objectos como pelos ção favorece uma análise histórica comparada,
seus modos de conhecimento (Matalon, 1992). bem como uma intensa circulação de ideias e de
Por isso, a história é consubstancial à própria educadores; registe-se, por exemplo, que no final
constituição destas ciências. Os homens que no do século XIX os textos preambulares das diver-
final do século XIX se bateram pela afirmação sas reformas começam invariavelmente por uma
científica e institucional da Ciência da Educação referência à situação em diversos países, baseada
perceberam-no claramente. E escreveram, uma e quase sempre em visitas prévias ou em missões
outra vez, que o ensino da pedagogia não podia de estudo subsidiadas pelos governos respecti-
deixar de ser, simultaneamente, teórico, histórico vos. Neste período, a perspectiva comparada
e prático. serve, sobretudo, para afirmar as identidades
Ao dar-se um passado, a primeira geração da próprias e para justificar a canalização de verbas
pedagogia científica procurou consolidar a disci- para o sector educativo: a crença nas potenciali-
plina no seio da comunidade académica e uni- dades da educação nunca tinha sido tão grande e
versitária. O jogo de poderes consagrava não só expandiu-se quase sem contestação a ideia de
um novo tipo de conhecimento, mas também os que o poder dos países se podia medir pelo seu
homens que eram supostos produzi-lo e difundi- nível de desenvolvimento escolar.
-lo. Até então, a pedagogia era vista, sobretudo, A importância que a formação de professores
pelo prisma da prática, das técnicas e dos méto- adquire ao longo do século XIX justifica-se,
dos de ensino. A partir de meados do século em grande medida, pela urgência de preparar
XIX, no entanto, as perspectivas teóricas adqui- profissionais capazes de darem corpo aos novos
rem novas dimensões: primeiro, por via de um desafios educativos. A História da Educação
pensamento histórico e, também, de um esforço adquire um estatuto ímpar no seio de muitos des-
de reflexão comparada; mais tarde, através do tes programas, sendo a disciplina com maior car-
recurso às ciências psicológicas e sociológicas. ga horária (cf. Barnard, 1970; Cohen, 1976). Pa-
Mas, na mesma altura em que os diversos paí- ra além de fornecer exemplos do que se deve (e
ses se pedagogizam – para utilizar uma expres- do que não se deve) fazer, à narrativa histórica
são de Félix Pécaut (1882) – nascem os ataques compete reforçar a convicção dos professores –
a esta pseudo-ciência, estéril e inútil. Ferdinand os novos «missionários laicos» – de que a escola
Brunetière faz-se eco de dizeres em voga: «Que- é o factor essencial do progresso.
remos acima de tudo professores que se dedi- O esforço de cientificação da pedagogia é o
quem a professar, e que não liguem nenhuma à terceiro aspecto relevante para compreender a
pedagogia» (1895, p. 8). Como escreveu Daniel importância crescente do pensamento histórico-
Hameline (1993), torna-se moda troçar dos peda- -educativo no século XIX. Nanine Charbonnel
gogos. É um dever. Uma cruzada, quase. (1988) refere a existência de dois grandes mo-

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mentos no percurso histórico das Ciências da Nas décadas de transição do século XIX para
Educação: o momento Compayré (décadas finais o século XX, a História da Educação vai perder,
do século XIX) e o momento Pedagogia Experi- progressivamente, o seu papel de disciplina que
mental (décadas iniciais do século XX). Apesar permite reconstruir a historicidade do processo
das diferenças, procura-se, em ambos os casos, educativo – e do esforço de teorização pedagógi-
afirmar uma cientificidade da pedagogia cons- ca – para se transformar, primeiro, numa evoca-
truída graças ao emprego de métodos de pes- ção descritiva de factos, ideias e práticas para
quisa decalcados do modelo das ciências físicas, consumo dos futuros professores e, mais tarde,
para além de se observar um continuum marcado num tempo dominado pelas «ciências da obser-
pela predominância da razão psicológica. vação», numa disciplina sem qualquer utilidade.
Para além desta tutela, o pensamento pedagó- Na verdade, o sucesso da História da Educa-
gico vai estar submetido à pressão cada vez ção no início do século XX, com a conquista de
mais intensa do discurso sociológico. O percurso um espaço significativo na formação de profes-
de Émile Durkheim, sociólogo que entra na Sor- sores e de uma importante dinâmica editorial,
bonne pela mão da pedagogia e publica uma im- faz-se à custa do esvaziamento das suas dimen-
portante obra histórica, é elucidativo. Logo em sões epistemológicas e heurísticas. Trata-se de
1902, curiosamente na sua primeira lição como uma história que perdeu o sentido da sua própria
catedrático de Ciência da Educação, declara que história, e que adoptou um registo técnico e
a pedagogia depende da sociologia mais do que descritivo. Nestas condições o seu declínio era
de qualquer outra ciência e, num texto a vários inevitável, pois deixou de ter uma função crítica
títulos notável de 1911, postula o carácter entre- e teórica e, num tempo obcecado por medidas e
-dois da pedagogia (cf. Durkheim, 1993). É a observações, deixou de ter qualquer interesse
mesma lógica que leva Paul Lapie a escrever na prático para a formação de professores.
introdução ao catálogo das obras de pedagogia
francesa, apresentadas na Exposição de São
Francisco, que «as teorias pedagógicas eram, no 2. O ENSINO DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
passado, hipóteses metafísicas, romances literá-
rios ou planos políticos, mas que hoje são coro- O ensino da História da Educação esteve,
lários das leis da psicologia e da sociologia» desde sempre, institucionalmente ligado à for-
(1915, p. 232). mação de professores: por aqui passaram as
Esta evolução é essencial para compreender os suas ambiguidades e projectos, as suas fragilida-
debates e as contradições das Ciências da Edu- des e sucessos. De forma pontual, a História da
cação e, por consequência, da História da Edu- Educação fez também parte da formação de ou-
cação. Durante muito tempo a construção his- tros profissionais da educação (administradores,
tórica da psicologia e da sociologia e o papel que directores de estabelecimentos de ensino, médi-
desempenharam no controlo das teorias e das prá- cos escolares, etc.), bem como de cursos univer-
ticas da educação foram descritos como processos sitários de graduação ou de pós-graduação na
naturais. Uma série de trabalhos publicados nos área da Educação. Só muito esporadicamente, e
últimos anos revelou o conflito de poderes que quase sempre a título de disciplina de opção ou
esteve por detrás destas histórias «naturais», as como capítulo de cursos de História da Cultura
quais não se limitaram a contar «o passado tal co- ou das Ideias, a História da Educação foi ensina-
mo ele foi», mas a reorganizá-lo a partir de pon- da em instituições ou em programas universitá-
tos de vista e de interesses particulares1. rios não directamente relacionados com as Ciên-
cias da Educação.
A referência identitária da História da Educa-
1
A este propósito, há uma literatura abundante, que ção ao campo da formação de professores e
é impossível mencionar no âmbito deste estudo. Limi- educadores é essencial para compreender a sua
to-me, por isso, a indicar alguns trabalhos de referên- razão de ser e uma parte considerável das suas
cia: Boudon, 1992; Bourdieu, 1995; Herman, 1995;
Jay, 1994; Matalon, 1992; O´Donnell, 1985; Popke- contradições (Violas, 1990). Neste contexto ins-
witz, 1996; Ross, 1994; Silva & Slaughter, 1984; titucional, a História da Educação usufruiu fre-
West, 1989; Young, 1996. quentemente de um estatuto autónomo, ainda

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que, por vezes, tenha sido ensinada no âmbito de Educação, que conheceu nesta altura uma im-
disciplinas de carácter global, como, por exem- portante renovação conceptual e metodológica.
plo: Teoria da Educação, Pedagogia Geral ou In- Nos dias de hoje, há uma diversificação de
trodução às Ciências da Educação. perspectivas na forma de ensinar a História da
Uma apreciação no tempo das perspectivas Educação e de justificar a sua inclusão nos pro-
em que assenta o ensino da História da Educação gramas do ensino superior e universitário: por
leva-nos a identificar quatro tradições principais. um lado, há uma espécie de redescoberta da es-
Elas surgem numa certa ordem cronológica e pecificidade das temáticas escolares e do papel
tendem a prevalecer durante um determinado pe- dos diferentes actores educativos e da sua expe-
ríodo de tempo; no entanto, devem ser encaradas riência; por outro lado, há uma tendência para
numa lógica cumulativa, e não estritamente se- retomar práticas de história intelectual e cultural,
quencial, na medida em que é possível observar a partir de novas concepções teóricas; final-
a presença simultânea de várias destas tradições. mente, há um regresso às origens da História da
De início, a História da Educação organiza-se Educação através de uma revalorização das abor-
como uma reflexão essencialmente filosófica, dagens comparadas.
baseada na evocação das ideias dos grandes
educadores, desde a Antiguidade ao período
contemporâneo (século XIX). Através da glorifi- O caso português
cação do passado, descreve-se a evolução educa- A evolução do ensino da História da Educa-
tiva (e da Humanidade) como uma marcha de ção em Portugal segue percursos idênticos aos
progresso. Do ponto de vista estratégico, procu- do plano internacional, tanto no que diz respeito
ra-se tirar deste passado o máximo de lições para
à inserção institucional, como em relação às di-
o presente: reside aqui a justificação principal
versas fases do seu desenvolvimento. De facto,
para a presença da disciplina no curriculum da
para além dos programas de formação de profes-
formação de professores.
sores e de Ciências da Educação, a presença da
No final do século XIX, e de modo mais evi-
disciplina nas Universidades portuguesas é mui-
dente no princípio do século XX, esta primeira
to esporádica.
tradição é prolongada por uma outra, mais mar-
cadamente institucional. Numa época de edifica- Actualmente, a disciplina vive um tempo de
ção dos sistemas estatais de ensino, tal como os interrogação, que se encontra bem patente na
conhecemos nos dias de hoje, é natural que fos- forma como é ensinada nas Escolas Superiores
se concedida uma atenção privilegiada à génese de Educação e nas Universidades. Através da re-
e ao desenvolvimento das instituições educati- colha e análise de um conjunto alargado de do-
vas. Através da rememoração legislativa, nomea- cumentação, é possível avançar algumas pistas
damente das principais reformas educativas, pro- de interpretação2. Trata-se de materiais muito
duz-se uma história legitimadora das opções heterogéneos, que foram produzidos com distin-
presentes de política educativa. Acentua-se, as- tos objectivos – administrativos (sumários das
sim, o valor prático e a funcionalidade da Histó- aulas ou resumos do programa), institucionais
ria da Educação, disciplina que estreita laços de (divulgação em anuários), pedagógicos (docu-
proximidade com as temáticas da organização e mentos para distribuir aos alunos), etc. – e que,
administração escolares. por isso, devem ser analisados com precaução.
Em meados do século XX, verifica-se uma Em vez de uma estratégia de comparação di-
reacção forte contra estas duas tradições, com
origem em sectores exteriores ao pensamento pe-
dagógico. Há, por um lado, a crítica dos historia- 2
A documentação refere-se a 26 instituições do en-
dores, claramente sintonizada com as revoluções sino superior e universitário, abrangendo 36 progra-
em curso na sua própria área científica e, por ou- mas de ensino. Para uma informação mais detalhada,
nomeadamente no que se refere à metodologia de aná-
tro lado, a crítica dos sociólogos, imbuída fre- lise utilizada, consultar o relatório História da Educa-
quentemente de uma perspectiva marxista ou ção (Provas de agregação, Faculdade de Psicologia e
neo-marxista. Estes contributos trouxeram uma de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa,
perspectiva social para o interior da História da 1994).

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recta, construí um modelo de comparação refe- Trata-se, regra geral, de disciplinas de âmbi-
renciada, que se desenvolveu em três fases: 1.ª) to geral da Pedagogia ou das Ciências da
leitura global dos programas e explicitação das Educação, que fornecem, a título de ilustra-
respectivas linhas de força; 2.ª) elaboração de ção, algumas informações históricas. O ob-
um quadro teórico (paradigmático), com base jectivo destes programas não é possibilitar
numa sistematização das concepções previamen- uma compreensão histórica propriamente
te identificadas; 3.ª) comparação entre o quadro dita, mas antes constituir uma espécie de in-
teórico (referencial) e cada um dos programas a trodução à reflexão pedagógica e educacio-
título individual. nal. O estudo do passado encontra-se direc-
A aproximação quantitativa dos programas tamente ao serviço do presente e é mobili-
sugere quatro ideias: zado numa perspectiva mais pedagógica do
que histórica. O objectivo é, muitas vezes, o
- De uma forma geral, o ensino está organiza-
de contribuir para dar a conhecer algumas
do segundo uma perspectiva cronológica,
ideias (e, pontualmente, algumas reformas)
aqui e ali matizada por abordagens temáti-
que, segundo os responsáveis destes progra-
cas. A explicação deste facto reside, por um
mas, continuam a ter uma certa pertinência e
lado, no predomínio de uma concepção tra-
actualidade.
dicional do «tempo», mas também na vonta-
- A segunda configuração, sem dúvida a mais
de de fornecer aos alunos um enquadramen-
representativa (cerca de 45% dos progra-
to histórico de mais fácil apreensão.
mas), centra-se claramente na análise das
- Na maioria dos casos, adopta-se uma lógica
ideias dos grandes educadores universais e,
descritiva, por vezes interpretativa, através
em certos casos, dos principais pedagogos
da qual se evocam as ideias, os projectos e
portugueses. Esta perspectiva situa-se na
os factos educativos; todavia, cerca de 20%
confluência de um pensamento histórico e de
dos programas organizam-se (parcial ou to-
uma reflexão filosófica, tomando como refe-
talmente) segundo uma estratégia de proble-
rência-base os homens e as ideias que mar-
matização.
caram a evolução da pedagogia ao longo dos
- A maioria dos programas incide no período
séculos. No interior desta configuração po-
contemporâneo (séculos XVIII a XX), ainda
dem, porém, ser identificadas duas grandes
que cerca de 25% abranjam um período lon-
tendências: uma reproduz os manuais clássi-
go da Antiguidade aos nossos dias e outros
cos de História da Educação, começando
25% estejam exclusivamente virados para o
pela Antiguidade e terminando no movimen-
século XX.
to da «escola nova»; a outra incide na peda-
- No que diz respeito à dicotomia nacional-in-
gogia contemporânea, desde os seus funda-
ternacional verifica-se uma repartição
dores (Pestalozzi, Herbart, Froebel) até às
equitativa dos programas: cerca de 1/3 orga-
propostas mais recentes. Em termos gerais,
niza-se basicamente em torno do pensamen-
as ideias são apresentadas na sua estrutura
to e da história educacional portuguesa; cer-
interna, por vezes de forma algo enciclopé-
ca de 1/3 baseia-se no estudo de autores uni-
dica, sem uma articulação explícita com as
versais com referências pontuais a autores
realidades educativas e os processos escola-
portugueses; cerca de 1/3 articula historica-
res.
mente as realidades internacionais e a situa-
- A terceira configuração é a menos signifi-
ção nacional.
cativa do ponto de vista quantitativo (cerca
Uma análise qualitativa da documentação re- de 10% dos programas) e, provavelmente, a
vela cinco grandes configurações do ensino da de mais difícil definição. A atenção desloca-
História da Educação: -se das ideias dos grandes educadores do
- A primeira configuração agrupa sete progra-
mas (cerca de 20%)3 que, apesar das suas di- 3
O total das percentagens ultrapassa 100% na me-
ferenças, se definem pelo facto de só aborda- dida em que certos programas foram integrados em
rem pontualmente as questões históricas. mais do que uma configuração.

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passado para os discursos produzidos nos dos simplismos que inevitavelmente comporta,
diversos contextos educativos. Não se trata esta arrumação permite, no entanto, identificar as
de descrever (e de interpretar) as ideias en- traves-mestras do desenvolvimento curricular
quanto ideias, mas de compreender a cons- da História da Educação em Portugal. E, sobre-
trução histórica dos discursos e o modo co- tudo, pode ajudar a situar algumas das «comu-
mo influenciaram certas realidades educa- nidades interpretativas» que coexistem actual-
tivas. A análise dos discursos reporta-se aos mente no seio dos historiadores da educação.
seus contextos de produção e a perspectiva
histórica procura contribuir para uma com-
preensão pedagógica situada no tempo. 3. A INVESTIGAÇÃO EM HISTÓRIA DA
- A quarta configuração está presente em EDUCAÇÃO
mais de 20% dos programas analisados. Ela
traduz as perspectivas da «nova» História da A génese de um pensamento histórico-edu-
Educação, tal como foram desenvolvidas a cativo é indissociável da necessidade que os re-
partir dos anos 60. Os conteúdos programá- formadores do século XIX sentem de dotar os
ticos tendem a desvalorizar a análise das seus esforços educativos de uma história glorio-
ideias pedagógicas, uma vez que estas não sa, isto é, narrada como uma evolução constante
exprimem os conflitos e as realidades educa- das trevas para as luzes, como um progresso
tivas concretas, e a concentrar-se preferen- inexorável do passado para o presente e, portan-
cialmente nas dinâmicas e nos processos de to, para o futuro.
escolarização. Nesta configuração podem Nos Estados Unidos da América, Michael
também detectar-se duas grandes tendências: Katz (1970) não poupa críticas aos quatro pres-
uma, de teor mais institucional, insiste nos supostos fundamentais dos historiadores-mis-
factos e nas reformas educativas; a outra, sionários do século XIX: história e evolução são
mais próxima de preocupações sociológicas, uma e a mesma coisa; o passado deve servir de
privilegia temáticas como a edificação dos inspiração para o presente; os que se opõe à epo-
sistemas educativos, a massificação do ensi- peia escolar são vilões; o sistema público de edu-
no ou as desigualdades sociais face à educa- cação é a abóboda da civilização. E David Tyack
ção. compara-os a «pastores religiosos escrevendo
- A quinta configuração (cerca de 15% dos histórias sectárias para serem lidas pelos seus
programas) está muito próxima da anterior, correligionários» (1970, p. 22).
tanto na atitude científica que lhe está sub- A situação na Europa não é muito distinta,
jacente, como no tipo de temas que propõe. uma vez que a produção histórica é alimentada
O que as separa é o facto de uma estar mais no interior da instituição escolar e tem como fi-
vocacionada para um discurso histórico e a nalidade social contribuir para as alterações em
outra assumir explicitamente uma perspecti- curso nos planos da organização e dos programas
va sociológica (ou sociohistórica). Esta dife- de ensino (Caspard, 1988). Trata-se de uma his-
rença acarreta formas específicas de mobili- tória militante e, por isso, não espanta que seja
zação do passado e do presente: num caso escrita, essencialmente, pelos próprios reforma-
segue-se uma sequência cronológica que co- dores, pelos ideólogos da instrução pública (Ha-
meça, normalmente, nas mudanças do século meline, 1984).
XVIII e se prolonga até aos dias de hoje; no A história das ideias é, sem dúvida, a temática
outro, a estratégia docente desenvolve-se a central ao longo de todo o século XIX; estamos
perante uma filosofia da história do pensamento
partir de uma identificação dos problemas
dos «autores universais» e dos «grandes edu-
actuais e de uma tentativa de reconstrução da
cadores». Constrói-se então uma tradição educa-
sua genealogia histórica.
cional da qual somos ainda hoje herdeiros, por
Nenhuma destas configurações se apresenta adesão ou por rejeição: um século depois, muitas
no «estado puro» e cada programa apropria-se de histórias da educação continuam a ter como refe-
diferentes ideias e perspectivas, procurando ren- rência central os cânones historiográficos inven-
tabilizá-las do ponto de vista pedagógico. Apesar tados no século XIX.

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A partir do final do século, uma nova linha de um fundo comum de crítica às perspectivas his-
trabalho vem juntar-se à história internacional toriográficas até então dominantes.
das ideias e das vidas dos grandes educadores. É O revisionismo dos anos 60 está muito longe
uma história nacional escrita, em grande medida, de ser um movimento homogéneo e, ao longo de
para consolidar os esforços reformadores oito- duas décadas, sucedem-se trabalhos e investiga-
centistas e legitimar os processos em curso de ções que partem de bases teóricas, filiações
estatização do ensino. Largamente baseada em ideológicas e perspectivas metodológicas muito
documentos legislativos (projectos, leis, refor- diferentes. A primeira vaga de revisionistas (Bai-
mas), esta corrente tem como referência a evoca- lyn, Ariès, etc.) é ideologicamente conservadora
ção dos sistemas educativos e das instituições e constrói a sua crítica no interior de argumentos
escolares. Trata-se, num e noutro caso, de uma estritamente históricos; a segunda vaga (Katz,
celebração do passado que tem como objectivo Furet, etc.) inspira-se em teorias marxistas e é
celebrar o presente, pois, apesar de reivindica- claramente influenciada por um pensamento
rem um estatuto neutral e objectivo, estes traba- sociológico; a terceira vaga (Kaestle, Julia, etc.)
lhos efectuam uma selecção intencional de factos situa-se numa tensão entre as perspectivas his-
e uma defesa clara dos valores educativos do tóricas e sociológicas, alicerçando o seu trabalho
presente (Silver, 1985). numa espécie de «teorias de médio alcance».
Estas críticas não diminuem a importância dos O ataque de Bernard Bailyn, formulado a
historiadores do século XIX, mais no plano do partir do interior da comunidade histórica, diri-
ensino (e da consolidação institucional da disci- ge-se principalmente aos «pedagogos», que, se-
plina) do que no domínio da investigação. O tra- gundo ele, reduziram tudo aos contextos esco-
balho monumental que levam a cabo, imbuído de lares, produzindo uma História da Educação
presentista, paroquial e evangélica. A sua pro-
uma atitude positivista, permite coleccionar um
posta renovadora organiza-se em torno de duas
conjunto importante de factos e de documentos
ideias principais: a história da educação é parte
sobre o passado educativo; mas é uma tarefa que
da história total e, por isso, deve abandonar
se esgota numa lógica descritiva e enciclopédica,
uma perspectiva institucional estreita e integrar o
num certo sentido, preliminar à reflexão históri-
conjunto das dimensões sociais, políticas e eco-
ca, mas não se podendo confundir com ela.
nómicas; a história da educação tem de adoptar
Aliás, estas limitações são extensivas às obras
metodologias e paradigmas científicos, recusan-
históricas editadas neste período e é neste con- do a narrativa gloriosa de um progresso contínuo
texto que a produção histórico-educativa deve assegurado pela escola (Harrigan, 1986; Silver,
ser vista e apreciada. 1985). Há uma ruptura clara com a história-ce-
Esta tradição consolida-se a seguir à I Guerra lebração e a adopção de uma história social crí-
Mundial, período em que se produzem muitos tica, atenta ao conjunto dos processos e dos valo-
trabalhos de investigação histórico-educativa. res educativos, menos prisioneira de uma abor-
A acumulação de livros e de teses não contribui dagem interna às instituições escolares e às
para um novo conhecimento histórico, pois, co- ideias dos pedagogos.
mo diz Marie-Madeleine Compère (1995), atin- Contrariamente a Bailyn, Philippe Ariès não
ge-se nesta altura o auge da confusão entre uma escreveu um ensaio historiográfico. Contraria-
reflexão sobre a situação presente do ensino e a mente a Bailyn, Philippe Ariès não era um histo-
análise histórica do seu passado. riador de profissão. O seu livro vai ter, no entan-
O ano de 1960 constitui um marco simbólico to, efeitos muito semelhantes, abrindo a porta às
na renovação da História da Educação: Bernard perspectivas da história social, tal como era pra-
Bailyn nos Estados Unidos da América e Phi- ticada pela Escola dos Annales: a longa duração,
lippe Ariés em França publicam, respectiva- a história das estruturas e das mentalidades, os
mente, Education and the Forming of American métodos seriais e quantitativos, o desejo de uma
Society e L’enfant et la vie familiale sous l’An- «história total», passam a fazer parte do repertó-
cien Régime. Estas obras tornar-se-ão referências rio da História da Educação (Gadoffre, 1987; Le
centrais no trabalho da nova geração de historia- Goff, 1978). Novos problemas, novas aborda-
dores. Por razões distintas, é verdade, mas sob gens, novos objectos: a trilogia de Jacques Le

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Goff e Pierre Nora (1974) pode ser aplicada à da educação recebeu uma importante influência
«nova» História da Educação. Opera-se, então, dos Annales, mas é na produção sociológica
um conjunto de mudanças na investigação histó- que vai colher o essencial dos seus instrumentos
rico-educativa, bem tipificadas por Antoine Léon conceptuais e metodológicos, como se prova
(1980): a passagem de uma história-narrativa a pela consulta de algumas das obras principais da
uma história-problemas; o abandono de uma nova geração (Chartier, Compère & Julia, 1976;
história puramente descritiva e «objectivista»; a Furet & Ozouf, 1977; Parias, 1981; Prost, 1968).
transição de uma perspectiva unilinear para uma Os trabalhos revisionistas dos anos 60/anos
perspectiva interaccionista. 70 são fortemente baseados numa abordagem
A segunda vaga revisionista vai prolongar a quantitativa, cujos procedimentos atingem níveis
abertura temática e conceptual da História da consideráveis de sofisticação técnica, sobretudo
Educação, graças à adopção de um pensamento nos Estados Unidos da América (Désert, 1980;
marcadamente sociológico, influenciado pelas Graff, 1977). Fenómenos como a alfabetização
ideias marxistas. Nos Estados Unidos da Améri- ou os ritmos de escolarização são objecto de um
ca, Michael Katz e Joel Spring são duas das figu- escrutínio sistemático de investigadores originá-
ras de proa deste movimento. Em obras como rios das ciências sociais, que produzem novas in-
The Irony of Early School Reform (1968) e Edu- terpretações sobre a génese e o desenvolvimento
cation and the Rise of the Corporate State dos sistemas educativos. A narrativa celebratória
(1972), escrevem uma história da educação «de é substituída por um discurso crítico, que gera
baixo para cima», atenta às funções de controlo e um certo mal-estar no seio da comunidade edu-
de reprodução social dos sistemas de ensino. cacional: encarados até aí como actores da
Mais tarde, serão mesmo acusados de terem emancipação e do progresso social, os profes-
«virado do avesso» a história tradicional da edu- sores (e os restantes educadores profissionais)
cação, transformando os heróis em vilões (e vi- têm dificuldade em vestir a pele de agentes da
ce-versa), sem terem, no entanto, conseguido es- reprodução de uma ordem social desigual e in-
capar a um certo funcionalismo, desta vez de justa.
esquerda (Kliebard, 1995; Shapiro, 1982). Os re- No final dos anos 70 começa a desenhar-se
visionistas radicais inspiraram uma série de tra- uma terceira via. O trabalho de Diane Ravitch
balhos que desmistificaram os projectos de esta- (1978) é a primeira objecção de fundo aos revi-
tização do ensino e de escolarização da socie- sionistas radicais. «O feitiço vira-se contra o fei-
dade ao longo dos séculos XIX e XX. A inter- ticeiro»: desta vez, são os próprios revisionistas
pretação baseada nas lutas e nos conflitos sociais a serem acusados de produzirem uma história
passou a prevalecer como leitura histórica da presentista, ao serviço de opções ideológicas e
construção dos sistemas educativos e da escola de projectos políticos. Para o provar, denuncia
de massas. três falácias que caracterizam as perspectivas
Em França, a renovação inspira-se nos traba- destes autores: a utilização determinista do con-
lhos sociológicos de homens como Pierre Bour- ceito de classe, isto é, a ideia de que basta iden-
dieu, Jean-Claude Passeron ou Raymond Bou- tificar a origem social de uma pessoa para expli-
don, que fornecem à investigação histórica não car as suas acções; a confusão entre motivações
só um conjunto de procedimentos técnicos, mas e resultados, uma vez que todos os acontecimen-
também um enquadramento conceptual, «que tos são lidos pelo prisma de uma intencionali-
permitem medir de forma mais rigorosa a varia- dade social; a crença de que a análise da estrutu-
ção histórica do papel da escola no processo de ra de uma instituição é a estratégia mais adequa-
reprodução social» (Julia, 1986, p. 227). O estu- da para compreender a sua função.
do dos processos de mobilidade social, da profis- Na Europa, várias tendências convergem no
sionalização do conhecimento ou da intervenção mesmo sentido, ainda que partam de perspecti-
estatal no ensino consolidaram pontes de traba- vas e de filiações ideológicas distintas. A denún-
lho entre a sociologia e a história que se revela- cia do «fatalismo sociológico», por exemplo, im-
ram de grande utilidade para a compreensão plica um apelo para substituir a sociologia (his-
dos fenómenos educativos (Harrigan, 1980; Pe- tórica) pela história (sociológica). Na verdade,
titat, 1984). A escola francesa de historiografia ao reforçar as dimensões estruturais, o olhar so-

424
ciológico parecia incapaz de exprimir a comple- para consumo dos alunos das escolas normais,
xidade dos processos de mudança na longa du- não traduzindo uma produção teórica original. É
ração e de perceber as contradições que atraves- nesta mesma linha que se situam os poucos
sam os comportamentos dos diversos actores manuais de História da Educação então publica-
educativos. A realidade tinha sido retratada de dos (Afreixo, 1883; Cirne Júnior, 1881), o que
forma una, não permitindo apreender nem as explica a ausência de obras inovadoras sinteti-
permanências profundas, nem os pontos de zando as ideias dos grandes educadores univer-
ruptura das dinâmicas escolares e educativas. A sais.
argumentação era sólida e bem construída, mas o Os trabalhos mais importantes, sobretudo por-
observador ocupava invariavelmente o mesmo que estabelecem um cânone histórico que vai
lugar: impunha-se, por isso, uma mudança de prevalecer durante várias décadas, são produzi-
perspectiva, que conduzisse a um duplo alarga- dos por D. António da Costa: A instrução nacio-
mento do conceito de tempo histórico (no sen- nal (1870), História da instrução popular em
tido do mais longo e do mais curto) e à crítica de Portugal (1871) e Auroras da instrução pela ini-
uma utilização exclusiva das abordagens quanti- ciativa particular (1884). Trata-se de uma histó-
tativas. ria celebratória, que descreve a educação como
O paradigma sociohistórico contribuiu para uma marcha de progresso civilizacional. Centra-
avanços muito significativos na investigação das na realidade educativa portuguesa, as obras
histórica em educação, que adquiriu neste perío- de D. António da Costa inserem-se na tradição
do um desenvolvimento sem precedentes. Mas é oitocentista de uma história escrita pelos pró-
forçoso reconhecer que o sonho da história total prios reformadores, inevitavelmente solidária (e
ficou por cumprir, também aqui. Era uma evi- legitimadora) de certas políticas educativas no
dência que a acumulação de estudos e a diversi- quadro mais vasto da edificação de um sistema
ficação temática estavam a produzir mais disper- estatal de ensino.
são do que síntese (Viñao, 1994). As duas gran- Os trabalhos de Adolfo Coelho (1883, 1895,
des tradições que tinham impulsionado a «nova» 1900) revelam uma maior problematização crí-
História da Educação – Escola dos Annales e tica, na esteira de um conjunto de autores ale-
sociologia crítica dos anos 60 – pareciam ter es- mães que influenciaram o seu pensamento. A ar-
gotado parte das suas potencialidades interpre- ticulação de uma reflexão histórica com um es-
tativas. Anunciava-se, assim, o fim de um con- forço de teorização pedagógica aproxima os es-
junto de perspectivas consensuais, agrupadas critos de Adolfo Coelho da tradição académica
em torno de uma história serial e quantitativa que fomentou o estudo da ciência da educação
por oposição a uma abordagem factual, de uma nas Universidades europeias da 2.ª metade do
história social por oposição a uma abordagem século XIX.
idealista. A publicação de fontes e de documentos, no
contexto de uma história erudita e positivista, é a
O caso português terceira tradição que merece ser mencionada. Na
área do ensino, e sem esquecer a História da
A fragilidade da reflexão pedagógica – e da Universidade de Coimbra de Teófilo Braga
constituição de uma ciência da educação – no sé- (1892-1902), a obra de José Silvestre Ribeiro
culo XIX português explica, em parte, a pobreza (1871-1892) constitui a referência principal. No
das investigações históricas no domínio educa- entanto, e sem pôr em causa a importância desta
tivo. Contrariamente a outros países, não há um actividade, é evidente que o seu objectivo é
esforço de teorização, que, cruzando a filosofia e mais constituir uma memória (registo de factos)
a história, procure dar sentido à emergência de do que produzir uma interpretação histórica.
um pensamento científico em educação. Sem Estas três tradições recortam bem certas mo-
ignorar os trabalhos de José Augusto Coelho dalidades de história da educação que se produ-
(1891-1893) e, mais tarde, de José de Sousa zem na Europa do século XIX. Verifica-se, no
(1890) ou de Manuel Ferreira-Deusdado (1892), entanto, a ausência do que é a tradição dominan-
é um facto que os textos pedagógicos se limitam te nesta altura: a história das ideias. O conjunto
a um esforço de vulgarização, nomeadamente das obras publicadas revela a fragilidade da in-

425
vestigação histórica levada a cabo, ainda que que só a partir de meados dos anos 80 comece a
este período tenha sido um dos mais importantes emergir uma comunidade científica com alguma
da pedagogia em Portugal. pujança e originalidade. Neste sentido, é impor-
Apesar das mudanças políticas do princípio tante referir, em primeiro lugar, a acção de Joa-
do século XX e do peso crescente dos fenóme- quim Ferreira Gomes que, através de uma série
nos educativos na sociedade portuguesa, a Histó- impressionante de investigações pioneiras, le-
ria da Educação não conheceu um desenvolvi- vanta um conjunto desconhecido de fontes5 e
mento muito significativo. No essencial, manti- abre novas temáticas de investigação (formação
veram-se as tradições anteriormente identifica- de professores, educação infantil, ensino profis-
das, verificando-se mesmo um certo declínio da sional, obrigatoriedade escolar, etc.). Um outro
reflexão histórica e filosófica na construção da contributo relevante é dado pelo «grupo da Gul-
ciência pedagógica, em favor de uma presença benkian» que, no quadro das actividades do
mais forte das perspectivas psicológicas e socio- Centro de Investigação Pedagógica, produz um
lógicas. conjunto de trabalhos de qualidade; apesar de
A análise das obras publicadas até à II Guerra não ter tido uma acção muito inovadora6, nem do
Mundial revela a exiguidade da investigação ponto de vista temático, nem do ponto de vista
especificamente dedicada à história da educação metodológico, este grupo encontra-se na génese
e do ensino, ainda que certas áreas afins tenham de uma história contemporânea do sistema de
conhecido algum desenvolvimento: estou a pen- ensino e das políticas educativas. O terceiro
sar numa «história erudita» que se preocupou, contributo vem das correntes sociológicas, com
por exemplo, com as universidades e as ciências, destaque para a tese de doutoramento de Maria
com certas instituições locais ou com aspectos Filomena Mónica (1978) que, através de um
da vida religiosa. enquadramento conceptual e de uma abordagem
Em termos globais editam-se cerca de uma metodológica originais, traz para a historiografia
centena de textos entre 1900 e 1940, de qualida- portuguesa as perspectivas de investigação em
de muito desigual e, o que é mais revelador, sem voga na Europa e nos Estados Unidos da Améri-
que nenhum destes autores se considere essen- ca nos anos 60/anos 70.
cialmente como um «historiador da educação»4. Estes três contributos continuam a manifestar-
A investigação histórico-educativa baseada em se nos anos 80, década que tem como aspectos
fontes e em interpretações originais é bastante li- mais marcantes o esforço de renovação temática,
mitada. Num certo sentido, tudo se resume a um de diversificação metodológica e de consolida-
esforço de «divulgação pedagógica» ou de ção de uma comunidade científica em História
«compilação documental»: no primeiro caso, da Educação7.
trata-se quase sempre de materiais didácticos A renovação temática exprime-se através da
para uso dos alunos-mestres; no segundo caso,
estamos perante um trabalho de erudito que é
fundamentalmente distinto do trabalho de histo- 5
A este nível é justo salientar também a obra de An-
riador. tónio Alberto Banha de Andrade, nomeadamente no
Em Portugal, o esforço de renovação da His- que se refere à identificação dos fundos de arquivos
tória da Educação inicia-se nos anos 70, ainda para a história da educação no século XVIII e no
princípio do século XIX.
6
É necessário, no entanto, ressalvar o trabalho de
José Salvado Sampaio que, através do recurso a fontes
4
É evidente que os trabalhos de Alfredo Filipe de estatísticas, abriu a História da Educação à influência
Matos (1907), de Alves dos Santos (1908, 1913) ou de das metodologias quantitativas.
7
António Ferrão (1915), para além dos manuais de Al- A este propósito é útil consultar as bibliografias
berto Pimentel Filho (1919) e de Sílvio Pélico Filho dos textos apresentados nas seguintes reuniões cien-
(1923), não podem ser ignorados; por maioria de razão tíficas: 1.º e 2.º Encontro de História da Educação em
devem ser destacadas as obras de Manuel A. Ferreira- Portugal (1987 e 1996); 1.º e 2.º Encontro Ibérico de
-Deusdado (1909), os primeiros escritos de Joaquim História da Educação (1992 e 1995); 15.º Congresso
de Carvalho e o projecto parcialmente concretizado de Internacional de História da Educação (1993); 1.º
uma Enciclopédia Pedagógica com inúmeras entradas Congresso Luso-Brasileiro de História da Educação
históricas sob a direcção de Adolfo Lima (1936). (1996).

426
escolha de objectos de estudo que, até então, não judiciosa. Ao tipificar os investigadores con-
tinham sido trabalhados de forma sistemática; de soante a forma como resolvem o dilema história-
uma forma geral, eles abrangem o espectro das -teoria, Carl Kaestle avança uma reflexão idênti-
preocupações trazidas pela «nova» história da ca, definindo cinco grandes categorias: os produ-
educação. A diversificação metodológica é outro tores, os utilizadores sistemáticos, os utilizadores
aspecto importante, que começou a tornar-se ecléticos, os utilizadores ocasionais e os anti-teó-
mais evidente no final dos anos 80; os historia- ricos. Reportando-se à sua própria prática como
dores da educação foram adoptando, progressi- historiador, Kaestle apropria-se do conceito de
vamente, novas estratégias de pesquisa, tanto se- «teorias de médio alcance» para definir a sua re-
riais e quantitativas (bem patentes nos estudos lação eclética ou ocasional com a teoria: «Nas
sobre a alfabetização) como qualitativas (história minhas pesquisas, espero encontrar conflitos mas
oral, análise de conteúdo, etc.). A terceira evolu- também consensos, anomalias persistentes mas
ção digna de menção diz respeito aos esforços de também ajustamentos, acção voluntária mas tam-
consolidação de uma comunidade científica, bém opressão. Não parto com teorias pré-conce-
bem patentes na realização de diversos encontros bidas ou munido de um ponto de vista moral
nacionais e internacionais e na fundação, em acerca da história. Neste médio alcance há muito
1989, da Secção de História da Educação da espaço para jogar com a teoria» (1992, p. 202).
Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação. Estas duas posições ilustram a desconfiança
face às «grandes teorias» que invadiu o campo
da História da Educação nos anos 80. Outros au-
4. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO: DEBATES tores manifestam o seu próprio cepticismo
ACTUAIS quanto a certas utilizações da teoria, nomeada-
mente quando se referem à necessidade de pro-
Nos anos 80 começa a falar-se de um pós-re- blematizar os dados, em vez de os organizar co-
visionismo na História da Educação. Ao compa- mo meros elementos de confirmação de teorias
rar um conjunto de historiadores americanos da preexistentes (Compère, 1995). Não se trata de
educação, normalmente apelidados de pós-revi- uma recusa das dimensões teóricas e de uma es-
sionistas (Julia Wrigley, William Reese, Ron pécie de regresso ingénuo aos factos e à sua pre-
Cohen, David Labaree, Jeffrey Mirel, John Rury tensa objectividade. Bem pelo contrário. Estes
e David Hogan), Herbert Kliebard chegou à autores conhecem a importância da teoria, mas
conclusão que eles tinham muito pouco em co- recusam-se a que ela domine a priori os factos e
mum, a não ser no que diz respeito à relação en- a sua interpretação (Young, 1996). Criam, assim,
tre a dimensão conceptual e a interpretação dos as condições para que os dados sejam explorados
dados: em todas as suas potencialidades, de forma a po-
derem sugerir explicações e concepções teóricas
«Os enquadramentos teóricos estão particu-
mais criativas e inovadoras. Dito de outro modo,
larmente bem adaptados às exigências dos
parece ter acabado o tempo dos grandes consen-
dados. Por outras palavras, são as próprias
sos no seio da História da Educação, o tempo
diferenças entre eles que, paradoxalmente,
dos paradigmas em relação aos quais todos os in-
os tornam semelhantes. Não sei como é que
vestigadores tinham que se posicionar, pela
estes autores construíram os seus enquadra-
positiva ou pela negativa. A História não deixou
mentos teóricos, mas tudo me leva a pensar
de ter sentido, mas deixou certamente de haver
que eles ainda não existiam no momento
um «sentido da História» que construía e organi-
em que as investigações começaram. Estes
zava a nossa narrativa do passado.
enquadramentos emergiram apenas na
A passagem da História às histórias está a ser
sequência de uma primeira análise dos da-
vivida com alguma serenidade pelos historia-
dos. É precisamente esta fluidez face à in-
dores da educação, facto a que não é alheio o
terpretação histórica que constitui a mais
sentimento colectivo de realização académica e
consistente característica do chamado pós-
profissional (Gaffield, 1986). Ninguém ignora as
-revisionismo» (1993, p. 5).
dificuldades presentes, nomeadamente de inser-
A observação é extremamente interessante e ção institucional, nem as perplexidades que afec-

427
tam a investigação histórica, mas o balanço dos profundidade desejável, uma série de grupos
últimos vinte anos é claramente positivo, seja que foram ignorados pela narrativa histórica tra-
qual for o ponto de vista que se adopte. dicional têm sido objecto de uma atenção reno-
Nos quatro parágrafos seguintes, refere-se vada por parte dos historiadores da educação. A
um conjunto de evoluções que marcam o movi- crítica feminista, por exemplo, tem tido grande
mento actual de redefinição da História da Edu- impacto no interior da disciplina, obrigando a re-
cação e de reconstrução de uma nova identidade formular as teses tradicionais sobre os processos
disciplinar: o reforço das ligações interdiscipli- de escolarização e o estatuto do conhecimento
nares, a abertura a novas realidades, a recentra- escolar (Casey, 1993; Gore, 1993; Luke & Gore,
ção temática e a diversificação das abordagens 1992; Rury, 1991). A apropriação das teses femi-
metodológicas. nistas tem conduzido a estudos extremamente
Em 1989, N. Ray Hiner dirigiu-se aos seus importantes, que relocalizam no tempo os sujei-
colegas como Presidente da History of Education tos históricos, trazendo novas interpretações so-
Society para lembrar a marginalidade em que os bre a experiência, a acção, o discurso e a identi-
historiadores da educação continuam a viver, nas dade das mulheres no plano educativo (Canning,
fronteiras de dois campos profissionais: a Educa- 1994; Maynard & Purvis, 1994; Middleton,
ção e a História. Fê-lo, no entanto, para marcar – 1993; Smith, 1990). Do mesmo modo, a análise
o que é inédito – o relativo conforto e liberdade da forma como a categoria «deficiente» foi cons-
desta posição e para dizer que, na sua opinião, se truída do ponto de vista histórico tem trazido
tem assistido nos últimos anos à «emergência de perspectivas diferentes sobre dinâmicas escola-
uma verdadeira comunidade intelectual na área res que são lidas, tradicionalmente, pelo prisma
da História da Educação» (1990, p. 143). No ano da «normalidade» (Silver, 1992). A reconstitui-
seguinte, os participantes no congresso ouviram ção histórica do conceito de «crianças com difi-
a nova Presidente, Maxine Seller, apelar à conso- culdades de aprendizagem» tem revelado o papel
lidação externa deste processo através da defini- que ele desempenhou no reajustamento das ins-
ção das fronteiras da disciplina como pontes, e tituições escolares e no reforço das estratégias de
não como barreiras, e de um esforço continuado diferenciação social no seio dos sistemas educa-
de ligação «à história, à psicologia, à sociologia, tivos, desde o princípio do século XX (Franklin,
à antropologia, à ciência política, à economia, à 1994; Sleeter, 1987). Idênticas reflexões pode-
demografia, à história da criança e da família, à riam ser avançadas no que diz respeito às ques-
etnografia e aos estudos sobre as mulheres» tões raciais, étnicas ou regionais que têm vindo a
(1991, p. 196). Os historiadores da educação revelar uma história desconhecida da educação.
ocuparam sempre um lugar incómodo na con- Uma terceira linha de evolução diz respeito à
fluência de várias disciplinas. Hoje, porém, esta inclusão de novas temáticas e objectos de refle-
posição tende a ser investida de forma mais po- xão: hoje em dia, como escreve N. Ray Hiner
sitiva, por duas razões principais: ad extra, a (1990), os historiadores da educação estudam as
emergência de novas práticas de trabalho cien- crianças mas também os adultos, os alunos e os
tífico, que tendem a valorizar os pontos nodais professores, os fracos e os poderosos, a educação
de produção do conhecimento; ad intra, o senti- dentro e fora das escolas, para além de estarem a
mento de que a obra realizada nos últimos anos retomar uma perspectiva comparada da educação
deu origem a uma comunidade interpretativa (Altenbaugh, 1992; Beatty, 1995; Goodson &
que, apesar da sua enorme diversidade, dá sen- Hargreaves, 1996; Graff, 1995; Griffin, 1993;
tido à existência do campo da História da Educa- Modell, 1989; Richardson, 1989). Não se trata,
ção. A defesa da interdisciplinaridade não é, as- como nos anos 60, de uma diversificação temá-
sim, uma mera referência retórica, mas antes tica, mas, bem pelo contrário, de um regresso às
uma das condições essenciais da ciência pós-mo- questões educativas propriamente ditas, ainda
derna (Santos, 1993). que através do recurso a um conjunto alargado
A capacidade para integrar novas realidades de abordagens e de pontos de vista: advoga-se
tem sido outra das características da investigação uma perspectiva etnográfica, e não internalista,
histórica em educação nos últimos anos. Pro- que seja capaz de mobilizar abordagens antropo-
gressivamente, ainda que nem sempre com a lógicas, culturais, linguísticas, psicológicas e

428
sociológicas. É neste sentido que, por exemplo, a hegemonia e de opressão por uma análise dos
revista francesa Histoire de l’Éducation tem in- mecanismos e dos processos de libertação»
sistido na importância da história das disciplinas (Mazurek, 1993, p. 113). Marc Depaepe tem
escolares, da análise histórica da «caixa negra» razão quando sublinha que «não há, e provavel-
do ensino ou do estudo das práticas pedagógicas mente não haverá, uma única concepção ver-
dos professores e dos trabalhos escolares dos dadeira da história da educação e, por isso, te-
alunos (cf. também Goodson, 1988; Kliebard, mos de aprender a viver com um pluralismo me-
1995). Pierre Caspard assinala justamente a si- todológico» (1993, p. 3).
tuação paradoxal desta reflexão: «Por um lado, A compreensão última destas evoluções, e dos
as tendências dominantes da investigação, pelo dilemas actuais da História da Educação, passa
menos nos últimos cem anos, privilegiaram ou- por uma referência às mudanças no interior das
tras dimensões do passado educativo: história Ciências da Educação e da História. Num e
institucional e política até aos anos 50; história noutro caso, os anos 80 marcam o fim de uma
social e história das mentalidades, desde então. era dominada por sistemas de pensamento (e de
Por outro lado, constata-se a emergência de um acção) relativamente coerentes e estáveis. As
interesse real pela história das disciplinas, no- duas áreas foram muito renitentes em aceitar al-
meadamente as que foram objecto de mudanças guns dos pressupostos do «paradigma da ciência
curriculares no quadro da evolução recente do pós-moderna» (Santos, 1993). Mas, hoje em dia,
ensino» (1988, p. 3). Estamos uma vez mais pe- as suas influências são nítidas na reflexão
rante a extensão do inquérito histórico tradicio- epistemológica sobre as Ciências da Educação e
nal, no sentido do mais local (a construção con- sobre a História. Os trabalhos de Cleo Cherry-
creta do conhecimento escolar e das práticas pe- holmes (1988, 1993) e de Thomas Popkewitz
dagógicas) e do mais universal (a apreensão das (1991, 1993), entre tantos outros, aí estão para o
grandes tendências curriculares e educacionais). demonstrar. No domínio da investigação históri-
Registe-se, por último, a diversidade dos ins- ca, os textos de referência, por exemplo, de Ro-
trumentos metodológicos que fazem parte, ger Chartier (1990, 1994), de Martin Jay (1993,
actualmente, do repertório dos historiadores da 1994), de Dominick LaCapra (1983, 1985) ou de
educação (Kincheloe, 1991). A ausência de um Robert Young (1990, 1996) ilustram bem esta
modelo teórico consensual conduziu, de facto, à mesma evolução.
proliferação de métodos quantitativos e qualita- Paralelamente a esta reconceptualização teó-
tivos, à procura das melhores estratégias para rica, a História da Educação tem vindo a retomar
compreender historicamente as semelhanças e as tradições que tinham estado muito presentes na
diferenças dos processos escolares e educativos. sua génese como disciplina. Refiro-me, por um
Para além das abordagens históricas tradicionais lado, a uma reflexão de cariz mais político e, por
e das estratégias de trabalho da história social, a outro lado, às perspectivas abertas por um novo
investigação histórico-educativa conta hoje com entendimento da investigação comparada (Nó-
duas importantes fontes de inspiração metodoló- voa, 1995).
gica: por um lado, os instrumentos da nova his- No primeiro caso, os trabalhos mais recentes
tória cultural e intelectual, tal como tem sido de Michael Apple (1996), de Diane Ravitch
praticada pela geração da «viragem linguística», (1995), de David Tyack e Larry Cuban (1995) ou
que permitem uma nova compreensão dos dis- de Maris Vinovskis (1995) revelam a vontade de
cursos produzidos no interior das disciplinas e conceder uma espessura histórica à reflexão
das instituições escolares; por outro lado, as es- sobre as políticas educativas. Não se trata de
tratégias adoptadas pelas novas correntes etno- regressar às teses «funcionalistas» e «utilitaris-
gráficas, que facilitam uma apreensão dos acto- tas», que conduziram a um empobrecimento in-
res educativos e das suas experiências: «apesar telectual da História da Educação, nem de insis-
de aceitar as premissas fundamentais do movi- tir sobre o argumento das «lições do passado»,
mento revisionista, a história etnográfica é quali- uma vez que não é possível transportar para hoje
tativamente diferente, na medida em que valori- debates e dilemas de ontem. A questão é mais
za as micro-investigações em vez de um olhar complexa e passa pela necessidade de compreen-
macro e substituiu a ênfase nos dispositivos de der o presente nas suas diferenças com o passa-

429
do, mas também o modo como o passado foi tra- toria de la Educación en debate, 1996); Narciso
zido até ao presente influenciando as nossas de Gabriel e Antonio Viñao Frago (La investi-
maneiras de pensar e de falar da educação. A gación histórico-educativa – Tendencias actua-
ideia de que é preciso aprender a relativizar as les, no prelo).
teses e as propostas educativas, e a percebê-las Estamos perante uma literatura que revela
no tempo, tem-se imposto como um elemento bem as perplexidades do tempo presente e das
importante para os debates pedagógicos actuais. interrogações epistemológicas em torno do tra-
A História da Educação amplia a memória e a balho científico, teórico e histórico. Em Portu-
experiência, o leque de escolhas e de possibili- gal, há sinais animadores de uma renovação da
dades, o que permite alargar o repertório dos História da Educação, não tanto numa perspecti-
professores, ao mesmo que lhes fornece uma va disciplinar (corporativa), mas antes na con-
visão da diversidade das instituições e lhes re- vicção de que é impossível travar os debates
vela que a educação não é um «destino», mas an- educativos, de forma avisada e consciente, sem a
tes uma construção social. presença de uma reflexão histórica. Nem tudo se
No segundo caso, exprime-se a necessidade
esgota na história, obviamente. Mas é difícil
de historicizar a reflexão comparada. Trata-se de
continuar a alimentar os sonhos de uma geração
mobilizar uma história problematizadora, capaz
de cientistas da educação que acreditaram ser
de integrar uma dimensão teórica e uma reflexão
possível dispensar a história.
comparativa. A valorização desta perspectiva
constitui uma espécie de regresso da História da
Educação às suas origens: na altura, a educação
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Key words: History of Education, Historiography,
O texto procura reflectir sobre os percursos passa- Sociology of Knowledge.

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