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A Igreja de Jesus Cristo

Antes, durante e depois da história

Parte 1
Copyrigth C 2014 Igreja Batista Liberdade - Araraquara
Copyrigth C 2014 by Wilson Porte Junior

A Igreja de Jesus Cristo – Antes, durante e depois da história


Parte 1 - Estudo de Efésios 1
Um amor que ultrapassa o tempo e a história

Livro de estudo para as Comunidades


Edição: Ministério de Comunicação e Internet
Projeto Gráfico: WebMais Comunicação

Pertenço a:
Wilson Porte Jr

A Igreja de Jesus Cristo


Antes, durante e depois da história

Parte 1

Estudo de Efésios 1
Um amor que ultrapassa
o tempo e a história
Dedico em amor à Igreja Ba-
tista Liberdade, “pela graça e
para a glória de Deus”, fundada
em 11 de dezembro de 2010.
Um amor que ultrapassa o tempo e a história 7

Introdução

O que é a Igreja de Cristo? Uma instituição? Uma denominação?


Um grupo de amigos que se reúnem sem compromisso denominacional?
Um grupo sem pastor, mas que se ama? Uma religião, uma ong, uma
seita? O que seria a Igreja de Cristo sobre a terra?
Tentando responder a essas questões (e muitas outras li-
gadas a elas), as páginas seguintes são um estudo sobre o ca-
pítulo 1 do livro bíblico que mais trata sobre a Igreja: Epístola
de Paulo aos Efésios.  
A Epístola de Paulo aos Efésios é uma das cartas mais
importantes que o apóstolo escreveu. Para nosso tempo, sem
dúvida é um dos livros da Bíblia que mais precisa ser redes-
coberto e estudado. Se não fosse tão ignorado, negligenciado
e desconhecido como é, sem dúvida não encontraríamos tanta
confusão e desvios dentro das igrejas cristãs mundo afora.
 Paulo possuía uma relação muito pessoal com essa igre-
ja. Em At 19-20, o apóstolo passou aproximadamente três anos
junto daqueles irmãos quando, em sua terceira viagem missio-
nária, usava esta grande e famosa cidade como estratégia para
sua vocação missionária. A epístola, contudo, foi escrita alguns
8 Estudo de Efésios 1

anos depois, quando Paulo esteve preso em Roma (Ef 4.1). 


 Éfeso não era qualquer cidade. Era a capital da provín-
cia romana da Ásia. Era famosa pelos antigos filósofos que vi-
veram e ensinaram lá, como Heráclito, por exemplo, um filóso-
fo pré-socrático, considerado o pai da dialética e que viveu em
Éfeso em 500 a.C., aproximadamente.
Foi em Éfeso que o cristianismo mais se difundiu. Após o
início da igreja durante a segunda viagem missionária de Paulo
(At 18.19-21), Paulo retornou para lá na terceira viagem mis-
sionária (At 19.1) e li permaneceu durante os quase três anos
já mencionados acima. Segundo os textos de At.18.18,19,24; I
Tm.1.3; 2Tm.4.19, Timóteo, Apolo, Áquila e Priscila trabalha-
ram na igreja de Éfeso.
Segundo a tradição da igreja (pais da igreja), o próprio
Apóstolo João também trabalhou nesta igreja e acabou mor-
rendo ali. Como ele, provavelmente Maria, a mãe de Cristo,
também morou ali até a sua morte. Até hoje, existe uma casa
na cidade de Éfeso onde realiza-se uma festa anual em come-
moração aos anos em que Maria, mãe de Jesus Cristo, e João
moraram ali.
Em 60 ou 61 d.C., Tíquico, um discípulo muito fiel a Cris-
to, levou esta epístola de Roma a Éfeso (Ef 6.21-22). O objetivo
desta carta é falar sobre a Igreja de Deus, ou, Igreja de Cristo,
como eram chamados os cristãos primitivos.
Estudando-a verso a verso, palavra a palavra, preten-
demos compreender o que é a Igreja de Deus. Quem são os
seus ministros, como ela funciona, quando ela surgiu (se é que
ela surgiu no tempo e na história), quem são aqueles que dela
fazem parte, etc.? O objetivo final é, sem dúvida, oferecer um
esclarecimento do caminho que Deus espera que andemos,
como igreja e como filhos e filhas da Igreja de Cristo neste pla-
neta e na história do mundo.
Éfeso era uma cidade fantástica. Aproximadamente
300.000 habitantes (segunda maior cidade do mundo no 1º
Um amor que ultrapassa o tempo e a história 9

século depois de Cristo), centro internacional de cultura, co-


mércio e religião, Éfeso era, sem dúvida, um lugar estratégi-
co de onde Paulo, sob a direção do Espírito Santo, espalharia o
Evangelho da Salvação. Paulo não foi para uma pequena cida-
de, sem nenhuma expressão. Foi para uma grande cidade, de
onde o Evangelho poderia ser muito ouvido e difundido.
Ao longo das próximas semanas, com o estudo desta epís-
tola, veremos outras interessantíssimas curiosidades sobre
Éfeso e os efésios. Por enquanto, esta é a introdução que pre-
tendo fazer sobre a cidade para a qual foi escrito o livro que es-
tudaremos nos próximos meses.
10 Estudo de Efésios 1

Versículos 1 e 2

Foi assim que o Espírito Santo começou a carta que, atra-


vés de Paulo, o eterno Deus quis enviar aos verdadeiros cris-
tãos que moravam na cidade de Éfeso:
 
1. Paulo, apóstolo de Cristo Jesus por vontade de
Deus, aos santos que vivem em Éfesos e fiéis em
Cristo Jesus,
2. graça a vós outros e paz, da parte de Deus, nosso
Pai, e do Senhor Jesus Cristo.
 
Vejamos, pouco a pouco, o significado dessas palavras.

Paulo, apóstolo de Cristo Jesus 


 
A palavra apóstolo significa, literalmente, enviado. Trata
de um mensageiro ou embaixador que representa com autori-
dade aquele que o enviou. Os primeiros doze apóstolos foram
aqueles enviados por Jesus para pregar o Evangelho. Em Lc
6.13, o Evangelho diz que «Ele chamou para si os seus discí-
pulos, e deles escolheu doze, a quem ele chamou de apóstolos».
Um amor que ultrapassa o tempo e a história 11

Ou seja, apóstolo segundo a Bíblia, é aquele que é chama-


do diretamente por Cristo para a sua obra. Paulo, embora não
fosse parte dos doze, ouviu do próprio Cristo ressurreto seu
chamado no caminho de Damasco.
Os apóstolos, como veremos mais adiante no estudo desta
epístola, foram aqueles únicos que receberam autoridade para
lançar o fundamento da Igreja, aquilo que também chamamos
de Novo Testamento. Com a morte do último apóstolo, João,
encerrou-se o ministério apostólico de lançar o fundamento da
igreja, ou seja, escrever revelação, Bíblia.
A ideia absurda de que hoje podemos possuir apóstolos,
traz consigo (se for bíblica) a possibilidade desses homens con-
tinuarem a escrever a Bíblia, além de serem homens que en-
contraram-se com o próprio Cristo ressurreto e receberam dele
seu chamado especial.
Continuando, Paulo aqui também destaca que ele é após-
tolo de Cristo Jesus, e não de Jesus Cristo. Isso também é sig-
nificante. Cristo é a palavra grega para Messias, ou seja, o Un-
gido de Deus que viria ao mundo. Com a colocação do título
Cristo antes do nome Jesus, Paulo reforça que estava em uma
missão. Ele era um enviado (apóstolo) oficial de uma grande
autoridade real, o Rei dos reis, Jesus. Por isso a ênfase «de
Cristo Jesus».
 
por vontade de Deus, 
 
Paulo possuía uma certeza inabalável do chamado e von-
tade de Deus para sua vida. Não agiu jamais por exasperação
ou impulso. Tal era sua comunhão com Deus que, quando pen-
sou em agir por impulso (At 16.6-10), o Espírito Santo o freou
mostrando qual era a vontade de Deus para ele. E Paulo sem-
pre ouviu e obedeceu a voz de Deus.
Esse exemplo de Paulo deveria ser seguido por nós. Não
comprarmos, vendermos, viajarmos, orçarmos, sonharmos,
12 Estudo de Efésios 1

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dirmos por carreiras, etc., sem que tivéssemos clara a di-
reção e vontade de Deus para nossa vida. Por meio de 1Ts 4.3
sabemos que a vontade de Deus para nós é a nossa santifica-
ção! Diante disso, deveríamos sempre nos questionar se nossas
decisões diárias estão em acordo com nossa santificação.
 
aos santos que vivem em Éfesos
e fiéis em Cristo Jesus,
 
Para quem é a mensagem bíblica? Você já parou para
pensar nisso? Porque muitos a leem e não a compreendem?
Seria a Bíblia uma mensagem para todos? Vejamos. O Espírito
Santo, ao usar Paulo para escrever aos efésios, esclarece que a
mensagem revelada na carta é para os santos e não para todos.
Ou seja, não para todos os que viviam em Éfeso, muito menos
para todos os que estavam dentro da igreja em Éfeso. A men-
sagem era somente para os santos.
Quem são os santos? Obviamente, são aqueles que foram
separados da vida no pecado para viverem uma nova vida de
amor verdadeiro a Deus. Nas palavras de Paulo aos Gálatas
1.4, aqueles que foram desarraigados deste mundo perverso,
ou seja, arrancados pela raíz! Hb 12.14 também fala sobre eles,
além de Mt 5.8 que nos lembra que os santos são os limpos de
coração. Só estes irão para o céu!
Estes são os santos, pessoas que amam a Deus mais do que
tudo. Eles deveriam receber essa mensagem e ouvi-la. Isso sig-
nifica aprender e apreender. Ouvir e obedecer. Essa é a prova
de que amam a Deus mais do que tudo. Jesus disse isso em Jo
14.21, onde guardar possui o sentido de apreender/obedecer.
Logo, a Bíblia não é para o mundo. Por isso o mundo a de-
testa. Por isso o mundo a tem como um gasto mal aproveitado
dentro de casa. Mais um livro fechado sem nenhuma utilidade. 
Já os santos, a têm como seu pão diário, sua água, seu ar.
Não concebem viver sem ela. Choram por ela. Beijam-na quan-
Um amor que ultrapassa o tempo e a história 13

do a recebem, assim como acontece na China e outros países


fechados ao cristianismo quando cristãos, clandestinamente,
recebem um exemplar da Bíblia Sagrada. Beijam-na, choram
sobre ela, e devoram-na. Isso, porque sabem que nela encontra-
ram um recado de Deus para elas. Para quem não ama a Deus,
trata-se apenas de mais um livro chato e incompreensível.
Por isso, Deus o destina aos santos e fiéis em Cristo Jesus.
Deus a revela com poder transformador e alimentador somen-
te àqueles que O desejam mais que tudo. Um detalhe final que
consta no final do verso 1 é que os santos são também fiéis.
Não existe santidade sem fidelidade.
 
graça a vós outros e paz, da parte de Deus,
 
No segundo verso da epístola, Paulo demonstra seu dese-
jo de que a graça e a paz que vêm de Deus pudesse estar com
ele e neles. Graça e Paz, estes são dois desejos que sempre de-
vemos nutrir por todos os homens!
A graça é o amor imerecido e leal de Deus por seres hu-
manos que nada fazem além de O ofenderem com suas pala-
vras e ações. Graça é o amor com o qual somos constrangidos
no momento em que o Senhor nos toca por meio de Seu Espíri-
to. Ninguém, absolutamente ninguém!, que conheceu a graça
de Deus é capaz de reclamar que nunca foi amado por nin-
guém. Alguém que experimentou a graça de Deus em sua vida,
por mais que não tenha desfrutado do amor de uma mãe ou pai
nesta Terra, de uma amor verdadeiro por parte de seu marido
ou esposa, filhos ou parentes, não é capaz de encontrar motivo
para dizer que não se sente amado, pois o amor de Deus der-
ramado em seu coração faz com  que ele se sinta a pessoa mais
amada de todos os tempos.
A paz é um estado de espírito que não possui explicação.
Trata-se de uma paz que não depende de ausência de proble-
mas. Mesmo em meio a lutas e tribulações, a pessoa possui uma
14 Estudo de Efésios 1

paz que a sustenta e dá força para continuar. Esta paz, nunca


deixará que esta pessoa entre numa depressão e PERMANEÇA
nela. Trata-se da paz de Filipenses 4.7 e do Salmo 23.4.
E Paulo conclui o verso 2 afirmando:
 
nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.
 
Esse Deus que deseja que conheçamos seu amor e sua
paz, também deseja que O vejamos como nosso Pai (Rm 8.14-
15). O Senhor Jesus, agora ressuscitado e assentado à mão di-
reita de Deus-Pai, com o Pai, vem a nós com amor e paz.
A graça e a paz que vêm a nós, vêm da parte do Deus-
-Filho e do Deus-Pai. Jesus e o Pai nos enchem com amor e
nos sentimos embebecidos por este amor. Jesus e o Pai nos en-
chem com a sua paz, de modo que, mesmo em meio à proble-
mas, temos paz.
É isso que o início desta epístola traz para nós: um Deus
que deseja falar e tratar com os Seus. Você faz parte dos Seus?
Como saber? Se você o ama mais do que tudo, se você luta con-
tra o pecado e vive uma vida diária de conversão interior, se
você se arrepende sinceramente a cada pecado cometido con-
tra Deus, se o que você mais deseja alcançar neste mundo é a
santidade pessoal, então você é um dos santos para os quais o
Espírito Santo também enviou Sua revelação.
Você conhece a graça e a paz que vêm de Deus? Se a res-
posta é não, arrependa-se e volte-se para Ele. Não descanse
enquanto não estiver bem junto a Ele, amando-O mais do que
tudo neste mundo.
Um amor que ultrapassa o tempo e a história 15

Versículo 3

Existe uma forma correta de se adorar a Deus? Adoração


tem a ver com amor, e amor expresso em palavras. Não tem
tanto a ver com canções. Muito menos com períodos de louvor.
Adoração é uma atitude que nunca abandona aquele que ama.
No início de sua carta aos santos de Éfeso, Paulo adora a
Deus. Após uma breve saudação, volta-se a Deus, a quem der-
rama-se em louvor. Vejamos o início desse louvor:

3. Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cris-


to, o qual nos abençoou com todas as bênçãos es-
pirituais nos lugares celestiais em Cristo;

Assim Paulo inicia seu louvor a Deus.

Bendito

Nas Escrituras, a palavra “bendito” possui vários signi-


ficados. Aqui, seu uso está relacionado à adoração, ao louvor.
Essa é a atitude de quem está elogiando outra pessoa. Bem
16 Estudo de Efésios 1

dizer (dizer bem) é o mesmo que elogiar. A atitude de bendizer


é a mesma de quem adora. Nós adoramos quando reconhece-
mos atributos em outro e os mencionamos com todo o coração.
Aqui, Paulo bendiz aquele que “nos abençoou com toda sorte
de bênçãos”. Louvar ou adorar também tem a ver com gostar
exageradamente de outro, render culto a este outro, se cur-
var e beijar, muitas vezes. Esta última atitude está relacio-
nada à reverencia e/ou adoração dada a reis e rainhas quan-
do seus súditos se curvam diante deles e beijam-lhes os pés
ou as mãos.
Paulo está adorando a Deus. Um ato contínuo, ininter-
rupto. Ele está sempre diante da face de Deus. Mas, pelo quê
Paulo adora a Deus?

o Deus e Pai

No início de sua adoração, ele reconhece que a pessoa


adorada é seu pai. Não o terreno, mas um que se fez pai por
puro amor e misericórdia. Um pai que o adotou e mudou sua
história.
O Deus a quem adoramos também é nosso Pai. Diferen-
te de outros deuses. A maioria das divindades adoradas não
lidam com seus povos como se fossem pais. São, na grande
maioria, déspotas, tiranos, deuses furiosos e insaciáveis.
A diferença aqui é que, o mesmo Deus a quem se adora,
se trata como um pai. Os adoradores também são filhos, não
somente servos.
Paulo continua.

Pai de nosso Senhor Jesus Cristo,

Jesus Cristo é o único filho de Deus. Não há outro. Nunca


haverá. Se somos filhos hoje, é porque fomos aceitos à famí-
lia de Deus por meio de adoração. Fomos adotados e, agora,
Um amor que ultrapassa o tempo e a história 17

como membros da família de Deus, podemos chamar a Cristo


de nosso Senhor.
Mas, o que Paulo tem em mente quando diz “nosso Se-
nhor”? O Senhor Jesus Cristo é nosso e nós somos dele? Sem
dúvida que sim. Mas, vejamos com os olhos da época. A pala-
vra “senhor” naquele tempo poderia significar tanto o senho-
rio do imperador quanto o senhorio do dono de um escravo.
Em ambas situações, o escravo não possui direitos pessoais,
pois pertence a outro. Assim, somos escravos amados e trata-
dos como filhos pelo Pai de nosso Senhor e também pelo pró-
prio Senhor que pagou o nosso preço e nos comprou para ser-
mos seus eternamente.

o qual nos abençoou com todas as bênçãos

Não há uma bênção sequer que não esteja já determina-


da por Deus. Ele que conhece todos os meus dias, pois os ante-
viu e escreveu em seu livro (Salmo 139), é aquele que derrama
tais bênçãos no espaço-tempo. Embora elas sejam eternas, ma-
nifestam-se no tempo.
Todas as bênção para sua vida já estão determinadas
dentro do propósito de Deus.
O propósito de Deus para mim é diferente do propósito
dele para outro. Por isso, as bênçãos são diferentes para um e
para outro.

espirituais

Mas, será que alguma bênção não é espiritual? Certamen-


te que não. Todas as bênçãos, sejam materiais ou imateriais,
todas são advindas dele, por obra do Espírito Santo de Deus que
habita em nós.
Assim, da salvação e livramentos até um emprego ou um
carro, todas as bênçãos são espirituais. Devemos reconhecê-las
18 Estudo de Efésios 1

como tais. Para Deus, não há diferença entre o material ou o


imaterial. Para nós sim, mas, para Ele, não. Ele nos vê como es-
píritos também, embora tenhamos um corpo e ele não descon-
sidera isso. Todavia, até mesmo nossos corpos devem ser usados
de um modo que, espiritualmente, sejam santificados.
Uma benção “material” como o dinheiro, facilmente pode
perverter nosso espírito. Por quê, se o dinheiro não é espiritu-
al? Pelo fato de haver uma correlação entre tudo o que é mate-
rial e tudo o que é espiritual.
Por isso, todas as bênçãos devem ser vistas como espiritu-
ais em nossas vidas, sejam elas quais forem, devem todas ser
vistas como presentes de Deus para aqueles que as usaram de
um modo santo, saudável e que glorifique ao Pai.

nos lugares celestiais em Cristo;

Em princípio, Paulo destaca que estas bênçãos estão


guardadas em Cristo, nos lugares celestiais. Mais uma vez, a
inclusão dessa expressão no início de sua adoração destaca que
Paulo reconhece a soberania do Filho de Deus. Ele possui tudo
em suas mãos. Não há nada que esteja perdido sobre a Terra e
que Deus procura, encontra e, depois, derrama sobre nós. Ele
é soberano, e tudo está em suas mãos.
Algo impressionante também é esta expressão “em Cris-
to”. Literalmente, significa “dentro de Cristo”. Explico. Paulo
repete esta expressão muitas vezes em sua literatura. E ela
sempre vem com essa ideia de que os cristãos não andam sol-
tos, mas presos por laços de amor, guardados como que dentro
de uma esfera de amor dentro da qual são protegidos, alimen-
tados e guiados.
Hoje, poderíamos utilizar a ilustração de um grande tan-
que de guerra dentro do qual soldados são igualmente prote-
gidos, alimentados e guiados. Não estamos dentro de um tan-
que literalmente, mas dentro de Cristo, ou, “em Cristo”. Nele,
Um amor que ultrapassa o tempo e a história 19

somos levados ao castelo do Rei dos reis. Nessa viagem até lá,
somos atacados por um inimigo que está do lado de fora. Mas,
“em Cristo”, somos protegidos. Nele, recebemos o alimento e o
remédio. Nele, somos guiados pelo caminho correto dentro do
qual sempre estaremos protegidos. Fora dele, a morte nos es-
pera. Dentro dele, encontramos a vida abundante.
20 Estudo de Efésios 1

Versículo 4

Porque tantos brigam quando tratam da doutrina da elei-


ção? Porque irmãos em Cristo deixam de se falar por meses
ou anos depois de se descobrirem defendendo lados diferentes
dessa mesma doutrina? Seria a doutrina da eleição uma dou-
trina pela qual deveríamos brigar, discutir ou disputar?
Creio que a única razão pela qual pessoas literalmente
brigam por causa de uma doutrina é por que tais pessoas ainda
não compreenderam o propósito da mesma.
Ainda mais quando se fala sobre a doutrina da eleição.
Essa doutrina é uma das mais belas das Escrituras e, seu
único propósito (ou, pelo menos, seu propósito mais elevado) é
nos conduzir à adoração.
É com uma palavra de adoração que o apóstolo Paulo in-
troduz suas palavras sobre a eleição. Vejamos suas palavras
em Ef 1.4:

4. assim como nos escolheu, nele, antes da fundação


do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis
perante ele; e em amor
Um amor que ultrapassa o tempo e a história 21

assim como nos escolheu, nele

Eleição tem a ver com escolhas que outros fazem a nosso


respeito. Nunca ninguém se elege para desempenhar uma res-
ponsabilidade. Sempre outro o elege. Aqui, Paulo está louvan-
do a Deus por ter sido escolhido pelo próprio Deus para algu-
mas coisas. Mais adiante, Paulo irá descrever o que são tais
coisas, que, na verdade, formam o corpo do seu louvor.
Este texto começa com uma informação que não pode ser
compreendida sem entendermos, ainda que rapidamente, o
que eram as eleições no Império Romano.
Dentro do Império Romano de então, a eleição estava li-
gada a um conselho. Os césares romanos eram eleitos por meio
de um conselho de senadores. Ninguém se fazia César, eram
todos feitos césares por meio daquele conselho que possuía a
prerrogativa de escolher, legislar e, até mesmo, dar ao César a
autoridade de um ditador durante um tempo limitado em mo-
mentos de guerra.
Então, este é o conceito por trás da palavra “escolheu”.
Assim como os césares eram eleitos por outros, Paulo louva a
Deus por ter sido eleito por Deus também.
Portanto, a eleição trata-se de algo que não vem de nós. É
um chamado de Deus para algo.
Algo interessante a ser observado com relação à palavra
usada por Paulo no também poderia ser traduzida com “colhi-
do”, visto que a palavra também é usada para isso, além de em
contextos eletivos para cargos de autoridade.

antes da fundação do mundo,

Então, é certo que Deus escolheu um povo. Que povo? Os


santos já mencionados no verso 1. Estes que são chamados de
santos são aqueles a quem Deus escolheu.
A continuação continua afirmando quando a eleição acon-
22 Estudo de Efésios 1

teceu. A resposta está nestas últimas palavras: «antes da fun-


dação do mundo». Ou seja, antes que Deus tivesse criado céus
e terra, antes de Gn 1.1, Deus, mediante a sabedoria de Seu
conselho, Pai, Filho e Espírito Santo, escolheu pessoas que se-
riam salvas do inferno e capacitadas pelo Espírito Santo a vi-
verem de um modo santo nesta Terra.
Veja as palavras do apóstolo Pedro sobre esta mesma
verdade:

sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como


prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil proce-
dimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso
sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o san-
gue de Cristo, conhecido, com efeito, antes da fundação “do
mundo, porém manifestado no fim dos tempos, por amor de
vós. <1Pe 1.18-20>

Assim, não somente a eleição de um povo para ser santo,


mas o próprio sangue de Cristo foi conhecido desde antes da
fundação do mundo. Ou seja, antes da Luz existir, na mente de
Deus já havia a Cruz.

para que fôssemos santos

Disso segue a razão de nossa eleição. E aqui, fica mais


claro sobre quem Paulo está falando. O verbo falar possui um
sujeito oculto de primeira pessoa do plural, “nós”.
Nós! Nós quem? Os santos. Ou seja, aqueles que vivem
em busca da santificação, ou, da mortificação de seus próprios
pecados. Estas são as pessoas para as quais o Senhor se desti-
na por meio desta carta.
A eleição é para a santidade. A santidade nunca alcança-
rá a eleição. É a eleição que torna possível a santidade.
Um amor que ultrapassa o tempo e a história 23

e irrepreensíveis

O Espírito Santo continua a afirmar que os eleitos, além


de santos, seriam irrepreensíveis.
O que significa isso? Significa que a vida dos santos elei-
tos será de luta contra tudo o que possa atrair o olhar de re-
preensibilidade dos de fora para nós. Não significa ser perfei-
to, pois ninguém nunca será. Significa lutar contra o pecado.
Lutar pela santidade.
Tais pessoas, lutam para fugir da aparência do mal. Elas
se importam com o que os outros estão pensando delas, com
seus testemunhos. Por isso, vivem como se fossem irrepreensí-
veis, embora ninguém jamais o será plenamente.

diante dele em amor;

Tudo isso, Deus o fez envolto em amor. A expressão “em


amor” significa que estamos envoltos completamente, por den-
tro e fora, por amor. Não há nada de Deus para nós que não
seja por amor e em amor. Deus não ama, Ele é amor. Por isso,
Ele nos chama para andamos perante Ele em amor.
Deus, então, é louvado por Paulo por causa dessa graça
de ser eleito. Essa é a única razão pela qual o Senhor nos reve-
la o mistério da eleição. Não para discussões ou debates inter-
mináveis na internet. Não para nos acharmos mais sábios que
outros que ainda não compreenderam essa doutrina. Não para
que nos vejamos como detentores de um conhecimento secreto
superior e nos sintamos mais que os outros, mas para que le-
vantemos as mãos e adoremos ao Senhor pela Sua maravilho-
sa graça que nos tirou da morte para vida.
24 Estudo de Efésios 1

Versículo 5

A adoção sempre foi algo considerado belo pela humani-


dade. Desde a criação dos primeiros orfanatos da história, os
responsáveis pelos tais sempre foram tratados como heróis
da humanidade, pessoas abnegadas, dispostas a fazer pelos
filhos dos outros o que muitos não estão dispostos a fazer
pelos seus próprios.
Todos conhecemos pessoas que foram adotadas ou que
adotaram alguém. Muitos de vocês, talvez, estão pensando
em adoção. E não há quem não considere linda tal atitude e
disposição.
Quando Paulo, o apóstolo, escreveu sobre adoção aos Efé-
sios, sem dúvida, devemos olhar para o assunto com o mesmo
olhar de vislumbre, admiração, louvor e gratidão. Sim, grati-
dão. Isso, porque na Revelação, nós éramos as crianças perdi-
das e famintas que foram adotadas e levadas para a casa de
um bondoso Pai.
Vejamos suas breves, porém profundas palavras:
Um amor que ultrapassa o tempo e a história 25

5. e nos predestinou para sermos filhos de adoção


por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o bene-
plácito de sua vontade,

Digiramos tais palavras.

e nos predestinou

O que significa pré-destinar? Não há muito segredo quan-


to a isso. Predestinar significa dar um destino previamente.
Em sua palavra de louvor a Deus, Paulo louva ao Senhor que
decidiu nosso destino antes da fundação do mundo.
Para todos, o destino é algo incontrolável. Menos para
Deus. Excetuando-se o Soberano, nenhum de nós possui o fu-
turo em suas mãos. Não somos capazes de decidir em médio e
longo prazo. Às vezes, conseguimos dirigir o presente. Às vezes.
Determinar que fomos predestinados pela presciência di-
vina é, de todas, o maior dos absurdos. Isso implicaria em sal-
vação pelas obras ou méritos individuais. Vejamos: se Deus
anteviu que eu O escolheria e, assim, me predestinou, então,
não há soberania para a salvação. Se isso for verdadeiro, a sal-
vação depende de quem quer e de quem corre, e não de Deus
ter exercido sua misericórdia.
Salmo 139: todos os meus dias foram ordenados (esta-
vam debaixo da ordem de Deus) antes que nenhum deles ainda
havia acontecido.

para sermos filhos

Diferentemente das demais criaturas feitas por Deus,


nós, de antemão, fomos feitos para vivermos como filhos de
Deus. Ser filho é mais do que ser servo. Ser filho é privilégio
recebido sem maroto algum do que o recebe. Ninguém escolhe
de quem ser filho. Simplesmente somos. Outros decidem isso
26 Estudo de Efésios 1

por nós. Às vezes, sem o planejamento dos pais, filhos acabam


sendo concebidos e gerados. Ainda assim, filhos nunca esco-
lhem se virão a existência.
É assim que nós, também, não escolhemos ser criados
muito menos sermos feitos filhos de Deus. Se somos filhos
dEle, é por única e exclusiva vontade dEle.
A má compreensão de que os homens podem escolher se
serão filhos ou não de Deus deveria ser entendida como absur-
da pelos cristãos. Me assusta a quantidade de cristãos, protes-
tantes ou católicos, que admitem serem responsáveis pela pró-
pria salvação. Isso é um absurdo. Por quê? Por que isso traria
mérito a nós, traria glória àqueles que escolheram em detri-
mentos dos que não escolheram. E Jesus deixa claro no Evan-
gelho que não somos nós que O escolhemos, mas que Ele nos
escolheu para que fôssemos e déssemos frutos.
Ele nos escolheu para que fôssemos filhos. Mas não como
Jesus. Jesus é o único filho que procedo do Pai. Cristo é o unigê-
nito do Pai. O «filho único». E quanto a nós? Somos filhos ado-
tados pelo Pai. Dividimos a filiação com Jesus Cristo. Somos
enxertados à família de Deus pela obra de Seu único e precio-
so Filho, Jesus Cristo.
Mas, o que significa que fomos adotados?

de adoção

Como em todo processo de adoção, as crianças perdidas


não escolhem seus novos pais, mas são escolhidos por eles, le-
vados à casa deles, educados por eles, disciplinados por eles,
alimentados por eles, enfim, tais crianças adotadas, agora, são
totalmente deles.
Assim, nós também, não somos mais vistos por Deus
como aqueles que éramos. Para Deus, o fato de termos sido do
Diabo no passado, e termos feito tantas coisas horríveis aos
Seus olhos, agora, não faz mais a mínima diferença. Estamos
Um amor que ultrapassa o tempo e a história 27

dentro da casa do Pai. Dentro do castelo do Rei que nos adotou


e nos fez co-herdeiros com Seu único filho de tudo que é dele.
Reinaremos com Ele, através da obra e morte de Seu filho na
cruz por nós.
Hoje, devemos nos achegar a Ele como filhos que O amam,
como filhos que são gratos e que desejam agradar e honrar seu
pai. Éramos crianças perdidas e abandonadas. Estávamos sem
Deus, sem salvação, sem pai e mãe, famintos, mendigando no
pecado o pão nosso de cada dia.
Mas Ele nos chamou ao seu castelo. Nos forçou a entrar
e, dele, recebemos o pai que nos salvou da morte. A ele pedi-
mos todos os dias o “pão nosso de cada dia”, pois seu único filho
assim nos ensinou a pedir.
Nada disso desfrutaríamos, se Jesus não tivesse vindo
nos resgatar. A missão de Jesus foi a maior missão de resgate
de toda a história. É por isso que esse verso do louvor paulino
termina com a expressão:

por Jesus Cristo, para si mesmo,


segundo o beneplácito de sua vontade,

A adoção se deu por meio da obra de Cristo na cruz. Nada


nem ninguém pode substituir o sacrifício e a obra que ele rea-
lizou em nosso lugar. Todo esforço é vão diante da perfeição do
que Jesus consumou no Calvário.
Ali, Deus revela seu desejo de que sejamos dele. Uma vez
que já sejamos dele, nada nos arrebatará de Suas mãos (Rm 8).
Tudo isso aconteceu conosco por causa do conclave, por
causa do amor que envolveu e preencheu aquela reunião (ou
conselho) na qual se determinou, antes da fundação do mundo,
que os arrependidos e convertidos seriam totalmente dele, ado-
tados para serem chamados eternamente de seus filhos.
28 Estudo de Efésios 1

Versículos 6 e 7

Por que louvamos a Deus? O que louvamos quando louva-


mos? Pelo que agradecermos? Somente pelas bênçãos? O que
recordarmos quando nos colocarmos diante dele para adorá-lo?
Estas são perguntas feitas por quem, sinceramente, dese-
ja adorar a Deus. Os motivos, sem dúvida, são vários. No en-
tanto, há alguns motivos que deveriam se destacar. Paulo os
destacou nesta epistola. Vejamos.

6. para louvor da glória de sua graça, que ele nos


concedeu gratuitamente no Amado,
7. no qual temos a redençãob, pelo seu sangue, a re-
missão dos pecados, segundo a riqueza da sua
graça,

para louvor

Ja vimos nos textos anteriores o que Paulo tinha em


mente quando o assunto é adoração. Por tanto, não veremos
mais aqui o que é louvor, mas, sim, qual o conteúdo dessa
adoração.
Um amor que ultrapassa o tempo e a história 29

da glória de sua graça,

Nesta belíssima expressão, Paulo expressa quão cara e


preciosa está graça é para Deus. Deus não apenas ama, mas
este amor é glorioso. Quando o adoramos, fazemos questão de
anunciar em alto e bom som a grandeza desse amor. Deseja-
mos espalhar a fama desse amor, ou seja, a glória de sua graça.
Não há como um cristão não encontrar aqui o motivo maior
de seu louvor. Nada pode ser maior que o amor de Deus pelos
seus. É em amor que ele nos escolheu, que ele veio e morreu, que
ele ressuscitou, que ele enviou seu Espírito, que ele nos chamou
da morte para vida, que ele nos regenerou, que ele nos justifi-
cou, e que ele tem nos santificado. É em amor que ele opera tudo
o que opera em nossas vidas. Nada que Deus faz é sem amor.
Tudo é uma expressão de seu amor. Até mesmo o inferno!
Aqui, Paulo destaca mais uma vez um motivo especial
em seu louvor: a graça de Deus. Nós também, em meio a tan-
tos períodos de louvor vazios nas igrejas contemporâneas, de-
vemos resgatar o motivo de nosso louvor. Não cantamos sobre
nós, mas sobre Deus e seu amor. Não cantamos para que ele
nos restitua, mas para que ele nos quebre e transforme para a
sua glória. Louvor tem a ver com Deus e não com os seus.

que ele nos concedeu gratuitamente no Amado,

Essa graça não tem preço. Ele não nos vendeu, muito
menos negociou. Ele, gratuitamente, decidiu derramá-la sobre
nós. Veja que Paulo está louvando a Deus aqui por causa disso.
Há motivo maior pelo qual louvar?
Nada que o ser humano faça pode comprar esse amor.
Nada que o ser humano tenha pode atrair esse amor. O fato é
que somos todos como o mendigo, sem nada a oferecer ao Rei, e
famintos. E o Rei decidiu nos acolher, limpar, alimentar e tor-
nar filhos dele. Gratuitamente.
30 Estudo de Efésios 1

Por isso, louve a Deus. Louve a Deus.

no qual temos a redenção,

O texto continua dizendo que temos redenção. Mas, o que


significa isso? Somos redimidos do quê? Aliás, o que significa
redenção? Vejamos.
A palavra redenção está ligada à resgate. Resgate tem
a ver com compra. Compra tem a ver com preço. E, tudo isso,
tem a ver conosco, os redimidos.
Era comum então o comércio escravista. Sempre horro-
roso, incluía a prática de colocar preço nas pessoas. No Bra-
sil, no final do Brasil Império, um escravo custava em média o
valor de um carro popular zero quilômetros em nossos dias. Al-
guns custavam menos, outros mais. Tudo dependia do tempo
de vida e das qualidades no serviço.
Quando eram comprados por outros senhores de escra-
vos, um alto preço normalmente era pago por cada um deles.
Assim, eram resgatados. Eram adquiridos por outros que por
eles tinham interesse.
Assim, também, Paulo aqui diz que por ele e pelos efé-
sios, um alto preço havia sido pago. Sendo que fomos redimi-
dos por Cristo, pertencemos a ele. Um alto preço foi pago por
nós. Mas, como se deu esse pagamento? Qual o nosso preço?
Paulo continua.

pelo seu sangue, a remissão dos pecados,


segundo a riqueza da sua graça,

O preço foi o sangue, sangue inocente, sangue humano.


Um sangue humano inocente substituiria o sangue humano
impuro (lembre-se de que, então, a vida era simbolizada pelo
sangue). Isto é, uma vida pura substituiria na Cruz a condena-
ção por inúmeras vidas impuras, condenadas, perdidas.
Um amor que ultrapassa o tempo e a história 31

Pelo sangue de Cristo, recebemos a remissão pelos nossos


pecados. Sem Cristo, ainda pertencemos a outro senhor (ídolos
de nosso coração). Remidos de nossos pecados, ele não nos per-
tence mais. A idéia aqui também é de ele, Jesus Cristo, com-
prou nossos pecados. Nossos pecados ele levou para ele. Não
são mais nossos, mas dele. Ele tomou sobre ele todas as nossas
iniqüidade, passadas, parentes e futuras. Na Cruz, tudo esta-
va sobre ele. Ele comprou nossos pecados e foi punido por isso.
Ele veio para isso. Louvado seja seu precioso nome!
Nada disso seria feito se essa graça e misericórdia não
fossem abundantes. Deus é rico em graça. Graças a Deus por
isso! Toda a obra da redenção e resgate se deu envolvida por
um Deus que é riquíssimo em graça. Não há limites para esta
graça. Ela esteve presente no inicio, por ocasião de nossa elei-
ção, e nos acompanhará por toda a vida. Nada nos separará do
grande amor de Deus!
Por isso, que nossa vida seja para louvá-lo por tão grande
e rica graça. Que vivamos para meditar no amor de Deus reve-
lado na Cruz. Precisamos, diariamente, meditar e agradecer a
Deus por tudo isso. Fosse Deus diferente, sem duvida alguma
amargaríamos o sofrimento eterno e a perdição no inferno. O
que podemos fazer senão louvarmos diariamente por tão gran-
de amor e salvação? Comecemos hoje mesmo.
32 Estudo de Efésios 1

Versículos 8 a 11

Como é bom saber que nossa salvação foi planejada cui-


dadosa e graciosamente pela Santíssima Trindade antes da
fundação do mundo. Como é bom saber que nossa salvação não
depende nós, não depende de nosso esforço ou merecimento.
Como é bom saber que, além de salvos, nos foi dado pelo
Espírito Santo o dom para perseverar até o fim, quando recebe-
remos, ainda que imerecidamente, a coroa da vida e o fruto da
Árvore da Vida, colhido pelas mãos do próprio Cordeiro de Deus.
Continuemos a refletir, em espírito de oração, nas pala-
vras de Paulo inspiradas pelo Espírito Santo à igreja que se
reunia na cidade de Éfeso.

8. que ele fez abundar para conosco em toda a sabe-


doria e prudência,

O início deste verso nos faz lembrar do que o Senhor fez


abundar para conosco. Sua graça maravilhosa e inesgotável,
como vimos na pregação anterior, está para nós como uma a
água está para uma esponja. A graça de Deus nos envolve e
Um amor que ultrapassa o tempo e a história 33

nos preenche. É por isso que Paulo aqui ressalta que o Senhor
a fez abundar sobre nós.
Outro ponto curioso do verso 8 é que Deus a derramou
sobre nós com sabedoria e com prudência. O que significa isso?
Vejamos.
Sabedoria tem a ver com o conhecimento perfeito que
Deus possui e que lhe faz agir como age. Todas as suas ações
são poderosas e perfeitas porque feitas sabiamente. Sabedoria
não é algo necessariamente que está em Deus. De certo modo,
ele é a própria sabedoria, a fonte dela. É por isso que a graça
de Deus não vem impulsivamente sobre nós, ou mesmo apaixo-
nadamente. Vem em sabedoria. Deus sabe o que ama e a quem
ama. Seu amor e graça é absolutamente racional.
Já a Prudência tem a ver com uma virtude que não exis-
tiria se soubéssemos que Deus não existe. Ele é a fonte de toda
prudência. A ação redentora não foi (nem é) ingênua ou pueril.
Agiu o tempo todo prudentemente, sabiamente, demonstrando
que há em Deus justiça e bondade em sua escolha eterna. Não
é preciso muito esforço para concluirmos que nossos padrões
acerca de justiça são insuficientes quando desejamos entender
a Deus e o que ele fez. Portanto, fuja da tentação de achar que
Deus é injusto em sua eleição. Nós nem mesmo sabemos o que
é justiça, ainda mais aquilo que para ele é justiça.

9. fazendo-nos conhecer o mistério da sua vontade,


segundo o seu beneplácito,

Como fruto de um amor que não se pode medir nem ex-


plicar, Deus revelou a nós seu amor, coisa que, aparentemen-
te, não revelou a nenhuma outra de suas criaturas. Quando o
apóstolo fala do «mistério de sua vontade», ela fala de nossa
salvação, motivo do louvor de Paulo nesta primeira de duas
orações que ele faz no capítulo um de sua epístola aos efésios.
Esta salvação vem a nós de acordo com seus planos pré-
34 Estudo de Efésios 1

-estabelecidos na eternidade passada. O beneplácito de Deus


de certo modo revela sua prudência, mencionada no verso an-
terior. Deus agiu de um modo sensato em sua eleição. É possí-
vel a nós compreendermos isso? A menos que provem o contrá-
rio, afirmo com convicção que não. Por melhor que argumente-
mos, não conseguiremos nos desfazer do embaraço daquilo que
para nós é justiça. Sempre acusaremos Deus de injusto.
Devemos, sabiamente, abandonar todo esforço em querer
justificar a Deus quanto à eleição. Três coisas são certas:

;;Nenhum ser humano merece a salvação (nem mesmo


os eleitos);
;;Deus escolheu de um modo sábio, sensato e prudente;
;;Deus foi e sempre será justo e bom, em seu caráter e
em suas decisões.

Portanto, desistamos de querer «ganhar a briga» pela


doutrina da eleição. Ela não nos foi revelada para que brigás-
semos, mas para que louvássemos a Deus por sua maravilho-
sa graça que nos anteviu salvos antes da fundação do mundo.
Nunca pergunte o por quê de Deus não ter salvo um amigo seu.
Pergunte o por quê dele ter salvo você. E então, o louve, com
todo seu coração.
O beneplácito, conforme muitas versões em por-
tuguês traduz, vem da palavra original εὐδοκίαν1 para
“plano generoso”. Foi de um modo generoso que o Senhor
nos anteviu, nos predestinou e que, generosa e abundan-
temente, tem nos abençoado e amparado dia após dia2.

1 - Do grego koinê εὐδοκία, ας (aquilo que satisfaz alguém).


2 - Johannes P. Louw e Eugene Albert Nida, Greek-English lexicon of the New Testa-
ment: based on semantic domains (New York: United Bible Societies, 1996), 298.
Um amor que ultrapassa o tempo e a história 35

Assim, sabemos que nossa salvação trouxe grande prazer ao


próprio Deus.
Na continuação da epístola, Paulo afirma que a vinda de
Cristo se deu naquilo que Deus mesmo chamou de “a plenitu-
de dos tempos”. Este termo tem a ver com o ápice da história, o
momento mais especial dentro do plano da criação. Para aque-
le que é o Criador e que é Eterno, tudo o que acontece antes
e depois desse momento é periférico e menos importante em
comparação com a crucificação. A história da humanidade é a
história da redenção. O que não tem a ver com redenção, é pe-
riférico.
Vejamos o por quê.

10. de fazer convergir em Cristo todas as coisas, tanto


as que estão nos céus como as que estão na terra,

Como disse o teólogo puritano Matthew Henry, todas as


linhas da revelação divina encontram-se em Cristo. Ou seja,
além da própria história da humanidade encontrar o seu ápice
em Cristo, tudo o que de Deus recebemos através de revelação
especial (Verbo Escrito e Verbo Encarnado) convergem igual-
mente a Cristo.
Sem Cristo não há religião (no sentido puro da palavra,
ou seja, um religar-se a Deus). Todos os povos, todas as lín-
guas, todas as nações, tudo e todos que se encontram redimi-
dos encontram-se e ainda encontrar-se-ão em Cristo, através
da morte e ressurreição de Cristo.
Deus fez tudo convergir à cruz. Tanto os que serão salvos
quanto os que continuarão perdidos por escolha própria por
toda a eternidade. A cruz divide a história e aqueles que esta-
rão ou não na eternidade com Deus. Este atrair ou convergir
não seria apenas algo terreno, mas algo cósmico, toda a natu-
reza criada seria convergida à Cristo na cruz. A cruz é o cen-
tro de toda a história e é nela que tudo encontra sua redenção.
36 Estudo de Efésios 1

Através dela, abre-se a esperança para uma “nova humanida-


de” ligada ao “segundo Adão” que habitará a “nova Terra e os
novos céus”!3

11. nele, digo, no qual fomos também feitos herança,


predestinados segundo o propósito daquele que
faz todas as coisas conforme o conselho da sua
vontade,

Paulo, aqui no verso 11, apresenta o papel dos que somos


salvos dentro da história da redenção. Em Cristo, todos fomos
feitos herança. Essa herança há muito havia sido prometida.
Mesmo antes de Cristo nascer, Deus usou o profeta Isaías para
revelar isso:

Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará sa-


tisfeito; o meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento, jus-
tificará a muitos, porque as iniquidades deles levará sobre
si. Por isso, eu lhe darei muitos como a sua parte, e com
os poderosos repartirá ele o despojo, porquanto derramou a
sua alma na morte; foi contado com os transgressores; con-
tudo, levou sobre si o pecado de muitos e pelos transgresso-
res intercedeu. <Is 53.11-12>.

Ele levou os nossos pecados sobre a cruz e lá pagou o preço


por cada um deles. Agora, já não há mais condenação. Tendo
pago o nosso preço, fez de nós a sua herança. Assim, do início
ao fim, nossa salvação tem a ver com Ele, Cristo, e nunca co-
nosco. Somos totalmente passivos no que diz respeito à obra e
méritos pela salvação.
Tudo isso foi feito por causa da vontade de Deus. Do iní-

3 - Matthew Henry, Matthew Henry’s commentary on the whole Bible: complete and
unabridged in one volume (Peabody: Hendrickson, 1994), 2308.
Um amor que ultrapassa o tempo e a história 37

cio ao fim, nossa salvação é pela pura e graciosa vontade de


Deus. A expressão grega κατὰ τὴν βουλὴν τοῦ θελήματος αὐτοῦ
poderia ser traduzida livremente assim: «de acordo com aqui-
lo que foi planejado segundo a vontade dele». Ou seja, não se
trata apenas de um conhecimento prévio, ou de uma presciên-
cia, mas de algo que foi planejado, pensado, segundo a sabedo-
ria, a justiça, a bondade e o amor que há nas pessoas benditas
da Santíssima Trindade. Dessa graciosa deliberação, resultou
o «beneplácito» de sua vontade4.
Não foi por acaso nem ou presciência, mas por decisão
ativa e deliberada do Pai, do Filho e do Espírito Santo na eter-
nidade. Assim foram todos os santos predestinados para a gló-
ria daquele que nos criou.

4 - Johannes P. Louw e Eugene Albert Nida, Greek-English lexicon of the New Testa-
ment: based on semantic domains (New York: United Bible Societies, 1996), 357.
38 Estudo de Efésios 1

Versículos 12 a 14

Por que você existe? Você já se perguntou isso? Por que


você está vivo? Será que é só por causa de um encontro físico
de seus pais? Será que é apenas por que eles lhe planejaram? É
comum pessoas se questionarem sobre a razão de sua existên-
cia. Muitas pessoas sofrem com crises existenciais terríveis.
Quando pensam na brevidade da vida e naquilo que será
de cada um deles após sua morte, muitos ficam transtornados
com a ideia de que existiram para nada. Você já se questionou
sobre o por quê de estar vivo?
Na continuação de sua adoração a Deus, Paulo explica ter
compreendido a razão de sua existência. Veja suas palavras:

12. com o fim de sermos para o louvor da sua glória,


nós, os que antes havíamos esperado em Cristo;
13. no qual também vós, tendo ouvido a palavra da
verdade, o evangelho da vossa salvação, e tendo
nele também crido, fostes selados com o Espírito
Santo da promessa,
14. o qual é o penhor da nossa herança, para redenção
da possessão de Deus, para o louvor da sua glória.
Um amor que ultrapassa o tempo e a história 39

No início do verso 12, Paulo demonstra ter compreendido


a razão de estar vivo. Aliás, ele compreende a razão de ter sido
criado. O fim de nossa existência é glorificar a Deus. Se não o
glorificamos, secamos e morremos vazios.
Paulo aqui está falando de uma segunda criação. A pri-
meira, obviamente, é quando Deus nos fez do pó da terra. A
primeira criação está ligada a nossos primeiros pais – Adão
e Eva. Já a segunda criação diz respeito à nossa conversão a
Cristo. Paulo escreveu aos coríntios (2Co 5.17) que, “se alguém
está em Cristo, nova criatura é”. Àquele que nega a si mesmo
e torna-se um fiel seguidor de Jesus de Nazaré, Deus faz dele
uma nova criatura. Ele é recriado. Nas Palavras de Cristo, ele
nasceu de novo (João 3.3).
A razão pela qual fomos criados é para que vivêssemos
para o louvor da glória de Deus. Mas não é assim que vivemos,
desde o início da criação da história humana. A história da hu-
manidade é uma história de rebelião contra Deus. Amamos
tudo o que Ele odeia; e odiamos tudo o que Ele ama.
A razão de Paulo louvar a Deus aqui é que, pela grande
paciência e misericórdia divina, Paulo se vê com um nova opor-
tunidade de viver e de ser o que ele foi criado para ser. Deus
não nos criou por acaso ou por brincadeira. Ele não nos criou
para deixar-nos soltos pelo planeta. Houve um objetivo, um
propósito. Logo, há uma razão para você estar vivo. Há um ob-
jetivo para com a sua vida neste mundo.
Você foi criado para a glória de Deus e para glorificar a
Deus em tudo o que faz. Seja brincando, jogando, ensinando,
namorando, casando, comprando, vendendo, etc. «Portanto,
quer comais quer bebais, ou façais qualquer outra coisa, fazei
tudo para a glória de Deus» (1Co 10.31).
Paulo está adorando a Deus pela obra que o Senhor come-
çou em sua própria vida. Afinal, ele descobriu a razão de sua
vida, o motivo de estar vivo. Ele encerra o verso 12 dizendo que
ele, juntamente (provavelmente) com todos os judeus, espera-
40 Estudo de Efésios 1

vam por Cristo, ou seja, pelo Messias, visto que ele daria sen-
tido às suas vidas. No verso seguinte, ele vai expressar alegre-
mente que a mesma salvação que trouxe razão à sua existên-
cia também foi oferecida a outros povos.

no qual também vós, tendo ouvido a palavra


da verdade, o evangelho da vossa salvação, e
tendo nele também crido, fostes selados com
o Espírito Santo da promessa,

Alegremente, Paulo expressa seu conhecimento de que


os efésios também haviam descoberto a razão de suas vidas.
Quando foi que eles descobriram isso? Quando foi que tudo fez
sentido para eles? Quando foi que suas dúvidas sobre vida e
morte foram dissipadas?
No verso 13, Paulo afirma que foi no exato momento de
suas conversões a Cristo. Essa é a hora quando tudo faz senti-
do. É assim que homens e mulheres de Deus no passado fala-
ram do momento de suas conversões. É como se, naquele mo-
mento, tudo fizesse sentido. É isso que C.S.Lewis, professor
da Universidade de Oxford na Inglaterra, ateu, afirmou sobre
sua conversão: “Eu acredito no cristianismo como eu acredito
no sol, não apenas por que eu o vejo, mas por que por meio dele
eu vejo tudo o mais”.
Na conversão, a luz de Cristo irrompe dentro de nós assim
como a luz do sol irrompe na aurora sobre as trevas da madru-
gada. Assim como o nascer do sol dissipa as trevas da noite, o
nascer do sol da justiça em nossos corações também dissipa as
trevas do medo, da insegurança, da dúvida, e do pecado de nos-
sos corações.
Como dizia Calvino, após uma vida de trevas, enfim
vemos a luz. “Após as trevas, luz!” (post tenebras lux) era o
lema da cidade de Genebra nos dias em que João Calvino foi o
seu pastor.
Um amor que ultrapassa o tempo e a história 41

Tendo isso em mente, é importantíssimo que entendamos


o que Paulo está falando neste verso. Vejamos como se dá o
nascer do Sol da Justiça em nossos corações. Vejamos como
Cristo nasce dentro de nós.

1. Tento o ouvido a palavra da verdade;

Em primeiro lugar, Paulo afirma a importância de ouvir-


mos o Evangelho, a Palavra da Verdade. O Evangelho é a boa
notícia de que nós estamos perdidos, mortos em nossos peca-
dos, cegos para enxergarmos a luz de Deus, cauterizados para
sentir prazer em Deus, mas Deus enviou o Seu Filho unigêni-
to para pagar o preço necessário para que mortos vivam, cegos
vejam e cauterizados voltem a sentir.
Mas essa transformação sobrenatural no ser humano não
pode acontecer sem que o próprio Deus intervenha. É necessá-
rio um milagre para que sejamos salvos. E o milagre está intei-
ramente relacionado à Palavra da Verdade, ou seja, à Sagrada
Escritura. O primeiro passo para que Cristo «nasça em nossos
corações», ou seja, para que nasçamos de novo, é ouvirmos à
Palavra de Cristo. Lembre-se de que somos salvos por meio da
fé e que a fé é um dom de Deus concedido no ato da pregação:

E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra


de Cristo. <Rm 10.17>

Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem
de vós; é dom de Deus. <Ef 2.8>

De fato, sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é


necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que
ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam.
<Hb 11.6>

Assim, sem fé não é possível agradar a Deus, sem fé não


42 Estudo de Efésios 1

é possível ser salvo. Todavia, a fé não vem (e nem está em) de


nós, mas vem de Deus, é um presente de Deus. E esta mesma
fé, segundo a Sagrada Escritura, vem a nós como um dom de
Deus por meio da pregação da palavra de Cristo, ou seja, do
Evangelho.

2. E tendo nele também crido;

Em segundo lugar, após ouvir o Evangelho, é necessário


crer em sua mensagem. Ouvir sem crer não muda a situação
perdida do ser humano. Após ouvir o Evangelho, é necessário
reconhecer a si mesmo como um pecador, como um perdido,
como um mendigo faminto sem nenhuma condição de retribuir
o gesto gracioso de quem o encontrou e o socorreu.

Assim são os eleitos. Eles reconhecem-se como mendigos


desesperados por pão, sentido, vida, limpeza, mudança. E tudo
isso lhes é dado se arrependidos de seus pecados passados e
presentes, curvam-se diante de Cristo clamando o seu perdão.
Crer no Evangelho significa crer em sua miséria e pecaminosi-
dade, e estar arrependido da mesma.
No entanto, crer no Evangelho também significa crer que
é pela graça de Cristo que tal pessoa será salva. Ela desiste de
depender de seus méritos para sua salvação. Reconhece que,
do início ao fim, sua salvação é pela obra de Deus.
Crer em Cristo salvificamente significa crer que você é
um pecador perdido sem Cristo, que nada em você agrada a
Deus, que nada que você faça ou fizer terá o poder de agradar
a Deus a ponto dele lhe salvar por tal (ou tais) atitudes; e tam-
bém significa crer que é pela graça de Deus em Cristo que sua
salvação acontecerá.
Um amor que ultrapassa o tempo e a história 43

3. Fostes selados com o Espírito Santo da promessa.

Esta expressão é uma das fortes em toda a Bíblia. É dela


que tiramos nossa segurança. Originalmente, Paulo escreveu
ἐσφραγίσθητε τῷ πνεύματι τῆς ἐπαγγελίας τῷ ἁγίῳ5. A primeira
palavra é a palavra da qual se traduz “vós fostes selados”. Ela
está no passivo, ou seja, denotando algo que foi feito a alguém
sem que esse alguém tivesse qualquer participação na ação. O
tempo verbal é o aoristo, mais especificamente, aoristo passi-
vo, indicativo, na segunda pessoa do plural. Ou seja, todas as
pessoas a quem Paulo se dirigia foram totalmente passivas na
ação que concretamente conferiu salvação e segurança de sal-
vação a cada um deles.
Sem dúvida, Paulo aqui trata daquilo que em outras par-
tes é chamado de batismo com o Espírito Santo. Quando é
que somos batizados pelo Espírito Santo? Aqui, Paulo afirma
clarissimamente que é no exato momento em que ouvimos o
Evangelho e cremos nele. Neste momento, Deus nos sela (ba-
tiza, ato que vem de cima e marca algo ou alguém) com o Es-
pírito Santo.
Este selo, tal qual os selos reais de outrora, é irrevogável.
Ele não pode ser destruído nem mesmo cancelado. Ele é a ga-
rantia de nossa salvação, de que pertencemos a ele. A palavra
σφραγίς traz a ideia de um objeto usado para imprimir uma
marca que denota posse, aprovação, proximidade6.

5 - Eberhard Nestle et al., The Greek New Testament, 27th ed. (Stuttgart: Deutsche
Bibelgesellschaft, 1993), 504.
6 - Johannes P. Louw e Eugene Albert Nida, Greek-English lexicon of the New Testa-
ment: based on semantic domains (New York: United Bible Societies, 1996), 59.
44 Estudo de Efésios 1

o qual é o penhor da nossa herança,


para redenção da possessão de Deus,
para o louvor da sua glória.

Paulo encerra seu louvor afirmando que a garantia de


que realmente somos filhos de Deus é o selo do Espírito Santo
em nós. O fato de termos sido batizados com o Espírito Santo
de Deus faz com que tenhamos a garantia de que entramos no
céu. Aliás, o Espírito Santo não é apenas a garantia de nossa
salvação futura do inferno, mas é a garantia de uma boa qua-
lidade de vida no presente.
O que chamo de qualidade de vida? Paz. Não apenas
saúde física, que é mais do que importante, mas saúde espiri-
tual. Ou seja, paz em seu interior. É a isso que chamo de quali-
dade de vida. Só o Espírito Santo pode lhe garantir isso
Você, assim como Paulo, já compreendeu a razão de estar
vivo? Você não é um mero resultado do acaso. Para os seres
humanos o acaso pode ser algo real. Mas não para Deus. Para
Deus não há acasos, coincidências, surpresas, etc. Como Sobe-
rano, nada foge ao seu controle.
Nós estamos vivos com o objetivo de vivermos para o lou-
vor da sua glória. Foi para isso que ele nos redimiu, tornando-
-nos sua possessão particular. Quem garante à Deus de que
somos seus é o selo que ele imprimiu em nós por meio da obra
do seu Espírito Santo.
Louvado seja Deus por isso! Louvado seja Deus por tama-
nha segurança e esperança que isso nos traz.
Um amor que ultrapassa o tempo e a história 45

Versículos 15 ao 17

O início da epístola de Paulo aos efésios é recheado com


a vida espiritual do apóstolo. Numa carta onde ele tratará de
temas teológicos e doutrinários relacionados à igreja, Paulo co-
meça com duas palavras de e sobre oração.
A primeira, como já vimos anteriormente, foi sobre a
graça de Deus que nos salva do inferno. Então, esta primeira
diz respeito a Deus. Já a segunda, que vem agora no texto, diz
respeito aos homens. Isso lembra, embora não podemos dizer
que isso estava na mente de Paulo, o que Cristo ensinou na
oração do Pai Nosso — primeiro Deus, depois nós.
Vejamos os versos 15 e 16 de Efésios:

15. Por isso também eu, tendo ouvido falar da fé que


entre vós há no Senhor Jesus e do vosso amor para
com todos os santos,
16. não cesso de dar graças por vós, lembrando-me de
vós nas minhas orações,

Paulo era um homem de oração e suas orações não conta-


vam apenas com suas próprias necessidades. O foco de Paulo
46 Estudo de Efésios 1

nesta passagem é ressaltar seu louvor a Deus e sua oração


pelos efésios. Consequentemente, a passagem lança luz sobre
a presença da oração na vida de Paulo. Ressalta-se também
que esta oração era em favor de outros.
Após uma oração sobre o amor de Deus, uma pequeni-
na oração pela vida de seus amigos. Nela, Paulo fala da fé que
havia entre eles. A preposição que aparece originalmente no es-
crito paulino (κατα - kata), quando usada com um acusativo —
que é o caso aqui —, possui um sentido distributivo. Ou seja,
Paulo não falava da fé presente no momento da conversão, mas
da fé que acompanha a vida do cristão e que é posta em prática
nas mais diferentes situações da vida. Trata-se de uma fé posta
em prática. Não da fé presente no momento da salvação.
A palavra fé possui alguns significados na Sagrada Escri-
tura. Ela pode estar tratando de um conjunto de crenças que
alguém possui, de uma atitude interior da pessoa que está se
convertendo, ou, como é o caso aqui, de uma atitude contínua
exercida diariamente diante de Cristo7.
Esta fé resulta no amor citado por Paulo, manifesto na
prática à todos os santos. A própria palavra “amor” está ligada
a um amor que só o Espírito Santo pode produzir em nossos co-
rações, e que vem primeiramente a nós para que, depois, possa-
mos amá-lo e também amar ao outro (ἀγαπη - ágape - 1Jo 4.198).

7 - Wuest, K. S. (1997). Wuest’s word studies from the Greek New Testament: For
the English reader (Eph 1:14–15). Grand Rapids: Eerdmans, p. 51.
8 - Johannes P. Louw and Eugene Albert Nida, vol. 2, Greek-English Lexicon of the
New Testament: Based on Semantic Domains, electronic ed. of the 2nd edition. (New
York: United Bible Societies, 1996), 1.
James Swanson, Dictionary of Biblical Languages With Semantic Domains: Greek
(New Testament), electronic ed. (Oak Harbor: Logos Research Sys-tems, Inc., 1997).
Um amor que ultrapassa o tempo e a história 47

No verso seguinte, dois aspectos da vida de oração de


Paulo são ressaltados:
1. Persistência;
2. Gratidão9.

Essa atitude não se vê somente aqui, mas praticamen-


te em todas as orações que Paulo faz pelas outras igrejas para
as quais ele escreveu (cf. Rm 1.9; 2Co 11.28; Fl 1.3-4; Cl 1.3, 9;
1Ts 1.2-3; 2Tm 1.3, Fm 4). Leia:

Porque Deus, a quem sirvo em meu espírito, no evangelho


de seu Filho, é minha testemunha de como incessantemen-
te faço menção de vós. <Rm 1.9>

Além das coisas exteriores, há o que pesa sobre mim dia-


riamente, a preocupação com todas as igrejas. <2Co 11.28>

Dou graças ao meu Deus por tudo que recordo de vós, 4fa-
zendo sempre, com alegria, súplicas por todos vós, em todas
as minhas orações, <Fp 1.3-4>

Damos sempre graças a Deus, Pai de nosso Senhor Jesus


Cristo, quando oramos por vós, … Por esta razão, também
nós, desde o dia em que o ouvimos, não cessamos de orar
por vós e de pedir que transbordeis de pleno conhecimento
da sua vontade, em toda a sabedoria e entendimento espi-
ritual; <Cl 1.3,9>

Damos, sempre, graças a Deus por todos vós, mencionando-


-vos em nossas orações e, sem cessar, recordando-nos, dian-

9- Robert James Utley, vol. Volume 8, Paul Bound, the Gospel Unbound: Let-ters
from Prison (Colossians, Ephesians and Philemon, Then Later, Philippians), Study
Guide Commentary Series (Marshall, TX: Bible Lessons In-ternational, 1997), 79.
48 Estudo de Efésios 1

te do nosso Deus e Pai, da operosidade da vossa fé, da ab-


negação do vosso amor e da firmeza da vossa esperança em
nosso Senhor Jesus Cristo, <1Ts 1.2-3>

Dou graças a Deus, a quem, desde os meus antepassados,


sirvo com consciência pura, porque, sem cessar, me lembro
de ti nas minhas orações, noite e dia. <2Tm 1.3>

Dou graças ao meu Deus, lembrando-me, sempre, de ti nas


minhas orações, <Fm 4>

A vida de oração de Paulo era completamente equilibra-


da. Ele adorava a Deus e intercedia por Seu povo. Mesmo cren-
do que a igreja pertence a Deus, mesmo sabendo que cada uma
daquelas igrejas para as quais ele escreveu estavam debaixo
do cuidado de Deus, Paulo também compreendia que não deve-
ria deixar de interceder em favor de cada uma delas. Ou seja,
a soberania de Deus não anula nossa responsabilidade de orar!
Nossas orações, de certo modo, estão em pleno equilíbrio
com a soberania de Deus. Deus é soberano e, em sua sobera-
nia, escolheu deixar que seres humanos fossem cooperadores
de Seus planos através da oração. Ainda que correndo o risco
de ser mal compreendido, afirmo com toda certeza de que as
orações dos santos são as chaves que abrem as portas para as
bênçãos que, na eternidade, Deus já havia determinado nos
dar. Veja o que disse o irmão de Jesus:

Cobiçais e nada tendes; matais, e invejais, e nada podeis


obter; viveis a lutar e a fazer guerras. Nada tendes, porque
não pedis; pedis e não recebeis, porque pedis mal, para es-
banjardes em vossos prazeres. <Tg 4.2>

Sem dúvida, a oração intercessora permanecerá um misté-


rio para o povo de Deus. Sabemos que Deus já determinou todas
as bênçãos que receberemos (Ef 1.3-4). Por outro lado, também
sabemos que devemos pedir, bater e buscar (Mt 7.7-8).
Um amor que ultrapassa o tempo e a história 49

Paulo, então, com perseverança e gratidão nunca deixou


de lembrar de cada um deles em suas orações. Vejamos o verso
17 de Efésios 1:

17. para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o


Pai da glória, vos dê o espírito de sabedoria e de
revelação no pleno conhecimento dele;

A primeira coisa que nos salta aos olhos é a afirmação


trinitária do apóstolo Paulo. Pai, Filho e Espírito Santo são
mencionados como objeto das orações de Paulo pelos efésios. O
Filho é o nosso Senhor e mediador. É o Filho que nos leva ao
Pai. O Pai é aquele que recebe a nós e nossas orações. E o Es-
pírito é o agente da doação. É o Espírito que opera em nós.
Aqui, o Espírito Santo é quem nos dará sabedoria e reve-
lação sobre nosso Senhor Jesus Cristo. No Novo Testamento, o
Espírito nos dá muitas coisas. Exemplos:

;;Espírito de Adoção:
Porque não recebestes o espírito de escravidão, para outra
vez estardes com temor, mas recebestes o espírito de ado-
ção, pelo qual clamamos: Aba, Pai! <Rm 8.15>

;;Espírito de mansidão:
Que quereis? Irei a vós com vara, ou com amor e espírito de
mansidão? <1Co 4.21>

;;Espírito da verdade:
Nós somos de Deus; quem conhece a Deus nos ouve; quem
não é de Deus não nos ouve. assim é que conhecemos o espíri-
to da verdade e o espírito do erro. <1Jo 4.6>

;;Espírito de sabedoria e revelação de nosso Senhor


Jesus Cristo <Ef 1.17>: Esse espírito é dado pelo Pai
da glória. E esse espírito não é apenas para uns pou-
cos, mas é para todos os que nele creem
50 Estudo de Efésios 1

até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhe-


cimento do Filho de Deus, ao estado de homem feito, à me-
dida da estatura da plenitude de Cristo... <Ef 4.13>

Isso nos mostra que o conhecimento não é algo que Deus


deseja dar para um grupo pequeno dentro de seu rebanho (como
afirmava alguns gnósticos). Jesus é A Verdade! E o Evangelho é
dado por Deus e focado em Cristo, cuja mensagem é para todos.
O conhecimento de Jesus Cristo é fruto da obra do Es-
pírito em nossas vidas e corações. Sem o Espírito, não pode-
mos jamais conhecer plenamente a Cristo. Em suma, “espí-
rito de sabedoria e revelação” está relacionado a conhecer
plenamente a Jesus Cristo10.
Só conheceremos plenamente Jesus Cristo dentro da
esfera de ação do Espírito Santo. E não se trata apenas de
um conhecimento formal, mas de um conhecimento pessoal
e relacional11.
Concluo que todos devemos lutar para ter em nossas
vidas os dois elementos presentes na vida de oração de Paulo:
perseverança e gratidão. Isso nos livrará de muita coisa ruim.
Que nunca nos esqueçamos dos outros em nossas orações.
Que clamemos a Deus por mais conhecimento e sabedo-
ria, pois isso nos trará para mais perto de Cristo e fará com
que nosso relacionamento com ele seja muito maior.

10 - Wuest, K. S. (1997). Wuest’s word studies from the Greek New Testament: For
the English reader (Eph 1:15–17). Grand Rapids: Eerdmans.
11 - Marvin Richardson Vincent, Word Studies in the New Testament (New York:
Charles Scribner’s Sons, 1887), Eph 1:15–17.
Um amor que ultrapassa o tempo e a história 51

Versículos 18 a 23

No texto anterior, o apóstolo Paulo introduz sua segunda


palavra de oração do início dessa carta. Ele enfatiza que perse-
verava em lembrar de orar pelos efésios e de fazer grata men-
ção deles em suas orações por causa de sua fé confirmada pelas
obras e pelo amor pelos demais cristãos. Paulo pede que o Se-
nhor lhes dê espírito de sabedoria e revelação de nosso Senhor
Jesus Cristo.
Após tais palavras, o apóstolo traz as palavras abaixo, as
quais estão intimamente relacionadas ao início de sua oração
pelos efésios. Assim, dando o Pai da glória espírito de sabedoria
e revelação, os olhos dos efésios seriam iluminados a ponto de
entenderem (revelação) aspectos sobre Cristo e Sua Palavra que
o homem sem o dom do Espírito jamais será capaz de perceber.

18. iluminados os olhos do vosso coração, para saber-


des qual é a esperança do seu chamamento, qual a
riqueza da glória da sua herança nos santos
19. e qual a suprema grandeza do seu poder para
com os que cremos, segundo a eficácia da força
do seu poder;
52 Estudo de Efésios 1

O Espírito de revelação sobre quem é Jesus e o Espírito


de sabedoria dados pelo Espírito Santo do Senhor produziriam
luz sobre o coração dos efésios. Paulo, aqui, tratará de algo
muito especial e profundo, de difícil compreensão se não visto
com muito cuidado e dedicação.
O primeiro ponto nesta porção exposta por Paulo (Ef 1.18-
23) começa no final do verso 19. O texto fica mais claro quando
começamos com a expressão do final do verso 19:

Segundo a eficácia da força do seu poder.

Então, é segundo a obra ou operação da força do poder de


Deus que os “olhos do nosso coração” são iluminados.
Obviamente, esta expressão é figurada. Nossos corações
não possuem olhos. Até mesmo o “coração” é uma expressão fi-
gurada. “Coração” aqui refere-se às nossas emoções e à parte
imaterial de nosso ser. Àquilo que não é a nossa carne. Os
“olhos do coração” referem-se à porta de entrada desta parte
imaterial de nosso ser — nossa alma, se você preferir.
Outros trechos da Sagrada Escritura chamam nosso cora-
ção de “entendimento”, também. E este entendimento ou “co-
ração” permanece cego, incapaz de enxergar a luz de Deus. É
impossível ao homem “enxergar” o Evangelho de nosso Senhor
Jesus Cristo sem que o próprio Deus o cure de sua cegueira e
abra os olhos de sua alma, seu entendimento, ou, os “olhos de
seu coração”.
Lembre-se do que escreveu Paulo aos coríntios

nos quais o deus deste século cegou o entendimento dos in-


crédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho
da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus. 2Co 4.4>

Paulo, então, está orando para, pela força do poder de


Deus os olhos do coração dos efésios fossem iluminados. Paulo
Um amor que ultrapassa o tempo e a história 53

sabia que só por Deus eles enxergariam o Evangelho e teriam


suas vidas transformadas.
Agora, a continuação do verso 18 afirma que, uma vez
que a cegueira não existisse mais, todos eles saberiam de três
coisas muito especiais:

;;A esperança do seu chamamento;


;;As riquezas da glória de sua herança nos santos;
;;A suprema grandeza de seu poder para com os que
cremos;

Estas três coisas que ele faz para conosco, ele o faz por
causa da grandeza de Seu poder. Vejamos:

;;Segundo a grandeza de seu poder para conosco, enten-


damos qual é a nossa vocação neste mundo. E quando
digo “vocação” não quero dizer de uma profissão espe-
cífica, mas de uma vocação inerente a todas as voca-
ções que os homens têm. Se a vocação profissional de
alguém é ser marceneiro, então a outra vocação que
subjaz a esta é a vocação de glorificar a Deus por meio
da marcenaria. Se a vocação de um jovem está ligada à
medicina, a vocação que subjaz a esta é a de glorificar
a Deus como médico. E assim por diante.
;;Segundo a grandeza de seu poder para conosco, en-
tendamos quão grandes e maravilhosas coisas nos
aguardam nos céus. Uma vez que os nossos olhos são
iluminados, passamos a ver mais beleza nas coisas do
porvir do que nas coisas deste mundo.
;;Segundo a grandeza de seu poder para conosco, apren-
demos a confiar e a descansar na certeza da soberania
e do poder de nosso Deus.

Então, Paulo aqui compartilha o quanto deseja de Deus


54 Estudo de Efésios 1

que ele abra os olhos dos efésios para que eles vejam a gran-
deza e maravilha que é o poder de Deus sobre nós, o poder do
Evangelho sobre nós. Sobre este poder, Paulo fala nos versos
seguintes:

20. o qual exerceu ele em Cristo, ressuscitando-o den-


tre os mortos e fazendo-o sentar à sua direita nos
lugares celestiais,
21. acima de todo principado, e potestade, e poder, e
domínio, e de todo nome que se possa referir não
só no presente século, mas também no vindouro.
22. E pôs todas as coisas debaixo dos pés e, para ser o
cabeça sobre todas as coisas, o deu à igreja,
23. a qual é o seu corpo, a plenitude daquele que a
tudo enche em todas as coisas.

Esta conclusão nos apresenta duas coisas importantes.


A primeira é que o mesmo poder que “exerceu ele em Cristo”
(ou seja, operou em Cristo — Ἣν ἐνήργησεν ἐν τῷ Χριστῷ), como
está no texto (v. 20a), é o poder que opera em nós no ato de
nossa iluminação. Este poder de Deus que um dia abriu os nos-
sos olhos é o poder que fez nosso Senhor Jesus Cristo ressusci-
tar, ascender aos céus, assentar-se à direita de Deus, fazendo
com que nosso Senhor Jesus Cristo tivesse poder e autoridade
sobre todo principado, autoridade, poder, domínio e sobre tudo
e todos. Ele, literalmente, se tornou por meio desse poder o Rei
dos reis e o Senhor dos senhores. É este mesmo poder que hab-
ita em nós e transforma nossa história.
A segunda coisa interessantíssima que o texto nos traz é
que este poder foi dado à igreja, por ser ela o seu corpo. O verso
23 afirma que a igreja é complemento, a plenitude de nosso Se-
nhor Jesus Cristo. Por isso, o poder dele repousa sobre a igreja.
Paulo, então, conclui sua palavra sobre suas orações re-
velando algo maravilhoso: nós fomos alcançados pelo mesmo
poder que ressuscitou a nosso Senhor Jesus Cristo e que o fez
Um amor que ultrapassa o tempo e a história 55

ascender aos céus onde ele permanece até a sua segunda vinda.
No capítulo seguinte [Efésios 2], Paulo tratará sobre os
efeitos desse poder na vida de sua igreja. Sobre o que vimos
até aqui, concluímos que há muito poder que repousa sobre
nós. Somos envolvidos pelo poder de Deus em nossa con-
versão e em nossa peregrinação. Acontece conosco o mesmo
que aconteceu com os israelitas na primeira páscoa. Assim
como o poder de Deus os acompanhou na saída do Egito e du-
rante toda a peregrinação no deserto, o mesmo poder esteve
envolvido em nossa conversão e está envolvido com todos os
eventos de nossa vida agora.
Esta é a razão pela qual nosso Senhor Jesus Cristo nos
afirmou em Mt 6.25: «não andeis ansiosos pela vossa vida» e
Paulo, usado pelo Espírito Santo, escreveu «Não andeis ansio-
sos de coisa alguma» (Fp 4.6). Quando sabemos e cremos que
um poder sem limite, o mesmo poder que ressuscitou a nosso
Senhor, repousa sobre nós, o que haveremos de temer? Nós
nunca estamos sozinhos. Nunca abandonados completamente.
Confiando nessa verdade, espera-se que descansemos no
poder de Deus. A ansiedade elevada a um nível incontrolável
torna-se pecaminosa e revela um coração que confia nem acre-
dita que Deus de fato seja poderoso e/ou bondoso.
Que nunca nos esqueçamos de seu grande amor. Que
nunca deixemos de louvá-lo em nossas orações e canções por
sua grandiosa graça e por seu grandioso poder que não apenas
nos salvou, mas permanece sobre nós e permanecerá para nos
guardar durante toda a nossa peregrinação neste mundo.
56 Estudo de Efésios 1

Anotações:
Um amor que ultrapassa o tempo e a história 57

Anotações:
58 Estudo de Efésios 1

Anotações:

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