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PSICOTERAPIA HOLÍSTICA
MÓDULO II
PERSONALIDADE
Fernando Martins
Terapeuta Holístico CRT 37.039
ofernando@globo.com
PERSONALIDADE
Buscar definir o que seja a personalidade é tarefa delicada por
conta da natureza da matéria. São várias teorias e muita controvérsia em
relação ao tema.
Uma corrente promove a idéia de que todos os seres humanos
nascem com capacidades potenciais iguais e que a diferença entre eles, vai
ocorrendo conforme as influencias ambientais.
Nesta corrente, o que diferenciaria Einstein, por exemplo, dos
demais seres humanos seriam as circunstâncias do meio ambiente onde ele
se desenvolveu.
Outra corrente promove a idéia de que a personalidade é formada
a partir da constituição biológica do individuo, onde a genética não definiria
tão somente os aspectos físicos constituintes do individuo como cor dos
olhos ou cabelos, mas também, determinaria seu temperamento e demais
traços de sua personalidade.
São dois extremos os quais podemos unir em equilíbrio, ou seja,
a personalidade seria o conjunto de características no interior de nosso ser,
formado a partir de nossa herança genética, de nossas vivencias únicas e
da forma que percebemos o mundo, capazes de tornar cada ser humano
único em seu modo de ser e de interagir com a sociedade em que se insere.
Voltemos então ao tema central que é a promoção do auto
conhecimento de nosso cliente ou de nós mesmos. Vemos que baseado na
definição do que seja personalidade, buscando harmonizar duas correntes,
temos como um dos pontos principais na formação desta, as forças do
contexto social em que estamos inseridos, forças estas que agem de forma
benéfica ou maléfica, a partir do nosso modo de ver e interagir com este
mesmo contexto social.
Conforme for este olhar, o indivíduo terá reações e padronizações
de comportamento que irão marcar a sua conduta diante do mundo e de si
mesmo. Por vezes, esta conduta nos leva a sofrimentos que poderiam ser
evitados, mas que no modo contínuo de nossa conduta, vão sendo
cristalizados afetando nosso psiquismo, criando um desequilíbrio energético,
nos fazendo por vezes adoecer fisicamente.
A estas condutas chamaremos de estruturas defensivas e é sobre
estas estruturas que falaremos a seguir. Nos pautaremos na conceituação
dada por Alexander Lowen, criador da terapia Bioenergética, uma técnica
terapêutica que alia princípios da Psicanálise com um trabalho a nível
somático.
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ANÁLISE ESTRUTURAL
Lowen utiliza cinco termos para identificar cinco grupos distintos
de estruturas (padrões).
OBS: Os termos utilizados por Lowen encontram semelhanças em
termos utilizados na psiquiatria e na verdade, a princípio, tem em seu
entendimento, uma base correspondente, mas devemos ter cuidado a
utilizar os termos uma vez que estes são mais conhecidos por seus
significados na psiquiatria ou psicanálise, o que pode até mesmo chocar a
leigos em nossa temática ao ouvi-los em um consultório, por exemplo.
Penso até mesmo em que o aluno poderá se chocar em um primeiro
momento ao ler os termos, seus significados e perceberem algum
enquadramento nestas características, mas digo, que tudo isto faz parte do
processo de aprendizado desta técnica que assim como as demais exigem
por conta do bom senso, e no caso específico da Psicoterapia Holística, por
artigo no nosso código de ética, que nos utilizemos dela antes de a
utilizarmos em outras pessoas.
Estes termos são referências e ao lado de cada uma serão
utilizados termos que o caracterizam como bem fez Luis Antonio Berto, que
desenvolve estudos sobre a Terapia Energética.
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DESCONECTADA
Temos como característica principal no comportamento deste
indivíduo o “ser desligado”. Esta postura é conseqüência de uma
insegurança em relação ao enfrentamento de uma realidade que nem
sempre se apresenta de forma agradável. A hostilidade do mundo e a falta
(que ela imagina ter) de tato no trato com esta realidade, a faz não querer
tomar consciência dos fatos da vida.
CARENTE
Temos como característica principal no comportamento deste
indivíduo uma fragilidade que parte claramente de uma postura
infantilizada. Crê piamente que sua visão de mundo é clara e que ele é uma
vitima tão hostil este mundo se apresenta. Descobrir a criança que temos
em nós faz parte inclusive do processo de amadurecimento, mas
acreditarmos sermos frágeis como uma criança e esquecermos o adulto que
nós somos pode trazer problemas e os trazem.
CONTROLADORA
Temos como característica principal no comportamento deste
indivíduo à crença de que ele é um grande guerreiro com batalhas infindas
a lutar e que a vida é assim mesmo, um grande mar de problemas (e que
quando não existe ele cria) e as pessoas a sua volta são seus escudeiros
neste empreitada. Daí o convívio com os outros ser bastante difícil, pois
nem sempre estes querem seguir “suas ordens”, “suas verdades”, o que é
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um absurdo para ele, pois ele tem o “poder total”, o “saber total”, enfim,
ele é o senhor de seu destino e também dos outros.
INVADIDA
Temo como característica principal no comportamento deste
individuo, a interiorização excessiva, uma postura de quietude, mas não de
serenidade e sim, de um sofrimento por conta de uma posição de baixa
auto-estima. Não se abrem ao mundo por medo de se tornarem vitimas
destes. Controlados, “invadidos” em sua privacidade, descobertos em suas
dificuldades.
RÍGIDA
Temos como característica principal no comportamento deste
individuo, um conservadorismo excessivo, onde qualquer mudança no modo
de vida e em suas crenças não é bem vindo. Vive num mundo de
aparências onde tudo estará sempre em ordem e bem se nada mudar. Não
existe autenticidade na sua fala e no seu pensar, mas tão somente, a busca
de manter-se sempre com o que se diz ser politicamente correto.
EXERCÍCIO DO TÓPICO
Abaixo uma situação de consultório. Leia atentamente, aponte o
padrão de comportamento predominante e faça um sucinto relatório sobre
sua observação.
Madame Z chega esbaforida ao consultório. Senta-se irrequieta
diante de você. Você prepara para iniciar a anamnese e pergunta o que a
trouxe ali.
Madame Z diz: Ando muito tensa ultimamente. Sou sozinha para
criar duas filhas e o senhor sabe como são filhas mulheres, temos que estar
sempre de olho. Uma delas é obediente, mostra que respeita a mãe. É uma
filha muito querida e respeitadora. Aconselhei-a prestar este vestibular que
vem para medicina e ela já fez até a inscrição, mas a outra não, quer
porque quer fazer veterinária. Veja se isto é possível? Já não bastasse eu
ter que manter uma casa sozinha, trabalhar fora, ser dona de casa, ainda
tenho que conviver com esta menina desobediente. Não tenho nem paz no
trabalho, pois tenho que ficar ligando de hora em hora para ela para saber o
que ela está fazendo, pois é muito triste uma mãe não pode confiar na filha.
Ela não reconhece o valor que eu tenho, toda a luta para dar do bom e do
melhor. Daí que venho percebendo uma tensão muito grande nos últimos
tempos e me recomendaram o senhor. O senhor sabe que eu tenho razão
de estar assim, certo?
R.: Tendência CONTROLADORA, pois as pessoas a sua volta são a favor ou
contra suas ideias, e como guerreira experiente conduz os caminhos dos
que estão a sua volta. Fica presa o tempo todo em controlar as pessoas e
esquece de si, vivendo numa tensão exaustiva.
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Características psicossomáticas
Segundo Lowen temos que estas defesas são manifestações
muito fortes de nosso inconsciente. Daí importantes de serem percebidas
pelo terapeuta visto que todos nós somos influenciados por estas
elaborações de nosso inconsciente e que acarretam posturas
comportamentais que fogem de nosso entendimento, muitas vezes gerando
padrões negativos de ação e reação diante de nós mesmos e dos outros.
Estes padrões criam por vezes falsas crenças, mas que absorvemos como
verdades absolutas prejudicando nossa atuação no mundo.
Observações importantes para o terapeuta
As características que serão apresentadas serão agrupadas por
cada padrão de defesa e o terapeuta deverá utiliza-las para ir pontuando as
características apresentadas pelo cliente ou por ele mesmo, caso em
processo de auto-conhecimento.
Todos nós apresentamos uma determinada combinação destas
características, sendo que, a predominância de um grupo de características
que dará a identificação do padrão aliado as características gerais
apresentadas anteriormente.
Ao avaliar cada item e sua manifestação atente que a vivencia
real do fato não é tão relevante quanto à experiência de sensação do fato.
Um exemplo para ficar claro: “alguém que não sofreu uma humilhação, mas
se sente humilhada” ou “alguém que esta presente entre pessoas
desconhecidas e que não estão lhe dando nenhuma atenção, mas que ela
sente que estão a observando ou mesmo fazendo comentários negativos
sobre sua pessoa”.
O desenvolvimento deste trabalho de percepção por parte do
terapeuta demanda vivência de consultório, daí a importância dele se auto
avaliar antes de qualquer coisa e freqüentemente, realizar auto analises de
manutenção.
O terapeuta irá trabalhar de forma a avaliar quantitativamente e
qualitativamente cada item apresentado. Como quantitativo devemos
entender o anotar direto a quantidade de itens apresentados em cada
padrão. Como qualitativo, a forma de percepção consciente do cliente.
Neste caso, volto a dizer que é um trabalho que demanda vivência e que ao
longo do tempo, vai se aprimorando, visto que muitas vezes, o cliente
deixará claro para o terapeuta existirem em seu comportamento,
determinadas características e outras não, sendo expressas através de atos
falhos.
OBS Ato falho sendo a fala ou gesto que a princípio mostra-se
fora de contexto, mas que nada mais é do que uma expressão do
inconsciente – ex. você pergunta ao cliente se ele se sente sozinho e ele diz
para você: não pai ou você pergunta se ele se sente bem fisicamente e ele
ao mesmo tempo em que diz que sim leva a mão ao abdômen.
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DESCONECTADO
Hiperflexível ;
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CARENTE
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CONTROLADORA
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INVADIDA
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RÍGIDA
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CLIENTE DESCONECTADO
Pontos a serem observados:
Experiência base: REJEIÇÃO
Problema principal: TERROR DA EXISTÊNCIA
O não desejo de interagir com outras pessoas ocorre por conta de
uma hostilidade que acredita ocorrer a partir deste contato por parte do
outro.
Suas necessidades:
Sentir-se seguro no mundo, aprender a se ligar às pessoas
afetivamente, viver o momento presente.
Interagindo com o Desconectado:
Peça permissão para toca-la. Peça-a que faça movimentos físicos,
do tipo, de pé dobrar os joelhos. Sorria sempre e peça que ela sorria.
Motive-a falar o máximo possível. Faça-a compreender que esta lá
buscando ajuda. Faça-a repetir que se sente segura ali, “eu me sinto segura
aqui”. Faça-a perceber a amabilidade por parte dela e que tem
correspondência na sua. Faça-a ir se abrindo aos poucos, para falar sobre
os relacionamentos humanos, amor, carinho, amizade, namoro.
CLIENTE CARENTE
Pontos a serem observados:
Experiência base: CARÊNCIA AFETIVA
Problema principal: INSACIEDADE
Medo de nunca terem o suficiente, conseqüentemente, buscam
sem limites que os outros o satisfaça. Tornam-se verdadeiros sugadores de
energia alheia. Vivem se desapontando. Geralmente acreditam serem elas
que vivem sufocadas no seio familiar, no trabalho, nos relacionamentos,
pois acreditam estarem sempre dando mais que recebem.
Suas necessidades:
Sentir-se querido com toda a força do afeto na mesma medida
que tem afeto para dar ao próximo.
Interagindo com o Carente:
Primeiramente não deixa-lo se posicionar de forma a começar a
exigir de você, mas sim, de que ali existe uma troca. Pedir para toca-lo e
pedir para que o toque também. Falar sobre as trocas humanas e que nem
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sempre são feitas na mesma intensidade, visto que as pessoas não são
iguais, logo, a intensidade de expressar seus afetos também não.
CLIENTE CONTROLADOR
Pontos a serem observados:
Experiência base: TRAIÇÃO
Problema principal: NÃO CONFIA EM NINGUÉM
A postura de controle sobre as pessoas parte desta desconfiança
na capacidade do outro sendo ele o único sabedor de como agir, o que
todos devem fazer, etc Geralmente com experiências na infância referentes
a promessas não cumpridas. Excesso de responsabilidades neste período de
vida também são pontos a serem observados. Este excesso gera uma
insegurança de não ser capaz de satisfazer as expectativas dos pais, sendo
que uma vez suportado o fardo, ocorre um não reconhecimento (traição).
Suas necessidades:
Sentir-se seguro e confiante em relação aos outros. Para de
tentar controlar a tudo e a todos. Não buscar ter mais atribuições do que é
capaz buscando um reconhecimento. Aprender a lidar com as imperfeições
do mundo e as suas próprias.
Interagindo com o Controlador:
Busque não olha-la nos olhos e caso ela exija ou comente este
fato, diga que você precisa ouvi-la e esta sua postura o ajuda a se
concentrar. Demonstre que a sua presença ali demonstra confiar em você.
Estimule-a falar sobre confiança. Falar sobre as expectativas que espero dos
outros. Estimule a falar do seu excesso de atividades e se já não é hora de
se organizar de maneira a manter a mesma produtividade, mas sem se
desgastar tanto. Busque faze-la compreender que as pessoas são diferentes
umas das outras e que cada um tem sua maneira de se expressar e
reconhecer os esforços do outro.
CLIENTE INVADIDO
Pontos a serem observados:
Experiência base: CERSEAMENTO DE EXPRESSIVIDADE
Problema principal: O MEDO DE INVASÃO DE SUA
PRIVACIDADE
O Invadido de certo viveu na infância em um ambiente onde
pensamentos, idéias e criatividade eram controladas. Com isto, carecem de
autonomia, criando uma insegurança no que tange agir de forma própria.
Geralmente não pensam no futuro e em criar expectativas, vivendo tão
somente o presente.
Suas necessidades:
Sentir-se auto-suficiente. Ter liberdade de agir e traçar seu
destino. Ter liberdade de se expressar.
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CLIENTE RIGIDO
Pontos a serem observados:
Experiência base: DIFICULDADE EM TER PRAZERES
Problema principal: FALTA DE AUTENTICIDADE
O Rígido na infância pode ter se desenvolvido em um ambiente
tenso e tido experiências desagradáveis como pais alcoólatras, infiéis, com
muitas doenças, desavenças entre eles. Brigas a noite e paz durante o dia.
Uma ilusão de perfeição. Supervalorização das aparências, como se vestir
bem. Geralmente um orgulho extremo de ser quem é acompanhado de um
vazio profundo de não saber bem o que faz na vida. Por não ser autentico,
tudo vive na superficialidade, tanto nos relacionamentos quanto nas
relações profissionais e familiares.
Suas necessidades:
Sentir-se autentico. Conhecer seus reais desejos independente do
que os outros pensam. Descobrir no fundo, quem realmente é e o que
busca na vida. Viver experiências novas e não repetir as mesmas
experiências que já conhece e as quais, se apega.
Interagindo com o Rígido:
Estimule-o a falar do seu dia a dia e o que poderia fazer para
torna-lo diferente. Fale sobre felicidade e a relação desta com realizações.
Peça a sua opinião sobre alguns assuntos e argumente contrário
estimulando um debate de idéias diferentes, onde ele irá reforçar o que
pensa, mas perceber outras formas de pensar.
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Exercício do Tópico
Escolha dois padrões de defesa da personalidade baseada na
teoria de Lowen e as descreva com suas palavras.
Estas estruturas defensivas apontam para a vivência de emoções e sentimentos
inadequados e como vimos no Módulo anterior, a possibilidade de somatização existe e
conseqüentemente, o adoecimento do indivíduo.
Controlador Rígido
Ação Controla os Não atua de
defensiva outros forma
autêntica
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sua mulher, caso não libere corretamente esta raiva, irá explodir
novamente em outro momento do convívio ou mesmo com outra mulher na
mesma intensidade, pois um ciclo é gerado e a repetição ocorre de forma
automática. Daí que por vezes vemos pessoas reagindo de forma
desproporcional a situação em questão.
Liberar emoções é descarregar tensões reprimidas e antigas,
abrindo assim um caminho para um maior entendimento e percepção dos
conflitos que fazem parte da vida e que ao lidarmos com eles, devemos
faze-lo de forma equilibrada e madura.
Existem várias técnicas que podem se utilizadas e veremos
algumas delas no próximo módulo.
São indicadas para todo individuo que queira estar melhor
consigo mesmo e com o outro, sendo particularmente benéfico para todos
aqueles que lidam diretamente com várias pessoas no seu dia a dia,
principalmente com crianças e/ou adolescentes, bem como, para aqueles
que trabalham junto a doentes ou pessoas com problemas pessoais.
Em especial pessoas que estejam vivendo um período delicado,
desgastante, estressante e que produzem com facilidade desequilíbrios
emocionais e energéticos.
Alguns sentimentos podem ser mudados com maior facilidade de
forma definitiva e quase que instantaneamente após algumas poucas
sessões de psicoterapia holística. Esses sentimentos normalmente estão
ligados a percepções e/ou expectativas distorcidas da realidade.
Outros sentimentos para serem dissolvidos envolvem o
desdobramento de longos períodos, pois demandam a troca de memórias
de situações adversas por novas experiências compensatórias.
No primeiro caso, temos o grupo das "coisas" que a pessoa
idealizou ou projetou de forma distorcida a partir de suas próprias idéias e
percepções. No segundo, experiências negativas reais efetivamente vividas
e que precisam ser trocadas.
A memória independe da vontade própria, é automática e está
diretamente ligada e influenciada pela qualidade emocional presente
durante o momento de ocorrência e gravação de seus conteúdos. Dessa
forma, uma sensação constante, por exemplo, de fracasso não será passível
de ser esquecida pela pessoa. Entretanto, sua memória emocional de
fracasso poderá ser re-editada por experiências recorrentes de sucesso e
êxito, proporcionalmente tão importantes quanto a(s) experiência(s) que
geraram o sentimento anterior de fracasso e perspectiva de que tudo o que
venha a ser realizado "não levará a nada".
Nesta mesma esfera encontram-se experiências de rejeição,
medo/ insegurança, fraqueza, fome e carência dentre tantas outras, que
devem ser reeditadas positivamente com experiências bem sucedidas de
aceitação, confiança, força, satisfação etc. Isso pode levar muitos anos.
Muitas mudanças somente serão passíveis de serem efetivadas e
gravadas como definitivas em nós a partir de exercícios constantes, desde
os físicos até os exercícios de comportamento e atitudes. Por exemplo: para
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Ou no caso:
“Você está louco! Nem morto eu vou fazer essa m**** que você
está me pedindo.”
Utilize:
“eu não vou fazer o que você está me pedindo porque se eu o
fizer, EU vou me sentir muito mal comigo mesmo(a). Não vai dar, pois não
posso passar por cima de mim mesmo(a) e sei que se fizer isso, depois
ficarei com um sentimento muito ruim dentro de mim. É algo meu, não tem
nada a ver com você. Eu não ficarei bem comigo. Me sentirei muito
desconfortável Por isso não poderei fazer o que você está me pedindo.”
Obviamente estes são apenas alguns exemplos, sendo o discurso
adaptado pelo cliente. Os exemplos servirão tão somente para mostrar o
cerne da questão que é o individuo estar sempre se posicionando de alguma
forma, se questionando, refletindo sobre si mesmo, se auto-observando.
Começando a agir assim, a pessoa irá ganhando desenvoltura
com essa forma de expressão até chegar o dia e a situação na qual consiga
dizer, sem se alterar, com senso de adequação e impostação, em equilíbrio
e maturidade emocional, coisas do tipo como no diálogo abaixo.
Pára. Eu não quero que isso continue.
O outro - Por quê?...
Não sei. Só sei que não estou me sentindo bem com esta
situação.
Algo errado que eu fiz? Dá pra ser de outro jeito?
Não. Não dá pra ser de outro jeito. Não tem nada a ver com
certo ou errado. Só sei que não estou me sentindo bem e não quero que
isso continue. Não sei dizer ainda nem o que está me incomodando. Se um
dia, ou em algum momento, eu souber o que está ruim pra mim, e houver
uma oportunidade, eu posso até lhe dizer o que é. No momento, só sei que
eu não quero que isto continue. Chega.
Ou ainda:
Eu me senti roubado(a) quando você fez isso ...
Você está me chamando de ladrão?!...
Eu não estou lhe chamando de nada. O que você é, ou como você
se sente, é uma questão pessoal e íntima sua, cabe unicamente a você
descobrir e definir isso. Investir o seu tempo e sua energia nisso. Isso não
me cabe. Cabe a você. O que acontece, o que eu disse, é que EU me senti
roubado(a) quando isso aconteceu. Estou lhe expondo isso com sinceridade
e, neste momento, com tranqüilidade, pois estou me direcionando e
fazendo o necessário para que isso não volte a ocorrer em hipótese
nenhuma. Neste momento, me expressando desta forma pra você, também
espero que o nosso contato a médio e longo prazo possa ser preservado e
mantido dentro do respeito e da consideração mútuos, pois de outra forma,
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vejo possibilidades de que isso também possa ser perdido. Acredite: pode
ser difícil para você estar ouvindo isso, mas lhe asseguro, e tenho convicção
de que você pode sentir isso através do que estou manifestando agora, que
também não é fácil para eu falar essas coisas e estar aqui diante de você
podendo olhá-lo com sinceridade e autonomia. Pelo contrário: este
momento também está sendo muito difícil pra mim...
Claro que para se chegar neste nível de auto-controle, expresso
pela forma de colocar palavras com entendimento e clareza de percepção,
demanda tempo, até mesmo vários anos, dependendo da situação em
questão, especialmente quando isso envolve cenários que abrangem
pessoas muito próximas e mágoas ou padrões já perpetuados ao longo de
muitos anos.
O ideal é que a pessoa comece a treinar com pessoas e situações
novas, de preferência inéditas, e com envolvimentos mais leves. Pessoas
que nunca viu e que está encontrando uma primeira vez num contato
fortuito. Um atendente de estabelecimento comercial, uma pessoa na rua
ou qualquer situação assim, com baixo envolvimento. Posteriormente à
medida que for ganhando confiança e sucesso nesse tipo de situação, a
pessoa pode ir evoluindo e começando a se expressar melhor com os outros
de uma forma em geral, trazendo esse padrão para relacionamentos mais
próximos, até chegar a ponto de estar com as pessoas mais íntimas e
resgatar questões que lhe incomodam a muitos anos silenciosamente, com
boas possibilidades de dissolução.
Está forma de saber se colocar implica resumidamente, em não
deixar que o outro o transgrida, respeitando a si mesmo e seus direitos
próprios e naturais, mas também sem a necessidade de que para que isso
ocorra seja necessário ser agressivo ou subjugar o outro, mesmo que
subliminarmente, impondo falsa autoridade, impingindo medo etc.
O indivíduo com dificuldade de expressão emocional deve dar
uma especial atenção à questão da dissolução da defesa invadida e das
culpas que também muito provavelmente carrega dentro de si. Fazer isso
abrirá canais para que a pessoa também comece a equilibrar o valor entre
si e os outros, que antes era sempre pesado a favor dos outros em
detrimento de si própria, muito comum nos casos dos controladores onde
existe um sentimento real para o indivíduo de que “sacrifica-se pelos outros
sem o devido reconhecimento, valor e contrapartida...”
A orientação que será dada pelo terapeuta seguirá dois pontos
básicos:
Que sejam substituídos o julgamento e a crítica por uma
afirmação objetiva dos fatos.
E
A franqueza sempre é o melhor caminho para que o outro queira
cooperar.
No próximo módulo falaremos sobre práticas que visam fazer com
que o indivíduo mergulhe dentro de si e busque resgatar um equilíbrio que
um dia perdeu ou manter, o equilíbrio diante de uma vida tão corrida em
um mundo tão cheio de armadilhas.
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