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Introdução
Essa questão perpassa toda a Bíblia e por isso exige um estudo detalhado de um
grande volume de passagens dos dois Testamentos. Por esse motivo, a proposta desse
trabalho é focalizar o estudo principalmente no Pentateuco, o qual é para o judaísmo o
escrito de maior autoridade e santidade, em que há os principais fatos da revelação divina.
A orientação dos textos do Pentateuco que serão utilizados no estudo se dará pelas
citações e/ou alusões dos capítulos 3 e 4 da epistola aos Hebreus. O objetivo desse
trabalho é discutir, especificamente, o significado da palavra “descanso”. Primeiramente,
será analisado a teologia do descanso na criação, e posteriormente, com relação a terra
prometida. O estudo teológico será complementado com algumas aplicações do assunto
para os cristãos hoje.
O descanso em Hebreus 3 e 4
O descanso na criação
Em Hebreus 4:4 há uma citação do texto de Gênesis 2:2, que descreve o dia em
que foi terminada a criação. Nesse dia, Deus descansou da obra que havia feito e, além
disso, o santificou. (Gn 2:3).
Antes de discutir sobre o significado dessas ações praticadas por Deus, que são de
extrema importância nesse texto, é necessário entender o contexto em que essa passagem
se encontra. O livro de Gênesis é iniciado com uma narrativa sobre como foram criadas
todas as coisas. Ao longo do capítulo primeiro, é possível extrair algumas informações:
Deus foi o criador de todas as coisas (Gn 1:1), Ele era o único ser existente no princípio
(Gn 1:2) e com a Sua palavra tudo veio a existir (Gn 1:3, 6, 9, 14, 20, 24, 26). Além disso,
pode-se afirmar que toda a criação se deu em seis dias (Gn 1:31; 2:1), e que no sexto dia,
Deus criou algo muito diferente das demais coisas, o homem. Essa afirmação pode ser
sustentada pois o homem foi feito por Deus (e não só existiu a partir de Sua palavra), ele
é a imagem e semelhança de Deus (Gn 1:26) e nele o próprio Deus soprou o fôlego de
vida (Gn 2:7). Uma última informação relevante para o presente estudo é que não havia
mal em toda a criação, pelo contrário, tudo era muito bom (Gn 1:31), não havia pecado.
Esse foi o período antes da queda.
Nesse período, Deus já havia instituído o trabalho ao homem. Desde a sua criação,
o homem teria domínio sobre a terra e todos os animais (Gn16), e a ele foi também dado
a atividade de lavrar o solo (Gn 2:5), pois era de onde ele e os animais teriam seu
mantimento (Gn 1:29-30).
Após instituir todas as coisas, Deus descansou de toda obra que havia feito. Esse
descanso, certamente, não foi algo físico, pois a Bíblia diz que Deus não dormita (Salmo
121:4), ou seja, não foi por Ele estar cansado. A maioria dos estudiosos sustentam a ideia
de que o significado dessa palavra é “cessar” ou “fazer uma pausa”. Uma das
interpretações possíveis para esse termo é de que Deus finalizou sua criação no dia sétimo,
e nada mais depois disso foi criado. Segundo MacArthur (2010), o descanso de Deus foi
para estabelecimento de um padrão para o ciclo de trabalho do homem, o qual tinha
necessidade de descanso. Em Êxodo 20:11, através da conjunção explicativa “porque” há
a explicação de que a instituição do descanso foi baseada no descanso de Deus no dia
sétimo da criação. No Evangelho de Marcos, o próprio Jesus, autor da criação (João 1:1-
3), afirma que o sábado (o sétimo dia na semana judaica) foi estabelecido por causa do
homem, em seu benefício. Ainda sobre essa discussão é importante notar que este é o
único relato sobre o descanso em todo o livro de Gênesis. Não há outros relatos sobre
como os patriarcas trataram esse dia da semana.
Em Hebreus 3:7-11, o autor faz uma citação direta do Salmo 95:7-11, no qual há
uma referência ao povo de Israel no deserto, especificamente em Meribá. Além dessa
citação, algumas alusões também estão presentes na epístola, as quais surgem como
explicação para a não entrada do povo na terra prometida. Segundo Deuteronômio 3:20 e
12:9-12, Deus havia falado sobre um descanso a Israel, que se referia a herança que o
povo receberia na terra prometida, Canaã. Diante disso, faz-se necessário analisar o
motivo da entrada, ou não, no descanso (terra prometida), e se há algum significado
espiritual especificamente.
Aplicação Teológica
Com relação ao descanso na terra prometida, foi visto que se tratava apenas de um
descanso terreno, mas que isso seria sombra do verdadeiro descanso, por meio de Jesus.
Diante dessa interpretação, os cristãos devem refletir sobre como deve ser a vida de
peregrinação, aqui na terra (assim como o povo de Israel no deserto), para que seja
conhecido diante dos homens que já entramos no verdadeiro descanso. O apóstolo Paulo
em I Coríntios 10, adverte os cristãos para não desejarem coisas más como idolatria,
imoralidade ou murmuração, pondo Deus a prova. Antes tivessem cuidado com o excesso
de confiança quanto ao cair em algum pecado, tomando como exemplo os crentes do
Antigo Testamento. (Tabela 1). Uma outra aplicação dentro dessa parte do estudo pode
ser extraída do próprio autor aos Hebreus, que admoestou os cristãos, nos capítulos 3 e 4,
a serem fiéis a Cristo, com fé, obediência e perseverança.
Conclusão