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Género e Desenvolvimento

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Grupo Moçambicano da Divida

Género e Desenvolvimento:
Uma perspectiva sociológica com
enfoque nos Sectores de Educação e
Saúde
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Género e Desenvolvimento

Ficha Técnica

Título: Género e Desenvolvimento: Uma perspectiva sociológica com


enfoque nos Sectores de Educação e Saúde
Edição: Grupo Moçambicano da Dívida.
Propriedade: Grupo Moçambicano da Dívida.
Elaboração e Produção: Samuel Quive, Graça Silvestre Zandamela, Ana
Karina Cabral.
Arranjo gráfico, Ilustração e capa: Benjamim Mondlane.
Coordenação Editorial: Humberto Tobias Zaqueu.
Número de Registo:
Impreção: CIEDIMA SARL.
Tiragem: 500 Exemplares.
Ano: 2004.
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Grupo Moçambicano da Divida

Prefácio
Durante muitos anos, a experiência dos diferentes povos do mundo inteiro
relegava a mulher a uma posição de inferioridade em relação ao homem, seu
parceiro.

A este cabia a realização dos principais papeis sociais, menospresando as


potencialidades físicas e psicológicas de que a mulher é uma digna detentora.

Actualmente, a participação activa da mulher nos diferentes domínios de


actividade política, social, económica, científica, cultural, artística e tecnológica
desmistifica, veemente, os preconceitos, segundo os quais, ela é frágil pela sua
condição natural.

O Grupo Moçambicano da Dívida (GMD) tem vindo a dedicar uma atenção


especial ao problema do género, procurando entender as diferentes ligações
entre ele e a pobreza. O primeiro exercício ocorreu no ano 2000 com a co-
produção do estudo sobre o “Orçamento da Criança em Moçambique”. O
trabalho, explicitamente, tomou a criança e a mulher como os principais grupos
vulneráveis a quem atenção especial se deve dedicar.

O presente trabalho constitui o nosso primeiro levantamento específico da


problemática do género. Pretendemos contribuir para uma melhor
compreensão sobre as principais dificuldades com que a mulher se debate,
com base numa análise de perspectiva sociológica.

Focalizamos o nosso estudo no contexto nacional, naquilo que acontece nos


sectores de educação e saúde.

É uma primeira abordagem. Não se pretende acabada e completa. Este trabalho


é apenas uma reflexão que espera de si, caro leitor, uma análise crítica para
que , de mãos dadas, homens e mulheres, se engagem, entusiasticamente, e em
pé de igualdade, na reconstrução de Moçambique.

Em nome da família do Grupo Moçambicano da Dívida apraz-nos saudar


todo o apoio que recebemos de diferentes personalidades, dos membros e
dos parceiros de cooperação.

Cada um é parte deste trabalho.

O Secretariado,
GMD
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Género e Desenvolvimento

Índice

Introdução.........................................................................................................1

Apresentação do Problema..................................................................................2

Linhas gerais do PARPA.........................................................................................5

Situação da Mulher em Moçambique....................................................................8

Género e Saúde..................................................................................................10

Estratégias de género nos planos e programas do sector da saúde...................12

Género e Educação.............................................................................................13

Estratégias de género nos planos e programas do sector da educação.............14

O Orçamento do Estado...................................................................................17

Levantamento de dados..................................................................................20

Resultados.......................................................................................................21

Considerações finais......................................................................................29

Recomendações..............................................................................................30

Anexo 1: Guião de entrevista.........................................................................32

Anexo 2: Lista dos Ministérios e pessoas contactadas durante a recolha de


dados....................................................................................................................35

Lista das ONG’s e pessoas contactadas durante a recolha de dados............35

Anexo 3: Membros do governo e instituições públicas distribuídos por


género..............................................................................................................36

Lista Bibliográfica............................................................................................37
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Grupo Moçambicano da Divida

Introdução
O Grupo Moçambicano da Dívida (GMD) é uma coligação de Organizações
não Governamentais (ONG´s), Sindicatos, Associações, e demais Entidades
da Sociedade Civil, que tem como objectivo principal contribuir nos esforços
para a redução da dívida externa do nosso país e erradicação da pobreza
absoluta em prol de um desenvolvimento sustentável.

O presente estudo foi elaborado sob égide do GMD. Visa analisar


sociologicamente a problemática da integração do género no processo de
desenvolvimento de Moçambique.
Para permitir uma análise profunda sobre a questão, o estudo focalizou os
factores que concorrem para a desintegração da mulher no processo de
desenvolvimento, a exclusão social e a pobreza absoluta feminina.

Um outro ponto importante, neste estudo, é a análise dos factores que


concorrem para a discriminação da mulher na sociedade Moçambicana, bem
como as implicações sócio-económicas que advêm do fenómeno da
desigualdade do género. O estudo centrou-se também na análise das políticas
sectoriais nas áreas de saúde e educação e a sua implementação pelas
instituições do governo, bem como pelas instituições da sociedade civil.

O estudo integra duas partes fundamentais, uma teórica, onde são abordados
conceitos básicos que norteiam este trabalho; a outra parte procede uma
análise empírica do fenómeno, apresentam-se os resultados fundamentais,
antecedidos de informações explicativas sobre o processo da recolha e
tratamento de dados. A recolha de dados ocorreu nas instituições do Governo
ligadas à Educação, Saúde e organizações da sociedade civil filiadas ao GMD.
O presente estudo termina com a apresentação de algumas recomendações,
precedidas de anexos, contendo o guião das entrevistas e alistagem das
instituições que responderam à pesquisa, e uma lista da bibliografia que
estabelece o suporte teórico.
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Género e Desenvolvimento

Apresentação do Problema
Para uma melhor percepção da integração da mulher no processo de
desenvolvimento, é importante que se defina o conceito de Género. O Género
é um conceito que permite uma melhor compreensão das relações entre os
homens e mulheres na dinâmica social. Parte-se do pressuposto de que este
conceito descreve as relações sociais que se estabelecem entre homens e
mulheres na estrutura social.
O Género é a forma como a sociedade encara e trata de maneira diferente o
homem e a mulher. Na maioria das sociedades, os homens e as mulheres têm
papéis e responsabilidades diferentes, oportunidades e direitos diferentes. Estas
diferenças de género, variam de uma sociedade para a outra (In Boletim
internacional sobre prevenção e cuidados de Sida no 40,2002).
Esta percepção marca a subalternização da mulher. Assim, os papéis sociais
das mulheres são vistos como relativos a sua natureza, na medida em que o
seu envolvimento na reprodução tende a limitá-las a certas funções sociais
que por sua vez se consideram como as mais naturais (Moore,1992:14 cit.
Machaieie).
A perspectiva de Rago (1982:2), não fugindo da ideia anterior, considera o
género como um conjunto de expectativas relativas ao comportamento,
características e aptidões prováveis dos homens e das mulheres, refere-se aos
significados sociais atribuídos ao ser homem ou mulher numa determinada
sociedade.
Segundo Scott (1991), o uso recente do termo “género”, difundido pelas
feministas americanas, insiste no carácter fundamentalmente social baseado
no sexo. Esta assunção rejeita o determinismo biológico implícito nos termos
como sexo ou “diferença sexual”.
Esta autora defende ainda que a definição de género se baseia na conexão
integral entre duas posições, a saber: género como um elemento constitutivo
de relações sociais baseado nas diferenças percebidas entre os sexos, e género
como uma forma de significar as relações do poder. As mudanças na
organização das relações sociais correspondem sempre às mudanças nas
representações do poder, mas a direcção das mudanças não segue
necessariamente um sentido único (Scott,1991:16).
Neste último, aspecto adoptamos a afirmação de Kirch segundo a qual “a
inferioridade social das mulheres é um fenómeno social e não natural”
(Kirch,1995:18 ).
Definimos então género como sendo as relações sociais entre homens e
mulheres e o modo como elas são socialmente construídas.
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Grupo Moçambicano da Divida

(O) Género refere-se a um conjunto de papéis, atitudes, comportamentos,


e valores socialmente construídos, que determinam, em larga medida, as
diferenças entre homens e mulheres no acesso aos recursos e poder, e que
se reflectem na estrutura política, económica e social da sociedade. Estes
diferem de cultura para cultura e podem ser sempre negociados e mudam.
As relações de género são relações de poder, isto é, relações que em si
implicam uma hierarquia.Esta hierquia determina a subalternização da mulher.
Estas desigualdades orientam as práticas, representações, a divisão social
do trabalho, a transmissão de valores sociais, e a sua legitimação. O processo
de desigualdade de género inicia na família, através do processo de
socialização primária e, a mulher como actor de socialização consciente ou
inconscientemente produz, reproduz e perpetua as desigualdades de género.

É comum na prática das relações sociais a vivência da discriminação entre


homens e mulheres, como se de um fenómeno normal se tratasse, como
resultado de um longo processo de socialização e herança cultural, isto é, os
argumentos usados para justificar as desigualdades de género, para alguns, são
de ordem normativa.
Outros estudos mostram que as relações sociais, que se estabelecem na família,
são estruturadas em função do sexo e da idade. Segundo Osório(1998), estes
são os elementos que orientam as práticas, as representações, a divisão social
do trabalho, a transmissão de valores sociais e a sua legitimação. Ora, as
relações que se estabelecem no seio da família são relações de poder, isto é,
são relações que em si implicam uma hierarquia de sexo e idade entre os
membros do agregado familiar.
Além disso, esta autora adianta que as relações de parentesco desempenham
também um papel determinante na estrutura da família e, portanto, na regulação
dos papéis e das posições dos seus membros. Contudo, a mulher constitui o
elemento central nas relações sociais de parentesco, pois ela é também um
agente de socialização dos filhos, mas em contrapartida, ela é um elemento
marginal, na medida em que é lhe relegada a função e posição desiguais e
discriminatórias (idem).
Portanto, a mulher como um agente de socialização, consciente ou
inconscientemente, produz e reproduz as desigualdades de género no seio da
família.Tal facto reflecte-se nas diferenças de expectativas entre os rapazes e
raparigas. Enquanto as raparigas são socializadas para a esfera doméstica, como
forma de reconhecer os seus papéis futuros de mãe e esposa, os rapazes são
preparados para liderar o lar e para a definição de estratégias familiares
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Género e Desenvolvimento

de sobrevivência. Como se pode notar, o processo de desigualdade de género


inicia na família e a mulher, como tal é um dos agentes que perpetua estas
desigualdades.
O relatório do PNUD (2001) indica que a discriminação de género, que afecta
as mulheres em Moçambique, constitui um dos factores causadores dos
elevados índices de pobreza absoluta.Tais índices reflectem-se na desigualdade
do acesso aos recursos, e neste caso especifico, à saúde e educação.
De acordo com a mesma fonte, em Moçambique, este facto reflecte-se na
discriminação de mulheres e raparigas das camadas sociais mais vulneráveis,
comparativamente aos rapazes, e nas poucas oportunidades que estas têm
para exprimirem suas opiniões e participarem na tomada de decisão, e nos
baixos níveis de educação atingidos, na condição fraca de saúde e alimentação.
Portanto, a resolução de questões de desigualdade de género significa assumir
uma posição relevante no combate à pobreza absoluta.
De acordo com as estatísticas, a população feminina representa mais de metade
da população de Moçambique e grande parte dela encontra-se a viver no
meio rural e suburbano, de tal modo que, maioritariamente, está enquadrada
na agricultura de subsistência e no sector informal da economia. Segundo
Valá(1997), a mulher participa no processo de desenvolvimento nas suas
diversas formas, mas a sua contribuição é sub-avaliada e inadequadamente
reconhecida. Factores sócio - económicos e culturais engendraram uma
situação em que a maior parte dos esforços de desenvolvimento tendem a
ignorar o potencial da contribuição económica e social da Mulher e, por
conseguinte, falharam na mobilização e aproveitamento dos benefícios do
recurso humano vital que constituem.
As questões de género revelam-se cada vez mais pertinentes e muito actuais,
depois dos compromissos assumidos na IV conferência sobre a mulher realizada
em Beijing em 1995. Ademais, o Acordo Geral de Paz assinado em 1992 entre
o Governo Moçambicano e a Resistência Nacional de Moçambique
(RENAMO), bem como a introdução de uma Democracia Multipartidária e o
lançamento dos programas de reajustamento económico e estrutural iniciados
em 1987, impõem um repensar sobre a integração da mulher no processo de
desenvolvimento para se lograr o progresso sócio-económico desejável.
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Linhas gerais do PARPA


O PARPA define como condições fundamentais para a erradicação da pobreza
absoluta o crescimento económico e o aumento do investimento para o
desenvolvimento do “capital humano”.
Para o efeito, são identificados alguns sectores estratégicos onde, as acções
devem incidir na erradicação da pobreza , sendo de destacar os seguintes
sectores:

A. Educação;
B. Saúde;
C. Agricultura
D. Emprego
E. Obras públicas
F. Assistência Social
G. Estatuto da Mulher (PARPA 2000:16-17).

É neste sentido que o Governo Moçambicano, para reduzir as desigualdades


de género, lançou algumas políticas de género no âmbito da educação e saúde.
Além disso, no seu esforço de luta contra a pobreza absoluta, aprovou em
Abril de 1999 as “Linhas de Acção para a Erradicação da pobreza absoluta”
(GMD:1999) e, em colaboração com a sociedade civil moçambicana, o Governo
elaborou e aprovou um “Plano de Acção para a Redução da Pobreza Absoluta
(PARPA) para o quinquénio 2000 – 2004.
A seguir apresentam-se alguns traços gerais deste plano com especial enfoque
à saúde e educação.

A discriminação de género que afecta as mulheres em Moçambique constitui


um dos factores causadores de elevados índices de pobreza absoluta.Tais
índices reflectem-se no acesso aos recursos, neste caso no acesso à saúde e
à educação.
De forma geral, a sociedade ainda não reconhece o potencial da mulher no
processo de desenvolvimento, e por conseguinte falha na mobilização e
aproveitamento dos benefícios do recurso humano feminino.
As questões de género revelam-se cada vez mais pertinentes e actuais de
tal modo que, urge a integração da abordagem de género no processo de
desenvolvimento.
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Género e Desenvolvimento

Estas acções, para além de representarem uma directriz para a erradicação da


pobreza absoluta, constituem um passo significativo em direcção à erradicação
da pobreza absoluta feminina. Então, coloca-se a seguinte questão - Como é
que esta estratégia é operacionalizada ao nível de cada sector?
Para o presente quinquénio a meta principal do Governo ao nível do sector
da educação consiste numa progressão rápida rumo à escolarização primária
universal, com particular ênfase no aumento dos ingressos da rapariga. Para o
combate à pobreza absoluta na área da educação definem-se como prioridades
a melhoria do acesso à oportunidades de educação básica, especialmente nas
zonas rurais, tomando em consideração a redução das disparidades de género,
tanto no ingresso como no acesso escolar (PARPA 2000:30).
Na área da saúde o objectivo é de continuar a promover e melhorar a prestação
dos cuidados de saúde de boa qualidade e sustentáveis à população, com
particular ênfase na redução da taxa de mortalidade materna e cobrir cerca de
90% das mulheres na consulta pré-natal, com identificação eficaz de casos de
alto-risco obstétrico (PARPA 2000:37).
O documento acrescenta também a necessidade de melhorar a capacidade
técnica e institucional em matérias de monitoria e avaliação,e análise e pesquisa
na área da pobreza para o melhor conhecimento do fenómeno e selecção de
estratégias adequadas para o seu combate (GMD:1999), entre outras
necessidades.
Além disso, o documento das linhas de acção do PARPA sublinha a necessidade
de se concentrarem esforços no combate à pobreza absoluta nas zonas rurais
e onde vivem mais pessoas em situação de pobreza absoluta. Nestas zonas
considera-se grupos alvos prioritários os seguintes:
“Agregados familiares com elevado número de dependentes”.
“Agregados familiares com uma só fonte de rendimento, (...) de agricultura de
subsistência.
“Agregados chefiados por mulheres, especialmente viúvas, divorciadas, e mães
solteiras”.
“Agregados chefiados por pessoas sem nenhuma fonte de rendimento permanente,
(...) e que vivem de trabalho ocasional”(PARPA, 2000:17).
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Importa referir que o Plano de Acção peca na medida em que não indica
exactamente o que significa elevado número de dependentes. O Instituto
Nacional de Acção Social (INAS), com vista a operacionalizar este objectivo,
concentra a sua acção nas mulheres chefes de agregados familiares com mais
de cinco crianças, o que de acordo com Quive (2000), incentiva, por um lado,
o aumento de nascimentos por parte de algumas mulheres chefes de agregados
familiares para a obtenção de mais apoio directo do Estado, o que na verdade
nem chega a acontecer.
Por outro lado, se os agregados familiares com somente uma fonte de
rendimento se beneficiassem, grande parte da população moçambicana estaria
a obter o apoio social do Estado, o que não é verdade. O certo é que esta
mulher deve estar associada a vários riscos sociais, como desemprego, situação
de pobreza absoluta, entre outros. Como se pode notar, o PARPA ainda não é
muito objectivo nos seus propósitos. Outra questão que se pode colocar é o
seu carácter vinculativo, particularmente, quando se trata da sua implementação.

Antes de apresentarmos os resultado empíricos, importa-nos referir às políticas


sectoriais de Educação e Saúde, especificamente, no que diz respeito à
integração do Género, como forma de reduzir as assimetrias de género, bem
como a redução da pobreza absoluta, que é acompanhada da discriminação da
mulher em muitos domínios da vida económica, social e política.

O PARPA identifica áreas prioritárias de acção dentre as quais os sectores


de educação e saúde onde, de um lado, pretende-se melhorar o acesso da
rapariga à educação e a expansão do ensino primário para as zonas rurais,
e de outro, preconiza-se o acesso aos serviços de saúde com vista a reduzir
a taxa de mortalidade materna intra-hospitalar e a cobertura de partos
institucionais, além da educação sexual reprodutiva.
Ainda existe um fosso entre os declarados objectivos do PARPA e a sua
operacionalização prática.
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Género e Desenvolvimento

Situação da Mulher em Moçambique


Moçambique pode ser considerado com orgulho como um dos países
defensores da igualdade de género. Desde os primórdios da luta nacionalista
que culminou com a independência do pais em 1975, a luta pela emancipação
da mulher e eliminação das desigualdades entre homens e mulheres tem sido
uma constante nas agendas políticas do país (PNUD,2001:4).
Um dado factual, é o nível relativamente alto da presença de mulheres no
processo de tomada de decisões ao mais alto nível, nomeadamente, no
parlamento em Moçambique, em comparação com os demais países Africanos
da zona Austral.
A primeira constituição da República Popular de Moçambique elaborada em
1975 dá corpo a igualdade perante à lei, prescrevendo os princípios reguladores
dos direitos, dos deveres e das relações entre homens e mulheres. Este princípio
foi retomado e consolidado na constituição de 1990, mais concretamente no
artigo 67 que estipula que o homem e a mulher são iguais perante a lei em
todos os domínios da vida política, económica, social e cultural
(PNUD,2001:35).
A participação feminina nos primeiros anos da independência alargou-se à
todos os espaços da intervenção social tendo-se consubstanciado em:
• Alfabetização de centenas de milhares de mulheres;
• Acesso à escola à maioria das crianças;
• A primeira mulher ministra é nomeada em 1976;
• 10% dos membros da assembleia popular constituída em 1979 eram
mulheres;
• As práticas tradicionais, como o lobolo e a poligamia são desencorajadas
ao nível do discurso político (Idem).

Não obstante os avanços registados nos esforços na luta pela emancipação e


eliminação das desigualdades entre homens e mulheres através da promoção
dos direitos humanos das mulheres, ainda persistem algumas hesitações
impregnadas nas construções sociais assentes na dominação masculina e que
tendem a colocar a mulher numa situação desprivilegiada,especificamente,
continua a ser baixa a percentagem de mulheres que ocupam cargos políticos
e públicos, de domínio de direcção e chefia.
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A mulher enfrenta ainda alguns obstáculos que inviabilizam o pleno exercício


de seus direitos, sendo de destacar os seguintes: a família, a baixa escolaridade,
as tradições, a inexistência de uma política e uma prática consistente que
incentive as mulheres a assumirem cargos de chefia (ver anexo 3).

Do ponto de vista económico, a situação das mulheres se agrava. Os


despedimentos nas empresas estatais, e o alto custo da vida, empurram
violentamente a mulher para o mercado informal, sem que expectativas sociais
relativamente ao seu papel e a sua função sejam alterados.A preponderância
feminina no sector informal surge como alternativa de sobrevivência, mas o
seu rendimento é repartido segundo a hierarquia familiar começando pelo
chefe da família que é o homem (Machaieie,1997:63).

A prevalência da mulher no sector informal emerge da sua exclusão do sec-


tor formal devido ao fraco nível de escolarização e da discriminação ao nível
do sector público. Todavia, estas estratégias de sobrevivência afectam as
raparigas que optam pela desistência escolar em favor de ajuda às suas
respectivas mães (Machaieie,1997:30-34).

Em suma, apesar dos progressos feitos desde a independência até à data,


no sentido de integrar a mulher no processo de desenvolvimento, e de
elevar o seu estatuto social, pode-se depreender que ainda prevalecem as
assimetrias de género em Moçambique
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Género e Desenvolvimento

Género e Saúde
De acordo com os dados recolhidos, a abordagem de género no sector da
saúde, é algo recente. A “Abordagem Sectorial Ampla” (SWAP), e o “Plano
Estratégico do Sector da Saúde” (PESS), constituem os instrumentos essenciais
para a integração de uma perspectiva mais ampla e integrada do género nos
programas de saúde.
A conferência Internacional sobre a população e desenvolvimento realizada
no Cairo em 1994, e a conferência Internacional da Mulher realizada em
Beijing, recomendaram aos governos do mundo inteiro a elaboração de
políticas mais abrangentes, acentuando a sua acção, no sector da saúde da
mulher, pois, a ruptura com a concepção de planeamento familiar limitado
somente ao controlo da natalidade já não era suficiente para fazer face aos
desafios da actualidade.
A definição de saúde reprodutiva como “um estado geral de bem estar físico,
mental e social, não apenas mera ausência de doenças, em todos os aspectos
relacionados com o sistema produtivo e suas funções e processos”1, constituiu
um passo decisivo para a adopção dos princípios já definidos pela Organização
Mundial da Saúde (OMS) em 1992. A capacidade para reproduzir, a gravidez
segura, a regulação da fecundidade, e a vida sexual livre de coerção, passam a
orientar,principalmente, a partir do final da década de 90,uma nova abordagem
de saúde reprodutiva, contemplada nas políticas de saúde de muitos países,
dentre os quais Moçambique.
Nesta perspectiva, muitos dos programas de saúde reprodutiva passam a
discutir a responsabilidade masculina na saúde reprodutiva, sexual, e na
fertilidade; começam também a dar atenção particular aos jovens e
adolescentes e, incentiva-se a promoção dos direitos sexuais e reprodutivos
da mulher, divulgando-se a livre escolha da reprodução e das decisões sexuais,
bem como o combate à violência doméstica.
Uma outra questão importante que tem merecido mais atenção especial pelas
autoridades sanitárias, é a questão do aborto, entendido como um problema
de saúde pública, onde podem ser considerados os factores de ordem social
cultural, bem como económica, que pode intervir positiva ou negativamente
na prevenção da gravidez precoce e indesejada, assim como no tratamento
do HIV/SIDA ao nível da mulher.

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Análise e elaboração das estratégias de integração da perspectiva de género no SWAP(Abordagem Sectorial Ampla) e nos
programas seleccionados
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A vulnerabilidade da mulher ao HIV/SIDA, não é apenas do ponto de vista


biológico, mas fundamentalmente do ponto de vista sócio-cultural, pois as
percepções sociais da reprodução e da sexualidade feminina são orientadas
em função da contínua subalternidade da mulher perante o homem. Como
exemplo, pode-se indicar a incapacidade da mulher, independentemente do
seu estatuto social, e grau de escolarização, de negociar com o seu parceiro
a utilização ou não do preservativo e, ainda, o conjunto de mitos ligados a
sexualidade masculina e ao exercicio do “Poder” do homem, que conduz às
situações de legitimação da violação sexual, principalmente no seio dos pares/
casais.

Como se pode depreender, a questão do género tem a ver com a situação


sociocultural bem como estratégia do sector da saúde. Muitos programas de
saúde passaram a discutir a responsabilidade de ambos os parceiros na saúde
reprodutiva, sexual, e na fertilidade; começaram também a prestar atenção
particular aos jovens e adolescentes, e incentiva-se a promoção dos direitos
sexuais e reprodutivos da mulher, divulga-se a livre escolha da reprodução e
das decisões sexuais, bem como o combate à violência doméstica.
Uma outra questão importante que tem merecido atenção especial pelas
autoridades sanitárias é a do aborto, entendido como um problema de saúde
pública, onde podem ser considerados os factores de ordem social, cultural,
bem como económica, que pode intervir positiva ou negativamente na
prevenção da gravidez precoce e indesejada, assim como no tratamento do
HIV/SIDA ao nível da mulher.
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Género e Desenvolvimento

Estratégias de género nos planos e programas


do sector da saúde
O Plano Económico e Social (PES) do sector da saúde apresenta os seguintes
objectivos estratégicos:
• Aumentar a disponibilidade dos serviços de saúde;
• Melhorar a qualidade dos serviços prestados;
• Formar e colocar pessoal de saúde;
• Melhorar a gestão e os serviços de apoio ( PES, 2001:45).
O grupo alvo do PES são as populações de risco acrescido, particularmente
mulheres e crianças, que vivem abaixo da linha da pobreza (Idem). De acordo
com as actividades propostas e, no que se refere ao aumento do acesso aos
serviços de saúde e melhoria do atendimento à mulher, as acções com vista a
cumprir os objectivos estratégicos são desenvolvidos, fundamentalmente
através do Programa Nacional Integrado (designado a partir de 2000 por
Programa Nacional Integrado de Saúde e Comunidade), especificamente na
sua componente materna, materno-infantil, saúde escolar ou do adolescente.
A redução dos níveis de morbilidade e mortalidade, prevenção e combate de
doenças endémicas, constituem as prioridades definidas para o sector da saúde.
Os meios privilegiados são a“prestação de cuidados de saúde,o fortalecimento
dos indivíduos e da comunidade, bem como a advocacia para a
saúde”(PESS:2001).
A abordagem de género neste documento faz-se a dois níveis, um estratégico
(atenção particular dada aos desequilíbrios e a integração e coordenação
sectorial), assim como outro tipo de intervenção directa em programas
específicos. No que respeita aos cuidados de saúde, o PESS define como política,
o “reforço da perspectiva de género em todos os programas de saúde , a
monitoria e avaliação de dados sobre género, a divulgação e promoção dos
direitos sexuais e reprodutivos da mulher. Para 2001 foram definidas como
actividades prioritárias a “adopção de políticas e estratégias, a definição de
indicadores, formação, pesquisa e divulgação, bem como a promoção dos
direitos à saúde da mulher” (Idem).
Tanto o plano Económico e Social como o plano Estratégico para o Sector
Saúde, consideram o envolvimento comunitário como fundamental na
estratégia de fazer da saúde sexual reprodutiva, um problema de saúde pública.
A perspectiva integradora da saúde da mulher já expressa em alguns programas
do MISAU (atendimento integrado: planeamento familiar , doenças sexuais e
cuidados ginecológicos em geral) são sinais de uma mudança efectiva na
abordagem do género.
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Depois desta breve descrição das políticas do sector da saúde, importa registar
alguns indicadores que constituem instrumentos de mensuração da
implementação das mesmas.Assim, podemos deduzir os seguintes indicadores:
Número de consultas pré-natais, número de partos institucionais, cobertura
dos programas de vacinação, melhoramento das taxas de baixo peso à nascença,
bem como os índices de seroprevalência .

O Plano Económico e Social (PES) do sector da saúde apresenta os seguintes


objectivos estratégicos:
• Expandir a rede dos serviços de saúde;
• Melhorar a qualidade dos serviços prestados;
• Aumentar a qualidade e a quantidade de pessoal ao serviço da saúde;
• Melhorar a gestão e os serviços de apoio.

Género e Educação
O acesso à educação formal constitui um dos direitos fundamentais de cada
cidadão moçambicano, de acordo com a Constituição da República, e é um
dos instrumentos principais no combate à pobreza absoluta e redução das
assimetrias de género. Constitui ainda um meio importante para o processo
da integração social e sócio profissional dos diferentes extractos sociais.
Através do acesso a educação, observa-se um processo de acumulação de
capital humano2, que mais tarde poderá ser usado para a aquisição ou acesso
à outros bens e serviços. Isto significa que as pessoas que tenham acumulado
este capital podem servir-se dele como indivíduos mas, a sociedade também
como um todo.
No nosso país o acesso à educação conheceu diversos momentos, se quisermos
considerar o tempo colonial em que os moçambicanos naturais não tinham
acesso à educação, passando pelo período pós-independência caracterizado
por políticas massificadoras de educação, mas sem a rede escolar devida, até
aos actuais momentos em que a rede está se expandindo cada vez mais para
os meios rurais, com o acesso ainda limitado para as crianças, particularmente
para as raparigas provenientes de famílias económica e socialmente
vulneráveis.
Importa referir que, neste período, todo o processo de integração da rapariga
à educação nos diferentes níveis, é ainda muito lento por diversas razões,
entre outras cita-se as de ordem económica, social e cultural.

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J. S. Coleman (1999) Este capital é igual ao capital financeiro que para a sua acumulação leva-se um certo
tempo.
○ ○ ○ ○

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○ ○ ○ ○ ○
Género e Desenvolvimento

Estratégias de género nos planos e programas


do sector da educação
A Política Nacional de Educação e Estratégias de sua Implementação (1995),
definem objectivos fundamentais do Governo para o sector da educação, sendo
de destacar, entre outros, os seguintes:
• Promover a igualdade de oportunidades de acesso à todos os níveis de
ensino, expandindo a rede das respectivas instituições e, proporcionando
meios financeiros e materiais para assistência aos cidadãos oriundos de
famílias de recursos económicos escassos;
• Promover a maior participação da mulher nos vários tipos e níveis de
ensino por meio de mecanismos de incentivo curricular e material;
• Integrar no sistema de ensino crianças em idade escolar e em situação
difícil, designadamente os órfãos e abandonados de guerra, crianças
traumatizadas pela guerra e crianças de desenvolvimento anormal;
• Apoiar às iniciativas de grupos ou associações, confissões religiosas,
entidades privadas e outras forças sociais que prossigam objectivos de
expansão da rede de instituições de qualquer nível e tipo de ensino;
• Reforçar a expansão da rede escolar através do ensino a distância orientado
numa primeira fase para a formação de professores, e posteriormente para
o ensino, encorajando e incentivando as iniciativas de particulares neste
domínio;
• Aumentar o financiamento ao sector;
• Aumentar o acesso e acessibilidade, focalizando as disparidades do género
entre as províncias e dentro destas, e entre as zonas urbanas e rurais;
• Aumentar o acesso através da redução das taxas de repetência, abandono
e da melhoria das condições sócio-educativas da aprendizagem;
• Criar, progressivamente, condições nas escolas primárias incompletas para
leccionarem as 5ª. classes do EP1, tornando-as assim completas de 5ªs
classes;
• Conceder a assistência financeira às crianças provenientes das famílias de
baixo rendimento, especialmente às raparigas, através do sistema da caixa
escolar;
• Encorajar a utilização dos meios de comunicação social tais como a televisão,
o vídeo, a rádio, para aumentar o acesso ao ensino, etc.
○ ○ ○ ○

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○ ○ ○ ○ ○
Grupo Moçambicano da Divida

Um outro aspecto enfatizado pela Política Nacional de Educação é a Promoção


do Acesso da Rapariga, pelo facto de o Governo ter detectado que, nas classes
iniciais do EP1 não há diferenças significativas entre a participação de raparigas
e rapazes, porém, nas classes finais do mesmo nível de ensino e na transição
para o EP2, a percentagem das raparigas tende a baixar.
Com vista a promover a igualdade e equidade de oportunidades no acesso da
rapariga à educação, o sector da educação considera importantes as seguintes
medidas:

• A Criação de um ambiente escolar sensível ao género, através da


identificação e definição das modalidades de organização do processo
educativo e de mudanças nos programas de formação de professores;

• O Desenvolvimento da Carta Escolar Distrital para a estimação das


necessidades da educação a nível local e determinação óptima da
localização dos estabelecimentos de ensino;

• A Sensibilização da Sociedade para a redução da carga de trabalho


doméstico das raparigas, providenciando o acesso à água e a diminuição
dos gastos em combustível lenhoso através da utilização de fogões
melhorados;

• A Promoção de sistemas alternativos de atendimento à educação da


rapariga, como seja a organização de programas de educação não formal
(ENF);

• O Estabelecimento de acordos com ONG’s, confissões religiosas e


outros parceiros, para envolvimento destas na execução de programas
de educação da rapariga;

• O Aumento do número de professores, recrutando-os nas respectivas


comunidades, e melhorando as condições de vida e de estudo nos centros
de formação;
• A Concessão de apoio financeiro para a compra do material escolar.
○ ○ ○ ○

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15
○ ○ ○ ○ ○
Género e Desenvolvimento

Refira-se que a política do sector da educação enquadra-se no Plano de Acção


de Combate à Pobreza Absoluta, integrando um conjunto de directrizes que
têm em vista promover a igualdade de género, com especial enfoque a mulher
que, como se sabe, se encontra em situação de desvantagem. Desta política
destacam-se os seguintes indicadores para a sua mensuração: Taxa bruta de
Escolarização da mulher,taxa bruta de admissão de raparigas nas escolas,número
de escolas no meio rural e suburbano, número de alunos, percentagem de
graduados de EPI, relação aluno/ professor.

De acordo com a Política Nacional de Educação e Estratégias de


Implementação (1995), alguns dos objectivos fundamentais do Governo para
o sector da educação são:
• Promover a igualdade de oportunidades de acesso a todos os níveis de
ensino, expandindo a rede das respectivas instituições e, proporcionando
meios financeiros e materiais para assistência aos cidadãos oriundos de
famílias de recursos económicos escassos;
• Promover maior participação da mulher nos vários tipos e níveis de ensino
por meio de mecanismos de incentivo curricular e material;
• Integrar no sistema de ensino crianças em idade escolar e em situação
difícil, designadamente os órfãos e abandonados de guerra, crianças
traumatizadas pela guerra e crianças de desenvolvimento anormal;
• Reforçar a expansão da rede escolar através do ensino à distância
orientado numa primeira fase para a formação de professores, e
posteriormente para o ensino;
• Aumentar o acesso e acessibilidade, focalizando as disparidades do género
entre as províncias e, dentro destas, entre as zonas urbanas e rurais.
○ ○ ○ ○

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○ ○ ○ ○ ○
Grupo Moçambicano da Divida

O Orçamento do Estado
O Orçamento do Estado, em termos de gastos para o sector da Educação e da
Saúde, tem vindo a aumentar.Tal facto reflecte a preocupação do Governo no
investimento em capital humano para o desenvolvimento do país. Os dados
do Orçamento do Estado para os anos de 2002 e 2003 indicam o seguinte:

Alguns dados dos Orçamento do Estado para o Sector da Educação (2002 e


2003 3)
Itens Ano de 2002 ( mil contos) Ano de 2003 ( mil contos)
Serviços de ensino primário 353.774.75 242.343.58

Ampliação da rede escolar 36.719.66 37.093.80

Serviços de ensino secundário 418.606.59 99.070.90

Serviços de ensino técnico -


_________ 99.070.90
profissional
Serviços de formação de ___________
professores 10.453.59
Carteira escolar 1.800.00 3.718.30

Acesso da rapariga ao ensino 1.000.00 ___________

Fonte: Ministério do Plano e Finanças

Fazendo uma breve análise dos gastos do governo nas áreas da saúde e da
educação entre os anos de 2002 e 2003, constata-se que este tem registado
alguma oscilação. Na área da educação houve uma diminuição de orçamento
em todos itens, nomeadamente nos serviços de ensino primário, no programa
de ampliação da rede escolar, no serviço de ensino secundário. Constata-se
ainda que, no ano de 2003 alguns programas deixaram de fazer parte dos
beneficiários do orçamento, é o caso do programa de formação de professores,
do programa do acesso da rapariga ao ensino,e do programa da carteira escolar.
Em contrapartida passou a constar da lista dos beneficiários, o serviço técnico
- profissional . Partindo do princípio que o Estado aloca os recursos financeiros
segundo as suas necessidades prioritárias, e segundo as demandas do contexto
social, chega-se à conclusão de que o ensino da rapariga não figura da lista das
principais prioridades do governo no ano de 2003. Constata-se também que
estes programas (programa da carteira escolar e o acesso da rapariga ao ensino)
têm sido financiados única e exclusivamente pelo Orçamento do Estado.
Contudo esta constatação não tira o mérito de algumas ONG’s que actuam
afincadamente na concepção de programas que priorizam o acesso da rapariga
ao ensino.
3
Os valores apresentados são constituídos pela contribuição directa do estado Moçambicano e parceiros externos.
○ ○ ○ ○

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Género e Desenvolvimento

Alguns dados do Orçamento do Estado para o sector da Saúde (2002 e 20034)

Itens Ano de 2002 ( mil contos) Ano de 2003 ( mil contos)


Hospitais e serviços 329.281.73 369.405.98
hospitalares
Serviços de saúde pública 591.998.30 503.378.44

Fortalecimento do Programa
79.387.10 112.219.42
Nacional de Saúde Reprodutiva

Fonte: Ministério do Plano e Finanças.

Na área da saúde, registou-se um aumento orçamental nas áreas dos Hospitais


e serviços hospitalares, e no fortalecimento do programa de saúde reprodutiva.
Em contrapartida registou-se um ligeiro decréscimo na área da saúde pública.
Podemos considerar que no geral, o sector da saúde registou um aumento do
“budjet” orçamental. Neste caso há que destacar o apoio dos demais parceiros
do MISAU, sendo de destacar, o PNUD, a OMS.
O financiamento das actividades não depende apenas do Orçamento do Estado,
ou financiamentos internos; o financiamento externo contribui também com
mais capital. Isto dá-nos a impressão de que o nível de parceria entre os
ministérios e os respectivos parceiros deve ser incentivado continuamente,
o que faz aumentar o grau de confiança na disponibilização de recursos
financeiros necessários para investir nos vários programas que estes sectores
desenvolvem.

De salientar que o aumento do “budget” poderá reflectir o financiamento dos


programas desenvolvidos pelos diferentes sectores na área do género. Um
exemplo elucidativo, no sector da saúde sente-se o fortalecimento do Programa
Nacional de Saúde Reprodutiva.

Depois de uma análise da política de educação e da saúde, concluímos que


estas políticas são recentes e enquadram-se no debate internacional sobre a
redução da desigualdade de género, melhor integração da mulher no processo
de desenvolvimento e reforço de mecanismos de integração sociocultural e
política da mulher.

4
Os valores apresentados são constituídos pela contribuais directa do estado Moçambicano e parceiros externos
○ ○ ○ ○

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Grupo Moçambicano da Divida

As políticas sectoriais da educação e saúde enquadram-se no plano de acção


para o combate à pobreza absoluta. A reforma curricular em curso no sector
da educação visa, essencialmente, preparar o cidadão e dotá-lo de instrumento
potencialmente mais forte para reduzir os níveis da pobreza. Porém, estas
políticas sectoriais, da saúde e educação, não se assentam num quadro geral
vinculativo, em virtude da inexistência de uma política nacional de género, a
partir da qual os sectores definiriam as suas políticas, por um lado e, por outro,
não existem mecanismos de controlo da implementação das políticas sectoriais
de género.

Os planos de acção para a redução das assimetrias de género enfrentam sérios


constrangimentos de ordem financeira. Concorre para esta situação o facto
de que a política de género encontra-se ainda no nível de discurso político do
que na prática, não obstante a aprovação do PARPA e respectivos indicadores
de desempenho. Enfatizando esta constatação, menciona-se a ausência de
explicitação das formas de financiamento e dos montantes necessários para a
implementação dos diversos programas.
○ ○ ○ ○

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○ ○ ○ ○ ○
Género e Desenvolvimento

Levantamento de dados
Conforme foi mencionado nas páginas anteriores, o estudo envolve uma
componente teórica e outra empírica que, consistiu, essencialmente, no
levantamento de dados em diferentes instituições públicas e da sociedade
civil. A pesquisa centrou-se em algumas instituições do Governo responsáveis
pelos sectores de Educação, Saúde e Mulher, nomeadamente, o Ministério do
Ensino Superior Ciência e Tecnologia (MESCT), o Ministério de Educação
(MINED), o Ministério da Saúde (MISAU), o Ministério da Mulher e
Coordenação da Acção Social (MMCAS), o Ministério do Trabalho e o
Ministério do Plano e Finanças.
Para além das instituições do Governo, foram abrangidas diferentes
Organizações Não Governamentais (ONG´s) nacionais e estrangeiras que
operam no país nos domínos de saúde,educação e mulher, tendo sido cobertas
17 instituições, como se ilustra no anexo 2.
O estudo focalizou questões relativas a priorização das relações de Género
ao nível das instituições, o grau de conhecimento das políticas de género ao
nível dos sectores de educação e saúde e, se estas instituições actuam na base
das mesmas políticas.
Para além disso, foi importante explorar se estas instituições interagem entre
si nas suas actividades, atendendo e considerando que têm o mesmo objectivo,
que é reduzir os desequilíbrios de género. Para o efeito, elaborou-se um guião
de entrevista, o qual se encontra no anexo 1. A pesquisa privilegiou entrevistas
com pessoas chaves nas respectivas instituições. Foram contactadas 17
instituições, dentre as quais seis (6) pertencentes às instituições do Governo
e as restantes à sociedade civil. Devido a várias razões, principalmente de
natureza logística, o estudo cingiu-se apenas à Cidade de Maputo.
As páginas que se seguem apresentam os aspectos essenciais do estudo e
fazem a abordagem das considerações finais e algumas recomendações.
○ ○ ○ ○

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○ ○ ○ ○ ○
Grupo Moçambicano da Divida

Resultados
Para obtermos um conhecimento mais aprofundado sobre a implementação
das políticas acima referidas começamos por questionar o grau de
conhecimento que as instituições da sociedade civil têm em relação as políticas
e como é que as mesmas são implementadas. Importa referir que a integração
da componente de género nos sectores acima referidos, de acordo com os
dados disponíveis, acentuou-se após a assinatura do programa de acção na
conferência Internacional de População e Desenvolvimento realizada em Cairo
em 1994 e a Declaração de Beijing em 1995, onde uma das recomendações
fundamentais, foi a integração da perspectiva de género em cada sector.
O estudo mostra que os sectores da educação e saúde integram a componente
de género, apesar de ela ser ainda recente e com início nos finais da década
noventa. Isto vem coincidir com o fim da guerra civil em Moçambique, com a
introdução do multipartidarismo,e integração do país no sistema global, através
da introdução dos programas de reajustamento económico e social.
A outra questão foi a análise do nível de coordenação entre os programas
traçados pelo Governo na área de género e a sua implementação ao nível das
ONG’s. Constatou-se que na área da saúde as políticas existentes são de
conhecimento das ONG’s, particularmente as que trabalham nesta área,
trabalhando em estreita coordenação com o MISAU . A participação das ONG’s
é feita de diversas maneiras como, por exemplo, através da realização de
seminários conjuntos, parceria em projectos e reuniões do Conselho Nacional
de Saúde,destacando-se aqui a participação activa da Associação Moçambicana
de Saúde Pública (AMOSAPU).
Para além disso, as ONG’s participam na definição das políticas do sector da
saúde como, por exemplo, na definição da política sobre a medicina tradicional.
A participação das ONG’s tem sido importante para que elas também se
identifiquem com as políticas deste sector. As ONG’s são detentoras de um
manancial de questões específicas deste sector,dado que muitas delas trabalham
ao nível das comunidades, tanto na saúde preventiva, como na medicina
curativa.
O estudo também permitiu apurar que grande parte do orçamento do sector
da saúde tem sido usado para a implementação de diferentes programas do
sector, incluindo a extensão da rede sanitária para o meio rural, onde vivem as
○ ○ ○ ○

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○ ○ ○ ○ ○
Género e Desenvolvimento

populações mais vulneráveis, incluindo a mulher e a criança. O financiamento


das actividades é garantido por doações dos parceiros internacionais e pelo
Orçamento do Estado.
Quanto ao sector da educação, importa referir que existem programas que
estabelecem directrizes e metas que devem ser cumpridas para o reforço da
equidade de género no país. Estas directrizes estão estabelecidas na Política
Nacional da Educação, traçada em 1995/1999.
As ONG’s que trabalham nesta área, actuando em coordenação com os
programas deste sector, notam a ausência de uma Política Nacional do género,
isto é , uma política única e exclusivamente direccionada ao género que iria
facilitar a elaboração e operacionalização de planos, programas e projectos
na área do género.
Em Moçambique não existe uma política de género endógena resultante de
um processo participativo e de emancipação da mulher; pelo contrário os
sectores ora referidos orientam- se em programas exógenos de
desenvolvimento traçados, geralmente, por agências especializadas da
Organização das Nações Unidas.
Citar-se, como exemplo, a preciosa colaboração e participação da UNESCO,
UNICEF, OMS e PNUD na elaboração e implementação de políticas tendentes
à promoção do género no sector da educação.

Outra questão foi saber se as ONG’s priorizam a abordagem do género nas


suas actividades quotidianas. Em resposta ,afirmaram que priorizam a promoção
dos direitos da criança, o fortalecimento da sociedade civil e a promoção da
igualdade de género; versam um apoio especial à mulher uma vez que esta se
encontra em situação de desigualdade perante o homem.
A nível dos ministérios cobertos pela pesquisa, existem programas e
mecanismos institucionais para a promoção e elevação do estatuto da mulher
através de grupos operativos para o avanço da mulher. Estas unidades,
concorrem não só para a protecção da mulher, mas também para a elevação
do seu estatuto em termos de posições dentro das hierarquias dessas
instituições.
Naqueles ministérios, as posições mais altas, em geral, são ocupadas por
mulheres. Os programas em curso naqueles ministérios visam promover os
○ ○ ○ ○

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○ ○ ○ ○ ○
Grupo Moçambicano da Divida

direitos da mulher, através da sua consciencialização para mudança de atitude


e reforço da sua auto-estima. Este trabalho é feito através de palestras, cursos
de capacitação e mobilização a vários níveis.
Salienta-se que unidades de género têm trabalhado no sentido de criar espaço
próprio para que a mulher tenha maior acesso a benefícios e recursos, isto é,
a mecanismos que lhe garantam o acesso ao poder de influência e, de decisão
a vários níveis.
Resultados
A integração da componente de género em Moçambique registou o pico
após a conferência de Cairo sobre população e desenvolvimento realizada
em 1994 e a conferência de Beijing de 1995.
Este facto coincidiu com o fim da guerra civil, com a assinatura do acordo
geral de paz de 1992 e com a introdução do multipartidarismo em
Moçambique, bem como com a introdução do programa de reajustamento
económico e social que impõe a abertura e maior integração do país no
sistema global da economia.
Os sectores da saúde e da educação integram as unidades de género nas
suas respectivas estruturas.
Na área da saúde as políticas existentes são do conhecimento das ONG´s
e actuam de acordo com as mesmas, trabalhando em estreita ligação com o
MISAU, registando-se, por conseguinte, um maior nível de coordenação.
Os programas deste sector são maioritariamente financiados por agências
e organizações internacionais.
As ONG’s que trabalham na área de educação, apesar de actuarem em
coordenação com os programas do sector, sentem a ausência de uma Política
Nacional do Género, isto é, uma política única e exclusivamente
direccionada para a promoção de género. Pelo efeito, estas instituições
trabalham de acordo com políticas definidas pelas agências especializadas
da Organização das Nações Unidas.
A nível dos ministérios existem programas e mecanismos institucionais
para a promoção e elevação do estatuto da mulher.
No que concerne ao intercâmbio entre as unidades de género, existe uma
interacção considerável, principalmente na troca de informação e cursos
de capacitação e formação,sendo de destacar o FÓRUM MULHER e WLSA.
○ ○ ○ ○

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○ ○ ○ ○ ○
Género e Desenvolvimento

De acordo com a nossa entrevistada, o sector da educação, além da


sensibilização das famílias para que libertem as raparigas para irem a escola,
tem estado a trabalhar na imagem do livro escolar, isto é, procura produzir
uma boa imagem da rapariga para que ela tenha auto-estima, e reforce o
sentimento das suas capacidades e habilidades.
A nossa fonte disse ainda que, o sector da educação procura colocar mais
professoras a leccionar de modo a incentivar as raparigas a permanecerem
nas escolas. Isto visa fazer com que a rapariga tenha modelos de referência.
Para além disto, o ministério actua na área da advocacia com as comunidades.
A produção de materiais com muitas imagens femininas bem como o reforço
da mulher na área da docência, particularmente nos primeiros anos de
escolaridade poderá trazer grande contribuição para o aumento da auto-estima,
se esta medida for acompanhada de outras que visam desencorajar os
elementos culturais que podem impedir o sucesso tão desejado.
Entretanto, há uma constatação geral de que existem poucas professoras no
ensino médio-geral, técnico-profissional e superior, sendo extensivo também
para a área de gestão nestes níveis.

Ciente das suas responsabilidades, o sector da educação implementa uma série


de medidas tendentes à retenção e promoção da rapariga.Para elucidar, citam-
se alguns exemplos: a oferta de bolsas às raparigas, a prioridade na recepção
de material escolar, capacitação do corpo directivo das escolas em matéria do
género, reforço de medidas para a eficácia do funcionamento dos Conselhos
de Escola.

Outra questão importante que o sector da educação prioriza no processo da


integração do género é a prevenção e combate a pandemia do HIV/SIDA através
da criação dos núcleos de educação da rapariga. De acordo com a nossa
fonte, ao nível das províncias e distritos já existem unidades de género para a
educação da rapariga que acompanham o trabalho nas escolas. O MINED, em
coordenação com o Conselho Nacional de Combate ao Sida (CNCS) tem
desenvolvido programas de apoio aos professores e alunos, com especial
enfoque na área de género, pois nota-se que a rapariga tem fraca capacidade
de negociação do sexo e é vitima de abuso sexual não só por parte dos
professores, mas também por parte dos colegas do sexo oposto.
Esta pandemia pode impossibilitar a rapariga de frequentar a escola para ficar
em casa a cuidar dos doentes, dos irmãos órfãos de HIV/SIDA, ou a apoiar nas
lides domésticas e produtivas. Assim,o sector da Educação tem prestado muita
atenção neste aspecto como forma de mitigar os efeitos desta doença.
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Grupo Moçambicano da Divida

O contacto com as organizações evidencia as realizações do sector da


educação, porém levanta questões relacionadas com o acesso à educação para
as raparigas e crianças no geral, provenientes das famílias desfavorecidas
vivendo em situação de pobreza absoluta, isto é, as crianças provenientes das
famílias em situação de pobreza absoluta, não raras vezes não conseguem o
acesso às escolas por falta não só do dinheiro para as matrículas ou inscrição,
como pela incapacidade de pagamento de propinas e compra de uniforme
escolar. Aqui queremos recordar que a política social de Educação prevê a
caixa social escolar, mas que, devido a falta de conhecimento pela parte dos
encarregados de educação, e sobretudo ignorância dos professores, não tem
sido devidamente aplicado.
Ainda no sector da educação, destacam-se algumas actividades que são
implementadas pelas ONG’s como forma de integrar a componente do género
no processo de desenvolvimento, onde podemos destacar: a promoção da
educação da mulher,através de programas de alfabetização de adultos,formação
de activistas na área de género.
Quanto ao MISAU, o seu plano de actividades incide na coordenação e apoio
técnico de todas as actividades realizadas na área da saúde. No que toca ao
género, importa referir que o MISAU, através do apoio à várias instituições,
elaborou uma estratégia de género para o sector de saúde que é integrada
pelo SWAP.
Na área da saúde, o enfoque das ONG’s tem sido na saúde pública, em que se
priorizam os cuidados primários de saúde, particularmente nas zonas
suburbanas e rurais. Há que destacar, por um lado, a componente do HIV/
SIDA e, por outro, a saúde sexual reprodutiva e o planeamento familiar.
Nesta área, uma das formas de reforçar a abordagem de género é a definição
de grupos alvo prioritários, onde a mulher é considerada um grupo de risco
pela sua vulnerabilidade.
Aqui queremos dar enfoque, por exemplo, ao programa de combate ao HIV/
SIDA exclusivamente direccionado a mulher e o programa de transmissão
vertical do HIV/SIDA. Por outro lado, temos nas mulheres as negociadoras de
sexo, as prostitutas que, pela sua condição feminina, têm dificuldades na adopção
do sexo seguro através do uso do preservativo. Este programa, de acordo
com a nossa fonte, está sendo implementado em várias unidades sanitárias.
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○ ○ ○ ○ ○
Género e Desenvolvimento

Entretanto este programa ainda não abrange as zonas rurais. Para além dos
programas acima referidos, o sector da saúde encoraja as organizações da
sociedade civil a implantarem unidades para o aconselhamento e apoio
psicossocial para as mulheres, como exemplo pode-se citar a KULAYA, a
Associação das Mulheres Viúvas, entre outras.
O trabalho com a sociedade civil mostra que em Moçambique estão surgindo
organizações formais de mulheres para mulheres, isto é, organizações ligadas
à integração da mulher na sociedade, para que estas elevem o seu estatuto na
sociedade. De acordo com as ONG’s, isto é realizado através de cursos de
capacitação e sensibilização em género.
No geral, podemos considerar que os sectores da saúde e da educação, com o
apoio das organizações não governamentais, têm vindo a implementar as
políticas do género. Além disso, há alguma participação directa destas
organizações na definição das políticas. Mesmo assim entre a definição das
políticas e a sua implementação existe ainda um fosso enorme.
Neste estudo, também foi importante analisar se as instituições que operam
nestas áreas têm um intercâmbio entre si, onde, no geral, podemos concluir
que existe muito intercâmbio e divulgação de informações ligadas a questões
de género. Grande parte das ONG’s por nós contactadas mostrou
conhecimento profundo na área de género e algumas delas já começaram a
realizar actividades de pesquisa nesta área, é o caso da União Nacional dos
Camponeses (UNAC),que já efectuou um levantamento sobre as necessidades
em matéria de género, em alguns distritos do Norte do pais. Este tipo de
estudos, para além de fazer um levantamento de necessidades da mulher, serve
como meio de influência à entidades estatais que sustentam a formulação de
políticas, ou à definição de programas específicos para a mulher.
Existem ONG’s que trabalham muito com a mulher e sua integração política,
social e económica (MBEU, FÓRUM MULHER, FAWE) mas também existem
outras organizações que abrangem outras áreas , mas sem perder de vista a
componente de género (CONCERN, IBIS,UNAC, GAS, KULIMA,GOAL,
OXFAM,etc.).
Estas redes consubstanciam-se no apoio financeiro por parte de algumas
organizações doadoras, é o caso do Programa Conjunto de Advocacia das
Oxfam (OXFAM-JOAP), e em capacitação técnica, não apenas para formar
activistas da sociedade civil, mas também para os funcionários das organizações,
e troca de experiências, lobbies junto dos grupos parlamentares, etc.
Podemos citar como exemplo deste intercâmbio a participação da sociedade
civil na discussão sobre a nova lei da família que foi recentemente aprovada
pela Assembleia da República de Moçambique. Este intercâmbio,
○ ○ ○ ○

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Grupo Moçambicano da Divida

de acordo com as nossas fontes, conhece no mínimo dois níveis, sendo um


formal e outro informal, em que no nível formal são realizados encontros,
seminários, Workshops conjuntos, enquanto que ao nível informal
desenvolvem-se algumas actividades “na sombra”.
O Estado reconhece que a sociedade civil é indispensável para o
desenvolvimento do país. Contudo, de acordo com a nossa fonte, o apoio que
o Estado presta às ONG’s não é financeiro, mas sim técnico. O apoio financeiro
tem sido prestado por outras organizações, e agências internacionais de
desenvolvimento.

Antes de nos referirmos as considerações finais deste trabalho, importa


referir que, apesar de haver um esforço na definição de políticas de género
no sector de educação e saúde bem como a sua implementação parcial por
algumas organizações da sociedade civil, ainda persistem muitas formas de
discriminação do género.
Factores sócio-antropológicos e culturais que são produto da socialização
primária, onde a família e a mulher desempenham um papel preponderante
(a família é a célula básica da sociedade), transmite valores que se
reproduzem pela sociedade fora.

Outro factor que perpetua a discriminação da mulher tem a ver com a


submissão aos ritos de iniciação, que consistem na preparação da rapariga
para o lar, para onde muitas vezes a mesma é sujeita a casamentos indesejados
e prematuros, e uma vez casada perde oportunidade de ir a escola.
Outros ainda, são factores intrinsecamente ligados à própria escola, em que,
esta não consegue abstrair-se do meio cultural em que se encontra. Existem
experiências que mostram que alguns professores têm a tendência de
reproduzir o sistema, na medida em que, tratam a rapariga de forma diferente
em relação aos rapazes, reduzindo a sua auto-estima e subestimando o seu
papel no processo de desenvolvimento, limitando assim a sua participação na
escola. Essas atitudes são reforçadas pelas ilustrações dos livros escolares
primários, que tendem a colocar a mulher sempre em tarefas domésticas. Cita-
se como exemplo a ilustração dos livros da primeira classe.
Por outro lado, o papel social da mulher em Moçambique concorre para a
perpetuação da discriminação de género, na medida em que a mulher ao nível
da família é quem assume o papel de educar os filhos enquanto o pai se
preocupa pelo provimento e controle dos recursos para a sobrevivência da
família e pela definição das estratégias familiares.
○ ○ ○ ○

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○ ○ ○ ○ ○
Género e Desenvolvimento

Um factor importante que perpetua a discriminação da mulher está


intrinsecamente ligado aos altos índices de analfabetismo feminino, o que, de
certa forma, tem concorrido para a especialização da mulher em tarefas
domésticas.
Outro factor a considerar são os altos índices de pobreza absoluta que fazem
com que a lei do mais forte sobre o fraco se evidencie, para dizer que quando
se trata da definição de herança e propriedade, os indivíduos do género
masculino têm se reservado a este direito em detrimento do género feminino.
Outra forma de discriminação a que nos podemos referir está relacionada
com o acesso ao poder, que pode ser político, material, financeiro e social.
Quanto ao poder político pode-se dizer que com a ascendência a
independência nacional a mulher moçambicana melhorou substancialmente
o seu estatuto bem como o acesso aos órgãos decisórios deste país, como se
pode notar no quadro do anexo 3.
Entretanto, as experiências revelam que em Moçambique, nas trinta e três
autarquias recentemente criadas, apenas existe uma única mulher como
presidente do Conselho Municipal, a da Cidade de Xai-Xai. Na segunda
legislatura eleitoral, a presidente do Município de Manhiça foi substituída por
um homem do mesmo partido político, o que mostra que entre o discurso e a
prática há ainda um fosso muito grande, mesmo nos partidos políticos.
É importante referirmos que a recém criada União Africana define, nos seus
estatutos, que os órgãos de decisão devem ser ocupados em 50% por
mulheres, de tal modo que os cargos de comissários da União Africana são
ocupados tendo em conta a equidade de género, nesse caso 50% homens e
50% mulheres.
Quanto ao poder material (acesso aos recursos como gado, terra) e financeiro
pode-se referir ao fraco acesso ao emprego formal e remunerado, o que de
certa forma perpetua a pobreza absoluta feminina. As causas assemelham-se
às já mencionadas anteriormente.
○ ○ ○ ○

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Grupo Moçambicano da Divida

Considerações finais
Apesar do esforço das instituições governamentais e das ONG’s em realizarem
actividades que promovem a mulher no processo de desenvolvimento, podemos
considerar que estas ainda estão aquém do ideal. As ONG’s e as instituições
do Governo contactadas mostram que as desigualdades de género ainda
persistem, principalmente nas áreas rurais e peri-urbanas onde prevalecem,
de forma marcante, aspectos tradicionais da nossa cultura que contribuem
para a perpetuação das desigualdades de género e, por conseguinte, culminam
com a desintegração da mulher no processo de desenvolvimento.
As relações de género no nosso país, de acordo com o nosso estudo, tem
raízes profundas que remontam da tradição do povo moçambicano e que,
vem carregadas de valores, símbolos e estereótipos que influenciam
decisivamente a vida dos indivíduos. É por esta razão que estes aspectos de
género encontram grandes dificuldades em transcender do nível teórico ao
prático.
Estamos a falar concretamente, da situação em que as raparigas são impedidas
de ir a escola e passam a ser o reforço da capacidade familiar, são
sobrecarregadas em lides domésticas, o que afecta negativamente o seu
rendimento escolar. Tal facto acaba contribuindo para a discriminação da mulher,
que não tendo acesso ao rendimento, não tem acesso ao ensino e assistência
médica razoável.
Pode-se confirmar que os programas direccionados a alguns grupos alvos no
sector da saúde têm a sua devida implementação pelas organizações da
sociedade civil. É notória a falta de conhecimento generalizada sobre as formas
de implementação das políticas de género previstas nestes dois sectores. Não
são raras as vezes em que o uso do direito por parte dos cidadãos considerados
grupo alvo principal destas políticas confunde-se com favor.
○ ○ ○ ○

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Género e Desenvolvimento

Recomendações
Face aos problemas subjectivos e objectivos que obstam o normal
enquadramento dos programas de transformação e desenvolvimento do
género, o grupo recomenda a adopção de seguintes medidas:

• O Governo tem que criar mecanismos que promovam um desenvolvimento


económico e social equilibrado, para que a população em geral tenha acesso
a educação, saúde, e condições básicas de sobrevivência.
• As actividades a serem desenvolvidas pelo Governo em parceria com a
sociedade civil, devem dar mais ênfase à divulgação, à troca de informações
e ao apoio institucional e técnico.
• O Governo deve integrar cada vez mais a sociedade civil nos seus planos e
programas, de modo a tornarem-se mais eficazes, e incentivar a perspectiva
participativa.
• O Governo deve dinamizar a transparência da acção governativa através da
criação de mecanismos de prestação de contas.
• A componente política da sociedade civil não deve apenas discutir assuntos
meramente políticos. Estes, entanto que grupo de influência e de decisão,
devem assumir o compromisso da promoção de iguais direitos para homens
e para mulheres.
• O enquadramento da mulher na sociedade foi uma conquista, por isso, não é
a sociedade quem vai decidir enquadrar a mulher no processo de
desenvolvimento, mas sim é ela quem deve assumir este compromisso de
forma consciente e lutar para conquistar o seu espaço merecido. Para o
efeito, as instituições/órgãos competentes deverão aprovar regulamentos
facilitadores do processo.
• O programa de reforma do sector público deve enquadrar assuntos do género.
• As redes de intercâmbio a nível nacional e internacional para troca de
experiências, informações e apoio, devem desenvolver a sua acção junto
das massas.
• A implementação do PARPA que tenha um carácter vinculativo para todos
os sectores e particularmente para os de Educação e Saúde.
• O Governo, em colaboração com os parceiros nacionais e internacionais,
deve definir a política nacional de género e estratégias de sua implementação.
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Grupo Moçambicano da Divida

Anexo 1: Guião de entrevista


Guião de entrevistas
Este guião de entrevistas destina-se às organizações que trabalham na área de
saúde e de educação. O nosso grupo alvo são, por um lado, as instituições do
Estado (Direcções de Saúde e Educação) e as organizações não governamentais
membros do GMD.

1. Perfil da Instituição
1.1 Nome da Instituição
1.2 Área de Actividade
1.3 Há quanto tempo

2. A Instituição e o género nas suas actividades diárias


Pretendemos saber se a instituição nas suas actividades toma em consideração
à questões de género.
2.1 Que informações é que esta organização tem sobre a questão das relações
de género em Moçambique?
2.2 No decurso das actividades desta instituição tem tomado em consideração
a questão de género?, de que forma?
2.3 O que é que tem feito no sentido de promover a igualdade de género em
Moçambique?
2.4 O que é que a instituição tem feito para a implementação das directrizes
do PARPA, particularmente no que se refere à redução da pobreza absoluta
Feminina?
2.5 O que é que gostaria que fosse feito nos sectores de saúde e educação
para a redução dos desiquilíbrios de género?
2.6 O que é que gostaria que fosse feito para reforçar a integração da mulher
no processo de desenvolvimento?
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Género e Desenvolvimento

3. Sobre as políticas de género


Pretendemos saber até que ponto as Instituições tem conhecimento das
políticas de género no sector da educação e saúde e, se actuam com base nas
mesmas.
3.1 Que informações é que tem em relação às políticas de género na área da
saúde, educação e acção social em Moçambique?

3.2 Tem tomado estas políticas em conta nas suas actividades? De que forma?

3.3 Quais são as relações que tem mantido com o Governo no sentido de
reduzir a discriminação do género?

3.4 As actividades e estratégias que tem traçado na área do género actuam


em conformidade com as políticas de género dos sectores acima referidos?

3.5 Quais são os obstáculos que enfrenta a nível institucional para a


implementação de acções dirigidas à mulher?

3.6 O que acha que deveria ser feito ao nível do Governo para tornar as
políticas de género mais satisfatórias?

3.7 Quais têm sido os obstáculos que enfrenta a nível social e cultural para a
implementação de actividades que promovem a igualdade de género?

3.8 Está satisfeito com a actual política de género na Educação, saúde e acção
social. Porque?

3.9 Que questões acha que deviam ser preconizadas na promoção de género
em Moçambique?

4. Sobre Informação, Intercâmbio e apoio na área do


género
Pretendemos saber se as organizações que actuam na área do género se
relacionam entre si e, se procuram soluções conjuntas para os seus problemas
e qual tem sido o apoio para as suas actividades.

4.1 Tem havido intercâmbio entre as diferentes instituições que actuam na


área de educação e saúde com vista a materialização das políticas de género
nestes sectores?
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Grupo Moçambicano da Divida

4.2 Qual tem sido o apoio de que gozam as instituições que actuam na área
do género?

4.3 Como tem sido efectuado este apoio?

4.4 Desde 1994 os gastos do Governo nas áreas da saúde e educação tem
vindo a subir. Como se reflecte isso na melhoria da equidade de género?
4.5 Será que as organizações da sociedade civil têm sido envolvidas na definição
de políticas sectoriais da educação, saúde e acção social?
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Género e Desenvolvimento

ANEXO 2: Lista dos Ministérios e pessoas


contactadas durante a recolha de dados
Ministério da Educação
Sra. Maria de Fátima
Assessora do Ministro para a área do género
Ministério do Plano e Finanças
Direcção do Plano e Orçamento
Sra. Cristina Matusse
Ministério da Mulher e Coordenação da Acção Social
Direcção Nacional da Mulher
Sr. Ernesto Chamo
Ministério de Saúde
Sra. Raquel Bloem
Ministério de Trabalho
Sra. Fátima Tayob
Ministério de Ensino Superior Ciência eTecnologia (MESCT)
Sra. Coety

Lista das ONG’s e pessoas contactadas


durante a recolha de dados
AMOSAPU – Associação Moçambicana de Saúde Pública
Sr. Francisco Cabo
CONCERN
Sra. Mahnoosh
FDC- FAWE
Sra. Lídia Meque
GAS- Grupos África da Suécia
Sra. Ulrika Mondlane
GOAL- Organização Irlandesa de Ajuda Comunitaria
Sr. Carlos
IBIS-Dinamarquesa
Sra. Aziza Throne
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Grupo Moçambicano da Divida

KULIMA- Organismo para o desenvolvimento Sócio-Económico Integrado


Sra. Bianca
MBÊU- Associação para a promoção do Desenvolvimento Económico e
Sócio-cultural da Mulher
Sra. Guilhermina Zucula
OXFAM-JOAP
Sra. Helena Chiquele
TEIA- Fórum das ONG’s Nacionais
Sr. João Uthui
UNAC- União Nacional dos Camponeses
Sr. Momade Sucá

ANEXO 3: Membros do Governo e


instituições públicas distribuídos por género
FUNÇÃO MASCULINO FEMENINO TOTAL Percentagem
Assembleia da República 172 78 250 31,2%
Partidos Políticos:
FRELIMO 78 55 133 41,3%
RENAMO- União Eleitoral 94 23 117 19,6%
Ministros 20 3 23 13,04%
Vice-ministros 13 5 18 27,7%
Secretários Permanentes 13 4 17 23,52%
Governadores Provinciais 10 0 10 0%
Directores Nacionais 141 33 174 16%
Directores Nacionais Adjuntos 59 12 71 16,9%
Directores Provinciais 130 33 163 13%
Directores Provinciais Adjuntos 11 3 14 21,4%
Directores Distritais 302 22 324 6,79%
Administradores Distritais 113 15 128 11,7%
Chefes de Departamento 620 148 768 19,27%
Chefes de posto administrativo 288 10 398 2,51%
Vereadores 555 235 790 29,7%
Procuradores gerais 1 0 1 0%
Procuradores Gerais Adjuntos 3 1 4 25%
Embaixadores 12 2 14 14,2%
Chefes de Repartição 399 157 556 28,23%
Chefes de secção 622 297 919 32,3%
Presidentes de ConselhosMunicipais 32 1 33 3,03%
Fonte: Ministério de Administração Estatal, Maio de2002.
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Género e Desenvolvimento

Lista Bibliográfica
MISAU (2002), Relatório da Primeira Missão Conjunta de Avaliação do desempenho
do Sector Saúde em Moçambique em 2001.
MISAU (2001), Plano Estratégico do Sector de Saúde (PESS) 2001-2005-(2010)
MISAU (2001), Plano Económico e Social para o Sector de Saúde (PES) 2001-
2005-(2010)
MINED (1995), Política Nacional de Educação e Estratégias de Implementação
PARPA(2000), Plano de Acção para a Redução da Pobreza Absoluta 2000-2004.
PNUD(2001), Relatório Nacional de Desenvolvimento Humano.
Ministério de Plano e Finanças(2002), Orçamento do Estado para o ano de 2002
VOL II.
Ministério de Plano e Finanças (2003), Orçamento do Estado para o ano de
2003 VOL III.
Kortbeek, Simone et al. (1999), Análise de Género e Elaboração das Estratégias
de Integração da Perspectiva de Género no SWP e nos Programas Seleccionados
Osório, C. (1998), “Escola e Família: Diferenças e complementaridades 65-74”, in:
“Relações de género em Moçambique”,(org.):Loforte,A.&Arthur,M.J.Maputo-
UEM
Kirsch, C. (1995), “Forces Productive Rapports de Production et Orge des Inegalités
entre Hommes et Femmes”, in: Aut 2023 Antropology Economique, Montreal:
Université Montreal
Machaieie, E.(1997), “Mulheres no Sector Informal: Esforço e criatividade na luta
pela sobrevivência. O caso do mercado Bazuca, Cidade de Maputo. Faculdade de
Letras, UEM
Rago, M. (1998), “Epistemologia Feminina Género e Historia” in: Masculino
Feminino Plural (org.), Pedro Joana & Grossi Míriam ed. Mulheres, Florianópolis.
Valá, S. (1997) “Desenvolvimento Rural e a Perspectiva de Género: Reflexões
Pertinentes” in: Jornal Domingo n º 821 , 19/10/97.
Acção SIDA. Boletim Internacional sobre prevenção e cuidados do SIDA n.º
40 Janeiro- Março/2002.
Alcalá, M. (1995), Compromissos para a saúde e os direitos sexuais e
reprodutivos de todos, Family Care Internacional, New York.
○ ○ ○ ○

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○ ○ ○ ○ ○
Grupo Moçambicano da Divida

Durante muitos anos a mulher foi vista na posição inferior, o que foi contribuindo para o
“subaproveitamento” das suas potencialidades.
O estatuto da mulher resulta da criação da sociedade; por isso, é a própria sociedade que deve
criar condições para o equilíbrio do género.

*************

O Grupo Moçambicano da Dívida (GMD) é um fórum constituído (desde 1996/97) por entidades
colectivas e singulares comprometidas com o desenvolvimento económico e social do país, em
geral, e com a dívida externa, pobreza e boa governação, em particular.
○ ○ ○ ○

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