You are on page 1of 4

Durante o período do Estado Novo, ao contrário do que se poderia supor, a corte

suprema funcionava a pleno vapor. O Supremo Tribunal Federal (STF) foi órgão criado
pela Constituição de 1891 e, desde então, vem fazendo parte da história do país, ainda
que em momentos mais conturbados como aqueles que compreenderam o conhecido
Estado autoritário, entre 1937 e 1945, com Getúlio Vargas como personalidade
centralizadora e principal comandante do país, e a Ditadura Militar, entre 1964 e 1985,
com sucessivos chefes de Estado autoritários oriundos de setores castrenses, após o golpe
de 1964.
No período especificamente do Estado Novo, a análise comparativa da
competência do STF por si aponta indícios do autoritarismo que se instalava. Embora à
primeira vista a competência da corte se assemelhasse em muito àquela atribuída pela
Constituição de 34, certo é que houve modificações pontuais na constituição de 37, que
ensejaram diferenças substanciais, sobretudo no que concerne às garantias e remédios.
A título exemplificativo, observa-se que a Constituição de 1934 traz, em seu artigo
76 a competência da suprema corte, constituindo esta, ratione personae e ratione
materiae, nos seguintes termos

Art 76 - A Corte Suprema compete:

1) processar e julgar originariamente:

a) o Presidente da República e os Ministros da Corte Suprema, nos crimes


comuns;

b) os Ministros de Estado, o Procurador-Geral da República, os Juízes dos


Tribunais federais e bem assim os das Cortes de Apelação dos Estados, do
Distrito Federal e dos Territórios, os Ministros do Tribunal de Contas e os
Embaixadores e Ministros diplomáticos nos crimes comuns e nos de
responsabilidade, salvo, quanto aos Ministros de Estado, o disposto no final do
1º do art. 61;

c) os Juízes federais e os seus substitutos, nos crimes de responsabilidade;

d) as causas e os conflitos entre à União e os Estados, ou entre estes;

e) os litígios entre as nações estrangeiras e a União ou os Estados;

f) os conflitos de jurisdição entre Juízes ou Tribunais federais, entre estes e os


Estados, e entre Juízes e Tribunais de Estados diferentes, incluídos, nas duas
últimas hipóteses, os do Distrito Federal e os dos Territórios;

g) a extradição de criminosos, requisitada por outras nações, e a homologação


de sentenças estrangeiras;
h) o habeas corpus , quando for paciente, ou coator, Tribunal, funcionário ou
autoridade, cujos atos estejam sujeitos imediatamente à jurisdição da Corte; ou
quando se tratar de crime sujeito a essa mesma jurisdição em única instância;
e, ainda se houver perigo de se consumar a violência antes que outro Juiz ou
Tribunal possa conhecer do pedido;

i) o mandado de segurança contra atos do Presidente da República ou de


Ministro de Estado;

j) a execução das sentenças contra causas da sua competência originária com


a faculdade de delegar atos do processo a Juiz inferior;

Destacam-se as alíneas “h” e “i”, com a competência para conhecer e julgar os


remédios constitucionais. Com efeito, os julgamentos de Mandados de Segurança contra
atos ilegais ou inconstituicionais praticados pelo Presidente e Ministros de Estado
merecem especial atenção, sobretudo porque, previstos na Constituição de 1934, como
garantia contra arbitrariedades do executivo, simplesmente desapareceram do texto
constitucional, na carta de 1937, conforme se pode ver, a partir da transcrição do art. 101
daquela Constituição, que disciplina a competência do STF, in verbis:

Art 101 - Ao Supremo Tribunal Federal compete:

I - processar e julgar originariamente:

a) os Ministros do Supremo Tribunal;

b) os Ministros de Estado, o Procurador-Geral da República, os Juízes dos


Tribunais de Apelação dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, os
Ministros do Tribunal de Contas e os Embaixadores e Ministros diplomáticos,
nos crimes comuns e nos de responsabilidade, salvo quanto aos Ministros de
Estado e aos Ministros do Supremo Tribunal Federal, o disposto no final do §
2º do art. 89 e no art. 100;

c) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, ou entre estes;

d) os litígios entre nações estrangeiras e a União ou os Estados;

e) os conflitos de jurisdição entre Juízes ou Tribunais de Estados diferentes,


incluídos os do Distrito Federal e os dos Territórios;

f) a extradição de criminosos, requisitada por outras nações, e a homologação


de sentenças estrangeiras;

g) o habeas corpus , quando for paciente, ou coator, Tribunal, funcionário ou


autoridade, cujos atos estejam sujeitos imediatamente à jurisdição do
Tribunal, ou quando se tratar de crime sujeito a essa mesma jurisdição em
única instância; e, ainda, se houver perigo de consumar-se a violência antes
que outro Juiz ou Tribunal possa conhecer do pedido;
h) a execução das sentenças, nas causas da sua competência originária, com a
faculdade de delegar atos do processo a Juiz inferior;

Assim, é fato importante de ser apontado o desaparecimento da alíneia “i”, que


mencionava justamente a competência da corte com relação ao julgamento de Mandados
de Segurança contra atos do Presidente da República e de Ministros de Estado.
Tendo ganhado status constitucional em 1934, o Mandado de Segurança importou
em grande inovação de garantia contra arbitrariedades do estado, tendo tido, inclusive,
julgamentos históricos no STF, como MS 11/DF, de 1935. Em que pese, neste último
Mandado de Segurança, o argumento de arbitrariedade ter sido considerado
improcedente, não se concedendo a segurança, naquele caso, contra o fechamento pelo
governo da Aliança Nacional Libertadora, o fato de que, a partir da Constituição de 1937,
e até 1945, estava excluída da competência da corte a apreciação de legalidae dos atos
praticados pelo executivo represente um retrocesso. O Mandado de Segurança é instituto
que desaparece por completo no período do Estado Novo, fato que, por si só, já aponta
de forma contundente para o recrudescimento do autoritarismo, por meio da atuação do
executivo, sem que sequer se pudesse arguiur o abuso de autoridade ou o constrangimento
ilegal que por ventura fosse perpetrado pelo Estado.
Nesse sentido, justifica-se o estudo da mudança da competência da corte, ensse
período, com vistas a compreender historicamente até que ponto a atuação do controle
jurisdicional do Supremo pode contribuir ou obstar a instauração de sistemas autoritários
no país.
3. A)

BUZAID, Alfredo. Do mandado de segurança. São Paulo : Saraiva, v. 1, 1989

CÂMARA, Alexandre Freitas. O Novo Processo Civil Brasileiro. 2ª Edição. SP: Atlas,
2016.

_______. Levando os Padrões Decisórios a Sério. 1ª Edição. SP; Atlas, 2018.

CF, 1934 art. 76.

CF, 1937 art. 101.

Lei nº 38, de abril de 1935.

CTN, art. 78.

http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=629740

http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=4241

https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI238162,81042-
A+competencia+originaria+do+Supremo+Tribunal+Federal+para+processo+e

You might also like