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III – Não basta, porém, que o acusado tenha defesa; é mister que a
tenha em sua plenitude, porque “só merece o nome de defesa a que for livre e
completa”(4).
Aquele que a tomou a seu cargo, ainda que venha a exceder-se
por palavras ou atos, sempre achará quem lhe escuse as demasias. É
que a defesa do réu, sem embargo de exercida alguma vez com
despropositada veemência, não desmereceu nunca no conceito dos
que bem compreendem o ideal da Advocacia: promover a restauração
do direito violado.
Daqui por que o próprio legislador houve a bem acautelar os
interesses do advogado (do cliente, fora melhor dito) contra a má
fortuna, desfazendo a nota de crime nas ofensas que irrogar em Juízo,
na discussão da causa: não constituem injúria ou difamação(5);
tampouco desacato(6).
Tal imunidade, que outros profissionais desconhecem, têm-na
os advogados (e dela fazem grande cabedal), porque são eles, no fim de
contas, segundo a frase memorável de Rui, “a voz dos direitos legais” do
acusado(7).
Notas
(1) “Lei, pena do talião, castigo que consiste em fazer sofrer ao delinquente o
que ele faz sofrer à vítima” (Constâncio, Novo Dicionário da Língua
Portuguesa, 1877, p. 916); “Talião. Deriva-se do adjetivo latino talis,
como quem dissera talis retributio, ou poena talis, porque talião é pena
recíproca, castigo semelhante ao delito, mal igual, e pena tal qual se deu a
outra pessoa” (Bluteau, Vocabulário, 1721, t. VIII, p. 26).
(2) “Que é o que fizeste? A voz do sangue de teu irmão clama desde a terra até
a mim” (Gên 4,10; trad. Antônio Pereira de Figueiredo).
(3) Art. 5º, nº LV: “(…) aos acusados em geral são assegurados o
contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.”
4
Carlos Biasotti
Desembargador aposentado do TJSP e ex-presidente da Acrimesp