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Palmas, 10 de abril de 2019.

Aluna: Cláudia Regina de Sousa e Silva


Disciplina: Sociedade, cultura e desenvolvimento regional
Docente: Profª Drª Têmis Gomes Parente

Resenha

Obra: SEVCENKO, Nicolau. A Corrida para o Século XXI: no Loop da Montanha


Russa. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

Introdução:
O autor inicia sua obra realizando uma descrição de como seria uma volta
em uma montanha russa, destacando as intensas sensações e emoções
sentidas por uma pessoa, antes, durante e depois. De acordo com Nicolau
Sevcenko a montanha-russa, por submeter às pessoas as experiências
extremas de deslocamento e aceleração que alteram a percepção do próprio
corpo e do mundo ao redor, representando assim uma das sensações mais
intensas que alguém possa vir a experimentar. No entanto ao falar de algo tão
banal quanto uma volta em um brinquedo de um parque de diversões o autor na
verdade busca apresentar uma analogia que possa resumir como se deu o
século XX, comparando as sensações provocadas pelo avanço acelerado
Científico-Tecnológico do século XX, às sensações que o “loop” de uma
montanha russa provoca no ser humano.
Para Sevcenko os dois possuem um ritmo bem parecido de grandes
subidas (momento de grandes avanços tecnológicos) e descidas (período em
que não ocorre grandes avanços tecnológicos). Assim, trabalha com 3 fases
distintas, a primeira, que em uma montanha russa seria a da subida
representaria a ascensão ocorrida entre o século XVI a meados do XIX. Sendo
ela uma fase de ordem e do progresso, do desenvolvimento tecnológico. A
segunda fase, onde no brinquedo se dá então uma a queda vertiginosa, seria
aquela que começou a ocorrer a partir de 1870 com a revolução cientifica
tecnológica , trazendo a incorporação e aplicação de novas teorias científicas
que trouxe consigo a guerra que representa o efeito “efeito desorientador de
aceleração extrema” da montanha russa. Por fim, a última fase, marcada pelo
loop, que significa o status quo da aceleração precipitada, onde o universo torna-
se imprevisível, irresistível e incompreensível assemelha-se ao período iniciado
no século XX e que corresponde à revolução microeletrônica.
Ainda na introdução o autor expõe a situação privilegiada da Elite da
Europa Ocidental iniciada a partir do século XVI, que através dos
desenvolvimentos tecnológicos puderam adquirir o domínio de poderosas forças
naturais, de fonte de energias cada vez mais potentes, de novos meios de
transportes e comunicação, de armamento e conhecimento especializados.
Posteriormente no século XX a chamada Revolução Científico-Tecnológica
atingiu todos os segmentos do conhecimento humano com impacto
transformador em todas as sociedades e atingindo um ponto alto com a Primeira
Grande Guerra, que fomentada por novos recursos tecnológicos, produziu um
efeito devastador com os meios de destruição em massa. Sendo superada
posteriormente com o seu desdobramento histórico, a Segunda Guerra Mundial.
O autor aborda também a Revolução da Microeletrônica e magnitude das
mudanças geradas por ela, no entanto apesar de trazer benefícios o levou a
refletir sobre os problemas que o ritmo acelerado dessas mudanças ocasionou,
como por exemplo, a falta de reflexão crítica da sociedade sobre todo esse
movimento e seus prejuízos.
Posteriormente Svecenko trata da questão da crítica social, segundo ele
a mesma tem poder diante dos rumos que a evolução tecnológica está
conduzindo toda a sociedade, uma vez que não podemos evitar o constante e
crescente desenvolvimento, mas também não podemos ser alheios a eles e se
não ficarmos atento, a nossa capacidade de crítica será abafada diante de tantos
acontecimentos.

Capítulo I: Aceleração tecnológica, mudanças econômicas e desequilíbrios

Segundo o autor a Segunda Guerra representa um marco divisor, que deu


origem ao período da Guerra Fria, que foi um conflito ideológico protagonizado
pelo capitalismo e o socialismo, liderado por Estados Unidos e União Soviética.
Neste período, marcado pela corrida armamentista, tem-se que os Estados
Unidos se tornaram a economia mais forte do planeta.
Outro ponto destacado por Svecenko é o de que diante da crise do
petróleo na década de 70, EUA tomaram medidas para dar maior dinamismo ao
mercado internacional, como medidas de liberalização dos controles cambiais,
iniciando o fenômeno da globalização. Essa liberação dos fluxos financeiros
permitiu a ampliação dos investimentos por todo o mundo (dinamizando o
mercado, a produção e os serviços) e provocou uma separação entre as práticas
financeiras e os empreendimentos econômicos. Assim, os agentes financeiros
se beneficiaram pela liberalização dos controles cambiais, desregulamentação
do mercado e pela conquista de novas tecnologias microeletrônicas que
tornaram as transações eletrônicas.
Segundo o autor a partir dessas mudanças também se deu o aumento da
desigualdade social, que é um legado do século XX, pois para o autor, desde a
revolução cientifico-tecnológico até os anos 70, a tendência era que o Estado
nacional controlasse a economia e as grandes corporações, impondo lhes uma
taxação para poder transferir parte dos lucros aos setores carentes da
sociedade, mas com a globalização inicia-se uma desmontagem desse Estado
de bem-estar, pois o Estado e a população ficam “reféns” das multinacionais,
pois se o país não lhe agradar ela pode simplesmente mudar de país onde
poderá encontrar salários mais baixos, melhores condições e terá um apoio
maior da população.
Neste sentido Svecenko destaca a atuação de Ronald Reagan e Margaret
Thatcher. Conforme aponta o autor ambos, deslocaram conteúdos doutrinários
da religião para a política, e acabam disseminando assim o conceito de destino
manifesto (missão de liderança civilizadora atribuída por Deus aos povos anglo-
saxões).
Outra questão trabalhada pelo autor é a do presentismo, que se manifesta
em diferentes setores como tecnologia, política, empresarial e cultural e seria o
assumir decisões que envolvem grandes riscos no presente sem considerar suas
consequências e vítimas futuras, esquecendo sua história como se o mundo
estivesse começando a partir da nova configuração tecnológica . O autor destaca
que a sociedade neoliberal a fim de suprir os anseios presentistas, usa como
força motriz a publicidade e o consumismo. Em atenção a esta questão tem-se
que é possível facilmente relacionar a mesma com as discussões atuais
relacionadas ao desenvolvimento sustentável.
Neste capítulo o autor menciona também o FMI e o Banco Mundial,
segundo ele inicialmente estas instituições tinham como finalidade apoiar as
nações em desenvolvimento, mas quando essas precisaram a única coisa que
fizeram foi dar um pacote de medidas de “reajuste estrutural”, o que sufocou
estes países de dívidas. Assim percebemos que com essas ações, não se visava
promover o desenvolvimento, mas sim fazer com que os países desenvolvidos
obtivessem lucros.
Neste capitulo o autor também aponta que em busca de combater as
desigualdades e os impactos negativos da exploração econômica e expropriação
predatória de recursos naturais destaca-se a partir dos anos 90, a pressão da
manifestação social que teve como resultado “algumas proposições novas e
bastante promissoras assinadas pela ONU, incluindo aos direitos humanos, os
direitos sociais, econômicos e culturais, esse princípio ético-jurídico comporta
amplas e notáveis consequências, implicando que os responsáveis pelas
violações aos direitos humanos, sejam autoridades locais, grupos econômicos
ou instâncias internacionais serão passiveis de julgamento em tribunais
internacionais por crime, representando uma conquista inovadora e radical”
(p56-57).

Capítulo II: Máquinas, massas, percepções e mentes

No segundo capítulo o autor aponta que da metade do século XIX e do


século XX afora, as transformações tecnológicas se tornaram decisivas na nossa
visão de mundo por alterarem as estruturas sociais, econômicas, política, a
condição de vida das pessoas e as rotinas do seu cotidiano, pois tivemos que
nos adaptar ao ritmo das máquinas.
Para tanto Sevcenko ilustra suas idéias da relação entre as “Novas
Tecnologias” e os comportamentos dos indivíduos quando trata da questão da
tecnologia e da engenharia de fluxos, principalmente das informações. Por conta
das mudanças no comportamento das pessoas, altera-se os valores da
sociedade, onde a comunicação é externa e baseada em símbolos exteriores,
isto é, vive-se, agora, numa sociedade em que se privilegia o “ver”, mais que o
ouvir e o falar. Por consequência teremos uma readaptação dos sentidos com
uma supervalorização do olhar em que a percepção deve estar voltada,
sobretudo, para assimilação visual das coisas do mundo, e cita como exemplo
Einstein, que cria a teoria da relatividade, e Loewy que formula a idéia de estilo.
Aqui fica clara a prevalência do “ter” sobre o “ser”, bem como a
supervalorização do capital onde as grandes marcas e grifes passam a ser cada
vez mais desejadas.
O autor atenta também para a criação no século XX do que ele denomina
de indústria do entretenimento. Com destaque para a revolução promovida
inicialmente pelo o cinema e pelos parques de diversões. Essa revolução do
entretenimento redefiniu o padrão cultural das sociedades urbanas do século XX,
e teve como pano de fundo a dissolução ou descontextualização da cultura
popular tradicional. Em suma, a cultura se transformou em mercadoria e para
compensar o empobrecimento social, cultural e emocional, essa indústria
fornece fantasia, desejo e euforia.

Capítulo III: “Meio ambiente, corpos e comunidade”

No último capítulo o autor se volta para o impacto causado pelas


tecnologias ao meio ambiente. Aqui Sevcenko, se preocupa com a poluição
causada por produtos sintéticos apontando que o problema primordial não é
sabermos que o meio ambiente está sendo prejudicado, mas o fato de não
sabermos qual é o real impacto a longo prazo do que isto pode acarretar.
O autor também expõe sua preocupação com os avanços tecnológicos
aplicados em pesquisas genéticas e seus os aspectos éticos, bem como riscos
de serem utilizados para fins que indevidos.
Neste contexto traz o conceito de “princípio da preocupação”, que pode
ser resumido em “é melhor zelar pela segurança do que ter que lamentar”. O
tripé que o sustenta é o reconhecimento: de algum potencial de risco, de que
pairam incertezas cientificas sobre o impacto e da necessidade de agir
preventivamente em relação aos riscos.
Posteriormente Sevcenko perpassando pela temática da música e das
artes cênicas o autor atento ainda para o novo contexto da sociedade do fim do
século XX, que se tornou uma sociedade do espetáculo onde tudo se
transformou numa dimensão da estética. Para confrontar essa apropriação da
cultura pela elite dominante, surgem grupos para criar uma antiestética para
repor tudo o que estava sendo excluído.

Conclusão:

Assim o livro mostra que vários fatos que aconteceram no século XX


influenciaram no século XXI, como as duas guerras mundiais e a guerra fria que
causaram a globalização; o aumento das descobertas e de novas invenções; as
multinacionais; a pouca conscientização das pessoas sobre a natureza e a
grande desigualdade mundial. Somando a ascensão da cultura da imagem e do
consumo, a desregulamentação dos mercados e a retração do Estado, com a
desmontagem de seus mecanismos de distribuição e do apoio social e com a
Revolução microeletrônica e digital, teremos como resultante um mundo no qual
as imagens são mais importantes do que o conteúdo, no qual o indivíduo é mais
importante do que o coletivo. Enfim, a conclusão que ele chega é a que temos
que iniciar uma
Sendo assim preciso atuar contra os desequilíbrios causados pelo avanço
tecnológico acelerado e as mudanças econômicas decorrentes. Sendo está uma
missão que requer a conscientização da sociedade de que é possível melhorar
esse quadro das desigualdades, através de uma luta pela retomada da ética da
dignidade humana, dos animais, enfim de toda a natureza.

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