Professional Documents
Culture Documents
Na construção da atenção integral, a Atenção Básica A Política Nacional de Atenção Básica tem na Saúde da
deve cumprir algumas funções para contribuir com o Família sua estratégia prioritária para expansão e
funcionamento das Redes de Atenção à Saúde, são consolidação da Atenção Básica. A qualificação da
elas: ser base, atuando no mais elevado grau de Estratégia de Saúde da Família e de outras estratégias de
descentralização e capilaridade, cuja participação no organização da Atenção Básica deverão seguir as
cuidado se faz sempre necessária; diretrizes da Atenção Básica e do SUS configurando um
processo progressivo e singular que considera e inclui as
especificidades loco regionais.
ser resolutiva, identificando riscos, necessidades e
demandas de Saúde e produzindo intervenções
clínicas e sanitariamente efetivas, na perspectiva de
ampliação dos graus de autonomia dos indivíduos e
grupos sociais; coordenar o cuidado, elaborando,
acompanhando
A atual política de saúde mental brasileira é resultado Foram fechados hospitais psiquiátricos à medida que se
da mobilização de usuários, familiares e trabalhadores expandiam serviços diversificados de cuidado tanto
da Saúde iniciada na década de 1980 com o objetivo longitudinal quanto intensivo para os períodos de crise.
de mudar a realidade dos manicômios onde viviam
mais de 100 mil pessoas com transtornos mentais.
A atenção aos portadores de transtornos mentais passa a
ter como objetivo o pleno exercício de sua cidadania, e
O movimento foi impulsionado pela importância que não somente o controle de sua sintomatologia. Isso
o tema dos direitos humanos adquiriu no combate à implica em organizar serviços abertos, com a
ditadura militar e alimentou-se das experiências participação ativa dos usuários e formando redes com
exitosas de países europeus na substituição de um outras políticas públicas (educação, moradia, trabalho,
modelo de saúde mental baseado no hospital cultura etc).
psiquiátrico por um modelo de serviços comunitários
com forte inserção territorial.
O desafio que se coloca é, ao invés de criar circuitos
paralelos e protegidos de vida para seus usuários, habitar
Nas últimas décadas, esse processo de mudança se os circuitos de trocas nos territórios da sociedade.
expressa especialmente por meio do Movimento
Social da Luta Antimanicomial e de um projeto
Os profissionais de Saúde costumam refletir consigo e Mesmo os profissionais especialistas em saúde mental
por vezes ficam em dúvida sobre quais situações de elaboram suas intervenções a partir das vivências nos
sua realidade cotidiana necessitam de intervenções territórios. Ou seja, o cuidado em saúde mental não é
em saúde mental. Imaginamos que, algumas vezes algo de outro mundo ou para além do trabalho cotidiano
todo profissional de Saúde já tenha se sentido na Atenção Básica.
inseguro, surpreso ou sem saber como agir assim que
identificou uma demanda de saúde mental. Pelo contrário, as intervenções são concebidas na
realidade do dia a dia do território, com as
Também acreditamos ser provável que em algumas singularidades dos pacientes e de suas comunidades.
destas situações o profissional se sente improvisando,
ou usando a intuição e o bom senso. Pois bem, para Portanto, para uma maior aproximação do tema e do
início de conversa, podemos dizer que estas reflexões entendimento sobre quais intervenções podem se
e sensações são comuns à prática em saúde. Contudo, configurar como de saúde mental, é necessário refletir
sentir-se sem chão ou sem um saber técnico sobre o que já se realiza cotidianamente e o que o
específico não é indicativo suficiente para definir que território tem a oferecer como recurso aos profissionais
uma intervenção em saúde mental possa estar de Saúde para contribuir no manejo dessas questões.
equivocada. Algumas ações de saúde mental são realizadas sem
mesmo que os profissionais as percebam em sua prática.
Entendemos que as práticas em saúde mental na
Atenção Básica podem e devem ser realizadas por
todos os profissionais de Saúde. O que unifica o
objetivo dos profissionais para o cuidado em saúde
mental devem ser o entendimento do território e a
relação de vínculo da equipe de Saúde com os
Toda pessoa é um ser político com direitos, Um sofrimento considerável pode surgir se uma pessoa é
obrigações e possibilidades de agir no mundo e na privada de qualquer uma ou várias dessas esferas e, ao
relação com as pessoas. Problemas de saúde podem ignorar isso, o profissional de Saúde deixa de abordar uma
contribuir para que a pessoa se sinta impotente nesta importante causa de sofrimento.
esfera, ou que se considere incapaz de ser tratada
como seus pares em suas reivindicações e Toda pessoa tem um corpo com uma organicidade e
possibilidades de ação. anatomia singular composto por processos físicos,
fisiológicos, bioquímicos e genéticos que o caracterizam.
Toda pessoa tem diversos papéis: pai, mãe, filho, Mas, além disso, toda pessoa tem um corpo vivido, que é
profissional, namorado, amante, amigo, irmã, tio etc. muito diferente do corpo estudado na Anatomia, na
A vivência de cada um deles envolve diferentes Biologia e na Bioquímica.
relações de poder, de afeto, de sexualidade etc. As
pessoas também são cada um desses papéis, que Cada um tem uma relação com o próprio corpo que
podem ser prejudicados em situações de agravo à envolve história pessoal, pontos de exteriorização de
saúde, além de serem mutáveis. emoções, formas de ocupar o espaço e de se relacionar
com o mundo. O corpo é ao mesmo tempo dentro e fora
Toda pessoa tem uma vida de trabalho, que está de mim, podendo ser fonte de segurança e orgulho, ou de
relacionada a seu sustento e, possivelmente, de sua ameaça e medo.
família. Muitas pessoas consideram-se úteis por meio
do trabalho, e muitos quase definem a própria Toda pessoa tem uma autoimagem, ou seja, como ela
identidade por aquilo que fazem. atualmente se vê em relação a seus valores, a seu mundo,
a seu corpo, e àqueles com quem ela se relaciona. Toda
Toda pessoa tem uma vida secreta, na qual deposita pessoa faz coisas, e sua obra no mundo também faz parte
amores, amizades, prazeres e interesses que não são dela.
Incorporar a concepção de territórios existenciais A Atenção Básica também tem contribuições nesse
implica considerar não apenas as dimensões subjetivas campo, sobretudo por meio do desenvolvimento de
daqueles que são cuidados, os usuários, mas também tecnologias leves e intervenções que possibilitem a
a subjetividade dos trabalhadores de Saúde. configuração/reconfiguração dos territórios existenciais
individuais e coletivos.
E trabalhar com saúde pressupõe que os próprios
trabalhadores de Saúde permitam deslocamentos em Deslocar o olhar da doença para o cuidado, para o alívio e
seus territórios existenciais, já que a principal a ressignificação do sofrimento e para a potencialização
ferramenta de trabalho em saúde mental é a relação. de novos modos individuais e grupais de estar no mundo
aponta na direção de concepções positivas de saúde
A coesão social tem sido sugerida como um indicador mental. E alguns indicadores que podem ser levados em
de saúde dessas coletividades. Entre as situações que consideração neste sentido incluem:
podem ameaçar a coesão social, encontramos: a
desigualdade socioeconômica; as migrações; a a) o desenvolvimento de novos modos de grupalidade, de
transformação política e econômica; as novas culturas maneira a estimular uma maior participação das pessoas
do excesso; o aumento do individualismo e do nas decisões de um grupo, na produção de benefícios que
consumismo; as mudanças nos valores tradicionais; as extrapolem os interesses pessoais e na ampliação da
sociedades em situação de conflito ou pós-conflito; a autonomia desse grupo;
urbanização rápida; o colapso do respeito à lei e a
economia local baseada nas drogas (ONU, 2012). b) a valorização da criatividade com o exercício do
pensamento divergente, das atividades simbólicas e
Algumas respostas possíveis às ameaças da coesão abstratas e da interação social;
social passam pela ampliação e articulação de
c) a utilização do tempo livre, o tempo de lazer e repouso;
Ao longo dos próximos capítulos deste documento, ORGANIZACIÓN DE LAS NACIONES UNIDAS. Informe de la
iremos aprofundar as perspectivas aqui apresentadas e Junta Internacional de Fiscalización de Estupefacientes
oferecer elementos que ajudem a compor uma caixa correspondiente a 2011. Nueva York: ONU, 2012.
de ferramentas diversificada para que os profissionais
que atuem em Atenção Básica possam dar conta de ROSSI, R. O. R. El hombre como ser social y la
diversas situações de sofrimento... conceptualización de la salud mental positiva.
Investigación en Salud, [S.l.], v. 7, n. 2, p. 105-111, 2005.
Nessa etapa do diagnóstico situacional é importante A operacionalização deste processo se dá por meio de
identificar as necessidades, demandas, uma comunicação culturalmente sensível e da negociação
vulnerabilidades e potencialidades mais relevantes de pactuada entre o técnico de referência e a equipe por um
quem busca ajuda. lado,
1) a Redução de Danos compreendida como uma Assim, atuar em uma perspectiva de redução de danos na
estratégia para reduzir danos de HIV/DST em usuários Atenção Básica pressupõe a utilização de tecnologias
de drogas relacionais centradas no acolhimento empático, no
vínculo e na confiança como dispositivos favorecedores
2) a Redução de Danos ampliada, concebida como da adesão da pessoa, aspectos já apresentados no tópico
conceito mais abrangente, no campo da Saúde sobre Projeto Terapêutico Singular.
Pública/Saúde Coletiva, por abarcar ações e políticas
públicas voltadas para a prevenção dos danos antes Considerando especificamente a atenção aos problemas
que eles aconteçam (DIAS et al., 2003). de álcool e outras drogas, a estratégia de redução de
danos visa minimizar as consequências adversas criadas
Apesar das diferenças apontadas entre essas pelo consumo de drogas, tanto na saúde quanto na vida
perspectivas, um ponto em comum a ambas é a econômica e social dos usuários e seus familiares.
construção de ações de redução de danos tomando
como fundamental a valorização do desejo e das Nessa perspectiva, a redução de danos postula
possibilidades dos sujeitos para os quais estão intervenções singulares que podem envolver o uso
orientadas essas ações. protegido, a diminuição desse uso, a substituição por
substâncias que causem menos problemas, e até a
Ou seja, ambas as perspectivas pressupõem o diálogo abstinência das drogas que criam problemas aos usuários
e a negociação com os sujeitos que são o foco da (VIVA COMUNIDADE; CRRD, 2010).
ação.
Também é necessário trabalhar o estigma que a
Essa centralidade no sujeito, considerando seus população, os trabalhadores de Saúde e os próprios
desejos e possibilidades, caracteriza a redução de usuários de drogas têm sobre esta condição, de maneira a
danos como uma abordagem em saúde menos superar as barreiras que agravam a sua vulnerabilidade e
normalizadora e prescritiva, pois se evita ditar ou marginalidade e dificultam a busca de tratamento.
.
Vecchia e Martins (2009) ressaltam que a estratégia de As reuniões de equipe possibilitam a discussão de casos,
atender prioritariamente as famílias com maiores o planejamento e avaliação de ações, a troca de
dificuldades psicossociais é importante, desde que tal conhecimentos, a abordagem interdisciplinar,
priorização não produza estigmatizações, constituindo-se em mais um recurso fundamental do
cuidado em saúde mental.
Por fim, é importante que as equipes de Atenção Uma forma especialmente interessante de educação
Básica garantam a participação da família na permanente é o apoio matricial oferecido pelas equipes
construção do Projeto Terapêutico Singular (PTS) de do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf) – que se
cada paciente, além de estimularem-na a participar de constitui em retaguarda especializada para as equipes de
debates sobre o tema em reuniões dos conselhos SF.
locais e nas conferências de Saúde.
Essa parceria entre ambas as equipes é concebida sob a
Assim, a família também contribuirá na construção, na forma de corresponsabilização pelos casos e se
implementação e no acompanhamento de políticas desenvolve por meio de discussões e consultas conjuntas,
públicas de atenção à saúde mental. construção de projetos terapêuticos singulares,
intervenções com as famílias e as comunidades, realização
Em síntese, as equipes de SF têm um campo fértil para de grupos, discussão de casos clínicos etc.
trabalharem de forma integral e participativa com
pessoas em sofrimento psíquico e suas famílias, apesar
da abundância de práticas contrárias ao que estamos
propondo, isto é, práticas centradas no indivíduo, que
fragmentam o sujeito, especialismos etc.
Na abordagem familiar, considera-se que a saúde da Outro aspecto importante é a contradição família
família vai além da soma da saúde dos indivíduos. pensada versus família vivida e a sua outra face família
Sendo assim, espera-se que a equipe de Atenção estruturada versus família desestruturada, apoiada em
Básica à Saúde seja capaz de identificar e desenvolver uma visão sistêmica inclusiva e não conservadora que
as seguintes especificidades: reconhece múltiplas estruturas familiares que nada
mais são do que formas diferentes de ser família e que
• Conceituar família e considerar sua complexidade. vão ganhando contornos específicos por intermédio do
tempo e das peculiaridades do espaço geográfico,
• Cuidar com base na experiência da família ao longo social e cultural (SOARES; PAGANI; OLIVEIRA, 2005).
do tempo, ou seja, sua história pregressa, atual e
perspectivas futuras. Consolidada tal compreensão, os profissionais terão
critérios para avaliar o enredo, a estrutura e a dinâmica
• Trabalhar com todos da família, tanto doentes como do sistema familiar, elaborando um plano de trabalho
sadios. multidisciplinar com as estratégias mais adequadas e
possíveis.
• Que a família enquanto um sistema é afetada pela
mudança de qualquer um de seus membros. Sugerem-se formas de atuação da equipe que
fortaleçam: (1) a competência da família em garantir a
sobrevivência material dos seus membros
• Identifique pessoas que podem auxiliar no cuidado • Construa com as famílias alternativas de mudança e de
em saúde mental. Pode ocorrer que essas pessoas promoção dos cuidados familiares da pessoa com
não pertençam ao grupo familiar de origem. sofrimento psíquico e/ou uso de álcool e drogas. Há
um saber acumulado sobre este assunto que poderá
• Observe como a família se coloca no espaço físico ajudá-lo(a) muito na compreensão dos modos de ser,
de atendimento, ou seja, onde cada pessoa senta ou viver e conviver em família.
se distribui no local onde é atendida. Essa
observação lhe permitirá perceber alguns aspectos • Promova sempre o diálogo e a troca de experiências
dos papéis familiares. entre todos, nas reuniões com a(s) família(s), nas
consultas e visitas domiciliares. Desse modo, todos
• Observe como a família se comunica, se as terão a oportunidade de se expor a mudanças e
mensagens são claras ou obscuras, e busque auxiliar compreender o que está acontecendo. Isso amplia
na comunicação. possibilidades de obtenção de resultados eficazes.
• Auxilie a família na diminuição da culpa, do • Crie o hábito de fazer anotações sobre cada
desamparo e da desesperança diante das crises e atendimento realizado e, sempre que possível, discuta
das dificuldades enfrentadas no dia a dia com a seu trabalho com seus colegas de equipe,
pessoa em sofrimento psíquico. Permita que tais compartilhando dúvidas, certezas, limites e
sentimentos sejam expressos. possibilidades. Registros escritos preservam histórias,
constroem histórias...
• Reconheça e valorize os saberes e os recursos
encontrados pela família na convivência diária com • Não se assuste, nem reaja com base em fortes
o sujeito em sofrimento psíquico. sentimentos, positivos ou negativos, que determinadas
pessoas e famílias mobilizam.
• Fique atento(a) aos movimentos saudáveis, ainda
que sejam mínimos, e discuta-os com a família.
O fortalecimento das equipes de Saúde da Família é de COLVERO, L. de A. et. al. Família e doença mental: a difícil
suma importância para a saúde mental. A educação convivência com a diferença. Revista da Escola de
permanente pode impulsionar mudanças das práticas Enfermagem da USP, São Paulo, v. 2, n. 38, p.197-205,
em saúde, estimulando a construção de ações mais 2004.
inclusivas das populações vulneráveis, como é o caso
das famílias com pessoas com sofrimento psíquico COSTA, I. I. A família e a constituição do sujeito na
e/ou usuárias de álcool e outras drogas. contemporaneidade. Interfaces: Revista de Psicologia,
Salvador, v. 2, n. 1, p. 73-80, jan./jul. 1999.
O aprofundamento e utilização das diferentes
ferramentas de abordagem familiar indicadas neste GONCALVES, A. M.; SENA, R. R. de. A reforma psiquiátrica
documento podem instrumentalizar as equipes no no Brasil: contextualização e reflexos sobre o cuidado com
entendimento de cada família e sua inclusão como o doente mental na
protagonistas do cuidado.
MOYSÉS, S. J.; SILVEIRA FILHO, A. D. Os dizeres da boca WILSON, L.; TALBOT, Y; LIBRACH, L. O modelo FIRO de
em Curitiba: Boca Maldita, Boqueirão, bocas saudáveis. estudo da família. In: WILSON, L. Trabalhando com
Rio de Janeiro: CEBES, 2002. p. 155-160. famílias: livro de trabalho para residentes. Curitiba:
Secretaria Municipal de Saúde, 1996.
ROSA, L. C. S. O cotidiano, as tensões e as repercussões
do provimento do cuidado doméstico ao portador de
transtorno mental.
Há ainda dois outros conjuntos de situações em que os As pessoas procuram ajuda na AB porque sofrem, e não
cuidados de saúde mental na AB ganham relevo, porque tem uma doença. Muitos dos que sofrem e
apesar de raramente serem motivados por uma procuram atendimento, estão de fato doentes, mas
demanda do usuário. dificilmente a doença explica todo seu sofrimento.
São os que sofrem sem estar doentes que lotam as De fato, se quisermos ficar dentro do referencial médico,
agendas da AB e inflam as estatísticas de prevalência parece mais razoável utilizar o conceito de síndrome
de depressão e de ansiedade. clínica, ou seja, um agrupamento de sinais e sintomas, que
costumam se apresentar associados e seguir um
Nesse ponto, vamos lembrar que não é a doença determinado padrão de evolução.
apenas que mobiliza os cuidados dos profissionais de
Saúde, mas sim pessoas que sofrem e, doentes ou não, Estigma e sofrimento. Em terceiro lugar porque o estigma
buscam ajuda. Portanto, dizer que uma pessoa não da expressão doença mental (ou mesmo o eufemismo
está doente, não significa que ela não necessita de transtorno mental) é grande e significa um sofrimento
cuidado. adicional para quem o carrega.
Sofrimento não é doença. Em segundo lugar, as formas Portanto, ainda que entre profissionais de saúde seja útil
de expressão mais frequentes do sofrimento (mental) usar no cotidiano expressões que condensem informação,
na AB não podem ser facilmente categorizadas como precisamos nos interrogar sobre o sentido que essas
doenças. expressões carregam na comunidade.
O que sabemos da sua fenomenologia indica que não A expressão doença mental e seus eufemismos podem
há definição clara do que é patológico e que essas induzir a pessoa, seus familiares e sua comunidade a, pelo
formas são diversas e complexas demais para caberem menos, dois erros comuns. Primeiro erro, que doença
em meia dúzia de categorias diagnósticas. mental faz pensar em causa genética,
O mesmo não acontece quando se diz que alguém é A essa altura, vocês já terão reconhecido que estamos
doente mental. A peculiaridade da pessoa histérica, do falando aqui daquilo que conhecemos como sintomas
bêbado ou do hipocondríaco depressivos, ansiosos e de somatização.
Isso evita que se sobreponham comorbidades ou que Essas características interagem e se combinam com
se sucedam diagnósticos no tempo que nada mais são outras, ainda não identificadas, para determinar o grau de
do que intensidades diferentes da mesma combinação vulnerabilidade de cada pessoa a essa forma de
de sintomas (GOLDBERG, 2000; JUDD, 1998). manifestação de sofrimento. A seguir, vamos discutir os
principais aspectos do contexto de vida de uma pessoa
Aprendemos desde cedo que a ciência e a arte da que estão associados ao sofrimento mental comum.
clínica residem em buscar um diagnóstico que
As pesquisas mostram,
Lembrando que delírios são crenças, verossímeis ou A mania, nesse sentido, é um oposto da depressão.
não, que apesar de se basearem em evidências Caracteriza-se por uma sensação de bem-estar e
ambíguas, ou até mesmo bizarras, são mantidas pela onipotência incomuns à pessoa. Aceleração da fala,
pessoa impulsividade (nos gastos de dinheiro, na sexualidade),
A maior facilidade para realizar atendimentos em Essas visam aumentar a capacidade das pessoas que
domicílio e os vínculos que as equipes de Atenção sofrem com transtornos mentais graves e persistentes de
Básica fazem com as famílias podem possibilitar exercitarem sua cidadania. Ou seja, estudar, trabalhar,
intervenções rápidas e efetivas na crise. ganhar dinheiro, fazer amigos, namorar, frequentar
espaços públicos, participar das decisões que influenciam
em sua vida.
Seguimento de longo prazo e
reabilitação psicossocial Essas são ações que dependem de inserção no território,
e é por isso que a Atenção Básica tem tanto a contribuir e
Nos quadros psicóticos estáveis, mesmo em regiões aprender com o trabalho dos CAPS.
com recursos suficientes, os generalistas podem
compartilhar o cuidado do transtorno mental com o Além disso, há que prover cuidado para as comorbidades
psiquiatra, diminuindo o número necessário de visitas clínicas frequentes nessa população, um aspecto
ao psiquiatra. frequentemente negligenciado.
Na realidade atual do SUS, é grande o número de Por sofrer em razão da esquizofrenia e da reação de
pacientes portadores de psicoses crônicas que são exclusão social em sua comunidade, muitas pessoas
acompanhados quase que exclusivamente por parecem que perdem o direito aos cuidados de saúde
generalistas. integral.
Em saúde mental os sintomas não devem ser Um elemento a ser considerado na superação desta
suprimidos, eles devem ser acolhidos e suportados – aparente limitação é o reconhecimento, por parte do
considerando aqui ofertas de suporte adequadas. profissional, do intenso sofrimento vivenciado pelo
usuário.
As crises psíquicas são suportadas, muitas vezes, por
igrejas, terreiros e outras formas culturais. Somente Também é importante a constatação de que a crise é
parte delas é tratada pela Psiquiatria. Muitos atores inerente à existência humana, constituinte do processo do
podem ser acolhedores de pessoas em crise: médicos viver, presença marcante nas diferentes formas de viver a
de família, agentes de Saúde, enfermeiros, vizinhos ou vida.
outros.
Consideraremos as situações de crise como fenômenos
É preciso ampliar conceitos e superar o olhar apenas essencialmente relacionais, como conflito ou quebra de
episódico garantindo um cuidado continuado. A crise consenso entre um sujeito e outro sujeito, mesmo que em
faz parte do cotidiano dos sujeitos que estão algumas situações este outro pareça ser ele mesmo.
constantemente lidando com momentos que geram
desorganização e dificuldades em sua vida. Portanto, trata-se de situações cuja questão central é
como restabelecer uma relação consensual e contratual,
com responsabilidades compartilhadas entre as partes.
O que fazer?
Muitas vezes, nestas situações, desde o lugar do
A sensação de não ser capaz de se aproximar de uma
profissional, a grande tentação é assumir o lugar de juiz da
pessoa em situação de crise é bastante comum tanto
contenda, buscando estabelecer o certo e o errado, o que
no profissional de Saúde
invariavelmente leva
O profissional deve investir na mediação entre o Não é incomum que comportamentos estranhos tantas
usuário e seu conjunto de relações, visando à inclusão, vezes presentes em situações limites sejam aceitos como
à legitimação e à corresponsabilização dos envolvidos inerentes à crise sem que possíveis significados lhe sejam
na produção de novas pactuações, ainda que atribuídos.
provisórias. Reinstaurar o diálogo, coloca-se
simultaneamente como objetivo e ação terapêutica. Ações e expressões do usuário não devem ser
interpretadas tão somente como manifestação natural da
Entre as pactuações a serem produzidas devem constar crise, sem significado singular.
as ações a serem desenvolvidas no processo de
cuidado. A comunicação com o usuário deve ser Cabe ao profissional apoiar os envolvidos na produção de
verdadeira e exercida o mais claramente possível, possíveis sentidos com os quais se deve buscar dialogar,
assim como devem ser explicitadas as propostas de permitindo diferentes possibilidades de ser e estar no
intervenção. mundo.
Medidas involuntárias devem ser utilizadas tão Não há local específico e unicamente responsável por
somente como excepcionalidade, depois de esgotadas acolher às situações de crise. A abordagem às situações
todas as tentativas de diálogo, e em situações de crise deve acontecer no local onde se encontra o
pontuais. usuário, ou seja, em seu circuito de vida ou de cuidado:
casa, rua, UBS, CAPS, pronto-socorro etc., não sendo de
É fundamental ainda que o profissional possa exclusividade do profissional médico ou mesmo do
contribuir para favorecer a distinção entre a identidade profissional de Saúde.
e a atitude do usuário.
A Atenção Básica tem uma importante função na Essas dificuldades estão relacionadas, em grande medida,
ampliação do acesso e na redução de estigmas e ao caráter recente do reconhecimento de que na infância
preconceitos, podendo ser efetiva no manejo de e na adolescência há possibilidade de emergência de
muitas situações, mesmo naquelas que exigem sofrimento psíquico, que requererá acolhimento e
parceria com serviços específicos de saúde mental. cuidado.
Para que possa ser resolutiva e contribuir para a Valores e princípios do atendimento
melhoria do cuidado, a AB necessita aumentar sua
acuidade para as diferentes e inventivas formas de em saúde mental de crianças e
expressão dos problemas que as crianças e jovens adolescentes
apresentam, e para oferta de suporte a eles e suas
famílias.
Apenas no início do século XXI, o Estado brasileiro, por
meio do Sistema Único de Saúde (SUS), estabeleceu
As dificuldades dos profissionais da AB na identificação
responsabilidades e diretrizes para o cuidado em
O que está em ação aí é a noção de uma rede pública É fundamental, no entanto, que a equipe invista em uma
ampliada de atenção em saúde mental para crianças e mudança de paradigma: as escolas devem ser vistas
adolescentes, onde vários setores, instituições, também como pontos de saúde ampliados, onde são
profissionais, meninos, meninas, jovens e comunidades possíveis desde ações de promoção e prevenção, até
se corresponsabilizam em nome da construção de uma mesmo intervenções em situações de gravidade.
vida menos atormentada para cada um, segundo as
possibilidades que lhes são próprias. O território detém muitos recursos valiosos que podem
ser disponibilizados e arranjados para compor projetos
terapêuticos efetivos.
Os principais passos para a avaliação são: • Conhecer o contexto de vida (família, escola e
comunidade) da criança ou adolescente.
• Identificar os principais grupos de problemas,
lembrando que, na maior parte dos casos, a mesma Vale ainda salientar que nem sempre as queixas
criança ou adolescente pode apresentar problemas relacionadas aos problemas de saúde mental das crianças
em diferentes grupos ao mesmo tempo: e dos adolescentes chegam de forma explícita aos
profissionais das UBS ou das ESF.
- Sintomas emocionais (ansiedades, medos, tristezas,
alterações de apetite e sono); Muitos pais não acreditam que os profissionais de saúde
- Problemas de conduta (agressividade, possam ajudá-los a cuidar desse tipo de queixa. É
comportamento antissocial, agitação); importante estar atento aos problemas, fazer as
- Atrasos do desenvolvimento; perguntas certas e ser um ouvinte atento e acolhedor.
- Dificuldades de relacionamento;
- Uso de drogas. Os profissionais da AB devem conhecer a linha de cuidado
em saúde mental planejada para seu território, isto é,
• Avaliar o impacto (angústia, estresse ou prejuízo devem saber de antemão a que profissionais podem
funcional) que os sintomas causam na vida da recorrer para discutir os casos mais complexos:
criança ou adolescente e da família.
Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), Centro de
• Identificar os fatores que desencadearam e Atenção Psicossocial (CAPS),
mantiveram o problema.
STANSFELD, S.;
Instrumentos de intervenção
psicossociais
Os Instrumentos de Intervenção Psicossocial na perguntando-se “como faço grupo?”, “como saio do meu
Atenção Básica constituem-se em importante espaço clínico individual?”, entendendo este espaço como
estratégia para produção do cuidado em Saúde. Com produtor de saúde e possuindo impacto nos
uma oferta de tecnologias que contemplem determinantes e condicionantes de saúde dos sujeitos e
necessidades e demandas que surgem do território, coletividades.
disponibilizamos, a seguir, um cardápio de ações em
saúde mental para Atenção Básica que dialogam com o As técnicas de trabalho com grupos foram amplamente
conceito ampliado de Saúde e com a integralidade do desenvolvidas – especialmente na América Latina – com
cuidado. fundamental contribuição da psicologia social argentina e
hoje nos oferece um amplo arcabouço teórico-prático
Grupos e Saúde Mental com o qual podemos refletir e pautar trabalhos em saúde
pública, amparando-nos das angústias e contradições que
naturalmente surgem em situações novas e
Com o intuito de abordar a importância dos grupos
desconhecidas.
como oferta da Atenção Básica, destacando as
concepções de sujeito-coletivo, atenção integral e
O processo grupal, desde que bem pensado em sua
produção de autonomia, trazemos neste texto algumas
finalidade, estrutura e manejo, permite uma poderosa e
reflexões e sugestões sobre as especificidades da
rica troca de experiências e transformações subjetivas que
realização de grupos com vistas à promoção da saúde
não seria alcançável em um atendimento de tipo
mental.
individualizado. Isto se deve exatamente à pluralidade de
seus integrantes, à diversidade de trocas de
Os grupos, enquanto tecnologia de cuidado complexa e
conhecimentos e possíveis identificações que apenas um
diversificada, são teorizados pelas mais diferentes
grupo torna possível.
molduras teóricas, podendo ser úteis nas formulações
de dinâmicas grupais.
Os grupos na Atenção Básica costumam ser orientados
pelas ações programáticas, modelo hegemônico de
Tais ofertas das formas de intervenção são derivadas
organização da ESF, centrado nos grupos prioritários de
das demandas recorrentes dos profissionais que
problemas/ agravos: grupo para pessoas com diabetes,
desejam incorporar novas ferramentas de trabalho,
hipertensão; atividade física; planejamento familiar; entre
outros.
Saúde Mental na Atenção Básica 96
Os objetivos são de gerar impactos nos indicadores na O grupo será uma oferta do serviço e mais um ponto da
perspectiva da educação em saúde, comumente rede social de cuidado aos usuários no território de
baseada num paradigma de transmissão do saber-fazer referência.
profissional.
A verdade do profissional em saúde deve estar em
Se, por um lado, as propostas desses grupos organizam articulação com as várias verdade do território, coletivos,
um modelo amplamente difundido, por outro, esgota- indivíduos.
se a possibilidade de diálogo devido à manutenção da
repetição do discurso, centrado no saber profissional. A perspectiva de grupos, desse modo, deve estar pautada
em uma flutuação entre o normativo e o criativo e não
A primeira pergunta a ser realizada na proposição de somente no caráter normativo que vem tendo especial
um grupo, é se este atende ao objetivo de atenção importância na conformação dessa oferta pelas equipes
integral com impacto na saúde e na autonomia das de Atenção Básica.
pessoas nas práticas de cuidado.
O trabalho com grupos na Atenção Básica associado ao
As propostas do grupo em saúde, partindo do campo da saúde mental pode superar o aspecto da
reconhecimento da experiência do outro, seus normalização do cuidado a pacientes com sofrimento
territórios existenciais transversalizados por vetores emocional significativo, na perspectiva desse enfoque
sociais, culturais, políticos e outros, possibilitam a referencial. Nesse sentido, sugerimos evitar:
formação de um grupo-sujeito, no qual o sujeito é
agente coletivo dos enunciados, pois “esforça-se para • Formação de grupos por tipologia de agravos ou
ter um controle sobre sua conduta” (GUATARRI, 1985). sofrimento psíquico. Deve-se buscar a diversidade
grupal, reconhecendo e fazendo-se reconhecer os
A direção do trabalho seria que o grupo se entendesse sujeitos como pertencentes a um território comum;
como permeável a outras possibilidades de discurso e
encontros, articulando-se com um conjunto de • O grupo como lugar de abordagem. Deve-se enfatizar o
discurso histórico produzido na família, escola, igreja, grupo como lugar do encontro entre sujeitos, as
hospitais, centros de saúde. pessoas como singularidades em permanente
produção de si e do mundo.
Considerando os desequilíbrios de características Yin- A acupuntura, por exemplo, consiste no uso de agulhas
Yang, os transtornos mentais podem ser caracterizados filiformes colocadas em pontos específicos do corpo,
como “Síndromes Dian-Kuang”, que no diagnóstico seguindo a teoria dos canais energéticos.
biomédico correspondem a alterações psiquiátricas
como esquizofrenia, depressão, psicoses, paranoias, Já as práticas corporais e mentais utilizam o movimento, a
transtorno bipolar, transtornos de ansiedade, além de respiração, a concentração e massagens com intuito
estados de dependência como vícios em fumo, álcool e semelhante, além de promoverem relaxamento, equilíbrio
outras drogas e percepção corporal de modo a favorecer a integralidade
da saúde.
O tipo Dian representa a polaridade depressiva, com
características do tipo yin. Estes importantes recursos terapêuticos estão disponíveis
para qualificar a oferta de serviços no cuidado à saúde
O tipo Kuang representa a polaridade maníaca, onde mental.
há excesso de atividade motora ou mental, com sinais
e sintomas predominantemente yang.
Muitas pessoas chegam aos serviços da Atenção Básica Nesse contexto, reatribuir significa fazer a relação entre as
com queixas de sintomas físicos para os quais não queixas sintomáticas e o sofrimento psíquico. Atribuir o
encontramos explicação médica. Essas reclamações sintoma a um sofrimento que pode não ter sua origem no
podem ser muito persistentes, de forma que levam a corpo.
equipe a um esforço grande para detectar qual
patologia existe por trás do quadro sintomático. E dar ao sofrimento o cuidado que ele demanda. De fato,
essa pessoa precisa de atenção, pois não está
Não havendo evidência clínica de que o sujeito está conseguindo sozinha se dar conta de que sofre com
com algum problema real, muitas vezes a equipe passa determinado contexto de sua vida.
a desconfiar dessa pessoa – de que ela esteja
mentindo sobre sentir os sintomas, de que ela seja E sobre a reatribuição, todos nós podemos falar a
muito fresca, de que ela queira chamar a atenção de respeito. Quem nunca se deu conta, posteriormente, que
todos. certa dor de barriga ou dor de cabeça na verdade estava
representando o sofrimento por algo que estava
Contudo, talvez o que exista por trás de tais queixas ocorrendo em sua vida?
seja um sofrimento muito grande. E a pessoa que sofre
não está conseguindo associar a sua situação de Da mesma forma, sabemos que as crianças sinalizam
sofrimento aos sintomas que está produzindo. muito pelo corpo um sofrimento que não
necessariamente inicia ali, mas em outra questão em seu
Nesse sentido, cabe ao profissional da Atenção Básica entorno.
trabalhar no sentido de ajudar a pessoa a perceber que
existe o sofrimento – que muitas vezes não é nem A ação de reatribuir o significado do sintoma ao
mesmo reconhecido por ela – e acolher esse sofrimento será o primeiro passo a ser dado no
sofrimento com uma postura de empatia e tratamento
• Valorizar autoestima do indivíduo e do coletivo. Trata-se de uma prática de cidadania, uma aposta na força
da comunidade, na corresponsabilização e na
• Reforçar o papel da família e da comunidade – da competência dos sujeitos.
rede de relações que envolve os sujeitos.
Terapias cognitivas comportamentais:
• Reafirmar as práticas culturais como fomentadoras
do exercício da união na família e comunidade. ativação
• Favorecer a identificação dos sujeitos envolvidos As pessoas que estão com um grau elevado de sofrimento
com os valores culturais compartilhados na psíquico muitas vezes deixam de fazer atividades que lhes
comunidade, proporcionando melhor comunicação dão prazer.
entre as formas de saber popular e científico.
Ações simples como passear, ir ao parque, cuidar do
A Terapia Comunitária é realizada em muitos estados jardim, cozinhar, fazer esporte, ler, entre outras, são
do País, abandonadas, retiradas da rotina da pessoa
Nesse sentido, é importante que os profissionais da E, nestes momentos, ambos construirão um plano de
Atenção Básica estejam atentos às questões que se retomada de tais atividades, que poderá ser concebido
seguem: como uma meta à qual o sujeito se empenhará a atingir.
• A pessoa que está sendo acompanhada ou tratada Assim, este tipo de cuidado ocorrerá tanto nas consultas
por questões relacionadas ao sofrimento psíquico médicas, quanto nas visitas dos agentes de saúde, nos
continua a fazer atividades que lhe dão satisfação, encontros com a enfermagem e nos grupos da Atenção
tranquilidade e/ou prazer? Básica dos quais a pessoa participa.
Toda essa trama resulta em comportamentos, atitudes Situações de normalidade: podem ser entendidas como
e temperamentos que influenciam diretamente na conflitos em que os próprios envolvidos conseguem
situação de conflito. resolvê-lo com seus próprios recursos de diálogo e
persuasão. Não requer, portanto, a intervenção de um
agente externo.
O que é importante sabermos sobre
o conflito e as estratégias para sua Situações de crise: as situações de crise relacional
caracterizam-se pela intimidação, atuações enérgicas
mediação marcadas por forte emoção e desgaste dos vínculos. Esta
circunstância sugere a intervenção de um agente neutro
Ainda que se estabeleça por dissemelhanças ou
ou mediador.
divergências, a predisposição das pessoas em tratar de
seus conflitos as une em torno de uma tarefa comum e
Situação de conflito extremo: caracteriza-se por situações
específica (PICHON-REVIÉRE, 1998).
de sujeição e destruição sugerindo aguardar o
apaziguamento para a retomada de negociações.
As situações de conflitos caracterizam-se pela
Lembremos que posições pessoais envolvem crenças,
manifestação de posições opostas ou divergentes entre
interesses, percepções, sentimentos.
duas ou mais partes, porém com a necessidade
compartilhada de resolver uma situação comum.
Em uma situação de conflito temos as posições diferentes,
A congruência desses fatores é ilustrada também por Outra conduta bastante eficaz no processo de mediação
Madalena Freire (FREIRE, 2000) como “resultado da de conflitos são as perguntas exploratórias. O
dialética entre a história do grupo (movimento questionamento é o caminho mais curto para desvelar
horizontal) e a história dos indivíduos com seus emoções, juízos de valor e interesses a partir das opiniões
mundos internos, suas projeções e transferências e posições, visando elucidar a estrutura dos modelos
(movimento vertical) no suceder da história da mentais.
sociedade em que estão inseridos”.
As IBs são, geralmente, indicadas para aquelas pessoas • Sugira à pessoa que faça um diário sobre seu uso de
que estão em uso abusivo de substância, ou seja, ainda substância, registrando, por exemplo, onde costuma
não desenvolveram sinais nem sintomas que sejam (ou costumava) usar, em que quantidade, em
passíveis de considerá-las dependentes. companhia de quem, por qual razão etc. Isso ajudará a
identificar as possíveis situações de risco.
O uso abusivo difere-se da dependência por não haver
um desejo extremamente forte para o consumo da • Identifique com a pessoa algumas atividades que
substância e, também, por não haver a perda do possam lhe trazer prazer, por exemplo, alguma
controle devido ao uso e nem à dependência física. atividade física, tocar um instrumento, ler um livro, sair
com pessoas para atividades de lazer.
Além disso, a dependência inclui o aspecto da
BABOR, T. F.; HIGGINS-BIDDLE, J. C. Brief intervention MARQUES, A. C. P. R.; FURTADO, E. F. Intervenções breves.
for harzadous and harmful drinking: a manuafr use in Revista Brasileira de Psiquiatria, São Paulo, p. 2628-2632,
primary care. Genebra: World Heatlh Organization, 2004. Suplemento 1.
2001.
NATIONAL INSTITUTE ON ALCOHOL ABUSE AND
BRASIL. Ministério da Justiça. Secretaria Nacional de ALCOHOLISM (US). Rethinkin drinking: alcohol and your
Políticas sobre Drogas. Sistema para detecção do uso health. [S.l]: [s.n.], 2010.
abusivo e dependência de substâncias psicoativas:
encaminhamento, intervenção breve, reinserção social
e acompanhamento (SUPERA). Brasília, 2010.
Uma escuta atenta e mesmo adiar a prescrição para o É preciso nem transformá-la em panaceia, nem
próximo encontro podem ser peças fundamentais no desacreditá-la totalmente.
vínculo que vai sustentar a gestão compartilhada do
uso daquela medicação. Uma parceria que, desse Sintomas psicóticos (alucinações auditivas, delírios de
modo, já nascerá com consistência. perseguição), insônia, agitação duradoura (não somente
reativa a uma frustração ou situação específica), sintomas
Falaremos aqui de medicamentos que agem sobre o prolongados de tristeza e desvalia, ansiedade
sistema nervoso central e que podem ser utilizados incapacitante costumam apresentar respostas
quando aspectos relacionados a dimensões do satisfatórias.
comportamento, do pensamento, do sono, da vontade,
de várias dimensões da vida de uma pessoa
Nessa linha de pensamento, aprendemos que os As medicações utilizadas em Saúde Mental apresentam
antagonistas dopaminérgicos agem também sobre certas peculiaridades quando utilizadas em crianças e
sintomas psicóticos, os inibidores da recaptação da idosos. No primeiro grupo, é fundamental problematizar a
serotonina produzem também efeitos sobre situações indicação.
crônicas e graves de desmotivação e perda de interesse
pelo ambiente e/ ou pelas pessoas. Quando bem indicadas, é importante saber que as
crianças costumam ter uma metabolização hepática mais
É comum, por exemplo, o uso de um “antidepressivo” eficiente, o que sugere fragmentação das doses ao longo
para quadro de ansiedade sem sintomas depressivos do dia, além da necessidade de checar a dose por quilo de
ou de um “antipsicótico” para insônia sem sintomas peso (que pode ser até maior que de adultos).
psicóticos. Ter isso em mente e poder esclarecer isto
ao usuário pode ser bastante proveitoso. Nos idosos, é recomendável utilizar doses mais baixas que
as de adulto, considerando metabolização mais lenta e
Como ocorre com qualquer outra prescrição, é maior sensibilidade aos efeitos sedativos, o que pode
importante que o profissional tente usar sempre as elevar consideravelmente o risco de quedas e suas
doses mínimas necessárias. Lembre-se de sempre consequências. Esses grupos etários também estão
propor reduções graduais e para isso, pesquise se particularmente propensos a respostas paradoxais.
aquele medicamento tem formulações em gotas ou
xarope que podem ser bastante úteis na hora titular a
dose.
Referência
Site - http://www.cenatcursos.com.br/
Eventos - https://www.sympla.com.br/cenat
Facebook - https://www.facebook.com/cenatcursos/
Youtube - https://www.youtube.com/channel/UCWxHnmzMVCUJIzTzm0aitMg
Acreditamos em uma saúde mental centrada na pessoa, não em seus rótulos
ou diagnósticos.
Toda semana com conteúdos novos e exclusivos. Tudo isso por apenas R$
20,90 no plano trimestral. Comece a estudar agora!!