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Coronéis bandidos em Mato Grosso 1889-1943

Correa, Valmir Batista

Em razão do processo histórico de expansão da fronteira colonial, a estrutura de poder


de Mato Grosso a descoberta do ouro no começo do século XVIII. Tornou-se o grande
atrativo da exploração mercantilista no império português atraindo uma numerosa
população para as terras mineira. Partindo dai o poder politico e administrativo da
capitania, e posteriormente da província de Mato Grosso.

Com a expansão lusa rumo ao oeste, resultou no estabelecimento de uns poucos marcos
na fronteira com o império colonial castelhano, o que garantiu a Portugal a posse de
uma imensa área ao sul dos núcleos de Cuiabá e Vila Bela. Com os rigores da
administração das minas e o zelo redobrado sobre Mato Grosso envolveram toda a
população mineira identificada na luta pela posse e exploração dos recursos da região, e
na luta pela própria sobrevivência.

Quanto ao Sul de Mato Grosso, e em especial região pantaneira, apesar da existência de


uns poucos povoados, guarnições e fazendas , só começou a ser sistematicamente
ocupado a partir do segundo quartel do mesmo século. Após a guerra com o Paraguai a
estrutura de poder a nível regional passou a sofrer sensíveis mudanças, apesar da
continuidade do predomínio e do prestigio de Cuiabá como centro decisório de toda a
província mato-grossense .

Com o empobrecimento da atividade mineira e a invasão paraguaia, contribuíram para a


perda de prestigio das velhas lideranças nortistas e para assentamento de um poder
politico-administrativo , sobre novas base econômicas e sociais. A republica dos
coronéis. Essas elites politicas constituíram-se não somente de coronéis proprietários
rurais, mas também de comerciantes e coronéis urbanos, que se projetaram na politica
local e estadual, profissionais liberais (médicos, advogados) entre outros segmentos.

Coronelismo, enxada e voto de Victor Nunes Leal, publicado pela primeira vez em
1949, já se tornou um clássico da literatura política brasileira, tanto que vem de ser
reeditado pela Alfa-Ômega, quase 30 anos após sua primeira edição. Tendo em vista a
sua atualidade e o seu caráter fundamental para a compreensão da realidade brasileira
contemporânea, passamos a resumi-lo.

Nos capítulos primeiro e sétimo, o autor conceitua o fenômeno do coronelismo


considerando-o inicialmente "como resultado da superposição de formas desenvolvidas
do regime representativo a uma estrutura econômica e social inadequada. Não é, pois,
mera sobrevivência do poder privado, cuja hipertrofia constitui fenômeno típico de
nossa história colonial. É antes uma forma peculiar de manifestação do poder privado,
ou seja, uma adaptação em virtude da qual os resíduos do nosso antigo e exorbitante
poder privado têm conseguido coexistir com um regime político de extensa base
representativa" (p. 20). Assim, o coronelismo implica um compromisso entre o poder
público, progressivamente fortalecido; e o poder privado, cada vez mais decadente, dos
chefes locais, principalmente donos de terras. A propriedade da terra constitui, portanto,
o fundamento em que se baseia o coronelismo. Proprietário de terras e dono de votos,
eis a essência do coronel.

Esse compromisso coronelista pressupõe um certo grau de debilidade de ambos os


lados, ou seja, do coronel e do poder público - a extensão da cidadania a um vasto
contingente de eleitores do meio rural, incapacitados para o exercício de seus direitos
políticos (graças à dependência econômica, social e política dos donos de terras),
vinculou os detentores do poder público aos condutores desse rebanho eleitoral, isto é,
os coronéis. Em contrapartida, estes últimos não mantêm o seu poder focal sem o apoio
e a cumplicidade do poder público. Portanto, "os dois aspectos - o prestígio próprio dos
coronéis e o prestígio de empréstimo que o poder público lhes outorga - são
mutuamente dependentes e funcionam ao mesmo tempo como determinantes e
determinados. Sem a liderança do coronel' - firmada na estrutura agrária do país - , o
governo não se sentiria obrigado a um tratamento de reciprocidade e, sem essa
reciprocidade, a liderança do 'coronel' ficaria sensivelmente diminuída" (p. 43).

O fortalecimento do Estado no Brasil não tem sido acompanhado de correspondente


enfraquecimento do coronelismo. "Os próprios instrumentos do poder constituído é que
são utilizados, paradoxalmente, para rejuvenescer, segundo linhas partidárias, o poder
privado residuais dos 'coronéis', que assenta basicamente numa estrutura agrária em fase
de notória decadência. Essa decadência é imprescindível para a compreensão do
'coronelismo' porque, na medida em que se fragmenta e dilui a influência 'natural' dos
donos de terras, mais necessário se torna o apoio do oficialismo para garantir o
predomínio estável de uma corrente política local" (p. 255). Nesta situação, a falta de
autonomia legal do município sempre foi compensada com uma ampla autonomia
extralegal, doada pelos governos estaduais aos partidos locais de sua preferência. "Esta
contraprestação estadual no compromisso coronelista explica, em grande parte, o apoio
que os legisladores estaduais - homens em sua maioria do interior - sempre deram aos
projetos de leis atrofiadoras do município" (p. 255).

Embora a época áurea do coronelismo tenha sido a I República, ele persiste até hoje nas
regiões menos desenvolvidas do Brasil e "parece evidente que a decomposição do
'coronelismo' só será completa quando se tiver operado uma alteração fundamental em
nossa estrutura agrária" (p. 257).

Evidentemente, a ação politica dos coronéis em Mato Grosso delineou-se através dos
partidos republicanos estaduais , cuja as origens remontam ao inexpressivo Clube
Republicano fundado em 1887 em Corumbá. Entretanto as novas forças político-
partidárias da republica, ao nível estadual, foram principalmente engrossadas pelos
remanescentes dos antigos partidos monárquicos (o liberal conservados).

As disputas coronelistas favoreceram ainda mais uma situação já bastante propicia ao


banditismo na região Sul de Mato Grosso, acentuando o papel politico dos bandos
armados que ali proliferam mais do que em qualquer outra região do pais. Assim o
banditismo em ato Grosso , ajustou-se perfeitamente a estrutura sócio-econômica que
produziu o fenômeno do coronelismo, caracterizando o perfil marcante da violência na
historia politica da região mato-grossense, nesse período republicano.

Conclusões finais:

Nessa disputa de forças coronelistas do estado mato-grossense, observa-se ainda, além


de uma nítida divisão entre os coronéis do norte e sul, a heterogeneidade dos diversos
grupos políticos quanto as suas formas de atuação, força bélica e poder econômico.
Nem todos os coronéis se enquadravam na condição de coronéis guerreiros. A estrutura
de poder estadual, no período republicano, era muito mais complexa na medida em que
tinham sob seu domínio direto, ou influencia, um núcleo urbano ou município inteiro,
partilhando o poder com outros coronéis, apoiando grupos mais fortes, porem, sem
necessariamente ou abertamente, recorrer as armas e a violência.

Os coronéis de Mato Grosso, cujas bases econômicas podiam então, provir da grande
propriedade rural, como de um patrimônio urbano (coronéis pecuaristas, usineiros,
agricultores, grandes ou pequenos comerciantes, etc.) exerciam o poder de decisão
efetivamente no âmbito loca, ou estadual , mantendo o controle dos empregos públicos
e outros privilégios econômicos e sociais, e dispunham também um grande poder de
força sob seu comando, como sendo verdadeiros mandões da aldeã.

Fontes bibliográficas:

Coronelismo, enxada e voto (O município e o regime representativo no


Brasil).
Por Victor Nunes Leal. São Paulo, Editora Alfa-Omega, 1976.

Coronéis bandidos em Mato Grosso 1889-1943


Correa, Valmir Batista
.

Coronelismo, enxada e voto (O município e o regime representativo no Brasil).


Por Victor Nunes Leal. São Paulo, Editora Alfa-Omega, 1976.

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