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PRESIDENTA DA REPÚBLICA

Dilma Rousseff

U
m dos corpos celestes que despertam maior curiosidade hoje
MINISTRO DE ESTADO DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
em dia são os buracos negros, regiões do espaço onde existem Marco Antonio Raupp
verdadeiros ralos cósmicos: sugam tudo que deles se aproxima
SUBSECRETÁRIO DE COORDENAÇÃO DAS UNIDADES DE PESQUISA DE CURIOSIDADE PARADOXOS E ENTROPIA

Sumário

Devoradores cósmicos de matéria e luz


demasiadamente, tamanha a força gravitacional que exercem. Arquimedes Diógenes Ciloni
A REALIDADE Paradoxo da bagunça
Diferentemente das estrelas – que podemos ver por meio da luminosidade Coqueluche da astrofísica Eles têm entropia!
DIRETOR DO CBPF
que emitem –, esses objetos não deixam escapar nem mesmo a luz – daí, o nome Fernando Lázaro Freire Júnior Algo de novo no front Como uma panela quente
buracos negros. Ultrapassada uma linha imaginária de atração fatal – o chamado Matéria e antimatéria

BURACOS NEGROS
COORDENAÇÃO do projeto DESAFIOS DA FÍSICA
horizonte de eventos –, não há como se evadir do ‘abraço mortal’: tudo é engoli- João dos Anjos (Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas/MCTI) HORIZONTE
do por esse sorvedouro de matéria e luz.
EDITORES CIENTÍFICOS
E SINGULARIDADE GRANDES QUESTÕES
Embora invisíveis aos telescópios, esses corpos cósmicos podem, entretan- George E. A. Matsas (Instituto de Física Teórica/Universidade Estadual Paulista) Nada além do horizonte Evaporação e sumiço

Buracos Negros
Daniel A. T. Vanzella (Instituto de Física de São Carlos/Universidade de São Paulo)
Devoradores cósmicos
to, ser identificados – bem como previstos e reconhecidos – pela perturbação Ponto denso Para onde vai a informação?
que causam à sua volta: discos, jatos e redemoinhos de matéria ao seu redor. REDAÇÃO E EDIÇÃO DE TEXTO Terra em um ponto Gravitação quântica
Cássio Leite Vieira (Instituto Ciência Hoje) Cama de malabarista
Buracos negros são objetos bastante comuns no cosmos. E, até mesmo nos- de matéria e luz Bolinhas de gude
Como o Big Bang

sa galáxia, a Via Láctea, tem um (poderoso) em seu centro. Felizmente, nosso PROJETO GRÁFICO, DIAGRAMAÇÃO, INFOGRÁFICOS E TRATAMENTO DE IMAGEM
Ampersand Comunicação Gráfica
planeta está bem longe de seus tentáculos...
(ampersand@amperdesign.com.br)
NASCIMENTO
Com este folder, damos prosseguimento às atividades de divulgação cien-
CENTRO BRASILEIRO DE PESQUISAS FÍSICAS E EVOLUÇÃO
tífica realizadas pelo CBPF. Esta série destina-se ao público não especializado,
Rua Dr. Xavier Sigaud, 150 Puxa e empurra
que encontrará aqui informações sobre grandes temas da física, bem como re- 22290-180 - Rio de Janeiro - RJ
Tel: (0xx21) 2141-7100
Patamar mínimo
ferências para leituras mais aprofundadas. Mais uma vez, esperamos que esta Fax: (0xx21) 2141-7400 Mesma atração
iniciativa sirva para despertar vocações, mostrando a jovens estudantes como a Internet: http://www.cbpf.br
Redemoinho e canibalismo
ciência pode ser interessante. Para receber gratuitamente pelo correio um exemplar deste folder, envie pedido
pelo sítio do projeto Desafios da Física (http://mesonpi.cat.cbpf.br/desafios/),
onde estão disponíveis, em formato PDF, os folders da série.
No portal http://www.cbpf.br/Publicacoes.html, estão disponíveis
outras iniciativas de divulgação científica do CBPF.
João dos Anjos
COORDENADOR DO PROJETO DESAFIOS DA FÍSICA

MATSAS, G. e VANZELLA, D. Buracos negros – rompendo os limites da ficção (Rio de Janeiro: Vieira & Lent, 2008).

Fontes
MATSAS, G. e VANZELLA, D. ‘Partículas elementares à luz dos buracos negros’. Ciência Hoje n. 182, maio de 2002.
Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas MATSAS, G. e VANZELLA, D. ‘O vácuo quântico cheio de surpresas’. Scientific American Brasil, agosto de 2003.

2012 CASTIÑEIRAS, J., CRISPINO, L. e MATSAS, G. ‘Horizonte de eventos’. Scientific American Brasil, outubro de 2004.
CASTIÑEIRAS, J., CRISPINO, L., MATSAS, G. e VANZELLA, D. ‘Buracos negros’. Scientific American Brasil 
(coleção Gênios da Ciência), maio de 2006.
CASTIÑEIRAS, J., CRISPINO, L., MATSAS, G. e VANZELLA, D. ‘Singularidade e Informação’. Scientific American Brasil 
(coleção Gênios da Ciência), maio de 2006.
FREITAS-PACHECO, J. A. de. ‘Buracos negros supermassivos – os segredos revelados’. Ciência Hoje n. 293, junho de 2012.
HORIZONTE PARADOXOS E ENTROPIA
E SINGULARIDADE Disco de acresção
Paradoxo da bagunça • Tire o lixo de um lu- Como uma panela quente • Mas dizer que
Cama de malabarista • Para entender o que gar e jogue-o em outro. O primeiro local ficou buracos negros têm entropia levou a outra ques-
Nada além do horizonte • A definição mo-
ocorre com a matéria e mesmo a luz que se apro- mais organizado, mas o segundo perdeu orga- tão importante: se esses gigantes da gravidade
derna de buraco negro – por sinal, o nome bura-
ximam de um horizonte de eventos, a analogia nização. Mas e se jogássemos esses rejeitos em têm entropia – retrucaram alguns físicos –, en-
co negro foi invenção do físico norte-americano
mais empregada é a de uma grande cama elásti- um buraco negro? Eles – e a informação que eles tão, eles deveriam ter também outros atributos
John Wheeler (1911-2008), em 1967 – é a de uma
ca, como aquelas usadas por malabaristas de carregam – estariam perdidos para sempre. E o termodinâmicos, como temperatura. Em outras
região do espaço dotada de intensa gravidade,
circo. Sobre ela, depositamos uma diminuta, mas universo se tornaria um local mais organizado. palavras, deveriam emitir radiação. Hawking,
da qual nada, nem mesmo a luz, consegue esca-
par. A fronteira imaginária (imaterial) que deli- pesadíssima esfera que irá deformar a cama,
criando uma depressão. Nessa analogia, a cama
Portanto, toda vez que um buraco negro suga
matéria e energia (ou seja, informação), o uni-
disposto a mostrar que buracos negros não ti-
nham entropia (e, portanto, temperatura), che- GRANDES QUESTÕES
mita tal região foi batizada, em 1950, horizonte
faz o papel do espaço-tempo, um ‘tecido’ forma- verso fica mais organizado. Eis aí um aparente gou, em 1974, a uma conclusão surpreenden-
de eventos pelo físico de origem austríaca Wolf- Evaporação e sumiço • Se os buracos ne-
do por três dimensões espaciais (altura, largura paradoxo, pois uma lei poderosíssima da física te: buracos negros têm temperatura, ou seja,
gang Rindler. Se nada escapa de um buraco ne- gros perdem energia, eles, então, diminuem
e comprimento) e uma dimensão temporal (tem- (a 2ª lei da termodinâmica) diz que, em sistemas irradiam energia, como se fossem uma panela
gro, então um observador de fora do horizonte de tamanho e evaporam – em 1971, o próprio
po), como foi previsto pela relatividade geral. fechados – e poderíamos considerar o universo quente. Essa emissão de energia é hoje conhe-
de eventos não poderia ver o que se passa para Hawking havia concluído que isso era impos-
A esfera seria o buraco negro, que deforma bru- como tal –, a entropia, que pode ser entendida cida como radiação Hawking.
além dessa fronteira imaginária, assim como sível no contexto clássico, ou seja, sem levar
talmente o espaço-tempo em seu redor. como o grau de desordem, nunca pode diminuir.
um marinheiro não pode ver além do horizonte – em conta os princípios da mecânica quântica.
Matéria e antimatéria • Hawking chegou à
nesse caso, devido à curvatura da Terra. O interessante é que os cálculos mostram
Bolinhas de gude • Uma bolinha de gude que Eles têm entropia! • A resolução do parado- conclusão de que buracos negros irradiam ener-
xo da diminuição da desordem – portanto, da gia quando adicionou, à teoria da relatividade que, quanto menor a massa de um buraco ne-
Ponto denso • Esse intenso puxão gravitacio- fosse atirada com alguma velocidade a partir da
aparente diminuição da entropia do universo – geral, elementos da mecânica quântica (teoria gro, mais rapidamente ele evaporaria.
nal vem do fato de, no centro do buraco negro, borda da cama elástica poderia sofrer um leve
desvio ao passar pelas proximidades da defor- veio de físicos teóricos: buracos negros também que lida com os fenômenos da dimensão atômi-
haver uma singularidade, ou seja, um ponto que Para onde vai a informação? • Mas a eva-
teriam entropia, e ela seria proporcional à área ca e subatômica). Esse processo é basicamente
DE CURIOSIDADE concentra uma densidade impressionantemente
alta de matéria, algo que pode chegar a bilhões
mação central causada pela esfera e, depois
disso, seguir sua trajetória. Mas, se a veloci- NASCIMENTO manescentes de estrelas abaixo disso seguirão
outra evolução, dando origem a outros objetos
do horizonte de eventos. Assim, toda vez que
matéria e energia (ou seja, informação) caíssem
assim: na borda do horizonte de eventos, den-
tro e fora dessa fronteira imaginária, pululam
poração de um buraco negro nos leva a outra
questão: se um buraco negro desaparece, o
A REALIDADE de massas solares. Nesse ponto sem dimensões
físicas – e não importa quão grande seja a mas-
dade de arremesso fosse baixa, a bolinha seria
‘sugada’ para o interior da deformação, espira- E EVOLUÇÃO cósmicos, como estrelas anãs brancas e estre-
las de nêutrons – estas últimas, no entanto, po-
em um buraco negro, a massa do buraco negro pares de partículas e antipartículas virtuais que resta é apenas radiação. E, sabe-se, com
base nas leis da física, que não é possível
lando, como a água que escorre por um ralo. Luz aumentaria e seu horizonte de eventos também. (elétrons e pósitrons, por exemplo) que formam
Coqueluche da astrofísica • Se eleição sa do buraco negro –, as leis conhecidas hoje dem sofrer um segundo colapso gravitacional e recuperar toda a informação a partir apenas
e matéria que ultrapassam o horizonte de even- E, consequentemente, sua entropia. o chamado vácuo quântico. Por vezes, alguns
fosse feita entre o grande público para indi- pela física não são mais válidas. Puxa e empurra • Buracos negros se formam gerar um buraco negro. da radiação. Portanto, surge a pergunta: para
tos têm destino semelhante: acabam no interior desses pares se materializam – ou seja, passam
car qual o corpo celeste mais exótico, é (bem) a partir de estrelas massivas que, ao final da onde vai a informação que cai em um buraco
do buraco negro, indo rumo à singularidade. de virtuais a reais –, de tal forma que uma das
possível que nas primeiras colocações – tal- Terra em um ponto • O tamanho do horizon- vida, depois de queimarem todo seu combus- Mesma atração • Ao contrário do que permeia negro? A resposta a esse pergunta é um dos
partículas do par surge dentro do horizonte de
vez, até como vencedores – estivessem os bu- te de eventos é diretamente proporcional à mas- tível (predominantemente hidrogênio, que se o imaginário popular, um buraco negro não desafios atuais para os especialistas na área.
Concepção artística de um buraco eventos – e é sugada pelo buraco negro –, en-
racos negros. Afinal, esses objetos cósmicos, sa da singularidade, que pode variar de poucas funde no interior da estrela para gerar elemen- exerce uma atração gravitacional maior que a de negro com rotação que habitaria quanto a outra escapa, dando origem à radiação
que se tornaram a coqueluche da astrofísica, massas solares a bilhões delas – estes últimos tos químicos mais pesados), acabam colapsan- uma estrela com a mesma massa, desde que Gravitação quântica • A solução para a
o núcleo da galáxia MCG-6-30-15 Hawking.
têm atributos suficientes para merecer tal po- denominados buracos negros supermassivos. do sobre si mesmas, deixando como produto testemos isso com um corpo à mesma distância questão do sumiço da informação quando um
pularidade. Talvez, o principal deles tenha a Em princípio, todo corpo com massa teria seu final dessa implosão um ‘corpo’ infinitamente dos dois. Ou seja, se nesse instante o nosso Sol buraco negro evapora talvez seja alcançada
ver com o fato de serem devoradores inces- horizonte de eventos se fosse suficientemente denso, ou seja, a singularidade do interior do se transformasse, num passe de mágica, num apenas quando (e se) os físicos chegarem à
santes de matéria e luz – sim, nem mesmo os compactado. Caso pudéssemos concentrar toda buraco negro. Até o momento do colapso, há buraco negro com a mesma massa, o único efei- chamada gravitação quântica, área que unifi-
fótons (corpúsculos de luz) conseguem esca- a massa da Terra em um ‘ponto’, teríamos um um equilíbrio entre a pressão de dentro para to sobre a Terra seria que, depois de alguns mi- caria a relatividade geral e a mecânica quân-
par da fúria sugadora de um buraco negro, horizonte de eventos da ordem de ínfimos 9 fora, gerada pela radiação resultante da fusão nutos, não veríamos mais nenhuma luz vinda tica. A busca por essa união não tem sido ta-
caso dele se aproximem. mm. Já, num buraco negro com bilhões de mas- nuclear, e a gravidade, que puxa as camadas daquela região. De resto, nada mudaria, nem refa fácil, e os físicos sequer concordam sobre
sas solares, essa cifra iria para a casa dos bi- externas para dentro. O combustível acaba, a mesmo a órbita da Terra em torno desse temido quão perto (ou longe) estão disso.
Algo de novo no front • Até a década de lhões de km. pressão diminui, e a gravidade vence. Simpli- objeto.
1960, buracos negros não passavam de mera ficando, o resultado é o colapso do interior da Como o Big Bang • O estudo teórico e obser-
curiosidade teórica. A predição desses ralos estrela, seguido de uma explosão de propor- Redemoinho e canibalismo • No entanto, o vacional dos buracos negros nos ajuda a en-
cósmicos surgiu em 1916 de cálculos feitos ções cósmicas. Essa explosão ejeta boa parte cenário seria bem diferente para um corpo de- tender não só a natureza e suas leis, mas tam-
com base na teoria da relatividade geral, pu- da massa original da estrela, semeando os ele- savisado que resolvesse se aventurar pelas pro- bém como evoluem as galáxias e mesmo como
blicada naquele ano pelo físico de origem ale- mentos químicos mais pesados pela galáxia. ximidades de nosso Sol agora transformado em nasceu o universo. Os cientistas têm muitas
mã Albert Einstein (1879-1955). O feito é do Onde antes brilhava uma estrela, agora jaz buraco negro. Uma espaçonave, um planeta ou evidências de que o universo teria começado
astrofísico alemão Karl Schwarzschild (1876- apenas um remanescente colapsado com uma mesmo outra estrela que chegassem a algumas a partir de um estado de matéria e energia
1916), enquanto ele combatia na frente russa fração da massa de sua genitora. dezenas de quilômetros dele seriam completa- extremamente concentradas, com pressões e
na Primeira Guerra Mundial. Cerca de duas mente despedaçados, formando um redemoi- densidades inimagináveis. Isso pode ser com-
décadas depois, o próprio Einstein diria não Patamar mínimo • Nem todos os remanescen- nho de matéria (disco de acresção) que, ao final, parado à singularidade de um buraco negro
acreditar na realidade desses corpos. Hoje, Curvatura do tes da morte explosiva de uma estrela são bu- seria engolida pelo buraco negro. Desse modo, descomunal. Portanto, entender a física des-
com tantos dados experimentais, é pratica- espaço-tempo racos negros. Há um patamar mínimo da massa um buraco negro pode canibalizar estrelas pró- ses gigantes da gravidade nos ajudará a com-
imagens nasa

mente impossível refutar a existências desses desse remanescente para que isso ocorra: esse ximas ou nuvens de gás, interferindo, assim, na preender melhor como se formou o universo.
gigantes da gravidade. limite está em cerca de três massas solares. Re- evolução da galáxia que o hospeda. E, no final das contas, a nós mesmos.

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