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Introdução
Este trabalho tem por objetivo verificar o Estado moderno, por meio da análise do
pensamento político e social de alguns autores que contribuíram para o estudo da formação e
consolidação do Estado. Para isso, este autor se valeu da bibliografia referida do curso de
Teoria Social Clássica, da professora Maria Sarah Telles, da PUC-Rio, bem como de outras
obras sobre o tema.
O tema do Estado é recorrente na área das Ciências Sociais, entretanto, sua abordagem
perpassa os limites dessa área, cuja incorporação remonta aos pensadores políticos que
trataram do tema desde o século XVI. O objetivo deste trabalho propõe rever a discussão
contratualista sobre a origem do Estado, assim como verificar a visão dos cientistas sociais
sobre as funções do Estado e as sociedades contemporâneas.
O Estado também é uma organização em que se define como aquelas que aplicam a
coerção, distintas da organização familiar ou outras formas de parentesco, que em alguns
casos exercem prioridade declarada sobre todas as outras organizações dentro de grande
extensão territorial, cuja soberania são reconhecidamente legítimas (TILLY, 1996).
Percebe-se nessas duas definições, dadas pelo filósofo italiano Norberto Bobbio e outra
pelo sociólogo e cientista político norte-americano Charles Tilly, que o Estado foi
estabelecido e consolidado como uma forma de organização política com características
próprias e diferente das formas de organização política anteriores. Percebe-se, também, que as
palavras-chave que qualifica o Estado estão relacionadas com o poder, a coerção, legitimidade
e organização social. Sobre isso, é que serão tratados nos capítulos seguintes.
Hobbes(2014) formula dois pressupostos sobre os quais estrutura sua teoria sobre o
Estado: a natureza fez os homens iguais; e o homem tem liberdade em face de sua natureza.
Em face desses dois pressupostos, os homens têm os mesmos interesses e os mesmos
objetivos.
Por meio da relação entre essas verdades ou axiomas, percebemos que os homens estão
em um potencial estado de guerra de todos contra todos, dado que o seres humanos são
naturalmente iguais e têm liberdade para fazer o que quiserem, caso os interesses venham a se
conflitar e não haja o medo de um poder coercitivo superior que os faça refrear seus instintos.
(HOBBES, 2014)
Esse contrato se apresenta de forma concreta na figura do Estado, instituição social que
regula a ação e impõe sobre as vontades dos homens. É aquele ao qual todos os seres
humanos concedem a sua liberdade em troca de proteção e segurança. Assim, os homens só
podem se proteger uns dos outros se todos concordarem em entregar sua liberdade natural a
um poder superior aos homens, isto é, o Estado. Desta forma, o Estado é o responsável por
trazer a ordem onde havia anarquia que a natureza humana e a liberdade inata, por si só,
desencadearia.
Para Locke(1998), os homens também são iguais e livres em seu estado natural,
contudo, isso tampouco acarreta um estado de guerra de todos contra todos, conforme
observava Hobbes, isto é, apesar dos homens gozarem naturalmente da igualdade e de
desfrutar de uma liberdade total de dispor de si mesmo ou de seus bens, não lhes dá a
permissividade de destruir sua própria espécie, nem qualquer criatura que se encontre sob sua
posse.
No pensamento filosófico de Locke, o que define a natureza humana não é o valor, mas
o direito à propriedade privada. O estado de Natureza é orientado por um direito natural que
se impõe a todos e, no que diz respeito à razão, a que esse direito consiste, ensina à toda
humanidade que todos são iguais e independentes, em face disto, ninguém deve lesar o outro
em sua vida, sua saúde, sua liberdade ou seus bens. Caso não exista um conjunto de regras
que garantam o direito inato do homem à propriedade, pode ocorrer o conflito. Isto é, se a
propriedade não for violada, o homem viverá em um estado de paz, do caso contrário, haverá
a guerra. Dessa forma, se faz necessária o estabelecimento de um conjunto de regras e
controles sociais para garantir a propriedade e evitar os inconvenientes gerados pela eventual
violação da propriedade.(LOCKE, 1998)
De acordo com Jean Jacques Rousseau(1999), ele argumenta que o homem nasce livre
e dessa liberdade surge como um direito natural, isto é, o homem é bom por natureza. No
entanto, é a sociedade que o corrompe por intermédio da educação. Assim, a ideia de
liberdade é um conceito compartilhado entre os contratualistas, como direito natural dos
homens, mas diferencia-se radicalmente de Hobbes, que entende que a natureza humana é má,
e de Locke que acredita ter o homem direito inato à propriedade.
Entretanto, como pode ser o homem naturalmente livre se por toda parte ter sua
liberdade cerceada? Como pode a realidade do homem ser regida pela coação e, ao mesmo
tempo, os homens terem como direito natural à liberdade? Rousseau, desenvolveu sua teoria
sobre essas questões, buscando compreender o processo de passagem de uma natureza
humana essencialmente livre para uma vida socialmente regulada (ROUSSEAU, 1999).
Para explicar como ocorre esse processo de transformação, Rousseau não toma como
ponto de partida nenhum caso histórico, mas sim ao homem selvagem, ao qual ele denomina
de estado primitivo, que consegue tudo o que precisa no seu estado de natureza. Porém,
quando o homem se apropria do que a natureza lhe oferece, quando toma para si os recursos
que estavam disponíveis a todos de forma igualitária, isto é, que “os homens tenham chegado
ao ponto em que os obstáculos prejudiciais à conservação no estado de natureza, sobrepujam,
por sua resistência, as forças que cada indivíduo pode empregar para se manter nesse estado”
(ROUSSEAU, 1999, p. 20), o estado primitivo não pode subsistir, então a liberdade cessa e a
coerção tem início.
Nesse sentido, pode-se compreender como Rousseau trabalha sua noção de contrato
social. Segundo ele, os homens não podem retroagir ao estado primitivo, assim deve se unir e
dirigir a forma atual da sociedade, sendo o único meio de conservação é por agregação ou de
comum acordo, num somatório de forças para um só fim, sobrepondo-se às resistências. O
contrato serve para garantir ao homem a sua liberdade natural. O Estado, fundado por meio do
pacto social, deve evitar que o homem seja privado da sua liberdade em função do convívio
social. Assim, percebe-se que, nesse pensamento de Rousseau, o Estado está a serviço da
liberdade humana (ROUSSEAU, 1999).
Autoridade, soberania e legitimidade
Quando os Estados são legítimos? Qual a base de sua alegada legitimidade? Sobre essas
questões, verifica-se que existem três princípios básicos do poder do Estado, por meio dos
quais ele consegue limitar a vontade e as ações dos homens: a autoridade, a soberania e a
legitimidade.
A legitimidade1, por sua vez, é o meio do qual o Estado assegura o exercício do seu
poder e garante a obediência dos seus dominados, na crença da vigência do poder de mando
sobre eles. Dito de outro modo, segundo Weber(2012), a crença na legitimidade do poder do
Estado é a probabilidade de que os interesses dos indivíduos, a partir do estabelecimento de
uma relação associativa racional entre os seus membros e dentro de um território político, estão
proporcionando a aplicação das funções fundamentais do Estado, conforme se verifica no
trecho a seguir:
1
Legitimidade é derivada do latim lex e tem a mesma raiz que legislação.
impessoais e estas estão obrigados à obediência dentro da competência funcional da
autoridade e dentro dos limites racionais que lhe forem atribuídos. Desta forma, o Estado
estabelece o exercício da sua autoridade quando este mobiliza os meios do uso da força que
lhes são próprios, com o fim de intimidar as ações contrárias dos indivíduos.
Sabe-se que o Estado é uma relação de homens dominando homens, onde a relação
mantida por meio da violência legítima, nesse sentido, para que o Estado exista, os dominados
devem obedecer à autoridade alegada pelos detentores do poder, assim sendo, Weber
estabelece três legitimações do domínio do Estado: o domínio tradicional, o domínio
carismático e o domínio racional legal. (WEBER, 1974)
Por fim, segundo Weber (2012), a dominação burocrática deriva da sua legitimidade, da
sua legalidade estatutária e das regras racionais e impessoais que devem gerir toda associação
política burocrática como o Estado.
Reciprocidade e solidariedade
Sabe-se que nas comunidades políticas contemporâneas, isto é, nos Estados modernos,
há uma forma de organização social em que os indivíduos compartilham crenças e valores em
comum como, por exemplos, a religião e a língua, – segundo Mauss(2003, p. 434 ), é “um dos
sinais mais certos pelos quais se reconhece uma individualidade coletiva, tribo ou nação, é a
linguagem distintiva” –, e engajam-se em relações sociais diretas e múltiplas, praticando a
reciprocidade entre seus membros.
Nas sociedades ditas modernas, a maioria das relações sociais tende a ser especializada,
como a interação entre um lojista e seu cliente nas relações privadas, como também, na
interação entre o cidadão e o seu representante político nas relações de caráter públicas.
Assim sendo, a reciprocidade refere-se a sistemas de relações sociais cooperativas, dito de
outro modo, as pessoas ajudam-se mutuamente na expectativa da reciprocidade(MORRIS,
2005).
Nesse contexto, pode-se observar que a racionalidade nos Estados modernos estabelece a
relação de interesses forjada na confiança, na paz e na compreensão mútua elaboradas pelas
relações de reciprocidade, seja esta entre pessoas dentro dos limites do Estado ou até mesmo
fora deste contexto, no campo da política internacional, particularmente. Assim sendo, a
reciprocidade entre os homens, neste caso, ao invés de ser uma preocupação com o outro,
busca em primeiro lugar, realizar-se a si mesmo.
Da divisão do trabalho, deve-se levar em consideração o efeito moral que ela produz e a
função social que se estabelece, criando em duas ou mais pessoas um sentimento de
solidariedade. Cita-se, por exemplo, uma associação de amigos em que cada um tem seu papel
social ou um intercâmbio de serviços, de acordo com o caráter individual, isto é, conforme a
partilha de funções ou a divisão do trabalho: um executa, outro protege, este aconselha, aquele
consola e outras mais funções sociais segundo o número de indivíduos (DURKHEIM, 1999).
MAUSS, Marcel. Sociologia e Antropologia. São Paulo: Cosac & Naify, 2003. Sexta parte: “As técnicas do corpo”,
p. 399-422.