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Trabalho apresentado ao GT de Produção Editorial e Cultural, do IX Congresso Brasileiro de Ciências da
Comunicação da Região Nordeste.
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Doutorando em Comunicação e Cultura Contemporâneas da Faculdade de Comunicação da Bahia. E-mail:
betonnasi@tutopia.com.br.
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Conhecido também como quadrinho.
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Denominação dada dos quadrinhos de super-heróis tais como Superman, Batman e outros.
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Também conhecidas como tira cômica, tira de jornal ou tira diária. Denominações normalmente usadas para
traduzir o termo comic strips. Estruturalmente as tirinhas são caracterizadas por uma série de três a quatro vinhetas
dispostas horizontalmente. Nem sempre a temática das tirinhas são de caractere humorístico. Podemos encontrar
também as de aventura, mistério, espionagem, policial, drama, super-heróis entre outras. Elas geralmente são diárias
publicadas em jornais, revistas ou na Internet, neste último caso denominadas de webcomics.
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York Journal American. Portanto, na soma dessas duas fases de Yellow Kid são treze
anos (1885-1898) entre publicações inicialmente esporádicas e posteriormente
publicações diárias. (fig. 01)
As tirinhas têm como uma das
suas principais características a
horizontalidade. As vinhetas são
dispostas uma ao lado da outra primando
à produção de uma seqüência linear da
esquerda para direita quando nos
deparamos com o ato de leitura. O
formato da tirinha estava atrelado ao
Fig. 01. Tirinhas de Yellow Kid. Nelas podemos
espaço disponível na página do jornal. É observar que a fala do personagem não era representada
de praxe um espaço que possa com os balões, mas colocadas na camisa do mesmo. A
famosa cor amarela da camisa do personagem só foi
comportar várias tiras de autores incorporada em fevereiro de 1885.
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Para Fedel (2004) a novelização seria o caráter folhetinesco o qual promove a divisão das histórias em capítulos,
muitas com duração de quase um ano, pode desenvolver no colecionador novos desejos, compelindo-o a sua compra.
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Lembramos que quando se trata da continuação de uma tira para outra, de uma mesma série, os jornais têm como
costume a publicação de um trecho da história no dia seguinte. Assim, se aposta na fidelidade do leitor pautado na
sua curiosidade e no intuito de desmanchar o suspense. Ao mesmo tempo em que se desvenda um mistério ocorre
uma nova situação intrigante. Renova-se, portanto, o ciclo, pois o leitor só terá a resposta desse novo momento na
próxima tira.
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evoluíram ao longo da sua história. Elas não são mais agrupamentos horizontalizados
das representações seqüenciais narrativas, dadas pela disposição lado a lado dos
quadros, como ainda ocorre no caso das tirinhas de jornal.
Segundo Fresnault-Deruelle (1976, p. 17), a composição das páginas deve
funcionar através da integração das suas variáveis visuais (forma, cor, linha, etc.).
Assim, o espaço em uma página de hq ganha o patamar de significação para o
entendimento narrativo. Isso implica em uma forma de leitura que sai do parâmetro
linear para um tipo de leitura guiada pela distribuição dos elementos visuais na
superfície da página. O autor denomina essa configuração de estrutura tabular. Assim,
as formas e a disposição desses elementos já servem de instruções para a compreensão
da história.
Fig. 02. Tira de Garth de Steve Dowling. O suspense é instaurado no último quadrinho.
Corroborando com a idéia sobre tabularidade das hqs, Groensteen (1999, p. 3-5)
afirma que, ao invés da fixação na decomposição das unidades construtivas elementares,
os estudos sobre as histórias em quadrinhos deveriam ser ampliados para uma dimensão
que contemplasse a integração e articulação dessas unidades visuais, já que estas
proporcionam a geração do seu discurso narrativo. O autor denomina esta integração
dos elementos visuais das hqs de artrologia8.
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O leitor irá apreender essas figuras não como fragmentos isolados, mas como
imagens que estão interligadas a fim de produzir um sentido único. Essa integração
pode ocorrer tanto pelo uso de cores como de formas similares, proporcionando a quem
observa uma leitura multilinear. É muito comum também o recurso de imagens
entrelaçadas ou fusão das mesmas.
As linhas, por sua vez, funcionam como uma espécie de vetor ou guia para o
direcionamento do olhar. Essa leitura de primeiro nível geralmente ocorre tendo como
ponto de partida alguma imagem mais pregnante, isto é, alguma imagem que se
destaque em relação às outras, seja pela forma diferenciada, pelo seu tamanho, pela suas
cores, seja pela a sua posição na página. A partir daí, o olhar é guiado para as outras
imagens, em uma espécie de reconhecimento para que só posteriormente ocorra a leitura
ordenada tradicionalmente, isto é, uma leitura linear da esquerda para direita e de cima
para baixo. Fig. 05
Cabe lembrar que a inventividade dada pela disposição dos elementos visuais na
composição de uma página de histórias em quadrinhos não representa necessariamente
uma exclusividade do universo dos mangás. Artistas gráficos como Moebius, Will Einer
e Guido Crépax já trabalhavam com certa liberdade de exploração do espaço da página
em suas hqs rompendo, portanto, com o paradigma de uma leitura horizontalizada,
herdadas das tirinhas de jornal (Fig. 06).
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uma leitura linear herdada da horizontalidade das tiras para uma diagramação mais
complexa, na qual a imagem-chave é o ponto de partida para uma leitura multilinear.
O que geralmente vemos nesses novos arranjos
são imagens que se destacam graficamente das
demais seja pelo seu tamanho, que normalmente
ocupam boa parte do espaço da página, seja pela sua
posição que necessariamente não precisa se encontrar
no alto para que possamos inferir com desenho
principal.
Portanto, mangás, possuem características marcantes,
principalmente aquelas do ponto de vista gráfico, que
os diferenciam das outras formas de histórias em
quadrinhos. Além daquelas, largamente citadas em
livros e em revistas especializadas, atreladas à
configuração dos personagens, tais como os olhos
grandes, as formas geométricas simplificadas,
existem outras igualmente importantes para o
Fig. 09. Página de “X” do grupo entendimento do mangá, tais como a predominância
Clamp, na qual imagens
geométricas e sobreposições de da produção em preto e branco, a leitura da direita
imagens proporcionam uma
dinâmica visual. para esquerda, a preferência para a construção pela
narrativa que prioriza os elementos visuais em
detrimento dos elementos verbais e a integração dos elementos visuais ao espaço da
página. (fig. 09)
Alguns estudiosos como Sônia Luyten (2000) afirmam que esse apelo visual encontrado
nas histórias em mangás é uma herança de outras mídias tais como o cinema e a tv. Do
cinema, o legado seria algumas formas de enquadramentos de cenas, como por
exemplo, o close-up usado para destacar as expressões faciais dos personagens. Da tv, a
contribuição seria um ritmo narrativo mais acelerado e uma ênfase ao apelo da imagem.
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A escrita japonesa é composta de três sistemas: o kanji (ideograma), que conota figuras que possuem o referente às
coisas do real, árvore, homem e etc, o katakana alfabeto silábico que representa palavras estrangeiras e o hiragana é
usado para todas as palavras para as quais não existe kanji e terminações dos verbos e adjetivos.
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Nesses casos, há certa discrição no que diz respeito aos detalhes das
indumentárias, dos lugares e dos objetos. Entretanto, ainda assim, as pessoas
representadas desempenham algum tipo de ação, o que conota a uma possibilidade de
contar história.10
Assim, os artistas dos mangás, tendo este legado histórico e cultural, incorporam
graficamente nas suas narrativas momentos em que a ação efetivamente fica em
segundo plano, dando lugar a um caráter que sugere ao leitor mais uma contemplação
através de descrições de personagens ou ambientes. Isso reafirma as observações de
Mccloud (1995, p. 79) de que nos mangás as transições aspecto para aspecto ocorrem
com muito mais freqüência do que em outros tipos de histórias em quadrinhos (fig. 12).
As transições aspecto para aspecto incidem entre os quadrinhos. Uma cena inteira,
por exemplo, de um ambiente pode ser fragmentada em pedaços menores como se fosse
sugerido ao leitor, através de cada uma das imagens, que percorresse por meio da
vetorização do olhar cada quadro. Dessa forma, podemos contemplar a imagem inteira,
com a junção de todos os quadros.
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Sobre essa possibilidade das imagens contarem histórias, podemos indicar a dissertação de Greice Schneider,
intitulada O Olhar Oblíquo: narrativa visual na fotografia de Robert Doisneau, na qual aborda a possibilidade que
certas imagens, no caso as produzidas por Doisneau, têm de suscitar a narratividade (SCHNEIDER, 2005).
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Esta transição aspecto para aspecto, que tem como objetivo mais evidente a
contemplação do que a narração gera, nesses casos, um retardo ou, ao menos, uma
diminuição no fluxo narrativo, servindo, portanto, para explicar ou descrever um
personagem ou uma situação. Podemos, então, considerar esta transição como uma
espécie de parênteses dentro do encadeamento das ações narrativas, visando oferecer ao
leitor subsídios, através da contenção, para entender melhor os personagens e a história.
Esta característica mais descritiva
nos mangás gera um paradoxo,
principalmente se levarmos em conta
que este tipo de histórias em
quadrinhos, na maioria das vezes, tem
um ritmo de leitura muito rápido. O
seqüenciamento narrativo dos mangás
por meio de imagens que geralmente
estão sem o acompanhamento do texto
verbal leva ao privilégio do movimento,
da ação dos personagens.
Entretanto, devemos considerar
que, em alguns momentos, este ritmo
narrativo acelerado dos mangás é
substituído por uma velocidade mais
lenta. Esse ritmo cadenciado tem o
intuito de descrever lugares, pessoas ou
Fig. 12. Mccloud mostra, em seu livro, a transição
de criar determinadas situações aspecto-para-aspecto encontrado freqüentemente
narrativas na qual o estado de tensão ou nos mangás (MCCLOUD, 1995, p. 79).
2. Considerações finais
A proposta desse artigo foi apontar alguns traços distintivos do gênero do mangá
com as histórias em quadrinhos de super-heróis denominadas de comics. Além da
possibilidade de distinção entre esses dois gêneros procuramos também levar em conta
que, assim como já acontece com outros gêneros midiáticos tais como as mini-séries
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televisivas e a telenovela11, por exemplo, esses dois tipos de histórias em quadrinhos são
influenciados mutuamente.
Se no primeiro momento os mangás sofreram a influência dos ilustradores
ocidentais nos primórdios do século XX, recentemente encontramos diante de um
fenômeno de “manganização” dos quadrinhos de super-heróis. Se retirarmos algumas
passagens em que à influência do mangá nos parece fruto de certo modismo, motivado
talvez pela possibilidade de aumento das vendagens, poderíamos nos arriscar em dizer
que os quadrinhos de super-heróis incorporaram em definitivo e de maneira mais
genérica a representação de imagens articuladas entre si; tão comuns aos mangás. Hoje
em dia é corriqueiro encontrarmos nas comics desenhos com um forte apelo visual
diagramados com o objetivo de aproveitar todo o espaço da página e levar ao leitor a
uma compreensão imagética da narrativa que antecede
o entendimento verbal.
Assim o efeito da tabularidade estudado por
Fresnault-Deruelle (1976) não é uma exclusividade dos
mangás e nem tão pouco é uma novidade das histórias
em quadrinhos em geral. Para isso basta relembrar os
trabalhos de Will Eisner e Guido Crepax
respectivamente realizados na década de 40 e 60.
Entretanto, a propagação de páginas com
composições mais arrojadas é um capítulo recente da
trajetória das comics. Já no mundo dos mangás o apelo
visual sempre este presente. Só para ilustrar podemos
citar um dos primeiros trabalhos de Osamu Tezuka em
1947 – a Ilha do Tesouro – que já continham
seqüências em quadrinhos sem a presença do texto
verbal semelhantes a fotogramas. (fig. 13)
Fig. 13. Seqüência narrativa do
O outro objetivo desse trabalho foi tentar mangá a Ilha do Tesouro de
Osamu Tezuka (1947) sem a
definir o mangá como gênero através das suas necessidade do texto verbal. Os
quadrinhos lembram fotogramas.
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Apesar de ser citado como exemplo e de reconhecermos sumariamente o borramento das fronteiras entre os
gêneros televisivos não entraremos no mérito da questão. Neste caso são abordagens com características peculiares
localizados em um universo que está fora do campo de pesquisa sobre as hqs em um primeiro momento. Para
entendermos melhor as semelhanças e diferenças entre telenovela e mine-série sugerimos a pesquisa de doutorado da
Faculdade de Comunicação da UFBA de Fernando Carrasco (2005), intitulado O personagem histórico “Giuseppe
Garibaldi” e suas necessidades dramáticas na obra de ficção televisiva “A Casa das Sete Mulheres”. Que se
encontra em andamento.
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Segundo o manifesto encontrado no site oficial de Frédéric Boilet
http://www.boilet.net/fr/nouvellemanga_manifeste_1.html o nouvelle manga procurar privilegiar o cotidiano em
detrimento as histórias de ação de super-heróis e incorpora o penso da narrativa visual em suas histórias.
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Referências
BOILET, Frédéric. Manifeste de la Manga. Disponível em : <http://
http://www.boilet.net/fr/nouvellemanga_manifeste_1.html> Acesso em: 01 de dez. 2006
GRAVETT, Paul. Mangá – Como o Japão Reiventou os Quadrinhos. São Paulo: Conrad,
2004.
LUYTEN, Sônia. Mangá: o poder dos quadrinhos japoneses. São Paulo: Hedra, 2000.
SILVA, André. O Herói na Forma e no Conteúdo: Análise Textual do Mangá Dragon Ball
e Dragon Ball Z. 2006. 133 f. Dissertação (Mestrado em Comunicação) – Faculdade de
Comunicação, Universidade Federal da Bahia, Salvador.
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