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A Grande Falsidade do Nosso Tempo

Neste trecho do livro “Re ections of a Russian Statesman” de 1898, o escritor, jurista,
lósofo político e Procurador-chefe do Santo Sínodo da Igreja Ortodoxa
Russa, Konstantin Pobedonostsev, re ete sobre a teoria do Parlamentarismo em uma
análise capaz de explicar não apenas dilemas comuns a este Sistema de Governo, mas a
todos os Sistemas de Governos democráticos em geral, de modo a continuar
perfeitamente atual.

A Grande Falsidade do Nosso Tempo


Konstantin Petrovich Pobedonostsev, 1898

Aquilo que está fundado na falsidade não pode estar certo. Instituições fundadas em
princípios falsos não podem ser senão falsas. Essa verdade foi demonstrada pela
amarga experiência das eras e gerações.

Entre os mais falsos princípios políticos está o princípio da soberania popular, o


princípio de que todo poder emana do povo e se baseia na vontade nacional – um
princípio que infelizmente se estabeleceu mais fortemente a partir da Revolução
Francesa. Daí decorre a teoria do Parlamentarismo que, até os dias atuais, iludiu grande
parte da chamada “inteligência” e ludibriou certos russos tolos. Ela continua a manter
parte da chamada “inteligência” e ludibriou certos russos tolos. Ela continua a manter
seu domínio sobre muitas mentes obstinadas com um fanatismo estreito, embora todos
os dias sua falsidade seja exposta mais claramente ao mundo.

Em que consiste a teoria do Parlamentarismo? Ela supõe que o povo em suas


assembleias estabeleça suas próprias leis e eleja o ciais responsáveis por executar a
sua vontade. Essa é a concepção ideal. Sua realização imediata é impossível. O
desenvolvimento histórico da sociedade exige que as comunidades locais aumentem
em número e complexidade; que as raças separadas sejam assimiladas, ou,
preservando suas políticas e linguagens, unam-se sob uma única bandeira; e que o
território se estenda inde nidamente: sob tais condições, o governo direto do povo é
impraticável. O povo deve, portanto, delegar seu direito de poder aos seus
representantes e investi-los de autonomia administrativa. Esses representantes, por sua
vez, não podem governar imediatamente, mas são obrigados a eleger um número ainda
menor de pessoas con áveis – ministros – a quem con a a preparação e execução das
leis, a distribuição e arrecadação de impostos, a nomeação de funcionários
subordinados e a disposição das forças militantes.

No abstrato, esse mecanismo é bastante simétrico: para seu correto funcionamento,


muitas condições são essenciais. O funcionamento da máquina política baseia-se em
forças impessoais que atuam continuamente e são completamente equilibradas. Pode
agir com sucesso somente quando os delegados pelo povo abdicam de suas
personalidades; quando nos bancos do Parlamento sentam os cumpridores mecânicos
das ordens do povo; quando os ministros de Estado permanecem impessoais,
executores absolutos da vontade da maioria; quando os representantes eleitos do povo
são capazes de entender precisamente e executar conscientemente o programa de
atividades matematicamente expresso que lhes fora entregue. Dadas estas condições, a
máquina funcionaria perfeitamente e cumpriria seu objetivo. A lei realmente
incorporaria a vontade do povo; as medidas administrativas seriam realmente
emanadas do Parlamento; os pilares do Estado repousariam, com efeito, nas
assembleias eletivas, e cada cidadão participaria direta e conscientemente da
administração dos assuntos públicos.

Essa é a teoria. Olhemos, agora, para a prática. Mesmo nos países clássicos do
Parlamentarismo ele não satisfaria nenhuma das condições enumeradas. As eleições de
modo algum expressam a vontade dos eleitores. Os representantes populares não são
de nenhum modo restringidos pelas opiniões de seus constituintes, e sim guiados por
suas próprias opiniões e considerações, que se modi cam pelas táticas de seus
oponentes. Na realidade, ministros são autocratas e governam, em vez de serem
governados pelo Parlamento. Eles alcançam o poder e perdem o poder, não por força
da vontade do povo, mas por uma imensa in uência pessoal, ou in uência de um
partido forte que os coloca no poder ou os afasta dele. Dispõem à vontade da força e
dos recursos da nação, concedem imunidades e favores, mantêm uma multidão de
ociosos às custas do povo e não temem nenhuma censura enquanto desfrutam do
ociosos às custas do povo e não temem nenhuma censura enquanto desfrutam do
apoio no Parlamento de uma maioria que preservam através da distribuição das
recompensas das ricas mesas que o Estado colocou à sua disposição. Na realidade, os
ministros são tão irresponsáveis quanto os representantes do povo. Erros, abuso de
poder e atos arbitrários ocorrem diariamente, mas com que frequência ouvimos falar
da responsabilização de um ministro? Talvez uma vez em cinquenta anos um ministro
seja julgado por seus crimes, com um resultado insigni cante quando comparado com a
fama alcançada através da atuação solene.

Se tentássemos conceber uma verdadeira de nição do Parlamento, deveríamos dizer


que o Parlamento é uma instituição que serve para satisfazer a ambição pessoal, a
vaidade e o interesse próprio de seus membros. A instituição do Parlamento é com
efeito uma das maiores ilustrações da desilusão humana. Resistindo, no decorrer dos
séculos, à tirania de governos autocráticos e oligárquicos, e ignorando que os males da
autocracia são os males da própria sociedade, homens de intelecto e conhecimento
colocaram a responsabilidade por seus infortúnios em seus governantes e em seus
sistemas de governo, e imaginaram que, substituindo esses sistemas de governo pela
vontade do povo, ou pelo governo representativo, a sociedade seria liberta de todos os
males e violências que sofria. Qual é o resultado? O resultado é que, mutato nomine,
tudo permaneceu essencialmente como era antes, e os homens, mantendo as mesmas
fraquezas e falhas de sua natureza, transfundiram nas novas instituições seus impulsos
e tendências anteriores. Como antes, eles são regidos pela vontade pessoal e interesse
de pessoas privilegiadas, mas essa vontade pessoal não é mais incorporada na pessoa
do soberano, mas na pessoa do líder de um partido; e o privilégio não pertence mais a
uma aristocracia de nascimento, mas a uma maioria que domina o Parlamento e
controla o Estado.

No frontão deste edifício está inscrito: “Todos pelo Bem Público”. Isto não é mais que
uma fórmula mentirosa: o Parlamentarismo é o triunfo do egoísmo – sua expressão
máxima. Tudo aqui é calculado para o serviço do ego. Na cção parlamentar, o
representante, como tal, renuncia à sua personalidade e serve como a encarnação da
vontade e das opiniões de seus eleitores; mas na realidade, os eleitores, no próprio ato
da eleição, dispõem de todos os seus direitos em favor de seu representante. Em seus
discursos e comícios, o candidato à eleição dá ênfase constante a essa cção; ele reitera
suas frases de efeito sobre o bem-estar público; não é nada senão um servo do povo;
ele se esquecerá de si mesmo e de seus interesses por sua causa. Mas essas são
palavras, palavras, palavras apenas – degraus temporários da escada pela qual ele sobe
até a altura que aspira, e que descarta quando dela não precisa mais. Então, longe de
começar a trabalhar para a sociedade, a sociedade torna-se o instrumento de seus
objetivos. Para ele, seus eleitores são um rebanho, um agregado de votos, e ele, como
seu possuidor, assemelha-se aos ricos nômades cujos rebanhos constituem todo o seu
capital – a base de seu poder e eminência na sociedade. Assim se desenvolve com
perfeição a arte de jogar com os instintos e paixões da massa, a m de atingir os
objetivos pessoais de ambição e poder. O povo perde toda a importância para o seu
objetivos pessoais de ambição e poder. O povo perde toda a importância para o seu
representante, até que chegue o momento de jogar novamente; quando então, frases
falsas, lisonjeiras e mentirosas são tão profusas quanto antes; alguns são subornados,
outros, oprimidos por ameaças – a longa cadeia de manobras rejeita o que forma um
fator invariável do Parlamentarismo. Ainda assim, essa farsa eleitoral se estabelece para
enganar a humanidade e para ser considerada uma instituição que é a cúpula do
edifício do Estado. Pobre humanidade! Na verdade, pode-se dizer: mundus vult decipi,
decipiatur.¹

Assim o princípio representativo funciona na prática. O homem ambicioso vem diante


de seus concidadãos e se esforça por todos os meios para convencê-los de que ele, mais
do que qualquer outro, é digno de sua con ança. Quais motivos o impelem para essa
busca? É difícil acreditar que ele seja impulsionado pelo zelo desinteressado pelo bem
público.

Em nosso tempo, nada é tão raro quanto homens imbuídos de um sentimento de


solidariedade para com o povo, prontos para trabalhar e se autossacri car pelo bem
público; essa é a natureza ideal, mas tais naturezas são pouco inclinadas ao contato com
a baixeza do mundo. Aquele que, na consciência do dever, é capaz do serviço
desinteressado pela comunidade, não se rebaixa à procura de votos, nem à busca de
sua autopromoção em frases altas e vulgares nas reuniões eleitorais. Tais homens
manifestam sua força em seu próprio trabalho, em um pequeno círculo de amizades
agradáveis, e desprezam a popularidade da feira barulhenta. Se eles se aproximam da
multidão, não é para bajulá-la ou para satisfazer seus instintos e tendências mais
ordinárias, mas para condenar suas tolices e expor sua depravação. Para homens de
dever e honra o procedimento das eleições é repelente; os únicos homens que o
consideram sem aversão são naturezas egoístas e interesseiras, que desejam assim
atingir seus ns pessoais. Para conquistar popularidade, esses homens têm pouco
escrúpulo para assumir a máscara do entusiasmo pelo bem público. Eles não podem e
não devem ser modestos, pois com modéstia não seriam notados ou falados. Pelas suas
posições e pelos partidos que escolheram são forçados a ser hipócritas e mentirosos;
devem cultivar, confraternizar e ser amáveis com seus oponentes para obter seus
sufrágios; devem prodigalizar promessas, sabendo que não podem cumpri-las; e devem
satisfazer as tendências e preconceitos mais ordinários das massas para conquistar
maiorias. Que natureza honrosa aceitaria tal papel? Descrito em um romance, o leitor
seria repelido, mas nas eleições o mesmo leitor concede seu voto para o artista real
atuando no mesmo papel.

As eleições parlamentares são uma questão de arte, tendo, como a arte militar, suas
estratégias e táticas. O candidato não é posto em relações diretas com seus eleitores.
Como intermediária está a comissão, uma instituição autoconstituída, cuja principal
arma é a imprudência. O candidato, se for desconhecido, começa reunindo vários
amigos e clientes. Então, todos juntos organizam uma caçada entre os aristocratas ricos
e mentes-frágeis da vizinhança, a quem convencem que é seu dever, sua prerrogativa e
e mentes-frágeis da vizinhança, a quem convencem que é seu dever, sua prerrogativa e
seu privilégio estar à frente como líderes da opinião pública. Há pouca di culdade em
encontrar pessoas estúpidas ou ociosas facilmente enganáveis por esse truque; e então,
sobre suas assinaturas, surgem manifestos nos jornais, nas paredes e pilares que
seduzem a massa, sempre ansiosa na busca por nome, títulos e riqueza. Assim se
formam os comitês que dirigem e controlam as eleições. Assemelham-se a muitas
empresas públicas. Sua composição é cuidadosamente elaborada: contém algumas
forças efetivas – homens enérgicos que perseguem a todo custo ns materiais;
enquanto ociosos simples e frívolos constituem o lastro. Os comitês organizam reuniões
onde são proferidos discursos, onde aquele que possui uma voz poderosa e é capaz de
reunir rápida e habilmente frases de efeito, produz sempre uma impressão de que é um
homem da massa, adquirindo notoriedade – desse modo, surge o candidato para
futuras eleições que, mediante condições favoráveis, pode até suplantar aquele a quem
veio ajudar. Frases de efeito e nada além de frases de efeito dominam essas reuniões. A
massa dirige-se apenas àquele que grita mais alto e que, com impudência e adulação,
adequa-se de maneira mais artística aos impulsos e tendências da multidão.

No dia da votação, alguns votam de maneira inteligente: estes são os eleitores


individuais e in uentes que valeram a pena convencer em particular. A massa dos
eleitores é a estratégia do rebanho, votos para um dos candidatos indicados pelos
comitês. Ninguém conhece exatamente o homem ou considera seu caráter, sua
capacidade, suas convicções; todos votam apenas porque ouviram seu nome com muita
frequência. Seria inútil lutar contra esse rebanho. Se um eleitor de alto nível desejasse
agir de maneira inteligente em um cenário tão grave, e não abrir caminho para a
violência do comitê, ele teria de se abster completamente, ou votar no seu candidato de
acordo com sua convicção. No entanto, apesar de poder agir diferente, não poderia
impedir a eleição do candidato favorecido pela massa de eleitores frívolos, indiferentes
e preconceituosos.

Na teoria, o candidato eleito deve ser o favorito da maioria; na prática, ele é o favorito
de uma minoria, às vezes muito pequena, mas representando uma força organizada,
enquanto a maioria, como a areia, não tem nenhuma coerência e, portanto, é incapaz
de resistir à panelinha e à facção. Na teoria, a eleição favorece os inteligentes e capazes;
na realidade, favorece o apelador e o insolente. Poderia pensar-se que a educação, a
experiência, a conscienciosidade no trabalho e a sabedoria nos assuntos públicos
seriam requisitos essenciais ao candidato; na realidade, independentemente de essas
qualidades existirem ou não, elas não são de modo algum necessárias na luta pela
eleição, onde as qualidades essenciais são a audácia, uma combinação de impudência e
oratória, e até mesmo alguma vulgaridade, que invariavelmente atua sobre as massas; a
modéstia, unida à sensibilidade de pensamento e sentimento, não vale nada.

Assim nasce o representante do povo, assim ele adquire o seu poder. Como ele o
emprega, como ele o transformará em vantagem? Se enérgico por natureza, tentará
formar um partido; se for de natureza comum, juntar-se-á a um outro partido. O líder
formar um partido; se for de natureza comum, juntar-se-á a um outro partido. O líder
de um partido requer, sobretudo, uma vontade resoluta. Esta é uma qualidade
orgânica, como a força física, e de maneira alguma acompanha necessariamente a
excelência moral. Com intelecto limitado, com egoísmo in nito e até perversidade, com
tendências vis e desonestas, um homem com um ímpeto forte pode se tornar um líder
no Parlamento, e pode controlar as decisões de um partido que contém homens
superiores em valor moral e intelectual. Tal pode ser o caráter de uma força dominante
no Parlamento. A isto deve-se juntar outra força decisiva – a eloqüência. Esta também é
uma faculdade natural, a qual não envolve nem caráter moral, nem alta cultura
intelectual. Um homem pode ser um pensador profundo, um poeta, um general
habilidoso, um jurista excelente, um legislador experiente e, ao mesmo tempo, não
possuir o dom da fala eloquente, ao passo que, ao contrário, alguém com capacidade
intelectual e conhecimento comuns pode possuir um dom especial de eloqüência. A
união deste dom a uma plenitude de poder intelectual é um fenômeno raro e
excepcional na vida parlamentar. As mais brilhantes improvisações que deram glória
aos oradores e determinaram decisões sérias, quando lidas, são tão incolores e
irrelevantes quanto as descrições de cenas interpretadas em tempos passados por
atores e cantores célebres. A experiência mostra que, nas grandes assembléias, a
decisão não pertence à razão, mas à ousadia e ao brilhantismo; que os argumentos
mais efetivos sobre a massa não são os mais simétricos, os mais verdadeiramente
retirados da natureza das coisas, mas aqueles expressos em palavras e frases eufônicas,
artisticamente selecionadas, constantemente reiteradas e calculadas sob o instinto de
baixeza dominante nas pessoas. As massas são facilmente atraídas por explosões de
declamações vazias, e sob tais in uências muitas vezes tomam decisões repentinas,
pelas quais lamentam quando consideram o caso a sangue-frio.

Portanto, quando o líder de um partido combina com uma vontade forte o dom da
eloquência, ele assume seu primeiro papel em um palco aberto diante do mundo
inteiro. Se ele não possui esse dom, posiciona-se como um diretor nos bastidores e
comanda todos os movimentos do espetáculo parlamentar, atribuindo papeis aos
outros, designando oradores para falar em seu lugar, empregando em sua obra todos
os intelectos ricos mas irresolutos do seu partido para pensarem por ele.

O que é um partido parlamentar? Em teoria, é uma aliança de homens com convicções


comuns, unindo forças para a realização de seus pontos de vista na legislação e na
administração. Mas essa descrição se aplica apenas a pequenos partidos; o grande
partido, que sozinho é uma força efetiva no Parlamento, é formado sob in uência
apenas da ambição pessoal e se concentra em torno de uma personalidade dominante.
Por natureza, os homens são divididos em duas classes – aqueles que não toleram
nenhum poder acima deles e, portanto, necessariamente se esforçam para governar os
demais; e aqueles que, por sua natureza, temem a responsabilidade inseparável da ação
independente e se esquivam de qualquer exercício resoluto da vontade. Estes nasceram
para a submissão e juntos constituem um rebanho que segue os homens de vontade e
resolução, os quais formam a minoria. Assim, as pessoas mais talentosas se submetem
resolução, os quais formam a minoria. Assim, as pessoas mais talentosas se submetem
de bom grado e con am de bom grado a mãos mais fortes o controle dos negócios e a
responsabilidade moral por seu direcionamento. Instintivamente, elas buscam um líder
e se tornam seus instrumentos obedientes, inspiradas pela convicção de que ele os
conduzirá à vitória – e, com frequência, ao estrago. Assim, todas as ações importantes
do Parlamento são controladas pelos líderes do partido, que inspiram todas as decisões,
que lideram em combate e lucram com a vitória. As sessões públicas não são mais que
um espetáculo para a massa. Discursos são dados para sustentar a cção do
parlamentarismo, mas raramente um discurso por si só afeta a decisão do Parlamento
em um caso importante. O discurso serve para a glória dos oradores, para o aumento
de sua popularidade e a realização de suas carreiras; só em raras ocasiões isto afeta a
distribuição de votos. Maiorias e minorias são geralmente decididas antes do início da
sessão.

Este é o complicado mecanismo da farsa parlamentar; esta é a grande mentira política


que domina nossa época. Pela teoria do parlamentarismo, a maioria racional deve
governar; na prática, o partido é governado por cinco ou seis de seus líderes que
exercem todo o poder. Na teoria, as decisões são controladas por argumentos claros no
decurso dos debates parlamentares; na prática, elas não dependem de debates, mas
são determinadas pelas vontades dos líderes e pelos estímulos do interesse pessoal. Na
teoria, os representantes do povo consideram apenas o bem público; na prática, sua
primeira consideração é do seu próprio progresso e dos interesses de seus colegas. Na
teoria, eles devem ser os melhores cidadãos; na prática, são os mais ambiciosos e
insolentes. Na teoria, o eleitor dá seu voto ao candidato porque o conhece e con a nele;
na prática, o eleitor dá seu voto a um homem que raramente conhece, mas que a ele foi
empurrado pelos discursos de um partido interessado. Na teoria, os negócios
parlamentares são dirigidos pela experiência, bom senso e altruísmo; na prática, as
principais forças de motivação são uma vontade determinada, egoísmo e eloqüência.

Esta é a instituição parlamentar, exaltada como cúpula e coroa do edifício do Estado. É


triste pensar que, mesmo na Rússia, há homens que aspiram ao estabelecimento desta
falsidade entre nós; que nossos professores glori cam o governo representativo para
seus jovens alunos como o ideal da ciência política; que nossos jornais o sigam em seus
artigos e folhetins, sob o nome de ordem e justiça, sem se preocupar em examinar o
funcionamento da máquina parlamentar. E mesmo onde os séculos santi caram sua
existência, a fé já decai; a inteligência liberal o exalta, mas o povo geme sob seu
despotismo e reconhece sua falsidade. Nós podemos não ver, mas nossos lhos e netos
certamente verão a derrubada deste ídolo, que o pensamento contemporâneo, em sua
vaidade, continua a adorar.

Notas:
[1] Do latim “O mundo quer ser enganado: portanto, que seja enganado!”
Tradução: Valéria Cutrim

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PUBLICADO EM Filosofia Filosofia Política

1 comentário em “A Grande Falsidade do Nosso


Tempo”

Rodolfo diz:
19 de outubro de 2018 às 18:54

Que texto incrível.

Posso fazer uma pergunta?


Qual seria o melhor modelo de gestão política para vocês?

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