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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE ARTES E LETRAS


DEPARTAMENTO DE ARTES CÊNICAS
CURSO DE TEATRO – LICENCIATURA

SIDNEI MAURO DE MELO JUNIOR

O DRAMA, A ASCENSÃO DOS SERES HUMANOS E SUAS


SIMILIARIDADES

Santa Maria
2019
O Renascimento se configura como um período histórico em que a visão de
um Deus, centro de todas as ações do mundo, não cabe mais como unicamente
verdadeira, como era defendido na Idade Média. Agora entende-se o mundo através
da visão Humanista, o homem que é responsável pelas suas ações individuais que
gera consequências para sua sociedade. Da mesma maneira, se compreende o
drama como um conjunto de ações sequenciadas que geram consequências dentro
de um universo próprio e justificado no Classicismo Francês a partir das três
unidades clássicas de Aristóteles.
O universo estabelecido pelo drama, é entendido como absoluto, segundo as
unidades de ação, tempo e lugar. A ação deve comportar começo, meio e fim, que
desenrola-se por meio de ações e consequências presentes no próprio drama. A
noção de tempo deve se respeitar o período de 24h, quanto a unidade de lugar, as
ações do drama se concentram em um único cenário, visando a ideia de
verossimilhança (MOREIRA, 2014).
Além disso, no Classicismo havia a visão que o uma obra de arte se valida
pelo equilíbrio da forma e conteúdo, a arte deve representar uma realidade própria
de maneira que ela se justifique perante ela mesma. Sendo assim, as ações do
Drama acontecem sempre no presente, pois são justificadas pelas suas próprias
ações anteriores.
Durante os séculos que se seguiram, o mundo ocidental se viu efervescente
pela revolução burguesa, que viria a conquistar sua ascensão como classe
dominante, na sociedade moderna. Deste modo, a transformação do Drama
Clássico, se tornou inevitável, pois o conteúdo já não cabia mais à forma do drama,
que anteriormente era representação das relações interpessoais de nobres
aristocratas.
O drama da época moderna surgiu no Renascimento. Ele
representou a audácia espiritual do homem que voltava a si
depois da ruína da visão de mundo medieval, a ajudá-la de
construir, partindo unicamente da reprodução das relações
intersubjetivas, a realidade da obra na qual quis se determinar
e espelhar. O homem entrava no drama, por assim dizer,
apenas como membro de uma comunidade. (SZONDI, 2001,
p.29)

Como dito, a burguesia recém-chegada a status elevados da sociedade, trata


de se colocar como protagonista no Drama. Agora, o conteúdo, se volta a
desenvolvimento moral de um homem, que para pertencer a um grupo social
burguês, tem de assumir condutas patriarcais, como formar uma família, sustentá-la
e garantir a boa conduta dos demais, ações essas que podem ser entendidas como
a forma desse, então, novo drama.
Considerando que o Drama só pode se desenvolver através do diálogo, que
permeia a forma e o conteúdo, percebe-se que o dialogo entre as relações
interpessoais têm como função também unir a ação com o tema.
O Drama se representa no presente, quando a burguesia coloca ideais em
cena como modo de moralizar quem assiste, suas ações já não possuem seguras no
tempo presente e sim no futuro, pois espera-se a mudança de conduta do público.
Sendo assim, tomando tais atitudes a burguesia viria a impossibilitar o Drama,
embora inicialmente não se dessem conta disso. Como nos diz Szondi:
O decurso temporal do drama é uma seqüência de presentes
absolutos. Como absoluto, o próprio drama é responsável por
isso; ele funda seu próprio tempo. Por esse motivo, cada
momento deve conter em si o germe do futuro, deve ser
"prenhe de futuro". O que se torna possível por sua estrutura
dialética, baseada por sua vez na relação intersubjetiva.
(SZONDI, 2001, p.32)

Visto que, o drama abarca sempre o seu presente, ele não poderia ignorar as
inquietações em relação a superexploração sobre o proletariado, a partir da segunda
metade do século XVIII. A classe operária que não se via representado no Drama,
questionava o que era antes inquestionável. Os valores, a ascensão meritocrática já
não justificavam e satisfazia o entendimento do homem sobre o mundo, resultando
assim na crise do drama.
Se antes se impunha o diálogo absoluto, em que não se
escapa à relação de causas e consequências, em que não há
referência ao que é exterior, em que não se recorre à narrativa,
agora será impossível limitar-se a isso, pois não se trata mais
do protagonismo do burguês, sujeito senhor de si em cena.
Enfim, como figuras que não são livres, como o trabalhador
explorado pelos proprietários dos meios de produção, a mulher
condicionada aos ditames da sociedade patriarcal e o homem
submetido às repressões heteronormativas, vão ser
representadas no teatro sem que o caráter épico, manifestante
de sua condição, apareça? (MEDEIROS, 2014)

Não podendo calar-se diante dessa realidade, o drama necessita renascer,


trazendo para si as demandas populares e sociais. Tendo consciência disso, Szondi
traz expoentes posteriores como possíveis soluções para a crise do drama. No
teatro épico, de Piscator e Brecht, o proletário é representado em cena dentro de
situações que contrastam ou são confirmadas por artifícios estéticos e técnicos a fim
de reforçar o Drama.
Portanto, deve-se ter a noção que o Drama se configura como contexto
histórico e não mais como um gênero atemporal. Ele se instala no campo da
modificação e do equilíbrio com a realidade dentro da sua forma e conteúdo, o que
possibilita o próprio drama adentrar a várias conjunturas.

REFERÊNCIAS:
SZONDI, Peter. Teoria do drama moderno (1880-1950). Repa. São Paulo: Cosac &
Naify, 2001.Trad. Luiz Sérgio

MOREIRA ALVES, Gustavo. Fundamentos do drama moderno: do drama


burguês à explicitação da crise. VIII Congresso da ABRACE, Belo Horizonte, 2014.

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