You are on page 1of 150

Francisco Xarão

Gérson Pereira Filho


(Orgs.)

1
CADERNO DE RESUMOS

16 a 21 de novembro de 2016
Poços de Caldas – Minas Gerais, Brasil
Alfenas – Minas Gerais, Brasil

2
Os trabalhos contidos nesta obra estão sob a licença Creative Commons.

Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 3.0 Brasil (CC BY-NC-ND 3.0 BR)


Fonte: http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/br/

Arte da capa: Cefas Garcia Pereira


Editoração: Elisa Zwick

Todos os textos constantes nos Anais do Lubral 2016 são de inteira responsabilidade
de seus autores, inclusive a revisão ortográfica e gramatical.

Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)


Biblioteca Central da Universidade Federal de Alfenas

Simpósio Internacional de Filosofia, Comunicação e Subjetividade: Luso-Brasileiro-


Alemão (1. : 2016: Poços de Caldas, MG: Alfenas, MG).
SI612c Caderno de resumos do 1º Simpósio Internacional de Filosofia, Comunicação e
Subjetividade: Luso-Brasileiro-Alemão / Organizadores: Francisco Xarão; Gérson
Pereira Filho. -- Alfenas/MG : UNIFAL-MG, 2016.
149 f. -

Acesso on line:
http://simposiolubral.pucpcaldas.br/wp-content/uploads/2017/05/Caderno-de-Resumos.pdf
Realização: PUCMinas - Campus Poços de Caldas, Unifal-MG, Sede Alfenas,
UBI, Covilhã, Portugal.
Simpósio realizado nos dias 16, 17, 18 e 19 de novembro na Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais, Campus Poços de Caldas e nos dias 17 e
21 de novembro na Universidade Federal de Alfenas, Sede Alfenas.
ISBN: 978-85-63473-20-2

1. Psicologia e filosofia. 2. Filosofia – Educação. 3. Comunicação – Filosofia.


4. Linguagem - Filosofia. I. Xarão, Francisco. II. Pereira Filho, Gérson. III. Título.
CDD-100

3
SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE FILOSOFIA, COMUNICAÇÃO E
SUBJETIVIDADE: LUSO-BRASILEIRO-ALEMÃO

16 a 21 de novembro de 2016

Comissão científica:

Prof. Dr. André Barata Nascimento (Universidade da Beira Interior – Portugal)


Profa. Dra. Camila Alves Fior (Depto. de Psicologia – PUC Minas)
Prof. Dr. Gérson Pereira Filho (Depto. de Filosofia – PUC Minas)
Prof. Dr. João Carlos Correia (Universidade da Beira Interior – Portugal)
Prof. Dr. Luis Antonio Groppo (ICHL – Unifal-MG)
Prof. Dr. Marcos Roberto de Faria (ICHL – Unifal-MG)
Prof. Dr. Paulo César de Oliveira (ICHL – Unifal-MG)
Profa. Dra. Soraya Guimarães Hoepfner (Berlim – Alemanha)
Prof. Dr. Udo Fritzke Junior (Coord. de Pós-Graduação e Pesquisa – PUC Minas)

Comissão organizadora:

Prof. M.Sc. Alexandre da Costa (Depto. de Ciências da Religião – PUC Minas)


Prof. M.Sc. Davidson Sepini Gonçalves (Depto. de Psicologia – PUC Minas)
Prof. Dr. Francisco Xarão (ICHL – Unifal-MG)
Prof. Dr. Gérson Pereira Filho (Depto. de Filosofia – PUC Minas)
Prof. M.Sc. Lívia Borges Pádua (Depto. de Comunicação Social – PUC Minas)
Prof. M.Sc. Paulo Denisar Fraga (ICHL – Unifal-MG)
Prof. Dr. Ronny Francis Campos (Depto. de Psicologia – PUC Minas)
Jornalista Thiago dos Santos Quinteiro (Esp. em Filosofia – TVPoços)
Arte e Técnica: Cefas Garcia Pereira (Graduação em Ciências da Computação – PUC
Minas)
Editoração Caderno de Resumos: Profa. Dra. Elisa Zwick (ICSA – Unifal-MG)

Coordenação geral:

Prof. Dr. Gérson Pereira Filho (Depto. de Filosofia – PUC Minas)

4
Realização:

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC


Minas, Campus Poços de Caldas

Curso de Especialização – Pós-Graduação em Filosofia


Curso de Especialização – Pós-Graduação em Psicanálise
Núcleo de Ciências Humanas/Departamento de Filosofia
Curso de Comunicação Social – Publicidade e Propaganda
Curso de Psicologia
Curso de Direito
Grupos de Pesquisa/PUC Minas/CNPq: Cultura, Memória, Sociedade; Filosofia,
Religiosidade e suas Interfaces; Modos de Produção da Subjetividade

Universidade Federal de Alfenas – Unifal-MG

Grupo de Pesquisa/Unifal-MG/CNPq: Filosofia, História e Teoria Social


Instituto de Ciências Humanas e Letras – ICHL

Universidade da Beira Interior – UBI (Covilhã – Portugal)

LabCom.IFP – Comunicação, Filosofia e Humanidades


Sociedade Portuguesa de Comunicação
Associação Portuguesa de Fenomenologia

5
Apoio Institucional/Fomento:

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas


Gerais

Apoio logístico:

Secretaria de Relações Internacionais – PUC Minas


Centro de Recursos Computacionais – CRC/PUC Minas
Assessoria de Comunicação – PUC Minas
Secretaria da Pós-Graduação e Pesquisa – PUC Minas
Divisão Financeira – PUC Minas
Setor de Infraestrutura – PUC Minas
Labcom – PUC Minas
Gabinete do Reitor – Unifal-MG
Pró-Reitoria de Extensão – Unifal-MG

Patrocínios:

Arte em Texto Ltda. – Poços de Caldas-MG


Bar e Restaurante Peixe Frito – Alfenas-MG
Carvalho & Guerra Corretores de Seguros – Poços de Caldas-MG
Companhia de Dança Gisa Carvalho – Poços de Caldas-MG
Conservatório Musical Antônio Ferrucio Viviani – Poços de Caldas-MG
Fonte Platina Ind. Com. Ltda. – Águas da Prata-MG
Papelaria Pontinho Multi Serviços – Poços de Caldas-MG
Restaurante do Ali – Alfenas-MG
TV Poços – Poços de Caldas-MG

6
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO......................................................................................................... 11
PROGRAMAÇÃO SINTÉTICA ................................................................................... 13
MESA 1 .......................................................................................................................... 17
Comunicação, Mídias e Linguagens: práticas e reflexões .............................................. 17
“Fora Dilma” e “Fora Temer”: A mídia e a polarização política no contexto atual da
sociedade brasileira......................................................................................................... 18
A influência e o impacto da mídia nas crianças de 4 a 9 anos: a percepção dos pais .... 19
A cartografia do afeto: São Paulo e Arte Urbana ........................................................... 20
500 anos da Utopia de Thomas More na grande mídia brasileira .................................. 21
Cultura da autonomia e as redes sociais na consolidação da cidadania ......................... 22
A notícia como definidora do tempo – e o indivíduo em relação a isso......................... 25
A comunicação empresarial e a relação de dominação significada no consenso ........... 27
“Sacudindo a memória” na internet: recontando histórias, resignificando memórias e
aproximando gerações .................................................................................................... 29
A literatura como processo de subjetivação: entre o sujeito periférico e o devir-periferia
........................................................................................................................................ 32
A ciberliteratura e a formação de professores de letras .................................................. 33
A construção social do negro ......................................................................................... 35
O conceito de comunicação presente/ausente em Vilém Flusser ................................... 36
Televisão: linguagem, imagem e comunicação no contexto da Indústria Cultural ........ 37
Experimentações na escrita com o arquivo do Coletivo Cê ........................................... 40
Jogando com teorias: games studies, e a semiótica com isso? ....................................... 42
A convalescença da linguagem em Clarice Lispector .................................................... 43
Em cartaz: a guerra dos super herois pelo mercado na indústria cultural do cinema ..... 44
MESA 2 .......................................................................................................................... 45
Filosofia e Psicologia: questões da subjetividade........................................................... 45
Virtualidade e subjetividade contemporânea: contribuições da fenomenologia à luz de
Heidegger........................................................................................................................ 46
A imagem entre representação e precessão .................................................................... 48

7
A concepção de justiça na Alegoria da Caverna de Platão: uma comparação das
interpretações kelseana e heideggeriana ......................................................................... 50
Oliva Sabuco: análise da contribuição do seu pensamento para a psicossomática ........ 53
Oficina de artes: território de existência ......................................................................... 55
Subjetivação e temporalidade em Sartre ........................................................................ 56
O desejo da futura profissão na perspectiva de crianças institucionalizadas: um estudo
psicanalítico .................................................................................................................... 57
Corpo, moradia e a produção de subjetividades na gestão do habitar: o Programa Minha
Casa Minha Vida. ........................................................................................................... 59
O existencial ‘ser-com’ em Ser e Tempo ........................................................................ 62
A desconstrução da ideia objetiva de mente em Heidegger: O Dasein como
espacialidade................................................................................................................... 63
Os limites da emancipação política em face da emancipação humana: uma (re)leitura da
Questão Judaica de Karl Marx ....................................................................................... 65
Fernão Mendes Pinto, o peregrino à luz da singularidade em Félix Guattari ................ 67
Mecanicismo materialista y psicología hobbessiana ...................................................... 69
A subjetividade autoritária: bases frankfurtianas para a análise social crítica ............... 70
A sensação no ensaio sobre a origem dos conhecimentos humanos de Condillac ......... 73
Novas subjetividades: a contribuição da Neurociência para as representações sociais da
pessoa humana ................................................................................................................ 74
A metonímia do desejo e o brinquedo como suporte significante: considerações sobre o
brincar na clínica psicanalítica com crianças hospitalizadas .......................................... 76
Da subjetividade a intersubjetividade: o giro da filosofia do sujeito para a pragmática
linguística ....................................................................................................................... 78
Classes sociais, partido e Estado no Manifesto Comunista de Marx e Engels ............... 80
Ressocialização sobre duas rodas: o trabalho do condenado como fator de
ressocialização, agente de transformação carcerária e condição de dignidade humana . 82
A experiência de leitura no presídio de Poços de Caldas: como é ler no presídio? ....... 84
Vem Cuidar! Promoção da saúde e a cidadania do idoso institucionalizado ................. 86
Bullying na escola: a percepção de um grupo de alunos do 9º ano do Ensino
Fundamental de uma escola pública em Poços de Caldas .............................................. 88
A natureza na tela do cinema 3D: uma análise das possibilidades e contradições do
filme Avatar a partir da Teoria Crítica ........................................................................... 89
MESA 3 .......................................................................................................................... 91
Filosofia, Educação, Cultura, Ética e Sociedade ............................................................ 91

8
A educação emancipatória e a superação da barbárie em Adorno (1903-1969) ............ 92
A reversão dialética da tecnologia digital e a emancipação da consciência no rap ........ 93
Conhecer e aprender a viver: reflexões acerca do fazer filosófico ................................. 94
O silêncio que incomoda: uma reflexão sobre alunos de uma escola pública ................ 95
A alegoria platônica do anel de Giges e as implicações do uso de câmeras de segurança
no âmbito do direito e da moral. ..................................................................................... 96
Habilidades de pensamento na aula de Filosofia ............................................................ 98
Hiphopnagô: letramentos rítmicos e sonoros ................................................................. 99
Redes sociais, alunos e professores: a expressão virtual do ressentimento real ........... 100
O que pode e o que impede a educação pública? ......................................................... 102
A ação social e a ampliação do conhecimento do mundo: relato de experiência de
alunos/as universitários/as da PUC Minas, campus Poços de Caldas .......................... 104
Epistemologia multicultural e a questão do sujeito em Charles Taylor ....................... 105
O discurso da democracia racial: um mito operante no contexto socioeducacional
brasileiro ....................................................................................................................... 108
Espiritualidade e interfaces: resultados de pesquisa realizada com universitários da PUC
Minas, campus Poços de Caldas ................................................................................... 110
Liberdade religiosa e laicidade: reflexões pautadas nos resultados de pesquisa com
universitários da PUC Minas, campus Poços de Caldas .............................................. 111
A formação do orador ciceroniano: do domínio da linguagem à filosofia ................... 112
Montaigne e a educação como “frequentação”: pensando a atividade pedagógica para
além dos espaços tradicionais de comunicação do saber ............................................. 114
Mito, ciência e esclarecimento: crítica do pressuposto epistêmico-metodológico do
positivismo ................................................................................................................... 115
Cultura e sublime em “sobre o sublime”, de Friedrich Schiller ................................... 118
A relação entre cultura e biologia na obra madura de Nietzsche ................................. 119
O aberto: conceitos heideggerianos recepcionados por Agamben no debate sobre o
poder soberano .............................................................................................................. 120
Religião, política e secularização: dimensões de um problema ................................... 121
Astúcia ou malandragem: uma reflexão sobre a fenomenologia do brasileiro............. 122
A ação docente mediante o discurso da democracia racial: um estudo proeminente nas
escolas públicas do município de Poços de Caldas ...................................................... 123
Projeto de extensão “Intergeracional Sacudindo a Memória”: uma estratégia de
aprendizagem na Universidade ..................................................................................... 126

9
Técnica e política: considerações sobre a ambiguidade da revolução técnica a partir de
Spengler, Ortega y Gasset e Habermas ........................................................................ 129
Quem é a Polegarzinha? ............................................................................................... 130
A ideologia neoliberal como forma de linguagem neutra e seus impactos no sistema
educacional público de Minas Gerais ........................................................................... 132
Mouros x Cristãos: do conflito armado aos outros campos da batalha ........................ 133
Ramon Llull e o diálogo inter-religioso ....................................................................... 134
Um debate sobre os rumos da cultura popular negra e o seu reconhecimento na era
globalizada .................................................................................................................... 137
Utilização de cotas na universidade.............................................................................. 138
Entre a Ciência e a Filosofia: notas sobre a análise de discurso francesa em sua
dimensão epistêmica ..................................................................................................... 141
Publicidade como um dos aportes para o progresso da humanidade na história segundo
Immanuel Kant ............................................................................................................. 142
Fundamentos da bioética a partir de uma espiritualidade não religiosa ....................... 144
O uso da Internet e a formação de gênero feminino na infância .................................. 147

10
APRESENTAÇÃO

Em relação dialética com as crescentes transformações tecnológicas, as contínuas


mudanças nas formas de interação e comunicação humanas são impulsionadoras de
redes sociais e novas mídias de massa, ensejando impactos decisivos e novas
experiências, as quais exigem uma devida compreensão científica e crítica. Essa nova
realidade mundial desafia a comunidade acadêmica a renovar suas interpretações,
requerendo abordagens integradas, permanentemente subsidiadas pelo diálogo
interdisciplinar.
Contribuem para este ambiente reflexivo áreas de investigação como a Filosofia, a
Psicologia, a Comunicação, o Jornalismo, a Linguística, a Educação, a Arte, a
Semiótica, ao lado de outras Ciências Humanas e Sociais. Enfoques direcionados a
pesquisas no campo tecnológico, da informação e do comportamento muito têm a
colaborar para uma visão mais abrangente desses fenômenos, trazendo reflexões e
análises próprias, bem como inovadoras perspectivas teóricas e metodológicas.
Animado por este propósito é que surgiu a ideia do Simpósio Internacional de
Filosofia, Comunicação e Subjetividade (Lubral 2016). Ao integrar pesquisadores de
três diferentes países, quatro nacionalidades e diversas instituições, o simpósio priorizou
a aproximação cultural e o compartilhamento de experiências sobre formas emergentes
de interconexão, comunicação e relacionamento humanos, estudadas em diferentes
campos de abordagem.
Colaboraram para a execução deste evento o Curso de Especialização em Filosofia
oferecido desde 2010 pela PUC Minas - Campus Poços de Caldas, juntamente com
outras atividades acadêmicas realizadas pelo Núcleo de Ciências Humanas desta mesma
unidade e sua atuação nos vários cursos de graduação da PUC Minas. Também se
envolveram de modo especial os cursos de Comunicação Social e de Psicologia da PUC
Minas, além de três Grupos de Pesquisa da instituição, vinculados ao CNPq: Cultura,
Memória e Sociedade; Filosofia, Religiosidade e suas Interfaces; Modos de Produção da
Subjetividade. Do lado brasileiro destaca-se ainda a parceria e atuação do Instituto de
Ciências Humanas e Letras da Universidade Federal de Alfenas (ICHL/Unifal-MG),
pelo Grupo de Pesquisa, vinculado ao CNPq, Filosofia, História e Teoria Social.
Do lado português, une-se a esta experiência o trabalho de ensino, pesquisa e produção
acadêmica desenvolvido pelo Instituto de Filosofia Prática, hoje congregado no
LabCom.IFP - Comunicação, Filosofia e Humanidades, da Universidade da Beira
Interior (UBI - Covilhã, Portugal), nas áreas de Filosofia, Comunicação e mídia,
fenomenologia, Artes e Humanidades.
Ganha relevância para o evento o fato de que em 2016 completam-se quarenta anos da
morte (1976) do filósofo alemão Martin Heidegger, um dos grandes expoentes da
filosofia fenomenológica e da ontologia na contemporaneidade; oitenta anos (1936) da
publicação de A crise das ciências europeias e a fenomenologia transcendental (Die
Krisis der europäischen Wissenschaften und die transzendentale Phänomenologie: ein
Einleitung in die phänomenologische Philosophie), o livro clássico de Edmund Husserl;

11
e também de A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica (Das Kunstwerk im
Zeitalter seiner technischen Reproduzierbarkeit), de Walter Benjamin. Todas são obras
e autores fundamentais para o pensamento filosófico crítico, essenciais no
enfrentamento dos desafios impostos pela modernidade nos âmbitos tanto científico
quanto técnico.
Além de reunir pesquisadores e especialistas das universidades promotoras do Brasil e
Portugal, o evento também contou com convidados internacionais oriundos da
Alemanha e da Sérvia, estabelecendo um elo bastante diversificado de abordagens.
Além das conferências e palestras, o Simpósio ofereceu aos participantes um minicurso
sobre a relação entre o pensamento de Heidegger e a mídia. Os participantes, vindos de
diferentes partes do Brasil, também trouxeram seus trabalhos, os quais foram
apresentados em três mesas de comunicação, conforme as seguintes linhas temáticas:
1. Comunicação, Mídias e Linguagens: práticas e reflexões: Esta sessão
procurou abrigar comunicações que abordaram temas relacionados ao campo da
linguagem/Filosofia da Linguagem, semiótica e comunicações simbólicas,
mídias e suas relações no contexto cultural, social, políticos, comportamental.

2. Filosofia e Psicologia: questões da subjetividade: Esta sessão procurou abrigar


comunicações que abordaram temas relacionados aos campos de investigação na
Psicologia, especialmente nas conexões com as teorias e métodos filosóficos, em
torno do sujeito, do comportamento, da sociedade, tais como a fenomenologia, a
psicanálise, as teorias humanistas etc.

3. Filosofia, Educação, Cultura e Sociedade: Esta sessão procurou abrigar


comunicações que abordaram temas amplos na Filosofia, sobretudo aqueles que
se voltam às questões da educação, da ética, da cultura, da sociedade, da política,
no contexto contemporâneo.

O presente Caderno de resumos reúne todas as comunicações apresentadas nas mesas e


que traduzem o espírito interdisciplinar do evento, que valorizou diferentes temáticas a
partir de distintas áreas do conhecimento. Todas as atividades foram abertas ao público
interessado em Filosofia e suas interfaces, estudantes de graduação e pós-graduação nas
áreas afins, docentes, profissionais e pesquisadores.

Prof. Dr. Gérson Pereira Filho – PUC Minas - Campus Poços de Caldas
Prof. Dr. Marcos Roberto de Faria – Unifal-MG - Sede Alfenas
Prof. Dr. João Carlos Ferreira Correia – UBI - Covilhã, Portugal

12
PROGRAMAÇÃO SINTÉTICA

Quarta-Feira, 16/11 – Auditório 2 da PUC Minas – Poços de Caldas

MANHÃ
8:00h - 9:00h: Recepção e credenciamento
9:00h - 10:00h: Abertura do evento. Representantes institucionais (PUC Minas, Unifal-
MG, UBI - Portugal e representação da Alemanha).
10:00h - 10:30h: Videoconferência: “Transformações pós-modernas e os impactos nas
Humanidades e na Comunicação”. Prof. Dr. João Carlos Ferreira Correia (Universidade
da Beira Interior - Portugal).
10:00h - 12:00h: Conferência: “Transformações pós-modernas das Humanidades e da
Comunicação: da paideia ao interculturalismo”. Profa. Dra. Anabela Maria Gradim
Alves (Universidade da Beira Interior - Portugal). Coordenador da mesa: Prof. Dr.
Gérson Pereira Filho (PUC Minas).
Almoço

TARDE
13:30h - 17:30h: Sessões de comunicações

NOITE
19:00h: Conferência: “Fenomenologia, Heidegger e a Filosofia oriental”. Prof. Dr.
Antônio Florentino Neto (Unicamp). Coordenador da mesa: Prof. Dr. Ronny Francy
Campos (PUC Minas).
21:30h: Lançamento de livros:
Antônio Florentino Neto e Oswaldo Giacoia Jr. (Orgs.), Heidegger e o pensamento
oriental (Campinas: Phi).
Antônio Florentino Neto, Escritos de Leibniz sobre a China (Campinas: Phi).
Maria José Viana Marinho de Mattos, Camila Alves Fior, Gérson Pereira Filho (Orgs.),
Psicologia e Filosofia (Curitiba: CRV).

13
Quinta-Feira, 17/11 – Auditório 2 da PUC Minas – Poços de Caldas

MANHÃ
8:00h: Reabertura das atividades. Mesa: “A cultura midiática contemporânea e seus
impactos”. Prof. Dr. Júlio Pinto (PUC Minas); Prof. Dr. Lucas Cid Gigante (Unifal-
MG). Coordenador da mesa: Prof. Dr. Conrado Moreira Mendes (PUC Minas).
Intervalo
10:30h - 12:00h: Conferência: “Sensação e fetiche na cultura da imagem”. Prof. Dr.
Flademir Roberto Williges (IFRS). Coordenador da mesa: Prof. M.Sc. Paulo Denisar
Fraga (Unifal-MG).
Almoço

TARDE
13:00h - 18:00h: Minicurso: “Introdução à Filosofia de Heidegger para os estudos da
mídia”. Jornalista e Profa. Dra. Soraya Guimarães Hoepfner (Berlim - Alemanha).

NOITE
19:00h: Conferência: “Filosofia e Comunicação: subjetividade e sociedade”. Prof. Dr.
Miroslav Milovic (UnB). Coordenador da mesa: Prof. Dr. Marcos Roberto de Faria
(Unifal-MG).
19:30h - 21:00h: Mesa simultânea – Auditório Dr. João Leão de Faria – Unifal-MG -
Sede Alfenas. “Filosofia, mídia, cultura e comunicação”. Prof. Dr. André Barata
Nascimento (Universidade da Beira Interior – Portugal); Prof. Dr. Flademir Roberto
Williges (IFRS). Coordenador da mesa: Prof. Dr. Francisco Xarão (Unifal-MG).

14
Sexta-Feira – 18/11 – Auditório 2 da PUC Minas – Poços de Caldas

MANHÃ
8:00h: Reabertura dos trabalhos. Mesa: “Realidade social, cultura e ideologia”. Cineasta
Frederico Furtado; Prof. Dr. André Luiz Sena Mariano (Unifal-MG). Coordenador da
mesa: Prof. Dr. Sibélius Cefas Pereira (PUC Minas).
Intervalo
10:30h - 12:00h: Conferência: “As três antinomias da democracia e o problema da
comunicação”. Prof. Dr. André Barata Nascimento (Universidade da Beira Interior –
Portugal). Coordenador da mesa: Prof. Dr. Adriano Pereira Santos (Unifal-MG).
Almoço

TARDE
13:30h - 17:30h: Sessões de Comunicações
17:30h - 18:30h: Reunião científico-institucional do evento (Comissão Organizadora,
Comissão Científica, representantes institucionais e convidados externos) – Local: PUC
Minas - Poços de Caldas, Prédio 2, Andar térreo, sala 10.

NOITE
19:00h: Apresentação cultural: “A dança dos Orixás” – Cia. de Dança Gisa Carvalho.
20:00h: Conferência: “A Filosofia depois de Heidegger”. Prof. Dr. Peter Trawny
(Universidade de Wuppertal – Alemanha). Tradução: Jornalista e Profa. Dra. Soraya
Guimarães Hoepfner. Coordenador da mesa: Prof. Dr. Gérson Pereira Filho – PUC
Minas.
Divulgação dos livros do autor: Adyton: a Filosofia esotérica de Heidegger; Heidegger
e o mito da conspiração judaica (Rio de Janeiro: Mauad).

15
Sábado, 19/11 – Auditório 2 da PUC Minas – Poços de Caldas

MANHÃ
9:00h: Conferência: “Filosofia da sensação”. Prof. Dr. Christoph Türcke (Escola
Superior de Artes Gráficas e Livreiras de Leipzig e Universidade de Leipzig -
Alemanha). Coordenador da mesa: Prof. Dr. Francisco Xarão (Unifal-MG).
Divulgação do livro do autor Sociedade excitada: Filosofia da sensação (Campinas: Ed.
Unicamp) e lançamento de Hiperativos! Abaixo a cultura do déficit de atenção (Rio de
Janeiro: Paz e Terra).
11:00h: Apresentação Musical – Conservatório Musical Antônio Ferrucio Viviani.
12:00h: Encerramento.
Almoço de confraternização – por adesão.

Segunda-Feira, 21/11 – Auditório Dr. João Leão de Faria da Unifal-MG - Sede


Alfenas

NOITE
19:30h - 21:00h: Conferências Humanísticas II: “Filosofia da sensação”. Prof. Dr.
Christoph Türcke (Escola Superior de Artes Gráficas e Livreiras de Leipzig e
Universidade de Leipzig - Alemanha). Coordenador da mesa: Prof. M.Sc. Paulo Denisar
Fraga (Unifal-MG).
Auditório Dr. João Leão de Faria da Unifal-MG – Para esta conferência houve inscrição
complementar (gratuita) no site da Unifal-MG.

16
MESA 1

Comunicação, Mídias e Linguagens: práticas e reflexões

17
“Fora Dilma” e “Fora Temer”: A mídia e a polarização política no contexto atual
da sociedade brasileira

Beatriz Silva Curti1


Caroline Salvi Brandão2
Ana Maria Brochado de Mendonca Chaves3

Palavras-chave: mídia; contexto político; sociedade brasileira.


Diante do atual cenário político brasileiro, tornou-se possível observar um processo
polarização da sociedade decorrente de um acentuado antagonismo ideológico. Nota-se
ainda que tal processo torna-se mais evidente com a crescente participação da população
na esfera pública. Entretanto deve-se salientar que na maioria das vezes tal
envolvimento não ultrapassa o âmbito da emissão de opiniões, as quais notadamente se
revestem de caráter hostil e maniqueísta e acontecem predominantemente por meio das
redes sociais. Este engajamento dos indivíduos pode encontrar justificativa na
disseminação da informação por intermédio da mídia hegemônica Percebe-se que os
grupos discordantes criam identidades com determinadas expressões, as quais são
legitimadas e difundidas por meio da comunicação em massa. Pretende-se observar a
relação entre o fenômeno da polarização e as notícias selecionadas, neste sentido
almeja-se encontrar indícios da parcialidade das reportagens que apresentaram os
termos “Fora Dilma” e “Fora Temer”, presentes em três dos maiores sites de notícia
brasileiros (UOL, G1 e Terra), no período de um ano que antecede ao impeachment da
presidenta Dilma Rousseff. Para a realização da pesquisa, utilizou-se a ferramenta de
busca avançada do Google, com os filtros de data e ocorrência apenas no título. Como
resultado parcial, obteve-se o número de 48 notícias com o termo “Fora Temer” e 6 com
os dizeres “Fora Dilma”. Diante dos dados apresentados será feita uma análise de
conteúdo a partir da hipótese da existência de um paradoxo entre os acontecimentos
políticos e os fatos noticiados.

1
Bibliotecária na PUC Minas com MBA em Gestão Avançada de Pessoas. E-mail: biacurti@gmail.com.
2
Estudante de Graduação 7º semestre do Curso de Direito. E-mail: carols_brandao@hotmail.com.
3
Professora da PUC Minas e Mestre em Educação USP. E-mail: ambmchaves@uol.com.br.

18
A influência e o impacto da mídia nas crianças de 4 a 9 anos: a percepção dos pais

Alessa Marynara Silva4

Palavras-chave: Publicidade infantil; mídia; crianças; influência; pais e educadores.

Trata-se de um estudo sobre “A Influência e o Impacto de Mídia nas Crianças de 4 a 9


anos: a percepção dos pais”, cujo objetivo é analisar a percepção dos pais em relação à
influência e o impacto da mídia nas crianças de 4 a 9 anos, e seus comportamentos
como possíveis reflexos consequentes dos conteúdos midiáticos aos quais eles têm
acesso. A partir do objetivo geral, foram elaborados os específicos: contextualizar a
mídia e suas abordagens; entender a influência da mídia nessa faixa etária e
posteriormente com uma compreensão da mídia formadora de padrões e estereótipos
culturais. A tecnologia avançou muito, então vivemos um momento no qual a maior
parte da população tem ao alcance de suas mãos algum veículo de comunicação, o
tempo todo, propiciando uma influência muito grande desse conteúdo e dessas
mensagens na vida das pessoas. A partir da revisão da literatura, percebe-se que as
crianças não são capazes de discernir o propósito dos meios de comunicação social e
distinguir as informações da programação televisiva que podem mudar seu modo de
pensar, agir e se relacionar com o mundo. O desenvolvimento desse estudo procura
entender as formas de influência midiática, mostrando como se dá a relação entre os
meios de comunicação e os receptores dessa faixa etária. Na sequência, foram aplicados
questionários a um grupo de vinte pais no sentido de verificar se há influência da mídia
na formação ou no desenvolvimento das crianças. Após a coleta e organização dos
dados, percebe-se que há compreensão dos pais confirmando a influência da mídia tanto
em relação às questões do consumismo, padrões de beleza quanto nos estereótipos e
estratégias de marketing que afetam crianças. Destaca-se com esse estudo, a educação
como um recurso ao consumo consciente, despertando sempre os educandos à
criticidade, e também os pais e toda a sociedade como mediadores do processo do
desenvolvimento infantil, atentos aos conteúdos dos veículos de comunicação.

4
Graduanda em Pedagogia pela PUC Minas. E-mail: lelessa2707@yahoo.com.br.

19
A cartografia do afeto: São Paulo e Arte Urbana

Camila Geracelly Xavier Rodrigues dos Santos5

Palavras-chave: São Paulo; Arte Urbana; lugar; afeto; comunicação; cartografia.


A pesquisa investiga a arte urbana e sua intervenção no processo de comunicação da
cidade. Partindo desse objetivo, a pesquisa analisa o conceito de Arte Urbana, suas
origens, evoluções e sua possível revisão ou desconstrução, tento como objeto de estudo
a Cidade de São Paulo. Investiga-se as características comunicativas da arte urbana e
suas possibilidades de intervenção. Nesse sentido e como decorrência, objetiva-se traçar
uma cartografia afetiva da cidade. Através de apropriações estéticas e estésicas da
cidade, considera-se como hipótese que a arte pode adicionar dimensões sensíveis aos
espaços transformando-os em lugares de afeto, modificando o ambiente urbano e
tornando o uso público e privado da cidade um ser mutante hibrido. Modificam-se os
fluxos comunicacionais entre a cidade e seus usuários e se reconfiguram visibilidades
descobrindo o que estava invisível à percepção. Adotando a estratégia metodológica da
deriva proposta por Guy Debord, observa-se e analisa-se a cidade como um corpo vivo
permeado de horizontes sensíveis que permitem apreender órgãos e artérias da cidade,
ao mesmo tempo em que traçam redes ou raízes de significações. Para tanto, devemos
entender a arte urbana como a arte desprovida de aura, desconstruindo seus estereótipos
para a construção de um conceito que amplie as suas possibilidades. O projeto
apresentado não trabalha uma teoria aplicada, mas fluindo entre teorias, resgata-se
conceitos que possibilitam a ampliação do conhecimento sobre a cidade e a arte que
conserva. A proposta é criar um fluxo teórico entre vários autores a fim de criar uma
cartografia do afeto da cidade de São Paulo tendo como objeto sua arte urbana. A
pesquisa flui entre as teorias propostas por pesquisadores que investigam a arte, a cidade
e a comunicação, como David Harvey, SaskiaSassen, Richard Sennett, Milton Santos,
Walter Benjamim, Lucrécia Ferrara, DidHuberman, Augustin Berque, Hans Belting,
Jacques Rancière, Pierre Bourdieu, Siegfried Zielinski, AbyWarburg, Guy Debord,
Gilbert Simondon, Merleau-Ponty, Paul Valéry, Algirdas Greimas, Carlo Giulio Argan
e Ernest Gombrich.

5
Doutoranda em Comunicação e Semiótica na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC.
Mestra em Teoria e Crítica de Arte pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto – PT. E-mail:
camila.geracelly@gmail.com.

20
500 anos da Utopia de Thomas More na grande mídia brasileira

Gleyton Trindade6

Palavras-chave: Utopia; mídia; liberalismo; republicanismo.


O ano de 2016 marcou a celebração dos 500 anos de publicação da Utopia de Thomas
More, obra de reconhecida importância e impacto na própria conformação da literatura
filosófica e política no mundo ocidental. Por isto mesmo, eventos comemorativos à data
ocorreram em várias universidades ao redor do mundo, especialmente no mundo anglo
saxão. No caso do Brasil, grandes meios de mídia promoveram debates sobre a
importância e atualidade da obra clássica de Thomas More buscando repensar seu lugar
no mundo contemporâneo. Chama a atenção o fato de que tais eventos patrocinados
pelos grandes órgãos de mídia do país terminaram por adotar um discurso bastante
crítico em relação a Utopia, denunciando seus pretensos fundamentos “totalitários” e
sua suposta defesa de uma sociedade do “controle total”. Neste trabalho, pretendemos
identificar as raízes liberais e mesmo libertárias de tal leitura da Utopia, centradas na
acusação do “perfeccionismo” e no “anti-historicismo” supostamente presentes na
Utopia. Do nosso ponto de vista, tal leitura liberal de More não faria jus aos grandes
dilemas políticos enfrentados por sua obra apontados pelas leituras republicanas mais
contemporâneas. Desse ponto de vista, os eventos realizados pela mídia brasileira
revelariam muito mais sobre as matrizes ideológicas profundamente liberais e avessas à
vida pública a partir das quais os profissionais de mídia se informam no Brasil do que
propriamente sobre a clássica obra que completa seus cinco séculos neste ano.

6
Professor Adjunto da Universidade Federal de Alfenas (Unifal-MG).

21
Cultura da autonomia e as redes sociais na consolidação da cidadania

Maria Fabiana Lansac7

Palavras-chave: Mídias Sociais; cultura democrática; espaço de autonomia; política


pública; coesão social.

Políticas públicas de incentivo à cultura e sua relação com as expressões individuais que
são estabelecidas através de conexões por meio de mídias sociais serão analisadas com
base em eventos culturais que incentivam o uso de espaços públicos e colaboram para
consolidar a cultura da autonomia no Brasil. Esta relação é apresentada através de
aspectos encontrados no processo de consolidação e desdobramento da Virada Cultural
executada pelo Governo do Estado de São Paulo desde 2005 e pelas grandes
manifestações de ordem política ocorridas a partir do Movimento Passe Livre – MPL
em 2013, considerando o uso tecnológico como fator inerente a transformação de
espaços públicos em espaços de autonomia dentro de contexto político e cultural. A
base teórica do artigo será fundamentada no pensamento de dois autores principais:
Manuel Castells e Isaura Botelho. O primeiro autor trata da conceituação da “Cultura da
Autonomia” (CASTELLS; 2013) com ênfase para a politização das redes sociais e
também no advento da popularização do acesso rede informacional que o autor
denomina de “Galáxia de Internet” (CASTELLS; 2003). A autora fundamenta aspetos
da cultura democrática em contraponto à democratização da cultura, seja em sua
dimensão antropológica ou erudita, apresentando considerações relevantes sobre
aspectos da implementação de políticas públicas culturais e sobre a influência dos atores
políticos, sociais e econômicos que estão envolvidos neste processo (BOTELHO;
2001). Complementando o embasamento teórico serão considerados artigos que tratam
da dispersão irregular de áreas públicas decorrente do fenômeno de metropolização no
Brasil e como isto colabora para a acentuação da desigualdade social (BENFATTI, et al;
2010) sendo que este mesmo fenômeno também foi observado em diversos países da
América Latina trazendo com grandes impactos negativos para a população
(KAZTMAN e RIBEIRO; 2008). Para embasamento do texto proposto serão utilizados
dados quantitativos e análises publicadas por órgãos governamentais e institutos de
pesquisa sobre as políticas públicas culturais e sobre as manifestações populares
ocorridas desde 2001 quando teve início a implementação da Virada Cultural na cidade
de São Paulo (OLIVEIRA; 2009) até as manifestações populares de natureza política
recentemente e que abrangeram todo o território nacional (CASTELLS; 2013).

7
Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Urbanismo – PUC-Campinas; Mestre em Urbanismo do
Programa de Pós Graduação em Urbanismo – PUC-Campinas; Professor PucPCaldas, Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo. E-mail: bialansac@gmail.com.

22
Entendendo que os valores culturais e os canais participativos favorecem que se
estabeleça uma coesão social que corrobora com o fortalecimento do sentimento de
pertencimento de um indivíduo em um grupo social ou em uma comunidade. Na
sociedade contemporânea, cada vez mais dependente da tecnologia de informação e
comunicação, observa-se um fenômeno que trata da manifestação de valores individuais
que são expostos em mídias sociais e nestas o indivíduo encontra com maior facilidade
outros indivíduos que compactuam os mesmos valores, embora estes indivíduos estejam
dispersos no meio físico, suas convicções se fortalecem no meio virtual. Quando estes
valores individuais se tornam consensuais, configuram comunidades ou grupos. Com o
crescimento destas comunidades em número de integrantes e também pelo
fortalecimento do consenso conceitual, estes valores fundamentais passam a ter uma
dimensão política, fazendo com que destas ideias transponham as fronteiras
tecnológicas e sejam manifestadas de forma física. Esta transposição pode ser observada
pela apropriação de espaços públicos pela população como uma forma tradicional de
consolidação do pensamento cidadão em ação social e política. Neste ponto se observa a
consolidação da cultura da autonomia, pertencente a dimensão teórica, porém, através
da apropriação de espaços públicos ou de uso coletivo, de dimensão física, estas as áreas
utilizadas pela população de forma coletiva e orquestrada, passam a ser consideradas
como espaços de autonomia, legitimando ou buscando a legitimação do pensamento
consensual. Este fenômeno contemporâneo da cultura da autonomia, aliado às práticas
democráticas de incentivo à coesão social e mais inclusivas no âmbito da cidadania e do
respeito aos fundamentos culturais do indivíduo, serão analisados com maior
profundidade pelo artigo apresentado, baseado na ampliação do acesso e disseminação
de novas tecnologias de informação e de comunicação como instrumento facilitador das
manifestações populares que colaboram com o fortalecimento do sentimento de
pertencimento do indivíduo em comunidade e também sua cidadania. Referências
Bibliográficas: BENFATTI, D.M., QUEIROGA, E.F., SILVA, J.M. Transformações da
Metrópole Contemporânea: Novas Dinâmicas Espaciais, Esfera da Vida Pública e
Sistema de Espaços Livres. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais. V12,
n.2, pp.29-43, maio 2009. BOTELHHO, I. As dimensões da cultura e o lugar das
políticas públicas. São Paulo em Perspectiva, 15(2) 2001, pp. 73-83. Disponível em:
www.scielo.br/pdf/ssp/v15n2/8580.pdf. Acesso em 05/09/2016. CASTELLS, M. A
Galáxia da Internet: Reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade. Rio de
Janeiro, Zahar, 2003. CASTELLS, M. Redes de Indignação e Esperança: movimentos
sociais na era da internet. Rio de Janeiro: Zahar, 2013. KAZTMAN, R., RIBEIRO,
L.C.Q. Metrópoles e sociabilidade: os impactos das transformações socioterritoriais das
grandes cidades na coesão social dos países da América Latina. Rio de Janeiro:
Cadernos Metrópole 20 pp.241-261, 2ºSem. 2008. Disponível em:
file:///C:/Users/Usuario/Documents/Doutorado/ARTIGOS%20FAB/Referencia/8706-
21150-1-SM.pdf Acesso em 10/10/2016. OLIVEIRA. M.C.V. Culturas, públicos,
processos de aprendizado: possibilidades e lógicas plurais. Políticas Culturais em
Revista, 2(2), pp.122-136, 2009. Disponível em:
http://www.ufrgs.br/difusaocultural/adminseminario/documentos/arquivo/Culturas,%20
publicos,%20processos%20de%20aprendizado%20-

23
%20possibilidades%20e%20logicas%20plurais%20-%20MCVO.pdf. Acesso em:
10/10/2016.

24
A notícia como definidora do tempo – e o indivíduo em relação a isso

Marcos Beck Bohn8

Palavras-chave: Notícia; televisão; tempo; memória; autonomia.


Esta pesquisa examina o grau de interferência da notícia audiovisual na percepção
humana da passagem do tempo. Em um ambiente onde os organismos midiáticos
definem suas próprias escalas temporais, novas relações temporais podem se estabelecer
entre o telespectador e as notícias consumidas. Bastante mutáveis e eventualmente nada
similares entre si, tais intervalos de tempo delimitados externamente interagem com a
linha do tempo interna do sujeito. Assim, o presente trabalho busca empreender uma
reflexão interdisciplinar sobre (i) o modo de delimitação e consolidação do tempo pela
notícia, (ii) o modo como oscila – avança e recua, acelera e atrasa – o tempo da notícia,
e, por fim, (iii) sobre uma eventual descontinuidade entre o tempo da notícia e o tempo
subjetivo do indivíduo. Como base teórica, parte-se da filosofia de Henry Bergson e de
sua descrição do modo humano de organização da recordação e da memória: através de
paradas virtuais no tempo passado. Compreendemos e apreendemos o tempo através de
uma representação linear, sendo nossas lembranças constituídas por registros fixos no
tempo unidimensional e anterior de nossa memória. As definições de tempo e memória,
por sua vez, são desenvolvidas a partir de uma perspectiva geral e sistêmica, portanto,
ontológica – notadamente, a de Mario Bunge. Assim, a memória é vista como
fundamental para a manutenção da autonomia do indivíduo. Já o conceito de tempo é
considerado a partir da percepção humana primordial que o sustenta e cria, aquela de
antes de e depois de algum evento (conforme Kenneth G. Denbigh). O tempo, aqui, é o
tempo irreversível da fenomenologia (conforme Ilya Prigogine e Isabelle Stengers).
Quanto aos eventos, podem vir a ser retratados pelas notícias, constituindo assim um
novo evento, desta vez audiovisual, em que uma representação de fatos é elaborada
sobre uma representação do tempo, continuamente recriando e reforçando a lógica
humana linear de retrospecção. Considera-se, entretanto, que a intensidade do fluxo
noticioso possa estar além da capacidade de processamento interna do indivíduo,
gerando até mesmo um descompasso em nosso processo perceptivo. A investigação
analisa a íntegra de um telejornal, especificamente no que tange aos intervalos de tempo
estabelecidos em cada notícia separadamente. Até o presente momento, tal análise

8
Jornalista, Master of Arts em Transnational Communications and Global Media pelo Goldsmiths
College da Universidade de Londres, Mestre e Doutorando em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP.
E-mail: marcosbohn@hotmail.com.

25
indica ser possível tomar como procedente a hipótese de que o fluxo noticioso
contemporâneo, ao interagir com as paradas virtuais da recordação subjetiva do
indivíduo, pode alterar sua memória, interferindo em sua autonomia.

26
A comunicação empresarial e a relação de dominação significada no consenso

Maria Isabel Braga Souza9

Palavras-chave: Comunicação empresarial; estratégias de comunicação; sujeito;


análise de discurso.
Buscamos apontar alguns efeitos de sentido que atravessam as relações entre sujeitos e
instituições, refletindo o modo como os materiais de comunicação empresarial se
constituem enquanto interlocução da empresa com seu público, organizando os sentidos
que estão em circulação, instituindo relações e padrões em espaços discursivos
específicos para que essas formulações possam se significar, produzindo consenso e
evitando conflitos. Esse efeito de coerência no discurso é uma forma de poder, já que o
político também se faz presente na relação entre o que é dito e os sentidos que se farão
compreender. Trazendo essa reflexão para os discursos empresariais, podemos entender
os mecanismos de funcionamento desses enunciados que materializam o
posicionamento da empresa e outras posturas que podem ser consideradas mecanismos
de regulação. Ancoramos este trabalho na Análise de Discurso de linha francesa,
fundamentado, principalmente, nos estudos de Michel Pêcheux e Eni Orlandi. Nos
discursos das empresas vemos representada a atual conjuntura do capitalismo
manipulatório, que busca moldar o trabalhador para que ele, inserido neste sistema, dê
resultados que corroborem com o que dele é esperado enquanto força de trabalho. A
busca pelo controle de atitudes e comportamentos pelas empresas é representada nos
discursos com sentidos de valores e expectativas, de crescimento profissional, de ação e
reação, causa e consequência, uma estratégia que faz com que essas delimitações se
tornem evidentes para o trabalhador que está atravessado pela memória de que o bom
funcionário faz carreira, é dedicado, que agindo assim ele (se) significa na sociedade de
maneira ímpar e atinge seus objetivos pessoais e profissionais. O modo como a empresa
denomina seu trabalhador, para não dizer, ou dizer, funcionário, colaborador ou outra
denominação, remete a uma classificação desta mão-de-obra como parte integrante da
empresa e transferir para ela suas obrigações enquanto força de trabalho produtiva,
responsável pelos resultados da organização, pelos seus próprios resultados enquanto
mão-de-obra, e resultados da vida pessoal, o ser humano, que tem suas outras
especificidades também influenciadas pelo trabalho. Na contemporaneidade, as
empresas buscam materializar os seus valores que devem ser interpretados e seguidos

9
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Linguagem da Universidade do Vale do
Sapucaí. E-mail: isabelsouza.jornalista@gmail.com.

27
por aqueles que compõem a sua força de trabalho, fazendo com que estes sujeitos, em
sua posição sujeito trabalhador, multipliquem estes ideais de gestão corporativa. Para
análise do discurso empresarial selecionamos recortes de alguns dos textos produzidos
pela multinacional Alcoa Alumínio S/A. A empresa está presente em mais de trinta
países e possui cerca de 60 mil funcionários. No Brasil se instalou em 1965, possui
escritórios, unidades de exploração e empreendimentos em nove diferentes Estados,
atuando na produção do metal, desde a extração da bauxita até sua transformação em
diversos produtos. Um primeiro aspecto a se destacar nos materiais de comunicação, é
que a empresa nomeia seus funcionários, independentemente da posição hierárquica que
ocupam, como “Alcoanos”. Analisando o uso dessa regularidade nos textos produzidos
para o público interno e externo da empresa, percebemos que há um esforço para nivelar
os trabalhadores, de modo que todos os vinculados a mesma empresa tenham atitudes,
repliquem posturas e posições ideológicas, como espelhos da organização. Criando a
categoria “Alcoanos”, a empresa busca a padronização e quem não se inscreve nesta
posição estará fora da parcela dos que, pelo imaginário, entendem ser iguais perante à
organização. O termo pode ainda ser compreendido como um nome próprio, uma
identificação, com a grafia da primeira letra maiúscula, assim como acontece na grafia
dos nomes em nossa sociedade. Os “Alcoanos” se conhecem, têm ideologia própria e se
inscrevem na mesma posição. Os “Alcoanos” têm competência para disseminar a
postura da empresa entre eles próprios, é o poder que, como água, inunda os
funcionários, para que corroborem com um propósito. Ao se depararem com a
nomenclatura “Alcoanos” os funcionários silenciam o “eu”, o indivíduo se oculta para
se inscrever nestes enunciados mercadológicos. Esse silenciamento, ocasionado pelo
consenso e domínio, faz com que os indivíduos/funcionários se nivelem ao padrão da
empresa, às suas ideologias, se assujeitando à formação discursiva do capital. No
discurso da Alcoa quem está inserido neste ambiente consensual é competente por agir
dessa maneira e não de outra, inscrevendo os funcionários em uma visão de dentro para
fora, um imaginário onde eles são diferentes, quando comparados a outros
trabalhadores, de outras empresas. Esse imaginário é reflexo de como a multinacional se
significa, evidenciando que quem não cumpre o que está estabelecido é desqualificado.
Nossa formação social nos remete ao capital e a denominação “Alcoanos” produz um
efeito de verdade, dá existência a algo inexistente: o coletivo da empresa inventado, o
“nós” Alcoa. O termo “Alcoano” legitima a multinacional, produzindo um imaginário
do bom lugar para se trabalhar, da boa empresa, dos bons produtos para se consumir, de
uma instituição parceira da sociedade, preocupada com o social e o ambiental. É o poder
justificado, atravessado pelos parâmetros capitalistas que fortemente estão nos textos da
atualidade e são incorporados à empresa de modo que os diferentes públicos - interno e
externo - também se signifiquem neste discurso, mesmo que não se deem conta disso.

28
“Sacudindo a memória” na internet: recontando histórias, resignificando
memórias e aproximando gerações

Kátia Maria Pacheco Saraiva10

Palavras-chave: Internet; histórias; resignificação; memórias; gerações.


A globalização vem provocando mudanças profundas nos parâmetros da condição
humana. Segundo o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, em seu livro a Globalização-
as consequências humanas (1999) vivemos em uma época de liquidez e de fragilidade
dos vínculos afetivos em consequência do aumento do individualismo e do
enfraquecimento de atitudes solidárias. Por outro lado, é a globalização que também nos
permite um maior contato com diferentes formas de cultura, permitindo que troquemos
experiências, ora sendo influenciados, ora influenciando novos comportamentos. A
convivência humana na sociedade atual nos propõe constantes desafios e nos convoca a
inventar ou (re)inventar convívios intersubjetivos e intergeracionais. O nosso primeiro
grande desafio é o de voltarmos o olhar não só para nossa própria identidade, mas
principalmente para a construção das identidades das outras pessoas ou grupos com os
quais estabelecemos relações. E são justamente a busca pela (re)invenção de convívios e
a possibilidade de (re)encontros significativos e criativos – valorizando as experiências
pessoais, mediadas e realizadas como um objeto de estudo de um Projeto de Extensão
Universitária – que impulsionam o presente trabalho. Assim, emerge a proposta de um
projeto de extensão universitária denominado: Projeto Intergeracional “Sacudindo a
Memória”: recontando histórias, resignificando memórias e aproximando gerações, que
visa promover a sensibilização, a conscientização, a desconstrução de estereótipos e a
compreensão mais equilibrada acerca do processo de envelhecimento. Tudo por meio da
valorização das memórias autobiográficas contadas pelos idosos anônimos e invisíveis,
que representam a “memória viva da cidade”. Trata-se de um projeto cujo caráter é
eminentemente sociocultural, educativo, comunicativo e interdisciplinar, pois busca
fortalecer e consolidar a interdisciplinaridade entre os cursos de Psicologia e de
Publicidade e Propaganda. Os objetivos do projeto são: a) implementar práticas que
promovam a aproximação intergeracional, pois essas propiciam uma maior
sensibilização, conscientização e a quebra de estereótipos, tanto do processo de
envelhecimento, quanto da importante função social do idoso como guardião da
memória da cidade; b) a elaboração de um documentário em mídia digital – dentro de

10
Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Psicologia da PUC Minas. Psicóloga, Mestre em
Psicologia Clínica pela PUC-RJ. Especialista em capacitação de profissionais de trabalho Intergeracional
pela Universidade de Granada- Espanha. E-mail: katiasaraiva2011@gmail.com.

29
uma linguagem mais adequada e um formato mais contemporâneo sobre as memórias
autobiográficas narradas pelos idosos da cidade – que leve os jovens a resgatar as
tradições e a conhecer e refletir sobre a identidade cultural local, podendo-se constituir
um acervo de memórias das pessoas a ser disponibilizado na web. c) promover o bem
estar físico-mental e a qualidade de vida de todos os envolvidos. O Público alvo do
projeto são pessoas idosas com mais de 60 anos, de ambos os sexos, de diferentes
classes sociais que refletem a identidade sociocultural do município de Poços de Caldas.
Quanto aos beneficiários diretos, estes são 15 idosos e 10 jovens universitários de
ambos os cursos Psicologia e Publicidade e Propaganda; soma-se a esse quantitativo um
grande número de beneficiários indiretos, que são mais de 400 alunos dos cursos de
Psicologia e Publicidade e Propaganda, com grande potencial de ampliação desse
quantitativo, visto que há de se considerar as famílias dos idosos envolvidos e o
imensurável número de acessos possíveis do referido documentário na rede mundial de
computadores (mídias sociais como o “facebook” e o “youtube”). Quanto as etapas do
projeto, pode-se dividir em cinco momentos: 1º: Preparação técnica dos estudantes por
meio de diversas oficinas; 2º: Coleta de histórias/informações com os idosos locais
(método da história de vida) e pesquisa nos livros/arquivos que relatam a memória da
cidade; 3º: A preparação do documentário por meio de reuniões semanais conjuntas
entre os alunos para construção do roteiro, edição das imagens, confecção da identidade
visual do projeto e elaboração de todos os materiais que serão disponibilizados na web;
4º: Eventos de exibição do documentário no Centro Cultural da Cidade aberto ao
público e outro na Universidade para os discentes de ambos os cursos envolvidos. 5º: O
encerramento com a avaliação e a reflexão sobre os resultados, com participação de
alunos e idosos. Para coleta de dados, utilizou-se a observação participante, o método de
história de vida e foram feitos registros dos relatos de todos os encontros tanto em diário
de campo, quanto fotográficos. Além disso, ao final do projeto, será aplicado um
pequeno questionário com o objetivo de buscar os significados da experiência como um
todo, tanto para os idosos, quanto para os discentes. Trata-se de um projeto que ainda
está em andamento, mas caminhando para as etapas finais; ou seja, etapa de montagem
do documentário, postagens de teasers na Web e preparação para o evento de
lançamento/exibição do mesmo, que ocorrerá em novembro de 2016. Em relação aos
resultados, já se pode perceber, por meio da observação participante e dos relatos
colhidos dos próprios atores envolvidos (alunos e idosos) que todos apontam ser uma
experiência muito significativa e enriquecedora, que tem proporcionado bons encontros,
plenos em potencializar a disposição de agir, a reflexão e o poder criativo de seus
participantes. Assim, pode-se perceber que o projeto vem oferecendo a possibilidade de
articulação entre as práticas psicológicas, que promovem tanto o bem estar e a interação
entre as diferentes faixas etárias, quanto o desenvolvimento sociocultural de idosos e de
jovens através de um processo de educação recíproca. Deste modo, pode-se pensar que
esse tipo de prática ajuda a criar condições para o desenvolvimento de futuros
profissionais mais sensíveis às questões do envelhecimento e, também, contribui para

30
uma evolução humana e social mais ampla, no sentido de usufruir da cultura existente e
ajudar a criar uma nova; principalmente com a utilização de um dos recursos
comunicacionais mais importantes da contemporaneidade – a internet – entendendo-se
que o mundo virtual não está apartado da vida e pode ser compreendido como área de
interlocução possível em que experiências podem ser recontadas, armazenadas,
compartilhadas e resignificadas. Além disso, o projeto pretende sensibilizar a
comunidade em geral para a riqueza sociocultural, o patrimônio imaterial da cidade e o
valor da troca de experiências entre gerações.

31
A literatura como processo de subjetivação: entre o sujeito periférico e o devir-
periferia

Jailton Farias da Silva11

Palavras-chave: Sujeito periférico; subjetivação; devir-periferia.


Diante da emergência de intensa produção literária que surge nos grandes centros
urbanos brasileiros, a partir dos anos 2000 e se exprime em saraus e publicações de
diversas editoras sob os qualificativos de "marginal" e "periférica", procuramos
pensar nas implicações políticas das enunciações produzidas a partir desse fenômeno.
Objetivamos refletir sobre o deslocamento que a emergência desse fenômeno literário
provoca no enunciado periferia e a subjetivação a ele atrelada: o sujeito periférico.
Entendemos, seguindo Deleuze e Guatarri, que o sujeito é produzido a partir de arranjos
entre os agenciamentos em conexão, podendo se abrir pra novas conexões (processo de
dessubjetivação) ou se fechar em "identidades" mais ou menos fixas (processo de
sujeição). Nesse sentido, pretendemos, nessa comunicação, apresentar a ambivalência
que identificamos nos agenciamentos coletivos de enunciação da literatura marginal
periférica, na medida em que esses agenciamentos rompem com uma maquinação
produtora de periferias (como territorialidades composta pelo signo da ausência)
potencializando um devir-periferia (como processo de desterritorialização que faz fugir
os enquadramentos e abre para criação de possíveis). No entanto, não perdemos de vista
as forças de captura e de reterritorialização do sujeito periférico que diante da
modulação oriunda da sociedade de controle (Deleuze) agencia as diferenças diluindo-
as em diversidade.

11
Mestrando em Ciências Sociais pelo PEPGCSO (PUC-SP). E-mail: jailton.farias@yahoo.com.br.

32
A ciberliteratura e a formação de professores de letras

Fabiano Correa da Silva12

Palavras-chave: Literatura; ciberliteratura; mídias; formação de professores.


Mais do que nunca, as novas tecnologias têm sido tema de muitos trabalhos acadêmicos
nas mais diversas áreas do conhecimento, possibilitando assim uma gama muito variada
de percepções, análises e até mesmo conclusões a respeito de como estas inovações
tecnológicas afetam direta e indiretamente a vida de todos os cidadãos. As mídias que
um dia se convergiram em multimídias, variadas mídias trabalhando em conjunto (o
rádio, a TV, a própria escrita), tornam-se, graças aos avanços da computação, em
hipermídias: mídias que se convergem em um único suporte: o computador (aqui
representado por toda esta tecnologia dos suportes digitais: tablets, smartphones,
computadores pessoais – notebooks – relógios digitais com funções avançadas e até
mesmo eletrodomésticos), tecnologias estas que já transformam o cotidiano das pessoas,
desde o grande empresário ao vendedor ambulante, do estudante primário ao
universitário, da auxiliar de escritório ao faxineiro do prédio, da doméstica à patroa.
Diante de todos estes fatos constatados e experimentados diariamente pelas pessoas,
propomos a seguinte discussão: como a escola se apropria destas tecnologias? Ou
melhor: como se dá a formação de professores para utilizar, valorizar e disseminar estas
inovações em sala de aula? Em nosso trabalho de pesquisa, aqui apresentado em forma
reduzida apenas como um demonstrativo de nossa questão primária, propusemos a
pensar especificamente como a formação de professores de Letras utiliza-se das novas
tecnologias como forma de valorização da cultura literária em nosso país, afinal, a arte
da escrita tem sido algo considerado ultrapassado, demasiado chato e cansativo por uma
grande parcela dos graduandos e até mesmo dos docentes. A partir destas reflexões, nos
deparamos com o termo Ciberliteratura, muito bem definido por Santaella (2012, p.
231) e que ainda é algo novo e a ser decifrado, pois até mesmo a nomenclatura ainda é
divergente, chamada de “Literatura Digital”, “Literatura gerada por computador”,
“Literatura cibernética”, dentre outros nomes que surgem para tentar definir esta arte
literária produzida, consumida e apreciada especificamente com o uso das novas
tecnologias midiáticas da computação, sendo necessário o suporte da tecnologia digital
para poder existir: “Diferente da literatura digitalizada, a literatura digital não se

12
Graduado em Letras; mestre em Educação; doutorando em Educação do Programa de Pós-graduação
em Educação da Universidade Metodista de Piracicaba; professor de Língua Portuguesa na Faculdade
Santa Lúcia; professor de Língua Portuguesa na Instituição de Ensino São Francisco. E-mail:
fabianocosilva@gmail.com.

33
caracteriza pela mera digitalização de um texto previamente existente na forma
impressa. Antes, trata-se de experimentos literários que fazem uso simultâneo da
linguagem literária e da linguagem de programação de computador para a construção
dos textos” (KIRCHOF, 2013, p. 129). Diferentemente do que muitos pensam, este tipo
de arte literária não se resume, ou melhor, não é a transposição ou digitalização de obras
literárias em suporte impresso para a versão digital, apesar de este ser um projeto
importante de preservação e acesso às obras clássicas da literatura universal.
Desfazendo esta confusão, nos deparamos com algo que é novo nos cursos de formação
de professores de Letras, pois a Ciberliteratura não é simplesmente uma evolução da
obra impressa em obras digitalizadas, mas uma forma diferenciada de consumir,
apreciar e valorizar a arte literária. Quando falamos em Ciberliteratura, estamos falando
em diferentes formas de produzir arte utilizando-se do suporte do computador, sendo,
como já dissemos anteriormente, impossível acontecer fora deste. Ou seja, os recursos
tecnológicos, tais como o hipertexto, as hipermídias, as mídias digitais, são parte
integrante da “ciber-obra literária”. Diante de todos estes fatos, é de fundamental
importância a formação de professores de Letras que, primeiramente, conheçam estas
obras ciberliterárias e, consequentemente, as trabalhem com seus alunos nas aulas de
Literatura na escola, buscando contornar os problemas de desinteresse com a arte
literária e com a leitura em geral: “é imprescindível, contudo que a escola atraia o
aluno-leitor para a nova era da literatura, em especial, para a Ciberliteratura, pois
esta vem promovendo mudanças na história da leitura e destacando a função do leitor,
o qual se tornou protagonista do processo por se configurar de modo ativo, um
hiperleitor” (XAVIER & DAVID, 2014, p. 50). Não estamos afirmando que a
tecnologia (a Ciberliteratura) resolverá todos os problemas de falta de interesse dos
estudantes em relação à leitura e à arte literária, no entanto, é uma preciosa ferramenta
que pode muito contribuir para a valorização desta arte, afinal, os alunos têm um
contato muito próximo e íntimo com as novas tecnologias, pois são, como afirma
Prensky (2001), nativos digitais. É iminente que o professor de Literatura trabalhe estas
novas tecnologias em sala de aula, demonstrando a Ciberliteratura como forma de
produção artística para estes educandos, despertando nos mesmos o interesse pela
leitura, produção e “degustação” da arte ciberliterária: “El uso por parte de los Nativos
Digitales hace que los docentes necesiten implantar nuevas Tecnologías en la
enseñanza, adecuadas a los lenguajes que ellos emplean .Se trata de comprobar si esto
ayudaría a mejorar su motivación y contrastarlo con técnicas tradicionales” (NÚÑEZ
& GUARDIA, 2011, p. 88).

34
A construção social do negro

Ivo Phelipe Silva Petreca13

Palavras-chave: Racismo; violência; resistência; negros.


O trabalho a ser apresentado tem como objetivo analisar e compreender a construção
social do negro por meio da mídia. Visto que os negros são apresentados na televisão na
forma caricaturas, homens como motoristas, sambistas e malandros e mulheres como
“mulatas” que tem apenas o corpo valorizado ou em séries e novelas de época,
construindo assim uma imagem pejorativa do negro limitando-os nas telas a papéis
subalternos. A pesquisa está sendo realizada a partir de reflexões de bibliografias
consagradas. Por exemplo, Hannah Arendt como ponto de partida para discutir a
construção social negativa do outro. Também está sendo utilizado Pierre Bourdieu para
análise da violência simbólica que é gerada por essa construção e, por fim, Rosalia
Diogo e Nila Lino Gomes e suas contribuições para os temas racismo e o negro na
mídia na atualidade. Enfim, os resultados preliminares da pesquisa, estão identificando
inúmeras formas resistências à construção social imposta pela mídia, seja por meio de
músicas, literatura ou valorização e aceitação da beleza negra.

13
Graduando em Relações Internacionais pela PUC MINAS (Pontifícia Universidade Católica de Minas
Gerais) - Poços de Caldas e Graduado em Licenciatura em História pela UNIFEOB (Centro Universitário
Octavio Bastos – São João da Boa Vista - SP). E-mail: ivopetreca@gmail.com.

35
O conceito de comunicação presente/ausente em Vilém Flusser

Ana Cecília Aragão Gomes14

Palavras-chave: Comunicação; epistemologia; Vilém Flusser.


A presente pesquisa tem como principal motivação responder à seguinte questão: que
conceito de comunicação está presente/ausente na obra de Vilém Flusser? As
implicações desta questão poderão ser mais claras se abordarmos o problema por outros
aspectos: como o conceito de comunicação é construído e desconstruído? Como Flusser
comunica o seu conceito de comunicação? E como este conceito interfere na percepção
cognitiva, ética e estética da comunicação? Aqui, intenciona-se investigar qual é a
episteme que Vilém Flusser constrói ao pensar a comunicação. Sendo assim, os
objetivos da pesquisa são: identificar e analisar os rastros conceituais na obra do autor e
verificar como eles se relacionam na construção/desconstrução do conceito de
comunicação; e sua contribuição para a sedimentação de seu ponto de vista
epistemológico. Parte-se do pressuposto de que a comunicação supõe um modo de dizer
que gera um modo de pensar, encontrando-se, assim, no tempo contínuo. A
comunicação é entendida como capacidade de estar em permanente “transformação, e
não transporte” (MCLUHAN, 2005), persistindo, portanto, como comunicabilidade.
Desse modo, podemos inferir que para Flusser a comunicação se torna anterior à própria
cultura e é ela que gera os impactos e transformações que engendram e constróem
outras configurações culturais. Esse ponto de vista é importante, porque problematiza e
reformula o conceito de comunicação e cultura. Para melhor investigar essa hipótese,
utilizaremos o método arqueológico-filosófico desenvolvido por Agamben (2010) a
partir da obra de Foucault (2008), a fim de apreender o conceito de comunicação em
Vilém Flusser, presente em índices/rastros (GINZBURG, 2007) (FERRARA, 2015),
dispersos em toda sua obra. Alguns dos rastros conceituais já identificados são:
comunicação humana (FLUSSER, 2014); jogo (FLUSSER, 2011a); discurso,
conversação/diálogo, código, abstração, nulodimensionalidade, abismo (FLUSSER,
2007b e 2011a); tecnoimagem, tecnoimaginação (FLUSSER, 2011; 2008a); aparelho,
programa, funcionário (FLUSSER, 2011b); ciência como dúvida (FLUSSER, 2011). A
partir desta análise, acredita-se que será possível apreender e refletir sobre o conceito de
comunicação subjacente na obra do autor, observando sua relevância conceitual para a
comunicação como área científica.

14
Doutoranda do Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica da PUC-SP,
orientanda da Profa. Dra. Lucrécia D’Alessio Ferrara (PUC-SP). E-mail: anacecilia_ag2@yahoo.com.br.

36
Televisão: linguagem, imagem e comunicação no contexto da Indústria Cultural

Rosangela Trabuco Malvestio da Silva15

Palavras-chave: Televisão; imagem; linguagem; Indústria Cultural.


A televisão é um dos meios de comunicação de maior alcance da Indústria Cultural,
adentra lares, comércios, hospitais, escolas, com a intenção de distrair e informar.
Inicialmente inventada para entreter as pessoas, logo foi utilizada pela Indústria Cultural
para transformou-se em uma máquina de reprodução da ideologia. Devido à
semiformação (‘Halbbildung’), os indivíduos têm a experiência formativa barrada, e os
conteúdos culturais, ao serem transformados em bens de consumo, estão servindo
apenas à ocultação dos procedimentos sociais, estão desprovidos da negatividade. Desta
forma, este artigo tem por objetivo discorrer sobre os impactos da televisão na formação
do pensamento humano, no contexto da sociedade capitalista. Para tanto em um
primeiro momento, pautado nos autores da Teoria Crítica, destaca a finalidade de
entretenimento da televisão ao ser inventada, mas com o passar dos anos, sua
programação foi utilizada para formar o imaginário da população em uma única direção:
da semiformação (Halbbildung). Na sequência analisa como a televisão formata o
pensamento, transmitindo cenários prontos e acabados, reduzindo o imaginário e a
imaginação, pois fecha as mensagens nos ângulos que lhe convém. Ao final, espera-se
contribuir para demonstrar que a televisão contribui para eliminar a tensão crítica entre
o que é e o devir. No contexto da sociedade do consumo, a introdução dos meios
eletrônicos na vida diária do homem causa impactos que influenciam diretamente a
maneira de perceber e compreender a realidade. As tecnologias de comunicação, ou
mass media16, desenvolvidas no início do século XX, têm como característica
fundamental a comunicação de massa. Produzidos sob o modelo industrial, tais recursos
visam promover o comércio. Não obstante, Palangana (1999) adverte que a
comunicação de massa, incentiva o estado de coisificação. Ao ser inventada, a televisão
teve seu uso direcionado para o entretenimento e informações. Por meio de suas
imagens coloridas e de sua linguagem, tem auxiliado na formação de valores e opiniões,
direcionando o pensamento num determinado sentido – naturalização das relações
sociais –, impossibilitando questionamentos e reflexões. Um aspecto importante é que a

15
Pedagoga, Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Maringá, Doutoranda em Educação pela
Universidade Federal de São Carlos.
16
O termo mass media começou a ser usado pela sociologia norte-americana, após a Segunda Guerra
Mundial (SOUZA, 1996).

37
televisão, por meio de seus programas, não tem a intenção de promover um pensamento
mais elaborado. O cunho de entretenimento desenvolve uma aparente ideia de
neutralidade e imparcialidade (ALMEIDA, 2000). Apesar dessa pseudoneutralidade,
cujo fim maior seria divertir e agradar o espectador, relaxando suas tensões do dia de
trabalho, sabe-se que os anunciantes pagam pela programação minuto a minuto, e pelas
propagandas que, diga-se de passagem, não são baratas, até porque seus fins são
econômicos. Devido aos aspectos técnicos e artísticos, a televisão é planejada de acordo
com padrões industriais, atendendo ao consumidor em domicílio. Ela preenche a lacuna
que ainda restava para a vida privada, levando para dentro das casas uma realidade
previamente selecionada e significada; uma realidade que chega aos indivíduos como a
única e verdadeira representação do real. Outro fato importante, explicitado por Adorno
(1995), é que a TV acomoda as pessoas em suas casas. Elas não precisam mais se
deslocar para ir ao teatro, ao cinema, a lugares públicos. A reunião da família em frente
à televisão confere a seus membros a sensação de estarem envolvidos em uma situação
comunitária, com sensação de partilha. Todavia, por meio de uma observação mais
atenta, percebe-se que as pessoas, nessa condição, tendem a não conversar e, quando
comentam algo, é sobre o que está sendo veiculado na televisão e não sobre seus
problemas. Esta forma de “distração” leva à incapacidade de expressão. Utilizando o
termo empregado por Adorno (1971), ocorre uma imediação social, que seria o
contrário da mediação, quer dizer, esta pressupõe comunicação entre pares e aquela
apenas a escuta das informações recebidas, sem reflexões, nem discussões. Cumpre,
pois, uma função deformativa. Referindo-se à semiformação (‘Halbbildung’), Adorno e
Horkheimer (1990) a atrofia da imaginação do consumidor de hoje não tem necessidade
de ser explicada em termos psicológicos, posto que ela está concretizada na sociedade.
Maar (1995) adverte que os meios de comunicação de massa estão tomando o lugar
formativo da escola. A linguagem e a imagem veiculadas pela televisão, são um dos
principais instrumentos da Indústria Cultural. O modelo de comportamento padronizado
– unidimensional – é amplamente divulgado por meio da comunicação de alcance
universal, alimentando os mecanismos de reprodução social. A linguagem e a imagem,
são responsáveis pela formação do pensamento que o indivíduo tem de mundo, fixando
diferenças e semelhanças, que nem sempre correspondem à realidade. Conclui-se que a
televisão é um instrumento eficaz quando posta a serviço da ordem capitalista.
Depreende-se a necessidade dos educadores terem muita clareza sobre tais implicações
se querem fazer do seu trabalho uma atividade formativa, um foco de resistência a esse
processo de semiformação (‘Halbbildung’). O desafio é contra-argumentar o que chega
na forma de verdade pronta e acabada. Se os programas televisionados, que massificam,
não permitem ver nas imagens pseudodemocráticas e na linguagem regulada pela mídia
uma fonte de deformação humana, da qual o modo de produção capitalista já não pode
prescindir, esse trabalho de decodificação há que ser feito, evidentemente, pela
educação. Referências: ADORNO, T. W. Televisão, consciência e Indústria Cultural.
In: COHN, G. (Org.). Comunicação e Indústria Cultural. São Paulo: Companhia

38
Editora Nacional e Editora da USP, 1971. p. 346-354. ADORNO, T. Televisão e
formação. In: Educação e emancipação. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995. p.
75-95. ADORNO, T. W.; HORKHEIMER, M. A indústria cultural: O iluminismo como
mistificação das massas. In: LIMA, C.L. Teoria da Cultura de massa. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1990. p. 159-206. ALMEIDA, M.J. A educação visual na televisão vista
como educação cultural, política e estética. Revista online: Prof. Joel Martins,
Campinas, S.P., v. 2, n.1, p. 2-5, out.2000. MAAR, W. L. A indústria
(des)educa(na)cional: um ensaio de aplicação da Teoria Crítica ao Brasil. In: PUCCI, B.
(Org.). Teoria Crítica e Educação: a questão da formação cultural na Escola de
Frankfurt. Petrópolis: Vozes; São Carlos: EDUFSCAR, 1995. p.139-150.
PALANGANA, I.C., Individualidade: afirmação e negação na sociedade capitalista.
São Paulo: Plexus / EDUC, 1998. SOUZA, J. B. Meios de comunicação de massa:
jornal, televisão, rádio. São Paulo: Scipione, 1996.

39
Experimentações na escrita com o arquivo do Coletivo Cê

Tatiana Plens Oliveira17

Palavras-chave: Divulgação cultural; escrita; arquivo; Coletivo Cê.


A comunicação consistirá na apresentação das investigações realizadas até o momento
na pesquisa do Mestrado em Divulgação Científica e Cultural do Laboratório de
Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor-Unicamp), em andamento desde o ano de
2015, acerca das potencialidades estéticas e políticas da escrita na divulgação do
movimento de criação artística do Coletivo Cê – agrupamento de artistas que trabalham
a linguagem teatral em Votorantim/SP. As investigações têm se desdobrado na
realização de experimentações com o arquivo de fotografias e textos dos processos de
criação artística vivenciados pela mestranda junto ao coletivo nos últimos anos e em um
deslize nas linhas de força que tensionam a escrita e o arquivo. Um esforço de pesquisa
e criação que se contamina pelo que incita Silvio Gallo (2008) em um diálogo com a
obra de Gilles Deleuze, por tornar um problema que parte do sensível como mobilizador
e motor do pensamento, e construir, a partir dele, algo que possibilite enfrentá-lo, que
não o transforme em um método ou uma metodologia, mas pelo qual seja possível vivê-
lo, experimentá-lo em sua singularidade. O enfrentamento de um problema que assola o
pensamento por meio do encontro com os materiais de pesquisa (palavras, conceitos,
imagens, linhas) mobilizado pela crença de que é justamente nesses encontros, na
instauração de zonas de vizinhança entre esses materiais que algo novo pode surgir. É
ao longo da vivência do problema que parece ser possível inventar outros modos de
trabalhar a escrita com um arquivo, que permitam experimentá-lo sensivelmente e nos
lancem a novos problemas. Investigações impulsionadas por uma aposta no arquivo
como uma questão do porvir (VILELA, 2010), por uma abertura ao movimento vivo do
tempo, contagiadas pela conexão que o filósofo David Lapoujade (2013) estabelece com
a obra de Henri Bergson, através da qual nos conectamos a noção de memória como
“reserva de energia”. Pensamos com Lapoujade que a memória permanece ativa, na
espera, armazenando uma potência em reserva até atingir a energia necessária para
explodir num ato livre, como uma exigência de expressão e criação, como o levante de
uma energia que ainda não tem expressão no real, que exige a criação de um modo de

17
Mestranda em Divulgação Científica e Cultural pela Unicamp, especialista em Jornalismo Cientifico
pela Unicamp (2012) e graduada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade de Sorocaba
(2010). É integrante do grupo de pesquisa e criação multiTÃO: prolifer-artes sub-vertendo ciências e
educações do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor-Unicamp). E-mail:
tati.plens@gmail.com.

40
torná-la visível, de fazê-la vibrar na superfície das imagens e das palavras desse arquivo
por meio da experimentação. Uma abertura a outros ritmos de duração nesse arquivo a
partir da potência que ele armazena e do que a experimentação com ele pode agenciar.
Movimentos arquivistas que buscam trazer algo diferente do significado, algo que se
caracteriza como uma exigência, uma intenção, uma tendência, um impulso que se
encontra no nível do vital e que pode ressoar na superfície das imagens e das palavras
convocando-as a outras direções. Perseguimos a ideia do curador Márcio Doctors
(2012) de que a constituição de um arquivo é um ato de recolhimento que permite a
liberação dos materiais que o integram em direção a outras possibilidades de articulação
espirituais e mentais. É o ponto de partida de onde outros acontecimentos derivam,
capazes de estabelecer uma conexão mais sutil e sensível com os processos de criação
artística desse coletivo, de inventar outras formas de visibilidade e outros modos de
inteligibilidade (RANCIÈRE, 2012) desses movimentos de criação artística. Um esforço
de pesquisa e criação que se arrisca a experimentar o arquivo por meio de uma
articulação entre pensamento e sensibilidade, uma entrega a movimentos arquivistas
como modos de soprar a linguagem, como uma maneira de possibilitar que esse arquivo
seja atravessado por uma ventania, que imagens e palavras sejam rachadas e fissuradas
por linhas, arames, ventos, desejos, delírios, abertas ao por vir. Criações onde as
próprias imagens e palavras inventam um testemunho desses processos de criação
artística, não pelo que foi visível, mas pelo que se torna visível nas suas superfícies,
onde elas assumem uma “função-testemunha”, atuando como ritmos que medem as
variações do tempo e da vida, pelos seus diferentes níveis de intensidade, a “potência de
futuro” de um arquivo (DELEUZE, 2007). Investigações que têm se desdobrado na
composição de uma escrita, entre imagens e palavras, afetada pela conexão entre os
materiais de pesquisa na busca por fabricar outras forças para a divulgação dos
processos de criação vivenciados junto ao Coletivo Cê e por proliferar outros modos de
funcionamento para as imagens e as palavras na divulgação cultural.

41
Jogando com teorias: games studies, e a semiótica com isso?

Rafael Antônio Dias18


Orientador: Conrado Moreira Mendes19

Palavras-chave: Narratologia; ludologia; games; semiótica.


A relação entre o campo comunicacional e os jogos eletrônicos é recente. Assim, o
intuito deste estudo é, dentro dos quadros teóricos da comunicação, mas também de
teorias próximas, colocar em evidência a pertinência dos games como objeto
comunicacional e também de significação. Pois, como afirma Perani (2014, p. 2), no
País, “não é tarefa fácil encontrar trabalhos que reflitam sobre os jogos eletrônicos como
objetos comunicacionais, e suas possíveis contribuições para o campo”. No mesmo
sentido, Mendes e Oliveira (2013, p. 136) afirmam que “na fase de busca bibliográfica
ampliada [sobre o estado da arte dos games studies no Brasil] os resultados não foram
tão expressivos [...]: na área de comunicação, poucos registros foram feitos, quase
sempre em artigos e sempre com foco em quadros teóricos externos à comunicação”.
Entretanto no exterior já existem linhas de pesquisa firmadas sobre esses temas e que
tem ganhado cada vez mais relevância no Brasil. Tais pesquisas ganharam o nome de
games studies, e no que se refere a ele, Vianna (2004) afirma que o campo “nasce já
cindido numa briga teórica [...]: a disputa entre os narratologistas, mais americanos, e os
ludologistas, mais europeus”. Entretanto, referente a essa discussão, Freitas e Mendonça
(2012, p. 111) afirmam que, atualmente, essa dualidade arrefeceu, porém, uma
articulação entre ambas as perspectivas ainda não foi efetivamente construída. Nesse
sentido, a pesquisa que se propõe visa justamente a relacionar os aspectos
narratológicos com os aspectos ludológicos do jogo-eletrônico, colocando em evidência
pertinências teóricas com relação ao seu estudo, neste caso mais especificamente com
relação aos estudos em comunicação e semiótica. Para tal serão investidos estudos de
pesquisa e análise nas questões da semiótica de Greimas (2014) e de Landowski (2014)
correlacionado-os às questões da narratologia e a ludologia, demonstrando suas
pertinências, fazendo estudo exploratório de literaturas já disponíveis sobre esse tema
agregando a esse campo de estudos noções que podem contribuir para o futuro
desenvolvimento de novas pesquisas.

18
Estudante de Graduação e bolsista do PROBIC/FAPEMIG do 8º semestre do Curso de Publicidade e
Propaganda na PUC Minas. E-mail: rafaeldias_02@hotmail.com.
19
Professor da PUC Minas. Doutor em Semiótica e Linguística Geral pela Universidade de São Paulo. E-
mail: conradomendes@yahoo.com.br.

42
A convalescença da linguagem em Clarice Lispector

Dênis Ribeiro de Souza20

Palavras-chave: Modernidade; sujeito; arte; linguagem.


O crítico literário e também filósofo alemão Walter Benjamin é responsável por
importantes contribuições a respeito da teoria da literatura. Versátil pensador, Benjamin
ainda dialoga em seus textos com a filosofia, a religião e a história. Uma de suas
contribuições de maior relevância reside na reflexão da obra de arte no contexto da
modernidade. Para Benjamin o discurso moderno, aventado pelos modos de reprodução
capitalista, ofuscam ou inibem a linguagem da pura expressão artística, encontrada,
segundo o autor, nos antigos textos sagrados e místicos ou na expressão barroca.
Partindo desses pressupostos benjaminianos busca a presente pesquisa analisar a
linguagem literária a fim de encontrar as possibilidades da expressão artística da que
Benjamin falava e para tanto se apropria do texto O ovo e a Galinha de Clarice
Lispector como seu corpus de análise. A autora brasileira possui em muitas de suas
obras linguagem de forte teor místico, além de formação judaica, tal como Walter
Benjamin, o que permite estabelecer as relações de cotejo com o pensador alemão.

20
Graduado em Letras pela Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL) e pesquisador agregado ao grupo
de estudos Literatura, linguagem e outros saberes, coordenado pela professora Dra. Aparecida Maria
Nunes, também pela Unifal. E-mail: drsgalp@hotmail.com.

43
Em cartaz: a guerra dos super herois pelo mercado na indústria cultural do
cinema

Igor Rafael de Paula21


Jhonatan da Silva Corrêa22

Palavras-chave: Universo cinematográfico; Indústria Cultural; consumo.


A partir da década de trinta do século XX, nos EUA, emerge nesse país novos tipos de
mídia (como rádio e cinema), alcançando diversas camadas sociais, expandindo-se, anos
mais tarde, para grande parte do ocidente. O cinema que era tido como estrangeiro,
importado, passa a ser de todos (MORIN, 2002). Ademais, não representando mais uma
manifestação cultural, sendo, portanto, a própria denominação da indústria
cinematográfica, representando a lógica capitalista existente em seu cerne (ADORNO &
HORKHEIMER, 1947). Então, em 2008, a Marvel Studios iniciou um fenômeno inédito
na indústria cinetográfica estadunidense, inaugurando seu universo cinematográfico,
Marvel Cinematic Universe23, que movimentou, em apenas oito anos, aproximadamente
US$ 10,5 bilhões. Neste sentido, em 2013, A DC Comics, juntamente com a Warner
Bros Studios, entrou nesse mercado para competir com a Marvel Studios, trazendo
também outras franquias com super herois, criando a DC Extended Universe24,
movimentando, em três anos, mais de US$ 2,5 bilhões. Esse movimento inédito vem
ressignificando a indústria do cinema, criando vários nichos de mercado que envolve
inúmeros tipos de produtos licenciados, configurando um rentável mercado que
estimula o consumo de itens banais, transformando o público numa massa de consumo
do espetáculo e de seus derivados (DEBORD, 1967). Desse modo, influenciando-o e
preparando-o, através das publicidades, à subordinação (BAUMAN, 2008). Para tanto,
este trabalho objetiva refletir sobre a segmentação do consumo pela indústria cultural do
cinema, através de uma análise de conteúdo dos produtos licenciados da representação
cinematográfica da UCM e da DCEU.

21
Graduando em Geografia (Licenciatura) pela Universidade Federal de Alfenas-MG;
depaula.ir@gmail.com.
22
Graduando em Geografia (Licenciatura) pela Universidade Federal de Alfenas-MG;
jhonalfe@gmail.com.
23
UCM.
24
DCEU.

44
MESA 2

Filosofia e Psicologia: questões da subjetividade

45
Virtualidade e subjetividade contemporânea: contribuições da fenomenologia à luz
de Heidegger

Guilherme de Souza Beraldo 25


Kátia Maria Pacheco Saraiva 26

Palavras-chave: virtualidade; subjetividade; Heidegger


A Internet chegou para ficar isso é inegável. Como submetermo-nos a ela sem
questionamento e reflexão? A internet está sendo uma revolução cultural tão poderosa
para a humanidade como foi a invenção da imprensa por Gutenberg. Sua velocidade e
possibilidades espantosas podem sugerir visões de perda de pilares básicos na cultura
como a que entendemos até agora, mas também sugere riquezas infinitas. Como
psicólogos, precisamos acompanhar, participar, opinar e investigar os fenômenos que
ocorrem neste campo. Antes de temermos, condenarmos ou aderirmos cegamente ao
fenômeno virtual, nos cabe perguntar antes de responder, pensar antes de classificar. O
mundo virtual é um mundo fantástico, mas reconhecer o papel da virtualidade na
experiência humana não significa esquecer as outras facetas do viver ou tentar viver
qualquer uma delas de forma descontextualizada. Em toda e qualquer dimensão a ser
percorrida, há um Eu que a percorre e este Eu não se desconecta das dimensões
restantes. O real, o sonho, o virtual existem e precisam coexistir para enriquecer as
dimensões restantes das relações humanas. Deste modo, o virtual não é assunto somente
para a informática. O virtual não está apartado da vida e da psicologia e podem ser
entendidos como áreas de interlocução possível onde experiências e objetos são
desfeitos e refeitos. O virtual, deste modo, não é um campo estranho que aliena o sujeito
de si mesmo, nem um mundo falso ou mentiroso; ou o é, tanto quanto a experiência
cotidiana pode ser. Independente de estarmos diante de uma tela de computador, o que
surge ali é um modo como compartilhar uma realidade, deixando vir à tona, a um só
tempo, a verdade e a mentira, o real e o ilusório. As humanidades digitais eram um
campo relativamente marginal até o final do século XX, mas agora têm sido considerada
por muitos pesquisadores, de diferentes formações, como parte essencial do
conhecimento humanístico contemporâneo. Esta mudança de visão tem em suas bases o
reconhecimento de que a sociedade se encontra cada vez mais organizada em rede e

25
Mestrando do Programa de Pós-graduação em Psicologia da PUC Minas. Psicólogo pela PUC Minas.
E-mail: gsberaldo@gmail.com.
26
Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Psicologia da PUC Minas. Psicóloga, Mestre em
Psicologia Clínica pela PUC-RJ. Especialista em capacitação de profissionais de trabalho Intergeracional
pela Universidade de Granada- Espanha. E-mail: katiasaraiva2011@gmail.com.

46
que, cada dia mais, as pessoas se utilizam de novas ferramentas de rede em seu
cotidiano e que a internet constitui uma representação de práticas e interações sociais
jamais imaginadas, demonstrando assim a complexidade que é a vida on-line. Pierre
Lévy, ao estudar o fenômeno virtual, propõe-se a analisar e ilustrar um processo de
transformação num modo de ser num outro. Em vez de ser definida pela sua atualidade
ou concretude, no virtual a identidade dirige-se a um campo de interrogações, de uma
série de identidades possíveis, orientadas para um devir, um poder vir a ser. Ora, assim
como navegar na Web, escrever um livro, inventar uma nova receita, tudo isso,
igualmente, nos permite sermos criativos e ultrapassar o espaço físico e a cronologia do
relógio ou do calendário. Neste sentido a experiência virtual é também uma experiência
criativa. Quando ouvimos falar sobre o “mundo” virtual podemos compreender o que se
quer dizer com isso, ou seja, tudo aquilo que se relaciona com os mais recentes meios
de comunicação, em especial a internet. No entanto, a partir da perspectiva
fenomenológica proposta por Heidegger, “mundo” é tudo aquilo que se abre em
perspectiva para o ser do Dasein. Compreendido como o ente que coloca em questão o
seu ser, o Dasein é convocado ontologicamente a dar conta da produção de sentidos
para sua existência, que é restrita pelo tempo. Neste sentido, aquele que se coloca em
relação com o virtual não é um outro Eu, mas sim aquilo que nós mesmos somos e que
está constantemente em jogo. O acesso a infinitos “mundos” proporcionado pelo
advento da internet amplia o alcance das possibilidades humanas no que diz respeito à
aquisição de conhecimento e mesmo de novas relações sociais. No entanto, este novo
“mundo” é o mesmo no qual estamos desde sempre lançados. Enquanto construção
humana, a internet e a virtualidade são desdobramentos de uma realidade, e neste
sentido não estão constituídas fora do que Heidegger compreende como a mundanidade
do mundo. Significa dizer que a imaterialidade do virtual não anula a perspectiva de que
o Dasein se encontra sempre no mundo e se constitui a partir deste. Não há, assim, uma
“outra realidade” presente no virtual, mas sim um novo modo de se relacionar com o
mundo que está aí desde sempre. Quando tomamos a possibilidade de relações sociais
travadas por meio do virtual, devemos ter em conta que a impessoalidade muitas vezes
presente na comunicação por esses meios pode potencializar a relação de ente-a-mão
que o Dasein venha a travar com o outro. A relação desta natureza desqualifica o outro
na sua condição existencial, tornando-o simplesmente mais um ente intramundano. É na
relação de cuidado do Dasein que ele se liga ao outro enquanto ser de possibilidades,
caracterizado pela sua indeterminação. Assim, pode-se pensar que o virtual tem
capacidade para permitir novas trocas sociais, porém a questão do cuidado pode-se
perder na impessoalidade da comunicação virtual. Também podemos problematizar a
permeabilidade da chamada Mass Media por meio da virtualidade. Aumentando sua
capacidade de “formar opinião”, os grandes meios de comunicação vêm se tornando
agentes uniformizadores da “opinião pública”. Esse fenômeno aponta para uma captura
do Dasein pelo falatório, dificultando a colocação por si mesmo do sentido do ser.

47
A imagem entre representação e precessão

André Dias de Andrade27

Palavras-chave: Fenomenologia; virada icônica; Merleau-Ponty.

Mostramos como as noções de “representação” e “precessão”, bem como o debate que


elas ensejam, permitem restaurar a originalidade e atualidade da filosofia de Maurice
Merleau-Ponty. Para tanto, após uma exposição a respeito daquilo que constitui a
denominada virada "icônica" ou "pictórica", atinente ao pensamento filosófico,
sociológico e estético das últimas décadas e promulgada primeiramente por W. J. T.
Mitchell e G. Boehm no início dos anos 1990, é possível reconstruir de maneira
rigorosa o sentido deste redescobrimento e retorno à imagem. Trata-se, após tal
contextualização, de desenvolver a hipótese de que uma ideia basilar da imagem já se
faz presente em algumas das teses do fenomenólogo francês, na medida em que ele
constrói uma teoria da visão não tributária do paradigma representacionista clássico,
mas pensa a realidade da imagem por si mesma. É manifesto, a partir de então, que o
visível e a visão não são feitos de coisas ou se prestam à coisas, das quais sua figuração
seria um aspecto secundário - antes, a visibilidade ou dimensão imagética fundamental
do mundo é compreendida como um fazer ver, e sua compreensão como um
pensamento segundo a imagem, em que não há uma significação ou texto pré-
estabelecido a respeito do qual a imagem seria a tradução mais ou menos perfeita.
Vincular Merleau-Ponty à iconic turn ou entrever o germe desta nos seus escritos, não
configura então um diagnóstico de época, mediante o qual constatamos que nossa vida
está cada vez mais assolada por imagens e pelo consumo destas - na esteira de uma "era
da iconofagia" tal como aponta Baitello (2005) -, mas assumir que toda experiência
possui a característica e a marca da iconicidade; logo, trata-se de proceder a um
verdadeiro primado da imagem. Propusemos, em nossa pesquisa, o diálogo entre a
fenomenologia e as novas investigações em torno do estatuto da imagem, uma vez que
mais aquém das categorias propostas nas últimas duas décadas a fim de dar conta desta
virada, tais como a de "sintomatologia" da imagem (ALLOA, 2010), seu aspecto
"subjuntivo" e "não-indicial" (GAMBONI, 2004) e a reabilitação e generalização dos
conceitos específicos da estética para a totalidade de nossa experiencia (JAMESON,
1995), cremos encontrar já na ideia de "precessão" uma chave para pensar de for a
positiva a imagem. Se a experiência da imagem não é a de um encontro – que pressupõe
o abismo – entre signo e significação, mas de um ver-com, de um ver-mediante a

27
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal de São Carlos
(UFSCar). E-mail: andre8ada@gmail.com.

48
imagem, tal como fica claros nos escritos merleau-pontianos, a imagem me olha e pensa
por mim tanto quanto eu a observo. Nesse sentido ela promove uma verdeira abertura e
revelação do mundo, ela é meio de acesso a este e não sua duplicação - de modo que há
uma "textura imaginária" (ou imagética) do real (MERLEAU-PONTY, 1960). Assim,
segue-se nossa hipótese: está anunciada já em Merleau-Ponty a derrocada da
subsequente virada linguística (linguistic turn; RORTY, 1967) dos anos 1960, na
medida em que compreendemos ali o germe da virada icônica (iconic turn) que viria a
ser explicitamente elaborada nos anos 1990? Cremos verificar tal hipótese com o auxílio
do conceito de precessão e através da análise de um exemplo profícuo quanto a isso,
presente em O olho e o espírito, sobre como o real enquanto tecido imagético e
consagrado à visibilidade promove uma "frequentação", anterior à linguagem
propriamente dita, entre os entes do mundo; trata-se do reflexo dos objetos na superfície
de uma piscina, que não os representa mas faz vê-los de uma outra maneira que
diretamente, mediante a essência viva e imagética da água, do mesmo modo que nossa
imagem especular não se reduz à explicação que a física e a ótica lhe fornecem, mas
antes dizem algo a respeito deste aspecto fundamental de nossa experiência que é "ver
algo". É isso que significa ver-com as imagens, em regime de precessão, e não ver
"apesar" delas; apesar da água, do espelho, do ecrã etc. A imagem me assombra e sou
possuído por ela mais do que a possuo como se a contempla-se à distância, por meio do
véu da representação. Há uma “autoridade” da imagem que é, na verdade, sua condição
de precessão – o fato dela “preceder a si mesma” e apresentar, junto da figuração, sua
chave de leitura própria; por conseguinte, rompe-se com o representacionismo em
direção a uma nova ontologia da imagem.

49
A concepção de justiça na Alegoria da Caverna de Platão: uma comparação das
interpretações kelseana e heideggeriana

Fernanda Israel Pio28


Bruno Fraga Pistinizi29
Virgílio Diniz Carvalho Gonçalves30

Palavras-chave: Alegoria da Caverna; Kelsen; Heidegger; Justiça.

O problema de pesquisa que norteia o trabalho trata das diferenças e semelhanças entre
as interpretações de justiça de Hans Kelsen em A Ilusão da Jusiça e de Martin
Heidegger em A teoria platônica da verdade, com relação à alegoria da caverna narrada
em A República de Platão. A pesquisa se desenvolveu como trabalho de conclusão do
curso de graduação em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais,
no primeiro semestre do ano de 2016, sob orientação do Professor Mestre Bruno Fraga
Pistinizi e coorientação do Professor Mestre Virgílio Diniz Carvalho Gonçalves. Foi
utilizado o método dedutivo, com a leitura e fichamento de citação da obra platônica,
seguida do estudo e fichamento de citação das obras de Kelsen e Heidegger,
compreensão auxiliada por manuais de filosofia do Direito e de introdução ao
pensamento dos autores estudados. O texto se desenvolve em quatro capítulos. O
primeiro se propõe a expor uma leitura livre da alegoria da caverna, o segundo trata do
Juspositivismo de Kelsen, subdividido em três seções, que tratam da vida e da obra do
autor, do Positivismo e da interpretação da alegoria. O terceiro capítulo se desenvolve
da mesma maneira que o segundo, Heidegger, vida e obra, da Fenomenologia e da
interpretação da alegoria. O quarto capítulo traz reflexões conclusivas. A Alegoria da
Caverna é introduzida pela personagem de Sócrates no texto de A República. Descreve
um cenário em que homens algemados desde a infância no interior de uma caverna,
tendo apenas a possibilidade de ver as sombras do mundo exterior reproduzidas na
parede da caverna, para eles, portanto, o real são as sombras. Um prisioneiro, no
entanto, é liberto e arrastado para fora da caverna, sendo obrigado a se adaptar à
luminosidade e à percepção da realidade para além das sombras. Após essa adaptação se
segue um movimento inverso, o liberto retorna às sombras e novamente sofre um
processo de adaptação dos olhos, além de ser desacreditado ao dividir sua experiência
com os prisioneiros que temem perder a visão ao sair da caverna. Pudemos observar na

28
Graduanda do curso de Direito da PUC Minas, campus de Poços de Caldas. E-mail:
fernandaisraelpio@hotmail.com.
29
Mestre em Direito Constitucional pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e Doutorando do
Departamento de Ciências Sociais da PUC São Paulo. E-mail: brunofraga@pucpcaldas.br.
30
Mestre pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e professor do Programa de Graduação
da PUC Minas, Poços de Caldas. E-mail: virgilio@pucpcaldas.br.

50
interpretação de Kelsen uma “restrição” do campo de análise, tomando como essencial
o que considera o objetivo único da alegoria: apontar para onde o homem deve
direcionar seu espírito a fim de que aja corretamente em assuntos públicos e privados.
Para ele, na alegoria as correspondências estabelecidas são em relação ao Bem e o justo,
criticando o estabelecimento de ideias para coisas “baixas”, do mundo material, ou seja,
quando se fala de ideia, fala-se puramente de valores. Kelsen identifica uma guinada da
doutrina das ideias rumo à ontologia. Afirma que há uma modificação do caráter da
ideia que deixa de se vincular exclusivamente à norma e passa a se relacionar com uma
forma de explicação do mundo. Heidegger, por sua vez, trata das transições como ponto
central para a reflexão. Essas transições se referem à adaptação dos olhos do prisioneiro
durante seu trânsito para fora da caverna e posterior retorno. Relaciona tal fenômeno
com o conceito de Paideia, “formação”. Ele afirma que no texto platônico há uma
mudança na essência da verdade. Heidegger considera a verdade e seu modo de
mutação como pressuposto para a formação, busca recuperar a compreensão dos
primeiros pensadores gregos, e relaciona o termo à desvelamento. Afirma que a partir
da alegoria ocorre uma modificação no conceito de verdade, que passa a se fundamentar
na razão e no intelecto, afastando-se da ontologia. Concluímos que as interpretações têm
pontos em comum, quais sejam: a percepção da guinada na ideia para Kelsen que se
relaciona à mudança na essência da verdade pontuada por Heidegger; a modificação ou
guinada, para os dois se dá em função de um direcionamento do olhar, ou na forma de
explicação do mundo, elementos de certa forma similares; a identificação de
características positivistas na narrativa platônica e o intento em distanciar-se da
metafísica. Quanto às diferenças podemos ressaltar: a nomeação por Kelsen dos
elementos ideia e norma que correspondem à verdade e ente, respectivamente, na
interpretação de Heidegger; a concepção de justiça que para Kelsen se relaciona à
legitimidade e à ideia e, para Heidegger, se relaciona à verdade como desvelamento; a
reincidência de Kelsen à metafísica, mesmo tendo desenvolvido um argumento
contrário, por relacionar a Justiça à legalidade e consequentemente à norma que tem
caráter metafísico, “erro” não cometido em Heidegger que ao nosso ver estabelece uma
crítica à metafísica, relaciona a Justiça à verdade e consequentemente ao ente, que não
tem característica metafísica e retorna a reflexão à ontologia e à fenomenologia.
Percebemos dessa forma, uma crítica ao posicionamento da verdade e da ideia na razão
humana que é denominada “direcionamento do olhar” por Heidegger e a “forma de
explicação do mundo” para Kelsen. Neste “erro” ambos não incorrem. Kelsen, no
entanto se curva à metafísica por ter posicionado a norma de caráter metafísico onde
Heidegger posiciona o ente. Justiça, portanto, para Kelsen se relaciona à legalidade e à
norma, Para Heidegger, justiça se relaciona com verdade que por sua vez é identificada
como desvelamento. Referências: HANS, Kelsen. A Ilusão da Justiça, tradução de
Sérgio Tellaroni. 3. ed. Editora Martins Fontes, São Paulo 2000. HEIDEGGER, Martin.
Marcas no Caminho, tradução de Enio Paulo Gichini e Ernildo Stein. Editora Vozes.
São Paulo, 2008. HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. Tradução de Márcia de Sá

51
Cavalcante. Editoras Vozes. 1988. MAMAN, Jeannette Antonios. Ao encontro de
Heidegger: a noção de ser-no-mundo. Revista da Faculdade de Direito, Universidade de
São Paulo. [S.l.], v. 102, p. 611-615, jan. 2007. ISSN 2318-8235. Disponível em:
<http://www.revistas.usp.br/rfdusp/article/view/67772/70380>. PLATÃO. A República,
introdução, tradução e notas de Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa:
Fundação Calouste Gulbenkian, 1949.

52
Oliva Sabuco: análise da contribuição do seu pensamento para a psicossomática

Elenice Maria Caixeta31

Palavras-chave: Oliva Sabuco; psicossomática; corpo e alma.

O objetivo deste trabalho é analisar a contribuição do pensamento de Oliva Sabuco para


a psicossomática32. Desta forma, utilizaremos como fonte fragmentos da principal obra
de Oliva Sabuco, como o título: “Nova Filosofia da natureza humana não conhecida e
não alcançada pelos antigos filósofos que melhora a vida humana e a saúde” (1587), e
também discussões teóricas de autores que analisa o pensamento de Oliva. Assim, a
pesquisa adota o método da análise historiográfica como forma de se construir um
conhecimento cientificamente conduzido. Historiografia, conforme o sentido que aqui
empregaremos, significa o exame da escrita, dos métodos e das interpretações
produzidas pelo conjunto dos historiadores. Desta forma, a historiografia se volta para a
produção dos variados discursos históricos. Ela reflete sobre os historiadores e suas
obras, considerando sempre sua historicidade, ou seja, sua relação com o tempo e o
espaço em que foram produzidas. Oliva Sabuco de Nantes Barrera (1562-1620) foi uma
importante filósofa do Renascimento espanhol e pioneira na medicina psicossomática,
que teve como professor o humanista e gramático Pedro Simón Abril. No início do
século XX a autoria da obra citada acima foi questionada, José Marco Hidalgo traz a
conhecimento documentos de Miguel Sabuco, pai de Oliva Sabuco, alegando ser de sua
autoria a obra, mas o fato relevante é que o privilégio da publicação na época foi
concedido a sua filha. No entanto, a obra de Oliva Sabuco discute a importância do
autoconhecimento do sujeito humano, pra que este entenda a si mesmo e a sua natureza,
bem como aprender sobre as causas naturais do por que a vida, a morte ou doenças. No
período vivido por Oliva era comum à filosofia relacionar-se com a medicina e a
medicina coma a filosofia, no entanto Oliva propunha uma renovação do conhecimento
médico da época, dominado até então pelo galenismo. Em seus colóquios, Oliva
apresenta suas ideias filosóficas-médicas, ressaltando uma fisiologia de preeminência
cerebral, em que o homem pode ser visto como uma árvore de cabeça para baixo, ou
seja, a raiz humana seria o cerebro. Assim, Oliva partilhando de ideias de Platão ressalta
que paixões imoderadas pertubam a harmonia entre o corpo e a alma, pois a harmonia
da saúde se estabelece no cérebro. Neste sentido, ela defende a importância do afeto
sobre a saúde, ressaltando que as paixões podem matar ou deixar doenças no corpo. As

31
Mestranda do Programa de Pós-graduação em História Ibérica – PPGHI da Universidade Federal de
Alfenas – UNIFAL. E-mail: elenice_caixeta@yahoo.com - Pesquisa desenvolvida na disciplina: A
Filosofia na Península Ibérica Medieval, ministrada pelo Professor Paulo César de Oliveira.
32
Cerchiari apud Cardoso (1995, p.5) “O termo psicossomático, na expressão mais comum, pode
reportar-se tanto ao quesito da origem psicológica de determinadas doenças orgânicas, quanto às
repercussões afetivas do estado de doença física no indivíduo, como até confundir-se com simulação e
hipocondria, onde toma um sentido negativo” (CERCHIARI, 2000).

53
paixões fazem parte do sistema psíquico, externa ao corpo, no entanto natural a ele.
Nesta concepção, Deus deu as paixões aos homens como impulsos para conservação de
sua natureza. Assim, a alma nasce com algumas inclinações, que são: alegria, desejo,
esperança, amor, alegria, dor, medo, vergonha, raiva, etc. Inclinações que são inerentes
à alma, e afeta o corpo e a alma, porém são acionados por algo exterior, que são as
ações vinculadas à vontade e ao livre arbítrio, mas que também podem se torna vícios.
Desta forma, as paixões humanas muitas vezes arrastaram para perseguir o que faz
sentir bem e não o que o entendimento julga como correto. Portanto, concluimos por
meio das análises feitas até o momento que o pensamento de Oliva Sabuco defende uma
antropologia cristã do século XVI, em que a composição natural do homem se dá pelo
corpo e pela alma. E que conhecer a natureza da alma favorece ser uma pessoa saudável
e feliz. O que trazendo para o campo da psicossomática é o estudo das relações mente e
corpo.

54
Oficina de artes: território de existência

Paula Carpinetti Aversa33

Palavras-chave: Artes; subjetividade; território de existência; agenciamentos; devir.


A partir de uma experiência em uma oficina de artes visuais, realizada no Centro de
Artes e Esportes Unificado Jardim Itamaraty (zona leste da cidade de Poços de
Caldas/MG), pretende-se trabalhar a noção de território de existência que envolve
espaços construídos através de agenciamentos tanto de elementos materiais (extensivos)
e afetivos (intensivos), produzindo um lugar para viver. Território como contorno
mínimo em relação ao qual o sujeito pode entrar e sair, fronteira entre o dentro e o fora.
Podemos pensar a Arte como um território que oferece referência, mas também dá
abertura e sustentação para outros devires, outras subjetividades, outros modos de vida.

33
Graduada em Psicologia pela USP. Graduada em Artes Visuais pela UNESP. Mestre em Artes pela
UNESP. Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação da UNESP de Assis. E-mail:
p_aversa@hotmail.com.

55
Subjetivação e temporalidade em Sartre

Gabriel Gurae Guedes Paes34

Palavras-chave: Sartre; existencialismo; tempo; fenomenologia.


No romance A Náusea as coisas perdem para Roquentin a qualidade de instrumentos,
perdem toda e qualquer qualidade que deles se possa abstrair. Em parte podemos dizer
que isso ocorre pela perda do passado lamentada pelo personagem. Precisamos do
passado para reconhecer um rosto familiar que já vimos e mesmo para utilizar um
objeto que vai funcionar como já funcionou antes. Mas, em O ser e o nada Sartre nos
mostra que a espera que no futuro as coisas aconteçam conforme os acontecimentos
passados não é um retorno ao passado, mas uma espera quanto ao futuro. É o projeto de
retomar no futuro o que já se fez no passado que torna as coisas previsíveis. O projeto
futuro torna possível um perfilar de qualidades finitas no real em meio à infinidade
transbordante das coisas existentes. Roquentin tem dificuldades para abstrair do
presente elementos que se relacionem a um porvir, porvir este que ao mesmo tempo
daria sentido ao passado como aquilo que é retomado ou modificado. Desse modo, o
mundo aparece como um “transbordar”, tudo pode acontecer e as coisas não podem ser
definidas ou utilizadas. Roquentin conclui que deve abandonar o real em favor do
imaginário, “salvar-se” pela arte escrevendo um romance. O objetivo do nosso trabalho
é confrontar a dissolução do tempo vivida por Roquentin com a concepção de tempo
apresentada em O Ser e o nada. Essa estratégia, além de esclarecer a inseparabilidade
entre tempo e subjetividade, permite questionar a “salvação” de Roquentin apresentando
uma concepção de tempo que torna possível articular realidade e imaginário sem
abandonar a possibilidade de dar sentido à vida real.

34
Doutorando do Programa de Pós-graduação em filosofia da UFSCar. Bolsista CAPES. E-mail:
<ggurae@yahoo.com.br>.

56
O desejo da futura profissão na perspectiva de crianças institucionalizadas: um
estudo psicanalítico

Vivian Inácio da Rosa35


Cristiano de Jesus Andrade36

Palavras-chave: Criança institucionalizada; profissão; psicanálise.


O abandono, a violência física e mental, a vulnerabilidade e a negligência sofrida pela
criança são fatores que contribuem para uma possível institucionalização. Os atos
violentos contra crianças acontecem em sua maioria no âmbito familiar e envolvem não
apenas familiares, mas também pessoas que não mantém laços de parentesco. Neste
contexto, as situações de maus tratos vivenciadas pela criança dentro do lar sugerem o
seu encaminhamento a uma instituição, como forma de afastá-la da situação de
violência em família. O objetivo principal desta pesquisa foi investigar a influência do
abandono sobre o desejo de uma futura escolha profissional por crianças
institucionalizadas, com idade de 6 a 11 anos, de um abrigo situado em uma cidade do
interior de São Paulo. Esta pesquisa configurou-se em uma pesquisa descritiva, de
natureza qualitativa e estratégia de campo em relação à fonte de informações. Os dados
foram coletados por meio de entrevistas, narrativas de história de vida, escuta ativa e
observações participativas. A análise dos relatos, à luz da teoria psicanalítica,
identificou que a escolha das profissões expressa as ideias conscientes que as crianças
possuem sobre si mesmas, emergindo de um outro sentido existente no inconsciente
sobre o próprio desejo. Ou seja, a privação dos cuidados parentais desperta nestas
crianças o desejo de cuidar e proteger o outro. Para Melani Klein (1926) apud Fulgencio
(2008), não podemos traduzir a linguagem do inconsciente para a consciência sem
emprestar-lhe palavras do nosso domínio consciente. A profissão escolhida poderia,
neste caso, fornecer legitimidade as suas ações a partir de seus desejos inconscientes e
seus valores. Em relação ao gênero foi possível identificar que as meninas desejam
escolhas profissionais relacionadas à ajuda e ao acolhimento; enquanto que os meninos
desejam profissões relacionadas à defesa e à proteção. Concluímos que estas crianças,
ao vivenciarem relações permeadas de atitudes rudes e violentas se percebem
vulneráveis e frágeis, projetando no outro sua vulnerabilidade. E que além do abandono,

35
Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – UNIFAE;
especializando em Saúde Mental pela Universidade Estácio de Sá. E-mail: vivian.inacio@hotmail.com.
36
Graduado em Psicologia pelo Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – UNIFAE,
mestrando em Psicologia da Saúde pela UMESP (Universidade Metodista de São Paulo). E-mail:
critianoandradepsico@gmail.com.

57
as atitudes sociais que prevalecerem durante muito tempo a respeito da masculinidade e
da feminilidade também influem no desejo de uma futura escolha profissional; pois
todas as crianças desejaram profissões tradicionalmente “apropriadas” para homens e
mulheres, respectivamente. Referência Bibliográfica KLEIN, M. (1926). A técnica da
análise de crianças pequenas. In: A psicanálise de crianças. Obras completas de
Melanie Klein. Vol. 2. Rio de Janeiro: Imago.

58
Corpo, moradia e a produção de subjetividades na gestão do habitar: o Programa
Minha Casa Minha Vida.

Gabriela Acerbi Pereira37

Palavras-chave: Habitação; subjetividade; corpo; políticas sociais; sujeito.


A pesquisa tem interesse central na produção de subjetividades no campo das políticas
sociais de habitação popular, com foco nas experiências das beneficiárias e beneficiários
do Programa Minha Casa Minha Vida (faixa 1). De modo específico, articula-se uma
discussão em torno das relações estabelecidas entre sujeitos e a política habitacional
social, considerando subjetividades enquanto produzidas por instâncias individuais,
coletivas e institucionais nessas novas reconfigurações espaciais que atravessam
estruturas físicas, políticas e afetivas dos moradores beneficiados. Nesse sentido,
questões da corporalidade, noção de subjetividade, práticas na/sobre a casa e cuidados
de si associam-se às discussões sobre resistência e direito, numa tentativa de
acompanhar, com o esforço do trabalho etnográfico, desdobramentos e associações
entre modos de vida, produção de subjetividade e propostas da política pública da
questão urbana contemporânea. O projeto toma como ponto de partida a questão da
moradia e seus desdobramentos no campo da produção de subjetividades, considerando
as transformações da administração urbana, as novas relações traçadas entre habitação,
ética, política e modos de subjetivação na dinâmica do habitar. Nesse sentido, os efeitos
das políticas habitacionais, a questão do controle na contemporaneidade e a construção
dos condomínios populares do Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV38) são
repensados no cotidiano das beneficiárias e beneficiários, tendo em vista os modos de
ocupação e novas experiências minoritárias associadas às práticas individuais na casa
“própria” e às questões da governamentalidade na dinâmica do habitar. Ainda que
associado à política pública e à experiência social que se consolida a partir dela, uma
reflexão também no campo molecular, dos projetos individuais e produção de
subjetividades tendo em vista motivações na esfera dos desejos e dos afetos: enfim, uma
tentativa de deslocar o Estado da centralidade, atentando-se ao que ocupa as margens
dele e os modos de habitá-lo. Tem-se em vista uma reflexão em torno da centralidade do
sujeito para uma abordagem do contemporâneo (MALUF, 2013), considerando o sujeito
social não só como objeto da pesquisa, mas também sua dimensão conceitual, analítica

37
Graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Mestranda em
Ciências Sociais pela PUC SP. E-mail: gabiacerbi@gmail.com.
38
http://www.cidades.gov.br/index.php/minha-casa-minha-vida.html. Acessado em 09/06/2015.

59
e estratégica na construção da reflexão. Considerando as reconfigurações associadas aos
modos de habitação das beneficiárias e beneficiários, elabora-se uma reflexão associada
à dinâmica dos condomínios no dia a dia de seus ocupantes, tendo em vista as
construções discursivas e não discursivas que circunscrevem as experiências nas
habitações e que proporcionam reflexões associada as concepções de território do
campo subjetivo, tendo em vista o campo das experiências que se constróem a partir da
casa, essa espaço considerado próprio, íntimo e associado ao campo das subjetividades.
Para além de suas promessas de bem-estar, segurança e qualidade de vida, uma reflexão
associada aos possíveis desdobramentos cotidianos nas relações que as pessoas possam
estabelecer com a casa que passa a ser própria, não referentes às adequações espaciais e
formas de representação oferecidas pelo planejamento público quanto a concepção de
cidadão e formalizações jurídicas em relação ao direito à moradia, mas o que poderia
(ou não) estar além, estar imerso ou então vazar. Quem é o sujeito para quem se projeta
uma habitação e o que esse sujeito projeta e constrói a partir dela são questões que
permeiam o artigo, assim como interrogações associadas aos modos de ocupação da
casa, práticas de si, corpo e construção da noção de pessoa (MAUSS, 2003). Um
circuito de discussões que se associa às questões da territorialidade, do fluxo dos
acontecimentos e da “restauração da cidade subjetiva” (GUATTARI, 2000 [1992],
p.169), apontadas pelo autor através da temática da diferença, das questões da
singularidade e da ressingularização (GUATTARI, 2000) no campo das experiências
constituídas dentro e fora da esfera institucional. Nesse sentido, uma tentativa de
retomar a questão urbanística tendo em vista os “destinos” que a cidade, a política e a
técnica produzem e as transformações no âmbito dos sujeitos e suas dimensões
existenciais. Em diálogo, se ofereçe a tentativa de contextualizar o processo de
racionalização das cidades, como em Carne e Pedra: O corpo e a cidade na civilização
ocidental, como em Sennet (2008), trazendo reflexões sobre a história da cidade contada
através da experiência corporal do povo, tomando o corpo não só como uma referência
para entender o passado, mas também suas expressões na arquitetura, no urbanismo e na
vida cotidiana. Nesse sentido, uma descrição sobre essas interpelações institucionais no
campo do corpo, da moradia e dos modos de ocupação ao longo da história ocidental,
onde a carência dos sentidos tornou-se mais notável através de governos e projetos
arquitetônicos que estimularam a consolidação de um corpo passivo, neutralizado por
regras de locomoção, pela velocidade das cidades urbanas, pelos espaços de passagem,
pelo trânsito e por uma série de outras condições físicas que o deslocamento, a
segmentação, a dispersão geográfica das cidades e as tecnologias modernas
proporcionaram (SENNET, 2008, p.19). Ainda sobre experiências corporais na cidade,
deseja-se a consolidação de elaborações associaçãsa criação de habitações de interesse
social e o fortalecimento do medo de contato associado à necessidade da purificação e
segregação (2008, p.297) associadas à imagem sacralizada do corpo na cidade, um lócus
de poder e também uma esfera derivada de todas essas vivências específicas de
conformação (SENNET, 2008, p.300), territorialização, assujeitamento e também

60
singularização e agenciamentos. Sobre essas variações proporcionadas pela aquisição da
casa, indaga-se as modificações espaciais, interrupções e alinhamento de novos trajetos
a partir da mudança para os condomínios, assim como os desdobramentos no campo
subjetivo associados ao financiamento social para população de baixa renda. Expressões
como subjetividade endividada (LAZZARATO, 2011) surgem para pensar essa
dinâmica que associa a gestão de políticas públicas de habitação ao consumo/aquisição
de moradias populares, assim como a gestão do desejo a partir de políticas sociais de
inclusão. No mesmo caminho, problematiza-se a concepção de casa própria, enquanto
lógica de pertencimento gestada pelo Estado, que conecta diretamente obtenção de casa
aos direitos do cidadão e a concepção do morar, assim como suas relações com a
construção de noções de sujeito.

61
O existencial ‘ser-com’ em Ser e Tempo

Andressa Alves Souto39

Palavras-chave: Dasein; eu; ser-com; coexistência; significação.


Neste trabalho, procurarei apresentar um estudo sobre a relação entre alteridade e
mundo desenvolvida, principalmente, a partir do IV capítulo de Ser e Tempo do filósofo
alemão Martin Heidegger. Neste contexto, ele levanta a questão sobre o “quem” do
Dasein – modo de ser do homem - e a estrutura do ser-com-os-outros. Segundo
Heidegger, não se pode investigar o Dasein como se investiga o modo de ser das coisas
subsistentes, segundo uma quididade; antes, deve ser investigado como um “quem”,
segundo a existencialidade que lhe é própria. Esta investigação parte da cotidianidade
em que o Dasein está já inserido originariamente e na qual, na maior parte das vezes,
permanece. A busca pelo “quem” do Dasein, por sua vez, envolve três discussões, a
saber: (i) a questão do modo de ser do Dasein; (ii) a questão da identidade pessoal; e
(iii) a questão da autoconsciência. Heidegger pretende desconstruir as duas últimas, a
fim de traçar um novo ponto de partida na abordagem sobre a relação com o outro. Em
relação à primeira, ele sustenta que o ser-com os outros é um modo de ser do Dasein.
Tendo em vista estes aspectos, buscarei analisar o modo como Heidegger desenvolve a
compreensão desta estrutura nesta obra. Através disso, argumentarei que a estrutura do
‘ser-com’ é essencial para o projeto heideggeriano de superação do modelo cartesiano
de subjetividade. Para tanto, este trabalho se estruturará em duas partes: num primeiro
momento, será apresentada a discussão heideggeriana acerca do modo de individuação
do Dasein cotidiano, realizada no §25 de Ser e Tempo; e, num segundo momento, serão
analisadas as estruturas do ‘ser-com’ (Mitsein) e da coexistência (Midasein).

39
Doutoranda em Filosofia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). E-mail:
andressasouto@hotmail.com.

62
A desconstrução da ideia objetiva de mente em Heidegger: O Dasein como
espacialidade

Nara Cristina Moreira Almeida40

Palavras-chave: Heidegger; Dasein; mente; espacialidade.


A inauguração da Fenomenologia por Edmund Husserl estabeleceu para o pensamento
positivo a derrocada de seus pressupostos. Crítica epistemológica e a proposta da
edificação do conhecimento vivo, isto é, conhecimento que se dá a partir das coisas tais
como se nos apresentam nas vivências, o caminho aberto por este autor foi seguido em
muitos de seus aspectos por Martin Heidegger. Com destaque, o que é posta em cheque
é a mente humana como objeto, como ente, de um sujeito psicofísico situado em um
espaço objetivo. Na visão científica, tanto este quanto aquela são reduzidos a uma
mesma lei geral mecânica que os encerra na objetividade de dois polos fechados em si
mesmos e nas dificuldades do “acesso” de um ao outro. As tentativas epistemológicas
deste “entre” sucumbiram em vazios de incompreensão e de sentido para o mundo da
vida. A obra heideggeriana Ser e Tempo reconstrói essa visão da relação mente-espaço
através da ideia de Dasein41 como espacialidade via uma ontologia existenciária
baseada na ideia do aberto em que não há uma separação entre ser e mundo. Isso posto,
o principal objetivo deste trabalho é descrever e analisar a desconstrução da ideia
objetiva de mente em Heidegger do ponto de vista da espacialidade. Será utilizada como
fonte dessas reflexões a tradução portuguesa da obra citada, de Fausto Castilho,
sobretudo sua primeira seção. Se, em uma perspectiva objetiva de ser humano chegamos
à ideia de mente como uma categoria de coisas entre outras coisas e a relação entre essa
mente e o espaço que a circunda se dá em termos de coordenadas aferidas por
mecanismos objetivos, e que, além disso, o sujeito que tem essa mente está “dentro” de
um espaço assim como uma bola está dentro de uma caixa; na perspectiva
heideggeriana, tudo isso deve ser descartado em favor de modo de inteligibilidade mais
originário e fundamental em que: 1) Não há uma “mente” como categoria, como coisa
subsistente, o que há é a pura existência, pensada em si mesma e a partir de si mesma;

40
Graduada em Psicologia pela PUC Minas, campus Poços de Caldas. E-mail:
naracmalmeida@gmail.com.
41
O termo é do próprio autor, traduzido em geral como “ser-aí”, como pura abertura em-o-mundo. Este
jogo com as palavras é típico de seu pensamento e diz de um extremo cuidado quanto a fechamentos,
definições de ser humano. Para Heidegger, não há qualquer definição essencial num modo substantivo. O
ser que somos se define na própria existência e a partir da própria existência, como aquilo que cada vez
somos.

63
2) Porque não há uma mente fechada, a relação estabelecida com o mundo é ontológica,
isto é, ser é ser-em-o-mundo não como uma coisa dentro da outra, mas como
existenciário; 3) Não há um espaço objetivo e extenso em que um sujeito que “possui”
uma mente é “colocado”, o que há é a mundidade como aquilo que funda o próprio ser e
estabelece entre o que antes eram dois polos distintos e separados, uma estrutura una
essencial. Em suma, este brevíssimo recorte dos aspectos centrais do pensamento
heideggeriano permite não só entendê-lo como um pensador do ser (do ser humano,
pura e simplesmente), mas na mesma medida, também como um pensador do espaço.

64
Os limites da emancipação política em face da emancipação humana: uma
(re)leitura da Questão Judaica de Karl Marx

Samira Cristina Silva Pereira42


Francisco Xarão43

Palavras-chave: Emancipação; emancipação política; emancipação humana; Marx.


Propomos apresentar a crítica marxiana da emancipação política conforme tematizado
na obra Sobre a Questão Judaica. Esse é um texto de polêmica contra o jovem
hegeliano Bruno Bauer redigido no outono de 1843 e publicado em 1844 nos Anais
Franco-Alemães. O texto critica o que considera o limite da Revolução Francesa: ter
emancipado o homem somente no plano formal, na esfera do Estado, na forma da
política. A exposição de nossa comunicação está organizada em três partes. Na primeira
descrevemos as características da emancipação política conforme proposto por Marx
n’A Questão Judaica, seguido de esclarecimentos de outros autores que já estudaram
essa obra. Na segunda apresentamos as características da emancipação humana,
enfatizando as diferenças com a emancipação política. Por fim, na terceira parte
encaminha-se uma síntese interpretativa apontando o que, na visão de Marx, seriam os
limites da emancipação política quando comparados com a emancipação da humanidade
enquanto humanidade. Ao refutar o argumento teológico de Bruno Bauer, Marx conclui
que não é possível se falar de liberdade na Alemanha. Em vista disso, todos os alemães
devem se empenhar pela emancipação tanto política, quanto humana. A opressão na
Alemanha não se limitava somente aos judeus mas há todos os alemães. Ao reduzir o
problema da integração dos judeus na vida política do Estado alemão, Bruno Bauer,
conforme a crítica de Marx, reduz o problema da emancipação a um tema meramente
político. Bauer trata da parte não contemplada no Estado alemão: os judeus. Mas não do
todo, a humanidade oprimida pelo Estado e a religião. Como ilustra Marx, Bauer
substitui o estado da religião pela religião do Estado. Porém, conclui Marx, trata-se de
emancipar o ser humano enquanto humano. Não uma forma específica de sociedade ou
cultura, mas a humanidade como um todo. Mas o que é emancipação política afinal? É a
separação do homem em duas esferas: a vida pública e a vida privada. A separação entre
a sociedade civil e o Estado. De um lado o homem real, de carne e osso, que trabalha e
luta pelos seus próprios interesses. O homem privado, independente, egoísta. De outro
lado, o cidadão, homem público, de Estado, portador de direitos, cioso das coisas
públicas, do bem comum, o homem moral. A emancipação política, portanto, é a cisão

42
Bolsista de Iniciação Científica PIBICT – FAPEMIG. E-mail: samiracsp@outlook.com.
43
Professor Adjunto do ICHL/Unifal-MG. E-mail: jose.xarao@unifal-mg.edu.br.

65
entre o homem e o cidadão, pela lei do Estado político. A emancipação humana, ao
contrário, é a realização plena do homem individual real através da transformação do
cidadão abstrato em força social. A emancipação humana é a não divisão entre o ser
genérico enquanto espécie humana e o ente individual, empírico. É a não alienação de
suas forças sociais em força política, na forma do Estado. Em Sobre a Questão Judaica,
o termo emancipação humana mostra-se ainda muito abstrato. Porém, já indica que ela
só se realizará pela superação da propriedade privada dos meios de produção, por uma
transformação total da sociedade. Assim, da perspectiva da emancipação humana, a
emancipação política, embora importante, do ponto de vista histórico, é ainda uma
emancipação limitada, que tem de ser superada pela próxima revolução social.

66
Fernão Mendes Pinto, o peregrino à luz da singularidade em Félix Guattari

Luís César Schiavetto44

Palavras-chave: Fernão Mendes Pinto; narrativa de viagem; ensino de História.


Fernão Mendes Pinto, um peregrino na sala de aula: o século 16 no Oriente extremo da
Peregrinação, dissertação defendida no âmbito do Programa de Pós-Graduação em
História Ibérica da Universidade Federal de Alfenas – Unifal/MG, 2016, sob orientação
do professor Dr. Carlos Tadeu Siepierski, indagou o potencial temático da obra
Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto, para o ensino de História nos ciclos do ensino
fundamental e médio brasileiros. Dada a invisibilidade dessa fonte bibliográfica nos
livros didáticos, introduziu-se para professores/as, alunos/as as excursões e os relatos do
viajante português durante o chamado circuito das grandes navegações. Dois eixos
temáticos oferecem possibilidades de “entradas” didático-pedagógicas ao/a professor/a
que, de forma eventual, opte por “trabalhar” a obra em suas aulas: 1- a abertura
portuguesa para a Ásia nas descrições do cronista; 2- as convenções em torno das
origens da “primeira globalização”, entre os séculos 15 e 16, captadas nos relatos da
Peregrinação. A expectativa é a de que os escritos do “peregrino” auxiliem uma melhor
compreensão dos sentidos das navegações portuguesas para além do que
tradicionalmente se vê no conteúdo de História do Brasil Colônia, por exemplo. O ponto
de partida da pesquisa se deu na própria Peregrinação. Ela foi investigada por meio da
abertura portuguesa para a Ásia e suas correlações com a expansão marítima em geral.
Em primeiro plano, bibliografia da história das “grandes navegações” contextualizou e
evidenciou o período em foco para apresentação mais pertinente do livro
(ALENCASTRO, 1998; BARRETO, 1998; BORNHEIM, 1998; GIUCCI, 1999;
LESTRINGANT, 2009; LIMA, 1998; ZIEBELL, 2002). Ao se investigar o fenômeno
inicial da globalização, por exemplo, retomou-se textos como o de Serge Gruzinski e
seu 1480-1520: A Passagem do Século (1999), notadamente preocupado em inserir
àquela época problematizações deste tempo. Esse ponto auxiliou também a escrita da
segunda parte da dissertação que se concentrou no apontamento, a partir da
Peregrinação, de “entradas temáticas” que sirvam aos professores/as como “orientações
didáticas” às aulas de História. Isto dito, perguntou-se: como empregar as narrativas e
temas da Peregrinação no ensino de História, em especial nas temáticas relacionadas à
expansão marítima portuguesa? Que concepções de mundo podem ser ali apreendidas e
que dizem respeito à constituição de sociedades não-ocidentais? As indagações se
justificam ainda mais quando se constata que apenas recentemente o relato de Fernão
Mendes Pinto passou a circular no Brasil. Desde 2005 o livro está disponível no

Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em História Ibérica da Universidade Federal de Alfenas –


44

UNIFAL. E-mail: lcschiavetto@uol.com.br.

67
mercado editorial local; obra que, em contextos externos, é publicada ao menos desde
os inícios do século 16. Dito o contexto, um dos pontos de inflexão da dissertação
permitiu uma interpretação da “cabeça” de Fernão Mendes Pinto enquanto hipótese para
aquela personagem ser o que foi àquele tempo frente às ambições da Coroa e da Igreja
em terras asiáticas. Lembremos Fernão Mendes Pinto como crítico dos
empreendimentos luso-europeus no Oriente. Não estando a serviço de sua Coroa e
Igreja, como a maioria dos cronistas do período, por vezes ensaia voos “amargos” por
sobre as paisagens desenhadas pelos portugueses na Ásia. Em sendo assim, o pensador
francês Félix Guattari (1999), a partir de sua noção de singularidade, permite-nos
pensar o embrião de personagens anônimas e/ou históricas que, senão à margem dos
sistemas constituídos, trafegam nos descentros nervosos das estruturas de poder e em
meio às estruturas impõe singularidades nas formas das práticas de resistência e
renovação – um tomar partido da subjetividade de modo a posicioná-la sobre os
paradigmas da técnica ou, como quer o autor, das “tecnociências”: toda a tecnologia
que, em especial a partir da Idade Moderna, normatiza o percurso de pessoas e
instituições. Tal repertório “técnico-científico” teria dado “ênfase ao mundo objetal de
relações e funções, mantendo [...] entre parênteses os afetos subjetivos, de modo que o
finito, o delimitado coordenável, acabe prevalecendo sobre o infinito” (GUATTARI,
1992, p. 129), ou seja, sobre o subjetivo sempre reprimido e/ou subestimado. Deste
modo, a noção de singularidade em Félix Guattari, presente em Caosmose: Um Novo
Paradigma Estético, de 1990, possibilita um exame diferenciado das personagens que,
em “trânsito”, se deparem com impasses experimentados em qualquer tempo ou espaço.
Por meio da singularidade, o autor faz pensar uma possibilidade de transformação
operada por meio do afloramento criativo da subjetividade, capaz de nos emancipar da
“trama das redundâncias dominantes” (GUATTARI, p. 32). O desafio está em promover
micro ou macro emancipações tendo como ferramenta elementar o ilimitado colchão de
conhecimento acumulado ao longo da História. Fernão Mendes Pinto terá sido uma
dessas personagens que, ao seu modo, a partir de repertórios greco-romanos e outros,
transformou, por meio de seus escritos e presença na Ásia, o mundo mais próximo ao
seu redor. E uma vez que a “Peregrinação revela a prosaica realidade encoberta pelas
melhores e mais bem enfeitadas palavras do discurso colonial” (ALENCASTRO, 1998,
p. 199) muito do que Mendes Pinto singularizou por escrito possibilitou visões menos
condescendentes às movimentações portuguesas em contexto de navegações
quinhentistas.

68
Mecanicismo materialista y psicología hobbessiana

Campo Elías Flórez Pabón45

Palavras-chave: Pasión; razón; política.

La presente comunicación pretende retomar las categorías de materialismo mecanicista


en la obra de Thomas Hobbes, a partir de dos categorías desarrolladas por su
antropología política. Primero las pasiones como un elemento determinante en la
psicología de los seres humanos en el estado de naturaleza, aplicado al discurso de la
retórica política. Segundo, el concepto de razón que supera las pasiones-retóricas
políticas, y nos invita a una vida sin miedo, esperanzada en una sociedad pacífica. Para
abordar la presente comunicación, debemos limitar nuestro campo de acción dentro de
todos sus escritos. Ante lo cual nos queda puntualizar qué obras se revisaran bajo una
metodología de comentario de texto en sus escritos, denominados políticos. Para tal
labor, se seguirá una secuencia histórica de publicación dentro de la vida del autor, con
el objetivo de ver cómo han evolucionado dichos conceptos históricamente en el
proyecto político hobbesino, y proponer si fuera necesario una actualización de los
mismos hoy. Como sugiere R. Tuck (2001, p. 57ss) en su escrito, vamos a retomar las
siguientes obras siguiendo un orden histórico de publicación para considerar estas dos
categorías, las cuales son conocidas como los escritos políticos del autor: The Elemenst
of Law, Natural and Politic (1640); De Cive (1642), Leviathan (1651). Así con estas
observaciones iniciales, para hablar sobre el presente tema hemos de partir de una corta
presentación del capítulo VI del Leviathan, el cual fundamenta la discusión sobre las
pasiones en el autor como del papel de la razón en nuestra humanidad política. En tal
sentido, el cuerpo humano será comparado con el cuerpo político, o sea el cuerpo social.
Lo que nos lleva a plantearnos de alguna forma un par de preguntas que se solucionaran
a lo largo de su Elementa philosophiae., pero que envuelven el carácter mecanicista y
materialista de la analítica hobbesiana, que en otras palabras sería preguntarnos: ¿hasta
dónde esa explicación antropológica del estado de naturaleza que habla de un ser
pasional y egoísta sirve como base para fundamentar su teoría política?, o ¿son las
pasiones fuerza motriz que impulsa a los hombres a realizar el pacto social? ¿Qué tanta
influencia tendrían las pasiones en un estado pre-social para la conformación de un
estado civil y racional?

45
Doutorando em filosofia. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, IFCH. Universidade Estadual de
Campinas. E-mail: ceflorezp@gmail.com.

69
A subjetividade autoritária: bases frankfurtianas para a análise social crítica

Elisa Zwick46

Palavras-chave: Teoria Crítica; dialética; autoritarismo.


Este trabalho apresenta alguns arranjos conceituais integrantes da pluralidade da Teoria
Crítica na análise do binômio autoridade–autoritarismo. Focamos em textos de
Horkheimer, Benjamin, Fromm, Adorno e Marcuse. O método de abordagem é a
dialética, vista a correlação de sua natureza contraditória e articulada com a dupla
polaridade do tema. Também integramos a perspectiva do materialismo interdisciplinar,
valorizando diferentes contribuições da análise social proposta pela Teoria Crítica de
primeira geração. Apresentamos o tema via obras escritas no pós-guerra, que na
América adquiriram um viés de análise da cultura de massa. Em Horkheimer, a tônica
das investigações presentes era a padronização de comportamentos, analisados pelo
enfoque psicológico e antropológico, o que o leva a um interesse particular pelo
fenômeno da regressão. Localiza-se aqui um importante condutor de boa parte de sua
obra, que é a luta contra a barbárie e a dominação, também tema de seu livro Eclipse of
reason (HORKHEIMER, 1947), que retoma a discussão precedente colocando as ações
autoritárias na conta da razão instrumentalizada. Integrado marginalmente à tradição
frankfurtiana, Walter Benjamin desenvolve com acurácia e complexidade o fenômeno
da cultura enxertada pela barbárie. A célebre afirmação de que os oprimidos vivem em
permanente estado de exceção é pano de fundo das formulações de Benjamin (2010) em
suas teses “Sobre o conceito de história”, sistematizadas na sonora tese dialética de que
todo o documento (Dokument) da cultura é também um documento da barbárie. Isso é
pressuposto dentro de uma certa antropologia freudiana nos marcos psicológicos de
Eros e Thanatos, que repercutem no dilema entre autoconservação e sacrifício. Para
quem como Benjamin (2010, p. 225) propõe a necessidade de “escovar a história a
contrapelo”, contando-a na ótica dos vencidos, o progresso como sua lei máxima insere
a urgência da batalha contra o fascismo que, longe de ser anacrônico, é o modelo
imanente da dominação. Chama sua atenção não o assombro diante do abandono da
Bildung alemã, mas a falta de espanto no tocante à cumplicidade entre barbárie e
progresso enquanto seu fio condutor. Outro conceito caro a Benjamin é o de
experiência, que se apresenta como acontecimento autônomo. Sem uma experiência
substantiva, os indivíduos não têm como distinguir nem evitar a presença dos elementos

46
Doutora em Administração pela Universidade Federal de Lavras. Professora Adjunta do Instituto de
Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal de Alfenas. E-mail: elisazw@gmail.com.

70
do fascismo. Psicanalista e um dos fundadores do Institut für Sozialforschung, em seus
estudos no terreno da Psicologia Social, Erich Fromm publicou em 1942 o livro The
fear of freedom, que servia em grande parte para analisar a emergência das sociedades
totalitárias. Para ele, na modernidade os homens não haviam se encontrado com a
liberdade positiva, mas com a solidão. Porém, achando-se liberados no uso individual
de sua própria força, tecem uma perspectiva de medo, que os leva a impulsos
sadomasoquistas de renúncia à sua individualidade para restituir uma nova segurança.
Em 1973 Fromm publicou uma obra monumental, The anatomy of human
destructiveness, na qual examina a literatura de várias áreas sobre a agressividade,
rechaçando a tese dos instintivistas que naturalizam a agressão. Mas é Dialektik der
Aufklärung a obra que mudaria para sempre a compreensão da sociedade moderna.
Horkheimer e Adorno se perguntam por que a humanidade, que os préstimos iluministas
da razão e da ciência prometeram emancipar, ao invés de caminhar em direção a um
estado humano, dá cada vez mais mostras de uma queda “em uma nova espécie de
barbárie”. Para eles, a racionalidade e sua expressão maior, a ciência, no afã de liquidar
implacavelmente os mitos, terminou por recair numa nova forma de mitologia. É o que
apontam no drama de Ulisses, personagem central da Odisséia de Homero, cuja
racionalidade funda-se na astúcia de lograr a natureza externa para se autoconservar. A
manipulação técnica da natureza para sua sobrevivência cobra-lhe um sacrifício
repressivo sobre os instintos que não raro retorna sob a figura da barbárie – por
exemplo, a guerra. Não por acaso o enredo de interpretação filosófico literário que abre
o livro chega ao final com um capítulo dedicado ao antissemitismo, figura peculiar do
espírito nazista. Também na série “Studies in prejudice”, composta pelo volume
coletivo Studies in the authoritarian personality (ADORNO, 1950), reforçam-se os
elementos já dispostos anteriormente, como a repressão da natureza e o antissemitismo.
Ao reconhecer o impacto da obra de Freud na cultura e na ciência, a contribuição de
Adorno à personalidade autoritária também mantém interface com a pesquisa
psicossociológica. No entrelaçar das análises da personalidade, da consciência e da
ideologia, Adorno identifica o núcleo concreto do autoritarismo, contribuindo de modo
fundamental para deslindar o perfil do caráter fascista. A conflituosa relação entre
autoconservação e sacrifício, roteiro de Dialektik der Aufklärung, é o dilema também
presente no que Marcuse (2010) chamou de Eros and civilization, título de seu principal
estudo sobre Freud, realizado numa moldura filosófica, mas entrevendo uma validade
político-sociológica na psicanálise freudiana. Em sua convicção de que as categorias
psicológicas convertem-se em políticas, Marcuse analisa a sociedade industrial moderna
apontando sua dependência da produção e do consumo do supérfluo. O alto preço diante
da servidão voluntária humana ao potencial destrutivo do progresso técnico é cobrado
no desempenho crescente de atividades improdutivas, que aniquilam as tentativas
autônomas de articulação política. Isso fica claro nas reflexões sobre o homem
unidimensional, em que Marcuse (1978) aponta o pensamento positivista como
balizador da prioridade técnica que, por conseguinte, se torna a prioridade política.

71
Doravante, aponta as contradições entre a ascensão científica e tecnológica e o aumento
da dominação e da destruição, buscando preservar a linha de Freud, que, segundo
Marcuse, contém um fundo oculto que rejeita a identidade entre civilização e repressão.
Nisto, defende que a teoria de Freud não apenas não se limita aos aspectos técnicos da
terapia como ainda pressupõe abertura para uma sociedade não repressiva, o que
configura a utopia de Eros marcusiana. A pluralidade da Teoria Crítica, notória desde a
primeira geração, aponta direcionamentos distintos, em que a crítica ao autoritarismo é
um de seus elementos comuns, cuja identificação e compreensão é uma tarefa
contribuinte para melhor elucidar o papel e o lugar desses autores como intelectuais não
conformistas, conforme a eles se referiu Alex Demirovic.

72
A sensação no ensaio sobre a origem dos conhecimentos humanos de Condillac

David Ferreira Camargo47

Palavras-chave: Sensações; Condillac; entendimento; empirismo.


Ao remontar a origem de nossos conhecimentos e como eles podem se desenvolver,
Condillac apresenta o funcionamento das operações da alma. Tais operações são as
condições pelas quais as ideias se dão e se relacionam entre si. A sensação é, para ele, a
maneira pela qual as ideias nos chegam através dos sentidos. Diversos outros filósofos
têm negado a validade objetiva das sensações, ou seja, negam que as sensações nos
permitem um conhecimento verdadeiro das coisas. Veremos como Condillac considera
o papel da sensação enquanto ideias que têm sua validade objetiva. Mas a mera
sensação não poderia dizer o que as coisas são efetivamente. Todavia, não se poderia
negar que as ideias que nos vêm pela sensação seriam em algum grau os materiais de
nossos conhecimentos e mesmo uma condição para e efetividade deles. Além disso, a
sensação seria a origem primeira das ideias que se desdobram em diversas operações da
alma como a percepção, a atenção, a memória, a imaginação, etc. O objetivo dessa
comunicação é, portanto, apresentar qual é o papel da sensação no Ensaio de Condillac
e apontar alguns problemas que surgem a partir da consideração desse tipo de ideia
enquanto dado objetivo. Apresentar, ainda que rapidamente, como Condillac analisa a
geração da operações da alma. Tais operações são relativas ao entendimento humano, e
são a chave para se compreender como as ideias pode se tornar efetivamente
conhecimentos.

47
Doutorando em Filosofia pela UFSCar. E-mail: cabodvd@gmail.com.

73
Novas subjetividades: a contribuição da Neurociência para as representações
sociais da pessoa humana

Allisson Vieira Gonçalves48


Carlos Tadeu Siepierski49
Daniele Ferreira Soares50

Palavras-chave: Neurociência; noção de pessoa; razão/emoção.

Este trabalho é parte de uma pesquisa temática que está sendo desenvolvida ao longo
dos últimos anos no Grupo de Pesquisa Sociedade e Cultura Contemporâneas e que
tem por objeto a noção contemporânea de pessoa humana. O presente trabalho tem
como objetivo compreender o impacto da Neurociência nas representações sociais da
pessoa humana tendo como foco de análise a obra O erro de Descartes: razão, emoção
e cérebro humano, de Antônio Damásio. Ao longo do século XX - com a especialização
do campo mais amplo da Neurociência - surge a subárea da Neurobiologia, que passa a
estudar a biologia do sistema nervoso em um sujeito ainda vivo. As discussões colocam
em questão a mente, ou consciência, como algo que transcenderia a própria estrutura
biológica. Nesse sentido, o cérebro se torna o órgão responsável pelo comportamento
humano e a base da pessoa. Nas últimas décadas, a Neurobiologia tem problematizado
os dualismos mente/corpo, razão/emoção, próprios do pensamento cartesiano, e um dos
autores que tem contribuído para essa discussão é justamente o neurocientista Antônio
Damásio, o qual tece uma crítica incisiva sobre esses dualismos e realoca a mente no
cérebro como um processo biofísico. A contribuição de Damásio - fundamental dentro
da produção dessa área, além de ter uma repercussão para além do meio acadêmico -
colabora para uma nova concepção de pessoa humana. Como o trabalho está em fase de
desenvolvimento, apresentaremos os resultados parciais da análise de acordo com o
cronograma de trabalho do discente, iniciado em março de 2016. De acordo com
Damásio - que usa de dados médicos e de seus próprios pacientes -, o cérebro passa a
representar o indivíduo, sendo agora a base da própria pessoa e a via de compreensão
dos seus aspectos sociais. Nesse sentido, portanto, desvios sociais, ou seja,
comportamentos que prejudicam os sujeitos dentro de um contexto relacional são
associados às limitações na estrutura biológica (lesões e deformidades no cérebro). Para
explicar a racionalidade, por exemplo, o autor trabalha com o conceito de imagens
(formação e comparação). De acordo esse conceito, o cérebro percebe o corpo como um
conjunto de estados corporais que estão sendo continuamente reatualizados, pelo

48
Graduando do 8° período de Ciências Sociais da UNIFAL-MG. E-mail: neoscientist@yahoo.com.br.
49
Professor de Antropologia (ICHL/ UNIFAL-MG). E-mail: carlos.tadeu.siepierski@gmail.com.
50
Graduanda do 6° período de Ciências Sociais da UNIFAL-MG. E-mail:
danysoares_paraiso@hotmail.com.

74
contato com o ambiente e por novas experiências. Além disso, o autor delimita as áreas
responsáveis pela razão e emoção, não para localizá-las em uma local específico no
cérebro, mas de forma a mostrar como elas são interdependentes no processo de
formação da percepção. Nesse sentido, Damásio demonstra como pacientes com lesões
em partes relacionadas às emoções também tem problemas para fazer escolhas
racionais. Os termos normal e anormal aparecem com muita frequência na sua obra,
sendo que o termo anormal é usado para identificar a categoria de doentes neurológicos,
a qual corresponde um ser humano que não possui o aparato cerebral normal para
desenvolver suas características sociais. No embate razão e emoção, o autor busca
superar esse dualismo - que relegaria as emoções aos mecanismos mais rudimentares do
cérebro - propondo que ambos operam conjuntamente no processamento de imagens,
gerando a percepção do corpo e do ambiente. Tal mecanismo associa o cérebro a uma
máquina que processa e gera imagens de forma contínua. O cérebro usa e compara essas
imagens com a realidade, para então gerar emoções e sentimentos (estados do corpo).
Esses sentimentos são a soma da percepção de um objeto e da percepção do estado
corporal criado pelo contato com o objeto. Segundo Damásio, os sentimentos seriam
resultados das emoções, contudo, existiriam sentimentos que independem de uma
emoção. Dessa forma, as emoções têm uma função no pensamento racional, ou seja, os
processos cognitivos dependem da interconexão das diversas áreas do cérebro. Essa
discussão coloca em questão uma nova percepção da subjetividade humana e contribui
para uma nova representação social da pessoa humana.

75
A metonímia do desejo e o brinquedo como suporte significante: considerações
sobre o brincar na clínica psicanalítica com crianças hospitalizadas

Priscila Cristina da Silva Cid Gigante51

Palavras-chave: Psicanálise; brincar; crianças; significante; desejo.


O presente trabalho tem origem no desenvolvimento de atividades lúdicas com crianças
em uma brinquedoteca hospitalar, no contexto das quais, à fala e ao brincar das crianças
se dirigem observações e intervenções no âmbito do enfoque psicanalítico. Assim, a
abordagem do brincar se faz na medida em que o mesmo encontra-se ancorado no
discurso do sujeito falante. O lugar ocupado pela criança é, portanto, o de sujeito. A
atividade lúdica tem como suporte a linguagem – a função simbólica – e, como tal,
articula-se à gênese do sujeito. Na brincadeira, a criança expressa e coloca em
movimento seus medos, angústias, sentimentos, desejos, elaborando sua experiência
subjetiva e, no mais das vezes, substituindo uma realidade insatisfatória ou ameaçadora
por outra fantástica. Frequentemente, coloca em evidência o desejo de ser adulto como
elemento fundamental desta dinâmica. O lugar da criança no trabalho analítico é
redimensionado por Lacan, para quem a psicanálise com crianças é, antes de mais nada,
psicanálise. Torna-se visível uma ética que coloca a criança no discurso analítico
sustentando que ela deve ser escutada como sujeito do inconsciente, cuja fala independe
da idade cronológica (VIDAL, s/d). O referencial teórico norteador deste trabalho será
este postulado pela clínica lacaniana, que dirige a interpretação não à significação, mas
ao significante e seu sem-sentido, e entende a criança, antes de tudo, como sujeito do
inconsciente, cuja fala é portadora de demanda. Ao abordar o trabalho analítico com
crianças hospitalizadas, este estudo não pretende articular as possibilidades da
transferência, mas a configuração da emergência do desejo e seus desdobramentos no
brincar da criança durante os contatos possíveis. A noção de contatos possíveis, aqui
empregada, procura abarcar algumas particularidades da rotina hospitalar vivenciada no
decorrer dos atendimentos: a demanda espontânea pelo trabalho, seja por parte dos pais,
da criança ou do serviço de enfermagem, foi, praticamente, inexistente; o contato com a
criança se realiza, amiúde, durante poucos encontros ou até mesmo um único encontro;
muitos dos atendimentos são efetuados no quarto em virtude de restrições da criança
quanto ao deslocamento até a brinquedoteca; e, em um número significativo de
atendimentos, os pais ou adultos responsáveis por acompanhá-la durante a internação se
mantêm presentes. O enlace entre o brincar e a palavra é o ponto de interesse da clínica

51
Graduanda em Psicologia pela Universidade José do Rosário Vellano – Unifenas – Campus de Alfenas.
E-mail: soldepri_mavera@yahoo.com.br.

76
lacaniana com crianças. O brincar é ao mesmo tempo entendido como significante e
como resposta do real (FERREIRA, 2000). Para Lacan, a interpretação não visa trazer
uma significação como resposta (a significação consistiria, antes, num objetivo da
clínica kleiniana), mas um sem-sentido. Na dinâmica do brincar apresentam-se diversas
expressões do sujeito, seu sintoma e seu desejo. Observa-se a repetição como sintoma
ou sinal de um gozo que aponta ao desejo, o qual, porém, nunca é acessado por
completo, como todo, mas clareado por aproximações àquilo que escapa como resposta
ou apelo do real (inconsciente). Vê-se também o deslizamento do sentido na metonímia
do desejo, que vai de um significante a outro, percorrendo a trilha de um investimento
pulsional que deixa sempre um resto e, novamente, se lança aos seus objetos. Três casos
foram escolhidos para este estudo. Em dois deles, ao tornar-se evidente o brincar em sua
dimensão de sem-sentido, cujo suporte significante é instaurado no brinquedo,
observou-se que, mesmo quando a criança fruía o prazer de uma brincadeira, deslizava,
sem mais, para outra, e, encontrando, nesta última, o atual suporte temporário através do
qual insurge, outra vez, o desejo, de novo, este escorrega para outro significante. Ou
seja, o desejo desliza de um suporte a outro, de um brinquedo a outro. No outro caso,
notou-se a produção de algo, cuja natureza era eminentemente analítica e se colocava na
ordem de um desejo por meio do qual o sujeito redimensionava, em ato, um lugar
ocupado por ele frente à expectativa da mãe, e, diferentemente dos casos anteriores, não
ocorreu um deslizamento de um suporte a outro, mas uma vacilação operante em torno
de um vazio de sentido (um sem-sentido, uma falta-a-ser), por meio do qual o
significante “brinquedo” (neste caso, um quebra-cabeça) se inscreveu como furo,
apontando à possibilidade de reposicionamento no campo do desejo do Outro.
Referências: FERREIRA, Tânia. O brincar e sua função na estrutura. In: A escrita da
clínica: psicanálise com crianças. Belo Horizonte: Autêntica Editora. 2000. VIDAL,
Maria Cristina Vecino. O lugar da criança no discurso analítico. Letra Freudiana. Ano
X, nº 9, s/d.

77
Da subjetividade a intersubjetividade: o giro da filosofia do sujeito para a
pragmática linguística

Zionel Santana52
Terezinha Richartz53

Palavras-chave: Filosofia do sujeito; razão comunicativa; Habermas.

O objetivo dessa preleção é a compreensão crítica do paradigma da intersubjetividade


nos estudos de Jürgen Habermas. Em seus ensaios sobre o abandono do Paradigma da
Subjetividade, este autor se diferencia dos demais pensadores pelos argumentos
dialógicos, diferentemente dos argumentos de seus críticos, que repousam, ainda, em
bases monológicas. O que faz com que Habermas abandone essa trajetória de uma
fundamentação sem perder a constituição crítica-racional da modernidade. Mas,
Habermas encontra dificuldades em fugir das aporias do paradigma da subjetividade.
Seu problema consistiria, segundo a reflexão habermasiana, em pensar a relação entre o
“eu” e o “outro” de forma monológica. Assim, já em “Teoria do Agir Comunicativo”
encontramos ensaios que apontam as possíveis vias de superação do paradigma da
subjetividade. Ali, Habermas apresentava suas proposições para ultrapassar as
limitações do paradigma da subjetividade por meio do conceito de razão comunicativa.
Habermas escapa, desse modo, da via solipsista adotando o paradigma da
intersubjetividade, possibilitando, com isso, a melhor formulação da Teoria do Agir
Comunicativo e da Razão Comunicativa, constituindo os fundamentos de sua teoria
critica social e abrindo novos caminhos para a superação do paradigma da
subjetividade. A passagem do paradigma da subjetividade para o da Intersubjetividade
possibilitou a Habermas o abandono do Paradigma da subjetividade. Dessa forma, pôde
o filósofo trabalhar com maior envergadura os temas cruciais de seu tempo e se
posicionar frente a questões sociais que não já não aceitam posições fechadas e
unilaterais. Habermas tem uma captação incomum da Filosofia: de um lado, ele não
aspira mais à filosofia tradicional. Essa renúncia, entretanto, não deve ser congregada
com as atitudes autodemissionárias. Pois, de outro modo, Habermas almeja prosseguir
fiel à tradição filosófica. Assim, Habermas baseia sua crítica sobre as ciências que
objetivam o conhecimento além do aspecto meramente instrumental, porém, avança na

52
Doutor em Filosofia (UGF/RJ) participa dos projetos de pesquisa do Programa de Mestrado e
Doutorado - formação de professor e ação docente. E-mail: zionel@unincor.edu.br.
53
Doutora em Ciências Sociais (PUC/SP); Professora do Programa de Mestrado em Letras – Linguagem,
Cultura e Discurso da Universidade Vale do Rio Verde (UNINCOR). E-mail: Terezinha@unincor.edu.br.

78
aclaração dos aspectos filosóficos e epistemológicos que corroboram para o processo da
edificação do conhecimento. O seu pensamento caminha para a mudança de paradigma
a fim de sair do colapso que se estabeleceu. Dessa forma, ele continua fiel à filosofia
crítica e prática, distinto da filosofia transcendental. Enfim Habermas se ampara em dois
braços do pensamento: a crítica quase transcendental, formal e pragmática, através de
uma análise da linguagem, em cuja estrutura o interesse em maioridade e comunicação
torna – se evidente e a critica quase empírica, de uma teoria da sociedade.

79
Classes sociais, partido e Estado no Manifesto Comunista de Marx e Engels

Lucas Soares Miniussi54


Francisco Xarão55

Palavras-chave: Estado; classes sociais; partido; Marx.


Nossa comunicação propõe apresentar um estudo sobre o Manifesto Comunista
redigido, entre junho de 1847 e janeiro de 1848, por Marx e Engels, por deliberação da
Liga dos Comunistas. Neste texto se identifica o surgimento do conceito de classes
sociais, o papel do partido político na conquista do poder e a crítica do Estado moderno
como sendo apenas um comitê central para gerir os negócios comuns da burguesia. O
problema que investigamos é: As classes sociais, o partido político e o Estado Moderno
interferem nas relações sociais de produção e no desenvolvimento das forças produtivas
de modo a preservar ou transformar suas configurações históricas? A hipótese
norteadora desta pesquisa é que no âmbito do Manisfesto Comunista, são estabelecidas
as determinações recíprocas desta constelação de conceitos. O que pretendemos testar
com essa hipótese é se as sociedades humanas, em especial a capitalista, são formas
históricas transitórias que se mantém e se dissolvem em virtude do confronto entre as
relações sociais de produção e as forças produtivas postas em movimento pelo conflito
entre classes sociais, partido e Estado? Nossa pesquisa tem como objetivo principal
mapear essas relações e conflitos conforme apresentado na literatura especializada sobre
o Manifesto Comunista. Compreende-se aqui, inicialmente, o conceito de materialismo
histórico dialético como sendo uma concepção filosófica que aborda o ser como
realidade material, cujo movimento contraditório engendra o próprio pensamento. O
materialista histórico dialético não separa sujeito e objeto como se algum deles pudesse
existir independentemente do outro. Para o materialismo histórico dialético ser e pensar
não são a mesma coisa, mas possuem determinações recíprocas. Quando nos referimos
aos conceitos de classe social, partido e Estado estamos aplicando essa terminologia
sempre no sentido restrito definido por Marx e Engels no Manifesto Comunista e que é
o objeto desta pesquisa. Por essa razão, apresentamos nesta comunicação somente
alguns resultados preliminares da pesquisa em andamento. O Manifesto está organizado
em quatro partes. Na primeira (nominada de Burgueses e Proletários) se apresentam as
origens da classe burguesa, um esboço do conceito de crises cíclicas e o conceito de
lutas de classe, com uma breve sociologia das classes sociais no capitalismo de 1847. A

54
Bolsista Voluntário de Iniciação Científica, acadêmico do Curso de Ciências Sociais da Unifal-MG. E-
mail: lsminiussi@gmail.com.
55
Professor Adjunto do ICHL/Unifal-MG. E-mail: jose.xarao@unifal-mg.edu.br.

80
segunda parte – Proletários e Comunistas – discute a relação dos comunistas com o
movimento operário e suas várias tendências. Expõe uma caracterização da concepção
marxiana do comunismo e ao final apresenta um programa de dez pontos que deveriam
ser adotados imediatamente após a tomada do poder pelos proletários em luta. A terceira
parte, sobre a literatura socialista e comunista, é dedicada a apresentar e criticar as
diversas tendências socialistas em voga na Europa, em 1847, e que se contrapunham a
visão marxiana do comunismo e da revolução. Por fim, a quarta seção é uma
apresentação da “Posição dos comunistas diante dos diversos partidos de oposição” na
qual Marx e Engels rascunham elementos que mais tarde formarão sua concepção geral
sobre a organização política dos proletários ou, como denominou Lênin, a teoria do
partido político.

81
Ressocialização sobre duas rodas: o trabalho do condenado como fator de
ressocialização, agente de transformação carcerária e condição de dignidade
humana

Brenda Krisley Serafim56

Palavras-chave: Ressocialização; trabalho; transformação.


A presente pesquisa visa o estudo da ressocialização das pessoas presas, a promoção da
solidariedade e a assistência às pessoas portadoras de deficiência. Foi elaborada com o
objetivo de ser implantada no presídio da cidade de Poços de Caldas-MG, e consistirá
no exercício de uma atividade laboral por parte da população carcerária, quer seja, a de
dar um fim útil às bicicletas custodiadas na Delegacia de Polícia Civil, transformando-
as em cadeiras de rodas, que beneficiarão a população carente portadora de
necessidades especiais, além de sensibilizar a sociedade em torno da causa. Os
resultados obtidos até o momento foram: parcerias firmadas com a Polícia Civil, com a
Engenharia de Produção e com o Presídio. Foi acordado com a Polícia Civil, por
intermédio do Delegado Regional, o Doutor Sérgio Elias Dias, que este auxiliará no
trâmite da doação das bicicletas para o Presídio, e promoverá, dentro de suas
possibilidades, as medidas necessárias para a consecução dos objetivos do estudo do
trabalho do condenado como fator de ressocialização. O coordenador do Curso de
Engenharia de Produção Neil Paiva Tizzo da Pontifícia Universidade Católica, bem
como alunos e professores do referido curso, desempenharão o papel de ensinar os
presidiários a técnica de transformar as bicicletas em cadeiras de rodas, e acompanhá-
los na desenvoltura dessa transformação. As cadeiras de rodas serão encaminhadas a
órgãos de assistência que as direcionarão aos necessitados. A diretora adjunta do
presídio, Monique M. M. Xavier, tem interesse na implantação de projetos em prol da
sociedade, que corroboram por meio da pesquisa, para a dignidade humana no
cumprimento da pena. A Constituinte Brasileira de 1988, prevê que não haverá penas de
trabalhos forçados, assinalando desta forma um conceito humanizado de pena,
respeitando a pessoa e a liberdade humana. Nesse sentido, a Lei de Execuções Penais de
1984, assinala o trabalho do condenado, como dever social e condição de dignidade
humana, com finalidade educativa e produtiva. Entretanto, a ressocialização é
prejudicada devido à precariedade do sistema prisional e a violação de direitos, fatores
estes, que obstam tal ressocialização. Nesse sentido, a problematização da pesquisa é: a
prisão como instituição social dispõe de recursos para cumprir com as funções

56
Estudante de Graduação 7º semestre do Curso de Direito da PUC Minas. E-mail: mil2002@bol.com.br.

82
manifestas pelo ordenamento jurídico no que diz respeito ao trabalho do condenado?
Para responder tal indagação, será utilizado como metodologia a análise de campo,
entrevistando-se os encarcerados participantes e os portadores de necessidades especiais
que forem beneficiados, para que com as informações obtidas mediante tais relatos, e a
devida análise dos resultados dos impactos do trabalho no cárcere, na reinserção social
do ex condenado e na sociedade em geral, possa-se elaborar um artigo que retrate a
experiência vivida por todos participantes. O estudo da Filosofia em benefício da
sociedade, orienta essa pesquisa, ao passo que uns dos teoricos estudados são: Beccaria,
que trouxe um contexto humanitário de pena, e o filósofo Michel Foucault, que abordou
o trabalho prisional em um estudo científico. Contudo, a pesquisa do trabalho do
condenado como fator de ressocialização, agente de transformação carcerária e
condição de dignidade humana, tem como escopo o estudo da Filosofia, em prol da
Sociedade, fazendo com que todos os resultados alçados contribua para um melhor
convívio social.

83
A experiência de leitura no presídio de Poços de Caldas: como é ler no presídio?

Davidson Sepini Gonçalves57


Maíra Leda de A. Carvalho58

Palavras-chave: Sistema prisional; literatura; reeducação.


A experiência de um projeto de leitura no Presídio de Poços de Caldas, Minas Gerais,
tem respaldo na lei nº 12.433, de 29 de junho de 2011, que dispõe sobre a remição de
parte do tempo de execução da pena por estudo ou por trabalho e da portaria conjunta
do Ministro Corregedor-geral da Justiça Federal e do Diretor-geral do Departamento
Penitenciário Nacional que instituiu, no âmbito das Penitenciárias Federais, o Projeto
"Remição pela Leitura". Na prática, o reeducando do sistema carcerário tem o prazo de
vinte e um a trinta dias para a leitura de uma obra literária, apresentando ao final deste
período uma resenha do livro, possibilitando, após avaliação e aprovação da resenha por
uma comissão, a remição de quatro dias de sua pena e ao final de até 12 obras lidas e
resenhadas, terá a possibilidade de remir 48 dias, no prazo de 12 meses. A experiência
de leitura sempre gerou muitas expectativas, seja no âmbito escolar, pessoal ou social.
Afinal, a leitura é entretenimento, estudo ou compromisso social? Há leituras realmente
melhores que outras? Michele Petit pergunta: “por que ler é importante? Por que a
leitura não é uma atividade anódina, um lazer como outro qualquer? (...) de que maneira
a leitura pode se tornar um componente de afirmação pessoal e de desenvolvimento de
um bairro, uma região ou um país?” (PETIT, 2008, p. 60).59 A leitura sempre esteve
associada ao saber. Mas que saber seria esse? Informativo, reflexivo, projetivo,
transformador? E esse saber é capaz de posicionar o leitor em lugares diferentes
daqueles que tem ocupado socialmente e até mesmo eticamente? Em um dos itens que
compõe a resenha, o leitor é convidado e falar sobre sua experiência de leitura
respondendo à pergunta: como foi para você ler no presídio? Foram analisadas 100
respostas agrupadas em cinco categorias. Trata-se, portanto de pesquisa de campo,
qualitativa, de natureza básica, com objetivos explicativos. Das 100 respostas à
pergunta: como foi para você ler no Presídio, 36% referiram-se a algum tipo de reflexão
pessoal a partir da leitura do livro, geralmente ligada à condição atual do leitor; 31%
referiram-se à aquisição de conhecimento com a leitura do livro; 24% referiram-se à
leitura no presídio como possibilidade de passar melhor o tempo ou distrair-se com a

57
Professor da PUC Minas em Poços de Caldas, mestre em Filosofia pela PUC Campinas e doutorando
em Educação pela UNESP Rio Claro. E-mail: profsepinipuc@gmail.com.
58
Bacharel em Direito pela PUC Minas e Gestora Cultural pelo IFSULDEMINAS. E-mail:
ma_lac@hotmail.com.
59
PETIT, Michèle. Os jovens e a leitura: uma nova perspectiva. São Paulo: Ed. 34, 2008.

84
leitura; 6% referiram-se à melhoria na ortografia e no vocabulário e 3% à leitura como
um desafio diante da pouca escolaridade e da limitada compreensão do texto. A
categoria mais expressiva revela que o leitor se sente provocado pela leitura ao ponto de
ser levado a uma reflexão sobre sua história de vida, sobre sua condição e as
possibilidades futuras; Nos dizeres de Paulo Freire (2003.p.15 e 20)60: “(...) a leitura da
palavra, da frase, da sentença, jamais significou uma ruptura com a ‘leitura’ de mundo.
(...) A leitura de mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura dessa implica a
continuidade da leitura daquele.”. A segunda categoria mais expressiva revela a
conscientização do leitor em relação à aquisição de novos conhecimentos durante a
prática de leitura. Já asseverava Margarida Palácio (1987)61 que a leitura deve ser vista
como habilidade linguística, percebendo a relação existente entre fala, leitura e a escrita,
e suas multiciplicidades de fatores que intervém no processo destas aprendizagens como
a aquisição do conhecimento, desenvolvimento emocional, evolução de seu processo de
interação social. A terceira categoria mais expressiva revela que a leitura no presídio
atende ao anseio dos reeducandos de exercer atividades diárias que possibilitem um
melhor aproveitamento do tempo. As outras categorias de menor expressividade,
referem-se à questões pragmáticas e dificuldades encontradas no processo de leitura.
Conclui-se portanto, que a leitura no presídio de Poços de Caldas – em consonância
com os autores estudados – tem proporcionado uma experiência de reflexão, busca de
significados e aquisição de novos conhecimentos, para além da remição da pena.

60
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo, Cortez, 2003.
61
PALÁCIO, Margarida Gomes. Os processos de leitura e de escrita. Porto Alegre, Artes Médicas, 1987.

85
Vem Cuidar! Promoção da saúde e a cidadania do idoso institucionalizado

Alexandre da Costa62

Palavras-chave: Sociedade; envelhecimento; cidadania; idoso institucionalizado;


exclusão.
Há uma unanimidade entre os pesquisadores, gestores sociais e políticos que o aumento
da população idosa está evidente. Nos países como o Brasil esta preocupação é maior
ainda, pois este aumento populacional acontece no contexto de grande desigualdade
social. O projeto extensionista que apresentamos, com o título Vem Cuidar! Promoção
da saúde e a cidadania do idoso institucionalizado, desenvolve um trabalho com idosos
institucionalizados dentro da perspectiva da promoção da saúde e da cidadania, onde
eles são identificados com sujeitos históricos levando em consideração sua cultura,
sentimentos e questionamentos. Este direcionamento do projeto é muito importante
dentro de um contexto capitalista onde houve uma perda do valor social do idoso
tornando-o elemento descartável de um sistema que singulariza a capacidade produtiva
em detrimento de outras dimensões do humano, deixando em segundo plano o modo de
ser e estar do idoso na sociedade. Assim sendo, este projeto tem como objetivo
promover a saúde integral e a cidadania do idoso institucionalizado, na Vila Vicentina
Elvira Dias de Poços de Caldas, a fim de se ter um envelhecimento ativo e saudável. A
metodologia adotada é a da ação comunitária, pois acreditamos que esta seja a melhor
forma de atuar na Instituição Vila Elvira Dias, uma vez que professores e alunos
buscam cooperar na melhoria da qualidade de vida de uma comunidade muito específica
através de diversas ações. Dentro da perspectiva de que estas ações cooperativas
despertem em todos os envolvidos consciência participativa e critica, embasado na
alegria, na partilha e na acolhida. O projeto teve inicio em fevereiro de 2016; e
semanalmente são realizadas oficinas sobre higiene pessoal; integração grupal;
integração dos moradores da Vila com seus familiares e amigos; é trabalhado a memória
através de oficinas e jogos; passeio em pontos turísticos de Poços de Caldas; trabalho de
humanização e acolhimento com os profissionais que lidam com os idosos; Criação de
um coral musical com os idosos e ampliação da horta . O projeto inclui alunos de
variados cursos, tais como Administração, Enfermagem, Psicologia, Fisioterapia,
Engenharia de Produção e Medicina Veterinária; na perspectiva de ampliar o
compromisso universitário, nas várias áreas de seus cursos de acordo com seus Projetos

62
Professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Campus poços de Caldas e coordenador
do projeto de Extensão Vem cuidar! Promoção da saúde e da cidadania do idoso institucionalizado.

86
Pedagógicos, na atenção a este grupo socialmente vulnerável e estreitar os vínculos para
ações conjuntas com entidades que atuam com a promoção da saúde, assim como com
movimentos comunitários; além de contribuir concretamente com ações que melhorem
a capacitação profissional de nossos estudantes e professores e a formação humana e
cidadã entre o público atendido e assim tornar realidade os princípios extensionistas da
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

87
Bullying na escola: a percepção de um grupo de alunos do 9º ano do Ensino
Fundamental de uma escola pública em Poços de Caldas

Verônica Danziger Gomes63

Palavras-chave: Violência social; violência na escola; fenômeno Bullying.


Este estudo é resultado da pesquisa que teve como objetivo verificar a percepção de um
grupo de alunos do 9º ano do Ensino Fundamental sobre a incidência ou não do
fenômeno Bullying na escola. Iniciou-se com a revisão bibliográfica sobre o tema
seguida de uma pesquisa de campo. Este projeto demanda a compreensão e a
diferenciação dos tipos de violência na sociedade, na escola e a definição do fenômeno
bullying, bem como a caracterização dos envolvidos nas situações de violência,
denominados como sujeito alvo, e/ou autores e testemunhas. Na sequência o estudo
também aborda as implicações do fenômeno para suas vítimas, apresentando os
transtornos psíquicos e comportamentais que podem ser agravados, dentre eles, a
depressão, fobias, transtornos alimentares, ansiedade e o suicídio. Ao final, foram
apresentadas estratégias de intervenção e prevenção à violência, com ênfase ao bullying
na escola. A coleta de dados foi realizada através de questionários semiestruturados
aplicados ao um grupo formado por 10 sujeitos do 9ª ano do Ensino Fundamental de
uma escola pública de Poços de Caldas, selecionados a partir da autorização concedida
pelos responsáveis, por se tratarem de menores de idade. Ao final, utilizou-se da análise
quantitativa dos dados e da abordagem qualitativa para compreender as respostas dos
alunos sobre a incidência do bullying na escola. Conclui-se que apesar dos jovens
possuírem informações suficientes para sugerir a redução do fenômeno nas escolas, o
tema ainda é menosprezado pelos jovens que, ao assumirem a postura de agressores,
justificam os atos como habituais brincadeiras próprias da idade.

63
Graduanda do 8º período do curso de pedagogia da PUC Minas, campus Poços de Caldas. E-mail:
veronicadanziger@gmail.com.

88
A natureza na tela do cinema 3D: uma análise das possibilidades e contradições do
filme Avatar a partir da Teoria Crítica

Adriano Pereira Santos64


Janaina Roberta dos Santos65

Palavras-chave: Natureza; Teoria Crítica; cinema.

Nas últimas décadas, com a crise ambiental e a emergência do “discurso verde” e do


“capitalismo verde”, o ideário do desenvolvimento sustentável passou a ser utilizado
pelos grandes veículos de comunicação, TV, Rádio, Internet e até mesmo o cinema,
como forma de construir o discurso da empresa socialmente responsável e
ecologicamente correta. A indústria cultural, nesse sentido, ocupa lugar de destaque na
difusão dos produtos culturais a serem consumidos, como é o caso do cinema, que não
só reproduz rigorosamente o mundo da percepção cotidiana, mas que, quanto maior a
perfeição com que suas técnicas duplicam os objetos empíricos, mais fácil se torna obter
a ilusão de que o mundo exterior é o prolongamento sem ruptura do mundo que se
descobre no filme. O cinema termina por exibir uma reprodução estereotipada da vida,
criando ilusões e ditando padrões a serem reproduzidos pelas pessoas por meio de uma
tendência à espetacularização. Atualmente, é possível observar, que as grandes
produções cinematográficas empregam novas tecnologias projetadas para conferir cada
vez mais realidade às sensações do expectador, oferecendo-lhe a possibilidade de
“entrar no filme”, “sentir o filme”, “fazer parte do filme”. Essa tecnologia chamada de
3D (terceira dimensão) oferece ao indivíduo, a sensação de participar do filme, tornando
as imagens mais próximas e muito reais à sua percepção. Considerando, nessa
perspectiva, as contribuições críticas das análises de Adorno; Horkheimer (1985) sobre
a Indústria Cultural, Walter Benjamim (1994) sobre a obra de arte na época da
reprodutibilidade técnica, e a Filosofia da sensação de Türcke (2010), o presente
trabalho tem por objetivo discutir as possibilidades e as contradições do cinema 3D,
tomando como objeto de análise o filme Avatar (2009) que foi não só um dos filmes
mais caros da história do cinema, porque um dos primeiros a ser filmado totalmente
com a tecnologia 3D, reproduzindo, portanto, a lógica da indústria cultural, ou seja, da
cultura como mercadoria, mas também, porque, no contexto em que o debate sobre a
crise ecológica se amplia e se aprofunda, suscitou diversas discussões em torno da

64
Professor de Sociologia do Instituto de Ciências Humanas e Letras, UNIFAL-MG. E-mail:
adriasantos81@gmail.com;
65
Professora do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas do Instituto de Recursos Naturais,
UNIFEI. E-mail: jrsantos200@gmail.com

89
questão ambiental, problematizando a nossa relação e percepção sobre a natureza na
sociedade contemporânea.

90
MESA 3

Filosofia, Educação, Cultura, Ética e Sociedade

91
A educação emancipatória e a superação da barbárie em Adorno (1903-1969)

Paulo César de Oliveira66

Palavras-chave: Filosofia; educação; Adorno.


Esta comunicação analisa, a partir do pensamento de Theodor Adorno, a questão da
emancipação no processo educacional. A educação deve, simultaneamente, evitar o que
ele chama de “barbárie” e buscar a emancipação da pessoa. Entende-se, por barbárie, o
impulso de destruição que o homem traz consigo. Esse impulso manifesta-se nas
diversas formas de agressividade que percebemos no cotidiano e pode chegar a
situações extremas, como os campos de extermínio da Segunda Grande Guerra
Mundial. A educação autoritária não consegue evitar as possibilidades destrutivas que o
homem traz consigo; por isso, Adorno propõe uma educação “emancipatória”. Esse
modelo educacional evita a repressão, se distância da reprodução tecnicista e focaliza o
aspecto produtivo da vida humana. Em outras palavras, a educação “emancipatória”
pensa a sociedade e a educação distanciando-as do caráter industrial a que é submetido a
cultura. A partir dessa perspectiva, o processo educacional pode favorecer a formação
de sujeitos críticos e emancipados; sujeitos capazes de “domesticar” o impulso
destrutivo que lhes é inerente. Desse modo, a educação forma pessoas autônomas e
contribui para que não se repitam barbáries.

66
Professor de Filosofia da Universidade Federal de Alfenas – MG. E-mail: deoliveirapc@yahoo.com.br.

92
A reversão dialética da tecnologia digital e a emancipação da consciência no rap

Monica Guimaraes Teixeira do Amaral67

Palavras-chave: reprodutibilidade técnica e emancipação - reversão dialética e


tecnologia digital – rap e experiência formativa juvenil
Este trabalho tem o objetivo de retomar um antigo debate entre os filósofos Walter
Benjamin (1936) e Theodor Adorno (1938) sobre as contradições e ambiguidades
inerentes ao avanço da reprodutibilidade técnica, na época - que nos anos 30 restringia-
se ao cinema e à rádio - e demonstrar como muitos dos aspectos levantados por esses
autores adquirem força e atualidade para pensar o modo como os rappers têm se
apropriado dos avanços da tecnologia digital com fins emancipatórios. Procurar-se-á
acompanhar os desdobramentos desse debate a partir de um artigo de Adorno (1955) em
homenagem póstuma ao amigo, em que reconhece a radicalidade do pensamento
estético e filosófico de Benjamin e de outro, sobre o filme (1967), em que identifica
algo de liberador quando a técnica é utilizada como “reposição objetivadora de uma
experiência”. A partir deste debate, propõe-se uma leitura contemporânea da função da
música e do cinema nos clipes e músicas dos Racionais MC’s, orientada pelas ideias de
reversão dialética de Benjamin e de emancipação da consciência de Adorno.

67
Profa Livre-Docente da Faculdade de Educação da USP.

93
Conhecer e aprender a viver: reflexões acerca do fazer filosófico

Adriana Andrade de Souza68


Giseli do Prado Siqueira69

Palavras-chave: Filosofia; exercício espiritual; prática.

Este trabalho parte da hipótese de que o fazer filosófico não é somente uma atividade
intelectual, mas uma maneira de viver que transforma o ser daquele que o realiza. Esta
hipótese está fundamentada na análise de Pierre Hadot, em sua obra intitulada
“Exercícios Espirituais e Filosofia Antiga”. Segundo Hadot, a filosofia antiga era um
exercício espiritual, ou seja, um modo de viver, de enfrentar a existência. O termo
espiritual confere um sentido todo próprio a este exercício e nos permite entende-lo não
só como uma obra puramente teórica, mas como uma vivência concreta. A tarefa que se
impõe para nós é a de tentar problematizar este resgate da filosofia enquanto uma
prática, um fazer, uma atividade.

68
Doutora em Ciência da Religião pela UFJF. E-mail: driansou@bol.com.br.
69
Doutora em Ciência da Religião/ UFJF, professora da PUC Minas, campus de Poços de Caldas. E-mail:
giseli@hotmail.com.

94
O silêncio que incomoda: uma reflexão sobre alunos de uma escola pública

Gláucia Gonzaga Galvão70


Luzia Batista de Oliveira Silva71

Palavras-chave: Sociedade; segregação sociocultural; exclusão.

Por que o silêncio e o medo de mudar? O que leva muitos alunos de escolas públicas,
que vivem à margem da sociedade, se manterem em conformidade com o papel social
que lhes são impostos? Estes são os principais questionamentos feitos para iniciar os
estudos através de observações em uma escola pública municipal na cidade de Juiz de
Fora, MG. A instituição de ensino atendia, prioritariamente, alunos que tinham no
mínimo três anos de reprovação no 6º ano do Ensino fundamental, que, pelos mais
diversos motivos, não se adequavam às normas impostas pelas instituições de ensino e
pela sociedade mas que gritam por socorro em um profundo silêncio. Durante quatro
anos de convivência pudemos evidenciar que estes alunos apresentam algumas
características em comum. Quando chegaram à referida escola carregavam consigo uma
grande conformidade com relação à sua posição social e cultural: excluídos,
marginalizados e sem perspectiva de um futuro digno. Caracterizados também, pelo
medo de lutar, pelo medo de enfrentar a realidade social na qual viviam. Meninos que
carregavam consigo uma mágoa e uma dor proporcionadas pela frieza e ódio emanado
pela sociedade o que, perante nosso olhar, acarreta no aluno o medo de questionar, de
lutar, de mudar. Particularidades estas, já incrustadas, cujo pedido de socorro afloravam
à pele através de gestos, na palavra, pela forma de olhar, pela forma de portar,
comportamentos estes que, por certo, agravavam ainda mais a segregação cultural e
social. Propomos, neste trabalho, uma reflexão sobre a dor, o medo e a falta de coragem
de mudar destes alunos silenciados, que retratam a figura da hipocrisia estabelecida por
parte da sociedade. Para compreendermos melhor a relação de suas experiências,
dialogamos, nomeadamente, com Walter Benjamin (2012), Jorge Larrosa (2015) e Jean
Marie Gagnebin (2006).

70
Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade São Francisco – Itatiba –
São Paulo – Brasil. E-mail: glauciaggg@yahoo.com.br.
71
Docente do Programa de Pós Graduação Docente do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em
Educação da Universidade São Francisco – Itatiba – São Paulo – Brasil. E-mail: lubaos@gmail.com.

95
A alegoria platônica do anel de Giges e as implicações do uso de câmeras de
segurança no âmbito do direito e da moral.

Fernanda Israel Pio 72


Virgílio Diniz Carvalho Gonçalves 73

Palavras-chave: Platão; anel de Giges; câmeras de segurança; direito; moral.

O problema de pesquisa nos leva a interpretar juridicamente a alegoria platônica do anel


de Giges como forma de lançar luz à discussão a respeito da legitimidade – para a
conduta jurídica e a conduta moral – da utilização de câmeras de segurança de
monitoramento de possíveis comportamentos ilícitos dos indivíduos na sociedade. A
fim de responder o questionamento a respeito de suas implicações no âmbito do direito
e da moral. Para tais fins, tanto a visão da filosofia quanto da filosofia do direito a
respeito da obra de Platão são trazidas. O método utilizado foi o dedutivo, com
fichamento crítico da obra platônica, bem como de referências ligadas à utilização de
câmeras e a relação entre o comportamento social entre o público e o privado no
contexto da utilização de novas tecnologias de monitoramento. Quanto às implicações
do uso de tal tecnologia, a hipótese inicial de que traria influência positiva no âmbito
jurídico foi reforçada pelo discurso Platônico, sobretudo pela relação estabelecida entre
a conduta de Giges que, ao se encontrar em uma condição de invisibilidade, modificou
sua conduta antes considerada justa para uma conduta que busca ascensão social por
intermédio da força. Outro ponto importante da relação entre o mito e o uso de câmeras
é a referência, ao final da República, ao mito de Er, que reforça a conduta moral apoiada
na existência de um ser divino e onisciente. O argumento à época de Platão poderia ser
interpretado como uma maneira de justificar a conduta moral através da “ilusão”, como
feito previamente ao estabelecer mitos que sustentassem a organização da “cidade
perfeita”. Contemporaneamente, no entanto, a figura de uma divindade que tudo vê está
cada vez mais presente, não de forma mítica, mas por meio da tecnologia de
monitoramento. A visibilidade constante, no entanto, não é suficiente para a imposição
de uma conduta moralmente correta, há no contexto do mito de Er outro elemento, a
punição. A certeza da punição seria uma forma de “incentivar” a conduta moralmente
desejável. E neste ponto o Direito complementa esta estrutura de controle e punição, já
que em nossos dias, em uma sociedade secularizada, apenas as normas jurídicas – e não
mais as morais – podem impor sanções diretas ao comportamento humano. O Direito,

72
Graduanda do curso de Direito da PUC Minas, campus de Poços de Caldas. E-mail:
fernandaisraelpio@hotmail.com
73
Mestre pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e professor do Programa de Graduação
da PUC Minas, Poços de Caldas. E-mail: virgilio@pucpcaldas.br

96
portanto, na medida em que pune com o auxílio dos mais variados instrumentos de
controle e observação, contribui para a diminuição dos delitos e consequentemente à
reflexão com relação à conduta delituosa. As câmeras, assim, apresentam-se como
elemento positivo para o Direito, por auxiliar na sua tarefa de controle e identificação de
atividades delituosas. Para a moral, sua utilização é positiva quando associada ao
Direito, visto que, a pura observação das atividades cotidianas não teria influência
alguma sob a conduta se não houvesse o aspecto repressivo e punitivo do Direito que
complementam de maneira contemporânea a figura punitiva expressa pela divindade do
mito de Er. Como para Giges, a invisibilidade foi o fator decisivo para a mudança de
comportamento, principalmente por retirar o aspecto punitivo que sua conduta traria se
fosse presenciada ou registrada, para o cidadão contemporâneo, a perda da
invisibilidade, através de mecanismos e dispositivos de fiscalização, asseguram a eficaz
observância da ordem jurídica. Referências: PLATÃO. A República, introdução,
tradução e notas de Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian, 1949. KANASHIRO, Marta. Surveillance Cameras in Brazil: exclusion,
mobility regulation,and the new meanings of security. Surveillance & Society. 5(3). p.
270-289. 2008. Disponível em: http://www.surveillance-and-
society.org/articles5%283%29/brazil.pdf MELGAÇO, Lucas. Estudantes sob
controle: a racionalização do espaço escolar através do uso de câmeras de
vigilância. O Social em Questão – Ano XV – nº 27, 2012. SOUSA, Luciano Dias. O
comportamento social entre o público e privado na era digital. Revista Ícone.
Volume 12, agosto de 2013.

97
Habilidades de pensamento na aula de Filosofia

João Bosco Fernandes74

Palavras-chave: Habilidades; pensamento; Filosofia.


Geralmente alunos de graduação não veem com bons olhos em seus cursos a disciplina
de filosofia, com exceção dos discentes de graduação em filosofia que se sentem
naturalmente motivados para o estudo dessas matérias. Por conta disso, o objetivo dessa
pesquisa consiste em relacionar a aula de filosofia com a prática consciente de uma
"educação para o pensar", – expressão utilizada no contexto lipmaniano – dando aos
professores de filosofia recursos metodológicos e justificativas consistentes para o
desafio do desenvolvimento das habilidades de pensamento.

74
Mestre em Filosofia e doutor em Ciências da Religião. E-mail: boscofernandespuc@bol.com.br.

98
Hiphopnagô: letramentos rítmicos e sonoros

Cristiane Correia Dias75


Maria Teresa Loduca76

Palavras-chave: Educação e hip hop; música e dança; descolonização do currículo.

Este trabalho tem o objetivo de apresentar as reflexões suscitadas pelas atividades em


sala de aula em docência compartilhada entre professores e artistas. A observação sobre
as atividades realizadas com alunos adolescentes tem como propósito criar novos
métodos de letramentos fundamentados na valorização do corpo e do ritmo, elementos
característicos da cultura de matriz africana, identificados nas expressões estéticas no
movimento hip hop e no funk. A ideia é justamente inverter a ordem priorizada pela
cultura escolar - que tende a sobrepor a linguagem escrita à linguagem oral - de maneira
a repensar sob novas bases a formação do jovem morador da periferia. Neste sentido, o
hip hop codifica a linguagem escrita e a transforma nas diversas formas de letramentos
do corpo, como ressignificação de uma afromemória, considerando os letramentos como
práticas sociais. O movimento hip hop é uma agência de letramentos que possibilita aos
jovens descobrirem suportes escritos. Para Souza (2011), o hip hop mostra-se um
inventor de tradições, por recriar toda a história negada aos afrodescendentes ao longo
de séculos, desde a chegada dos africanos ao Brasil. Considerando-se as dificuldades
dos processos de apropriação da linguagem escrita diagnosticados atualmente nas
escolas da rede pública, relacionadas fundamentalmente ao grande distanciamento da
cultura escolar em relação à de seus alunos, evidenciou-se a necessidade de pesquisar
novas situações didáticas, em que se priorizem linguagens cujas formas de expressão
estéticas estejam pautadas pela linguagem oral. A partir da oralidade se teria acesso à
linguagem escrita. Portanto, utilizar a estética do hip hop é enfrentar as dificuldades dos
processos de aquisição da linguagem escrita formal.

75
Mestranda pela Faculdade de Educação da USP. E-mail: slc.cris@hotmail.com.
76
Mestranda pela Faculdade de Educação da USP. E-mail: tecatrompa@gmail.com.

99
Redes sociais, alunos e professores: a expressão virtual do ressentimento real

Marsiel Pacífico77

Palavras-chave: Indústria Cultural; tabus; redes sociais; professor; aluno.


Este trabalho se desenvolveu com o objetivo de investigar as manifestações aversivas e
afetivas do alunado em relação ao mestre, conceito que foi originalmente apresentado
por Theodor W. Adorno em suas reflexões sobre os denominados Tabus, com o enfoque
específico nesta pesquisa, para a análise dos objetos que se oferecem socialmente como
veículos de expressão dos sentimentos velados pela própria ontologia dos tabus. Como
se pode identificar ao longo da história da educação, os tabus não são um fenômeno
moderno, e ao longo dos tempos, os ressentimentos em relação ao professor foram
expressos de diferentes formas. A voz do ressentido, que sente a necessidade imanente
de externalizar suas mágoas, é costumeiramente calada pela relação de poder existente
entre o aluno e o professor pautada na falta de diálogo, sendo que o aluno
majoritariamente só expressará seu ressentimento, ao reproduzir os atos que o levaram a
tal desgosto em outro companheiro ou em um aluno mais novo, fazendo com que a
expressão do ressentimento seja o próprio ato da réplica caricata das práticas
pedagógicas que geram tal situação. Porém, atualmente um novo campo para a
expressão dos alunos se faz presente no espaço virtual, através das redes sociais virtuais,
no qual se destaca o Facebook. Podemos observar nos tempos atuais como a revolução
tecnológica e sua dinamicidade colossal, sobretudo nos avanços relativos à revolução
microeletrônica, fazem parte de nossas vidas de modo tão indissociável que torna-se
inconcebível pensar como seriam nossos dias sem todo aparato tecnológico que nos
cerca. Neste contexto, que encontra força motriz na enxurrada de estímulos audiovisuais
que são descarregados incessantemente sobre os internautas, marcar a própria existência
não poderia ter outra forma, a não ser um existir virtual fundamentado sobre uma
imagem construída de si; a grande evolução proporcionada pelos sites de
relacionamento que hoje tem bilhões de usuários ao redor do mundo, em relação aos
chats e comunicadores instantâneos, é a implementação da imagem como centro da
construção de sua identidade virtual. A frequência dos choques imagéticos é a
personificação mais latente e astuciosa da dinâmica de estímulo ao consumo capitalista,
que enquanto processo alienante, desperta as compulsões necessárias ao

77
Pedagogo (UFSCar 2006-2009), Especialista em Educação (FAVENI 2015-2016), Mestre em
Educação (UFSCar 2010-2012) e Doutorando em Educação (UFSCar), desenvolve pesquisas na área de
Teoria Crítica e Educação, com ênfase nos temas Indústria Cultural, Subjetividade, Infância e Experiência
Formativa. Atualmente é Diretor Escolar pela Prefeitura de São Carlos, onde também atua como docente
de Pós Graduação pela Faculdade Campos Elíseos, além de ser professor substituto na UNESP
Araraquara no Departamento de Didática. E-mail: marsiellp@gmail.com.

100
desenvolvimento de necessidades convenientes a lógica da produção. Tal processo
culmina em indivíduos que sentem a necessidade compulsiva de se constituírem tal qual
a lógica vigente, produzindo sua imagem em natureza idêntica, sobretudo com a
compulsão principal que é o escopo de toda a vida virtual, ou seja, a necessidade
obsessiva de estar sendo percebido. A necessidade de ser percebido é cobiçada pelo
internauta não somente pela imagem que ele projeta em seu avatar, mas também na
unificação de perfis em torno de um tema comum, os chamados grupos. Esses grupos
procuram reunir indivíduos que tem alguma ligação com o tema chave do círculo social,
que não tem restrições nem política funcional pré definida. Os temas variam
demasiadamente visto a abertura de possibilidades, ao ponto de ser difícil imaginar um
tema que não esteja mencionado em nenhum espaço virtual. Dentro de uma variedade
tão grande, não poderiam faltar grupos que tratem da relação professor-aluno. Os temas
relacionados aos mestres variam entre algumas categorias, como homenagens a
determinados professores, grupos de discussões entre os profissionais docentes entre
outras; mas a tônica destes círculos parece ser mesmo calcada no ressentimento do
alunado. Além de serem mais numerosos, grupos que destilam rancor contra os mestres
também são mais populares. As comunidades citadas, assim como muitas outras do
mesmo gênero tem a criação de inúmeros tópicos diários, onde os alunos podem
expressar seu rancor contra os professores. Pudemos observar como tais conteúdos em
diferentes coletividades guardam características gerais bastante similares, e tal padrão é
um importante objeto de análise para que se possam compreender os motivos subjetivos
e objetivos, engendrados na relação professor aluno, que impulsionam os discípulos a
participarem destas sessões coletivas de zombaria de seus mestres. Para a compreensão
dos fenômenos estabelecemos leituras alicerçadas a partir dos componentes da Escola
de Frankfurt, sobretudo Theodor W. Adorno e suas observações sobre as representações
aversivas em relação aos professores, os chamados “tabus”. Para tal foram selecionadas
três leituras deste autor: “Tabus a respeito do professor”; “Zur Psychologie des
Verhältnisses von Lehrer und Schüler” (“Sobre a psicologia do relacionamento entre
professores e alunos”), e todos os capítulos do livro: “Educação e Emancipação”.
Posteriormente realizamos um estudo profundo sobre a história da educação através da
leitura da “História da Pedagogia” de Cambi e do compêndio do autor Mario A.
Manacorda “História da Educação – da Antiguidade aos nossos dias”, com enfoque no
processo histórico formativo dos tabus, visto que é notável a presença de aversões e
afetividades desde o primórdio da educação formal, ocupando ao longo da história
vários espaços diferentes, com diferentes identidades e forças de expressão.
Posteriormente trouxemos de Nietzsche o conceito histórico do ressentimento, visto que
tal sentimento está constantemente presente nos tabus entre mestres e alunos, e nas
aversões que derivam de tal relação. Tendo em conta a importância que esta pesquisa
atribuiu às representações psíquicas, considerando que o processo de idealização do
aluno em relação ao mestre mostrou-se uma constante na investigação dos tabus, foi
necessário estabelecermos uma análise psicanalítico-freudiana de Superego, do Ideal de
Ego e Consciência Moral. Por fim fizemos o levantamento e catalogação dos grupos
virtuais que tinham como temática a relação de aversão e afetividade com os mestres,
onde analisamos o conteúdo das postagens à luz do repertório teórico citado.

101
O que pode e o que impede a educação pública?

Cleiton Donizete Corrêa Tereza78

Palavras-chave: Educação; sociedade; trabalho; juventude; democracia.


Durante os anos de 2014 e 2015, desenvolvemos uma pesquisa na Escola Estadual
Francisco Escobar, localizada no bairro Vila José Carlos, próximo ao centro da cidade,
em Poços de Caldas-MG. Chegamos à Escola através de um projeto de pesquisa que
teve início em 2011, sobre a greve dos professores poços-caldenses em 1979, e que
resultou em uma dissertação em nível de mestrado. Trabalhando com o método
regressivo-progressivo, formulado pelo filósofo francês Henry Lefebvre, a pesquisa de
caráter interdisciplinar, envolveu esforço de entendimento dos conflitos e dificuldades
presentes na educação pública, analisando a Escola a partir de uma perspectiva de
organicidade das relações e do espaço. No percurso regressivo, a greve dos educadores
de 1979 significou um movimento fundamental para a compreensão dos desafios
contemporâneos, considerando-se o contexto de transformações políticas e econômicas,
e a emergência de novos atores sociais. O estudo cuidadoso da greve, apoiado por
expressiva documentação, envolvendo reportagens de jornal, boletins informativos,
correspondências e entrevistas, com um olhar atento ao cotidiano, possibilitou a
elucidação de questões relevantes sobre a educação e o trabalho em educação. A análise
que aqui apresentamos consiste nessa retomada das dificuldades presentes, que envolve
trabalho, educação, juventude e democracia, com a contribuição de autores que auxiliam
no entendimento da complexidade das problemáticas e das possibilidades que envolvem
as vivências e aprendizagens na escola pública. O regimento interno, o projeto político
pedagógico, os documentos oficiais do estado de Minas Gerais, as entrevistas, os
questionários e as esclarecedoras visitações, acompanhando aulas, recreios e projetos,
permitiram pensar a Escola, sua trajetória, seus percalços e afetos, que limitam ou
alargam o horizonte. Nessa reflexão, a necessidade de participação, ressignificação,
criticidade e apropriação, expressas por alunos, profissionais e gestores, enfatizaram a
necessidade de ampliação e valorização da democracia para a garantia de melhorias em

78
Professor de História da rede municipal de Poços de Caldas e da rede estadual de Minas Gerais,
especialista em Planejamento, Implementação e Gestão da Educação a Distância pela Universidade
Federal Fluminense (UFF), especialista em História Contemporânea pela Pontifícia Universidade Católica
de Minas Gerais (PUC Minas) e mestrando no programa Humanidades, Direitos e Outros Legitimidades,
no Núcleo de Estudos das Diversidades, Intolerâncias e Conflitos da Universidade de São Paulo
(DIVERSITAS-USP). E-mail: cleitondct_@hotmail.com.

102
contraposição às normatizações estatais alienantes e às violências engendradas pela
lógica de operacionalização na sociedade burocrática de consumo dirigido.

103
A ação social e a ampliação do conhecimento do mundo: relato de experiência de
alunos/as universitários/as da PUC Minas, campus Poços de Caldas

Vanessa Thais de Oliveira Lima79


Antônio Marcos Dias Vieira80
Diego Lopes Calçado81
Ana Maria Brochado de Mendonça Chaves82

Palavras-chave: Educação; ação social; formação intelectual.


O projeto “Educando para a Paz” é uma ação formativa de cunho social que busca a
interação entre discentes (voluntários/as) do Curso de Relações Internacionais (campus
Poços de Caldas) e alunos/as de escolas públicas do Ensino Médio em Poços de Caldas,
promovendo a troca de saberes, notadamente sobre temas cotidianos, favorecendo a
reflexão e entendimento de questões relevantes para a formação intelectual e aquisição
de capital cultural de ambos os grupos e o conhecimento e reflexão sobre temas
contemporâneos de alcance mundial, em vários campos do saber, objetivando a
consolidação de valores como a paz e a dignidade humana. De caráter extensionista, o
projeto propicia, aos discentes, o aprofundamento na reflexão sobre problemáticas
sociais a partir do compartilhar de extratos de textos de autores como Hannah Arendt,
Pierre Bourdieu, Paulo Freire, Milton Santos e Otávio Ianni. O trabalho, neste sentido,
buscou compreender os impactos na formação intelectual e na ampliação de
“conhecimento do mundo” dos/as universitários/as voluntários/os no projeto, na
perspectiva dos mesmo/as, a partir de relatos não estruturados. Discute-se, no trabalho, a
importância das ações sociais como instrumento de formação intelectual, aquisição de
capital cultural e o conhecimento de realidades socioculturais complexas e diversas para
estudantes de graduação.

79
Mestre em Economia Política Internacional /UFRJ, docente da PUC Minas, campus Poços de Caldas.
E-mail: vtolima@gmail.com.
80
Graduando em Relações Internacionais da PUC Minas, campus Poços de Caldas; monitor do Projeto
“Educando para a Paz”. E-mail: ri.marcosvieira@gmail.com.
81
Graduando em Relações Internacionais da PUC Minas, campus Poços de Caldas; monitor do Projeto
“Educando para a Paz”. E-mail: diegocalcado@outlook.com.
82
Doutora em Educação/USP, docente da PUC Minas, campus Poços de Caldas. E-mail:
ambmchaves1@uol.com.br.

104
Epistemologia multicultural e a questão do sujeito em Charles Taylor

Willian Martini83

Palavras-chave: Multiculturalismo; epistemologia; identidade.

As propostas de reformas educacionais com base na identidade coletiva ou em alguma


epistemologia de grupo geraram debates acirrados no cenário internacional (mais
acentuadamente nos Estados Unidos e no Canadá), principalmente na década de 1990.
As reivindicações nesse âmbito foram construídas pelos multiculturalistas84 a partir de
abordagens interdisciplinares, sendo que os argumentos usados conectam sociologia,
antropologia, estudos culturais, psicologia, filosofia, educação e áreas afins. Os seus
esforços tiveram por objetivo combater as concepções mais tradicionais do
conhecimento e denunciar os fatores casuais e discriminatórios que muitas vezes
aparecem sob a alcunha de “critérios de universalidade”. Argumentou-se, por exemplo,
que as pesquisas realizadas na área da educação sofriam “inclinações raciais” e que isso
poderia nos levar a uma nova categoria de racismo85; outros sustentaram que diferentes
grupos na sociedade possuem diferentes perspectivas e epistemologias (como a da
mulher negra), mas que tais visões são suplantadas por epistemologias dominantes86;
outros defenderam ainda que os diversos itens culturais, tais como a língua, os mitos, as
memórias ancestrais, etc., fornecem um status epistêmico aos conhecimentos de grupo
que se assemelha ao modo como uma ciência fornece uma estrutura racional para suas
alegações de conhecimento87. Os opositores afirmam, no entanto, que tais defensores da
legitimidade de múltiplas perspectivas epistemológicas não estão fazendo algumas das
distinções elementares necessárias à epistemologia (tomada como disciplina filosófica).
Na forma de uma crítica genérica e aparentemente fulminante, alegou-se que existe aí
uma séria confusão entre os campos normativo e descritivo da epistemologia; além
disso, a maneira como os problemas são colocados não deixaria claro o modo como se
estabelece a distinção básica entre crença e conhecimento (crença verdadeira e

83
Mestrando do Programa de Pós-Graduação da UFSM. E-mail: willianmartini@hotmail.com
84
Cf. C. W. RUITENBERG; D.C. PHILLIPS (Eds.) Education, Culture and Epistemological Diversity:
Mapping a Disputed Terrain. Dordrecht, Netherlands: Springer, 2012. Esta coletânea contém um rico
debate entre autores de várias áreas, apresentando uma espécie de feedback das principais contendas
surgidas a partir do final dos anos 1980.
85
Cf. SCHEURICH, J., & YOUNG, M. Coloring epistemologies: Are our research epistemologies
racially biased? Educational Researcher, 1997, p. 4–16.
86
Por exemplo: COLLINS, P. H. Black feminist thought: Knowledge, consciousness, and the
politics of empowerment. New York: Routledge, 1990.
87
ASANTE, M. K. Kemet Afrocentricity and knowledge. Trenton: Africa World Press. 1990

105
justificada).88 Críticos ainda menos pacienciosos, como Steven Yates, atacam o
programa epistemológico dos multiculturalistas afirmando que este deve ser rejeitado
por ser logicamente incoerente, empiricamente inadequado e política e
institucionalmente contraproducente89. Diante deste quadro, vemos que uma agenda
parcialmente influenciada por teorias pós-modernas e que busca formas mais inclusivas
de abordar o conhecimento (sobretudo em relação a grupos minoritários), encontra
duras barreiras ao deparar-se com críticos mais cautelosos ou com aqueles que se
declaram os defensores dos cânones do pensamento ocidental90. Gostaríamos de mostrar
aqui que existem diversos mal-entendidos neste debate, alguns deles em razão de pontos
centrais não explicitados, os quais, se adequadamente trabalhados, podem contudo nos
dar suplementos suficientes para uma melhor compreensão da disputa. Nesse sentido,
nossa tarefa, à guisa de metodologia, é examinar algumas ideias e conceitos
fundamentais envolvidos no breve panorama exposto até agora. Isso pode ser feito na
observação do desenvolvimento histórico e das transformações que noções morais,
epistemológicas e ontológicas seminais para o Ocidente sofreram (em conjunto) desde a
modernidade até os dias de hoje, chegando-se assim até o atual debate acerca daquilo
que Charles Taylor chama de “política de reconhecimento”. A reflexão do presente
trabalho trilha um duplo caminho: por um lado, as linhas em defesa dos modelos mais
tradicionais da epistemologia vão mostrar-se fortemente vinculadas a um tipo de
narrativa e de concepção da sociedade (e de maneira mais importante, dos valores
associados a essa sociedade) que emergiu durante os processos atrelados à construção
do self moderno, sendo relevante para nossa discussão a caracterização feita por Taylor
do sujeito atomizado e desprendido como o pressuposto da epistemologia moderna, o
qual tornou obsoletas as velhas concepções religiosas e metafísicas – mas isso, não sem
o custo de uma redução do sujeito às suas funções intelectuais e cognitivas e uma
concomitante desvalorização dos fatores culturais e simbólicos da vida coletiva; por
outro lado, com tentativas nem sempre bem-sucedidas, os proponentes de diversas
linhas do multiculturalismo91 buscam difundir não só uma nova sensibilidade na forma
de reconhecimento e respeito aos outros, mas também interseccionar linhas de
investigação aparentemente incongruentes com o fim de superar algumas das maiores

88
LEVISOHN, J., & PHILLIPS, D. C. Charting the reefs: A map of multicultural epistemology. In C. W.
RUITENBERG & D. C. PHILLIPS (Eds.) 2012, p. 39– 63
89
YATES S. Multiculturalism and Epistemology. Public Affairs Quarterly, Vol. 6, No. 4 (Oct., 1992), p.
435-456.
90
SEARLE, J The Storm Over the University. The New York Review of Books, December 6, 1990;
BLOOM, A. The Closing of the American Mind. New York: Simon & Schuster, 1987. Searle e Bloom
são dois eminentes defensores dos cânones da ciência e da razão, por vezes tomados por teóricos
conservadores, fazem as críticas mais desdenhosas e também as mais duvidosas acerca das linhas de
pesquisas que se posicionam contrariamente a alguns postulados básicos da tradição ocidental.
91
Sobre as principais diferenças teóricas e ideológicas das correntes multiculturais ver: MARTINI, W. O
Multiculturalismo e as Divergências Teóricas no Debate Multicultural. Inquietude, Goiânia, vol. 5, no 2,
ago/dez 2014.

106
limitações das nossas pesquisas sobre diferenças culturais, atendendo assim a
reivindicações de “morais” locais e comunitárias sem no entanto debelar para um
relativismo facilmente objetável. Esclarecer alguns dos aspectos deste debate sobre
epistemologia multicultural à luz de algumas ideias centrais encontradas na obra de
Charles Taylor92 é, portanto, o propósito deste trabalho.

92
TAYLOR, C. Multiculturalismo e a política de reconhecimento. Lisboa: Instituto Piaget, 1994; As
fontes do self: a construção da identidade moderna. São Paulo, SP: Loyola, 2005; A ética da
autenticidade. São Paulo, SP: Realizações, 2011.

107
O discurso da democracia racial: um mito operante no contexto socioeducacional
brasileiro93

Caroline de Oliveira Rodrigues94


Francisco Rogerio de Oliveira Bonatto95

Palavras-chave: Preconceito racial; democracia racial; educação emancipatória.


Este estudo refere-se a uma pesquisa sobre o discurso da democracia racial no contexto
socioeducativo com apoio do Programa de Bolsas de Iniciação Científica da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais (PROBIC/PUC, 8043-1S), tendo por objetivos
compreender como se estabeleceram as práticas de preconceito racial ao longo da
história no Brasil; entender como a ideologia da democracia racial concorre para
permanência do preconceito racial; verificar a existência de práticas preconceituosas e
pseudodemocráticas raciais em relação aos afrodescendentes nas escolas e investigar as
intervenções dos professores para uma prática emancipatória frente ao preconceito
racial no contexto educacional. E como forma de alcançá-los, buscou-se respaldo tanto
na perspectiva teórica em estudos relacionados à antropologia, história, sociologia,
filosofia e educação, como na perspectiva prática através de entrevistas
semiestruturadas que foram realizadas com oito professores de três escolas da rede
pública de ensino do município de Poços de Caldas – MG. Deste modo, essa pesquisa
caracteriza-se como um estudo de caráter descritivo e qualitativo. Nela, trar-se-á para
discussão uma ideologia presente ainda hoje na sociedade brasileira que também
sustenta o preconceito racial, mesmo depois de declarada um mito: a democracia racial,
a qual afirma a inexistência de problemas raciais. O fato é que este discurso torna-se
uma barreira para o grupo negro em inúmeros aspectos. Daí ser então emergente o papel
da educação, na qual de maneira compromissada, crítica e reflexiva possa promover um
ensino capaz de superar os muros da escola e com isso cooperar para a promoção de
mudanças em relação a esta população. Logo, esta pesquisa empenhou-se em responder

93
Pesquisa financiada pelo Programa de Bolsas de Iniciação Científica da Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais – Brasil (PROBIC/PUC 8043-1S 2013-2014).
94
Graduada em Pedagogia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (2013) e Pós-graduada
em Gestão de Políticas Públicas com ênfase em Gênero e Relações Etnorraciais pela Universidade
Federal de Ouro Preto (2016). E-mail: carolrodrigues1991@bol.com.br.
95
Licenciado em Pedagogia e Filosofia pela Faculdade Salesiana de Filosofia, Ciências e Letras de
Lorena (1978), bacharel em Teologia - Università Pontificia Salesiana (1984), Mestre em Ciências da
Educação - Università Pontificia Salesiana (1986) e Doutor em Psicologia Social pela Universidade de
São Paulo (1998). E-mail: rogeriobonatto@pucpcaldas.br.

108
se os professores do sistema educacional público do município de Poços de Caldas -
MG estariam trabalhando para uma educação emancipatória, de forma a contribuir para
o desmascaramento da democracia racial e, consequentemente no rompimento com
práticas preconceituosas para com negras e negros. Questão esta que esse trabalho,
buscando resposta, pôde concluir que, por estarem também as escolas condescendidas
pela ideologia da democracia racial, a ação docente ainda necessita ressignificar suas
práticas, entendendo a existência do preconceito racial e seus males para que possam
contemplar também o aprendizado para a vida, visando com isso alcançar a real
democracia racial em âmbito educacional e social.

109
Espiritualidade e interfaces: resultados de pesquisa realizada com universitários
da PUC Minas, campus Poços de Caldas

Alessandra Valim Ribeiro96


Giseli do Prado Siqueira97
João Carlos Bastos Gonzaga98
Maria Izabel Ferezin Sares99

Palavras-chave: Religião; espiritualidade; universitários.


Este artigo baseia-se na pesquisa “Espiritualidade e suas Interfaces”, conduzida em
2016 por professores do Grupo de Pesquisa Filosofia, Religiosidade e suas interfaces da
PUC Minas, campus Poços de Caldas, com objetivo de descrever como os universitários
desse campus relacionam-se com a religião, como vivenciam a espiritualidade, qual o
posicionamento manifestado diante de questões sociais e ambientais. Com base no
levantamento realizado serão discutidos os resultados do Curso de Administração
visando compreender a realidade plural em que estão inseridos e os desafios de uma
educação que possibilite a formação integral de um gestor para o século XXI. Na
conclusão são indicadas peculiaridades locais em comparação com outros cursos da
universidade.

96
Mestrado em Administração/ USP, Professora PUC Minas, campus Poços de Caldas E-mail:
valim@pucpcaldas.br.
97
Doutorado em Ciência da Religião/UFJF, Professora PUC Minas, campus Poços de Caldas. E-mail:
giseli@pucpcaldas.br.
98
Doutor em Engenharia Química/ UNICAMP, Professor PUC Minas, campus Poços de Caldas. E-mail:
joaogonzaga@pucpcaldas.br.
99
Doutora em Engenharia de Produção/UMIMEP, Professora da PUC Minas, campus Poços de Caldas.
E-mail: sares@pucpcaldas.br.

110
Liberdade religiosa e laicidade: reflexões pautadas nos resultados de pesquisa com
universitários da PUC Minas, campus Poços de Caldas

Ana Maria Brochado de Mendonça Chaves100


Everaldo Clemente da Silva101
Juliana De Nardin102
Maria Teresa Mariano103

Palavras-chave: Liberdade religiosa; laicidade; universitários.


A presente comunicação tem por objetivo apresentar resultados parciais de uma
pesquisa realizada no primeiro semestre de 2016 com universitários da PUC Minas,
campus Poços de Caldas, através da aplicação de questionário por amostragem
estratificada proporcional, com o intuito de descrever como esses entrevistados se
relacionam com a religião, como vivenciam a espiritualidade, qual o significado que
estas têm para suas vidas e o posicionamento diante de questões sociais e ambientais.
Os dados coletados através do instrumento questionário, contendo 24 (vinte e quatro)
proposições no formato de uma Escala Likert de cinco pontos, elaborado pelo Grupo de
Estudo Espiritualidade e suas Interfaces, permitiram o aprofundamento dos eixos
temáticos: sentidos da existência; alteridade; religiões; rituais; símbolos; práticas
religiosas; religiosidade/espiritualidade, tolerância e laicidade. Destaca-se que desde a
elaboração do instrumento de pesquisa e a sua efetivação enquanto aplicação
evidenciou-se que o eixo temático da laicidade é pouco compreendido por grande parte
dos entrevistados, suscitando-nos o desejo de aprofundar a discussão sobre liberdade
religiosa e concepções filosóficas contemporâneas fundamentadas no pensamento de
Andre Comte-Sponville, Luc Ferry, Marcel Gauchet, Regis Debray, Henry Pena Ruiz
dentre outros.

100
Doutora em Educação/USP, Professora da PUC Minas, campus Poços de Caldas. E-mail:
anachaves@pucpcaldas.br.
101
Mestre em Yoga pela Jai Narain Vyvas University. E-mail: everaldocds@gmail.com.
102
Mestre em Engenharia Urbana/ UFSCAR, Professora da PUC Minas, campus Poços de Caldas. E-
mail: jnardin@pucpcaldas.br.
103
Mestre em Engenharia Ambiental/USP, Professora da PUC Minas, campus Poços de Caldas. E-mail:
temariano@pucpcaldas.br.

111
A formação do orador ciceroniano: do domínio da linguagem à filosofia

Isadora Prévide Bernardo104

Palavras-chave: Cícero; orador; linguagem; filosofia; formação.


Este trabalho tem por objetivo analisar a formação da figura do orador ciceroniano e o
espaço dado à filosofia nessa, observando a discussão estabelecida entre Crasso e
Antônio em De Oratore, obra escrita em 55 a.C. Cícero recupera as ideias de dois
grandes oradores do passado, Crasso e Antônio. A discussão travada entre essas
personagens nos interessa, pois, dela depreendemos como o autor formula sua figura do
orador ideal pautando-se na formação e nas diversas áreas que este deveria dominar e
atuar além da retórica, a saber: o direito, a filosofia, a história e a política; isto é, o
summus orator é o ideal ciceroniano de orador, historiador, advogado, de homem
político e sábio. Ele concentra na figura do orador tudo o que considera importante, ser
sábio, conhecer os costumes, os feitos dos antepassados e ser capaz de narrá-los e
participar da vida política; ele une uita e sapientia. Quando Crasso, em De Oratore, III,
56-73, disserta sobre a relação entre eloquência e filosofia, narra que os antigos gregos
davam o nome de sabedoria ao método de raciocinar e falar, mas entre os próprios
gregos isso foi cindido. Crasso defende a tese de que o orador deve conhecer muitas
artes e reatar os laços entre retórica e filosofia; já Antônio pensa que a eloquência
dependia do talento natural e da prática. Devemos notar que as considerações sobre a
relação do estudo da filosofia atrelado à retórica devem ser ponderadas, uma vez que
Cícero combate a todos que se afastam da vida pública apenas para filosofar e defende
uma interação entre a formação filosófica, os costumes e a prática. E uma vez
conhecendo os assuntos e atrelando-os com a arte oratória, o orador será o mais
indicado para tratá-los, pois saberá dizer de modo ornado. Então, Crasso tenta buscar
escolas que seriam mais adequadas para a formação do orador perfeito, ou seja, escolas
que não dissociavam a retórica e a filosofia. São afastados os epicuristas e os primeiros
estoicos, e aproximados os peripatéticos e os acadêmicos. Mas de nada adianta, para
Cícero, um discurso que não seja útil à república. O orador deve operar uma síntese
entre retórica e filosofia, técnica de composição e transmissão do discurso atrelada a um
conteúdo moral. E apesar de criticar a postura dos filósofos estoicos, não seria a
filosofia estoica média defendida por Panécio, adaptada ao contexto romano, praticada e
estudada por Cipião, a mais apta ao homem imerso na vida da república? Esta resposta

104
Bacharel em letras latim-português pela Universidade de São Paulo, Mestre em Filosofia e Doutoranda
em Filosofia pela mesma Universidade. E-mail: isaprevide@gmail.com.

112
não será encontrada no De Oratore, mas em De Re Publica e De Officiis, obras políticas
em que predomina o pensamento estoico. Essas visam a formação do cidadão,
principalmente o que deve estar apto a governar, que deve ser educado nas artes liberais
e nos costumes romanos. Cícero identifica vícios oriundos da educação grega na
formação romana, a saber: o seu caráter distante da vida pública e muito teórico; e o
ensino apenas de regras. Em Roma, Cícero evidencia o exercício, a aplicação da teoria
aprendida e a prática que deve visar o bem comum. A formação retórica e moral
deveriam preparar os homens para governar a república, ou seja, participar da vida
ativa, cumprir seus deveres para com a pátria. Em De Oratore, III, 74 o interlocutor
Crasso afirma: “eu mesmo sou alguém que, na infância, fui educado pela total
dedicação de meu pai [...]: para mim a disciplina foi o fórum; o professor foi a
experiência, as leis e instituições do povo romano e os costumes dos antepassados.”
Notamos que a uita, a prática e a experiência são elementos fundamentais na formação
do orador, pois “o conhecimento das coisas fica fácil se a prática (usus) firma a
doutrina”105. Assim, há complexidade e abrangência na formação do orador; não é algo
possível de ser feito isoladamente: [...] ninguém jamais pode florescer e sobressair-se
na eloquência, não só sem a doutrina do dizer, mas ainda sem uma total sapiência. É
que as outras artes se sustentam sozinhas, por si mesmas; o bem dizer, porém – isto é, o
dizer de maneira sábia, hábil e ornamentada – não tem um campo definido cujos limites
possam ser demarcados106. Cícero quer fazer do homem eloquente um sábio e de um
sábio um homem eloquente. Pois o sumo orador será o político, o homem sábio-
político, que estará apto para sempre socorrer a república, o Cipião descrito na obra que
Cícero escreveu na sequência do De Oratore, o De Re Publica. Como o orador domina
outras artes além da retórica, Cícero, em De Oratore, II, 35-41, expõe a capacidade e as
tarefas do orador. Ele deve aconselhar, incitar os inertes e moderar os desenfreados, usar
a eloquência para culpar ou para salvar inocentes, levar às virtudes, destruir os vícios,
tecer elogio aos honestos, reprimir com vigor as paixões e consolar docemente.
Portanto, o orador que aprendeu a ter domínio da linguagem, conhece a filosofia e as
outras artes liberais, não se limita a ser orador, mas carrega em si um ideal de sábio e de
político.

105
CÍCERO. De Oratore, III, 88.
106
CÍCERO. De Oratore, II, 5.

113
Montaigne e a educação como “frequentação”: pensando a atividade pedagógica
para além dos espaços tradicionais de comunicação do saber

Elvis Rezende Messias107

Palavras-chave: Ceticismo; comunicação; educação; Montaigne; pedantismo.


O presente trabalho objetiva pensar as contribuições do filósofo francês Michel de
Montaigne acerca da “frequentação” do mundo como um recurso pedagógico
fundamental, especialmente no que tange à força comunicativa que emana dos diversos
tipos de linguagens, valores e referências culturais encontrados no contato com as mais
diferentes matrizes existenciais da sociedade humana. Para tanto, trilharemos um
caminho reflexivo que parte da discussão inicial sobre a ambiência cultural específica
com a qual Montaigne dialoga, levantando algumas características da educação
renascentista. A partir disso, refletiremos sobre o lugar da crítica cética montaigneana a
uma educação pedante, problematizando a dualidade de uma pedagogia que mais ensina
palavras e ideias restritas do que possibilita o contato crítico com uma realidade
existencial muito mais complexa do que nossas parcas noções livrescas. Uma vez que
Montaigne se constitui em nosso grande referencial teórico, o enfoque da análise se dá à
crítica ao pedantismo e ao dogmatismo, bem como às contribuições do ceticismo
pirrônico para a nova proposta pedagógica montaigneana. Deste modo, refletiremos
sobre os pressupostos de um sistema educacional e pedagógico que assume seu papel
comunicativo contra toda restrição cultural, em que uma educação monológica,
teorética, ensimesmada, triste, “de portas e janelas fechadas” perde consideravelmente
sua “força”. Embora seja ainda hoje muito frequente uma prática pedagógica
contraditoriamente pouco voltada para a prática, Montaigne não lhe dá aprovação,
propondo reflexões que deslegitimam ceticamente o autoritarismo dos tidos “mestres do
saber”, além de nos apresentar um cabedal filosófico que se faz instrumento de
resistência, mecanismo de luta e meio de conquista possível da autonomia constante e
inacabada.

107
Graduação e Especialização em Filosofia, mestrando do Programa de Pós-Graduação em Educação da
UNIFAL-MG. E-mail: elvisccae@oi.com.br.

114
Mito, ciência e esclarecimento: crítica do pressuposto epistêmico-metodológico do
positivismo

Paulo Denisar Fraga108

Palavras-chave: Adorno e Horkheimer; mito e ciência; esclarecimento e positivismo.


Theodor Adorno e Max Horkheimer (1997, p. 37) escreveram em sua Dialética do
esclarecimento, obra que no pós II Guerra revolucionou a compreensão da
modernidade: “De bom grado o censor positivista deixa passar o culto oficial, do
mesmo modo que a arte, como um domínio particular da atividade social nada tendo a
ver com o conhecimento; mas a negação que se apresenta ela própria com a pretensão
de ser conhecimento, jamais”. A modernidade capturada pelo positivismo nos excessos
da luta do empirismo contra a metafísica, foi um dos alvos preferidos desses autores da
Teoria Crítica. Com a sua lei do desenvolvimento dos três estágios da humanidade
(teológico ou fictício, metafísico ou abstrato e científico ou positivo), o positivismo
consagrou as ideias da incompatibilidade entre eles e da fragmentação hierarquizada dos
saberes, determinada pela imposição unilateral do último sobre os demais. A passagem
acima denota a recusa de Adorno e Horkheimer a uma tal esquemática, deduzida da
crença na supremacia civilizadora da racionalidade técnico-científica. Com essa pista de
leitura, este texto destaca um dos aspectos centrais da Dialética do esclarecimento – o
entrelaçamento entre mito e razão esclarecida –, cuja análise crítica, embora
originalmente não restrita a isso, constitui-se, no fundo, num desmentido cortante não só
dos resultados sociais da hegemonia positivista (o que em geral se chama de progresso),
como igualmente do seu pressuposto epistêmico-metodológico (que presume a
independência do estatuto da razão técnica ou instrumental frente às formas anteriores
que ela julga superadas ou planeja suplantar). De começo, convém observar que o
conceito de esclarecimento (Aufklärung) de Adorno e Horkheimer não se refere a uma
época específica, nem mesmo ao século 18, conhecido como Século das Luzes ou da
Ilustração. De natureza transepocal, “o termo é usado para designar o processo de
‘desencantamento do mundo’, pelo qual as pessoas se libertam do medo de uma
natureza desconhecida, à qual atribuem poderes ocultos para explicar seu desamparo em
face dela. Por isso mesmo, o esclarecimento de que falam não é, como o iluminismo, ou
a ilustração, um movimento filosófico ou uma época histórica determinados, mas o
processo pelo qual, ao longo da história, os homens se libertam das potências míticas da

108
Professor do ICHL/Unifal-MG e doutorando em Filosofia pelo IFCH/Unicamp. E-mail:
paulodenisar@hotmail.com.

115
natureza, ou seja, o processo de racionalização que segue na filosofia e na ciência”
(ALMEIDA. In: ADORNO; HORKHEIMER, 1997, p. 7-8). Esta definição é
indispensável para a compreensão das duas teses basilares da obra, segundo as quais “o
mito já é esclarecimento e o esclarecimento acaba por reverter à mitologia” (ADORNO;
HORKHEIMER, 1997, p. 15). A afirmação de que “o mito já é esclarecimento”
significa que desde cedo a práxis ritual mítica dos sacerdotes logrou as divindades da
natureza a que recorria: “Todas as ações sacrificiais humanas, executadas segundo um
plano, logram o deus ao qual são dirigidas: elas o subordinam ao primado dos fins
humanos, dissolvem seu poderio, e o logro de que ele é objeto se prolonga sem ruptura
no logro que os sacerdotes incrédulos praticam sobre a comunidade crédula”. De
maneira que “a astúcia tem origem no culto” (IBID., p. 58) – afirmação significativa
para evidenciar que o mito já é esclarecimento, uma vez que, como mostra o excurso
“Ulisses ou mito e esclarecimento”, a astúcia é o componente central da ação ulissiana
em sua empreitada contra as potências míticas, constituindo-se numa característica
típica da atitude esclarecida. Mythos significa palavra, ou aquilo que se narra por meio
do que se conta (ou se diz). Visavam não só explicar para o homem nascente e temeroso
a dinâmica da lógica natural, como guardavam já o intuito de dominá-la concretamente.
De tal modo que “o mito queria relatar, denominar, dizer a origem, mas também expor,
fixar, explicar. Com o registro e a coleção dos mitos, essa tendência reforçou-se. Muito
cedo deixaram de ser um relato para se tornar uma doutrina”. Isso porque “todo ritual
inclui uma representação dos acontecimentos bem como do processo a ser influenciado
pela magia. Esse elemento teórico do ritual tornou-se autônomo nas primeiras epopeias
dos povos”. Assim, numa referência que inclui a perspectiva de Homero, Adorno e
Horkheimer dizem que “os mitos, como os encontraram os poetas trágicos, já se
encontram sob o signo daquela disciplina e poder que Bacon enaltece como o objetivo a
se alcançar” (IBID., p. 23 - grifos PDF). Essas condições permitem explicar, na
dialética própria do esclarecimento, a tese segundo a qual “os mitos que caem vítimas
do esclarecimento já eram o produto do próprio esclarecimento” (ID.). No
esclarecimento a natureza é profanada de sua aura sagrada mitológica. O inanimado que
o mito animava em seus rituais é novamente inanimado nos laboratórios da razão
esclarecida. Mas, para inanimar tudo, o sujeito esclarecedor precisa operar ele mesmo
de forma inanimada, porquanto acrítica. Esse seu método, contudo, o encarcera, não lhe
permitindo escapar ileso. Assim, ele mesmo, sujeito animado, termina por identificar-se
ao que é inanimado, pois a pretensa neutralidade da lógica frente às coisas faz o
conhecimento regredir até a imediatidade, isto é, à lógica da própria coisa. Doravante,
se “a pura imanência do positivismo”, essa tendência de submeter tudo sob o controle
da repetição, que aparece como “seu derradeiro produto”, na verdade “nada mais é que
um tabu, por assim dizer universal”, cuja proibição maior é de que “nada mais pode
ficar de fora, porque a simples ideia do ‘fora’ é a verdadeira fonte de angústia”, e se o
esclarecimento pode ser definido como a “radicalização da angústia mítica” (ADORNO;
HORKHEIMER, 1997, p. 29), é porque aquilo que está no esclarecimento é o que já

116
estava de há muito nos mitos, ou seja, uma implacável lei de dominação do existente.
No decurso desse evolver de raízes imemoriais, muito longe da pretensão
autossuficiente de poder liquidar tudo em que se possa expiar um resquício mítico, o
esclarecimento acha-se ele mesmo enredado nos mitos. Sem mais poder renunciar à
busca da luz, Prometeu continua amarrado no seu rochedo. Com ele vive, em ferida
aberta, o dilema da ciência moderna: a dialética da autoconservação e do sacrifício, uma
vez que a dominação da natureza externa pressupõe a da natureza interna. A atualidade
da vingança da natureza, e a barbárie que espreita a humanidade, são um dueto turvo do
retorno do recalcado, cuja tragédia faz ver que há muito mais contradições ‘entre o céu e
a terra’ do que supõem as lineares presunções da filosofia positivista.

117
Cultura e sublime em “sobre o sublime”, de Friedrich Schiller

Bárbara Ferrario Lulli109

Palavras-chave: Cultura; sublim; Schiller.


Este trabalho compreende parte da pesquisa desenvolvida à FAPESP (Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) que tem como um de seus principais
objetivos a compreensão do desenvolvimento do conceito de sublime em sua relação
com a cultura e, especialmente, com a arte trágica na filosofia estética de Friedrich
Schiller. No que tange à arte trágica e seu fundamental papel à cultura, Schiller atribuiu
grande importância ao sentimento sublime por ela desencadeado. Assim, de acordo com
o filósofo, o sublime é capaz de elevar o homem sobre o antagonismo que lhe é imposto
durante a modernidade. Este tema é apresentado primeiramente por Schiller em Do
sublime, escrito em 1793, onde o autor dialoga com a filosofia kantiana a fim de
explicar tal fruição estética. Contudo, em 1801, ao reunir suas obras em uma única
edição, Schiller pública Sobre o sublime, uma possível reformulação do mesmo texto,
porém, com uma abordagem diferenciada. Neste último, Schiller enfatiza
preferencialmente as condições humanas diante da cisão causada pela modernidade e
atribui ao ensaio o caráter neohumanista idealizado pelo Classicismo de Weimar.
Apresentaremos, portanto, algumas das principais distinções entre ambos os textos,
contudo, nos concentraremos principalmente em “Sobre o Sublime”, de modo a
discorrer sobre este conceito, desencadeado pela arte trágica que, segundo o filósofo,
seria capaz de elevar o homem acima deste antagonismo da modernidade e torna-lo
livre por meio de seu integra formação [Bildung], isto é, pela cultura.

109
Graduanda em Filosofia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Bolsista FAPESP (Iniciação
Científica). E-mail: barbaraflulli@gmail.com.

118
A relação entre cultura e biologia na obra madura de Nietzsche

Felipe Thiago Dos Santos110

Palavras-chave: Nietzsche, Corpo, Organismo, Wilhelm Roux, Cultura.


O pensamento acerca da biologia e do corpo na obra de Nietzsche se insere criticamente
num debate que remonta, dentre outras, as teorias de preformistas e epigenistas. Dentre
uma multifacetada gama de perguntas que acirram o debate biológico do Século XIX,
destacamos especificamente aquela que, para o problema que ora nos importa, é de
impar relevância, a saber, se haveria a possibilidade de explicar todos os fenômenos da
vida exclusivamente de modo mecânico ou seria necessário, para tal intento, recorrer à
princípios que estão para além do âmbito orgânico. Embora singular, as ideias de
Nietzsche acerca do corpo e dos organismos assumem certos traços que remontam as
teses do zoólogo e embriologista alemão Wilhelm Roux presentes na obra Der Kampf
der Teile im Organismus (1881). Tomamos por intento, mostrar como Nietzsche vai
para além das teorias citadas anteriormente, uma vez que, para ele, no processo da vida
(Lebenprozess) e sua formação (Gestalt), o fundamental é a dinâmica que surge
propriamente Do-interno-vindouro (Von-Innen-her). Neste sentido, recorre o filósofo à
obra de Roux, ao reconhecer nos organismos a existência de um arranjo (Vorbereitung)
de uma ação que se manifesta como luta. Se, por um lado, essa luta dos organismos se
nos afigura de modo oculto, por outro, é possível reconhecer a interação ficcional das
forças (Zusammenspiel) dos organismos pelos seus traços mais íntimos: auto-regulação,
assimilação, secreção, regeneração e estimulo de vida. Mostraremos, por fim, como tal
luta pode ser demonstrada na concepção de cultura de Nietzsche, uma vez que, para o
autor, a cultura se mostra como um organismo que aponta para o crescimento de força
ou para seu declínio interno, concepção evidentemente esboçada nas críticas de
Nietzsche ao compositor Richard Wagner.

110
Doutorando do Programa de Pós Graduação em Filosofia da UFSCAR, bolsista CAPES. E-mail:
felipefilosofia@marilia.unesp.br.

119
O aberto: conceitos heideggerianos recepcionados por Agamben no debate sobre o
poder soberano

Virgilio Chediak111

Palavras-chave: Biopolítica; Agamben; Heidegger; soberano; humano.


O presente trabalho se prontifica a expor de forma sintética, a leitura e apropriação
promovida por Giorgio Agamben sobre alguns importantes conceitos de Heidegger,
presentes em sua obra O Aberto: o Homem e o Animal. Tais conceitos são utilizados
pelo filósofo italiano na construção de uma análise do exercício do poder soberano em
momentos antes e após a Revolução Francesa. A separação no entendimento entre o que
é o animal e o que é o humano pode construir, nos Estados modernos, um espaço
privilegiado por onde se produz mecanismos de poder, nos quais se operam de maneira
incessante a manipulação e o controle dos corpos. Pelo menos é o que diagnostica a
priori o importante filósofo. Partindo desse princípio, em sua obra O Aberto: o Homem
e o Animal, o pensador italiano oferece uma robusta análise do papel de alguns ramos
do saber contemporâneo tais como biofilosofia e as ciências humanas. Segundo o autor,
as ciências atuam enquanto legisladoras das decisões políticas nas quais a escolha da
fronteira entre animal humano e animal não humano fornecem ao Estado soberano os
termos e os instrumentos nos quais a moral e a política devem se abater por sobre os
espaços públicos e a vida e os corpos dos súditos. Em suma, indivíduo humano, aos
olhos do soberano pós-moderno, em geral resume-se à vida biológica que habita o
corpo, à vida reptiliana ou ainda, vida nua. Esse extrato biológico-animal, tomado como
integralidade do humano acaba por munir o Estado do discurso necessário e eficiente
para o estabelecimento de um código de exceção permanente, que no que Agamben
nomeia de mundo pós-histórico, despolitiza a vida humana, abrindo espaço para a
prática da “gestão integral” da vida nua em favor do constructo do ordenamento
jurídico, da economia/mercado, do exercício de porder de polícia, ou mesmo na
construção da linguagem dos Direitos Humanos por exemplo. Para tal pesquisa, serão
utilizadas as obras Homo Sacer e O Aberto: o homem e o animal, de Giorgio Agamben,
bem como obras de referência tais como Introdução a Giorgio Agamben: uma
arqueologia da potência, de Edgardo Castro e o artigo O Aberto:o homem e o animal de
Giorgio Agamben – uma tentativa hipertextual, de Ranieri Ribas.

111
Professor de História e especialista em Filosofia pela PUC-Poços. E-mail: vchediak@yahoo.com.br.

120
Religião, política e secularização: dimensões de um problema

Sandro Amadeu Cerveira112

Palavras-chave: Religião; política; secularização.


O presente trabalho procura apresentar uma breve revisão da polêmica a respeito do
processo de secularização como ocorrido na parte norte do ocidente, também chamada
de laicização, e sua aplicabilidade e utilidade na compreensão de processos político
institucionais. De forma introdutória pretende-se problematizar a hipótese de que a
secularização ou laicização, entendida como o processo de perda do predomínio do
campo religioso sobre as demais esferas institucionais e culturais, implique, de forma
necessária, na redução da crença e da prática religiosa com consequente redução da
força dos valores religiosos na esfera pública. A análise proposta busca, a partir de
pensadores como Max Weber e Giacomo Marramao, detectar e explicitar quais seriam
os aspectos constitutivos do conceito de secularização nos autores clássicos bem como
verificar se as derivações que a associam a uma diminuição da força do campo religioso
encontram embasamento na forma como esse processo foi pensado por esses autores.

112
Prof. Adjunto do ICHL/Unifal-MG.

121
Astúcia ou malandragem: uma reflexão sobre a fenomenologia do brasileiro

Tiago Lazzarin Ferreira113

Palavras-chave: Astúcia; malandragem; racionalidade; fenomenologia do brasileiro.


A presente comunicação tem o objetivo de desenvolver uma reflexão a propósito da
astúcia do homem burguês, que tem como protótipo o personagem Ulisses na epopeia
homérica Odisséia, de acordo com a análise feita por Theodor Adorno e Max
Horkheimer na obra Dialética do Esclarecimento; e a malandragem do “brasileiro no
melhor dos casos”, conforme a formulação do filósofo tcheco-brasileiro Vilém Flusser
em “A Fenomenologia do Brasileiro”. Esta reflexão consiste na tentativa fazer dialogar
duas concepções teóricas elaboradas a partir de contextos socioculturais distintos, mas
que compartilham da preocupação de submeter à crítica os fundamentos da
racionalidade do homem contemporâneo. A partir disso, serão verificados os possíveis
contrapontos e convergências de ambas as perspectivas filosóficas, subsidiando a
compreensão de manifestações artísticas que explicitam as contradições da sociedade
nas suas particularidades históricas.

113
Doutorando na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FE-USP). Mestre em Educação
pela FE-USP (2012).

122
A ação docente mediante o discurso da democracia racial: um estudo proeminente
nas escolas públicas do município de Poços de Caldas114

Caroline de Oliveira Rodrigues115

Palavras-chave: Mito da democracia racial; cultura do preconceito; escola pública;


ação docente; município de Poços de Caldas.
Encarecendo-se grande insatisfação ao ver a disparidade da cultura do preconceito racial
coexistir na atualidade brasileira, cujo pilar central que a sustenta é a ideia oriunda do
século passado que pontua nosso país como um território democrático racialmente,
ditando serem todos os brasileiros frutos de uma miscigenação biológica e cultural entre
índios, negros e brancos e, consequentemente, firmando inexistir no Brasil, preconceitos
e problemas de origem racial, este estudo atém-se a melhor compreender esta
conjuntura ideológica. A rigor viceja essa necessidade, uma vez que este mecanismo
denominado democracia racial, ainda que já o seja declarado um mito, obscurece as
demais ideologias que buscam inferiorizar a/o negra (o) e suas profundas decorrências.
Isso porque este ditame, agindo no plano cultural como forma de continuar veiculando-
se por entre a sociedade, providencia à ausência de questionamentos, críticas e reflexões
até mesmo em aspectos que parecem óbvios demais – como extirpar o preconceito
racial se o mesmo pela lógica dessa ideologia inexiste? Questão que realmente torna-se
um obstáculo para enfrentamento e cisão da opressão com a enorme população negra
participe deste país, já que não havendo transparência e busca por ruptura com velhos
paradigmas, o percurso que provê flagrante injustiça em todos os sentidos para com este
grupo, prevalece. Daí, a importância de ir-se de encontro aos problemas de ordem
racial, presentes tanto no plano material, como no plano simbólico, de modo a cerceá-
los. E, crendo que hoje em dia a educação é gratuita e obrigatória, apetece esse lócus
como espaço senão principal, um dos fundamentais para providenciar a emancipação do
alunado e decorrentemente, o galgar para uma real democracia no seu sentido mais
amplo. Até por que, julga-se ser tarefa da instituição escolar, além do acolhimento de
alunos de maneira satisfatória, oportunizar a todos um ensino de qualidade, cuja
providencia por uma educação que favoreça reconhecimento identitário, valorização e

114
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do grau de Especialista em Gestão de
Políticas Públicas com ênfase em Gênero e Relações Etnorraciais, pela Universidade Federal de Ouro
Preto (2014-2016).
115
Graduada em Pedagogia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e Pós-graduada em
Gestão de Políticas Públicas com ênfase em Gênero e Relações Etnorraciais pela Universidade Federal de
Ouro Preto. E-mail: carolrodrigues1991@bol.com.br.

123
respeito pela diversidade, transparência da realidade, formação cidadã, combate ao
racismo e esperança por igualdade em direitos estejam ali presente. Todavia, ainda que
a educação tenha este compromisso constitucional (1988), a mesma não fica ilesa na
reprodução, mantimento e compartilhamento explícito ou implícito, voluntário ou
involuntário de ideologizações em âmbito intrainstitucional. É neste sentido que se
insurge a necessidade de uma pesquisa como forma de atentar-se a postura dos
membros escolares frente ao discurso da democracia racial, em especial, os que jazem
intimamente ligados à prática educativa: os professores, pois há de se pensar que nem
todos os profissionais da educação possuam conhecimento, preparo, consciência,
sensibilidade e comprometimento suficiente para lidar com esta problemática, pois
ainda que a lei 10.639/03, da qual modificara a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, tornando com isso obrigatório o ensino de história e cultura afrobrasileira e a
lei 11.645/08 que por sua vez acrescenta ao texto da lei de 2003 a obrigatoriedade
também do estudo de história e cultura indígena dê abertura para declaração do real e
sua superação, há de se pensar que este profissional possa ser tanto contrário como
adepto desta mitologia, ora proscrita à população como uma verdade absoluta, ora
introduzida por diferentes meios dentro do aparelho escolar. Desta forma, entendendo
que as leis supramencionadas tem obrigatoriedade no ensino fundamental e médio, bem
como defendendo a necessidade de uma educação pública de qualidade, em que vale
assinalar ser nela, onde a camada popular, da qual a maioria da população
afrodescendente mantém acesso, este estudo buscou responder se os professores do
ensino fundamental I do sistema educacional público do município de Poços de Caldas -
MG compactuam com práticas de emancipação ou reprodução frente aos inventários
pseudodemocráticos de nível racial existentes em nossa sociedade, que se manifestam
em forma de preconceitos, desigualdades e exclusões? Com vista ao problema
conscrito, esta pesquisa de cunho qualitativo, se fez tanto sob uma perspectiva teórica
com embasamento humanístico, quanto empírica, utilizando-se de realização de
entrevistas semiestruturadas com sete professores que ministram aulas no ensino
fundamental I de três escolas públicas do município de Poços de Caldas – MG.
Destarte, as informações coletadas nas entrevistas, depois de transcritas, foram tratadas
por meio da Análise de Conteúdo, podendo assim, por meio deste procedimento,
correlacionar a pesquisa de campo com o levantamento bibliográfico, de modo que em
linhas gerais, pode-se observar que embora seja sabido que esse sustentáculo nada mais
é do que um mito, muitos não o percebem como um problema, apelando-se comumente
para as suas condescendências, já que o mesmo encontra-se cravado no plano simbólico.
Daí a necessidade extrema de se tornar transparente o que está em oculto, demonstrar
que muito do que se entende como natural, é consubstancialmente social, providenciar
um emancipar-se e, em consequência, um avante ao grito e à resposta pela igualdade.
Tarefa ainda que em grande medida apostada na escola, se torna dificultada no seu
cumprimento, uma vez que confirmara-se como o discurso da democracia racial através
do seu poder ideológico, está presente inclusive na prática docente. Logo, há carência de

124
passos largos e precisos serem dados rumo ao encontro da emancipação não somente
institucional, mas também humana para que, talvez assim, cheguemos perto de uma real
democracia racial em âmbito socioeducacional, até porque, sendo esta pesquisa oriunda
de um problema social, pode e assim se deseja, ser ela passível de mudanças. Dito isso,
espera-se que capacitação, supervisão, monitoramento e avaliação de nível macro a
micro educacional aconteça, podendo-se com isso refletir na formação de cidadãos
emancipados, críticos, reflexivos e participativos.

125
Projeto de extensão “Intergeracional Sacudindo a Memória”: uma estratégia de
aprendizagem na Universidade

Vanessa da Silva Lima116


Larissa Karine Rodrigues138
Kátia Maria Pacheco Saraiva117

Palavras-chave: Educação; extensão universitária; competências e habilidades;


aprendizagem.
A educação é um processo contínuo de mudança vivido pelo ser humano ao longo de
toda a sua vida o que em outras palavras significa dizer que ela está além dos limites
institucionais. Relembrar esse princípio é reafirmar que existem diversas possibilidades
de aprendizagem, em diversos tempos, nas diversas idades, em diversos lugares e em
diversos contextos. Partindo do princípio de que a ação educativa é um ato dialógico e
vivencial, é possível pensar a experiência de sermos outros, de olhar, de saber e de
sentir com os outros. Neste sentido pode-se dizer que a concepção de aprendizagem que
se pretende enfocar com este trabalho encontra raízes na proposta de educação para o
século XXI da UNESCO intitulado “Educação um tesouro a descobrir” ou comumente
denominado “Relatório Jacques Delors”: Neste documento há a concepção de quatro
pilares da educação ou quatro formas de aprendizagem as quais as políticas
educacionais devem basear-se: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver
juntos e aprender a ser. Ampliando esta concepção de aprendizagem Vygotsky
apresenta o conceito de “zona de desenvolvimento proximal”, na qual o individuo
consegue realizar atividades com o auxilio do outro, ou seja, existe um “espaço em
potencial” aonde é possível ocorrer transformações e aquisições de conhecimentos e
habilidades, mas sempre enfatizando a necessidade da presença do “outro social”, do
mediador no processo de aprendizagem. A partir do exposto pode-se refletir em que
medida uma das atividades oferecidas pela universidade que se refere aos projetos de
extensão pode promover uma aprendizagem diferenciada, pode produzir uma ação
transformadora não só na comunidade, mas sobretudo nos estudantes que participam
dos projetos. Assim o presente trabalho tem como objetivo investigar de que medida o
Projeto de Extensão Intergeracional “Sacudindo a Memória” tem contribuído para a
formação acadêmica dos estudantes extensionistas, e quais as habilidades e

116
Graduandas do Curso de Psicologia da PUC- Minas. E-mails: larissakarinerodrigues@hotmail.com e
vanessa_lima_95@hotmail.com.
117
Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Psicologia da PUC Minas. Psicóloga, Mestre em
Psicologia Clínica pela PUC-RJ. Especialista em capacitação de profissionais de trabalho Intergeracional
pela Universidade de Granada- Espanha. E-mail: katiasaraiva2011@gmail.com.

126
competências desenvolvidas neles através da participação neste projeto. Trata-se de um
Projeto que tem como proposta propiciar ações educativas gerativas (competências) e
produzir reflexões acadêmicas (habilidades) destinadas a compreender a função social
de guardião da memória dos indivíduos idosos, os quais representam cada dia mais uma
boa parcela da população. O projeto está em consonância com alguns ideais éticos
de igualdade, de pluralidade e de liberdade enquanto valores humanos e garantia de
igualdade de direitos entre eles, uma vez que o aumento da expectativa de vida humana
é um processo universal e atinge a todos. Embasa-se na Política de Extensão
universitária da PUC Minas (2006), a qual reforça a premissa de que os saberes
produzidos devem estar a serviço da dignidade dos homens e a universidade deve
contribuir para a compreensão dos problemas que afetam a sociedade, com atenção às
suas dimensões éticas. O projeto de intergeracional “Sacudindo à Memória”, cujo
caráter é eminentemente social, interdisciplinar e cultural, surgiu da necessidade de se
criar uma estratégia de aproximação e troca entre gerações, principalmente entre alunos
de um curso de graduação em Psicologia e Publicidade e Propaganda e idosos da
comunidade local. O projeto privilegia variáveis de natureza sociocultural no que se
refere à construção das relações intergeracionais e o impacto dessas relações nas visões
de mundo dos envolvidos, ou seja, podem ajudar a revisar estereótipos e imagens pré-
concebidas sobre a outra geração. A hipótese inicial do projeto é que o mesmo auxilia
os estudantes no desenvolvimento de muitas habilidades e competências, uma vez que
neste trabalho eles vivenciam muitas experiências não só com pessoas idosas de
contextos sociais e culturais diferentes, mas vivenciam as quatro modalidades de
aprendizagens: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender
a ser. Desta forma, para a coleta de dados tem se utilizado diários de bordo e de campo
escritos pelos estudantes, e ao final do projeto uma entrevista individual. Trata-se de um
projeto ainda em andamento, logo, há dados parciais. Este tem funcionado como uma
estratégia humanizadora e de promoção da aprendizagem de “viver com o outro” uma
vez que os estudantes organizam-se em equipes nos trabalhos que desempenham e vem
relatando, através de falas espontâneas, a ressignificação de suas histórias e memórias a
partir dos idosos narradores. Outro aspecto a ser ressaltado refere-se à postura do
coordenador do projeto, pois todas as decisões são feitas coletivamente, através reuniões
coletivas e a distribuição de tarefas e de ações respeita a singularidade , ou seja, estão de
acordo com as habilidades de cada um, assim, o coordenador transforma-se num
mediador que viabiliza ações pedagógicas transformadoras no grupo. Tem sido um
importante instrumento de aprendizado. Pode-se comprovar essa afirmativa pelos
relatos produzidos pelos diários de bordo dos estudantes, pelas falas espontâneas, pelo
engajamento da equipe, pela assiduidade nas reuniões e atividades, dentre outros.
Portanto, pode-se dizer que o valor de projetos como esse reside na liberdade de
expressão, de criação, de resignificação dessas narrativas e a partir delas produzir
aprendizagem e conhecimento, o que poderá propiciar tanto aos alunos quanto aos

127
professores uma possibilidade de refletir, desmistificar estereótipos e exercitar valores
como cidadania e solidariedade.

128
Técnica e política: considerações sobre a ambiguidade da revolução técnica a
partir de Spengler, Ortega y Gasset e Habermas

Eduardo Ramalho Rotstein 118

Palavras-chave: Filosofia da técnica; revolução técnica; política.


A questão da técnica, que entra na pauta do debate filosófico em meados do século XIX
com a difusão das máquinas e o nascimento da grande indústria, ganha hoje atenção
renovada do mundo intelectual por causa de inventos nos campos da informática e da
biologia que ameaçam subverter a relação dos homens entre si e com a natureza. Nesta
apresentação abordamos a questão da técnica com base na distinção tradicional entre
produção e prática, indagando como e em que grau o desenvolvimento técnico afeta em
particular o agir político e a organização social. Das contribuições de Spengler, Ortega y
Gasset e Habermas à Filosofia da Técnica depreende-se que a relação entre técnica e
política admite interpretações diversas e dificilmente conciliáveis. Se, de um lado, a
criação técnica é encarada como uma revolta ou uma resistência do homem contra as
coerções da natureza, numa analogia bastante antiga com a revolução política, de outro
lado, tal criação apresenta-se em tempos recentes ligada de modo mais efetivo com o
âmbito prático, ao tornar-se o próprio fator de uma organização social tão ou mais
coercitiva que a natural, em que a margem da atuação política é reduzida ao mínimo.

118
Doutor em Teoria Psicanalítica pela UFRJ, com estadia acadêmica no instituto Geschwister-Scholl da
Universidade Ludwig-Maximilian de Munique (LMU). Pós-doutorando do Programa de Pós-graduação
em Filosofia da UFRJ. E-mail: eduardorotstein@gmail.com.

129
Quem é a Polegarzinha?

Rafaela F. Marques119

Palavras-chave: Michel Serres; novas tecnologias de informação e comunicação;


ensino de Filosofia; Polegarzinha.
Segundo Edgar Morin – valendo-se da afirmação de Voltaire –, em livro publicado
ainda na década de 1990, “mais vale uma cabeça bem-feita que uma bem cheia”120 (p.
21). Essa afirmação, mais que nunca, pode ser inteiramente transposta e aplicada para os
dias atuais. Com o advento das NTIC (novas tecnologias de comunicação e
informação), a configuração social, e mesmo espacial, do mundo modificou-se
consideravelmente. Um dos primeiros pontos que refletem e evidenciam essa mudança é
justamente a educação, e em um segundo momento a própria filosofia. Daí a
necessidade de se repensar as maneiras de educar, além, é claro, dos temas mesmo da
discussão filosófica. Partindo então dessa necessidade, o filósofo francês Michel Serres
vem publicando obras que possuem, dentre outros temas, justamente aqueles
relacionados à educação e às NTIC. A metodologia utilizada para o desenvolvimento
deste texto foi basicamente leitura, análise e problematização de bibliografia. Além
disso, durante o ano de 2014, enquanto bolsista PIBID/Filosofia – UFSJ, desenvolvi um
projeto de intervenção em escolas públicas de São João del-Rei que teve como objetivo
introduzir questões referentes à escrita acadêmica para alunos do terceiro ano do Ensino
Médio público. Nesse momento trabalhamos o livro Polegarzinha, e a identificação por
parte dos estudantes com as descrições de Serres foi algo que me chamou muito a
atenção e essas análises também farão parte do presente trabalho. Dessa maneira, nossa
metodologia consiste basicamente em análise bibliográfica e análise de relato de
experiência. Michel Serres, que representa nosso principal referencial teórico, tem
publicado também livros que tratam da diminuição das distâncias do mundo121, onde
aparecem, por exemplo, um novo tipo de cidade que o autor chama de Vilanova, que é
uma cidade não utópica, mas pantópica: ela é universal, está em todos os lugares. Na
atualidade tem-se a capacidade de ir de um lugar a outro sem precisar sair, de fato, do
lugar onde se está. Vilanova é exatamente essa capacidade de habitar os mais diversos e
distantes lugares sem que seja necessário um deslocamento físico, ou, mesmo que este
deslocamento exista, ele é mais rápido que fora tempos atrás, com os aviões, os trens

119
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar. E-mail:
rmarquesbhz@yahoo.com.br.
120
MORIN, E. A cabeça bem feita. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.
121
Como La légende des anges (1993) e principalmente Atlas (1997).

130
super rápidos e outros meios de transporte desta ordem. Além, é claro, dos
deslocamentos virtuais possibilitados por videoconferências, transmissões ao vivo do
Facebook, reuniões via Skype, e tantas outras maneiras de compreender e habitar um
mundo que não é mais somente aquele físico, atual e engessado. Segundo Serres (p. 12)
“as imagens vindas de longe deixaram de nos surpreender; separados por mil léguas,
conseguimos reunir-nos para uma teleconferência e inclusivamente, trabalhar juntos.
Deslocamo-nos sem mover um dedo.”122 Sendo assim, seria difícil acreditar que as
pessoas, a maneira de se relacionar social e pedagogicamente, permaneceria a mesma
diante de um mundo agora tão extenso e ao mesmo tempo tão acessível. Os pretensos
conteúdos “ensinados” nas escolas estão disponíveis às crianças e adolescentes, tudo é
facilmente acessado, o papel do professor – que em tempos idos era o detentor do saber,
aquele que tiraria os “alunos” (ou seja, indivíduos que ainda não possuíam a luz da
razão) das trevas da ignorância –, sofre, do mesmo modo, uma mudança, uma
reconfiguração demandada não só pelo mundo, mas também pelos próprios estudantes.
Esse novo “público” das escolas, essas pessoas que andam com um universo de
informação no bolso – os smartphones –, são o que Serres chama de a geração da
Polegarzinha, que deu título a seu livro lançado em 2013. E essa geração, esses
adolescentes e crianças nascidos já nos anos 2000, não só aprendem diferentemente de
nós, nascidos em 1980 ou 1990, como também “é de outra forma que escrevem”. E
Serres justifica o termo adotado em sua obra de 2013: “Foi por vê-los, admirado, enviar
SMS com polegares, mais rápidos do que eu jamais conseguiria com todos os meus
dedos entorpecidos, que os batizei, com toda a ternura que um avô possa exprimir, a
Polegarzinha e o Polegarzinho”123 (p. 20). É esta a geração que pretendemos investigar
aqui. Refere-se a essas novas pessoas, que habitam um novo lugar – Vilanova – e que
aprendem, namoram, se relacionam e habitam o mundo de maneira diferente, nossa
intenção de trabalho. Intentaremos apresentar conclusões e análises que evidenciam essa
modificação capital ocorrida na maneira de educar e aprender, naquela relacionada ao
deslocamento físico no mundo mesmo, e, evidentemente, do advento dessa nova
geração de crianças e adolescentes que possuem toda a informação possível em suas
mãos e demandam de seus professores e pais, não mais um ensino de conteúdos ou
temas fixados previamente. Os estudantes querem ser ouvidos, participando ativamente
da própria educação. Ademais, os Polegarzinhos, não precisam aprender todas as
capitais dos estados brasileiros, mas compreender as relações demográfico-sociais
dessas capitais, por exemplo. É no sentido dessa inovação que se dirigem nossas
análises.

122
SERRES, Michel. Atlas. Lisboa: Instituto Piaget, 1997.
123
SERRES, Michel. Polegarzinha: uma forma de viver em harmonia, de pensar as instituições, de ser e
de saber. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2013.

131
A ideologia neoliberal como forma de linguagem neutra e seus impactos no sistema
educacional público de Minas Gerais

Hudson Luiz Vilas Boas124

Palavras-chave: Neoliberalismo; educação pública; ideologia.


O objetivo do presente trabalho é apresentar, em síntese, alguns dos reflexos da
ideologia neoliberal no sistema público de Educação do estado de Minas Gerais. O
referencial teórico está embasado em leituras e digressões sobre CHOMSKY (2008) que
mostra como a linguagem dá significado e sentido às ideias abstratas; em GADOTTI
(1992) que se dispõe a debater a importância da diversidade cultural e a pluralidade de
ideias dentro do ambiente escolar; e, por último, em SANTOMÉ (2003), onde temos
uma breve descrição dos impactos das políticas neoliberais na educação. Uma vez que a
conjuntura das políticas educacionais em Minas Gerais, a partir da década de 1990,
demonstra sua centralidade na hegemonia das ideias neoliberais sobre a economia e seus
desdobramentos sobre a sociedade, fica patente a transformação que se deu pela
adequação de propósitos do Estado e, sobretudo, pela difusão de uma linguagem voltada
para a formação do indivíduo baseada na meritocracia. Para tanto, essa linguagem
encrava no seio da educação pública ideias ancoradas na naturalização da competição
entre indivíduos ou na ascensão pessoal baseada no esforço sem considerar a
desigualdade de oportunidades. Também faz parte desse bojo a concepção de que as
desigualdades sociais e a concentração de renda devem ser tidas como sintomas de
subdesenvolvimento cultural e econômico. No mais a linguagem adotada pela ideologia
neoliberal se utiliza de maneira sofisticada de dispositivos que visam transferir o poder
do espaço público, onde o povo pode exercer certo tipo de influência sobre ele, para
organizações privadas, que, por sua vez, serão gerenciadas pelos desejos do mercado. A
estratégia neoliberal para a educação se expressa da seguinte forma: colocando a
educação apenas como obrigação constitucional de um Estado mínimo, apresentando-a
como alternativa de “ascensão social” e de “democratização das oportunidades”. Por
outro lado, a escola continua sendo um espaço com grande potencial de reflexão crítica
da realidade, com incidência sobre a cultura das pessoas. O ato educativo contribui na
acumulação subjetiva de forças contrárias à dominação, apesar da exclusão social.

124
Especialista em Filosofia Contemporânea pela PUC Minas e em Gestão Escolar pela Faculdade
Pitágoras; professor de Sociologia na rede estadual de Minas Gerais e coordenador no curso pré-
vestibular Educafro – núcleo Laudelina de Campos Melo, Poços de Caldas. E-mail:
hudson_lvboas@yahoo.com.br.

132
Mouros x Cristãos: do conflito armado aos outros campos da batalha

Lucas Magalhães Costa125


Paulo César de Oliveira 126

Palavras-chave: Reconquista; Filosofia; guerra; ideologia.


A pesquisa tem por objetivo estudar a transposição, do campo de batalha para o campo
da espiritualidade, dos vários elementos da guerra entre Mouros e Cristãos. Esta
transposição se materializa no espetáculo cênico dos jogos bélicos medievais e na
cultura nas Cavalhadas e amplamente discutida na filosofia de Santo Agostinho. O
método utilizado foi a pesquisa qualitativa mediante a qual se analisou a Batalha de
Ourique (1139), que culminou com a fundação de Portugal, e a Batalha de Navas de
Tolosa (1212), um marco no avanço dos reinos Cristãos sobre o território dominado
pelos Mouros em terras espanholas. Essas batalhas constituem um referencial histórico,
uma vez que tratam de dois dos principais confrontos armados do período conhecido
como Reconquista da Península Ibérica (711-1492). Este movimento é visto como a
retomada do território europeu pelos Cristãos e a consequente expulsão dos
Muçulmanos. A vitória nestas batalhas serviu de veículo para a ideologia da
Reconquista e produziu uma confluência geradora de um culto a Deus, fundamentada,
sobretudo, na filosofia de Santo Agostinho que justifica a guerra. Espera-se evidenciar
que a guerra entre Mouros e Cristãos não se restringiu ao campo de batalha, mas foi
transposta para o terreno da celebração, discutida no campo filosófico abrindo caminho
para o enraizamento na sociedade da época e posterior de uma mensagem que defendia
mediante as vitórias bélicas uma possível ideia de superioridade cristã.

125
Lucas Magalhães Costa. Jornalista e Mestrando em História Ibérica da Universidade Federal de
Alfenas. E-mail: lc.ara@hotmail.com.
126
Paulo César de Oliveira. Professor Doutor em Filosofia do Mestrado em História Ibérica da
Universidade Federal de Alfenas. E-mail: paulo.oliveiraunifal@gmail.com.

133
Ramon Llull e o diálogo inter-religioso

Maria Regina Teixeira Weckwerth127

Palavras-chave: Cristianismo; judaísmo; religião; diálogo; intolerância.


Um povo pode somente ter uma religião? Judaísmo, cristianismo, islamismo?
Responder esta questão é parte do aprofundamento no estudo da intolerância e
perseguição aos judeus no medievo da Península Ibérica, resultando na Inquisição no
período Moderno. Para tanto, o estudo de Raimundo Lulio, filósofo do século XIII,
destaca-se por sua inserção num contexto histórico em que, a par da reconquista do
território peninsular, sob domínio islâmico, desenvolve sua obra, cuja ideia central
funda-se no diálogo entre as religiões para que o mundo viva em paz. O presente
resumo foi embasado no estudo de textos e resumos, envolvendo a análise da obra: O
livro do gentil e dos três sábios 128; Revista Psicologia – General y Aplicada129; Palestra
apresentada no Centro de Cultura Judaica130. Considerando a história da Península
Ibérica, palco exemplar de representação do conflito interreligioso desde o século IV,
anos 320, nas origens hispânicas surge as primeiras manifestações, Adversus Iudaeos.
Concílios e Tratados são realizados envolvendo a polêmica antijudaica e a tensa
convivência entre cristãos e hebreus. Cenário que se transformará com a invasão
muçulmana em 711, complicando ainda mais essa convivência. Toledo é reconquistada
por Afonso VI (1109), abrindo enorme progressão histórica na Hispânia Medieval, que
por apelo “científico”, estabelece um convívio harmônico entre os três credos, mesmo
coexistindo num território permanentemente em guerras, invasões, fome e peste. A
conhecida Escola de Tradutores de Toledo viveu seu ápice no reinado de Afonso X, o
sábio (1221-1284), cuja política de tolerância estabelece normas de convivência entre as
três culturas, não esquecer que se estabelecem segundo princípios rígidos e, o fator
“igualdade” não se faz absolutamente presente. O “outro”, ainda que tolerado, não
escapa à humilhação e sob uma série de disposições legais que o relegam a condição de
cidadão de segunda categoria. Em seus textos jurídicos, Las siete partidas, Afonso X

127
Mestrando em História da Península Ibérica, Universidade Federal de Alfenas, com formação em
Psicologia e especialização na área de Psicanálise Profunda e em Psico Sócio Patologia. E-mail:
mrtww00@hotmail.com.
128
COSTA, Ricardo: O livro do gentil e dos três sábios - Resumo comentado. www.ricardocosta - Site
visitado 17/09/2016.
129
ARAUJO, Luis - Costa – Raimundo Lulio – www.mecd.gob.es/dctm/Revista de educação- Site
visitado 11/09/2016.
130
PARDO, Pastor Jordi - Diálogo Interreligioso real ou aparente durante a Idade Média. htpps:\\ dialnet.
unirioja.es/descarga/articulo/2227031.pdf - Site visitado 11/09/2016.

134
faz lembrar o crime dos judeus: “desonrando Aquele que os tinha privilegiado e
honrado deram-Lhe uma aviltante morte na cruz, e, por esse grande erro e maldade,
perderam a honra e o privilégio que tinham”. Na corte Catalão-Aragonesa, as coisas não
eram muito diferentes. Ramon de Penyafort, embora defendesse a conversão dos infiéis,
não descarta o uso da força bruta se necessário, e o constrangimento do afastamento de
cargos públicos e do direito de viver na cidade, confinados em bairros distantes. Jaime I,
o conquistador (1213-1276), adota a política de conversão obrigatória dos infiéis e
submete-os às pregações dos frades dominicanos. Em 1229, Jaime I reconquistou a
pequena ilha de Maiorca, que se encontrava sob o poder muçulmano e três anos após a
reconquista nasce Ramon Lull, (1232), cujo relacionamento com as culturas judaica e
muçulmana deram-lhe os ingredientes fundamentais para o desenvolvimento de sua
obra. Ramon Lull, pertencia à nobreza, foi mordomo real e tutor do Infante D. Jaime II
de Maiorca. Casado, pai de dois filhos desfruta da vida mundana na corte até passar a
ter visões sobrenaturais, que o levam a aspirar um estado mais elevado. Torna-se amigo
de Raimundo de Peñafort, dominicano, mas, se encanta com o espírito de São Francisco
que inspirou o século XIII com o amor a Deus e a toda a obra criada. Llull aspira
converter infiéis com as armas da verdade e da fé em harmonia. Aprende o árabe e se
expressa nela falando e escrevendo. Empreende uma série de viagens, fazendo
pregações em sua terra natal, ao Norte da África, na Síria e na Palestina. Sua vida é ação
e contemplação. Aprende sem cessar, escreve, predica e aborda com valentia os
problemas da ciência e da alma. É criticado e denunciado pelo dominicano Nicolas
Eymerich que condena suas obras por proposições heréticas e apontadas no Índice; os
reis de Espanha, Carlos V e Filipe II, recorrem aos Pontífices fazendo-os ver a pureza
de sua obra; Pio IX o declara Beato e não lhe cabe a menor sombra de heresia. Ramon
Llul queria converter judeus e muçulmanos ao cristianismo. A Idade Média se move
nessa esfera, “só existe uma verdadeira religião salvífica que deve demonstrar ao
“infiel” o grau de seu erro”, e nesse aspecto não inova, entretanto, seu método,
buscando evidenciar onde estava o erro, baseiam-se, não nos elementos que as
diferenciam, mas, servindo-se dos elementos que as unem, ou seja, a crença em um
único Deus e os princípios que O definem. Nisto nada havia a ser negado. As três
religiões reveladas possuíam em comum o monoteísmo, as heranças da filosofia e da
ciência grega, permitindo a Llul construir uma estrutura conceitual e cosmovisisonal
compreensível e aceitável desde que profundamente estudado. O Livro do gentil e dos
três sábios escrito nos anos 1274-1276, após o célebre Debate de Barcelona (1263),
nasce da insatisfação de Llull com a forma e os resultados deste e, a partir de um
diálogo imaginário entre três sábios, cada qual representando seu credo, e um ateu a
beira da morte, desejoso de saber a verdade. O recurso da natureza e seus atributos
divinais são parte integrante deste diálogo, e que se realiza pela ilustração de árvores e
flores outorgadas por Deus aos sábios. As árvores, seguindo a metodologia Luliana,
expressam em raízes, tronco, ramos, flores, folhas e frutos, representações das
qualidades, virtudes e vícios (pecados capitais), e suas interações seguindo um critério

135
de análise e síntese com a finalidade de procura da verdade. Na verdade, esse diálogo
imaginário, na representação ideal de um diálogo, reflete a expressão do debate ocorrido
de fato. Llull destaca-se nesse período medieval em pró do diálogo e da tolerância,
entretanto, conforme alega Ricardo Costa131 em sua análise: “...o fim da Idade Média e
o alvorecer da Modernidade,... trouxeram, em seu conjunto, muito mais intolerância e
derramamento de sangue.

131
COSTA, Ricardo – conforme citado.

136
Um debate sobre os rumos da cultura popular negra e o seu reconhecimento na era
globalizada

Elaine Cristina Moraes Santos132


Monica Guimaraes Teixeira do Amaral133

Palavras-chave: Cultura, identidade, globalização, reconhecimento.


Os processos de mundialização financeira, econômica, cultural e política só ocorreram
com o desenvolvimento dos meios de comunicações. A globalização entendida como
produção, distribuição e consumo de bens e serviços, organizados a partir de uma
estratégia mundial faz com que a cultura seja transmitida, por meio das mídias,
conforme um padrão social universal. Operando desse modo, a sociedade “de produção”
(industrial) deu origem à “sociedade do consumo”. Os meios de comunicação e todo
tipo de informação começaram a ser utilizados para atingir milhões de pessoas ao
mesmo tempo, independentemente do lugar onde estiverem. A mídia e os apelos
publicitários passaram a influenciar de maneira direta a cultura e a opinião das pessoas.
As referências do cidadão contemporâneo, são trazidas de diversas partes do mundo,
influenciando diretamente na construção de sua identidade. Diante do novo quadro
social, torna-se relevante o questionamento sobre os rumos da cultura popular e das
referências nacionais de cada povo ou cultura. Para pensar neste fenômeno, tomaremos
o que o sociólogo Stuart Hall, um dos maiores estudiosos sobre a identidade cultural na
pós modernidade, entende por sujeito pós-moderno. A partir de um diálogo entre a
Teoria Crítica de Adorno e Horkheimer, da chamada Escola de Frankfurt, e os estudos
do multiculturalismo crítico, será estabelecido um debate sobre os rumos da cultura
popular negra e o seu reconhecimento na era globalizada.

132
Doutoranda em Educação pela Universidade de São Paulo (USP). E-mail: elainecms@usp.br.
133
Docente da Pós-Graduação em Educação da FE-USP. E-mail: monicagta@hotmail.com.

137
Utilização de cotas na universidade

Kênia Eliber Vieira134


Betânia Alves Veiga Dell’Agli 135

Palavras-chave: Cotas na universidade; permanência; diversidade.


Na tentativa de diminuir as desigualdades no ingresso e permanência no ensino superior
no Brasil, em 2013, deu-se início a “Lei de Cotas” para as Universidades Federais, que
regulamenta a utilização de ações afirmativas com caráter social e racial, que estabelece
a reserva de vagas para ingresso nas Instituições Federais de Ensino Superior e nos
cursos técnicos, de no mínimo 50% para estudantes que tenham cursado o ensino médio
em escolas públicas. Dentro dessa reserva, 50% deverão ser preenchidas por estudantes
com renda familiar igual ou superior a 1,5 salários-mínimos per capita. Ficou
estabelecido ainda, o preenchimento por autodeclarados pretos, pardos e indígenas, em
proporção no mínimo igual à de pretos, pardos e indígenas na população da unidade da
Federação onde está instalada a instituição, segundo o censo do IBGE. Esta política
pública é transformadora das relações sociais, trazendo para a universidade uma parcela
da população, que por outro meio, atualmente, não conseguiria alcançar tal nível e que
levará para a comunidade em que vive essas novas experiências. Também levará à
comunidade acadêmica uma diversidade necessária ao seu desenvolvimento pessoal e
social, pois pode se deparar com características até então não vivenciadas, com o
desafio de se relacionar com pessoas que apresentam outros pontos de vista e contextos
sociais. Esta pesquisa teve como objetivo a análise da situação acadêmica e de evasão
dos ingressantes após a aplicação desta Lei e investigar o julgamento desta comunidade
quanto à justiça das ações afirmativas. Nossa hipótese era encontrar um elevado número
de opiniões contrárias às reservas e que alunos cotistas teriam maior dificuldade
acadêmica, necessitando de apoio para sua permanência. O método adotado foi o
descritivo, de abordagem quantitativa e um estudo de campo. A coleta de dados foi
realizada na Universidade Federal de Alfenas - UNIFAL-MG, no curso Bacharelado
Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia (BCT) e foi dividida em 02 etapas: a primeira
consistiu no levantamento de dados sociodemográficos e acadêmicos e foram analisados
os dados fornecidos pelo Setor Acadêmico, de 682 discentes para análises estatísticas
dos dados de situação acadêmica e evasão. Os resultados demonstram que os alunos são
na maioria dos estados de Minas Gerais e São Paulo (68,05%), evidenciando que
mesmo com a adoção do ENEM e do SiSU, que possibilita uma maior dinâmica, os

134
Mestra em Educação, Ambiente e Sociedade, pelo Centro Universitário das Faculdades Associadas de
Ensino - UNIFAE. E-mail: keniaeliber@gmail.com.
135
Doutora em Educação, pela UNICAMP. Docente no Programa de Mestrado em Educação, Ambiente e
Sociedade, pelo Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino - UNIFAE. E-mail:
betaniaveiga@uol.com.br.

138
candidatos escolheram Universidades mais próximas às suas residências, principalmente
entre os cotistas, o que pode estar relacionado às suas possíveis dificuldades de
permanência em localidades distantes. Verificamos que os alunos cotistas apresentam
pior desempenho no percurso acadêmico, entretanto, não evadem na mesma proporção
da sua dificuldade. Os cotistas que ingressaram na reserva que apresentava o caráter
social, econômico e racial associados, encontram maiores dificuldades, evidenciando a
necessidade de algum tipo de assessoria para sua permanência. A variável raça/etnia é
responsável por reduzir mais a média acadêmica do que a renda baixa. Apesar do
desempenho inferior dos cotistas em relação ao dos demais alunos, esta política atinge o
objetivo de proporcionar maior diversidade, e o hiato de desempenho entre cotistas e
não cotistas é um preço modesto em prol da diversidade e da equalização das
oportunidades. A segunda consistiu na aplicação do questionário para identificar a
opinião dos participantes acerca da justiça da utilização de cotas e participaram 317
alunos e 15 docentes do curso. O resultado demonstrou no geral, maior concordância
com os argumentos a favor da justiça de cotas. Entretanto, verificamos que os não
cotistas, são em média, menos favoráveis que os alunos cotistas, o que pode significar
um interesse pessoal no julgamento. Encontramos maior aceitação da cota social do que
da cota racial e acreditamos que no Brasil, a miscigenação produziu alguns mitos, e a
população entende a discriminação mais como o resultado da estratificação social do
que das diferenças de cor, sendo o negro discriminado não por ser negro, mas por ser
pobre. Entretanto, a cor da pele se apresenta como central na definição do nível da
classe social que o indivíduo pertencerá, pois, os negros recebem menores salários que
seus colegas não negros, e apresentam maiores dificuldades em conseguir emprego
formal segundo o Ministério do Trabalho. Isto demonstra que os programas de inclusão
que priorizem apenas a renda não são suficientes para inclusão racial. Evidenciou-se
ainda a discordância da utilização das cotas no Ensino Superior em detrimento de um
maior investimento no Ensino Básico. Entretanto, argumentamos que não deveria haver
uma oposição entre as políticas adotadas, mas, sim, uma combinação entre elas, visto
que, cotas não dispensam, mas exigem, uma política mais ampla de igualdade de
oportunidades implementada conjuntamente. Constatamos também nas respostas, a
interpretação da igualdade formal, que não considera o processo histórico de exclusão,
não compreendendo que as cotas representam as discriminações legítimas ou positivas,
possibilitando uma “verdadeira igualdade”. A questão que tratava da exigência feita
pela lei de que as vagas sejam preenchidas por autodeclarados pretos, pardos ou
indígenas foi considerada injusta pelos professores que participaram. Porém, é o mesmo
critério utilizado no Censo Demográfico pelo IBGE, e também na maioria das políticas
de cotas raciais utilizadas em algumas universidades. Ainda, a classificação realizada
por terceiros leva em conta a aparência física, podendo incluir, além do fenótipo, sinais
de status como vestimentas e maneira de falar. Já a autoclassificação pode resultar de
“um processo reflexivo e complexo de socialização”, incluindo-se neste processo a
ascendência, a cultura e a forma como a sociedade classifica e valoriza seus membros.
A diversidade escolar proporcionada pela política de cotas, poderá cumprir não apenas
seu papel de propiciar oportunidades a uma população até então excluída, como também
proporcionar uma maior interação entre os sujeitos de diferentes etnias, culturas,

139
origens, habilidades, interesses e níveis sociais, promovendo, neste novo cenário de
complexas relações, o preparo desse futuro profissional para avaliar, elaborar juízos que
subsidiarão sua ação e refletir sobre ela, favorecendo a construção de sociedades mais
justas.

140
Entre a Ciência e a Filosofia: notas sobre a análise de discurso francesa em sua
dimensão epistêmica

Maria Eugênia Zanchet136


Dóris Maria Luzzardi Fiss137

Palavras-chave: Análise de discurso francesa; Filosofia; epistemologia.

A necessidade da compreensão dos fenômenos decorrentes das novas formas de


comunicação atualiza a inevitabilidade de sua percepção a partir do seu caráter
complexo. A Análise de Discurso francesa (AD) fundada por Michel Pêcheux, enquanto
disciplina de entremeio, convoca, grosso modo, a mobilizar efeitos de sentidos que
ressoam em discursos dados através da consideração dos modos pelos quais tais
discursos foram produzidos. É, por esta razão, uma análise que considera os diferentes
fatores pressupostos na produção de fenômenos discursivos a partir de três interfaces
com regiões de conhecimento pelas quais foi tocada desde seu surgimento: linguística,
ideológica e psicanalítica. Trata-se de um movimento demarcado pelo batimento entre
interpretação e descrição dos estados de coisas no mundo, autorizado pela análise do
comportamento discursivo dos sujeitos envolvidos. As peculiaridades das circunstâncias
enunciativas são consideradas como estando implicadas na relação entre aquilo que é
enunciado por meio do ato discursivo e a materialidade histórica. Com o passar do
tempo e as alterações às quais foi submetida a disciplina – entre elas, o crescimento da
importância legada à Psicanálise dentro do seu corpus de funcionamento,
questionamentos acerca do seu status epistêmico se fizeram imprescindíveis. O presente
trabalho tem como principal objetivo a realização de considerações que localizam o
exercício analítico da AD desde seu caráter propriamente filosófico até a sua viabilidade
epistemológica enquanto metodologia científica. Procura-se, para que tal tarefa seja
desenvolvida, que sejam apresentados os aspectos responsáveis pela inserção da AD no
hall das disciplinas filosóficas e, ademais, demonstrada a sua relevância para a
compreensão dos fenômenos discursivos e, portanto, sua relação com a ciência.

136
Graduada em Filosofia – Licenciatura pela UFRGS, Mestranda no Departamento de Ensino e
Currículo da Faculdade de Educação da UFRGS e pós-graduanda em Psicanálise no Instituto de
Psicologia da UFRGS. E-mail: eugenia.zanchet@gmail.com.
137
Professora Adjunta no Departamento de Ensino e Currículo da Faculdade de Educação da UFRGS –
Área: Didática. Professora Permanente no Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRGS – Linha
de Pesquisa: Arte, linguagem, currículo. E-mail: fiss.doris@gmail.com.

141
Publicidade como um dos aportes para o progresso da humanidade na história
segundo Immanuel Kant

Wagner Barbosa de Barros138

Palavras-chave: História; progresso; esclarecimento; publicidade.

Em meados de 1460 Guttenberg promove uma transformação que redimensiona os


parâmetros reflexivos da humanidade, não referente somente a facilidade com que os
livros poderiam ser feitos, deixando a técnica da escrita manual “exemplar por
exemplar” para trás, mas sobre a potencialidade que é inserida na difusão das
descobertas científicas da época. A impressão dinamiza a maneira de se publicar e, com
isso, até certo ponto, democratiza o hábito da leitura, visto que os livros se tornaram
mais baratos conquanto podiam serem feitos em maior quantidade e em menor tempo.
A cultura da escrita perpassa por inúmeros avanços e retrocessos desde que se
fundamenta sobre os livros (antes e pós-Guttenberg), e um dos motivos desta marcha é
justamente o conteúdo que os livros carregam. Inúmeras obras foram proibidas durante
a história do homem por sobrepujarem os limites reflexivos de uma época, com o cunho
principalmente político e religioso (sendo que em determinadas épocas ambas as
instâncias eram praticamente a mesma). A liberdade da publicidade nunca foi uma
regra, porém se instaurou desde sempre como uma, para que seja possível fazer a
ligação entre as duas pontas da leitura: escritor e leitor. Quando um autor elabora sua
obra, tem um intuito em relação a ela, isto é, tem uma mensagem a ser transmitida, com
isso, a conversa que estabelece é com o leitor, o qual é o destinatário dessas reflexões,
posteriormente, esse leitor com outros que tiveram contato com essa obra, discorrem
sobre ela, e, com aqueles que não a leram, recomendam sua aquisição, que após o terem
feito e a cortejado, dão continuidade a essa espécie de corrente. É nesta relação que a
comunicabilidade das ideias se fundamenta. A conversa entre duas pessoas é
intermediada via papel e sem que ela distorça as falas, como numa brincadeira de
telefone sem fio, se obriga a entrega literal de seu conteúdo. Os livros são instrumentos
essenciais da reflexão filosófica, visto que – com exceção de Sócrates – todos os
filósofos utilizaram dessa arte em suas reflexões. O mesmo cerceamento que recaiu
sobre os cientistas físicos durante suas descobertas afetou os metafísicos, ao ponto de
justamente essa questão ser pauta de suas reflexões. Debruçaram então, suas meditações
sobre a potencialidade que o livro e seu conteúdo poderiam exercer na totalidade
humana e, consequentemente, as restrições e as motivações sobre as quais eram
estabelecidas. Mais do que uma ferramenta de divulgação, percebeu-se que os livros
eram instrumentos de formação, somando ao pensamento novas nuances de suas
conformações. Ainda que o material impresso seja uma das engrenagens desse aparato

138
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal de São Carlos
(UFSCar). E-mail: wagnerbarros71@gmail.com.

142
transformador, o conteúdo imagético é quem o coloca para funcionar. O que levou
alguns filósofos a dedicarem suas letras ao assunto foi a percepção de que estavam
diante de um instrumento filosófico imensuravelmente potente. Assim, destacamos
dentre eles o filósofo alemão Immanuel Kant, para o qual a publicidade, por meio de
obras impressas, é tida como recurso primordial para o desenvolvimento da
humanidade. Em seus ensaios histórico-políticos pontua que a condition sine qua non
para que a humanidade saia de sua menoridade é o uso público da razão. Na
especificidade do pensamento kantiano, este uso é pautado pela liberdade de expressão
perante determinado assunto por meio de um livro, por exemplo, sem que nesta
exposição haja qualquer espécie de cerceamento na formulação da reflexão. O
esclarecimento (Aufklärung), conceito essencial para a filosofia do pensador alemão,
somente é possível na medida em que a liberdade reflexiva for proporcionada aos
homens. O livro e a liberdade de sua publicidade se tornam essenciais para este
processo, pois entremetem os meios necessários à reflexão requerida neste progredir da
humanidade. Para Kant, quando um pensamento é publicizado por meio de um livro, é
como se esta reflexão fosse posta diante de um tribunal, onde será cortejada, analisada e
julgada pelos membros do foro, no caso, os leitores. O valor da reflexão compõe-se pela
potencialidade que a compreende, porém, a possibilidade de sua publicidade, sem que
pretenda atender a uma expectativa exterior a sua elaboração, fomenta considerações tão
mais profundas do que pretendia, pois não atende a nenhum requisito e, desta maneira,
pode responder ou questionar toda e qualquer natureza (tanto para quem escreve quanto
para quem o lê, na medida em que o texto fomenta a meditação do sujeito),
possibilitando à comunidade dos homens uma reflexão livre, que traz somente
benefícios à sua história. O uso privado da razão, que se opõe ao primeiro uso, é aquele
feito pelo homem enquanto cumpre uma função ou cargo público. Nele o
esclarecimento (Aufklärung) não é possível pois quem o faz submete-se às prescrições
do cargo em exercício, deste modo, um funcionário do exército, por exemplo, ainda que
pondere de maneira destoante sobre uma determinada asserção da qual deve operar em
sua função, não pode deixar de assim fazê-lo, para que o bom funcionamento de sua
instituição ocorra. Portando, neste uso, o pensamento, ainda que permaneça livre em sua
essencialidade, não pode exteriorizar-se desta maneira, conquanto se subordina a
determinações alheias a si. Nosso objetivo, à vista disso, é demonstrar, por meio dos
escritos histórico-políticos kantianos, como o filósofo alemão contribuiu para a reflexão
acerca da importância da liberdade de pensamento e, consequentemente, como o livro
pode ser considerado como instrumento essencial para esse feito. Na medida em que
discorrermos sobre as especificidades de sua compreensão de esclarecimento
(Aufklärung) e do progresso da humanidade na história, será possível assimilarmos o
papel que o livro e seu conteúdo, concebido e publicizado livremente, podem
desempenhar no aperfeiçoamento das disposições da humanidade.

143
Fundamentos da bioética a partir de uma espiritualidade não religiosa

Marcio Fabri dos Anjos139


Alexandre da Costa 140

Palavras-chave: Espiritualidade; Secularização; Bioética.

Segundo Vilém Flusser, com a busca contemporânea por desenvolvimento econômico e


Qual a relação de Bioética com a Espiritualidade? É possível tecer um discurso bioético
sobre este tema? Qual a motivação de se escrever nesta perspectiva? Talvez para uma
parcela de pensadores, a bioética se resumiria em tratar de assuntos ligados estritamente
à área da saúde. No entanto, entendemos a bioética com horizontes amplos para discutir
uma gama variada de assuntos. Não se pode negar que o ser humano contemporâneo
busque o sagrado. Percebemos em nossa sociedade uma forte presença do religioso. Nas
artes, na mídia e em muitas situações do cotidiano nos deparamos com o religioso nas
suas variadas formas. Inclusive nas muitas decisões éticas o religioso se faz presente.
Entretanto essa presença se mostra em uma perspectiva de uma espiritualidade
diversificada. E, é justamente neste ponto que queremos tecer nossa reflexão bioética.
Qual o fundamento da espiritualidade na perspectiva bioética? Qual o seu papel na vida
humana? E o que significa toda esta diversidade de espiritualidade? Podemos falar de
uma espiritualidade não religiosa? A busca de espiritualidade pelo ser humano pós
moderno renasce a margem dos caminhos da espiritualidade instituída, e mira um novo
olhar misterioso e gratuito sobre o mundo. Mas é necessário saber de qual
espiritualidade estamos falando, por isso a importância de conceituá-la e situá-la no
universo humano. O ser humano não é apenas um produto da natureza, nem do meio em
que se vive, tais como os outros animais não humanos. Mas pelo contrário, ele organiza
o mundo ao seu redor a partir de um referencial simbólico. Pensa sua realidade a partir
do significado, termo este que constitui a unidade de toda ordem cultural. A vida não se
torna possível quando se afirma que ela tem sentido, mas quando se afirma qual é seu
sentido. Para o ser humano, a vida necessita ter sentido, e a espiritualidade tão almejada
por ele, visa oferecer uma possibilidade conferir sentido a sua existência. E esta
necessidade nasce de sua interioridade, de sua dimensão psíquica como alguns autores
assim o denominam. Assim sendo, o sentido da vida não é dado, mas construído, não se
descobre, mas se atribui. É uma construção a partir de uma realidade cultural, mas
necessita transcendê-la para dialogar com a complexidade humana. No entanto, afirma
Thomas Luckmann que há uma forte evidência que na modernização das culturas, as
espiritualidades tradicionais se tornaram vazias de sentido, não somente nos vastos

139
Doutor em Teologia; Coordenador do programa de Pós graduação em Bioética do Centro Universitário
São Camilo; vice-presidente da Sociedade Brasileira de Bioética. E-mail: pesrel@terra.com.br.
140
Doutorando em Bioética pelo Centro Universitário São Camilo. E-mail:alexandrecost@yahoo.com.br.

144
setores da população, como também nos pertencentes de determinadas igrejas. É
interessante notar que esse fenômeno se deu pelas características peculiares que a
modernidade possui, tais como: o imperativo da racionalidade (científica), a ideia de
autonomia do sujeito e a diferenciação das instituições, como destaca Hervieu-Léger.
Mesmo com grande avanço da ciência e da tecnologia, podemos cogitar que o ser
humano ainda experiência a vida com ambiguidades, levando-o à busca pela
transcendência e uma necessidade à totalização de sentido de vida. No “mundo da vida”
(Lebenswelt), que o ser humano realiza suas atividades significativas juntamente com
outras pessoas. Toda sociedade está empenhada na tarefa nunca completada de construir
um mundo de significado humano. Com a urbanização e a construção do mundo
moderno, as pessoas aderidas ao sentido científico, racional e tecnológico, tem buscado
modos inteiramente seculares de cosmificação (sensus religiosus). Porém, a vida secular
sempre mantém o ser humano em uma tríplice limitação, expressa por: fragmentação,
finitude e falta de sentido, como observa Severino Croatto . Se a vida moderna e a
religião hegemônica são formas de construir o mundo social, na modernidade, elas, ao
mesmo tempo, impendem às pessoas de experienciarem a construção de um mundo
significativo. Essa condição, descrita como “teoria da secularização”, faz com que os
indivíduos entrem na denominada crise estrutural de sentido. Em uma nova constituição
social de sentido de vida humana, ou seja, na busca de repostas para a crise de sentido,
as pessoas têm entrado em contato com outras formas religiosas, não hegemônicas, que
possibilitam outras experiências, tais como: a magia, a interiorização, a experiência
direta com o sagrado (espaço sagrado, tempo sagrado, corpo sagrado), símbolos vivos, e
até mesmo formas ‘religiosas’ não revestidas de deuses e crenças. Para o pensador
Catalão Marià Corbí, a modernidade com todo seu avanço tecnológico fez
desaparecerem as condições de vida que tornavam necessárias as culturas pré-industriais
e suas mitologias e religiões. Os sistemas de programação coletiva baseados nessas
religiões e mitologias perderam sua função de dar sentido e por isso mesmo entraram
em colapso e esvaziaram-se. Assim, ele propõe uma espiritualidade leiga sem crenças e
sem deuses, voltada para o conhecimento silencioso e o caminho interior. Todavia,
nesta espiritualidade leiga, livre da submissão a sistemas de crença, deve preservar o
legado espiritual presente nas várias tradições religiosas como contribuição para uma
sociedade mais pacífica e livre. Seria possível esta abordagem? Gianni Vattimo
desenvolve o pensamento que ele denomina de pensamento enfraquecido, ou seja
niilismo, na perspectiva de um cristianismo secularizado. Ele parte da releitura dos
filósofos Nietzsche e Heidegger, e assim mostra o declínio da metafísica no ocidente.
Para ele a morte de Deus põe fim à crença nos valores absolutos e abre o tempo da pós-
modernidade, época da pluralidade e propícia para o florescimento da nova
hermenêutica da religiosidade cristã. Esta interpretação é possível porque, em suas
raízes, encontra-se a inaugural experiência da kênosis de Jesus: esvaziamento do divino
que, na encarnação, aceita os limites do secular para transformar-se em amor sempre
relacional. Com isso, a caritas, principal mandamento deixado pelo Cristo, é
interpelação e critério para a vivência atual da espiritualidade. Caritas que é muito mais
o aspecto vivencial da experiência cristã do que uma verdade absoluta e estática. Desta
maneira esta pesquisa quer analisar o discurso religioso atual á luz da bioética, tendo

145
como fundamento as novas formas de espiritualidade que promovem experiências
religiosas para além das tradições institucionalizadas. Esta pesquisa se realiza dentro da
perspectiva de Fundamentos da Bioética. Área que oferece os subsídios necessários para
compreender a Bioética inserida no pluralismo religioso e a sua complexa relação com a
modernidade. Esta pesquisa tem o cunho qualitativo hermenêutico que busca interpretar
diversos autores que versam sobre religiosidade e pós modernidade. Buscamos o caráter
interpretativo de tal maneira que no processo hermenêutico em que as verdades, sem se
negarem, são compreendidas em novas coordenadas. Todo conhecimento humano é
interpretação, mas de uma realidade que tem sua objetividade independente do sujeito.

146
O uso da Internet e a formação de gênero feminino na infância

Ana Paula Ferreira141

Palavras-chave: Internet; gênero; infância.

A presente pesquisa tem como problema analisar os papéis sociais em alguns sites
destinados ao público infantil feminino e de modo específico pretende repensar o lugar
da linguagem no processo de atribuição de sentidos em relação a gênero. Discute a
formação humana mediada pela linguagem dentro de um cenário cultural, delimitado na
pesquisa por sites de grande acesso pelo público infantil feminino, dentre os quais:
“Meus jogos de meninas”, “Super Meninas” e “Barbie”. O olhar da análise direcionou-
se em relação à apresentação estética e aos tipos de jogos disponíveis, refletindo sobre
estereotipias do modelo feminino e o lugar da mulher evidenciado na linguagem dos
sites. Para compor o referencial em relação a gênero utiliza-se de leituras para se
compreender a mulher no Brasil sob a égide do capital e a educação de corpos. De
acordo com as análises obtidas é marcante a presença da cor rosa e jogos que valorizam
a beleza e sensualidade com discursos normatizadores que impactam na formação da
subjetividade e nas representações do gênero feminino, servindo em grande medida para
posicionarem a mulher na sociedade de mercado como consumidora em duas frentes
principais: de bens e serviços principalmente na área estética e de consumidora também
de um ideário de mulher e de feminilidade fortemente marcado pela sedução e desejo.
Faz-se a comparação de como os sites dos meninos estão formatados, mas a escolha na
pesquisa pelos impactos em relação às meninas se justifica porque sócio historicamente
apresenta-se dependente da figura masculina. Lembrando que a exposição de crianças à
internet é cada vez maior, essa pesquisa tem sua importância em questionar que tipo de
linguagem é veiculada a esse público, deixando claro que os sites e seus jogos fazem
uma educação dos corpos.

141
Mestranda Universidade Federal de Alfenas (Unifal), militante do Coletivo Feminista Jaçanã Musa dos
Santos (Poços de Caldas – MG) e supervisora pedagógica do Estado de Minas Gerais. Endereço
eletrônico: anapaulakarenina@yahoo.com.br

147
Índice de Autores
A Elenice Maria Caixeta ..................................... 53
Elisa Zwick ..................................................... 70
Adriana Andrade de Souza ............................. 94
Elvis Rezende Messias .................................. 114
Adriano Pereira Santos ................................... 89
Everaldo Clemente da Silva .......................... 111
Alessa Marynara Silva .................................... 19
Alessandra Valim Ribeiro ............................ 110 F
Alexandre da Costa ................................ 86, 144
Fabiano Correa da Silva .................................. 33
Allisson Vieira Gonçalves .............................. 74
Felipe Thiago Dos Santos ............................. 119
Ana Cecília Aragão Gomes ............................ 36
Fernanda Israel Pio ................................... 50, 96
Ana Maria Brochado de Mendonca Chaves ... 18
Francisco Rogerio de Oliveira Bonatto ......... 108
Ana Maria Brochado de Mendonça Chaves 104,
Francisco Xarão ........................................ 65, 80
111
Ana Paula Ferreira ........................................ 147 G
André Dias de Andrade .................................. 48
Gabriel Gurae Guedes Paes............................. 56
Andressa Alves Souto .................................... 62
Gabriela Acerbi Pereira................................... 59
Antônio Marcos Dias Vieira ......................... 104
Giseli do Prado Siqueira ......................... 94, 110
B Gláucia Gonzaga Galvão ................................ 95
Gleyton Trindade ............................................ 21
Bárbara Ferrario Lulli ................................... 118
Guilherme de Souza Beraldo .......................... 46
Beatriz Silva Curti .......................................... 18
Betânia Alves Veiga Dell’Agli ..................... 138 H
Brenda Krisley Serafim .................................. 82
Hudson Luiz Vilas Boas ............................... 132
Bruno Fraga Pistinizi ...................................... 50
I
C
Igor Rafael de Paula ........................................ 44
Camila Geracelly Xavier Rodrigues dos Santos
Isadora Prévide Bernardo .............................. 112
................................................................... 20
Ivo Phelipe Silva Petreca ................................ 35
Campo Elías Flórez Pabón ............................. 69
Carlos Tadeu Siepierski .................................. 74 J
Caroline de Oliveira Rodrigues .................... 108
Jailton Farias da Silva ..................................... 32
Caroline Salvi Brandão................................... 18
Janaina Roberta dos Santos ............................. 89
Cleiton Donizete Corrêa Tereza ................... 102
Jhonatan da Silva Corrêa................................. 44
Conrado Moreira Mendes ............................... 42
João Bosco Fernandes ..................................... 98
Cristiane Correia Dias .................................... 99
João Carlos Bastos Gonzaga ......................... 110
Cristiano de Jesus Andrade ............................ 57
Juliana De Nardin ......................................... 111
D
K
Daniele Ferreira Soares .................................. 74
Kátia Maria Pacheco Saraiva ............ 29, 46, 126
David Ferreira Camargo ................................. 73
Kênia Eliber Vieira ....................................... 138
Davidson Sepini Gonçalves ............................ 84
Dênis Ribeiro de Souza .................................. 43 L
Diego Lopes Calçado ................................... 104
Larissa Karine Rodrigues .............................. 126
Dóris Maria Luzzardi Fiss ............................ 141
Lucas Magalhães Costa ................................. 133
E Lucas Soares Miniussi .................................... 80
Luís César Schiavetto ..................................... 67
Eduardo Ramalho Rotstein ........................... 129
Luzia Batista de Oliveira Silva ....................... 95
Elaine Cristina Moraes Santos ...................... 137

148
M Rafaela F. Marques ....................................... 130
Rosangela Trabuco Malvestio da Silva ........... 37
Maíra Leda de A. Carvalho ............................ 84
Marcio Fabri dos Anjos ................................ 144 S
Marcos Beck Bohn ......................................... 25
Samira Cristina Silva Pereira .......................... 65
Maria Eugênia Zanchet................................. 141
Sandro Amadeu Cerveira .............................. 121
Maria Fabiana Lansac..................................... 22
Maria Isabel Braga Souza ............................... 27 T
Maria Izabel Ferezin Sares ........................... 110
Tatiana Plens Oliveira ..................................... 40
Maria Regina Teixeira Weckwerth ............... 134
Terezinha Richartz .......................................... 78
Maria Teresa Loduca ...................................... 99
Tiago Lazzarin Ferreira ................................. 122
Maria Teresa Mariano .................................. 111
Marsiel Pacífico ............................................ 100 V
Monica Guimaraes Teixeira do Amaral ....... 137
Vanessa da Silva Lima .................................. 126
Monica Guimarães Teixeira do Amaral ......... 93
Vanessa Thais de Oliveira Lima ................... 104
N Verônica Danziger Gomes .............................. 88
Virgilio Chediak............................................ 120
Nara Cristina Moreira Almeida ...................... 63
Virgílio Diniz Carvalho Gonçalves ........... 50, 96
P Vivian Inácio da Rosa ..................................... 57
Paula Carpinetti Aversa .................................. 55 W
Paulo César de Oliveira .......................... 92, 133
Wagner Barbosa de Barros ........................... 142
Paulo Denisar Fraga ..................................... 115
Willian Martini ............................................. 105
Priscila Cristina da Silva Cid Gigante ............ 76
Z
R
Zionel Santana ................................................ 78
Rafael Antônio Dias ....................................... 42

149
Realizado nos dias 16, 17, 18 e 19 de novembro de 2016, na Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais - PUC Minas, Campus Poços de
Caldas e nos dias 17 e 21 de novembro na Universidade Federal de
Alfenas - Unifal-MG, Sede Alfenas.

150

You might also like