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1
CADERNO DE RESUMOS
16 a 21 de novembro de 2016
Poços de Caldas – Minas Gerais, Brasil
Alfenas – Minas Gerais, Brasil
2
Os trabalhos contidos nesta obra estão sob a licença Creative Commons.
Todos os textos constantes nos Anais do Lubral 2016 são de inteira responsabilidade
de seus autores, inclusive a revisão ortográfica e gramatical.
Acesso on line:
http://simposiolubral.pucpcaldas.br/wp-content/uploads/2017/05/Caderno-de-Resumos.pdf
Realização: PUCMinas - Campus Poços de Caldas, Unifal-MG, Sede Alfenas,
UBI, Covilhã, Portugal.
Simpósio realizado nos dias 16, 17, 18 e 19 de novembro na Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais, Campus Poços de Caldas e nos dias 17 e
21 de novembro na Universidade Federal de Alfenas, Sede Alfenas.
ISBN: 978-85-63473-20-2
3
SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE FILOSOFIA, COMUNICAÇÃO E
SUBJETIVIDADE: LUSO-BRASILEIRO-ALEMÃO
16 a 21 de novembro de 2016
Comissão científica:
Comissão organizadora:
Coordenação geral:
4
Realização:
5
Apoio Institucional/Fomento:
Apoio logístico:
Patrocínios:
6
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO......................................................................................................... 11
PROGRAMAÇÃO SINTÉTICA ................................................................................... 13
MESA 1 .......................................................................................................................... 17
Comunicação, Mídias e Linguagens: práticas e reflexões .............................................. 17
“Fora Dilma” e “Fora Temer”: A mídia e a polarização política no contexto atual da
sociedade brasileira......................................................................................................... 18
A influência e o impacto da mídia nas crianças de 4 a 9 anos: a percepção dos pais .... 19
A cartografia do afeto: São Paulo e Arte Urbana ........................................................... 20
500 anos da Utopia de Thomas More na grande mídia brasileira .................................. 21
Cultura da autonomia e as redes sociais na consolidação da cidadania ......................... 22
A notícia como definidora do tempo – e o indivíduo em relação a isso......................... 25
A comunicação empresarial e a relação de dominação significada no consenso ........... 27
“Sacudindo a memória” na internet: recontando histórias, resignificando memórias e
aproximando gerações .................................................................................................... 29
A literatura como processo de subjetivação: entre o sujeito periférico e o devir-periferia
........................................................................................................................................ 32
A ciberliteratura e a formação de professores de letras .................................................. 33
A construção social do negro ......................................................................................... 35
O conceito de comunicação presente/ausente em Vilém Flusser ................................... 36
Televisão: linguagem, imagem e comunicação no contexto da Indústria Cultural ........ 37
Experimentações na escrita com o arquivo do Coletivo Cê ........................................... 40
Jogando com teorias: games studies, e a semiótica com isso? ....................................... 42
A convalescença da linguagem em Clarice Lispector .................................................... 43
Em cartaz: a guerra dos super herois pelo mercado na indústria cultural do cinema ..... 44
MESA 2 .......................................................................................................................... 45
Filosofia e Psicologia: questões da subjetividade........................................................... 45
Virtualidade e subjetividade contemporânea: contribuições da fenomenologia à luz de
Heidegger........................................................................................................................ 46
A imagem entre representação e precessão .................................................................... 48
7
A concepção de justiça na Alegoria da Caverna de Platão: uma comparação das
interpretações kelseana e heideggeriana ......................................................................... 50
Oliva Sabuco: análise da contribuição do seu pensamento para a psicossomática ........ 53
Oficina de artes: território de existência ......................................................................... 55
Subjetivação e temporalidade em Sartre ........................................................................ 56
O desejo da futura profissão na perspectiva de crianças institucionalizadas: um estudo
psicanalítico .................................................................................................................... 57
Corpo, moradia e a produção de subjetividades na gestão do habitar: o Programa Minha
Casa Minha Vida. ........................................................................................................... 59
O existencial ‘ser-com’ em Ser e Tempo ........................................................................ 62
A desconstrução da ideia objetiva de mente em Heidegger: O Dasein como
espacialidade................................................................................................................... 63
Os limites da emancipação política em face da emancipação humana: uma (re)leitura da
Questão Judaica de Karl Marx ....................................................................................... 65
Fernão Mendes Pinto, o peregrino à luz da singularidade em Félix Guattari ................ 67
Mecanicismo materialista y psicología hobbessiana ...................................................... 69
A subjetividade autoritária: bases frankfurtianas para a análise social crítica ............... 70
A sensação no ensaio sobre a origem dos conhecimentos humanos de Condillac ......... 73
Novas subjetividades: a contribuição da Neurociência para as representações sociais da
pessoa humana ................................................................................................................ 74
A metonímia do desejo e o brinquedo como suporte significante: considerações sobre o
brincar na clínica psicanalítica com crianças hospitalizadas .......................................... 76
Da subjetividade a intersubjetividade: o giro da filosofia do sujeito para a pragmática
linguística ....................................................................................................................... 78
Classes sociais, partido e Estado no Manifesto Comunista de Marx e Engels ............... 80
Ressocialização sobre duas rodas: o trabalho do condenado como fator de
ressocialização, agente de transformação carcerária e condição de dignidade humana . 82
A experiência de leitura no presídio de Poços de Caldas: como é ler no presídio? ....... 84
Vem Cuidar! Promoção da saúde e a cidadania do idoso institucionalizado ................. 86
Bullying na escola: a percepção de um grupo de alunos do 9º ano do Ensino
Fundamental de uma escola pública em Poços de Caldas .............................................. 88
A natureza na tela do cinema 3D: uma análise das possibilidades e contradições do
filme Avatar a partir da Teoria Crítica ........................................................................... 89
MESA 3 .......................................................................................................................... 91
Filosofia, Educação, Cultura, Ética e Sociedade ............................................................ 91
8
A educação emancipatória e a superação da barbárie em Adorno (1903-1969) ............ 92
A reversão dialética da tecnologia digital e a emancipação da consciência no rap ........ 93
Conhecer e aprender a viver: reflexões acerca do fazer filosófico ................................. 94
O silêncio que incomoda: uma reflexão sobre alunos de uma escola pública ................ 95
A alegoria platônica do anel de Giges e as implicações do uso de câmeras de segurança
no âmbito do direito e da moral. ..................................................................................... 96
Habilidades de pensamento na aula de Filosofia ............................................................ 98
Hiphopnagô: letramentos rítmicos e sonoros ................................................................. 99
Redes sociais, alunos e professores: a expressão virtual do ressentimento real ........... 100
O que pode e o que impede a educação pública? ......................................................... 102
A ação social e a ampliação do conhecimento do mundo: relato de experiência de
alunos/as universitários/as da PUC Minas, campus Poços de Caldas .......................... 104
Epistemologia multicultural e a questão do sujeito em Charles Taylor ....................... 105
O discurso da democracia racial: um mito operante no contexto socioeducacional
brasileiro ....................................................................................................................... 108
Espiritualidade e interfaces: resultados de pesquisa realizada com universitários da PUC
Minas, campus Poços de Caldas ................................................................................... 110
Liberdade religiosa e laicidade: reflexões pautadas nos resultados de pesquisa com
universitários da PUC Minas, campus Poços de Caldas .............................................. 111
A formação do orador ciceroniano: do domínio da linguagem à filosofia ................... 112
Montaigne e a educação como “frequentação”: pensando a atividade pedagógica para
além dos espaços tradicionais de comunicação do saber ............................................. 114
Mito, ciência e esclarecimento: crítica do pressuposto epistêmico-metodológico do
positivismo ................................................................................................................... 115
Cultura e sublime em “sobre o sublime”, de Friedrich Schiller ................................... 118
A relação entre cultura e biologia na obra madura de Nietzsche ................................. 119
O aberto: conceitos heideggerianos recepcionados por Agamben no debate sobre o
poder soberano .............................................................................................................. 120
Religião, política e secularização: dimensões de um problema ................................... 121
Astúcia ou malandragem: uma reflexão sobre a fenomenologia do brasileiro............. 122
A ação docente mediante o discurso da democracia racial: um estudo proeminente nas
escolas públicas do município de Poços de Caldas ...................................................... 123
Projeto de extensão “Intergeracional Sacudindo a Memória”: uma estratégia de
aprendizagem na Universidade ..................................................................................... 126
9
Técnica e política: considerações sobre a ambiguidade da revolução técnica a partir de
Spengler, Ortega y Gasset e Habermas ........................................................................ 129
Quem é a Polegarzinha? ............................................................................................... 130
A ideologia neoliberal como forma de linguagem neutra e seus impactos no sistema
educacional público de Minas Gerais ........................................................................... 132
Mouros x Cristãos: do conflito armado aos outros campos da batalha ........................ 133
Ramon Llull e o diálogo inter-religioso ....................................................................... 134
Um debate sobre os rumos da cultura popular negra e o seu reconhecimento na era
globalizada .................................................................................................................... 137
Utilização de cotas na universidade.............................................................................. 138
Entre a Ciência e a Filosofia: notas sobre a análise de discurso francesa em sua
dimensão epistêmica ..................................................................................................... 141
Publicidade como um dos aportes para o progresso da humanidade na história segundo
Immanuel Kant ............................................................................................................. 142
Fundamentos da bioética a partir de uma espiritualidade não religiosa ....................... 144
O uso da Internet e a formação de gênero feminino na infância .................................. 147
10
APRESENTAÇÃO
11
e também de A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica (Das Kunstwerk im
Zeitalter seiner technischen Reproduzierbarkeit), de Walter Benjamin. Todas são obras
e autores fundamentais para o pensamento filosófico crítico, essenciais no
enfrentamento dos desafios impostos pela modernidade nos âmbitos tanto científico
quanto técnico.
Além de reunir pesquisadores e especialistas das universidades promotoras do Brasil e
Portugal, o evento também contou com convidados internacionais oriundos da
Alemanha e da Sérvia, estabelecendo um elo bastante diversificado de abordagens.
Além das conferências e palestras, o Simpósio ofereceu aos participantes um minicurso
sobre a relação entre o pensamento de Heidegger e a mídia. Os participantes, vindos de
diferentes partes do Brasil, também trouxeram seus trabalhos, os quais foram
apresentados em três mesas de comunicação, conforme as seguintes linhas temáticas:
1. Comunicação, Mídias e Linguagens: práticas e reflexões: Esta sessão
procurou abrigar comunicações que abordaram temas relacionados ao campo da
linguagem/Filosofia da Linguagem, semiótica e comunicações simbólicas,
mídias e suas relações no contexto cultural, social, políticos, comportamental.
Prof. Dr. Gérson Pereira Filho – PUC Minas - Campus Poços de Caldas
Prof. Dr. Marcos Roberto de Faria – Unifal-MG - Sede Alfenas
Prof. Dr. João Carlos Ferreira Correia – UBI - Covilhã, Portugal
12
PROGRAMAÇÃO SINTÉTICA
MANHÃ
8:00h - 9:00h: Recepção e credenciamento
9:00h - 10:00h: Abertura do evento. Representantes institucionais (PUC Minas, Unifal-
MG, UBI - Portugal e representação da Alemanha).
10:00h - 10:30h: Videoconferência: “Transformações pós-modernas e os impactos nas
Humanidades e na Comunicação”. Prof. Dr. João Carlos Ferreira Correia (Universidade
da Beira Interior - Portugal).
10:00h - 12:00h: Conferência: “Transformações pós-modernas das Humanidades e da
Comunicação: da paideia ao interculturalismo”. Profa. Dra. Anabela Maria Gradim
Alves (Universidade da Beira Interior - Portugal). Coordenador da mesa: Prof. Dr.
Gérson Pereira Filho (PUC Minas).
Almoço
TARDE
13:30h - 17:30h: Sessões de comunicações
NOITE
19:00h: Conferência: “Fenomenologia, Heidegger e a Filosofia oriental”. Prof. Dr.
Antônio Florentino Neto (Unicamp). Coordenador da mesa: Prof. Dr. Ronny Francy
Campos (PUC Minas).
21:30h: Lançamento de livros:
Antônio Florentino Neto e Oswaldo Giacoia Jr. (Orgs.), Heidegger e o pensamento
oriental (Campinas: Phi).
Antônio Florentino Neto, Escritos de Leibniz sobre a China (Campinas: Phi).
Maria José Viana Marinho de Mattos, Camila Alves Fior, Gérson Pereira Filho (Orgs.),
Psicologia e Filosofia (Curitiba: CRV).
13
Quinta-Feira, 17/11 – Auditório 2 da PUC Minas – Poços de Caldas
MANHÃ
8:00h: Reabertura das atividades. Mesa: “A cultura midiática contemporânea e seus
impactos”. Prof. Dr. Júlio Pinto (PUC Minas); Prof. Dr. Lucas Cid Gigante (Unifal-
MG). Coordenador da mesa: Prof. Dr. Conrado Moreira Mendes (PUC Minas).
Intervalo
10:30h - 12:00h: Conferência: “Sensação e fetiche na cultura da imagem”. Prof. Dr.
Flademir Roberto Williges (IFRS). Coordenador da mesa: Prof. M.Sc. Paulo Denisar
Fraga (Unifal-MG).
Almoço
TARDE
13:00h - 18:00h: Minicurso: “Introdução à Filosofia de Heidegger para os estudos da
mídia”. Jornalista e Profa. Dra. Soraya Guimarães Hoepfner (Berlim - Alemanha).
NOITE
19:00h: Conferência: “Filosofia e Comunicação: subjetividade e sociedade”. Prof. Dr.
Miroslav Milovic (UnB). Coordenador da mesa: Prof. Dr. Marcos Roberto de Faria
(Unifal-MG).
19:30h - 21:00h: Mesa simultânea – Auditório Dr. João Leão de Faria – Unifal-MG -
Sede Alfenas. “Filosofia, mídia, cultura e comunicação”. Prof. Dr. André Barata
Nascimento (Universidade da Beira Interior – Portugal); Prof. Dr. Flademir Roberto
Williges (IFRS). Coordenador da mesa: Prof. Dr. Francisco Xarão (Unifal-MG).
14
Sexta-Feira – 18/11 – Auditório 2 da PUC Minas – Poços de Caldas
MANHÃ
8:00h: Reabertura dos trabalhos. Mesa: “Realidade social, cultura e ideologia”. Cineasta
Frederico Furtado; Prof. Dr. André Luiz Sena Mariano (Unifal-MG). Coordenador da
mesa: Prof. Dr. Sibélius Cefas Pereira (PUC Minas).
Intervalo
10:30h - 12:00h: Conferência: “As três antinomias da democracia e o problema da
comunicação”. Prof. Dr. André Barata Nascimento (Universidade da Beira Interior –
Portugal). Coordenador da mesa: Prof. Dr. Adriano Pereira Santos (Unifal-MG).
Almoço
TARDE
13:30h - 17:30h: Sessões de Comunicações
17:30h - 18:30h: Reunião científico-institucional do evento (Comissão Organizadora,
Comissão Científica, representantes institucionais e convidados externos) – Local: PUC
Minas - Poços de Caldas, Prédio 2, Andar térreo, sala 10.
NOITE
19:00h: Apresentação cultural: “A dança dos Orixás” – Cia. de Dança Gisa Carvalho.
20:00h: Conferência: “A Filosofia depois de Heidegger”. Prof. Dr. Peter Trawny
(Universidade de Wuppertal – Alemanha). Tradução: Jornalista e Profa. Dra. Soraya
Guimarães Hoepfner. Coordenador da mesa: Prof. Dr. Gérson Pereira Filho – PUC
Minas.
Divulgação dos livros do autor: Adyton: a Filosofia esotérica de Heidegger; Heidegger
e o mito da conspiração judaica (Rio de Janeiro: Mauad).
15
Sábado, 19/11 – Auditório 2 da PUC Minas – Poços de Caldas
MANHÃ
9:00h: Conferência: “Filosofia da sensação”. Prof. Dr. Christoph Türcke (Escola
Superior de Artes Gráficas e Livreiras de Leipzig e Universidade de Leipzig -
Alemanha). Coordenador da mesa: Prof. Dr. Francisco Xarão (Unifal-MG).
Divulgação do livro do autor Sociedade excitada: Filosofia da sensação (Campinas: Ed.
Unicamp) e lançamento de Hiperativos! Abaixo a cultura do déficit de atenção (Rio de
Janeiro: Paz e Terra).
11:00h: Apresentação Musical – Conservatório Musical Antônio Ferrucio Viviani.
12:00h: Encerramento.
Almoço de confraternização – por adesão.
NOITE
19:30h - 21:00h: Conferências Humanísticas II: “Filosofia da sensação”. Prof. Dr.
Christoph Türcke (Escola Superior de Artes Gráficas e Livreiras de Leipzig e
Universidade de Leipzig - Alemanha). Coordenador da mesa: Prof. M.Sc. Paulo Denisar
Fraga (Unifal-MG).
Auditório Dr. João Leão de Faria da Unifal-MG – Para esta conferência houve inscrição
complementar (gratuita) no site da Unifal-MG.
16
MESA 1
17
“Fora Dilma” e “Fora Temer”: A mídia e a polarização política no contexto atual
da sociedade brasileira
1
Bibliotecária na PUC Minas com MBA em Gestão Avançada de Pessoas. E-mail: biacurti@gmail.com.
2
Estudante de Graduação 7º semestre do Curso de Direito. E-mail: carols_brandao@hotmail.com.
3
Professora da PUC Minas e Mestre em Educação USP. E-mail: ambmchaves@uol.com.br.
18
A influência e o impacto da mídia nas crianças de 4 a 9 anos: a percepção dos pais
4
Graduanda em Pedagogia pela PUC Minas. E-mail: lelessa2707@yahoo.com.br.
19
A cartografia do afeto: São Paulo e Arte Urbana
5
Doutoranda em Comunicação e Semiótica na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC.
Mestra em Teoria e Crítica de Arte pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto – PT. E-mail:
camila.geracelly@gmail.com.
20
500 anos da Utopia de Thomas More na grande mídia brasileira
Gleyton Trindade6
6
Professor Adjunto da Universidade Federal de Alfenas (Unifal-MG).
21
Cultura da autonomia e as redes sociais na consolidação da cidadania
Políticas públicas de incentivo à cultura e sua relação com as expressões individuais que
são estabelecidas através de conexões por meio de mídias sociais serão analisadas com
base em eventos culturais que incentivam o uso de espaços públicos e colaboram para
consolidar a cultura da autonomia no Brasil. Esta relação é apresentada através de
aspectos encontrados no processo de consolidação e desdobramento da Virada Cultural
executada pelo Governo do Estado de São Paulo desde 2005 e pelas grandes
manifestações de ordem política ocorridas a partir do Movimento Passe Livre – MPL
em 2013, considerando o uso tecnológico como fator inerente a transformação de
espaços públicos em espaços de autonomia dentro de contexto político e cultural. A
base teórica do artigo será fundamentada no pensamento de dois autores principais:
Manuel Castells e Isaura Botelho. O primeiro autor trata da conceituação da “Cultura da
Autonomia” (CASTELLS; 2013) com ênfase para a politização das redes sociais e
também no advento da popularização do acesso rede informacional que o autor
denomina de “Galáxia de Internet” (CASTELLS; 2003). A autora fundamenta aspetos
da cultura democrática em contraponto à democratização da cultura, seja em sua
dimensão antropológica ou erudita, apresentando considerações relevantes sobre
aspectos da implementação de políticas públicas culturais e sobre a influência dos atores
políticos, sociais e econômicos que estão envolvidos neste processo (BOTELHO;
2001). Complementando o embasamento teórico serão considerados artigos que tratam
da dispersão irregular de áreas públicas decorrente do fenômeno de metropolização no
Brasil e como isto colabora para a acentuação da desigualdade social (BENFATTI, et al;
2010) sendo que este mesmo fenômeno também foi observado em diversos países da
América Latina trazendo com grandes impactos negativos para a população
(KAZTMAN e RIBEIRO; 2008). Para embasamento do texto proposto serão utilizados
dados quantitativos e análises publicadas por órgãos governamentais e institutos de
pesquisa sobre as políticas públicas culturais e sobre as manifestações populares
ocorridas desde 2001 quando teve início a implementação da Virada Cultural na cidade
de São Paulo (OLIVEIRA; 2009) até as manifestações populares de natureza política
recentemente e que abrangeram todo o território nacional (CASTELLS; 2013).
7
Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Urbanismo – PUC-Campinas; Mestre em Urbanismo do
Programa de Pós Graduação em Urbanismo – PUC-Campinas; Professor PucPCaldas, Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo. E-mail: bialansac@gmail.com.
22
Entendendo que os valores culturais e os canais participativos favorecem que se
estabeleça uma coesão social que corrobora com o fortalecimento do sentimento de
pertencimento de um indivíduo em um grupo social ou em uma comunidade. Na
sociedade contemporânea, cada vez mais dependente da tecnologia de informação e
comunicação, observa-se um fenômeno que trata da manifestação de valores individuais
que são expostos em mídias sociais e nestas o indivíduo encontra com maior facilidade
outros indivíduos que compactuam os mesmos valores, embora estes indivíduos estejam
dispersos no meio físico, suas convicções se fortalecem no meio virtual. Quando estes
valores individuais se tornam consensuais, configuram comunidades ou grupos. Com o
crescimento destas comunidades em número de integrantes e também pelo
fortalecimento do consenso conceitual, estes valores fundamentais passam a ter uma
dimensão política, fazendo com que destas ideias transponham as fronteiras
tecnológicas e sejam manifestadas de forma física. Esta transposição pode ser observada
pela apropriação de espaços públicos pela população como uma forma tradicional de
consolidação do pensamento cidadão em ação social e política. Neste ponto se observa a
consolidação da cultura da autonomia, pertencente a dimensão teórica, porém, através
da apropriação de espaços públicos ou de uso coletivo, de dimensão física, estas as áreas
utilizadas pela população de forma coletiva e orquestrada, passam a ser consideradas
como espaços de autonomia, legitimando ou buscando a legitimação do pensamento
consensual. Este fenômeno contemporâneo da cultura da autonomia, aliado às práticas
democráticas de incentivo à coesão social e mais inclusivas no âmbito da cidadania e do
respeito aos fundamentos culturais do indivíduo, serão analisados com maior
profundidade pelo artigo apresentado, baseado na ampliação do acesso e disseminação
de novas tecnologias de informação e de comunicação como instrumento facilitador das
manifestações populares que colaboram com o fortalecimento do sentimento de
pertencimento do indivíduo em comunidade e também sua cidadania. Referências
Bibliográficas: BENFATTI, D.M., QUEIROGA, E.F., SILVA, J.M. Transformações da
Metrópole Contemporânea: Novas Dinâmicas Espaciais, Esfera da Vida Pública e
Sistema de Espaços Livres. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais. V12,
n.2, pp.29-43, maio 2009. BOTELHHO, I. As dimensões da cultura e o lugar das
políticas públicas. São Paulo em Perspectiva, 15(2) 2001, pp. 73-83. Disponível em:
www.scielo.br/pdf/ssp/v15n2/8580.pdf. Acesso em 05/09/2016. CASTELLS, M. A
Galáxia da Internet: Reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade. Rio de
Janeiro, Zahar, 2003. CASTELLS, M. Redes de Indignação e Esperança: movimentos
sociais na era da internet. Rio de Janeiro: Zahar, 2013. KAZTMAN, R., RIBEIRO,
L.C.Q. Metrópoles e sociabilidade: os impactos das transformações socioterritoriais das
grandes cidades na coesão social dos países da América Latina. Rio de Janeiro:
Cadernos Metrópole 20 pp.241-261, 2ºSem. 2008. Disponível em:
file:///C:/Users/Usuario/Documents/Doutorado/ARTIGOS%20FAB/Referencia/8706-
21150-1-SM.pdf Acesso em 10/10/2016. OLIVEIRA. M.C.V. Culturas, públicos,
processos de aprendizado: possibilidades e lógicas plurais. Políticas Culturais em
Revista, 2(2), pp.122-136, 2009. Disponível em:
http://www.ufrgs.br/difusaocultural/adminseminario/documentos/arquivo/Culturas,%20
publicos,%20processos%20de%20aprendizado%20-
23
%20possibilidades%20e%20logicas%20plurais%20-%20MCVO.pdf. Acesso em:
10/10/2016.
24
A notícia como definidora do tempo – e o indivíduo em relação a isso
8
Jornalista, Master of Arts em Transnational Communications and Global Media pelo Goldsmiths
College da Universidade de Londres, Mestre e Doutorando em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP.
E-mail: marcosbohn@hotmail.com.
25
indica ser possível tomar como procedente a hipótese de que o fluxo noticioso
contemporâneo, ao interagir com as paradas virtuais da recordação subjetiva do
indivíduo, pode alterar sua memória, interferindo em sua autonomia.
26
A comunicação empresarial e a relação de dominação significada no consenso
9
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Linguagem da Universidade do Vale do
Sapucaí. E-mail: isabelsouza.jornalista@gmail.com.
27
por aqueles que compõem a sua força de trabalho, fazendo com que estes sujeitos, em
sua posição sujeito trabalhador, multipliquem estes ideais de gestão corporativa. Para
análise do discurso empresarial selecionamos recortes de alguns dos textos produzidos
pela multinacional Alcoa Alumínio S/A. A empresa está presente em mais de trinta
países e possui cerca de 60 mil funcionários. No Brasil se instalou em 1965, possui
escritórios, unidades de exploração e empreendimentos em nove diferentes Estados,
atuando na produção do metal, desde a extração da bauxita até sua transformação em
diversos produtos. Um primeiro aspecto a se destacar nos materiais de comunicação, é
que a empresa nomeia seus funcionários, independentemente da posição hierárquica que
ocupam, como “Alcoanos”. Analisando o uso dessa regularidade nos textos produzidos
para o público interno e externo da empresa, percebemos que há um esforço para nivelar
os trabalhadores, de modo que todos os vinculados a mesma empresa tenham atitudes,
repliquem posturas e posições ideológicas, como espelhos da organização. Criando a
categoria “Alcoanos”, a empresa busca a padronização e quem não se inscreve nesta
posição estará fora da parcela dos que, pelo imaginário, entendem ser iguais perante à
organização. O termo pode ainda ser compreendido como um nome próprio, uma
identificação, com a grafia da primeira letra maiúscula, assim como acontece na grafia
dos nomes em nossa sociedade. Os “Alcoanos” se conhecem, têm ideologia própria e se
inscrevem na mesma posição. Os “Alcoanos” têm competência para disseminar a
postura da empresa entre eles próprios, é o poder que, como água, inunda os
funcionários, para que corroborem com um propósito. Ao se depararem com a
nomenclatura “Alcoanos” os funcionários silenciam o “eu”, o indivíduo se oculta para
se inscrever nestes enunciados mercadológicos. Esse silenciamento, ocasionado pelo
consenso e domínio, faz com que os indivíduos/funcionários se nivelem ao padrão da
empresa, às suas ideologias, se assujeitando à formação discursiva do capital. No
discurso da Alcoa quem está inserido neste ambiente consensual é competente por agir
dessa maneira e não de outra, inscrevendo os funcionários em uma visão de dentro para
fora, um imaginário onde eles são diferentes, quando comparados a outros
trabalhadores, de outras empresas. Esse imaginário é reflexo de como a multinacional se
significa, evidenciando que quem não cumpre o que está estabelecido é desqualificado.
Nossa formação social nos remete ao capital e a denominação “Alcoanos” produz um
efeito de verdade, dá existência a algo inexistente: o coletivo da empresa inventado, o
“nós” Alcoa. O termo “Alcoano” legitima a multinacional, produzindo um imaginário
do bom lugar para se trabalhar, da boa empresa, dos bons produtos para se consumir, de
uma instituição parceira da sociedade, preocupada com o social e o ambiental. É o poder
justificado, atravessado pelos parâmetros capitalistas que fortemente estão nos textos da
atualidade e são incorporados à empresa de modo que os diferentes públicos - interno e
externo - também se signifiquem neste discurso, mesmo que não se deem conta disso.
28
“Sacudindo a memória” na internet: recontando histórias, resignificando
memórias e aproximando gerações
10
Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Psicologia da PUC Minas. Psicóloga, Mestre em
Psicologia Clínica pela PUC-RJ. Especialista em capacitação de profissionais de trabalho Intergeracional
pela Universidade de Granada- Espanha. E-mail: katiasaraiva2011@gmail.com.
29
uma linguagem mais adequada e um formato mais contemporâneo sobre as memórias
autobiográficas narradas pelos idosos da cidade – que leve os jovens a resgatar as
tradições e a conhecer e refletir sobre a identidade cultural local, podendo-se constituir
um acervo de memórias das pessoas a ser disponibilizado na web. c) promover o bem
estar físico-mental e a qualidade de vida de todos os envolvidos. O Público alvo do
projeto são pessoas idosas com mais de 60 anos, de ambos os sexos, de diferentes
classes sociais que refletem a identidade sociocultural do município de Poços de Caldas.
Quanto aos beneficiários diretos, estes são 15 idosos e 10 jovens universitários de
ambos os cursos Psicologia e Publicidade e Propaganda; soma-se a esse quantitativo um
grande número de beneficiários indiretos, que são mais de 400 alunos dos cursos de
Psicologia e Publicidade e Propaganda, com grande potencial de ampliação desse
quantitativo, visto que há de se considerar as famílias dos idosos envolvidos e o
imensurável número de acessos possíveis do referido documentário na rede mundial de
computadores (mídias sociais como o “facebook” e o “youtube”). Quanto as etapas do
projeto, pode-se dividir em cinco momentos: 1º: Preparação técnica dos estudantes por
meio de diversas oficinas; 2º: Coleta de histórias/informações com os idosos locais
(método da história de vida) e pesquisa nos livros/arquivos que relatam a memória da
cidade; 3º: A preparação do documentário por meio de reuniões semanais conjuntas
entre os alunos para construção do roteiro, edição das imagens, confecção da identidade
visual do projeto e elaboração de todos os materiais que serão disponibilizados na web;
4º: Eventos de exibição do documentário no Centro Cultural da Cidade aberto ao
público e outro na Universidade para os discentes de ambos os cursos envolvidos. 5º: O
encerramento com a avaliação e a reflexão sobre os resultados, com participação de
alunos e idosos. Para coleta de dados, utilizou-se a observação participante, o método de
história de vida e foram feitos registros dos relatos de todos os encontros tanto em diário
de campo, quanto fotográficos. Além disso, ao final do projeto, será aplicado um
pequeno questionário com o objetivo de buscar os significados da experiência como um
todo, tanto para os idosos, quanto para os discentes. Trata-se de um projeto que ainda
está em andamento, mas caminhando para as etapas finais; ou seja, etapa de montagem
do documentário, postagens de teasers na Web e preparação para o evento de
lançamento/exibição do mesmo, que ocorrerá em novembro de 2016. Em relação aos
resultados, já se pode perceber, por meio da observação participante e dos relatos
colhidos dos próprios atores envolvidos (alunos e idosos) que todos apontam ser uma
experiência muito significativa e enriquecedora, que tem proporcionado bons encontros,
plenos em potencializar a disposição de agir, a reflexão e o poder criativo de seus
participantes. Assim, pode-se perceber que o projeto vem oferecendo a possibilidade de
articulação entre as práticas psicológicas, que promovem tanto o bem estar e a interação
entre as diferentes faixas etárias, quanto o desenvolvimento sociocultural de idosos e de
jovens através de um processo de educação recíproca. Deste modo, pode-se pensar que
esse tipo de prática ajuda a criar condições para o desenvolvimento de futuros
profissionais mais sensíveis às questões do envelhecimento e, também, contribui para
30
uma evolução humana e social mais ampla, no sentido de usufruir da cultura existente e
ajudar a criar uma nova; principalmente com a utilização de um dos recursos
comunicacionais mais importantes da contemporaneidade – a internet – entendendo-se
que o mundo virtual não está apartado da vida e pode ser compreendido como área de
interlocução possível em que experiências podem ser recontadas, armazenadas,
compartilhadas e resignificadas. Além disso, o projeto pretende sensibilizar a
comunidade em geral para a riqueza sociocultural, o patrimônio imaterial da cidade e o
valor da troca de experiências entre gerações.
31
A literatura como processo de subjetivação: entre o sujeito periférico e o devir-
periferia
11
Mestrando em Ciências Sociais pelo PEPGCSO (PUC-SP). E-mail: jailton.farias@yahoo.com.br.
32
A ciberliteratura e a formação de professores de letras
12
Graduado em Letras; mestre em Educação; doutorando em Educação do Programa de Pós-graduação
em Educação da Universidade Metodista de Piracicaba; professor de Língua Portuguesa na Faculdade
Santa Lúcia; professor de Língua Portuguesa na Instituição de Ensino São Francisco. E-mail:
fabianocosilva@gmail.com.
33
caracteriza pela mera digitalização de um texto previamente existente na forma
impressa. Antes, trata-se de experimentos literários que fazem uso simultâneo da
linguagem literária e da linguagem de programação de computador para a construção
dos textos” (KIRCHOF, 2013, p. 129). Diferentemente do que muitos pensam, este tipo
de arte literária não se resume, ou melhor, não é a transposição ou digitalização de obras
literárias em suporte impresso para a versão digital, apesar de este ser um projeto
importante de preservação e acesso às obras clássicas da literatura universal.
Desfazendo esta confusão, nos deparamos com algo que é novo nos cursos de formação
de professores de Letras, pois a Ciberliteratura não é simplesmente uma evolução da
obra impressa em obras digitalizadas, mas uma forma diferenciada de consumir,
apreciar e valorizar a arte literária. Quando falamos em Ciberliteratura, estamos falando
em diferentes formas de produzir arte utilizando-se do suporte do computador, sendo,
como já dissemos anteriormente, impossível acontecer fora deste. Ou seja, os recursos
tecnológicos, tais como o hipertexto, as hipermídias, as mídias digitais, são parte
integrante da “ciber-obra literária”. Diante de todos estes fatos, é de fundamental
importância a formação de professores de Letras que, primeiramente, conheçam estas
obras ciberliterárias e, consequentemente, as trabalhem com seus alunos nas aulas de
Literatura na escola, buscando contornar os problemas de desinteresse com a arte
literária e com a leitura em geral: “é imprescindível, contudo que a escola atraia o
aluno-leitor para a nova era da literatura, em especial, para a Ciberliteratura, pois
esta vem promovendo mudanças na história da leitura e destacando a função do leitor,
o qual se tornou protagonista do processo por se configurar de modo ativo, um
hiperleitor” (XAVIER & DAVID, 2014, p. 50). Não estamos afirmando que a
tecnologia (a Ciberliteratura) resolverá todos os problemas de falta de interesse dos
estudantes em relação à leitura e à arte literária, no entanto, é uma preciosa ferramenta
que pode muito contribuir para a valorização desta arte, afinal, os alunos têm um
contato muito próximo e íntimo com as novas tecnologias, pois são, como afirma
Prensky (2001), nativos digitais. É iminente que o professor de Literatura trabalhe estas
novas tecnologias em sala de aula, demonstrando a Ciberliteratura como forma de
produção artística para estes educandos, despertando nos mesmos o interesse pela
leitura, produção e “degustação” da arte ciberliterária: “El uso por parte de los Nativos
Digitales hace que los docentes necesiten implantar nuevas Tecnologías en la
enseñanza, adecuadas a los lenguajes que ellos emplean .Se trata de comprobar si esto
ayudaría a mejorar su motivación y contrastarlo con técnicas tradicionales” (NÚÑEZ
& GUARDIA, 2011, p. 88).
34
A construção social do negro
13
Graduando em Relações Internacionais pela PUC MINAS (Pontifícia Universidade Católica de Minas
Gerais) - Poços de Caldas e Graduado em Licenciatura em História pela UNIFEOB (Centro Universitário
Octavio Bastos – São João da Boa Vista - SP). E-mail: ivopetreca@gmail.com.
35
O conceito de comunicação presente/ausente em Vilém Flusser
14
Doutoranda do Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica da PUC-SP,
orientanda da Profa. Dra. Lucrécia D’Alessio Ferrara (PUC-SP). E-mail: anacecilia_ag2@yahoo.com.br.
36
Televisão: linguagem, imagem e comunicação no contexto da Indústria Cultural
15
Pedagoga, Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Maringá, Doutoranda em Educação pela
Universidade Federal de São Carlos.
16
O termo mass media começou a ser usado pela sociologia norte-americana, após a Segunda Guerra
Mundial (SOUZA, 1996).
37
televisão, por meio de seus programas, não tem a intenção de promover um pensamento
mais elaborado. O cunho de entretenimento desenvolve uma aparente ideia de
neutralidade e imparcialidade (ALMEIDA, 2000). Apesar dessa pseudoneutralidade,
cujo fim maior seria divertir e agradar o espectador, relaxando suas tensões do dia de
trabalho, sabe-se que os anunciantes pagam pela programação minuto a minuto, e pelas
propagandas que, diga-se de passagem, não são baratas, até porque seus fins são
econômicos. Devido aos aspectos técnicos e artísticos, a televisão é planejada de acordo
com padrões industriais, atendendo ao consumidor em domicílio. Ela preenche a lacuna
que ainda restava para a vida privada, levando para dentro das casas uma realidade
previamente selecionada e significada; uma realidade que chega aos indivíduos como a
única e verdadeira representação do real. Outro fato importante, explicitado por Adorno
(1995), é que a TV acomoda as pessoas em suas casas. Elas não precisam mais se
deslocar para ir ao teatro, ao cinema, a lugares públicos. A reunião da família em frente
à televisão confere a seus membros a sensação de estarem envolvidos em uma situação
comunitária, com sensação de partilha. Todavia, por meio de uma observação mais
atenta, percebe-se que as pessoas, nessa condição, tendem a não conversar e, quando
comentam algo, é sobre o que está sendo veiculado na televisão e não sobre seus
problemas. Esta forma de “distração” leva à incapacidade de expressão. Utilizando o
termo empregado por Adorno (1971), ocorre uma imediação social, que seria o
contrário da mediação, quer dizer, esta pressupõe comunicação entre pares e aquela
apenas a escuta das informações recebidas, sem reflexões, nem discussões. Cumpre,
pois, uma função deformativa. Referindo-se à semiformação (‘Halbbildung’), Adorno e
Horkheimer (1990) a atrofia da imaginação do consumidor de hoje não tem necessidade
de ser explicada em termos psicológicos, posto que ela está concretizada na sociedade.
Maar (1995) adverte que os meios de comunicação de massa estão tomando o lugar
formativo da escola. A linguagem e a imagem veiculadas pela televisão, são um dos
principais instrumentos da Indústria Cultural. O modelo de comportamento padronizado
– unidimensional – é amplamente divulgado por meio da comunicação de alcance
universal, alimentando os mecanismos de reprodução social. A linguagem e a imagem,
são responsáveis pela formação do pensamento que o indivíduo tem de mundo, fixando
diferenças e semelhanças, que nem sempre correspondem à realidade. Conclui-se que a
televisão é um instrumento eficaz quando posta a serviço da ordem capitalista.
Depreende-se a necessidade dos educadores terem muita clareza sobre tais implicações
se querem fazer do seu trabalho uma atividade formativa, um foco de resistência a esse
processo de semiformação (‘Halbbildung’). O desafio é contra-argumentar o que chega
na forma de verdade pronta e acabada. Se os programas televisionados, que massificam,
não permitem ver nas imagens pseudodemocráticas e na linguagem regulada pela mídia
uma fonte de deformação humana, da qual o modo de produção capitalista já não pode
prescindir, esse trabalho de decodificação há que ser feito, evidentemente, pela
educação. Referências: ADORNO, T. W. Televisão, consciência e Indústria Cultural.
In: COHN, G. (Org.). Comunicação e Indústria Cultural. São Paulo: Companhia
38
Editora Nacional e Editora da USP, 1971. p. 346-354. ADORNO, T. Televisão e
formação. In: Educação e emancipação. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995. p.
75-95. ADORNO, T. W.; HORKHEIMER, M. A indústria cultural: O iluminismo como
mistificação das massas. In: LIMA, C.L. Teoria da Cultura de massa. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1990. p. 159-206. ALMEIDA, M.J. A educação visual na televisão vista
como educação cultural, política e estética. Revista online: Prof. Joel Martins,
Campinas, S.P., v. 2, n.1, p. 2-5, out.2000. MAAR, W. L. A indústria
(des)educa(na)cional: um ensaio de aplicação da Teoria Crítica ao Brasil. In: PUCCI, B.
(Org.). Teoria Crítica e Educação: a questão da formação cultural na Escola de
Frankfurt. Petrópolis: Vozes; São Carlos: EDUFSCAR, 1995. p.139-150.
PALANGANA, I.C., Individualidade: afirmação e negação na sociedade capitalista.
São Paulo: Plexus / EDUC, 1998. SOUZA, J. B. Meios de comunicação de massa:
jornal, televisão, rádio. São Paulo: Scipione, 1996.
39
Experimentações na escrita com o arquivo do Coletivo Cê
17
Mestranda em Divulgação Científica e Cultural pela Unicamp, especialista em Jornalismo Cientifico
pela Unicamp (2012) e graduada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade de Sorocaba
(2010). É integrante do grupo de pesquisa e criação multiTÃO: prolifer-artes sub-vertendo ciências e
educações do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor-Unicamp). E-mail:
tati.plens@gmail.com.
40
torná-la visível, de fazê-la vibrar na superfície das imagens e das palavras desse arquivo
por meio da experimentação. Uma abertura a outros ritmos de duração nesse arquivo a
partir da potência que ele armazena e do que a experimentação com ele pode agenciar.
Movimentos arquivistas que buscam trazer algo diferente do significado, algo que se
caracteriza como uma exigência, uma intenção, uma tendência, um impulso que se
encontra no nível do vital e que pode ressoar na superfície das imagens e das palavras
convocando-as a outras direções. Perseguimos a ideia do curador Márcio Doctors
(2012) de que a constituição de um arquivo é um ato de recolhimento que permite a
liberação dos materiais que o integram em direção a outras possibilidades de articulação
espirituais e mentais. É o ponto de partida de onde outros acontecimentos derivam,
capazes de estabelecer uma conexão mais sutil e sensível com os processos de criação
artística desse coletivo, de inventar outras formas de visibilidade e outros modos de
inteligibilidade (RANCIÈRE, 2012) desses movimentos de criação artística. Um esforço
de pesquisa e criação que se arrisca a experimentar o arquivo por meio de uma
articulação entre pensamento e sensibilidade, uma entrega a movimentos arquivistas
como modos de soprar a linguagem, como uma maneira de possibilitar que esse arquivo
seja atravessado por uma ventania, que imagens e palavras sejam rachadas e fissuradas
por linhas, arames, ventos, desejos, delírios, abertas ao por vir. Criações onde as
próprias imagens e palavras inventam um testemunho desses processos de criação
artística, não pelo que foi visível, mas pelo que se torna visível nas suas superfícies,
onde elas assumem uma “função-testemunha”, atuando como ritmos que medem as
variações do tempo e da vida, pelos seus diferentes níveis de intensidade, a “potência de
futuro” de um arquivo (DELEUZE, 2007). Investigações que têm se desdobrado na
composição de uma escrita, entre imagens e palavras, afetada pela conexão entre os
materiais de pesquisa na busca por fabricar outras forças para a divulgação dos
processos de criação vivenciados junto ao Coletivo Cê e por proliferar outros modos de
funcionamento para as imagens e as palavras na divulgação cultural.
41
Jogando com teorias: games studies, e a semiótica com isso?
18
Estudante de Graduação e bolsista do PROBIC/FAPEMIG do 8º semestre do Curso de Publicidade e
Propaganda na PUC Minas. E-mail: rafaeldias_02@hotmail.com.
19
Professor da PUC Minas. Doutor em Semiótica e Linguística Geral pela Universidade de São Paulo. E-
mail: conradomendes@yahoo.com.br.
42
A convalescença da linguagem em Clarice Lispector
20
Graduado em Letras pela Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL) e pesquisador agregado ao grupo
de estudos Literatura, linguagem e outros saberes, coordenado pela professora Dra. Aparecida Maria
Nunes, também pela Unifal. E-mail: drsgalp@hotmail.com.
43
Em cartaz: a guerra dos super herois pelo mercado na indústria cultural do
cinema
21
Graduando em Geografia (Licenciatura) pela Universidade Federal de Alfenas-MG;
depaula.ir@gmail.com.
22
Graduando em Geografia (Licenciatura) pela Universidade Federal de Alfenas-MG;
jhonalfe@gmail.com.
23
UCM.
24
DCEU.
44
MESA 2
45
Virtualidade e subjetividade contemporânea: contribuições da fenomenologia à luz
de Heidegger
25
Mestrando do Programa de Pós-graduação em Psicologia da PUC Minas. Psicólogo pela PUC Minas.
E-mail: gsberaldo@gmail.com.
26
Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Psicologia da PUC Minas. Psicóloga, Mestre em
Psicologia Clínica pela PUC-RJ. Especialista em capacitação de profissionais de trabalho Intergeracional
pela Universidade de Granada- Espanha. E-mail: katiasaraiva2011@gmail.com.
46
que, cada dia mais, as pessoas se utilizam de novas ferramentas de rede em seu
cotidiano e que a internet constitui uma representação de práticas e interações sociais
jamais imaginadas, demonstrando assim a complexidade que é a vida on-line. Pierre
Lévy, ao estudar o fenômeno virtual, propõe-se a analisar e ilustrar um processo de
transformação num modo de ser num outro. Em vez de ser definida pela sua atualidade
ou concretude, no virtual a identidade dirige-se a um campo de interrogações, de uma
série de identidades possíveis, orientadas para um devir, um poder vir a ser. Ora, assim
como navegar na Web, escrever um livro, inventar uma nova receita, tudo isso,
igualmente, nos permite sermos criativos e ultrapassar o espaço físico e a cronologia do
relógio ou do calendário. Neste sentido a experiência virtual é também uma experiência
criativa. Quando ouvimos falar sobre o “mundo” virtual podemos compreender o que se
quer dizer com isso, ou seja, tudo aquilo que se relaciona com os mais recentes meios
de comunicação, em especial a internet. No entanto, a partir da perspectiva
fenomenológica proposta por Heidegger, “mundo” é tudo aquilo que se abre em
perspectiva para o ser do Dasein. Compreendido como o ente que coloca em questão o
seu ser, o Dasein é convocado ontologicamente a dar conta da produção de sentidos
para sua existência, que é restrita pelo tempo. Neste sentido, aquele que se coloca em
relação com o virtual não é um outro Eu, mas sim aquilo que nós mesmos somos e que
está constantemente em jogo. O acesso a infinitos “mundos” proporcionado pelo
advento da internet amplia o alcance das possibilidades humanas no que diz respeito à
aquisição de conhecimento e mesmo de novas relações sociais. No entanto, este novo
“mundo” é o mesmo no qual estamos desde sempre lançados. Enquanto construção
humana, a internet e a virtualidade são desdobramentos de uma realidade, e neste
sentido não estão constituídas fora do que Heidegger compreende como a mundanidade
do mundo. Significa dizer que a imaterialidade do virtual não anula a perspectiva de que
o Dasein se encontra sempre no mundo e se constitui a partir deste. Não há, assim, uma
“outra realidade” presente no virtual, mas sim um novo modo de se relacionar com o
mundo que está aí desde sempre. Quando tomamos a possibilidade de relações sociais
travadas por meio do virtual, devemos ter em conta que a impessoalidade muitas vezes
presente na comunicação por esses meios pode potencializar a relação de ente-a-mão
que o Dasein venha a travar com o outro. A relação desta natureza desqualifica o outro
na sua condição existencial, tornando-o simplesmente mais um ente intramundano. É na
relação de cuidado do Dasein que ele se liga ao outro enquanto ser de possibilidades,
caracterizado pela sua indeterminação. Assim, pode-se pensar que o virtual tem
capacidade para permitir novas trocas sociais, porém a questão do cuidado pode-se
perder na impessoalidade da comunicação virtual. Também podemos problematizar a
permeabilidade da chamada Mass Media por meio da virtualidade. Aumentando sua
capacidade de “formar opinião”, os grandes meios de comunicação vêm se tornando
agentes uniformizadores da “opinião pública”. Esse fenômeno aponta para uma captura
do Dasein pelo falatório, dificultando a colocação por si mesmo do sentido do ser.
47
A imagem entre representação e precessão
27
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal de São Carlos
(UFSCar). E-mail: andre8ada@gmail.com.
48
imagem, tal como fica claros nos escritos merleau-pontianos, a imagem me olha e pensa
por mim tanto quanto eu a observo. Nesse sentido ela promove uma verdeira abertura e
revelação do mundo, ela é meio de acesso a este e não sua duplicação - de modo que há
uma "textura imaginária" (ou imagética) do real (MERLEAU-PONTY, 1960). Assim,
segue-se nossa hipótese: está anunciada já em Merleau-Ponty a derrocada da
subsequente virada linguística (linguistic turn; RORTY, 1967) dos anos 1960, na
medida em que compreendemos ali o germe da virada icônica (iconic turn) que viria a
ser explicitamente elaborada nos anos 1990? Cremos verificar tal hipótese com o auxílio
do conceito de precessão e através da análise de um exemplo profícuo quanto a isso,
presente em O olho e o espírito, sobre como o real enquanto tecido imagético e
consagrado à visibilidade promove uma "frequentação", anterior à linguagem
propriamente dita, entre os entes do mundo; trata-se do reflexo dos objetos na superfície
de uma piscina, que não os representa mas faz vê-los de uma outra maneira que
diretamente, mediante a essência viva e imagética da água, do mesmo modo que nossa
imagem especular não se reduz à explicação que a física e a ótica lhe fornecem, mas
antes dizem algo a respeito deste aspecto fundamental de nossa experiência que é "ver
algo". É isso que significa ver-com as imagens, em regime de precessão, e não ver
"apesar" delas; apesar da água, do espelho, do ecrã etc. A imagem me assombra e sou
possuído por ela mais do que a possuo como se a contempla-se à distância, por meio do
véu da representação. Há uma “autoridade” da imagem que é, na verdade, sua condição
de precessão – o fato dela “preceder a si mesma” e apresentar, junto da figuração, sua
chave de leitura própria; por conseguinte, rompe-se com o representacionismo em
direção a uma nova ontologia da imagem.
49
A concepção de justiça na Alegoria da Caverna de Platão: uma comparação das
interpretações kelseana e heideggeriana
O problema de pesquisa que norteia o trabalho trata das diferenças e semelhanças entre
as interpretações de justiça de Hans Kelsen em A Ilusão da Jusiça e de Martin
Heidegger em A teoria platônica da verdade, com relação à alegoria da caverna narrada
em A República de Platão. A pesquisa se desenvolveu como trabalho de conclusão do
curso de graduação em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais,
no primeiro semestre do ano de 2016, sob orientação do Professor Mestre Bruno Fraga
Pistinizi e coorientação do Professor Mestre Virgílio Diniz Carvalho Gonçalves. Foi
utilizado o método dedutivo, com a leitura e fichamento de citação da obra platônica,
seguida do estudo e fichamento de citação das obras de Kelsen e Heidegger,
compreensão auxiliada por manuais de filosofia do Direito e de introdução ao
pensamento dos autores estudados. O texto se desenvolve em quatro capítulos. O
primeiro se propõe a expor uma leitura livre da alegoria da caverna, o segundo trata do
Juspositivismo de Kelsen, subdividido em três seções, que tratam da vida e da obra do
autor, do Positivismo e da interpretação da alegoria. O terceiro capítulo se desenvolve
da mesma maneira que o segundo, Heidegger, vida e obra, da Fenomenologia e da
interpretação da alegoria. O quarto capítulo traz reflexões conclusivas. A Alegoria da
Caverna é introduzida pela personagem de Sócrates no texto de A República. Descreve
um cenário em que homens algemados desde a infância no interior de uma caverna,
tendo apenas a possibilidade de ver as sombras do mundo exterior reproduzidas na
parede da caverna, para eles, portanto, o real são as sombras. Um prisioneiro, no
entanto, é liberto e arrastado para fora da caverna, sendo obrigado a se adaptar à
luminosidade e à percepção da realidade para além das sombras. Após essa adaptação se
segue um movimento inverso, o liberto retorna às sombras e novamente sofre um
processo de adaptação dos olhos, além de ser desacreditado ao dividir sua experiência
com os prisioneiros que temem perder a visão ao sair da caverna. Pudemos observar na
28
Graduanda do curso de Direito da PUC Minas, campus de Poços de Caldas. E-mail:
fernandaisraelpio@hotmail.com.
29
Mestre em Direito Constitucional pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e Doutorando do
Departamento de Ciências Sociais da PUC São Paulo. E-mail: brunofraga@pucpcaldas.br.
30
Mestre pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e professor do Programa de Graduação
da PUC Minas, Poços de Caldas. E-mail: virgilio@pucpcaldas.br.
50
interpretação de Kelsen uma “restrição” do campo de análise, tomando como essencial
o que considera o objetivo único da alegoria: apontar para onde o homem deve
direcionar seu espírito a fim de que aja corretamente em assuntos públicos e privados.
Para ele, na alegoria as correspondências estabelecidas são em relação ao Bem e o justo,
criticando o estabelecimento de ideias para coisas “baixas”, do mundo material, ou seja,
quando se fala de ideia, fala-se puramente de valores. Kelsen identifica uma guinada da
doutrina das ideias rumo à ontologia. Afirma que há uma modificação do caráter da
ideia que deixa de se vincular exclusivamente à norma e passa a se relacionar com uma
forma de explicação do mundo. Heidegger, por sua vez, trata das transições como ponto
central para a reflexão. Essas transições se referem à adaptação dos olhos do prisioneiro
durante seu trânsito para fora da caverna e posterior retorno. Relaciona tal fenômeno
com o conceito de Paideia, “formação”. Ele afirma que no texto platônico há uma
mudança na essência da verdade. Heidegger considera a verdade e seu modo de
mutação como pressuposto para a formação, busca recuperar a compreensão dos
primeiros pensadores gregos, e relaciona o termo à desvelamento. Afirma que a partir
da alegoria ocorre uma modificação no conceito de verdade, que passa a se fundamentar
na razão e no intelecto, afastando-se da ontologia. Concluímos que as interpretações têm
pontos em comum, quais sejam: a percepção da guinada na ideia para Kelsen que se
relaciona à mudança na essência da verdade pontuada por Heidegger; a modificação ou
guinada, para os dois se dá em função de um direcionamento do olhar, ou na forma de
explicação do mundo, elementos de certa forma similares; a identificação de
características positivistas na narrativa platônica e o intento em distanciar-se da
metafísica. Quanto às diferenças podemos ressaltar: a nomeação por Kelsen dos
elementos ideia e norma que correspondem à verdade e ente, respectivamente, na
interpretação de Heidegger; a concepção de justiça que para Kelsen se relaciona à
legitimidade e à ideia e, para Heidegger, se relaciona à verdade como desvelamento; a
reincidência de Kelsen à metafísica, mesmo tendo desenvolvido um argumento
contrário, por relacionar a Justiça à legalidade e consequentemente à norma que tem
caráter metafísico, “erro” não cometido em Heidegger que ao nosso ver estabelece uma
crítica à metafísica, relaciona a Justiça à verdade e consequentemente ao ente, que não
tem característica metafísica e retorna a reflexão à ontologia e à fenomenologia.
Percebemos dessa forma, uma crítica ao posicionamento da verdade e da ideia na razão
humana que é denominada “direcionamento do olhar” por Heidegger e a “forma de
explicação do mundo” para Kelsen. Neste “erro” ambos não incorrem. Kelsen, no
entanto se curva à metafísica por ter posicionado a norma de caráter metafísico onde
Heidegger posiciona o ente. Justiça, portanto, para Kelsen se relaciona à legalidade e à
norma, Para Heidegger, justiça se relaciona com verdade que por sua vez é identificada
como desvelamento. Referências: HANS, Kelsen. A Ilusão da Justiça, tradução de
Sérgio Tellaroni. 3. ed. Editora Martins Fontes, São Paulo 2000. HEIDEGGER, Martin.
Marcas no Caminho, tradução de Enio Paulo Gichini e Ernildo Stein. Editora Vozes.
São Paulo, 2008. HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. Tradução de Márcia de Sá
51
Cavalcante. Editoras Vozes. 1988. MAMAN, Jeannette Antonios. Ao encontro de
Heidegger: a noção de ser-no-mundo. Revista da Faculdade de Direito, Universidade de
São Paulo. [S.l.], v. 102, p. 611-615, jan. 2007. ISSN 2318-8235. Disponível em:
<http://www.revistas.usp.br/rfdusp/article/view/67772/70380>. PLATÃO. A República,
introdução, tradução e notas de Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa:
Fundação Calouste Gulbenkian, 1949.
52
Oliva Sabuco: análise da contribuição do seu pensamento para a psicossomática
31
Mestranda do Programa de Pós-graduação em História Ibérica – PPGHI da Universidade Federal de
Alfenas – UNIFAL. E-mail: elenice_caixeta@yahoo.com - Pesquisa desenvolvida na disciplina: A
Filosofia na Península Ibérica Medieval, ministrada pelo Professor Paulo César de Oliveira.
32
Cerchiari apud Cardoso (1995, p.5) “O termo psicossomático, na expressão mais comum, pode
reportar-se tanto ao quesito da origem psicológica de determinadas doenças orgânicas, quanto às
repercussões afetivas do estado de doença física no indivíduo, como até confundir-se com simulação e
hipocondria, onde toma um sentido negativo” (CERCHIARI, 2000).
53
paixões fazem parte do sistema psíquico, externa ao corpo, no entanto natural a ele.
Nesta concepção, Deus deu as paixões aos homens como impulsos para conservação de
sua natureza. Assim, a alma nasce com algumas inclinações, que são: alegria, desejo,
esperança, amor, alegria, dor, medo, vergonha, raiva, etc. Inclinações que são inerentes
à alma, e afeta o corpo e a alma, porém são acionados por algo exterior, que são as
ações vinculadas à vontade e ao livre arbítrio, mas que também podem se torna vícios.
Desta forma, as paixões humanas muitas vezes arrastaram para perseguir o que faz
sentir bem e não o que o entendimento julga como correto. Portanto, concluimos por
meio das análises feitas até o momento que o pensamento de Oliva Sabuco defende uma
antropologia cristã do século XVI, em que a composição natural do homem se dá pelo
corpo e pela alma. E que conhecer a natureza da alma favorece ser uma pessoa saudável
e feliz. O que trazendo para o campo da psicossomática é o estudo das relações mente e
corpo.
54
Oficina de artes: território de existência
33
Graduada em Psicologia pela USP. Graduada em Artes Visuais pela UNESP. Mestre em Artes pela
UNESP. Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação da UNESP de Assis. E-mail:
p_aversa@hotmail.com.
55
Subjetivação e temporalidade em Sartre
34
Doutorando do Programa de Pós-graduação em filosofia da UFSCar. Bolsista CAPES. E-mail:
<ggurae@yahoo.com.br>.
56
O desejo da futura profissão na perspectiva de crianças institucionalizadas: um
estudo psicanalítico
35
Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – UNIFAE;
especializando em Saúde Mental pela Universidade Estácio de Sá. E-mail: vivian.inacio@hotmail.com.
36
Graduado em Psicologia pelo Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – UNIFAE,
mestrando em Psicologia da Saúde pela UMESP (Universidade Metodista de São Paulo). E-mail:
critianoandradepsico@gmail.com.
57
as atitudes sociais que prevalecerem durante muito tempo a respeito da masculinidade e
da feminilidade também influem no desejo de uma futura escolha profissional; pois
todas as crianças desejaram profissões tradicionalmente “apropriadas” para homens e
mulheres, respectivamente. Referência Bibliográfica KLEIN, M. (1926). A técnica da
análise de crianças pequenas. In: A psicanálise de crianças. Obras completas de
Melanie Klein. Vol. 2. Rio de Janeiro: Imago.
58
Corpo, moradia e a produção de subjetividades na gestão do habitar: o Programa
Minha Casa Minha Vida.
37
Graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Mestranda em
Ciências Sociais pela PUC SP. E-mail: gabiacerbi@gmail.com.
38
http://www.cidades.gov.br/index.php/minha-casa-minha-vida.html. Acessado em 09/06/2015.
59
e estratégica na construção da reflexão. Considerando as reconfigurações associadas aos
modos de habitação das beneficiárias e beneficiários, elabora-se uma reflexão associada
à dinâmica dos condomínios no dia a dia de seus ocupantes, tendo em vista as
construções discursivas e não discursivas que circunscrevem as experiências nas
habitações e que proporcionam reflexões associada as concepções de território do
campo subjetivo, tendo em vista o campo das experiências que se constróem a partir da
casa, essa espaço considerado próprio, íntimo e associado ao campo das subjetividades.
Para além de suas promessas de bem-estar, segurança e qualidade de vida, uma reflexão
associada aos possíveis desdobramentos cotidianos nas relações que as pessoas possam
estabelecer com a casa que passa a ser própria, não referentes às adequações espaciais e
formas de representação oferecidas pelo planejamento público quanto a concepção de
cidadão e formalizações jurídicas em relação ao direito à moradia, mas o que poderia
(ou não) estar além, estar imerso ou então vazar. Quem é o sujeito para quem se projeta
uma habitação e o que esse sujeito projeta e constrói a partir dela são questões que
permeiam o artigo, assim como interrogações associadas aos modos de ocupação da
casa, práticas de si, corpo e construção da noção de pessoa (MAUSS, 2003). Um
circuito de discussões que se associa às questões da territorialidade, do fluxo dos
acontecimentos e da “restauração da cidade subjetiva” (GUATTARI, 2000 [1992],
p.169), apontadas pelo autor através da temática da diferença, das questões da
singularidade e da ressingularização (GUATTARI, 2000) no campo das experiências
constituídas dentro e fora da esfera institucional. Nesse sentido, uma tentativa de
retomar a questão urbanística tendo em vista os “destinos” que a cidade, a política e a
técnica produzem e as transformações no âmbito dos sujeitos e suas dimensões
existenciais. Em diálogo, se ofereçe a tentativa de contextualizar o processo de
racionalização das cidades, como em Carne e Pedra: O corpo e a cidade na civilização
ocidental, como em Sennet (2008), trazendo reflexões sobre a história da cidade contada
através da experiência corporal do povo, tomando o corpo não só como uma referência
para entender o passado, mas também suas expressões na arquitetura, no urbanismo e na
vida cotidiana. Nesse sentido, uma descrição sobre essas interpelações institucionais no
campo do corpo, da moradia e dos modos de ocupação ao longo da história ocidental,
onde a carência dos sentidos tornou-se mais notável através de governos e projetos
arquitetônicos que estimularam a consolidação de um corpo passivo, neutralizado por
regras de locomoção, pela velocidade das cidades urbanas, pelos espaços de passagem,
pelo trânsito e por uma série de outras condições físicas que o deslocamento, a
segmentação, a dispersão geográfica das cidades e as tecnologias modernas
proporcionaram (SENNET, 2008, p.19). Ainda sobre experiências corporais na cidade,
deseja-se a consolidação de elaborações associaçãsa criação de habitações de interesse
social e o fortalecimento do medo de contato associado à necessidade da purificação e
segregação (2008, p.297) associadas à imagem sacralizada do corpo na cidade, um lócus
de poder e também uma esfera derivada de todas essas vivências específicas de
conformação (SENNET, 2008, p.300), territorialização, assujeitamento e também
60
singularização e agenciamentos. Sobre essas variações proporcionadas pela aquisição da
casa, indaga-se as modificações espaciais, interrupções e alinhamento de novos trajetos
a partir da mudança para os condomínios, assim como os desdobramentos no campo
subjetivo associados ao financiamento social para população de baixa renda. Expressões
como subjetividade endividada (LAZZARATO, 2011) surgem para pensar essa
dinâmica que associa a gestão de políticas públicas de habitação ao consumo/aquisição
de moradias populares, assim como a gestão do desejo a partir de políticas sociais de
inclusão. No mesmo caminho, problematiza-se a concepção de casa própria, enquanto
lógica de pertencimento gestada pelo Estado, que conecta diretamente obtenção de casa
aos direitos do cidadão e a concepção do morar, assim como suas relações com a
construção de noções de sujeito.
61
O existencial ‘ser-com’ em Ser e Tempo
39
Doutoranda em Filosofia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). E-mail:
andressasouto@hotmail.com.
62
A desconstrução da ideia objetiva de mente em Heidegger: O Dasein como
espacialidade
40
Graduada em Psicologia pela PUC Minas, campus Poços de Caldas. E-mail:
naracmalmeida@gmail.com.
41
O termo é do próprio autor, traduzido em geral como “ser-aí”, como pura abertura em-o-mundo. Este
jogo com as palavras é típico de seu pensamento e diz de um extremo cuidado quanto a fechamentos,
definições de ser humano. Para Heidegger, não há qualquer definição essencial num modo substantivo. O
ser que somos se define na própria existência e a partir da própria existência, como aquilo que cada vez
somos.
63
2) Porque não há uma mente fechada, a relação estabelecida com o mundo é ontológica,
isto é, ser é ser-em-o-mundo não como uma coisa dentro da outra, mas como
existenciário; 3) Não há um espaço objetivo e extenso em que um sujeito que “possui”
uma mente é “colocado”, o que há é a mundidade como aquilo que funda o próprio ser e
estabelece entre o que antes eram dois polos distintos e separados, uma estrutura una
essencial. Em suma, este brevíssimo recorte dos aspectos centrais do pensamento
heideggeriano permite não só entendê-lo como um pensador do ser (do ser humano,
pura e simplesmente), mas na mesma medida, também como um pensador do espaço.
64
Os limites da emancipação política em face da emancipação humana: uma
(re)leitura da Questão Judaica de Karl Marx
42
Bolsista de Iniciação Científica PIBICT – FAPEMIG. E-mail: samiracsp@outlook.com.
43
Professor Adjunto do ICHL/Unifal-MG. E-mail: jose.xarao@unifal-mg.edu.br.
65
entre o homem e o cidadão, pela lei do Estado político. A emancipação humana, ao
contrário, é a realização plena do homem individual real através da transformação do
cidadão abstrato em força social. A emancipação humana é a não divisão entre o ser
genérico enquanto espécie humana e o ente individual, empírico. É a não alienação de
suas forças sociais em força política, na forma do Estado. Em Sobre a Questão Judaica,
o termo emancipação humana mostra-se ainda muito abstrato. Porém, já indica que ela
só se realizará pela superação da propriedade privada dos meios de produção, por uma
transformação total da sociedade. Assim, da perspectiva da emancipação humana, a
emancipação política, embora importante, do ponto de vista histórico, é ainda uma
emancipação limitada, que tem de ser superada pela próxima revolução social.
66
Fernão Mendes Pinto, o peregrino à luz da singularidade em Félix Guattari
67
mercado editorial local; obra que, em contextos externos, é publicada ao menos desde
os inícios do século 16. Dito o contexto, um dos pontos de inflexão da dissertação
permitiu uma interpretação da “cabeça” de Fernão Mendes Pinto enquanto hipótese para
aquela personagem ser o que foi àquele tempo frente às ambições da Coroa e da Igreja
em terras asiáticas. Lembremos Fernão Mendes Pinto como crítico dos
empreendimentos luso-europeus no Oriente. Não estando a serviço de sua Coroa e
Igreja, como a maioria dos cronistas do período, por vezes ensaia voos “amargos” por
sobre as paisagens desenhadas pelos portugueses na Ásia. Em sendo assim, o pensador
francês Félix Guattari (1999), a partir de sua noção de singularidade, permite-nos
pensar o embrião de personagens anônimas e/ou históricas que, senão à margem dos
sistemas constituídos, trafegam nos descentros nervosos das estruturas de poder e em
meio às estruturas impõe singularidades nas formas das práticas de resistência e
renovação – um tomar partido da subjetividade de modo a posicioná-la sobre os
paradigmas da técnica ou, como quer o autor, das “tecnociências”: toda a tecnologia
que, em especial a partir da Idade Moderna, normatiza o percurso de pessoas e
instituições. Tal repertório “técnico-científico” teria dado “ênfase ao mundo objetal de
relações e funções, mantendo [...] entre parênteses os afetos subjetivos, de modo que o
finito, o delimitado coordenável, acabe prevalecendo sobre o infinito” (GUATTARI,
1992, p. 129), ou seja, sobre o subjetivo sempre reprimido e/ou subestimado. Deste
modo, a noção de singularidade em Félix Guattari, presente em Caosmose: Um Novo
Paradigma Estético, de 1990, possibilita um exame diferenciado das personagens que,
em “trânsito”, se deparem com impasses experimentados em qualquer tempo ou espaço.
Por meio da singularidade, o autor faz pensar uma possibilidade de transformação
operada por meio do afloramento criativo da subjetividade, capaz de nos emancipar da
“trama das redundâncias dominantes” (GUATTARI, p. 32). O desafio está em promover
micro ou macro emancipações tendo como ferramenta elementar o ilimitado colchão de
conhecimento acumulado ao longo da História. Fernão Mendes Pinto terá sido uma
dessas personagens que, ao seu modo, a partir de repertórios greco-romanos e outros,
transformou, por meio de seus escritos e presença na Ásia, o mundo mais próximo ao
seu redor. E uma vez que a “Peregrinação revela a prosaica realidade encoberta pelas
melhores e mais bem enfeitadas palavras do discurso colonial” (ALENCASTRO, 1998,
p. 199) muito do que Mendes Pinto singularizou por escrito possibilitou visões menos
condescendentes às movimentações portuguesas em contexto de navegações
quinhentistas.
68
Mecanicismo materialista y psicología hobbessiana
45
Doutorando em filosofia. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, IFCH. Universidade Estadual de
Campinas. E-mail: ceflorezp@gmail.com.
69
A subjetividade autoritária: bases frankfurtianas para a análise social crítica
Elisa Zwick46
46
Doutora em Administração pela Universidade Federal de Lavras. Professora Adjunta do Instituto de
Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal de Alfenas. E-mail: elisazw@gmail.com.
70
do fascismo. Psicanalista e um dos fundadores do Institut für Sozialforschung, em seus
estudos no terreno da Psicologia Social, Erich Fromm publicou em 1942 o livro The
fear of freedom, que servia em grande parte para analisar a emergência das sociedades
totalitárias. Para ele, na modernidade os homens não haviam se encontrado com a
liberdade positiva, mas com a solidão. Porém, achando-se liberados no uso individual
de sua própria força, tecem uma perspectiva de medo, que os leva a impulsos
sadomasoquistas de renúncia à sua individualidade para restituir uma nova segurança.
Em 1973 Fromm publicou uma obra monumental, The anatomy of human
destructiveness, na qual examina a literatura de várias áreas sobre a agressividade,
rechaçando a tese dos instintivistas que naturalizam a agressão. Mas é Dialektik der
Aufklärung a obra que mudaria para sempre a compreensão da sociedade moderna.
Horkheimer e Adorno se perguntam por que a humanidade, que os préstimos iluministas
da razão e da ciência prometeram emancipar, ao invés de caminhar em direção a um
estado humano, dá cada vez mais mostras de uma queda “em uma nova espécie de
barbárie”. Para eles, a racionalidade e sua expressão maior, a ciência, no afã de liquidar
implacavelmente os mitos, terminou por recair numa nova forma de mitologia. É o que
apontam no drama de Ulisses, personagem central da Odisséia de Homero, cuja
racionalidade funda-se na astúcia de lograr a natureza externa para se autoconservar. A
manipulação técnica da natureza para sua sobrevivência cobra-lhe um sacrifício
repressivo sobre os instintos que não raro retorna sob a figura da barbárie – por
exemplo, a guerra. Não por acaso o enredo de interpretação filosófico literário que abre
o livro chega ao final com um capítulo dedicado ao antissemitismo, figura peculiar do
espírito nazista. Também na série “Studies in prejudice”, composta pelo volume
coletivo Studies in the authoritarian personality (ADORNO, 1950), reforçam-se os
elementos já dispostos anteriormente, como a repressão da natureza e o antissemitismo.
Ao reconhecer o impacto da obra de Freud na cultura e na ciência, a contribuição de
Adorno à personalidade autoritária também mantém interface com a pesquisa
psicossociológica. No entrelaçar das análises da personalidade, da consciência e da
ideologia, Adorno identifica o núcleo concreto do autoritarismo, contribuindo de modo
fundamental para deslindar o perfil do caráter fascista. A conflituosa relação entre
autoconservação e sacrifício, roteiro de Dialektik der Aufklärung, é o dilema também
presente no que Marcuse (2010) chamou de Eros and civilization, título de seu principal
estudo sobre Freud, realizado numa moldura filosófica, mas entrevendo uma validade
político-sociológica na psicanálise freudiana. Em sua convicção de que as categorias
psicológicas convertem-se em políticas, Marcuse analisa a sociedade industrial moderna
apontando sua dependência da produção e do consumo do supérfluo. O alto preço diante
da servidão voluntária humana ao potencial destrutivo do progresso técnico é cobrado
no desempenho crescente de atividades improdutivas, que aniquilam as tentativas
autônomas de articulação política. Isso fica claro nas reflexões sobre o homem
unidimensional, em que Marcuse (1978) aponta o pensamento positivista como
balizador da prioridade técnica que, por conseguinte, se torna a prioridade política.
71
Doravante, aponta as contradições entre a ascensão científica e tecnológica e o aumento
da dominação e da destruição, buscando preservar a linha de Freud, que, segundo
Marcuse, contém um fundo oculto que rejeita a identidade entre civilização e repressão.
Nisto, defende que a teoria de Freud não apenas não se limita aos aspectos técnicos da
terapia como ainda pressupõe abertura para uma sociedade não repressiva, o que
configura a utopia de Eros marcusiana. A pluralidade da Teoria Crítica, notória desde a
primeira geração, aponta direcionamentos distintos, em que a crítica ao autoritarismo é
um de seus elementos comuns, cuja identificação e compreensão é uma tarefa
contribuinte para melhor elucidar o papel e o lugar desses autores como intelectuais não
conformistas, conforme a eles se referiu Alex Demirovic.
72
A sensação no ensaio sobre a origem dos conhecimentos humanos de Condillac
47
Doutorando em Filosofia pela UFSCar. E-mail: cabodvd@gmail.com.
73
Novas subjetividades: a contribuição da Neurociência para as representações
sociais da pessoa humana
Este trabalho é parte de uma pesquisa temática que está sendo desenvolvida ao longo
dos últimos anos no Grupo de Pesquisa Sociedade e Cultura Contemporâneas e que
tem por objeto a noção contemporânea de pessoa humana. O presente trabalho tem
como objetivo compreender o impacto da Neurociência nas representações sociais da
pessoa humana tendo como foco de análise a obra O erro de Descartes: razão, emoção
e cérebro humano, de Antônio Damásio. Ao longo do século XX - com a especialização
do campo mais amplo da Neurociência - surge a subárea da Neurobiologia, que passa a
estudar a biologia do sistema nervoso em um sujeito ainda vivo. As discussões colocam
em questão a mente, ou consciência, como algo que transcenderia a própria estrutura
biológica. Nesse sentido, o cérebro se torna o órgão responsável pelo comportamento
humano e a base da pessoa. Nas últimas décadas, a Neurobiologia tem problematizado
os dualismos mente/corpo, razão/emoção, próprios do pensamento cartesiano, e um dos
autores que tem contribuído para essa discussão é justamente o neurocientista Antônio
Damásio, o qual tece uma crítica incisiva sobre esses dualismos e realoca a mente no
cérebro como um processo biofísico. A contribuição de Damásio - fundamental dentro
da produção dessa área, além de ter uma repercussão para além do meio acadêmico -
colabora para uma nova concepção de pessoa humana. Como o trabalho está em fase de
desenvolvimento, apresentaremos os resultados parciais da análise de acordo com o
cronograma de trabalho do discente, iniciado em março de 2016. De acordo com
Damásio - que usa de dados médicos e de seus próprios pacientes -, o cérebro passa a
representar o indivíduo, sendo agora a base da própria pessoa e a via de compreensão
dos seus aspectos sociais. Nesse sentido, portanto, desvios sociais, ou seja,
comportamentos que prejudicam os sujeitos dentro de um contexto relacional são
associados às limitações na estrutura biológica (lesões e deformidades no cérebro). Para
explicar a racionalidade, por exemplo, o autor trabalha com o conceito de imagens
(formação e comparação). De acordo esse conceito, o cérebro percebe o corpo como um
conjunto de estados corporais que estão sendo continuamente reatualizados, pelo
48
Graduando do 8° período de Ciências Sociais da UNIFAL-MG. E-mail: neoscientist@yahoo.com.br.
49
Professor de Antropologia (ICHL/ UNIFAL-MG). E-mail: carlos.tadeu.siepierski@gmail.com.
50
Graduanda do 6° período de Ciências Sociais da UNIFAL-MG. E-mail:
danysoares_paraiso@hotmail.com.
74
contato com o ambiente e por novas experiências. Além disso, o autor delimita as áreas
responsáveis pela razão e emoção, não para localizá-las em uma local específico no
cérebro, mas de forma a mostrar como elas são interdependentes no processo de
formação da percepção. Nesse sentido, Damásio demonstra como pacientes com lesões
em partes relacionadas às emoções também tem problemas para fazer escolhas
racionais. Os termos normal e anormal aparecem com muita frequência na sua obra,
sendo que o termo anormal é usado para identificar a categoria de doentes neurológicos,
a qual corresponde um ser humano que não possui o aparato cerebral normal para
desenvolver suas características sociais. No embate razão e emoção, o autor busca
superar esse dualismo - que relegaria as emoções aos mecanismos mais rudimentares do
cérebro - propondo que ambos operam conjuntamente no processamento de imagens,
gerando a percepção do corpo e do ambiente. Tal mecanismo associa o cérebro a uma
máquina que processa e gera imagens de forma contínua. O cérebro usa e compara essas
imagens com a realidade, para então gerar emoções e sentimentos (estados do corpo).
Esses sentimentos são a soma da percepção de um objeto e da percepção do estado
corporal criado pelo contato com o objeto. Segundo Damásio, os sentimentos seriam
resultados das emoções, contudo, existiriam sentimentos que independem de uma
emoção. Dessa forma, as emoções têm uma função no pensamento racional, ou seja, os
processos cognitivos dependem da interconexão das diversas áreas do cérebro. Essa
discussão coloca em questão uma nova percepção da subjetividade humana e contribui
para uma nova representação social da pessoa humana.
75
A metonímia do desejo e o brinquedo como suporte significante: considerações
sobre o brincar na clínica psicanalítica com crianças hospitalizadas
51
Graduanda em Psicologia pela Universidade José do Rosário Vellano – Unifenas – Campus de Alfenas.
E-mail: soldepri_mavera@yahoo.com.br.
76
lacaniana com crianças. O brincar é ao mesmo tempo entendido como significante e
como resposta do real (FERREIRA, 2000). Para Lacan, a interpretação não visa trazer
uma significação como resposta (a significação consistiria, antes, num objetivo da
clínica kleiniana), mas um sem-sentido. Na dinâmica do brincar apresentam-se diversas
expressões do sujeito, seu sintoma e seu desejo. Observa-se a repetição como sintoma
ou sinal de um gozo que aponta ao desejo, o qual, porém, nunca é acessado por
completo, como todo, mas clareado por aproximações àquilo que escapa como resposta
ou apelo do real (inconsciente). Vê-se também o deslizamento do sentido na metonímia
do desejo, que vai de um significante a outro, percorrendo a trilha de um investimento
pulsional que deixa sempre um resto e, novamente, se lança aos seus objetos. Três casos
foram escolhidos para este estudo. Em dois deles, ao tornar-se evidente o brincar em sua
dimensão de sem-sentido, cujo suporte significante é instaurado no brinquedo,
observou-se que, mesmo quando a criança fruía o prazer de uma brincadeira, deslizava,
sem mais, para outra, e, encontrando, nesta última, o atual suporte temporário através do
qual insurge, outra vez, o desejo, de novo, este escorrega para outro significante. Ou
seja, o desejo desliza de um suporte a outro, de um brinquedo a outro. No outro caso,
notou-se a produção de algo, cuja natureza era eminentemente analítica e se colocava na
ordem de um desejo por meio do qual o sujeito redimensionava, em ato, um lugar
ocupado por ele frente à expectativa da mãe, e, diferentemente dos casos anteriores, não
ocorreu um deslizamento de um suporte a outro, mas uma vacilação operante em torno
de um vazio de sentido (um sem-sentido, uma falta-a-ser), por meio do qual o
significante “brinquedo” (neste caso, um quebra-cabeça) se inscreveu como furo,
apontando à possibilidade de reposicionamento no campo do desejo do Outro.
Referências: FERREIRA, Tânia. O brincar e sua função na estrutura. In: A escrita da
clínica: psicanálise com crianças. Belo Horizonte: Autêntica Editora. 2000. VIDAL,
Maria Cristina Vecino. O lugar da criança no discurso analítico. Letra Freudiana. Ano
X, nº 9, s/d.
77
Da subjetividade a intersubjetividade: o giro da filosofia do sujeito para a
pragmática linguística
Zionel Santana52
Terezinha Richartz53
52
Doutor em Filosofia (UGF/RJ) participa dos projetos de pesquisa do Programa de Mestrado e
Doutorado - formação de professor e ação docente. E-mail: zionel@unincor.edu.br.
53
Doutora em Ciências Sociais (PUC/SP); Professora do Programa de Mestrado em Letras – Linguagem,
Cultura e Discurso da Universidade Vale do Rio Verde (UNINCOR). E-mail: Terezinha@unincor.edu.br.
78
aclaração dos aspectos filosóficos e epistemológicos que corroboram para o processo da
edificação do conhecimento. O seu pensamento caminha para a mudança de paradigma
a fim de sair do colapso que se estabeleceu. Dessa forma, ele continua fiel à filosofia
crítica e prática, distinto da filosofia transcendental. Enfim Habermas se ampara em dois
braços do pensamento: a crítica quase transcendental, formal e pragmática, através de
uma análise da linguagem, em cuja estrutura o interesse em maioridade e comunicação
torna – se evidente e a critica quase empírica, de uma teoria da sociedade.
79
Classes sociais, partido e Estado no Manifesto Comunista de Marx e Engels
54
Bolsista Voluntário de Iniciação Científica, acadêmico do Curso de Ciências Sociais da Unifal-MG. E-
mail: lsminiussi@gmail.com.
55
Professor Adjunto do ICHL/Unifal-MG. E-mail: jose.xarao@unifal-mg.edu.br.
80
segunda parte – Proletários e Comunistas – discute a relação dos comunistas com o
movimento operário e suas várias tendências. Expõe uma caracterização da concepção
marxiana do comunismo e ao final apresenta um programa de dez pontos que deveriam
ser adotados imediatamente após a tomada do poder pelos proletários em luta. A terceira
parte, sobre a literatura socialista e comunista, é dedicada a apresentar e criticar as
diversas tendências socialistas em voga na Europa, em 1847, e que se contrapunham a
visão marxiana do comunismo e da revolução. Por fim, a quarta seção é uma
apresentação da “Posição dos comunistas diante dos diversos partidos de oposição” na
qual Marx e Engels rascunham elementos que mais tarde formarão sua concepção geral
sobre a organização política dos proletários ou, como denominou Lênin, a teoria do
partido político.
81
Ressocialização sobre duas rodas: o trabalho do condenado como fator de
ressocialização, agente de transformação carcerária e condição de dignidade
humana
56
Estudante de Graduação 7º semestre do Curso de Direito da PUC Minas. E-mail: mil2002@bol.com.br.
82
manifestas pelo ordenamento jurídico no que diz respeito ao trabalho do condenado?
Para responder tal indagação, será utilizado como metodologia a análise de campo,
entrevistando-se os encarcerados participantes e os portadores de necessidades especiais
que forem beneficiados, para que com as informações obtidas mediante tais relatos, e a
devida análise dos resultados dos impactos do trabalho no cárcere, na reinserção social
do ex condenado e na sociedade em geral, possa-se elaborar um artigo que retrate a
experiência vivida por todos participantes. O estudo da Filosofia em benefício da
sociedade, orienta essa pesquisa, ao passo que uns dos teoricos estudados são: Beccaria,
que trouxe um contexto humanitário de pena, e o filósofo Michel Foucault, que abordou
o trabalho prisional em um estudo científico. Contudo, a pesquisa do trabalho do
condenado como fator de ressocialização, agente de transformação carcerária e
condição de dignidade humana, tem como escopo o estudo da Filosofia, em prol da
Sociedade, fazendo com que todos os resultados alçados contribua para um melhor
convívio social.
83
A experiência de leitura no presídio de Poços de Caldas: como é ler no presídio?
57
Professor da PUC Minas em Poços de Caldas, mestre em Filosofia pela PUC Campinas e doutorando
em Educação pela UNESP Rio Claro. E-mail: profsepinipuc@gmail.com.
58
Bacharel em Direito pela PUC Minas e Gestora Cultural pelo IFSULDEMINAS. E-mail:
ma_lac@hotmail.com.
59
PETIT, Michèle. Os jovens e a leitura: uma nova perspectiva. São Paulo: Ed. 34, 2008.
84
leitura; 6% referiram-se à melhoria na ortografia e no vocabulário e 3% à leitura como
um desafio diante da pouca escolaridade e da limitada compreensão do texto. A
categoria mais expressiva revela que o leitor se sente provocado pela leitura ao ponto de
ser levado a uma reflexão sobre sua história de vida, sobre sua condição e as
possibilidades futuras; Nos dizeres de Paulo Freire (2003.p.15 e 20)60: “(...) a leitura da
palavra, da frase, da sentença, jamais significou uma ruptura com a ‘leitura’ de mundo.
(...) A leitura de mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura dessa implica a
continuidade da leitura daquele.”. A segunda categoria mais expressiva revela a
conscientização do leitor em relação à aquisição de novos conhecimentos durante a
prática de leitura. Já asseverava Margarida Palácio (1987)61 que a leitura deve ser vista
como habilidade linguística, percebendo a relação existente entre fala, leitura e a escrita,
e suas multiciplicidades de fatores que intervém no processo destas aprendizagens como
a aquisição do conhecimento, desenvolvimento emocional, evolução de seu processo de
interação social. A terceira categoria mais expressiva revela que a leitura no presídio
atende ao anseio dos reeducandos de exercer atividades diárias que possibilitem um
melhor aproveitamento do tempo. As outras categorias de menor expressividade,
referem-se à questões pragmáticas e dificuldades encontradas no processo de leitura.
Conclui-se portanto, que a leitura no presídio de Poços de Caldas – em consonância
com os autores estudados – tem proporcionado uma experiência de reflexão, busca de
significados e aquisição de novos conhecimentos, para além da remição da pena.
60
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo, Cortez, 2003.
61
PALÁCIO, Margarida Gomes. Os processos de leitura e de escrita. Porto Alegre, Artes Médicas, 1987.
85
Vem Cuidar! Promoção da saúde e a cidadania do idoso institucionalizado
Alexandre da Costa62
62
Professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Campus poços de Caldas e coordenador
do projeto de Extensão Vem cuidar! Promoção da saúde e da cidadania do idoso institucionalizado.
86
Pedagógicos, na atenção a este grupo socialmente vulnerável e estreitar os vínculos para
ações conjuntas com entidades que atuam com a promoção da saúde, assim como com
movimentos comunitários; além de contribuir concretamente com ações que melhorem
a capacitação profissional de nossos estudantes e professores e a formação humana e
cidadã entre o público atendido e assim tornar realidade os princípios extensionistas da
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
87
Bullying na escola: a percepção de um grupo de alunos do 9º ano do Ensino
Fundamental de uma escola pública em Poços de Caldas
63
Graduanda do 8º período do curso de pedagogia da PUC Minas, campus Poços de Caldas. E-mail:
veronicadanziger@gmail.com.
88
A natureza na tela do cinema 3D: uma análise das possibilidades e contradições do
filme Avatar a partir da Teoria Crítica
64
Professor de Sociologia do Instituto de Ciências Humanas e Letras, UNIFAL-MG. E-mail:
adriasantos81@gmail.com;
65
Professora do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas do Instituto de Recursos Naturais,
UNIFEI. E-mail: jrsantos200@gmail.com
89
questão ambiental, problematizando a nossa relação e percepção sobre a natureza na
sociedade contemporânea.
90
MESA 3
91
A educação emancipatória e a superação da barbárie em Adorno (1903-1969)
66
Professor de Filosofia da Universidade Federal de Alfenas – MG. E-mail: deoliveirapc@yahoo.com.br.
92
A reversão dialética da tecnologia digital e a emancipação da consciência no rap
67
Profa Livre-Docente da Faculdade de Educação da USP.
93
Conhecer e aprender a viver: reflexões acerca do fazer filosófico
Este trabalho parte da hipótese de que o fazer filosófico não é somente uma atividade
intelectual, mas uma maneira de viver que transforma o ser daquele que o realiza. Esta
hipótese está fundamentada na análise de Pierre Hadot, em sua obra intitulada
“Exercícios Espirituais e Filosofia Antiga”. Segundo Hadot, a filosofia antiga era um
exercício espiritual, ou seja, um modo de viver, de enfrentar a existência. O termo
espiritual confere um sentido todo próprio a este exercício e nos permite entende-lo não
só como uma obra puramente teórica, mas como uma vivência concreta. A tarefa que se
impõe para nós é a de tentar problematizar este resgate da filosofia enquanto uma
prática, um fazer, uma atividade.
68
Doutora em Ciência da Religião pela UFJF. E-mail: driansou@bol.com.br.
69
Doutora em Ciência da Religião/ UFJF, professora da PUC Minas, campus de Poços de Caldas. E-mail:
giseli@hotmail.com.
94
O silêncio que incomoda: uma reflexão sobre alunos de uma escola pública
Por que o silêncio e o medo de mudar? O que leva muitos alunos de escolas públicas,
que vivem à margem da sociedade, se manterem em conformidade com o papel social
que lhes são impostos? Estes são os principais questionamentos feitos para iniciar os
estudos através de observações em uma escola pública municipal na cidade de Juiz de
Fora, MG. A instituição de ensino atendia, prioritariamente, alunos que tinham no
mínimo três anos de reprovação no 6º ano do Ensino fundamental, que, pelos mais
diversos motivos, não se adequavam às normas impostas pelas instituições de ensino e
pela sociedade mas que gritam por socorro em um profundo silêncio. Durante quatro
anos de convivência pudemos evidenciar que estes alunos apresentam algumas
características em comum. Quando chegaram à referida escola carregavam consigo uma
grande conformidade com relação à sua posição social e cultural: excluídos,
marginalizados e sem perspectiva de um futuro digno. Caracterizados também, pelo
medo de lutar, pelo medo de enfrentar a realidade social na qual viviam. Meninos que
carregavam consigo uma mágoa e uma dor proporcionadas pela frieza e ódio emanado
pela sociedade o que, perante nosso olhar, acarreta no aluno o medo de questionar, de
lutar, de mudar. Particularidades estas, já incrustadas, cujo pedido de socorro afloravam
à pele através de gestos, na palavra, pela forma de olhar, pela forma de portar,
comportamentos estes que, por certo, agravavam ainda mais a segregação cultural e
social. Propomos, neste trabalho, uma reflexão sobre a dor, o medo e a falta de coragem
de mudar destes alunos silenciados, que retratam a figura da hipocrisia estabelecida por
parte da sociedade. Para compreendermos melhor a relação de suas experiências,
dialogamos, nomeadamente, com Walter Benjamin (2012), Jorge Larrosa (2015) e Jean
Marie Gagnebin (2006).
70
Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade São Francisco – Itatiba –
São Paulo – Brasil. E-mail: glauciaggg@yahoo.com.br.
71
Docente do Programa de Pós Graduação Docente do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em
Educação da Universidade São Francisco – Itatiba – São Paulo – Brasil. E-mail: lubaos@gmail.com.
95
A alegoria platônica do anel de Giges e as implicações do uso de câmeras de
segurança no âmbito do direito e da moral.
72
Graduanda do curso de Direito da PUC Minas, campus de Poços de Caldas. E-mail:
fernandaisraelpio@hotmail.com
73
Mestre pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e professor do Programa de Graduação
da PUC Minas, Poços de Caldas. E-mail: virgilio@pucpcaldas.br
96
portanto, na medida em que pune com o auxílio dos mais variados instrumentos de
controle e observação, contribui para a diminuição dos delitos e consequentemente à
reflexão com relação à conduta delituosa. As câmeras, assim, apresentam-se como
elemento positivo para o Direito, por auxiliar na sua tarefa de controle e identificação de
atividades delituosas. Para a moral, sua utilização é positiva quando associada ao
Direito, visto que, a pura observação das atividades cotidianas não teria influência
alguma sob a conduta se não houvesse o aspecto repressivo e punitivo do Direito que
complementam de maneira contemporânea a figura punitiva expressa pela divindade do
mito de Er. Como para Giges, a invisibilidade foi o fator decisivo para a mudança de
comportamento, principalmente por retirar o aspecto punitivo que sua conduta traria se
fosse presenciada ou registrada, para o cidadão contemporâneo, a perda da
invisibilidade, através de mecanismos e dispositivos de fiscalização, asseguram a eficaz
observância da ordem jurídica. Referências: PLATÃO. A República, introdução,
tradução e notas de Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian, 1949. KANASHIRO, Marta. Surveillance Cameras in Brazil: exclusion,
mobility regulation,and the new meanings of security. Surveillance & Society. 5(3). p.
270-289. 2008. Disponível em: http://www.surveillance-and-
society.org/articles5%283%29/brazil.pdf MELGAÇO, Lucas. Estudantes sob
controle: a racionalização do espaço escolar através do uso de câmeras de
vigilância. O Social em Questão – Ano XV – nº 27, 2012. SOUSA, Luciano Dias. O
comportamento social entre o público e privado na era digital. Revista Ícone.
Volume 12, agosto de 2013.
97
Habilidades de pensamento na aula de Filosofia
74
Mestre em Filosofia e doutor em Ciências da Religião. E-mail: boscofernandespuc@bol.com.br.
98
Hiphopnagô: letramentos rítmicos e sonoros
75
Mestranda pela Faculdade de Educação da USP. E-mail: slc.cris@hotmail.com.
76
Mestranda pela Faculdade de Educação da USP. E-mail: tecatrompa@gmail.com.
99
Redes sociais, alunos e professores: a expressão virtual do ressentimento real
Marsiel Pacífico77
77
Pedagogo (UFSCar 2006-2009), Especialista em Educação (FAVENI 2015-2016), Mestre em
Educação (UFSCar 2010-2012) e Doutorando em Educação (UFSCar), desenvolve pesquisas na área de
Teoria Crítica e Educação, com ênfase nos temas Indústria Cultural, Subjetividade, Infância e Experiência
Formativa. Atualmente é Diretor Escolar pela Prefeitura de São Carlos, onde também atua como docente
de Pós Graduação pela Faculdade Campos Elíseos, além de ser professor substituto na UNESP
Araraquara no Departamento de Didática. E-mail: marsiellp@gmail.com.
100
desenvolvimento de necessidades convenientes a lógica da produção. Tal processo
culmina em indivíduos que sentem a necessidade compulsiva de se constituírem tal qual
a lógica vigente, produzindo sua imagem em natureza idêntica, sobretudo com a
compulsão principal que é o escopo de toda a vida virtual, ou seja, a necessidade
obsessiva de estar sendo percebido. A necessidade de ser percebido é cobiçada pelo
internauta não somente pela imagem que ele projeta em seu avatar, mas também na
unificação de perfis em torno de um tema comum, os chamados grupos. Esses grupos
procuram reunir indivíduos que tem alguma ligação com o tema chave do círculo social,
que não tem restrições nem política funcional pré definida. Os temas variam
demasiadamente visto a abertura de possibilidades, ao ponto de ser difícil imaginar um
tema que não esteja mencionado em nenhum espaço virtual. Dentro de uma variedade
tão grande, não poderiam faltar grupos que tratem da relação professor-aluno. Os temas
relacionados aos mestres variam entre algumas categorias, como homenagens a
determinados professores, grupos de discussões entre os profissionais docentes entre
outras; mas a tônica destes círculos parece ser mesmo calcada no ressentimento do
alunado. Além de serem mais numerosos, grupos que destilam rancor contra os mestres
também são mais populares. As comunidades citadas, assim como muitas outras do
mesmo gênero tem a criação de inúmeros tópicos diários, onde os alunos podem
expressar seu rancor contra os professores. Pudemos observar como tais conteúdos em
diferentes coletividades guardam características gerais bastante similares, e tal padrão é
um importante objeto de análise para que se possam compreender os motivos subjetivos
e objetivos, engendrados na relação professor aluno, que impulsionam os discípulos a
participarem destas sessões coletivas de zombaria de seus mestres. Para a compreensão
dos fenômenos estabelecemos leituras alicerçadas a partir dos componentes da Escola
de Frankfurt, sobretudo Theodor W. Adorno e suas observações sobre as representações
aversivas em relação aos professores, os chamados “tabus”. Para tal foram selecionadas
três leituras deste autor: “Tabus a respeito do professor”; “Zur Psychologie des
Verhältnisses von Lehrer und Schüler” (“Sobre a psicologia do relacionamento entre
professores e alunos”), e todos os capítulos do livro: “Educação e Emancipação”.
Posteriormente realizamos um estudo profundo sobre a história da educação através da
leitura da “História da Pedagogia” de Cambi e do compêndio do autor Mario A.
Manacorda “História da Educação – da Antiguidade aos nossos dias”, com enfoque no
processo histórico formativo dos tabus, visto que é notável a presença de aversões e
afetividades desde o primórdio da educação formal, ocupando ao longo da história
vários espaços diferentes, com diferentes identidades e forças de expressão.
Posteriormente trouxemos de Nietzsche o conceito histórico do ressentimento, visto que
tal sentimento está constantemente presente nos tabus entre mestres e alunos, e nas
aversões que derivam de tal relação. Tendo em conta a importância que esta pesquisa
atribuiu às representações psíquicas, considerando que o processo de idealização do
aluno em relação ao mestre mostrou-se uma constante na investigação dos tabus, foi
necessário estabelecermos uma análise psicanalítico-freudiana de Superego, do Ideal de
Ego e Consciência Moral. Por fim fizemos o levantamento e catalogação dos grupos
virtuais que tinham como temática a relação de aversão e afetividade com os mestres,
onde analisamos o conteúdo das postagens à luz do repertório teórico citado.
101
O que pode e o que impede a educação pública?
78
Professor de História da rede municipal de Poços de Caldas e da rede estadual de Minas Gerais,
especialista em Planejamento, Implementação e Gestão da Educação a Distância pela Universidade
Federal Fluminense (UFF), especialista em História Contemporânea pela Pontifícia Universidade Católica
de Minas Gerais (PUC Minas) e mestrando no programa Humanidades, Direitos e Outros Legitimidades,
no Núcleo de Estudos das Diversidades, Intolerâncias e Conflitos da Universidade de São Paulo
(DIVERSITAS-USP). E-mail: cleitondct_@hotmail.com.
102
contraposição às normatizações estatais alienantes e às violências engendradas pela
lógica de operacionalização na sociedade burocrática de consumo dirigido.
103
A ação social e a ampliação do conhecimento do mundo: relato de experiência de
alunos/as universitários/as da PUC Minas, campus Poços de Caldas
79
Mestre em Economia Política Internacional /UFRJ, docente da PUC Minas, campus Poços de Caldas.
E-mail: vtolima@gmail.com.
80
Graduando em Relações Internacionais da PUC Minas, campus Poços de Caldas; monitor do Projeto
“Educando para a Paz”. E-mail: ri.marcosvieira@gmail.com.
81
Graduando em Relações Internacionais da PUC Minas, campus Poços de Caldas; monitor do Projeto
“Educando para a Paz”. E-mail: diegocalcado@outlook.com.
82
Doutora em Educação/USP, docente da PUC Minas, campus Poços de Caldas. E-mail:
ambmchaves1@uol.com.br.
104
Epistemologia multicultural e a questão do sujeito em Charles Taylor
Willian Martini83
83
Mestrando do Programa de Pós-Graduação da UFSM. E-mail: willianmartini@hotmail.com
84
Cf. C. W. RUITENBERG; D.C. PHILLIPS (Eds.) Education, Culture and Epistemological Diversity:
Mapping a Disputed Terrain. Dordrecht, Netherlands: Springer, 2012. Esta coletânea contém um rico
debate entre autores de várias áreas, apresentando uma espécie de feedback das principais contendas
surgidas a partir do final dos anos 1980.
85
Cf. SCHEURICH, J., & YOUNG, M. Coloring epistemologies: Are our research epistemologies
racially biased? Educational Researcher, 1997, p. 4–16.
86
Por exemplo: COLLINS, P. H. Black feminist thought: Knowledge, consciousness, and the
politics of empowerment. New York: Routledge, 1990.
87
ASANTE, M. K. Kemet Afrocentricity and knowledge. Trenton: Africa World Press. 1990
105
justificada).88 Críticos ainda menos pacienciosos, como Steven Yates, atacam o
programa epistemológico dos multiculturalistas afirmando que este deve ser rejeitado
por ser logicamente incoerente, empiricamente inadequado e política e
institucionalmente contraproducente89. Diante deste quadro, vemos que uma agenda
parcialmente influenciada por teorias pós-modernas e que busca formas mais inclusivas
de abordar o conhecimento (sobretudo em relação a grupos minoritários), encontra
duras barreiras ao deparar-se com críticos mais cautelosos ou com aqueles que se
declaram os defensores dos cânones do pensamento ocidental90. Gostaríamos de mostrar
aqui que existem diversos mal-entendidos neste debate, alguns deles em razão de pontos
centrais não explicitados, os quais, se adequadamente trabalhados, podem contudo nos
dar suplementos suficientes para uma melhor compreensão da disputa. Nesse sentido,
nossa tarefa, à guisa de metodologia, é examinar algumas ideias e conceitos
fundamentais envolvidos no breve panorama exposto até agora. Isso pode ser feito na
observação do desenvolvimento histórico e das transformações que noções morais,
epistemológicas e ontológicas seminais para o Ocidente sofreram (em conjunto) desde a
modernidade até os dias de hoje, chegando-se assim até o atual debate acerca daquilo
que Charles Taylor chama de “política de reconhecimento”. A reflexão do presente
trabalho trilha um duplo caminho: por um lado, as linhas em defesa dos modelos mais
tradicionais da epistemologia vão mostrar-se fortemente vinculadas a um tipo de
narrativa e de concepção da sociedade (e de maneira mais importante, dos valores
associados a essa sociedade) que emergiu durante os processos atrelados à construção
do self moderno, sendo relevante para nossa discussão a caracterização feita por Taylor
do sujeito atomizado e desprendido como o pressuposto da epistemologia moderna, o
qual tornou obsoletas as velhas concepções religiosas e metafísicas – mas isso, não sem
o custo de uma redução do sujeito às suas funções intelectuais e cognitivas e uma
concomitante desvalorização dos fatores culturais e simbólicos da vida coletiva; por
outro lado, com tentativas nem sempre bem-sucedidas, os proponentes de diversas
linhas do multiculturalismo91 buscam difundir não só uma nova sensibilidade na forma
de reconhecimento e respeito aos outros, mas também interseccionar linhas de
investigação aparentemente incongruentes com o fim de superar algumas das maiores
88
LEVISOHN, J., & PHILLIPS, D. C. Charting the reefs: A map of multicultural epistemology. In C. W.
RUITENBERG & D. C. PHILLIPS (Eds.) 2012, p. 39– 63
89
YATES S. Multiculturalism and Epistemology. Public Affairs Quarterly, Vol. 6, No. 4 (Oct., 1992), p.
435-456.
90
SEARLE, J The Storm Over the University. The New York Review of Books, December 6, 1990;
BLOOM, A. The Closing of the American Mind. New York: Simon & Schuster, 1987. Searle e Bloom
são dois eminentes defensores dos cânones da ciência e da razão, por vezes tomados por teóricos
conservadores, fazem as críticas mais desdenhosas e também as mais duvidosas acerca das linhas de
pesquisas que se posicionam contrariamente a alguns postulados básicos da tradição ocidental.
91
Sobre as principais diferenças teóricas e ideológicas das correntes multiculturais ver: MARTINI, W. O
Multiculturalismo e as Divergências Teóricas no Debate Multicultural. Inquietude, Goiânia, vol. 5, no 2,
ago/dez 2014.
106
limitações das nossas pesquisas sobre diferenças culturais, atendendo assim a
reivindicações de “morais” locais e comunitárias sem no entanto debelar para um
relativismo facilmente objetável. Esclarecer alguns dos aspectos deste debate sobre
epistemologia multicultural à luz de algumas ideias centrais encontradas na obra de
Charles Taylor92 é, portanto, o propósito deste trabalho.
92
TAYLOR, C. Multiculturalismo e a política de reconhecimento. Lisboa: Instituto Piaget, 1994; As
fontes do self: a construção da identidade moderna. São Paulo, SP: Loyola, 2005; A ética da
autenticidade. São Paulo, SP: Realizações, 2011.
107
O discurso da democracia racial: um mito operante no contexto socioeducacional
brasileiro93
93
Pesquisa financiada pelo Programa de Bolsas de Iniciação Científica da Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais – Brasil (PROBIC/PUC 8043-1S 2013-2014).
94
Graduada em Pedagogia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (2013) e Pós-graduada
em Gestão de Políticas Públicas com ênfase em Gênero e Relações Etnorraciais pela Universidade
Federal de Ouro Preto (2016). E-mail: carolrodrigues1991@bol.com.br.
95
Licenciado em Pedagogia e Filosofia pela Faculdade Salesiana de Filosofia, Ciências e Letras de
Lorena (1978), bacharel em Teologia - Università Pontificia Salesiana (1984), Mestre em Ciências da
Educação - Università Pontificia Salesiana (1986) e Doutor em Psicologia Social pela Universidade de
São Paulo (1998). E-mail: rogeriobonatto@pucpcaldas.br.
108
se os professores do sistema educacional público do município de Poços de Caldas -
MG estariam trabalhando para uma educação emancipatória, de forma a contribuir para
o desmascaramento da democracia racial e, consequentemente no rompimento com
práticas preconceituosas para com negras e negros. Questão esta que esse trabalho,
buscando resposta, pôde concluir que, por estarem também as escolas condescendidas
pela ideologia da democracia racial, a ação docente ainda necessita ressignificar suas
práticas, entendendo a existência do preconceito racial e seus males para que possam
contemplar também o aprendizado para a vida, visando com isso alcançar a real
democracia racial em âmbito educacional e social.
109
Espiritualidade e interfaces: resultados de pesquisa realizada com universitários
da PUC Minas, campus Poços de Caldas
96
Mestrado em Administração/ USP, Professora PUC Minas, campus Poços de Caldas E-mail:
valim@pucpcaldas.br.
97
Doutorado em Ciência da Religião/UFJF, Professora PUC Minas, campus Poços de Caldas. E-mail:
giseli@pucpcaldas.br.
98
Doutor em Engenharia Química/ UNICAMP, Professor PUC Minas, campus Poços de Caldas. E-mail:
joaogonzaga@pucpcaldas.br.
99
Doutora em Engenharia de Produção/UMIMEP, Professora da PUC Minas, campus Poços de Caldas.
E-mail: sares@pucpcaldas.br.
110
Liberdade religiosa e laicidade: reflexões pautadas nos resultados de pesquisa com
universitários da PUC Minas, campus Poços de Caldas
100
Doutora em Educação/USP, Professora da PUC Minas, campus Poços de Caldas. E-mail:
anachaves@pucpcaldas.br.
101
Mestre em Yoga pela Jai Narain Vyvas University. E-mail: everaldocds@gmail.com.
102
Mestre em Engenharia Urbana/ UFSCAR, Professora da PUC Minas, campus Poços de Caldas. E-
mail: jnardin@pucpcaldas.br.
103
Mestre em Engenharia Ambiental/USP, Professora da PUC Minas, campus Poços de Caldas. E-mail:
temariano@pucpcaldas.br.
111
A formação do orador ciceroniano: do domínio da linguagem à filosofia
104
Bacharel em letras latim-português pela Universidade de São Paulo, Mestre em Filosofia e Doutoranda
em Filosofia pela mesma Universidade. E-mail: isaprevide@gmail.com.
112
não será encontrada no De Oratore, mas em De Re Publica e De Officiis, obras políticas
em que predomina o pensamento estoico. Essas visam a formação do cidadão,
principalmente o que deve estar apto a governar, que deve ser educado nas artes liberais
e nos costumes romanos. Cícero identifica vícios oriundos da educação grega na
formação romana, a saber: o seu caráter distante da vida pública e muito teórico; e o
ensino apenas de regras. Em Roma, Cícero evidencia o exercício, a aplicação da teoria
aprendida e a prática que deve visar o bem comum. A formação retórica e moral
deveriam preparar os homens para governar a república, ou seja, participar da vida
ativa, cumprir seus deveres para com a pátria. Em De Oratore, III, 74 o interlocutor
Crasso afirma: “eu mesmo sou alguém que, na infância, fui educado pela total
dedicação de meu pai [...]: para mim a disciplina foi o fórum; o professor foi a
experiência, as leis e instituições do povo romano e os costumes dos antepassados.”
Notamos que a uita, a prática e a experiência são elementos fundamentais na formação
do orador, pois “o conhecimento das coisas fica fácil se a prática (usus) firma a
doutrina”105. Assim, há complexidade e abrangência na formação do orador; não é algo
possível de ser feito isoladamente: [...] ninguém jamais pode florescer e sobressair-se
na eloquência, não só sem a doutrina do dizer, mas ainda sem uma total sapiência. É
que as outras artes se sustentam sozinhas, por si mesmas; o bem dizer, porém – isto é, o
dizer de maneira sábia, hábil e ornamentada – não tem um campo definido cujos limites
possam ser demarcados106. Cícero quer fazer do homem eloquente um sábio e de um
sábio um homem eloquente. Pois o sumo orador será o político, o homem sábio-
político, que estará apto para sempre socorrer a república, o Cipião descrito na obra que
Cícero escreveu na sequência do De Oratore, o De Re Publica. Como o orador domina
outras artes além da retórica, Cícero, em De Oratore, II, 35-41, expõe a capacidade e as
tarefas do orador. Ele deve aconselhar, incitar os inertes e moderar os desenfreados, usar
a eloquência para culpar ou para salvar inocentes, levar às virtudes, destruir os vícios,
tecer elogio aos honestos, reprimir com vigor as paixões e consolar docemente.
Portanto, o orador que aprendeu a ter domínio da linguagem, conhece a filosofia e as
outras artes liberais, não se limita a ser orador, mas carrega em si um ideal de sábio e de
político.
105
CÍCERO. De Oratore, III, 88.
106
CÍCERO. De Oratore, II, 5.
113
Montaigne e a educação como “frequentação”: pensando a atividade pedagógica
para além dos espaços tradicionais de comunicação do saber
107
Graduação e Especialização em Filosofia, mestrando do Programa de Pós-Graduação em Educação da
UNIFAL-MG. E-mail: elvisccae@oi.com.br.
114
Mito, ciência e esclarecimento: crítica do pressuposto epistêmico-metodológico do
positivismo
108
Professor do ICHL/Unifal-MG e doutorando em Filosofia pelo IFCH/Unicamp. E-mail:
paulodenisar@hotmail.com.
115
natureza, ou seja, o processo de racionalização que segue na filosofia e na ciência”
(ALMEIDA. In: ADORNO; HORKHEIMER, 1997, p. 7-8). Esta definição é
indispensável para a compreensão das duas teses basilares da obra, segundo as quais “o
mito já é esclarecimento e o esclarecimento acaba por reverter à mitologia” (ADORNO;
HORKHEIMER, 1997, p. 15). A afirmação de que “o mito já é esclarecimento”
significa que desde cedo a práxis ritual mítica dos sacerdotes logrou as divindades da
natureza a que recorria: “Todas as ações sacrificiais humanas, executadas segundo um
plano, logram o deus ao qual são dirigidas: elas o subordinam ao primado dos fins
humanos, dissolvem seu poderio, e o logro de que ele é objeto se prolonga sem ruptura
no logro que os sacerdotes incrédulos praticam sobre a comunidade crédula”. De
maneira que “a astúcia tem origem no culto” (IBID., p. 58) – afirmação significativa
para evidenciar que o mito já é esclarecimento, uma vez que, como mostra o excurso
“Ulisses ou mito e esclarecimento”, a astúcia é o componente central da ação ulissiana
em sua empreitada contra as potências míticas, constituindo-se numa característica
típica da atitude esclarecida. Mythos significa palavra, ou aquilo que se narra por meio
do que se conta (ou se diz). Visavam não só explicar para o homem nascente e temeroso
a dinâmica da lógica natural, como guardavam já o intuito de dominá-la concretamente.
De tal modo que “o mito queria relatar, denominar, dizer a origem, mas também expor,
fixar, explicar. Com o registro e a coleção dos mitos, essa tendência reforçou-se. Muito
cedo deixaram de ser um relato para se tornar uma doutrina”. Isso porque “todo ritual
inclui uma representação dos acontecimentos bem como do processo a ser influenciado
pela magia. Esse elemento teórico do ritual tornou-se autônomo nas primeiras epopeias
dos povos”. Assim, numa referência que inclui a perspectiva de Homero, Adorno e
Horkheimer dizem que “os mitos, como os encontraram os poetas trágicos, já se
encontram sob o signo daquela disciplina e poder que Bacon enaltece como o objetivo a
se alcançar” (IBID., p. 23 - grifos PDF). Essas condições permitem explicar, na
dialética própria do esclarecimento, a tese segundo a qual “os mitos que caem vítimas
do esclarecimento já eram o produto do próprio esclarecimento” (ID.). No
esclarecimento a natureza é profanada de sua aura sagrada mitológica. O inanimado que
o mito animava em seus rituais é novamente inanimado nos laboratórios da razão
esclarecida. Mas, para inanimar tudo, o sujeito esclarecedor precisa operar ele mesmo
de forma inanimada, porquanto acrítica. Esse seu método, contudo, o encarcera, não lhe
permitindo escapar ileso. Assim, ele mesmo, sujeito animado, termina por identificar-se
ao que é inanimado, pois a pretensa neutralidade da lógica frente às coisas faz o
conhecimento regredir até a imediatidade, isto é, à lógica da própria coisa. Doravante,
se “a pura imanência do positivismo”, essa tendência de submeter tudo sob o controle
da repetição, que aparece como “seu derradeiro produto”, na verdade “nada mais é que
um tabu, por assim dizer universal”, cuja proibição maior é de que “nada mais pode
ficar de fora, porque a simples ideia do ‘fora’ é a verdadeira fonte de angústia”, e se o
esclarecimento pode ser definido como a “radicalização da angústia mítica” (ADORNO;
HORKHEIMER, 1997, p. 29), é porque aquilo que está no esclarecimento é o que já
116
estava de há muito nos mitos, ou seja, uma implacável lei de dominação do existente.
No decurso desse evolver de raízes imemoriais, muito longe da pretensão
autossuficiente de poder liquidar tudo em que se possa expiar um resquício mítico, o
esclarecimento acha-se ele mesmo enredado nos mitos. Sem mais poder renunciar à
busca da luz, Prometeu continua amarrado no seu rochedo. Com ele vive, em ferida
aberta, o dilema da ciência moderna: a dialética da autoconservação e do sacrifício, uma
vez que a dominação da natureza externa pressupõe a da natureza interna. A atualidade
da vingança da natureza, e a barbárie que espreita a humanidade, são um dueto turvo do
retorno do recalcado, cuja tragédia faz ver que há muito mais contradições ‘entre o céu e
a terra’ do que supõem as lineares presunções da filosofia positivista.
117
Cultura e sublime em “sobre o sublime”, de Friedrich Schiller
109
Graduanda em Filosofia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Bolsista FAPESP (Iniciação
Científica). E-mail: barbaraflulli@gmail.com.
118
A relação entre cultura e biologia na obra madura de Nietzsche
110
Doutorando do Programa de Pós Graduação em Filosofia da UFSCAR, bolsista CAPES. E-mail:
felipefilosofia@marilia.unesp.br.
119
O aberto: conceitos heideggerianos recepcionados por Agamben no debate sobre o
poder soberano
Virgilio Chediak111
111
Professor de História e especialista em Filosofia pela PUC-Poços. E-mail: vchediak@yahoo.com.br.
120
Religião, política e secularização: dimensões de um problema
112
Prof. Adjunto do ICHL/Unifal-MG.
121
Astúcia ou malandragem: uma reflexão sobre a fenomenologia do brasileiro
113
Doutorando na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FE-USP). Mestre em Educação
pela FE-USP (2012).
122
A ação docente mediante o discurso da democracia racial: um estudo proeminente
nas escolas públicas do município de Poços de Caldas114
114
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do grau de Especialista em Gestão de
Políticas Públicas com ênfase em Gênero e Relações Etnorraciais, pela Universidade Federal de Ouro
Preto (2014-2016).
115
Graduada em Pedagogia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e Pós-graduada em
Gestão de Políticas Públicas com ênfase em Gênero e Relações Etnorraciais pela Universidade Federal de
Ouro Preto. E-mail: carolrodrigues1991@bol.com.br.
123
respeito pela diversidade, transparência da realidade, formação cidadã, combate ao
racismo e esperança por igualdade em direitos estejam ali presente. Todavia, ainda que
a educação tenha este compromisso constitucional (1988), a mesma não fica ilesa na
reprodução, mantimento e compartilhamento explícito ou implícito, voluntário ou
involuntário de ideologizações em âmbito intrainstitucional. É neste sentido que se
insurge a necessidade de uma pesquisa como forma de atentar-se a postura dos
membros escolares frente ao discurso da democracia racial, em especial, os que jazem
intimamente ligados à prática educativa: os professores, pois há de se pensar que nem
todos os profissionais da educação possuam conhecimento, preparo, consciência,
sensibilidade e comprometimento suficiente para lidar com esta problemática, pois
ainda que a lei 10.639/03, da qual modificara a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, tornando com isso obrigatório o ensino de história e cultura afrobrasileira e a
lei 11.645/08 que por sua vez acrescenta ao texto da lei de 2003 a obrigatoriedade
também do estudo de história e cultura indígena dê abertura para declaração do real e
sua superação, há de se pensar que este profissional possa ser tanto contrário como
adepto desta mitologia, ora proscrita à população como uma verdade absoluta, ora
introduzida por diferentes meios dentro do aparelho escolar. Desta forma, entendendo
que as leis supramencionadas tem obrigatoriedade no ensino fundamental e médio, bem
como defendendo a necessidade de uma educação pública de qualidade, em que vale
assinalar ser nela, onde a camada popular, da qual a maioria da população
afrodescendente mantém acesso, este estudo buscou responder se os professores do
ensino fundamental I do sistema educacional público do município de Poços de Caldas -
MG compactuam com práticas de emancipação ou reprodução frente aos inventários
pseudodemocráticos de nível racial existentes em nossa sociedade, que se manifestam
em forma de preconceitos, desigualdades e exclusões? Com vista ao problema
conscrito, esta pesquisa de cunho qualitativo, se fez tanto sob uma perspectiva teórica
com embasamento humanístico, quanto empírica, utilizando-se de realização de
entrevistas semiestruturadas com sete professores que ministram aulas no ensino
fundamental I de três escolas públicas do município de Poços de Caldas – MG.
Destarte, as informações coletadas nas entrevistas, depois de transcritas, foram tratadas
por meio da Análise de Conteúdo, podendo assim, por meio deste procedimento,
correlacionar a pesquisa de campo com o levantamento bibliográfico, de modo que em
linhas gerais, pode-se observar que embora seja sabido que esse sustentáculo nada mais
é do que um mito, muitos não o percebem como um problema, apelando-se comumente
para as suas condescendências, já que o mesmo encontra-se cravado no plano simbólico.
Daí a necessidade extrema de se tornar transparente o que está em oculto, demonstrar
que muito do que se entende como natural, é consubstancialmente social, providenciar
um emancipar-se e, em consequência, um avante ao grito e à resposta pela igualdade.
Tarefa ainda que em grande medida apostada na escola, se torna dificultada no seu
cumprimento, uma vez que confirmara-se como o discurso da democracia racial através
do seu poder ideológico, está presente inclusive na prática docente. Logo, há carência de
124
passos largos e precisos serem dados rumo ao encontro da emancipação não somente
institucional, mas também humana para que, talvez assim, cheguemos perto de uma real
democracia racial em âmbito socioeducacional, até porque, sendo esta pesquisa oriunda
de um problema social, pode e assim se deseja, ser ela passível de mudanças. Dito isso,
espera-se que capacitação, supervisão, monitoramento e avaliação de nível macro a
micro educacional aconteça, podendo-se com isso refletir na formação de cidadãos
emancipados, críticos, reflexivos e participativos.
125
Projeto de extensão “Intergeracional Sacudindo a Memória”: uma estratégia de
aprendizagem na Universidade
116
Graduandas do Curso de Psicologia da PUC- Minas. E-mails: larissakarinerodrigues@hotmail.com e
vanessa_lima_95@hotmail.com.
117
Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Psicologia da PUC Minas. Psicóloga, Mestre em
Psicologia Clínica pela PUC-RJ. Especialista em capacitação de profissionais de trabalho Intergeracional
pela Universidade de Granada- Espanha. E-mail: katiasaraiva2011@gmail.com.
126
competências desenvolvidas neles através da participação neste projeto. Trata-se de um
Projeto que tem como proposta propiciar ações educativas gerativas (competências) e
produzir reflexões acadêmicas (habilidades) destinadas a compreender a função social
de guardião da memória dos indivíduos idosos, os quais representam cada dia mais uma
boa parcela da população. O projeto está em consonância com alguns ideais éticos
de igualdade, de pluralidade e de liberdade enquanto valores humanos e garantia de
igualdade de direitos entre eles, uma vez que o aumento da expectativa de vida humana
é um processo universal e atinge a todos. Embasa-se na Política de Extensão
universitária da PUC Minas (2006), a qual reforça a premissa de que os saberes
produzidos devem estar a serviço da dignidade dos homens e a universidade deve
contribuir para a compreensão dos problemas que afetam a sociedade, com atenção às
suas dimensões éticas. O projeto de intergeracional “Sacudindo à Memória”, cujo
caráter é eminentemente social, interdisciplinar e cultural, surgiu da necessidade de se
criar uma estratégia de aproximação e troca entre gerações, principalmente entre alunos
de um curso de graduação em Psicologia e Publicidade e Propaganda e idosos da
comunidade local. O projeto privilegia variáveis de natureza sociocultural no que se
refere à construção das relações intergeracionais e o impacto dessas relações nas visões
de mundo dos envolvidos, ou seja, podem ajudar a revisar estereótipos e imagens pré-
concebidas sobre a outra geração. A hipótese inicial do projeto é que o mesmo auxilia
os estudantes no desenvolvimento de muitas habilidades e competências, uma vez que
neste trabalho eles vivenciam muitas experiências não só com pessoas idosas de
contextos sociais e culturais diferentes, mas vivenciam as quatro modalidades de
aprendizagens: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender
a ser. Desta forma, para a coleta de dados tem se utilizado diários de bordo e de campo
escritos pelos estudantes, e ao final do projeto uma entrevista individual. Trata-se de um
projeto ainda em andamento, logo, há dados parciais. Este tem funcionado como uma
estratégia humanizadora e de promoção da aprendizagem de “viver com o outro” uma
vez que os estudantes organizam-se em equipes nos trabalhos que desempenham e vem
relatando, através de falas espontâneas, a ressignificação de suas histórias e memórias a
partir dos idosos narradores. Outro aspecto a ser ressaltado refere-se à postura do
coordenador do projeto, pois todas as decisões são feitas coletivamente, através reuniões
coletivas e a distribuição de tarefas e de ações respeita a singularidade , ou seja, estão de
acordo com as habilidades de cada um, assim, o coordenador transforma-se num
mediador que viabiliza ações pedagógicas transformadoras no grupo. Tem sido um
importante instrumento de aprendizado. Pode-se comprovar essa afirmativa pelos
relatos produzidos pelos diários de bordo dos estudantes, pelas falas espontâneas, pelo
engajamento da equipe, pela assiduidade nas reuniões e atividades, dentre outros.
Portanto, pode-se dizer que o valor de projetos como esse reside na liberdade de
expressão, de criação, de resignificação dessas narrativas e a partir delas produzir
aprendizagem e conhecimento, o que poderá propiciar tanto aos alunos quanto aos
127
professores uma possibilidade de refletir, desmistificar estereótipos e exercitar valores
como cidadania e solidariedade.
128
Técnica e política: considerações sobre a ambiguidade da revolução técnica a
partir de Spengler, Ortega y Gasset e Habermas
118
Doutor em Teoria Psicanalítica pela UFRJ, com estadia acadêmica no instituto Geschwister-Scholl da
Universidade Ludwig-Maximilian de Munique (LMU). Pós-doutorando do Programa de Pós-graduação
em Filosofia da UFRJ. E-mail: eduardorotstein@gmail.com.
129
Quem é a Polegarzinha?
Rafaela F. Marques119
119
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar. E-mail:
rmarquesbhz@yahoo.com.br.
120
MORIN, E. A cabeça bem feita. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.
121
Como La légende des anges (1993) e principalmente Atlas (1997).
130
super rápidos e outros meios de transporte desta ordem. Além, é claro, dos
deslocamentos virtuais possibilitados por videoconferências, transmissões ao vivo do
Facebook, reuniões via Skype, e tantas outras maneiras de compreender e habitar um
mundo que não é mais somente aquele físico, atual e engessado. Segundo Serres (p. 12)
“as imagens vindas de longe deixaram de nos surpreender; separados por mil léguas,
conseguimos reunir-nos para uma teleconferência e inclusivamente, trabalhar juntos.
Deslocamo-nos sem mover um dedo.”122 Sendo assim, seria difícil acreditar que as
pessoas, a maneira de se relacionar social e pedagogicamente, permaneceria a mesma
diante de um mundo agora tão extenso e ao mesmo tempo tão acessível. Os pretensos
conteúdos “ensinados” nas escolas estão disponíveis às crianças e adolescentes, tudo é
facilmente acessado, o papel do professor – que em tempos idos era o detentor do saber,
aquele que tiraria os “alunos” (ou seja, indivíduos que ainda não possuíam a luz da
razão) das trevas da ignorância –, sofre, do mesmo modo, uma mudança, uma
reconfiguração demandada não só pelo mundo, mas também pelos próprios estudantes.
Esse novo “público” das escolas, essas pessoas que andam com um universo de
informação no bolso – os smartphones –, são o que Serres chama de a geração da
Polegarzinha, que deu título a seu livro lançado em 2013. E essa geração, esses
adolescentes e crianças nascidos já nos anos 2000, não só aprendem diferentemente de
nós, nascidos em 1980 ou 1990, como também “é de outra forma que escrevem”. E
Serres justifica o termo adotado em sua obra de 2013: “Foi por vê-los, admirado, enviar
SMS com polegares, mais rápidos do que eu jamais conseguiria com todos os meus
dedos entorpecidos, que os batizei, com toda a ternura que um avô possa exprimir, a
Polegarzinha e o Polegarzinho”123 (p. 20). É esta a geração que pretendemos investigar
aqui. Refere-se a essas novas pessoas, que habitam um novo lugar – Vilanova – e que
aprendem, namoram, se relacionam e habitam o mundo de maneira diferente, nossa
intenção de trabalho. Intentaremos apresentar conclusões e análises que evidenciam essa
modificação capital ocorrida na maneira de educar e aprender, naquela relacionada ao
deslocamento físico no mundo mesmo, e, evidentemente, do advento dessa nova
geração de crianças e adolescentes que possuem toda a informação possível em suas
mãos e demandam de seus professores e pais, não mais um ensino de conteúdos ou
temas fixados previamente. Os estudantes querem ser ouvidos, participando ativamente
da própria educação. Ademais, os Polegarzinhos, não precisam aprender todas as
capitais dos estados brasileiros, mas compreender as relações demográfico-sociais
dessas capitais, por exemplo. É no sentido dessa inovação que se dirigem nossas
análises.
122
SERRES, Michel. Atlas. Lisboa: Instituto Piaget, 1997.
123
SERRES, Michel. Polegarzinha: uma forma de viver em harmonia, de pensar as instituições, de ser e
de saber. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2013.
131
A ideologia neoliberal como forma de linguagem neutra e seus impactos no sistema
educacional público de Minas Gerais
124
Especialista em Filosofia Contemporânea pela PUC Minas e em Gestão Escolar pela Faculdade
Pitágoras; professor de Sociologia na rede estadual de Minas Gerais e coordenador no curso pré-
vestibular Educafro – núcleo Laudelina de Campos Melo, Poços de Caldas. E-mail:
hudson_lvboas@yahoo.com.br.
132
Mouros x Cristãos: do conflito armado aos outros campos da batalha
125
Lucas Magalhães Costa. Jornalista e Mestrando em História Ibérica da Universidade Federal de
Alfenas. E-mail: lc.ara@hotmail.com.
126
Paulo César de Oliveira. Professor Doutor em Filosofia do Mestrado em História Ibérica da
Universidade Federal de Alfenas. E-mail: paulo.oliveiraunifal@gmail.com.
133
Ramon Llull e o diálogo inter-religioso
127
Mestrando em História da Península Ibérica, Universidade Federal de Alfenas, com formação em
Psicologia e especialização na área de Psicanálise Profunda e em Psico Sócio Patologia. E-mail:
mrtww00@hotmail.com.
128
COSTA, Ricardo: O livro do gentil e dos três sábios - Resumo comentado. www.ricardocosta - Site
visitado 17/09/2016.
129
ARAUJO, Luis - Costa – Raimundo Lulio – www.mecd.gob.es/dctm/Revista de educação- Site
visitado 11/09/2016.
130
PARDO, Pastor Jordi - Diálogo Interreligioso real ou aparente durante a Idade Média. htpps:\\ dialnet.
unirioja.es/descarga/articulo/2227031.pdf - Site visitado 11/09/2016.
134
faz lembrar o crime dos judeus: “desonrando Aquele que os tinha privilegiado e
honrado deram-Lhe uma aviltante morte na cruz, e, por esse grande erro e maldade,
perderam a honra e o privilégio que tinham”. Na corte Catalão-Aragonesa, as coisas não
eram muito diferentes. Ramon de Penyafort, embora defendesse a conversão dos infiéis,
não descarta o uso da força bruta se necessário, e o constrangimento do afastamento de
cargos públicos e do direito de viver na cidade, confinados em bairros distantes. Jaime I,
o conquistador (1213-1276), adota a política de conversão obrigatória dos infiéis e
submete-os às pregações dos frades dominicanos. Em 1229, Jaime I reconquistou a
pequena ilha de Maiorca, que se encontrava sob o poder muçulmano e três anos após a
reconquista nasce Ramon Lull, (1232), cujo relacionamento com as culturas judaica e
muçulmana deram-lhe os ingredientes fundamentais para o desenvolvimento de sua
obra. Ramon Lull, pertencia à nobreza, foi mordomo real e tutor do Infante D. Jaime II
de Maiorca. Casado, pai de dois filhos desfruta da vida mundana na corte até passar a
ter visões sobrenaturais, que o levam a aspirar um estado mais elevado. Torna-se amigo
de Raimundo de Peñafort, dominicano, mas, se encanta com o espírito de São Francisco
que inspirou o século XIII com o amor a Deus e a toda a obra criada. Llull aspira
converter infiéis com as armas da verdade e da fé em harmonia. Aprende o árabe e se
expressa nela falando e escrevendo. Empreende uma série de viagens, fazendo
pregações em sua terra natal, ao Norte da África, na Síria e na Palestina. Sua vida é ação
e contemplação. Aprende sem cessar, escreve, predica e aborda com valentia os
problemas da ciência e da alma. É criticado e denunciado pelo dominicano Nicolas
Eymerich que condena suas obras por proposições heréticas e apontadas no Índice; os
reis de Espanha, Carlos V e Filipe II, recorrem aos Pontífices fazendo-os ver a pureza
de sua obra; Pio IX o declara Beato e não lhe cabe a menor sombra de heresia. Ramon
Llul queria converter judeus e muçulmanos ao cristianismo. A Idade Média se move
nessa esfera, “só existe uma verdadeira religião salvífica que deve demonstrar ao
“infiel” o grau de seu erro”, e nesse aspecto não inova, entretanto, seu método,
buscando evidenciar onde estava o erro, baseiam-se, não nos elementos que as
diferenciam, mas, servindo-se dos elementos que as unem, ou seja, a crença em um
único Deus e os princípios que O definem. Nisto nada havia a ser negado. As três
religiões reveladas possuíam em comum o monoteísmo, as heranças da filosofia e da
ciência grega, permitindo a Llul construir uma estrutura conceitual e cosmovisisonal
compreensível e aceitável desde que profundamente estudado. O Livro do gentil e dos
três sábios escrito nos anos 1274-1276, após o célebre Debate de Barcelona (1263),
nasce da insatisfação de Llull com a forma e os resultados deste e, a partir de um
diálogo imaginário entre três sábios, cada qual representando seu credo, e um ateu a
beira da morte, desejoso de saber a verdade. O recurso da natureza e seus atributos
divinais são parte integrante deste diálogo, e que se realiza pela ilustração de árvores e
flores outorgadas por Deus aos sábios. As árvores, seguindo a metodologia Luliana,
expressam em raízes, tronco, ramos, flores, folhas e frutos, representações das
qualidades, virtudes e vícios (pecados capitais), e suas interações seguindo um critério
135
de análise e síntese com a finalidade de procura da verdade. Na verdade, esse diálogo
imaginário, na representação ideal de um diálogo, reflete a expressão do debate ocorrido
de fato. Llull destaca-se nesse período medieval em pró do diálogo e da tolerância,
entretanto, conforme alega Ricardo Costa131 em sua análise: “...o fim da Idade Média e
o alvorecer da Modernidade,... trouxeram, em seu conjunto, muito mais intolerância e
derramamento de sangue.
131
COSTA, Ricardo – conforme citado.
136
Um debate sobre os rumos da cultura popular negra e o seu reconhecimento na era
globalizada
132
Doutoranda em Educação pela Universidade de São Paulo (USP). E-mail: elainecms@usp.br.
133
Docente da Pós-Graduação em Educação da FE-USP. E-mail: monicagta@hotmail.com.
137
Utilização de cotas na universidade
134
Mestra em Educação, Ambiente e Sociedade, pelo Centro Universitário das Faculdades Associadas de
Ensino - UNIFAE. E-mail: keniaeliber@gmail.com.
135
Doutora em Educação, pela UNICAMP. Docente no Programa de Mestrado em Educação, Ambiente e
Sociedade, pelo Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino - UNIFAE. E-mail:
betaniaveiga@uol.com.br.
138
candidatos escolheram Universidades mais próximas às suas residências, principalmente
entre os cotistas, o que pode estar relacionado às suas possíveis dificuldades de
permanência em localidades distantes. Verificamos que os alunos cotistas apresentam
pior desempenho no percurso acadêmico, entretanto, não evadem na mesma proporção
da sua dificuldade. Os cotistas que ingressaram na reserva que apresentava o caráter
social, econômico e racial associados, encontram maiores dificuldades, evidenciando a
necessidade de algum tipo de assessoria para sua permanência. A variável raça/etnia é
responsável por reduzir mais a média acadêmica do que a renda baixa. Apesar do
desempenho inferior dos cotistas em relação ao dos demais alunos, esta política atinge o
objetivo de proporcionar maior diversidade, e o hiato de desempenho entre cotistas e
não cotistas é um preço modesto em prol da diversidade e da equalização das
oportunidades. A segunda consistiu na aplicação do questionário para identificar a
opinião dos participantes acerca da justiça da utilização de cotas e participaram 317
alunos e 15 docentes do curso. O resultado demonstrou no geral, maior concordância
com os argumentos a favor da justiça de cotas. Entretanto, verificamos que os não
cotistas, são em média, menos favoráveis que os alunos cotistas, o que pode significar
um interesse pessoal no julgamento. Encontramos maior aceitação da cota social do que
da cota racial e acreditamos que no Brasil, a miscigenação produziu alguns mitos, e a
população entende a discriminação mais como o resultado da estratificação social do
que das diferenças de cor, sendo o negro discriminado não por ser negro, mas por ser
pobre. Entretanto, a cor da pele se apresenta como central na definição do nível da
classe social que o indivíduo pertencerá, pois, os negros recebem menores salários que
seus colegas não negros, e apresentam maiores dificuldades em conseguir emprego
formal segundo o Ministério do Trabalho. Isto demonstra que os programas de inclusão
que priorizem apenas a renda não são suficientes para inclusão racial. Evidenciou-se
ainda a discordância da utilização das cotas no Ensino Superior em detrimento de um
maior investimento no Ensino Básico. Entretanto, argumentamos que não deveria haver
uma oposição entre as políticas adotadas, mas, sim, uma combinação entre elas, visto
que, cotas não dispensam, mas exigem, uma política mais ampla de igualdade de
oportunidades implementada conjuntamente. Constatamos também nas respostas, a
interpretação da igualdade formal, que não considera o processo histórico de exclusão,
não compreendendo que as cotas representam as discriminações legítimas ou positivas,
possibilitando uma “verdadeira igualdade”. A questão que tratava da exigência feita
pela lei de que as vagas sejam preenchidas por autodeclarados pretos, pardos ou
indígenas foi considerada injusta pelos professores que participaram. Porém, é o mesmo
critério utilizado no Censo Demográfico pelo IBGE, e também na maioria das políticas
de cotas raciais utilizadas em algumas universidades. Ainda, a classificação realizada
por terceiros leva em conta a aparência física, podendo incluir, além do fenótipo, sinais
de status como vestimentas e maneira de falar. Já a autoclassificação pode resultar de
“um processo reflexivo e complexo de socialização”, incluindo-se neste processo a
ascendência, a cultura e a forma como a sociedade classifica e valoriza seus membros.
A diversidade escolar proporcionada pela política de cotas, poderá cumprir não apenas
seu papel de propiciar oportunidades a uma população até então excluída, como também
proporcionar uma maior interação entre os sujeitos de diferentes etnias, culturas,
139
origens, habilidades, interesses e níveis sociais, promovendo, neste novo cenário de
complexas relações, o preparo desse futuro profissional para avaliar, elaborar juízos que
subsidiarão sua ação e refletir sobre ela, favorecendo a construção de sociedades mais
justas.
140
Entre a Ciência e a Filosofia: notas sobre a análise de discurso francesa em sua
dimensão epistêmica
136
Graduada em Filosofia – Licenciatura pela UFRGS, Mestranda no Departamento de Ensino e
Currículo da Faculdade de Educação da UFRGS e pós-graduanda em Psicanálise no Instituto de
Psicologia da UFRGS. E-mail: eugenia.zanchet@gmail.com.
137
Professora Adjunta no Departamento de Ensino e Currículo da Faculdade de Educação da UFRGS –
Área: Didática. Professora Permanente no Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRGS – Linha
de Pesquisa: Arte, linguagem, currículo. E-mail: fiss.doris@gmail.com.
141
Publicidade como um dos aportes para o progresso da humanidade na história
segundo Immanuel Kant
138
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal de São Carlos
(UFSCar). E-mail: wagnerbarros71@gmail.com.
142
transformador, o conteúdo imagético é quem o coloca para funcionar. O que levou
alguns filósofos a dedicarem suas letras ao assunto foi a percepção de que estavam
diante de um instrumento filosófico imensuravelmente potente. Assim, destacamos
dentre eles o filósofo alemão Immanuel Kant, para o qual a publicidade, por meio de
obras impressas, é tida como recurso primordial para o desenvolvimento da
humanidade. Em seus ensaios histórico-políticos pontua que a condition sine qua non
para que a humanidade saia de sua menoridade é o uso público da razão. Na
especificidade do pensamento kantiano, este uso é pautado pela liberdade de expressão
perante determinado assunto por meio de um livro, por exemplo, sem que nesta
exposição haja qualquer espécie de cerceamento na formulação da reflexão. O
esclarecimento (Aufklärung), conceito essencial para a filosofia do pensador alemão,
somente é possível na medida em que a liberdade reflexiva for proporcionada aos
homens. O livro e a liberdade de sua publicidade se tornam essenciais para este
processo, pois entremetem os meios necessários à reflexão requerida neste progredir da
humanidade. Para Kant, quando um pensamento é publicizado por meio de um livro, é
como se esta reflexão fosse posta diante de um tribunal, onde será cortejada, analisada e
julgada pelos membros do foro, no caso, os leitores. O valor da reflexão compõe-se pela
potencialidade que a compreende, porém, a possibilidade de sua publicidade, sem que
pretenda atender a uma expectativa exterior a sua elaboração, fomenta considerações tão
mais profundas do que pretendia, pois não atende a nenhum requisito e, desta maneira,
pode responder ou questionar toda e qualquer natureza (tanto para quem escreve quanto
para quem o lê, na medida em que o texto fomenta a meditação do sujeito),
possibilitando à comunidade dos homens uma reflexão livre, que traz somente
benefícios à sua história. O uso privado da razão, que se opõe ao primeiro uso, é aquele
feito pelo homem enquanto cumpre uma função ou cargo público. Nele o
esclarecimento (Aufklärung) não é possível pois quem o faz submete-se às prescrições
do cargo em exercício, deste modo, um funcionário do exército, por exemplo, ainda que
pondere de maneira destoante sobre uma determinada asserção da qual deve operar em
sua função, não pode deixar de assim fazê-lo, para que o bom funcionamento de sua
instituição ocorra. Portando, neste uso, o pensamento, ainda que permaneça livre em sua
essencialidade, não pode exteriorizar-se desta maneira, conquanto se subordina a
determinações alheias a si. Nosso objetivo, à vista disso, é demonstrar, por meio dos
escritos histórico-políticos kantianos, como o filósofo alemão contribuiu para a reflexão
acerca da importância da liberdade de pensamento e, consequentemente, como o livro
pode ser considerado como instrumento essencial para esse feito. Na medida em que
discorrermos sobre as especificidades de sua compreensão de esclarecimento
(Aufklärung) e do progresso da humanidade na história, será possível assimilarmos o
papel que o livro e seu conteúdo, concebido e publicizado livremente, podem
desempenhar no aperfeiçoamento das disposições da humanidade.
143
Fundamentos da bioética a partir de uma espiritualidade não religiosa
139
Doutor em Teologia; Coordenador do programa de Pós graduação em Bioética do Centro Universitário
São Camilo; vice-presidente da Sociedade Brasileira de Bioética. E-mail: pesrel@terra.com.br.
140
Doutorando em Bioética pelo Centro Universitário São Camilo. E-mail:alexandrecost@yahoo.com.br.
144
setores da população, como também nos pertencentes de determinadas igrejas. É
interessante notar que esse fenômeno se deu pelas características peculiares que a
modernidade possui, tais como: o imperativo da racionalidade (científica), a ideia de
autonomia do sujeito e a diferenciação das instituições, como destaca Hervieu-Léger.
Mesmo com grande avanço da ciência e da tecnologia, podemos cogitar que o ser
humano ainda experiência a vida com ambiguidades, levando-o à busca pela
transcendência e uma necessidade à totalização de sentido de vida. No “mundo da vida”
(Lebenswelt), que o ser humano realiza suas atividades significativas juntamente com
outras pessoas. Toda sociedade está empenhada na tarefa nunca completada de construir
um mundo de significado humano. Com a urbanização e a construção do mundo
moderno, as pessoas aderidas ao sentido científico, racional e tecnológico, tem buscado
modos inteiramente seculares de cosmificação (sensus religiosus). Porém, a vida secular
sempre mantém o ser humano em uma tríplice limitação, expressa por: fragmentação,
finitude e falta de sentido, como observa Severino Croatto . Se a vida moderna e a
religião hegemônica são formas de construir o mundo social, na modernidade, elas, ao
mesmo tempo, impendem às pessoas de experienciarem a construção de um mundo
significativo. Essa condição, descrita como “teoria da secularização”, faz com que os
indivíduos entrem na denominada crise estrutural de sentido. Em uma nova constituição
social de sentido de vida humana, ou seja, na busca de repostas para a crise de sentido,
as pessoas têm entrado em contato com outras formas religiosas, não hegemônicas, que
possibilitam outras experiências, tais como: a magia, a interiorização, a experiência
direta com o sagrado (espaço sagrado, tempo sagrado, corpo sagrado), símbolos vivos, e
até mesmo formas ‘religiosas’ não revestidas de deuses e crenças. Para o pensador
Catalão Marià Corbí, a modernidade com todo seu avanço tecnológico fez
desaparecerem as condições de vida que tornavam necessárias as culturas pré-industriais
e suas mitologias e religiões. Os sistemas de programação coletiva baseados nessas
religiões e mitologias perderam sua função de dar sentido e por isso mesmo entraram
em colapso e esvaziaram-se. Assim, ele propõe uma espiritualidade leiga sem crenças e
sem deuses, voltada para o conhecimento silencioso e o caminho interior. Todavia,
nesta espiritualidade leiga, livre da submissão a sistemas de crença, deve preservar o
legado espiritual presente nas várias tradições religiosas como contribuição para uma
sociedade mais pacífica e livre. Seria possível esta abordagem? Gianni Vattimo
desenvolve o pensamento que ele denomina de pensamento enfraquecido, ou seja
niilismo, na perspectiva de um cristianismo secularizado. Ele parte da releitura dos
filósofos Nietzsche e Heidegger, e assim mostra o declínio da metafísica no ocidente.
Para ele a morte de Deus põe fim à crença nos valores absolutos e abre o tempo da pós-
modernidade, época da pluralidade e propícia para o florescimento da nova
hermenêutica da religiosidade cristã. Esta interpretação é possível porque, em suas
raízes, encontra-se a inaugural experiência da kênosis de Jesus: esvaziamento do divino
que, na encarnação, aceita os limites do secular para transformar-se em amor sempre
relacional. Com isso, a caritas, principal mandamento deixado pelo Cristo, é
interpelação e critério para a vivência atual da espiritualidade. Caritas que é muito mais
o aspecto vivencial da experiência cristã do que uma verdade absoluta e estática. Desta
maneira esta pesquisa quer analisar o discurso religioso atual á luz da bioética, tendo
145
como fundamento as novas formas de espiritualidade que promovem experiências
religiosas para além das tradições institucionalizadas. Esta pesquisa se realiza dentro da
perspectiva de Fundamentos da Bioética. Área que oferece os subsídios necessários para
compreender a Bioética inserida no pluralismo religioso e a sua complexa relação com a
modernidade. Esta pesquisa tem o cunho qualitativo hermenêutico que busca interpretar
diversos autores que versam sobre religiosidade e pós modernidade. Buscamos o caráter
interpretativo de tal maneira que no processo hermenêutico em que as verdades, sem se
negarem, são compreendidas em novas coordenadas. Todo conhecimento humano é
interpretação, mas de uma realidade que tem sua objetividade independente do sujeito.
146
O uso da Internet e a formação de gênero feminino na infância
A presente pesquisa tem como problema analisar os papéis sociais em alguns sites
destinados ao público infantil feminino e de modo específico pretende repensar o lugar
da linguagem no processo de atribuição de sentidos em relação a gênero. Discute a
formação humana mediada pela linguagem dentro de um cenário cultural, delimitado na
pesquisa por sites de grande acesso pelo público infantil feminino, dentre os quais:
“Meus jogos de meninas”, “Super Meninas” e “Barbie”. O olhar da análise direcionou-
se em relação à apresentação estética e aos tipos de jogos disponíveis, refletindo sobre
estereotipias do modelo feminino e o lugar da mulher evidenciado na linguagem dos
sites. Para compor o referencial em relação a gênero utiliza-se de leituras para se
compreender a mulher no Brasil sob a égide do capital e a educação de corpos. De
acordo com as análises obtidas é marcante a presença da cor rosa e jogos que valorizam
a beleza e sensualidade com discursos normatizadores que impactam na formação da
subjetividade e nas representações do gênero feminino, servindo em grande medida para
posicionarem a mulher na sociedade de mercado como consumidora em duas frentes
principais: de bens e serviços principalmente na área estética e de consumidora também
de um ideário de mulher e de feminilidade fortemente marcado pela sedução e desejo.
Faz-se a comparação de como os sites dos meninos estão formatados, mas a escolha na
pesquisa pelos impactos em relação às meninas se justifica porque sócio historicamente
apresenta-se dependente da figura masculina. Lembrando que a exposição de crianças à
internet é cada vez maior, essa pesquisa tem sua importância em questionar que tipo de
linguagem é veiculada a esse público, deixando claro que os sites e seus jogos fazem
uma educação dos corpos.
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Mestranda Universidade Federal de Alfenas (Unifal), militante do Coletivo Feminista Jaçanã Musa dos
Santos (Poços de Caldas – MG) e supervisora pedagógica do Estado de Minas Gerais. Endereço
eletrônico: anapaulakarenina@yahoo.com.br
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Índice de Autores
A Elenice Maria Caixeta ..................................... 53
Elisa Zwick ..................................................... 70
Adriana Andrade de Souza ............................. 94
Elvis Rezende Messias .................................. 114
Adriano Pereira Santos ................................... 89
Everaldo Clemente da Silva .......................... 111
Alessa Marynara Silva .................................... 19
Alessandra Valim Ribeiro ............................ 110 F
Alexandre da Costa ................................ 86, 144
Fabiano Correa da Silva .................................. 33
Allisson Vieira Gonçalves .............................. 74
Felipe Thiago Dos Santos ............................. 119
Ana Cecília Aragão Gomes ............................ 36
Fernanda Israel Pio ................................... 50, 96
Ana Maria Brochado de Mendonca Chaves ... 18
Francisco Rogerio de Oliveira Bonatto ......... 108
Ana Maria Brochado de Mendonça Chaves 104,
Francisco Xarão ........................................ 65, 80
111
Ana Paula Ferreira ........................................ 147 G
André Dias de Andrade .................................. 48
Gabriel Gurae Guedes Paes............................. 56
Andressa Alves Souto .................................... 62
Gabriela Acerbi Pereira................................... 59
Antônio Marcos Dias Vieira ......................... 104
Giseli do Prado Siqueira ......................... 94, 110
B Gláucia Gonzaga Galvão ................................ 95
Gleyton Trindade ............................................ 21
Bárbara Ferrario Lulli ................................... 118
Guilherme de Souza Beraldo .......................... 46
Beatriz Silva Curti .......................................... 18
Betânia Alves Veiga Dell’Agli ..................... 138 H
Brenda Krisley Serafim .................................. 82
Hudson Luiz Vilas Boas ............................... 132
Bruno Fraga Pistinizi ...................................... 50
I
C
Igor Rafael de Paula ........................................ 44
Camila Geracelly Xavier Rodrigues dos Santos
Isadora Prévide Bernardo .............................. 112
................................................................... 20
Ivo Phelipe Silva Petreca ................................ 35
Campo Elías Flórez Pabón ............................. 69
Carlos Tadeu Siepierski .................................. 74 J
Caroline de Oliveira Rodrigues .................... 108
Jailton Farias da Silva ..................................... 32
Caroline Salvi Brandão................................... 18
Janaina Roberta dos Santos ............................. 89
Cleiton Donizete Corrêa Tereza ................... 102
Jhonatan da Silva Corrêa................................. 44
Conrado Moreira Mendes ............................... 42
João Bosco Fernandes ..................................... 98
Cristiane Correia Dias .................................... 99
João Carlos Bastos Gonzaga ......................... 110
Cristiano de Jesus Andrade ............................ 57
Juliana De Nardin ......................................... 111
D
K
Daniele Ferreira Soares .................................. 74
Kátia Maria Pacheco Saraiva ............ 29, 46, 126
David Ferreira Camargo ................................. 73
Kênia Eliber Vieira ....................................... 138
Davidson Sepini Gonçalves ............................ 84
Dênis Ribeiro de Souza .................................. 43 L
Diego Lopes Calçado ................................... 104
Larissa Karine Rodrigues .............................. 126
Dóris Maria Luzzardi Fiss ............................ 141
Lucas Magalhães Costa ................................. 133
E Lucas Soares Miniussi .................................... 80
Luís César Schiavetto ..................................... 67
Eduardo Ramalho Rotstein ........................... 129
Luzia Batista de Oliveira Silva ....................... 95
Elaine Cristina Moraes Santos ...................... 137
148
M Rafaela F. Marques ....................................... 130
Rosangela Trabuco Malvestio da Silva ........... 37
Maíra Leda de A. Carvalho ............................ 84
Marcio Fabri dos Anjos ................................ 144 S
Marcos Beck Bohn ......................................... 25
Samira Cristina Silva Pereira .......................... 65
Maria Eugênia Zanchet................................. 141
Sandro Amadeu Cerveira .............................. 121
Maria Fabiana Lansac..................................... 22
Maria Isabel Braga Souza ............................... 27 T
Maria Izabel Ferezin Sares ........................... 110
Tatiana Plens Oliveira ..................................... 40
Maria Regina Teixeira Weckwerth ............... 134
Terezinha Richartz .......................................... 78
Maria Teresa Loduca ...................................... 99
Tiago Lazzarin Ferreira ................................. 122
Maria Teresa Mariano .................................. 111
Marsiel Pacífico ............................................ 100 V
Monica Guimaraes Teixeira do Amaral ....... 137
Vanessa da Silva Lima .................................. 126
Monica Guimarães Teixeira do Amaral ......... 93
Vanessa Thais de Oliveira Lima ................... 104
N Verônica Danziger Gomes .............................. 88
Virgilio Chediak............................................ 120
Nara Cristina Moreira Almeida ...................... 63
Virgílio Diniz Carvalho Gonçalves ........... 50, 96
P Vivian Inácio da Rosa ..................................... 57
Paula Carpinetti Aversa .................................. 55 W
Paulo César de Oliveira .......................... 92, 133
Wagner Barbosa de Barros ........................... 142
Paulo Denisar Fraga ..................................... 115
Willian Martini ............................................. 105
Priscila Cristina da Silva Cid Gigante ............ 76
Z
R
Zionel Santana ................................................ 78
Rafael Antônio Dias ....................................... 42
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Realizado nos dias 16, 17, 18 e 19 de novembro de 2016, na Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais - PUC Minas, Campus Poços de
Caldas e nos dias 17 e 21 de novembro na Universidade Federal de
Alfenas - Unifal-MG, Sede Alfenas.
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