You are on page 1of 41

Direito Internacional Público I – JUR 1601

Professor: Gustavo Sénéchal

Resumo da Aula

Direito internacional humanitário: “direito de guerra”, direito que protege civis durante
um período de guerra, foi estabelecido n Idade Média.

Perspectivas de formação da sociedade internacional e do direito internacional


1ª Perspectiva - Chaumont (autor francês)
Divide o processo de formação em dois:
- Direito Internacional clássico: período entre a Idade Média e a 2ª Guerra Mundial, cuja
principal característica é a coordenação entre os Estados. É constituído por um sistema
europeu de Estados, depois de Estados de civilização européia e, por fim, uma
sociedade de Estados civilizados.
- Direito Internacional contemporâneo: período após a 2ª Guerra Mundial, cujas
principais características são a coordenação (novamente) e a cooperação
institucionalizada; é um momento de pluralismo de organizações internacionais.

Observação:
Organizações internacionais: associação internacional de Estados criada mediante um
tratado.

2ª Perspectiva – Carrión (autor espanhol)


Divide o processo de formação em vários momentos.
- 1º momento: sociedade internacional formada por Estados Católicos.
- 2º momento: sociedade internacional formada católica, após a reforma, expandiu-se,
englobando os Estados não-católicos. Ela passou a ser formada pelos Estados Cristãos.
- 3º momento: a partir do século XIX, a sociedade internacional passou a ser formada
pelos Estados Civilizados.
- 4º momento: a sociedade internacional passou a ser universal, compreendendo todos
os Estados, não se faz a distinção entre civilizados, semi-civilizados e não-civilizados
(bárbaros).


Carrión, apesar de transmitir uma noção tipicamente eurocêntrica e ocidentalizada,


consegue mostrar o avanço da expansão econômica e territorial. Somente no terceiro
momento se formou o discurso do Direito Internacional na tentativa de delimitar
cientificamente o Direito.

1
03.03.08
Pluralidade das sociedades internacionais
Somente quando os grupos humanos estabelecem entre si relações de estabilidade e
permanência e têm consciência e poder de autodeterminação é que se constitui o Direito
Internacional, senão é apenas dominação de um sobre o outro. Por isso, e devido ao
caráter expansionista da sociedade européia, o Direito Internacional começou com uma
visão eurocêntrica e cristã. Muitos dos institutos que temos hoje, como por exemplo,
não exercer a pena de morte em casos de insanidade mental, são considerados próprios
do direito laico, mas têm sua origem no direito canônico – o insano não consegue se
arrepender, portanto não vai para o céu.
Na Índia, em 500 a.C., temos o Código de Manu, que já instituía algumas
normas de Direito Internacional relativas aos embaixadores. No Egito também já havia
normas nesse sentido. A Grécia Antiga era uma confederação, um grupo de Estados
soberanos que se associam com uma finalidade comum específica. Já existia nos
costumes gregos o instituto do asilo. Na época se tratava de um grupo de criminosos
que fugia para um templo com o objetivo de escapar a uma condenação, mas é essa a
origem do nosso conceito de asilo, que protege pessoas perseguidas politicamente (asilo
territorial). Ainda na Grécia, já havia o costume de celebrar tratados e do envio de
delegados.
Asilo é diferente de refúgio, esse persegue pessoas com fundado temor, em
razão de perigo à vida por raça, credo... O refúgio se baseia num princípio de não
devolução, mesmo que não se reconheça o refugiado, não se pode devolvê-lo ao país de
origem, ele fica como estrangeiro. Existe ainda o asilo diplomático, instituto
tipicamente latino-americano. Isso acontece quando uma pessoa entra na embaixada de
um país estrangeiro e pede asilo político, mas somente se considera as embaixadas e os
outros territórios considerados extensão do território nacional e perseguidos políticos.
Se a autoridade da embaixada não considerar o crime como sendo político, ela deve
entregar a pessoa às autoridades locais. O asilo diplomático é temporário, depois de
escutar as autoridades competentes, se o país territorial conceder o asilo, a pessoa
recebe um salvo conduto para poder sair do país e o asilo se torna territorial.
O asilo e o refúgio se diferem, ainda, da extradição. Essa, por sua vez, consiste
na entrega de uma pessoa que cometeu um crime comum para as autoridades de outro
país, para lá ser julgada. No Brasil, o pedido passa pelo Ministério da justiça e é,
posteriormente, encaminhado ao Supremo para decidir. Para que se conceda a
extradição, o crime deve existir tanto no país requerente como no requerido – princípio
da identidade – e a pessoa só pode ser julgada por aquele crime específico – princípio da
especialidade. A extradição só é possível devido à cooperação entre os países. De uma
maneira geral, países de Civil Law não extraditam seus nacionais, somente naturalizados
por crime ocorrido antes da naturalização.
A influência romana no Direito Internacional é muito pequena, pois quando os
romanos eram poderosos, o mundo era romano. Somente no início de sua expansão é
que se formou o ius fetiale, de responsabilidade de um grupo de sacerdotes que ia à
fronteira fazer as declarações de guerra na forma de um ritual. No entanto, com o
crescimento do Império, esse rito passou a ser feito em Roma. Também havia o ius
gentium,o direito das gentes, que regulava as relações envolvendo os estrangeiros.
Como na Grécia, os romanos já possuíam o costume de celebrar tratados. Um deles era
o foedus, que consistia na união com o objetivo de criar um estado de paz permanente.
Segundo a visão de Carrión, o Direito Internacional começa a se formar e a
evoluir, num primeiro momento, entre Estados Católicos. Esses Estados eram, na

2
verdade, reinos feudais com relativa independência que tinham elementos religiosos,
culturais, jurídicos e políticos em comum. O direito canônico e o Papa exerceram um
importante papel na sociedade internacional nesse momento. Consolidou-se a liderança
papal na Igreja Católica e vive-se um período dividido entre duas jurisdições: Estado
versus Igreja. Há uma pluralidade de sistemas jurídicos: lex mercatoria, direito
comercial, direito canônico, direito “estatal”.
Com a influência da Igreja, houve algumas modificações na sociedade européia.
A guerra passou a ter algumas condições, como, por exemplo, só podia ser pública,
declarada pelo príncipe. Ela era considerada justa quando visava a reparar uma injustiça
e devia ser necessária, a única forma de se reparar essa injustiça. Proibiu-se a
escravização dos católicos prisioneiros. Foram introduzidos alguns institutos novos. A
trégua de Deus foi uma tentativa da Igreja Católica de limitar os dias de guerra
proibindo a guerra nos dias religiosos importantes. A Paz de Deus é o que hoje
chamamos de princípio de destinação, abrange os civis e a agricultura e o campo.
Começou-se a utilizar a arbitragem tendo o Papa como árbitro. Pelas Bulas papais, Deus
criou o mundo então caberia ao Papa distribuir suas terras. A doação de terras pelo Papa
era uma forma de aquisição de terras, elas não podiam já ter sido ocupadas.

05.03.08
Perspectiva de formação do Direito Internacional
O Tratado de Versalhes impôs a paz dos vencedores após a 1ª Guerra Mundial, criando
a Liga das Nações. Também foi criada nesse período a OIT, Organização Internacional
do Trabalho. Depois da 2ª Guerra Mundial foi criada a ONU e suas organizações
adjacentes. Um exemplo da paz dos vencedores é o Conselho de Segurança da ONU. O
Direito Internacional atende a determinadas necessidades de ordem política, econômica,
social internacional.
Voltando ao início da formação do Direito Internacional, a partir da herança
resgatada do direito romano, começou a se formar o direito, começando com o direito
canônico. Para requerer a anulação de um casamento, por exemplo, era necessário
recorrer a um tribunal de direito canônico. Foram instituídas condições para a guerra,
que deveria ser justa, para reparar uma injustiça, e necessária, a única forma de
reparação da injustiça sendo pela luta armada. Depois, com o desenvolvimento das
cidades e a expansão do comércio, há a criação de uma pluralidade de ramos do direito.
Com a Reforma, a sociedade internacional passou a ser composta por Estados
cristãos. Somente a partir desse momento é que se pode realmente falar em organização
de um sistema de Estados, com o Estado se tornando a figura central no Direito
Internacional. Nesse momento já se percebe a queda da hegemonia papal,
conseqüentemente não era mais suficiente o Papa doar as terras. Tornou-se necessária a
aquisição do território por meio do descobrimento, com um ritual de aquisição. Um
momento depois, passou a ser preciso, também, consolidar o descobrimento com a
construção de algumas fortificações.
Em 1648, acabou a guerra dos trinta anos entre os Estados Católicos e os
Protestantes. Firmou-se a Paz de Westfalia, em que se consolidou o princípio de
igualdade soberana dos Estados e, conseqüentemente, de não interferência interna, além
da liberdade de culto para protestantes e católicos. Assim, afirmou-se também a noção
de Estado como território relativamente demarcado. Foi possível a configuração de um
sistema de relações internacionais. Outros fatores marcantes no período da sociedade
internacional formada por Estados cristãos foram a revolução industrial, o
mercantilismo e a colonização do continente americano. O iluminismo acabou com o
direito divino. A declaração de direitos do homem e do cidadão, nascida da revolução

3
francesa, consolidou a perspectiva de direitos humanos. Os homens deixaram de ser
servos e passara a ser cidadãos. Hobbes afirmava que mesmo com o contrato social, há
certos direitos dos quais não podemos abrir mão. A revolução francesa marcou a
instituição do princípio de isonomia (igualdade entre os cidadãos). O iluminismo
também consolidou o pensamento individualista e acabou com o jusnaturalismo
político.
Com o fim das guerras napoleônicas, foi feito o Congresso de Viena, que
introduziu o conceito de cooperação entre os Estados. Ele estabeleceu normas de
relações diplomáticas e as comissões fluviais, a exemplo da Comissão do Danúbio.
Entre 1815 e 1854 a balança do poder e a paz na Europa foram mantidas pelo Concerto
Europeu, um sistema de consultas mútuas e conferências internacionais entre as grandes
potências européias com o objetivo de preservar os acordos de Viena e definir seus
ajustes. Mesmo com esses acontecimentos e, ainda, a Independência dos EUA, o Direito
Internacional continuou com uma matriz Cristã, apesar iniciada a transição para uma
sociedade internacional dividida em Estados civilizados. Alguns acontecimentos
marcaram essa transição, como a independência dos EUA (1776), do Haiti (1804) e
outros países da América Latina (1808 – 1825), a I Guerra do Ópio (1839 – 1842) e a
abertura dos portos japoneses ao Ocidente (1854).
Após 1854 o Concerto Europeu e o equilíbrio do poder foram quebrados por
sucessivos acontecimentos, mas não foram eliminados, sucessivos congressos foram
realizados para se resolver as crises já existentes e tentar impedir o surgimento de
outras. Em 1884 foi realizada a Conferência Africana de Berlim, onde os países
europeus dividiram entre eles o território africano, iniciando uma nova onda colonial. O
rei belga, Leopoldo, começou a juntar recursos para libertar os africanos subsaarianos
da dominação islâmica. Primeiro ocorreu a morte dos elefantes, depois a extinção da
flora com a extração da borracha e, progressivamente, a destruição da população. A
carta final da conferência é chamada por alguns de carta magna da colonização. A
ocupação precisava ser efetiva e notificada aos outros Estados participantes (princípio
da notificação). Os Estados civilizados eram os Europeus; os semi-civilizados, os
periféricos sob o regime de capitulações, pelo qual a população local estava sob o jugo
de um cônsul designado; e os bárbaros, aqueles países ainda sofrendo a expansão
colonial. Já estava arquitetado o terceiro momento de evolução da sociedade
internacional, em que só fazem parte dela os Estados civilizados e as relações
internacionais dão marcadamente de relações de hegemonia e dependência entre a
cultura ocidental e as outras.

17.03.08
Na arbitragem, um terceiro Estado não envolvido diretamente no conflito entra como
mediador na conciliação, na tentativa de solucionar as controvérsias. Esse papel era
desempenhado pelo Papa na Idade Média, caiu em desuso, mas foi retomado com a
conferência de Haia, em 1899 e 1907.
O Direito Internacional humanitário regula os meios e métodos de guerra, ou seja,
protege civis, prédios civis, diferencia combatentes e civis, protege o combatente
legítimo.
A visão de sociedade internacional dividida em Estados civilizados é uma visão
tipicamente civilizatória que continua até os dias de hoje, a exemplo do debate a cerca
da entrada ou não da Turquia na União Européia. Em 1899 e 1907 foram realizadas as
Conferências de Paz de Haia, que se concentraram nos temas de solução de
controvérsias e de uso da força. Ficou instituído que apenas após se tentar usar todos os
meios pacíficos de resolução de conflitos é que se pode usar a força. Ainda assim, há

4
uma limitação que proíbe que se cause sofrimento desnecessário. O ministro das
relações exteriores da Argentina, Drago, e o dos EUA, Porter, propuseram a proibição
do uso da força para a cobrança de dívidas, à exceção de quando o devedor se recusa a
pagar.
A revolução russa de 1917 introduziu um novo conceito de direitos humanos.
Marx criticava a Declaração de Virgínia dizendo que ela se referia ao homem abstrato.
A revolução trouxe uma nova perspectiva traduzida na Declaração de Direitos do Povo,
dos Trabalhadores e dos Explorados, redigida por Lênin. Nesse documento,
privilegiam-se os direitos sociais e econômicos em detrimento dos liberais, instituiu-se
direitos mais concretos, como o direito a saúde, a seguridade social.
Com o fim da 1ª Guerra Mundial, firmou-se o Tratado de Versalhes. Ele criou a
Liga das Nações, em 1919, que instituiu que se um Estado recorresse à guerra contra um
dos países da Liga, ele estaria declarando guerra a todos os países da Liga – moratória
de guerra. Com relação às colônias, as dos perdedores ficaram para os vencedores.
Estabeleceu-se o sistema de mandatos, em que certas áreas ficavam sob a administração
de um dos países vencedores. Outro conceito introduzido foi o de segurança coletiva,
graças à criação de uma instituição internacional: a Liga era o único órgão capaz de
permitir a guerra. Em 1928, firmou-se o Pacto de Briand-Kellog, proposto pela França
aos EUA, que depois foi aberto à plurilateralidade. Nesse pacto, se fazia a renúncia à
guerra: se reconhecia que os Estados tinham um direito soberano à guerra, mas eles
renunciavam a esse direito. Esse pacto foi extremamente aceito entre os países, pois
naquele momento interessava a todos a limitação à força. Esse conceito foi se
construindo aos poucos.
Antes da 2ª Guerra, todos os países sabiam das conseqüências possíveis e
prováveis do nazismo, mas o Ocidente estava mais interessado em deixar Hitler se
entender com a União Soviética. A Guerra começou com a Guerra Civil Espanhola, que
foi internacionalizada pela participação das Brigadas Internacionais republicanas e da
Alemanha e da Itália. Com o fim da 2ª Guerra temos o surgimento de uma pluralidade
de organizações internacionais, dentre as quais a ONU é a principal e a responsável por
manter a paz internacional. Para as outras áreas específicas foram criadas organizações
específicas. O Direito Internacional passa a ser liberal, pois defende a liberdade de
comércio; descentralizado e oligárquico, pois ainda são os civilizados os principais
atores internacionais.
Finalmente, com o final da 2ª Guerra Mundial, institui-se a sociedade
internacional formada por Estados universais. Há tribunais internacionais que julgam
pessoas físicas, diferentemente da responsabilidade do estado, agora há a
responsabilidade do indivíduo perante a ordem internacional. Em 1945 se deu a criação
da ONU. Foram estabelecidas organizações específicas para as áreas específicas. A
partir da Carta da ONU, limitou-se o uso da força: a guerra foi proibida com exceção do
Conselho de Segurança e da legítima defesa. O ingresso de um Estado na ONU deve ser
recomendado pelo Conselho de Segurança e aprovado pela Assembléia Geral. Os países
capitalistas vetavam a entrada da China, continuava sendo Formosa o governo
representativo até que a China conseguiu a bomba atômica, mudando o governo
republicano para o governo comunista.

19.03.08
A Paz de Westfália foi extremamente importante para consolidar a soberania territorial
dos Estados e um sistema de relações internacionais, os Estados passam a ser iguais.
Os EUA foram os grandes líderes durante o processo de criação da Liga das
Nações, mas o Congresso americano não aprovou sua participação na Liga, mostrando a

5
volta à posição isolacionista que mantinha até antes da 1ª Guerra. Como os EUA não
eram membros, havia uma cadeira vazia e desde aquela época o Brasil já pleiteava uma
posição de maior destaque dentro da organização, hoje, buscamos uma cadeira de
membro permanente no Conselho de Segurança. Os membros permanentes, hoje, são os
EUA, o Reino Unido da Grã-Bretanha, a Rússia, a China e a França.
A ONU nasceu como uma tentativa de consertar os pontos fracos e falhos da
Liga e, principalmente, com uma mentalidade oposta: a da proibição da guerra e da
essencialidade de manutenção da paz e da segurança internacional. O órgão responsável
por esse aspecto é o Conselho de Segurança. Ele só funcionou realmente nesse sentido
em duas ocasiões durante o período da Guerra Fria: na Guerra da Coréia e na 1ª Guerra
do Iraque. O Conselho de Segurança ficou paralisado pela Guerra Fria. Os outros órgãos
principais são: Assembléia Geral, o Conselho Econômico e Social, a Corte Internacional
de Justiça (principal órgão jurídico internacional) e o Secretariado da ONU (órgão
administrativo). Ela foi criada pela Conferência de São Francisco e na época de sua
criação contava com mais um órgão principal, o Conselho de Tutela, que não existe
mais e que se direcionava aos países sob o regime de tutela.
Apesar das medidas pacificadoras, foram previstas três possibilidades para o uso
da força, dentre elas a legítima defesa, que visa a paralisar a agressão sofrida e que deve
ser comunicada ao Conselho de Segurança. O Conselho de Segurança, por sua vez, tem
a prerrogativa de poder decretar o envio de tropas da ONU. A terceira foi adicionada
posteriormente e se concretiza nas guerras de independência coloniais. Com a criação
da ONU, houve um movimento no sentido de codificação do Direito Internacional. A
ONU pede à Comissão de Direito Internacional que analise certas questões. Sobre esse
aspecto temos as duas Convenções de Viena, que trataram especificamente do Direito
Internacional e de sua origem. Outro assunto abordado pela Carta da ONU são os
Direitos Humanos sem discriminação, reminiscência da Revolução Francesa.
Em 1948, a Assembléia Geral aprovou a Declaração Universal dos Direitos
Humanos. Acompanhando-a, foi instituído o crime de genocídio, que não prescreve e
que consiste no crime de homicídio com a intenção de eliminar um grupo específico ou
etnia. O Conselho de Segurança ficou imobilizado com a bipolaridade da Guerra Fria. A
cortina de ferro mantinha cada bloco em seu espaço territorial. Economicamente
vigorava o Sistema de Bretton Woods, que estabeleceu as regras para as relações
econômicas e financeiras entre os países mais industrializados. Esse sistema criou o
BIRD, que depois se dividiu no Banco Mundial e o BID, e o FMI. A questão de Direitos
Humanos estava muito presente, cada bloco defendendo que cumpria os direitos
humanos: os capitalistas cumpriam os direitos civis e políticos e os socialistas
cumpriam os direitos sociais e econômicos.
A situação mudou com Cuba, que era um bordel dos EUA sob a ditadura de
Fugencio Batista. Cuba sofreu a revolução e mudou seu sistema de governo. Com a
expropriação de propriedades estrangeiras e a reforma agrária, os revolucionários
atingiram os interesses norte-americanos, que por sua vez cortaram suas relações
políticas e econômicas com Cuba. Em necessidade, Cuba recorreu à União Soviética,
que lá instalou seus mísseis nucleares, todos voltados para os EUA. Os EUA impuseram
quarentena à Cuba e à União Soviética, que acabou por retirar os mísseis. Em troca os
EUA não interfeririam em Cuba.
Nesse período, vemos uma multipolarização do bloco capitalista, com os
resultados do plano Marshal começando a aparecer na Europa. Por outro lado, houve
uma cisão do bloco socialista com sucesso da revolução na China. A teoria dos mundos
data dessa época: o 1º mundo seria os EUA e seus aliados (Europa), o 2º mundo seria a
União Soviética e seus aliados e o 3º mundo compreenderia a América Latina, a Ásia e

6
a África. Portanto, além da divisão leste-oeste, passa a haver uma divisão entre norte e
sul, ambas fortemente ideológicas. A descolonização interessava às superpotências, que
disputavam a adesão dos novos países a seus sistemas político-ideológicos.
Esse contexto levou ao movimento de descolonização, cujo ponto de partida foi
a Resolução da Assembléia Geral/ONU 1514/1960 – Declaração de Independência dos
Povos e Países Coloniais; e a Resolução da Assembléia Geral/ONU 1803/1962–
Declaração sobre a Soberania Permanente sobre os Recursos Naturais (característica
econômica da soberania do Estado). Essas duas resoluções trouxeram uma conotação
econômica ao Direito Internacional. São também dois pactos que falam do direito a
autodeterminação dos povos. Formou-se o Grupo dos 77, de países de independência
recente, mas do qual o Brasil participava, que era o grupo de maior pressão na
Assembléia Geral no sentido da descolonização e na formação de uma nova ordem
econômica internacional. Os países desse Grupo dos 77 eram todos do movimento dos
países não alinhados, do qual não podia fazer parte país que participava de pacto militar
posicionado e do qual o Brasil nunca efetivamente fez parte, participando somente
como convidado.
Liderados pela Argélia, o movimento pressionou a ONU e conseguiu que se
realizasse de uma reunião extraordinária da Assembléia Geral no sentido de formar uma
Nova Ordem Econômica Internacional. Em 1974 saíram a Res. AG/ONU 3201 –
Declaração e Programa de Ação para uma Nova Ordem Econômica Internacional; e a
Res. AG/ONU 3281 – Carta de Direitos e Deveres Econômicos dos Estados. A NOEI
incluía não só um aspecto econômico, mas também um financeiro, social e comercial.

24.03.08
A respeito da atuação da Liga na descolonização, foram conferidos a certos países
mandatos sobre os territórios coloniais dos perdedores da guerra. O direito a auto-
afirmação dos povos constitui uma terceira possibilidade do uso da força prevista pela
ONU, ele consiste na luta pela libertação colonial. Isso constituiria um conflito
internacional porque não se pode confundir o território da colônia com o da metrópole.
Pelo princípio da integridade territorial, estabelecido pela Unidade Africana, a ex-
colônia deve manter suas fronteiras após a independência. Esse princípio causou
inúmeros conflitos armados na África, que se estendem até os dias de hoje.
Há outro princípio muito presente na ordem internacional, o princípio da
eqüidade e da desigualdade compensatória. Ele consiste no reconhecimento de que os
Estados são juridicamente iguais, mas economicamente desiguais; logo, os países
desenvolvidos devem tentar compensar economicamente a diferença de
desenvolvimento.
A revolução tecno-científica ampliou o campo de atuação do Direito
Internacional, o qual se tornou cada vez mais normativo (exemplo: atividade e nuclear e
espacial). Além disso, com o fim da guerra fria, tivemos um surto de nacionalismo e a
fragmentação da União Soviética, e um conseqüente aumento de novos estados. O
processo de globalização está muito ligado ao projeto neoliberal, e muitos ligam esse
surto de nacionalismo à expansão da globalização. Outros acreditam que o nacionalismo
inseriu o Estado na globalização. De qualquer forma, vemos o nascimento de muitos
novos Estados, o que contribuiu para expandir e intensificar a atuação do Direito
Internacional. Percebemos a globalização também na cultura e nos meios de
comunicação.
Como fim da guerra fria, vários fatores vieram desestabilizar a ordem
internacional. Os conflitos armados internacionais, regulados pela Conferência de
Genebra de 49 e pelo Protocolo 1; as violações de Direitos Humanos e de Direito

7
Internacional Humanitário e a ameaça terrorista são alguns desses fatores
desestabilizadores e que contribuíram para intensificar o trabalho do Direito
Internacional. A ameaça terrorista somente é definida pela doutrina, sua única
regulamentação diz respeito ao dever dos Estados envolvidos. O Tribunal Penal
Internacional é apenas competente para julgar crimes contra a humanidade, crimes de
genocídio e crimes de guerra (o crime de agressão somente foi previsto, nunca foi
efetivamente posto em prática). Tentou-se incluir o crime de terrorismo nessa lista, mas
os EUA e a França, dentre outros países, foram contra. Outros fatores desestabilizadores
são o subdesenvolvimento econômico e as ameaças ao meio-ambiente. Se antes
vivíamos em um sistema único e bipolaridade, nos encontramos hoje em um sistema
unipolar.

Composição da sociedade internacional


Na perspectiva de relações internacionais, chama-se os entes atuantes na ordem
internacional de atores. Já na ótica de Direito Internacional, eles são considerados
sujeitos de direitos e deveres – as chamadas pessoas de Direito Internacional. Todos os
entes nesse sentido são pessoas do Direito Internacional Público. Assim se determina
quem é pessoa no Direito Internacional na perspectiva declaratória – aqueles a quem o
Direito Internacional atribui direitos e deveres na ordem internacional. Na perspectiva
processual se considera pessoas de Direito Internacional todos aqueles que têm
responsabilidade na ordem internacional, isto é, os que respondem diretamente por suas
violações, aqueles que têm legitimidade para reclamar e os que têm capacidade para
assumir compromissos. A doutrina clássica considerava apenas os Estados, mais
recentemente, todavia, consideramos também os indivíduos e as organizações
internacionais.
A legitimidade ativa consiste no direito daquele que reclama a violação da
norma. A passiva, portanto, é daquele que sofre a responsabilidade pelo
descumprimento da norma. O Estado pode ser responsabilizado pela ação de um
indivíduo. Também o indivíduo pode, atendidas certas condições, reclamar uma
violação junto ao órgão de Direitos Humanos da ONU. Isso só é possível se o Estado de
onde vem o indivíduo reconhecer a competência desse órgão. O Brasil não assinou o
Protocolo Facultativo de Direitos Civis e Políticos; logo, ninguém ligado à jurisdição
brasileira pode reclamar uma violação.
A personalidade internacional não depende da quantidade de direitos e deveres
de que um ente seja titular, ela varia segundo a natureza dos diferentes sujeitos. Essa
natureza depende das necessidades da comunidade, o conteúdo da personalidade
jurídica internacional, em termos de capacidade, não é o mesmo em todos os sujeitos.

Observação:
A família de Jango quer processar os EUA por ter ajudado e financiado o golpe que
derrubou o presidente. Cabe avaliar se isso constituiu um ato de império ou um ato de
gestão. O primeiro é um ato soberano do Estado e, portanto, não pode ser julgado em
outro país. Já no segundo o Estado atua como gestor, ele pode sim ser julgado.

26.03.08
A organização internacional é uma associação de Estados criada mediante um tratado.
Na perspectiva processual de determinação das pessoas de Direito Internacional,
há três fatores que são levados em consideração: a capacidade de responder diretamente
pela violação de uma norma de Direito Internacional, a legitimação direta para reclamar

8
a violação de uma norma e a capacidade para assumir compromissos com outras
pessoas de Direito Internacional.
Quanto ao primeiro fator, é correto afirmar que geralmente o Estado responde
pela ação de seus nacionais, porém há casos em que os indivíduos respondem
diretamente por seus atos. Por exemplo, o tribunal de Nuremberg, os tribunais especiais
para a Iugoslávia e Ruanda. Esses três casos são tribunais ad hoc, temporários e
específicos. Apenas muitos anos depois, com o Estatuto de Roma, é que se criou o
Tribunal Penal Internacional. No entanto, só estão submetidos ao tribunal os Estados
parte do tratado de Roma. Existe a legitimação direta ativa, em que se responde pelas
próprias ações, e a legitimação passiva, em que se assume a responsabilidade pela das
ações.
O que caracteriza a independência de uma organização internacional é seu corpo
administrativo, ter funcionários próprios que, independentemente de suas
nacionalidades, obedecem somente às regras internas da organização. A Corte
Internacional de Justiça (CIJ) tem duas funções: uma contenciosa, de resolução de
conflitos, e outra consultiva, que fornecem pareceres a cerca de questões postas pelo
Conselho de Segurança, pela Assembléia Geral ou por alguma outra organização ou
órgão, desde que com autorização da Assembléia Geral. Em 1949, a missão
internacional de ONU no Oriente Médio para a criação do Estado de Israel foi vítima de
um atentado em que morreram alguns de seus funcionários. A Carta da ONU, no
entanto, não falava de personalidade jurídica da organização. Assim, o Secretário Geral
da ONU pediu à CIJ um parecer a respeito da personalidade internacional da
organização para pedido de reparação de danos. O parecer dado foi a favor da existência
da personalidade internacional da ONU, afirmando que, não obstante, os direitos e
deveres de uma organização internacional, enquanto pessoa internacional, eram
diferentes dos de um Estado. Eles dependem dos propósitos e funções da organização,
tais como estão explícitos ou implícitos no seu texto constitutivo. A partir daí, não
restaram dúvidas com relação à questão.
A respeito da existência de normas atributivas (gerais) da personalidade
internacional, há diversos pontos de vista. Um deles defende que existem tais normas,
que definiriam, por exemplo, a personalidade internacional dos Estados. A União
Européia, por exemplo, possui exigências para o reconhecimento de um Estado, como
eleições periódicas com pelo menos dois partidos políticos. Alguns dos aspectos que o
caracterizam são a soberania, a organização e a territorialidade. Esses fatores constituem
uma visão específica das pessoas do Direito Internacional, em quem o Estado é a
principal pessoa e formador das outras. Ele seria a pessoa primária ou originária ou,
ainda, de capacidade plena. Os aspectos que o caracterizariam são a igualdade soberana
(que os distingue de todos os outros sujeitos), a organização (que os diferencia de certos
sujeitos como o indivíduo) e a territorialidade (que os distingue das organizações
internacionais). Existiriam, conseqüentemente, as outras pessoas, secundárias ou
derivadas ou de capacidade restrita. Seriam essas as organizações internacionais
intergovernamentais, as entidades com status especial e o indivíduo. Charles Rousseau
possui uma perspectiva diferente, muito criticada por entender a primazia do Estado.
Ele divide as pessoas de Direito Internacional Público em coletividades estatais,
coletividades inter-estatais e coletividades não-estatais. As primeiras corresponderiam
aos Estados; as segundas, às organizações internacionais, e as terceiras, aos indivíduos.
Uma característica do Direito Internacional Público é a inexistência de poder
legislativo, executivo ou judiciário internacional – ela é descentralizada. As normas
jurídicas internacionais são feitas pelos seus próprios destinatários, os Estados. Daí
Georges Scelle defender a teoria da dupla função ou desdobramento funcional do

9
Estado: o Estado empresta seus órgãos internos para elaborar as normas internacionais e
depois para fazer com que sejam cumpridas ou ajudar no seu cumprimento, ele é ao
mesmo tempo autor e destinatário das normas. Além de descentralizada, a sociedade
internacional é paritária (há uma igualdade entre as pessoas internacionais),
escassamente integrada (sua estrutura jurídico-formal é relacional), complexa (é
formada por mais de uma pessoa) dinâmica, universal (engloba a todos os Estados),
interdependente e heterogênea (há diferentes tipos de sujeitos com personalidade
internacional).
Sob o ponto de vista da personalidade, é necessário que o Estado tenha território
definido, população permanente, governo efetivo e independente e soberania (relativa,
pois o Estado soberano é aquele vinculado à ordem internacional). As entidades com
status especial se enquadrariam, na classificação de Rousseau, na categoria das
coletividades não-estatais. A Santa Sé é um exemplo, ela tem personalidade
internacional.

31.03.08
A norma primária é aquela norma inicial, sobre cuja violação incide uma norma
secundária, normalmente de reparação.
O indivíduo, como pessoa de Direito Internacional, pode reclamar à Comissão
de Direito Internacional, que fará uma avaliação do caso e poderá, posteriormente,
encaminhá-lo à CIJ. Essa possibilidade só existe quando o Estado da nacionalidade do
indivíduo for parte do tratado da Comissão ou da Corte, fazendo parte da organização.
Quando um Estado não puder julgar um indivíduo, deve encaminhar o caso à outra
pessoa, competente para fazê-lo – princípio do aut dedere aut punire. Os brasileiros não
podem recorrer à Comissão de Direitos Humanos, pois o Brasil não é parte do Protocolo
Facultativo do Tratado de Direitos Humanos.
Além de Charles Rousseau, há outra ótica para dividir e classificar as pessoas de
Direito Internacional Público, já mencionada anteriormente. Ela divide em pessoas
primárias, originárias ou de capacidade plena, que seriam os Estados, e pessoas
secundárias, derivadas ou de capacidade restrita, que podem ser as organizações
internacionais intergovernamentais, as entidades com status especial (Santa Sé, Comitê
Internacional da Cruz Vermelha e beligerantes, por exemplo) e os indivíduos. O Estado
é a principal pessoa de Direito Internacional Público, é ele quem cria a maioria das
outras pessoas internacionais e quem elabora as normas internacionais.

Observação:
A teoria do risco consiste na possibilidade de, se um Estado enviar um objeto, cujo
registro deve ser feito no próprio Estado e no Secretariado Geral da ONU, para o
espaço, ele ser responsabilizado pela reparação dos danos caso esse objeto ou parte dele
venha a cair e prejudicar alguém, aonde quer que seja. É um risco que ele corre quando
decide enviar algo para o espaço.

Os beligerantes constituem o grupo que luta contra o Estado numa guerra civil. Se o
Estado reconhecer que não tem mais controle sobre determinado território, o grupo
armado com o controle é declarado beligerante. Ele possui certos direitos internacionais
e, se acontecer de ele ganhar a guerra civil, chegando ao poder, o novo Estado deve ser
reconhecido pela comunidade internacional. Caso um terceiro Estado venha a declarar
aliança aos beligerantes, ele estará intervindo na soberania do Estado em guerra e,
portanto, cometendo um ilícito internacional.

1
Quanto ao indivíduo, temos hoje uma gama de direitos particulares ao indivíduo,
direitos civis e políticos. As revoluções francesa e americana instituíram como direitos
fundamentais a igualdade, a liberdade e a propriedade, com isso nasciam os Direitos
Humanos. Nem mesmo na visão contratualista se abre mão e certos direitos naturais.
Ainda, a Declaração de Virgínia institui a busca da felicidade. Uma segunda visão dos
Direitos Humanos é a da Declaração do Povo Trabalhador da URSS, que instituía, por
exemplo, o direito à expropriação. No entanto, os Direitos Humanos só ingressaram
oficialmente na Ordem Internacional com a Carta da ONU em 1945 e a Declaração de
Direitos Humanos da ONU de 1948. Em 1946, o Conselho Econômico e Social criou a
Comissão de Direito Humanos, extinta em 2006 devido à criação do Conselho de
Direitos Humanos, subordinado direitamente à Assembléia Geral.
A primeira tarefa da Comissão foi elaborar a Declaração Universal de Direitos
Humanos. Quando de sua criação, houve uma grande discussão quanto à sua
obrigatoriedade, que concluiu que, assim como a Carta da ONU, a Declaração possui
caráter recomendatório à Assembléia Geral. Quanto à sua universalidade, tivemos três
tipos de abstenções na sua aprovação: a África do Sul, devido ao seu regime racista da
Apartheid; os países do Bloco Comunista, que defendiam que a declaração não
contemplava os direitos sociais e econômicos e instituía o direito à propriedade, e a
Arábia Saudita, com relação aos direitos da mulher, ao direito de “ir e vir” (Meca estava
restrita aos muçulmanos) e aos direitos de livre pensamento e credo.
Em 1946, a Comissão elaborou um Pacto de Direitos Econômicos, Sociais e
Culturais e em 1966, um Pacto de Direitos Civis e Políticos e um Protocolo Facultativo
ao Pacto de Direitos Civis e Políticos. Em 1989, há um segundo protocolo facultativo. O
Protocolo de 66 permite que indivíduos reclamem perante o Comitê de Direitos
Humanos, criado pelo Pacto de 1966. O segundo protocolo facultativo refere-se à pena
de morte. O Pacto de Direitos Civis e Políticos obrigou os Estado contratantes a
aplicarem imediatamente o pacto a todo o seu território e a todos nele. Já o Pacto
Econômico, Social e Cultural, sua aplicação deve ocorrer paulatinamente até o limite
dos recursos do Estado. Essa diferenciação é devido ao fato de o segundo Pacto
constituir direitos positivos, que exigem a utilização de recursos públicos e a
mobilização do aparelho estatal, e o primeiro, direitos negativos, no sentido de que são
direitos declaratórios.

Características da Sociedade Internacional


Ela é ainda predominantemente estatal, lembrar do desdobramento funcional do Estado;
descentralizada, não tem órgão central; paritária, igualdade soberana dos Estados;
escassamente integrada, estrutura jurídico-institucional e relacional; universal;
complexa e interdependente, tudo atinge todo mundo.

Estrutura da Sociedade Internacional


Ela é relacional, regida por um societarismo. Cada vez se cria mais organizações e
tratados, o que explicita sua característica institucional, em que a cooperação se dá
através de organizações internacionais. Além disso, a sociedade internacional é
comunitária, regida pelo princípio de solidariedade entre os Estado.

Conceito de Direito Internacional


A conceituação de Diaz de Velasco (clássico) ressalta o conjunto das normas e
princípios, que buscam certa coerência, e o caráter jurídico, ou seja, a obrigação do
cumprimento. Ele afirma que o Direito Internacional é um “sistema de normas e
princípios que formam o ordenamento jurídico da sociedade internacional

1
contemporânea e que regula as relações de coexistência e cooperação institucionalizada
[...].”

Princípios
O artigo 1º da Carta da ONU institui a igualdade de direitos e o direito à
autodeterminação dos povos. O artigo 2º institui a igualdade soberana dos Estados, ou
melhor, a busca por essa igualdade, boa-fé, solução pacífica de controvérsias (a busca
por meios pacíficos – princípio da livre escolha dos meios, artigo 33), proibição da
ameaça ou uso da força, auxílio à ONU, obrigação de os Estado não-membros de
cumprirem os princípios e respeito à jurisdição doméstica (domínio reservado dos
Estados). A Res. Assembléia Geral/ONU 2625/70 institui princípios referentes à
amizade internacional e à cooperação entre os Estados. De acordo com essa resolução,
os Estados devem abster-se de recorre ao uso da força, devem resolver seus litígios
internacionais por meios pacíficos, não devem intervir em assuntos de jurisdição
doméstica do Estado, devem cooperar uns com os outros. Institui ainda o princípio da
igualdade dos direitos dos povos e de seu direito de dispor de si mesmo, da igualdade
soberana dos Estados e da boa-fé em seguir as obrigações assumidas com a Carta da
ONU.

02.04.08
Conceito de Direito Internacional
Cortesia internacional constitui certas práticas dos Estados que não são normas jurídicas
obrigatórias. Jurisdição doméstica é o conjunto de assuntos que os Estados não são
obrigados a apresentar à apreciação da ONU e da comunidade internacional, mas eles
estão diminuindo cada vez mais.

Funções do Direito Internacional


Uma das funções do Direito Internacional é a manutenção do modelo original e
específico de relações internacionais através da manutenção da paz e da segurança
internacional. Isso caracteriza uma estrutura relacional entre os Estados, a sociedade
internacional está baseada nas relações entre eles. A manutenção da paz e da segurança
internacionais se apóia nos princípios da igualdade soberana entre os Estados, da não
intervenção e da interdição do uso da força. Outra função do Direito Internacional é a
adaptação das demandas da sociedade internacional, capazes de alcançar objetivos
comuns, o que caracteriza a necessidade de cooperação, explicitando outro aspecto
marcante da sociedade internacional que é sua estrutura institucional. Através das
organizações internacionais é que essa cooperação é mais efetiva. Uma terceira função
do Direito Internacional é favorecer uma integração a favor de certos interesses
coletivos essenciais, criando e mantendo um direito imperativo. Isso caracteriza o
aspecto comunitário da estrutura da sociedade internacional.
A Convenção de Viena determinou que será nulo qualquer tratado que violar
uma norma imperativa de Direito Internacional. Incluso, caso surja uma nova norma
imperativa, todos os tratados em conflito com ela serão nulos. Normas imperativas, ou
normas de ius congens, são aquelas que não permitem exclusão ou modificação. A
doutrina é encarregada da investigação. As normas imperativas têm a função de limitar
a vontade do Estado com relação aos interesses coletivos essenciais mencionados
anteriormente. Essas são obrigações erga omnes.

Estrutura relacional do Direito Internacional

1
Dentro da estrutura relacional do Direito Internacional, podem destacar alguns aspectos.
O Direito Internacional tem caráter relativo, em geral os Estados só submetem a solução
de suas controvérsias a outros se assim quiserem. Eles são livres para escolherem os
meios de solução. Como modo de solução de controvérsia se tinha os diplomáticos
(negociação e conciliação, quando um terceiro aproxima os dois e se retira), os políticos
(recorrer a organizações internacionais) e os jurídicos (arbitragem, tribunal ad hoc, e
Corte Internacional de Justiça, solução judiciária).
O Direito Internacional tem também caráter recíproco, uma vez que em regra o
tratado só produz direitos e obrigações às partes contratantes, ou seja, as normas são
fruto do consentimento do Estado. Além disso, ele tem caráter dispositivo, pois os
Estados podem excluir a aplicação da norma ou modificar o seu conteúdo pelo mesmo
consentimento. Ainda, ele tem caráter particularista, pois existe uma restrição do âmbito
de validade e número de sujeitos em que é aplicada uma norma particular. O tratado é o
instrumento básico de criação e formação de normas, as quais podem ter os mais
diversos objetos.
Os Estados podem deixar de cumprir um tratado, mas apenas através dos meios
diplomáticos. Pode ser por denúncia, quando um Estado renuncia ao tratado ou à
organização e dela se retira. O Estado ainda pode fazer reserva ao tratado, ele não aplica
certas partes. Cada vez mais o Direito Internacional regula as ações dos Estados, mas
vem sido retomada uma antiga discussão quanto à universalidade ou à particularidade
do Direito Internacional. Questiona-se se o Direito Internacional é comum a todos os
Estados ou se ele pode ser particular a uma região. O asilo diplomático, por exemplo, é
tipicamente latino-americano, mas em situações excepcionais outros países já o
concederam.

Estrutura institucional do Direito Internacional


O Direito Internacional é formado, por um lado, por uma pluralidade de organizações
internacionais criadas pelos Estados, que dão origem a normas de cooperação.
Conseqüentemente, houve uma intensificação no processo de criação de normas,
principalmente com o movimento de codificação, que pode ser entendido como um
movimento progressivo do Direito Internacional. As resoluções são um novo
procedimento de criação de normas, é a própria organização interpretando suas normas
e tratados. As organizações internacionais interpretam suas normas através de atos
normativos e da própria prática. Além disso, elas possuem procedimentos centralizados
de aplicação das normas, como o Conselho de Segurança. Ainda, houve o
desenvolvimento de procedimentos institucionais para a solução de controvérsias.

Estrutura comunitária do Direito Internacional


O Direito Internacional rege-se pelo princípio da solidariedade entre os Estados. Há a
criação de normas que procuram proteger os interesses coletivos da sociedade
internacional em seu conjunto. Essas normas seguem um código de valores mínimos,
como a proibição de agressão, de domínio colonial, de contaminação da atmosfera e dos
mares. Além disso, temos como aspecto fundamental dessa estrutura comunitária as
normas imperativas, ou ius cogens, que são impassíveis de modificação. Sendo assim,
aqueles interesses coletivos essenciais se traduzem em obrigações erga omnes. Em caso
de violação, é a sociedade coletiva que é lesionada, pois essas obrigações instituem uma
tutela coletiva.

Heterogeneidade da Sociedade Internacional

1
O princípio da igualdade jurídica entre os Estado é essencial aos países
subdesenvolvidos, que só possuem esse meio para defender seus interesses. Há fatores
políticos, econômicos e estratégicos que mantém a hegemonia das grandes potências.
No plano consuetudinário elas atuam através de seus próprios atos unilaterais (suas
condutas estabelecem precedentes para a formação de uma prática) e no normativo
convencional elas exercem pressão em determinado sentido para a formação de normas
que lhe sejam mais favoráveis. Além disso, possuem status privilegiado nas
organizações internacionais, como o Conselho de Segurança.

Conteúdo
O Direito Internacional não tem limitações quanto à regulamentação de sua matéria. Seu
núcleo duro consiste em coordenar as soberanias, predominantemente através de normas
costumeiras, em relação à atribuição e ao exercício da competência dos Estados sobre
espaços e pessoas.

Mudanças quantitativas do conteúdo


Podemos perceber um aumento no número de Estados, de tratados (junto com as
normas costumeiras são as principais fontes do Direito Internacional) e das matérias
reguladas pelo Direito Internacional. O artigo 38 do Estatuto da CIJ estabeleceu que ela
julgará de acordo com o Direito Internacional aplicando tratados, costumes
internacionais e os princípios de Direito Internacional. O costume fornece o caráter
geral do Direito Internacional, pois que como costume deve ser ele aplicado por todos,
diferentemente dos tratados.

Mudanças qualitativas do conteúdo


Elas se deram de ordem técnica, ideológica e estrutural. Quanto às primeiras mudanças,
o Direito Internacional Público passou a ser um direito de cooperação que visa a regular
e harmonizar a conduta individual dos Estados e a possibilitar um comportamento
comum com base em um ordenamento convencional. Quanto às segundas, ele passa a
buscar a realização de objetivos matérias e concretos, definidos por sua importância
política ou econômica. Quanto às terceiras, o Direito Internacional Público sofreu um
incremento de organizações internacionais.

Conseqüência das mudanças de conteúdo


As ONGs, mesmo não tendo personalidade internacional, podem participar de
conferências das organizações internacionais para propor projetos para a pauta da
organização. A interpretação e aplicação de tais normas passam por um processo de
institucionalização, do qual participam Estados, ONGs e especialistas. As soluções de
controvérsias passam a dispor de órgãos coletivos com competência para obter
informações, investigar e decidir.

Direito Internacional e Direito Interno


O Brasil, hoje, é parte dos principais tratados de Direitos Humanos. O Pacto de Direitos
Civis e Políticos proíbe a prisão por não cumprimento de obrigação contratual. A
Constituição brasileira permite a prisão do depositário infiel, em conflito claro com o
tratado de que é parte. Esse é um exemplo de conflito entre o Direito Internacional e o
Direito Interno.
Há duas teorias principais que discutem esse tipo de situação. Uma delas é a
dualista, de Heinrich Triepel, que data da 2ª Revolução Industrial. O mundo vivia um
crescimento nas relações internacionais e, com isso, precisava de uma solução para

1
esses momentos de incoerência. Essa teoria chama-se dualismo porque visualiza duas
esferas independentes, a do Direito Internacional e a do Direito Interno. Essas ordens,
defende o dualismo, podem ser tangentes, mas não secantes. No Direito Internacional,
as pessoas seriam os Estados, no Interno, elas constituídas tanto pelos Estados quanto
pelos indivíduos. Já neste momento podemos perceber uma contradição na teoria, o
Estado é uma pessoa comum às duas esferas.
A fonte no Direito Internacional seria a vontade dos Estados, expressa no
tratado-lei (ele faz a distinção entre tratado-lei e tratado-contrato, em que no primeiro as
vontades têm o mesmo conteúdo e no segundo, conteúdos diferentes). Essa distinção
deve ser desprezada, pois nem sempre funciona assim. O costume seria a vontade tácita
do Estado. Na ordem interna, a fonte é a vontade de um único Estado e existe uma
estrutura de subordinação dos indivíduos ao Estado, diferente da de coordenação
existente na ordem internacional.
Kelsen criticou essa teoria dizendo que quando existe coordenação também
existe subordinação. Para fazer valer a ordem internacional, de acordo co o dualismo,
essa deveria ser incorporada à ordem interna. Dessa forma, a norma deixaria de ser
internacional, tornando-se nacional e revogando as normas anteriores em contradição.
Pode-se perceber que para esse autor, não há realmente um conflito entre as normas
internacionais e as internas – teoria da incorporação.

05.04.08
Para Triepel, o tratado-contrato é um mero negócio jurídico, porém há inúmeros
tratados que têm características tanto de lei quanto de contrato. O tratado da
Conferência de Berlim se enquadraria no tipo tratado-lei, pois os países que fizeram
parte da conferência não viam a África como Estado civilizado, nem mesmo como
Estado (diversos Estados, no caso). Assim, ela não teria personalidade internacional e,
portanto, sua vontade não deveria ser levada em consideração para a classificação.
Primeiramente, como já foi dito, Triepel afirma que as duas ordens,
internacional e interna, são totalmente independentes, não possuindo nada em comum.
Assim, a ordem internacional deve ser incorporada pela interna. A incorporação
funcionaria da seguinte forma: o tratado possui uma fase de negociação, da qual ele sai
pronto; depois vem a assinatura, que não o torna obrigatório, mas que autentica seu
texto (ele ainda deve passar pelos órgãos internos devidos); por último ele deve passar
pela fase da ratificação (ato internacional), que o torna obrigatório na ordem
internacional. É preciso torná-lo obrigatório na ordem interna. Para tal, é necessário
passá-lo por um procedimento de ordem interna, no Brasil, ele é promulgado e
publicado no Diário Oficial. Assim, no momento em que ele é incorporado, ele revoga,
modifica ou derroga as normas anteriores, podendo também vir a sofrer isso com uma
norma posterior.
Triepel não vê conflito entre as duas ordens, pois depois da incorporação, a
norma internacional passa a ser norma interna. No entanto, como ela pode sofrer o
mesmo processo com uma norma posterior, do ponto de vista do Direito Internacional
isso é inválido, pois não se pode alegar o direito interno para deixar de cumprir o
Direito Internacional. Isso pode levar o Estado a ser responsabilizado na ordem
internacional.
A segunda teoria sobre a relação entre as duas ordens é a do monismo com
primazia do Direito Internacional, de Hans Kelsen. O autor acredita que coordenar já é
subordinar a uma nova ordem. Sua teoria monista defende que toda norma tira sua
origem de outra que lhe é superior. Num primeiro momento ele não estabelece nenhuma
norma fundamental que daria competência à primeira norma posta, caberia ao jurista

1
buscar para cada norma sua origem. Ele, nesse momento, não escolhe a primazia de
nenhuma das duas ordens. Numa segunda fase ele determina a norma fundamental, que
é a pacta sunt servanda – cumprir os compromissos. Porém ele ainda não visualiza
nenhum conflito entre as normas. Apenas depois da influência de Verdross, num
terceiro momento, ele admite a possibilidade de conflito entre normas internas e normas
internacionais, caso em que deveriam prevalecer estas últimas.

Posição do Direito Internacional


A regra é que a norma internacional prevalece sobre a interna. Na Convenção de Viena
sobre Direito dos Tratados (artigos 27 e 46), estabeleceu-se que o Estado não pode
invocar a norma interna para deixar de cumprir um tratado, somente se quem o assinou
não tivesse competência para isso ou se o tratado viola uma norma interna de
importância fundamental, leia-se, a Constituição.
A responsabilidade do Estado se dá por ato ilícito para o Direito Internacional,
ou seja, o ato só é ilícito quando viola norma de Direito Internacional ou por culpa –
quando não tenta prevenir ou reprimir uma violação de Direito Internacional cometida
por particular. O Estado é obrigado a reparar o ato ilícito, de qualquer forma que seja –
objetivo da responsabilidade.

Aplicação do Direito Internacional pelos órgãos internos do Estado.


Há inúmeros autores que afirmam que há uma tendência à constitucionalização do
Direito Internacional, assim como à internacionalização do Direito Constitucional, por
exemplo, os artigos 4º (relações exteriores) e 5º (Direitos Humanos) da CF. A aplicação
do direito consuetudinário pode ocorrer de quatro formas: a adoção não automática,
embora obrigatória, das normas gerais (consuetudinárias); incorporação automática
(Constituição Portuguesa); incorporação imediata, produzindo efeitos imediatos e
prevalecendo sobre as leis internas (Constituição Alemã), e cláusulas que incorporam de
maneira individualizada e formalmente algumas normas de Direito Internacional gerais
(Constituição Brasileira). No direito convencional, a maioria dos Estados incorpora a
norma internacional ao direito interno, o que às vezes se dá por meio de sua publicação
e ordem de execução (promulgação). Muitos países estabelecem uma hierarquia do
tratado sobre a lei.

Aplicação do Direito Interno por órgãos internacionais


Em geral, o direito interno é apenas um fato, mas há algumas situações em que o Direito
Internacional o leva em consideração. Por exemplo, a proteção diplomática em casos de
conflito entre uma pessoa física ou jurídica de certa nacionalidade e outro Estado. Outra
circunstância é o esgotamento dos recursos internos do Estado, quando se tentou todos
os recursos jurídicos possíveis no outro Estado antes de se recorrer à proteção
diplomática do seu Estado, evitando que a reclamação seja leviana.

Constituição Federal artigo 5º


Os tratados de Direitos Humanos anteriores à emenda 45, que foram votados com outra
proporção, seriam incorporados materialmente, mas não formalmente à Constituição
Federal. Os posteriores podem ser até mesmo formalmente incorporados artigo 5º, § 3º,
CF). O § 2º do artigo 5º da CF estabelece que a Constituição inclua os direitos e
garantias decorrentes de tratados internacionais de que o Brasil faça parte.

Fontes do Direito Internacional

1
A norma tende a confundir-se com obrigação no Direito Internacional, na medida em
que o consentimento é essencial para a formação do Direito Internacional. As normas
imperativas obrigam a todos os sujeitos. Porém, a normas se produzem,
tradicionalmente, por via consuetudinária e as obrigações por acordo ou
unilateralmente. Geralmente, os tratados só são obrigatórios para as partes contratantes.
As normas imperativas são aquelas sobre as quais há consenso na comunidade
internacional. Elas só podem ser derrogadas por uma nova norma imperativa. Os
tratados que a violem são nulos. No caso de surgir uma nova norma imperativa, também
serão nulos os tratados que entrarem em conflito com ela.
A perspectiva voluntarista parte da vontade para constituir as fontes. Já a
objetivista divide as fontes em materiais e formais: a primeira seria a origem social e a
segunda, a forma de exteriorização da norma. A norma, na verdade, seria o conteúdo de
uma regra elaborada segundo as exigências processuais de uma fonte formal, ela pode
surgir de diferentes fontes. Quadri, positivista italiano, classifica as fontes em primárias
(os princípios constitucionais da ordem internacional – princípios gerais ordenadores),
secundárias (os tratados e costumes que se apóiam nas fontes primárias) e as terciárias
(que seriam os atos unilaterais, as decisões das organizações internacionais, o
regulamento interno das organizações internacionais). Alguns exemplos de fontes
primárias são a proibição de genocídio, a proibição do uso da força e alguns direitos
humanos. Os princípios constitucionais incluem as normas imperativas e outras, como a
boa fé. Eles encontram-se explicitados na Res. Assembléia Geral/ONU 2625/70. Além
desses, vigora na ordem internacional o importante princípio de permanência e
continuidade dos Estados.
A CIJ é a sucessora da Corte Permanente de Justiça Internacional. Seu estatuto,
de 1920, está anexo à Carta das Nações Unidas. Ele estabelece as fontes a serem
utilizadas pela Corte, são elas: as convenções internacionais, o costume internacional, os
princípios gerais de direito, as decisões judiciárias e a doutrina, essas duas apenas como
meio auxiliar para a determinação das regras de direito. O estatuto também estabelece o
efeito relativo da sentença, pelo qual a sentença só é válida para as partes litigantes.
Ademais, ele institui que a Corte poderá decidir por eqüidade (ex aequo et bono) se as
partes assim concordarem. Muitos autores criticam que tal artigo 38 não estabelece uma
hierarquia entre as fontes. Sob o ponto de vista geral do Direito Internacional, não há
hierarquia entre as fontes, mas há um entendimento de que uma norma específica
prevalece sobre uma norma de caráter geral, assim como uma norma posterior prevalece
sobre a anterior. Questiona-se também o fato de o estatuto excluir algumas fontes
importantes que apareceram após 1945, uma vez que ele á de 1920. Por fim, pode
acontecer, em termos teóricos, de a CIJ não poder aplicar a convenção caso ela não
esteja registrada na ONU.
Para que um ato jurídico internacional tenha validade é necessário que o autor
ou órgão sejam capazes, competentes; que o objeto do ato seja lícito e possível e que
não haja vícios de consentimento (coação ou dolo). Somente Estados possuem essa
capacidade, através de seus representantes e órgãos, além das organizações
internacionais. Os atos unilaterais são a manifestação de uma pessoa, os convencionais
são a manifestação de mais de uma pessoa (atos bilaterais ou multilaterais, que
implicam em obrigação para mais de um Estado) e os mistos são aqueles que são
convencionais para uns, mas que implicam em obrigações para não contratantes.

07.04.08

1
A CIJ não é um poder judiciário ordem internacional. Ela tem duas funções, uma
consultiva e uma contenciosa (só para Estado). Seu estatuto é quase que uma cópia do
da CPJI, apesar de a CIJ ser um dos principais órgãos da ONU.
O artigo 38 do estatuto enumera as fontes que deverão ser utilizadas para
solucionar os conflitos. Quanto à critica relativa ao não estabelecimento de uma
hierarquia, podemos apontar, além do fato de não haver uma hierarquia entre fontes no
Direito Internacional, que no caso de controvérsia entre as fontes, a Corte aplicará a
ordem estabelecida pelo estatuto. Quanto à segunda crítica, relativa ao fato de ele não
contemplar outras fontes, ela só cabe quanto aos atos unilaterais (manifestação de uma
pessoa de direito internacional que produz efeitos na ordem internacional). Temos
outras fontes no Direito Internacional, provenientes das organizações internacionais, são
elas as decisões, resoluções, estatutos internos, por exemplo. Seus tratados de fundação
(constitutivos) constituem uma fonte secundária.
Com respeito aos atos unilaterais, eles constituem fonte de direito internacional
tanto na forma expressa quanto na tácita (ausência de manifestação, implícito). As
reservas aos tratados e os reconhecimentos de Estados são exemplo de atos unilaterais.
As reservas, no entanto, devem ser apreciadas pelos demais Estados contratantes, que
têm um prazo de 12 meses, em geral, para manifestar-se a respeito.
Charles Rousseau sistematizou (didaticamente), os atos unilaterais, dividindo-os
em tácitos, como o silêncio ou o estoppel (preclusão – perda de prazo para
manifestação), e expresso, como o reconhecimento, a denúncia, a renúncia (o Estado
pode renunciar a seus direitos), o protesto. Quando se está consolidando um costume e
um Estado protesta constantemente contra ele, temos um protesto permanente – objetor
persistente. Depois da consolidação do costume, esse Estado não verá esse costume
como obrigatório. Alguns outros autores vão além da classificação de Rousseau,
dividindo os atos unilaterais em próprios, quando não estão subordinados a outro ato, ou
impróprios, quando aquele ato já está previsto em outro ato. A Carta da ONU, por
exemplo, é omissa com relação à denúncia, ela não está prevista. Houve uma situação
com a Indonésia em que ela se retirou da ONU, mas a ONU não viu isso como
denúncia. Depois ela resolveu voltar e a decisão da ONU foi de considerar que a
Indonésia foi ausente, deixou de cooperar, evitando abrir um precedente de denúncia. O
ato teria sido expresso e próprio.

Tratados
Em 1969 foi feita a Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados. Além dos
Estados, outras pessoas de Direito Internacional podem celebrar tratados, como as
organizações internacionais. A codificação do Direito Internacional é um processo
riquíssimo, mas isso não significa que venhamos a ter um código de Direito
Internacional. Além da de 1969, há outras Convenções importantíssimas que são
utilizadas até hoje, como as Convenções de Haia de 1889 e 1907 sobre Direito dos
Mares e a Conferência de Genebra sobre guerra aérea e terrestre.
Sob um ponto de vista geral, o movimento codificador começou em 1889. a Liga
das Nações fracassou em tentar dar continuidade a isso, porém o movimento ganhou
proporções importantes com a ONU, que criou a Comissão de Direito Internacional. A
Comissão tem o papel de codificar e desenvolver progressivamente o Direito
Internacional. Codificar significa reunir em papel os costumes e desenvolver, ir além da
compilação. A Comissão encontra-se subordinada à Assembléia Geral e apresenta uma
restrição à matéria sobre a qual é competente, não pode trabalhar em matéria de Direitos
Humanos e Direito de Guerra. Ela discute determinados temas propostos pela
Assembléia Geral ou de sua escolha e nomeia um relator, quando o projeto estiver

1
pronto, ele é encaminhado à Assembléia Geral, que decide se será feita uma Convenção
especialmente para tal tema ou se o projeto será aprovado na Assembléia Geral mesmo.
Uma convenção tipicamente codificadora é a Convenção de Viena sobre Relações
Diplomáticas de 1961. Em 1958 realizou-se a primeira Conferência das Nações Unidas
sobre Direito do Mar – Convenções de Genebra.
Da mesma forma, em matéria de tratados, as normas eram apenas
consuetudinárias, até a Convenção de Viena de 1969. No entanto, essa Convenção
aplica-se somente a tratados celebrados entre Estados. A Convenção também não se
aplica aos acordos orais, a exemplo do acordo realizado aqui no Rio entre Chile,
Espanha e Grã-Bretanha sobre extradição do Pinochet, nem aos efeitos dos conflitos
armados nos tratado, pois se estaria, neste último caso, trabalhando sobre um aspecto
proibido pela Carta da ONU. Os dois outros aspectos são abordados em convenções
específicas.

09.04.08
Como regra, o tratado só vincula as partes contratantes, não obstante o Estado que não é
parte poder segui-lo como norma costumeira.
O uruguaio Jiménez de Aréchaga divide as codificações em declaratória, que
consolida a norma internacional costumeira; cristalizadora, quando ainda não há uma
prática consolidada e o trabalho vem a cristalizá-la, e a constitutiva, quando não há
regra e o tratado estabelece algo completamente novo. A conferência sobre direito do
mar estabelece que o mar territorial, sobre o qual o Estado tem total soberania, se
estende por 12 milhas náuticas. Mais 200 milhas de zona econômica exclusiva, com o
direito de exploração como a pesca. Essa convenção se enquadraria no tipo de
codificação declaratória, pois a norma do mar territorial já existia como costume.
Em 1986 foi feita uma nova convenção sobre direito dos tratados que
regulamenta aqueles tratados envolvendo as organizações internacionais, ampliando a
matéria sobre a qual elaborava a Convenção de 69. Convenção sobre o reconhecimento
dos Estados recebeu muitas críticas, pois só veio em 78, atrasada em relação ao período
de descolonização, que se deu essencialmente nos anos 60.
Inúmeras resoluções da Assembléia Geral, que tinham um caráter meramente
recomendatório, tornaram-se obrigatórias. É o que se chama de Soft Law (Lei Branda).
Algumas resoluções têm efeito ad intra, efeito interno, ou ad extra, efeito externo, que
são as que costumam criar obrigações para os Estados membros. Por exemplo, a que
determina a contribuição dos Estados membros. Por outro lado, em algumas
organizações os tratados determinam obrigações (pré-requisitos) para que os países
entrem como membros. A Organização de Aviação Civil estabelece normas técnicas,
que se forem aprovadas pela maioria dos Estados membros, tornam-se obrigatórias para
todos, mesmo os que forem contra. Isso só é possível porque os Estados deram à
organização essa competência.
A definição de tratado determina que o tratado deva ser regido pelo Direito
Internacional. A regra disso é que os Estados podem fazer contratos entre si não regidos
pelo Direito Internacional. Os instrumentos a que a definição faz referência são, por
exemplo, os mecanismos de retificação ou os limites fronteiriços que os Estados
estabelecem. O princípio que rege a negociação dos tratados é o da boa-fé. Enquanto
ocorre a negociação, o Estado não pode fazer nada contrário ao que está sendo
negociado.
Quando começou a intensificação das relações internacionais, era o Chefe do
Executivo que podia negociar e assinar o tratado. Como passar do tempo, ele deixa de
fazê-lo e passa a responsabilidade a pessoas que recebem como que uma procuração

1
para agir em nome do Estado: é o agente plenipotenciário. Ao mesmo tempo
desenvolvia-se o instituto da ratificação. O Chefe do Executivo só podia negar uma
ratificação se seu agente plenipotenciário agiu um sentido contrário a suas instruções. A
convenção não especifica qual órgão ou pessoa do Estado é competente para expedir o
documento de plenos poderes, pois isso é matéria de direito constitucional interno. Pela
Constituição do Brasil, a autoridade competente para isso é o Presidente da República.
A “comissão organizadora” do tratado verifica se o representante tem os plenos poderes.
Pelo artigo 7º da convenção, a representação expressa é a de quem apresente
plenos poderes. A implícita é quando a prática o Estado dispensa os plenos poderes ou
quando por algum motivo não houve tempo ou não foi possível expedir o documento de
plenos poderes. Chefe de Governo, Chefe de Estado e Ministro das Relações Exteriores
estão dispensados dos plenos poderes, assim como chefe de missão diplomática para
junto ao país a que foi designado. Se o ato for praticado por alguém sem os plenos
poderes, o Estado deve confirmar posteriormente. Esse tipo de ato se chama de
assinatura ad referendum, sujeita à confirmação.
Todos os Estados devem adotar a negociação, deve haver um consentimento
entre os negociadores. Nas conferências, deve ter uma aprovação de dois terços dos
Estados para a adoção dos tratados. Mesmo assim, a adoção do tratado ainda á um
projeto, ele ainda deve ser ratificado. Quando não se consegue chegar aos dois terços,
não há nem mesmo um projeto de tratado. Os que não adotam o projeto não o assinam.
Adotado o texto, ele deve ser assinado, o que autentica o texto, mas ainda não o torna
obrigatório. Normalmente, a assinatura é feita pelos representantes, se ele não tiver os
plenos poderes sua assinatura é ad referendum ou é posta apenas sua rubrica, aceita
pelos outros negociadores mediante a confirmação da autoridade competente do Estado.
Há ainda outra modalidade de assinatura que é a assinatura ad diferida, quando o Estado
não participou da negociação, mas assina o projeto de tratado já pronto. Ele constará
como tratante originário. A partir da assinatura, entende-se que o Estado concorda com
a matéria disposta no tratado. Se os Estados negociadores assim concordarem, só a
assinatura já torna o tratado obrigatório. Em termos clássicos, é a ratificação que torna o
tratado compulsório, mas os negociadores podem escolher o meio que preferirem.

14.04.08
Geralmente o Estado negocia e assina o tratado. Existe a possibilidade de assinatura ad
referendum e assinatura diferida. Com exceção dos acordos do Executivo e dos acordos
por troca de notas, a assinatura não torna o tratado obrigatório. Depois da assinatura, há
um procedimento interno. No Brasil, o tratado é enviado pelo Executivo, se ele desejar,
ao Legislativo, de acordo com o artigo 49, I, CF. A Constituição não deixa claro se o
Executivo pode celebrar tratado entre Executivo (acordo executivo). O Congresso
Nacional, em seguida, pode aprovar o tratado por decreto legislativo, enviando-o de
volta ao Executivo, que o ratifica se quiser e quando quiser. O Congresso somente
resolve definitivamente a questão quando não prova o tratado. Os atos unilaterais são de
competência unicamente do Executivo, portanto somente ele pode ratificar um tratado,
isso é um ato discricionário.
Inúmeros tratados têm prazo de assinatura. Se o país perder esse prazo, ele ainda
pode enviá-lo ao Legislativo e, aprovado, aderir ao tratado. A adesão e ratificação têm
os mesmos efeitos. A Constituição espanhola determina quais os tratados que devem ser
enviados ao Parlamento, classificando-os quanto a sua matéria. Até mesmo algumas
denúncias devem passar pelo Parlamento.
A assinatura simples exige a ratificação e a definitiva a dispensa, pois gera
obrigações por si só. A ratificação nasceu do desinteresse e da falta de tempo do Chefe

2
do Executivo para assinar pessoalmente os tratados. Assim, surgiu a figura do agente
plenipotenciário e, conseqüentemente, da ratificação. A partir do século XIX, ela passou
a ser obrigatória, pois com a formação do Estado moderno apareceu o Legislativo, ou
seja, ela é decorrente do movimento constitucionalista. A troca ou depósito dos
instrumentos de ratificação é o que torna o tratado obrigatório. A ratificação pode ter
condições ou limitações, como aceitar apenas x números de protocolos. Ela é um ato
internacional. A figura do depositário é importantíssima, ele é o responsável por avisar
aos Estados que, por exemplo, completou-se o número mínimo de ratificações.
Na adesão, quando o Estado não assinou antes, ele não consta como membro
originário, apenas adere ao tratado. Quando se fala em ratificação, parte-se do
pressuposto de que houve uma assinatura anterior, qualquer uma das três possíveis,
mesmo que o Estado não tenha participado das negociações. Os efeitos finais, de
qualquer forma, são os mesmos. Na prática brasileira, quando o Legislativo aprova um
tratado, já está implícito que há também a aprovação para o Estado denunciar o tratado
se for esse o caso.
Um tratado pode ser provisoriamente aplicado enquanto não entra em vigor.

16.04.08
Se o Executivo enviar um tratado ao Congresso e ele não passar, ele só poderá ser
enviado novamente na mesma legislatura, isto é, nos quatro anos do período de
mandato. Uma vez que o tratado entre em vigor na ordem internacional, deve sair um
decreto promulgando-o e ambos são publicados no Diário Oficial. A assinatura de um
tratado possui certo simbolismo, por isso muitas vezes os Estados preferem a assinatura
ad diferida à adesão. Aplicação provisória de um tratado termina se esse Estado
notificar aos outros sua falta de intenção em ratificá-lo.
Um Estado pode assinar um tratado ou até mesmo ratificá-lo sem concordar com
uma parte do tratado, isso caracteriza a reserva: o Estado avisa que tal parte não é
aplicável ou que entende certo aspecto de determinada forma. Ela é uma declaração, um
ato unilateral que pode ser próprio ou impróprio. As reservas só se aplicam aos tratados
multilaterais, pois num tratado bilateral ela é um convite à retomada de negociações. Se
essa possibilidade não for prevista no tratado, ela tem que ser apreciada pelos outros
contratantes. Para quem não fez a reserva, o tratado continua a ser aplicado
integralmente.
No sistema clássico, a reserva deve ser aceita por todos os contratantes, pois se
um Estado negasse a reserva, o que apresentou era retirado do tratado. Segue a regra da
unanimidade. No sistema interamericano, o tratado é aplicado integralmente a todos.
Existe a possibilidade de aceitar a reserva ou negar a reserva. Entre que a formulou e
quem a aceitou, aplica-se o tratado com reserva. Entre quem a formulou e quem a
negou, não havia tratado. A reserva só pode ser feita ou no momento de assinatura ou
no momento de ratificação ou na adesão. Sendo a reserva um ato internacional, o
Congresso Nacional não pode fazer reserva, no máximo podemos chamá-la de ressalva.
As ressalvas serão transferidas ao poder Executivo, que decidirá se deseja ratificar o
tratado modificado ou não, se sim, ele formulará a reserva. O Legislativo ainda pode
discordar de uma reserva feita pelo Executivo. Se o Congresso fizer uma ressalva ou
discordar de uma reserva, o processo só poderá seguir adiante no molde aprovado pelo
Legislativo.
O parecer da CIJ é diferente. Se o tratado permitir a reserva, ela se aplicará ao
país que a formulou, se ele não permitir a reserva, ela não será permitida. O problema
está nos casos em que o tratado é omisso quanto a isso. Nesses casos, é necessário
verificar a compatibilidade da reserva com a essência (objeto e finalidade) do tratado.

2
Aqui, há três possibilidades: aceitar a reserva; negar, mas reconhecer sua
compatibilidade com o tratado, e negar e achá-la incompatível com o tratado. Entre
quem a formulou e quem aceitou, aplica-se o tratado modificado. Entre quem a
formulou e quem a negou, mas reconheceu a compatibilidade, aplica-se o tratado
original, menos a cláusula com reserva, entre quem a formulou e quem negou e achou
incompatível, não se aplica o tratado. O sistema de reservas é regido pelos princípios da
integralidade do tratado, pelo qual se busca aplicar o tratado da forma mais integral
possível, e da universalidade, pelo qual se procura aplicar o tratado entre o maior
número de pessoas possível. O primeiro restringe e o segundo expande, é necessário
buscar um equilíbrio entre os dois princípios.

28.04.08 (faltando) – não teve aula

30.04.08 (faltando) – não teve aula

05.05.08
O estoppel é quando o Estado deixa de realizar um ato em dado momento, significando
aceitação. Ele é a perda da faculdade de realizar um ato processual, seja pelo decurso do
prazo (preclusão temporal), pela prática de ato incompatível com aquele que se
pretendia praticar (preclusão lógica) ou pela falta de um ato anterior que autoriza o
posterior (preclusão consumativa). Isso pode ocorrer com a reserva, pois ela pode ser
feita mesmo após a ratificação, embora isso não esteja resolvido na Convenção de
Viena. Desta maneira, a reserva posterior à ratificação é prática do Secretariado Geral
da ONU. Aqueles que já fazem parte do tratado têm um prazo para se manifestar a
respeito da reserva. Não o fazendo, significa que aceitam, é o estoppel – como que uma
aceitação tácita.
Pela cláusula si omnes, um tratado só entra em vigor se todos os Estados
envolvidos ratificarem.
Um tratado, em regra, não retroage, mas isso pode ocorrer caso as partes assim
concordarem. Um tipo de tratado que normalmente retroage é o da extradição. Não há
obrigação de extraditar, somente de analisar o pedido. Quanto à aplicação territorial,
existem duas cláusulas especiais: a cláusula colonial, comum no período colonial, que
estabelece se o tratado se aplicará ou não às colônias, e a cláusula federal, que resguarda
a responsabilidade da federação quanto ao cumprimento de um tratado por parte de um
de seus Estados membros. Somente a União pode assinar tratados, por mais que se trate
de uma federação, ela apenas reconhece a competência de seus Estados membros, e
estes, que devem aplicar o tratado.
A Carta da ONU tem primazia em relação a qualquer tratado.
As normas imperativas (ius cogens) são estabelecidas pela doutrina, elas não
estão prescritas em nenhum tratado. Qualquer tratado que viole norma imperativa é nulo
(artigo 53) e se tal norma for superveniente, o tratado será finalizado (artigo 64).

07.05.08 (faltando) – prova

12.05.08 (caderno Gabi)


Um tratado, mesmo que não adotado, pode ser constatado como costume.
· Codificação declaratória: recolhe a norma costumeira internacional
· Codificação constitutiva: cria norma costumeira internacional
· Codificação cristalizadora: prática embrionária que é convencionada e, assim,
consagrada como costume.

2
O tratado deve ser registrado no Secretariado das Nações Unidas, caso contrário não
pode ser invocado.

STOP IT HERE!

14.05.08 (caderno Gabi)


Costume
O costume é uma prática geral aceita como sendo direito, criada a partir das ações dos
Estados e das organizações internacionais (destas com outros ou dentro delas).
Materialmente, para se caracterizar uma prática como sendo um costume é necessário
constatar seu uso constante e uniforme. Subjetivamente, é preciso que haja a convicção
da obrigatoriedade jurídica dessa prática. Ele produz obrigações a todas as nações, a não
ser quando uma norma está sendo criada e um Estado sistematicamente objetar à sua
criação. Assim quando ela entrar em vigor não produzirá obrigações a esse Estado. Isso
se chama doutrina do objetor persistente e só diz respeito ao costume geral.
O costume negativo é aquele formado pela abstenção de algum comportamento.
O elemento subjetivo diminuiria sofreu um aumento de importância no Direito
Internacional, o que diminuiria as exigências quanto à antiguidade da prática. As
integrações entre o costume e o tratado manifestam-se na codificação do Direito
Internacional. O desenvolvimento progressivo engloba as convenções sobre matérias
que ainda não estão regulamentadas ou plenamente desenvolvidas pelo Direito
Internacional. Já a codificação é a formulação e a sistematização mais precisas de regras
internacionais naqueles campos em que já existe uma ampla prática dos Estados,
precedentes e doutrinas.
O costume pode ser regional, nesse caso limita os Estados obrigados a ele. Um
exemplo disso é o asilo diplomático, existente em diversas partes do mundo, porém
muito mais comum na América Latina. O Estado que alega perante outro costume
particular deve demonstrar que o último contribuiu para a formação do costume.

19.05.08
Personalidade Internacional – Estado como pessoa de Direito Internacional Público

- Perspectiva declaratória
- Ótica processual

O sistema interamericano não prevê a personalidade internacional do indivíduo, ele


deve ser representado pela Comissão Interamericano de Direitos Humanos perante a
Corte. Muitos dizem que por esse motivo o indivíduo teria a personalidade matizada, só
podendo exercer sua personalidade em algumas situações específicas. O Pacto de
Direitos Civis e Políticos, por outro lado, permite que os indivíduos dos Estados que
dele fazem parte apresentem reclamações à Comissão de Direitos Humanos, mas isso
não possui caráter de julgamento. A responsabilidade do indivíduo foi institucionalizada
no Tribunal Penal Internacional, somente nos crimes contra a humanidade e crimes de
guerra.
O Estado, além da dupla função, é figura formadora das demais pessoas de
Direito Internacional – organizações internacionais; ou seja, ele é pessoa primária e
plena do Direito Internacional. A questão do Conde Bernadote resolve o debate a cerca
da personalidade internacional das organizações. Estado é uma comunidade composta
por um território e uma população submetidos a um poder político organizado e cuja
nota característica é a soberania. A convenção de Montevidéu estabelece como pré-

2
requisito para a constituição de um Estado uma população permanente, território
determinado e capacidade de ter relações internacionais. A imagem de um Estado foi
sendo construída paulatinamente. Na Idade Média essa discussão ficou centralizada na
questão da jurisdição, como nas investiduras – quem nomeia bispos, o príncipe ou o
Papa. Esse debate deu origem ao conceito de soberania e de Estado.
Hoje, encontra-se em voga a expressão “Estado falido” para designar os Estados
cujo governo não mais possui controle total sobre seu território. A conferência de
Montevidéu elimina a questão da soberania de dentre os elementos constitutivos do
Estado, contemplando principalmente os aspectos da existência de uma população
permanente e de um território onde o Estado exerça seu poder de jurisdição – a
soberania adquire uma conotação territorial e econômica, deixando de ser
essencialmente política. Para o Direito Internacional, a população e o território são
realmente os aspectos que contam, apesar de que para alguns setores do Direito
Internacional as características desses elementos são importantes. Governo efetivo e
independente, que significa na prática soberania interna e independência externa (falta
de subordinação internacional), é um dos aspectos que caracterizam a soberania.
A população deve habitar permanentemente o território e possuir vínculo de
nacionalidade – não diz respeito ao conceito de nação. São brasileiros os nascidos no
Brasil, desde que os pais não estejam a serviço de país estrangeiro – ius solium.
Também os filhos de pai ou mãe brasileiros a serviço do governo brasileiro, no exterior,
são brasileiros – ius sanguilis. Ainda, os nascidos no estrangeiro de pai ou mãe
brasileira desde que registrados em repartição brasileira ou que venham a residir no
Brasil e optem a qualquer momento depois de atingida a maioridade pela nacionalidade
brasileira (slide 4).
A competência territorial do Estado prevalece sobre a pessoal, podendo o Estado
julgar não nacionais que tenham cometido crime em seu território. Em alto mar, mar
territorial e espaço aéreo correspondente, a competência é do Estado de matrícula da
embarcação ou aeronave. O direito de passagem, definido na 2ª Convenção de Viena,
inclui apenas a passagem inocente (sem danos ambientais, por exemplo) e o Estado não
pode cobrar, devendo avisar sobre os perigos da região. Tanto que o aborto e a jogatina
são permitidos dentro do navio dependendo de sua matrícula, desde que esteja em alto
mar, mesmo parando aqui. Há determinados crimes que podem ser julgados por
qualquer Estado, por exemplo, se houver suspeita de trabalho escravo, de tráfico de
drogas, de pirataria – qualquer navio de qualquer Estado pode prender e julgar.

Observação:
Debate a cerca dos Direitos Humanos, universalismo versus particularismo. Posição
conciliadora defende que os Direitos Humanos são universais embora haja
particularidades a cada região e cultura. Podem as resoluções da ONU valorar os
Direitos Humanos? Como, por exemplo, quando das sanções com relação ao Iraque
após a invasão do Kuwait, que acabaram com os índices sociais no país.

21.05.08
Estado como pessoa de Direito Internacional Público
A população, quando se trata dos elementos constitutivos do Estado, tem que ser
sedentária, não importando a quantidade. Numa federação, a soberania do Estado
encontra-se nas mãos da União, por isso, diante da ordem internacional o Estado se
apresenta como unitário. Pela cláusula federal, a União deve prover todos os meios
necessários para que as unidades federais apliquem o tratado. Os micro-Estados também
possuem personalidade internacional, pois para isso basta que tenha população

2
permanente e território mais ou menos determinado. Na tipologia européia, esses
Estados são chamados de Estados exíguos. Eles não tinham muito poder de ação na
ordem internacional, mas hoje já fazem parte das organizações internacionais. As
características da população permitem averiguar o nível de desenvolvimento social do
país, por exemplo.
O território também é um elemento constitutivo do Estado, basta que ele exista,
em princípio, delimitado. O território é o espaço físico onde o Estado exerce a plenitude
de suas competências, coma exclusão de qualquer outro Estado. Ele é a base espacial do
Estado e deve ter certa constância. Suas características permitem o agrupamento de
acordo com os aspectos territoriais específicos, juntando os Estados com características
similares. No mar territorial o Estado sofre uma limitação a sua soberania, que é o
direito de passagem inocente. Ele pertence ao direito costumeiro, ou seja, mesmo que o
Estado não faça parte de tratados que o institua ele deve permitir a passagem inocente.
Já o direito de sobre vôo, no espaço aéreo correspondente, não é costumeiro, foi
instituído mediante um tratado. Isso significa que o Estado tem total soberania sobre seu
espaço aéreo. A passagem no mar territorial deve não só ser inocente, mas também sem
custos, sem causar dano ambiental (o credor), sem parar (somente em caso de avaria da
embarcação).
A princípio o território deve ser delimitado por fronteiras, que são os limites
territoriais do Estado. Conflitos de fronteira não interferem na personalidade
internacional do Estado, a não ser que ele diga respeito a todo território, como no caso
de Taiwan e da China. A conquista de território, constituída na sua aquisição mediante o
uso da força, é fortemente proibida no Direito Internacional.
Quanto ao governo, ele é definido como a organização política capaz de
estabelecer e manter a ordem interna e apta para participar nas relações internacionais se
forma independente. O governo manifesta-se através de órgãos e normas jurídicas que
se imponham à população e à organização governamental em geral. O governo deve ser
efetivo, ou seja, ter condições de desenvolver as funções estatais na esfera interna e
assumir e respeitar compromissos celebrados na esfera externa. Há inúmeros Estados
em que é difícil visualizar qual o governo oficial, o que exerce controle na totalidade do
território. O que acontece é que, mesmo não tendo controle sobre o território por inteiro,
ainda há um governo oficial, que representa o Estado na ordem internacional, um
governo efetivo mesmo que em certos aspectos seja impossível falar em efetividade.
Pode-se reconhecer os beligerantes pelo próprio governo ou por terceiros, através de um
pronunciamento de neutralidade quanto aos dois ou mais combatentes – direito a
autodeterminação dos povos.
Charles Rousseau defende que se mude o termo soberania por independência,
mas essa característica é compreendida mais como aspecto externo. A soberania é
importante no sentido da igualdade jurídica dos Estados. Ela não depende de nenhuma
outra ordem jurídica ou de qualquer Estado ou grupo de Estados, estando unicamente
subordinada ao Direito Internacional. Questiona-se se os cinco membros permanentes
do Conselho de Segurança violam o direito de igualdade soberana entre os Estados
membros da ONU, prevista na sua cara constitutiva (artigo 2º, I). Isso se deve ao fato
de, pela igualdade soberana dos Estados, eles desfrutam de direitos e deveres iguais e
são membros iguais da comunidade internacional. O artigo 2º, VII da referida Carta
determina o domínio reservado do Estado, assuntos de competência exclusiva dele. A
ONU ou qualquer organização não pode interferir em determinados assuntos internos do
Estado e nem o obrigar a submeter certas matérias à apreciação internacional.

26.05.08

2
A soberania, hoje, é essencialmente territorial e quem a exerce é o governo. Para Bodin,
o Estado soberano é aquele superior na ordem interna e independente na ordem externa.
A independência do Estado lhe confere a exclusividade de competência dentro de seu
território, a inviolabilidade de suas fronteiras e a sua liberdade de decisão. No entanto,
ele é também aquele vinculado diretamente à ordem internacional – princípio da
soberania relativa. Daí retiramos dois aspectos importantes: o Estado é quem constrói a
ordem internacional e ele não pode alegar seu direito interno para deixar de cumprir
seus compromissos internacionais (direito dos tratados).
A Carta da ONU fala em igualdade entre os Estados no âmbito da organização,
mas discute-se o fato de haver cinco membros permanentes no Conselho de Segurança.
A explicação é que quando da formação das Nações Unidas, em São Francisco, os
Estados delegaram a esses a função de proteção da paz e segurança internacional. Outro
aspecto importante da soberania é a jurisdição doméstica do Estado. Há três critérios
para se determinar quais os assuntos de competência do Estado: jurídico (tudo o que não
for regulado por norma internacional), político e [Celso Mello].
Há outro autor que faz uma divisão diferente: matéria exclusiva da ordem
internacional, exclusiva da ordem interna e um terceiro campo, que seria a matéria de
competência da ordem internacional, mas que deixa em aberto um espaço de atuação
para o Estado, por exemplo, o Direito Ambiental e os Direitos Humanos. Quanto à não
ratificação do Protocolo de Kyoto por parte dos EUA, isso não constitui um ilícito
internacional, pois o Estado tem sua soberania, ele escolhe os tratados de que fará parte.
Poder-se-ia alegar que é uma norma costumeira e por isso os EUA devem seguir as
normas do protocolo, mas cairíamos na questão do objetor permanente, quem desde o
início da formação de um costume objeta a ele. Com isso, os EUA, que sempre
disseram que não fariam parte do protocolo não teriam que obedecer às suas normas,
nem mesmo como direito consuetudinário.
Posteriormente o conceito de soberania passou a ter uma essência econômica, de
autodeterminação e de soberania sobre os recursos econômicos do Estado, com três
resoluções muito importantes votadas pela Assembléia Geral. Não obstante, é a
dimensão territorial a manifestação mais expressiva da soberania. Questiona-se se
realmente o Estado monopoliza o poder sobre todas as coisas e pessoas em seu
território. Há quem não esteja submetido à jurisdição do Estado, mesmo estando em seu
território, como os agentes diplomatas. Também há coisas, como navios particulares no
mar territorial, que não estão submetidos à sua jurisdição. O Papa, por exemplo, goza de
imunidade total (jurisdição e inviolabilidade).
A partir do século XX, quando os Estados passam a negociar como particulares,
passam a fazer a diferenciação quanto à imunidade do Estado. Antes ela era total em
relação a outro Estado (princípio da igualdade soberana entre os Estados, pelo qual não
se pode julgar um igual), um Estado não podia ser julgado em tribunal de outro.
Atualmente, diferencia-se os atos de império, quando se reconhece que o Estado está
exercendo a sua soberania, e os atos de gestão, quando o Estado age como uma empresa
privada. Somente no primeiro caso se reconhece a imunidade de um Estado
relativamente ao outro.
A Res. Assembléia Geral/ONU 1803/62 sobre Soberania sobre os Recursos
Naturais, juntamente com outras, foi a responsável por conferir aquele caráter
econômico ao conceito de soberania. Nesse período, houve uma pressão muito intensa
por parte do Grupo dos 77 que ficou responsável pela elaboração da agenda da reunião
extraordinária da Assembléia Geral, que seria sobre a crise energética (petróleo).
Constatou-se que a independência política não era suficiente para estimular o
desenvolvimento econômico dos países subdesenvolvidos. Então, esse grupo pregou a

2
formação de uma NOEI, que culminou com a Res. Assembléia Geral/ONU 3201/74 e
3281/74 – Declaração e Programa de Ação para uma Nova Ordem Econômica
Internacional e Carta de Direitos e Deveres Econômicos dos Estados.
Várias políticas, como cooperação Sul-Sul, foram instituídas nessas Resoluções
no sentido de ajudar e, de certa forma, favorecer os países subdesenvolvidos. Discutia-
se a implementação de políticas econômicas diferenciadas de acordo com os países
pondo fim ao tratamento de nação mais favorecida. Pretendia-se derrogar esse tipo de
instituição em favor do Sistema Geral de Preferência, regido pelo princípio da
desigualdade compensatória. Neste sistema, as relações eram tratadas bilateralmente,
uma de suas políticas dizia respeito à taxação de produtos importados. O tratamento de
nação mais favorecida, diferentemente, determinava que se concedesse o melhor
benefício a um determinado Estado, quer dizer, se um Estado aceitava taxar um produto
de outro de certa forma, a taxação desse produto oriundo da nação mais favorecida
deveria ser inferior. Ela deveria ocorrer do momento de estipulação da nação mais
favorecida em diante e era relativa a um aspecto econômico específico, como no
exemplo.

28.05.08
O estado representa os interesses dos grupos políticos e econômicos dominantes.
No Pacto de Direitos Civis e Políticos foi instituído que o Estado deve aplicá-lo
imediatamente a toda a extensão de seu território, já no de Direitos Econômicos, Sociais
e Culturais estabeleceu-se que ele deve ser aplicado paulatinamente até o limite dos
recursos internos disponíveis. Quem decide quais são esses recursos e como eles serão
empregues são os grupos internos dominantes, ou seja, o governo. A grande diferença
entre esses dois pactos, que gera essa diferenciação na forma de aplicação do tratado, é
que o primeiro institui direitos negativos e o segundo, direitos positivos, que exigem um
agir do Estado.
Existe uma dependência interna de um Estado com relação a outro, por exemplo,
quando se trata de alimentação. Essa dependência pode ocorre de uma forma negativa,
como quando um Estado tinha um acordo de fornecimento de determinado produto a
um preço menor para outro Estado e, acabando o contrato, o Estado comprador já parou
de produzir o produto e passa a ser obrigado a comprá-lo mais caro do Estado vendedor,
que geralmente é um país rico. Outro tipo de dependência é aquela que diz respeito ao
auxílio tecnológico e científico. Esse tipo de dependência, por exemplo, influencia as
decisões e posturas do Estado dependente na ordem internacional.
O Estado surge e tem sua personalidade internacional, a não ser quando se trata
de Estado com regime que vai contra as normas imperativas de Direito Internacional,
por exemplo, um Estado com regime racista (Rodésia), o que por sua vez não impede o
reconhecimento deste Estado por parte de outros e que estes estabeleçam relações com
aquele. Quando surge um novo Estado na ordem internacional, este precisa ser
reconhecido. O reconhecimento é um ato livre pelo qual um ou vários Estados
constatam a existência sobre um território determinado de uma sociedade humana
politicamente organizada, independente de qualquer outro Estado existente, capaz de
observar as prescrições do Direito Internacional, e manifestam, conseqüentemente, a
vontade de considerá-la como membro da sociedade internacional.
Ele pode ser tácito, com o simples estabelecimento de relações econômicas ou
diplomáticas com o novo Estado ou com o voto favorável à entrada de um Estado numa
organização internacional; ou expresso. Este pode ser recíproco, individual ou coletivo
(mediante tratado).

2
Um dos principais institutos do Direito Internacional é o Instituto de Direito
Internacional, do qual só pode fazer parte um membro de cada nacionalidade. Na
reunião de 1986, o Instituto definiu o reconhecimento. Ele não se confunde com a
existência do Estado. Quando o Estado possui aquelas características essenciais, ele já é
Estado e possui personalidade internacional. O reconhecimento nada mais é do que a
admissão dessa personalidade por outro Estado específico.
O reconhecimento possui algumas características próprias. Ele é um ato livre e
discricionário, discricionariedade essa que está limitada pela necessidade de observância
das normas imperativas de Direito Internacional e pela necessidade de verificação dos
elementos constitutivos do Estado. Sem que estejam presentes esses elementos, o
reconhecimento se torna um ato de intervenção. Ele é incondicional, porque os Estados
não podem impor condições, os únicos entes que podem impor condições ao
reconhecimento são as organizações internacionais. É também irrevogável, um ato
unilateral e retroativo.
Além disso, ele produz conseqüências importantes, como a homologação de
sentença estrangeira – possibilita o uso das capacidades legais do Estado reconhecido.
Quando ocorre o reconhecimento, pode haver o estabelecimento de relações
diplomáticas, que mesmo que venham a ser rompidas futuramente não prejudicam o ato
de reconhecimento. Além disso, o reconhecimento permite ao Estado que reconhece o
desenvolvimento de suas relações comerciais e o aumento de sua influência, possibilita
ao reconhecido fazer valer seus direitos na ordem internacional (responsabilidade
internacional) e permite que o Estado reconhecido se beneficie de privilégios
concedidos mutuamente entre os Estados. No âmbito interno, o reconhecimento permite
demandar perante tribunais de outros Estados a imunidade de jurisdição e execução,
capacidade processual, direitos sobre propriedade e a validade dos atos legislativos,
executivos e judiciários – homologação de sentença estrangeira.
O reconhecimento de Estado implica o reconhecimento do primeiro governo que
estiver à frente do Estado. É diferente do reconhecimento de governo, necessário
quando ocorre uma mudança interna de governo sem seguir o processo instituído pela
Constituição. Nessas situações, é preciso reconhecer a legitimidade do novo governo.
O ingresso na ONU não implica em reconhecimento do Estado por parte dos
membros da organização e nem em criação do Estado, é apenas um ingresso. A
expressão “Estado”, no artigo 3º da Carta, não mostra precisão técnica, na Conferência
de São Francisco participaram Ucrânia e Bielorússia que, na época, faziam parte da
URSS e, portanto, não eram Estados independentes. Já no artigo 4º, a Carta explicita
que somente Estados poderão entrar na ONU. Esse artigo foi objeto de dois pareceres da
CIJ. Diziam respeito a Formosa, que representava a China na ONU. A China comunista
dizia que a China era uma só, o Japão contestava o território de Formosa e Formosa se
dizia independente. Os pareceres da Corte estabeleceram que as condições no referido
artigo são exaustivas (imprescindíveis) e que a recomendação do Conselho de
Segurança deve ser favorável para que a Assembléia Geral possa aprovar a entrada do
país na ONU.
O ex-presidente Jânio Quadros iniciou um estilo de política externa que,
continuando com Jango, se chamou de política externa independente. Isso se traduziu
numa aproximação com o terceiro mundo. Passamos, por exemplo, a não apoiar a
política colonialista de Portugal com relação à África. Com o primeiro governo
ditatorial, de Castelo Branco, seguimos uma política de alinhamento automático aos
EUA, o que mostra a nossa grande dependência americana – voltamos a apoiar a
política colonialista de Portugal. Com Costa e Silva continuamos a apoiar a política
portuguesa, continuando no governo Médici. Chegando ao governo Geisel, nos

2
deparamos com um momento difícil na ordem internacional. Ele iniciou uma política
chamada de pragmatismo responsável, o que significou um retorno à política externa
independente. Sua primeira medida nesse sentido foi reconhecer a China. Estourou a
Revolução dos Cravos, conseqüência da guerra colonial portuguesa. Isso acelerou a
independência africana. Moçambique conseguiu sua independência e foi reconhecida
por nós. Em seguida houve a questão de Angola, em que grupos diferentes lutavam
entre si pelo poder. O Brasil reconheceu a independência de Angola, o que significa
dizer que reconheceu o governo que estava na capital (MPLA), com Agostinho Neto
sendo apoiado pela URSS. Isso demonstra claramente o fator político por detrás do
reconhecimento: o Brasil pretendia, assim, enfatizar sua política externa mais
independente. Isso é uma exceção à regra do reconhecimento do primeiro governo
efetivo.
A natureza do reconhecimento é declaratória. No entanto, a teoria constitutiva
defende que o reconhecimento cria a personalidade internacional do Estado. Isso
permitiria que os Estados já existentes controlassem o surgimento de novos Estados. No
entanto, há uma contradição inerente a essa teoria, pois ela defende que o
reconhecimento é bilateral, mas sendo ele constitutivo, como poderia o Estado contratar
(ato internacional) se ainda não tem sua personalidade? A teoria predominante é a
explicitada na Carta da OEA, que defende que o Estado existe politicamente antes do
reconhecimento, mas que por ele um Estado aceita a personalidade política do novo
Estado. Essa posição se chama declaratória. Existe ainda a teoria mista ou conciliatória,
que defende a posição declaratória, mas admite que o reconhecimento institui direitos e
deveres para os novos Estados.
O reconhecimento é de competência do Executivo, pois é um ato internacional e
é ele o órgão responsável pela política externa. Na Liga das Nações, a entrada de um
novo Estado na Liga configuraria um reconhecimento tácito por parte dos outros
Estados membros. Na ONU não, o ingresso é apenas um ingresso. Ele se dá mediante a
aprovação do Conselho de Segurança e da Assembléia Geral e o preenchimento dos
requisitos citados no artigo 4º. Poder-se-ia dizer que o ingresso implica o
reconhecimento por parte da organização, independentemente dos Estados membros,
uma vez que ela possui uma personalidade jurídica independente deles.
Normalmente, o reconhecimento expresso ocorre por tratado que fale do
reconhecimento (bilateral ou multilateral), por acordo... O tácito é quando se celebra um
tratado, por exemplo, pois isso constitui direitos e deveres para os Estados contratantes.
Mesmo assim, pode-se, num tratado multilateral, fazer reserva quanto ao
reconhecimento de determinado Estado participante do tratado, assim, não há
compromisso estabelecido entre o Estado novo e esse contratante. Ele também pode
ocorrer através do estabelecimento de relações diplomáticas. Ele ainda pode ser de
facto, que a doutrina entende como provisório, ou de iure, permanente; condicional,
vinculado a uma condição imposta por uma organização internacional ou pelo Direito
Internacional.

02.06.08
O Direito Internacional como um todo reconhece que o reconhecimento não pode ser
prematuro, pois, sem aqueles elementos constitutivos, o reconhecimento vem a ser uma
interferência nos assuntos internos do Estado. Além disso, reconhece-se que não se deve
reconhecer Estados que se fundem em princípios colonialistas ou racistas, contra o
Direito Internacional, em geral.
Com o reconhecimento, o Estado passa a ter imunidade de jurisdição (o Estado
reconhecido não pode estar submetido a tribunais de outro Estado). Isso tem sido

2
amenizado para evitar danos que possam vir a ser causados a particulares. Sendo o
reconhecimento um ato retroativo, também se busca amenizar os prejuízos, pois todas
as ações do Estado desde que ele se constituiu passam a valer. A teoria constitutiva
admite a retroatividade, o que constitui outra contradição, pois o Estado que reconhece
passaria a admitir as ações de um ente sem personalidade jurídica.
O governo de facto é o que chega ao poder violando a Constituição e o de iure, o
que chega pela forma legal. Quando um novo grupo chega ao poder violando a ordem
legal, é necessário que a comunidade internacional reconheça esse grupo como sendo
legítimo (a combinação dos dois aspectos é fundamental). Em princípio, o Direito
Internacional é neutro em relação aos eventos internos, isso constitui uma exceção
devido à sua importância à ordem internacional. O reconhecimento de governo é o ato
pelo qual se dá a conformidade para continuar as relações habituais com um novo
regime. Ele deve recair sobre o governo efetivo, apesar de às vezes isso ser de difícil
identificação, principalmente devido ao fator político presente no ato do
reconhecimento. Novamente, o reconhecimento é um ato livre e discricionário.
O reconhecimento de governo é só de governo. No continente latino-americano
há uma grande produção de teorias sobre o reconhecimento de governo justamente
devido à nossa fragilidade política. Essas teorias, no entanto, tendem a restringir o
reconhecimento de governo, que deve ser aquele com efetividade, ou seja, ao qual não
haja resistência ou ela seja mínima. Além disso, deve ser um governo que cumpra com
as obrigações internacionais, pois os compromissos são assumidos em nome do Estado,
que é uma entidade permanente. Pragmaticamente, esse elemento refere-se aos credores
internacionais.
Há diferentes modos de aquisição de território, um deles é pela ocupação.
Procura-se saber qual foi o primeiro ocupante para se descobrir quem tem o direito real
sobre ele. O que se tinha era a admissão de aquisição pela conquista. Muitas vezes num
tratado de paz, o Estado perdedor da guerra passa o território ao vencedor. Na medida
em que há a proibição do uso da força, essa forma de aquisição não é mais admitida.
O Estado estrangeiro goza de imunidade de jurisdição, que diz respeito aos atos
de império. Por exemplo, atividade da embaixada não pode ser julgada no tribunal local,
pois é a representação diplomática daquele país. A exceção à imunidade de jurisdição é
a ação trabalhista. Mas ela é válida apenas para o ato de conhecimento, mesmo que a
pessoa ganhe, não pode entrar com uma ação de execução para pedir o pagamento.
Os direitos fundamentais do Estado são aqueles sem os quais o Estado perderia
sua personalidade. Um deles é a igualdade jurídica dos Estados, consagrado, inclusive,
pela Carta da ONU. Ele é quem garante a imunidade de jurisdição. A Res. Assembléia
Geral/ONU 349/49 também estabelece alguns direitos fundamentais. O direito à
independência possui dois aspectos: interno e externo (independência com relação aos
outros Estados). O domínio reservado (artigo 2º, VII, Carta da ONU) determina os
assuntos de jurisdição interna. O que é diferente da jurisdição externa, que trata de
assuntos de competência do Estado, mas voltados para a ordem internacional, como
aquilo relativo à política externa dos Estados. A jurisdição doméstica englobaria a
interna e a externa, diz respeito a tudo que é de competência do Estado. A própria
ordem internacional estabelece quais são esses assuntos, sendo necessário perceber a
mobilidade dessa matéria. Os Direitos Humanos e Ambientais eram da jurisdição
interna do Estado, hoje, eles são matéria de Direito Internacional. Celso Mello fala em
três critérios para determinar os assuntos que são de competência dos Estados (diferente
daqueles apresentados nos slides).
Outros direitos, não mencionados na Carta da ONU, são o de existência política
independente do reconhecimento – afirmação da teoria declaratória sobre a natureza

3
jurídica do reconhecimento; inviolabilidade do território e desenvolver a vida cultural
política e econômica.
Para Celso Mello, primeiramente temos o critério material, que corresponde às
matérias de competência exclusiva dos Estados (slide). Em seguida Celso Mello fala em
um critério político, em que se reconhece que certas matérias deveriam ser da
competência dos Estados, mas que pela sua importância passam a ser reguladas pela
ordem internacional. A esse corresponderiam aquelas matérias reguladas pelo Direito
Internacional em que há margem para a discricionariedade dos Estados (slide).
Finalmente, haveria um critério jurídico, que estabelece que deixa de ser regulada pelo
Estado aquela matéria que é regida pela ordem internacional. Essas seriam as matérias
reguladas completamente pelo Direito Internacional (slide). Tentava-se assim, dar
segurança jurídica às relações, mas acabou que esse campo ficou muito aberto, pois há
matérias reguladas pelo Direito Internacional que abrem espaço para a
discricionariedade dos Estados.
A Carta de Direitos e Deveres do Estado é fundamental à NOEI, ela se encontra
na Res. Assembléia Geral/ONU 3251/74. Ela estabelece diretrizes para a superação do
subdesenvolvimento.
Há uma grande discussão a respeito dos fatores reais de desigualdade e como
superá-los. Eles podem ser geográficos, econômicos, populacionais, organizacionais ou
de projeção do Estado na sociedade internacional. Esses fatores, inclusive, servem para
se classificar os Estados em certas categorias, apesar de todos os Estados serem
juridicamente iguais. Um dos reflexos desses fatores se dá no Conselho de Segurança da
ONU, com os membros permanentes, diferentemente da Assembléia Geral, em que
todos têm direitos a um voto. A desigualdade econômica reflete-se nas organizações
financeiras e econômicas, em que os Estados votam através de cotas, o que significa que
se segue o nível de desenvolvimento econômico. Conseqüentemente, os EUA e a Grã-
Bretanha controlam o FMI. No Direito Internacional Econômico, aplica-se o princípio
da desigualdade compensatória, baseado no sistema geral de preferência – sistema de
tratamento preferencial, através do qual vários países concedem reduções parciais ou
totais de tarifas de importação a países em desenvolvimento, sobre determinados
produtos.
A Convenção da ONU sobre Direito do Mar disciplina sobre os espaços
marítimos. A partir daí o Estado passa a ter certas competências, mas não se considera
certos espaços como soberanos, como o mar territorial. Surge, nessa conferência, um
grupo de Estados de plataforma continental estendida, apesar de seu sentido não ser
definido no Direito Internacional. Há Estados que por sua constituição geológica podem
chegar a uma plataforma continental de até 350 milhas. A convenção estabelece que os
Estados que fazem exploração econômica na plataforma ampliada devem pagar tributos
à autoridade marítima criada na própria convenção, à exceção dos Estados
subdesenvolvidos importadores substanciais do recurso, não vivo, que está explorando.
Esse é um exemplo de efeito da desigualdade real nas normas jurídicas internacionais.

04.06.08
Na questão dos direitos fundamentais dos Estados, podemos enumerar a igualdade
soberana, a independência de jurisdição, o domínio reservado e a legítima defesa. A
jurisdição doméstica pode ser interna ou externa: a primeira diz respeito à forma de
governo, leis, organização interna; a segunda trata da política externa, celebração de
tratados.

Observação:

3
Cláusula facultativa: o Estado se torna parte do tratado aceitando determinada cláusula
quando e se quiser.

A igualdade jurídica dos Estados é algo já tradicional, remonta à Paz de Westfália. Essa
igualdade é contemplada na Carta da ONU e se manifesta na Assembléia Geral, pois o
Conselho de Segurança traduz a desigualdade real. Isso não é novo, no Congresso de
Viena foi feita a distinção entre as potências de interesses gerais, que participavam de
todas as conferências, e aquelas de interesses reduzidos, que participavam apenas das
reuniões que lhe diziam respeito. A convenção de Direito do Mar também reflete a
desigualdade real, pois diferencia os países de acordo com suas características
específicas (por exemplo, países com saída para o mar), baseando-se na igualdade
jurídica – busca compensá-las.
A igualdade formal possui algumas obrigações, como o respeito à integridade
territorial e à independência política dos Estados – não ingerência; comportamento de
acordo com o Direito Internacional, cumprindo suas obrigações e cooperação entre os
Estados.
No caso de expropriação, a empresa pode pedir proteção diplomática ao
consulado de seu Estado, o qual por sua vez pode não acatar o pedido. Isso contrariava
os interesses das grandes multinacionais, pois na cartilha da CEPAL, parte do capital da
empresa deveria ser reinvestido no país onde ele era produzido, o que o transformava
em capital nacional. Não sendo capital estrangeiro, ele não estava mais sob a proteção
do consulado.
Apesar do respeito à jurisdição interna do Estado, existem algumas exceções.
São elas as imunidades de jurisdição. O direito de passagem inocente se encaixa nessa
modalidade. Nos navios e aviões, a jurisdição é do estado de matrícula, somente não
será assim com relação a alguns crimes e se o crime tiver repercussões no Estado local.
Também nos navios se entende que a jurisdição dentro do navio é do Estado de onde ele
é nacional, pois tal Estado se encontra no exercício de seu poder de império. Além
disso, se concede imunidade de jurisdição aos agentes diplomáticos, aos agentes
consulares no que disser respeito às suas funções.
O Estado estrangeiro possui imunidade de jurisdição, pois não há poder de
império quando se trata de entes igualmente soberanos. Além disso, a imunidade de
jurisdição a Estado estrangeiro também se fundamenta no princípio de não ingerência
nos assuntos internos do Estado. Quando se fala em Estado, essa noção é expandida
englobando os Chefes de Estado. Esse costume começou como sendo a imunidade
absoluta, com relação a todos os atos do Estado estrangeiro. Porém cada vez mais o
Estado age como uma empresa privada, assim passou-se a fazer a distinção entre os atos
de império e os atos de gestão.
Os atos de império possuem natureza pública e imunidade de jurisdição, já os de
gestão possuem natureza privada e um Estado pode ser julgado por outro quando disser
respeito a eles. É o que se chamou de imunidade restrita. A guerra particular traz um
fator complicador a tudo isso. Existe um projeto de convenção a esse respeito. O Estado
pode, num processo, não alegar sua imunidade de jurisdição de primeira, podendo
responder pelo ilícito, ou seja, ele pode abrir mão dela. O contrato de trabalho também
está contido nas restrições à imunidade. Além disso, não se pode executar os bens de
uma embaixada, por exemplo, no ato de execução de uma ação trabalhista em que o
Estado tenha perdido. Outros casos em que há o descabimento da imunidade de
jurisdição ocorrem quanto a ações indenizatórias por morte ou lesão a pessoas e danos
causado por ação ou omissão atribuível ao Estado, a participação do Estado em

3
sociedade em que participem pessoas que não sejam outras Estados ou organizações
internacionais, dentre outros.
Outro direito fundamental dos Estados é o direito à legítima defesa, previsto na
Carta da ONU, artigo 51. Ele constitui uma das possibilidades de uso da força legal na
ordem internacional. No entanto, ela deve ser comunicada à ONU, que agirá como
quiser. A legítima defesa diz respeito ao ataque armado.

09.06.08
Sucessão de Estados
A sucessão diz respeito às possibilidade de mudança de um Estado: desaparecimento,
território, separação, união. A aquisição de território pode ser derivada, quando há
transferência de soberania, nesse caso, pode haver sucesso de Estados. As regras de
sucessão têm bases civilísticas, mas se tenta eliminar esse lado privatista.
Essa matéria é regulada fundamentalmente por norma costumeira. Há tratados
sobre esse assunto, elaborados pela comissão de Direito Internacional, mas critica-se
que eles vieram tardiamente. Com a sucessão, cria-se nova soberania sobre o território.
As convenções vieram depois do processo de descolonização, que se deu nos anos 60. a
primeira convenção diz respeito aos tratados e a segunda, às dívidas, mas só há um
tratado sobre a matéria. A Carta da ONU e a Res. Assembléia Geral/ONU 2625/70
proíbem a sucessão mediante o uso da força, isto é, proíbe a conquista – quando o
perdedor se retira de um território e o vencedor lá se estabelece, passando a constituir
um novo Estado ou acoplando o novo território a outro Estado já existente. Esse
processo deve se dar por meio lícito na ordem internacional.
Aquisição originária, não há transferência de soberania. seu modo típico é a
ocupação de território res nullium ou derelicta, os quais não existem mais. Outra forma
de aquisição é a derivada.
Há cada vez mais uma maior reivindicação para tornar a Antártida território
internacional por causa das riquezas de pesquisa.
Quanto à nacionalidade das pessoas, há um projeto de convenção da comissão,
do qual a Assembléia Geral tomou nota (considerou-o), mas não há tratados a esse
respeito.
A sucessão pode ser parcial, colonial (apesar das convenções serem posteriores),
unificadora, separadora (Iugoslávia). A convenção sobre tratados em sucessão de
Estados fala que não se aplicará os tratados antigos, com algumas exceções, ao novo
Estado. Essas exceções são constituídas pelos tratados de limites (fronteiriços) e de
direitos territoriais (exceção quanto às bases militares). A convenção também não
admite o acordo de devolução, que os Estados celebravam com o futuro novo Estado e
que eram leoninos a esse – são os vícios de consentimento da desigualdade jurídica.
Eles costumavam tratar de questões econômicas.
Na sucessão parcial, passam a ser aplicados os tratados do sucessor (novo
Estado). Pelo princípio da tábula rasa, o novo Estado não está obrigado aos
compromissos convencionais anteriores (direito à autodeterminação dos povos). Já com
relação aos costumes, o novo Estado está a eles submetido. Se fórum tratado
multilateral, o sucessor pode notificar a sucessão, a não ser quando houver um número
pequeno de partes e algo específico tiver sido previamente definido, quando ele terá que
ser aceito pelos outros Estados. No tratado bilateral, isso dependerá da aceitação do
outro Estado.
Na sucessão de unificação, aplica-se o princípio da continuidade e a manutenção
dos tratados dependerá do tipo de tratado. Quando ocorrer uma sucessão por separação,
pode não haver a manutenção dos tratados se eles passarem a ser incompatíveis com a

3
essência do tratado ou se as circunstâncias mudarem demasiadamente. Nas organizações
internacionais não se tem admitido a sucessão de Estado nos tratados, normalmente é
necessária nova candidatura. Na ONU é assim que tem ocorrido, por exemplo com o
desmantelamento da URSS.

11.06.08
Os tratados de organizações internacionais não estão sujeitos a sucessão, é preciso ser
eleito novamente. Os de limites sucedem. As decisões a esse respeito, na ONU, devem
ser tomadas pela Assembléia Geral, mas cada organização possui seu processo interno.
A questão dos bens e arquivos de Estado do Estado antecessor diz respeito aos
acordos de devolução, quando havia o processo de descolonização. As metrópoles
privatizavam seus bens na colônia e quando ocorria a sucessão, os bens privados devem
continuar nas mãos de seus donos. Assim, as metrópoles não perdiam seus bens. As
dívidas de um Estado antecessor com um banco permanecem com o sucessor, mas com
relações a organizações internacionais não. A transmissão de bens não tem
compensação. A sucessão quanto aos bens vai depender do tipo de sucessão. Os bens
públicos no território sujeito a sucessão pertencem, na sucessão parcial, ao Estado
sucessor. Com relação às dívidas, algumas teorias defendem a divisão
proporcionalmente de acordo com a população ou ao território. Outras fazem a
contabilidade da capacidade tributária do novo Estado. Quanto aos Estados de recente
independência, a preferência recai sobre o Estado sucessor. Isso diz respeito ao processo
de descolonização. Na unificação, somam-se as dívidas e os bens. Na separação tudo
deve ser separado proporcionalmente.
Com respeito às dívidas, as dos Estados de recente independência não são
transmitidas ao sucessor. Coloca-se a questão das dívidas contraídas pelo antecessor
para investimento no sucessor, alguns autores defendem que essas se transmitem ao
novo Estado. Já aquelas contraídas para a repressão ficam a cargo do Estado antecessor.
Na sucessão parcial, vale a divisão eqüitativa, salvo acordo entre as partes em contrário.
Na separação, a regra também é a da proporcionalidade eqüitativa. Na unificação, une-
se tudo.
Com relação a sucessão de governo, sucede tudo, inclusive as dívidas, já que
elas são contraídas em nome do Estado. Por exemplo, na Revolução Bolchevique na
Rússia, o grande problema foi que o novo governo não manteve seus compromissos
internacionais sob o argumento que eles refletem os interesses das potências
dominantes. Com isso, ela sofreu um boicote internacional.
Os arquivos transmitidos serão apenas aqueles relativos ao novo Estado. Isso diz
respeito à preservação da memória histórica. Se não forem transmitidos os originais,
pelo menos deve sem feitas cópias. Tudo o que disser respeito a limites e fronteiras
deve ser transmitido com o objetivo de conseguir provar a extensão do território num
possível conflito. As independências anteriores às convenções foram resolvidas caso a
caso.
Com relação à nacionalidade das pessoas envolvidas na sucessão, a única
regulamentação que existe é um projeto de artigos de que a Assembléia Geral tomou
nota. Isso significa dizer que ela não emite um juízo de valor, apenas o considera,
podendo ele vir a servir de prova de costume. A questão da nacionalidade concerne ao
direito interno, mas a declaração de direitos humanos afirma que todos devem ter uma
nacionalidade. Há dois sistemas que definem a nacionalidade de uma pessoa, o ius
solium e o ius sanguinis. Pelo primeiro, são nacionais os que nascem no território
nacional, e pelo segundo, são nacionais os filhos de pais nacionais. No Brasil, adotamos
os dois sistemas: são nacionais os nascidos em território brasileiro que não sejam filhos

3
de embaixadores estrangeiros e os nascidos no exterior filhos de diplomatas brasileiros
ou de pais brasileiros desde que registrados em repartição brasileira competente
(consular) ou que venham a residir no Brasil e optem, a qualquer momento depois de
atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira.
Assim como há o conflito negativo de nacionalidade, que gera a apatrídia, há o
positivo, que gera a polipatrídia. O primeiro caso é mais grave, pois aqueles sem
nacionalidade não têm direito a proteção diplomática. Na sucessão, os Estados devem
fazer de tudo para evitar a apatrídia. As pessoas que moram no território sujeito a
sucessão adquirem a nacionalidade do sucessor. Os Estados devem informar as pessoas
a respeito das suas opções e das conseqüências. Além disso, os Estados devem procurar
evitar quebrar a unidade da família, buscando reunir os familiares afetados pela questão
da nacionalidade. A ONU interferiu nesse assunto no que diz respeito às formas de as
pessoas optarem pela nacionalidade, por pura opção ou por plebiscito, dando-lhe a
possibilidade de escolha ou de, pelo menos, manifestar sua opinião.

(Estudo dos slides)


Sucessão de Estados é a substituição de um Estado por outro na responsabilidade das
relações internacionais de um território.
• Sucessão parcial: parte de território de um Estado é transferida a outro. Não se
aplicam ao território objeto da sucessão os tratados do antecessor e passam a
vigorar o do sucessor – mobilidade no âmbito territorial dos tratados. A
transmissão dos bens de Estado deverá ser realizada através de acordos, senão
aqueles situados no território objeto de sucessão passarão ao sucessor. A
transmissão das dívidas de Estado deverá ser realizada através de acordos, senão
se dará em proporção eqüitativa. Quanto aos arquivos, deverá ser feito um
acordo entre as partes, senão transmitem-se aqueles relacionados exclusivamente
com a parte do território objeto de sucessão. Quanto à nacionalidade, o sucessor
atribuirá a sua àqueles residentes em seu território e o antecessor a retirará.
• Sucessão colonial: Estado de recente independência é aquele cujo território,
imediatamente antes da data de sucesso, era território dependente, de cujas
relações internacionais era responsável o Estado antecessor. Nenhum Estado de
recente independência está obrigado a manter em vigor um tratado do Estado
antecessor – princípio da tabula rasa, pelo qual o novo Estado começa a sua vida
internacional livre de toda obrigação convencional que lhe impeça de decidir sua
política. A preferência é do Estado sucessor. Nenhuma dívida se transmitirá ao
sucessor salvo se estabelecido em acordo. Quanto aos arquivos, transmitem-se
aqueles que tinham pertencido ao território objeto de sucessão e aquele
relacionados a esse território.
• Unificação: Estados envolvidos na sucessão se extinguem, formando um
terceiro. A manutenção dos tratados rege-se pelo princípio da continuidade, pelo
qual há a transmissão dos direitos e obrigações derivados dos tratados em vigor
do Estado predecessor ao sucessor. Transmissão dos bens dos antecessores aos
sucessores. A dívida passa ao sucessor. Os arquivos passam ao sucessor. Todas
as pessoas afetadas passam a ter a nacionalidade do sucessor.
• Separação: parte ou partes do território de um Estado se separam dando origem
a outro ou outros Estados, independentemente da permanência do antecessor. A
manutenção dos tratados rege-se pelo princípio da continuidade, pelo qual há a
transmissão dos direitos e obrigações derivados dos tratados em vigor do Estado
predecessor ao sucessor. Porém, abrandam-se os efeitos desse princípio,
permitindo a exclusão dos sucessores se assim for acordado ou se aplicação do

3
tratado será incompatível com a sua essência. A transmissão dos bens de Estado
deverá ser realizada através de acordos, senão se dará em proporção eqüitativa.
A transmissão das dívidas de Estado deverá ser realizada através de acordos,
senão se dará em proporção eqüitativa. Quanto aos arquivos, deverá ser feito um
acordo entre as partes, senão transmitem-se aqueles relacionados exclusivamente
com a parte do território objeto de sucessão. Quanto à nacionalidade, cada
sucessor atribui a sua, salvo se indique outra coisa mediante o exercício do
direito de opção.
• Dissolução: um Estado deixa de existir dando origem a outros Estados. A
transmissão dos bens de Estado deverá ser realizada através de acordos, senão se
dará em proporção eqüitativa. A transmissão das dívidas de Estado deverá ser
realizada através de acordos, senão se dará em proporção eqüitativa. Quanto aos
arquivos, deverá ser feito um acordo entre as partes, senão transmitem-se
aqueles relacionados exclusivamente com a parte do território objeto de
sucessão. Quanto à nacionalidade, cada sucessor atribui a sua, salvo se indique
outra coisa mediante o exercício do direito de opção.

Responsabilidade internacional do Estado


O instituto da responsabilidade internacional é um instituto costumeiro. Há um projeto,
do qual a Assembléia Geral tomou nota, sobre o tema. Ele inclui a noção de ato ilícito,
que é a violação de norma de Direito Internacional e que gera a responsabilidade
internacional. A convenção vai trabalhar o tempo todo com a noção de norma primária e
norma secundária (sanção). Seu artigo 19 fala em crime internacional, que levaria à
responsabilidade do Estado perante a ordem internacional como um todo – deixa de ser
uma relação direita entre quem violou a norma e quem foi prejudicado. O crime
internacional seria aquele ato que atinge a sociedade internacional em seu conjunto, o
que teria como conseqüência uma ação conjunta dessa sociedade internacional.
Existem convenções específicas de cada assunto tratando da responsabilidade
internacional, como a do espaça exterior – que responde por objeto que cai do espaço
exterior na propriedade de alguém. Podem ser apontadas, ainda, as que tratam da
responsabilidade por atividade nuclear ou de responsabilidade em matéria de poluição
de mares e rios.
A convenção mencionada anteriormente é relativa à responsabilidade por culpa.
Ela adquiriu uma grande vinculação ao instituto da proteção diplomática. O que ocorre
é o acontecimento de um ato ilícito, causador de um dano, que é imputado a um Estado,
o qual é obrigado a reparar. Ou seja, é uma relação direta entre Estados. O ato ilícito
deve, ainda, ser determinado segundo o Direito Internacional. A imputabilidade é a
relação de causalidade entre o ato ilícito e o Estado responsável. O dano não precisa ser
necessariamente material. Essa é a teoria da culpa, presente no modelo clássico, em que
o Estado precisa ter a culpa pelo ato ilícito, que vai ser observada por sua ação ou
omissão.

16.06.08
A natureza jurídica do reconhecimento diverge dependendo da doutrina abordada.
Existe quem defenda a constitutiva, a declaratória ou a conciliadora (mista). A teoria
declaratória está consignada na Carta da OEA, em que se estabelece que o surgimento
do Estado independe do reconhecimento. Mesmo que se imponha uma condição ao
reconhecimento e que esta não seja cumprida, no máximo haverá a responsabilização do
Estado na ordem internacional. O reconhecimento permanece. Quanto a seus efeitos

3
jurídicos com relação a terceiros, ele tem sido flexibilizado para se evitar prejuízos a
particulares.
Existe de fato uma contradição quanto à entrada de novos Estados na ONU. Isso
não implica em reconhecimento por parte dos Estados membros, mesmo que eles
participem de comissões juntos. Percebe-se que prevaleceu o aspecto jurídico de
reconhecimento. Quando menciona os Estados originários, a Carta da ou não mostra
precisão técnica quanto ao termo Estado, já no artigo seguinte, relativo aos membros
adquiridos, ela é bastante clara que somente Estados podem ser admitidos na
organização.
A responsabilidade internacional tem base num projeto de artigos de que a
Assembléia Geral tomou nota. O ato ilícito á a violação de norma ou obrigação
internacional, sua conseqüência é a responsabilização do Estado que o cometeu. Ele é
convencional quando fere tratado e delituoso quando fere norma costumeira. A
responsabilização é sempre de Estado para Estado, se ele viola a norma ou permite que
alguém a viole, é sofre a responsabilização internacional. Quando disser respeito a
particulares, o governo á obrigado a prevenir e reprimir a violação.
Quando se fala em imputabilidade se faz referência à relação de causalidade
entre o dano e seu causador, pelo menos é assim que a doutrina tradicional estabelece.
Existe também a chamada teoria do risco, em que com o simples exercício de uma
atividade o Estado assume o risco. Há regimes específicos de risco, como a poluição
dos mares e a atividade nuclear. A simples atividade do Estado significa que ele estará
assumindo o risco de causar danos a terceiros e, sendo assim, de sofrer a
responsabilização internacional. Não é necessário verificar a culpa, a responsabilidade
recairá sobre a mera atividade do Estado.
O projeto de artigos divide as normas em primárias e secundárias, estas são as
que responsabilizam o Estado. Elas incidem sobre ele quando violar uma norma
primária. O projeto, mesmo sem ser um tratado, serve como base para prova de um
costume e para estimular a sua formação. Esse instituto tem sua origem no século XIX e
apoiava-se num princípio de direito privado. Encontrava-se muito vinculado à proteção
diplomática. Na sua origem, tinha por objetivo a reparação de danos sofridos pelo
Estado violado. Mesmo que o prejuízo fosse sofrido por pessoas físicas, ela poderia
reclamar à sua embaixada e, se seu Estado endossasse o pedido, o terceiro particular
saía de cena e o Estado passava a agir na sua reivindicação, por isso a grande vinculação
à proteção diplomática.
O aspecto do multilateralismo de sujeitos substitui o artigo 19 do projeto, que
tratava do crime internacional, ato internacional que atinge a sociedade internacional no
seu conjunto. Ele diz respeito ao interesse jurídico de outros Estados na cessação da
violação da ilicitude em determinadas matérias, por exemplo, o meio ambiente e
Direitos Humanos. Assim, seria permitido aos Estados adotarem sanções, dentre outras
coisas.
As organizações internacionais também podem exigir a responsabilização
internacional de determinado Estado, buscando a reparação de um ilícito, pois elas
também são pessoas de Direito Internacional. Isso está conectado àquela perspectiva
declaratória de formação de personalidade internacional. A responsabilidade por risco
também pode ser chamada de responsabilidade objetiva.
A ilicitude tem que ser atribuível a uma pessoa de Direito Internacional, por
exemplo, os funcionários competentes do Estado, por exemplo, funcionário
alfandegário. O Estado também pode ser responsável por ato de particular, sempre com
a idéia de prevenir e reprimir. Mesmo relativo aos atos de terroristas, tudo vai depender

3
da ação do Estado, se ele foi efetivo na prevenção e repressão. Há por volta de 12
convenções sobre terrorismo.

18.06.08
Quem define o ilícito á o Direito Internacional, que pode ser delituoso ou convencional.
A responsabilidade tem uma essência sempre reparadora, o que quer dizer que ela está
sempre no âmbito civil.
O Estado estabelece sua estrutura político-administrativa e são seus órgãos que
cometem os atos ilícitos. Geralmente, é o Executivo que compromete a
responsabilidade, pois ele é o órgão responsável pela política externa. Contudo, o
judiciário também pode cometer um ilícito quando, por exemplo, decide contrariamente
a um tratado do qual o Estado faz parte. Algumas convenções têm no seu corpo
instituído o princípio do reenvio, principalmente aquelas que tratam de terrorismo, pelo
qual o Estado tem que incorporar as normas do tratado no seu direito interno, estando
obrigado a punir esses atos. Também as unidades federais numa federação devem
aplicar o conteúdo do tratado no que disser respeito a sua competência, pois a União
deve oferecer os meios necessários a essa aplicação. As empresas privadas também
podem comprometer a responsabilidade do Estado quando estiverem exercendo uma
função pública. Num conflito armado, o Estado é responsável pela autação dos
membros de sua força armada. Também no que for relativo a particulares exercendo
uma função pública, o Estado é responsável por sua atuação
Essa instituição está muito vinculada à proteção diplomática. Ela se aplica às
situações em que o Estado é chamado para proteger seus nacionais no exterior. O
primeiro aspecto sobre esse tema diz respeito à nacionalidade da pessoa física. O
apátrida não tem direito à proteção diplomática, já o polipátrida, no caso de dúvida
quanto a que país lhe cabe proteger, deve-se buscar onde ele efetivamente exerce sua
nacionalidade. Mas o grande problema nessa questão diz respeito às pessoas jurídicas.
Para se averiguar a sua nacionalidade de pessoa jurídica devemos pesquisar no
direito interno dos Estados a forma como consideram a nacionalidade. Pode ser onde
elas têm sua sede social, onde está o domínio do capital. Essa questão tornou-se um
problema no início dos anos 60, quando o Brasil seguiu a política cepalina de
nacionalização de parte do capital das multinacionais aqui estabelecidas através da
imposição da obrigação de se reinvestir aqui parte do capital produzido no país. A
preocupação das empresas era que, numa situação em que se precisasse de proteção
diplomática, esse capital por ser considerado nacional não estaria sujeito à proteção.
Também no Chile isso se tornou um problema que, inclusive, ajudou a derrubar o
governo Allende. Numa controvérsia quanto à nacionalidade de pessoa jurídica se
costuma submetê-la à arbitragem.
Um segundo quesito a ser analisado diz respeito ao procedimento. Diz-se que o
reclamante deve ter “clean hands,” isto é, mãos limpas, o que quer dizer que ele não
pode ter cometido nenhuma infração interna ou internacional. Por último, deve-se
analisar se o reclamante esgotou os recursos internos no Estado em que foi prejudicado,
cláusula clássica no Direito Internacional.
Preenchidas essas três condições, a pessoa nacional pode pedir a proteção
diplomática do Estado. Este não é obrigado a agir, ele pode endossar a reclamação,
apresentando-a ao outro Estado, ou não – teoria do endosso. Tendo apresentado a
reclamação, ela está sujeita a uma prescrição extintiva. Recebendo o Estado a
indenização, acabou a responsabilidade internacional. Se o Estado do nacional lhe
repassará essa indenização e como o fará concerne ao direito interno do Estado. Após a
apresentação da reclamação ao Estado do nacional, a pessoa física ou jurídica sai de

3
cena, pois a responsabilidade é de Estado para Estado. A prescrição diz respeito ao
momento em que a reclamação foi apresentada pelo nacional ao seu Estado, e são os
dois Estados envolvidos que decidem ou não se houve de fato prescrição ou não, não há
regras quanto a essa parte do procedimento.
Esse é o modelo clássico de proteção diplomática. Quando a questão envolve
queda de objetos do espaço exterior, dentre alguns outros temas, o Estado tem a
obrigação de proteger seu nacional.

Organizações internacionais
Pela definição de Sereni (Celso Mello), as organizações internacionais são uma
associação entre Estados, constituída por tratado e disciplinada por norma de Direito
Internacional. Elas possuem um ordenamento jurídico próprio, cujas limitações são
instituídas pelo seu tratado constitutivo. Seus órgãos mais importantes são
governamentais, pois são constituídos por representantes de Estados. Seu órgão
permanente é o que lhe dá independência com relação aos Estados membros. Além
disso, a organização possui um funcionalismo próprio, o que lhe confere sua vida
própria. Suas competências lhe são atribuídas pelo tratado constitutivo.
Fazendo uma remissão ao início do período, quando analisamos as perspectivas
de formação do Direito Internacional e quando vimos a diferenciação feita por
Chaumont entre Direito Internacional Clássico e Contemporâneo. Este marcado pela
cooperação institucionalizada.
Muitos autores apontam o início da mentalidade de formação de organizações
internacionais como datando da Liga das Nações. Mas esse tipo de pensamento já se
encontrava presente no final das guerras napoleônicas. No Congresso de Viena institui-
se o Concerto Europeu: sucessivas conferências e congressos para a negociação das
principais questões internacionais. Ele tinha o objetivo de manter o equilíbrio entre os
Estados e, de fato, foi um século sem maiores conflitos. Essa experiência influenciou,
guardadas as devidas proporções e diferenças, as Assembléias Gerais das diversas
organizações internacionais de hoje. A Convenção de Viena também instituiu as
Comissões Fluviais para disciplinar a utilização de rios internacionais na Europa. Essa
experiência vai levar a um modelo de órgão administrativo nas organizações atuais,
apesar das comissões ainda não constituírem organizações internacionais. Por fim, a
terceira veia que contribuiu para a formação de organizações internacionais foram as
duas Conferências de Paz de Haia.
Dois objetivos maiores rondam a formação de organizações. A variedade de
classificação das organizações varia de acordo com seus objetivos. Essa classificação
pode se dar quanto aos seus métodos (cooperação, quadros regionais). Além das
competências estabelecidas pelos tratados constitutivos, há uma discussão, já resolvida
na ONU, quanto a se a organização possui poderes implícitos com o objetivo de fazer
cumprir seus propósitos e princípios. Na ONU, ficou decidido que sim, segiundoa
doutrina norte-americana.

23.06.08
A ONU, assim como as outras organizações e convenções desse gênero, nasceu da
tentativa de se reestruturar a ordem internacional após um conflito mundial. A Liga das
Nações também veio nesse sentido, mas devido a algumas de suas normas internas ficou
paralisada. Então a ONU começou a ser estruturada com várias conferências ainda
durante a guerra (no fim). Em São Francisco, ela foi efetivamente estabelecida com a
criação de sua Carta fundacional.

3
Sua natureza jurídica é de ser um tratado, apesar de alguns autores defenderem
que ela se assemelha a uma Constituição. No seu artigo 6º ela produz obrigações a
Estados não-membros. O artigo 110 é interessante, pois estabelece que, além de
necessárias as ratificações da maioria dos Estados, ela só entrará em vigor coma
ratificação dos cinco membros permanentes. Da mesma forma as emendas à Carta. A
revisão da Carta é prevista no seu próprio texto, mas nunca ocorreu. As mudanças na
Carta já foram enormes: criou-se o Conselho de Direitos Humanos e extinguiu-se o
Conselho de Tutela (previsto no texto da Carta).
As organizações internacionais permitem um multilateralismo diplomático, mas
a atuação da organização vem sendo paralisada e desgastada pelo unilateralismo dos
EUA e pelas inúmeras ações norte-americanas desrespeitando as resoluções e
recomendações da ONU.
No seu artigo 1º, vêm descritos os propósitos da organização, como a paz e a
segurança internacionais tomar as medidas necessárias para a sua manutenção – ligado
ao artigo 33 da Carta sobre livre escolha dos meios pelas partes. Em regra, as partes são
livre para escolher os meios, não há no Direito Internacional qualquer hierarquia entre
os meios de resolução de controvérsia, mas às vezes há tratados pré-estabelecendo os
meios. Outro propósito é o desenvolvimento de relações amistosas entre as nações e
estimular a cooperação internacional, além de servir de centro para a ação das nações.
Os propósitos são os grandes objetivos das Nações Unidas, para realizá-los faz-se a
interpretação teleológica da Carta e a dos seus poderes implícitos.
Os princípios sofreram uma ampliação vertical, no sentido de que passaram a ser
incorporados no Direito Internacional em geral, e uma ampliação horizontal. Alguns dos
princípios da ONU são a igualdade soberana entre os Estados, traduzida na Assembléia
Geral; o cumprimento de boa-fé das obrigações assumidas com a organização; solução
pacífica de controvérsias, mais a livre escolha dos meios, dentre outros. A Carta
também estabelece que não haverá qualquer distinção quanto aos membros, no que
disser respeito aos direitos e deveres perante a organização. Os membros originários são
os que assinaram a Carta, estando presente na Conferência de São Francisco ou não
(Polônia) – artigo 3º. Os estados adquiridos são os que entraram depois (artigo 4º).
Existem requisitos para a admissão de novos membros, sobre os quais existem dois
pareceres da CIJ: o primeiro afirmando que requisitos estabelecidos na Carta são de fato
exaustivos e o segundo confirmando que a recomendação do Conselho de Segurança
deve ser favorável para que a Assembléia Geral possa votar. Essas duas consultas
tratavam da admissão da China comunista. A Carta previa seis órgãos, descritos e
fundamentais: Conselho de Segurança, Assembléia Geral, Conselho Econômico e
Social, CIJ (antiga Corte Permanente de Justiça Internacional), Conselho de Tutela e
Secretariado. Haia é, hoje, a cidade do Judiciário Internacional. Com a invasão da
Holanda na 2ª Guerra Mundial, a CPJI ficou paralisada e, com a criação da ONU,
discutiu-se se ela deveria ser ressuscitada ou se deveria ser criada uma nova corte.
Tendo se decidido pela última opção, foi criada a CIJ.
No Conselho de Segurança; os membros permanentes foram escolhidos dessa
forma porque foi considerado que eles foram os que mais esforços fizeram para
terminar a guerra. O Conselho de Segurança é permanente, diferentemente da
Assembléia Geral. Quanto à votação, a decisão sobre se uma questão é importante é
considerada importante, o que significa que o veto é válido. Se ela for assim
considerada, o veto permanecerá para decidir sobre sua matéria mesma. Se ela não for
considerada importante, se for processual, o seu conteúdo será decidido sem a
possibilidade de veto. Se uma questão for submetida à CIJ e sua decisão não for seguida
de boa-fé, o Conselho de Segurança é o responsável por realizar a execução forçada.

4
Isso na viola a soberania dos Estados, pois eles concordaram em fazer parte da ONU e
em submeter sua controvérsia à CIJ (facultativo). Além disso, o Conselho de Segurança
possui funções e atribuições exclusivas. Possui, ainda, algumas funções em conjunto
com a Assembléia Geral. A eleição para a CIJ se dá de forma separada nos dois órgãos e
entra quem obtiver o maior número de votos (?). ambos podem solicitar parecer
consultivo à CIJ.
A Assembléia Geral é um órgão temporário, que se inaugura na primeira terça-
feira de setembro todo ano. Cada Estado possui um voto. Na decisão quanto a se a
questão é importante ou processual, decide-se por maioria simples, em contraposição à
decisão com aprovação de dois terços em questão importante. Essa é a grande diferença
na forma de votação com relação ao Conselho de Segurança, além do veto, é claro. A
Assembléia Geral funciona a base de comissões. Ela possui algumas funções
específicas, como eleger os membros do Conselho de Segurança e definir o orçamento.
As mudanças pelas quais passou a Carta da ONU são superficiais. Uma delas foi
relativa ao numero de membros do CES. Outra, à Comissão de Direitos Humanos, que
era subordinada ao CES e, com seu fim e a criação do Conselho de Direitos Humanos,
passou a ser submetido diretamente à Assembléia Geral. A Carta chamou para o
Secretário a função política de apontar questões que podem vir a ameaçar a paz e
segurança internacionais. O secretariado possui uma importante função de fornecer o
caráter independente da organização com relação aos seus membros – funcionalismo
próprio. Além disso, duas funções do Secretário da ONU são a de depositário dos
tratados concluídos no âmbito da organização e de registro dos tratados outros.

You might also like