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Jurisprudência/STJ - Decisões Monocráticas

Processo
REsp 1507841

Relator(a)
Ministro MOURA RIBEIRO

Data da Publicação
DJe 19/05/2015

Decisão
RECURSO ESPECIAL Nº 1.507.841 - RS (2014/0334420-9)
RELATOR : MINISTRO MOURA RIBEIRO
RECORRENTE : MAIKON RICARDO SILVEIRA DA COSTA
ADVOGADO : JOSÉ HERMÍLIO RIBEIRO SERPA JÚNIOR E OUTRO(S)
RECORRIDO : SERASA S/A
ADVOGADO : ODAIR MINARI JUNIOR E OUTRO(S)
PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. RECURSO ESPECIAL. CADASTRO DE PROTEÇÃO AO
CRÉDITO. INSCRIÇÃO. NOTIFICAÇÃO PRÉVIA AO CONSUMIDOR. SÚMULA Nº 359
DO STJ. DESCUMPRIMENTO DO ART. 43, § 2º, DO CDC. CANCELAMENTO.
NOTÓRIA DIVERGÊNCIA INTERPRETATIVA. MITIGAÇÃO DAS EXIGÊNCIAS DE
NATUREZA FORMAL PARA O COTEJO ANALÍTICO. RECURSO PROVIDO.
DECISÃO
Trata-se de recurso especial interposto por MAIKON RICARDO SILVEIRA
DA COSTA, com fundamento no art. 105, III, c, da Constituição
Federal, contra acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Rio
Grande do Sul assim ementado:
APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. INCLUSÃO EM
CADASTROS DE INADIMPLENTES. AUSÊNCIA DE NOTIFICAÇÃO PRÉVIA.
CANCELAMENTO. DESCABIMENTO.
A notificação prévia do devedor sobre sua inscrição negativa é dever
da instituição de proteção ao crédito, conforme determina o art. 43,
§2º, do CDC. No entanto, a ausência da comunicação constitui mera
irregularidade e não acarreta a anulação dos registros, quando não
impugnados os débitos que lhe deram origem.
DERAM PROVIMENTO À APELAÇÃO. UNÂNIME (e-STJ, fl. 73).
Nas razões do apelo raro (e-STJ, fls. 81/87), o recorrente aponta
divergência jurisprudencial em relação ao art. 43, § 2º, da Lei nº
8.078/90, sustentando, em síntese, que a legislação consumerista é
expressa em exigir a notificação prévia do consumidor para todo e
qualquer cadastro.
Pleiteia, então, seja restabelecida a sentença que determinou o
cancelamento das inscrições tidas por ilegais.
As contrarrazões foram apresentadas (e-STJ, fls. 112/122).
O recurso foi admitido na origem (e-STJ, fls. 124/129).
É o relatório.
Decido.
Cuida-se de ação de cancelamento de registro proposta pelo
recorrente contra a aqui recorrida que visa ao cancelamento da
inscrição de seu nome no órgão de restrição ao crédito, em virtude
da ausência de comunicação prévia, em descumprimento ao art. 43, §

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2º, do Código de Defesa do Consumidor.
O Juízo de piso julgou procedente o pedido para determinar o
cancelamento das inscrição em nome da parte autora proveniente do
Cadastro de Cheques sem Fundos do Banco Central, em razão da
ausência de comunicação prévia.
O Tribunal de origem deu provimento à apelação interposta pela
SERASA, aqui recorrida, por entender que a falta de notificação
prévia, por si só, não enseja o cancelamento das inscrições nos
órgãos restritivos, constituindo mera irregularidade.
De início, cumpre destacar que a matéria foi devidamente
prequestionada e que há divergência notória entre o acórdão
recorrido e julgados desta Corte.
Aliás, a Súmula nº 359 do STJ, publicada aos 8/9/2008, estabelece
que cabe ao órgão mantenedor do Cadastro de Proteção ao Crédito a
notificação do devedor antes de proceder à inscrição.
A Segunda Seção desta Corte, em procedimento regulado pela Lei dos
recursos repetitivos, no julgamento do REsp nº 1.061.134/RS, de
relatoria da Min. NANCY ANDRIGHI, pacificou o entendimento no
sentido de ser ilegal e ensejar sempre o cancelamento a inscrição do
nome do devedor nos cadastros de proteção ao crédito efetivado sem a
devida e prévia notificação exigida pelo art. 43, § 2º, do Código de
Defesa do Consumidor.
Nesse sentido, citam-se os seguintes e recentes julgados:
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. INSCRIÇÃO
EM CADASTRO DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO SEM PRÉVIA NOTIFICAÇÃO.
LEGITIMIDADE PASSIVA DO ÓRGÃO MANTENEDOR DO CADASTRO RESTRITIVO.
CANCELAMENTO DOS LANÇAMENTOS. ART. 43, § 2º, DO CDC. DECISÃO
MANTIDA.
1. A Segunda Seção desta Corte, no julgamento do REsp n.
1.061.134/RS, Relatora Ministra NANCY ANDRIGHI, em 10/12/2008, DJe
1º/4/2009, pacificou entendimento nos sentido de ser "ilegal e
sempre deve ser cancelada a inscrição do nome do devedor em
cadastros de proteção ao crédito realizada sem a prévia notificação
exigida pelo art. 43, § 2º, do CDC."
2. Ao julgarem improcedente o pedido de cancelamento das inscrições
realizadas em desacordo com a regra do art. 43, § 2º, do CDC, os
Juízos ordinários divergiram da jurisprudência do Superior Tribunal
de Justiça.
3. Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgRg no REsp nº 1.143.134/RS, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS
FERREIRA, Quarta Turma, DJe 5/11/2014)
CONSUMIDOR E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE
CANCELAMENTO DE REGISTRO, CUMULADA COM COMPENSAÇÃO POR DANOS MORAIS.
INSCRIÇÃO EM CADASTRO DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO SEM PRÉVIA NOTIFICAÇÃO.
ILEGALIDADE. EXISTÊNCIA DE REGISTROS ANTERIORES. DANO MORAL.
AUSÊNCIA.
- A inscrição do nome do devedor em cadastros de proteção ao
crédito sem prévia notificação é ilegal e deve ser cancelada.
Precedente.
- A inscrição do nome do consumidor em cadastros de proteção ao
crédito, sem prévia comunicação, acarreta dano moral, salvo quando

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preexista inscrição desabonadora regularmente realizada. Precedente.
- Agravo não provido.
(AgRg no Resp nº 1.176.480/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,
Terceira Turma, DJe 10/8/2012)
Em casos como esse, o Superior Tribunal de Justiça tem mitigado as
exigências de natureza formal, tais como o cotejo analítico,
indicação de repositório oficial e individualização do dispositivo
legal, como se pode observar no seguinte precedente:
TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO
FISCAL. EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. PRESCRIÇÃO. DISSÍDIO
JURISPRUDENCIAL. NOTÓRIA DIVERGÊNCIA. ANÁLISE DA SITUAÇÃO FÁTICA.
IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 07/STJ.
1. 'O STJ, em hipótese de notória divergência interpretativa,
costuma mitigar as exigências de natureza formal, tais como cotejo
analítico, indicação de repositório oficial e individualização de
dispositivo legal' (EARESP 423.514/RS, 2ª Turma, Min. Eliana Calmon,
DJ de 06.10.2003).
Omissis.
4. Recurso especial não conhecido.
(REsp nº 929.559/RJ, rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, Primeira
Turma, DJ de 21/6/2007)
Assim, de rigor a reforma do acórdão recorrido para que se cancele a
inscrição do nome do autor-recorrente no cadastro de proteção ao
crédito, objeto da presente demanda, até que haja a comunicação
formal ao devedor.
Nessas condições, DOU PROVIMENTO ao Recurso Especial para
restabelecer a sentença.
Publique-se.
Intimem-se.
Brasília, 15 de maio de 2015.
MINISTRO MOURA RIBEIRO
Relator

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