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Aprendendo
História:
ENSINO &
MEDIEVO
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APRENDENDO HISTÓRIA:
ENSINO &
MEDIEVO
PRODUÇÃO:
LAPHIS – Laboratório de Aprendizagem Histórica da UNESPAR
Leitorado Antiguo – UPE
Projeto Orientalismo
Aprendendo EDIÇÃO:
História: Edições Especiais Sobre Ontens
ENSINO &
MEDIEVO
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FICHA BIBLIOGRÁFICA
BIRRO, Renan Marques; BUENO, André; ESTACHESKI, Dulceli; NETO, José
Maria de Sousa. Aprendendo História: Ensino & Medievo. União da Vitória:
Edições Especiais Sobre Ontens, 2019.
ISBN: 978-85-65996-68-6
Disponível em www.revistasobreontes.site
SUMÁRIO
CONVIDAD@S
LITERATURA E HISTÓRIA COMO SABERES COMPLEMENTARES SOBRE O MEDIEVO –
INTRODUÇÃO A UMA DISCUSSÃO
Álvaro Alfredo Bragança Júnior, 6
Aprendendo
A IDADE MÉDIA ENCANTADA DOS ARAUTOS DO EVANGELHO ANALISADA ATRAVÉS História:
DO MEDIEVALISM ENSINO &
Clinio de Oliveira Amaral e João Guilherme Lisbôa Rangel, 11 MEDIEVO
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O MEDIEVALISMO NO BRASIL E O SEU POTENCIAL PEDAGÓGICO
Douglas Mota Xavier de Lima, 19
AUTOR@S
DISCUTIR GÊNERO NO CONTEÚDO DE HISTÓRIA MEDIEVAL: ALGUMAS
POSSIBILIDADES DE REFLEXÃO A PARTIR DO JOGO “HAGIOGRAFANDO”
Danielle Mendes da Costa e Mariane Godoy da Costa Leal Ferreira, 47
DAD@S
História:
ENSINO &
MEDIEVO
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LITERATURA E HISTÓRIA COMO SABERES COMPLEMENTARES SOBRE
O MEDIEVO – INTRODUÇÃO A UMA DISCUSSÃO
Álvaro Alfredo Bragança Júnior
O texto, com seu repositório cultural, configura-se como discurso sobre uma
dada realidade. Aqui, pois, cabem algumas sucintas palavras acerca do que
podemos sumarizar como discurso. Também falando sobre a origem
etimológica, discurso, cujo termo é oriundo do latim discursus, particípio
passado de discurrere, “correr ao redor”, possui o significado metafórico de
“lidar com um assunto através de vários pontos de vista”, o que conflui para
a zona de imbricação dialógica por nós mencionada anteriormente.
Quando nos ocupamos com a questão de como teria sido possível, que
tenha se formado no círculo dos bellatores uma consciência literária e de
classe, precisamos, como germanistas, de sólidos pontos de apoio na
historiografia em língua alemã sobre a Baixa Idade Média germanófona. As
fontes literárias e em especial os epos podem e devem ser considerados,
também em sua essência, como testemunhos importantes de uma época
em mudança. Se, no entanto, se trata de um jogo ou de um ideal
pedagógico desejado, conforme as opiniões de Bumke (1999), Althoff
(1997) e Wenzel (1974), dentre outros, tal indagação ficará pendente para
futuras elucubrações.
Referências
Álvaro Alfredo Bragança Júnior é Professor Associado da UFRJ e coordena o
NIELIM (Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre as Literaturas da Idade
Média)
Aprendendo
Introdução História:
O período compreendido entre o século V e o século XV, chamado idade ENSINO &
média, foi e continua sendo, desde o século XIV, apropriado/reelaborado de MEDIEVO
diferentes formas. O retorno ao medievo, ocorrido no último quarto do Página | 11
século XX, segundo Paul Zumthor, deve-se, apesar da alteridade, ao fato de
que este período seja apreendido como a base da sociedade
contemporânea. Sustenta-se que, para além desse argumento, trata-se de
uma “base” em um contínuo processo de reinvenção, sobretudo, a partir do
século XXI. Assim, a perspectiva por meio da qual este ensaio foi redigido
compreende o relato hagiográfico de são Raimundo de Peñafort – publicado
no site institucional dos Arautos do Evangelho(https://www.arautos.org/) –
como “medieval”. Esta instituição, deliberadamente, utiliza-se do medievo
com o propósito de autolegitimar e autossacralizar a sua ação
evangelizadora.
Por volta de 1220, são Raimundo foi convocado para ser confessor do então
papa Gregório IX. Nesta parte do relato, é apresentada a importância,
exercida por este santo, junto à promoção do direito canônico, através de
sua atuação na redação das “Decretais de Gregório IX”. Ora, esta ênfase
não é obra do acaso, pois, em sua formação, João Clá, era um doutor em
direito canônico. Conforme o texto destaca, estas são importantes para o
direito canônico até os dias de hoje. Ou seja, há o estabelecimento direto
de uma continuidade entre o legado do santo medieval e o presente
representado pela trajetória e pela atuação intelectual dos Arautos, através
do direito canônico, visto como um patrimônio da Igreja, estabelecido no
medievo, a vida de são Raimundo une-se à de João Clá.
“Por inspiração, aos setenta anos, Raimundo voltou ao ensino. Fundou dois
seminários onde o ensino era dado em hebraico e árabe, para atrair judeus
e mouros ao Cristianismo. Em pouco tempo, dez mil árabes tinham recebido
o batismo. Foi confessor do rei Jaime de Aragão, ao qual repreendeu pela
vida mundana desregrada. Também o alertou sobre o perigo que o reino
corria com os albigenses, facção da seita dos cátaros, que estavam
pregando uma doutrina contrária e desta maneira conseguiu que fossem
expulsos. Era um escritor valoroso, a sua obra, ‘Suma de Casos’, continua
sendo usada pelos confessores”.
(http://www.arautos.org/secoes/servicos/santodia/sao-raimundo-de- Aprendendo
penafort-139968). História:
ENSINO &
Aqui, elementos como: ensino, evangelização, combate aos “heréticos”, MEDIEVO
apresentados somente pelo nome, conversão de árabes e judeus, bem Página | 15
como embate com o poder temporal são retomados, finalmente, o rei Jaime
é repreendido por são Raimundo. O artigo 2 também apresenta tais
elementos, contudo, no que se refere à relação entre o rei Jaime e são
Raimundo, mais detalhes são apresentados. Menciona-se que Jaime era
senhor da ilha de Maiorca, localizada a 360km de Barcelona. Este convida
Raimundo para uma viagem até a ilha, todavia, durante a viagem, o
“procedimento moral” do rei deixava a desejar e, por isso, Raimundo o
repreendia a ponto de exigir que se parasse o barco para que ele, pela fé,
pudesse descer e caminhar sob as águas tal como Pedro.
Este relato deixa claro a atuação de Deus em prol do poder sagrado quando
este é confrontado pelo rei, representante do poder temporal. A
consequência desta viagem milagrosa é o reconhecimento do rei da
autoridade de Raimundo e, portanto, da própria Igreja e dos que dela
participam. Nesta parte da narrativa, é importante pensar os papéis da
exemplaridade e da moral subjacente à historieta, ou seja, Deus, para
provar que o temporal deve se submeter ao espiritual, faz coisas
inacreditáveis. Portanto, todos, sem exceção, devem se submeter à
autoridade da Igreja, aqui, sutilmente, evoca-se o princípio da auctoritas
medieval.
Referências
Clinio de Oliveira Amaral é professor associado de história medieval da
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Brasil, pesquisador do Linhas
(Núcleos de estudos sobre narrativas e medievalismos, cf. https://linhas-
ufrrj.org/) e coordenador do LABEP (Laboratório de estudos dos
protestantismos).
Gentry, Francis G. and Müller, Ulrich (1991) ‘The reception of the Middle
Ages in Germany: an overview’. Studies in Medievalism. III/4. p. 401.
Disponível em: <http://medievallyspeaking.blogspot.com/2010/04/what-is-
medievalism.html>. Acesso em 24 de julho de 2018.
Zumthor, Paul (1980). Parler du moyen âge. Paris: Les Éditions de Minuit.
Sites :
http://www.arautos.org/secoes/artigos/especiais/sao-raimundo-de-
penafort-um-homem-para-todas-as-missoes-143534
http://www.arautos.org/secoes/servicos/santodia/sao-raimundo-de-
penafort-139968
http://www.joaocladias.org.br/curriculum.asp
https://www.arautos.org/
O MEDIEVALISMO NO BRASIL E O SEU POTENCIAL PEDAGÓGICO
Douglas Mota Xavier de Lima
“Por três dias o Jardim Botânico [Brasília/DF] vai se transformar num tipo
de túnel do tempo que levará o público a um universo de cavaleiros, Aprendendo
armaduras, espadas e dragões. Entre os dias 17/6 e 19/6, o Festival História:
Medieval Brasil 2016 leva ao local uma reconstituição histórica, com ENSINO &
cenários temáticos e uma programação de apresentações artísticas, MEDIEVO
esportivas e gastronômicas que remetem à Idade Média” (Metrópoles, Página | 19
2016)
“as feiras, os festivais e outros eventos com temática medieval, que desde
fins do século XX proliferam-se em praticamente todo o mundo ocidental e
conseguem reunir milhares de pessoas. Atraídos pelo som do alaúde e
animados pelas brincadeiras de saltimbancos, malabaristas, fantoches e
bobos da corte, muitos ainda hoje se embriagam de hidromel, fartam-se de
carne de javali, assistem e/ou participam de jogos de feitos de armas entre
outras encenações históricas” (Porto Júnior, 2018b, p.236).
Em linhas gerais, pode-se afirmar que o recriacinismo histórico (historical
reenactment ou living history) constitui uma prática educativa lúdica – e
crescentemente relacionada com o turismo cultural (Campos, 2011) – que
tem como objetivo recriar ou representar elementos de um determinado
Aprendendo período ou evento. Esse processo de recriação visa transmitir veracidade,
História: autenticidade e, para isso, funda-se em pesquisas históricas, arqueológicas
ENSINO & e, mais recentemente, em investigações de iconografia e antropologia visual
MEDIEVO (Porto Júnior, 2018b).
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A prática remete, ao menos, às décadas de 1960 e 1970, tendo se iniciado
na Inglaterra a partir de uma campanha publicitária e de ações da
Roundhead Association e da King’s Army no intuito de recriar eventos
históricos através da atuação de personagens vestidas com trajes da época
(Coelho, 2009). Tal como ocorre com o Medievalismo/Medievalism, muitos
são os termos utilizados para referenciar o movimento recriacionista em
português. Em Portugal, por exemplo, utilizam-se as expressões
revivalismo, reconstituição e, em especial, História ao Vivo. No Brasil,
crescem os grupos e as experiências desse âmbito, caracterizando-se como
atividades de recriacionismo histórico. Feita essa breve apresentação,
passa-se a considerações sobre o potencial pedagógico do medievalismo.
Referências
Douglas Mota Xavier de Lima é professor Adjunto da Universidade Federal
do Oeste do Pará, Doutor em História (2016), Mestre em História (2012),
Bacharel e Licenciado (2009) em História pela Universidade Federal
Fluminense.
ECO, U. The returno f the middle ages. In: Travel in Hyper Reality. New
York: Harvest, 1986.
Sites
Cena Medieval. http://www.cenamedieval.com.br
Como esse exemplo deixa claro, mesmo entre os autores medievais e suas
audiências havia espaço para interpretações e incertezas quanto ao uso de
determinados termos e conceitos nos textos, de modo que o mesmo deve
ser considerado em relação às traduções possíveis para as línguas
modernas. Assim, a comparação dos trechos traduzidos com os originais,
especialmente no caso do emprego de edições já publicadas é fundamental
para que o investigador possa reconhecer e – possivelmente indicar – as
diversas possibilidades interpretativas do texto da fonte, e que não
necessariamente constituem a opção ou preocupação central do tradutor de
determinada edição.
Aprendendo
Somado a essa questão de caráter interpretativo, é preciso que se tenha História:
sempre em mente o fato das línguas dificilmente se corresponderem ENSINO &
plenamente em suas terminologias, conceitos, e mesmo nas suas estruturas MEDIEVO
gramaticais, sejam morfológicas ou sintáticas. Consequentemente, uma Página | 29
tradução quase nunca permitirá ao leitor reconhecer questões vinculadas
diretamente às escolhas do autor medieval, e que possuem direta
interferência sobre os modos possíveis de interpretação de um determinado
trecho no texto latino. Note-se, por exemplo, que os originais medievais
raramente traziam qualquer marca de pontuação, e a simples inserção de
uma separação entre orações pode alterar o sentido de toda uma
passagem, graças às características da gramática latina. “Em tais
circunstâncias, é essencial discutir pelo menos as respectivas passagens
relevantes no texto original – apesar das dificuldades de linguagem
associadas com isso para os estudantes de hoje; somente o exercício
consistente pode ajudar nesse caso.” (GOETZ, 2014, p. 251). Finalmente,
para além dos problemas já apontados é preciso considerar que “cada
língua (inclusive a sua própria): (a) possui seu próprio estilo, (b) é
histórica, ou seja, está atrelada a cada época e, (c) é um meio de
comunicação, que serve à compreensão, mas –especialmente na forma
escrita – permanece sempre ambígua e pode, portanto, dar origem a
compreensões equivocadas. Essas ambiguidades devem ser consideradas
durante a avaliação das fontes” (GOETZ, 2014).
Alguns exemplos:
Para ilustrar a questão discutida até o momento nesse curto ensaio eu
proponho observar algumas traduções da obra de Adam de Bremen, para o
português, o alemão e o inglês, e compará-las com o texto latino da edição
de B. Schmeidler. Não posso, contudo, deixar de mencionar que a própria
edição de Schmeidler, ainda que seja hoje adotada como o standard para o
trabalho acadêmico com a obra de Adam, já sofreu uma série de críticas, a
mais ampla da parte de Anne Kristensen (1975). Além dessas, proponho
também um olhar sobre uma tradução de um diploma, publicado na coleção
‘História da Idade Média: textos e testemunhas’ de Maria Guadalupe
Pedrero-Sánchez.
Tschan, por outro lado, mantém o termo “pirata”, não somente por conta
de sua pureza semântico-etimológica, mas também, possivelmente, por
conta justamente de sua carga negativa relativa ao termo, em uma época –
o pós-guerra – em que a crueldade e vilania germânicas estavam mais que
vivas na memória do mundo ocidental. O estudante, ou pesquisador, que se
baseia nessas traduções para o desenvolvimento de suas próprias pesquisas
está, então, refém de questões que ultrapassam uma simples variação
linguística ou uma preferência estética do tradutor. Ademais, o pesquisador
perde, com as traduções, o acesso aos possíveis sentidos dados pelo
próprio autor do texto medieval em sua obra.
Referências:
Prof. Dr. Lukas Gabriel Grzybowski, doutor pela Universität Hamburg,
Professor Adjunto do Departamento de História, Área de História Antiga e
Medieval da Universidade Estadual de Londrina.
Creio que uma das saídas seria disputar o mesmo espaço dos games para
tentar relativizar o senso comum dos discentes e fazê-los circular na hiper-
realidade (G1, 2018), na cibercultura e no “mundo real”, possibilitando um
melhor discernimento da realidade. Para consolidar essa via, faz-se
necessário adentrar a esfera da criação de jogos, campo que pouco a pouco
tem adentrado o seio universitário, mas usualmente como cursos de nível
superior separados e pouco relacionados com as licenciaturas, por exemplo.
Reflexões teóricas
Considerando o campo dos estudos medievais como ponto de partida,
Richard Utz constatou em uma conferência recente que os medievalistas
frequentemente agem de maneira esnobe diante do medievalismo pop
(LABBIE, 2015, pp.21-29), ou seja, face às representações da Idade Média
na cultura contemporânea, de massa e popular. Doutra feita, é interessante
notar como esta última influência é atrativa para muitos jovens, enquanto o
medievalismo tradicional, seja no ensino, na pesquisa ou na extensão, tem
pouco alcance e até dificuldade para o preenchimento de postos
universitários, de oportunidades de mestrado e doutorado e de atratividade
diante de outros recortes (UTZ, 2015). Aprendendo
História:
Ao avançar na análise, Utz sinalizou um duro aspecto dessa ambiguidade: ENSINO &
“muitos daqueles que nós marcamos como ‘amadores’ ou ‘diletantes’ MEDIEVO
(termos etimologicamente indicando ‘amor’ e ‘deleite’) investem tanto ou Página | 39
mais tempo, energia e dinheiro em engajar-se com a Idade Média do que
alguns de nós, i.e., professores” (UTZ, 2015).
Conclusões e provocações
Um leitor atento notou o tom ácido das críticas aqui apontadas. Apesar
disso, meu objetivo não foi sinalizar as limitações do colega A ou B, uma
vez que são vícios do ofício reproduzidos coletivamente e de maneira quase
inconsciente; ademais, pretendo alertar para um cenário relativamente
estático em nosso país, considerando os últimos quinze anos ao menos, que
tem sido enfrentado duramente noutras plagas (METZGER & PAXTON,
2016; KAPELL & ELLIOTT, 2013; MINUZZI, 2013; AKKERMAN, ADMIRAAL &
HUIZENGA, 2009). Por conta disso, minha crítica envolve também um grau
considerável de autocrítica.
Por fim, para tentar suprir a falta de expertise dos professores quanto ao
uso de games, tal como potencializar seu uso, acredito que a Análise de
Redes de Jogos (Game Network Analysis ou GaNA) pode funcionar como um
ponto de partida não apenas para a reflexão sobre a estrutura do jogo, mas
simultaneamente para ampliar a competência do professor no aprendizado
baseado em games. Essa metodologia também retira da plataforma digital a
exclusividade do aprendizado, pois advoga que o papel dos docentes é
fundamental para a efetividade do game no aprendizado e motivação, na
dinâmica em sala e, por fim, no processo e contexto de integração dos
jogos (FOSTER, 2015, pp.380-411).
Referências
Renan Marques Birro é Professor de História Medieval da Universidade
Federal do Amapá e Doutor em História Social pela Universidade de São
Paulo
AKKERMAN, Sanne; ADMIRAAL, Wilfried; HUIZENGA, Jantina. Storification
in History education: A mobile game in and about medieval Amsterdam,
Computers & Education 52 (2), pp.449-459, 2009.
LABBIE, Erin Felicia. Pop Medievalism. In: FUGELSO, Karl; FERRÉ, Vincent;
METZGER, S.A.; PAXTON, R.J. Gaming History: A Framework for What Video
Games Teach About the Past, Theory & Research in Social Education 44 (4),
pp.532-564, 2016.
MINUZZI, João Davi Oliveira. Olim Bellis: um jogo didático para o Ensino de
História Antiga e Medieval, Revista Latino-Americana de História 6 (2),
pp.741-751, 2013.
Segundo Adriana María Valobra (2001) uma das principais causas para as
investigações acadêmicas não serem incorporadas nas discussões escolares,
é a insistência do hábito tradicional em tratar esta questão. Por isso, na
maioria das vezes,
A construção do “Hagiografando”
Ao examinar a função dos jogos no Ensino de História e as potencialidades
do seu uso, Nilton M. Pereira e Marcello P. Giacomoni (2013) evidenciaram
que no ato de jogar os educandos estão mais próximos da origem dos
conceitos, na medida em que estes ganham um aspecto menos abstrato, ao
dar forma aos modos de vida. Deste modo, o jogo se constitui como um
espaço privilegiado, no qual
Considerações finais
Desenvolvido após reflexões e discussões teóricas, historiográficas,
pedagógicas e metodológicas, acreditamos que o jogo educativo
“Hagiografando”, por meio do reconhecimento das relações de poder e
gênero nos relatos das vidas dos santos e das santas, abrange diversas
possibilidades didáticas. A principal delas é permitir que os(as)
professores(as) possam debater e propor uma reflexão crítica acerca dos
modelos sociais construídos sobre a diferença sexual, mas outras discussões
podem ser fomentadas. Tal perspectiva decorre da constatação de que, esta
prática pedagógica articula dois aspectos importantes relacionados ao Aprendendo
Ensino de História e a contemporaneidade. Em primeiro lugar, o História:
reconhecimento do papel das mulheres como sujeitos históricos. Em ENSINO &
segundo, a compreensão de que as concepções e as representações são MEDIEVO
atravessadas por relações de poder, expressas em diferentes instituições, Página | 53
símbolos, práticas sociais, etc.
Referências:
Danielle Mendes da Costa é Especialista em Ensino de História (PROPGEC-
Colégio Pedro II) e mestranda em História Comparada (UFRJ).
Nosso sir acha por bem assinalar que os cinocéfalos “caso façam alguém
prisioneiro na batalha, comem-no” (MANDEVILLE, 2007, p. 180). O ato da
antropofagia é relatado outras vezes em sua obra, e conforme Susani
França, este destaque não tem a finalidade de mantê-los excluídos, mas
antes procura convencer os leitores da cristandade de sua superioridade
moral (LEMOS FRANÇA, 2009, p. 174). Isso acontece constantemente com
outros “costumes bestiais”, como o de não comer pão ou ingerir carne crua,
não vestir roupas, não viver em casas, não possuir o dom da oralidade ou
apenas grunhir, etc.
Como se não bastasse essas questões, Klaas Woortmann traz n’O selvagem
e o Novo Mundo: ameríndios, humanismo e escatologia que o entendimento
dos negros africanos enquanto descendentes amaldiçoados de Cam
(estando na cor da pele esta referência) alargou-se aos recém descobertos
autóctones americanos (WOORTMANN, 2004, p. 60). De igual maneira, a
escatologia do século XVI viu no ameríndio, mesmo que por ignorância, um
agente de Satã tanto quanto um judeu ou muçulmano (também
considerados Outros no medievo, como é possível calcular). No entanto, a
demonologia e espírito da gesta dei foi mais intensa entre os espanhóis do
que nos empreendimentos lusos, afinal, o contexto coincidia com a luta
contra os sarracenos – daí a prática de construir catedrais sobre as ruínas
de templos indígenas, tal como na mesquita de Córdoba. A “Reconquista”
da Europa e “Conquista” da América são duas faces da mesma moeda
(WOORTMANN, 2004, p. 99-100).
Considerações finais
Ainda no século XXI vivemos banhados por racismo e xenofobia, haja vista
que apenas neste século tivemos a conquista de leis que tornam obrigatório
o ensino positivo da cultura indígena, africana e afrobrasileira. Quando o
assunto é cotas, então, assistimos a uma tormenta. Longe de entrar no
mérito da escravidão ao longo do Brasil Colonial e Império, bem como da
não inserção social dos povos oprimidos ao longo desse tempo, pergunto:
qual o papel da História nestes temas? Obviamente que uma resposta
minimamente esclarecida seria: central. Destarte, só podemos entender
aquilo que gerou tais – infelizes – demandas dentro de um processo muito
mais profundo que o pós-1500 proposto por muitos estudiosos brasileiros,
nomeadamente aqueles que escreveram a primeira versão da BNCC.
Referências
Eduardo Leite Lisboa, licenciado em História pela Universidade Estadual de
Ponta Grossa. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/5428506342272992.
E-mail: eduardolisboa.his@gmail.com.
Aprendendo
Este texto pretende abordar o uso do cinema como meio de acessar o História:
passado, sobretudo de civilizações que se situam historicamente distantes ENSINO &
do aluno, como é o caso das sociedades medievais. Como aporte teórico, MEDIEVO
recorreu-se aos estudos de Vianna (2017), Le Goff (1989), Ferro (1992), Página | 63
Foucault (2009) e Martin (2001). Assim, propõe-se neste estudo uma
reflexão na qual o cinema é tomado como recurso didático auxiliar no
processo de aprendizagem histórica sobre o Medievo, permitindo ao aluno
visualizar de maneira lúdica e com mais elementos os conteúdos estudados,
alinhando, portanto, sua realidade a sociedades e dilemas pretéritos por
meio de um recurso tecnológico muito presente no cotidiano dos jovens e
pedagogicamente indispensável no contexto educativo atual.
Introdução
Um dos grandes desafios da prática docente de história é despertar o
interesse dos alunos sobre civilizações e povos que se situam histórica e
geograficamente distantes do presente, ou seja, da realidade a qual o
aluno, sobretudo no Brasil, está submerso. Não raras vezes o professor da
educação básica se depara com situações que o cerceiam em seu ofício
diário quando se tem por objetivo trabalhar a história antiga ou a medieval
em sala de aula, seja pelos limitados recursos pedagógicos pelo qual
dispõe, seja pelo número reduzido de materiais produzidos acerca dessa
temática, ou, ainda, em razão do distanciamento existente entre os
estudantes brasileiros e as sociedades antigas e medievais, uma vez que a
história do Brasil e da América assume características específicas, tendo
iniciado cronologicamente no século XVI (na vertente política tradicional),
quando já se havia sacramentado a transição da Medievalidade para a
Modernidade na Europa.
A partir dessa ótica, este artigo tem como objetivo geral evidenciar a
importância do cinema como recurso auxiliar no processo de ensino-
aprendizagem da História Medieval, na medida em que conduz os discentes
a visualizarem os conteúdos curriculares de maneira lúdica e com maior
concretude. Para tanto, busca-se delinear, em um primeiro momento, sobre
o uso do cinema como meio de acessar esse passado – tão distante do
aluno, mas enobrecedor tanto do ponto de vista pedagógico, quanto do
prisma historiográfico. Na sequência do texto, pretende-se abordar o ensino
de história medieval, suas vicissitudes e práticas, os caminhos a serem
Aprendendo seguidos e as formas de trabalhar com essa temática em sala de aula de
História: modo a conduzir o aluno a um cenário de reflexão e a estabelecer contato
ENSINO & com o mundo feudal. Como aporte teórico, recorreu-se aos estudos de
MEDIEVO Vianna (2017), Le Goff (1989), Ferro (1992), Foucault (2009) e Martin
Página | 64 (2001).
“estudar História Medieval é tão legítimo quanto optar por qualquer outro
período. Mas não se deve, é claro, desprezar pedagogicamente a relação
existente entre a realidade estudada e a realidade do estudante. Neste
sentido, pode ser estimulante mostrar que, mesmo no Brasil, a Idade
Média, de certa forma, continua viva” (FRANCO JÚNIOR, 2011 apud
VIANNA, 2017, p. 24).
Referências
Fábio Alexandre da Silva é licenciado em história e mestrando em educação
pela Unioeste/Cascavel (2018-2019). Atua como docente desde 2014, tendo
ministrado aula nas disciplinas de História, Ensino Religioso, Sociologia,
Economia e Gestão.
Graziele Rodrigues é mestre em Literatura Comparada pela Universidade
Federal da Integração Latino-Americana (UNILA). Especialista em
Geopolítica e Relações Internacionais pela Rede de Educação Claretiano.
Graduada em Comunicação Social – Jornalismo pela União Educacional de
Cascavel (Univel-2015) e Comunicação Social – Publicidade e Propaganda
pelo Centro de Ensino Superior de Maringá (Unicesumar-2010).
VOEGELIN, E. História das ideias políticas – volume II: Idade Média até
Tomás de Aquino. Tradução de Mendo Castro Henriques. São Paulo, SP: É
Realizações, 2012.
Aprendendo
As imagens no período medieval História:
Este trabalho tem como objetivo apresentar, de forma introdutória, algumas ENSINO &
formas e aparências que o Diabo recebeu ao longo dos séculos medievais MEDIEVO
através da análise de duas representações visuais deste personagem. Nosso Página | 75
objetivo é compreender a relação entre a evolução física deste personagem
e o discurso religioso relacionado ao mesmo, analisando o afresco intitulado
“O bom pastor entre dois anjos” (século VI, Basílica de Santo Apolinário
Novo, Ravenna, Itália) e também a iluminura intitulada “Teófilo e o Diabo”
(c. 1195, Musée Conde, Ms. 9, fol. 35v-36r, Chantilly, França). Como base
metodológica, utilizaremos as propostas de Jean-Claude Schmitt e Jérôme
Baschet para a aproximação a uma história das imagens no Medievo. Como
justificativa, destacamos que as diversas formas pelas quais o Diabo foi
representado durante o Medievo refere-se a uma relação intrínseca entre a
arte e a sociedade, através das quais a Igreja se utilizou da imagem deste
personagem modificando-a de acordo com o contexto no qual estava
inserida.
Questões metodológicas
Na Alemanha, no final do século XIX, a história da arte surgiu como uma
disciplina científica, contexto no qual Heinrich Wolfflin e Alois Riegl, ou seja,
seus criadores, definiram os objetivos e métodos que seriam aplicados a
mesma. Porém, “a necessidade de fundar a disciplina sobre bases científicas
também conduziu os historiadores da arte a se fecharem em limites às
vezes demasiados estreitos” (Schmitt, 2002, p. 591).
Além disso, segundo Schmitt: “(...) as imagens não devem ser ‘adoradas’
como o são os ídolos pelos pagãos, mas também não devem ser destruídas.
Elas têm de fato uma tripla função: lembram a história sagrada; suscitam o
arrependimento dos pecadores; enfim, instruem os iletrados que, ao
contrário dos clérigos, não têm acesso direto à Bíblia.” (Schmitt, 2002, p.
591-605).
O Diabo, até o século XI, era pouco retratado nas formas visuais. Estava
quase sem presença nas representações visuais. Por exemplo, Muchembled
destaca que o Diabo se mostrou discreto até o ano mil. Havia um interesse
por parte de teólogos e moralistas, mas, mesmo assim, as representações
visuais não o representaram de forma constante, com seria séculos depois.
Ademais, Muchembled interpretou esta característica como uma “ausência
de uma grande obsessão demoníaca” naquela sociedade (Muchembled,
2001, p. 19). Deve-se relembrar que a produção cultural no Ocidente
medieval era um apanágio dos monastérios, e, dessa forma, a figura do
Diabo foi utilizada “profundamente como advertências” (Russel, 2003, p.
87).
Aprendendo
História:
ENSINO &
MEDIEVO
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Imagem 1
O bom pastor entre dois anjos
Século VI, Basílica de Santo Apolinário Novo, Ravenna, Itália
Sabemos que até o ano 1000 não havia uma representação visual específica
do Diabo e a Igreja tinha a necessidade de utilizar a sua imagem para
controlar socialmente a população para que permanecessem fiéis e com
temor, usando então o medo do inferno como meio de causar esses
sentimentos para que não se desviassem da sua fé. De acordo com Russel:
“A cultura medieval no Ocidente estava isolada e dominada pelos
monastérios, então, os padres do deserto utilizaram a diabologia
profundamente como advertências, as quais foram incorporadas, mostrando
como lidar com o mal em um mundo áspero e inseguro.” (Russel, 2003, p.
87). Neste sentido, a representação do Diabo encontrada no afresco “O bom
pastor entre dois anjos” do século VI, está imergida em uma cultura bíblica,
a qual era a principal referência do cristianismo naquele contexto,
principalmente para as elaborações culturais visuais.
Imagem 2
Teófilo e o Diabo
(c. 1195), Musée Conde, Ms. 9, fol. 35v, Chantilly, França
Aprendendo
História:
ENSINO &
MEDIEVO
Página | 81
Imagem 3
Teófilo e o Diabo
(c. 1195), Musée Conde, Ms. 9, fol. 35vr, Chantilly, França
Conclusão
Ao longo dos séculos do Medievo, o Diabo apresentou diversas formas e
aparências. Nos primeiros séculos do Cristianismo, a imagem do Diabo foi Aprendendo
pouco debatida e representada nas artes, chegando a ser representado História:
como um anjo. Durante o contexto do ano 1000, o Diabo se modificou e ENSINO &
recebeu formas e cores diversas, ganhando perspectivas animalescas. Mais MEDIEVO
adiante, no século XII, sua imagem voltou a se modificar, inserindo-se na Página | 83
sociedade através de sua representação como senhor feudal. No final do
Medievo, surgiu o fenômeno da demonologia no Ocidente medieval e então
este personagem foi associado à perspectiva herética (Muchembled, 2001;
Boureau, 2016). Neste sentido, podemos observar que a representação da
figura deste personagem obedece a parâmetros de historicidade, e cada
representação somente pode ser compreendida desde que analisada a partir
do seu contexto de composição.
Referências
Juliana Gomes Rodrigues é graduanda em Licenciatura Plena em História na
Universidade de Pernambuco – UPE (Campus Petrolina). Orientador: Prof.
Dr. Luciano José Vianna (UPE – Campus Petrolina). É integrante do Spatio
Serti – Grupo de Estudos e Pesquisa em Medievalística da UPE/Petrolina.
Fontes textuais
SÃO GREGÓRIO MAGNO. Epistolae. Epistola ad Serenus, XI, 13. (Patrologia
Latina 77, col. 1128-1130).
Bibliografia
BASCHET, Jérôme. Diabo. In: Dicionário Temático do Ocidente Medieval.
Vol. 1. São Paulo: Imprensa Oficial de São Paulo, 2002, p. 591-605.
Todavia segundo José D’Assunção Barros (2009, p.174) sobre o que tange o
século XII e XIV conhecidos como a baixa Idade Média a arte inova-se,
demonstrando representações destoantes, a predominância do estilo se
altera, passando a ser desenvolvida a então arte gótica, um estilo marcado
por nascer em um contexto de transformações diante da religiosidade,
economia e política. Entre estas mudanças destaca-se o crescimento da
sociedade feudal, com o ressurgimento do comércio à distância e dos
centros urbanos, decorrentes das cruzadas de meados do século XII, a está
nova conjuntura socioeconômica associava-se o clero que vinha tendo
progresso em novas ordens religiosas, graças aos investimentos feitos por
eles nas construções das novas catedrais e na influência que estes vinham
adquirindo diante ao vilarejo ou região, isto muito se explica pela
consequente volta de um centralismo monárquico, que estava por ocorrer
mesmo que paulatinamente.
Catedrais
Interligadas com a religião e consequentemente a fé, as catedrais exerciam
a responsabilidade de educar, revigorar o domínio do clero sobre os fiéis e
disseminar emoção e esperança em torno da salvação. Sandra Sirangelo
Maggio (2015, p.202) diz que estas igrejas desenvolviam um sentimento
coletivo e cívico a qualquer indivíduo que a frequentasse, a magnitude em
tamanho, verticalidade, e a intensa iluminação no interior destes espaços,
faziam as pessoas se sentirem mais próximas de Deus e ao mesmo tempo
sentirem que havia um ser superior a eles, concebiam um sentimento de
obediência ou até mesmo de temor ao considerado como divino, que
impunha a todos respeito, medo e paixão sentimentos que se misturavam
entre todos.
O autor Ricardo Ferreira Nunes (2012, p.69) ainda fala sobre como a arte
desenvolvia através desta arquitetura e decoração simbólica, o
desencadeamento a rivalidades entre as cidades, todas ambicionavam
terem grandes catedrais, largas e altas com intuito de mostrar a riqueza da
cidade culminando em certo prestigio a elas, além de servir como uma
forma de impulsionar a economia local, já que as feiras se tornavam
amplamente frequentadas por viajantes que viam ver a catedrais.
A Arquitetura na Arte Gótica
José D’Assunção Barros (2009, p.14) levanta a questão sobre como a
arquitetura ligava-se com a burguesia iniciada nas cidades, criando novos
parâmetros sociais, o fortalecimento e influência das articulações
Aprendendo monárquicas para as nações hodiernas, tendo por consideração as ações
História: que as catedrais impunham com as assinaturas ocorridas em seus interiores
ENSINO & que delimitavam a região de onde eram construídas. As marcas regionais
MEDIEVO eram fundamentais no intuito de popularizar as regiões, demonstrando a
Página | 88 partir dela os trabalhos humanos daqueles que habitavam ao seu redor,
elas mantinham sempre bem características a arte gótica com sua altura
que apontava para o alto como forma de estar mais perto de Deus.
Fig. 1
Fachada atual da Basílica de Saint-Denis. Ilustração esquemática de uma
catedral gótica. (Archives Larrouse/Lauros Giraudon, apud: PROENÇA,
Graça. História da arte. 17. ed. São Paulo: Ática, 2010. p. 73).
De acordo com a figura 1 a primeira das catedrais construídas em estilo
gótico puro foi a de Saint-Denis, em Paris, no século XII, onde segundo
Maria Antonia Benutti (2011, p.6) apresenta o estilo vertical supracitado, e
a precisão nos traços. Na ilustração abaixo que mostra o lado oeste do
prédio, podemos destacar três portões, uma “rosácea” e um campanário no
lado sul, nesta rosácea que se localiza ao meio exibe um espaço de acesso Aprendendo
a luminosidade, que transportava o maior sentimento de um lugar sagrado. História:
A janela designa uma forma circular peculiaridade da arte românica, ENSINO &
entretanto Saint-Denis foi em primo, a construção que recebeu está forma MEDIEVO
geométrica no território francês, é importante destacar que mais tarde o Página | 91
estilo gótico aderiu fortemente estas formas a suas igrejas principalmente
no norte da França, manifestando a ideia em suas fachadas.
Considerações Finais
Perfazendo o estudo, constatar-se a catedral, consoante ao que coloca
Ricardo Ferreira Nunes (2012, p.68) como espaço social da vida do
medievo, constituindo ambiente de estada do poder do clero e do saber, os
centros urbanos se colocavam como centros culturais, com a edificação de
áreas e praças de reuniões, que de certa forma mantinham a mentalidade
da temporalidade no sagrado. Para os “prédios” sagrados a importância dos
vitrais fora essencial, sendo o nutriente necessário a construção do
imaginário social da população, e da linguagem obtida através deles.
Referências
Graduando do curso de História-Licenciatura da Universidade Estadual da
Aprendendo Região Toacantina do Maranhão (UEMASUL), Pesquisador e Subcoordenador
História: de mídias, web e pesquisa do Núcleo de Estudos Multidisciplinares de
ENSINO & história Antiga e Medieval-NEMHAM. E-mail leandroherodoto@gmail.com.
MEDIEVO
Página | 92 ARGAN, Giulio Carlo. História da Arte Moderna, São Paulo: Companhia das
Letras, 1999.
Aprendendo
A especificidade do século XVI nos territórios americanos História:
Em um importante artigo metodológico sobre o estudo do Medievo no ENSINO &
século XX, Raul César Gouveia Fernandes fez algumas afirmações sobre a MEDIEVO
relação entre os estudos medievais e a história e a cultura dos países Página | 93
americanos:
Neste sentido:
“Há, na longa duração, lugar para os períodos. O controle de um objeto
vital, intelectual e ao mesmo tempo carnal, como pode ser a história,
parece-me necessitar de uma combinação de continuidade e
descontinuidade. É isso que a longa duração, associada à periodização,
oferece. (...). A periodização é, assim, um campo maior de investigação e
Aprendendo de reflexão para os historiadores contemporâneos. Graças a ela se esclarece
História: a maneira pela qual a humanidade se organiza e evolui na duração, no
ENSINO & tempo.” (Le Goff, 2015, p. 132; 134).
MEDIEVO
Página | 94 A proposta de Jacques Le Goff se insere em uma observação de
continuidades e descontinuidades em um período histórico, considerando
uma análise que associa a longa duração e a periodização. Se
compreendermos o continente americano durante o século XVI a partir da
perspectiva da longa duração histórica europeia, considerando o mesmo
como um contexto no qual havia diversas continuidades com os séculos
anteriores, ou seja, com os séculos medievais, observaremos que as
crônicas do século XVI, as quais foram um produto cultural do homem
europeu, ainda apresentavam algumas características de forma (material) e
conteúdo (narrativa) com suas anteriores dos séculos XII-XV.
Este seria, portanto, um dos primeiros gêneros históricos que foi utilizado
para registrar o contato entre estes dois mundos; porém, com um conteúdo
que, embora fosse narrativo, estava voltado para a descrição de uma
experiência e de um contato entre dois mundos, e não para uma narração e
reflexão sobre o passado (como é típico das crônicas medievais). Desta
forma, a crônica do século XVI ainda mantinha um vínculo com a sua
anterior, a crônica medieval dos séculos XII-XV, tanto no aspecto forma
quanto no aspecto conteúdo; e como foi utilizada para registar a memória
dos acontecimentos que marcaram o início deste contato pode servir como
fonte através da qual se poderá problematizar este contato aproximando-se
ao pensamento dos seus autores.
Conclusão
Aprendendo A divisão das temporalidades como “barreiras didáticas” impede muitas das
História: vezes que se observe as interações entre as mesmas e, dessa forma, a
ENSINO & tendência é observar o desenvolvimento histórico sem nenhuma interação
MEDIEVO temporal. Por outro lado, quando desconsideramos tais barreiras e
Página | 98 observamos o comportamento social expressar-se através de
comportamentos e cargas culturais já existentes podemos ter uma noção
melhor desta interação.
Referências
Luciano José Vianna é Professor Adjunto de História Medieval da
Universidade de Pernambuco/campus Petrolina. Professor permanente do
Programa de Pós-Graduação em Formação de Professores e Práticas
Interdisciplinares (PPGFPPI) da Universidade de Pernambuco/campus
Petrolina. Doutor em Cultures en contacte a la Mediterrània pela Universitat
Autònoma de Barcelona (UAB). Membro do Institut d’Estudis Medievals
(UAB-IEM). Coordenador do Spatio Serti – Grupo de Estudos e Pesquisa em
Medievalística (UPE/campus Petrolina).
Fonte
LAS CASAS, B de. Brevísima relación de la destrucción de las Indias. Edición
y notas José Miguel Martínez Torrejón. Prólogo y cronología Gustavo Adolfo
Zuluaga Hoyos. Antioquia: Editorial Universidad de Antioquia, 2006.
Bibliografia
AURELL, J. La escritura de la memoria. De los positivismos a los
postmodernismos. València: Publicacions Universitat de València, 2005.
Aprendendo
História: No nosso dia a dia, o resgate de elementos medievais, ou que, pelo menos,
ENSINO & se apresentam como medievais são visíveis, principalmente, nas artes, isto
MEDIEVO é, literatura, cinema, artes plásticas e afins. Curiosamente, se pensarmos
Página | 100 nas produções dos séculos XX e XXI de literatura que trazem como gênero
a Fantasia – que tem como uma das características apresentar muitos
elementos que, no imaginário social, são associados à Idade Média –,
muitos de nós, lembrarão de nomes famosíssimos como John R. R. Tolkien,
Clive S. Lewis, Ursula K. Le Guin e Joanne K. Rowling. Mas se, após
retomarmos esses nomes, perguntarmos a nós mesmos: quais desses
nomes são os mais difundidos hoje? Sem sombra de dúvidas, Joanne K.
Rowling é uma unanimidade, e, em segundo lugar, John R. R. Tolkien, seria
colocado.
Apesar do imaginário social, muitas das vezes, ser colocado como agente
passivo diante das representações e apresentações do mundo, ao notarmos,
em nossa pesquisa especificamente, que o mesmo associa certos tipos de
personagens como sendo próprios de um medievo – ou existente, ou de
uma produção medieval – ele não se coloca apaticamente diante desse
movimento de adaptação e ressignificação que há na literatura. Pelo
contrário, age ativamente com tal movimento, auxiliando na construção de
certos arquétipos e de certas crenças.
Referências
Lunielle de Brito Santos Bueno é mestranda em História Social pela
Universidade Estadual de Londrina, graduanda de Licenciatura em Filosofia
pela mesma universidade, bolsista pelo Laboratório de Estudos dos
Domínios da Imagem – LEDI.
PARKER, I. Mugglemarch: J.K. Rowling writes a realist novel for adults, The
New Yorker, 2012.
Aprendendo
SIKES, W. British goblins: Welsh folk lore, fairy mythology, legends and História:
traditions. Library of Alexandria, 1880 e ROSE, C. Spirits, Fairies, ENSINO &
Leprechauns, and Goblins: An Encyclopedia. WW Norton & Company, 1998. MEDIEVO
Página | 107
SILVA, D. G. G. Sobre “cavaleiras”: a (re) criação do medievo em Cornelia
Funke, 2016, p.20.
SPERBER, Suzi Frankl. Ficção e razão: uma retomada das formas simples.
Aderaldo & Rothschild, 2009.
Como supracitado, o obreiro ideal aceita ter seu corpo controlado, pois,
grosso modo, as exigências feitas ali estão sob o princípio da autorictas
empregado pela IURD. Não cabe aqui sobre a aceitação ou não destas
normas, mas é interessante entender que, teoricamente, aceitar tais
padrões e pô-los em prática não é problemático por parte do obreiro. Esta é
a chance dos homens mostrarem o quão são fiéis e obedientes, vestindo a
blusa certa e cuidando de seus cabelos e barbas. Tudo isto é uma forma de
glorificar a Deus e, principalmente, diferenciar-se do pagão. É importante,
também, ressaltar que a sujeira é vista como algo diabólico, demoníaco.
Portanto, tais exigências devem ser feitas para que fique explícito a
separação do obreiro – representante da igreja e de Deus – e do homem
que está ali para ser resgatado do inferno. Segundo Macedo, “se Deus não
é visível na pessoa, então não houve batismo com o Espírito Santo”
(https://sites.universal.org/obreirosuniversal/manual/).
Mais uma vez, Macedo faz a oposição entre mulher cristã e pagã. Atribui a
sexualidade desenfreada e o erotismo a um espírito demoníaco. As
exigências feitas para as obreiras no Manual mostra-nos como a mulher
ideal – a obreira – deve combater e distanciar-se da mulher pagã através,
principalmente, das roupas e dos costumes.
COSTA, Juliana Prata da; VELOSO, Wendell dos Reis. O corpo como local de
forja das identidades episcopais em reinos sucessores da Primeira Idade
Média: as referências em textos hagiográficos visigodo e franco do século
VI. Roda da Fortuna, vol. 7, n. 1, pp. 244-264, 2018.
CONHECER PARA OPERAR: O SABER DOS MÉDICOS-CIRURGIÕES
MEDIEVAIS COM BASE NA OBRA DE HENRI DE MONDEVILLE
(FRANÇA, SÉC. XIII – XIV)
Mauricio Ribeiro Damaceno
Aprendendo
O presente trabalho tem por objetivo destacar as novas habilidades exigidas História:
aos cirurgiões do século XIII e XIV, sobretudo na França, com o advento do ENSINO &
ensino universitário, com base na análise da obra ‘A Cirurgia’ de Henri de MEDIEVO
Mondeville. Foi no final do século XII e durante o século XIII, no ocidente Página | 115
europeu, que se presenciou a organização de numerosas corporações de
professores e estudantes, inicialmente chamadas de Estudos Gerais e,
posteriormente, de Universidades (SOUSA, 1996, p. 207-215).
“[...] ser moderadamente ousado, não para discutir com os leigos, mas
para operar com prudência e sabedoria, e para não realizar uma operação
perigosa antes de ter previsto o que é necessário para evitar o perigo. Deve
ter membros bem treinados, especialmente as mãos, dedos longos e finos,
ser ágil, não tremer, ter todos os outros membros fortes e viris para
executar todas as boas operações da alma. Que ele seja complacente; Que
ele se entregue aos doentes, para não esquecer nada acidentalmente. Que
ele prometa curar a todos os seus pacientes; Que não esconda o caso e os
perigos, se houver, para os pais e amigos. Que se recuse, tanto quanto
pode, as curas difíceis. Que nunca se intrometa em casos sem esperança.
Dê conselhos aos pobres, por amor a Deus. [...] Que trabalhe, tanto quanto
possível para ganhar uma boa reputação. Que conforte o paciente com boas
palavras [...]” (MONDEVILLE, p. 91).
“[...] na membrana que cobre os ossos, existem veias que vêm do fígado.
Saindo do lado de dentro, elas saem do occipital, através do orifício no osso
basilar, para nutrir a carne externa da cabeça, [...]; penetram no crânio
pela comissura mediana e transportam o sangue nutritivo para o cérebro e
suas membranas [...]” (MONDEVILLE, p. 29).
“[...] Aplicar uma emplastro de farinha de cevada, água, mel e óleo comum,
Aprendendo moderadamente, fervido e colocado com um pedaço de pano sobre o
História: ferimento. Por cima, coloca-se um grande chumaço seco e espesso, feito de
ENSINO & estopa; Isso fará com que o curativo fique mais firme do que se nós não
MEDIEVO colocarmos nada [...] Devemos costurar os curativos, para eles não se
Página | 120 moverem ou cair, para o paciente não ver, enquanto o curativo
permanecer” (MONDEVILLE, p. 359).
Dante passou a escrever um ano após a morte de seu pai, fato esse
considerado importante, pois com a morte do pai, Dante assumiu a
liderança da família, que no período estava financeiramente frágil, e
necessitou do auxílio de famílias nobres mais abastadas para se manter, e a
utilização da poesia foi a maneira que Dante encontrou de se aproximar de
círculos de nobres e conseguir maior estima entre eles.
Os tratados são divididos da seguinte maneira. No primeiro o poeta faz uma Aprendendo
introdução geral da obra e comenta sobre as formas de se alcançar o História:
conhecimento; o segundo e o terceiro tratados são compostos por poemas ENSINO &
de Dante e das maneiras que os mesmos devem ser compreendidos, como MEDIEVO
uma busca pelo amor que leva a sabedoria; e o quarto tratado é reservado Página | 125
ao assunto da nobreza do homem e a maneira que a educação está
intrinsicamente ligada a isso.
Dante novamente nesse ponto mostra que o papel a quem o mesmo delega
a educação é um pouco mais complexo do que somente a ideia que um
nobre defendendo os interesses da nobreza. O mesmo se coloca não como
um nobre, mas sim alguém que esteve entre nobres e assim adquiriu o
conhecimento, e que agora transmite essa educação aos menos favorecidos
que ele. Se por um lado o poeta condiz com o determinismo religioso
medieval que cada classe social tem papeis e funções especificas, por outro,
ele partilha das ideias propagadas pelos novos nobres, universitários e os
novos pensadores citadinos, de que o conhecimento devia ser transmitido
para além dos nobres e não ensinado somente pela igreja. Essas colocações
são relacionadas a vida de Dante novamente. Expulso de Florença por ser
contrário ao domínio absoluto da Igreja nos assuntos da comuna, a
educação faz parte dos pontos que Dante buscou retirar da exclusividade
eclesiástica.
“Este meu idioma popular foi o vínculo de meus pais que com ele se
expressavam...é evidente que ele concorreu para minha educação e assim é
alguma coisa do meu ser. Além disso, foi este meu idioma popular que me
introduziu no caminho da ciência, que é a mais alta perfeição, porquanto
com ele penetrei no latim e com este me familiarizei, latim que foi depois
meu caminho para avançar mais ainda. ” [Convívio Tratado I, XIII]
Reflexões finais
Com o “Convívio”, Dante buscou criar uma reflexão de que como a
educação formal devia se tornar menos seleta, por meio da escrita em
florentino e do ensino não exclusivo de clérigos, pensamentos tipicamente
intelectuais urbanos de seu tempo. Ao mesmo tempo ele restringe e
legitima o controle sobre a educação aos nobres e seus filiados. Em suma, o
que Dante propôs com seu tratado foi um desenvolvimento mais amplo do
ensino, e não só um controle dos nobres sobre o ensino, mas também uma
obrigatoriedade moral dos mesmos transmitirem os conhecimentos que
foram divinamente privilegiados a obter. Esse projeto de Dante é expandido
e alcançado na Divina Comédia.
Referências
Ronny Costa Pereira é graduado em Licenciatura em História na
Universidade Estadual de Feira de Santana.