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REVISTA DE ANTROPOLOGIA, SÃO PAULO, USP, 2003, V . 46 N º 1.
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REVISTA DE ANTROPOLOGIA, SÃO PAULO, USP, 2003, V . 46 Nº 1.
dedicada ao deus Hubal. O santuário era cercado por 360 ídolos que
podem ter sido totens das diferentes tribos que lá iam prestar-lhes culto,
afirma Armstrong.
Vale lembrar que o profeta será o defensor da Caaba como um lugar
sagrado e do culto ao Deus único e contra adorações e culto às imagens;
este já é o primeiro indício de que a tarefa de propagação da religião não
será uma coisa fácil para o profeta, pois naquela época era comum a
adoração a vários deuses e deusas. Em volta da Pedra Negra faziam-se
todos os anos durante cinco dias o hajj 2 que consistia em dar sete voltas
em torno da Caaba. O prestígio da Caaba trazia vários mercadores, o
comércio já era forte em Meca, que era rota privilegiada. A autora, por-
tanto, irá contestar o fato de alguns apontarem o Islã como a religião do
deserto, pois esta versão é incorreta uma vez que os primeiros a receber
a mensagem foram os árabes de Meca, em meio a uma atmosfera de
capitalismo selvagem e altas finanças (p. 81).
Pouco se sabe da vida do profeta, apenas que ficou órfão e foi criado
por seu tio Abud Talib. Muhammad, ao contrário de Jesus, não operou
nenhum milagre, ele dizia que a revelação do Corão era em si um mila-
gre e atualmente os muçulmanos apontam a divulgação do Islã como o
segundo. Armstrong nos lembra de que Jesus havia alertado que viria
um outro profeta que os lembraria de tudo o que ele lhes ensinava e os
ajudaria a entender seus ensinamentos: “Paráclito” traduzido para
munahhema que soava “Muhammad”. Outros liam periklytos, em árabe
Ahmad, que significava o mesmo que Muhammad – ou louvado.
Da infância do profeta, o que chama atenção é que era comum na-
quela época as mães da cidade entregarem seus bebês recém-nascidos
para serem criados no deserto, por um tempo, por outra família. Essa
era a forma encontrada para deixá-los mais fortes, pois considerava-se
que a vida longe da cidade era mais apropriada. Como o pai do profeta
já havia falecido e sua mãe era pobre, ninguém se interessava por seu
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Pereçam as duas mãos de Abu Lahab, e que ele também pereça! De nada
lhe valerão suas riquezas, e tudo quanto amontoar. Será queimado num
fogo flamejante com sua mulher, a carregadora de lenha, que terá no pes-
coço uma corda de esparto (p. 149).
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Notas
Referências Bibliográficas
ARMSTRONG, K.
2001a Em nome de Deus – o fundamentalismo no Judaísmo, no Cristianismo e no
Islamismo, São Paulo, Companhia da Letras.
2001b O Islã, Rio de Janeiro, Objetiva.
FERREIRA, F.
2001 Imagem oculta – reflexões sobre a relação entre os muçulmanos e a imagem fotográ-
fica, São Paulo, dissertação, USP.
2002 “A linguagem fotográfica no Islã”, Travessia – Revista do migrante, publicação
do CEM, ano XV, n. 42: 22-28, jan.-abr.
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