zesse seu dia de retiro, para se examinar sobre as virtudes de que se tem mais falta)
1. Desejar crescer sempre mais e mais no amor a
Jesus Cristo. Os santos desejos são asas com que as almas voam para Deus. É por isso que é preciso meditar muito na paixão do Salvador; fazer muitos atos de amor a Jesus Cristo durante o dia, começan- do de manhã, desde o despertar, e procurar dormir, fazendo um ato de amor; pedir sem cessar a Jesus Cristo seu santo amor. 2. Aproximar-se da santa Mesa com a maior fre- qüência permitida pelo diretor, e fazer cada dia mui- tas comunhões espirituais, ao menos três. 3. Visitar o Santíssimo Sacramento ao menos uma vez por dia, e nestas visitas, depois dos atos de fé, de agradecimento, de caridade, e de contrição, pedir-lhe com fervor a perseverança e o santo amor; e quando sobrevierem inquietações, perdas, afrontas, ou outras coisas molestas, recorrer ao Santíssimo Sacramento ao menos do lugar em que se achar. 454 4. Cada manha, ao levantar, oferecer-se a Deus com a resolução de sofrer em paz todas as contrarie- dades que ocorrerem; e quando elas vierem, dizer sempre: Senhor! faça-se a vossa vontade! 5. Regozijar-se da infinita felicidade de Deus: quem ama a Deus mais do que a si mesmo, deve es- tar sempre mais contente da felicidade de Deus do que da própria. 6. Desejar o paraíso, e desejar por isso a morte, para ficar livre do perigo de perder a Deus; e para ir amá-lo no céu com todas as forças e durante toda a eternidade. 7. Desejar e fazer de modo que todos amem a Jesus Cristo; e por isso falar aos outros muitas vezes do seu amor. 8. Trabalhar para Deus sem reserva, nunca lhe recusando o que se julgar ser-lhe agradável: escolher mesmo o que mais lhe aprouver. 9. Orar todos os dias pelas almas do purgatório e pelos pobres pecadores. 10. Fazer todos os seus atos só com o fim de a- gradar a Deus, dizendo no começo de cada um: Se- nhor, seja por vós tudo! 11. Oferecer-se a Jesus Cristo, muitas vezes por dia, com disposição de sofrer toda a espécie de tra- balho por seu amor, dizendo: Meu Jesus, eu me dou inteiramente a vós; eis-me aqui, fazei de mim o que vos aprouver. 12. Resolver-se a antes morrer do que cometer um pecado deliberado, mesmo venial. 13. Recusar suas próprias satisfações, mesmo permitidas; fazê-lo ao menos duas ou três vezes por 455 dia. Quando ouvir falar de riquezas, honras, diverti- mentos mundanos, pensar que tudo acaba, e dizer então: Meu Deus, eu não quero senão a vós, e nada mais. 14. Fazer cada dia duas horas de oração mental, ou ao menos uma hora. 15. Amar a solidão e o silêncio para estar com Deus só e entreter-se com ele; e por isso, é mister amar o coro e a cela, e fugir a grade, a portaria e o jardim. 16. Praticar todas as mortificações exteriores que a obediência permitir, mas aplicar-se sobretudo as mortificações interiores, tais como reprimir a curiosi- dade, não responder às injúrias, e nada fazer jamais para sua própria satisfação. 17. Cumprir todos os exercícios de piedade, co- mo se os fizesse à última vez; e para este fim, pensar muitas vezes na morte na meditação, e quando se deitar, se lembrar que um dia deverá morrer. 18. Nunca deixar de fazer as devoções ordiná- rias, ou outra obra boa, pelo respeito humano, aridez ou enfado. 19. Não se lamentar, nas doenças, do pouco cui- dado dos médicos ou das irmãs, e ocultar suas dores quando for possível. 20. Expulsar a tristeza, e conservar, nas adversi- dades, o espírito tranqüilo, e a fronte serena, sempre a mesma. Quando se quer o que Deus quer, nunca se deve ficar aflito. 21. Nas tentações, recorrer logo com confiança a Jesus e Maria, e não cessar de repetir os nomes de Jesus e de Maria, enquanto durar a tentação. 456 22. Pôr toda a sua confiança primeiramente na paixão de Jesus Cristo, e depois na intercessão de Maria, e pedir todos os dias a Deus esta confiança. 23. Depois de uma falta, nunca se perturbar nem desanimar, ainda que se recaísse muitas vezes na mesma falta; mas arrepender-se logo e tomar de no- vo a resolução de se corrigir, confiando em Deus. 24. Pagar o mal com o bem, ao menos orando ao Senhor pelas pessoas de quem se tenha de lamen- tar. 25. Responder com doçura, quando se é maltra- tado por ações ou palavras, e ganhar assim o seu próximo. No entanto, quando se sente comovido, é bom calar-se até que se tenha o espírito calmo. De outra sorte, se cometeriam mil faltas, quase sem se perceber. 26. Para as correções a fazer, ter cuidado de es- colher o tempo, em que não se tenham perturbações, nem em si nem na pessoa que se há de repreender; sem o que a correção seria mais nociva do que útil. 27. Dizer bem de todos; a escusar a intenção, quando não se possa desculpar a ação. 28. Socorrer o próximo, quando se puder, e so- bretudo os adversários. 29. Não fazer, nem dizer coisa alguma que possa causar pena aos outros, a menos que não seja para mais agradar a Deus; e se acontecer que se falte a caridade para com o próximo, pedir-lhe perdão, ou ao menos falar-lhe com doçura. 30. Falar sempre com voz branda e moderada. 31. Oferecer a Deus os desprezos que sofrer, e não se queixar disso aos outros. 457 32. Observar pontualmente as regras do conven- to. — S. Francisco de Sales dizia que a mais austera penitência do religioso é renunciar a sua própria von- tade, consentir que a observância das regras seja o sacerdote que, a cada instante, ofereça esse sacrifí- cio a Deus. Repetia freqüentemente que a predesti- nação do religioso está ligada ao amor das suas pró- prias regras; e dizia aos superiores regulares que, para bem exercer o seu cargo, eles não tinham mais do que observar as suas regras e fazê-las observar pelos outros. 33. Considerar os superiores como a própria pessoa de Jesus Cristo; e, em conseqüência, obede- cer-lhes pontualmente e sem réplica. 34. Quanto a humildade, amar os empregos mais baixos; escolher para si os objetos mais pobres; aba- ter-se mesmo diante de suas inferioras; não falar de si mesma nem bem nem mal, porque dizer mal de si mesma, às vezes, só serve para fomentar o orgulho; não se escusar quando for repreendida, ou mesmo caluniada, a não ser que seja absolutamente neces- sário para afastar escândalo. 35. Visitar e socorrer quanto for possível as en- fermas, sobretudo as que são mais desamparadas. 36. Dizer freqüentemente a si mesma: Eu entrei no convento, não para viver em delícias, mas para sofrer; não para ser rica, mas para ser pobre; não pa- ra ser honrado, mas para ser desprezada; não para fazer minha vontade, mas para fazer as das outras. 37. Renovar sempre a resolução de se santificar e não desanimar, em qualquer estado de tibieza, em que se ache. 458 38. Renovar cada dia os votos de sua profissão. 39. Conformar-se com a vontade divina em tudo o que é contrário aos sentidos, como dores, doenças, afrontas, contradições, perda de bens, morte de pa- rentes ou de outras pessoas amigas; e por isso, fazer nesta intenção todas as suas obras, comunhões, me- ditações, orações, pedindo a Deus a graça de amar e cumprir sua vontade. 40. Recomendar-se às orações das pessoas pie- dosas, mas ainda mais aos Santos do paraíso e so- bretudo à Maria Santíssima; estimar muito a devoção a esta divina Mãe, e não deixar passar nenhuma o- casião de a inspirar aos outros.
APÊNDICE II.
Máximas espirituais que toda a religiosa deve ler.
De que serve ganhar o mundo inteiro, se perder a
sua alma? Tudo acaba; a eternidade não acaba nunca. Mais vale perder tudo, do que perder a Deus. Um pecado por leve que seja, nunca é um mal leve. Quem quer agradar a Deus, deve renunciar a si mesmo. Tudo o que se faz para sua própria satisfação, é absolutamente perdido. Para se salvar, é mister estar sempre com receio de se perder. Morrer e agradar a Deus!