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Maio 4, 2019
1. É-nos dada hoje a graça de ouvir a riquíssima página do Evangelho de João 21,1-19. A
oposição luz – trevas atravessa de lés a lés o inteiro texto do IV Evangelho. A Luz verdadeira
que vem a este mundo para iluminar todos os homens é Jesus (João 1,9). Sem esta Luz que
é Jesus, andamos às escuras, na noite, na dor, no fracasso, na incompreensão. É assim,
narrativamente – e, portanto, exemplarmente, para nós, leitores –, com Nicodemos, que
anda de noite (João 3,2), com Judas, o homem da noite que tudo faz anoitecer à sua volta
(João 13,30; 18,3), com os sete discípulos da cena de hoje que trabalharam toda a noite,
sem sucesso (João 21,3).
4. E é sobre o amor o diálogo que se segue entre Jesus e Pedro: «Pedro, amas-me (verbo
agapáô) mais…?», pergunta Jesus por três vezes. E por três vezes Pedro responde que sim,
que é seu amigo (verbo philéô) ouvindo de Jesus, também por três vezes a nova missão de
«Pastor» que lhe é confiada: «Apascenta as minhas ovelhas» (João 21,15-17). O verbo com
que Jesus interroga Pedro acerca do amor é, nas duas primeiras vezes, agapáô, amor puro e
gratuito, sem fronteiras, que não cabe em nenhum grupo de amigos. Mas o verbo com que
Pedro responde a Jesus é philéô, que qualifica a amizade que é apanágio de um grupo de
amigos. Na sua admirável condescendência, quando pergunta pela terceira vez, Jesus desce
ao nível de Pedro, usando o verbo philéô, para que Pedro acerte com a resposta. Sim, Jesus
desce ao nível de Pedro, não para ficar aí, no patamar de Pedro, mas para elevar Pedro a um
novo patamar de amor. Entenda-se bem que as ovelhas nunca deixam de ser pertença de
Jesus Ressuscitado. E a afirmação por três vezes do amor de Pedro a Jesus recompõe a
intimidade rompida por Pedro com aquelas três negações um pouco antes narradas (João
18,17-27). Note-se ainda que o último colóquio havido entre Pedro e Jesus tinha tido lugar,
significativamente, na hora da separação (João 13,36-38), em que Pedro jura dar a vida por
Jesus, se necessário for, e Jesus responde a Pedro que sim, que o há de seguir mais tarde,
mas que, entretanto, ainda o irá negar por três vezes. Na verdade, o dizer de Jesus para
Pedro : «Seguir-me-ás mais tarde» (João 13,36) cumpre-se agora em João 21,18, quando
Jesus se refere à juventude de Pedro, em que ele andava por onde queria, contrapondo-a à
sua velhice, em que outro o conduzirá para onde ele não quer. O narrador informa o leitor de
que Jesus disse o que disse para indicar com que espécie de morte Pedro daria glória a
Deus. E Jesus acrescentou logo: «Segue-me!», deixando Pedro no seu próprio caminho, que
conduz à Cruz (João 21,19 e 22).
5. Senhor, ensina a tua Igreja de hoje outra vez a ver e a ler os Sinais da Tua presença na
madrugada e na praia, novo limiar de luz e de esperança que orienta a nossa vida toda para
Ti, referência fundamental do amor e da comunhão que deve unir como uma rede a Tua
Igreja. Precede-nos e preside-nos sempre. Não nos deixes perdidos no nevoeiro e na
confusão, na noite e no frio, a orientar-nos por outro farol, a aquecer-nos a outro lume. Faz
que reconheçamos sempre a Tua voz de Único Verdadeiro Pastor, e ampara os pastores que
incumbiste de apascentar as tuas ovelhas.
6. A lição do Livro dos Atos dos Apóstolos (5,27-32.40-41) mostra-nos os Apóstolos como
testemunhas do Ressuscitado. Cheios do Espírito Santo, intrépidos, sem medo, e com alegria
grande, enchem Jerusalém com o nome de Jesus. Extraordinária provocação para nós, que
temos tanta cidade e tantos corações à nossa espera.
7. Jesus é a testemunha fiel (Apocalipse 1,5), porque diz o que ouviu dizer ao Pai (João
7,16-17; 8,26.38.40; 14,24; 17,8) e faz o que viu fazer ao Pai (João 5,19; 17,4). Por isso,
todas as criaturas o aclamam, como refere a lição de hoje do Livro do Apocalipse (5,11-14).
8. O Salmo 30 é uma bela e sentida Ação de Graças a um Deus que liberta o orante da
tristeza, da doença, do luto e da morte, e o faz exultar de alegria, saúde, vida, dança e
música de festa. O Deus aqui louvado é um Deus que muda as nossas situações difíceis e,
por vezes, aparentemente sem saída, em amplas avenidas floridas. É por isso que, como diz
o próprio título «Cântico para a Dedicação do Templo», este Salmo anda ligado à Festa da
Hanûkkah ou da Dedicação do Templo, quando Judas Macabeu entrou no Templo de
Jerusalém em 164 a.C. e o fez purificar depois de um período de ocupação pelos selêucidas.
9. Passa também neste Domingo III da Páscoa o Dia da Mãe. Sobre esta terra dorida,
anestesiada e indiferente, uma Mãe verdadeira ainda é o ícone mais belo deste amor imenso
e sem pauta nem medida, que não é meu, nem é teu, nem é nosso. É de Deus. Nós sabemos
isso. Mas uma Mãe sabe isso melhor. É por isso que é fácil, neste Dia da Mãe, ver cair pelo
rosto de cada Mãe uma lágrima de tristeza ou de alegria! Melhor assim, Mulher e Mãe:
sentirás a mão carinhosa de Deus a afagar o teu rosto e a enxugar essa lágrima, de acordo
com a lição da Leitura do Livro do Apocalipse 21,4.
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De tal modo que afirma estar disposto a dar a sua vida por Jesus.
E, de facto, bem vistas as coisas, parece que Pedro não conhecia bem Jesus.
Pedro estava disposto a dar a vida por Jesus, pois era seu amigo,
E pensava que também Jesus podia dar a sua vida por ele, pois era seu amigo.
Que, afinal, habitava Jesus um amor novo, sem medida e sem fronteiras,
E o mataram.
Na verdade, Pedro continua a ler a sua vida e o seu relacionamento com Jesus,
Quando o entender,
E o mataram.
Sim, Jesus é aquele que dá a sua vida por amor, para sempre e para todos,
Ensina-nos, Senhor,