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Princípios gerais do
tratamento medicamentoso Qualquer grupo de medicamentos, com exceção dos vasodila-
tadores de ação direta (D), pode ser apropriado para o controle da
Depois de decidido o tratamento medicamentoso, devem ser pressão arterial em monoterapia inicial, especialmente para pa-
observados os critérios relacionados na tabela 1. cientes com hipertensão arterial em estágio I (leve) que não res-
ponderam às medidas não-medicamentosas (tabela 3). Entretan-
Escolha do medicamento to, a monoterapia inicial é eficaz em apenas 40% a 50% dos casos.
Para pacientes em estágio II e III, pode-se considerar o uso de
anti-hipertensivo
associações de fármacos anti-hipertensivos como terapia inicial.
Os anti-hipertensivos em uso em nosso meio podem ser dividi- Sua escolha deverá ser pautada nos princípios gerais descritos na
dos em seis grupos – tabela 2. tabela 4.
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• em prevenção primária26 (B) e secundária11 (A) de acidente • inibidores adrenérgicos centrais e diuréticos,
vascular cerebral. • inibidores da enzima conversora da angiotensina e diuréticos,
O ajuste deve ser feito buscando-se a menor dose eficaz, ou • antagonistas da angiotensina II e diuréticos,
até que surjam efeitos adversos. Se o objetivo terapêutico não • bloqueadores dos canais de cálcio e betabloqueadores,
for conseguido com a monoterapia inicial, são possíveis três
condutas: • bloqueadores dos canais de cálcio e inibidores da enzima
conversora da angiotensina (A)19.
• se o resultado for parcial ou nulo, mas sem reação adver-
sa, recomenda-se aumentar a dose do medicamento es- As associações assinaladas também estão disponíveis no merca-
colhido para a monoterapia inicial ou a associação com anti- do em doses fixas. Seu emprego, desde que criterioso, pode ser útil
hipertensivo de outro grupo terapêutico; por simplificar o esquema posológico, reduzindo o número de compri-
midos administrados, estimular assim a adesão ao tratamento.
• quando não se obtiver efeito terapêutico na dose máxima Na hipertensão resistente à dupla terapia, pode-se prescrever
preconizada, ou se surgirem eventos adversos, recomen- três ou mais medicamentos. Nessa situação, o uso de diuréticos é
da-se a substituição do fármaco utilizado como monotera- fundamental. Em casos ainda mais resistentes, a adição de mino-
pia; ou xidil ao esquema terapêutico tem-se mostrado útil.
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É importante conhecer as principais interações de anti-hi- Na hipertensão acelerada e hipertensão perioperatória, por
pertensivos e medicamentos de uso contínuo que podem ser exemplo, os aumentos da pressão arterial, por mais elevados que
prescritos para o paciente hipertenso. Entretanto, a preocupa- sejam, não estão associados a quadros clínicos agudos, como
ção com o conhecimento da interação de medicamentos é rela- obnubilação, vômitos, dispnéia etc., e, portanto, não apresentam
tivamente recente. Assim, para os anti-hipertensivos lançados risco imediato à vida ou de dano imediato a órgãos-alvo. O controle
mais recentemente essa possibilidade tem sido avaliada de for- da pressão arterial deve ser feito em até 24 horas, com monitoriza-
ma sistemática, o que nem sempre ocorre com os medicamen- ção inicial por 30 minutos. Caso permaneçam os mesmos níveis,
tos mais antigos. A tabela 5 apresenta, de forma sintética, as preconiza-se a administração, por via oral, de um dos seguintes
principais interações medicamentosas dos anti-hipertensivos medicamentos:
disponíveis no mercado brasileiro.
• diurético de alça,
Complicações hipertensivas agudas • betabloqueador,
Níveis tensionais elevados acompanhados de sintomas carac- • inibidor da enzima conversora da angiotensina,
terizam uma complicação hipertensiva aguda e requerem adequa-
da avaliação clínica, incluindo exame físico detalhado e fundoscopia • clonidina,
de olho.
• bloqueador dos canais de cálcio.
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Resposta inadequada
Adicionar outros anti-hipertensivos
Embora a administração sublingual de nifedipina de ação É importante observar que, em algumas dessas condições, as
rápida tenha sido amplamente utilizada para esse fim, foram cifras pressóricas não estão muito elevadas nem aumentaram de
descritos efeitos adversos graves com esse uso. A dificuldade forma repentina. Nesses casos, há risco iminente à vida ou de le-
de controlar o ritmo e o grau de redução da pressão arterial são orgânica irreversível. O paciente deve ser hospitalizado e tra-
(quando intensa, tal redução pode ocasionar acidentes vascu- tado com vasodilatadores, por via intravenosa:
lares), o risco de importante estimulação simpática secundária
e a existência de alternativas eficazes e mais bem toleradas • nitroprussiato de sódio,
tornam o uso da nifedipina de curta duração de ação não reco-
mendável nessa indicação (C). • hidralazina,
São situações clínicas que demandam redução mais rápida • nitroglicerina (C).
das cifras pressóricas, em período inferior a uma hora, como
ocorre, por exemplo, na crise hipertensiva propriamente dita. Depois de obtida a redução imediata dos níveis pressóricos,
Essa entidade resulta de uma elevação abrupta da pressão ar- deve-se iniciar a terapia anti-hipertensiva de manutenção e inter-
terial com quebra da autoregulação do fluxo cerebral e evidên- romper a medicação parenteral.
cias de lesão vascular que resulta em quadro clínico de A hidralazina é contra-indicada nos casos de síndromes isquê-
encefalopatia hipertensiva, lesões hemorrágicas dos vasos da micas miocárdicas agudas e de dissecção aguda de aorta, por in-
retina e papiledema. Habitualmente, esse quadro evolui com ci- duzir ativação simpática, com taquicardia e aumento da pressão
fras pressóricas muito elevadas em pacientes com hipertensão de pulso. Em tais situações indica-se o uso de betabloqueadores e
crônica ou com cifras menos elevadas em pacientes com pro- de nitroglicerina (C).
cesso hipertensivo recente, como em casos de eclâmpsia, glo- Na fase aguda de acidente vascular cerebral, a redução dos
merulonefrite aguda, uso de certas drogas (cocaína), entre ou- níveis tensionais deve ser gradativa e cuidadosa, evitando-se re-
tras. duções bruscas e excessivas.
Um outro tipo de emergência hipertensiva é a ocorrência de É comum ainda a ocorrência de situações de estresse psicoló-
níveis tensionais elevados acompanhados de sinais que indicam gico agudo e de síndrome do pânico associadas a níveis pressóri-
lesões em órgãos-alvo em progressão, tais como acidente vascu- cos elevados, mas que não caracterizam complicação hipertensi-
lar cerebral, edema agudo de pulmão, síndromes isquêmicas mio- va aguda. Recomenda-se terapêutica aguda do estresse psicológi-
cárdicas agudas (infarto agudo do miocárdio, crises repetidas de co, enquanto a hipertensão arterial deverá ser tratada em ambula-
angina etc.) e dissecção aguda da aorta. tório.
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Várias barreiras podem ser identificadas na adesão ao trata- A equipe multidisciplinar deve prover condições para o estabe-
mento anti-hipertensivo. Em relação à doença, destaca-se a sua lecimento de vínculo com o paciente por meio de atividades indivi-
cronicidade, ausência de sintomatologia específica e complicações duais e grupais, flexibilidade na adoção das estratégias, fixação da
a longo prazo40,41. Características relacionadas ao paciente, como equipe de atendimento, estabelecimento de horários para as con-
idade, sexo, raça, escolaridade, ocupação, estado civil, religião, há- sultas, e deve considerar hábitos, crenças e cultura do paciente.
bitos de vida, além de aspectos culturais, crenças de saúde e con- Os hipertensos que abandonaram o tratamento devem ser conta-
texto socioeconômico, devem ser consideradas. Pacientes do sexo tados para identificação dos elementos dificultadores e para nova
masculino, mais jovens e com baixa escolaridade tendem a ser inserção no atendimento. O sistema de contato telefônico com orien-
menos aderentes ao tratamento42 (B). Diferenças raciais também tações sobre datas de consultas e esclarecimentos de dúvidas do
influenciam o controle da hipertensão e adesão ao tratamento, com paciente e a medida da pressão em casa também são estratégias
menores índices nos pacientes negros (19,7%) em relação aos que visam a facilitar a adesão.
brancos (53,6%)43 (B).
Concluindo, a atuação conjunta de todos os membros da equipe
A relação entre o paciente e membros da equipe de saúde é de saúde, realizando trabalho em equipe com o objetivo de assistir o
um aspecto de real relevância no processo de adesão. A sensibili- hipertenso, é o grande passo para conquistas futuras, com modifica-
dade do médico, o tempo dispensado ao atendimento e o cuidado ção no atual panorama insatisfatório de controle da hipertensão.
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