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Introdução

A competência é a medida da jurisdição, segundo ensina Liebman. A jurisdição se exerce em todo o


território nacional. Para que não exista conflito em relação aos órgãos jurisdicionais os quais exercem
jurisdição, são necessárias regras de competência para determinar qual o órgão exercerá a jurisdição em
determinadas circunstâncias objetivas.
Em regra, a competência recebe a aplicação do princípio da perpetuatio jurisdicionis. Significa que,
uma vez fixada a competência, fatos posteriores não serão capazes de modifica-la. Contudo, a perpetuação da
competência possui três exceções:
a) quando há a extinção de órgão jurisdicional;
b) quando houver alteração fática do critério absoluto de fixação de competência decorrente de
modificação de atos normativos; e
c) quando houver alteração fática que atinja o critério absoluto, como no caso do art. 5º, parágrafo único
da Lei 9469/97, cuja redação passou a constar que as pessoas jurídicas de direito público poderão, nas
causas cuja decisão possa ter reflexos, ainda que indiretos, de natureza econômica, intervir,
independentemente da demonstração de interesse jurídico, para esclarecer questões de fato e de direito,
podendo juntar documentos e memoriais reputados úteis ao exame da matéria e, se for o caso, recorrer,
hipótese em que, para fins de deslocamento de competência, serão consideradas partes.
No caso de acidente do trabalho, são duas as situações possíveis: a) o acidentado pode buscar o
benefício acidentário perante o INSS, caso em que a ação deverá ser ajuizada na Justiça Estadual, conforme
dispõe o art. 109, inciso I da Constituição, dispositivo que exclui da competência da Justiça Federal causas
relativas a acidente de trabalho, falência, bem como as causas sujeitas às justiças do Trabalho e Eleitoral; b)
o acidentado poderá buscar indenização contra o empregador que permitiu a ocorrência do acidente de
trabalho, caso em que a ação de responsabilidade civil será proposta na Justiça do Trabalho. Estas regras de
competência foram trazidas pela Emenda Constitucional 45/2004.
No caso de causas versando sobre alimentos, o Superior Tribunal de Justiça, no Conflito de
Competência 118340-MS, entendeu que a interpretação das normas que tratam de competência deve sempre
ser a mais favorável para o alimentando, uma vez que o descumprimento da obrigação alimentar, antes de
ofender a autoridade de uma decisão judicial, viola o direito à vida digna de quem dela necessita, logo, na
execução de prestação alimentos, o alimentante poderá escolher entre o foro de seu domicílio ou residência,
o juízo que proferiu a sentença a ser executada, o juízo do local onde se encontram os bens do alimentante ou,
ainda, o juízo do atual domicílio do alimentante.
A competência de foro é determinada no momento do registro ou da distribuição da petição, sendo
também o critério para a aplicação da prevenção. A respeito, estabelece o art. 43 que a competência é
determinada no momento do registro ou da distribuição da petição inicial, sendo irrelevantes as modificações
do estado de fato ou de direito ocorridos posteriormente, salvo quando suprimirem órgão judiciário ou
alterarem a competência absoluta.
Para que se determine a competência, é necessário que se proceda a seguinte análise, respeitada a
ordem a seguir:
1º deve-se analisar se a competência é originária de tribunais superiores previstos no texto constitucional;
2º deve-se analisar qual é a Justiça competente, ou seja, se a competência pertence à Justiça Federal, Justiça
do Trabalho, Justiça Eleitoral, Justiça Estadual;
3º deve-se analisar se há competência originária de tribunal da respectiva Justiça competente;
4º deve-se analisar qual é a competência territorial ou de foro, lembrando que a competência territorial ou de
foro se utiliza, em regra, de critérios relativos, mas poderá se utilizar de critério absoluto como o da matéria;
5º deve-se analisar a competência de juízo, fixada de acordo com o critério absoluto da matéria;
6º por fim, a competência recursal.
Este modo de análise da competência explica o teor da Súmula 206 do Superior Tribunal de Justiça,
cuja redação estabelece que a existência de vara privativa, instituída por lei estadual, não altera a competência
territorial das leis do processo. Como se pode deduzir da súmula, é evidente que a competência territorial não
pode ser modificada pela criação de vara porque, antes de determiná-la, deve-se determinar a competência de
foro ou territorial.
Caso interessante é de uma ação que venha a constringir bem de pessoa jurídica de direito público da
União ou empresa pública federal, hipótese em que eventuais embargos de terceiro será de competência da
Justiça Federal, mesmo que a ação da qual tenha decorrida a constrição seja de competência de Justiça distinta
da federal, sendo que a ação originária deverá ser sobrestada.
Cada uma das seis determinações de competência se utilizam de critérios para aplicação. Esses critérios
foram extraídos de uma classificação de Chiovenda. A classificação de Chiovenda é tripartite e se divide em:
a) critério objetivo que engloba o valor e a matéria, b) critério funcional e c) critério territorial. O Código de
Processo Civil de 1973 tentou reproduzir a classificação tripartite de Chiovenda e acabou gerando confusão
ao denominar os critérios como se fossem espécies de competência. Felizmente, o novo Código não repetiu o
equívoco. Portanto, não há que se falar em competência funcional, por exemplo. Há quem classifique os
critérios de competência em funcional, territorial e objetivo, sendo que este inclui o critério da pessoa, da
matéria e do valor.
O critério funcional é utilizado para se determinar a competência a partir de uma relação que já existe
entre o processo para o qual se procura o órgão jurisdicional competente e um processo anterior que já possui
um órgão competente. O critério funcional também se vale das competências fixadas em órgãos jurisdicionais
anteriores em processos para determinar a competência para fases de um processo futuro, como no caso da
ação rescisória.
O critério funcional opera no plano vertical ou horizontal. O plano hierárquico do critério funcional é
aplicado pela Constituição e pelas normas de organização judiciária.
Modernamente, os critérios podem ser dispostos da seguinte forma:
a) critério objetivo, composto pelos critérios de fixação da competência em razão da pessoa, da matéria
e do valor da causa;
b) critério funcional com seus planos horizontal e vertical; e
c) c) critério territorial, com o foro do domicílio do autor, do réu, do lugar do ato ou fato, do local onde
se encontrem os bens.
Os critérios podem divididos em absolutos e relativos. São absolutos os critérios de determinação da
competência em razão da pessoa, da matéria e em razão do valor da causa nos juizados especiais federais e da
fazenda pública. São relativos os critérios de fixação da competência territorial – domicílio do autor, domicílio
do réu, local do ato ou fato, local onde se encontrarem os bens – e do valor da causa, nos juizados especiais
estaduais.
Cada competência tem um critério determinante, podendo o critério ser absoluto ou relativo, conforme
visto. Assim, pode-se estabelecer as seguintes relações entre competências e critérios:
a) as competências originárias de tribunais superiores, as competências de Justiça ou da Justiça
competente, utilizam-se de dois critérios absolutos, o da pessoa e o da matéria;
b) a competência originária dos tribunais se vale de três critérios absolutos, o funcional, o da pessoa e o
da matéria;
c) a competência territorial se vale dos critérios relativos do domicílio do autor, do domicílio do réu, do
local do ato ou fato, bem como do critério absoluto da matéria;
d) a competência de juízo se vale dos critérios absolutos da matéria, da pessoa, funcional e pelo critério
do valor da causa, que é absoluto em relação aos juizados especiais federais e ao juizado especial da
fazenda pública, mas é relativo em relação aos juizados especiais estaduais;
e) a competência recursal se vale do critério funcional.
Athos Gusmão Carneiro apresenta a seguinte classificação em relação ao tema competência:
I – competência plena, relativa ao julgamento de todas as causas;
II – competência privativa, relativa ao julgamento de matérias específicas; e
III – competência comum, relativa ao julgamento de matérias residuais.

JURISDIÇÃO NACIONAL CONCORRENTE E JURISDIÇÃO NACIONAL EXCLUSIVA

O Código de Processo Civil separa os temas relativos aos limites da jurisdição nacional e à competência
interna em títulos distintos. Os limites da jurisdição nacional estão previstos nos artigos 21 a 41 com os temas
referentes a cooperação internacional, contendo disposições gerais e os temas específicos relacionados ao
auxílio direto, carta rogatória e disposições comuns a estas. A competência interna, ou seja, o a distribuição
da jurisdição, está prevista nos artigos 42 a 69, contendo capítulo disposições gerais sobre competência e
temas afetos a modificação de competência, incompetência e outro capítulo relativo à cooperação nacional.
O título referente aos limites da jurisdição nacional se destina a estabelecer o alcance da jurisdição
brasileira, ou seja, se o Estado brasileiro pode ou não julgar determinada causa.
São três os critérios ou princípios que determinam se um Estado é ou não apto para exercer jurisdição
sobre uma causa. Esses critérios não são cumulativos, embora fosse o ideal. Esses critérios são a efetividade,
o interesse e a submissão. Pelo critério da efetividade, leva-se em consideração a capacidade de o Estado
executar a decisão que venha a proferir. Pelo critério do interesse, leva-se em consideração aquilo que o Estado
tem interesse em julgar. Pelo critério da submissão, leva-se em consideração a autonomia das partes quanto à
eleição da jurisdição competente para julgar o caso. Em relação ao critério da submissão, o art. 22 do Código
de Processo Civil trouxe dispositivo estabelecendo competir à autoridade judiciária brasileira o processo e
julgamento de ações em que as partes, expressa ou tacitamente, se submeterem à jurisdição nacional.
Valendo-se destes critérios – da efetividade, do interesse e da submissão –, o Código de Processo Civil
estabelece os casos e regras em relação ao exercício concorrente da jurisdição brasileira e ao exercício
exclusivo da jurisdição brasileira.
As hipóteses de exercício concorrente da jurisdição brasileira são seis, a saber:
a) causas em que o réu brasileiro ou estrangeiro, domiciliado no Brasil, considerando-se domiciliada a
pessoa jurídica estrangeira que tiver agência, filia ou sucursal;
b) quando o Brasil for indicado como local de cumprimento da obrigação;
c) quando o ato ou fato que fundamentar a ação tiver ocorrido no Brasil;
d) as ações de alimentos, quando o credor for residente no Brasil ou, ainda que seja residente no exterior,
tenha o alimentante bens no Brasil;
e) a ação decorrente de relação de consumo, quando o consumidor tiver residência no Brasil;
f) quando houver foro de jurisdição internacional, ou seja, caso as partes elejam a jurisdição brasileira
para discutir o conflito.
Nestas hipóteses, o Estado brasileiro exerce jurisdição, mas também admite outros Estados exercendo
jurisdição, hipóteses que se baseiam no critério do interesse.
Aliás, nestes casos de jurisdição concorrente, não há litispendência entre ações ajuizadas no Brasil e
no estrangeiro. Valerá a sentença que transitar em julgado primeiro, observando-se que a sentença estrangeira
só transitará em julgado quando homologada pelo Superior Tribunal de Justiça. Neste sentido, dispõe o art.
24 que a ação proposta perante tribunal estrangeiro não induz litispendência e não obsta a que a autoridade
judiciária brasileira conheça da mesma causa e das que lhe são conexas, ressalvadas as disposições em
contrário previstas em tratados internacionais e acordos bilaterais em vigor no Brasil, bem como que a
pendencia de causa perante a justiça brasileira não impede a homologação de sentença judicial estrangeira
quando exigida para produzir efeitos no Brasil.
Ainda em relação às hipóteses de jurisdição concorrente, é possível a derrogação da jurisdição nacional
mediante cláusula de eleição de foro exclusivo estrangeiro. Esta possibilidade decorre do art. 63, que
estabelece que as partes podem modificar a competência em razão do valor e do território, elegendo foro onde
será proposta a ação oriunda de direitos e obrigações, bem como do art. 25, que estabelece não competir a
autoridade judiciária brasileira o processo e o julgamento da ação quando houver cláusula de eleição de foro
exclusivo estrangeiro em contrato internacional, arguida pelo réu em contestação. Este dispositivo também
estabelece que estas regras não se aplicam nas hipóteses de competência internacional exclusiva.
Os parágrafos do art. 63 ainda elencam as seguintes regras aplicáveis à cláusula de eleição de foro
exclusivo estrangeiro: i) só produz efeitos se constar de instrumento escrito e aludir expressamente a
determinado negócio jurídico; ii) a cláusula obriga herdeiros e sucessores das partes; iii) a cláusula pode ser
reputada ineficaz de ofício pelo juiz, antes da citação, sob pena de preclusão; e iv) se for citado, o réu deve
alegar a abusividade da cláusula, sob pena de preclusão.
Caso a ação, que verse sobre causa sobre a qual as partes instituíram cláusula de eleição de foro
exclusivo, seja proposta no Brasil, o réu deverá alegar, como preliminar de contestação, a eleição de jurisdição
estrangeira constante na cláusula, sob pena de preclusão e prorrogação da jurisdição brasileira.
O exercício exclusivo da jurisdição brasileira está ligado à soberania nacional e ao critério do interesse
e, por essas razões, avoca exclusividade no julgamento de determinados casos. O sistema brasileiro não tolera
o exercício de atividade jurisdicional de Estado estrangeiro quanto a este tema. É que, nos casos de exercício
exclusivo da jurisdição brasileira, a decisão de Estado estrangeiro só poderia ser efetivada mediante o
rompimento da ordem constitucional brasileira.
São causas em que o exercício da jurisdição brasileira é exclusivo:
a) ações relativas a imóveis situados no Brasil;
b) ações relativas a sucessão hereditária, a confirmação de testamento particular e ao inventário e partilha
de bens situados no Brasil, mesmo que o autor da herança seja de nacionalidade estrangeira ou seja
domiciliado fora do Brasil;
c) ações de divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável, proceder à partilha de bens
situados no Brasil, ainda que o titular seja de nacionalidade estrangeira ou esteja domiciliado fora do
Brasil.
Não é possível a convenção de cláusula de eleição de foro exclusivo estrangeiro nas hipóteses de
exercício exclusivo da jurisdição brasileira.

COOPERAÇÃO JURÍDICA INTERNACIONAL: AUXÍLIO DIRETO E CARTA ROGATÓRIA

A cooperação jurídica internacional se dá mediante auxílio direto e carta rogatória. Este capítulo é
regulado por disposições gerais e disposições relativas ao auxílio direto e à carta rogatória.
A cooperação jurídica internacional é regida pelos tratados internacionais dos quais o Estado brasileiro
faça parte, mas, se não houver tratado, a cooperação jurídica internacional poderá se fundamentar na
reciprocidade manifestada por via diplomática. Além de se amparar em tratado ou, na sua falta, na
reciprocidade manifestada por via diplomática, a cooperação jurídica internacional também observará:
a) o respeito às garantias do devido processo legal no Estado requerente;
b) a igualdade de tratamento entre nacionais e estrangeiros, residentes ou não no Brasil, em relação ao
acesso à justiça e à tramitação dos processos, assegurando-se assistência judiciária aos necessitados;
c) a existência de autoridade central para recepção e transmissão dos pedidos de cooperação;
d) a espontaneidade na transmissão de informações a autoridades estrangeiras;
e) não admissão em relação a prática de atos que contrariem ou produzam resultados incompatíveis com
as normas fundamentais que regem o Estado brasileiro;
f) em relação à homologação de sentença estrangeira, não se exige tratado ou reciprocidade manifestada
por via diplomática;
g) a publicidade processual, salvo nas hipóteses de sigilo previstas na legislação brasileira ou na
legislação do Estado requerente;
 Observação: Segundo dispõe o art. 189 do Código de Processo Civil, os atos
processuais são públicos, todavia tramitam em segredo de justiça os processos em
que a) o exija o interesse público ou social; b) que versem sobre casamento,
separação de corpos, divórcio, separação, união estável, filiação, alimentos e guarda
de crianças e adolescentes; c) constem dados protegidos pelo direito constitucional
à intimidade; d) que versem sobre arbitragem, inclusive sobre o cumprimento de
carta arbitral, desde que a confidencialidade estipulada na arbitragem seja
comprovada perante o juízo. O direito de consultar os autos de processo que tramite
em segredo de justiça e de pedir certidões de seus atos é restrito às partes e seus
procuradores. O terceiro que demonstrar interesse jurídico pode requerer ao juiz
certidão do dispositivo da sentença, bem como de inventário ou partilha resultantes
de divórcio ou separação.
O Ministério da Justiça exercerá as funções de autoridade central enquanto não houver designação
específica. Como se viu, a presença de autoridade central é uma exigência prevista no Código de Processo
Civil. Trata-se do ente responsável pela tramitação e cumprimento dos pedidos de cooperação jurídica
internacional, sendo responsável, ainda, como autoridade competente para adotar medidas em relação a prática
de atos não jurisdicionais ou jurisdicionais. A regra é que a autoridade central seja determinada no tratado ou
acordo de cooperação internacional, mas, na ausência de designação, atuará o Ministério da Justiça.
A comunicação entre a autoridade central brasileira e a de outro país prescinde das vias diplomáticas,
bastando a observância do previsto em tratado.
A cooperação jurídica internacional abrange:
a) citação, intimação e notificação judicial e extrajudicial;
b) colheita de provas e obtenção de informações;
c) homologação e cumprimento de decisão;
d) concessão de medida judicial de urgência;
e) assistência jurídica internacional;
f) qualquer outra medida judicial ou extrajudicial não proibida pela lei brasileira.

Auxílio direto
O auxílio direto é uma técnica de cooperação jurídica internacional, podendo ser ativo ou passivo.
Ativo quando o Estado brasileiro requer a cooperação de outro Estado. Passivo quando o Estado estrangeiro
requer a cooperação do Estado brasileiro.
O auxílio direto é uma forma de cooperação jurídica internacional que independe de juízo de delibação
do Superior Tribunal de Justiça de ato judicial estrangeiro, o exequatur, e se direciona a pedidos feitos por
órgãos não jurisdicionais ou a pedidos judiciais não destinados ao Judiciário brasileiro.
Só é admissível pedido de auxílio direto passivo, isto é, pedido de cooperação jurídica internacional
de Estado estrangeiro ao Estado brasileiro quando o ato a ser praticado não necessitar de juízo de delibação
do Superior Tribunal de Justiça. Isso porque, em regra, as decisões judiciais estrangeiras precisam ser
homologadas para produzir efeitos no Estado brasileiro.
O auxílio direto tem a finalidade de: a) obtenção e prestação de informações sobre o ordenamento
jurídico, processos, administrativos ou judiciais, findos ou em curso; b) colheita de provas, exceto se a medida
adotada em processo em curso no estrangeiro de cujo exercício de jurisdição seja exclusivamente do Estado
brasileiro, lembrando que o Código, erroneamente, menciona a expressão competência exclusiva da
autoridade judiciária competência; c) qualquer outra medida judicial ou extrajudicial não proibida pela lei
brasileira.
Para o auxílio direto passivo de atos não jurisdicionais, a autoridade central deve praticar o ato,
autonomamente, podendo adotar medidas administrativas cabíveis e buscas a satisfação do pedido nos órgãos
competentes. Lembrando que quando a autoridade já estiver designada, será também competente para os
pedidos de atos jurisdicionais e, quando não especificada a autoridade central, os pedidos de atos não
jurisdicionais ficarão a cargo do Ministério da Justiça e os pedidos de atos que dependam de decisão judicial
serão requeridos pelo Advogado-Geral da União.
Os pedidos de cooperação jurídica internacional via auxílio direto passivo, isto é, requeridos por Estado
estrangeiro, são de competência da Justiça Federal, conforme art. 109, inciso III da Constituição, o qual dispõe
competir aos juízes federais processar e julgar causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado
estrangeiro ou organismo internacional.

Carta rogatória

A carta rogatória é um meio de comunicação internacional utilizado quando não há previsão de auxílio
direto em tratado ou acordo ou quando é expressamente indicado pelo ato internacional. Seu objeto pode ser
qualquer ato processual cuja execução deva acontecer no Brasil, tenha ou não conteúdo decisório. É por meio
da carta rogatória que se obtém a homologação de sentença estrangeira, o exequatur.
O procedimento da carta rogatória se dará perante o Superior Tribunal de Justiça, sendo procedimento
de jurisdição contenciosa que deve assegurar às partes as garantias do devido processo legal. Neste sentido, a
defesa restringir-se-á à discussão quanto ao atendimento dos requisitos para que o pronunciamento judicial
estrangeiro produza efeitos no Brasil. Em qualquer hipótese, é vedada a revisão do mérito do pronunciamento
judicial estrangeiro pela autoridade judiciária brasileira, trata-se de respeito à soberania do outro Estado.
O Código de Processo Civil não elenca quais são os possíveis atos que podem ser objeto de carta
rogatória. Apesar disso, é possível intuir que rol de atos da cooperação jurídica internacional se encaixam
dentre as possibilidades. Lembrando: a) citação, intimação, notificação judicial e extrajudicial; b) colheita de
provas e obtenção de informações; c) homologação e cumprimento de decisão; d) concessão de medida
judicial de urgência; e) assistência jurídica internacional; f) qualquer outra medida judicial ou extrajudicial
não proibida pela lei brasileira.
O procedimento da carta rogatória deve seguir o rito previsto nos artigos 960 e seguintes do Código
de Processo Civil, dispositivos que disciplinam a homologação de decisão estrangeira e a concessão do
exequatur à carta rogatória. Veja:

Art. 960. A homologação de decisão estrangeira será requerida por ação de homologação de decisão
estrangeira, salvo disposição especial em sentido contrário prevista em tratado.
§ 1o A decisão interlocutória estrangeira poderá ser executada no Brasil por meio de carta rogatória.
§ 2o A homologação obedecerá ao que dispuserem os tratados em vigor no Brasil e o Regimento Interno do
Superior Tribunal de Justiça.
§ 3o A homologação de decisão arbitral estrangeira obedecerá ao disposto em tratado e em lei, aplicando-se,
subsidiariamente, as disposições deste Capítulo.
Art. 961. A decisão estrangeira somente terá eficácia no Brasil após a homologação de sentença estrangeira
ou a concessão do exequatur às cartas rogatórias, salvo disposição em sentido contrário de lei ou tratado.
§ 1o É passível de homologação a decisão judicial definitiva, bem como a decisão não judicial que, pela lei
brasileira, teria natureza jurisdicional.
§ 2o A decisão estrangeira poderá ser homologada parcialmente.
§ 3o A autoridade judiciária brasileira poderá deferir pedidos de urgência e realizar atos de execução provisória
no processo de homologação de decisão estrangeira.
§ 4o Haverá homologação de decisão estrangeira para fins de execução fiscal quando prevista em tratado ou
em promessa de reciprocidade apresentada à autoridade brasileira.
§ 5o A sentença estrangeira de divórcio consensual produz efeitos no Brasil, independentemente de
homologação pelo Superior Tribunal de Justiça.
§ 6o Na hipótese do § 5o, competirá a qualquer juiz examinar a validade da decisão, em caráter principal ou
incidental, quando essa questão for suscitada em processo de sua competência.
Art. 962. É passível de execução a decisão estrangeira concessiva de medida de urgência.
§ 1o A execução no Brasil de decisão interlocutória estrangeira concessiva de medida de urgência dar-se-á
por carta rogatória.
§ 2o A medida de urgência concedida sem audiência do réu poderá ser executada, desde que garantido o
contraditório em momento posterior.
§ 3o O juízo sobre a urgência da medida compete exclusivamente à autoridade jurisdicional prolatora da
decisão estrangeira.
§ 4o Quando dispensada a homologação para que a sentença estrangeira produza efeitos no Brasil, a decisão
concessiva de medida de urgência dependerá, para produzir efeitos, de ter sua validade expressamente
reconhecida pelo juiz competente para dar-lhe cumprimento, dispensada a homologação pelo Superior
Tribunal de Justiça.
Art. 963. Constituem requisitos indispensáveis à homologação da decisão:
I - ser proferida por autoridade competente;
II - ser precedida de citação regular, ainda que verificada a revelia;
III - ser eficaz no país em que foi proferida;
IV - não ofender a coisa julgada brasileira;
V - estar acompanhada de tradução oficial, salvo disposição que a dispense prevista em tratado;
VI - não conter manifesta ofensa à ordem pública.
Parágrafo único. Para a concessão do exequatur às cartas rogatórias, observar-se-ão os pressupostos previstos
no caput deste artigo e que a medida de urgência concedida sem audiência do réu poderá ser executada, desde
que garantido o contraditório em momento posterior
Art. 964. Não será homologada a decisão estrangeira na hipótese de competência exclusiva da autoridade
judiciária brasileira.
Parágrafo único. O dispositivo também se aplica à concessão do exequatur à carta rogatória.
Art. 965. O cumprimento de decisão estrangeira far-se-á perante o juízo federal competente, a requerimento
da parte, conforme as normas estabelecidas para o cumprimento de decisão nacional.
Parágrafo único. O pedido de execução deverá ser instruído com cópia autenticada da decisão homologatória
ou do exequatur, conforme o caso.

COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

A competência o Supremo Tribunal Federal, prevista no art. 102 da Constituição, pode ser dividida em
competência originária, competência recursal ordinária e competência recursal extraordinária.
A competência originária do Supremo Tribunal Federal abrange infrações penais comuns, questões
constitucionais, remédios constitucionais e crimes de responsabilidade.
A competência originária do Supremo Tribunal Federal, em relação a infrações penais comuns,
autoriza o processo e o julgamento:
a) do Presidente da República;
b) do Vice-Presidente;
c) de deputados e senadores;
d) de Ministro do Supremo Tribunal Federal;
e) do Procurador-Geral da República;
f) de Ministro de Estado;
g) dos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica;
h) de membro de Tribunal Superior;
i) de membro do Tribunal de Contas da União;
j) de chefes de missão diplomática de caráter permanente;
k) ação rescisória;
l) revisão criminal.

A competência originária do Supremo Tribunal Federal, em relação a questões constitucionais,


autoriza o processo e o julgamento:
a) de ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual;
b) de ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal;
c) de arguição de descumprimento de preceito fundamental;
d) de pedido de medida cautelar das ações diretas de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal
ou estadual;
e) de causas e conflitos entre a União e os Estados;
f) de causas e conflitos entre a União e o Distrito Federal (causas e conflitos entre a União e os Municípios
não são de competência do Supremo Tribunal Federal);
g) as causas e conflitos entre Estados;
h) as causas e conflitos entre entidades da administração pública indireta pertencente à estrutura federal
e estadual;
i) as causas e conflitos entre entidades da administração pública indireta pertencentes a Estados-membros
diferentes;
j) as causas e conflitos entre entidades da administração pública indireta pertencente à União e ao Distrito
Federal;
k) de reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões;
l) de ação em que todos os membros da magistratura sejam direta ou indiretamente interessados;
m) de ação em que mais da metade dos membros do tribunal de origem estejam impedidos ou sejam direta
ou indiretamente interessados;
n) os conflitos de competência entre tribunais superiores;
o) os conflitos de competência entre o Superior Tribunal de Justiça e quaisquer tribunais;
p) os conflitos de competência entre tribunal superior e quaisquer tribunais;
q) as ações contra o Conselho Nacional de Justiça;
r) as ações contra o Conselho Nacional do Ministério Público;
s) a execução de sentença nas causas de sua competência originária, facultada a delegação de atribuições
para a prática de atos processuais;
t) por questões de soberanias:
i. de litígio entre Estado estrangeiro e a União;
ii. de litígio entre Estado estrangeiro e Estado-membro;
iii. de litígio entre Estado estrangeiro e o Distrito Federal (litígios entre Estado estrangeiro
e Município são julgados pela Justiça Federal);
iv. de litígio entre organismo internacional e a União;
v. de litígio entre organismo internacional e Estado;
vi. de litígio entre organismo internacional e Distrito Federal (litígios entre organismo
internacional e Municípios são julgados pela Justiça Federal);
vii. de extradição solicitada por Estado estrangeiro.
A competência originária do Supremo Tribunal Federal, em relação a remédios constitucionais,
autoriza o processo e o julgamento:
a) de habeas corpus quando o paciente for:
i. Presidente da República;
ii. Vice-Presidente;
iii. deputado ou senador;
iv. Ministro do Supremo Tribunal Federal;
v. Procurador-Geral da República;
vi. Ministro de Estado;
vii. Comandante da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica;
viii. membro de tribunal superior;
ix. membro do Tribunal de Contas da União;
x. chefe de missão diplomática de caráter permanente;
xi. for autoridade ou funcionário cujos atos estejam sujeitos diretamente à jurisdição do
Supremo Tribunal Federal ou se trate de crime sujeito à jurisdição em uma única
instância;
b) de habeas corpus quando a autoridade coatora for:
i. membro de tribunal superior, devendo-se tratar de decisão de colegiado, não sendo
suficiente decisão de relator, conforme teor da súmula 691 do Supremo Tribunal
Federal, não compete a esta Corte conhecer de habeas corpus impetrado contra decisão
do relator que, em habeas corpus requerido em tribunal superior, indefere liminar;
ii. for autoridade ou funcionário cujos atos estejam sujeitos diretamente à jurisdição do
Supremo Tribunal Federal, ou se trate de crime sujeito à jurisdição em uma única
instância;
c) de mandado de segurança contra ato:
i. do Presidente da República;
ii. da Mesa da Câmara dos Deputados;
iii. da Mesa do Senado;
iv. do Tribunal de Contas da União;
v. do Procurador-Geral da República;
vi. do Supremo Tribunal Federal;
d) mandado de injunção quando a elaboração da norma regulamentadora for atribuição:
i. do Presidente da República;
ii. do Congresso Nacional;
iii. do Senado;
iv. do Câmara dos Deputados;
v. da Mesa do Senado;
vi. da Mesa da Câmara;
vii. da Tribunal de Contas;
viii. de tribunal superior;
ix. do Supremo Tribunal Federal;
e) habeas data contra ato:
i. do Presidente da República;
ii. da Mesa da Câmara dos Deputados;
iii. da Mesa do Senado;
iv. do Tribunal de Contas da União;
v. do Procurador-Geral da República;
vi. do Supremo Tribunal Federal.
A competência originária do Supremo Tribunal Federal, em relação a crimes de responsabilidade,
autoriza o processo e o julgamento:
a) de Ministros de Estado, salvo quando o crime de responsabilidade for conexo ao do Presidente da
República ou Vice-Presidente;
b) de Comandante da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, salvo quando o crime de responsabilidade
for conexo ao do Presidente da República ou Vice-Presidente;
c) de membro de tribunal superior;
d) de membro do Tribunal de Contas da União;
e) de chefe de missão diplomática de caráter permanente.
A competência recursal ordinária do Supremo Tribunal Federal autoriza o processo e o julgamento via
recurso ordinário:
a) de habeas corpus decidido em única instância por tribunal superior, se denegatória a decisão;
b) de mandado de segurança decidido em única instância por tribunal superior, se denegatória a decisão;
c) de habeas data decidido em única instância por tribunal superior, se denegatória a decisão;
d) de mandado de injunção decidido em única instância por tribunal superior, se denegatória a decisão;
e) de decisão que julgue crime político.
A competência recursal extraordinária do Supremo Tribunal Federal autoriza o processo e o
julgamento via recurso extraordinário de causa decidida em última ou única instância, quando a decisão:
a) contrariar dispositivo da Constituição;
b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou de lei federal;
c) julgar válida lei ou ato de governo local em face da Constituição;
d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal.

COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

A competência do Superior Tribunal de Justiça pode ser dividia em originária, recursal ordinária e
recursal extraordinária.
A competência originária do Superior Tribunal de Justiça abrange infrações penais comuns, crimes de
responsabilidade, remédios constitucionais e outras questões.
A competência originária do Superior Tribunal de Justiça, em relação a crimes comuns, permite o
processo e o julgamento de:
a) governadores;
b) desembargadores;
c) membros de tribunais de justiça, tribunais regionais federais, tribunais regionais do trabalho;
d) membros de tribunais de contas dos Estados e do Distrito Federal;
e) membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios;
f) membros do Ministério Público da União que oficiem perante tribunais;
g) revisão criminal de seus julgados.
A competência originária do Superior Tribunal de Justiça, em relação a crimes de responsabilidade,
autoriza o processo e o julgamento de:
a) desembargadores dos tribunais de justiça;
b) membros de tribunais regionais federais, eleitorais e do trabalho;
c) membros dos tribunais de contas dos Estados e do Distrito Federal;
d) membros de Conselhos ou tribunais de contas de Municípios;
e) membros do Ministério Público da União que oficiem perante tribunais.
A competência originária do Superior Tribunal de Justiça, em relação a remédios constitucionais,
autoriza o processo e o julgamento de:
a) mandado de segurança contra ato de:
i. Ministro de Estado;
ii. Comandante da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica;
iii. do Superior Tribunal de Justiça;
b) habeas data contra ato de:
i. Ministro de Estado;
ii. Comandante da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica;
iii. do Superior Tribunal de Justiça;
c) habeas corpus quando o coator for:
i. governador de Estado ou do Distrito Federal;
ii. desembargador de Tribunal de Justiça;
iii. membro de Tribunal Regional Federal;
iv. membro de Tribunal de Contas do Estado ou do Distrito Federal;
v. membro de Tribunal Regional do Trabalho;
vi. membro de Conselho ou Tribunal de Contas de Municípios;
vii. membro do Ministério Público da União;
viii. Comandante da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica;
d) habeas corpus quando o paciente for:
i. governador de Estado ou do Distrito Federal;
ii. desembargador de Tribunal de Justiça;
iii. membro de Tribunal Regional Federal;
iv. membro de Tribunal de Contas do Estado ou do Distrito Federal;
v. membro de Tribunal Regional do Trabalho;
vi. membro de Conselho ou Tribunal de Contas de Municípios;
vii. membro do Ministério Público da União;
viii. Comandante da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica;
e) mandado de injunção quando a elaboração de norma regulamentadora for atribuição de:
i. órgão, entidade ou autoridade federal, ressalvadas as competências do Supremo
Tribunal Federal;
ii. da administração direta e indireta, ressalvadas as competências do Supremo Tribunal
Federal;
iii. órgãos da Justiça Militar, Eleitoral, do Trabalho e da Justiça Federal.
A competência originária do Superior Tribunal de Justiça também se dirige ao processo e julgamento
de outras questões como:
a) conflitos de competência entre quaisquer tribunais, ressalvadas as competências do Supremo Tribunal
Federal;
b) as ações rescisórias de seus julgados;
c) reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões;
d) homologação de sentença estrangeira;
e) concessão de exequatur a cartas rogatórias;
f) conflito de atribuições entre autoridades administrativas e judiciárias da União;
g) conflito de atribuições entre autoridades judiciárias de um Estado e administrativas de outro;
h) conflito de atribuições entre autoridades judiciárias de Estado e administrativas da União.
A competência recursal ordinária do Superior Tribunal de Justiça autoriza o processo e julgamento via
recurso ordinário de:
a) causas em que forem partes:
i. Estado estrangeiro e Município;
ii. organismo internacional e Municípios;
iii. Estado estrangeiro e pessoa residente ou domiciliada no Brasil;
iv. organismo internacional e pessoa residente ou domiciliada no Brasil;
b) habeas corpus decidido em única ou última instância, se denegatória a decisão, por:
i. Tribunal de Justiça;
ii. Tribunal Regional Federal;
c) mandado de segurança decidido em única ou última instância, se denegatória a decisão, por:
i. Tribunal de Justiça;
ii. Tribunal Regional Federal.
A competência recursal extraordinária do Superior Tribunal de Justiça autoriza o processo e
julgamento via recurso especial:
a) de causa decidida em única ou última instância cuja decisão contrarie tratado ou lhe negue vigência.
proferida por:
i. Tribunal de Justiça;
ii. Tribunal Regional Federal;
b) de causa decidida em única ou última instância cuja decisão contrarie lei federal ou lhe negue vigência,
proferida por:
i. Tribunal de Justiça;
ii. Tribunal Regional Federal;
c) de causa decidida em única ou última instância cuja decisão julgar ato de governo local em face de lei
federal, proferida por:
i. Tribunal de Justiça;
ii. Tribunal Regional Federal;
d) de causa decidida em única ou última instância cuja decisão dê interpretação divergente da que lhe
houver atribuído outro tribunal, proferida por:
i. Tribunal de Justiça;
ii. Tribunal Regional Federal.

COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL DA JUSTIÇA FEDERAL

As regras de competência da Justiça Federal são fundadas nos critérios da pessoa, da matéria e do
território
As competências da Justiça Federal em razão da matéria são as seguintes:
a) causas em que for interessada na condição de autora, ré, assistente ou opoente:
i. a União;
ii. autarquia federal;
iii. empresa pública federal;
b) causas entre Estado estrangeiro e Município ou pessoa residente ou domiciliada no Brasil;
c) causas entre organismo internacional e Município ou pessoa residente ou domiciliada no Brasil;
d) mandado de segurança contra autoridade federal;
e) habeas data contra autoridade federal.
Relativamente a causas nas quais a União, entidade autárquicas federais e empresas públicas federais
forem interessadas na condição de autor, réu, assistente ou opoente, inclui-se também o Ministério Público
Federal. Além disso, é o juiz federal quem verifica se há interesse dos citados entes federais, conforme a
súmula 150 do Superior Tribunal de justiça cuja redação afirma competir a Justiça Federal decidir sobre a
existência de interesse jurídico que justifique a presença, no processo, da União, suas autarquias ou empresas
públicas. Também a súmula 224 do Superior Tribunal de Justiça dispõe que, excluído o ente federal, cuja
presença levara o juiz estadual a declinar da competência, deve o juiz federal restituir os autos e não suscitar
conflito.
Ainda em relação às causas nas quais haja interesse da União, de entidade autárquica ou empresas
públicas federais, na condição de autor, réu, assistente ou opoente, excetuam-se as causas relativas a acidente
de trabalho, recuperação judicial, falência e insolvência civil, assim como a execução fiscal federal não irá
para o juízo falimentar, sendo que a penhora realizada anteriormente à falência fica vinculada à execução
fiscal e, quando o bem penhorado for vendido, o valor correspondente deverá ser encaminhado ao juízo
falimentar que classificará e distribuirá o crédito.
Por fim, o simples protesto pela preferência do crédito, apresentado por ente federal em execução que
tramite na Justiça Estadual, não desloca a competência para a Justiça Federal. Esse é o teor da súmula 270 do
Superior Tribunal de Justiça.
Relativamente à competência da Justiça Federal para processar e julgar mandado de segurança e habeas
data contra autoridade federal, é relevante o conceito de autoridade federal trazido pelo art. 2 da Lei 12016/09,
cuja redação estabelece ser autoridade federal coatora se as consequências de ordem patrimonial do ato contra
o qual se requer o mandado houverem de ser suportadas pela União ou entidade por ela mantida. Trata-se de
hipótese de competência da Justiça Federal apta a possibilitar que sociedades de economia mista tenham suas
causas julgadas pela Justiça Federal.
Ainda em relação à competência da Justiça Federal para processar e julgar mandado de segurança e
habeas data contra ato de autoridade federal, deve-se atentar para o fato de que a Constituição atribui
competência ao Supremo Tribunal Federal para atos praticados pelas Mesas do Senado e da Câmara dos
Deputados, sendo que atos praticados por deputados e senadores são de competência da Justiça Federal. Da
mesma forma, o Superior Tribunal de Justiça é incompetente para processar e julgar, ordinariamente, mandado
de segurança contra ato de órgão colegiado presidido por Ministro de Estado, conforme súmula 177, e isso
porque sua competência para julgar mandado de segurança e habeas data de Ministro da Justiça engloba apenas
o ato praticado por ele, mas não órgão colegiado.
A Justiça Federal de primeira instância também é competente para processar e julgar as ações propostas
contra o Conselho Nacional de Justiça e o Conselho Nacional do Ministério Público. É que, apesar de a
Constituição prever, em seu art. 102, inciso I, alínea “r”, que compete ao Supremo Tribunal Federal julgá-los,
a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, firmada em decisão unânime do plenário, é no sentido de que
esse dispositivo se refere apenas às ações constitucionais – mandado de segurança, habeas data, habeas corpus,
mandado de injunção –, conforme ACO 2373/AgR/DF.
As juntas comerciais são consideradas tecnicamente como federais por fazerem parte do Sistema
Nacional de Registro do Comércio, mesmo se sujeitando administrativamente ao Estado.

As competências da Justiça Federal em razão da matéria autorizam o processo e o julgamento em


relação a:
a) crimes políticos;
b) causas que versem sobre direitos indígenas;
c) crimes contra a organização do trabalho;
d) crimes contra o sistema financeiro nos casos previstos em lei;
e) crimes contra a ordem econômico-financeira nos casos previstos em lei;
f) habeas corpus em matéria criminal de sua competência;
g) causas referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção e naturalização;
h) crimes de ingresso e permanência irregular de estrangeiros;
i) crimes previstos em tratado ou convenção internacional quando, iniciada a execução no Brasil, o
resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro ou reciprocamente;
j) causas relativas a direitos humanos nas hipóteses de grave violação, situação na qual o Procurador-
Geral da República poderá suscitar incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal,
perante o Superior Tribunal de Justiça, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações
decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte.
Em relação às causas referentes à nacionalidade, só se consideram como questões referentes à
nacionalidade quando se tratar de perda ou aquisição, sendo os demais casos de competência da Justiça
Estadual.
A competência territorial da Justiça Federal autoriza o processo e o julgamento de crimes cometidos a
bordo de aeronaves ou navios, ressalvada a competência da Justiça Militar.
A Justiça Federal também detém competência para processar e julgar:
a) infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesses da União ou de suas
autarquias ou empresas públicas, excluídas as contravenções penais e ressalvadas as competências das
justiças Militar e Eleitoral;
b) a execução de carta rogatória, após o exequatur;
c) a execução de sentença estrangeira após homologação do Superior Tribunal de Justiça.
As causas em que a União seja autora deverão ser ajuizadas na seção judiciária do domicílio do réu.
Contudo, quando a União for ré, o autor poderá escolher a seção judiciária de seu domicílio, do local do ato
ou fato que se originou a demanda, a do local da coisa ou a do Distrito Federal. Não há semelhante previsão
em relação a empresas públicas e autarquias federais, sendo regra estabelecida para dar tratamento favorável
ao cidadão contra à União, mas não para favorecê-lo em relação autarquias e empresas públicas. Apesar disso,
no julgamento do Recurso Extraordinário 627709/DF, com repercussão geral, o Supremo Tribunal Federal
entendeu que o disposto no art. 109, § 2º da Constituição tem a finalidade de garantir o acesso à justiça para
o cidadão e não privilegiar autarquias e empresas públicas federais com mais privilégios do que a própria
União. O Supremo Tribunal Federal também apontou a deficiência estrutural relativa a defesa judicial e
extrajudicial de tais pessoas jurídicas da administração indireta federal não mais persiste em razão da
estruturação das carreiras de procuradorias federais.
Em 1988, a Justiça Federal só estava presente nas capitais e os Tribunais Regionais Federais não
estavam instalados, sendo que a Justiça Estadual sempre foi bem distribuída em todo o território nacional.
Assim, diversas pessoas consideradas vulneráveis deveriam se deslocar até a capital do respectivo Estado-
membro para ajuizar ação perante a Justiça Federal. Por essa razão, a Constituição previu a regra do art. 109,
§ 3º que permite o processo e o julgamento, na Justiça Estadual, no foro do domicílio dos segurados ou
beneficiários, das causas em que forem parte instituição de previdência social e segurado, sempre que a
comarca não seja sede de vara de juízo federal, e, se verificada essa condição, a lei poderá permitir que outras
causas também sejam processadas e julgadas pela Justiça Estadual.
A criação de vara federal dentro de comarca faz com que todas as ações sejam remetidas para a Justiça
Federal, não se aplicando a regra da perpetuatio jurisdicionis.
O Código de Processo Civil relaciona expressamente as causas que não são de competência da Justiça
Federal, mesmo que haja participação da pessoa jurídica da administração pública federal, no art. 45, em
relação a ações de recuperação judicial, falência, acidente do trabalho, insolvência civil e as sujeitas às justiças
Eleitoral e do Trabalho.
A remessa dos autos à Justiça Federal não ocorrerá se houver pedido em relação ao qual seja
competente o juízo estadual, devendo este órgão não examinar a matéria de competência da Justiça Federal
apenas.
Segundo a súmula 224 do Superior Tribunal de Justiça, se há exclusão do ente federal, basta a
restituição dos autos sem suscitar conflito de competência.
O juiz federal pode apreciar, de forma incidental, relações familiares ao julgar benefícios
previdenciários.

COMPETÊNCIA NOS CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL


O Código de Processo Civil traz, a partir dos artigos 42 a 69, regras para a definição da competência
territorial ou de foro, com regras gerais e especiais. Deve-se lembrar que o que define se a competência é
relativa ou absoluta é o critério, logo, incidindo critério absoluto sobre competência territorial, a competência
será absoluta.
O Código determina a fixação de competência territorial ou de foro por meio do registro ou da
distribuição da petição inicial, conforme previsto nos artigos 42 e 312, considerando irrelevantes as
modificações do estado de fato ou de direito ocorridas após a determinação da competência. Trata-se do
princípio da perpetuatio jurisdicionis, regra que possui as seguintes exceções:
a) quando há a extinção de órgão jurisdicional;
b) quando houver alteração fática do critério absoluto de fixação de competência decorrente da
modificação de atos normativos;
c) quando houver alteração fática que atinja o critério absoluto, como no caso do art. 5º, parágrafo único
da Lei 9469/97 que estabelece que as pessoas jurídicas de direito público poderão, nas causas cuja
decisão possa ter reflexos, ainda que indiretos, de natureza econômica, intervir, independentemente da
demonstração de interesse jurídico, para esclarecer questões de fato e de direito, podendo juntar
documentos e memoriais reputados úteis ao exame da matéria e, se for o caso, recorrer, hipótese em
que, para fins de deslocamento de competência, serão consideradas partes.

Competência territorial de foro

Para a compreensão da competência territorial de foro, é necessária a compreensão do tema domicílio.


O domicílio é o local onde a pessoa reside com ânimo definitivo. Em relação a atividades profissionais,
é o local onde se exerce. Pessoas sem residência habitual tem domicilio presumido no local em que sejam
encontradas, hipótese que faculta ao autor ajuizar a ação em seu próprio domicílio, conforme prevê o art. 46,
§ 2º. Da mesma forma se procede em relação àquele possuidor de domicílio incerto ou desconhecido. É que a
regra geral para a fixação da competência territorial ou de foro é o domicílio do réu, bem como no caso de ser
o autor a União, o Estado ou o Distrito Federal. Já quando a União, o Estado ou o Distrito Federal forem réus,
o autor poderá ajuizar a ação no foro de seu domicílio, no da ocorrência do ato ou fato que originou a demanda,
no da situação da coisa ou na respectiva capital.
Considerando as questões sobre o domicílio, o Código traz as seguintes regras em relação a direito
pessoal ou direito real sobre bens móveis:
a) se o réu possui vários, poderá ser demandado em qualquer deles;
b) se o domicílio é incerto ou não sabido, o réu poderá ser demandado no domicílio do autor;
c) se o réu e o autor não residirem no Brasil, a ação poderá ser proposta em qualquer foro;
d) a execução fiscal será proposta no foro do domicílio do réu, de sua residência ou onde for encontrado.
Em relação às ações fundadas em direito real sobre imóveis, o Código determina a competência
territorial ou de foro como o local da situação da coisa, bem como a ação possessória imobiliária. Também
são do foro da situação da coisa as ações que versem sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão,
divisão e demarcação de terras e nunciação de obra nova, podendo o autor optar pelo foro do domicílio do réu
ou pelo foro de eleição em relação a qualquer causa relativa às matérias anteriormente citadas.
Em relação à herança, o Código determina ser competente o foro do domicílio do autor da herança
para o inventário, a partilha, a arrecadação, o cumprimento de disposições de última vontade, a impugnação
ou a anulação de partilha extrajudicial e para todas as ações em que o espólio seja réu, ainda que o óbito tenha
ocorrido no estrangeiro. Contudo, não possuindo domicílio certo o autor da herança, será competente:
a) o foro da situação dos bens imóveis;
b) se houver imóveis em foros distintos, o de qualquer deles;
c) se não houver imóveis, o foro do local de qualquer dos bens do espólio.
Para as ações envolvendo matéria de direito de família, o Código estabelece as seguintes regras:
a) em relação às ações de divórcio, separação, anulação, reconhecimento ou dissolução de união estável:
i. havendo filho incapaz, valerá o foro de seu guardião;
ii. não havendo filho incapaz, valerá o foro do último domicílio do casal;
iii. não havendo filho incapaz e não residindo nenhuma das partes no antigo domicílio,
valerá o foro do domicílio do réu;
b) na ação de alimentos, o foro do alimentando.
Caso a ação envolva pessoa jurídica:
a) será competente o foro do lugar de sua sede quando for ré;
b) será competente o foro do lugar onde exerce suas atividades quando for ré sociedade ou associação
sem personalidade jurídica;
O Código estabelece ainda:
a) será competente o foro de onde a obrigação deva ser satisfeita, em relação à ação em que se lhe exigir
o cumprimento;
b) será competente o foro do domicílio do idoso para a causa que verse sobre direito previsto no
respectivo estatuto;
c) será competente o foro da sede da serventia notarial ou de registro para a ação de reparação de dano
por ato praticado em razão do ofício;
d) será competente o foro do local do ato ou fato para a ação de reparação de dano;
e) será competente o foro do local do ato ou fato para a ação em que o réu for administrador ou gestor de
negócios alheios;
f) será competente o foro do domicílio do autor ou do local do fato para a ação de reparação de dano
decorrente de delito ou acidente de veículos, inclusive aeronaves (elevadores, escadas rolantes,
bicicletas).

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