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HISTÓRICO
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vista como “tabu”, pois não havia sido atribuída a língua de sinais o status de língua.
Essa era apenas considerada como “Linguagem” e não “Língua”.
Hoje, as Associações de Surdos estão vivendo um momento de “crise” na
sociedade, onde ainda lutam para garantir os direitos dos Surdos já previstos nas
leis, mas os resultados dessa luta ainda não são suficientemente fortes para
promover mudanças favoráveis em suas vidas.
Neste sentido, vale ressaltar a importância do trabalho de preservação das
associações de surdos que são seu maior tesouro, pois foram essas as principais
responsáveis pela resistência e a sobrevivência da Língua de Sinais. Graças a elas,
os Surdos usuários da Língua de Sinais continuam garantindo o uso da língua de
sinais em sua forma natural e pura. A “preservação” da Língua de Sinais e da
Identidade Cultural Surda são condições necessárias para a garantia da autoestima
e para a manutenção da energia pela luta por direitos em uma sociedade
preconceituosa e excludente. Por isso, os surdos brasileiros não param de lutar pela
divulgação do status de língua finalmente reconhecido para a Língua de Sinais e
pelos seus direitos e metas.
Hoje, com a LEI da LIBRAS (refiro-me, aqui, à lei n° 10.436 de 24 de abril de
2002) e o decreto n° 5626 de 22 de dezembro de 2005 que a regulamenta, os
surdos já podem proclamar uma grande vitória. Entretanto, esses ainda continuam
preocupados com o processo dos movimentos sociais e políticos Surdos promovidos
pelas associações de Surdos dentro na sociedade brasileira, já que na lei, não há
nem um item que estabeleça normas e regras de funcionamento que regularizem e
valorizem as associações de Surdos. Assim, a luta continuará até que sejam
alcançados e cumpridos todos os seus direitos previstos na lei.
Mesmo com a regulamentação da lei que estabelece os direitos dos Surdos,
ainda existe muita disputa e polêmica entre as pessoas ouvintes e as pessoas
Surdas na sociedade com relação ao mercado profissional. Também ainda há muito
caminho a ser percorrido até que os Surdos consigam o direito de ter profissionais
capacitados entre os professores Surdos e professores ouvintes e entre os
intérpretes de LIBRAS, que possam garantir-lhes o acesso pleno aos conhecimentos
socialmente compartilhados. Além disso, sabe-se que a discussão sobre inclusão
nas escolas inclusivas e nas universidades e um tópico ainda a ser bastante
explorado.
Assim, podemos concluir que os surdos brasileiros ainda não viram definidos
algo que promova “mudanças favoráveis” significativas para suas vidas no que se
refere a “preservação das associações de surdos e da identidade cultural dos
mesmos”, em relação à qualidade dos intérpretes de LIBRAS e dos professores
ouvintes que trabalham para os Surdos e à falha na formação dos professores
Surdos e professores ouvintes que atuam nas escolas inclusivas e universidades.
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HISTÓRICO DOS MOVIMENTOS DOS SURDOS NAS ESCOLAS
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muito difícil o que deixou muito triste a Comunidade Surda. Ali, as turmas de surdos,
do 2° grau, foram fechadas e os alunos transferidos para as escolas inclusivas.
Não somente essas duas, mas outras escolas para surdos vêm sendo
fechadas.
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No dia 26 de setembro também ocorrem passeatas, igualmente importantes,
porém, somente alguns Estados se realizam passeatas, porque existem surdos que
não têm interesse em se envolver com as lutas políticas de seus pares. Em minha
opinião, hoje os movimentos dos Surdos são fracos, muito lentos e difíceis, pois
alguns surdos querem continuar sendo “submissos” aos ouvintes, portanto, se eles
fossem capacitados e fortes para participar, já teriam feito conquistas relevantes
para todos os surdos há muito tempo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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outro lado, a Comunidade Surda deve vencer as barreiras da “submissão” imposta
pelos ouvintes.
Além disso, é preciso resistir a todo e qualquer termo inventado por ouvintes
alheios à
Identidade e à Cultura Surda. Assim evitaremos transtornos futuros na vida
dos surdos.
REFERÊNCIAS
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e linha de ação. 2 ed. Brasília: CORDE, 1994.
ROCHA, S. Edição Comemorativa 140 anos. Revista Espaço INES.
Rio de Janeiro: Editora Litera. 1997, 32 p. RAMOS, C R. Instituto Santa Teresinha. Revista FENEIS.
São Paulo, n. 1, p. 12, 1999. Revista FENEIS, Rio de Janeiro, n.1. V Congresso Latino Americano de
Educação
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PIMENTEL, M. J. A História da Federação Paulista Desportiva de Surdos – FPDS e a
Confederação Brasileira de Desportos dos Surdos – CBDS. Revista FENEIS. São Paulo. n.
01, p. 21, 1999.
RAMOS, C R. Prêmio Tele-curso 2000. Revista FENEIS. Edições Legendadas. n. 02, p. 8,
1999.
ANDRADE, S. M. Federação Desportivo dos Surdos. Revista FENEIS. Rio de Janeiro, n.
03, p. 16, 1999.
MILITO, J. Bate papo com José Milito. Revista FENEIS. São Paulo, n. 04, p. 27, 1999.
FERREIRA, G. E. Políticas Públicas nas Atividades dos Movimentos Associativos de pessoas
Surdas no Brasil, 1ª parte. Revista FENEIS. Belo Horizonte, n. 6, p. 16, 2000.
FERREIRA, G. Políticas Públicas nas Atividades dos Movimentos Associativos de pessoas
Surdas no Brasil, 2ª parte. Revista FENEIS. Belo Horizonte, n. 07, p. 29, 2000.
FÁVERO, G. A.; ZACARO, H. I. S; PIMENTEL JR, M. J. I Conferência dos Direitos e
Cidadania dos Surdos do Estado de São Paulo ( Condicisur ). Revista FENEIS. São Paulo, n.
11, p. 8, 2001.
FELIPE, T. A. Ano do Reconhecimento do Instrutor Surdos: CORDE e MEC juntos com a
FENEIS em torno da LIBRAS. Revista FENEIS. Rio de Janeiro, n. 12, p. 07 – 09, 2001.
BRAGAZZI, D. O Brasil comemora o dia do surdo. Revista FENEIS. Belo Horizonte, n. 20, p. 14 –15,
2003.
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LEI Nº 10.436, DE 24 DE ABRIL DE 2002.
Art. 2o Deve ser garantido, por parte do poder público em geral e empresas
concessionárias de serviços públicos, formas institucionalizadas de apoiar o uso e
difusão da Língua Brasileira de Sinais - Libras como meio de comunicação objetiva e
de utilização corrente das comunidades surdas do Brasil.
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DECRETO Nº 5.626, DE 22 DE DEZEMBRO DE 2005.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso das atribuições que lhe confere o art. 84,
inciso IV, da Constituição, e tendo em vista o disposto na Lei no 10.436, de 24 de
abril de 2002, e no art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000,
DECRETA:
CAPÍTULO I
Art. 2o Para os fins deste Decreto, considera-se pessoa surda aquela que, por ter
perda auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de experiências
visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da Língua Brasileira de
Sinais - Libras.
CAPÍTULO II
Art. 3o A Libras deve ser inserida como disciplina curricular obrigatória nos cursos de
formação de professores para o exercício do magistério, em nível médio e superior,
e nos cursos de Fonoaudiologia, de instituições de ensino, públicas e privadas, do
sistema federal de ensino e dos sistemas de ensino dos Estados, do Distrito Federal
e dos Municípios.
CAPÍTULO III
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Art. 4o A formação de docentes para o ensino de Libras nas séries finais do ensino
fundamental, no ensino médio e na educação superior deve ser realizada em nível
superior, em curso de graduação de licenciatura plena em Letras: Libras ou em
Letras: Libras/Língua Portuguesa como segunda língua.
Art. 6o A formação de instrutor de Libras, em nível médio, deve ser realizada por
meio de:
Art. 7o Nos próximos dez anos, a partir da publicação deste Decreto, caso não haja
docente com título de pós-graduação ou de graduação em Libras para o ensino
dessa disciplina em cursos de educação superior, ela poderá ser ministrada por
profissionais que apresentem pelo menos um dos seguintes perfis:
II - instrutor de Libras, usuário dessa língua com formação de nível médio e com
certificado obtido por meio de exame de proficiência em Libras, promovido pelo
Ministério da Educação;
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III - professor ouvinte bilíngue: Libras - Língua Portuguesa, com pós-graduação ou
formação superior e com certificado obtido por meio de exame de proficiência em
Libras, promovido pelo Ministério da Educação.
§ 1o Nos casos previstos nos incisos I e II, as pessoas surdas terão prioridade para
ministrar a disciplina de Libras.
Art. 8o O exame de proficiência em Libras, referido no art. 7o, deve avaliar a fluência
no uso, o conhecimento e a competência para o ensino dessa língua.
III - até sete anos, em oitenta por cento dos cursos da instituição; e
Art. 10. As instituições de educação superior devem incluir a Libras como objeto de
ensino, pesquisa e extensão nos cursos de formação de professores para a
educação básica, nos cursos de Fonoaudióloga e nos cursos de Tradução e
Interpretação de Libras - Língua Portuguesa.
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Art. 11. O Ministério da Educação promoverá, a partir da publicação deste Decreto,
programas específicos para a criação de cursos de graduação:
CAPÍTULO IV
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II - ofertar, obrigatoriamente, desde a educação infantil, o ensino da Libras e também
da Língua Portuguesa, como segunda língua para alunos surdos;
Art. 15. Para complementar o currículo da base nacional comum, o ensino de Libras
e o ensino da modalidade escrita da Língua Portuguesa, como segunda língua para
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alunos surdos, devem ser ministrados em uma perspectiva dialógica, funcional e
instrumental, como:
Art. 16. A modalidade oral da Língua Portuguesa, na educação básica, deve ser
ofertada aos alunos surdos ou com deficiência auditiva, preferencialmente em turno
distinto ao da escolarização, por meio de ações integradas entre as áreas da saúde
e da educação, resguardado o direito de opção da família ou do próprio aluno por
essa modalidade.
CAPÍTULO V
Art. 18. Nos próximos dez anos, a partir da publicação deste Decreto, a formação de
tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa, em nível médio, deve ser
realizada por meio de:
Art. 19. Nos próximos dez anos, a partir da publicação deste Decreto, caso não haja
pessoas com a titulação exigida para o exercício da tradução e interpretação de
Libras - Língua Portuguesa, as instituições federais de ensino devem incluir, em
seus quadros, profissionais com o seguinte perfil:
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I - profissional ouvinte, de nível superior, com competência e fluência em Libras para
realizar a interpretação das duas línguas, de maneira simultânea e consecutiva, e
com aprovação em exame de proficiência, promovido pelo Ministério da Educação,
para atuação em instituições de ensino médio e de educação superior;
Art. 20. Nos próximos dez anos, a partir da publicação deste Decreto, o Ministério da
Educação ou instituições de ensino superior por ele credenciadas para essa
finalidade promoverão, anualmente, exame nacional de proficiência em tradução e
interpretação de Libras - Língua Portuguesa.
II - nas salas de aula para viabilizar o acesso dos alunos aos conhecimentos e
conteúdos curriculares, em todas as atividades didático-pedagógicas; e
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assegurar aos alunos surdos ou com deficiência auditiva o acesso à comunicação, à
informação e à educação.
CAPÍTULO VI
Art. 22. As instituições federais de ensino responsáveis pela educação básica devem
garantir a inclusão de alunos surdos ou com deficiência auditiva, por meio da
organização de:
§ 4o O disposto no § 2o deste artigo deve ser garantido também para os alunos não
usuários da Libras.
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§ 2o As instituições privadas e as públicas dos sistemas de ensino federal, estadual,
municipal e do Distrito Federal buscarão implementar as medidas referidas neste
artigo como meio de assegurar aos alunos surdos ou com deficiência auditiva o
acesso à comunicação, à informação e à educação.
CAPÍTULO VII
Art. 25. A partir de um ano da publicação deste Decreto, o Sistema Único de Saúde -
SUS e as empresas que detêm concessão ou permissão de serviços públicos de
assistência à saúde, na perspectiva da inclusão plena das pessoas surdas ou com
deficiência auditiva em todas as esferas da vida social, devem garantir,
prioritariamente aos alunos matriculados nas redes de ensino da educação básica, a
atenção integral à sua saúde, nos diversos níveis de complexidade e especialidades
médicas, efetivando:
§ 1o O disposto neste artigo deve ser garantido também para os alunos surdos ou
com deficiência auditiva não usuários da Libras.
CAPÍTULO VIII
§ 1o As instituições de que trata o caput devem dispor de, pelo menos, cinco por
cento de servidores, funcionários e empregados capacitados para o uso e
interpretação da Libras.
Art. 27. No âmbito da administração pública federal, direta e indireta, bem como das
empresas que detêm concessão e permissão de serviços públicos federais, os
serviços prestados por servidores e empregados capacitados para utilizar a Libras e
realizar a tradução e interpretação de Libras - Língua Portuguesa estão sujeitos a
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padrões de controle de atendimento e a avaliação da satisfação do usuário dos
serviços públicos, sob a coordenação da Secretaria de
CAPÍTULO IX
Art. 28. Os órgãos da administração pública federal, direta e indireta, devem incluir
em seus orçamentos anuais e plurianuais dotações destinadas a viabilizar ações
previstas neste Decreto, prioritariamente as relativas à formação, capacitação e
qualificação de professores, servidores e empregados para o uso e difusão da Libras
e à realização da tradução e interpretação de Libras - Língua Portuguesa, a partir de
um ano da publicação deste Decreto.
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Presidência da República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos
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V - prestar seus serviços em depoimentos em juízo, em órgãos administrativos
ou policiais.
Art. 7o O intérprete deve exercer sua profissão com rigor técnico, zelando
pelos valores éticos a ela inerentes, pelo respeito à pessoa humana e à cultura do
surdo e, em especial:
I - pela honestidade e discrição, protegendo o direito de sigilo da informação
recebida;
II - pela atuação livre de preconceito de origem, raça, credo religioso, idade,
sexo ou orientação sexual ou gênero;
III - pela imparcialidade e fidelidade aos conteúdos que lhe couber traduzir;
IV - pelas postura e conduta adequadas aos ambientes que frequentar por
causa do exercício profissional;
V - pela solidariedade e consciência de que o direito de expressão é um direito
social, independentemente da condição social e econômica daqueles que dele
necessitem;
VI - pelo conhecimento das especificidades da comunidade surda.
Art. 8o (VETADO)
Art. 9o (VETADO)
Art. 10. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 1º de setembro de 2010; 189o da Independência e 122o da República.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Luiz Paulo Teles Ferreira Barreto
Fernando Haddad
Carlos Lupi
Paulo de Tarso Vanucchi
VETOS
Arts. 3o e 8o
“Art. 3o É requisito para o exercício da profissão de Tradutor e Intérprete a habilitação em curso superior
de Tradução e Interpretação, com habilitação em Libras - Língua Portuguesa.
Parágrafo único. Poderão ainda exercer a profissão de Tradutor e Intérprete de Libras - Língua
Portuguesa:
I - profissional de nível médio, com a formação descrita no art. 4o, desde que obtida até 22 de dezembro
de 2015;
II - profissional que tenha obtido a certificação de proficiência prevista no art. 5 o desta Lei.”
“Art. 8o Norma específica estabelecerá a criação de Conselho Federal e Conselhos Regionais que
cuidarão da aplicação da regulamentação da profissão, em especial da fiscalização do exercício profissional.”
Razões dos vetos
“O projeto dispõe sobre o exercício da profissão do tradutor e intérprete de libras, considerando as
necessidades da comunidade surda e os possíveis danos decorrentes da falta de regulamentação. Não obstante,
ao impor a habilitação em curso superior específico e a criação de conselhos profissionais, os dispositivos
impedem o exercício da atividade por profissionais de outras áreas, devidamente formados nos termos do art.
4o da proposta, violando o art. 5o, inciso XIII da Constituição Federal.”
Art. 9o
“Art. 9o Ficam convalidados todos os efeitos jurídicos da regulamentação profissional disciplinados pelo
Decreto no 5.626, de 22 de dezembro de 2005.”
Razão do veto
“O Decreto no 5.626, de 2005, não trata de ‘regulamentação profissional’, limitando-se a regulamentar
o
a Lei n 10.436, de 2002, que reconhece a Língua Brasileira de Sinais como meio legal de comunicação, e o
art. 18 da Lei no 10.098, de 2000, que estabelece a obrigação de o poder público cuidar da formação de
intérpretes de língua de sinais.”
Essas, Senhor Presidente, as razões que me levaram a vetar os dispositivos acima mencionados do
projeto em causa, as quais ora submeto à elevada apreciação dos Senhores Membros do Congresso Nacional.
Este texto não substitui o publicado no DOU de 2.9.2010
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CULTURA E IDENTIDADE SURDAS:
Quero entender o que dizem. Estou enjoada de ser prisioneira desse silêncio
que eles não procuram romper. Esforço-me o tempo todo, eles não muito. Os
ouvintes não se esforçam. “Queria que se esforçassem” (Labourit, 1994, p. 39). O
depoimento de Labourit explicita um conflito: um esforço unilateral (dos surdos) para
interagir com os ouvintes, e estes, por não se esforçarem, por discriminarem os
surdos, acabam dando visibilidade a essa segregação e permitindo a “constituição”
de um grupo diferente que acredita ter também uma cultura diferente. Os surdos
sempre foram, historicamente, estigmatizados, considerados de menor valor social.
Afinal, faltava-lhes a característica eminentemente humana: a linguagem (oral, bem
entendido) e suas virtudes cognitivas. Sendo destituídos dessas “virtudes”, os
surdos eram “humanamente inferiores”.
1 A língua de sinais era considerada apenas uma mímica gestual, e sempre
houve preconceitos com relação ao uso de gestos para a comunicação.
2 A exclusão profissional e social dos surdos ainda hoje confirma que a
linguagem pode ser fonte de discriminação e de organização social restritiva. Essa
discriminação não ocorre apenas quando há diferenças de nacionalidade, cor, perfil
socioeconômico ou religião.
Entre os surdos e os ouvintes há uma grande diferença que os distingue: a
linguagem oral.
Assim, os surdos são, não raras vezes, situados a meio caminho entre os
ouvintes, considerados humanos de qualidade superior, ou humanos em toda a sua
plenitude, e os subumanos, desprovidos de todos os traços que os assemelham aos
seres humanos. Eles não podem ser classificados como subumanos porque
apresentam traços de humanidade, mas também não conseguem ser aceitos como
seres humanos em sua plenitude. A defesa e a proteção da língua de sinais, mais
que significar uma autossuficiência e o direito de pertença a um mundo particular,
parecem significar a proteção dos traços de humanidade, daquilo que faz um
homem ser considerado homem: a linguagem.
A separação entre grupos humanos é produzida socialmente, bem como sua
integração, na medida em que toda forma de preconceito, toda discriminação, todo
comportamento humano está subordinado à cultura que os constrói, propaga,
veicula e sedimenta.
3 São as normas sociais que “autorizam” essa separação, normas que
organizam toda a nossa vida social, modos de falar, de vestir-se, de atuar no mundo,
de pensar etc. O modo como a surdez vem sendo descrita está ideologicamente
relacionado a essas normas. Assim como a luta política por novas normas: cultura e
identidade surdas, inclusão do surdo nas minorias sociais, junto com os negros e
índios. Essa luta pela inclusão é uma forma de “garantia” de afastamento da
“anormalidade” e aproximação das minorias, normais embora diferentes.
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Essa mudança de estatuto da surdez, de patologia para fenômeno social, vem
acompanhada também de uma mudança de nomenclatura, não só terminológica,
mas conceitual: de deficiente auditivo para surdo, ou ainda Surdo. Antes, os surdos
eram considerados deficientes e a surdez era uma patologia incurável. Agora, eles
passaram a ser “diferentes”. Deficiente auditivo e surdo, ou Surdo, como preferem
autores como Moura (2000), por exemplo, são termos ideologicamente marcados.
4 Conferir à língua de sinais o estatuto de língua não tem apenas repercussões
linguísticas e cognitivas, tem repercussões também sociais. Ser normal implica ter
língua, e se a anormalidade é a ausência de língua e de tudo o que ela representa
(comunicação, pensamento, aprendizagem etc.), a partir do momento em que se
configura a língua de sinais como língua do surdo, o estatuto do que é normal
também muda. Ou seja, a língua de sinais acaba por oferecer uma possibilidade de
legitimação do surdo como “sujeito de linguagem”. Ela é capaz de transformar a
“anormalidade” em diferença, em normalidade.
5 A identidade surda. Os defensores da língua de sinais para os surdos
afirmam que é só de posse desta, considerada “natural”, adquirida em qualquer
idade, que o surdo constituirá uma identidade surda, já que ele não é ouvinte (Perlin,
1998; Moura, 2000). A maioria dos estudos tem como base a idéia de que a
identidade surda está relacionada a uma questão de uso da língua. Portanto, o uso
ou não da língua de sinais seria aquilo que definiria basicamente a identidade do
sujeito, identidade que só seria adquirida em contato com outro surdo. O que ocorre,
na verdade, é que, em contato com outro surdo que também use a língua de sinais
surgem novas possibilidades interativas, de compreensão, de diálogo, de
aprendizagem, que não são possíveis apenas por meio da linguagem oral. A
aquisição de uma língua, e de todos os mecanismos afeitos a ela, faz com que se
credite à língua de sinais a capacidade de ser a única capaz de oferecer uma
identidade ao surdo.
O que está por trás de tal afirmativa não é simplesmente uma questão de
identidade social, mas, mais especificamente, uma identidade concebida a partir de
um determinado pressuposto teórico. Ao tomar a língua como definidora de uma
identidade social, ainda que se leve em conta as relações e os conflitos relativos às
distintas posições ocupadas por grupos sociais, enfatiza-se o seu caráter
instrumental. Assim, sua natureza, ou sua significação social, passa a ser creditada
às interações sociais às quais está ligada. Dessa forma, para alguns autores a
identidade está relacionada tanto aos discursos produzidos quanto à natureza das
relações sociais. Para Maher (2001, p. 116), por exemplo, “ao falarmos de
identidade, não estamos falando de essência alguma”. A identidade seria uma
construção permanentemente refeita que buscaria tanto determinar especificidades
que estabeleçam fronteiras identificatórias entre o próprio sujeito e o outro quanto
obter o reconhecimento dos demais membros do grupo social ao qual pertence.
Seria, portanto, nessa relação, no tempo e no espaço, com diferentes outros que o
sujeito se construiria. É, com isso, nas práticas discursivas que o sujeito emerge e é
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revelado. Ou seja, é principalmente no uso da linguagem – e não qualquer
materialidade linguística específica – que as pessoas constroem e projetam suas
identidades. “A construção da identidade não é do domínio exclusivo de língua
alguma, embora ela seja, sempre, da ordem do discurso” (Maher, 2001, p. 135) e,
portanto, interativa e social. Mas o fato é que não existe uma identidade exclusiva e
única, como a identidade surda. Ela é construída por papéis sociais diferentes (pode-
se ser surdo, rico, heterossexual, branco, professor, pai etc.) e também pela língua
que constrói nossa subjetividade. Utilizando a expressão de Cameron et al. (apud
Lopes, 2001, p. 310), “a pessoa é um mosaico intrincado de diferentes potenciais de
poder em relações sociais diferentes”. Nesse caso, não há escolhas nas nossas
identidades, isso independe da nossa mera vontade. Elas são determinadas pelas
práticas sociais, impregnadas por relações simbólicas de poder. E, é obvio, essas
práticas sociais e essas relações simbólicas de poder não são estáticas e imutáveis
ao longo da vida dos sujeitos. Esse é justamente o ponto que interessa aqui. Se a
identidade está relacionada a práticas sociais de uma complexidade muito maior, por
que a língua, e apenas ela, é tomada como o instrumento por excelência de sua
constituição e definição? Qual é o significado dessa inversão, desse jogo teórico que
toma a língua, num primeiro momento, como determinada pelas práticas e
interações sociais e, num segundo, faz dela a definidora dessas mesmas práticas?
Para ilustrar melhor essa questão, que nos remete ao problema da constituição
da identidade, vejamos alguns relatos:
6 Paula: // escreve “pensei que eu era a única surda do mundo” // Porque
ouvinte fala. Eu olhava para sua boca e não compreendia. Não sabia por que eu não
podia falar. Ficava decepcionada // escreve “decepcionada” // Tentei descobrir por
que eu não podia falar (...) Surdo nasce. A mãe ensina a falar, a estudar. Não sabe
sinais. Não pode fazer sinais. Fazer sinais implica ser acomodado e não falar.
Assim, ele cresce sem conhecer sinais e aprende a falar desde pequeno. Cresce
sem nunca ter encontrado outro surdo. Um dia, ele vai passando na rua e encontra
um surdo fazendo sinais. Ele olha para os movimentos das mãos e estranha.
Pergunta ao surdo: “Você não ouve?”. “Não. Sou surdo. Todos aqui são.” “Eu
também sou. Eu não escuto. Eu só falo.” Vê os sinais e pergunta: “O que é isso? Eu
não sei. Eu queria aprender”. Ele começa a aprender língua de sinais. Depois, em
casa, com a família, não se sente bem em falar. Não quer mais falar. Quer aprender
a língua de sinais.
7 Emanuelle Labourit (1994): Não havia compreendido que eu era surda.
Somente que existia uma diferença (op. cit., p. 25). Nunca havia visto surdos
adultos, portanto, na minha cabeça, os surdos nunca cresciam. Iríamos morrer
assim, pequenos (op. cit., p. 32). Essa lógica cruel permanece enquanto as crianças
surdas não se encontram com um surdo adulto. Elas têm necessidade dessa
identificação com os adultos, uma necessidade crucial. É preciso convencer todos
os pais das crianças surdas a colocá-las em contato o mais rápido possível com
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adultos surdos, desde o nascimento. Ela se construirá longe daquela solidão
angustiante de ser a única no mundo, sem idéias construtivas e sem futuro (op. cit.,
p. 49). Para quem se habituou a virar a cabeça ao chamado de seu próprio nome, é
talvez difícil entender. Sua identidade está dada desde o nascimento. Não têm
necessidade de pensar nela, não se questionam, sobre si mesmos. São “eu”,
naturalmente, sem esforço. Eles se conhecem, se identificam, se apresentam aos
outros com um símbolo que os representa, mas a Emanuelle surda não sabia que
ela era eu (op. cit., p. 51). Naquela idade, sentia-me pouco como uma estrangeira
em minha própria família. Não tinha cumplicidade com alguém semelhante a mim.
Não podia me identificar (op. cit., p. 56). Eu tinha [após a aquisição da língua de
sinais] tantas perguntas a fazer. Tantas e tantas. Estava ávida, sedenta de respostas
que podiam me responder (op. cit., p. 52). Investigadora: Explica pra mim um pouco
como é essa questão de identidade surda que você falou. Como é que é isso? José:
A identidade surda é aceitar ser surdo. Se a pessoa não aceita ser surda, só, não
tem identidade própria. É... ele fica revoltado. Não aceita. Ele tem vergonha de ser
surdo. Eu não... Eu não tenho vergonha de ser surdo. Eu exponho o meu problema,
o que foi que causou. Então, eu exponho minha identidade de surdo, entendeu?
Agora, tem surdo que tem vergonha, daí ele esconde a identidade dele.
No primeiro e no segundo casos, o discurso reconstrói as trajetórias de
isolamento social de cada uma e faz da língua de sinais o passaporte de entrada
para o universo social. Só que o universo social não se esgota aí. A partir do
momento em que essa entrada teve início, o sujeito poderá ocupar novas posições
sociais e ampliar as possibilidades ligadas a uma multiplicidade de práticas e
interações sociais. A inserção no universo social teve, portanto, apenas início. Já o
caso de José mostra que o isolamento social a que nossa sociedade condena os
surdos pode ser quebrado de outras maneiras. Em outro momento da entrevista, ele
ressalta que sua primeira língua é a linguagem oral, e que, ao comunicar-se, prefere
também usar a fala. José só utiliza a língua de sinais com surdos que não falam ou
com ouvintes que queiram treinar a língua de sinais. Neste sentido, a linguagem oral
também pode constituir a identidade do surdo, e não só a língua de sinais, a partir
do momento em que o surdo dela se apropria e a molda para construir e marcar sua
identidade. Mais significativo ainda se torna o caso dele se levarmos em conta que
se trata do presidente de uma associação de surdos de uma importante cidade do
interior paulista. Portanto, ocupa uma posição de autoridade e legitimidade perante a
comunidade surda. No seu caso, a “identidade surda” parece se constituir pela sua
carência, pela privação, e por assumir a surdez como limitação. José também
comentou, durante a entrevista, que na adolescência teve muita dificuldade para
aceitar a surdez. Quando as moças falavam baixo e ele não entendia, por exemplo,
sentia vergonha de dizer que era surdo. Só tempos depois passou a aceitar a
surdez. É por isso que José se refere à identidade surda como aceitação da surdez.
Ao que parece, a constituição da identidade pelo surdo não está
necessariamente relacionada à língua de sinais, mas sim à presença de uma língua
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que lhes dê a possibilidade de constituir-se no mundo como “falante”, ou seja, à
constituição de sua própria subjetividade pela linguagem8 e às implicações dessa
“constituição” nas suas relações sociais. Em outras palavras, torna-se estranha a
afirmação de que todos os surdos só constituam sua identidade por intermédio da
língua de sinais. Afinal de contas, não há uma relação direta entre língua específica
e identidade específica. A identidade não pode ser vista como inerente às pessoas,
mas sim como resultado de práticas discursivas e sociais em circunstâncias sócio
históricas particulares. O modo como a surdez é concebida socialmente também
influencia a construção da identidade. O sujeito não pode ser visto dentro de um
“vácuo social”. Ele afeta e é afetado pelos discursos e pelas práticas produzidos. Há
estudos relacionados à surdez que vêm tratando esse tema de uma outra forma,
como se a identidade fosse constituída apenas a partir de dois pólos: o dos ouvintes
e o dos surdos. A identidade é construída sempre em relação a um determinado
grupo ao qual se pertence, diferenciando-se de um outro, com o qual se estabelece
uma relação de caráter negativo, ou seja, por oposição a ele. Com isso, a
construção da identidade baseia-se num processo de “associação” a um
determinado grupo, e de “dissociação” com relação a outros grupos. O
pertencimento a um dado grupo expressa-se por meio do ethos grupal, do conjunto
de valores e saberes partilhados (Mead, 1934; Rose, 1962). A identidade pode ser
construída também tendo um ethos como referência negativa: o indivíduo não faz
parte daquele grupo e também não faz parte de nenhum outro grupo que possa ser
caracterizado como tendo um ethos próprio.
Por exemplo: os conceitos de normal e patológico definem um ethos de
referência, a normalidade, e afasta todo aquele que dele não se aproxima,
reservando a todos o mesmo lugar social de patológico. Não há um ethos que possa
caracterizar e definir aqueles que são “patologizados”.
A identidade é, assim, constituída por diferentes papéis sociais que assumimos
e que, vale salientar, não são homogêneos. Podem ser religiosos (católicos,
evangélicos etc.), políticos (de direita, de esquerda, socialistas, sociais democratas
etc.), funcionais (metalúrgicos, vendedores, médicos etc.), estéticos (clubbers,
punks, hyppies etc.), de gênero (homens, mulheres). A distinção entre ouvintes e
não-ouvintes, de certa maneira, cria um obstáculo teórico: define o grupo de “não-
ouvintes” como sendo o único contexto no qual eles se inserem. A identidade, nesse
caso, só pode ser construída de forma negativa. Mas a arquitetura social não se
reduz a isso, evidentemente. Talvez o caso mais óbvio e que se opõe a tal redução
da estrutura social seja o esforço que várias comunidades religiosas têm feito para
terem os surdos como parte dos seus membros. Atualmente, a maior parte dos
cursos de línguas de sinais é oferecida por comunidades evangélicas e, no Brasil,
um de seus principais “expoentes” tem a seu lado, na tela de seu programa de
televisão, alguém que faz a tradução simultânea do que ele diz para a língua de
sinais. Não importa se os fiéis são surdos ou não, nesse momento eles “pertencem”
27
a um grupo particular formado não apenas por surdos, mas por um grupo de
pessoas que compartilha a mesma religião e por isso se identifica.
Em suma, dificilmente se pode falar de uma identidade surda. A constituição da
identidade do sujeito está relacionada às práticas sociais, e não a uma língua
determinada, e às interações discursivas diferenciadas no decorrer de sua vida: na
família, na escola, no trabalho, nos cursos que faz, com os amigos. O
reconhecimento dessa realidade seria o aprofundamento das discussões sobre a
identidade no campo da surdez, no qual se procura estabelecer uma “norma” com
relação ao que é teoricamente chamado de identidade, e exigir que as análises
correspondam a ela. Ou seja, uma norma de identidade, a identidade do surdo, e
uma norma cultural correspondente, a cultura surda.
8 A cultura surda. Quando se pensa em cultura, o conceito recorrente é de um
conjunto de práticas simbólicas de um determinado grupo: língua, artes (literatura,
música, dança teatro etc.), religião, sentimentos, idéias, modos de agir e de vestir.
Poche (1989) afirma que, por cultura, entende-se os esquemas perceptivos e
interpretativos segundo os quais um grupo produz o discurso de sua relação com o
mundo e com o conhecimento, ou qualquer outra proposição equivalente; a língua e
a cultura são duas produções paralelas e, além disso, a língua é um “recurso” na
produção da cultura, embora não seja o único. Pare ele, a língua é, neste sentido,
um instrumento que serve à linguagem para criar, simbolizar e fazer circular sentido,
é um processo permanente de interação social.
Na área da surdez encontra-se geralmente o termo “cultura” como referência à
língua (de sinais), às estratégias sociais e aos mecanismos compensatórios que os
surdos realizam para agir no/sobre o mundo, como o despertador que vibra, a
campainha que aciona a luz, o uso de fax em vez de telefone, o tipo de piada que se
conta etc. Kozlowski (2000), por exemplo, afirma que a existência de uma cultura
surda faz parte da educação bilíngue. O surdo seria bilíngue e bicultural. O
biculturalismo designa o conjunto de referências à história dos surdos, o conjunto de
significações simbólicas veiculadas pelo uso de uma língua comum, o conjunto de
estratégias sociais e de códigos sociais utilizados de maneira comum pelos surdos
para viverem numa sociedade feita por e para os ouvintes. É, portanto, uma cultura
de adaptação à diferença e produtora de elo social. A realidade e a legitimidade
desta noção de cultura é objeto de grandes críticas, algumas vezes com razão,
porque muitos aspectos da cultura surda se apresentam mais como um sistema
derivado da cultura dos ouvintes do que como uma cultura realmente original e
autônoma. Já para Geertz (1989), o conceito de “cultura” é essencialmente
semiótico, o homem seria um animal amarrado a teias de significados que ele
mesmo tece. A cultura seria o conjunto dessas teias. A cultura não é apenas um
complexo de padrões concretos de comportamento, costumes, usos, tradições,
feixes de hábitos, é também um conjunto de mecanismos de controle, planos,
receitas, regras e instruções para governar o comportamento. Segundo ele, o
homem é precisamente o animal mais desesperadamente dependente de tais
28
mecanismos de controle e estratégias. A perspectiva de cultura como um
mecanismo de controle inicia-se com o pressuposto de que o pensamento humano é
basicamente social e público, por isso seu ambiente natural é o pátio, o mercado, a
praça da cidade. Assim, pensar consiste não nos acontecimentos na mente, mas
num tráfego entre símbolos significantes: “Nossas idéias, nossos valores, nossos
atos e até mesmo nossas emoções são, como nosso próprio sistema nervoso,
produtos culturais, na verdade produtos manufaturados a partir de tendências,
capacidades, disposições com as quais nascemos” (Geertz,1989, p. 62).
Temos, pelo menos, dois modos de discutir essa questão. Um modo mais
simples e que argumenta que os surdos, apenas por fazerem parte de um grupo que
fala uma língua determinada, não podem ser considerados membros de uma outra
cultura, já que cultura implica bem mais que se ter uma língua em comum. Dir-se-ia,
assim, que cultura não é só uma língua: a língua, isoladamente, não totaliza uma
cultura. Os surdos crescem segundo os valores, as crenças, os símbolos, os modos
de agir e de pensar de um sistema socialmente instituído e em transformação.
Encerrando a discussão, dir-se-ia que os surdos e os ouvintes crescem numa
mesma cultura a partir do momento em que participam de um mesmo universo
social. Valores, crenças e símbolos específicos não expressam uma cultura
diferente, apenas indicam a particularidade de um grupo dentro de um sistema social
dado. Em outras palavras: não há como conceber uma idéia de cultura surda e de
seu oposto, cultura ouvinte. Porém, finalizar esta discussão com o enunciado acima
seria uma formulação abstrata e descomprometida com a realidade, pois ignoraria a
separação que a própria sociedade estabelece entre surdos e ouvintes e os motivos
pelos quais se luta politicamente por essa separação. Um outro modo de discutir a
questão da cultura surda é bem mais complexo. Desse lado, não vale a pena entrar
em jogos teóricos como, por exemplo, se existe ou não cultura surda e seu oposto, a
cultura ouvinte.
Esse tipo de trabalho seria apenas a ponta do iceberg. Em outras palavras,
seria preciso entender por que persistem as opiniões em favor da cultura surda e
entender quais as vantagens em adotar (e defender) essa ideia. Assim, não parece
interessante partir de uma ideia rígida e preconcebida do que seja ou não cultura.
Há questões outras, não evidentes, e que são importantes para esta discussão,
como, por exemplo: por que parece ser uma conclusão lógica para muitos autores e
surdos a adoção do termo “cultura surda” e a ênfase no uso da língua como sua
principal definição?
9 Assumir a existência de uma “cultura surda”, tanto no interior da comunidade
surda quanto no interior do campo de pesquisas universitário, implica também
assumir uma separação entre surdos e ouvintes. Implica referendar uma divisão
social específica. É por meio da constituição heterogênea dos grupos que se pode
observar melhor a eficácia das representações que impõem os princípios de divisão.
Assim, a oficialização encontra sua plena realização na manifestação, ato típico
mágico por meio do qual o grupo prático, negado, reprimido, torna-se visível,
29
manifesto, tanto para os outros grupos como para si mesmo, atestando sua
existência na qualidade de grupo conhecido e reconhecido, e afirmando sua
pretensão à institucionalização. O mundo social é também representação e vontade.
Existir socialmente é também ser percebido, aliás, percebido como distinto
(Bourdieu, 1998).
No caso da surdez vemos que, longe de ser apenas um debate por direitos ou
para tentar trazer melhorias ao surdo, a defesa da cultura surda acaba por atualizar
os mecanismos de reprodução da própria desigualdade, e o termo “cultura” passa a
ser um dos instrumentos de legitimação dessa desigualdade e da tentativa de
preservar uma suposta homogeneidade atribuída aos grupos de surdos.
Acredita-se também que o termo “cultura surda” – e sua legitimação – seja
produto exclusivamente dos surdos, ao passo que aos demais grupos da sociedade,
ou melhor, aos ouvintes, é subtraída qualquer participação na construção do termo.
Sob várias formas, para uma divisão social com base em uma suposta cultura surda
e outra ouvinte, todos aqueles que estão distantes da comunidade surda são
considerados sem relevância e não podem contar como referência. Assim, toda idéia
de cultura surda fica ligada exclusivamente ao surdo e aos profissionais da área,
como se, inclusive, a criação do termo “cultura” fosse associada apenas um grupo
específico.
Grosso modo, a discussão da literatura em torno da cultura surda pressupõe
uma diferença entre surdos e ouvintes e postula uma idéia de realidade homogênea
a cada um dos pólos dessa dicotomia. Entretanto, essa diferença faz parte de um
processo de cisão social que não é recente. O próprio discurso sobre a
desigualdade também faz parte desse mesmo processo. Um processo que, ao invés
de aproximar os surdos dos ouvintes, distancia-os, já que enfatiza sempre o que
eles têm de diferente e nunca o que eles têm em comum.
Sá, por exemplo, partindo de uma concepção socioantropológica da surdez,
afirma que não se está defendendo que o surdo faz parte de uma “raça” distinta da
sociedade ou de sua família ouvinte:
(...) nem estamos pretendendo incentivar a criação de grupos à parte, de
minorias alheias à sociedade majoritária. Pretendemos, sim, que sejam
reconhecidas as variadas “especificidades culturais”, manifestadas na língua, nos
hábitos, nos modos de socialização e de funcionamento cognitivo que dão origem a
uma cultura diferente (...). O objetivo de considerar, no estudo da problemática do
surdo, a questão cultural não é o de incentivar a criação de grupos minoritários à
margem da sociedade, mas justamente o contrário, ou seja, o de considerar a
diferenciação linguística como necessária para possibilitar o desenvolvimento normal
da cognição, da subjetividade, da expressividade e da cidadania da pessoa surda.
(Sá, 1999, p. 157-158) A questão não é só de usos de línguas diferentes, mas o que
implica o uso de línguas diferentes. O lógico parece ser que os falantes de uma
mesma língua interajam mais que os falantes de línguas diferentes. A criação de
grupos de surdos acaba sendo o reflexo disso. Ressalte-se aqui que nos grupos de
30
surdos também há ouvintes, mas estes usam a língua de sinais. Lane (1992)
ressalta que a cultura surda, além da língua, é composta de literatura específica, sua
própria história ao longo do tempo, história de contos de fadas, fábulas, romances,
peças de teatro, anedotas, jogos de mímica. O autor ressalta ainda que algumas
peças de teatro chamam a atenção para algumas atividades ridículas dos ouvintes,
como conversas intermináveis pelo telefone, o pânico de serem tocados, a falta de
percepção visual, a falta de expressão dos rostos, nos quais apenas os maxilares se
articulam, rostos que pela sua insensibilidade negam o que as palavras mencionam.
Há ainda uma grande porcentagem de casamentos endógamos. Os membros da
comunidade crêem, tal como os membros de outras minorias culturais, que o
casamento deve ser com outro membro pertencente à mesma minoria: o casamento
com uma pessoa ouvinte é totalmente desaprovado. Ou seja, ainda permanece,
implicitamente, o medo do preconceito.
Ao que parece, os surdos acabam estimulando uma postura endogâmica,
característica própria às minorias. Com isso, os próprios surdos parecem
estabelecer uma segregação com os ouvintes. Sentindo-se pressionados a falar,
cobrados a ter de falar e escrever para conseguirem estudar e arranjar um bom
emprego, acabam interpretando essas cobranças sociais como imposição e poder
dos ouvintes sobre os surdos, o chamado “ouvintismo”, termo que só tem sentido no
interior de uma divisão social que é também a imposição de uma forma de fazer ver
e de fazer crer as divisões do mundo social. Skliar (1998) ressalta que o problema
não é a surdez, não são os surdos, não são as identidades surdas, não é a língua de
sinais, mas sim as representações dominantes, hegemônicas e “ouvintistas” sobre
as identidades surdas, a língua de sinais, a surdez e os surdos: “Dessa forma, a
nossa produção é uma tentativa de inverter a compreensão daquilo que pode ser
chamado de normal ou cotidiano” (op. cit., p. 30). Ao nomear e classificar essa
desigualdade, o autor acaba por enfatizar a desigualdade, a “superioridade” que os
ouvintes impõem aos surdos em poder e força, como se a referência em jogo fosse
apenas a relação surdos/ ouvintes e não falante ideal/incapacidade de falar.
Vejamos, abaixo, dois depoimentos sobre a cultura surda: José: Sabe o que é
cultura surda? A cultura surda é... tipo assim, o aparelho TDD, já ouviu falar? O
aparelho TDD é um telefone digital. O uso já faz parte da cultura surda. Porque, se
um cara é surdo... Como surdo vai se comunicar por telefone? Não tem como. O
telefone digital, o e-mail, a internet, chat, ICQ... No esporte, por exemplo, a cultura
surda no esporte... O juiz, se ele for apitar, ele não ouve. Como é que faz? Tira a
camisa e faz assim // balança a mão para cima //. É a cultura surda. Eu sou a favor
plenamente. (...) A língua de sinais é a cultura do surdo. Paula: Por exemplo, um
casal francês vem para o Brasil passear. Quando chega aqui vê muitos índios e
muitos bebês índios. A mulher francesa não pode engravidar e gostaria de adotar
um bebê índio. O índio não se incomoda porque tem muitos bebês. Ela leva o bebê
índio de volta à França. Lá o educa: maneiras de vestir, alimentar-se, estudar.
Quando o bebê índio cresce, ele volta ao Brasil. Ao chegar aqui se identifica com os
31
índios e sente-se mal com as roupas e o modo de agir francês. Ele, então, tira a
roupa, nada, caça. Porque essa é sua raça, sua cultura. O surdo, quando nasce, a
mãe lhe ensina a falar e a estudar. Ele não sabe sinais porque sinais é visto como
preguiça para falar. O surdo cresce sem saber sinais. Aprendeu a falar desde
pequeno. Um dia ele encontra surdos na rua conversando. Estranha os movimentos
das mãos. Pergunta se eles são surdos e a resposta é positiva. Ele explica que
também não ouve e que é igual a eles. Pergunta sobre os sinais e diz que quer
aprender. Ao chegar em casa não se sente bem em falar. Não quer mais falar.
Quer aprender a língua de sinais. (...) A língua de sinais no Brasil é um pouco
diferente. Mas a cultura é mais ou menos igual em todo o Brasil. TDD, telefone,
maneira de pensar, passear. Isso é quase tudo igual.
Para José, a cultura surda parece ser o nome dado a um conjunto de
mecanismos compensatórios ou alternativos que os surdos “precisam” usar diante
de sua limitação auditiva, entre eles o uso de uma língua visuo-manual, sendo esta
identificada, em suas próprias palavras, como a “cultura do surdo”. Já Paula
concebe a cultura surda de outra forma, como se esta não fosse apreendida, como
se não fosse social, mas sim natural e uniforme. A ideia aqui é de que cultura está
relacionada à herança biológica, porque assim também é como a surdez é
concebida. Tal ideia tem como pressuposto e base de sustentação a concepção da
língua como um atributo “natural”, e não socialmente constituída. Tanto num caso
quanto no outro, se como mecanismo compensatório ou como atributo natural, o
dado mais significativo é o de que a língua é identificada como o traço por
excelência de uma suposta cultura surda. Ou seja, é fundamental para a defesa
dessa cultura surda a sua legitimação por meio do uso de uma determinada língua,
e não de outros traços que pudessem ser entendidos como culturais, tais como
relações materiais e de poder específicas, sistemas de idéias e de valores de longa
duração, formas de estilização e de estetização da vida etc.
Na encruzilhada
Temos duas importantes instâncias de legitimação: um saber leigo, que
reproduz uma cisão social entre a comunidade de surdos e a comunidade de
ouvistes, e um saber acadêmico, que oficializa essa reprodução a partir de uma
chave específica, o uso da língua. Ainda que a identidade e a cultura estejam
relacionadas a práticas sociais de uma complexidade muito maior, a língua,
fundamentalmente ela, é tomada como o instrumento por excelência de sua
constituição e definição. O significado dessa inversão, desse jogo teórico que toma a
língua, num primeiro momento, como determinada pelas práticas e interações
sociais e, num segundo, faz dela a definidora dessas mesmas práticas, está na
legitimidade mesma desses conceitos. Está, portanto, na divisão social que eles
encerram. As interpretações elaboradas a respeito da cultura e da identidade são,
nos termos de Bourdieu (1998), disputas pelo poder de impor uma visão do mundo
social, pelo monopólio de uma forma legítima de fazer ver e fazer crer as divisões
sociais. Sendo assim, tais interpretações derivam, antes de mais nada, da
32
preocupação em submeter a essa forma legítima de fazer ver os elementos do
cotidiano, de um recorte arbitrário que torne possível a visão que se pretende impor
e a divisão social empreendida por tal visão.
O fato de que essa divisão social se faça a partir da questão linguística
demonstra que o que está por trás não é apenas a cisão entre surdos e ouvintes,
mas uma outra cisão, esta interna à academia, a respeito de qual seja a forma mais
verdadeira de ver – ou analisar – uma “identidade” e uma “cultura”. Boa parte dessa
pesquisa acadêmica negligencia a complexidade das relações entre cultura,
linguagem e identidade, e isso não é casual. Essa negligência indica que tanto as
informações oriundas das pesquisas de campo quanto as discussões provenientes
das ciências sociais, em particular da antropologia, passam por uma recepção
específica que tem interesse em matizar a questão linguística em detrimento de
outras tão importantes quanto, promovendo uma redução arbitrária da complexidade
da vida social. O que está por trás é a pretensão político-científica de tornar a língua,
seja qual for, o instrumento por excelência de constituição e análise de todas as
formas de comportamento, de pensamento e de relações sociais. Por isso os
conceitos passaram a legitimar uma divisão entre identidades linguísticas, e não
outra qualquer, embora todas as evidências apontem para o fato de que a identidade
social esteja ligada a um entrelaçamento de significados e disposições sociais muito
mais complexo. Por isso também a língua passa, nesse malabarismo feito pelas
discussões teóricas, de elemento determinado pelas práticas e interações sociais a
definidora dessas mesmas práticas. Essa não é uma pretensão político-científica
recente, ela remonta ao surgimento e à consolidação da linguística perante as
demais disciplinas científicas. Neste sentido, os surdos tornam-se aliados de uma
luta da qual eles estão excluídos: de legitimidade entre disciplinas científicas, entre
formas autorizadas de fazer crer e fazer ver as divisões do mundo social.
Nesse jogo, cabe tanto aos pesquisadores quanto aos surdos submeterem
suas análises e discussões a essa forma legítima de divisão – entre línguas – do
mundo social, o que evidencia um mecanismo social de autorização e legitimação de
um determinado sentido. Como se o surdo tivesse apenas uma escolha: “ou você
está do nosso lado ou está contra”.
E, com relação ao pesquisador, é como se estivesse fadado a ser cúmplice ou
crítico.
10 Isso porque, na prática, afastar-se de estratégias expressivas legitimadas e
de formas de pesquisa predefinidas e autorizadas pode representar o risco de uma
perda de “identidade”.
Recebido em novembro de 2004 e aprovado em maio de 2005.
Notas
1. Assim era também com todo aquele que, por intermédio da linguagem, não
fosse considerado possuidor de atributos humanos, “(...) aquele cujo discurso não
pode circular como o dos outros: pode ocorrer que sua palavra seja considerada
33
nula e não seja acolhida, não tendo verdade nem importância (...)” (Foucault, 1970,
p. 10 e 11).
2. Stokoe (1972) ressalta que isso ocorria porque os gestos eram considerados
subumanos, o que aproximava o homem do animal. Gestos, sinais, ícones e ruídos
vocais, nada disso era considerado linguagem, pois podia ser utilizado por animais
inferiores. Ver também Thomas (1996).
3. Um exemplo disso é dado por Sacks (1998) quando comenta a história da
ilha de Martha’s Vineyard, Massachusetts (EUA). Nessa ilha, em razão de uma
mutação, um gene recessivo posto em ação pela endogamia, uma forma de surdez
hereditária vingou por 250 anos a partir da chegada dos primeiros colonizadores, por
volta de 1690. Em função dessa situação, toda a comunidade aprendeu a língua de
sinais, havendo livre comunicação entre ouvintes e surdos. O autor ressalta que
estes quase nunca eram vistos como surdos, e certamente não eram considerados
de modo algum “deficientes”. Mesmo depois que o último surdo morreu, em 1952, os
habitantes ouvintes preservaram a língua de sinais entre si e passavam
involuntariamente para essa língua no meio de uma sentença, contavam piadas,
“conversavam” consigo mesmos e até sonhavam em língua de sinais.
4. Moura (2000) utiliza o termo “Surdo”, com letra maiúscula, diferenciando-o
dos termos “deficiente auditivo” e “surdo”. Para a autora, o termo “Surdo” refere-se
ao indivíduo que, tendo uma perda auditiva, não é caracterizado pela sua
deficiência, mas pela sua condição de pertencer a um grupo minoritário, com direito
a uma cultura própria e a ser respeitado na sua diferença. A utilização de “surdo”
refere-se à condição audiológica de não ouvir.
5. Bueno (1998) ressalta que o surdo nem pode ser considerado excepcional,
nem patológico. Entretanto, não pode ser considerado normal, já que sofre uma
restrição (sensorial). Neste sentido, assim como outros indivíduos pertencentes a
diferentes minorias (negros e gays, por exemplo), o surdo deve ser considerado
membro de uma comunidade que sofre restrições. Parece acertado, para o autor,
procurar distinguir a surdez da doença. Mas deve-se considerá-la, também, uma
condição intrinsecamente adversa da referente ao negro ou ao homossexual.
6. Os dados apresentados neste trabalho foram retirados da tese de doutorado
de Santana (2003). Os nomes dos sujeitos foram alterados para preservar sua
identidade, salvo, evidentemente, o caso de Labourit (1994), uma vez que se trata
de fonte bibliográfica.
7. A tradução para a língua portuguesa escrita foi realizada por Ana Paula
Santana. Entrevista realizada em língua de sinais e escrita.
8. Para Benveniste (1988), é na linguagem e pela linguagem que o homem se
constitui como sujeito. É na instância do discurso, na qual o “eu” designa o locutor,
que este se anuncia como sujeito. Por isso, os pronomes pessoais são o primeiro
ponto de apoio para essa revolução da subjetividade na linguagem: “A subjetividade
de que tratamos aqui é a capacidade do locutor para se propor como sujeito”
(Benveniste, 1988, p. 196).
34
9. Uma boa parte dos pesquisadores da área tem aceito a denominação do
termo “cultura surda” (Moura, 1993, 2000; Quadros, 1997; Goldfeld, 1997; Sá, 1999;
Skliar, 2000). No entanto, há pesquisadores, como Bueno (1998), que criticam essa
postura teórica na qual o mundo passa a ser dividido em cultura ouvinte
(dominadora) e cultura surda (dominada). Na opinião do autor, a surdez não pode
ser suficiente para tornar iguais dois sujeitos como uma mulher, pobre, latino-
americana vivendo em uma pequena localidade rural e surda e um homem branco,
rico, europeu, vivendo em metrópole e surdo. Não existiria cultura ouvinte e
dominante, mas relações sociais contraditórias de dominação de classe, gênero e
etnia, que se abatem sobre as camadas populares, quer seja deficiente ou não.
Apesar de suas críticas à generalização do termo “multiculturalismo”, o autor não
aprofunda em seu texto a discussão sobre se há ou não cultura surda e em que
posição ele se coloca.
10. Segundo Bourdieu, “tão logo é retomado nas lutas entre classificações que
se esforça por objetivar (a não ser que se impeça a divulgação, não há jeito de coibir
tal uso), o discurso científico passa a funcionar na realidade dessas mesmas lutas:
ele está fadado, portanto, a aparecer como crítico ou cúmplice, conforme a relação
cúmplice ou crítica que o próprio leitor mantém com a realidade descrita” (1998, p.
112-113).
“As expressões cultura e identidade surdas têm se legitimado, principalmente,
pela defesa da língua de sinais como sendo a língua natural dos surdos. Essa
defesa se faz por meio de uma inversão teórica que toma a língua, num primeiro
momento, como determinada pelas práticas e interações sociais e, num segundo,
faz dela a definidora dessas mesmas práticas. Este artigo discute os mecanismos de
legitimação dessa inversão e suas implicações sociais e teóricas”.
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36
Daremos inicio ao conhecimento desta língua:
As línguas de sinais são diferentes umas das outras e independem das línguas
orais-auditivas utilizadas em outros países; por exemplo: o Brasil e Portugal
possuem a mesma língua oficial, o Português, mas as línguas de sinais desses
países são diferentes, ou seja, no Brasil é usada a Língua Brasileira de Sinais –
Libras e, em Portugal, usa-se a Lingual Gestual Portuguesa – LGP – ; o mesmo
acontece com os Estados Unidos: American Sign Language – ASL – e a Inglaterra:
BLS, além de outros países. Os sinais são próprios de cada país, ou seja, se surdos
de países diferentes se encontrarem, provavelmente um não entenderá exatamente
o que o outro está querendo dizer.
Pode ocorrer, também, que uma mesma língua de sinais seja utilizada por dois
países, como é o caso da língua de sinais americana, usada pelos surdos dos
Estados Unidos e da parte inglesa do Canadá (Felipe, 2001).
Desse modo, a língua de sinais não é uma língua universal, pois adquire
características diferentes em cada país e, até mesmo, dentro das diversas
comunidades de surdos de um mesmo país. Além da Libras, que é a língua de sinais
utilizada nas comunidades surdas de diferentes cidades do Brasil, há registros de
uma outra língua de sinais, utilizada pelos índios surdos Urubus-Kaapor, no Estado
do Maranhão junto ao rio Gurupi. (Ferreira Brito, 1993)
39
3. ELEMENTOS DATILOLÓGICOS
A datilologia é um alfabeto manual para nomear objetos, palavras que ainda
não existem na língua de sinais. Ela não apenas oferece ao surdo a possibilidade de
fazer nomeações, demandas linguísticas de trocas com um grupo da língua
estrangeira, mas também se submete à lei econômica da própria língua.
No alfabeto manual a língua escrita serve de base e as palavras são digitadas
através das mãos (no Brasil só se usa uma mão no uso do alfabeto manual,
podendo ser mão direita ou esquerda), já na Libras existe uma codificação
contextualizada em torno de símbolos/sinais que resultarão em diálogos interativos
linguístico. (Vilhalva, 2004)
Quando não existe um sinal para determinado conceito, é utilizada para
soletrar palavras da língua oral. Nesse caso, diz-se que essas soletrações são
empréstimos da língua portuguesa.
O alfabeto manual é a mera transposição para o espaço, por meio das mãos,
dos grafemas da palavra da língua oral. Vale ressaltar que cada país tem um
alfabeto manual. Este também é um recurso usado para soletrar, quando, no
momento da apresentação, se pretende informar o nome das pessoas; ou ainda
quando não se conhece o sinal do conceito, para que o interlocutor ensine o sinal à
pessoa que o desconhece.
A diferença entre sinal e a soletração manual de uma palavra em português
pode ser percebida no seguinte exemplo: INTÉRPRETE (INTÉRPRETE);
[1] “Art.13. A língua portuguesa é o idioma oficial da República Federativa do Brasil.” – Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988.
[2] O Esperanto é uma linguagem aglutinante, sem gêneros gramaticais, sem conjugação de verbos variáveis por
pessoa ou número e com apenas dois modos, indicativo e imperativo. O vocabulário é baseado em várias
línguas européias, com algumas palavras das línguas eslavas, do latim e do grego – mas a sua lógica vem do
hebraico. A escrita é fonética e a morfologia é extremamente regular e fácil de aprender.
40
GRAMÁTICA
1. GRAMÁTICA DA LÍNGUA DE SINAIS.
41
restrições em relação ao tipo de interação entre as mãos. (Quadros e Karnopp,
2004, p. 51)
Essas articulações das mãos, que podem ser comparadas aos fonemas e às
vezes aos morfemas, são chamadas de parâmetros, que, nas línguas de sinais, são:
Configuração das Mãos (CM), o Movimento (M), Ponto de Articulação (PA) e
Orientação (O). Além dessas características, ainda podem ser considerados os
componentes não manuais dos sinais, tais como as expressões facial e/ou corporal,
o movimento da cabeça e do corpo. Tomamos como exemplo o sinal CERTO.
Esperar Nascer
42
Segundo Ferreira-Brito (1995), existem 46 configurações de mão diferentes
para a Libras, e elas podem ser diferenciadas quanto às posições, número de dedos
estendidos, o contato e a contração (mãos fechadas ou compactas) dos dedos.
Educação Costume
Sábado Aprender
43
c. MOVIMENTO:
Para que seja realizado, é preciso haver um objeto e um espaço. Nas línguas
de sinais, a(s) mão(s) do enunciador representa(m) o objeto, enquanto o espaço em
que o movimento se realiza é a área em torno do corpo do enunciador. O movimento
pode ser analisado levando-se em conta o tipo, a direção, a maneira e a freqüência
do sinal. O tipo refere-se às variações do movimento das mãos, pulsos e antebraços;
ao movimento interno dos pulsos ou das mãos (p.ex., palestra); e aos movimentos
dos dedos. Quanto à direção, o movimento pode ser unidirecional, bidirecional ou
multidirecional. Já a maneira descreve a qualidade, a tensão e a velocidade,
podendo, assim, haver movimentos mais rápidos, mais tensos, mais frouxos,
enquanto a freqüência indica se os movimentos são simples ou repetidos. (Ferreira
Brito, 1995; Quadros & Karnopp, 2004).
Ontem Anteontem
ano passado gira para trás ano presente gira para frente (ano futuro)
Futuro
45
5. QUANTIFICAÇÃO E INTENSIDADE.
46
6. GÊNERO
Fonte: http://lulibras.wordpress.com/
47
ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUÊSA PARA SURDOS
CULTURA SURDA
1. As diferenças humanas
Os ouvintes são acometidos pela crença de que ser ouvinte é melhor que ser
surdo, pois, na ótica ouvinte, ser surdo é o resultado da perda de uma habilidade
'disponível' para a maioria dos seres humanos. No entanto, essa parece ser uma
questão de mero ponto de vista.
Nesse sentido, Pimenta (2001: 24), ator surdo brasiliense, declara que "a surdez
deve ser reconhecida como apenas mais um aspecto das infinitas possibilidades
da diversidade humana, pois ser surdo não é melhor ou pior do que ser ouvinte,
é apenas diferente'. Se consideramos que os surdos não são 'ouvintes com
defeito'", mas pessoas diferentes, estaremos aptos a entender que a diferença
física entre pessoas surdas e pessoas ouvintes gera uma visão não-limitada,
não-determinística de uma pessoa ou de outra, mas uma visão diferente de
mundo, um 'jeito Ouvinte de ser' e um jeito Surdo de ser', que nos permite falar
em uma cultura da visão e outra da audição.
50
culturais, uma formação de identidade que só ocorre entre os espaços culturais
surdos.
53
paralelamente às disciplinas curriculares, faz-se necessário o ensino de língua
portuguesa como segunda língua, com a utilização de materiais e métodos
específicos no atendimento às necessidades educacionais do surdo. Nesse
processo, cabe ainda considerar que os surdos se inserem na cultura nacional, o
que implica que o ensino da língua portuguesa deve contemplar temas que
contribuem para a afirmação e ampliação das referências culturais que os
identificam como cidadãos brasileiros e, consequentemente, com o mundo da
lusofonia, exatamente como ocorre na disciplina língua portuguesa ministrada para
ouvintes, que têm a língua portuguesa como língua nativa.
Conforme apontado per Skliar (1998: 28-29), [a]s crianças surdas
desconhecem os processos e os produtos que determinados grupos de surdos
geram em relação ao teatro, ao brinquedo, à poesia visual e à literatura em língua de
sinais em geral, à tecnologia etc' Dessa forma, segundo o mesmo autor, deve-se
proporcionar às crianças surdas o contato com processos e produtos elaborados por
grupos de surdos, como teatro, brinquedo, poesia visual, literatura em língua de
sinais, tecnologia. Elas têm 'o direito à entrada na Comunidade Surda e ao acesso a
seus processos culturais, sem nenhum condicionamento. As políticas linguísticas, do
conhecimento, das identidades são, por sua vez, uma parte indissolúvel dessas
potencialidades ou direitos' (cf. Skliar, 1998: 29). Cabe à família e à escola contribuir
para que esses direitos sejam respeitados.
Quadros (2000: 6) acrescenta que 'o processo de alfabetização de surdos tem
duas chaves preciosas: o relato de estórias e a produção de literatura infantil em
sinais (não sistemas de comunicação artificiais, português sinalizado, ou qualquer
13
outra coisa que não seja a Língua de Sinais Brasileira (LSB). Recuperar a
produção literária da comunidade surda é urgente para tornar eficaz o processo de
alfabetização. A produção de contadores de estória, de estórias espontâneas e de
contos que passam de geração em geração são exemplos
54
estórias em primeira pessoa sobre pessoas surdas, sobre pessoas ouvintes,
produzir vídeos de produções literárias de adultos surdos.
Uma outra questão relevante na alfabetização de surdos diz respeito à sua
escrita. Em princípio, vem-se, há anos, no Brasil, alfabetizando surdos em língua
portuguesa e reforçando a Escrita Surda numa interlíngua que apresenta,
geralmente, a estrutura da língua de sinais com vocabulário de língua
portuguesa. Reflexões sobre a alfabetização de surdos sugerem, entretanto, que
a alfabetização destes deva se realizar, inicialmente, em língua de sinais. E uma
proposta de ensino ainda incipiente no Brasil, mas, sem dúvida, um caminho que
emerge aos poucos e timidamente, por meio da tecnologia oferecida pelo
signwriting™ ou língua escrita de sinais. Acredita-se que o signwriting é uma
forma de agregar as tecnologias educacionais empregadas no ensino de surdos,
além de tornar perenes e sólidas suas idéias, confirmando, reforçando e
ampliando a 'marca surda' de pertinência no mundo e, quem sabe, por meio dela,
a História Surda se construa e se sustente sobre a 'voz' da maioria surda,
definindo-se e estabelecendo, enfim, a Cultura Surda pelo próprio surdo, por
ideal, por opção, por convicção, por SER SURDO.
55
• Vídeo: A ilha dos sonhos (filme legendado - conteúdos de geografia e
matemática), disponível nas edições paulinas;
56
7. Considerações finais
57
O Homem e a árvore
Lenhador – Homem – Trabalho: Cortar árvores
Lenha – madeira das árvores.
58
INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS: UMA POLÍTICA EM CONSTRUÇÃO.
O Profissional Intérprete
59
Intérpretes
Postura
O intérprete é a pessoa em que o surdo mantém extrema confiança, tanto
profissional como pessoal. Devendo ser uma pessoa íntegra e cumprir somente com
o seu papel de interpretar priorizando sempre em sua prática a ética.
O intérprete independente de seus conceitos e valores pessoais deverá sem
preconceito interpretar em locais como: grupo de conscientização de homossexuais
e em eventos religiosos.
O intérprete deverá manter sigilo quando for acompanhar o surdo não devendo
revelar seu nome e o local aonde foi designado para atuar. O intérprete por ser a voz
do surdo e do ouvinte deverá manter sempre sua neutralidade diante de qualquer
situação.
O intérprete deverá sempre estar se aprimorando, se possível, frequentando
cursos de capacitação e outros eventos que venham colaborar para o seu
aperfeiçoamento profissional e na aquisição de conhecimentos sobre a cultura
surda.
O intérprete precisa ter expressão facial para que o surdo possa entender
melhor a situação e, principalmente, ter postura, ou seja, não atuar de forma
exagerada com o intuito de chamar a atenção.
O intérprete durante a sua atuação deverá ter intervalo de vinte em vinte
minutos de revezamento com outro profissional em eventos de longa duração.
O intérprete precisa ser um profissional ético tanto com os surdos como com os
seus colegas de profissão. Devendo estar sempre pronto a apoiar o próximo e estar
disposto para o trabalho em equipe.
Princípios fundamentais
Artigo 1
São deveres fundamentais do intérprete: 1°. O intérprete deve ser uma pessoa
de alto caráter moral, honesto, consciente, confidente e de equilíbrio emocional. Ele
guardará informações confidenciais e não poderá trair confidencias, as quais foram
confiadas a ele;
61
Artigo 2
Artigo 3
Artigo 4
Artigo 5
CAPITULO II
Artigo 6
Artigo 7
CAPITULO III
62
Responsabilidade Profissional
Artigo 8
Artigo 9
Artigo 10
Artigo 11
Artigo 12
CAPITULO IV
Artigo 13
64
Professor de Libras
Código de Ética
1) Deverá ter respeito pela Libras, zelar pelo seu uso adequado, mas estar
aberto para aprender e aceitar sinais novos, porque isso é uma característica de
qualquer Língua;
2) Deverá reconhecer a necessidade de se aperfeiçoar, fazer um curso
superior e estar aberto para conhecer novos métodos de ensino;
3) Deverá esclarecer às Pessoas Surdas sobre a importância do trabalho dos
Instrutores para a divulgação e ensino da Libras;
4) Deverá ter respeito a cada indivíduo Surdo, sendo este oralizado ou não,
mesmo que saiba pouco a Libras, incentivando-o a usá-la;
5) Nos assuntos gerais, sempre respeitar as decisões da diretoria dos órgãos
competentes, quando esta estiver de acordo com o estatuto e regimento da
Instituição onde esteja trabalhando;
6) Deverá lembrar dos limites da sua função e não ir além de sua
responsabilidade, respeitando seu colega de trabalho como também seus
coordenadores e diretores;
7) Deverá manter o respeito à sua Identidade e Cultura Surda quando
necessitar do apoio de profissionais ouvintes para auxiliá-lo no desenvolvimento das
capacidades expressivas e receptivas em Libras e na Língua Portuguesa;
8) Deverá esclarecer aos alunos no que diz respeito à Cultura Surda sempre
que possível, reconhecendo que muitos equívocos (má informação) têm surgido por
causa da falta de conhecimento do público sobre a Surdez e a comunicação com o
Surdo;
9) Deverá, durante o exercício da função, adotar uma conduta adequada e, ao
se vestir e utilizar adereços, não chamar a atenção sobre si mesmo;
10) Deverá ter assiduidade e pontualidade durante o curso;
11) Deverá ter sempre organizado o planejamento das aulas do curso e, caso
haja dúvida, procurar ajuda para preparar a aula antecipadamente;
12) Deverá ensinar, dando o melhor de sua habilidade, sempre transmitindo os
conhecimentos sobre a Libras de que dispõe e que já estudou;
13) Deverá se esforçar para dar assistência aos alunos, esclarecendo suas
dúvidas sobre Libras;
14) Deverá ter paciência com os alunos Surdos e com os Ouvintes que têm
mais dificuldade em aprender a Libras;
15) Deverá se manter neutro e tratar os alunos com igualdade, sem dar
preferências aos alunos mais inteligentes ou que já saibam um pouco mais a Libras;
16) Deverá manter uma atitude neutra durante o transcurso do curso, evitando
interferências e opiniões pessoais não relacionadas às aulas;
17) Deverá saber controlar as emoções e não levar os problemas pessoais
para a turma;
18) Deverá refletir e cumprir essas recomendações sobre ÉTICA
PROFISSIONAL e POSTURA DO(A) INSTRUTOR(A), procurando aprimorá-las.
65
O QUE É LIBRAS?
66
a) Disposição das mãos, em que as “articulações dos sinais podem ser feitas
apenas pela mão dominante ou pelas duas mãos. Neste último caso, as duas mãos
podem se movimentar para formar o sinal, ou então, apenas a mão dominante se
movimenta e a outra funciona como um ponto de articulação”;(BRITO, 1995).
67
ALFABETO MANUAL
68
CURIOSIDADE
Porque usar a Datilologia?
Qual a sua importância para a comunidade surda?
Por que cada pessoa surda tem um sinal?
Este alfabeto é a maneira de soletrar palavras com as mãos, com um
alfabeto manual. As línguas de sinais se utilizam para dizer nomes próprios, ainda
que seja uma de tantas as ferramentas existentes. As diferentes línguas de sinais
utilizam diferentes alfabetos, algumas utilizam uma mão e outra as duas.
Este tipo de alfabeto se utiliza para as palavras ou nomes que não tem sinal.
Ainda que algumas palavras também se soletrem com este alfabeto ainda que
tenham um sinal equivalente. Esta forma também pode utilizar-se para enfatizar,
esclarecer ou, para ensinar ou aprender língua de sinais.
O soletrar é muito rápido pelo que é difícil que é diferenciar as letras
individuais e geralmente a palavra se entende pelo conjunto de movimentos.
Quando as pessoas dominam a língua de sinais, sabem ler o alfabeto
datilológico, e para isto não faz falta olhar a mão do falante, mantém a olhada nos
olhos do falante, dado que as expressões faciais e corporais também são
importantes. As pessoas que estão estudando língua de sinais costumam olhar as
mãos diretamente porque lhes resulta muito complicado entender o que diz a outra
pessoa, porque não tem desenvolvida a visão periférica. O normal, como passa em
todas as línguas, é que tenham que pedir ao falante que "fale" mais devagar. As
pessoas que não aprenderam a língua de sinais como primeira língua, passam
muitos anos de sua vida praticando para conseguir habilidade natural.
As pessoas surdas criam os próprios sinais dos nomes, pois é para chamar
e não precisa soletrar os nomes de pessoas. As ouvintes usam a voz para chamar
os nomes das pessoas. Também criam os sinais de alguns lugares, algumas
disciplinas da área educacional e tipos das áreas diferentes.
69
SINAL
LOCALIZAÇÃO
70
NÚMEROS CARDINAI S
71
QUANTIDADE
NÚMEROS ORDINAIS
EXEMPLOS:
72
MATEMÁTICA
EXERCÍCIO
DATILOLOGIA e NÚMERAIS:
a) f)
b) g)
c) h)
d) i)
e) j)
73
2. Vamos aprender somar adição, subtração, divisão e multiplicação. Conforme a
sinalização do professor escreva e responda
a) = f) =
b) = g) =
c) = h) =
d) = i) =
e) = j) =
A)
B)
C)
D)
E)
74
5. Observe a datilologia do professor e enumere:
75
VALORES EM DINHEIRO
Quando o valor é centavo, o sinal vírgula vem depois do sinal ZERO, mas na
maioria das vezes não precisa usar o sinal ZERO para centavo porque o
contexto pode esclarecer e os valores para centavos ficam iguais aos
numerais cardinais.
76
VOCABULÁRIO RELACIONADO A TRANSAÇÕES
COMERCIAIS E BANCÁRIA
77
78
SAUDAÇÕES E CUMPRIMENTOS
79
80
ADVERBIOS DE TEMPO
81
82
1º DIALOGO EM LIBRAS
"PROVA DE LIBRAS”
Português LIBRAS
Boa tarde! Boa tarde!
Boa tarde! Amanhã a noite terá Boa tarde! Amanhã noite ter
prova de LIBRAS, você já prova LIBRAS, você estudar
estudou? já?
Ainda não estudei, hoje a Ainda-não estudar, hoje noite
noite depois do jantar nós-2 estudar minha casa
podemos estudar. depois jantar.
Desculpa! Tenho que ir ao Desculpa! Eu ir banco pagar
banco pagar minha luz está luz atrasada e precisar ir
atrasada e preciso ir na faculdade ir pagar cartão débito
faculdade vou pagar também eu não ter dinheiro. Noite
no cartão de débito estou sem mandar-mensagem você, si
dinheiro. Hoje a noite mando poder amanhã ok?
mensagem para você, se der Ok! Por favor! esquecer-não
amanhã ok? pegar apostila LIBRAS.
Ok! Por favor! Não esqueça de Verdade! Esquecer-não. Ontem
levar a apostila de LIBRAS. amig@ emprestar apostila
Verdade! Não vou esquecer. LIBRAS, hoje eu ir-pegar casa
Ontem minha amiga pediu a del@.
minha apostila de LIBRAS Até mais! OK?
emprestada, hoje eu vou pegar
na casa dela.
Até mais! OK?
83
PRONOMES DEMONSTRATIVOS E
PRONOMES PESSOA DO
ADVÉRBIO DE LUGAR
DEMONSTRATIVOS DISCURSO
ESS@ 2ª PESSOA AÍ
AQUEL@ 3ª PESSOA LÁ
84
Pronomes Invariáveis: Isto, Aquilo
EXEMPLO DE LIBRAS:
EU olhando para o receptor EST@ / AQUI olhando para o lugar apontado, perto do emissor (perspectiva do emissor)
EXEMPLO DE LIBRAS:
VOCÊ olhando para o receptor ESS@ / AÍ olhando para o lugar apontado, perto da 2ª pessoa (perspectiva do
emissor)
- AÍ CADEIRA
EXEMPLO DE LIBRAS:
EL@ olhando para o receptor AQUEL@ / LÁ olhando para o lugar convencionado para 3ª pessoa ou coisas
afastadas
- LÁ PADARIA
85
Como os pronomes pessoais, os pronomes demonstrativos também não possuem
marca para gêneros masculino e feminino e, por isso, está ausência, ou neutralidade, está
sendo assinalada pelo símbolo @.
e) Aí escada
f) Lá banheiro
1) Livro onde?
2) Caneta onde?
3. Onde Paulo?
R: Lá cima, 2º andar.
86
FORMA AFIRMATIVA: a expressão facial é neutra.
c) com um aceno de cabeça que pode ser feito simultaneamente com a ação que está
sendo negada ou juntamente com os processos.
EXEMPLOS:
EXEMPLOS:
87
PRONOMES E EXPRESSÕES INTERROGATIVAS ?
88
89
Diálogo em LIBRAS:
2º DIALOGO EM LIBRAS
“PASSEIO NO SHOPPING”
Português LIBRAS
Oi, tudo bem? Eu nunca mais te vi Oi, tudo bem? Eu nunca mais ver-
você sumiu? você sumir?
Oi, tudo bem! Você também sumiu. Oi, tudo bem! Você também sumir.
Sua família está bem? Sua família bem?
Sim. Minha família está bem. Quem é S-I-M. família bem. Quem ess@
essa sua amiga? amig@?
Ah, esta é minha namorada, Ah, ess@ me@ namorad@,
. este é meu amigo . ess@ me@ amig@
. .
Prazer em conhecer! Hoje a noite Prazer conhecer! Hoje noite vamos
vamos passear Via Sul? passear Via Sul?
Vamos sim. Onde nos encontramos? Vamos passear. Onde encontrar você
Eu quero te apresentar meu amigo. Via Sul? Eu apresentar meu amigo.
Você querer conhecer? Você querer conhecer?
Sim, eu querer conhecer. Vamos nos Sim, eu querer conhecer. Vamos
encontrar no cinema, certo? encontrar cinema, certo?
Certo! Que-horas nos encontramos? Certo! Que-horas encontrar lá?
As 19:30 horas OK?, 19:30 horas OK?,
OK! OK!
90
PRONOMES PESSOAIS
A LIBRAS possui um sistema pronominal para representar as pessoas do discurso:
EU
1ª NÓS-
PES TODOS
NÓS-2 NÓS-3 NÓS-4
SO NÓS-
A GRUPO
VOCÊ
2ª VOCÊS-
PES TODOS
VOCÊS-2 VOCÊS-3 VOCÊS-4
SO
VOCÊS-
A GRUPO
EL@
EL@S-
3ª TODOS
PES EL@S-2 EL@S-3 EL@S-4
SO EL@S-
A GRUPO
91
PRONOMES POSSESSIVOS
MEU SEU
DELE 1 2
EXERCÍCIOS:
a) f)
b) g)
c) h)
d) i)
e) j)
92
3. Observe o professor sinalizando e escreva as frases:
a)
b)
c)
d)
e)
93
DIAS DA SEMANA
94
CALENDÁRIO
95
96
DIÁLOGO EM LIBRAS
3º DIALOGO EM LIBRAS
“VIAGEM” Português “VIAGEM” LIBRAS
D-I-A 30-JUNHO,OK?
OK!
EXERCÍCIOS:
1. Responda as questões abaixo em dupla. (em LIBRAS)
a) Qual dia hoje? R:
R: d) Mês, aniversário seu?
b) Ontem, você fez que? R:
R: e) Mês aniversário meu pai?
c) Você querer amanhã passear, vamos? R:
97
98
3. Preencha as lacunas, de acordo com a sinalização do professor:
99
OBJETOS ESCOLARES
100
VERBOS RELACIONADOS A ESCOLA
101
EXERCÍCIOS:
1. Enumere o sinal de acordo com a configuração de mão:
1 2 3 4
102
2. Enumere as palavras de acordo com os sinais:
1 2 3 4
5 6 7 8
10 12
9 11
m
d ( ) CANETA h. ( ) FREQUENTAR ( ) ESCOLA
.
103
GRAU DE ESCOLARIDADE
ENSINO FUNDAMENTAL
ENSINO MÉDIO
104
ENSINO SUPERIOR
105
DISCIPLINA ESCOLAR
106
Diálogo em LIBRAS:
5º DIALOGO EM LIBRAS
107
Tema:
108
AFIRMATIVA NEGATIVA
109
AFIRMATIVA NEGATIVA
110
DIREÇÃO-PERSPECTIVA
As línguas de sinais por serem de modalidade gestual-visual utilizam, como
elemento gramatical, a tridimensionalidade do espaço para a comunicação.
Assim, uma pessoa que está aprendendo uma dessas línguas precisa ficar
atenta para a visualização das informações no espaço por que elas sempre estão
sob a perspectiva do emissor da mensagem e precisa-se aprendê-las ao inverso,
como uma imagem no espelho.
EXEMPLO:
* LONGEMUITO-LONGE
(PERSPECTIVA)
111
* PERTO (vizinho)
* PERTO (próximo)
112
PONTOS CARDEAIS
113
ESTADOS E CAPITAIS DO BRASIL
REGIÃO NORTE
ESTADOS CAPITAIS ESTADOS CAPITAIS
114
REGIÃO NORDESTE
115
116
REGIÃO CENTRO-OESTE
117
REGIÃO SUDESTE
118
REGIÃO SUL
119
120