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1- Prefiro a Misericórdia ao Sacrifício

Caríssimos irmãos e irmãs, queridos ouvintes...


Hoje nós refletiremos sobre o tema proposto este ano para a celebração da Semana Santa na nossa
Paróquia São Sebastião: “Prefiro a misericórdia ao sacrifício” (Mt 9,13).
A nossa religião católica, como as outras religiões, oferece continuamente a Deus sacrifícios. O
sacrifício é uma forma de agradecimento a Deus por tudo aquilo que ele nos oferece gratuitamente.
O oferecimento de sacrifícios a Deus pode se tornar um ato meramente exterior, sem ligação com o
coração daquele que o oferece. Os profetas no Antigo Testamento lutaram contra este perigo de separar
a vivência da religião da vida cotidiana. Podemos ler no profeta Isaías:
“De que me serve a multidão dos vossos sacrifícios? – diz o Senhor. Estou farto de holocaustos de
bodes, de gordura de touros. Detesto sangue de novilhos, de cordeiros, de cabritos. Quando entrais
para ver minha face, quem vos pediu para fazer isto, passear nos meus átrios? Parai de trazer oferendas
sem sentido! Incenso é coisa aborrecida para mim! Lua-nova, sábado, celebração solene..., não suporto
maldade com festa religiosa. [...] Tudo isso é um peso para mim[...] Quando estendeis as mãos para
mim desvio o meu olhar. Ainda que multipliqueis as orações, de forma alguma atenderei, porque
vossas mãos estão sujas de sangue. Lavai-vos, limpai-vos, tirai da minha vista as injustiças que
praticais. Parai de fazer o mal, aprendei a fazer o bem, buscai o que é correto, defendei o direito do
oprimido, fazei justiça para o órfão, defendei a causa da viúva. Depois, vinde, podemos discutir – diz o
Senhor” (Is 1,11-18).
Como pode-se ler nos profetas, Deus não necessita de nada que o ser humano possua. Tudo pertence a
Deus e por isso homem não pode oferecer-lhe nada que não seja dele. O sacrifício que o homem
oferece só é agradável a Deus quando é um sinal da gratidão por tudo aquilo que ele recebeu de seu
criador. A Deus que não necessita de nada nós oferecemos como agradecimento aquilo que dele
mesmo recebemos.
Todas as vezes que colocamos nossa esperança naquilo que oferecemos a Deus acabamos nos
esquecendo que Deus não pode ser comprado por ninguém. A salvação que ele nos oferece não é
conquistada através do que oferecemos a ele, mas através do amor misericordioso e gratuito que ele
oferece a nós.
No tempo em que Jesus viveu humanamente entre nós, os fariseus e os doutores da lei estavam muito
mais preocupados com a observância da lei, com os sacrifícios exigidos pela religião judaica que com
o bem do próximo. Um dos exemplos desta preocupação com a lei é a preocupação com a observância
do repouso no sábado. Jesus, cumprindo a vontade do Pai, que é libertar todos os homens da
escravidão do pecado, realizou curas em dia de Sábado e foi duramente criticado por isso. Os fariseus e
os doutores da lei esqueceram-se do principal desejo de Deus, que não é o recebimento de sacrifícios,
nem simplesmente grandes esforços feitos pelo homem, mas a prática da misericórdia. Em duas
ocasiões em que Jesus e seus discípulos são criticados por fazerem algo que aparentemente era
condenado pela lei da observância do sábado, Jesus recorda a seguinte passagem do profeta Oseias:
“Eu quero misericórdia e não sacrifícios” (Os 6,6). Nas palavras de Jesus: “Ide, pois aprender o que
significa: Misericórdia eu quero, não sacrifícios” (Mt 9,13). E também: “Se tivésseis chegado a
compreender o que significa, ‘Misericórdia eu quero, não sacrifícios’, não condenaríeis inocentes” (Mt
12,7-8).
Nesta Semana Santa, e em todos os dias de nossa vida cristã, aprendamos do próprio Deus o
significado da misericórdia, que é o maior desejo para cada um de nós. Sejamos misericordiosos como
o nosso Pai.
2- O Tríduo Pascal
Caríssimos irmãos e irmãs, queridos ouvintes...
Hoje nós refletiremos sobre o Tríduo Pascal, celebração dos mistérios da Paixão, Morte e Ressurreição
de Jesus. Estamos vivendo a Semana Santa, momento propício para mergulharmos no mistério de um
Deus que aceita participar de nossas dores, de nossa morte, para nos dar a verdadeira vida.
O Tríduo Pascal “é o ponto culminante, o eixo gravitacional em torno do qual gira todo o Ano
Litúrgico, quando fazemos memória da paixão, morte e ressurreição do Senhor. Começa na Quinta-
feira Santa, com a missa vespertina da Ceia do Senhor. Na Sexta-feira Santa celebra-se a Paixão do
Senhor. No Sábado Santo, a solene Vigília Pascal, que, nas palavras de Santo Agostinho, ‘é a mãe de
todas as vigílias’, porque celebra a morte e ressurreição do Senhor. A vigília abre o Tempo Pascal com
o retorno do Glória e do Aleluia. O tríduo é concluído nas vésperas do Domingo da Páscoa da
Ressurreição.
“Páscoa é ‘Deus que passa’ (Ex 12 e Dt 16), é o mistério de sua passagem pela terra e pela existência
humana a fim de proporcionar a passagem da morte para a vida plena; da perdição do pecado para a
salvação” (Comentário sobre o Ano Litúrgico. Agenda A Bíblia Dia a Dia).
A fé cristã é a certeza da presença de Deus na vida da humanidade. Deus criou todas as coisas por
amor e deseja que todas elas possam existir verdadeiramente. Dentre as criaturas divinas, está o
homem, criado à imagem e semelhança de Deus e chamado a escolher livremente aquilo que quer ser.
Esta possibilidade de escolha concedida ao homem por Deus, ficou muitas vezes obscurecida pelo
pecado, mas Deus nunca abandonou nenhuma das suas criaturas. Como nos diz o Catecismo Romano:
“De fato, desde que o mundo é mundo, por grande bondade e clemência, Deus nunca abandonou Suas
criaturas” (Catecismo Romano. Proêmio, p. 79).
O profeta Isaías e o evangelho de Mateus chamam Deus de Emanuel, que significa “Deus conosco”.
Deus é aquele que caminha com a humanidade, oferecendo sempre o seu amor gratuito e infinito. Ele
não desiste de ninguém. O motivo dele ter se encarnado é este amor imenso pelo homem, que o faz dar
aquilo que é mais importante: o seu próprio Filho. “Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho
único, para que todo o que nele crer não morra, mas tenha a vida eterna. Pois Deus enviou o seu Filho
ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele” (Jo 3,16-17).
A celebração do tríduo Pascal é a celebração do amor infinito de Deus, capaz de tirar o homem do
profundo abismo que ele se encontra e leva-lo à participação da vida bem-aventurada divina. Através
da paixão, morte e ressurreição de Jesus, a vida adquire novamente espaço no meio da humanidade. A
morte não tem mais a última palavra. A vida vence a morte. Descobrimos em Jesus que Deus é um
“amor tão grande, amor tão forte, amor suave, amor sem fim, que a própria morte transforma em vida”.
O amor é a única realidade que pode nos redimir, é a única possibilidade de sentido no mundo. Sem
amor o homem não vive, não possui um sentido para a vida.
Nestes dias, em que celebraremos o Tríduo Pascal, façamos a experiência do filho pródigo, que retorna
à casa paterna e encontra o seu Pai de braços abertos para o acolher. Deus nos espera e preparou o
caminho para que retornemos a ele: o seu próprio Filho, capaz de dar a vida numa cruz para nos
redimir. Voltemos para o Pai, abramos o nosso coração à sua misericórdia infinita, ao seu amor que nos
resgata da morte e nos leva para a verdadeira vida.
Celebrar o Mistério Pascal do Senhor é atualizar em nossa vida aquilo que nós esperamos: a
participação na vitória sobre a morte, a ressurreição, experiência da vida plena que brota daquele que
deu a vida por nós numa cruz. Não nos esqueçamos: A vida é mais forte que a morte, pois a vida é o
próprio Deus.
3- A Cruz de Cristo: Revelação da Plenitude do Amor de Deus
Caríssimos irmãos e irmãs, queridos ouvintes...
Hoje nós refletiremos sobre o seguinte tema: “A cruz de Cristo: Revelação da plenitude do amor de
Deus”. Celebramos hoje na liturgia da Igreja, a Sexta-feira Santa, dia em que relembramos a maior
prova de amor que a humanidade já teve: um Deus que dá sua vida para que sua criatura possa viver
eternamente a seu lado.
Na revelação cristã aprendemos que o homem necessita da experiência do amor para realizar-se como
pessoa. Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, o que significa que o homem é imagem e
semelhança daquilo que Deus é. Na sua primeira carta, João nos diz quem é Deus: “Quem não ama,
não chegou a conhecer a Deus, pois Deus é amor” (1Jo 4,7). Se Deus é amor, o homem é imagem e
semelhança do amor.
O homem necessita de um amor eterno para ser feliz. Ele precisa ser amado infinitamente para
realizar-se, para atualizar em sua vida aquilo que ele é chamado a ser: imagem e semelhança de Deus.
O primeiro pecado, como todos os outros, foi a recusa do amor, o fechamento do homem em si mesmo.
O homem se perde quando deixa de amar. Para ser redimido, reconduzido ao bom caminho, o homem
precisa conhecer o amor de Deus, pois somente este amor pode salvá-lo.
“Na perspectiva da fé cristã é esta a situação de fato: o ser humano não chega a ser a si próprio pelo
que ele faz e sim por meio do que ele recebe. Ele precisa aguardar o dom do amor, pois o amor só pode
ser recebido como dom. Não se pode ‘produzi-lo’ sem a participação do outro; é necessário esperar que
o outro nos dê o amor. E só existe uma maneira de se tornar totalmente humano: ser amado, permitir
que sejamos amados. O fato de o amor ser a maior possibilidade e a mais profunda necessidade do ser
humano, e o fato dessa condição mais necessária ser ao mesmo tempo a mais livre e a mais
incoercível, significa que o ser humano depende de um recebimento para ser ‘salvo’. Quando ele se
recusa a receber esse dom, ele se destrói a si próprio” (Joseph Ratzinger. Introdução ao Cristianismo,
p. 197).
A encarnação de Deus foi o amor manifestado visivelmente em direção ao homem como um amor até
o fim, capaz de ultrapassar a própria morte. A cruz de Jesus só tem sentido porque é a revelação da
plenitude do amor de Deus. Ela é a manifestação de um amor que é entrega totalmente gratuita. Somos
amados por Deus: eis a redenção! Como podemos ler na primeira carta de João:
“Nisto se tornou visível o amor de Deus: Deus enviou o seu Filho único a este mundo, para dar-nos a
vida por meio dele” (1Jo 4,10).
E podemos ler no evangelho de João: “Deus, com efeito, amou tanto o mundo que lhe deu o seu Filho,
o seu único, para que todo homem que nele crê não morra, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16).
Como disse Bento XVI: “É no mistério da Cruz que se revela plenamente o poder irresistível da
misericórdia do Pai celeste. Para reconquistar o amor da sua criatura, Ele aceitou pagar um preço
elevadíssimo: o sangue do seu Filho Unigénito. A morte, que para o primeiro Adão era sinal extremo
de solidão e de incapacidade, transformou-se assim no acto supremo de amor e de liberdade do novo
Adão. Pode-se então afirmar, com São Máximo, o Confessor, que Cristo ‘morreu, se assim se pode
dizer, divinamente, porque morreu livremente’ (Ambigua, 91, 1056)” (Bento XVI. Mensagem para a
Quaresma 2007).
Contemplando a cruz percebemos o amor infinito que Deus possui por cada um de nós e relembramos
que nada poderá diminuir esse amor dele por nós. Somos amados por Deus e por isso podemos vencer
todas as coisas que tentam nos afastar dele. Acolhamos sempre esse amor que nos resgata.

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