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Pe.

OTTORINO ZANON

NOSSA MÃE

MARIA

(A NOSSA MÃE BONDOSA, NOSSA SENHORA)

PIA SOCIEDADE SÃO CAETANO


VICENZA (ITÁLIA)
Titulo original: 8. La Nostra Buona Mamma
Collana “La parola a don Ottorino”
Vicenza-Itália - 1998

Tradução: Giovanni Battista Battilana


Volta Redonda-RJ (outubro 2003)

LEGENDA

... As reticências, indicam que foi omitida parte do discurso,


achando-a supérflua para o contexto.

FONTES

As Meditações, ou Homilias, (Med.) e os Diários pessoais do pe.


Ottorino são citados com a data de referência. São citados também
os textos bíblicos comentados.

Note bem: o presente trabalho se origina da gravação ao vivo de


meditações, homilias e palestras administradas pelo Pe. Ottorino,
para estudantes de segundo grau e de teologia. São textos de cunho
pedagógico e educativo, num estilo familiar que justifica
repetições, mudanças de interlocutor, do singular para o plural, e
outras licenças típicas de uma livre conversação. Esperamos ter
interpretado, o mais fielmente possível, o pensamento do Pe.
Ottorino e seu estilo simples e incisivo.

2
INTRODUÇÃO

“Por quanto se fale a respeito de Maria, nunca será o


bastante”, vivia repetindo o Pe. Ottorino, dando eco à voz dos
Padres da Igreja e, sem perder nenhuma oportunidade para falar
dela, a chamava carinhosamente de “a nossa mãe bondosa”. A ela
se dirigia de mil maneiras, às vezes com cartas confidenciais, que
acabava sempre rasgando; ou escrevendo a sigla AM (= Ave Maria)
em cada página do bloco de rascunho antes de começar a escrever
outras coisas, sempre com plena confiança nos momentos de
dificuldade, consagrando totalmente a ela si mesmo e cada nova
atividade.
Para o Pe. Ottorino Maria era a mãe, a rainha, a mestra, o guia
seguro, a confidente, a protetora, a medianeira de todas as graças e
a advogada junto à Trindade. Maria era o caminho para chegar ao
Pai, ao Filho e ao Espírito Santo; o meio seguro para salvar a nossa
vocação e os homens. Era o protótipo do religioso: devotada à
vontade do Pai, no dia-a-dia em Nazaré, até à oferta da última gota
de sangue do Filho sobre o Calvário. Era a mulher humilde, porque
consciente de sua grandeza; era a medianeira ‘todo-poderosa’ pela
graça de Deus’, podendo ser procurada com plena confiança em
qualquer necessidade.
“Se querem um conselho – dizia – seja este: queiram bem a
Nossa Senhora; em todas as vossas necessidades, mesmo que
estejam em pecado, não esqueçam que temos uma mãe que não nos
abandona nunca, que tem sempre uma palavra de conforto e uma
mão materna estendida para aqueles que a invocam. Especialmente
na vida apostólica, quando encontrarão grandes dificuldades e
perigos, confiem em Maria e vos garanto que a vitória virá...”.
(Med. Setembro 1966) E ainda: “Nunca Maria me dirá não
quando eu pedir em favor de alguém....”. (manuscrito inédito)
3
Ao fim de tornar mais fácil a aproximação ao pensamento do
Pe. Ottorino, para o nosso crescimento espiritual, oferecemos esta
pequena coletânea de textos tirados das suas reflexões. Trata-se de
uma coletânea que não tem pretensão de um estudo sobre Nossa
Senhora, mas é apenas um conjunto de textos, falados pela voz de
um enamorado de Maria, que testemunham como o Pe. Ottorino
vivia com ternura e confiança seu relacionamento com a “mãe das
mães”.
Vamos ler com humildade estas palavras simples que saíram de
seu coração, com o desejo de sermos contagiados pelo mesmo amor,
pela mesma ternura e pela mesma confiança para com “a nossa mãe
bondosa, Nossa Senhora”.

Vicenza, 08 / 12 / 1998
Solenidade da Imaculada Conceição de Maria

Pe. Venanzio Gasparoni

4
Coloquei todos debaixo do manto de Maria.
Pedi a força do sim generoso e contínuo para todos.1

Três coisas vos peço de todo coração,


quase de joelho diante de vocês.
Primeira: amem a Deus de todo coração e com todas as forças,
tenham Deus como centro e motor de todos os vossos
pensamentos e de todas as vossas ações.
Para realizar este ideal procurem Nossa Senhora, como as
crianças procuram confiantes a mãe.
Maria nunca negou sua ajuda.
Confiem nela e escutem sua voz...
Como segunda coisa lhes peço que se amem muito.
Amem-se de um amor puro e sobrenatural,
como convém a irmãos de Jesus,
que estão juntos no mesmo navio,rumo ao mesmo porto.2

Na pobreza, na união com Deus, debaixo do manto materno de


Maria, vão pelo meio do povo.
Trabalhem para salvar muita gente, não demorem,
porque o demônio não dorme!
Descansarão no Paraíso.3

Para nortear a vossa vida, entrem freqüentemente na casa de


Nazaré e aí, no encontro com Jesus e com Maria,
perceberão logo se estão afinados com a fé, a pobreza, a pureza
e com todas as outras virtudes necessárias para um apóstolo.
Nossa Senhora seja sempre a vossa mãe,
Jesus o vosso amigo
e o Espírito Santo o fogo que vos une ao Pai.4

1
(Diário Terra Santa 15/10/65)
2
Test. 26/05/61)
3
Test. 26/05/61)
4
(Test. 09/08/63)
5
6
“Maria é a pedrinha que se inseriu de maneira perfeita
no maravilhoso mosaico da criação”.
Maria me conhece, me ama e me segue no duro
trabalho da minha santificação e em toda a atividade
apostólica.
Nunca uma mãe, podendo, deixa o filho em má
situação; nunca Maria me deixará na hora da necessidade.
Como poderia não me ajudar quando peço ajuda para
tornar-me parecido com o seu Jesus!
Como pode Maria não estender sua mão materna para
purificar-me quando lhe peço que me torne digno do seu
Jesus!
Como pode Maria não atuar quando peço sua
intervenção para salvar alguém!
Nunca... Nunca... Nunca... Maria me dirá não, quando eu
pedir em favor de alguém...”.5

5
manuscrito inédito do Pe. Ottorino
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Mãe é mãe!

Filhinhos, diante dos homens Maria é a esposa de José, mas não é bem
assim: ela é a esposa do Espírito Santo. Deus confiou a José uma mulher,
com a ordem de ampara-la e de cuidar dela: a mulher mais santa, a mulher
mais importante já criada pelo Altíssimo, a mulher que está entre o céu e a
terra, bela, pura e concebida sem pecado. Maria nunca foi tocada pelo
pecado! Pensando nisso, ontem à noite, senti certa inveja de Nossa Senhora,
não tanto por ter sido concebida sem pecado – isto é um dom de Deus – mas
porque nunca pecou. Nossa Senhora nunca pecou, nem mesmo uma pequena
falta, nunca ofendeu a Deus, nunca entristeceu o rosto de Deus.
Quantas vezes, no Instituto São Caetano, quando minha mãe estava
viva, se eu quisesse dar uma de durão, em certas situações, ela dizia: “Você
está certo...! Mas, toma cuidado...! Faça como você quiser, meu filho,
mas...”. Enfim, o tal “faça como quiser” significava sempre “deixa pra lá,
tenha paciência!”. A mãe é mãe, ela procura o bem de toda a família, mesmo
que sua preocupação materna possa, de vez em quando, prejudicar um pouco
a justiça...
A final, o que faz Nossa Senhora no céu? O que ela faz quando nós a
invocamos? Precisamos tê-la como medianeira das graças, a mãe da
misericórdia, a mãe da bondade, enfim, a “mãe”. Nós imaginamos no
Paraíso três homens, isto é, o Pai, o Filho e o Espírito Santo e uma mulher
que põe um pouco de ordem... (numa casa onde só tem homens, nem sempre
predomina a ordem; pela ordem você percebe a presença de uma mulher,
não é não?). O Senhor quis uma mãe, para ele e para nós. (Med. 10/06/70)

Maria, obra prima de Deus


Não podemos esquecer o seguinte: cada um de nós é fruto de um ato de
amor de Deus. Não podemos esquecer que somos fruto de um ato da vontade
de Deus.
Me lembro do Evangelho de ontem à noite, quando o cego gritava:
“Senhor, se você quiser, pode ajudar-me! Se você quiser pode ajudar-me!”.
(Cfr. Mc 10,46 seg.) E mais adiante: “O que você quer?”. “Senhor, que eu
veja!”. E Jesus, num ato de vontade, devolve a visão ao cego. Vejam, eu sou
fruto de um destes atos de vontade de Deus, o Onipotente. Um belo dia o
Criador falou: “Seja a luz!” (Gn 1,3); e um outro dia falou: “Se faça Zeno..., se
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faça Paulinho...”. Cada um de nós deve considerar que saiu de um ato de
vontade do Senhor: “Ele me quis, Ele me criou!...”.
Se todas as criaturas desaparecessem, Deus não perderia nada. Mas
então, porque nos criou? Só por amor, por um amor desinteressado, puríssimo.
Nós também afirmamos de querer bem: “Ah, eu quero muito bem a todos...”. É
difícil que o nosso amor seja mesmo desinteressado; por quanto sejamos
santos, cada um tem sempre um pouco de interesse... Só Deus ama de maneira
desinteressada!
Eu quero bem a alguém porque encontrei algo amável naquela pessoa.
Deus cria coisas amáveis. O amor de Deus cria o bem da criatura. Deus não se
compraz de um bem que encontra: Deus cria o bem. O amor de Deus, portanto,
é também a medida do bem de uma criatura. Por exemplo: quando o Senhor
criou, sei lá, Antônio, o que encontrou? Não existia nada, criou Antônio do
nada. Então criou o bem e o amou. Hora, se nos ama, significa que criou o
bem, não é não? Se eu, homem, encontro em Antônio o bem e o amo, é porque
encontrei nele alguma coisa boa. O Senhor, pelo contrário, não encontrou, mas
criou o bem dentro dele. Portanto, o amor de Deus para com Antônio é a
medida do bem que Deus criou nele. Entenderam? Se Deus criou nele muita
coisa boa, é porque lhe quer muito bem...
Na criação encontramos vários graus de bem. Da mesma forma temos
vários graus de amor: no mundo mineral existem coisas maravilhosas; aí está o
bem. Nos vegetais o bem é maior. Mais acima: no mundo animal, o bem
aumenta mais ainda. No homem existe uma soma de coisas boas, tudo o que
podemos imaginar. Mas que pulo para chegar ao homem...! Dá vontade de
dizer: “Chega! Mais do que isto é impossível!”. Mas não, existem outros
degraus: os anjos!
Vejam que maravilha: reino mineral, reino vegetal, reino animal...; um
degrau mais acima: o homem; mais um degrau: os anjos, cada um no seu
degrau, até chegar aos querubins: que coisa maravilhosa! Anos luz mais
acima..., tem mais alguém: Maria! Ela que, por natureza, é inferior aos anjos,
por graça, por dom de Deus, é infinitamente superior aos anjos e, reparem, ela
é a minha mãe... Não sabiam que eu tenho uma mãe assim?! ... Aqui começa a
meditação: colocar Nossa Senhora na escada das criaturas, pensando que o
amor de Deus tem a proporção do bem que existe nela...
Um outro exemplo: suponhamos que eu seja convidado por vocês para
admirar as obras de um colega que gosta de pintar: “Pe. Ottorino, venha para
esta sala, tem a obra prima de Antônio”. Não estaria ofendendo o artista se
achasse sua obra um pouco inferior às pinturas de Raffaello... Ma se me
disserem: “Esta é uma obra prima de Raffaello...”. Ou ainda: “Este trecho de

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poesia é obra de Dante”. Bom, aí a coisa seria muito diferente! Subindo mais
ainda a escada, se me disserem: “Esta é uma obra de Deus”. Já pensaram?
Nossa Senhora é obra prima de Deus! Sem dúvida uma pessoa muito próxima
de Deus, já que o artista transfere um pouco de si mesmo para as suas obras....
É interessante relembrar alguns princípios que os teólogos põem na base
da Mariologia, o estudo sobre Nossa Senhora: “Nossa Senhora é singular!”.
Singular: só ela se destaca, só ela recebeu estes dons singulares, só ela foi
destinada a ser a Mãe de Deus e, por causa disso, teve uma concepção
imaculada e uma convivência com Cristo. “E a palavra se fez carne”: por nove
meses Deus viveu dentro de Nossa Senhora. Pensem: naquele momento, por
obra do Espírito Santo, uma pequena célula começou a mover-se dentro do
ventre puríssimo de Maria, Deus entrou e começou a tomar forma e ela, por
nove meses, continuou a dar de si mesma a Deus que morava dentro dela. Se
dão conta?... Nossa Senhora carregava Deus! Dá para imaginar porque Deus a
fez grande e cheia de graça.
Aí sim, dá para entender: “Cheia de graça”: Maria carregava a fonte da
graça. O Pai preparou um sacrário para seu Filho. O que importa se deverá
nascer numa gruta? O que importa se deverá fugir para o Egito? Jesus Cristo já
tinha um sacrário consigo. E como Deus preparou este sacrário? Com uma
concepção imaculada e uma maravilhosa convivência com Cristo. Maria
carregou Jesus por nove meses, o carregou no colo como criança e o
amamentou. E Jesus é o Deus de Maria!
Então entende-se a definição de mãe e filha: “uma sociedade de vontade
e de trabalho entre ela e Deus... (Papa Pio XII, Enc. “Haurietis aquas”) uma
sociedade para a salvação do mundo.
Gloriosa assunção, universal realeza: são algumas maravilhosas estrelas
desta criatura que é “um sinal grandioso no céu” (Ap 12, 1). No céu onde tudo
é um prodígio, ela é grande mesmo! No céu, que é toda luz, ela é “um grande
sinal!”. Não se trata de uma luz numa noite escura, mas uma grande luz na luz
do dia!.....
Então vamos contemplar Nossa Senhora, vamos contemplar esta escada
de seres humanos, começando pelo menor, do átomo pra cima, os homens, os
anjos..., os querubins e os serafins... e Maria! A obra prima de Deus. Deus a fez
como uma obra prima, porque a escolhera como mãe, sem pecado original e
cheia de graça. Na convivência com Cristo, forma com ele uma sociedade para
salvar o mundo. Considerem tudo isto e depois, unidos com Nossa Senhora,
digamos: “Santa Maria, nossa mãe e mãe de Deus! Como és bonita, como és
grande, és a Mãe de Deus e minha também” (Med. 5/05/65).

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Maria acreditou

Nossa Senhora acreditou, não duvidou! Zacarias duvidou e o Senhor o


tornou mudo: “Você verá teu filho, mas por nove meses ficará mudo... “. E
eis Zacarias se penitenciando por não ter acreditado! Nossa Senhora
acreditou e depois viu! Nossa Senhora acreditou nas palavras do Senhor.
Antes de tudo, o Senhor quer um ato de fé, a adesão da nossa inteligência.
Deus quer a nossa fé hoje.
Jovens queridos, vocês que foram chamados por Deus para convocar
os homens a esta fé, a amar a Deus de todo o coração, - para ama-lo é
preciso primeiro crer nele – vocês são chamados por Deus para convocar a
humanidade nesta caminhada. Pensem como é grande o dom da fé, como é
grande o dom que Deus deu a esta casa, mostrando várias vezes sua
predileção, nos ajudando a compreender não apenas que devemos ter fé, mas
também que a fé faz milagres. A história da nossa família religiosa, com seus
anos na mesma hora difíceis e alegres, é uma epopéia de fé, um cântico a
testemunhar que a palavra de Deus é realmente “Palavra de Deus” que nunca
se desmente.
Nós, com a fé, o que acreditamos? Cremos em Deus Pai Onipotente,
Criador do céu e da terra. Cremos na Trindade. Cremos na encarnação.
Cremos na paixão e morte de Cristo. Cremos na Igreja católica, na
comunhão dos santos. Duas coisas eu gostaria que nesta manhã ficassem
bem gravadas na vossa mente: temos que acreditar na providência paterna de
Deus e no amor materno de Maria! Eis os dois pontos fortes da fé em nossa
casa: crer na providência de Deus e no amor materno de Maria! (med.
21/12/61).
Filhinhos, à virgem santa foi pedido um grande ato de fé: adorar seu
próprio filho, a criatura que ela mesma carregou por muitos meses em seu
ventre; poderíamos dizer que Maria adorou seu próprio sangue, sua mesma
carne: “E a Palavra se fez carne” (Jo 1,14). Filhinhos, nós veneramos Nossa
Senhora coroada de luz, Nossa Senhora rainha do céu; mas o presépio nos
convida a considerar a fé de Nossa Senhora, os sofrimentos de Nossa
Senhora. No Evangelho, que acabamos de ouvir, Nossa Senhora é visitada
pelos pastores que, com alegria, relatam a aparição do anjo, o coro dos
anjos, mas sobre a cabana de Belém não tem a estrela, como nós colocamos
nos presépios: tem a miséria de um estábulo. Nossa Senhora conserva estes
acontecimentos em seu íntimo e proclama seu “sim” e seu creio: “Creio que
este filho é, e não é, meu; é minha criatura e meu criador, é o meu Senhor!”.
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Filhinhos, reparem o que Deus pediu àquela que ajudou a salvar o
gênero humano! A virgem santa é a mãe da Igreja, a rainha dos apóstolos, a
co-redentora do gênero humano, mas Deus lhe pediu duas coisas grandes: fé
e sacrifício (Med. 25/12/66).

Maria “tão pequena e tão grande”

A verdade é caridade! “Estas coisas foram feitas pelo Senhor!” (Sl 118
(117), 24). Nossa Senhora falou também: “O Todo-Poderoso fez grandes
coisas por mim!” (Lc 1,49). Ela reconheceu ter recebido grandes graças do
Senhor (Med. 30/03/67). Eis uma atitude feita de profunda humildade e, na
mesma hora, de alegria pela nossa grandeza! “O Todo-Poderoso fez grandes
coisas por mim”: Nossa Senhora percebe ser pequena, humilde, mas também
grande. O Senhor me escolheu, pobre criatura, e me fez rei; reconheço ser
um “pequeno” pastor, como Davi, mas também rei, porque Deus, em sua
bondade, me escolheu entre os meus irmãos e me colocou no trono. Esta, a
meu ver, é a humildade. (Med. 4/11/69)
Percebam a vossa grandeza: “O Todo-Poderoso fez grandes coisas por
mim”. Contemplem a vossa grandeza de cristãos, de religiosos, mas na
mesma hora considerem a vossa miséria: todo dia, antes de comungar,
procurem viver os sentimentos de Maria, ela se percebia tão pequena e tão
grande. Estariam errados em se acharem só pequenos, porque a verdadeira
humildade está em reconhecer o que o Senhor vos deu. Devem sentir sua
pequenez vivendo sua própria grandeza (Med. 7/11/69).

Maria leva Jesus aos outros

Deus criou o homem... O homem estragou a obra de Deus. Mas o


Senhor falou: “Façamos a redenção”, e prometeu a redenção. E eis que o
homem, ferido, espera pelo médico, espera por aquele que vem abrir as
portas do céu, aquele que vem devolver-lhe a dignidade e grandeza. Toda a
humanidade, mesmo com sua miséria, acompanhando o cântico do povo de
Deus, vai gritando: “Venha este rei, venha este salvador!”. Enfim, chega o
momento estabelecido por Deus, um anjo se apresenta a uma menina hebréia
e lhe anuncia que será ela a mãe do Restaurador.

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Procurem imaginar a cena: esta pequena menina hebréia que recebe o
anúncio do anjo: “Você será a mãe de Jesus, você será a mãe do Salvador!”.
E esta pequena menina concebe, por obra do Espírito Santo, e se coloca a
total disposição de Deus: “Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a
sua palavra!” (Lc 1,38).
Quando estive em Nazaré, prostrado ao chão, na gruta da anunciação,
vos garanto que experimentei algo difícil de se descrever. Naquela gruta
estão escritas as palavras: “Aqui o Verbo se fez carne! “ (Jo 1,14). Aquele
“Hic = Aqui” penetra no íntimo do coração! Exatamente naquele lugar a
divindade se uniu à humanidade! Deus começou ser homem, permanecendo
verdadeiro Deus: uma só pessoa, duas naturezas. A Virgem começou
carregar em seu ventre puríssimo a Palavra que se fez carne.
Aconteceu uma coisa maravilhosa: Maria, com a Palavra feita carne
dentro de si, começou transbordar de vida. Por isso ela visitou a prima
Isabel, que precisava de ajuda, já que estava para dar à luz o pequeno João,
mas que também precisava de Jesus. E Jesus se deixa levar por Maria para
ao encontro com João, para santificar João.
Vejam, meus irmãos, com Jesus dentro de nós, somos naturalmente
levados à caridade, porque somos guiados por Ele. É o que eu experimento
quando falo para vocês, ajudando a vossa meditação, percebo uma enorme
diferença se falo antes ou depois da Comunhão. Hoje estamos meditando
durante a Liturgia da Palavra; mas se fosse depois da Comunhão, eu teria a
impressão de sermos dois a falar. É preciso sentir a presença de Jesus.
Quando Jesus está dentro de nós temos a necessidade de fazer algo por Ele,
de leva-lo pelo mundo a fora e doar a todos Jesus! É por isso que Maria
andou mais de cem quilômetros, através das montanhas da Samaria, para
chegar na Judéia, em Ain-Karim, onde morava Isabel. Que a virgem santa
nos ensine a acolher Jesus, a carrega-lo dentro de nós e a leva-lo aos outros
(Med. 10/08/67).
Quando Maria saudou Isabel, a sua santidade passou para a prima e
para o pequeno João. Tem algo que sai de nós até sem falar, apenas
saudando as pessoas (Med. 3/12/69).
Quando encontrarem uma pessoa, se estiverem cheios de Deus,
acontecerá com vocês o que aconteceu com Maria: seu pequeno Jesus
santificou o pequeno João. Vocês encontrarão um jovem e sentirão a
necessidade de doar-lhe Jesus, de faze-lo feliz, de colocar algo em sua alma.
Tudo isto não é fruto de estudo: é impossível! É fruto de uma vida. A vossa
força está aqui. Aqui está a característica do verdadeiro apóstolo (Med.
19/12/69).

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Maria nos coloca em contato com Jesus

Queridos, como conseguirão levar o Senhor sem ser uma pequena


família em união com o céu e em contato com Deus? Sem o ‘telefone’ em
casa, sem a comunicação com Deus, como conseguirão levar o Senhor?
Prestem atenção! É uma coisa muito feia quando alguém não quer ouvir a
voz que vem do céu!
Não sejam arrogantes, não confiem apenas em vós mesmos...
Liguem..., liguem para o céu, para conhecer a vontade de Deus! Há uma
diferença entre o telefone da vossa casa e o telefone da pequena casa de
Nazaré. Lá a comunicação era imediata! Muitas vezes nós precisamos da
telefonista, Maria será a nossa telefonista e dará o nosso recado a Jesus.
Acostumem-se a ligar para Nossa Senhora! Acostumem-se a passar
por Maria quando quiserem entrar em contato com o céu! Jesus nasceu por
obra do Espírito Santo no ventre puríssimo de Maria; o encontro entre o céu
e a terra aconteceu exatamente em Maria. Devemos trilhar o mesmo
caminho de Jesus. Se queremos salvar os homens, devemos encontrar-nos
com Deus no colo de Nossa Senhora. Prestem atenção aos telefonemas que
chegam do alto; acostumem-se a telefonar diretamente para Deus: “Senhor o
que você quer que eu faça?”. Perguntem para Deus antes de fazer besteiras,
antes de errar: perguntem para o Senhor! Comuniquem-se com Deus através
de Maria. No céu Jesus está sempre perto do telefone, perto de Maria!
Isto vos desejo: que o vosso telefone funcione, que em vossas
necessidades usem sempre o telefone, só assim estarão imitando a pequena
família de Nazaré e transformando as nossas famílias, em qualquer canto do
mundo, em outras famílias de Nazaré. (Med. 7/01/68)

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Jesus fala da mãe dele

Um dia, com simplicidade, apresentei-me a Nossa Senhora para pedir-


lhe o que eu deveria dizer para vocês a respeito de Jesus. Ontem à noite,
pedi para Ele o que deveria dizer a respeito dela.
Jesus fala assim a respeito de sua mãe:
1. “Ela me acolheu com humildade, com simplicidade e com total
disponibilidade”.
2. “Acompanhou-me com fé, sem querer reduzir a minha vida à lógica
humana” (confira aos 12 anos, no templo).
3. “Compreendeu o meu sacerdócio e se uniu no sacrifício”.
4. “Por isso hoje participa da minha glória no céu”.
1. Maria acolheu Jesus com humildade, simplicidade e disponibilidade. -
Todo homem tem uma vocação: padre, pai de família... - Toda vocação
comporta uma missão, e para esta são necessários instrumentos humildes,
que se reconheçam como tais... - Maria foi humilde e continuou a viver
com simplicidade e humildade... - Foi disponível à vontade de Deus,
aceitou, não foi ela quem escolheu, mas Deus. Em cada ocasião procurou
a vontade de Deus...

2. Maria acompanhou Jesus com fé. Por exemplo, quando Jesus ficou no
templo: “Não sabiam que eu devo estar na casa do meu Pai?” (Lc 2,49).
Maria não entendeu, mas aceitou com fé. Tem horas em que não é fácil
aceitar a vida com fé, sobretudo quando tem a cruz... Naquelas horas
também Deus está presente, perto de nós, e quer nos ajudar.

3. Maria compreendeu o sacerdócio de Cristo e se uniu ao seu sacrifício.


Jesus nos salvou derramando seu sangue. Maria foi associada ao Cristo
redentor, esteve junto dele no Calvário. Cristo nos chama a ser co-
redentores com Ele, como Maria. Todos sofrem na vida: unamos nossas
dores àquelas de Cristo e de Maria.

4. Maria é glorificada e acolhe assim o fruto de sua fé e de seu sacrifício.


Ela nos lembra que, se vivermos com fé, disponíveis à vontade de Deus e
participando do sacrifício de Cristo, nós também participaremos de sua
glória (Med. 15/08/72).

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“Eis-me aqui, Senhor, estou à sua disposição!”

“Eis a serva do Senhor” (Lc 1,38). Devemos viver a atitude de Nossa


Senhora quando falou: “Eis-me aqui Senhor; eis a tua serva!”. Diante de
Deus, repitam a frase der Nossa Senhora: “Eis-me aqui Senhor, estou a sua
disposição!”. Repitam durante a Missa: “Estou aqui purificado, Senhor”.
Toda manhã coloquemos os nossos pecados sobre o altar. Devemos estar a
disposição, estar prontos para sermos crucificados, como Jesus, toda manhã;
não apenas reviver a paixão do Senhor e sentir a sua presença, mas aderir ao
seu espírito, que é estar a completa disposição nas mãos do Pai, prontos a ser
sacrificados para a salvação do mundo. Nós estamos nas mãos de Deus
(Med. 04/03/69).
Compreender o que significa salvar uma pessoa, o que significa "vida
eterna", “alma e vida eterna”, vai dar força para trabalhar em favor desta
salvação; caso contrário, não estaremos apegados a uma vida
verdadeiramente apostólica e sim às obras apostólicas... Então não haverá
em nós a total disponibilidade que deve ter quem quer salvar os outros. Em
nossa família religiosa temos que frisar esta idéia. Nossa Senhora é modelo
de disponibilidade a Deus.
Hoje, festa do rosário, eu quis desenvolver este tema, porque,
considerando pela manhã os vários mistérios, pensei: “Como é grande a
disponibilidade de Nossa Senhora! Maria é mesmo o exemplo maravilhoso
de vida apostólica, de discípula de nosso Senhor e de doação total à causa de
Cristo. Disponível lá na anunciação, disponível na visita a Isabel, disponível
lá na gruta de Belém, disponível na oferta do filho ao templo, na procura do
filho perdido, embora não compreendendo nada: ‘meditava todas estas
coisas em seu coração” (Lc 2,19). Maria foi disponível nos mistérios da dor
– não se rebelou, aceitou porque compreendeu ser aquele o meio para a
salvação dos irmãos -; disponível em tudo, e quando o filho subiu ao céu,
ficou junto aos apóstolos na Igreja que estava nascendo... Nossa Senhora, a
nossa mãe bondosa, não se apegou a Nazaré ou a Belém, não se apegou a
Tiago ou a João ou a outro; apegou-se à causa de Cristo, ao filho e à causa
do Pai, numa doação total. (Med. 07/10/70)

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Total disponibilidade de Maria à vontade de Deus
Maria, a nossa mãe bondosa, tem uma única preocupação: seu próprio
dever. A sua preocupação é saber qual é a vontade do Pai. Como Abraão que,
no alto do monte, ouviu a voz de Deus.
Esta disposição deve estar em todos nós, consiste em estar
preocupados apenas em saber se o que fazemos é vontade de Deus; o resto
não interessa. Cada um usará toda a sua boa vontade para ajudar o superior a
fazer o que Deus quer. Podemos opinar, mas depois: “É a vontade
de Deus? Me basta!”. Tantas desgraças no campo apostólico – gente que se
rebela, que quer sair da congregação, etc. etc... – acontecem porque os
religiosos não ‘decolaram’, não compreenderam o que significa ser
religiosos, doados inteiramente ao Senhor, de prontidão e à sua disposição
feitos soldados.
Nossa Senhora aceitou a vontade do Senhor, foi para o Egito porque o
Senhor falou: “Foge para o Egito!”. Não ficou em Belém, com o perigo que
o menino fosse morto! Enquanto temos pernas, fujamos! Nós também
fugimos para outro lugar ao fim de obter a aprovação do diaconato *. Mas se
um dia a santa Sé nos dissesse: “Por enquanto, não!”. Então, de nossa
parte... nem mesmo uma palavra! O nosso primeiro superior é a santa Sé,
estando ela de acordo, tudo bem! Ma o dia em que ela dissesse: “Por
enquanto nem se fala!“, acabou, nem uma palavra a mais, vamos esperar – é
esta a vontade de Deus! – até se fosse preciso esperar cinqüenta anos, ou
uma inteira geração. Enquanto lá dizem “sim”, e aqui dizem “não”, nós não
vamos parar; sem nenhuma autorização para condenar ninguém... O Senhor
compreenderá! Antes de tudo temos o dever de aceitar a provação que vem
das mãos do Senhor e depois, humanamente falando, só nos resta tratar do
assunto em outra sé!

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* Pe. Ottorino refere-se ao fato de que o bispo de Vicenza se recusava de


acompanhar com uma carta o pedido, feito à santa Sé, para poder introduzir
o diaconato em nossa congregação. Diante da recusa do bispo, Pe. Ottorino
se dirigiu diretamente ao Papa Paulo VI, através de Dom Ítalo Di Stefano,
bispo no Chaco – Argentina, que estava em Roma para visitar o Papa.
É esta a disposição de Maria, a nossa mãe querida; esta é a primeira
penitência que devemos fazer: a total disponibilidade. Cuidado, irmãos,
porque na teoria estamos todos de acordo, mas na prática, dentro de uma
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situação concreta... podemos não viver como Nossa Senhora, com aquela
atitude de quem deseja só fazer a vontade de Deus. Procurem saber qual é a
vontade de Deus, o resto não conta. Então, não posso raciocinar? Não, você
deve pedir explicações (Med. 27/02/68).
Somos que nem pequenos oficiais e temos à nossa disposição um
pequeno grupo de soldados: as mãos, as pernas, a inteligência, os olhos...
somos um pequeno corpo completo, uma pequena patrulha completa. Não
esqueçam que os planos de batalha estão no céu, não estão na terra; todos os
planos de batalha, o grande comando militar, está no céu! A batalha é
comandada do céu e não da terra. Humanamente falando, nós não
poderíamos ganhar esta batalha, mas é Deus quem nos ajuda e nos dá as
coordenadas, é Ele quem orienta a salvação do mundo, é Ele quem faz os
planos...
Considerem o exemplo: Nossa Senhora, a nossa mãe querida, foi
chamada por Deus para ser a mãe de Jesus. Dia após dia, o Pai foi revelando
a Maria o seu projeto de amor e, muitas vezes, ela compreendia depois dos
acontecimentos. De fato, Maria recebeu o anúncio e pronto, mais nada!
Assim como São José recebeu o anúncio e pronto! Maria tem que ir a
Belém, e depois para o Egito; enfim, momento a momento o Senhor dá as
ordens, muitas vezes através da palavra de delinqüentes, como Herodes. A
vontade de Deus, que Jesus fosse para o Egito, não se manifestou através do
sumo sacerdote ou de João Batista, e sim através de alguém que foi matando
crianças em Belém (Méd. 1966 – sem data).

Doação total e... dolorosa em Maria


Quando nos doamos ao Senhor, nos doamos inteiramente, totalmente.
Porém, de repente, a nossa vida deixa de ser aquele carro novo que corre
veloz, acontece um acidente ou algo parecido: um barulho, uma bateção...
Enfim, começamos a nos interrogar: “O que há? Qual o problema?”.
Se considerarmos que a nossa mãe querida, lá em Nazaré, respondeu
sim ao anjo e aceitou, então não podemos pensar nela como uma criatura
que tenha dito sim ao Senhor, mas depois, como ao nosso carro, tenha
acontecido algum barulho..., uma pedra nos freios ou algo parecido. Nossa
Senhora, depois do sim, com a ajuda de Deus continuou a dizer sim nas
coisas grandes e pequenas.
O Evangelho fala de Jesus no templo: aos doze anos deixou a
mãezinha e São José naquela situação que vocês bem conhecem. Bastaria só
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isso para compreender o que sofreu Nossa Senhora, mas como foi sempre
pronta a dizer sim! Basta subir o monte Calvário e observar Maria, para
compreender seu sacrifício e quanto foi fiel ao ”Faça-se em mim segundo a
sua palavra” (Lc 1,38) e como continuou a dizer sim, não somente nos
momentos de alegria e de entusiasmo, como em Caná, quando todos devem
ter comentado: “Maria, foi teu filho quem fez isso? Mas que coisa
maravilhosa! Mas que filho extraordinário! ...”. Não, naquele momento...:
“A mãe dolorosa estava em lágrimas junto à cruz”, (da liturgia) aí aparece
esta Mãe que respondeu sim ao Pai, que quis salvar os homens junto com
Jesus, que aceitou sua crucificação incruenta, uma espada que traspassou seu
coração! (Lc 2,35) Meus amigos, este é o ponto: com exemplo de Nossa
Senhora nós devemos aprender a fazer a vontade de Deus, como um ato de
humildade e de penitência, não somente nas coisas grandes, mas também nas
pequenas, quando talvez, seja mais fácil falhar. (Med. 26/11/69)

Maria na vontade de Deus aceita a paixão


Se não quiserem uma vida apostólica cheia de desilusões, mas alegre e
serena, deverão caminhar na estrada de Jesus e de Nossa Senhora. Nesta
manhã, primeiro sábado do mês, considerem o que fez Nossa Senhora.
Acontece que Jesus, como homem sofreu como todos os homens, mas como
Deus sabia que além da cruz havia a ressurreição e sua subida ao céu. Mas
Nossa Senhora só podia saber disto por fé.
Então Maria aceitou a paixão com a mesma fé com a qual devemos
aceita-la nós também! É também nosso este esforço e esta dificuldade de
crer... Como obediência à sua vontade, o Senhor nos pede para sofrer com fé
na vida eterna. Foi isto que Deus pediu para Maria! Subindo o Calvário,
Maria padeceu e sofreu por amor a Jesus e por amor a todos nós, mas sem
ter a percepção, como Jesus podia ter, do que seria o paraíso; só tinha
esperança, ela também tinha esperança.
Estou repetindo quanto já falado várias vezes, que devemos aprender
com Maria a ter esta idéia fixa: “Quero fazer a vontade do Senhor, assim
como Maria que subiu o monte Calvário...”.
Maria sentiu como que uma ordem de Deus para ficar junto do filho,
assistir a crucificação e a agonia... Imaginem o que significaram para Maria
as palavras de Jesus: “Pai, porque me abandonaste?” (Mt 27,46). E depois,
quando Jesus falou: “Tenho sede!” (Jo 19,28). Conseguem dar-se conta:
uma mãe que vê o filho moribundo, com sede e não pode dar-lhe água?
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Compreendem...? A mãe faria qualquer coisa para ajudar o filho, mas os
outros sequer lhe dão água! Mesmo assim: “A Mãe das dores estava em
lágrimas junto à cruz...!” (hino litúrgico).
A mãe teve que agüentar os insultos ao Filho: “A outros salvou, a si
mesmo não pode salvar! Desça da cruz e creremos nele!...” (Lc 23.49). O
que teriam dito ou feito as nossas mães? Maria: “A Mãe das dores
estava...!”. Tentem entrar no coração de Maria naqueles momentos de
paixão! Mesmo assim Jesus quis isto de Maria! O Pai quis isto de Maria e
ela quis isto para nós!...
O cristianismo é isso mesmo! Ou compreendemos e vivemos estas
coisas ou não teremos compreendido nada do cristianismo! Ou
compreendemos a paixão co-redentora de Maria,... ou não entendemos nada!
Se vocês entenderem estas coisas, então o Senhor poderá contar com
irmãos que o ajudarão a mudar o mundo!... Com vocês é possível
revolucionar o mundo, mas lembrem, a vossa grandeza não consiste nos
dons naturais que o Senhor vos deu, e sim na vossa disponibilidade, do jeito
que vocês são! “Ah, eu sou pouco inteligente!...”. Não importa! “Tenho uma
saúde frágil!”. Não importa! A sua grandeza está na sua completa
disponibilidade nas mãos do Senhor! Sozinhos não conseguirão nada, mas
com a ajuda de Deus, seguindo o exemplo da mãe Maria, permaneçam a
disposição...!” (Med. 04/03/67).
Uma vida apostólica sem sofrimento é como uma lata de sardinhas sem
óleo, sem tempero, sem nada!... Como conservar as sardinhas? Então, meus
irmãos, durante o dia, pensem no que sentiu Jesus em seu íntimo, vendo os
sofrimentos de Nossa Senhora; e pensem em Nossa Senhora, que tinha uma
única preocupação: fazer a vontade de Deus a cada instante. Tem que ser a
nossa única preocupação também: o que estou fazendo é vontade de Deus ou
minha? E isto com a consciência de que Deus vai nos conduzir pelo caminho
do Calvário (Palestra 05/03/67).

Maria e a vontade de Deus no dia-a-dia


Nossa Senhora, a nossa mãe bondosa, foi fiel aos seus deveres a cada
instante. Se tivéssemos a fita da sua vida, poderíamos coloca-la para rodar
em qualquer ponto: “No dia tal, hora tal, onde estava Maria?”. Sem dúvida,
onde Deus a esperava!

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A nossa vida poderia ser vista assim?... Acontece que o religioso é
aquele que professa a santidade, aquele que, a cada instante, quer estar onde
Deus quer, sendo totalmente e somente de Deus.
Como você pode dizer que é “somente de Deus”, se a todo instante
procura a si mesmo? Estamos nos preparando para o novo ritual da Missa,
uma coisa muito bonita, maravilhosa, que é preciso preparar diretinho, seus
cânticos e sua cerimônia, a fim de que tudo saia bem. Mas se não
participarmos da Missa da mesma forma com que participaram Jesus e
Nossa Senhora, isto é, com a veste penitencial que poderemos ter só
cumprindo o nosso dever a cada instante, estaremos participando sem a
matéria para o “sacrifício”. Não basta assistir à Missa, é preciso vive-la! O
religioso não pode viver a Missa de qualquer jeito! Deve tirar de si qualquer
coisa que não seja do agrado do Senhor (Med. 26/11/69).

Maria a serviço da missão do Filho


Nossa Senhora nos dá um exemplo maravilhoso: ela aceitou ser a
consagrada, a imolada; aceitou esta solidão por amor dos homens; entregou-
se e participou da missão salvadora de Cristo (Med. 24/11/66).
Nossa Senhora não teve uma missão própria; a sua missão estava
ligada e condicionada à missão do filho. A sua foi uma missão verdadeira,
algo que Deus quis desde a eternidade, mas ligada à missão do filho. É por
isso que Jesus aos doze anos falou claramente para Nossa Senhora: “Não
sabiam que tenho que me ocupar com as coisas do meu Pai?” (Lc 2,49).

Nada devemos fazer por obrigação, seria uma heresia religiosa! O que
você fizer, faça-o por amor, até sem estar convencido: “Faço isso porque sei
que é desejo do Senhor, que me ama, por amor a Deus”. Acontece que na
vida nós procuramos fazer o que achamos ser o bem. Sem dúvida para Maria
seria melhor José saber das coisas um pouco antes. Sem dúvia Maria não
devia achar que fugir para o Egito fosse uma coisa boa. Será que, para ela,
foi bom Jesus ficar no templo? Será que foi um bem ver seu filho
crucificado e morto? Quantas coisas, Nossa Senhora também, teve que
engolir e coisas que, sem dúvida, não lhe pareciam boas. Jesus Cristo
também, quando falou: “Pai, se possível, passe este cálice” (Mt 26,39),
como homem não podia achar um bem o Calvário. Nós somos seguidores de
Cristo e é isto que devemos pregar. Devemos pregar com fé (Med.
07/05/71).
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Filhinhos que coisa santa! José trabalhava, Jesus também e, chegando a
uma certa idade, Jesus se associou ao trabalho de José, trabalhando junto,
enquanto Maria preparava a comida. A casa de Nazaré era um pequeno
santuário onde o trabalho e a oração estavam entrelaçados, onde se obedecia
a Deus, onde se amava a Deus, onde o trabalho se tornava um cântico de
amor.

Maria está conosco


Filhinhos, chegou o momento no qual devemos crer no Senhor e fazer
o que o Senhor quer. Deus veio, se manifestou e nos falou: agora é preciso
dizer, é preciso fazer, é preciso agir, é preciso que os apóstolos, que sairão
desta casa, levem em vários lugares da terra o que o Senhor nos revelou
aqui: ”Vão e coloquem em prática”. “O que?“. “O que vocês viram, o que
vocês tocaram com as mãos!” (1Jo 1,1). Como poderemos fazer isto? Com a
nossa mãe bondosa, Nossa Senhora.
Às vezes, vendo o grande projeto do Senhor, eu também perdi a
coragem, humanamente falando, e me perguntei: “Como é possível fazer
isto?!”. Mas depois pensei que também aqueles pobres pescadores devem ter
tido medo diante do comando: “Ide por todo o mundo, proclamai o
Evangelho a toda criatura... !” (Mc 16,15). É fácil “ir”... Agora, com o avião,
é até mais rápido do que naquela época, com aqueles barcos..., Paulo que o
diga!
Filhinhos, não tenham medo, conosco está a mãe bondosa, Nossa
Senhora. Daqui a três semanas, estarei na Guatemala e encontrarei o nosso
querido bispo Dom Luna (bispo em Zacapa, 1ª missão da congregação).
Lembram da sua confiança em Maria? Ele, bispo de uma diocese de
quinhentos mil habitantes, estava com seis sacerdotes e quando se encontrou
com estes sacerdotes não falou: “Fiquem aqui comigo, pelo amor de Deus!”.
Não, falou assim: “Nós devemos nos querer bem, muito bem; nossa mãe,
Nossa Senhora, será a Mãe da diocese, desta maneira deveremos salvar a
diocese toda. Porém, cuidado, eu vos deixo livres, podem ficar o ir embora.
Saibam porém que, ficando, a partir deste momento estará suspenso “a
divinis”, (proibido de exercer o sacerdócio) quem falar mal de um colega,
nem que seja uma única palavra. Devemos fazer o possível para nos querer
bem, sem nunca falar mal um do outro, nada, nem mesmo uma palavrinha.
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Se alguém falar uma só palavra contra o outro estará suspenso “a divinis”,
não poderá mais celebrar, nem confessar, não poderá exercer o sacerdócio!
Se aceitarem isto, fiquem comigo, caso contrário, podem ir embora!”.
Dois se foram e só ficaram quatro sacerdotes e meio milhão de
habitantes; só que, entre os quatro, estava Nossa Senhora... O bispo começou
suas atividades com ela e os quatro sacerdotes dispostos a se quererem bem;
enfrentou com serenidade e com alegria o trabalho na diocese. Devagar
outros vieram e agora já são trinta e, daqui a alguns anos, quando vocês irão
pra lá, serão trinta e sete, trinta e oito, quarenta, ou sei lá... Nunca se sabe o
que vai acontecer! Una coisa é certa, com a ajuda de Nossa Senhora, o bispo
Dom Luna está transformando a diocese de Zacapa; com a ajuda de Nossa
Senhora nós poderemos conservar a fé, o amor e a caridade que o Senhor
nos deu em todos estes anos. Aliás, poderemos até aumenta-los. (Med.
23/01/66)

Maria jamais nos abandona


Filhinhos, lembrem-se: Nossa Senhora jamais nos abandona. Se
perderemos o rumo será porque nós teremos abandonado Maria. Se, um belo
dia, cairemos num buraco e nos acharemos em dificuldade, lembrem-se, não
será Nossa Senhora que nos terá abandonado, e sim nós teremos abandonado
Maria! Amanhã, em vosso trabalho apostólico, quando encontrarem alguma
dificuldade, momentos em que não saberão o que fazer, como deverão agir?
Lembrem-se que encontrarão sempre uma solução procurando Maria.
Eu já sou velho, - vocês sabem que os jovens podem morrer, enquanto
que os velhos têm que morrer – se quiserem uma lembrança, seja esta:
queiram muito bem a Nossa Senhora; em todas as vossas necessidades,
quero dizer até no pecado, lembrem sempre que temos uma mãe que não nos
abandona nunca, sempre terá uma palavra de consolação, uma mão materna
estendida para aqueles que a invocam. Especialmente na vida apostólica, em
momentos de grandes dificuldades, nunca deixem de confiar em Maria e vos
asseguro que a vitória virá... Nestes tempos Satanás está perseguindo
insistentemente a Igreja, mas, no último instante, quando ele menos espera,
encontrará um calcanhar que vai esmagar-lhe a cabeça, este calcanhar é
Maria! (Med. Setembro 66).

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Maria, nossa meta e nossa força
No começo do Instituto São Caetano tudo nos parecia fácil: fácil rezar,
fácil recomeçar a cada dia a subida para Deus, fácil deixar-nos guiar pelo
padre espiritual, fácil esquecer de nós mesmos para amar os outros, fácil até
renunciar à alegria do próprio trabalho. Era a aurora da nossa família
religiosa, e com o frescor da manhã, com o entusiasmo da juventude e com a
alegria das realizações, era fácil sustentar uns aos outros e caminhar. Então
acreditávamos que bastava apresentar-se aos outros para eles nos
acompanharem. Agora o sol está alto e o trabalho começa a tornar-se duro e
pesado. Chegou a hora, para os membros da Congregação, de experimentar
o que significa ser apóstolos... e como é preciso sofrer para salvar os
homens!
O jovem Vianney, quando se deu conta que o trabalho era duro, não
sentou à sombra de uma árvore, nem perdeu a coragem xingando o trabalho,
ou quem o havia mandado trabalhar naquela hora e daquele jeito. Ele
encontrou a força de perseguir uma meta: Maria. À luz deste farol
desapareceu toda sombra, reencontrou-se consigo mesmo e multiplicou o
seu trabalho.
A missão para a qual Deus nos chamou, não é para criança, é para
gente grande. É uma missão dura, que exige um forte espírito de sacrifício e
constância na ação. Enquanto a técnica moderna reduz o esforço para o
trabalho do homem, não existem elevadores ou aviões para a nossa
santificação, nem para o apostolado, estamos e estaremos sempre ao nível
das escaladas duras que nos fazem suar e sangrar. O apóstolo, portanto, se
quiser ser autêntico, não deve estar preocupado em dar a volta aos
obstáculos, mas, como verdadeiro homem de Deus, deve aceita-los e supera-
los com alegria, colhendo cada gota de sangue, que servirá para lavar seus
próprios pecados e os dos irmãos.
Voltemos com simplicidade aos primeiros tempos do Instituto São
Caetano e, ricos da experiência de todos estes anos, com o exemplo do Santo
Cura d’Ars, levantemos toda manhã, diante de nós, a imagem da Virgem
Maria: ela nos ensinará a caminhar com confiança, com alegria e com
entusiasmo nas pegadas do nosso irmão Jesus. Não importa se à noite
contabilizaremos vitórias ou derrotas, alegrias ou dores; de qualquer forma
repousaremos felizes, sabendo que trabalhamos com ele e para ele, na
certeza de que, para o verdadeiro apóstolo, as derrotas são apenas aparentes
(Med. 04/08/72).

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Faça, ò mãe, que eu esteja impregnado do espírito de Jesus e nunca
resista à sua vontade ou venha a deturpa-la. Eu também sou ainda um
pobre menino e preciso de você, mãe, não me abandone! Você sempre me
ajudou e, agora que preciso ainda mais da sua ajuda, tenho a certeza que
você não se afastará de mim. Ò Maria, proteje com seu manto esta obra
que o mesmo coração de Jesus quis e faze que nós sejamos sempre
instrumentos fiéis da sua graça. Prometo, ò mãe, que te farei conhecer e
amar por todos os filhos que você me conduzir. Una-me cada vez mais a
você e a Jesus, e eu não me afastarei de vocês. As crianças que eu
encontrarei, deverão encontrar vocês. Quero que exista um só coração:
JESUS - MARIA - OTTORINO. (Diários 13/03/41)

Dirijo-me a você, mãe querida, a você que vê e conhece Ottorino:


você o conhece desde menino, quando, à noite, da janela de casa, te
mandava um beijo, na direção do Santuário de Monte Bérico; você
conhece suas lutas, suas derrotas e seus triunfos. Mãe, seja sempre
minha mãe, embora muitas vezes eu não seja um bom filho. Acende meu
coração com o fogo divino e faça com que eu possa me salvar e salvar a
outros. Preciso de você para rezar, para agir, para respirar, para ser
apóstolo...
Faça-me viver e morrer para Jesus, inteiramente de Jesus, nada
para mim ou para as criaturas. Você vê, mãe, as dificuldades que eu
encontro; toma-me em teus braços, só em você confio, só você pode
ajudar-me a alcançar a salvação... Quando eu estiver dando um passo
em falso, segura o meu caminhar até com uma paulada, se for
necessário, ou com uma puxada de orelhas. Pode bater em mim, mas não
me abandonar. Se você me deixar, a quem eu poderei recorrer? Ficaria
sozinho, e incapaz de dar um único passo, no meio da maldade deste
mundo. Você sabe como tenho dificuldade de caminhar, mesmo contigo
ao meu lado.
Seja misericordiosa comigo e interceda para mim: FÉ – PUREZA –
AMOR. Uma fé que seja vida. Uma pureza angelical.

Um amor de fogo que compreenda todas as outras virtudes. Você


não pode negar-me estas graças, não seria a Rainha dos apóstolos e o
Refúgios dos pecadores. Você pode me dizer que eu devo merecer tudo

25
isto, vivendo como um digno filho seu. Respondo à primeira objeção.
Pode-se tirar vinho de um tonel vazio? Como eu poderei merecer estes
dons, já que eu sou um nada e estes dons infinitos? Você vê os meus
esforços, são quase sempre em vão e tudo acaba em nada.

Além disso, você me diz que devo viver como um digno filho seu. Será
que uma mãe não tem compaixão de um filho mau e ingrato? Será que
não o procura, não o alcança e não o abraça apertando-o ao seu
coração? Você, mãe, não fará a mesma coisa com este teu filho mau?
Porque às vezes me deixa sozinho a lutar num mar obscuro, sem um raio
de luz, num desânimo que quase vira decepção? Porque permite, nestes
momentos, o ímpeto do furacão das tentações? Você diz que é para
santificar-me. Veja mãe, a poucos meses da minha ordenação sacerdotal,
estou só. Até você, que nunca havia me deixado nos anos de formação,
me deixou sozinho a sofrer e a chorar. A minha alma, que nem um pobre
barco à mercê das ondas, vacilou e gritou desesperada: “Salve-me!”;
passaram os meses, os anos e o barco ainda chacoalhado, continua
avançando, na escuridão da noite e da solidão, para destinos
desconhecidos.
Mãe, chega! Mãe, caminha comigo. Peço isto em nome de São José,
teu puríssimo esposo, que você tanto amou, peço em nome da sua mãe, a
senhora Sant’Ana, em nome de São João Evangelista, de todos os teus
devotos e de tantas almas que esperam por salvação. Você quer que eu
seja um filho digno. Não sei o que fazer, tremo e grito. Estou aos teus
pés: pode me enxotar, me pisar, mas não irei embora (Diários julho 1944).

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A intercessão de Maria

Hoje é a festa da Anunciação, uma belíssima festa de Nossa Senhora,


na qual celebramos o momento em que “O verbo se fez carne” (Jo 1,14).
Podemos dizer que este instante marca o centro da história – não sei se todos
os teólogos estão de acordo – ponto de chegada do Antigo Testamento e
ponto de partida do Novo Testamento. O Antigo Testamento “forma” o
povo, no meio do qual nascerá o Cristo; nós estamos agora formando a
grande família do Pai que deverá viver no paraíso, pela eternidade. Se Deus
se preocupou tanto com o povo hebreu que devia preparar a manjedoura de
Belém, imaginem se não se preocupa com este outro povo, isto é a Igreja,
que deve preparar a manjedoura eterna do paraíso, não acham? É bonito
hoje, festa da Anunciação, pensando no Verbo que se fez carne, ver e
considerar tudo o que está acontecendo, que aconteceu e que vai acontecer
amanhã, numa visão aberta e não limitada, como no meio da neblina. Aqui
vem a calhar o ditado popular dos nossos velhos: “Não se move uma folha
se Deus não quer”. Até nos acontecimentos da história devemos enxergar a
mão de Deus que guia a humanidade às vezes através das guerras e das
calamidades, que ele não quer, apenas permite...
Nestes dias os jornais noticiaram que um padre deixou o ministério
sacerdotal... que mais outro deixou...; de vez em quando ouvimos falar
destes escândalos! Os jornais falam ‘oportunamente e inoportunamente’.
Pensemos que temos uma mãe no paraíso e que, com a nossa oração,
podemos parar esta guerra do demônio, que é pior do que a primeira guerra
mundial. Naquela época eram exércitos contra exércitos, soldados lutando
cara a cara. Aqui, meus amigos, é a guerra do demônio contra as almas,
contra a Igreja; é o demônio que entra em nossas casas religiosas, em nossos
seminários, no meio do clero, nas sacristias e em nossos quartos! O que
fizemos, meus amigos?
“Só ela poderá trazer ajuda”. Assim como Nossa Senhora declarou aos
três pequenos pastores, em Fátima, que só ela poderia ajudar para obter o
fim da guerra, eu digo a vocês: não esqueçam que Nossa Senhora pode
ajudar a acabar com esta perda de orientação. Procurem Maria, em nome do
Papa, em nome destes nossos irmãos que sofrem...
Nos primeiros tempos do Instituto, vocês lembram, quando havia
alguma necessidade particular e precisava-mos da providência divina,
recorria-mos a Nossa Senhora: “Mãe, te quero bem; faça-me santo!”.
Lembram como rezávamos...! Vamos fazer uma cruzada de oração a Nossa
Senhora para a unidade da Igreja de Deus. Na hora em que a Igreja está
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abrindo os braço a todos os irmãos separados, como seria bonito ver a
unidade de braços abertos, mas não com o coração despedaçado! O demônio
conseguiu entrar na casa e deixar a Igreja ferida. Amigos, rezemos e
confiemos em Nossa Senhora, nossa mãe bondosa, que desde o começo de
nossa família religiosa sempre esteve presente com fatos extraordinário, com
a providência material e também com graças espirituais. Estejam certos que
nos abençoará e nos ajudará, se pediremos, de forma desinteressada, não só
para nós, mas para todos os irmãos, a graça da perseverança, da unidade e da
fraternidade (Med. 25/03/69).
Antes de falar com alguém, tenham o costume de invocar o Senhor,
não ‘mecanicamente’, mas com o coração... Por exemplo, antes de uma
pregação, façam uma genuflexão ao Santíssimo e digam: “Jesus fala você!”.
Se estiverem confessando peçam: “Senhor, Nossa Senhora, ajudem vocês.
Jesus fala você!... Senhor o que devo dizer?...”. Acostumem-se a
compreender que é ele quem atua! (Med. 15/04/67).
Aproximemo-nos de Nossa Senhora com a simplicidade de uma
criança e peçamos que, por favor, nos faça encontrar com Jesus! Daqui a
pouco ele descerá do céu em minhas mãos sacerdotais..., depois o colocarei
em vosso coração, o receberemos e nos tornaremos um através da
Eucaristia!... Rezemos para que Nossa Senhora nos faça compreender o
grande mistério que acontecerá sobre o altar e a grande pessoa que
receberemos dentro de nós. Vindo para a igreja nestes dias e em todos os
dias de nossa vida, olhem para o sacrário, conscientes de que aí não tem uma
relíquia ou algo morto, mas tem uma pessoa que vos ama e que vos espera
no céu!... (Med. 26/05/67).

Maria medianeira
Filhinhos, sem Nossa Senhora não conseguimos fazer nada. É muito
difícil a salvação sem a ajuda da mãe... No plano de Deus está estabelecido
que seja ela a medianeira de todas as graças. Pelo amor de Deus, não quero
mexer no que é grande e santo; sabemos bem que, quem compreendeu a
devoção a Nossa Senhora, não pode não amar a Jesus e não ajoelhar-se
diante do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Med. 04/03/69).
Talvez seja o caso de deixar certas discussões... Eu sei que ela é a
medianeira de todas as graças. Para salvar a minha vocação, a pureza e

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conservar um pouco de fé, preciso dela. Quanto ao resto, deixemos para o
além, por enquanto continuemos neste caminho! (Med. 17/12/68).
Como é possível compreender o nosso sacerdócio e a nossa missão?
Eu acho que é possível desta maneira: rezando muito e colocando-nos nas
mãos de Nossa Senhora. Quantas vezes algum bom hebreu terá procurado
Nossa Senhora dizendo: “Por favor, veja se me ajuda a me encontrar com
Jesus... Quando Jesus voltar, eu gostaria de falar com ele...”. Precisamos ter
muita confiança para com Nossa Senhora e pedir-lhe que nos faça conhecer
seu Jesus, nos ajude a sentir sua presença na hora de administrar os
sacramentos e em qualquer momento do nosso dia-a-dia sacerdotal,
procurando manifestar Cristo aos irmãos (Med. 13/07/72).
Nesta manhã, deixo do altar a saudação para todos vocês meus irmãos
(Pe. Ottorino estava partindo para uma visita aos irmãos da América Latina),
assegurando que levarei o abraço de todos vocês para os nossos irmãos.
Contarei para eles - vou falar baixinho, - que vocês se tornaram melhores,
mais amantes de Nossa Senhora e mais preocupados em fazer a vontade de
Deus... Deixo uma lembrança: procurem ter sempre Nossa Senhora como a
senhora e a mãe da Congregação. Por favor, não tratem Nossa Senhora como
a velha da casa! Muitas vezes, a mãe se torna a velha da casa e é colocada de
lado; entra uma outra pessoa e começa a mandar. Não, Maria não é a velha
da casa! Seria o começo do fim da nossa Congregação. Não quero colocar
Maria no lugar de Deus. Não, pelo amor de Deus! Quero coloca-la em seu
devido lugar, medianeira da graça, aquela que leva Jesus para o altar, que
nos ensina a amar o Senhor e a fazer a sua vontade (Med. 1/05/69).
Nossa Senhora tem um coração de mãe e pode tudo junto a seu filho
divino... Não sei se esta história é verdadeira ou não, mas é o que acontece
freqüentemente. Certa vez, Santa Gemma Galgani pedia a conversão de um
pecador, mas o Senhor: “Não, não e não! É uma pessoa muito maldosa, não
merece, deixa pra lá!”. Por fim, ela se dirigiu a Nossa Senhora: “Você tem
que me dar esta graça!”. Dias depois, o Senhor lhe disse: ”Você conseguiu!
Porque você agiu assim?”.
Eu desejo que na vossa vida, tanto pessoal quanto apostólica, vocês
tenham sempre esta confiança em Maria, assim, na hora da dificuldade,
possam dizer como Santa Gemma Galgani: “Senhor, ou você me concede
esta graça, ou eu procuro sua mãe!”... Os nossos religiosos deveriam sempre
dizer, com segurança, estas palavras: ”Olha que vou procurar sua mãe, e
você sabe que ela vai dizer sim”. Poderíamos ficar tranqüilos, o espírito da
Congregação permaneceria firme pra todo o sempre. Amém! (Med. 17/06
70).

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Maria: mãe de cada um e da Congregação
Deus não brinca e não se desmente: o Senhor é um pai que ama seus
filhos! Filhinhos, a nossa casa tem mais uma coluna, um ponto fixo: a
bondade materna de Maria. Deus é nosso pai, ma temos uma mãe também!
Quando falta a mãe, o povo diz: aquelas crianças estão órfãs! As famílias
tem pai e mãe. Deus quis que tivéssemos uma mãe colaborando para a nossa
redenção. Foi associada ao Filho para redimir a humanidade, oferecendo
seus sofrimentos, suas dores, suas lutas espirituais, como naqueles
momentos aos pés da cruz. Esta mulher, que se chama Maria, é nossa mãe,
uma mãe que quer bem a seus filhos.
Quando visitava a minha mãe doente, ela me perguntava: “Como está
Pe. Ottorino? Você está bem mesmo? E como vão as coisas? A providencia
divina continua presente? Você consegue dormir?”. Então ontem falei para
Nossa Senhora: “Você é a minha mãe e me quer bem... Porque não me
pergunta como estou, se durmo de noite, se estou preocupado com as
dívidas...? Eu responderei que estou preocupado pela falta de vocações...,
porque tenho dívidas para pagar...”.
São vinte anos que Nossa Senhora age assim em nossa casa! O ano
passado, na véspera da Imaculada, chegou um milhão de liras, vocês
lembram? Já este ano, perto do Natal, foi Jesus quem deu o presente com o
telegrama que anunciava a aprovação das Constituições da Congregação por
parte da santa Sé.
Gravem em vosso coração esta palavra: fé! Na vida encontrarão
momentos difíceis, como eu encontrei nestes meses: difíceis
economicamente, apostolicamente e espiritualmente. Filhinhos, uma palavra
só: fé em Deus, criador do céu e da terra; fé em Deus nosso pai que nos
criou; fé em nossa mãe bondosa, Nossa Senhora!
Nesta manhã vamos pedir a Nossa Senhora que, depois que mandou as
Constituições, junto com a providência, mande vocações. Digamos a Nossa
Senhora: “Mãe manda-nos irmãos! Irmão pequenos, mas também grandes,
assim demoram menos para partir para o trabalho apostólico! O mundo
precisa de Deus, os homens precisam de uma mãe, precisamos de quem os
ajude a conhecer Deus Pai e Maria Mãe” (Med. 21/12/61).
A Congregação pede que estes homens sejam homens de Deus.
Falando do homem de Deus, são usadas estas palavras: “Ele começa a subir
para a meta sublime da união com Deus, aceitando Nossa Senhora como
mãe e deixando-se guiar por ela pelo duro caminho da renúncia e do
desprendimento”. Quem não tiver devoção a Nossa Senhora e não a aceitar
30
como mãe, saiba que esta não é a sua Congregação. O Concílio declara
Maria mãe de Jesus e mãe da Igreja, por isso ela tem que ser a mãe da
Congregação: nossa mãe e nossa mestra. Ontem, hoje e sempre (Med.
06/08/66).
A nossa mãe bondosa, Nossa Senhora, pensa sempre em nós e nos
conhece a cada um. Ela é a mãe do nosso sacerdócio, do nosso diaconato, á a
chefe, a rainha do que será o nosso trabalho apostólico; será ela que nos
fornecerá o necessário: desde a roupa, até a saúde física, as sugestões, as
ajudas espirituais necessárias para salvar os homens; ela nos ajudará a
encontrar o fio da meada em cada pessoa.
Quantas vezes vocês encontrarão dificuldades! Ficarão se perguntando:
”O que fazer?”. Se tiverem o costume de se dirigir para ela, de perguntar-
lhe: “Mãe, o que fazer?...”, encontrarão a resposta. Mas para usufruir destes
benefícios temos que dar o nosso passo. Ela nos dará estas coisas todas, mas
nós devemos dar um passo para nos aproximar dela.
Falei antes que uma casa não pode ficar sem a mãe. Por quê? Porque a
providência estabeleceu assim: o pai trabalha e a mãe prepara a comida. A
providência de Deus estabeleceu assim: Pai, Filho, Espírito Santo e a mãe.
Ela é a estrada pela qual eu vou ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, é o
meio seguro para salvar a minha vocação e os homens. Esta aproximação,
acontece na oração, até nas orações comuns, como o terço, bem rezado; mas
acontece sobretudo, daquele jeito com o qual entendemos os famosos “cinco
minutos” cotidianos, que são a chave para estabelecer o contato com ele.

Da mesma forma com a qual nos encontramos com Cristo, é preciso


que nos encontremos com Nossa Senhora, temos que aprender a encontrar-
nos com ela. Naqueles “cinco minutos” podemos encontrar primeiro Maria e
depois Jesus.
Enfim, diante dela digamos: “Mãe, estou aqui!”. E falem com ela.
Tiveram uma forte tentação durante o dia? O coração está balançado? Vocês
têm uma dificuldade com respeito à humildade e à paciência? Falem com ela
a fim de que vos ajude a encontrar Jesus. Façam dela a medianeira de todo o
vosso trabalho.
Este encontro pode acontecer em qualquer lugar. É bom, de vez em
quando, deixar que algum bom autor nos diga algo a respeito da nossa mãe
bondosa, Nossa Senhora. Ela mesma nos dirá outras coisas (Med. 10/01/69).

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Maria ensina a viver como Jesus
Em nossas missões, tem muita gente que não conhece nem Deus, nem
os Sacramentos, mas que sabe de uma coisa: temos uma mãe e esta mãe se
chama Maria. Portanto Nossa Senhora é a Mãe de cada um de nós. Mas o
que significa mãe? O que é para mim a minha mãe? Minha mãe foi a
criatura que colaborou com Deus para dar-me a vida. Foi ela quem me
ensinou a comer, aliás me deu um pouco de si mesma no começo. Não creio
que vocês tenham começado logo comendo sardinhas..., tenho a certeza que
vocês também começaram como todos os homens deste mundo... A mãe me
ensinou a caminhar reerguendo-me depois dos primeiros tombos. A mãe me
ensinou a falar...
Tem uma grande analogia entre a mãe que eu tive no mundo e a mãe
que eu tenho do céu, Nossa Senhora. Ela também colaborou com Deus para
dar-me a vida, não a vida física e sim a espiritual. Se sei rezar ‘Pai Nosso’,
se posso segurar na mão a hóstia consagrada e dizer: ”Jesus, você é meu
irmão”, devo isto ao amor do Pai, à generosidade do Filho, ao calor do
Espírito Santo que habita em mim, ma devo também ao ‘sim’ generoso que
levou Nossa Senhora a aceitar de ser mãe de Jesus, com todas as
conseqüências, tornando-se co-redentora da minha vida, sobre o monte
Calvário, aos pés da cruz. Por isso eu posso dizer: Nossa Senhora colaborou
com Deus para gerar-me à graça, para dar-me a vida. Da mesma forma com
a qual devo ajoelhar-me diante da mãe para agradece-la por sua participação
para eu ter uma vida natural, da mesma forma devo prostrar-me diante de
Nossa Senhora, já que ela me ajudou a ser filho de Deus.
A mãe nos deu a comida e nos ensinou a comer; não acham que Nossa
Senhora, mãe espiritual, também nos alimentou? A mãe nos deu o seu leite,
algo de si mesma; o Cristo que tomamos não é carne de Maria? O sangue
que bebemos não era antes sangue de Maria? Há uma união entre o sangue
de Cristo e o sangue de Maria. Assim como mãe Clorinda (mãe do Pe.
Ottorino) me deu o leite, Nossa Senhora me deu algo mais, seu próprio
Filho, seu próprio sangue e sua carne. Nossa Senhora, como a mãe, começou
dando algo de si, depois nos ensinou a comer e, por fim a gente foi se
virando.
Quando eu era pequeno, perto do meio dia, se começasse a beliscar
alguma coisa, a mãe dizia: “Deixa isto, depois não vai comer a sopa!”. A
mãe me ensinou que existem alimentos nutrientes, alimentos que fazem mal
e outros que não fazem nem mal nem bem, mas comendo só eles você não
fica em pé. Nossa Senhora nos oferece o alimento, nós devemos escolher e
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comer o pão que alimenta e não comer o pão que envenena, e nem abusar de
certos alimentos que podem nos impedir de comer o pão que alimenta.
Estamos diante do altar, na casa de Maria e de Jesus, para nos tornar
sacerdotes e diáconos missionários. É inútil comer alimentos envenenados,
coisas que envenenam a alma e nos fazem mal. Acontece poprém que, sendo
alimentos que dão dor de barriga, você vai logo chorar diante de Deus.
Piores do que estes alimentos, e talvéz mais perigosos, são certas leituras,
cinema, televisão etc... são como uma fatia de melancia ou um sorvete,
gostosos, ma não podem substituir o alimento. É preciso equilíbrio. Não
serão os superiores que irão estabelecer quanto sorvete tomar ou quanta
melancia comer. Não seremos nós a proibir-vos de ler algum livro ou algum
jornal, mas lembrem-se, isto não ajuda a ficar em pé; lendo só jornais e
revistas, não sobra mais espaço para aquele Pão que Nossa Senhora nos
ensinou comer para poder viver.
Há um pão que não pode ser substituído: a oração, o estudo dos Livros
santos, a meditação, o retiro espiritual, a união com Deus, a mortificação...,
isso mesmo, a mortificação! O homem de Deus é um homem de oração, de
meditação, que sabe mortificar-se todo dia, procurando dominar a si mesmo.
Este é o pão dos santos, este é o pão de Jesus, este é o pão de Maria, este é o
pão que devemos comer se quiser-mos ter a força para o trabalho apostólico.
Minha mãe me ensinou a caminhar também. Como é bom lembrar o
passado e ver o que Nossa Senhora fez para ensinar-nos a andar no caminho
de Deus! Nos ensinou a ser cristãos, nos ensinou a fazer uma boa confissão,
nos ensinou a fazer a Comunhão, a obedecer à nossa mãe...; nos ensinou a
ser como Jesus (Med. 8/12/71).

Maria, mãe e mestra


Quando os jovens aprendem a tocar algum instrumento, eles têm
sempre por perto alguém que confere, manda repetir, ajuda. Se isto acontece
para aprender tocar um instrumento, tem que acontecer mais ainda para
alcançar a santidade. Nesta subida rumo à santidade, nós também
precisamos de um mestre. Nestes momentos da difícil subida rumo a Deus,
precisamos de uma mãe que nos ensine a viver para Jesus. No trabalho
apostólico também encontraremos dificuldade de levar os homens a Deus,
de ajuda-los a subir..., será preciso também sacudir os homens a fim de que
acionem sua própria vontade de ir a Deus. Então, quem poderá nos ensinar
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isso? Quem poderá nos ajudar melhor do que Nossa Senhora? Ela é a mãe da
Igreja, é a mãe de Jesus. Temos que invoca-la: o terço de todo dia, a prece
‘O Anjo do Senhor...’ que rezamos três vezes ao dia, etc... não sejam orações
feitas por fazer, sejam a voz de um filho que se dirige à mãe. Sejam um ato
de humildade que nos leva a perguntar: “Mãe, como estou me
comportando?”.
O pequeno João Bosco se perguntava: “Como poderei transformar
estes lobos em anjos?“ – “Com a ajuda daquela que a mãe te ensinou a
saudar três vezes ao dia”. Quando o Senhor me tomou pela mão, eu
perguntei: “Como poderei dar início a um instituto? Como conseguirei dar
início a uma Congregação religiosa?“. “Com a ajuda daquela que sua mãe te
ensinou a saudar três vezes ao dia!”. Quando forem enviado para alguma
comunidade da Congregação, vocês se perguntarão: “Como poderei levar o
amor de Deus?“. Com a ajuda dela, não tenham medo, sua ajuda, não
substitui a ajuda de Deus, mas é um degrau, um meio para chegar até ele.
Eu gostaria que aprendêssemos a conhecer e amar Nossa Senhora deste
jeito! (Med. 10/06/70).
Nós, padres e diáconos, deveremos falar de Deus, por isso precisamos
de uma mestra, precisamos de alguém que nos ensine. A mamãe nos
ensinava a falar e nos corrigia quando errávamos, nos ensinava a dizer
‘obrigado’ e ‘por favor’. Confio a Nossa Senhora esta missão para cada um
de vocês. Ela que esteve presente na hora solene na qual Jesus salvou a
humanidade, participou do sacrifício para dar-nos a vida da graça, ela que
nos deu o Alimento divino, ela que nos ensinou a caminhar, até chegar a ser
membros desta família religiosa, seja nossa mestra também na hora em que
falaremos de Jesus, seja mestra de cada um de vocês, de forma que
possamos realizar o projeto maravilhoso que Deus tem para cada um de nós,
como ela, a mãe, soube realiza-lo (Med. M 1971.21 A- ficha).

Maria co-redentora
Ontem à noite, meditando a “Via Sacra”, eu pensava: “A nossa mãe
bondosa, Nossa Senhora, se encontrou com Jesus perto do Calvário, aceitou
o que Jesus revelou a respeito da vontade do Pai, que ela também devia
participar dos sofrimentos da cruz...”.
Considerem como é grande Nossa Senhora! No paraíso Jesus lhe dirá
para sempre: “Vocês me ajudou a carregar a cruz, me ajudou a salvar o
34
mundo”. Pensem: a co-redentora do gênero humano! Maria também aceitou
padecer para que fossem perdoados os meus pecados. Nossa Senhora, mãe
da Igreja, é mestra e nos ensina a ser como Jesus. Ela não está no lugar de
Deus, mas é a primeira a ajoelhar-se diante do Altíssimo e nos ensina
ajoelhar-nos também diante de Deus (Med. 15/07/72).
“Exigiu dela participação para completar a medida necessária para a
salvação do mundo”. Veio Jesus, para salvar o mundo, mas ele quis deixar
uma parte para Nossa Senhora e uma para cada um de nós. Ele podia fazer
tudo sozinho, mesmo assim ele pediu para que eu também fizesse a minha
parte. Assim cada um ajuda a completar a salvação do mundo. Por isso, a
medida completa para a salvação de todos os homens é fruto da ação de
Jesus, de Maria e de cada um de nós.
A parte de Nossa Senhora foi uma parte integrante a parte de Cristo.
De fato, porque Deus chamou Maria sobre o Calvário para sofrer daquele
jeito? Nossa Senhora se tornou ainda mais importante e mais querida e não
menor! Por isso Jesus disse: ”Bem aventurados são aqueles que fazem a
vontade do Pai... Meu pai e minha mãe são aqueles que fazem a vontade do
Pai” (Lc 11,28). Depois de Jesus, não há criatura que tenha realizado a
vontade do Pai como Nossa Senhora!
A nossa grandeza está exatamente em fazer a vontade de Deus no dia-
a-dia e com alegria, tanto nas coisas difíceis como nas fáceis..., aceitando o
dia de sol e o dia de chuva; no esforço de nos querermos bem na caridade
fraterna..., esta é a caridade, este é o amor. Isto por quê? Porque nós também
somos chamados a completar a medida.
Desculpem a insistência, mas creio que esta é a base. Fora disso,
chegando numa comunidade e encontrando dificuldade de relacionamento
com um irmão de temperamento diferente; ou encontrando qualquer
desilusão em nosso trabalho..., poderemos levar em conta a nossa missão e
compreenderemos que aquele é o nosso Calvário, que aquela é a hora na
qual nós somos co-redentores do gênero humano; ou acabaremos agindo
apenas humanamente, rejeitando tudo o que não é segundo o nosso ponto de
vista e o nosso modo de entender as coisas. Aí não salvaremos ninguém! .....
Sabendo de antemão que somos chamados a participar da salvação do
mundo, mesmo suando sangue pelo caminho, mesmo quando do nosso
coração sairá o grito de Jesus: “Pai, se possível, passe este cálice, eu não
agüento mais!”, saberemos concluir como ele: “Seja feita a sua vontade”.
(Mt 26,39).
Nos momentos difíceis, quando estaremos perdendo a coragem, temos
que olhar para a nossa Mãe que primeira bebeu o cálice.... o cálice do

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sofrimento, da vontade de Deus. Não vamos desanimar pensando nas
dificuldades que nos esperam, porque no céu temos um irmão e uma mãe.
Então as dificuldades para vencer as tentações e para resistir à maldade do
mundo e do demônio, serão dificuldades que viveremos, diria até com a
alegria de quem faz algo com paixão. Quando você faz uma coisa com
paixão, não pesa mais. Não é verdade? (Med. 14 -18/ 08/70)
Então o sofrimento adquire outra dimensão e tudo muda de figura.
Então vale mais o cansaço do que o descanso, vale mais o sofrimento do que
o estar bem, vale mais a fome do que a comida...! Se Deus, para salvar o
mundo, escolheu a cruz, e para sua mãe escolheu a ‘Via Sacra’...., significa
que o sofrimento é o preço para a salvação do mundo.
Eu me tornei padre antes de tudo para colaborar com Cristo na
salvação dos homens com o meu sofrimento! Nem que fosse para uma única
pessoa, farei penitência. Eis o porquê da penitência! Para associar-me a
Cristo que livremente enfrentou o sofrimento, para associar-me a Maria que
é co-redentora do gênero humano. Eu também sou chamado a ser um
pequeno co-redentor. De que forma? Com o sofrimento! Por isso, em
qualquer lugar vocês sejam enviados, não se assustem se encontrarão
sofrimentos. Eis a raiz da caridade. Diante das dificuldades até mesmo na
comunidade religiosa: “Obrigado, Senhor, pela oportunidade de sofrer”.. Os
apóstolos, quando apanharam exclamaram: “Senhor, te agradecemos por ter-
nos achados dignos de sofrer por você” (Atos 5,41) (Med. 09/10/66).

Maria, vigia dos tesouros de Deus e nosso refúgio


Vamos para o Calvário. Toda vez que vamos lá em cima, diante de
Jesus crucificado, temos que descer renovados, já que as solenidades
litúrgicas são para nós uma passagem do Senhor, passagem que ele realiza
para levar-nos pro alto e transformar-nos. Neste momento meditaremos a
cena de Jesus levantado na cruz. Sem me preocupar em descrever a
crucificação. Sem dúvida foi algo que despedaçou o coração de Nossa
Senhora, que estava presente, que viu o filho despojado de suas vestes,
estendido sobre a cruz. Pensem numa mãe que assiste, impotente, à
crucificação do filho! Normalmente uma mãe não agüenta assistir a um filho
que sofre uma operação cirúrgica, sendo que uma operação é para ajudar
uma pessoa, com o objetivo de salva-la. Uma mãe não pode ver o sangue do
filho: desmaia diante disso.
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Mas Nossa Senhora, a nossa mãe bondosa, assiste não a uma operação
com uma finalidade boa, e sim a um ato de ódio e de vingança tendo como
objetivo a morte. E eis que os algozes crucificam Jesus: aquelas marteladas
repercutem no coração de Maria; aquele sangue que jorra, atinge o íntimo da
nossa mãe. E eis o filho pendurado na cruz, o Senhor! O Evangelho diz que
Nossa Senhora tinha uma dor contida. “Estava a mãe das dores chorando
perto da cruz” (do hino litúrgico: Stabat Mater). Chorando, não xingando!
Uma outra mãe, amaldiçoava os soldados, jogando-se contra eles,
tentando agredi-los. Nossa Senhora aceitou a condenação de Jesus por causa
dos nossos pecados. É a co-redentora do gênero humano! Diante desta cena
– uma mãe em pranto e um filho crucificado – observemos o sangue que
desce da cruz e banha o chão para lavar os nossos pecados: fomos
purificados graças àquele sangue, fomos perdoados graças àquele sangue,
esperamos na vida eterna graças àquele sangue e somos sacerdotes e
religiosos graças àquele sangue!
Me lembro que, em Asiago, o diretor do hospital, freqüentemente
falava da minha e da sua mãe, que agora morreu. Dizia: “Ah, a minha
velhinha, a minha velhinha! De vez em quando vou visita-la. Sento perto
dela e, para ela, sou sempre o seu menino. Que gostoso visita-la!”. Ter uma
mãe significa ter um coração que ama e compreende, um coração que guia e
ilumina, um coração que ajuda e compreende! A mãe compreende e percebe:
“Você tem alguma preocupação?... Leio em teus olhos, eu te conheço!”.
Assim é a mãe que Jesus nos deu aos pés da cruz. Chega o momento de
uma tentação mais forte, do desânimo... Não adianta esconder, em Nossa
Senhora temos um coração que nos compreende. Fechando os olhos,
imaginemo-nos à presença dela..., basta um olhar pra nos entender: “Filho,
você tem alguma coisa...”. Sobretudo nós apóstolos, que não temos esposa e
filhos, precisamos de um coração materno que nos compreenda. Uma mãe
quer encontrar-se sozinha com o filho que vem visita-la. Precisamos
aprender a nos encontrar a sós com Maria. O encontro pessoal com Jesus é
sempre precedido pelo encontro pessoal com Maria.
Nossa Senhora tem que saber tudo sobre nós, não podemos esconder
nada. Então não será apenas um coração que nos compreende, mas também
um coração que nos guia. Então falaremos dos nossos fracassos e derrotas, e
ela nos corrigirá e nos indicará o caminho certo. Não podemos ser auto-
suficientes e caminhar sozinhos. Como é triste ver alguém que se acha auto-
suficiente! Devemos deixar-nos guiar, por Nossa Senhora, passo a passo no
caminho da nossa santificação e do nosso apostolado. Devemos conversar
com ela com a confiança de filhos! E não me digam que são infantilidades!

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Eu prefiro ser uma criança com Nossa Senhora e procurar salvar a minha
alma, no lugar de dizer tantas coisas complicadas, como fazem os teólogos e
os filósofos, e depois não conseguir rezar. Meus amigos, precisamos abrir o
nosso coração, deixar-nos guiar por Nossa Senhora, e confiar nela: jamais
nos abandonará em nossas necessidades! Entreguem para ela sobretudo o
vosso trabalho apostólico.
Lembro que, desde o seminário, ao aproximar os jovens, eu tinha o
costume de, antes de tudo, me dirigir para Nossa Senhora e dizer: “Mãe do
bom conselho!...”. Está claro? Quando vocês me procuram para perguntar
algo, eu logo digo mentalmente: “Mãe do bom conselho, diga-me o que
devo sugerir...”. Quando eu me coloco a disposição para a confissão: “Mãe
do bom conselho aconselha-me, quero ser um instrumento que transmita a
Palavra do Senhor!”.
Desde já, tenham o costume de pedir conselho a Nossa Senhora, de
pedir sua ajuda. Nossas mães pediam ajuda a Nossa Senhora para o
nascimento dos pintinhos, para o bolo assar bem; pediam qualquer coisa
com confiança. E nós não deveríamos pedir o sucesso do nosso trabalho
apostólico? Não deveríamos pedir que Jesus possa nascer no coração dos
nossos irmãos? Mas então, o que deveríamos pedir se não estas graças?
Estou errado? Jesus salvou o mundo exatamente no momento em que
experimentou a sede, o abandono e a desolação (Med. 27/03/70).

Maria nossa guia


Imaginem um guia alpino: “Vamos por este caminho, não pelo outro...!
Cuidado, por este caminho encontrarão um vale... Por aí o caminho é mais
longo, mas chega no pico... Por aí não, é perigoso...!”. O guia alpino indica
o caminho! Nossa Senhora, que está no céu, é exatamente como um guia que
ajuda e indica o caminho para o céu. Nem sempre o caminho indicado por
Nossa Senhora, é o que nos parece mais lógico, humanamente falando. Tem
uma grande diferença entre o caminho que leva ao céu e o que nós, com a
nossa natureza corrompida, gostaríamos de percorrer.
Em Lourdes Nossa Senhora apareceu à pequena Bernardette... O povo
procurava ver o reflexo de luz no rosto da menina – Bernardette, no
momento da visão, tornava-se branca como uma estátua de mármore branco.
– A luz divina, refletida em Nossa Senhora, passava a se refletir no rosto de
Bernardette, e todos se davam conta do momento da aparição por causa da
transformação externa de Bernardette (Med. 15/10/67).
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Nossa Senhora está no céu e nos espera. Ela indica o caminho, mas
lembrem-se, o caminho que ela indica é um só, não tem outro. Só trilhando
aquele caminho encontraremos Nossa Senhora... O caminho traçado por
Deus e por Nossa Senhora é este: a confiança, o sacrifício e a mortificação
aceitos e procurados por amor a Cristo.
Lembrem-se: “Vocês não são do mundo”... (Jo 15,19), estão no mundo
para mostrar Cristo e o cristianismo! (Med. 17/10/67).

Confiança filial em Maria


Filhinhos, quando tudo o que se refere a Deus vos dará enjôo, naquele
momento é preciso dizer para o Senhor: “Senhor, faça com que eu possa
falar ainda contigo!”. Naquele momento devemos lembrar que temos uma
mãe, Nossa Senhora e dirigir-nos a ela com confiança e amor: “Mãe, eu não
consigo mais ouvir Deus, não consigo mais falar com Deus, o demônio
fechou a minha boca e por isso não posso falar... Mãe, me ajude!”. Devemos
recorrer com confiança para Nossa Senhora. (Med. 26/02/67).
Pode acontecer, como falei muitas vezes, que venha a hora da aridez
espiritual, aí: rezar o terço é um sacrifício, colocar-se em contato com Nossa
Senhora é difícil... Pelo amor de Deus, não abandonem Nossa Senhora!
Seria como querer entrar numa casa com as portas e as janelas fechadas!...
Não devemos colocar Maria no lugar de Deus, isto não, é claro, Deus
não quer isso e nem Maria pensa nisso...; devemos sim, coloca-la em seu
lugar sem substituí-la com outras coisas, com outras devoções!...
Nossa Senhora tem sua missão na Igreja! E nós temos que deixa-la no
seu lugar! Falo em devoção e não em adoração, e tem que ser a nossa
primeira devoção! Nunca deixem de ter um encontro pessoal com Maria...
Nestes dias, vocês também devem estar rezando pedindo a Deus paz
para Palestina! Como é possível não falar com Maria: “Mãe, é o seu povo,
são seus parentes, é a sua terra...!”. Como não procurar Nossa Senhora, para
pedir paz! Ela deseja a paz e vê a sua terra ensangüentada!...
Olhando para a América Latina e vendo tanta gente pobre que não
conhece o Evangelho, como podemos não pedir para Nossa Senhora: “ Mãe,
você é a mãe da Igreja, você é a mãe de Jesus, a mãe dos apóstolos, olha
para estes povos!”... Enfim, parece-me que um apóstolo não pode olhar para
seu apostolado sem formar um conselho de família, tendo como membros
Nossa Senhora, o Pai e o Espírito Santo... Um conselho de família completo,
não deixa de lado a mãe, ela também está interessada!
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Hoje à noite tenho um convite para jantar , nem sei se foi por erro...,
em Thiene, na casa de Monsenhor Sebben (na época reitor do seminário da
diocese de Padova, em Thiene). Ele me convidou para encontrar alguns
jovens. Em situações como esta, eu me preparo para dizer algumas palavras,
mas como poderia não envolver Nossa Senhora? Enquanto eu falo, poderá
estar presente até o bispo de Padova, mas sem dúvida estará presente o Pai, o
Filho e o Espírito Santo e Nossa Senhora...! Filhinhos, com muita
simplicidade, eu acho que uma vida apostólica sem Nossa Senhora é
impossível!
Vocês dirão: “ Eu não consigo ter a devoção a Nossa Senhora!...” .
Então procurem ajuda! Quando um jovem seminarista, não sente em
nenhum modo a devoção a Nossa Senhora, deve procurar ajuda, porque tudo
na vida tem que ser conquistado, não é não? Então, o que fazer? Leia um
tratado sobre a devoção a Nossa Senhora, se achar um tratado meio pesado,
então procure ler algo sobre as aparições de Lourdes ou de Fátima e daí pode
passar ao tratado. Sobretudo, medita os mistérios do rosário...; aí você
encontra tudo o que precisa. Pensa na missão que a nossa mãe recebeu na
vida de Jesus! Pensa em Nossa Senhora, nove meses com Jesus no coração,
carne da sua carne! “E o Verbo se fez carne”. Nossa Senhora que carrega
Jesus por nove meses, que o amamenta e lhe ensina a caminhar!... Nossa
Senhora educou Jesus e o preparou para as relações sociais.
Meditar freqüentemente estas coisas, nos leva a amar mais Nossa
Senhora e Jesus também. Nossa Senhora nos faz amar Jesus, por isso, não é
possível conhecer Maria sem conhecer Jesus, e não é possível conhecer
Jesus sem conhecer Maria! É impossível, porque eles estão juntos! Devemos
nos acostumar a lembrar de Maria... Vocês podem dizer: “ Mas eu vivo só de
Deus!...!”. Meus queridos, somos pessoas humanas, por isso começamos
pelo Deus-homem. Devemos pensar que Deus se fez homem, viveu entre
nós, caminhou nesta terra, sofreu sono, fome, encompreensões e
humilhações..., ”por nós homens” (da liturgia), até a flagelação, a coroa de
espinhos e a crucificação! Depois subiu ao céu para preparar-nos um lugar...
Esta é a realidade.
E nós, o que fazemos? Reclamamos que a caridade é difícil, vejamos o
que fizeram eles por nós! Por isso é necessária a devoção a Nossa Senhora
em nossa vida, sem muitas complicações e com a simplicidade de uma
criança...
Quando eu celebro a Missa, tenho o costume de dizer: “Jesus, por
caridade... Nossa Senhora não se afaste de mim...”. Depois tomo a coragem
e digo: “ Isto é...” (formula da consagração). Como vocês conseguem, por

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exemplo, dar uma absolvição sem o olhar de Deus e de Nossa Senhora?
Como podem resolver certos problemas sem o conselho deles?
Não, minha gente, não é sentimentalismo! Existe uma devoção feita
apenas de sentimentalismo, mas esta é feita de sangue! Não pense que não
me custe rezar o terço.
Se um dia alguém me disser: “Morreu alguém que não quis receber os
Sacramentos...”, eu perguntarei: “Você rezou de verdade a Nossa Senhora?
Você teve fé e confiança nela?“. Eu acho impossível que um apóstolo,
devoto de Nossa Senhora, tenha uma derrota como esta!
Nunca Nossa Senhora nos negou ajuda, às vezes tivemos que rezar
muito, mas no fim sempre ajudou! Se ela nunca nos deixou faltar o pão,
quando eu pedir em favor de uma pessoa, não iria me ajudar? É impossível,
filhinhos! Só que é uma questão de fé! Precisamos ter certeza! A fé é a
‘certeza’ da graça! É segurança! Como Nossa Senhora falou: “Façam o que
ele vos disser...” (Jo 2,5), temos que sentir esta segurança com respeito a
Maria! Não sei se Nossa Senhora vos concederá logo aquela ajuda que vocês
estão precisando..., mas, em se tratando de uma pessoa, de uma alma, podem
ter certeza!
Jesus Cristo falou para o Pai Eterno: “Pai, quero que sejam um;
quero!” (Jo 17,24). Quem tem confiança em Nossa Senhora lhe dirá: “Sinto
muito Mãe, mas ‘quero’ que fulano se converta...!”.
Com muita simplicidade: creio que existe Deus, creio que existe Nossa
Senhora, sei do poder que Nossa Senhora tem junto ao coração de Deus, sei
que o problema é a salvação dos homens, estou aqui, ofereci minha vida
para a salvação dos homens, não obstante as minhas misérias e deficiência...
Gente é preciso simplicidade e fé! Simplicidade, confiança e ternura,
ternura... Não confundam ternura com sentimentalismo: ternura para com a
nossa mãe. Não é a ternura de quem dá cinqüenta mil beijocas por dia e
depois faz o que bem entender, não! Ternura é oferecer uma flor ou algo que
a mãe gosta! Esta é ternura! Ternura é evitar que a mãe tenha que se
sacrificar. Portanto ternura é aquele sacrifício, aquela sua mortificação;
ternura é você cumprir com o seu dever, mesmo quando não tem vontade
nenhuma; é ajudar teu amigo!... Enfim, ternura é aquela caridade para com
Deus e o próximo, para com os irmãos: isto é ternura! Façamos um exame
de consciência pra ver se temos realmente esta devoção para com Nossa
Senhora... para a conversão de um pecador, Pe. Ottorino!... (Med. 08/06/67).

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Devoção a Maria

O padre pregador (do retiro em preparação à ordenação


sacerdotal) falou que poderia propor-me de ter sempre uma tenra
devoção para Nossa Senhora. É necessário propor isso? O dia que não
sentir mais carinho para a Mãe, você estará no caminho da perdição.
Mãe, se estou aqui, é porque você me carregou (Diários
19/05/1940).

Entregar-nos a Maria

Podemos dizer que esta Congregação nasceu do coração de Nossa


Senhora. Vocês percebem que tem uma marca mariana. Encontraremos Jesus
no colo de Nossa Senhora, que é mãe da Igreja e, claro, mãe da
Congregação. Confiei a Congregação a Nossa Senhora antes mesmo que
vocês chegassem. Não esqueçam do dia em que fizemos a consagração a
Nossa Senhora. Naquele dia vos disse que, quando eu era criança, minha
mãe me colocou nas mãos de Maria; quando cresci, confirmei a minha
posição nas mãos de Maria; antes de ser ordenado sacerdote, coloquei o meu
sacerdócio nas mãos de Nossa Senhora e, quando pensei dar início a uma
Congregação, antes mesmo que nascesse, a coloquei nas mãos de Nossa
Senhora. Vocês também, crescendo, confirmaram permanecer nas mãos de
Nossa Senhora. Agora, sem tirar nada do que foi dito do altar e do Cristo,
lembrem-se sempre disto: ”A Jesus por Maria”.
Nós devemos continuar a missão grandiosa que Cristo desenvolveu
sobre a terra... Tenho aqui algumas linhas, permitam-me ler: “Jesus não
procura charlatães ou contadores de estórias, mas imagens vivas que
reproduzam a sua pessoa, que continuem sua obra de louvor, de testemunho,
de oblação e de evangelização”. Nós devemos ser estas imagens: Jesus que
passa na Itália, na África, na América Latina ou em qualquer outro lugar.
Cristo que continua a louvar, que continua dar testemunho fazendo a
vontade do Pai, que continua sua oferta com o sacrifício e a evangelização.
Isto só será possível se nos jogar-mos nos braços de Nossa Senhora.
Peçamos ajuda à mãe. Minha mãe, em Lourdes, pediu a cura. Esta noite eu
vou pedir a minha e a vossa transformação. Amanhã celebrarei a Missa nesta
intenção: Nossa Senhora nos obtenha esta transformação, Nossa Senhora nos

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obtenha o Espírito Santo, aquele mesmo Espírito que nos dá a graça de
conhecer, de compreender, de sentir e viver estas coisas. Isto é necessário
(Med. 30/05/64).
Nossa Senhora é nossa mãe. As nossas mães nos ensinaram a amar
Nossa Senhora oferecendo pequenos sacrifícios e mortificações. Precisamos
oferecer algo para Nossa Senhora; não basta dizer: “Mãe, te quero bem,
faça-me santo!” (uma jaculatória que pe. Ottorino gostava ensinar). Temos
que começar a sacrificar os nosso ídolos! Poderíamos lançar um lema:
“Morte aos ídolos!”. Pergunta ao teu diretor espiritual, pergunta ao teu
superior, que vive perto de ti, pergunta ao teu amigo..., talvez você encontre
em sua vida mais ídolos do que imagina. Não quero ofender ninguém: pode
ser que vocês não tenham tais ídolos; basta que um de vocês tenha nem que
seja um ídolozinho para impedir a ação de toda a Pia Sociedade! (Med.
02/02/67).

Recorrer a Maria no cansaço


No vosso caminho sentirão a necessidade de ter uma mãe; aqui, na
casa de formação, em momentos de desânimo e de tentação, mas sobretudo
no trabalho apostólico. Haverão momentos em que a natureza não
conseguirá caminhar, como aconteceu com Jesus “cansado pela viagem” (Jo
4,6). Conta o Evangelho que Jesus, chegando perto do poço de Jacó, estava
“cansado pela viagem”... “Cansado”, significa cansaço; nós também
falamos: “Uh, que cansaço!... Estou morto de cansaço!”, a palavra cansaço
significa: “Não agüento mais!”.
Jesus está “cansado pela viagem”, mas, quando chega a samaritana,
esquece o cansaço e começa a trabalhar; podemos dizer que nele a vontade
supera a natureza. Aos apóstolos que voltam e lhe oferecem comida, ele diz:
“Comida? A minha comida é fazer a vontade do Pai!” (Jo 4,32-34). Em
Jesus, mesmo cansado, prevalece a vontade do Pai, ele esquece o cansaço e
se dedica à conversão daquela mulher.
Não será difícil viver esta situação, tanto hoje como amanhã: cansados,
desanimados e não agüentando mais. Vocês também conseguirão superar o
cansaço físico e espiritual com um ato de vontade, mas só tendo por perto
uma mãe que dá coragem. Quando vocês eram crianças, as vossas mães com
um simples: “Não é nada!” e um beijinho, resolveram muitas coisas. Na
nossa vida espiritual acontece algo parecido: “Chega, não agüento mais!

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Estou cansado... Maria ajude-me!”. Tudo desaparecerá ou, pelo menos, não
sentirão o sofrimento ou o desânimo de antes.
Irmãos, em nome das pessoas que vos esperam, vos recomendo:
cresçam na devoção a Nossa Senhora, não uma devoção mecânica, mas
íntima, própria de um filho que acredita na mãe e a ama e, por isso, coloca
em suas mãos, a pureza, a humildade, o espírito de sacrifício, enfim , si
mesmo por completo! (Med. 20/10/67).

Raciocinar menos e amar mais


Quem se aproxima de Nossa Senhora, encontra Jesus. Nós nascemos
na sombra de Maria. Podemos dizer que nascemos debaixo de seu manto.
Deixem de lado o pobre instrumento que o Senhor usou e olhem para a
nossa casa! Ela foi colocada nos braços de Nossa Senhora. Vocês se
lembram como o demônio se jogou contra Maria e como tentou derrubar a
nossa casa (referência a sérios problemas na construção da Casa da
Imaculada em 1952) Seria uma história maravilhosa, poder escrever a luta
entre o demônio e Nossa Senhora nestes dez mil metros quadrados de
terreno...
Amigos, a história da Congregação poderia ser chamada de história da
luta entre o demônio e Nossa Senhora. Ela nos defendeu e nos levou a este
ponto, para sermos de Jesus, para celebrar a Missa e viver da Eucaristia e do
Espírito Santo. Em outras palavras: para viver com os pés no chão, mas com
a cabeça no céu, como dizia papa João XXIII. Se no projeto de Deus está
estabelecido isto, nós não podemos encontrar a nossa estrada e a estrada da
Congregação, para a santidade individual e coletiva, sem Nossa Senhora.
Então, chegamos ao ponto. Quando iniciei este meditação, com a intenção
de estudar as maravilhas de Fátima, o meu programa era este: encontrar
Nossa Senhora, porque é ela que nos ensinou a amar mais o Senhor, a viver
mais a Missa, o breviário, a vida eucarística e a união com o Senhor.
Filhinhos, é preciso que cada um de nós faça uma pequena revisão de
sua devoção a Nossa Senhora. Cuidado, existe um grande perigo: podemos
raciocinar demais e amar de menos. Deixem os sentimentalismos de lado!
Amor não quer dizer sentimentalismo, mas doação e renúncia por amor a
Deus e à Mãe; quer dizer encontrar-se, às vezes, filho e mãe, para tratar dos
nossos problemas íntimos. Menos papo entre nós e um pouco mais com
Deus e com a nossa mãe bondosa, Nossa Senhora; menos comentários

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humanos e mais comentários sobrenaturais. Filhinhos, certas coisas se
enxergam melhor com a ajuda da mãe... (Med. 08/03/69).

Segurar a mão de Maria


Proponho este pacto: vamos deixar Nossa Senhora como diretora da
Casa da Imaculada, das nossas paróquias, das nossas comunidades e do
nosso trabalho! Insisto: não uma piedade sentimental e sim uma piedade
verdadeira! A verdadeira piedade é feita com o coração e não apenas com a
inteligência, porque a inteligência sozinha pode desviar-vos até do caminho
da fé. Você discute, discute e discute tanto... que, de repente, se esquece
onde começou, e se da conta que soltou a mão do pai e da mãe.
Um menino que caminha segurando a mão do pai e da mãe, se
tropeçar, é salvo por aquelas mãos que o puxam logo pra frente. Mas se ele
soltou aquelas mãos, tropeça e cai de vez. Na vida podemos tropeçar, mas se
estaremos segurando, na fé, – uma fé viva, uma fé feita de inteligência e de
coração – as mãos de Jesus e de Nossa Senhora, não precisaremos ter medo!
Às vezes coloco diante de vocês algumas dificuldades que encontrarão na
vida, mas na mesma hora vos digo: não tenham medo! Quem é devoto de
Nossa Senhora, não cai! Pode até tropeçar, mas levanta de novo. Quem é
devoto de Nossa Senhora, cedo ou tarde, certamente vai vencer. Poderá
encontrar alguma dificuldade no trabalho apostólico, não importa!
Derramará seu sangue, mas triunfará, porque é Nossa Senhora quem triunfa,
é o Cristo que triunfa. Nunca queiram atuar sem ela, como na história de
Chapeuzinho Vermelho: quando chega o lobo, não saberemos aonde fugir.
Desculpem se falo assim, de um jeito simples.
Em nome do amor de Deus, em nome dos homens que vos esperam: não
andem sozinhos! Vão para o trabalho apostólico com os vossos filósofos,
com São Tomás e outros mais..., mas se Nossa Senhora não estiver com
vocês, será como preparar comida sem acender o fogo, terão que comer só
frios! Começar qualquer obra sem a ajuda de Nossa Senhora, é começar
friamente (Med. 14 /01/69).

Rezar para Maria com o coração


Quando rezarem, rezem devagar, parando e meditando... Por exemplo,
rezando uma Ave Maria, ao dizer “Ave Maria”: pensem na pequena casa de
Nazaré e no anjo Gabriel. Rezando “Cheia de graça”: imaginem o que
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pensou Nossa Senhora no momento em que foi chamada de ‘cheia de
graça’ . É uma alma cheia de graça!... Entrem no coração de Maria e
reparem sua humildade diante da saudação do anjo. Chegando às palavras
“O Senhor está contigo”: sintam alegria porque a nossa mãe está cheia de
Deus, porque o Senhor está com ela.
Nos ensinaram que a oração oral é a oração do coração e dos lábios; não
apenas dos lábios, mas também do coração. É difícil rezar! Muitas vezes
nem conseguimos acompanhar o que falamos, mas é preciso fazer o
possível. Pelo menos uma ‘Ave Maria’ por dia, rezada como acabei de
comentar, pelo menos um ‘Pai Nosso’, já será alguma coisa. Como é gostoso
fazer uma visita ao Santíssimo e rezar, nem que sejam três ‘Pai Nosso’ e
mais nada; rezando devagar, pensando com o coração e com o amor. Vocês
me dirão que é sentimentalismo. Gostaria que fosse, mas enfim, eu acho que
é fé! É bom fazer isto sobretudo nos momentos de aridez. Acho que a oração
rezada assim é como um pedaço de pão bem mastigado. Caso contrário é um
pedaço de pão que engolimos de qualquer jeito, é sempre pão, mas ele fica
no estômago, não dá força e pode até fazer mal. Esforcemo-nos para rezar
falando assim para o Senhor! (Med. 16/10/70).

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A Santa Missa, a Comunhão, os Sacramentos
e os homens recebem a luz do Senhor que está em você.
Do contrário, você será uma lâmpada sem energia.

Toma cuidado com você mesmo,


a energia não falta de repente.
A tensão diminui devagar e, se não prestar atenção,
você não perceberá a diminuição da luz que emana de você.

Quando você se der conta, talvez seja tarde demais.


Talvez você esteja já queimado.
Confia em Nossa Senhora e continua pedir pra ela
que te ensine a conhecer Jesus
e a viver com ele.

Peça-lhe para te segurar com algumas cruzes saudáveis,


quando você for atraído
por aparências e pelo muito agir,
um perigo que te afasta
do divino Mestre.

Confia nela e ela será pra você mãe e mestra.


À escola de Jesus e de Maria procura adquirir
a simplicidade de um menino,
com o coração ardente de caridade
para com Deus e os irmãos (Testamento 09/02/72).

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 3
Mãe é mãe! ........................................................................................ 8
Maria, obra prima de Deus .............................................................. 8
Maria acreditou ................................................................................ 11
Maria “tão pequena e tão grande” .................................................... 12
Maria leva Jesus aos outros ............................................................. 12
Maria nos coloca em contato com Jesus .......................................... 14
Jesus fala da mãe dele ...................................................................... 15
“Eis-me aqui, Senhor, estou a sua disposição .................................. 16
Total disponibilidade de Maria à vontade de Deus. .......................... 17
Doação total e... dolorosa em Maria ................................................. 18
Maria na vontade de Deus aceita a paixão ....................................... 19
Maria e a vontade de Deus no dia-a-dia ............................................ 20
Maria a serviço da missão do Filho ................................................. 21
Maria está conosco ........................................................................... 22
Maria jamais nos abandona ................................................................ 23
Maria, nossa meta e nossa força ...................................................... 24
A intercessão de Maria .................................................................... 27
Maria medianeira ............................................................................. 28
Maria: mãe de cada um e da Congregação ...................................... 30
Maria ensina a viver como Jesus ..................................................... 32
Maria, mãe e mestra ......................................................................... 33
Maria co-redentora ........................................................................... 34
Maria, vigia dos tesouros de Deus e nosso refugio ........................... 36
Maria nosso guia . ............................................................................. 38
Confiança filial em Maria ................................................................. 39
Devoção a Maria .............................................................................. 42
Entregar-nos a Maria .................................................................... 42
Recorrer a Maria no cansaço ......................................................... 43
Raciocinar menos e amar mais ...................................................... 44
Segurar a Mão de Maria ................................................................ 45
Rezar para Maria com o coração .................................................. 46

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