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Passar pela agua professando a fé trinitária, Nas fontes da vida cristã, Pe.

Francisco Taborda

O Novo Testamento mostra certa estrutura fundamental do processo que culmina no batismo. Consiste em três momentos: 1)
pregação — 2) aceitação da fé proclamada — 3) batismo à base da profissão de fé. O sentido do banho batismal, como gesto
que simboliza a aceitação da fé proclamada, põe em primeiro plano, não a ideia de purificação efetuada pela água, mas a de
passagem pela água como expressão de salvação. Na profissão de fé do banho batismal, Deus salva o batizando da morte do
pecado e da idolatria e lhe dá vida nova, como salvou os hebreus do Egito, fazendo-os passar pelo Mar Vermelho. A passagem pela
água é o símbolo batismal básico: o batizando passa da esfera do pecado à vida nova, passa de não povo a Povo de Deus, do pecado à graça.

– Caráter dinâmico: passagem pela agua como causa de morte e origem da vida.
Graus de compreensão:
1. Os meios de expressão simbólica dos sacramentos da Igreja estão profundamente enraizados na estrutura humana.
– Agua é morte: a imersão na água significa simbolicamente morte, desaparecimento, volta ao ponto zero da existência.
Oceano primitivo, volta ao caos primitivo.
– Agua como fonte de vida: ao mergulhar nas águas do dilúvio, o mundo volta ao caos primitivo e desaparecem as
formas que se haviam originado das águas. A água tem, pois, uma força de regeneração, re-criação, renascimento. Agua corrente
é agua viva. Tales de Mileto: agua é arché.
– O simbolismo aquático não se reduz, no entanto, a um desses dois polos: vida e/ou morte. Ele capta a relação entre ambos, a
ambivalência da água, e vê na passagem pela água um gesto fundamental, originário no sentido mais próprio da palavra. A vida tem algo a
ver com a morte. No fundo, a vida é o milagre de que os seres vivos escapem à morte, o cosmos vença o caos.
– Dos momentos fundamentais: imergir-emergir. “Penetrar na agua é emergir dela simboliza renovação radical” = o
passar pela agua une as duas experiências antagónicas num único movimento.
– Agua purifica: A purificação vai às raízes do ser humano, porque a água mata e restaura a vida. Não é mera
exterioridade cultuai; por sua própria força simbólica, pode atingir o cerne mesmo da pessoa.
– Crítica: Agua y realidade social em América Latina: a água, fonte de morte por todos esses fatores históricos e sociais,
torna-se, no sacramento, fonte de vida nova.

2. O simbolismo bíblico da passagem pela água, com as características próprias e seu enraizamento na história do Povo de
Israel e em sua experiência de YHWH:
– Sentido cosmológico: Genesis 1,1-2,4a. Mar primordial (Tehom) = YHWH domina as aguas, as divide, situa no
seu lugar propício, as aguas perdem seu poder de morte e destruição. A agua é também fonte de fertilidade, a vida surge depois
de jorrar agua no deserto (Gn 2,4b-25).
– Sentido histórico: deus traz perdição e opera salvação por meio das aguas, 1) No diluvio (Gn 6,5-8,22) ou mabbul,
onde as agua separadas na criação se unem de novo, volta ao caos primitivo. 2) Passagem pelo Mar vermelho, proteção do povo
escolhido e destruição do povo opressor, significa “a criação de Israel como povo”. O povo liberto da escravidão se torna povo de
Deus. 3) Passagem do Jordao, “O Jordão não é apenas uma grandeza geográfica, mas teológica. É fronteira entre a morte e a vida, por
simbolizar o limite entre o deserto e a Terra Prometida”.
– Purificação: Lv 11-15 e Nm 19, “Seu horizonte de compreensão é a identificação quase total entre pureza externa e santidade,
oriunda da visão sacral da realidade toda. Daí ser difícil separar os banhos rituais das abluções higiênicas”. Purificação y causa de divisões
(Mc 7,3-8). “A partir da prática ritual da purificação, a aspersão com água pode servir de metáfora para a renovação total do povo pecador”.

3. O significado cristão da passagem pela água, como gesto simbólico da aceitação da fé, da conversão ao Deus vivo e
verdadeiro, da iniciação ao mistério de Deus revelado por Cristo no Espírito Santo = Batismo em nome do Senhor.
– Ser cristão é algo vital, cósmico, radical.
– O sentido central do simbolismo das águas, como passagem da morte à vida, é corroborado pela etimologia da palavra
“batismo” (do grego: submergir- se, afundar-se, mergulhar).
– A riqueza do sentido antropológico recuperados pela tradição do AT volta no NT mas sempre modificados pela fé em
Cristo Salvador, i.e., “ é batismo em nome de Jesus, batismo que recebe seu sentido da pregação, vida, paixão, morte e ressurreição do Senhor,
proclamadas no querigma pós-pascal e aceitas na fé”
– Simbolismo da agua: o Ev. De João é o que melhor expressa a novidade crista do simbolismo da água = as instituições
judaicas aparecem em antítese com o dom trazido por Jesus. Mas também a água salva e purifica como vemos em Joao 5,1-18
na ciracao do paralitico na piscina de Betesda (morte do pecado); na piscina de Siloé (Jo 9,7)
– A passagem pela agua no batismo cristão: A) o gesto de passar pela agua ou batismo é comum na época de Jesus;
o batismo de João é precursor do batismo cristão. João se apresentou como uma mensagem de conversão diante da
iminência do juízo de Deus = um apelo dirigido a pecadores (Lc 3,12ss), pagãos (Lc 3,14), piedosos (Lc 3,7ss). TODOS
precisam de conversão. Joao Batista não batiza por propia iniciativa, mas por vocação profética = Batismo de conversão (Mc
1,4: “apareció Juan bautizando en el desierto, proclamando un bautismo de conversión para perdón de los pecados”). Joao prega a necessidade
de conversão de Israel, seu batismo não prepara para a participação no culto do Templo (Filho de Zacarias), mas para a vinda
de YHWH. B) o batismo de jesus por Joao como primeira origem do batismo cristão. Não se discute sobre a
existência e necessidade do batismo, pertence ao cerne do cristianismo, um rito instituído com a autoridade do próprio Senhor.
É uma ordem dada por Jesus ressuscitado para a missão e o batismo: Mt 28,19 e Mc 16,15ss., “Portanto, ide e fazei com que todos
os povos da terra se tornem discípulos, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”. Sendo palavra do Ressuscitado, a
ordem de batizar pertence, no entanto, como a própria ressurreição, a um domínio relacionado, sim, com a história, mas que
escapa ao histórico. A ordem para batizar, dada por Jesus, só pode ser crida, é objeto da fé = não é livre inspiração sino
obediência ao Ressuscitado.
– Jesus não anuncia o juízo de YHWH, mas a presença da salvação, a proximidade misericordiosa de Deus, o Reino no
aqui e agora da sua atuação, o juízo tem um lugar secundário (Jo 3,16-21: Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu
Filho Unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Portanto, Deus enviou o seu Filho ao mundo não para
condenar o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por meio dele.).
– No batismo de Jesus está a raiz última do batismo cristão, do qual aquele é modelo e protótipo.
Através da experiência pascal, o velho batismo de conversão adquire sentido totalmente novo, porque o
evento escatológico já entrou na história humana, o juízo de Deus se realizou na Páscoa de Jesus. Agora o
batismo assemelha-nos a Jesus, incorpora-nos a ele e infunde o Espírito.
– Sentido novo: o batismo de jesus tem sentido de batismo de conversão como conversão em nome de Jesus, inicia no
seguimento de Jesus, concede participação no seu Espirito, isto foi entendido e praticado muito bem pelas primitivas
comunidades cristas.
– A continuidade entre o batismo cristão e o batismo de João Batista é, no entanto, uma continuidade descontínua. Nela
irrompe o novo. Dois traços da novidade do batismo em nome de Jesus são A) o dom do Espírito: a certeza da ação do
Espírito é um primeiro elemento que distingue, pela raiz, o batismo cristão do de João e dá àquele uma perspectiva escatológica
nova: a de uma escatologia realizada, embora ainda não manifesta em plenitude. O batismo cristão é, por isso, essencialmente,
batismo no Espírito. B) a criação da Igreja: o batismo cristão cria Igreja, comunidade de fé no Senhor Ressuscitado: Novo
Israel testemunho do Reino.
– A novidade do batismo cristão se expressa, também e concentradamente, na sua denominação: é
batismo “em nome de Jesus”, como vemos em Atos 2,38: Orientou-lhes Pedro: “Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em
o nome de Jesus Cristo para o perdão de vossos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo.
– Ser batizado em nome de Jesus é ser introduzido na salvação em na redenção trazidas por Ele.
– Batizar-se significa: “aceitar, no Espírito Santo, como caminho para Deus, tudo quanto Jesus viveu e praticou: a
salvação anunciada aos pobres e a partir dos pobres, que se traduz em comunidade com os pecadores e marginalizados, em
cuidado dos enfermos, em solidariedade com os últimos. Dessa forma, o batismo é anúncio e presentificação da salvação já aqui
entre as misérias deste mundo e supõe determinada atitude perante elas”.
– Batismo na fe no Deus que se revela em Cristo, pela ação do Espirito Santo: trata-se do batismo em nome de Jesus
como referência fundamental a Cristo, distinguindo-se de outros batismos.
– Duas tradições sobre a forma do sacramento: Timóteo de Alexandria (S. IV) “Eu te batizo em nome do Pai...” /
Teodoro de Mopsuéstia, tradição Antioquenha do s. IV-V, “Este é batizado em nome do Pai...” = Concilio de Florença (s. XV)
reconhece a ambivalência em DH 1314: “A forma são as palavras: “Eu te batizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.
Não negamos, porém, que também com as palavras: “Seja batizado o tal servo de Cristo em nome do Pai do Filho e do Espírito
Santo”.
– As palavras que acompanhavam o banho na tradição Apostólica (Hipólito) não eram uma fórmula, mas um diálogo:
Crés em...? Creio. Posteriormente, se acentua a renúncia a renúncia a satanás como contrapartida à profissão da fé.
– Hipolito: “Pompa diaboli”, levar a sério o exame do catecúmeno, i.e., sobre o respeito ao corpo, o respeito a Deus, o
respeito à vida.
– A íntima relação entre batismo e catecumenato baseia-se no próprio mandato do Senhor em Mt 28,19-20. O primeiro mandato
fundamental é fazer discípulos, criar Igreja; o meio é batizar e ensinar a viver como Jesus. Criar Igreja tem, pois, prioridade; o batismo
é apenas meio, que está, portanto, intimamente unido à iniciação no caminho de Jesus (Pag. 181).

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