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RELIGIÃO

ORIGENS DO PENSAMENTO RELI-


GIOSO: ALGUMAS RECENTES TEN-
DÊNCIAS EXPLANATÓRIAS
Tania M. L. Torres, Bach. em Sociologia pela UFBA, mestre em Estudos
Latino-americanos pela Universidade do Texas, professora de Sociologia da Facul-
dade Adventista de Educação do Nordeste e do SALT-IAENE.

Resumo: Este artigo faz uma revisão bibliográfica das principais tendências
contemporâneas na compreensão da origem do fenômeno religioso. Analisa as
explicações psicológicas e emotivas, históricas e psicossociais, intelectualistas, se-
mióticas e ideológicas, e as evolucionistas e universalistas. Considera, no entanto,
as limitações das mesmas no sentido de darem primazia aos aspectos sociais em
detrimento dos aspectos religiosos do ser humano.
Palavras-chave: Pensamento religioso, origens, tendências.

The origins of the religious thought: some current


explanatory tendencies
Abstract: This article makes a review of literature of the main contemporary
trends in the understanding of the origin of the religious phenomenon. It analyzes
the psychological and emotional, historical and psycho-social, intellectualistic, semio-
tic and ideological, and the evolutionists and universalists explanations. However, it
considers its limitations in order to give priority to the social aspects in detriment
of the religious aspects of human beings.
Key-words: Religious thought, origins, tendencies.

Introdução
Desde cedo, muito se tem especulado em estudos dimento.
antropológicos acerca da origem do pensamento religioso. Uma outra metodologia logo desenvolvida
Entre os antropólogos tradicionais, talvez ninguém tenha foi aquela que buscava os resíduos de uma condição
dado tanta importância a esse tema como Sir Edward B. cultural mais arcaica, que deveriam ser empregados para
Tylor. Sua teoria sobre a evolução do animismo é ampla- explicar as condições mais recentes para as quais teriam
mente explicada na obra Cultura primitiva, cuja segunda evoluído. Assim, por exemplo, Coulanges (1910, p.26)
edição foi publicada em 1873. Os antropólogos tra- propunha a religião dos mortos como a mais antiga que
dicionais preferencialmente empregaram o método houve entre os povos:
comparativo, segundo o qual a “evidência” deveria Antes de conceber e adorar Indra ou Zeus, o homem
ser colhida de todas as tribos ao redor do mundo, de adorou os mortos; teve medo deles, dirigiu-lhes as
modo que fosse arranjada em um esquema seqüencial, orações. Parece que o sentimento religioso teve aí sua
de acordo com um plano preconcebido. A própria origem. Foi à vista da morte que o homem teve pela
natureza do método garantiu o fracasso do empreen-

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primeira vez a idéia do sobrenatural e desejou confiar oferecer-nos-ia medidas paliativas para ajudar-nos a
em coisas além do que via. A morte foi o primeiro mis- lidar com os problemas da vida (Freud, 1997, p.22),2 
tério; ela colocou o homem na via de outros mistérios. conseguindo poupar muitas pessoas de uma neurose
Elevou seu pensamento do visível para o invisível, do individual (Ibid, p.35). Contudo, mesmo a religião não
transitório ao eterno, do humano ao divino. conseguiria manter sua promessa (Ibid, p.35). Nossa
civilização seria, então, a maior responsável por nossa
O princípio básico da metodologia de explicar, desgraça.3  Para Freud, seríamos muito mais felizes
com uma única explanação, a origem do sentimento se a abandonássemos e retornássemos às condições
humano para toda a raça humana era a assim-chamada primitivas, o que ele mesmo denomina de “argumento
“unidade psíquica da humanidade”, que garantia que a espantoso” ( 1997, p.38).
natureza humana não se teria alterado de forma signi- Esta é a mesma linha de pensamento de Feu-
ficativa durante a história da humanidade. Contudo, os erbach, para quem a religião começa com Deus e se
evolucionistas cedo perceberam que esse panumanismo descobre apenas possuindo o vazio (itinerário oposto
era insuficiente para dar conta da complexidade do àquele proposto por Santo Agostinho). Segundo ele,
tema (cf. Lessa e Vogt, 1965, p.7). todo o nosso pensamento sobre Deus é pensamento
Apesar da utilidade que o arcabouço teórico sobre nós mesmos. A religião seria, então, o espelho
da antropologia tradicional teve para as primeiras ex- do próprio homem, um sentimento que vive no vazio.
plicações científicas da origem da religião, ele falhou Freud procura resolver esse dilema afirmando que o
em produzir um relato convincente. Isso tem levado sentimento da falta corresponde a uma perda real:
os antropólogos do século XXI a continuarem sua cru- a união inefável com o seio materno que nos foi
zada pela gênese do pensamento religioso. O objetivo roubada. Os símbolos religiosos, assim, são uma ten-
deste trabalho é apresentar, de modo informativo, mas tativa da alma para recuperar uma experiência infantil
sucinto, alguns posicionamentos mais recentes sobre perdida para sempre. Não haveria possibilidade de
essa problemática a fim de confirmar o pressuposto de retorno. O único caminho que se abre é o caminho
que a teoria antropológica clássica tenha falhado em sua do esquecimento dos sonhos infantis. E o que pode
tentativa de explicar a gênese do pensamento religioso ser feito é coisa modesta: educação para a realidade.
e a tese de que as tentativas mais recentes de fazê-lo Conviver com a depressão. Feuerbach é mais radical.
também tenham sido malfadadas (principalmente O sentimento de ‘falta’ não é o produto da história.
quando dependem excessivamente daquela tradição). É anterior à história. É a história que é a busca per-
As explicações psicológicas ou emotivas manente do objeto perdido. Já nascemos dilacerados.
No primeiro capítulo de O mal-estar na civilização, Somos assim: esta é a nossa essência. ( apud, Alves,
Freud, em diálogo com o amigo Rolland Romain, trata 1989, p.10).
da “verdadeira” fonte da religiosidade. Para Freud, a re- De acordo com Boyer (2001, p.10-23), há vários
ligião é uma ilusão, enquanto que, diz ele, para Rolland problemas sérios com as teorias baseadas nas emoções.
consiste num sentimento peculiar que ele mesmo jamais Em primeiro lugar, como os próprios antropólogos têm
deixou de ter presente em si e que imagina atuante em argumentado faz muito tempo, alguns fatos da vida só
milhões de pessoas (1997). Segundo Rolland, uma sen- são misteriosos e só provocam reverência religiosa em
sação de “eternidade” (um sentimento de algo ilimitado, lugares onde uma teoria local oferece uma solução para
sem fronteiras – “oceânico”), presente em todos nós, o mistério ou uma cura para a angústia. Em segundo
seria a fonte e origem (fons et origo) de toda a necessi- lugar, se os conceitos religiosos são soluções para nos-
dade de religião. Freud explica esse sentimento de um sas necessidades emocionais, eles não estão fazendo
vínculo indissolúvel, de ser um com o mundo externo, um bom trabalho. O mundo religioso é, muitas vezes,
como sendo um resíduo do ego primitivo (quando um tão aterrorizante como o mundo desprovido de uma
recém-nascido ainda não distingue o seu ego do mundo presença sobrenatural, e muitas religiões criam mais um
externo como fonte das sensações que fluem sobre ele) terror pálido da morte do que a segurança da bonança.
no ego da maturidade.1  De acordo com ele, as primeiras Além disso, as evidências de Freud vêm da mitologia,
fases do desenvolvimento são absorvidas pelas fases das práticas totêmicas e da psicanálise, não sendo evi-
posteriores, mas permanece um resíduo das mesmas. dências documentárias do tipo usado por historiadores
Assim, uma vez que a vida, tal como a encontramos, se- e antropólogos para reconstruírem o passado.
ria árdua demais para nós, nos proporcionando muitos Que a mortalidade é insuportável ou torna a
sofrimentos, decepções e tarefas impossíveis, a religião existência humana intrinsecamente vazia é uma espe-

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culação especificamente cultural e não se caracteriza, no prefácio de seu segundo volume sobre a Bir-
de forma alguma, como um absoluto universal. Daí, mânia, sua dependência das idéias de Hallowell,
a frase célebre de Epicuro (Carta a Menoeceus 124.60): Weber e Freud (Spiro, 1970), mas (aparentemente
“a morte não é nada para nós”, repetida, mais tarde, por contrariando Freud), ele sugere, no primeiro volume,
Cícero e Lucrécio. A explicação ordinária segundo a qual que não importa a fonte psicológica da crença genéri-
o fato de as pessoas temerem a morte e a religião faz com ca em seres sobrenaturais, nem tampouco as funções
que elas creiam que a morte não é um fim, é certamente específicas das variantes da Birmânia. Apesar de valo-
insuficiente porque a mente humana não produz alucina- rizar mais os aspectos psicossociais, acaba se tornando
ções consolatórias contra todas as situações de estresse ou importante, para Spiro, que a crença atual derive da
medo. O que se pode afirmar em relação a isso é que não história religiosa da Birmânia. De fato, Spiro usa uma
se trata de desvios perniciosos, mas de ilusões ou fantasias exposição histórica a fim de alcançar uma explicação
coletivas. A ansiedade quanto à mortalidade pode, portan- psicossocial. Por isso, no arcabouço teórico de Spiro,
to, não ser tão simples como muitos supõem. Talvez seja a importância que um ator dá a suas crenças depende
verdade que os conceitos religiosos ganhem relevância e de fatores motivacionais (ibid, 1967, p. 76-80). Assim
carga emocional na psyche humana porque se conectam a sendo, o autor vê a hostilidade dos nats da Birmânia
pensamentos ligados a várias circunstâncias ameaçadoras da como isomórfica à rejeição da criança por parte dos
vida. Por isso, podemos concluir que não seremos capazes pais (sua primeira hipótese motivacional). A motivação
de explicar a origem da religião se não compreendermos para temer o sobrenatural seria o medo que as crianças
os vários sistemas emocionais da mente, que são bem mais da Birmânia teriam de seus próprios pais (Spiro, 1967,
complexos do que uma angústia difusa. p.xxv, xxx, 71-76), uma emoção que o autor considera
como a mais dolorosa de todas. O que parece é que
As explicações históricas e/ou psicossociais Spiro projeta os recalques que geralmente acompanham
Outras explicações para a origem do pensamen- o trauma causado pela rejeição paterna, tão comum na
to religioso, menos célebres e mais voltadas à área sociedade urbana do mundo ocidental, aos informantes
da antropologia cultural, têm surgido como fruto de que procura investigar. Segundo ele, os birmaneses não
trabalhos etnológicos de observação de povos ainda seriam capazes de separar, sequer de forma provisória,
pouco afetados pela cultura ocidental. O trabalho de o objeto do medo do medo em si. Assim, o habitante da
Spiro, por exemplo, focalizando a cultura ou, mais Birmânia que teme os seres sobrenaturais se veria obri-
especificamente, o domínio da cultura que se relaciona gado a recorrer a eles para proteger-se de seus próprios
com as crenças e o comportamento religioso dos habi- sentimentos de inadequação e impulsos “malévolos”
tantes da Birmânia (Spiro, p.xii), trata do sobrenatural e (segunda hipótese motivacional), assim diminuindo sua
das explicações para o mesmo. Uma vez que Spiro não própria ansiedade moral produzida pela hostilidade do
crê na existência concreta e objetiva dos seres sobrena- mundo (terceira hipótese motivacional) e, finalmente,
turais (ibid, p.xx),4  sua proposta é analisar as bases de reduzindo sua própria hostilidade contra o semelhante
sua existência no mundo das idéias. Essa tarefa expla- (quarta hipótese motivacional). Retornando, finalmen-
natória é desenvolvida de forma dupla, primeiramente te, a sua tese original de que a crença no sobrenatural
tentando determinar por que tais seres são classificados se produziria na infância e se confirmaria com expe-
em categorias distintas tais como bruxas, fantasmas, riências posteriores, o autor chega à conclusão de que
demônios e nats, e, em segundo lugar, como é possível uma pessoa tem encontros sobrenaturais porque crê
que os habitantes da Birmânia aceitem tais crenças em seres sobrenaturais, e crê em seres sobrenaturais
e quais são as diferentes dimensões em que estas se porque julga ter encontros com eles. Sendo assim, a
referem a esses seres. Para Spiro, a matriz explanatória crença no sobrenatural não se fundamentaria apenas na
das ciências sociais quanto aos fenômenos religiosos autoridade da tradição ou em um “kit perceptual” con-
é a mesma dos demais fenômenos sociais e inclui três sistente com ela, mas também na confirmação empírica
modos distintos mas complementares: causal, funcional de tal crença como base cognitiva da mesma. Apesar
e configuracional (1967, p. 64-65).5  O autor sugere que, dos problemas inerentes a seu arcabouço teórico,7  uma
a despeito do preconceito contra a história (que tem interessante contribuição do autor é destacar o papel da
caracterizado recentemente a antropologia social), a imprensa na difusão de relatos do sobrenatural como
pergunta “por que cremos em seres sobrenaturais” só fundamental à experiência da crença no sobrenatural
pode ser respondida, de modo satisfatório, com uma na Birmânia.
explicação histórica (ibid, 1967, p.67).6 
Para a construção de sua teoria, reconhece, As Explicações Intelectualistas

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O tema da religião-como-explicação foi de- em situações inéditas, no caso de ansiedade excessiva,
senvolvido por uma escola de antropologia chamada no caso de situações passionais e no caso de crises
de intelectualismo, iniciada por estudiosos do séc. XIX que afetariam a tessitura da sociedade. A verdade é, no
(como, por exemplo, Edward Burnett Tylor e James entanto, que às vezes ele ocorre e, às vezes, não. Além
Frazer) e permanece influente até hoje. Uma premissa disso, o “salto” que leva uma pessoa ou comunidade a
básica do intelectualismo é que se um fenômeno é co- abandonar o senso comum e apelar para a religião ainda
mum à experiência humana e as pessoas não possuem permanece sem explicação. Outra dificuldade é que o
as condições conceituais para compreendê-lo, elas, nível de teoria varia com o contexto (ibid, p. 210-212).
então, buscarão uma explicação especulativa para ele. Um pessoa tem geralmente muitas possibilidades de
Expressa dessa forma grosseira e generalizante, a de- escolha ao tentar colocar um fenômeno em um con-
claração é inteiramente falsa. Desde a infância, estamos texto causal. Ele ou ela não apenas tem que decidir se
familiarizados com muitos fenômenos inexplicáveis sua explicação há de se basear no senso comum ou
(os quais não entendemos com nossos conceitos quo- na teoria; ele ou ela ainda tem que decidir que tipo de
tidianos), mas nem por isso tentamos explicá-los (cf. contexto quer considerar. Assim, em muitos sistemas
Boyer, 2001, p. 10-23).8  religiosos tradicionais da África existe uma tensão entre
Um exemplo dessa tentativa intelectualista de se múltiplos espíritos e uma força única dominante. Essa
compreender o pensamento religioso focaliza a experi- conjunção entre “muitos” e “um” tem sido o alvo de
ência religiosa africana, tratando também de questões muito debate, e tem suscitado muitas explicações, a
mais amplas da história e da sociologia, como a relação principal das quais é que “muitos espíritos” e “um deus”
entre pensamento, secularização e modernização. Nessa desempenham papéis complementares no pensamento
perspectiva, Horton (1997, p. 197-258) propõe uma das pessoas (ibid, 1997, p.211).
abordagem com ênfase nas semelhanças de estrutura Boyer, especificamente, advoga que rotineira-
e processo entre o pensamento religioso e o científico. mente produzimos explicações que são meras narrati-
O autor estabelece um número geral de proposições vas através das quais nós simplesmente arranjamos os
sobre a natureza e as funções do pensamento teórico, dados de modo a que produzam uma perspectiva mais
que são tiradas, em primeira instância, de sua própria satisfatória do ocorrido (2001, p. 10-23). Percebe-se,
formação em biologia, química e filosofia da ciência: a portanto, que explicar algo não é produzir uma seqüên-
procura de teorias explanatórias é basicamente a busca cia aleatória de pensamentos, mas ordená-los de modo
da unidade subjacente à aparente diversidade, da simpli- que o fenômeno sob análise pareça menos surpreen-
cidade subjacente à aparente complexidade, da ordem dente e mais em acordo com a ordem geral das coisas.
subjacente à aparente desordem e da regularidade Contudo, de acordo com ele, as explicações religiosas
subjacente à anomalia aparente (p. 198-200). Quando funcionam em sentido reverso, pois elas tornam as
Horton diz que a teoria revela a ordem e a regularidade coisas mais complexas em vez de simplificá-las. Boyer
subjacentes à desordem e à irregularidade aparentes, o (2001, p. 10-23) evoca o pensamento de Dan Sperber
que quer dizer é que ela fornece um contexto causal de que “a religião cria mistérios relevantes” em vez de
para coisas aparentemente sem explicação. Destarte, narrativas simplificadas de eventos. Dessa forma, o
pessoas doentes ou aflitas atravessam o continente que as pessoas fazem com suas explicações religiosas
africano de um a outro extremo para consultar viden- não é explicar o universo, mas tornar relevantes seus
tes acerca das causas de seus problemas. A questão, mistérios.
então, é que o curandeiro tradicional, quando diante
de uma enfermidade, não apenas se refere a um agente As explicações semióticas e ideológicas
espiritual, mas usa a concepção desse agente para ligar A célebre declaração de Marx, segundo a
a enfermidade a causas no mundo dos eventos visíveis qual, a religião seria o ópio do povo, é um exemplo
e tangentes. A discussão de Horton quanto ao papel bem conhecido de uma explicação ideológica para a
do senso comum e da teoria no pensamento ocidental gênese do pensamento religioso.9  Assim, a religião seria,
é bastante relevante para a compreensão das religiões ainda, explicada como estando relacionada ao desejo
tradicionais da África (1997, p. 207-213). Para muitos de se estabelecer um certo ordenamento através da
antropólogos sociais da nova geração, a questão agora construção de ideologias, um exemplo das quais seria
é: - quais circuntâncias levariam as pessoas a ignorarem a criação de monumentos arquitetônicos a fim de se
o mundo dos espíritos e quais as levariam a prestarem obter visibilidade através da manifestação pública da
atenção nele? De acordo com Horton, o recurso ao adoração. Por isso, de acordo com Diouf, a busca
mundo dos espíritos ocorreria em quatro contextos: pela construção de uma identidade que delineie os

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espaços da vida e do lazer pode ter um impacto na grupos especializados, como os artesãos, por exemplo.
morfologia da comunidade onde as reorganizações e Os especialistas religiosos oferecem uma coisa: rituais.
as interferências entre o espaço público e o privado Estes são uma garantia de que aqueles bastam para
quanto às transações religiosas são produzidas através combater os agentes sobrenaturais facilmente encar-
de procissões e libações ligadas aos espíritos (1999, p. nados por estranhos. Algum tipo de conhecimento
77-79). Assim, por toda a parte, haveria instituições secreto é, amiúde, imprescindível para a sustentação
que promoveriam, inibiriam ou impediriam o desen- de uma ideologia fundamentada em rituais religiosos
volvimento dos sistemas de símbolos religiosos (cf. (cf. Kaplan, 2000, p.130). É também conhecido o fato
Obeyesekere, 1990, p.62). de que os grupos religiosos se envolvem facilmente
Nessa perspectiva sócio-ideológica, Boyer em intrigas políticas e conseguem encontrar um nicho
propõe que as pessoas que formam um grupo tendem político em lugares de autoridade centralizada. Tal fato
a descrever os agentes sobrenaturais de forma seme- é tão conhecido que, às vezes, nos esquecemos de que
lhante, isto é, através de uma doutrina que explica o é uma característica de tais grupos. Para Boyer, os
que interessa aos deuses e espíritos (Boyer, 2001, p. sacerdotes e os outros especialistas religiosos não são,
10-23). Adorar as mesmas divindades produz um sen- necessariamente, centrais a uma organização política de
so de comunidade e, por implicação, dá a sensação de larga escala. Mas aqueles que não conseguem abocanhar
que pessoas com deuses ou espíritos diferentes sejam algum tipo de vantagem política, acabam ficando pelo
inimigos potenciais. Crime hediondo seria desrespeitar caminho (2001, p. 10-23). É, por isso que, apesar de
a celebração da fé verdadeira. Dessa forma, deuses geralmente verdadeira, não é universalmente aplicável
e espíritos contribuiriam para a coesão do grupo e a idéia de que a religião é uma aliada dos opressores
incitariam à xenofobia e ao ódio fanático. A religião e uma instituição que apóia o poder político central
seria, portanto, uma preocupação dos grupos sociais. e oferece justificação sobrenatural para a ordem es-
O fato de que haja doutrinas diferentes – mutuamente tabelecida. Isso é verdade apenas no sentido de que
excludentes e incompatíveis – induziria à violência muitas guildas religiosas só obtiveram sucesso ao
fundamentalista que, por sua vez, seria vista como uma adotarem uma estratégia assim. Com efeito, elas só a
ameaça real e imediata em muitas partes do mundo. adotaram porque a competição é constante e, em geral,
As explicações ideológicas para o apare- bem sucedida. A criação de “marcas” reconhecidas
cimento do pensamento religioso têm a vantagem de serviços religiosos tem conseqüências importantes
de poder incorporar outras perspectivas como, por nos tipos de concepções propostas pelas instituições
exemplo, a histórica. Para Boyer, ter uma religião religiosas. Esta forma de explicação parece remontar,
não significa ter uma religião com um corpo bem de fato, à teoria clássica de Durkheim de que a religião
definido de doutrinas (2001, p. 10-23). Aquilo que é um vasto sistema simbólico que torna a vida social
consideramos como natural seria, de fato, produto de possível através da expressão e da manutenção dos
uma evolução histórica particular. Em algumas condi- sentimentos e valores da sociedade, rejeitando, assim,
ções históricas, especialistas religiosos se agrupam em as teorias hostis à religião como sendo a-científicas e
associações institucionalizadas (igrejas, castas, etc) e a-sociológicas. Ele especialmente analisou o papel de
divulgam uma descrição particular de sua função. Por instituições cerimoniais e ritualísticas, e concluiu que
isso, parece evidente que, em primeiro lugar, existe o elas seriam forças disciplinadoras, integradoras, vitali-
que se chama de “religião” como domínio especial de zantes e eufóricas:
conceitos e atividades. Em segundo lugar, que existem
Os ritos mais bárbaros e fantásticos e os mitos mais es-
religiões diferentes, isto é, maneiras diferentes de se
tranhos traduzem algum tipo de necessidade humana,
praticar uma religião. E, em terceiro lugar, que adotar
algum aspecto da vida, seja este individual ou social.
uma religião específica significa ligar-se a um grupo
As razões com as quais os fiéis os justificam podem
social, estabelecer-se em uma comunidade de crentes,
ser, e geralmente são, errôneas; mas as verdadeiras
enfatizar a demarcação entre o “nós” e o “eles”.
razões não deixam de existir e é o dever da ciência
O aspecto social e ideológico do pensamento
descobri-las (Durkheim, 1912, p.14-15).
religioso é claramente percebido, por exemplo, nos
processos de formação das guildas religiosas. Uma As explicações evolucionistas,
guilda religiosa é um grupo que deriva seu sustento, universalistas e modularistas
influência e poder do fato de que oferece serviços Como já se pôde perceber pelas referências fei-
particulares, especialmente a realização de rituais. Seus tas até aqui a Boyer, sua explicação para a gênese do
membros podem, assim, ser comparados a outros

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pensamento religioso é essencialmente evolucionista. tais informações estratégicas. Assim, a idéia dos deuses
Apesar de sua originalidade, o pensamento de Boyer é, se insere parasitariamente na estrutura preexistente das
até certo ponto, representativo das explicações evolu- intuições morais.
cionistas para a origem do pensamento religioso e será, Alternativamente, Boyer postula que o pensa-
por isso, brevemente discutido aqui.1  De acordo com mento religioso pode surgir sob a forma de “micro-
Boyer, a mente humana é caracterizada pela atuação derrames”, uma falha neurológica que ele associa às
de predisposições inatas (ou “módulos”) para perceber, experiências místicas ou por uma “inteligência social
sentir, pensar e agir em certas maneiras que contribuí- hipertrofiada” (2001, p.122). Assim sendo, nosso apa-
ram para nossa aptidão adaptativa como espécie através rato evolucionista capacitar-nos-ia a uma constante
da história evolutiva ( 2001, p. 101-102). Contudo, sua tentativa de detectar agentes que atuem no nosso raio
solução criativa para a problemática antropológica da de ação, o que Boyer chama de overdetection ou “detecção
religião, isto é, a hipótese de que o pensamento reli- excessiva”, o que nos teria levado a localizar “agentes”
gioso funcione como um parasita, não significa que (isto é, os deuses ou divindades) onde nenhum agente
Boyer seja independente dos postulados clássicos da havia (ibid, 2001, p.145).2  De modo geral, sua teoria,
antropologia. À semelhança da teoria da projeção de apesar de criativa, é, como afirma Bulkeley, “insus-
Feuerbach, segundo a qual a divindade é basicamente tentável”, uma vez que a religião é mais complexa, sutil
uma projeção da figura paterna no campo espiritual,2  e multi-dimensional do que sua teoria sugere (2003,
Boyer postula que o espírito ancestral é uma tal proje- p. 671-674). Uma deficiência grave de Boyer é, por
ção, exceto por pelo menos uma diferença conspícua: exemplo, jamais tratar do fenômeno da espiritualidade
diferente da figura paterna, esse espírito ou é imortal, que, embora relacionado à religiosidade, é, indubita-
ou tem características de onipotência, ou é imaterial.3  velmente, diferente dela. Boyer não parece tampouco
Mesmo sem optar por uma descrição baseada interessado no que as pessoas religiosas sentem e
na teoria biológica do “gene egoísta”, isto é, que o experimentam. Seu interesse parece ser, sobretudo, o
comportamento animal (e também o humano) deva ser que elas crêem e como suas crenças influem em seu
explicado em termos da motivação que cada indivíduo comportamento social.1  Um outro conceito fundamen-
tem de proteger seus genes para a próxima geração, tal que Boyer parece menosprezar é o do “sagrado”.
a teoria de Boyer pressupõe, ainda, ao que parece, a Além disso, parece haver pouco espaço para fatores
existência de um cérebro social que funcione de acordo políticos e econômicos na teoria de Boyer, uma vez
com algumas regras que se transformam em universais que ele superestima a capacidade explanatória da teoria
da cultura.1  Apesar disso, Boyer nega a existência de evolucionista.2 
mecanismos de aquisição da religião e, conseqüente-
mente, rejeita a idéia de que a religião seja um aspecto Conclusão
natural da mente humana. Para ele, o pensamento O que se percebe nos esforços de estudiosos
religioso é como se fosse um parasita que atua nos e antropólogos contemporâneos para explicar a gênese
mecanismos cerebrais que evoluíram para auxiliar as do pensamento religioso é que eles não conseguem
relações sociais do ser humano. O cérebro funcionaria se libertar do arcabouço teórico, ou deveríamos dizer
como um computador operando com sistemas de in- calabouço teórico, das teorias clássicas da sociologia e da
ferência, sendo que os aspectos da cultura são retidos antropologia. Uma das principais deficiências dessas
através do processo evolutivo quando são ricos em teorias é que elas sempre viram o homem como um
inferências. Em um passado remoto (entre cem mil ser essencialmente social e não como um ser funda-
e cinqüenta mil anos), a religião teria aparecido com mentalmente religioso, dando a primazia aos aspectos
suas características específicas: deuses, rituais e uma sociais em detrimento dos aspectos religiosos, como se
certa fixação pelos mortos. A seguir, teriam aparecido a religião fosse um modo de o homem compreender a
suas doutrinas e a violência sectária. Por sua riqueza sociedade mesmo antes do aparecimento da sociologia
inferencial, a religião teria se espalhado por todo o (Michio, 1982).3  No caso das teorias contemporâne-
mundo. De acordo com esta teoria, um dos aspectos as tratadas aqui, mesmo quando sua proposta é a de
mais intimamente associados com a moralidade seria a buscar uma explicação nova, quem sabe inédita, o que
informação estratégica: só se pode saber se uma coisa se vê é uma restruturação de conceitos já amplamente
é certa ou errada quando se tem informações suficien- testados pelos antropólogos clássicos. Além disso, as
tes sobre o contexto no qual uma certa ação ocorre explicações religiosas discutidas aqui são, muitas vezes,
(Boyer, 2001, p.153). As divindades começam a fazer mais complexas e problemáticas do que o fenômeno
sentido, então, porque elas possuem acesso ilimitado a que tentam esclarecer. Talvez se justifique, aqui, o pes-

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simismo de alguns antropólogos dos nossos dias: the Para os batéis viemos caminhando (Camões, Os
origins of religion can only be speculated upon; they can never lusíadas 4.88).
be discovered, “só se pode especular acerca das origens Por outro lado, a religião pode confortar, mas
da religião, elas não serão jamais descobertas” (Lessa também atemorizar; ela pode explicar, mas também
e Vogt, 1965, p.7). mistificar; ela pode integrar socialmente, mas também
É ainda difícil contradizer Santo Agostinho pode causar rupturas sociais. Os antropólogos já fize-
quando afirma que a boca da criancinha, sem nunca ter ram avanços em sua empreitada de explicar a origem
experimentado o seio, já suga o vazio, como se soubesse do pensamento religioso, mas parecem ainda longe de
que sofrimento da falta pode ser a garantia de que algo há explicar, convincentemente, como a religião consegue
que a satisfará. Uma explicação plausível para o surgimen- produzir efeitos tão diversos. Ou seja, é necessário
to da religiosidade deve integrar, entre outras coisas, os que levemos mais a sério as asserções comumente
elementos psicossociais, a espiritualidade, o sobrenatural, feitas, em muitos níveis e em diferentes culturas, de
as formas de se experimentar o sagrado, a diversidade que algumas pessoas parecem capazes de desfrutar
cultural e as especificidades locais. Não se pode, ainda, de relacionamentos sobrenaturais e metafísicos, que
pretender apresentar uma teoria que seja suficientemente lhes garantem uma espiritualidade tão real quanto
completa para explicar todas as múltiplas possibilidades intangível e imensurável.
relacionadas à origem do pesamento religioso. Talvez o
melhor seja mesmo confessar nossa ignorância e admitir a notas
possibilidade de que, em alguma dimensão mais concreta 1
Freud não escreve no vácuo. Algumas influências que
do que a que tem sido postulada pelos antropólogos de podem ser percebidas em sua explicação sobre a religião vêm de
diversas épocas, o divino seja, de fato, capaz de tocar o Bachofen, Atkinson e Robertson Smith, entre outros (cf. Lessa e
Vogt 1965, p.20).
humano e este seja capaz de lhe retribuir o toque. 2
Tais problemas seriam oriundos, principalmente, das difi-
E nós coa virtuosa companhia culdades em relação à administração de nosso próprio corpo (por
De mil Religiosos diligentes, causa de sua própria fragilidade), ao nosso contato com o mundo
externo (por causa do poder superior da natureza) e a nosso rela-
Em procissão solene a Deus orando,
cionamento com outros seres humanos (por causa da inadequação
das regras que procuram ajustar os relacionamentos mútuos dos
seres humanos na família, no Estado e na sociedade), cf. Freud
a exemplo do que ocorre com as explicações causais, o modo fun-
1997, p.25, 37.
cional também se ocupa dessas relações. Contudo, as explicações
3
A insatisfação com o estado da civilização existente e a
funcionais aceitam a religião como uma condição antecedente e a
construção de sua condenação, teria sido ocasionada por certos
explica através de seus conseqüentes, isto é, suas contribuições à
acontecimentos históricos específicos: a vitória do cristianismo
manutenção da sociedade ou da cultura de que faz parte, ou, então,
sobre as religiões pagãs, o progresso das viagens de descobrimentos,
através da contribuição que dá à integração da personalidade de
o conhecimento do mecanismo das neuroses e a tentativa humana
quem é adepto dela (Spiro , 1967, p.64-67).
em dominar a natureza (cf. Freud, 1997, p.37-39). A própria vida 6
O interesse de Spiro é também por abordagens psicosso-
sexual do homem civilizado encontrar-se-ia severamente preju-
ciais, o que persiste até hoje, como sugere seu recente artigo sobre
dicada; dando, às vezes, a impressão de estar em um processo de
determinismo e relativismo culturais no estudo comparativo das
involução enquanto função, tal como parece acontecer com nossos
psicopatologias (Spiro, 2001, p. 218-234).
dentes e cabelos (cf. Freud, 1997, p.61). 7
Como, por exemplo, a tendência a subordinar os aspectos
4
A crença religiosa repousaria, assim, no “desejo de crer”
religiosos aos sociológicos e uma certa inclinação reducionista.
(will to believe), o que se coadunaria bem com a declaração de Ter- 8
De acordo com Boyer (2001, p.10-23), o erro do intelectu-
tuliano: credo quia absurdum est, “creio porque é absurdo” (Spiro,
alismo foi supor que a mente tem uma necessidade premente de
1967, xxi).
explicar as coisas. A mente não é uma máquina explanatória, ela
5
As explicações causais se subdividem em três tipos. O primei-
consiste de mecanismos explanatórios diferentes e especializados.
ro deles é o histórico-genético e dá conta de uma variável religiosa
Com efeito, ela constantemente produz explicações espontâneas.
(crença ou ritual) através da referência a sua origem histórica no
Ela não se dá à tarefa de explicar todas as coisas e ela não aceita
grupo social em que existe. O segundo tipo é o ontogenético, que
qualquer dado para produzir suas explicações. Ela não opera como
desconsidera a origem e enfoca a variável religiosa através da refe-
um aparelho que você alimenta com fatos e colhe explicações. Pelo
rência a sua aquisição e desenvolvimento em cada geração de atores
contrário, ela é composta de vários mecanismos especializados (que
que compreendem o grupo. No terceiro tipo, a dinâmica tem que ver
podem ser chamados de sistemas de inferência), cada um dos quais
com a persistência da variável e busca uma explicação nos atributos
se adapta mais a um tipo particular de evento para o qual sugere
de personalidade dos atores que promovem o comportamento
explicações automáticas.
religioso, sejam estes cognitivos, perceptuais ou motivacionais. O 9
A famosa frase de Marx, na íntegra, é: “a religião é o sus-
modo configuracional propõe explicações que se preocupam com
piro do ser oprimido, o coração de um mundo sem coração e a
as relações estruturais e não com as relações entre antecedente e
alma de condições desalmadas; ela é o ópio do povo” (Marx 1959
conseqüente, como ocorre nas explicações causais. Por outro lado,

28 ACTA Científica - Ciências Humanas vol. 2, n. 9


[1844], p. 263). o risco de já termos sido extintos por causa da atuação de preda-
10
Uma outra possibilidade seria analisar Pyysiainen (2001), dores mais aptos.
que também adota uma visão modularista da origem da religião. 15
Uma das propostas mais curiosas de Boyer é o que ele chama
Pyysiainen tenta explicar a religião de modo estritamente natura- de “dilema do teólogo”, segundo o qual o clero teria interesse em
lista. Sua obra tem o mérito de fornecer uma análise mais ampla fixar uma ortodoxia para evitar divisões no corpo de crentes, mas
que a de Boyer quanto a seus predecessores na empreitada de exatamente essa oficialização das doutrinas teria a capacidade de
compreender as origens do pensamento religioso (especialmente introduzir monotonia nos rituais religiosos, o que, por sua vez,
Durkheim e Geertz) e fazer uso, com mais minúcias, de recentes teria a capacidade de gerar as divisões que o clero estava tentando
estudos neurocientíficos (especialmente os trabalhos de Antonio evitar.
Damasio e Michael Persinger). 16
Cf. Schön, 2002.
11
Cf. Feuerbach 1989. 17
Cabe ressaltar, no entanto, que essas mesmas teorias tiveram
12
Os cristãos, por exemplo, poderiam objetar que, uma vez que o mérito de transcender as limitações impostas pelo positivismo e
Boyer trata do pensamento religioso de forma geral, ele não trata o determinismo econômico.
de especificidades históricas como aquelas que os cristãos alegam
ter marcado a gênese de sua religiosidade: a morte e ressurreição
de Cristo sendo, para eles, as mais notáveis dessas especificidades
históricas. Boyer acaba postulando que a secularizada religião oci- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
dental é, em muitos sentidos, excepcional.
13
Esta forma de compreender os mecanismos de compreensão ALVES, Rubem. Os nomes do vazio. Apresentação de:
é bastante diferente das correntes predominantes na psicologia, FEUERBACH, Ludwig. Preleções sobre a
que geralmente se preocupam com os processos cognitivos do essên cia da religião. [Vorlesungen über
aprendizado. das wesen derreligion]. Trad. por
14
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